Download PDF
ads:
UFRRJ
INSTITUTO DE CIÊNCIAS HUMANAS E
SOCIAIS
CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM
DESENVOLVIMENTO, AGRICULTURA E
SOCIEDADE
TESE
Consequências Positivas das Barreiras Não-Tarifárias no Comércio Internacional de
Produtos do Agronegócio: o caso da cadeia da carne bovina
Rafael Leite Pinto de Andrade
2007
ads:
Livros Grátis
http://www.livrosgratis.com.br
Milhares de livros grátis para download.
ii
UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO RIO DE JANEIRO INSTITUTO
DE CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS
CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DESENVOLVIMENTO,
AGRICULTURA E SOCIEDADE
CONSEQUÊNCIAS POSITIVAS DAS BARREIRAS NÃO-TARIFÁRIAS
NO COMÉRCIO INTERNACIONAL DE PRODUTOS DO
AGRONEGÓCIO: O CASO DA CADEIA DA CARNE BOVINA
RAFAEL LEITE PINTO DE ANDRADE
Sob a Orientação da Professora
Ana Célia Castro
Tese submetida como requisito
parcial para obtenção do grau de
Doutor em Desenvolvimento,
Agricultura e Sociedade, no Curso
de Pós-Graduação em
Desenvolvimento, Agricultura e
Sociedade, Área de Concentração em
Instituições, Mercado e Regulação
Rio de Janeiro, RJ
Dezembro de 2007
ads:
iii
382.0981
A553C
T
Andrade, Rafael Leite Pinto de
Conseqüências positivas das barreiras não-
tarifárias no comércio internacional de produtos do
agronegócio: o caso da cadeia da carne bovina /
Rafael Leite Pinto de Andrade – 2007.
208 f.
Orientador: Ana Célia Castro.
Tese (doutorado) Universidade Federal Rural do
Rio de Janeiro, Instituto de Ciências Humanas e
Sociais.
Bibliografia: f. 198-208.
1. Comércio Internacional - Teses. 2. Barreiras
não-tarifárias Comércio Internacional - Teses. 3.
Carne bovina Comércio Internacional - Teses. I.
Castro, Ana Célia. II. Universidade Federal Rural do
Rio de Janeiro. Instituto de Ciências Humanas e
Sociais. III. Título.
iv
UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO RIO DE JANEIRO INSTITUTO DE CIÊNCIAS
HUMANAS E SOCIAIS
CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DESENVOLVIMENTO, AGRICULTURA E
SOCIEDADE
RAFAEL LEITE PINTO DE ANDRADE
Tese submetida como requisito parcial para obtenção do grau de Doutor em
Desenvolvimento, Agricultura e Sociedade, no Curso de Pós-Graduação em
Desenvolvimento, Agricultura e Sociedade área de Concentração em Instituições, Mercados e
Regulação.
TESE APROVADA EM 14/12/2007
_____________________________________
Ana Célia Castro, Dra.,UFRRJ
(Orientadora)
_____________________________________
Antônio Márcio Buainain, Dr., UNICAMP
_____________________________________
Mario Otávio Batalha, Dr., UFSCar
_____________________________________
Nelson Giordano Delgado, Dr., UFRRJ
_____________________________________
Sérgio Pereira Leite, Dr., UFRRJ
v
AGRADECIMENTOS
Ao CNPq por permitir meu afastamento e me disponibilizar as condições para realizar essa
tese.
Aos meus amigos e mentores intelectuais Tuca e Marileusa, pela amizade e pelos
ensinamentos que vão muito além da área acadêmica.
À Ana Célia pela orientação na medida certa para que eu organizasse apresentasse a tese em
tempo tão exíguo e pela capacidade de extrair o melhor de seus orientandos.
Ao CPDA e todos seus professores pelas aulas de excelente qualidade e pelo bravo esforço
para inserir um engenheiro na sociologia.
À meu pai pela importância de sua presença em todos os dias de minha vida.
À Bianca Alves pelo carinho e por compreender minhas ausências com sua doçura especial.
À todos os entrevistados que se doaram seu parco tempo e aceitaram dividir uma parcela de
sua experiência, o que possibilitou reduzir minha ignorância sobre os temas tratados.
À Lúcia Helena pela revisão ortográfica, com certeza melhor do que qualquer uma
desenvolvida pela Microsoft.
À Elisabeth Flávia por estar presente em mais esta etapa da minha vida.
Aos meus colegas do CPDA pela ajuda, pelas boas horas que passamos e por me convidarem
tantas vezes para colocá-los para dançar nas festas.
vi
"Aquilo que não me destrói fortalece-me."
Friedrich Wilhelm Nietzsche
vii
RESUMO
de ANDRADE, Rafael Leite Pinto Conseqüências Positivas das Barreiras Não-Tarifárias
no Comércio Internacional de Produtos do Agronegócio: O Caso da Cadeia da Carne
Bovina. 2007. 296 p. Tese (Doutorado em Desenvolvimento, Agricultura e Sociedade,).
Instituto de Ciência Humanas e Sociais, Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, Rio de
Janeiro, RJ, 2007.
A proposta da tese consiste em identificar e analisar as conseqüências positivas mais
relevantes, advindas do esforço das empresas brasileiras, e exportadoras de produtos
relacionados ao agronegócio, para superarem as barreiras não-tarifárias impostas pelas
empresas e/ou países importadores. Estas conseqüências são pouco exploradas nos debates e
podem ser consideradas como sendo externalidades ao processo de implementação das
barreiras não-tarifárias. De modo a fazer com que o trabalho proposto fosse exeqüível, a
cadeia da carne bovina foi eleita como alvo mais aprofundado dos estudos, pelo fato desta ser
um item expressivo da pauta de exportação brasileira, e devido a grande variedade de normas,
padrões e regulamentos, disseminados por todos os elos de sua cadeia produtiva. Os
resultados apontam para a necessidade do Brasil criar instrumentos institucionais e
competência técnica de forma a administrar e conviver da melhor forma possível com o
inexorável aumento da presença das barreiras cnicas ao comércio de produtos
agropecuários. Finalmente, embora nem sempre seja possível estabelecer uma relação direta
de causa e efeito, o estudo desenvolvido permite afirmar que uma correlação estreita entre
os movimentos em prol da superação das barreiras técnicas do comércio mundial de produtos
do agronegócio, e benefícios para a sociedade brasileira como um todo. Foram identificados
benefícios relacionados: ao desenvolvimento tecnológico, meio-ambiente, legislação nacional,
agregação de blocos comercias, inovações gerenciais, redução de concorrência, manutenção
de vantagem competitiva e relações trabalhistas. Neste contexto, a cadeia da carne mostrou
ser um bom exemplo para a hipótese levantada, pois todos os segmentos estudados
apresentaram, ainda que em graus distintos, a conversão das exigências dos compradores
internacionais em benefícios para o mercado interno e para os brasileiros de modo geral.
Palavras chave: Comércio Internacional, Barreiras não-tarifárias, Carne bovina
viii
ABSTRACT
The proposal of the thesis was to identify and analyze the most important positive
consequences, stemming from the efforts of brazilian export companies of products related to
agribusiness, to overcome the non-tariff barriers imposed by the companies and / or importing
countries. These consequences are little explored in discussions and can be considered as
external to the process of implementation of non-tariff barriers. In order to make the proposed
work would be feasible, the chain's beef was elected as a target of further studies, the fact that
an item be expressive of the Tariff Brazilian export, and because the wide variety of norms,
standards and regulations of these products, widespread in all the links of its production chain.
The results point to the need to create instruments of Brazil institutional and technical
competence in order to administer and live in the best way possible with the inexorable
increase in the presence of technical barriers to trade in agricultural products. Finally,
although not always be possible to establish a direct relationship of cause and effect, the study
developed to say that there is a close correlation between the movements in the interests of
overcoming the technical barriers in world trade in products of agribusiness, and the benefits
to Brazilian society as a whole. Benefits have been identified related to: technological
development, the environment, improvement of legislation, aggregation of trade blocs,
managerial innovation, reduce competition, maintain competitive advantage and labor
relations. In this context, the chain of meat proved a good example for the hypothesis raised,
because all segments studied showed, albeit in different degrees, the conversion of the
requirements of international buyers in benefits for the internal market and for the Brazilians
in general.
Keywords: International Trade, Non-tariff barriers, Beef cattle
ix
LISTA DE SIGLAS
ABIEC - Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne
ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas
Acordo TBT - Acordo sobre Barreiras Técnicas ao Comércio
ALCA - Área de Livre Comércio das Américas
AMSF – Acordo Sobre Aplicação de Medidas Sanitárias e Fitossanitárias
ANVISA – Agência Nacional de Vigilância Sanitária
APPCC - Análise de Perigos e Pontos Críticos de Controle
BSE – Encefalopatia Espongiforme dos Bovinos
DIPOA - Departamento de Inspeção de Produtos de Origem animal
EMBRAPA - Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária
EUREPGAP – Consórcio Europeu de Atacadistas – Boas Práticas Agrícolas
FAO - Food and Agriculture Organization of the United Nations
FMI - Fundo Monetário Internacional
GATT - General Agreement on Tariffs and Trade
GMP-Boas Práticas de Fabricação
HACCP - Hazard Analysis and Critical Control Point System
IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
INMETRO – Instituto Nacional de Metrologia
ISO – International Standard Organization
MAPA - Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento
MDIC – Ministério do Desenvolvimento da Indústria e Comércio
MERCOSUL - Mercado Comum do Sul
MRA – Acordo de Reconhecimento Mútuo
OGM – Organismos Geneticamente Modificados
OIT - Liga das Nações e a Organização Internacional do trabalho
OMC - Organização Mundial do Comércio
SECEX - Secretaria de Comércio Exterior
SIF - Serviço de Inspeção Federal
USDA - United States Department of Agriculture
x
LISTA DE FIGURAS
F
IGURA
1. E
XPANSÃO DAS
E
XPORTAÇÕES DE
A
LIMENTOS DE
A
LTO
V
ALOR
A
GREGADO POR
P
SES EM
.............. 48
F
IGURA
2. M
UDANÇAS NA
C
OMPOSIÇÃO DAS
E
XPORTAÇÕES
A
GRÍCOLAS DOS
P
AÍSES EM
D
ESENVOLVIMENTO
. ..48
F
IGURA
3. I
NSTITUIÇÕES E INTERESSES ENVOLVIDOS NA ELABORAÇÃO DE NORMAS BRASILEIRAS
. .......................82
F
IGURA
4. C
ADEIA
P
RODUTIVA DA
C
ARNE
. ......................................................................................................... 131
F
IGURA
5 C
ADEIA DE
C
OURO E
D
ERIVADOS
........................................................................................................ 140
F
IGURA
6. D
EMANDA PER CAPITA DE PRODUTOS CÁRNEOS
, 1995-2020. .............................................................. 152
LISTA DE QUADROS
Q
UADRO
1. D
ESENVOLVIMENTO MUNDIAL DA PRODUÇÃO INDUSTRIAL E DO COMÉRCIO DE
1929
A
1937. .............. 6
Q
UADRO
2. E
XEMPLOS DE EVENTOS LIGADOS À SEGURANÇA ALIMENTAR OCORRIDOS NOS ÚLTIMOS ANOS
. ......... 29
Q
UADRO
3. C
OMÉRCIO DE BENS POR REGIÕES E PAÍSES
(%)................................................................................... 63
Q
UADRO
4. A
LGUMAS CATEGORIAS DE BARREIRAS NÃO
-
TARIFÁRIAS PRESENTES NO COMÉRCIO INTERNACIONAL
.
.....................................................................................................................................................................69
Q
UADRO
5. N
ORMAS TRABALHISTAS FUNDAMENTAIS
. .......................................................................................... 95
Q
UADRO
6. P
RESENÇA DE PICOS TARIFÁRIOS E BARREIRAS NÃO
-
TARIFÁRIAS SOBRE AS EXPORTAÇÕES AGRÍCOLAS
BRASILEIRAS
,
POR CAPÍTULOS
,
NOS
E
STADOS
U
NIDOS E
U
NIÃO
E
UROPÉIA EM
2000.................................. 104
Q
UADRO
7. P
RINCIPAIS VARIÁVEIS A SEREM OBSERVADAS NO ESTUDO DAS CONSEQÜÊNCIA POSITIVAS DOS
ESFORÇOS PARA A SUPERAÇÃO DAS BARREIRAS NÃO
-
TARIFÁRIAS NO COMÉRCIO INTERNACIONAL
.. .......... 127
Q
UADRO
8. Q
UADRO RESUMO DAS CONSEQUÊNCIAS POSITIVAS ADVINDAS DO ESFORÇO DAS EMPRESAS
BRASILEIRAS PARA SUPERAREM AS BARREIRAS NÃO
-
TARIFÁRIAS RELACIONADAS AOS PRODUTOS DO
AGRONEGÓCIO
............................................................................................................................................ 196
LISTA DE TABELAS
T
ABELA
1. C
RESCIMENTO ANUAL DO
PIB
E DO COMÉRCIO INTERNACIONAL DE MERCADORIAS EM ALGUMAS
REGIÕES
........................................................................................................................................................ 33
T
ABELA
2. P
REÇOS DE EXPORTAÇÃO DE ALGUMAS COMMODITIES PRIMÁRIAS
1994-04. ........................................ 35
T
ABELA
3. E
XPORTAÇÕES
M
UNDIAIS DE
G
RUPOS DE
P
SES
(
EM
B
ILHÕES DE DÓLARES
). .................................... 41
T
ABELA
4. P
ARTICIPAÇÃO DOS PRODUTOS AGRÍCOLAS NAS PAUTAS DE COMÉRCIO
(%) *. ....................................46
T
ABELA
5. M
AIORES FLUXOS REGIONAIS DE EXPORTAÇÃO DE PRODUTOS AGRÍCOLAS NO MUNDO
, 2004. ............. 48
T
ABELA
6. E
XEMPLOS DE IMPOSTOS DE IMPORTAÇÃO
(
OU TARIFAS
)
SOBRE QUOTAS TARIFÁRIAS EM
1995........... 55
T
ABELA
7. T
ARIFAS
M
ÉDIAS
S
OBRE
P
RODUTOS
M
ANUFATURADOS
(1820-1950). ................................................ 62
T
ABELA
8. Í
NDICE DE FREQÜÊNCIA E ÍNDICE DE COBERTURA PARA AS
BNT
S SOBRE AS EXPORTAÇÕES AGRÍCOLAS
BRASILEIRAS IMPOSTAS PELA
U
NIÃO
E
UROPÉIA E PELOS
E
STADOS
U
NIDOS EM
2000................................. 103
T
ABELA
9. C
USTOS DE
A
DEQUAÇÃO ÀS
B
ARREIRAS NA
P
RODUÇÃO DE
C
AMARÕES
............................................ 109
T
ABELA
10. E
XPORTAÇÃO
B
RASILEIRA DE
D
ERIVADOS DE
C
OURO
B
OVINO
(US$)............................................. 139
T
ABELA
11. M
UNDO
:
REBANHO BOVINO
,
PRINCIPAIS PAÍSES
(
MILHÕES DE CABEÇAS
). ........................................150
T
ABELA
12. E
STIMATIVA DO
N
ÍVEL DE
S
UPORTE AO
P
RODUTOR
: C
ARNE
B
OVINA
(%
DO VALOR BRUTO DAS
TRANSFERÊNCIAS AOS PRODUTORES NO VALOR BRUTO DA PRODUTIVIDADE
)............................................. 150
T
ABELA
13. S
UBSÍDIOS AOS PRODUTORES AGRÍCOLAS
(PSE)
NA
U
NIÃO
E
UROPÉIA
(
EM MILHÕES DE
E
UROS
) .... 151
T
ABELA
14. C
ONSUMO
M
UNDIAL PER CAPITA DE DIFERENTES TIPOS DE CARNES
. ............................................... 153
T
ABELA
15. C
ONSUMO PER CAPITA DE CARNE BOVINA EM PAÍSES SELECIONADOS
(K
G
/
HABITANTE
/
ANO
). ......... 155
T
ABELA
16. C
USTO DE PRODUÇÃO DA CARNE BOVINA DOS MAIORES PRODUTORES MUNDIAIS
. ........................... 156
T
ABELA
17. M
UNDO
:
PREÇO MÉDIO DE EXPORTAÇÃO DE CARNE BOVINA CONGELADA
1
,
PAÍSES SELECIONADOS
(US$ 1.000
POR TONELADA
). ..................................................................................................................... 161
xi
LISTA DE GRÁFICOS
G
RÁFICO
1. E
XPORTAÇÃO MUNDIAL DE BENS POR GRUPOS DE PRODUTOS
, 2004. .................................................. 44
G
RÁFICO
2. V
ALOR DE
E
XPORTAÇÕES
M
UNDIAIS DE
A
LIMENTOS E
A
NIMAIS
. ...................................................... 45
G
RÁFICO
3. P
ASSAGEM DO GRUPO DOS
P
AÍSES DE
M
ENOR
D
ESENVOLVIMENTO
R
ELATIVO DE EXPORTADORES A
IMPORTADORES DE GÊNEROS AGRÍCOLAS
. .................................................................................................... 47
G
RÁFICO
4. E
XPORTAÇÕES
B
RASILEIRAS POR
C
ONTEÚDO
T
ECNOLÓGICO
(CT) (US$
MILHÕES
)........................... 50
G
RÁFICO
5. E
XPORTAÇÕES
B
RASILEIRAS POR
C
ONTEÚDO
T
ECNOLÓGICO
(%
NO TOTAL
). .................................... 50
G
RÁFICO
6. S
ALDO COMERCIAL POR CONTEÚDO TECNOLÓGICO
(
EM
US$
MILHÕES
). ............................................ 52
G
RÁFICO
7. I
MPACTOS DA INOVAÇÃO APONTADOS PELAS EMPRESAS
-
PERÍODO
2003-2005. ................................86
G
RÁFICO
8. D
ADOS RECENTES RELATIVOS AOS TRABALHOS FORÇADO E INFANTIL NO
B
RASIL
..............................96
G
RÁFICO
9. P
RODUÇÃO DE CARNE BOVINA NO MUNDO
,
EM GRUPOS DE PAÍSES E EM PAÍSES SELECIONADOS
.......148
G
RÁFICOS
10
E
11. P
ARTICIPAÇÃO DO
B
RASIL NA PRODUÇÃO MUNDIAL DE
C
ARNE
B
OVINA
2001
E
2006.......... 149
G
RÁFICO
12. P
ROJEÇÃO PARA O CRESCIMENTO DEMOGRÁFICO E CONSUMO MUNDIAL DE CARNE
........................152
G
RÁFICO
13. A
VANÇO DO CONSUMO DE CARNE BOVINA PELOS MAIORES CONSUMIDORES MUNDIAIS
................. 154
G
RÁFICO
14. Í
NDICES INTERNACIONAIS DE PREÇOS DE CARNES SELECIONADAS
(1998-2000=100). .................... 157
G
RÁFICO
15. V
OLUMES DAS IMPORTAÇÕES DE CARNE BOVINA PELOS MAIORES IMPORTADORES MUNDIAIS
........ 158
G
RÁFICO
16. V
OLUMES DAS EXPORTAÇÕES DE CARNE BOVINA PELOS MAIORES EXPORTADORES MUNDIAIS
. ...... 160
G
RÁFICO
17. P
RINCIPAIS DESTINOS DAS EXPORTAÇÕES MUNDIAIS DE CARNES FRESCAS REFRIGERADAS OU
CONGELADAS
(
JAN A NOV
/2005)................................................................................................................. 162
G
RÁFICO
18. E
VOLUÇÃO DO REBANHO E DA POPULAÇÃO NO
B
RASIL
.................................................................. 163
G
RÁFICO
19. E
VOLUÇÃO DO CONSUMO DE DIFERENTES CARNES NO
B
RASIL ENTRE
1997
A
2005........................ 164
G
RÁFICO
20. P
RODUÇÃO
, C
ONSUMO
, E
XPORTAÇÃO E
I
MPORTAÇÃO DE CARNE BOVINA BRASILEIRA
(1994-2007).
................................................................................................................................................................... 165
G
RÁFICO
21. B
RASIL
:
EXPORTAÇÕES DE CARNE BOVINA EM
2006, 10
PRINCIPAIS DESTINOS EM VALORES
(US$
MILHÕES
).................................................................................................................................................... 166
G
RÁFICO
22. B
RASIL
:
EXPORTAÇÕES DE CARNE BOVINA EM
2006, 10
PRINCIPAIS DESTINOS EM QUANTIDADE
(
MIL
T
ONELADAS
). .............................................................................................................................................166
G
RÁFICO
23. E
XPORTAÇÕES BRASILEIRAS POR TIPOS DE PRODUTOS DE CARNE BOVINA EM
2006........................ 168
G
RÁFICO
24. E
VOLUÇÃO DAS
E
XPORTAÇÕES
B
RASILEIRAS DE
C
ARNE
B
OVINA
(
EM MILHÕES DE
US$)..............168
G
RÁFICO
25. V
ALOR DAS EXPORTAÇÕES BRASILEIRAS DE CARNE BOVINA
. ......................................................... 169
G
RÁFICO
26. P
ROJEÇÕES DO
M
INISTÉRIO DA
A
GRICULTURA
, P
ECUÁRIA E
A
BASTECIMENTO PARA A CARNE
BOVINA BRASILEIRA
(2006/07-2016/17)..................................................................................................... 169
G
RÁFICO
27. E
VOLUÇÃO DO PREÇO MÉDIO FINAL DO QUILOGRAMA DO FRANGO LIMPO E DAS CARNES BOVINA E
SUÍNA NO VAREJO EM
S
ÃO
P
AULO
. ............................................................................................................. 170
G
RÁFICO
28. F
OCOS DE FEBRE AFTOSA NO
B
RASIL NO PERÍODO DE
1970
A
2005. ............................................... 181
G
RÁFICO
29. C
ASOS DE
BSE
NOTIFICADOS NO MUNDO
(1989-2007)...................................................................183
xii
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO .....................................................................................................................................................1
JUSTIFICATIVA.................................................................................................................................................. 1
HIPÓTESE ............................................................................................................................................................ 2
ESTRUTURA DA TESE E PROCEDIMENTOS DE PESQUISA ...................................................................2
1
A INSTITUCIONALIDADE DO COMÉRCIO INTERNACIONAL................................................ 4
1.1
I
NTRODUÇÃO
........................................................................................................................................4
1.2
A
CRIAÇÃO DO
GATT........................................................................................................................... 6
1.3
A O
RGANIZAÇÃO
M
UNDIAL DO
C
OMÉRCIO
........................................................................................ 17
1.4
B
REVE
A
NÁLISE DAS
N
EGOCIAÇÕES NO
GATT E
NA
OMC ...............................................................21
1.5
I
NSTITUIÇÕES
I
NTERNACIONAIS DE
N
ORMALIZAÇÃO
..........................................................................23
1.6
N
OVA
I
NSTITUCIONALIDADE DO
C
OMÉRCIO
I
NTERNACIONAL DE
A
LIMENTOS
P
ROCESSADOS E
P
RODUTOS
A
GRÍCOLAS
..................................................................................................................................... 26
2
COMÉRCIO INTERNACIONAL....................................................................................................... 32
2.1
C
OMÉRCIO
I
NTERNACIONAL E O
D
ESENVOLVIMENTO
.........................................................................32
2.2
O C
OMÉRCIO
I
NTERNACIONAL DE
A
LIMENTOS E
P
RODUTOS
A
GRÍCOLAS
........................................... 41
3
BARREIRAS AO COMÉRCIO INTERNACIONAL ....................................................................... 61
3.1
E
VOLUÇÃO E
C
ARACTERIZAÇÃO DAS
B
ARREIRAS
............................................................................... 61
3.2
A
S
I
MPLICAÇÕES DAS
B
ARREIRAS
N
ÃO
-T
ARIFÁRIAS
..........................................................................82
3.3
A
S
R
ESPOSTAS À
I
MPLEMENTAÇÃO DE
B
ARREIRAS
N
ÃO
-T
ARIFÁRIAS
..............................................105
3.4
A
S
C
ONSEQUÊNCIAS
P
OSITIVAS
A
DVINDAS DAS
A
ÇÕES
V
OLTADAS PARA A
A
DEQUAÇÃO
............... 112
3.5
S
UGESTÃO DE MÉTODO ANALÍTICO
................................................................................................... 126
3.6
C
ASOS
S
ELECIONADOS
......................................................................................................................127
ESTUDO DE CASO: A CADEIA DA CARNE BOVINA ............................................................................. 129
4
CARACTERIZAÇÃO DA CADEIA PRODUTIVA DE CARNE BOVINA ................................. 129
5
O MERCADO DA CARNE BOVINA............................................................................................... 147
5.1
O M
ERCADO
M
UNDIAL
..................................................................................................................... 147
5.2
O M
ERCADO
B
RASILEIRO
................................................................................................................. 162
6
AS BARREIRAS AO COMÉRCIO MUNDIAL DE CARNE BOVINA........................................ 175
6.1
Q
UOTAS
............................................................................................................................................ 175
6.2
A
S
B
ARREIRAS
N
ÃO
-T
ARIFÁRIAS E O
C
OMÉRCIO
I
NTERNACIONAL DE
C
ARNE
B
OVINA
.................... 176
6.3
A
S
C
ONSEQÜÊNCIAS
P
OSITIVAS DAS
B
ARREIRAS
N
ÃO
-T
ARIFÁRIAS NA
C
ADEIA DA
C
ARNE
............. 185
7
CONCLUSÕES ................................................................................................................................... 194
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS............................................................................................................. 198
1
INTRODUÇÃO
À medida que o comércio internacional se intensifica, os debates em torno das
questões relacionadas às barreiras comerciais têm ganhado uma relevância cada vez maior.
Estas barreiras têm influência decisiva sobre as transações comerciais entre empresas, países e
blocos regionais, e podem ser classificadas em barreiras tarifárias e barreiras não-tarifárias.
Via de regra, as barreiras tarifárias são menos citadas como forma de protecionismo, pois
apresentam regras bem definidas em função das alíquotas concedidas, entretanto, este não é o
caso quando se trata das barreiras técnicas ou sanitárias que, por sua vez, podem ser
consideradas como subgrupos das barreiras não-tarifárias.
Os produtos do agronegócio não são os únicos alvos das barreiras não-tarifárias mas
como as exportações brasileiras desses produtos é significativa, o estabelecimento de barreiras
à sua comercialização implica em impactos significativos na balança comercial. A
implementação das barreiras não-tarifárias, neste caso, gera reflexos em todas as fases da
cadeia de produtos alimentícios, desde a escolha da semente e do preparo da terra, até a
rotulagem dos produtos manufaturados.
De forma ampla, como resposta à implementação de barreiras não-tarifárias no
comércio internacional, pode-se optar por se adequar as mesmas, reclamar, ou se retirar do
mercado. Não uma fórmula única de como e ou quando como uma destas alternativas deva
ser adotada, mas é possível estabelecer que os países com interesse em intensificar sua
participação no comércio mundial, devem adotar uma postura pró-ativa diante dos desafios
das barreiras não-tarifárias. E esta passa por investimentos em infra-estrutura e capacitação
técnica que os permitam participar de forma efeitiva dos fóruns internacionais onde as normas
e padrões são estabelecidos.
Aprofundando a análise da pauta de exportação brasileira, verifica-se que produtos
relacionados à cadeia da carne bovina figuram como itens de grande relevância tanto em
termos de volume físico quanto de volume financeiro. Desde o início dos primeiros
movimentos de comercialização, e de modo mais intenso nos últimos anos, estes produtos têm
sido alvo das barreiras não-tarifárias que influenciam de forma decisiva as relações e a
estrutura da cadeia da carne bovina e, de forma indireta e mais ampla, toda a sociedade
brasileira.
A proposta desenvolvida na tese é de desenvolver uma nova forma de analisar a
questão das barreiras não-tarifárias. Espera-se que outors estudos possam utilizar-se do
método e proposto para investigar as eventuais consequências positivas advindas do esforço
das empresas e dos países para superar as barreiras não-tarifárias do comércio internacional.
A tese não se propõe a avaliar a legitimidade ou necessidade das normas, regulamentos ou
padrões, apontados como barreiras não-tarifárias ao comércio internacional, mas sim focar as
eventuais conseqüências positivas dos mesmos, tanto para os integrantes de uma cadeia
produtiva, quanto para a sociedade.
JUSTIFICATIVA
O estudo das barreiras não-tarifárias e suas conseqüências, geralmente aborda com
maior profundidade os aspetos negativos para as empresas que são alvos dessa prática.
Devido à sua característica restritiva ao comércio, estas barreiras são tidas muitas vezes como
exclusivamente prejudiciais para os países, que sofrem com eventuais perdas de seu mercado
externo.
A proposta dessa tese é identificar e analisar as conseqüências positivas mais
relevantes, advindas do esforço das empresas brasileiras exportadoras de produtos
2
relacionados ao agronegócio, para superarem as barreiras não-tarifárias impostas pelas
empresas e/ou países importadores. Estas conseqüências são pouco exploradas nos debates e
podem ser consideradas como externalidades ao processo de implementação das barreiras
não-tarifárias, por não estarem relacionadas diretamente com o objetivo do agente que as
estabelecem. As referidas conseqüências foram classificadas em: tecnológicas, vantagens
competitivas, benefícios sociais, benefícios ambientais, inovações gerenciais, integração dos
blocos regionais, revisões na legislação.
Normalmente, as conseqüências da implementação das barreiras são estudadas apenas
sob o ponto de vista das empresas alvo das pressões. Recentemente, o Banco Mundial tem
inserido no debate a visão de que a proliferação de barreiras não-tarifárias no comércio
internacional estaria, em certos casos, criando oportunidades ao permitir um novo
reposicionamento competitivo e aumentando as exportações dos países em desenvolvimento.
Embora passe a analisar a questão de uma ótica distinta, essa nova abordagem ainda se
apresenta focada nos atores diretamente envolvidos no processo, ou seja, as empresas de
forma isolada ou a cadeia produtiva como um todo.
Neste contexto, a tese visa incluir na análise os eventuais benefícios que o País, como
um todo, pode usufruir ao se deparar com as exigências internacionais à exportação de seus
produtos, identificando as oportunidades e externalidades geradas antes, durante e após o
esforço das empresas e dos governos na busca pela superação das barreiras. Ou seja, a análise
das oportunidades e externalidades advindas do esforço para superação das barreiras técnicas
à exportação estabelecidas sobre os produtos agropecuários, tem o propósito de tratar a
questão das barreiras sob um outro ponto de vista.
De modo a fazer com que o trabalho proposto fosse exeqüível, a cadeia da carne
bovina foi eleita como alvo mais aprofundado dos estudos. As principais justificativas para
esta escolha foram, primeiramente o fato de a carne bovina ser um item expressivo da pauta
de exportação brasileira e, em segundo lugar devido à grande variedade de normas, padrões e
regulamentos para a comercialização destes produtos, disseminados por todos os elos de sua
cadeia produtiva.
O objetivo é ampliar o foco, deslocando-o das empresas, e passando a analisar a
influência das barreiras de forma mais ampla na sociedade brasileira como um todo. Desta
forma, pretende-se estimar os ganhos obtidos por meio das ações voltadas para a superação
das barreiras técnicas do mercado internacional de carne bovina.
HIPÓTESE
A hipótese levantada é a de que as barreiras não-tarifárias relacionadas aos produtos
do agronegócio trazem, além das conseqüências negativas habitualmente propaladas, outras
de certa forma benéficas tanto para as empresas quanto para o País. Estas conseqüências se
devem às adaptações ao longo dos anos que geraram externalidades positivas tanto para os
integrantes das cadeias agroindustriais quanto para a sociedade como um todo. Estas
mudanças foram impulsionadas, em grande parte pelas barreiras não-tarifárias relacionadas
aos produtos dessas cadeias.
ESTRUTURA DA TESE E PROCEDIMENTOS DE PESQUISA
A tese é constituída por duas partes. A primeira parte abarca a revisão bibliográfica
sobre o comércio internacional de produtos do agronegócio e o estudo das barreiras não-
tarifárias correspondentes. A segunda parte da tese corresponde ao estudo de caso que trata da
cadeia produtiva da carne bovina. Nesta, a hipótese da tese é analisada de forma a verificar a
sua aplicabilidade.
3
De forma a organizar a tese, inicialmente foi realizada uma revisão bibliográfica sobre
e evolução do comércio internacional e como este se encontra organizado atualmente, com
foco nas barreiras ao comércio mundial. Em seguida, o debate concentra-se em torno do
comércio internacional dos produtos do agronegócio e as barreiras a que estes estão sujeitos.
Nesta etapa, é descrito um breve panorama dos novos condicionantes do comércio de
alimentos e produtos agropecuários e da criação de novos nichos de mercado, resultantes das
exigências e percepções dos consumidores.
No tópico seguinte são expostos argumentos teóricos que pretendem demonstrar as
conseqüências tangíveis e intangíveis que os esforços para a superação das barreiras descritas
podem trazer para as empresas e para a sociedade como um todo. Segundo dados
bibliográficos, a abordagem mais adequada para os estudos mais acurados das barreiras não-
tarifárias deve ser realizada em nível microeconômico. Para tanto, a cadeia da carne bovina
foi eleita como alvo de estudos mais detalhados, por meio de uma breve caracterização de sua
cadeia produtiva com ênfase nas barreiras que a afetam.
As informações gerais sobre a cadeia da carne foram obtidas em recentes estudos
nacionais abrangentes e os dados das transações comerciais foram obtidos junto aos
organismos nacionais e internacionais que tratam do assunto de forma detalhada. Outras
fontes de informações foram as entrevistas realizadas com representantes de órgãos públicos e
privados que tratam diretamente das questões relacionadas às barreiras não-tarifárias no
comércio internacional; e com representantes do setor produtivo da cadeia da carne bovina.
Durante as entrevistas, foram colhidos dados a respeito das posições brasileiras nos fóruns
internacionais de negociação comercial, e dos eventos mais relevantes que influenciaram a
exportação de carne bovina nos últimos anos. Parte das informações levantadas dão um
panorama de quais serão os principais desafios do setor para a comercialização de seus
produtos no mercado mundial.
4
PRIMEIRA PARTE
1
A INSTITUCIONALIDADE DO COMÉRCIO INTERNACIONAL
Neste tópico serão expostas brevemente as teorias que buscam explicar as trocas
comerciais internacionais; e os aspectos formais relacionados à organização institucional do
comércio internacional, em especial às barreiras não-tarifárias. Neste contexto, são destacados
o GATT e a OMC, suas rodadas, normas e acordos multilaterais celebrados; e como esses
movimentos oscilaram entre a liberalização e a restrição comercial. Serão abordados ainda
aspectos informais que integram a institucionalidade do comércio. Aspectos estes ligados às
preferências e percepções dos consumidores e que exercem uma pressão cada vez mais
significativa em todos os elos da cadeia produtiva dos produtos do agronegócio.
1.1
Introdução
Desde os tempos remotos relatados na passagem bíblica em que Caim cedeu seu
direito de primogenitura ao irmão Abel em troca de um prato de lentilhas até as compras
atuais pela internet, ocorreram transformações extraordinárias no conteúdo dos bens
comerciáveis e, sobretudo, na forma de se comercializar, em particular entre países.
O comércio sempre esteve presente em questões ligadas às relações internacionais.
Desde a Antiguidade as rotas de comércio vêm ajudando a definir a geopolítica mundial, um
exemplo claro é a própria descoberta do Brasil, uma conseqüência lógica da expansão do
comércio marítimo internacional. Neste contexto, os aspectos comerciais das relações
internacionais, muitas vezes ganham mais atenção do que as relações políticas em si.
Ao longo dos anos, foram desenvolvidos vários modelos que procuram explicar os
padrões de comércio ou, ao menos, estabelecer as bases racionais que regem o comércio
internacional. Em 1776 Adam Smith publicou a sua teoria da vantagem absoluta que se
difundiu rapidamente. Segundo esta, um país comercializaria com outro caso este produzisse
determinados bens de forma mais eficiente e, conseqüentemente, possuísse preços absolutos
inferiores aos preços domésticos (CASTRO, 1998). Ou seja, estabelecia que o único alvo a
ser alcançado para o domínio do comércio seria a maior produção dos mesmos bens, com as
mesmas quantidades de capital e de trabalho.
Em 1817, David Ricardo abordou a questão da especialização internacional, baseando-
se na teoria dos custos comparativos, introduzindo então o conceito de vantagem
comparativa para explicar o padrão de comércio internacional. De acordo David Ricardo, o
comércio internacional provoca um crescimento na produção mundial porque permite a cada
país especializar-se na produção do bem no qual apresenta vantagens comparativas. Um país
tem vantagens comparativas na produção de um bem se o custo de oportunidade da produção
do bem em termos de outros bens é mais baixo que em outros países (KRUGMAN &
OBSTFELD, 2001). O Modelo Ricardiano de comércio, entretanto, possui alguns
pressupostos fundamentais: i) um fator de produção, o trabalho; ii) a produtividade do
trabalho difere entre os países, mas não explicações para essas diferenças naturais; iii) o
trabalho é perfeitamente móvel entre as indústrias de um país, mas perfeitamente imóvel
entre os países; iv) existem retornos constantes de escala em cada indústria, ou seja, o custo
unitário independe do vel de produção; v) não há impedimentos ao comércio tais como
tarifas ou custos de transportes.
Ricardo, na verdade, apresentava uma situação imaginária, de relações bilaterais, sem
considerar custos de transporte, mais-valia, desenvolvimento tecnológico, entre outros tantos
elementos relevantes para o debate da produção de bens e o comércio internacional. Ainda
assim, sua previsão básica, de que os países tendem a exportar aqueles bens cuja
produtividade seja relativamente alta, tem sido confirmada.
5
A teoria neoclássica de comércio internacional foi inicialmente desenvolvida por
Hecksher (1917) e Ohlin (1933), e encontrou sua forma mais acabada em Jones (1965). O
modelo explica os padrões de comércio pela abundância relativa dos fatores de produção e
pela intensidade relativa com a qual os diferentes fatores são utilizados. Segundo o Teorema
de Hecksher-Ohlin, cada país tem a sua produção voltada na direção do bem que usa
intensivamente o fator nacional abundante, tendendo a exportar este produto em função de
seu menor preço relativo. Na teoria neoclássica, supõe-se que os países têm dotações de
fatores produtivos diferentes, o que faz com que produzam determinados bens mais
facilmente do que outros. Enquanto a oferta depende da disponibilidade de recursos
produtivos e da tecnologia disponível, a demanda é função das preferências dos
consumidores, assim como de suas rendas.
Como as mudanças nos preços relativos dos bens têm efeitos muito fortes sobre os
ganhos relativos dos recursos e como o comércio altera os preços relativos, o comércio
internacional tem fortes efeitos sobre a distribuição de renda. Os proprietários dos fatores
abundantes de um país ganham com o comércio, mas os proprietários de fatores escassos
perdem (KRUGMAN & OBSTFELD, 2001). As premissas básicas do modelo neoclássico
são: i) a tecnologia é idêntica entre os países; ii) as estruturas de consumo são supostamente
idênticas; iii) as firmas objetivam a maximização de lucros em regime de concorrência
perfeita e, os consumidores procuram maximizar a utilidade sujeita a uma restrição
orçamentária. iv) os dois fatores de produção considerados são usados plenamente e não
possuem mobilidade internacional; v) não há custos de transportes.
A rigidez e a pouca verificação prática das premissas listadas, levam a maioria dos
pesquisadores a não acreditar que as diferenças nos recursos, isoladamente e sem considerar
as substanciais diferenças tecnológicas, possam explicar o padrão de comércio mundial ou os
preços dos fatores. Ainda assim, existem situações, como na análise dos efeitos do comércio
na distribuição de renda, nas quais a aplicação do modelo de Hecksher-Ohlin é útil.
Segundo Castro (1998), atualmente o comércio internacional é motivado basicamente
por dois fatores: vantagens comparativas e economias de escala. Ou seja, os países
comercializam porque são diferentes entre si e porque, por meio de especialização podem
produzir bens em número maior e de forma mais eficiente.
Ao longo do século XIX e no início do século XX, o conteúdo essencial das relações
internacionais econômicas era determinado por acordos bilaterais de comércio e havia uma
institucionalização mínima da cooperação internacional, restrita a alguns aspectos técnicos. A
Primeira Guerra Mundial motivou o crescimento do protecionismo e do recurso a restrições
variadas aos fluxos de bens, serviços e capitais. As cláusulas econômicas da Paz de Versalhes
e instituições como a Liga das Nações e a Organização Internacional do trabalho (OIT),
tentaram reduzir o potencial de conflitos do sistema discriminatório em vigência, que era
baseado nos sistemas coloniais de reserva de mercado e preferências tarifárias. No entanto, a
crise de 1929 e a depressão que se seguiu bloquearam as soluções cooperativas para os
problemas do comércio mundial. O período foi marcado pela proliferação de técnicas
protecionistas, inter alia, com as nações recorrendo a práticas como dumping, subsídios e
políticas de desvalorização (OLIVEIRA, 2005).
A percepção de que havia a necessidade de uma maior institucionalização nas relações
comerciais entre os países, começou a ganhar peso a partir do início do século XX. Havia um
consenso de que qualquer proposta de solução para a questão do comércio internacional
deveria prever ações nas vertentes comercial e monetária. Assim sendo, em 1942 os países
aliados iniciaram uma série de reuniões que resultaram em acordos internacionais e
instituições, destinados a normatizar a economia no
6
que vinham se arrastando desde 1929. Entre as potências capitalistas vencedoras da Segunda
Guerra havia uma consciência clara de que, se no futuro as nações não tivessem os meios de
resolver problemas semelhantes aos que surgiram no campo comercial, financeiro e monetário
durante as primeiras décadas do século XX, conflitos mundiais graves poderiam vir a se
repetir (PONT-VIEIRA, 1994).
Há um consenso acerca da existência de uma reordenação das relações entre territórios
e espaço sócio-econômico e político, que se tornou um desafio à organização social e política
moderna. Neste capítulo pretende-se descrever como as instituições relacionadas ao comércio
internacional se estruturaram a partir do início do século XX e os fatores que as influenciam
nos dias de hoje.
1.2
A criação do GATT
O colapso da bolsa em 1929 marcou uma mudança psicológica nos investidores que
influenciou de modo radical as decisões e acontecimentos subseqüentes. A quebra levou a
uma concentração de demanda, tanto interna quanto externa. Tanto a redução das importações
norte-americanas, quanto dos créditos concedidos pelos bancos deste país trouxeram como
conseqüência, o surgimento de saldos negativos nas balanças comerciais de países europeus.
Estes déficits, por sua vez, levaram os países a modificar radicalmente os esquemas
tradicionais, abandonando as teorias liberais vigentes. A elevação das tarifas, o
estabelecimento de quotas, as restrições e controles sobre o comércio exterior, constituíram os
instrumentos fundamentais da política comercial restritiva a partir de 1929. A queda do
padrão ouro, que bem ou mal era a base do sistema monetário internacional, trouxe mais um
inconveniente monetário para a já complicada questão do comércio internacional.
Embora a produção industrial mundial tenha se recuperado no período de 1929 a 1937,
o comércio internacional não se desenvolveu no mesmo ritmo, conforme pode ser observado
no quadro 1.
Quadro 1. Desenvolvimento mundial da produção industrial e do comércio de 1929 a 1937.
1929 1932 1933 1934 1935 1936 1937
Produção industrial mundial
100 70 78 86 96 111 119
Comércio mundial
100 75 76 78 82 86 97
Fonte: Más, 1969.
O multilateralismo, produto da liberdade clássica desde os tempos de Adam Smith,
desapareceu completamente do marco comercial, dando lugar ao bilateralismo como sistema
de estabelecimento de acordos ao comércio mundial. Esse movimento foi capitaneado pelos
Estados Unidos baseado no Trade Agreements Act de 1934, que estendia a política do New
Deal” ao comércio exterior, procurando reativar o setor exportador americano através da
concessão de reduções tarifárias mútuas, e da inclusão da cláusula da nação mais favorecida
em todos os acordos. Os resultados desta nova política comercial, que perduraram até o final
da II Guerra, não podem ser considerados satisfatórios no que concerne à superação dos
obstáculos ao comércio internacional.
Após a Segunda Guerra Mundial, os esforços na reconstrução da ordem internacional
econômica acolheram os princípios do multilateralismo, livre comércio, não discriminação e
reciprocidade. As potências buscaram construir novas bases para o desenvolvimento do
comércio internacional por intermédio da redução do grau de bilateralidade discriminatória
em favor de um sistema liberal tanto quanto possível multilateral, dotado de normas
transparentes e não discriminatórias e aberto à adesão contínua de novos parceiros
(OLIVEIRA, 2005). Os acordos bilaterais de comércio, mostraram-se ser por demais gidos,
submetendo o comércio a uma espécie da camisa-de-força. Desta forma, tornava-se necessário
desenvolver um único acordo de caráter multilateral, que teria como característica
fundamental a adoção incondicional entre os membr
7
favorecida. Segundo esta cláusula, toda redução tarifária, ou vantagem comercial de qualquer
tipo, outorgada por um dos países, seria extensiva a todos os demais consignatários sem
nenhuma discriminação. A grande vantagem deste novo enfoque multilateral estaria na
permanência das concessões tarifárias obtidas, reduzindo a incerteza e a instabilidade
características dos acordos bilaterais.
Em 1945, durante a renovação do Trade Agreements Act o Congresso estadunidense
introduziu uma cláusula que mudaria de forma radical a política de comércio exterior da
maior parte dos países do mundo. Tal cláusula autorizava o governo a reduzir as tarifas
alfandegárias em até 50%, sempre que se obtivessem contrapartidas satisfatórias por outros
países. Após as reuniões de Dumbarton Oaks em 1943 e Bretton Woods em 1944, foram
celebrados acordos internacionais que resultaram na criação de órgãos como o Fundo
Monetário Internacional - FMI, o Banco Interamericano de Desenvolvimento - BID, a
Organização Mundial das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura - FAO, entre
outros. O objetivo destas instituições era, basicamente, o de criar regras em nível mundial e
monitorá-las no que tangia ao sistema monetário, de investimentos e de comércio mundial. As
reformas também foram, de certa forma, impulsionadas pelas exigências de integração na
economia global, daí a ênfase na harmonização internacional da regulamentação, por meio de
padrões e códigos financeiros e dos acordos (MALHORTA, 2004).
Embora a criação destes organismos tenha contribuído para uma certa estabilização
dos mercados de capitais, no aspecto comercial os resultados não foram tão satisfatórios. A
grande complexidade e a amplitude dos temas a serem tratados, dificultavam por demais a
tarefa de sistematizar um acordo que englobasse todos os aspectos do comércio. Para esta
tarefa foi idealizado um novo organismo, a Organização Internacional do Comércio.
Os primeiros movimentos com a intenção de se criar a Organização Internacional do
Comércio ocorreram durante a Conferência Internacional sobre Comércio e Emprego,
realizada em Havana entre novembro de 1947 e março de 1948. Nesta ocasião foi aprovada a
chamada Carta de Havana, que previa a criação da Organização Internacional do Comércio -
OIC, que funcionaria como uma agência especializada das Nações Unidas. O projeto de
criação da OIC era ambicioso pois, além de estabelecer disciplinas para o comércio de bens,
continha normas sobre emprego, práticas comerciais restritivas, investimentos estrangeiros e
serviços (BRASIL, 2005).
A Carta de Havana, de modo geral, objetivava estabelecer regras e medidas que
favorecessem o crescimento e o desenvolvimento das economias dos países participantes, por
meio da liberalização e expansão estável das trocas internacionais. A aplicação destas regras e
medidas ficaria então a cargo da OIC a ser criada. Entretanto, até meados de 1950, apenas a
Austrália e a Libéria haviam aprovado integralmente a Carta de Havana.
O Fracasso da Carta de Havana pode ser explicado, resumidamente, pela seguinte
afirmação de Alejandro Magro Más (1969):
“... el conjunto de regras e contrarreglas, de diposiciones y excepciones
que constituian la Carta produto de soluciones de compromisso entre
opiniones enfrentadas – no satisfizo absolutamente a nadie, y mucho
menos, a los Estados Unidos, verdaderos promotores de la idéia.”
A falta de apoio da opinião pública, especialmente dos grupos empresariais, e as
dificuldades crescentes do Executivo com um Congresso de maioria republicana, numa
conjuntura em que muitos projetos politicamente importantes tinham de ser aprovados são,
sem dúvida, fatores importantes para explicar o fato de que a Administração Truman não
tenha sequer submetido a ratificação da Carta ao congresso americano (DELGADO, 2000).
Com o fracasso da Carta de Havana, os planejadores das relações comerciais em escala
mundial precisavam tomar uma nova direção, o que levaria precisamente à criação do GATT.
8
Diante do prazo de três anos, solicitado pelo governo americano, para analisar a Carta
de Havana, criou-se a necessidade de se redigir um acordo que contivesse os princípios
fundamentais enunciados na Carta (multilateralidade, não discriminação e reciprocidade).
Acordo este, que seria aceito provisoriamente pelos países participantes até a entrada em
vigor da Organização Internacional do Comércio. A este acordo foi dado o nome de GATT
(General Agreements on Tariffs and Trade), que entrou em vigor em janeiro de 1948. O
GATT, portanto, não se tratava de um organismo, mas poderia ser definido como um tratado
multilateral e intergovernamental de comércio, que implicava em direitos e deveres
recíprocos. Foi, com certeza, o acordo comercial de maior envergadura da história, criado
para regular provisoriamente as relações comerciais internacionais, e se tornou o instrumento
que, de fato, regulamentou por mais de quatro décadas as relações comerciais entre os países
(MÁS, 1969).
Entretanto, a Carta de Havana incluía em seu bojo, aspectos desenvolvimentistas que
não foram considerados no momento da criação do GATT, que incorporou apenas o seu
aspecto comercial. Do ponto de vista político, a adoção somente deste aspecto da Carta foi de
encontro aos anseios de Keynes
1
e de vários governos de países em desenvolvimento
(JAKOBSEN, 2005). O objetivo mais imediato do GATT era o fortalecimento dos princípios
de liberalização do comércio e do multilateralismo. Para alcançar este objetivo, o instrumento
utilizado seria uma redução gradual das tarifas alfandegárias multilaterais, seguida da
eliminação paulatina das restrições quantitativas e outras formas de protecionismo
administrativo.
Um dos temas centrais do debate à época da criação do GATT, foi o conflito existente
entre os que defendiam um comércio livre (com liberdade total para que as empresas privadas
atuassem de acordo com as leis de mercado), e os que defendiam um certo controle do Estado
na economia na busca pelo pleno emprego. Os Estados Unidos, influenciados pelo poder de
suas enormes empresas em busca de mercado, representavam a primeira proposta, enquanto
que a Grã-Bretanha, influenciada pelo partido trabalhista, defendia a segunda. Os britânicos,
liderados por Keynes, sabiam que as forças do mercado, por si só, não eram capazes de
manter o sistema econômico em equilíbrio e com níveis de pleno emprego.
O resultado final da negociação do Acordo Geral foi um arranjo entre ambas as partes.
O princípio básico consistia na liberdade comercial, poré74(m)-2.45995(b)--2.16558(a)3cicio997(t)-2.16558(i3.74(a)3.74(d)-0.293142(o)-0.295585(,)-0.295585(i)-12.1703(g)-0.2955.217(e)3.75(,)-0.2955é74(m)-2.4é12( )-20.1633(a)3.7i244(s)-1.2312( )-20.5(,)-0.295542(o)-0.293142(d)-0.293142(e)3.742.45995.74244(n)-0.293142x)[(r)2.805(e)3.7ee
9
(JAKOBSEN, 2005). O Acordo Geral é constituído por quatro partes; a primeira contém o
princípio básico de funcionamento do GATT, isto é, a “cláusula da nação mais favorecida”. A
segunda e terceira partes do Acordo contêm um código de boa conduta comercial, inspirado
na chamada Carta de Havana, e a quarta parte trata da expansão das exportações dos países
em vias de desenvolvimento (POU, 1979).
A redação do Acordo Geral foi baseada em alguns princípios, a saber:
1) Princípio Geral da Não Discriminação:
Segundo este princípio, todos os produtos que competem no mercado de um país
qualquer têm de receber o mesmo tratamento comercial. Ou seja, estabelece que os produtos
importados devam receber os mesmos tratamentos dados aos produtos nacionais e, ainda, que
não devem existir discriminações em função da origem da mercadoria, inclusive de tributos
ou taxas. Portanto, o princípio da não-discriminação depende da aplicação simultânea e
incondicional das cláusulas da nação mais favorecida e do tratamento nacional.
Cláusula da Nação Mais Favorecida - NFM Artigo I - todas as vantagens, favores,
privilégios e imunidades concedidas por uma parte contratante a um produto originário ou
destinado a outro país, serão imediata e incondicionalmente extensivas a qualquer produto
similar originário, ou destinado, de ou a os territórios das demais partes contratantes.”
2
Tratamento Nacional sobre Tributação e Regulamentação Interna Artigo III “as
partes contratantes reconhecem que tributos internos e outros encargos internos, e leis,
regulamentos e exigências relativos à venda interna, oferta de venda, compra, transporte,
distribuição ou uso dos produtos, e regulamentos quantitativos internos, que exijam mistura,
processamento ou uso de produtos em quantidades ou proporções especificadas, não devem
ser aplicados a produtos importados ou domésticos de modo a oferecer proteção à produção
doméstica. (...)”. A norma de tratamento nacional complementa a cláusula da NMF, ao
estabelecer que os produtos importados devam ter tratamento igual ao concedido os produtos
nacionais (OLIVEIRA, 2005).
Como a aplicação das cláusulas da nação mais favorecida sem ressalvas implicaria em
uma baixa adesão ao Acordo Geral, de modo a flexibilizá-la, três tipos de exceções à sua
aplicação foram estabelecidas: as relacionadas à existência de acordos preferenciais
anteriores; as derivadas dos movimentos de integração regionais (criação de uniões
aduaneiras
3
ou de zonas de livre comércio
4
); e ainda aquelas não previstas no Acordo, mas
que podem ser aceitas pelas partes contratantes por meio de um sistema chamado de
“renúncia” (waiver). Dada a extrema desigualdade dos níveis de desenvolvimento e
capacidade dos membros, o princípio da reciprocidade foi relaxado para os países em
desenvolvimento. Estes também ficaram isentos de muitas obrigações e compromissos do
GATT. Como conseqüência, não eram considerados membros plenos do regime,
simplesmente se beneficiavam das concessões que os países industrializados faziam uns aos
outros (MALHORTA, 2004).
2
A cláusula da nação mais favorecida assegura um tratamento comercial igual para todos os países, mas não
garante necessariamente uma maior liberdade comercial ou uma expansão maior das trocas. Um aumento de
tarifas, por exemplo, não vai de encontro à cláusula, desde que o referido aumento seja o mesmo para os demais
países de forma indiscriminada.
3
União Aduaneira: a substituição por um território aduaneiro formado pelos países integrantes, de modo que
os direitos aduaneiros e demais regulamentos comerciais restritivos sejam eliminados, e que cada um dos
Membros aplique ao comércio com os demais países, idênticas tarifas e regulamentos comerciais (BRASIL,
2005)
4
Zona de Livre Comércio: grupo de dois ou mais países entre os quais se eliminem os direitos aduaneiros e os
demais regulamentos comerciais restritivos, para parcela representativa do intercâmbio comercial dos produtos
originários da região; conservando, cada qual sua própria estrutura tarifária em relação a terceiros países
(BRASIL, 2005).
10
O questionamento que se impõe neste contexto é o de que os blocos regionais
organizados em torno de um acordo de integração constituam, sob determinados aspectos,
exceções ao princípio da nação-mais-favorecida administrado pelas regras do GATT. No
entanto, o art. 24 que rege os blocos regionais estabelece, entre outras coisas, que esses
grupamentos devem cobrir “substancialmente todo o comércio” entre os membros, sem
introduzir maiores barreiras tarifárias e restrições não-tarifárias do que as existentes no
comércio desses países com terceiros, anteriormente à criação do novo bloco (ALMEIDA,
2002).
As compras governamentais foram consideradas como exceções à cláusula de
tratamento nacional, desde que o produto não fosse revendido no comércio. Entretanto, com o
aumento do volume de transações coberto por essa exceção, durante a Rodada de Tóquio
negociou-se o “Acordo Sobre Compras do Setor Público”, que constitui uma primeira
tentativa de reduzir a proteção dos produtos e fornecedores nacionais no âmbito dos contratos
do Estado (PONT-VIEIRA, 1994).
2) Princípio Geral da Supressão de Restrições Quantitativas
:
No âmbito do comércio internacional, se entende por restrição quantitativa todo
sistema ou medida que represente uma limitação do valor ou da quantidade que pode ser
importada ou exportada de um produto de ou a um país, durante certo período de tempo
(MÁS, 1969).
Devido à necessidade de garantir um mercado amplo para suas empresas em franca
expansão, a supressão de restrições quantitativas teve nos Estados Unidos o seu maior
incentivador. Entretanto, também neste ponto, foi necessária a observação de limites
relacionados à regulamentação dos mercados agrícolas; proteção ao equilíbrio na balança de
pagamentos e ao desenvolvimento das economias pouco avançadas. A despeito de sua grande
utilização no passado, a prática de restrições quantitativas vem se reduzindo pelos países
desenvolvidos, porém ainda persistem importantes restrições, principalmente para produtos
agropecuários (BRASIL, 2005).
Segundo os Estados Unidos, as restrições quantitativas não deveriam ser utilizadas
como meio de proteção, mas poderiam ser usadas como meio de “ordenar e controlar” os
mercados internos. Em outras palavras, as restrições aos produtos industrializados deveriam
ser suprimidas e, em contrapartida, as existentes sobre os produtos agrícolas poderiam ser
mantidas. As situações previstas no Acordo em que são admitidas restrições quantitativas são:
i) escassez grave de produtos alimentícios com conseqüente alta dos preços (neste caso são
admitidas restrições temporárias à exportação de forma a restabelecer o mercado interno); ii)
medidas relacionadas ao controle de classificação ou de qualidade de produtos agropecuários;
iii) restrição à importação de qualquer produto agrícola ou pesqueiro sempre que tal ação seja
necessária para a execução de medidas governamentais. Segundo a cláusula de exceção, os
países em desenvolvimento poderiam ser desobrigados de cumprir o princípio geral da
proibição de restrições quantitativas em dois casos. A primeira com a finalidade de obter um
nível suficiente de reservas para a execução de um programa de desenvolvimento econômico;
e a segunda, para facilitar a criação de um determinado setor produtivo, visando a melhoria do
nível de bem-estar da população (MÁS, 1969).
As restrições previstas para o comércio de produtos agrícolas foram amplamente
utilizadas por todos os países. Quando não era possível invocá-las, utilizava-se ainda a
renúncia (waiver), mecanismo (de duração mais longa) pelo qual os países poderiam pedir
isenção de algum compromisso ou obrigação decorrentes do Acordo Geral. A política agrícola
norte-americana é fruto deste mecanismo. Em 1955, os EUA obtiveram uma renúncia que
isentava a agricultura norte-americana das exigências do Artigo XI do GATT, permitindo a
adoção de quotas de importação para vários produtos, por tempo indeterminado, o que isolou
seu mercado doméstico da concorrência internacional (FAGUNDES, 1994).
11
A excessiva amplitude da liberdade de aplicação dos princípios fundamentais do
Acordo na área agrícola é responsável pela principal crítica que os países em desenvolvimento
lançavam contra o Acordo Geral. Na prática, a aplicação das exceções previstas era
extremamente complexa e trabalhosa
5
. Estava sujeita à ingerência dos países desenvolvidos e
ainda previa que estes poderiam exigir compensações, caso se sentissem prejudicados pelas
medidas restritivas tomadas pelos países em desenvolvimento.
Mesmo após a sua incorporação pela OMC, as bases do GATT se mantêm válidas e
não proíbem a proteção a setores econômicos nacionais. Entretanto, esta proteção deve ser
efetuada essencialmente por meio de tarifas, tidas como uma forma transparente de
divulgação do grau de proteção que determinado país dispensa a seus produtos e, também, são
consideradas como sendo o mecanismo que provoca o menor grau de distorção ao comércio
internacional (BRASIL, 2005). Demais variedades de proteções cnicas ou sanitárias devem
ser divulgadas por meio das chamadas notificações. Com exceção dos casos onde a urgência
da medida não permite, as notificações devem ser divulgadas com uma antecedência razoável
para que sejam avaliadas pelos países que se sintam afetados. Essa é uma prática que tem
crescido a uma velocidade espantosa. De 1981 a 2001, o número anual de notificações de
medidas técnicas passou de 150 para 4.600 (HENSON, 2004). Contabilizadas apenas as
notificações relacionadas a questões sanitárias no âmbito do Acordo SPS, são 9.800 de 1995 a
2007.
1.2.2
As rodadas de negociação
As relações comerciais entre os países necessitavam de uma base estável para o
comércio e a melhor forma encontrada para ratificar esta estabilidade, foi efetivada por meio
da consolidação das tarifas de importação que cada país poderia praticar, conforme o seu
compromisso nas negociações. As tarifas máximas que cada país aplica a determinados
produtos são consolidadas e figuravam em listas que integram o GATT (BRASIL, 2005).
Para a redução das tarifas alfandegárias, o GATT contava com um procedimento
especial que consistia em convocar periodicamente os países membros, os quais, baseados nos
conceitos de vantagens mútuas, buscam a redução dos obstáculos alfandegários. Essas
chamadas Conferências Tarifárias do GATT ou, mais simplesmente, “rodadas de negociação”
seriam então o principal instrumento do GATT para viabilização dos seus objetivos.
As rodadas de negociação eram regidas por alguns princípios fundamentais como: o da
concessão de tarifas, da reciprocidade, do fornecedor principal e o da consolidação (MÁS,
1969). Segundo estes princípios, as reduções de tarifas podem ser realizadas de produto a
produto, por setores ou de modo linear ao conjunto dos produtos. Estabeleceu-se também que
a abertura de negociações sobre um produto, só deveria ser iniciada quando houvesse a
participação do país produtor mais relevante do mesmo. Ainda segundo os princípios que
regem as negociações, as vantagens obtidas por um país devem ser equivalentes àquelas
oferecidas pelo mesmo.
Ao longo da vigência do GATT, foram realizadas 8 rodadas de negociação, a saber:
Genebra, 1947; Annecy, 1949; Torquay, 1950-1951; Genebra, 1955-1956; Genebra, 1960-
1961 (Rodada Dillon); Genebra, 1964-1967 (Rodada Kennedy); Genebra, 1973-1979 (Rodada
12
produto. Na terceira rodada, em 1951, começaram a surgir problemas, relacionados
basicamente ao conceito de reciprocidade e, sobretudo, às disparidades existentes entre os
direitos alfandegários das partes contratantes. As três primeiras rodadas contaram com a
presença de 22 a 24 países cada.
Em janeiro de 1956, com a participação de apenas 22 países, foi aberta a IV
Conferência Tarifária do GATT. Excluindo-se os Estados Unidos, que utilizou seu poder de
negociação ao limite e obteve compensações satisfatórias, nenhum dos demais países saiu
satisfeito. Alguns se retiraram das negociações, como foi o caso da França; outros receberam
pouco, pois também tinham pouco a oferecer. Os países em desenvolvimento permaneceram à
margem das discussões; os Estados Unidos se encontravam prisioneiros de sua legislação
6
nacional; e o Reino Unido mantinha-se fiel à idéia de que o comércio com a Commonwealth
7
era mais importante que o comércio com o continente. Segundo Más (1969), o sentimento que
dominava os delegados dos países europeus era de frustração e fracasso.
nessa rodada de negociações, sugiram as primeiras reações dos países em
desenvolvimento contra as barreiras tarifárias e não-tarifárias que dificultavam suas
exportações, tendo em vista que os países importadores de commodities haviam adotado uma
série de medidas restritivas de ordem fitossanitária e contingentes diversas.
Rodada Dillon
8
A V Conferência, inaugurada em setembro de 1960, foi marcada pelos ajustes
necessários devido à criação da Comunidade Econômica Européia
9
-CEE e pelo início das
negociações para a redução linear de tarifas com base no princípio da reciprocidade
10
. A esta
época, a Comunidade Econômica Européia estava começando a implementar sua Política
Agrícola Comum - PAC, substituindo tarifas e quotas por um direito variável, como forma
principal de proteger sua produção agrícola (PONT-VIEIRA, 1994).
Embora tenham participado da Rodada Dillon 45 países que trocaram cerca de 4.400
concessões (PONT-VIEIRA, 1994), o resultado prático mais expressivo desta rodada foi o
reconhecimento unânime do fracasso e inoperância do antigo sistema de negociação. Este
fracasso levou a duas conseqüências importantes: a decisão por parte dos Estados Unidos de
alterarem a sua legislação nacional e o despertar, por parte dos demais membros, em busca de
novos procedimentos de negociação. Esses dois movimentos combinados conduziram ao
sucesso da conferência seguinte (MÁS, 1969).
Rodada Kennedy
6
O Congresso Americano, por meio da Lei de Acordos Comerciais Recíprocos, limitava o poder do governo
para negociar tarifas alfandegárias ou demais acordos comerciais .Esta situação foi alterada em 1962, com a
aprovação do Trade Agreements Expasion Act, que autorizava o Presidente a fechar acordos comerciais com
outros países até julho de 1967.
7
A Commonwealth of Nations é uma associação de territórios autônomos, mas dependentes do Reino Unido,
criada 1931 e formada atualmente por 54 nações. A Commonwealth tem historicamente por objetivo promover a
integração entre as ex-colônias do Reino Unido, concedendo benefícios e facilidades comerciais; mais
recentemente os seus objetivos incluem a assistência educacional aos seus países-membro e a harmonização das
suas políticas.
8
Douglas Dillon era subsecretário de Estado norte-americano, de quem partiu a proposta para a realização da
Conferência.
9
A Comunidade Econômica Européia foi criada pelo tratado de Roma de 1957, sendo posteriormente
consolidada como União Européia a partir do Tratado de Maastricht em 1992 (ALMEIDA, 2002).
10
A primeira proposta de redução linear de tarifas apresentada ao GATT ocorreu em 22 de julho de 1953 pelo
francês M. Pflimlin. A proposta previa uma redução de 30% nas tarifas alfandegárias em um período de 3 anos,
mas não foi à frente devido ao desinteresse americano, pois exigiria uma modificação em sua legislação (ver
nota 6).
13
A VI Conferência, batizada de Rodada Kennedy, foi um divisor de águas fundamental
na história do GATT e foi marcada pelas modificações na legislação americana. O Trade
Expansion Act, em 1962, autorizava o Governo Americano a negociar reduções tarifárias
importantes (DELGADO, 2000), o que permitiu o estabelecimento de um novo sistema de
negociação para as futuras atuações do GATT, o chamado sistema de redução linear das
tarifas. O novo sistema proposto consistia em estabelecer uma porcentagem de redução única
aplicável a todas as tarifas alfandegárias de cada grupo homogêneo de produtos
11
.
Durante a Rodada Kennedy presenciou-se a primeira grande confrontação entre os
Estados Unidos e a CEE sobre a PAC. Os graves conflitos de interesse na área do comércio
agrícola tornaram praticamente impossível qualquer tipo clássico de liberalização comercial
neste setor. Como seria preciso levar em conta fatores políticos, sociológicos e econômicos
que dominavam a política comercial de cada país; se considerou conveniente separar os
produtos agrícolas da regra geral, aplicando-a apenas aos produtos industrializados.
Para cuidar da negociação dos produtos agrícolas, o Comitê de Negociações
Comerciais criou vários grupos temáticos de trabalho (carnes, cereais, produtos lácteos,
açúcar e produtos oleaginosos), encarregados de estabelecer as bases para as negociações. No
que se referia aos produtos tropicais, as negociações eram realizadas de forma bilateral, ou
seja, de país a país produto a produto, segundo o estilo clássico do GATT.
Outra característica da Rodada Kennedy foi a classificação dos países, de acordo com
as características econômicas de cada um, em: Países Industrializados; Países Desenvolvidos
não industrializados (Austrália, Canadá e Nova Zelândia); Países em Situação Especial
(intermediários entre os dois grupos anteriores: Portugal, Grécia, Espanha, Turquia, Israel);
Países Menos Desenvolvidos (grupo marcado por uma grande heterogeneidade dos países
incluídos); Países de Economia Planificada (Polônia, Iugoslávia, Tchecoslováquia). Ainda
nesta rodada, foi dada a concessão para que os países em desenvolvimento não fossem
obrigados a seguir a cláusula da nação mais favorecida em relação aos países industrializados,
e que pudessem conceder vantagens tarifárias a outros países em desenvolvimento, sem a
obrigação de criar zonas de livre-comércio ou uniões aduaneiras (JAKOBSEN, 2005).
Na Rodada Kennedy, participaram quase 50 países, foi a primeira vez que a
Comunidade Européia participou das negociações como um bloco. Realizou-se assim uma
rodada de negociações entre participantes com poder de barganha mais equilibrado. Este fato,
e a adoção da redução linear de tarifas permitiram uma redução de 35% na tarifa média dos
produtos industrializados dos países desenvolvidos (BRASIL, 2005). As reduções seriam
aplicadas entre 1968 a 1972, afetariam um total de 3.600 produtos, com um valor de 40
milhões de dólares (POU, 1979), e um total de 30 mil concessões trocadas (PONT-VIEIRA,
1994). Este valor era superior a soma dos valores alcançados em todas as rodadas anteriores
(MÁS, 1969).
Rodada Tóquio
A Rodada Tóquio (1973-1979) contou com a participação de 102 países (PONT-
VIEIRA, 1994) e ocorreu em meio à crise do petróleo. Como os países desenvolvidos
enfrentavam problemas de desemprego e inflação acelerada, o resultado foi o crescimento das
restrições comerciais por parte destes países. A proliferação do uso das barreiras não-tarifárias
fez com que esse tema fosse tratado com maior destaque nas negociações.
Durante a Rodada de Tóquio introduziu-se nova técnica de negociação tarifária,
consistindo numa fórmula de harmonização pela qual se reduziam as tarifas mais elevadas em
proporção maior do que as mais baixas. Desta forma, não alguns “picos” tarifários
11
Medida necessária devido a percepção de que uam redução de 50% na tarifa de um bem industrializado é
relativamente distinta da mesma redução dada a uma matéria-prima.
14
desapareceriam, como diminuiria a progressividade dentro das estruturas tarifárias nacionais,
causando ainda um efeito harmonizador ao nível internacional. Os resultados obtidos foram: i)
a redução de tarifa média de 30% para produtos industriais, com um volume de comércio de
US$ 300 bilhões (JAKOBSEN, 2005); ii) a troca de 33 mil concessões; iii) a elaboração de
códigos que visavam regular os procedimentos relativos a barreiras não-tarifárias; como
valoração aduaneira, licenciamento de importações, barreiras técnicas, compras
governamentais, subsídios e antidumping; e iv) a reforma da estrutura do GATT. Os países
em desenvolvimento tiveram reconhecido, oficialmente, o direito à isenção na cláusula da
nação mais favorecida e a reciprocidade em favor dos Planos Especiais de Desenvolvimento
(PED).
A cláusula de habilitação permitia que os países desenvolvidos concedessem
tratamento diferenciado e mais favorável aos países em desenvolvimento, sem reciprocidade.
Foi também facilitado o uso de restrições tarifárias em função de distorções na balança de
pagamentos (Artigo XVIII). O Brasil foi um dos países que defendeu esta posição e utilizou
por bastante tempo esta prerrogativa, da qual abriu mão oficialmente em 1990, com o
Governo Collor.
Nesta rodada ocorreu ainda o aperfeiçoamento do sistema de solução de controvérsias
e foi negociada a Cláusula de Habilitação
12
, que legitimou o Sistema Geral de Preferências
(SGP). A cláusula era voluntária, seletiva e não obrigatória. Em troca, os países em
desenvolvimento concordaram com a gradação – o que significa que seus compromissos com
o regime multilateral de comércio aumentariam de acordo com a melhoria de sua situação
econômica. Com a posterior instituição da Organização Mundial do Comércio (OMC), as
preferências comerciais não-recíprocas como as cobertas pelo Sistema Geral de Preferências,
declinaram em uso e em importância, e hoje se restringem, em sua maioria, aos países menos
desenvolvidos (Oliveira, 2005; MALHORTA, 2004).
Em relação aos standards, nessa rodada 42 partes integrantes do GATT assinaram o
chamado Código de Standards que procurava minimizar os efeitos distorcivos ao comércio
causados pelos standards, regulamentos cnicos e procedimentos de avaliação para os
produtos agrícolas e industrializados. Segundo o Acordo sobre Barreiras Técnicas ao
Comércio (Acordo TBT) de 1979:
“As Partes devem assegurar que os standards e regulamentos técnicos não
sejam elaborados adotados ou aplicados de forma a criar obstáculos ao
comércio internacional. Além disso, aos produtos importados do território
de qualquer Parte deve ser acordado tratamento não menos favorável do
que o acordado aos produtos similares de origem nacional e aos produtos
similares originados de qualquer outro país em relação a esses standards e
regulamentos técnicos. Eles devem, do mesmo modo, assegurar que nem os
regulamentos técnicos, nem os standards, nem sua aplicação tenham o
efeito de criar obstáculos desnecessários ao comércio internacional”.
Embora a agricultura tenha sido pela primeira vez tratada como um item separado da
agenda de negociação, não foi desta vez que a mesma foi substancialmente atingida. O
conflito entre os Estados Unidos e a CEE dominou novamente as discussões agrícolas. Os
EUA enfatizaram a necessidade de negociar os níveis de ajuda à agricultura e de encontrar
técnicas para moderar os efeitos no comércio de políticas agrícolas nacionais, especialmente
os efeitos da PAC. A CEE, por sua vez, buscava acordos internacionais dentro do GATT para
estabilizar preços e partilhar mercados; mas não admitia a discussão de sua PAC nem de seus
potenciais efeitos comerciais. Não houve acordo possível entre essas duas visões antagônicas.
12
Formalmente intitulada: Tratamento Diferenciado e Mais Favorável, Reciprocidade e Maior Participação dos
Países em Desenvolvimento.
15
Rodada Uruguai
A Rodada Uruguai foi lançada oficialmente em Punta del Este, no Uruguai em 1986;
as negociações formais duraram oito anos e ocorreram de forma lenta e complexa. A
conjuntura e os fenômenos políticos e comerciais permearam as discussões na Rodada
Uruguai, entre eles:
Serviços e tecnologia despontando como valores de grande importância na economia
internacional;
Forte tendência à organização dos países em blocos regionais
13
;
Surgimento de novos componentes na concorrência comercial, como aspectos
relacionados ao meio ambiente, normas sanitárias mais exigentes e defesa dos
interesses dos consumidores;
O período pós-guerra fria, que eliminou o panorama bipolar das relações
internacionais, permitindo o aparecimento do multilateralismo;
A intensificação extraordinária do processo de globalização;
Os preços e as exportações agrícolas decresceram, fazendo com que aumentasse o
protecionismo agrícola dos países desenvolvidos, com o aumento dos subsídios às
exportações e maiores barreiras às importações agrícolas provenientes dos países em
desenvolvimento.
Alguns países em desenvolvimento, antes importadores agrícolas, passaram a disputar
o mercado internacional como exportadores, concorrendo com os países
desenvolvidos.
Os programas de apoio às agriculturas nacionais dos países desenvolvidos passaram a
adotar preços internos bastante superiores aos do mercado internacional, o que
ocasionou crescimento da oferta agrícola acima do crescimento da demanda mundial
com dificuldades de exportação e acumulação crescente de estoques.
O superávit agrícola norte-americano com a CEE caiu de US$ 7,5 bilhões em 1980,
para US$ 2,5 bilhões em 1986, além de os EUA passarem a perder terceiros mercados
para a CEE (FAGUNDES, 1994).
Muitos destes temas afetavam diretamente os EUA, levando-o a dedicar-se para que o
comércio agrícola fizesse parte das negociações. Não deixa de ser irônico que tenha cabido
aos Estados Unidos, que inauguraram a exclusão da agricultura do regime do GATT, garantir
a presença da liberalização agrícola na agenda da Rodada Uruguai (ABREU & LOYO, 1994).
Entretanto, os países perceberam que, neste novo cenário internacional, a capacidade
do GATT para atuar como instrumento adequado para a administração do comércio mundial
estava se esgotando. As negociações realizadas no decorrer da Rodada Uruguai culminaram
na elaboração de um novo conjunto de regras e instrumentos mais adequados à nova realidade
do contexto internacional e na criação da Organização Mundial do Comércio.
A Rodada Uruguai representou a emergência de um novo paradigma de agenda
negociadora, através da incorporação de negociações de políticas à tradicional negociação de
produtos. Este enfoque permeou as negociações do Tratado Norte-Americano de Livre
Comércio (NAFTA) e do Mercado Comum do Sul (MERCOSUL), reaparecendo com força
nas discussões sobre a constituição da Área de Livre Comércio das Américas (ALCA). O foco
das negociações comerciais multilaterais deslocou-se da redução das barreiras ao comércio de
mercadorias para a negociação de regras e disciplinas aplicáveis a temas tão diversos quanto o
13
Embora a designação de “bloco regional” possa ser aplicada a qualquer grupo de países vinculados pela
contiguidade geográfica (blocos asiático, africano ou latino-americano) ou por acordos intergovernamentais, de
tipo econômico ou político, o termo, em sua acepção restrita, refere-se aos agrupamentos de caráter comercial
resultando de um projeto integracionista (ALMEIDA, 2002).
16
comércio de bens e serviços, os investimentos internacionais, as políticas industriais nacionais
e os direitos de propriedade intelectual (BRASIL, 2005).
A estratégia comercial difundida pelo pensamento liberal predominante baseava-se em
três pontos principais: i) a promoção da industrialização com a substituição de importações
por meio do uso de barreiras tarifárias e não-tarifárias; ii) a promoção das exportações de
manufaturados e a diversificação da produção mediante a concessão de subsídios à
exportação, necessários para minimizar as vantagens dos produtores dos países
desenvolvidos; e iii) a utilização de medidas de controle do comércio para a administração das
dificuldades atuais, ou potenciais, relativas a balanço de pagamentos (MICHALOPOULOS,
2000).
Dos 108 participantes da Rodada Uruguai, 70 eram países em desenvolvimento.
Entretanto, o desempenho negociador efetivo destes países, como um todo, ficou prejudicado
em função da incapacidade destes de estabelecer coalizões efetivas de interesse e a
dificuldade de determinar com clareza seus interesses nas negociações (FAGUNDES, 1994).
Entre os resultados da Rodada Uruguai cabe ressaltar, além da constituição da OMC,
os seguintes:
A incorporação plena, embora com longos períodos de transição, da agricultura e do
setor de têxteis e confecções (até então coberto pelo Acordo Multifibras) às regras e
disciplinas do GATT, através da tarificação dos instrumentos de proteção
14
e da
redução de subsídios (no caso da agricultura)
15
;
Novas reduções das tarifas industriais dos países desenvolvidos e consolidação do
universo tarifário de produtos industriais de um grande número de países em
desenvolvimento. Ainda que produtos representantes da grande massa das exportações
dos países em desenvolvimento, continuaram sujeitos a picos e escalonamentos
tarifários (OLIVEIRA, 2005; PETERS & VANZETTI, 2004);
A incorporação de temas como: comércio de serviços, medidas de investimento
relacionadas ao comércio (TRIMs), direitos de propriedade intelectual (TRIPs) e
compras governamentais;
Os mecanismos de solução de controvérsias e de monitoramento de políticas
comerciais nacionais tornaram-se muito mais robustos e sistemáticos. No caso de
solução de controvérsias, o mecanismo ganha em capacidade de se fazer respeitar
(enforcement). Para o monitoramento das políticas comerciais instituiu-se o Trade
Policy Review Mechanism (TPRM), instrumento de avaliação regular das políticas.
Foi consideravelmente reduzido o tratamento diferenciado e mais favorável
concedido, na tradição do GATT, aos países em desenvolvimento. Este tipo de
tratamento foi restrito a períodos de transição e de adaptação mais longos dos países
de menor desenvolvimento relativo.
Durante a Rodada Uruguai, o Brasil evoluiu de uma posição essencialmente negativa
em relação à agenda proposta para uma postura de compromisso com alguns dos seguintes
pontos da agenda:
Defesa do aprofundamento das negociações agrícolas;
Oposição a exercícios de ampliação do espectro de regras que podem implicar
limitação adicional da capacidade de atuação do Estado em matéria comercial ou
industrial;
14
Houve uma conversão das barreiras não-tarifárias em tarifas equivalentes (VIEGAS, 2003).
15
Josling (2003) resalta que a inserção do Acordo sobre a Agricultura foi possível devido ao acordo entre os
Estados Unidos e a União Européia que visava liberar os governos das custosas intervenções no mercado de
commodities.
17
Rejeição ao tratamento de normas ambientais em foros multilaterais encarregados da
regulação do comércio internacional, como a OMC;
Rejeição do tratamento dos temas trabalhistas na OMC, considerando que estes têm
sido tratados adequadamente na OIT, possuidora desse mandato.
18
- Estabelecer laços de cooperação com outras organizações internacionais.
Quanto à sistemática de funcionamento, a OMC manteve a realização de conferências
periódicas de negociação. A seguir são apresentadas breves descrições e análises destas
conferências.
As Conferências de Cingapura e Genebra
A I Conferência Ministerial da OMC realizou-se em Cingapura em dezembro de 1996.
A agenda da reunião, elaborada basicamente em consulta ao Quadrilátero Quad (Estados
Unidos, Japão, União Européia e Canadá), era composta por quatro itens: implementação dos
acordos da Rodada do Uruguai; negociações inacabadas sobre serviços, comércio e meio
ambiente; agenda futura da OMC; e maior liberalização do comércio de bens industriais. À
esta extensa agenda, a Reunião Ministerial de Cingapura agregou a criação de grupos de
trabalho encarregados de analisar os temas de compras governamentais, as relações entre
comércio e investimentos e as relações entre política de concorrência e comércio internacional
(MALHORTA, 2004).
Na busca pelo crescimento e desenvolvimento sustentáveis, os membros da OMC
renovaram, seu compromisso com: i) um sistema baseado em normas, mais aberto, eqüitativo
e justo; ii) a progressiva liberalização e eliminação das barreiras tarifárias e não-tarifárias no
comércio de mercadorias e na prestação de serviços; iii) a rejeição de todas as formas de
protecionismo; iv) a eliminação do tratamento discriminatório nas relações internacionais
comerciais; v) a integração dos países em desenvolvimento, países menos desenvolvidos e
economias em transição no sistema multilateral do comércio; e vi) o maior grau possível de
transparência (OLIVEIRA, 2005).
A Conferência de Cingapura não avançou na implementação dos acordos anteriores e
de interesses dos países em desenvolvimento e nem foi abrangente como pretendiam os países
desenvolvidos, mas foi útil para que eles começassem a montar a agenda para o futuro.
A Conferência de Seatlle
Nas palavras de Jakobsen (2005) a III Conferência Ministerial da OMC em Seatlle,
realizada em dezembro de 1999, foi um rotundo fiasco. As diferenças de percepções e
expectativas em relação ao regime global de comércio eram extremamente díspares. A crise
asiática e posteriormente as crises russa e brasileira levaram muito países a levantar barreiras
protecionistas (OLIVEIRA, 2005). Além disso, o Japão permanecia com sua economia
estagnada desde o início da década, a Europa estava mais preocupada em levar adiante a
implantação de sua moeda comum e nos Estados Unidos haveria eleições no ano seguinte, o
que tornaria ainda mais difícil que o governo norte-americano fizesse concessões.
A insistência dos países desenvolvidos em iniciar as negociações para maior
liberalização de tarifas industriais e de serviços sem fazer concessões em relação à agricultura
e aos temas pendentes da Rodada do Uruguai; a falta de transparência nas reuniões de
negociação; as declarações dos EUA a favor de sanções comerciais contra países onde existia
trabalho infantil; e as primeiras grandes mobilizações sociais conta a OMC, impediram que se
chegasse a qualquer tipo de acordo e fizeram com que as negociações fossem transferidas
para Genebra (ANDRADE et al, 2005).
Seatlle mostrou ainda a preocupante dificuldade institucional de tornar efetivo o
processo decisório em um sistema com mais de 100 países envolvidos. A resolução final
limitou-se a retomar os trabalhos para recompor a agenda e definir uma nova data para a
próxima conferência ministerial. Os membros dos países em desenvolvimento adotaram o
tema das normas e barreiras técnicas como prioritário para agenda pós-Seattle, baseados em
duas temáticas principais: a assistência técnica para implementar as medidas previstas nas
19
normas da OMC e o bloqueio das importações por parte dos países desenvolvidos, em função
das normas ambientais (MASKUS et al, 2000).
A Conferência de Doha
A IV Conferência Ministerial ocorreu na cidade de Doha, no Qatar em 2001. Diante
no novo contexto mundial, o discurso da Casa Branca passou a ser que o terrorismo era fruto
da pobreza e que o meio para combatê-la seria promover a abertura econômica. Outros
aspectos das negociações eram: i) a relutância da UE em avançar nas negociações sobre a
agricultura; ii) a mudança estrutural da agricultura e da indústria alimentícia, que passaram a
se organizar sob a forma de sistemas globais de alimentação; iii) as contínuas mudanças na
política agrícola dos países da OCDE (JOSLING, 2003); e iv) a tentativa das grandes
corporações de impedir que países assolados pela epidemia de AIDS rompessem patentes para
fabricar remédios genéricos.
Nas reuniões preparatórias, ficou visível que os países desenvolvidos desejavam
iniciar as negociações sobre novos temas como regras de concorrência, investimentos,
compras governamentais, facilitação de comércio e tarifas de produtos não-agrícolas;
enquanto que os demais países queriam discutir a implementação dos acordos anteriores,
como o tema agrícola ou o Acordo Multifibras. Os consensos identificados por Oliveira
(2005) foram: a necessidade do tratamento especial e diferenciado aos países em
desenvolvimento nas negociações e acordos; e pela entrada formal da China como membro da
OMC, o que significou a entrada de um grande mercado para o sistema multilateral de
comércio, assim como de um forte ator no jogo das negociações.
Ao final da Conferência, foi divulgada uma frágil resolução que assegurava que o
processo de abertura econômica prosseguiria, e os preceitos que norteariam os trabalhos
futuros foram consubstanciados no Mandato de Doha (The Doha Mandate), que inclui as
negociações agrícolas dentro do princípio do single undertaking, e estabelecia o fim das
negociações para de janeiro de 2005
18
(ANDRADE et al, 2005). Basicamente, decidiu-se
que as negociações sobre os Temas de Cingapura iniciar-se-iam na V Conferência da OMC, a
realizar-se em 2003 em Cancun, no México. Na verdade, os problemas centrais foram adiados
por dois anos (JAKOBSEN, 2005).
A Conferência de Cancun
A V Conferência em Cancun (setembro de 2003) foi marcada por uma ausência de
consenso e por um espírito de frustração devido ao fracasso na tentativa de aprofundar as
negociações, e foi concluída sem uma resolução que desse início à Rodada do
Desenvolvimento, lançada em Doha. Dentre os poucos destaques, pode-se citar a adesão do
Nepal e do Camboja como membros da OMC.
Um grupo importante de países em desenvolvimento, articulados pelo Brasil e pela
Índia, criou o Grupo do 20 (G-20)
19
pouco antes da Conferência de Cancun para defender
uma outra dinâmica na OMC que possibilitasse negociações mais justas e equilibradas que
incluíssem temas como a liberalização do comércio de bens agrícolas e o fim dos subsídios à
exportação praticados pelos países desenvolvidos. A União Européia impôs, como condição,
para a redução de seus subsídios, a inclusão dos créditos à exportação (usados de forma ampla
pelos Estados Unidos) e demais formas de subsídios implícitos na pauta de debates
(JOSLING, 2003).
18
O que acabou não ocorrendo até a data de conclusão deste trabalho.
19
Embora o grupo tivesse adquirido essa denominação, teve um número variado de participantes .Até o início de
2005 os membros eram 19: África do Sul, Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, China, Cuba, Egito, Filipinas, Índia,
Indonésia, México, Nigéria, Paquistão, Paraguai, Tailândia, Tanzânia, Venezuela e Zimbabwe.
20
Até mesmo o QUAD começou a perceber que o G-20 possuía uma grande força e que
seria necessário incluí-lo de alguma forma no jogo. Assim sendo, instalou-se, depois da
Conferência, um grupo especial denominado de P-5, composto por: Estados Unidos e União
Européia, em nome dos países mais desenvolvidos; Brasil e Índia, em nome do G-20 e a
Austrália, representando o Grupo Cairns
20
(JAKOBSEN, 2005).
As negociações se romperam quando muitos dos países menos desenvolvidos se
recusaram a discutir os temas de Cingapura como parte da agenda da OMC, e se negaram a
21
1.4
Breve Análise das Negociações no GATT E na OMC
“Eliminando as restrições ao comércio em setores como têxteis e agricultura
que contêm muitas indústrias que devem ser as primeiras a exportar num
país em desenvolvimento, os países adiantados provavelmente fariam mais
bem do que os programas de ajuda externa combinados”. (PORTER 1989).
O liberalismo (ver box) não conseguiu promover o desenvolvimento econômico e a
paz que pregava. O desafio continua sendo encontrar mecanismos que produzam acordos
justos, que respeitem as diferenças existentes entre os países, possibilitando que estes
disponham de mecanismos macroeconômicos para definir rumos autônomos para suas
economias, de modo que o comércio realmente contribua para o desenvolvimento de todos.
Apesar do pouco proveito efetivo em termos de acesso aos mercados dos países
industrializados, para os países em desenvolvimento o GATT e a “era keynesiana” trouxeram
benefícios relativos. As idéias de Keynes, com sua ênfase na autonomia das políticas
econômicas domésticas das nações como forma de perseguir objetivos econômicos legítimos,
foi decisiva em inúmeros aspectos para viabilizar o enorme desenvolvimento econômico
ocorrido em muito desses países no período de vigência do regime internacional de Bretton
Woods (DELGADO, 2000). O GATT contribuiu de modo essencial para o equilíbrio
internacional e amenizou ou solucionou conflitos econômicos, ainda que seja possível
questionar se o atual equilíbrio corresponde ao mais justo.
Ao longo das rodadas de
negociação do GATT, os países em
desenvolvimento passaram por um
intenso processo de organização e
de conscientização de que as
decisões tomadas favoreciam de
forma desigual os países
desenvolvidos
22
. Entretanto, a
maioria dos países do Terceiro
Mundo estava por demais
politicamente debilitada pela
necessidade de renegociar suas
dívidas externas com os países
centrais para conseguir evitar a
agenda dos países industrializados
e das instituições financeiras
internacionais como o FMI e o
Banco Mundial. Estas instituições
estipularam a liberalização
comercial como uma de suas
condições para renegociar dívidas
ou conceder novos empréstimos
(CHANG, 2004).
O uso da cláusula da nação
22
Em 2002, a Índia apresentou um questionamento à OMC em virtude do sistema de preferências adotado pela
Comunidade Européia que previa preferências tarifárias aos países em desenvolvimento que: i) estivessem no
regime especial contra a produção e o tráfico de drogas; ou ii) que fizessem parte do regime especial de estímulo
à proteção dos direitos trabalhistas e do meio ambiente. O panel que analisou a questão decidiu que o regime das
Comunidades Européias era inconsistente com o GATT e que o princípio de não discriminação deveria ser
respeitado, não admitindo seletividade entre países em desenvolvimento (OLIVEIRA, 2005).
Liberalismo
Com raízes nas idéias liberais defendidas pelo
fisiocratismo, o liberalismo econômico surge na
Europa e na América no final do Séc. XVIII
associado ao liberalismo político nascido nas
Revoluções Americana e Francesa. O liberalismo
enfatiza a liberdade de iniciativa econômica, a livre
circulação da riqueza, a valorização do trabalho
humano e a economia de mercado (defesa da livre
concorrência, do livre cambismo e da lei da procura e
da oferta como mecanismo de regulação do mercado);
opondo-se assim ao intervencionismo do Estado e à
adoção de medidas restritivas e protecionistas
defendidas pelo Mercantilismo.
O liberalismo teve em Adam Smith um de seus
principais teóricos, com sua tese da vantagem
absoluta, aprofundada posteriormente por David
Ricardo. O liberalismo econômico fazia parte da
estratégia política internacional inglesa, qu
e o
empregava com o intuito de conseguir acesso direto
aos fornecedores de matérias-
primas e aos mercados
consumidores mundiais, rompendo com a ordem
mercantilista. (PINHEIRO, 1995).
22
mais favorecida e do princípio da não discriminação como instrumentos de redução de tarifas,
além excluir vários produtos, não beneficiou a todos os países por igual. Isso apenas ocorreria
caso os países possuíssem estruturas econômicas similares ou níveis de desenvolvimento
muito parecidos. As enormes diferenças existentes, principalmente no que diz respeito à
capacidade financeira, fizeram com que a igualdade total de tratamento comercial
beneficiasse, em maior proporção, os países mais industrializados (MÁS 1969). De modo
geral, o processo de liberalização dos produtos agrícolas, base das exportações dos países em
desenvolvimento, foi muito mais moroso do que o experimentado pelos produtos
manufaturados.
Outro aspecto relevante que remete ao início das negociações no GATT é a questão da
opção pelas reduções lineares de tarifas, que acabaram por beneficiar aqueles países que
praticavam os patamares de tarifas mais elevados antes dos acordos. Este foi o caso dos
Estados Unidos, o país industrializado com maiores tarifas médias. A ampla liberalização no
setor de serviços, defendida com firmeza pelos países desenvolvidos, também prejudica em
especial os países em desenvolvimento. Isso porque é nos países desenvolvidos que estão
localizadas as sedes da maioria das corporações transnacionais atuantes nesse ramo, que
estavam capacitadas técnica e financeiramente para expandir seus negócios para o exterior
antes da liberalização.
Ainda que as mudanças regulatórias domésticas efetuadas nos anos 90 tenham deixado
o país em posição negociadora razoavelmente confortável. Particularmente em relação ao
Brasil, identifica-se uma crescente preocupação em relação aos impactos de eventuais
pressões em temas como setores de serviços, compras governamentais, TRIMs, subsídios e
outros relacionados ao meio ambiente e às normas de trabalho. Esse temor se justifica porque
a incorporação destes temas nos debates pode ser analisada como sendo um modo de tornar as
negociações comerciais, cada vez mais, um veículo usado pelos países comercialmente mais
poderosos para ditar os termos de um modelo mundial de fazer política econômica, pois as
regulações decorrentes das políticas nacionais determinam, em grande parte, a
competitividade das empresas (FAGUNDES, 1994).
No preâmbulo do Acordo Constitutivo da OMC, esta herdou do GATT o
reconhecimento formal das necessidades especiais dos países em desenvolvimento,
particularmente na consideração de esforços positivos para assegurar que aos mesmos seja
garantida uma parcela no crescimento do comércio internacional, proporcional às suas
necessidades de desenvolvimento econômico. Entretanto, embora esses mecanismos estejam
previstos nas várias disposições de tratamento especial, na prática, não têm gerado os
resultados desejados (OLIVEIRA, 2005). Com a consagração do single undertaking, durante
a Rodada do Uruguai, o conceito de tratamento especial e diferenciado foi reorientado para
facilitar a integração dos países em desenvolvimento no sistema multilateral do comércio em
bases iguais aos países desenvolvidos. Entretanto, uma tensão fundamental entre
estabelecer regras universais para o comércio internacional e dar aos países membros espaço
suficiente para elaborar políticas adequadas à sua situação econômica. O atual regime de
“tamanho único” reflete, com muito mais freqüência, as necessidades e interesses particulares
dos países industrializados, que são colocados na linguagem dos princípios universais como
sendo valores compartilhados por toda comunidade internacional
23
(LUCCHESE, 2003).
Formalmente, a OMC, onde cada país tem um voto, é a mais democrática de todas as
organizações intergovernamentais com um mandato global. Essa característica gera uma
expectativa de maior influência dos países em desenvolvimento nas decisões
24
. No entanto,
essas expectativas muitas vezes não são correspondidas; primeiro porque os países de menor
23
O acordo TRIPS que dispõe sobre a proteção patentária de inovações tecnológicas é um exemplo emblemático
dessa estratégia.
24
Em 1990 os países em desenvolvimento já detinham 76 % dos votos.
23
desenvolvimento relativo não têm condições de manter representações em Genebra e/ou tais
representações são inaptas para enfrentar a complexidade das negociações comerciais e;
segundo, porque a construção de um consenso informal tem exercido muito mais influência
na tomada das decisões na OMC do que seus processos formais (MALHORTA, 2004). E
finalmente, porque a grande heterogeneidade dos países em desenvolvimento dificulta a
apresentação de posições em bloco nos fóruns de negociação internacional.
A freqüente falta de união e de uma posição fechada, é também o fator que restringe a
influência mais direta das Organizações Não-Governamentais (ONGs) e dos movimentos
sindicais nas decisões tomadas na OMC. Entretanto, estas organizações trazem a público uma
série de informações sobre os bastidores das negociações na OMC e muitas reivindicações
dos países menos desenvolvidos têm se apoiado em estudos desenvolvidos por essas
instituições.
A OMC não deve ser entendida como uma instituição dedicada a harmonizar e a
reduzir diferenças institucionais entre países, mas como uma organização que administra a
interação entre diferentes sistemas nacionais. No que tange a propiciar autonomia na
elaboração de política, a estrutura e a implementação dos acordos da OMC estão longe de ser
satisfatórias. Concluindo, um sistema global de comércio baseado na barganha mútua não
pode produzir resultados justos e desejáveis em termos de desenvolvimento humano, a menos
que todos os seus membros tenham a capacidade de negociar e extrair benefícios do comércio
internacional. Falta à maioria dos países em desenvolvimento a capacidade de influenciar a
agenda e o ritmo das negociações comerciais multilaterais, bem como de negociar
efetivamente as questões de seu interesse e cumprir seus compromissos com o regime de
comércio (MALHORTA, 2004).
No que concerne à participação brasileira nos fóruns, os entrevistados ouvidos para a
tese que integram efetivamente os diversos comitês (TBT, SPS, Codex, OIE), são unânimes
em declarar que o Brasil apresenta uma inserção política relevante e tem suas opiniões
levadas em consideração nas mesas de negociação. Uma crítica comum está relacionada à
reduzida presença do setor privado nacional e de representantes da academia, que poderiam
disponibilizar dados utilizados para fundamentar ou respaldar as intervenções brasileiras. Esta
situação obriga muitas vezes a delegação brasileira a tecer suas considerações baseando-se em
dados obtidos por outros países. Alguns entrevistados também citaram a existência de
deficiências de coordenação das comitivas brasileiras, sobretudo nos fóruns do Acordo SPS,
onde a percepção é de que problemas de ordem político-institucional prejudicam a obtenção
de uma posição harmônica unificada entre os representantes das várias instituições.
1.5
Instituições Internacionais de Normalização
Retomando a descrição da organização institucional do comércio mundial, este tópico
introduz algumas instituições que apresentam atividades relacionadas com o
desenvolvimento, implementação e difusão de normas, padrões e regulamentos, relevantes
para as transações internacionais envolvendo produtos agropecuários.
A World Standards Services Network (WSSN), é uma instituição que disponibiliza,
por meio da rede mundial de computadores (internet), informações a respeito dos padrões de
algumas organizações mundiais que trabalham com a elaboração de normas e padrões. Dentre
as associadas à WSSN podemos destacar a Organização Internacional de Normalização
(ISO
25
), criada em 1947. A ISO é uma organização não governamental com sede em Genebra,
estruturada como uma federação mundial de órgãos de normalização nacionais de
aproximadamente 156 países, cuja missão é desenvolver padrões e atividades relacionadas de
25
A sigla ISO não significa apenas as iniciais de sua denominação em inglês, mas também é utilizada em todos
os países para se evitar confusões nas traduções em diversas línguas, pois ela provém do grego em que iso
significa igual.
24
modo a facilitar o intercâmbio de mercadorias e serviços e desenvolver a cooperação nas
esferas da atividade intelectual, científica, tecnológica e econômica. Para isso, a ISO
estabelece regras ou características para processos ou produtos, de atividades comuns ou
repetidas, almejando alcançar o grau ótimo de qualidade em um contexto específico
(HENSON, 2004). Além de cerca de 17 mil padrões internacionais relativos a vários setores,
foram desenvolvidos, em seus comitês e sub-comitês técnicos, padrões de sistema de
gerenciamento genéricos previstos nas ISO 9000 (gerenciamento de qualidade), ISO 14000
(meio ambiente) e SA 8000 (Sistema de Gestão de Responsabilidade Social)
26
(WSSM,
2006). Uma das séries mais relevantes para o tema em questão é a ISO 22.000, considerada
como um marco na consolidação de toda a mudança no conceito de segurança alimentar e
qualidade do alimento gerada nos últimos anos após o escândalo da “vaca louca”.
Outro grupo de instituições internacionais que estabelece padrões e normas relevantes
estão relacionados a problemas sanitários e fitossanitários. As reconhecidas pelo Acordo
Sobre Aplicação de Medidas Sanitárias e Fitossanitárias (AMSF) são:
a) Codex Alimentarius, criado em 1961 a partir de uma iniciativa conjunta entre a FAO
e a OMS, tem entre seus objetivos: i) proteger a saúde dos consumidores e assegurar práticas
eqüitativas no comércio de alimentos; ii) promover a coordenação dos trabalhos referentes a
normas e padrões alimentares; e iii) elaborar, revisar e modificar normas e padrões
internacionais. Os padrões desenvolvidos no âmbito do Codex
27
são reconhecidos pela OMC
como fundamentados cientificamente e constituem ponto de referência para avaliação de
medidas e regulamentos nacionais. Por ocasião das disputas comerciais, muitos países
argumentam que medidas de controle sanitário mais rígidas do que as preconizados pelo
Codex, devem consideradas como barreiras não-tarifárias. Entretanto, a demora para
consolidação de uma norma no Codex, em comparação com as velocidades na inovação e das
descobertas científicas
28
não permitem essa constatação.
b) Organização Internacional de Epizootias (OIE), criada em 1924 para: i) disseminar
informações obtidas junto aos membros sobre surtos epidêmicos; ii) coletar, analisar e
disseminar informações científicas sobre o controle de epidemias; iii) fornecer suporte
institucional e técnico aos países em desenvolvimento nos seus esforços de construção de
capacidade de controle de epidemias animais; iv) estabelecer as normas que os países utilizam
para se protegerem da entrada de doenças e patógenos em seu território (BANCO
MUNDIAL, 2005); e v) reconhecer as áreas livres de doenças, classificando os países
segundo sua condição perante a febre aftosa e a doença da vaca louca (LIMA et al, 2005).
Atualmente é composta por 158 nações membros. A OIE é responsável pela padronização dos
métodos de diagnóstico, metodologias de vacinas, e difusão de informação sobre a situação da
doença nos nações membros. Ou seja, de modo sucinto, objetiva a promoção da saúde animal
e um comércio seguro. As políticas e decisões da OIE normalmente geram conseqüências
efetivas para o comércio internacional, pois é o organismo que a OMC reconhece como
modelo de referência para saúde animal na resolução de litígios (BROWN & NATH, 2003).
c) Convenção Internacional sobre Proteção Vegetal (IPPC), assinado em 1952, é um
tratado multilateral resultante da Conferência da FAO realizada no ano anterior, cujo
propósito básico é o de assegurar medidas efetivas para prevenir a disseminação e a
26
A ISO 26000, referente à responsabilidade social está em fase de debate para posterior implementação.
27
O Brasil é um dos países da América Latina que tem maior tradição de participação nos trabalhos do Codex
Alimentarius. Coordenou o Comitê Regional do Codex para a América Latina e o Caribe, no período de 1991 a
1995 e, em seguida foi eleito para ocupar um posto no Comitê Executivo, como Representante Geográfico para a
América Latina e o Caribe, de 1995 a 2003 (ALMEIDA, 2005).
28
Desenvolvimento de novos produtos, novos métodos de análise ou identificação de componentes prejudiciais a
saúde nos alimentos.
25
introdução de pragas e produtos vegetais e potencialmente ao equilíbrio ambiental local
(OLIVEIRA, 2005).
As bases legais para as normas desenvolvidas no âmbito do Codex, OIE e IPPC são
fornecidas pelo Acordo de Aplicação de Medidas Sanitárias e Fitossanitárias - Acordo AMSF
e no Acordo de Barreiras Técnicas ao Comércio Acordo TBT, ambos incluídos no Acordo
Multilateral de Comércio de Mercadorias, anexados ao Acordo de Marrakech que criou a
OMC. O Acordo AMSF representa o principal instrumento normativo em âmbito multilateral
regulando o tema e está em vigor desde janeiro de 1995 para os países desenvolvidos, desde
janeiro de 1997 para os países em desenvolvimento e a partir de janeiro de 2000 para os
países menos desenvolvidos. A entrada em vigor destas normas resultou em avanços
importantes na busca da harmonização das políticas sanitárias e fitossanitárias dos países
membros, os quais tiveram que adequar suas legislações internas de acordo com os princípios
e diretrizes traçadas pela OMC e pelas organizações internacionais competentes (ALMEIDA,
2004).
É importante observar que os Acordos citados protegem o direito de cada país de
estipular o nível de proteção que considere mais adequado, desde que este esteja em sintonia
com o princípio de não dificultar o comércio internacional. As normas, tendências e
recomendações desenvolvidas pelas instituições citadas refletem os consensos científicos
internacionais das boas práticas de monitoramento de riscos e níveis aceitáveis de tolerância.
Como esses processos podem ser relativamente demorados, em algumas situações, as normas
se encontram defasadas em relação aos padrões adotados na prática pela iniciativa privada.
Ainda assim eles têm, cada vez mais, servido de base na construção das legislações nacionais
e dos sistemas relacionados a questões sanitárias e de qualidade de alimentos, principalmente
dos países em desenvolvimento.
Uma confusão comum quando se trata das Instituições de Normatização é a percepção
que estas são responsáveis pela análise e ou certificação de uma empresa. Na verdade, o papel
destas instituições, via de regra, se restrige à elaboração das normas
29
. A função de certificar
as empresas, avaliando se a mesma está ou não de acordo com as normas, está a cargo das
chamadas certificadoras. As certificadoras podem ser representadas por empresas particulares,
públicas ou ainda ONGs que possuam a competência e a isenção para realizar a certificação.
Para tanto, as certificadoras, devem passar por um processo de acreditação, que pode ser
definido como o procedimento pelo qual uma autoridade com este mandado, reconhece que
uma determinada instituição, ou empresa é competente para exercer uma determinada tarefa.
Nenhuma certificadora pode operar em um determinado país sem que seja licenciada por uma
agência acreditadora relevante. Neste contexto, a possibilidade de que a instituição que
analisa a conformidade de um determinado país não seja reconhecida por outro. Isto pode
ocorrer por procedimentos de acreditação não harmonizados ou incompletos, ou em função de
diferentes estruturas de acreditação (ROTHERHAM, 2003). Segundo Laudísio (2005), “a
avaliação da conformidade é um processo sistematizado com regras determinadas, que são
avaliadas para garantir que um produto, processo, serviço ou profissional atenda aos
requisitos mínimos de confiança pré-estabelecidos em Normas ou Regulamentos”. A
certificação tem como objetivo estabelecer um canal de confiança, entre o consumidor e o
fornecedor, normalmente relativo a questões de qualidade e/ou segurança.
Desde meados de 1990, têm sido realizados esforços no sentido de hamonizar os
processos de acreditação. Entre estes estão os Acordos de Reconhecimento Multilateral
29
A International Federation of Organic Agriculture Movement (IFOAM), pode ser citada como exemplo de
instituição de normatização que também se responsabilizada pelo processo de acreditação (ROTHERHAM,
2003). A IFOAM é uma organização não-governamental sediada em Bonn, Alemanha, que atualmente abriga
770 organizações (incluindo-se certificadoras, processadores e distribuidores), além de pesquisadores de 107
países (RAMOS, 2007).
26
(ARM), desenvolvido pelo Fórum Internacional de Acreditação e pelo Laboratório
Internacional de Cooperação em Acreditação. Signatários dos ARMs são obrigados a
reconhecer qualquer instituição certificadora acreditada por outro signatário e,
conseqüentemente, aceitar os certificados obtidos pelas empresas por meio dessas entidades
(ROTHERHAM, 2003).
A acreditação e a certificação vêm ganhando cada vez mais destaque, sobretudo em
função das novas exigências do mercado mundial de serviços e trocas de mercadorias tratados
no tópico seguinte.
1.6
Nova Institucionalidade do Comércio Internacional de Alimentos Processados e
Produtos Agrícolas
Até este momento, a descrição e a análise da institucionalidade do comércio
internacional priorizaram as instituições governamentais. Entretanto, o conceito de
instituições defendido pelos chamados Novos Institucionalistas
30
permite que outros atores
sejam incorporados ao debate. Nas palavras de Gonçalves (2005 – g.63): O mercado nada
mais é que uma construção da sociedade e, nesse sentido, está sendo permanentemente
construído, tanto no plano institucional, com o regramento das práticas comerciais, como no
das mudanças nas preferências dos consumidores”. Neste ponto o autor nos remete de forma
clara a Granovetter e Polanyi, idealizadores do conceito de construção social dos mercados.
O comércio internacional vem sendo cada vez mais influenciado pelos consumidores,
organizações não-governamentais, sindicatos, associações de classe, entre outros, que estão se
tornando atores globais e que pressionam para que a agenda do comércio internacional seja
ampliada de forma que abarque temas ambientais, segurança, questões trabalhistas e outros.
Estes novos atores, em muitos casos, têm um papel determinante na definição do que e como
os produtos são comercializados. Os padrões de qualidade não podem mais ser encarados
como meros elementos neutros de competitividade nima, pois exercem agora um papel
determinante nas estratégias empresariais das industrias alimentares, gerando novas
complexidades para debate e análise. (RAMOS, 2006).
O reflexo da globalização na indústria de alimentos pode ser verificado pelo
fortalecimento dos laços entre os estágios de produção, processamento, comercialização e
marketing. Relações estas, pautadas cada vez mais por contratos que se distanciam, e muito,
das formas tradicionais de relacionamento entre esses atores. Os avanços da tecnologia da
informação permitem, cada vez mais, a disseminação em tempo real de informações a
montante e a jusante da cadeia (JOSLING, 2003). Ao mesmo tempo, a sociedade supera a
fase da standartizaçãoe do aumento de competitividade focado simplesmente no aumento
de escala. Há um movimento crescente para viabilizar a oferta de produtos e processos
personalizados atendendo crescentemente as preferências dos consumidores, cada vez mais
específicas (GONÇALVES, 2005).
A exposição crescente do setor produtivo à concorrência externa e o volume intenso
de informação que chega às pessoas moldam um novo tipo de consumidor, mais consciente,
melhor informado e preocupado não apenas com o preço, mas também com a qualidade,
segurança, origem e forma de produção, questões de natureza ecológica e até mesmo social
dos produtos que consome. No caso dos alimentos, estas questões passaram a definir uma
nova pauta de regras e exigências, colocadas em prática no âmbito do comércio multilateral
30
Segundo Douglas North (1994), as instituições são regras planejadas que estruturam a interação humana. São
compostas por regras formais (leis), ou informais (convenções, códigos de conduta) e pelos instrumentos
utilizados para cumpri-las (enforcement). Juntos, definem a estrutura de incentivo das sociedades e,
especialmente, das economias. (...) As instituições são responsáveis pela forma e estrutura da sociedade, e de
suas instituições políticas e econômicas, por consequência, são determinantes do desempenho econômico.
27
entre as nações
31
. As pressões iniciais para a ampliação da agenda partiram, mais uma vez,
dos países desenvolvidos, mas hoje não se restringem mais a estes.
A expansão das cidades nos países em desenvolvimento e o aumento da renda per
capita foram acompanhados por mudanças nos hábitos alimentares aumentando a procura
pelos produtos de conveniência, proteína animal, alto consumo de vegetais e frutas frescos. O
consumidor, satisfeito das suas necessidades básicas, busca sofisticar-se com exigências cada
vez maiores, em especial no tocante à inocuidade dos alimentos, fato magnificado com a
explosão de consciência de que a alimentação saudável é elemento determinante da qualidade
de vida e da longevidade. Essas mudanças demandam uma nova organização das cadeias
produtivas e da logística de distribuição dos produtos. Os cidadãos mais informados,
conscientes e questionadores, vêm cada vez mais se agregando por afinidades e formando
Organizações Não-Governamentais.
As ONGs podem ser definidas como grupos sociais autônomos, articulados por
diferentes convicções e interesses, cuja existência é externa às instituições do Estado. São
consideradas como atores não estatais da sociedade internacional que compartilham valores
dessa sociedade (LUCCHESE, 2003). Nos anos recentes verifica-se uma disseminação das
atividades desses grupos em vários campos e países. Tradicionalmente, as atividades das
ONGs ocorriam na forma de apoio à regulamentação governamental e internacional das
atividades dos atores do setor privado. Em face da não efetividade dessa estratégia, esses
grupos têm buscado alternativas de ação que passam por pressão direta sobre as empresas,
iniciativas de programas de investimento ético, sugestão de códigos de conduta ou esquemas
de rótulos sociais
32
, ou ainda pela mobilização de consumidores para boicotes
33
. As sanções
comerciais podem vir a ser um instrumento mais eficaz do que a diplomacia ou a ajuda
externa para que os cidadãos dos países importadores possam interferir nas questões
ambientais ou trabalhistas dos países exportadores. As ONGs são, portanto, estratégicas e
fontes das maiores inovações em termos de políticas para o sistema alimentar e contra os
abusos corporativos em nível internacional
34
(WILKINSON & ROCHA, 2006). Neste
contexto, submeter as ONGs aos termos dos acordos da Rodada Uruguai é uma tentativa de
anular ou esvaziar seu trabalho, que, em muitos casos, têm objetivos supranacionais.
Neste ponto, constata-se que as empresas estão cada vez mais pressionadas a superar a
fase de preocupação exclusiva com qualidade do produto que sai de suas instalações, e
passam a perceber que sua imagem também está sendo relacionada à forma como seus
produtos são elaborados ou à reputação de seus fornecedores. Aliado a esse fenômeno tem-se
o fortalecimento do setor varejista
35
, considerado o elo de união entre o produto e o
consumidor. Esses agentes, muitas vezes têm adotado códigos internos próprios mais
restritivos para a compra de mercadorias do que aqueles preconizados pelos órgãos oficiais.
Ou seja, atualmente, grande parte das atuais restrições comerciais tem sua origem na iniciativa
privada. Ainda assim, a perspectiva liberal na qual os cidadãos, exercendo livremente suas
preferências, conduziriam a uma auto-regulação pelo mercado está muito longe de ser uma
realidade (GONÇALVES, 2005).
31
O Código de Conduta para os países produtores de café, que está sendo desenhado pela Europa, enfatiza a
preocupação com o meio ambiente, os aspectos sociais e econômicos.
32
Pesquisas realizadas com consumidores americanos indicam que de eles estariam dispostos a pagar de 28% a
mais para produtos de 10 dólares ou até 15% para produtos acima de 100 dólares para produtos que possam
assegurar que foram produzidos de forma decente (BETCHERMAN et al, 2001).
33
Pesquisas na Grã-Bretanha indicam que os chamados boicotes éticos custam cerca de 2,6 bilhões por ano de
acordo com dados do Banco Cooperativo (BETCHERMAN et al, 2001). No caso de móveis e demais produtos
de madeira existem registros de boicotes à compra de produtos que utilizem madeiras tropicais sem
comprovação de manejo sustentável da floresta (CORRÊA, 1998).
34
Em 1909 existiam 176 ONGs internacionais, em 1989 esse número já passava de 4.600 (LUCCHESE, 2003).
35
A participação dos supermercados no comércio tem crescido a taxas anuais de 30% na média mundial.
28
Ainda que as mudanças descritas venham ocorrendo em escala global, é preciso
lembrar que existem disparidades flagrantes entre os cidadãos dos diversos países quanto às
suas preferências em relação ao papel da regulamentação governamental ou do provimento do
bem-estar social, por mais que essas preferências sejam articuladas ou determinadas de
maneira imperfeita. Até em um mesmo país, cidadãos divergem quanto à natureza e ao
alcance da regulamentação das novas tecnologias (como organismos geneticamente
modificados) ou da proteção ambiental; quanto à política de proteção dos direitos de
propriedade ou ao aumento das redes de proteção social; e, em linhas mais gerais, quanto a
toda relação de eficiência e igualdade (MALHORTA, 2004).
Retornando à questão do domínio do setor varejista, onde os critérios de logística e de
qualidade são normalmente invocados em nome do consumidor, constata-se que este debate
tem inspirado grande parte da literatura relativa aos padrões e de coordenação de cadeias.
Entretanto, existem muitas controvérsias e teorias a respeito de quem realmente dita os
padrões ou a quem eles servem. Na verdade, os interesses de outros elos da cadeia
normalmente predominam na definição da qualidade, justificando-as de acordo com diferentes
critérios, nem sempre técnicos. Ou seja, nem sempre os apelos dos consumidores são ouvidos,
principalmente quando vão de encontro aos interesses das indústrias ou de produtores.
Também neste caso pode-se usar como exemplo o caso dos organismos geneticamente
modificados e a insistência em oferecê-los para consumidores que vêm se manifestando
contra a sua utilização.
De certa forma, esse novo contexto de maiores exigências traz uma maior
complexidade ao comércio internacional de produtos. Mas, enquanto alguns se lamentam das
dificuldades e de barreiras técnicas decorrentes, outros enxergam oportunidades de novos
negócios em novos nichos de mercado. Neste sentido, o desenvolvimento tecnológico e
gerencial nas cadeias de produtos alimentícios tem permitido a manipulação dos constituintes
do alimento, como no caso dos produtos de baixa caloria, elevado teor de proteína, produtos
nutracêuticos/probióticos ou ainda alegações estampadas nos rótulos relacionadas à saúde,
benefícios sócio-ambientais, comércio justo, entre outros.
É o estudo histórico do comércio internacional de alimentos, tratado no tópico
seguinte, que permite vislumbrar a trajetória do sistema de produção e comercialização de
alimentos, até a consolidação do atual nível de complexidade.
1.6.1
Origens das Barreiras Sanitárias e o Comércio de Alimentos
A partir dos anos 80, consumidores de todo o mundo vêm sendo colocados diante de
uma série de surtos de toxinfecções alimentares ou de eventuais casos de riscos ambientais e
para a saúde, causados pelo aumento do trânsito internacional de animais, vegetais e de
produtos alimentícios (quadro 2). Paralelamente, a ciência tem descoberto ligações entre
doenças animais e humanas e por outro lado, muitas vezes, tem falhado em sua busca pela
fundamentação científica de perigos e riscos envolvendo o consumo de alimentos. Esse
quadro, aliado a outras mudanças demográficas e sociais, vem alterando os hábitos de
consumo e o mercado, sobretudo nos países industrializados. As causas para as mudanças nos
padrões alimentares de alguns países vão desde a mudança do perfil étnico, passando por
mudanças no estilo de vida e até mesmo o próprio envelhecimento da população.
Contribuíram ainda para esse quadro a expansão das inovações tecnológicas e o aumento na
diversidade de origem dos produtos.
Uma pesquisa americana, realizada pelo Centro de Controle e Prevenção de Doenças,
demonstrou que, a cada ano, doenças advindas da ingestão de alimentos contaminados
causaram 325.000 contaminações, 76 milhões de problemas gastrointestinais e 5.000 mortes
29
anuais. Além de prejudicar as exportações comerciais
36
, as infecções e toxinfecções descritas
geraram custos para a sociedade como um todo, num total estimado em US$ 8,3 bilhões
anuais. Os consumidores arcam com os custos de tratamento da doença, desgaste emocional e
perda de produtividade no trabalho. Os gastos governamentais se referem às despesas de
tratamento médico, infra-estrutura hospitalar, programas de prevenção, de pesquisa de cura,
etc. E, finalmente, para as empresas, os custos envolvidos estão ligados a eventuais ações
judiciais, perdas nas vendas e no abalo da imagem comercial, dentre outros efeitos de
conseqüências negativas prolongadas
37
(CRUTCHFIELD et al, 2000).
Quadro 2. Exemplos de eventos ligados à segurança alimentar ocorridos nos últimos anos.
Ano Evento País
1987/88 Carne com hormônio Itália/ União Européia
1988 Frangos contaminados com Salmonella Grã-Bretanha
1989 Regulador de crescimento (alar) em maçãs Estados Unidos
1993 Surtos de E.coli em hambúrgueres Estados Unidos
1996 BSE (vaca louca) Grã-Bretanha
1995-97 Disseminação da gripe aviária para humanos Honk Kong, Taiwan
1999 Dioxina na ração animal Bélgica
2000 Envenenamento de leite em larga escala Japão
2001 Contaminação do óleo de oliva Espanha
Fonte:Banco Mundial, 2005.
A cada novo evento noticiado, a confiança da população na capacidade de seus
governos e instituições de garantir a qualidade dos alimentos disponibilizados é abalada. E
muitos passam a acreditar que seus governos estavam mais comprometidos com os interesses
dos produtores do que com a saúde de seu povo. Assim sendo, os consumidores buscam
formas alternativas de informação (normalmente organizações ambientais ou de
consumidores), ou alimentos alternativos, como os produtos orgânicos.
Esse movimento dos consumidores e os próprios escândalos geraram, por sua vez,
uma crise nos sistemas de gerenciamento desses riscos e a construção de novos paradigmas no
sistema regulatório de segurança alimentar. Esses novos paradigmas o baseados em: i)
independência institucional com um foco maior na saúde pública; ii) perspectiva de cadeia
produtiva (maior integração vertical); iii) aumento na ênfase na adoção de sistemas de
controle de qualidade como o sistema de Análise de Perigo e Pontos Críticos de Controle -
APPCC
38
; iv) aumento da aplicação de avaliações de risco com bases científicas; v)
intensificação das inspeções nas fronteiras; vi) aumento da transparência; vii) aumento do
rigor na aplicação das normas e padrões; viii) inclusão do bioterrorismo como nova
preocupação
39
; ix) precaução quanto às incertezas científicas; x) uso de tratamentos
diferenciados para produtos similares (BANCO MUNDIAL, 2005).
36
O caso da “doença da vaca louca”, que contaminou o rebanho bovino britânico, causou à Inglaterra um
impacto em suas exportações em mais de U$10 bilhões (ALMEIDA, 2005).
37
Apenas na Austrália, os custos são estimados em US$ 2,6 bilhões ao ano (ALMEIDA, 2005).
38
Análise de Perigo e Pontos Críticos de Controle, é um sistema baseado no controle e no monitoramento dos
pontos críticos nos quais riscos de contaminação do alimento. O Programa APPCC é uma tentativa de
implementar, padronizar e avaliar programas de segurança nos alimentos. Suas principais etapas são: (a)
identificação e avaliação de sua severidade, (b) determinação do(s) ponto(s) crítico(s) de controle, (c)
estabelecimento de medidas de controle e critérios para garantir o controle, (d) monitoramento dos pontos
críticos de controle e registros de dados, (e) ações em que os resultados dos critérios monitorados indicarem, e
(f) verificação se o sistema está funcionando como planejado. (ZYLBERSTAIN, D. SCARE, R.F., Gestão da
Qualidade no Agribusiness, p.263)
39
A Lei de Bioterrorismo americana, de 12 de dezembro de 2003, estabelece uma série de critérios de segurança
alimentar mais rígidos para os exportadores cumprirem tais como: detenção administrativa dos alimentos
importados, necessidade de registro junto à FDA, exigência de manutenção de registros e necessidade de aviso
30
Esses novos paradigmas demandaram o desenvolvimento de sistemas eficazes de
rastreabilidade; aumento das responsabilidades do varejo, com repasse destas para os seus
fornecedores; difusão do APPCC para outras cadeias alimentares
40
; aumento da busca pela
harmonização dos padrões; aumento das notificações de não-conformidade; disseminação e
melhoria do nível de informações disponibilizadas em sites oficiais ou não; busca pela
melhoria na capacitação para inspeções e pela padronização dos procedimentos.
O sistema alimentar está passando por uma re-regulamentação por meio de uma fusão
de padrões público-privados que estabelecem novas barreiras a entradas também e constituem
a base para o desenvolvimento de novas estratégias competitivas nos setores mais dinâmicos
(WILKINSON & ROCHA, 2006). A qualidade passa a ser uma variável chave em estratégias
do marketing em todos os elos das cadeias de produtos alimentícios. E requer investimentos
altamente específicos e uma eficiente coordenação que aproxime os atores visando a definição
detalhada de padrões, métodos de produção e controles para garantir a conformidade dos
produtos. O aumento da porcentagem de produtos de marca-própria no setor varejista é um
exemplo destes investimentos na reputação que afetam substancialmente a organização do
setor, particularmente por meio da difusão dos relacionamentos baseados em contratos. Deste
modo, os varejistas investem cada vez mais numa certa “garantia institucional” para os
produtos comercializados (MÉNARD & VALCESCHINI, 2005).
Em relação aos padrões privados, verifica-se que estes também vêm passando por
adaptações similares motivadas pelas mudanças apontadas e por fatores como a concentração
do setor varejista em vel mundial
41
e o rápido crescimento da distribuição institucional de
alimentos. As mudanças mais significativas nos padrões privados são: aumento da pressão
para que os fornecedores adotem práticas visando o aumento da qualidade e segurança de seus
produtos; desenvolvimento de padrões que envolvem exigências de áreas distintas
42
; aumento
do uso de auditorias e certificadoras externas; aumento na exigência de padrões relacionados à
qualidade sócio-ambiental do processo produtivo de seus fornecedores; tendência a aumento
da verticalização das cadeias produtivas e da disseminação de transações com o uso de
contratos (BANCO MUNDIAL, 2005). Estes padrões privados têm se difundido por meio da
globalização das cadeias produtivas e de fornecedores e impõem exigências criadas sem
avaliação prévia da realidade e das prioridades dos países em desenvolvimento. A forma
como os padrões privados são criados, muitas vezes favorece o desenvolvimento de práticas
monopolíticas e anti-competitivas. Dependendo da quantidade de agentes da cadeia que
adotam esses padrões eles passam a ser imperativos comerciais. Isso ocorre, normalmente, em
mercados altamente concentrados e com grandes empresas multinacionais, como no caso de
certos produtos agrícolas, têxteis e eletrônicos. Estas exigências são de difícil combate, pois
possuem múltiplas fontes, não apresentam regras claras de criação e implementação e não
estão sob a regência dos acordos da OMC. Diante do aumento da força dos padrões privados,
as ações de assistência técnica que são focadas apenas nas exigências governamentais para a
exportação, podem acabar não sendo suficientes para a inserção dos países em
desenvolvimento no mercado mundial (UNCTAD, 2007). O fato de que uma parte dos
padrões sócio-ambientais voluntários nunca venha a se tornar decisiva de fato para o
prévio para cada partida de alimentos destinadas ao consumo nos EUA. Com essas medidas, os EUA criam
assimetrias no comércio internacional, gerando um ambiente fértil a práticas protecionistas (ALMEIDA, 2005).
40
O APPCC é atualmente o principal instrumento de controle de sanidade dos produtos consumidos nos EUA
em cinco áreas: alimentos enlatados de baixa acidez, produtos da pesca, sucos de frutas, carnes e frango. Todas
as fábricas brasileiras autorizadas a exportar carne processada para os EUA já m o APPCC implentado e são
regularmente vistoriadas por inspetores norte-americanos do FSIS/USDA. (ALMEIDA, 2005).
41
Os 30 maiores supermercados juntos foram responsáveis por mais de US$ 1 trilhão do total de vendas em
2001, representando 10 % do comércio mundial de alimentos. Essa concentração tende a ser maior na Europa; na
França, por exemplo, 5 redes de supermercados detêm 90 % do mercado.
42
Este é o caso do EUREPGAP, que envolve questões ambientais, sociais e de qualidade intrínseca do produto.
31
EUREPGAP
EUREP refere-se a
European Retailers Produce Working
Group
, que preparou um protocolo de Boas Práticas
Agrícolas (Good Agricultural Practices
GAP), que devem
ser seguidas pelos produt
ores, que recebem certificação de
uma terceira parte. O protocolo de boas práticas agrícolas do
EUREPGAP é considerado um código de conduta que
contém 145 elementos de requisição e 65 recomendações
voltadas para: i) reduzir os riscos na produção agrícola e
pecuária; ii) padronizar os modelos de produção; iii)
implantação de Boas Práticas de Produção Agrícola nas
propriedades; iv) melhorias contínuas no sistema de
produção; e v) qualificação para mercados mais exigentes.
Muitos membros do Eurepgap são distri
buidores globais da
indústria de alimentos e compradores internacionais de
matéria-
prima ao redor do mundo. O protocolo Eurepgap
IFA Integrated Farm Assurance
(Segurança Integrada na
Fazenda)
começou seu desenvolvimento no ano 2000 e
trata-se de um apr
ofundamento do protocolo anterior, pois
incorpora padrões globais de segurança alimentar,
rastreabilidade, preservação ambiental, saúde e segurança
dos trabalhadores e bem-estar animal.
comércio internacional, representa uma dificuldade a mais para os países exportadores quando
estes precisam decidir quando investir ou não nos ajustes solicitados (HOFFMANN &
ROTHERHAM, 2006).
Neste contexto, é essencial que os países em desenvolvimento apresentem instituições
capacitadas para fazer esse tipo de trabalho, sob pena de se virem obrigadas a arcar com os
elevados custos de contratar os serviços de agentes certificadores de outros países (JAFFEE &
HENSON, 2004). Estes custos, normalmente, são embutidos nos preços dos produtos, e sua
distribuição ao longo da cadeia prossegue sendo um ponto polêmico entre os distribuidores e
produtores. Estes últimos se queixam alegando que internalizam os custos, mas que as
vantagens se concentram na ponta da cadeia produtiva.
Um dos protocolos de certificação mais conhecido é o sistema EUREPGAP (ver Box),
que começou a ser desenvolvido em 1997 por grandes varejistas europeus com o objetivo de
melhorar os padrões de frutas, hortaliças e carnes. A adesão ao protocolo agrega aos
produtores o benefício de antecipar-se a uma tendência mundial, além da possibilidade de
aproveitar oportunidades em mercados diferenciados e assegurar a qualidade do produto
produzido (NETO, 2005). Entretanto, seus custos de implementação não são baixos; além dos
investimentos iniciais de adequação das instalações e de fazendas, também custos
recorrentes que envolvem
inspeções periódicas de
estrangeiros e uma série de
procedimentos de controle
43
.
De modo geral,
considerando o volume de
produtos transacionados e a
complexidade envolvida, as
disputas contenciosas ligadas
à segurança alimentar são
relativamente poucas. Os
países diferem de forma
significativa em relação aos
níveis de risco expostos e ao
acesso e uso de métodos
científicos e tecnológicos de
mitigação destes riscos.
Conseqüentemente, as
diferenças internacionais
relacionadas à percepção,
atitudes e aceitação pública
dos riscos ligados à
segurança alimentar, ainda
vão continuar dificultando o estabelecimento de padrões internacionais (CRUTCHFIELD et
al, 2000).
43
Segundo dados do Banco Mundial (2005), exportadores de tomates de Marrocos estimam que os custos de
implementação do EUREPGAP representaram cerca de 12% do custo de produção nas fazendas e 4% do valor
Free on Bord (FOB) dos tomates exportados.
32
2
COMÉRCIO INTERNACIONAL
2.1
Comércio Internacional e o Desenvolvimento
Este tópico busca explorar de forma breve, alguns aspectos dos debates envolvendo
comércio internacional e desenvolvimento em uma concepção mais ampla, tema que pode ser
considerado o pano de fundo da hipótese levantada pela tese.
Do profícuo e inacabado debate envolvendo aspectos do desenvolvimento e a
expansão comercial, pode-se extrair duas conclusões; a primeira é que na prática nenhum país
desenvolveu-se com sucesso virando as costas ao comércio internacional e aos fluxos de
capital de longo prazo. A segunda é que poucos cresceram por períodos prolongados sem
experimentar um aumento da participação do comércio externo em seu produto nacional. Nas
palavras de Delfim Netto (2007): “O fato é que não há na história econômica mundial
nenhum registro de caso de desenvolvimento intenso e sustentável em regime de mercado,
sem uma expansão simultânea e importante das exportações. E, por outro lado, nenhum
crescimento robusto das exportações, sem ser acompanhado por um crescimento também,
notável do PIB”. Entretanto, também é verdade que nenhum país se desenvolveu por sua
simples abertura para o comércio e aos investimentos externos (MALHORTA, 2004). Ou
seja, a participação no comércio internacional e no fluxo mundial de capitais deve ser
encarada como uma parte da estratégia de desenvolvimento, mas não deve substituí-la.
Segundo Rodrik (2000), no caso dos países em desenvolvimento, a literatura existente
superestima os benefícios advindos da participação destes no comércio mundial.
A abertura comercial faz parte de um conjunto de intensas mudanças que o sistema
econômico mundial vem sofrendo nos últimos anos e que têm influenciado a economia de
todos os países. No Brasil, a abertura ganhou força a partir da década de 90, negociada via
GATT e, mais recentemente na OMC, e marcam a consolidação da necessidade de novas
concepções, ações e atitudes, onde produtividade, custo e eficiência se impõem como regras
básicas de sobrevivência em um mercado cada vez mais competitivo e globalizado. Dentre
essas regras, estão novas formas de organização, atuação e articulação entre os agentes
econômicos público e privados.
A atual compreensão da relação entre comércio internacional e desenvolvimento,
passa necessariamente pelo conceito de globalização. A análise do processo de globalização
pode ser orientada por dois tipos ideais opostos: os globalistas, para os quais a globalização é
um acontecimento histórico, real e significativo e os céticos, para os quais, é uma construção
primordialmente ideológica ou mítica de valor explicativo marginal para justificar e legitimar
o projeto global neoliberal – a criação de um livre mercado global e a consolidação do
capitalismo (OLIVEIRA, 2005). Não cabe a este trabalho, questionar as bases e origens da
globalização, mas sim analisar algumas de suas conseqüências no âmbito do comércio
internacional. Entre essas conseqüências podemos citar as grandes pressões exercidas, de
várias fontes, sobre a autonomia e soberania dos estados. As pressões têm origem, por um
lado pela estrutura do sistema internacional – em particular, a organização da economia
global, isto é, empresas transnacionais, produção difusa, mercado financeiro, mercados
nacionais mais abertos e assim por diante e, por outro, pelas políticas e atividades das
agências e organizações regionais ou internacionais, como União Européia, o Fundo
Monetário Internacional, o Banco Mundial e, mais recentemente, os acordos do GATT através
da OMC, entre outros (LUCCHESE, 2003).
A globalização está estreitamente relacionada à expansão dos mercados. Durante esse
processo, o comércio internacional, potencialmente, promove uma maior competição e
difusão de conhecimento, cria oportunidades de crescimento, aumenta a produtividade
agregada e leva ao desenvolvimento de novas tecnologias. Em determinadas condições, o
33
comércio internacional também pode contribuir para a geração de empregos. Estima-se que
para cada bilhão de dólares exportados haja um incremento de cerca de 14 mil empregos
(CAMPOS e CORRÊA, 1998). Entretanto, pesquisas recentes encomendadas pelo Banco
Mundial, têm comprovado que as distorções existentes no mercado de comércio internacional
continuam prejudicando, e muito, os agricultores dos países em desenvolvimento
(ANDERSON & VALENZUELA, 2006).
A crescente autonomia dos mercados financeiros em relação aos estados também está
relacionada à globalização. Neste cenário, o capital move-se de um país ao outro em busca do
retorno máximo, afetando a capacidade de os Estados administrarem suas economias. As
finanças se tornaram separadas da produção, e são hoje um poder independente, o que
significa a preponderância de interesses financeiros imediatos sobre considerações de
desenvolvimento a longo-prazo (MELLO, 1999).
A seguir serão apresentados alguns dados e pontos de vista que relacionam o comércio
internacional a temas como: desenvolvimento econômico, desenvolvimento humano, meio
ambiente, pobreza e competitividade das nações.
2.1.1
Comércio internacional e o desenvolvimento econômico
Excluindo-se algumas exceções históricas, mais recentemente, a tese de que o
aumento do comércio internacional é, ao mesmo tempo, causa e conseqüência do crescimento
econômico de um determinado país, é relativamente bem aceita e pouco questionada. Os
dados indicam que a consolidação da industrialização depende, em maior grau, da formação
de mercados internos, mas que o comércio externo é importante para ajudar a financiar este
processo, embora essa atividade dependa de proteção nos momentos cruciais. Conforme pode
ser verificado na Tabela 1, as regiões que mais cresceram nos últimos vinte anos foram as que
também apresentaram maior incremento das exportações (MALHORTA, 2004). Por outro
lado, segundo o ponto de vista de Jakobsen (2005), a partir do final da década de 70, a mídia e
as instituições capitalistas, em geral, vêm tratando a relação entre liberalização do comércio e
desenvolvimento econômico com uma abordagem neoliberal e como uma panacéia para
solucionar a queda no crescimento médio do PIB mundial. Embora os países menos
desenvolvidos que tiveram crescimento econômico nos anos 1990 tenham se voltado mais
para as exportações; isso não significa que esse empenho maior em exportar tenha se
associado ao crescimento. Entre 1987 e 1999, o PIB per capita diminuiu ou estagnou em 8
dos 22 países menos desenvolvidos com exportações crescentes. E em 10 desses países a
pobreza aumentou. O que se observa com certa freqüência, na prática, é que os países
eliminam as barreiras comerciais à medida que enriquecem. A integração da economia global
é um resultado do crescimento e do desenvolvimento bem-sucedidos, e não um pré-requisito
deles. As análises comparativas entre os países não revelam nenhuma relação sistemática
entre seus níveis médios de barreiras tarifárias e não-tarifárias e seu subseqüente crescimento
econômico (MALHORTA, 2004).
Tabela 1. Crescimento anual do PIB e do comércio internacional de mercadorias em algumas
regiões.
Região 2000 2004
Comércio de Mercadorias (% PIB)
59,7 71,1
Leste Asiático e Pacífico
Crescimento do PIB (% anual)
7,6 9,0
Comércio de Mercadorias (% PIB)
24,2 27,9
Sul da Ásia
Crescimento do PIB (% anual)
4,2 6,7
Comércio de Mercadorias (% PIB)
37,3 44,6
América Latina e Caribe
Crescimento do PIB (% anual)
4,0 5,9
África Sub-Saariana Comércio de Mercadorias (% PIB)
52,7 54,7
34
Crescimento do PIB (% anual)
3,3 4,8
Fonte: Banco Mundial, 2006.
À medida que um país desenvolve a sua indústria, a pauta de suas exportações e
importações vai se modificando. Eventualmente, à medida em que reduz, ou paralisa, a
importação de determinados produtos que ele passa a produzir, deixa de exportar matérias-
primas que são transformadas no próprio país. Indubitavelmente, estas mudanças enfrentam
resistências por parte dos países que perderam mercados e fontes de matérias-primas. Outras
mudanças nas pautas de comércio internacional são decorrentes da criação de novos produtos
que substituem, com vantagem, produtos antigos que eram importantes fontes de divisas para
seus supridores originais.
A dependência dos países em desenvolvimento de exportar seus produtos primários
para gerar os recursos necessários para investir na sua industrialização, levou a Cepal
44
a
criticar a teoria das vantagens comparativas, argumentando que o preço dos produtos
primários exportadores, principalmente quando sua oferta crescia, deteriorava-se diante do
preço dos produtos industrializados a serem importados. Ou seja, por maiores que fossem a
especialização e a alta produtividade dos países em desenvolvimento na produção de
commodities, estas não garantiam uma posição confortável no comércio mundial, e nem que
estes países pudessem acumular capitais suficientes para financiar a própria industrialização.
Esse fenômeno é conhecido como a “deterioração dos termos de troca”.
Em 1958 o Relatório Haberler, examinou tendências de curto e longo prazos nos
preços e a influência de fatores variados; e considerou que os problemas de países
exportadores de produtos primários eram maximizados pelos altos níveis de proteção agrícola
nos países industrializados. O texto do relatório defendeu a adoção de políticas de
estabilização para limitar flutuações do preço de commodities em curto prazo e recomendou a
moderação da proteção agrícola nos países industrializados, como forma de ajudar países em
desenvolvimento produtores de commodities, como tabaco, café, chá, algodão e açúcar
(MICHALOPOULUS, 2000). Entre 1980 e 2000, os preços das 18 principais commodities
caíram em média 25% em termos reais. Sendo que a queda que foi mais marcante para
produtos como algodão (47%), café (64%), arroz (61%), cacau (71%) e açúcar (77%).
Como pode ser observado na Tabela 2, embora algumas commodities ligadas à energia
e às carnes, por exemplo, tivessem seus preços aumentados nos últimos anos, a maioria dos
bens primários, que são a base da pauta de exportação dos países em desenvolvimento,
sofreram uma redução nos seus preços de venda no mercado internacional. Dados da FAO
também apontam para o dramático declínio da importância relativa das exportações de
produtos agrícolas para os países em desenvolvimento. Em 1960, as exportações agrícolas
destes países representavam cerca de 50% dos valores exportados; em 2000 não representam
mais do que 5% (BRUINSMA, 2003).
44
A Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL) foi criada em 1948 pelo Conselho
Econômico e Social das Nações Unidas com o objetivo de incentivar a cooperação econômica entre os seus
membros.
35
Tabela 2. Preços de exportação de algumas commodities primárias 1994-04.
Produto 1994
1995
1996
1997
1998
1999
2000
2001
2002
2003
2004
Alimentos
94 100 108 99 88 78 79 81 82 86 98
Cereais
84 100 119 93 79 69 67 70 80 81 87
Arroz
84 100 105 94 95 78 64 54 60 62 77
Óleos/carne
vegetais
93 100 110 110 97 77 74 71 83 98 114
Carnes
106 100 116 109 93 93 101 109 103 106 129
Frutos do mar
102 100 90 88 86 85 88 77 66 66 69
Açúcar
91 100 92 87 73 58 66 67 57 62 68
Banana
99 100 106 117 111 84 95 131 119 84 118
Café
98 100 76 106 82 64 50 35 35 39 46
Madeira
106 100 102 95 80 89 88 80 80 84 94
Algodão
81 100 82 81 67 54 60 49 47 65 63
Borracha
71 100 89 64 46 40 44 38 69 83 83
Minerais
83 100 89 90 74 73 82 74 72 81 110
Gás natural
92 100 114 109 87 87 155 153 123 162 180
Petróleo cru
93 100 118 112 76 105 164 141 145 168 220
Nota: Os índices são as médias do período em dólares.
Fonte: WTO, 2005.
A reciprocidade implícita na idéia do multilateralismo apresenta inconvenientes para
os países menos avançados. Exigir que estes países ofereçam concessões tarifárias aos
produtos que importam, similares às oferecidas aos produtos exportados significa, na prática,
favorecer ainda mais o crescimento econômico dos países ricos à custa do desenvolvimento
dos pobres. As exportações dos países em desenvolvimento são compostas por um grupo
restrito de produtos primários sujeitos a fortes oscilações de preços. Em relação à questão da
redução das tarifas de importação de produtos manufaturados, concedidas como contrapartida
à redução das tarifas dos produtos primários exportados pelos países em desenvolvimento,
Alejandro Magro Más coloca:
“....el pais estará hipotecando su futuro desarollo industrial, por la
necessidad de obtener ventajas en productos primarios.”
É preciso ressaltar, entretanto, que a queda nos preços das commodities não afeta
necessariamente de forma homogênea toda a cadeia produtiva. O caso do café
45
é
emblemático, mas nas cadeias de cacau, algodão e chá são comuns os exemplos de queda na
renda dos produtores com aumento na renda dos processadores e/ou distribuidores
(WILKINSON & ROCHA, 2006).
2.1.2
Comércio internacional e o desenvolvimento humano
Ao final do século XX, iniciou-se a disseminação de idéias que reconheciam que a
renda monetária, ainda que apresentasse um papel determinante, não era um indicador
suficiente para se medir a eqüidade e o bem-estar social. De um modo geral, as novas idéias
sobre desenvolvimento, passaram a rejeitar as doutrinas que implicavam em certa
45
O preço dos grãos de café reduziu de US$1,80 por libra em 1997 para US$ 0,47 em 2002, arruinando o
sustento de quase 25 milhões de famílias em todo o mundo. No entanto, em 1992 os países produtores receberam
US$ 10 bilhões de um mercado que movimentava US$ 30 bilhões e em 2002 receberam apenas US$ 6 bilhões de
um mercado que atingia algo próximo a US$ 60 bilhões. A explicação para que, enquanto o preço do cafezinho
dobrava no mundo, a renda dos produtores caísse pela metade, está no aumento da produção mundial e nos
estoques controlados por um número cada vez menor de empresas processadoras de café, como Kraft, Nestlé e
Sara Lee (JAKOBSEN, 2005).
36
A UNCTAD
Em março de 1964, por iniciativa da ONU, realizou-
se a
Conferência das Nações Unidas para o Comércio e o
Desenvolvimento (
United Nations Conference for Trade and
Development
UNCTAD), que acabou se transformando
numa estrutura permanente para auxiliar os países em
desenvolvimento a participar em melhores condições das
negociações comerciais internacionais.
Dentre
as principais decisões aprovadas na UNCTAD estão:
i) a concessão para que os países em desenvolvimento não
fossem obrigados seguirem a cláusula da nação mais
favorecida em relação aos países industrializados e pudessem
conceder vantagens tarifárias a outr
os países em
desenvolvimento, sem a obrigação de criar zonas de livre
-
comércio ou uniões aduaneiras; ii) a criação do “sistema
geral de preferências (SGP)”, que foi adotado com base
setorial, ou seja, os produtos nos quais os países em
desenvolvimento foss
em competitivos não entrariam no
acordo.
A partir da Rodada do Uruguai, a influência da UNCTAD
nas negociações foi muito reduzida, restringindo-
se a
elaboração de estudos e realizar propostas de como integrar
os países em desenvolvimento ao sistema vigente.
homogeneização/padronização dos caminhos e metas a serem alcançados, propondo a idéia de
um “desenvolvimento livre”. Sob esse prisma, pode-se definir desenvolvimento como sendo
“o processo sustentável de melhoria da qualidade de vida de uma sociedade, com os fins e os
meios definidos pela própria sociedade que está buscando ou vivenciando este
processo”.(MALUF, 2000). Embora a questão do padrão de desenvolvimento econômico
permaneça presente nos debates sobre pobreza e iniqüidade, o avanço nas teorias recentes está
na percepção de seu entrelaçamento ativo com a dimensão cultural. E é este o caminho
37
logo no início do processo de reforma. Os casos da China e da Índia sugerem que é vantajoso
adotar uma abordagem gradativa e seqüencial.
Embora o debate em torno da relação entre liberalização comercial, crescimento
econômico e redução da pobreza persistam; os dados mostram que a liberalização não é um
mecanismo confiável para geração de um crescimento auto-sustentável e reduzir a pobreza – e
muito menos leva, por si só, ao desenvolvimento econômico ou humano em longo prazo. As
condições sociais e institucionais, tanto internas quanto externas, desempenham um papel
importante em determinar se, e até que ponto, um país ou um grupo de pessoas poderá colher
os benefícios do comércio (MALHORTA, 2004).
2.1.3
Comércio internacional, meio Ambiente e pobreza
A partir da consolidação do sistema econômico baseado no capitalismo e na economia
de mercado, uma maior atenção foi dispensada ao desenvolvimento econômico. No entanto,
nas últimas décadas, a busca por um desenvolvimento econômico que respeite os limites
naturais do planeta e que ainda seja capaz de minimizar a iniqüidade social nos mais diversos
níveis tem sido recorrente.
De modo geral, os debates sobre desenvolvimento da segunda metade do século XX,
se baseavam na crença de que o crescimento econômico (neste período representado pela
noção de modernidade e industrialização) e seu efeito de “transbordamento” gerariam, por si
só, melhorias de condições de vida a todas as camadas da população, ou ainda que
promoveriam uma redução da iniqüidade econômica. Uma rápida análise da situação atual da
América Latina é suficiente para revelar que há, no mínimo, um exagero na afirmação
anterior pois, ainda que a renda per capita e as condições de vida da população como um todo
tenham melhorado, a desigualdade se acentuou. A ausência da variável ama1.74(r)-7.20151259.710.295585de se a14572.16436(e)3.74244(s)-1.293142(r)2.80439( )-6.16436(a)3.74244( )250]1525(e)3.74( )-
cars eo tem aé4(m)-2.45995( )-40.17792(t)-2é4( )-0.147792(d)-074(l)-2.16558(d)-0.295585(o)-0.295585(l)-2.147792(d)-0.29015(e)3.74( )- due titnaiento e
38
onde apresentem taxas mais elevadas de retorno. Entretanto, distorções comerciais como
subsídios ou barreiras tarifárias e não-tarifárias, podem desordenar o cenário de livre
comércio, impedindo a eficiente alocação de recursos e contribuindo para padrões
insustentáveis de produção. Neste sentido, a liberalização comercial, com a remoção de
obstáculos comerciais que encorajam atividades ambientalmente prejudiciais, aumenta a
eficiência geral do sistema econômico mundial e facilita a disseminação de tecnologias mais
limpas e o acesso a recursos financeiros para proteção ambiental. Sob este ponto de vista, o
crescimento econômico, que decorre em ampla medida da expansão do comércio
internacional, é vetor fundamental da sustentabilidade ecológica (CAMPOS e CORRÊA,
1998). Por outro lado, a liberalização econômica pode pressionar ainda mais os escassos
recursos naturais de que dependem as gerações presentes e futuras. Assim sendo, é freqüente
a intervenção governamental nos mercados, para regular o acesso a recursos naturais escassos
e proteger o meio ambiente e os cidadãos de seu país dos riscos associados a determinados
produtos e atividades. Quando essas medidas ambientais afetam, direta ou indiretamente, o
acesso ao mercado ou a competitividade de produtos importados, elas podem gerar conflitos
internacionais do comércio (MALHORTA, 2004).
A globalização tem aumentado a interação entre as medidas ambientais e as regras do
comércio. A intensificação da concorrência econômica global transformou as questões
ambientais anteriormente locais, como tratamento de dejetos e poluição atmosférica e de rios,
em preocupações internacionais. Mais adiante, outros governos perceberam que poderiam
utilizar este instrumento como reforço a suas políticas ambientais, para estimular mudanças
nos padrões de produção por intermédio de mudanças induzidas nas preferências dos
consumidores (CAMPOS e CORRÊA, 1998), ou simplesmente sob a forma de um
protecionismo comercial travestido de preocupação ambiental. Os países que possuem
padrões ambientais inferiores, ou meramente distintos têm visto o mercado se fechar aos seus
produtos. Quando as normas ambientais são estipuladas de forma arbitrária e unilateralmente,
tendem a se basear em tecnologias, percepções de risco e outros vieses culturais que,
intencionalmente ou não, favorecem os produtores dos países industrializados. Isto porque
vários setores intensivos no uso de recursos naturais e poluentes estão entre os mais
dinâmicos nos países em desenvolvimento, enquanto estão em franco declínio em muitos
países desenvolvidos (UNCTAD, 2004). Existe o reconhecimento de que o Estado-Nação não
teria, hoje, condições de lidar sozinho com as questões sanitárias e ambientais, devendo
dirigir-se à integração, e não ao isolamento, para cumprir corretamente seu papel de proteção
do indivíduo (DALLARI & VENTURA, 2002).
Concluindo, o comércio internacional tem graves implicações ambientais e sociais,
portanto, as políticas comerciais não devem ser estipuladas isoladamente de outras áreas de
política pública. Não melhor meio para implementar desenvolvimento sustentável do que
relacionar seus três pilares: econômico, ambiental e desenvolvimento humano.
2.1.4
Comércio internacional e a competitividade das nações
Segundo Porter (1989), a estratégia de aumento da competitividade das empresas
passa, necessariamente, pela melhoria constante do seu ambiente nacional e pela presença da
inovação de seus produtos e/ou serviços. As forças competitivas que impulsionam as
empresas nesta direção são: i) a ameaça de novas empresas, ii) a ameaça de novos produtos ou
serviços, iii) o poder de barganha dos fornecedores, iv) o poder de barganha dos compradores,
v) a rivalidade entre competidores existentes e, vi) mudanças nos regulamentos
governamentais. Como esses fatores nunca são homogêneos para todos os setores produtivos
e de serviços de um determinado país, verifica-se que um determinado setor pode se
beneficiar de um melhor ambiente para a competição em um país do que em outros. Porter
defende a tese de que a vantagem comparativa é criada e mantida através de um processo
39
altamente localizado, influenciado por diferenças nas estruturas econômicas, valores, culturas,
instituições e histórias nacionais. Contraditoriamente, a globalização da competição fortalece
o papel do país onde estão localizadas as sedes das empresas, fonte do conhecimento e da
tecnologia que sustenta a vantagem competitiva.
Com a globalização a disponibilidade local de certos fatores passa a ser menos
relevante. A moderna empresa global pode abastecer-se de fatores de outros países,
comprando deles ou localizando neles suas atividades. Ou seja, a questão central não é o
simples acesso aos fatores, mas sim a capacidade de usá-los produtivamente (PORTER,
1989). Neste contexto, variáveis extraídas da Nova Economia Institucional também podem ser
observadas nas transações entre os países. Em relação à especificidade dos ativos, existem
países que apresentam produtos muito específicos e até mesmo únicos, como é o caso de
alguns minérios. Quanto à freqüência das transações bem-sucedidas, à medida em que estas
aumentam, os trâmites burocráticos podem ser facilitados pois cria-se uma percepção de que
as ações oportunistas serão cada vez menos prováveis. E finalmente, como em qualquer
transação, a despeito dos esforços da OMC e outros organismos, a assimetria de informações
continua sendo um fator determinante para o sucesso ou fracasso de muitas negociações.
Sobre essa questão, Pitelli e Moares (2006) concluíram que “O aumento das exigências dos
consumidores europeus quanto à segurança do alimento conduziu a mudanças no ambiente
institucional nacional, e como conseqüência, aumentou o grau da especificidade dos ativos
empregados nessa atividade, o que implica numa maior dependência entre os agentes”
(pág.42).
Os mesmos países que se industrializaram utilizando-se de uma série de medidas para
proteger suas economias, hoje impedem, unilateralmente ou por intermédio das instituições
multilaterais, que os países emergentes apliquem as mesmas medidas até que suas economias
estejam consolidadas e preparadas para a competição no comércio internacional (CHANG,
2004). No caso dos Tigres do Leste Asiático, os governos da Coréia e Taiwan recorreram a
estratégias heterodoxas: protegeram os mercados internos para aumentar lucros, concederam
subsídios generosos aos exportadores, incentivaram as empresas a fazer a engenharia reversa
de produtos estrangeiros patenteados e impuseram condições aos investidores estrangeiros
(quando lhes foi permitida a entrada), tais como exigências de equilíbrio na exportação-
importação e de conteúdo nacional. Todas essas estratégias são hoje severamente limitadas
pelos acordos da OMC (MALHORTA, 2004).
A vantagem competitiva pode ser basicamente em dois tipos: menor custo e
diferenciação. Embora, normalmente, os competidores optem por enfatizar um dos dois tipos,
qualquer estratégia bem sucedida não deve perder nenhum dos dois de vista. Em relação à
fonte da vantagem, Porter (1989) as classifica em: i) vantagens competitivas de ordem
inferior, como baixos custos de matérias-primas, de mão-de-obra ou ainda aquelas advindas
de novas tecnologias que geram exclusivamente economias de escala; estas vantagens, via de
regra são facilmente imitadas e superadas; ii) vantagens competitivas de ordem superior,
compostas por tecnologias de processamento protegidas por direito de propriedade,
diferenciação baseada em produtos ou serviços excepcionais, reputação da marca firmada em
esforços cumulativos de comercialização e relações com os clientes protegidas pelos elevados
custos que estes teriam ao mudar de fornecedor. A buscas pelas vantagens competitivas de
ordem superior envolve investimentos constantes, cumulativos e, muitas vezes, arriscados em
instalações físicas, aprendizado especializado, pesquisa, desenvolvimento e relacionamento
diferenciado com clientes.
Ao se lançar ao comércio internacional, as empresas buscam combinar as vantagens
criadas em seu país com outras como economias de escala, capacidade de servir a clientes
multinacionais e uma reputação de marca transferível. A economia de escala obtida permite
diluir o custo de pesquisa e desenvolvimento de produtos. Mais recentemente, muitas
40
empresas passaram a buscar a localização em outros países para ter acesso, não apenas a
menores custos de fatores locais, mas também a conhecimentos locais especializados sobre
tecnologia do produto ou processo, técnicas de comercialização e necessidades do comprador.
A meta final da vantagem competitiva é modificar as regras do ambiente externo em favor da
empresa, ou seja, criar assimetrias de mercado que melhorem sua competitividade (LEMOS
& NASCIMENTO, 1999).
O sucesso de uma empresa no exterior decorre de uma efetiva estratégia de inovação
que antecipe as necessidades internacionais ou que as crie. Para alcançar esse estágio, é
preciso ter o país sede como centro de estímulo constante à melhoria competitiva e à
inovação. Esse estímulo é conseguido por meio de uma conjunção de fatores que Porter
(1989) chamou de determinantes da vantagem nacional:
i) Condições de fatores - fatores de produção como: trabalho especializado, recursos
naturais, infra-estrutura ou recursos de capital; necessários à competição em determinada
indústria. Mais importante do que o estoque de fatores em qualquer momento particular é o
ritmo em que eles são criados e/ou aperfeiçoados.
ii) Condições de demanda - quanto mais exigente e sofisticada for a demanda interna,
em relação ao produto ou aos serviços, mais a empresa será pressionada a melhorá-los,
acabando por alcançar padrões elevados que os permitem inserir-se no mercado internacional.
Esta demanda exigente pode agir ainda de forma a prever demandas por produtos ou normas
de processamento que serão adotadas/exigidas posteriormente em outros países.
iii) Indústrias correlatas e de apoio - a presença, no país, de indústrias abastecedoras
e indústrias correlatas que sejam internacionalmente competitivas potencializam a troca de
informações e experiências locais relevantes. Os benefícios tangíveis e intangíveis estão
principalmente relacionados a intercâmbios e à possibilidade de cooperação para a melhoria
da vantagem competitiva nacional puxada por empresas de classe mundial, mas que beneficia,
compradores, fornecedores e setores correlatos.
iv) Estratégia, estrutura e rivalidade das empresas - a maneira pela qual as empresas
são criadas, organizadas e dirigidas e ainda a natureza da rivalidade interna são determinadas
por uma gama enorme de fatores e da conjunção destes que têm sua origem em condições
singulares como o sistema educacional, a história social e religiosa, as estruturas familiares e
muitas outras. Via de regra, as empresas bem sucedidas globalmente participam de um clima
de intensa competição em seu país que as impele a inovar e melhorar seus produtos e
processos
46
.
Entretanto, as vantagens comparativas dependem significativamente também de como
as transações, incluindo as atividades de comércio, ocorrem e são organizadas, e ainda de
como as mudanças institucionais transformam a endogenia inicial. Conseqüentemente, duas
dimensões devem ser consideradas: o ambiente institucional, isto é, o jogo de regras, leis,
políticas, costumes, e normas que determinam as regras do jogo; e os arranjos organizacionais
imersos neste ambiente e executados por agentes em seus esforços para alcançar seus
objetivos (MÉNARD & VALCESCHINI, 2005). Neste contexto, o conceito de eficiência está
ligado à redução dos custos de transação nessas duas dimensões.
Portanto, o governo também possui uma relevância significativa, pois a política
adotada por um determinado país pode influenciar de forma decisiva qualquer um dos fatores
citados, melhorando ou piorando a vantagem nacional. Para o escopo deste trabalho é
importante o papel que os órgãos governamentais exercem ao estabelecer padrões ou
regulamentos locais para os produtos, que condicionam ou influenciam as necessidades da
demanda. Aos governos cabe, portanto, o papel de fixar metas de produtividade adequadas,
estabelecer bases sustentáveis para a melhoria da vantagem competitiva na indústria do país e
46
Entretanto, existem exceções em monopólios nacionais bem-sucedidos internacionalmente, como nos casos da
EMBRAER e da PETROBRAS.
41
estimular as empresas a fazerem o mesmo. O governo deve avaliar com muito cuidado e com
base num espaço temporal amplo as pressões imediatistas de grupos em busca de subsídios e
outras formas de proteção. A política governamental deve evoluir de forma a antecipar-se às
necessidades de uma economia em desenvolvimento, permitindo e estimulando o avanço das
empresas.
Uma variável que não deve ser desprezada é aquela advinda de eventos ocasionais,
como é o caso da inserção de uma nova doença (vaca-louca) ou praga, que criam interrupções
que podem destruir a competitividade nacional em poucos dias; ou ainda de uma descoberta
científica com aplicações comerciais relevantes, que pode favorecer o país que se apropria da
mesma de forma adequada. O acaso é importante pois cria interrupções que permitem
mudanças na posição competitiva
2.2
O Comércio Internacional de Alimentos e Produtos Agrícolas
O comércio internacional vem desempenhando um papel cada vez mais importante na
economia mundial, o que demonstra a força do processo de globalização. A atestar tal
importância estão os dados dos fluxos de comércio da década de 90 que cresceram a uma taxa
média de 7% em valor, enquanto que a taxa média de crescimento do produto industrial para o
mesmo período foi de apenas 3%. Em 2004, o volume de bens exportados cresceu 9%, neste
mesmo ano, a produção global cresceu 4%. Ambos os resultados foram os melhores desde
2000, fortemente impulsionados pelo avanço da China tanto como ofertante quanto como
demandante
47
. Ainda em 2004, o comércio mundial de bens atingiu a cifra de US$ 8,9
trilhões, com uma taxa de crescimento de 21% em relação a 2003, o mais forte aumento em
termos de valores desde 1979, essencialmente devido aos aumentos significativos nos preços
dos combustíveis, serviços e do transporte. Em 2005, apenas o valor do comércio de serviços
cresceu 11%, e chegou à casa dos US$ 2,4 trilhões; mas o total das exportações mundiais
ultrapassou a barreira dos US$ 10 trilhões (OMC, 2005; SECEX, 2006).
Entretanto, é importante salientar que, de acordo com dados da UNCTAD,
apresentados na Tabela 3, os países desenvolvidos, que representam menos de 20% da
população mundial, são responsáveis por cerca de 66% das exportações mundiais. E ainda
absorvem 65% do fluxo dos investimentos diretos, ou seja, mais que o dobro do comércio
exterior de todos os demais países (JAKOBSEN, 2005). Por outro lado, nos últimos anos, o
comércio entre os países em desenvolvimento (comércio Sul-Sul) vem apresentando taxas de
crescimento maiores do que aquelas do comércio mundial, e respondem por mais de 40%
das exportações dos países em desenvolvimento (ESTADOS UNIDOS, 2005).
Tabela 3. Exportações Mundiais de Grupos de Países (em Bilhões de dólares).
Origem 1998 1999 2000 2001 2002 2003 % em 2003
Mundo
5.367
5.562
6.274
6.055
6.299
7.372 100
Países Desenvolvidos
3.742
3.813
4.095
3.996
4.112
4.773 66
Países Em
Desenvolvimento
1.497
1.623
2.012
1.891
2.012
2.374 33
Países de Menor
Desenvolvimento Relativo
22 21 26 32 33 38 0,5
Países de Economia
Fechada
23 24 33 31 33 40 0,5
Fonte: UNCTAD, 2006.
Mas, o nível de concentração do comércio mundial é ainda mais intenso do que se
pode inferir por meio dos dados acima. Em 2005, apenas os 8 maiores países exportadores e
47
Estima-se que a exportação de manufaturas pela Ásia tenha aumentado algo em torno de 40% entre 2000 e
2004 (OMC, 2005).
42
importadores do mundo participaram com 46,40% e 50,30%, respectivamente, do total do
comércio mundial
48
. O Brasil, mesmo com um crescimento de 22,6% no volume de suas
exportações de 2004 para 2005, chegou a um total de US$ 118,3 bilhões exportados,
correspondendo a apenas 1,14% das exportações mundiais. Este crescimento permitiu ao
Brasil avançar no ranking dos maiores exportadores globais, ficando em 23º lugar (SECEX,
2006).
Para concluir 50]TJ-387.589 -1374(x)-1exp. 7-1.2312(e)3.74(n)q5(m)-2.45995( )-310.327.146571eesmo c
43
alguns setores
51
, tanto em termos numéricos quanto de agregação de valor
52
. Nos países que
praticam a agricultura de forma predominantemente intensiva, o peso do emprego gerado no
campo não é tão significativo
53
.
Enquanto uma parcela das indústrias alimentícias é altamente dependente da
proximidade dos centros produtores da matéria-prima, outras processadoras de alimentos, são
altamente flexíveis em relação às suas matérias-primas e sua localização está relacionada a
fatores estratégicos como: logística, adaptação do produto ou conhecimento do mercado.
Normalmente empresas essencialmente orientadas para o mercado consumidor estão presentes
em um grande número de países, é o caso da Unilever, Nestlé e PepsiCo, que estão presentes
em cerca de 120 a 150 países
54
(WILKINSON & ROCHA, 2006).
As principais transformações que redefinem o sistema alimentar mundial desde os
anos 1970 podem ser genericamente resumidas na noção de transformação para um sistema de
suprimento orientado pela demanda, onde o comprador conduz as estruturas de fornecimento.
Exportações não-tradicionais têm privilegiado produtos frescos, deslocando de certa forma
algumas atividades de agregação de valor para mais perto da agricultura. Entretanto, isso não
ocorreu entre os países tradicionalmente exportadores de commodities, onde as mesmas
tendências da demanda concentraram a adição de valor no setor de serviços na ponta da
cadeia (WILKINSON & ROCHA, 2006).
Em relação ao atual comércio de produtos agrícolas processados, Wilkinson (2004),
destaca três tendências: a importância dos blocos regionais, a “ocidentalização”/padronização
das dietas nos países asiáticos desenvolvidos e a competitividade dos produtos europeus de
altíssima qualidade. Ainda segundo o autor, os novos investimentos externos diretos das
empresas sediadas em países desenvolvidos têm visado os produtos finais para os mercados
domésticos, aumentando a pressão por substanciais mudanças nos padrões alimentares dos
países subdesenvolvidos. Situação esta, que tem promovido a multiplicação de casos que
envolvem uma perversa combinação de desnutrição e obesidade.
2.2.1
Dados internacionais
De um modo geral, o comércio agrícola mundial tem se expandido a taxas superiores
que às da produção agrícola desde a década de 60 (KAGEYAMA & GRAZIANO, 1987).
Entretanto, analistas acreditam que a taxa de crescimento do comércio agrícola poderia ter
sido ainda mais significativa caso esses produtos tivessem sido integrados à pauta de
negociações do GATT desde a sua origem. A redução dos preços dos produtos agrícolas no
mercado internacional justifica o fato de que o aumento dos volumes transacionados não
tenha resultado em aumentos expressivos nos valores correspondentes (BRUINSMA, 2003).
Em 2004, o valor dos produtos agrícolas comercializados no mundo alcançou os US$
783 bilhões, conforme se verifica no gráfico 1, sendo a soja responsável por 24% desse total,
seguida pelos produtos florestais com 15%, e a carne com 12%. Com percentuais expressivos
temos ainda o comércio do açúcar e do café com 7% e 5%, respectivamente. Em relação ao
mercado, os maiores compradores no período foram a União Européia com 36%, seguida da
Ásia (excluindo o Oriente Médio), com 18% e os Estados Unidos com 16% (da SILVA,
2004). Neste período, as exportações agrícolas norte-americanas ficaram estagnadas e as da
51
Algumas indústrias alimentícias como as de óleos ou açúcar exigem níveis de escala e de investimentos em
equipamentos que inviabilizam a inserção de MPEs, que encontram um mercado maior na produção de
alimentos processados como frutas ou vegetais.
52
Ainda que, no setor varejista haja uma clara concentração com cerca de três ou quarto marcas líderes.
53
Como exemplo, temos que a porcentagem da mão-de-obra empregada no setor agrícola no Japão e nos EUA,
em 1988, era de 7,9 e 2,9, respectivamente (ABREU & LOYO, 1994).
54
Em 1998, nos EUA, enquanto que as exportações de alimentos processados eram cerca de US$33,9 bilhões, as
vendas das afiliadas localizadas fora do país alcançaram US$133,1 bilhões (WILKINSON, 2004).
44
0
50
100
150
200
250
300
350
400
450
500
550
600
650
700
750
800
850
900
950
1000
1050
1100
1150
US$ Bilhões
Outras máquinas
Equipamentos de escritório e telecomunicação
Combustíveis
Produtos automotivos
Produtos agrícolas
Outros químicos
Outros semi-manufaturados
Ferro e Aço
Vestuário
Farmacêuticos
Têxteis
Instrumentos científicos e de controle
Metais não-ferrosos
Minérios e minerais
Crescimento 03/04 (%)
US$ bilhões
Europa cresceram 2,5%, ou seja, menos do que a média global. As Américas do Sul e Central,
assim como a Comunidade dos Estados Independentes (Armênia, Azerbaijão, Bielorússia,
Geórgia, Kazaquistão, República Tcheca, Moldávia, Federação Russa, Tajiquistão,
Turkmenistão, Ucrânia e Uzbequistão) e a África, obtiveram um crescimento acima do
crescimento médio. Apesar de permanecer como um grande importador de produtos agrícolas,
a Ásia aumentou suas exportações em 3% em 2004 (OMC, 2005).
Gráfico 1. Exportação mundial de bens por grupos de produtos, 2004.
Fonte: OMC, 2005.
O valor total comercializado deixou os produtos agrícolas em quinto lugar no ranking
de grupos de produtos segundo o anuário estatístico de 2005 da OMC (2005). Em 2004, o
valor das exportações mundiais de produtos agrícolas cresceu 15% quando comparado a
2003; embora o gráfico 2 demonstre uma tendência de alta, esta é bem inferior à registrada
para outros grupos de produtos como ferro/aço ou minérios/minerais, com aumentos
superiores a 40%
.
Ainda de acordo com anuário da OMC, as elevadas disparidades no
crescimento de alguns grupos de produtos ocorrem basicamente devido aos distintos preços
dos mesmos no período. Em 2004, os preços de importação dos EUA para produtos de ferro e
45
0
50
100
150
200
250
300
350
400
450
1995
19
96
1997
1998
1999
2000
2001
2002
2003
2004
US$ Bilhões
de aço elevaram-se em quase 40%, enquanto que a alta para produtos agrícolas foi de apenas
9%. Esse é um dos motivos que levaram o comércio agrícola em 2005, a representar apenas
9% do total do comércio mundial, seu menor percentual em relação aos últimos 20 anos
(SECEX, 2006).
Desde o início dos anos 1970, a queda nas exportações de alimentos em relação às
exportações totais foi especialmente acentuada nos países menos desenvolvidos. Nestes
países, a liberalização comercial levou a um crescimento imediato e assimétrico das
importações de alimentos; pois muitos não puderam aumentar as suas exportações agrícolas,
em virtude dos mercados protegidos e dos subsídios às exportações dos países
industrializados. Nos casos em que os países conseguiram aumentar o volume das exportações
agrícolas, o valor delas caiu (MALHORTA, 2004). De forma geral, os países desenvolvidos
estimulam os países em desenvolvimento a exportarem produtos tropicais, que não
representam ameaça aos produtores europeus, e a importar alimentos processados.
Gráfico 2. Valor de Exportações Mundiais de Alimentos e Animais.
Fonte: JELLINEK, 2005.
Na tabela 4 pode-se verificar que uma grande disparidade entre o peso da
exportação de produtos agrícolas na pauta de exportação dos países; ainda que este seja muito
maior nos países em desenvolvimento, as exportações européias de produtos agrícolas
representaram 47% das exportações mundiais em 2004.
A América do Norte não apenas reduziu seu ritmo de crescimento em 2004, como teve
a sua participação no comércio mundial reduzida em 4 pontos percentuais desde 2000,
chegando a menos de 17% em 2004. As exportações dos produtos agrícolas norte-americanos
foram afetadas pelo mau tempo e pela descoberta da Encefalite Espongiforme Bovina (BSE)
no rebanho doméstico em dezembro 2003. Embora as exportações agrícolas asiáticas sejam
superiores às da América do Norte desde 2003, essa região permanece como sendo o maior
importador líquido mundial. Ainda que a importação de produtos agrícolas tenha representado
apenas 7,5% em sua pauta de importação em 2004, a China está entre os principais
importadores, apresentando um aumento de aproximadamente 40% pelo segundo ano
consecutivo desde 2002. Como os países em desenvolvimento apresentam grande parcela de
sua população em situação de insegurança alimentar, via de regra, qualquer aumento da renda
nessa camada gera imediato aumento da demanda por alimentos. Logo, as projeções para os
próximos vinte anos, indicam que quase todo o aumento na demanda mundial de alimentos
ocorrerá nos países em desenvolvimento
55
.
55
Entre 1998 e 2002, a Nestlé cresceu cerca de 7% na Europa, 29,8% nas Américas e 19,7% na Ásia
(WILKINSON & ROCHA, 2006).
46
Tabela 4. Participação dos produtos agrícolas nas pautas de comércio (%) *.
Países Exportações Importações
1980
1990
1995
2000
2004
1980
1990
1995
2000
2004
Paraguai
- 90,0 80,3 80,2 86,5 .. 8,1 18,7 17,8 9,8
Uruguai
- 60,0 49,5 50,7 60,0 - 10,8 14,4 14,1 12,6
Argentina
71,2 60,2 53,8 44,9 49,5 9,4 8,0 7,5 6,3 3,5
Brasil
- 31,0 33,6 28,0 32,5 - 11,9 13,4 8,8 6,8
Austrália
44,5 - 27,1 26,1 25,4 8,0 7,0 6,6 5,9 5,7
Chile
- 32,5 37,2 35,1 29,5 - 6,5 8,3 8,5 8,5
China
- 16,2 10,0 6,6 4,0 - 14,5 12,0 8,5 7,5
Índia
33,1 19,5 19,9 14,1 - 10,7 7,2 8,2 7,6 -
México
- 13,2 9,0 5,5 - - 18,2 8,7 6,3 -
Portugal
21,2 13,4 11,8 10,3 10,0 20,2 15,3 17,0 13,7 14,0
Feder. Russa
- - - 4,3 4,4 - - - 16,6 17,8
Canadá
22,8 17,6 16,8 12,5 12,7 9,4 7,7 7,4 6,3 7,1
França
18,2 17,5 15,7 12,2 12,2 14,0 12,4 13,3 9,8 9,8
Itália
8,0 7,0 7,2 6,8 7,2 19,6 17,2 16,9 12,4 12,0
Japão
2,2 1,1 1,1 0,9 1,0 21,2 21,5 22,2 16,3 14,3
Grã-Bretanha
8,1 8,0 8,3 5,9 6,3 17,0 13,1 12,5 9,6 10,5
EUA
- 15,1 13,8 9,1 9,7 10,7 7,7 6,9 5,5 5,8
* Classificação Padrão de Comércio Internacional (SITC) 0+1+2+2+22+27+28 (alimentos, bebidas, fumo e
matérias agrícolas in natura)
Fonte: UNCTAD, 2006.
Os dados reunidos nas figuras 1 e 2, permitem verificar que uma significativa
mudança no perfil das exportações agropecuárias dos países em desenvolvimento ao longo
das duas últimas décadas. Basicamente houve uma redução do peso dos produtos tropicais
tradicionais em relação a produtos como pescado, hortaliças e especiarias. Os produtos
agrícolas de maior valor agregado - como peixes, frutas e vegetais processados, carne,
castanhas e especiarias representam mais de 50% do valor da pauta de exportação dos
países em desenvolvimento
56
, enquanto que o mercado das commodities mais tradicionais
como café, cacau, chá, açúcar, algodão e tabaco continua em declínio (JELLINEK, 2005).
Ainda assim, o café continua sendo um dos principais produtos em termos de valor de
exportações para muitos países em desenvolvimento, como no caso mais recente do Vietnam.
Em termos de valor agregado, alguns vegetais frescos tiveram uma ligeira alta devido
ao aumento da procura, entretanto, para os produtos tradicionalmente exportados por países
em desenvolvimento (café, cacau, algodão, borracha e chá), o aumento do valor agregado se
deu preponderantemente na ponta, ou seja, no setor de serviços relacionados a estes (ver nota
45). Estima-se que, entre 1970 e 1994, o valor agregado dos alimentos processados, em
relação aos in natura, tenha aumentado de 26% para 37%. Além de mais rentáveis, os
alimentos processados possuem uma demanda mais elástica de preços (WILKINSON, 2004).
No entanto, a recomendação estratégica de aumentar o valor agregado de seus
produtos como forma de melhorar a performance de suas exportações é válida apenas para um
restrito grupo de países em desenvolvimento possuidores de economias mais dinâmicas e para
56
O pescado processado respondia por cerca de 8,9% do total de produtos processados exportados por países em
desenvolvimento em 1970, em 1999 esse percentual havia chegado a 30,1. Juntamente com as frutas em
conserva, esses dois produtos respondiam por cerca de 42% do total de alimentos processados exportados por
países em desenvolvimento (ATHUKORALA et al, 2002).
47
uma também restrita categoria de produtos - normalmente peixes, hortícolas e carnes ou
seja, não representa uma alternativa à crise do setor tradicional de exportação de commodities.
Estudos em países africanos exportadores de produtos hortícolas para a Europa dão conta de
que apenas 25% do valor agregado é realizado no país exportador, o que indica que o modelo
do comércio atual dos novos produtos não difere muito, neste sentido, do comércio das
commodities tradicionais.
De modo geral, o peso dos produtos processados vem aumentando na pauta de
importação dos países em desenvolvimento. Segundo Wilkinson & Rocha (2006), essa
expansão ocorre principalmente devido ao processo de urbanização desses países, com
mudanças nos padrões de dieta que demandam novos alimentos e uma reorganização das
redes de suprimento de alimentos. Os alimentos processados respondem por cerca de 80%
do total mundial de vendas de alimentos, estimado em US$ 4 trilhões em 2002, o que fez
muitos países em desenvolvimento, tradicionalmente exportadores de alimentos, passarem à
situação de importadores. O gráfico 3, demonstra claramente que, em meados dos anos 80,
uma inversão das curvas e o grupo que representa os países de menor desenvolvimento
relativo passou para a condição de importadores líquidos de alimentos. E, segundo projeções
realizadas pela FAO, mesmo com o aumento projetado de 36% no volume total de produtos
agrícolas tropicais exportados, a tendência é de que o déficit dos países em desenvolvimento
se aprofunde ainda mais, chegando a US$ 31 bilhões em 2030. É preciso ressaltar, no entanto,
que no caso de alguns países, como a República da Coréia, a nova condição de importadores
de alimentos ou o aumento do déficit, podem estar relacionados ao aumento da demanda
interna de alimentos (em função do aumento da renda de sua população) e/ou a mudanças
estruturais em suas economias privilegiando o desenvolvimento de setores mais intensivos em
tecnologia (BRUINSMA, 2003).
Gráfico 3. Passagem do grupo dos Países de Menor Desenvolvimento Relativo de
exportadores a importadores de gêneros agrícolas.
Fonte: BRUINSMA, 2003.
48
Figura 1. Expansão das Exportações de Alimentos de Alto Valor Agregado por Países em
Desenvolvimento.
Fonte: FAOSTAT, citado por Jellinek (2005).
Figura 2. Mudanças na Composição das Exportações Agrícolas dos Países em
Desenvolvimento.
Fonte: der MEER, 2004.
Embora os produtos agrícolas apresentem um baixo peso na balança comercial dos
países desenvolvidos, isto não significa que o volume ou o valor destes produtos seja
pequeno. Na tabela 5, podemos verificar como o comércio internacional de produtos agrícolas
é dominado pelo comércio intra-europeu.
Tabela 5. Maiores fluxos regionais de exportação de produtos agrícolas no mundo, 2004.
Regiões Valor
(US$ bilhões)
Mudança percentual anual
(%)
2004 2000-04 2003 2004
Intra-Europa
297,4 11 23 14
Intra-Ásia
84,0 7 9 16
Intra-América do Norte
59,7 5 4 13
América do Norte para Ásia
40,0 2 16 4
Américas Central e do Sul para Ásia
26,3 10 19 18
Américas Central e do Sul para a
América do Norte
14,6 6 14 14
Fonte: OMC, 2005.
0
5
10
15
20
25
30
35
40
45
% do Total
Produtos tropicais
tradicionais
Produtos de clima
temperado
Pescado, hortaliças
e especiarias
Outros
1980/81 2000/01
49
2.2.2
Dados brasileiros
Segundo Muller (1990), As atividades agrárias brasileiras sempre estiveram, de um
modo ou de outro, ligadas aos mercados interno e, sobretudo, internacional.” A partir da
segunda metade da década de 60, um grande movimento em busca de um aumento das
exportações abarcou toda a economia brasileira. Embora os maiores incentivos tivessem sido
direcionados para as manufaturas, o setor agrícola se beneficiou desse esforço e também da
conjuntura internacional favorável
57
. Ente 1964 e 1990, as exportações brasileiras cresceram
tanto em termos de valor exportado
58
quanto em relação à diversificação de setores e
produtos. Entretanto, a dinâmica industrial da década de 90, não foi capaz de pôr em marcha
um círculo virtuoso de expansão significativa da capacidade produtiva da indústria via novos
investimentos. Além disso, a abertura comercial não foi capaz de eliminar mecanismos
setoriais de promoção e proteção que reproduziram, ainda no final da década de 90, um
razoável viés anti-exportador (VEIGA, 2002).
Segundo Gonçalves (1997), as exportações agrícolas, em meados dos anos 70
correspondiam a mais da metade das divisas obtidas pelas exportações brasileiras. Nesta
década as exportações agrícolas ganharam ainda mais importância na equalização das contas
nacionais por conta do aporte contínuo de capital externo, reflexo da crise do petróleo.
Quando analisamos o saldo comercial por tipo de produto (Gráfico 4), verificamos que, desde
a abertura da economia nos anos 90 o Brasil ainda apresenta uma forte presença de produtos
primários em sua pauta de exportação (em torno de 40% do total).
A pauta exportadora brasileira continua concentrada em commodities agrícolas e
industriais, produtos de baixa intensidade tecnológica e bens intensivos em trabalho e recursos
naturais. Como as elevadas taxas de crescimento das vendas externas de bens de média e alta
intensidade tecnológica no biênio 2004-2005 não foram suficientes para alterar sua
participação relativa no total das exportações, o perfil dessa pauta em termos de conteúdo
tecnológico manteve praticamente constante entre 2002 e 2005 (BALTAR, 2007) e os
gráficos 5 e 6 espelham estas afirmações.
Segundo Prates (2006), a estrutura da pauta de exportação deixa o país extremamente
vulnerável a mudanças na dinâmica do comércio internacional; e a autora alerta ainda para a
identificação de um movimento de “retrocesso” na pauta de exportação no que se refere ao
seu conteúdo tecnológico. A hipótese de que restriç
50
Gráfico 4. Exportações Brasileiras por Conteúdo Tecnológico (CT) (US$ milhões).
Fonte: Secex-MDIC. Elaboração Neit-Unicamp.
Gráfico 5. Exportações Brasileiras por Conteúdo Tecnológico (% no total).
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
70%
80%
90%
100%
2002 2003 2004 2005
Commoditie -32.3739(P)24808656(r64.89518(i)25.2619(m)86.2782áo)6.01328(r64.89518(i)25.2619ao)6.01328s
n
t
e
i
-32.3739((e)61.45734(m)86.2782( -32.3739(T)046.458(r64.89518ao)6.01328bn)50.5267ao)6.01328li
o
-32.3739((e)444]TJ128.36 LT*[(R -374..734(e)61.45734c-)7.5489(u)626.0470(r64.89518s)95-394593o)-5474779s
8.750656N0
u
r64.89518ao
i
51
participação brasileira na produção industrial mundial a partir de 1993, enquanto que as da
China, Índia e Coréia aumentaram.
Apesar do perfil ter evoluído para uma presença mais vigorosa de produtos de maior
valor agregado, a pauta exportadora ainda é dominada pelas commodities
59
. A predominância
de commodities prejudica o crescimento das exportações ainda que o Brasil possua uma
vantagem comparativa expressiva em várias delas isso decorre dos seguintes fatores: i) seu
mercado internacional é menos dinâmico que o de produtos tecnologicamente mais
sofisticados; ii) estão sujeitas a maiores variações de preços, que são essencialmente price
takers e enfrentam competição de muitos países em desenvolvimento; iii) estão mais
vulneráveis a práticas protecionistas, especialmente em países desenvolvidos.
Em um estudo que procurou demonstrar a vulnerabilidade do agronegócio brasileiro,
Carvalho e Da Silva (2005) reafirmam a tese cepalina de que os produtos agrícolas
apresentam uma baixa elasticidade de preço e renda. Esses autores ainda apontam para as
seguintes tendências como preocupantes: i) A demanda mundial por produtos agrícolas vem
crescendo menos que a dos produtos industrializados
60
; ii) O Brasil vem aumentando a
dependência de produtos agrícolas como fonte de divisas; iii) O relativo sucesso das
exportações brasileiras se deve sobretudo ao aumento das quantidades exportadas; e iv) A
evolução das relações de troca
61
tem sido desfavorável ao Brasil. Diante deste quadro,
conclui-se que o aumento do rendimento das exportações deve se dar por meio da agregação
de valor aos produtos, o que pode ser feito por meio da sofisticação do consumo com o
oferecimento de qualidades especiais. Essa diferença também pode ser observada ao
compararmos o valor médio das toneladas vendidas e compradas pelo Brasil
62
(GUIMARÃES, 2005).
O Brasil apresenta uma baixo nível de agregação de valor e uma insuficiente
incorporação de novas tecnologias no processo produtivo no que se refere a grande maioria
dos produtos do agronegócio exportados. O debate sobre as causas deste quadro é bastante
complexo e envolve questões relacionadas à evolução histórica da inserção brasileira no
mercado mundial de commodities. Para fins desta tese, é relevante citar que uma parcela
desta responsabilidade encontra-se nas lacunas a serem preenchidas na chamada Tecnologia
Industrial Básica (TIB). A Tecnologia Industrial Básica está incorporada em praticamente
todos os produtos primários e manufaturados e visa assegurar qualidade, adequação a normas
técnicas estrangeiras e cumprimento de padrões ambientais, além de proporcionar custos
competitivos através da adoção de técnicas organizacionais avançadas (TIGRE, 2002). É
preciso ressaltar que a excelência brasileira na área de metrologia é reconhecida
mundialmente, com participação significativa em diversos fóruns internacionais sobre o
assunto. Entretanto, em termos de robustez ainda encontra-se aquém da grande e heterogênea
demanda de um país de dimensões continentais.Nas palavras de Delfim Netto (2007): “O
Brasil, felizmente, será sempre um fornecedor importante de commodities, mas, infelizmente,
isso não parece suficiente para sustentar o robusto crescimento econômico e social que
desejamos”.
59
Um indicador desse padrão de especialização é o valor médio das exportações por quilograma, que representa
apenas 40% do valor das importações (TIGRE, 2002).
60
Segundo a FAO, entre 1961-2002, o valor das importações mundiais cresceu à taxa de 10,7%a.a. Esse número
é resultado de crescimento anual de 7,3% das importações agrícolas e de 11,3% das importações dos produtos
não-agrícolas (CARVALHO & DA SILVA, 2005).
61
Por relações de troca entende-se a razão entre os preços dos produtos exportados e o preço dos produtos
importados (CARVALHO & DA SILVA, 2005).
62
Os três principais produtos importados pelo Brasil em 2004 petróleo, autopeças e circuitos integrados
custaram, por tonelada, US$ 336,19, US$ 6.409,09 e US$ 639.241,43, respectivamente. Já os principais produtos
exportados – minério de ferro, soja e automóveis – custaram por tonelada US$ 25,36, US$ 223,08 e US$
6.523,88, nessa ordem (GUIMARÃES, 2005.
52
À exceção de um reduzido número de empresas de grande porte, as empresas
brasileiras apresentam uma baixa propensão exportadora, caracterizando-se, em geral, por
uma inserção oportunista e não regular, ou seja, não são estratégicas na atividade de
exportação. De forma geral, o Brasil permaneceu à margem durante o período de difusão
internacional de um novo paradigma produtivo e tecnológico ocorrido ao final do século
passado. O ambiente de volatilidade e incertezas levou as empresas a adotarem estratégias
defensivas voltadas para o curto prazo (VIEGAS, 2002).
Mais recentemente, oque se verifica como tendência é uma pressão maior nos preços
internacionais das matérias-primas dentre estas as commodities agrícolas
63
em função do
aumento da demanda mundial, sobretudo asiática. No caso do Brasil, este aumento tem
compensado a desvalorização cambial ocorrida nos últimos anos. Outro fator que vem
influenciando de forma cada vez mais significativa o mercado mundial de produtos agrícolas
é o deslocamento de algumas culturas para a fabricação de combustíveis. O caso do milho nos
EUA é emblemático. O aumento das cotações desta commoditie gera reflexos, por exemplo,
no preço da carne de frango e em outras culturas das quais é concorrente direta.
Gráfico 6. Saldo comercial por conteúdo tecnológico (em US$ milhões).
-20000
-10000
0
10000
20000
30000
40000
50000
1999 2002 2005
Commodities Primárias
Intensivas em Trabalho e Recursos Naturais
Baixa Intensidade Tecnológica
Média Intensidade Tecnológica
Alta Intensidade Tecnológica
Outros
Total
Fonte: Secex. Elaboração NEIT/IE/Unicamp; citado por Laplane & Sarti, 2005.
A determinação do volume do agronegócio, seja em termos de mão-de-obra
empregada, percentagem do PIB ou volume exportado, é um debate extenso, de elevada
conotação política, alvo de debates metodológicos, e que não faz parte do escopo desta tese.
Segundo fontes mais otimistas, o agronegócio teria representado, em 2005, 36,85% das
exportações brasileiras, 37% dos empregos e 28% do PIB, com um saldo de US$ 38 bilhões
64
,
63
No início de 2008, a soja atingiu sua maior cotação em 35 anos.
64
Ao passo que os demais setores reunidos obtiveram um superávit em torno dos US$ 7 bilhões no mesmo
período. No final dos anos 90 o saldo foi positivo em cerca de US$ 10 bilhões. Em 2003, o país contava com
um superávit na casa dos US$17,7 bilhões, chegando a US$ 24 bilhões em 2004.
53
valor que colocou o país na primeira posição entre os maiores exportadores do mundo
65
(RODRIGUES, 2006). Segundo a OMC, que define o agronegócio de acordo com a cobertura
de produtos do Acordo Agrícola da Rodada Uruguai, o Brasil exportou em 2004, US$ 27,5
bilhões em produtos agrícolas. Já o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento
(MAPA) inclui em sua definição setores - como madeira, papel e celulose, couro e calçados,
fibras e tecidos que não fazem parte da definição do OMC. Pelo critério do MAPA, o
agronegócio brasileiro em 2006 foi estimado em R$ 534,77 bilhões ou o equivalente a 26,7%
do PIB brasileiro, e obteve um saldo comercial de R$ 41 bilhões de janeiro a outubro de 2005
(BRASIL, 2006c). Desta forma, enquanto que as exportações totais do Brasil correspondem a
cerca de 1% do comércio internacional, as exportações do agronegócio nacional representam
4% das exportações totais de produtos do agronegócio em nível mundial
66
(da SILVA, 2004).
Em uma outra tentativa de estimar o volume do agronegócio brasileiro, Silva & Nonnemberg
(2006), trabalharam com 4 grandes agregados (insumos industriais; agropecuária;
agroindústria e atividades a jusante; serviços e administração pública), e concluíram que o
PIB do agronegócio em 2003 foi de R$ 316 bilhões, ou seja, 20,3% do PIB
67
. Um dado mais
recente, fornecido pela empresa Tendências Consultoria
68
, projeta que os valores dos produtos
do agronegócio exportados pelo Brasil em 2007 e 2008 alcançarão, respectivamente, US$
54,96 e US$ 63,81 bilhões.
O Brasil dispõe de um sistema de produção de alimentos de grande dimensão e
complexidade, com a produção crescendo a taxas anuais elevadas, como 9,49% em 2003.
Entre 1990 e 2002, a avicultura teve um aumento de 223% em sua produção, a bovinocultura
125%, os pescados e a produção de leite obtiveram aumentos da ordem de 68% e 45%,
respectivamente. Na agricultura, apesar de a área plantada ter diminuído em 1% em 20 anos, o
volume físico da produção cresceu 40% no mesmo período (da SILVA, 2004). Embora parte
desse aumento tenha sido destinado às exportações, o mercado doméstico ainda é o destino da
maior porcentagem da produção. O consumo brasileiro per capita de frango passou de 2Kg
em 1970 para 26Kg em 2000, atualmente, 70% do total produzido é destinado ao mercado
interno, este percentual é o mesmo para o óleo de soja (WILKINSON, 2004).
Os sucessivos aumentos no volume total da produção são baseados em altas taxas de
produtividade e uma grande eficiência em todos os elos da cadeia e sua governança. Esse
panorama não é restrito às commodities tradicionais como a soja, mas inclui produtos de
maior valor agregado e mais intensivos em tecnologia, como é o caso do suco de laranja
concentrado, um dos produtos em que o Brasil ocupa o primeiro lugar no ranking dos países
exportadores
69
(BELIK, 1996). Em 2002, a produção do setor de alimentos processados
representou 3,4% do PIB e 14% do total produzido pelo setor industrial no País, valor
próximo do encontrado nos países industrializados (WILKINSON & ROCHA, 2006).
Entretanto, segundo dados da Associação Brasileira da Indústria da Alimentação, a
participação dos alimentos industrializados representa, em termos de valor, apenas 18% do
total de alimentos exportados.
65
Em segundo lugar, com cerca de US$5 bilhões a menos, vêm a Argentina e a Austrália. Os EUA, que até 1999
ocupava o primeiro lugar no ranking, teve seu saldo reduzido drasticamente após a entrada em vigor do NAFTA.
66
Somando-se todos os setores, a participação brasileira nas exportações mundiais caiu de 1,5% em meados da
década de 80 para cerca de 0,9% no final da de 90. Comparativamente a países em desenvolvimento como
Malásia, China, Coréia do Sul, Chile e Indonésia, o Brasil teve a menor taxa média de crescimento das
exportações de produtos manufaturados nos anos 90 (TIGRE, 2002).
67
A contribuição de cada setor foi: insumos industriais (2,66%); agropecuária (46,29%); agroindústria e
atividades a jusante (25,59%); serviços e administração pública (25,46%) (SILVA & NONNEMBERG, 2006).
68
Jornal O Globo; página 36; coluna Panorama Econômico; Débora Thomé; 6/10/2007.
69
Em 2005, o Brasil ainda figurava em primeiro lugar no ranking de exportação de: tabaco, carne bovina, açúcar,
álcool, café, complexo soja e carne de frango.
54
Embora haja setores que se destacam, de um modo geral, a expansão das exportações
brasileiras tem ocorrido em quase todos os segmentos exportadores do agronegócio.
Comumente, verifica-se um processo de diferenciação e agregação de valor nas vendas
externas do setor com um grande ganho de competitividade. Devido às exigências do
mercado, os produtores brasileiros têm investido em pesquisa e na modernização de suas
atividades, de forma a obter produtos com preços atrativos, e qualidade de nível internacional.
Uma estratégia de exportação mais agressiva e o reconhecimento da qualidade do
produto nacional têm permitido que as exportações do agronegócio brasileiro aumentem de
volume e diversifiquem seus destinos. Além dos embarques para mercados tradicionais como
o Japão, as vendas para os chamados BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) e
para o Oriente Médio se expandem rapidamente. A retomada do crescimento das exportações
para os EUA também merece destaque.
Aos poucos o Brasil tem buscado superar os problemas de infra-estrutura de apoio,
como no escoamento ou na armazenagem da produção. Problemas que fazem com que, por
mais que o produtor invista dentro da porteira para obter um produto de alto padrão de
qualidade a preços competitivos, este tenha que vencer desafios como estradas em péssimas
condições de conservação e portos com baixa eficiência antes de chegar ao seu destino.
O Comércio agrícola e os acordos internacionais (GATT e OMC)
Neste tópico serão abordados temas freqüentes na pauta das negociações comerciais
internacionais de bens agropecuários. De forma mais específica, são apresentados três temas
previstos no Acordo sobre a Agricultura da OMC, e tidos pela maioria dos especialistas como
sendo prejudiciais ao livre comércio de bens agrícolas internacionais, quais sejam: as quotas
tarifárias, os subsídios e o princípio da precaução. Serão apresentados dados que confirmam a
atual influência destes temas no comércio mundial de produtos agrícolas, a despeito dos
acordos que preconizavam seu banimento.
Em 1995 foi instituído o Acordo sobre a Agricultura da OMC que, embora tenha
eliminado muitas barreiras não-tarifárias ao comércio agrícola, mantinha as tarifas para o
setor significativamente mais elevadas do que as industriais. Enquanto as tarifas médias sobre
os produtos industrializados caíram 40% de 1945, para 4% em 1995, as tarifas agrícolas
permaneciam em 62% em média. Além do mais, a progressão e os picos tarifários
permanecem elevados em muitos países industrializados. Para algumas exportações de
produtos agrícolas de interesse dos países em desenvolvimento (açúcar, arroz, laticínios), as
grandes potências econômicas mantêm tarifas entre 350 e 900%, ao passo que, muitos países
em desenvolvimento têm sido forçados a reduzir suas barreiras tarifárias e não-tarifárias como
condição para obtenção de empréstimos junto ao Banco Mundial e ao Fundo Monetário
Internacional (FMI) (MALHORTA, 2004; OLIVEIRA, 2005).
O acesso ao mercado é importante para que os países em desenvolvimento possam
alcançar um vel que lhes permita competir em de igualdade, mas isso não basta. Esses
países ganham menos com o comércio do que os países industrializados, em parte pela queda
dos preços das commodities
70
e por sua especialização em exportações de baixo valor
agregado. Em relação à maioria das commodities, seu comércio continua a ocorrer fora da
estrutura do Acordo Geral de Tarifas e Comércio (GATT) e da Organização Mundial do
Comércio (MALHORTA, 2004). Segundo dados citados pela FAO, a liberalização completa
do comércio de gêneros agrícolas geraria ganhos de US$ 164 bilhões anuais, sendo US$ 121,7
bilhões para os países desenvolvidos e US$ 43 bilhões para países em desenvolvimento
(BRUINSMA, 2003).
70
O preço real (corrigido pela inflação) dos grãos de café caiu para apenas 24 % de seu nível em 1960
(MALHORTA, 2004).
55
As metas do desenvolvimento humano permanecerão distantes enquanto o Acordo
sobre a Agricultura estiver baseado em um paradigma de acesso ao mercado, que pressupõe
que todos os países podem participar igualmente da produção agrícola orientada para o
mercado. Estratégias promissoras que podem nivelar as bases políticas neste setor têm sido
aquelas direcionadas à renegociação dos atributos de qualidade da produção primária
alinhadas com critérios ambientais e sociais. Nesta linha, o movimento social batizado de Fair
Trade tem desenvolvido novos modelos de contrato que podem servir de base para uma re-
regulação dos mercados tradicionais de commodities (WILKINSON & ROCHA, 2006).
As quotas tarifárias
O Acordo sobre a Agricultura trouxe uma relativa melhoria de acesso ao mercado ao
desenvolver o conceito de “quotas tarifárias”, que basicamente estabelece dois patamares de
impostos aduaneiros. Este sistema permite a um país estabelecer uma determinada quota na
qual é cobrado um imposto mais baixo para um determinado produto e, ultrapassada esta
quota, uma nova tarifa é aplicada.
Seja como for, as quotas tarifárias normalmente prejudicam mais os países em
desenvolvimento que apresentam uma baixa diversidade de produtos agrícolas em sua pauta
de exportação
71
. As principais exportações dos países em desenvolvimento (como açúcar,
tabaco e algodão) e os produtos cujas exportações são de seu interesse potencial (como
alimentos industrializados) costumam ficar sujeitos a algumas das mais altas tarifas de
importação acima de 100%. Os membros da OCDE impõem essas tarifas a produtos como
carne, açúcar e chocolate, bem como leite e laticínios (OCDE, 2001). Já o Canadá, EUA e
Japão mantêm, por sua vez, picos tarifários de 350 a 900% para produtos alimentícios como
açúcar, arroz, laticínios, carne, frutas, legumes e peixes. As bananas acima da quota, por
exemplo, estão sujeitas a tarifas de 180% na UE, enquanto que o amendoim sem casca paga
550% no Japão e 132% nos Estados Unidos. Outros exemplos são apresentados na Tabela 6.
Tabela 6. Exemplos de impostos de importação (ou tarifas) sobre quotas tarifárias em 1995.
Produto EU Japão EUA
Tarifa dentro
da quota
Tarifa acima
da quota
Tarifa dentro
da quota
Tarifa acima
da quota
Tarifa dentro
da quota
Tarifa acima
da quota
Leite
18 56 22
(0-35)
125
(25-310)
7
(1-17)
83
(35-276)
Manteiga
27
(24-28)
97
(8-107)
35 264
(245-282)
7
(3-10)
58
(48-69)
Trigo
0 167
(131-204)
7
(0-20)
353 (n/d) (n/d)
Fonte: UNCTAD, 1995.
56
particular relevância para países com menor desenvolvimento relativo (WILKINSON &
ROCHA, 2006). Ainda que seja preciso ponderar que, em determinados casos de países da
África, Caribe e Pacífico, no que pese a existência de uma maior abertura para seus produtos,
o fator limitante de suas exportações é, basicamente, a sua baixa capacidade de produção seja
no volume ou na qualidade exigidos.
Estima-se que 60% dos produtos brasileiros são afetados por medidas restritivas no
mercado americano, ainda que as porcentagens das tarifas praticadas não sejam elevadas
72
.
a estrutura tarifária da União Européia baseia-se, explicitamente, numa elevada proteção
efetiva aos produtos de maior valor agregado (escalada tarifária). No ano de 2000, os
principais produtos brasileiros, em termos de valor exportado, sujeitos a quotas tarifárias na
União Européia foram: suco de laranja congelado, carne bovina desossada e congelada, cortes
e sobras comestíveis de carnes de aves congelados, carne bovina desossada fresca ou
resfriada, maçãs frescas, laranjas frescas ou resfriadas, uvas frescas, carne suína congelada,
aves inteiras congeladas, açúcar de cana (VIEGAS, 2003). Existem ainda os casos em que as
tarifas variam de acordo com a época do ano (tarifas sazonais), de forma a preservar a safra
do país importador.
É preciso salientar que, embora utilizem com menos freqüência os picos tarifários para
restringir a entrada de produtos em seus territórios, alguns países em desenvolvimento podem
ser tão protecionistas quando os desenvolvidos
73
. Uma questão relevante quando se trata de
tarifas de países em desenvolvimento, é o histórico de freqüentes reduções unilaterais das
tarifas – muitas vezes devido aos programas de ajuste estrutural impostos pelo Banco Mundial
e pelo FMI. Com isso, houve casos de invasão de produtos importados dos países
desenvolvidos muitas vezes produzidos de forma subsidiada - que competiam e/ou
substituíam os produtos nacionais, destruindo os meios de subsistência locais. Essa mesma
invasão, com iguais conseqüências, vinha também disfarçada sob a forma de ajuda
humanitária. Em 2004 os países de menor desenvolvimento relativo receberam cerca de US$
24,6 bilhões na forma de ajuda humanitária, o que representou 70% do total de fluxo de
recursos para essas regiões (WILKINSON & ROCHA, 2006).
A respeito da ajuda humanitária para os países de menor desenvolvimento relativo, o
economista queniano James Shikwati clama: “Pelo amor de Deus, parem de ajudar a
África!” e explica que a ajuda internacional fomenta a corrupção e prejudica o
desenvolvimento da economia local ao desincentivar a produção agrícola gerando
desemprego, miséria e mais dependência. O economista fornece o exemplo do milho
altamente subsidiado proveniente de agricultores europeus e estadunidenses que são
destinados ao Quênia como ajuda humanitária. Uma parte do milho vai parar nas mãos dos
políticos e sindicalistas inescrupulosos, que então o distribui em sua própria tribo
74
a fim de
receber apoio para sua próxima campanha eleitoral. Outra parte da carga termina no mercado
negro, onde o milho é vendido a preços extremamente baixos. Como conseqüência, os
agricultores locais se vêem fora do mercado e lhes resta guardarem seus arados, pois
ninguém pode competir com o Programa Alimentar da ONU. Assim sendo, nada é plantado e
no ano seguinte não reservas de grãos para impedir a fome a partir da produção local
(GRINBERG, 2005). Para agravar a situação, a doação de alimentos sofre problemas de
periodicidade perversos pois tendem a aumentar quando os preços internacionais dos
alimentos estão em baixa e cessam quando os preços encontram-se em alta (BRUINSMA,
2003).
Ainda a respeito das quotas, segundo Porter (1989) a comercialização ordenada ou os
acordos de restrições voluntários, dividindo e realmente cartelizando os mercados, são
72
A tarifa máxima aplicada pelos Estados Unidos é de 305% sobre o tabaco (VIEGAS, 2003).
73
Mais de 80% das tarifas da Índias estão acima de 30%.
74
No Quênia existem cerca de 32 etnias diferentes.
57
perigosos, ineficientes e, com freqüência, extremamente onerosos para os consumidores. Os
movimentos de estabelecer quotas para importação ou exportação de produtos muitas vezes
simplesmente asseguram mercados para empresas ineficientes e inibem o processo inovativo.
Os países industrializados usaram de forma indiscriminada a imposição de altas tarifas
e até proibições alfandegárias como forma de proteger a sua indústria nascente no início do
século passado. O que estes países solicitam atualmente na OMC é que os países em
desenvolvimento abram mão da estratégia utilizada por eles, com a agravante de que, com o
processo de globalização e a facilidade do fluxo de mercadorias, a vulnerabilidade e as
ameaças aos produtores internos são ainda maiores (CHANG, 2004).
Os subsídios
Um subsídio pode ser definido como sendo uma contribuição financeira
governamental que confere um benefício, seja diretamente, seja por meio de intermediários.
Essa definição inclui práticas governamentais como a provisão de bens e serviços, as
renúncias fiscais e a sustentação de renda ou preços (MALHORTA, 2004). Os subsídios
podem ser classificados, basicamente, em dois grandes grupos: as medidas de apoio interno e
os subsídios à exportação.
Os grandes volumes de recursos utilizados sob a forma de subsídios diretos e indiretos
à exportação foram essenciais no processo de crescimento de muitos países atualmente
desenvolvidos (CHANG, 2001). Atualmente, esses mesmos países lutam pela restrição aos
subsídios nos fóruns da OMC. Além disso, ao contrário do código da Rodada de Tóquio – que
proibia apenas os subsídios à exportação - o Acordo sobre Subsídios e Medidas
Compensatórias (ASCM) proíbe inclusive os subsídios condicionados ao uso de produtos
nacionais em vez de produtos importados. Na prática, isso significa que os países não podem
usar subsídios para promover políticas de substituição de importações (MALHORTA, 2004).
Em 2004, dos 148 membros da OMC, 25 países declararam possuir subsídios à
exportação, além de quotas e incentivos tarifários para vários grupos de produtos (PETERS &
VANZETTI, 2004). Em muitos países industrializados, os subsídios à exportação têm
permitido a continuidade da exportação de excedentes agrícolas a preços abaixo do custo de
produção, derrubando os preços mundiais
75
e causando aumentos repentinos das importações,
bem como dumping dos produtos agrícolas nos países em desenvolvimento
76
. Estima-se que
os bilhões de dólares gastos anualmente pela UE e pelos EUA para subsidiar seus agricultores
e protegê-los de produtores mais eficientes de outros países permitem-lhes exportar suas
safras a preços muitas vezes um terço abaixo do custo de produção (GODFREY, 2002). Isso
explica o mecanismo que viabiliza o domínio de metade do mercado mundial por parte dos
produtores de laticínios da UE, embora estes possuam os maiores custos de produção em
termos mundiais.
A União Européia responde por cerca de 90% dos subsídios globais à exportação
atualmente reconhecidos pelo Acordo sobre a Agricultura. Os membros da OCDE despendem
cerca de 1 bilhão de dólares por dia em subsídios agrícolas internos
77
, um aumento de 28%
desde 1997 (MALHORTA, 2004). Estima-se que da receita total da agricultura da União
Européia, 35% advém dos auxílios dados pelos governos; nos Estados Unidos este número
chega a 21% (De MOURA & FILGUEIRAS, 2003). Diante deste quadro, é compreensível
75
Defensores da utilização dos subsídios argumentam que a redução dos preços dos alimentos em escala
mundial é um dos benefícios desta prática.
76
Anualmente o mundo gasta entre US$ 14 e 21 bilhões equivalentes a 20-25% da receita global da pesca
para respaldar atividades pesqueiras ineficientes. Estes subsídios estimulam a pesca em demasia e submetem
algumas espécies ao risco de extinção (MALHORTA, 2004).
77
Estima-se que ¾ dos subsídios da OCDE esteja concentrado em frutas e vegetais, incluindo o arroz
(BRUINSMA, 2003).
58
Classificação dos Subsídios na OMC
Na terminologia da OMC, os subsídios
domésticos para agricultura são classificados
em “caixas”. Subsídios da caixa-
verde o
aqueles que provocam apenas distorções
mínimas no comércio. Na caixa-
amarela estão
classificadas as medidas de maior gra
u de
distorção da produção e comercialização e,
portanto, podem ser objeto de redução
conforme decisão da OMC. Finalmente, a
caixa-
azul apresenta o conjunto de medidas de
pagamento direto que
permite auxílios, desde
que condicionados a um programa de limit
ação
de produção (PETERS & VANZETTI, 2004)
porque os Estados Unidos vêm propondo nos runs internacionais a eliminação de todos os
subsídios a exportação em um prazo de 5 anos, enquanto que a União Européia sugere que
haja uma modesta redução de 45% neste período (PETERS & VANZETTI, 2004).
No caso do dumping, as exportações de baixo preço resultam da superprodução,
mesmo que essa produção não se tenha beneficiado de apoio à exportação. Alguns
economistas afirmam que esse fenômeno é benéfico por se constituir em um subsídio aos
consumidores dos países em desenvolvimento. Defensores dos subsídios argumentam ainda
que, caso sejam utilizados com objetivos e tempos determinados, os subsídios podem
promover a modernização de setores econômicos tecnologicamente atrasados, tornando-os
competitivos e autônomos para se manterem no mercado, ou ainda, para garantir a inserção ou
evitar a exclusão de segmentos produtivos da economia de mercado, como no caso da
produção de subsistência. Entretanto, o dumping pode ter sérias conseqüências de longo prazo
para a produção agrícola e na subsistência dos produtores pobres, que compõem uma parcela
significativa da população dos países em desenvolvimento. Uma abordagem preferível e
sustentável, para assegurar o baixo preço dos alimentos para os consumidores, seria aquela na
qual os países em desenvolvimento, com apoio técnico e financeiro dos países
industrializados, invistam em pesquisa e desenvolvimento agrícolas significativos para a
produção de gêneros de primeira necessidade. Entretanto, o que se tem observado é uma
redução nos gastos com P&D na agricultura em muitos destes países, por força de pressões
orçamentárias e de programas de ajuste estrutural induzidos por determinação interna ou
externa (MALHORTA, 2004).
Nas teorias de vantagem
competitiva no comércio internacional,
os subsídios são tidos como uma política
equivocada e que pode gerar problemas
em longo prazo. Segundo Porter (1989),
a continuação dos subsídios cria uma
atitude de dependência, pois o apoio
acomoda as empresas desmotivando-as a
correr os riscos de investir em melhorias
e na inovação de seus produtos ou
processos. O mesmo autor considera que,
sob a perspectiva da melhora da posição
competitiva das indústrias, os subsídios
indiretos aplicados em áreas como
educação, universidades pesquisadoras e
na infra-estrutura, seriam mais adequados. Para o Banco Mundial, os ganhos com as reformas
liberalizantes das regras do comércio mundial em todas as áreas (agricultura, manufaturas e
serviços) chegariam a US$ 830 bilhões. Estimativas de Maskus et al (2000), indicam que uma
redução de 40% nas tarifas e subsídios à exportação de produtos agrícolas teria o potencial de
aumentar os rendimentos globais em torno de US$ 60 bilhões por ano. Já os cálculos
realizados por Peters & Vanzetti (2004), prevêem que a eliminação completa dos subsídios à
exportação geraria um ganho global da ordem de US$ 4,3 bilhões. Embora haja uma grande
variação nos valores estimados, em um ponto todos concordam: os maiores beneficiados
seriam os países do Grupo de Cairns e os produtores dos países em desenvolvimento de
expressiva pauta de exportação agrícola. Por outro lado, os consumidores em nível global
poderiam, eventualmente ser prejudicados com um potencial aumento dos preços,
principalmente daqueles produtos advindos de países de clima temperado
78
. Outra eventual
78
Na África-subsaariana os produtores ganhariam cerca de US$ 736 milhões, no entanto, as estimativas de
acréscimo de despesas para os consumidores chegam a US$ 804 milhões (ROBERTS, 2004).
59
conseqüência da redução de tarifas, seria a minimização das vantagens relativas que países
pobres possuem em função de acordos bilaterais preferenciais com países desenvolvidos,
havendo uma certa perda de diferenciação destes países frente aos demais (PETERS &
VANZETTI, 2004).
Alguns autores reconhecem que os subsídios podem ser admitidos quando utilizados
como instrumento para a elaboração de políticas nacionais; como pagamentos diretos ou
indiretos aos produtores que cumprirem as normas ambientais, ou no uso de seu poder de
compra para apoiar produtos que sejam benéficos ao meio ambiente. Mas de um modo geral,
de acordo com as palavras de Contini e Talamini (2005), “Esse subsídios constituem-se em
uma irracionalidade econômica, protegem a ineficiência produtiva, distribuem ineficazmente
a renda em favor dos grandes produtores e barram o
60
do risco irão sempre depender de opções políticas que avaliam os diferentes custos e
benefícios. OpçõeqOp724 0 Td[(u)- sc558(c)3.74(436(a)3.74(558(c)3.74(t58(c)3.74(s)-1.22997(e)62392(s)-1.2312)-0.293142)-0.295585(g)9.71061(n )-310.33(d)-0.295585(i)-2.16436t)-2.16192(i)-2.16436(c)3439(e)3.74(n)-0.295585(t)-2.16436(a)3.74()- ot o
61
3
BARREIRAS AO COMÉRCIO INTERNACIONAL
3.1
Evolução e Caracterização das Barreiras
Analisando o histórico das trocas comerciais entre as nações, pode-se afirmar que o
chamado “livre-comércio” nunca foi efetivamente implementado nem mesmo pelos seus
maiores defensores, sendo apontado apenas como mera especulação para fins acadêmicos.
Desde o século XVI, a Inglaterra, que se apresentava como potência hegemônica, adotava
medidas para desenvolver e proteger sua indústria de roupas de lã. O rigoroso regulamento
aduaneiro protecionista instituído durante o reinado de Luiz XIV, na F
62
complementam, durante as tentativas de regulamentar e ao mesmo tempo liberalizar ao
máximo o comércio e os investimentos.
Tabela 7. Tarifas Médias Sobre Produtos Manufaturados (1820-1950).
PAÍS/ANO 1820 1875 1913 1925 1931 1950
Alemanha
8-12 4-6 13 20 21 26
Dinamarca
25-35 15-20 14 10 n.d. 3
Espanha
R 15-20 41 41 63 n.d.
Estados Unidos
35-45 40-50 44 37 48 14
França
R 12-15 20 21 30 18
Inglaterra
45-55 0 0 5 n.d. 23
Itália
n.d. 8-10 18 22 46 25
Japão
R 5 30 n.d. n.d. n.d.
Rússia
R 15-20 84 R R R
Suécia
R 3-5 20 16 21 9
Fonte: JAKOBSEN, 2005, citando BAIROCH, 1993.
Observações: Os valores das duas primeiras colunas são médios e não extremos. No caso da Alemanha de 1820,
utilizaram-se dados referentes à Prússia. O “R” significa que a restrição tarifária era insignificante diante das
outras medidas restritivas já aplicadas às importações, como a imposição de quotas ou a proibição pura e simples
da importação de determinados produtos.
Em 1974, o governo norte-americano introduziu novas barreiras não-tarifárias em sua
legislação comercial, primeiramente a chamada Seção 201 e posteriormente a 301. A Seção
201 criou mecanismos que possibilitam ao governo dos EUA proteger determinados setores
produtivos nacionais para que recuperem a competitividade perdida no mercado interno. A
Seção 301 permite que qualquer empresa ou cidadão norte-americano apresente, mesmo que
sem provas, uma petição solicitando sanções comerciais contra países onde os governos
implementem práticas desleais de comércio. Na prática, a Seção 301 tem servido de poderoso
instrumento político para os Estados Unidos provocarem mudanças na política comercial de
outros países.
Durante a Rodada do Uruguai, para promover maior acesso aos mercados, definiu-se
um acordo que estabelecia que, no primeiro ano de implementação, todos os países, com
exceção dos menos desenvolvidos, deveriam conceder uma quota mínima de acesso
equivalente a 3% do respectivo volume consumido de cada produto agrícola verificado entre
1986 e 1988. Em 2001 esta quota deveria subir para 5%. Em relação aos subsídios à
exportação, acordou-se que, no mesmo período, os países desenvolvidos deveriam reduzir em
36% o valor das subvenções e em 21% a quantidade de produtos subsidiados. Os valores para
os países em desenvolvimento seriam de 24 e 14%, respectivamente, num prazo de 10 anos.
Para que se chegasse a estas propostas, elas foram vinculadas à implementação de uma
“Cláusula da Paz”, que estabelecia que durante um período de nove anos, ninguém faria uso
do sistema de controvérsias do GATT e da futura OMC para reclamar medidas
compensatórias por práticas desleais ou predatórias no comércio de produtos agrícolas. Desta
forma, em 1992 os Estados Unidos e a União Européia, chegaram a um acordo sobre o tema
serviços e um “pacote agrícola” que, em certa medida, legalizava os subsídios e impedia o uso
de medidas compensatórias (JAKOBSEN, 2005).
Os países em desenvolvimento aceitaram mudanças em suas legislações por conta das
medidas de investimento relacionadas ao comércio (TRIMs) e aos direitos de propriedade
intelectual (TRIPs); e uma onda de liberalização de suas economias em tais volume e
velocidade inéditos, em troca da promessa de um benefício que se iniciaria depois de dez
anos, e de um acordo sobre agricultura que deixou a maioria dos aspectos substantivos para
serem negociados posteriormente. A adequação das legislações nacionais debilitou ainda mais
63
os instrumentos de manejo econômico voltados ao desenvolvimento nacional e, o pior, sem
receber contrapartida. No caso dos países latino-americanos em geral, o acordo implicou em
uma redução de 25% na média tarifária e, no Brasil esta média reduziu de 55% em 1988 para
cerca de 13% em 1996. Essas negociações coincidiram com a implementação do Consenso de
Washington, que introduziu uma liberalização maior que a prevista pelos acordos no GATT e,
combinada com a valorização cambial artificial, gerou conseqüências devastadoras para as
balanças comerciais dos países que as adotaram. O Brasil, por exemplo, passou a conviver
com um déficit comercial crônico entre 1995 e 2002, período em que sua participação no
comércio mundial caiu de 1,4% para 0,9% (JAKOBSEN, 2005).
Uma observação importante é a de que muitos países apresentam duas “tabelas” de
tarifas. Uma praticada nas negociações comerciais reais do dia-a-dia e a outra declarada a
OMC, eventualmente mais elevada. Quando é estabelecido um acordo envolvendo fórmulas
com o objetivo de corte de tarifas, este se sobre os índices declarados à OMC; ou seja,
muita vezes, na prática, a redução de tarifas no âmbito da OMC significa uma alteração
mínima, ou até mesmo redução alguma, nas tarifas efetivamente praticadas por alguns países
(PETERS & VANZETTI, 2004).
Quadro 3. Comércio de bens por regiões e países (%).
EXPORTAÇÕES IMPORTAÇÃO País ou região
1985 1995 Variação 1985 1995 Variação
Tríade
60,5 65,5 8,3 64,1 65,5 2,2
Europa Ocidental
40,1 44,8 11,7 39,9 43,5 10,6
Ásia
20,8 26,6 27,9 18,8 25,5 35,6
Estados Unidos
11,3 11,6 2,7 17,7 15,3 (13,6)
Japão
9,1 9,1 0,0 6,5 6,7 3,1
América Latina
5,6 4,6 (17,9) 4,2 4,9 16,7
Brasil
1,3 1,0 (23,1) 0,7 1,1 57,0
Fonte: Jakobsen, 2005.
Embora os dados acima não representem exclusivamente uma conseqüência das
negociações expostas, os números podem fornecer uma idéia bastante razoável do que ocorreu
durante este período em que tais acordos vigoraram. As exportações latino-americanas
reduziram-se em 18%, suas importações cresceram quase 17%, e esta região passou a
conviver com um déficit na balança comercial. No caso específico do Brasil, os números são
ainda mais expressivos e chegou ao seu pior patamar em 1998, quando as exportações
equivaliam apenas a 6,5% do PIB (JAKOBSEN, 2005). Analistas neoliberais, entretanto,
podem argumentar que a situação das regiões estudadas poderia estar ainda pior caso as
negociações não tivessem obtido tanto sucesso na queda significativa das tarifas médias do
comércio. De Negri e Freitas (2004), a partir de pesquisa realizada com empresas brasileiras,
estimaram que a eliminação completa de todas as barreiras tarifárias e de tarifas específicas
para a Europa e Estados Unidos geraria um aumento de exportações de US$ 1,4 bilhões.
Mais recentemente, por ocasião da crise asiática de 1997, em plena década neoliberal,
os governos tomaram mais medidas na direção da proteção do que medidas liberalizantes. As
medidas aplicadas foram as usuais: elevação de tarifas, desvalorização monetária, interrupção
das negociações de novos acordos comerciais e imposição de quarentenas nos investimentos
em alguns países. A instituição de barreiras técnicas tem ocorrido com maior intensidade e
velocidade nos países industrializados, obrigando os países em desenvolvimento exportadores
a se adaptarem, às vezes, em uma velocidade superior às suas capacidades. A aplicação dessas
barreiras se pela resultante das forças aplicadas por três grandes grupos de agentes: os
políticos, as empresas e os consumidores.
64
Os políticos, em busca da manutenção ou conquista de cargos, precisam de apor(O)1.5297.896 -13.8295585(q)-0.294985(t)-2.164985(( )-60.1832u)-2.164985(-0.2956056295585(s)-1.d)-2.16558(í)-2.16558(t)ipop.1879(d)-0.295585(o)-014.163244(p)-0-0.295585(ep)-10.385(.i)-2.1683244(p)-0-0.295585(o1879(d)-0.295585(o.3.74(m)7.5459614.1632N)-8.43271244(p)-0-0.295-60.182(d)]TJ244(p)-0.2914.16290-0.295-60.e95585(t)-2.16436(e182(d)]TJ2rd)-2.16558(í)-2.16558(t)-0.295585(r)2.814.16290e95585(-2.1r703244-6.2659)-1.231276244(p)-0-0.295585(e 74( )-6895-8(c)3.74(182(d)]TJ244(p)-0m2.14659)a4(p)-0-0.295-60.2.814.16290i)-2.16436(s)-1.2312(t)-44(p)-0.2914.16290j82(d)]TJ2)-1.2312(t)--2.1r7032-1.2312(,)1879(d)-0.295585(e)3.14.162900.295585(s)e95585(-2.(d)]TJ244(p)-0v182(m)-2.45995(a)3t)-2.16436(e182(d)]TJ244(p)-0-0.295-60.)3.15.163p t82(d)]TJ2m2.146832(O)1.526895-8(-13.8)3.74(p)-2.164985(032(o)-0.-2.15262.475 0 T229585(ud)-2.164985(44(p)-0-0.295585(eq)-0.295585(u)-0.295585(-0.295585(o3.74(o)-0.20.295580290-0.293)i)-2.156120 T229585(u44-6.2659)f)-2.1561295585(s)-1.22997(,á4-6.2659)312(a)3.74(m)-)-1.62.475 0 T30mtudtppríte182(d)]TJ244(p)-0isrp c62.475 istpd
65
A principal razão para a existência de regras de origem nas áreas de livre comércio é a
preocupação com o desvio de comércio. Em uma área de livre comércio cada país mantém
sua tarifa externa particular, assim como sua política comercial em relação a parceiros
comerciais não pertencentes ao acordo. Como a política comercial e as tarifas variam em
relação a terceiros países, sempre o incentivo de exportar uma mercadoria ao país com o
regime de importação mais liberal. Nesse caso, os importadores/produtores promovem
transformações nimas e reexportam as mercadorias para os países com tarifas mais
elevadas, o que equivale a operação de triangulação de mercadorias. A título de ilustração,
pode-se imaginar o caso de um país X que deseja exportar suas mercadorias a um
determinado país Y ou a um mercado comum, utilizando-se de tarifas mais baixas do que
aquelas que lhes são normalmente oferecidas (por não pertencer a um regime preferencial,
não pertencer a OMC ou por não se sujeitar a determinadas medidas, como quotas). Este país
X poderia simplesmente exportar suas mercadorias para um terceiro país Z que goze dos
benefícios demandados, onde os produtos passariam por um processo de “nacionalização
85
para então serem exportados novamente, agora com todas as vantagens, para o país Y. Esse
procedimento é chamado de “triangulação de mercadorias” e foi utilizado, por exemplo, pela
Nova Zelândia para inserção de leite em pó para o Brasil via Uruguai em meados dos anos 90.
A relevância da determinação da origem das mercadorias foi considerada na Rodada
Uruguai e resultou no Acordo sobre Regras de Origem, que foi inserido no Anexo I do
Acordo da OMC. Segundo a Organização Mundial de Aduanas, o país a ser identificado como
o país de origem de uma determinada mercadoria deve ser aquele em que a mercadoria em
questão tenha sido produzida em sua totalidade ou, se mais de um país estiver envolvidos na
produção, o país onde ocorreu a última transformação substancial. Entretanto, esse acordo
compreende apenas as regras de origem não preferenciais relativas ao comércio de
mercadorias (OLIVEIRA, 2005).
De certa forma, os Acordos que prevêem vantagens baseadas em regras de origem,
incentivam os países potencialmente beneficiários a utilizarem matérias-primas locais e a
diversificarem e desenvolverem diferentes processos produtivos em seus territórios. O Brasil,
por possuir grandes reservas de matérias-primas e um parque industrial diversificado é um
exemplo de país que estaria apto a cumprir com certa facilidade as exigências preconizadas
nos acordos de regras de origem. A exigência de transformações substanciais no produto
funciona como um incentivo a investimentos, acompanhados de melhorias no know-how
técnico e nas habilidades de trabalho dos países alvo dos benefícios, cuja origem se deseja
para a mercadoria. Por outro lado, esse movimento é contrário à teoria das vantagens
comparativas já que a diversificação é incentivada mesmo que não signifique maior eficiência
naquele(s) processo(s) produtivo(s) (OLIVEIRA, 2005).
As Barreiras Não-Tarifárias
Atualmente, pode-se afirmar que alguns temas das relações de comércio internacional
transcendem do patamar diplomático para o técnico e científico. Este é o caso quando se
tratam das questões sanitárias, técnicas e ambientais e de seus efeitos sobre o comércio
internacional, tanto em termos econômicos, como pela forma como afetam o estabelecimento
de políticas (MIRANDA et al, 2003). Nos últimos anos ocorreu um aumento considerável no
número de normas e regulamentos técnicos e sanitários, que são apontados como barreiras
não-tarifárias ao comércio. Estas normas influenciam a estrutura de produção e
humana, animal e vegetal. As ações do Movimento Slow Food, de valorização de alimentos típicos e/ou
autóctones de territórios, com forte ligação sócio-ambiental e cultural, também são exemplos relevantes.
85
Essa nacionalização do produto é um tema controverso e pode variar de uma simples troca de embalagem a
procedimentos mais complexos que resultam em transformações mais profundas que agreguem maior valor ao
produto.
66
comercialização e demandam maior compatibilidade entre produtos e sistemas de produção.
Um estudo da Conferência das Nações Unidas para o Comércio e Desenvolvimento
(CNUCED), realizado em 1985, identificou que um consenso no âmbito da política
comercial mundial de que as barreiras não-tarifárias (BNT) ao comércio internacional haviam
se tornado mais importantes do que as tarifárias (OLIVEIRA, 2005). Pesquisas indicam que o
uso das medidas técnicas variou de 31,9% em 1994 para 58,5% em 2004
86
. Enquanto isso, no
mesmo período, o uso das demais classes de medidas foi reduzido de 44,7 para 15,2%
(UNCTAD, 2005). Segundo Almeida (2005), três fatores vêm contribuindo para este aumento
das barreiras não-tarifárias: a diminuição da incidência de outros obstáculos ao comércio
como resultado dos Acordos da Rodada do Uruguai, a fragilidade competitiva de alguns
países e a crescente interdependência dos mercados.
As barreiras não-tarifárias estão intimamente relacionadas com a questão da
competitividade, sobretudo por restringir e alterar, de modo artificial, o equilíbrio (ou
desequilíbrio) do processo de competição entre as empresas situadas em países distintos. Por
outro lado, os ajustes em áreas como padrões de produtos, controles ambientais e restrições à
entrada, são estímulos à inovações que resultam em vantagens competitivas e eventuais
mudanças no ranking das empresas. Isto é possível porque os líderes de indústrias existentes
projetaram suas atividades para certas normas e pode ser-lhes impossível acompanhar uma
modificação nesse regime (PORTER, 1989). Ou seja, muitos regulamentos sanitários e
fitossanitários para a exportação de produtos agrícolas não constituem barreiras comerciais
per se, mas descortinam deficiências tecnológicas e científicas, falta de expertos nesta área e a
incompatibilidade das exigências do Acordo MSF com os métodos de produção nacional de
cada país. Diante desse quadro, a análise do real interesse motivador da criação ou alteração
de uma MSF passa a ser um dos maiores desafios dos governos e das organizações
internacionais (ALMEIDA, 2005).
Entre 1995 e 2002 o Comitê que trata de assuntos relacionados ao Acordo MSF na
OMC recebeu 241 reclamações. De uma forma geral, é de se esperar que tanto os países
industrializados quanto aqueles em desenvolvimento tenham uma baixa tolerância ao tratarem
de potenciais riscos de sanidades vegetal ou animal, tanto para fornecedores externos quanto
para seus produtores domésticos. Entretanto, vários registros de casos em que países
restringiram importações de produtos alegando que o país de origem apresentava doenças
muitas vezes endêmicas em seu próprio território
87
; ou de países que aplicam medidas
distintas para diferentes países com o mesmo problema
88
. ainda registros de casos
inusitados em que as exigências para produtores internos são mais gidas do que aquelas aos
produtos importados
89
(JAFFEE & HANDSON, 2004). No caso do Brasil, enquanto que os
produtos para o consumo interno seguem precários controles sanitários, alguns produtos para
os mercado externo seguem os regulamentos rigorosos das instituições dos países
importadores (LUCCHESE, 2003).
86
O incremento do volume de produtos manufaturados submetidos a controles não-tarifários era de 1% em 1974
e passou para cerca de 20% em 1985 (LUCCHESE, 2003).
87
Os EUA, exigem que os produtos de frangos importados apresentem ausência de Salmonella, enquanto que
este patógeno encontra-se amplamente disseminado em sua cadeia produtiva doméstica.
88
A Austrália impede a importação de molhos para saladas das Filipinas alegando que estes apresentam ácido
benzóico em sua composição, apesar de permitir a entrada de produtos similares originados da Nova Zelândia
contendo o mesmo aditivo.
89
Embora não exista exigências oficiais para o teste de aflatoxinas em cereais ou castanhas que entram nos
EUA, o teste realizado pela iniciativa privada é comum entre os produtores domésticos, inclusive com a
aplicação de freqüentes descontos nos preços. Da mesma forma, os sistemas de monitoração dos resíduos de
pesticida atuam de forma muito mais intensa e sistemática sobre os produtores internos dos EUA e da
Comunidade Européia, do que nos produtos que chegam a estes mercados (JAFFEE & HANDSON, 2004).
67
O Acordo MSF estabelece que a margem de risco tolerada para a entrada de um
produto em seu território deve se basear no nível de proteção que o Membro considere
“adequado” (art. 5.4, 5.5 e 5.6), o que depende de um julgamento de valores de cada
sociedade, e não necessariamente de um julgamento científico. Ou seja, nos países
desenvolvidos, os quais possuem uma sociedade mais exigente e grupos de classe melhor
organizados, existe uma maior probabilidade de pressão social para que o governo considere
“adequado” um nível de proteção mais rígido que aqueles observados em países em
desenvolvimento e pouco desenvolvidos. Esse vel de proteção mais rígido que o necessário,
pode ser considerado apropriado seja em decorrência de um infundado temor de inocuidade
dos alimentos, seja para inibir a concorrência externa (ALMEIDA, 2005).
Conceitos e classificações relacionados às barreiras não-tarifárias
Inicialmente, é necessário estabelecer conceitos de termos como regulamento técnico,
norma técnica e padrão, diferenciando-os de forma clara. O regulamento técnico é um
documento aprovado por órgãos governamentais onde são estabelecidos as características de
um produto ou dos processos e métodos de produção a eles relacionados, com inclusão das
disposições administrativas aplicáveis e cuja observância é obrigatória. Também pode incluir
prescrições em matéria de terminologia, símbolos, embalagem, marcação ou etiquetagem
aplicáveis a um produto, processo ou método de produção, ou tratar exclusivamente delas
(BRASIL, 2004; OLIVEIRA, 2005). a norma técnica é um documento aprovado por uma
instituição reconhecida, que prevê, para um uso comum e repetitivo, regras, diretrizes ou
características para os produtos ou processos e métodos de produção conexos, e cuja
observância não é obrigatória. Também pode incluir prescrições em matéria de terminologia,
símbolos, embalagem, marcação ou etiquetagem aplicáveis a um produto, processo ou método
de produção, ou tratar exclusivamente delas (BRASIL, 2004; OLIVEIRA, 2005). De acordo
com a ISO (International Organization for Standardization), um padrão é um documento
aprovado por um organismo reconhecido que provê, pelo uso comum e repetitivo, regras,
diretrizes ou características de produtos, processos ou serviços cuja obediência não é
obrigatória.
As normas, regulamentos técnicos e padrões, podem se referir aos processos
produtivos, aos produtos, ou ainda à gestão dos processos produtivo. A grande diferença entre
eles reside na obrigatoriedade de sua aplicação. Ou seja, embora a não adequação a uma
norma, não inviabilize a venda em tese, esta decisão poderá diminuir sua participação no
mercado. Em muitos casos, o valor social de uma norma é até maior do que seu valor privado
(MASKUS et al, 2000). Com o objetivo de preservar direitos ou satisfazer as ansiedades da
sociedade, o poder público pode intervir na elaboração das normas, tornando-as regulamentos
técnicos de caráter mandatório. Essas são chamadas então de normas híbridas, e esse
fenômeno ocorre com freqüência principalmente entre os países em desenvolvimento.
Enquanto em determinadas áreas, como segurança alimentar e saúde, os regulamentos
predominem devido a maior intervenção estatal sobre elas; em outras, as normas originadas
das próprias empresas ou de suas associações são tidas como mais relevantes (HENSON,
2004). As normas privadas, normalmente são desenvolvidas pelos diversos integrantes de
uma determinada cadeia produtiva em função de suas necessidades e facilitam a coordenação
entre os agentes. À medida em que o número de empresas adotando determinada norma
aumenta, ela acaba se transformando, na prática, em um padrão mandatório.
As normas são categorizadas segundo a sua função, em: i) normas de produtos:
refere-
se a características que as mercadorias devem possuir, tais como conteúdo nutricional
mínimo, toxicidade e emissão de poluentes máxima, requerimentos de performance e inter-
operacionalidade com sistemas de componentes ou redes; ii) normas de processo ou método
de produção (diretos): referem-se às condições em que os produtos são feitos e devem ser
68
diretamente relacionadas ao produto, tais como uma formulação química ou regras de
produção para vinhos de determinada área geográfica; iii) normas de processo ou método de
produção (indiretos): são aqueles dirigidos às condições de produção não diretamente
relacionadas à mercadoria final, tais como condições de trabalho e ambientais; iv) normas de
rotulagem: englobam as características dos produtos e/ou condições de produção, permitem
aos consumidores ter informações sobre as características dos produtos ou suas condições de
produção (têm a capacidade de fazer com que as condições de produção indiretas sejam
perceptíveis) (OLIVEIRA, 2005).
As negociações internacionais do comércio concentram-se em ampliar o fluxo de
comércio por meio da eliminação dos obstáculos criados pelos países para se proteger. Estas
regras estabelecem diretrizes e mecanismos que coíbem proteções a mercados que não
estejam fundamentadas em justificativas aceitáveis, ou seja, que não tenham objetivos
legítimos (GARRIDO, 2004). Entretanto, os países em desenvolvimento vêm chamando
atenção para o fato de que conceitos chave como “objetivos legítimos” e “obstáculos
desnecessários ao comércio internacional” são muito vagos, permitindo a imposição de
barreiras e exigências não justificáveis técnica ou cientificamente, ou ainda que um
elevado grau de variação nos níveis de proteção exigidos por diferentes países (HOFFMANN
& ROTHERHAM, 2006). Estes países reivindicam um refinamento nas normas dos Acordos
TBT e AMSF de forma a torná-los mais precisos (UNCTAD, 2005).
É possível utilizar diferentes definições para delimitar as barreiras técnicas. Segundo a
OMC: Barreiras Técnicas às Exportações são barreiras comerciais derivadas da utilização
de normas ou regulamentos técnicos não transparentes ou que não se baseiam em normas
internacionalmente aceitas ou, ainda, decorrentes da adoção de procedimentos de avaliação
da conformidade não transparentes e/ou demasiadamente dispendiosos, bem como de
inspeções excessivamente rigorosas”.
Uma abordagem mais abrangente, adotada pelo Ministério de Desenvolvimento,
Indústria e Comércio Exterior (MDIC) e a Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB)
(Brasil, 2003) definem barreiras técnicas como sendo as exigências técnicas estabelecidas
para os produtos ou serviços nos mercados-alvo. Neste tipo de abordagem, está implícito que
as barreiras técnicas podem ser superadas e que nem sempre são ilegítimas.
Para fins desta tese, as barreiras não-tarifárias serão definidas de forma ampla, como
sendo medidas relacionadas a regulamentos técnicos, padrões e normas (sanitárias ou não) e
procedimentos para avaliação da conformidade, que podem vir a criar obstáculos ao
comércio. Portanto, não se considera como barreira não-tarifária apenas aquela decorrente da
intervenção direta do poder público do país importador. Resumidamente, pode-se estabelecer
que as barreiras não-tarifárias serão tratadas como barreiras cnicas, sanitárias ou
fitossanitárias e englobarão as exigências determinadas pelos compradores para os produtos
ou serviços, seja em relação às suas características intrínsecas, seja pela necessidade de
demonstrar o atendimento a esses requisitos. Dessa forma, é possível ampliar o conceito,
englobando também as exigências advindas da iniciativa privada, que vem ganhado cada vez
mais relevância no cenário internacional. Soma-se a esta justificativa, o fato de que, segundo
as entrevistas realizadas, via de regra, a caracterização de uma exigência como barreira não-
tarifária stricto sensu na área de comércio agropecuário não é tarefa simples em função do
volume de justificativas técnicas e científicas nas quais estas normalmente encontram-se
fundamentadas.
O conhecimento, tanto empírico quanto conceitual das barreiras é limitado ou
dificultado pela baixa padronização dos métodos e pelos dados inadequados e/ou
desatualizados. Atualmente, a base de dados mais abrangente disponível, apesar de suas
69
limitações, é o Sistema de Informação e Análise Comercial-TRAINS
90
da UNCTAD. Baseado
na classificação do sistema harmonizado (SH)
91
, o TRAINS engloba medidas tarifárias, para-
tarifárias e não tarifárias, assim como fluxos de importação por origem, e pode ser acessado
pela rede mundial de computadores. Neste banco de dados, as barreiras são classificadas de
acordo com o Sistema de Códigos de Medidas de Controle do Comércio (TCMCS), que
identifica mais de 100 diferentes tipos de barreiras não-tarifárias (OLIVEIRA, 2005). No
quadro 4 estão listadas as principais.
Conforme estabelecido pelos acordos comerciais firmados no GATT/OMC, as
exigências quanto às informações não devem ser mais rigorosas do que o necessário, e a
seleção de amostras e outros requisitos não devem criar inconveniências desnecessárias. Ou
seja, devem dar confiança suficiente ao membro importador de que os produtos estão em
conformidade com as normas ou regulamentos cnicos aplicáveis, levando-se em contas os
riscos que a não-conformidade criaria (OLIVEIRA, 2005).
No caso dos regulamentos, conforme definido no Acordo sobre Barreiras Técnicas da
OMC, seus objetivos são considerados legítimos quando se destinarem a assegurar que os
produtos ou serviços fornecidos atendam a requisitos de segurança de pessoas e bens, saúde,
segurança sanitária e fitossanitária, prevenção da concorrência desleal, proteção do meio
ambiente, segurança nacional, entre outros (GARRIDO, 2004).
Quadro 4. Algumas categorias de barreiras não-tarifárias presentes no comércio internacional.
Medidas Antidumping Medidas que são acionadas quando a constatação de que
uma mercadoria está sendo vendida no mercado importador a
preços reduzidos, decorrentes da prática de dumping. Essas
medidas são freqüentemente utilizadas de maneira abusiva.
Salvaguardas Medidas adotadas por um país, quando a importação de um
produto está causando, ou ameaçando causar prejuízo grave aos
produtores nacionais de produtos similares ou diretamente
competidores.
Direitos Compensatórios É uma taxa adicional ao imposto de importação que é cobrada
quando constatação de que o país exportador está
beneficiando a indústria exportadora do bem em questão
através da prática de subsídios.
Quotas de Importação Limitação quantitativa à entrada de um produto importado no
país.
Quotas Tarifárias Restrições de quantidade, através da imposição de tarifas mais
elevadas quando o limite é ultrapassado.
Regras de Origem Determinam em que medida um produto pode ser considerado
nacional e qual regime comercial deve ser aplicado a ele.
Podem ser utilizadas tanto como medida de proteção, quanto
como medida de facilitação de acesso a mercado.
Direitos Sazonais Direitos aplicados, segundo a época do ano, normalmente aos
produtos agrícolas.
Proibição total ou
temporária
Proibição de importação de um produto que seja permitido
comercializar no mercado interno do país que efetuou a
proibição.
Impostos e gravames
adicionais
Adicionais de tarifas portuárias ou de marinha mercante, taxa
de estatística, etc.
90
Tarde Analisys and Information System: TRAINS
91
O sistema harmonizado é uma nomenclatura internacional desenvolvida pela Organização Mundial de
Aduanas, estruturada em códigos de seis dígitos e que permite a todos os países participantes classificar as
mercadorias negociadas em bases comuns.
70
Preços mínimos de
importação/preços de
referência
Estabelecimento prévio de preços mínimos, como referência
para a cobrança das tarifas de importação, sem considerar a
valoração aduaneira do produto.
Medidas financeiras.
Licenças de importação
automáticas
Criação de sobretaxa para as importações.
Produtos sujeitos a licenciamento nas importações, apenas para
registro de estatísticas.
Licenças de importação
não- automáticas
Produtos sujeitos à autorização prévia de algum órgão no país
importador, não-automaticamente concedida.
Controles sanitários e
fitossanitários nas
importações
Normas sanitárias e fitossanitárias exigidas na importação de
produtos de origem animal e vegetal.
Restrições impostas a
determinadas empresas
Exigências específicas para importações de produtos de
determinadas empresas.
Organismo estatal
importador único
Produtos cuja importação é efetuada pelo Estado, em regime de
monopólio.
Serviços nacionais
obrigatórios
Direitos consulares
Requisitos relativos às
características dos produtos
Produtos sujeitos à avaliação de conformidade
Requisitos relativos à
embalagem
Exigências de materiais, tamanhos ou padrões de peso para
embalagens de produtos
Requisitos relativos a
informações sobre o
produto
Exigências especiais quanto ao tipo, tamanho de letras ou
tradução nos rótulos de produtos
Requisitos relativos à
inspeção, ensaios e
quarentena
Exigências de conteúdo alimentar ou protéico de produtos ou
de informações ao consumidor.
Outros requisitos técnicos Produtos sujeitos à inspeção física e análise nas alfândegas ou a
procedimentos de quarentena
Inspeção prévia à
importação
Exigências de certificados relativos à fabricação do produto
mediante processos não poluidores do meio ambiente
Procedimentos aduaneiros
especiais
Inspeção pré-embarque
Exigência de conteúdo
nacional/regional
Exigência de ingressos de importações para favorecer as que
tenham matéria-prima originária do país importador.
Exigência de intercâmbio
compensado
Condicionamento de importações à exportação casada de
determinados produtos
Exigências especiais para
compras governamentais
Tratamento favorecido aos produtos nacionais em
concorrências públicas.
Fonte: VIEGAS, 2003.
As barreiras técnicas ao comércio e às medidas sanitárias e fitossanitárias apresentam
um caráter inerentemente técnico, porém suas motivações relacionadas a questões como
segurança, meio ambiente, apresentam elementos objetivos e subjetivos. Essa característica
concede a esse assunto uma carga de complexidade e questionamentos consideravelmente
elevada. Na verdade elas são ainda mais amplas, que o termo é freqüentemente utilizado
para incluir também medidas que, a princípio, servem para estimular e não retardar o
comércio, tais como os subsídios à exportação (OLIVEIRA, 2005).
71
A evolução das barreiras não-tarifárias no comércio internacional
Marco institucional
A recessão iniciada nos anos 70 gerou desemprego estrutural e resultou em pressões
internas por políticas protecionistas nos países desenvolvidos, concomitantes à adoção de
estratégias de crescimento baseadas em políticas de exportações pelos países em
desenvolvimento na década de 80. A ameaça decorrente da boa performance de alguns países
em desenvolvimento em setores específicos pode ser apontada como uma das causas da
difusão do protecionismo nos países desenvolvidos. Além do aumento do fluxo do comércio,
a utilização das Barreiras Não-Tarifárias (BNTs) como instrumentos de política protecionistas
foi resultado da necessidade de se respeitar, proteger e promover interesses outros que aqueles
puramente econômicos, como, por exemplo, a segurança, a saúde humana, animal, vegetal e o
meio ambiente (OLIVEIRA, 2005).
Reconhecendo a importância das barreiras técnicas para o fluxo de comércio exterior,
foi redigido e assinado o Acordo sobre Barreiras Técnicas (TBT) durante a Rodada de Tóquio
(1973-1979). Um novo acordo, totalmente reformulado, foi incorporado pela Organização
Mundial do Comércio (OMC) quando esta iniciou seus trabalhos em 1995. O Artigo 2.4 do
Acordo TBT estabelece que quando for necessária, a implementação de regulamentos
técnicos e existirem normas internacionais pertinentes ou sua formulação definitiva for
iminente, os Membros deverão utilizar essas normas, ou seus elementos pertinentes, como
base para seus regulamentos técnicos, exceto quando as normas forem um meio inadequado
ou ineficaz para a realização dos objetivos legítimos perseguidos; por exemplo, devido a
fatores geográficos ou climáticos
92
ou problemas tecnológicos(UNCTAD, 2004). O TBT
também determina que, se solicitados, os membros forneçam assessoria e assistência técnicas
sobre as regulamentações, em termos mutuamente aceitáveis, aos países membros em
desenvolvimento.
Em relação às barreiras sanitárias, foi desenvolvido o Acordo sobre Medidas
Sanitárias e Fitossanitárias (AMSF), que visa impedir que as normas sanitárias e
fitossanitárias internas sejam usadas com fins protecionistas. O AMSF concentra-se na
proteção da vida humana, animal e vegetal e em resguardar o país importador dos riscos
decorrentes da entrada de pragas, toxinas, doenças e aditivos. O Acordo prevê o
reconhecimento de que diferentes métodos e medidas podem gerar resultados equivalentes e
também possui uma cláusula prevendo a prestação de assistência técnica aos membros em
desenvolvimento.
Com esses dois acordos (AMSF e TBT), os países são incentivados a adotar as normas
internacionais, embora lhes seja facultado o direito de aplicar regulamentos mais rígidos ou
mais brandos, desde que devidamente embasados em critérios científicos. Como qualquer
acordo que envolve um grupo tão heterogêneo de signatários, divergências quanto ao
entendimento de cláusulas e na capacidade de obtenção das vantagens dos direitos e
responsabilidades ali definidos.
Um ponto a destacar é a harmonização perseguida por meio da ação das instituições
científicas internacionais (ISO, Codex, OIE e IPPC) citadas anteriormente. Em tese, as
normas avalizadas por essas instituições garantem os níveis de segurança necessários, embora
muitos países venham adotando padrões diferentes (MIRANDA et al, 2003).
Os Acordos de Reconhecimento Mútuos relativos aos procedimentos de avaliação da
conformidade determinam que cada país se responsabilize pela manutenção de um centro de
informações para disseminação das notificações dos seus regulamentos e normas técnicas,
assim como de seus procedimentos de avaliação da conformidade. No Brasil, as entidades
92
A implementaçáo do Acordo TBT foi de especial importância para aqueles interessados em promover o
desenvolvimento sustentável e uma relação entre comércio e meio-ambiente (ROTHERHAM, 2003).
72
responsáveis são: a Associação Brasileira de Normas cnicas (ABNT), instituição privada
que representa no país, a International Organization for Standartization (ISO), e o Inmetro
93
,
órgão público responsável pela execução da política de metrologia, normalização e qualidade
industrial no Brasil (OLIVEIRA, 2005). O Inmetro é responsável pela acreditação dos
organismos de certificação credenciados que conduzem e concedem a certificação de produtos
nas áreas compulsórias e voluntárias, sempre baseada em normas nacionais - NBR, regionais -
MERCOSUL ou internacionais ISO, IEC, ITU, EUREPGAP - ou em regulamentos técnicos
emitidos pelo Inmetro (LAUDÍSIO, 2005).
Governos de países desenvolvidos, muitas vezes pressionados por organizações de
proteção ao consumidor, têm aumentado o número de normas que não são justificadas à luz
das evidências técnicas e científicas disponíveis. E para as quais os custos gerados não são
compatíveis com os benefícios ambientais, de segurança ou saúde objetivados. Geralmente,
essas normas são desenvolvidas sem nenhuma transparência e sem a participação de partes
interessadas, o que representa um descumprimento das determinações dos Acordos TBT e
AMSF (UNCTAD, 2005). Segundo informações obtidas junto aos entrevistados para essa
tese, acredita-se que os países irão se deparar cada vez mais com dificuldades para estabelecer
correlações entre suas exigências sócio-ambientais e restrições comerciais no âmbito da
OMC. Mas isso, no entanto, não impedirá que elas ocorram em conseqüência da difusão dos
padrões privados.
Basicamente, o assunto pode ser analisado sob dois enfoques principais: i) a utilização
das BNTs como instrumento de proteção do interesse público, por exemplo, a vida e a saúde
dos seres humanos, o meio ambiente e a segurança nacional; e ii) a dinâmica das BNTs na
esfera do comércio internacional, marcada pela desigualdade entre os atores estatais, pela
crescente normatização e pela tendência de manutenção do status quo por intermédio da
adoção de artimanhas protecionistas pelos países desenvolvidos.
A despeito da abordagem dada às normas cnicas e sanitárias até o momento, é
preciso observar que, uma análise histórica simples pode demonstrar que os países, na prática,
freqüentemente a utilizam para propósitos questionáveis. As normas podem ser utilizadas
para: i) discriminar os fornecedores estrangeiros, tanto durante sua elaboração quanto em sua
aplicação; ii) na geração de vantagens comerciais artificiais para as firmas domésticas em
detrimento dos competidores externos; iii) forçar as firmas a duplicarem os custos de
certificação, no caso de serem pouco transparentes ou desnecessárias; iv) excluir tanto
empresas nacionais quanto estrangeiras de mercados específicos, fortalecendo eventuais
monopólios; e v) impor custos excessivos aos consumidores e produtores, no caso de serem
mais rígidas do que o necessário para alcançar determinado nível de proteção social
(MASKUS et al, 2000). Entretanto, conforme exposto, não é do escopo desse trabalho
explorar a origem ou a legitimidade das normas ou regulamentos considerados como barreiras
não-tarifárias.
Assim como as barreiras não-tarifárias não afetam de forma homogênea todos os
países exportadores de um determinado produto, os segmentos e mesmo as empresas da
cadeia em questão também não o são. As barreiras não-tarifárias, muitas vezes, acabam por
ressaltar as disparidades que eventualmente existem, seja entre os países ou entre as empresas.
É preciso destacar que, na prática, cada vez mais, os requisitos ambientais e de saúde nos
mercados internacionais são determinados pela cadeia de abastecimento e por grandes
empresas dos países desenvolvidos, sendo estas normas geralmente mais dinâmicas, rigorosas
e complexas do que as obrigatórias (UNCTAD, 2004).
93
O Inmetro iniciou suas atividades relacionadas às barreiras técnicas ao comércio nacada de 70, exercendo o
papel de Ponto Focal de Barreiras Técnicas às Exportações, e se tornando uma fonte imprescindível de
informações para os empresários que desejam obter conhecimentos sobre os requisitos técnicos para a
exportação (TANNO & FERRACIOLI, 2004).
73
Dificuldades de Mensuração
Ao contrário das tarifas e quotas, as normas não geram, de forma direta e linear,
alterações nos preços das mercadorias. Entretanto, suas conseqüências estão inseridas nos
preços dos produtos que dependem do poder criador (e destruidor) de padrões pelo mercado.
Entretanto, isolar esses efeitos das demais influências que agem sobre os mercados é uma
tarefa bastante complexa. Quando uma BNT é introduzida em um mercado, não é possível
saber seu efeito exato sobre esse mercado antes de se ter conhecimento da sua forma
específica. Em geral, os estudos conseguem identificar a incidência de tais medidas, mas não
conseguem medir o grau de restrição ao comércio das mesmas (OLIVEIRA, 2005).
Para conseguir mensurar o efeito de uma barreira técnica com maior acuidade, seria
preciso conhecer o preço da mercadoria com e sem a presença da mesma, entretanto, na
prática a obtenção dessa informação é literalmente impossível. Até mesmo porque, quando se
trata da pauta de exportação de um país as variáveis envolvidas são inúmeras, tornando
temerosa qualquer conclusão a respeito do efeito apenas da existência ou não de barreiras não
tarifárias sobre a mesma. Desta forma, embora haja tentativas louváveis e tecnicamente bem
fundamentadas de se obter os dados apropriados para mensurar com exatidão os efeitos das
barreiras não tarifárias, trata-se de uma tarefa complexa. Entretanto, é factível construir
estimativas dos custos advindos de práticas discriminatórias como: a aplicação de padrões
mais elevados, fiscalização mais intensa ou custosos processos de certificação para as
mercadorias importadas enquanto que as nacionais permanecem isentas a estes procedimentos
(UNCTAD, 2005).
Entrevistas estruturadas com empresários do setor atingido, integram um dos métodos
para se obter informações a respeito do impacto das BNTs. As entrevistas têm a vantagem de
possibilitar a coleta de dados por meio de questionários individualizados com propósitos
analíticos específicos. Dessa forma, além de obter apenas a informação relativa à freqüência
das BNTs, pode-se analisar a sua relevância relativa e sua real capacidade restritiva ou
impacto no comércio. (UNCTAD, 2005).
A grande quantidade de variáveis envolvidas e todas as demais dificuldades de
mensuração levaram os pesquisadores a optar por estudos em níveis microeconômicos em
cadeias específicas de determinados países. Um estudo realizado pelo Departamento de
Agricultura Americano em 1996, concluiu que barreiras cnicas “questionáveis” inibiam as
exportações de produtos americanos em 62 países, identificando cerca de 260 medidas que
restringiam ou impediam exportações da ordem de US$ 4,5 bilhões, equivalendo a 7% do
total do comércio agrícola, de alimentos e de produtos florestais dos EUA no período. Dois
terços das medidas identificadas, que incluíam restrições totais ou parciais à exportação,
estavam relacionadas a riscos de sanidade animal e vegetal (JAFFEE & HENSON, 2004).
Necessidade e Problemas Comerciais das Normas e Regulamentos Técnicos e Sanitários
A expansão do comércio global de produtos agrícolas perecíveis e de alimentos de alto
valor agregado tem ressaltado as divergências das normas e regulamentos de cada país no que
diz respeito à segurança dos alimentos e à sanidade animal e vegetal. Ressalta ainda as
distintas capacidades das autoridades públicas e dos integrantes das cadeias produtivas de
gerenciar os riscos potencias associados com a comercialização de produtos perecíveis.
Algumas das divergências entre as normas dos países são justificadas por razões
técnicas como: diferenças significantes de dietas e a percepção e informação, que influenciam
a tolerância das populações em torno desses riscos; além de diferenças climáticas e na
tecnologia disponível que afetam a incidência de diferentes perigos de contaminação ou de
74
sanidade vegetal
94
. Alguns riscos de contaminação alimentar, por exemplo, tendem a ser
maiores em países em desenvolvimento devido a problemas de infra-estrutura física (como
por exemplo, baixa disponibilidade de água potável) e da alta incidência de doenças
infecciosas
95
. (JAFFEE & HENSON, 2004). Essas características particulares de cada país
tornam a construção de um sistema harmonizado de normas internacionais uma tarefa
virtualmente impossível. Entretanto, algumas formas de coordenação podem ser bastante
eficientes na expansão do acesso aos mercados.
As normas e regulamentos técnicos e sanitários podem ser necessários por inúmeras
razões. A princípio são elaborados com o objetivo de facilitar a produção e as trocas de
mercadorias, reduzindo os custos de transação, garantindo a qualidade dos produtos e
expandindo o comércio internacional
96
. A padronização e a classificação poupam tempo na
descrição dos produtos, permitem o pagamento de prêmios ou descontos decorrentes de
divergência em relação ao padrão, e permitem o comércio à longa distância sem inspeção
física da mercadoria. (FARINA, 1999). Eles ainda podem ser ferramentas úteis na proteção do
interesse público ao envolver meio ambiente, saúde e vida humana, animal ou vegetal, e
podem ser essenciais para o desenvolvimento de setores específicos, como os de
telecomunicações
97
e informática, em função de sua contribuição no campo da
compatibilidade de sistemas.
Sob a ótica da economia dos contratos, pode-se dizer que a adoção de padrões de
referência no mercado final facilita a coordenação entre consumidor e ofertante, porque reduz
os custos de aquisição da informação sobre os produtos e limita situações sujeitas ao chamado
risco moral (moral hazard)
98
, criadas pela falta de informação dos compradores e pela
possibilidade de que os vendedores dissimulem problemas de qualidade. Ao reduzir as
diferenças entre os produtos, a padronização melhora as informações sobre a formação de
preços, amplia a transparência das transações de mercado, reduz barreiras à entrada de novas
empresas e, conseqüentemente, intensifica a concorrência (RAMOS, 2006).
As normas e regulamentos estão ainda intimamente relacionados com a satisfação de
preferências do mercado consumidor, portanto, não permanecem constantes ao longo do
tempo, nem são idênticos entre países. Entretanto, a assimetria de informações dificulta a
determinação de quando o não cumprimento de uma exigência do importador é reflexo de
uma deficiência ao nível da firma, ou quando se está diante da utilização das normas e
padrões com fins protecionistas (HOFFMANN & ROTHERHAM, 2006). Assim sendo,
movimentos em prol do reconhecimento de equivalência podem contribuir no fluxo de
informações entre fornecedores e consumidores acerca das características e da qualidade dos
produtos, facilitar transações comerciais e trazer benefícios aos consumidores, como, por
exemplo, por meio de uma oferta mais diversificada de produtos de qualidade. Além disso,
podem aumentar a demanda por mercadorias complementares e a elasticidade de substituições
na demanda entre versões substitutivas de produtos similares, uma vez que características
94
Segundo pesquisa realizada pela Funcex, citada por Tigre (2002), no setor de alimentos e bebidas, 75% das
empresas exportadoras declararam que necessitaram adotar normas de qualidade específicas para a exportação e
91,7% realizaram adaptações de produtos para atender padrões de qualidade dos países ou regiões visados.
95
Em 2002, 40% das exportações dos países de menor desenvolvimento relativo eram objeto de BNTs.
Enquanto que para os demais países em desenvolvimento, economias em transição e os desenvolvidos, esse
número caía para 15%.
96
Um exemplo citado por Rotherham (2003) é a padronização das dimensões da folha de papel A4, que viabiliza
o comércio global de impressoras, fotocopiadoras e máquinas de fax.
97
As recentes disputas relativas à escolha do padrão de TV digital a ser implementada no Brasil, é um bom
exemplo dos reflexos econômicos da padronização.
98
Denomina-se risco moral ou moral hazard a possibilidade de ação oportunista de uma das partes da transação
que detém informação privilegiada sobre o bem ou serviço transacionado, e tira proveito em detrimento de sua
contra parte.
75
essenciais se tornam comuns e a qualidade e performance comparáveis. As normas
internacionais, pelo seu potencial de harmonização e a equivalência, permitem aos produtores
a adoção de economia de escala na produção, pois tornam desnecessárias etapas ou
características específicas no acesso a determinado país e contribuem para a difusão do
conhecimento técnico embutido nas mesmas. (JAFFEE & HENSON, 2004; MASKUS et al,
2000). Já em alguns casos, como os relacionados aos níveis mais elevados de proteção
ambiental, a harmonização é difícil de ser alcançada por conta das diferenças de condições,
prioridades e níveis de desenvolvimento econômico de cada país.
A harmonização das normas, portanto, deve respeitar as características culturais de
cada país, que precisam ser levadas em conta na análise dos custos e na introdução de
harmonização em um dado setor; e não devem se desviar de seus objetivos regulatórios
legítimos, nem paralisar inovações a ponto de desencorajar investimentos em novos e mais
eficientes produtos (OLIVEIRA, 2005). Como as diferenças nacionais, no que diz respeito às
normas de proteção ambiental e nos custos envolvidos na proteção social, têm um impacto
evidente sobre a competitividade, existe um movimento crescente em direção à tentativa de
harmonização de tais critérios (MELLO, 1999). Os fatores sociais citados são impregnados de
fatores subjetivos, portanto, a necessidade das normas técnicas e da metrologia, a fim de
eliminar a subjetividade da avaliação humana sobre o valor das coisas (FIGUEIREDO, 2001).
Por exemplo, as regras comerciais não devem forçar os estadunidenses a comer camarões
pescados de formas julgadas inaceitáveis pela maioria deles – mas também não devem
permitir que os Estados Unidos lancem mão de sanções comerciais para mudar a maneira
como outros países praticam a pesca.
Os Acordos de Reconhecimento Mútuo (MRAs), referentes à avaliação de
conformidade, melhoram o acesso a mercados, uma vez que evitam a duplicidade de testes e
reduzem os custos relativos. Também diminuem a possibilidade de discriminações contra
produtos estrangeiros e atrasos decorrentes de questões burocráticas
99
. Entretanto, enquanto
entre os países desenvolvidos essa prática é comum
100
, observa-se um pequeno número de
acordos de reconhecimento mútuo envolvendo países em desenvolvimento. Trata-se de um
reflexo da pouca confiança entre os países nesta área, em função da capacidade limitada em
relação às atividades de certificação e homologação de testes laboratoriais (OLIVEIRA,
2005).
Em face das mudanças que vêm ocorrendo com grande velocidade no perfil de
consumo e nas exigências dos principais mercados de alimentos, os países em
desenvolvimento, que são os maiores fornecedores, precisam se adaptar às novas normas e
padrões para que consigam conquistar novos mercados, ou ao menos se manterem nos atuais.
Entre as novas capacidades que precisam ser desenvolvidas por esses países pode-se citar: i)
capacidade para “traduzir” as várias informações a respeito das exigências, muitas vezes
específicas, para colocação de seus produtos em diferentes mercados; ii) capacidade para
participar das discussões técnicas envolvendo elaboração dos padrões nos fóruns específicos
(Codex, ISO, OIE, IPPC); iii) capacidade de monitoramento que possa garantir a segurança e
a qualidade de seus produtos; iv) opção pelos setores estratégicos e mercados de destino
prioritários de forma a maximizar seus investimentos; v) trabalhar politicamente para a
obtenção do status de fornecedor preferencial dos mercados considerados chave, minimizando
99
Durante a segunda metade dos anos 90, a grande maioria das medidas de proteção vegetal e de segurança
alimentar notificadas à OMC ocorriam em função da não existência de uma norma internacional. Ao passo que
apenas 20% em média das notificações envolviam questões relacionadas a padrões internacionais (JAFFEE &
HENSON, 2004).
100
No final da década de 90, o valor dos produtos que integram a cobertura dos MRAs nos acordos bilaterais
entre os Estados Unidos e a União Européia, já era de cerca de US$ 41 bilhões (MASKUS et al, 2000).
76
a volatilidade; vi) capacidade para avaliar de forma eficiente as opções de se cumprir
determinadas exigências ou de partir em busca de outros mercados.
Em alguns casos, o problema principal não está relacionado à empresa não querer ou
não estar capacitada para cumprir com uma determinada exigência, mas sim ao fato de que a
empresa não têm consciência da exigência ou não é capaz de demonstrar ao comprador que
ela a cumpre. Esse quadro pode ocorrer em função de deficiências no sistema interno de
divulgação das informações, ou ainda a dificuldades de acesso aos equipamentos necessários
para monitorar e demonstrar o cumprimento das exigências (HOFFMANN &
ROTHERHAM, 2006). Portanto, a modernização do sistema de padronização, que inclui
instituições e infra-estrutura voltadas para a certificação e avaliação da conformidade, é
essencial para operar no atual ambiente de comércio internacional (UNCTAD. 2005). Em
países desenvolvidos, normalmente, existe um grande número de empresas privadas
envolvidas nos processos de certificação. Já nos países em desenvolvimento onde o mercado
para este tipo de serviço é mais restrito, este pode ser oferecido por órgãos governamentais
(ROTHERHAM, 2003).
Medidas Sanitárias e Fitossanitárias
O desenvolvimento das relações comerciais internacionais levou a uma valorização
das medidas sanitárias e fitossanitárias, que passaram a fazer, cada vez mais, parte das mesas
de negociação. Um dos fatores responsáveis por esse movimento é o aumento do interesse e
da participação dos consumidores em debates a respeito dos riscos de comercialização e
importação de determinados produtos potencialmente danosos à saúde das pessoas, à fauna, à
flora, ou à agricultura. Ainda que algumas medidas sejam legítimas e cientificamente
embasadas, estas podem constituir-se em medidas restritivas e/ou protecionistas. Além do
que, existem ainda muitos debates acadêmicos e técnicos em relação aos veis
potencialmente perigosos à saúde humana para alguns microrganismos, resíduos de pesticidas
ou novas tecnologias de produção. Muitos pesquisadores acreditam que os níveis de
tolerância, sobretudo para os produtos importados, vêm sendo estipulados acima daqueles
realmente necessários para garantir uma segurança alimentar cientificamente aceitável
(CRUTCHFIELD et al, 2000).O desafio é exatamente encontrar e praticar o ponto de
equilíbrio entre o direito do país de garantir o nível de proteção que ele considere apropriado,
sem que isso mascare propósitos protecionistas ou resulte em barreiras desnecessárias ao
comércio internacional.
Em 1979, os países integrantes do GATT, concordaram em utilizar padrões
internacionais como aqueles desenvolvidos pela Comissão Codex Alimentarius para
Segurança Alimentar, como base de suas medidas sanitárias e fitossanitárias, a não ser quando
considerassem que esses padrões não eram suficientes (OLIVEIRA, 2005).
Segundo o Acordo de Medidas Sanitárias e Fitossanitárias (AMSF), entende-se por
medida fitossanitária qualquer medida adotada por países para proteger: i) a vida humana ou
animal, de riscos provenientes de alimentos; ii) a saúde humana, de doenças, das quais são
portadores animais ou vegetais; iii) animais ou vegetais, de pragas, doenças e organismos
causadores de doenças; e iv) o território, de prejuízos possíveis com pragas. As medidas
sanitárias podem tomar formas variadas como, inspeção de produtos, proibição de uso de
determinados aditivos nos alimentos, determinação de níveis máximos de resíduos pesticidas,
designação de áreas livres de doenças, exigências de quarentena ou mesmo proibição de
importação (OLIVEIRA, 2005).
Uma crítica recorrente sobre os acordos de regulamentação sanitária internacional é a
de que estes, na maior parte das vezes, não questionam as tendências e os problemas de fundo
que intervêm no risco sanitário. Segundo Lucchese (2003), “a avaliação e a gerência do risco
são colocadas na estreita moldura da relação risco-benefício, calculado apenas em termos
77
biológicos, em lugar de uma visão mais completa, em que os objetivos incluam perspectivas
de longo prazo, modelos produtivos sustentáveis, questões culturais, sociais e éticas, ou seja,
que incorporem certa exegese da tecnologia e da cadeia produtiva... É uma regulamentação
ex-post que tem grande cuidado em não interferir ou questionar as tecnologias que
aumentam a produtividade”.
O AMSF reconhece as limitações de recursos financeiros e técnicos que os países em
desenvolvimento enfrentam, fato que se traduz na previsão de assistência técnica e prazos
diferenciados aos países em desenvolvimento para implementação dos seus dispositivos. As
medidas sanitárias ou fitossanitárias devem se basear em princípios científicos e não devem
ser mantidas sem evidência científica suficiente. Também não deve haver discriminação
arbitrária ou injustificada entre os membros nos casos em que prevaleçam condições idênticas
ou similares, e não devem ser aplicadas de forma a constituir restrição velada ao comércio
internacional. Nos casos em que um membro não aplique uma norma, guia ou recomendação
internacional como condição à exportação, este deve fornecer explicação quanto à razão para
tanto e, em especial nos casos em que considera que a norma não é rígida o suficiente para
fornecer o vel de proteção sanitária ou fitossanitária apropriado. Entretanto, as noções de
justificação científica e nível apropriado apresentam conceitos imprecisos e subjetivos, que
provocam controvérsias.
A transparência representa um dos princípios fundamentais dos Acordos da OMC, e é
recomendada em praticamente todos os textos legais produzidos por esse organismo
internacional. A finalidade da transparência é a obtenção de um maior grau de clareza,
previsibilidade e informação sobre as políticas e normas aplicáveis no comércio internacional
e, no caso específico do Acordo de Medidas Sanitárias e Fitossanitárias (artigos 5.8 e e
Anexo B), dificultar a adoção de medidas protecionistas injustificáveis. As obrigações que se
relacionam ao princípio da transparência e às quais os membros da OMC estão submetidos
são: i) Explicação: um Membro poderá pedir explicações a outro quando tiver motivos para
crer que uma medida sanitária ou fitossanitária não esteja fundamentada em uma norma
internacional; ii) Publicação: todas as MSF adotadas sejam novas ou apenas modificações de
outras existentes, devem ser publicadas com um prazo razoável antes de sua entrada em
vigor
101
; iii) Notificação: todas as mudanças sanitárias e fitossanitárias de um país devem ser
notificadas para que outros países possam analisar seus efeitos e verificar se estão em
conformidade com os princípios do Acordo MSF (ALMEIDA, 2005).
Nestas etapas é essencial que o canal de difusão das informações seja rápido e
eficiente, e que a as instituições de ensino e pesquisa e, sobretudo a iniciativa privada estejam
inseridas nas redes de informação constituídas. Tanto a iniciativa privada, quanto os centros
acadêmicos e de pesquisa, são fontes importantes de informações que serão utilizadas para
quantificar o impacto que uma nova medida pode causar, e fornecer dados que
fundamentarão eventuais argumentações a favor ou contra determinadas medidas.
O Processo de Elaboração das Normas
O Acordo Sobre Barreiras Técnicas ao Comércio (Acordo TBT), estimula a
participação de todos os países, dentro do limite de seus recursos, na preparação das normas
internacionais, guias ou recomendações para procedimentos de avaliação de conformidade.
No entanto, freqüentemente, os países em desenvolvimento se mantêm à margem do processo,
atuando apenas como receptores de normas. Essa situação prejudica os países em
desenvolvimento na medida em que gera normas alheias à realidade destes países e limita o
desempenho das atividades de avaliação de conformidade em âmbito doméstico (OLIVEIRA,
101
Esse prazo razoável entre a publicação e a entrada em vigor de uma medida seria de seis meses, mas os países
em denvolvimento m reclamado dos curtos prazos dados pelos países desenvolvidos entre a notificação e a
entrada em vigor de uma MSF (ALMEIDA, 2005).
78
2005). Muitos países em desenvolvimento não possuem uma missão permanente em Genebra
e, em relação à participação nas reuniões do Comitê AMSF, de novembro de 1995 a setembro
de 1998 identificou-se que 50% dos países em desenvolvimento não enviaram qualquer
representante e apenas 20% participaram de metade das reuniões realizadas neste período
(ALMEIDA, 2005).
Segundo o PNUD (2000), para avaliar se um sistema de governança é bom ou ruim,
devem ser avaliados aspectos cruciais como:
Como e por quem são escolhidos e acordados os mandatos, agendas e fóruns de
discussão e tomada de decisões.
Quem estabelece, elabora e faz cumprir as regras.
A transparência do processo.
A legitimidade e efetividade da representação.
A participação dos membros mais vulneráveis.
A eqüidade e a consistência dos processos de solução de controvérsias e cumprimento
dos compromissos assumidos.
Sob condições normais, para se estabelecer uma nova norma ou um novo regulamento
técnico no âmbito da OMC é preciso que os seguintes passos sejam cumpridos: i) o país
desenvolvedor ou entidade elaboradora de normas faz um comunicado aos demais membros
da OMC, o que é feito por meio de uma nota técnica; ii) qualquer país-membro interessado
comunica, aos empresários nacionais do setor afetado, os detalhes do pedido da nova norma
ou regulamento; iii) os empresários do setor, por meio de suas entidade de classe, debatem os
termos e implicações das novas normas ou regulamentos e retornam suas considerações ao
governo ou autoridade responsáveis; iv) as considerações são então repassadas a instituição
ou país desenvolvedor; v) o agente desenvolvedor da norma ou regulamento indica as
medidas a serem tomadas em função dos comentários recebidos. Este processo, entretanto,
apresenta várias falhas, principalmente em função da baixa capacidade de inserção dos países
em desenvolvimento no mesmo. Seja em função da reduzida capacidade de disseminação das
notificações aos agentes nacionais relevantes, seja pela pouca capacitação técnica para avaliar
os impactos das novas normas ou regulamentos. Esses aspectos são especialmente agravados
quando as conseqüências envolvem o setor informal ou as micro e pequenas empresas
(ROTHERHAM, 2003). Sem algum grau de antecipação das novas exigências e padrões a
serem aplicados, é praticamente impossível para qualquer empresa administrar um eventual
processo de transição/adaptação sem que haja perda, ao menos parcial de mercado
(HOFFMANN & ROTHERHAM, 2006).
A crescente influência do setor privado no processo de elaboração das normas é
justificável, primeiro porque é o setor que, via de regra, encontra-se mais bem informado e
atualizado a respeito das opções técnicas e dos sistemas de gerenciamento de perigos.
Segundo, devido ao fato de que, essencialmente, é por meio de ações específicas de
produtores e processadores individuais que se a adequação das exigências relacionadas à
inocuidade alimentar e sanidade vegetal, como no exemplo da aplicação de APPCC na rede
de fornecedores. Terceiro, o setor privado pode complementar (ou substituir) uma eventual
baixa capacidade do setor público para investir em laboratórios de testes e certificação.
Apesar disso, em 88% dos países em desenvolvimento é no setor público que estão
posicionadas as instituições normativas, freqüentemente como divisões semi-autônomas
ligadas ao ministério responsável pela indústria e comércio. entre os industrializados, 70%
deixam suas instituições responsáveis pela elaboração de normas nacionais nas mãos do setor
privado ou sob alguma forma de instituição público-privada (JEFFEE & HENSON, 2004).
Em alguns países, são as ONGs que têm ampliado sua participação na elaboração de normas e
padrões, em especial naquelas referentes a questões sociais e ambientais (ROTHERHAM,
2003).
79
Como os países em desenvolvimento têm tido pouco ou nenhum papel na elaboração
das normas internacionais, o Acordo AMSF foi elaborado baseando-se, sobretudo, nos
padrões e regulamentos existentes nos países industrializados e, posteriormente incorporado
como complemento do Acordo sobre a Agricultura, durante a Rodada Uruguai. Embora
atualmente as oportunidades formais de participação dos países em desenvolvimento tenham
aumentado, na prática, esta permanece fora de alcance devido aos recursos financeiros e
técnicos exigidos para tal (MALHORTA, 2004). Segundo Lucchese (2003), aos países em
desenvolvimento faltam estruturas de: informação, documentação, pessoal qualificado,
argumentação científica e pesquisa nas áreas de maior importância econômica. Tudo isso
solidamente institucionalizado e regulado por uma democracia qualificada e consolidada em
instituições políticas, jurídicas, éticas e administrativas sólidas e enraizadas na cultura do país.
Além disso, por não investirem e serem considerados incompetentes na área de tecnologia
industrial básica, a maioria dos países em desenvolvimento acaba sendo excluída das mesas
de discussão onde as normas são elaboradas e permanecem no papel de “receptores de
normas”.
Embora esta seja uma premissa, as instituições que regulamentam o comércio
internacional não são isentas. Interesses restritos a grupos de países estão incorporados na
determinação dos padrões, na escolha dos setores que sofrerão maior intervenção, na
determinação das tarifas comerciais, nos julgamentos das ações (PONT-VIEIRA, 1994).
Prova disso é que os países em desenvolvimento raramente tomam parte nas decisões que
estabelecem as normas para o comércio. No caso das ISO, por exemplo, a própria instituição
responsável reconhece que apenas oito países são responsáveis por cerca de 80% de todas as
secretarias cnicas (NADVI & WÄLTRING, 2002). Em dezembro de 2006, o número de
padrões internacionais no setor de agricultura e tecnologia de alimentos era de 980 (ISO,
2007). Entretanto, até 2001 apenas 9% das normas internacionais haviam sido produzidas por
Comitês Técnicos da ISO cuja Secretaria é ocupada por um organismo de normalização de
um país em desenvolvimento (FIGUEIREDO, 2001). Ou seja, a produção de normas
internacionais tem sido o resultado da eficaz representação das indústrias dos países
desenvolvidos nos fóruns decisórios. Estes dados confirmam que a definição das normas
internacionais, que por sua vez, servirão de base para legitimar os regulamentos técnicos
nacionais, está se dando sem uma participação substancial dos países em desenvolvimento
102
.
O Brasil tem capacitado seu corpo técnico e investido na política externa de forma a aumentar
a sua influência das decisões, mas ainda muito que ser feito neste campo até que
consigamos um espaço compatível com o nosso peso nas exportações agrícolas mundiais.
Ainda que existam muitas iniciativas de ONGs, organizações privadas, organismos
multilaterais, internacionais e regionais, etc, poucas apresentam abordagens holísticas e
sistemáticas necessárias para, de forma efetiva, integrar os países em desenvolvimento nos
restritos fóruns onde ocorrem os debates e a elaboração das normas do comércio mundial. As
iniciativas com esse fim devem combinar o fortalecimento das instituições com assistência
técnica para infra-estrutura e treinamento, pois não basta viabilizar a ida dos representantes
dos países em desenvolvimento sem antes desenvolver a sua capacidade técnica e política de
influenciar as decisões (HOFFMANN & ROTHERHAM, 2006). O Acordo TBT, em seu
Artigo 11, orienta os membros signatários a disponibilizar assistência técnica, principalmente
para os países em desenvolvimento, ajudando-os a: i) preparar seus regulamentos técnicos, ii)
viabilizar a participação em fóruns internacionais, iii) implementar os regulamentos técnicos
em vigor; iv) orientar seus produtores a respeito dos novos regulamentos (ROTHERHAM,
2003). Entretanto, o que normalmente se observa é que os países industrializados ajudam os
países em desenvolvimento a se adaptarem às normas desenvolvidas sem a participação
102
No caso específico do Brasil, estima-se que a capacidade de influenciar a preparação e a revisão das normas
internacionais é inferior a 27% dos itens que compõem a pauta de exportações/importações.
80
destes, muitas vezes apenas se detendo a problemas pontuais e solucionando-os reproduzindo
seus métodos de análise e seus sistemas de gerenciamento
103
(BANCO MUNDIAL, 2005).
Praticamente todos os acordos relativos ao comércio internacional prevêem, no próprio
texto, cláusulas especiais relativas aos países de menor desenvolvimento relativo. Seja sob a
forma de prazos mais longos para incorporação das novas regras, seja na isenção de
determinadas obrigações, ou ainda sob a forma de ajuda no processo de capacitação dos
mesmos, voltado para a adequação às normas estipuladas. Além do simples sentimento
humanitário envolvido nesses gestos, também uma preocupação para com o bom
andamento do comércio internacional. Assim sendo, nos últimos anos, US$ 65 a 75 milhões
têm sido gastos anualmente pelas agências bilaterais e multilaterais no apoio a programas
ligados ao fortalecimento das capacidades relacionadas ao comércio. Além disso, o setor
privado possui um grande número de iniciativas, envolvendo firmas individuais ou grupos de
empresas, que contribuem para a melhoria dos sistemas de sanidade vegetal e de segurança
alimentar dos países em desenvolvimento fornecedores de produtos para seus mercados. Ou
seja, o auxílio tecnológico dispensado aos países em desenvolvimento acaba sendo um bom
negócio para os países desenvolvidos que passam a fornecer serviços relacionados a
monitoramento e certificação (JAFFEE & HENSON, 2004).
Legislação nacional correspondente
Os Estados, no exercício de sua função regulatória, atuam como instâncias de
intermediação interna e externa dos conflitos de interesses no comércio internacional. Essa
função está relacionada às especificidades dos países que não desaparecem mesmo no mundo
globalizado. As especificidades envolvem variáveis como o nível de desenvolvimento
econômico e social, a disponibilidade de recursos naturais e o grau de capacitação científica e
tecnológica.
No mundo Pós-Guerra Fria, ao interesse individual de cada Estado e ao interesse geral,
identificáveis nos modelos de cooperação, foi adicionado o interesse comum da humanidade.
Diante disso, a OMC tornou-se, no campo econômico, um dos tabuleiros diplomáticos
centrais, e configuradora da moldura jurídica do comércio de bens e serviços no mundo
globalizado (OLIVEIRA, 2005).
Na maioria dos países desenvolvidos, as normas nacionais estão dando lugar às
normas internacionais, empresas focadas nos produtos estão sendo sucedidas por companhias
fundamentadas no conhecimento e mesmo os produtos estão dando lugar aos serviços. Onde
antes as normas racionalizavam os mercados, agora são os mercados que direcionam o
desenvolvimento das normas. É cada vez mais comum a incorporação de padrões privados na
legislação de países com intensa participação no comércio internacional (HOFFMANN &
ROTHERHAM, 2006).
Em tempo de globalização, portanto, passou a ser uma temeridade tentar produzir
normas nacionais desconsiderando as normas internacionais existentes ou abdicar de
participar de seu processo de elaboração. Na Suécia, por exemplo, o sistema de normalização
foi transformado em um espelho dos organismos internacionais r
81
constante ataque por outros países no âmbito da OMC diminuindo-se assim, os riscos de
demorados litígios. Entretanto, se por um lado, a adoção das normas e padrões internacionais
poupa tempo, recursos e é uma opção para os países desprovidos de infra-estrutura; por outro,
geralmente esses padrões internacionais são estabelecidos de acordo com os interesses e
necessidades dos países desenvolvidos, os quais participam mais ativamente nas reuniões em
que são discutidas as elaborações das normas (ALMEIDA, 2005).
O regime de comércio internacional tem surtido efeito direto sobre a legislação e os
regulamentos nacionais por meio de regras e acordos que procuram harmonizar diferentes
normas e padrões de governança. As regras comerciais multilaterais precisam buscar uma
coexistência pacífica entre as práticas nacionais, permitindo regras assimétricas que
favoreçam os membros menos desenvolvidos (MALHORTA, 2004).
É importante salientar que a harmonização não deve ser interpretada como sendo uma
identidade de padrões ou normas, daí decorrem o princípio da equivalência e o
reconhecimento mútuo dentro do Acordo TBT. Segundo esses princípios, os membros devem
examinar favoravelmente a possibilidade de aceitar os regulamentos técnicos de outros
membros como equivalentes, mesmo que estes regulamentos difiram dos seus, desde que
estejam convencidos de que estes realizem adequadamente os objetivos de seus próprios
regulamentos. Esse procedimento pode reduzir os custos de ajustes das facilidades de
produção e das barreiras não-tarifárias (OLIVEIRA, 2005). Por outro lado, a harmonização
legislativa, pode trazer aumento de custos para os países em desenvolvimento quando, por
pressões dos organismos internacionais e dos próprios consumidores, esta tende a ser
estabelecida em um patamar comum mais elevado. Com o avanço dos países desenvolvidos
no que diz respeito a regulamentação alimentícia e à adoção de novas tecnologias nos
processos produtivos, maiores se tornam os desafios para os países em desenvolvimento se
adaptarem aos padrões sanitários e fitossanitários mais rígidos (ALMEIDA, 2005).
Assim sendo, as negociações em torno da equivalência de medidas têm alcançado
poucos resultados efetivos. Até o momento, as experiências exitosas se restringem a
negociações bilaterais
105
, e à área de agricultura orgânica (Codex e IFOAM) (HOFFMANN &
ROTHERHAM, 2006). Os países em desenvolvimento ainda se queixam que os países
desenvolvidos exigem medidas de “submissão” e não de equivalência em grande parte dos
casos (ROBERTS, 2004).
A atividade de normalização brasileira é conduzida 60 anos pela ABNT. De acordo
com dados recolhidos por Figueiredo (2001), em 1999 um projeto de norma levava 316 dias
em média para ser publicado e aprovado pela ABNT, que possuía em seus quadros de sócio
mantenedores apenas 108 entidades. Além disso, 78% das normas vigentes tinham mais de 5
anos sem revisão, o que significa, para a maioria dos casos, uma desatualização, pelo menos
parcial.
A normalização decorre de um conjunto de interesses de agentes que buscam obter
benefícios da publicação de uma norma. Tanto a iniciativa privada quanto o Governo
necessitam alcançar os benefícios ou, antes, saber da sua existência para que os interesses
latentes se realizem em ações coordenadas. Alguns dos interesses estão relacionados na
Figura 3. Porém, a defasagem das normas, faz com que esse tema pareça desinteressante e
meramente burocrático para muitos empresários e mesmo para o Governo.
105
A União Européia reconheceu como equivalentes os sistemas de inspeção e certificação de produtos de
pescado de 62 países; outros 42 ainda aguardam a avaliação, mas atualmente já exportam seus pescados para os
integrantes do bloco de forma individual por meio de acordos bilaterais (ROBERTS, 2004).
82
Figura 3. Instituições e interesses envolvidos na elaboração de normas brasileiras.
Fonte: FIGUEIREDO, 2001.
O Brasil deve participar de forma mais plena da normalização internacional e para isso
é preciso que a iniciativa privada se integre de forma mais ativa aos fóruns nacionais e às
comissões brasileiras no exterior. Entretanto, um dos entraves para que essa participação se
viabilize está a falta de recursos das empresas de nacionais de menor porte; associado ao fato
de que, as grandes empresas multinacionais já se encontram representadas naqueles fóruns por
meio de suas matrizes.
3.2
As Implicações das Barreiras Não-Tarifárias
“De um modo geral, pode-se afirmar que o contato menos restrito das empresas com
seus concorrentes internacionais cria para esta, um padrão de competitividade absoluto,
EMPRESAS
agentes clientes
GOVERNO
SOCIEDADE - ONG
UNIVERSIDADES E
INSTITUIÇÕES DE
PESQUISA
Intercambiar subsídios
tecnológicos e
científicos
EMPRESAS
Barreiras à entrada para
novos concorrentes e
di
ferenciação da
concorrência desleal.
Compartilhamento de
conhecimento
tecnológico com outras
indústrias.
Redução dos custos
produtivos.
Respaldo para a
responsabilidade técnica
pelo fato do produto.
Se equivalente à norma
nacional, ganho de
competitividade
no
mercado global.
ABNT
Discussão do projeto
da norma nas CE, CB
e ONS.
Votação do projeto de
norma.
Publicação.
Venda da Norma
Técnica Brasileira.
Representação em
foros internacionais e
regionais.
GOVERNO
Regulamentação técnica que é
compatível com capacidade industrial
e atende ao TBT-OMC.
Maior produtividade efetiva e, assim,
maior competitividade internacional.
Redução de custos de saúde pública e
da Justiça devido à ação preventiva
sobre a qualidade e segurança de
produtos, serviços e processos.
SOCIEDADE
Melhores e mais seguros produtos e
serviços.
Ação preventiva para a conservação
do meio ambiente.
Redução dos conflitos de consumo.
Norma Brasileira
83
sobrepondo-se ao mero padrão interno e forçando a uma maior sensibilização da mesma
para a necessidade da melhoria de seus produtos e/ou serviços” (PORTER, 1989).
De um modo geral, existe a percepção de que as mudanças causadas pela difusão do
uso de padrões marginalizam os pequenos empreendimentos, pois é de se esperar que os
menores apresentem maiores custos relacionados à economia de escala e escopo na
implementação de novas tecnologias ou sistemas gerenciais. Embora não existam, até o
momento, evidências empíricas que sustentem esse argumento, não se deve nunca ignorar os
inúmeros casos em que as normas e exigências, sejam de agentes públicos ou privados, se
tornam efetivamente barreiras ao comércio objetivando a manutenção do status quo das
cadeias de fornecedores já estabelecidas
106
(JAFFEE & HENSON, 2004).
Os efeitos das normas também são condicionados à forma como elas são aplicadas. É
evidente que países com defasagens nas técnicas de certificação e inspeção são mais
propensos a sofrer com barreiras ao comércio. Embora as técnicas de amostragem e
exigências possam variar de acordo com o parceiro comercial, em casos onde os
procedimentos administrativos sejam pouco claros e muito variáveis, eles podem vir a
desincentivar a exportação e investimentos em estruturas voltadas à exportação, aumentando
ainda mais a citada defasagem (MASKUS et al, 2000).
Após estas breves considerações gerais a respeito da influência das barreiras não-
tarifárias sobre os países, nos tópicos seguintes serão apresentadas algumas conseqüências da
introdução destas barreiras no comércio mundial em áreas relevantes para a hipótese
levantada pela tese como: custos de transação, inovações tecnológicas, recursos ambientais,
direitos humanos e exportação de produtos do agronegócio.
As implicações das Barreiras Não-Tarifárias Sobre os Custos de Transação
De um modo geral, a disseminação dos padrões internacionais promove a redução dos
custos de transação ao permitir que os produtos apresentem um padrão de qualidade e
classificação homogêneos, independentemente do país ou da empresa de origem. Por outro
lado, a falta de padronização em procedimentos, como métodos de avaliação, e/ou diferenças
entre os níveis de tolerância aceitos; podem aumentar os custos de transação para os
fornecedores, sobretudo daqueles residentes nos países em desenvolvimento. Os aumentos
dos custos podem ocorrer sob a forma de testes duplicados ou no gerenciamento das
atividades relacionadas ao AMSF. O uso de rótulos fornecidos por empresas certificadoras
internacionais tem ajudado a minimizar a falta de padronização mas, por outro lado, pode
gerar aumentos de custos ainda maiores. De forma a minimizar estes custos, cada vez mais os
pequenos produtores se unem para ganhar escala e escopo.
Os governos e os consumidores dos países industrializados têm apoiado com maior
ênfase o uso de rótulos que indiquem que produtos
107
foram elaborados de forma ambiental e
socialmente correta. A maioria dessas certificações é voluntária, mas a pressão política e
comercial pela exibição desses rótulos vem crescendo em muitos setores que são importantes
para os países em desenvolvimento. Tais medidas requerem a avaliação do impacto ecológico
dos produtos durante seu ciclo de vida, desde a produção até o consumo e seu descarte. Os
produtores dos países em desenvolvimento não têm que pagar pelas certificações, como
também se vêem obrigados a obter múltiplos rótulos quando intencionam exportar seus
produtos para diferentes mercados (MALHORTA, 2004). De forma a minimizar este
problema e reduzir assim os custos de transação, cada vez mais a certificação se
106
O maior exportador do Quênia, com 15% do total exportado, emprega 6 mil funcionários em suas oito
fazendas, e aumentou suas exportações de 17 toneladas em 1982 para 12.500 toneladas em 1997. A participação
de pequenos produtores nas cadeias de suprimentos era estimada em 6% no Zimbábue e 18 % no Quênia
(WILKINSON & ROCHA, 2006).
107
Entre os agrícolas temos principalmente peixe, madeira e commodities de modo geral.
84
internacionaliza e agrega valores cnicos, ecológicos e sociais, buscando unir todos sob um
só selo.
Na construção do preço de um alimento manufaturado, embora a maior proporção, em
geral, seja ocupada pelos custos da matéria-prima, aspectos como a tecnologia, escala e,
sobretudo, as capacidades de resposta e do ajustamento dos elos da cadeia são de extrema
importância para a competitividade da cadeia. O preço final obtido é formado por uma
sucessão de preços, custos e rentabilidade que se transferem de uma atividade a outra através
dos diversos mercados que se intercalam ao longo da cadeia. A flexibilidade e os níveis
desses custos, preços e rentabilidade dependem da organização desses mercados
(KAGEYAMA & GRAZIANO, 1987).
Estabelecer generalizações sobre qual seria a melhor conformação de coordenação
econômica de uma cadeia agroindustrial é uma tarefa complexa. Isso porque cada país possui
especificidades relacionadas à estrutura agrária, níveis de urbanização, arranjo institucional,
estágio de desenvolvimento e funcionamento dos mercados domésticos e na forma de
integração com os mercados internacionais, que influenciam de forma distinta cada cadeia
produtiva (WILKINSON & ROCHA, 2006).
A análise dos custos de transação mostra que todos os arranjos institucionais
apresentam falhas, de modo que somente as análises comparativas entre estes podem ser
frutíferas. Mostra também que, em se tratando de políticas públicas, a escolha pela máxima
precisão dos objetivos pode não ser racional e ainda estar longe de ser a melhor decisão.
Entretanto, é preciso considerar que a forma como as transações são organizadas é um fator
central na obtenção de vantagens na divisão de trabalho e para entender o impacto que as
formas alternativas de organização institucional têm na alocação dos direitos e na sua
redistribuição ao longo do tempo.
Em se tratando da inserção de produtos no mercado internacional, o custo do
aprendizado deve ser contabilizado como uma conseqüência relevante para os produtores que
se vêem obrigados a conviver com um número cada vez maior de exigências para
comercialização de seus produtos. Segundo Arbix et al (2004), este aprendizado pode ser
acelerado por meio da implementação de empresas subsidiárias nos países de exigências
muito complexas. Estas contribuem com o desempenho exportador da empresa exercendo
diversas funções, tais como: acessar canais de comercialização, adaptar os produtos à
demanda de mercados específicos, criar mercados, acessar recursos financeiros mais baratos e
apropriar tecnologias não-disponíveis no mercado doméstico.
Embora o tamanho da firma seja um fator importante na determinação de sua
capacidade de superar barreiras não-tarifárias e colocar seus produtos no mercado externo
108
,
a correlação entre o tamanho das empresas e o custo de implementação das normas já não é
tão simples. Em alguns casos, onde as economias de escala e escopo são relevantes, as
pequenas empresas podem ser prejudicadas, mas existem ocasiões onde os custos de transação
acabam sendo mais elevados em grandes empresas, como no caso da implementação de
alguns sistemas de controle.
As barreiras não-tarifárias também podem influenciar a coordenação das cadeias
aumentando a especificidade dos ativos envolvidos o que, por sua vez, induz ao
estabelecimento de contratos como forma de diminuir os custos de transação. Ou seja, de
modo geral, as exigências da exportação favorecem o desenvolvimento de uma maior
coordenação vertical entre os integrantes da cadeia, como no caso da cadeia de frangos
(PITELLI & MORAES, 2006). As adaptações às exigências dos compradores internacionais
normalmente levam a alterações também no ambiente institucional, que podem assumir
grandes proporções e afetar o mercado interno.
108
85,5% das grandes firmas industriais são exportadoras, o percentual cai para 40,6% quando a firma é média, e
para 12,4% quando a firma é pequena (Arbix et al, 2004).
85
As Implicações das Barreiras Não-Tarifárias sobre as Inovações Tecnológicas
O processo de geração de conhecimento gera capacidades que, ao serem absorvidas se
convertem em desenvolvimento humano, contribuindo para o crescimento econômico e a
melhora dos resultados comerciais. Países com baixos indicadores econômicos e sociais
geralmente exportam produtos primários ou de baixo valor agregado. Via de regra, tais
exportações não elevam os níveis de qualificação e de produtividade e, raramente estimulam
mudanças tecnológicas, pois os investimentos em P&D são diretamente proporcionais aos
níveis de renda. Em 1998, os países de alta renda investiram 2,4% de seu PIB, enquanto que
nos países de baixa renda a porcentagem foi de 0,9 neste ano (MALHORTA, 2004).
Considerando a enorme diferença de recursos envolvida numa mesma proporção do PIB
destes países, verifica-se que a disparidade é expressiva.
Em países industrializados, comumente, o Estado se encarrega por uma grande parcela
da pesquisa básica seja em centros de pesquisa públicos ou em universidades. Entretanto, a
criação de fatores que efetivamente geram vantagens competitivas mais imediatas está, nestes
países, sob responsabilidade das empresas. Isso ocorre porque as entidades governamentais
são, em sua maioria, vagarosas ou incapazes de identificar novos campos ou as necessidades
especializadas de determinadas indústrias; até mesmo porque não é esse necessariamente seu
papel. No Brasil, segundo Kageyama e Graziano (1987) as grandes transformações técnico-
econômicas e sociais na agricultura não resultaram da ação livre das forças do mercado, mas
sim de uma grande intervenção estatal em todas as fases do processo. Historicamente, o
Estado assumiu um papel bem mais amplo que o de simples incentivador do desenvolvimento
tecnológico. Por diversas vezes, ele agiu na verdade como protagonista no processo de
geração de inovações em detrimento do setor privado.
De acordo com Muller (1990), a agricultura teve suprimida sua distinção com a
atividade industrial durante seu processo de modernização, ocorrido de forma mais acentuada
ao longo das cadas de 70 e 80. Desde então, seus encadeamentos intersetoriais, a operação
dos poderes de mercado e a concorrência, passariam a ser analisados não via preços, mas
também via inovações tecnológicas. O desenvolvimento destas inovações tecnológicas
normalmente gera uma ampla demanda de serviços de Tecnologia Industrial Básica que
envolvem gastos com novas especificações técnicas, atividades de metrologia, normalização e
avaliação de conformidade. Essas atividades são essenciais para o sucesso da inserção das
inovações no mercado, sobretudo para sua comercialização em nível mundial.
A capacidade de se antecipar às futuras normas que serão fruto de exigências
internacionais é extremamente estratégica e demanda uma grande habilidade para captar as
tendências dos mercados mais exigentes. Essas tendências são bons indicadores para onde a
inovação tecnológica deve caminhar na busca por novos mercados ou na manutenção dos
existentes. Acrescenta-se a isto, o fato de que os países que possuem padrões rigorosos
estimulam a criação de empresas fabricantes e de serviços destinados a mantê-los, levando
potencialmente a fortes posições internacionais das mesmas
109
. Já em 1961, Posner constatou
que empresas que desenvolviam um novo produto criavam um monopólio exportador em seu
país de origem, pelo menos até que imitadores entrassem no mercado (TIGRE, 2002).
A Pesquisa de Inovação Tecnológica PINTEC 2005 apresenta um quadro bastante
ilustrativo de como as empresas avaliam os impactos da inovação para suas atividades.
Conforme pode ser verificado no gráfico 7, muitos impactos apontados pelos entrevistados
109
Na década de 70 havia um domínio americano no comércio internacional de equipamentos e serviços de
controle de poluição, refletindo os padrões mais rígidos em termos mundiais a que as empresas eram submetidas
naquele país. Atualmente, países como Alemanha, Dinamarca e Suécia, passaram a frente dos Estados Unidos,
sobretudo em função destes países terem adotado padrões ambientais ainda mais rígidos nos últimos anos
(PORTER, 1989).
86
apresentam uma estreita correlação com a atividade exportadora, tais como: a manutenção do
mercado, melhoria na qualidade dos produtos, redução do impacto ambiental, abertura para
novos mercados, abertura de novos mercados, aumento da capacidade produtiva e o
enquadramento em regulações relativas ao mercado externo.
A relação intrínseca entre desenvolvimento tecnológico e comércio internacional é
clara. As empresas que desejam comercializar produtos para outros países ampliam
sobremaneira o número e a qualidade de seus concorrentes e, portanto, necessitam ampliar sua
competitividade ao máximo. Como atualmente a componente tecnológica vem se ganhando
cada vez mais relevância na construção da competitividade das empresas; investimentos em
pesquisa, desenvolvimento e inovação são condições básicas para a manutenção e a ampliação
de mercados.
Gráfico 7. Impactos da inovação apontados pelas empresas - período 2003-2005.
5,4
14,6
13,0
12,2
41,7
36,0
27,2
36,1
35,3
62,5
59,6
64,3
63,9
73,0
79,0
0,0 10,0 20,0 30,0 40,0 50,0 60,0 70,0 80,0 90,0
Redução no consumo de água
Enquadramento em regulações relativas ao mercado externo
Redução no consumo de energia
Redução no consumo de matéria-prima
Abertura de novos mercados
Enquadramento em regulações relativas ao mercado interno
Redução do impacto ambiental/saúde e segurança
Redução dos custos de trabalho
Redução dos custos de produção
Amplião da gama de produtos ofertados
Aumento da flexibilidade da produção
Aumento da capacidade produtiva
Amplião da participação da empresa no mercado
Manutenção da participação da empresa no mercado
Melhoria da qualidade dos produtos
Nota. % média dos seguimentos avaliados pela pesquisadas: Indústria, Telecomunicações, Informática e P&D.
Fonte: Fonte: IBGE (2007)
Em relação ao princípio da precaução (já descrito anteriormente), que serve como base
para muitas barreiras não-tarifárias, enquanto alguns críticos acreditam que o seu uso
indiscriminado leva a um desestímulo ao desenvolvimento científico, outros analistas rebatem
afirmando que pode ocorrer exatamente o inverso. Ou seja, seu emprego implicaria no
aumento do investimento em ciência e tecnologia, uma vez que, em situações de risco
potencial desconhecido, ele exige que se busque a solução na qual se permita agir com
segurança, ou seja, transformando o risco potencial, em risco conhecido ou, ao menos, em
risco potencial fundado. Verifica-se, portanto, a necessidade de investimentos no
desenvolvimento de ensaios biológicos e outros relacionados a análises de risco, bem como na
formação dos pesquisadores, para que sejam capazes de comunicar à sociedade os resultados
de seus experimentos de forma clara. Desta forma, a sociedade terá mais subsídios para
escolher o grau de risco ao qual considera aceitável submeter-se em nome do progresso.
87
As próprias normas e regulamentos podem trazer embutidos em seus textos, pistas
relacionadas ao caminho tecnológico percorrido pelos países que os desenvolveram. Ou seja,
podem servir de base e estímulo ao desenvolvimento tecnológico do produto ou do grupo de
produtos objetos da norma ou regulamento. É preciso observar que o estabelecimento de um
determinado padrão, muitas vezes acaba determinando a rota tecnológica de um determinado
produto e que neste processo normalmente há os que ditam os padrões em benefício próprio e
aqueles que simplesmente adotam os padrões impostos. Não raramente, estes países acabam
tendo que importar a tecnologia pagando royalties àqueles desenvolvedores dos padrões. Nos
países industrializados, normalmente, ocorre o inverso, ou seja, o desenvolvimento de novas
tecnologias é que geram a necessidade do desenvolvimento de novas normas e regulamentos.
Os esforços realizados pelas empresas e pelo Estado, voltados para a superação das
barreiras não-tarifárias criam demandas para os setores relacionados ao desenvolvimento de
conhecimento, tecnologia e inovação. Além de oferecer desafios e motivação a estes setores
por meio de projetos cooperativos ou do incentivo ao desenvolvimento de determinadas áreas
e instituições, o efeito de transbordamento advindo da incorporação no mercado nacional
das inovações geradas e de mudanças culturais que se espraiam por todo o setor produtivo.
Segundo Suzigan & Furtado (2006), mais do que se preocupar com as atuais
restrições internacionais às proteções tarifárias e alfandegárias, ou a incentivos como os
subsídios, o governo brasileiro precisa buscar alternativas para construir uma política
industrial que incentive as exportações e que sejam aceitáveis pela sociedade brasileira. O
caminho, neste caso passa por uma eficiente coordenação institucional que seja capaz de
mobilizar os protagonistas da vida econômica e das instituições públicas e privadas, ligados
ao processo de inovação e desenvolvimento da infra-estrutura para esse fim.
As Implicações das Barreiras Não-Tarifárias Sobre os Recursos Ambientais
A tomada de consciência do impacto dos padrões de consumo e de produção na
deterioração do meio ambiente, a partir da década de 60, alteraram as estratégias
governamentais e favoreceram a introdução de novos instrumentos na condução das políticas
nacionais. Entretanto, a adoção de medidas necessárias para reverter a degradação ambiental
não ocorreu de forma homogênea entre os países e passou a suscitar preocupações com
reflexos sobre o comércio internacional, iniciando em 1972 o debate sobre comércio e meio
ambiente (CAMPOS e CORRÊA, 1998).
Paralelamente, ganhava força o movimento ambiental, provocando transformações nas
demandas da sociedade, citadas no item 5.6.
A lista de temas ambientais é longa,
incluindo: qualidade da água, poluição atmosférica, extinção de espécies, biodiversidade,
proteção de áreas naturais, controle de efluentes, controle de substâncias tóxicas, poluição
marinha, aquecimento global, destruição da camada de ozônio e manejo florestal. Cada tema
apresenta diferentes problemas estruturais e envolve um grande número de conceitos
ambientais que podem interagir, mas que por razões pragmáticas são normalmente tratados de
forma isolada. Nas últimas décadas, especialmente como frutos dos efeitos colaterais
prejudiciais da chamada revolução verde e mais recentemente da ameaça de aquecimento
global, iniciaram-se em diferentes partes do mundo movimentos orientados para a redução
dos danos causados ao ambiente. Esses movimentos exigiram novos mecanismos reguladores
de qualidade que incorporassem a preocupação ambiental como componente do processo
produtivo. Daí, o grande crescimento observado em normas e protocolos de certificação e de
leis ambientais, a partir da década de 1970 (RAMOS, 2006).
A busca por um desenvolvimento sustentável requer um balanço entre crescimento
econômico, proteção ambiental e desenvolvimento social. Entretanto, se em nível nacional
esse balanço é suficientemente complexo de se obter em função de todas as divergências e
conflitos de prioridades e interesses envolvidos, em nível internacional essa complexidade se
88
amplia significativamente. Uma das formas que esse desafio se manifesta no mundo atual é a
do conflito entre o desejo de se promover o comércio, reduzindo as barreiras não-tarifárias, e
o desejo de proteger o meio-ambiente e a saúde por meio da implementação de padrões e
regulamentos técnicos (HOFFMANN & ROTHERHAM, 2006).
A pesquisa científica é a base de toda a política ambiental, pois é ela quem “faz o
ambiente falar”, ainda assim, muitos fenômenos não são susceptíveis à experimentações
controladas; existem, portanto, grandes falhas em nosso conhecimento sobre o meio-
ambiente
110
. Em função disto, grande parte das medidas tomadas para proteger a
biodiversidade das espécies, na verdade estão protegendo o desconhecido
111
(MOLTKE,
2004). Além dos problemas relacionados à falta de dados, existem também grandes
divergências entre as interpretações dos dados disponíveis
112
. Neste sentido, a Europa e os
Estados Unidos tratam as questões ligadas ao meio ambiente e à saúde da população de forma
distinta. Enquanto que nos EUA prevalece, grosso modo, a liberação de um produto até que se
prove que este pode ser potencialmente prejudicial ao meio-ambiente ou à saúde humana, na
União Européia o princípio da precaução é mais utilizado. Dois exemplos claros dessa
diferença estão no trato dispensado por cada um nas questões relacionadas ao hormônio em
carnes ou aos organismos geneticamente modificados.
As disparidades citadas fazem com que a definição de normas e padrões globais
harmonizados, transparentes, mensuráveis e legítimos relacionados ao meio ambiente, seja
uma tarefa nada trivial e muitas vezes impossível. Até mesmo especificar o que é qualidade
ambiental pode ser complexo diante das variáveis e particularidades dos sistemas ambientais
envolvidos
113
. No caso da emissão de efluentes em um determinado rio, por exemplo, pode-se
medir a qualidade ambiental da água ou o nível de emissão de efluentes das indústrias de
forma individual. Neste último caso, entretanto, é sempre necessário avaliar a capacidade
relativa de absorção do agente receptor e a soma das demais fontes poluidoras existentes
naquele sistema. A solução mais comum e eficiente nestes casos é usar uma combinação
qualitativa e quantitativa de efluentes, combinadas com uma análise da qualidade ambiental
(MOLTKE, 2004).
Para os países em desenvolvimento, a falta de recursos financeiros e técnicos
representa uma dificuldade a mais para acompanhar e cumprir as exigências relacionadas à
saúde ou ao meio-ambiente, cada dia mais numerosas, restritivas, complexas
114
e, como se
não bastasse, em constante mudança
115
.
Os governos podem proteger os consumidores e o meio ambiente por meio do apoio
ao uso de normas técnicas ambientais, como no caso das exigências referentes ao conteúdo ou
normas de eficiência energética. Elas podem ser normas obrigatórias, a serem cumpridas para
que um produto possa ser importado ou comercializado, ou tornarem-se parte de projetos
110
Segundo dados do Conselho Nacional de Pesquisas dos EUA, das mais de 70 mil substâncias químicas
comercializadas atualmente, apenas 3,5 mil têm alguma análise relacionada a suas implicações ambientais
(LUCCHESE, 2003).
111
Estima-se que existam cerca de 10 milhões de espécies de seres vivos no planeta, sendo que apenas 15%
destas já foram descritas.
112
EUA e Grã-Bretanha, por exemplo, de posse de dados sobre aditivos na gasolina, resolveram proibi-los por
motivo de saúde pública; enquanto que a Alemanha, analisando os mesmo dados concluiu que não existiam
razões que justificassem tal procedimento em seu país.
113
A capacidade de absorção de compostos ácidos pelo meio-oeste americano, por exemplo, é virtualmente
ilimitada devido à grande presença de rochas calcárias, ao passo que no norte do país isso não ocorre devido à
prevalência de granito, aumentando assim os efeitos do depósito de material orgânico no solo.
114
Muitas vezes as exigências envolvem, concomitantemente, objetivos relacionados à saúde humana, segurança
alimentar e proteção ambiental.
115
A determinação do máximo de resíduo permitido de algumas substância são mensurados em termos de
partes por bilhão. Esse nível de detecção exige equipamentos de última geração, normalmente não disponíveis
em países em desenvolvimento (HOFFMANN & ROTHERHAM, 2006).
89
voluntários, concebidos para promover melhores práticas. Uma prática cada vez mais comum
é a inclusão de normas e regulamentos que restringem a importação de produtos que, em si
mesmo não representem riscos ambientais, mas cuja produção possa ter prejudicado o meio
ambiente. Nestes casos, as exigências ambientais e relacionadas à saúde não devem ser
encaradas simplesmente sob a ótica do protecionismo, embora não se deva perder de vista que
muitas exigências estão relacionadas muito mais com a proteção do mercado interno
(HOFFMANN & ROTHERHAM, 2006).
As políticas ambientais têm se apropriado dos mecanismos típicos do comércio
116
, se
apoiando em sua força para fazer com que suas metas sejam cumpridas. Esta força é baseada
na ameaça de prejuízos financeiros e desgastes na imagem. Apenas dessa forma tem sido
possível a celebração e o cumprimento de acordos ambientais relevantes que afetam o setor
produtivo como um todo, gerando inclusive novas oportunidades de negócio
117
.
Institucionalização e Perspectiva Histórica
Concomitantemente à formação do sistema multilateral do comércio ocorreu a difusão
da gravidade dos problemas ambientais na esfera global e a necessidade de medidas urgentes
de proteção ao meio ambiente. A partir de determinado ponto, tornou-se impossível negar a
relação entre comércio e proteção ambiental em razão do impacto de políticas comerciais no
meio ambiente e também das políticas ambientais no comércio. Assim sendo, em 1971 foi
estabelecido o Grupo sobre Medidas Ambientais e Comércio Internacional (Grupo EMIT), no
âmbito do GATT
118
. Em 1982, durante a Rodada de Tóquio, os países em desenvolvimento
chamaram a atenção para o fato de que certos produtos, proibidos nos países desenvolvidos
em razão de riscos ambientais ou perigos à saúde e à segurança, eram exportados para seus
territórios. Durante as negociações da Rodada Uruguai, foi estabelecido o Comitê sobre
Comércio e Meio Ambiente (CCMA), instaurado em 1995 em substituição ao Grupo EMIT e
que se tornaria parte integrante da estrutura orgânica da OMC (OLIVEIRA, 2005). A
Conferência Ministerial da OMC em Doha, em 2001, caracterizou-se por uma ampla
consideração da temática do desenvolvimento e teve grande relevância para o processo de
inserção da questão ambiental no sistema multilateral do comércio. As notificações
relacionadas a questões ambientais no âmbito do acordo TBT aumentaram de 10% no início
de década de 90 para cerca de 18% em 2002 (HOFFMANN & ROTHERHAM, 2006).
No que concerne ao mandato do CCMA, os ministros instruíram o comitê a dar
atenção especial às seguintes questões: i) efeito de medidas ambientais no acesso aos
mercados, buscando alcançar equilíbrio entre os objetivos ambientais e comerciais; ii)
situações que sejam benéficas às três áreas, ou seja, com benefícios ao comércio, ao meio
ambiente e ao desenvolvimento; iii) esclarecimento da relação entre o Acordo TRIPS e a
Convenção sobre Diversidade Biológica, assim como análise da importância do TRIPS para
os países em desenvolvimento; iv) impacto do eco-rótulo no comércio e exame da existência
de normas da OMC que impeçam políticas de eco-rótulos; v) estudar o vínculo entre comércio
e meio ambiente e determinar as normas da OMC que precisam de esclarecimento; vi)
organizar assistência técnica e programas de capacitação para os países em desenvolvimento
em comércio e meio ambiente (OLIVEIRA, 2005).
Atualmente, o CCMA da OMC tem se concentrado estreitamente em duas questões:
determinar se os programas de rotulagem ecológica constituem ou não barreiras não-tarifárias
116
O atual comércio de carbono é um bom exemplo.
117
90
A ISO 14000
A série de normas ISO 14000 foi desenvolvida pela Comissão
T
écnica 207 da ISO, como resposta à demanda mundial por uma
gestão ambiental mais confiável, onde o meio ambiente foi
introduzido como uma variável importante na estratégia dos negócios,
e foi estruturada basicamente em duas grandes áreas:
Foco nas organizações empresariais:
tem por objetivo orientar a
implementação de uma gestão ambiental verificável, com qualidade e
consistência, para reduzir os riscos nas suas atividades e facilitar o
comércio internacional. Foi dividida em três Subcomitês:
SC1 - Sistemas
de Gerenciamento Ambiental, que trata das normas
de gestão onde foi elaborada a ISO 14001, que é a única norma
certificável da série;
SC2 -
Auditorias Ambientais, que trata das normas que dão o suporte
às verificações (auditorias) do sistema e as qualific
ações dos
profissionais que devem atuar nestas atividades;
SC4 -
Avaliação de Performance Ambiental, que traz orientações
para desenvolverem indicadores para o acompanhamento da
performance ambiental da organização.
Foco nos produtos e serviços: tem por
objetivo construir uma base
comum e racional aos vários esquemas, privados, nacionais e
regionais de avaliações de produtos. Foi dividida em dois
Subcomitês:
SC3
Rotulagem Ambiental, que trata de todas as declarações
ambientais colocadas nos produtos, de
terceira parte (Selo Verde) ou
não;
SC5 -
Análise de Ciclo de Vida, que define uma metodologia
consistente para se fazer uma análise completa do ciclo de vida do
produto.
Fonte: BRASIL, 2006
ao comércio, e se deve haver um “porto seguro” na OMC para as medidas relacionadas com o
comércio que estão sendo incluídas nos muitos acordos multilaterais sobre o meio ambiente
(MALHORTA, 2004). Esses acordos são especialmente importantes no caso dos global
commons, ou seja,
recursos
compartilhados por
diversas jurisdições,
tais como espécies
migratórias ou a
camada de ozônio.
Apesar de constituir um
grande passo no
processo formal para
estabelecimento de um
foro multilateral para
discussão sobre
comércio e meio
ambiente, o CCMA tem
sido criticado por não
apresentar resultados
concretos (OLIVEIRA,
2005).
Os Acordos
Ambientais
Multilaterais (AAMs)
foram o resultado
principal da Cúpula do
Rio e baseiam-se em
princípios de
responsabilidades
relacionadas à: i)
proteção aos sistemas
naturais, incluindo as espécies, a terra, o ar, etc.; ii) reconhecimento da função das
comunidades na interação com seu próprio ambiente e; iii) produção e consumo sustentáveis
(WILSON, 2002). De acordo com levantamentos recentes feitos pelo Programa das Nações
Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) e a OMC, de 238 AAMs identificados, 28 contêm
medidas com direta ou indireta implicações comerciais
119
(MOLTKE, 2004).
Já no setor privado a ISO 14000 foi desenvolvida de forma a garantir um nível mínimo
de cuidados ambientais, fornecendo uma linha condutora para os fornecedores e toda a cadeia
produtiva e dando ao produtor final a possibilidade de explorar comercialmente a adequação
ambiental de seu processo produtivo (ver box).
119
Dentre estes pode-se citar: i) a Convenção sobre o Comércio Internacional das Espécies da Fauna e Flora
Selvagens em Perigo de Extinção (CITES) de 1973; ii) a Convenção da Basiléia para o Controle de Movimentos
Transfronteiriços de Resíduos Perigosos e sua Eliminação (Convenção da Basiléia), de 1989; iii) a Convenção
das Nações Unidas sobre o Direito do Mar (CNUDM), de 1982; iv) o Protocolo de Montreal sobre Substâncias
que Destroem a Camada de Ozônio, de 1987; v) a Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do
Clima; vi) a Convenção sobre Diversidade Biológica; vii) a Convenção sobre Zonas Úmidas de Importância
Internacional especialmente como Habitat de Aves Aquáticas (Ramsar); viii) a Convenção sobre a Proteção do
Patrimônio Mundial Cultural e Natural (Patrimônio Mundial), de 1972; ix) a Convenção sobre a Conservação
das Espécies Migratórias de Animais Silvestres (CMS), de 1979; x) a Convenção de Estocolmo de Poluentes
Orgânicos Persistentes (POPS); e xi) o Protocolo de Biosegurança de Cartagena.
91
Eco-protecionismo X Eco-dumping
A consideração do comércio internacional e do meio ambiente no contexto das
Barreiras Não-Tarifárias ao comércio leva a duas questões principais. Por um lado, o país
importador pode se opor à entrada de produtos elaborados de maneira contrária a certas
normas ambientais, que representa o perigo do eco-protecionismo. Por outro lado, os países
mais sensíveis à consideração da proteção do meio ambiente teriam seus produtores
favorecidos pela ausência de normas na matéria, o que é classificado como eco-dumping
(OLIVEIRA, 2005).
Normalmente, as normas ambientais que satisfazem os interesses legítimos da
população de um país quanto ao meio ambiente e à saúde têm aceitação geral. As
controvérsias surgem quando essas normas parecem arbitrariamente rigorosas, ou concebidas
para forçar mudanças nas normas ambientais do país exportador. Os países em
desenvolvimento vêem essas normas como um imperialismo verde, ou eco-imperialismo, e
alertam sobre os futuros prejuízos ao crescimento e desenvolvimento do sistema de comércio
mundial (MALHORTA, 2004).
É preciso desenvolver mecanismos que nos permitam navegar sobre a linha de tensão
existente entre a minimização dos abusos cometidos pelo uso indiscriminado das normas e
padrões sócio-ambientais, e a manutenção da soberania e da flexibilidade dos países para
regulamentarem as áreas relacionadas ao seu meio-ambiente. A maioria dos padrões
ambientais atualmente em vigor são de natureza voluntária e aplicados por instituições
privadas ou por ONGs. Algumas são eventualmente implementadas de acordo com as
disciplinas da OMC, entretanto, esta não pode ser formalmente acionada no caso de
problemas relacionados à preparação, escolha, implementação ou monitoramento destes
padrões (HOFFMANN & ROTHERHAM, 2006).
Conforme estudo do PNUMA (1994), as barreiras relacionadas ao meio-ambiente
podem assumir as seguintes formas: i) políticas e medidas internas relacionadas a
embalagens; ii) obrigatoriedade de selos verdes, atestadores de que o produto em questão foi
produzido de maneira menos danosa ao meio ambiente do local da produção; iii) certificações
relativas a processo e métodos de produção; iv) exigências relativas a reciclagem ou
degradabilidade dos produtos; v) exigência relacionadas às eficiência energética; vi)
internalização dos custos relacionados à proteção do meio ambiente doméstico, por exemplo,
sobre taxação alfandegária ou proibições de importação referentes à gasolina com
componentes poluentes; vii) medidas excepcionais para a proteção da vida ou da saúde
humana, animal e vegetal ou para conservação de recursos naturais não renováveis; viii)
obrigações do Estado de impor empecilhos ao movimento transfronteiriço de determinados
bens, em virtude de convenções multilaterais relativas a meio-ambiente.
A Rotulagem Ambiental
Como parte das mudanças culturais das décadas de 80 e 90, ganhava força o
movimento ambiental, provocando transformações nas demandas da sociedade. Surgia o
conceito de “mercado verde”, em que os consumidores passavam a privilegiar produtos que,
comparados a similares no mercado, apresentassem danos menores ao meio ambiente,
alterando assim noções tradicionais de competitividade. Para a tomada de decisões de compra,
esses consumidores mais comprometidos com questões sociais ou ambientas relacionadas ao
processo de fabricação ou da matéria-prima utilizada, dispunham apenas das informações
fornecidas pelos próprios fabricantes e de indicações genéricas sobre os efeitos de certas
categorias de produtos.
Entra em cena então, o processo de certificação como uma forma de “comércio de
confiança” ao longo da cadeia. O primeiro programa de rotulagem ambiental independente foi
adotado em 1977 pela Alemanha (CAMPOS e CORRÊA, 1998); nas décadas seguintes houve
92
uma profusão de firmas certificadoras no cenário institucional das cadeias de produtos
alimentícios e, em decorrência da proliferação de padrões privados, os processos de
certificação têm sido cada vez mais difundidos. Certificação é o processo pelo qual um
terceiro ator, que o comprador reconhece como competente, avalia se um determinado
vendedor está cumprindo com os padrões estipulados pelo comprador. As certificadoras são,
portanto, responsáveis por repassar entre os elos da cadeia, as características do produto e/ou
processo, muitas vezes impossíveis de se verificar por meio de análises no produto. A
certificação fortalece as relações de mercado, se destacando como elemento fundamental de
governança da transação, incentivando o comportamento desejado e, ao mesmo tempo,
monitorando-o (RAMOS, 2006).
Os programas de rotulagem ambiental exercem efeitos diretos sobre os fluxos de
comércio e influenciam o acesso aos mercados. Por sua multiplicidade, podem introduzir
distorções ao comércio internacional e constituir uma nova modalidade de barreiras
comerciais. Isso pode ocorrer quando: i) o mercado alvo não é particularmente sensível ao
apelo ambiental; ii) o programa envolve requisitos que favoreçam a produções domésticas; iii)
a rotulagem não esteja fundamentada em evidências científicas; iv) reduzida transparência
e; v) quando o acesso às diferentes fases de implementação e certificação for diferenciado
para produtores nacionais e fornecedores de outros países.
Algumas características presentes na maioria dos programas de rotulagem ambiental
são: caráter voluntário; administração por órgãos governamentais ou entidades sem interesses
comerciais, com a participação e apoio do governo; decisões sobre seleção de categorias e
formulação de critérios correspondentes tomadas por conselho independente; logotipo como
marca registrada; determinação de critérios com base em análise do ciclo de vida do produto;
aceitação de candidaturas de produtos estrangeiros; critérios traduzidos por índices
quantitativos; e reavaliação periódica das categorias e critérios que levam em consideração
desenvolvimentos tecnológicos.
Os programas de rotulagem ambiental constituem instrumento de política dos
governos para incentivar mudanças de padrões de consumo e de produção e podem ser
divididos em dois grandes grupos. Os regulamentos para produtos
que compreendem a
definição de padrões relativos às suas características físicas como limites para o conteúdo de
certas substâncias, de material reciclado, níveis de ruído, tipos de embalagem e dispositivos
relacionados a seu descarte final. Já os regulamentos para métodos e processos de produção
envolvem a definição de certas tecnologias, de proporções entre emissões/produção, limites
para os níveis de emissão ou ruído, tetos para consumo de energia ou de recursos naturais
(CAMPOS e CORRÊA, 1998). Os países têm a prerrogativa de impor padrões domésticos
que considerem necessários à obtenção de seus objetivos de política ambiental e de exigir que
produtos importados também os cumpram, de modo a refletir as externalidades no consumo,
desde que em conformidade com as disciplinas do sistema multilateral de comércio.
Mesmo quando a rotulagem ambiental não é uma exigência legal para o acesso a um
dado mercado, a partir do momento em que esta influencia a escolha do consumidor, passa a
ser relevante para manter a participação no mercado e, via de regra, implica em um aumento
nos custos para o produtor. Rotherham (2003), cita o exemplo da campanha para rotulagem
ambiental de flores, iniciativa de uma ONG alemã e de associações de consumidores. Neste
caso, os custos para obtenção do certificado giravam em torno de US$ 2.500 anuais. Além
deste valor, os produtores deveriam pagar US$ 1 por cada caixote de flores exportado. Em
alguns casos, isso implicaria em um aumento médio nos custos de US$ 20.000 por ano. Ainda
assim, muitos optaram pela rotulagem entendendo que o preço prêmio pago pelo mercado
compensaria o investimento.
A rotulagem ambiental, por sua natureza voluntária e a aceitação de candidatura de
produto estrangeiro à concessão do selo, não fere, em tese, os princípios fundamentais de
93
tratamento nacional e não-discriminação mas, na prática, implica discriminação – no mercado
entre produtos que preencham determinados critérios de qualidade ambiental, identificados
pelo rótulo, e aqueles que não estariam em conformidade (CAMPOS e CORRÊA, 1998).
Segundo relatório da UNCTAD, os países em desenvolvimento estão se tornando mais
expostos aos efeitos dos selos verdes em países industrializados, que passaram a selecionar
categorias relevantes para suas exportações, com requisitos para insumos e métodos e
processos de produção de difícil cumprimento e, muitas vezes, inadequados às condições
ambientais locais.
A rotulagem dos produtos orgânicos pode ser considerada o mais antigo e difundido
caso específico de Método de Produção e de Processo (MPP). Os produtores orgânicos
alegam que seus produtos geram benefícios para seus consumidores diretamente e que suas
práticas trazem benefícios para o meio-ambiente. A produção orgânica, inquestionavelmente
reduz os perigos ambientais associados ao uso de fertilizantes químicos, pesticidas, ou de
cultivares estranhas ao ambiente. Entretanto, é uma área que carece de harmonização de
padrões. As diferenças nos critérios de produção orgânica nos Estados Unidos e na Europa
têm gerado tensões comerciais entre os produtores em busca de mercado. A exemplo deste,
em muitos outros casos, o cerne da questão gira em torno da compatibilização das normas que
disciplinam o comércio internacional com as de proteção ao meio ambiente. Essas últimas,
apesar de dotadas de força sancionária relativamente menor em âmbito internacional,
possuem um extraordinário poder de penetração na opinião pública doméstica e internacional
em razão dos valores que tendem a preservar. A penetração e difusão destes valores tendem a
aumentar na mesma proporção em que são divulgadas estimativas que atestam o aumento das
pressões sobre o meio ambiente no futuro próximo.
Segundo estimativas da FAO, até o ano 2030, sepreciso produzir um bilhão a mais
de toneladas de grãos anualmente, assim como 160 milhões de toneladas de carne. O grande
desafio está em desenvolver sistemas de produção que permitam produzir mais alimentos de
forma sustentável, mantendo os efeitos adversos dentro de limites aceitáveis. O comércio
internacional pode ajudar a minimizar os efeitos adversos do aumento da produção de
alimentos sobre os recursos naturais globais. Isso ocorrerá caso seja possível que as pressões
sejam difundidas respeitando-se as capacidades de absorção e de resposta de cada país
(BRUINSMA, 2003).
Assim sendo, os países devem cooperar para o estabelecimento de um sistema
internacional de comércio propício ao crescimento econômico com desenvolvimento
sustentável para todos os países. As medidas de política comercial com propósitos ambientais
não devem se constituir em meios para a imposição de discriminações arbitrárias ou
injustificáveis ou em barreiras disfarçadas ao comércio internacional. Medidas unilaterais
devem ser evitadas para o tratamento de questões ambientais fora da jurisdição do país
importador, e as medidas destinadas a tratar de problemas ambientais transfronteiriços ou
globais devem, na medida do possível, basear-se em um consenso internacional.
Os países que visam a colocação de seus produtos no mercado externo precisam tratar
as exigências ambientais e relacionadas à saúde como parte integrante de sua estratégia de
negócio, tanto no nível das suas empresas quanto no de elaboração das políticas nacionais
(HOFFMANN & ROTHERHAM, 2006).
As Implicações das Barreiras Não-Tarifárias Sobre os Direitos Humanos
Os governos regulam seus mercados internos de trabalho visando eliminar falhas como
a assimetria de informações (no caso de um trabalhador não estar esclarecido dos riscos de
seu trabalho, por exemplo) e para proteger e prevenir da exploração os grupos mais
vulneráveis (no caso da exigência da idade mínima para o trabalho). Entretanto, em nível
94
internacional observa-se uma grande carência de sistemas de regulação do mercado de
trabalho.
Basicamente pode-se apontar 3 grandes motivações para se desejar uma
regulamentação efetiva e comum dos direitos trabalhistas internacionais: i) razões
econômicas, pois os baixos padrões de alguns países ameaçam os empregos e o bem-estar de
países mais desenvolvidos; ii) razões de estabilidade política, historicamente verifica-se que
baixos padrões trabalhistas estavam ligados a fatos que desestabilizaram a ordem mundial e
que hoje em dia são responsáveis por parte dos movimentos migratórios internacionais; iii)
razões morais, más condições de trabalho e a supressão do direito de livre associação violam
direito humanos básicos e nenhum investidor, e muito menos os consumidores, desejam
contribuir, mesmo que indiretamente, para essas práticas (BETCHERMAN et al, 2001).
Segundo Singh e Zammit (2000), os padrões trabalhistas representaram tanto a causa como a
conseqüência da democratização dos países avançados.
Institucionalização e Perspectiva Histórica
no século XIX, apesar de o Brasil ter reduzido a alíquota de importação de tecidos,
o açúcar brasileiro continuava sendo sobretaxado no mercado internacional. O argumento
utilizado era o fato da produção brasileira ser baseada em trabalho escravo, o que provocava
distorções no preço do produto no mercado internacional, prejudicando ex-colônias inglesas
que utilizavam o trabalho assalariado. Dessa forma, o “liberalismo de resultados” inglês
consistia em utilizar um argumento semelhante ao que hoje conhecemos como dumping
social
120
para beneficiar suas ex-colônias (PINHEIRO, 1995).
Após a Primeira Guerra Mundial, o Tratado de Versalhes (1919) estabeleceu a
estrutura para uma nova ordem mundial, na qual surgiram a Sociedades das Nações e a
Organização Internacional do Trabalho (OIT). A OIT foi encarregada de um amplo mandato:
estabelecer normas internacionais para reger as condições de trabalho na forma de
convenções, persuadir os Estados a aderirem a essas convenções e administrar as questões
relativas à sua implementação
121
(OLIVEIRA, 2005).
A idéia do vínculo entre comércio e trabalho esteve presente na Conferência de
Havana, graças ao artigo 7
o
do Capítulo II da Carta que proibia a competição desleal por meio
de desrespeito a normas de trabalho, e os Estados Unidos levantam o tema no GATT desde
1953, conseguindo que fosse proibido o comércio de bens produzidos em prisões. Em 1984,
os Estados Unidos introduziram o trabalho infantil e forçado, bem como a violação da
liberdade de associação como fatores que poderiam impedir o acesso ao seu SGP
122
. A União
Européia havia incluído condicionantes sociais no Acordo de Lomé e, em 1994, também
introduziu sanções comerciais positivas e negativas no seu SGP, conforme o respeito ou não à
proibição de trabalho infantil e forçado.
No entanto, foi somente a partir da Conferência de Marrakesh que o tema começou a
despertar grandes paixões, a favor e contra. A França e os Estados Unidos apoiaram a
proposta de restringir os trabalhos escravo e infantil por meio de sanções comerciais, embora
essa defesa não estivesse ancorada em razoes humanitárias. Os Estados Unidos estavam na
120
A expressão dumping social foi utilizada para caracterizar as vantagens competitivas de países com baixa
remuneração, e surgiu em uma conferência relativa ao estado da economia mundial, organizada pela Sociedade
das Nações em 1922, em Genebra (OLIVEIRA, 2005).
121
A OIT produziu trabalhos valiosos e conseguiu a ratificação de suas convenções por vários países, ainda que
a maioria dos países em desenvolvimento enfrente problemas com a sua implementação.
122
Essa iniciativa contrasta com a posição adotada pelo EUA em 1948 de não ratificar as proposições da
Organização Mundial do Comércio de unir padrões trabalhistas e comércio; e com pesquisas que questionam a
existência de liberdade para associação nos EUA, onde, no início dos anos 90, apenas 15% dos trabalhadores
95
verdade preocupados com a ascensão dos novos países industrializados (NICs), como a
China, por exemplo.
Durante os estágios finais da Rodada Uruguai, a proposta de alguns países
desenvolvidos para a introdução de uma dimensão social no regime do comércio internacional
foi objeto de intenso debate e recriminações mútuas. Os Estados Unidos, como principal
protagonista, menciona a prática de dumping social pelos países em desenvolvimento, e estes
argumentaram que as medidas propostas constituíam protecionismo disfarçado. Como
resultado da firme oposição dos países em desenvolvimento, a declaração ministerial final não
incluiu propostas relativas à cláusula social.
O tema voltou à OMC durante a Conferência Ministerial de Cingapura (1996), na qual
a cláusula social sequer era tratada em comitê específico. A tentativa dos países que a
apoiavam era aprovar a constituição de um grupo de trabalho, o que foi rechaçado pela
maioria dos membros, também sob o argumento de que o tema promoveria novas medidas
protecionistas. Aprovou-se apenas um parágrafo onde se afirma que os membros da OMC
reconhecem a OIT como o órgão competente para estabelecer e lidar com as questões
trabalhistas, rejeitam o uso desses direitos com propósitos protecionistas e concordam que as
vantagens comparativas dos países, particularmente dos países em desenvolvimento de baixa
remuneração, não devem ser questionadas (OLIVEIRA, 2005).
A OIT é considerada uma organização razoavelmente efetiva na divulgação dos
problemas com os padrões trabalhistas de seus países membros. A sua capacidade de induzir
mudanças é indireta e baseada na persuasão, o que vem gerando resultados apenas pontuais
nesta área. portanto, tem apresentado resultados pontuais. Os esporádicos eventos de
ratificação das Convenções da OIT também têm gerado questionamentos quanto a eficácia da
abordagem adotada para fazer valer os padrões trabalhistas fundamentais. A alternativa seria
preciso fortalecer os mecanismos da OIT de monitoramento e de divulgação das violações das
leis trabalhistas (MASKUS, 1997).
Quadro 5. Normas trabalhistas fundamentais.
Normas
trabalhistas
Definição Alcance
Trabalhos
Forçados
Trabalho não-
voluntário
executado por meio de ameaças
Estiam-
se que existam 27 milhões de
adultos e crianças nessa sit
uação pelo
mundo
Trabalho infantil
Idade mínima de 14 anos para
países em desenvolvimento (12
para trabalhos leves; 18 para
trabalhos pesados). Prioridade
para as formas mais prejudiciais
Estima-
se que haja 210 milhões de
crianças de 5 a 14 anos exercendo
atividade econômica; estima-
se em 170
milhões em empregos insalubres; 8
milhões nas piores formas
123
.
Discriminação
Exclusão/preferência em
empregos, salários, treinamento e
condições com base na raça, cor,
sexo, religião, opinião política,
e/ou nacionalidade.
A discriminação racional e outras
formas são endêmicas: em termos
mundiais, as mulheres recebem de 20 a
30% menos que os homens.
Liberdade de
Associação/
Negociações
Coletivas
Direito de empregados e
empregadores de, formal ou
informalmente, formar
associações e negociar sem
interferências.
Estima-
se que em 40% dos países haja
restrições a atividades sindicais em
certos setores ou zonas exportadoras.
123
De acordo com a OIT, destas, 60 a 80 milhões pelo menos “… trabalham em condições insalubres para o
corpo, mentes e almas, atrapalha seu desenvolvimento e reduz suas expectativas de vida.” Menos de 5% destas
crianças trabalhavam em indústrias exportadoras e muitas são soldados (SINGH & ZAMMIT, 2000).
96
Fonte: (BETCHERMAN et al, 2001).
Após considerável debate na OIT, a abordagem dos direitos trabalhistas fundamentais
foi aceita na sua conferência em 1998 e resultou na Declaração sobre Princípios e Direitos
Fundamentais no trabalho, adotado por unanimidade pelos Estados membros. A declaração
considerou como direitos trabalhistas básicos aqueles relativos aos quatro princípios
fundamentais da OIT que deveriam ser observados por todos os países, independentemente do
seu estágio de desenvolvimento: proibição de trabalho infantil, proibição do trabalho forçado,
liberdade de associação e igualdade
124
. As definições e os alcances desses princípios podem
ser observados no Quadro 5.
Um dos critérios utilizados para classificar os países quanto ao cumprimento das
normas trabalhistas internacionais é a ratificação dos tratados por estes. Entretanto, esse
critério se mostra falho quando se percebe que a capacidade de fazer valer efetivamente as
normas no âmbito interno varia muito de um país para o outro (MASKUS, 1997).
No Brasil, o Ministério do Trabalho mantém uma intensa fiscalização para coibir o
trabalho forçado e infantil. Segundo números do próprio governo de 2000 a 2004, foram
fiscalizados 1.543.758 estabelecimentos e 18,3% destes foram autuados por alguma
irregularidade. No gráfico 8 podemos verificar a evolução de números mais recentes relativos
à atuação do Ministério do Trabalho
125
, que mantém ainda um cadastro que contém infratores
flagrados explorando trabalhadores na condição análoga à de escravos. Após a mais recente
atualização, ocorrida em 6 de setembro 2007, o cadastro conta com 192 infratores
126
, entre
pessoas físicas e jurídicas (BRASIL, 2007).
Gráfico 8. Dados recentes relativos aos trabalhos forçado e infantil no Brasil.
4.212
3.435
17,3
12.458
97
Fonte: Brasil, 2007.
Em relação às iniciativas da sociedade civil, destaca-se o Pacto Nacional pela
Erradicação do Trabalho Escravo, lançado em 2005 pelo Instituto Ethos, em parceria com a
Organização Internacional do Trabalho (OIT) e com a ONG Repórter Brasil. O Pacto
possui mais 80 empresas e entidades signatárias, representantes principalmente dos setores de
petróleo e gás, siderurgia e varejo (INSTITUTO ETHOS, 2007).
Comércio Internacional e Direitos Trabalhistas
Ao tratarmos as questões trabalhistas sob a ótica da competitividade, na qual os
direitos trabalhistas são tratados como meros fatores de produção e determinantes do custo
final do produto, os países em desenvolvimento se encontram em uma situação delicada.
Nestes países, os níveis de pobreza influenciam os padrões trabalhistas, deixando-os
susceptíveis à imposição de barreiras ao acesso a mercados. De modo geral, os padrões
trabalhistas variam naturalmente entre os países e tendem a ser mais rígidos à medida em que
há um aumento da renda per capita (MASKUS, 1997).
Nessas circunstâncias, o discurso de implementação dos direitos humanos por meio de
medidas e sanções comerciais é extremamente útil aos países desenvolvidos, que encontram
uma justificação altruística para o seu protecionismo ou para a prevalência de seus interesses
nas negociações multilaterais
127
. Tais restrições comerciais muitas vezes são justificadas pelos
países em desenvolvimento com o argumento de que estes não podiam aceitar, por exemplo, o
dumping social, ou seja, a importação de artigos fabricados a custos reduzidos devido aos
baixos salários dos países em desenvolvimento
128
. Isso ocorreu historicamente de forma mais
acentuada em alguns setores como o de têxteis, no quais se argumentava que as importações
advindas de países em desenvolvimento resultariam em uma “desorganização” do mercado.
Se existe, como apontam alguns, uma vantagem competitiva derivada dos baixos
custos de mão-de-obra, ela é resultado de um conjunto de fatores que formam uma realidade
complexa e não resultado de uma estratégia governamental. Logo é razoável questionar a
justiça de um sistema que aplica sanções comerciais nessas condições (OLIVEIRA, 2005).
Outra questão é a viabilidade de se aplicar e monitorar padrões trabalhistas em países em
desenvolvimento quando estes possuem uma baixa porcentagem de trabalhadores com
contratos formais
129
e com a maior parte de sua força de trabalho em microempresas e firmas
familiares (SINGH & ZAMMIT 2000).
De modo geral, a melhora das condições trabalhistas nos países em desenvolvimento
ocorre naturalmente quando crescimento econômico substantivo e mudanças estruturais,
dando a devida atenção a políticas que visem reduzir a pobreza e a iniqüidade. A melhor
maneira que os países desenvolvidos têm de ajudar a difundir os padrões trabalhistas para a
grande maioria dos países com baixo índice de desenvolvimento é fornecendo auxílio sob a
forma de assistência técnica e financeira por intermédio de organizações internacionais com
essa missão.
A questão do trabalho infantil também é complexa, com vários formatos e apresenta
múltiplos significados em diferentes contextos sendo, portanto, bastante polêmica. Em muitos
países em desenvolvimento é comum que o trabalho infantil seja a única fonte de renda de
127
Os novos acordos bilaterais incluem cláusulas de direitos trabalhistas que vão muito além daqueles
considerados fundamentais e especificam requisitos relativos à remuneração mínima, horas de trabalho e
medidas relativas à saúde e à segurança ocupacional (SINGH & ZAMMIT, 2000).
128
Segundo o Artigo VI do GATT, a prática a que os países se referem, apenas deveria ser chamada de dumping,
social se o salário pago pela empresa exportadora fosse menor do que o salário médio pago por aquela mesma
função no mercado doméstico do país em desenvolvimento acusado, o que normalmente não ocorre (SINGH &
ZAMMIT, 2000).
129
Em meados de 1990, o número de trabalhadores com contratos formais nos países em desenvolvimento era de
apenas 15%.
98
famílias, sendo vital para o bem-estar de seus familiares. Assim sendo, em regiões como a
África, a OIT passou a priorizar a luta contra o trabalho infantil que ocorra em condições de
insegurança, insalubres, ou que prejudiquem o desenvolvimento psicológico ou físico das
crianças (BETCHERMAN et al, 2001).
Os Estados Unidos e a União Européia, via de regra agem de forma distinta no
momento de fazer valer suas resoluções comerciais. Enquanto a União Européia baliza suas
ações pelo incentivo àqueles países que agem de forma adequada segundo seus critérios, os
EUA optam pela “punição” daqueles que descumprem suas normas e regulamentos
130
. Na
legislação americana, para que um país seja elegível para o SGP e seus produtos entrem no
mercado sem incidência ou com redução de deveres alfandegários, este deve cumprir normas
internacionais trabalhistas específicas. Em maio de 1998, a União Européia decidiu adotar o
que chama de abordagem baseada no incentivo, que envolve tarifas reduzidas (indo de 15% à
total isenção) para importações de mercadorias manufaturadas e produtos agrícolas
processados, provenientes de países beneficiários do SGP das Comunidades Européias, que
respeitem certas normas trabalhistas fundamentais reconhecidas internacionalmente
131
(OLIVEIRA, 2005).
Um dos pontos mais debatidos e polêmicos da vasta literatura que trata dos efeitos da
globalização sobre o trabalho, é que a liberalização comercial geraria uma redução dos
salários e dos empregos nos setores tradicionalmente protegidos, aumentando assim a
informalidade, a pobreza e piorando as condições da população como um todo. Entretanto,
não existem estudos que verifiquem uma relação sistemática entre abertura comercial e
aumento da iniqüidade; ou que houve um aumento da renda per capita de países que não
abriram sua economia nos anos 90 quando comparada aos anos 60. Assim como não existem
evidências científicas que comprovem que a supressão de direitos trabalhistas traga vantagens
competitivas duradouras. Isso pode ser verdade em alguns setores específicos, mas não de
forma homogênea nem longeva. Portanto, cada caso deve ser analisado segundo seu contexto
internacional
132
.
Quanto à percepção popular de que a importação de produtos manufaturados advindos
de países em desenvolvimento com baixos padrões trabalhistas seriam a principal causa do
aumento da iniqüidade nos Estados Unidos e do aumento do desemprego na União Européia,
esta ainda não pode ser comprovada empiricamente por meio dos estudos realizados até o
momento. Os dados do comércio internacional demonstram que, ainda hoje, apenas uma
pequena porcentagem dos produtos manufaturados importados pelos EUA ou União
Européia, advém de países em desenvolvimento
133
. Além disso, os mercados
preferencialmente receptores de investimentos das multinacionais não são necessariamente
países com baixos níveis salariais. Os custos da mão-de-obra não são citados como
determinantes na localização das firmas, existindo diversos outros fatores apontados como
sendo de maior relevância para essa decisão. Por outro lado, hipóteses podem ser levantadas
para explicar as reduções nos salários e dos postos de trabalho nos países desenvolvidos,
130
Os Estados Unidos celebraram um acordo inovador e controverso com o Camboja no setor de tecidos e
vestuários que pode ser considerado uma exceção em sua política usual de punir os descumpridores de normas.
Ofereceu 14 % de bônus em quotas caso o país demonstrasse melhorias nas condições trabalhistas
(BETCHERMAN et al, 2001).
131
Muitos países em desenvolvimento reclamam de inconsistências e das variações anuais dos produtos que
integram a listagem dos SGP, o que dificultaria a programação de investimentos e a captação de investimentos
externos (BRUINSMA, 2003).
132
No caso do xico, por exemplo, mesmo que tenha aumentado suas exportações para os Estados Unidos por
conta do NAFTA, esta não se converteu em ganhos nos salários por conta da intensa competição chinesa, que
despontava na época.
133
O aumento recente e sem precedentes da influência da China para a economia e comércio internacionais pode
mudar esse quadro.
99
como o prosseguimento do processo de mecanização e a estagnação dos salários de
empregados menos qualificados nos últimos 25 anos
134
(BETCHERMAN et al, 2001). Singh
& Zammit (2000) citam ainda como motivações adicionais: i) aumento do comércio entre os
países em desenvolvimento; ii) movimentos cíclicos e conjunturais das atividades econômicas
nestas regiões; iii) mudanças tecnológicas e iv) mudanças nas políticas social e econômica
nestes países.
Em extensa revisão sobre o tema, elaborada a pedido do Banco Mundial, Maskus
(1997) conclui que países onde há deficiências no cumprimento das normas trabalhistas
fundamentais, normalmente não são mais competitivos e podem inclusive ter sua
competitividade reduzida devido às distorções geradas por estas deficiências
135
. O autor
afirma ainda que, restrições ao comércio baseadas em padrões trabalhistas, justificadas como
forma de melhorar indiretamente as condições de vida da população de países em
desenvolvimento podem ser contraprodutivas, prejudicando os indivíduos a que se dispõe
declaradamente a ajudar. Neste caso, seria mais eficaz e mais barato, compensar o
descumprimento dos direitos trabalhistas fundamentais, estabelecendo programas focalizados
diretamente na redução da pobreza e na melhoria do acesso à educação. O autor cita ainda a
dificuldade de realizar estudos confiáveis visando estabelecer valores para as “tarifas de
dumping social”, o que margem a apropriações meramente políticas e especulativas do
tema.
As crescentes pressões do mercado não permitem mais que as empresas ignorem as
práticas trabalhistas de seus fornecedores e parceiros, independentemente de onde estejam
localizados. Um movimento neste sentido foi a constituição da Fair Labor Association (FLA),
uma organização sem fins lucrativos que combina os esforços da indústria, de organizações da
sociedade civil e de universidades para proteger os direitos trabalhistas e melhorar condições
de trabalho, promovendo a aderência aos padrões internacionais. A FLA realiza
monitoramentos e verificações independentes para assegurar o cumprimento dos padrões de
boa conduta dos fornecedores das firmas associadas. Por meio de seus relatórios públicos, o
FLA fornece aos consumidores e acionistas informações com credibilidade para que estes
possam tomas suas decisões de compra de forma responsável
136
.
Entretanto, as assimetrias relacionadas ao tamanho dos mercados e a importância
relativa de parceiros comerciais impedem a utilização de sanções comerciais como
mecanismo de pressão eficaz por todos os países. Apenas grandes importadores apresentam a
capacidade de utilizar como instrumento efetivo de pressão o fechamento de seus mercados a
outros parceiros comerciais. Assim sendo, aceitar o vínculo entre acesso a mercado ou
sanções comerciais e questões trabalhistas é, na prática, um modo de institucionalizar o
unilateralismo em um contexto multilateral. No contexto da retaliação aos descumpridores de
leis trabalhistas e/ou ambientais, a China tem sido uma das poucas exceções à regra geral de
que países com poucas preocupações nestas áreas acabam recebendo poucos investimentos
externos. O caso chinês reflete claramente o cinismo dos acordos e de como os ideais não
resistem aos apelos comerciais de um mercado com mais de um bilhão de potenciais
consumidores.
Com a atual rede mundial, onde as informações se deslocam em tempo real, é possível
se ter uma idéia das condições de trabalho em qualquer parte do mundo, ou ao menos
despertar suspeitas. Caso um Belga, por exemplo, deseje saber em que condições os seus
sapatos indianos foram fabricados basta acessar um computador. Este mesmo instrumento
pode se tornar uma importante arma para deflagrar boicotes. Entretanto, é necessário que haja
134
Ainda que, segundo Singh & Zammit (2000), desde a década de 90, não seja mais possível explicar a queda
das taxas de emprego exclusivamente pela redução da demanda por cargos de baixa especialização.
135
O caso chinês, por enquanto, pode ser apontado como uma exceção neste caso.
136
www.fairlabor.org
100
uma política de apoio e de desenvolvimento de alternativas, caso contrário uma campanha de
proibição de trabalho infantil pode resultar em agravamento das condições de pobreza dessas
crianças
137
(OLIVEIRA, 2005).
Conferir à OMC a função de investigar e punir os Estados que exportam bens
produzidos em desconformidade com as regras destinadas a promover o intercâmbio
comercial de acordo com a perspectiva dos países desenvolvidos não significa uma genuína
preocupação com os Direitos Humanos. Ou seja, tratar a desobediência a Direitos Trabalhistas
como simples práticas desleais de comércio importaria em perverter a noção de Direitos
Humanos. Seria equipará-la a expedientes econômicos voltados ao aumento da
competitividade, graças ao desvirtuamento das regras de mercado e não visualizá-las como
obstáculo à realização da dignidade humana. Entretanto, é possível que pressões externas
oriundas, principalmente do comércio agrícola internacional, possam ajudar a melhorar as
condições de trabalho em alguns países. Mas, para tanto, é preciso respeitar as
particularidades de cada país, bem como suas capacidades de absorção e adoção dos padrões.
As Implicações das Barreiras Não-Tarifárias sobre a Exportação de Produtos do
Agronegócio
Além das exigências legais específicas de cada país, os produtores brasileiros têm se
deparado cada vez mais com exigências e padrões privados no mercado internacional. Cada
empresa, ou grupo de empresas, como no caso do EUREPGAP, tem desenvolvido suas
restrições próprias para a compra de produtos. Estas exigências podem estar relacionadas a
questões ambientais, sociais ou tecnológicas e freqüentemente afetam toda a cadeia produtiva
em questão. Uma tendência que vem ganhando cada vez mais força é o desenvolvimento de
padrões ou normas que abarcam diferentes áreas. Este é o caso do Relatório Thomsen que
servirá de base para a construção dos padrões e normas envolvidos na importação de etanol
pela União Européia
138
. Segundo o relatório devem ser criados mecanismos que garantam que
o etanol não apenas tenha sido produzido de forma sustentável, mas que também não cause
impacto sobre o preço dos alimentos, não desloque outros cultivos para a floresta gerando
desmatamento - e que respeite normas sociais e trabalhistas (CHADE, 2007).
Com a entrada em vigor da norma de rotulagem ambiental do tipo 3, definida pela ISO
14.025, os exportadores brasileiros podem ficar em uma posição frágil perante o comércio
internacional. A norma estipula a necessidade de que todos os produtos industriais, comerciais
e de serviços, sejam produzidos dentro do conceito da Avaliação do Ciclo de Vida (ACV).
"Ainda que voluntária, essa norma poderá acarretar barreiras comerciais aos exportadores
brasileiros que não adotarem procedimentos formais de cuidado ambiental na extração, vida
útil e no descarte final dos seus produtos, podendo tornar-se, inclusive, até um dos requisitos
dos editais de compra e venda de produtos", ressalta Celina Rosa Lamb, coordenadora do
Projeto de Avaliação do Ciclo de Vida (ACV) do Instituto Brasileiro de Informação em
Ciência e Tecnologia (Ibict/MCT). A obrigatoriedade da avaliação do ciclo de vida para
determinados produtos seria uma antecipação estratégica aos requisitos ambientais dos
acordos comerciais internacionais, e de virtuais experiências de validação para certificação de
rótulos ambientais, o que seria uma conquista para a sociedade, para o governo e para o setor
produtivo.
Embora as normas de qualquer setor precisem ser constantemente reavaliadas e
atualizadas, no setor de produtos agropecuários e de alimentos, essas ações normalmente
137
Pressões internacionais fizeram com que as empresas exportadoras de Bangladesh deixassem de usar mão-de-
obra infantil. Segundo a UNICEF, essas cerca de 50 mil crianças, em sua maioria meninas de até 14 anos,
acabaram indo parar em empregos ainda mais perigosos e de menor remuneração.
138
Segundo proposta do Comissão Européia, o etanol deve representar cerca de 20% dos combustíveis na região
até 2020.
101
ocorrem com uma freqüência bastante intensa. Com uma pauta de exportação fortemente
baseada em produtos agrícolas, o Brasil precisa estar atento aos movimentos relacionados ao
estabelecimento de novas normas e padrões exigidos, tanto estatais quanto privados. A
decisão da União Européia de aplicar restrições que vão além das normas internacionais
referentes ao nível de aflatoxinas nas importações de nozes, cereais e frutas secas, por
exemplo, terá impacto significativo nas importações da África
139
e da América Latina. A
indústria de processamento de amendoim dos estados Unidos, que também será afetada,
estima que a observância do método de amostragem preconizado pelas novas normas
aumentará seu custo em US$ 150 por lote (16 toneladas). Em outro caso, a Comissão
Européia proibiu a importação de camarões congelados de Bangladesh entre agosto e
dezembro de 1997, alegando preocupações higiênicas. A proibição impôs a Bangladesh uma
perda de US$ 14,6 milhões, enquanto que a melhoria das condições sanitárias de sua indústria
camaroneira custou US$ 17,6 milhões.
Muitos países em desenvolvimento apresentam uma baixa capacidade de realizar uma
vigilância epidemiológica efetiva e de conduzir um rigoroso controle de riscos aceitáveis
perante os parceiros comerciais externos. Dessa forma, ainda que o setor privado seja capaz
de alcançar os padrões de qualidade e segurança exigidos pelos importadores, o país como um
todo não estará habilitado a concorrer no mercado externo. Porém, os produtores destes
países, freqüentemente sofrem com a falta de laboratórios e/ou sistemas de certificação
reconhecidos internacionalmente (JAFFEE & HENSON, 2004).
Os laboratórios vêm adquirindo, cada vez mais, um papel estratégico em função da
disseminação da certificação e da necessidade de comprovação do cumprimento das
exigências dos compradores. As análises laboratoriais, ao assumirem a condição de serviço
inerente à produção com qualidade certificada, emancipam-se da condução em laboratórios
orientados primordialmente para ensaios e experimentação científica, passando a ser um
negócio tecnológico das instituições de pesquisa, o que exige uma nova institucionalidade
com foco no atendimento ao cliente de seus serviços. O Estado precisa estruturar uma
logística laboratorial pública sob a forma de uma rede robusta, eficaz e integrada, capaz de
disponibilizar diagnósticos precisos e procedimentos analíticos de ponta. “Nesse campo, não
meio caminho, pois num mundo globalizado, ou se tem padrão internacional reconhecido,
ou não se tem nada”. (GONÇALVES, 2005 – pág. 68).
Ainda que as firmas estejam dispostas a enfrentar e se adequar às exigências dos
compradores internacionais, o fato delas estarem localizadas em um país em
desenvolvimento, com deficiências estruturais graves nessa área, pode levar essas empresas a
passarem por situações que prejudicam sua competitividade ou até mesmo as impedem de se
inserir em mercados mais exigentes. A se seguir a tendência de queda do investimento público
observada nos últimos anos nesta área na maioria dos países em desenvolvimento, a
perspectiva é de agravamento da situação. Os países em desenvolvimento precisam investir
em estratégias de longo-prazo para melhorarem a infra-estrutura necessária com vistas à
adequação às normas e padrões exigidos pelos mercados, focando prioritariamente no setor
industrial e nos principais mercados exportadores.
Analisando os dados relacionados à evolução das rejeições de produtos agrícolas e de
alimentos na União Européia e nos Estados Unidos nos últimos anos, Jaffee & Henson (2004)
chegaram às seguintes conclusões:
139
Estima-se que com essa medida a União Européia reduza para 1,4/bilhão as mortes atribuídas a problemas
relacionados com ingestão de aflatoxina. No entanto, as exportações africanas devem sofrer uma redução de
64%, ou US$ 670 milhões (OTSUKI et al, 2001).
102
Aumento da Incidência: tanto os EUA quanto a União Européia têm registrado um
expressivo aumento na incidência de rejeição de importações nos últimos anos
140
. Dentre as
razões para esse crescimento pode-se citar o aumento na capacidade de inspeção/fiscalização
e o medo de bio-terrorismo, no caso dos EUA. na União Européia, uma porcentagem
muito maior de problemas relacionados a resíduos químicos e outros contaminantes
141
.
Concentração em alguns produtos: em ambos os mercados, a maioria dos casos de
apreensão/rejeição é concentrado em poucas categorias de produtos, notadamente produtos
cárneos, peixes (35% das rejeições em 2002), crustáceos, frutas e vegetais. No caso da União
Européia, tem-se tambéms ts m st67.20151(e)3.74659(g)9.71032(e)3..16436(s)-1.2312(t)-2.16436(r)-7.2439(o)-0.295585(d)-05-103558e 67.2659(a)3.74(s)-1.2312( )-1J255.1759(83d[(a)3.74(s)-1.295585(t)-2h295585(a)3.74(s)-1.22997,)-10.1525( )-10.10.299(6774(n)-0.295585(i)-2.295585(u)-0.295585(a)3.74(n)-0.295585(t)-2.16436(o)-0.29)-12.1715-103558ua 67.295585(o)-0.295585(s)-1.2312( )-90.10.299(99.36588(U)1.57564(n)-0A7564(n)-00.10.299(671.2371(t)-274244(o)-10.25585(i)-20]TJ-253.5759(83d8 Td[(e)3.74( )-1.16558(e)3.74(m)-2v294974(é)3.2( )-85(s)-1.2(é)3..294974(s)-1.22997(,)-0.147792(r)2..295585(s)-1.2312((,)-0.147792(r)2.í16558(n)-0.294363(d)-0.295585(u)-0.16558(a)3.74(e)3.74(o)-0.2312((,)-0.147792(r)2..295585(a)3.74659(r)2.80561(e)3.74( )-10.1525(d3-0.294974(c)3..2312((,)-0.147792(r)2.a4( )-1.16558(e)3..16558(m)-12.4995(e)3.74(n)-0.295585(t)-2.16436(e)3..295585(s)-1.2312( )-0.146571(e)3.74( )-0.295585(t)-2l16436(a)3.74(i)-2.16436(a)3.74(d)-0.295585(a)3..295585(s)-1.2312( )-0.146571(e)3..295585(e)3.74( )-60.255.14512.5d[(a)3.b293142(a)3.74244(..16436(s)-10.3015(e)3.74( )-0.146571(r)2.74(c)3.74(i)-2.16436(d)-10.3763(t)-274( )-6.2659(õ)-0.]TJ-253 12 Tf18.062.6 Td( )Tj/R153 12 Tf-381.271.13.8 Td[(·)-0.271156( )]TJ/R22 12 Tf18.0106 0 Td[(C)-3.39556(o)-0.295585(n)-0.295585(c)3.74(e)3.74(n)-0.295585(t)-2.16558(r)-1.22997(a)-0.295585(ç)3.74(ã)-0.295585(o)-0.295585( )-10.13761354.74(m)-2.468.4(a)910.13761354..295585(l)-2.16558(g)-0.295585(u)-0.295585(n)-0.295585(s)-11.232( )-30.16761353..295585(a)3.7465585(a)3.í16436(s)-1.2312(t)-274(s)-1.2312( )-40.16761353..295585(e)3.74( )-60.16761353..295585(r)2.80312( )-4.16436(d)-1g295585(e)3.74( )-6m)722/R9 12 Tf166.2251273d[(:)-2.16436( )-30.16661359.640026(u)-08(t)-12.1715-16761353..295585(0)-0.295585(0)-0.295585(2)-0.295585())2.146571( )-40.16761353.74(i)-2.16436(d)-1.295585(c)3.74(e)3..295585( )-10.1376135310.3015(e)3.74(c)3.í16436(s)-1.2312(t)-274(s)-1.23171( )-10.137613531.80561(o)-0.39556(o)-0h293142(i)-2.16436(ã)3.n293142(a)3.74244(o)-10.1525( )-10.TJ-253.579.405.68 Td[(a)3.T40026(u)-074(i)-2.16558(o)-0.16558(g)-0â4(n)-0.294974(s)-1(s)-1.2(é)3..16558(a)3.74(,)-0.147792( )-220.286 -13.T40026(u)-0.295585(r)2.80518(o)3..295585(u)-0.295585(a)3..16558(a)3.74(,)-0.147792( )-220.296 -19(B)6.6(e)57.20029(r)2..2659(s)-1.22875( )-0.16558(o)-0.16558(g)-020.286 -13.74( )-60.1086 -13.V7442( )-1.16558(681.74(t)-2.16436(a)3..295585(a)3.74(n)-08(t)-12.171.80439(,)-0.146571( )-40.1086 -12.80439(e)3.74(s)-1.2312(í)-2.295585(o)-0.295585(u)-0.294363(d)-0.29015(e)3.74(s)-o)-180439(e)3.74(n)-08(t)-12.1710.255.171.8Td[(o)-0.295585(o)-0.295585(r)2.80439(c)-60.1086 -12.6295585(0)-0.29015(e)3.51003(1)-10.1086 -12..295585(a)3.74(s)-1.22997 )-90.1086 -12.800151(e)3.74(j)-2.16436(e)3.74659(s)-1.16436(ç)-6.2(õ)-0.295585(e)3.74(s)-1.2312( )-40.1086 -12..295585(a)3.74( )-60.1086 -170.293142(r)2.80439(o)-0.293142(d)-0.293142(u)-0.293142(t)-2.16436(o)-10.23142(t)-21.2371( )250]TJ-264.371.8Td8 Td[(e)3.a4(g)9.7194974(r)2.805(o)-0í16558(n)-074(e)3..295585(r)2..16558(a)3.74(c)3..2312((,)-0.1403558)46.2659( )-90.103558)46.295585(a)3.74( )-60.103558)46a4( )-1.16558(e)3..16558(m)-12.4995(e)3.74(n)-0.295585(t)-2.16436(5)-0.29015(e)3..22875( )-0.1403558)46.295585(a)3.74( )-60.103558)46U7442( )-1.295585(i)-2.16436(ã)3.74(o)-0.295585( )-30.103558)-0640026(u)-0.295585(r)2.80439(o)-0.295585(p)-0.29015(é)3.74(i)-2.16436(a)3.74(,)-0.146571( )-50.103558)-0646588(U)1..293142(t)-2.16436(r)2.80439(e)3.74244(2.16436(a)3.74264.39832(Td[(:)-2.295585(t)-2.16436(e)3..295585(s)-1.146571( )-40.103558)-074(s)-1.2312( )-4.16436(e)3.74(s)389]312( )-40.103558)-0f0439(o)-0.29015(r)2.80439(i)]T74(n)-08(t)-12.1710.103558eacst s u
103
encontrados nos produtos oriundos de países desenvolvidos foram, em sua maioria, devido a
informações inadequadas (35,5%).
Tabela 8. Índice de freqüência e índice de cobertura para as BNTs sobre as exportações
agrícolas brasileiras impostas pela União Européia e pelos Estados Unidos em 2000.
Estados Unidos União Européia
Barreiras Não-Tarifárias
IF (%) IC (%) IF (%) IC (%)
Medidas Antidumping 0,1 16,9 0,00 0,00
Medidas para Controlar o Abuso de Drogas 0,5 0,6 0,12 0,00
Medidas para Proteção da Vida Selvagem 6,0 0,5 21,61 7,23
Medidas Compensatórias 0,2 16,9 0,72 0,00
Medidas para Proteção da Vida Humana 88,7 34,4 7,68 0,02
Medidas Gerais 24,6 8,2 91,00 9,31
Medidas para Proteção da Saúde Animal 9,6 0,5 - -
Medidas para Proteção da Saúde das Plantas 41,5 14,9 - -
Fonte: VIEGAS, 2003.
Almeida (2005), citando dados colhidos junto a OMC, verificou que, em 10 anos de
funcionamento do Acordo MSF (1995-2004), foram informados ao Comitê 204 preocupações
comerciais específicas
143
. Em termos genéricos, 40% destas preocupações comerciais se
relacionavam com a sanidade animal, 27% se vinculam com a inocuidade dos alimentos, 29%
com a sanidade vegetal e 4% se referem a outras questões como certificação e transporte.
Segundo Viegas (2003), cálculos realizados a partir da base TRAINS, permitem
concluir que, em 2000, a porcentagem (expressa em % do valor US$ FOB) de exportações
agrícolas brasileiras sujeitas a algum tipo de barreira não-tarifária foi de 68% para os Estados
Unidos e de 27% para a União Européia. Os resultados obtidos pela mesma autora analisando
mais pormenorizadamente os dados das barreiras não-tarifárias podem ser observados na
tabela 8.
O índice de freqüência indica o número de produtos afetados por determinada medida,
quanto maior, mais produtos são afetados. Já o índice de cobertura, mede o valor, ou a
relevância do impacto dessas medidas na pauta de exportações. Índices de cobertura baixos
podem significar que os produtos afetados contribuem com valores baixos na pauta de
exportações ou ainda, que uma restrição das exportações de determinados produtos
afetados por essas medidas. Dentre as medidas gerais, estão: requerimento de etiquetagem,
licença não-atomática, fiscalização prévia, requerimentos técnicos, requerimentos de teste,
inspeção ou quarentena, requerimento de marca e quotas para controle. De modo geral, em
2000, a União Européia utilizou mais amplamente medidas tarifárias, enquanto que os
Estados Unidos utilizaram mais amplamente medidas não-tarifárias, como pode ser observado
no Quadro 6.
Segundo Wilkinson (2004), a habilidade de um país de lidar com os mecanismos de
disputa preconizados pela OMC, passa a ser cada vez mais um fator chave de
competitividade. Analisando qualitativamente as notificações de disputas no âmbito da OMC
relacionadas aos produtos agrícolas e alimentos, estas apresentam muitas das características
observadas na rejeição de cargas: concentração em alguns países e em poucos produtos
determinados, pequena presença de países de menor desenvolvimento relativo e aumento de
sua incidência de modo geral. Notadamente, os países em desenvolvimento exportadores de
produtos agrícolas e alimentos, estão cada vez mais se capacitando para atuar junto aos órgãos
143
O Brasil apresentou 8 notificações, em sua maioria dirigidas às Comunidades Européias por temas
relacionados à inocuidade dos alimentos (níveis máximos de resíduos químicos, restrições à importação de frutas
e cítricos) e sanidade animal (restrições à importação de gelatina) (Almeida, 2005).
104
internacionais de disputa. Entretanto, as disputas registradas na OMC, provavelmente,
representam uma pequena porção dos problemas que efetivamente ocorrem no comércio
internacional, a maior parte delas são solucionadas em disputas bilaterais, ou em outros fóruns
técnicos privados ou de representantes dos governos envolvidos.
Quadro 6. Presença de picos tarifários e barreiras não-tarifárias sobre as exportações agrícolas
brasileiras, por capítulos, nos Estados Unidos e União Européia em 2000.
Estados Unidos
União Européia
Capítulo
Descrição
BT BNT BT BNT
01 Animais vivos X X X
02 Carnes X X X X
04 Leite, Laticínios e ovos. X X X X
05 Outros produtos de origem animal X X
06 Plantas vivas X X
07 Plantas, raízes e tubérculos comestíveis. X X X X
08 Frutas X X X X
09 Café, chá e especiarias. X
10 Cereais X X X
11 Produtos da indústria de moagem X X
12 Oleaginosas X X X
13 Gomas, resinas. X X X
14 Matérias para entrançar X
15 Gorduras X X X X
16 Preparações de carne X X X
17 Açúcares, confeitaria. X X X
105
entre padrões regionais e internacionais em relação à sanidade animal. A União Européia tem
recebido o maior número de processos dos países em desenvolvimento, primeiro porque
durante o processo de harmonização dos padrões de países europeus, normalmente
prevaleceram os mais gidos; segundo por que a União Européia tem mais freqüentemente
lançado mão do princípio da precaução para justificar suas restrições, dando margem a
controvérsias de base científica e; finalmente, devido à complexa estrutura administrativa da
União Européia (JAFFEE & HENSON, 2004).
3.3
As Respostas à Implementação de Barreiras Não-Tarifárias
A percepção comum é de que as alternativas à proliferação das barreiras técnicas ou
sanitárias ao comércio internacional de alimentos e produtos agropecuários seriam a
adequação ou a retirada do produto em questão do mercado. Neste tópico serão abordadas
estas e outras alternativas mais detidamente.
Inicialmente é possível distinguir as respostas da iniciativa privada, daquelas
eminentemente relacionadas com a iniciativa pública, como a manutenção de zonas livres de
doenças e as ações de vigilância epidemiológica e sanitária. O que não impede, sendo
inclusive o mais adequado, que as duas esferas estabeleçam uma estratégia conjunta; sem
perder de vista que algumas ações são consideradas essencialmente como um papel do
Estado, em função de seu alcance e de suas características políticas
145
.
Em relação ao número de atores responsáveis pela resposta, as ações podem ser
individuais ou coletivas. Ou seja, pode ser que apenas uma empresa ou um único país atue de
forma efetiva para responder à nova norma estabelecida ou, o que é mais comum seja por
motivos de custo ou de força política, que esta resposta seja dada por uma associação de
empresas ou países afetados. Independente de sua origem, as reações ao estabelecimento de
uma norma podem ser classificadas em 3 tipos destacados a seguir.
Retirada do Mercado
Nesta situação os países ou um produtor específico consideram que a decisão mais
adequada consiste na simples retirada do produto do mercado. Alternativamente, a firma pode
trocar o produto afetado por outro de menores exigências de monitoramento ou menos
problemático. Sem dúvida esta opção envolve custos que estão basicamente relacionados à
perda ou às restrições de mercados. Esses custos são mais relevantes para as empresas e
cadeias altamente dependentes do mercado internacional ou que possuem mercados restritos
para colocação de suas mercadorias.
Rotherham (2003) cita três situações em que a retirada do mercado pode ser
considerada uma alternativa adequada: i) quando se trata das pequenas e microempresas, que
trabalham com um capital de giro restrito e margens de lucro reduzidas, e onde qualquer
investimento adicional em equipamentos ou serviços implica em extrapolação dos limites de
crédito disponíveis e aumento do custo marginal; ii) quando os equipamentos ou serviços
exigidos não se encontram disponíveis localmente e a empresa não dispõe de meios para
buscar fornecedores internacionais; iii) quando, embora os equipamentos e serviços de
consultoria estejam disponíveis nos países em desenvolvimento, estes são mais caros que nos
países desenvolvidos, gerando um acréscimo desigual nos custos das empresas.
Assim sendo, de um modo geral, a retirada do mercado é admitida quando a
adequação às normas traria uma perda de competitividade que por si só inviabilizaria a
145
A adequação às exigências relacionadas ao uso de antibióticos e/ou herbicidas, por exemplo, o Estado pode
atuar aumentando o controle sobre a sua utilização, ou ainda intensificando as campanhas de conscientização dos
produtores para o uso de agentes químicos e para os perigos e prejuízos resultantes do uso de produtos químicos
banidos (BANCO MUNDIAL, 2005).
106
permanência do produto no mercado em questão, ou quando esta gerasse impactos sociais ou
econômicos muito negativos
146
. Neste caso, é preciso buscar opções de outros mercados
externos, ou ainda viabilizar o aumento da demanda interna pelo produto caso esta ainda não
esteja saturada. Entretanto, a retirada do mercado não deve ser considerada quando se tratar
da resposta mais fácil para uma empresa que se recusa a modificar seus procedimentos,
mantendo suas abordagens ultrapassadas, institucionalizadas em procedimentos de controle
administrativos. Esse fenômeno ocorre com freqüência em empresas deres que possuem
trabalhadores treinados em determinado tipo de comportamento e que tendem a reproduzi-lo e
a reprovar qualquer iniciativa em prol de mudanças.
“Para manter a vantagem competitiva em indústrias globais, a empresa
deve vender a todos os mercados significativos. Particularmente
importantes são os países que contam com compradores avançados e
exigentes. (...) A identificação dos compradores sofisticados em outros
países ajudará a empresa a compreender as mais importantes
necessidades novas e criar pressões que estimulem um rápido progresso
nos produtos e serviços”.(PORTER, 1989).
A idéia contida na afirmação acima é de certa forma, bem difundida e aceita
atualmente. Há a percepção de que existe um cenário de “faça ou morra” em relação à
necessidade de se cumprir com as normas de um determinado mercado. Entretanto, em
praticamente a totalidade dos casos, não existe um mercado particular para um produto
específico, cabendo aos produtores avaliar a relação custo/benefício de se adequar às normas
ou buscar novos mercados. Uma tendência nos setores de alimentos e produtos agropecuários
de alto valor agregado, situados em países onde o mercado interno apresenta boas
oportunidades de colocação dos produtos, é a existência de empresas mais dinâmicas, que se
especializam na exportação, enquanto que outras se voltam para o mercado interno (JEFFEE
& HENSON, 2004).
Adequação
A opção pela adequação às normas estabelecidas pelo importador trata-se basicamente
de uma estratégia que visa manter o status quo, minimizando o impacto das mudanças
consideradas inexoráveis. Ou seja, buscam manter ou aumentar a vantagem competitiva de
um determinado setor ou produto.
Algumas pré-condições para que se opte pela adequação podem ser: classificação do
mercado em questão como prioritário, disponibilidade de infra-estrutura e/ou recursos
suficientes e quando o custo envolvido não inviabiliza a venda do produto. No caso do
Estado, a decisão de intervir pode ter ainda como base a análise da situação de fragilidade de
seus micro e pequenos produtores ou de determinadas regiões que serão prejudicados com a
perda ou restrição de mercados. Esta última variável está relacionada ao nível de
especialização que determinadas comunidades ou regiões apresentam na produção de
determinada mercadoria, como forma de medir a capacidade de desenvolver alternativas à sua
subsistência.
Arcar em um primeiro momento com os custos potenciais de adequação às normas
induz a mudanças estratégicas que podem evitar custos posteriores e favorecer a entrada em
mercados tão ou menos exigentes
147
. Existem casos ainda em que a entrada de um país em um
mercado exigente, como a União Européia, é usada como referencial, facilitando as
146
Existe registro de casos onde os custos de adequação às normas são superiores ao próprio valor do produto
(MASKUS et al, 2000).
147
A indústria de pescado do Quênia envidou esforços para cumprir as exigências e continuar exportando para o
mercado europeu, e com isso acabou se capacitando para colocar seus produtos na Austrália, Japão e Estados
Unidos, ampliando seu mercado e evitando a dependência do mercado europeu (JAFFEE & HENSON, 2004).
107
negociações para entrada em outros mercados. Isso ocorre porque os padrões europeus de
controle sanitário são tidos como parâmetro mundial para o comércio (CONTINI &
TALAMINI, 2005).
A escolha de setores prioritários a fim de capacitá-los a exportar seus produtos aos
mercados mais exigentes demanda infra-estrutura física, capacidade técnica e custos diversos
que nem todos os países possuem ou têm condições de arcar em um primeiro momento. É
preciso então, que estes recorram à ajuda técnica preconizada nos acordos multilaterais e
bilaterais. Outra alternativa seria o estabelecimento de parcerias com o setor privado com
vistas ao lucro presumido da adequação à médio e longo prazos.
Os Custos de Adequação às Barreiras Não-Tarifárias
No contexto do comércio de mercadorias, custos de adequação são definidos como
qualquer custo adicional e necessário que recaia sobre o governo e/ou iniciativa privada em
função das exigências de uma determinada norma do mercado externo (BANCO MUNDIAL,
2005).
Qualquer movimento que visa adequação às normas internacionais envolve custos que
variam de acordo com o estágio de desenvolvimento tecnológico, de governança e
institucional da cadeia em questão. Em um nível mais amplo, a implementação de certas
normas depende de condições macro, disponibilizadas pelo Estado, e que também variam
enormemente de um país para outro. Estes custos apresentam-se de várias formas, incluindo
investimentos no ajuste das instalações, processos, produtos, práticas, recursos humanos e
custos de implementação de sistemas de controle, além dos custos públicos e privados para
assegurar a conformidade. Nos casos em que existe um setor exportador maduro e
razoavelmente bem estruturado as medidas de adequação necessárias são normalmente apenas
incrementais ou então pequenos ajustes no setor público. Entretanto, nos casos em que as
cadeias de fornecedores necessitam de investimentos mais robustos em equipamentos, ou
onde o setor público precisa passar por reformas mais profundas, é recomendável redirecionar
os produtos para mercados menos exigentes até que investimentos fixos mais significativos
sejam realizados (JAFFEE & HENSON, 2004).
Os países em desenvolvimento, via de regra, apresentam estrutura institucional
deficiente, empresas tecnologicamente defasadas, menor capacidade de monitoramento e
controle, e uma infra-estrutura laboratorial e de certificação menos desenvolvida. A baixa
incidência de Acordos de Reconhecimento Mútuo (MRAs) entre países em desenvolvimento e
os desenvolvidos confirma esta precariedade de condições. Diante desse cenário, é correto
supor que estes países apresentem custos mais elevados, tanto para a implementação quanto
para a manutenção dos sistemas de gerenciamento de perigos e riscos exigidos pelo mercado
internacional
148
. Ainda que os órgãos nacionais de certificação em países em desenvolvimento
sejam reconhecidos ou credenciados internacionalmente, os operadores de alguns programas
insistem em que as inspeções locais sejam conduzidas por seus próprios técnicos ou por órgão
de certificação internacionalmente reconhecido. Além disso, ao exportar para um país que não
reconhece seus sistemas de controle e vigilância, as mercadorias originadas de um país em
desenvolvimento são obrigadas a passar por novos testes realizados pelas autoridades destes
países nas fronteiras; esses procedimentos podem ser onerosos e demorados, prejudicando de
forma particular aqueles produtos perecíveis ou os de ciclo tecnológico curto (MASKUS et al,
148
Uma fonte de gasto adicional para os países em desenvolvimento ocorre quando as exigências dos
importadores demandam a utilização de equipamentos ou serviços protegidos por patentes (HOFFMANN &
ROTHERHAM, 2006).
108
2000). Um caso emblemático é o dos exportadores de mel do Piauí que enfrentaram
problemas para a colocação de seu produto no mercado europeu
149
.
Os custos para obtenção dos selos custos de inscrição, taxas anuais de utilização e
contribuições para fundo publicitário dos testes e inspeções podem ser particularmente
elevados para países em desenvolvimento. Como muitos programas de certificação e inspeção
envolvem inspeções in loco das instalações produtivas e de requisitos relacionados a fases do
ciclo de vida, os custos desses procedimentos de verificação de conformidade, a serem
cobertos pela empresa que se candidata, podem ser excessivamente onerosos. Como se não
bastasse, as certificadoras normalmente praticam valores mais elevados por seus serviços
executados em países em desenvolvimento. Isso decorre do reduzido número de certificadoras
existentes (baixa concorrência), ou pelo insuficiente número de empresas em busca da
certificação (falta de escala para as certificadoras) (ROTHERHAM, 2003). No Brasil,
segundo informações obtidas durante as entrevistas, os custos de certificação ainda são
relativamente menores quando comparados aos praticados em outros países.
Mensurar os custos envolvidos no processo de adequação às normas internacionais é
uma tarefa muito complexa
150
. Além de eventuais falhas ou da falta dos registros necessários
por parte das empresas e/ou governo, na prática é difícil fazer a separação clara dos
procedimentos e investimentos que são adotados exclusivamente visando o cumprimento de
conformidades necessárias à exportação (JAFFEE & HENSON, 2004). Ainda assim, seria
preciso identificar os impactos gerados por cada exigência específica, o que também pode ser
bastante complexo. Via de regra, a questão central é estabelecer qual o impacto da
implementação destes padrões por unidade produzida. Que, por sua vez, estão relacionados ao
nível e a velocidade de inserção dos padrões a serem introduzidos (SINGH & ZAMMIT,
2000).
Os custos de adequação podem ser divididos em dois grandes grupos, de acordo com a
sua freqüência: i) custos não-recorrentes, representados pelos custos estanques, ou por
investimentos temporalmente limitados, como melhorias na infra-estrutura de laboratórios ou
na planta de produção, custos relacionados ao treinamento de pessoal ou ao desenvolvimento
de procedimentos ou de novos sistemas de gerenciamento; ii) custos recorrentes: são aqueles
que apresentam uma periodicidade, como a manutenção dos programas de vigilância e de
análises laboratoriais e os custos de produção adicionais associados ao aumento dos controles
de segurança dos alimentos. Existem ainda os custos de aprendizado aos novos sistemas que
são normalmente subestimados e tendem a se reduzir significantemente ao longo do tempo
(BANCO MUNDIAL, 2005).
Existem basicamente duas abordagens principais no processo de estimar os custos de
adequação às normas ou seus benefícios associados: i) desconstrutiva: abordagem que procura
identificar as influências nos atores econômicos sem considerar outras influências.
Basicamente pode ser realizada por meio da comparação do custo do produto antes e depois
da imposição das normas; utilizando-se entrevistas, ou ainda métodos econométricos de
simulação para estimar quais seriam os custos de produção sem a existência da norma. ii)
construtiva: essa abordagem é baseada na identificação das iniciativas públicas ou privadas
em resposta a uma norma específica identificada, associando valores monetários a essas
ações.
149
Até o final de 2004, os produtores de mel do Piauí precisavam enviar as amostras para serem analisadas em
Pernambuco ou em Santa Catarina e os resultados demoravam até dois meses. A partir de 2004, a implementação
de um laboratório de controle da qualidade na Embrapa Meio-Norte, permitiu que o processo de exportação do
mel produzido no Piauí ganhasse mais velocidade. O laboratório realiza as análises físico-químicas de mel com a
agilidade que o mercado exige e auxilia os produtores a estabelecer os critérios para a criação do selo de
qualidade (PEREZ, 2007).
150
Segundo Moltke (2004), o custo médio de adequação ambiental para a maioria das instalações industriais é
estimado entre 2 a 5%.
109
Os custos de adequação às normas podem ser significativos em termos absolutos
151
,
mas eles normalmente são proporcionalmente pequenos quando comparados aos valores
exportados ou aos ganhos potenciais futuros justificando, portanto, os esforços para a
continuidade do acesso ao mercado. Porém, ainda que os custos possam não ser relevantes
quando mensurados em função do conjunto das empresas exportadoras, estes podem ser
especialmente elevados para algumas empresas individualmente, especialmente entre os
exportadores de commodities e demais produtos que apresentam baixas margens de lucro e/ou
altos custos operacionais
152
(BANCO MUNDIAL, 2005).
Um estudo econométrico que usa os dados de empresas de 16 países sugere que um
investimento de 1% para a adequação aos padrões gera um fator de multiplicação dos custos
de fabricação que varia de 0,06 a 0,13. Embora pequeno, o impacto pode ser significativo
quando implica em um aumento absoluto em relação a produtos similares (KUMAR, 2006).
Um exemplo de análise do custo de adequação às exigências de segurança alimentar
necessárias para exportação de camarões exportados por Nicarágua e Bangladesh pode ser
observado na Tabela 9. Observa-se que a Noruega necessitou fazer investimentos bem mais
modestos em função de suas fábricas serem relativamente mais modernas, exigindo
basicamente investimentos incrementais.
Tabela 9. Custos de Adequação às Barreiras na Produção de Camarões.
Custos Bangladesh
(1996-98)
Noruega
(1997-200)
Melhorias nas instalações da empresa
Governamentais
Programas de Treinamento
Total
17,55
0,38
0,07
18,01
0,33
0,14
0,09
0,56
Manutenção Anual do Programa de APPCC 2,43 0,29
Exportações de Camarões durante o período focado 775,00 92,60
Média de exportação anual de camarão 225,00 23,20
Melhorias/Exportação anual
Manutenção/Exportação anual
2,3%
1,1%
0,61%
1,26%
Fonte: JAFFEE & HEDSON, 2004.
Algumas iniciativas de caráter voluntário se justificam quando os ganhos esperados
pela diferenciação e segmentação do mercado o significativos, este é o caso da análise do
ciclo de vida de um produto que é, normalmente, muito dispendiosa e exige uma sólida base
analítica
153
.
Apesar das dificuldades para estimar precisamente os impactos da necessidade de
observar e cumprir as normas e regulamentos no comércio internacional, certamente eles
existem e são significativos para os produtores e exportadores
154
. Esses custos podem decorrer
da tradução de regulamentos estrangeiros, contratação de mão-de-obra especializada para
151
A Argentina, contando com recursos do Banco Mundial, gastou cerca de US$ 80 milhões para atestar que
algumas regiões agrícolas estavam livres de pragas e enfermidades; e a Hungria gastou mais de US$ 40 milhões
na melhoria das condições sanitárias de seus abatedouros (MALHORTA, 2004).
152
Pesquisa realizada no Chile concluiu que o custo fixo envolvido em obter a certificação para a produção de
vinho orgânico atingiram 5% do custo operacional para aqueles com os vinhedos de 50 hectares, e de 25%
àqueles com os vinhedos de 10 hectares (KUMAR, 2006).
153
Quando a Dinamarca instituiu uma lei que proibia a venda de bebidas em garrafas que não fossem
retornáveis, a Comissão Européia entrou, então, com um pedido de anulação da lei por entender que ela
privilegiava as empresas residentes na Dinamarca e que prejudicava o comércio. A Corte de Justiça Européia
avaliou, baseada nos estudos de ciclo de vida das embalagens, que o ganho ambiental neste caso justificaria o
efeito discriminatório da lei (MOLTKE, 2004).
154
Estima-se, por exemplo, que os custos diretos e indiretos provenientes da falta de harmonização no comércio
do trigo orgânico estejam entre 1,5 e 7 % do valor comercial (UNCTAD, 2004).
110
explicar as regulações técnicas, ou ainda do ajuste da estrutura produtiva para cumprir com as
exigências e a prova de que o produto exportado cumpre com os padrões exigidos
(OLIVEIRA, 2005).
É preciso citar ainda que um dos custos poucas vezes contabilizado ocorre no caso em
que uma firma, que já possui padrões próprios (normalmente grandes empresas), se vê
obrigada a buscar também certificações externas para seus produtos - ainda que
desnecessárias e redundantes sob o ponto de vista de garantia de qualidade - devido à
necessidade de reconhecimento dessa qualidade pelo mercado
155
.
Os países em desenvolvimento, onde o governo dispõe de recursos escassos para
investimento, têm como desafio administrar as medidas necessárias para adequação frente às
exigências do mercado internacional, sem que estas comprometam os investimentos
essenciais para suprir as demais necessidades da população que são de responsabilidade do
Estado.
Reclamação
A opção pela reclamação consiste em partir para negociações bilaterais com seus
parceiros comerciais ou reclamar junto às instituições adequadas no caso do país se sentir
prejudicado pela imposição de alguma norma de comércio internacional. De acordo com
dados obtidos junto ao Comitê AMSF, os números de reclamações oriundas de países
industrializados (163) e em desenvolvimento (107) são relativamente próximos. Duas
características marcantes das reclamações são: uma grande concentração em poucos países
(tanto reclamantes quanto objetos das mesmas) e uma elevada recorrência das mesmas
categorias de produtos, especialmente carnes e hortaliças.
Uma expressiva quantidade de reclamações ocorre entre países vizinhos, ou
pertencentes a uma mesma região. Este fato pode ser explicado pela difusão do processo de
formação de blocos que geram conflitos para o estabelecimento dos padrões a serem
adotados. Na União Européia, por exemplo, o processo de harmonização dos padrões gerou
várias reclamações junto a OMC, principalmente devido à: i) implementação do padrão mais
rígido entre os países membros; ii) uso freqüente do princípio da precaução em função das
incertezas científicas e iii) complexidade da estrutura administrativa da Comunidade
Européia.
Na prática, o processo de reclamação junto a OMC apresenta algumas restrições e
questionamentos. Em primeiro lugar, a morosidade do processo, que pode se estender por
anos, desestimula a participação daqueles que precisam de soluções mais rápidas para
estabelecer o destino de suas mercadorias ou de setores que encontram-se ameaçados. Outra
questão que pode ser impeditiva para a grande maioria dos países está relacionada aos custos
do processo de reclamação, este pode facilmente passar dos US$ 50 mil
156
. Portanto, de forma
a reduzir os custos para os países de menor desenvolvimento relativo, a OMC possui
mecanismos para disponibilizar advogados a preços reduzidos (BANCO MUNDIAL, 2005).
Além destas restrições de ordem operacional, existem ainda questões de ordem política
envolvidas. Ao ganhar uma causa na OMC, normalmente é concedido ao reclamante o direito
de retaliar o país alvo da denúncia. Entretanto, muitas vezes os interesses e negociações
comerciais nos quais estes países estão envolvidos são muito mais amplos e relevantes do que
a questão em disputa na OMC. Diante disto, pode ser que haja certo receio e o desejo de
evitar o desgaste político por parte do país que opta, então, por não dar prosseguimento ao
processo de retaliação a que tem direito. A partir destas observações, pode-se entender por
155
Mesmo possuindo padrões internos rígidos, cada firma americana de telecomunicações paga, em média, US$
245 mil para obtenção de padrões como a ISO 9000 para seus produtos (MASKUS et al, 2000).
156
Estima-se que, o caso da disputa pelo mercado de algodão, tenha custado em torno de R$ 2 milhões aos
empresários brasileiros envolvidos.
111
que a grande maioria das disputas comerciais é negociada de forma bilateral e, portanto, à
margem do sistema da OMC.
Um último ponto a ser destacado é que o aparato formal para reclamações na OMC se
restringe apenas às normas e padrões estabelecidos pela esfera pública, e não a padrões
privados “voluntários” que vêm ganhando força e influenciando cada vez mais o comércio
internacional.
Antecipação
Uma característica comum a todas as alternativas apresentadas é que seu caráter
reativo, ou seja, tratam-se de respostas diante de uma situação estabelecida. Nestes casos as
ações são focadas para a minimização dos impactos negativos dos novos padrões ou normas.
No contexto dos argumentos expostos nesse trabalho, a estratégia mais adequada
frente às novas exigências do comércio internacional é aquela que combina reivindicação e,
pró-atividade com uma orientação ofensiva. Esta deve buscar associar as mudanças
promovidas pelas novas normas ao aumento de competitividade e à geração de spillovers
sociais e econômicos. Na abordagem pró-ativa, a meta é atuar na maximização dos efeitos
positivos e nas oportunidades associadas à proteção ambiental, ganhos de eficiência,
segurança no trabalho e à saúde pública (HOFFMANN & ROTHERHAM, 2006).
Entretanto, é importante enfatizar que as opções disponíveis aos países em
desenvolvimento são resultado de uma interação complexa de fatores. Não é possível, por
exemplo, chegar a conclusões rápidas e fáceis a respeito do papel que cabe aos dos setores
público e privado, ou em que situações é possível ser pró-ativo, ofensivo ou reclamar. O mais
importante, neste caso, é a busca para desenvolver as capacidades necessárias para que se
tenha efetivamente uma ampla variedade de opções. Desta forma, os países em
desenvolvimento serão capazes de perceber as normas de sanidade agropecuária e de
qualidade alimentar como oportunidades para ganhos de competitividade no mercado
internacional. Existem exemplos de indústrias bem organizadas, firmas e cadeias de
fornecedores bem gerenciadas em países de baixo índice de desenvolvimento que têm
conseguido manter e, eventualmente, até aumentar seus mercados e sua competitividade
durante esse período de maior rigidez das normas.
Os governos têm um papel decisivo neste processo e devem buscar o fortalecimento
constante do ambiente institucional relacionado à elaboração, implementação e
monitoramento das normas e padrões internacionais. As ações devem estar voltadas para o
estabelecimento de sistemas de monitoramento, manutenção e atualização constante dos
pontos focais para disseminação de informações, capacitação de consultores especializados,
incentivo a eventos técnicos sobre comércio internacional no país, viabilizar a ida de
representantes nos fóruns internacionais e a implementação, manutenção e atualização de
laboratórios de testes, metrologia e acreditação no território brasileiro. Para tanto, é
importante que as instituições de pesquisa e geração de conhecimento estejam adequadamente
estruturadas e politicamente direcionadas de maneira a fornecer dados e argumentos que
sustentem científica e tecnicamente as missões brasileiras. O Estado deve disponibilizar ainda
a infra-estrutura necessária para que empresas menores se credenciem a participar do
comércio internacional (HOFFMANN & ROTHERHAM, 2006). As empresas, por sua vez,
precisam superar a prática de simplesmente reagir às barreiras e estarem atentas às tendências
do mercado, procurando se antecipar às normas, desenvolvendo e sugerindo novos padrões
que gerem oportunidades de ampliação de mercados ou de criação de novos nichos ainda não
explorados.
Agindo de forma pró-ativa, por meio de análises consistentes do mercado, é possível
prever as normas que serão estabelecidas e implementá-las antes de seus concorrentes,
ganhando assim uma vantagem competitiva com a possibilidade de se auferir rendimentos
112
schumpterianos em função de uma atitude inovadora. Esse movimento pró-ativo pode ser
realizado tanto pela iniciativa privada, por meio de inovações na produção ou no produto,
quanto pelo poder público através de inovações legislativas e nos sistemas oficiais de
monitoramento.
3.4
As Consequências Positivas Advindas das Ações Voltadas para a Adequação
O novo contexto mundial, citado no item 1.6, cria demandas relacionadas à
normalização, rastreabilidade e à fiscalização mais abrangentes e eficazes dos produtos a
serem exportados, obrigando os exportadores nacionais a mudarem sua política de produção.
De acordo com a hipótese levantada pela tese, é plausível supor que o esforço dos
países/empresas para superar as barreiras não-tarifárias, estabelecidas sob a forma de normas,
padrões ou regulamentos, gere benefícios tangíveis e intangíveis para a sociedade como um
todo.
Ainda que muitos países percebam grande parte das exigências externas apenas como
medidas não justificáveis ou que não realizam ganhos por seus esforços apenas para
manterem seus mercados, existem benefícios indiretos e intangíveis de difícil mensuração e
correlação com esses custos. Parte desses benefícios pode ser classificada como
externalidades positivas. Uma externalidade surge quando um indivíduo ou uma firma leva a
cabo uma ação que afeta outros diretamente, sem que tenha que pagar pelo resultado
maléfico, ou sem que tenha vantagens pelo resultado benéfico (STIGLITZ & WALSH, 2003).
Quando os Estados Unidos estabelecem um padrão que reduz o nível tolerado de pesticida em
um produto originário do Brasil, por exemplo, o foco de sua preocupação é a saúde dos
cidadãos americanos, mas indiretamente pode acabar por beneficiar também a sociedade
brasileira com essa medida.
Dado que os custos de adequação às novas normas são tipicamente os elementos mais
paupáveis do processo, estes são normalmente percebidos como desnecessários e
injustificados. A falta de percepção da extensão de todos os benefícios de forma completa
pode ocasionar uma subestimação dos níveis de retorno dos investimentos. O que, por sua
vez, pode levar os empresários a incorporar uma cultura de dependência e a uma tendência a
aguardar, seja pela assistência técnica disponibilizada por outros países, seja pela intervenção
do Estado. Entretanto, via de regra, tanto um quanto o outro são lentos e ocorrem como
resposta às situações de crise, ou seja, são estratégias reativas. E, conforme verificado no
tópico anterior, buscar portos seguros e relações cômodas com os clientes e/ou fornecedores
serve, apenas, para reforçar comportamentos passados e restringe ações inovativas.
Uma abordagem alternativa e menos pessimista desenvolvida nesta tese, enfatiza as
oportunidades potenciais promovidas por certas barreiras não-tarifárias e a possibilidade de
que alguns países em desenvolvimento e suas empresas possam utilizar estas oportunidades
como vantagens competitivas. A partir dessa perspectiva, muitos padrões públicos e privados
são considerados como uma ponte necessária entre as demandas crescentes dos consumidores
e a participação dos fornecedores cada vez mais distantes. Muitos destes padrões fornecem
uma linguagem comum para toda a cadeia de fornecedores e trazem a confiança na segurança
dos alimentos até o consumidor final. Sem essa confiança, o mercado destes produtos não se
sustentaria comprometendo o comércio internacional.
Antes de prosseguir, é preciso estabelecer uma ressalva à teoria aqui desenvolvida. A
heterogeneidade dos países classificados como “em desenvolvimento” é extremamente
significativa e está relacionada a variáveis como: infra-estrutura institucional, perfil
sociológico da população, disponibilidade de recursos naturais, perfil das exportações, parque
industrial, entre outras. Estas particularidades influenciam de forma determinante a
capacidade destes países de absorver e de reagir às exigências internacionais, revertendo-as
em benefícios a curto e médio prazos para a população. Segundo Peters & Vanzetti (2004),
113
essa heterogeneidade também dificulta a determinação de quais países devem ser alvo dos
benefícios e/ou de dos tratamentos diferenciados previstos nos acordos internacionais. Assim
sendo, países que não atingiram um estágio de desenvolvimento que permita absorver e
transformar as exigências internacionais em oportunidades; e que ainda não recebem ajuda
adequada para isso, podem sofrer grandes perdas de mercado e falência de empresas,
decorrentes de exigências mais rigorosas de comercialização.
O Brasil pode ser considerado como um bom exemplo de país em desenvolvimento
que atualmente se encontra em um estágio que lhe permite a absorção rápida dessas
exigências, revertendo-as a curto e médio prazos em benefícios para a sociedade e sem perdas
significativas para suas empresas. Benefícios estes sob a forma de produtos de maior
qualidade para o mercado interno, do aumento da competitividade de seus produtos (ainda
que esta ocorra a médio e longo prazos), ou ainda da melhoria da qualidade de vida de sua
população. Dentre os eventuais benefícios intangíveis pode-se citar a melhoria da imagem,
tanto das empresas como do país; que, por sua vez, facilita a inserção dos produtos destes
países/empresas em outros mercados
Ainda sob a perspectiva das normas e padrões como catalisadores do processo
inovativo, as mudanças relacionadas à adequação aos mesmos podem significar, em alguns
casos, um importante incentivo à modernização das cadeias exportadoras dos países em
desenvolvimento e fornecer uma maior visibilidade ao gerenciamento apropriado da
governança nas mesmas. Além disso, promovem uma maior disseminação de “boas práticas”
por empresários que serão, muitas vezes, imitados pelos produtores domésticos, gerando
spillovers que irão beneficiar, também desta forma, os consumidores locais. Segundo Jaffee &
Hedson (2004), o processo de adequação aos padrões pode, conceitualmente, promover, a
longo-prazo, a base para um comércio mais justo e sustentável, ainda que haja perdedores e
ganhadores em particular.
Os benefícios citados não ocorrem, portanto, apenas no ato de adequação às normas,
mas anterior à implementação destas. A chave está na habilidade dos países em
desenvolvimento de criar ou aprimorar suas capacidades e fazer os ajustes estruturais e
operacionais necessários em suas cadeias produtivas para responder da forma mais adequada
às pressões exercidas pelo aumento da adoção das barreiras não-tarifárias.
As externalidades positivas e benefícios citados encontram-se entrelaçados e dispersos
em diversos setores da cadeia ou de uma empresa
157
. Ainda assim, para os fins didáticos dessa
tese, os benefícios advindos da adequação ou antecipação às normas internacionais de
comércio foram classificados em vários grupos e serão tratados de forma particularizada nos
itens seguintes.
Inovações tecnológicas
“A inovação resulta, com freqüência, da pressão, necessidade ou mesmo
adversidade” (PORTER, 1989).
Grande parte das normas técnicas do comércio internacional reflete o estado da arte,
em termos de exigência de conhecimento e capacitação tecnológica, impostos pelos países
desenvolvidos, visando ao domínio e delimitação de mercados. Estas normas acabam por se
constituir em barreiras técnicas ao comércio internacional, na medida em que os concorrentes
diretos, inclusive países em desenvolvimento como o Brasil, não realizam investimentos
efetivos em qualidade e na geração de inovações e tornando seus produtos mais competitivos.
O principal desafio com que se defronta o setor produtivo brasileiro diz respeito à fabricar
produtos internacionalmente competitivos, atividade que está cada vez mais atrelada à
157
Um bom exemplo é o avanço tecnológico e a melhoria da qualidade ambiental gerados a partir da exigência
da Alemanha em não importar celulose branqueada a cloro, obrigando os exportadores a investir no
desenvolvimento de uma tecnologia mais limpa à base de oxigênio.
114
qualidade e à inovação. Nas palavras de Delfim Netto (2007): “É um fato empiricamente
comprovado que as empresas exportadoras tendem a ser mais inovadoras, têm maior
produtividade, pagam salários mais altos e introduzem novas tecnologias, que se transmitem
para o mercado interno, acelerando o desenvolvimento econômico”.
O conhecimento acerca das funções tecnológicas (metrologia, normalização, avaliação
da conformidade, propriedade intelectual
158
, informação tecnológica e tecnologias de gestão),
quando empregado eficazmente, contribui para a redução de custos, aumento da
produtividade, melhorias do produto e do processo produtivo, fortalecimento da marca,
proteção do conhecimento, etc. Enfim, possibilitam, em última análise, incrementar o
desempenho competitivo de produtos e serviços
159
(da SILVA, 2004). Depoimentos sobre o
papel da tecnologia na competitividade internacional, colhidos por Tigre (2002) junto a
dirigentes de empresas exportadoras, atestam que a diferenciação do produto é considerada
um fator competitivo mais importante que o preço. Um produto original abre seu próprio
mercado e aumenta a possibilidade de agregação de valor
160
161
.
As barreiras técnicas possuem a propriedade de revelar gargalos e tornar visíveis as
deficiências dos países/empresas exportadores. Dessa forma, é possível identificar mais
facilmente os setores e segmentos da cadeia produtiva que devem ser alvo das iniciativas
públicas de fomento, bem como as oportunidades de investimento para o setor privado.
Entretanto, assim como a superdosagem de um remédio pode levar à morte do paciente, o
excesso de adversidades pode levar à paralisia e ao desestímulo pela busca de uma posição
competitiva melhor. Um exemplo de como as fortes restrições ao uso de determinados fatores
podem ser estimulantes à inovação, é o desenvolvimento de tecnologias para extração de
petróleo em águas profundas realizado nos últimos anos pela PETROBRAS, que passou a
exportar essa tecnologia para vários países.
O fato de que grande parte das barreiras técnicas possa ser superada por meio do
desenvolvimento tecnológico, cria um ambiente propício para o estreitamento dos laços entre
os integrantes do Sistema Nacional de Inovação (SNI). Entretanto, este movimento não se
restringe ao nível nacional; com o intuito de aprimorar as trocas internacionais de produtos e
serviços, os países mais desenvolvidos têm promovido programas de cooperação técnica com
os países menos desenvolvidos. Estes programas possibilitam a transferência de tecnologia e
experiências, permitindo ainda que se estabeleça um nível de confiança suficiente entre os
países para a assinatura de novos acordos comerciais
162
. Neste sentido é desejável e benéfico
para o SNI, que as empresas se aproximem dos centros de pesquisa blicos por períodos
determinados pela duração de projetos específicos. Não se espera, entretanto, uma espécie de
fusão de metas e objetivos de instituições com origem, cultura e papéis tão distintos na
158
Segundo previsão da FAO, há uma grande possibilidade de que a propriedade intelectual figure cada vez mais
como causas de conflitos comerciais na área agrícola. Isso porque uma expectativa de que o número de
plantas genticamente modificadas e, portanto passíveis de patenteamento, aumente a cada ano (BRUINSMA,
2003).
159
Na área agrícola, um bom exemplo é o da biotecnologia, que apresenta um grande potencial como fonte de
inovações voltadas para a superação das barreiras sanitárias, normalmente por meio do desenvolvimento de
espécies mais resistentes a determinadas doenças e, dessa forma, permitindo uma redução no uso de antibióticos
ou herbicidas eventualmente exigidos pelas normas.
160
Segundo Arbix et al (2004) a probabilidade de a firma ser exportadora aumenta em 16% quando ela realiza
inovação tecnológica.
161
Pesquisas realizadas nos anos 90 pela Universidade de Sussex com importadores europeus mostram que cerca
de 60% das importações envolvem produtos considerados únicos, sobre os quais os mercados têm pouca
influência direta nos preços.
162
Como exemplos, pode-se citar o memorando de entendimento entre o Inmetro e o Institute of Standards and
Technology; o acordo entre o Inmetro e o Physikalisch-Technische Bundesanstalt (PTB) e o memorando de
entendimento entre o Inmetro e o Bundesanstalt für Materialforschung und– Prüfung (BAM), todos assinados
em 2002.
115
sociedade. O fomento e o estímulo ao desenvolvimento científico e tecnológico são papéis
essencialmente do Estado, cabendo às empresas gerar as inovações de modo a difundir os
benefícios da pesquisa para a economia nacional.
O Brasil tem criado, ainda que tardiamente, interessantes instrumentos voltados ao
incentivo de P&D nas empresas, lutando contra uma questão muitas vezes de origem cultural
de parte dos empresários brasileiros. Esses incentivos passam por créditos e isenções fiscais,
até a remuneração de profissionais altamente qualificados para trabalharem em projetos de
inovação tecnológica dentro das empresas. O governo brasileiro tem também estabelecido
temas prioritários portadores de futuro como nanotecnologia e biotecnologia, direcionando
seus investimentos para projetos cooperativos com empresas nestas áreas.
Embora estejam eminentemente difusas e variem muito dependendo das características
de cada cadeia produtiva, as implicações positivas das barreiras não-tarifárias no que se
relaciona às inovações tecnológicas podem ser relacionadas a: i) aumento do lançamento de
novos produtos; ii) aumento do volume e da qualidade da cooperação entre empresas
(nacionais e/ou estrangeiras) ou entre estas e as instituições de ensino e pesquisa, iii) aumento
do número de patentes depositadas por residentes; iv) aumento do volume de investimento em
P,D&I por parte das empresas e do governo; v) aumento da contratação de profissionais
especializados; vi) investimento governamental em Tecnologia Industrial Básica; vii)
desenvolvimento de processos de produção.
Benefícios Sociais
Não dúvidas de que as inovações tecnológicas tratadas no tópico anterior
demandam, além de eventuais investimentos em equipamentos, a contratação de mão-de-obra
especializada, consultores e supervisores gerando, portanto, novas oportunidades de trabalho
como parte do efeito multiplicador das ações voltadas para a adequação às normas comerciais
internacionais.
Diante do ritmo imposto pela competição global as empresas necessitam manter seu
quadro de funcionários permanente atualizados, sendo este um importante fator de
valorização dos trabalhadores. Segundo estudo desenvolvido por Arbix et al (2004), das
quatro variáveis que mais afetam a probabilidade de a firma ser inovadora, duas delas estão
diretamente vinculadas à mão-de-obra: treinamento e escolaridade
163
. A Pesquisa de Inovação
Tecnológica - PINTEC 2005 corrobora essa afirmação, ao expor que o treinamento figura em
segundo lugar quanto é medida à percepção qualitativa da importância das atividades
desenvolvidas para inovar, com 68,3% das empresas pesquisadas creditando relevância a esta
atividade
164
(IBGE, 2007). Isto demonstra a importância de fatores imateriais, da expertise
científica e técnica, no esforço inovativo. Complementarmente, De Negri e Freitas (2004)
chegaram à conclusão que, de um modo geral, as firmas exportadoras, expostas a normas mais
rígidas de qualidade, empregam mão-de-obra mais qualificada. A média da escolaridade do
trabalhador encontrada nas empresas pesquisadas não-exportadoras era de 6,73 anos,
enquanto que nas exportadoras era de 7,34. Portanto, é bastante plausível supor que, quanto
maior a escolaridade, maior a capacidade inovadora das firmas e, conseqüentemente, mais
capacitada a firma estará para exportar.
Ainda em relação ao aumento da oferta de empregos, as empresas que optam por
direcionar sua produção para o mercado externo, via de regra, precisam criar um setor
específico dentro da empresa para tratar da prospecção de novos mercados e para análise de
suas normas e regulamentos específicos.
163
As outras seriam investimentos em P&D e projeto industrial.
164
Ficando atrás apenas das atividades internas de P&D.
116
Estudos têm demonstrado que o cumprimento das normas trabalhistas, normalmente
visto como barreiras protecionistas, está ligado a maiores níveis de desenvolvimento
econômico, especialmente para países mais pobres. Normas trabalhistas rígidas incentivam
investimentos em treinamento em busca de aumento de produtividade como forma de
compensar os gastos com o cumprimento das mesmas. Por outro lado, os empregados se vêem
incentivados a melhorar suas habilidades de forma a aumentarem seus ganhos quando as
normas mínimas são respeitadas.
Os argumentos prós e contra a padronização das normas trabalhistas internacionais,
tanto dos governos quanto de sindicatos, não sofreram variações significativas ao longo dos
anos. Aqueles a favor argumentam que este seria um instrumento para assegurar o respeito
aos padrões trabalhistas mínimos e que permitiriam aos trabalhadores de qualquer país
organizar-se e negociar melhores condições de trabalho e salário. Os contrários chamam
atenção para o risco de sua utilização para fins protecionistas que, em vez de melhorar a
qualidade dos empregos, pode destruí-los, ao dificultar o acesso aos mercados dos países
desenvolvidos
165
.
Em relação às multinacionais, ao contrário do que é usualmente divulgado, na grande
maioria dos casos, sobretudo em países em desenvolvimento, dispõem de condições
trabalhistas melhores do que aquelas oferecidas pelas firmas locais. Diante da grande disputa
às vagas de empregos nestas empresas, é plausível concluir que estas empresas devem
oferecer condições atrativas, seja em termos monetários
166
ou de condições de trabalho,
quando comparadas às empresas nacionais. Segundo dados da OIT, menos de 5% das crianças
que trabalham em desacordo às normas internacionais estão em indústrias exportadoras
(SINGH & ZAMMIT 2000).
Embora estejam dispersas e variem muito de acordo com cada cadeia e/ou ramo de
negócio, as implicações positivas das barreiras não-tarifárias relacionadas aos benefícios
sociais podem ser observadas por meio de: i) aumento do nível de satisfação dos funcionários
da empresa; ii) melhoria nas condições de trabalho; aumento do número de empregados com
carteira assinada; iii) aumento salarial em função do aumento das exportações; iv) maior
absorção de mão-de-obra especializada (mestres e doutores) pela iniciativa privada, v)
aumento dos programas de capacitação e valorização dos funcionários.
Os ganhos, entretanto, não se restringem ao âmbito empresarial. Muitas exigências dos
compradores externos implicam em melhorias no processo produtivo ou no produto, que não
podem ser restritas a linhas de produção destinadas ao mercado externo. A título de exemplo,
pode-se citar a exigência, por parte de alguns segmentos do setor alimentício da União
Européia, do Japão e dos Estados Unidos, para a adoção de modernos sistemas de controle da
qualidade, entre os quais o APPCC. Como este não pode ser aplicado apenas na linha de
produção voltada a exportação
167
, ganha o consumidor interno que passa a ter acesso a
produtos com o mesmo padrão internacional de qualidade.
Finalmente, havendo estímulos adequados para a livre circulação da mão-de-obra a
formulação e promoção ativa de normas e padrões laborais mais avançados, pode atuar como
elemento de melhoria nos padrões de vida da maioria da população, sobretudo nos países
ainda em desenvolvimento, servindo para elevar a produtividade do trabalho e a performance
geral das economias mais atrasadas (ALMEIDA, 2002).
165
Estima-se que o processamento de alimentos na Europa, setor onde as pequenas e médias empresas dominam,
empregue cerca de 4,2 milhões (WILKINSON & ROCHA, 2006).
166
No México as empresas que exportam mais de 80% de sua produção apresentam uma média salarial 58%
mais elevada em comparação com firmas não-exportadoras.
167
Isso ocorre também na grande maioria dos processos de certificação.
117
Benefícios Ambientais
Quando se discutem os efeitos da aplicação de uma norma ambiental internacional
estão em discussão outros valores além dos estritamente econômicos (MIRANDA et al,
2003). O estabelecimento de barreiras ambientais legítimas gera ganhos sociais claros para o
país exportador; ao passo que o fim destas barreiras pode trazer efeitos adversos, com o
agravamento dos problemas ambientais à medida em que os países intensificam sua produção
(poluidora) para aumentar as exportações. Um efeito esperado da liberação dessas barreiras
seria a tendência das empresas poluidoras migrarem para os países com menor preocupação
ambiental (CASTRO, 2003).
Durante vários anos, a visão comum a respeito da proteção ao ambiente mantida pelo
setor produtivo era a de que essa funcionava como um freio ao crescimento econômico por
elevar os custos de produção. Atualmente, a proteção ao ambiente vem se convertendo em
oportunidades no contexto comercial, auxiliando tanto na expansão de mercados, como na
prevenção contra possíveis restrições de acesso aos mercados externos. Um exemplo disso são
os programas de rotulagem ambiental, que agregam valor ao produto em mercados de maior
sensibilidade ambiental dos consumidores
168
. Ao induzir a preferência para os produtos
rotulados, esses programas buscam também sensibilizar os produtores, por intermédio do
comportamento da demanda, a melhorarem a qualidade ambiental de seus produtos e a
alterarem seus métodos e processos de produção de forma a reduzir os níveis de contaminação
por eles gerados, bem como a demanda por energia e recursos renováveis
169
(CAMPOS e
CORRÊA, 1998).
Outra suspeita comum em relação às medidas ambientais é a de que estas limitariam o
crescimento econômico, reduzindo o emprego; representando apenas uma extravagância dos
países industrializados que atrapalha as metas de redução de pobreza dos países em
desenvolvimento. É verdade que nas fases iniciais do processo de implementação de políticas
de proteção ao meio-ambiente, o potencial de perda de empregos e de competitividade são
particularmente aparentes, com algumas empresas, inclusive, ameaçando encerrar suas
atividades. Entretanto, estudos empíricos têm mostrado que os custos do controle ambiental
geralmente representam uma fração muito pequena dos custos de produção. Além disso, as
oportunidades de negócios que envolvem os bens e serviços relacionados à proteção
ambiental representam um mercado em franca expansão.
Os impasses entre comércio e meio-ambiente sempre existirão, pois, apesar de todos
os argumentos plausíveis, a implementação de medidas que, eventualmente, se tornem uma
barreira não-tarifária não é óbvia. Uma medida considerada legítima para um país é
freqüentemente classificada por outro como uma barreira injustificada para suas
exportações
170
. E como a motivação para que os beneficiados se unam e elogiem as novas
normas é muito menor do que a motivação dos que amarguraram perdas de reclamarem, a
percepção de prejuízos é normalmente preponderante (MOLTKE, 2004).
Conforme resultados obtidos por Ferraz e Motta (2002), em pesquisa com mais de
10.000 unidades locais produtivas do Estado de São Paulo, as empresas que apresentavam
uma proporção maior de exportação sobre as vendas totais, tinham uma maior probabilidade
de investimento ambiental. A mesma pesquisa demonstrou ainda que, para o universo de
168
Mesmo com uma produtividade 10% menor, o arroz ecológico produzido em uma fazenda no Sul do Brasil
possui margem operacional (R$/ha) de 38,89% contra a margem operacional de 18,75% do arroz commodity, ou
seja, uma diferença de 20,14% (LEMOS & NASCIMENTO, 1999).
169
Segundo notícia veiculada em 21/01/2007 pelo sítio www.carbonobrasil.com, os supermercados britânicos
Tesco colocarão etiquetas informando o quanto de carbono emitem todos os 70 mil produtos que vendem, para
que os consumidores possam comparar o ‘custo de carbono’.
170
A proibição da pesca de atum com redes que também capturam e matam golfinhos, por exemplo é
considerada, pelos países em desenvolvimento, como uma medida protecionista, uma vez que estes países não
possuem tecnologia para pescar de outra forma.
118
empresas estudado, a pressão informal (consumidores, ONGs, etc), diferentemente do que
ocorre em outros países, não foi significativa como estímulo direto ao investimento na
proteção ambiental. Os autores salientam, no entanto, que a mobilização popular induziu à
aplicação de multas e advertências, estas sim, eficazes no estímulo de tais investimentos.
A observância dos requisitos ambientais pode traduzir-se em processos de produção
limpos, melhores condições de trabalho e menos riscos no local de trabalho. Tudo isso pode
elevar a produtividade do trabalho e melhorar a eficiência, aumentando o crescimento e a
renda. Além disso, ao promover o uso eficiente da energia e dos materiais, a produção e o
consumo favoráveis ao meio ambiente há liberação de recursos para usos alternativos e menor
geração de resíduos, o que reduz os recursos necessários para a remoção de seu depósito
(MALHORTA, 2004). Um amplo estudo recente promovido pela ONU estudou a influência
dos padrões privados sobre as exportações asiáticas de frutas e vegetais, e concluiu que estes
promoveram uma redução no uso de pesticidas e geram efeitos secundários significativos
sobre a saúde pública e no meio-ambiente local (UNCTAD, 2007).
Como as vantagens comparativas geradas a partir de normas ambientais são
consideradas menos relevantes do que aquelas geradas a partir de diferenças de infra-
estrutura, tecnologias, dotações de recursos, estrutura da política macroeconômica e capital
humano e físico. Assim, normas ambientais mais rigorosas não reduziriam de modo
significativo a vantagem comparativa e, portanto, não prejudicariam a competitividade
comercial (MALHORTA, 2004). Ao invés disso, é possível encontrar dados atestando que
empresas que adotaram estratégias de Produção Mais Limpa, desencadearam um processo de
melhoria contínua, que propiciou o surgimento de inovações em todos os sentidos (processo,
produto e gerência) que, por sua vez, aumentam a competitividade seja por meio da conquista
de preços-prêmio pelos produtos, seja pela otimização na utilização dos recursos (LEMOS &
NASCIMENTO, 1999). Isso significa que os efeitos comerciais destas exigências podem ser
minimizados e que se pode chegar a uma situação que gere benefícios para a sociedade como
um todo.
Mensurar benefícios ambientais é sempre uma tarefa delicada e complexa. Mas
podemos elencar alguns indicadores indiretamente relacionados aos investimentos das
empresas e do governo a partir das demandas de compradores internacionais. Neste contexto,
a implementação de normas ambientais mais rígidas pode, em certos casos levar a: i) redução
de despejos; ii) redução de desperdício; iii) melhora do ambiente em torno do estabelecimento
produtivo; iv) melhora na saúde dos funcionários
171
. A nível macro, alguns eventuais
benefícios para a sociedade como um todo são: i) melhora da qualidade ambiental (do solo, da
água e do ar) de uma forma geral, com conseqüente melhoria da qualidade de vida; ii)
melhora no aproveitamento e conservação dos recursos naturais iii) prevenção e minimização
de degradação ambiental e; iv) geração de novas oportunidades de empregos em outras áreas.
Inovações gerenciais
Os investimentos necessários para a superação de barreiras não-tarifárias não são
direcionados exclusivamente para a linha de montagem do produto. Quando se objetiva
aprimorar os serviços ligados à Tecnologia Industrial Básica, é preciso lembrar que a
Tecnologia de Gestão também é uma função da TIB. A Tecnologia de Gestão é representada
pelo conjunto de técnicas e metodologias gerenciais, de diferentes graus de complexidade
que, articuladas entre si e às demais funções da TIB, podem viabilizar a geração de inovações.
Como exemplos, pode-se citar: gestão da qualidade, gestão do meio ambiente, segurança
171
Um bom exemplo é a citricultura sul-africana que, ao se adequar às normas ambientais e de saúde mais
rígidas dos EUA e da União Européia, acabou por reduzir o uso de pesticidas por meio do manejo integrado de
pestes, e melhorou as condições de trabalho já que reduziu a exposição dos agricultores aos pesticidas (KUMAR,
2006).
119
industrial, saúde ocupacional, marketing, gestão do design, de tecnologia, de P&D, estratégia
de negócios e do conhecimento (da SILVA, 2004).
As mudanças nos sistemas de gerenciamento e de controle podem gerar aumentos
substanciais na eficiência, reduzindo custos de produção e promovendo a competitividade.
Com isso a firma envia sinais que são captados pela demanda, fazendo com que aumente a
sua inserção em novos mercados. Além disso, a melhoria dos sistemas de controle gera, por si
só, uma redução de perdas e, conseqüentemente, de material descartado como lixo.
As parcerias entre as empresas com o objetivo de aumentar a capacidade exportadora
são estabelecidas, principalmente, entre as Pequenas e Micro Empresas (PMEs). O
desenvolvimento de clusters e de redes pode melhorar a posição competitiva de PMEs e
reduzir as restrições relacionadas ao seu tamanho por meio da ajuda mútua. A cooperação
horizontal e a criação de externalidades positivas geram vantagens competitivas através da
“eficiência coletiva”. Estas, por sua vez, estão relacionadas a economias coletivas de escala,
benefícios na disseminação de informações e divisão do trabalho entre firmas. Os benefícios
aumentam conforme a redução dos custos de transação que tendem a diminuir com a
proximidade geográfica, infra-estrutura compartilhada, normas comuns e regras táticas para
cooperação (QUANDT, 2004).
A proximidade de vários setores de uma cadeia, como ocorre nos Arranjos Produtivos
Locais, gera benefícios tangíveis e intangíveis relevantes como uma maior troca de
informações por canais informais e a possibilidade de construção de projetos de intercâmbio
de pesquisa e desenvolvimento. O estoque de conhecimento e capacidade na indústria
nacional se acumula à medida em que as firmas se imitam e os trabalhadores se movimentam
entre elas. Os grupos de empresas e de setores competitivos tornam-se mais do que a soma de
suas partes e tendem a se expandir na medida em que uma firma ou setor competitivo
favorecem e geram outros. A concentração geográfica de uma determinada cadeia produtiva
de sucesso mundial funciona como um verdadeiro imã atraindo firmas correlatas, pessoas de
talento, e outros fatores que aumentarão ainda mais a vantagem competitiva de toda a região e
das empresas nela localizadas (PORTER, 1989).
Um caso cada vez mais comum ocorre quando pequenos empreendedores se associam
de forma a permitir ganho de escala e escopo necessário para construir facilidades para ações
que envolvem elevados custos de transação, como é o caso dos processos certificação. Esta
estratégia também pode ser observada no caso de necessidade de construção de laboratórios
para análises comuns, câmaras de armazenamento de congelados ou de estações para
tratamento de efluentes. Uma forma de parceria entre os produtores que tem sido aplicada
com ótimos resultados para de forma a reduzir os custos de certificação na cadeia de
exportadores de frutas é a certificação em consórci
120
como exames laboratoriais, consultorias ambientais ou estudos de impactos, são executados
por empresas de menor porte (WILKINSON, 2004).
De modo geral, o aumento das exigências internacionais favorece ações voltadas ao
aumento das coordenações vertical e horizontal entre os integrantes das cadeias, com o
estabelecimento de contratos de fornecimento e vínculos de confiança mais duradouros e
personalizados. Neste processo de difusão das exigências pela cadeia produtiva além do
aprendizado coletivo e da troca de informações formais, há uma intensa troca de experiências
e conhecimentos tácitos que na maioria das vezes não são contabilizados.
Estudos recentes, com as cadeias indianas de vegetais, leite e carne de gado,
concluíram que a disseminação de cadeias coordenadas por contratos tem trazido bons
resultados para os produtores e homogeneizado a distribuição de lucros pela cadeia. Ao que
tudo indica, os contratos, além de beneficiar os produtores com a garantia da venda da
produção, também promovem um aumento da eficiência, entretanto qualquer generalização
nesta área não é recomendada (WILKINSON & ROCHA, 2006).
De forma bastante pragmática, é possível reunir os benefícios relacionados às
inovações gerencias em dois grandes grupos. Ao nível da empresa, uma maior rigidez das
normas para comercialização internacional de produtos leva a investimentos relacionados a
tecnologias de gestão. as mudanças na cadeia produtiva envolvem uma maior rigidez nos
contratos e o repasse das exigências tanto para os fornecedores quanto para os responsáveis
pelo transporte do produto até o comprador. Ampliando o foco de análise, maiores exigências
na troca de mercadorias abrem mercado para negócios como: certificadoras e organizações
não-governamentais que colaboram reunindo e divulgando dados relacionados às barreiras, ou
ainda empresas que fazem da superação das barreiras o seu próprio negócio
173
.
Vantagens competitivas
“A vantagem competitiva é mantida pela melhoria e aprimoramento
constantes. Praticamente qualquer vantagem pode ser conseguida por
outros, mais cedo ou mais tarde, se o líder deitar-se sobre os seus louros.
Para manter a vantagem, a empresa deve tornar-se alvo móvel, criando
novas vantagens pelo menos com o mesmo ritmo em que seus concorrentes
igualam as suas vantagens exclusivas anteriores”. (PORTER, 1989).
O conceito de competitividade pode ser aplicado tanto em relação a uma firma, se
referindo à capacidade de conquistar e/ou manter mercados; quanto em relação a um país. No
segundo caso, a competitividade é avaliada de acordo com o fluxo de entrada de divisas e da
121
30%, causando enormes prejuízos econômicos aos agentes da cadeia produtiva da carne.
Diante disso, a Comunidade Européia tomou medidas sanitárias de grande impacto e criou um
Regulamento Técnico para restabelecer a credibilidade do setor. Oportunamente, o Brasil
expôs a representantes da União Européia, em visita ao Brasil, as vantagens do gado
alimentado com pasto, ao invés de ração animal e obteve ganhos comercias importantes neste
setor.
Em função da abertura dos mercados e do conseqüente aumento da concorrência, a
procura pela diferenciação e por novos de nichos de mercado é cada vez mais utilizada como
estratégia comercial. Nesse ambiente, o estabelecimento de padrões mais rígidos para seus
produtos pode ser encarado como uma ótima estratégia para produtos de maior valor
agregado, direcionados aos consumidores que não distinguem os produtos imediatamente pelo
seu preço, mas pelos benefícios, ou sua segurança. Assim sendo, as empresas passam adotar e
divulgar seus rígidos códigos de práticas como estratégia de marketing.
Um dos efeitos da adequação das normas internacionais mais rígidas é a possibilidade
de ganho de competitividade em uma base sustentável, habilitando as empresa a penetrarem
em outros mercados. Teorias revisionistas mais recentes passaram a considerar as
regulamentações ambientais e sociais como forças propulsoras do fortalecimento da
competitividade das empresas e da economia como um todo nos mercados mundiais
175
(CAMPOS e CORRÊA, 1998). Outro benefício indiretamente relacionado às barreiras não-
tarifárias é a melhoria da imagem e da confiabilidade do país. Ao se adequar às normas
internacionais, o país melhora a sua percepção de risco de investimento externo e também
facilita as negociações para estabelecimento de contratos de fornecimento de insumos para
diversas cadeias produtivas.
Entretanto, simplesmente se adequar às exigências pré-estabelecidas raramente leva a
margens de lucro mais elevadas ou a maiores fatias de mercado em curto prazo. Sob uma
perspectiva dinâmica, cumprindo esses requisitos os exportadores aumentam as suas
oportunidades de consolidar e expandir as fatias de mercado. Mesmo quando os custos de
adequação se mostram significativos em uma análise estática, a análise dinâmica pode revelar
custos mais baixos, que o incentivo à inovação e ao uso de “tecnologias limpas” pode
resultar em economias de custo de longo prazo (UNCTAD, 2004).
O fato das barreiras comerciais terem estimulado as empresas multinacionais de outros
países a se instalarem nos Estados Unidos como forma de inserir seus produtos neste
mercado, em vez de tentar entrar em seu mercado pela via das exportações, permite que as
barreiras também sejam vistas como incentivadoras da expansão das empresas por meio do
estabelecimento de filiais em outros países.
Conforme explorado em tópicos anteriores, a grande oportunidade de apropriação
das barreiras não-tarifárias sob a forma de vantagem competitiva estaria na antecipação das
normas e na participação da elaboração das mesmas, evitando que estas se transformassem,
efetivamente, em barreiras à comercialização de suas mercadorias. Conscientes disso, os
países desenvolvidos investem fortemente na participação de seus representantes das mesas de
negociação na ISO, Codex, OIE e IPPC, onde são elaborados as regras, acordos e padrões que
regem o comércio internacional. E nestes fóruns utilizam todos os mecanismos disponíveis
para que os interesses de suas empresas e/ou de seus consumidores sejam contemplados.
Exemplificando os benefícios tangíveis relacionados às vantagens competitivas
advindas do esforço de superação das barreias não-tarifárias, pode-se citar o acesso a
mercados e cadeias de distribuição mais lucrativos, redução nos custos devido ao aumento da
eficiência, redução de descarte no processo produtivo, maior controle e redução dos prejuízos
durante eventuais crises. Já entre os benefícios intangíveis temos: oportunidade de examinar a
175
Esses estudos demonstraram que vários setores industriais dos Estados Unidos, submetidos a regulamentos
rigorosos, tornaram-se bem mais competitivos (CORRÊA, 1998).
122
eficácia dos controles como um todo, aumento da qualidade do produto, aumento da
satisfação e das condições de trabalho dos empregados, aumento da reputação da empresa
e/ou do país (BANCO MUNDIAL, 2005).
Integração de blocos regionais
A competição, a multinacionalidade das organizações, a concentração dos negócios
(fusões, aquisições, incorporações), a criação e o amadurecimento dos blocos econômicos
(União Européia, MERCOSUL) e de acordos comerciais (NAFTA, ALCA) têm mostrado que
o momento é de uma economia mundial complexa. Convive-se com um paradoxo que expõe
uma certa dualidade da globalização, onde temos um divulgado regime de abertura comercial
ao lado de um acobertado protecionismo que obsta ou limita o acesso a mercados. É
importante salientar que, na última década do século XX, os movimentos de regionalização,
que em princípio, seriam contraditórios à globalização, avançaram paralelamente a esta de
modo consistente (ALMEIDA, 2002).
Neste contexto, os acordos regionais de comércio beneficiam seus integrantes por
meio de áreas de livre comércio, uniões aduaneiras, mercados comuns e outros arranjos
preferenciais. A integração regional é vista como um modo dos países participarem mais
efetivamente do sistema de comércio internacional. Muitos planejadores políticos consideram
os acordos regionais como parte integrante de uma estratégia geral de desenvolvimento,
visando uma integração gradativa e estratégica na economia global
176
(MALHORTA, 2004).
Por outro lado, não se deve esperar que a integração a um bloco regional resolva todos os
problemas de desenvolvimento econômico e social no curto ou médio prazo; estes podem
ser encaminhados internamente, com a mobilização de outros vetores de transformação
estrutural como: educação, capacitação profissional, investimentos em ciência e tecnologia,
modernização institucional, etc.
A formação dos blocos regionais interfere de modo direto e significativo nas questões
das barreiras sanitárias. As ações, normalmente são tomadas em dois sentidos distintos: i)
visando a redução ou eliminação das barreiras para os países integrantes do bloco e, ii)
padronizando as restrições aos produtos dos países não integrantes. Neste processo, muitos
blocos de países aproveitam para elaborar exigências tão exacerbadas, que torna evidente sua
tentativa de defender seu mercado doméstico. Neste sentido, pode-se sugerir que a proteção
de mercados por meio de barreiras técnicas e sanitárias também pode ser encarada como
catalizadora da agregação dos países em blocos comerciais. Via de regra, o nivelamento dos
padrões visando à eliminação das barreiras internas ao bloco não é tarefa simples,
demandando uma maior aproximação entre os países, com muitas rodadas de negociação e o
estabelecimento de acordos de cooperação técnica. Acordos que buscam a resolução de
problemas pragmáticos como a padronização de embalagens
177
, mas que trazem em seu bojo
benefícios políticos claros.
176
Por ocasição da comemoração dos 50 anos da União Européia, o jornal inglês “The Independent” produziu
uma lista com 50 benefícios gerados pela constituição do bloco. Dentre estas se pode considerar que estejam
relacionadas aos assuntos tratados nesta tese: i) países outrora pobres, como Irlanda, Grécia e Portugal
prosperam; ii) a criação do maior mercado interno do mundo; iii) direitos de consumidores sem paralelo para os
europeus; iv) praias e rios mais limpos ao longo da Europa; v) fazer com que os franceses comam carne britânica
de novo; vi) a EU duas vezes mais ajuda a países em desenvolvimento do que os EUA; vii) compras sem
fronteiras dão a consumidores maior poder de formatar os mercados; viii) a classificação de alimentos é mais
clara; ix) forte crescimento econômico, superior ao dos EUA em 2006 (OSWALD, 2007).
177
No âmbito da Associação Estratégica dos Institutos de Tecnologia Industrial do Mercosul, composta pelo
Inmetro (Brasil), INTI (Argentina), LATU (Uruguai) e INTN (Paraguai), foram criados, no exercício de 2002, os
Comitês de Tecnologia, de Metrologia e de Certificação. Já por meio do projeto “Calidad en el Transporte de
Mercaderias en el Mercosur”, que envolve a Japan International Co-operation Agency (JICA) e os institutos da
123
Apesar das conhecidas exceções, a proximidade geográfica, normalmente, é um fator
de coesão entre as nações. Em um contexto de incertezas e grande fluidez dos fluxos
econômicos, a integração regional parece fazer parte de um processo de caráter unificador e
estabilizador. Esta assume não a função de garantia de mercados e parceria econômica: os
blocos econômicos caminham também em direção a formas de união política, respondendo à
necessidade de garantir a estabilidade da ordem internacional. Neste contexto, a União
Européia se destaca pois os laços que unem o bloco não se dão sob a forma de opressão, mas
por meio de uma relação democrática onde as decisões são tomadas de forma consensual.
Essa situação difere muito da relação de dominação ocorrida durante a guerra-fria, quando
Estados Unidos e União Soviética buscavam, cada qual, aumentar o seu campo de influência,
utilizando-se muitas vezes da força com este propósito. Os dois hegemons procuravam então
criar laços fortes, mas com características de dominação, sobre os países pertencentes à sua
rede de influência.
Os acordos regionais de comércio entre países em desenvolvimento têm o potencial de
gerar enormes benefícios para o desenvolvimento humano, quando esses acordos criam um
espaço de desenvolvimento regional ou idéias afins, ou interligam áreas remotas e
negligenciadas. Tais acordos podem fomentar a solidariedade e unir países em estágios
semelhantes de desenvolvimento, permitindo uma relação mais simétrica de poder do que a
estabelecida entre países industrializados e em desenvolvimento. E, quando estrategicamente
administrados, também tendem a aumentar o poder de barganha das coligações de países em
desenvolvimento nos runs internacionais, como a OMC. Tais países têm a probabilidade de
obter benefícios muito maiores para o desenvolvimento humano quando conjugam seus
esforços nesses fóruns (MALHORTA, 2004).
Acordos de livre comércio regionais e bilaterais
A despeito da criação da OMC e da época de acelerada globalização econômica, os
acordos regionais de comércio estão se proliferando. Quase todos os países em
desenvolvimento são signatários de pelo menos um ou dois acordos
178
(MALHORTA, 2004).
As razões que levam os países a celebrarem acordos regionais de comércio podem ser bem
distintas como: i) reduzir os custos de importação, favorecendo os consumidores internos; ii)
permitir que os produtores nacionais se beneficiem de economias de escala em função do
aumento do mercado; iii) estimular investimentos estrangeiros e a transferência de tecnologia
entre os membros signatários; iv) servir como fórum onde o tema da liberalização pode ser
tratado de forma mais rápida ou mais lenta do que na OMC, de acordo com a conveniência
para os membros; v) restringir a abertura dos mercados a determinados países (ou grupo de
países) não aplicando a Cláusula da Nação mais Favorecida e; vi) gerar benefícios não
essencialmente econômicos, como ganhos na segurança nacional e no manejo dos fluxos de
imigrantes (BRUINSMA, 2003). Como conseqüências negativas, destaca-se a maior
visibilidade de eventuais ineficiências dos padrões de produção dos países signatários.
A equivalência de normas e a redução das barreiras técnicas e sanitárias estão sempre
inseridas nas negociações de formação dos blocos regionais. No caso da Comunidade
Européia, o conceito de reconhecimento mútuo entre países membros foi primeiramente
ventilado na decisão Cassis Dijon em 1979. Esta decisão estabeleceu, explicitamente, que as
nações eram livres para manter e aplicar suas próprias regulações para produtos produzidos na
sua jurisdição, mas elas não podiam proibir, juridicamente, seus cidadãos de consumir
produtos que cumprissem com as normas jurídicas de outro país membro, à medida em que
Aliança Estratégica, busca-se a solução de problemas na concepção de embalagens para produtos que são
transportados nas estradas dos quatro países (FERRACIOLI, 2004).
178
Cerca de 60% dos acordos que estavam em vigor no fim de 2000 eram entre países europeus, neste mesmo
ano, os acordos envolvendo países em desenvolvimento respondiam por cerca de 15% do total .
124
eles oferecessem um nível equivalente de proteção aos interesses públicos em questão
(OLIVEIRA, 2005). Acordos mais complexos determinam que as partes considerem suas
exigências nacionais como equivalentes; conseqüentemente, uma mercadoria que possa ser
legalmente vendida em um país, assim o será nos demais países partes do acordo.
Em 18 de fevereiro de 1960, foi concluído em Montevidéu um tratado estabelecendo
uma Zona de Livre Comércio e instituindo a Associação Latino-Americana de Livre
Comércio (ALALC), entre a Argentina, Brasil, Chile, México, Paraguai, Peru e Uruguai.
Posteriormente a Bolívia, Colômbia Equador e Venezuela integraram-se ao grupo que
estabeleceu o prazo de 12 anos para entrada em vigor da Zona de Livre Comércio. Dentre os
principais objetivos da ALALC, destacavam-se: i) a eliminação gradual das barreiras e das
restrições de toda ordem que incidam sobre a importação de produtos originários do território
de qualquer Parte Contratante; ii) realização de negociações periódicas entre as partes
contratantes resultando na emissão de Listas Nacionais e uma Lista Comum de redução de
barreiras sobre a importação. Em agosto de 1980 foi subscrito um outro tratado, substituindo
o anterior criando a Associação Latino-Americana, de Integração (ALADI), que possui como
objetivo final estabelecer um mercado comum latino-americano (CAMPOS, 1990).
O Mercosul iniciou-se ainda na década de 1980, por meio dos primeiros
entendimentos entre Brasil e Argentina com a perspectiva de implementar um acordo de
complementação econômica com um mercado comum, ainda que em uma modalidade
intergovernamental e não sob o formato do direito comunitário como no caso da UE.
Entretanto, dez anos depois de sua criação este ainda permanece na condição de União
Aduaneira Incompleta. Embora seja um sucesso em muitos aspectos e tenha gerado benefícios
econômicos significativos para seus membros
179
, as disparidades de renda dos países
membros permanecem inalteradas, e mais de 37% dos cidadãos dos países do Mercosul vivem
abaixo do nível da pobreza (MALHORTA, 2004). Analistas também avaliam que o Brasil
errou ao não prever no acordo uma margem de manobra para que pudesse estabelecer algum
nível de acordo bilateral com outros países sem a necessidade de anuência dos demais
participantes do Bloco.
O tratado de livre-comércio entre Canadá e Estados Unidos (CUSFTA), eliminou as
tarifas entre os dois países, bem como liberalizou sobremaneira as regras para investimentos.
Este acordo entrou em vigor em 1989 e foi substituído posteriormente pelo North American
Free Trade Agreement (NAFTA), que entrou em vigor em 1994 envolvendo também o
México, e praticamente eliminando qualquer restrição ao fluxo de investimentos externos
diretos.
A Asia-Pacific Economic Cooperation (APEC) representa um grande grupo sob o
ponto de vista geográfico e seus membros são responsáveis por 24% do comércio
internacional. A previsão é de que a porção asiática no Pacífico esteja praticando o livre-
comércio em 2010. As negociações atuais enfatizam a facilitação e liberalização do comércio
na região.
A grande proliferação dos blocos regionais permitiu o surgimento de um novo formato
de acordo comercial, os acordos intra-blocos. Como exemplo, pode-se citar a assinatura, em
1995, do “Acordo Quadro Inter-Regional de Cooperação”, assinado entre o Mercosul e a
União Européia. Este acordo é considerado um instrumento de transição para uma futura
associação inter-regional, cujo pilar básico seria a implementação de um programa de
179
Atualmente o Mercosul responde por 70% do comércio latino-americano. Seus membros têm um PIB
conjunto de aproximadamente um trilhão de dólares e abrigam 230 milhões de habitantes, o que faz do Mercosul
o terceiro maior bloco comercial do mundo, atrás da UE e do NAFTA. Entre 1990 e 1999, o comércio entre os
integrantes do Mercosul cresceu mais de 200% e, entre as regiões do mundo, foi a que teve o maior crescimento
no comércio intra-regional (MALHORTA, 2004).
125
liberalização progressiva dos fluxos comerciais recíprocos (MERCOSUL, 2003 citado por
VIEGAS, 2003).
Estabelecendo um paralelo em relação ao que ocorre no caso das empresas, as
barreiras não-tarifárias também podem promover uma aproximação entre os países sob a
forma de ações cooperativas visando a superação das mesmas. Neste processo uma
expressiva troca de experiências culturais, tecnológicas e pessoais que podem vir a melhorar a
qualidade de vida dos habitantes dos países envolvidos. Isso ocorre muitas vezes porque
alguns problemas não são circunscritos ao território dos países, ou quando os países
apresentam disparidades tecnológicas ou de sistemas de controle que prejudicam os demais
integrantes do bloco comercial
180
.
Os dados que estão relacionados à maior integração entre países e que podem ser
creditados, ainda que indiretamente, a uma maior rigidez nas regras de comercialização
internacional de produtos são: i) aumento do mero de países membros de algum bloco
comercial; ii) número de tratados de comércio e de reconhecimento de normas; iii) aumento
do volume de acordos entre os blocos regionais; iv) aumento da participação de forma
integrada em blocos nas negociações da OMC; v) aumento do volume e valor das trocas de
mercadorias entre os países de um mesmo bloco comercial; vi) melhoria dos
desenvolvimentos humano e econômico dos países após a sua integração em um bloco
comercial.
Revisões na legislação
Um ambiente legal e regulatório adequado é essencial para o desenvolvimento
sustentado dos países em desenvolvimento. Portanto, esse não deve ficar atrás das legislações
de outros países e nem ser anacrônico, sob pena de prejudicar a vantagem 74( )-90.1997(O)1.57564(M)-1.506(74( )-90.1997(O)1.3(l)-2.1643(o)-0.2946436(u)-0.295585(d)-0.213.74(n09(m)-2.4599e213.74(n09(m)-2.4599(d)-0.293142(o)-)3.74244(s)-11.23713.74( 0]TJ-288.65 -13.8 Td[(c)3.74(u)-0.294974(n)-0.29497(o)-0.294974(o)-0.2949774(r)2.80561(i)-2.16558)3.74(c)3.74(o)-0.29555(t)-2.16558(e)3.74(s)-1.22997( )-0.147792(d)-0.295585(o)-0.2955857( )-100.207(p)-0.295585(a)3.74(í)-2.16555())2.80561(.)-0.147/R9 12 TJ-288.6A -13.8 Td[(O)1.57442(s)-2.4599n6(a)-6.2659(g)-0.295594363(e)3.74(12(e)3.74(n)-0.295585(c53.74(l)-2.16516558(a)3.)-30.1643(d)-0.295585(e)3.72(s)-2.45990.301(a)3.74(i)-2.16558(u)-0.294974(585(a)3.74(r)-7.2(s)-2.45995(u)-10.3015(e)-6.2574( )-270.306(i)-2.16436(n)-0.295585(t)-2..2659(a)3.312( )-260.3(b)-0.295585(l)-2.16436(o)-0.295585(c)3.74(o)-0.295585(-0.295585( )-660.536(c)3.74(o)-0.295585(t)-2.16436(e)-6.267.793 0 Td[(c)3.74(i)-2.(o)-)3.74244((s)-1.232( )-180.254( )-110.212(d)-0.2b( )-100.207(p)-0.2t(m)-2.41q 0.172.201 -13.8432997( )-190.26(d)-0.2(o)-0.295585(-0.2955845995(a)3.74(n)74(ã)3.74(o)-10.30116436(a)3.74(t)-2.164367( )-100.2075(m)-2.45995(i)-2.16436(c)3.74(o))-10.3015( )-3095585(e)3.7(n)-0.295585(t)-2.804(ó)-0.295585(r)2.80439(i)-2.98027(o)-0.29315(i)-2.16436(s)-1.231213.74(n09(m)-10.3012(t)-2.16436(o)-10.230Tf410]TJ-320.229 -13.8 Td[(s)-1.229974(t)-2.116558(e)3.(v)-0.295585(i)-2294974(m)-2.45995(e)3.74(n)-0.295585(t)-2.165589(m)3( )285(o)-0.295585(d)-0.29(m)3( )28545995(a)3.74(n)-0.2955858(i)-2.16558(v)-0.295585(a)3.74(s)3( )285b( )-100.207(pt)-2.16436585(a)3.74( )-350.354)-0.295585(c53.78(t)-2.16558(r)2.95585(a)3.74(s)3( )285(n)-0.29558é(n)-10.3015(a(ô)-0.295585(n)-0.295585(i)-12ad)-0.294974(e)30.3015(s3( )235(d)-0.29(m)3( )2659( )-280.3(v)-0.295585(a)3.74O)1.3(l)-2.1643(o)-0.2á(t)-2..2659(a)3.39(c)3.73756(i)-15(ó)-0.251.90(o)]TJ26(o)-0.295585(,)-3( )2654( )-30.1643(n)-0.295585(ã)3.74(o)-3( )26595585(a)3.74(r)2.(g)-0.295585(r)-7.16558(a)3.74(m)-2.45995(e)3.74(n)-0.295585(t)-2.16436(e)3.74(,)-3( )265(o)-0.295585(l)-2.7(i)-2.16558(v)-0.295585(e)-6.2659(m)3( )265àd)-0.29(m)3( )2654( )-100.207(n)-0.2(o)-0.295585(c)3.74(e)3.74(s)-1.231 -13.8432997( )-1(d)-0.213.74(n05( )-260.303(d)-0.293142()3( )2652( )-90.1997(d)-10.299(e)-6.263451.90(o]TJ6-267.758 -13.88(i)-2.16558(d)-0.2 Td[(a)3.74(n)-0.294974(t)-2.16558(a)3.74(ç)3.74(õ)-10.3015(a)3.74(s-0.29552( )-120.217(o)-0.295585(u)-0.2955[( )-280.312(m)-2.45995(a)3.7(o)-0.295585(m)-2.45995(u)-0.29552( )-360.359(a)3.74(o)s)-1.2312( )-80.1938(d)-0.295585(e)3.74(s)-1.22997(e)3.74(n)-0.295585(v)-0.295585(o)-0.295585(l)-2.16436(v)-0.295585(i)-2.16436(m)-2.45995(e)3.74(n)-0.295585(t)-2.1643685(s)-1.2312( )-80.1938(d)-0.295515(e)3.74( -0.295585(v363(e)3.(n)-0.295585(v)-0.20.359(o)-0.293142(15(e)3.7(u)-0.295585(m)-2.r5585(a)3.74(s)]TJ27(o)-0.295585(c)3.74(o)-0.295585(15(e)3.7(o)-0.295585(l)-2.94363(e)3.2(o)-10.3015(a)3.74(i)-2.164(o)-0.295585(.)15(e)3.74( )-90.19(.)15(e)3.78 -13.8 Td[(E)0..16436(s)-1.2314(t)-2.16558(a)3.74(d)-0.295585(o)15(e)3.75(l)-2.16436(a)3.706(s)-1.2312(u)-0.295515(e)3.74( -0.29558544(ç)3.74244(-0.20.35995515(e)3.7[(E)0..164ó4(-0.20.35995515(e)3.7n7( )-1(d)-0.213.74(n09(a)-6.26346( )250]TJ-278.80(v)-0.295585(i)-229497 Td[(a)3.74(b)-0.295585(l)-2.16558(294974(m)-2.45995(e)3.74(n)-0.29558(p)-0.295585(a)3.74(ç)3.74(ã)3.74(o)-574(ã)74( )-260.301(d)-0.29558574(ã)74( )-10.1525(p)-0.295585(b)-0.2955895585(a)3.729(a)3.74122(t)-2.1655c(s)-11.2358(r)2.95585(a)3.74(s8574(ã)7(n)-0.295585(c53.76(m)-2.45995(e)3.74(n)-0.2955895585(a)3.7fó)-0.295585(r)2.80433.74(r)2.805(c(o)-0.295585(s)-1.2(d)-0.29558574(ã44(n)-0.295585(t)-2.16558(e)3.74(c)3.74(n)-0.295585(o)c)3.73755(l)-2.16558(ó)-0.0 Td[(g)9.71276(142(e)3.953 )]TJ277.964 0(o)-0.295585(s574(ã445( )-270.306(e)3.74(m)574(ã445( )-270.306(a)3.74o(l)-2.16436(v)-0.29558)3.74(ã)3.74(o)-574(ã015( )-300.324(a)3.74(o)-574(ã0174(s)-1.2312(s)-1(n)-0.295585(t)-2.16436(o)-0.293142(r574(ã019( )-280.312(p)-0.295585(r)2.80439(o)-0.295585(d)-0.295585(u)-0.2997(O)1.3(l)-2.4(n)-10.3015(v)-0.2.301516436(e)3.74(,)-574(ã0142(e)3.74244(m)-2.462.2312(e)3.74(s)-1.2312(,s)-11.23713.953 ]TJ-278.8080561(e)3.74(t)-2.16558(294979 -13.8 Td[(b)-0.295585(é)3.75(s)-1.22997(,)34( )25312(s)-1x3.74(ç)3.74(õ)-1059(e)3.74122(r)2.6(m)-2.45995(e)3.7416558(a)3.74(d)-0.295585(o)-4( )2534( )-350.353(o)-0.295.2 Td[(a).278(h)-0.2.57564(M)-1.506(74(95585(a)3.74(l)4( )253fó)-0.396561(c)3.73901(u)-0.29558597( )-190.26(d)-0.25(i)-2.16436(m)-2.45995(e)3.74(n)-0.295584(i)-2.16436(a)3.74(l)4( )2d[( )-120.217(d)-0.2955é)-6.2659( )-3.45995(e)3.74(n)-0.295585(t)-2.4(l)4( )2d312( )-260.3(r)2.80439(e)-6.2659(g)9.71032(u)-0.295541 )]TJ277.964 016558(a)3.74(d)[(a)3.74(p)-10.304(l)4( )2d[( )-120.217(d)-0.2(o)-0.295585(-4( )2d312( )-260.3i)-2.16436(a)3.74(l)-2.16516558(a)3.)-30.1643(d)-0.295585(295585(-4( )2d9( )-3.45995(e)3.74(n)-0.295584( )-350.354)-02.80485(-4( )2d44(-0.20.359955-4( )2d4(í)-2.16436(s)-1.23(n)-0.293142(t)-2.16442(o)-10.299(r)-7.201595541 ]TJ-278.80 Td[(a)3.74(p)-0.29 Td[(c)3.748(i)-2.16558(o)-0.294974(u)-0.294977(s)-1.22997(i)-2.16558(d)-0.295585(o)-0.a)3.74( )-90(o)-0.a)3.7(d)-0.295585(o)-0.a)3.7(o)-0.295585(m)-2.45995(.74122(r)2.4(t)-2.16558(a)3.74(d)-0.2955855(s)-1.22997(,)r)2.80566(i)-2.468.506(74(95585(a)3.7(u)-0.295585(a)3.74(n)-0.295585(d)-0.295585(o)-0.a)3.7.57564(M)-1.506(74(95585(a95584(i)-2. 4(s)-1.231(u)-0.295585(m)-2.45995(a)3.74(d)-0.295585(u)-0.295585(t)-2.45995(a)3.74(a)-0.2955)-2.165(d)-0.295585(o)-0.297374( )-90(o)-0.e)3.74( )-90rv)-0.295585(i)]TJ26e(t)-2.16558(a)3.74O)1.3(l)-2.4(m)-2.45995(b)-0.2)-2.03(a)3.74244(l)-2.16431(i)-2.16558(d)-0.295585(a)3.74(d)-0.2 o)-0.295585( )-90.1997(d)-0.29558544(a)3.74244(s)-1.2314( )-120.217(s)-1.2312(i)-2.16436(s)-1.2312(t)-2.16436(e80439(m)-2.45995(a)3.44(s)-1.23197( )-190.26(q)-0.295585(u)-0.2955s)-1.231g7( )-1(d)-0.213.74(n095585(a)3.74(r)2.46239(e)3.74244(n)c)3.737536(s)-1.2342(r)2.804342(e)3.74244( )250]TJ-264.756 -13.8 Td[(c)3.7495585(a)3.74(s8)2.89995(i)-2.16436(c)3.74(u)-0.294974(n)-0.29497(o)-0.2)3.74(o)-0.2955874(r)2.80561(i)-2.16558)3.74(c)3.74(o)-0.29555(t)-2.16558(e)3.74(s8)2.89990.324(a)3.74(o)-)2.89994(n)-10.3558(e)3.74(c)-616558(e)3.7.2312(e)3.70.324(a)3.74(o)-)2.89994(n)-10(o)-)2.89994( )-180.254(p)-0.295585(r)2.80561(o)-0.295585(d)-0.295585(u)-0.295585(t)-2.16436(o)-0.295585(s)2.880439(e)3.74244(s)-74(j)-2.16436(u)-0.295585á(l)-2.7(i)-2.1655854)-0.295585(c.2312(i)-2.1646.952 0 Td[( )-3085(s)2.8804(o)-0.293142)-0.295544(c)]TJ250.306(e)3.74(m))2.88045( )-360.359(q)-0.295585(u)-0.203(a)3.74244(l)-2.16431(i)-2.16558(d)-0.295585(a)3.74(d)-0.285(s)-1.2312(.)-)2.88044( )-90.19(o)-0.295585(s)2.88044(E)0.64002e(t)-2.16436(a)-6.265959(g)9.71032(u)-0.295585(l)-2.5(i)-2.16436(m)-2.45995(e)3.74(n)-0.295585(t)-2.16436(o)-0.295585(s)2.8804T -13.8 Tdéo)-0.2931c4(r)2.46239(e)3.7424485(r)2.80433.74(r.74244(-0.20.35999(e)3.74244(s)-11.2371( 4710]TJ-320.229 -13.8 Tdã(i)-2.16436(c)3.74(u)-0.2955(o)-0.294974(o)-0.29497(u)-0.2955b(i)-2.16558)3.74(c)3.740.306(e)3.74(m-0.2955e)1i)-2164x3.74(ç)3.74(õ)-1090.1997(O)1.57564(M)-1.(b)-0.295585(l)-2.16558 o)-0.295585( )-80.195(d1i)-2164(o)-0.20205(o)-0.29558(u)-0.295515(e)990.301(a)3.74(i)-2.16558(u)-0.294975(t)-2..2659(a)3.7(i)-2.1655854)-0.245995(a)3.74(a)-0.295 )-300.324(a)3.74(o)-0.295585(.)15(e)3.78 -13.8 Td[(E)0..164.57564(M)-1.50l)-2.16558(a)-6.2659(c)3.7f2659(a)3.39(c)3.73755(i)-2.16436(c)3.74(a)3.754)-0.245585(a)30.29c)]TJ25(n)-0.295585(t)-2.4(l-0.295585( )-800.306(e)3.74(m-0.2938312( )-260.3i)-2.16439(e)3.74(l)-12.1703(a)3.74(ç)3.-0.295585(o)15(e)3.75(l)-2.(d)-0.295585(o)-0.29558a3(r)2.80439(e)-6.264( )-350.3)3.74(c)3.74(o)-0.295585(v)-10.3039(e)-6.265(l)-2.1655874(r)2.80439(r)2.80439(i)-2.98027,o)-0.295585(.)15(e)3.7.295585(d)-0.213.74(n0(o)-0.295585(l)-2293142(15(e)3.75((d)-10.299(e)-6.2634630.29c]TJ-278.80 Td[(a)3.747(t)-2.16558(e)3.744(r)-7.2(s))-1.2148(i)-2.1655874(c)-616558(e)3.780561(e)3.74(l)-2.16558(a)-636(c)-6.2659(.74122())-1.214(u)-0.294974(585(a)3.7ê(t)-2.16558(e)3.74(s))-1.2144( )-260.301(a)3.[(a)3.74(585(a)3.78(i)-2.1.278(d)-0.295585(o)-0.295585(s))-1.2144( )-2616558(e)3.7.2312(e22997(s)-1.9558(o)-0.295585(n)-0.295585(a)3.74(d)-0.295585(o)-0.295585(s)-1.23.57564(M)-1.506(74(95585(a95584( )-350.353(o)-)-1.23B)6.6-6.74(g)-0.295585(l)-2.1654( )-120.217(s)-1192.16436(a)3.74(l))-1.23)3.74(c)3.74(nm)-2.412(s)]TJ260.7))-1.23â( )-800.306(e)3.74(m)-2.45995(b)-0.2)-2.(n)-0.295585(t)-2.1643685())-1.232( )-90.1997(d)-0.2955))-1.234( )-90.1997(O)1.57564(6.6-6.7474(s)-1.2312(,)-)-1.23(d)-0.2955))-1.2339(e)3.74244(s)-716558(a)3.74(b)-0.2312( )-260:6436(a)3.74(l))-1.234(E)0.64002e(t)-2.3231g7( )-1(d)-095585(a)3.74(r)2.46299(e)3.74244(s)-11.237412(s]TJ-278.804(E)0.64002e()-0.24 -13.8 4(m)-2.46056(e)7(t)-2.16558(e)3.74(n)29(a)3.74(l)-1295585(a)3.74(s)3( )285àd)-0.295585(e3( )285S )-0.147792(l)-12(n)-0.295585[( )-180.253(d)-0.295585(e3( )285(o)-0.2955856558(r)2.805(o)-0.295585(s)4( 20026(G)1.6.295585(a)3.74O)1.3(l95585(i)-290.259(m)-2.45995(a55.7[(E)0..16416436(e)3.74(,)-3( )2654(E)0.64002e()-0.21(o)-10.3015(g)-0..71032(r)2.80439(a)3.74()3( )2652( )-980.254(d)-10.3013( )2654(M)-1.5243)3.74(c)3.74(o)-0.29558(n)-0.295585(t)-2.16436(r)2.80439(o)-0.295585(l)-2.16(r)2.80495( )]TJ26F)5.674)-6.2659(c)3.7(n)-0.295585(t)-2.16436(o)-0.29559( )-280.3(v)-0.295585(a)3.74Olota-0.293142(t)-2295585(3)3( )235(d)-0.29(m)3( )265R(m)3.495585(v)-10.3039(e)-6.26(g)-0.295585(r)-7.80439(a)3.74()3( )2652( )-180.253(d)-0.295585(e3( )27503(A)1.361(3(l)-2.16436(e)-6.263u7( )-1(d)-095)-0.295585(r)-7.20139(e)3.7424436(a)3.7425((d)-10.299(e)-6.263480495( 2 TJ-288.6A -13.TLT94974(a)3.74(l)-2.165516558(294974(m)-2.45995(e)3.74(n)-0.294974(t)-2..2659(.7415())2.82997(,)-)2.8664T -13.8 Td8(t)-2.16558(r)2.80561(a)3.74(t)-229494(o)-10.305( )-100.207(s)-12949(,)-)2.86644( )-260.301(d)-0.29558)2.86644(585(a)3.7e()-0.21(o)-10.3015(g)-0..16558(r)2.95585(a)3.74(s-)2.86644( )-260.3010.324(a)3.74(o)-)2.86e)3.74(r)2.805(c90.1997(O)1.57564(M)-1.0.324(a)3.74(o)-)2.86e)3.74(r)0.206(74( )-90.1997(O)1.57564(M)-1.59(g)9.71032(u)39(e)3.7[(E)0..164ó4(-0.2.3015(g)-0..710(v)-0.29558)3.74(ã)3.74,nm)-2.41(s)]TJ288.6 aolounado63( )824.57564(M)-1.506(74(95585(a95584( )-350.353(o)-0.295585(63( )82497(O)1.575639(c)3.737595585(a)3.74O)1.3(l)-2.2(i)-2.16436(s)-1.2315(m)-2.45)-0..710(v)-0.29558)3.74(ã)3.74(o)-0.295585(63( )82495585(a95585.213.74(n09(m63( )82403(A)1287756(i)-12.17úo)-0.2(d)-05( )-260.303(d)-0.293174(s)-1.2312(,s)-11.2379-0.07a2 TJ-288.6A -13.TLTgd[(f)2.805(o)-0.29(n))-2.1655c(s)-18(o)-0.294974(u)-0.2)3.7(n)-0.295586(t)-2.16436(u)-0..16558(r)2.(o)-0.a)3.74( )-90(o)15(e)9997(O)1.4002e()-0.2)3.74(c)3.74(i)-2295585(315(e)99A-16.56 Td[(U)1.5744b(i)-229558(v)-0.295585(i)-2.16558(e)3.74(n)-0.295585(t)-2.5())2.82997(,)15(e)998 -13.8 Td[(E)0..16436(s)-1.2314(t)-2.(o)-0.295585(15(e)3.75(t)-2.16436(v)-10.3039(e)-6.26(g)-0.295585(r)-7.80439(a)3.74(-0.295585( )-80x3.74(ç)3.74(õ)-1059(e)36.267.558(e)3.74(c)-293142(e)3e)3.74(m-0.2938.3(r)2.83.075c)]TJ250.306(e)3.77( )-100.207(p)-0.2c(l)-2.1643(o)-0.25(t)-2.1643685(s)-1.2312( )-80.1938(v)-0.295585(t)-2.16436(r)-7.1643(o)-0.25(t)-2.1643685(s)-1.23145995(a)3.74(n)-0.295585(o)s)-1.2310.301(a)3.[(a)3.7(o)-0.295585(m)-2.45(e)-6.267.793 0 Td[(c)3.7(n)-0.295585(o)s)-1.23142(e)3.7424u7( )-1(d)-0nod rioo de
126
processamento menos agressivos ao meio-ambiente. Na medida em que uma norma (ou
standard) internacional é considerada como base para elaboração das legislações nacionais,
esta passa a ter caráter mandatório, gerando efeitos consideráveis (OLIVEIRA, 2005). Os
padrões das áreas de responsabilidade social, manejo florestal, segurança da informação,
segurança do trabalho e saúde ocupacional, são exemplos de padrões que tiveram sua origem
na iniciativa privada e que os governos vêm incorporando em sua legislações.
No caso do café, produto que no primeiro quarto do século passado chegou a
representar mais de 50% do valor total das exportações brasileiras, embora o Brasil mantenha
um lugar de destaque na lista dos principais exportadores e produtores de café no mundo,
acredita-se que essa vantagem poderia ser maior e melhor, caso o país tivesse participado
mais ativamente na elaboração e revisão das normas técnicas, padrões e tabelas de
classificação cafeeiras.
Mais uma vez, é preciso que o Estado antecipe as exigências do mercado internacional
e ocupe os fóruns destinados à negociação, discussão e elaboração das normas técnicas
internacionais. Desta forma a sociedade pode desfrutar de sistemas mais rígidos de segurança
dos produtos comercializados no mercado interno, e o país melhora sua reputação junto aos
compradores internacionais.
Uma forma prática de analisar a influência das normas internacionais na legislação de
um país é: i) avaliar a qualidade da participação do país nos fóruns destinados à elaboração
das normas técnicas internacionais e; ii) verificar a correspondência das normas internas com
as que regem o comércio internacional de determinados produtos. No caso brasileiro, segundo
informações obtidas junto aos entrevistados, as legislações de outros países são muitas vezes
utilizadas como fonte de informação em função do quadro de deficiência na geração de dados
pelas instituições nacionais.
De modo geral, pode-se concluir que a maior rigidez das normas internacionais é uma
das grandes responsáveis pela atualização da legislação nacional.
3.5
Sugestão de método analítico
A tese foi desenvolvida de forma a abrir um novo campo de análise para as questões
envolvendo as barreiras ao comércio internacional. A amplitude deste novo enfoque permite
que sejam desenvolvidos trabalhos que podem ou não estar delimitados de forma temporal
e/ou geográfica de acordo com o aspecto que se deseja ressaltar.
Diante da perspectiva de análise aberta pelo trabalho, é possível realizar estudos com
foco nas consequências positivas geradas a partir do esforço do Brasil e/ou outro país para
superar as barreiras à comercialização de seus produtos no mercado internacional. Assim
sendo, o conjunto de produtos/cadeia produtivas objetos de estudos futuros não precisa se
restringir aos produtos do agronegócio brasileiro.
Os estudos das consequências positivas podem ser aprofundados focando cada área
classificada quais sejam: desenvolvimento tecnológico, benefícios sociais, benefícios
ambientais, aprimoramento da legislação nacional, inovações gerenciais, construção de blocos
econômicos, e redução da concorrência.
O quadro 7 representa uma tentativa de sistematização da principais variáveis que
devem ser observadas quando se objetiva estudar as conseqüência positivas da implementação
das barreiras não-tarifárias em qualquer setor.
127
Quadro 7. Principais variáveis a serem observadas no estudo das conseqüência positivas dos
esforços para a superação das barreiras não-tarifárias no comércio internacional..
Grupo de Benefícios Variáveis a serem analisadas
Inovações Tecnológicas Número de inovações incrementais ou radicais; melhorias no
processo produtivo; redução de perdas; otimização de
processos; fortalecimento do sistema nacional de inovação.
Benefícios Sociais Número de trabalhadores com carteira assinada; quantificação
do trabalho em condições precárias; contratação de mão-de-obra
especializada; participação dos funcionários em cursos de
capacitação e atualização; qualidade sistêmica dos produtos
destinados ao mercado interno.
Inovações gerenciais Criação de setor específico ou outras mudanças internas para
lidar com as questões das barreiras comerciais; estabelecimento
de parcerias com outras empresas.
Benefícios ambientais Redução do impacto ambiental das atividades produtivas; uso
de defensivos agrícolas e coadjuvantes prejudiciais aos meio-
ambiente; emissões e despejos; percentual de reciclagem;
preocupação com o ciclo de vida do produto.
Oportunidades
comerciais
Posicionamento competitivo das empresas, melhora da imagem
do País; número de concorrentes; número de países abertos à
importação; criação de empresas especializadas em serviços
voltados para superação das barreiras.
Integração de blocos
regionais
Número de acordos bi e multilaterias; quantificação da
harmonização de normas e padrões; número de reuniões e
visitas técnicas/diplomáticas; quantificação das posições
comuns levadas aos fóruns internacionais (OMC. OIE, etc)..
Revisões na legislação Revisões na legislação cronologicamente associadas à
implementação de barreiras não-sanitárias.
3.6
Casos Selecionados
Neste breve tópico serão apresentados dois casos onde a implementação de padrões
mais rígidos para a comercialização de produtos do agronegócio, tidos como barreiras não-
tarifárias a princípio, foram revertidos sob a forma de benefícios para o país exportador.
A Perca Africana
181
Apesar de ter na União Européia o mercado praticamente exclusivo para as percas do
Nilo os produtores do Quênia, Tanzânia e Uganda nunca se preocuparam com a melhoria de
suas instalações e sistemas de captura, processamento ou comercialização. Esta situação
perdurou até o momento em que esses países se viram diante da restrição à entrada de seus
produtos no mercado da União Européia em 2000.
Após problemas de rejeição de mercadorias devido à contaminação por Salmonella,
Vibrio cholerae e Vibrio parahaemoliticus, a União Européia decidiu impor barreiras às
importações da perca do Nilo. O impacto no setor foi imediato, as plantas de processamento
que já operavam com cerca de 50% de sua capacidade foram obrigadas a reduzir ainda mais a
produção e algumas fecharam suas portas.
Em resposta à crise criada foram realizados esforços, tanto pelo governo quanto pela
iniciativa privada, voltados para a adequação às normas impostas. A legislação foi
181
Espécie de peixe também conhecida como Perca do Nilo (Lates niloticus).
128
rapidamente revista e adaptada à luz das exigências da União Européia, os produtores
investiram na melhoria de suas instalações, na implementação do sistema de APPCC e
formaram uma associação que desenvolveu um Código de Boas Práticas de Processamento
para o setor, adotado voluntariamente pelos membros. O governo investiu prioritariamente na
infra-estrutura necessária e elaborou programas de crédito especiais para o setor.
Em 2003 a União Européia reconheceu que as medidas de controle adotadas forneciam
uma segurança equivalente aos padrões exigidos. Atualmente, os produtores mantêm seu foco
no mercado europeu mas, ironicamente, a adequação às normas da União Européia, capacitou
os exportadores Quenianos a penetrar em outros mercados como a Austrália, Japão e Estados
Unidos.
O caso Queniano ilustra a grande interdependência entre os vários níveis da cadeia
produtiva e entre os setores público e privado, na busca pela adequação às exigências de
qualidade do mercado externo. E também demonstra a importância de responder de modo
pró-ativo e eficaz às normas de sanidade animal e de qualidade de alimentos.
Limites de Aflatoxinas
Em 1997, a União Européia sugeriu uma série de novos veis de tolerência e
procedimentos de amostragem para avaliação de resíduos de aflatoxinas em castanhas, frutas
secas e cereais. Vários países em desenvolvimentos reclamaram dizendo que as medidas
propostas eram mais restritivas que as preconizadas pelo Codex e que não eram
cientificamente justificáveis. Foram realizados estudos estimando as perdas africanas em U$
400 milhões e que, caso as normas do Codex fossem adotadas, as exportações africanas para a
região teriam um acréscimo de U$ 1,039 bilhões. Ainda que, segundo dados das Nações
Unidas, as exportações da África para Europa, relativas os produtos em questão não passavam
de U$ 190 milhões em média.
Outro dado interessante nesse caso é que as regiões africanas que mais exportam frutas
secas (Tunísia e Argélia) possuem um clima excepcionalmente seco, contribuindo para uma
baixa incidência de aflatoxinas. Tanto que, nos anos seguintes à instauração das normas em
questão, não foi registrado nenhum problema com a entrada de frutas secas africanas na União
Européia. Ou sob esse aspecto, as supostas barreiras atuaram na verdade como uma fonte de
vantagem competitiva para os países africanos.
Em 2002 a África do Sul teve 12 carregamentos de amendoim rejeitados por
contaminação por aflatoxinas. Entretanto, em 9 destes, os níveis encontrados estavam acima
inclusive dos níveis adotado pelo Codex. Neste mesmo ano, o volume de castanhas e frutas
secas turcas rejeitadas representou menos que 1% das vendas para União Européia, sendo que
o material recusado foi direcionado para outros mercados.
Concluindo, ainda que entre 2000 e 2002 tenha havido um expressivo aumento no
número de casos de rejeição de cargas devido a contaminação por aflatoxinas, na grande
maioria dos casos os níveis encontrados estavam acima tanto dos padrões do Codex quanto
dos padrões internos dos países exportadores. Assim sendo, houve claramente uma
superestimação dos prejuízos africanos no início do processo de implementação da nova
legislação européia.
129
SEGUNDA PARTE
ESTUDO DE CASO: A CADEIA DA CARNE BOVINA
Introdução
Conforme citado, a cadeia da carne bovina foi a eleita para exemplificar os estudos
microeconômicos relacionados à hipótese levantada pela tese. A escolha desta se deu
primeiramente devido à recorrente influência das barreiras não tarifárias no comércio mundial
dos produtos da cadeia da carne bovina e, em segundo lugar, pela sua relevância na pauta de
exportação do agronegócio brasileiro. A exportação de carne bovina brasileira e de seus
derivados tem aumentado de maneira exponencial ao longo dos últimos anos, chegando a
2007, com uma estimativa de exportações de US$ 4,552 bilhões.
O estudo de caso está organizado da seguinte forma: inicialmente a cadeia da carne
bovina é caracterizada, com a apresentação dos diversos segmentos que a compõem, bem
como as relações entre seus integrantes. Em seguida, são apresentados os panoramas dos
mercados mundial e brasileiro da carne bovina, envolvendo dados sobre produção, abate e
comercialização. Finalizando, os aspectos estruturais, tecnológicos e institucionais de cada
segmento são tratados analisando-se a influência das barreiras não-tarifárias sobre os mesmos.
É preciso salientar que os dados estatísticos disponíveis no Brasil em relação a cadeia
produtiva da carne bovina, muitas vezes não espelham a realidade em virtude da alta
incidência de abate clandestino e da sonegação de informações. Assim sendo, para fins deste
trabalho optou-se por consultar os dados das seguintes fontes: Organização Mundial das
Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO), Departamento de Agricultura
Americano (USDA), Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Organização
Mundial do Comércio (OMC) e da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de
Carne (ABIEC). Este trabalho ainda se baseia em entrevistas realizadas com representantes de
entidades governamentais e privadas, relacionadas à produção, fiscalização, exportação e
negociações internacionais de produtos da cadeia da carne bovina. A relação dos entrevistados
encontra-se no Anexo 1. As informações e opiniões obtidas nas entrevistas encontram-se
dispersas ao longo do texto sem que, necessariamente, sejam referenciados de modo
personalizado.
4
CARACTERIZAÇÃO DA CADEIA PRODUTIVA DE CARNE BOVINA
Delimitação conceitual
Segundo Kageyama & Graziano (1987), com o padrão agrícola estabelecido a partir da
década de 60, o estudo da dinâmica da agricultura como sendo um setor isolado é cada vez
menos recomendado e descolado da realidade. Silva & Nonnemberg (2006), corroboram com
essa afirmação, acrescentando que a agricultura brasileira passou a se inserir de forma muito
mais profunda no sistema econômico, reduzindo seus limites entre os setores industriais e de
serviços. Atualmente, estudar a economia agrícola de forma mais abrangente significa
incorporar os setores industriais a ela vinculados, tanto aqueles envolvidos no fornecimento
de insumos e equipamentos, quanto os que utilizam produtos agrícolas como matéria-prima, o
que se aproxima da lógica das cadeias produtivas agroindustriais. Ainda que, como será
observado especialmente no caso da cadeia da carne bovina, alguns dos seus ramos
conservem formas tradicionais de produção.
Silva & Nonnemberg (2006), utilizam-se do conceito mais amplo de atividade
agropecuária, baseados em uma definição mais simplificada do conceito de agribusiness,
130
desenvolvido por Davis & Goldberg em seu trabalho seminal de 1957. Desta forma, referem-
se ao agronegócio, como sendo: “a soma total das operações de produção e distribuição de
suprimentos agrícolas; das operações de produção na fazenda; do armazenamento,
processamento e distribuição dos produtos agrícolas e itens produzidos a partir deles”. Já o
conceito de cadeia agroindustrial, engloba um conjunto de atores que não se restringe às
empresas relacionadas com aquela atividade econômica específica, envolvendo também
diversas instituições que regulamentam e influenciam de alguma forma as atividades
relacionadas com a cadeia. No caso da cadeia da carne bovina, políticas governamentais
ligadas ao financiamento e à inspeção sanitária exercem uma grande influência no
funcionamento e organização da cadeia e, quando adequadas, podem atuar como
alavancadores e dinamizadores.
Segundo Kageyama e Graziano (1987), o elemento aglutinador dos complexos
agroindustriais brasileiros são as políticas do Estado, que assume, em geral, o papel do capital
financeiro. A influência do Estado sobre as atividades agrícolas não se exclusivamente por
meio das variáveis ligadas diretamente ao setor, como o montante do crédito agrícola e as
condições de pagamento, política de preços mínimos, seguros agrícolas, assistência técnica e
apoio à pesquisa. Em termos de comércio internacional, o Estado atua, sobretudo através de
sua política monetária, fiscal, cambial, de sua posição nas mesas de negociações, enfim, de
seu poder regulador sobre a economia. Assim, o Estado constrói o cenário geral que,
juntamente com os instrumentos específicos, influenciarão as decisões dos agentes envolvidos
na produção agrícola.
De uma forma geral, os integrantes da cadeia agroindustrial da carne bovina no Brasil podem
ser identificados na figura 4.
131
Figura 4. Cadeia Produtiva da Carne.
Fonte: IEL, CNA, SEBRAE, 2000, modificado pelo autor.
Indústria de Defensivos
Alimentação Animal
Genética Animal
INSUMOS
PRODUÇÃO
ANIMAL
FRIGORÍFICOS
ENTREPOSTOS
REVENDEDORES
ATACADISTAS
VAREJO
CONSUMIDOR
INSTITUCIONAL
(MERCADO INTERNO
E EXTERNO)
FOOD SERVICE
Sistema Financeiro
Políticas
Governamentais
Embalagens
Aditivos
Sistemas de Inspeção
Sanitária
Transporte
Sistema de P&D
Associações de
Classe
Políticas de
Comércio Exterior
Políticas de Renda
CONSUMIDOR
FINAL
(MERCADO
INTERNO)
Subprodutos
não-comestíveis
Subprodutos
comestíveis
Supermercados
Açougues
Boutiques
INDÚSTRIA
PROCESSADORA
DE CARNE
SERVIÇOS DE
ALIMENTAÇÃO
132
Para efeito de organização desta tese optou-se por seguir a sugestão dos autores do
Estudo Sobre Eficiência Econômica e Competitividade da Cadeia Agroindustrial da Pecuária
de Corte no Brasil e dividir a cadeia agroindustrial da carne em três segmentos e um setor,
que serão tratados mais detidamente, a saber:
Segmento de Produção de Gado de Corte - representado pelas atividades no campo
como cria, recria e engorda. Envolve ainda a indústria de insumos e a produção
animal.
Segmento de Abate e Processamento - inicia com o abate do animal e é representado
pelos frigoríficos (indústrias de primeira transformação) e pelas indústrias que
incorporam a carne aos seus produtos ou agregam valor a ela.
Segmento de Distribuição e Comercialização - representado pela fase que vai do
desdobramento na indústria processadora até os mercados consumidores e,
finalmente, aos consumidores finais. Envolve entrepostos, vendedores atacadistas e
varejo.
Setor de Couro e Derivados (subprodutos não-comestíveis)
Questões levantadas durante as entrevistas dão conta de que, a heterogeneidade e
deficiências na coordenação (vertical e horizontal) e na governança entre produção, abate,
processamento e distribuição da carne bovina brasileira, são de tal ordem, que seria
inadequado classificá-la como uma cadeia produtiva stricto sensu. Ainda que seja possível
identificar ilhas de excelência significativas. A heterogeneidade e as relações entre os
segmentos serão apresentados com maior profundidade nos próximos tópicos.
Segmento de produção de gado de corte
Caracterização do segmento
Historicamente, a pecuária de corte brasileira desenvolveu-se por expansão da
fronteira agrícola, incorporando ao sistema extensivo de produção as áreas não aproveitadas
pela agricultura em regiões com pouca ou nenhuma infra-estrutura. A atividade contribuiu de
forma decisiva, desde os tempos coloniais, para a ocupação do território brasileiro e ainda
exerce essa função em algumas áreas.
O crescimento horizontal prevaleceu até a década de sessenta, com pequeno ganho de
produtividade, desde então, mudanças tecnológicas significativas passaram a ocorrer, ao
menos para parte do rebanho. Segundo Gonçalves (1997), a situação de dualismo tecnológico
na agricultura, na qual apenas uma parte dos agricultores modernizou-se enquanto a outra
parcela permaneceu com práticas tradicionais a espera de uma pulsão do mercado, teria sido
uma exigência do processo de desenvolvimento brasileiro na década de 60. Neste momento,
era preciso desenvolver o setor agroexportador de forma a gerar divisas. Como conseqüência,
configura-se a formação de dois setores estanques separados por um crescente hiato
tecnológico: o de empresas e produtos voltados para o mercado externo e aqueles voltados ao
mercado interno.
É possível constatar que no Brasil uma coexistência de diferentes subsistemas de
produção, que divergem quanto ao nível de tecnologia empregado e, conseqüentemente, em
relação à produtividade obtida. De forma mais geral, é possível agrupar as propriedades em
dois subsistemas de produção: um subsistema tradicional e um subsistema melhorado.
No subsistema tradicional, a taxa de natalidade situa-se próximo a 60%, o abate e o
primeiro parto ocorrem em torno de quatro anos de idade e o desfrute
182
é de cerca de 17%.
182
A taxa de desfrute, ou de extração, mede a capacidade do rebanho de produzir animais excedentes para venda,
sem comprometer seu efetivo básico. É definida como a relação percentual entre o peso vivo vendido e o total
133
Neste subsistema predomina a pecuária extensiva, dependente basicamente do suprimento de
nutrientes pelos pastos com a suplementação alimentar restringindo-se ao fornecimento de sal
comum aos animais. De modo geral, não investimento em melhoria da qualidade das
pastagens, que se encontram em estágios variados de degradação; o controle sanitário é
geralmente deficiente, não preocupação com o melhoramento genético do rebanho ou com
a redução de idade de abate e não são adotadas práticas de manejo visando a melhoria do
desempenho reprodutivo do rebanho.
No subsistema melhorado, a taxa de natalidade é superior a 70%, a idade de abate e
de primeiro parto aproximam-se dos três anos e a taxa de desfrute situa-se acima de 20%
183
.
Neste subsistema, é crescente a preocupação com a manutenção e melhoria da qualidade das
pastagens, verificando-se maior emprego de fertilizantes, utilização de rotação de
pastagem/culturas e implantação de culturas forrageiras anuais de inverno e verão. O uso de
suplementos proteinados, raças adequadas e a adoção das práticas de semiconfinamento e de
engorda em confinamento têm possibilitado a redução da idade de abate. O produtor busca
assistência técnica permanente, mantém um programa de controle sanitário do rebanho e
procura exercer controle da atividade reprodutiva. Um segmento mais avançado, dentro deste
grupo, usa sistematicamente o diagnóstico de gestação, após a estação de monta, como
critério para descarte de matrizes, obtendo excelente desempenho reprodutivo do rebanho,
além do primeiro parto das novilhas em idade precoce.
As fases de produção
A produção de bovinos de corte envolve as fases de cria, recria e engorda. A fase de
cria compreende a reprodução e o crescimento de bezerro até a desmama, que ocorre entre
seis e oito a dez meses de idade. A taxa média de natalidade do rebanho nacional é estimada
em 60%, com intervalo de partos de 21 meses. O regime nutricional deficiente, associado à
constituição genética do rebanho de corte brasileiro, em que no mínimo 85% dos animais são
zebuínos, exercem grande influência sobre essa taxa. Na situação ideal o intervalo de partos
seria de 12 meses, o que corresponde a 100% de natalidade (IEL, CNA, SEBRAE, 2000).
Devido à imensa diversidade de condições de clima e pastagens, o território brasileiro
comporta uma grande variedade de raças que são adaptadas para cada região ou objetivo a ser
alcançado pelo produtor. Para tanto, estão disponíveis vários recursos genéticos visando o
aprimoramento de raças puras ou ganho de determinadas características por meio de
programas de cruzamentos. O uso de cruzamentos entre animais de raças européias ou
compostas ("sintéticas") de corte com as zebuínas (especialmente Nelore
184
) tem se ampliado
nas várias regiões, motivado pelo melhor desenvolvimento ponderal dos animais em fase de
crescimento e especialmente pelo melhor desempenho reprodutivo das fêmeas mestiças.
Eventuais reduções na diversidade genética no rebanho mundial têm sido alvo de
questionamentos por parte dos que defendem que a perda desse material genético pode, no
futuro, reduzir as alternativas para combinações de raças resistentes a doenças e melhores
adaptadas às condições ambientais adversas (BRUINSMA, 2003).
Em relação às cnicas mais modernas de reprodução, embora venha ocorrendo um
crescimento da venda de sêmen no País, este se restringe aos rebanhos de elite. E quanto ao
uso da inseminação artificial nos rebanhos de corte, as estimativas indicam que apenas cerca
mantido em estoque. Taxa de desfrute (%) = (n
o
de animais excedentes / total do rebanho) X 100. (BERETTA et
al, 2002).
183
Segundo dados mais recentes de Santos et al (2007), a taxa média de desfrute nacional estaria por volta de
21,72%, ao passo que na Argentina e Uruguai, as taxas são de 26% e 30%, respectivamente.
184
O Nelore firmou-se como opção mais adequada graças à sua adaptabilidade ao clima tropical e ao sistema de
criação em regime extensivo de pastagem. A rusticidade das matrizes faz com que estas demandem poucos
cuidados (SANTOS et al, 2007)
134
de 2% das vacas são inseminadas. Entretanto, mesmo em outros países de pecuária evoluída, a
inseminação artificial, em gado de corte tem sido usada em proporção limitada
185
. (IEL, CNA,
SEBRAE, 2000).
A fase de recria vai da desmama ao início da reprodução das fêmeas ou ao início da
fase de engorda dos machos. No subsistema tradicional brasileiro a engorda, quando feita no
regime predominante de pasto, tem duração de 6 a 8 meses. Atualmente tem-se ampliado,
numa tendência crescente, a integração da recria/engorda, verificando-se grande redução ou
supressão da recria, nos programas de produção de novilhos precoces
186
ou super-precoces,
em que a idade de abate pode se reduzir para 12 a 15 meses.
As fases de recria e engorda têm recebido os maiores aportes de novas tecnologias,
especialmente no que se refere à melhoria da nutrição dos animais. Anualmente, são semeadas
no Brasil cerca de 5.500.000 ha de pastagens perenes, incluindo formação, renovação e
recuperação. As pastagens nativas ainda ocupam cerca de 50% das áreas, entretanto, a área de
pastagens cultivadas aumentou de 30 milhões de hectares, em 1970, para 105 milhões de
hectares em 1995 (ZIMMER & EUCLIDES, 1997). A taxa média e lotação elevaram-se de
cerca de 0,5 animal/ha para 0,9 animal por ha
187
, embora a taxa de renovação e recuperação
de pastagens mantenha-se abaixo do ideal, resultando no acúmulo de pastagens degradadas.
As regiões Centro-Oeste e Norte, que constituem as áreas de expansão mais recente da
fronteira agrícola, detêm os mais elevados percentuais de pastagens cultivadas.
Nas regiões de solo propício para a agricultura, esta tem sido integrada à pecuária,
auxiliando na recuperação das pastagens. Essa recuperação possibilita amortização total ou
parcial dos custos; e pode ser realizada por meio do consórcio do pasto com culturas anuais
conjuntas ou com o plantio de culturas anuais solteiras, por um ou mais anos, retornando
depois à pastagem.
Embora estimativas indiquem que 90% do gado segue o modelo de “boi a pasto”
(RAMOS, 2006), as práticas de engorda em confinamento e semiconfinamento têm-se
difundido principalmente nas regiões produtoras de grãos onde seu custo é mais baixo
188
. O
semiconfinamento é adotado em todas as regiões, enquanto que o volume de animais
engordados em confinamento é mais comum nas regiões Sudeste, Sul e Centro-Oeste
(ZIMMER & EUCLIDES, 1997). A terminação de bovinos confinados representou, em 2004,
cerca de 5% do total de animais abatidos, ou 1,9 milhão de animais (BRASIL, 2007).
De maneira geral, pode-se dizer que houve evolução significativa dos índices de
produtividade do rebanho de corte nos últimos anos. A idade de abate sofreu redução, nas
principais áreas produtoras, de 4 a 4,5 anos para 3 a 3,5 anos. Isto ocorreu basicamente em
função do maior emprego de suplementos alimentares na seca, do melhoramento genético do
rebanho e também porque com a estabilização econômica, os pecuaristas que
tradicionalmente abatiam animais com 19 a 20 arrobas passaram a vendê-los mais jovens,
com 16 arrobas. (IEL, CNA, SEBRAE, 2000).
Outros fatores que certamente têm contribuído para a melhoria dos índices são: o
aumento da participação das pastagens cultivadas no total, a redução da idade de primeiro
parto, a melhoria nos índices de mortalidade e a maior participação das novas regiões de
fronteira agrícola na produção nacional. A difusão de práticas como: inseminação artificial,
185
Estima-se que a inseminação artificial seja utilizada anualmente em, apenas, cerca de 5% das vacas no
rebanho de corte dos Estados Unidos da América (IEL, CNA, SEBRAE, 2000).
186
Segundo a potaria n.22, publicada dia 25 de maio de 1976 pela Superintendência Nacional do Abastecimento
SUNAB, para ser considerado novilho precoce a idade do bovino não deve ultrapassar 30 meses e o peso
mínimo da carcaça é de 200Kg (FELÍCIO, 2001).
187
A implementação das braquiárias nas áreas de cerrado proporcionou aumentos de 5 a 10 vezes na taxa de
lotação, quando comparadas às pastagens anteriormente existentes (MIRANDA, 2001).
188
Estimativas indicam que anualmente são destinadas 657 milhões de toneladas de cereais para o alimento de
animais de modo geral, este valor representa cerca de 35% do total produzido (BRUINSMA, 2003).
135
transferência de embriões, confinamento, semiconfinamento mineralização do rebanho (sal
mineral, proteinado, energético e misturas múltiplas), cruzamento industrial e implantação de
forrageiras artificiais; são indicadores da recente modernização da bovinocultura que
favorecem o aumento da competitividade (ORTEGA, 2005).
O controle sanitário
Do ponto de vista sanitário, tanto a literatura consultada, quanto os entrevistados,
foram unânimes ao apontar a febre aftosa como maior fonte de preocupação, por restringir a
exportação de carne in natura para vários destinos. A doença não foi ainda erradicada do
Brasil. No Mato Grosso do Sul, embora o Estado conte com sistema organizado de vigilância,
cobrindo todo o território e vacinando quase a totalidade do rebanho, surgiram recentemente
alguns focos, aparentemente ocasionados pela introdução de animais de países vizinhos. Os
únicos Estados do País que possuem o certificado de zonas livres de aftosa com vacinação,
conferido pela Organização Internacional de Epizootia (OIE), são o Rio Grande do Sul e
Santa Catarina (IEL, CNA, SEBRAE, 2000). Entretanto, estes não são Estados de rebanho
mais significativos.
Entre as demais zoonoses, a cisticercose ocorre em todo o País e a raiva bovina ainda
constitui um problema para várias regiões. Algumas doenças, como a brucelose e tuberculose,
aparentemente ocorrem com maior freqüência no rebanho leiteiro. O controle da brucelose e
de outras doenças que afetam a reprodução, tais como a tricomonose e campilobacteriose tem
sido considerado prioritário. Na maioria das regiões, tem ocorrido vacinação sistemática
contra as clostridioses, empregando-se vacinas polivalentes, o que tem possibilitado o
controle do carbúnculo sintomático, gangrena gasosa, hepatite necrótica e outras clostridioses,
o que tem contribuído para uma redução sensível da mortalidade (IEL, CNA, SEBRAE,
2000).
Segmento de abate e processamento (frigoríficos e indústrias)
Caracterização do segmento
O setor de abate e processamento de carnes do Brasil apresenta uma situação bastante
diversificada em relação ao porte das empresas, sua localização geográfica e nível
tecnológico. Além da desconfiança e rusgas tradicionais entre os pecuaristas e os abatedouros,
a cadeia vem sentindo o efeito da crescente influência e capacidade de pressão das grandes
redes de supermercados. O aumento do poder do varejo, associado ao consumo crescente de
outros tipos de carnes, em especial a de aves, tem afetado o poder de mercado e a
rentabilidade do segmento de abate e processamento, que, tradicionalmente, organizava e
regulava o mercado de carne bovina no país (IEL, CNA, SEBRAE, 2000).
Em termos bastante gerais, é possível afirmar que a base tecnológica utilizada para
abate e processamento sofreu poucas mudanças nas últimas décadas. Os métodos de
transporte frigorificado, conservação, tratamento térmico, desidratação, cura e defumação de
produtos, são basicamente os mesmos em sua essência e permaneceram praticamente
inalterados na última década. Como os fornecedores de equipamentos são globais e não fazem
grandes distinções entre os países, desde que o empresário disponha de recursos suficientes, é
possível montar frigoríficos em qualquer lugar do mundo sem grandes defasagens
tecnológicas.
No Brasil, partindo-se do nível tecnológico utilizado no abate e processamento, a
exemplo do que foi feito nas propriedades do tópico anterior, também é possível classificar os
estabelecimentos em dois subsistemas: o subsistema A, que possui padrões de qualidade mais
adequados e que apresentam vel tecnológico equivalente àqueles praticados em países mais
136
desenvolvidos (ROMANS et al, 1985) e o subsistema B, categoria na qual estão classificados
estabelecimentos que apresentam padrões de qualidade defasados ou ausentes.
As empresas mais tecnificadas do subsistema A dispõem de currais de espera e
inspeção ante-mortem; executam o período de dieta hídrica recomendado; utilizam a restrição
do animal em box de atordoamento, o qual é executado dentro das normas atuais que visam o
abate humanitário; promovem a sangria recomendada, com os animais suspensos em
trilhamento aéreo; executam todas as recomendações prévias e de evisceração das carcaças
abatidas; realizam a inspeção de órgãos, vísceras, cabeça e carcaça; promovem a lavagem das
meias-carcaças utilizando-se de água de qualidade adequada a este fim; resfriam e/ou
congelam as carcaças e demais produtos comestíveis
189
; executam, na sua maioria, o
tratamento de efluentes e o aproveitamento de subprodutos; realizam a desossa em ambiente
climatizado, etc.
As indústrias do subsistema A, responsáveis pelos produtos de melhor qualidade,
especialmente para exportação, utilizam equipamentos importados em suas linhas de
produção, devido à maior qualidade, confiabilidade, rendimento e relação custo/benefício
destes. Essas empresas só utilizam equipamentos de origem nacional para aquelas operações e
processos mais simples, que independem de automação e informatização.
Em relação à gestão, as empresas componentes do subsistema A são mais
profissionalizadas e com alguns controles administrativos, tais como sistemas de controles de
custos e de gestão de qualidade. E ainda apresentam uma estrutura hierárquica mais
departamentalizada, onde as decisões são distribuídas de acordo com responsabilidades
estabelecidas normativamente (IPARDES, IBQP, GEPAI, 2002).
Por outro lado, a realidade das empresas do subsistema B é bem distinta. Estas, com
algumas exceções, encontram-se atrasadas e em condições precárias, com baixa capacidade de
investimento, o que levaram muitas a serem fechadas pelos órgãos de fiscalização.
Normalmente utilizam tecnologia nacional na elaboração de produtos mais simples para
comercialização no mercado essencialmente local. Estes estabelecimentos freqüentemente
utilizam insensibilização com marreta; e executam a evisceração de maneira imprópria, sem
oclusão do reto e amarrio da traquéia, normalmente em contato com o solo/piso. Inexiste a
inspeção sanitária de vísceras e demais partes do animal para se determinar a propriedade de
sua utilização para consumo humano, bem como o adequado resfriamento das carcaças,
tratamento de resíduos/efluentes de abate, e aproveitamento racional de subprodutos. Também
inexistem preocupações relacionadas com a qualidade da água utilizada, com a esterilização
dos instrumentais ou com a higienização dos operários e do ambiente de abate.
As instalações das empresas classificadas no subsistema B, bem como os matadouros
municipais, em geral são rudimentares, e não atendem às exigências e normas de inspeção
federais; raramente apresentam instalações para tratamento de efluentes e aproveitamento de
subprodutos. Já os matadouros clandestinos, na sua grande maioria, não dispõem de qualquer
infra-estrutura básica, realizando o abate em condições totalmente inaceitáveis.
Acredita-se que entre 40% a 50% da carne brasileira seja abatida de forma clandestina.
A informalidade deriva de duas condições suficientes: falta de fiscalização sanitária ou evasão
de impostos (sobretudo ICMS), que estão normalmente presentes de forma conjunta. Azevedo
e Bankuti (2003) apontam para duas variáveis que influenciam a informalidade de forma
inversamente proporcional: o aumento do poder coercitivo sobre os estabelecimentos
(inspeções, monitoramento, multas) e o aumento da demanda por mais qualidade nos
produtos. É correto supor que a alta informalidade encontrada nos países em desenvolvimento
apresente uma grande correlação com a baixa renda da população. Esta, muitas vezes, opta
189
Em termos de rendimento, a conversão de um bovino vivo em carne oscila entre 52% e 54%,ou seja, um boi
em (carcaça bruta) com 500 Kg (33 arrobas) deve resultar em um peso aproximado de carcaça limpa de 265
Kg (IPARDES, IBQP,GEPAI, 2002).
137
por adquirir um produto mais barato, ainda que isso incorra em riscos. Esse fator explica
também a desigualdade da porcentagem estimada do mercado informal entre as regiões
brasileiras. A informalidade estimada para o Nordeste é de cerca de 70% do mercado total,
neste caso a questão da baixa renda se soma à tradição de compra de carne em feiras ao ar
livre e à temperatura ambiente.
Subprodutos e Efluentes
A tecnologia necessária ao tratamento dos efluentes é conhecida e encontra-se
disponível há muito tempo. Entretanto, estas passaram a ser utilizadas de forma mais evidente
pelas indústrias a partir de meados dos anos 80. A partir deste momento, novos sistemas
foram disponibilizados, e várias empresas passaram a oferecer tais tecnologias, em um
número crescente. A tecnologia empregada, que inicialmente era quase que exclusivamente
importada, já conta com fornecedores nacionais competentes.
Os grandes e médios frigoríficos, instalados nas principais áreas de pecuária do país,
em sua maior parte, processam os subprodutos do abate na forma de sebo, farinha de carne,
farinha de carne e osso e, em alguns casos, em farinha de sangue. Esse material é utilizado na
fabricação de ração animal pelo próprio abatedouro ou são comercializados para empresas
especializadas na fabricação de rações e/ou outros derivados agrícolas.
Os matadouros municipais e clandestinos (subsistema B), bem como os pequenos
matadouros do subsistema A, não processam seus subprodutos, principalmente por não
possuírem plantas e escala suficiente para realizá-lo. Estes estabelecimentos vendem seus
subprodutos para terceiros, que também normalmente recolhem ossos pelas regiões onde
estão instalados os açougues.
Segundo estudo conjunto do IPARDES, IBQP e GEPAI (2002), as plantas do
subsistema exportador apresentam um controle ambiental mais rígido e com maior acuidade,
principalmente por conta das exigências de mercados externos. Esse se constitui portanto um
importante fator de competitividade para a conquista destes mercados, cujos compradores
realizam auditorias periódicas in loco nas unidades. Ao passo que, a maioria das empresas do
subsistema B não dispõem de sistemas de tratamento de efluentes, e não demonstram
preocupação a esse respeito realizando o descarte de resíduos do abate, altamente poluentes,
em cursos d’água e em terrenos baldios.
Segmentos de distribuição e comercialização (entrepostos, vendedores atacadistas e
varejo).
Caracterização do Segmento
Os canais de distribuição podem ser definidos como sendo conjuntos de organizações
interdependentes, envolvidas no processo de tornarem produtos ou serviços disponíveis para o
uso ou consumo (STERN & EL-ANSARY, 1992). Esses canais, além de suprir produtos e
serviços no lugar, quantidade, qualidade e preços esperados, atuam também como agentes
estimuladores dessa demanda. Ou seja, o canal deve ser visto como uma rede de empresas que
agem de forma a criar valor para o usuário final mediante a distribuição de produtos.
A distribuição de carne bovina no Brasil é realizada por quatro canais genéricos
super/ hipermercados, açougues, boutiques e feiras livres. Estes diferem muito quanto às
ferramentas de gestão utilizadas e ao seu posicionamento dentro da estrutura de mercado. Nos
grandes centros populacionais, o avanço da concentração do setor varejista, com seus
açougues próprios, tem causado uma redução dos estabelecimentos de menor porte que
comercializam a carne de forma exclusiva. Outra tendência verificada é proliferação de
boutiques de carne com produtos mais nobres e carnes ditas “exóticas”, como as de rã, javali,
avestruz e outros. Estas boutiques se valem da possibilidade de personalizar o serviço de
138
atendimento como diferencial para obtenção de uma vantagem competitiva. Existem ainda os
pontos de venda direta das griffes” de carnes
190
, além da ampla modernização e expansão
das churrascarias (inclusive como produto de exportação através de abertura de filiais e
franquias em diversos países) (RAMOS, 2006). As iniciativas de valorizar a diferenciação do
produto, estimularam a inovação e o desenvolvimento tecnológico por parte dos produtores
que até então o obtinham vantagens proporcionais a seus investimentos em P&D
(ORTEGA, 2005).
Dentre as várias funções que devem ser desempenhadas pelos canais de distribuição,
pode-se citar: i) decodificação das exigências dos consumidores em termos de que tipo de
produto desejam e onde seriam os melhores pontos de venda para cada tipo; ii) difusão de
informações obtidas do consumidor por todo o sistema, para que o mesmo se adapte e ofereça
produtos mais específicos (LAZZARINI et al, 1996). Porém, o que verificamos é uma
desarticulação do sistema agroindustrial da carne com evidente assimetria de informação entre
os agentes e segmentos envolvidos na cadeia. Nesse ambiente, o segmento de distribuição
fortalece sua posição de domínio sobre os demais agentes da cadeia (RAMOS, 2006).
Neste segmento, é nítida a evolução do setor de embalagens nos últimos anos,
principalmente nos aspectos relacionados às novas tecnologias de material, design, utilização
de códigos e etiquetas. Algumas redes varejistas, entretanto, afirmam que por questões legais
e relacionadas à exportação, investiu-se mais em pesquisa para o produto que vem
desossado, em detrimento das partes que obrigatoriamente vêm com osso que ainda carecem
do desenvolvimento de embalagens mais adequadas e resistentes (IPARDES, IBQP, GEPAI,
2002).
A Cadeia do Frio
A carne apresenta uma inevitável contaminação microbiológica após o abate do
animal que exige que a mesma seja mantida a temperaturas baixas. Além de inibir a
multiplicação acelerada de microrganismos, a cadeia do frio também influencia uma série de
fenômenos físico-químicos, responsáveis pelas características sensoriais do produto final, que
ocorrem no espaço de tempo entre as primeiras fases do abate (glicólise, rigor mortis e
resolução do rigor mortis).
A carne refrigerada não deve estar acima de 10ºC, de forma a garantir a estabilização
do crescimento ou a redução da taxa de multiplicação de alguns microrganismos. As
embalagens a vácuo, quando mantidas de 0ºC a 3ºC, proporcionam uma durabilidade de 10 a
12 semanas do produto final. Para as embalagens em atmosfera modificada, a vida útil pode
variar de 4 a 10 dias, e a temperatura de comercialização não deve exceder 3ºC
(CETEA/ITAL, 1991).
No congelamento, as temperaturas são mantidas abaixo de –10ºC, de modo a paralisar
o desenvolvimento de todos os microorganismos. Entretanto, não um consenso sobre quais
seriam os parâmetros mais adequados. O Departamento da Agricultura do Estados Unidos,
por exemplo, sugere que a redução da temperatura para –18ºC, ocorra em um período de
tempo inferior a 72 horas. No Brasil além dos poucos estudos aplicados à realidade nacional,
a baixa eficiência da cadeia de frio ainda tem colaborado para a baixa qualidade da carne.
Além do pouco conhecimento sobre as temperaturas ideais de resfriamento e
congelamento, existe uma deficiência cnica dos equipamentos utilizados. Em geral, as
câmaras frigoríficas, os caminhões transportadores, os balcões frigoríficos de supermercados
e açougues não mantêm as temperaturas adequadas. Estima-se que em 60% dos casos a
temperatura assinalada no visor do termostato do equipamento, não condiz com a temperatura
real no seu interior. Essa variação de temperatura prejudica as qualidades objetivas e
190
Essa “carne de marca”, é essencialmente carne de novilho precoce ou super-precoce.
139
subjetivas do produto, podendo vir a causar problemas de toxinfecções alimentares (IEL,
CNA, SEBRAE, 2000).
Setor de couro e derivados
Caracterização do Setor
O setor de couro e derivados encontra-se entre os setores em que o Brasil
tradicionalmente apresenta alta competitividade. As receitas de exportação desse grupo de
produtos por muitos anos superaram aquelas obtidas pelo segmento de carnes, o que faz desse
setor um importante elemento do sistema agroindustrial da bovinocultura de corte.
Atualmente, o setor tem sido ameaçado pela concorrência direta de países asiáticos com
menores custos da mão-de-obra e pelo crescimento da utilização de materiais alternativos ao
couro, em especial os sintéticos.
Cerca de 76,6% das peles produzidas no Brasil são exportadas direta ou indiretamente,
o que configura um dos setores industriais brasileiros mais abertos ao comércio exterior. As
empresas de calçados e outros artefatos absorvem 48,2% da produção física de couro. O País
é o segundo maior produtor do mundo com 44,4 milhões de peças em 2006, quase 10 milhões
delas destinaram-se ao mercado interno e 34 milhões de unidades foram exportadas. A China
lidera o ranking, produzindo 55 milhões de couros por ano (SANTOS et al, 2007).
Tabela 10. Exportação Brasileira de Derivados de Couro Bovino (US$).
Período Salgado wet blue crust Acabado
2003 2.498.900 390.684.671 173.934.143 468.981.244
2004 2.348.626 455.367.541 183.458.034 600.016.219
Fonte: COUROBUSSINESS, 2006.
Na Tabela 10 é possível verificar que o setor contribui de forma significativa para a
balança de pagamentos brasileira. Em 2005, as vendas chegaram a um total de US$ 1,5
bilhões, com uma estimativa de US$ 2,3 bilhões para 2007 e de cerca de US$ 6 bilhões nos
próximos oito anos. Os valores atuais deixam o País em quarto lugar no fornecimento do
produto, com cerca de 13% do mercado internacional. A Itália é o maior comprador, tendo
adquirido 26,8% do total exportado (SANTOS et al, 2007).
A Figura 5 apresenta os principais integrantes da cadeia de couro e derivados, todos
eles fortemente presentes no Brasil
191
. Na configuração mais comum do fluxo produtivo, o
couro salgado é fornecido pelos frigoríficos aos curtumes, que podem processá-lo total
(couros acabados) ou parcialmente (wet blue ou semi-acabados (crust)). Ainda no frigorífico,
o couro pode ser conservado em sal num prazo máximo de quatro horas até chegar às
empresas de curtumes mais distantes. Dessa forma o couro pode ser bem conservado por
cerca de 6 meses.
Uma vez no curtume, o couro é descarnado e aparado. Na seqüência, o couro sofre o
processo de calagem por 24 horas para perder os pêlos e inchar, o que facilita sua divisão
horizontal. Após a calagem, o couro passa pelo processo de curtimento a cromo, de onde sai
após 18 horas com um tom azulado. Por conta dessa coloração, o couro tratado nesse
momento imune a bactérias é denominado wet blue. Para que o wet blue atinja padrão de
semi-acabado passa por uma nova seção de curtimento, refino da espessura e homogeneização
da textura. Se a meta for o produto acabado, a peça segue finalmente para a estamparia e o
tingimento, de onde sai maleável e sedoso (IEL, CNA, SEBRAE, 2000). A grande incidência
191
O fato do Brasil apresentar todas as etapas do processo produtivo é uma característica de certa forma
particular, pois a maioria dos países concentram sua produção em apenas uma das etapas, como a Itália na
produção de calçados.
140
de peles consideradas de baixa classificação tem reduzido consideravelmente o valor médio
do couro brasileiro no mercado internacional e expõe a deficiência da matéria-prima nacional.
Figura 5 Cadeia de Couro e Derivados
Fonte: IEL, CNA, SEBRAE, 2000.
Entretanto, a situação tende e melhorar; o Brasil conta com um conjunto considerável
de organizações de apoio à qualificação da mão-de-obra e ao desenvolvimento tecnológico no
setor de couro e derivados, como por exemplo o Centro Tecnológico do Couro, a Associação
Brasileira dos Químicos e Técnicos da Indústria do Couro (ABQTIC) e o Centro Tecnológico
de Couro, Calçados e Afins (CTCCA). Estas instituições ajudam a conferir ao setor a
capacidade de atualização tecnológica, mesmo com a predominância de pequenas empresas.
As principais organizações encontram-se na região do Vale dos Sinos, principal APL de couro
e derivados do Brasil. Essa convivência no mesmo espaço facilita a interação e as parcerias
entre as organizações, o que permite explorar as sinergias características da atividade
tecnológica.
Principais Obstáculos e Tendências
A automação nas indústrias de couro e derivados, bem como as pressões para que
estas tratem seus efluentes, são tendências irreversíveis. Porém, ainda hoje eles são
considerados obstáculos à evolução da competitividade do setor. Em relação à automação,
estima-se que menos de 3% dos curtumes brasileiros trabalham com máquinas e tecnologias
modernas, a exemplo do Computer Aided Design (CAD) que permite reduzir
significativamente as perdas e o tempo gasto na confecção dos protótipos. A adoção de novas
tecnologias é limitada pelo custo de aquisição dos equipamentos, restringindo seu emprego a
empresas de maior porte ou que, alternativamente, compartilhem o uso dos equipamentos. A
elevada heterogeneidade da matéria-prima nacional e as tecnologias tradicionais existentes na
maior parte dos curtumes, são também complicadores que restringem a possibilidade de
produção uniforme de peças dentro dos padrões exigidos pelo mercado (IEL, CNA, SEBRAE,
2000).
Devido ao seu elevado potencial poluente, os curtumes têm sido alvo de preocupações
cada vez maiores em relação a seus efluentes com alto teor de sais de cromo, entre outros
resíduos químicos. As tendências apontam para uma pressão cada vez maior do mercado para
que estes estabelecimentos implementem a certificação ISO 14000, que pode vir a se tornar
mandatária para o setor (IEL, CNA, SEBRAE, 2000).
Couro wet-blue,
semi-acabado e
acabado
Couro
salgado
Indústria
Frigorífica
Curtumes
Indústria
de Calçados
Indústria
De Artefatos de Couro
Mercado Externo
Mercado Interno
141
O Ambiente Institucional
De acordo com Douglas North (1993) o ambiente institucional é composto pelas
regrais formais e informais de uma sociedade e não é neutro no processo de desenvolvimento
econômico, devendo ser considerado endógeno ao modelo. As organizações, por sua vez,
desenvolvem-se dentro do ambiente institucional sendo assim limitadas e condicionadas pelas
suas regras; como as instituições são também afetadas pelas organizações, para que as regras e
comportamentos desejados sejam cumpridos e assegurados através do tempo, é necessário que
haja algum mecanismo de enforcement, ou seja, que se faça valer as regras.
O modo eficiente de governança resultará, portanto, da interação entre o ambiente
institucional, o comportamento dos indivíduos e das características das transações (PITELLI
& MORAES, 2006). No item a seguir serão descritas as relações entre os integrantes da
cadeia com suas assimetrias de poder, e como as mesmas têm sido influenciadas pelas
mudanças no mercado internacional da carne bovina ao longo dos anos.
As Relações entre os Integrantes da Cadeia
Os estudos mais recentes não distinguem as relações entre os integrantes da cadeia da
carne bovina em função do destino de suas mercadorias. Normalmente, chama-se atenção
apenas para a maior incidência de contratos, no caso dos produtos destinados à exportação,
mas descrevem que uma tendência de que o mercado interno também passe cada vez mais
a utilizar contratos formais em suas transações.
Em ambos os mercados podemos considerar que instabilidades significativas nas
relações entre os agentes da cadeia. Tanto para o produto destinado a mercado interno, quanto
para o mercado externo, o segmento de distribuição e comercialização é acusado pelos
produtores de não repassar a estes os ganhos obtidos com as elevadas margens de lucro. O
Estudo desenvolvido por Ramos (2006) conclui que as relações existentes entre os agentes da
cadeia da carne não podem ser classificadas exatamente como harmônicas e, segundo Farina e
Nunes (2003), o oportunismo que ainda subsiste nas relações frigorífico-pecuarista não é
desprezível. Felício (2001 pág.350) destaca: “Para o segmento de supermercados, que
dentre os elos da cadeia é quem detêm o maior poder de barganha, a carne resfriada deve
continuar sendo uma
commodity, adquirida dos
frigoríficos de baixo poder de
fogo nas exportações que, ou
se rendem às ofertas
aviltantes, ou ficam com a
mercadoria - que é altamente
perecível - encalhada e
precisam reduzir os abates,
arcando com as
conseqüências deste ato”.
Entretanto, o poder dos
grandes frigoríficos não deve
ser subestimado. O Brasil
conta com, no máximo, 10
grandes frigoríficos, que vêm
realizando significativas
compras de plantas
industriais em países como
Contrato entre o Carrefour e o Núcleo de Produtores
de Novilho Precoce de Minas Gerais
O contrato assinado
em agosto de 2000 obriga a
assinatura de representantes de todos os elos da cadeia e
estipula ao produtor a garantia de cinco critérios
fundamentais ao produto: a) sabor
deverá ser original e
característico de cada produto, com todas as qualidades
sensoriais; b) sanidade
deverá ser sadio e estar dentro
dos limites de resíduos constantes na legislação brasileira
ou no Codex/FAO, valendo sempre o menor; c) aspecto
deverá ter aparência atrativa e manter as caracterísitcas
comerciais; d) ser ecologicamente correto
deve se
aproximar ao máximo dos princípios e das práticas de
manejo que visam conservar e valorizar o meio ambiente,
reduzindo impactos negativos sobre a natureza; e) ser
socialmente correto
o pecuarista deverá respeitar as leis
trabalhistas brasileiras (ORTEGA, 2005).
142
Estados Unidos, Canadá, Uruguai e Argentina
192
.
Quanto à gestão da atividade, a maior parte dos pecuaristas constitui unidades
empresariais autônomas, seguindo uma lógica administrativa preponderantemente de curto
prazo com poucas iniciativas de cooperação entre os produtores e uma incipiente coordenação
vertical a jusante. Este panorama é muito distinto daquele encontrado nas atividades suinícola
e avícola, onde a regra é que haja uma nítida relação de subordinação à esfera industrial
(IPARDES, IBQP, GEPAI, 2002).
O aumento do nível de exigência do produto, muitas vezes imputado exclusivamente ao
consumidor, encobre estratégias de diferenciação e marketing do setor varejista na busca pela
obtenção de preços-prêmio pelos produtos. Independentemente da sua origem, as exigências
quanto ao padrão de qualidade da carne refletem no funcionamento operacional, em todos os
níveis de competência, nos segmentos de produção, abate e processamento. Estas mudanças
geram fortes tensões de relacionamento entre os agentes da cadeia, que são diretamente
proporcionais à pressão da demanda e à resistência dos produtores devido a hábitos culturais e
sociais arraigados de produção e de manejo. Além da questão cultural, também a
econômica, os produtores alegam que a carne rastreada é destinada a mercados mais
lucrativos para os frigoríficos que não pagam um preço diferenciado pelo boi rastreado
193
.
Por outro lado, essas mesmas exigências e a necessidade de diferenciação dos produtos
têm, em alguns casos, aproximado pecuaristas de frigoríficos e gerado uma maior
coordenação da cadeia, sobretudo quando se trata de novilhos precoces
194
(PITELLI &
MORAES, 2007). Essa integração entre atores tidos até então como inimigos, vem sendo o
desafio de entidades como o Núcleo de Produtores de Novilho Precoce de Minas Gerais
195
,
criado em 1998 e responsável por exemplos de redução no comportamento oportunista e
garantias das transações com produtos de maior qualidade, regularidade e especificidade da
cadeia (ver Box). Outra medida que vem sendo adotada com a intenção de minimizar
problemas no momento de determinar o preço da arroba é a utilização do índice estabelecido
por alguma entidade reconhecida como isenta pelos interessados na transação
196
.
De forma geral, os autores divergem quanto à análise da distribuição de poder na
cadeia da carne bovina. Segundo Ramos (2006), os segmentos de abate e processamento,
aliados ao segmento de distribuição exercem uma dominância sobre o segmento produtivo,
que apesar de deter a matéria-prima, seria o agente com menor poder de negociação na cadeia
da carne. O poder de negociação destes agentes aumentaria apenas no caso das redes e
alianças estabelecidas com a finalidade de desenvolver um produto com um padrão de
qualidade superior para o mercado.
As iniciativas de coordenação do setor, promovidas pelas alianças, contribuem para o
progresso financeiro e produtivo do sistema agro-industrial, resultando em lucros mais
expressivos para os produtores e para a indústria, e em produtos de melhor qualidade aos
consumidores. As duas alianças pioneiras, no Brasil, foram: a do Programa de Gestão da
192
Em maio de 2007, o Grupo JBS, dono do frigorífico Friboi, adquiriu a americana Swift, terceira maior
processadora de carne dos Estados Unidos. A compra movimentou US$ 1,4 bilhão e deve resultar na maior
empresa do mundo no setor de alimentos de proteína de origem bovina e na maior empresa alimentícia brasileira.
Conforme dados do Grupo JBS, somados, os faturamentos do Friboi e da Swift chegam a R$ 23 bilhões
(SANTOS et al,2007).
193
Em setembro de 2007, o Grupo Pão de Açúcar vendia carne completamente rastreada em 5 de seus
estabelecimentos na cidade de São Paulo a um preço 20% maior do que a convencional (Revista Carta Capital,
n.463, 26 de setembro de 2007 – pág.50).
194
Estima-se que 20% dos animais abatidos no Brasil podem ser definidos como novilhos precoces (SANTOS et
al, 2007).
195
A Associação Brasileira do Novilho Precoce foi fundada em agosto de 1977 (FELÍCIO, 2001).
196
Por exemplo, o preço da arroba estabelecido pelo boletim da Escola Superior de Agonomia Luiz de Queiroz
(Esalq)
143
Qualidade do RS, e a do Programa de Qualidade da Carne do Fundepec - Fundo de
Desenvolvimento da Pecuária, de São Paulo. Embora essas parcerias tenham se mantido por
um espaço de tempo relativamente curto (quatro e três anos, respectivamente), o aprendizado
daqueles que participaram de ambos os processos foi muito importante para futuras iniciativas
do gênero (FELÍCIO, 2001).
De um modo geral, nas alianças de carne bovina, não contratos que obriguem
qualquer uma das partes a comprar ou vender a parceiros, ou seja, ninguém é obrigado a
qualquer transação comercial que não seja de seu interesse. Há, porém, compromisso com
escalas previamente acertadas de entrega para evitar falta de produto, e com as especificações
técnicas de qualidade (RAMOS, 2006). Na relação da indústria frigorífica exportadora com o
fornecedor de boi, Pitelli e Moraes (2007) verificaram que não há estabelecimentos de
contratos nas transações, o que pode ser explicado pela credibilidade e relação de confiança
entre as partes no que tange ao pagamento e à entrega de bois. As motivações que levam ao
cumprimento deste compromisso foram exploradas por Granovetter (1985), em sua Teoria do
“Enraizamento”, segundo a qual, a vida econômica estaria “enraizada” nas estruturas de
relações sociais. Uma das constatações de Granovetter é a de que a constituição de estruturas
de relacionamento pessoais (ou redes) gera confiança e desestimula atos que prejudiquem
outros componentes desta rede. Os resultados técnicos e econômicos das redes e alianças
estão diretamente relacionados às relações sociais desenvolvidas entre os atores e geram um
ambiente de confiabilidade entre os agentes para o cumprimento dos acordos e contratos,
mesmo que não formalizados.
É importante salientar que, nos momentos em que fatores externos, macro econômicos,
provocam mudanças e afetam o setor, mesmo as cadeias com alto grau de organização
demonstram sinais de desarticulação. Nesses casos, as quebras dos acordos e contratos são os
fatores de rompimento das redes e alianças. Um dos principais motivos de rompimento entre
os segmentos é a falta de cumprimento aos aspectos exigidos de qualidade, freqüência e
fornecimento do produto.
Segundo o estudo conjunto do IPARDES, IBQP e GEPAI, a relação entre a
produção e a indústria é pouco cooperativa, sendo em grande parte determinada por
aspectos conjunturais de mercado”. Ou seja, em momentos de escassez do produto, o poder
de barganha pende a favor dos pecuaristas, pois contam com a possibilidade de reter seus
animais no pasto, buscando elevar preços. Para evitar o desabastecimento e melhorar sua
posição nas negociações, alguns frigoríficos mantêm fazendas para fornecimento próprio
197
.
Dessa forma, prevalece uma estrutura de governança mista, regida tanto pelo mercado, que é
caracterizado pela credibilidade entre o frigorífico e o pecuarista, como pela verticalização
para trás dos frigoríficos (PITELLI & MORAES, 2006). Por outro lado, em épocas de ampla
oferta ou de retração de demanda, são os frigoríficos que ditam os preços. Essas tensões
prejudicam a construção de mecanismos articulados de coordenação da cadeia.
Um dos principais gargalos à coordenação da cadeia produtiva da carne bovina é a
elevada assimetria de informações. De forma a minimizar essa questão, há que se desenvolver
políticas públicas voltadas para a difusão de informações confiáveis de forma indiscriminada
para todos os elos da cadeia. A reunião dos produtores em associações e cooperativas, além de
possibilitar ganhos expressivos em economia de escala e na redução dos custos de transação
também é um importante instrumento na redução da assimetria de informações (BRUINSMA,
2003). Para as empresas exportadoras, existe a Associação Brasileira das Indústrias
Exportadoras de Carne (ABIEC), que representa a cadeia nas questões referentes às
exportações. Uma iniciativa voltada para aumentar a coordenação e melhorar o fluxo de
informações ao longo de toda a cadeia produtiva foi tomada em julho de 1982 quando foi
197
Na pesquisa realizada por Pitelli e Moraes (2006), 100% dos frigoríficos passaram a assegurar-se das fontes
de fornecimento de boi, seja por meio de contratos com fornecedores, seja pela verticalização para trás.
144
constituído o Conselho Nacional da Pecuária de Corte CNPC
198
, cujo fundador e primeiro
presidente foi entrevistado para a confecção deste trabalho, cuja condução é realizada por
meio de um rodízio entre os 3 segmentos da cadeia (produção, indústria e comércio).
De modo geral, ainda que haja deficiências graves na governança e na transmissão de
informações entre seus elos, a cadeia da carne vem se aprimorando sob o ponto de vista
institucional. Segundo Zylbersztajn (2000), os sistemas agroindustriais mudam ao longo do
tempo, na medida em que as relações entre os agentes se modificam, seja por intervenção
externa, seja por mudanças tecnológicas.
O Brasil possui um número expressivo de instituições públicas e privadas envolvidas
com o desenvolvimento tecnológico da cadeia de carne bovina. Os investimentos em P,D&I
que permitiram que o Brasil conquistasse o menor custo de produção de carne bovina entre os
maiores produtores mundiais estão concentrados no segmento de produção animal, apesar de
sua dependência em relação aos organismos oficiais na execução de programas voltados para
a melhoria do rebanho. Neste caso destaca-se a Embrapa, por meio de seus centros (Embrapa
Gado de Corte
199
, Campo Grande; Embrapa Pecuária Sudeste, São Carlos; Embrapa Pecuária
Sul, Bagé), que têm desenvolvido pesquisas voltadas para a produção pecuária com bons
resultados na geração de tecnologias relativas à genética animal, manejo, alimentação e
recuperação de pastagens. na área de processamento de carne, as pesquisas realizadas pelo
Centro de tecnologia de Carnes do Instituto de Tecnologia de Alimentos (ITAL) em
Campinas, vem obtendo relevantes resultados por meio de parcerias com o setor privado.
Quanto à promoção da pecuária brasileira no exterior, destaca-se a criação do Brazilian Cattle
Genetics (BCG)
200
, mantido desde 2003 pela Associação Brasileira de Criadores de Zebu
(ABCZ), em convênio com a Agência de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex
Brasil).
Sob a ótica institucional, os principais problemas enfrentados pelo setor são a elevada
carga tributária, a existência de “guerras fiscais” entre os estados e a presença de unidades
clandestinas. A opinião externalizada por um dos entrevistados fornece uma ótima conclusão
para este tópico, segundo o Sr. João Carlos de Souza Meirelles: “...a grande barreira na
verdade é a barreira da falta de articulação interna para que o país tenha realmente
condições de enfrentar os desafios do mercado internacional...”.
O Ambiente Legal
O órgão público central encarregado de coordenar todas as políticas referentes à
proteção sanitária e fitossanitária do Brasil é o Ministério da Agricultura, Pecuária e
Abastecimento (MAPA) sendo que, dentro de sua estrutura orgânica, a Secretaria de Defesa
Agropecuária é a responsável em matéria de medidas sanitárias e fitossanitárias que atingem
os produtos agropecuários. A qualidade e a confiabilidade do serviço de inspeção sanitária
constituem importantes fatores de credibilidade para o segmento de abate e processamento de
carne, na medida em que certificam o produto para o mercado interno e externo. O abate
formal de animais é regido por legislação sanitária específica e, até 1989 sua fiscalização, era
198
O CNPC possui representação nacional apresenta um total de 60 membros no Conselho, sendo 14 membros
eleitos para os cargos de diretoria e 46 para os cargos de diretorias regionais, indicados pelo Presidente e
aprovados pela Diretoria.
199
Está prevista a construção de um laboratório de nível 3 de sanidade animal orçado em R$ 5,5 milhões a ser
executado até o final de 2008 na Embrapa Gado de Corte, em Campo Grande. A unidade terá capacidade para
realizar exames como da aftosa, vaca louca, gripe aviária, brucelose, entre outras enfermidades.
200
Conta com a participação de 5 associações de criadores e 18 empresas dos ramos de men, embriões,
animais vivos, equipamentos agrícolas, sementes para pastagens, produtos veterinários, prestação de serviço em
melhoramento genético e suplementação e nutrição animal. De 2004 até julho de 2007, os integrantes do
consórcio participaram de 25 feiras internacionais, em 14 países e foram investidos em torno de R$ 6 milhões em
atividades de promoção comercial das raças zebuínas (SANTOS et al, 2007).
145
exclusividade do governo federal (Lei 5.760 de 1971). A partir da promulgação da Lei
7.889/89 de 1989, foi permitido aos Estados e Municípios constituirem seus próprios sistemas
de inspeção com controles e monitoramento de qualidade específicos, respeitando o nível de
proteção ao consumidor estabelecido pela legislação nacional. Entretanto, para que o
estabelecimento possa comercializar seus produtos em todas as regiões do país ou exportá-lo,
é necessário que este possua o carimbo do Serviço de Inspeção Federal (SIF). Os sistemas de
inspeção estaduais e municipais, normalmente são adotados em abatedouros menores, pois,
embora restrinja o raio de venda dos produtos, são menos dispendiosos e, dessa forma,
auxiliam na redução da informalidade.
A decisão de dividir a responsabilidade da fiscalização entre União, Estados e
Municípios, tem sido alvo de grandes questionamentos e ressalvas que passam pela maior
possibilidade de pressões políticas nos âmbitos estadual e municipal, pela dificuldade em se
verificar se os produtos estão se restringindo às áreas de comercialização delimitadas e, até
mesmo, pela deficiência no número de profissionais e de infra-estrutura de alguns estados e
municípios para realizar uma fiscalização adequada (BRASIL, 2007). Basta citar que, nos
sistemas de inspeção estaduais, em alguns casos, o funcionário que faz a inspeção pertence ao
próprio quadro de funcionários do frigorífico.
Diante deste quadro, o selo do SIF passou a ser uma referência de qualidade para o
consumidor brasileiro, que reconhece nesse selo uma garantia da qualidade sanitária do
produto que o apresenta
201
. Conscientes dessa situação, alguns frigoríficos têm optado por se
submeter às regras do SIF, embora comercializem seus produtos somente no âmbito do estado
ou do município onde se localizam (BRASIL, 2007).
Em abril de 1996, o MAPA, publicou a Portaria 304 e em janeiro de 1999 a Portaria
145, estas além de determinarem que as carnes devem sair do abatedouro desossadas e
embaladas, estabeleceram critérios, respectivamente, sobre a identificação, cortes embalagem
e temperatura da carne, e sobre a constituição das salas de desossa específicas para o
manuseio. O objetivo do governo era o de excluir do mercado os estabelecimentos com baixos
padrões de higiene e/ou não capazes de cumprir com as exigências de desossa e embalagem
de carne. Como essas normas resultaram em novo aumento de custos para a cadeia formal,
sem que houvesse aprimoramento nos mecanismos de coerção de práticas impróprias,
acredita-se que estas possam ter gerado um aumento do mercado informal (AZEVEDO &
BANKUTI, 2003).
O decreto nº 5.741, de 30 de março de 2006, que regulamentou o Sistema Unificado de
Atenção à Sanidade Agropecuária (Suasa), criou o Sistema Brasileiro de Inspeção de Produtos
de Origem Animal (Sisbi-POA), o Sistema Brasileiro de Inspeção de Produtos de Origem
Vegetal, o Sistema Brasileiro de Inspeção de Insumos Agrícolas e o Sistema Brasileiro de
Inspeção de Insumos Pecuários. Dentre as atribuições do Suasa está a de executar ações de
erradicação e de controle de pragas e doenças, de proteção à saúde animal e à sanidade
vegetal, educação sanitária, fiscalização de trânsito agropecuário interestadual e internacional,
certificação de produtos e outros, atuando ainda nas áreas de formação de pessoal e de
habilitação de profissionais.
A Instrução Normativa 19 (IN19), de 24 de julho de 2006, estabeleceu que para que
estados e municípios possam aderir aos Sistemas Brasileiros de Inspeção de Produtos e
Insumos Agropecuários (Sisbi), é preciso que estes comprovem a existência de sistemas de
informação e de infra-estrutura para desenvolvimento dos trabalhos. No caso do Sisbi-POA, é
necessário ainda atestar equivalência quanto à inocuidade e à qualidade de produtos de origem
animal, prevenção e combate à fraude econômica, e controle ambiental. O objetivo é
harmonizar os procedimentos municipais e estaduais de inspeção de acordo com métodos
201
146
consagrados, garantindo que a sua realização tenha como referência as boas práticas de
fabricação
202
. O Departamento de Inspeção de Produtos de Origem Animal (Dipoa) coordena
o Sisbi-POA; os serviços que não aderirem a ele continuam comercializando seus produtos
segundo a Lei 7.889, de 23 de novembro de 1989, que dispõe sobre a Inspeção Sanitária e
Industrial dos Produtos de Origem Animal.
Uma das críticas em relação ao sistema brasileiro de defesa sanitária animal é que este
exibe um forte caráter autoritário na medida em que o órgão responsável pela elaboração das
normas é o mesmo que as implementa, verifica a existência do patógeno e ainda pune os
estabelecimentos em desacordo. Segundo análise desenvolvida por Gonçalves (2005), quem
policia e pune (atividade pica de defesa na fiscalização da observância de procedimentos e
por isso apreende e destrói produções em desconformidade) não deve ser responsável por
educar (extensionistas que ensinam o controle de pragas e doenças focando diversas
alternativas técnicas viáveis). Da mesma forma, quem emite a ordem de apreensão de
produtos em desconformidade (também típica de defesa) não deve ser a mesma instância que
produzirá as provas dessa desconformidade (análise laboratorial). No mesmo sentido, quem
aplica a legislação pode até apresentar sugestões de leis e decretos normativos e estabelecer
padrões punitivos (multas, apreensões e destruição), mas não deve deter o poder de
estabelecer essa legislação que deve caber à instância superior submetida ao controle social.
Ou seja, é preciso uma reestruturação institucional de forma a minimizar problemas que
envolvam conflitos de interesses entre grupos econômicos e sociais.
Mais recentemente, as exigências rígidas têm se originado no setor privado que impõe
padrões próprios - além dos consagrados como APPCC e a rastreabilidade - que afetam
todos os segmentos da cadeia da carne bovina. Estes padrões geram, num primeiro momento,
aumentos significativos nos custos de transação dos produtos, sobretudo para pequenos
produtores com pequeno poder de barganha e que participem das negociações com
deficiências de informação. Para o cumprimento destas exigências, o mecanismo utilizado
pelos compradores é o mais eficiente desenvolvido até o momento: a ameaça de perda do
mercado.
202
Até a meados de 2007, o Estado de Minas Gerais e 11 municípios (de Rio Grande do Sul, Santa Catarina, São
Paulo e Minas Gerais) haviam solicitado a adesão ao Sisbi-POA. Eles estão em processo de auditoria
documental, sendo que Crissiumal e Três de Maio, ambos do Rio Grande do Sul, vão receber auditoria
operacional (SANTOS et al,2007).
147
5
O MERCADO DA CARNE BOVINA
5.1
O Mercado Mundial
Neste tópico será apresentado um breve panorama reunindo dados relativos à
produção, ao consumo e às negociações internacionais envolvendo a carne bovina.
Se considerarmos as plantações destinadas à alimentação animal, a criação destes é
considerada a atividade agrícola de maior utilização de terras no mundo e corresponde ainda
por cerca de 40% do valor bruto total da produção agrícola mundial (BRUINSMA, 2003). Até
2030, a expectativa é de que a demanda por produtos cárneos dobre nos países em
desenvolvimento e se mantenha com baixas taxas de crescimento nos países desenvolvidos.
Entre 1961/63, os produtos cárneos eram responsáveis por cerca de 6,4% do total de calorias
da dieta em países em desenvolvimento. Em 1997/99, esse valor era de 10,6%, fazendo
com que os produtos cárneos se tornassem a segunda maior fonte de calorias nestes países.
Entre os desenvolvidos, a contribuição dos produtos animais na dieta tem se mantido estável
em torno de 23% (BRUINSMA, 2003).
Segundo o USDA, entre os anos 2000 e 2005, a cada 100 Kg de carne bovina
consumida no mundo, apenas 12 Kg foram provenientes do comércio internacional. Esse
valor está bem abaixo de outros produtos, como por exemplo, o café e o suco de laranja com
78 e 64 Kg, respectivamente. Por trás deste comércio mundial de carne pouco expressivo em
relação ao consumo, estão questões sanitárias, técnicas, barreiras tarifárias e subsídios.
Produção
A produção mundial do total de carnes aumentou de 44 milhões de toneladas em 1950
para 217 milhões de toneladas em 1999, o que representou uma expansão duas vezes superior
à taxa de crescimento populacional, praticamente dobrando a produção mundial per capita
(BROWN, 2006). Para se chegar aos atuais 54,8 milhões de toneladas produzidas de carne
bovina, o fator preponderante não foi o aumento no rebanho, mas sim na produtividade que,
por sua vez, está muito mais ligada ao aumento do peso da carcaça, do que ao encurtamento
do ciclo produtivo, a exemplo do que ocorre na cadeia de aves e suínos
203
. Neste sentido, os
países em desenvolvimento ainda têm um grande caminho para percorrer pois em, 1997/99 o
rendimento de carne de um animal nestes países era de 163 Kg, ao passo que a média do peso
em carcaça de um animal criado em país desenvolvido era de 284 Kg
204
(BRUINSMA, 2003).
O peso dos animais tem sofrido um aumento contínuo em função das melhorias genéticas e do
uso de novas práticas de alimentação e manejo dos rebanhos, ou seja, a implementação de
novas tecnologias de produção.
Projeções da OECD e da Food and Agricultural Policy Research Institute - FAPRI
205
indicam que a produção mundial de carne bovina aumentará a uma taxa média de 0,6% na
região da OECD e 1,3% no mundo todo durante o período de 2004 a 2012 (BEEFPOINT,
2007). Segundo dados e projeções da FAO, a contínua e significativa tendência à perda de
espaço da carne bovina frente ao total dos produtos cárneos produzidos prosseguirá. Em
meados dos anos 90, a carne bovina representava cerca de 41,3% do total de alimentos
cárneos produzidos no mundo, porcentagem esta que se reduzirá a 23,5% em 2030. No
203
Entre 1989 e 1999, a produção de carne bovina nos países em desenvolvimento aumentou cerca de 3,8% ao
ano, enquanto que o rebanho aumentou em apenas 1,3% ao ano, o que implicou em um aumento anual de cerca
de 2,5% na produtividade (BRUINSMA, 2003).
204
Para porcos e aves, os níveis de produtividade são mais próximos entre os países.
205
Instituto de Pesquisa de Políticas Agrícolas e Alimentícias, que fornece análises e previsões econômicas para
o Congresso dos EUA a partir de dados da Universidade de Missouri-Columbia e Universidade do Estado de
Iowa.
148
gráfico 9, verifica-se a tendência de estagnação da produção de carne bovina nos países
industrializados (EUA e União Européia) e a aceleração da produção nos países em
desenvolvimento, puxados em especial por Brasil e China, sendo que este último deverá
ultrapassar o Brasil em termos de produção de gado em 2030 (BRUINSMA, 2003).
Gráfico 9. Produção de carne bovina no mundo, em grupos de países e em países
selecionados.
149
Gráficos 10 e 11. Participação do Brasil na produção mundial de Carne Bovina 2001 e 2006.
2001
Outros países
21%
União
Européia
16%
China
11%
Brasil
14%
Estados
Unidos
25%
Argentina
5%
Índia
4%
Austrália
4%
2007
Índia
5%
Outros países
16%
União
Européia
15%
China
15%
Brasil
17%
Estados
Unidos
22%
Argentina
6%
Austrália
4%
Fonte: Santos et al, 2007.
A concentração do rebanho é de tal ordem que 50% do rebanho mundial está
concentrado nas mãos de apenas cinco países. O rebanho brasileiro atualmente é o maior tanto
por habitante, quanto em termos absolutos. Segundo a Tabela 11 o Brasil possui 207 milhões
de cabeças e permanece distante da Índia, ainda que o tamanho do rebanho desta se mantenha
estabilizado. No período analisado, basicamente apenas a China e o Brasil aumentaram seus
rebanhos, ainda que, no caso do Brasil a taxa de crescimento tenha sofrido uma queda
significativa. (BRASIL, 2007). Segundo estimativas da FAO, o rebanho mundial, somando-se
bovinos e bubalinos, chegará a 1,9 bilhões em 2030; desde total, cerca de 82% estarão
localizados nos países em desenvolvimento (BRUINSMA, 2003).
O aumento da produção asiática, principalmente na China, tem chamado atenção. Os
principais fatores responsáveis por esse fenômeno são: o crescimento econômico, melhorias
nas facilidades de processamento, falta de controle ambiental e estímulo governamental ao
consumo de carne bovina. O Brasil, mesmo dispondo do maior rebanho comercial do mundo
produz, em carne, apenas cerca de 75% do volume obtido pelos americanos com um rebanho
significativamente menor. Isso ocorre devido à elevada taxa média de desfrute dos EUA, que
se situa atualmente em cerca de 37% ao ano (SANTOS et al, 2007).
150
Tabela 11. Mundo: rebanho bovino, principais países
206
(milhões de cabeças).
País 2001 2002 2003 2004 2005 2006
2007
Brasil
170,6 179,2 189,1 197,8 202,7 204,7
207,2
Índia
285,1 286,1 283,1 282,5 282,3 282,0
282,0
China
128,2 130,8 134,8 137,8 141,6 145,3
149,5
EUA
96,7 96,1 94,9 95,4 96,7 97,0 97,6
União Européia
90,3 88,7 87,5 86,4 85,8 85,1 84,8
Argentina
50,4 50,8 50,8 50,2 50,2 51,2 51,6
Austrália
27,9 27,9 26,6 27,3 27,8 28,6 28,4
México
28,5 29,2 28,4 27,6 26,9 26,6 26,5
Rússia
24,5 23,5 22,3 21,1 19,8 19,0 18,2
Outros
126,5 126,9 79,8 77,6 77,0 76,5 76,0
Mundo
1035,5
1042,7
993,7 992,4 993,1 989,6
987,0
Fonte: CNPC/USDA, citado por Santos et al, 2007.
Para muitos países, a produção tem sido elevada devido aos subsídios concedidos de
forma direta e indireta aos produtores. Para quantificar a dimensão dos subsídios à produção
doméstica, a Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE)
desenvolveu o Producer Support Estimate (PSE), definido como o valor monetário anual de
transferências brutas dos consumidores e contribuintes para os produtores agrícolas,
mensurado em nível de porta da fazenda. Ou seja, o PSE mede o apoio aos produtores,
proveniente das políticas relacionadas à agricultura, em relação a uma situação sem essas
mesmas políticas. Em termos percentuais, o PSE representa o valor das transferências brutas
dos consumidores e contribuintes para os produtores, dividido pelas receitas brutas totais das
propriedades rurais. De acordo com dados do PSE na Tabela 12, observa-se que o nível de
suporte é baixo nos países tradicionalmente exportadores, e elevado em países europeus,
Japão e Coréia.
Tabela 12. Estimativa do Nível de Suporte ao Produtor: Carne Bovina (% do valor bruto das
transferências aos produtores no valor bruto da produtividade).
Países 1986-88 1991-93 1997-98 1997p 1998p
Austrália
6 4 4 4 4
Canadá
9 7 5 5 6
República Tcheca
73 48 20 12 16
União Européia
48 54 53 55 62
Hungria
69 39 14 12 15
Japão
44 35 33 33 32
Coréia
56 68 57 61 42
Nova Zelândia
7 1 1 1 1
Noruega
67 67 66 68 69
Suíça
74 68 62 62 67
Turquia
0 32 35 40 48
EUA
6 5 3 3 4
p – prévia
Fonte: OCDE (1999); citado em (IEL, CNA, SEBRAE, 2000).
206
Embora não conste na lista por não se tratar de um país, o rebanho da União Européia é bastante significativo,
mantendo um número próximo dos Estados Unidos, com 86,3 milhões de cabeças em 2004.
151
Na Tabela 13, podem se observados outros dados e a evolução dos subsídios aos
produtores agrícolas na União Européia, quantificado em termos de milhões de euros, para o
setor de carnes e outros.
Tabela 13. Subsídios aos produtores agrícolas (PSE) na União Européia (em milhões de
Euros)
Anos Carne Bovina Total
1986-88 (média)
12.020 86.884
2001-03 (média)
20.522 102.108
2001
18.097 99.295
2002
20.608 100.577
2003
22.860 108.251
Fonte: CONTINI E TALAMINI, 2005.
O PSE da UE, no ano de 2003, ultrapassou os US$ 108 bilhões, o que corresponde a
US$ 21 bilhões a mais do que a média verificada entre 1986 e 1988. Os subsídios para a carne
bovina correspondiam a cerca de 23 bilhões de euros em 2003, mais de 21% do total do
subsídio concedido ao setor agrícola da UE. Em relação ao período base de 1986–88, os
valores do PSE para a carne bovina aumentaram 77%.
Em 2001, o Meat and Livestock Australia calculava os subsídios europeus para
carne bovina em aproximadamente 13.500 Euros por fazenda por ano, correspondendo a um
total de 970 Euros por animal abatido. Este mesmo órgão estimou que, diante de uma eventual
liberalização do mercado de carne bovina na UE o principal beneficiado seria o Brasil, com
ganhos superiores a US$ 1,2 bilhões anuais.
A partir de 2000, a Agenda 2000 Européia
207
passou a dar preferência para o pagamento
direto aos produtores em detrimento de programas de garantia de preços mínimos para a carne
bovina produzida. Estima-se que aproximadamente 40% da renda do pecuarista europeu
provenha de programas como este (MIRANDA, 2001). Além de dificultar a entrada de
produtos a preços competitivos na União Européia, os incentivos também acabam gerando
excedentes cujos escoamentos são viáveis a preços competitivos mediante a utilização de
mais incentivos. Já nos Estados Unidos, não existem programas de incentivo direto de apoio à
produção, porém o setor se beneficia do controle das importações e de políticas que afetam a
produção das rações.
Em termos mundiais, dados da OMC indicam que em 2000 foram exportadas 475 mil
toneladas de carne bovina subsidiadas, consumindo valores que chegaram a 383 milhões de
Euros (CONTINI & TALAMINI, 2005). Em 2001, o montante de carne bovina exportada
com subsídios pela União Européia foi de 483,5 mil toneladas. Embora significativos, esses
valores, surpreendentemente, ainda se encontram muito abaixo das 821,7 mil toneladas de
carne bovina subsidiada que a UE conquistou, junto a OMC, o direito de exportar. Analisando
individualmente o dispêndio monetário concedido por produto, constata-se que a carne bovina
só perde para o leite como o produto mais subsidiado no mundo (FERREIRA, 2005).
Consumo
Como era de se esperar, o consumo de carne o é distribuído de maneira uniforme
entre os diversos países e regiões do globo. Normalmente, os maiores produtores são também
os maiores consumidores. A figura 6 fornece um panorama da desigualdade de consumo entre
os países desenvolvidos e os países em desenvolvimento. Segundo dados da FAO, os países
desenvolvidos que possuem 15% da população mundial seriam responsáveis pelo consumo de
37% do total mundial de carnes, o consumo per capita anual desses países é, em média, de
88Kg, ao passo que, para o conjunto dos países em desenvolvimento ele não ultrapassa os
207
Ao final da década de 90, a PAC ganhou a denominação de Agenda 2000.
152
25Kg. E as projeções indicam que, em 2030, o consumo per capita anual chegará a 37 Kg e
100 Kg nos países em desenvolvimento e desenvolvidos, respectivamente (BRUINSMA,
2003).
Figura 6. Demanda per capita de produtos cárneos, 1995-2020.
Fonte: PINSTRUP-ANDERSON, 2001.
Os principais consumidores mundiais de carne são a China
208
e os Estados Unidos.
vinte anos atrás, os Estados Unidos lideravam o mundo com uma ampla margem. Todavia,
após as reformas econômicas na China em 1978, a economia chinesa quadruplicou em duas
décadas, e em 1999 a China já consumia 55 milhões de toneladas de carne, contra 34 milhões
de toneladas nos Estados Unidos. Com a produção de carnes crescendo mais rapidamente na
China do que nos Estados Unidos, essa margem poderá se alargar ainda mais durante esta
década (BROWN, 2006).
Gráfico 12. Projeção para o crescimento demográfico e consumo mundial de carne.
Fonte: Flores, 2005.
De acordo com a Tabela 14, podemos verificar que houve um ligeiro decréscimo do
consumo per capita mundial de carne bovina nos anos 90, persistindo até 2004, enquanto que
o consumo de outras carnes aumentou no período estudado. No início dos anos 60, a carne
bovina detinha a liderança do consumo; perde essa posição para a carne suína ainda durante a
primeira metade da cada de 80 e no final de década de 90 figura na terceira posição.
Ainda de acordo com a tabela 13, o consumo mundial per capita de carne de frango será
208
Na China, a carne de suínos ainda é a maior responsável pela demanda.
153
maior do que o consumo da carne suína em 2030, quando representará cerca de 38% do total
de carnes consumidas no mundo, segundo a FAO.
Tabela 14. Consumo Mundial per capita de diferentes tipos de carnes.
Consumo (Kg per capita, equivalente de peso em carcaça).
Carne
1964/
66
1974/
76
1984/
86
1994/
96
1997/
99
2004 2015 2030
Variação
98-04
1
(%)
Bovino 10,0 11,0 10,5 9,8 9,8 9,7 10,1 10,6 - 9,3
Suíno 9,1 10,2 12,1 13,7 14,6 15,9 15,3 15,1 25,2
Aves 3,2 4,6 6,4 9,3 10,2 12,2 13,8 17,2 90,6
Ovino/Caprino 1,8 1,6 1,7 1,8 1,8 2,0 2,1 2,4 42,9
Total 24,2 27,4 30,7 34,6 36,4 40,5 41,3 45,3 27,0
Fontes:
1
Flores, 2005 e Bruinsma,2003.
O consumo de carne bovina varia preponderantemente em função dos seguintes
fatores: renda per capita, crescimento demográfico, preço (seja em função da produtividade
ou devido a problemas sanitários), competição com outras carnes
209
e questões culturais
(como no caso da Índia). Mais recentemente, verifica-se ainda a influência cada vez maior de
fatores ligados à saúde e à conservação ambiental como redutores de demanda.
O consumo mundial de carne bovina tem se estabilizado no conjunto dos países
desenvolvidos, onde apresenta elevada concentração. Estados Unidos, União Européia, China
e Brasil foram responsáveis por 68,5% do consumo mundial de carnes bovina e de vitelo em
2006 (BRASIL, 2007). Como os países em desenvolvimento possuem uma defasagem em
termos de ingestão de alimentos e, de uma forma geral, têm apresentado consistentes taxas de
crescimentos demográfico e econômico; espera-se que estes países concentrem os maiores
aumentos das taxas de consumo de carne nos próximos anos.
Segundo as projeções da FAPRI, o consumo global de carne bovina deverá aumentar
gradualmente em cerca de 1,6% ao ano em média até 2012, com destaque para as economias
emergentes que se encontram em franca expansão do consumo, enquanto que os países
desenvolvidos, além do menor crescimento demográfico, têm seus mercados próximos do
ponto de saturação (BEEFPOINT, 2007).
209
De um modo geral, o preço da carne bovina é em torno de 30 a 40 % superior ao da carne de frango ou de
suínos.
154
Gráfico 13. Avanço do consumo de carne bovina pelos maiores consumidores mundiais
0
1.000
2.000
3.000
4.000
5.000
6.000
7.000
8.000
9.000
10.000
11.000
12.000
13.000
14.000
2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006
1.000 Ton métricas
E U A União Euroia (25) China
Brasil México Federação Russa
Argentina Índia Japão
Cana
Fonte: USDA, 2007.
Analisando o gráfico 13 podemos verificar que, à exceção da China e dos EUA, o
volume de consumo dos 10 países maiores consumidores de carne bovina tem se reduzido ou
então oscilado muito pouco. No caso da Ásia, o crescimento da população e da renda, e a
“ocidentalização” da dieta têm sido os maiores responsáveis pela elevação do consumo. Os
problemas econômicos por que passaram os países da antiga União Soviética são os principais
responsáveis pela retração nesta região. Já na Europa, a queda contínua no consumo é
resultado de inúmeros escândalos que ocorreram no setor, começando com as suspeitas do uso
de hormônios de crescimento e antibióticos, seguido das acusações de maus tratos dos
animais, da crise da vaca louca e da contaminação das rações por dioxina. Apesar das várias
campanhas realizadas para estimular novamente o consumo, segundo dados colhidos por
Ferreira, (2005), a expectativa da Comissão Européia é de que ocorra nos próximos anos uma
redução de 4,2% no consumo de carne bovina, em relação a 2000.
Mas as mudanças no consumo não são exclusivamente quantitativas. As exigências por
qualidade e produtos diferenciados, normalmente garantidos por meio de certificados e selos
de qualidade, antes restrita ao mercado externo, passam a ser exigências também do mercado
interno. Estes novos paradigmas apontam para a necessidade de mudanças estruturais e
organizacionais em todos os elos da cadeia. Contribuem para isso, não apenas o padrão de
155
consumo que está cada vez mais voltado para produtos frescos e “saudáveis”, mas também
por um processo de concentração da rede varejista nos grandes centros.
Tabela 15. Consumo per capita de carne bovina em países selecionados (Kg/habitante /ano).
País/Bloco 2002 2003 2004 2005 2006
1
2007
2
Argentina
61,6 62,6 64,2 61,8 63,9 65,3
Austrália
35,6 39,8 37,5 36,6 35,5 35,7
Brasil
35,8 34,5 34,8 36,4 36,9 37,5
Canadá
31,1 33,1 32,5 33,6 34,4 33,8
China
4,5 4,9 5,2 5,4 5,6 5,9
UE
3
18,0 18,3 18,2 17,9 18,1 18,0
Egito
8,4 7,5 8,2 9,3 8,7 8,6
Hong Kong
12,6 13,8 13,9 15,4 15,3 15,3
Índia
4
1,3 1,4 1,5 1,5 1,5 1,5
Japão
10,4 10,7 9,3 9,4 9,2 9,5
Coréia do Sul
12,7 12,6 9,6 9,0 10,0 10,2
México
23,5 22,3 22,6 22,8 23,4 23,3
Filipinas
4,1 4,1 4,5 4,0 4,0 4,0
Rússia
16,9 16,4 16,0 17,5 16,6 16,3
África do Sul
14,3 13,9 15,0 15,8 15,5 15,6
Turquia
9,5 9,4 9,2 9,0 8,8 8,7
EUA
44,3 42,5 43,2 42,8 43,0 43,2
Uruguai
49,4 37,0 39,7 35,4 39,3 40,6
Notas: (1) Dados preliminares.; (2) Previsão (3) UE: Dados incluem os 25 estados membros para
todos os anos; (4) Inclui búfalo.
Fonte USDA, elaboração BEEFPOINT, 2007a.
Os consumidores mais esclarecidos procuram atributos de qualidade, que
envolvem não apenas questões sanitárias. Cada vez mais, questões relativas às condições de
processamento e a designação de origem são levadas em consideração no ato da escolha do
produto. O grande desafio é desenvolver produtos que atendam aos desejos e necessidades do
consumidor final ou, em muitos casos, gerar esses desejos e, assim criar novos nichos de
mercado. A economia dirigida pelos consumidores, demand driven economics”, está abrindo
oportunidades para inovação por meio da diferenciação de produtos; esta é visível em
muitos segmentos do mercado, e permite agregar serviços e valor aos produtos agropecuários.
Como alguns atributos exigidos pelos consumidores não podem ser avaliados no ato da
compra do produto, as empresas lançam mão da certificação impressa na embalagem e de
campanhas publicitárias como estratégias para que o consumidor confie nos atributos
descritos. O formato mais comumente utilizado neste caso é a certificação privada externa à
empresa objeto da certificação. Na luta pela diferenciação de seus produtos, até mesmo
certificados de qualidade obrigatórios por lei, como o sistema APPCC
210
, são utilizados como
estratégia de marketing.
Os novos padrões de concorrência e a reorganização das cadeias demandam de que os
integrantes dos elos iniciais da cadeia se comportem como fornecedores e não apenas
produtores. O termo “produtor”, neste contexto, caracteriza o dono de terras que: i) produz
de acordo com suas condições, ii) produz genéricos (commodities), iii) vende a quem pode
comprar na ocasião, iv) apresenta uma possibilidade de crescimento e de sustentabilidade
mais limitadas. Já as características do “fornecedor” são: i) produz de acordo com as
210
Obrigatório para alguns estabelecimentos alimentícios.
156
necessidades dos clientes, ii) produz matéria-prima especializada, iii) vende como empresa
para outra empresa, iv) pode organizar sua produção de acordo com as necessidades dos
clientes e manejo sustentável dos recursos.
Preço
Os preços relativos dos alimentos praticados em um determinado país podem ser
considerados reflexo das prioridades econômicas e sociais destes e da sua capacidade de
elaborar políticas que minimizem as distorções de ordem essencialmente estruturais. Via de
regra, essas distorções resultam exatamente da incapacidade e/ou da decisão de não ação do
Estado na correção das falhas de mercado ou na minimização da iniqüidade característica do
sistema capitalista (GONÇALVES, 2005).
De um modo geral, os preços da carne bovina no mercado internacional têm
apresentado uma tendência de queda desde 1994/95. Os fatores que têm afetado os preços são:
as propostas de liberalização comercial a partir do acordo GATT/ OMC; a disputa de mercado
com as carnes de frango e suína; a ocorrência de problemas sanitários como a BSE, a E. coli e
a contaminação das rações por dioxinas.
Como em qualquer produto, o comércio da carne bovina depende das vantagens
comparativas em termos dos custos de produção que, neste caso, estão diretamente
relacionados à disponibilidade de terra, de boas pastagens, disponibilidade de grãos e de
condições climáticas adequadas. Diante disso, pode-se afirmar que o Brasil possui atualmente
o menor custo de produção de carne entre os principais produtores. No entanto, ainda que as
vantagens comparativas tenham sido capitais para a deflagração do processo de inserção no
comércio mundial, elas não foram suficientes para sustentar as posições conquistadas, à
medida em que países exportadores emergiam e mercados se saturavam (FARINA &
NUNES, 2003).
Tabela 16. Custo de produção da carne bovina dos maiores produtores mundiais.
País US$ / Kg
Brasil 0,90 -1,00
Nova Zelândia 1,23
Argentina 1,30
Austrália 1,80
EUA 1,90
Irlanda 3,00
Fonte: ABIEC, 2007.
As proteções comerciais também exercem grandes influências no preço da carne
bovina. Um estudo da OCDE, citado por Contini & Talamini (2005), estima que as medidas
protecionistas e a política de subsídios, praticadas pela União Européia, fazem com que os
consumidores paguem cerca de 63% a mais pela carne bovina.
Em 2004, os preços das carnes de aves, bovina e suína tiveram um aumento de 22%,
14% e 8%, respectivamente. No gráfico 14, pode-se visualizar a significativa queda no preço
da carne suína a partir de 2004, e as não menos significativas elevações nos valores de
mercado das carnes de frango e bovina, que se mantêm bem acima dos valores de referência
praticados entre 1998 e 2000. Um marco a ser destacado ocorreu no final de 2003, com o
preço da carne de frango superando a carne suína.
Segundo as Projeções para o Mercado Mundial de Carne Bovina até 2012, os preços
da carne bovina deverão reduzir gradualmente e se estabilizar em médio prazo em torno de
US$ 1.600 a tonelada. Ainda segundo o estudo, a tendência de alta em virtude da forte
demanda de importação, será contida pela a emergência de novos países exportadores e pelo
aumento da competição com outras carnes (BEEFPOINT, 2007).
157
Gráfico 14. Índices internacionais de preços de carnes selecionadas (1998-2000=100).
80
90
100
110
120
130
140
2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007*
Carne de frango Carne suína Carne bovina
*Média até julho
Fonte: FAO, 2007.
Importações e Exportações
De um modo geral, o comércio de carne bovina tem se expandido de forma intensa.
Entre 1984 e 2005, as exportações cresceram cerca de 10% a mais do que a produção
mundial. A porcentagem de carne bovina comercializada no mundo em meados dos anos 60
correspondia a 9,4% do total consumido e passou a 16,4% no final dos anos 90. Dentre os
responsáveis pelo aumento expressivo do volume de c
158
Gráfico 15. Volumes das importações de carne bovina pelos maiores importadores mundiais.
0
200
400
600
800
1000
1200
1400
1600
1800
2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006
1000 Ton métricas
E U A Federação Russa Japão
União Européia (25) México Coréia do Sul
Egito Filipinas Cana
Taiwan Outros
Fonte: USDA, 2007.
Analisando o gráfico 15, chama atenção a retração ou pelo menos tendência à
estabilização das importações na grande maioria das regiões e países estudados a partir de
2003, com exceção dos EUA. Esse fato pode ser atribuído a uma estabilização normal devido
à saturação do mercado, à pressão das carnes de frango e de suínos entrando no mercado com
preços mais atraentes, à mudanças de hábito do consumidor e, sobretudo aos escândalos
sanitários relacionados ao produto nos últimos anos.
Os Estados Unidos são um grande importador de carne mais barata para ser utilizada
na produção de carne enlatada (corned beef) e hambúrgueres na sua grande cadeia de fast
food. Ainda no caso dos Estados Unidos, o fenômeno de expansão das importações se deve a
um ligeiro aumento do consumo interno, associado a uma retração da produção interna,
conforme observado nos gráficos anteriores.
O gráfico 15 exibe apenas os maiores importadores do produto, que normalmente
tendem a exibir certa estabilização no consumo e, conseqüente uma estabilização das
importações. Entretanto, em alguns países em desenvolvimento o aumento da renda vem
159
promovendo um significativo aumento do consumo. No caso da China, por exemplo, de 1990
a 2002, o consumo e as importações cresceram respectivamente 82% e 405%.
Analisando as exportações de carne, verifica-se um alto grau de concentração, com
poucos países dominando o comércio mundial. Segundo a International Meat Secretariat
(2007), entre 2003 e 2005, os cinco maiores países exportadores foram responsáveis por mais
de dois terços das exportações globais. O Gráfico 16 exibe uma redução das exportações dos
EUA, que pode ser creditada, em parte, à estratégia de reduzir o rebanho interno e passar a
obter mais produtos cárneos no mercado externo (conforme observado no gráfico anterior),
provavelmente devido à queda de preço, associada ao desejo de reduzir uma atividade
potencialmente prejudicial ao meio-ambiente de seu território
212
. Entretanto, com a
recuperação dos preços internacionais e a superação da retração da demanda, é possível
observar um movimento de retomada das exportações americanas a partir de 2004.
No caso da União Européia, a queda observada nas exportações pode ser atribuída em
parte aos problemas de ordem sanitária, aos acordos de liberalização do comércio e à redução
de subsídios firmados quando da Rodada do Uruguai do GATT. O comércio intra-europeu
corresponde à aproximadamente 65% das exportações de carne bovina e é nessa área que a
crise da BSE e da ração com dioxina tiveram um impacto mais significativo. Segundo a
USDA, o medo da BSE na Europa promoveu uma queda de 40% nas exportações da carne.
212
A criação de gado americana é, preponderantemente, realizada em confinamento e, portanto, mais propensa a
problemas ambientais.
160
Gráfico 16. Volumes das exportações de carne bovina pelos maiores exportadores mundiais.
0
500
1000
1500
2000
2500
2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006
1000 Ton métricas
Brasil Austrália Argentina
Cana Índia Nova Zendia
Uruguai União Euroia (25) E U A
China Outros
Fonte: USDA, 2007.
No gráfico 16, chama atenção ainda a ascensão significativa das exportações
brasileiras e, em menor grau da Argentina. Esse fenômeno tem relação com: a expansão e
diversificação dos mercados (nota 207); a ocupação pelo mercado após a retração dos EUA; a
entrada de novos compradores representados por uma parcela dos países em desenvolvimento,
que obtiveram expressivos aumentos de renda nos últimos anos; e ainda pela declaração de
região livre de febre aftosa que esses dois países obtiveram nos últimos anos
213
.
É preciso ressaltar, entretanto, que os números relativos ao volume total exportado
podem ser muito distintos dos valores obtidos com as exportações. Isso ocorre devido a uma
associação de fatores relacionados a: diferenças nos tipos de corte, do mercado importador, do
valor agregado embutido nos produtos e da imagem que o país exportador possui no mercado.
Por exemplo, enquanto que em 2005 o volume exportado pelo Brasil se distanciava
significantemente do exportado pela Austrália, os valores das exportações de carne bovina
destes países era de US$ 3.062 milhões e US$ 3.014 milhões, respectivamente. Estes valores
indicam claramente que o valor médio pago por cada quilograma dos produtos exportados
213
Como será exposto adiante, este cenário mudou com a descoberta de novos focos da doença no Brasil.
161
pela Austrália é superior ao pago pelos produtos brasileiros (BRASIL, 2007). As variações no
preço médio de exportação de carne bovina congelada podem ser observadas na tabela 17.
Tabela 17. Mundo: preço médio de exportação de carne bovina congelada
1
, países
selecionados (US$ 1.000 por tonelada).
País 1996
1997
1998
1999
2000
2001
2003
2004
2005
2006
Austrália
1,29 1,26 0,99 nd 1,06 1,03 1,07 1,36 2,00 2,13
Brasil
3,32 3,13 2,73 2,38 1,77 1,58 1,56 1,85 nd 2,24
Holanda
1,25 0,95 1,22 1,10 nd
162
Gráfico 17. Principais destinos das exportações mundiais de carnes frescas refrigeradas ou
congeladas (jan a nov/2005).
0 20 40 60 80 100 120 140 160 180 200 220 240 260 280 300
Russia
Egito
Chile
Reino Unido
Italia
Argelia
Bulgaria
Holanda
Arábia Saudita
Romenia
Hong Kong
Ucrânia
Israel
Filipinas
Alemanha
Espanha
Libia
Libano
Africa do Sul
Cingapura
1000 Ton
Fonte: BRASIL, 2006.
A previsão é de que o comércio total de carne bovina aumente em 1,7 milhão de
toneladas durante o período de 2004-2012. A maior parte do crescimento nas importações
ocorrerá por conta do aumento de demanda na Ásia, México, Egito e Rússia; com a
perspectiva de que as exportações americanas absorvam algo em torno de 75% desse
crescimento na demanda mundial (BEEFPOINT, 2007).
Quanto ao perfil dos produtos exportados, nota-se uma clara tendência de aumento na
exportação da carne congelada desossada e uma redução nas exportações de carne in natura,
com osso e a salgada seca. No período correspondente ao gráfico 17 o volume de carne
congelada exportada foi cerca de 5 vezes superior ao da carne in natura.
5.2
O Mercado Brasileiro
Por se tratar do maior exportador e um dos maiores produtores mundiais, grande parte
da análise do mercado brasileiro de carne bovina está contida na seção anterior que trata sobre
o mercado mundial. Assim sendo, as observações e dados expostos nesta seção irão se ater a
163
aspectos particulares da produção, competitividade, consumo de exportação da carne bovina
no território brasileiro.
Rebanho brasileiro
A criação de gado sempre foi utilizada como um forte instrumento de expansão e
ocupação do interior do país. Atualmente, nas várias regiões fisiográficas, a atividade de cria
tende a concentrar-se em áreas mais distantes dos grandes mercados consumidores e em
regiões de solos menos férteis, ou onde as condições climáticas são mais adversas, o que
resulta em uma nutrição inadequada dos animais. As novas fronteiras de criação de gado
localizam-se na região Centro-Oeste e, mais recentemente na região Norte, onde o avanço de
grandes propriedades sobre a floresta vem gerando preocupações de ordem ambiental.
Constitui exceção a esse quadro o Rio Grande do Sul, onde 91,68% dos produtores de
bovinos do Estado possuem rebanhos de até 50 cabeças e realizam a cria, recria e engorda
simultaneamente (CACHAPUZ, 1993).
Como pode ser observado no gráfico 18 o rebanho brasileiro ultrapassou a marca de 1
bovino por habitante em meados de 2001, chegando a 207,2 milhões de cabeças em 2007
(SANTOS et al, 2007). O gráfico também permite verificar uma tendência de redução na taxa
de crescimento do rebanho a partir de 2004.
Gráfico 18. Evolução do rebanho e da população no Brasil
150
160
170
180
190
200
210
220
1994
1995
1996
1997
1998
1999
2000
2001
2002
2003
2004
2005
2006
2007
Milhões
População Rebanho bovino
Fonte: CNPC, 2007 / SANTOS et al, 2007
Rebanho: 1994 - PPM/IBGE; 1996 - Censo Agropecuário/IBGE; 1995 e 1997 a 2007 - Estimativas
Produção, Consumo Exportação e Importação
Como pode ser observado a partir do gráfico 19, estima-se que a produção brasileira
de carne bovina em 2006 tenha chegado a 9.000 toneladas equivalentes em carcaça; neste ano
o volume exportado foi de 2.200 toneladas equivalentes em carcaça. Até 2000, o percentual
exportado se mantinha em cerca de 10% do total produzido no país, no entanto, a partir deste
período, este percentual tem aumentado a cada ano, chegando aos atuais 25%. Esta variação
não teve como causa uma redução no consumo interno per capita anual, que tem se mantido
em torno de 35 Kg equivalente de carcaça ao ano, mas sim ao expressivo aumento do volume
exportado. A participação brasileira no mercado mundial de carne bovina aumentou de 8,55%
em 2000 para 27,8% em 2006 (BRASIL, 2006c). Já a importação brasileira de carne bovina é
quase que insignificante quando comparada ao volume exportado, e deve chegar a patamares
em torno de 100 toneladas equivalentes em carcaça em 2007 (SANTOS et al, 2007).
164
Apesar de sua pujança, estima-se que o Brasil esteja excluído de 60% do mercado
mundial de carne bovina, precisamente das nações que melhor remuneram o produto, como
Estados Unidos, Japão e Coréia do Sul. Contabilizando os volumes importados pelos países
que não compram carne brasileira devido a restrições sanitárias, chega-se a um mercado de
US$ 8 bilhões que pode ser alcançado pelo Brasil, caso haja avanços no controle da febre
aftosa e, sobretudo, reconhecimento do princípio da regionalização (LIMA et al, 2005).
Gráfico 19. Evolução do consumo de diferentes carnes no Brasil entre 1997 a 2005.
0
1.000
2.000
3.000
4.000
5.000
6.000
7.000
1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005
1.000 Ton
Bovina Avícola Suína Pescado
Fonte: GONÇALVEZ & MACHADO, 2007.
O consumo de carne no Brasil atinge apenas cerca de 60% de toda a população, sendo
que a grande maioria destes não possui poder aquisitivo para compra de um produto de
qualidade superior, com isto é ofertado produto sem padrão de qualidade e muitas vezes sem
inspeção sanitária conforme legislação. No Gráfico 19, podemos verificar que, nos últimos 10
anos, o consumo de carne bovina se manteve relativamente estável e que, após 2004, foi
ultrapassado pelo consumo de carne avícola, que teve um aumento expressivo no intervalo
estudado, sobretudo em função do seu baixo preço.
Durante os últimos 20 anos, o País tem figurado entre os maiores exportadores de
carnes, entretanto, mais recentemente, o Brasil aumentou significativamente a sua
participação chegando ao primeiro lugar nas exportações de carne bovina. Destaque-se o fato
de que, segundo dados colhidos por Kageyama e Graziano (1987), em 1975 apenas 0,9% do
total produzido pelo Brasil era destinado ao mercado externo. O aumento da demanda de
carne bovina no mercado interno tem uma relação direta com o poder de compra do
consumidor, que prioriza o consumo de carne bovina (RAMOS, 2006). O aumento do
consumo interno, por sua vez, tende a reduzir as exportações, esse fenômeno foi observado
após os planos de estabilização, mas atualmente não tem sido suficiente para inibir as
significativas taxas de crescimento do volume de carne exportada (FARINA & NUNES,
2003).
165
Gráfico 20. Produção, Consumo, Exportação e Importação de carne bovina brasileira (1994-
2007).
0
1000
2000
3000
4000
5000
6000
7000
8000
9000
10000
1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007
mil ton.equiv.carcaça
Produção Exportão Consumo interno Importação
Fonte: CNPC, 2007.
Rebanho: 1994 - PPM/IBGE; 1996 - Censo Agropecuário/IBGE; 1995 e 1997 a 2006 - Estimativas
Para ilustrar o quanto tem sido expressivo o aumento da produção brasileira nos
últimos anos, pode-se citar que o aumento da produção de carne bovina e vitelo entre 2000 e
2006 foi 38,5%; neste mesmo período, a elevação da produção mundial não chegou a 7%
(BRASIL, 2007). De janeiro a junho de 2007, foram exportados o equivalente a US$ 2,216
bilhões.
Um dado que comprova o lugar de destaque que o Brasil alcançou no comércio mundial
de carne bovina é o fato de seus produtos serem vendidos a 143 países já em 2004. Entretanto,
as exportações ainda se encontram bastante concentradas, em 2005, apenas 15 países
adquiriram 83% do valor total das exportações (BRASIL, 2007). Os principais compradores
de carne bovina frescas, resfriadas ou congeladas, de janeiro a novembro de 2005, foram
Rússia, Egito, Chile e Reino Unido. Nos gráficos 21 e 22 estão representados os dez maiores
importadores de carne brasileira em termos de valores e suas respectivas quantidades em
2005.
166
Gráfico 21. Brasil: exportações de carne bovina em 2006, 10 principais destinos em valores
(US$ milhões).
Holanda; 304; 8%
Reino Unido ; 329;
8%
Egito; 337; 8%
ssia ; 765; 19%
Outros; 1273,6; 31%
Estados Unidos ;
277; 7%
Itália; 271,4; 7%
Alemanha; 115; 3%
Hong Kong; 113; 3%
Irã; 107; 3%
Argélia; 102; 3%
Fonte: MDIC-SECEX/DECEX com base nos registros de exportações - Res, 2007
Gráfico 22. Brasil: exportações de carne bovina em 2006, 10 principais destinos em
quantidade (mil Toneladas).
167
Unidos (USDA), prevê que a produção e as exportações de carne bovina do Brasil deverão
expandir-se, em função do crescimento nas demandas doméstica e externa, das menores
ofertas globais e de uma elevação nos preços. Segundo revisão dos cálculos do USDA,
durante 2007, a produção brasileira deverá aumentar 3,4% (chegando a pouco mais de 9,3
milhões de toneladas) e as exportações em 6%. O crescimento nas exportações é parcialmente
sustentado por novas oportunidades no Oriente Médio (Egito, Irã, Israel e Arábia Saudita). As
vendas para estes mercados não tradicionais e a venda de produtos cozidos para os Estados
Unidos têm compensado o declínio nas vendas à UE e o acesso limitado ao mercado russo em
função dos surtos de febre aftosa no final de 2005 (BEEFPOINT, 2007a). Para horizontes
mais distantes, a Assessoria de Gestão Estratégica do Ministério da Agricultura, Pecuária e
Abastecimento, estima que o Brasil registrará aumentos de produção da ordem de 4,4% ao
ano até 2015, e incrementos nas exportações que chegarão a 8,9% ao ano. Casos a estimativa
se verifique o Brasil atingirá 2015 com 2,6 milhões de toneladas de carne bovina exportadas,
mantendo sua liderança (BRASIL, 2007c).
Quanto à característica dos produtos exportados, a maior parte das carnes brasileiras é
exportada como matéria-prima para a indústria. Parcela muito reduzida da carne in natura
segue diretamente para o distribuidor ou para os serviços de alimentação. A carne bovina
desossada e congelada figura em primeiro lugar em termos de volume exportado, seguida pela
carne bovina desossada, fresca ou resfriada e, em terceiro lugar, figuram as preparações
alimentícias e conservas de bovino
214
(BRASIL, 2007b). As carnes processadas enlatadas são
exportadas principalmente para os Estados Unidos, mas esse mercado encontra-se estagnado.
Nos últimos anos, uma disparidade significativa entre o crescimento da exportação da
carne in natura quando comparada à da carne industrializada. Ainda que para o Brasil o
volume exportado de carne industrializada possa ser pouco relevante, para os importadores da
União Européia, representam cerca de 75% do total comprado deste tipo de produto
(FERREIRA, 2005). Um segmento no qual o Brasil tem ampliado significativamente as
exportações é o de carnes cozidas e congeladas para sopas (FARINA & NUNES, 2003).
214
O mercado europeu proíbe que cortes com osso sejam exportado pelo Brasil para o mercado europeu devido a
barreira de ordem sanitária (febre aftosa) (FERREIRA, 2005).
168
Gráfico 23. Exportações brasileiras por tipos de produtos de carne bovina em 2006.
valores (US$)
quantidade (Kg)
preço médio
(US$/Kg)
Salgadas (NCM 0210.20.00)
Miúdos (0206.10.00 a 0206.29.90 e
0504.00)
Industrializada (1601.00.00 a
1602.50.00)
Bovina "in natura" (0201.00.00 a
0202.30.00)
Fonte: MDIC-SECEX/DECEX com base nos registros de exportações - Res, 2007.
No gráfico 23, podemos verificar que os valores pagos pela carne in natura, é muito
inferior àquele pago por outros produtos salgados ou industrializados. Entretanto, além do
mercado mundial ser mais restrito para os produtos de maior valor agregado, os países em
desenvolvimento encontram barreiras comerciais mais rígidas para estes produtos. Esses
motivos explicam a estagnação na comercialização destes produtos nos últimos anos,
enquanto que o aumento das exportações de carnes refrigerada e congelada é significativo
conforme verifica-se no gráfico 24.
Gráfico 24. Evolução das Exportações Brasileiras de Carne Bovina (em milhões de US$)
Fonte: Flores, 2005.
169
Gráfico 25. Valor das exportações brasileiras de carne bovina.
0
500
1000
1500
2000
2500
3000
3500
4000
1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006
US$ MIlhões
Fonte: CNPC, 2007.
As expectativas do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento em relação à
cadeia da carne bovina são bastante otimistas, conforme pode ser observado no Gráfico 26.
Segundo dados da Assessoria de Gestão Estratégica do MAPA, de 2006 a 2017 o aumento das
exportações será muito mais significativo do que o avanço do consumo interno, com taxas de
40,1% e 26,4%, respectivamente (BRASIL, 2006c).
Gráfico 26. Projeções do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento para a carne
bovina brasileira (2006/07-2016/17).
0
2000
4000
6000
8000
10000
12000
14000
2006/07
2007/08
2008/09
2009/10
2010/11
2011/12
2012/13
2013/14
2014/15
2015/16
2016/17
Mil ton de equiv. carcaça
Produção Exportação Consumo interno
Fonte: Elaboração da Assessoria de Gestão Estratégica/MAPA com dados da CONAB.
Entretanto, para que as expectativas se confirmem, será necessário um esforço
significativo de todos os integrantes da cadeia, no sentido de solucionar os problemas
170
sanitários que atualmente restringem a colocação da carne brasileira em determinados
mercados. Neste contexto, a vigilância e o controle sanitários modernos e eficientes são
elementos essenciais tanto para a conquistas de novos quanto para a manuntenção dos atuais
mercados.
Preço
A demanda por carne bovina é inelástica no preço e este, sem dúvida, é relativamente
baixo no Brasil, sobretudo em função da elevada competitividade de sua cadeia produtiva. O
171
A Competitividade da Cadeia Agroindustrial da Carne Bovina Brasileira
A abertura ao mercado externo e o contato com consumidores internos mais exigentes
têm pressionado todos os segmentos da cadeia produtiva a se reestruturarem em busca de um
aumento da qualidade e da produtividade dos produtos cárneos em seus diversos aspectos. Ou
seja, obrigou a cadeia produtiva da carne a aumentar a sua competitividade, que pode ser
definida como sendo a capacidade de um dado sistema produtivo obter rentabilidade e manter
sua participação nos mercados interno e externo, de maneira sustentada (IEL, CNA,
SEBRAE, 2000).
A competitividade da cadeia é construída sistematicamente, ou seja, ao longo de todo o
complexo que envolve desde as indústrias e serviços responsáveis pelo suprimento à
produção, até a infra-estrutura básica de transporte e comunicação, incluindo ainda os
produtores rurais, os frigoríficos, redes de distribuição e consumo e o marketing. A busca pela
vantagem competitiva exige que a cadeia de valores seja tratada como um sistema e não como
uma coleção de partes. Via de regra, os oscades s5(c)3.74(a)ojnt is e
172
o Sistema Agropecuário de Produção Integrada
216
(SAPI-BOV). Este projeto tem o objetivo
de permitir que o setor de carne alcance um patamar tecnológico, através de capacitação e
habilitação dos produtos e serviços de alto valor agregado com a marca Brasil. O projeto
reúne iniciativas do setor que desenvolvem projetos integrados entre a produção e os
mercados consumidores. Dentre estas iniciativas, ressalta-se o Serviço de Informação da
Carne, (SIC), entidade na qual participam os diversos segmentos da cadeia produtiva da carne
bovina, com o objetivo de promover o consumo tanto no mercado interno como no mercado
externo (IPARDES, IBQP, GEPAI, 2002). Outra iniciativa recente voltada para o aumento da
competitividade da pecuária nacional é o Programa de Produção Integrada da Carne (PIC),
baseado nas normativas do Sistema Agropecuário de Produção Integrada do Ministério da
Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Sapi/Mapa). O PIC propõe ações para fortificar a
produção, fornecer animais de alta qualidade, padronizados; ter sanidade assegurada, couro
bem tratado, e, principalmente, carne tenra, suculenta e saborosa. Tudo devidamente
rastreado, como exigem alguns importadores internacionais (SANTOS et al, 2007).
Uma outra iniciativa, que representa um novo modelo de arranjo institucional para o
setor, é a formação de redes/alianças mercadológicas entre diferentes agentes da cadeia como
por exemplo: as redes de produção e parcerias de produtores pecuaristas com os frigoríficos
para atender o mercado externo através de produtos de alto valor agregado, ou mesmo às
novas exigências do mercado interno (RAMOS, 2006).
A análise da competitividade de uma cadeia deve se estender até o consumidor final,
pois a distribuição é o elo que completa o processo de agregação de valor. Nesse sentido,
muito tem de ser feito ainda para tornar a comercialização de carnes ao consumidor brasileiro
uma atividade bem-sucedida, tanto em termos de pequenos varejos, como no caso das grandes
redes de auto-serviço (IPARDES, IBQP, GEPAI, 2002). Os grandes varejistas estão passando
por intenso processo de fusões e aquisições, o que gera uma maior pressão sobre os
frigoríficos, não apenas na negociação do preço pago pelo produto, mas também quanto à sua
qualidade, padronização e regularidade da oferta. Dessa forma, nas palavras de Ortega (2005)
“... cada vez mais a pecuária de carne bovina estabelece relações com oligopsônios e/ou
monopsônios, reduzindo as alternativas de colocar seu produto no mercado”.
A Rastreabilidade
A rastreabilidade é um poderoso mecanismo de transmissão de informações ao longo
de uma cadeia produtiva. Seguindo Machado & Nantes (2000), rastrear é capturar e trocar
informações sobre os atributos específicos de um produto ao longo da cadeia produtiva, desde
a origem do seu processo até o consumidor final. O processo de rastreamento prevê o
acompanhamento por meio da rotulagem da carne com um número de referência, que liga o
produto do ponto de venda ao animal ao lote e, obrigatoriamente, ao histórico de alimentação
e saúde individual. Para que isto seja possível, a carcaça e os cortes devem ser rotulados com
números de identificação ao longo de toda a cadeia, ou seja, do matadouro à
desossa/embalagem, e dessa ao ponto final de venda (FELÍCIO, 2001).
Na cadeia bovina, a principal motivação para a disseminação do conceito de
rastreabilidade foi a crise da Encefalopatia Espongiforme Bovina (BSE). Segundo lista
divulgada pelo MAPA em setembro de 2006, 32 países ou regiões exigem a rastreabilidade
para importação de carne (BRASIL, 2006b), dentre eles, a União Européia, Chile, Suíça e
Albânia. É preciso ressaltar que os níveis de rastreabilidade exigidos são diferenciados e que
um número menor de países exigem a chamada “rastreabilidade total” strictu sensu. No
mercado interno, algumas redes de hipermercados e frigoríficos não exigem a rastreabilidade
de modo compulsório, mas a vêm adotando como estratégia de marketing e de diferenciação
216
Programa do Ministério de Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA, 2005).
173
do produto (ORTEGA, 2005) (ver nota 192). A seguir são apresentadas as iniciativas mais
recentes visando estruturar a cadeia produtiva frente às exigências do mercado pela
rastreabilidade.
O SISBOV e o NOVO SISBOV
Na cadeia da carne, a demanda pela rastreabilidade é o principal reflexo das exigências
do mercado e da nova estrutura do sistema de comercialização. No Brasil, esta demanda
culminou com a instituição do Sistema Brasileiro de Identificação e Certificação de Origem
Bovina e Bubalina SISBOV por meio da Instrução Normativa 1/2002/MAPA, de 09 de
Janeiro de 2002. Segundo esta, o SISBOV “é o conjunto de ações, medidas e procedimentos
adotados para caracterizar a origem, o estado sanitário, a produção e a produtividade da
pecuária nacional e a segurança dos alimentos provenientes dessa exploração econômica e
tem como objetivos identificar, registrar e monitorar, individualmente, todos os bovinos e
bubalinos nascidos no Brasil ou importados.”
217
A introdução da rastreabilidade tem a
capacidade de promover uma intensa reestruturação em qualquer cadeia agroindustrial onde
seja implementada, e com a cadeia produtiva da carne não foi diferente. No início do Sisbov,
houve muitas divergências, entre elas a relacionada à sua obrigatoriedade e à responsabilidade
pelos custos de implementação do sistema. Neste sentido, a queixa recorrente era de que,
embora toda a cadeia se beneficiasse com o sistema, os custos se concentravam,
preponderantemente, na produção (MACHADO & NANTES, 2000).
Em 14 de julho de 2006, o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento
MAPA, publicou a Instrução Normativa 17, com nova estrutura operacional para o
SISBOV. As alterações começam pelo novo nome: Serviço de Rastreabilidade da Cadeia
Produtiva de Bovinos e Bubalinos; a nova normativa, que entrou em vigor em 12 de setembro
do mesmo ano, estabelece o conceito de Estabelecimento Rural Aprovado no SISBOV. De
acordo com as novas regras, todos os bovinos e bubalinos dos Estabelecimentos Rurais
Aprovados no SISBOV ERA devem ser, obrigatoriamente, identificados individualmente,
cadastrados na Base Nacional de Dados, com o registro de todos os insumos utilizados na
propriedade durante o processo produtivo
218
. A instrução estabelece ainda que, a partir de
2009, só será permitido o ingresso de bovinos e bubalinos nos Estabelecimentos Rurais
Aprovados no SISBOV quando oriundos de outros estabelecimentos na mesma condição.
A gestão da base de dados do Serviço de Rastreabilidade da Cadeia Produtiva de
Bovinos e Bubalinos (Sisbov) passa a ser de responsabilidade da iniciativa privada. Entidades
do setor produtivo, a serem definidas, devem assumir a administração. A Confederação da
Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) e a Associação Brasileira de Criadores de Zebu
(ABCZ) são as mais cotadas para coordenar a transferência da base de dados (BND), que
deve ser concluída até dezembro de 2007. A Base Nacional de Dados (BND) dos bovinos e
bubalinos rastreados será alimentada pelas certificadoras credenciadas pelo MAPA,
frigoríficos exportadores e órgãos ligados ao Sistema Unificado de Atenção à Sanidade
Pecuária. O produtor fica obrigado a comunicar aos órgãos sanitários e às certificadoras, em
no máximo 30 dias, qualquer movimentação do rebanho rastreado. As certificadoras por sua
vez terão 72 horas para reportar ao SISBOV, que dispõe hoje em seu cadastrado de 80 mil
estabelecimentos, além de três mil usuários. A intenção é que o serviço ganhe mais agilidade
com a mudança, pois isso diminuirá a burocracia. Mesmo com a administração privada, o
217
Dentre as inúmeras técnicas de identificação animal que vêm sendo adotadas no Brasil podemos citar: colar,
brincos de plástico, etiquetas com código de barras, tatuagens no pavilhão auditivo, marcação à ferro quente no
couro, marcação à ferro frio com tinta
spray
, placas de alumínio para identificação noturna e
transponders
(injetável, brinco,
bolus
) (MACHADO & NANTES, 2000).
218
Segundo estimativa do MAPA, em novembro de 2007 o Brasil contará com 12 a 15 milhões de cabeças de
gado rastreadas.
174
sistema continuará sendo oficial e o Mapa permanece
175
6
AS BARREIRAS AO COMÉRCIO MUNDIAL DE CARNE BOVINA
Neste tópico serão apresentadas de forma mais específica, as barreiras tarifárias e não-
tarifárias que impedem ou restringem atualmente a comercialização de carne bovina no
mundo. Serão tratadas as barreiras consolidadas, como as quotas e as sanitárias, e também
aquelas que se apresentam como tendências futuras.
6.1
Quotas
Em termos tarifários, as exportações brasileiras têm enfrentado restrições de acesso aos
mercados em quase todos os países. Nos Estados Unidos, onde existe uma quota global para a
carne bovina em torno de 700 mil toneladas, Austrália e Nova Zelândia têm quotas de
aproximadamente 380 e 210 mil toneladas respectivamente, enquanto que o Brasil tem que
competir com outros países por uma quota de 65 mil toneladas. Neste contexto, acordos
sanitários bilaterais firmados entre Estados Unidos, Uruguai e Argentina resultaram na
concessão de 20 mil toneladas em quotas para estes dois últimos no mercado americano, que
encontra-se fechado para o Brasil devido à febre aftosa e ao não reconhecimento do princípio
da regionalização por parte dos EUA. A inexistência de um acordo de equivalência técnico-
sanitária, incluindo a avaliação de risco e as exigências impostas, dificultam as exportações de
carnes frescas para os Estados Unidos. Para as carnes industrializadas não quotas para
exportação no mercado americano e as negociações do GATT para estes produtos reduziram
gradativamente o imposto de importação de 26% nos anos 80 para 16,6% em 2000.
No mercado europeu, existem 3 tipos de quotas de importação para a carne bovina: a
quota Hilton, a quota GATT e a quota A&B. A chamada quota Hilton
220
, funciona como
“uma compensação” dada pela Comunidade Européia aos países exportadores de carne
bovina, pelos prejuízos causados por suas políticas agrícolas protecionistas. Exportações
realizadas dentro da ias,ootoo 6 xi85(a)3.74(s)-1.22997( )-50.1773((s)-1.22997(ã)3773(d).74( )-10.15376(t)-2.16436(i)e)3.74(54.3)-11.2371.295585(d)-0.295585(u82(a)3.74(s)-4(s)-1.2312(t)-2.14(s)-11.2371(p)-0.295585(e)3.74(c)]TJ20.295585(l)-2.16436(t)-2.16436(i)Td[(“)3.74(u)-0.294978(m)-2.4d)-0.295585(o142()-2.16436(g)]TJ234.738 0585(s)-1.2312(t)-2.16436(r)2.804270.3064(x)-10.3015(i85(a)3.771(d)-10.299(e)-6.263142(e)3.70.207(e)3.l)-2.16485(a)3.7t)-2.16436(a)3.74439(t)-2.164361.462 0 Td[(m)-2.45.74(r)2.80439(i)-2.16(ç)3.742444(r)2.80439(a)3.74244(54.3)-44(õ)-0.29374244( )250]0.299(e)-6.26345(”)3.74( )-300.320.271(q)-0.9j4396436(d)-0.295585(a).74(d)-0.295585(o)-0.295585( )-100.2070.271(q)-0.9j4396p-6.2659(ç)3.74(ã)3.782(a)3.74(6.2659(m)-2.45995(e(s)-1.22997(e)3.74( )-1)-0.9j438.74024( )-170.248(qx )-100.2070.271(q )-270.307(p)-09j4396-0.293142(ad)-0.295585(a)3.74((o)-0.295585(r)2.80439(t)-2.16436(a)3.74(d.9j438.5(s)-11.2359( )-10.1537e.271(q)-0.9j434(r)2.805(i)-2.1616436(s9j43535(.)-0.146571( )-18r)2.805(i)-2.16558(6)-0-1.2312( )--0.295585(o)-0.2955i0.2955842.8d)-0.29315(n)-0.295585(i)-2.16436(s9j434(O-8.43027(&)7.9j438.74024( r)2.80439(o)-0.2-2.16436(o)-10.301.295585(0)-0.299j438.93142(c)3.74(i)-2.16436(a-10.15374(s)-1.2312( )-300.324(e)3.74(x)-10.3015(p)-0.295585(o)-0.2955850.299j438.5(o)-0.29558d)-0.l)-2.245 0 Td[(t).16436( )-1099j438.a)3.74(d)-0.295585585(e)3.74( )-1)-1.2312( )-30.142(c)3.74244(í)842.8d)44(õ)-0.293436(d)-0.295585(a)e
176
cortes de traseiro, com peso aproximado de 16 quilos, o que demanda o abate de cerca de 300
mil animais (SANTOS et al, 2007).
Para exportações de carne in natura resfriada ou fresca que ultrapassam os valores
estipulados pela quota Hilton, é cobrada uma tarifa composta, denominada Full Levy,
variando de acordo com a posição tarifária. Na maior parte das vezes o equivalente tarifário
ultrapassa os 100%, chegando a quase 200% em algumas posições ou quando os preços
internacionais estão reduzidos (FERREIRA, 2005).
Existem outras quotas especiais européias como a de 52 mil toneladas concedida aos
países ACP (ex-colônias ligadas ao Bloco pelos Tratados Preferenciais de Lomé) e ainda a
quota de 14,6 mil toneladas dos Acordos preferenciais com países do Leste Europeu. O
“Industrial Tariff Quota (ITQ)” é voltado para a importação de carne congelada que tenha
como destino os processadores. Essa quota tem como quantidade total 50,7 mil toneladas se
for importada com osso e 39,04 mil toneladas se importada desossada (FERREIRA, 2005).
Excluindo-se todas as quotas especiais descritas, ao volume restante de importações da
UE, convencionou-se chamar de quota GATT. t06(G)1.57564(A)1.57564()-12T. te( )-50.177da4.(4)-0.295585(0.1761(( )-50.177d.(4)-0.2955x(-)2.80561(s)-11..22997(e)3.74( )-4(l)-2.10.1761((0439(t)-2..805(o)2L)20.65.1761(( )-0.146571(244( )-20.1564(A)1.575647)3.7410.2244(s)-1.230.64002-0.293142(0)-10.299(0)-10.299( )250]TJ-252.989)-10.3010.295187(-)2.80561E)0.640026(,.294974(m)-27(t)-2.16558(i)-2.16558(p)-0.2295585(d)-0.295585250]TJ-275.202 -13.8 T5585(m)-2.45995( )-20.1 )-280.313(é)3(s)-11.235)-10.3015(a)-13.8 T295585(d)-0-0.29555(a)74(d13(p)-0.295585(e)3.74(l)-2.)3.74(c)3.74(i)-2.16558(o)-0.295)-13.8 T295585(295)-13.8 T640026(x)-10.3.147593( )]TJ-95585(u)-0.295585(a)3.7ê-7.20151(e)3.74(f)-7.20151(e)-6.2659(r)-10.3015(a)-13.8.74(ç)3.74(õ)-10.3015(e) ea
177
toda a cadeia produtiva com a sua exclusão de determinados mercados. Normalmente, as
doenças animais se espalham com uma grande velocidade, podendo se transformar em
epidemias e, eventualmente, se tornar endêmicas em determinadas regiões. Devido a grande
facilidade de disseminação das doenças, as medidas relacionadas à sanidade animal são
normalmente mais dispendiosas quando comparadas àquelas tomadas para assegurar a
qualidade dos alimentos. Dentre essas medidas pode-se citar: a quarentena, restrições de
importação, vacinação, desenvolvimento de sistemas de vigilância, construção/manutenção do
status de região livre de doenças e a introdução de sistemas de rastreabilidade.
Dentre os instrumentos normalmente utilizados para assegurar um sistema ágil para o
comércio internacional de produtos de origem animal, onde os produtos apresentem uma
segurança compatível com a desejada pelo consumidor final pode-se citar: i) difusão de
sistemas de pré-aprovação de importações baseados no status de livre de doenças; ii) aumento
dos programas bilaterais de gerenciamento das relações envolvendo questões sanitárias; iii)
aumento no nível das informações exigidas sobre o produto exportado, incluindo aquelas
relativas ao modo de produção (rastreabilidade); iv) aumento do intervalo entre a aplicação de
certas drogas veterinárias e a liberação do animal para o abate; v) valorização do bem-estar
animal.
Além das exigências burocráticas e comuns de adequação técnica das embalagens,
equipamentos, etc, a questão sanitária, principalmente a partir da década de 90, desponta
como um dos mais sérios entraves ao comércio de produtos agropecuários. Dados relativos às
preocupações dos membros da OMC indicam que, no que se refere especificamente à
sanidade animal, os grandes temas de debate no comércio pecuário atual são: a encefalopatía
espongiforme bovina ou “doença da vaca louca” (representam 40% das preocupações
relacionadas com a sanidade animal), a influenza aviária (representa 35%) e a febre aftosa
178
tanto de carne fresca quanto de corned beef sofreram uma queda drástica. A Alemanha foi o
país mais afetado com uma queda de 70% no consumo, seguido da Inglaterra, com queda de
50% (MIRANDA, 2001).
A desconfiança generalizada dos consumidores gerou a demanda por sistemas que
fossem capazes de assegurar a qualidade da carne comercializada. O protocolo EUREPGAP
ou seus similares é exigido com freqüência pelos países que participam do mercado
internacional da carne e influencia todos os segmentos da cadeia agroalimentar. Como detêm
a posição de maior exportador de carne no mundo esta prática tem avançado de forma intensa
no Brasil. Todas as propriedades que atuam nos mercados internos junto à rede de varejo ou
que atuam no mercado externo, principalmente na Europa, são recomendadas a implantar o
protocolo nos processos de produção, processamento e comercialização (RAMOS, 2006).
Outro programa de certificação bastante difundido para o setor de carne bovina e que é
exigido por varejistas do Reino Unido e outros países da Europa, como Alemanha e Suíça, é o
British Retail Consortium (BRC). O BRC é um programa de avaliação de fornecedores de
alimentos que tem como requisitos: a adoção do sistema APPCC pelos frigoríficos, sistema de
gerenciamento da qualidade, controle do ambiente fabril, processos, produtos e pessoal.
Embora os frigoríficos exportadores brasileiros operem algum tempo com esses
padrões. O acompanhamento e a atualização às novas exigências precisam ser constantes.
Atualmente, muitos frigoríficos nacionais estão se adaptando a requisitos de clientes
específicos no que diz respeito às ries ISO 9000, 14000 e SA 8000 (ABNT NBR 16.001)
para certificação de responsabilidade ambiental (BRASIL 2007).
Inicialmente, para que se possa exportar carne bovina para qualquer lugar do mundo, é
preciso haver um acordo sanitário bilateral. As importações de carnes resfriadas ou
congeladas, pela União Européia, precisam ainda ser aprovadas pelas empresas do Bloco,
apresentar certificados de saúde animal e de saúde pública emitidos por uma autoridade
veterinária oficial do país exportador, reconhecida pelo país importador. No caso da União
Européia, apesar de todas as exigências, as questões sanitárias ainda são menos restritivas do
que aquelas encontradas nos países do NAFTA e no Japão. Especialistas no comércio
internacional de carne acreditam que a instalação, no Brasil, de empresas estrangeiras pode
facilitar futuras trocas com os países-sede destas empresas. Segundo os entrevistados, o efeito
demonstrativo é muito relevante no mercado de carne bovina e, neste caso, a quantidade
exportada não é relevante. De modo mais prático: o fato do Brasil conseguir exportar carne in
natura para os Estados Unidos, independentemente da quantidade, seria como se obtivesse
uma “carta branca” que pode ser exibida a outros países abrindo também novas fronteiras para
seus produtos. Isso ocorre sobretudo no caso dos importadores que se espelham nos países
mais desenvolvidos por não dispor de mecanismos de análise e sistemas de controle
adequados.
Febre Aftosa
A febre aftosa representa, segundo dados colhidos nas entrevistas e na revisão
bibliográfica, a principal barreira não-tarifária para o comércio internacional da carne
brasileira. Embora a doença não esteja relacionada a problemas de saúde humana, o risco de
perdas econômicas é significativo. Assim sendo, países livres da aftosa o muito cautelosos
em relação à importação de carnes frescas originárias de países que apresentam a doença,
mesmo quando controlada.
A febre aftosa é uma doença contagiosa causada por um rus que afeta animais
biungulados. O contágio se por meio do contato entre animais, pela água, solo ou ainda
pelo vento, que pode transportar o vírus por até 90 quilômetros. O animal infectado elimina o
vírus, que sobrevive por períodos longos no ambiente, por todas as secreções (saliva, sêmen,
leite, urina e fezes), contaminando o ambiente (LIMA et al, 2005).
179
Em 2000, quando foram identificados os primeiros casos de febre aftosa na Grã-
bretanha, o país não registrava um único caso cerca de 10 anos. Nos Estados Unidos, a
febre aftosa foi erradicada desde 1929 e, atualmente, esse país mantém um sistema de
vigilância rigoroso. Segundo uma estimativa apresentada pelo governo americano em 2004, a
reintrodução da febre aftosa no país implicaria em um custo de US$ 52 bilhões, com reflexos
significativos para a soja e o milho em função do sistema de confinamento
preponderantemente adotado (LIMA et al, 2005). Convencionou-se dividir o mundo em
países aftósicos e não aftósicos. Faziam parte desse último grupo o Canadá, EUA, Austrália,
Nova Zelândia, Uruguai e Argentina. Mas a grande facilidade de disseminação da doença,
devido às características expostas, faz com que a manutenção desse status não seja trivial,
principalmente para países continentais e com fronteiras com diversos países, como é o caso
do Brasil. Previsivelmente, questões políticas também permeiam esse debate
226
. É importante
salientar que a febre aftosa é uma doença sobre a qual existem padrões para controle e
identificação de riscos bem definidos pelo OIE, assim sendo, não haveria uma justificativa
técnica para disparidades tão significativas entre os níveis de proteção sanitária aplicados
pelos países. Segundo relatório de 2004 do Programa Hemisférico para a Erradicação da
Febre Aftosa (PHEFA), dos 11 países da América do Sul, apenas o Chile e as Guianas são
considerados territórios livres sem vacinação. Paraguai, Venezuela e Equador estão infectados
com a doença, e os países restantes têm zonas livres de aftosa, exceto o Uruguai, que não
apresenta mais a doença por vacinar o gado.
No Brasil, a febre aftosa foi detectada em 1895 e, até a década de 1980, era considerada
uma doença endêmica. A redução dos focos foi possível graças à melhora nas vacinas e ao
maior controle das áreas infectadas, especialmente a partir de 1988. A meta do programa de
febre aftosa no Brasil foi atingida no início dos anos 90 com o controle da doença expresso na
redução dos focos (LYRA & SILVA, 2004). Em 2005, ano em que o Brasil se tornaria
território livre da aftosa, segundo a meta prevista pelo Programa Nacional de Erradicação da
Febre Aftosa
227
, 51 países restringiram a importação da carne brasileira devido à descoberta
de vários focos da doença. Suspeita-se que o gado contrabandeado do Paraguai, a falta de
vacinação ou a realização da mesma com vacinas armazenadas de forma inadequada, tenham
sido os principais responsáveis. Uma parcela de responsabilidade pode ser atribuída ao Estado
em função dos deficientes repasses de verbas e da ineficiência dos sistemas de vigilância e
controle. Apesar de sua relevância, há uma significativa descontinuidade nos gastos do
governo nessa área. No dia 10 de outubro de 2005, quando surgiu o primeiro caso no Mato
Grosso do Sul, dos R$ 35,3 milhões previstos no orçamento para o programa de Erradicação
da Febre Aftosa, apenas R$ 553,4 mil tinham sido efetivamente gastos (GOMES, 2005). A
partir desta data, houve uma mobilização política em torno do tema e os valores aplicados em
ações voltadas para a erradicação da febre aftosa aumentaram; ainda assim, em 2005, não
ultrapassaram a marca dos 16% da dotação autorizada
228
. Já em 2006, os efeitos das pressões
dos integrantes da cadeia da carne em função dos embargos de 48 países e do sacrifício de 30
mil cabeças de gado no Mato Grosso do Sul, se fazem notar com mais clareza. Em 2006, o
total pago e o empenhado chegaram próximo a R$ 42,5 milhões, o que representou cerca de
80% da dotação autorizada
229
(MELO, 2007). As campanhas de vacinação normalmente são
executadas pelos Estados, mas o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento
226
Embora a Argentina e o Uruguai tivessem identifica
180
normatiza o programa e repassa uma parcela da verba. Ainda assim, contabilizados os
impactos econômicos da disseminação de focos de febre aftosa pelo País
230
, os gastos com seu
controle são muito modestos.
O reaparecimento da febre aftosa no Mato Grosso do Sul não impediu um recorde das
exportações brasileiras do produto em 2005, que exibiu uma alta de 22,4% em relação a 2004.
Os efeitos prejudiciais do surto foram distintos para cada região e se fizeram sentir de forma
mais intensa no Paraná (que recebeu gado do MS) e em São Paulo, que amargou perdas de
renda em torno de US$ 950 milhões em 2006, segundo estimativas de Gonçalves e Ghobril
(2007).
Segundo documento do MAPA, A crise da febre aftosa, em setembro de 2005,
causou grandes impactos para a pecuária bovina brasileira. A confiança no produto
brasileiro foi abalada. Os prejuízos não serão maiores por dois motivos: o primeiro é
porque não existem outros fornecedores para ocupar o mercado deixado pelo Brasil e o
segundo é a ameaça da gripe aviária, que reduz o consumo de carne de frango em muitos
países.” (BRASIL, 2007).
Os prejuízos em função da febre aftosa seriam minim
181
originárias de áreas com doenças possam ser importadas para áreas livres de doença e, então
serem reexportadas de forma a gozar dos benefícios do reconhecimento da área livre. Os
países exportadores são forçados então, a manter sistemas adequados de testes e rótulos de
origem e rastreabilidade. De acordo com Farina e Nunes, (2003), as autoridades brasileiras
são lentas para responder aos pedidos de informação dos países importadores. Segundo estes
autores, qualquer risco pode ser classificado em quatro categorias: desprezível, baixo, alto e
desconhecido. A pior forma que um risco pode assumir para o comércio internacional é o
risco desconhecido - que ocorre quando há falta de informação.
Gráfico 28. Focos de febre aftosa no Brasil no período de 1970 a 2005.
2.529
8.353
7.177
7.877
2.959
4.681
10.295
8.595
6.992
6.656
7.850
4.222
3.022
1.454
1.481
1.511
1.699
1.319
1.314
1.376
989
757
1.232
1.433
2.093
589
215
167
38
37
47
37
0
0
2
4
0
2.000
4.000
6.000
8.000
10.000
12.000
1970
1971
1972
1973
1974
1975
1976
1977
1978
1979
1980
1981
1982
1983
1984
1985
1986
1987
1988
1989
1990
1991
1992
1993
1994
1995
1996
1997
1998
1999
2000
2001
2002
2003
2004
2005
Ano
mero de Focos
Fontes: LYRA & SILVA, 2004 / LIMA
et al
, 2005.
Está em andamento no Mapa um projeto de Instrução Normativa (IN) que visa ordenar
os procedimentos de erradicação e de prevenção da febre aftosa no País. O objetivo da IN é
reunir as legislações e uniformizá-las, abrangendo questões referentes a atendimento a focos,
reconhecimento e manutenção de zonas livres, vacinação e trânsito de animais suscetíveis,
seus produtos e subprodutos. Busca-se ainda introduzir novos conceitos, como o de “zona de
contenção”, aprovado durante a 75ª reunião ordinária da Organização Mundial de Saúde
Animal (OIE)
233
. A proposta contempla ainda as recomendações da última missão da União
Européia, visando honrar compromissos assumidos pelo Brasil com países importadores
(SANTOS et al, 2007).
De acordo com relatório da OIE (OIE, 2007a), o Estado de Santa Catarina é a única
região brasileira considerada livre de aftosa sem vacinação e os Estados do Acre, Rio Grande
do Sul, Rondônia e o Centro-Sul do Pará são consideradas livres de aftosa com vacinação. De
acordo com o mesmo documento, tiveram seu status de “zona livre de aftosa” suspenso em
2005 os Estados do Paraná, São Paulo, Mato Grosso, Rio de Janeiro, Espírito Santo,
Tocantins, Minas Gerais, Bahia, Mato Grosso do Sul e Sergipe, além do Distrito Federal. No
dia 6 de novembro de 2007, o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa)
reconheceu a condição de área livre de febre aftosa com vacinação ao Mato Grosso do Sul. O
novo status suspende as restrições impostas ao trânsito e comércio de animais dentro do País.
233
Ocorrida em maio de 2007 em Paris.
182
Entretanto, o comércio externo depende ainda de liberação da OIE (Organização Mundial de
Saúde Animal) cuja visita à região está prevista para dezembro de 2007.
Outras Barreiras Sanitárias
Outro grande problema sanitário que influenciou de forma ampla todo o mercado de
produção e comercialização da carne bovina foi a chamada vulgarmente de doença da “vaca
louca” ou Encefalopatia Espongiforme Bovina (BSE). A BSE foi diagnosticada pela primeira
vez na Inglaterra, em 1986, e trata-se de uma doença degenerativa progressiva, que afeta o
sistema nervoso central dos bovinos. Em março de 1996, o anúncio da relação entre a “vaca
louca” e a sua variante humana (Creutzfeldt-Jakob Disease (CJD)), levou a Comissão
Européia a proibir a venda de carne para consumo humano do gado com cerca de 30 meses de
idade tanto da Grã-Bretanha quanto de outros países
234
.
Segundo dados da Organização Internacional de Epizootias, até 2007 foram registrados
189.768 casos de BSE no mundo destes, 184.087 casos apenas na Grã-Bretanha, 1029 em
Portugal e 984 na França, com 106 óbitos na Grã-bretanha, 17 na Irlanda e 4 na França
(BRABET, 2006). Conforme pode ser verificado no gráfico 29, o número de casos sofreu uma
expressiva redução ao longo dos anos, o que fez com que estes tenham deixado de suscitar a
mesma atenção da mídia, entretanto, não se pode afirmar que a BSE esteja completamente sob
controle.
O agravamento da situação da “vaca louca” na União Européia apresentou efeitos
indiretos positivos para as exportações brasileiras de carne. O embargo das exportações
européias de carne bovina levou países, tradicionalmente seus compradores, a buscarem maior
volume de carne no Brasil. Dentre esses, destacam-se Filipinas, Egito e Irã, que
representavam cerca de 46% das exportações de carne da União Européia. Outras
conseqüências da crise da BSE na Europa foram: i) Aumento do número de pessoas que
restringiram ou aboliram a carne vermelha de suas dietas; ii) Redução do volume de carne
disponível; iii) Aumento do preço da carne; iv) Aumento importante da exportação de carne
da Austrália e Nova Zelândia para a Ásia e EUA; v) Estocagem ou destruição das farinhas
animais (3 milhões de toneladas na Europa) a um custo estimado de 3 bilhões euro/ano; vi)
Necessidade de importar farelo de soja (com garantia, sem OGM); vii) As exportações de
carnes brasileiras aumentam para: Europa, Estados Unidos, América Latina, e Oriente Médio
(BRABET, 2006).
Desde o aparecimento da BSE no Reino Unido, as autoridades sanitárias brasileiras
preocuparam-se em evitar a importação de carne britânica visando preservar o patrimônio
pecuário do país. O Brasil também restringiu a importação de animais susceptíveis e seus
subprodutos de países onde a doença foi registrada e proibiu o uso de farinha de carne e ossos
de ruminantes na formulação de rações, incluindo o uso de cama de frango para a alimentação
de ruminantes. Além destas medidas, a Instrução Normativa Ministerial Nº 8, de 13 de
fevereiro de 2001 tornou obrigatório o rastreamento de bovinos importados e proibiu o abate e
o consumo da carne destes animais (ALMEIDA, 2005).
Também em fevereiro de 2001, a União Européia divulgou uma lista classificando os
diversos países do mundo quanto ao risco de incidência da BSE. Na lista, o Brasil estava
classificado no nível 2 (intermediário), ao lado dos EUA e Canadá, categoria esta reavaliada
no início de abril de 2001 e modificada para a Classe 1, sem risco. Entretanto, em 2001, o
Canadá suspendeu a importação de carne bovina do Brasil, não em função de dados
científicos que comprovassem a presença de gado contaminado, mas pela falta de uma
documentação que comprovasse, em caráter conclusivo, que o rebanho brasileiro estava livre
234
Uma proibição que foi parcialmente rescindida em junho de 1998, para rebanhos específicos e classes de
animais na Irlanda do Norte.
183
da BSE. Em conformidade com as disposições do Acordo de Livre Comércio da América do
Norte (Nafta), o México e os Estados Unidos seguiram o exemplo canadense, o que reduziu
em mais de 85 milhões de dólares as exportações de carne brasileira processada
(MALHORTA, 2004).
Gráfico 29. Casos de BSE notificados no mundo (1989-2007).
7243
14424
25
390
3
7
316
3
51
40
2
4
542
1
466
4
8
310
4
553
3487
2
63
7
1957
2
214
2
179
138
9
8
78
524
327
8
0
0
5000
10000
15000
20000
25000
30000
35000
40000
1989
1990
1991
1992
1993
1994
1995
1996
1997
1998
1999
2000
2001
2002
2003
2004
2005
2006
2007
Número de casos
Fonte: OIE (2007).
Embora tenha ocasionado uma redução nas taxas de crescimento do consumo global
de carne bovina, a divulgação dos casos de BSE não afetou todos os países de forma
homogênea. Segundo dados da International Meat Secretariat (2007), na Grã-bretanha e
Japão as reduções do consumo foram mais acentuadas, cerca de 20 e 15%, respectivamente.
No Canadá, a retração do consumo foi de 5%, enquanto que nos EUA houve, inclusive, um
pequeno aumento marginal. Fatores culturais, disponibilidade de outras carnes “alternativas”
e a qualidade da informação disponível podem ser citados como variáveis que justificariam
essa heterogeneidade de reações por parte dos consumidores em diferentes países.
Outro importante reflexo da crise de segurança alimentar, desencadeado a partir da
crise da vaca louca, foi a disseminação de padrões mais rígidos e eficazes de vigilância e
controle. Em setembro de 2005 a ISO publicou a ISO 22.000
235
, desenvolvida por um comitê
técnico com participação de 23 países e com um método que garante o controle nos diferentes
segmentos da cadeia da carne por meio da obrigatoriedade da implantação do sistema de
Análise de Perigos e Pontos Críticos de Controle APPCC e das Boas Práticas de Fabricação
- BPF. A ISO 22.000 pode ser vista como um marco na consolidação de toda a mudança no
235
A ISO 22000: 2005 inclui os seguintes documentos relacionados com os sistemas de gestão da segurança de
alimentos: ISO;TS 22000:2005, fornece um guia para orientar as organizações da cadeia produtiva de alimentos
de todo o mundo incluindo as pequenas e médias empresas. ISO:TS 22003, são requisitos para organismos que
oferecem auditoria e certificação de sistemas de gestão da segurança de alimentos. Esta norma é um guia para a
acreditação (aprovação) dos organismos para certificação da ISO 22000:2005 e define regras para auditar um
sistema de gestão da segurança de alimentos em conformidade com a norma ISO 22000:2005. ISO 22005, é a
norma de rastreabilidade na cadeia de alimentação animal e humana envolve princípios gerais e guia para
delineamento e desenvolvimento do sistema.
184
conceito de segurança alimentar e qualidade do alimento gerada nos últimos anos após o
escândalo da “vaca louca” (RAMOS, 2006).
A lista de doenças que podem acometer o rebanho bovino é bastante ampla,
demandando um grande esforço no sentido de controlá-las e/ou erradicá-las do território
brasileiro. No caso da brucelose e da tuberculose, foi criado o Programa Nacional de Controle
e Erradicação da Brucelose e da Tuberculose (PNCEBT) que é responsável pela diminuição
dos impactos negativos dessas enfermidades no rebanho nacional. As ações se desenvolvem
em parceria entre o serviço oficial e o setor privado e a vacinação é obrigatória desde 2003,
com prioridade para a aplicação das doses em fêmeas bovinas e bubalinas entre três e oito
meses de idade.
As lista de exigências sanitárias a serem cumpridas para a comercialização de carne
bovina em mercados mais exigentes não se esgota aqui. Entretanto, é preciso salientar que os
instrumento de vigilância, fiscalização e controle desenvolvidos em função de uma
determinada doença, via de regra, acabam por atuar sobre um conjunto bem mais amplo de
doenças ainda que a princípio involuntariamente.
Barreiras Ambientais e de Cunho Social ao Comércio Internacional de Carne Bovina
Além das barreiras sanitárias e os padrões tecnológicos já estabelecidos, a cadeia
produtiva da carne bovina vem se deparado com uma freqüência cada vez maior com
exigências relacionadas a sustentabilidade ambiental de suas atividades e de proteção aos
direitos básicos da mão-de-obra utilizada.
A legislação ambiental brasileira, via de regra, não representa um fator restritivo ao
desenvolvimento da cadeia da bovinocultura de corte, essencialmente devido ao fato de que a
grande maioria da produção pecuária desenvolvida no Brasil ocorre de forma extensiva,
portanto sem concentração de resíduos e com um balanço positivo na troca de carbono.
Entretanto, à medida em que há uma tendência à difusão da prática do confinamento, questões
relacionadas aos resíduos gerados nesta prática tendem a figurar na lista de preocupações
ambientais, como ocorre com a criação de suínos
236
. No âmbito do mercado externo, as
preocupações ambientais relativas ao segmento de produção estão centradas no desmatamento
de florestas, preservação de mananciais, conservação dos solos e na produção de gases que
contribuem para o efeito estufa.
No segmento industrial, o tratamento e destino de resíduos e de águas servidas,
resultantes do abate e do processamento da carne bovina, têm se constituído em preocupação
para os órgãos ambientais e sociedade em geral, devido ao potencial poluente de seus
efluentes com elevada concentração de matéria orgânica, detergentes e sanificantes. Algumas
unidades de abate e processamento têm enfrentado problemas quanto ao tratamento adequado
dos efluentes, particularmente aquelas localizadas em áreas urbanas, onde são importantes as
restrições de espaço físico para a construção das lagoas/tanques de decantação com
capacidade adequada (IPARDES, IBQP, GEPAI, 2002).
Em um período recente, as exigências relacionadas ao bem-estar animal estavam
ligadas essencialmente à qualidade final da carne. A manutenção de veis adequados de
glicogênio, reflexo do manejo ante-mortem correto, evita problemas de escurecimento da
carne, observado em animais que passam por situação de stress em período próximo do abate
(ILLINCH & HAGUIWARA, 2005). Mais recentemente, as preocupações com o bem-estar
animal tomaram uma nova forma e, embora não estejam ainda formalmente estabelecidas
pelas regras da OMC, são objeto de avaliação por parte das inspeções sanitárias da UE
realizadas em países candidatos e/ou fornecedores de carne para o bloco. Essas exigências
236
Nos Estados Unidos, estima-se que os custos relacionados ao manejo de dejetos exigido na criação de suínos
varia de US$ 0,40 a US$ 3,20 por porco, o que equivale de 1 a 8% do custo total de produção (BRUINSMA,
2003).
185
podem ser interpretadas também como exigências de cunho tecnológico pois, em certos casos
demandam o desenvolvimento ou a incorporação de alternativas para a criação, transporte
e/ou abate dos animais de forma “moralmente aceita”. Este tipo de exigência vem se tornando
cada vez mais freqüente por parte de compradores externos, sobretudo canadenses,
americanos e europeus. Segundo a União Européia, as exigências relativas ao bem-estar
animal podem ser enquadradas no conceito de precaução e risco, na medida em que o
consumidor considera a possibilidade de sua saúde ser afetada caso os animais vivam em
condições de stress, tais como pouco espaço, barulho, alimentação inadequada, etc. Ainda de
acordo com as leis européias, os animais são considerados “criaturas conscientes” e não mais
produtos agrícolas. O Brasil, neste caso, apresenta a vantagem de ter a imensa maioria de sua
produção advinda de animais criados no pasto, modo considerado mais adequado sob o ponto
de vista do bem-estar animal. Entretanto, o conceito de bem-estar animal se prolonga ainda
até as etapas de transporte
237
e abate, que devem seguir padrões que são cada vez mais
observados na avaliação dos compradores.
Além das tendências mencionadas, segundo estimativas da FAO, as perspectivas
futuras para as barreiras não-tarifárias na cadeia da carne bovina estarão voltadas para a
implementação do sistema APPCC ao nível das fazendas, programas de redução de patógenos
ao longo da cadeia e ainda para questões relacionadas à segurança alimentar ligados ao
acúmulo de aflatoxinas advindos da alimentação dos animais (BRUINSMA, 2003). A
incorporação de hormônios e antibióticos nos animais também poderá ser alvo de medidas
restritivas ao comércio de carne
238
. Além de finalidades terapêuticas, os antibióticos são
também utilizados, em doses subterapêuticas, para aceleração do crescimento de animais
criados em fazendas que utilizam sistemas de elevada densidade. Os críticos desta prática
argumentam que uma das possíveis conseqüências desta é a introdução de bactérias cada vez
mais resistentes no ambiente que podem, inclusive, afetar os humanos.
Como última exigência com elevada propabilidade de se consolidar como barreira
não-tarifária ao comércio de produtos cárneos, encontram-se as preocupações relacionadas às
condições dos trabalhadores nas fazendas, abatedouros, frigoríficos e indústrias
processadoras. À medida em que estas exigências têm se tornado cada vez mais comuns e
valorizadas, as notícias da existência de condições insatisfatórias de trabalho nas fazendas têm
preocupado toda a cadeia.
6.3
As Conseqüências Positivas das Barreiras Não-Tarifárias na Cadeia da Carne
Neste tópico se pretende descrever mudanças nos agentes e nos ambientes regulatório
e institucional da cadeia da carne bovina brasileira, partindo da hipótese de que estas tiveram
como causa direta ou indireta, a implementação de barreiras não-tarifárias e das exigências
dos importadores, sejam essas de origem pública ou privada. Entretanto, é preciso salientar
que, apesar do material pesquisado e as entrevistas utilizadas permitirem estabelecer uma
relação parcial de causa e efeito, não seria correto afirmar que as mudanças descritas têm
como única fonte causal as exigências do comércio internacional.
237
Em setembro de 2003, a União Européia apresentou uma proposta para a proteção animal durante o
transporte. Segundo esta: i) o tempo de viagem deve ser minimizado; ii) os animais devem estar saudáveis; iii) o
meio de transporte deve ser específico, seguro e evitar ferimentos; iv) as rampas devem ser planejadas e
operadas de forma segura para os animais; v) o pessoal deve ser treinado para evitar
stress
desnecessários aos
animais; vi) alimentação, água e descanso devem ser apropriados (ILLINCH & HAGUIWARA, 2005).
238
A disputa na OMC envolvendo a presença de hormônios na carne, foi baseada em percepções populares de
risco e, segundo o relatório do debate não haveria uma “relação racional” entre o banimento e o risco real de
problemas para a saúde humana (CRUTCHFIELD
et al
, 2000).
186
Outra questão que merece destaque está relacionada à fragilidade da coordenação entre
os elos da cadeia produtiva da carne bovina e à deficiência no sistema público regulatório.
Estas duas constatações apresentam pelo menos duas conseqüências relevantes para esta tese,
a primeira delas é a baixa taxa de transmissão de informações ao longo da cadeia. A segunda
é conseqüência da deficiência nos mecanismos públicos para cumprimento das normas
criadas. Estes dois fatores, em graus variáveis, sugerem a existência de um quadro de restrição
ao movimento de geração de externalidades positivas a partir das normas interpretadas como
barreiras à comercialização. Entretanto, embora prejudicadas por esses fatores, as vantagens
para a sociedade estão presentes e, de acordo com o método sugerido anteriormente, foram
classificadas neste tópico segundo sua área de maior influência.
Inovações tecnológicas
O desenvolvimento tecnológico está intimamente relacionado com a expansão dos
produtos cárneos brasileiros no mercado internacional. No estudo que analisou a
competitividade da cadeia agroindustrial da carne bovina no estado do Paraná (IPARDES,
IBQP, GEPAI, 2002), foi verificado que o sistema de Análise de Perigos em Pontos Críticos
de Controle - APPCC foi
encontrado nas empresas do sistema
exportador. O mesmo estudo atribuiu
essa característica à exigência do
mercado internacional.
Em estudo mais recente, Pitelli
e Moares (2006), entrevistaram os
responsáveis pelos maiores frigoríficos
exportadores e observaram que “... o
ano em que os clientes europeus
exigiram determinados programas de
qualidade corresponde ao mesmo ano
de suas implementações na empresa, o
que evidencia que os frigoríficos
adequaram a estrutura tecnológica e
produtiva com o padrão internacional,
para não perderem seus clientes
europeus.”(pág.36). No mesmo
universo de entrevistados, 66,7%
declararam que contrataram mão-de-
obra especializada e passaram a investir mais em P&D em função das exigências dos
compradores internacionais.
O mercado de insumos agropecuários no Brasil é dominado por um conjunto de
empresas, em sua maioria multinacionais, que também possuem centros de pesquisa no Brasil
e no exterior. Muitas destas empresas realizam extensão rural como estratégia de vendas e,
assim, têm ocupado o espaço deixado pelo setor público nessa atividade.
As principais demandas tecnológicas relativas à cadeia de carne bovina no Brasil, e
que estão sendo objetos de pesquisas concentram-se nos seguintes pontos:
(a) Cruzamentos Industriais: seleção de características desejáveis; estudos sobre
volume e quantidade de carne produzida; produção de novilhos com gorduras
monoinsaturadas; obtenção de animais com maior velocidade de ganho de peso.
(b) Manejo nutricional: redução dos custos de produção por meio da utilização de
rações de custo mínimo; contornar ou minimizar a redução na produção de carne nos períodos
de seca.
Uso de anabolizantes
Vários produtos anabolizantes comerciais têm uso
liberado e generalizado nos EUA, onde o FDA
(Food and Drug Administration
), com base em vasto
volume de infor
mações de pesquisa, constatou que
os mesmos, quando usados de forma apropriada, são
seguros para a saúde humana.
Os anabolizantes proporcionam melhoria de 10 a
25% no ganho de peso e de 5 a 10% na eficiência de
utilização dos alimentos. Nos EUA, o seu uso
traz
benefício econômico da ordem de US$ 25,00 a 75,00
por cabeça, acima dos custos do produto
(PRESTON, 1998).
No Brasil, os técnicos admitem que o uso de
hormônios não é prejudicial à saúde, entretanto, a
questão de seu uso não se restringe à discussão
c
ientífica, mas sim à conveniência comercial tendo
em vista que a Europa restringe a compra de carne
de animais tratados com hormônio
1
.
187
(c) Produção de novilho precoce: estudos comparativos (animais precoces/animais
com idade convencional de abate, sobre rendimento, sabor, maciez, suculência e
aceitabilidade pelo consumidor).
(d) Comportamento das doenças no campo e prevalências para seu controle efetivo:
realização de pesquisas com respaldo em dados reais.
(e) técnicas de combate à mosca do chifre, com conseqüente melhora da eficiência da
produção animal, e qualidade da carne e do couro deles oriundos;
(f) desenvolvimento de processos de secagem para produção de charque com
manutenção de suas características sensoriais;
(g) desenvolvimento de tecnologias que permitam um melhor aproveitamento de
subprodutos.
Atualmente, a pecuária de corte passa por um processo nítido de incorporação de
tecnologias com reflexo positivo sobre a produtividade. A liberalização comercial,
especialmente o Mercosul, expôs o produto nacional à concorrência externa, enfatizando a
necessidade de melhoria da qualidade e da busca de maior eficiência de produção. Um
destaque deve ser dado ao recente projeto do Grupo Bertin, que prevê a inauguração em 2007
de uma usina de biodiesel que produzi o combustível a partir do sebo bovino fornecido
pelos seus frigoríficos. A obra movimentou cerca de R$ 40 milhões, e deverá produzir cerca
de 100 milhões de litros de biodiesel por ano, consumindo para tanto, 300 toneladas diárias de
sebo (SANTOS et al, 2007).
Conforme verificado quando tratamos da caracterização da cadeia produtiva da carne
bovina, a incorporação de tecnologia não ocorre de forma homogênea nas várias regiões
fisiográficas do País, e nem mesmo nas diversas microregiões de cada estado.
No setor de abate os investimentos estão sendo realizados no sentido de se agilizar os
processos, aumentar a eficiência de produção, atender às exigências legais, e melhorar a
qualidade da carne. Exemplos neste sentido podem ser listados, como a adoção de
insensibilização pneumática, introdução de estimulação elétrica de carcaças, climatização e
automatização das salas de desossa, etc. Tais mudanças foram adotadas a partir de demandas,
sobretudo do mercado externo. Essas exigências provocaram ainda uma mudança marcante no
modo de apresentação do produto ao consumidor que incluem: novos fatiamentos,
acondicionamento e embalagens. Estes novos apelos ligados ao aspecto visual dos produtos
nas gôndolas dos supermercados e casas especializadas estão ligados à disseminação das
bandejas revestidas com filmes plásticos.
A base da tecnologia utilizada para a estocagem e o transporte frigorificado no setor de
processamento de carnes bovinas não é recente. Da mesma forma que os métodos de
conservação, como tratamento térmico, desidratação, cura e defumação são processos
tradicionais utilizados em todo o mundo. As inovações recentes, focadas no aumento da
produtividade e na agregação s s s85(o)-5585(r)2.80683(e)-28-485(s) s .74( )-40e0.3015( .74( 6436(d)-0.295585(o)-)-445585( )-490.437(p)-0.295585(r)2.80561(o)-0.295585(d)-0.2955-0.295585(s)-1.2)i cone o 642659( )o duten s .74( )-40.80439(as)o ce scar,
188
tecnológicas é exógeno, ou seja, as principais inovações de produtos e processos são geradas
em indústrias consideradas de apoio à cadeia (embalagens, aditivos, etc.). Nestes casos,
observa-se o trabalho em conjunto com fornecedores de insumos visando testar ou
desenvolver novos produtos. O mais comum é encontrar frigoríficos adotando ações
cooperativas com açougues, seja patrocinando cursos de formação e/ou desenvolvimento
profissional, seja participando de alianças mercadológicas que envolvem adoção de novas
técnicas de corte.
Tecnologias como o controle microbiológico por irradiação são pouco ou nada
utilizadas pelas empresas brasileiras, provavelmente pelo seu elevado custo (acima de um
milhão de dólares, para sua implantação) (FELÍCIO, 1999). Outra tecnologia ainda cara, e
pouco utilizada no parque industrial nacional, é a de acabamento de cortes, a partir do
escaneamento da peça e corte padronizado a laser.
A heterogeneidade em termos da utilização da tecnologia disponível é uma
característica comum a todos os segmentos apresentados. O que torna a pretensão
governamental de incentivar a atividade bastante complexa devido à necessidade de se
estabelecer instrumentos específicos aos diversos perfis de produtores e empreendimentos.
Segundo dados colhidos juntos aos entrevistados, a implementação da rastreabilidade
no País, ocorrida efetivamente após as exigências internacionais, promoveram intensas
alterações em toda a cadeia. As inovações e oportunidades geradas vão desde a criação de
empresas fornecedoras de brincos e máquinas para a leitura de dados, a serviços de
certificação. As mudanças se espraiam ainda para a capacitação dos empregados para
trabalharem com o novo sistema. Nas palavras do presidente da ABIEC: “Um dos efeitos mais
relevantes da implementação da rastreabilidade é a brutal modernização e sofisticação do
manejo de gado nas fazendas em todo o território nacional.
Inovações gerenciais
À medida em que são introduzidas inovações no campo, como a mecanização do
processo produtivo, ocorrem concomitantemente mudanças no gerenciamento, controle e
manejo do rebanho. De forma lenta, gradativa e ainda regionalmente heterogênea, os
produtores vêm transformando a maneira de gerir os negócios, passando a administrar a
propriedade rural como uma empresa. Neste cenário, a gestão dos recursos humanos, as
finanças, a contabilidade, os tributos e o ambiente macroeconômico, alçam novos patamares
de importância (ORTEGA, 2005).
Neste sentido, muitas mudanças gerenciais importantes tiveram como ponto de partida
a implementação do sistema de rastreabilidade pois as informações necessárias ao processo
estão diretamente relacionadas à administração da propriedade. O produtor deve estar
suficientemente organizado para ser capaz de coletar, processar e controlar as informações
que serão utilizadas em seus processos decisórios e repassadas aos demais integrantes da
cadeia (MACHADO & NANTES, 2000).
A expansão da atividade pecuária em direção à região Centro-Oeste, no final da
década de 80, coincidiu com o surgimento de inovações organizacionais na cadeia da carne
bovina, com a construção de redes e alianças. As redes e alianças definem o padrão
tecnológico por meio de critérios como: tipo de animal escolhido, peso a ser obtido, o sistema
de rastreabilidade, percentual de gordura e normas para os demais segmentos da cadeia (abate,
processamento, rotulagem, transporte, distribuição, etc.). Estes critérios representam uma
linguagem comum entre os agentes, ou seja, as tecnologias exigidas criam um código de
relacionamento social e econômico entre os agentes envolvidos em cada etapa de todo o
processo (RAMOS, 2006). Portanto, as vantagens de uma aliança estão fundamentalmente
associadas à redução de custos de transação e melhorias em processos devido ao maior fluxo
de informações e capacidade de previsão. Dentre as vantagens para o consumidor, está o fato
189
dele poder dispor de uma carne de origem conhecida e com qualidade assegurada. Quanto à
motivação para implementação de sistemas de qualidade, segundo conclusões da pesquisa de
Pitelli e Moraes (2006) junto a frigoríficos brasileiros, todos citaram que as exigências dos
compradores internacionais como ponto de partida.
As crises da “vaca louca” e de febre aftosa trouxeram questionamentos à população
que contribuíram para aproximar as grandes redes de supermercado aos seus fornecedores.
Entretanto, segundo Ferreira (2005), a principal mudança foi na estrutura executiva dos países
ao tratamento dado à agricultura, que desviaram o foco anteriormente dado à produção
agrícola para a garantia da segurança dos alimentos. Neste contexto, inserem-se os novos
métodos e formas de gestão da cadeia, representadas pelo Efficient Consumer Response -
ECR e a Supply Chain Management- SCM.
O ECR ou Efficient Consumer Response, que pode ser traduzido como resposta
eficiente ao consumidor. A idéia básica do ECR é examinar a cadeia de suprimentos de
alimentos, analisando a cadeia de valor ao nível dos fornecedores-distribuidores e
consumidores, determinando as melhorias em custos e serviços que poderiam ser obtidos a
partir de mudanças em tecnologias e práticas de gestão (IEL, CNA, SEBRAE, 2000). O ECR
é capaz de aumentar a cooperação e coordenação entre empresas sejam elas independentes ou
coordenadas verticalmente. Entretanto, no caso da cadeia de gado de corte, as mudanças vão
além das questões tecnológicas, englobando adaptações em termos de cultura empresarial,
tradições e práticas de negócios. Isso porque na cadeia de gado de corte uma histórica
desconfiança e um comportamento adversarial entre a maior parte dos agentes.
Segundo a Associação ECR Brasil (2006), todos os integrantes da cadeia produtiva
obtêm vantagens com a utilização do sistema: i) consumidores: em aumentada a opção de
produtos no ponto de venda e conveniência, redução de itens em falta e a disponibilidade de
produtos mais frescos; ii) varejistas: aumento da lealdade do consumidor, possibilidade de
melhor conhecimento do mesmo e melhora da relação com fornecedores; iii) indústria:
redução dos produtos em falta, aumento da integridade da marca e melhoria no
relacionamento com o varejo.
A Supply Chain Management ou Gerenciamento da Cadeia de Suprimentos baseia-se
na crença de que a eficiência ao longo do canal de distribuição pode ser melhorada mediante o
compartilhamento de informação e do planejamento conjunto entre seus diversos agentes.
Esse compartilhamento de informações levaria as empresas do canal de distribuição a
entenderem mais claramente os processos dos seus clientes e fornecedores e com isso obterem
maior sintonia por meio de ações conjuntas (BOWERSOX & CLOSS, 1996).
Segundo dados colhidos nas entrevistas e na literatura consultada, a cadeia da carne
bovina no Brasil apresenta grandes deficiências no que diz respeito ao compartilhamento e à
transmissão de informações. Neste sentido, as barreiras técnicas e sanitárias têm criado
importantes demandas que geram movimentos voltados para o aprimoramento do fluxo de
informações ao longo da cadeia.
Benefícios sócio-ambientais
Conforme colocado em vários trechos desta tese, é muito pouco provável que se tenha
sucesso quando o objetivo é ignorar ou impedir que os novos padrões de consumo se
estabeleçam, sobretudo no que se refere às preocupações ambientais. O caminho que vem
sendo trilhado com mais freqüência é o da adequação às novas exigências, possibilitando a
manutenção e até mesmo a abertura de novos mercados.
No estudo que analisou a competitividade da cadeia agroindustrial da carne bovina no
estado do Paraná (IPARDES, IBQP, GEPAI, 2002), foi verificado que a preocupação com o
conforto no ambiente de trabalho é mais presente nas empresas do subsistema exportador,
com muitas empresas implantando inclusive, programas de ergonomia, com orientação por
190
atividade. Além disso, a implementação do sistema de rastreabilidade e as novas tecnologias
provocaram movimentos em busca de treinamentos, o que resultou em uma mão de obra mais
qualificada (MACHADO & NANTES, 2000). Entretanto, no que se refere às condições de
trabalho, é preciso ressaltar que, ao lado das carvoarias, o setor de produção de carne bovina é
freqüentemente apontado como sendo de grande presença de mão-de-obra trabalhando em
condições inadequadas, sem os direitos mínimos estabelecidos por lei, principalmente nos
Estados do Pará, Maranhão, Mato Grosso e Tocantins. Neste caso, a ameaça real de perda de
mercado, é considerada mais eficiente do que as multas e sanções aplicados pelo Estado,
como mecanismo de inserir os conceitos relativos ao trabalho decente no setor produtivo da
cadeia de carne bovina. Desta forma, acredita-se que a pressão dos compradores, tanto
externos quanto internos, possa contribuir para erradicar práticas lamentáveis
239
(INSTITUTO
ETHOS, 2007). Afinal de contas, nenhum consumidor ou acionista gostaria de estar, ainda
que indiretamente, associado a práticas humanamente degradantes.
A questão ambiental sempre foi um problema para os frigoríficos brasileiros. Estes,
habitualmente, despejavam grande quantidade de matéria orgânica, detergentes e sanificantes,
sem o prévio tratamento, poluindo principalmente os rios. Este quadro, no entanto, vem
mudando ao longo dos anos a partir das exigências das leis ambientais (a legislação estabelece
a obrigatoriedade de remoção de 80% de matéria orgânica), de uma maior fiscalização e de
pressões das comunidades vizinhas, especialmente quando os frigoríficos se localizam em
regiões urbanas.
Frigoríficos, em conjunto com especialistas da área, geraram tecnologias de alta
performance para o tratamento de efluentes em unidades de capacidade reduzida, viabilizando
o tratamento de efluentes de unidades com baixa produção e com características distintas.
Nestes sistemas, o material a ser tratado é minimizado e o restante pode ser destinado para a
produção de ração, por exemplo. Um bom projeto de um sistema de tratamento de efluentes
permite a minimização dos efluentes gerados, permitindo melhor aproveitamento de matéria-
prima, água e energia (IEL, CNA, SEBRAE, 2000).
Em relação às vantagens para o mercado nacional, conforme já citado, parte das
exigências internacionais na qualidade da carne acabam sendo incorporadas também aos
produtos destinados ao mercado interno. Um dado a favor dessa tese é o de que, a grande
maioria dos frigoríficos exportadores também atende ao mercado interno, que é muito
significativo. O aumento na qualidade do produto destinado ao mercado interno ocorre
independentemente de exigências destes compradores mas, simplesmente porque muitas
adaptações visando o mercado externo não podem ser restritas aos produtos que a este se
destinam. Embora possa haver diferenças em relação aos cortes, em grande parte das vezes
não é operacional ou economicamente viável para as empresas trabalharem com duas linhas
de produção distintas. Segundo os entrevistados, as mudanças não se restringem ao processo e
são inclusive de cunho cultural, no momento em que a empresa/fazenda como um todo
desenvolve mecanismos para melhorar seu sistema produtivo, causando um efeito de
transbordamento destes mecanismos que acabam por beneficiar os consumidores do mercado
interno.
Outro efeito de transbordamento se refere à construção de uma infraestrutura de
vigilância e controle sanitário que, tendo como motivação inicial o controle da febre aftosa,
acaba por promover condições que vão minimizar a disseminação de outras doenças como
tuberculose, idatidose, língua azul e outras potencialmente prejudiciais a saúde humana.
239
O setor do varejo, com as redes Wal-Mart, Carrefour e o de Açúcar, são signatários do Pacto Nacional pela
Erradicação do Trabalho Escravo e assumiram o compromisso de não comprar produtos de fornecedores que
tenham alguma ligação com o trabalho escravo (INSTITUTO ETHOS, 2007).
191
È preciso salientar que grande parte dos potenciais benefícios sócio-ambientais citados
ainda se encontram em uma fase inicial de implementação, com exemplos pontuais e pouco
significativos se considerarmos a cadeia da carne bovina como um todo. Entrentanto, a julgar
pelo discurso atual dos representantes do setor pode-se esperar que os benefícios sócio-
ambientais originados das pressões dos comprados internacionais e nacionais, tendem a
ampliar-se de forma constante e exponencial nos próximos anos.
Oportunidades comerciais
As barreiras não-tarifárias relacionadas à cadeia da carne bovina podem gerar
oportunidades comerciais relevantes com a redução da concorrência por parte dos países que
não se encontram capacitados para cumprir com as novas exigências
240
. Os deferenciais
podem estar relacionados a restrições tecnológicas, de mão-de-obra ou de ordem natural,
como espaço disponível, existência de doenças endêmicas ou clima inadequado. Neste
sentido, mesmo países desenvolvidos podem sofrer restrições; é o caso daqueles cujos
rebanhos são confinados e/ou alimentados com subprodutos de outros animais. Existem
pesquisas que, inclusive sugerem que os criadores de gado confinado deveriam ser
submetidos a normas de controle mais rígidas (e portanto mais caras) do que as destinadas aos
pecuaristas criadores de forma extensiva (CRUTCHFIELD et al, 2000).
Os países de menor desenvolvimento relativo e sem infra-estrutura deparam-se com os
custos potencialmente elevados de se estabelecer e manter sistemas confiáveis de áreas livres
de doenças. Para estes países são grandes as dificuldades para conseguir comprovar, para o
mercado internacional e/ou junto a OIE, que seu território (ou parte dele) encontra-se
efetivamente livre de alguma infecção endêmica.
Sob outro ponto de vista, as exigências internacionais, como a rastreabilidade, vêm
gerando também oportunidades para o desenvolvimento de empresas especializadas em
serviços de certificação e outros voltados à superação das barreiras comerciais.
Embora ainda apresente deficiências técnicas e de governança relevantes, o Brasil
encontra-se no grupo restrito de países que apresentam boas condições para superarem as
barreiras à comercialização de produtos cárneos no mercado mundial. O Brasil dispõe de
sistema de criação essencialmente extensivo, um parque industrial de nível internacional e um
sistema de controle e monitoramento de doenças em rápida consolidação. Ou seja, apresenta
as condições necessárias para transformar os desafios das barreiras em oportunidades para
conquistar novos mercados e manter a ampla rede de compradores.
Integração de blocos regionais
Segundo especialistas, a fácil disseminação do vírus causador da febre aftosa faz com
que sua erradicação demande uma ação conjunta com países contíguos. Embora sem provas
concretas, um relatório do Departamento de Operações de Fronteira (DOF), divulgado em
outubro de 2005 pelo governo de Mato Grosso do Sul, reforça os indícios de que a origem dos
focos de febre aftosa no Estado seja proveniente do Paraguai, onde é comum a compra de
animais pelos brasileiros a preços mais baixos. Considerando-se que o vírus está presente na
área de fronteira, a saída para controlá-lo é a vacinação correta do gado brasileiro e paraguaio
ou a vigilância ostensiva da fronteira. Segundo dados da FAO (2007a), dos US$ 52,6 milhões
aplicados pelo Brasil no controle e erradicação da Febre Aftosa estão contabilizadas a doação
de um milhão de doses de vacinas para a Bolívia e 500.000 doses ao Paraguai
241
.
240
Apenas 33 países possuem a permissão para exportar carne de gado para os Estados Unidos, que compra
produtos de frango de apenas 4 países (JAFFEE & HENSON, 2004).
241
Em reunião realizada em outubro de 2007, Brasil e Paraguai decidiram realizar uma campanha conjunta de
vacinação contra a febre aftosa. O trabalho será desenvolvido de 20 de novembro a 20 de dezembro na faixa de
fronteira entre os dois países (BEEFPOINT, 2007c).
192
Diante desse quadro, é possível estabelecer uma relação entre a busca pela superação
de barreiras sanitárias presentes na cadeia de carne bovina e a aproximação de países com
fronteiras susceptíveis à disseminação de doenças. Isso porque, ainda que ocorram casos de
acusações mútuas, o que prevalece é a busca pelo entendimento e pela minimização dos
entraves à comercialização.
Outra possível fonte de agregação entre os países está nas negociações comerciais,
sobretudo intrablocos, com vistas a harmonizar as regras e os padrões para todos os
produtores e indústrias residentes nos países-membro.
As rodadas de negociação, via de regra, representam oportunidades para celebração de
projetos cooperativos de ajuda mútua cujos resultados extrapolam os objetivos iniciais. A
aproximação entre os integrantes de um bloco econômico também é cada vez mais necessária
a fim de levar uma posição coesa e politicamente mais robusta do bloco para os fóruns
internacionais do comércio.
Revisões na legislação
Nos últimos vinte anos boa parte da legislação que rege o setor agro-alimentar da
carne bovina foi renovada ou sofreu adaptações relevantes, principalmente no que diz
respeito à defesa sanitária animal e à saúde pública (RAMOS, 2006). Segundo a opinião dos
entrevistados e os dados da literatura pesquisada as alterações, normalmente, ocorrem em
função das exigências internacionais, ou como respostas a estas, permitindo que o Brasil
mantenha seu padrão competitivo. As legislações e exigências dos Estados Unidos e da União
Européia muitas vezes são citadas como referência para a elaboração das normas e
regulamentos nacionais; isso decorre devido à relativa deficiência brasileira na geração de
dados científicos que as fundamentem.
Os reflexos das normas internacionais no Brasil são imediatos e a regulamentação
agora permeia todos os segmentos da cadeia. Nos últimos anos o governo publicou diversas
portarias que regulamentam medidas de controle sobre a qualidade, o processamento e a
apresentação da carne bovina ao consumidor. Recentemente foi introduzida a obrigatoriedade
do sistema de rastreabilidade (SISBOV) para todo o rebanho nacional e, a implantação do
sistema APPCC para toda a cadeia produtiva da carne; estas mudanças indicam que existe um
processo de construção de um novo mercado, baseado em novo parâmetros (RAMOS, 2006).
Para o segmento diretamente ligado ao consumidor, entrou em vigor o Regulamento Técnico
de Boas Práticas para Serviços de Alimentação, aprovado pela Agência Nacional de
Vigilância Sanitária-ANVISA pela resolução RDC número 216 de 15 de setembro de 2004. O
regulamento abrange os procedimentos que devem ser adotados nos serviços de alimentação e
visa garantir condições higiênicas e sanitárias do alimento que é preparado e ofertado
diretamente para o consumidor.
A Portaria Ministerial 304 complementada posteriormente pela Portaria de 145
de 1996, estabelece os tipos de cortes possíveis de serem comercializados entre a distribuição
e o varejo e a obrigatoriedade de manutenção da temperatura máxima de 7ºC. Não existe
nenhuma menção ou referência mais detalhada sobre exigências a respeito de produtos
congelados e/ou temperaturas específicas para determinados cortes tradicionais. Segundo
Ramos (2007), a Portaria 304 e outras similares obtiveram poucos resultados práticos
efetivos; ou seja, apesar da legislação brasileira exigir normas que preconizam um rígido
controle no padrão sanitário da carne consumida, na prática não vem sendo possível garantir
ao consumidor a segurança e a qualidade da carne. Neste caso temos um claro exemplo de
deficiência institucional no que tange ao enforcement do poder público sobre determinados
elos da cadeia.
Para o mercado externo, a harmonização de normas e padrões facilita as trocas
comerciais ao reduzir o tempo de análises comparativas entre as legislações e ainda minimiza
193
a possibilidade do estabelecimento de barreiras não-tarifárias ao comércio. Entre 1995 e 2003,
das 63 reclamações recebidas pelo Comitê AMSF, envolvendo problemas de saúde animal, 35
questionavam práticas ou produtos oriundos de países em desenvolvimento. Uma grande parte
destas reclamações ocorreu devido à inconsistências entre normas nacionais e internacionais
(como as da OIE), para controle da febre aftosa ou para aquelas relacionadas com a BSE
(especialmente para derivados de carne) (BANCO MUNDIAL, 2005).
Assim sendo, é freqüente e legítimo que a legislação nacional brasileira se aprimore
impulsionada pelas exigências do mercado internacional. Entretanto, é preciso lembrar que
estas exigências devem ser avaliadas e consideradas técnica e cientificamente legítimas, e que
a participação efetiva dos representantes brasileiros nos fóruns internacionais que estabelecem
estas normas deve ser cada vez mais incentivada.
194
7
CONCLUSÕES
A seguir serão apresentadas as conclusões desenvolvidas a partir da ampla revisão
bibliográfica e das informações obtidas nas entrevistas realizadas, direta ou indiretamente
relacionadas à hipótese inicialmente levantada nesta tese.
A abertura comercial, na prática, não é uma simples questão de revisão de códigos
tarifários ou remoção de barreiras aos investimentos estrangeiros. Para esta são necessárias
reformas institucionais profundas que demandam recursos financeiros, burocráticos e
políticos. Embora se possa extrair vários benefícios da liberalização comercial, em muitos
casos, estas não são movidas por objetivos desenvolvimentistas, tais como crescimento
econômico, melhoria da governança, capacidade industrial e tecnológica ou minimização da
pobreza. Ou seja, as reformas institucionais voltadas para a maximização do comércio e do
fluxo de capitais podem produzir benefícios periféricos mas não são, necessariamente, a
maneira mais efetiva de promover o desenvolvimento.
O impacto humano do comércio depende de como as mercadorias são produzidas,
quem controla a produção e a comercialização, como a riqueza gerada é distribuída e dos
termos nos quais os países comercializam. O modo pelo qual o sistema internacional
comercial é conduzido guarda uma relação estreita com todas essas áreas. Portanto, qualquer
discussão relativa à liberalização comercial não é uma simples questão de tomar uma posição
pró-comercio ou anticomércio. Uma discussão substantiva demanda um entendimento da
natureza do processo gerado pela liberalização comercial e suas conseqüências, de modo que
políticas e medidas apropriadas sejam desenvolvidas e adotadas, particularmente, para
compensar aqueles afetados negativamente.
Ao longo de seu período de vigência, o GATT foi muito eficiente na promoção do
comércio internacional, baseando-se na redução das tarifas alfandegárias. Já a OMC, inicia
seus trabalhos com um cenário de aumento do comércio internacional, tanto em termos de
volume quanto de complexidade. Esse fato, conjuntamente com a ampliação de seu escopo,
vêm trazendo dificuldades operacionais e políticas para que a OMC consiga cumprir os
mandatos de suas rodadas de negociação. A inclusão das questões agrícolas, a nova
conformação de poder entre os países e o avanço das barreiras não-tarifárias, podem ser
apontados como agravantes desta questão. A influência cada vez maior da sociedade civil nos
debates relacionados direta ou indiretamente com o comércio internacional, também vem
dificultando as negociações devido a falta de mecanismos e instrumentos de resolução de
conflitos. Outra característica cada vez mais perceptível nas rodadas de negociação da OMC é
a defasagem dos temas tratados em relação as questões mais urgentes da sociedade, como no
caso das questões ambientais que ainda não estão sendo adequadamente tratadas neste forum.
Os avanços, de modo geral, ocorrem de forma lenta e muitas resoluções encontram-se
defasadas quando se chega a um consenso.
Buscar normas capazes de promover o comércio internacional em termos justos e
inibir o recurso a medidas unilaterais protecionistas, não significa incriminar todas as
barreiras técnicas ou sanitárias de constituírem armas protecionistas e clamar pela sua
eliminação. A questão deve se concentrar na racionalização das barreiras de forma a facilitar o
comércio sem sacrificar importantes objetivos econômicos e sociais; ao invés de reivindicar a
sua simples eliminação, que em alguns casos pode ser economicamente inapropriado e gerar
mais custos sociais do que benefícios. Ao analisar as conseqüências da adequação ou
antecipação às exigências do mercado internacional, o horizonte deve ser mais amplo do que
apenas os efeitos imediatos de curto prazo como o aumento do fluxo de mercadorias, devem
ser consideradas também a competitividade a longo-prazo e as perspectivas de
desenvolvimento econômico e sócio-ambiental.
195
A questão chave para os países em desenvolvimento é como aproveitar suas
habilidades, superando suas fraquezas para que obtenham mais ganhos de competitividade do
que perdas econômicas ou sociais com o inevitável avanço das barreiras não-tarifárias. Isso
deve ocorrer por meio da maximização das opções estratégicas disponíveis tanto para o
governo quanto para a iniciativa privada.
A análise das possíveis alternativas de resposta à implementação de barreiras não-
tarifárias, quais sejam: reclamação, retirada do mercado ou adequação; nos permite verificar
que, de modo geral, nenhuma destas deve ser ignorada ou excluída a priori do conjunto de
alternativas. Os custos e benefícios tangíveis e intangíveis de cada uma devem ser avaliados
considerando o curto, médio e longo prazos. Ou seja, não uma fórmula única de como os
países em desenvolvimento devem se portar
diante da difusão de novas normas internacionais
para os produtos agrícolas e produtos alimentícios, mas é possível recomendar que os mesmos
tenham uma postura pró-ativa diante dos eventuais desafios. Desta forma, os países em
desenvolvimento serão capazes de perceber as normas de sanidade agropecuária e de
qualidade alimentar como oportunidades para ganhos de competitividade no mercado
internacional.
O aumento das capacidades internas pode ser programado em longo prazo por meio do
fortalecimento dos sistemas domésticos de controle de sanidade agropecuária e qualidade
alimentar. O sucesso desse movimento ocorre especialmente quando os setores público e
privado colaboram entre si identificando o modo mais eficiente e eficaz de desenvolver essas
capacidades. Neste contexto, pode-se afirmar que o Brasil encontra-se no reduzido grupo de
países em desenvolvimento dotado de condições de reverter as exigências do mercado
internacional em benefícios para toda a sociedade.
Segundo documento da FAO que estabelece as perspectivas para os anos 2015 e 2030
“As barreiras-técnicas permanecerão como importante tópico dos debates na
regulamentação e na arena política do comércio internacional...” (pg.257).
Esta afirmativa vai ao encontro da opinião de grande parte dos entrevistados quanto à
necessidade do Brasil de criar mecanismos e competência técnica de forma a administrar e
conviver da melhor forma possível com o inexorável aumento da presença das barreiras
técnicas e sanitárias ao comércio de produtos agropecuários. Neste sentido pode-se citar uma
síntese apresentada por Marcos Jank em artigo publicado no jornal O Estado de São Paulo
(JANK, 2006):
“As barreiras não-tarifárias vão crescer, seja na esfera pública, seja por pressão
direta de consumidores e empresas privadas. Os países desenvolvidos tendem a ampliar o seu
leque de restrições sanitárias, laborais e religiosas, controle de resíduos, pressões contra o
desmatamento, critérios para o bem-estar dos animais e protocolos privados como o
EurepGAP. Legítimas ou não, tais barreiras farão parte do cotidiano do agronegócio na
próxima década, exigindo profissionalismo, conteúdo técnico para um diálogo maduro e
maior coordenação dos agentes públicos e privados”.
No que tange à presença brasileira nas negociações, segundo dados obtidos nas
entrevistas e na literatura recente, o Brasil vem aumentando de forma significativa a sua
participação e o seu poder de influência, sobretudo nas matérias que dizem respeito àqueles
produtos nos quais o País possui uma expressiva inserção no comércio mundial. A
experiência adquirida na participação de cada missão se acumula e promove o fortalecimento
da posição brasileira nas negociações. Entretanto, além da busca pela capacitação e
experiência, os negociadores ainda carecem de um suporte mais efetivo por parte das
instituições privadas e do meio acadêmico, que precisam fornecer o respaldo preciso no
momento das negociações.
196
As consequências positivas advindas do esforço das empresas brasileiras para
superarem as barreiras não-tarifárias relacionadas aos produtos do agronegócio foram
sistematizadas no quadro 8.
Quadro 8. Quadro resumo das consequências positivas advindas do esforço das empresas
brasileiras para superarem as barreiras não-tarifárias relacionadas aos produtos do
agronegócio.
Consequências Descrição dos potenciais benefícios
Inovações tecnológicas Incentivo a realização de atividades inovativas dentro das
empresas e desenvolvimento do sistema nacional de inovação
Inovações gerenciais Desenvolvimento de setor específico para tratar de assuntos
relacionados às barreiras não-tarifárias; mundanças na cultura
gerencial e capacitação da empresa para inserção em outros
mercados.
Benefícios sócio-ambientais
Absorção de mão-de-obra especializada; melhoras nas
condições de trabalho; redução da informalidade; incentivo a
capacitação e atualização dos funcionários; redução do
impacto ambiental das atividades produtivas; redução do uso
de substâncias nocivas à saúde; melhora sistêmica dos
produtos ofertados no mercado interno.
Oportunidades comerciais Aumento de competitividade das empresas, melhora da
imagem do País; redução de concorrência; inserção em outros
mercados; estabelecimento de parcerias com outras empresas;
criação de empresas especializadas em serviços voltados para
superação das barreiras.
Integração de blocos
regionais
Agregação dos países em busca de harmonização e proteção de
seu mercado; melhora nas relações diplomáticas, busca por
posições unificadas nos fóruns internacionais.
Revisões na legislação A sociedade passa a contar com uma legislação nacional mais
moderna e com maior proteção.
Diante dos dados expostos ao longo da tese, fica claro que o mercado de exportação de
carnes se depara com uma série de desafios. Entre estes se podem citar: a competição com as
carnes de frango e suína, as mudanças de bito de consumo, as barreiras comerciais
(tarifárias, sanitárias, ambientais e trabalhistas) e os problemas macroeconômicos
(desvalorizações cambiais e instabilidade de preços). Apesar das questões colocadas acima, há
uma clara tendência ao aumento das exportações brasileiras de carne bovina em função do
aumento da demanda em países em desenvolvimento, da liberalização dos mercados e do
esforço conjunto do governo e de produtores na superação dos desafios citados. Entretanto, a
manutenção da liderança nas exportações de carne bovina, demanda grandes investimentos no
fortalecimento das instituições responsáveis pela qualidade dos produtos agropecuários, bem
como dos mecanismos que atestem essa qualidade para os importadores. Neste sentido,
podemos citar como necessária a incorporação de conceitos relacionados ao bem-estar animal,
proteção ambiental, responsabilidade social rastreabilidade e rotulagem, que afetarão a
competitividade da exportação.
As transformações produtivas citadas ao longo da tese, recolocam em outros termos as
funções do Estado na sustentação do processo de desenvolvimento dos agronegócios,
alavancando os indicadores de produtividade setorial. Isso conduz a uma revisão institucional
da estrutura de Governo, de modo a construir as novas bases da intervenção governamental.
Segundo Gonçalves (2005), devem ser elementos desta
197
normalização e monitoramento da qualidade certificada com base em instrumento de
rastreabilidade.
A carne bovina brasileira apresenta uma significativa heterogeneidade em todos os
segmentos de sua cadeia produtiva, e uma grande fragilidade na sua coordenação suficiente
para lançar dúvidas até mesmo quanto à adequação do termo “cadeia” para designá-la. Estes
dois fatores dificultam a transmissão efetiva de informações entre os elos da cadeia. Este
efeito é minimizado no subsistema exportador que apresenta maior grau de coordenação
vertical e horizontal, capacidade de oferecer produtos de acordo com padrões internacionais
de qualidade, sistemas produtivos mais avançados tecnologicamente, gestão interna mais
eficiente e ainda economia de escala com a possibilidade de diversificação de mercado (venda
para mercado interno ou exportação). Ainda assim, o
198
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ABREU, M.P. & LOYO, E.H.M.M. A Estrutura do Comércio Agrícola Mundial:
Fundamentos dos Interesses Liberais e Protecionistas. In: Políticas agrícolas e o
comércio mundial. Maria Helena Fagundes, org. p.47-85. Brasília. IPEA, 1994.
ALMEIDA, P. R. O Brasil e os Blocos Regionais - Soberania e interdependência. Revista
São Paulo em Perspectiva, 16(1): 3-16, 2002.
ALMEIDA, J. S. Acordo Sobre a Aplicação de Medidas Sanitárias e Fitossanitárias:
Balanço de uma cada Buscando o Equilíbrio entre a Proteção do Comércio e a
Proteção da Saúde dos Consumidores. CEPAL SERIE Comércio Internacional 59.
Divisão de Comércio Internacional e Integração. Santiago de Chile. Dezembro, 2005.
ANDERSON,K. & VALENZUELA, E. Do Global Trade Distortions Still Harm Developing
Country Farmers?. World Bank Policy Research Working Paper 3901, April 2006.
ANDRADE, D. C.; ORTEGA,A. C.; CAMPOS,E.M.G. Negociações Agrícolas
Internacionais e o Agronegócio Brasileiro. Revista da Política Agrícola. MAPA. Ano
XIV – Nº 3 – Jul./Ago./Set. 2005.
ARBIX, G.; SALERNO, M.S.; De NEGRI, J.A. Inovação, Via Internacionalização, Faz Bem
para as Exportações Brasileiras. IPEA-Texto para Discussão n
o
1023. Brasília, jun. 2004.
ASSOCIAÇÃO ECR BRASIL. Sítio http://www.ecrbrasil.com.br/ consultado em 27/01/2006
ATHUKORALA, P-C, GULATI, A., JAYASURIYA, S., MEHTA, R. & NIDHIPRABHA,
B. 2002. International Food Safety Regulation and Processed Food Exports from
Developing Countries: The Policy Context and the Purpose and Scope of the Research
Project. Versão de artigo apresentado na Conference International Food Safety Regulation
and Processed Food Exports from Developing Countries. Bangkok, Thailand. October.
2002. Disponível no sítio: rspas.anu.edu.au/economics/publish/papers/aciar, consultado
em 12/04/2007.
AZEVEDO, P.F. & BANKUTI, F.I. When Food Safety Concern Decreases Safety: Evidence
From the Informal Meat Market. Texto para Discussão - Série Economia TD-E / 35.
USP – Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade de Ribeirão Preto. 2003.
BALTAR, C.T. O Comércio Exterior Brasileiro na Recente Expansão da Economia Mundial.
XII Encontro Nacional de Economia Política. Trabalho submetido às sessões ordinárias.
São Paulo. 2007
BANCO MUNDIAL. Food Safety and Agricultural Health Standards: Challenges and
Opportunities for Developing Country Exports. Poverty Reduction & Economic
Management Trade Unit and Agriculture and Rural Development Department. Report N
o
31207. 2005.
BANCO MUNDIAL. Key Development Data & Statistics. Documento disponível no sítio:
www.worldbank.org , obtido em 27/05/2006.
BARRAL, W. O Brasil e o Protecionismo. 1ª Edição. Ed.ADUANEIRAS. 2003.
BEEFPOINT – O PONTO DE ENCONTRO DA CADEIA PRODUTIVA DA CARNE.
Projeções para o Mercado Mundial de Carne Bovina: 2005-2012. Disponível no sítio:
www.beefpoint.com.br/?actA=7&areaID=15&secaoID=129&noticiaID=25131.
Elaborado em 26/08/2007, acessado em 31/05/2007.
___________. USDA: Brasil deve expandir exportações de carne bovina em 2007.
Disponível no sítio:
www.beefpoint.com.br/?actA=7&areaID=15&secaoID=129&noticiaID=36379.Elaborado
em 25/05/2007a, acessado em 31/05/2007.
__________. RS: convênio facilita rastreabilidade para pequenos. Disponível no sítio:
www.beefpoint.com.br/?noticiaID=39888&actA=7&areaID=15&secaoID=155.
Elaborado em 15/10/2007b, acessado em 21/10/2007.
199
__________. Brasil e Paraguai Vacinarão Juntos o Rebanho da Fronteira. Disponível no
sítio: www.beefpoint.com.br/?noticiaID=39743&actA=7&areaID=15&secaoID=166.
Elaborado em 08/10/2007c, acessado em 21/10/2007.
__________. Produtor Brasileiro tem Menos Custo para Produzir. Disponível no sítio:
http://www.beefpoint.com.br/?noticiaID=40564&actA=7&areaID=15&secaoID=166.
Elaborado em
02/10/2007d, acessado em 21/10/2007.
__________. Brasil Duplica Cota Hilton Graças à Argentina. Disponível no sítio:
www.beefpoint.com.br/?noticiaID=39568&actA=7&areaID=15&secaoID=166.
Elaborado em 08/11/2007e, acessado em 10/11/2007.
BELIK, W. A reestruturação da Indústria Agroalimentar e Abastecimento: uma Nova
Agenda para Discussão. In: Segurança Alimentar e Cidadania. GALEAZZI, M.A.M.
Campinas. 1996.
BERETTA, V.; LOBATO, J.F.P.; NETTO, C.G.M. Produtividade e Eficiência Biológica de
Sistemas de Produção de Gado de Corte de Ciclo Completo no Rio Grande de Sul. Rev.
Bras. Zootec., v.31, n.2, p.991-1001, 2002 (suplemento).
BETCHERMAN, G.; LUINSTRA, A. & OGAWA, M. Labor Market Regulation:
International Experience in Promoting Employment and Social Protection. Social
Protection Discussion Paper No. 0128. Washington: World Bank. November. 2001.
BLISKA, F. M. M.; GONCALVES, J. R.; Estudo da cadeia produtiva de carne bovina no
Brasil . Brasilia: s.ed, 1998.
BOIN, C. & TESDECHI, L.O. A Pecuária de Corte no Brasil e Resultados Econômicos de
Sistemas Alternativos de Produção. In: SIMPÓSIO SOBRE PECUÁRIA DE CORTE, 4,
PIRACICABA. Piracicaba: FEALQ, p. 205-227. 1997
BONELLI, R. Impactos Econômicos e Sociais de Longo Prazo da Expansão Agropecuária no
Brasil: Revolução Invisível e Inclusão Social. Texto Para Discussão 838. Instituto de
Pesquisa Econômica Aplicada - IPEA. Rio de Janeiro. Nov, 2001.
BOWERSOX, D. J.; CLOSS, D. J. Logistical Management: The Integrated Supply Chain
Process. 1 ed. Estados Unidos: Mc Graw-Hill, 1996.
BRABET, C. Gestão da Crise do BSE na Cadeia Bovina na França. CIRAD. Slides
consultados no sítio: www.cendotec.org.br/prosper/cursos/cad.pdf em 25/01/2006.
BRASIL. Convênio MDIC/AEB. Sistema de Informação Sobre Barreiras Técnicas
Enfrentadas por Exportadores Brasileiros. PROJETO DA CARTILHA. 2004.
__________. Ministério da Agricultura, Abastecimento e Reforma Agrária. Portaria 304,
de 22 de abril de 1996.
__________. Ministério de Desenvolvimento, Indústria E Comércio Exterior (MDIC). Acordo
geral Sobre Tarifas e Comércio GATT. Histórico Princípios Rodadas de
Negociação. Documento disponível no sítio:
www.desenvolvimento.gov.br/sitio/secex/negInternacionais/omc/gatt.php, obtido em
28/06/2005.
__________. Ministério de Ciência e Tecnologia & Instituto Brasileiro de Informação em
Ciência e Tecnologia - IBICT. Avaliação de Ciclo de Vida. Normalização- Série ISO.
Documento disponível no sítio:acv.ibict.br/normas. Consultado em 12/06/2006.
__________. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Cartilha do novo Serviço
de Rastreabilidade da Cadeia Produtiva de Bovinos e Bubalinos SISBOV - Brasília :
SDC/ABIEC/CNA/ACERTA, 2006.
__________. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Secretaria de Defesa
Agropecuária. Departamento de Inspeção de Produtos de Origem Animal. Circular N.
41/2006/DIPOA. Setembro, 2006b.
200
__________. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Assessoria de Gestão
Estratégica. Projeções do Agronegócio Mundial e Brasil 2006/07 a 2016/17. Dezembro,
2006c.
__________. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Cadeia Produtiva da
Carne Bovina. Série Agronegócios v. 8. Antonio Márcio Buainain e Mário Otávio Batalha
(coordenadores). – Brasília:IICA:MAPA/SPA. 2007.
__________. Ministério do Trabalho e Emprego. Estatísticas - Fiscalização do Trabalho.
Disponível no sítio: www.mte.gov.br/geral/estatisticas.asp, acessado em 11/07/2007.
BROWN, Corrie & NATH, Sharon. Papel de Agências Internacionais, Nacionais e Estaduais
no Controle De Doenças Exóticas Animais. Class of 2003, The University of Georgia,
College of Veterinary Medicine. Documento disponível no sítio
www.vet.uga.edu/vpp/ivm/PORT/Agencies/index.htm, em 18/05/2006.
BROWN, L.R. Produção de Carne Novamente em Alta. Consultado no sítio:
www.wwiuma.org.br/artigos/014.html em 25/01/2006.
BRUINSMA, J. (Ed.). World Agriculture:Towards 2015/2030. An FAO Perspective. FAO
and Earthscan Publications Ltd. 2003.
BULLARA, C. F. C. Business e Virtudes Humanas em Robert C. Solomon Tese de
Doutorado. Faculdade de Filosofia da Pontifícia Universidade da Santa Cruz. Roma.
2000.
CACHAPUZ, J. M. S. (1993). O Panorama Setorial da Bovinocultura de Corte Gaúcha no
Processo de Integração do MERCOSUL. Rio Grande do Sul: EMATER (Série Realidade
Rural, v. 7).
CAMPOS, Antonio. Comércio Internacional e Importação. Ed. Aduaneiras. São Paulo, 1990.
CAMPOS FILHO, M. P. de. Os Sistemas de Informação e as Modernas Tendências da
Tecnologia e dos Negócios. Rev. de Administração de Empresas, São Paulo, v. 34, n. 6, p.
33-45, nov./ dez. 1994.
CAMPOS, L. B. e CORRÊA, G. A. Comércio e meio ambiente: atuação diplomática
brasileira em relação ao selo verde. Coleção Curso de Altos Estudos do Instituto Rio
Branco. Instituto Rio Branco; Fundação Alexandre Gusmão; Centro de Estudos
Estratégicos.Brasília. 1988.
de CARVALHO, M.A. da SILVA, C.R.L. Vulnerabilidade do Comércio Agrícola Brasileiro.
Reista de Economia e Sociologia Rural. vol. 43, nº 01, p. 9-28, jan/mar, 2005.
CASTRO, R.G. Relações Econômicas Internacionais. Ed. VESTCON. Brasília. 1998.
CASTRO, D. et al. O comércio e Meio Ambiente - as diversas faces desse binômio. CEPEA.
Elaborado em outubro/2003. Obtido no sítio www.cepea.esalq.usp.br/internacional em
10/07/2004.
CETEA/ITAL. Embalagens para Produtos Cárneos. Campinas. 1991.
CHADE, J. Em rascunho, OMC admite falta de acordo. O Estado de S. Paulo. 27/11/2005.
________. Europa quer etanol certificado. O Estado de S. Paulo. 26/09/2007.
CHANG, H. Chutando a Escada: a estratégia do desenvolvimento em perspectiva histórica.
São Paulo. Ed. UNESP, 2004.
CNPC Conselho Nacional da Pecuária de Corte. Balanço da Pecuária Bovídea de Corte
1994 A 2006. Obtido no sítio: www.cnpc.org.br/site/Balanco2006.xls em 24/03/2007.
CONTINI. E. & TALAMINI, D. Carnes do Brasil? A União Européia Estremece!. Revista da
Política Agrícola. MAPA. Ano XIV - Nº 1 - Jan./Fev./Mar. 2005.
CRUTCHFIELD, S. et al. The Economics of Food Safety and International Trade in Food
Products. Artigo apresentado na Conferência do International Institute of Fisheries
Economics and Trade (IIFET), Oregon State University. 2000.
DALLARI S. G. & VENTURA D. F. L. O Princípio da Precaução: dever do Estado ou
protecionismo disfarçado? São Paulo em Perspectiva, 16(2): 53-63, 2002
201
DELFIM NETTO, A. A Restrição Externa. Revista Carta Capital n.464. pag.32. 3/10/2007.
DELGADO. N. G. O Regime de Bretton Woods para o Comércio Mundial: Origens,
Instituições, e Significado. Tese de Doutorado. CPDA/ UFRRJ. 2000.
DIAS, R. Sociologia Aplicada ao Comércio Exterior. Ed. Alínea. Campinas. 1997
ESTADOS UNIDOS. Escritório de Programas de Informação Internacional do Departamento
de Estado dos EUA. Expansão dos Mercados Promoverá Desenvolvimento e
Crescimento, Dizem EUA. 19 de Outubro de 2005. Disponível no sítio:
http://livrecomercio.embaixadaamericana.org.br/?action=artigo&idartigo=831, obtido em
2/09/2007.
FAGUNDES, M.H. Políticas Agrícolas e o Comércio Mundial. p.7-43. Brasília. IPEA, 1994.
FAO. Meat Prices. Economic and Developmente Departament - Trade and Markets Division.
Disponível no sítio: www.fao.org/waicent/faoinfo/economic/esc/en/index.html, obtido em
10/10/2007.
__________. Meat Policy Developments : 2003-2004. Economic and Developmente
Departament - Trade and Markets Division. Disponível no sítio:
www.fao.org/es/esc/en/20953/21014/highlight_108710en.html, obtido em 10/10/2007a.
FARINA, E. M. M. Q.; ZYLBERSZTAIN, D. Competitividade e Organização das Cadeias
Agroindustriais. Costa Rica, IICA, 1994.
FARINA, E. M. M. Q & NUNES, R. Desempenho do Agronegócio no Comércio Exterior e
Governança nos Sistemas Agroindustriais das Carnes de Suínos e das Carnes Bovinas
Anais do XXXI Encontro Nacional de Economia. ANPEC - Associação Nacional dos
Centros de Pós-graduação em Economia. Belo Horizonte, MG. 2003.
FELÍCIO, P. E. Evento em Itapema reúne profissionais. Rev. do Açougueiro & Frigorífico,
Campinas, v. 5, n. 47, jun. 1999.
__________. Sistemas de Qualidade Assegurada na Cadeia de Carne Bovina: A Experiência
Brasileira. I Congresso Brasileiro de Ciência e Tecnologia de Carnes. São Pedro. Anais.
Campinas: Instituto de Tecnologia de Alimentos/Centro de Tecnologia de Carnes. p.342-
355. 2001.
FERRACIOLI, P. Ponto Focal de Barreiras Técnicas às Exportações: um Balanço das
Atividades em 2002. Documento disponível no sítio www.inmetro.gov.br, obtido em
26/08/2004.
__________. COMMENTARIES In: TRADE AND ENVIRONMENT REVIEW 2006
CHAPTER 1: Environmental requirements and market access for developing countries:
promoting environmental - not trade protection UNCTAD/DITC/TED/2005/12. United
Nations Conference on Trade and Development. New York and Geneva, 2006.
FERRAZ, C. & Da MOTTA, R.S. Regulação, Mercado ou Pressão Social? Determinantes do
Investimento Ambiental na Indústria. IPEA. Texto para Discussão n
o
863. Rio de Janeiro.
Março de 2002.
FERREIRA, R.C. Desafios para o Brasil. A Competitividade da Carne Bovina na União
Européia. Revista da Política Agrícola. MAPA. Ano XIV – Nº 3 – Jul./Ago./Set. 2005.
FIGUEIREDO, S. F. Normalização Nacional e Internacional. A Transformação de
Obstáculos em Oportunidades. Ministério do Desenvolvimento, da Indústria e do
Comércio. Brasília, 2001.
FLORES, A.W. Rastreabilidade na Cadeia da Carne Bovina. Perspectivas e Tedências. São
Paulo, 15 de Dezembro
2005.
Slides consultados no sítio:
http://agrosoft.com/files/rastre_ido2005_apres2.pdf em 25/01/2006.
GARRIDO, A. E. As Barreiras Técnicas ao Comércio Internacional. Documento disponível
no sítio www.inmetro.gov.br, obtido em 26/08/2004.
GODFREY, Claire. Stop the Dumping! Oxfam Brief Paper. n.31 (outubro 2002). Documento
disponível do sítio: www.oxfam.org. obtido em 20/05/2006.
202
GOMES, L. Febre Aftosa: a Lição que o Brasil Não Aprendeu. Documento elaborado em
22/12/2005, disponível no sítio http://contasabertas.uol.com.br, obtido em 30/06/2007.
GONÇALVES, J.S. Qualidade Certificada e Rastreada como Determinante da
Competitividade da Agricultura: análise laboratorial como insumo do processo
produtivo. Informações Econômicas, SP, v.35, n.10, out. 2005.
GONÇALVES, J.S. & GHOBRIL, C.N. Febre Aftosa em Estados Vizinhos: SP Perde nas
Exportações por Falha Alheia. Análises e Indicadores do Agronegócio. Instituto de
Economia Agrícola de São Paulo. vol.1. n.3. março 2007.
GONÇALVES, J.S. & MACHADO, R.S. Consumo e Hierarquia dos Relativos de Preços de
Proteína Animal No Brasil, 1997-2006. Informações Econômicas, SP, v.37, n.9, set. 2007.
GONÇALVES Neto, W. Estado e agricultura no Brasil: política agrícola e modernização
econômica brasileira 1960-1980. 1ª Ed. São Paulo:Hucitec. 1997.
GRANOVETTER, M. S. Economic Action and Social Structure: The Problem of
Embeddedness. American Journal of Sociology 91:481-510.1985.
GRINBERG, Miguel. Apuntes sobre Infertilidad Social. Revista Mundo Orgânico. n.13.
Córdoba, Argentina. 2005.
GUIMARÃES, C.B. Ganhar Valor Agregado é o Desafio da Exportação. Gazeta Mercantil.
4/7/2005. Documento disponível no sítio
clipping.planejamento.gov.br/Noticias.asp?NOTCod=204201, obtido em 14/5/2007.
HENSON, S. Standards and Trade: An Overview, mimeo, Guelph, Ontario: University of
Guelph. 2004
HOFFMANN, U. & ROTHERHAM, T. Environmental Requirements and Market Access for
Developing Countries: Promoting Environmental Not Trade Protection. UNCTAD
Trade and Environment Review 2006. Chapter 1. 2006.
IBGE. Pesquisa Industrial – Inovação Tecnológica 2005 - Pintec. IBGE, MPOG/Finep/MCT.
Rio de Janeiro, 2007.
IEL; CNA; SEBRAE. Estudo Sobre Eficiência Econômica e Competitividade da Cadeia
Agroindustrial da Pecuária de Corte no Brasil, Brasília, DF. IEL, 2000.
ILLINCH, A. & HAGUIWARA, M.M.H. Manejo dos Animais X Qualidade da Carne.
Boletim de Conexão Industrial do Centro de Tecnologia de Carnes do ITAL. Vol. XV
n.2. Abr-Jun. 2005.
IMS - International Meat Secretariat. Impacts of Animal Disease on International Trade.
Newsletter n.378. 14 de fevereiro de 2007.
INSTITUTO ETHOS. Pacto Contra Trabalho Escravo vai Separar Joio do Trigo. Disponível
no sítio: www.ethos.org.br/ci2007dinamico/site/vis_noticia.asp?id_noticia=117.
Publicado em 17/06/2007, acessado em 11/07/2007.
IPARDES - Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico; IBQP - Instituto Brasileiro
da Qualidade e Produtividade, GEPAI./UFSCAR - Grupo de Estudos e Pesquisas
Agroindustriais da UFSCAR. Análise da Competitividade da Cadeia Agroindustrial de
Carne Bovina no Estado do Paraná: Sumário Executivo. Curitiba, PR. IPARDES. 2002.
ISO. ISO in figures for the year 2006. ISO Central Secretariat Switzerland, janeiro de 2007.
Documento disponível no sítio:
www.iso.org/iso/en/aboutiso/isoinfigures/archives/January2007.pdf obtido em
13/03/2007.
JAFFEE, S. & HENSON, S. Standards and Agro-Food Exports from Developing Countries:
Rebalancing the Debate. World Bank Policy Research Working Paper 3348, June 2004.
JAKOBSEN, K. Comércio Internacional e Desenvolvimento. Ed. Fundação Perseu Abramo.
1ª Ed. Rio de Janeiro. 2005.
JANK, M.S. Políticas para o futuro da agricultura O ESTADO DE S. PAULO. Espaço
Aberto, pág. A-2. Quarta-feira, 06 de dezembro de 2006.
203
JELLINEK, S. The Impact of Food Safety and Agricultura Health Standards on Developing
Country Exports. Summary of the Report Number 31302. Banco Mundial. Jan. 2005.
JOSLING, T. Key Issues in the World Trade Organization Negotiations on Agriculture.
Amer. J. Agric.Econ. 85 (3). (663-667). Agosto. 2003.
KAGEYAMA, A., GRAZIANO DA SILVA, J. A Dinâmica da Agricultura Brasileira: do
Complexo Rural aos Complexos Agroindustriais. Campinas:IE/Unicamp. 1987.
KRUGMAN, Paul R. & OBSTFELD, Maurice. Economia Internacional- Teoria e Política.
Editora Makron Books. 5ª Ed. São Paulo. 2001.
KUMAR S. COMMENTARIES In: TRADE AND ENVIRONMENT REVIEW 2006 CHAPTER
1: Environmental requirements and market access for developing countries: promoting
environmental - not trade protection UNCTAD/DITC/TED/2005/12. United Nations
Conference on Trade and Development. New York and Geneva, 2006.
LAUDÍSIO. W. Certificação de Produtos: Aumente seu potencial de exportação. Artigo do
Bureau Veritas Certification. Publicado em 14/10/205, disponível no sítio
www.bureauveritascertification.com.br/artigos.asp?IDArt=11, acessado em 3/06/2007.
LAZZARINI NETO, S.; LAZZARINI, S. G.; PISMEL, F. S. Pecuária de corte: a nova
realidade e perspectivas do agribusiness. São Paulo: Lazzarini & Associados, 1996.
LAPLANE, M. & SARTI, F. Prometeu Acorrentado: o Brasil na indústria mundial no início
do século XXI. Revista Política Econômica em Foco, n. 7 – nov. 2005/abr. 2006.
LEMOS, A. D. & NASCIMENTO, L.F. A Produção Mais Limpa como Geradora de
Inovação e Competitividade. Revista de Administração Comtemporânea. Vol. 3. 1.
1999. Disponível no sítio: http://www.anpad.org.br/rac/rac_vol_03_n_01_frames.html
LIMA, R. C. A; MIRANDA, S.H.G.; GALLI, F. Febre Aftosa: impacto sobre as exportações
brasileiras de carnes e o contexto mundial das barreiras sanitárias. Instituto de Estudos
do Comércio e Negociações Internacionais-ICONE, São Paulo, outubro. 2005.
LUCCHESE, G. A Internacionalização da Regulamentação Sanitária. Ciência e Saúde
Coletiva, 8(2):537-555, 2003.
MACHADO J.G.C.; NANTES J.F.D. a. A Visão Institucional do Processo de Rastreabilidade
da Carne Bovina. Capturado em 19/03/2007. Disponível no sítio:
www.agriculturadigital.org/agritec_2004/congresso/Seg_e_Qual_Alim_Rastreab/A_Visão
_Instit_Rastreabilid_Carne_Bovina.pdf. 2000.
MALHOTRA, K. Como colocar o comércio global a serviço da população. Tradução de
Vera Ribeiro; Revisão técnica de Elba Rego. Brasília, DF: IPEA, 2004. 479 p.
MALUF, R.S. Atribuindo sentido(s) ao desenvolvimento econômico. Estudos Sociedade e
Agricultura, N. 15, 2000, 53-86.
MÁS, A.M. Comércio Internacional: el G.A.T.T. Coleccíon Bliblioteca Universitaria de
Economia. Guadiana de Publicaciones. Madrid, 1969.
MASKUS, K.E. Should Core Labor Standards be Imposed Through International Trade
Policy? Policy Research Working Papers, World Bank , 1997.
MASKUS, K.E.; WILSON J.S & OTSUKI, T. Quantifying the Impact of Technical Barriers
to Trade: a Framework for Analysis Policy research working papers n. 2512 Washington
D.C.: The World Bank, Development Research Group. 2000.
MELLO, V. C. Globalização, Regionalismo e Ordem Internacional. Revista Brasileira de
Política Internacional. N. 42. vol.1. p 157-181. 1999.
MELO, C. Febre Aftosa: Governo Amplia Recursos para Evitar Nova Crise. Documento
elaborado em 17/5/2007, disponível no sítio: contasabertas.uol.com.br, obtido em
30/06/2007.
MÉNARD, C. & VALCESCHINI, E. New Institutions for Governing the Agri-Food Industry.
European Review of Agricultural Economics Vol 32 (3) pp. 421–440. 2005.
204
Der MEER K. The Challenge of Standards in Food Markets. Apresentação em PowerPoint,
Preparada para a OMC. Banco Mundial. Junho, 2004.
MICHALOPOULOS, C. The Role of Special and Differential Treatment for Developing
Countries in GATT and The World Trade Organization. Policy Research Working Paper
Series n. 2388 The World Bank. Jul, 2000.
MIRANDA, S. H. Quantificação dos Efeitos das Barreiras Não-tarifárias sobre as
Exportações Brasileiras de Carne Bovina. Tese apresentada à Escola Superior de
Agricultura “Luiz de Queiroz”, Universidade de São Paulo, SP. 2001.
MIRANDA, S. H. G.; GALLI, F. Junior, C.F.G. A. ; BURNQUIST, H. As Questões
Sanitárias e o Comércio Internacional. CEPEA. outubro/2003.
MOLTKE, K. Political Economy of International Environmental Standards. Artigo preparado
para o Programa do Curso de Comércio e Normas do Banco Mundial. jan. 2004.
De MOURA, A.P.P. & FILGUEIRAS, V.A. Entre Barreiras e Polêmicas, Conjuntura
Agrícola Favorável. Revista Conjuntura & Planejamento. Salvador: SEI, n. 108, p.15-19.
Maio, 2003.
MUCCIOLO, P. Carnes: Estabelecimentos de Matança e de Industrialização. Ícone, p.102
1985.
MULLER, G. Observações Sobre a Economia Política da Agricultura Brasileira. Rascunho.
N.14 v.66. 1990.
NADVI K. & LTRING, F. Making Sense of Global Standards. Institut für Entwicklung
und Frieden der Gerhard-Mercator-Universität Duisburg Report 58, 2002.
De NEGRI, J. A.; FREITAS, F. Inovação Tecnológica, Eficiência de Escala e Exportações
Brasileiras. Texto para Discussão n. 1044, Brasília, Ipea,2004
NETO, M. P. A Exportação de Carnes e o Protocolo Eurepgap. Revista nacional da
carne. Ed. nº 336. fev. 2005. Disponível do sítio:
www.dipemar.com.br/CARNE/editantes.htm, obtido em 12/06/2006.
NORTH, D.C. The New Institutional Economics and Development. St. Louis: Washington
University, Economics Department, (Working paper). 1993. Disponível no sítio
www.econ.iastate.edu/tesfatsi/NewInstE.North.pdf, obtido em 22/9/2007.
NORTH, D.C. Economic Performance Through Time. The American Economic Review, v.
84, n. 3, jun, p. 359-68. 1994.
OIE. World Animal Health Situation. Disponível no sítio: www.oie.int/eng/info/en_esb.htm,
obtido em 12/10/2007.
__________. List of Foot and Mouth Disease free countries. Atualizado em agosto de 2007.
Disponível no sítio: www.oie.int/eng/info/en_fmd.htm, obtido em 12/10/2007a.
OLIVEIRA, S.M. Barreiras Não Tarifárias no Comércio Internacional e Direito ao
Desenvolvimento. Ed. Renovar. Rio de Janeiro. 2005
OLIVEIRA, N.B. Barreiras Invisíveis no Comércio. Documento disponível no sítio
www.inmetro.gov.br, obtido em 26/08/2004.
OMC. World Trade Developments in 2004 and Prospects for 2005. In: International Trade
Statistics 2005. Disponível no sítio http://www.wto.org/english/res_e/statis_e/statis_e.htm,
obtido em 10/05/2007.
__________. Transcript of Internet chat with WTO Director-General Pascal Lamy, 18
October 2006. Disponível no sítio:
www.wto.org/english/forums_e/chat_e/chat_transcript_oct06_e.doc, obtido em
12/01/2007.
__________. Technical Information on Technical Barriers to Trade. Documento disponível
no sítio www.wto.org/english/tratop_e/tbt_e/tbt_info_e.htm, obtido em 10/05/2007.
ORTEGA, A.C. Agronegócios e Representação de Interesses no Brasil. ed. Uberlândia:
EDUFU. 2005.
205
OSWALD, V. Insatisfação e Apatia em Meioculo de UE. Jornal O GLOBO. Rio de
Janeiro. p. 41. 25 de março de 2007.
PEREZ, L.H. Análise de Resíduos: Atendimento das Exigências Européias ou Embargo nas
Exportações de Produtos Brasileiros de Origem Animal. Análises e Indicadores do
Agronegócio. V.2, N.4, Abril 2007. Disponível em www.iea.sp.gov.br, acessado em
10/05/2007
PEROSA, J. M. Y. “Papel da Coordenação em Alianças de Mercado: Análise de Experiência
no SAG Carne Bovina”. II Workshop Brasileiro de Gestão de Sistemas Agroalimentares
PENSA/FEA/USP Ribeirão Preto, 1999 (p.69-74).
PETERS, R. & VANZETTI, D. Conflict and Convergence in Agricultural Trade
Negotiations. Division on International Trade in Goods and Services, and
Commodities.UNCTAD, Genebra. Julho, 2004.
PINHEIRO, V. C. Modelos de Desenvolvimento e Políticas Sociais na América Latina em
uma Perspectiva Histórica Planejamento e Políticas Públicas 12. IPEA. Jun/Dez. 1995.
Disponível no sítio: www.ipea.gov.br/pub/ppp/ppp12/parte4.pdf, consultado em
20/06/2006.
PINSTRUP-ANDERSON, P. et al. WHO WILL BE FED IN THE 21ST CENTURY?
Challenges for Science and Policy. Capítulo 1: Meeting Food Needs in the 21st Century
How Many and Who Will Be at Risk? 120 pag. Publicado por IFPRI e distribuído por
Johns Hopkins University Press. 2001.
PITELLI, M.M. & MORAES, M.A.F.D. Análise do Impacto das Variações Institucionais
Européias Sobre a Governança do Sistema Agroindustrial Brasileiro da Carne Bovina.
Rev. Econ. Sociol. Rural. vol.44, n.1, p.27-45. Jan./Mar. 2006.
PNUD (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento). Relatório de
Desenvolvimento Humano - 1996. Documento disponível no sítio
www.pnud.org.br/rdh/rdh96/index.php , obtido em 27/04/2006.
__________. Relatório de Desenvolvimento Humano - 2002. Documento disponível no sítio
www.pnud.org.br, obtido em 27/04/2006.
__________. Relatório de Desenvolvimento Humano - 2005. Documento disponível no sítio
www.pnud.org.br/arquivos/rdh/rdh2005/rdh2005_resumo.pdf, obtido em 27/04/2006.
PNUMA (Programa das Nações Unidas sobre Meio Ambiente). Institutional mechanisms
supporting trade in genetic materials: issues under the biodiversity convention and
GATT/TRIPS. Environment and Trade Series. n. 4. Geneva, UNEP. 1994.
PONT-VIEIRA, M. C. O Sistema GATT e sua Importância para o Comércio Internacional
Agrícola. In: Políticas agrícolas e o comércio mundial. Maria Helena Fagundes, org.
p.265-303. Brasília. IPEA, 1994.
__________. O Sistema GATT e sua Importância para o Comércio Internacional Agrícola.
Estudos de Política Agrícola ; 28. IPEA, 1994.
PORTARIA 145, A: rigor da lei em janeiro. Rev. Nacional da Carne, São Paulo, n. 262, p. 8-
12, dez. 1998. (Entrevista do Dr. Ícaro Damásio Alves, chefe do SIPA/DFA/SP).
PORTER, M.E. A Vantagem Competitiva das Nações, tradução Waltensir Dutra. Ed. Campus.
Rio de Janeiro. 1989.
POU, V. As Organizações Internacionais. Biblioteca Salvat de Grandes Temas. Salvat
Editora do Brasil, 1979.
PRESTON, L. (1998). Strategy for the Use of Implants in Beef Cattle Production. In:
SIMPÓSIO SOBRE PRODUÇÃO INTENSIVA DE GADO DE CORTE. Campinas.
Anais... Campinas: Colégio Brasileiro de Nutrição Animal. p. 39-49.
QUANDT, C.O. Inovação em Clusters Emergentes. Revista Comciência. Documento
disponível no sítio: comciencia.br/reportagens/2004/08/13, obtido em 14/08/2004.
206
RAMOS, F.S.V. Dissertação: Qualidade na Cadeia da Carne Bovina; O Caso da Carne
Orgânica. Curso de Pós-Graduação e Desenvolvimento, Agricultura e Sociedade, Instituto
de Ciências Humanas e Sociais, Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro. 2006.
REVISTA COUROBUSINESS. Consultada no sítio:
www.courobusiness.com.br/comercio/51.php em 27/01/2006.
ROBERTS, D. The Multilateral Governance Framework for Sanitary and Phytosanitary
Regulations: Challenges and Prospects. Preparado para The World Bank Training
Seminar on Standards and Trade. Washington, D.C.: Banco Mundial. Janeiro.2004.
RODRIGUES, G.V. PAINEL: Políticas Públicas Negociação Internacional. Slides do 8º
Congresso de Agribusiness: A Supremacia do Consumidor. Dezembro de 2006.
Disponível no sítio www.cna.org.br , acessado em 24/10/2007.
RODRIK, D. Can Integration Into the World Economy Substitute for a Development
Strategy?. Nota escrita por ocasião da “World Bank´s ABCDE-Europe Conference”.
Paris. Junho, 2000.
ROMANS, J. R.; JONES, K.W.; COSTELLO, W. J.; et al. (1985). The Meat We Eat.
Danville, IL:The Interstate Printers & Publishers, 850 p.
ROTHERHAM, T. Implementing Environmental, Health and Safety (EH & S) Standards, and
Technical Regulations: The Developing Country Experience. International Institute for
Sustainable Development. Canada. 2003.
SANTOS, C. et al. Anuário Brasileiro da Pecuária 2007. Ed. Gazeta Santa Cruz LTDA.
2007.
SECEX Secretaria de Comércio Exterior. Organização Mundial do Comércio OMC -
Relatório Estatístico 2006. Acompanhamento Internacional. Maio/2006.
SEN, A. K. O Desenvolvimento como Expansão das Capacidades. Lua Nova, S. Paulo, N.
28/29, 313-333. 1993.
__________. Desenvolvimento Como Liberdade. S. Paulo, Cia. das Letras. 2000.
Da SILVA, F. A. A responsabilidade do alimento: Qualidade e inovação são ingredientes
indispensáveis para a competitividade dos agronegócios. Documento disponível no sítio
www.aduaneiras.com.br obtido em 26/08/2004.
SILVA, M.V. & NONNENBERG, M.J.B. A Participação do Agronegócio no PIB Brasileiro:
controvérsias conceituais e propostas metodológicas. XLIV Congresso Brasileiro de
Economia e Sociologia Rural. Anais....Brasília: SOBER. 2006.
SINGH, A. & ZAMMIT, A. The Global Labour Standards Controversy. Critical Issues for
Developing Countries. South Centre, Chemin du Champ d’Anier 17, 1211 Geneva 19,
Switzerland. November 2000.
SOBRINHO, C.S. A Visita da União Européia ao Brasil. Espaço Aberto - Revista Beef Point.
Disponível no sítio: www.beefpoint.com.br, Publicado em 09/04/2007, acessado em
31/05/2007.
STERN, L. W.; EL-ANSARY, A. I. Marketing Channels. 4. ed. Englewood Cliffs: Prentice -
Hall, 1992.
STIGLITZ, J.E. & WALSH, C.E. Introdução à Microeconomia. Tradução (da 3ª Edição
original) de Helga Hoffman. Ed. Campus. Rio de Janeiro. 2003.
SUZIGAN, W.; FURTADO, J. Política Industrial e Desenvolvimento. Revista de Economia
Política, vol. 26, nº 2 (102), pp. 163-185 abril-junho. 2006.
TANNO, G. & FERRACIOLI, P. Barreiras Técnicas: o papel do Inmetro do GATT à OMC.
Documento disponível no sítio www.inmetro.gov.br, obtido em 26/08/2004.
THORSTENSEN, V. A OMC Organização Mundial do Comércio e as Negociações Sobre
Comércio, Meio Ambiente e Padrões Sociais. Revista Brasileira de Política Internacional.
n.42. vol.2 pag.29-58. 1998.
207
TIGRE,P.B. O Papel da Política Tecnológica na Promoção das Exportações. In: PINHEIRO,
Markwald E Pereira. (Org.). O Desafio das Exportações. Rio de Janeiro, 2002
TSUKI, T.; WILSON, J.; SEWADEH,M. A Race to the Top? A Case Study of Food Safety
Standards and African Exports. The World Bank Development Research Group Trade.
Policy Research Working Paper 2563. March 2001.
UNITED NATIONS CONFERECE ON TRADE AND DEVELOPMENT (UNCTAD).
Methodologies, Classifications, Quantification and Development Impacts of Non-Tariff
Barriers. Note by UNCTAD secretariat. TD/B/COM.1/EM.27/2. 23 de junho de 2005.
__________. Environmental Requirements and Market Access for Developing Countries.
Workshop prévio à UNCTAD XI sobre Políticas Ambientais e Acesso ao Mercado para
Países em Desenvolvimento. Nota do Secretariado. São Paulo. 2004. Disponível no sítio:
r0.unctad.org/trade_env/test1/meetings/rio/TD_XI_BP_1.pdf, consultado em 17/06/2006.
__________. Handbook of Statistics On-line. Documento disponível no sítio:
www.unctad.org. Consultado em 15/02/2006.
__________. The Rise and Implications of Voluntary Private Standards for Access of
Developing Countries to Key Export Markets. Joint UNCTAD/WTO Informal
Information Session on Private Standards. Documento disponível no sítio:
/www.unctad.org/sections/wcmu/docs/ditc_tedb_ted0010_en.pdf. Produzido em 05/06/07.
Consultado em 18/06/2007.
__________. Food Safety and Environmental Requirements in Export Markets - Friend or
Foe for Producers of Fruit and Vegetables in Asian Developing Countries? United
Nations Nova York e Genebra. 2007a.
UNITED NATION ECONOMIC AND SOCIAL COMMISSION FOR ASIA AND THE
PACIFIC (UNESCAP). Non-tariff Measures with Potentially Restrictive Market Access
Implications Emerging in a Post-Uruguay Round Context. Studies in Trade and
Investment N. 40. Doc. United Nations: ST/ESCAP/2024. New York. 2000.
VEIGA, P.M. Política Comercial, Indústria e Exportações: Vamos Voltar a Falar de
Produtividade e Competitividade? In: Desenvolvimento em Debate: Painéis do
Desenvolvimento Brasileiro I. Ana Célia Castro, Org. Rio de Janeiro. Mauad. BNDES.
2002.
VIEGAS, I. F. P. Impactos das Barreiras Comerciais dos Estados Unidos e União Européia
Sobre a Pauta de Exportações Agrícolas Brasileiras. Dissertação de Mestrado. Escola
Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (ESALQ). 2003.
VISÃO GERAL. Potencial de Redução de custos e Otimização de Processos. Coord.
Pricewaterhouse e Coopers. São Paulo: Associação ECR Brasil, nov. 1998.
WILKINSON, J. The Food Processing Industry, Globalization and Developing Countries.
Eletronic Journal of Agricultural and Development Economics. n.2. vol.1. p184-201. 2004.
WILKINSON, J. & ROCHA, R. Agri-Processing and Developing Countries (version 1)
Documento escrito como parte da série de contribuições para a Rimisp-Latin American
Center for Rural Development (www.rimisp.org) to the preparation of the World
Development Report 2008 - November, 2006.
WILSON, J. Comércio, Acordos Ambientais Multilaterais e Serviços Ambientais: analisando o
processo da CMDS e seu texto. The International Gender and Trade Network -Grupo de
Monitoramento Ambiental. Jul, 2002. Disponível no sítio:
www.igtn.org/pdfs/257_AcordosAmbientais.pdf, consultado em 16/06/2006.
WSSN. World Standards Services Network. Documento disponível no sítio: www.wssn.net.
Consultado em 18/05/2006.
WTO. International Trade Statistics 2005. Documento obtido no sítio:
www.wto.org/english/res_e/statis_e/its2005_e/its2005_e.pdf, em 12/02/2006.
208
ZIMMER, A. H. & EUCLIDES, E. K. (1997). A Pecuária de Corte no Brasil. In: SIMPÓSIO
INTERNACIONAL SOBRE PRODUÇÃO ANIMAL EM PASTEJO. Anais ... Viçosa, p.
349-379.
ZYLBERSTAIJN, D. e FAVA NEVES, M. Economia e Gestão dos Negócios
Agroalimentares, Capítulo I “Conceitos Gerais, Evolução e Apresentação do Sistema
Agroindustrial”. Ed.Pioneira. São Paulo, 2000.
209
ANEXO 1
Contribuíram de modo significativo para a tese, as entrevistas realizadas com
representantes de entidades governamentais e privadas, relacionadas à produção, fiscalização,
exportação e negociações internacionais de produtos da cadeia da carne bovina. Foram
entrevistados os senhores:
Ari Crespim dos Anjos
Coordenador Geral de Programas Especiais do
Departamento de Inspeção de Produtos de Origem Animal
do Ministério de Agricultura, Pecuária e Abastecimento
João Carlos Viana Carvalho
Ribeiro
Coordenação de Negociações Bilaterais e Regionais do
Departamento de Assuntos Sanitários e Fitossanitários da
Secretaria de Relações Internacionais do Agronegócio do
Ministério de Agricultura, Pecuária e Abastecimento
Rafael D´Aquino Mafra
Gerência de Regulamentação Sanitária Internacional do
Núcleo de Assessoramento em Assuntos Internacionais da
Agência Nacional de Vigilância Sanitária - ANVISA
Alfredo Carlos Orphão Lobo
Diretor da Qualidade do Inmetro
Anna Camboim
Divisão de Articulação Externa e Projetos Especiais da
Diretoria da Qualidade - Inmetro
José Sidnei Gonçalves
Instituto de Economia Agrícola-SP / Agência Paulista de
Tecnologia dos Agronegócios
Marcus Vinicios Pratini de
Moraes
Ministro da Indústria e Comércio de 1970 a 1974 /
Ministro da Agricultura e do Abastecimento / Ministro de
Minas e Energia em 1992/ Associação Brasileira das
Indústrias Exportadoras de Carne
João Carlos de Souza
Meirelles
Presidente do Conselho Nacional de Pecuária de Corte
(1983 –1998) / Coordenador do Fórum da Cadeia
Produtiva de Pecuária Bovina do Mercosul (1994 – 2002) /
Vice-Presidente do Secretariado Mundial de Carnes IMS-
International Meat Secretariat (desde 2002) / Secretário de
Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo (1998
2002) / Secretário de Turismo do Estado de São Paulo
(2003 a 2005) / ex-Secretário da Ciência, Tecnologia e
Desenvolvimento Econômico do Estado de São Paulo /
Fronteira Norte Engenharia de Desenvolvimento Ltda.
As informações e opiniões obtidas nas entrevistas encontram-se dispersas ao longo do texto
sem que, necessariamente, sejam referenciados de modo personalizado.
210
ANEXO 2
Evolução Histórica da Regulamentação da Cadeia Bovina
211
Fonte: IEL; CNA; SEBRAE, 2000.
212
ANEXO 3
Eventos que podem ter afetado as exportações de carnes bovinas brasileiras, no período de
1986 a 2001.
Mês/ ano Descrição do Evento
Nov./86 Primeiro caso confirmado da Encefalopatia Espongiforme Bovina (BSE) na
Grã-Bretanha
1988 Desmantelamento do sistema dequotas japonês para importação de carne
através do Acordo Citros-Carne: aumento das importações japonesas.
1989 UE bane o uso de 3 hormônios naturais e dois sintéticos na produção de
carne.
Nov./89 Governo britânico proíbe o uso de órgãos internos de bovinos
1990 Diagnosticada, em consumidores ingleses, a doença de Creutzfeldt-Jakob,
que acarreta e degeneração do cérebro. A contaminação ocorre devido ao
consumo de carne de animais infectados com a doença da “vaca-louca”
1991 Adoção de um programa de erradicação da febre aftosa pelo Brasil, com
metas para os circuitos pecuários
Abril / 91 Início do plano de Estabilização da Argentina, inclusive com a Lei de
Conversibilidade, fortalecimento do peso argentino, eliminação das
regulamentações da Lei de Carnes.
Maio/92 União Européia concordou em introduzir em esquema de promoção da
carne bovina na Reforma da PAC nesse ano,que passaria a funcionar de
1993/94.
Redução dos subsídios dados aos produtores e criadores franceses, em
função da reforma da política agrícola da CEE
Jan./93 Constituição do mercado único da Comunidade Européia, com a
implementação do Single European Act, instituindo o livre movimento de
bens, serviços, capital e trabalho no território abrangido.
1993 Criação do NAFTA;
Avanço do Brasil no mercado de carne sobre o market-share da Argentina;
Brasil ganha uma quota de 5 mil ton para exportar para UE;
Uruguai declara-se livre de febre aftosa com vacinação
Abril/94 Sanção da Federal Agricultural Improvement and Reform Fair Act,
alterando a política agrícola norte-americana
Julho/94 Início do Plano Real: mudança da moeda e valorização cambial
Set./94 Morrem mais de 137 mil cabeças devido à BSE na Grã-Bretanha
1994 Aumento da quota Hilton em 3,62 mil toneladas
Jan/95 Início do cronograma de 6 anos, para redução das tarifas acordadas na
Rodada Uruguai, de 36% para os PDs, Na UE, as reduções contam a
partir de 01/07, início do ano agrícola;
Acordo Agrícola passa a vigorar
AMSF entra em vigor
Março/95 Restrição temporária da Comunidade Européia às importações de carnes
frescas de SP e MG, por 3 meses
1996 Estabelecimento da obrigatoriedade do APPCC nos EUA
Março/96 UE proíbe importações de carne boina do Reino Unido
Abril/96 Grã-Bretanha decide abater 38% de seu rebanho bovino. Mais de 3 milhões
de animais são sacrificados
Junho/96 Entra em vigor a Portaria n. 304: dispõe sobre a obrigatoriedade de
comercialização de toda a carne bovina do País em quartos desmontados na
213
forma de cortes padronizados, classificados (sexo e idade), identificados
(com as marcas e carimbos oficiais do SIF e do abatedouro de origem) e
embalados
1996 Brasil proíbe as importações de produtos industrializados e material genético
da Grã-Bretanha
Nov./96 Lei Kandir: desoneração das exportações de produtos primários e semi-
elaborados brasileiros pela isenção do ICMS
1997 Grã-Bretanha confirma 13 pessoas contaminadas por carne de animais
com a doença da vaca louca
OIE declara Argentina e Paraguai livres de febre aftosa
Set/97 Comissão Européia propôs proibir todos os produtos que contém materiais
de risco específico (cérebros, olhos, coluna vertebral, etc) de terceiros países
infectados com BSE
Agosto/97 Argentina obtém quota de 20 mil toneladas para exportar carne fresca para
os EUA
Março/98 Focos de febre aftosa em Porto Murtinho – MS
Maio/98 Declaração do RS e SC como estados livres de aftosa com vacinação
OIE revisa Código de Saúde Animal, passando a adotar uma nova
definição de país livre de BSE
Jun/98 Proibição de exportações de carne bovina britânica parcialmente rescindida
2º Sem/98 Início das exportações de carne bovina para o Chile
Out/98 Foco de febre aftosa em Naviraí-MS
Nov./98 UE vota pelo fim do embargo para as carnes de animais nascidos após de
agosto de 1996
Final 98/99 Estoques de carne de 540 mil ton – UE decide subestimar as exportações
Jan/ 99 Desvalorização do Real no Brasil
Abril/99 Acordo China – EUA
Jul./ 99 Fim da Calf Processing Aid Scheme (CPAS)
Dez./ 99 Anúncio das reformas da PAC Agenda 2000, para vigência a partir de
01/07/00;
Redução preço institucional de proteção e no nível de sustentação;
Inserção de ajudas diretas ao produtor carne;
Redução do Export Refund para carne: de 5 a 30%
Governo brasileiro publica portaria declarando o circuito pecuário Centro-
Oeste livre de aftosa com vacinação
Maio/2000 Argentina, RS e SC declaradas livres de aftosa sem vacinação; circuito
Centro-Oeste declarado livre com vacinação pelo OIE
Jul./00 Última redução da tarifa de importação de carne na EU, caindo para
16,6% no caso dos produtos industrializados e 12,8%, para in natura
Redução dos subsídios da UE para as exportações de carne em Julho/2000
Rebanhos sacrificados na França
Ago./ 00 Identificado foco de aftosa em Jóia RS - Milhares de animais são abatidos
para tentar controlar a expansão da doença.
Set./ 00 Israel (língua) e Bulgária (diversos cortes) suspendem importações do
Brasil de carne bovina devido aos focos no RS;
Suspensão das exportações argentinas de carne in natura para os EUA,
Canadá, América Central, Venezuela e Caribe, sob alegação de problemas
com aftosa
Nov./ 00 Itália proíbe importação de animais e carne com osso da França;
214
Alemanha e Espanha detectam os primeiros casos de vacas contaminadas
Dez./ 00 Brasil proíbe as importações de animais vivos, produtos industrializados,
miúdos e material genético da França, Alemanha, Espanha e Portugal
Jan./ 01 Suspensão das exportações de carne bovina de alguns países da Europa
para os Extremo Oriente e Oriente Médio;
1º caso de vaca louca na Itália
Fev. 01 Embargo do Canadá à carne bovina brasileira sob alegação de atraso no
relatório brasileiro sobre a situação de vigilância sanitária sobre a vaca louca,
seguida da suspensão também pelos EUA e México
Maio/ 01 Ocorrência de foco de febre aftosa em Santana do Livramento – RS;
Suspensão das importações de carne bovina brasileira pela Inglaterra,
Chile, Israel;
São abatidos no Rio Grande do Sul milhares de cabeças de gado, em razão
da febre aftosa
Desvalorização cambial
2002 Focos de aftosa na Argentina e Paraguai provocam novo alerta em
pecuaristas do Sul e Centro- Oeste. Medidas sanitárias evitam a
contaminação do rebanho brasileiro.
2003 Nenhum novo foco é registrado no Brasil.
2004 A ocorrência de focos de aftosa em municípios do Pará e Amazonas, no
norte do Brasil, resulta na restrição de importações de carne por vários
países. O governo realiza ações para demonstrar aos compradores que as
áreas atingidas estão longe do Centro-Oeste, Sudeste e Sul do país, principais
regiões de produção de carne para a exportação.
2005 Após a confirmação de um foco de aftosa em Eldorado, no Estado de
Mato Grosso do Sul, a Organização Internacional de Epizootias (OIE)
suspende temporariamente a condição sanitária de zona livre de aftosa
com vacinação nos Estados de Mato Grosso do Sul, Tocantins, Minas
Gerais, Rio de Janeiro, Espírito Santo, Bahia e Sergipe.
Sspeitas de foco de aftosa no Paraná, com o abate de milhares de cabeças
de gado.
Fontes: Miranda, 2001 e Brasil, 2007
Livros Grátis
( http://www.livrosgratis.com.br )
Milhares de Livros para Download:
Baixar livros de Administração
Baixar livros de Agronomia
Baixar livros de Arquitetura
Baixar livros de Artes
Baixar livros de Astronomia
Baixar livros de Biologia Geral
Baixar livros de Ciência da Computação
Baixar livros de Ciência da Informação
Baixar livros de Ciência Política
Baixar livros de Ciências da Saúde
Baixar livros de Comunicação
Baixar livros do Conselho Nacional de Educação - CNE
Baixar livros de Defesa civil
Baixar livros de Direito
Baixar livros de Direitos humanos
Baixar livros de Economia
Baixar livros de Economia Doméstica
Baixar livros de Educação
Baixar livros de Educação - Trânsito
Baixar livros de Educação Física
Baixar livros de Engenharia Aeroespacial
Baixar livros de Farmácia
Baixar livros de Filosofia
Baixar livros de Física
Baixar livros de Geociências
Baixar livros de Geografia
Baixar livros de História
Baixar livros de Línguas
Baixar livros de Literatura
Baixar livros de Literatura de Cordel
Baixar livros de Literatura Infantil
Baixar livros de Matemática
Baixar livros de Medicina
Baixar livros de Medicina Veterinária
Baixar livros de Meio Ambiente
Baixar livros de Meteorologia
Baixar Monografias e TCC
Baixar livros Multidisciplinar
Baixar livros de Música
Baixar livros de Psicologia
Baixar livros de Química
Baixar livros de Saúde Coletiva
Baixar livros de Serviço Social
Baixar livros de Sociologia
Baixar livros de Teologia
Baixar livros de Trabalho
Baixar livros de Turismo