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UFRRJ
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO DE CIÊNCIAS SOCIAIS EM
DESENVOLVIMENTO, AGRICULTURA E SOCIEDADE – CPDA
DISSERTAÇÃO
Comércio Justo e o Caso do Algodão: A Cadeia Produtiva Têxtil
Brasileira
Ana Larronda Asti
2007
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UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO RIO DE JANEIRO
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO DE CIÊNCIAS SOCIAIS EM
DESENVOLVIMENTO, AGRICULTURA E SOCIEDADE – CPDA
COMÉRCIO JUSTO E O CASO DO ALGODÃO: A CADEIA PRODUTIVA TÊXTIL
BRASILEIRA
ANA LARRONDA ASTI
Sob a Orientação do Professor
John Wilkinson
Rio de Janeiro, RJ
Julho de 2007
Dissertação submetida como
requisito parcial para obtenção do
grau de Mestre em Ciências
Sociais, no Programa de Pós-
Graduação de Ciências Sociais
em Desenvolvimento, Agricultura
e Sociedade.
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DEDICATÓRIA
Dedico esta dissertação às costureiras de Petrópolis, tanto as com quem trabalhei e compartilhei
meus últimos dois anos, quanto as que espero que venham a se beneficiar, no futuro, dessa
experiência. Gostaria também de dedicá-la a meus pais que sempre me estimularam e estiveram
presentes no meu aperfeiçoamento profissional, bem como a Rodrigo Coelho, que com muito
carinho vem apoiando o meu desenvolvimento.
AGRADECIMENTO
No decorrer destes dois anos eu tenho muitas pessoas a quem agradecer. Entretanto, algumas
desempenharam papéis extremamente importantes para que eu pudesse desenvolver o tema do
comércio justo. Agradeço a Rosemary Gomes por ter tantas vezes me aconselhado e me integrado
aos debates dos movimentos sociais, além de ter sido pessoa chave na minha opção por cursar o
mestrado. Tão fundamental quanto foi a força e confiança que sempre tive de Elisabeth Vilar
estimulando-me a ir além dos meus limites. Agradeço em especial a Jerome Schatzman com
quem tive a honra de partilhar as experiências e a construção do projeto da marca de comércio
justo “Tudo Bom?”. Neste contexto, a convivência com as costureiras do Espaço Tudo Bom,
especialmente Aparecida, Hyngrit e Érica que me abriram as portas de sua casa, é a melhor
recordação que tenho deste período. Finalmente, gostaria de registrar meu enorme agradecimento
a John Wilkinson que com maestria e sensibilidade direcionou-me neste trabalho.
RESUMO
ASTI, Ana Larronda. Comércio Justo e o Caso do Algodão: A Cadeia Produtiva Têxtil
Brasileira. 2007. Dissertação (Mestrado em Ciências Sociais). Programa de s-Graduação de
Ciências Sociais em Desenvolvimento, Agricultura e Sociedade - CPDA, Universidade Federal
Rural do Rio de Janeiro, Seropédica, RJ, 2007. Orientador John Wilkinson.
Esta dissertação aborda o comércio justo tanto do ponto de vista conceitual quanto em sua
prática. Como um movimento social que vem assumindo cada vez mais uma face comercial, o
comércio justo apresenta dinâmicas que correlacionam políticas e mercados. O primeiro capítulo
consiste em um debate em torno destas dinâmicas, apresentando o movimento sob um aspecto
geral. O capítulo seguinte posiciona os atores e conceitos que institucionalizam o comércio justo.
O terceiro capítulo explora o contexto do algodão no movimento, tanto em relação aos aspectos
políticos do comércio internacional e de movimentos sociais paralelos quanto aos aspectos
comerciais, onde o comércio justo se desenvolve como um nicho de mercado na moda. Com o
tema do algodão introduzido, o último capítulo demonstra na prática o funcionamento de uma
cadeia produtiva têxtil de comércio justo no Brasil, através do estudo de caso da marca francesa
“Tudo Bom?”.
Palavras-chave: Comércio Justo. Algodão. Cadeia Produtiva. Mercado. Movimento Social.
ABSTRACT
ASTI, Ana Larronda. Fair Trade and Cotton: The Case of the Brazilian Textile Supply Chain.
2007. Dissertation (Master Social Science). Programa de Pós-Graduação de Ciências Sociais
em Desenvolvimento, Agricultura e Sociedade - CPDA, Universidade Federal Rural do Rio de
Janeiro, Seropédica, RJ, 2007. Professor Responsible John Wilkinson.
This dissertation approaches fair trade conceptually and in its practices. As a social
movement that is assuming also a commercial role, fair trade presents dynamics that correlate
politics and markets. The first chapter consists of a debate around those dynamics, presenting the
movement in its general aspect. The following chapter states the actors and concepts that
institutionalize fair trade. The third chapter explores the context of cotton in the movement, as
much in relation to the politics aspects of international trade and the parallel social movements,
as the commercial ones, where it develops as a fashion market niche. With the cotton subject
introduced, the last chapter demonstrates in practical the development of a fair trade textile
supply chain in Brazil through the case study of the French mark "Tudo Bom?".
Key words: Fair Trade. Cotton. Supply Chain. Market. Social Movement.
LISTA DE ABREVIAÇÕES
AFTF Fórum Asiático de Comércio Justo
APACO Associação dos Pequenos Produtores do Oeste Catarinense
APROAP Associação de Produtores Orgânicos do Alto do Paraná
BADEP Banco de Desenvolvimento do Paraná
BEFIEX Comissão para a Concessão de Benefícios Fiscais a Programas
Especiais de Exportação
BNCC Banco Nacional de Crédito Cooperativo
BNDES Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social
BID Banco Interamericano de Desenvolvimento
CATI Coordenadoria de Assistência Técnica Integral
CLAC Coordenadora Latino Americana e Caribe de Pequenos Produtores
de Comércio Justo
COAGEL Coagel Cooperativa Agroindustrial
COAMO Cooperativa Agropecuária de Campo Mourão
COCAMAR Cooperativa de Cafeicultores e Agropecuaristas de Maringá
COCARI Cooperativa de Cafeicultores de Mandaguari
COFTA Cooperação para o Comércio Justo na África
COPAGRA Cooperativa Agrária de Cafeicultores de Nova Londrina
DFID Department for International Development
ECOTA Fórum de Comércio Justo em Bangladesh
EMBRAPA Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária
EFTA European Fair Trade Association
ETI Ethical Trading Initiatives
EUROPGAP Europe Good Agricultural Practices
FACES DO BRASIL Plataforma Brasileira de Comércio Justo
FAO Food and Agriculture Organization of the United Nations
FINE FLO, IFAT, NEWS e EFTA
FLA Fair Labor Association nos Estados Unidos
FLO Fair Trade Labelling Organizations International
FMI Fundo Monetário Internacional
FSC Forestry Stewardship Council
FSM Fórum Social Mundial
FTF Fair Trade Federation
FTO Fair Trade Organization - OCJ em português
FWF Fair Wear Foundation
GATT Acordo Geral de Tarifas e Comércio
GTZ Cooperação Técnica Alemã
HACCP Hazards and Critical Control Points
IBD Instituto Brasileiro de Biodinâmica
ICAC International Cotton Advisory Committee
IFAT The International Fair Trade Association
IFOAM International Federation of Organic Agriculture Movements
IFPRI Instituto Internacional de Pesquisas e Políticas Alimentares
IG Indicação Geográfica ou Apelação de Origem
ILDES Fundação Friedrich Ebert
IPHAN Instituto do Patrimônio Histórico Nacional
ISO International Standards Organization
KEFAT Federação do Quênia para o Comércio Alternativo
LDC Least Developed Country
MDA Ministério do Desenvolvimento Agrário
MFA Acordo Multifibras (AMF)
MSC Marine Stewardship Council
MSN Maquila Solidarity Network
MST Movimento Sem Terra
MTE Ministério do Trabalho e Emprego
NAFTA North American Free Trade Agreement
NEWS Network of European World Shop
OCJ Organização de Comércio Justo
OGM Organismo Geneticamente Modificado
OMC Organização Mundial do Comércio
ONG Organização Não Governamental
ONU Organização das Nações Unidas
PICA Peace through Interamerican Community Action
PSS Preferred Supplier System
RBSES Rede Brasileira de Sócio Economia Solidária
RELACC Rede Latino Americana de Comercialização Comunitária
SAI Social Accountability International
SEBRAE Serviço Brasileiro de Apoio a Micro e Pequena Empresa
SENAES Secretaria Nacional de Economia Solidária
SUDENE Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste
TRIPs Acordo sobre Aspectos dos Direitos de Propriedade Intelectual
Relacionados ao Comércio Internacional
UCIRI Unión de Comunidades Indígenas de la Región del Istmo
UNCTAD United Nations Conference on Trade and Development
USAS United Students Against Sweatshops
WRC Worker Rights Consortium
WWF World Wide Fund
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO 01
CAPÍTULO 1
Uma Reflexão Sobre as Dinâmicas do Comércio Justo 08
1.1 - Movimentos Sociais e o Comércio Justo 08
1.2 - Cultura como Agente para Mudança 13
1.3 - O Consumidor como Ator do Processo 14
1.4 - O Comércio Justo 16
1.5 - Dilemas do Crescimento 17
1.6 - A Busca pelo Ganho de Escala 21
1.7 - Relações de Parceria 23
1.8 - Estratégia da Qualidade 26
1.9 - Tradição e Cultura como Fator de Qualidade 30
1.10 - O Mercado da Certificação 31
1.11 - O Grande Varejo e as Transnacionais 33
1.12 - Lojas Especializadas 37
1.13 - Desenvolvimento Diferenciado: Alimentos e Artesanato 38
1.13.1 - Cenário de Crescimento 38
1.13.2 - Cenário de Saturação 39
1.14 - Dilemas da Regionalização do Comércio Justo 41
1.14.1 - Ásia 41
1.14.2 - África 44
1.14.3 - América Latina 46
1.14.4 - Comércio Sul-Sul 49
1.14.5 - Comércio Norte-Norte 51
CAPÍTULO 2
Institucionalizando o Comércio Justo 53
2.1 - O Comércio Justo e suas Práticas Comerciais 58
2.1.1 - Transparência 60
2.1.2 - “Des-intermediação” 63
2.1.3 - Relações de Longo Prazo 63
2.1.4 - Preço Mínimo 64
2.1.5 - Prêmio Social 65
2.1.6 - Pré-financiamento 66
2.1.7 - Preço Justo 68
2.2 - O Comércio Justo e a sua Sensibilização Política 72
2.3 - Conceito e Princípios 77
2.4 - História 78
2.5 - Principais Atores Internacionais 84
2.5.1 - FLO - Federação das Organizações de Certificação de Comércio Justo 85
2.5.2 - IFAT - Associação Internacional de Comércio Justo 90
2.5.3 - NEWS - Rede Européia de Lojas do Mundo 95
2.5.4 - EFTA - Associação Européia de Comércio Justo 98
2.6 - Alguns Números do Mercado de Comércio Justo na Europa 99
CAPÍTULO 3
O Algodão Como Novo Tema de Destaque no Corcio Justo 103
3.1 - A Importância do Algodão para o Comércio Justo 107
3.2 - O Comércio Justo no Movimento da Moda Ética 110
3.3 - O Comércio Justo e o Algodão Orgânico 113
3.4 - O Comércio Justo e o Movimento “Anti-Sweatshop 119
3.5 - O Selo FLO de Comércio Justo para o Algodão e a Cadeia Produtiva Têxtil 128
3.6 - As Dinâmicas do Algodão no Comércio Internacional 135
3.7 - O Algodão e a Organização Mundial do Comércio 139
3.8 - O Algodão no Contexto Brasileiro 143
CAPÍTULO 4
Estudo de Caso: A Marca “Tudo Bom?” e sua Cadeia
Produtiva Têxtil Brasileira de Comércio Justo 149
4.1 - Fluxo Produtivo 152
4.1.1 - Cultivo do Algodão, Beneficiamento e Fiação – Processos (1) e (2) 152
4.1.2 - Tecelagem e Tingimento – Processos (3) e (4) 166
4.1.3 - Corte, Estampa e Costura – Processos (5), (6) e (7) 168
4.2 - Expedição 183
4.3 - Distribuição 185
4.4 - Formação do Preço de Comercialização 190
4.5 - Fluxo Financeiro 192
4.6 - Certificação 194
4.7 - “Netchain”: A Rede por Trás da Cadeia Produtiva 196
CONCLUSÃO 208
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 215
ANEXOS 219
A - Contrato de Consultoria: Onda Solidária e Fair Planet 2005 220
B - Contrato de Compra do Algodão: Onda Solidária e Coagel 221
C - Contrato de Promessa de Pgto. Algodão: Fair Planet e Onda Solidária 222
D - Certificado Orgânico de Transação: Algodão. IBD – Instituto Biodinâmico 223
E - Modelo Contrato de Prestação de Serviços de Costura com Onda Solidária 224
E - Vinculação da Marca “Tudo Bom?” na imprensa 225
F - Catálogos da Marca “Tudo Bom?” 226
G - Material de Divulgação da Marca “Tudo Bom?” 227
1
Introdução
Com um crescimento médio de 20% ao ano na Europa, o comércio justo ultrapassa a
marca de 1 bilhão de dólares em faturamento, atua em diferentes áreas e segmentos do
mercado, beneficia mais de 1 milhão de pequenos produtores da América Latina, África e
Ásia
1
e desperta o interesse de grandes redes de supermercados, lojas de departamento e
transnacionais na Europa, nos Estados Unidos e nos países do Pacífico Norte. A prática
comercial é apoiada por um forte posicionamento político que busca influenciar as
instituições que regem as normas do mercado internacional, sensibilizar o consumidor e o
poder público, aliando assim ações políticas às práticas comerciais. Neste sentido o
movimento se consolida em torno de três componentes principais, lojas especializadas, grande
distribuição, ou mainstream”, e sensibilização política. Nesse processo a ação política tende
a fortalecer a comercial, que por sua vez é utilizada como meio de comprovação da
viabilidade do projeto político. Assim, num primeiro momento analisamos as dinâmicas e as
relações presentes no contexto geral do comércio justo para depois focar em um estudo de
caso específico.
Esta dissertação pretende estudar o caso do algodão no comércio justo inserido no
contexto político e comercial que hoje envolve o movimento. O algodão é um produto
estratégico na abordagem do comércio justo, pois possui um forte apelo em ambas as áreas de
influencia do movimento. Além de ser atualmente foco de conflitos e negociações políticas no
comércio internacional entre as diferentes regiões, é um novo nicho de mercado que vem se
destacando no mercado de comércio justo e da moda. É um produto que também nos permite
analisar uma cadeia produtiva mais complexa, onde o algodão deixa de ser tratado apenas
como uma matéria prima, e sim como o primeiro estágio de uma cadeia de transformação. Um
dos principais resultados dessa cadeia produtiva é a criação de produtos para o mercado da
moda, o que nos possibilita aprofundar o tema da diferenciação nos mercados através de
estratégias baseadas na qualidade, como o design e as qualidades imateriais mais
características do comércio justo, como a preservação ambiental e a ética nas relações de
trabalho. A moda exige dos produtores e artesãos uma maior interação com as demandas do
mercado, mais conhecimento, capacidades técnicas e tecnológicas. Ao mesmo tempo é
1
Fairtrade Labelling Organizations International. Annual Report 2004/2005: Delivering Opportunities.
Krier, Jean-Marie, 2005. Fair Trade in Europe 2005: Facts and Figures on Fair Trade in 25 European countries.
Published by FINE.
2
baseada em reações rápidas e criativas, que torna seu mercado intrinsecamente dinâmico e
competitivo com foco na diferenciação, proporcionando mudanças de curto prazo mais
visíveis nas cadeias produtivas, facilitando assim o seu estudo.
Portanto, o algodão se mostra um tema muito apropriado para a busca de uma
compreensão mais complexa do comércio justo: como se apresenta na atualidade, quais são
seus dilemas e que caminhos tende a tomar no futuro. Possibilita visualizar o comércio justo
de forma mais dinâmica, envolvendo suas duas principais formas de atuação, política e
comercial. A hipótese que busco debater nesta pesquisa é que o comércio justo entra em uma
nova fase da sua história, onde deixa de se caracterizar apenas como um movimento
alternativo para ocupar nichos de mercado perfeitamente adaptáveis e atraentes ao mercado
convencional, e onde seus atores tradicionais passam a adaptar-se e a interagir diretamente
com as empresas convencionais. Esta modificação nas práticas do comércio justo tende, por
um lado, a viabilizar a sua expansão, aumentando o número de produtores e trabalhadores
envolvidos. Por outro lado, porém, pode torná-lo apenas um conceito comercial de boas
práticas incorporado pelo mercado, deixando de caracterizar-se como um movimento político
alternativo como é conhecido atualmente. Entretanto, tanto as ações políticas como as
comerciais, de um ponto de vista geral, são sinérgicas entre si, provocando a mobilização da
sociedade em torno do tema e a expansão do conceito.
O primeiro e o segundo capítulos trazem uma visão mais macro que aborda o
comércio justo e o mercado convencional, a sua infra-estrutura e o papel institucional no qual
se organiza o movimento e seus atores. Com o intuito de explorar algumas das principais
questões e desafios que permeiam o comércio justo atualmente o primeiro capítulo procura
abordar as principais questões econômicas, políticas, sociais e regionais deste movimento
social. No capítulo seguinte, serão apresentados os princípios do comércio justo, a sua
organização e os principais atores que o caracterizam e o formam. O terceiro e o quarto
capítulos exemplificam as questões apresentadas nos capítulos anteriores de visão mais
macro, levando o leitor a um debate mais micro, onde se focaliza o tema do algodão. Através
do estudo de caso do algodão exploramos como a evolução do comércio justo vem se
caracterizando. Enquanto, o terceiro capítulo se apóia na esfera política do movimento do
comércio justo em relação ao tema do algodão, que atualmente vem provocando divergências
nas políticas de comércio internacional, o quarto capítulo aborda a esfera econômica do
mesmo, apresentando na prática como a sua proposta pode ser implantada. Para tal, será
3
apresentado o estudo de caso da marca de v dv dv d0.295585(ei3( )-80.1938(m)74(r258.152( )]TJ-d.1879(d)8.6d)879(v )-70.1891(os)-1.22997m)74()-76(é-70.1879(0.295585(e0.1891(i3( )-80.1938(m)879(v )-7j33( )-80.1938(m)82659(a)3“)1189183(T)-9.36588(U)1.57564(D)1.57564(O)1.57564(m)879(v )-7B)-3.3.196(O)- 0 3271(M) 0 T157(?-70.18346(”.1891244(, )-8146571(m)879(v )-7q36.097 707.u36.097 707.e-70.18346( )25074(r)258.152(-20.64)]TJ-0.1891(os)-0.295585m)74()-353.74(n)-0.29497-7.20096.295585(o)-0.2)-10.301-1.22997(o)-0.2955-81477923.74( )-70.1879(d)-955-81477923)-6.2659( )-70.18d.1879(d)8.6i5187( )-70879(d)-955-1.15373.74(n)-03634974(t)-67(t)-2.16558(ud.1879(d)8.695187( )-70i5187( )-70v)3.74(r)2.80439(c)-6.-8146571(3ê439(c)x01-1.229973i3l3-6.-8146571(0.1891(os)-0.2.774()-76(ps)-0.2l330439(c). 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4
networks”, Stefano Ponte com “Standards, trade and equity: lessons from the speciality coffee
industry” entre outras importantes contribuições explicitadas no corpo do capítulo.
Capítulo 2 – Institucionalizando o Comércio Justo.
Este capítulo mergulha na história e na organização do comércio justo. Após ter
apresentado como o comércio justo se insere no sistema econômico atual, se discute seus
principais atores, como se articulam e em que ritmo vem crescendo. Um dos mais importantes
fatores que possibilitou a coesão no movimento e conseqüentemente o seu desenvolvimento
foi a sua organização em instituições que possuem papeis específicos na manutenção do
funcionamento das práticas de comércio justo. Foi formada uma rede mundial, organizada
regionalmente, que congrega grande parte das organizações que têm como foco o comércio
justo, permitindo uma intensa troca de informações, negócios e o seu fortalecimento político.
Existe também uma certificadora internacional de produtos para a grande superfície que
possibilita o reconhecimento dos produtos alimentares pelo consumidor em qualquer
supermercado ou loja de departamento. Por outro lado foi consolidada uma rede de mais de
3.000 lojas de bairro de comércio justo que atua na comercialização de produtos alimentares e
artesanais, sensibilizando e mantendo contato direto com o consumidor, realizando
campanhas políticas na divulgação das práticas do comércio justo e da importância de um
consumo consciente. E finalmente, uma associação de importadores se organiza para trocar
informações sobre a dinâmica dos mercados e novos desafios no comércio justo. Estas
organizações juntas formam um grande guarda chuva que estrutura o movimento mundial e
que ao seu redor se articulam comercialmente e politicamente as organizações envolvidas no
processo. A sua compreensão permite entender a estrutura do movimento que possibilita uma
articulação mais fortalecida e incisiva nas questões políticas e comerciais que envolvem o
tema do algodão.
Este capítulo teve como base diferentes documentos das organizações brasileiras e
internacionais de comércio justo e conteúdos disponíveis na internet sobre o próprio
movimento. É também o resultado de informações e reflexões que venho realizando dentro do
movimento do comércio justo desde junho de 2002 quando participei pela primeira vez de
uma reunião da Rede Internacional de Comércio Justo IFAT, em Cuba. Desde então, em
cada encontro brasileiro, latino americano ou mundial, venho aprimorando meu entendimento
e minha base de pesquisa sobre o tema. Foram mais de 25 seminários e reuniões nacionais e
5
internacionais passando pelos países que vem se destacando nas práticas do comércio justo
como o México, Peru, Equador, França, Bélgica, Inglaterra, Itália, Holanda, as duas últimas
reuniões da Organização Mundial do Comércio em Cancun e Hong Kong, e é claro o solo
nacional, onde o comércio justo é um tema que vem sendo construído e posto em prática por
uma articulação entre produtores, ONGs e Governo. A atuação voluntária no movimento
nacional e internacional de comércio justo também me ajudou a perceber a organização, as
estruturas e as relações que movem e motivam os processos dentro do movimento.
Capítulo 3 – O algodão como Novo Tema de Destaque no Comércio Justo.
O terceiro capitulo contextualiza o algodão como um dos principais produtos alvo do
movimento político do comércio justo nos anos mais recentes. O movimento político vem
atuando junto a Organização Mundial do Comércio e outras instituições, com o objetivo de
pressionar os governos a tomarem atitudes frente aos problemas gerados pelos subsídios norte
americanos e europeus, principalmente em relação aos países africanos onde muitas
economias dependem fundamentalmente do algodão. Este movimento levou não a
manifestações e campanhas políticas, mas também foi posto em prática comercialmente com
o lançamento em 2005 do selo de comércio justo do algodão africano. É importante se
perceber que para todo posicionamento político do movimento existe uma contra partida
operacional nas práticas comerciais que visa fortificar ainda mais o posicionamento político.
No caso do algodão dois outros movimentos se articulam ao comércio justo, o orgânico e a
moda ética. Por isso ele se torna um bom exemplo do comércio justo, pelo seu potencial de
atratividade e pela sua complexidade. Este capítulo ainda aborda a cadeia do algodão no
Brasil para no capítulo seguinte apresentá-lo como parte de uma cadeia produtiva têxtil de
comércio justo.
6
apresentados na segunda metade deste capítulo é fruto de pesquisas secundárias baseadas em
documentos provenientes principalmente de estudos realizados em universidades brasileiras.
Capítulo 4 - Estudo de Caso: A Marca “Tudo Bom?” e sua Cadeia Produtiva Têxtil
Brasileira de Comércio Justo.
Este capítulo descreve o projeto de comércio justo desenvolvido sob a marca “Tudo
Bom?”. Em uma parceria entre a ONG brasileira Onda Solidária e a importadora francesa de
comércio justo Fair Planet se estabeleceram as bases para a organização e financiamento de
uma cadeia produtiva que tivesse como princípios as práticas do comércio justo. Nas duas
pontas da cadeia produtiva estão os principais beneficiários do comércio justo. De um lado as
famílias de pequenos agricultores cultivando o algodão no Paraná e do outro as costureiras de
comunidades de baixa renda da cidade de Petrópolis, no estado do Rio de Janeiro, organizadas
em grupos informais e costurando em suas próprias casas as peças que são exportadas para a
Europa. Entretanto, o capítulo também aponta os outros elos constitutivos da cadeia produtiva
em que, mesmo dentro das limitações de um processo industrial, busca-se aplicar os
princípios do comércio justo através de uma visão fundamentada na responsabilidade social
das organizações, gerando-se um relacionamento de parceria e não de simples relação de
fornecimento. Finalmente, o capítulo irá apresentar a rede de atores que está por trás da
organização da cadeia produtiva e que possibilita a expansão da produção, o desenvolvimento
dos produtores e o crescimento no mercado internacional.
Este capítulo analisa pormenorizadamente a cadeia produtiva têxtil da marca “Tudo
Bom?”, principalmente, durante o ano de 2005. A cadeia produtiva foi construída de trás para
frente, ou seja, começando pelas costureiras e descendo nas etapas de produção até atingir os
produtores de algodão.
As principais atividades de acompanhamento do caso piloto incluíram:
Quatro visitas mensais ao grupo de costureiras do bairro do Cascatinha em Petrópolis
durante quinze meses, entre o final de 2004 e o início de 2006, resultando em um total
de sessenta visitas.
Uma visita mensal durante os meses de abril a dezembro de 2006 totalizando mais
nove visitas ao grupo de costureiras do bairro do Cascatinha de Petrópolis e cinco
7
visitas aos novos três grupos de costureiras, também na cidade de Petrópolis,
incorporados ao projeto em março de 2006.
Três visitas no primeiro semestre de 2007 a sede da Onda Solidária em Petrópolis e
aos novos grupos de costureiras incorporados a cadeia produtiva.
Uma visita em outubro de 2005 ao Paraná para conhecer a cooperativa de produtores
de algodão Coagel em Goioerê e sua planta industrial de produção do fio, uma visita a
um dos produtores de algodão e o acompanhamento de um seminário de capacitação
em plantio orgânico e definição de preço para a safra de 2006.
Uma visita a importadora Fair Planet em Paris, França. Participação de evento
comercial de comércio justo da marca “Tudo Bom?” no Parque de La Villete,
acompanhamento das reuniões estratégicas da marca para definição da coleção verão
2006 e do planejamento estratégico e orçamentário para a cadeia produtiva também
em 2006. Ainda, visitas a lojas e outros importadores de comércio justo, na França a
Artisans du Monde e Solidar Monde, na Bélgica a Oxfam, e na Itália a Cooperativa de
Consumo Pangea.
Análise dos contratos de comércio justo entre os atores da cadeia produtiva: Contrato
entre a Fair Planet e a Onda Solidária para o gerenciamento da cadeia produtiva nos
moldes do comércio justo, o contrato entre a Onda Solidária e o grupo de costura e o
contrato entre a Onda Solidária e a cooperativa de produção do algodão Coagel.
Realização de uma pesquisa sobre a queda do setor têxtil em Petrópolis, a história do
bairro do Cascatinha e as mulheres do grupo produtivo.
8
Capítulo 1
Uma Reflexão Sobre as Dinâmicas do Comércio Justo
1.1 - Movimentos Sociais e o Comércio Justo
Surgem, na segunda metade do século XX, movimentos sociais empenhados em
enfrentar as desigualdades entre os países do hemisfério norte e do sul geradas no processo de
globalização das economias. Entretanto, é no início deste novo século que o crescimento
destes movimentos se intensifica. Nos anos 70 existiam pouco menos de 200 movimentos
sociais internacionalizados, 30 anos depois se contabilizam aproximadamente 1.000
movimentos (Wilkinson, 2006:6; Smith, 2005). O crescimento do número de ONGs também é
significativo. Em meados da década de 90 existiam apenas 6.000 ONGs atuando
internacionalmente, no ano 2000 estas chegavam a 26.000, com a mídia divulgando cada
vez mais suas ações
2
(Edelman, 2000). Ao que se deve este forte crescimento? As ONGs
perceberam que um meio eficaz que possuem para influenciar mudança nas relações humanas
é informar diretamente aquele que deve, no final de qualquer cadeia produtiva, tomar a
decisão de compra, seja de um serviço, de uma idéia ou de um produto: o consumidor.
Informando-o e alertando-o, as ONGs m fortalecendo este ator no mercado. Logo, na
tomada de decisão, aos poucos, as corporações e os governos precisam levar mais em conta o
consumidor, agora mais ativo na sociedade. É a força de mercado do consumidor que pode
possibilitar aos pequenos produtores um melhor acesso ao mercado, estando este cada vez
mais sensível as questões éticas e ambientais em relação às suas escolhas de compra. (Jaffee,
Monroy & Kloppenburg, 2004)
3
.
Uma pesquisa
4
realizada com líderes de opinião dos Estados Unidos, França,
Alemanha, Reino Unido, China e Brasil, com a intenção de avaliar o nível de confiança destes
em relação as principais marcas hoje conhecidas no mercado internacional, apontou a
participação de 4 ONGs entre as 22 organizações mais confiáveis no mundo, a Amnesty
2
Edelman, Richard. 2000. Abertura da Conferência da Edelman PR Worldwide sobre Organizações Não
Governamentais em 2000 (http://www.edelman.com/events/iab/webcast/transcript_r.html).
3
Rural Sociology 69 (2), 2004, pp. 169-196: Bringing the “Moral Charge” Home: Fair Trade within the North
and within the South.
4
Edelman PR Worldwide, 2003. Road Map to Building Trust: Bridging Cultural Gaps.
(http://www.edelman.com/image/insights/content/briding_cultural_gaps_final.ppt).
9
Internacional, a World Wildlife Fund, o Greenpeace e a Oxfam. Inclusive, na Europa, estas 4
organizações surgiram na pesquisa de 2003 como as 4 primeiras da lista das organizações
mais confiáveis. Nos Estados Unidos a influencia das ONGs ainda é menor do que na Europa
entretanto as pesquisas também apontam as 4 principais ONGs citadas acima entre as
organizações mais confiáveis. O mais interessante é que a pesquisa demonstra um aumento
gradativo de confiança da sociedade nas ONGs, que vem superando a confiança das pessoas
nos governos e nas corporações. Em sua conclusão final a pesquisa da Edelman revela: “As
ONGs converteram-se em super marcas. Elas estão ganhando porque jogam no ataque o
tempo todo, levam sua mensagem ao consumidor, são engenhosas para criar coalizões,
sempre têm uma agenda clara, movem-se à velocidade da internet e falam com o tom dos
meios de comunicação”. Outras pesquisas realizadas na França e na Bélgica apontam para a
mesmo resultado sobre uma maior confiança dos consumidores nas ONGs (Renard, 2005;
Carimentrand & Ballet, 2004).
Além dos consumidores, e com a força e o apoio crescente destes a suas causas, as
ONGs também estão se fazendo ouvir na esfera política dos Estados. Antes, atuavam apenas
através de “lobbying”, mas agora já assumem posições de destaque junto a importantes
organizações inter-governamentais. Através destas organizações ocorre formalmente o
diálogo e o trabalho em parceria dos governos com as ONGs. Alguns exemplos dos principais
órgãos que vem atuando diretamente com ONGs são o Banco de Desenvolvimento Asiático, a
União Européia, o Banco Interamericano de Desenvolvimento, o Banco Mundial, a
Organização Internacional do Trabalho, as Nações Unidas, a Organização Mundial do
Comércio e a Organização Mundial da Saúde
5
. Tamanha participação e atuação m
consolidando o papel de destaque deste novo ator da sociedade civil nas relações sociais,
ambientais e até mesmo econômicas. Muitos movimentos sociais evoluíram do papel de
apenas informar e alertar o consumidor para efetivamente apresentar soluções e propostas
diferenciadas.
O ativismo é a marca registrada dos movimentos sociais. Atuando politicamente, tanto
sobre temas ambientais como sociais, esta característica dos movimentos sociais é mais nítida
devido ao impacto visual que normalmente exerce em suas ações, como, por exemplo, as
ações de protesto e conscientização do Greenpeace, da WWF, do movimento dos sem terras
5
Duke University, Public Documents & Maps Department (http://docs.lib.duke.edu/igo/guides/ngo/).
10
no Brasil MST, entre outros, sobre temas específicos. Entretanto, no campo econômico, o
movimento é mais estruturado em constantes momentos e ações. O objetivo é de longo prazo,
voltado para criar, mais do que uma conscientização, uma nova cultura de consumo que vem
lentamente modificando os padrões de comportamento dos consumidores. O mercado se torna
o principal foco de atuação dos movimentos sociais e ONGs assumem a posição de atores
econômicos atuando no desenvolvimento de cadeias produtivas e na comercialização. Em
lugar de destaque, vem se desenvolvendo nas últimas décadas o movimento dos alimentos
orgânicos, o “Slow Food”, o comércio justo, a economia solidária, a segurança alimentar, a
moda ética, as certificações ambientais, como o FSC e os produtos de indicação geográfica.
São movimentos que se enraízam na sociedade, que se integram ao dia a dia dos seus adeptos
e buscam principalmente influenciar e sensibilizar os consumidores para as conseqüências do
consumo como estimulado no modelo atual vigente.
Cada movimento possui suas características e princípios básicos. Entretanto, todos são
constituídos e conduzidos por intelectuais e ativistas, onde um movimento tende a
complementar o outro, não sem eventuais conflitos e diferenças de prioridades. Esta
complementação possibilita agregar ainda mais valor para as estratégias comerciais, como
produtos orgânicos com indicação geográfica ou moda ética com comércio justo e matéria
prima orgânica, comércio justo com economia solidária e segurança alimentar, e assim por
diante. Com a crescente expansão destes movimentos e a sua atuação em campo, muitos
trabalham com os mesmos grupos de produtores levando a complementariedade em produtos,
como descrita logo acima. Por outro lado existe também a concorrência entre movimentos,
com o risco de que a demanda produtiva de um movimento canibalize a de outro devido as
dificuldades de adaptação, custos e as restritas capacidades de produção dos pequenos
produtores (Wilkinson, 2006).
No Comércio Justo, por exemplo, o princípio do respeito ao meio ambiente gera a sua
aproximação com o movimento dos orgânicos (Jaffee, Monroy & Kloppenburg, 2004).
Mesmo tendo este como principal apelo a saúde, citado como motivo de compra por 80% dos
consumidores de orgânicos dos Estados Unidos, principal mercado mundial deste nicho, 67%
destes também mencionaram preocupações com a preservação do meio ambiente (OTA,
2001; Raynolds, 2004). Por sua vez, o movimento de orgânicos tem afinidades com o “Slow
Food”, uma expressão contextualizada do “fast food”, enraizado na cultura globalizada. O
“Slow Food” é um movimento que se desenvolve a partir de uma visão original do
11
movimento de indicação geográfica, onde o foco é a cultura culinária de cada região,
atrelando à cozinha valores relacionados a biodiversidade, de fundo cultural ou ambiental,
valorizando os povos e preservação das tradições locais.
Já, a indicação geográfica (IG) é o termo utilizado atualmente para designar a origem
de alimentos típicos de uma região, versão modernizada da expressão “apelação de origem”.
Os principais objetivos da estratégia de indicação geográfica são proteger os direitos coletivos
da região de origem de um produto, promover o reconhecimento da localidade, melhorar e
manter a qualidade e construir confiança e fidelidade com o consumidor. Para um grupo
produtivo se qualificar para uma indicação geográfica ele precisa não apenas estar localizado
na região determinada, como também alcançar padrões mínimos de qualidade e todos de
processamento da produção (Ponte, 2002). Alimentos orgânicos, produzidos por pequenos
agricultores familiares, também são incorporados ao comércio justo, entretanto o movimento
das certificações ambientais não é direcionado especificamente para pequenos produtores.
Somente no México em 2000, 3.400 produtores foram incorporados a exportação para o
comércio justo e um número ainda mais expressivo, 27.000, converteram sua cultura para
produção orgânica (Wilkinson, 2003; Wilkinson, 2006).
Logo, um movimento termina por agregar valor e influenciar o outro, ajudando a
expandir ainda mais o seu conhecimento entre os consumidores e formando novos adeptos. A
venda de produtos orgânicos é superior a de produtos de comércio justo, alcançando em 2003
um faturamento global aproximado de 23 a 25 bilhões de dólares no ano, com uma taxa de
crescimento de 20% ao ano na Europa e na América do Norte, caracterizando-se como o
segmento da indústria de alimentos em maior crescimento (FAO, 1999a e 1999b e Yussefi &
Willer, 2003 e Kortbech-Olesen, 2003 apud Raynolds, 2004). Entretanto, este movimento
representa ainda menos de 1% do mercado alimentar de varejo dos Estados Unidos.
Atualmente, o mercado de orgânicos pode ser compreendido através da distinção de duas
categorias, a primeira atrelada a certificações ambientais, normalmente associada a grande
produção, e a segunda ao comércio justo, ainda associado a pequena produção. Produtos
orgânicos se tornaram um importante caminho de acesso a mercado para os produtos de
comércio justo, onde a integração dos princípios do comércio justo com a cultura orgânica
viabilizou um crescimento mais acelerado da notoriedade do conceito do comércio justo. Na
maioria dos casos aqueles que procuram benefícios para o meio ambiente e para a saúde nos
orgânicos descobrem o comércio justo e aqueles que buscam um consumo responsável no
12
comércio justo percebem que podem também beneficiar sua saúde através de uma
alimentação orgânica mais saudável. Além de suas qualidades nutricionais são produtos que
assumem o papel de ferramenta para o desenvolvimento humano e ecológico (Goodman &
Goodman, 2001).
Além da sinergia apresentada entre os dois movimentos, o processo de organização
comercial e político vêm apresentando um caminho semelhante, entretanto o comércio justo
mantém uma relação mais ambivalente com o sistema dominante que o movimento dos
orgânicos (Goodman & Goodman, 2001). Enquanto o movimento dos orgânicos se organizou
em torno da IFOAM International Federation of Organic Agriculture Movements- uma
rede de atores com o objetivo de consolidar as suas práticas e seu conceito, fundada em 1972,
o comércio justo também seguiu estratégia próxima no seu processo de institucionalização. A
IFAT - Rede Mundial de Comércio Justo, consolidou-se formalmente em 1989, com o intuito
de estabelecer uma visão mais unificada do conceito e das práticas do comércio justo através
da formação de um ambiente de confiança, impulsionando os atores que atuavam no tema. Da
mesma forma, hoje IFAT conta com 300 membros sendo destes 2/3 sediados no hemisfério
sul, ou seja, existe uma maior representatividade dos grupos de produção, a IFOAM está
presente em 100 países onde 75% dos seus 750 membros também são provenientes dos países
do sul global. Os dois movimentos enfrentam os mesmos dilemas no processo de crescimento
e transformação de uma prática comercial alternativa para uma estratégia de nicho de mercado
incorporada pelas grandes redes de distribuição e marcas transnacionais (Raynolds, 2004;
FAO, 1999ª apud Raynolds, 2004). Baseiam-se em estratégias de certificação compostas por
padrões e indicadores bem definidos, sistemas de monitoramento e selos para produtos.
Buscam desenvolver regulamentações públicas que possam preservar seus princípios e
práticas fundamentais, atuando não apenas comercialmente, mas também politicamente em
âmbito internacional. Desta forma, os movimentos promovem uma inter-relação entre
governos / entidades públicas, organizações de movimentos sociais e empresas comerciais
privadas. A sinergia entre estes dois movimentos é tão expressiva que a IFOAM se tornou
membro da Rede Mundial de Comércio Justo IFAT, enquanto esta também se constitui
entre os membros da IFOAM (Goodman & Goodman, 2001). Produtos como o café e a
banana representam um importante exemplo de penetração de mercado em conjunto destes
movimentos (Raynolds & Murray, 1998 apud Raynolds, 2004; Raynolds, 2004).
13
Por sua vez, o movimento de comércio ético, com destaque para as iniciativas de
responsabilidade social da Inglaterra (ETI
6
), entendidas como as práticas comerciais
responsáveis economicamente, ambientalmente, e socialmente, através da melhoria das
condições de trabalho e dos direitos humanos, vem se consolidando como ação estratégica de
empresas privadas que criam muitas vezes seus próprios códigos de conduta (Tallontire &
Vorley, 2005). Ao mesmo tempo, considerando ainda os problemas de reputação gerados em
diversas empresas por práticas empresariais reprováveis pela sociedade, vêm-se provocando a
consolidação da prática do consumo ético (Ponte, 2002). Este processo também se estrutura
no mercado da moda. O movimento da moda ética, integra as preocupações por justiça social
do comércio justo, devido a forte exploração da mão de obra neste setor, e as questões
ambientais, na produção da matéria prima sustentável para a confecção das roupas. O algodão
está entre as culturas mais poluentes para o meio ambiente e a produção deste em forma
orgânica passa a ser uma tendência expressiva. Assim, os movimentos vão se encontrando e
convergindo. Normalmente, são os estratos mais antenados da sociedade que se sensibilizam e
passam a adotar no seu dia a dia algumas das propostas apresentadas por estes movimentos
sociais. Se pensarmos nestes movimentos no sentido histórico veremos que estamos falando
de pelo menos 50 anos de trabalho para levar à sociedade propostas alternativas frente ao
crescente desequilíbrio social e ambiental do planeta.
1.2 - Cultura como Agente para Mudança
É importante frisar que qualquer modificação cultural que se queira promover exige
ações no longo prazo para poder efetivamente se institucionalizar. Antonio Gramsci, em sua
análise da sociedade italiana no início do século passado, observava que a única revolução
que poderia levar a inclusão social dos estratos populacionais em desvantagem se daria
através da cultura
7
. O autor explicava, de acordo com o seu momento histórico, que a
hegemonia da burguesia continuaria mesmo com o fascismo no poder, ou qualquer outra
proposta política, pois não é o poder político que mantinha o modelo econômico de
acumulação do capital vivo, mas sim o seu enraizamento cultural. A hegemonia da burguesia
devia-se ao seu modelo de atuação estar consolidado na mente da sociedade moderna, que
consequentemente levava ao seu poder econômico. O consumismo no modelo capitalista
6
ETI – “Ethical Trading Initiatives”
7
Gramsci
,
Antonio
.
1937. A questão Meridional. Editora Paz e Terra S/A. Coleção Pensamento Crítico Vol. 72.
14
justificava a acumulação de capital na mão de poucos que a maior parte da população que
consumia era a mesma que produzia e, sendo assim, tinha o sucesso do seu trabalho e
segurança da sua renda atrelada a existência dos produtos e do consumo cada vez maior e
mais acelerado. Uma relação que era vista como positiva para ambas as partes e se estruturou
no modelo fordista de produção em massa. Entretanto, segundo Antonio Gramsci, ficava fora
desta equação benéfica todo o sul da Itália formado por camponeses e, em um paralelo aos
dias de hoje, fica de fora desta equação a maior parte da população mundial. Em forma
complementar Karl Polanyi, em meados da década de 40, apontava que os mercados são
enraizados nas relações sociais, e não apenas econômicas. Assim, observava também a forte
ligação existente entre mercados e culturas locais (Polanyi, 1944).
Mesmo apontando o alto nível de injustiça no mercado internacional os atores de
comércio justo não se posicionam contrariamente a uma sociedade baseada nas relações de
mercado. É um modelo comercial alternativo que visa modificar a cultura do consumo, as
estruturas e práticas dos mercados para provocar uma distribuição dos ganhos mais
equilibrada, gerando um mercado onde exista espaço para todos, especialmente para aqueles
que estão em maior desvantagem no processo comercial de suas cadeias produtivas: os
pequenos produtores. (Jaffe, Monroy & Kloppenburg, 2004). Assim, o comércio justo é
entendido como uma ferramenta desenvolvida para modificar a gica capitalista atual dos
mercados, capaz de influenciar a dinâmica de consumo da sociedade (Goodman & Goodman,
2001), e não uma proposta contrária aos mercados em si.
1.3 - O Consumidor como Ator do Processo
Através da visão da hegemonia cultural pode-se identificar um provável motivo da
perpetuação do sistema capitalista de acumulação, mesmo depois de tantas crises. Os
movimentos que vêm lentamente se inserindo na sociedade civil, gerando pequenas mudanças
culturais em âmbito individual, sensibilizando a ação de cada indivíduo, como consumidor, e
como ator, para a justiça e preservação do meio ambiente, buscam exatamente interferir na
lógica cultural predominante. Nasce o conceito de consumo responsável ou consumo
consciente, ou ainda, consumidor cidadão e “Consumator”
8
, onde cada indivíduo ao comprar
um produto também exerce um papel político, um ato rico em conseqüências, que ao ser
8
Termo criado na Europa e utilizado entre os atores de comércio justo para designar o ato de consumo como
uma ato político, incorporando o consumidor como ator do movimento social.
15
conscientizado pode levar a reflexão e a ações mais críticas frente aos velhos hábitos de
consumo (Zufferey, 1998). Este movimento envolve o consumidor no discurso dos selos de
garantia dos produtos certificados, caracterizando-os como agentes de mudança e de
16
público vêm assumindo o papel regulatório dos mercados globais através da introdução de
sistemas de certificação. Exemplos seriam os sistemas pioneiros ISO
10
, HACCP
11
e
EUROPGAP
12
, que definem os padrões a serem adotados internacionalmente através do
conceito de traçabilidade da cadeia produtiva, e não apenas da avaliação do resultado no
produto final (Wilkinson, 2006, Wilkinson, 2003). Neste sentido, novos sistemas de
certificação destinados a temas como segurança alimentar, saúde, eficiência produtiva, meio
ambiente, responsabilidade social, entre outros, vêm estabelecendo diálogo com os
consumidores. Os selos representados nas embalagens dos produtos o um indicador de
confiança para o consumidor, que não possui tempo ou acesso a informação para se
aprofundar e entender o que permeia cada produto. A existência destes sistemas
especializados passou a depender mais do interesse e da preferência do consumidor do que do
poder e da intervenção dos Estados.
Neste novo cenário, os selos e suas propostas precisam ser ainda mais transparentes,
precisos e representar um diferencial específico e significativo (Renard, 2005). Entretanto,
baseando-se no caso do movimento dos orgânicos, Laura Raynolds observa um novo
importante ator regulador, o próprio movimento social alternativo. Enquanto as organizações
certificadoras de orgânicos para o mercado convencional apóiam suas convenções em
eficiência, padronização e preço competitivo, os movimentos alternativos desenvolvem
processos de certificação participativos, baseados na confiança, diversidade ecológica e
justiça social (Raynolds, 2004). Um direcionamento semelhante na valorização dos
movimentos alternativos no processo de regularização e certificação pode ser observado no
comércio justo. Estes movimentos tendem a interagir mais intensamente com o poder público
aproximando em alguns países o Estado como órgão regulador destes nichos de mercados
especializados.
1.4 - O Comércio Justo
Hoje, após meio século de mobilização, se observa um ambiente de consolidação e
institucionalização de muitos movimentos e de organizações ao seu redor, como é o caso do
comércio justo e suas organizações, como, por exemplo, a rede mundial IFAT e a FLO, que
10
ISO: “International Standards Organization
11
HACCP: “Hazards and Critical Control Points
12
EUROPGAP: Europe Good Agricultural Practices
17
estão capilarizadas nos diferentes continentes, a NEWS, o EFTA, a Oxfam, a Artisans du
Monde, a Traid Craft, a CTM Altromercato, entre tantas outras organizações de comércio
justo. Na sua proposta original o comércio justo é entendido como um sistema de mercado
alternativo que se constrói entre grupos de produtores em desvantagem econômica de países
do hemisfério sul e consumidores do hemisfério norte. Com a globalização dos mercados,
questões locais e regionais passaram a ser influenciadas por diferentes forças internacionais,
transformando-as em questões de responsabilidade de todos. Neste sentido, o comércio justo
busca soluções em um nível global e não apenas locais ou regionalizadas. A dificuldade em se
trabalhar em uma perspectiva global é por esta se tratar de um ambiente abstrato, onde não
existe um responsável, um espaço bem definido ou uma identidade cultural específica
(Zufferey, 1998). O comércio justo apresentou um forte crescimento a partir da década de 90,
quando as constantes baixas de preços de “commodities” internacionais levaram a uma grande
procura deste nicho de mercado, despertando inclusive o interesse da grande distribuição de
varejo (Wilkinson, 2003).
Visando combater as desigualdades históricas que dividem o planeta, o movimento de
comércio justo é baseado na expectativa de que consumidores irão adquirir um produto
devido às suas características éticas. Neste sentido, os atores desta relação comercial estariam
ligados por um sentimento de solidariedade e justiça, acima dos valores convencionais de
mercado. Entretanto, sentimentos de caridade não são incorporados às práticas de comércio
justo. Produtores e importadores de comércio justo sabem que conquistar mercados e
consumidores fiéis exige qualidade e diferenciação de produto. Por isso o comércio justo não
se identifica com ações assistencialistas (Jaffe, Monroy & Kloppenburg, 2004).
1.5 - Dilemas do Crescimento
No sentido do amadurecimento das propostas alternativas e da estruturação dos
movimentos, o trabalho individualizado e constante, sensibilizando aos poucos as práticas
cotidianas, vai se tornando mais expressivo e significativo. Hoje, o crescimento encontrado
nas vendas de produtos de comércio justo no mercado europeu é na média de 20% ao ano.
Alguns produtos como o café e a banana, chegam a apresentar um crescimento de mais de
40% ao ano em algumas determinadas regiões
13
18
público consumidor europeu que algumas grandes empresas e transnacionais já se interessam
em comercializar produtos de comércio justo. Este é o caso das cafeterias Starbucks
14
e
Folgers Coffee (Renard, 2005), da Procter and Gamble também com café de comércio justo
(Tallontire & Vorley, 2005), da cadeia de supermercados inglesa Tesco
15
que produz seus
próprios produtos de comércio justo, como banana, sucos de fruta, café, chocolate e chás, das
empresas de cosméticos Bodyshop também de origem inglesa e Aveda dos Estados Unidos,
da cadeia de distribuição de varejo Wal-Mart, e mais recentemente da Nestlé que lançou no
mercado Europeu o seu café de comércio justo
16
. Uma das maiores redes de comercialização
européia de roupas com uma tiragem de catálogos de mais de 13 milhões de cópias por
estação, a La Redoute, também incorporou produtos de Comércio Justo
17
. O cantor Bono Vox
na campanha do Jubileu em 2000 falando pela redução das dívidas do terceiro mundo
colocou: “A não ser que estes assuntos se tornem moda, eles não se tornaram políticos”
18
(Goodman, 2004). E finalmente, o Prêmio Nobel de economia Joseph Stiglitz, intitulou seu
livro mais recente em 2006 de “Fair Trade for All”, onde aponta para a crescente presença do
comércio justo no mercado convencional. (Wilkinson, 2003; Wilkinson, 2006; Jones, 2004)
Em outro sentido, este crescimento exponencial, mesmo que referente a um valor de
mercado relativamente insignificante frente ao faturamento do mercado convencional, e a
entrada das transnacionais no comércio justo, pode modificar significativamente a noção de
escala em que o movimento e os grupos de produção, hoje atrelados a ele, estão organizados.
Alguns sinais vêm apontando para questões de escala que podem vir a prejudicar o formato
atual do comércio justo voltado para a pequena produção. Face a esta nova situação o
movimento de comércio justo se pergunta se pretende manter-se como um mercado
alternativo ou tornar-se um novo modelo comercial. (Jaffe, Monroy & Kloppenburg, 2004).
Responder a esta pergunta é um dos grandes desafios que o movimento impõe aos seus atores
atualmente.
14
Starbucks, Fair Trade and Coffee Social Responsibility Report, 2006.
(www.starbucks.com/aboutus/StarbucksAndFairTrade.pdf).
15
Jones, Lucy 2004. BBC News Business Report. (www.news.bbc.co.uk/1/hi/business/3522059.stm) e Tesco
Corporate Responsibility Review 2005 (www.tesco.com/csr/p/p2.html).
16
(www.nestle.co.uk/OurResponsibility/DevelopingWorldIssues/NestleAndCoffee.htm).
17
Prêmio Empreendendo a Moda Ética do Ethical Fashion Show de Paris de Outubro de 2006, garantindo à
marca de roupas de comércio justo “Tudo Bom?” um espaço no catálogo da coleção inverno 2007 da La Redoute
(www.tudobom.fr/article.php?id_article=69).
18
“Unless these types of issues become pop, they don’t become political”.
19
Originalmente, em meados da década de 70 e 80, o movimento de comércio justo
trabalhava na expectativa de que o consumidor atuaria politicamente, exercendo pressão sobre
as transnacionais dominantes obrigando-as a aplicar princípios éticos em suas relações
comerciais e produtivas, e não ainda com a perspectiva de formar um nicho de mercado em
torno do comércio justo. As lojas especializadas em comércio justo eram espaços mais
preparados para atuar na conscientização política do consumidor do que para a prática
comercial (Durwael, 2004)
19
. No final da década de 80 e nos anos 90, com a entrada na
grande superfície o tema do comércio justo começou a chamar mais a atenção dos
consumidores, e consequentemente, mais recentemente, das empresas convencionais. Neste
processo os sistemas de controle de qualidade e transparência do comércio justo foram se
desenvolvendo para um sistema baseado na certificação. Esta ferramenta vem abrindo
margem para que as empresas atuantes na grande superfície desenvolvam sua própria
estratégia de operação dentro do comércio justo, institucionalizando-o como um nicho de
mercado dentro de suas práticas convencionais. Entretanto, do ponto de vista da FLO,
certificadora internacional de comércio justo, a perspectiva é que em 25 anos o conceito do
comércio justo deixe de ser uma prática alternativa de nicho de mercado, passando a ser um
conceito praticado globalmente, onde a aplicação dos seus princípios pelas empresas
convencionais modifique toda a esfera produtiva e comercial internacional (FLO, 2003.
Renard, 2005).
No debate sobre o dilema atual de expansão do comércio justo observa-se que, se o
princípio fundamental do movimento é diminuir a pobreza no mundo através do comércio,
promovendo a redistribuição de riquezas dos países do hemisfério norte para os do hemisfério
sul, é necessário manter o compromisso de se trabalhar prioritariamente com pequenos
produtores e artesãos, que são tradicionalmente o principal público-alvo do movimento e a
razão pela qual ele foi originalmente constituído. Será este modelo de expansão do comércio
justo benéfico para os pequenos produtores, para quais, em quais regiões e em que medida?
Sendo assim, o que se coloca em jogo neste dilema é a própria definição original do comércio
justo (Renard, 2005). Posicionar a expansão de mercado e o ganho de escala frente aos ideais
em que o movimento foi fundado, vem gerando diversas críticas que apontam para a diluição
19
Apresentação realizada pelo diretor executivo da Rede Internacional de Comércio Justo IFAT, Stefan
Durwael, na Conferência Latino Americana da IFAT em 1º de dezembro de 2004 no Rio de Janeiro. Título da
apresentação: “Lições aprendidas pelas lojas de comércio justo na Europa (Holanda)”.
20
da mensagem do comércio justo e para a apropriação do conceito e da sua prática pelas
empresas convencionais.
O mesmo movimento e dilemas do crescimento vêm sendo característicos da expansão
do movimento de orgânicos. O comprometimento histórico deste movimento com a pequena
produção, com a diversidade ecológica, com relacionamentos baseados na confiança e na
justiça social abre espaço para um cenário cada vez mais organizado em torno da eficiência da
média e grande produção, na competitividade de preços, nos ganhos de escala e na
certificação e padronização. A expansão ameaça a manutenção da posição favorável da
pequena produção no nicho de mercado. Transnacionais como Heinz, Gerber e General Mills
estão se tornando os principais atores impulsionadores dos orgânicos (Rowan 2000 apud
Raynolds, 2004). Assim, como começa a se observar também no comércio justo. Sendo
administrados por grandes corporações e estando lado a lado com produtos similares nas
prateleiras do mercado convencional, tanto orgânicos como comércio justo, acabam
incorporados à mesma gica comercial do mercado tradicional, distanciando-se da
perspectiva original atrelada a lógica do mercado alternativo. Atualmente, tradicionais
importadores de comércio justo vêm apresentando dificuldades em suportar as novas relações
de preço e escala dado a entrada de atores do mercado convencional neste nicho (Raynolds,
2004; Goodman & Goodman, 2001).
Entretanto, grandes cooperativas de produtores de orgânicos e/ou de comércio justo
não conseguem mercado suficiente para sua produção apenas com os importadores e
distribuidores especializados em comércio justo e orgânicos, vendendo o restante da sua
produção nos mercados locais a preços inferiores para atravessadores (Voituriez, Florès,
Eberhart & Chauveau, 2002; Jaffe, Monroy, Kloppenburg, 2004). Com a entrada de atores
com maior potencial de distribuição e compra de grandes volumes formando este nicho de
mercado, encoraja-se a produção das grandes cooperativas, mas também de fazendas de
médio e grande porte, formando barreiras a pequena produção, muitas vezes incapaz de arcar
com os custos da certificação e novos padrões de qualidade exigidos, assim como com a
eficiência de preço atrelada ao ganho de escala. Nasce a dicotomia do movimento,
organizações de produtores versus fazendeiros ou de processos versus padrões, como
abordado por Melanie Du Puis em 2000 no caso da expansão dos orgânicos (Goodman &
Goodman, 2001).
21
Com uma necessidade cada vez maior de ganho de escala, principalmente no ramo
alimentar e têxtil, para suprir as demandas crescentes das empresas convencionais que se
incorporam ao comércio justo, e gerar a tão almejada auto-sustentabilidade dos seus atores
20
,
está se exigindo dos produtores que entrem em um ritmo e padrão produtivo diferente do
habitual, modificando assim seu fluxo produtivo tradicional e cultural. Como exemplo, pode-
se citar na América Latina, o caso dos grupos de produção de café da Bolívia para o comércio
justo ou dos produtores de quinua do mesmo país, a produção de café no México, a banana na
Costa-Rica e tantas outras. Este processo pode por em risco a sustentabilidade de
ecossistemas, dos sistemas tradicionais de produção e da cultura dos povos produtivos
(Wilkinson, 2003; Voituriez, Florès, Eberhart & Chauveau, 2002; Cáceres, 2006; Jaffe,
Monroy, Kloppenburg, 2004).
1.6 - A Busca pelo Ganho de Escala
A tensão que existe entre o mercado convencional entrando no comércio justo e o mercado de
comércio justo institucionalizado, vem gerando diferentes opiniões e posições estratégicas
entre os principais atores internacionais do comércio justo (Renard, 2005). A demanda que
surge das empresas do mercado convencional pela utilização da certificação de comércio justo
gera uma grande negociação em torno de escala e preço, provocando um movimento de
modificação das atuais características das práticas de comércio justo para alcançar esta nova
demanda.
A FLO
21
, órgão internacional responsável pela certificação dos principais produtos
alimentares de comércio justo, buscou no início desta década expandir a certificação para
médias e grandes fazendas na América Latina que aplicassem os princípios do comércio justo
com seus funcionários (Renard, 2005). Este processo gerou uma importante reação do
movimento dos produtores de comércio justo na América Latina que possuíam a
certificação FLO do comércio justo, atualmente conhecido como CLAC – Coordenadora
Latino Americana e do Caribe de Pequenos Produtores de Comércio Justo
22
. Este movimento
de produtores de comércio justo é formado por grandes, médias e pequenas cooperativas de
pequenos produtores familiares. Se o comércio justo certificado abrir mão de comprar apenas
20
Produtores, importadores, marcas e lojas especializadas.
21
www.fairtrade.net
22
www.clac-pequenosproductores.org
22
de pequenos produtores estes não conseguiriam competir com os preços que poderiam ser
estabelecidos pelos novos entrantes, que estes trabalhariam em maior escala. Alegam que a
FLO estaria optando pelo mercado em detrimento dos pequenos produtores. Este processo
certamente iria acarretar na desorganização de muitos produtores criando dentro do próprio
movimento um ambiente de concorrência desigual. Neste sentido, poderia acontecer com o
comércio justo o mesmo movimento que ocorreu com os orgânicos, que teve suas origens na
pequena produção e que hoje é totalmente focado no processo produtivo e não mais na sua
origem (Wilkinson, 2006).
Outra tentativa da FLO de viabilizar o comércio justo para acessar uma fatia maior do
mercado foi quando buscou diminuir os preços mínimos, base de segurança dos produtores,
na América Latina em 2003. Preço mínimo é aquele assegurado pelo comprador de comércio
justo ao produtor caso o preço de mercado do produto esteja inferior ao preço mínimo. Alguns
importadores tradicionais e especializados em comércio justo também se colocam em
divergência com a FLO quando alegam que a diminuição dos preços mínimos poderia
prejudicar a reputação do comércio justo, pois seria estranho explicar aos consumidores que o
preço justo pode diminuir. Estes importadores tendem a proteger as cooperativas e pequenos
grupos com quem trabalham tradicionalmente através da consolidação de uma relação de
longo prazo consistente (Renard, 2005; Voituriez, Florès, Eberhart & Chauveau, 2002).
Em meio as diferentes tentativas de adaptação da certificação de comércio justo aos
compradores do mercado convencional foi travado um intenso debate político entre a FLO e
seus produtores já certificados na América Latina (Renard, 2005). O movimento dos
produtores se posicionou de forma incisiva frente às tentativas da FLO. De forma positiva
todo este processo favoreceu ao fortalecimento do movimento dos produtores que, ainda mais
articulados, formaram a CLAC. Hoje, a CLAC é legitimada em toda a América Latina,
abrange também grupos de pequenos produtores que não são certificados pela FLO e é parte
fundamental do processo internacional de articulação do comércio justo. Seu maior peso está
em ser uma rede de cooperativas em toda a América Latina que congrega, literalmente,
milhares de pequenos produtores. O mesmo processo desenvolvido pela FLO na América
Latina, na tentativa de expandir a produção do comércio justo com base na diminuição do
preço mínimo, para alcançar um ponto de equilíbrio mais favorável a um mercado em
expansão, é realizado em diferentes escalas entre atores de comércio justo das mais variadas
regiões.
23
Atualmente, o preço justo é uma das maiores fontes de discussão entre produtores e
importadores. A lógica de buscar o aumento de escala para gerar diminuição do custo
unitário, é replicada muitas vezes às relações dentro do comércio justo, não entre a FLO e
seus produtores certificados, mas também em um nível mais particular, entre parceiros, ou
seja, produtores e importadores. Mesmo que o aumento da produção gere uma diminuição dos
custos fixos unitários, muitos investimentos ainda são necessários para que a nova realidade
produtiva seja auto-sustentável, especialmente por se tratar de pequenos produtores com
pouca capacidade instalada e técnica. Este limite tênue entre o que são práticas de comércio
justo e o que são práticas de comércio convencional está ficando cada vez mais incerto devido
a busca dos atores de comércio justo pela sua auto-sustentabilidade, tentando adaptar-se ao
mercado convencional e às expectativas do consumidor final (Renard, 2005; Wilkinson,
2006).
A questão assim se põe: seria possível ganhar escala e manter o foco do comércio
justo na pequena propriedade? Se a lógica do mercado convencional entra no comércio justo
com a adesão das transnacionais ao movimento, significa consequentemente que o comércio
justo também se insere no mercado convencional, onde precisará estar pronto para o desafio
de atender às suas demandas sem perder o seu sentido original (Zufferey, 1998). A pressão
entre preço e qualidade que era real entre atores especializados em comércio justo, agora
ficará ainda mais acirrada. O aumento do volume e o desequilíbrio nas relações de poder
dentro desta nova relação entre produtores de comércio justo e distribuidores convencionais
também eleva a perspectiva de pressão para diminuição dos preços e das margens dos
produtores. O foco no produtor passa a ser modificado em função de estratégias mais
orientadas para o mercado (Renard, 2005).
1.7 - Relações de Parceria
Logo, os atores de comércio justo precisam estar cada vez mais preparados para lidar
com o seu processo de expansão. As questões sociais e seus desafios devem estar claros para
se poder elevar com qualidade grupos de produção em desvantagem econômica e social para
posições de auto-sustentabilidade econômica. Na relação direta entre produtor e importador o
ganho de escala vem se tornando uma busca constante (Renard, 2005; Wilkinson, 2006). A
produção pode ser expandida tanto no aumento do número de novos grupos beneficiados
24
como no aumento de capacidade dos grupos existentes. Ambos os processos estão sendo
realizados, entretanto o último ocorre com mais facilidade e freqüência que para os
importadores é mais difícil começar da estaca zero a adaptação de um grupo produtivo às suas
práticas do que investir no aumento de capacidade de um grupo organizado e adaptado aos
importadores de comércio justo. O aumento da escala de produção de um grupo requer
investimento em maquinário, capacidade técnica, espaço produtivo, aumento do número de
produtores beneficiados, melhoria da infra-estrutura, acesso a crédito, entre outros fatores.
Reside na parceria entre importador e produtor o principal caminho para se alcançar a
estrutura necessária para o aumento de escala. Aumento este que não prejudique a qualidade
de trabalho dos produtores e a qualidade final do produto. Se nem o produtor ou o importador
podem investir suficientemente na melhoria necessária, estes podem trabalhar juntos em um
processo de captação de recursos com agencias de fomento e apoio financeiro, ou buscar
empréstimo diretamente em instituições financeiras, seja na localidade do produtor ou na do
importador. Este trabalho em conjunto é a verdadeira força diferencial que mantém a
estabilidade da cadeia produtiva de comércio justo (Voituriez, Florès, Eberhart & Chauveau,
2002).
A parceria pode se dar também entre os outros elos da cadeia produtiva, quanto maior
for a cadeia produtiva mais necessário será investimento de tempo na articulação entre os seus
atores. No início do processo de formação de cadeias produtivas, muitas vezes, estas ainda
não são auto-sustentáveis, e alguns elos acabam segurando mais suas necessidades para que
um outro elo mais fraco possa funcionar. Por exemplo, o caso dos produtores de algodão da
Cooperativa Coagel, que produz o fio para a marca “TUDO BOM?”, a pequena quantidade de
fio produzida ainda é insustentável para justificar parar a planta industrial de fiação para
produzir o algodão orgânico e justo da marca. Entretanto, para a cooperativa vem sendo
interessante como investimento. Esta pode estar deixando de ganhar nestes primeiros anos de
projeto, mas ela tem a expectativa que no futuro a proposta da produção justa e orgânica possa
criar uma linha produtiva alternativa para seus pequenos cooperados. Sendo assim, ela acaba
favorecendo a construção de uma rede de pequenos produtores locais de algodão orgânico e
justo, vislumbrando um crescimento futuro para uma quantidade mínima capaz de viabilizar
economicamente o tempo de fiação, mudando assim a realidade da produção de algodão na
localidade.
25
Sozinhos, muitos produtores não estão preparados para este novo momento de
expansão do comércio justo. Por isso, o produtor de comércio justo deve ser mais do que um
fornecedor, mas sim um parceiro na sua cadeia produtiva e principalmente do seu importador,
que este forma a ponte entre os produtores e o mercado. Muitos importadores investem na
qualificação, em crédito e na melhoria da qualidade dos produtos (Ponte, 2002; Voituriez,
Florès, Eberhart & Chauveau, 2002). Se tivermos como exemplo o caso de produtos
artesanais, ou dos têxteis, se observa no próprio comércio justo a necessidade de
investimento em design e padronização. Enquanto a moda exige produtos diferenciados e de
alta rotatividade, o artesanato exige produtos mais utilitários e menos decorativos. Nestas
duas categorias de produtos, principalmente devido a influência dos países do sul da Ásia, os
26
Neste contexto, vem sendo observado que apenas a questão da justiça social não é um
diferencial capaz de levar o consumidor a abdicar da relação de custo e benefício nas suas
compras. O produto precisa apresentar outras características que levem o consumidor a sua
escolha de compra, independente de ser ou não um produto de comércio justo, ou atrelado a
qualquer outro movimento de responsabilidade social e/ou ambiental. Em uma pesquisa
realizada na Europa para avaliar quais seriam as principais necessidades do consumidor no
seu momento de compra de produtores alimentares e em que áreas se deveria investir para
inovar produtos alimentares, a questão da ética como um diferencial que influencia a tomada
de decisão do consumidor final foi pormenorizada
24
. A pesquisa foi realizada tomando por
base as quatro necessidades centrais do consumidor que são: prazer, englobando aspectos
como variedade, exotismo, diversão e sofisticação; forma física e bem estar, alimentos que se
apóiem na dieta, na energia e na saúde da pele; conveniência, alimentos funcionais, fáceis de
manejar e que ajudem a economizar tempo; e saúde e sustentabilidade, onde se enquadram as
questões éticas, alimentos naturais, orgânicos e vegetarianos.
Com base nestas necessidades foram pesquisados consumidores em diferentes países
da Europa. Os resultados apontam a pouca importância que questões éticas ainda representam
na decisão de compra do consumidor. Para os franceses os pontos mais importantes para uma
decisão de compra são a sofisticação, a variedade e facilidade de manusear, a dieta e
alimentos naturais e orgânicos. A questão ética atrelada aos alimentos ficou em penúltimo
lugar, dentre uma lista de 14 categorias de diferenciais e inovações no campo alimentar. Na
Itália o resultado foi o mesmo. na Alemanha e na Holanda a questão da ética foi a menos
escolhida, ficando em última posição. Nestes outros países as questões mais importantes
ligadas a inovação alimentar foram muito parecidas ao resultado na França e na Itália. Em
todos os casos a sofisticação foi o ponto mais importante para o consumidor. Este é um
resultado que demonstra a exigência crescente do mercado por produtos mais elaborados com
um ritmo inovador acelerado.
1.8 - Estratégia da Qualidade
Se para muitas empresas é complicado manter-se competitivo no mercado, para
pequenos produtores o acesso e a sua manutenção no mercado ficam cada vez mais
24
Innovation: Strategy Marketing Innovation. World Innovation Panorama 2002
xtc
.
27
ameaçados. A necessidade que o comércio justo tem de se adaptar com rapidez e inovação a
esta característica do mercado, gera, sem dúvida, um sentimento comum de instabilidade
permanente aos pequenos produtores e aos importadores. O próprio estudo de caso que será
apresentado nesta dissertação exemplifica a dificuldade de adaptação dos produtos da marca
“Tudo Bom?” ao estilo esperado pelo consumidor, ao giro do mercado de moda, e ao
conhecimento, cultura e ritmo de produção das costureiras. Este sentimento de pressa e
necessidade de inovação permanente exige altos investimentos em pesquisa de mercado e em
profissionais experientes e mais qualificados, o que vem sendo a escolha da grande maioria
dos importadores de comércio justo, que expandem sua cadeia de distribuição também para
lojas convencionais. Muitas vezes o alto nível de qualidade e pré-requisitos dos importadores
de comércio justo funciona como um filtro que exclui do processo pequenos produtores que
são novos a esta proposta (Jaffe, Monroy & Kloppenburg, 2004).
Assim, tanto para produtos artesanais e têxteis como para produtos alimentares, as
importadoras e lojas especializadas vêm na última década trabalhando para que seus produtos
estejam de acordo com as expectativas dos consumidores, até mesmo para que sejam
competitivos ao ponto de serem escolhidos na prateleira por consumidores convencionais que
ainda não estejam sensibilizados. Para que estes produtos estejam adaptados é fundamental
investir em qualidade e design. As importadoras trabalham com designers e estilistas para que
seus produtores possam apresentar o que os consumidores irão querer comprar na próxima
estação. Sejam novas padronagens, formatos, cores, estilos, sabores, misturas, imagens, tudo
aquilo que a indústria assinala que será a grande tendência. Muitas possuem áreas internas
às suas organizações destinadas a pesquisa de mercado e desenvolvimento de produto
25
. Este
nível de especialização e sofisticação da demanda está levando principalmente os artesãos a
mudar seu ritmo de criação e a desenvolver peças cada vez mais trabalhosas, para assim se
adaptar a um comércio justo em evolução, que por sua vez, está se ajustando ao mercado
convencional. Isto se vê claramente no mundo da moda quando pequenos grupos de
costureiras ligadas a projetos de comércio justo precisam cada vez mais produzir peças
complicadas para ter no design um diferencial frente aos produtos convencionais,
principalmente os asiáticos, que chegam aos países consumidores com preços muito baixos.
Esta forte demanda por diferentes aspectos da qualidade vem constituindo-se também como
25
Visitas à importadoras Traidcraft em Newcastle na oportunidade da Conferência Internacional da IFAT em
Junho de 2003 (www.traidcraft.co.uk), à Oxfam Magasins du Monde na Bélgica (www.madeindignity.be) e
Solidar’Monde na França (www.solidarmonde.fr), ambas em Julho de 2005.
28
uma barreira de entrada no comércio justo para pequenos produtores (Goodman & Goodman,
2001; Goodman, 2004).
Entretanto, no mundo competitivo globalizado, onde a oferta de um mesmo tipo de
produto é cada vez maior e mais variada e o ritmo das inovações é acelerado, os produtos
precisam ser mais diferenciados. Agregar pequenos diferenciais e características inovadoras
pode fazer a diferença em um mercado saturado. O reconhecimento das características éticas e
ambientais como diferenciais qualitativos vem se consolidando através da formação de nichos
de mercados como o próprio comércio justo, alimentos orgânicos, entre outros. Um forte sinal
é a própria entrada das grandes empresas e transnacionais nestes nichos. Neste sentido, assim
como o fator saúde nos alimentos orgânicos é uma variável que transmite qualidade a um
produto, as características éticas também o são. Qualidades criadas por movimentos sociais
tendem a influenciar não apenas o mercado, mas também a sociedade (Jaffe, Monroy &
Kloppenburg, 2004; Wilkinson, 2006). A qualidade não é vista apenas nas características
intrínsecas dos produtos, como o sabor, o aroma e a coloração, mas também como fatores
intangíveis, capazes de suprir necessidades desenvolvidas pela demanda, como a ética nas
relações com o produtor ou o plantio ecologicamente correto (Renard, 2005).
Anne Tallontire e Bill Vorley, no trabalho intitulado “Alcançando justiça no comércio
entre supermercados e suas cadeias produtivas agroalimentares”, apresentam o comércio justo
como um nicho de mercado de alto valor agregado, apontando que este fator qualitativo é
utilizado nas empresas como uma estratégia de acesso a um mercado que garante maiores
margens, e não uma ação efetiva de mudança nas práticas comerciais das empresas. Os
autores comentam ainda que o fato dos produtos de c
29
a certificação FLO / Max Havelaar, contribuindo para que a banana se tornasse um dos
produtos de maior crescimento no comércio justo internacional (Tallontire & Vorley, 2005).
O diferencial de um produto pelo benefício que ele proporciona à saúde, ao meio
ambiente ou à ética nas relações humanas é entendido como uma característica qualitativa
diferenciada. O mesmo é apresentado por John Wilkinson em “Mesclando mercados,
movimentos e menus”
26
, onde ainda é adicionada a idéia de que o processo de formação de
nichos de mercados baseados em diferenciais qualitativos vem sendo uma característica
dominante nas estratégias adotadas nos mercados e a base para o crescente processo de
inovação no mercado alimentar. Por exemplo, o termo specialtyutilizado na designação de
cafés de qualidade superior, se tornou também sinônimo de cafés com valores atrelados a
sustentabilidade do meio ambiente e de grupos específicos de produtores (Ponte, 2002). O
diferencial por critérios qualitativos se tornou a base da conquista de prêmios sobre os preços,
ou seja, melhores margens. Os autores David Goodman e Michael Goodman, em 2001,
colocam que o consumo responsável vem sendo utilizado como uma estratégia concorrencial,
atribuindo ao capitalismo um verniz de justiça, refinando suas dinâmicas e tendências. Para
produtos com especificidades sustentadas por movimentos sociais, este gênero de qualidade
se torna imaterial, com alto valor simbólico
27
, seja ele a ética nas relações comerciais, o
processo produtivo orgânico, a preservação do meio ambiente ou a identificação regional
(Wilkinson, 2006). Neste último seus produtos geram no imaginário do consumidor regiões
que são construídas simbolicamente, através de uma geografia imaginária (Cook e Crang,
1996 apud Goodman, 2004). A construção de significados no consumo de produtos de
comércio justo torna-se fruto da interação de constatações concretas e imaginárias (Goodman,
2004).
Entretanto, no que se refere ao consumidor isso implica num aumento considerável de
informação em um mesmo produto, que precisa ser digerido para entender os diferentes
aspectos qualitativos dos produtos. Enquanto os movimentos sociais mobilizam o
consumidor, o mercado convencional se baseia na fidelização por marcas. Neste sentido,
Stefano Ponte, em 2002, aponta para a necessidade de criação de marcas consistentes nestes
nichos de mercado, diminuindo a pressão do grande fluxo de informação ao consumidor.
26
Wilkinson J., 2006. “The Mingling of Markets, Movements and Menus: the renegotiation of rural space by
NGOs, social movements and traditional actors”.
27
Termo utilizado por Brunori em 1999: “high symbolic density”.
30
1.9 - Tradição e Cultura como Fator de Qualidade
Em um processo de inter-relação destas qualidades imateriais, a valorização da
tradição e da origem de um povo surge como um importante expoente aglutinador, reforçando
o conceito de “apelação de origem
28
” iniciado com o vinho na França, na década de 60, e hoje
institucionalizado como indicação geográfica (Wilkinson, 2006; Wilkinson, 2003). São as
características tradicionais e culturais de cada povo que definem melhor o diferencial de um
produto de comércio justo. Toda a preocupação com a sofisticação através do design moderno
é atrelada a manutenção das raízes tradicionais nas peças e no conceito dos produtos, porque é
a tradição cultural que traz autenticidade ao produto (Jaffe, Monroy & Kloppenburg, 2004).
Aproxima-se quem produz com quem consome, possibilitando aos consumidores o encontro
imaginário com os produtores, diminuindo por um lado a assimetria de informação entre as
partes e por outro gerando uma relação emotiva entre os atores, onde se apresentam em
testemunhos de produtores e suas famílias, com nomes e sobrenomes, seus hábitos e seus
modos de produção. É a tradição da produção familiar, do apelo ao natural e ao autentico, a
distância da vida no campo e a nostalgia que esta separação gera na sociedade urbana, que
provoca uma relação de proximidade entre os atores e adeptos do comércio justo, diminuindo
as distancias reais da cadeia produtiva através da ão de conectar pessoas e lugares. Para
atingir o consumidor final, as organizações e empresas comerciais de comércio justo, nos
países do norte, investem em assessoria de imprensa, vinculando estas informações na mídia
constantemente, espontânea ou por meio de publicidade. Já, as ONGs e redes atuam
tradicionalmente há mais de 50 anos através das campanhas de ativismo do movimento,
constituindo um forte arcabouço conceitual, que garante legitimidade ao comércio justo e
reforça todo o esforço comercial de divulgação da proposta. (Wilkinson 2003; Goodman,
2004).
A valorização da tradição vem se tornando uma estratégia comercial voltada a
promoção da produção sustentável, também conhecida como marketing de tradição. A
sustentabilidade aqui não é vista apenas no aspecto da preservação ambiental, de
biodiversidades e de ecossistemas, mas também na preservação das tradições e culturas dos
povos. Em um programa desenvolvido pelo BID no Equador, “Transformando o
28
“Appéllation d’origine”
31
Conhecimento Tradicional em Trade Secrets”, foi constituído um banco de dados de
conhecimentos tradicionais do país. No Peru foi aplicado entre uma representante da
Monsanto, a Universidade de Washington e grupos de produtores Aguarunas uma licença de
conhecimento
29
onde estes são remunerados de acordo com a utilização por outros dos seus
conhecimentos tradicionais da biodiversidade local (Wilkinson 2003).
Produtos de indicação geográfica, são comercializados em supermercados com base
no marketing de tradição onde a origem se torna o apelo que transmite qualidade superior ao
produto. Logo, atrelar características como tradição, identificação geográfica, produção
orgânica e ecológica e valores sociais, provenientes da agricultura familiar e/ou do comércio
justo, segue uma tendência de aglutinação de qualidades mais imateriais que vem sendo
construída através de movimentos sociais formados a partir da segunda metade do culo XX
(Wilkinson, 2006; Wilkinson, 2003). No caso dos alimentos, que não transmitem com a
mesma facilidade visual que o artesanato a tradição e cultura de um povo, os produtos de
comércio justo possuem selos e embalagens sempre carregadas de imagens e textos sobre as
localidades, os produtores e suas culturas, visando assim tangibilizar suas qualidades
imateriais aos consumidores (Goodman & Goodman, 2001). Mistura de sabores
característicos de determinadas regiões em chás, barras de cereais, chocolates, refrescos,
geléias, doces, molhos e especiarias também é uma maneira de concretizar as características
particulares de cada povo ao consumidor final. Manter este caminho é atuar diretamente na
manutenção do público-alvo principal do comércio justo, o pequeno produtor. Cada
localidade e região têm a sua característica e a sua peculiaridade, a tradição local é sempre um
diferencial único e o próprio movimento gerado pela globalização faz com que o público
consumidor fique mais atento e interessado nas qualidades, imagens, sabores e culturas de
cada povo.
1.10 - O Mercado da Certificação
Neste contexto a estratégia da qualidade passa a gerar um novo mercado, o mercado
da regulamentação privada, baseado em sistemas de certificação que definem as regras e os
pré-requisitos da qualidade. Cria-se uma nova relação de poder político no nicho de mercado,
e na cadeia produtiva, com a inserção do órgão certificador, que passa a exercer forte
29
Licenças de “know-how”
32
influencia no processo comercial, oferecendo maior valor agregado através da legitimidade
que o selo confere ao produto. Segundo Sachs, 1993, este modelo vem representando o que
chamou de eco-colonialismo, onde estas instituições de certificação atreladas a ONGs na
Europa, consumidores e empresas comerciais, excluem o produtor do processo de definição
das regras e de influenciar as práticas de mercado (Goodman & Goodman, 2001). Os sistemas
de certificação são formados a partir de padrões entendidos como regras de medidas que
podem ser estabelecidas de três formas, por regulamentação ou autoridade, formando padrões
mandatários, através de processos coordenados formalmente entre atores de um mesmo
mercado ou setor, caracterizando-se como padrões voluntários, ou ainda, estabelecidos por
empresas privadas, padrões privados. Estes padrões, por sua vez, comunicam sobre os
atributos do produto, desde atributos que podem ser visualizados diretamente no produto no
momento da compra como design, cor, aroma, como atributos relacionados a experiência após
a compra, o gosto de um alimento, ou ainda outros que não podem ser verificados
objetivamente e que se baseiam na confiança, tanto em relação ao próprio produto como ao
seu processo produtivo, como no caso do comércio justo, do cultivo orgânico, da identificação
geográfica e da segurança alimentar (Ponte, 2002).
Entretanto, segundo alerta Joseph E. Stiglitz, quanto mais difícil for medir um
atributo, maior será a propensão de problemas com assimetria de informação entre os atores
comerciais (Stiglitz apud Ponte, 2002). Isso pode levar um ator comercial a atuar de forma
oportunista sobre o outro, manipulando informações e atributos, minando a confiança e
desestruturando o próprio sentido da certificação. A própria ação de definir os padrões
confere poder àqueles que os controlam, definem e administram. O poder é conferido
principalmente porque, buscando resolver os problemas de assimetria de informação, as
certificações acabam gerando problemas de assimetria de acesso, excluindo atores menos
preparados do processo. Forma-se assim uma ferramenta de cunho político, podendo
beneficiar um processo ou grupo, frente a outros, influenciando a agregação de valor na
cadeia produtiva, excluindo e incluindo atores. Entendida como um instrumento de
diminuição de custos de transação através da diminuição da assimetria de informação, a
certificação possui outra função mais estratégica, a de coordenação do valor das cadeias
produtivas (Ponte, 2002).
33
Além das certificações convencionais como a ISO e a HACCP, algumas certificações
hoje mais reconhecidas no mercado europeu são a de comércio justo da FLO
30
e a de
orgânicos da IFOAM, baseadas em padrões voluntários, a FSC
31
relacionado a preservação
das florestas, a WWF do “World Wide Fund” para preservação da natureza, a MSC
32
relacionado a proteção do meio ambiente marinho e as IGs
33
(Wilkinson, 2006). Através da
certificação confere-se o valor da qualidade ao produto. Logo, novos valores passam a ser
regularizados e certificados, como a origem, o tradicional, a responsabilidade ambiental, o
orgânico ou a ética na produção, levando as empresas a desenvolver suas estratégias de
diferenciação também nestas bases. O desenvolvimento das práticas de certificação vem
moldando o mercado internacional e modificando os padrões de consumo. Em um mercado
até então baseado no consumo em grande escala de produtos padronizados, os diferentes
atributos certificáveis têm levado a proliferação, multiplicação e diferenciação de produtos.
Este processo caracteriza o que a teoria das convenções classifica como coordenação de
mercado, ou market coordination”, onde não é mais o preço o único fator de avaliação da
qualidade, são estabelecidas convenções de qualidades que levam a outras formas de
coordenação (Ponte, 2002).
Entretanto, no outro extremo da cadeia produtiva, a certificação leva a exclusão dos
atores que não preenchem todos os pré-requisitos necessários ou que o possuem recursos
financeiros suficientes para incorporar-se ao sistema certificador. Em muitos casos algumas
organizações de produtores alcançam a certificação através do apoio financeiro de ONGs e
agencias de fomento (Ponte, 2002). Neste cenário, baseado na busca do aumento de volume
pelos produtores e importadores e na certificação, é modificada a cara0.146571( )-80b54239(i)-2.164is li a de ume
34
Inicialmente, a estratégia baseada na qualidade possibilitou a diferenciação de
pequenos produtores e cooperativas que atuam nos nichos de alimentos orgânicos, indicação
geográfica, comércio justo, entre outros. Eram estratégias ligadas a redes alternativas de
pequenos produtores. Hoje, supermercados na Europa não só comercializam produtos de
comércio justo, como também produzem suas próprias linhas de café, chá, chocolates e
outros, enquanto empresas transnacionais oferecem a seus clientes opções de produtos para
este nicho. Com o crescente interesse de empresas convencionais em desenvolver linhas
próprias de produtos destinadas a estes nichos (Wilkinson, 2006), tendo estes valores como
diferenciais em suas estratégias, a entrada de novos pequenos produtores nestes mercados foi
prejudicada. A crescente demanda das cadeias de distribuição de varejo, como supermercados
e lojas de departamento, por estas linhas de produto, tende a consolidá-las como uma força
dominante, que seu poder de negociação é superior ao dos atores tradicionais do comércio
justo, podendo impor suas condições de compra. (Renard, 2005; Tallontire & Vorley, 2005).
Em uma pesquisa
34
realizada na Inglaterra nas redes de distribuição de supermercados
foi identificada uma proporção direta entre o tamanho de mercado de uma rede e seu poder de
negociação. Por exemplo, a rede de supermercados Tesco, com 29% do mercado Inglês em
2005, pode obter 4% em melhores condições de seus fornecedores nas suas principais linhas
de produtos. O fato da concentração da distribuição estar cada vez mais consolidada em um
número pequeno empresas faz com que os outros atores da cadeia, incluindo os produtores e
importadores, fiquem cada vez mais em desvantagem, o que ressalta ainda mais a questão da
ética e da justiça comercial. Quando as redes se expandem também para países do hemisfério
sul, como o caso do Carrefour, do Wal-Mart, e outros, esta se torna uma questão mundial e
não apenas a tradicional lógica do comércio justo relacionando exportadores do hemisfério sul
com compradores do hemisfério norte. (Tallontire & Vorley, 2005).
A certificação com selos que transmitem qualidade ao consumidor tende a ser
interessante e prática para as transnacionais e para os grandes atores do varejo, pois garante
cadeias produtivas já estabelecidas, onde podem impor suas normas e procedimentos, além de
assegurar a imagem de responsabilidade social da empresa. Entretanto, pode também ser cara,
levando as empresas convencionais a buscar outras maneiras de explorar os nichos. Em um
estudo de caso apresentado por Marie-Christine Renard sobre a cadeia de supermercados
34
Informação apresentada por Anne Tallontire e Bill Vorley no trabalho “Achieving fairness in trading between
supermarkets and their agrifood supply chains” de Setembro de 2005.
35
Carrefour e a cooperativa de produtores de café mexicana UCIRI, é apresentada a marca de
café orgânico e justo Bio-Mexique, onde os produtores negociam diretamente com o
Carrefour, sem a intermediação de um importador de comércio justo. Estes produtores
acertaram com o Carrefour um preço superior ao praticado pela FLO e estabeleceram um
contrato de longo prazo de 10 anos. Com isto, o Carrefour lançou sua própria marca e selo de
comércio justo e produção orgânica, atuando no mercado francês sem a certificação
tradicional do comércio justo.
Algumas cooperativas no México apontam para a possibilidade de estarem entrando
em uma terceira fase do comércio justo, onde suas organizações de pequenos produtores
negociarão diretamente com as transnacionais sem a intermediação dos importadores de
comércio justo (VanderHoff, 2002). Nesta mesma lógica surgiu em 2001 o programa piloto da
Starbucks, empresa que, além de comercializar café com certificação FLO de comércio
justo e Eco-OK, vem estabelecendo um programa de certificação interna, ou seja, um sistema
próprio de controle de seus fornecedores, chamado de Sistema de Fornecimento Preferencial
(PSS
35
), onde se exigem padrões de sustentabilidade ambiental, social e econômica e se
executam inspeções no processo produtivo de seus fornecedores. Inclusive, de acordo com o
nível de desenvolvimento do fornecedor em relação aos padrões estabelecidos no PSS, este
pode ter como incentivo, nos dois primeiros anos, prêmios sobre o preço final de venda para a
Starbucks e o estabelecimento de contratos de longo prazo. Entretanto, o sistema não aplica o
conceito do preço mínimo ou possui metas de qualidade de vida, sendo mais específico em
relação às questões ambientais (Ponte, 2002; Tallontire & Vorley, 2005).
A indústria de cafés de qualidade superior aponta para a constituição e um “super
selo
36
”, que combine critérios da cultura orgânica, comércio justo e produção de sombra. A
certificação Eco-OK, aplicada pela Rainforest Alliance, que focaliza as questões ambientais
atreladas às condições dos trabalhadores, e o código de conduta da Utz Kapeh, organização
sediada na Guatemala e Holanda que se baseia nos padrões do EUROPGAP, são exemplos de
iniciativas que já conciliam estas distintas propostas. Todas estas iniciativas incorporam
alguns dos princípios do comércio justo, como a des-intermediação e contratos de longo
prazo, e deixam de aplicar outras práticas como preço mínimo e acesso a mercado para
35
PSS: “Preferred Supplier System”
36
Expressão apresentada no trabalho de Stefano Ponte de 2002: “Standarts, Trade and Equity: Lessons from de
Specialty Coffee Industry”.
36
produtores em desvantagem econômica. Nestes casos, o perigo para o movimento do
comércio justo é que seus atores tradicionais sejam excluídos gradativamente do processo e
que a certificação do comércio justo perca sua importância e significado para o consumidor.
Assim, como o selo é fundamental para que o consumidor compreenda de forma clara a
proposta comercial, um processo de multiplicação de selos de comércio justo poderia levar a
confusão do consumidor em relação a transparência, os princípios e ao entendimento do
conceito de comércio justo, questões que o movimento buscou preservar com a unificação das
certificações tradicionais de comércio justo em torno de um único selo, o selo FLO
37
(Renard,
2005; Ponte 2002). Outro ponto fundamental a ser destacado é o fato de que esta privatização
da justiça e da ética no mercado pode distrair da necessidade de institucionalizarem-se
agendas de reformas e políticas públicas que garantam práticas comerciais eficientes e
responsáveis. É o fortalecimento político dos princípios e do conceito do comércio justo que
fortalece o movimento frente às diversas propostas presentes no mercado atual
38
. O tema
relacionado às ações políticas do movimento de comércio justo se abordado mais
profundamente nos próximos dois capítulos (Tallontire & Vorley, 2005).
Em outros exemplos como a rede de supermercados Tesco, o café de comércio justo
Nestlé ou a própria Starbucks, as empresas vem aderindo a certificação tradicional de
comércio justo (Goodman, 2004). Em compensação, devido ao volume que estas exercem nos
orçamentos das certificadoras ou dos produtores, passaram a possuir muito poder em suas
negociações, prejudicando os importadores tradicionais de comércio justo que passam a ter
dificuldade de competir com as marcas transnacionais. Alguns destes tradicionais
importadores de comércio justo que trabalham com café assinalam um possível
rompimento com o selo de comércio justo, que se sentem prejudicados pela entrada das
grandes empresas no processo e acreditam que o conceito do comércio justo como é
conhecido originalmente está sendo posto em jogo (Renard, 2005). Na busca pela auto-
sustentabilidade, e pela preservação dos princípios do comércio justo, alguns importadores
estão atuando em parceria direta com a distribuição do varejo. Um exemplo é o caso do
Carrefour na Bélgica, onde, a importadora Oxfam se tornou fornecedora de produtos
certificados de comércio justo para o Carrefour. Neste caso o Carrefour não precisa lidar com
as questões logísticas, financeiras e sociais que envolvem a relação direta com as cadeias
37
FLO: “Fairtrade Labelling Organizations International
38
Entrevista realizada com Arturo Palma y Torres, consultor francês em comércio justo e economia solidária e
ex-Diretor da Federação Francesa de Lojas de Comércio Justo, Artisans du Monde.
37
produtivas. A Oxfam adquire maior volume de vendas podendo aumentar o número de
produtores beneficiados, mas passa a sofrer a pressão que representa uma relação comercial
com um grande ator da distribuição de varejo, onde este adquire poder de mercado no
comércio justo passando a impor com mais facilidade suas condições (Renard, 2005).
Na busca pela auto-sustentabilidade, as organizações de comércio justo tendem a se
aproximar do modelo convencional de mercado, tornando-se um dos segmentos de mercado
mais dinâmicos da indústria de alimentos, com um crescimento anual de 20% a 30%
39
(Wilkinson, 2006). Logo, uma das perguntas que hoje questiona o movimento é até que ponto
as diferentes estratégias de lidar com a sua expansão podem garantir a sua consolidação ou
levar ao seu enfraquecimento e possível dissolução.
1.12 - Lojas Especializadas
Nas lojas especializadas em comércio justo uma aproximação para modelos mais
adaptados ao mercado convencional também vem sendo aos poucos considerada e testada. A
grande maioria das lojas especializadas em comércio justo na Europa não é auto-sustentável.
Muitas vivem do trabalho voluntário de ativistas e de financiamento das importadoras e das
grandes ONGs européias de comércio justo, como a Oxfam
40
. As lojas especializadas foram
no decorrer dos últimos 40 anos o principal meio de comunicação e divulgação do comércio
justo ao consumidor final na Europa. Hoje, organizadas em uma rede de mais de 3.500 lojas
41
,
estas ainda encontram dificuldades em se estabelecer em pontos comerciais privilegiados,
mantendo-se vulneráveis aos movimentos dos mercados em que estão localizadas. Como
grande parte é fundamentada em trabalho voluntário, o comprometimento diário de uma
equipe de voluntários que gerencie uma loja é fundamental para que esta possa permanecer
aberta. As lojas são importantes ferramentas na sensibilização do consumidor, pois,
diferentemente de uma prateleira de supermercado, nelas os clientes podem entrar
efetivamente no mundo do comércio justo. Os vendedores são capacitados para debater com
os clientes o conceito do comércio justo e a explicar sobre os projetos e os grupos produtivos
por trás dos produtos. As lojas também promovem campanhas e eventos nos bairros, de
39
Fairtrade Labelling Organizations International. Annual Report 2004/2005: Delivering Opportunities.
40
Visita de membros da Plataforma Brasileira de Comércio Justo a Oxfam Magasin du Monde na Bélgica e
Artisans du Monde na França em junho de 2005.
41
Número de lojas especializadas em comércio justo na Europa apresentado por Stefan Durwal, secretário
executivo da IFAT, no Seminário Brasileiro de Comércio Justo em São Paulo, Abril de 2007.
38
acordo com as diferentes datas festivas, como por exemplo, o café da manhã de comércio
justo, oferecido simultaneamente pelas lojas às suas comunidades na semana mundial do
comércio justo em maio. Elas são a principal ferramenta do movimento de comércio justo
para o contato direto com o consumidor final, atuando diretamente na sua sensibilização.
Entretanto, devido as dificuldades de se manter uma loja de comércio justo no modelo
tradicional, muitos atores estão buscando se adaptar a realidade de consumidores mais
exigentes onde as lojas precisam ser mais voltadas para o mercado e o consumo do que para
as campanhas políticas. Logo, o discurso político sede cada vez mais espaço para um enfoque
de vendas mais sofisticado. Neste direcionamento do comércio justo, surgem jovens
empreendedores que iniciam suas próprias empresas e negócios de comércio justo com
práticas mais modernas e adaptadas ao mercado convencional. Exemplos disto podem ser
vistos em Paris, a marca de tênis de comércio justo VEJA
42
, a loja de dois andares de
comércio justo ALTERMUNDI
43
, o próprio estudo de caso que será apresentado nesta
dissertação, a marca de vestuário “TUDO BOM?”
44
, e tantas outras marcas e novos negócios
de comércio justo especializados que vêm surgindo nos últimos cinco anos em toda a Europa
e nos Estados Unidos.
1.13 - Desenvolvimento Diferenciado: Alimentos e Artesanato
A expansão apontada no comércio justo não é igual para todas as suas áreas de
atuação. Observa-se um crescimento significativo no ramo alimentar, moda e da grande
distribuição de varejo, enquanto na Europa, o mercado para produtos artesanais e lojas
especializadas não vem apresentando o mesmo nível de crescimento, muitas vezes podendo
estar em ritmo de retração devido a saturação do artesanato no mercado Europeu.
1.13.1 - Cenário de Crescimento
É o exemplo da entrada de um produto de comércio justo no mercado convencional
provocando a formação de um nicho de mercado baseado na qualidade da ética promovida
pelo conceito do comércio justo. Neste cenário o preço de um produto de comércio justo é
42
www.veja.fr
43
www.altermundi.com
44
www.tudobom.fr e www.tudobom-shop.com
39
maior do que o de um mesmo produto convencional e mesmo assim sua demanda aumenta. A
lógica de mercado da oferta e da demanda aponta para a formação de um nicho de mercado. O
consumidor percebe o diferencial atrelado ao conceito do comércio justo no produto e
adquire-o mesmo este estando com um preço superior ao de um produto convencional de
mesma linha. Este é aparentemente o modelo de expansão atual realizado pelos atores de
comércio justo, e novos entrantes do mercado convencional, para produtos alimentares e
vestuário. As próprias taxas médias de crescimento da demanda por produtos alimentares de
comércio justo de 20% a 30%
45
ao ano na Europa refletem esta expansão.
Com as taxas de crescimento de mercado apresentadas pelo comércio justo, surge o interesse
de cada vez mais empresas em atuar neste nicho (Renard, 2005). Sendo assim, o mercado
apresenta um aumento da quantidade ofertada que deve alcançar um novo ponto de equilíbrio
entre oferta e demanda. Neste contexto, fica claro o desafio da escala para o comércio justo. A
partir do momento que as empresas do mercado convencional se interessam por oferecer ao
mercado produtos de comércio justo com preços mais elevados, onde se embute um prêmio,
devido ao diferencial ético do produto, mais empresas se interessam por este diferencial, ou as
mesmas produzem mais, e a oferta do produto aumenta na medida em que não se chega a um
nível de saturação. Neste cenário, para se aumentar o volume neste nicho, é necessário que a
demanda acompanhe o aumento da oferta, por isso se torna fundamental para o comércio justo
investir na sofisticação de seus produtos e em suas campanhas de sensibilização do
consumidor. Consequentemente, ocorre um segundo movimento de expansão na relação de
oferta e demanda que reflete o aumento da oferta impulsionado pelo aumento da demanda, ou
seja, a entrada das transnacionais consolidando a formação deste nicho de mercado.
1.13.2 - Cenário de Saturação
Neste cenário pode ocorrer uma retração de mercado. Uma primeira possibilidade
seria quando o consumidor não é sensibilizado pelo diferencial do comércio justo e o aumento
do preço não se justifica comercialmente. A quantidade demandada, e por conseqüência a
ofertada, diminui com o aumento do preço. No comércio justo internacional, o que
efetivamente se observa, é uma saturação no mercado de produtos artesanais. No caso do
artesanato esta retração poderia ser entendida de uma segunda forma. Hoje, os novos
45
Fairtrade Labelling Organizations International. Annual Report 2004/2005: Delivering Opportunities.
40
produtores de artesanato encontram dificuldade em se estabelecer em um mercado de
comércio justo já saturado por produtos da mesma categoria da Ásia. Logo, enquanto o
mercado consumidor Europeu está alcançando o seu ponto de equilíbrio entre oferta e
demanda no artesanato de comércio justo, novos produtores ingressam no comércio justo com
a expectativa de acessar a este mercado. A oferta de produtos artesanais por produtores no
hemisfério sul é superior a capacidade de distribuição dos importadores no hemisfério norte e
a demanda dos clientes das lojas especializadas no comércio justo
46
. O artesanato não
apresenta o mesmo vel de crescimento do mercado de alimentos, ainda não possui acesso a
grandes redes de distribuição e sua comercialização se concentra nas lojas de comércio justo
especializadas. A busca por tornar produtos artesanais mais funcionais e utilitários é um dos
caminhos que os importadores de comércio justo estão buscando para provocar um aumento
das suas vendas
47
e possível abertura para uma distribuição em redes de varejo convencionais.
A saturação do mercado acirra ainda mais o movimento de concorrência dentro do
próprio movimento, entre os diferentes produtores e regiões do hemisfério sul. Por exemplo,
se os produtos artesanais latino americanos chegam ao mercado europeu mais caros que os
das outras duas regiões, África e Ásia, o mercado dentro do próprio comércio justo se retrai
em relação ao artesanato latino americano. Este é também um exemplo real deste movimento
dentro do comércio justo. Quando o mercado para um determinado produto está saturado ou
em retração, como o caso do artesanato na Europa, a tendência é que os produtos com preços
elevados sejam excluídos ou nem sejam incorporados ao mercado, principalmente quando o
fator comparativo de qualidade não apresente qualquer diferencial.
É importante salientar que no caso dos produtos alimentares também existe uma
capacidade produtiva no hemisfério sul superior a demandada pelos importadores de comércio
justo. No caso da América Latina, uma parcela significativa da produção realizada por
produtores certificados pelo comércio justo acaba sendo destinada ao mercado local ou a
exportação convencional (Voituriez, Florès, Eberhart & Chauveau, 2002). O estoque gerado
na produção é incapaz de ser absorvido pelos nichos de mercado, que não crescem na mesma
rapidez que a produção de, principalmente, determinadas cooperativas de café na América
Latina (Tallontire & Vorley, 2005; Oxfam, 2004). Entretanto, como observado anteriormente,
46
Entrevista realizada com Arturo Palma y Torres, consultor francês em comércio justo e economia solidária e
ex-Diretor da Federação Francesa de Lojas de Comércio Justo, Artisans du Monde.
47
Entrevista realizada com Arturo Palma y Torres, consultor francês em comércio justo e economia solidária e
ex-Diretor da Federação Francesa de Lojas de Comércio Justo, Artisans du Monde.
41
o mercado consumidor para produtos alimentares do comércio justo está se expandindo e
consequentemente aos poucos cresce a demanda para os produtores.
1.14 - Dilemas da Regionalização do Comércio Justo
É interessante se observar que as disputas internas no movimento são muitas, inclusive
regionais. A medida que os blocos regionais foram se consolidando: o bloco asiático, o bloco
europeu, o bloco africano, o bloco norte americano e pacífico norte e o bloco latino
americano, muitas disputas passaram a ficar mais transparentes. A Ásia historicamente se
caracteriza como a principal região, com um maior foco no sul asiático e na exportação de
produtos artesanais. A América Latina é a principal região exportadora de produtos
alimentares, que vem apresentando um grande crescimento da sua produção à medida que a
venda de produtos alimentares certificados se consolidou no mercado convencional da grande
distribuição de varejo. Hoje, a África se posiciona em terceiro lugar na produção e exportação
de produtos de comércio justo. O crescimento da rede de produção do comércio justo nos
diferentes continentes vem levando, por um lado, ao fortalecimento do movimento, e por
outro ao crescimento da competitividade entre produtores, onde compradores buscam dentro
do próprio comércio justo os menores preços (Tallontire & Vorley, 2005).
1.14.1 - Ásia
O bloco asiático buscou sua independência do bloco europeu desenvolvendo suas
estratégias de atuação no comércio justo de acordo com as suas necessidades e de forma
autônoma. A índia, por exemplo, compreende a maior produção artesanal de comércio justo.
Suas organizações possuem uma estrutura verticalizada e paternalista, onde o trabalho social é
de responsabilidade das elites baseadas no sistema de castas. O apoio social na Índia já
remonta 60 a 70 anos, promovendo a produção de produtos utilitários básicos para o mercado
local, como vassouras, espanadores, cestos, entre outros. Com o surgimento das importadoras
de comércio justo na Europa, nas décadas de 60 e 70, as organizações indianas se adaptaram a
proposta do comércio justo, possuindo estrutura produtiva para exportar seus produtos.
Bangladesh e outras antigas colônias inglesas também se incorporaram ao comércio justo
desde seu princípio. A principal vantagem dos grupos de produção asiáticos de comércio justo
frente às outras regiões é o número expressivo de artesãos e produtores, onde um único grupo
possui em média 2.000 pessoas, garantindo escala de produção. A tradição cultural de
42
organização centralizadora baseada na eficiência e na obediência, com um sistema produtivo
verticalizado, e trabalhadores pouco politizados, gera-se um ritmo produtivo mais consistente
e eficiente. Os produtores asiáticos fazem distinção entre suas produções de cunho
tradicionalista e as demandadas por seus clientes, e portanto, são mais procurados por
designers europeus do comércio justo para produzir produtos completamente adaptados ao
gosto europeu. Já na América Latina e na África o comércio justo é mais baseado nas
tradições, religiões e etnias. Finalmente, os preços também são mais competitivos, dado o
nível de vida e remuneração ser mais baixo. No setor têxtil estas características são mais
fortes ainda, gerando produtos muito competitivos no mercado internacional. Por sua vez, as
importadoras de comércio justo tendem a investir em grupos de produção e produtos africanos
e latino americanos com os recursos financeiros gerados pelas margens que conseguem ter na
venda dos produtos asiáticos
48
.
A Ásia hoje se tornou também o maior foco das atenções internacionais devido ao
crescimento econômico da China, o seu ingresso na OMC em 2001 e a influencia que este
processo pode ter no mercado globalizado (Medeiros, 2006; UNCTAD, 2002). Com todas as
atenções voltadas para a Ásia, o bloco asiático de comércio justo acaba se beneficiando de
significativos apoios, principalmente financeiros e comerciais
49
. Entender o processo que leva
hoje o mundo a olhar para Ásia com insegurança é entender de certa forma também o mesmo
processo dentro do movimento internacional de comércio justo. O bloco asiático de comércio
justo vem se expandindo com muita rapidez e grande parte de sua estrutura está sendo
financiada por agencias européias de fomento ao desenvolvimento. Um dos principais
investimentos realizados no comércio justo asiático, através do AFTF - Fórum Asiático de
Comércio Justo e com o apoio internacional, foi a construção de um centro de excelência
50
,
onde os produtores têm acesso a informação de mercado, design, melhores práticas e muitos
outros benefícios. Tanto devido ao contexto tradicional da Ásia pelo seu baixo custo de mão
de obra e consequentemente de produção, quanto pelo rápido crescimento e melhoramento da
estrutura de suporte aos produtores de comércio justo asiáticos, o bloco se consolida como o
maior fornecedor de produtos artesanais e têxteis para o mercado internacional de comércio
justo. Como apontado anteriormente, o preço do produto asiático pode chegar a ser três vezes
48
Este parágrafo se baseia na entrevista realizada com Arturo Palma y Torres, consultor francês em comércio
justo e economia solidária e ex-Diretor da Federação Francesa de Lojas de Comércio Justo, Artisans du Monde.
49
Tema abordado na reunião da diretoria da IFAT Latinoamérica em Quito, no Equador, em Janeiro de 2007.
www.ifat-la.org.
50
http://catgen.com/aftf/EN/100000338.html
43
inferior ao preço de um produto latino americano dentro do próprio comércio justo. Ainda,
com o investimento em informação de mercado e design, os produtos além de mais baratos
também estão cada vez mais adaptados ao próprio mercado consumidor e com alto nível de
qualidade. Os produtos asiáticos fazem sucesso no comércio justo e os importadores e as lojas
especializadas encontram melhores oportunidades de negócio neste bloco. No campo têxtil o
desenvolvimento de projetos em Bangladesh e na Índia, tradicionais no comércio justo, forma
um dos maiores núcleos de exportação de produtos desta natureza. Hoje, os principais
produtos têxteis de comércio justo são de origem asiática.
Este processo gera dentro do próprio movimento espaço para se questionar se a mesma
relação de desigualdade no mercado internacional também não está sendo reproduzida dentro
do comércio justo. As condições econômicas e sociais, típicas de cada região do planeta,
também afetam a produção dentro do comércio justo, e sendo assim, de certa forma, os
mesmos fatores que privilegiam ou prejudicam uma empresa no mercado convencional
acabam também afetando as organizações de comércio justo, já que estas também estão
inseridas nas regiões, vivem as mesmas condições econômicas, sociais e seguem as mesmas
leis. Assim, mais do que nunca, percebe-se que as organizações de comércio justo estão
completamente inseridas no sistema atual capitalista e que precisam encontrar um equilíbrio
entre a mão do mercado e a mão da produção para que a relação seja mais justa e igualitária
para todos. Entretanto, os desequilíbrios entre as regiões dificilmente poderão ser suplantados
dentro do comércio justo, e seus reflexos sempre afetarão esta nova alternativa de se fazer
comércio. As diferenças regionais são claras e significativas, somente na esfera política e
econômica internacional, que se possível diminuí-las. Entretanto, apenas relembrando o
tema das tradições locais abordado anteriormente, as regiões possuem singularidades e a
busca e a reprodução destas características particulares em produtos, pode se tornar uma
estratégia para contrapor as dificuldades de concorrência intrínsecas às diferentes localidades.
Por outro lado, o crescente investimento das importadoras e lojas especializadas de
comércio justo em adaptar o artesanato a produtos mais utilitários, ou seja, artesanatos que
não sejam apenas objetos de decoração, mas que sejam produtos com utilidade para serem
usados no dia a dia das pessoas, acaba de certa forma homogeneizando o artesanato, ou o
vestuário, e acirrando ainda mais a competição entre os produtores das diferentes regiões. Por
exemplo, no caso de uma simples colher de pau. Ela pode ter o cabo talhado com motivos de
deuses incas, ou com escrituras em mandarim, ou ainda com motivos de animais das savanas
44
africanas. Mesmo assim, seriam colheres de pau, e o preço se torna ainda mais um importante
diferencial na escolha do importador de qual colher de pau comercializar, porque não seria
usual ter três tipos de colheres de pau a disposição dos clientes. No caso de produtos de
decoração esta relação entre objeto e preço não seria tão significativa, pois cada artesanato
tem seu valor particular, difícil de ser comparado, como o é um objeto utilitário. Neste ponto
reside mais um desafio de crescimento ou expansão do comércio justo. Se o mercado para
produtos artesanais decorativos de comércio justo se encontra saturado, será a adaptação do
artesanato para objetos utilitários a melhor saída para continuar o processo de expansão do
comércio justo? Seria uma boa estratégia para os produtores, ou se formariam ilhas de
produção mais beneficiadas que outras, reforçadas pelas características regionais? Como
garantir que o comércio justo seja justo para todos e gere as mesmas oportunidades, seja para
os asiáticos, para os latinos ou para os africanos?
1.14.2 - África
A África por sua vez, também organizada em um bloco de comércio justo, possui o
benefício de estar próxima do imaginário do consumidor europeu. Foi alvo de uma
colonização competitiva e descontrolada por muitos países da Europa como a Espanha, Itália,
França, Inglaterra, Alemanha e Holanda, e palco de constantes massacres e guerras civis,
trazendo ao comércio justo europeu a lembrança de uma dívida moral com o seu povo. Este
fator, atrelado ao fato de se tratar de um continente com uma população com fortes carências
básicas para sobrevivência, leva muitos projetos pilotos de comércio justo a serem
desenvolvidos na África, estando o berço de muitos casos e produtos importantes para o
desenvolvimento do comércio justo internacional. O caso mais recente foi o da certificação do
algodão de comércio justo em 2005, que provocou uma grande reviravolta no mercado têxtil
de comércio justo. Até então o grande desafio de quem trabalhava com confecção de roupas
no comércio justo era conseguir atrelar a produção justa na costura e na produção do algodão
ao respeito ao meio ambiente através da produção orgânica do algodão, ou seja, sem agredir a
terra e a água com toxinas. Entretanto, com este grande desafio em mãos, o sistema de
comércio justo lançou um novo desafio, o da certificação do cultivo do algodão em comércio
justo, não sendo necessariamente orgânico. Imediatamente ao lançamento do selo de comércio
justo para o algodão vindo da África, os importadores, e principalmente as lojas
especializadas, queriam comprar apenas roupas de comércio justo que tivessem o selo.
45
Isto gerou para diversos produtores e fornecedores de roupas de comércio justo em
outras regiões do planeta uma armadilha. O selo estava adaptado apenas para a África e em
outras regiões e países, teriam que ser definidos pela FLO outros padrões de certificação,
que as características produtivas, as necessidades e as demandas de produtores na África não
são as mesmas que de produtores na Índia, em Bangladesh, no Brasil ou no Peru. Foi
necessário um trabalho de conscientização por parte dos atores envolvidos em cadeias têxteis
de comércio justo para explicar à seus clientes que o processo de certificação de algodão justo
ainda está limitado a África e que está sendo trabalhado para futuramente ser implantado nas
outras regiões
51
. Este tipo de ação que pode mudar o direcionamento do mercado, que o
comércio justo mostra-se tão globalizado quanto o comércio convencional, pode provocar
perdas significativas para produtores sem que estes nem sequer tomem conhecimento da
virada no mercado. Por isso, a parceria entre os importadores e os produtores, onde um
preserva e cuida dos interesses do outro, e o cuidado na implantação de projetos, avaliando
todos os pontos positivos e negativos ao sistema produtivo global, e não somente ao mercado
consumidor, deve ser parte fundamental da ética do comércio justo.
Entretanto, mesmo estando próxima da Europa, os custos logísticos internos na África
são altos, a pouca infra-estrutura, as baixas condições das estradas e dos meios de transporte e
a corrupção e subornos nas fronteiras afetam enormemente os custos finais dos produtos
africanos. A produção africana constitui-se principalmente de produtos como café, frutas
secas, flores no Quênia, artesanato no Senegal, Camarão e Nigéria e algodão em Mali. na
Namíbia e no sul da África o algodão é transformado em camisetas. Diferente da Ásia, a
África não possui uma forte organização para produção e seus produtores não apresentam
cultura direcionada ao associativismo e ao cooperativismo, como na América Latina, em
parte, devido ao movimento dos governos de criarem cooperativas, ficando estas associadas
mentalmente a administração pública. Com os planos estruturais de fortalecimento dos
Estados das últimas cadas, realizados com apoio de organismos inter-governamentais,
focando ações como abertura de mercados, minimização dos custos do Estado e exportação, a
nova geração que perdeu acesso a futuros empregos na administração governamental, agora
mais enxuta, formaram ONGs, que hoje assumem o papel de intermediar captação de recursos
e ações no território, muitas vezes até formando barreiras no contato direto entre os
compradores de comércio justo da Europa e produtores. As ONGs africanas passaram a atuar
51
Experiência vivida pela marca de comércio justo de vestuário “Tudo Bom?” com a distribuição de suas peças
para lojas especializadas em comércio justo na França.
46
mais no comércio justo nos três últimos anos, antes seu trabalho era focado em capacitação e
qualificação das pessoas e da produção. Como exemplo, uma das ONGs africanas mais ativas
no comércio justo é a Enda
52
. Sendo assim, a África veio recebendo ao longo dos anos
importantes aportes financeiros e cooperação técnica de importadores e outros atores de apoio
ao comércio justo na Europa. A tendência geral que se percebe nos países produtores é que se
formem, a partir do controle das ONGs, comercializadoras privadas. Como o caso brasileiro
da Ética, ligada a ONG Visão Mundial
53
.
1.14.3 - América Latina
No caso da América Latina são poucas as opções de apoio financeiro internacional,
que o grande foco destes últimos anos vem sendo a Ásia e a África. A maior parcela dos
investimentos realizados na região está atrelado as relações comerciais entre produtores e
importadores. O movimento de comércio justo latino americano se encontra fragmentado em
diversos movimentos em diferentes países, são muitas as redes de comércio justo que se
constituem a todo tempo. O tema alcança movimentos sociais em todos os países,
principalmente pela proximidade entre estes provocada pela realização das primeiras edições
do Fórum Social Mundial – FSM em Porto Alegre no Brasil. Um importante ponto de
encontro para os movimentos Latino Americanos. Dentre tantos movimentos de comércio
justo e economia solidária, na América Latina, muitos ainda em fase de articulação, surgem
algumas plataformas regionais que parecem inter-relacionar as diferentes redes nacionais
54
(Mascarenhas, 2007). Podendo-se mencionar como exemplos, a Mesa Coordenadora Latino
Americana que integra redes de economia solidária e comércio justo de diversos países, a
CLAC, abordada anteriormente, com certa de 200.000 famílias e mais de 1 milhão de
pessoas envolvidas, em 19 países, através de cooperativas de pequenos produtores; a
RELACC Rede Latino Americana de Comercialização Comunitária presente em 16 países
da América Latina; e a IFAT Latinoamérica.
Esta última atua como um braço da rede internacional de comércio justo com seus
membros na América Latina. Diferente dos representantes do bloco asiático e do bloco
africano, ligados a Rede Internacional e Comércio Justo IFAT, onde estão reunidas as
52
www.enda.org
53
Este parágrafo se baseia na entrevista realizada com Arturo Palma y Torres, consultor francês em comércio
justo e economia solidária e ex-Diretor da Federação Francesa de Lojas de Comércio Justo, Artisans du Monde.
54
Para maiores informações sobre o tema ver a tese de doutorado de Gilberto Mascarenhas, 2007.
47
principais organizações de comércio justo, os representantes da rede latino americana
decidiram manter o nome e a ligação institucional direta com a sede do movimento
internacional em Culembor na Holanda. Mesmo com a institucionalização da pessoa jurídica
IFAT Latinoamerica, consolidada em janeiro de 2007, a proposta é manter uma conformidade
com o movimento internacional, buscando conciliar interesses e manter o mesmo
direcionamento estratégico. O movimento latino americano vem se refletindo muito mais em
um olhar interno para desenvolver o comércio justo na América Latina 13 -20.64 Td[(597o)-938(j)-2.16436(u)-144.459(m)7.85(i)-2.16295585(l)-2.16558(29558e)3.74( )-6h9(o)-0.293142351(a)3.75585(o)-0.2936(s)-1.20.3015(-11.2371(m)713 -20.x(i)-2.1a)3TJ-282.407 -20.76 Td[(i)-2.16558(n)-6 Td[(c)3.74(o(g)9.71031(o)-0.294974( )-540.4695585(t)-2.0.459(b)-0.295585(u)-0.295585(s)-1.2312(c)3.74(g)9.7103a9(o)-0.295585(s)-13.74( )-80r)2.80561(n)-0.ig oinomscga L i74(i)-2.16436(r)2. ocimumooai s o-0.295459(a)356436(t)-2.15585(o)-0.29516436(a)58(s)-276.74(i)-22955312(o)-0.298p12(o)-0.298.16558(29558o)-0.295585(,36(s)-1.206.591(60.182(e)-6..293142(a)3.74244( 436(643773)-1931.29( )-2751.77(6 Td[(c)3.7.293142(a)3.u0.1997(L)1039( )-5(a)-6.2659(m)7.5295585(o)-(i)-2.16558(z)-6.2659(643773)-360.359(a)3.74( )-350)-0.295574(r)2.80439( )-80.1938(o)-0.295585( )-90.1(o)--8.43027(mo)-0.295585(m)-2.45995(é)3(643773)j9( 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)-360.359(j)-2.16430.229)-219.–.1703(m)7.54592.0.320..74244(06050]TJ-64.C558( )-70.E(03 -20.64S)24474643é)309)-2187da éna 813 436(t)4(o)-0.29550.459(c)-6.2659(o)-0.2.6558(o)-0.295509
48
Mundial em Porto Alegre, a Secretaria Nacional de Economia Solidária - SENAES, atrelada
ao Ministério do Trabalho, sob o comando do Prof. Paul Singer. Neste sentido criou-se uma
abertura no Governo Federal para se fortalecer a plataforma de comércio justo brasileira e o
movimento de economia solidária através da possibilidade de se influenciar as políticas
públicas no país. A partir deste movimento a Rede Brasileira de Sócio Economia Solidária
RBSES com representantes ligados diretamente a SENAES, entre outros representantes de
redes estaduais de economia solidária, passaram a participar diretamente nos seminários e
eventos de comércio justo, agora não mais como ouvintes, mas como parte da construção de
um sistema nacional, apoiando no desenvolvimento de propostas para aplicação do comércio
justo no país.
Após 5 anos de consulta pública à grupos de produção e a ONGs de apoio a
produtores foi instituída a carta de princípios e critérios do comércio justo no Brasil. Este
documento possui a finalidade de ser um marco legal de comércio justo, base para uma
provável regulamentação governamental. Foi entregue formalmente à SENAES em nome dos
dois movimentos e, em 2007, espera-se a sua aprovação como instrumento de regulamentação
público do comércio justo brasileiro. Todas as orga
49
comércio justo neste setor. Em contrapartida, a América Latina possui sua grande força no
mercado internacional de comércio justo na produção dos produtos alimentares, sendo neste
setor a principal região exportadora.
1.14.4 - Comércio Sul-Sul
À parte do artesanato, os produtos alimentares também encontram dificuldades mesmo
com o mercado estando favorável. A capacidade produtiva dos produtores mexicanos de café,
por exemplo, é maior do que a demanda do comércio justo. Apenas um percentual menor da
produção dos produtores com certificação do comércio justo é encaminhado para este
mercado. A maior parte é exportada e vendida no mercado interno pelo preço do café
convencional (Voituriez, Florès, Eberhart & Chauveau, 2002). Estes fatores levaram ao
surgimento de iniciativas locais voltadas para o desenvolvimento de mercados de comércio
justo nos mesmos países em que estes são produzidos. A principal experiência de sucesso é o
selo de comércio justo mexicano
55
que lançou a marca Café Fértil, vendida em cafeterias,
restaurantes, supermercados e lojas de conveniência na Cidade do México. (Jaffe, Monroy,
Kloppenburg, 2004). Conhecido no movimento como comércio justo sul-sul, outras
iniciativas são desenvolvidas em diferentes países da América Latina, na África e na Ásia. É
uma forma de criar novos mercados para os produtores inseridos no comércio justo, gerar
oportunidades para produtores que ainda não se encontrem preparados para atuar no mercado
internacional e expandir o conhecimento e a proposta do comércio justo para os consumidores
destes países. Não apenas internamente aos países produtores, mas também entre países do
hemisfério sul, fortalece-se a tendência do comércio justo sul-sul, ou seja, comercialização
entre países de uma mesma região e entre países dos distintos continentes do sul global.
Com a proposta de desenvolvimento do comércio justo sul-sul, surgiram novas
questões particulares dos países com a economia ainda em desenvolvimento, a segurança
alimentar e o acesso aos produtos, pela população mais pobre, são algumas delas. Os produtos
hoje produzidos no comércio justo para a Europa, o Japão e os Estados Unidos, não são
produtos da cesta básica de um cidadão. Chocolate, Chá, Café, Banana, entre outros, são
produtos mais supérfulos, que se adaptam ao gosto do público dos países do norte, que
estes não enfrentam tantas dificuldades em relação ao nível e a qualidade da sua alimentação.
55
(www.comerciojusto.com.mx/)
50
Na perspectiva dos países do Sul o foco neste tipo de produtos poderia restringir o acesso de
grande parte da população ao comércio justo. Por exemplo, o caso do Café no México. Café
não é uma bebida típica do mexicano, ficando este restrito ao consumo nas classes mais
altas
56
. Mais recentemente, está sendo desenvolvida a certificação para o cacao, o mel, o
artesanato e grãos básicos da dieta do mexicano. Esta abertura para produtos que sejam típicos
do país, e de grande capilaridade na população, é um primeiro passo para a regionalização do
comércio justo e para a garantia da segurança alimentar, quando se oferece um produto de
qualidade que ao invés de ser exportado é direcionado ao mercado interno. A organização
mexicana de comércio justo, Comércio Justo México, em parceria com atores locais, irá
estimular a produção de tortilhas com o milho de comércio justo que serão comercializadas
primeiramente nos bairros operários, caracterizando-se um primeiro teste da união da
proposta do comércio justo com a da segurança alimentar. Levando o produtor a ter acesso
direto ao consumidor, ou tendo menos intermediários na cadeia produtiva, acredita-se que o
preço do produto final de comércio justo se mantenha competitivo. Este processo garantirá
aos produtores uma margem justa e mais constante e ao consumidor local a possibilidade de
aderir à proposta do s, .0439( )-70.15-2.16192(e)3.74(n)-0.295585(5851S290.2009(m)-2.46239(e)35(r)-7..54596(a)-6.2659(r)-7.2005r)-7.2005r iars e c4596(a)-6.2659((55r)-7.( )-14)-0.2aos244( 8.05 0 Td[3.74(o)-0.29u)-10.3015(m)7.54596( )-3orodut r s em ualidade oe
exportação (Jaffe, Monroy, Kloppe2( )-130.225burg, 2004).
Seguindo ponto de vista semelhante, mas direcionadoao processo de expansão do
comércio justo de 6(a)-6.2659((5-2.45995( )-40.1714(m)-2.45995(o)-0.291( .0d)-0.295585(e)3.74(l)-2.16558(o)-0.295585( )-40.1714(a)3.74(l)-2.16558(t)-2.16558(e)3.74(r)2.80439(n)-0.295585(a)3.74(t)-2.16436(i)-2.16436(v)-0.295585(o)-0.295585( )-40.1702(p)-10.3015(a)3.74(r)2.80439(a)-6.2659( )-40.1702(u)-10.3015(m)7.54596(a)3.74244( )-40.1702(p)-10.3015(r)]TJ261.394 0 Td[3á)3.74(t)-2.16436(i)-2.16436(c)3.74(a)-6.2659( )-40.1702(m)-2.45995(e)3.74(r)-7.20151(c)3.74(a)3.74(d)-0.295585(o)-0.295585(l)-2.16436(ó)-10.3015(g)9.71032(i)-2.16436(c)-6.2659(a)3.74(,)-0.146571( )-40.1702(D)1.57564(a)3.74(v)-0.295585(i)-2.16436(d)-0.295585( )-40.1702(G)1.57564(o)-0.298027(o)-0.293142(d)-10.299(m)-2.46239(a)3.74244(n)-0.293142( )-40.1702(e)-6.26346( )250]TJ-261.394 -20.64 Td[(M)8.48035(i)-2.16558(c)3.74(h)-0.294974(a)-6.2659(e)3.74(l)-2.16558( )-210.272(G)1.57442(o)-0.295585(o)-0.295585(d)-10.3015(m)7.54596(a)3.74(n)-0.295585(,)-10.1537( )-210.272(e)-6.2659(m)7.54596( )-220.278(2)-0.291( .00)-0.295585(0)-0.295585(1)-0.295585(,)-0.148815( )-210.272(a)3.74(b)-0.295585(o)-0.295585(r)2.80439(d)-0.295585(a)-6.2659(m)7.54596( )-220.276(a)3.74( )-210.271(n)-0.295585(e)-6.2659(c)3.74(e)3.74(s)-1.2312(s)-11.2371(i)-2.16436(d)-0.295585(a)3.74(d)-0.295585(e)3.74( )-210.271(d)-0.295585(e)-6.2659( )]TJ291.772 0 Td[(p)-0.295585(r)2.80439(o)-0.295585(p)-0.295585(o)-0.295585(r)-7.20151(c)3.74(i)-2.16436(o)-0.295585(n)-0.295585(a)3.74(r)2.80439( )-220.276(à)-6.2659( )-210.271(c)3.74(o)-0.295585(n)-0.295585(s)-1.2312(u)-)-6.2659((55r)-351(i)-2.16436(d)-0.293142(o)-0.293142(r)-7.20151(e)3.74244(s)-1.2312( )-210.271(d)-0.293142(e)-6.26346( )250]TJ-291.772 -20.76 Td[(b)-0.294974(a)3.74(i)-2.16558(x)-10.3009(a)3.74( )-170.248(r)2.805(e)3.74(n)-0.295585(d)-0.295585(a)3.74( )-170.248(o)-0.295585( )-170.248(a)3.74(c)3.74(e)3.74(s)-1.22997(s)-1.22997(o)-0.295585( )-180.254(a)3.74( )-170.248(p)-0.291( .0r)2.80561(o)-0.295585(d)-0.295585(u)-0.295585(t)-2.16558(o)-0.295585(s)-1.2312( 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Td[(l)-2.16436(i)-2.16436(z)3.74(a)-6.2659(ç)3.74(ã)3.74(o)-0.295585(.)-0.146571( )-160.241(A)1.57564( )-160.241((r)-7..54596(a)-6.2659(r)-i)-2.16436(ç)3.74(a)3.74( )-160.241(n)-0.295585(a)3.74( )-160.241(r)2.80439(e)3.74244(d)-0.295585(e)3.74( )-160.241(d)-0.295585(e)3.74( )-160.246(c)3.74244(o)-0.293142(m)-2.46239(é)3.74244(r)2.80439(c)3.74244(i)-2.16436(o)-10.299( )250]TJ-259.593 -20.76 Td[(j)-2.16558(u)-0.294974(s)-1.22997(t)-2.16558(o)-0.294974( )-110.213(n)-0.294974(ã)3.74(o)-0.295585( )-110.213(v)-0.295585(e)3.74(m)7.54596( )-110.213(a)3.74(t)-2.16558(i)-2.16558(n)-10.3015(g)19.7162(i)-2.16558(n)-0.295585(d)-0.295585(o)-10.3015( )-110.212(o)-0.295585(s)-1.22997( )-110.213(c)3.74(o)-0.295585(n)-0.295585(s)-1.2312(u)-(55r)-596(i)-2.16436(d)-0.295585(o)-0.295585(r)2.80439(e)3.74(s)-1.2312( )-110.212(e)3.74( )-110.212(n)-0.295585(e)-6.2659((5-2.45995( )-110.212(p)-0.293142(r)2.80439(o)-0.295585(v)-0.295585(o)]TJ272.441 0 Td[3c)3.74(a)3.74(n)-0.295585(d)-0.295585(o)-0.295585( )-110.212(u)-)-6.2659((55r)-596( )-110.212(c)3.74(o)-0.295585(n)-0.295585(s)-1.2312(u)-10.3015(m)-2.45995(o)-0.295585( )-110.212(s)-1.2312(.54596(a)-6.2659(r)-e)3.74(n)-0.295585(t)-2.16(r)-á)3.73756(v)-0.293142(e)3.74244(l)-2.16436(.)-0.146571( )-110.212(E)0.640026(s)-1.2312(t)-2.16436(e)13.7483( )250]TJ-272.441 -20.64 Td[(p)-0.294974(o)-0.294974(d)-0.294974(e)3.74( )-170.248(s)-1.22997(e)3.74( )-170.248(c)-6.2659(a)3.74(r)2.80561(a)-6.2659(c)3.74(t)-2.16558(e)3.74(r)2.80561(i)-12.1715(z)3.74(a)3.74(r)2.80561( )-180.254(5(s)-1585(e)3.7412(55r)-718(o)-0.295585( )-170.248(u)-10.3015(m)7.54596( )-170.248(d)-0.295585(o)-0.295585(s)-1.2312( )-170.247(p)-0.295585(r)2.80439(i)-2.16436(n)-0.295585(c)3.74(i)-2.16436(p)-10.3015(a)3.74(i)-2.16436(s)-1.2312( )-170.247(d)-10.3015(e)3.74(s)-1.22875(a)3.74(f)2.80439(i)-2.16436(o)]TJ265.477 0 Td[(s)-1.2312( )-170.247(à)3.74( )-180.253(c)3.74(o)-0.295585(n)-0.295585(s)-1.2312(o)-0.295585(l)-2.16436(i)-2.16436(d)-0.295585(a)3.74(ç)3.74(ã)3.74(o)-10.3015( )-170.247(d)-10.3015(o)-0.295585( )-170.247(c)3.74(o)-0.295585(m)-2.45995(é)3.74(r)2.80439(c)3.74(i)-2.16925(o)-0.293142( )-170.247((r)-7.0.293142(s)-1.2312(t)-2.16436(o)-0.293142( )-170.247(e)3.74244( )250]TJ-265.477 -20.76 Td[(o)-0.294974(r)-7.2009(g)9.71093(â)3.74(n)-0.294974(i)-2.16558(c)3.74(o)-0.295585( )-590.496(e)3.74( )-590.496(s)-11.2359(e)3.74(u)-0.295585(s)-1.22997( )-590.496(p)-0.295585(r)2.80518(i)-2.16558(n)-10.3015(c)3.74(í)-2.16558(p)-0.295585(i)-2.16558(o)-0.295585(s)-1.22997( )-590.496(c)3.74(o)-0.295585(m)7.54596(o)-0.295585( )-590.4929p)-0.295585(r)-7.20151(á)3.74(t)-2.16436(i)-2.16436(c)3.74(a)3.74( )-600.501(p)-0.295585(r)2.80439(e)3.74(p)-0.295585(o)-0.295585(n)-0.295585(d)-0.295585(e)3.74(r)-7.20151(a)3.74(n)]TJ295.855 0 Td[(t)-2.16436(e)3.74( )-590.4929n)-0.295585(o)-0.295585( )-600.501(m)7.54596(e)-6.2659(r)-7.19907(c)3.74(a)3.74(d)-0.295585(o)-0.295585( )-590.4929internacional,
5
6
51
principalmente devido a forte sensibilidade do consumidor a preços de produtos de consumo
básico e diário, caracterizados por sua demanda mais elástica
57
.
1.14.5 - Comércio Norte-Norte
O mesmo debate e movimento de internalização das relações de comércio justo ocorre
entre nos países do hemisfério norte. É o comércio justo norte-norte. Entretanto, por se
tratarem de contextos diferenciados, no hemisfério norte a comunicação com o consumidor é
mais relacionada ao retorno às raízes, ao trabalho feito a mão, à pequena agricultura familiar,
do que o combate às injustiças e desequilíbrios do mercado internacional. Por exemplo,
cooperativas e projetos de comércio justo nos Estados Unidos seguem os seus princípios
éticos do comércio justo, mas não divulgam aos seus consumidores. Primeiro porque, segundo
eles, o mercado Norte Americano entende melhor as problemáticas ligadas a agricultura
familiar, que é mais próximo a sua realidade cultural, do que ao comércio justo em si. E
segundo, porque as realidades de produtores em desvantagem econômica dos países
desenvolvidos certamente são diferentes dos produtores em desvantagem na África ou outros
países do hemisfério sul. Entretanto, ambos acabam utilizando o conceito do comércio justo
nas suas práticas produtivas e comerciais. Surge então um tema cujo debate se estende além
desta dissertação. O comércio justo deve ser entendido como o conceito que deve reger as
futuras relações comerciais ou é em si uma prática comercial distinta das demais, um nicho?
Com um crescimento médio de 20% ao ano na Europa, o comércio justo ultrapassa a
marca de 1 bilhão de dólares em faturamento, atua em diferentes áreas e segmentos do
mercado, beneficia mais de 1 milhão de pequenos produtores da América Latina, África e
Ásia e desperta o interesse de grandes redes de supermercados, lojas de departamento e
transnacionais na Europa, nos Estados Unidos e nos países do Pacífico Norte (FLO, 2005;
Krier, 2005). O lado comercial vem acompanhado de um forte posicionamento político que
busca influenciar as instituições que regem as normas do mercado internacional, sensibilizar o
consumidor e o poder público. Nas ginas seguintes será apresentada a trajetória do
comércio justo, seu conceito e posicionamento dentro do sistema econômico vigente. O
processo será exemplificado através do caso do algodão que será analisado tanto na
perspectiva do sistema internacional como do movimento de comércio justo. Finalmente, o
57
Este ponto foi observado pela professora e especialista em consumo Fátima Portilho na banca da defesa de tese
de Gilberto Mascarenhas no doutorado de ciências sociais da UFRRJ / CPDA em Março de 2007.
52
estudo de caso da cadeia produtiva têxtil da marca “Tudo Bom? irá apresentar a
operacionalização de um projeto nos moldes da proposta do comércio justo, aliando o
posicionamento político às práticas comerciais.
53
Capítulo 2
Institucionalizando o Comércio Justo.
Em reação ao modelo econômico internacional vigente vem institucionalizando-se
diversos movimentos sociais com o objetivo de promover o desenvolvimento sustentável
ambiental, social e econômico no planeta. Dentre eles, o comércio justo, age diretamente
sobre as operações de mercado, propondo uma nova forma de se fazer negócios baseada no
combate a pobreza e na busca de equilíbrio entre as nações. O movimento tem na sua origem
o posicionamento político contra as injustiças do comércio internacional, onde, a partir do
século XXI, começa a gerar também um fluxo econômico significativo. Este capítulo tem por
objetivo contextualizar o comércio justo, as razões sobre as quais este movimento se
estabeleceu e exatamente como se desenvolveu até os dias de hoje. A compreensão do
movimento, sua organização e propostas são fundamentais para, a partir do capítulo seguinte,
abordar o tema específico desta dissertação, o algodão no comércio justo, que por sua vez
assumirá o papel de concretizar as questões abordadas sobre o comércio justo apontadas neste
capítulo e no anterior. Vale ratificar que a proposta deste trabalho não é posicionar o comércio
justo como a solução para os problemas de desequilíbrio entre as nações, mas sim de apontá-
lo como uma reação a estes desequilíbrios.
O Comércio Justo nasce nas décadas de 50 e 60 para proporcionar, principalmente a
produtores marginalizados do mercado convencional, oportunidades de desenvolvimento
econômico, social e político. Como conceitua Michael Goodman em sua publicação sobre o
tema em 2004, o comércio justo tende a re-conectar produtores e consumidores
economicamente, politicamente e psicologicamente através da criação de uma economia
moral transnacional. A partir da década de 70, o terreno do desenvolvimento deixa de ser o do
mercado nacional e sim a abertura de mercados para exportações. Acirra-se o discurso da
globalização onde o desenvolvimento das nações passa pelo sucesso competitivo das suas
exportações. A Ásia se transforma em um importante modelo deste novo conceito de
crescimento competitivo. O comércio internacional passa a ser o eixo das estratégias de
desenvolvimento. Tal perspectiva se tornava clara desde 1968, quando na Conferência da
UNCTAD
58
, foi lançada a famosa frase Trade Not Aid”, ou seja, “Comercialize, Não
58
http://www.eftafairtrade.org/Document.asp?DocID=64&tod=369
54
Ajude”, onde o desenvolvimento dos países do terceiro mundo deveria se dar a partir do
processo de comercialização e não através de ajuda internacional. Entretanto, desde aquela
época, o comércio como estratégia de desenvolvimento não vem apresentando resultados para
o crescimento equilibrado das nações, mas sim um distanciamento cada vez maior entre as
nações mais ricas e mais pobres. O movimento do comércio justo nasce como uma reação
política, com o objetivo de influenciar as políticas internacionais por um comércio
internacional com justiça, “make trade fair
59
”. Na década de 90, com a OMC e os acordos de
propriedade intelectual (TRIPs), e a Rodada Doha para o desenvolvimento, na década
seguinte, o mercado internacional consolida-se como a ferramenta para redução da pobreza e
promoção do desenvolvimento. Entretanto, movimentos sociais e governos de diferentes
países em desenvolvimento contestam as práticas de livre comércio e pleiteiam práticas para
um comércio justo. A inconstância dos preços internacionais e o excesso de mecanismos de
proteção interna dos países desenvolvidos m freando, e muitas vezes minando, o
desenvolvimento de países com forte dependência das exportações. Muitas vezes tais preços
nem garantem a própria subsistência dos produtores, como foi o caso da queda do preço do
café para o México ou atualmente o algodão na África (Wilkinson, 2006).
Percebe-se então a importância de duas ações fundamentais de articulação política do
comércio justo. A sensibilização política de organizações governamentais e inter-
governamentais, prática também conhecida no movimento como “advocacy”, e a
sensibilização do consumidor. No campo da sensibilização política as quatro principais
organizações do comércio justo internacional, que abordarei com maiores detalhes em
seguida, se reuniram sob um guarda chuva institucional denominado FINE, juntas formaram
um escritório comum em Bruxelas para trabalhar atividades e propostas para governos e
organizações inter-governamentais. Nesta última década, o comércio justo alcançou alguns
resultados concretos como, a adoção de resoluções em comércio justo pelo Parlamento
Europeu em 1994 e 1998, a Comunicação do Comércio Justo pela Comissão Européia em
1999 e uma menção ao comércio justo no Acordo do Cotonou em 2000
60
(Wilkinson, 2006).
Por sua vez, as lojas especializadas na Europa vêm sendo as grandes precursoras de
atividades para a sensibilização do consumidor, atuando diretamente nos bairros através de
59
Campanha Oxfam UK.
60
Estas informações podem ser encontradas na seção “Fifty Years of Fair Trade” no site da IFATwww.ifat.org
; e Cotonou: acordo de desenvolvimento estabelecido entre a União Européia com a África, o Caribe e países do
Pacífico. Maiores informações no site www.europa.eu.int/comm/development/body/cotonou/index_en.htm.
55
campanhas e atividades como o dia mundial do comércio justo (Wilkinson, 2006). Hoje, o
comércio justo desenvolve campanhas nacionais e até mundiais. Em 2005, a Rede Mundial
de Comércio Justo IFAT - realizou pela primeira fez uma campanha de sensibilização
global, abrangendo diferentes países de todos os cinco continentes, a chamada Marcha Global.
Logo, o movimento do comércio justo se direciona às questões globais do sistema de
comércio internacional. Sistema este carregado de assimetria de informação e oportunismo
enraizado nas relações comerciais. O atual sistema de comércio justo veio então para apoiar
pequenos produtores a superar as dificuldades que enfrentavam. Através da ação de grupos
europeus e norte-americanos - ONGs, agências de cooperação, instituições filantrópicas,
grupos de consumidores - vende-se, em mercados do hemisfério norte, produtos dos pequenos
produtores, vítimas do isolamento comercial ou da pobreza. É baseado em princípios como:
erradicação do trabalho infantil e escravo; eliminação das discriminações de raça, gênero e
religião; preservação da saúde e do meio ambiente; eliminação dos níveis de intermediação
comercial especulativa; garantia do pagamento de preços justos aos pequenos produtores e
relações de longo prazo; respeito aos direitos trabalhistas; respeito às identidades históricas e
culturais, locais e regionais; fortalecimento das capacidades de escolha e planejamento dos
indivíduos; estímulo para a criação de associações e cooperativas; apoio ao desenvolvimento;
oferta de ferramentas de conhecimento e de tomada de decisão; garantia dos fluxos
multidirecionais de informações entre os atores envolvidos; estabelecimento de demandas de
longo prazo e políticas de relações éticas transparentes e co-responsáveis entre os diversos
atores da cadeia produtiva.
O comércio justo pode ser compreendido através de seus três principais componentes.
Os dois primeiros componentes são os sistemas de organização das relações institucionais e
comerciais do movimento. O primeiro, formado por redes sociais de Organizações de
Comércio Justo (OCJ), baseia-se na constituição de garantias participativas e em redes de
lojas especializadas. Este processo deu origem a marca FTO
61
desenvolvida pela rede de
comércio justo IFAT, que fundamenta-se na confiança gerada na rede entre seus membros e
utiliza o processo de auditoria externa por amostragem como último passo em um processo de
monitoramento. Já, o segundo componente é baseado na certificação de produtos alimentares
direcionados aos mercados de grande distribuição, este baseado no processo de auditorias
61
FTO: “Fair Trade Organization”. Termo em Inglês para Organização de Comércio Justo (OCJ).
56
externas constantes, tornando-se mais caro e, por isso, exclusivo para um número menor de
produtores. Esta é a estratégia adotada pelo selo FLO, que licencia a utilização do seu selo de
comércio justo aos distribuidores nos países consumidores.
Visando visualizar com maior transparência os principais pontos de diferenciação dos
dois sistemas de comércio justo segue abaixo dois quadros explicativos. Estes quadros foram
apresentados pelo diretor executivo da IFAT, Stefan Durwal, em ocasião de sua visita ao
Brasil e participação no Encontro de Comércio Justo e Solidário em São Paulo, abril de 2007:
Sistema IFAT Sistema FLO
Definição comum do
comércio justo.
FINE
O comércio justo
é uma relação de troca, baseada no diálogo, na
transparência e no
respeito, que busca maior igualdade no
comércio internacional. Contribui ao desenvolvimento sustentável
oferecendo melhores condições comerciais, e assegurando o
direito dos pequenos produtores e trabalhadores marginalizados,
especialmente do Sul.
Respectivos padrões
de comércio justo.
Padrões para organizações de
comércio justo (OCJ).
Indicadores comuns e regionais
para organizações de comércio
justo (OCJ).
Padrões específicos para
produtos de produtores de
comércio justo FLO e a relação
comercial que inclui preços
mínimos para produtos
específicos e prêmio social.
57
Sistema IFAT Sistema FLO
Sistema de
Monitoramento.
Estratégia de monitoramento
participativo para garantir a
qualidade.
Certificação baseada em terceira
parte, verificação externa.
Fluxo de produtos
auditados.
Não aplicável
Coberto
Escopo do registro
ou certificação.
Registro das organizações
aplicável a todos os membros
IFAT independente de onde
estão localizados (sul ou norte).
Certificação do produto.
Restrito a pro
dutos específicos
(principalmente alimentos) que
já possuam padrões definidos.
Selo / Marca
Marca da
Organização de
Comércio Justo
Selo FLO:
selo de
certificação do
produto.
Finalmente, o terceiro e último componente mais significativo do comércio justo é a
ação política do movimento. Esta ação é incorporada pelos dois componentes anteriores, neste
ponto as duas estratégias diferenciadas de acesso a mercado convergem. As ações políticas
influenciam o crescimento do mercado através de práticas de sensibilização do consumidor
como, por exemplo, as cidades de comércio justo na Inglaterra
62
, o consumo de café de
comércio justo nas instituições públicas e universidades, e a semana do comércio justo que
mobiliza em maio simultaneamente todos os atores de comércio justo nos diversos países,
principalmente através da rede de lojas especializadas. Por outro lado, através de técnicas de
“lobbing” político, ou “advocacy”, o movimento de comércio justo influencia diretamente as
organizações governamentais e inter-governamentais que definem as regras dos mercados e
passam a estimular e favorecer as práticas do comércio justo dentro das suas ações
(Wilkinson, 2006). A estrutura institucionalizada; campanhas e sensibilização política; o
consumidor consciente; a distribuição eficiente; e os produtores engajados, organizados em
um sistema integrado, vêm paulatinamente construindo e expandindo este movimento.
As organizações de comércio justo, cada qual com suas peculiaridades, se organizam e
atuam nas duas direções, comercial e política, onde uma estratégia fortalece a outra, o
62
“Fair Trade Towns”
58
comércio exemplificando na prática a aplicação dos princípios do comércio justo, e a
sensibilização política, influenciando consumidores e as principais instituições e organizações
que regulam o comércio internacional. A própria promoção do comércio justo, é um dos
princípios do movimento, assim como as práticas comerciais sustentáveis. Em seguida serão
abordadas estas duas estratégias de atuação do movimento visando exemplificar como este se
institucionaliza em ambas vertentes de atuação.
2.1 - O Comércio Justo e suas Práticas Comerciais
O comércio justo afeta o funcionamento diário da organização que o adota, e a
responsabilidade social é intrínseca às suas próprias atividades. Todo o projeto precisa contar
com as duas pontas da cadeia produtiva: o pequeno produtor e o consumidor. Os parceiros
envolvidos devem acordar os princípios e procedimentos básicos para a obtenção de uma
relação comercial mais justa, que normalmente envolvem: preços mínimos e justos; prêmio
social; demandas de longo prazo para reduzir flutuações; “des-intermediação” da cadeia
produtiva; transparência nas relações comerciais; pré-financiamento da produção para
providenciar acesso ao capital; preservação do meio ambiente e gestão democrática por parte
dos produtores. Para se compreender os princípios que levaram a adoção destas práticas pelo
comércio justo é importante observá-las em relação às práticas convencionais de mercado
(Wilkinson, 2006; Tallontire & Vorley, 2005; Goodman, 2004; Goodman & Goodman, 2001;
Renard, 2005; Gosseries, 2002; Jaffe, Monroy & Kloppenburg, 2004).
Analisando o desenvolvimento dos mercados, com o advento industrial, a utilização de
máquinas na produção de mercadorias e bens agrícolas substituiu paulatinamente o trabalho
artesanal e do pequeno produtor. Agora o mercador, ou comerciante, passa a comprar a
matéria prima e a mão de obra de produtores para ele mesmo produzir o produto final a ser
comercializado. Uma mesma quantidade que antes diversos artesãos e pequenos produtores
vendiam, passou a ser comercializada por um só. Esta mudança intensificou o processo de
acumulação de capital, gerando significativas conseqüências para a ordem social. Para
justificar economicamente o emprego do maquinário era necessário produzir em larga escala,
com abastecimento constante de matéria prima e de mão de obra. Este processo muda
definitivamente a organização da sociedade que passa a se aglomerar ao redor de indústrias.
Estas, ao contrário dos artesãos e do pequeno produtor, têm mais informação, maior alcance e
melhores preços. Uma vez estabelecida a produção em grande escala é necessário que seja
59
garantido o consumo na mesma proporção. Esta aglomeração leva a população a depender da
própria indústria para gerar sua renda. K. Polanyi, em sua obra de 1944 “A Grande
Transformação”, identifica: “A transformação implica uma mudança na motivação da ação
por parte dos membros da sociedade: a motivação do lucro passa a substituir a motivação da
subsistência. Todas as transações se transformam em transações monetárias e estas, por sua
vez, exigem que seja introduzido um meio de intercâmbio em cada articulação da vida
industrial. Todas as rendas devem derivar da venda de alguma coisa e, qualquer que seja a
verdadeira fonte de renda de uma pessoa, ela deve ser vista como resultante de uma venda”.
K. Polanyi também conclui que a exploração do trabalho humano possui limites impostos
pelo próprio homem, que a gica de um mercado livre e da maximização do lucro no seu
conceito mais puro desconhece. É neste aspecto que se apóia o movimento do comércio justo,
atuando no combate a exploração do trabalhador e do produtor, e na preservação do meio
ambiente.
Logo, neste contexto podem-se observar diferentes características do comércio justo.
Este vai atuar sobre os produtores e trabalhadores em desvantagem econômica, terá como um
dos seus princípios a preservação do meio ambiente, atuando em parceria com movimentos
ambientalistas e de produção de alimentos orgânicos, e aplicará o princípio do preço justo,
adicionado práticas como o prêmio social, o pré-financiamento e a definição de preços
mínimos (Tallontire & Vorley, 2005; Goodman, 2004; Renard, 2005; Gosseries, 2002; Jaffe,
Monroy & Kloppenburg, 2004).
Ainda, segundo aborda Fernand Braudel, em sua obra “A dinâmica do Capitalismo”
de 1985, está na raiz do próprio capitalismo algumas das características que levaram ao
desequilíbrio cada vez mais significativo entre atores comerciais. No princípio, as trocas entre
pessoas ocorriam em mercados locais e não apresentavam grandes surpresas, nestes mercados
todos tinham conhecimento dos atores envolvidos na comercialização, seus produtos,
qualidade e principalmente seus preços. F. Braudel, definiu este processo como o de trocas
transparentes, que suas conseqüências eram conhecidas por todos os envolvidos e suas
margens de lucros podiam ser facilmente calculadas e negociadas. Entretanto, quando nestes
mercados surgiam mercadores de outras regiões, esta transparência era prejudicada. Estes
agiam como intermediários entre o artesão ou o agricultor e um consumidor de outra
localidade. A partir deste momento não se tinha mais conhecimento das margens auferidas na
transação final ou das práticas envolvidas. O mercador passa a ser o único a dominar o
60
conhecimento do custo e do preço da venda, maximizando sua margem até o valor que o
consumidor final está disposto a pagar. Detém, assim, o controle daquele mercado,
influenciando seus preços e a concorrência. Relações de comercialização coletivizadas foram
substituídas por transações individuais, em que a transparência é minimizada e os termos da
transação são definidos de acordo com os interesses dos poucos atores envolvidos e dos que
detém mais informação. A concorrência local passa a ter um papel mais coadjuvante, perde
sua significância na equalização das relações de troca que se tornam por fim desiguais, que
o intermediário domina o conhecimento das duas pontas, o produtor e o consumidor,
manipulando suas condições, acumulando capital e influenciando políticas comerciais e
institucionais.
Se ampliarmos o exemplo do mercador para o comércio internacional tal qual se
organiza nos tempos atuais é possível ver tal procedimento em escalas maiores atingindo
produtos chaves de nações inteiras, expandindo ainda mais as cadeias produtivas, muitas
internacionalizadas, tornando cada vez mais complicado compreender suas estruturas, práticas
e termos de negociação. Isto dificulta processos de fiscalização e aplicação de regras, dando,
consequentemente, mais força a expansão deste processo capitalista. Este exemplo resume
diferentes princípios base do conceito de comércio justo e foco de sua luta política, sendo um
deles, senão o mais expressivo, a transparência.
2.1.1 - Transparência
Hoje, os consumidores conhecem bem marcas, mas pouco sabem sobre o processo
produtivo por trás de cada uma. Não conhecem verdadeiramente quem está por trás de cada
barra de chocolate ou cada grão de café que se consome, ou ainda em que condições estes
produtos são comercializados para os grandes intermediários. Esta questão fundamental é
foco de toda a estratégia de sensibilização do consumidor pelo comércio justo. Produtos e
propagandas de comércio justo buscam sempre estampar em suas embalagens, ou materiais de
divulgação, as pessoas por trás de cada produto, suas imagens, seus estilos de vida, e suas
apreciações pelo que produzem. Por sua vez, grupos de consumidores já participam das
iniciativas nacionais de certificação, assumindo um papel fundamental no desenvolvimento do
consumo ético e responsável (Wilkinson, 2006). Buscando diminuir as distâncias entre
produtores e consumidores e gerar confiança no mercado, instituíram-se sistemas de
monitoramento e certificação através de mecanismos de certificação participativa e auditorias
61
externas que visam garantir ao consumidor a transparência, a legitimidade e a confiança no
produto e em suas marcas. O acompanhamento das cadeias produtivas através de processos de
monitoramentos e auditorias aborda aspectos não apenas econômicos, mas também sociais e
ambientais. Deve-se ter transparência e segurança de que as regras do comércio justo, seus
princípios, sejam respeitadas, para que não se recriem condições que possam feri-las. Com
base nas informações das auditorias ou processos de auto-avaliações definem-se as condições
básicas para uma qualidade de vida mínima dos produtores, e s.1702(d)-0.295585(e)á74(s)-1.2312( )-40.1702deeomivilçõs
62
pontos tradicionais de comercialização, como as lojas especializadas, e entrar na grande
distribuição, a transparência torna-se uma questão ainda mais significativa (Gosseries, 2002).
Outro debate que surge a respeito da transparência é até que ponto o produtor
individualizado está realmente informado sobre todo o processo que engloba a
comercialização do seu produto e sobre as expectativas do seu consumidor. Será que este
produtor sabe mais sobre os questionamentos do consumidor que não apenas suas exigências
de qualidade sobre o produto que ele produz? Na maior parte dos casos são alguns membros
da diretoria das cooperativas, ou ONGs, que detém as informações mais significativas e
compreendem de forma clara as demandas do comércio justo, formando entre estes e o
produtor uma barreira de conhecimento, mesmo que estes ajam em geral para o crescimento
do grupo produtivo. Ainda resta a muitos produtores, enquanto indivíduos, um papel de
espectador dentro desta proposta. Em alguns casos pode ser por conseqüência da falta de
interesse do produtor em entender melhor o seu processo comercial, pela cultura local, ou da
incapacidade da própria organização em comunicar-se com seus produtores e impulsionar
internamente o princípio da transparência (Goodman, 2004).
Muitas vezes o próprio conceito de transparência é nebuloso entre os diferentes atores
que compõe a sociedade. Em uma conferencia sobre comércio justo em 2007 na cidade de
São Paulo, Brasil, foi questionada a uma mesa com representantes do governo federal, da
sociedade civil, de produtores e de uma empresa privada envolvida com responsabilidade
social e produtos de comércio justo, sobre como cada um conceituaria a transparência. O
interessante é que as respostas de cada ator foram diferenciadas. Enquanto a resposta do
governo foi mais pontual focando a transparência na abertura de preços, comprovando o
pagamento de uma margem mais justa aos produtores, com outro foco o posicionamento do
produtor foi através do compartilhamento de informações para viabilizar a todos os
produtores a participação na construção de novos caminhos mais favoráveis, mesmo que
muitas vezes ocorram rusgas, todos os interesses devem ser explicitados. Segundo o
representante da APACO Associação dos Pequenos Produtores do Oeste Catarinense, “para
haver participação tem que ter parte e fazer parte”. A sociedade civil, representada pela
Plataforma Brasileira de Comércio Justo, FACES do Brasil, colocou sobre a necessidade de se
ter clareza nos diálogos e acordos, abordou também o tema da formação de preço, que para
ser consolidado necessita de transparência no processo produtivo e consequentemente nas
63
negociações entre os atores comerciais. o representante do setor privado focou mais seu
discurso de transparência no âmbito da responsabilidade social.
2.1.2 – “Des-intermediação”
A tentativa de aproximar o consumidor do produtor busca influenciar esta segunda
prática do comércio justo, a diminuição da intermediação na cadeia produtiva. Esta proposta
de atuação trás consigo o conceito de cadeias produtivas curtas (Gosseries, 2002). Tratando-se
de mercados internacionais o fim de toda e qualquer intermediação se coloca improvável.
Entretanto, hoje vivemos um período em que a intermediação é um forte componente do
sistema comercial internacional. Algumas cadeias produtivas contam com diversos
intermediários para um mesmo produto, cada qual impõe sua margem sobre os preços e
quando o produto chega finalmente ao consumidor tem de margem de intermediação um
valor bem superior ao pago pela matéria prima no primeiro elo da cadeia produtiva. A
diminuição dos intermediários também tende a possibilitar que a cadeia produtiva se torne
mais eficiente, menos atores para se relacionar diminui a chance de assimetria de informação
na cadeia produtiva e consequentemente dos custos de transação. Desta foram aproxima-se
ainda mais o produtor do consumidor (Carimentrand & Ballet, 2004 apud Renard, 2005).
No comércio justo os lucros devem ser distribuídos na cadeia produtiva, onde, em um
esforço conjunto, produtor e importador se aliam buscando desenvolver produtos que
cheguem ao consumidor refletindo uma união de interesses equilibrada e atrativa
economicamente. No modelo convencional o lucro é normalmente acumulado na
intermediação, que esta possui o conhecimento das duas principais pontas da cadeia, o
produtor e o consumidor, sabendo com que margem trabalhar e até que nível de acumulo pode
alcançar.
2.1.3 -Relações de Longo Prazo
Neste contexto, outra importante prática do comércio justo é a das relações de longo
prazo. No comércio convencional as grandes empresas mudam de fornecedores e países de
acordo com as facilidades e melhores custos benefícios. No comércio justo a importância de
relações e contratos de longo prazo entre produtores e importadores é fundamental para
garantir ao produtor uma estabilidade em que possa crescer com segurança, se desenvolver,
64
investir na estrutura e em novas tecnologias, e inclusive, investir na relação com o importador,
desenvolvendo produtos e processos mais adaptados ao cliente. Por sua vez, o importador,
gera um relacionamento mais durador que se reflete no desenvolvimento de melhores práticas
e conhecimentos. Através do tempo esse processo leva a um maior conhecimento entre as
partes, melhorando os fluxos de informação, diminuindo os custos de transação, e
aprimorando os prazos de organização e resposta a pedidos (Tallontire & Vorley, 2005;
Renard, 2005).
2.1.4 - Preço Mínimo
A prática do preço mínimo remete às políticas públicas de governo no sentido de
preservar valores mínimos de mercado para produtos estratégicos. Com o crescimento das
práticas de livre comércio, os Estados passaram a ter menos força nos seus mercados,
deixando de influenciá-los desta maneira. Este mecanismo de proteção interna foi ajustado
para as práticas de comércio justo, no que diz respeito aos produtos, commodities”, que
possuem seu preço definido pelo mercado. É no pagamento do preço justo, onde se define um
preço mínimo que garante ao produtor que, se os preços de mercado forem inferiores ao preço
mínimo, o importador ou comprador de comércio justo não segue o preço de mercado, mas
sim este mínimo. Entretanto, se o preço no mercado mundial de tal produto for superior ao
preço mínimo, aplica-se o preço de mercado. O preço mínimo funciona como uma rede de
segurança para garantir a sobrevivência dos produtores em desvantagem econômica caso o
mercado naturalmente não o permita. Se o preço do mercado internacional cair abaixo deste
mínimo o importador de comércio justo garante o mínimo e o produtor não sofre com o
desequilíbrio excessivo dos preços flutuantes de mercado. Com esta prática, recai sobre o
consumidor o prêmio relativo à aplicação do preço mínimo, nos casos em que for necessário,
não mais acarretando em enormes prejuízos aos produtores. Fica a cargo do consumidor
também assumir as inconsistências dos mercados. O preço justo consolida-se como um
instrumento capaz de transferir renda de consumidores de países ricos para produtores de
países em desenvolvimento (Voituriez, Florès, Eberhart & Chauveau, 2002; Goodman, 2004;
Gosseries, 2002).
A prática do preço mínimo é largamente utilizada no comércio justo principalmente
em relação à produção agrícola. Por se tratarem de commodities”, a maior parte destes
produtos possui preços definidos no mercado internacional, que muitas vezes não é suficiente
65
para manter a qualidade de vida dos produtores em países pobres, desprovidos de subsídios. A
lógica que fundamenta a estratégia de precificação através de um preço nimo foi abordada
na década de 80 por Keynes sobre a necessidade dos preços de mercado em prover produtores
com “níveis decentes de nutrição e outros fatores necessários para a sua condição de vida... é
do interesse de todos os produtores que os preços das commoditiesnão sejam deprimidos
abaixo deste nível, e consumidores não são intitulados a esperar que devam cair” (Keynes,
1980 apud Oxfam, 2000)
O preço mínimo é, portanto, o menor preço possível que os importadores de comércio
justo podem pagar. Abaixo dele a relação comercial é destrutiva para o produtor, que não
estará sendo praticado o preço justo, e as condições básicas de sobrevivência dos pequenos
produtores não estarão sendo atendidas. Logo, quando o preço de mercado cai a patamares
inferiores ao preço mínimo a sua prática é acionada. Como exemplos, podem-se citar a crise
do algodão na África, que devido a queda dos preços internacionais seus produtores estão
vendendo algodão a preços inferiores a sua necessidade mínima de sobrevivência. Ou a crise
do café no mercado internacional no início da década de 90, quando a constante queda do
preço internacional provocou a dissolução de inúmeros grupos de produção no México e em
outros países tradicionais da América Latina (Voituriez, Florès, Eberhart & Chauveau, 2002;
Goodman, 2004). Foi com esta preocupação que se instituiu dentro do comércio justo o
conceito de preço mínimo. Para que os produtores sujeitos as intempéries do mercado
internacional pudessem ter uma garantia mínima de que estariam sempre recebendo o preço
justo pelo seu trabalho. Neste segundo caso a distância entre o preço pago pelo mercado e o
preço mínimo pago pelos importadores de comércio justo é representada por um prêmio pago
aos produtores que fazem parte do movimento de comércio justo, que nada mais é do que um
valor adicional para preservar a sustentabilidade humana e ambiental.
2.1.5 - Prêmio Social
O prêmio social, também conhecido como prêmio de desenvolvimento, é uma prática
comum no comércio justo, seja no campo dos produtos alimentares, artesanais ou têxteis. É
um prêmio adicional ao valor final do preço justo pago pelos importadores para ser investido
na comunidade ou no grupo. Não é um valor que em tese pode ser revertido individualmente
aos produtores, mas sim investido em benefícios e melhorias para todo o grupo ou para a
comunidade em que o grupo está inserido. O investimento a ser realizado com este prêmio
66
deve ser definido por todos os membros do grupo produtivo em assembléia geral. Entretanto,
em alguns casos o grupo decide por dividir entre suas famílias o prêmio, o que não é a
utilidade original do prêmio, mas alguns importadores aceitam. A FLO posiciona-se contrária
a esta utilização do prêmio social, acredita que, se o intuito do prêmio é levar ao
desenvolvimento local, este deve ser usado no sentido de fortalecer projetos e organizações
sociais nas comunidades de produtores, possibilitando que estas conquistem sua estabilidade
financeira e possam desenvolver serviços sociais para todos constantemente (Voituriez,
Florès, Eberhart & Chauveau, 2002; Renard, 2005; Gosseries, 2002).
No caso da sua distribuição como remuneração, o prêmio social pode ser calculado
pela diferença entre o preço justo pré-definido e o preço final pago pelo importador de
comércio justo. Outra maneira é direcioná-lo pontualmente, de acordo com os pedidos, para
investimento na comunidade, sempre refletindo um valor calculado sobre as vendas do
produtor ao importador. Nem todos os importadores chegam a praticar o prêmio social,
entretanto a sua aplicação faz parte das práticas do comércio justo e deve ser perseguida tanto
pelos produtores quanto pelos importadores. O premio social é uma reação do movimento
frente à necessidade de investimento social junto as populações em desvantagem econômica,
como por exemplo, escolas, clínicas de saúde, centros comunitários, entre outras benfeitorias.
Outrora responsabilidades únicas do Estado, que não consegue mais assumir todas as ações
necessárias, se tornaram também responsabilidades da sociedade, seja através das práticas de
responsabilidade social das empresas convencionais, de movimentos sociais como o comércio
justo, ou até mesmo com o apoio individual de cada cidadão com seu trabalho voluntário ou
ajuda financeira a projetos sociais. Cada vez mais as pessoas e as organizações privadas estão
conscientes do seu papel como agentes de mudança na sociedade.
2.1.6 - Pré-financiamento
O pré-financiamento é uma prática do comércio justo que visa apoiar o pequeno
produtor com seus custos iniciais de produção, incrementando seu capital de giro, seja para
compra de insumos e sementes, no caso dos produtores agrícolas ou para compra de matéria
prima no caso dos artesãos. A FLO, por exemplo, institucionaliza como critério sobre o café
de comércio justo que produtores possam demandar até 60% de pré-financiamento (Tallontire
& Vorley, 2005; Renard, 2005; Gosseries, 2002). Normalmente, estes pequenos produtores
têm um difícil acesso a crédito em seus países. Os juros nos países em desenvolvimento,
67
especialmente no Brasil, onde será abordado o estudo de caso, são altos e normalmente se
transformam em armadilhas que mantém os produtores presos a vidas infindáveis.
Entretanto, pequenos artesãos e produtores informais, que hoje compõe a maior parte da
população economicamente ativa no Brasil, muitas vezes não buscam o sistema bancário para
realizar empréstimos por falta de garantias e/ou devido a complexidade, burocratização e
excessivas exigências do processo. Normalmente, os produtores acabam conseguindo
empréstimos através de agiotas da própria comunidade que vivem dos juros altíssimos que
cobram dos produtores. Um exemplo é o caso de costureiras informais de Petrópolis que
chegam a pagar 20% de juros por mês por empréstimo a agiotas da região. Estes juros tendem
a multiplicar a dívida destas mulheres e elas acabam se desfazendo de ativos fixos para pagá-
los. Entraremos mais a fundo neste exemplo no estudo de caso.
Programas de micro-crédito direcionados a pessoa física e pequenos negócios
informais se tornam boas opções. Entretanto, ainda existe uma oferta muito pequena destes
serviços nos países em desenvolvimento. Neste sentido, surgiram algumas iniciativas
internacionais visando a constituição de ferramentas para o pré-financiamento da produção no
comércio justo. É interessante que sejam citados dois exemplos: a Oikocredit
63
é uma
organização de apoio ao comércio justo holandesa associada a Associação Internacional de
Comércio Justo IFAT. Tem como característica principal o financiamento de pequenos
produtores através de micro-crédito, apoiando tanto na obtenção de capital de giro como no
investimento em infra-estrutura e equipamentos. O segundo exemplo é baseado em um
sistema de câmara de compensação, onde forma-se uma relação entre os atores comercias,
produtor e importador, no processo de financiamento da produção através da câmara de
compensação, gerenciada pela organização inglesa Shared Interest
64
. Esta pré-financia o
capital de giro para o produtor, como parte inicial do pagamento do importador, e cobra o seu
pagamento diretamente ao importador. Quando este recebe a mercadoria do produtor, paga o
que foi adiantado ao produtor à câmara de compensação e o restante do valor acordado
encaminha ao produtor. O financiamento máximo ao produtor pode chegar a 80%. A garantia
que a organização cobra é a existência de um acordo de compra e venda firmado entre
produtor e importador e que estes sejam associados a IFAT. Neste sentido, a organização
também financia o importador, tanto em relação ao pré-financiamento ao produtor como em
relação ao próprio pagamento à Shared Interest, que pode ser realizado a prazo.
63
Para maiores informações o site da organização é: www.oikocredit.org
64
Para maiores informações o site da organização é: www.shared-interest.com
68
2.1.7 – Preço Justo
O preço justo visa garantir as necessidades de qualidade de vida dos produtores,
garantido aos mesmos acesso a alimentação saudável, habitação, saúde, educação e lazer. A
diferença entre o preço de mercado e o preço justo de um produto é compreendida como o
prêmio pela qualidade de comércio justo do produto, atuando como um mecanismo de justiça
social e ambiental. Aplicado sobre os preços de mercado geram um sobre custo frente aos
produtos convencionais, que no caso do café de comércio justo pode atingir um preço final
15% a 20% superior ao de mercado (Voituriez, Florès, Eberhart & Chauveau, 2002;
Goodman, 2004; Gosseries, 2002).
O preço justo deve viabilizar a redistribuição de valor nas cadeias produtivas,
envolvendo acordos sobre os critérios para a formação de preços. Como definido em 1947, no
GATT, o equilíbrio de mercado reside no respeito de três critérios fundamentais: a não
discriminação, critério fortemente relacionado ao conceito de justiça; a transparência; e a
reciprocidade. Entretanto, a idéia do preço eficaz, como aquele que corresponde ao equilíbrio
entre demanda e oferta, não leva em consideração a eficácia do mercado em relação a
distribuição de recursos, interesses individuais nem sempre coincidem com o interesse geral
do coletivo (Stiglitz, 2000 apud Voituriez, Florès, Eberhart & Chauveau, 2002). Neste
sentido, o preço justo praticado no âmbito do comércio justo, não é fruto de um cálculo
mecânico de custo e preço, mas sim dos interesses individuais e coletivos, ou seja, o preço
leva em consideração o apenas os aspectos econômicos das trocas, mas também os morais.
Devido a estes aspectos, o preço justo não é determinado necessariamente pelas forças de
mercado, e sim pela avaliação das necessidades de qualidade de vida dos produtores que se
encaixam no perfil exigido pelos princípios do comércio justo. Por isso, esta estratégia de
precificação possui um caráter mais distributivo que concentrador (Voituriez, Florès, Eberhart
& Chauveau, 2002).
Os objetivos de implantação de um preço justo são associados à redução de incertezas;
dos riscos; dos custos de financiamento; da integração de custos sustentáveis relacionados ao
meio ambiente e aos custos sociais; do financiamento de bens coletivos e da redistribuição de
capital dos elos mais fortes da cadeia produtiva aos mais fracos. Logo, o preço justo tende a
ser mais elevado que o convencional, pois nele está embutida esta lógica da redistribuição de
69
valor para os pequenos produtores, que no aspecto dos seus negócios leva a diminuição dos
seus riscos e incertezas, viabilizando maiores chances de adquirir financiamentos,
consequentemente aumentar sua capacidade tecnológica e sua produtividade (Voituriez,
Florès, Eberhart & Chauveau, 2002). Entretanto, argumenta-se que os países produtores ainda
se concentram mais na exportação de matéria prima quando a industrialização dos produtos é
realizada na Europa, favorecendo nestes últimos elos da cadeia a acumulação de valor
agregado (Wilkinson, 2006).
Com base em todas estas breves análises é possível se construir uma visão mais clara
de como é economicamente praticado o comércio justo. É importante entender que não existe
uma fórmula capaz de responder a todas as características particulares dos diversos produtores
enraizados em regiões e culturas diferenciadas. O que se pode é buscar construir uma
metodologia de análise de preço que seja aberta e simples o suficiente para que grupos de
produção e importadores possam aplicá-la no seu dia a dia, adaptando-a as diferentes
realidades locais. O preço justo deve ser resultado da soma do preço eficaz com o prêmio do
comércio justo, estando a este prêmio ainda somado, ou não, o prêmio social (Voituriez,
Florès, Eberhart & Chauveau, 2002). Observando-se o cálculo convencional de formação de
preço pode-se inferir como seria definido o preço justo:
Preço ($) = Custo Fixo (CF)
+ Custo Variável (CV) + Margem (M)
Quantidade (Q)
O custo fixo, o custo variável e a quantidade média produzida são naturalmente
conhecidos. Entretanto, muitas vezes os grupos produtivos têm dificuldade de calculá-las, ou
por falta de capacitação ou por sempre terem trabalhado no preço dado pelo mercado e nunca
terem efetivamente formado seu preço através do cálculo dos seus custos. Isto acontece muito
quando se lida com produtores que estão em desvantagem no mercado. Estes acabam
aceitando qualquer proposta do mercado local, para não ficar sem produção, no caso de
artesãos, ou com estoque sobrando, no caso de produtores agrícolas, e muitas vezes vendem
sua mão-de-obra ou produção a preços abaixo de sua linha de custos. É comum também que
este produtor acabe aumentando sua jornada de trabalho para 12 a 15 horas diárias, buscando
ganhar em escala e compensar no final do mês a baixa remuneração por unidade produzida.
Mas, muitas vezes, termina o mês sem sobra no bolso, que teve que arcar com custos fixos
sem que o seu trabalho tivesse sido o suficiente para pagá-los. Esse é o caso de diversas
70
costureiras da região de Petrópolis no Rio de Janeiro, hoje foco de ação do projeto de
comércio justo da marca “Tudo Bom?”. No início do projeto as mulheres não eram capazes de
dizer a que custo estavam trabalhando. Apenas aceitavam os preços impostos pelos clientes. A
reclamação da liderança de um grupo era constante: “Nunca sobra dinheiro no final do mês
para que possamos ajudar nas nossas despesas com a família, são sempre nossos maridos que
levam renda para a casa. Parece que estamos aqui trabalhando de graça, é desesperador.
Nossas despesas acabam sendo muito altas e sempre temos problemas com máquinas
quebradas, os custos de concerto são imprevistos. Até a aposentadoria de uma de nós é
utilizada para pagar as contas de luz no final do mês. Precisamos também pagar um salário
fixo as demais costureiras do grupo, pois senão o grupo não se mantém e não poderemos
suprir a demanda os clientes.”
65
. Clientes estes que por sua vez pagavam um preço abaixo dos
seus custos, criando assim um processo destrutivo que fatalmente levaria a dissolução do
grupo. Foi feito todo um trabalho de abertura do preço e ficou claro que em alguns casos nem
o custo da linha de costura era bancado pelo preço pago no mercado local. Para o comércio
justo foi então calculado todos os custos fixos, incluindo despesas desde a manutenção das
máquinas até o lanche das mulheres e o papel higiênico. Foram recalculados os custos
variáveis de acordo com o consumo de linha, óleo e de hora/mulher em cada máquina por
peça produzida. É desta variável que vem a remuneração das mulheres do grupo. Com este
valor real dos custos foi negociada a margem. É nesta última variável que entra a formação do
preço justo.
Margem (M) = M
Econômica
+ M
Social
A margem econômica preza pela auto-sustentabilidade do negócio, podendo o seu
ganho ser investido em aumento de capital de giro, novas tecnologias e equipamentos,
capacitações técnicas e gerenciais entre outros investimentos que venham a ser necessários
para o crescimento e o desenvolvimento do grupo de produção / negócio. Até então este é um
modelo base utilizado convencionalmente na formação de preços. Entretanto, no caso de uma
relação entre comprador e produtor de comércio justo surge uma nova variável, a variável
social (M
Social
). Ou seja, a variável responsável pela auto-sustentabilidade do indivíduo. Nela
está compreendido o prêmio que torna o preço convencional em um preço justo. Na maioria
dos países onde estão localizados os grupos de produção de comércio justo, o salário mínimo
65
Reunião com costureiras do Espaço Tudo Bom, ONG Onda Solidária e Importador de Comércio Justo Fair
Planet em 2005.
71
não é condizente com as necessidades de vida da população. Precisa-se de dois a três salários
mínimos para alcançar uma qualidade de vida sustentável, entretanto grande parte dos
produtores público-alvo do comércio justo muitas vezes não chega a se remunerar nem com
um salário mínimo. Utilizando o salário mínimo, mesmo aqueles estipulados por sindicatos,
como base de cálculo para a variável do valor hora/ homem que compõe o custo variável do
produto, ou seja, o custo da mão-de-obra, o seu resultado na maioria dos casos não será
suficiente para alcançar um nível de qualidade de vida seguro ao produtor. O comércio justo
atesta que o investimento em educação, práticas ambientais saudáveis, igualdade de gênero,
democracia, qualidade de vida a crianças e uma renda mínima são necessidades humanas
universais no que diz respeito a seus espaços físicos, culturais e econômicos (Goodman,
2004).
Logo, esta variável social busca atrelar à margem do produto custos referentes à
realidade dos produtores, para que estes possam contribuir com a melhoria da qualidade de
vida da sua família e a sua sustentabilidade. A M
Social
pode ser calculada através dos custos de
vida de uma família padrão na localidade onde vivem os produtores, levando em consideração
fatores como educação, saúde, moradia e outros custos de necessidade básica. Para a
formação do preço, neste valor particular de cada localidade deve ser subtraído o valor
definido anteriormente como remuneração mínima no custo de mão de obra, e esta diferença
multiplicada pelo número de produtores. Este valor então, assim como o custo fixo, deve ser
dividido pela produção média do grupo, chegando assim ao valor unitário desta variável. Este
valor somado ao valor unitário estipulado para a margem econômica, vai gerar a margem total
para um preço justo.
M
Social
= Custo médio de vida de uma família local – MDO no CV x N
#
Produtores
N
#
médio de pessoas ativas por família
Quantidade média produzida (Q)
Ou seja, nada mais é que uma renda complementar ao produtor tendo como base a sua
realidade familiar. Outra possibilidade seria adicionar este complemento de renda no preço
da mão de obra (MDO) diretamente no custo variável. Entretanto ficaria menos transparente
exatamente o que seria o diferencial do preço justo, tanto para os produtores como para os
outros atores envolvidos na cadeia produtiva e de distribuição. Através desta variável é
possível avaliar claramente que significado tem o preço justo na realidade daquele grupo de
72
produção e como esta realidade é reproduzida em valores. Outro ponto favorável em se ter
uma variável que seja formada única e exclusivamente com a intenção de se qualificar o preço
justo é a facilidade em se comparar o custo de qualidade de vida de produtores de regiões
distintas dentro do comércio justo e com produtos semelhantes no mercado convencional, que
não possuem esta variável. Por exemplo, ficaria mais transparente a diferença existente entre a
aplicação do preço justo entre um artesanato latino americano e outro asiático através da
análise da formação da margem social das duas regiões. Ainda além, uma média destas
variáveis por região pode levar à demonstrações matemáticas das diferenças sociais entre
produtores de variados países e localidades. Neste sentido, agencias de financiamento e ONGs
de fomento estarão mais informadas, atentas e preparadas para apoiar mais eficientemente nos
pontos fracos de cada região/localidade.
A questão da expansão também trás a tona a variável Q da equação, ou seja, a
quantidade média produzida. Quanto maior esta quantidade menor será o preço do produto
que está influencia a custo fixo e a M
Social
, podendo também afetar a M
Econômica
dependendo de
como esta é calculada pelo grupo produtivo. Nestas propostas de análise do preço justo entre
regiões e grupos produtivos ela deve ser neutralizada para garantir uma análise dos aspectos
sociais queo seja influenciada pela questão da escala. Assim como pode também ser
utilizada com o objetivo de comparar escala e sua influencia no desenvolvimento das regiões
produtivas e não apenas no desenvolvimento dos mercados consumidores, como é mais
utilizada, levando a um possível ponto de equilíbrio entre margem social e quantidade
produzida. Ainda, o próprio ganho de escala influencia a qualidade de vida dos produtores
que, por sua vez, vão exigir melhorias nas condições de trabalho e na qualidade de vida,
necessitando recalcular o preço. Estes são mecanismos que apoiarão o desenvolvimento do
comércio justo frente ao seu forte processo de expansão. Entretanto, um aprofundamento
matemático, conceitual e prático destas questões seria necessário.
2.2 - O Comércio Justo e a sua Sensibilização Política
Diferente das frentes políticas históricas formadas por sindicatos e partidos políticos, o
comércio justo se caracteriza como um movimento que ao invés ter o Estado como foco de
atuação, tem o mercado. Este movimento utiliza a sensibilização política como um meio para
atingir mudanças na organização e nas regras que atualmente regem o mercado internacional e
não como um fim em si, ou seja, seu objetivo não é modificar os atores ou estruturas
73
governamentais estabelecidas. A sua influencia nos Estados varia de país para país, dentre
estes o setor público na Europa vem sendo mobilizado em relação a suas compras públicas,
configurando-se como um importante mercado institucional para o comércio justo. Existem
iniciativas concretas na União Européia que abordam os objetivos do comércio justo,
apoiando o consumo de seus produtos, ações de educação do consumidor e de
desenvolvimento de políticas públicas. No próprio Parlamento Europeu consome-se café de
comércio justo. Este, desde 1998, vem desenvolvendo um importante papel no apoio a
iniciativas de comércio justo e na promoção do conceito e suas práticas para expandi-lo a
países da Europa Central. Agencias ligadas aos governos europeus, como o DFID no Reino
Unido, “Department for International Development”, a GTZ na Alemanha, a Solidariedad na
Holanda, a Cordenation Sud na França, entre outras, desenvolvem programas de cooperação
internacional com ONGs envolvidas com comércio justo nos países produtores, seguindo os
objetivos de redução da pobreza do milênio
66
, onde o comércio é categorizado como caminho
para o desenvolvimento dos países mais pobres. O comercio justo foi oficialmente
reconhecido no Acordo de Cotonou e na XI Conferencia da UNCTAD em São Paulo, 2004,
quando um fórum organizado pela sociedade civil priorizou o comércio justo no programa
oficial do evento. (Wilkinson, 2006; Wilkinson, 2006)
Na Bélgica e na França, assim como no Brasil, se estabelece um processo interno para
regulamentação pública do comércio justo. No caso francês, um acordo entre as organizações
da sociedade civil e o órgão de governo francês, AFNOR, publicou um texto de referencia em
janeiro de 2006 sobre o reconhecimento de três princípios básicos do comércio justo: relações
comerciais equilibradas entre parceiros e contratantes; atividades de acompanhamento no
apoio a produtores e suas organizações; e informação e geração de conhecimento sobre o
comércio justo para consumidores, clientes e público em geral. As organizações francesas de
comércio justo esperam que este seja um primeiro passo para a regulação do mercado. A
busca por uma legitimação pública é conseqüência da apreensão das organizações alternativas
de comércio justo que temem que o conceito se torne uma estratégia de segmentação de
marketing. Esta seria uma possibilidade dado o processo inicial de multiplicação de selos de
comércio justo, com caso em que algumas empresas nem passam pelo processo de
licenciamento formal através das organizações de certificação tradicionais do movimento de
comércio justo. Com base no movimento francês e nas pressões realizadas pelas organizações
66
“International Millennium Goals”
74
de comércio justo, o Parlamento Europeu aprovou em julho de 2006 uma resolução de apoio
ao comércio justo, demandando a Comissão Européia que produza uma recomendação
específica sobre o tema. Por este caminho, idealiza-se uma possível regulamentação
abrangente de comércio justo para todos os países da União Européia.
Todo este movimento internacional vem caracterizando as organizações de comércio
justo, devido a sua ação direta no mercado, como as parceiras mais interessantes para os
programas governamentais de cooperação internacional. O fato da luta contra a pobreza ser
hoje foco dos Objetivos do Milênio coloca o movimento do comércio justo no centro das
discussões de reforma das regras de mercado, avaliando-se os efeitos benéficos e negativos do
comércio para a diminuição da pobreza no mundo. Campanhas contra a degradação do meio
ambiente e a exploração do trabalho infantil, ou escravo, contestam diretamente as regras de
mercado, sendo normalmente, impulsionadas pelas mesmas ONGs. O modelo do comércio
justo também se tornou uma importante bandeira para ONGs que apóiam os objetivos de
redução das dívidas do terceiro mundo, na campanha do Jubileu em 2000, e para todas as
outras organizações que buscam o desenvolvimento de um capitalismo e de uma economia
com princípios morais, promovendo um desenvolvimento alternativo (Goodman, 2004). O
nível de abrangência do comércio justo, desde ações empresariais de responsabilidade social
até o movimento de economia solidária permite o apoio dos mais diferenciados programas
governamentais, sejam eles mais neo-liberais ou socialistas. Logo, mesmo tendo uma
participação comercial irrelevante no mercado internacional, o comércio justo encontra-se no
centro do debate político dos governos nacionais e das organizações inter-governamentais
(Wilkinson, 2006). John Wilkinson, na publicação de 2006, Fair Trade Moves Centre
Stage”, questiona que se será realmente o comércio internacional o caminho para a redução da
pobreza no mundo, sob que regras e que condições isto deverá ocorrer.
Visando se fortalecer neste contexto as principais organizações européias de comércio
justo reuniram-se em torno de uma organização chamada FINE, que possui sua sede em
Bruxelas, com uma equipe especializada na sensibilização política das organizações
governamentais e inter-governamentais. Esta organização, junto com outras ONGs influentes
como a Oxfam, a WWF e a Amnesty Internacional, participam de reuniões e conferencias de
organizações centrais e reguladoras do sistema internacional, como a OMC - Organização
Mundial do Comércio, a ONU Organização das Nações Unidas, o Parlamento Europeu, a
União Européia, a UNCTAD Conferencia das Nações Unidades para o Comércio e
75
Desenvolvimento, o Banco Mundial, o BID - Banco Interamericano de Desenvolvimento,
governos nacionais, dentre outros, apresentando as possibilidades do comércio justo ou
reivindicando tomadas de decisões e posicionamentos frente às situações de injustiça
internacional que se apresentam, como o caso de produtos como o açúcar, o café, o algodão e
tantos outros. A Oxfam, uma das organizações de comércio justo pioneiras em campanhas
tanto de sensibilização dos consumidores como políticas, apoiou, juntamente com outros
atores de comércio justo, movimentos internacionais como “Trade Justice Movement
67
,
“Make Poverty History Movement
68
e vem organizando a campanha internacional Make
Trade Fair
69
, que engloba todos os posicionamentos do movimento do comércio justo na
OMC referentes a diferentes produtos e países, visando influenciar cada vez mais
representantes governamentais e empresas convencionais (Wilkinson, 2006).
Nas Américas, temas como o NAFTA e a incorporação dos acordos de livre comércio
na América Latina vem sendo também foco das questões políticas apresentadas pelo
movimento, principalmente por organizações com foco nos direitos humanos. A Global
Exchange nos Estados Unidos é um exemplo de organização que atua neste contexto, além de
também agir no mercado através de lojas de varejo de comércio justo. no México, a
organização Comércio Justo México, além de possuir um forte posicionamento político neste
sentido, criou seu próprio sistema de comércio justo, com certificação própria, cadeias
produtivas organizadas e redes de distribuição, principalmente na Cidade do México. O
processo mexicano influencia e fortalece o desenvolvimento do comércio justo na América do
Norte como um todo. No campo da sensibilização do consumidor as Coalizões de Comércio
Justo
70
norte americanas desempenham um papel significativo nas grandes cidades, além de
atuar buscando influenciar as políticas públicas locais (Wilkinson, 2006).
As campanhas de sensibilização de consumidores se desenvolvem nas principais ruas
e praças da Europa e em lojas especializadas, através do lema “levantando a voz pelo
comércio justo
71
”. O movimento está se expandindo de tal maneira que somente no Reino
67
Para maiores detalhes o site do movimento é www.tjm.org.uk.
68
Para maiores detalhes o site do movimento é www.makepovertyhistory.org.
69
Para maiores detalhes o site da campanha é: www.maketradefair.com.
70
As coalizões são formadas nas principais cidades norte americanas. Alguns sites para maiores informações
são: www.fairtradenyc.org em Nova Iorque, www.flfairtrade.org na Flórida e em Minessota
www.citizenstrade.org/mnfairtrade.php.
71
A expressão tradicionalmente conhecida em inglês é:“Speaking out for Fair Trade”
76
Unido mais de 100 cidades se declararam cidades de comércio justo, “Fair Trade Town”
72
.
Este tulo significa que o conselho municipal deve aprovar uma resolução sobre o comércio
justo e que em suas reuniões e escritórios sejam servidos cafés e chás de comércio justo. Um
percentual dos produtos vendidos na cidade deve ser de comércio justo, este percentual é
definido de acordo com o tamanho da população. Por sua vez, estes produtos também
precisam ser usados por um número de espaços comerciais e organizações comunitárias como
escolas, igrejas, salões de beleza, restaurantes, agencias do Estado, entre outras. A cidade
deve atrair a mídia e o apoio popular para campanhas de comércio justo, e o estabelecimento
de um conselho local para garantir a continuidade e o comprometimento com o status de
“Fair Trade Town”.
Entretanto, não seria possível realizar todo este movimento político se por trás dele
não houvesse concretamente um projeto com capacidade de atingir um grande número de
adeptos e crescer no mercado a proporções significativas. A abertura do comércio justo aos
supermercados e a grande distribuição em geral, com o respaldo de um selo que visa
transmitir confiança ao consumidor, foi decisivo para alcançar a consciência das pessoas.
Antes dos supermercados, produtos de comércio justo podiam ser encontrados apenas em
lojas de bairro especializadas, associações e ONGs, que têm menos capacidade de atingir um
número expressivo de pessoas do que as grandes redes. Outro ponto foi o crescimento das
vendas dos produtos alimentares que, ao contrário das compras mais esporádicas ligadas ao
artesanato, geram rotinas de consumo. A entrada na grande distribuição levou a expansão que
o movimento de comércio justo precisava para ser notado e ouvido, inclusive politicamente.
Logo, atrelado a este movimento político estão as redes de produtores, importadores,
certificadores, ONGs, cooperativas, universidades, editoras, consultorias e outras instituições
especializadas em comércio justo e solidário. Com um faturamento total em 2004 próximo de
1 bilhão de dólares em produtos certificados FLO, beneficiando mais de 1 milhão de
pequenos produtores, significando um crescimento de 49% de faturamento na venda mundial
de produtos certificados FLO em comparação a 2003
73
; apresentando um crescimento europeu
médio anual de 20% desde 2000; mais de 3.000 lojas especializadas de comércio justo e
79.000 pontos de venda na Europa; a banana do comércio justo atingindo 47% do mercado
72
Mais informações sobre o movimento: www.fairtrade.org.uk/get_involved_fairtrade_towns.htm
73
FLO – “Fairtrade Labelling Organizations International. Annual Report 2004/2005: Delivering
Opportunities”.
77
suíço de bananas e o chá 5% do mercado inglês, um mercado com uma população oito vezes
maior que a suíça; mais de 100.000 voluntários na Europa; uma rede mundial de mais de 300
organizações focadas no comércio justo
74
e 50 anos de história, o comércio justo ganha força
e mais do que um movimento passageiro de consumidores responsáveis, ele se desenvolve
como uma estratégia comercial no mercado internacional e uma esperança a longo prazo de
melhor equilíbrio econômico entre os atores das cadeias produtivas globalizadas, gerando
relações mais humanas na produção e no consumo. Entretanto, todo este movimento se
estabeleceu, porque se organizou internacionalmente em estruturas formais articuladas
baseando-se nos três componentes estratégicos: campanhas de sensibilização política,
formação de cadeias alternativas e estratégias de venda na grande distribuição (FLO, 2005).
2.3 - Conceito e Princípios
75
“O Comércio Justo é uma relação de troca, baseada no diálogo, na
transparência e no respeito, que busca maior igualdade no comércio
internacional. Contribui ao desenvolvimento sustentável oferecendo
melhores condições comerciais; assegurando o direito dos pequenos
produtores e trabalhadores marginalizados, especialmente do Sul.
Organizações de comércio justo estão envolvidas ativamente em apoiar
produtores, divulgar o comércio justo, e em campanhas para modificar as
regras e as práticas do mercado convencional internacional” (FINE).
Com base no conceito foram definidos os nove princípios que regem as atividades
realizadas em torno do comércio justo mundial. Estes são:
1. Criar oportunidades para produtores economicamente em desvantagem: O
comércio justo é uma estratégia para diminuição da pobreza e para o desenvolvimento
sustentável. Seu propósito é criar oportunidades para produtores que vêm sendo
marginalizados no sistema convencional
2. Transparência: O comércio justo envolve gerenciamento e relações comerciais
transparentes para lidar de forma justa e respeitosa com parceiros comerciais.
74
Krier, Jean-Marie, 2005. “Fair Trade in Europe 2005: Facts and Figures on Fair Trade in 25 European
countries”. Publicado pela FINE.
75
Conceito e princípios apresentados na seção “what is fair trade” no site da IFAT – www.ifat.org.
78
3. Desenvolvimento de Capacidades: O comércio justo significa desenvolver a
independência dos produtores. Relações de comércio justo promovem continuidade,
durante a qual o produtor e suas organizações parceiras melhoram suas habilidades
gerenciais e seu acesso a novos mercados.
4. Promover o Comércio Justo: Defender os princípios da prática do comércio justo
como uma forma e uma luta contra a pobreza, impulsionando o suporte político e o
reconhecimento dos seus membros.
5. Pagamento do Preço Justo: o preço justo nos contextos regionais e locais é aquele
que foi definido através de diálogo e participação. Além dos custos de produção ele
deve permitir uma produção socialmente justa e ambientalmente correta. Isso promove
pagamento justo ao produtor levando em consideração a igualdade entre o trabalho de
homens e mulheres. Importadores garantem pagamento imediato a seus parceiros e
sempre que possível ajudam produtores a pré-financiar a produção.
6. Igualdade de Gênero: O comércio justo garante que o valor do trabalho da mulher
seja propriamente valorado e remarcado. As mulheres sempre são pagas por sua
contribuição no processo produtivo e são fortalecidas dentro de suas organizações.
7. Condições de Trabalho: O comércio justo garante um ambiente de produção
saudável e seguro.
8. Trabalho Infantil: É aceita a presença de crianças desde que não afete o seu bem
estar, segurança, educação, e divertimento, estando de acordo com a Convenção das
Nações Unidas para o Direito da Criança, assim como as normas locais.
9. Meio Ambiente: O comércio justo encoraja ativamente práticas ambientais melhores
e a aplicação de métodos responsáveis de produção.
2.4 - História
76
Com 50 anos de história o comércio justo veio se institucionalizando, inicialmente
como um movimento de combate às injustiças no comércio internacional através de práticas
mais vinculadas a ações de caridade e solidariedade impulsionadas por organizações
religiosas. Hoje, conta com instituições organizadas em redes e seguindo um mesmo código
de ética e conduta, através de uma série de critérios fundamentais que regem a sua prática e
operacionalização política e comercial. Foi a partir da segunda metade do século XX, com o
76
Baseada no histórico do comércio justo internacional apresentado no site da Rede Mundial de Comércio Justo
– IFAT. www.ifat.org.
79
desenvolvimento de algumas políticas produtivas comprometidas com a re-inserção de grupos
até então negligenciados pelo setor produtivo tradicional, que o comércio justo começou a se
formar. Consta dessa época meados da década de 60 o nascimento do conceito “fair
trade
77
.
Existem diferentes versões sobre quando e onde se iniciou o comércio justo. Entre elas
está a da primeira loja formal de comércio justo que foi aberta em 1958 nos Estados Unidos; a
da venda de artesanatos de refugiados chineses na Europa em lojas da Oxfam
78
, também no
final da década de 50, levando a criação da primeira organização de comércio justo em 1964;
e a organização de atividades semelhantes na Holanda, formalizando em 1967 o
estabelecimento da empresa de importação de comércio justo Fair Trade Organisatie. Em
1973, esta mesma organização importou o primeiro café de comércio justo de cooperativas de
pequenos agricultores guatemaltecos. Hoje, o café de comércio justo se tornou um conceito do
próprio movimento e o principal produto de comercialização, tendo mais de milhares de
pequenos produtores beneficiados, e mais de 25% das receitas das organizações de comércio
justo dos países do norte sendo geradas através deste produto.
Em 1969, foi inaugurada a primeira loja especializada de comércio justo na Holanda,
onde não se vendiam artesanatos de pequenos artesãos do sul, mas também realizavam-se
campanhas de sensibilização contra as regras injustas do comércio internacional. Sendo assim,
as lojas de comércio justo, chamadas na Europa de “World Shops
79
, tiveram um papel crucial
no desenvolvimento do movimento e na sua expansão, não pela comercialização, mas
também por terem dado início às campanhas de sensibilização de consumidores. Já, do ponto
de vista das famílias de produtores do hemisfério sul, o artesanato era um importante
complemento da renda familiar, produzido pelas mulheres que tinham pouca oportunidade de
emprego. A abertura do mercado internacional para esta categoria de produtos marcou o
início do relacionamento do comercio justo norte-sul. Entretanto, no decorrer das décadas
seguintes, o maior crescimento comercial ocorreu no ramo dos produtos alimentares, além do
café, passam a ser comercializados chá, cacau, açúcar, sucos de frutas, castanhas, temperos,
arroz, mel e até vinho. Estes produtos abrem uma nova perspectiva para o comércio justo que
77
Termo em inglês para “Comércio Justo”.
78
Importante organização não governamental no desenvolvimento do comércio justo mundial.
www.oxfam.org.uk.
79
Tradução: Loja do Mundo. As lojas do mundo formam uma rede na Europa de aproximadamente 3.000
estabelecimentos. Será abordada mais adiante neste trabalho. www.worldshops.org.
80
passa a ser viabilizado também através de canais de venda como supermercados, mercados
institucionais e lojas de produtos orgânicos.
Em paralelo, neste mesmo período, nas décadas de 60 e 70, organizações não
governamentais e indivíduos sensibilizados sobre o tema, em diversos países da Ásia, África e
América Latina, começam a atuar no comércio justo apoiando grupos de produção em
desvantagem através do desenvolvimento de suas capacidades em gestão, comercialização,
controle e melhoria da qualidade, apoio a exportação, marketing e outras atividades. Muitas
organizações de comércio justo foram se estabelecendo nos países do sul
80
e através destas se
desenvolveram relações com as novas organizações do norte, em bases conceituais éticas,
através da parceria, do diálogo, da transparência e do respeito, sempre com um mesmo
objetivo final: maior igualdade no comércio internacional.
Enquanto o movimento da sociedade civil se organizava, países em desenvolvimento
apoiavam a mensagem Trade not Aid
81
na segunda conferência da UNCTAD
82
, em Delhi,
1968. A demanda por um sistema comercial internacional mais inclusivo e igualitário crescia
não na esfera civil organizada, mas também na governamental. A mensagem significava
mais claramente que os países do sul não queriam continuar com a relação em que o norte se
apropria dos benefícios e retorna apenas uma pequena parte destes sob forma de ajuda
internacional ao desenvolvimento das nações do sul.
Dos anos 70 aos 80 as organizações de comércio justo, na Europa e nos Estados
Unidos, seguiam reunindo-se regularmente para intercambiar idéias. Em meados da década de
80 os efeitos combinados das crises de dívida externa e da queda dos preços de “commodities
estavam inviabilizando as comunidades das quais as organizações de comércio justo
compravam. Ficou clara então, a necessidade de fortalecer a cooperação das organizações do
norte com as do sul, aumentar as campanhas de sensibilização do consumidor e de adquirir
mais influência no manejo do comércio internacional.
Estruturar e organizar o movimento e as bases para o mercado se tornava fundamental
para o seu fortalecimento e crescimento, no final da década de 80 o movimento se
80
O termo sul, assim como norte, se referem aos hemisférios do planeta. Entendendo que os países do hemisfério
norte são considerados na sua maioria países ricos e os do sul considerados países pobres.
81
Tradução: “comercialize, não ajude”.
82
United Nations Conference on Trade and Development. www.unctad.org.
81
institucionalizava. Em 1987 se estabeleceu a Associação Européia de Comércio Justo
EFTA, formada pelas 11 maiores importadoras de comércio justo. A Associação Internacional
de Comércio Justo IFAT, composta atualmente por mais de 300 organizações de todos os
continentes, importadores, produtores e organizações de apoio, formou-se em 1989 visando
promover a melhoria da qualidade de vida através do comércio para produtores em
desvantagem. Em 1984, ocorreu a primeira conferência de lojas especializadas em comércio
justo e em 1994, as lojas especializadas se organizaram em uma associação, hoje composta
por mais de 2.800, chamada Network of European World Shop – NEWS.
Entretanto, uma nova maneira de levar a proposta do comércio justo ao público em
geral foi desenvolvida na década de 80, pelo padre holandês Franz Vanderhoff.
Trabalhando com pequenos produtores de café no sul do México teve a idéia de
um selo de comércio justo. A Frente Solidária dos Pequenos Cafeicultores da
América Central e Caribe
83
, uma associação latino americana de cooperativas
de produção de café, vinha discutindo com seus importadores, e
consequentemente suas lojas especializadas, saídas para viabilizar uma maior comercialização
de café de comércio justo (Zufferey, 1998). Assim, produtos comprados e vendidos
respeitando os princípios do comércio justo estariam qualificados para receber em suas
embalagens um selo que os reconheceria entre outros produtos convencionais nas prateleiras
de supermercados e permitiria outras empresas a se envolverem com o comércio justo. Em
1988, o selo de comércio justo “Max Havelaar” foi estabelecido na Holanda. O primeiro
produto certificado foi o café produzido na cooperativa UCIRI, no Estado de Oaxaca, sul do
México (Jaffe, Monroy & Kloppenburg, 2004). O resultado foi tão positivo que no período de
um ano o café de comércio justo já possuía uma fatia de mercado de 3% na Holanda.
Durante os anos 90 outras organizações não governamentais de certificação se
estabeleceram em diferentes países da Europa e Estados Unidos. Em 1997, estas organizações
se unificaram em uma associação internacional chamada Fairtrade Labelling Organizations
International, a FLO. Esta associação é hoje responsável pela definição dos padrões
internacionais do comércio justo, certificação e auditorias para um grupo aproximado de dez
produtos alimentares, e ainda outros como, algodão, flores e bolas de futebol. Atualmente,
83
Na língua original: Frente Solidário de los Pequeños Cafetaleros de América Central y del Caribe”.
82
dois terços dos produtos de comércio justo são vendidos pelo grande varejo, ou seja,
supermercados, lojas de departamentos e outros.
Em 1998 as quatro principais organizações européias de comércio justo, FLO, IFAT,
NEWS e EFAT começam a trabalhar em conjunto, formando uma organização guarda chuva,
denominada FINE, com o objetivo de favorecer a cooperação entre estas organizações em
diferentes frentes de trabalho como monitoramento e definição de padrões e princípios do
comércio Justo, campanhas de consumo consciente, e sensibilização política.
Também nos anos 90 e no início do século XXI, estabeleceram-se organizações
regionais como: na Ásia o AFTF - o Fórum Asiático de Comércio Justo; a Cooperação para o
Comércio Justo na África COFTA; a IFAT Latinoamerica; e a CLAC - Coordenadora
Latino-americana e Caribenha dos Pequenos Produtores
84
. Redes nacionais também foram
criadas como: o ECOTA Fórum de Comércio Justo em Bangladesh; O Grupo de Comércio
Justo do Nepal; Parceiros Associados para um Comércio mais Justo nas Filipinas; o Fórum de
Comércio Justo da Índia; a Federação do Quênia para o Comércio Alternativo KEFAT; o
Fórum de Comércio Justo Peruano; a Plataforma Brasileira de Comércio Justo FACES do
Brasil
85
, entre outras.
O comércio justo tem início na América Latina nos anos 70 com o trabalho de
organizações européias da sociedade civil que, em sua maioria, estavam ligadas às igrejas na
organização de grupos de trabalhadores rurais e venda informal de seu artesanato. Nestas
últimas três décadas o Brasil veio se desenvolvendo muito lentamente. Países vizinhos como
Peru, Equador, Chile e Bolívia possuem organizações tradicionais que por mais de 15 anos já
exportam produtos de comércio justo para a Europa e os Estados Unidos.
Como o estudo de caso apresentado nesta dissertação baseia-se no Brasil, é valido
contextualizar o desenvolvimento do comércio justo neste país. Foram nos últimos 5 anos que
um grupo de organizações da sociedade civil e organismos públicos iniciaram um movimento
para reverter esta fraca participação do Brasil neste movimento, o FACES do Brasil
Plataforma Brasileira de Comércio Justo e Solidário possui no seu conselho político
organizações como: Fundação Friedrich Ebert – ILDES; Visão Mundial; Onda Solidária;
84
www.clac-pequenosproductores.org
85
www.facesdobrasil.org.br
83
Imaflora; Sebrae Nacional; Ministério do Desenvolvimento Agrário MDA; Secretaria
Nacional de Economia Solidária - SENAES do Ministério do Trabalho e Emprego TEM;
Instituto Kairós; Ecovida; RBSES Rede Brasileira de Sócio Economia Solidária; dentre
outras, promovendo encontros e grupos de trabalho para discutir e mobilizar grupos de
produtores, setores econômicos e públicos do país com vistas ao fortalecimento e a construção
de um sistema brasileiro de comércio justo e solidário. Este novo processo está trazendo um
salto qualitativo que vem provocando debates, divulgando e consolidando conceitos em torno
do tema. Hoje, efetivamente, o Brasil exporta artesanato do nordeste através da Visão
Mundial para lojas de comércio justo na Europa, especialmente na Holanda. Produtos têxteis
são exportados para a Europa através da ONG Onda Solidária, no estabelecimento da cadeia
produtiva têxtil de comércio justo. E diversos produtos alimentares como sucos de laranja e
tangerina, café, castanhas do Pará, entre outros, com o selo de comércio justo da FLO, para
importadores europeus e americanos.
No campo das tendências do segmento solidário tem havido, nos últimos anos, uma
crescente sensibilidade do consumidor e do investidor no sentido de demandar das empresas
que elas ajam de maneira social e ambientalmente responsável. Hoje, diversas empresas se
associam ao Instituto Ethos
86
, visando organizar e legitimar suas atividades em torno do
conceito de responsabilidade social. O atual governo brasileiro instalou a Secretaria da
Economia Solidária no âmbito do Ministério do Trabalho e Emprego. Coordenada pelo
economista Paul Singer, tem o intuito de criar um foco específico para este setor da economia
que vem crescendo dentro e fora do país. Seu objetivo é elaborar políticas de economia
solidária que possam integrar programas de diversos ministérios e gerar trabalho em
comunidades locais. Neste contexto foi formado na SENAES um grupo de trabalho com os
diferentes atores brasileiros do comércio justo, sociedade civil e ministérios, que tem como
objetivo a constituição de uma normativa pública que regulamente o comércio justo no país e
seja o ponto inicial para a construção do sistema brasileiro de comércio justo.
A tendência de regionalização do comércio justo através do estabelecimento das
organizações internacionais nos continentes começa a ser sentida no Brasil. A FLO anunciou a
contratação de uma consultoria para organização do lançamento do selo de comércio justo
86
Maiores informações no site www.ethos.org.br: “O Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Social é
uma organização não-governamental criada com a missão de mobilizar, sensibilizar e ajudar as empresas a gerir
seus negócios de forma socialmente responsável, tornando-as parceiras na construção de uma sociedade
sustentável e justa.”
84
FLO no Brasil, programado para 2007. Uma das principais importadoras francesas de produtos
alimentares de comércio justo, a Altereco, planeja para 2007 o lançamento da sua marca com
produtos brasileiros de comércio justo nos supermercados do nordeste do Brasil
87
.
2.5 - Principais Atores Internacionais
Existem hoje quatro grandes organizações guardas chuva que regem e protegem o
movimento internacional de comércio justo e agrupam quase todas as organizações que atuam
dentro deste sistema: IFAT, FLO, EFTA e NEWS (em seguida será apresentado um resumo
sobre cada uma delas). Buscando se articular, fortalecer o movimento e realizar atividades
mais estratégicas em conjunto, estas quatro organizações se organizaram um uma única
instância organizacional denominada FINE. FINE é então a coordenação destas quatro
organizações e funciona como um ponto de encontro formal para definir os caminhos e
estratégias do movimento. Em seu escritório sediado na cidade de Bruxelas, na Bélgica,
trabalha uma equipe responsável principalmente pelas atividades de sensibilização política do
movimento, advocacy”, onde estas quatro organizações são conjuntamente ouvidas e
representadas.
Entretanto, outra articulação importante vem acontecendo entre os países do pacífico
sendo eles, América do Norte, Austrália, Japão e Nova Zelândia. Estes países se uniram para
formar uma federação internacional composta por atacadistas, varejistas e produtores de
comércio justo, a Fair Trade Federation FTF. Seus membros devem estar comprometidos
em prover margens justas e oportunidades de trabalho dignas à produtores rurais e artesãos
em desvantagem econômica em todo o mundo. De acordo com o resumo executivo do
documento oficial
88
referente ao comércio justo na América do Norte e no Pacífico, o
crescimento de 2002 para 2003 representou 52%, com uma estimativa de faturamento de
376.42 milhões de dólares em 2004 e 499,36 em 2005. O crescimento deste mercado é mais
elevado que na Europa, mantendo-se acima dos 40% nos últimos anos. Considera-se que com
a entrada da rede de distribuição Wal Mart no comércio justo este nível de crescimento deva
continuar. O grande impulso dado no mercado de comércio justo na região ocorreu em 1998
com a criação da certificadora de comércio justo nos Estados Unidos, Transfair USA,
87
Para maiores detalhes visitar o site www.brasil.altereco.com.
88
Estas informações podem ser encontradas em maiores detalhes no site www.fairtradefederation.org através do
download do documento “2005 Report on Fair Trade Trends”.
85
apresentando um aumento de faturamento de 85,6 milhões de dólares em 2001 para 369
milhões em 2004.
86
Luxemburgo, Áustria, Canadá e Japão o selo é TransFair. Na Irlanda e no Reino Unido a
certificação ocorre através do selo Fair Trade Mark (Zufferey, 1998). Em todos os casos estas
iniciativas se agrupam abaixo do selo que as unifica e as identifica em toda a Europa como
comércio justo, o selo FLO. Abaixo são apresentados os selos originais de cada iniciativa de
certificação e os atuais no âmbito da FLO:
Atuais FLO: Originais:
As principais funções desta organização são: garantir a observância dos critérios de
certificação de comércio justo por todos os atores da rede; administrar o fornecimento de
produtos de acordo com a demanda e aconselhar grupos de produção em projetos de
desenvolvimento, para isso a organização conta com uma equipe de marketing; dar apoio às
aos produtores para que fortaleçam suas organizações e produção. Produtos certificados FLO
recebem um selo e podem ser encontrados em lojas especializadas ou supermercados em toda
a Europa. Atualmente, a FLO certifica na sua maioria produtos alimentares como café, chá,
87
O processo de certificação dos produtos passa por uma série de etapas incluindo
auditorias de campo e estabelecimento dos indicadores de impacto. Ele permite que hoje, mais
de 1 milhão de produtores e trabalhadores e aproximadamente 5 milhões de pessoas
indiretamente, distribuídos por 50 países, se beneficiem do selo de comércio justo. Mesmo
sendo uma conquista significativa, é apenas em pequeno percentual da necessidade de atuação
do movimento para efetivamente modificar a realidade dos produtores em desvantagem
econômica, estima-se que existam mais de 400 milhões de pequenas fazendas, com menos de
2 hectares, e pelo menos mais 100 milhões de famílias na produção agrícola no mundo
(Nagayets, 2005 apud Wilkinson, 2006). A FLO garante ao consumidor que o produto
encontrado em qualquer estabelecimento com o selo de comércio justo está de acordo com os
princípios do comércio justo e contribui para o desenvolvimento de produtores e
trabalhadores em desvantagem e excluídos do mercado convencional. Sua lógica está em
estimular a demanda promovendo a confiança do consumidor (Goodman, 2004).
Em 2004 o mero de organizações de produtores certificados chegava a 390 e o
número de licenças para a utilização do selo era de 550, ou seja, organizações autorizadas a
usar o selo para a venda ao consumidor final, em 19 países da Europa, América do Norte,
México, Japão, Austrália e Nova Zelândia. No sistema FLO as organizações de produção
concentram-se em produtos agrícolas na América Latina, diferente da IFAT que tem uma
maior concentração de grupos produtores em artesanato na Ásia. Em seu processo de
88
organização e crescimento a FLO se subdividiu em duas organizações, FLO International,
responsável pelo desenvolvimento dos critérios de comércio justo e a FLO-Cert, que opera o
processo de certificação e auditorias.
Entre 2002 e 2003 as vendas de produtos certificados aumentaram em 42,3% e entre
2003 e 2004 49%, representando um crescimento significativo. Observando em valores
absolutos, em 2001 o mercado que era de 200 milhões de dólares aumentou para mais de um
bilhão de dólares em 2005, no espaço de 4 anos (Wilkinson, 2004). Os mercados de
crescimento mais acelerado são Bélgica, França, Itália, e Estados Unidos com taxas de
crescimento variando de 80% a incríveis 700%. Em termos de volume, os mercados de
comércio justo mais importantes são o Suíço e o Reino Unido, que juntos garantem um
volume de vendas superior a 50 toneladas de produtos certificados
90
.
O conceito de selo de comércio justo elaborado pelo padre holandês Franz Vanderhoff
foi decisivo para esta rápida expansão do comércio justo e a sua inserção nas redes de
supermercados. As iniciativas nacionais de certificação promovem o comércio justo para
distribuidores e consumidores. No princípio, selecionavam, verificavam e monitoravam cada
grupo de produção com quem trabalhavam, muitas vezes replicando o mesmo trabalho de
outras certificadoras de países vizinhos (Ponte, 2002). Este processo individualizado das
iniciativas nacionais levava a uma multiplicação de custos de certificação e marketing. A FLO
foi formada para tornar o processo mais eficiente, simples e menos custoso, estabelecendo
uma imagem na Europa. A união destas iniciativas nacionais possibilitou conciliar os
custos de certificação e divulgação do selo na Europa. Enquanto, antes cada iniciativa tinha o
seu processo individual de certificação e auditoria externa, agora um único processo de
certificação de um grupo produtor é incorporado ao benefício de todas as iniciativas
nacionais. Este movimento coordenado que confere a FLO o papel de garantidor da qualidade
do comércio justo, provém a esta um forte poder dentro do contexto global do movimento,
tanto na sua atuação comercial quanto na sua influencia política (Renard, 2005).
O crescimento experimentado neste início de século XXI pela demanda de produtos
certificados na grande distribuição aponta ao desenvolvimento de um nicho de mercado
alternativo que aos poucos se incorpora ao mercado convencional. Este processo gera um
90
Estas informações podem ser encontradas no site da FLO – www.fairtrade.net
89
significativo contraponto político dentro do próprio movimento do comércio justo. Diferente
do IFAT, a FLO não possui o mesmo caráter estrutural democrático, sua diretoria toma
decisões que afetam o destino do movimento, devido principalmente a sua força e
significância de distribuição e com o mercado consumidor. A partir do momento em que a
FLO licencia o selo de comércio justo para multinacionais e empresas convencionais, inicia-
se uma nova fase na história do movimento do comércio justo. Segunda coloca Franz
Vanderhoff, 2002, em geral o sistemao tem se mostrado muito democrático (Renard,
2005).
Em 2006 foi lançado o café de comércio justo da Nestlé com selo
FLO, a rede de supermercados inglesa Tesco possui seus próprios
produtos de comércio justo certificados, a cadeia de cafeterias Starbuks e
a rede de lojas Marks & Spencer também atrelam a suas marcas produtos
de comércio justo. Parte do movimento contesta que este processo de
abertura irá desvirtuar o conceito de comércio justo transformando-o em
uma ferramenta de marketing das grandes corporações internacionais, e
prejudicar os importadores e as lojas especializadas que nasceram dentro do movimento para
atuar com foco no comércio justo. A outra posição dentro do movimento, nesta está incluída a
própria FLO, contesta que se o principal objetivo do movimento é acabar com a injustiça no
comércio exterior é importante incorporar as práticas do comércio justo às práticas das
empresas que realmente possuem um peso significativo neste comércio, deixando que este
nicho de mercado com participação insignificante no mercado internacional passe a ser parte
cada vez mais significativa deste próprio mercado. Discordâncias a parte, a FLO segue no
caminho de abertura das licenças para as empresas do mercado convencional, que não fazem
parte do movimento alternativo. Mesmo com as divergências este processo vem promovendo
a profissionalização de todos os atores envolvidos com o comércio justo (Wilkinson, 2006).
Outros pontos que vem gerando tensões no sistema FLO são os custos de certificação
para pequenos produtores e o processo de abertura da certificação para médias e grandes
fazendas, focando os beneficiários do comércio justo nos trabalhadores rurais e não apenas
nos grupos de pequenos produtores independentes. No princípio, os custos de certificação,
incluindo as auditorias externas a produtores, eram tomados pelos importadores e iniciativas
nacionais de certificação. Entretanto, o crescimento do mero de grupos de produção
interessados em certificar-se FLO e a necessidade de conciliar ao seu sistema critérios e
90
indicadores ISO, devido a sua busca por legitimidade, visto a multiplicação de iniciativas de
certificação semelhantes, vem levando a aplicação de taxas cada vez mais significativas aos
grupos de produção. Neste aspecto a maior cobrança dos produtores não está na necessidade
de pagamento dos custos de uma auditoria externa, mas sim da falta de claridade da FLO ao
definir suas taxas.
No aspecto referente à viabilização da certificação para médias e grandes fazendas,
abordado no primeiro capítulo, os beneficiários do comércio justo seriam os empregados das
fazendas, e não mais os pequenos produtores, seguindo critérios como pagamento de uma
remuneração que garanta qualidade de vida, condições de trabalho adequadas e respeito ao
direito de formação sindical. Produtores tradicionais de comércio justo certificados FLO, na
América Latina, estão organizando-se e posicionando-se contrariamente a este processo. Estas
tensões têm levado ao surgimento de iniciativas de certificação nos países produtores, como
por exemplo, o caso de construção do sistema brasileiro de comércio justo, através de
regulamentação pública, ou do primeiro selo de comércio justo no hemisfério sul, o Comércio
Justo México, uma iniciativa privada (Renard, 2005; Jaffe, Monroy & Kloppenburg, 2004).
2.5.2 - IFAT - Associação Internacional de Comércio Justo: International Fair Trade
Association”
91
O desenvolvimento de cadeias alternativas, tema deste projeto de dissertação em
relação ao algodão, coloca em prática os princípios do comércio justo, comprovando a
efetividade do sistema, a origem dos produtos, e a possibilidade real de se produzir de
maneira mais justa, equilibrando as margens e viabilizando a melhoria da qualidade de vida
de produtores marginalizados. O desenvolvimento das cadeias alternativas viabilizou-se
principalmente através da organização das estruturas internacionais de comércio justo. Era
necessário que as organizações se identificassem dentro de um mesmo sistema, foi formada a
Associação Internacional de Comércio Justo IFAT e dentro desta rede desenvolveram-se as
cadeias alternativas, desde a produção até a comercialização: produtores; exportadores;
importadores; lojas; certificadoras; organizações de apoio; e micro-crédito. As cadeias são
regidas pelos princípios do comércio justo onde a intermediação é minimizada e as relações se
91
Informações provenientes do site da instituição IFAT: www.ifat.org.
91
pautam na transparência. O próprio sistema interno de monitoramento da rede e dos seus
atores se encarrega de garantir e exigir a transparência entre seus membros e associados.
Na IFAT estão mais de 300 organizações em 70 países e entre
elas, estão ainda as outras organizações guarda chuva do comércio justo:
FLO, EFTA e NEWS. A organização possui como missão melhorar a
qualidade de vida e o bem estar dos pequenos produtores do Sul,
promovendo e inter-relacionando as organizações de comércio justo e levantando a voz para
que exista maior justiça no comércio mundial. Seus membros por sua vez se reúnem para:
Abrir mercados para o comércio justo: expandir as oportunidades para os pequenos
produtores do hemisfério sul.
Gerar confiança no comércio justo: foi desenvolvido um sistema
participativo de monitoramento que lhe permite estabelecer a
seus membros a marca da Organização de Comércio Justo –
FTO, apresenta ao lado.
Promover o comércio justo: defendendo os princípios da prática
do comércio justo como uma forma e uma luta contra a pobreza, impulsionando o
suporte político e o reconhecimento dos seus membros.
Fortalecimento das regiões
92
: Com a formação das redes regionais dos membros
IFAT, na Ásia, África, América Latina e Europa, o comércio justo aumenta seu raio de
ação, fortalecendo-se também politicamente e comercialmente nas diferentes regiões
do sul.
Sediada em Culemborg, na Holanda, a
organização foi criada em 1989 por
organizações de comércio justo dos países do
norte. Em 1991, foi aberta a membros
produtores, e com menos de 15 anos conta
com mais de 2/3 de seus membros
provenientes do hemisfério sul. Esta rede
mundial possui um importante papel de garantir a democracia dentro do movimento
92
Nova diretriz da IFAT apresentada por Stefan Durwal, secretário executivo da IFAT, no Seminário de
Comércio Justo e Solidário realizado em São Paulo em abril de 2007 pela Visão Mundial, Ministério do
Desenvolvimento Agrário e FACES do Brasil.
92
internacional do comércio justo. É uma estrutura onde todos os membros comerciais têm o
mesmo peso, sejam eles produtores, importadores, lojistas ou certificadoras. As decisões são
tomadas por todos em assembléia geral realizada bianualmente, cada membro comercial tem
direito a um voto, elegendo o comite executivo, representantes regionais, aprovando
orçamentos e as diretrizes estratégicas do movimento.
Este processo garante ao movimento uma
legitimidade e seriedade que é incorporada
tanto pelos próprios membros da rede como
pelos atores que se interagem politicamente
com ela, sendo eles governos, organizações
inter-governamentais e de fomento, entre
outras. Isto tanto do ponto de vista das
organizações do hemisfério norte como do sul.
O comércio justo é uma instituição que está em plena movimentação e em
desenvolvimento. Hoje, seus membros estão distribuídos nos cinco continentes sendo mais
representativo na Ásia, onde encontram-se 31% dos membros da rede. A Europa segue em
segundo lugar, representando 27% da rede, a África corresponde a 20% e a América Latina
14%. Finalmente, a área da América do Norte e os países do Pa997(d)-3.74(l)-26558(n)-0.295585(a.1655(á)3.7á)3.74(r)3.74299(r)2.85585( )-52-320.335(i)-2.16436(n)Ponm v 8.295585(n)-1(a)3.74(m)-274244( )-100l aj eosm áT TQ8.041875 0 0 11898 633.179.88 337.7424mm BT/7.7587255850044( TQq 1875 0 0 1198 633.188.0413324mm B10.299(a)-6.263)3.74( )N16558(m)7.54596(e)3.79(r)2.80561263 roz in.804397 en.804397tri0.299(ab2.16436(n)-0.2955810.39(v)-0.295585(o)-)0.640026(s)-1.2pres a m1 est (s)F(ç)-2665-0.295585(e)326( )-120.21758(r)2.805(e)3.74(i)-do e-6.2659(m)7.54596( )-(e)3.74(s)-11.23.8043960.295585(r)-7.20151(r)2.80439(eC43(.35(r430.4(p)-0.295a)3.74(l)-2.16558( )-120.265)-1.2312(.)-0.146571()-2.16436(e)3.7480439(eJ)-0.295585(m)7.54351()-0.295585(t)-2.16436(r)2.8036(e)3.74804397(-.295585(u96(e)-6.23627)-a)3.74244(l)-3-8.430412]TJ-260.5T.749.30112]TJ-260.56558(n)-0.29558)3.74( )-40.1714(a)3.74( )C43(.35(r430.4(p)-0.2953.74(.)-0.146571( )-130.3142(e)3.7424458(z)-6.26ç436(o)228)-0.295585(r)2.80439(o)3.74( )6571( )-130.223(A)1.74(n)-0.290029(e)3.79(o)3.74( )585(r)2.80439(o)3.74( )C43(.35(r430.4(p)-0.295a)3.7430.295585( )-.80439(o)-0.295585(s)-5585(e)-6.2659(m)7.(P)5.674J)-0.295585(m)7.5-430.402(é)3.74( )-430.402(e)-6.2659(m)7.(P)5.674295585(t)-2.16558(a)3.(P)5.674997(r)-7.20151(e)3.74(16436(ã)3.74(o)-0.2(s)-1.22997(t) 585(i)-2.)-0-6.26567–e)-6.2659(m)7.(P)5.674C43(.35(r43O3-8.43027á]TJ-26997T)(j)-2.165.3015(a)3.74((P)5.674.1703(á643(P)5.674-2.16558(e)3.74(o)I3)-120.265]TJ-26997-30.16a)3.T.79.3654122(n)3.74(o)L)s
93
monitoramento. Além deste comitê, a IFAT ainda se organiza em comitês de acesso a
mercado, registro e sensibilização política (“advocacy”) como apoio a FINE, e comitês ainda
mais específicos, como o do algodão, tema do próximo capítulo. Todo este processo de
regionalização e formação de comitês de trabalho vem levando a IFAT a repensar sua
estrutura. O modelo estrutural para qual a rede se organiza colocaria a responsabilidade de
organização e comunicação dos membros sobre as secretarias regionais, e não mais o contato
direto com a sede geral da IFAT em Culemborg. O próprio crescimento em volume de
membros da rede requer uma nova distribuição de responsabilidades capaz de suprir a
demanda crescente dos novos membros. Esta nova proposta estrutural pode ser demonstrada
preliminarmente como:
Em 2004 foi lançada na Índia, no Fórum Social Mundial de Mumbai, a marca das
organizações de comércio justo membros da rede IFAT FTO (“Fair Trade Organization”).
Foi um importante passo na construção da identidade do movimento, interligando todos os
seus membros através de um mesmo símbolo. As organizações que possuem a permissão de
utilizar a marca passaram pelo processo de monitoramento que garante o cumprimento dos
princípios do comércio justo em suas práticas comerciais. Uma transnacional que não possui o
comércio justo como seu foco de atuação não seria aceita na rede e não teria acesso a esta
marca de comércio justo. Diferente da certificação FLO que foca o monitoramento dos
princípios do comércio justo apenas na produção, a IFAT envolve todos os atores, sejam
Memb
Memb
País País
Memb
Memb
Região
Região
Região
Região
Região
Diretoria Geral
A
G
M
Eleição
5 representantes
3 + Presidente
94
distribuidores no seu processo de monitoramento, importadores ou produtores, que a marca
FTO reconhece as organizações de comércio justo e n
95
que enfrentará a IFAT nos próximos anos. Uma proposta seria fundir o processo de
monitoramento da marca IFAT com o sistema de certificação da FLO, mas a viabilidade desta
possível integração de sistemas ainda está em estudo. Esta proposta baseia-se em três
importantes pilares. O primeiro seria a constituição de padrões genéricos para operações de
comércio justo, definindo requerimentos e critérios de conformidade a serem integrados em
padrões de comércio justo relevantes a FLO e a IFAT. O segundo seria a formatação de
princípios básicos de gerenciamento da qualidade do sistema, descrevendo a estrutura mínima
necessária para integração em específicos manuais de qualidade da FLO e da IFAT.
Finalmente, o terceiro pilar seria um protocolo geral de acesso onde estariam definidos os
procedimentos a serem seguidos para garantir conformidade com os padrões do comércio
justo
94
.
Enquanto este processo não se consolida, no caso da maior parcela dos produtores do
IFTA, 80% dos produtores são especializados em artesanato, são as lojas especializadas que,
diferente dos supermercados, comercializam estes produtos e que garantem ao consumidor a
sua real origem, que estes possuem um elo de confiança com a loja. Uma pergunta que fica
é o fato de que se a loja é reconhecida como uma organização de comércio justo, seria
necessário que os produtos oferecidos internamente utilizassem um selo em suas embalagens?
Por outro lado, a consolidação de um selo no produto artesanal poderia abrir novas
possibilidades de acesso a mercado, como no caso da entrada dos alimentos certificados FLO
na grande distribuição.
2.5.3 - NEWS - Rede Européia de Lojas do Mundo: “The Network of European
Worldshops”
NEWS é a rede guarda chuva de 15 Associações
Nacionais de Lojas do Mundo (“Worldshops”), em 13 países
diferentes da Europa. Através destas associações a NEWS representa lojas especializadas, que
oferecem produtos de comércio justo e fazem campanhas por um sistema de comércio
internacional mais inclusivo. A NEWS compõe aproximadamente 2.800 lojas especializadas e
100.000 voluntários, estando concentrados 50.000 destes na Alemanha e 12.000 na Holanda.
94
Informações apresentadas por Stefan Durwal, secretário executivo da IFAT, no Seminário de Comércio Justo e
Solidário realizado em São Paulo em abril de 2007 pela Visão Mundial, Ministério do Desenvolvimento Agrário
e FACES do Brasil.
96
Uma pesquisa realizada em 2001 apontava um faturamento de 41.600.000,00 de euros, em
1.050 lojas do mundo. Existe uma grande dificuldade em se medir o tamanho total deste
mercado, pois muitas lojas não disponibilizam a informação. Entretanto, pode-se aproximar
um resultado geral baseado em um cálculo de venda média por loja de 39.000 euros, diminuir
em 15 % este valor para ser conservador, e chegar a um resultado de faturamento para toda a
rede de lojas do mundo superior a 92 milhões de euros
95
. Em 2004, a NEWS foi financiada
pela União Européia para ter sua rede de lojas expandida nos países da Europa Central
(Wilkinson, 2006).
A NEWS facilita a cooperação e articulação entre seus membros através da troca de
informação, produtos, organizando eventos, e a Conferencia Bianual de Lojas do Mundo. Ela
desenvolve e coordena campanhas em toda a Europa de educação do consumidor, dias
comemorativos do comércio justo e exibições em torno do tema, com o apoio de sua força
voluntária, provendo a seus membros todo o material necessário para participarem. É uma
organização que possui o importante papel de manter a vitalidade do movimento (Wilkinson,
2006). Sob a colaboração da FINE, a NEWS coopera com as outras redes do comércio justo
(IFAT, FLO e EFTA) para definir políticas comuns, assim como também buscar atingir
estratégias no âmbito da coordenação e definição de critérios para o comércio justo,
monitoramento e campanhas de sensibilização.
Desde o início do movimento de comércio justo na Holanda, as lojas especializadas
vêm desempenhando um papel fundamental na sensibilização do consumidor e no acesso a
mercado para produtores de artesanato, seu maior foco de atuação. Com um número crescente
de lojas localizadas em diversas cidades européias e campanhas cada vez mais organizadas
nas redes de lojas, o acesso direto ao consumidor se torna um dos pontos fortes da estratégia
de comercialização através de lojas especializadas. Como o movimento foi iniciado por
ativistas políticos que buscavam através dos produtos tangibilizar o tema das injustiças
comerciais à sociedade, as primeiras lojas pareciam mais com comitês de campanhas do que
com lojas de venda de produtos. Eram gerenciadas apenas por voluntários, e os produtos eram
vendidos através de discursos políticos sobre a situação social e econômica dos produtores.
Nesta época o consumidor comprava o produto por solidariedade, a questão qualitativa do
95
Estas informações podem ser encontradas na página na Internet da NEWS – www.worldshops.org e na
Apresentação realizada por Stefan Durwal, Secretário Executivo IFAT, na VI Conferencia Latino Americana
IFAT no Rio de Janeiro em Dezembro de 2004.
97
produto era secundária. Após a cada de 80, principalmente com a entrada de produtos
estratégicos de comércio justo na grande distribuição, as lojas começaram a mudar de
estratégia para atrair o consumidor, buscando direcionar seus produtos para um público-alvo
mais abranente, passando a priorizar também a qualidade do produto e sua apresentação.
Inevitavelmente, nasce um concorrente para as tradicionais lojas especializadas, o grande
varejo (Zufferey, 1998). Com o passar do tempo as lojas foram se profissionalizado, e hoje
encontram-se lojas atraentes com perfil comercial, principalmente na Itália e na Holanda.
Contudo, as lojas sempre serão uma espécie de comitê de campanha política, pois a
sensibilização do consumidor é condição fundamental para a reação da sociedade se tornar
cada vez mais significativa. Muitas lojas, ligadas a ONGs e associações, como a Federação
Artisans du Monde na França e a Oxfam na Bégica, não possuem viabilidade financeira
positiva na sua rede de lojas, que são mantidas principalmente pelos objetivos políticos de
suas organizações com o apoio de voluntários e consumidores fiéis
96
. Entretanto, o lado
comercial também se tornou fundamental, tanto para sustentar minimamente os custos
comerciais como também para atender as necessidades de geração de renda e trabalho nos
grupos de produção. Na década de 90, viveu-se um forte crescimento do comércio justo nas
redes de supermercados, mas uma estagnação no aumento das vendas das lojas especializadas,
principalmente pelo processo de saturação deste mercado, onde asiáticos e africanos possuíam
melhor acesso que latino americanos, mas todos sofrendo a forte competitividade dos
produtos asiáticos, mesmo que no mercado convencional. Neste período, algumas lojas e
importadoras não resistiram, um importante exemplo deste período de resultados ruins foi a
própria saída do mercado comercial de um dos maiores importadores de comércio justo até a
96
Vista realizada em Junho de 2005 pela missão brasileira de comércio justo às duas instituições.
Breukelen (Holanda) 1969
Atualmente - Áustria
98
época, a Oxfam UK, que passou a atuar apenas no campo da sensibilização política. Assim,
iniciou-se um processo de profissionalização dos importadores e suas redes de lojas, que
deixariam de dar tanta intensidade as questões políticas nas lojas, mas sim reforçariam o
campo comercial, através da adoção de estratégias de marketing, gerenciamento de vendas,
reestruturação das lojas, design de produto e pesquisa de mercado (Wilkinson, 2006).
Vale ratificar que os importadores, além de apoiarem as campanhas definidas pela
NEWS na Europa também assumem práticas intensas com seus parceiros produtores, como o
pré-financiamento, a des-intermediação, buscando relacionar-se diretamente com seus
produtores, investimento no desenvolvimento de capacidades, assistência técnica e design de
produto, além de buscar atuar com transparência oferecendo aos produtores informações de
mercado, de produtos, e do comércio justo e suas práticas. (Wilkinson, 2006).
2.5.4 - EFTA - Associação Européia de Comércio Justo: European Fair Trade
Association”
97
A EFTA é a principal associação de importadores europeus de
comércio justo que tem como objetivo fundamental fazer a
importação de produtos de comércio justo mais eficiente. A rede possui 11 organizações em
nove países europeus: Áustria; Bélgica; França; Alemanha; Itália; Holanda; Espanha; Suíça; e
Reino Unido, importando produtos de 400 grupos de produção em desvantagem econômica e
social da África, Ásia e América Latina. A EFTA foi estabelecida oficialmente em 1990, após
muitos anos de cooperação informal entre as organizações que hoje a compõe.
Após 10 anos, EFTA se tornou um importante ator na harmonização do sistema e na
coordenação das atividades de comércio justo em diversos campos do contexto internacional
através do seu trabalho com as outras redes de comércio justo e com as ações de
sensibilização política junto a FINE. Algumas das atividades principais tem sido o
compartilhamento de informação sobre produtos e produtores e a colaboração logística
gerando maior eficiência no processo de importação, como por exemplo, a produção de
chocolate de comércio justo na Europa. Neste caso os insumos de comércio justo, o cacao e o
açúcar, são importados e a produção do chocolate é realizada na Europa. Outro papel
97
Estas informações podem ser encontradas na pagina web da EFTA – www.eftafairtrade.org
99
importante da instituição são suas ações de sensibilização política junto a União Européia,
p r2312(e)3.[(p)-0616o974(e)-6.2659(n)-0.295u6(u)-0.295585(n)-0.295585(t)-2.16412.1715(e)3.74.7231483620.513(c)gutipohaa to723147574(õ)-0.295585(e)436(í)-2.16436(t)-2.163.74(a)-6.u9(p)-0.295585(o)-0192558(b)-0.9.71Td( )Tj36(o7231475aa)3.74(ç)3.74(ã)3.74(o7231475312( )-620.513(c)3.74(o)-0.2955.295585(e)u206436(ã)33.74(a)-6.(ç)3.74(ã)3.74(o7231475585( )-620.514(d)-074(o7231475p5(2312(e)3.[74(r)2.80o974(e)-6.2659(4(e)-6.26u6(u)-0.295585(n)-0.295585(t)-2.16412.1715(e)3.747231475585( )-620.514(d)-074(o72311.2436(i)0.2985(d)-0.29313.74(a3.8042(p)-0.29[74(r)2.80436(i)0.29314n)-0.29585(d)-0.293144(,)-0.14659.71Td250]TJ-254.j58(i)-2.16558(t)-.294958(n)-0.295585(s)-1.224974(m)7.54574(72318980439(m85(sa)-95574(72318980o5(2312(e)3.[74(r)02c)g)9.71032596(p)-0.295585(a)3.á5(n)-0r)2.z20.513(c)2.16436(z)3.74õ12( )-140.229(d)-12.1715(e)3.74723189803.74( )-140.23( )-140.85(n)-0.295e3(b)-0.295583-6.-[74(r)02c)g)9.710325o5(2312(e)3.v85( )-620.514(d)-0.295585(a)n9(n)-0.295580.513(c)3.74(a)-6..229(s)-1.2312(e)3.74(n)-0.295585(h)-314n)-0.29512.1715(e)3.78p)9)-95585( )-1508p)9)-95585( )-12.1715(e)c80.513(c)29(p)-0.295585(o)-0.29558(b)-0.74(52d( )Tj10.3015(a)1703(a)3.74244-7231879.74(b)-0.29n)-0.2955895585(a)585(h)-v9(n)-0.295é85(h)-10.3015(a)3.77231879.312( )-140.229(d)-10.7231879.2659(m)7.545960.513(c)5895585(a)c39(e60.513(c)5895585(a)i5(o)-0.295585(h)-10.3585(a)3.747231879.312( )-6206436(ã)33.74(a8)-10.7231879.e80.513(c)3.74(a3.80p5(n)-5(e)5895585(a)e36(i)0.2910.3015(a)a36(i)0.2910.3585(a)3.747231879.d5(d)-0.2931e36(i)0.2944(,)-0.146574(52d250]76( )Tj805(t)-l29(s)-1.22997(t)-2.1605(o)-0.29.229(s)-1.23127.545294974(r)2.801( )-140.229(a)(a)3.74(ç)3.74(ã)3..703(a)779a)3.726436(ã(N74( )4931626(i)5187( 436(7(I)5588140.85(5585(a)3á05(t)-l29(s)-1.22997(t)-2.16626(i)5,703(a)779a)3.726436(ã(626(i)12a)3.726436(ã(C)-3.34(ã6(T15( )-140.M)1 0 035)3.726436(3(A74( )-14085(o)-0.295.29n)-0.2955895585(a)(ç)3.74(ã)3.m85(sa)-95514(d)-0.274(r)2.80436(i).74(b)-0.29n)-0.295(ç)3.74(ã)3.1703(a)3.74244-264366u6(u)-0.29553.74(a8)-10.26436659(n)-0.295585(d)-0.295510.3015(a)3.-0.1281.686d( )Tj3.74(a)-6..20.513(c)3.74(a)-6.b5(2312(e)3.[95585(a)(ç)3.74(ã)3.10.3015(a)3.726436659(n)-0.295585(h)-3.7264366E)-9.36588(F)5.674h)-T15( )-140.A74( )-1401703(a)3.74244-26436674(b)-0.29n)-0.2955895585(a)585(h3)-1.v85( )-.293142(p)-0.2910.3015(a)3.726436659(d)-0.2931e36(i)0.2910.3015020.85(5585(03..20.513341644(,)-0.14681.686d250]TJ-254.12.1715(e)3997(t)-2.1658(n)-0.295585(s)-1.22439(m8(o)-0.29585(h)-3.7)-1.384)3.74( )-140.23(i)-2.165585(s)-1.22[(p)-0616o974(e)-6.2659(4(e)-6.26u6(u)-0.2955z39(á5(n)-0r)2.u6(u)-0.29553.7)-1.384)[74(r)02c)439(f[(p)-0616.20.513(c)58(u)-0.295585(i)12a)-6.2659(ç)3.74(õ)-0.295585(e)3.74)-1.384)585( )-620.514(d)-074()-1.38.2312( )-6206436(ã)33.74(a)-6.é20.513(c)5895585(a)c39(á5(n)-0.29585(d)-0.295585()-1.38.2659( )-140.229(j)-2.164.295585(e)436(í)-2.1685(d)-0.293144()-1.38.2439(m8(o)-096144()-1.38.243-0.128(sa07d( )Tj10.3585(a)3436(i)-29(p)-0.295585(o)-0.295585(h)-10.3015(a)44()-1.38.22659(m)7.545960.513(c)5895585(a)585(h)-3.7)-1.383(4659(m)7.5450206436(ã)30ç)3.74(ã)3..703(a)3.7420659(m)7.5450209(m)7.5450209(m)7.54574()-1.38.2312( )-5895585(a)i5(o)-0925)a36(i)0.29n9(o)-0.2931ç20.5133416a2(p)-0.2910.3015(a).703(a)3.74244-)-1.38.2A508.43274244(,)-0.1468(sa07d250]76( )Tj3.74( )-140.23(i)-.294958(n)-0.295585(s)-1.22997(t)-2.16558(i)-2.16558(t)-.294958(u)-0.295585(i)-2.16558(ç)9(m)7.54574(30)-0.25585(h)-314n)-0-140.23(i)-2.1652659( )-140.23(d)-0.2930)-0.25585(h)-2659(m)7.545ó295585(a)3.á5(n)-0r)2.23(d)-0.2930)-0.25e3(d)-0.2930)-0.25p5(o)-0.3632[(p)-0616o974(e)-6.263.74(a)-6.(ç)3.74(ã)3.v85( )-620.514(d)-0.2930 çm30 dase poansa veíb 30 ha30ã6(á5(n)-02.16585( )-620.5585(h)-585( )-620.514(d)-010.3015(a)44(30)-043)585( )-620.514(d)-074(30)-043ã6(o974(e)-6.263.74(a)-6.é12( )-5895585(a)c39(á5(n)-0.29585(d)-0.295585(30)-043)J295585(e)u20(j)-2.164.295585(e)436(í)-925)o
100
4%, demonstrando a expansão da grande distribuição no comércio justo, privilegiando
produtos alimentares, em contra ponto a um ritmo menos acelerado de crescimento das lojas
especializadas que englobam a grande maioria da comercialização de produtos artesanais
(Krier, 2005).
Entretanto, outros dados demonstram que mesmo tendo um fraco crescimento em
comparação a grande distribuição, as lojas especializadas tiveram um aumento de faturamento
significativo entre 1999 e 2004, de 148%, passando de 41,6 milhões de euros para 103,1
milhões de euros. O pequeno crescimento em número atrelado ao grande crescimento de
faturamento pode ser um indicativo da incorporação de produtos alimentares como barras de
chocolate, chás e o próprio café, e também principalmente da profissionalização destas lojas
onde a mesma pesquisa demonstra um crescimento de 234% no número de funcionários
remunerados. 2.740 lojas em 1999 possuíam apenas 32 funcionários pagos, ou seja, uma
proporção de 0,01 funcionários por loja. Em 2004 este indicador aumentou para 0,04,
totalizando para 2.854 lojas um total de 107 funcionários. Entretanto, este sistema ainda é
fortemente baseado em voluntariado. Adicionando a esta informação, na última apresentação
realizada em Abril de 2007 no Brasil, pelo Secretario Executivo da IFAT, Stefan Durwael, o
número total de lojas de comércio justo existente hoje no mundo está em torno de 3.500 lojas
(Krier, 2005).
O aumento de faturamento foi sentido também pelos outros atores da distribuição, os
importadores auferiram neste mesmo período um crescimento de 105%, enquanto as
certificadoras nacionais chegaram a marca de 186%, partindo em 1999 de um faturamento
líquido de 208,9 milhões de euros para 597 milhões de euros em 2004. Outro resultado
interessante que pode ser extraído da pesquisa é o significativo papel das importadoras na
criação de mercado para o comércio justo, estas aumentaram em 104% seus investimentos em
educação do consumidor, relações públicas e marketing. As lojas de comércio justo
investiram em 2004 nesta mesma categoria 70% a mais que em 1999, enquanto as
organizações de certificação investiram 46%. Este processo de investimento no mercado tem
despertado o interesse das transnacionais e das cadeias de varejo no comércio justo (Krier,
2005).
A pesquisa também aponta as principais diferenças entre os 25 países, onde alguns
têm redes de lojas especializadas mais desenvolvidas e outros se apóiam mais na grande
101
distribuição. É interessante observar os casos particulares do Reino Unido e da Suíça. O café
de comércio justo representa 20% deste mercado no Reino Unido e 6% na Suíça que
também apresenta a banana como seu principal produto de comércio justo, alcançando 47%
do mercado. Ambos os países possuem as maiores taxas de faturamento na comercialização
de produtos certificados comércio justo, 206,3 milhões de euros no Reino Unido e 136
milhões de euros na Suíça, seguidos em terceiro lugar pela França com 69 milhões de euros.
Estes também apresentam o maior consumo per capta destes produtos. Outra característica
particular destes dois países é que ambos são significativamente influenciados por redes de
cooperativas de distribuição que vêm investindo prioritariamente nestes produtos de comércio
justo e mais recentemente na sua diversificação (Krier, 2005; Wilkinson, 2006).
De forma diferenciada, os países que apresentam maior faturamento em relação às
vendas realizadas por lojas especializadas em comércio justo são a Holanda com 30,3 milhões
de euros e a Bélgica com 20 milhões de euros, seguidas pela Espanha com 12,3 milhões de
euros e o Reino Unido e a França com um faturamento, respectivo de 10,4 e 9,3 milhões de
euros. Entretanto, os países com maior número de lojas são a Alemanha com 800 lojas, a
Itália com 500 lojas, a Holanda com 412 lojas e a Suíça e a Bélgica com 300 e 295 lojas
respectivamente. Destes países apenas a Holanda apresenta um mercado de lojas
especializadas com a mesma força que o mercado da grande distribuição. Entretanto, a
pesquisa não apresenta informações sobre o faturamento das redes de lojas de comércio justo
na Itália. É possível que esse mercado seja tão significativo, ou mais, do que o da grande
distribuição de produtos certificados, que é um mercado tradicional em redes de lojas
especializadas e que seu principal importador, CTM Altromercado, apresentou um
crescimento de faturamento de 369% no período de 5 anos, passando de 9,3 milhões de euros
para 34,3 milhões. No restante dos países pesquisados a grande distribuição vem liderando o
processo de crescimento do comércio justo (Krier, 2005).
Em sua análise sobre esta pesquisa, John Wilkinson, aponta para as converncias
ideológicas entre os países de origem latina: Espanha; Itália; França; e América Latina;
fundamentados em movimentos da economia solidária e críticos a estratégia da FLO de
abertura do comércio justo para a grande distribuição e transnacionais. Um exemplo foi a
decisão da CTM Altromercado de desassociar-se da certificadora italiana FLO, a Transfair,
em reação ao licenciamento de café de comércio justo para a Nestlé. No caso da Espanha e da
França o movimento é baseado tradicionalmente em redes de lojas especializadas,
102
fundamentadas principalmente na economia solidária e no trabalho voluntário. Já, os
mercados com maiores taxas de crescimento na grande distribuição são de origem anglo-
saxônica, Reino Unido e Estados Unidos. Entretanto, uma análise geral destes últimos 50 anos
de comércio justo aponta para uma convergência do movimento na esfera política e no
crescimento do mercado através da grande distribuição. As campanhas realizadas pelas
organizações de comércio justo de mercado alternativo, atreladas as manifestações a ações de
voluntários nas lojas especializadas terminam por promover o conceito e afetar positivamente
o mercado de comércio justo na grande distribuição. Sem este esforço político que visa
massificar o conceito e a marca do comércio justo para o mercado consumidor este mercado
poderia ser incorporado pelas ações independentes de responsabilidade social e certificação
das empresas convencionais. As ações de advocacye sensibilização política também são
fundamentais para legitimar o conceito, dificultando sua incorporação como estratégias de
marketing pelas transnacionais. Por outro lado, a disponibilização de produtos de comércio
justo na grande distribuição leva a proposta ao conhecimento de um número maior de
consumidores, aumentando ainda mais a notoriedade do conceito, que gera o crescimento do
público para as redes alternativas de comercialização e campanhas. Logo, pode-se entender o
comércio justo como um movimento social híbrido, baseado em pleitos fundamentais e
históricos como a justiça e a igualdade, e por outro lado em ações moderas através de atores
organizados em redes tendo o mercado como foco de realização dos seus objetivos
(Wilkinson, 2006).
103
Capítulo 3
O Algodão Como Novo Tema de Destaque no Comércio Justo
Nas últimas décadas o mercado internacional vem experimentando um grande
crescimento no volume de bens exportados, tendo seu valor quadruplicado entre os anos de
1983 a 2000. Este comércio vem representando uma importante fonte de renda para países em
desenvolvimento, apresentando maior crescimento que os mercados internos e gerando 30
vezes mais renda per capta que o apoio financeiro recebido através da ajuda internacional
(Oxfam, 2002 apud Ponte, 2002). Neste cenário internacional o setor têxtil encontra um
ambiente favorável, com a crescente abertura de mercados aos países do Hemisfério Sul.
Mesmo ainda no período em que vigoravam as cotas aos têxteis na Europa, somente na
França se apresentava um aumento de 158% das importações de têxteis nos últimos quinze
anos, enquanto suas exportações aumentaram apenas em 40%. As roupas íntimas vêm da
Tunísia, calças e casacos do Marrocos, roupas de cama do Paquistão e a China com destaque
para roupas de esporte e infantil, gerando um processo de especialização. Esta tendência tende
a prosseguir com a liberalização das cotas sobre a importação de produtos têxteis em 2005
(Perrin e Guinochet, 2004 apud Laville e Balmain, 2006).
No mercado Europeu 60% das fibras são sintéticas, 30% de algodão e 10% de lã. Se
em primeira instância parece razoável supor que as fibras sintéticas sejam menos favoráveis a
preservação do meio ambiente que o algodão a revista francesa “La Revue Durable” instiga
uma avaliação mais profunda neste sentido. No artigo de n# 13 de Novembro e Dezembro de
2004, Pour être écolo, laver moins blanc”, a revista aponta que algumas fibras sintéticas
fabricadas a partir de derivados petroquímicos são menos poluentes que outras fibras naturais,
como o algodão. O custo ecológico do algodão vai depender do material e método de
processamento utilizado em sua cadeia produtiva, na transformação do algodão colhido à
malha tingida.
Hoje, o algodão é considerado a cultura mais poluente do planeta. Mesmo
representando uma superfície produzida de menos de 2,4% do planeta, é responsável pelo
consumo total de 24% de inseticidas agrícolas e 11% de pesticidas (WWF, 1999 apud Laville
104
e Balmain, 2006; IDEO, 2007
101
). O mesmo artigo descrito no parágrafo acima aponta que
para produzir um total de 1 kg de algodão é necessário no mínimo 7.000 litros de água, 75
gramas de pesticida e 2 kg adubos químicos. Entretanto a WWF alerta que o consumo de água
pode chegar a 29.000 litros de água por quilo de algodão dependendo das condições
climáticas e de solo do local do plantio. A grande intensidade de utilização de água no plantio
do algodão resultou em um dos maiores desastres ambientais provocados pelo homem, o
desaparecimento do Mar de Aral, um mar interior localizado na Ásia entre o Uzbequistão e o
Cazaquistão, quando diversos rios que o abasteciam foram direcionados para a irrigação de
plantações de algodão na região. Neste sentido a WWF lançou a iniciativa “Fresh-Water &
Cotton” com o objetivo de melhorar as condições de irrigação em localidades onde a cultura
do algodão coloca em risco o meio ambiente. Atualmente 73% do algodão produzido
mundialmente é proveniente de terras irrigadas (Laville e Balmain, 2006).
Entretanto, a primeira conseqüência desta prática é refletida nos próprios trabalhadores
que cultivam o algodão, cuja grande maioria não produz em condições mínimas de trabalho.
Estas são caracterizadas por aspectos como jornada de trabalho, remuneração, segurança,
salubridade, entre outros. No Egito em 1990 mais de 50% dos produtores de algodão
apresentavam algum tipo de reação à utilização dos produtos químicos, como deficiências no
sistema nervoso e na visão. Na índia reportam-se casos de morte ligados a intoxicação através
de inseticidas proibidos na Europa, classificados pela ONU na categoria n# 1 de perigo.
Percebe-se também formação em recém nascidos e o aumento do índice de câncer no
campo. na Austrália a carne bovina consumida pela população foi diagnosticada como
contendo fortes doses de resíduos de inseticidas provenientes da cultura do algodão. A carne
identificada provinha de gado que havia sido alimentado com torta de algodão. Esta
descoberta impactou significativamente as exportações do país (Souza, 2000). Segundo a
Organização Mundial da Saúde a cultura do algodão é atualmente responsável por 220 mil
mortes e 25 milhões de casos de envenenamento nos países do terceiro mundo (Laville e
Balmain, 2006; IDEO, 2007).
Outro foco de debate sobre a cultura do algodão reside no caso dos organismos
geneticamente modificados, doravante descritos como OGM. Devido a forte dependência do
algodão a tratamentos químicos esta foi uma das primeiras espécies agrícolas a serem
101
Informação disponível no site: www.ideo-wear.com/04_engagements/index.html.
105
estudadas e modificadas geneticamente. Suas sementes representam 1,25 milhões de
hectares de plantações de algodão, significando 21% da superfície total de algodão e 11% das
plantações baseadas em OGM. Hoje, duas variedades são comercializadas, a primeira
resistente ao ataque de insetos, chamada de algodão Bt que foi lançado no mercado em 1996,
e a segunda resistente a herbicidas. Enquanto nos Estados Unidos 57% dos campos cultivados
utilizam algodão modificado geneticamente, na China este índice é de apenas 3%. Existem
diversas críticas a utilização de OGM, entretanto dentre elas vale ressaltar a impossibilidade
de reprodução das sementes fazendo com que os produtores não possam mais produzir da
forma tradicional suas próprias sementes, tornando estes dependentes das empresas
transnacionais que vendem anualmente as sementes geneticamente modificadas. Esta
dependência tende a gerar um ciclo de endividamento junto aos produtores. Na Índia, por
exemplo, um saco de sementes tradicionais varia de 300,00 a 400,00 rúpias, enquanto a
mesma quantidade da semente modificada geneticamente custa 1.600,00 rúpias, devido
fundamentalmente aos royaltyspagos às empresas que dominam a tecnologia (Laville e
Balmain, 2006).
Os argumentos de que as sementes geneticamente modificadas são mais eficientes,
necessitando de menos aplicação de pesticidas e consequentemente de menos trabalho,
conquistaram muitos agricultores que agora se encontram dependentes deste mercado de
fornecimento destas sementes. Alguns cientistas ecologistas também alertam sobre o perigo
de disseminação de genes modificados na natureza através do processo de polinização,
podendo contaminar outras plantas. O processo ainda recente, já apresenta alguns resultados
preocupantes em função da adaptação das pragas às novas sementes levando o produtor a
utilizar cada vez mais produtos químicos, que por sua vez, são desenvolvidos especialmente
para as culturas modificadas geneticamente e comercializados pelas mesmas empresas que
vendem as sementes. Um mercado de insumos restrito e monopolizado por transnacionais que
acaba sujeitando o produtor a um papel coadjuvante no processo. (Castro, 2006 apud Laville e
Balmain, 2006; Laville e Balmain, 2006; IDEO, 2007).
O tingimento do tecido na cadeia produtiva têxtil representa um segundo elo
significativo de contaminação do meio ambiente. Esta atividade requer o uso de produtos
químicos extremamente nocivos a natureza e um forte consumo de energia elétrica e de água,
podendo chegar esta a um consumo de 5.000 m
3
por tonelada de tecido. Com a necessidade de
super aquecimento da água a energia envolvida no processo é tão significativa que representa
106
65% de toda a energia consumida anualmente na cadeia têxtil inteira. O tingimento é
responsável não apenas pela coloração da peça, mas também pelo seu amaciamento,
impermeabilização, resistência a encolhimento entre outras importantes características que
diferentes tecidos podem assumir (Laville e Balmain, 2006).
Ainda, desde o final dos anos 90, o setor têxtil vem sendo um dos mercados que mais
motivam debates a respeito das condições de trabalho em fábricas de sub-contratação. Neste
contexto, a Nike se tornou a marca símbolo desta nova economia terceirizada e re-localizada
em busca de mão de obra com baixo custo, enquanto se dedica a investimento em ações de
marketing, publicidade e design. Os produtos são fabricados por mais de 500.000 funcionários
de 700 fábricas de sub-contratação em mais de 50 países, como o México, a Indonésia e o
Camboja. Entretanto, a Nike é apenas um exemplo entre outros como GAP, Levi’s, Reebok e
Puma. Sobre a pressão de campanhas e boicotes provocados por organizações que mobilizam
consumidores, e principalmente da Organização Mundial do Trabalho, muitas destas
empresas lançaram publicamente programas de auditoria independentes nas fábricas de sub-
contratação (Laville e Balmain, 2006).
Um exemplo de campanha dirigida ao público em geral sobre o tema foi a realizada na
ocasião dos Jogos Olímpicos de Atenas em 2004. A ONG internacional Oxfam, juntamente
com organizações sindicais internacionais e com a base da campanha internacional Clean
Clothes lançaram o lema “Jogue Justo nas Olimpíadas”, Play Fair at the Olympic”. A
campanha tinha como objetivo sensibilizar o Comitê Olímpico Internacional e seus
fornecedores de equipamentos esportivos, como FILA, Puma, Umbro, Asics, Mizuno, entre
outros, sobre sua responsabilidade quanto ao respeito dos diretos do homem no trabalho,
incluindo questões específicas como liberdade de associação, diálogo social, credibilidade das
auditorias e traçabilidade dos produtos na cadeia produtiva sub-contratada, o impacto das
práticas e relações comerciais das empresas e os critérios de remuneração. Dois anos após, em
2006, a Oxfam, envolveu-se com uma pesquisa com 12 marcas de tênis e vestuário
produzidas na Ásia, algumas das quais mencionadas logo acima. O resultado da pesquisa
apontava para os poucos esforços encontrados nas grandes marcas em melhorar as condições
de trabalho nas suas fábricas de sub-contratação, incluindo casos de violência em tentativas de
organização de trabalhadores para demandar melhores salários e condições de trabalho. Na
Índia, por exemplo, apenas 8% dos empregados da indústria têxtil trabalham em fábricas que
respeitam as normas internacionais de trabalho (Laville e Balmain, 2006).
107
3.1 - A Importância do Algodão para o Comércio Justo
Para que os movimentos sociais alcancem seus objetivos é muito importante que suas
redes de organizações estejam sempre em comunicação e tenha acesso a pesquisas e
informações de mercado constantemente. Neste sentido, foi realizada pela IFAT em 2005, em
parceria com a FLO e a EFTA, uma pesquisa sobre a cadeia produtiva do algodão, e seus
produtos têxteis derivados, na perspectiva do comércio justo
102
. Esta pesquisa apresenta que
nos últimos anos o algodão vem sendo observado como um produto 2997( )-18095585(t)-2.5585(t)-2.1612.1715(g85(t)295585(n)-0.)3(p)-10.301:sua em015(m)771( )250]TJ-289.131 -20.76l4(e)-6.2659(r)2.8ç0.295585(-10.3015(d)-0.4(.)-0.1240.28(s)-1.229i)-2.16558(m)7.54596(o)-0.240.28(s74( )-90.1997(a)3..295585(e)3.74(.16436(c)3.74(1.229í85(e)3.74(74( )-90.199i.294974(u)-0.294997(j)-2.1643025)-0.240.28(s2(e)3.74(n)-0.295585(d)-0.2240.28(sc-1.229i)-2.16558(m)-180.253(é3.74(r)2.805(c)r)]TJ255.631 0 Td[(c)3.74(i)-2.240.282)-0.295585( )-90.1997(j)-2.16436(u)-0.295585(s)90.1997(j)1 394.92 601.16240.282))-2001.33(805(c)-0.295585( )-(t)-2.16681(e)3.i95585(t)-2.5180.253(p)-10.3015(r -2.1643(e)967.54596(a)-6.2659( )-20.1584(p)-0.2955850.1997(p)-0.295.16240.282)29(a)3.74( )-50.1773(q)-0.29558-2.16436(u)-0.295585(.46056(a)3.74(ç)3.74(õ)-0.295.16240.282)i)-2.16436(m)7.54596(p)-4(p)-0.2955í7.54596(u)-0.2955192-0.295585(n)-0.295585ç)3.74(õ)-0.295.16240.282 si4(p)-0.2955v-1.2312(q)-0.293142(u)dsu4(õ)-0.2955 0 Td[(o)-0.2940.282eme
108
vulneráveis, como ainda será exemplificado neste capítulo em relação aos países Africanos.
Caracteriza-se assim, como um setor onde se poderia aplicar de forma construtiva as práticas
das relações comerciais do comércio justo, como a aplicação de um preço mínimo, de
contratos de longo prazo com produtores marginalizados e da desintermediação das cadeias
produtivas, além da aplicação do princípio do preço justo.
Consequentemente, a segunda razão pelo qual o algodão vem surgindo como um
produto de importante significado dentro do comércio justo é pelo fato de representar uma
cultura produtiva de extrema importância para diversos países em desenvolvimento,
envolvendo milhões de pequenos produtores, especialmente de países da África do oeste e
central e do sul da Ásia. O primeiro princípio do comércio justo é o combate a pobreza
através do apoio a produtores marginalizados do mercado convencional. Segundo dados
apresentados na pesquisa da IFAT o algodão possui uma posição importante na agricultura de
90 países e a sua manufatura em pelo menos 160 países. Muitas culturas ainda trabalham o
algodão tradicionalmente de forma artesanal, uma prática produtiva relativamente simples e
com grande intensidade de mão de obra, que representa não uma significativa parcela
econômica de muitos países, mas que também possui a sua importância cultural e o seu
impacto social. Outro ponto importante para o comércio justo é o impacto ambiental causado
pelo cultivo do algodão, como discutido acima, a cultura no planeta que mais utiliza
agrotóxicos, praticamente uma quarta parte de todos os inseticidas produzidos no mundo são
destinados às plantações de algodão (Gent & Braithwaite, 2005). Logo, está-se realizando
uma forte correlação entre o comércio justo e a certificação orgânica para o algodão, que a
preservação do meio ambiente é um dos princípios do movimento. No Brasil existem
iniciativas onde o algodão orgânico está começando a ser trabalhado também dentro dos
princípios do comércio justo.
Uma quarta razão que justifica o interesse do movimento de comércio justo
internacional pelo algodão e seus produtos derivados é exatamente a enorme variedade de
produtos e complexidade das cadeias produtivas que envolvem o seu processamento e
distribuição, podendo levar o comércio justo a um novo estágio de desenvolvimento e de
comunicação com o mercado e com o consumidor final. São produtos que vão desde vestuário
até itens para a casa, alguns básicos e outros com bastante valor agregado, comercializados
através de marcas reconhecidas e designs” arrojados. Por trás destes produtos existem
diversas cadeias produtivas organizadas por todo o planeta que se especializam cada vez mais,
109
empregando mais ou menos trabalhadores em diferentes etapas da produção e sempre
investindo em novas tecnologias para aumentar a produtividade e diminuir os custos.
A complexidade do setor têxtil também pode ser percebida na enorme quantidade de
marcas, símbolos e certificações que regulam o mercado. Aparte do comércio justo que é mais
recente, as etiquetas informam as características do algodão, qual a composição da fibra, qual
a origem da peça pronta e as instruções de lavagem. A falta de informação sobre a origem do
algodão ou das condições sociais de manufatura da peça podem criar um espaço de
obscuridade para se avaliar indicadores sociais, informar e sensibilizar o consumidor sobre a
sua compra. Diferente dos produtos alimentares, os consumidores não se preocupam com sua
saúde e segurança quando adquirem uma peça de roupa, e a matéria prima neste caso, tem
menos impacto direto no consumidor e menos importância relativa de compra do que no caso
de produtos alimentares. A cultura de aquisição de uma peça é completamente distinta da
cultura hoje existente no comércio justo, que vem se desenvolvendo mais rapidamente em
escala no ramo alimentar, principalmente porque neste caso ela precisa se relacionar
diretamente à imagem do consumidor, a sua personalidade, tornando a conquista de uma fatia
de mercado um desafio ainda mais complexo para novos entrantes (Gent & Braithwaite,
2005).
Sendo uma das áreas que mais concentram capital humano no mundo, tanto no cultivo
do algodão com na confecção de peças de vestuário, e estando este capital concentrado em
países africanos e asiáticos em crescente desvantagem econômica, a atenção dos movimentos
sociais, de organizações de comércio justo e empreendedores sociais, nos mais variados
países, não poderia deixar de se ater ao tema da cadeia produtiva têxtil. Algumas iniciativas
de estabelecimento de cadeias produtivas têxteis e produção de algodão de comércio justo
vem se desenvolvendo em países como Inda, Bangladesh, Zimbabue, Ilhas Maurício, Benin,
Tanzânia, Uganda, Eritrea, Paraguai, Peru e Brasil. No caso brasileiro o tema do comércio
justo na cadeia têxtil não está concentrado na dependência da sua economia a cultura do
algodão, mas sim no forte desequilíbrio de distribuição de renda existente no país, pior do
mundo, ficando apenas a frente de Serra Leoa e do Haiti, com 10% da elite brasileira detendo
80% da renda gerada no país. Existe uma significativa concentração da população mais pobre
em atividades como a confecção de peças e o plantio do algodão, onde ainda resiste a pequena
propriedade.
110
O algodão representa um mercado que movimenta milhões de pequenos produtores e
trabalhadores, de significância para inúmeras economias em desvantagem, formado em torno
de complexas cadeias produtivas com forte influência e representatividade no comércio
internacional. Neste contexto surgem diversas áreas de oportunidade para se desenvolver
práticas de comércio justo: o surgimento de marcas e empresas de comércio justo no mercado
da moda e decoração; o fortalecimento das cadeias produtivas têxteis de comércio justo
existentes e o desenvolvimento de novas em localidades onde o setor têxtil esteja em
decadência; através da certificação do algodão do comércio justo influenciar cada vez mais
empresas convencionais a optarem pelo comércio justo nas suas estratégias de mercado;
encorajar produtores a se organizarem em grupos produtivos como cooperativas e
associações; formar parcerias técnicas para melhoria das práticas de aceivm orooeoa c.295585(e)3.74(s)-1.23025(e)3.(a)3.74(l)-12.171561(c)3.74(i)-.324(o)-0.0.295585(r)-7.20029(e)3.74(s)-1.22997( )-142(o)-0z e empemd94974(r)-7.a3.74244(m)-2..21295585(t)-2;(s)-1.2312(e)dc
111
Mais do que um evento para comercialização o Show de Moda Ética busca promover
um espaço de encontro onde a indústria da moda tem acesso as novidades e as possibilidades
que uma moda mais ética pode fornecer. Possui três objetivos principais: promover designers
e estilistas da moda ética; estimular o diálogo e a
112
importante direcionador para o estabelecimento de projetos de comércio justo. Os designers se
tornam chaves no quebra cabeça que tenta estabelecer o contato entre o produtor e o
consumidor e é quem faz a leitura das tendências de mercado e a viabiliza sobre forma de
modelos para os produtores. Entretanto, normalmente os designers e estilistas não consideram
os custos, as dificuldades e as peculiaridades locais dos produtores, especialmente por estarem
localizados nos países consumidores com mercados de aviamentos e insumos diferenciados.
Seu foco está no trabalho do estilo e na formação do preço para um mercado competitivo.
Características ambientais e sociais atreladas a um produto podem representar um diferencial
significativo para um estilista, que por sua vez, munido de informação pode também
promover melhorias sobre o impacto ambiental e social da moda (Souza, 2006).
Os estilistas assumem o papel de fazer uma leitura das características culturais da
localidade dos grupos de produção, integrando-a às tendências de mercado nas localidades
para as quais será destinado o produto. Entretanto o custo de um estilista, principalmente dos
países consumidores, Europa e Estados Unidos, é normalmente proibitivo para os produtores,
dependendo estes da sua relação de parceria com a marca, a importadora/ONG ou com o
próprio estilista. Este processo dificulta lançamento de uma marca própria pelos produtores.
Alguns problemas clássicos da produção de peças de vestuário, que afetam significativamente
o comércio justo, que os atores precisam especializar toda cadeia produtiva são: a falta de
padronização das medidas dos tamanhos e as diferenças de estilo e gosto entre os países; a
necessidade de rápida renovação das coleções, fazendo com que o comércio justo se foque em
produtos mais básicos como meias e camisetas; a pequena oferta do algodão no mercado que
não permite às grandes marcas renovar suas coleções nos prazos e volumes necessários a
viabilidade da proposta; a importância secundária dos aspectos de comércio justo e orgânico
do algodão frente a prioridade dada ao estilo e design das peças. Sobre este último ponto vale
ressaltar que com o advento do Ethical Fashion Show” um número cada vez maior de jovens
estilistas estão se envolvendo de forma mais concreta e idealista em relação às características
éticas de suas criações. As dinâmicas e tendências do mercado da moda devem fazer parte
deste processo de expansão do algodão orgânico e justo, vis a vis a crise no algodão orgânico
da década de 90 quando as principais empresas do mercado Norte Americano abandonaram
suas coleções de algodão orgânico. Isso levou a um retrocesso na produção mundial deste
algodão, que apenas agora vem demonstrando tomar um novo fôlego de crescimento (Haynes,
2006).
113
3.3 - O Comércio Justo e o Algodão Orgânico
Constam da década de 60 as primeiras iniciativas dos movimentos ambientalistas em
incentivar a utilização de roupas a partir de tecidos de algodão cru não alvejados. Nos anos 70
iniciou-se o processo de classificação e certificação o algodão, ainda referente a questões
técnicas como durabilidade, capacidade de absorção de umidade, conforto, dentre outras
características da matéria prima. Desde então o mercado veio sendo alterado, especialmente
com as mudanças promovidas através das barreiras não-tarifárias da OMC e da implantação
da ISO 14.000. Na década de 80 iniciou-se o processo de formatação de propostas na Europa
para certificação ambiental dos produtos têxteis, dado o impacto ambiental da produção da
matéria prima têxtil e das primeiras iniciativas de produção de algodão orgânico. A partir da
década de 90 surgiram as primeiras roupas com conceitos ecológicos, associando a matéria
prima e a produção orgânica ao processo, passo fundamental para institucionalizar a
certificação orgânica para produtos têxteis. Entretanto, foi apenas no final dos anos 90 e início
do novo século que se consolidou uma visão mais integrada da cadeia produtiva têxtil. As
primeiras iniciativas de plantio orgânico do algodão se deram a partir de 1989 nos Estados
Unidos e na Turquia. Os principais países consumidores são o próprio Estados Unidos e os
países da União Européia, que não produzem, mas fomentam a produção através de
financiamentos e suporte técnico de ONGs e agencias governamentais nos países produtores
em desenvolvimento (Souza, 2000).
A produção orgânica é realizada através da cultura biológica, sem a utilização de
substâncias tóxicas agressivas ao meio ambiente. É baseada na sustentabilidade do ambiente
natural em que é cultivada exigindo um manejo mais intensivo do processo produtivo. O
manejo da produção é realizado através de insumos naturais, não prejudicando o solo, a água,
a fauna e a saúde das pessoas da localidade. Como exemplos de fertilização do solo,
leguminosas são utilizados visando provocar um aumento da matéria orgânica e da retenção
de nitrogênio, como também adubos de origem animal entre outros nutrientes aprovados pela
certificadora. O manejo torna-se mais complexo, e a adaptação do produtor à nova tecnologia
produtiva exige investimentos em apoio técnico e financeiro. Entretanto, por ser uma prática
que não utiliza insumos modernos criou-se uma imagem de ser antiquada e atrasada, embora
na realidade requeira técnicas mais inovadoras e intensivas do que a produção convencional
(Souza, 2000; ICAC, 1998 apud Souza, 2000).
114
Para ser certificada, a produção orgânica precisa passar por uma etapa de transição,
que leva em média três anos, onde o solo é gradativamente liberado dos agrotóxicos dos
cultivos anteriores, e o produtor se adapta a nova técnica. O mercado reconhece a produção
orgânica apenas a partir da certificação (The Economist, 2006; Souza, 2000; Haynes, 2006).
Mesmo com esta restrição, o movimento do comércio justo tende a estimular o processo de
comercialização ainda durante a etapa de transição, para que mais produtores possam ser
incorporados à produção orgânica e que se aumente a escala. A viabilização desta
comercialização é fruto do trabalho de sensibilização dos importadores de comércio justo
junto às lojas especializadas, explicitando o argumento social e ambiental por trás da
necessidade de apoio ao algodão em conversão ainda não certificado.
A produção do algodão orgânico é disseminada por todo o globo, podendo ser
encontrada na Ásia, na África, no Oriente Médio e nas Américas. Para este nicho de mercado
o principal fornecedor de algodão orgânico é a Turquia (Marquardt, 2001 e Walaga, 2003
apud Raynolds, 2004). A pequena produção, característica de muitos países em
desenvolvimento e foco do movimento de comércio justo é caracterizada por cultivo de
consórcio ou de rotação com outros plantios, visando controlar a invasão de pragas. O cultivo
também é realizado em menor adensamento em um mesmo espaço produtivo, visando prover
mais água, luz e nutrientes por de algodão. Está técnica gera um custo mais alto para o
produtor. O processo de cultivo e colheita é manual e extremamente intensivo em mão de
obra, normalmente envolvendo toda a família. A produtividade tende a ser baixa devido a
presença de outras culturas e ao limitado acesso a insumos modernos. Estas dificuldades
levam a organização dos prazos de colheita, favorecendo a proliferação de pragas,
principal motivo pelo qual se executa a própria rotação de plantios. Já, a produção
mecanizada em larga escala, característica dos Estados Unidos e até mesmo de algumas
regiões do Brasil, tende a ser mais intensiva em capital e não tanto em mão de obra, com
insumos e produtos químicos de controle de pragas de alta tecnologia. A produção orgânica,
excluindo a utilização de produtos químicos prejudiciais ao meio ambiente, também se realiza
através destes dois modelos. Nos Estados Unidos estão as grandes fazendas produtoras de
algodão orgânico, principalmente na região da Califórnia, onde as propriedades chegam a ter
1.000 hectares. Entretanto, com a rotação das culturas, o plantio do algodão chega a um terço
do tamanho total da propriedade, 300 hectares no máximo (Souza, 2000).
115
No caso brasileiro, exemplo da produção orgânica do algodão em pequenas
propriedades, prevalece a produção familiar intensiva em mão de obra, com pequenas
iniciativas nos Estados do Ceará, Alagoas e no Paraná. A primeira iniciativa brasileira em
Tauá no Ceará se baseou na produção agroecológica, com cultivo do algodão consorciado
com milho, feijão, gergelim e guandu. As iniciativas brasileiras já comercializam para
organizações de comércio justo francesas, como a Altereco, a Veja e a Fair Planet. A venda
do algodão orgânico gera para o produtor um prêmio que varia de 10% a 30% do preço
convencional, pouco se relativizado em relação à baixa produtividade. O algodão orgânico
colorido naturalmente é mais valorizado por ser muito escasso, apresentando um prêmio de
50% a 100% em relação ao algodão convencional. Adicionando-se o valor do comércio justo
ao algodão orgânico a tendência é que o prêmio do orgânico dobre, alcançando 50% a 60%. A
variação do prêmio pode ocorrer devido a diminuição da produtividade esperada decorrente,
por exemplo, de problemas climáticos ou de pragas, do aumento com os custos para
implantação dos procedimentos de cultivo orgânico e dos custos de fertilização, do custo
gerado com a maior intensidade da mão de obra e da disponibilidade de técnicas para realizar
controles alternativos de pragas (Souza, 2000; Haynes, 2006).
A comercialização do algodão orgânico, e do certificado comércio justo, requer uma
relação mais próxima e intensa entre produtores, fabricantes e compradores, requisitando
maior organização de negociação por parte dos produtores. Isso leva por um lado a uma
diminuição dos intermediários na cadeia produtiva, mas por outro a um aumento dos custos de
transação entre as partes, que necessitam se adaptar e se relacionar mais estreitamente, pelo
menos no início. Estando direcionado a um nicho de mercado, a comercialização no comércio
justo não se realiza nos mesmos moldes do mercado convencional. Os produtores são
normalmente contatados diretamente pelas próprias marcas e distribuidoras, estabelecendo-se
em parceria os termos de contratação da produção para a colheita do ano seguinte. Devido a
pouca oferta deste algodão, os contratos tendem a ser mais flexíveis, pré-financiando a
produção, garantindo acesso a mercado e, na maioria dos casos, aplicando prêmios de acordo
com as qualidades ambientais e sociais do algodão. Como o bem comercializado é muito
específico, a formalização da compra e venda através de contratos e o monitoramento e a
certificação se tornam características típicas deste tipo de operação (Souza, 2006).
Entretanto, para que o tecido se mantenha certificado como orgânico ele deve passar
por outros cuidados na cadeia produtiva, principalmente no que diz respeito a etapa do
116
tingimento, forte empregadora de substâncias xicas. Ele não pode ser alvejado. Corantes
utilizados no seu tingimento devem ter baixo impacto no meio ambiente e deve ser utilizada
menor quantidade de água e energia que nos processos convencionais. O custo de adequação
do processo de tingimento para a produção orgânica é alto, e esta etapa também precisa de
auditoria externa no processo de certificação orgânica, o que ainda não ocorre em relação ao
comércio justo. Uma alternativa ao algodão tingido, é o algodão colorido naturalmente. Os
historiadores identificam que o algodão colorido exista a pelo menos 5.000 anos,
compreendendo principalmente as regiões do Egito, Paquistão, China e das Américas. Hoje, a
maior concentração da produção do algodão colorido está no Peru, realizada por cerca de 15
mil índios e pequenos produtores familiares. A tradição da produção do algodão colorido vem
sendo preservada ao longo de gerações por estes povos. Atualmente, a produção peruana
chega a 3.000 hectares, gerando 3.500 toneladas de algodão colorido, sendo toda destinada ao
mercado local. No México e na Guatemala também existem comunidades tradicionais que
ainda cultivam o algodão colorido naturalmente. Hoje, existem duas tonalidades coloridas
encontradas na natureza, o verde e o marrom (Souza, 2000; Vreeland, 1993 apud Souza,
2000).
Entretanto, com o desenvolvimento de pesquisas e das técnicas de melhoramento e
modificação genética, existem sementes capazes de gerar algodão colorido em cores
distintas das conhecidas na natureza, experimentos são realizados no Turkmenistão, na
antiga União Soviética, e por empresas norte americanas visando desenvolver a coloração
azul do índigo (Bio-Pirataria, 1999 apud Souza, 2000). Nos Estados Unidos a produção do
algodão colorido é ainda muito pequena em relação até mesmo à produção orgânica,
alcançando em 1994 uma superfície de apenas 2.500 a 2.800 hectares. Entretanto, na última
década o processo de aprimoramento e modificação genética da fibra do algodão se tornou
fonte de esforços de empresas norte-americanas e também no Brasil, através das experiências
e estudos realizados pela Embrapa Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária. Além da
produção nas Américas, existem iniciativas neste sentido impulsionadas por governos na
Índia, Israel e Austrália. Mesmo com uma queda média de produtividade de 10%, o crescente
interesse na fibra colorida naturalmente está no prêmio pago pelo mercado que pode chegar
até 100% do preço do algodão convencional. No caso do algodão geneticamente modificado,
é importante ratificar que a modificação da sua coloração natural, visando evitar o processo de
tingimento, é rejeitada pela certificação orgânica (Souza, 2000).
117
No caso do movimento orgânico o tema da sustentabilidade ambiental casa com a
sustentabilidade social. Tanto do ponto de vista dos orgânicos como do comércio justo o
casamento dos conceitos ocorre naturalmente. Em geral o consumo de produtos orgânicos é
mais difundido que o de produtos de comércio justo, principalmente no caso brasileiro. A
tendência é que as pessoas se sensibilizam primeiro com os aspectos do produto que vão
afetar diretamente a sua individualidade. O benefício à saúde é naturalmente um processo
mais fácil de ser incorporado do que o apoio a questões sociais ligadas ao processo de
produção de um determinado produto. Uma pesquisa realizada na Europa pela empresa
Innovation
106
a pedido do movimento de comércio justo aponta que em matéria de inovação
alimentar fatores como exotismo, sofisticação, divertimento, diversidade, saúde através de
produtos orgânicos, entre outros, possuem maior importância para o consumidor que a
questão ética envolvida na produção do produto. Na Holanda, por exemplo, enquanto 12,7%
do peso relacionado à inovação alimentar pelo consumidor final seja referente a produtos
produzidos de maneira natural e orgânica, apenas 0,2% de intenção de compra é relacionada à
ética. Na França, Itália e Alemanha o mesmo posicionamento foi percebido. Dado que a
preservação do meio ambiente é um dos princípios do comércio justo, muitos pequenos
produtores entraram no mercado do comércio justo com uma certificação orgânica. Na
realidade o mercado de orgânicos acaba sendo um grande impulsionador ao mercado de
comércio justo, que o consumidor se identifica e passa a conhecer o conceito do comércio
justo muitas vezes através da compra de produtos que são antes de tudo orgânicos.
Hoje, no comércio justo se um produto puder ser certificado como orgânico, e não o
for, ele encontra uma forte barreira de comercialização no mercado externo. Até mesmo no
caso do algodão na maior parte dos casos ele precisa ser orgânico, e não apenas certificado
como justo, para ser aceito pelas lojas de comércio justo e mercado convencional. O estudo de
caso da marca “Tudo Bom?“ apresentado a seguir nesta dissertação encontrou na demanda
pela certificação orgânica do algodão uma barreira à distribuição de seus produtos no mercado
francês. Muitos pontos de venda demonstraram interesse apenas se o algodão tivesse também
a certificação orgânica. Entretanto, este é um enorme desafio no Brasil, pois a produção do
algodão orgânico é pouco significativa. Logo, o projeto de desenvolver uma filial de produção
de algodão justo também se tornou um projeto de algodão orgânico. Um estudo realizado pela
106
Apresentação realizada por Stefan Durwael, diretor executivo da IFAT, no Rio de Janeiro em ocasião do
Encontro Latino Americano de Comércio Justo da IFAT em 01 de dezembro de 2004.
118
ONG norte americana Organic Exchange, demonstrou um aumento anual de 35% no mercado
de algodão orgânico nos últimos 4 anos devido a demanda crescente das grandes marcas
como Nike, IKEA, Monoprix, Patagônia, Marks & Spencer, Timberland, Nordstrom, Wal-
Mart, entre outras. Algumas destas marcas também apresentam interesse no comércio justo
e alguns projetos pilotos estão sendo desenvolvidos no que diz respeito ao algodão
certificado, como no caso da Marks & Spencer. Segundo a Organic Exchange, o mercado
têxtil orgânico atingiu um faturamento global aproximado de 1,1 bilhão de dólares em 2006,
mais que o o dobro do ano passado. A instituição prevê um alcance de 2,6 bilhões de dólares
para o faturamento do mercado em 2008 (Laville e Balmain, 2006; The Economist, 2006).
Entretanto, este mercado ainda é pouco representativo se comparado a totalidade do
algodão convencional, representando menos de 0,1% da produção global de algodão. A
Turquia é responsável por 29% da produção mundial, os Estados Unidos por 27% e a Índia
por 17%. Na África, o Senegal, Uganda, o Egito e a Tanzânia possuem uma produção média
de 200 toneladas cada um. O Benin iniciou uma pequena produção de 30 toneladas e países
como Moçambique e Zimbábue desistiram. A pequena oferta ocorre devido às incertezas
sobre este nicho de mercado e aos maiores custos e menor produtividade do plantio orgânico.
A entrada deste algodão na grande distribuição pode modificar este cenário no longo prazo.
Devido a pequena oferta, as distribuidoras limitam-se a lançar pequenas linhas de produtos
orgânicos, com um preço superior ao algodão convencional. O algodão orgânico da Turquia
chega ao mercado com um prêmio de 20% sobre o preço do mercado convencional. Este valor
é repassado para as distribuidoras que repassam para o consumidor final. A Marks & Spencer
cobra cerca de 1 libra (1,95 dólares) a mais por uma peça de algodão orgânico. Esta diferença
pode diminuir se a produção orgânica aumentar, elevando a oferta, e se o preço do algodão
convencional, atualmente em 0,57 dólares por libra, ou por 0,4536 quilos, aumentar para sua
média de longo prazo de 0,70 dólares (The Economist, 2006; Haynes, 2006).
Seja orgânico ou de comércio justo, a realidade é que estas novas especificidades estão
alterando as preferências dos consumidores, gerando necessidades que estes antes
desconheciam. Estas novas tendências de consumo geram modificações nas relações
contratuais e nos próprios sistemas produtivos, que se reorganizam para atendê-las. Por estas
qualidades serem intangíveis para o consumidor no momento da compra, os produtos
assumem a característica de um bem de crença, onde o consumidor confia no conceito e na
história por trás do produto. Por isso o processo de certificação se torna essencial na busca por
119
assegurar ao consumidor a conformidade com as especificidades desejadas. Somente através
da compreensão do consumidor das diferenças entre a produção convencional e os processos
produtivos especializados no comércio justo e na cultura orgânica, reforçado através das
garantias geradas pela certificação, será possível diferenciar produtos convencionais dos
ambientalmente e socialmente responsáveis. Se o consumidor não perceber as diferenças entre
os processos e as propostas de um e outro, muitas vezes devido a própria falta de informação,
o produto se caracterizará como uma peça apenas mais cara em um mercado altamente
competitivo. O consumidor precisa perceber o diferencial intangível do produto para aceitar
pagar um prêmio pela iniciativa ética da empresa distribuidora ou da marca.
O alto grau de especificidade do algodão orgânico e justo e a falta de regulação nestes
nichos de mercado, também abre espaço para fraudes e ações oportunistas que visam os
prêmios característicos destes produtos. Estes riscos reforçam ainda mais a necessidade de
monitoramento do processo produtivo e de fortalecimento dos sistemas de certificação. Logo,
nestes dois nichos de mercado a incerteza quanto a autenticidade das especificidades do
produto atrelada a dificuldade de aumento de escala são dois fatores que dificultam o
crescimento do mercado, hoje mais impulsionado pela demanda que pela oferta. Segundo
Maria Célia Souza, “O mercado de têxteis orgânicos deve ainda permanecer como um nicho,
pela restrição da oferta ainda reduzida, cuja expansão é limitada pelas dificuldades da
produção e pela especificidade locacional” (2000). Este é um mercado que se encontra em
desequilíbrio entre oferta e demanda, ainda direcionado para um público de classe alta. A sua
expansão deve enfrentar a dificuldade de penetração em classes sociais médias e baixas onde
o menor poder aquisitivo do consumidor irá levá-lo a indagar-se sobre o custo benefício do
seu investimento ambiental na compra de um produto orgânico ou social, no caso do comércio
justo. Segundo a IX UNCTAD realizada em 1996 na África do Sul, ainda não existem
evidências concretas que possam determinar a viabilidade econômica e as tendências de longo
prazo do cultivo orgânico do algodão. É percebido que enquanto os custos da produção
orgânica sejam de 10% a 15% superiores aos do algodão convencional, o seu rendimento é na
média 15% inferior (Souza, 2000).
3.4 - O Comércio Justo e o Movimento “Anti-Sweatshop
O Movimento anti-sweatshopvem mais de dez anos concentrando seus esforços
e pressionado as marcas de grande distribuição a assumirem responsabilidade frente às
120
condições de trabalho e remuneração dos funcionários em suas cadeias produtivas
globalizadas, principalmente no que diz respeito às grandes fábricas de facções e confecções.
No decorrer desta última década o movimento apresentou suas conquistas alcançando a
sensibilização do público consumidor e consequentemente das marcas de grande distribuição.
Como reflexo da pressão gerada, algumas fábricas vêm modificando suas práticas frente a
seus trabalhadores, devido as exigências das marcas atingidas pelo movimento. Esta nova
prática ficou conhecida como comércio ético, ou “Ethical Trade”. Por outro lado, a estratégia
do comércio justo, ou Fair Trade”, foi de abrir e criar mercados que paguem um preço justo
para pequenos produtores organizados em cooperativas e associações, focando
prioritariamente fornecedores de matéria prima e não os elos de cadeias produtivas mais
complexas. Entretanto, em ambos os casos, o foco está em promover melhorias a produtores
marginalizados. No momento em que o comércio justo começa a entrar no setor têxtil, o
diálogo entre os dois movimentos se torna inevitável (MSN
107
, 2006).
O primeiro ponto de convergência entre os dois movimentos está na expectativa do
consumidor que estes atingem. Tanto consumidores sensibilizados pelo movimento anti-
sweatshopcomo pelo comércio justo buscam produtos alternativos às marcas convencionais
estabelecidas para realizar suas compras de maneira mais responsável. No caso do comércio
justo, os produtos têxteis, principalmente de vestuário, começam a ser incorporados na
grande distribuição, sobretudo na Europa. Entretanto, no caso do movimento anti-
sweatshopnão existe uma alternativa direcionada ao consumidor que quer comprar roupas
éticas. Este tende a interrogar a iniciativa sobre onde podem comprar as chamadas “Clean
Clothes”, em uma tradução para o português, roupas limpas. A falta de respostas ao
consumidor tende a pressionar o próprio movimento, e sendo assim, a aproximar o seu debate
ao do comercio justo (MSN, 2006).
O termo Clean Clothesé originário da campanha Clean Clothes Campaignque
tem como objetivo melhorar as condições de trabalho e fortalecer trabalhadores da indústria
de confecção têxtil para diminuir a opressão, exploração e abuso dos trabalhadores na
indústria, cuja maioria é de mulheres. Para alcançar este objetivo a campanha atua
pressionando as grandes marcas do mercado convencional, apoiando sindicatos de
trabalhadores e ONGs nas suas localidades, sensibilizando e mobilizando os consumidores e
107
MSN é a sigla para Maquila Solidarity Network.
121
influenciando políticas públicas que afetem tanto as indústrias como as grandes marcas. A
campanha é desenvolvida em nove países da Europa, Áustria, Bélgica, França, Alemanha,
Holanda, Espanha, Suíça, Suécia e Reino Unido. Muitas das organizações que se envolvem na
campanha, também possuem ações em relação ao comércio justo, como por exemplo, a
Oxfam na Bélgica. A coordenadora da campanha desde início da década de 90, Ineke
Zeldenrust, coloca que organizações de comércio justo se envolvem com a campanha pela
dificuldade que têm em acessar o tema das confecções de sub-contratação no comércio justo,
cujo foco ainda está muito concentrado na produção do algodão. Segundo ela, como a grande
maioria dos trabalhadores em confecções no mundo são funcionários e não pequenos
produtores, o pagamento de um preço justo a uma fábrica não garantiria a melhoria nas
condições de trabalho. Assim, o foco da campanha está na relação entre empregador e
funcionário e não como no comércio justo, entre consumidor e produtor. Ela acredita que
pressionar as grandes empresas através de campanhas ao consumidor proporciona melhor
custo-benefício para o movimento, gerando maior impacto, que as estratégias de comércio
justo, muito caras e com pouca ênfase no direito dos trabalhadores e no restante da cadeia
produtiva têxtil. Concluindo, adiciona que a certificação dos diferentes elos produtivos de
uma cadeia têxtil de acordo com as normas internacionais dos direitos trabalhistas é
dificilmente alcançada neste setor (MSN, 2006).
Outra iniciativa semelhante no Reino Unido, a Ethical Trading Iniciative (ETI),
também descarta a possibilidade de se certificar a cadeia produtiva têxtil em relação aos
direitos trabalhistas internacionais. As razões apontadas por esta iniciativa são: devido a
enorme quantidade de confecções e facções envolvidas neste setor e a complexidade das
cadeias produtivas, poucas empresas conseguem controlar realmente como seus produtos são
produzidos; a falta de influencia que as distribuidoras e marcas possuem sobre as políticas
governamentais e normas locais que permitem relações de trabalho desvaforáveis,
desconectadas das dificuldades sociais, políticas e econômicas locais; a certificação na
indústria pode inviabilizar a participação de alguns países no processo, proporcionando um
resultado ainda pior para fábricas que seriam descartadas do mercado, fechando suas portas e
desempregando seus trabalhadores; a certificação também premiaria as empresas que
desenvolvessem soluções a seus problemas no curto prazo, prejudicando aquelas que possam
estar trabalhando em encontrar soluções mais sustentáveis no longo prazo. Para esta iniciativa
o sonho de que os produtos sejam certificados como éticos no Reino Unido não pode ser
realizado agora. O selo não seria seguro, podendo ser desacreditado pelos consumidores. O
122
primeiro passo deveria ser das grandes empresas em trabalhar melhorias nas condições de
trabalho das fábricas que puderem influenciar (MSN, 2006).
Outras organizações como a FLA Fair Labor Association nos Estados Unidos, a
FWF Fair Wear Foundation na Holanda e a SAI Social Accountability International
também abandonaram ou rejeitam projetos no sentido de garantir e certificar fábricas de sub-
contratação como sweatfree”, ou seja, boas práticas em relação às condições de trabalho. O
termo sweatshopé usado para designar as fábricas de confecção têxtil como sinônimo de
suas más práticas junto a trabalhadores e as normas internacionais. A FLA, chegou a
implementar uma certificação de grandes marcas que apresentavam-se em acordo com suas
normas de conduta. Este processo era realizado através de um sorteio para auditoria externa
de fábricas que formavam os elos das cadeias produtivas das marcas. A organização
abandonou a idéia julgando-a inalcançável, pelo menos no curto prazo. acredita empresas
como detentoras de programas de adequação dos direitos trabalhistas. A FWF também
consegue garantir que empresas implementam melhorias. Isto confirma a dificuldade de
certificar sobre os critérios da OIT - Organização Internacional do Trabalho, dado às
características intrínsecas de cada país e que em algumas localidades eles são impossíveis de
serem alcançadas atualmente. Já a SAI certifica fábricas de vestuário e sapatos/tênis de acordo
com as normas mínimas da OMT através da SA8000, entretanto, não garante que as fábricas
sejam totalmente “sweatfree” (MSN, 2006).
Uma das principais preocupações do movimento anti-sweatshop” em relação ao
comércio justo é de que as marcas de grande distribuição utilizem o comércio justo como uma
estratégia para a construção de uma imagem positiva sem que nada façam a respeito das
condições de trabalho nos diferentes elos de suas cadeias produtivas. Um forte exemplo
apontado pelo movimento é o da rede de lojas inglesa Topshop. A empresa concedeu espaços
em suas lojas para algumas organizações de comércio justo como a People Tree e a Hug and
Gossypium, para vender produtos com algodão certificado comércio justo. O resultado da
ação foi tão positivo que a empresa considera repetir a iniciativa. Segundo o movimento, o
problema está em ser a Topshop uma das empresas que, mesmo com um código de conduta,
não demonstra apoiar a formação de sindicatos ou iniciativas de ONGs de direito dos
trabalhadores na sua cadeia produtiva global, como o caso da tentativa de sindicalização dos
trabalhadores de uma brica no Camboja que produz roupas para a Topshop. Através da
iniciativa com o comércio justo a Topshop vem recebendo os méritos de ser uma empresa
123
ética na venda de uma quantidade pequena de produtos. Para o movimento o comércio justo é
muito bom em despertar o interesse dos consumidores, das empresas e da mídia. Entretanto,
com o seu crescimento ele deixa de se tornar um movimento dos produtores para o mercado e
passa a ter um modelo de cima para baixo, onde as maiores demandas das grandes empresas
tendem a distorcer a relação justa entre as partes. Ele pode oferecer benefícios para uma
pequena parcela de produtores certificados, mas não apresenta solução para a grande maioria
de trabalhadores explorados no decorrer das cadeias produtivas têxteis. Ainda, segundo o
movimento, o consumidor de comércio justo é passivo, focado apenas na compra do produto.
O que o movimento quer é exatamente que o consumidor seja ativo em relação as grandes
empresas, apoiando campanhas e pressionando-as (MSN, 2006).
As controvérsias em torno do comércio justo e da possibilidade do movimento anti-
sweatshopfornecer produtos alternativos ao consumidor, não impediu empreendedores de se
lançarem nos mercados integrando estes conceitos. Duas empresas se destacam neste sentido,
a American Apparel e a No Sweat Apparel. A primeira, a maior fábrica norte americana com
mais de 3.000 funcionários sediada em Los Angeles, optou pela estratégia de verticalizar sua
cadeia produtiva integrando produção e distribuição sobre uma mesma plataforma, do corte e
da costura até as campanhas de marketing e publicidade. A empresa remunera seus
funcionários com um valor hora superior da média do setor nos Estados Unidos e proporciona
benefícios como o seguro saúde. Mais do que uma empresa “sweatshop free” a American
Apparel se considera uma pioneira na indústria têxtil no estabelecimento dos critérios de
responsabilidade social no local de produção. Entretanto, a empresa também vem recebendo
críticas para que evolua ainda mais em relação aos critérios internacionais da OMT
Organização Mundial do Trabalho (MSN, 2006).
A marca No Sweat Apparel, propriedade da empresa Bienestar International Inc., foi
criada por um grupo de ativistas de movimentos sociais nos Estados Unidos com fins
lucrativos, visando posicionar-se como 100% sindicalizada e sweatfreevendendo produtos
de comércio justo a um preço justo. A empresa não é proprietária das fábricas com que
trabalha, seu diferencial está em comprar apenas de fábricas sindicalizadas ou cooperativas de
trabalhadores. Entretanto, seu planejamento estratégico compreende a construção ou aquisição
e operacionalização de fábricas modelo em zonas de livre comércio em países em
desenvolvimento, alcançando 50% a 70% da sua produção. Nos Estados Unidos ainda deve
estar concentrada 30% da sua produção. Das 13 fábricas que a empresa trabalhava em 2006, 9
124
estavam localizadas nos Estados Unidos, uma no Canadá, duas na América Central e uma na
Indonésia (MSN, 2006).
Uma das mais repercutidas iniciativas no movimento foi a formação de um consórcio
para os direitos dos trabalhadores, a WRC Worker Rights Consortium, que formatou um
programa de fornecedores designados onde pretende criar uma rede de fábricas sindicalizadas
disponibilizando seus serviços e produtos primeiramente para o mercado das universidades
norte americanas, onde recebem pelos produtos licenciados pelas universidades ao consórcio.
De acordo com a WRC, para que uma fábrica seja considerada um fornecedor designado
dentro do programa é necessário que: demonstre total conformidade com os padrões
internacionais de direitos do trabalhador, como definido nos códigos de conduta das
universidades; os funcionários devam ser representados por um sindicato ou outra forma de
representatividade legitimada; os trabalhadores recebam uma renda correspondente ao padrão
de vida da localidade assim que a fábrica esteja recebendo preços justos; produza
prioritariamente para os produtos com logos das universidades, ou para outros compradores
comprometidos com padrões comerciais semelhantes. Neste caso a proposta certifica
fábricas de facção e confecção de vestuário, sem abordar aspectos como as práticas
ambientais e sociais nos outros estágios da cadeia produtiva têxtil (MSN, 2006).
Logo, por mais que haja críticas e incertezas sobre a aproximação dos dois
movimentos, diferentes aspectos evoluem por integrar as propostas, onde uma tende a
complementar e complexificar a outra. Uma das razões que vem levando o movimento anti-
sweatshopa aderir ao modelo do comércio justo é a falta de credibilidade e segurança nos
modelos voluntários de códigos de conduta ou nas ações individuais de empresas em
implementar estes códigos. O modelo tradicional do comércio justo exige auditoria externa
através de terceiros, empresas independentes. Um segundo motivo para a aproximação seria a
continua fragilidade das organizações de trabalhadores mesmo com mais de 10 anos de
campanhas anti-sweatshop”, da adoção de práticas éticas de compra de uniformes por
centenas de universidades norte americanas e outras instituições públicas no país, além de
investigações e implementação de melhorias em diversas fábricas. Após anos de investimento,
articulações e reclamações formais a empresas, poucas são as vitórias alcançadas pelo
movimento. Algumas das práticas do comércio justo que poderiam resultar em mais
segurança aos trabalhadores, seriam o investimento em relações mais próximas entre
125
compradores e produtores/trabalhadores, o preço justo, os volumes significativos de
encomendas e as relações comerciais de longo prazo na cadeia produtiva (MSN, 2006).
Logo, enquanto o comércio justo vem focando na conquista de preços justos para
pequenos produtores e na criação de um nicho de mercado, o movimento anti-sweatshopse
concentrou em pressionar as marcas convencionais e a grande distribuição em melhorar as
práticas trabalhistas nas suas cadeias produtivas. Com o movimento de certificação do
algodão no comércio justo inicia-se um processo de aproximação dos movimentos. Enquanto
as organizações norte americanas visualizam no comércio justo uma oportunidade de
consolidação do movimento anti-sweatshop” promovendo melhores alternativas para os
trabalhadores das fábricas de facção e confecção, o mesmo movimento na Europa,
principalmente através da Campanha Clean Clothes”, se coloca receoso em relação à
aplicação dos princípios do comércio justo nas fábricas, principalmente devido à entrada de
grandes distribuidores e marcas no comércio justo Europeu. Se o movimento de comércio
justo seguir na direção de certificar os demais elos da cadeia produtiva têxtil ele terá que
responder a algumas preocupações do movimento anti-sweatshop”: sobre escopo será
necessário definir quantos passos na cadeia produtiva serão certificados; sobre padrões e
critérios será requisitado um posicionamento que defina se as fábricas produzindo vestuário
certificado comércio justo precisarão remunerar seus trabalhadores com uma renda justa que
garanta sua qualidade de vida ou apenas o salário mínimo local; quanto ao fortalecimento dos
trabalhadores a formação de sindicatos e categorias semelhantes deverão ser determinadas
como critério para a certificação; sobre o preço justo este será formado para a fábrica levando
em consideração a remuneração justa dos seus trabalhadores; quanto a certificação será
necessário definir quem irá monitorar e avaliar a conformidade e como os trabalhadores e
ONGs locais serão envolvidas no processo; a transparência surge como uma questão central
onde deve ficar claro quanto da informação será disponibilizada a respeito das fábricas
auditadas e do processo de certificação; e sobre o marketing que regras deverão ser criadas
para prevenir distribuidores e marcas que não estejam seriamente envolvidos na melhoria das
condições de trabalho nas suas cadeias produtivas, utilizando o comércio justo para fins de
imagem através de pequenas iniciativas e volumes disponíveis ao consumidor. Se o
lançamento de uma certificação de comércio justo para as fábricas ocorresse sem levar em
consideração estes pontos, poderia seriamente prejudicar o trabalho de mais de uma década
das organizações envolvidas no movimento antisweat-shopse também a própria imagem e
reputação do movimento de comércio justo em geral. Se ambos os movimentos aprenderem
126
um com o outro e trabalharem sobre os mesmos padrões e critérios uma certificação de
comércio justo poderia se tornar um modelo e um exemplo para as grandes marcas e
distribuidoras que continuarão a ser pressionadas pelo movimento anti-sweatshop(MSN,
2006).
Neste espírito novas marcas estão se consolidando através de estratégias de respeito e
ética social e ambiental no campo da cadeia produtiva têxtil. Marcas tradicionais também
lançam linhas de produtos para este novo nicho de mercado e em alguns poucos casos já
movimentam suas estruturas em prol de melhorias neste sentido. Uma das primeiras marcas a
trabalhar com o algodão orgânico, em 1996, foi a marca norte americana Patagonia
108
, que
desde então vem desenvolvendo matérias primas e práticas produtivas que sejam direcionadas
a preservação do planeta, como a utilização de matérias primas recicladas, minimização das
embalagens, investimento em causas ambientais e arquitetura ecológica nas suas instalações.
Outro exemplo bem sucedido é a distribuidora suíça Migros envolvida na sensibilização para
o consumo responsável através de duas certificações criadas pela própria marca. A primeira
de 1996, o selo Migros Eco, sobre a ética social e ambiental na produção de suas linhas de
produtos têxteis e calçados, tornou-se possível através de uma parceria com um instituto de
ecologia aplicada que permite a Migros controlar cada etapa da sua cadeia produtiva têxtil de
acordo com critérios sociais e ambientais. Após 10 anos, 70% dos produtos distribuídos pela
Migros se encontram certificados como Migros Eco. Também, em 2002 foi estabelecido o
selo Coton Bio, que rapidamente foi incorporado às linhas da empresa (Laville e Balmain,
2006).
A própria Nike, foco de tantas controvérsias vem se organizando para modificar suas
práticas frente às novas tendências de mercado. A primeira ação considerável foi ter definido
não mais consumir algodão OGM e que até 2010, 3% do algodão empregado na sua produção
será de origem orgânica, buscando lançar linhas de produtos 100% orgânicos. Outras marcas
tradicionais, como a Quiksilver, vêm lançando linhas 100% orgânicas, com algumas vezes o
diferencial do tingimento natural, mas, ainda é cedo para afirmar se a tendência é que estas
práticas se restrinjam à linhas específicas de produtos ou se expandirão para toda a produção
das marcas engajadas neste processo. Além do 100% orgânico, outras marcas lançam
produtos combinados como éticos, ecológicos e justos. A empresa norte americana, American
108
Maiores informações no site da empresa: www.patagonia.com
127
Apparel, foi uma das primeiras a se engajar neste nicho de mercado, se tornando em 2003 a
principal produtora de camisetas nos Estados Unidos, abrindo algumas lojas na Europa.
Além de trabalhar com algodão orgânico e matérias primas recicladas, seu grande diferencial
está na moda ética através do seu lema “Sweatshop free”, que significa “livre de fábricas que
não respeitam os direitos do trabalhador”. Suas camisetas são produzidas no próprio Estados
Unidos em bairros marginalizados onde seus funcionários recebem remuneração superior ao
mínimo, além de terem acesso aos devidos benefícios sociais (Laville e Balmain, 2006).
Sobre estas características e qualidades muitos outros exemplos podem ser apontados
como a marca Edun
109
lançada por Bono Vox que aborda as empresas familiares na África, na
América Latina e na Índia; a Enamore
110
, desenvolvida pela estilista Holandesa Jenny
Mc.Pherson, apoiada na utilização de matérias primas ecológicas como o chanvre, o algodão,
a seda e o bambu; a Mavi Love Soldier
111
, baseada na produção de jeans a partir da
reciclagem de roupas militares; a Twice Shy
112
com produção de camisetas orgânicas e com
tingimento natural; a IDEO
113
, marca francesa com foco em roupas de comércio justo e
algodão orgânico para toda a família; a Seyes
114
, também francesa com uma linha de casacos
ecológicos fabricados na própria França; o Tênis de comércio justo Veja
115
, com tecido de
algodão orgânico; a Misericóridia
116
, marca de vestuário fabricado no Peru por alunos de
costura de uma instituição religiosa, cujos ganhos são direcionados para a construção de um
centro de ação social na floresta amazônica peruana; a Jardin Bio
117
, marca lançada em 2006
com a certificação de algodão de comércio justo FLO/Max Havelaar e de orgânicos; e
finalmente, o exemplo da marca de vestuário “Tudo Bom?” que será apresentado como estudo
de caso no próximo capítulo (Laville e Balmain, 2006).
109
Maiores informações no site da marca: www.edun.ie
110
Maiores informações no site da marca: www.enamore.co.uk
111
Maiores informações no site da marca: www.mavi.com
112
Maiores informações no site da marca: www.twice-sky.com
113
Maiores informações no site da marca: www.ideocollection.com
114
Maiores informações no site da marca: www.seyes.fr
115
Maiores informações no site da marca: www.veja-fairtrade.com
116
Maiores informações no site da marca: www.misionmisericordia.com
117
Maiores informações no site da marca: www.jardinbio.fr
128
3.5 - O Selo FLO de Comércio Justo para o Algodão e a Cadeia Produtiva Têxtil
No processo de institucionalização da cultura do algodão dentro do comércio justo foi
lançado em 2005 pela iniciativa nacional francesa de certificação FLO, a Max Havelaar, o
selo para o algodão de comércio justo, seu primeiro produto não alimentar certificado. A
escolha por iniciar o processo de certificação pela primeira etapa da cadeia produtiva têxtil é
um reflexo da maior experiência que o movimento tem na área agrícola, mas também da
crença da organização no fato de que os produtores agrícolas são os mais explorados no
mercado internacional. Segundo a FLO aborda em seu Guia de Certificação de Produtos de
Algodão
118
, para muitos países o algodão simboliza uma importante fonte de renda. Mais de
100 milhões de famílias rurais dependem do algodão, e este número é formado em grande
parte por pequenos produtores a mercê da volatilidade dos preços internacionais e do excesso
de apoio governamental de alguns países aos seus produtores deste setor, como o caso dos
Estados Unidos, com apoio estimado entre 3 e 4 bilhões de dólares, prejudicando a
competitividade dos países mais pobres no mercado, incapazes de subsidiar seus produtores, e
influenciando a queda dos preços internacionais. Dada a notoriedade das suas implicações
para os produtores africanos, a África se tornou assim foco do projeto piloto de certificação
do algodão para o comércio justo (MSN, 2006). No primeiro momento, um total de 6.100
produtores africanos de algodão foram certificados alcançando uma produção total de 700
toneladas de algodão. Em uma cadeia produtiva ainda curta, a produção visada era
direcionada a produtos mais simples como meias e camisetas. Hoje, após dois anos, qualquer
tipo de produto têxtil pode ser produzido com algodão de comércio justo, de malha a tecido,
de calças jeans a guardanapo. A Max Havelaar licenciou vinte e três marcas que
comercializam produtos têxteis de comércio justo apenas na França, algumas delas são Eider,
La Redoute, Armor Lux e Hacot & Colombier. São mais de 28.000 produtores de algodão do
Mali, Senegal, Camarões e Burkina Faso que produzem aproximadamente 4.000 toneladas de
algodão nas condições do comércio justo (Laville e Balmain, 2006; Haynes, 2006).
Dentro destas perspectivas os produtores m acesso a um preço justo e ao prêmio
social, além de estarem se organizando em torno de cooperativas. Por mais que o algodão de
comércio justo não tenha a obrigação de ser produzido sobre os princípios da cultura orgânica,
ele precisa atender ao princípio de preservação do meio ambiente. Os critérios ambientais de
118
Disponível no endereço eletrônico:
www.fairtrade.org.uk/documents/cotton_products_guide_for_certification_001.doc
129
comércio justo que dizem respeito ao algodão proíbem a utilização de sementes modificadas
geneticamente, que geram a dependência do produtor ao fornecedor, sendo incompatível
com a proposta do comércio justo, bem como pela possibilidade de contaminação do meio
ambiente. Também é interditada a utilização de 118 tipos de pesticidas reconhecidos
internacionalmente como perigosos. Os produtores são capacitados no manuseio e aplicação
dos produtos químicos permitidos visando preservar sua saúde e o meio ambiente (Laville e
Balmain, 2006; Haynes, 2006).
De acordo com a prática do pré-financiamento, demanda-se que compradores do
algodão certificado de comércio justo pré-financiem até 60% da colheita. Na África do oeste,
que compreende os países de Burkina Faso, Camarões, Mali e Senegal, o preço justo
estipulado pela FLO foi de 0,36 euros por quilo de algodão colhido. A este valor é necessário
adicionar um prêmio de 0,05 euros. Se o algodão também for orgânico o preço justo do quilo
do algodão sobe para 0,41 euros na África do oeste e 0,49 euros no Egito, em ambos os casos
adiciona-se o prêmio de 0,05 euros. Entretanto, de acordo com o comprador, o valor do
algodão orgânico pode variar. Além de sustentável ambientalmente, o algodão de comércio
justo é considerado socialmente sustentável, pois permite a melhoria das condições de vida
dos produtores, incentiva a cooperação entre os mesmos e respeita as regras de emprego do
trabalho agrícola de acordo com as bases da OIT (Haynes, 2006).
Uma crítica forte a este sistema é a falta de controle e certificação nos outros elos da
cadeia produtiva. Um par de meias ou uma camiseta de comércio justo vendida na França por
20,00 euros tem menos de 0,50 euros referente a remuneração do produtor de algodão de
comércio justo, gerando um questionamento sobre o restante do custo do produto e
consequentemente sobre a sua cadeia produtiva, em que condições os trabalhadores
produziram o produto, desde a fiação do algodão até a fabricação da roupa. Outra questão que
surge é até que ponto pode-se considerar um produto apenas com algodão de comércio justo,
efetivamente um produto de comércio justo. Neste exemplo, apenas 2,5% do valor de venda
do produto é destinado a um projeto de comércio justo. A FLO alega que o selo deixa claro
que apenas o algodão é de comércio justo e que a certificação não diz respeito às outras etapas
de produção. Entretanto, outra linha de pensamento coloca que o consumidor muitas vezes
não está inserido na dinâmica do movimento ou não compreende os detalhes de fabricação do
produto e a complexidade das cadeias produtivas têxteis, e não nota as questões que podem
130
envolver, por exemplo, a exploração do trabalho em confecções e facções de costura, ou de
funcionários em fiações, malharias ou tinturarias.
Um exemplo claro deste debate foi o caso da entrada da Marks & Spencer no
comércio justo de vestuário, num primeiro momento com camisetas e meias. A distribuidora
comercializa produtos 100% algodão de comércio justo com o slogan“Olhe Por Trás do
Selo”, em inglês “Look Behind the Label”, em uma menção direta a campanha “Clean
Clothes” que focalizava a expressão “Trabalho Por Trás do Selo”, “Labour Behind the Label”.
Neste sentido o coordenador desta campanha, Martin Hearson, escreveu uma carta
119
aberta
ao público onde exigia que a Marks & Spencer colocasse explícito para o consumidor as
limitações do selo de comércio justo para o algodão através da seguinte frase: “O algodão de
comércio justo garante as condições de trabalho apenas no estágio de produção do algodão, e
não nas etapas subseqüentes da cadeia produtiva...”. Hearson acredita que o selo para o
algodão de comércio justo é confuso não deixando claro ao consumidor que este não garante
as condições de trabalho nos diferentes espaços de produção até a finalização do produto.
Entretanto, devido à pressão dos consumidores e a consolidação das diferentes iniciativas de
comercialização de produtos têxteis de comércio justo e sweatfree”, a campanha Clean
Clothesdisponibilizou em seu site um guia de empresas éticas e alternativas no setor (MSN,
2006; Hearson, 2006).
Em 2004, o mesmo movimento de disponibilizar informação aos consumidores
havia sido realizado por um grupo de organizações norte americanas anti-sweatshops”: a
Sweatfree Communities, a ILRS, a Sweatshop Watch, a USAS - United Students Against
Sweatshops, a PICA Peace through Interamerican Community Action, com o objetivo de
fortalecer as organizações de trabalhadores organizadas em sindicatos ou cooperativas. Foi
divulgada no mercado uma lista de 8 empresas com estas características, consideradas pelo
movimento como sweatfree”. Para estas organizações o fortalecimento de poder dos
trabalhadores deveria ser o principal critério para determinar um produto como sendo
sweatfree”. A Campanha Clean Clothes concorda com a importância do tema, mas
acredita que apenas o fortalecimento do movimento dos trabalhadores não garantirá que uma
fábrica alcance as condições de trabalho determinadas pelos direitos internacionais do
trabalho, através dos critérios definidos pela OIT Organização Internacional do Trabalho, e
119
A carta foi intitulada como: “Fair Trade must not be a fig leaf: an open letter o Marks and Spencer
131
que serão imprescindíveis práticas consolidadas de monitoramento e auditoria dos atores
envolvidos nas cadeias produtivas (MSN, 2006). Neste cenário a FLO se viu implicada em
dar respostas em relação aos demais elos da cadeia produtiva, entrando em uma segunda fase
do seu processo de construção de garantias na cadeia produtiva têxtil do comércio justo.
Diferentes de outros produtos agrícolas, a cadeia produtiva do setor têxtil se
desenvolve nos próprios países do hemisfério sul, integrando além dos pequenos produtores
de algodão também trabalhadores em desvantagem econômica e social. Devido as fortes
campanhas anti-sweatshops”, contra as más práticas trabalhistas nas fábricas de sub-
contratação, e denúncias de trabalho infantil, a FLO está em processo de investigação da
possibilidade de estabelecimento de critérios e certificação para o nível das fábricas de
confecção dos produtos finais, onde residem as maiores controvérsias sobre condições
trabalhistas e remuneração justa. Em uma pesquisa realizada em 2006 pela Transfair USA
132
algodão de comércio justo a aderirem ao código da iniciativa inglesa ETI - Ethical Trading
Initiatives. Neste sentido foi estabelecido um modelo de monitoramento da cadeia produtiva
(FLO, 2006).
1a 5a
A primeira etapa correspondente a produção do algodão é a única certificada como
comércio justo através do processo convencional por auditoria externa. O preço justo é
definido levando-se em consideração um preço mínimo pré-estabelecido somado a um prêmio
de investimento em comércio justo. Através dos critérios de progresso a FLO demanda que as
organizações de produtores invistam em desenvolvimento econômico, social e ambiental da
produção e da comunidade em que esteja inserida. Na segunda etapa, exportadores do algodão
como matéria prima são registrados pela FLO por respeitar os princípios do comércio justo e
manter uma cadeia produtiva auditada. Quanto às usinas registradas de descaroçamento, no
caso de produtores que não executem esta tarefa, são requisitadas a garantir que o algodão
vendido como comércio justo seja comprado de produtores certificados. Para que o produto
final possa levar a marca do comércio justo é fundamental que tenha sido pago um preço justo
ao produtor certificado, já que do contrário, mesmo comprando de um produtor certificado, se
não for pago a este o preço justo o produto não poderá utilizar-se do selo FLO. Por outro lado,
se o preço justo é pago a produtores não-certificados, a utilização do selo também não pode
ser aplicada (FLO, 2006).
As empresas envolvidas na terceira e quarta etapa devem também ser registradas FLO
por respeitar os princípios e critérios do comércio justo e manter a cadeia produtiva auditada.
Como são todos registrados na FLO devem comprar respectivamente de comerciantes
também registrados ou produtores certificados. Todas as organizações registradas podem
comprar de diferentes produtores certificados e vender para qualquer licenciado FLO. Estes
são licenciados pelas iniciativas nacionais FLO dos seus países de atuação, sendo também
responsabilizados por garantir os critérios do comércio justo e que o produto seja comprado
Beneficiamento ou
Exportação
(Processador FLO/
Exportador)
Malharia/Tecelagem/
Tinturaria/Confecção
(Fabricante FLO)
Marca ou
Distribuidor
(Licenciado)
Fiação
(Fabricante FLO)
Organização
de Produtores
(Produtor FLO)
* Adaptado para o português do Guia de Certificação de Produtos de Algodão da FLO de junho de 2006.
www.fairtrade.org.uk/documents/cotton_products_guide_for_certification_001.doc
133
de uma cadeia produtiva registrada. O licenciado deve ser o último ator na cadeia produtiva
ainda no atacado, seja um grande distribuidor ou uma marca própria. Os licenciados assinam
apenas um contrato com a iniciativa nacional da FLO no seu país para cobrir todos os seus
produtos de comércio justo comercializados. Já, no caso de empresas que verticalizam sua
cadeia produtiva, compreendendo mais de um elo desta cadeia produtiva, estas precisam ter
uma relação contratual com a iniciativa nacional e também com a FLO (FLO, 2006).
Devido ao tamanho e a complexidade da cadeia produtiva apresentada logo acima e a
realidade conhecida principalmente a respeito da exploração de mão de obra no setor, a FLO
exige de todos os seus membros registrados que realizem esforços para aderir às normas
internacionais do trabalho e às das legislações nacionais sobre o tema. Para demonstrar
concretamente seus esforços a empresa registrada deve fazer parte da IFAT ou outra
organização de comércio justo reconhecida, e/ou ser certificada SA8000 nos locais de
processamento do algodão certificado, e/ou possuir evidencia documentada de participação
ativa e associação às iniciativas abordadas anteriormente, como FLA, FWF, ETI, nos locais
de processamento do algodão certificado, e/ou realizar auditorias de terceira parte através de
uma organização independente garantindo a conformidade com o Código de Conduta da FLO,
e/ou possuir evidências dos trabalhadores serem sócios na produção, no local em que esta
ocorre. Entretanto, a FLO não menciona o critério da liberdade de associação. Segundo a
organização, em relação às fábricas de transformação no hemisfério sul, principalmente na
Ásia e na Índia, suas prioridades ainda estão em relação as questões mais básicas como a
segurança dos trabalhadores e remuneração justa. Para avaliar estas questões a FLO criou
internamente o Comite de Avaliação Social do Algodão, “Cotton Social Assessment
Committee” (FLO, 2006; MSN, 2006).
Enquanto a transformação do algodão orgânico africano tende a ser realizadas em
indústrias na Índia, no caso do comércio justo grande parte do algodão certificado é
transformado na própria Europa, onde as regras da OIT são melhor aplicadas, visando neste
primeiro momento de incertezas diminuir os riscos de incoerência das condições de trabalho
em fábricas de confecção e facção com os princípios do comércio justo. Seja qual for a
solução estabelecida pelo comércio justo, o fundamental é ser possível estabelecer um
controle social e ambiental em qualquer parte da cadeia produtiva, influenciando assim uma
maior aproximação e integração entre produtores, transformadores e certificadoras. Um
exemplo desta necessidade de integração maior entre os atores da cadeia produtiva, devido à
134
alta especificidade do produto, é o elevado custo gerado na limpeza das indústrias de fiação e
tecelagem quando passam de uma produção do algodão convencional para o algodão de
comércio justo e/ou orgânico. Tamanha ação gera custos significativos e mudanças no
planejamento automático de produção das indústrias. Neste sentido, somente através de
parcerias e relações de comprometimento mútuo é possível iniciar este processo. Todo o
esforço em consolidar cadeias produtivas com alto grau de especificidades depende
finalmente da sustentação pelo consumo. Se o acesso ao mercado consumidor não estiver pré-
estabelecido, a tendência é que o produtor comercialize seu produto no mercado convencional
não se beneficiando do prêmio da qualidade de diferenciação do produto e colocando em risco
a sustentabilidade de longo prazo da sua proposta. Neste cenário as ONG, importadoras e
algumas tranformadoras assumem um papel crucial em sustentar as cadeias produtivas
organizando a estratégia de acesso e criação de mercados. Alguns exemplos são a Oxfam
Magasin du Monde na Bélgica e a Greenpeace que estabelecem parcerias na Índia para a
produção de camisetas de comércio justo e/ou orgânicos com mercado com sua rede de
distribuição direcionada. Outro exemplo é a parceria entre a Dagris na África do oeste e a
Max Havelaar na França, que juntas estão buscando atores para consolidar uma cadeia
produtiva para vestuário organizada a partir da demanda do consumidor Europeu. O próprio
caso da “Tudo Bom?”, apresentado no próximo capítulo, demonstra a sintonia entre a
produção e a demanda, onde a distribuição na Europa, constrói as bases de sustentação da
cadeia produtiva. Devido a este movimento guiado por uma demanda estrategicamente
construída e sistemas de distribuição estruturados, foi possível para a Max Havelaar fechar o
ano de 2006 com 23 grupos de produção inseridos no projeto de produção de algodão de
comércio justo (Haynes, 2006; Max Havelaar, 2006 apud Haynes, 2006).
Os novos distribuidores que incorporam nas suas atividades estes nichos de mercado
acabam se atrelando às cadeias produtivas estabelecidas por ONGs, cooperativas,
associações e importadores especializados. Os principais países consumidores de algodão
orgânico, Alemanha e Suíça, consumindo em 2006 aproximadamente 3.000 toneladas,
possuem distribuidores se envolvendo em projetos de algodão orgânico e justo na África,
Índia e América Latina. A contrapartida da estabilidade comercial, da relação de longo prazo,
é o mais importante fator de encorajamento dos produtores na mudança dos seus hábitos de
produção convencional para os mais especializados. Mesmo um grande pedido que implique
na conversão de diversos produtores, se não estabelecido em bases que promovam uma
estabilidade comercial no longo prazo, tendem a serem rejeitados, já que o custo benefício da
135
certificação e adaptação dos produtores na nova prática produtiva é alcançado no longo
prazo. A perpetuação de relações no longo prazo implica na manutenção do interesse dos
consumidores, e o fracasso de uma iniciativa trará conseqüências significativas para todos os
atores da cadeia produtiva, cadeia esta com alto grau de especificidade, dependência entre
atores, e custos mais elevados de transação (Haynes, 2006).
3.6 - As Dinâmicas do Algodão no Comércio Internacional
O algodão se tornou um símbolo de injustiça no mercado internacional. É um caso
claro da desigualdade entre países, devido principalmente às práticas de subsídios. Quanto
mais capacidade um país tem de investir em subsídios para a sua agricultura, mais
competitivas suas empresas ficam no mercado. Ou seja, quanto mais rico um país é, mais
capacidade ele tem de enriquecer, deixando pouco espaço para os países em desvantagem
econômica. Entretanto, países são formados por pessoas e estas possuem limites de
sobrevivência. Se o desequilíbrio internacional gerar uma ameaça a esta sobrevivência,
ocorrem reações em diferentes esferas, seja através do poder público, dos organismos
internacionais ou dos movimentos sociais e da sociedade civil. Assim vem sendo o caso do
algodão.
Esta reação é clara no posicionamento dos países africanos e, mais recentemente, do
Brasil na Organização Mundial do Comércio - OMC. Entretanto, o movimento de comércio
justo também se envolve em campanhas e pesquisas que visam denunciar e influenciar as
políticas de comércio internacionais. Como parte da campanha da Oxfam International,
Make Trade Fair
120
, o tema do algodão gerou diversas pesquisas, apresentadas em
documentos como: “Finding the Moral Fiber” de outubro de 2004 e “Cultivating Poverty” e
“Rigged Rules and Double Standards” ambas de 2002, além de um posicionamento concreto
do movimento de comércio justo na própria OMC.
Tais estudos nos revelam que os subsídios à produção do algodão na Europa e nos
Estados Unidos provocaram uma queda irreal dos custos de produção que conseqüentemente
leva a uma baixa no preço internacional do algodão. Entretanto, os Estado Unidos
representaram com mais força este movimento. Segundo a pesquisa realizada pela Oxfam
120
Estes documentos e outros podem ser encontrados no site da campanha internacional Make Trade Fair:
www.maketradefair.com.
136
Internacional
121
, utilizando os resultados de pesquisas do “International Cotton Advisory
Committee- ICAC, na colheita de 2003, os Estados Unidos exportou 76% do seu algodão,
atingindo uma fatia de 41% do mercado internacional. Isto significou uma perda estimada de
70,6 milhões de dólares para os países da África do oeste. Nos anos anteriores esta perda
estimada foi ainda mais significativa para os países do Sub-Sahara, alcançando a cifra de 307
milhões de dólares perdidos em 2001 e 94,6 milhões em 2002. Somente os subsídios norte
americanos levam a uma queda de 7% do preço internacional do algodão e em 2001 os
subsídios norte americanos corresponderam a 37% do impacto no preço internacional do
algodão, enquanto em 2002 já representou 50% do impacto.
A queda do preço internacional do algodão é um dos maiores impactos da prática de
subsídios, que mesmo com a ajuda internacional prestada aos países africanos, afeta
significativamente a sobrevivência de milhões de pequenos produtores rurais. Em 2002, o
total da ajuda internacional americana aos países do Sub-Sahara africano alcançou 1,88
bilhões de dólares. Este apoio é investido em projetos de suporte ao sistema público de saúde,
educação, moradia, erradicação da pobreza, entre outros. Entretanto, o total de subsídios em
2002, investido nas plantações norte americanas dos Estados Unidos, atingiu praticamente o
dobro, 3,4 bilhões de dólares, que representa um valor superior ao produto interno bruto – PIB
combinado de Benin, Burkina Faso e Chad. Somando a estes países, Mali e Tongo, o
algodão representa de 2% a 5% dos seus PIBs, enquanto nos Estados Unidos representa
apenas 0,0004% do PIB. Anualmente, o total de subsídios investidos globalmente alcança 5,7
bilhões de dólares, onde, apenas os Estados Unidos, representa mais de 50% deste valor,
sendo o maior fornecedor de algodão para o mundo. Entre os anos de 1998 e 2002, os Estados
Unidos investiram 14.8 bilhões de dólares em subsídios. No mesmo período, o valor total de
algodão que produziu foi de 21.6 bilhões de dólares, o que revela que mais de 50% do valor
produzido foi subsidiado pelo governo norte americano. Se não fossem pelos subsídios, as
fazendas norte americanas perderiam 871 dólares para cada acre plantado de algodão e, sendo
assim, muitas delas seriam simplesmente inviáveis economicamente. Entretanto, estas
fazendas são extensas e fortemente equipadas tecnologicamente, diferente da realidade
produtiva na África. Na pesquisa realizada pela Oxfam International, é possível ter-se acesso
a uma lista das 10 principais fazendas norte americanas que sozinhas recebem 79% de todo o
subsídio destinado ao cultivo do algodão no país. Isso também é motivo de conflitos internos
121
Oxfam Briefing Paper, 2004. Finding the Moral Fiber.
137
nos Estados Unidos com os movimentos sociais de pequenos produtores familiares. Enquanto
nos Estados Unidos o tamanho médio de uma fazenda atinge 500 acres, na África o produtor
conta com uma parcela de terra que varia de 4 a 6 acres de algodão (Oxfam, 2004; Jaffe,
Kloppenburg & Monroy, 2004).
O reflexo dos subsídios mundiais nos países africanos fica claro quando observamos
alguns exemplos de 2002. Burkina Faso recebeu como ajuda internacional dos Estados
Unidos 10 milhões de dólares enquanto teve uma perda em ganhos de exportação de 13,7
milhões de dólares. O Chad recebeu 5,7 milhões e perdeu em exportações praticamente o
mesmo montante. Camarões recebeu de apoio 280.000 dólares e teve uma perda de 7 milhões
de dólares. Finalmente, o Tongo obteve da ajuda internacional norte americana 4 milhões de
dólares e perdeu 7,4 milhões de dólares em exportação. Adicionando, a isto, o fato de que as
perdas nas exportações acabam por minar a habilidade de pagamento das dívidas externas por
estes países. Pesquisa realizada pelo Instituto Internacional de Pesquisas e Políticas
Alimentares – IFPRI – em Benin indica que uma redução de 40% no preço pago pelo algodão
ao produtor primário leva a uma perda de 21% da renda com o algodão resultando em um
aumento de 6% a 7% da pobreza rural. Mais de 10 milhões de pessoas dependem do algodão
na África do oeste e central (Oxfam, 2004).
No final do século XX a ajuda internacional diminuiu em aproximadamente um
quarto. Houve alguns casos de sucesso na Ásia, onde cresceram as exportações não de
produtos intensivos em mão de obra, mas também em alta tecnologia. A maior parte dos
países em desvantagem econômica, porém, com foco nas exportações de matéria prima e
commodities”, perderam o compasso do crescimento do mercado internacional. Como
resultado os países considerados menos desenvolvidos (LDC) assumem apenas 3% de toda a
renda gerada pelas exportações na economia mundial (UNCTAD, 2002 apud Ponte, 2002).
Estima-se que os subsídios norte americanos atrelados a sua superprodução levam a
uma queda média de 10% do preço internacional do algodão
122
. Em 2004 o preço do algodão
caiu de 0,68 dólares por “pound para 0,45. A entrada de novos atores na produção do
algodão como o Brasil, a China, a Turquia e a própria África do leste, flutuações de cambio e
a substituição por fibras sintéticas, também contribuem para a queda dos preços no longo
138
prazo. Entretanto, os subsídios mundiais ainda ocupam o papel de destaque no
empobrecimento das zonas rurais algodoeiras africanas e na economia de seus países. A
exportação do algodão tem um peso significativo em muitas balanças comerciais de países
africanos, 95% do algodão africano é exportado, e nos casos de Benin e Burkina Faso, o
algodão chega a representar 1/3 de suas exportações. A queda nos preços gera a estes países
perdas de milhões de dólares em exportações levando a uma menor capacidade de
investimento em serviços sociais para a população e para pagamento de suas dívidas externas,
como apontado anteriormente (Oxfam, 2004; Baffes, 2004 apud Oxfam, 2004).
Vale ressaltar ainda que no caso do comércio justo, assim como no dos orgânicos, a
queda dos preços internacionais tende a aumentar a distância destes preços para os preços do
comércio justo e orgânicos, dificultando ainda mais a consolidação destes produtos no
mercado (Tallontire & Vorley, 2005). O quadro abaixo representa o preço do algodão em
pluma em dólar no mercado brasileiro (BM&F) e no mercado internacional (Outlook),
durante o período de 1985 a 2005.
139
3.7 - O Algodão e a Organização Mundial do Corcio
Em base a este cenário quatro países africanos, Benin, Burkina Faso, Chad e Mali,
submeteram uma proposta a OMC para o estabelecimento de uma iniciativa setorial focada no
algodão, como parte da Rodada de Doha. A proposta destes países consistia em dois pontos:
1. “Uma decisão imediata de estabelecimento de um sistema de redução dos
subsídios para o algodão, como um passo para a sua eventual eliminação.”
2. “Uma compensação transacional para as exportações de algodão dos países
menos desenvolvidos.”
Esta iniciativa gerou um forte posicionamento dos países africanos na OMC,
refletindo uma cooperação articulada entre governos africanos, produtores, empresas, entre
outros atores regionais. Milhares de produtores assinaram petições em apoio à iniciativa de
seus governos na OMC. Como resultado um grupo especial foi formado para estudar uma
proposta de reforma no comércio internacional de algodão. As negociações ocorreram na
reunião ministerial da OMC em Cancun, em 2003, e como desfecho os países Africanos
tiveram o apoio verbal de diversas delegações, inclusive a dos Estados Unidos. Entretanto,
concretamente, pouco foi realizado. Uma declaração foi emitida com nenhuma referencia
específica a proposta dos países africanos de redução dos subsídios, apenas uma menção em
um dos parágrafos que visava encorajar o direcionamento de recursos a diversificação
econômica de países onde o algodão é responsável pela maior parte do PIB. Este resultado foi
entendido como uma demonstração clara de uma forte posição norte americana de não intervir
nas suas práticas políticas em relação a sua produção de algodão, sem reconhecer os danos
causados pelos subsídios às outras nações. Entretanto, a União Européia, através da Comissão
Européia, atendendo as pressões africanas, aprovou em junho de 2004, uma reforma
diminuindo consideravelmente os subsídios pagos a produtores europeus de algodão. As
conseqüências desta iniciativa ainda precisam ser avaliadas, mas em um contexto global, a
Europa representa apenas 2,5% do algodão exportado (Oxfam, 2004).
O posicionamento do movimento de comércio justo, liderado pela ONG Oxfam
International, foi direcionado à Rodada de Doha da OMC e consistiu em pleitear uma reforma
segundo os pontos apresentados logo a seguir:
140
3. “A partir do momento em que o estágio de apelação estiver concluído, o
141
Central. A experiência de liberalização doméstica, como promovida pelo
Banco Mundial, deveria ser analisada criticamente.”
4. “Embora a União Européia deva ser congratulada por tomar atitudes rápidas
frente aos seus subsídios, é também importante que esta reforma seja
avaliada pela sua efetividade, e que mediore1-0.u54596(p)-0.295585(o)-a.29558521645 a ta]TJ264.996 0 .3015(r)2.8 iaplaeas
142
“Outros subsídios dos Estados Unidos para o algodão estavam distorcendo o
comércio internacional, em contradição direta com os apelos norte
americanos de que não estariam.”
“Os subsídios dos Estados Unidos têm o efeito de depreciar o preço
internacional, sub-valorizando o valor das exportações de algodão da sua
produção.”
O processo envolvendo governos africanos, a União Européia, o Brasil, os Estados
Unidos, entre outros, no tema do algodão continua, e até o presente momento, nenhuma
mudança significativa no contexto dos subsídios dos Estados Unidos foi realizada. Para o
movimento do comércio justo está colocada em cheque a capacidade e o poder político que a
OMC tem de regular o sistema internacional de comércio frente às nações mais ricas (Oxfam,
2004).
O relaxamento das regulamentações nacionais e a liberalização dos mercados, através
da queda das tarifas de importação, atreladas aos diferentes níveis de desenvolvimento dos
países e da divisão do mundo entre países desenvolvidos, em desenvolvimento e sub-
desenvolvidos, levou o comércio internacional a ser não a principal ferramenta de
crescimento como também de conflito. Pela sua inserção direta neste contexto, o comércio
justo vem recebendo cada vez mais as atenções dos principais atores da grande distribuição e
dos organismos de fomento aos países mais pobres. O Estado tem sido tradicionalmente o
principal interlocutor das demandas dos movimentos sociais. Entretanto, o processo de
transnacionalização das empresas e globalização dos mercados, enfraqueceu o poder de ação
dos governos nacionais. A governança global tende a ser realizada através de organizações
privadas que se baseiam em sistemas auto-regulatórios e voluntários, determinando as regras
de acesso a mercados. Os Governos assumem um papel de coadjuvante neste novo cenário,
deixando a cargo de órgãos inter-governamentais não eleitos, como a Organização Mundial
do Comércio – OMC, o Banco Mundial e o Fundo Monetário Internacional – FMI, o processo
de regulamentação e monitoramento internacional. A pouca força que a OMC vem
apresentando na execução de suas tomadas de decisão, como no caso dos subsídios do
algodão nos Estados Unidos, demonstra a fragilidade deste sistema. Movimentos sociais
promovem fóruns globais com o objetivo de discutir e propor leis e regulamentações
internacionais, como o Protocolo de Kyoto e a Convenção em Biodiversidade. Estas leis e
regulamentações são debatidas internacionalmente com a própria iniciativa privada, gerando
143
ações conjuntas, muitas vezes através de sistemas de certificação, como os desenvolvidos pela
IFOAM, FSC, WWF e FLO (Wilkinson, 2006). Entretanto, o movimento social em cada
localidade, mantém sua prática de lobbinggovernamental, exigindo um papel mais ativo
dos governos nacionais.
No que compete às administrações governamentais o movimento do comércio justo
demanda o estabelecimento de uma agenda de políticas públicas que possam levar as
empresas privadas a aderirem a um caminho mais consciente em relação as suas práticas
produtivas. O primeiro ponto desta agenda seria a reforma do sistema internacional de
comercialização. A busca por justiça no comércio internacional vem sendo a bandeira política
do movimento de comércio justo desde sua institucionalização na cada de 80. Equidade e
justiça exigem reformas no sistema internacional, como o fim das práticas de dumping”, a
coerção de práticas de subsídio que afetem os preços internacionais e a volta a
regulamentação de mercados de commoditiesque estejam apresentando forte volatilidade
nos preços ou sobre oferta. Outro ponto é a dificuldade que existe em se perceber os
problemas e os limites da auto-regulamentação em ambientes com forças de mercado em
desequilíbrio. Entender os problemas é um primeiro passo para a adoção de políticas públicas
efetivas, regulando critérios que promovam um maior equilíbrio de forças e o
desenvolvimento de relações comerciais mais justas entre produtores e consumidores. Um
sistema produtivo sustentável baseado apenas na auto-regulação, ou na regulamentação
voluntária, necessita inevitavelmente de suporte legislativo ou regulatório através de políticas
públicas que promovam o equilíbrio. Por exemplo, incentivar que organizações da grande
distribuição adotem práticas de desenvolvimento sustentável implica na necessidade de uma
participação mais efetiva dos governos locais (Tallontire & Vorley, 2005).
3.8 - O algodão no Contexto Brasileiro
Atuando incisivamente no sistema internacional contra os excessos dos subsídios, o
Brasil busca proteger a cultura de algodão que, mesmo sofrendo altos e baixos nos últimos
séculos, representa um importante mercado para o país desde a época em que ainda era uma
colônia portuguesa. Na segunda metade do século XVIII o algodão substituiu o açúcar como
principal produto da agricultura brasileira. Com o desenvolvimento técnico da indústria têxtil
como motor da revolução industrial na Europa, e especialmente na Inglaterra, o algodão
passou a ter um grande aproveitamento e suas exportações cresceram significativamente.
144
Além dos países tradicionais do Oriente, a América, com enorme disponibilidade de terras, se
tornou um importante fornecedor e o Brasil entrou neste processo quando houve a guerra civil
nos EUA. Na obra Formação do Brasil Contemporâneo, Caio Prado Junior destaca este
fenômeno: “(...) Arkwright constrói o seu fuso em 1769, no mesmo ano em que Watt obtém
patente para a máquina a vapor que tornaria possível o emprego desta energia em larga escala.
Em 1787, Cartwright inventa o tear mecânico. São datas preciosas para o Brasil. O consumo
do algodão na Inglaterra, o grande centro da indústria têxtil moderna, acompanha estas datas.
Não ia, no qüinqüênio de 1771/5 além de 4,76 milhões de libras (peso); no penúltimo do
século, logo depois da introdução do tear mecânico, atingirá 26 milhões” (Prado Junior,
1942).
A cultura do algodão se estendeu por todo o país, na faixa interior do litoral desde o
norte ao sul e se interiorizou até Goiás em busca de um clima mais seco e menos suscetível a
chuvas. Este processo foi fundamental para o início de um povoamento mais significativo e
permanente no interior do país, que até então se restringia às zonas litorâneas e a região de
Minas Gerais e proximidades em pequena escala, devido a mineração. Entretanto, o surto do
algodão no Brasil não acompanhou a evolução técnica nos métodos de plantio e colheita,
ficando restrito às ferramentas mais rudimentares e ao processamento manual baseado no
trabalho escravo. Isso porque envolvia uma sociedade colonial de nível cultural e educacional
extremamente limitado, uma colonização voltada para a exploração da produção em larga
escala, em grandes extensões de terra, atendendo primordialmente aos interesses comerciais e
fiscais da metrópole. Com o aumento da produção mundial, principalmente a norte americana
que aproveitou o desenvolvimento tecnológico da cultura algodoeira, o preço mundial do
algodão entra em declínio a partir do início do século XIX, e no Brasil, sem capacidade
produtiva e tecnológica para poder acompanhar o movimento do mercado, muitas zonas
algodoeiras se extinguiram, permanecendo apenas as zonas do Nordeste e do Maranhão em
posição frágil no âmbito internacional (Prado Junior, 1942).
É apenas no século XX que o algodão irá conhecer um novo período de crescimento
significativo na agricultura brasileira. A crise da bolsa de valores de Nova Iorque de 1929
leva também a crise do café, que sofre uma queda significativa no preço internacional, caindo
pela metade em um período de apenas dois anos e atingindo a marca mínima de 13 mil-réis
em 1933. Muitos cafeicultores endividados se desfizeram de suas fazendas, levando a uma
divisão das propriedades, e provocando a diminuição dos latifúndios que antes plantavam o
145
café e agora subdivididos plantariam o algodão. O algodão surgiu como um substituto ao café,
pois se apresentava como uma oportunidade de mercado e possuía uma maior estabilidade nos
preços internacionais que estavam aumentando. Os pequenos lotes de terra eram acessíveis até
por pequenos produtores, através do seu baixo preço e da facilidade de financiamento. As
empresas loteadoras ainda prestavam assistência técnica para que os agricultores tivessem um
estimulo a mais e migrassem para a região meridional do país (Wilkinson, Gonçalves &
Rocha, 2006).
O norte e o nordeste, responsáveis desde o século XVIII pela maior parte da produção
brasileira, perdem o tulo para a região centro-sul: “Este processo de expansão do algodão
meridional brasileiro altera a hegemonia regional da produção. Isso ocorre na medida em que
o Brasil Setentrional (norte e nordeste), que em 1930 havia produzido 87 mil toneladas de
pluma contra 8 mil toneladas no Brasil Meridional (centro-sul), é suplantado em 1940, quando
são colhidas no Brasil 142 mil toneladas de algodão setentrional e 327 mil toneladas de
algodão meridional – que desde então passa a representar a força hegemônica da cotonicultura
nacional” (Wilkinson, Gonçalves & Rocha, 2006). Este volume da produção se manteve
próximo das 400 mil toneladas até meados da década de 60 e foi impulsionado e mantido por
um significativo investimento em pesquisas e melhoria dos processos técnicos realizados pelo
poder público paulista. Políticas públicas do governo de São Paulo organizaram e regeram o
crescimento e o desenvolvimento técnico da cultura do algodão85(s)-1.2.595 0 Td5(l)-2.16436(v)-0.39(a)-6.2659(m)7.54596( )-ç-0.295585(i)-2.16436(c)3.710.3015(e)3.74(s)-1.26436(t)-12.1703(us)]TJ251.909 0 Td[(e)295585( )-23016436(c)3.710.3ao sad 6or 8659(e)3.744(r)2.805(i)-2.1-2.16558(a.1715(g)19.5585( )-130.225(d)-0.295585(e)3.74(s)-1.22997(e)3.74.1891(p)-0.295585(a)5585(d)-0.295585(i)-2.16558(v)-0.29a585( )-70.187980439(o)-0.292659( )-0.1485( )-70.18798047792( )-30.1655(r-2.16436(e)3.74(n)-0.561(o)-0.295585(d)-0.29)3.74(s)-1.26436(t19(p)-0.295585.187980)3.74(s)-1.22997( )-70.1891(p)-0.295585(ú)-0.295585(b)-0.295585(l)-2.1642.80439(a)-5585(o)-0.295585( )-70.1879(d).80439(I)12.8103( ))-20.1584(p)-10.3015(e)3.74(s)-1.2312659(m)7.-130.22876(h)-0.2711.295585(ã)3.1879(d).80439(I)12.3.74( )-230.282(p)-0.295585(r)2.80439(o)-0.295585(d)-0.295585(u)-0.295585(ç918791.22997( )-0.0439(a)-5585(o)-0.29(a)3.74(s)-1.2312(s)-1.2312(i)-23.74(n)-0.295585(t)-2891(p)--30.)3.74(s)-1.2312(q)-0.29585(d)-0.295585(u)-0.295585(ç0439(a)-5585(o)-0.295585( )-70.1879(d)3.74(o)-0.29.295585(c)3.74(i)-2.16436(a)-6.2659(m)7.54351(e)3.76436(i)-2.16436(v)-05(ç0439(a)-558244(s)-1.2312( )-130.223(d)-10.2711.)-6.26346( )250]TJ-267(o)-0.294363(l)-2.J256.952 0 Td-0.qe)3.744(r)2250]TJ-261.250]TJ-267(o)-0.25585(i)-2.16558(v)-0.29a585( )5585(o)-0.295585( )-700 Td-0.qeoe a coenvst nteI tm 312(q)-0.29e sentento6t “E-2.16436(c)3.74(o)-0. mao85(s-1.2312(a)3.74()2.80439( )-0.146571(e)3.74()-1.22997(t)-2.16558(a)3.74(v)-0.29-1.2312(-10.1525(é)3.74( (m)7.j4351(e)3.76436(i)-2.295585(s)-1.2312(t)-2.26835(a)3.74244(d)-6(c)3.74(o)-0.à436(i)-2.16436(v)-05(.223(d)-10-102-7-0.293142( )20.76 Td[(8.959 -20.76 Td[(a)3.74(l)-1220.76 Tda)3.74(l)-12)-30.1655(r)-2.16558(i)-2.16558(1142(0774122( )-30.15585(s)-1.2312( )-304(d)-0.295585(o)-0.295585(r)-71142(0771093(n)-0.295585(i)-2)7.54596(e)3.74(n)-)-2.16436()-0.)-0.294974(r)-7.20.2659(m)7.54596(ô)-01)3.74(o)-0.29á50]TJ-247.58-0.295585(i)-25585(o)-0.295585(r)-71142(0773.74(s)-1.2242(0771093(n3(a)-6.2659(g)916436(v)-0-30.1643(d)-0.291584(r)2.80439(e)3.74(a)3585(l)-2.164585(d)-õ.2659(m)7.54351( )-20.1584(-1.2242(0(u)-10.3015(z)3.436(o38.333 0 3.74(ç)3.242(0(u)-130.223(a)3.74(l)-12v267(t)-2.1643659(m)7.3.74( )-23.267(t)-2.16a)3.74(l)-1295585(l)-2.16436(42(0(u250]TJ)-0.29763(e)6436(42(0(u)7.54535(a)3.74( )-0.147792(c)3.74(o)-i)-23.00.266(p)-0.29559 0 Td[(e)3.74(n)-0.295586(42(0-2.16436(s)-1.2312( )5586244()-0.295585(e)3..16436(v)-0.39(a)-439(o)-0.293.74( )-230.282(p)-0.26436(42(0(u0.282(p)-0.2891(p)--0.2930.1643(a)-6.142( )-120.217(a)3.1703(a)3.9 0 Td[(e)ó5585(l)-2.16436(t)-12295585(l)-2.16244(m)7.54351( )-738.333 o)-10.299( )250]TJ974(a)3.74(c)3.74(i)-2.1.74(o)-0.29552.165295585(85(s)-1.2.1.2312( )1596(i)-2.16558(n)-0.147792(c)3.74(o)-0.29u-1.22997(t)-2.74( )-30.16-0.295585(l)-2.5(s)(l)-2.1655)3.74( )-0.147792(a)3.74(j74(o)-0.29u-1.22997(t)3117(o)-0.2z4596( )-ç-0.2955 )-8095585(l)-2.5(s)(l)-2.1c50]TJ-247.58-0.295585(i)-25585(o))-2.16436(a)3.74( )-20.1584(6(v)-0.2931.2312(t)-2.16436(e))-2.45995(a)3.74(i)-2.164295585(u)-12( )1596(i)-2.16558(n)-0.147792(c)3.74(o)-[(e)3.74(n)-)-2.74244(d)-0.293142(a)3c36(o)-0.295585(n)-0.312(q)-0.29)-96( )-140.229(1)-0á0.29559 0 Td[(e))3.74(c)-6.2659(n)-0.295585(i)-2.16436(c)3.0.217(d)-0264.636 0 Tdd)-0.2955264.636 0 Tdd)-0.2955439(o)-0.295585(c)-6.2659(a)3.74(s)-1.2312(s)-1.2312(i)-2.16436(s)-1.2312(t)-2.16436(ê)3.74(n)-0264.636 0 Tdd)-0.296558(o)-0.295585( )-130.223(t)-2.16436(é)3.74(c)3.0.1643(d)-0.2910 Tdd)-0.29.74244(l)-12.1142(a)3.7424dd)-0.29C0.282(&)7.3142(.)-0.T(ç9.36588 0 Td[(V)-424dd)-0.8.163(p)-0.29313(d)-10.299(e)-693142( )C50]TJ-274.842 -20.76 a)3.74(l)-1220.76 Tdd[(p)-0.294974(o)-2312(i)-2.16436(o)-0.295585(n)-0.295585(a)3-247.58-0.295585(i)-25585(o).16433.725(a)3.74(s)-1.2312( )-2433.725(A585(,)-0..71032(r)-7.20029(a)3.3.74(u)-0.295585(l)-2.16558(ii)-2.16436(s)-1.2312(t)-2.16436(ê)3.7i)-25585(o).16433.725(T1643375832 Td[(c)3.)-130.223(t)-2.16436(é)3.74(c)3.74(n)5585(o).164.74(3 0 Td[(V)-s)]TJ251.909 0 Td[(e)295585(s)-1.2312( )-30.1643(a))-0.291584(r)2.804,)0.1525(d).16433.721)ó5585(l-0.295585( )-70.1879(o)-0.ã-0.29319.919(c)3.74(a)382(p)-0.2643433.7240)3.74(s)-1.22997( )-70.1891(p)-0.295585(ú)-0.295585(b)-0.295585(la)382(p)-0.2643433.7240t(ê)3.74(n)-0264.636 )3.74(v)-0891(p)-0.295é0264.636 )3-.22997(s)-1433.72406436(t)-2.16436(o)-0.295585espot ps p d
p
146
década de 70, a produção do algodão brasileiro sofre uma queda significativa, principalmente
em 1974 com a adoção de medidas de proteção da agroindústria têxtil brasileira. O país que
tinha entrado na década de 70 como um dos principais exportadores de fibras perde seu posto
no mercado internacional. Por outro lado, no mesmo período, apresenta um crescimento de
quase 1000% nas exportações de produtos têxteis manufaturados. Estes cinco primeiros anos
da década de 70 que parecem marcar o início de uma crise algodoeira no país é revertido por
um considerável incremento da demanda nacional, devido fundamentalmente ao período de
crescimento que a economia brasileira vinha vivendo. Durante toda a década de 80 a produção
do algodão na zona meridional alcançou patamares inéditos, se mantendo superior a 600 mil
toneladas anualmente (Wilkinson, Gonçalves & Rocha, 2006).
Em 1990 a produção nacional alcançava 1,89 milhões de toneladas, sendo 70% nos
Estados do Paraná e São Paulo. Neste mesmo ano a alíquota de importação que havia sido
diminuída em 1988 é zerada, abrindo o mercado brasileiro definitivamente a um surto de
importação do algodão. A produção nacional ficou sujeita aos efeitos cambiais e as
influencias dos subsídios internacionais sobre os preços de venda dos novos concorrentes,
sem qualquer proteção interna que garantisse um preço mínimo e ainda arcando com impostos
sobre a exportação e sobre a compra de insumos, enquanto a importação assim não o exigia.
Além destes fatores os juros bancários cobrados no Brasil para capital de giro eram
significativamente superiores aos realizados nas compras internacionais. Enquanto aplicavam-
se taxas de 25% a 31% nos bancos brasileiros as condições de compra através das
importações tinham taxas de juros variando de 4% a 7% com prazos de pagamento podendo
alcançar mais de 360 dias. As algodoeiras foram as primeiras a sucumbir às novas práticas
comerciais deixando muitos produtores de algodão com o seu produto apodrecendo a espera
de beneficiamento. Iniciou-se também um processo de importação de sementes que atrelado
ao alto custo das sementes públicas, leva finalmente ao fim do monopólio do poder público e
dos investimentos em políticas de melhoramento e suporte cnico, desmontando assim as
instituições que regulavam o setor na zona meridional (Wilkinson, Gonçalves & Rocha,
2006).
Era decretada a crise do setor algodoeiro que se estendeu por toda a década de 1990.
“Em termos nacionais, o surto de importações sucateou a estrutura produtiva de algodão da
pequena propriedade, retirou a liderança do algodão meridional e abriu espaço para a
hegemonia do algodão dos cerrados. A lavoura algodoeira meridional, apesar do dinamismo
147
tecnológico impar, já sem a sustentação das políticas específicas e a proteção tarifária,
enfrentou o declínio irreversível do padrão estrutural anterior com as importações do período
de 1993 a 2000, tendo a área plantada recuado a patamares históricos verificados apenas no
final da década de 20 ou seja, antes do início do ciclo de expansão 1930-1990” (Wilkinson,
Gonçalves & Rocha, 2006). Diferente do algodão meridional, baseado em pequenas e médias
lavouras, o algodão do Cerrado, do centro-oeste brasileiro, se baseia na concentração
produtiva através de lavouras de grande extensão e altamente mecanizadas, exigindo pouca
mão de obra. O algodão por sua vez é transformado em pluma pelo próprio produtor,
eliminando a necessidade de algodoeiras que processem a fibra. Esta nova estrutura produtiva
se torna a nova tendência nacional na produção do algodão brasileiro. De 1997 a 2005 ocorre
uma inversão do processo de queda da produção interna, alcançando 1,3 milhões de toneladas
em 2005, um crescimento de 324% em relação a 1997. As importações caem de 440 mil
toneladas para apenas 40 mil e as exportações tomam novo fôlego crescendo em 400 mil
toneladas (Wilkinson, Gonçalves & Rocha, 2006).
Este processo muda radicalmente o modo da cultura do algodão no Brasil provocando
um forte impacto social. No capítulo seguinte será apresentado o estudo de caso da cadeia
produtiva têxtil que tem como elo de produção do algodão o grupo de agricultores associados
à Coagel Cooperativa Agroindustrial na região do Paraná. Fundada em 1974 a cooperativa,
que possui uma estrutura industrial para o descaroçamento e a fiação do algodão, acompanhou
todo o processo de glória e fracasso da cultura algodoeira na região. No Paraná, na década de
90, dos 400 mil bóias frias envolvidos no plantio do algodão 135 mil perderam seus empregos
e 200 mil famílias de agricultores tornaram-se desocupadas. A nível nacional, apenas 34% da
força de trabalho da produção do algodão manteve-se em exercício, representando uma perda
de 560 mil empregos durante esta década. Dos 91 mil estabelecimentos produtores de algodão
existentes em 1985, apenas 26 mil sobreviveram até 1996, uma redução de 70%. Estima-se
que parte dos produtores sem-terra, participantes dos movimentos sociais rurais, façam parte
deste grupo dispensado da produção algodoeira (Wilkinson, Gonçalves & Rocha, 2006).
A América Latina sofreu na década de 80 com o fracasso do modelo de substituição
das importações. Remodelou sua organização interna visando acatar as pressões externas
geradas pelos organismos internacionais, alinhando-se a Organização Mundial do Comércio
OMC, e adotando a exportação como principal via de crescimento. Nos mercados nacionais
os governos perderam espaço na regulamentação dos setores produtivos e políticas públicas
148
ativas foram descontinuadas, como no caso claro da indústria têxtil brasileira. Barreiras
tarifárias foram cortadas, o mercado internacional se abriu, fragilizou-se a participação dos
pequenos produtores e de cooperativas, e muitos setores quebraram devido a surtos de
importação e a prática de subsídios na produção agrícola de países mais ricos como os
Estados Unidos e a União Européia. Na busca por uma melhor adaptação a esta maior
abertura dos mercados, consolidaram-se blocos regionais como o Mercosul, o NAFTA, o
Pacto Andino e a própria União Européia. Com este novo cenário institucionalizado, baseado
na distinção entre o público e o privado e em regras internacionais estipuladas por
organizações inter-governamentais como a OMC, no caso do comércio internacional, ou o
Banco Mundial no caso de apoio a países em crise, o mundo direciona suas estratégias de
149
Capítulo 4
Estudo de Caso: A Marca “Tudo Bom?” e sua Cadeia Produtiva Têxtil Brasileira de
Comércio Justo.
150
recompensador aos produtores envolvidos. O comércio justo existe se a oferta e a
demanda estiverem envolvidas no seu desenvolvimento, respeitando seus princípios. Uma
oferta de comércio justo sem uma demanda sensibilizada não caracteriza uma relação de
comércio justo, o mesmo serve ao inverso.
Durante o ano de 2004, o projeto apoiou um grupo produtivo formado por costureiras
localizado no bairro do Cascatinha na cidade de Petrópolis. Este grupo informal formado na
época por 8 mulheres com uma renda média de 400,00 reais produziu 2.000 peças. Hoje o
mesmo está formalizado, conta com 15 mulheres e apresenta uma renda média de 500,00
reais. No ano de 2005 a produção foi de aproximadamente 15.000 peças, 2006 um pouco mais
que 25.000 peças e a expectativa para 2007 é que a produção alcance a marca de 40.000
peças. Para tornar este crescimento na produção uma realidade, permitindo que o primeiro
grupo cresça de acordo com o seu ritmo e que possuam espaço para manter outros clientes,
foram incorporados ao Projeto, no início de 2006, três novos núcleos de produção, e em 2007
mais um quinto grupo, beneficiando outras mulheres, e permitindo que estas tenham a
possibilidade de, através de uma demanda contínua, aumentar os seus grupos de produção e
prosperar enquanto negócio. Na atualidade, o Projeto conta com um total de 29 mulheres na
costura.
Em 2005, o tema da matéria prima têxtil começou a ser significativo no comércio
justo. Havia uma demanda crescente no mercado europeu para peças de vestuário do
comércio justo, principalmente após o lançamento do selo FLO de comércio justo para o
algodão africano. Depois de importar algodão orgânico e justo do Peru, o Projeto logrou
encontrar no Brasil um parceiro com quem pudesse diretamente implementar o
desenvolvimento de um algodão justo. Dentre as poucas alternativas de algodão orgânico de
pequenos produtores brasileiros, um primeiro pedido de apenas 300 quilos foi realizado a
APROAP Associação de Produtores Orgânicos do Alto do Paraná. Após algumas reuniões
com produtores e visitas a suas plantações, percebeu-se o potencial da região para o
desenvolvimento da cultura do algodão orgânico. existia todo um processo técnico
desenvolvido com apoio de organismos como SEBRAE, Emater e Embrapa e pequenos
produtores familiares cada vez mais interessados no tema. Infelizmente, por limitação de
oferta, a demanda por algodão orgânico no Brasil é superior a capacidade dos produtores em
ofertar, não foi possível dar continuidade ao trabalho com a APROAP. Por mais que o grupo
considerasse interessante o conceito do comércio justo, ele optou por vender seu algodão a um
151
preço menos favorável para uma indústria local que assegurava a compra de toda a colheita.
Entretanto, a proposta cresceu na região e se estabeleceu uma parceria entre a Onda Solidária
e a Cooperativa Agroindustrial Coagel. A Coagel, uma cooperativa de produtores, percebeu
no tema do comércio justo e da produção orgânica uma possibilidade de proteger a cultura do
algodão que vinha diminuindo muito na região e sendo substituída pela soja. Enquanto no
mercado convencional o fio do algodão convencional varia entre 8,00 e 9,00 reais o quilo,
com o ICMS embutido, o fio de algodão em processo para adequação a certificação de
comércio justo e cultivo ornico é vendido à Onda Solidária pela cooperativa por 11,35
reais, ainda sem o ICMS embutido.
Outro ponto comparativo de preços pode ser a comparação entre os preços de venda
do algodão convencional da Coagel desde o início desta década e o preço pago pela Onda
Solidária pelo algodão em pluma medido por arroba (@).
Preço da Pluma Vendida pela Coagel
46,14
43,59
38,26
57,56
59,12
29,29
39,53
30,96
71,00
71,00
0
10
20
30
40
50
60
70
80
Ano 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006
Anos
Preço da Arroba / @ R$
Valor Convencional Valor Comércio Justo
A meta para 2010 é alcançar uma produção anual correspondente a 150.000 peças e
200 pessoas beneficiadas diretamente pelo projeto. Esta meta é compartilhada entre Onda
Solidária e Fair Planet. Seguindo adiante está representada a cadeia produtiva atual, sua
organização e encadeamento dos elos produtivos, história e planos para seu desenvolvimento.
152
4.1 - Fluxo Produtivo
4.1.1 - Cultivo do Algodão, Beneficiamento e Fiação – Processos (1) e (2)
Como introduzido acima o Projeto teve como primeiros beneficiários as costureiras
das peças “Tudo Bom?”. Entretanto, a questão da origem da matéria prima dentro do contexto
do comércio justo sempre foi uma demanda grande dos consumidores e lojistas Europeus. O
projeto encontrou dificuldades, devido principalmente, a escassez de oferta do algodão
orgânico no Brasil. No ano de 2004 e parte de 2005 se realizou uma busca por produção de
algodão orgânico que pudesse suprir uma demanda mínima e que ao mesmo tempo fosse fruto
do trabalho de pequenos produtores. Fazendo assim, uma ligação entre a cultura orgânica e o
comércio justo.
Por falta de disponibilidade de algodão no mercado Brasileiro, uma primeira compra
experimental de 200 kg de fio de algodão orgânico foi realizada no Peru. Este algodão faz
parte de um projeto financiado, em parte, pela Fundação Solidaridad com sede na Holanda,
para a produção das roupas da marca de comércio justo Kuyichi. No caso da própria marca
Kuyichi, a produção justa no Peru se concentra no algodão, e não nas outras etapas da cadeia
produtiva. O descaroçamento, a fiação, a tecelagem e a confecção das peças são realizados
por indústrias nos arredores da cidade de Lima. O processo de importação deste algodão ao
Brasil foi cercado de procedimentos extremamente burocráticos e lentos atrelados à falta de
experiência da recém constituída Onda Solidária. O custo total do processo de importação (o
custo do algodão praticamente dobrou ao entrar no Brasil) foi também um fator que
desanimou a continuidade do projeto com o Peru.
Cultivo do
Algodão
Tecelagem Tingimento Corte Estampa Costura
Beneficia-
mento e
Fiação
Goioerê
Paraná
Petrópolis
R
J
Petrópolis
R
io de Janeiro
Juiz de Fora
Minas Gerais
Malharia
Quatro Jotas
(3)
Tinturaria
Aquarela
(4)
Grupos de
Costureiras
(5)
Grupos de
Costureiras
(7)
Estamparia
Mad Stamp
(6)
Cooperativa
Coagel
(2)
Produtores
Coopercoagel
(1)
153
Outra dificuldade que existia neste ponto era encontrar uma tecelagem que aceitasse
esta pequena quantidade de fio para produzir a malha. Entretanto, Petrópolis, onde se
localizam os grupos de costureiras, era a cidade certa para se trabalhar com pequenas
malharias com espírito inovador. A cidade passou nas três últimas décadas por um processo
de desestruturação da sua indústria têxtil com o fechamento de diversas empresas do ramo.
Entretanto, as malharias que continuam em pleno funcionamento se mostram abertas para
inovações que possam gerar diferenciais no setor. A malharia Zancanelli abriru suas portas
para a produção da malha com o algodão orgânico peruano. O resultado foi uma malha de
qualidade internacional, entretanto a largura da malha produzida, devido ao maquinário da
Zancanelli, provocava uma perda grande no corte das peças, o que no longo prazo
inviabilizaria a produção, devido ao desperdício de malha e consequentemente ao aumento do
custo da peça final.
Neste exato momento na Europa, primeiro semestre de 2005, era lançado pela FLO o
selo de comércio justo para o algodão. Todas as lojas que exigiam o algodão orgânico
passam a exigir também igualmente o justo, certificado. Este movimento na Europa,
desenvolvido pelo próprio movimento de comércio justo, representava um grande risco para o
Projeto no Brasil. Era necessário encontrar um processo efetivo e seguro para o fornecimento
de matéria prima dentro dos princípios do comércio justo e da cultura orgânica para assegurar
toda a continuidade com as costureiras e futuramente o desenvolvimento da cadeia produtiva
têxtil justa brasileira. Nos meses seguintes a busca pelo algodão brasileiro continuou. Foi
através da ONG ESPLAR, localizada no Ceará, que se realizou o contato com um projeto em
fase inicial no Paraná, desenvolvido pela Associação dos Produtores Orgânicos do Alto
Paraná APROAP com o apoio técnico das organizações Emater PR, SEBRAE PR e
Embrapa.
Um dos pontos fortes da APROAP é a possibilidade da venda do fio. A associação
estabeleceu uma parceria com uma cooperativa local que possui estrutura industrial para
fiação do algodão. Com uma articulação que envolvia algumas prefeituras locais da região, a
Coagel Cooperativa Agroindustrial, localizada em Goioerê, abriu espaço para uma pequena
produção do fio de algodão orgânico da APROAP. Esta primeira produção era de
aproximadamente apenas 3 toneladas. Para uma indústria que somente se viabiliza
financeiramente com uma quantidade superior a 100 toneladas, o processo de dedicar todo o
154
seu maquinário e estrutura a uma pequena quantidade caracterizava-se mais como um
investimento do que como uma atividade lucrativa para a cooperativa.
Em Petrópolis foi necessário buscar uma nova malharia que possuísse o maquinário
ideal para a produção do fio e que ao mesmo tempo disponibilizasse sua estrutura para uma
produção pequena. Mais uma vez, foi possível encontrar abertura a proposta do projeto em
Petrópolis e foi estabelecida uma parceria com a malharia Quatro Jotas. A Onda Solidária
realizou um pedido teste de 300 quilos de fio que vinham da Coagel, com algodão da
APROAP, e o resultado foi uma malha de tão alta qualidade que a própria malharia
apresentou interesse em comprar o algodão orgânico para lançar a malha orgânica no
mercado. De qualquer maneira, estava comprovada a qualidade do fio produzido no Alto
Paraná, abrindo caminho para o nível de qualidade exigido pelos consumidores Europeus.
Entretanto, em 2006, não seria possível dar continuidade ao trabalho com a
APROAP. Como abordado anteriormente, uma indústria de São Paulo havia garantido a
compra de toda a produção de 2006 do algodão orgânico por um preço inferior ao que o
projeto estava se comprometendo a pagar, que neste caso a indústria não leva em
consideração a perspectiva do comércio justo. Entretanto, a segurança de ter toda a produção
de 2006 negociada em 2005, levou a APROAP a se comprometer inteiramente com este
único comprador. Por sua vez, a Coagel visualiza no algodão de comércio justo um potencial
para a proteção da cultura da pequena produção do algodão no Paraná e um reaquecimento da
sua produção local. Os produtores da região e também do Mato Grosso do Sul vêm na última
década substituindo a cultura do algodão pela soja, devido principalmente a queda dos preços
do algodão no mercado internacional.
O Paraná se destacou na década de 80 como o maior produtor de algodão no país. Sua
capacidade de produção de algodão era extremamente elevada representando em média 35%
da produção brasileira, entretanto apenas 10% da sua produção era industrializada no Estado.
Foi com base nesta realidade que passou a se investir no desenvolvimento de indústrias de
beneficiamento do algodão, com incentivos a formação de cooperativas agroindustriais,
principalmente no noroeste do Paraná onde estava centralizada a maior parcela da produção
do Estado e onde nasceu a Coagel Cooperativa Agroindustrial.
155
Com a crise do café algumas cooperativas da região precisaram diversificar seus
produtos e muitas investiram na produção e beneficiamento do algodão, como é o caso das
maiores cooperativas agroindustriais da região: Cocamar Cooperativa de Cafeicultores e
Agropecuaristas de Maringá e a Copagra Cooperativa Agrária de Cafeicultores de Nova
Londrina. Após a Segunda Guerra Mundial o Paraná passou a ter a sua economia
impulsionada pela cultura do café, principalmente no norte do Estado. Com a crise do café na
década de 60 a produção no Estado sofreu um grande decréscimo diminuindo 71% entre esta
década e a década de 80. Somente na região de Maringá, onde se estabeleceu a cultura do
algodão na década de 80, a queda do cultivo do café chegou a 93% entre os anos 70 e 90. O
fim da cultura do café atrelado ao incentivo do governo brasileiro à mecanização e a
industrialização agrícola nas décadas de 60 e 70 provocou significativas transformações na
organização do campo no Paraná, afetando a estrutura fundiária, o acesso a terra, a segurança
alimentar e a disponibilidade de emprego (Wilkinson, Gonçalves & Rocha, 2006).
A modernização exigia que os produtores alcançassem uma escala mínima de
produção, mas os pequenos e médios produtores não possuíam recursos financeiros para a
modernização de suas lavouras. O programa de crédito rural implantado no Paraná na década
de 70 exigia como garantia a terra, uma exigência que acabou gerando um movimento de
valorização das mesmas. Assim, se tornou interessante aplicar recursos financeiros em terras.
Os pequenos produtores que não tinham a posse da terra foram, logo de início, excluídos do
processo de modernização. Em 1970 o número de propriedades de até 50 hectares de
arrendatários e parceiros caiu em 37% e em 1975 caia em 29,4%. O programa de crédito do
governo acabou por gerar a diminuição da pequena e média propriedade e a incentivar as
culturas que exigiam um maior investimento em máquinas e em insumos industriais, como a
soja e o trigo. Aproximadamente, 40% da utilização do crédito rural era destinada a compra
de máquinas e equipamentos na indústria brasileira. O crédito destinado a cultura do algodão
caiu mais de 50% de 1970 a 1979, e o café que em 1970 representava 44,37% de todo o
crédito concedido no Paraná, em 1979 tinha diminuído para 12,81%. a soja, em 1979,
representava 24,28% dos créditos concedidos e o trigo 15,74%. Em 1970 juntas
representavam menos de 10% de todo o crédito rural no Estado. Todo este processo fazia
parte do projeto de modernização da indústria brasileira desenvolvido no período do governo
militar no Brasil. A agricultura, na sua transição para a agroindústria, se tornava um
importante mercado consumidor para a indústria brasileira e a soja pelo seu ótimo preço no
mercado internacional era o produto ideal para estimular as exportações do país. Como o
156
Paraná tinha se beneficiado desde a década de 60 de um projeto desenvolvimentista do
Governo Estadual, o casamento da industrialização da agricultura, atrelado ao estimulo a
indústria brasileira incentivado pelo governo militar, somado aos bons preços dos produtos
agrícolas no mercado exterior levou o Governo Federal e o Governo Estadual a investir na
modernização da agricultura no Paraná (Bastos, 2006; Wilkinson, Gonçalves & Rocha, 2006).
A década de 70, portanto, experimentou uma forte modificação da estrutura fundiária
e produtiva do Estado. A política agrícola adotada a partir da década de 60 foi orientada à
agroindústria com foco em produtos com potencial à exportação, ou ligados à indústria
alimentar, como o trigo e a soja, em detrimento a produtos de comercialização local como
arroz, feijão, mandioca e milho. Na década de 70, enquanto o território na região norte
destinado a cultura do feijão diminuiu em 48%, do arroz em 70,3%, e do milho em 40,7%, o
território destinado a soja cresceu em 778% e do trigo em 930% no mesmo período. Ainda, a
estrutura fundiária deixou de ser focada na constituição de lotes pequenos de até 20 hectares,
como era até a década de 70, para a formação de grandes propriedades em torno de
monoculturas. Para se proteger deste processo de modernização, pequenos e médios
produtores passaram a se organizar em cooperativas (Massuda, 2005; Wilkinson, Gonçalves
& Rocha, 2006).
Este foi o caso do algodão. Na década de 60 o beneficiamento do algodão era
realizado apenas por pequenas empresas privadas, mas com a formação das cooperativas no
norte e oeste do Paraná e com o incentivo ao beneficiamento do algodão os atores desta
cultura foram sendo alterados. Enquanto em 1980 existiam apenas 8 cooperativas e 45
algodoeiras atuando na produção do algodão, em 1992, 12 anos após, estavam constituídas 58
cooperativas na produção do algodão, respondendo por 76% do total de algodão em
contraposição a um total de 35 algodoeiras respondendo por 24%. Entretanto, a crise do
algodão nos anos 90 levou a uma queda significativa desta produção, e em 1994 o número de
cooperativas produzindo algodão caiu para 26. Em 1999 existiam apenas 12 cooperativas,
entre elas a Coagel Cooperativa Agroindustrial, e somente 9 algodoeiras (Seab, 2000 apud
Wilkinson, Gonçalves & Rocha, 2006).
Até 1985 a fiação local do algodão, executada após o plantio e o beneficiamento,
processo de descaroçamento do algodão, foi muito inferior ao seu total do algodão produzido.
Em 1985 apenas 5,8% da produção foi fiada no Estado, um total de 21.500 toneladas, e nos
157
anos anteriores esse percentual nunca ultrapassava 10% da produção total do algodão em
pluma. A falta de incentivo para a fiação do algodão no Paraná se devia ao foco do governo
brasileiro, através da SUDENE Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste e da
BEFIEX – Comissão para a Concessão de Benefícios Fiscais a Programas Especiais de
Exportação, na implantação de indústrias de fiação no Nordeste com acesso a subsídios /
incentivos fiscais e a crédito / financiamentos. Segundo o Ipardes Instituto Agronômico do
Paraná - “...O Paraná surge com grande potencialidade em nível de entrada no setor têxtil,
uma vez que dispõe de farta quantidade de matéria-prima e um parque cooperativista com
grande mero de produtores rurais de fibras têxteis...”. Via-se necessário estabelecer uma
estratégia que gerasse valor ao algodão produzido no Estado (Ipardes, 1984 e ABIT, 2000
apud Wilkinson, Gonçalves & Rocha, 2006).
Seguindo esta linha, foi instituído em 1984 o Programa de Apoio ao Desenvolvimento
do Setor Têxtil Paranaense com o objetivo de desenvolver a indústria têxtil de fiação no
Estado, principalmente na região noroeste. O programa foi constituído pela Secretaria de
Estado da Indústria e Comércio e pelo BADEP - Banco de Desenvolvimento do Paraná S/A.
Em seguida se articulou uma operação conjunta de fortalecimento do setor cooperativista da
região entre o próprio sistema cooperativista do Paraná, o BNCC – Banco Nacional de
Crédito Cooperativo, o BNDES Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social,
o BID Banco Interamericano de Desenvolvimento e a Secretaria da Fazenda do Estado.
Através desta articulação foi aprovada a implantação de quatro unidades de fiação e a
ampliação de uma existente. As quatro novas unidades de fiação foram estabelecidas nas
cooperativas do COAMO Cooperativa Agropecuária de Campo Mourão; COAGEL
Cooperativa Agropecuária de Goioerê, hoje chamada de Coagel Cooperativa Agroindustrial;
Cocari Cooperativa de Cafeicultores de Mandaguari; e a Cooperfios, localizada em
Maringá. Com o projeto a Cocamar Cooperativa de Cafeicultores de Maringá teve a sua
planta de fiação expandida. Juntas envolviam um total de 61.875 cooperados sendo destes
23.500 produtores de algodão (Massuda 2005; Wilkinson, Gonçalves & Rocha, 2006).
A partir de 1987 ocorre um maior crescimento da quantidade do algodão consumido
nas fiações frente à capacidade produtiva local. Este crescimento também se torna mais
significativo devido a crise na produção do algodão que tem na década de 90 uma forte queda.
A partir de 1997 o consumo de algodão pelas indústrias de fiação supera a quantidade de
algodão disponível pela produção local e o Paraná passa a se tornar um Estado importador de
158
algodão. Como exemplo, em 1999 o consumo de algodão para fiação foi 87% superior à
produção. Mesmo atingindo o seu ápice de produção em 1985 com o recorde de 1.035.661 de
toneladas, representando 36% da produção nacional de algodão, já na década de 90, o algodão
entra em crise e em 1999 sua produção chega apenas a 100.475 toneladas no Paraná, o
equivalente a uma participação na produção nacional de apenas 7% (ABIT, 2000 e Claspar,
2000 apud Wilkinson, Gonçalves & Rocha, 2006).
O deslocamento da produção do algodão segue para o centro-oeste brasileiro, onde a
produção se caracteriza pela mecanização e pelas grandes extensões de terra. O modelo
baseado na pequena e média produção pico do Estado do Paraná perde o seu fôlego e
paulatinamente a cultura do algodão é substituída pela soja e pelo trigo, mesmo pelos
pequenos agricultores paranaenses. No centro-oeste quanto maior for a porção de terra
cultivada menor é o custo por arroba de algodão colhido, devido ao investimento em
mecanização. Enquanto o trabalho manual de colher o algodão rende por arroba um custo de
2,00 reais, na colheita mecanizada gera um custo de apenas 0,90 centavos de real por arroba.
A crise da pequena e média produção intensiva em mão de obra no noroeste do Paraná abre
espaço para a retomada da produção extensiva e intensiva em capital do centro-oeste
brasileiro, que alcançava custos de produção para concorrer em certo grau com a entrada de
produtos têxteis importados no mercado brasileiro, desde a sua abertura às importações na
década de 90. Toda a estrutura estabelecida no Paraná que se baseou na abundância da oferta
de matéria prima, como auferido no ano de 1985, acabou sendo revertida para atender o
mercado externo de produção de algodão, passando à categoria de Estado importador de
algodão (BNDES, 1997 apud Wilkinson, Gonçalves & Rocha, 2006).
Hoje grande parte do algodão fiado na Coagel Cooperativa Agroindustrial é de origem
do Mato Grosso do Sul. Localizada no município de Goioerê, maior produtor de algodão do
Brasil nos anos 80. Entretanto, visando fortalecer a indústria têxtil local a Coagel desenvolveu
um programa para o estabelecimento de um pólo têxtil regional, buscando incentivar
indústrias relacionadas e complementares a fiação nos seguintes elos da cadeia produtiva
têxtil. Em 1992 estabeleceu um curso, em parceria com a Universidade Estadual de Maringá,
para a formação de engenheiros têxteis em Goioerê, coordenado pela Faculdade de
Engenharia Industrial de São Bernardo do Campo (Massuda, 2005; Wilkinson, Gonçalves &
Rocha, 2006).
159
Em 1997, através da lei 11.720 da Assembléia Legislativa do Estado do Paraná
124
,
criou-se formalmente o pólo têxtil em Maringá, principal cidade da região do noroeste do
Paraná:
“Art. 1. Fica o Poder Executivo autorizado a criar um Pólo
da Indústria Têxtil e da Confecção do Paraná, liderado pelo
município de Maringá, com o objetivo de implementar,
profissionalizar e desenvolver a indústria têxtil e de
confecções da região”.
“Art. 2. O Poder Executivo adotará mecanismos para a sua
criação através de programa de governo e regulamento
próprio”.
O algodão foi a cultura que se manteve nas décadas de 70, 80 e meados de 90
contribuindo para a manutenção da pequena e média propriedade, principalmente na região
noroeste através das cooperativas agroindustriais e do investimento em insumos modernos,
instalações e no apoio a pesquisa e desenvolvimento de novas tecnologias (Massuda, 2005).
Hoje, a pequena produção é pouco representativa, entretanto toda uma estrutura de
beneficiamento, fiação e confecção do algodão continua marcando as atividades econômicas
da região do noroeste do Paraná.
A barreira provocada pela compra integral da produção da APROAP levou a uma
nova negociação da Onda Solidária, com o apoio da importadora Fair Planet, diretamente com
a Coagel para desenvolver mais produtores na região na cultura orgânica e justa. Até então, a
Coagel vinha participando da cadeia produtiva apenas no momento da fiação. Neste processo
a Coagel havia demonstrado seu interesse em buscar novas alternativas para o pequeno
produtor local de algodão. Com a nova proposta a Coagel assumiu o conceito do comércio
justo e da cultura orgânica como alternativa para promover o resgate da produção de seus
pequenos cooperados. São atualmente 30 pequenos agricultores envolvidos na cadeia
produtiva têxtil de comércio justo.
124
Diário Oficial n. 5.003 de 15 de maio de 1997.
160
Com esta nova perspectiva de inserir no processo pequenos produtores associados a
Coagel foi realizada uma pesquisa interna na cooperativa e definiu-se o preço deste algodão,
seguindo os princípios do comércio justo e em processo para sua conversão ao cultivo
orgânico. A conversão da cultura convencional para a orgânica certificada dura de dois a três
anos e a proposta é que a cada ano novos pequenos produtores da Coagel se adicionem a este
grupo e que aos poucos seja possível transformar boa parte da produção do algodão
convencional e de outras culturas substitutas da região em orgânico. Além da preservação
ambiental, a principal lógica por trás do estimulo ao processo de conversão está em não
permitir que a atividade se torne excludente, garantindo a todos os produtores locais a
possibilidade de se filiar ao projeto. Se o projeto ficasse restrito apenas aos produtores
certificados, iria-se criar uma zona de restrição. Mesmo com o decorrer dos anos e o aumento
do número de produtores certificados o projeto tem como principal diretriz estimular e
trabalhar o processo de conversão. Esta proposta vem sendo bem recebida pelas lojas de
comércio justo na Europa que compreendem que mais importante que o selo do algodão
orgânico em um produto é a inclusão de novos produtores.
Neste sentido, foi lavrado um contrato
125
entre a Coagel e a Onda Solidária onde se
registram os termos de compra e venda, dentre eles aqueles ligados ao comércio justo e a
transição para o orgânico. O primeiro contrato foi referente à compra de 5 toneladas de fio de
algodão e 1 tonelada de algodão em pluma. Entretanto, o Projeto da Onda Solidária, ainda
não possuía um demanda e nem estrutura para arcar com esta quantidade, que foi dada pela
Coagel como condição mínima para o fechamento da negociação. Foi então que, com o apoio
da importadora Fair Planet, se organizou um grupo de compra de três organizações que iriam
repartir as 6 toneladas produzidas. O grupo foi formado pela Onda Solidária, pela Veja, marca
francesa do tênis de comércio justo, e por uma empresa de confecção de peças infantis
localizada no interior de São Paulo chamada Hippy Chick.
O Contrato foi uma ferramenta fundamental neste processo para o estabelecimento
formalizado da intenção de compra, mas também para se estabelecer a segurança entre as
partes e institucionalizar a prática do comércio justo. Entre alguns dos pontos importantes do
contrato está o preço justo através do estabelecimento de um preço mínimo, que pode ser
ultrapassado caso o preço de mercado seja superior, e neste caso o contrato deixa claro que
125
Segue em anexo uma cópia do contrato original.
161
será cobrado o valor de mercado. O preço mínimo de 11,35 reais por quilo de fio de algodão,
ainda sem o ICMS, foi definido pela própria cooperativa de acordo com o grupo de pequenos
produtores envolvidos na produção. No primeiro parágrafo do contrato fica estabelecido que a
Onda Solidária pague um preço diferenciado pela produção dentro do mercado justo. No
contrato os pequenos produtores são denominados de Grupos de Associados. Possuem como
responsabilidade produzir algodão em caroço seguindo recomendações técnicas de agrônomos
contratados pela Coagel visando respeitar os princípios de comércio justo e da cultura
orgânica, como exigido pela Onda Solidária. Comprometem-se ainda em seguir as
recomendações da Onda Solidária, Coagel, FLO e IFOAM, para certificação do algodão como
justo e orgânico. Ainda devem fornecer informações sobre custos de produção, técnicas
utilizadas e qualquer outra informação com o intuito de assegurar a transparência na relação.
O contrato também define as responsabilidades da Coagel e da Onda Solidária. Por
parte da Coagel, é necessário formar o Grupo de Associados de acordo com os princípios do
comércio justo e cultura orgânica e acompanhar tecnicamente todo o processo de cultivo do
algodão. Ainda, é responsável pelo contato com a FLO e IFOAM para estabelecer os vínculos
e dar início ao processo de certificação nas duas categorias. Outro ponto fundamental é a
obrigatoriedade que a Coagel possui em repassar imediatamente ao Grupo de Associados os
valores pagos pela Onda Solidária correspondentes ao algodão em caroço. Já, a Onda
Solidária, possui como responsabilidade adiantar 50% do valor de compra do algodão através
de dois adiantamentos. Precisa também acompanhar a Coagel repassando informações
necessárias para o desenvolvimento da produção sobre os princípios do comércio justo e da
cultura orgânica, e apoiar no processo para a certificação via FLO e IFOAM. A Onda
Solidária ainda possui liberdade para acompanhar todo o processo de produção, desde o
cultivo de algodão até a estocagem do fio, passando pelo recebimento, beneficiamento e
industrialização do algodão. Neste contrato também se define uma relação de longo prazo,
mais precisamente de pelo menos mais dois anos, dando preferência de venda de 20 toneladas
deste algodão nestes próximos anos para a Onda Solidária. Uma cópia do contrato pode ser
observada no anexo deste trabalho.
Em 2006 foi concluída a produção desta primeira safra do algodão em processo de
transição para certificações. O processo de certificação do algodão para o comércio justo
ocorre com o apoio da empresa francesa do tênis de comércio justo Veja. A Veja faz o contato
na França com a Max Havellar, certificadora responsável pelo projeto piloto do algodão de
162
comércio justo na África. Uma importante questão que surgiu para a certificação foi o fato da
Coagel não representar apenas pequenos produtores, mas também médios e grandes
produtores. Inclusive grandes produtores do Mato Grosso do Sul são cooperados da Coagel. A
certificação conferida a Coagel se estenderia a todos os seus cooperados, descaracterizando
assim o comércio justo, cujo foco deve ser em pequenos produtores em desvantagem
econômica.
A solução encontrada foi a formação de uma nova cooperativa, agora apenas
constituída pelos pequenos produtores cooperados da Coagel, que pudesse ser certificada. À
esta cooperativa se deu o nome de Coopercoagel. A Coopercoagel passará a vender o algodão
certificado pela FLO, através da Max Havellar, para a Coagel que fará a fiação dando
continuidade a cadeia produtiva têxtil. A representação abaixo apresenta uma comparação
entre a antiga e a nova estrutura formada para atender o processo de certificação do comércio
justo. O tamanho de cada círculo corresponde a pequenos, médios e grandes produtores. É
interessante observar que mesmo com a constituição da Coopercoagel existem ainda um
número grande de pequenos produtores que não aderiram a nova estrutura ou que estão em
processo de aproximação. A entrada dos pequenos produtores cooperados da Coagel na
Coopercoagel não é automática, mas ocorre da vontade voluntária do pequeno produtor de
participar do sistema de comércio justo e certificar sua produção. Como o processo de
certificação ainda está sendo elaborado a maior parte dos pequenos produtores não está filiada
a Coopercoagel. O sucesso ou fracasso do Projeto e da certificação do comércio justo na
região poderá ter como um dos seus indicadores de desempenho o aumento ou a queda do
número de cooperados na Coopercoagel.
Antes da Certificação Comércio Justo Com a Certificação do Comércio Justo
Coagel
Fiação
Coagel
Fiação
Coopercoagel
163
No que tange a certificação para a produção orgânica a Coagel vem enfrentando fortes
dificuldades para a implementação das exigências do órgão certificador e para a manutenção
do interesse dos pequenos produtores. A produção orgânica exige um alto investimento em
tempo por parte dos pequenos produtores. O próprio algodão convencional é uma cultura
que exige cuidados intensivos por parte dos produtores. Em visita a uma pequena família
produtora de algodão orgânico da região, o agricultor informou que uma das razões da
crescente mudança da produção do algodão para a soja é a pouca intensidade de mão de obra
que esta exige do produtor durante o período de desenvolvimento do grão. Se o algodão
convencional é mais complexo no que tange a sua técnica de produção e a sua intensidade
de mão de obra, o algodão orgânico representa um desafio ainda maior para o pequeno
produtor. O algodão é também uma cultura que está muito suscetível às intempéries do clima.
Quando as condições climáticas não são favoráveis ao plantio, muitos produtores vêem suas
expectativas de colheita limitadas, levando a uma desmotivação geral.
Em 2005 foi formalizado o contrato de compra de algodão com a Coagel para a
primeira colheita em 2006. A produção ultrapassou as 6 toneladas esperadas alcançando um
montante próximo a 8 toneladas e um número aproximado de 10 famílias de pequenos
produtores envolvidos. Estas toneladas a mais foram igualmente compradas pela Onda
Solidária. O bom resultado de 2006 motivou novos produtores a se incorporarem à produção
do algodão de comércio justo e em transição para orgânico em 2007. O grupo de produtores
envolvidos chegou a quadruplicar, alcançando um mero próximo a 40. Entretanto, o
primeiro semestre de 2007 não apresentou boas condições climáticas e muitos produtores
desanimaram e desistiram da sua produção. A expectativa de 25 toneladas não foi alcançada e
foram produzidas apenas 18 toneladas com um grupo de 30 produtores.
Em entrevista realizada com o responsável pelo desenvolvimento do projeto de
comércio justo na Coagel, Geronimo Benetore, ficou claro que o projeto ainda precisa vencer
diversas dificuldades para se consolidar efetivamente. Geronimo colocou como principal
benefício que a Coagel tem com o projeto de comércio justo a manutenção do pequeno
produtor na atividade, garantindo que permaneça na sua propriedade. A Coagel oferece assim
uma alternativa aos pequenos produtores que têm na sua cultura o costume de plantar algodão
e possuem dificuldade de se adaptar em outra atividade. Por outro lado, as dificuldades
apresentadas correspondem ao excesso de burocracia para a certificação; o difícil controle de
pragas no sistema orgânico levando a baixa produtividade e rentabilidade do produtor; a
164
desmotivação devido à baixa rentabilidade tornando mais difícil a incorporação de novos
produtores ao Projeto; a pequena quantidade produzida, ainda fora de escala industrial,
gerando uma insignificante diluição dos custos fixos de produção e acarretando em altos
custos para a cooperativa e para o comprador e; ainda, altos custos de assistência técnica para
a cooperativa.
Mesmo com tantas dificuldades Geronimo apontou que a Coagel até o momento
considera válida a iniciativa, pois estão adquirindo uma experiência com o comércio justo que
pode ser também estendida para outras atividades como, por exemplo, o café. Entretanto,
ratifica que do ponto de vista financeiro os resultados vem se mantendo negativos. Para os
produtores a possibilidade de receber prêmios dentro do sistema de comércio justo e cultura
orgânica é atrativo, e até o momento o projeto tem sido bem aceito. Entretanto, alguns
produtores não tiveram resultados positivos em 2007, devido a queda considerável de
rentabilidade da safra. Se a safra de 2008 apresentar um mesmo resultado negativo será difícil
para a Coagel manter o interesse dos produtores na produção orgânica e de comércio justo,
colocando em jogo o a própria continuidade do Projeto. Neste sentido para garantir o
crescimento do projeto, a Coagel espera que a próxima safra garanta aos produtores uma
produtividade mínima de 150 arrobas por hectare, dentro desta nova tecnologia de produção,
garantindo a rentabilidade necessária para que estes se mantenham nesta atividade.
Visando diversificar a cadeia produtiva diminuindo os riscos para os grupos de
costureiras e para a marca “Tudo Bom?”, a importadora Fair Planet e a Onda Solidária
buscam outros atores especializados nos diferentes elos da cadeia produtiva. No que diz
respeito à produção do algodão orgânico certificado foi estabelecido um primeiro teste com
uma empresa paraguaia chamada Arasy
126
. Esta empresa preza pela sustentabilidade
ambiental e social, apoiando comunidades produtoras de algodão no Paraguai. O programa
têxtil formatou uma cadeia produtiva têxtil completa, com certificação orgânica. O algodão é
produzido por centenas de pequenos produtores em associação com a Arasy. As fibras são
colhidas manualmente e a fiação é realizada pela própria empresa. As seguintes etapas da
cadeia produtiva são direcionadas a indústrias locais. Entretanto, a confecção das peças de
vestuário é destinada a produção familiar através de pequenas unidades produtivas. A empresa
tem como lema o desenvolvimento de produtos éticos. Desde a venda do algodão, passando
126
Para maiores informações acessar o site www.arasy.com.py
165
pela do fio, da malha e das peças de vestuário a empresa promove a comercialização em todas
as suas etapas intermediárias de produção.
A primeira compra de 1,5 toneladas de fio de algodão certificado orgânico foi
realizada diretamente pela importadora Fair Planet e será importada pela malharia Fama
Têxtil e tingida pela tinturaria Sintex, ambas localizadas em Goioerê. Estas duas empresas
também serão testadas através deste pedido para avaliar a possibilidade ainda maior de
diversificação dos atores da cadeia produtiva. Poderia assim, ter estas atividades produtivas
realizadas no Paraná, próximo a própria Coagel, e no Rio de Janeiro, próximo aos grupos de
costureiras, através da Malharia Quatro Jotas e da Tinturaria Aquarela apresentadas a seguir.
A opção por realizar a importação através da Fama Têxtil vem da experiência que a malharia
já possui neste tipo de operação, liberando a Onda Solidária da realização desta operação onde
não possui prática nem conhecimento sobre a atividade (vide experiência anterior com o
algodão orgânico peruano). Outro fator que tende a desestimular a participação da Onda
Solidária diretamente das ações de importação e exportação é o fato do Brasil ser um país cuja
cultura interna, incluindo dos sistemas bancários, dos órgãos de fiscalização, cambio e
comerciais não enxergarem com bons olhos a prática comercial dirigidas por ONGs.
Além das questões de melhoria da operacionalidade da cadeia produtiva, está a própria
lógica do conceito de comércio justo que se expande em uma um visão mais integrada de
comercialização entre os próprios países produtores, o comércio sul-sul. A partir da
perspectiva da consolidação de cadeias produtivas completas nos países do Sul é possível
diversificar suas atividades, elos produtivos e atores para países vizinhos, internacionalizando
as cadeias produtivas de comércio justo. Este movimento de integração de cadeias produtivas
sul-sul se torna possível devido a expansão destas para a agregação de valor ao produto
antes da sua exportação para os países consumidores do Hemisfério Norte. A relação
tradicional sul-norte, antes focada apenas na exportação de “comodities” e matérias primas,
como o café verde, o cacao, o açúcar, a erva para chá, deixando a industrialização dos
produtos e sua agregação de valor nas mãos das empresas do Hemisfério Norte, passa
paulatinamente a ser testada com indústrias nos próprios países do Hemisfério Sul por ONGs
e cooperativas de produtores envolvidos nas cadeias produtivas do comércio justo. Este
estímulo ao comércio sul-sul e a agregação de valor pelos produtores é um dos objetivos da
Onda Solidária.
166
4.1.2 - Tecelagem e Tingimento – Processos (3) e (4)
Como explorado nos parágrafos acima a tecelagem é realizada na cidade de Petrópolis
pela malharia Quatro Jotas. A malharia conta com 12 funcionários, destes 2 trabalham na
venda, 3 no escritório e o restante operando as máquinas de tecelagem. É uma pequena
indústria localizada na própria cidade que busca constantemente diferenciação para se manter
no mercado enfrentando a concorrência local, a produção de outros estados ou municípios
próximos e a gerada pela entrada dos produtos importados, com destaque para os têxteis
asiáticos. Com forte apoio da Quatro Jotas foi possível produzir pequenas quantidades de
malhas, avaliar a qualidade dos fios, adaptar tecnicamente a malha e as máquinas para a
qualidade exigida na Europa. Finalmente, foram produzidas para a coleção primavera verão
de 2006 as primeiras peças com algodão orgânico brasileiro da marca “Tudo Bom?“.
Habituada a comercializar apenas a malha pronta, e não o serviço de tecelagem, a
Quatro Jotas abriu suas portas consolidando-se como uma verdadeira parceira no projeto. O
fio comprado pela Onda Solidária era diretamente trabalhado pela Quatro Jotas sem que esta
cobrasse algo além do custo de tecer a malha o os impostos referentes a comercialização. Esta
abertura foi ainda incorporada no processo de tingimento. Tendo ainda uma produção
pequena para os padrões do mercado convencional, a marca “Tudo Bom?” precisava tingir
pequenas quantidades de malha em diferentes cores. Cor é uma palavra chave para a marca
“Tudo Bom?”, pois reflete o espírito positivo, caloroso e alegre do povo brasileiro,
sentimentos que a marca busca transmitir ao consumidor Europeu. Portanto, uma coleção com
poucas opções de cores não estaria de acordo com o conceito da marca e nem com a demanda
na Europa.
Foi quando a Quatro Jotas apresentou à Onda Solidária a Tinturaria Aquarela em Juiz
de Fora, Minas Gerais. A malha produzida pela Quatro Jotas é enviada à Tinturaria Aquarela
e após o processo de tingimento retorna para a mesma. Esta tinturaria, também uma pequena
indústria, possui como fonte elétrica um antigo maquinário a vapor, localizado no próprio
espaço da tinturaria. O óleo aquecido esquenta a água gerando vapor em alta pressão para o
funcionamento da indústria. A água que alimenta esta pequena usina de produção de energia
elétrica tem a mesma origem da água que é utilizada para o tingimento. Todo o subsolo da
planta industrial é composto por uma enorme cisterna de água que alimenta os processos da
indústria. Nos últimos anos a tinturaria Aquarela investiu mais de 300.000,00 reais na
167
instalação do sistema de limpeza da água que é devolvida ao meio ambiente dentro das
normas técnicas exigidas pelos órgãos ambientais competentes e assim recebe um certificado
que aponta toda a análise dos compostos químicos presentes na água limpa e aprovada. Este
processo ocorre anualmente e deve ser acompanhado também pelo projeto da Onda Solidária
para garantir o princípio do respeito ao meio ambiente. Após uma visita dos representantes da
Fair Planet e da Onda Solidária foi possível negociar com a tinturaria uma produção de malha
tingida por cor menor do que o convencional. Para tal, no início do Projeto, era utilizada uma
máquina de tingimento de menor volume normalmente destinada apenas para a confecção de
amostras e não tingimentos constantes. Assim, foi possível diversificar a coleção tornando-a
mais atraente às lojas e aos desfiles e shows de moda ética na Europa.
Evidentemente, trabalhar em uma indústria como a têxtil que possui no processo de
cultivo do algodão e tingimento duas fontes de enorme possibilidade de agressão ao meio
ambiente, transforma sua adequação ao comércio justo um processo longo, complexo e
desafiador. O fato da tinturaria estar ajustada as normas ambientais para a salvaguarda do
ambiente externo é um pré-requisito no contexto do comércio justo. Entretanto, este ainda não
é o ponto ideal do projeto. Espera-se poder no futuro identificar formas efetivas de tingimento
natural que mantenham a qualidade das peças tingidas no tempo através da fixação dos
pigmentos, e que ao mesmo tempo respeite o meio ambiente através da utilização de cores e
pigmentos que façam parte do seu contexto natural. Pigmentos naturais já são largamente
utilizados na indústria alimentícia e algumas cores podem ser destinadas a produção têxtil.
Entretanto, o tingimento natural ainda não resolveu o problema da fixação dos pigmentos nas
fibras do algodão. Os fixadores existentes são prejudiciais ao meio ambiente e tóxicos. A sua
utilização em meio ao tingimento natural descaracterizaria a produção orgânica.
Ainda, nestas duas etapas da cadeia produtiva, estão surgindo novas possibilidades de
incorporação e diversificação de atores. A primeira vem da própria empresa paraguaia Arasy
que pode fornecer tecido e/ou malha de algodão orgânico tingidos diretamente para a sua
confecção nos grupos produtivos de costureiras em Petrópolis. Isto trás a Onda Solidária uma
maior diversificação de produtos através da possibilidade de desenvolver peças de tecido. A
malharia Quatro Jotas não possui teares para produção de tecidos, seu foco está na produção
de malha. Uma segunda possibilidade de diversificação dos atores da cadeia produtiva está
sendo realizada através de um teste, com o fio comprado no Paraguai, na malharia Fama
Têxtil e na Tinturaria Sintex em Goioerê. A malha resultante deste teste também será
168
direcionada para a produção de peças nos grupos de costura em Petrópolis. Neste caso a Fama
Têxtil estará responsável pela importação do fio de algodão orgânico certificado da
companhia paraguaia Arasy. Se o resultado for posit
169
via de acesso ao grupo de mulheres do bairro Cascatinha. Depois do Rio de Janeiro, foi a
segunda cidade a ter linha telefônica, foi construída com mão-de-obra livre e planejada na sua
distribuição e redes de acesso (Magalhães, 2006).
O Bairro do Cascatinha, nasceu em torno do desenvolvimento da primeira indústria
têxtil da cidade, a Companhia Têxtil Petropolitana. Era no início uma área em que as famílias
faziam passeios e os viajantes do “Caminho do Ouro” descansavam e se reabasteciam de
água. Foi em um passeio que o cubano Sr. Bernardo Caymari se encantou com o local e
desejou que aquela área acompanhasse o ritmo de modernização e crescimento da cidade. No
princípio pensou em explorar a terra para a agricultura, entretanto como a geografia não era
favorável, logo buscou uma outra atividade que pudesse se enquadrar no perfil da época e
levar desenvolvimento a região. Surgiria nos anos seguintes a primeira tecelagem de
Petrópolis. Em 1872 Dom Pedro II concedeu a Caymari a autorização para construir a fábrica.
Em 1875 a primeira parte já estava construída, empregando 150 pessoas. Caymari, seguindo a
característica da cidade, não empregou mão de obra escrava em sua fábrica, e através de
contatos na Europa, especialmente Itália, passou a receber imigrantes em busca de
oportunidades em solo brasileiro. Os italianos iriam compor, em 1900, 40% do quadro de
funcionários da fábrica. Assim, foi surgindo o bairro que hoje conhecemos como Cascatinha,
os imigrantes que chegavam eram estabelecidos em vilas no entorno da fabrica e não tardou a
chegada da estrada de ferro, acelerando ainda mais o povoamento da região e o transporte de
matéria prima e produtos acabados. Parte do Rio Piabanha foi doada a fábrica para que fosse
construída uma pequena hidroelétrica responsável pelo abastecimento da energia elétrica da
fábrica (Magalhães, 2006).
A fábrica era um bom investimento atraindo diferentes grupos interessados em
comprá-la. Sem recursos para continuar expandindo-a, Caymari percebeu uma boa
oportunidade de negócio e vendeu a fábrica para um grupo de portugueses em 1887. Seus
projetos para a fábrica foram seguidos pelos novos proprietários e logo a fábrica passou a
possuir 300 funcionários. Alguns fatos curiosos da época merecem ser destacados. Toda a
família de imigrante ao chegar na região devia trabalhar na fábrica, inclusive as crianças com
altura superior 1,20 metros. Em 1888 aconteceu na fábrica a primeira greve do setor têxtil na
América Latina por salários mais justos (Magalhães, 2006).
170
Entretanto, após a II Guerra Mundial a Petropolitana passa a entrar em processo de
decadência. Primeiro, devido ao restabelecimento lento do mercado internacional, a indústria
perde muitos clientes externos e ocorre uma queda considerável nas exportações. Segundo,
pelo desenvolvimento dos fios sintéticos, da malha e do jeans, a fábrica perde cada vez mais
espaço no mercado com seu tecido de puro algodão. A falência ocorre entre os anos de 1970 a
1975. Como resultado, alguns funcionários foram indenizados tomando a posse das casas em
que viviam e após 3 décadas o Cascatinha se constitui como um bairro de classe baixa com
espaços em processo de favelização. Mesmo sendo considerado desde 1981, pelo Instituto do
Patrimônio Histórico Nacional (IPHAN) patrimônio histórico do país a fábrica e
principalmente as antigas vilas dos funcionários vem sofrendo ao longo destes anos inúmeras
modificações (Magalhães, 2006).
Em uma destas vilas, logo atrás da fábrica, fica localizada a casa da costureira Maria
Aparecida Santos da Costa, ou simplesmente, Aparecida. Como as outras, foi modificada, e
em uma modesta casa com dois quartos, sala, cozinha e um banheiro, foi crescendo a família
Santos da Costa e o grupo de costureiras do Cascatinha, que hoje se denominam Espaço Tudo
Bom. Fugindo da violência da cidade do Rio de Janeiro e em busca de uma melhor qualidade
de vida, Aparecida e seu marido, encontraram no Cascatinha um bairro pacato com a
tranqüilidade, o ar puro e o clima ameno que precisavam para criar seus filhos. Atualmente,
três famílias vivem nesta antiga casa dos funcionários da Companhia Petropolitana. As filhas
de Aparecida, Érica e Hingryt, cresceram, casaram, tiveram filhos, e dois andares foram
acrescentados a casa. Em 2005 e 2006 o grupo produtivo funcionava na própria residência de
Aparecida. No primeiro andar mora Aparecida e Niltom, onde também instalava-se a facção,
no segundo andar mora Hingryt, seu marido Luciano e seus dois filhos, David e Diogo.
Dividindo parte do segundo andar e o terceiro fica Érica, com seu marido Robson e seu filho
Samuel.
O Espaço Tudo Bom ocupava um dos quartos do primeiro andar com sete máquinas
de costura, a dispensa onde as roupas eram passadas e organizadas, um puxadinho atrás da
cozinha onde ficava a mesa de corte e outras três máquinas utilizadas na facção das peças. A
sala de estar por diversas vezes se tornou a sala de reuniões e empacotamento. Os rolos de
malha ficavam estocados embaixo da escada, no cantinho da cozinha ou até embaixo da
mesinha do telefone. A mãe e as duas filhas se mantiveram unidas empregando no decorrer
dos anos cada vez mais costureiras. Quando o projeto começou em 2004 eram 8 mulheres,
171
trabalhando e se sustentando em meio a inconstância da oferta de trabalho em Petrópolis.
2007 foi o ano que o grupo produtivo se institucionalizou como micro empresa contando
agora com um total de 18 costureiras. Ainda, no fim de 2004, quando foram realizadas as
primeiras produções da marca “Tudo Bom?”, as costureiras eram remuneradas de acordo com
o salário mínimo pré-estabelecido pelo sindicato de costureiras de Petrópolis, que
representava algo em torno de 400,00 reais. Aparecida fazia questão, mesmo estando em
condição de informalidade, de garantir às suas 5 costureiras contratadas na época, a segurança
de um salário fixo. Existe uma forte rotatividade de costureiras na região, devido
principalmente as contratações temporárias realizadas pelas maiores indústrias nos períodos
de grande produção, como o período anterior ao natal. Mesmo tendo pedidos muito
inconstantes e alguns meses do ano quase sem produção era preciso garantir o pagamento das
costureiras e a sua permanência no grupo de produção. Aparecida muitas vezes deixou de se
remunerar, ou as suas filhas, para permanecer de portas abertas, com costureiras, a disposição
de pedidos que pudessem surgir até a volta da temporada de produção. Esta gangorra no
mercado levava estas mulheres a aceitarem toda e qualquer demanda que a elas se
apresentasse. Não contestavam preços ou prazos, era necessário sobreviver e aproveitar
qualquer oportunidade.
Com o desenvolvimento do projeto de comércio justo a realidade do grupo foi
lentamente sendo modificada. O primeiro passo foi definir o preço justo para o serviço de
costura das peças da marca “Tudo Bom?”. Até então quem definia o preço eram os clientes,
em um movimento de imposição de valores. O mercado em Petrópolis chegava a pagar pela
facção de uma camiseta 0,50 centavos. Na primeira produção realizada pela Onda Solidária o
grupo apontou como preço justo 1,00 real pela costura. Entretanto, após o pedido, o grupo
percebeu que ainda não sobrava dinheiro da produção. Ou seja, no final do mês, depois de
todas as contas pagas, a aposentadoria de Aparecida ainda era utilizada para pagar a conta de
luz e as três gerentes do grupo produtivo não recebiam um soldo por seu trabalho. Era
necessário calcular em detalhes o preço justo, porque agora a Onda Solidária queria saber
delas qual era o preço correto para garantir uma margem de lucro pagando todos os seus
custos e garantindo a qualidade de vida das mulheres. Não se tinha conhecimento dos custos
que formavam este preço, portanto foi necessário listá-los e então valorá-los. A linha, o
pagamento das costureiras, o pão e a manteiga do lanche, o papel higiênico, o serviço de
manutenção das máquinas, a luz elétrica e tantos outros custos, antes não contabilizados,
foram postos na ponta do lápis e chegou-se a conclusão que elas estavam pagando para
172
trabalhar para muitos dos seus clientes. O ponto de equilíbrio estaria em 1,10 reais por peça
básica costurada. O ápice da conscientização foi quando o grupo em 2005 negou um pedido
de casacos que não pagavam um valor acima do limite de perda que elas passaram a conhecer.
O preço justo para a camiseta básica “Tudo Bom?” ficou definido em 1,50 reais, este valor
hoje compõe um total de 2,50 reais pagos por camisetas, somando 1,00 de corte.
Muito também se investiu na melhoria da qualidade do serviço para o padrão exigido
pelo consumidor europeu. As peças piloto eram cuidadosamente medidas e seus padrões
enviados diretamente da França para a Onda Solidária, que junto ao grupo, fazia as traduções
ao português e acertava os detalhes para que as modelagens estivessem perfeitamente
padronizadas e as peças respeitassem, com um erro mínimo, as medidas exigidas pela
importadora Fair Planet. Esta padronização facilitou a distribuição das peças nas lojas
européias, levando a novos pedidos, que as lojas passaram a confiar no produto, na sua
consistência e qualidade. Por outro lado, a adaptação e a construção do processos de
padronização e confecções de peça piloto se tornaram momentos de grande dificuldade para o
atendimento das expectativas de ambas as partes. A falta de padronização das medidas
brasileiras levou o projeto a trabalhar desde cedo com a padronização da França, através da
reprodução de peças básicas francesas, masculinas e femininas. Entretanto, as peças se
tornavam cada vez mais complexas e era necessário pilotar produtos que poderiam ganhar
mais de 15 variáveis de medição por peça. Além destas variáveis de medição estarem se
tornando mais complexas tomando mais o tempo do grupo sobre a atividade de pilotagem e
modelagem, na compreensão e reprodução das peças, as mulheres ainda tinham a dificuldade
das medidas estarem dispostas em francês técnico, que muitas vezes geravam dúvidas que
percorriam dias de trabalho e geravam ações de tentativa e erro.
Esta complexidade atrelada ao fato da indústria têxtil sempre trabalhar com prazos
reduzidos, o que também era a realidade das demandas de peças piloto da importadora que
buscava se ajustar ao calendário internacional da moda, levava a um período de muito estresse
e tensão em torno das peças piloto e padronização de suas medidas. Em muitos casos as peças
eram enviadas e retornadas ao grupo de produção três vezes, sendo remedidas pela
importadora na França, e re-encaminhada com apontamentos de erros nas medidas ou mesmo
modificações das mesmas. Este processo começou a representar uma forte atividade intensiva
em gastos financeiros e de tempo, principalmente devido a necessidade de se trabalhar com
envios internacionais expressos. Para um grupo que reproduzia peças por comparação,
173
trabalhar de forma cartesiana com inúmeras variáveis de medidas e intensa em matemática,
sem peças piloto iniciais para comparação, tornava o processo muito trabalhoso, custoso e
estressante. As peças piloto atrasavam e por sua vez as coleções tinham seus lançamentos no
mercado retardados. Representando um prejuízo para todas as partes, nos dois primeiros anos
alguns modelos chegaram tão atrasados que a importadora não encontrou abertura no mercado
e teve que estocar para o ano seguinte. Este é o caso das regatas cor de rosa pinkque
tiveram finalmente em 2007 seu estoque finalizado, sendo recicladas e transformadas nas
primeiras bolsas “Tudo Bom?“.
Na busca por um sistema que funcionasse efetivamente e fosse mais barato, foi
definido que as peças piloto seriam produzidas na França. Uma estilista de origem argentina
foi incorporada a equipe da Fair Planet e passou a desenhar as peças e a reproduzi-las. Os
desenhos, as cores e as peças piloto eram aprovadas em reunião com toda a equipe da
importadora e então encaminhadas ao Brasil. Vale ressaltar que as cores eram em um
primeiro momento definidas em função da disponibilidade da cartela de cores da Malharia
Quatro Jotas e em seguida, com a formalização da parceria direta com a Tinturaria Aquarela,
passou-se também a trabalhar através do códigos internacionais Pantone da indústria têxtil. As
peças piloto eram enviadas ao Brasil, reproduzidas nos diferentes tamanhos pelo grupo e re-
encaminhadas à França para a aprovação. Este novo processo melhorou o processo,
principalmente no fator estresse para as costureiras. Entretanto, ainda é uma atividade cara,
pois além das remessas internacionais expressas ainda envolvia a atividade de pilotagem na
França que possui um custo muito superior a no Brasil. Outro problema agravado com esta
proposta de trabalho foi a falta de materiais e aviamentos no mercado de Petrópolis, e muitas
vezes brasileiro, compatíveis com os utilizados nas peças piloto vindas da França. Muitas
vezes as costureiras apelaram para a sua criatividade buscando substituições que tinham
dificuldade de ser aprovadas pela importadora.
Em 2007 uma nova proposta foi iniciada. Uma estilista francesa foi convidada para
desenhar a nova coleção Primavera-Verão 2008 “Tudo Bom?” no Brasil. Durante três meses a
estilista tem vivido no Rio de Janeiro e trabalhado alguns dias por semana com os grupos de
costureiras em Petrópolis. No próprio escritório da Onda Solidária a estilista conta com uma
máquina de costura e pode trabalhar os modelos com as matérias disponíveis em Petrópolis
mesmo. As peças piloto quando prontas são debatidas e reproduzidas diretamente nos grupos
resolvendo as questões que possam surgir no próprio momento e envolvendo muito menos
174
mulheres. Desta forma o foco da pilotagem saiu das mãos das costureiras, permitindo que
estas se concentrem na gestão da sua produção, cada vez mais complexa e intensa em pedidos
e recursos humanos, e na própria administração dos seus negócios. Entretanto, todo este
processo de adaptação e melhoria produtiva precisava ser conciliado com a implantação dos
princípios do comércio justo.
Outro ponto forte que se consolidou na relação de comércio justo foi o
estabelecimento de contratos anuais que garantem uma relação mais segura e de longo prazo
com os grupos de costura. Assim, como no caso do algodão a compra antecipada foi
contratada por escrito, as costureiras também têm parte da sua oferta de serviços contratada e
garantida todo ano com a Onda Solidária. Um dos aspectos mais interessantes do contrato é a
implementação de uma ferramenta de segurança, com o mesmo propósito do preço mínimo
para os produtos alimentares de comércio justo. É definida em valor monetário uma demanda
mínima mensal que será aplicada em um mês em que não haja um pedido, ou um pedido
inferior ao definido pela demanda mínima. A Onda Solidária se compromete a pagar ao grupo
produtivo um valor mínimo, este varia de contrato em contrato, de acordo com o número de
costureiras por grupo. Por exemplo, em um grupo de 10 costureiras o valor mínimo aplicado é
de 2.000,00 reais. O pagamento deste valor no mês fraco é descontado em um mês seguinte de
forte produção. Funciona como um adiantamento para garantir a estabilidade constante dos
grupos.
O micro crédito também é fonte de menção no contrato. A dificuldade de acesso a
crédito, devido principalmente aos altos juros bancários e a informalidade dos grupos
produtivos, levava os grupos a se endividarem através de agiotas locais. Em 2005 o primeiro
grupo, que futuramente se denominaria Espaço Tudo Bom, utilizava constantemente os
serviços de crédito de um agiota que cobrava mensalmente 20% de juros. Como a relação era
informal e o agiota conhecido no bairro, as costureiras julgavam a facilidade de acesso ao
crédito e de pagamento mais importante do que os juros cobrados. Entretanto, o esforço que
era feito para o pagamento dos juros consumia qualquer perspectiva de sobra financeira no
final do mês. Quando em 2006 foram incorporados novos grupos produtivos ao projeto, um
deles contava com uma vida superior a 10.000,00 reais a um agiota local, referente a um
empréstimo realizado para a compra de uma máquina de costura cujo valor de compra
representava menos de ¼ do valor total devido na ocasião. Ou seja, os juros haviam
ultrapassado significativamente o principal emprestado. A costureira em questão precisou
175
inclusive vender a própria máquina, razão do empréstimo, mas agora desvalorizada como
equipamento usado, para pagar parte de sua dívida.
Sensibilizados pela situação de descontrole financeiro dos grupos a ONG francesa
Resonances, primeira impulsionadora do Projeto Tudo Bom?” na França, concedeu a Onda
Solidária um montante que deveria ser utilizado para a aplicação de créditos para os grupos
produtivos, principalmente no que era relativo a compra de equipamentos de ponta. Neste
primeiro momento o Projeto não cobrava juros dos grupos de produção, já que não era uma
demanda da organização francesa financiadora do fundo de micro crédito. Sendo assim, as
costureiras definiam o valor mensal que poderiam pagar para abater o principal emprestado e
no final do período devolviam ao fundo o mesmo valor que haviam contratado. Com o passar
do tempo e o incremento de grupos de produção no Projeto a própria Fair Planet assumiu a
responsabilidade de aumentar o volume do fundo de micro crédito, agora assim com uma
cobrança mensal de juros correspondente aos juros da poupança na França. Primeiro, a
cobrança dos juros é importante para estabelecer uma relação profissional e não
assistencialista, fazendo com que as costureiras entendam o valor do dinheiro adiantado e o
seu custo. Segundo, porque a própria sustentabilidade da importadora na França exigia que o
dinheiro não ficasse parado na sua conta corrente e que estivesse constantemente investido em
renda fixa. Seria então uma troca entre o investimento do dinheiro na renda fixa francesa para
o incremento do fundo de micro crédito no Brasil.
Como contra partida, por parte dos grupos produtivos, o contrato menciona a
necessidade de se promover um aumento de pelo menos 10% da renda mensal das costureiras
no período de sua vigência. Para tal, os principais termos da transparência desejada na relação
entre Onda Solidária e o grupo produtivo compreendem questões como a informação do
rendimento mensal do grupo produtivo e seu reflexo no pagamento de cada uma das mulheres
envolvidas. Já, por parte da Onda Solidária é necessário informar sobre o preço de venda
praticado pela Fair Planet na Europa, explicitando cada um dos seus componentes de
formação, além de envolvê-las com as questões referentes a organização de toda a cadeia de
produção e de distribuição. Ainda, para apoiar no processo de elevação da renda das
costureiras e também estimular a melhoria do atendimento de questões estratégicas como
prazo de entrega e qualidade dos produtos, foram definidos em contrato três diferentes
prêmios.
176
O primeiro dos prêmios, o prêmio social, é prática comum no comércio justo como
apresentado no segundo capítulo. É revertido ao grupo pelo cliente através da venda de cada
peça, equivale aproximadamente a 6% do valor pago pela costura de uma camiseta básica, ou
seja, 0,10 centavos. Este foi direcionado, por decisão do próprio grupo, para investimento na
autonomia do INSS de cada costureira. O imposto de segurança social brasileiro é um imposto
obrigatório nas relações de contratações formais, a maioria das costureiras nunca havia tido a
experiência de ter acesso ao INSS, que por senso comum deveria alcançar todos os brasileiros
em atividade econômica. Entre outros benefícios, o INSS oferece um plano de aposentadoria,
auxílio financeiro em caso de ausência do trabalho devido a doenças ou até mesmo gravidez.
Este último foi o caso de uma das costureiras, Adriana, que durante o final da gravidez e a
amamentação do recém nascido, no seu quinto filho, pela primeira vez pôde se beneficiar
de uma remuneração mensal durante o período de afastamento das atividades laborais,
benefícios assegurados pela lei brasileira através do INSS.
O segundo prêmio instituído foi o prêmio de qualidade, onde o cliente, Fair Planet,
avalia trimestralmente a qualidade das peças, em diferentes quesitos, que inclui não a
qualidade da costura, mas também todo o processo de embalagem, empacotamento e prazo de
entrega. Este prêmio trimestral varia de 5% a 15% do rendimento mensal de cada mulher
dependendo da pontuação alcançada pelo grupo produtivo no período. Logo, de três em três
meses, cada mulher possui um acréscimo na sua renda mensal, de acordo com a qualidade do
trabalho do grupo. É interessante notar que este prêmio, assim como o prêmio social é
relacionado ao grupo. Enquanto no primeiro caso o investimento do prêmio é destinado a
aplicação em benefícios para o grupo como um todo, neste caso é o trabalho de todo o grupo,
ou seja, o resultado da interação da ação de cada mulher no produto final, que garante um
percentual mais alto ou mais baixo para o prêmio, podendo este percentual ser até mesmo
equivalente a zero.
Finalmente o último prêmio, com enorme dificuldade de implantação, é o prêmio de
produtividade, de responsabilidade do próprio grupo produtivo. A Onda Solidária, não se
envolve operacionalmente neste processo específico. Cada mulher possui uma meta diária de
produção a seguir, se superarem a meta, no final do mês, deveriam receber um prêmio
financeiro de acordo com seu desempenho produtivo e assiduidade. Ao contrário dos outros
prêmios, que são prêmios baseados na coletividade, este se baseava no indivíduo. Representa
uma tentativa de estimular e motivar as costureiras para que o grupo produtivo alcance um
177
nível de produtividade satisfatório. Entretanto, a sua aplicação exige que a produção aufira
lucros, não podendo ser aplicado em cenários de prejuízo financeiro. A razão que levou a
Onda Solidária a estimular a aplicação deste prêmio foi o fato de que, já no primeiro grupo
beneficiado pelo Projeto, percebia-se que a produtividade estava muito aquém da realizável de
acordo com a disponibilidade de maquinário. A produtividade inicial era baixa, não pela
falta de pedidos e ociosidade da estrutura produtiva, levando a prejuízos, e consequentemente
a incapacidade de realizar o prêmio, mas também por um certo clima de acomodação que
existia entre as costureiras, apontado por algumas delas mesmas nos momentos de pico de
produção. A remuneração fixa mínima por costureira praticada no primeiro grupo produtivo
não gerava estímulo as mulheres a produzirem e nem sentimento de pertencimento a um
mesmo negócio.
No final de 2005 decidiram, em uma reunião do grupo, modificar o sistema de
remuneração. Como, durante o ano, se tinha alcançado através da Onda Solidária e de
outros dois clientes, uma certa segurança de pedidos constantes, as mulheres se sentiram
seguras para incorporar uma remuneração por peças produzidas com sistema de metas. O
salário mínimo estipulado pelo sindicato das costureiras deixava de ser assegurado como uma
remuneração mínima, e as costureiras estavam estimuladas com a possibilidade de poderem
elas mesmas gerar sua própria renda. A produção diária por costureira praticamente dobrou
sem apresentar prejuízo a qualidade das peças. Era uma capacidade que estava ociosa,
esperando apenas por um estímulo. Entretanto, a Onda Solidária não gostava da proposta,
preferia que houvesse um equilíbrio entre fixo e variável, expressando seu descontentamento
frente a possibilidade de alguma costureira receber abaixo do piso. Mas as costureiras
estavam seguras que o processo por produtividade era mais motivador e recompensador, e que
naturalmente iriam receber mais que o piso, sendo assim desnecessário fixá-lo. Um dos
princípios norteadores das ações da Onda Solidária é o do respeito aos grupos através da não
intervenção, deixando que os grupos encontrem seus próprios caminhos e tomem suas
decisões estratégicas, podendo atuar apenas como um órgão consultivo caso seja de interesse
do grupo.
Este processo levou do final de 2004 ao início de 2006 a um acréscimo médio na
renda da costureira de 400,00 reais no início do Projeto a 500,00 reais hoje. Entretanto, foi em
fevereiro e março de 2006 que houve a primeira queda nos pedidos dos diferentes clientes e o
grupo de mulheres se viu sem trabalho. Mesmo sendo acionada a ferramenta de segurança,
178
através da demanda mínima, a falta gerada também pelos outros clientes levou a uma receita
mensal incapaz de garantir o mínimo, gerando o descontentamento geral e o medo das líderes
do grupo da sua desarticulação, levando o grupo a retomar em 2006 o processo de
remuneração fixa. Atualmente, o prêmio de produtividade vem tendo sua aplicação mantida
de forma inconstante pelos grupos, devido às mesmas dificuldades descritas acima vividas
pelo primeiro grupo na busca de uma metodologia interna de remuneração.
A proposta de adoção por escrito destas práticas através de contratos formais vem
sendo implementada lentamente. O primeiro grupo levou quase todo ano de 2005 para assinar
o primeiro contrato de trabalho com a Onda Solidária. Como os grupos informais de costura
não possuem a cultura de contratar ou celebrar por escrito suas relações com clientes, a
desconfiança e a falta de conhecimento das conseqüências de assinar um contrato fez com que
a implantação dos contratos com os grupos de costura fosse tardada e só ocorreu com o passar
do tempo devido ao desenvolvimento constante e prático das relações comerciais e pessoais
entre os atores. Como visto no segundo capítulo, o relacionamento de longo prazo, a
constância e o estabelecimento de ferramentas de segurança, o prêmio social, a facilitação no
acesso ao crédito e a transparência são práticas institucionalizadas nas relações ditas de
comércio justo.
Finalmente em 2007 o primeiro grupo, o Espaço Tudo Bom, se sentiu seguro
financeiramente para legalizar-se. A opção pela formalização como micro empresa veio da
cultura local das costureiras de alcançar sua segurança através da carteira assinada, raridade
na cidade que vive da exploração do trabalho informal. A principal demanda em Petrópolis é
a formalidade do trabalho de costureira através da carteira assinada. No grupo não seria
diferente. Quando surgiu a possibilidade da formalização do grupo as costureiras optaram pela
relação da carteira assinada e não pela constituição de uma cooperativa. Neste caso,
preferiram manter-se como funcionárias de uma empresa que como sócias de um mesmo
negócio. A busca por garantias trabalhistas falava mais alto do que expectativa ou vontade de
ter seu próprio negócio. Neste sentido, seguindo a organização que existia, Aparecida e
suas filhas tornaram-se sócias da micro empresa, contratando formalmente as costureiras,
agora com a garantia do 13º, férias e INSS. Por mais que o projeto de comércio justo
incentive a formação de cooperativas, a Onda Solidária não interfere nas decisões estratégicas
dos grupos, sempre respeitando a vontade coletiva dos grupos e o fato de que uma
179
interferência neste caso poderia até levar a desestruturação de uma organização que vem
funcionando para todos.
É claro que muitas mudanças ocorreram neste grupo desde o início do Projeto,
180
costureiras e destes três foram escolhidos com potencial para o comércio justo e para atender
com qualidade a demanda da marca.
O primeiro dos grupos era composto por apenas duas mulheres que trabalhavam em
uma espécie de pequeno porão, de um metro por dois metros e teto rebaixado, rodeadas por
malha, onde cabiam apenas duas máquinas. A surpresa foi saber que uma destas mulheres, a
dona do espaço, chamada Sueli, com uma história muito parecida com a da Aparecida, tinha
muita experiência com confecções e era exímia modelista, uma habilidade técnica muito
valorizada no setor. Vinha aceitando pedidos com preços de 0,50 centavos por peça e
acumulava com o agiota local uma dívida que não era capaz de pagar, se desfazendo de
maquinário. Assim que Sueli e sua ajudante foram incorporadas ao projeto em 2006, foi
realizado um primeiro investimento em micro crédito, ainda sem juros, para a melhoria dos
seus equipamentos. Os primeiros pedidos da marca “Tudo Bom?” foram sendo realizados
durante o ano de 2006 e a qualidade das peças e produtividade superaram qualquer
expectativa. As peças mais complexas foram sendo encaminhadas para Sueli que no final do
ano já propunha novos modelos e peças piloto para as próximas coleções da Tudo Bom?”. O
pequeno espaço não dava mais vazão para o crescimento de Sueli, que em 2007 alugou uma
casa com três modos na mesma comunidade, conhecida como 24 de Maio, e empregou 8
mulheres para trabalharem no maior pedido até então recebido pela “Tudo Bom?”, fruto de
uma demanda do catálogo francês de moda La Redoute. Vendo o desenvolvimento do
trabalho, o próprio marido de Sueli passou a apoiar a mulher no corte e na organização da
produção. O novo espaço, novos maquinários via micro crédito e ainda uma equipe
trabalhando constantemente resgatou a auto-estima, uniu a família, gerou emprego e fez jus a
capacidade técnica desta costureira. Espera-se para os próximos anos que o grupo possa
seguir o mesmo passo do Espaço Tudo Bom e se formalize.
O segundo grupo localizado na casa da costureira Sandra era o mais endividado. No
dia em que foi realizada a missão, Sandra se encontrava abarrotada de produção, entretanto a
surpresa foi tamanha quando se descobriu o preço que estava sendo pago por peça, 0,30
centavos. Sandra explicou que trabalhava em jornada dupla, às vezes entrando na madrugada,
para conseguir formar um valor fixo por mês que permitisse que ela pagasse as contas do
espaço e as duas costureiras que a acompanhava. Entretanto, as dívidas com agiotas não
conseguia pagar e foi deixando de lado até o montante total ultrapassar 10.000,00 reais.
Sandra também cresceu com o projeto, renegociou suas dívidas e comprou novo maquinário
181
através do micro crédito. Hoje trabalha com outras 6 mulheres em um espaço na sua própria
casa localizada no bairro do Alto Petrópolis. Atualmente o grupo vem se especializando no
corte das peças “Tudo Bom?”, entretanto outros grupos assinalaram uma necessidade de
melhor divisão desta atividade, já que é de interesse de todos, pois gera maior valor agregado
ao produto em menos tempo com menor esforço e intensidade de recursos humanos.
O terceiro grupo a ser incorporado ao Projeto é de todos o mais carente. O grupo fica
localizado em uma comunidade no bairro do Carangola, na casa da costureira Fátima. A casa
da família de Fátima possui apenas um cômodo onde parte dele fica sobre chão de terra
batida, sem piso. São aproximadamente 8 pessoas vivendo nesse mesmo cômodo, na sua
maioria crianças da família, um bebe ainda recém nascido e um senhor de idade que não pode
mais caminhar e fica restrito, junto com o recém nascido, a cama de casal. A casa tem as
paredes de madeira. Entretanto Fátima, junto com sua amiga e sócia Maria, construiu um
puxadinho de alvenaria com piso, de 4 metros por 2 metros, onde passam a maior parte do seu
tempo produzindo suas peças. Assim como os outros grupos, sempre prestaram serviço para
atravessadores, dos quais ainda não se desvincularam. É o grupo que o Projeto tem maior
dificuldade de trabalhar, tanto pela qualidade do serviço em comparação aos outros grupos,
quanto pela capacidade de produção e atendimento de prazos, que sempre ficam sujeitos aos
pedidos urgentes de um atravessador local. O grupo já se beneficiou do micro crédito e parece
estar aos poucos se fortalecendo, sem apresentar ainda grandes mudanças como os outros
grupos.
Um quinto grupo foi incorporado ao Projeto para a produção das peças “Tudo Bom?”
motivado pela demanda realizada pelo catálogo Francês de moda La Redoute no primeiro
semestre de 2007. Somente o pedido teste deste catálogo representou praticamente toda a
produção realizada pelo projeto em 2006. Este grupo formado por 5 mulheres ainda está em
processo de adaptação ao projeto. A costura, junto com a produção do algodão, é o foco do
projeto de comércio justo da Onda Solidária. Entretanto, no início do Projeto, se tentou
trabalhar o comércio justo também na perspectiva da estamparia, com seus funcionários. A
estamparia Mad Stamp foi responsável por apresentar o primeiro grupo de costura, Espaço
Tudo Bom, para a Onda Solidária, foi o contato inicial em Petrópolis. Nos primeiros meses de
projeto a Mad Stamp gerenciava a produção e vendia o produto pronto para a Onda Solidária
exportar. O corte e a estamparia eram realizados na própria estamparia, enquanto a costura era
direcionada ao grupo de costureiras de Aparecida. Sobre o preço final do produto era
182
incorporada uma margem de gestão da produção. Entretanto, este preço final era muito alto
para viabilizar o projeto e sua maior parte era destinada para uma empresa que não era o foco
do Projeto.
Localizada no bairro do Bingem, em Petrópolis, a Mad Stamp é uma pequena indústria
familiar com 10 funcionários, todos trabalhando artesanalmente no processo de estamparia. A
estamparia possuía uma organização de micro empresa institucionalizada e com relações
hierárquicas bem definidas dos seus donos com os funcionários e entre os próprios
empregados. A importadora Fair Planet indicava no início sua vontade de trabalhar também
na perspectiva do comércio justo com a estamparia, porém, esforços de incorporar os
princípios do comércio justo no primeiro ano levou apenas a uma ação, cestas básicas no final
do ano. Neste cenário, a Onda Solidária, juntamente com a Fair Planet, percebeu que esta
organização não tinha abertura suficiente para implementar um projeto de comércio justo e
que a única iniciativa que poderia ser realizada seria no que tange a responsabilidade social,
assim como é realizado com a malharia e a tinturaria. O Projeto possui como meta no longo
prazo apoiar a estamparia no processo de produção mais limpa, projeto desenvolvido pelo
SEBRAE, baseado na ecoeficiência, para garantir um melhor aproveitamento no uso de
183
A costura de uma única peça é realizada em diferentes máquinas e passa pela mão de
quase todas as costureiras do grupo até estarem embaladas. Pelo menos três máquinas de
costura são utilizadas no processo, colarete, overloque e reta. A etapa do acabamento refere-se
a limpeza das peças, controle de qualidade e a aplicação da etiqueta de papel reciclado
explicativa do projeto, também conhecida como “tag”. As peças estão prontas e uma nova
produção já começa a se organizar. Normalmente, as mulheres tendem a se especializar em
um ou dois processos aprimorando a qualidade e a produtividade de sua responsabilidade na
produção. Os preços das peças cobrados pelas costureiras à Onda Solidária são definidos em
função do tempo investido por cada mulher em cada um dos processos produtivos. Com base
no tempo médio estipula-se um valor fixo por cada processo que somados aos demais custos e
margem formam o preço final unitário. Entretanto, as mulheres ainda possuem dificuldade de
estabelecer os preços de forma matemática e tendem também a utilizar a técnica comparativa
da dificuldade, comparando os preços da peças tradicionais, conhecidas e seus níveis de
dificuldade com a dificuldade dos novos modelos que precisam ser precificados. Neste
sentido, a Fair Planet encaminhou no primeiro semestre de 2007 para a Onda Solidária um
voluntário especializado em formação de preços que vem trabalhando com as costureiras a
formatação de uma metodologia consistente de precificação, com foco no princípio do preço
justo, levando em consideração a qualidade de vida desejada pelas mulheres.
4.2 - Expedição
Todo o processo de embalagem e empacotamento foi desenvolvido entre a ONG, o
Espaço Tudo Bom e a importadora Fair Planet. Era necessário garantir um empacotamento
forte e seguro para que as caixas não se extraviassem até sua chegada a França, como havia
acontecido algumas vezes. No princípio, como a exportação era pequena, se trabalhava com o
Exporta Fácil, serviço da Companhia Brasileira de Correios no incentivo à pequena
exportação. A Onda Solidária aos poucos capacitou as mulheres para que pudessem por conta
própria realizar as exportações. Hyngrit, do Espaço Tudo Bom, se especializou no processo de
Embalagem
Empacota-
mento
Expedição
Transporte
Exportação
Grupos de
Costureiras
(8)
Ética
(10)
Onda Solidária
(9)
184
expedição, trabalhando desde a documentação necessária a exportação até o envio das caixas
via exporta fácil, na pequena agencia dos Correios no bairro do Cascatinha. Como na época se
tratava de um grupo informal, a exportação era realizada através da pessoa jurídica da Onda
Solidária, e o cambio efetivado junto ao sistema bancário tradicional. A Onda Solidária, por
sua vez, atuava não apenas como organizadora da produção, mas também como agente
comercial, mesmo não possuindo margem sobre a venda dos produtos, que a exportação
precisava ser efetivada formalmente.
Com o aumento da demanda, o sistema do Exporta Fácil se tornava excessivamente
caro, e a quantidade produzida justificava um movimento de exportação convencional.
Entretanto, dentro de uma perspectiva de comércio justo, sempre se busca ir além do
convencional. Ao mesmo tempo em que o Projeto da Onda Solidária ia se consolidando, era
constituída uma comercializadora de comércio justo no Brasil pela ONG internacional Visão
Mundial. A Ética, fruto de um projeto desenvolvido pela Visão Mundial e financiada pelo
BID, localizada em Recife, tem como associados a própria Visão Mundial e outros 3 grupos
de produtores que já exportam para o comércio justo na Holanda. Além de atender a demanda
dos seus produtores associados, a Ética passou a oferecer o serviço de trader para
exportação. Sendo assim, a partir de março de 2006, a exportação passou a ser realizada
através da Ética, que se responsabiliza por buscar a mercadoria na sede da Onda Solidária e a
entregar no escritório da Fair Planet em Saint Denis, próximo a Paris. Por esse processo cobra
os custos referentes a frete, documentação, despachante e um valor de 6% sobre o total da
exportação referente aos custos do serviço prestado. Desta forma dois projetos de comércio
justo se fortalecem mutuamente, viabilizando assim o crescimento da produção da marca
“Tudo Bom?”.
Atualmente, cada grupo organiza as peças nas caixas de papelão e a Onda Solidária as
recolhe em cada local, centralizando a expedição na sua sede. Quando as peças chegam a sede
a gerente de produção, juntamente com o ajudante e algumas costureiras voluntárias revisam
o conteúdo das caixas por amostragem. Entretanto, no caso do cliente exigir códigos de barra
nas peças, como vem sendo o caso do pedido da La Redoute, todas as caixas são revisadas e
em cada peça é adicionado o código de barras. Este processo vem gerando um emprego de
tempo maior do que o imaginado e novas formas de torná-lo mais eficiente estão sendo
testadas pelos atores envolvidos.
185
4.3 - Distribuição
A distribuição da marca Tudo Bom?” na Europa é realizada através da Fair Planet,
uma empresa comercial com fins lucrativos que apóia o Projeto tanto na comercialização,
agindo como agente comercial na Europa, como no financiamento da cadeia produtiva. Esta
compõe uma nova geração de empresas de comércio justo que desenvolvem cadeias
produtivas atreladas a marcas próprias, levando ao investimento na diferenciação do produto
pela marca. Desta forma a cadeia produtiva criada para produzir a marca “Tudo Bom?” se
torna um ativo da empresa, formando uma relação de exclusividade dentro do comércio justo.
Neste sentido, a Fair Planet vem encontrando dificuldades para atuar como agente comercial
186
recursos encontrou a disponibilidade e o desejo de Vincent Fauvet em investir na iniciativa.
Logo, a empresa foi formada por três sócios. O primeiro, a própria Resonances, que entrou
com a marca e com uma participação de 5% do capital inicial da empresa. O segundo, Jerome
Schatzman, que integralizou 47,5% do capital social da Fair Planet, e finalmente, o terceiro,
Vincent Fauvet, que integralizou os 47,5% restantes. Jerome Schatzman assumiu a posição de
sócio administrador atuando desde então na direção gerencial da empresa e dispensando nos
primeiros dois anos sua remuneração. Este integralizou 14.250,00 euros no capital inicial da
empresa. Por outro lado, Vincent Fauvet caracterizou-se como sócio capitalista, não atuando
diretamente nas operações da Fair Planet, integralizando ao capital a mesma quantia de
14.250,00 euros. De um capital social inicial de 30.000,00 euros, os faltantes 1.500,00 euros
foram referentes a integralização do capital por parte da Resonances que assumiu 5% da
sociedade.
Entretanto, este valor inicial não era suficiente para garantir o desenvolvimento da
cadeia produtiva, incluindo a produção do algodão orgânico e justo. Via-se a necessidade
de aumentar significativamente o capital da empresa. Vincent Fauvet foi acionado e retirou
um empréstimo de 30.000,00 euros, dobrando o capital da Fair Planet e permitindo financiar a
criação formal da cadeia produtiva, as primeiras produções e a primeira comunicação,
investindo na construção do site e do catálogo de produtos “Tudo Bom?”. A proposta inicial
era validar os testes realizados em 2004 através da Resonances no mercado real, apresentando
a marca a lojas brasileiras, multimarcas e as lojas especializadas em comércio justo. Estas
últimas foram as que apresentaram maior aceitação ao produto e se estabeleceram como
principal canal de distribuição da “Tudo Bom?”.
Neste princípio, em 2005, o esforço foi de apresentar a coleção de loja em loja,
fazendo um trabalho de porta-a-porta. O grande diferencial percebido pelos clientes foi a
brasilidade que o produto transmitia através de cores fortes e alegres. A Fair Planet encerrou o
ano com um total de 40 lojas comercializando “Tudo Bom?” e um faturamento aproximado
de 100.000,00 euros. É importante salientar que neste período surgiu uma proposta
complementar de distribuição que foram as camisetas produzidas sobre demandas de atacado
de outras empresas, especialmente demandadas por empresas francesas de comércio justo ou
de conhecidos dos próprios sócios da Fair Planet. Este novo produto comercial ficou
conhecido como “Ethishirt”, a camiseta ética, e foi responsável por um faturamento de
28.000,00 euros em 2005, dentro dos 100.000,00 totais. Alcançar a marca dos 100.000,00
187
euros era a meta estipulada pelos sócios da importadora e distribuidora para garantir a
viabilidade financeira do projeto e a sua continuidade para 2006.
Em 2006 seguiram seu plano de negócios, mas optaram por modificar sua estratégia
comercial que precisava ser mais agressiva. A estratégia de buscar loja por loja se mostrava
lenta e com pouca efetividade em matéria de esforço e resposta. 2006 foi então o ano do
investimento em comunicação, através da relação com imprensa, participação em eventos,
desfiles organizados e newsletters”. Outra linha de investimento importante em 2006 foi o
desenvolvimento do estilo das peças, diversificando os modelos e adequando a marca mais a
um mercado de moda diferenciado. Investindo nos produtos e em meios de comunicação na
mídia a Fair Planet esperava inverter a posição de estar buscando clientes para ter estes
batendo a sua porta, despertando assim o interesse das lojas pelo valor que o produto e a
marca vinham apresentando no mercado. Ao invés do projeto de comércio justo ser o apelo de
venda, o produto passou a ser o foco das atenções, o grande motivador das vendas, enquanto a
história por trás de cada peça se tornou apenas um diferencial, e não mais o motivo de
compra. Como ratificou Jerome Schatzman, a Fair Planet aprendeu que um bom produto não
precisa de insistência para ser vendido, o cliente deve ser seduzido e não viver a experiência
de uma venda empurrada, como vinham fazendo com as lojas no primeiro ano.
A empresa então buscou não ligar mais para as lojas e sim a expor os produtos nas
boas vitrines. Para tal, passaram a participar de feiras de moda como a Prêt-à-Porter, Bruxelas
Fashion Fair, Equitexpo, Ethical Fashion Show, Kids Fashion, entre outras. Neste mesmo
período a Fair Planet contratou uma funcionária que seria responsável pela relação com a
imprensa e comunicação. Com esta estratégia a empresa fechou o ano com 80 lojas
comercializando a marca “Tudo Bom?”. Em 2006 também iniciaram as vendas via Internet
127
,
visando alcançar os clientes em cidades onde não possuíam lojas e também para testar novos
produtos, como por exemplo, as bolsas de malha reciclada de peças “Tudo Bom?” em
parceria com a empresa francesa “Matières à Réflexion”
128
. Esta utiliza peças de roupas
antigas para criar bolsas, como as regatas “Tudo Bom?” que não tiveram boa saída e estavam
em estoque desde 2005. Com o desafio de alcançar um faturamento de 200.000,00 euros, a
empresa chegou muito próxima da meta, 189.000,00 euros, dos quais 50.000 euros foram
correspondentes às vendas das “Ethishirts”. É importante ainda colocar que neste mesmo ano
127
www.tudobom-shop.com
128
www.matieresareflexion.com
188
a Fair Planet abriu a possibilidade da incorporação de novos sócios à empresa, visando se
capitalizar para financiar a compra do algodão da Coagel, que deveria ser paga via
adiantamento. Pessoas físicas se associaram a Fair Planet, aumentando a Assembléia Geral da
organização. Até mesmo funcionários da própria empresa se interessaram em se associar,
como o caso do coordenador de produção e relacionamento com a cadeia produtiva, Thomas
Favennet.
A estratégia comercial criada em 2006 se mantém em 2007, entretanto, uma nova
variável é incorporada ao Projeto, a presença de compradores da grande distribuição. Em
ocasião do Ethical Fashion Show de Paris em 2006, a marca “Tudo Bom?” conquistou o
prêmio La Redoute, que garantia ao vencedor uma página no catálogo da empresa. A La
Redoute é a principal empresa francesa de venda de moda por catálogo, são 3 milhões de
catálogos distribuídos à lojas em toda a França por coleção, ou seja, primavera-verão e
outono-inverno. Jerome Schatzman atribui a vitória do prêmio ao fato do Projeto da marca
“Tudo Bom?” representar uma cadeia produtiva completa, além do design diferenciado do
produto. Ele coloca que a intenção futura da La Redoute é produzir sua própria marca de
comércio justo e que este prêmio é um caminho para que a mesma teste alternativas de
cadeias produtivas de comércio justo consolidadas que podem vir a atuar como
fornecedores da marca da empresa. A grande distribuição na moda vive um processo de
integração vertical, onde estas empresas de distribuição passam a controlar e incorporar as
cadeias produtivas em suas atividades, criando suas próprias marcas.
Segundo a Fair Planet, a distribuição na Europa está cada vez menos nas multimarcas.
A tendência é que as grandes empresas criem marcas próprias, diminuindo o espaço no
mercado para marcas que não controlem o varejo. No que diz respeito ao nicho de mercado de
produtos éticos e ecológicos, estas empresas da grande distribuição procuram especialistas
destas áreas para garantir sua fatia nestes nichos. Está neste ponto a entrada da Fair Planet
como fornecedora de produtos de comércio justo para a La Redoute. Assim, como outros
exemplos, na Inglaterra a rede de supermercados Tesco e o Carrefour na França, lançaram
suas próprias marcas de produtos alimentares de comércio justo, demonstrando que a
integração vertical, aproveitando nichos de mercado, é uma tendência na grande distribuição
em geral e não apenas da moda. Logo, a Fair Planet está se interessando por atuar em parceria
com redes de grande distribuição que estejam dispostas a aplicar na prática, comercialmente,
os princípios do comércio justo. Somente com um ganho de escala significativo poderá
189
garantir a auto-sustentabilidade do Projeto e principalmente a consolidação da produção do
algodão orgânico e justo, que a pequena escala atual ainda é financeiramente inviável nos
processos de fabricação da matéria prima e envolve poucos produtores de algodão, e no caso
190
Se a relação em 2008 crescer, a tendência do faturamento é dobrar, o que significa também
um crescimento significativo do número de produtores de algodão e costureiras envolvidas no
projeto.
O gráfico abaixo resume o crescimento econômico das vendas da Fair Planet
apontando as principais estratégias de inserção no mercado de acordo com cada ano:
Sobre 2007 vale ainda ratificar que o fator condicional para o sucesso da marca no
mercado, a sustentabilidade relacionada a matéria prima, é finalmente resolvido. Desde 2005
o projeto vem realizando experiências neste sentido, entretanto, apenas em 2007 que toda a
produção pode ser realizada com o algodão justo e em conversão para o orgânico fruto da
cadeia produtiva construída no Projeto. Logo, foi somente neste ano que o diferencial da
matéria prima pode ser explorado com segurança pela marca “Tudo Bom?”. O próprio pedido
da La Redoute já foi condicionado a este pré-requisito.
4.4 - Formação do Preço de Comercialização
Abaixo é apresentada a formação de preço de uma camiseta básica da marca “Tudo
Bom?”. Na última reunião de formação do conselho das costureiras, uma das costureiras
perguntou sobre a abertura dos custos nos preços de venda e qual era o valor da camiseta
Faturamento Fair Planet - Europa
420000
72000
139000
80000
28.000
50000
0
100000
200000
300000
400000
500000
2005 2006 2007
Ano
Euros
Tudo Bom? Ethishirt
Porta-a-Porta
Comunicação e
Eventos de
Moda
Grande
Distribuição
191
comercializada na França. Como resultado a formação do preço representada abaixo foi
apresentada:
Euros
%
Fio 1,30 5%
+
Tecelagem 0,10 0%
+
Tinturaria 0,37 2%
=
Matéria Prima 1,77 7%
+
Corte/Costura 0,93 4%
+
Estamparia 0,37 2%
+
Embalagem 0,19 1%
+
Gestão Onda Solidária 0,75 3%
=
Custo Camiseta no Brasil* 4,00 17%
+
Custos de Importação** 2,50 10%
=
Custo Camiseta na França 6,50 27%
+
Margem Fair Planet*** 3,50 15%
=
Valor Venda Fair Planet 10,00 42%
+
Margem Loja 10,00 42%
=
Valor Venda Loja 20,00 83%
+
Imposto de Venda TVA 4,00 17%
=
Valor Pago Consumidor 24,00 100%
* - Custo Camiseta no Brasil é formado pelo somatório dos custos de matéria prima, corte,
costura, estamparia, embalagem e gestão da Onda Solidária. Este último inclui despesas gerais
da mesma no gerenciamento da produção, aluguel, infra-estrutura, logística, salários, entre
outros. É fruto de um contrato de prestação de serviço de consultoria na gestão da produção
com a Fair Planet e não uma margem da Onda Solidária sobre o preço de venda do produto.
** - Os custos e importação compreendem taxas de importação, frete e serviço de exportação
- "trader" (Ética). O custo da “trader” equivale a 6% do valor do custo da camiseta no Brasil.
*** - A margem da Fair Planet é direcionada para a sustentabilidade da empresa sendo este
valor investido em infra-estrutura, salários, marketing, ações comerciais e custos financeiros.
Em pergunta realizada pelo responsável da Fair Planet pelo relacionamento com os
produtores, Thomas Favennec, em viagem ao Brasil, sobre a diferença da margem da Fair
Planet, 3,5 euros, próximo a 10 reais, para o valor pago pelo corte e costura, próximo de 1
euro ou 2,5 reais, as costureiras colocaram que imaginam que seja justo devido ao maior custo
de vida na Europa e aos diferentes custos que a estrutura da Fair Planet tem para viabilizar a
192
comercialização. As costureiras, entretanto, contestaram a margem das lojas. Sobre este
aspecto Thomas Favennec explicou que normalmente as margens das lojas tendem a ser ainda
maiores, os custos de manutenção de um espaço comercial e funcionários na França são
extremamente elevados. Mesmo com sua margem, a Fair Planet ainda conta com um déficit
de 30.000,00 euros referente aos investimentos realizados no Projeto. A empresa espera
alcançar o ponto de equilíbrio do Projeto em 2009.
4.5 - Fluxo Financeiro
O fluxo financeiro vem sofrendo aperfeiçoamentos desde o início do Projeto em 2004.
Primeiro, é preciso ratificar que aqui está se abordando o fluxo financeiro referente a
produção. Existe uma segunda relação financeira entre a Fair Planet e a Onda Solidária que se
refere ao pagamento da consultoria de gerenciamento da produção da marca “Tudo Bom?”.
Durante todo o ano de 2005, para viabilizar a pequena produção, respeitando os princípios do
comércio justo no pagamento à vista do serviço desempenhado pelas costureiras, a Fair Planet
adiantava mensalmente um montante de recurso aproximado ao que se previa gastar no mês
com a produção. O sistema era baseado em previsões. Entretanto, este processo prejudicava
consideravelmente a contabilidade de ambas as partes que os valores das notas de
exportação não condiziam com os valores adiantados recebidos no cambio, por mais que estes
fossem aproximados.
Com o aumento da produção em 2006 e do número de beneficiados, além do
adiantamento também para a compra do algodão orgânico na Coagel, foi necessário rever o
Capital de
Giro
Pagamento
Costureiras (2)
Pagamento
Algodão (1)
Pagamento
Estamparia (3)
Outras
Despesas
Produção (4)
Pagamentos
adiantados
e/ou à vista.
Outras Despesas
Produção (5)
Pagamento
Malharia e
Tinturaria (6)
Recebimento
Exportação
Ética
Pagamentos e
recebimentos
à prazo.
193
sistema de pagamentos. Estabeleceu-se então, entre a Fair Planet e a Onda Solidária, um
contrato de capital de giro que foi incorporado ao Projeto em abril de 2006. Este capital de
giro viabiliza o pagamento do fio à Coagel, o serviço dos grupos de costureiras e o processo
da estamparia, além de outros custos menores. A Onda Solidária emite uma nota fiscal de
venda da mercadoria a Ética e esta se encarrega da exportação e de produzir os documentos
referentes à mesma, inclusive a “invoice” de exportação que seo documento utilizado pela
Fair Planet na sua contabilidade. A Fair Planet executa o pagamento à Ética de acordo com o
valor da nota de exportação expedida pela mesma e que por sua vez, ao receber o pagamento,
a Ética subtrai seus custos e serviço e paga a Onda Solidária o valor exato da nota fiscal
encaminhada junto com a mercadoria. Este pagamento restabelece o capital de giro que é
utilizado para pagar as despesas a prazo e as novas despesas das seguintes produções.
Entretanto, o capital de giro existente não vem se mostrando suficiente para financiar a
compra do algodão dos contratos com a Coagel. Logo, está se tornando necessário o
estabelecimento de contratos entre a Onda Solidária e a Fair Planet referente ao adiantamento
de recursos para a compra de algodão, que o pagamento à Coagel também é realizado
durante a própria produção do algodão. A realização do cambio nestes termos, voltado para o
financiamento de uma matéria prima que não tem prazo exato para ser exportada é dificultada
e burocratizada pelo cambio bancário. Atrelado a dificuldade de rastreamento por parte da
instituição bancária e a burocracia, existe também um fator emocional extremamente
relevante. Ações comerciais associadas a ONGs são mal interpretadas tanto pelos agentes
comerciais, os bancos, como pela sociedade em geral. As ONGs no Brasil viraram sinônimo
de ferramentas de corrupção, vis à vis os constantes escândalos ligados a políticos e empresas
privadas que fazem o mal uso das ONGs. Todas estas dificuldades vêm provocando em
muitos casos atrasos no pagamento dos produtores de algodão, dentro dos prazos de
adiantamento estipulados em contrato. do ponto de vista da Onda Solidária, atuar
comercialmente como ONG vem se mostrando uma desvantagem. Não pelas questões
apontadas acima, mas também pela incapacidade que a mesma tem de recuperar o ICMS da
compra do fio algodão, imposto sobre circulação de mercadoria. Com o aumento da demanda
do algodão, a não recuperação de parte deste imposto vem gerando a Onda Solidária um
desperdício considerável de recurso financeiro. Nos últimos meses vem se discutindo
internamente, e com a Fair Planet, a constituição de uma empresa privada comercializadora
nos moldes do comércio justo, que possa atuar de forma mais eficiente e não seja alvo dos
194
preconceitos que atrasam os pagamentos e colocam em dúvida a intenção social do Projeto,
como o exemplo da “trader” e comercializadora de comércio justo Ética sediada no Recife.
4.6 - Certificação
No campo da certificação o projeto considera fundamental institucionalizar a cadeia
produtiva como um todo no âmbito do comércio justo e da responsabilidade social. Existe um
processo ainda em avaliação por parte da Onda Solidária e da Fair Planet de certificação de
toda a cadeia produtiva têxtil através da organização francesa Ecocert
129
que possui escritório
no Brasil. Esta organização está se especializando neste tipo de certificação para o comércio
justo. Entretanto, ainda não possui a mesma legitimidade que a certificação da FLO ou que a
marca FTO da IFAT têm no contexto internacional do comércio justo. A FLO certifica
somente a produção do algodão, o restante da cadeia têxtil ainda não possui programa de
certificação. No caso da IFAT, formaliza-se a Onda Solidária como uma OCJ - Organização
de Comércio Justo, em inglês FTO Fair Trade Organization, e não a cadeia produtiva têxtil
e seus outros atores.
A FLO desenvolveu a certificação do algodão justo na África e em países do sul da
Ásia, e agora realiza estudos para efetivar o mesmo processo no Brasil. foram realizadas
visitas de avaliação levando a instituição da Coopercoagel, cooperativa formada pelos
pequenos produtores de algodão associados à Coagel. Em última correspondência recebida
em 18 de junho de 2007ge--0.295585(p54596(p)-0.295585(l)-2.16515(7g)9.71032(e--0.2295585( )-170.247(r)2.80439.295585(s)-1.2312(i)-2.16436(d40.288(i)-2.16436(n)-0.295585(16515(7g)3.294974( )-10.219(d)-0.295583(à)3.74( )-150.235(C)-3.39556(o5)2.80439(o)--6.2659(g)9.71032(e)3.74(l)-2.164.295583(v5585(p)250]T.74(n)]TJ267.518 a)3.74(i)-2.16436(n)-0.295585(d)-0.5(7g)3.29436(n)-0.295585(d)-0.5(7g)3.(r)2.80439(e40026(r)-7.20151(a)3585(d)-0.5(7g)3.29436(n)-0.295585(d)-0.5(.))-2507442( )-110.213(F)5.-8.43342-1.2312( )-C5585( )-0.14-10.3015(c)3.74(e)-6312(u)-0.29315(7g)3.e.71276(r)2.80439(a)-29315(7g)3.B)3.74( )-150.235(i)-2.16436(oi)-2.16436(oi)-2.95585(n)-0.2993142(s)-1250]T )250]TJ-27A.532 -20.54596(p)-0.8.118 -2095586(o)6.2659(v)-0.294363(ah9436(n)-0.295585(di)-2.16558(a)3.3342(a3(a)3.74( )-100.207(-1.2312(e)-6.26.236(a)3.74122(l)-a)3.74(l)-2294974( )-10.219(d)-03342(a3(71032(e--0.295585(p545.236(a)3o95585(0)-10.303342(a3(001.33( )-16436(o)-0.293142(n)-0.295585(a)3.74(l)-2(r)2.80439(e)3.74(s)-1.2312(.303342(a11.22997( )-340.349(d)-0.342(a11146571( )-(e)3.74(m)7.54596(pl)-2.16436(-0.14.805(i)-2.16558(c)-6.2õ57442( )-100.207(d)-10.o)-0.293342(a11.22997( )-340.349(d)-0.342(a11C5585(o)536(85585( )]TJ264.(c)-6.2659(e)3.74(r)2.80439(t)-2.16436(i)-2.16436(f)2.80439(i)-2.16436(c)-6.2659(a)3.74(ç)-6.2659(ã)3.3342(a11.22997( )-340.349(d)-0.142(a)3.80439( )-0.206(p)-0.295585(r)2.80561(o)-0.295585(d)-0.295585(ut)-2.16436(i)-2.295585( )-170.244(d)-10.299(a)e)3.74(l)-2.1643142(a)3M10.25243)-2.16436(z)(F)15.6806(k80439(o)--616436(c)3.74243(a)-6.536(85 )250]TJ-26H.532 -20.0.1714(C)-3.0.349(d.54596( 09(k80439093.16436(d40.288(i)-2.i)-2.16558(a)3.63(o)-0.80439(n)-0.29500.206(j)-2.1643.16558(e)3.74( )-340.349(a)3.74(v)3.63(o)-0.80439(n )0.295585(39556(o5)2.22997( )-150.236(p)-0.29442( )-112.1715(e)-6.2659(v95585(u)-0.295585(ç)3.74(ã)3.295585(95585( )-0.147792(d)-0.29552(a)3.74(n)-0.295585(d)-0.)-0.29500.20.1584(c)3.74(o)-a)3.74(m)-2.45995(e)3.74(n)-0.29-2.16436(c)3.74(a)-6.2659(ç)3.74(ã)3.6436(e)3a)3.74(m)-2.45i)-2.295585( )-120.219(c)3.74(a)i5585(p)-026.2659(m)])-0.294363(ah9436(n)-0.295585(d294974( )-10.219(d)-0.29552(a71032(e--0.295585(p545.236(0310.219(d)-0.29552(aà)3.74( )-150.235(C)-3.39556(o5)2.80439(a)-6.556(o5)2.2312(u)-0.293149552(a71032(e--0.20.207(p)-0.295585(a5585(t)-2.1649552(a)3.74(v)3.63(o)8r)2.805(o)-5585(8a)3.73756( )-(e)3.74(r)2.80439(t)-2.16436(i)-2.16436(f)2.80439(i)-2.16436(c)3.74244(a)3.74244(ç)-6.2244(ã)-6.26346(o)-)-026.2 )250]TJ-267.518 -20.76 Td[(e)310.213(a))-6.2659(ç)3C)-3.39556(o)-0.294974(m)-2.45995(é)3.74(r)2.80561(c)3(ç)3.74(ã)3.74(o)-0.e)3.74( )-130.225(j)-2.22997(u)-0.295585(s)-1.22997(t)-2. -0.295585(a).74(v)3..295585(-1.2312(e)-6.2659(d554 0 T.74( )-100.207(c)3.74( )-(r)2.80561(c)3(ç)3.74(ã16436(o)-0.293142(n )-340.349(a)3.74(v)3.5585(r)2.22997(t)-2. -0.29o)-0.a)3.74( )-160.242p)-0.295585(r)2.80805(o)-95585(c)-6.2659(e)3.74(s)-1.2312(s)-1.23.29o)-0.a)3.74( )-164 Td[(m)7.54585(e)3.74(r)-5585(a)-6.2659d)-0.29.295585(e)1.23719.95.2659(ç)] )-350.353(c)3.74(o)-0.260.242p)-0294974( )-130.225(16436(o)-0.293142(n)3.74(n)-0.295585(d)-0.)-0.295585(a)3.74(r)659(t)-2.16436( )-90.1997(d)-02659(m)7e)3.74( )-90.1997(c)3.74(e).236(031.80439(t)-2.16436(i)-2.16436(f)2.80439(i)6558(i)-2.16558(a)3.74(ç)3.74(ã)3.659(t)-2.16.74( )-164 Td4(i)-2.16295585(a)3142( )-110.213(F)5.-8.43271ã)3.659(t)-2m)-2.45i)-2..74244(ã)-6.26346(o)-19.95.2 )250]TJ-26294974( )-70.1891(B)-3.39556(r)2.805(a)3.74(s)-1.22997(i)-22931342480.4 Tm[( )-40.1702(q)-0.295585(u)-0.342480.e)3.74( )-100.206(e)-6..342480.295585( )-20.1596(u)-10..342480..22997( )-150.T.74( )-1e)3.74( )-z58(a)3.74(ç)3.74(ã)3.444248820.1596(u)-100.206t)-2.16436(.16436(t)-2.16436(i)-.74(ç)3.74(ã)3.43424(r)-7.20151(a)3.74(d)-0.2943424(e)3.74( 74(ã)3.4442486(c)3.74(o)-a)16436(s)-1.2312(e)00.207(d)-10.o)-0.2943424(r)-7.20151(a0.207(p)-0.295585i3.74(n)-0.29-2.16436.2943424(295585( )-240.289(c)3.74(o)-0.29546(o3153686T.74(n)]TJ267.518 a)3.74(i)-2..16436(t)-2.16436(u)-0.0 Td[(i)-2.16436(d)-0.295585(a)3-2.16436.2943424(a5585(u)-0.3424(a)3.74( )-50.1761(c)-6.2659(e)3.74(r)2.80439(t)-2.16436(i)-2.16436(f)2.80439(i)-2.16436(z)3.74244(a)-6.4244(ç)-6.22.45i)-2..2943424(r)-4244(a)3.16436(c)3.74243(a)-3153686T )250]TJ-26e)3.74( )-40.1714(C)-3.0.1714(C)-3.3.041 -20.64 Td[(p0.1891(B 0 Td[(r)2.80439(c)3.74(o)-0.295585(a)-6.2659(g)9.715)-2.16.295585( -0.295585001.33( )-95585(o)-0.295585(s)-1a)3.74(s)-140.1714(e)-6.2.295585e)3.74( )-50.1761(q)-0.295585( )-6.2.295585f.236(p)-0.295585(r)2.0.T.74( )-16.2.295585 )-50.1773(a)3.74(i)-2.16436(n)-0.295585(s)-1.2312(t)-2.16436(i)-2.16436(t)-2.16436(u)-0.295585(c)3.74(i)-2.16436(o)-0.295585(n)-0.295585(a)3.74(l)-2.16436(i)-2.16295187( )-340.347(d)-0.292.16436(0.347(d)-0.292.16436(.80439(e)-6.1.2371(m)7.5484(o)](c)-6.2659(e)3.74(r)2.80439(t)-2.16436(i)-2.1.236(031.80439(i)6558(i))-6.2659(a)3.74(ç)-6.2659(ã)3.2.16436(170.247(r)2.80439(e)3.74(r)2.80439(t)-2.16436(a)3.74(í)-2.16436(s)(c)-6.2659á80439(t)-2.16436(295585( )-20.1596(u)-10.2.16436(a)3.74( )-164 Td[(c)-6.2659(e)3.74(s)-1.2312(s)-1.232.16436(.16436(t)-2.16436(a)-p)-2.45i)-2..74244(ã)-(c)-6.2659(e)3.74(r)27.20151(g)9.71276(a)3.)3.74(n)-0.295585( )-50.1761(a)-6..2312( )250]TJ-253.041 -20.64aTd[(p0.1891(B2.16436(m)7.54590.80439(n )0.5(.)0.54596(p)-0.8.1761(l)-2.16436(e)-6.26595)-1.22997(i)-2.26.236(a)3.16436(i)-2.16436i))-6.2659(a)3.74(ç)-6.2659(ã)3..5(.)0.295585( )-100.206(d)-0.29558.54590.P294.33110.295585(8a00.206(d)-0.2j4596(p)-0.8.)3.74295585(s)-1.22997(t)-2. -0.5(.)0.0 Td[( )-100.206(n)-0.5(.))-20 Td[( )-1295585( )-260.242p)-0.295585(r)2.71032(e--0.20.207(p95585(n)-0.295.5(.))-2295585( )-100.206(n)-0.29558436(a)340.1714(e)-0.206(n)-0.2.16436(i)-2..16436(t)-2.16436(i)-30.225(16.1997(e)801/R13 12 Tf102439(c)3.74(i)-2.164.5(.))-2295585( )-240.288(i)-2.16436(n)-0.295585(t)-2.16436(e).74( )-164 Td[16436(u)-0.295585(c)3.74(i)-2.16436(o)-0.295585(n)-03.74(r)29558436(a)3295585( )-100.206(d)-0.295585(.))-2)3.74( )-0.146571(c)3.74(o)-10.3015(m)7.54596(é)3.74(r)-7.209290.1997(d)-0.295585(.))-2295585( )-100.206(l)-2.16436(o)-012.1703(e)3.74244(t)-2.95585(.))-2160.241(d)-10.299(e)3(e)801 )250]TJ-273.041 -20.64aTd[(p0.1891(B2.16436(m)85(o)-0.0.1714(C)-3.(m)85(o)-0..22997( )-150.236(p)-0ó295585(r)2.71032(e--0.20.236(p)-0(r)2.80561(c)3(ç)3.74(ã)3.85(o)-0.c.16436(s)(c)-6.o)-0.295585(r)2.80561((e)3.74(r)2.80484(c)3.74(o)-a)3.74(m)-2.16436(e)3.74(x)-10.3015(t)-2.16485(o)-0.16558(o)-0.295585(d)-0.295585(o)-0. 0 Td[(r)2.80648820.1596(u)-10.3015(m)7.54596(é)3.74(r)-7.20151(c)3.74(i)-2.16485(o)43295585( )-0.146571(j)-2.16436(u)-0.295585(s)-1.2312(t)-2.16485(o)4320 Td[( )-160.241(t)-2.16436(ê)6436(i)-(a)3.74(s)-1.5585(o)-686T.74(n)]16485(o)432295585( )-100.206(n)-0.295585(o)432295585( )-100.206(B)-3.39556(r)2.80439(a)3.74(s)-1.2312(i)-2.16436(l)-2.16485(o)432147792( )-70.18890439(e)3.74(s)-1.2312(.3035(o)432l6436(n)-0.295585(.74122(l)-a)3.74()-0.295585(l)-2.16436(t)-2.195585(r)2.80439(i)-2.16558(a)3.74(ç)3.74(ã)3.75(o)43295585(ú)-0.295585(v)-0.(c)-6.2659á80439(t)-142(a)-67.20151(g)t5585(v)-0.(c)-6.26590.347(p)-0.293142(e)32.16436(z)3.74244(a)3.74244(d))3.75(o)43216436(d)-0.293142(a)-6o)-686T )250]TJ-250.1714(C)-3.94974(d)-0.294974(u)-0.0.1891(B2.16436(m)86(,)-r)2.805(o)-0.294225(c)3.74(e)3.74(r)2.80561(t)-2.16558(i)-2.12.80484(.80439(i)6558(i))-6.2659(a)3.74(ç)-6.2659(ãi)-2.16558(a)3.36(,)-r)2.16436(m)86(,)-r)0 T.74( )-100556(o5)2.2312(u)-0.64 Td[16436(u)-0.295561(c)3(ç)3.74(ã16436(o)-0.293142(n95585( )-0.147792(d)-036(,)-0.a58(a)3.74(ç)3.74(ã)3.7c)3. )-40.1714(e)-.2659(d)-0.295585(.74(ç)3.74(ã)3.76(,)-0.a58(a)340.1714(e)-(s)-1.2312(a)3.74(b1[(”)3.74( 40.288(i)-2.16436(n)-0.295585(e)3.74(l12299T.74(n)]16486(,)-0.146571( )-t5585(v)-0.(c)-6.265993142(n )-340.349(a)3.74(v)-0.295585(é)86(,)-0.16558(o)-0.295585(d)-0.29558c)3. )-I)2.8836((a)3.74(i)-2.16436(n)-0.29.236(031.80439(t)-2.16436(i)-2.16436(t)-2..295585(s)-1.2312(t)-2.16486(,)-0.295585( )-100.206(B)-3.39556(r)2.80439(a)3.74(s)-1.2312(i)-274244(d)-0.2985(v)-0.(c)-6.2659.74244(t)-2.95586(,)-0.16558(o )-90.1997(d)-0.293142(e)3.12299T )250]TJ-27295585( )-1)-0.295561(c)3(ç)3t)-2.16558(o)-0.2 a fiooo295585( )-1Drt
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algodão terão dentro de dois anos, em 2008, o certificado do algodão orgânico. Entretanto, o
primeiro ano de conversão para a agricultura orgânica, o ano de 2006, para colheita em 2007,
não foi um ano de bons resultados, e alguns produtores foram obrigados a usar agrotóxicos
em janeiro de 2007, para salvar o que restava de sua plantação de algodão, atrasando em um
ano sua conversão para orgânico e desmotivando aqueles afetados pelas perdas.
Na busca por um apoio mais incisivo e constante no processo de conversão para
produção orgânica, a Fair Planet, em parceria com outra empresa francesa de comércio justo,
a Veja, acionou os serviços de apoio da Ecocert. Esta, além da certificação, possui um
programa que chama de jornadas de formação. São realizadas visitas de campo com o
objetivo de consolidar as práticas de plantio orgânico envolvendo os produtores e tirando
dúvidas sobre aspectos técnicos, financeiros e administrativos. O programa envolve o estudo
dos regulamentos e sua aplicação assim como a organização dos documentos que serão
necessários pra formalizar a certificação. Sobre os documentos a Ecocert em seu programa de
formação inclui: resumo do projeto, termo de compromisso dos produtores, ficha com
histórico de parcelas das propriedades propostas a certificação, croquis das propriedades
propostas a certificação, tabela de certificação (planilha com dados de cada produtor, áreas,
localização, produções propostas a certificação, estimativa de rendimento, e outras
informações), modelos de declarações para eventuais derrogações sobre prazos de conversão,
modelos de declarações sobre insumos a risco de OGM e outros documentos que se façam
necessários. Este apoio é fundamental para que o processo de certificação e a própria cultura
orgânica não seja novamente posta em risco pela falta de conhecimento e capacitação técnica.
Finalizando o processo de legitimação do projeto no comércio justo está o
encaminhamento da aplicação da Onda Solidária para membro da IFTA, Associação
Internacional de Comércio Justo, realizado na Conferência Internacional da IFAT em
Blankengerge na Bélgica em maio de 2007. O processo de formalização deve durar
aproximadamente seis meses. Em 2007, a Onda Solidária completou dois anos de
formalização do Projeto de comércio justo Onda Brasil, pré-requisito da IFAT para aplicação
à rede internacional. Com este passo o Projeto passará a integrar o processo de monitoramento
da IFAT, incorporando formalmente e definitivamente todos os seus beneficiários no
movimento internacional de comércio justo, sejam eles costureiras ou produtores de algodão.
O Processo através da IFAT é fundamental para dar respaldo e confiança aos importadores,
parceiros e organismos públicos, sejam eles, nacionais ou internacionais, que tenham interesse
196
em conhecer o projeto, financiar, desenvolver atividades com a Onda Solidária e até mesmo
comercializar. É também uma forma de demonstrar como este pequeno projeto no sudeste e
sul do Brasil está envolvido em um contexto maior, formado por diferentes atores na busca de
maior justiça no comércio internacional, como abordado no segundo capítulo, provando ser
possível construir bases sólidas para um crescimento mais igualitário dos elos de uma cadeia
produtiva baseada na parceria e na vontade política de fortalecimento mútuo.
4.7 - “Netchain”: A rede por trás da cadeia produtiva
Legenda:
(1) Organizações de Comércio Justo
(2) Atores de Articulação da Cadeia Produtiva
(3) Rede de Comunicação na Formação da Cadeia Produtiva
(4) Cerificação de Algodão Orgânico
(5) Rede de Distribuição na Europa
Instituto
Maytenus
Cooperativa
Coagel
Esplar
no Ceará
APROAP
Prefeituras
Locais
SEBRAE PR
EMATER PR
Coopercoagel
FLO-Cert
IBD /
IFOAM
Onda
Solidária
Fair Planet
Grupo CJ de
Compradores
HippyChic
VEJA
IFAT
IFAT LA
FACES do
Brasil
Estamparia
Mad Stamp
Espaço
Tudo Bom
SEBRAE RJ
e Petrópolis
Malharia
Quatro Jotas
Tinturaria
Aquarela
Grupos de
Costureias
Onda
Solidária
MaxHavelaar
França
FAMA
TÊXTIL
SINTEX
ARASY
Paraguai
Fair Planet
IFAT LA
Certificações
Orgânicos *
*
USDA – NOP
EEC 2092/91
JAS
NATURLAND
IVN
Lojas
Com. Justo
Resonances
Fair Planet
Ethical
FashionShow
La Redoute
Cliente Atac.
Ethishirt
197
A netchain”, ou cadeia em rede, é uma ferramenta que visa explicitar a rede formada
ao redor da cadeia produtiva. A disposição dos atores no entorno da cadeia produtiva é
complexa, reproduzindo este mesmo sentimento na visualização da netchainacima. Este
fator é interessante porque é sobre esta complexidade que foi possível se estabelecer o
Projeto. O nascimento de uma nova proposta empreendedora exige a formação de parcerias
que podem estar ligadas diretamente a cadeia produtiva ou indiretamente através de
instituições de apoio. São estas parcerias que viabilizaram a espinha dorsal do projeto, a sua
cadeia produtiva. A formação destas parcerias é fruto do envolvimento direto do Projeto com
o movimento de comércio justo, foram os contatos dentro do movimento que permitiram
alcançar tantos atores, hoje responsáveis pela rede apresentada acima. A dinâmica do mercado
de comércio justo assume também um papel de destaque na consolidação desta rede, pois a
maior parte dos atores do movimento que apoiaram, e vem apoiando a formação desta rede, é
parte ativa deste mercado diferenciado.
A estrutura acima representa um resumo visual das interações entre os atores,
buscando representar a história do Projeto e sua formação atual. Para fazer a leitura da
netchain apresentada acima foram salientados alguns pontos estratégicos que serão
abordados em seguida. É interessante notar que todas as organizações apresentadas na
netchain foram mencionadas neste capítulo posicionando-as em relação a sua ação e
interação com o Projeto e seus atores.
(1) Organizações de Comércio Justo
A)
Onda
Solidária
IFAT
IFAT LA
FACES do
Brasil
Lojas
Com. Justo
Resonances
Fair Planet
Cliente Atac.
Ethishirt
198
Neste primeiro módulo de análise apresenta-se a ligação da Onda Solidária com o
FACES do Brasil, Plataforma Brasileira de Comércio Justo, apresentada no segundo capítulo,
como membros do seu conselho político. Aqui a Onda Solidária vem atuando desde sua
formação e na própria consolidação de sua estrutura. Apoiando e por vezes representado a
instituição em eventos nacionais e internacionais, além de atuar através de ações voluntárias
no que diz respeito à implementação do seu planejamento estratégico, sempre que requisitado.
A Onda Solidária ainda possui uma relação muito próxima com a IFAT América Latina,ou
IFAT LA, fazendo parte através de sua vice-presidente, membro individual da IFAT desde
2004, da diretoria latino americana, assumindo cargos de coordenação da área de
monitoramento na América Latina, tesouraria da IFAT LA, legalizada em 2007, e secretaria
das reuniões de diretoria. Por sua vez, a Fair Planet, tornou-se membro da IFAT internacional
em 2006 e vem participando das atividades do movimento de comércio justo na Europa. Este
foi um passo importante para a legitimação da própria Fair Planet frente ao mercado
distribuidor de comércio justo na Europa, tendo inclusive maior abertura para interagir com as
redes de lojas especializadas em comércio justo, que representavam em 2006 cerca de 80%
das vendas da marca “Tudo Bom?”.
B)
Este ponto representa uma ação comercial pontual realizada pela coordenadora Latino
Americana de Mercado e Comunicação da IFAT LA, Gabriela Fres, em ocasião da missão de
prospecção de clientes para os membros da IFAT LA realizada na Europa em 2006. Nesta
missão a IFAT LA participou de uma feira de moda na Bélgica, onde também participava a
Fair Planet apresentando a marca “Tudo Bom?”. No encontro com a representante da IFAT
LA, a Fair Planet foi indicada a Arasy, uma empresa no Paraguai que trabalha com pequenos
agricultores de algodão certificados para a produção orgânica. Como resultado a Fair Planet
Fair Planet
Grupo CJ de
Compradores
HippyChic
FAMA
TÊXTIL
SINTEX
ARASY
Paraguai
Fair Planet
IFAT LA
Certificações
Orgânicos *
*
USDA – NOP
EEC 2092/91
JAS
NATURLAND
IVN
199
fez uma visita no início de 2007 a Arasy e comprou 1,5 toneladas de algodão para fazer um
teste com indústrias de transformação no Paraná, diversificando em relação a Petrópolis e Juiz
de Fora, com a malharia Fama Têxtil e a tinturaria Sintex, abrindo desta forma novas
alternativas para a cadeia produtiva.
C)
A Veja, empresa francesa na produção de tênis brasileiro de comércio justo, participa
do grupo de compras do algodão produzido pela Coagel juntamente com a Fair Planet e a
HippyChic, empresa brasileira de produção de roupas infantis sediada em Americana. Como
responsabilidade da Veja ficou o contato com a FLO, cuja iniciativa nacional francesa é a
Max Havelaar, para desencadear o processo de certificação FLO do algodão. A Max Havelaar
e a Veja encaminharam o processo a FLO-cert, organismo da FLO Internacional responsável
pelas certificações. Como abordado anteriormente, a documentação foi aprovada e
encaminhada a representação da FLO-Cert no Brasil que irá dar continuidade a certificação da
Coopercoagel. Cooperativa formada apenas pela parcela de pequenos produtores cooperados
da Coagel criada especificamente para a certificação do comércio justo. Neste processo a Fair
Planet vem acompanhando também as etapas da certificação via FLO-Cert.
Cooperativa
Coagel
Coopercoagel
FLO-Cert
Fair Planet
Grupo CJ de
Compradores
VEJA
MaxHavelaar
França
HippyChic
200
(2) Atores de Articulação da Cadeia Produtiva
A)
Os atores de articulação da cadeia produtiva são basicamente a Onda Solidária e a Fair
Planet, com apoio mais intenso da ONG francesa Resonances no início do Projeto. A
Resonances apoiou o projeto tanto no que diz respeito ao crédito aos grupo de costura como
na abertura de clientes de atacado para a Fair Planet. Esta abertura se deu através dos
associados a Resonances que divulgavam para seus conhecidos e empresas a possibilidade de
produzirem suas camisetas com um projeto de comércio justo. Assim, deu-se início a uma
atividade complementar a marca “Tudo Bom?” na Fair Planet, as camisetas feitas sob
encomenda no atacado das marcas próprias das empresas, as chamadas “Ethishirts”. Além da
articulação para a distribuição, a Fair Planet também apóia no desenvolvimento da cadeia
produtiva no Brasil, possuindo ela mesmo uma rubrica no seu orçamento destinada ao
desenvolvimento da estrutura da Onda Solidária e dos grupos de costura. Este investimento é
revertido a Onda Solidária através do contrato de prestação de serviço que a cada renovação
inclui novas variáveis, como novos recursos humanos, em 2006 empregou-se a gerente de
produção em Petrópolis, e em 2007, um ajudante para a logística. Também investiu-se na
melhoria da estrutura, formalizando em 2007 o financiamento para aluguel da casa onde é a
atual sede da Onda Solidária com uma mobília mínima e um financiamento para a própria
gerente de produção poder adquirir um carro, melhorando ainda mais a logística do Projeto e
Esplar
no Ceará
SEBRAE PR
Onda
Solidária
IFAT
IFAT LA
FACES do
Brasil
Estamparia
Mad Stamp
Grupos de
Costureias
SINTEX
Lojas
Com. Justo
Resonances
Fair Planet
Ethical
FashionShow
Cliente Atac.
Ethishirt
201
a qualidade de vida da própria funcionária. Este apoio melhora a qualidade do trabalho com
os grupos de costureiras, principal atividade da Onda Solidária na cadeia Produtiva.
B)
Nesta representação a Onda Solidária se destaca como o principal interlocutor e ator
responsável pelo gerenciamento da produção em Petrópolis que incorpora atores como os
grupos de produção, a estamparia, a malharia Quatro Jotas e a Tinturaria Aquarela. É
interessante observar que o Espaço Tudo Bom também começa a apresentar um pequeno
papel de articulação, provocando entre os novos grupos de costureiras debates como a
precificação para as novas coleções, técnicas de produção e qualidade do maquinário. A Onda
Solidária vem também articulando com o SEBRAE cursos e suporte técnico para os grupos de
produção. Entretanto a parceria ainda não se consolidou na prática por falta de organização
das mulheres para dedicarem parte da sua semana para atividades de formação. Uma nova
proposta é a inserção do Projeto no Pólo de Moda de Petrópolis. O Pólo de Moda é uma ação
do SEBRAE de Petrópolis baseada no conceito de Arranjos Produtivos Locais, viabilizando
ações comerciais em grupo e melhorias técnicas dos arranjos produtivos. No campo da
divulgação o Projeto foi apresentado duas vezes no Canal Futura. A primeira sobre inclusão
digital através de ações comerciais em 2006 e a segunda sobre o próprio Comércio Justo em
2007.
C)
Estamparia
Mad Stamp
Espaço
Tudo Bom
SEBRAE RJ
e Petrópolis
Malharia
Quatro Jotas
Tinturaria
Aquarela
Grupos de
Costureias
Onda
Solidária
Fair Planet
Grupo CJ de
Compradores
HippyChic
FAMA
TÊXTIL
SINTEX
ARASY
Paraguai
Fair Planet
IFAT LA
Certificações
Orgânicos *
*
USDA – NOP
EEC 2092/91
JAS
NATURLAND
IVN
202
A Fair Planet, por outro lado, tem se dedicado na articulação com a produção do
algodão e a abertura de novos elos produtivos para a cadeia. Este é o caso da abertura de
frentes através do algodão orgânico certificado no Paraguai e os testes que estão sendo
realizados em 2007 com outras indústrias de transformação na mesma região da Coagel, em
Goioerê no Paraná.
D)
Ainda na relação com os produtores de algodão no Paraná que vem sendo o foco do
Projeto desde 2005, a Fair Planet realiza pelo menos 3 visitas anuais à Coagel. Nestas
ocasiões são realizadas reuniões com os produtores onde se debatem todas as dúvidas e as
principais questões relacionadas a produção e a compra do algodão. A Fair Planet também
negocia os termos do contrato com a Coagel e se responsabiliza em articular com outros
atores os processos de certificação orgânica e comércio justo. A Onda Solidária aprova o
contrato com a Coagel e formaliza um segundo contrato com a Fair Planet que a obriga a
realizar o pagamento da compra do algodão à Onda Solidária de acordo com o valor, prazos e
formas de pagamento estipulados no contrato entre Onda Solidária e Coagel.
Cooperativa
Coagel
EMATER PR
Coopercoagel
FLO-Cert
IBD /
IFOAM
Fair Planet
Grupo CJ de
Compradores
VEJA
MaxHavelaar
França
203
(3) Rede de Comunicação na Formação da Cadeia Produtiva
A)
Os atores aqui apresentados formam os principais componentes da cadeia produtiva
e/ou aqueles que foram fundamentais para o estabelecimento da mesma. A organização destes
atores no formato acima visa apresentar o processo histórico pelo qual a cadeia produtiva foi
constituída e chegou a sua organização dos dias de hoje. A Onda Solidária vem sendo a
principal articulador do processo no Brasil, principalmente na produção realizada em
Petrópolis. Observado da esquerda para a direita, a chegada à Petrópolis ocorreu através da
estamparia Mad Stamp, que realizou o contato da Onda Solidária com o grupo de costura hoje
conhecido como Espaço Tudo Bom. Aparecida, líder do grupo de costura, apresentou a Onda
Solidária a Malharia Quatro Jotas, por conhecer a reputação da empresa e a boa qualidade
de sua malha. Quando a Onda Solidária passou a comprar o algodão orgânico se viu
necessário um parceiro para transformar o fio em malha. Depois de algumas parcerias e testes
realizados em Petrópolis, a Quatro Jotas se mostrou um bom caminho e se consolidou na
cadeia produtiva. No que diz respeito ao tingimento, a mesma Quatro Jotas, apresentou a
Instituto
Maytenus
Cooperativa
Coagel
Esplar
no Ceará
Coopercoagel
Onda
Solidária
Fair Planet
Estamparia
Mad Stamp
Espaço
Tudo Bom
Malharia
Quatro Jotas
Tinturaria
Aquarela
Onda
Solidária
Resonances
Fair Planet
APROAP
Prefeituras
Locais
SEBRAE PR
EMATER PR
204
Tinturaria Aquarela ao Projeto. Por trabalhar constantemente com a tinturaria foi possível
viabilizar uma parceria logística no transporte da malha da Onda Solidária entre as duas
empresas. A Quatro Jotas então se responsabiliza pelo processo de tingimento e pela
distribuição das malhas tingidas para os grupos produtivos. Entretanto, o pagamento do
serviço de malharia e tingimento é realizado separadamente para cada empresa.
No que diz respeito a produção do algodão, em primeira instância a busca era apenas
por algodão certificado orgânico. Como a representação descrita acima apresenta de cima para
baixo, foi realizado pela Onda Solidária um contato com a Esplar, uma ONG localizada no
Ceará que apóia produtores de algodão orgânico com produção em pequena escala, não
possuindo oferta suficiente para o mercado demandante, mercado este formado
principalmente por organizações de comércio justo francesas, como por exemplo a Veja, a
Altereco e a própria Fair Planet. A Esplar repassou à Onda Solidária o contato do instituto de
assessoria técnica Maytenus no Paraná que na ocasião trabalhava junto ao SEBRAE PR,
Prefeituras locais, Emater Paraná e Embrapa no desenvolvimento da cadeia produtiva têxtil
orgânica através da Aproap, uma associação de pequenos produtores locais de orgânicos, que
em 2005 fiaram o algodão orgânico através da Coagel. Como não foi possível para a Onda
Solidária efetivar a relação comercial com a Aproap, a Maytenus viabilizou uma reunião da
Onda Solidária e da Fair Planet com a diretoria da Coagel. Esta se tornou parceira do projeto,
viabilizando a organização de pequenos produtores locais para a produção orgânica e para o
comércio justo através da constituição da Coopercoagel.
205
(4) Cerificação de Algodão Orgânico
A)
As instituições de certificação apresentadas acima foram apontadas pela importância
do processo do cultivo orgânico do algodão em um projeto de comércio justo. Neste aspecto a
Arasy do Paraguai apresenta uma organização estruturada e consolidada entorno da
produção orgânica, colecionado certificações internacionais destinadas ao mercado Norte
Americano, Japonês e Europeu. Já, no caso brasileiro, o processo está apenas sendo iniciado
através das parcerias entre a Coagel, a Onda Solidária e a Fair Planet, sendo acionadas
instituições de apoio locais como a Emater Paraná e outras internacionais como a Ecocert. A
certificação orgânica brasileira, realizada pelo representante da IFOAM no Brasil a IBD,
como abordado anteriormente, será direcionada aos produtores de comércio justo ligados a
recém formada Coopercoagel.
ARASY
Paraguai
Fair Planet
IFAT LA
Certificações
Orgânicos *
*
USDA – NOP
EEC 2092/91
JAS
NATURLAND
IVN
Cooperativa
Coagel
EMATER PR
Coopercoagel
FLO-Cert
IBD /
IFOAM
Fair Planet
206
(5) Rede de Distribuição na Europa
A)
A distribuição tende a ser o principal gargalo dos produtores de comércio justo e de
todos aqueles em desvantagem econômica. Um dos principais diferenciais deste projeto é o
fato da produção estar ligada diretamente a um comprador constante, que não sustenta a
demanda produtiva como financia e se envolve na formação e na organização da cadeia
produtiva. As atividades da Fair Planet no campo da distribuição vem sendo direcionadas para
atores como as lojas especializadas de comércio justo, contando com sua participação no
movimento internacional de comércio justo através da IFAT, e para outras ONGs, como a
Amnesty Internacional, e empresas de comércio justo como a Altereco, que produzem suas
camisetas no atacado. Para crescer seu mercado e alcançar seu ponto de equilíbrio a Fair
Planet participa de diferentes salões de moda na Europa. Entre eles o Ethical Fashion Show de
2006, abriu uma grande oportunidade ao Projeto que levou a entrada da marca “Tudo Bom?”
na grande distribuição, através da La Redoute, catálogo francês de moda com mais de três
milhões de reproduções por coleção.
O exercício da análise da netchain do projeto permite visualizar tanto a
complexidade do Projeto como o esforço necessário para a formação e manutenção da cadeia
produtiva. Quanto mais atores são envolvidos, mais exigente se torna o processo de
articulação do Projeto. Por outro lado, é o apoio e a participação destes mesmos atores que
viabiliza o mesmo. É o envolvimento das costureiras, dos produtores de algodão, dos
parceiros na fiação, na malharia, na tinturaria, nas instituições de suporte como SEBRAE,
prefeituras, Resonances, das instituições de certificação e legitimação, e das equipes das
organizações de articulação do Projeto, Onda Solidária e Fair Planet, que garante o
funcionamento do fluxo produtivo. A sintonia entre estes atores em prol de um objetivo
IFAT
IFAT LA
Lojas
Com. Justo
Resonances
Fair Planet
Ethical
FashionShow
La Redoute
Cliente Atac.
Ethishirt
207
comum, o sucesso do Projeto para o benefício de todos e, de forma mais operacional, o
aumento das vendas de maneira sustentável, se torna fundamental como a principal energia
que movimenta a produção desde o algodão até a embalagem final das peças. Dentre diversas
dificuldades que vêm permeando a história do Projeto e ainda fazem parte do dia a dia e das
decisões estratégicas dos atores envolvidos, são os resultados concretos relacionados a vendas
e crescimento do número de beneficiados, a verdadeira base de sustentação que mantém todos
interessados no Projeto. Se as vendas não fossem consistentes e não correspondessem
minimamente às expectativas dos produtores o Projeto não teria chance de se estabelecer
como uma alternativa às práticas convencionais. Logo, o estabelecimento da parceria entre
produção e comercialização, através da ação intensa e contínua da Fair Planet, garante o fluxo
da produção, transformando o acesso a mercado em uma ação eficiente para o produtor, não
se caracterizando como o tradicional gargalo dos pequenos produtores. Aqui temos a
valorização profissional do termo comércio dentro da expressão tema do trabalho: comércio
justo. O desafio do crescimento ainda continua, e nos próximos anos é que se deverá
estabelecer a sustentabilidade do Projeto. Os atuais três anos de operação representam apenas
a fase inicial de implantação da proposta.
208
Conclusão
O comércio justo se encontra em estágio de transição de uma caracterização
exclusivamente de movimento social, com foco em ações políticas, onde o produto é apenas
um meio para a sensibilização do consumidor e dos atores governamentais, para um nicho de
mercado com forte potencial comercial. Este processo vem colocando em questão a própria
essência do conceito do comércio justo, provocando posicionamentos distintos entre os
principais atores impulsionadores do movimento. A entrada de transnacionais e do grande
varejo no comércio justo, passou a caracterizá-lo como um nicho de mercado, onde estes
novos entrantes têm no conceito do comércio justo uma variável qualitativa, que os permite
agregar um valor diferenciado a sua marca frente às suas linhas de produtos tradicionais.
Diferente do propósito original do movimento de comércio justo que não tinha na
comercialização de produtos de comércio justo uma visão baseada em estratégia de nicho de
mercado de qualidade, mas sim um meio de tangibilizar seu discurso político e apoiar
diretamente grupos de pequenos produtores e artesãos, numa gica do produto como um
meio para um objetivo maior e não um fim si.
Neste sentido, percebe-se uma divisão de valores e expectativas dentro do próprio
movimento, onde o processo de certificação ganha um peso significativo com a proposta de
institucionalização do comércio justo como um nicho de mercado que precisa ser viabilizado
econômica e comercialmente. Por sua vez, as redes de lojas especializadas e importadores
tradicionais do comércio justo mantêm o foco no tema da sensibilização do consumidor como
meio para modificar as atuais práticas do comércio internacional que tendem a excluir os
pequenos produtores. Uma das maiores críticas é o fato destas práticas serem por muitas vezes
desempenhadas pelas próprias transnacionais que agora vem comercializando produtos de
comércio justo, fazendo com que este, sob os olhos dos atores do movimento mais críticos,
seja visto como um paliativo visando melhorar a imagem das mesmas. Por outro lado, a
vertente que apóia o desenvolvimento do comércio justo no grande varejo defende que só se
possível provocar mudanças concretas no comércio internacional a partir do momento em que
as grandes empresas, principais atores deste cenário, se envolverem com o tema e o
praticarem nas suas ações comerciais cotidianas. Assim, o comércio justo teria chance de
deixar de representar menos de 1% do mercado internacional para um percentual de
participação mais significativo, podendo influenciar com efetividade a qualidade de vida de
grupos de produção.
209
no que tange a estrutura produtiva, de um modo geral, é possível observar um
crescimento maior da capacidade de produção dos produtores do que das empresas
tradicionais de comércio justo em absorver a oferta dentro do nicho, tanto no caso agrícola
como na produção artesanal. Logo, no cenário específico do comércio justo vem se
apresentado uma oferta maior que a demanda, o que leva a uma competição de preços dentro
do próprio contexto do preço justo. Normalmente, esta competição é ainda acentuada pelas
peculiaridades regionais, onde a Ásia assume a liderança na comercialização de produtos de
comércio justo têxteis e artesanais, enquanto a América Latina se destaca pela produção de
produtos agrícolas. Esta maior disponibilidade da oferta abre ainda mais espaço para novos
entrantes, como o grande0439(c)3.74(i)-12.1703(a)32.45995(e)3.74(r)2.togssmaic59(a)3.74( )-802312(s)-1.0.259(m)7.516436(r)2.804151(a)3.74(l)-2.n93142(s)8.77412(s)-1.295585(a)3.74(63.6767.878[(f)2.84(i)-2.16436(o)-0.295585( )-38295585(a)3.74(i)-2.16558(s)-1.2312(,)-0.146571( )-110.219(m)7.5295585(u)-0.295585(e)3.74( )-190.26(t)-7.516436(r)2.84(n)-0.295585(q)-0..3015(e)3.74.59(a)3.74596( )-190.259(m)7.54( )-190.259(p)-0.295585(a)3.74(59(r)2.80561(t)-190.259(u)-20.30027(d)-0.46239( )2504244( )-120.219(u)-20293142(o)-0.293142(v)-0.293142(o)-0.4244( )-120.J-263.6767.8784 Td[(p)-0.f5(e)3.74(s)-1.16558(o)-0.4(ã)3.74(o)-0.29515(e)0190.25314225.295585(a)3.74(ç)3.720029(a)3.74(n)-0.0.25314220.295585( )-110.214585374(o)-10.3015(m)7.54596(é)3.74(r)-7.20151(c)3.74(i)-2.16558(o)-0.295585( )-110.21314225.j1715(a)3.7295585(s)-1.22997(t)-2.16558(o)-0.295585( )-11147792( )-190.26314225.4596(e)3.74(n)-0.295585(t)-12295585(s)-1.23121( )-420.36314223.295585(o)-0.295585(n)-0.16436(i)-2.16436(c)3.716436(i)-2.16436(n)-0.4(a)3.74( )-120.21314223.2659( )-80.19145852954596(a)3.74(l)-1216558(s)-1.2354.55 9( )d[( )-110.2145852954(o)-0.295585(m)-2.45995(é)3.74(r)-7.20151( )-114(i)-2.16436(o)-0.4244( )-1216436(,)-0.146571( )-190.25314223.295585(n)-0.295585(d)-0.295585(e)3.74(59( )-80.191314223.4(s)-11.2371( )-420.31314223.r439(e)3.74(r)2.816436(a)-6.26346( 3.74(ã)3.7õ95585(e)3.74(s)-1.2312(t)-2.0.31314223..2371(e)3.74( )-1)-120.21314223.16436(o)-0.293142(s)-1.r439(e)3.7n93142(o)-0.42346(m)7.54351(p)-0.]TJ-254.55 9( )d6 Td[(e)3.74535(o)-0.4(i)-2.16558(s)-1.22997( )-110.266(g)9.7294974(r)2.805(o)-0r)2ó95585(e)3.7.3015(t)-2.16558(s)-1.4596(a)3.74(l)-1222997( )-110.266(g)9.74(l)-1222997( )-110.266(g)9.7295585(e)3.74( )-110.222(n)7280561(e)3.7.3015(m)7.50683(t)-2.n95585(e)3.74( )-114(i)-12.1715(m)7.54535(e)3.74(n)-0.295585(t)-12.1736(o)-0.295585( )-110.265(g)9.78(o)-0.29ã65(g)9.74(o)-10.3015(m)7.54596(p)-0.295585(e)3.704151(a)3.74(l)-2.29ã65(g)9.7.3015(e)3.7295585( )-110.265(g)925295585(u)-0.295585(e)3.74( )-190.265(g)9.74(s)-1.2386.8491.92d[( )-200.265(g)9.7295585(e)3.74( )-110.225(g)9.7295585(a)3.74(ç)3.720029(a)-114(i)-2.4(r)2.80439(t)-2..1703(a)3.74(l)-2.146571( )-120.225(g)9.7O3027(m)7.52312(t)-2.0.325(g)9.74596(a)3.74(l)-1216558(s)-1.295585(r)2.80439(v)-0.4(s)-1.2312(t)-2.0.325(g)9.7293142(o)-0.293142(s)8.716436(a)-6.u299(e)3.74351(p)-0.4244(s)-1.2312(a)3.7]TJ-286.8491.92d4 Td[(p)-0.294974(t)-2.2659(g)19.7162(i)-8.29515(e)0194(i)-2.16558(o)-0.4(d)-0.295585(o)-0.295585( )-4022997( )-110.209(a)3.716558(a)3.74(59(a)3.74596( )-19295585(r)-7.é(59(a)3.745995(é)3.70.209(a)3.74596(o)-0.295585( )-19d3015(t)-2.16558(s)-6.f561(i)-2.16558(d)-0.4(a)3.74( )-1245995(é)3.70.209(a)3.7295585( )-110.298(d)3.74(n)-0.295585(u)-0.295585(e)3.716436(l)-2.16436(i)-2.16436(c)3.7b95585(r)2.80439(v)-0.16436(o)-0.295585( )-380.398(d)3.7295585(e)3.74(59( )-80.1998(d)3.7p3015(e)3.7295585( )-11293142(e)3.74244(n80561(t)-190.298(d)3.74(86.8470.03d[(f)2.8295585(t)-2.16436(r)2.804151(e)3.74( )-110.298(d)3.7295585(s)-1.2312( )-420.315(g)0.74(l)-1216436(o)-0.295585(r)-7.2039(v)-0.4(s)-1.2312(t)-2.146571( )-190.298(d)3.7295585(s)-1.295585(d)-10.3015(e)3.74.74(090.298(d)3.72659(g)9.71032(r)2.8295585(r)-7.20151(m)7.5a( )-110.298(d)3.7295585(8)7.52312(t)-2.0.315(g)0.71276(r)2.804151(m)7.5a( )-1)-0.293142(t)-2.293142(e)3.74244(n)-0..2371( )250]TJ-263.6770.03d6 Td[(c)3.74(o)-0.294974(m)7.54535(o)-0.294974(r)2.805151(c)73.4(d)-0.295585(o)-0.295585( )-4020029(e)-6.26l)-1222997( )-110.266.1)-0.16558(e)3.74(s)-1.295585(d)-0.295585(e)3.74(59( )-804596( )-190.266.1)-0.4(l)-2.29ã65.1)-0.16558(e)3.74(59(r)2.80561(t)-1229ã65.1)-0.4596(a)3.74(l)-1216558(s)-1.22997( )-110.266.1)84.295585(o)-0.295585(n)-0..3015(e)3.74.74(090561(t)-190.266.1)84.295585(e)3.74( )-110.225.1)84.b3015(a)3.74(i)-2.04151(m)7.51032(r)2.84(n)-0.295585(d)-10h3015(a)-6.2659( )-110.225.1)84.0439(e)3.72039(v)-0.4(54.55 9(8)d[( )-11295585(t)-2.16436(r)2.84( )-110.225.1)-0.295585( )-422312(t)-2.0.325.1)84.295585(o)-0.0439(o)-0.295585(d)-0.295585(u)-0.295585(t)-2.16436(i)-2.295585(r)-7.20151(e)3.74(s)-1.2312( )-42146571( )-120.225.1o59(r)2.82312(t)-2.16436(a)-6.4( )-110.225.1oodirsu oses
210
especialmente indianas. Por isso, sua estratégia é sempre voltada para construção do
diferencial da marca e não de preço, mesmo dentro do comércio justo, mas especialmente no
trato com os novos entrantes do mercado convencional. Da mesma forma, a proposta do
comércio justo vem se expandindo para outras fronteiras, alcançando o interesse comercial
interno também dos países até então ditos apenas exportadores. Este processo vem levando a
organização de redes e plataformas de organizações de comércio justo também na Ásia,
África e América Latina.
Neste contexto surge uma nova categoria de atores comerciais, empreendedores que
desenvolvem pequenos projetos de comércio justo onde seu maior desafio é viabilizá-lo
economicamente como um negócio, criando empresas privadas e marcas próprias, diferente
das principais ONGs européias e suas redes de lojas especializadas que tradicionalmente
impulsionaram o comércio justo e que vêm sendo financiadas por recursos externos
complementares as vendas. A entrada destes novos atores no comércio justo é crescente e vem
aliada a um sentimento de que é possível viabilizar o comércio justo economicamente em
torno de pequenas e médias empresas. O estudo de caso apresentado nesta dissertação é um
exemplo desta ação de empreendedorismo social onde uma empresa privada é formada para
sobreviver economicamente exclusivamente de um projeto de comércio justo, a Fair Planet
com a marca “Tudo Bom?”. Torna-se relevante reiterar que este desafio pela estabilidade
econômica vem levando a importadora a definir metas comerciais incapazes de serem
supridas pela demanda atual nas redes de lojas especializadas em comércio justo.
Logo, como estratégia comercial a Fair Planet determinou ser fundamental a entrada
de seus produtos no mercado do grande varejo, este sim capaz de impulsionar a demanda
pelas peças “Tudo Bom?a um nível que viabilize a conversão do algodão orgânico e de
comércio justo para uma quantidade mínima necessária à sustentabilidade dos demais atores
da cadeia produtiva, além da própria empresa. O incremento da grande distribuição no
comércio justo provoca mudanças estruturais significativas nos sistemas produtivos, que até
então trabalhavam em menores escalas, muitas vezes com capacidade ociosa ou atuando nos
mercados locais. Ao mesmo tempo estabelece relações de maior proximidade entre atores
permitindo um maior acompanhamento e aplicabilidade dos diferentes princípios do comércio
justo. Neste estudo de caso, o direcionamento da estratégia comercial, primeiramente baseada
em lojas especializadas em comércio justo, e em seguida na busca de espaços em mercados do
grande varejo, é necessário por um lado para a viabilização da produção agrícola do algodão.
211
Por outro lado, porém, coloca em questão a capacidade organizativa dos pequenos grupos
produtivos, e consequentemente a qualidade do produto acabado, além de questionar também
os próprios benefícios do ganho de escala para os grupos de costureiras.
Dentre os novos empreendedores do comércio justo estão outras marcas que são
criadas em torno de produtos mais industrializados como calçados, produtos medicinais,
produtos de beleza, vestuário e acessórios de moda, artesanatos utilitários entre outros. A
estratégia destas novas empresas é de verticalização da produção. Estas se envolvem
financeiramente e comercialmente com o estabelecimento das cadeias produtivas, com o
apoio de parceiros locais, como o próprio estudo de caso relata. Além da articulação com o
movimento e da marca em si, que recebe forte investimento para sua inserção no mercado
consumidor, seu grande diferencial passa a ser o domínio do processo produtivo e mais ainda
da relação comercial com os atores da cadeia. A verticalização acontece quando estas novas
empresas do comércio justo incorporam suas cadeias produtivas como ativos de sua
exclusividade, dominando todo o processo produtivo, da matéria prima à distribuição,
passando a assumir o papel de intermediários da cadeia produtiva ou, simplesmente, dos
produtores, nos mercados compradores.
A consolidação desta relação exclusiva ocorre com o forte investimento no
estabelecimento das marcas destas empresas no mercado. São estas marcas que despertam o
interesse do público consumidor, e por conseqüência, de empresas do grande varejo e das
próprias importadoras e ONGs tradicionais do comércio justo. A cadeia produtiva é atrelada
diretamente a marca, criando uma dependência entre ambas. Este movimento provoca reações
negativas dentro do comércio justo. A empresa de importação que torna um processo
produtivo e, consequentemente um produtor, exclusivo, tende a ser considerada por outras
importadoras tradicionais de comércio justo como um intermediário desnecessário. Estas
possuem como política a compra direta dos produtores, devido à prática do comércio justo da
desintermediação, enquanto a Fair Planet, assim como outras empresas da nova geração do
comércio justo, agem como agentes comerciais na Europa das cadeias produtivas através de
suas marcas.
Uma das justificativas pela exclusividade reside no próprio investimento financeiro e
dedicação desta nova geração em criar as cadeias produtivas para suas marcas da estaca zero.
O significativo investimento que envolve esta ação precisa ser recuperado no longo prazo e a
212
abertura da cadeia produtiva para novos atores pode levar ao risco de desarticulação da
mesma em função do planejamento de produção da Fair Planet, provocando problemas nos
prazos de atendimento da produção da marca “TUDO BOM?” e o próprio risco de
desorganização de uma cadeia recente ainda em processo de consolidação. Estes fatores
refletem a complexidade operacional do estabelecimento e manutenção de cadeias produtivas
de comércio justo. Não por serem Projetos construídos por inteiro, mas pelo desafio de
incluir produtores marginalizados com baixo conhecimento das práticas de mercado, pouca
capacidade de gestão dos seus negócios, de controle de produção e prazos, menor acesso a
recursos financeiros e tecnologias de ponta, falta de capital de giro e dificuldades logísticas.
Os custos de transação se tornam elevados devido à necessidade de intervenção constante nas
etapas da cadeia produtiva, na formação e manutenção de parcerias em torno de uma rede de
atores mais complexa, tanto do parceiro no Brasil, Onda Solidária como da própria
importadora, Fair Planet. O mesmo se reproduz com outras marcas e cadeias produtivas de
comércio justo. Aqui está o grande desafio e diferencial do comércio justo, incomum no
comércio convencional, o de criar mercados e capacidades para produtores marginalizados.
Neste sentido, no contexto atual onde o comércio internacional é dado como uma
ferramenta e linha importante para o desenvolvimento dos países periféricos, o comércio justo
se apresenta como um laboratório em torno deste processo. Incapaz por si de se consolidar
como uma nova prática comercial mundial, como ainda defendem alguns atores do
movimento, ele expõe possíveis caminhos e meios para a consolidação do combate a pobreza
e do desenvolvimento através do comércio. Até então a grande dedicação do movimento do
comércio justo vem sendo focada na criação de novos mercados, institucionalizando-o como
um nicho de mercado de qualidade e despertando o interesse de um mero diversificado de
atores comerciais. Entretanto, está na consolidação e apropriação real de suas práticas nas
ações das empresas convencionais com seus fornecedores o caminho para o desenvolvimento.
Se esta transição e incorporação por parte do mercado convencional i ocorrer ou se o
comércio justo se manterá apenas como mais um nicho de mercado é uma questão ainda sem
resposta.
Se por um lado sua formatação mais complexa e cara frente às práticas convencionais
é um fator desmotivante para as empresas convencionais se apropriarem destas como cultura
empresarial, a pressão da sociedade global frente às questões geradas pela pobreza e
destruição ambiental, exige das empresas atitudes empresariais éticas. O comércio justo é
213
uma proposta que vai além da responsabilidade social, pois prega a ética não com
funcionários ou comunidades do entorno das empresas, mas também aborda o tema da
responsabilidade destas nas suas cadeias produtivas com os atores que a compõe e são por
estas sub-contratados. Em um mundo com cadeias produtivas completamente distribuídas
pelo globo, as transnacionais possuem menos controle das empresas que contratam. Um maior
controle exigiria um aumento dos custos de transação, e custos são exatamente o que as
empresas vêm buscando cortar através da des-verticalização de suas cadeias produtivas para
regiões de produção mais baratas. Entretanto, as ações de boicotes nos países centrais,
impulsionadas por movimentos sociais e por ONGs tradicionais também do comércio justo,
refletem uma oposição crescente a estas práticas.
Os movimentos em torno da indústria têxtil e de vestuário no mundo, como
apresentado no capítulo, são um exemplo interessante de ação e organização da desta
oposição em torno de processos formalizados e articulados em redes. Tanto o comércio justo,
como aborda o capítulo, como os movimentos que se complementam, orgânicos, indicação
geográfica, responsabilidade social, movimentos e certificações ambientais, “Slow Food”,
segurança alimentar, economia solidária, boicotes às empresas, movimentos de consumidores,
entre outros, se institucionalizam através de seus conceitos e suas organizações e redes de
atores ativos. A interação e complementariedade entre as ações destes movimentos levam suas
organizações a muitas vezes participarem das diferentes redes e temas, como é o caso do
nosso estudo de caso, onde o Projeto é envolvido com o movimento dos orgânicos, moda ética
e com o próprio comércio justo. Por mais que também haja concretamente divergências
conceituais e estratégicas dentro e entre os movimentos sociais, existe uma preocupação de
articulação destes para que se possa sensibilizar de forma mais incisiva tanto o consumidor
como as organizações inter-governamentais e governos locais. A sensibilização política, seja
do consumidor como dos governos é sempre uma estratégia comum aos diferentes
movimentos sociais que navegam no desafio de provocar mudanças na cultura e nas práticas
comerciais internacionais.
Por trás das significativas taxas de crescimento que estes nichos de mercados de
qualidades éticas vêm apresentando na última década está uma demanda crescente da
sociedade, mesmo que ainda dos países mais centrais, que tende a incorporar em seu
pensamento e cultura de consumo uma visão e atitudes mais conscientes e éticas. O
consumidor valoriza-se agora como um ator do processo mundial, podendo influenciar através
214
de sua compra o comportamento do mercado. Anteriormente às fortes campanhas dos
movimentos sociais, o consumidor agia como simples tomador de ofertas, avaliando apenas as
qualidades explícitas do produto, como forma, cor, aparência, cheiro e outras mais. Hoje,
estes movimentos se constituem como componentes do próprio mercado, onde seus atores
passam a exercer a função de formadores de nichos, sendo fundamentais na fase de
construção destes mercados. O comércio justo e demais movimentos são vistos como
criadores de mercado, e esta habilidade vem rendendo cada vez maior visibilidade aos seus
conceitos. No entanto o grande desafio para manutenção do crescimento e do alcance dos
objetivos originais de cada um dos movimentos está no acesso ao mercado convencional e na
incorporação cultural de suas práticas pelas transnacionais. No caso do comércio justo, trata-
se do combate à pobreza através do comércio. O caso sob estudo deu o seu primeiro passo em
2007 para o mercado convencional do grande varejo, mas ainda como um nicho de mercado.
É possível que o acesso destes movimentos e seus atores a este mercado convencional possa
ser o primeiro passo para uma mudança cultural nas empresa? Ou a ética destes movimentos
sempre será um valor adicional de diferenciação, segregada a um nicho de qualidade, e não
uma real política e cultura empresarial? Diferentes atores dentro dos próprios movimentos
defendem prognósticos distintos. Somente o tempo e as futuras ações estratégicas dos
diferentes atores irão responder esta questão.
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Importação e o Caso do Algodão Brasileiro: uma Análise da Reestruturação da Cotonicultura
no Brasil e seus Impactos Sociais. (Versão Preliminar).
218
Sites, publicações e materiais de comunicação das organizações:
www.tudobom.fr – Marca “Tudo Bom?”
www.tudobom-shop.com – Loja Virtual Marca “Tudo Bom?”
www.ondasolidaria.org – Onda Solidária
www.facesdobrasil.org.br/publicações - Fórum de Articulação do CES
www.eftafairtrade.org - European Fair Trade Association
www.ifat.org - International Federation for Alternative Trade
www.fairtrade.net – FLO Fair Trade Labelling Organization
www.worldshops.org – Network of European World Shops
www.maketradefair.com – Campanha Make Trade Fair - Oxfam
www.oxfam.org.uk – Oxfam Internacional
www.ibd.com.br – Instituto Brasileiro de Biodinâmica
www.ifoam.org – International Fed. Of Organic Agriculture Movements
www.ecocert.fr – Certificação cadeia produtiva - Ecocert
www.solidaridad.nl – Solidaridad Holanda
www.altromercato.it – CTM Altromercato
www.artisansdumonde.org – Federação Artesãos do Mundo
www.ecovida.org.br – Certificação Participativa Rede Agroeco. Ecovida
www.institutokairos.org – Instituto Káiros pelo consumo responsável
www.shared-interest.com – Shared Interest
www.oxfam.org.uk – Oxfam Internacional
www.tenthousandvillages.com – Tem Thousand Villages
www.thebodyshop.com – The Body Shop
www.traidcraft.co.uk – Trade Craft UK
219
ANEXOS
DISPONÍVEIS APENAS NA VERSÃO IMPRESSA
220
ANEXO A
Contrato de Consultoria
Onda Solidária e Fair Planet 2005.
221
ANEXO B
Contrato de Compra do Algodão
Onda Solidária e Coagel
222
ANEXO C
Contrato de Promessa de Pagamento do Algodão
Fair Planet e Onda Solidária
223
ANEXO D
Certificado Orgânico de Transação
Algodão
IBD – Instituto Biodinâmico
224
ANEXO E
Modelo Contrato de Prestação de Serviços de Costura
Onda Solidária e Espaço Tudo Bom
225
ANEXO F
Vinculação da Marca “Tudo Bom?” na imprensa.
226
ANEXO G
Catálogos da Marca “Tudo Bom?”.
227
ANEXO H
Material de Divulgação da Marca “Tudo Bom?”.
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