como um sujeito e não como objeto da educação: “o conhecimento exige uma presença
curiosa do sujeito em face do mundo. Requer sua ação transformadora sobre a
realidade”.(Freire, 2002, p. 27)
Cavallet (1999) aponta que o diferencial de conhecimentos adquiridos durante a
universidade faz com que os técnicos ocupem posições que influenciam segmentos sociais
com os quais interagem, o que faz com que tendam a ser líderes naturais
2
, embora às vezes
não tenham consciência dessa influência ou, quando a têm, se apoderem e subestimem outros
tipos de saberes.
Para Neves (1998), o mediador seria “o agente mobilizador da mudança de
comportamento e visões de mundo... agentes esses que pretendem obter o reconhecimento e a
qualificação positiva das práticas sociais dos agricultores familiares” (Neves, 1998, p. 149)
3
.
Aponta que, nesse processo, o agente precisa levar em conta as especificidades das relações
sociais que estão em jogo, as relações familiares e de parentesco, já que a tendência é eleger o
mercado, as relações capitalistas deixando de lado a importância dos valores, da cultura etc.
Os mediadores são partes constitutivas dos processos sociais, são promotores de encontros de
conhecimentos. No entanto, a linguagem utilizada nem sempre é entendida pelos indivíduos
que estão inseridos nesse processo. Os mediadores se legitimam e são legitimados a partir de
seu saber, do conhecimento científico. São “agentes de desenvolvimento” e sua função seria
interpretar as necessidades dos grupos, promover um diálogo entre o “agente externo” e os
“subalternos”
4
.
Freire (2002) aponta que:
“No momento em que um assistente social, por exemplo, se
reconhece como o “agente da mudança”, dificilmente perceberá
essa obviedade: que se seu empenho é educativo-libertador, os
2
O autor cita Drucker (1998) para identificar o líder eficaz. Segundo ele “é alguém bastante visível que possui
seguidores, portanto caracteriza-se pelo exemplo, não é necessariamente popular, mas obrigatoriamente produz
resultados pelos quais possui responsabilidade, também identificada como responsabilidade social”. Trabalha
também com a definição de Kouzes e Posner (1997) – executivos e consultores empresariais - que diziam ser
papel da liderança “desafiar o estabelecido buscando oportunidades, aprendendo com erros e acertos; Inspirar
visão compartilhada, antecipar o futuro, imaginar o ideal, identificar propósitos comuns e comprometer-se com o
desafio da visão focalizada; Capacitar as pessoas para agir, fortalecer, compartilhando o poder, procurando
soluções integradas e construindo relacionamentos de confiança; Modelar o caminho com planejamento e pelo
exemplo, valorizando a ação e o fortalecimento do compromisso e das pessoas; Encorajar o coração:
reconhecimento e comemoração das pequenas vitórias, gerando confiança e coragem.” (pág. 78)
3
Segundo Neves (1998) a mediação alude à conciliação diante das divergências ou da intervenção de outrem
com o objetivo de propor o acordo ou o compromisso.
4
Termo utilizado por Martins (1989) para indicar o lugar social dado às populações excluídas, fruto da
exploração, da dominação e da exclusão. A subalternidade é expressa em formas de ver o mundo e se comunicar
com ele por meio de linguagens outras que não a fala. Nesse caso, o mediador seria o elemento possuidor de um
projeto para os subalternos mas, como a linguagem não é a mesma, os projetos apresentados em nome dos
subalternos nem sempre é o desejados por eles. Martins aborda a dificuldade de compreensão dessa linguagem
dos subalternos, dizendo que os mediadores nem sempre a compreendem mas, mesmo assim, “falam por eles”.