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situação de moradia. “Ele não quer falar que mora no morro, tia, ele mora no
Pavão/Pavãozinho”, informou-me uma aluna de seis anos sobre seu colega de classe.
“Eles não gostam de ser chamados de favelados”, disse-me a diretora.
Além de localizações próximas da escola, algumas crianças declaravam morar em
Niterói, André Cavalcanti, Lins de Vasconcelos, Santo Cristo. Alguns alunos vêm de
longe em busca da “boa” escola.
“Olha, aqui tem gente que mora em Jacarepaguá, tem gente que mora no
centro da cidade, em Rio das Pedras... e a gente fala: meu deus, porque
quer estudar aqui?... Teve gente de Bonsucesso... eles dizem: eu quero lá
porque é boa” (coordenadora pedagógica da escola 1).
Deve-se notar que tal fato mostra que nem sempre os alunos de escolas públicas moram
perto de onde estudam. Uma pequena parte dos estudantes eram crianças que poderiam
ser considerados de “classe média”, segundo a supervisora pedagógica.
“Por exemplo, a gente tem alunos oriundos de comunidades muito
diferentes, a gente tem aqui, pra mim, o principal problema da escola é a
convivência de uma classe média empobrecida que tem raiva de ter ficado
pobre, e tem raiva da escola pública, e tem raiva do aluno da escola
pública, e tem raiva de quem mora na favela, com raiva mesmo! E que se
coloca assim: briga. O que acontece, os alunos que moram nas
comunidades, por exemplo, o aluno do Pavão, o aluno do Pavãozinho, o
aluno do Cantagalo... A gente tem 80% de comunidade da favela, que mora
na favela. Nos morros do Rio de Janeiro. Aqui é: Cantagalo, Pavão-
Pavãozinho, Vidigal, Rocinha. São esses. E tem, muitos filhos de porteiro
daqui do entorno. Que moram, mas isso é muito positivo, porque são
pessoas organizadas, que tem um pai, uma mãe. Têm uma organização em
casa. Uma vida organizada no sentido assim: tem uma casa. Têm vínculos
com a família. Têm familiares, tem avô, tem avó. Muita gente oriunda
também do nordeste. Todos os porteiros são do nordeste, todos, sem
exceção; que tem famílias lá, que se correspondem, que vão lá todo final de
ano. Então, isso é muito positivo. Digamos assim, a gente tem 80% da
comunidade, e tem um quantitativo que talvez fique em torno de 20% dos
alunos que são filhos de porteiros de Copacabana, e tem um pequeno
quantitativo, pequeno número que nem chega a ser 10% da escola, talvez
menos, de alunos que são dessa classe média empobrecida. Esses aí,
quando chegam aqui, o grande problema é que eles acham que podem fazer
o que querem. Então, eles ficam muito espantados, quando vêm que tem
regras, e quando vêm que eles tiram notas baixas, e que os outros tiram
notas melhores do que as deles. Existe muito problema de pai, desses pais
que vão pra CRE, porque o filho dele, da ex-escola particular, disputa de
classe social”. (coordenadora pedagógica da escola 1)