86
que “para” carrega consigo uma noção de “posse” aparece, neste caso, uma vez
que as áreas citadas passarão a possuir a propriedade de serem para as entidades
citadas. E, ao mesmo tempo, podemos dizer que o termo “entidades” especifica
essa propriedade. No caso deste enunciado, parece bem concreto esse
pensamento, o que talvez leve nosso leitor a pensar que trata-se de uma análise um
tanto simplista, já que “doação” está relacionada ao domínio nocional de “posse”.
Mas, como já foi dito, no caso desse enunciado, fica bem evidente a questão da
posse projetada pela marca porque o enunciado colabora com tal, embora nem
sempre isso aconteça e a marca, mesmo assim, continue carregando essa noção
(como vimos nos enunciados já estudados).
A rejeição ao enunciado 4b, de que falamos acima, tem a ver com o fato da
marca projetar algo para um futuro que é o futuro na enunciação. Dentro dela
enxergamos dois “instantes” da enunciação, se assim podemos falar: o Ti (instante
anterior à enunciação, que não está instanciado, plano virtual) e o T0 (instante da
enunciação). O instante da enunciação deve ser posterior ao anterior à enunciação,
logicamente, já que a marca faz uma projeção a qual, pelo contexto, vemos que tem
que ser para um futuro. Mas isso não ocorre no enunciado 4b, daí o estranhamento
causado, o que nos mostra o quanto a marca está envolvida também com a questão
aspecto-temporal.
O enunciado 4c já aguça nossa sensibilidade à polissemia (indeterminação da
marca e do jogo complexo de sentidos que dela resulta) por mostrar-nos uma
finalidade para a doação de áreas, por exemplo, para que as três entidades não
reclamem. Apesar disso, se pensarmos além de uma simples finalidade (projetada
por “para”), concluiremos que a marca está projetando algo e que esta finalidade
(intenção) nada mais é do que uma transferência: o estado anunc iou que já negocia
a doação de obras com a intenção de que estas sejam para as entidades que, por
sua vez, não tenham motivos para reclamar. Essa idéia é, sem dúvida, transmitida
pela marca e diríamos que trata-se de uma projeção que, de certa forma, está ligada
à questão da posse e também “carrega” uma finalidade; tudo isso girando em torno
da marca “para”.
É importante observar em 4a, 4c, 4 d, 4f, 4g e 4h, por exemplo, a
projeção que a marca confere aos enunciados, ou seja, o prefeito negocia a doação
de áreas, com o intuito de algo, o que permite-nos imaginar e projetar esse algo,
que, no caso, seria um benefício às outras entidades, atribuindo às áreas a