Estes cidadãos, ao iniciar o governo de D. Pedro II
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, estavam organizados
em duas facções políticas, Conservadoras e Liberais
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que, segundo Guimarães (2002),
“vinham das imprecisões e combinações do período regencial”. A autora, lembra a frase de
efeito pronunciada por Holanda Cavalcanti: ‘nada mais igual a um saquarema que um luzia
no poder’. Mattos também destaca o fato de que liberais e conservadores, na sua pretensão
de monopolizar o ‘mundo do governo’, apresentavam-se a um só tempo semelhantes,
diferentes, hierarquizados, dependendo das circunstâncias. Porém, o contraste entre estes
grupos pode ser percebido, de acordo com Mattos, no enredo das principais idéias
defendidas pelos dois partidos:
Os liberais apegavam se ao mote de que o rei reina, mas não governa, ao
passo que os conservadores argumentavam que o exercício do poder
moderador impedia ao monarca de se manter alheio aos negócios públicos-
premissa que deu origem ao princípio de que o rei reina, governa e
administra, sustentado pelo visconde de Uruguai.
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Assim, o ideário iluminista encontra no Brasil forças que o apreende dentro
própria concepção de mundo da monarquia brasileira. A Coroa e as forças políticas e
sociais predominantes no Estado imperial, “no conjunto dos interesses dominantes no
Império – reivindicava para si um novo monopólio, e o exercia efetivamente- o do
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No Primeiro Reinado não houve formações partidárias definidas, conquanto a abertura das Câmaras, em
1826, tivesse propiciado o início de um movimento de tendência liberal, que passou a oferecer resistência
sistemática às práticas autoritárias de D. Pedro I. Porém, os integrantes da oposição não constituíam um grupo
coeso. Se a maioria desejava tão somente que o monarca cumprisse os preceitos constitucionais, havia uns
poucos elementos, mais radicais, que não escondiam suas aspirações republicanas.Com a abdicação em 1831,
alterou-se o canário político na Câmara dos deputados, pois cessada a motivação que os reunia, os liberais
deixaram vir a tona suas diferenças. Os moderados ou chimancos, que ascenderam ao governo após 7 de abril,
lutavam para preservar as estruturas vigentes, embora aceitassem algumas mudanças na Constituição. Os
exaltados ou farroupilhas pressionavam por reformas constitucionais, sobretudo a supressão do Poder
Moderador e a descentralização administrativa, por meio de uma monarquia federativa. Já os antigos
correligionários do ex-imperador, os caramurus, postulavam a volta de D. Pedro I, para reocupar o trono
brasileiro ou mesmo como regente para dirigir os negócios do Estado. (Cf. Guimarães- 2002, p. 563)
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Guimarães, (2002), diz que Conservadores e Liberais, não constituíam, a rigor, partidos políticos, pois
careciam de programas definidos, de documentos públicos sujeitos a verificação e registro, nem eram dotados
de disciplina partidária.
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Além desta distinção, o autor também afirma que: os liberais defendiam uma certa descentralização
administrativa e alguma autonomia provincial, enquanto os conservadores julgavam a centralização política
fundamental para manter a integridade territorial do Império, os liberais desejavam reduzir ao mínimo a ação
da política e pleiteavam a eleição popular de magistrados e agentes judiciais, a exemplo do que ocorria nos
Estados Unidos, ao passo que os conservadores entendiam que a manutenção das prerrogativas do Poder
Judiciário, sobretudo a independência e a inamovibilidade, era condição sine qua non para a administração da
justiça”
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