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Avaliação fonológica de crianças com Distúrbio Específico da
Linguagem sob a ótica da Fonologia de Uso
Aline de Azevedo Ferreira
Dissertação de Mestrado em Lingüística
apresentada à Coordenação de Programa de Pós-
Graduação em Lingüística da Universidade Federal
do Rio de Janeiro.
Orientadora: Profª.Drª. Christina Abreu Gomes.
Co-orientador: Prof. Dr. Gastão Coelho Gomes
Rio de Janeiro
2007
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Aline de Azevedo Ferreira
Avaliação fonológica de crianças com Distúrbio Específico da
Linguagem sob a ótica da Fonologia de Uso
Dissertação de Mestrado em Lingüística
apresentada à Coordenação de Programa de Pós-
Graduação em Lingüística da Universidade Federal
do Rio de Janeiro.
Orientadora: Profª.Drª. Christina Abreu Gomes
Co-orientador: Prof. Dr. Gastão Coelho Gomes
Rio de Janeiro
2007
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Ferreira, Aline de Azevedo
Avaliação fonológica de crianças com Distúrbio Específico da Linguagem sob
a ótica da Fonologia d e Uso / Aline de Azevedo Ferreira. Rio de Janeiro ,
2007.
88 f.: il.
Dissertação (Mestrado em Lingüística) –
Universidade Federal do Rio de Janeiro, Faculdad e de
Letras, 2007.
Orientadora: Christina Abreu Gomes
Co-orientador: Gastão Coelho Gomes
1. Fonologia de uso. 2. Distúrbio específico de linguagem.
3. Fonoaudiologia – Dissertações.
I.Gomes, Christina Abreu (Orient.). II.
Universidade Federal do Rio de Janeiro. Faculdad e
de Letras. Programa de Pós-Graduação em Lingüística III. Título.
DEFESA DE DISSERTAÇÃO
FERREIRA, Aline de Azevedo. Avaliação Fonológica
de Crianças com Distúrbio Específico da Linguagem
sob a Ótica da Fonologia de Uso. Rio de Janeiro,
UFRJ, Faculdade de Letras, 2007. Dissertação de
Mestrado em Lingüística.
BANCA EXAMINADORA
Professora Doutora Christina Abreu Gomes – UFRJ
Orientadora
Professor Doutor Gastão Coelho Gomes – UFRJ
Co-orientador
Professora Doutora Renata Mousinho Pereira da Silva – UFRJ
Professora Doutora Myrian Azevedo de Freitas – UFRJ
Professora Doutora Maria Maura Cezário – UFRJ
Professor Doutor Alexandre Victorio Gonçalves – UFRJ
Defendida a Dissertação:
Conceito:
Em: / / 2007
Ao Universo,
Energia central da vida.
Aos meus pais,
Pela dedicação e apoio nos momentos mais importantes.
E a todos aqueles que de forma direta ou indireta participaram desta
jornada.
Dedico esta dissertação com todo carinho.
AGRADECIMENTOS
À Professora Doutora Christina Abreu Gomes, orientadora excepcional, pelo
incentivo, confiança e determinação.
Ao Professor Doutor Gastão Coelho Gomes pela orientação no tratamento
estatístico dos dados.
Aos meus mestres da graduação, em especial a Professora Mônica Rocha e a
Professora Claudia Drummond por terem plantado em mim o interesse pela
pesquisa.
Ao Anderson, meu amor e companheiro, pela paciênc ia e compreensão nos
momentos difíceis de estresse e pela ajuda indispensável com o computador.
Aos meus familiares e amigos pela compreensão e tolerância durante esta jornada.
FERREIRA, Aline de Azevedo. Avaliação Fonológic a de Crianças com Distúrbio
Específico da Linguagem sob a Ótica da Fonologia de Uso. Rio de Janeiro, UFRJ,
Faculdade de Letras, 2007. Dissertação de Mestrado em Lingüística.
Resumo
O objetivo deste estudo foi checar o conhecimento fonológico de oito crianças
com diagnóstico de Distúrbio Específico de Linguagem (DEL), comparando com os
dados de crianças com desenvolvimento típico (grupo controle), com idades entre 4
a 6 anos, a partir da Prova Fonológica do Teste ABFW (nomeação e imitação),
fazendo uma análise segundo os pressupostos da Fonologia Probabilística ou
Fonologia de Uso.
Foram analisados os casos de discrepância entre o alvo e a produção da
criança em função das categorias do teste, procurando identificar se há relação
entre a incidência de tipos de erros relacionados aos diferentes graus de abstração
propostos na fonologia de uso e o tamanho do léxico da criança.
Os dados obtidos no grupo DEL indicam um maior comprometimento nas
estruturas que envolvem a representação mais abstrata dos itens (coarser-grained
representation), ao passo que as alterações que envolvem a repr esentação fonética
mais detalhada (fine-grained phonetic representation) são menos freqüentes. Os
resultados também sugerem uma relação entre conhecimento fonológico e o
tamanho do léxico para as crianças DEL.
Palavras-chaves: AQUISIÇÃO, DISTÚRBIO ESPECÍFICO DE LINGUAGEM,
FONOLOGIA PROBABILÍSTICA, FONOLOGIA DE USO.
FERREIRA, Aline de Azevedo. Avaliação Fonológic a de Crianças com Distúrbio
Específico da Linguagem sob a Ótica da Fonologia de Uso. Rio de Janeiro, UFRJ,
Faculdade de Letras, 2007. Dissertação de Mestrado em Lingüística.
Abstract
This work aimed to check the phonological knowledge of 8 children with
Specific Language Impairment (SLI), compared to data from typically developing
children (the control group), with ages between 4 and 6 years old, using the
Phonological Test of the ABFW Test (naming and repetition), and taking the
theoretical background of Probabilistic Linguistic and Usage-based Phonology.
The differences between the target and the child´s production were analyzed
according to the test categories, aiming to identify the relationship between chidren´s
errors and the degrees of abstraction proposed in Usage-based Phonology, and the
size of the child´s lexicon.
Children with Specific Language Impairment show more errors in structures
related to the coarsed-grained level, although the ones related to the word phonetic
shape were less affected. The results also suggest a relationship between
phonological knowledge and the size of the lexicon for the SLI children.
Key-words: acquisition; specific language impairment; Probabilistic Phonology;
Usage-based Phonology.
SUMÁRIO
1.INTRODUÇÃO....................................................................................................... 12
2.PRESSUPOSTOS TEÓRICOS.............................................................................. 14
2.1Conhecimento Fonológico sob a perspectiva dos modelos
multirepresentacionais
2.2.Aquisição Fonológica na Fonologia de Uso
2.2.1. Breve Retrospectiva da Aquisição Fonológica
2.2.2. Fonologia de Uso
3.DISTÚRBIO ESPECÍFICO DE LINGUAGEM (DEL) E CONHECIMETO
FONOLOGICO ......................................................................................................... 26
3.1.O estudo de Beckman, Edwards & Muson
3.1.1.Efeitos de probabilidade dos difones em crianças com DEL
4.METODOLOGIA E HIPOTESES DE TRABALHO ............................................... 36
4.1.Amostra
4.1.1.Critérios de inclusão dos sujeitos
4.2.Coletas dos dados
4.2.1.Instrumentos
4.2.2.Descrição dos Testes
4.2.2.1.Prova Fonológica – ABFW
4.2.2.2.Analise dos Processos Fonológicos
4.2.3.Teste de Vocabulário Receptivo de Peabody (PPVT-III)
4.3.Metodologia de quantificação e analise dos processos do teste
4.4.Hipóteses de trabalho
5.ANÁLISE DOS DADOS ........................................................................................ 55
5.1.Análise do grupo DEL
5.2.Análise do grupo controle
5.3.Comparando os dados dos dois grupos
6.CONCLUSÃO ........................................................................................................73
7.REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .................................................................... 75
8. ANEXOS ...............................................................................................................79
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 Templates das primeiras palavras de Raivo: ‘Estrutura Nasal...................22
Tabela 2 Templates das primeiras palavras de P: ‘Estrutura Sibilante’ ....................22
Tabela 3 (Templates das primeiras palavras de Madli .............................................23
Tabela 4 Produtividade dos processos fonológicos de acordo com a idade.............41
Tabela 5 Protocolo de Registro Nomeação...............................................................42
Tabela 6 Protocolo de registro imitação....................................................................43
Tabela 7 Possibilidades de Ocorrência dos Processos Fonológicos.........................45
Tabela 8 Peabody – Tabela de Idades......................................................................50
Tabela 9 Percentual de Ocorrência dos Processos no grupo DEL...........................57
Tabela 10 Percentual de Ocorrência dos Processos no Grupo Controle..................64
Tabela 11. Estimação de α e β do grupo DEL...........................................................68
Tabela 12. Estimação de α e β do grupo CON..........................................................69
Tabela 13. Estimação dos α e β da equação 1 correspondente ao grupo CON
eliminando o ponto de influência (Criança 5) ............................................................70
LISTA DE FIGURAS
Figura 1Figura Beckman (2004).............................................…….....………………32
Figura 2 Prancha de treino (Peabody)………….............................…………............48
Figura 3. Cálculo do Escore (Peabody).....................................................................49
LISTA DE GRÁFICOS
Gráfico 1 Alterações na Representação Abstrata do Grupo com DEL....................59
Gráfico 2.Alterações no Detalhamento Fonético Fino no grupo DEL.......................60
Gráfico 3 Relação da representação fonológica em relação ao tamanho do
léxico..........................................................................................................................61
Gráfico 4 Representação Abstrata Grupo Controle...................................................65
Gráfico 5 Detalhamento Fonético Fino Grupo Controle............................................66
Gráfico 6.Relação da representação fonológica em relação ao tamanho do léxico no
Grupo Controle...........................................................................................................67
Gráfico 7. DEL...........................................................................................................71
Gráfico 8. Grupo Controle.........................................................................................71
1. INTRODUÇÃO
Essa dissertação procurou avaliar o desempenho fonológico de crianças com
distúrbio específico de linguagem (DEL) em comparação ao desempenho de
crianças com desenvolvimento típico (grupo controle), através de uma nova
perspectiva teórica rotulada de Modelos baseados no Uso (Bybee, 2001). O objetivo
desse estudo é observar se há diferença de desempenho entre os dois grupos e se
podemos estabelecer essas diferenças, além de verificar se existe correlação entre
o conhecimento fonológico e o tamanho do léxico, como sugere Beckman et al.
(2004).
Esta dissertação se organiza da seguinte forma. No capitulo 2, serão
abordados os pressupostos teóricos que sustentam a análise e interpretação dos
dados apresentados aqui, com a apresentação dos principais postulados da
Fonologia de Uso (Bybee, 2001) ou Fonologia Probabilística (2003).
No capitulo 3 serão apresentados trabalhos relativos ao distúrbio específico
da linguagem, principalmente no que diz respeito às alterações fonológicas. O
distúrbio específico de linguagem (DEL) caracteriza-se por um transtorno na
aquisição de múltiplos aspectos da linguagem, especialmente dos componentes
fonológico e morfossintático, levando a criança a apresentar dificuldades nas
habilidades comunicativas e de aprendizagem. (Bishop, 2002; Giacheti, 2001)
Os testes utilizados na pesquisa foram o ABFW (Prova Fonológica) e o
Peabody (compreensão de vocabulário). A avaliação f onológica proposta pelo teste
segue, a principio, os pressupostos teóricos da fonologia natural, cujo foco central
está nos traços distintivos e a análise fonológica é feita através de processos
fonológicos que serão suprimidos no decorrer da aquisição da fonológica. A
descrição dos testes e os critérios metodológicos de coleta e análise dos dados
serão vistos no capítulo 4.
No capítulo 5 iremos tratar da análise dos dados obtidos na pesquisa segundo
a ótica da Fonologia Probabilística. De acordo com essa perspectiva teórica, a
organização fonológica está representada em dois níveis de representação, um mais
abstrato, que está diretamente relacionado com a estrutura abstrata da palavra, e a
representação fonética fina, que se refere à forma sonora da palavra.
Finalmente, no capítulo 6 estão apresentados os principais resultados obtidos.
2. PRESSUPOSTOS TEÓRICOS
Este capítulo trata dos pressupostos teóricos que sustentam a análise dess a
pesquisa, a saber, os modelos multirepresentacionais da Fonologia de Uso ou
Probabilística (Bybee, 2001, Pierrehumbert, 2003), Teoria dos Exemplares
(Pierrehumbert, 2001) e os relativos à aquisição fonológica nesses modelos.
Fonologia de Uso e Fonologia Probabilística compartilham de características
semelhantes em seus pressupostos e serão tratadas aqui sob o mesmo rótulo de
Fonologia de Uso.
2.1. Conhecimento Fonológico sob a perspectiva dos Modelos
Multirepresentacionais
O modelo de Fonologia de Uso (Pierrehumbert, 2003) postula que a
organização da representação fonológica se dá através da emergência d e
generalizações que acontecem em vários níveis dif erentes de abstração. Cada
forma familiar de palavra tem uma representação distribuída no espaço fonético
paramétrico que captura generalizações pertinentes em cima da experiência
perceptiva do falante. Em outras palavras o falante abstrai uma forma familiar a
partir das formas expostas no uso. Uma representação paralela mais abstrata
emerge da formas fonéticas representadas no léxico. Portanto, a gramática
fonológica é abstraída das formas das palavras armazenadas no léxico.
Cada palavra é codificada na memória episódica que localiza as
representações paramétricas detalhadas do que é ouvido e padrões articulatórios
que são experimentados em itens específicos da palavra. Nessa proposta assume-
se que freqüência de ocorrência (token frequency) de um item lexical e a freqüênc ia
de tipo (type frequency), recorrência de estruturas abstratas afetam a representação,
a produção e percepção, como já foi observado em diversos trabalhos (Bybee, 2000,
Jurafsky, Bell e Girand, 2002, e Munson e Solomon,2004).
A freqüência de ocorrência trata da quantidade de vezes que um item ocorre
em uma amostra, podendo esta ser oral ou escrita. Esta variação provoca dois
efeitos muito importantes. Um deles dá conta da mudança fonética motivada que
ocorre mais rápido em palavras mais freqüentes. O outro está relacionado com a
categorização dos itens lexicais, pois as palavras mais freqüentes s ão mais
resistentes a mudanças que ocorrem através de generalizações. Sendo assim as
palavras mais usadas são mais fortes, isto é, apresentam maior robustez no
armazenamento, preservando sua forma fonética e são menos sujeitas à analogia.
Segundo observam Beckman et al (2004), os estudos sobre efeitos de
freqüência de tipo, por outro lado, sugerem diferenças segundo a codificação da
forma de cada palavra, em termos de generalizações abstratas sobre padrões
fonológicos sublexicias que ocorrem periodicamente nas palavras. Por exemplo,
sucessões de fonemas freqüentes em muitas palavras (difones
1
de alta-
probabilidade) são percebidas e produzidas diferentem ente dos encontrados em
poucas palavras (difones de baixa-probabilidade). Além disso, também tem sido
observado que a probabilidade de ocorrência dos difones afeta o tempo de resposta
de palavras reais e pseudopalavras, mas de maneira oposta. Palavras reais são
repetidas mais lentamente se elas contêm seqüências de alta-freqüência e
sugestionam um efeito de competição de percepção de outras palavras semelhantes
que têm codificações baseadas em instâncias ricas ao nível fonético paramétrico. As
pseudopalavras são repetidas, através de contraste, mais rapidamente se elas
1
Difone é um par de fones adja cente s. O termo tamb ém é usado para se referir à transição entre os
dois fones.
contêm itens de alta-freqüência. Segundo concluem os autores, esta assimetria
sugere que o acesso é robusto para as representações fonéticas paramétricas
detalhadas pertinentes para produzir uma forma nova e é dependente de
generalizações abstratas sobre a estrutura fonológica de palavras reais e está de
acordo com a proposta de Pierrehumbert (2001) de um modelo de "gramática
fonológica" como um passo na "escada de abstrações", que parte da imagem
sensorial imediata do sinal de fala até chegar à representação de relações
morfossintáticas. Nesse modelo processar uma nova palavra demanda uma
codificação em termos de categorias fonológicas como ’e 5f-lelaborias pasmo 4, at
Modelo de Exemplares
O modelo de representação da Fonologia de Uso segue o modelo de
exemplares proposto inicialmente na área de processamento da fala (Johnson,
1997), onde a informação referente à variabilidade tem um papel fundamental, não
sendo desprezada.
Na Teoria de Exemplares cada categoria fonética é representada na memória
por uma nuvem de exemplares (tokens) que foram armazenados para tal categoria.
Estes exemplares são organizados num mapa cognitivo. Categorias mais freqüentes
têm um maior numero de exemplares e as menos freqüentes possuem poucos
exemplares. Esta nuvem apresenta informações lingüísticas e não lingüísticas
(Pierrehumbert, 2001).
Quando um item novo é encontrado, é classificado na teoria dos exemplar es
de acordo com suas semelhanças para os exemplares armazenados. A percepção
que codifica o novo item localiza este no espaço paramétrico pertinente. Sua
semelhança pode ser computada para qualquer exemplar único armazenado com
uma distância do exemplar no espaço paramétrico. Para classificar o novo item é
computado o rótulo mais provável dado o rótulo dos exemplares vizi nhos. Um
tamanho fixo na vizinhança ao redor do item novo determin a o conjunto de
exemplares que influencia a classificação. As semelhanças computadas são
somadas para os exemplares de cada rótulo imediato naquela vizinhança, a
semelhança para cada exemplar será sobrecarregada pela força ( ou ativação)
daquele exemplar.
Resumindo, o acesso a um exemplar está associado à aproximação com a
nuvem de recordações de percepção detalhada que cada categoria do sistema
possui. As recordações são granularizadas como um a função da acuracidade do
sistema perceptual. A freqüência não é totalmente codificada no modelo. Ao
contrário, é intrínseca às representações cognitivas para as categorias. Categorias
mais freqüentes têm mais exemplares e serão mais ativadas que categorias menos
freqüentes, se tornando assim mais robustas.
Podemos dizer que a dinâmica de exemplar provê evidências importantes
para o Modelo de Fonologia de Uso. A suposição de que os falantes aprendem ou
adquirem categorias fonológicas através de lembranças dos muitos itens
armazenados nestas categorias explica a habilidade para aprender padrões
fonéticos finos (detalhamento fonético) de um idioma (Pierrehumbert, 2001)
Segundo o modelo adotado pela fonologia de base gerativa para o dicionário
mental, cada item é listado no léxico (mental) e associado exclusivamente a uma
única forma fonológica. Para este modelo a representação mental é similar à entrada
do dicionário, contendo informações sintáticas, semânticas e fonológicas e é o
ouvinte que selecionan0 es
assume-se nesta teoria que a memória de propriedades fonéticas é associada a
itens lexicais individuais. O léxico e a Gramática interagem entre si, pois apresentam
graus específicos de generalizações de memórias fonéticas. A freqüência de tipo e
de token são essenciais na organização das representações fonológicas, conforme
já observamos nesse capítulo.
2.2. Aquisição Fonológica na Fonologia de Uso
A aquisição fonológica vem sendo interesse de estudos por décadas tanto
nos modelos tradicionais como, mais recentemente, também nos modelos
alternativos, como os modelos multirepresentacionais. Nesta seção apresentaremos
as questões da aquisição nos modelos multirepresentacionais.
2.2.1. Breve Retrospectiva da Aquisição Fonológica
As hipóteses de aquisição fonológica estão relacionadas aos pressupostos
estabelecidos pela teoria fonológica para a organização do conhecimento fonológico.
Por exemplo, segundo Jakobson (1941) o desenvolvimento fonológic o consiste em
um desdobramento gradual de um sistema de contrastes, já que para o
estruturalismo a fonologia de uma língua se baseia no sistema de contrastes. Para
Stampe (1969) a gramática inicial consiste em um conjunto desordenado de regras
inatas, enquanto a gramática final constitui um subconjunto ordenado destas regras.
O desenvolvimento fonológico consistia então em suprimir as regras impróprias à
gramática do adulto e ordenar apropriadamente as mesmas. Já na Teoria da
Otimalidade, que postula um conhecimento fonológico baseado em restrições
universais e inatas hierarquizadas de boa formação dos outputs fonéticos, a
aquisição fonológica consistiria na ordenação dessas restrições para permitir a
geração das formas fonológicas possíveis na língua adquirida (Boersma, 2004).
Adotamos o referencial teórico da Fonologia de Uso para postular as
hipóteses e realizar a análise dos dados coletados na pesquisa. Fizemos uso do
Teste ABFW (prova fonológica) que será discutido na seção 4.2.2.1 do capítulo 4 e
que se baseia em outro referencial teórico, provavelmente o da Fonologia Natural de
Stampe, embora esse referencial teórico não esteja explicitado.
De acordo com a proposta de Stampe, a aquisição fonológica se dá via
processos fonológicos, tidos como um percurso necessário ao desenvolvimento do
domínio fonológico da língua (Yavas, 1992; Wertzner et al., 2001). Por esta noção, a
aquisição e o uso sistemático dos fonemas obedece a uma hierarquia - processos
fonológicos, que identificam grupos de fonemas, cujo conjunto de traços que os
compõem e os distinguem uns dos outros, apenas por um único traço, os
designados traços distintivos dos fonemas . Desta forma, para esse ponto de vista
da fonologia torna-se relevante, na aquisição da fala, a eleição do traço distintivo,
para o emprego de um determinado fonema, opondo-se assim, ao seu par correlato
constituído pelo mesmo grupo de processo fonológico. No percurso da aquisição da
fala há processos fonológicos desviantes do padrão adulto, mas que são pertinentes
à aprendizagem da fala. Outros, no entanto, não são pertinentes ao
desenvolvimento, e demonstram uma possível vulnerabilidade, por parte da criança,
em identificar e discriminar as características dos traços distintivos dos pares dos
fonemas (BEFI –LOPES, 2000). Essas ques tões serão revistas e discutidas no
capítulo 4.
2.2.2. Fonologia de Uso
Uma vez que a Fonologia de Uso não postula um conjunto de informações
lingüísticas inatas e caracteriza a organização fonológica como um nível emergente
das formas fonéticas dos itens lexicais armazenados no léxico, como se postula a
aquisição fonológica nesse caso?
Para Vihman e Kunnari (2006) o desenvolvimento fonológico é gradual e é
dependente do desenvolvimento das habilidades articulatórias, isto é, do domínio
dos gestos articulatórios necessários para produzir os sons da língua em que a
criança está imersa, conjugado à intenção comunicativa da criança. Inicialmente a
forma da palavra está ligada a esse domínio. Vihman organiza em três etapas os
dados obtidos em um estudo longitudinal com crianças falantes do inglês, finlandês
e francês observando as mesmas características. Entre os 10-12 meses, fase das
primeiras palavras (early words), estão as palavras produzidas espontaneamente
pelas crianças obtidas nas primeiras sessões. Nessa fase as crianças produziram de
3 a 4 palavras identificáveis, portanto caracterizando uma média de 4 palavras. A
fase rotulada de “selecionada” (selected), de dados obtidos alguns meses depois, é
o período em que se observa que há uma generalização seletiva com mais
características fonológicas. Ela considera que há evidências para admitir que há um
princípio de organização em funcionamento nesse período entre as primeiras
palavras e o fim do período das palavras-únicas (entre 14 e 16 meses). O rótulo
“selected” significa que a tentativa de produzir a palavra alvo por parte da criança
grosso modo se aproxima da forma do adulto. Por exemplo, nas formas seletivas a
criança apresenta redução de sílaba, harmonização consonantal. Mais tarde
observa-se a fase da forma “adaptada” (adapted) da palavra alvo. O rótulo “adapted”
corresponde ao fato de que a forma da palavra alvo é adaptada para encaixar no
padrão da criança. Esse é o momento em que, segundo Vihman, inicia-se a
organização fonológica propriamente dita, a emergência de padrões abstratos.
Esse padrão ou TEMPLATE emerge como o produto da aquisição das
palavras. Observem-se os templates extraídos de Vihman e Croft (2006) a seguir.
São dados de crianças adquirindo o estoniano e o inglês.
Tabela 1. Templates das primeiras palavras de Raivo: ‘Estrutura Nasal’ (Estoniano;
idade 1;3.18-1;3.24) <nVN>
(Vihman e Croft, 2007, adaptado de Vihman 1981)
Tabela 2. Templates das primeiras palavras de P: ‘Estrutura Sibilante’ (inglês, idade
1;6) <(plosiva)VS>
(Vihman e Croft , 2007, adaptado de Waterson 1971)
Tabela 3. Templates das primeiras palavras de Madli (Estoniano; idade 1;8)
<(p, t)Vs>
(Vihman e Croft , 2007, adaptado de Kõrgvee 2001)
Os templates se caracterizam por um padrão cons istente par a um conjunto de
palavras que envolvem estrutura silábica e ocorrência dos mesmos segmentos
sonoros, portanto há coerência interna nas formas dos itens das crianças embora
estes estejam mais distantes das formas do alvo.
Vihman e Croft (2007) propõem três critérios para identificação de templates :
A- Consistência de um padrão num núm ero substancial de formas de palavras
produzidas pela criança em uma ou mais sessões ou num período de
semanas ou meses;
B- Ocorrência de correspondências fonológ icas não usuais entre a forma da
criança e a forma do adulto, isto é regras, processos ou estratégias de
reparo, sobre a influência de um padrão dominante;
C- Freqüentemente um rápido aumento em produção de palavras que se
encaixam nesse padrão.
Segundo Vihman e Kunnari, (2006:145) o desenvolvimento de um ou mais
templates reflete um passo na direção de um sistema fonológico e constitui um
avanço em relação ao período das primeiras palavras. As formas adaptadas são
uma regressão em acuracidade.
A harmonia consonantal, metátese e outras formas observadas são formas de
adaptação às rotinas articulatórias familiares ou já estabelecidas pela criança nessa
fase e aos templates. As autoras também observam que as crianças podem
desenvolver diferentes templates, ou seja, elas não apresentaram necessariamente
os mesmos padrões, uma vez que os templates surgem dos itens lexicais
armazenados e isso difere de criança para criança como resultado da exposição a
diferentes ambientes lingüísticos. Nas tabelas 1,2, e 3 apresentadas acima , os
templates se assemelham em função da estrutura silábica mas diferem em relação
aos segmentos que os compõem. Também é mencionada a evidência de templates
do tipo <VCV> em línguas com geminadas como o finlandês e o hindu ou com
consoantes mediais foneticamente longas no galês. Ainda no estudo longitudinal de
Vihman e Kunnari (2006) as autoras mostram evidências de templates diferentes
para crianças adquirindo a mesma língua (francês, inglês, finlandês, galês).
Com relação à organização sonora abstrata do adulto, Vihman e Croft (2007)
propõe também a continuidade dos templates.
Podemos afirmar que nessa proposta a aquisição fonológica tem uma base
fonética e é emergente, gradual, se expandindo em função da expansão do léxico.
Os itens apreendidos/adquiridos através da percepção são armazenados e permitem
práticas articulatórias relacionadas à percepção motora que favorece o acúmulo de
experiência em direção ao alvo adulto, que alimentará a produção propriamente dita
(alvo). Também o léxico é central para a organização do conhecimento fonológico,
que tende a se expandir com a expansão do léxico.
3. DISTÚRBIO ESPECÍFICO DE LINGUAGEM (DEL) E CONHECIMENTO
FONOLÓGICO
Neste capitulo iremos tratar de aspectos relacionados ao distúrbio específico
de linguagem (DEL), no que diz respeito à aquisição fonológica. O DEL está
enquadrado nos transtornos de aquisição e de desenvolvimento da fala e da
linguagem. Estes transtornos apresentam um largo espectro de manifestações
clínicas sem um fator etiológico definido, em alguns casos como, por exemplo, o
distúrbio específico de linguagem – DEL. Outros transtornos de linguagem podem
estar associados a diversos fatores etiológicos e/ ou comorbidades, sejam estes de
ordem genética, psiquiátrica, neurológica, psicológica e de privação sensorial.
O distúrbio específico de linguagem, também chamado transtorno específico
de linguagem (specific language impairment – SLI), parece assumir alguns critérios
distintos de identificação. O primeiro deles está na ausência de fator etiológico de
qualquer natureza; o segundo, diz respeito ao desempenho lingüístico esperado em
uma determinada faixa etária do desenvolvimento da aquisição da linguagem,
dissonante do padrão etário de normalidade; e o terceiro, diz respeito à própria
caracterização dessa diferença no desenvolvimento da linguagem, envolvendo
principalmente alterações de cunho fonoló gico, morfossintático e de compreensão
de sentenças. (Bishop, (2002), Hage e Guerreiro, (2004))
De acordo com BISHOP (2002) e HAGE (2001) os achados de neuroimagem
falam a favor de uma influência genética para estes distúrbios à medida que
evidenciam diferenças neuroanatômicas e neurofuncionais nas crianças que
apresentam DEL, embora ainda não sejam achados conclusivos para serem
identificados com possíveis causas.
Estudos realizados buscando uma classificação de sub-categorias
para os DEL, partiram da proposta de diferenciação das desordens no
desenvolvimento de linguagem (Allen e& Rappin, 1988) tomando por base a
alteração de níveis lingüísticos e suas interfaces, subdivididos em 6 sub-grupos:
agnosia verbal auditiva; déficit fonológic o-sintático; dispraxia verbal; déficit de
programação fonológica; déficit semântico-pragmático e déficit léxico- sintático.
Seguem abaixo as características de cada subtipo ((Bishop, 2003, Hage e
Guerreiro, 2004):
Agnosia verbal auditiva: compreensão da linguagem oral muito prejudicada
ou ausente, estando normal a compreensão de gestos; fala ausente ou muito
restrita (apenas palavras isoladas com articulação prejudicada).
Déficit fonológico-sintático: compreensão prejudicada quando o enunciado é
longo ou emitido com rapidez; linguagem oral se manifesta com atraso;
alterações de morfossintaxe (frases simples, telegráficas, erros de flexão
verbal e nominal; dificuldade de organização sintática; presença de varias
alterações fonológicas.
Dispraxia verbal: Compreensão normal ou pr óxima do normal; linguagem oral
se manifestando com atraso; o enunciado de restringe a uma ou duas
palavras; a fluência pode estar comprometida.
Déficit de programação fonológica: Compreensão normal ou próxima do
normal; o aparecimento da fala é normal ou com leve atraso; a estrutura dos
enunciados é compatível com a faixa etária; a fala é ininteligível devido as
alterações fonológicas, fluência preservada.
Déficit semântico-pragmático: o aparecimento da fala pode estar normal;
enunciados e articulação desenvolvem-se normalmente ou com ligeiras
dificuldades; fala fluente; as dificuldades estão relacionadas ao nível
pragmático (inadequação da linguagem ao contexto, coerência temática
instável, ecolalias; dificuldade na compreensão de enunciados longos e
entendimento literal da palavra exagerado).
Déficit léxico-sintático: dificuldade de evocação e fixação do léxico; podem
ocorrer alterações fonológicas, mas sem afetar a inteligibilidade da fala;
fluência pode estar prejudica devido às dificuldades de evocação lexical;
alteração na compreensão de frases; dificuldade de manter a seqüência dos
elementos na frase ou de usar palavras com sentido gramatical.
De acordo com HAGE (2001) e GUIACHETI (2001) as alterações mais
freqüentes dos DEL concentram-se nos domínios fonológico e sintático, havendo
bem menor freqüência de alterações de cunho semântico-pragmático.
Considerando-se que as alterações fonológicas são significativas no quadro
de DEL, este trabalho tem seu foco no conhecimento fonológ ico de crianças com
diagnóstico de DEL comparado ao de um grupo controle de crianças com
desenvolvimento típico. Sendo assim, é importante investigar e compreender as
alterações fonológicas do DEL como parte do quadro de aspectos que envolvem a
caracterização do déficit.
3.1. O estudo de Beckman, Edwards & Muson (2004)
As discussões, procedimentos e análises desenvolvidas neste estudo tomam
por base o estudo realizado por Beckman et al. (2004) que trata da aquisição do
conhecimento fonológico que se estabelece através de generalizações que
emergem das palavras armazenadas no léxico. Esse estudo foi desenvolvido tendo
como base teórica a proposta de Pierrehumbert (2003), apresentada no capitulo 2,
sobre a representação e organização das formas das palavras no léxico. Os autores
fazem um estudo comparativo entre crianças de grupos diferentes, a saber: crianças
com desenvolvimento típico, crianças diagnóstico de desvio fonológico e crianças
com diagnóstico de distúrbio específico de linguagem (DEL). O objetivo foi buscar
evidências que sustentem a postulação dos níveis de representação fonológica
propostos por Pierrehumbert (2003) e de observar as diferenças entre os 3 grupos
no que toca o conhecimento fonológico em aquisição.
Os pressupostos teóricos adotados por Beckman et al. (2004) são o modelo
de fonologia Baseado no Uso (Bybee, 2000) e a Teoria dos Exemplares
(Pierrehumbert, 2001). Os principais aspectos desses modelos foram apresentados
no capítulo 2. O que se postula é que o conhecimento fonológic o se faz através de
uma hierarquia de abstrações que emergem das formas das palavras estocadas no
léxico. Resultados de vários estudos com as duas populações clínicas, crianças com
desvio fonológico e crianças com distúrbio específico da linguagem, sugerem que
estes tipos diferentes de conhecimento fonológico podem se desenvolver
separadamente. Crianças com desvio fonológico se assemelham às cria nças com
desenvolvimento típico mais jovens em termos da robustez de representações
fonéticas paramétricas e vocabulário, se comparadas com as crianças com distúrbio
específico de linguagem (DEL) que apresentam vocabulário restrito.
Segundo os autores, estudos sobre conhecimento fonológico realizados na
última década fortalecem modelos com apoio no léxico mental do adulto no qual a
forma fonológica de cada palavra é codificada pelo m enos de dois modos. Primeiro,
cada forma familiar de palavra é codificada em termos de memória episódica que
localiza as representações paramétricas detalhadas do que é ouvido e padrões
articulatórios que são experimentados ouvindo ou dizendo itens específicos da
palavra. Além disso, os estudos sobre efeitos de freqüência de tipo sugerem
diferenças segundo a codificação da forma de cada palavra em termos de
generalizações abstratas sobre padrões fonológic os sublexicias que ocorrem
periodicamente nas palavras. Foram apresentadas no capítulo 2 evidências sobre o
efeito da freqüência de difones na produção e percepção de palavras reais e
pseudo-palavras.
Além disso, Goldinger et al. (1992) mostram que semelhança fonológica ao
nível abstrato facilita a identificação da palavra e d ecisão lexical até mesmo com
longos intervalos entre a primeira e o alvo. Já em palavras com semelhança só ao
nível paramétrico detalhado, observa-se inibição da identificação da palavra e da
decisão lexical. Além disso, a inibição é particular a itens de baixa freqüência.
Ainda conforme já mencionado no capítulo 2, segundo Beckman et al (2004),
as representações de alta-frequência interferem nos julgamentos de aceitabilidade
de formas de pseudo-palavras pelos adultos. Portanto, fica mais fácil interpretar o
comportamento dos adultos se assumirmos o modelo hierárquico de codificação
fonológica proposto em Pierrehumbert (2003). Isto é, descrever as generalizações
de alta-ordem (relações fonotáticas, tipos estruturais silábicos etc) como abstrações
de tipos de itens lexicais. De acordo com os autores, se esta suposição está correta,
espera-se também ver variação no processamento de pseudo-palavras conforme o
léxico da criança se expande na infância. Por exemplo, espera-se ver déficits na
codificação fonética paramétrica que são independentes de qualquer déficit nas
generalizações abstratas. Na seção a seguir são apresentados os resultados
relevantes obtidos em diversos estudos conduzidos pelos autores relativos ao
desenvolvimento fonológico de crianças e discutivos em Beckman et al. (2004), nos
quais se observou o processamento de difones de alta-frequência contra difones de
baixa-frequência nos três grupos de crianças mencionados acima.
3.1.1. Efeitos de probabilidade dos difones em crianças com DEL
No trabalho de Munson, Kurtz, e Windsor (2005), usou-se uma tarefa de
repetição de pseudo-palavra para comparar os efeitos de probabilidade de difone em
relação à produção por três grupos de crianças em idade escolar. Solicitou-se às
crianças que repetissem as palavras ouvidas (pseudo-palavras montadas com
difones de alta e baixa freqüência do inglês). Cada produção foi transcrita e a
acuracidade medida em função de cada consoante e vogal que estive de acordo
com a forma-alvo.
O primeiro grupo era formado por 16 crianças com distúrbio específico de
linguagem (DEL), com idade entre 8-13 anos. Para avaliar as crianças DEL foram
usados testes como Clinical Evaluation of language Fundamentals – 3 (CELF-3;
Shames, Wiig, e Secord 1997), que medem uma variedade de habilidades
expressivas e receptivas em domínios estruturais diferentes, inclusive na morfologia,
sintaxe e semântica. As crianças com DEL têm déficits bastante variáveis em
diferentes habilidades da linguagem. Isto está de acor do com evidências de que as
crianças com DEL têm dificuldade para repetir pseudo-palavras (por exemplo,
Gathercole e Baddeley 1990; Dollaghan e Campbell 1998; Edwards e Lahey 1998).
Portanto, tomando por base o modelo de gramática fonológica cujo conhecimento
estrutural emerge de formas de palavras já estocadas e que é utilizado para
processar novas palavras, muitas crianças com DEL poderiam ter problemas com as
representações abstratas necessárias para processar pseudo-palavras e para
aquisição robusta das palavras. Esses resultados est ão apresentados a seguir. A
Figura 1 foi extraída de Beckman et al (2004), pg. 5, e apresenta os resultados
obtidos no teste de repetição de pseudo-palavras relacionados ao tamanho do léxico
e da idade.
Figura 1
Figura 1. Porcentagem de fones produzidos corretamente em estímulos compostos apenas de
difones de alta-probabilidade (símbolos abertos) ou só de difones de baixa-probabilidade
(símbolos fechados) em função da idade da criança (esquerda superior), tamanho de
vocabulário expressivo (direito superior e esquerda inferior), e severidade de distúrbio de
linguagem (direita inferior) em Munson, Kurtz, e Windsor (2004). Cada ponto representa o
resultado de acuracidade para 34 crianças com desenvolvimento típico nos dois quadros
superiores, e para 16 crianças com DEL (círculos) e com desenvolvimento típico da mesma
idade (quadrados) nos dois quadros inferiores
.
Cada quadro da figura 1 representa a precisão de repetição em termos
percentuais para as produções das crianças em relação a uma variável, como idade
(quadro superior esquerdo), tamanho do léxico (quadro superior direito e inferior
esquerdo), e habilidades lingüísticas (CELF-3) (quadro inferior direito). Os resultados
foram calculados separadamente para pseudo-palavras que contêm seqüências com
alta-probabilidade e para aquelas que contêm seqüências de baixa-probabilidade, de
forma que cada criança é representada através de dois tipos de pontos. Dados das
34 crianças com desenvolvimento típico são mostrados nos dois quadros superiores.
No quadro superior à esquerda estão representadas as repetições dos itens em
função da idade (em meses). No quadro superior direito os mesmos dados foram
relacionados com o tamanho do vocabulário. A idade em meses prediz uma
proporção significativa de discrepância tant o em pseudopalavras de alta freqüência
quanto de baixa freqüência. Porém, a linha de tendência para a pseudopalavras de
baixa probabilidade é mais íngreme, de forma que as duas linhas convergem à
direita. Assim, idade não só prediz precisão global, mas também a diferença de
precisão de repetição entre formas de alta e baixa freqüência; crianças mais velhas
mostram um efeito menor de probabilidade fonotáticas que as crianças mais jovens.
Isto é, com o avanço da aquisição a probabilidade fonotática interfere menos na
acuracidade.
A medida de tamanho de vocabulário que está no quadro superior direito é a
pontuação no teste Expressive One-Word Picture Vocabulary Test (EOWPVT;
Gardner, 2000). Esta medida também prediz uma proporção significativa de
discrepância na repetição de itens de alta e baixa probabilidade, além da diferença
entre eles. Este resultado não é surpreendente, desde que tamanho de vocabulário
também esteja relacionado com idade.
O papel do tamanho do vocabulário também é ilustrado no quadro inferior à
esquerda da Figura 1. Este gráfico relaciona precisão de repetições sucessivas para
palavras com difones de alta e baixa freqüência contra tamanho de vocabulário
expressivo para as 16 crianças com DEL e as 18 crianças mais velhas com
desenvolvimento típico. Aqui, a variação da idade é controlada de forma que enfatize
a relação entre conhecimento fonológico e tamanho de vocabulário. Os círculos,
representando os dados das crianças DEL, geralmente estão à esquerda dos
quadrados (crianças com desenvolvimento típico). Essa distribuição mostra os
vocabulários tipicamente reduzidos em crianças com DEL em relação às crianças
com desenvolvimento típico da mesma idade. Os estímulos de alta e de baixa
probabilidade têm curvas ascendentes e mostram que as crianças com DEL têm
maior dificuldade global com a tarefa. Além disso, as duas curvas convergem à
direita e mostram que as crianças com DEL são desproporcionalmente mais
afetadas pela dificuldade de produzir as sucessões de baixa freqüência. Embora a
curva não seja tão íngreme quanto no gráfico que inclui as crianças mais jovens, há
uma relação clara entre as dificuldades que as crianças com DEL em sua maioria
têm com pseudopalavras e a relação com o tamanho reduzido do vocabulário.
Juntos, estes resultados sugerem que o DEL seja associado com dificuldades
em fazer generalizações fonológicas abstratas através da nuvem de representações
episódicas de itens lexicais. As generalizações abstratas estão relacionadas ao
conjunto de itens armazenados no léxico. Por conseguinte, as crianças com DEL
são mais pobres que as de idade cronológica semelhante para generalizar a
produção correta do fonema para as seqüências pouco freqüentes. Este mesmo
déficit deve ser parcialmente responsável pelos déficits para adquirir novas palavras:
crianças com DEL não têm robustez nas representações fonológicas abstratas.
No trabalho de Becklman et al (2004), o grupo de crianças com diagnóstico de
desvio fonológico não apresentou dificuldade em relação à estrutura abstrata, isto é
não houve comprometimento na acuracidade em função da probabilidade fonotática
dos difones. Isto é, apresentaram o mesmo comportamento observado para as
crianças com desenvolvimento típico. As crianças apresentaram baixo desempenho
no detalhamento fonético fino (forma sonora), com uma produção muito próxima das
de crianças com desenvolvimento típico mais jovens. Quanto ao tamanho do léxico
não apresentaram grandes diferenças em relação às crianças com desenvolvimento
típico, enquanto as crianças com DEL apresentam um léxico mais restrito e pouco
robusto.
Os resultados de Beckman et al.(2004) fornecem evidências para observar as
diferenças entre crianças com DEL e crianças com desvio fonológico a partir da
proposta de representação finer-grained (relacionada à forma sonora da palavra) e
coarser-grained (relacionada à estrutura da palavra, forma mais abstrata) de
Pierrehumbert (2003). De acordo com os resultados para processmento de
pseudopalavras, foi possível estabelecer que os dois grupos, com DEL e c om desvio
fonológico, têm afetados níveis diferentes da representação sonora.
Pretendemos observar as relações entre léxico e conhecimento fonológico,
nos capítulos que se seguem, através dos dados da Pesqui sa realizada no
Ambulatório de Transtornos de Aquisição de Linguagem da UFRJ, a partir de dados
de palavras reais de crianças falantes do português brasileiro com diagnóstico de
distúrbio específico da linguagem.
4. METODOLOGIA E HIPÓTESES DE TRABALHO
O presente capítulo apresenta os testes utilizados para coleta dos dados, a
metodologia de quantificação e análise e as hipóteses de trabalho. Foram avaliados
dois grupos de crianças, crianças com distúrbio específico de linguagem – DEL e
crianças com desenvolvimento típico (grupo controle), com objetivo de caracterizar
as possíveis alterações fonológicas das crianças com diagnóstico de DEL e sua
relação com o tamanho do léxico.
Foram usados diferentes instrumentos para a obtenção dos dados, sendo o
foco nos testes fonológico e compreensão de vocabulário, a saber; uma testagem do
sistema fonológico através da Prova Fonológica do Teste ABFW e uma testagem
para medir o vocabulário através do teste de Vocabulário Receptivo de Peabody III
(PPVT- III), padronizados para a realidade brasileira.
4.1. Amostra
A amostra foi constituída por 9 crianças de faixa etária entre 4 e 6 anos. No
decorrer dessa pesquisa, foi considerado conclusivo o diagnóstico de DEL para 8
crianças, sendo uma considerada com diagnóstico de desvio fonológico que foi
fechado ao final de todas as etapas da pesquisa, e por isso encontra-se incluído
neste trabalho
2
. Todas as crianças são participantes do Projeto de Pesquisa Distúrbio
Especifico de Linguagem (DEL) realizado pelo Curso de Fonoaudiologia da
Faculdade de Medicina – UFRJ . Essas crianças são oriundas de escola pública e
privada do município do Rio de Janeiro. O grupo Controle consiste de 11 crianças
com idades entre 4 e 6 anos, sendo 7 crianças com idade equivalente ao grupo
2
A criança com diagnostico de Desvio Fonológico não será comparada com as crianças com diagnóstico de
DEL, pois temos apenas uma criança não sendo suficiente para conclusões a respeito da aquisição fonologica da
mesma.
diagnosticado com DEL, 2 com idade inferior a 4 anos e 2 crianças com idade
superior a 6 anos. Todos os sujeitos do Grupo Controle são oriundos da Escola
JENCE, instituição privada localizada no bairro de Jacarepaguá no Município do Rio
de Janeiro. Com relação às características socioeconômicas as crianças dos dois
grupos são semelhantes, todas os pais tem profissão e empregos definidos.
4.1.1. Critério de inclusão dos sujeitos
Foram incluídas na amostra crianças que apresentam transtorno na aquisição
da linguagem sem que haja qualquer fator etiológico que justifique tal transtorno, tais
como: déficit sensorial auditivo, comprometimento neurológico e transtorno
psiquiátrico, uma vez que a presença de qualquer um dos fatores supracitados, por si
só, já descaracteriza o distúrbio específico de linguagem. Todos os sujeitos foram
submetidos à avaliação audiológica no ambulatório de audi ologia do Curso de
Fonoaudiologia da Faculdade de Medicina da UFRJ, situado no Campus da Praia
Vermelha.
Foram excluídas da amostra crianças com transtorno de aquisição de
linguagem que apresentaram fatores etiológicos identificáveis como os citados acima.
4.2. Coleta dos Dados
4.2.1. Instrumentos
As crianças selecionadas para a pesquisa foram submetidas a av aliações para
identificar as alterações fonológicas, o desempenho da memória de trabalho e o
domínio do nível lingüístico morfossintático.
Todos os instrumentos selecionados foram devidam ente eleitos para atender
aos objetivos da pesquisa e já são amplamente utiliza dos na clínica fonoaudiológica
como se observa nas publicações científicas.
Os instrumentos de avaliação fonoaudiológica foram compostos por testes
formais, sendo os dois primeiros foco de interesse dessa pesquisa: a prova de
fonologia ABFW (WERTZNER,2000); o teste de compreensão de vocabulário -
Peabody (CAPOVILLA & CAPOVILLA, 1997); a prova de memória e de recepção
auditiva - ITPA (BOGOSSIAN; SANTOS, 1977), todos estes devidamente validados
para a população brasileira e a avaliação observacional (HAGE,2001), através da
qual, o desempenho lingüístico da criança foi analisado qualitativ amente e através da
triagem do processamento auditivo central.
A prova de memória e recepção auditiva do ITPA, spam de dígitos, avaliou a
memória de trabalho e os resultados obtidos no grupo com DEL estava abaixo do
esperado para todas as crianças.
4.2.2. Descrição do Testes de Pesquisa
4.2.2.1. Prova Fonológica – ABFW
O ABFW – Teste de Linguagem Infantil é um teste nas Áreas de Fonologia
(área de interesse deste trabalho), Vocabulário, Fluência e Pragmática, sendo
aplicado para avaliação em crianças de 2 a 12 anos. É importante ressaltar que o
teste está fundamentado nas experiências clínica e de doc ência das autoras
(Claudia Regina Furquim de Andrade, Débora Maria Befi-Lopes, Fernanda Dreux
Miranda Fernandes e Haydée Fiszbein Wertzner), e que está voltado para a
realidade brasileira, pois o teste foi aplicado e realizado em crianças no período
aquisitivo do português brasileiro.
A Prova Fonológica é composta por uma avaliação do inventário fonético e
outra que avalia quatorze processos fonológicos. São eles:
Redução de sílaba: quando há perda de uma das sílabas do vocábulo;
Harmonia consonantal: quando um fonema sofre interferência de outro
fonema vizinho que o antecede ou o segue;
Plosivação de fricativas: o modo de articulação dos fonemas fricativos é
transformado em um fonema plosivo;
Posteriorização para velar: um fonema plosivo linguodental se transforma
em um plosivo velar;
Posteriorização para palatal: quando há alteração na zona de articulação
transformando um fonema fricativo palatal em um fonema fricativo alveolar;
Frontalização de velar: quando há anterior ização de um fonema velar para
um fonema plosivo liguo-alveolar;
Frontalização de palatal: quando anteoriza a produção de um fonema
fricativo palatal;
Simplificação de líquida: quando há substituição, semivocalização e a
omissão das vibrantes;
Simplificação da consoante final: quando elimina-se um dos membros do
encontro consonantal (ClV e CrV);
Simplificação de enc ontro consonantal: quando se elimina ou substitui a
consoante final do vocábulo ou da sílaba;
Sonorização de plosiva: quando um fonema plos ivo surdo é substituído pelo
correspondente sonoro;
Sonorização de fricativa: quando um fonema fricativo surdo é substituído pelo
correspondente sonoro
Ensurdecimento de plosiva: quando um fonema plosivo sonor o é substituído
pelo correspondente surdo;
Ensurdecimento de fricativa: quando um fonema fricativo sonoro é substituído
pelo correspondente surdo.
A elaboração do inventario fonético da criança é referente às posições de
sílabas, inicial e final na palavra e dos segmentos na sílaba, onde são registrados os
acertos, as substituições, etc. Numa segunda etapa observa-se a ocorrência dos
processos fonológicos e faz-se o enquadre de acordo com as idades. Dos 14
processos fonológicos, considera-se que 10 processos são observados
frequentemente durante o período aquisitivo da linguagem e 4 (sonoriz ação de
plosiva, sonorização de fricativa, ensurdecimento de plosiv a e ensurdecimento de
fricativa) podem ser observados com menos freqüência durante o mesmo período
(ABFW, 2004). O teste é acompanhado de uma tabela que contém a produtividade
esperada de cada processo por faixa etária (Tabela 4). Não há uma explic itação no
manual do teste sobre que evidências ou trabalhos de aquisição que essas
previsões se baseiam.
Tabela 4. Produtividade dos processos fonológicos de acordo com a idade (ABFW,
2004)
PROCESSOS FONOLÓGICOS
IDADE PREVISTA PARA
ELIMINAÇÃO DO USO
PRODUTIVO
1. Redução de sílaba 2;6 anos
2. Harmonia consonantal 2;6 anos
3. Plosivação de fricativas 2;6 anos
4. Posteriorização para velar 3;6 anos
5. Posteriorização para palatal 4;6 anos
6. Frontalização de velares 3;0 anos
7. Frontalização de palatal 4;6 anos
8. Simplificação de líquida 3;6 anos
9. Simplificação de encontro consonantal 7;0 anos
10 .Simplificação de consoante final 7;0 anos
11. Sonorização de plosivas
-
12. Sonorização de fricativas
-
13. Ensurdecimento de plosivas
-
14. Ensurdecimento de fricativas
-
O teste de fonologia é subdividido em duas provas, uma de nomeação e
outra de imitação. Na prova de nomeação são apresentadas 34 pranc has que
medem 12 cm X 21 cm com as figuras dos vocábulos alvos (anexo 1). Na imitação
são apresentadas 39 palavras alvos que se encontram numa lista pré-estabelecida
(tabelas 5 e 6.). A transcrição dos dados deve ser feita nos protocolos de marcação
observados nos Anexos 2 e 3 (adaptação feita pelo Ambulatório de Transtornos de
Linguagem da UFRJ). Os dados são coletados e transcritos a partir da gravação da
sessão de aplicação das duas provas.
Tabela 5. Protocolo de Registro Nomeação
UFRJ - Faculdade de Medicina - Curso de F onoaudiologia
ABFW - FONOLOGIA - PROTOCOLO DE REGISTRO (NOMEAÇÃO)
Nome: Idade: Data Exame:
Resultados ---> Acerto: Distorção: Omissão: Substituição:
Vocábulos Transcrição Fonemas Inicial Final
I.D. P.O E PROD I.D. P.O E
PROD
1. Palhaço p 3;6 3 3;6 1
2. Bolsa b 3;6 2 3;6 1
3. Tesoura t 3;6 2 3;6 5
4. Cadeira d 3;6 1 3;6 2
5. Galinha k 3;6 3 3;6 1
6. Vassoura g 3;6 2 3;6 1
7. Cebola f 3;6 2 3;6 2
8. Xícara v 3;6 1 3;6 1
9. Mesa s 3;6 3 3;6 3
10. Navio z 3;6 1 3;6 2
11. Livro
3;6 1 3;6 1
12. Sapo
ʒ
3;6 1 3;6 1
13. Tambor m 3;6 2 3;6 1
14. Sapato n 3;6 1 3;6 1
15. Balde
η
- 0 3;6 1
16. Faca l 3;6 1 3;6 1
17, Fogão
ג
- 0 4;0 1
18. Peixe
ſ
- 0 3;6 4
19. Relógio r 3;6 1 3;6 1
20. Cama pR 4;0 1 - 0
21. Anel bR 4;0 1 4;0 0
22. Milho tR 5;0 1 - 0
23, Cachorro dR 4;6 0 - 0
24. Blusa kR 4;0 1 - 0
25. Garfo gR 4;0 0 - 0
26. Trator fR 4;6 0 - 0
27. Prato pL 6;6 1 - 0
28. Pasta bL 5;6 1 - 0
29. Dedo kL 4;6 0 - 0
30. Braço gL 4;0 0 - 0
31. Girafa fL 4;6 0 - 0
32. Zebra Arqui/S/ 4;0 1 4;0 1
33. Planta Arqui/R/ 5;6 1 5;0 2
34. Cruz Arqui/R/ 5;7 2 5;1 3
LEGENDAS I.D --> Idade de domínio do fonema P.O --> Possibilidade de ocorrência
E --> Erros PROD --> Produtividade
Tabela 6. Protocolo de registro imitação
UFRJ - Faculdade de Medicina - Curso de F onoaudiologia
ABFW - FONOLOGIA - PROTOCOLO DE REGISTRO (IMITAÇÃO)
Nome: Idade: Data Exame:
Resultados --> Acerto: Distorção: Omissão: Substituição:
Vocábulos Transcrição Fonemas Inicial Final
I.D. P.O E PROD I.D. P.O E PROD
1. Peteca P 3;6 3 3;6 1
2. Bandeja B 3;6 2 3;6 3
3. Tigela T 3;6 1 3;6 5
4. Doce D 3;6 1 3;6 1
5. Cortina K 3;6 3 3;6 6
6. Gato G 3;6 1 3;6 2
7. Foguete F 3;6 1 3;6 1
8. Vinho V 3;6 1 3;6 2
9. Selo S 3;6 1 3;6 4
10. Zero Z 3;6 1 3;6 1
11. Chuva
3;6 1 3;6 1
12. Jacaré
ʒ
3;6 1 3;6 1
13. Machado M 3;6 1 3;6 2
14. Nata N 3;6 2 3;6 1
15. Lama
η
- 3;6 1
16. Ônibus L 3;6 1 3;6 2
17. Prego
ג
- 0 4;0 1
distorções, por exemplo [s*], que é quando o indivíduo produz um som que não tem
no inventário fonético da sua língua. Nesse caso, usa-se um recurso simbólico para
indicar o tipo de distorção, que nesse caso é o asterisco (*) significando que aquela
articulação utilizada pela criança não faz par te do inventário fonético da língua, isto
é, não constitui um dos alofones possíveis para aquele fonema.
Para o cálculo do índice de domínio de cada fonema nas posições inicial e
final de sílaba, é preciso contar o número de acertos de produções do fonema nas
estruturas consoante-vogal (CV). Os acertos referentes aos encontros consonantais
são contados a partir da estrutura consoante-consoante-vogal (CCV), na qual são
observados somente os eventos pertinentes ao grupo consonantal e não a cada
fonema que o compõe. Por exemplo em [bluza] - [pruza] considera-se apenas
substituição de encontro consonantal. São considerados como adequados os
fonemas produzidos com mais de 75% de acerto, porém o teste não menciona a
referência desse índice. Segundo Lamprecht (2004) para afirmarmos que um
determinado segmento ou estrutura silábica está ou não adquirido pelas crianças em
determinada faixa etária, faz-se necessário ter um critério de proporção de acertos
de produção a partir do qual essa afirmação possa ser feita. Os pesquisadores de
aquisição fonológica não consideram necessário que ocorra 100% de acertos pelas
crianças, e em sua maioria adotam a faixa entre 75% e 90% de produção correta,
também adotada nessa pesquisa.
4.2.2.2 Análise dos Processos Fonológicos
Na aplicação clínica, a análise dos processos fonológicos deve seguir os
critérios dados pela autora do teste (ABFW 2004), já que estes processos estão
divididos em dois grupos: aqueles observados frequentemente durante o
desenvolvimento e os que não são observados frequentemente. Na tabela 7
encontram-se as possibilidades de ocorrência dos processos fonológicos no teste
(ABFW, 2004). Conforme pode ser observado, não há uma distribuição semelhant e
de possibilidade de ocorrência para todos os processos que compõem o t este em
nenhuma das duas provas (nomeação e imitação).
TABELA 7. POSSIBILIDADES DE OCORRENCIA DOS PROCESSOS
FONOLÓGICOS (ABFW, 2004)
PROCESSOS FONOLÓGICOS
Prova de Imitação
Prova de Nomeação
1. Redução de sílaba 52 45
2. Harmonia consonantal 52 45
3. Plosivação de fricativas 22 23
4. Posteriorização para velar 13 12
5. Posteriorização para palatal 7 11
6. Frontalização de velares 17 9
7. Frontalização de palatal 6 5
8. Simplificação de líquida 8 11
9. Simplificação de encontro
consonantal
12 8
10 .Simplificação de consoante final 7 5
11. Sonorização de plosivas 29 21
12. Sonorização de fricativas 13 14
13. Ensurdecimento de plosivas 17 14
14. Ensurdecimento de fricativas 9 9
Um outro aspecto importante no teste é a produtividade de cada processo
fonológico que pode envolver a realização ou não do segmento. No teste ABFW
cada processo fonológico pode ocorrer pelo menos 4 vezes, ocorrência potencial .
Será, portanto, considerado como produtivo se o processo aparecer em mais de
25% de suas possibilidades de ocorrência, como por exemplo, se a criança
apresenta 3 ocorrências de frontalização de palatal, isto significa 50% d e
produtividade (este processo é produtivo para esta criança), produtivo nesse caso é
a incidência de um processo. Para saber s e um processo é produtivo é necessário
consultar a tabela 7. Quando um processo for produtivo deve-se correlacionar este
dado com a idade prevista para a eliminação do uso produtivo. Caso a idade da
criança não corresponda à idade prevista no teste (tabela 4), significa que este
processo não está resolvido para essa criança. Por exemplo, uma criança de 5 anos
que apresenta uma produtividade de 50% para o processo de redução de silaba
/sapo/ [apo] pode ser considerada fora da faixa de normalidade estabelecida pelo
teste.
Feita a análise, são preenchidas as fichas de análise fonológica (anexos 5 e
6), transcrevendo foneticamente cada produção do sujeito e classificando os
processos utilizados. Em seguida preenche-se o quadro resumo da análise do
sistema fonológico, onde se coloca o total de processos ocorridos, sua produtividade
e se está ou não adequado à idade (anexo 5) .
4.2.2. Teste de Vocabulário Receptivo de Peabody (PPVT-III)
O Teste de Vocabulário Receptivo de Peabody (Dunn & Dunn, 1997) é um
teste de compreensão que visa quantificar o conhecimento do vocabulário em
crianças (a partir de 2 anos e meio) e adultos. Este teste ainda não está padronizado
no Brasil, mas existe uma pesquisa sendo realizada por Capovil la (1997) para
padronização para o português brasileiro. Este teste é utilizad o como referência para
os trabalhos em lingüística sobre aquisição e população clínica infantil (ver Jarvis et
al, 2004).
O teste de vocabulário receptivo consiste de uma série de cartões que
especificam um total de 244 vocábulos, cada qual contendo 4 gravuras diferentes.
Para cada cartão, a criança é solicitada a identificar a gravura que melhor representa
o significado da palavra enunciada pelo examinador. O teste foi administrado
conforme as instruções especificadas no manual, com as palavras traduzidas para o
português (ver anexo 6).
Inicialmente faz-se um treinamento com a criança através dos itens A e B
(figura 2) para crianças de 2 a 7 anos, C e D com pessoas a partir de 8 anos. Esses
itens estão contidos na prancha de testagem. A criança é informada das 4 figuras da
prancha, por exemplo:
Figura 2. Prancha de treino
_ “Temos aqui 4 figuras diferentes. Aponta para mim a Bola”. A criança deve
apontar a figura correta. Se isso não ocorrer usamos a prancha B (anexo 7), dando
instrução da mesma natureza. Após o fim do treinamento inicia-se o teste a partir da
série de Base. Seguem as instruções para definir a Série, item de início do teste, a
Série de Base, a série do Teto e o Escore Bruto:
Regra da Série. Uma vez começado, uma série de itens, sempre administre
todos os 12 itens na ordem da série, e sempre comece pelo 1º item de cada
série.
Item de Início. Comece testando com o item de início, que é o 1º item da série
apropriada para idade do Examinando.
Regra da Série de Base. É a série em que a criança tem 1 ou nenhum erro feito.
Primeiro estabeleça a série de base. Se for preciso volte às séries anteriores, até
que o examinando faça um ou nenhum erro em uma série.
Regra da Série de Teto. A série do teto são 8 erros ou mais em uma série.
Escore Bruto. É determinado pela subtração do último item do teto pelo total de
erros na série.
Estes dados devem ser inseridos na folha de rosto do teste, como mostra a
figura a seguir.
Figura 3. Cálculo do Escore (Peabody)
Após se obter o valor do escore bruto, iremos à tabela 8 onde se encontra a
tabela de idades correlacionada com o número de pontos (escore padrão para cada
idade). Checados os valores iremos confrontar com a idade da criança. Como no
exemplo a seguir: Criança A, 4 anos e 7 meses
Item do teto = 96
Total de erros = 30
Escore Bruto = 66 pontos equivalente a 5,1 anos
Escore esperado para 4,7anos = 62 pontos
Então, conclui-se que a criança A está acima do esperado para s ua idade,
correspondendo à pontuação esperada para uma criança de 5 anos e 1 mês.
Calculando o Escore Bruto
Anote o número do Item do Teto, Item do
Que é o último Item da Série do Teto ________
Teto.
Subtraia deste o número total de erros Total de
Feito pelo examinando da Série da Erros ________
Base até a Série do Teto. Este será
O Escore Bruto. Escore Bruto ______
Tabela 8. Peabody – Tabela de Idades
IDADE EQUIVALENTE A PONTUAÇÃO
Ponto
s
Idade
Média
Pontos
Idade
Média
Pontos
Idade
Média
Pontos
Idade
Média
0-22
23
24
25
26
27
28
29
30
31
32
33
34
35
36
37
38
39
40
41
42
43
44
45
46
47
48
49
50
51
52
53
54
55
56
57
58
59
60
<1-09
1-9
1-10
1-11
2-00
2-01
2-02
2-04
2-05
2-06
2-07
2-08
2-09
2-10
2-11
3-00
3-00
3-01
3-02
3-03
3-04
3-05
3-06
3-07
3-08
3-09
3-10
3-11
3-11
4-00
4-01
4-02
4-03
4-04
4-05
4-05
4-06
4-07
4-08
61
62
63
64
65
66
67
68
69
70
71
72
73
74
75
76
77
78
79
80
81
82
83
84
85
86
87
88
89
90
91
92
93
94
95
96
97
98
99
4-09
4-10
4-10
411
5-00
5-01
5-02
5-03
5-03
5-04
5-05
5-06
5-07
5-08
5-08
5-09
5-10
5-11
6-00
6-01
6-01
6-02
6-03
6-04
6-05
6-06
6-06
6-07
6-08
6-09
6-10
6-11
7-00
7-01
7-02
7-02
7-03
7-04
7-05
100
101
102
103
104
105
106
107
108
109
110
111
112
113
114
115
116
117
118
119
120
121
122
123
124
125
126
127
128
129
130
131
132
133
134
135
136
137
138
7-06
7-07
7-08
7-09
7-10
7-11
8-00
8-01
8-02
8-03
8-04
8-05
8-06
8-07
8-08
8-09
8-10
8-11
9-00
9-01
9-02
9-03
9-04
9-06
9-07
9-08
9-09
9-11
10-00
10-01
10-03
10-04
10-05
10-06
10-08
10-09
10-11
11-00
11-02
139
140
141
142
143
144
145
146
147
148
149
150
151
152
153
154
155
156
157
158
159
160
161
162
163
164
165
166
167
168
169
170
171
172
173
174
175
176
177
11-04
11-05
11-07
11-09
11-11
12-00
12-02
12-04
12-06
12-08
12-11
13-01
13-03
13-05
13-08
13-10
14-01
14-03
14-06
14-09
15-00
15-03
15-06
15-09
16-01
16-04
16-08
17-00
17-05
17-09
18-02
18-07
19-01
19-09
20-04
20-11
21-10
22+
22+
4.3. Metodologia de quantificação e análise dos processos do teste
O foco de interesse da pesquisa está nos 14 processos fonológicos citados,
correlacionados com os resultados obtidos no Teste de Vocabulário (Peabody). A
análise realizada separa os processos segundo a proposta da fonologia
probabilística (Pierrehumbert, 2003, Beckman et al., 2004), ou seja, aqueles
relacionados à representação mais abstrata dos itens (coarser-grained
representation) e os relacionados à representação fonética fina (fine-grained
phonetic representation). Consideramos que os processos a s eguir correspondem
ao nível mais abstrato: redução de silaba, simplificação de líquida, simplificação do
encontro consonantal e simplificação de consoante final, uma vez que afetam a
estrutura da palavra em relação ao número de sílabas, à estrutura silábica, número
de segmentos, tipo de segmentos, etc. É importante ressaltar que optamos por
excluir das observações a simplificação de consoante final, uma vez que boa parte
dos itens do teste refere-se à consoante r em posição final de palavra que costuma
ter um índice razoável de ausência na fala adulta. À representação fonética mais
detalhada correspondem a harmonia consonantal, plosivação de fricativa,
posteriorização para velar, posteriorização para palatal, frontalização de velares,
frontalização de palatal, sonorização de plosivas, sonorização de fricativas,
ensurdecimento de plosivas e ensurdecimento de fricativas. Estes processos afetam
a forma sonora da palavra.
A seguir estão exemplificados os processos do teste com dados obtidos na
amostra. Os relacionados à representação mais abstrata, isto é, aqueles que alteram
a estrutura da palavra como redução de sílaba ( peteca [tεka] ); simplificação de
líquida ( milho [miyu] ); simplificação de encon tro consonantal ( travessa
[tavεsa] ) e simplificação de consoante final ( pasta [pata] ). Também foram
observados dados de processos relacionados à representação fonética fina, isto é,
que alteram a forma sonora da palavra, como harmonia consonantal ( cortina
[kokina] ); plosivação de fricativa ( selo [telu] ); posteriorização para velar ( tambor
[kãbor]
3
), posteriorização para palatal ( sapo [šapu] ) , frontalização de velares
( caro [taru] ); frontalização de palatal ( peixe [pesi] ); sonorização de plosivas
(cadeira [gadera] ); sonorização de fricativas ( faca [ vaka] ); ensurdecimento
de plosivas ( galinha [kaliña] ) e ensurdecimento de fricativas ( jacaré [šakarε] ).
O comportamento das crianças na situação de test e será observado em
função das discrepâncias ou diferenças entre a forma produzida pela criança e a
forma alvo. No teste ABFW essas diferenças são definidas como resultantes da
aplicação de processos fonológicos, que se aplicam em função de aspectos da
fonologia que são inatos. Tomando a Fonologia de Uso ou Probabilística com
quadro teórico de referência, essas diferenças são entendidas como atualiz ações da
forma das palavras que as crianças vão fazendo à medida que, ao mesmo tempo,
vão dominando os esquemas motores dos sons da sua língua/dialeto. Por hipótese,
as estruturas abstratas vão emergindo das formas fonéticas armazenadas no léxico.
As diferenças obser vadas (os processos do teste) foram traduzidas em
valores percentuais. A percentagem foi obtida em função do total de possibilidades
de ocorrência de discrepâncias/diferenças em relação ao alvo. Por exemplo, há 12
possibilidades de simplificação de grupo co nsonantal no teste de repetição e 8 no de
nomeação, totalizando 20 casos. O percentual é calculado, então em função do
número de vezes que a criança não realizou o grupo em 20 chances.
A técnica estatística utilizada é a análise de regressão. Análise de regressão
consiste em explicar uma variável em função de outras. Nesse caso percentual de
3
A representação do arquifonema no teste é feita pela letra maiúscula R para o arqui-R e pelo letra S para o
arqui-S, segundo os critér ios do teste , mas esta representação é motivo de grande confusão na transcrição
fonética, aqui iremos utilizar [-r] e [-s] respectivamente, representação sugerida em LAMPRECHT,2004.
diferenças/processos é a variável a ser explicada. As variáveis independentes são a
idade e o tamanho do léxico e as variávei s indicadoras dos processos fonoló gicos. O
software estatístico utilizado é o Program a “R”, gratuito, que pode ser ob tido em
www.r-project.org. Foram calculados os coeficientes lineares (valores de α) de (y), o
percentual de ocorrência dos processos, em função de x, valores das variáveis
explicativas ou indep endentes utilizadas na análise. Ig ualmente foram calculados os
coeficientes angulares (valores de β), que indicam quanto muda em y quando se
altera uma unidade em x. Também foi observado o p-valor, que é uma medida que
indica quanto os dados se ajustam ou estão de acor do com a hipótese H
o
. Nesse
caso, H
o
indica que y não se altera em função de x.
4.4. Hipóteses de Trabalho
Nossa hipótese de trabalho está focada na relação entre léxico e fonologia
segundo os pressupostos da Fonologia de Uso ( Pierrehumbert, 2003). Outra
hipótese é a retro alimentação dos dois níveis de representação, na medida em que
a abstração fonológica emerge da forma fonética fina, ao mesmo tempo em que a
abstração fonológica serve para interpretar os novos itens armazenados observados
nas crianças com desenvolvimento típico (Beckman, Munson & Edwards, 2004).
Entretanto esses tipos de conhecimento fonológico podem se desenvolver
separadamente em populações clínicas. Crianças com Desvio Fonológico teriam
comprometimento na representação fonética fina e crianças com DEL teriam
comprometimento na representação mais ab strata (Beckman et al. 2004). Conforme
observado no capítulo 2, o conhecimento fonológico, as abstrações fonológicas, é
abstraído das formas sonoras das palavras armazenadas no léxico, então, espera-
se que haja uma relação entre o tamanho do léxico e a possibilidade de realizar
essas abstrações de acordo com o esperado na língua alvo.
5. ANÁLISE DOS DADOS
O objetivo deste capítulo é apresentar a análise dos dados coletados na
aplicação do Teste ABFW referentes aos dois grupos de crianças pesquisadas,
crianças com diagnóstico de DEL e Grupo Controle a partir dos pressupostos
teóricos da Fonologia Probabilística ou Fonologia de Uso.
5.1. Análise do Grupo com DEL
Nesta parte iremos analisar os re sultados dos testes ABFW e Peabody, no
grupo de crianças que foram diagnosticadas com Distúrbio Específico de Linguagem
(DEL) segundo os pressupostos da Fonolo gia de Uso. Conforme mencionado no
capítulo 3 reinterpretamos os 14 processos fonológicos já apresentados neste
trabalho em dois grandes blocos, aqueles referentes à estrutura da palavra
(Representação Abstrata) e aqueles referentes à forma sonora da palavra
(Detalhamento Fonético Fino).
Na tabela 9, a seguir, estão apr esentadas as porcentagens dos dados da
Avaliação Fonológica (ABFW) e o escore com a idade correspondente a partir do
Testes de Vocabulário (Peabody). As crianças estão representadas em ordem
crescente de idade, e identificadas somente pela letra inicial do nome.
Na linha 1 da tabela estão os dados referentes ao Teste de vocabulário, que
se apresentam da seguinte forma: primeiro o escore esperado para a idade e em
seguida o escore obtido e a idade correspondente de acordo com a tabela do teste.
Na linha dois temos as crianças com suas respectivas idades (cronológicas). Nas
linhas subseqüentes estão as diferenças entre as formas produzidas pelas crianças
e a forma-alvo, representadas pelas categorias do teste, os processos fonológicos,
para cada criança, nas duas provas (nomeação e imitação) do testes fonológico
4
. Os
três primeiros processos do teste, na nossa interpretação, estão relacionados à
representação mais abstrata (redução de sílaba, simplificação de líquida e
simplificação de encontro consonantal) e os demais, referentes ao detalhament o
fonético fino (simplificação de consoante final, harmonia consonantal, plosivação de
fricativa, posteriorização para velar, posteriorização para palatal, frontaliz ação de
velares, frontalização de palatal, sonorização de plosivas , sonorização de fricativas,
ensurdecimento de plosivas e ensurdecimento de fricativas). As diferenças foram
representadas em função do percentual de ocorrências, conforme já comentado no
item 4.2.2.2 do capítulo de metodologia.
4
Os valores das provas de nomeação e imitação foram somados em função do número de crianças com
diagnóstico de DEL, total de 8.
Tabela 9. Percentual de Ocorrência dos Processos
5
no grupo DEL
RESULDATO DO
PEABODY
50 –
28/2,2
54 -
14/1,9
54 -
11/1,9
56 -
57/4,7
57 –
69/5,7
62 -
41/3,3
68 -
44/3,6
69 -
80/6,7
CRIANÇAS
C 4
B 4,4
D 4,4
F 4,6
A 4,7
E 5
H 5,6
G 5,7
PROCESSOS FONOLÓGICOS
Redução de sílaba
2% 4% 1% 2%
Simplificação de liquida
68% 74% 74% 42% 11% 79% 37% 42%
Simplificação de encontro consonantal
100% 85% 80% 45% 25% 90% 90% 60%
Simplificação de consoante final
6
42% 58% 50% 42% 75% 67% 8%
Harmonia consonantal
2% 1% 2% 1%
Plosivação de fricativas
44% 2% 2% 2% 71% 2%
Posteriorização para velar
4% 8% 8% 12%
Posteriorização para palatal
22% 17% 11% 6% 33%
Frontalização de velares
42% 4% 12% 4% 54% 4% 4%
Frontalização de palatal
55% 9% 9% 91% 9%
Sonorização de plosivas
Sonorização de fricativas
4% 4% 7%
Ensurdecimento de plosivas
7% 3% 35% 29%
Ensurdecimento de fricativas
6% 50% 22% 28%
5
Iremos utilizar o termo proce ssos fonológicos na falta de uma no menclatura mais apropriada, porém a idéia proposta neste trabalho não é a mesma
apresentada na Teoria Gerativista.
6
optamos por ignorar esse processo uma vez que b oa parte dos itens do teste referem-se à consoante r em posição final de palavra que costuma ter um
índice razoável de ausência na fala adulta, pois no teste
Esses resultados mostram, para a maioria das crianças, um percentual alto de
ocorrências de simplificação de encontro consonantal (sílabas CV ao em vez de
CCV) e substituição de líquida, o que significa substituir a líquida por uma semivogal.
Essas alterações estão relacionadas à representação mais abstrata, estando a
produtividade nas categorias acima dos 25% como proposto no teste, como pode
ser observado no gráfico 1. Os percentuais obtidos para as demais cat egorias,
ligadas ao detalhamento fonético (harmonia consonantal, plosivação de fricativa,
posteriorização para velar, posteriorização para palatal, frontalização de velares,
frontalização de palatal, sonorização de plosivas, sonorização de fricativas,
ensurdecimento de plosivas e ensurdecimento de fricativas), não apresentam um
padrão uniforme como pode ser observado no gráfico 2, nesse gráf ico aplicamos um
zoom na faixa de 25% para facilitar a visualização das respostas, o resultado não foi
alterado . Essas duas tendências, uniformização dos dados referentes à forma mais
abstrata e dispersão nas categorias do detalhamento fonético fino, correspondem às
categorias de hipótese de trabalho.
Gráfico 1. Alterações na Representação Abstrata do Grupo com DEL
0%
25%
50%
75%
100%
A 4 , 7
B 4 , 4
C 4
D S 4, 4
E 5 a
F 4 ,6
G 5 ,7
H 5, 6
Reduç ão de s ílaba
Simplif ic ão de
l iquida
Simplif ic ão de
enc ontr o
c ons onantal
No Gráfico 1, no eixo X as crianças estão representadas aleatoriamente; no eixo Y temos a
produtividade (percentual de ocorrências), lembrando que a faixa acima de 25%
corresponde ao comportamento não esperado; e as colunas nas cores vinho, amarela e
verde, representam os processos fonológicos de redução silábica, simplificação de líquida e
simplificação de encontro consonantal respectivamente.
Gráfico 2. Alterações no Detalhamento Fonético Fino no grupo DEL
0%
25%
50%
C 4
B 4 , 4
D 4,4
F 4,6
A 4 ,7
E 5
H 5,6
G 5, 7
Har m onia cons onantal
P los ivaç ão de f r ic ativas
P os t er io r ização pa r a velar
P os t erio r ização par a pa latal
Frontalizaç ão d e velares
Frontalizaç ão d e palatal
S onor izaç ão de plos ivas
S onor izaç ão de fric ativas
E ns u rdec im ent o de plos ivas
E ns u rdec im ent o de fric ativas
Esses resultados apontam uma diferença de desempenho das crianças com
DEL em relação aos dois blocos de categorias propostos nesse trabalho, que se
relaciona a abstrair e armazenar as estruturas relacionadas à representação
abstrata, estruturas referentes à forma da palavra como redução de sílaba, por
exemplo.
Selecionamos para efeito de comparação 2 categorias de cada nível de
representação, que apresentavam uma distribuição uniforme para todas as crianças,
isto é, ocorreram em todas as crianças observadas, a saber, simplificação de
encontro consonantal (SEC), simplificação de líquida (SL), plosivação de fricativa
(CF) e posteriorização para velar (PV).
As idades das crianç as da pesquisa são muito próximas, o que compromete
uma análise acurada de diferença de desempenho por faixa etária. Além disso,
Observamos no gráfico 3 que, conforme o tamanho do léxico aumenta o
percentual de não realização do grupo consonantal diminui. Todos os casos são de
não realização da segunda consoante do grupo. Os pontos coloridos que
representam as crianças desse grupo estão mais dispersos na reta enquanto nas
categorias do detalhamento fonético fino os pontos estão mais próximos da reta
sofrendo pouca alteração quando o escore do léxico aumenta. Vale ressaltar que
as palavras que apresentam o grupo consonantal no teste são: plástic o, bloco,
clube, flauta, planta, blusa, globo, prego, branco, travessa, droga, cravo, grosso,
fraco, trator, prato, braço, zebra, livro, e cruz. Das 16 palavras entre as vinte que
apresentam a silaba CCV, tanto as que têm a lateral, quanto as que têm o tepe
como segunda consoante do grupo, são itens lexicais com o grupo consonantal na
sílaba tônica. De acordo com Mollica e Paiva (1991) e Cristófaro Silva (2003), os
grupos consonantais com tepe podem ter a 2ª consoante ausente, constituindo uma
variável sociolingüística. Essa tendência
redução de sílaba, simplificação de líquida, categorias que dão conta da estrutura
das palavras.
Os resultados da criança com desvio fonológico não serão analisados, pois
não são suficientes para uma análise comparativa, já que apenas esta criança
apresentou o diagnóstico diferente de DEL, apesar dos resultados observados na
prova fonológica serem significativos.
5.2. Análise do Grupo Controle
Nesta seção será feita análise dos dados do Grupo Controle, que tem 12
crianças entre 3,2 anos e 6,3 anos, nos mesmos testes ABFW e Peabody, seguindo
os mesmos critérios de análise. A tabela 10 representa as repost as encontradas nas
12 crianças do Grupo Controle.
Na tabela 10 temos o percentual dos dados da Avaliação Fonológica (ABFW)
e o escore com a idade correspondente segundo o Teste de Voca bulário (Peabody).
A tabela 10 se apresenta da mesma forma que a tabela 9 onde temos, na linha 1, os
dados referentes ao Teste de vocabulário, informando primeiro o escore esperado
para idade e em seguida o escore obtido e a idade correspondente. Na linha dois
temos as crianças com a idade cronológica e, nas linhas subseqüentes, as
percentagens de cada criança nas duas provas (nomeação e imitação) do teste
fonológico em relação aos ”processos fonológicos” ou categorias do teste.
Tabela 10. Percentual de Ocorrência dos Processos no Grupo Controle
PEABODY
40-
22/1,9
42-
53/4,3
51-
47/3,9
53-
53/4,3
54-
62/5,0
56-
73/5,11
63-
51/4,1
63-
66/5,4
73-
121/10,1
76-
82/6,9
77-
94/7,9
CRIANÇAS J 3,2 L 3,4 M 4,1 N 4,3 O 4,4 P 4,6 Q 5,1 R 5,1 S 5,11 T 6,2 U 6,3
PROCESSOS FONOLÓGICOS
Redução de sílaba 2% 1% 3% 1% 1% 1%
Simplificação de liquida 2% 5%
Simplificação de encontro consonantal
50% 25% 20% 3% 15% 15% 5% 25%
Simplificação de consoante final 8% 8% 17% 8%
Harmonia consonantal
Plosivação de fricativas
Posteriorização para velar
Posteriorização para palatal
Frontalização de velares
Frontalização de palatal
Sonorização de plosivas 2%
Sonorização de fricativas
Ensurdecimento de plosivas 3% 6% 3%
Ensurdecimento de fricativas 6% 6%
65
Os percentuais observados para as 11 crianças do Grupo Controle são
significativamente mais baixos nos pr ocessos relacionados com a representação
abstrata, estando a produtividade dos processos abaixo dos 25% propostos no teste
para a maioria das crianças (10 crianças). Apenas a criança mais jovem (3,2 anos)
apresentou percentuais acima do esperado no teste (50%) na categoria SEC
(simplificação de encontro consonantal). No entanto, esse resultado parece estar de
acordo com o esperado para crianças com desenvolvimento típico. Vale ressaltar
que, para Lamprecht (2004:171), a aquisição dessa categoria se dá por volta dos 5
anos, estando a criança J dentro do esperado. Esses dados podem ser observados
no gráfico 4.
Gráfico 4. Representação Abstrata Grupo Controle
0%
25%
50%
75%
100%
J 3, 2
L 3,4
M 4,1
N 4, 3
O 4,4
P 4 , 6
Q 5,1
R 5 , 1
S 5,11
T 6,2
U 6 , 3
R eduç ão de s ílaba
Si m plific ão de liquida
Si m plific ão de
enc ontr o c ons onantal
As categorias relacionadas ao detalhamento fonético apresentam respostas
inferiores a 25% para todas as crianças ( em torno de 10% à 15%), sendo que
66
algumas crianças não apresentam alterações, isto é a forma produzida pela criança
é igual à forma-alvo produzida pelo adulto, como pode ser observado no gráfico 5
onde também foi aplicado o zoom com objetivo de facilitar a visualização das
respostas.
Gráfico 5. Detalhamento Fonético Fino Grupo Controle
0%
25%
50%
J 3, 2
L 3,4
M 4,1
N 4 , 3
O 4,4
P 4 , 6
Q 5,1
R 5, 1
S 5,11
T 6,2
U 6 , 3
Har m onia consonant al
P los ivaç ão de fr ic ativas
P os terior izaç ão para ve lar
P os terior izaç ão para palatal
Frontalizaç ão de velare s
Frontalizaç ão de p alatal
S onorizaç ão de plos iva s
S onorizaç ão de f r ic ativas
E ns urdec im ento de plos ivas
E ns urdecim ent o de f r icativas
No gráfico 6 temos os resultados do teste fonológico em relação ao tamanho
do léxico. Podemos observar que todas as categorias estão paralelas ao eixo X
(tamanho do léxico) com exceção da simplificação de encontro consonantal, que
apresenta uma inclinação decrescente, mesmo com os percentuais dentro do
esperado para o grupo controle. Por outro lado embora o percentual esteja dentro da
faixa do esperado, segundo Lamprecht (2004), para as autoras do teste ABFW, esta
aquisição ocorre por volta dos 7 anos. No entanto, a relação entre grupos
consonantais e léxico no grupo controle pode ser uma evidência de que estruturas
67
abstratas mais complexas vão se estabelecendo gradativamente conforme o léxico
aumenta.
Gráfico 6. Relação da representação fonológica em relação ao tamanho do léxico no
Grupo Controle
5.3 Comparando os dados dos dois grupos
Neste tópico iremos tratar da comparação entre os dois grupos, DEL e
Controle, de acordo com os resultados apresentados para cada um deles.
Os dados percentuais foram submetidos a uma análise de regressão linear
para verificar se há relação entre mapeamento fonológico e léxico, como pode ser
observado na tabela 13 a seguir.
A técnica estatística que usamos é Análise de Regressão sendo a % P,
percentagem de realizações dos processos, a variável a explicar. As variáveis
68
explicativas são o tamanho do léxico (x) e algumas variáveis indicadoras, ou seja,
variáveis que assumem o valor um quando a característica está presente e o valor
zero quando ela está ausente. As 4 variáveis indicadoras aqui usadas são:
_ I1 para indicar se a observação corresponde ao estudo do processo SEC,
_ I2 para indicar se a observação corresponde ao estudo do processo SL,
_ I3 para indicar se a observação corresponde ao estudo do processo CF,
_ I4 para indicar se a observação corresponde ao estudo do processo PV,
As variáveis indicadoras I1, I2, I3, I4 são excludentes entre si: quando para
uma observação uma delas assume o valor um, as outras assumem o valor zero.
Na tabela 11, os valores de α, coeficiente linear, verificam, para cada uma das
variáveis, o ponto dos valores de y (percentual de ocorrência das discrepâncias
observadas ou processos do teste). Os valores de β, coeficiente angular, indicam se
há relação entre os valores de y e os valores de x (tamanho do léxico).
Tabela 11. Estimação de α e β do grupo DEL
Indicador
Do Grupo
Coef. Estat. - t p.valor
I
1
(SEC)
103.22 7.47 0.0000
I
2
(
SL
)
89.97 6.51 0.0000
I
3
(
CF
)
20.85 1.51 0.1427
α
I
4
(
PV
)
2.44 0.18 0.8613
I
1
(SEC)
-0.75 -2.74 0.0107
I
2
(
SL
)
-0.78 -2.85 0.0081
I
3
(
CF
)
-0.09 -0.34 0.7370
β
I
4
(
PV
)
0.05 0.20 0.8441
Medidas sobre o ajuste:
Erro Padrão do resíduo = 18.69, R2 = 0.8893
N = 36, F = 28.13 com 8 e 28 gl, p-valor = 0
SQR=9785
De acordo com a tabela acima, os processos SEC e SL apresentam os β’s,
com significância próxima de 1%, bastante próximos, indicando que os dois
69
processos têm a mesma inclinação em relação ao léxico da criança. Com relação à
hipótese lingüística, os resultados confirmam o comportamento semelhante de
processos do mesmo nível de representação, o das propriedades mais abstratas da
forma das palavras, no léxico da criança. Já os outros dois processos (CF e PV),
observando os p-valores, não apresentam a rejeição da hipótese nula (H0: β=0),
significando que não há diferença significativa entre os valores de y, percentual de
realização dos processos, e os valores de x, tamanho do léxico da criança.
Observamos também que os α’s nos grupos SEC e SL, onde a inclinação é
semelhante, começam de níveis diferentes.
Na tabela 12 estão apresentados os mesmos cálculos para os dados do
grupo CON.
Tabela 12. Estimação de α e β do grupo CON
Indicador
Do Grupo
Coef. Estat. - t p.valor
I
1
(SEC)
35.51 6.19 0.0000
I
2
(
SL
)
1.76 0.31 0.7602
I
3
(
CF
)
0.00 0.00 1.0000
α
I
4
(
PV
)
0.00 0.00 1.0000
I
1
(SEC)
-0.32 -3.95 0.0004
I
2
(
SL
)
-0.02 -0.21 0.8344
I
3
(
CF
)
0.00 0.00 1.0000
β
I
4
(
PV
)
0.00 0.00 1.0000
Medidas sobre o ajuste:
Erro Padrão do resíduo = 6.80, R2 = 0.6428
N = 36, F = 8.10 com 8 e 36 gl, p-valor = 0
SQR = 1666
Na tabela 12, somente o p-valor do processo SEC, para o coeficiente de
β,
rejeita a hipótese Ho, isto é, somente nesse caso há relação entre processo e
tamanho do léxico. Verificamos na tabela 12 que a criança J, de 3;2, apresenta o
maior percentual de ausência de consoante no grupo, 50%. Uma vez que ela tem
70
idade inferior à das crianças do grupo DEL, retiramos esses dados e refizemos os
cálculos de α e β e verificamos que nenhum p-valor rejeita a hipótese Ho. Em outras
palavras, não há correlação entre percentual dos processos do teste observados e
tamanho do léxico no grupo controle. Os novos resultados obtidos para α e β
podem ser observados na tabela a seguir.
Tabela 13. Estimação dos α e β da equação 1 correspondente ao grupo CON
eliminando o ponto de influência (Criança 5)
Indicador
Do Grupo
Coef. Estat. –
t
p.valor
I
1
(SEC)
18.39
3.38
0.0018
I
2
(
SL
)
1.76 0.41 0.6878
I
3
(
CF
)
0.00 0.00 1.0000
α
I
4
(
PV
)
0.00 0.00 1.0000
I
1
X
-
0.11
-
1.46
0.1523
I
2
X
-0.02 -0.28 0.7831
I
3
X
0.00 0.00 1.0000
β
I
4
X
0.00 0.00 1.0000
Medidas sobre o ajuste:
Erro Padrão do resíduo = 5.16, R
2
= 0.5686
N = 35, F = 5.78 com 8 e 36 gl, p-valor = 0.0001
SQR = 933.03
Do ponto de vista das hipóteses lingüísticas, a análise estatística permitiu
identificar, através dos coeficientes angulares de β, que, para as crianças DEL, os
processos relacionados à representação mais abstrata da estrutura da palavra, SEC
e SL, estão correlacionados ao tamanho do léxico. Já no grupo CON, os coeficientes
angulares de β obtidos indicam não haver relação entre os processos e o tamanho
do léxico para este grupo. Esses resultados podem ser indicativos de qu e
abstrações de certos tipos estruturais fonológicos dependem de uma armazenagem
maior de itens, uma vez que as crianças DEL apresentaram, em geral, um escore de
léxico abaixo do esperado para a idade. Já aqueles processos que envolvem a
forma fonética fina não apresentaram essa inclinação (β ´s zero) para o grupo DEL.
71
Complementarmente, os coeficientes lineares de α revelaram que para os
processos SEC, SL, CF, o %P é maior entre as crianças DEL se comparados ao
grupo controle. Observa-se, então, que as crianças DEL apresentam, em relação à
forma fonética fina das palavras, uma distância maior em relação à forma alvo, o que
pode reforçar a hipótese de interdependência entre os níveis de representação
fonológica, já que o aumento do léxico também demanda maior detalhamento
fonético das palavras estocadas.
O que nos chama atenção é a dificuldade que crianças com DEL
apresentaram nas categorias relacionadas à estrutura da palavra (representação
mais abstrata). O mesmo não se observou em relação àquelas categorias que
correspondem na nossa análise à forma sonora da palavra (detalhamento fonético
fino), como pode ser observado a seguir com a comparação dos dois gráficos 7 e 8,
já apresentados como 5 e 6.
Gráfico 7. DEL Gráfico 8. Grupo Controle
Estes resultados corroboram a postulação dos dois níveis de representação
propostos na Fonologia de Uso, um referente à representação fonológica (mais
abstrato) e outro referente às formas fonéticas das palavras (detalhamento fonético).
72
Além disso, o comportamento do grupo DEL em relação à palavras reais do
português reforça os achados de Beckman et al.(2004) no que diz res peito ao
comportamento das crianças com diagnóstico de Distúrbio Específico da linguagem.
Os trabalhos de Hage e Guerreiro (2004) e Befi-Lopes (2004), apesar de
mencionarem o fato de que as alterações fonológicas são freqüentes em crianças
com DEL, não apresentam exemplificação ou mencionam qualquer tipo, por isso não
podemos afirmar se os dados da pesquisa realizada aqui confirmam as alterações
encontradas pelas autoras.
Com relação ao Teste ABFW, embora ele tenha sido pensado numa teoria
lingüística formal, também foi possível ser utilizado e analisado numa outra
perspectiva teórica, como feito nesta pesquisa.
Quando o teste é utilizado para fins científicos apresenta alguns pontos que
merecem ser observados com mais atenção como, por exemplo, a ausência de uma
mesma distribuição de ocorrência dos processos, conforme já visto no capítulo da
metodologia, como também dos segmentos. Em alguns casos o segmento pode
ocorrer apenas uma vez no teste como, por exemplo, os fonemas /d/, / f/, /z/, /s/, / š/,
/ ʒ/ que ocorrem apenas uma vez na posição inic ial e final e outros que ocorrem uma
vez em uma das posições como, /m/, /v/, / / ג e /t/. Observou-se também a existência
de superposição dos processos como harmonia consonantal e os tipos possíveis de
harmonização que podem também ser expressos por outros processos como a
plosivação de fricativa, por exemplo, o que pode levar a um resultado equivocado,
uma vez que trata-se da mesma alteração, medida duas vezes. Deve se pensar se
estes fatos podem influenciar na análise e principalmente na conduta clínica.
73
6. CONCLUSÃO
Nesse trabalho partimos do pressuposto que a organização sonora das
línguas se estabelece em dois níveis de representação, a representaçã o mais
abstrata (coarser-grained representation) responsável pela estrutura da palavra em
termos de número de sílabas, construção silábica, segmentos, e a outra que é o
detalhamento fonético fino (fine-grained phonetic representation) que está
relacionado à forma sonora da palavra. Parte-se também do princípio de que as
abstrações fonológicas estão intimamente relacionadas com o tamanho do léxico,
diferente das concepções formais onde o léxico e a gramática estão separados.
Partindo deste ponto de vista teórico analisamos dados de 8 crianças com
diagnóstico de distúrbio específico de linguagem (DEL) na prova fonológica do Teste
ABFW comparado ao desempenho de 11 crianças com desenvolvimento típico
(Grupo Controle). Foram observados os processos fonológicos na seguinte
distribuição, segundo a proposta da fonologia probabilística (Pierrehumbert, 2003,
Beckman et al., 2004), ou seja, aqueles relacionados à representação mais abstrata
dos itens e os relacionados à representação fonética fina. Consideramos que os
processos a seguir correspondem ao nível abstrato: redução de silaba, simplificação
de líquida, simplificação do encontro consonantal e simplificação de consoante final.
Os resultados obtidos revelaram que nas crianças com DEL há diferenças de
desempenho em relação ao grupo controle para as categorias que correspondem às
formas mais abstratas (coarser-grained representation).
Também foi observado que as diferenças de desempenho entre as crianças
do grupo DEL, para as categorias mais abstratas, estão relacionadas com o
tamanho do léxico (Teste Peabody). Quanto pior é a resposta no Peabody (menor o
74
tamanho do léxico) pior é a resposta para as categorias mais abstratas (acima de
25%).
Já para as alterações relacionadas ao nível da forma fonética fina, no grupo
DEL não foi observada relação entre os percentuais obtidos e o tamanho do léxico.
Estes resultados com dados reais corroboram os resultados de Beckman et
al. (2004) onde foram avaliados três grupos de crianças, com DEL, desvio fonológico
e desenvolvimento típico, em testes de pseudo-palavras. Os autores apresentam
evidências para a diferenciação entre os três grupos em função da or ganização
sonora em dois níveis de representação fonológica e uma correlação entre a
representação fonológica mais abstrata e o tamanho do léxico.
75
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79
ANEXO 1
Prancha com as figuras ABFW (2004)
80
ANEXO 2
ANÁLISE DOS PROCESSOS FONOLÓGICOS NOMEAÇÃO
Data: _____/_____/_____
Nome: ___________________________________________________________
Idade: _____________________________________ D.N.: _____/_____/_____
Escolaridade: _______________________________________ _______________
Examinadores: _____________________________________________________
palhaço Bolsa tesoura cadeira galinha vassoura cebola xícara mesa navio livro sapo tambor sapato balde faca fogão
Total
TRANSCRIÇÃO
Redução de sílaba
Harmonia consonantal
Plosivação de fricativas
Posteriorização para vel ar
Posteriorização para p al atal
Frontalização de velares
Frontalização de palatal
Simplificação de líquida
Simplificação do encontro consonantal
Simplificação de consoante final
Sonorização de plosivas
Sonorização de fricativas
Ensurdecimento de plosivas
Ensurdecimento de fricativas
81
peixe relógio cama anel Milho cachorro blusa garfo trator prato pasta dedo zebra girafa braço planta cruz
Total
TRANSCRIÇÃO
Redução de sílaba
Harmonia consonantal
Plosivação de fricativas
Posteriorização para vel ar
Posteriorização para p al atal
82
ANEXO 3
ANÁLISE DOS PROCESSOS FONOLÓGICOS IMITAÇÃO
Data: _____/_____/_____
Nome: ___________________________________________________________
Idade: _____________________________________ D.N.: _____/_____/_____
Escolaridade: _______________________________________ _______________
Examinadores: _____________________________________________________
peteca Bandeja tigela doce cortina gato foguete vinho selo zero chuva jacaré machado nata lama ônibus prego café alface Total
TRANSCRIÇÃO
Redução de sílaba
Harmonia consonantal
Plosivação de fricativas
Posteriorização para vel ar
Posteriorização para p al atal
Frontalização de velares
Frontalização de palatal
Simplificação de líquida
Simplificação do encontro consonantal
Simplificação de consoante final
Sonorização de plosivas
83
Raposa borracha abelha carro branco travessa Droga Cravo grosso fraco plástico bloco clube globo flauta pastel porco nariz amor roupa
T
OTA
L
TRANSCRIÇÃO
Redução de sílaba
Harmonia consonantal
Plosivação de fricativas
Posteriorização para vel ar
Posteriorização para p al atal
Frontalização de velares
Frontalização de palatal
Simplificação de líquida
Simplificação do encontro consonantal
Simplificação de consoante final
Sonorização de plosivas
Sonorização de fricativas
Ensurdecimento de plosivas
Ensurdecimento de fricativas
Outros
TOTAL
84
ANEXO 4
UFRJ - Faculdade de Medicina - Curso de Fonoaudiologia
FONOLOGIA - RESUMO DA ANÁLISE DO SISTEMA FONOLÓGICO
Nome: Idade: Data:
Processo Fonológico I.P.E.U.P Imitação Produtividade Nomeação Produtividade Adequado à Idade
P.O O P.O O
1. Redução de sílaba
2;6 39 34
2. Harmonia consonantal
2;6 39 34
3. Plosivação de fricativas
2;6 22 23
4. Posteriorização para velar
3;6 13 12
5. Posteriorização para palatal
4;6 7 11
6. Frontalização de velares
3;0 17 9
7. Frontalização de palatal
4;6 6 5
8. Simplificação de líquida
3;6 7 11
9. Simplificação encontro consonantal
7;0 12 8
10. Simplificação de consoante final
7;0 7 5
11. Sonorização de plosivas (*)
- 28 21
12. Sonorização de fricativas (*)
- 13 14
13. Ensurdecimento de plosivas (*)
- 18 14
14. Ensurdecimento fricativas (*)
- 9 9
15. Outros:
LEGENDAS
I.P.E.U.P --> Idade prevista para eliminação do uso produtivo
P.O --> Possibilidade de ocorrência
O --> Ocorrência
(*) --> Processos fonológicos incomuns durante o desenvolv imento
ANEXO 5
Peabody Picture Vocabulary Test-Third Edition
By Lloyd M. Dunn & Leota M. Dunn
Registro de Desempenho FORMA III a
Instruções e Série de Palavras Estímulos para Aplicação da Prova
Todas as instruções para a introdução deste teste e uso dos Itens de Treinamento estão nas 1as. Páginas em frente ao examinador. Use os intens
A e B com crianças de 2 a 7 anos, C e D com pessoas a partir de 8 anos.
Regra da Série. Uma vez começado uam série de itens, sempre administre todos os 12 itens na Ordem Da série, e sempre comece pelo 1º item
de cada série.
Item de Início. Comece testando com o item de início, que é o 1º item da série apropriada para
idade do Examinando.
Regra da Série de Base. É 1 ou nenhum erro feito na série. Estabeleça a série de base primeiro.
Se for preciso volte as séries anteriores, até que o examinando faça um ou nenhum erro em uma série.
Regra da Série de Teto. Asérie do teto são 8 erros ou mais em uma série.
Nome: __________________________________
Sexo:__________
Endereço:_________________________________
Tel:___________
Cidade: ___________________ Estado: ________
CEP:
Calculando o Escore Bruto
Anote o número do Item do Teto, Item do
Que é o último Item da Série do Teto
Teto.
Subtraia deste o número total de erros Total de
Feito pelo examinando da Série da Erros ______
Base até a Série do Teto. Este será
O Escore Bruto. Escore Bruto ______
Dados da Idade
Ano mês dia
Data do Teste ____ ___ ___
Data de Nascimento___ ___ ___
Idade Cronológica _______
REGISTRO DE ESCORE
Escore Bruto _________
Escore Padrão _________
Idade Equivalente _________
Idade Item/Início
2-64 1
4 13
5 25
6- 7 49
8-9 73
10-11 85
12-16 109
17-adulto 145
86
ANEXO 6
Form III A
Item P a lavr a C have Ite m P a lavra Chave Ite m P alavr a C have It em P ala vra C have Ite m P a lavra Cha ve
1 ônibus 4 13 c avando 2 25 vazio 1 37 castelo 2 49 pa ra-quedas 3
2 bebendo 3 14 vaca 1 26 om bro 3 38 serrando 4 50 entregando 1
3 o 1 15 tam bor 3 27 quadrado 4 39 cac to 3 51 retângu l o 1
4 subi ndo 1 16 pena 1 28 m edin do 4 40 f azenda 1 52 mergulhando 2
5 chave 4 17 pintando 3 29 porco espinho 1 41 indo 2 53 trailer 4
6 lendo 1 18 gaiola 2 30 f lecha 2 42 harpa 1 54 alvo 2
7 arm ário 2 19 j oelho 1 31 descascando 3 43 astronau ta 3 55 escrevendo 1
8 pulando 3 20 emb rul hando 4 32 f onte 2 44 gam 1 56 peludo 4
9 abaj ur 4 2 1 cerc a 3 33 ac idente 2 45 malabarismo 4 57 soldando 3
10 helicóptero 2 22 c otovelo 4 34 pingu i m 1 46 envel ope 2 58 anzol 3
11 cheirando 2 2 3 lixo 2 35 dec orado 4 47 rasgando 3 59 gripe 3
12 m osca 3 2 4 exercitando 4 36 ni nh o 3 48 garra 1 60 gotej ando 4
Item P a lavr a C have Ite m P a lavra Chave Ite m P alavr a C have It em P ala vra C have Ite m P a lavra Cha ve
61 veículo 4 7 3 gigantesco 2 85 f lamingo 2 97 pedal 2 109 sol o 4
62 oval 1 74 narin a 4 86 pandeiro 4 98 dissecan do 2 110 cítrico 2
63 bagag em 2 75 vaso 3 87 palm eira 1 99 "buque" 4 111 i nflado 3
64 prem iando 3 76 c ircen se 2 88 su rpreso 4 100 roedor 3 112 palestran do 3
65 engrenagem 2 77 rebocando 1 89 canoa 3 1 01 inal ando 4 113 velocímet ro 3
66 pântano 3 78 horroriza 3 90 entrev i stan do 1 102 vale 1 114 in jetando 1
67 ca lculadora 2 79 t ronco 2 91 clarineta 4 1 03 tu bular 3 115 elos 4
68 sinal 1 80 selecionan do 1 92 ex austa 2 104 demolindo 4 116 coo perando 2
69 ervilh a 3 81 ilha 2 93 j arro 3 105 presa 1 117 microscópio 1
70 globo 2 82 f ilmadora 4 94 répt il 2 106 aj ustável 2 118 arquei ra 2
71 ca cho 1 83 c oração 3 95 polu indo 3 107 samam baia 1 119 vesti menta 4
72 m oldura 1 84 c have inglesa 4 96 trepadeira 1 108 obstáculo 3 120 f rágil 3
Início 6-7 anos SÉRIE 5
Resp. Resp. Resp. Resp. Resp.
Início 2,6 anos SÉRIE 1 Início 4 anos SÉRIE 2 Início 5 anos SÉRIE 3 SÉRIE 4
n.º de erros ( )
SÉRIE 6 Início 8-9 anos SÉRIE 7 Início 10-11 anos SÉRIE 8 SÉRIE 9 Início 12-15 anos SÉRIE 10
n.º de erros ( ) n.º de erros ( ) n.º de erros ( ) n.º de erros ( )
Resp.
n.º de erros ( ) n.º de erros ( ) n.º de erros ( ) n.º de erros ( ) n.º de erros ( )
Resp. Resp. Resp. Resp.
87
Ite m P a la vra C ha ve Item P a la vra C hav e Ite m P a lav ra C have It e m P al avr a Cha ve It em P a la vra C have
121 c arpinteiro 2 133 crepitando 3 145 serin ga 4 157 indigente 2 169 incandescen te 4
122 dilapidado 4 134 m am ífero 2 146 t ransparente 3 158 si s 1 170 surrupi ando 2
123 arriscado 3 135 reprimenda 1 147 conch a 2 159 desapontado 4 171 traj etória 1
124 ada ptador 2 136 estofado 4 148 repondo 3 160 perpendicular 3 172 merc antil 3
125 registro 3 137 içando 1 149 abrasivo 1 161 palmí pede 4 173 pênsi l 3
126 isolamento 1 138 exterior 1 150 paralelogramo 3 162 conf idenciando 1 174 ascendendo 2
127 f elin o 2 139 consu mindo 4 151 cascata 4 163 pe riódico 2 175 monetário 3
128 pranto 1 140 patisseria 4 152 alavan ca 1 164 filtragem 1 176 entomologista 2
129 orla 4 141 cór n ea 2 153 detonação 2 165 primata 4 177 f isga 1
130 utens ílio 1 142 cativo 3 154 pilar 2 66 esférico 2 178 quin teto 3
130 f undação 4 143 pedestre 2 155 cultivando 1 167 bípede 3 179 náutico oásis 4
132 m achadinha 3 144 pot ro 3 156 aquático 4 168 octógono 3 180 encarcerando 1
Ite m P a la vra C ha ve It em P a la vra C hav e
181 c onífera 4 193 engalanado 4
182 gnu 1 194 peranbulan do 2
183 rodí zio 3 195 arável 3
184 sesta 4 196 importunação 1
185 c onvexo 1 197 cenotáf io 1
186 "g ourmet" 3 198 m ensurável 2
187 drom edário 2 199 nidificando 3
188 divergente 4 200 coreograf ia 1
189 incerteza 2 201 pedranceira 4
190 inerte 3 202 oscul ando 2
191 am olando 1 203 vítreo 3
192 c úpula 2 204 lúgubre 2
SÉRIE 11 SÉRIE 12
n.º de erros ( ) n.º de erros ( )
Resp. Resp. Resp. Resp. Resp.
Início 17 anos adulto SÉRIE 13 SÉRIE 14 RIE 15
n.º de erros ( ) n.º de erros ( ) n.º de erros ( )
SÉRIE 16 SÉRIE 17
Resp. Resp.
n.º de erros ( ) n.º de erros ( )
Anexo 7
Prancha B
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