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elas destaca-se a escola, ou melhor, o sistema educacional público e privado (ARANHA,
1989, p.131-133). Nas palavras de Althusser (1969, p. 64) o AIE escolar funciona:
Desde a pré-primária, a Escola toma a seu cargo todas as crianças de todas as classes
sociais, e a partir da Pré-Primária, inculca-lhes durante anos, os anos em que a
criança está mais “vulnerável”, entalada entre o aparelho do Estado familiar e o
aparelho de Estado Escola, “saberes práticos” (des “savoir-faire”) envolvidos na
ideologia dominante (o francês, o cálculo, a história, as ciências, a literatura), ou
simplesmente, a ideologia dominante no Estado puro (moral, instrução cívica,
filosofia). Algures, por volta dos dezesseis anos, uma enorme massa de crianças cai
“na produção”: são os operários ou os pequenos camponeses. A outra parte da
juventude escolarizável continua: e seja como for faz um trecho do caminho para cair
sem chegar ao fim e preencher os postos dos quadros médios e pequenos, empregados,
pequenos e médios funcionários, pequeno-burgueses de toda a espécie. Uma última
parte consegue aceder aos cumes, quer para cair no semi-desemprego intelectual,
quer para fornecer, além dos “intelectuais do trabalhador coletivo”, os agentes da
exploração (capitalistas, managers), os agentes da repressão (militares, policiais,
políticos, administradores) e os profissionais da ideologia (padres de toda a espécie, a
maioria dos quais são “laicos” convencidos).
Althusser voltou sua atenção para a escola, porque nem um outro AIE “dispõe
durante tanto tempo da audiência obrigatória (e ainda por cima gratuita...), cinco a seis dias
em sete que tem a semana, à razão de oito horas por dia”. Observa-se que esta era uma
realidade da França
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daquele momento.
Establet e Baudelot (1971), com formação marxista, escreveram A escola
capitalista na França, em que demonstram a teoria da escola dualista. Segundo os autores,
sendo a sociedade capitalista dividida em classes, a escola não pode ser única. A escola
capitalista divide-se em duas: uma para a burguesia e outra para o proletariado. A escola
destinada à burguesia e a escola destinada ao proletariado diferem quanto à duração da
escolaridade, os meios e os fins da educação. Cada uma das escolas possui uma rede de
ensino: a primária profissional (PP) destinada ao proletariado e a secundária superior (SS)
destinada à burguesia. A PP corresponde aos estudos básicos com formação profissional e a
SS conduz ao bacharelado. São escolas “opostas, heterogêneas, antagonistas” onde “desde
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O mesmo não se aplica, ainda hoje, no caso do Brasil, visto que muitas de nossas crianças permanecem
cerca de quatro horas diárias nas escolas, durante no máximo cinco dias da semana; em contra-partida dispõe
de um tempo muito maior, durante todos os dias da semana, para um outro AIE da comunicação – a televisão.
Em outras palavras, se adotássemos a noção de AIE do autor, teríamos que voltar nossa atenção mais para a
mídia tão encantadora, fascinando com sua tecnologia e exercendo, muitas vezes, um poder mais forte sobre
as crianças do que a escola.