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Vaticano manteve uma forte posição anticomunista principalmente a partir da ocupação
soviética do Leste Europeu e do amplo peso eleitoral do Partido Comunista Italiano. Uma vez
delineada a Guerra Fria, a Sagrada Congregação do Santo Ofício (antiga Inquisição) ameaçou
de excomunhão os católicos que apoiassem os partidos comunistas, o que significou para as
Igrejas da América Latina a proibição de qualquer cooperação entre ambos.
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Em 1957 a aliança entre falangistas e conservadores identificados com a doutrina
social deu origem ao Partido Democrata Cristão. O PDC ganhou muito espaço político nos
anos 1960, tornando-se a opção mais atraente para a burguesia, a qual se encontrava
enfraquecida politicamente e apresentava seu projeto liberal desarticulado diante do aumento
da pressão popular por reformas.
Em outras palavras, devemos entender a ascensão do PDC e a opção da Igreja do Chile
por este projeto político, tanto pelo fracasso e desgaste do projeto empresarial colocado em
prática no país ao longo da década de 1950, quanto pelo significado da Revolução Cubana na
América Latina.
Desde o início dos anos 1950, tornaram-se evidentes as contradições do projeto
populista do general Ibáñez
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, que combinava políticas de maior controle estatal da atividade
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VIDAL, Hernán. Las capellanías castrenses durante la dictadura. Hurgando en la ética militar chilena.
Santiago: Mosquito Comunicaciones, 2005, p.38.
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Carlos Ibáñez del Campo é considerado um nome importante da política chilena. Antes de sua primeira vitória
eleitoral como presidente em 1927, havia participado de movimentos militares que caracterizaram o final da
República parlamentar no Chile. Quando se tornou presidente em 1927 introduziu no país um regime autoritário,
reprimindo a oposição, censurando a imprensa e submetendo o movimento sindical ao controle direto do Estado.
Após um notável crescimento econômico e de obras públicas, o país foi assolado pela crise de 1929 e o governo
se viu diante de um colapso fiscal, produtivo e financeiro. Ibáñez renunciou e se exilou, retornando ao Chile em
1937, quando foi novamente candidato à presidência apoiado pelo movimento nacional-socialista. Após um
golpe de Estado efetuado por jovens nazistas, Ibáñez teve novamente que renunciar, retornando ao poder apenas
em 1952. Neste ano o general deu início a um regime caracterizado por alguns autores como um “populismo
autoritário” ou “populismo tardio” (se considerarmos as experiências populistas dos demais países do
continente). A exemplo de Perón, com quem Ibáñez mantivera estreitas relações políticas e pessoais, o
populismo ibañista pôs fim a uma forma de fazer política que perdurava no Chile há doze anos sob mandatos de
presidentes radicais (do Partido Radical): a política dos acordos e negociações entre cúpulas partidárias, que
asseguravam a estabilidade política nacional, mas haviam agravado os problemas econômicos e sociais do país.
Ibáñez procurou vincular a sua imagem diretamente às massas, evitando mediações partidárias. Com isso,
conseguiu um número significativo de votos não apenas das classes populares, como também dos que
reivindicavam a “ordem”, isto é, um regime autoritário e ditatorial semelhante a seu primeiro governo. O general
governou o Chile de 1952 a 1958 e seu governo foi dividido pelos historiadores em duas fases: a primeira foi a
fase propriamente populista, quando foi criado o Banco do Estado e respaldada a formação da Central Única de
Trabalhadores (CUT). Neste período se tornou visível uma política de maior controle estatal da atividade
econômica e de apoio e controle dos sindicatos. A partir de 1955, o país se viu em sérias dificuldades
econômicas que se traduziram no aumento da inflação, greves operárias nas áreas chaves como a mineração e
crise política (entrada e saída de ministros ligados à correntes políticas distintas). Neste momento o governo
passou a se aproximar da direita empresarial dando início à segunda fase da era Ibañista caracterizada por uma
maior abertura da economia, a entrada de créditos externos norte-americanos, benefícios à iniciativa privada,
maior repressão ao movimento operário e políticas antiinflacionárias. Ver: CORREA, Sofia; FIGUEROA,
Consuelo; JOSELYN-HOLT, Alfredo; ROLLE, Claudio; VICUÑA, Manuel. Historia del siglo XX chileno. 3 ed.
Santiago: Editorial Sudamericana, 2005.