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UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO
GISELE CRISTINE TENÓRIO DE MACHADO LEVY
AVALIAR O ÍNDICE DE BURNOUT EM PROFESSORES DA REDE
PÚBLICA DE ENSINO LOCALIZADA NA REGIÃO SUDESTE
Rio de Janeiro
2006
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GISELE CRISTINE TENÓRIO DE MACHADO LEVY
AVALIAR O ÍNDICE DE BURNOUT EM PROFESSORES DA REDE
PÚBLICA DE ENSINO LOCALIZADA NA REGIÃO SUDESTE
Dissertação apresentada à Universidade do
Estado do Rio de Janeiro como requisito
parcial para a obtenção do grau de Mestre
em Educação.
Orientador: Prof.Francisco de Paula Nunes
Sobrinho, Ph. D
Rio de Janeiro
2006
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GISELE CRISTINE TENÓRIO DE MACHADO LEVY
AVALIAR O ÍNDICE DE BURNOUT EM PROFESSORES DA REDE PÚBLICA
DE ENSINO LOCALIZADA NA REGIÃO SUDESTE
Dissertação apresentada à Universidade do
Estado do Rio de Janeiro como requisito
parcial para a obtenção do grau de Mestre
em Educação.
Aprovada em de de 2006
BANCA EXAMINADORA
Francisco de Paula Nunes Sobrinho, Ph. D.
Orientador – Universidade do Estado do Rio de Janeiro
Leila Regina D´Oliveira de Paula Nunes, Ph. D.
Universidade do Estado do Rio de Janeiro
Profa. Dra. Lucia Emmanoel Novaes Malagris
(Professora convidada)
Universidade Federal do Rio de Janeiro
Este estudo é dedicado aos
professores que vêem, na
educação, o único caminho para a
transformação de um país.
AGRADECIMENTOS
Ao meu orientador, professor Francisco de Paula Nunes Sobrinho, pela
dedicação incansável, pelo estímulo e pelo modelo de profissional íntegro,
competente e empreendedor.
Aos meus pais, pelo exemplo de ética e amor à vida, pelo eterno incentivo
e por tudo que me ensinaram e continuam me ensinando.
Ao meu marido e ao meu filho, pela paciência, pelo estímulo e grande
auxílio técnico.
Aos participantes da pesquisa.
À equipe da Fundação Municipal de Educação: Marize Juncá, Diretora do
Departamento de Gestão de Pessoal, Profa. Rosangela Carvalho Baltar,
Coordenadora do Departamento de Coordenação e Saúde do Trabalhador, a toda
a equipe da Oficina e àqueles que me auxiliaram na exaustiva tarefa de coleta de
dados.
Aos professores Argemiro e Carlos Absalão, que me auxiliaram no
trabalho estatístico.
À Profa. Dra. Rosana Glat, pela compreensão e pelo profissionalismo.
Aos professores do PROPED, aos alunos da Faculdade de Educação, do
Programa de Políticas blicas e aos colegas do NUPI (Núcleo de Pedagogia
Institucional).
Às duas professoras convidadas para compor a Banca de Defesa de
Dissertação, Profas. Dras. Leila Nunes e Lucia Novaes.
A Profa. Dra. Benevides Pereira, pela grande ajuda na aplicação do
instrumento de pesquisa.
A todas as funcionárias da secretaria, inclusive a Jorgete, sempre
sorridente e disposta a ajudar.
À CAPES, pela Bolsa de Estudos concedida durante o Mestrado.
ABSTRACT
The objective of this work is to evaluate the Burnout Index in a sampling
plan of 119 teachers of regular school. The sample was extracted from the
universe of 1335 teachers of basic school in Brazil, in the municipal public system
in a city of a southern state. This work is based on a field descriptive research.
The instrumentals used for data collect were CBP-R and Burnout Questionnaire
for Teachers - Revised (CBP-R; Moreno, Garrosa e González, 2000a), that
evaluates the antecedent and resultant factors (variables of the organizational and
working context) of Burnout Syndrome (evaluating the levels of professional
consuming or burnout emotional exhaustion, depersonalization and lack of
success). The instrumental is constituted by 66 items, which are self-applicable
questions, answered in around 40 minutes, using a 5 grades Likert-type scale and
a social-demographical inventory. From a random stratified sampling, the number
of participants that responded to the instrumentals was obtained. Data statistic
processing was carried out using the statistic software SPSS version 10
(Statistical Package for Social Science). The results indicated significant
differences between Burnout averages and at least six independent variables. By
Pearson Linear Correlation, a significant correlation was also verified between
Burnout and threat feeling in the classroom. The objective of this project is, from
those diagnose data, to humanize teacher’s workplace, concerning health,
hygiene, security, physical and mental welfare, as well as occupational
environment.
KEYWORDS: Burnout Syndrome, teacher’s workplace, humanization of
workplaces.
RESUMO
O objetivo desta pesquisa foi avaliar o índice de Burnout em uma amostra
aleatória estratificada, constituída de 119 professores do ensino regular. Essa
amostra foi extraída do universo de 1.335 professores do ensino fundamental, da
rede pública municipal, localizada em um município de um E4(j)2(e)-4no d64(a)-4( )-222Rlego
Sdest. rata d64(e)-4( )-232(u)-4(m)-7ae esq16(u)-4(i)2(sa)-4( )-322(d)-4(e)-4(c(r)3(i)2(t)-2(i)2(v)10sa)-4( )-322(d)-4(e)-4( )-322c(a)-4(m)-7pno, no utilizado, coo
um do nstrmento par oleta de dad65(o)6s(,)17.970-7( )852oa ,
LISTA DE GRÁFICOS
Gráfico 1: Ocorrência da Síndrome de Burnout nos respondentes 64
Gráfico 2: Distribuição dos respondentes por gênero 65
Gráfico 3: Distribuição dos professores por faixa etária 66
Gráfico 4: Distribuição dos professores por jornada de trabalho 67
Gráfico 5: Distribuição dos professores em relação ao sentimento
de ameaça em sala de aula 68
Gráfico 6: Distribuição dos professores que trabalham junto a alunos
com necessidades educativas especiais 69
Gráfico 7: Gráfico comparativo de Burnout em relação ao sentimento
de ameaça experimentado em sala de aula 70
Gráfico 8: Gráfico comparativo de Burnout em relação à
jornada de trabalho do professor 71
LISTA DE TABELAS
Tabela 1: Burnout e sentimento de ameaça em sala de aula 71
Tabela 2: Stresse de papel e jornada de trabalho 72
Tabela 3: Stresse de papel e ameaça em sala de aula 73
Tabela 4: Preocupação profissional e sentimento de ameaça
em sala de aula 74
Tabela 5: Burnout e ameaça em sala de aula 74
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO 11
2. O PROFESSOR E ANDROME DE BURNOUT 14
2.1. Stress ocupacional e Burnout 20
2.2. A Síndrome de Burnout 24
2.3. Fatores contribuintes para o Burnout nos professores 32
2.4. A ergonomia e a humanização do trabalho docente 40
2.5. O ensino fundamental e a Síndrome de Burnout 49
3. OBJETIVO 54
4. MÉTODO 54
4.1. Participantes 55
4.2. Local 55
4.3. Instrumentos 55
4.4. Coleta de dados 57
4.5. Fonte de dados 57
4.6. Procedimentos gerais 58
4.7. Procedimentos específicos 60
4.8. Análise dos dados 62
4.9. Delimitação da pesquisa 62
5. RESULTADOS 63
6. DISCUSSÃO E CONCLUSÕES 75
REFERÊNCIAS 79
ANEXO 85
11
1. INTRODUÇÃO
O objetivo desta pesquisa foi avaliar o índice de Burnout em uma amostra
constituída de 119 professores do ensino regular. Essa amostra foi extraída do
universo de 1.335 desses profissionais do ensino fundamental, da rede pública
municipal de um Estado da Região Sudeste.
A Síndrome de Burnout é conceituada na presente pesquisa como uma
modalidade de stress ocupacional. Trata-se de Síndrome que incide em
profissionais envolvidos com tarefas que exigem contato intenso com pessoas, o
que provoca esgotamento emocional, refletindo-se sobre a auto-estima, gerando
sentimentos de frustração e exaustão relacionados ao exercício da atividade
profissional. A referida síndrome afeta, de forma trágica, profissionais de diversas
áreas, em particular os professores, fato que pode ser comprovado através de
resultados de pesquisas sobre o tema, em áreas diversas, a saber: educação,
medicina, psicologia, psiquiatria, ergonomia, dentre outras (NOVAES e BASTOS,
2005; SPIES, 2004; LIPP, 2002 e 2004; ARIKEWUYO,2004; ROCHA et al. 2002;
PEREIRA, 2001; SILVA, 2000).
Formulação das hipóteses da pesquisa
Para atingir os objetivos da presente pesquisa, foram formuladas, com
base na revisão da literatura, cinco hipóteses relativas aos fatores contribuintes
para o desenvolvimento da Síndrome de Burnout nos professores. As hipóteses
formuladas foram as seguintes: a) os professores do gênero feminino apresentam
elevado índice de Burnout; b) os professores com jornada de trabalho acima de
60 horas semanais apresentam um quadro de Burnout; c) a idade do professor é
fator determinante para a presença da ndrome de Burnout; d) o sentimento de
ameaça, experimentado pelo professor em sala de aula, favorece o
desenvolvimento da ndrome de Burnout e e) o trabalho dos professores com
alunos portadores de necessidades educativas especiais contribui para o
desenvolvimento da Síndrome de Burnout.
12
A escolha por investigar a incidência da Síndrome de Burnout, em
professores do Ensino Fundamental, da Rede blica, deveu-se ao fato,
constatado na revisão da literatura, de que esta classe de professores está mais
vulnerável a desenvolver a referida Síndrome, devido às circunstâncias que
envolvem seus objetivos profissionais. Eles atendem alunos de seis aos 14 anos
de idade, sendo responsáveis pela educação básica desses discentes,
estimulando-os, através de vários processos pedagógicos o seu desenvolvimento
cognitivo, físico, afetivo, social e ético, atribuindo-lhes responsabilidades que vão
além da transmissão do conteúdo didático. Além disso, um conjunto de fatores
agrava essa tendência: o contato diário com os alunos, os problemas
característicos dessa faixa etária e suas conseqüências, tais como, preocupações
dos pais, gerando uma demanda maior de trabalho. Outro aspecto que agrava
este quadro refere-se às condições precárias em que o ensino público se
encontra, com baixos salários, jornada de trabalho excessiva, prédios mal
conservados, falta de equipamentos e finalmente a violência dentro e fora das
escolas (MELEIRO, 2002; NUNES SOBRINHO, 2004; OLIVEIRA, 2001).
Objetivo da pesquisa
O objetivo da presente pesquisa é avaliar o índice de Burnout em uma
amostra constituída de 119 professores que atuam em seis escolas do Ensino
Regular. Essa amostra foi extraída do universo de 1335 professores do Ensino
Fundamental, da Rede Pública, situada em um dos Estados da Região Sudeste.
A validade social da pesquisa
Os resultados do levantamento sobre o índice da Síndrome de Burnout
em docentes poderão subsidiar as Políticas blicas no sentido de instalar
serviços de caráter preventivo na Rede Municipal de Educação. O que se
pretende é a atuação direta do Poder Público nas questões da humanização do
posto de trabalho docente (NUNES SOBRINHO, 2002). A proposta é prevenir os
constantes afastamentos, os altos índices de absenteísmo, abandono da
13
profissão, problemas no convívio com colegas e alunos, baixa produtividade em
sala de aula e tantas outras variáveis que podem advir da incapacidade do
professor em lidar com esta Síndrome.
De posse dos resultados obtidos, poderão ser elaboradas estratégias de
enfrentamento e programas preventivos, que auxiliarão o profissional no manejo
do Burnout, estendendo o beneficio à direção das escolas, seus colegas de
trabalho e os alunos. A meta desta pesquisa é humanizar o posto de trabalho
docente, sob os aspectos de saúde, de higiene, de segurança, de bem-estar físico
e mental e do meio ambiente ocupacional.
Tipo de pesquisa
Trata-se de uma pesquisa descritiva de campo, desenvolvida em seis
escolas da Rede Municipal, tendo como fonte de dados o Relatório de Servidores
por Unidade Administrativa 2004.
Apresentação do estudo
Nas seções subseqüentes serão abordados tópicos que serviram de
suporte para a construção do referencial teórico da pesquisa, considerando-se os
dados presentes na literatura revisada que a conduzem ao Estado da Arte. Assim,
o presente estudo reúne informações relevantes sobre a Síndrome do Burnout,
conforme apresentados nos seguintes títulos: O Professor e a Síndrome de
Burnout, Stress Ocupacional e o Burnout, Fatores Contribuintes para o Burnout
dos Professores, O Ensino Fundamental e a Síndrome de Burnout , A Ergonomia
e a Humanização do Trabalho Docente; Objetivo; Método; Resultados e
Discussões e Conclusões.
14
2. O PROFESSOR E ANDROME DE BURNOUT
Apesar de ter sido inicialmente observada em profissionais da área de
saúde, hoje, entretanto, a severidade do Burnout
1
entre os profissionais de
educação é maior. O informativo (DIESAT) Departamento Interdisciplinar de
Estudos e Pesquisas de Saúde e dos Ambientes de Trabalho (2005) aponta que
um em cada quatro educadores sofre de Sintomas de Burnout.
Os professores no exercício de sua atividade profissional se deparam
com diversos estressores psicossociais, alguns relacionados à natureza de suas
funções, outros ao contexto institucional e social. Esses estressores, se
persistentes, podem levá-los à Síndrome de Burnout. Especialistas em todo o
mundo concordam que dentre as categorias profissionais mais expostas aos
efeitos do Burnout estão os professores, corroborando com a afirmação de
Carlotto (2003, p. 1) sobre a profissão docente: “... o magistério é uma profissão
de alto risco” (GASPARINE et al, 2005; CARLOTTO e PALAZZO, 2006; FEIGIN et
al, 2005; DEMIREL et al, 2005; WAGNER, 2004; ELVIRA e CABRERA, 2004;
COLANGELO, 2004; GARCIA e BENEVIDES-PEREIRA, 2003; SILVA e
CARLOTTO 2003; CROMM e MOORE, 2003; CARLOTTO, 2002; NAUJORKS,
2002; FARENHOF e FARENHOF, 2002; DWORKIN, 2003; CODO, 1999).
Considerada uma epidemia, essa Síndrome vem assumindo proporções
mundiais. Segundo Hendry (2006), quase um terço de professores de Quebec,
Canadá, estão afastados de suas funções, devido aos efeitos do Burnout.
A Organização Mundial de Saúde (OMS) e o Banco Mundial alertam que
as doenças neuropsiquiátricas vêm atingindo os trabalhadores em todo o mundo,
alcançando a proporção de uma a cada quatro pessoas, podendo chegar a 40%,
se forem incluídos os distúrbios ligados ao stress.
Pesquisa feita pela Comtexto Informação e Marketing, encomendada pelo
Sinpro/RS (2005), divulgada e abordada na edição de junho, na matéria
Professores no Limite, mostra que essa realidade vem atingindo profissionais do
ensino em todos os níveis. Dos 750 docentes entrevistados, 45,8% apontaram o
stress como o principal problema de saúde, seguido das lesões, problemas de
postura e coluna que afetam 29,9%. as lesões na garganta e alterações nas
1
“...tipo de stress ocupacional que se caracteriza por profundo sentimento de frustração e
exaustão em relação ao trabalho desempenhado...” (REINHOLD, 2002, p. 64)
15
cordas vocais foram apontadas por 29,4%. O estudo constatou ainda que 83%
dos professores desprezam os sinais do corpo e trabalham mesmo doentes, para
atender aos compromissos com os alunos e a escola. Fato responsável pelo
agravamento de estado de saúde do professor, ocasionando o absenteísmo
2
e
afastamento do trabalho.
O número de funcionários que pedem afastamento do trabalho por
motivos de saúde ligados ao stress é cada vez maior. Os dados indicam que 19%
da população mundial vive em estado elevado de stress, causado pelo trabalho.
Um estudo feito pelo Centro Psicológico de Controle do Stress revelou que dentre
1.800 paulistanos entrevistados, 32% viviam sob permanente estado de tensão,
na maioria das vezes, gerada pelo ambiente de trabalho (MACATTI, 2005; LIPP,
2005; MARTINEZ et al, 2004).
Com base na revisão da literatura pode-se afirmar que existe uma relação
entre o afastamento dos trabalhadores de seus postos de trabalho e as doenças
de ordem neuropsiquiátricas, incluindo-se nesta categoria o stress e a Síndrome
de Burnout. (LIMA, 2004; MALAGRIS, 2004; LIPP 2002; NUNES SOBRINHO;
2002).
De acordo com a classificação encontrada no CID 10, Código
Internacional de Doenças (2003), o stress esta classificado na seção F 43, como:
Reações ao stress grave e transtornos de adaptação. a Síndrome de Burnout,
pode ser classificada como transtorno mental, mas somente através da
descrição de seus sintomas (CID -10: seção F 43 - Reações ao stress grave e
transtorno de adaptação), pois a sua definição ainda não consta no CID 10, o qual
foi utilizado como referência nesta pesquisa (MACATTI, 2005; GASPARINE et al,
2005; LIMA, 2004; CID -10 2003; ESTEVE, 1999).
Considerando o afastamento dos professores por licença médica, Esteve
(1999) ao investigar os problemas de saúde de professores nos arquivos de
inspeção Médica da Delegacia de Educação e Ciências, de Málaga/Espanha, no
período de 1982-1983 e 1983-1984, contatou que um total de 6. 483 professores
obtiveram licenças médicas no período entre 1982-1983 e 6.700 no período de
1983 a 1984.
2
Ausência do estabelecimento de ensino, por curtos períodos de tempo (ESTEVE, 1999).
16
na investigação desenvolvida por Lima (2004) junto a um universo de
2.049 professores de 45 escolas públicas municipais, localizadas na Região
Sudeste, que teve como objetivo a detecção de fatores contribuintes para o
afastamento dos professores dos seus postos de trabalho, revelou que as
doenças que se relacionavam aos transtornos mentais obtiveram destaque como
a segunda causa de afastamento de professores, num total de 292. Nesse
mesmo estudo Lima (2004) constatou que entre os professores que participaram
da pesquisa, 654 estavam de licença médica temporária por motivo de doença.
Ainda sobre o afastamento dos professores devido aos transtornos
mentais, Reinhold (2002) aponta que em um levantamento sobre o tema,
realizado nos Estados Unidos, revelou que após cinco anos de trabalho, somente
50% dos professores continuavam no exercício de suas funções, devido aos
efeitos do stress e do Burnout.
Gasparine et al (2005), na pesquisa O professor, as condições de
trabalho e os efeitos sobre sua saúde, realizaram um levantamento documental,
em que foi investigado o perfil dos afastamentos dos funcionários da Secretaria
Municipal de Educação por motivo de saúde. Para tanto, foram analisados os
dados da Gerência de Saúde do Servidor e Perícia Médica da Prefeitura
Municipal de Belo Horizonte/ Minas Gerais, reunidos no relatório da Prefeitura
Municipal de Belo Horizonte (2003), relativos aos afastamentos no período entre
abril de 2001 e maio de 2003. Os resultados indicaram que foram realizados, ao
todo, 16.556 atendimentos. De maio de 2001 a abril de 2002, os afastamentos no
grupo geral estavam concentrados na categoria dos professores, totalizando 84%
dos servidores afastados. Os transtornos psíquicos ocuparam o primeiro lugar
entre os diagnósticos responsáveis pelos afastamentos; em segundo lugar estão
os afastamentos por doenças do aparelho respiratório e, em terceiro, as doenças
do sistema osteomuscular e do tecido conjuntivo.
3
Os resultados destas pesquisas são significativos, tendo em vista o
número de afastamentos e o alto índice de Burnout, verificados entre os
professores, confirmando, então, que as características do trabalho docente são
3
Grupo heterogêneo de transtornos, alguns hereditários, outros adquiridos, caracterizados por
estrutura ou função anormal de um ou mais elementos do tecido conjuntivo, i.e., colágeno,
elastina, ou os mucopolissacarídeos. Fonte: BVS, Biblioteca Virtual em Saúde DeCS
(Descritores em Ciências da Saúde)
17
determinantes para o adoecimento dos educadores (ARAÚJO et al, 2005; REIS,
2006; WAGNER, 2004; YUNGHUSBAND et al, 2003; CODO, 1999).
Codo (1999) em um estudo sobre a organização do trabalho e a saúde
dos professores, empreendeu uma pesquisa em nível nacional, intitulada
Pesquisa Nacional de Trabalho, Organização e Saúde dos Trabalhadores em
Educação no Brasil, com o objetivo de investigar a saúde mental e o trabalho do
professor. O estudo envolveu 27 estados brasileiros, 1600 escolas de ensino
básico e 52.000 professores. Ao final, os resultados da pesquisa revelaram que
25% dos participantes apresentaram índices elevados para a dimensão “Exaustão
emocional” e 11% indicaram índice elevado para a dimensão
“Despersonalização”, chegando à conclusão de que 48% da população estudada
apresentava Burnout.
Condições de trabalho inadequadas podem desenvolver a Síndrome de
Burnout. É isso que o estudo de Araújo et al (2005) aponta, na pesquisa Mal-estar
docente: avaliação das condições de trabalho e saúde em uma instituição de
ensino superior. Os autores realizaram um estudo epidemiológico de corte
transversal, com o objetivo de descrever as características do trabalho docente e
as queixas de saúde de professores universitários. Foram estudados 314
professores da Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS). Os resultados
demonstraram deficiências nas condições de infra-estrutura do ambiente laboral:
ausência de espaço para descanso/repouso, salas de aulas inadequadas e as
cargas de trabalho que afetam a saúde e o desempenho do trabalho docente,
como: ventilação inadequada no local, exposição ao pó de giz e poeiras, carregar
material didático, permanecer em pé e manter posição inadequada do corpo. O
estudo revelou queixas associadas ao excesso de carga de trabalho e a
necessidade de uma redefinição quanto às condições referentes a infra-estrutura
e a organização do trabalho dos participantes da pesquisa.
Dada a relevância das condições de trabalho no estudo sobre a saúde do
professor, é importante ressaltar algumas formas de se entender esta palavra. O
termo trabalho pode ser considerado uma atividade criadora e de transformação,
capaz de modificar não apenas o mundo, mas também o homem que o executa
(NUNES SOBRINHO et al, 2004).
18
Quanto a sua relação ao termo labor, o dicionário Houaiss (2001) define
trabalho como sinônimo da palavra labor, porque em termos lingüísticos a raiz
dessas palavras é a mesma, porém a perspectiva filosófica agrega valores
diferentes aos termos.
Considerando a importância das condições de trabalho no
desenvolvimento da Síndrome de Burnout, a Ergonomia como uma disciplina
direcionada para a humanização dos postos de trabalho, tem contribuído com
pesquisas nessa área. (NUNES SOBRINHO, 2002; WAGNER, 2004; LIMA, 2004;
GOMES, 2002).
Wagner (2004), na pesquisa Síndrome de Burnout: um estudo junto aos
educadores, professores e educadores assistentes, em escolas de educação
infantil investigou a Síndrome Burnout e os fatores estressores entre os
profissionais da educação infantil, professores e educadores assistentes, sob o
ponto de vista da Ergonomia. Para tanto, participaram da pesquisa 46
profissionais que atuavam em escolas de Educação Infantil do Município de Porto
Alegre, sendo duas da rede privada, duas da rede pública e uma escola
comunitária. Foram utilizados quatro instrumentos para a coleta de dados: um
inventário sócio-demográfico adaptado de Fernsterseifer (1999) e do Protocolo
para Investigação de Condições de Trabalho da Confederação Nacional de
Trabalhadores em Educação (CNTE) e Laboratório de Psicologia do Trabalho,
protocolo de fatores de stress, sendo os fatores de um a cinco extraídos do
protocolo Task Load Index (NASA-TLX), Luximon (2001), e os fatores do número
seis ao nove, referiam-se ao relacionamento com chefia, colegas, alunos e
familiares selecionados do (MBI) Maslach Burnout inventory de Maslach e
Jackson (1986). Os resultados evidenciaram altos índices para a dimensão
“Exaustão Emocional”, baixo para “Despersonalização” e “Realização
Profissional”. Constatou-se, portanto, que as questões organizacionais não são as
principais causas do desgaste emocional desses trabalhadores, sendo apontadas
as características do trabalho e a exigência das relações interpessoais, os
possíveis fatores desencadeantes da Síndrome de Burnout no grupo amostrado.
19
À pesquisa empreendida por Reis (2006), intitulada Comportamento de
Risco a Saúde e Percepção de Stress em Professores Universitários no Sul do
Brasil teve por objetivo determinar a prevalência dos comportamentos de risco à
saúde e à percepção elevada do stress em professores, por meio da análise dos
fatores psicossociais determinantes para os comportamentos de risco à saúde.
Os comportamentos de risco à saúde investigados foram: tabagismo,
baixa ingestão de frutas e verduras, consumo abusivo de álcool e falta de
atividade física. Participaram da pesquisa 842 professores de Instituições
Federais de Ensino do Sul do Brasil. Para a coleta de dados foi empregada a
escala Perceived Stress Scale (PSS) elaborada por Cohen, Kamarck e
Memelstein (1983). Os resultados revelaram que a maior parte dos professores
(58,9%) possui dois ou mais comportamentos de risco, sendo que a ingestão de
frutas e verduras foi o comportamento mais prevalente entre os homens (85,1%)
do que nas mulheres (79,6%). O tabagismo estava associado a maior renda e
menor tempo de docência. Quanto à percepção do stress, as mulheres
apresentaram maior índice (28,5%) do que os homens (21,0%). O pesquisador
sugere que o emprego de estratégias que focalizam os comportamentos de risco
à saúde dos professores devem ser consideradas, uma vez que as evidências
sugerem que a combinação desses comportamentos pode afetar a saúde do
professor.
Younghusband et al (2003) empreenderam uma pesquisa intitulada High
School Teacher Stress in Newfoundland Canadá: A Work in Progress. Trata-se de
um estudo qualitativo sobre o stress dos professores do ensino universitário de
Newfoundland/Canadá, focalizando os fatores contribuintes para o stress no
ambiente de trabalho. A pesquisa foi realizada com uma amostra de 25
professores universitários que exerciam o magistério em instituições rurais e
urbanas. Para a coleta de dados foram realizadas entrevistas semi-estruturadas.
Os resultados apontaram que as modificações sistemáticas, mudanças
curriculares, sobrecarga de trabalho, comportamento do aluno e os problemas
administrativos foram os principais fatores contribuintes para o stress do
professor, no ambiente de trabalho.
20
Os resultados dessas pesquisas comprovam que o stress decorrente do
trabalho, também conhecido como stress ocupacional e Síndrome de Burnout,
estão afetando a saúde do educador. Este fato pode ser comprovado através dos
expressivos índices de “exaustão emocional”, apontados pelos resultados das
pesquisas, sugerindo a presença da Síndrome, que na opinião de Maslach e
Leiter (1999) a “exaustão emocional” é a primeira dimensão a surgir na
manifestação do Burnout (VOLPATO et al, 2003; CARLOTTO, 2003; 2002;
PEREIRA, 2003).
2.1. Stress ocupacional e Burnout
A Síndrome de Burnout, que também pode ser denominada de “desgaste
profissional”, “síndrome do queimado” e “síndrome do stress do trabalho
assistencial”, é considerada um tipo de stress ocupacional e acomete
profissionais que atuam em atividades assistenciais, como os enfermeiros,
médicos e professores. Não existe uma única definição sobre o Burnout, mas
várias fontes concordam que a Síndrome ocorre em resposta ao stress laboral
crônico, não devendo ser confundida com o stress (BENEVIDES PEREIRA,
2003; NUNES SOBRINHO 2002; TEDESCHI, 2005; CODO, 1999).
Segundo a definição de Lipp (2004), o stress é uma reação normal do
organismo e indispensável para a sobrevivência, caracterizando-se por ser um
processo complexo, com componentes psicobioquímicos e que tem seu
mecanismo desencadeado em resposta a uma necessidade significativa de
adequação, frente a um estímulo estressor. Em doses moderadas fornece
motivação e o aumento da produtividade, mas em doses excessivas resulta em
destruição e desequilíbrio orgânico, prejudicando a qualidade de vida, atingindo
as áreas social, da saúde e profissional.
Nos últimos 15 anos, o stress tem sido objeto de muitas pesquisas
relacionadas ao universo do trabalho, pois seus efeitos representam um elevado
custo para as empresas, atingindo cerca de 120 bilhões de dólares, na Europa, e
60 bilhões de dólares, na América do Norte, associados ao aumento dos custos
de assistência médica e aos índices de absentismo (LIPP 2005; LIPP e
MALAGRIS, 2004; ELVIRA e CABRERA, 2004).
21
Tendo em vista a extrema relevância do tema em questão, Lipp e
Malagris (2004) avaliaram o estado da arte do conhecimento sobre o stress no
Brasil. Para tanto, revisaram publicações em anais e comunicações em
congressos, artigos publicados em revistas científicas e livros, dentre outras
fontes. O primeiro estudo foi empreendido em São Paulo, em 1996, indicando o
gênero feminino como o mais propenso ao stress. Em cerca de 30% de uma
população de 1.818 pessoas, 13% eram homens e 19% mulheres. Este índice
também foi encontrado no mesmo ano, nas cidades do Rio de Janeiro, Rio
Grande do Sul, Paraíba e em Campo Grande. Além disso, os resultados
evidenciaram que em 2001, de 619 pessoas que participaram da pesquisa, na
cidade de São Paulo, 21% pertenciam ao gênero masculino e 41%, ao gênero
feminino. Em outra pesquisa realizada pelo Centro Psicológico do Controle de
Stress, em 2004, com a participação de 915 adultos (601 homens e 314
mulheres) que atuavam em funções administrativas em empresas de São Paulo,
foi verificado que 405 do total de entrevistados sofriam sintomas de stress, sendo
que 228 pertenciam ao gênero masculino e 145, ao gênero feminino. As autoras
concluíram que as investigações sobre stress realizadas, no Brasil, tinham como
objetivo a análise da influência do stress no desenvolvimento de doenças, em
busca de alternativas para o tratamento e prevenção do stress (LIPP, 2004).
Não é recente o reconhecimento de que as situações de trabalho podem
interferir negativamente na saúde dos professores. Desde os anos 30, estudiosos
vem investigando este tema e são unanimes em afirmar que o trabalho docente
favorece o aparecimento de doenças. a partir da cada de 90, observou-se
um aumento no número de estudos que exploravam especialmente os efeitos do
trabalho sobre o stress e a Síndrome de Burnout (MARTINEZ et al, 2004;
DELCOR et al, 2004).
Porém, é necessário considerar que a literatura científica sobre as
condições de trabalho e saúde dos professores ainda é restrita, segundo a
pesquisa de Elvira e Cabrera (2004). muito que se investigar e aperfeiçoar no
que tange às metodologias dos estudos sobre as fontes de stress e Burnout. Os
autores, na pesquisa Éstres y Burnout em professores, realizaram um estudo
teórico sobre o stress e o Burnout em professores. Neste estudo foram revistas as
principais descobertas e investigações sobre o tema. Para a coleta de dados, foi
realizada inicialmente uma revisão bibliográfica centrada nos fatores sócio-
22
demográficos, organizacionais e de personalidade. Em seguida, analisaram os
modelos teóricos que procuram explicar o stress e a Síndrome de Burnout e as
conseqüências pessoais, familiares e organizacionais associadas a estes
fenômenos. O estudo revelou a existência de diversas limitações na metodologia
utilizada para o estudo das fontes de stress e Burnout, assim como a
inadequação de critérios metodológicos aplicados às intervenções realizadas com
os professores.
Com base nesta revisão bibliográfica, pode-se concluir que os
professores sofrem com os efeitos devastadores do stress, que os impossibilita de
exercer suas funções. Além de terem a saúde prejudicada pelo cansaço
excessivo e propensão a doenças, não se sentem em condições de responder às
demandas de seus alunos, que todas as suas funções se encontram
prejudicadas (SILVEIRA et al, 2005; LIMA, 2004; MALAGRIS, 2004; NUNES
SOBRINHO, 2002; CARLOTTO, 2003)
As circunstâncias que contribuem para o desenvolvimento do stress nos
professores o infinitas, mas as pesquisas sugerem que elas estão relacionadas
ao exercício de sua função. Nesse caso, ele poderá ser denominado de stress
ocupacional, que é determinado pelas condições de trabalho (NUNES
SOBRINHO, 2002; REINHOLD, 2002; LIPP, 2002).
O stress ocupacional, segundo Lipp (apud KYRIACOW e SUTCLIFFE
1981), é considerado um estado emocional desagradável, acompanhado por
sentimentos de tensão, frustração e exaustão emocional, relacionados a certas
situações do trabalho que o indivíduo define como negativas.
Seus fatores contribuintes vão desde as características individuais ao tipo
de relacionamento social estabelecido no ambiente de trabalho, clima
organizacional e condições gerais em que a tarefa é executada. Os sintomas mais
comumente observados são: dificuldade com a memória e concentração, tensão
muscular e sensação de desgaste, constante.
Os efeitos do stress ocupacional são extensos, podendo atingir desde o
ambiente de trabalho até todos os setores da vida do indivíduo. Devido à
observação de sua incidência em trabalhadores de diversas áreas de atuação,
muitos estudos têm sido realizados (NOVAES e BASTOS, 2005; SPIES, 2004;
LIPP, 2002 e 2004; ARIKEWUYO,2004; ROCHA et, al. 2002; PEREIRA, 2001;
SILVA, 2000).
23
Muitos são os enfoques relacionados às investigações sobre os efeitos do
stress e do Burnout no trabalho. Na análise empreendida por Arikewuyo (2004),
Stress Management Strategies of Secondary School Teachers in Nigeria, o autor
realizou um estudo sobre as estratégias adotadas por professores do Ensino
Médio, quanto à administração do stress. Para tanto, foi selecionada uma
amostra de 4000 professores com 5 anos ou mais de experiência, trabalhando em
escolas secundárias, localizadas no Estado de Ogun/Nigéria. O instrumento
utilizado foi o Occupational Stress Questionnaire, desenvolvido por Newton e
Keenan (1985) e adaptado por Gaziel (1993). Os dados da pesquisa apontaram
que a estratégia utilizada pela maioria dos participantes ao entrar em contato com
situações estressantes, foi adotar um comportamento frio e distante, evitando as
pessoas ou situações geradoras de stress.
Spies (2004), na pesquisa The relationship between occupational
stressores and burnout among trauma unit nursing staff, teve como objetivo
determinar a prevalência do stress ocupacional e do Burnout, no staff de
enfermeiras, em uma unidade de trauma e identificar os estressores ocupacionais
relacionados ao Burnout. Foram selecionadas 103 enfermeiras voluntárias
pertencentes a unidades de trauma, localizadas na região de Pretório-África do
Sul. Dessa amostra, apenas 53 enfermeiras responderam aos instrumentos de
coleta de dados. Foram utilizados o Maslach Burnout Inventory Human Service
Survey (MBI HSS), Nursing Stress Survey (NSS) e um Inventário Sócio
demográfico. Os resultados indicaram que as participantes possuíam índices
moderados de stress ocupacional e índices de Burnout que variavam de médio a
moderado.
Em outras pesquisas relacionadas ao assunto, as investigações são mais
específicas, voltando-se para a verificação da prevalência, nos trabalhadores, de
certos sintomas decorrentes do stress ocupacional.
Rocha et al (2002) analisaram o efeito do stress ocupacional sobre a
pressão arterial em 46 trabalhadores de uma indústria processadora de madeira,
de Botucatu/ SP. Vinte e sete funcionários pertenciam à linha de produção e 19,
da administração. Todos foram submetidos a uma avaliação antropométrica da
composição corporal (obesidade e adiposidade) e bioquímica do sangue
(lipidemia), além de terem a pressão arterial e freqüência cardíaca registradas em
três momentos do turno de serviço: início, meio e fim. Os dados indicaram que
24
houve semelhança na variação da pressão arterial entre os funcionários da linha
de produção e da administração, sendo registradas maiores elevações de
pressão arterial e freqüência cardíaca nos funcionários da linha de produção. Os
resultados indicaram que a variação individual da resposta pressórica e da
freqüência cardíaca, nos participantes da pesquisa, é um fator relevante no que
diz respeito aos efeitos do stress ocupacional nos trabalhadores.
Lipp (2004) alerta que o interesse sobre os efeitos do stress ocupacional
tem-se intensificado em todo o mundo. A autora menciona que o Instituto
Americano de Segurança e Saúde alertou, em 1999, que a natureza do trabalho
está mudando radicalmente em velocidade vertiginosa, e advertiu que são
necessárias medidas profiláticas urgentes, a fim de prevenir o impacto do stress
ocupacional sobre os trabalhadores, bem como sobre a sociedade em geral.
2.2. A Síndrome de Burnout
Um efeito significativo deste processo de mudança nas relações de
trabalho pode ser evidenciado por meio da disseminação progressiva da
Síndrome de Burnout entre os trabalhadores. O conjunto de sintomas
denominado Burnout é considerado um tipo de stress ocupacional por tratar-se de
uma Síndrome desencadeada pelas relações geradas no trabalho assistencial
(NUNES SOBRINHO, 2002; REINHOLD, 2002).
Embora não haja, na literatura, um consenso em relação à gênese do
Burnout e do stress ocupacional, Abreu et al (2002) discutem o fato de o stress e
o Burnout serem ocasionados a partir de situações relacionadas ao ambiente de
trabalho. Hespanhol (2005), ao fazer uma abordagem sobre o Burnout e o stress
ocupacional, afirma que o stress ocupacional em extremo pode provocar a
Síndrome de Burnout. Alguns autores, porém, divergem dessa opinião. Malagris
(2004) explica que existem diferenças entre o stress ocupacional e o Burnout,
pois segundo ela, o Burnout se refere, exclusivamente, ao aspecto relacional, ao
contato intenso com pessoas, caracterizando exclusivamente as profissões
assistenciais.
25
Abreu et al (2002) concordam com esta opinião, pois, segundo os
autores, Síndrome de Burnout não é o mesmo que stress ocupacional. Eles
explicam que o Burnout é resultado de um prolongado processo de tentativas de
lidar com determinadas condições de stress. Desta forma, o stress pode ser visto
apenas como um determinante para a Síndrome de Burnout.
Apesar das divergências, todos os autores são unânimes quanto ao fato
de a Síndrome ser caracterizada como uma resposta ao stresse laboral crônico e
estar vinculada a sintomas negativos de ordem prática e emocional, envolvendo
sentimentos de frustração relacionados ao trabalho. (BORRITZ, 2006;
CARLOTTO e PALAZZO, 2005; GARCIA e BENEVIDES-PEREIRA, 2003;
ABREU et al, 2002; REINHOLD, 2002; DWORKIN, 2003).
O conceito de Burnout se desenvolveu nos Estados Unidos, na década de
1970. Anteriormente, outros termos, como "alta exigência", "astenia
neurocirculatória" e "fadiga industrial" também foram relacionados ao estado de
esgotamento do trabalhador. Embora Christina Maslach e Herbert Freudenberger
tenham sido apontados como pioneiros nos estudos sobre a síndrome, Malagris
(2004) citando Benevides-Pereira (2002), aponta que o termo foi adotado
primeiramente por Brandley (1969), que teria utilizado o termo “staff Burnout”,
referindo-se ao fenômeno psicológico que ocorre com trabalhadores assistenciais.
Freudenberger (1974) aplicou o termo Burnout no sentido que é usado hoje
(MALAGRIS, 2004; CARLOTTO, 2002; CODO, 1999).
Atualmente a definição mais aceita da Síndrome de Burnout está baseada
na perspectiva sócio-psicológica de Maslach e colaboradores (1986). Os autores
descrevem o Burnout como um stress laboral que conduz a um tratamento frio e
indiferente com o cliente. Segundo essa leitura, variáveis sócio-ambientais são
importantes para o desenvolvimento da Síndrome que é compreendida através de
três dimensões: exaustão emocional, despersonalização e baixa realização
pessoal (MALAGRIS, 2002; CARLOTTO, 2002; CODO, 1999).
Exaustão emocional situação em que os trabalhadores sentem que não
podem dar mais de si mesmos, em nível afetivo. Percebem esgotada a energia e
os recursos emocionais próprios, devido ao contato diário com os problemas.
Despersonalização desenvolvimento de sentimentos e atitudes
negativas e de cinismo às pessoas destinatárias do trabalho (usuário/clientes)
endurecimento afetivo, “coisificação” da relação.
26
Falta de envolvimento pessoal no trabalho tendência de uma “evolução
negativa”, afetando a habilidade para a realização do trabalho e o atendimento, ou
contato com as pessoas usuárias do trabalho, bem como com a organização.
Além da vertente sócio-psicológica, a Síndrome de Burnout pode ser
explicada por diferentes concepções: clínica, organizacional e cio-histórica.
Freudenberger (1974) defende uma perspectiva clínica, sob a qual o Burnout
representa um estado de exaustão, resultado de um trabalho extenuante,
corroborando para que o educador deixe de lado até mesmo suas necessidades.
Cherniss (1980) adota um ponto de vista organizacional e explica que os sintomas
que compõem a Síndrome são respostas a uma demanda de trabalho
estressante, frustrante e monótono. E por fim, Sarason (1983) aponta uma
perspectiva sócio-histórica, e explica que, quando as condições sociais não
canalizam o interesse de uma pessoa para ajudar a outra, é difícil manter o
comprometimento no trabalho e servir aos demais (FARENHOF, 2002).
Considerando a evolução do Burnout no trabalho docente sob a
perspectiva psicossocial, Codo (1999) explica que as atividades assistenciais
detêm uma particularidade estrutural, que é a necessidade do investimento de
energia afetiva, para que se alcance os seus objetivos, ou seja, a promoção do
bem-estar do outro.
No caso da profissão docente, que se caracteriza pelo contato intenso
com o alunado, o mesmo acontece. Assim, é necessário que o professor
estabeleça um vínculo afetivo com o seu trabalho para que possa efetivar suas
atividades. Caso contrário, a deterioração da relação de afeto devido ao desgaste
diário na relação com o aluno, conduz o professor a um sentimento de exaustão
emocional, caracterizado pelo total esgotamento da energia física e mental. Este
estado contínuo de exaustão irá conduzir o profissional a um sentimento de baixa
realização pessoal no trabalho, caracterizado pela ausência do vínculo de afeto,
imprescindível a esse tipo de atividade. Na etapa da despersonalização, este
vínculo é substituído por outro, racional, no qual o professor desenvolve atitudes
negativas e críticas em relação ao aluno.
O trabalho passa, então, a ser considerado, apenas, pelo seu valor de
troca, de “coisificação”. O aluno e todo o universo que compõe sua atividade
profissional passam a ter um tratamento de objeto, descaracterizando totalmente
a profissão. É essa perda do sentido do trabalho que se constitui num dos
27
principais fatores responsáveis pelos inúmeros casos de absenteísmo e
afastamento do professor. Como aponta MALAGRIS (2004, p.203), “...como o
Burnout costuma surgir em áreas onde as pessoas têm mais aspirações, a
frustração e a decepção são muito grandes, ocorrendo a perda do sentido no
trabalho”.
Considerando a evolução da Síndrome de Burnout, conseqüência de um
stress crônico e prolongado, a sensação de perda da energia e falta de disposição
em relação ao trabalho, ocorrem de forma gradual, lenta e frequentemente
imperceptível. Afetando de maneira significativa a relação entre o indivíduo e suas
tarefas. Guimarães e Cardoso (1999 apud CORNNELL,1982) propõem um
esquema de sintomas presentes na Síndrome de Burnout que podem ser
apresentados pelo indivíduo:
Sintomas físicos: são similares aos do stress ocupacional, são eles: a
fadiga, a sensação exaustão (cansaço crônico), indiferença ou frieza, sensação
de baixo rendimento profissional, freqüentes dores de cabeça, distúrbios
gastrintestinais, alterações do sono (insônia) e dificuldades respiratórias.
Sintomas de conduta: se revelam sob a forma de graves alterações no
comportamento que usualmente afetam os colegas, alunos e inclusive seus
próprios familiares.
Sintomas psicológicos: podem aparecer mudanças de comportamento,
tais como: trabalhar de forma mais intensa, sentimento de impotência frente a
situações da rotina de trabalho, irritabilidade, falta de atenção, aumento do
absenteísmo, sentimento de responsabilidade exagerado, atitude negativa,
rigidez, baixo nível de entusiasmo, o consumo de álcool e drogas, como uma
forma de minimizar os efeitos do cansaço e do esgotamento.
Frente a estas questões, muitos pesquisadores vêm estudando o
fenômeno do Burnout na Educação. Nunes Sobrinho et al (1988) desenvolveram
uma pesquisa com o objetivo de investigar a incidência da Síndrome de Burnout
em 119 professores do ensino especial, de Rede Pública Municipal. Para a coleta
de dados foi utilizado o (MBI) Inventário Maslach de Burnout. Um dos resultados
da pesquisa indicou que os professores que apresentaram maior índice de
Burnout eram os que atendiam deficientes auditivos e não haviam recebido
qualquer treinamento para lidar com estes portadores de necessidades
educativas especiais. De acordo com os resultados, os pesquisadores sugerem
28
que a instalação do processo de stress ocupacional se deva, principalmente, à
impossibilidade de o profissional solucionar as questões referentes ao seu posto
de trabalho. Assim, a impossibilidade de solucionar situações no cotidiano escolar
leva o professor a sofrer de Burnout.
Na pesquisa de Ogeda et al (2002), Burnout em professores: a síndrome
do culo XXI, foi realizada uma análise sobre a perspectiva organizacional da
Síndrome de Burnout junto aos professores da rede municipal de Campo Largo,
Paraná. Participaram da pesquisa 353 professores, que responderam ao (MBI)
Maslach Burnout Inventory (Maslach e Jackson, 1986) para avaliar o índice de
Burnout. Os pesquisadores constataram que a maioria dos participantes possuía
indícios que se aproximavam dos aspetos da Síndrome de Burnout, apresentando
sintomas de exaustão emocional e física.
Outra investigação, intitulada Síndrome de Burnout e Fatores Associados:
um estudo epidemiológico com professores (CARLOTTO e PALAZZO, 2006), teve
como objetivo identificar o índice da Síndrome de Burnout em professores com a
29
Os instrumentos utilizados para a coleta de dados foram: um formulário auto-
aplicável, contendo informações referentes à identificação do professor;
características gerais das suas atividades na escola e aspectos psicossociais do
trabalho e o Job Content Questionnaire (ARAÚJO et al, 2003), utilizado na
avaliação das dimensões do Modelo Demanda-Controle (KARASEK e
THEÖRELL, 1990), saúde do professor (queixas de sintomas de saúde física),
saúde ocupacional (acidentes e doenças do trabalho) e atividades domésticas. Os
dados revelaram que 70, 1 % das queixas estavam relacionadas ao cansaço
mental e 49, 2 % à variável nervosismo. Diversos fatores de risco associaram-se
às variáveis cansaço mental e nervosismo: idade > 27 anos, pertencer ao gênero
feminino, ter filhos, escolaridade média, lecionar > 5 anos, nculo de trabalho
estável, trabalhar na zona urbana, carga-horária semanal > 35h, renda > 360
reais, sobrecarga doméstica média a alta, não ter atividades de lazer, alta
demanda no trabalho e baixo suporte social.
Garcia e Pereira (2003), na pesquisa Investigando o Burnout em
Professores Universitários, tiveram como objetivo analisar a presença da
Síndrome de Burnout em 368 professores universitários de uma instituição de
Ensino Superior privado do Município de Maringá. Como instrumentos para a
coleta de dados foram utilizados um questionário sócio-demográfico e o (MBI-ES)
Maslach Burnout Inventory Educators Survey (1986). Os pesquisadores
concluíram que cerca de 1/3 dos entrevistados revelaram índices elevados nos
itens referentes às dimensões de “Exaustão emocional” e “Despersonalização”, e
baixos índices na dimensão “Realização pessoal”.
A pesquisa Perspectives on Teacher Burnout and School Reform
(DWORKIN, 2003) teve como objetivo analisar o fenômeno do Burnout em
professores da escola pública. Tomando como referência a reforma educacional
ocorrida nos Estados Unidos em 1983, A Nation at Risk by the Excellence in
Education” e o impacto que causou sobre os professores, foram analisados os
efeitos da Síndrome de Burnout nas diferentes fases da reforma. O instrumento
utilizado foi o (MBI) Maslach Burnout Inventory. A pesquisa concluiu que cada
etapa da reforma educacional intensificou o Burnout do professor.
30
O número das pesquisas empreendidas sobre a extensão dos efeitos da
Síndrome de Burnout, na saúde dos professores, é muito significativo. O mesmo
se repete nas investigações voltadas a outras áreas, como a medicina, psicologia,
psiquiatria, ergonomia organizacional (SILVEIRA, et al, 2005; OLIVEIRA e
SLAVUTZKY, 2005; SPIES, 2004; PEREIRA e JIMENEZ; 2003, VOLPATO,
2003).
Silveira et al (2005) investigaram a incidência da Síndrome de Burnout em
60 policiais civis que trabalham no município de Porto Alegre/RS. Para a coleta de
dados foram criados dois grupos: um grupo de 35 policiais envolvidos em
atividades externas e outro com 25 policiais envolvidos em atividades internas
(atividades administrativas). O instrumento utilizado para a análise do índice de
Burnout, foi o (MBI) Maslach Burnout Inventory. Ao final, a investigação revelou
que não houve diferença estatisticamente significativa entre os dois grupos de
policiais no que se refere a cada um dos três fatores constituintes da síndrome:
“exaustão emocional”, “despersonalização” e “realização pessoal”. A partir deste
resultado, os autores sugerem que os sintomas vinculados à síndrome não são
determinados pelo tipo de atividade desempenhada, e alertam para a
necessidade de estudos mais amplos que possam aprimorar as investigações
sobre o Burnout e sua relação com o trabalho policial.
Oliveira e Slavutzky (2005), em A Síndrome de Burnout nos cirurgiões-
dentistas de Porto Alegre, investigaram o nível de Burnout em uma amostra de
169 cirurgiões-dentistas de Porto Alegre, RS. Como instrumento para coleta de
dados foi utilizado um questionário auto-aplicativo, (MBI) Maslach Burnout
Inventory. “Ao final da pesquisa foi constatado que os participantes apresentaram
baixos índices nas dimensões: “esgotamento emocional”, “despersonalização” e
“realização pessoal”, não sendo detectadas taxas altas de Burnout.
A pesquisa Burnout in occupational therapy: an analysis focused on the
level of individual and organizacional consequences (GUTIÉRREZ et al, 2004)
teve como objetivo a análise dos diferentes tipos de desgaste profissional,
tomando como referência os fatores organizacionais e a Síndrome de Burnout. A
amostra foi composta de 110 terapeutas ocupacionais da região autônoma de
Madrid que atuavam em instituições que ofereciam serviço de terapia
ocupacional. Destes, 89% pertenciam ao gênero feminino e 10%, ao gênero
masculino. Os instrumentos para a coleta de dados foram: revisão bibliográfica,
31
entrevistas e um inventário que analisa o índice de Burnout em profissionais de
enfermagem (CDPE) Cuestionario de Desgaste Profesional de Enfermería
(MORENO-JIMÉNEZ, et al, 2000). Os resultados da pesquisa revelaram
associações altamente significativas entre a Síndrome de Burnout e
conseqüências adversas relacionadas à saúde e ao campo interpessoal dos
participantes. Além disto, indicou a relevância dos fatores relacionados com a
sobrecarga do trabalho, às características da tarefa, à falta de amparo e com o
reconhecimento por parte dos colegas.
Pereira e Jimenez (2003) observaram que a maioria das pesquisas
relacionadas à Síndrome prevalecia nas áreas de saúde (enfermeiros e auxiliares
de enfermagem) e educação (professores), e que havia um número muito
reduzido de trabalhos sobre a incidência da Síndrome em psicólogos.
Desenvolveram, então a pesquisa Burnout e o Profissional de Psicologia, para
investigar a incidência da Síndrome de Burnout em psicólogos. Ao todo
participaram 203 psicólogos, 105 deles trabalhavam no Brasil e 98 na Espanha.
Os instrumentos utilizados para a coleta de dados foram: (IBP) Inventário de
Burnout para Psicólogos, (MBI HSS) (Maslach e Jackson 2ª. Versão, 1986),
(ISE) Inventário de Sintomatologia de Stress (Moreno-Jimenez e Benevides-
Pereira, 2000) e um questionário sócio-demográfico. Ao comparar os psicólogos
que trabalhavam no Brasil e na Espanha, os pesquisadores observaram que os
psicólogos brasileiros demonstraram estar mais realizados com suas atividades
ocupacionais do que os espanhóis. Quanto aos fatores relativos ao (ISE)
Inventário de Sintomatologia de Stress, foram encontradas diferenças
significativas nas escalas de Sintomatologia Física e Sociopsicológica. No grupo
de psicólogos brasileiros foi revelada maior prevalência de stress, quando
comparados com os psicólogos espanhóis. O cruzamento destes dados
evidenciou que a psicoterapia pessoal, muitas vezes sugerida aos que se
dedicam à área clínica, é um importante fator na prevenção do Burnout, pois
foram encontradas médias mais elevadas na escala de despersonalização do
(IBP) Inventário de Burnout para Psicólogos entre os que não haviam se
submetido à psicoterapia.
Volpato et al (2003) investigaram a incidência de sintomas característicos
da Síndrome de Burnout, numa empresa da região de Maringá/Paraná. A mostra
constou de 23 funcionários, 13 pertencentes ao gênero feminino e 9 ao gênero
32
33
O surgimento destes fatores no contexto escolar se deve, dentre outros
aspectos, às modificações sofridas pelas relações estabelecidas entre o trabalho
e o homem (GOMES,2002; ESTEVE, 1999).
O trabalho, considerado uma atividade criadora e de transformação, é
capaz de modificar o mundo e o homem que o executa. Neste processo de
interação, o homem age sobre a natureza na expectativa de adaptá-la às suas
necessidades e limitações, tornando o trabalho um elemento essencial à vida. No
entanto, esta interação vem causando danos irremediáveis a sua saúde, sob a
forma de tensão e conseqüente desenvolvimento de doenças (LIMA 2005;
NUNES SOBRINHO et al., 2004; BRITO,2002; GOMES, 2002).
A pesquisa intitulada Trabalho Multifacetado de Professores/as: a saúde
entre limites (GOMES, 2002) investigou a dinâmica da relação trabalho/saúde dos
docentes, focalizando os fatores contribuintes para a sobrecarga de trabalho a
partir de uma perspectiva de gênero, realizada em uma escola estadual da cidade
do Rio de Janeiro. Para a coleta de dados foi realizada uma Análise Ergonômica
do Trabalho A.E.T. Concluiu o autor que a sobrecarga sofrida pelos professores
refere-se à variabilidade do trabalho desempenhado por eles, determinada pela
gestão, políticas educacionais, composição e tamanho das turmas, infra-estrutura
material das escolas e pelo tempo. Os professores, apesar de suas limitações,
apresentam flexibilidade e criatividade na elaboração e execução de suas
atividades. Porém, diante do quadro atual do sistema educacional, suas
estratégias de manobra ficam reduzidas em função do excesso de atividades.
Além disto, o tempo despendido com o trabalho, que vai além dos limites da sala
de aula,as sobrecargas física e mental acumuladas e os deslocamentos que,
conseqüentemente, produzem um aumento da carga de trabalho corroboram para
este quadro. Nesta pesquisa, os resultados demonstram, com clareza, a triste
realidade que os professores vem enfrentando ao longo de sua jornada, reflexo
das alterações que se sucederam nas relações de trabalho.
Este crescente desacordo entre homem e trabalho se deve, segundo
Gomes (2002), ao fato de estarmos atravessando a era da globalização,
caracterizada pela competitividade e velocidade, baseadas na integração
tecnológica e organizacional. Diante deste contexto, o trabalhador, na expectativa
de responder às demandas deste modelo neoliberal, necessita se integrar a
novas tendências. Adota, então, uma postura dinâmica e flexível, nem sempre
34
compatível com suas possibilidades físicas, mentais e organizacionais, o que faz
com que adoeça (LIPP, 2004; GOMES, 2002).
As repercussões deste modelo atingiram, simultaneamente, a escola e o
professor, que teve de enfrentar novos desafios, face às demandas sociais
emergentes. Hoje, sua atuação extrapolou a mediação do processo de
conhecimento do aluno, estendendo-se para além da sala de aula, aumentando
suas funções tradicionais. Além de ensinar, ele deve funcionar como mediador
entre os problemas da escola e da comunidade e participar da gestão e
planejamentos curriculares. Brito (apud SANTOMÉ, 2001) escreve ainda que o
professor deve servir de agente de saúde, prestar assessoramento psicológico e
educar para o trânsito (MALAGRIS, 2004; LIMA, 2004; NAUJORKS, 2003;
NUNES SOBRINHO et al, 2003; GOMES, 2002; LIPP, 2002, 2004; MALAGRIS,
2002; NUNES SOBRINHO, 2002; REINHOLD, 2002; GOMES, 2002; AMADO,
2000; ESTEVE, 1999; CODO, 1999).
Na tentativa de mudar esta situação, os professores enfrentam muitos
desafios, gerando maior tensão no exercício de suas funções e tornando seu
trabalho cruel e desgastante.
Outro aspecto que possivelmente tem levado nossos educadores a um
estado de exaustão física e mental está diretamente relacionado à dissociação
entre o trabalho prescrito e o trabalho real. Entende-se por trabalho prescrito,
aquele que é imposto ao profissional e por trabalho real, o que efetivamente
poderá ser realizado por ele. Este crescente desacordo tem se evidenciado como
determinante para o agravamento desta situação (MALAGRIS, 2004;
NAUJORKS, 2003; NUNES SOBRINHO, 2002; AMADO, 2000; ESTEVE, 1999;
LIMA, 2004; NUNES SOBRINHO, 2002).
Por meio das pesquisas, podemos comprovar os inúmeros fatores que
contribuem para a Síndrome de Burnout nos docentes (BOCCHI, 2002; CROMM
e MOORE, 2003; HO et al, 2003; NUNES SOBRINHO e CUNHA, 1999; FEIGIN et
al, 2005; WILLIAN e GRECH, 2004; NAUJORKS, 2003; FORLIN, 2002; REIS et
al, 2006; GASPARINI et al, 2005; LIMA, 2004,; KYRIACOU E CHIEN, 2004;
MARTINEZ, et al 2004; OGEDA et al, 2002; CARLOTTO, 2003; FARENHOF e
FARENROF, 2002; COLANGELO, 2004; MORIARTY et al, 2001; LOPES e
GASPARIM, 2003).
35
Os problemas disciplinares na escola são um desafio para os professores.
As principais queixas relatadas vão desde a falta de atenção, dificuldades de o
aluno se concentrar nas atividades escolares até a agressividade, interferindo de
maneira significativa no processo educativo e na saúde do professor,
constituindo-se em tema de inúmeras pesquisas (BOCCHI, 2002; CROMM e
MOORE, 2003; HO et al, 2003; NUNES SOBRINHO e CUNHA, 1999).
Na pesquisa Comportamento de indisciplina: uma análise de sua
ocorrência em sala de aula (BOCCHI, 2002), o autor investigou a indisciplina em
36
da síndrome. Mas os dados referentes a idade e a experiência, do professor, se
relacionaram a níveis elevados de despersonalização, indicando a presença do
Burnout entre essa população.
Feigin et al (2005), na pesquisa Factors relating to regular education
teacher burnout in inclusive education, objetivaram a identificação dos fatores
ambientais que se relacionam ao trabalho dos professores inseridos no modelo de
inclusão e o desenvolvimento da Síndrome de Burnout. Participaram da pesquisa
330 professores de uma escola do Ensino Fundamental. Para a coleta de dados
foi elaborado um instrumento que continha questões sobre os dados sócio-
demográficos; a Síndrome de Burnout, o Friedman's burnout questionnaire (1995);
e características ambientais típicas dos professores que trabalham junto a alunos
portadores de necessidades educativas especiais, sendo este último tópico
subdividido em quatro áreas referentes às características psicológicas,
organizacionais, estruturais e sociais. Ao final da pesquisa, foi constatado que os
índices mais elevados de Burnout estavam associados às atitudes adotadas
pelos professores em sala de aula, o acúmulo de função na escola, ministrar as
aulas e, por fim, o elevado número de estudantes portadores de necessidades
educativas especiais, na sala de aula. Esses resultados comprovaram, segundo
os pesquisadores, que a implantação do modelo de inclusão requer maior rigor
quanto aos fatores relacionados à organização escolar e formação dos
professores.
Naujorks (2002), em Stress e Inclusão: indicadores de stress em
professores frente a inclusão de alunos com necessidades educacionais
especiais, pesquisou o stress em professores do Ensino Fundamental e os
principais agentes desencadeadores frente à inclusão de alunos com
necessidades educacionais especiais. Foi realizada uma pesquisa quantitativa e
qualitativa, com 163 professores distribuídos em 91 escolas da rede pública do
município de Santa Maria-RS. O instrumento usado para a coleta dos dados foi a
versão adaptada e validada do Inventário (FSI) Faculty Stress Index de Gmelch e
col. (1984). Ao término da pesquisa, foi verificado que a falta de preparo dos
professores para o processo de inclusão é a principal fonte geradora de stress e
foi sugerido que a universidade juntamente com as escolas desenvolvesse
programas de apoio aos professores: formação continuada e identificação e
controle de sintomas físicos e emocionais.
37
Todas as tarefas direcionadas ao professor, na atual conjuntura, resultam
em acúmulo de funções e sobrecarga de trabalho, constatadas pelas pesquisas
como sério indicador de Burnout.
Segundo a hipótese de Carlotto (2003), o excesso de atribuições
direcionadas ao professor é, na verdade, o reflexo de uma sociedade neoliberal,
em que as instituições de ensino passam a ser gerenciadas com se fossem
prestadoras de serviço e o estudante, um cliente. Neste contexto, o professor tem
suas funções descaracterizadas, o que gera o excesso de atribuições e a
sobrecarga de trabalho. As pesquisas sugerem que a sobrecarga de trabalho está
diretamente associada ao desenvolvimento do stress, surgimento de doenças e
ao afastamento dos professores de seus postos de trabalho (REIS et al, 2006;
GASPARINI et al, 2005; LIMA, 2004, KYRIACOU e CHIEN, 2004; MARTINEZ, et
al 2004; OGEDA et al, 2002; CARLOTTO, 2003; FARENHOF e FARENROF,
2002).
Na pesquisa de Kyriacou e Chien (2004), foram analisados quais os
fatores contribuintes para o stress dos professores que atuam em escolas
primárias em Taiwan/Tailândia. Foi elaborado um questionário, para investigar o
nível geral de stress, aplicado entre 203 professores. Os pesquisadores
concluíram que as fontes de stress estão relacionadas ao excesso de trabalho e
às reformas educacionais. Quanto às estratégias adotadas pelos professores,
segundo o estudo, são paliativas, evidenciando preocupação em preservar a vida
pessoal dos problemas relacionados ao ambiente de trabalho.
A sobrecarga de trabalho está diretamente associada a altos índices de
despersonalização, evidenciando a presença da Síndrome de Burnout. Na
pesquisa Burnout em professores, Farenhof e Farenrof (2002) desenvolveram um
estudo qualitativo sobre o desenvolvimento da Síndrome e suas conseqüências
no comportamento do professor. A investigação empreendeu 2.450 professores
municipais do Município de Duque de Caxias, pertencentes à Alfabetização,
Ensino Fundamental, Médio e Escola Especial. O local da pesquisa foram escolas
do município de Duque de Caxias, escolhidas por sorteio aleatório. Os
instrumentos utilizados foram os questionários-padrões desenvolvidos por
Maslach e Leter (1996), MBI Maslach Burnout Inventory. Os resultados
indicaram que os professores apresentavam transtornos mentais, devido a altos
índices de “despersonalização”, acabando por “coisificar” as pessoas, os alunos,
38
os colegas e a direção da escola, revelando a falta de condições para seguir
diretrizes pedagógicas ou filosóficas, pois, apesar de terem o conhecimento
necessário para tal, não se encontravam em condições de aplicá-los à rotina
diária.
Outro elemento que contribui para o desgaste do professor são as
relações entre eles e os pais dos alunos. Colangelo (2004) investigou até que
ponto os professores que fazem exercícios físicos e valorizam a participação dos
pais dos alunos nos assuntos escolares estão menos propensos aos sintomas de
stress e Burnout. O estudo foi desenvolvido junto a 160 professores do Ensino
Fundamental, no Estado de Connecticut/USA. Os instrumentos para a coleta de
dados foram o Inventário do Stress do professor de Kyriacou e Sutcliffe (1978),
(MBI) inventário de Burnout de Maslach (1986) e o Bay Areas School Reform
Questionnaire (2001). Os resultados apontaram que os professores que
participavam de atividades físicas moderadas possuíam baixo nível de stress. E
aqueles que se relacionavam, de forma positiva, com os pais dos alunos, estavam
menos propensos ao Burnout. Esses resultados concordam com a hipótese dos
pesquisadores de que as atividades físicas e o maior envolvimento dos pais nas
questões escolares são responsáveis pelos baixos níveis de stress e Burnout
entre os professores.
A falta de participação na elaboração das diretrizes escolares é um
aspecto a ser considerado. Moriarty. et al, (2001) investigaram o professor do
Ensino Fundamental e os fatores contribuintes para o stress em seu ambiente de
trabalho. A pesquisa envolveu 208 professores do nível Fundamental,
pertencentes a 350 escolas da Inglaterra. Foi utilizado um questionário aberto, no
qual constavam perguntas que abordavam as opiniões dos professores quanto às
possíveis causas de seu stress no ambiente de trabalho, as principais razões para
a sua satisfação no trabalho, perguntas sobre suas atitudes, qualificação e
experiências profissionais.
Considerando os resultados, os pesquisadores concluíram que os
professores, ao mesmo tempo em que se sentem recompensados pelo seu
trabalho, também se mostram estressados, devido a fatores externos, tais como,
mudanças educacionais e curriculares. Além disso, demonstram frustração, ao
implantarem políticas contrárias a sua linha pedagógica e valores profissionais.
39
A questão da violência nas escolas tem se revelado um fator
determinante para o desgaste da saúde do professor. Essa situação influencia
negativamente a relação de ensino-aprendizagem, oprime o professor, fazendo
com que se sinta cada vez mais ameaçado na sua integridade física e moral.
Segundo estudos, os atos de violência vão desde pichações de paredes e
móveis, brigas e ofensas verbais entre jovens e agressões físicas e verbais aos
professores (LIMA, 2004; GOMES, 2002; CODO, 1999; ESTEVE, 1999)
Lopes e Gasparim (2003), em Violência e conflitos na escola: desafios a
prática docente, realizaram uma investigação sobre o fenômeno da violência no
âmbito escolar, focalizando a relação entre professor e aluno. A pesquisa foi
realizada em duas escolas públicas da cidade de Maringá/ Paraná, uma
localizada na zona central da cidade, com 3.200 alunos e a outra situada num
bairro periférico, atendendo 740 alunos. A amostra constou de 20 professores e
64 alunos, pertencentes à escola localizada na zona central, e 10 professores e
36 alunos da escola localizada na periferia. Para a coleta de dados foram
realizadas pesquisas bibliográficas, observação sistemática e contínua do
cotidiano das escolas, leitura de documentos disponibilizados pela escola e
entrevistas. Verificou-se que a maior parte da violência identificada estava
relacionada a um conjunto, que os autores denominaram de “pequenas
violências”, constituindo-se pelos comportamentos de desrespeito, ameaças e
agressões verbais. Essas atitudes, segundo os pesquisadores, provocam conflitos
na relação professor-aluno, dificultando o processo de ensino-aprendizagem e
correndo o risco de se intensificarem a cada dia.
Outro aspecto a ser considerado quanto aos fatores contribuintes para a
Síndrome de Burnout nos professores é a jornada de trabalho. Em muitos casos o
professor agrega muitas jornadas de trabalho, pois devido aos baixos salários, ele
é obrigado a trabalhar em mais de uma escola. O trabalhar nessas condições
implica em mais horas de deslocamentos, maior esforço de adaptação a
diferentes ambientes e preparação de atividades distintas, contribuindo para a
sobrecarga física e cognitiva.
40
Esse fato se torna ainda mais alarmante se considerarmos que se entende por
jornada de trabalho aquele tempo destinado à sala de aula, onde o professor está
diante do aluno, não sendo levado em conta o tempo das preparações das aulas,
correções e elaborações de provas, pesquisas didáticas, trabalhos coletivos na
escola e organização escolar. Oficialmente toda essa gama de atividades se
realiza fora da jornada de trabalho oficial (LIMA, 2004; GOMES, 2002).
Além dos fatores relacionados acima, ainda podemos acrescentar o
ambiente físico e o clima organizacional, como fatores a serem considerados,
para que o professor possa desempenhar suas atividades com conforto,
segurança sem que haja prejuízo a sua saúde. Quanto ao ambiente físico
podemos destacar, ruídos excessivos, baixa umidade do ar, iluminação
inadequada e outros aspetos que possam a prejudicar e induzir ao desconforto e
problemas de saúde. Já o clima organizacional, torna-se nocivo a saúde do
professor, à medida que as atitudes dos indivíduos e as relações interpessoais,
deixam de lado a construção de um ambiente prazeroso, gerando insegurança e
ansiedade no trabalho.
Tendo em vista, os diversos aspectos que contribuem para o elevado
índice da Síndrome de Burnout, entre os professores, o posto de trabalho docente
tem se constituído em tema de interesse da pesquisa ergonômica (CARVALHO e
ALEXANDRE, 2006; LEMOS 2005, AMADO, 2000).
2.4. A ergonomia e a humanização do trabalho docente
Os especialistas alertam que as condições atuais em que o magistério se
encontra são, comprovadamente, fatores que contribuem para o stress crônico,
podendo evoluir para a Síndrome de Burnout, levando ao absenteísmo e o
afastamento dos professores de seus postos de trabalho. Desta forma,
preocupações com a humanização do seu posto de trabalho são relevantes,
tornando este tema de interesse para a ergonomia.
41
Segundo Nunes Sobrinho (2002), à medida que o professor é
considerado um trabalhador como outro qualquer, tanto o processo de stress
quanto a Síndrome de Burnout se constituem em picos de interesse para a
pesquisa ergonômica (WAGNER, 2004; NUNES SOBRINHO et al,2004; 2002;
LIMA, 2004; LIMA et al, 2003; GOMES, 2002; TERRIEN e LOYOLA, 2001;
AMADO, 2000; BIAZUS, 2000; TAVARES, 2000).
A palavra ergonomia deriva do grego ergon [trabalho] e nomos [normas,
regras, leis]. A disciplina se divide em três especialidades: ergonomia física,
preocupada com os estudos relacionados à postura no trabalho, movimentos
repetitivos, segurança, saúde e bem-estar do trabalhador; ergonomia cognitiva,
centrada nos processos mentais, tais como, percepção do trabalho, memória,
raciocínio e tomada de decisão e a ergonomia organizacional, destinada à
otimização do sistema sócio-técnico, envolvendo a organização de estruturas,
políticas e processos no ambiente corporativo e ergonômico, contemplando todos
os aspectos da atividade humana, a fim de torná-los compatíveis com suas
demandas, habilidades e limitações (ABERGO, 2006; NUNES SOBRINHO, 2002).
Considerando a análise das condições do trabalho do professor sob uma
ótica da ergonomia, Terrian e Loyola (2001) escrevem que a atividade docente se
constitui em diferentes elementos que podem ser isolados para fins de análise
dos postos de trabalho. Esses componentes são: o objetivo do trabalho, as
técnicas e os saberes dos trabalhadores, o produto do trabalho e, finalmente, os
próprios trabalhadores e seu papel no processo de trabalho. A análise desses
elementos tem como objetivo evidenciar seus impactos sobre as práticas
pedagógicas, configurando assim a análise ergonômica do trabalho (GOMES e
BRITO, 2002).
42
O objetivo da Análise Ergonômica do Trabalho (AET) é a compreensão da
atividade real do trabalhador, através da análise das demandas, queixas e
problemas do ambiente laboral, revelando a diferença entre o trabalho real e o
prescrito e as possíveis razões dessas diferenças (LIMA, 2004; NUNES
SOBRINHO, 2002; DAGOSTIN, 2003).
Os objetivos da AET são:
Produzir melhor conhecimento do trabalho formal e do trabalho real;
compreender como se o envolvimento dos trabalhadores nos
sistemas de produção;
fornecer um meio de apoio à decisão.
Considerando a análise ergonômica do trabalho como o principal
instrumento para avaliar as verdadeiras condições de trabalho do professor,
Amado (2000), na pesquisa O Trabalho dos professores do ensino Fundamental:
uma abordagem ergonômica, investigou a relação entre a organização do
trabalho e a saúde dos professores. Para tanto, foi realizado um estudo de caso
em uma escola da rede municipal de Florianópolis que nos últimos dois anos
apresentou um índice elevado de afastamento de professores por motivo de
saúde. Como instrumento para a coleta de dados, foi utilizada a Análise
Ergonômica do Trabalho para fazer um levantamento da atividade docente. Ao
final da pesquisa foi verificado que a incidência de recursos materiais, recursos
humanos e psicólogos, assistente de sala e dos pais e melhor preparo acadêmico
dos professores foram responsáveis pelo aumento da carga cognitiva a que estão
sujeitos, dentro de suas atividades diárias. Os resultados das pesquisas
demonstraram um índice elevado de professores com problemas psicológicos,
originados do fato de os docentes acumularem várias funções dentro da mesma
atividade com uma carga de responsabilidade muito grande, o que está associado
à desvalorização da profissão perante a sociedade. Demonstrou, também, que as
doenças evoluem de acordo com o tempo de trabalho destes profissionais.
Na abordagem ergonômica da atividade docente, alguns fatores devem
ser analisados, dentre eles se destacam (LIMA et al, 2003):
Carga cognitiva: a atividade cognitiva do professor é um fator relevante a
ser considerado, pois ela é requisitada a todo o momento, para resolver toda a
sorte de situações que se desenrolam ao longo de sua jornada de trabalho.
43
Lesões ou deficiências permanentes ou temporárias: as pesquisas
revelam que os professores são vítimas de dores lombares e cervicais; laringites
e depressões.
Tais problemas provavelmente estão em associação direta com as
condições de trabalho e a sobrecarga de tarefas dirigidas aos professores. As
pesquisas confirmam esta hipótese (CARVALHO e ALEXANDRE, 2006; LIMA,
2004; BIAZUS, 2000; TAVARES, 2000).
A pesquisa de Lima (2004) confirma essa tendência. A autora identificou
os fatores contribuintes para o afastamento dos professores, revelando que, em
relação às morbidades, as que mais contribuíram para os afastamentos foram as
doenças respiratórias, os transtornos mentais e as doenças do sistema
osteomuscular. Assim, ficam evidenciados os efeitos negativos produzidos pela
dissociação entre o trabalho pedagógico prescrito e o trabalho pedagógico real,
sobre a saúde dos docentes (LIMA, 2004; NUNES SOBRINHO, 2002).
De acordo com Nunes Sobrinho (2002) existem indícios de que um
distanciamento entre o trabalho pedagógico prescrito (regras, responsabilidades e
competências atribuídas ao profissional) e o trabalho real (como o trabalho é
conduzido pelo professor) influencia no desenvolvimento do stress e da Síndrome
de Burnout. De um modo geral, o professor tenta contornar esta dissociação,
apesar da falta de recursos, mas, na maioria das vezes, não alcança seus
objetivos, gerando sentimentos de ansiedade e depressão no profissional.
A pesquisa Sintomas ostemusculares em professores do ensino
fundamental, empreendida por Carvalho e Alexandre (2006), teve como objetivo
analisar a ocorrência de sintomas osteomusculares em professores. A análise foi
desenvolvida junto a uma população de 212 professores municipais e estaduais
do Ensino Fundamental, que trabalhavam em 18 escolas da Rede Pública de
Ensino de uma cidade do interior de São Paulo. Para a coleta de dados foram
utilizados dois instrumentos, um inventário auto-aplicável, destinado aos dados
gerais e ocupacionais dos professores, e o questionário Nórdico, para a avaliação
dos sintomas músculo-esquelético (BARROS e ALEXANDRE, 2003). No que se
refere às ocorrências desses sintomas, os resultados da pesquisa apontaram que
157 dos participantes os apresentavam tais sintomas, sendo que as maiores
ocorrências foram detectadas na região lombar (63,1%), torácica (62,4%) cervical
(59,2%), ombros (58,0%), punhos e mão (43,9%). Os pesquisadores concluíram
44
que os professores apresentam elevada ocorrência de sintomas osteomusculares.
Os resultados também apontaram que inúmeros tanto individuais quanto
ocupacionais podem estar relacionados com a presença de sintomas músculo-
esquelét-4(eu)-4(e)-4oftossor4(s )-2(a)2(o)-4( )-etes.
45
realizada uma primeira etapa onde se fez um estudo bibliográfico e, na segunda,
um estudo de caso, utilizando-se as salas de aula do CEFET/RN. Foi utilizada
também a metodologia da análise ergonômica do trabalho – AET. Apesar da
implantação de novas tecnologias, modificações deverão ser levadas em
consideração, à luz da Ergonomia, tais como a da atual disposição das salas de
aula e dos equipamentos, da substituição dos equipamentos e das condições
ambientais, de forma a proporcionar conforto e melhor produtividade.
Ainda sobre as condições ambientais, a pesquisa empreendida por Parra
(2005), intitulada Condiciones de trabalho y salud mental em el travbajo docente
del sector revelou que os fatores ambientais físicos como ruídos, poluição do ar,
temperatura ambiente e iluminação são determinantes para o desgaste do
professor.
Lima (2004) confirma a relevância deste tema, apontando do estudo
realizado por Brestein et al (2000), em Cincinnati, EUA. O objetivo dessa pesquisa
foi investigar quais as condições do ambiente de sala de aula que estavam
causando determinados sintomas apresentados pelos educadores (coceira, olhos
lacrimejando e congestão e sangramento nasal), que trabalhavam em uma escola
de 5ª. a 8ª. série do Ensino Fundamental. Ao final da pesquisa, os autores
concluíram que a presença de certos elementos utilizados como recursos
didáticos, como, por exemplo, larvas de insetos para o ensino sobre o ciclo da
vida, eram os responsáveis pelos sintomas apresentados pelos professores.
Quanto aos aspectos cognitivos do trabalho, o estudo ergonômico dos
fatores intervenientes da carga mental, é de fundamental importância para a
realização de intervenções no ambiente de trabalho e na prevenção de possíveis
sobrecargas. A análise destes aspectos é realizada pela ergonomia cognitiva, que
se destina ao estudo da carga mental no trabalho, à tomada de decisão, ao
desempenho especializado, à interação homem-computador, ao stress e ao
treinamento, e que se mostra como uma eficaz ferramenta nas investigações
sobre o Burnout dos professores (LEMOS, 2005; CORREA, 2002).
46
O conceito de carga mental ou cognitiva diz respeito ao resultado das
inúmeras exigências que mobilizam os processos mentais do professor como:
atenção difusa, memória, tomada de decisão e percepção apurada dos fatos
durante o contato com os alunos. Neste ambiente o professor é levado a tomar
muitas e diversificadas decisões, em um curto espaço de tempo, gerando tensão,
insegurança e angústia (LIMA et al, 2003; NUNES SOBRINHO, 2002).
Na pesquisa de Lemos (2005), Cargas Psíquicas no Trabalho e
Processos de Saúde em Professores Universitários foi dado enfoque à ergonomia
cognitiva, com o objetivo de caracterizar as cargas psíquicas no trabalho de 318
docentes dos cursos do Centro de Ciências da Saúde da Universidade Federal de
Santa Maria e sua influência nos processos de saúde. A pesquisa foi iniciada com
base em uma análise documental dos afastamentos para tratamento de saúde
dos professores. Esta pesquisa foi realizada sob dois enfoques: a) observação
das atividades dos professores em aulas teóricas e práticas, com o intuito de
organizar um check-list das condições de trabalho destes profissionais, que serviu
de base para a organização do Q-CP Questionário de Avaliação da Carga
Psíquica; b) aplicação do Q-CP. Os resultados da pesquisa apontaram que as
condições físicas dos ambientes de trabalho (ruídos, estado de conservação dos
materiais e equipamentos, exigências posturais) foram percebidas pelos
professores como fatores geradores de desconforto, produzindo, sobre eles,
efeitos psicogênicos das cargas físicas. A necessidade de falar constantemente
durante as aulas foi percebida como desconforto para 44% dos professores;
quanto à organização do trabalho, 54,7% dos professores mostraram-se
insatisfeitos com a desproporcionalidade entre a responsabilidade exigida e a
remuneração percebida pelo seu trabalho; 37,2% afirmaram estar descontentes
com o seu emprego. uma distribuição equilibrada de sintomas quanto à idade
e sexo, sugerindo que o bem-estar psicológico é uma variável interveniente na
avaliação da carga psíquica. Os resultados do estudo permitem afirmar que as
condições de trabalho destes profissionais são precárias, tornando-os suscetíveis
a processos de adoecimento físico e psíquico.
Na investigação de Corrêa (2003), Carga Mental e Ergonomia, foi
realizado um exame sobre a carga mental de uma população de 30 trabalhadores
de uma central de tele-atendimento (call center) localizada em Florianópolis. Essa
população foi dividida em 2 subgrupos, de acordo com o tipo de atividade
47
exercida: 20 funcionários pertenciam ao setor de auxílio à lista e os 10 restantes
ao setor de televendas. O instrumento utilizado para a coleta de dados foi o NASA
TLX (Hart 1985), usado para a avaliação de carga mental. Ele apresenta a carga
mental dividida em 6 subscalas: exigência mental, exigência temporal, exigência
física, nível de esforço, nível de realização e nível de frustração. A partir da
aplicação do NASA, foram realizadas entrevistas abertas, a fim de possibilitar
maior entendimento dos fatores intervenientes entre a situação de trabalho e a
carga mental dos indivíduos estudados. Os resultados apontaram que a carga
mental, para aqueles que trabalham no serviço de auxílio à lista, tem suas fontes
nas exigências da atividade que exercem: pressão de tempo (exigência temporal)
e atenção (exigência mental), enquanto no serviço de televendas, pode-se dizer
que a carga mental se origina nas expectativas e frustrações da população (níveis
de realização e frustração) mais do que das exigências da atividade que
desempenham. O autor concluiu que os métodos de acesso à carga mental
possibilitam ao ergonomista alcançar respostas rápidas e precisas acerca de
problemas ergonômicos, descobrindo uma infinidade de fatores geradores de
carga mental no ambiente de trabalho.
A pesquisa de Benito (1994), Análise de exigências cognitivas das
atividades do trabalhador de enfermagem, teve como fundamentação teórica a
ergonomia cognitiva. O objetivo desse estudo foi a identificação e análise das
exigências cognitivas das atividades desenvolvidas pelos trabalhadores de
enfermagem: enfermeiros, técnicos de enfermagem e auxiliares de enfermagem,
bem como as exigências cognitivas, como detecção de informação, tratamento de
informação, elaboração de diagnósticos, tomada de decisão, etc., identificadas no
desenvolvimento de algumas atividades de enfermagem. O local do estudo foi a
Unidade de Internação Clínica de um Hospital-Escola de Santa Catarina. Para o
levantamento de dados, foi usada a técnica de observação direta com diálogo
contínuo e reuniões de grupos. Como instrumentos de análise, foram utilizados
métodos da análise ergonômica do trabalho, técnicas de representação gráfica do
estudo de tempos e movimentos, assim como diagramas de processos para
detalhar as atividades. Também foi realizada, uma modelagem cognitiva das
atividades que envolvem os processos mentais. Após a análise, realizou-se, junto
ao pessoal de enfermagem envolvido, a avaliação das alternativas de solução que
48
melhorem as condições de trabalho e a qualidade da assistência, culminando em
propostas consideradas possíveis de serem postas em prática.
Dado ao seu referencial multidisciplinar, a ergonomia tem sido utilizada
por pesquisadores em várias situações. As investigações empreendidas por
Müller (2004), Rocha e Ribeiro (2001), são exemplos da aplicação da ergonomia
com enfoque organizacional sobre as áreas de saúde e de informática.
Na pesquisa A Síndrome de Burnout no Trabalho de Assistência à Saúde:
Estudo Junto aos Profissionais da Equipe de Enfermagem Hospitalar (MULLER,
2004) desenvolveu uma investigação sobre a Síndrome de Burnout entre
enfermeiros, técnicos e auxiliares de enfermagem do Complexo Hospitalar Santa
Casa de Misericórdia, de Porto Alegre. A pesquisa contou com uma amostra de
55 profissionais, entre enfermeiros, técnicos e auxiliares de enfermagem. Para a
coleta de dados foi utilizado o MBI questionário que avalia o índice de Burnout
(MASLACH e JACKSON, 1981). Os resultados indicaram que os enfermeiros, em
relação aos técnicos e auxiliares de enfermagem, estavam mais desgastados
emocional e profissionalmente. E os enfermeiros com menor tempo de
experiência profissional apresentam maiores níveis de Burnout, quando
comparados aos profissionais de enfermagem mais experientes.
Rocha e Ribeiro (2001), na pesquisa Trabalho, saúde e gênero: estudos
comparativos sobre analistas de sistemas, desenvolveram uma análise sobre as
repercussões da atividade de analistas de sistema na saúde de mulheres e
homens analistas de sistemas na saúde. O estudo contou com uma população de
553 analistas de duas empresas de processamento de dados da região
Metropolitana de São Paulo. Foram realizadas análises ergonômicas do trabalho,
entrevistas semi-estruturadas e preenchimento de questionários para auto-
aplicação. Os resultados revelaram que as mulheres constituíram 40,7% do grupo
estudado. A presença de filhos foi maior entre os homens, embora o tempo diário
dedicado às tarefas domésticas tenha sido maior entre as mulheres. Segundo os
resultados da pesquisa, os fatores geradores de incômodo, tanto entre homens
quanto em mulheres, foram: sobrecarga de trabalho, excesso de
responsabilidade, alto nível de exigência mental e complexidade das tarefas. As
mulheres relataram maior freqüência de sintomas visuais, musculares e
relacionados ao stress, além de maior insatisfação com o trabalho e maior fadiga
49
física. O estudo sugere que as repercussões na saúde das analistas de sistemas
estão associadas às exigências do trabalho e ao papel da mulher na sociedade.
A revisão bibliográfica sobre a Síndrome de Burnout, demonstra que, a
cada dia, mais especialistas se preocupam com este tema pois seus reflexos
incidem sobremaneira na saúde do professor, interferem no seu trabalho, no
processo de ensino-aprendizagem, causam o seu adoecimento, o aumento do
número de absenteísmo e os afastamentos de seus postos de trabalho. Desta
forma, é importante que se realizem pesquisas objetivando a saúde do docente,
afim de promover a humanização de seus postos de trabalho cumprindo, assim,
a função social da pesquisa que é a modificação da realidade e as propostas de
novos paradigmas (NUNES SOBRINHO e NAUJORKS, 2001).
2.5. O Ensino Fundamental e a Síndrome de Burnout
O ato de ensinar, segundo os especialistas, detém características
geradoras de stress ocupacional e Burnout. Por esse motivo, o trabalho docente
no Ensino Fundamental vem despertando o interesse dos pesquisadores, devido
às peculiaridades de sua prática (AMORIM, et. al, 2006 ; Diesat, 2005; MELEIRO,
2002; NUNES SOBRINHO, 2004, 2002; ROSSA, 2003; CARLOTTO, 2002;
GOMES, 2002; OLIVEIRA, 2001; AMADO, 2000; CODO, 1999; DINIZ, 1998).
As evidências de que o magistério no Ensino Fundamental promove o
Burnout constam de inúmeras pesquisas realizadas sobre o tema (ROSSA, 2003;
CARLOTTO, 2002; AMADO, 2000).
Carlotto (2002), no artigo A Síndrome de Burnout e o trabalho docente
buscou, através da revisão da literatura, apresentar a Síndrome de Burnout sob a
perspectiva sócio-psicológica de Christina Maslach, expondo os principais
modelos explicativos de Burnout em professores. Dentre as suas descobertas, a
autora mencionou as pesquisas realizadas por Schwab e Iwanicki (1982) e Woods
(1999). Segundo Carlotto, estes autores concluíram que, em relação à presença
dos sintomas da Síndrome, mais significativo que os anos de prática de
magistério é o nível de ensino em que o professor atua. Assim, o estudo dos
autores revelou que os professores de Ensino Fundamental e Médio
apresentavam mais atitudes negativas nas relações com os alunos e baixo
50
sentimento de desenvolvimento profissional, com relação aos professores do
Ensino Infantil, caracterizando a presença da referida Síndrome.
o estudo de Rossa (2003) Relação entre o stress e o burnout em
professores do Ensino Fundamental e Médio torna evidente outro aspecto dessa
atividade. A pesquisa teve como objetivo avaliar a associação entre os níveis de
stress e Burnout de professores. Para tanto, foram analisados 62 desses
profissionais que atuavam em escolas privadas em uma cidade do interior de São
Paulo. Os resultados evidenciaram, dentre outros aspectos, que a falta do
sentimento de realização profissional dos professores em relação a sua atividade
profissional, foi avaliado com um dos fatores mais importantes para o
desenvolvimento do stress e da Síndrome de Burnout.
Considerando-se os resultados das pesquisas realizadas sobre o tema,
podemos afirmar que os professores do Ensino Fundamental, de um modo geral,
demonstram sofrer da Síndrome de Burnout. A presença da Síndrome nestes
educadores é o retrato da má condição de saúde em que se encontram, devido às
péssimas condições de trabalho. Como fatores que geram estes distúrbios,
podem ser enumerados os seguintes: salas de aula com temperaturas elevadas,
principalmente nos meses mais quentes do ano e em todas as regiões do país;
ruído intenso nas proximidades da escola; iluminação insuficiente em sala de
aula; número excessivo de alunos por turma e falta de equipamento de suporte;
conteúdos curriculares dissociados da demanda observada na prática escolar;
falta de capacitação para lidar com questões pertinentes ao próprio trabalho;
necessidade de manter a disciplina nas turmas; sobrecarga de trabalho extra-
classe; relações interpessoais; clima organizacional e o volume de carga cognitiva
(MELEIRO, 2002; NUNES SOBRINHO, 2004).
O estudo bibliográfico demonstra que a crise no Ensino Fundamental
Público tem a sua origem nos fatores econômicos, sociais, políticos e históricos
da Educação no Brasil (AMADO, 2000; CURY, 2002).
O Ensino Fundamental brasileiro jamais foi valorizado. Sua meta seria a
formação básica do cidadão, através da promoção do desenvolvimento cognitivo,
físico, afetivo, social e ético, tendo em vista a construção de valores e atitudes. No
entanto, pouco tem sido feito neste setor. Segundo Amado (2000, p.1) o professor
que atua no Ensino Fundamental é o responsável pela promoção das “bases para
o desenvolvimento da capacidade intelectual e produtiva de uma nação”, o que
51
lhe confere um lugar de importância significativa na formação dos futuros
cidadãos. Entretanto, o posicionamento do Estado em relação a este profissional
é demonstrado através do descaso, da falta de recursos, da sobrecarga de
trabalho e da baixa remuneração salarial (LDB, 1996; AMADO, 2002 CARLOTTO,
2002; CODO, 1999).
Como aponta Amado (2000), a situação precária do Ensino Básico no
Brasil revela falta de interesse político, que remonta a eras passadas, quando os
governantes, numa demonstração de desinteresse em relação ao
desenvolvimento cultural do povo, não se preocupavam com a criação de escolas
públicas nem de cursos de formação para professores.
Em contraponto, o período que correspondeu aos anos 30 e 60 foi
caracterizado pela valorização da educação, quando muitas ações efetivas foram
realizadas no país em prol de melhorias e avanços neste setor. Exemplos disto
foram a aprovação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação e a criação do
Ministério da Educação. Porém, a partir de 1964, com a ditadura militar, novas
diretrizes foram traçadas e este cenário se modificou, trazendo sofrimento,
desvalorização profissional e sobrecarga de trabalho para os professores.
Dos tempos da ditadura militar até os dias de hoje pouca coisa mudou. A
Educação vem se desqualificando através de um processo de precarização
contínua de sua rede pública de ensino, como atestam os seguintes fatores:
número insuficiente de escolas, de professores e demais trabalhadores de
educação; insuficiência de recursos materiais e a crescente depreciação e
desqualificação do professor (GOMES, 2002; AMADO, 2000), Mesmo assim, com
toda sorte de adversidades, advindas dos problemas sociais, políticos e
históricos, os educadores continuam desempenhando suas funções, apesar dos
efeitos que isso tem trazido para a sua saúde (LIMA, 2004).
A saúde dos professores se deteriora cada vez mais. Diversas fontes
concordam que a classe atravessa um momento de crise, intensificado pelas
constantes mudanças sociais, políticas e econômicas do país. A globalização, o
avanço tecnológico, o acúmulo de funções e a competição no ambiente de
trabalho estão afetando a saúde física e mental deste profissional. Diariamente o
professor é desafiado a corresponder às novas expectativas projetadas sobre ele,
que ignoram a falta de recursos materiais, as limitações das renovações
pedagógicas e a escassez de material didático, componentes de um quadro
52
gerado pela crise econômica e pelos cortes orçamentários. (MALAGRIS, 2004;
NAUJORKS, 2003; NUNES SOBRINHO et al, 2003; LIPP, 2004, 2002;
MALAGRIS 2002; NUNES SOBRINHO, 2002; REINHOLD, 2002; AMADO, 2000;
ESTEVE, 1999; CODO, 1999).
Houve um período em que a profissão de professor era considerada um
sacerdócio, significava possuir uma identidade impregnada de orgulho
profissional, gozando de total prestígio junto à sociedade. Hoje, porém, este
panorama se transformou. ESTEVE (1999) identificou cinco grandes mudanças
sociais que pressionaram estes profissionais:
Transformação do papel do professor e dos agentes tradicionais de
integração social;
crescentes contradições no papel de professor;
mudanças nas atitudes da sociedade em relação a esta profissão;
incerteza acerca dos objetivos do sistema educacional e da longevidade
ou utilidade do conhecimento;
deterioração da imagem do professor.
Os desafios oferecidos à classe para modificar esta situação são bastante
complexos, passando por aspectos originados na história da educação, além das
diversas mudanças que ocorreram ao longo do tempo. Esses fatores conjugados
causaram à categoria inúmeras dificuldades ao desempenho de suas atividades,
principalmente pela carência de condições financeiras das escolas e a
desvalorização e aumento de trabalho e responsabilidades (GOMES 2002;
ESTEVE, 1999).
Além desses fatores, com relação à prática docente no Ensino
Fundamental, podem ser ainda destacadas algumas características
determinantes para o adoecimento do professor. Um importante fator a ser
lembrado é o perfil do universo de alunos que o Ensino Fundamental abarca. De
acordo com a LDB, Lei de Diretrizes e Bases da Educação (1996), no art. 32, o
Ensino Fundamental é subdividido em dois níveis, a saber: dos 6 aos 10 anos,
correspondendo à Classe de Alfabetização e 1ª a 4ª séries, e dos 11 aos 14 anos,
correspondendo aos alunos de 5ª a séries. Esta faixa etária engloba as fases
da infância, pré-adolescência e adolescência, pressupondo uma pluralidade de
comportamentos e demandas que deverão ser atendidas pelos professores.
53
Essas atribuições delegadas ao professor do Ensino Fundamental transcendem a
simples comunicação do conteúdo programático. Ele é levado por várias
contingências a assumir diversos papéis na sua relação com os alunos e mesmo
com os responsáveis destes, como o papel de orientador, confidente, agente de
saúde, entre outros. A pesquisa de Oliveira (2001) Processo de Trabalho e Saúde
na Escola: Um estudo de caso com professores do ensino fundamental da escola
Municipal General Mourão Filho em Duque de Caxias, evidencia este aspecto
através do estudo que conduziu sobre as condições de trabalho do professor de
Ensino Fundamental. Esta pesquisa foi realizada em uma escola pública
localizada no Município de Duque de Caxias, para tanto foi empreendido um
estudo de caso, utilizando para a coleta de dados a técnica de observação
participante e entrevistas semi-estruturadas. Os resultados da pesquisa revelaram
que os professores desempenhavam um número elevado de tarefas, ocasionando
sobrecarga de trabalho, evidenciando uma prática diversificada e desgastante.
Considerando-se as características pertinentes à rotina do professor do
Ensino Fundamental, Oliveira (2001) comenta que nas séries iniciais, do ciclo
fundamental, os professores têm um contato diário com os seus alunos. Este
convívio intenso, acrescido pela tenra idade do alunado, acaba por favorecer o
desenvolvimento de um vínculo afetivo entre professor, aluno e os seus
familiares, gerando a confusão de papéis e o acréscimo de atribuições às
atividades já desempenhadas pelo professor (OLIVEIRA, 2001; DINIZ, 1998).
O estabelecimento deste vínculo afetivo, apesar de resultar em uma
sobrecarga de trabalho para o professor, é essencial para a atividade docente.
Esta particularidade se deve necessariamente a duas condições, uma tem origem
nas atividades práticas deste profissional e a outra se refere à característica
assistencial da profissão docente (CODO, 1999).
Codo (1999) explica que as atividades que priorizam o cuidado, ou são
consideradas atividades assistenciais, exigem necessariamente um investimento
de energia afetiva para que haja a promoção de bem-estar no outro. No caso do
professor, ao exercer uma profissão que prioriza a assistência ao aluno, o mesmo
acontece. Para que possa desempenhar o seu trabalho de forma a atingir seus
objetivos, torna-se necessário o estabelecimento de um vínculo afetivo nas inter-
relações com o alunado.
54
Entretanto, dependendo do tipo de clima organizacional da escola, este
aspecto poderá se intensificar ou não. Na medida em que as condições de
trabalho do professor respeitam as suas limitações, não promovendo um clima de
ansiedade, esse vínculo relacional não influenciará de maneira negativa a sua
rotina de trabalho. Porém se essas condições forem adversas, geradoras de
situações de ansiedade, sobrecarga física, cognitiva e afetiva, este vínculo
influenciará sua atividade de forma negativa, se configurando como mais uma
fator determinante para o acréscimo de carga de trabalho, tornando o magistério
um ambiente hostil e degradante (GASPARINE et al, 2005; OLIVEIRA, 2001;
CODO, 1999; CARVALHO, 1998).
Com base na literatura revisada pode-se concluir que as contingências
presentes nas estações de trabalho do Ensino Fundamental são os principais
fatores contribuintes para a mobilização excessiva das capacidades, física,
cognitiva e afetiva dos professores. Nesse cenário, o profissional da Educação é
penalizado justamente pela tentativa desesperada de alcançar os seus objetivos
profissionais. Como decorrência, é acometido de sofrimento psíquico, evidenciado
pelos episódios de exaustão emocional, despersonalização e falta de realização
pessoal, caracterizando o quadro da Síndrome de Burnout (CODO, 1999).
A revisão bibliográfica sobre a Síndrome de Burnout, demonstra que, a
cada dia, mais especialistas se preocupam com este tema pois seus reflexos
incidem sobremaneira na saúde do professor, interferem no seu trabalho, no
processo de ensino-aprendizagem, causam o seu adoecimento, o aumento do
número de absenteísmo e o afastamentos de seus postos de trabalho. Desta
forma, é importante que se realizem pesquisas objetivando a saúde do docente,
afim de promover a humanização de seus postos de trabalho cumprindo, assim, a
função social da pesquisa que é a modificação da realidade e as propostas de
novos paradigmas (NUNES SOBRINHO e NAUJORKS, 2001).
3. OBJETIVO
A presente pesquisa teve como objetivo a análise da Síndrome de
Burnout em uma amostra de 119 professores do Ensino Fundamental
pertencentes à Rede Pública de um Município localizado na Região Sudeste.
55
4. MÉTODO
4.1. Participantes
O universo de participantes do presente estudo corresponde a um total de
119 professores da Rede Municipal de Ensino, que lecionam no Ensino
Fundamental. Este número representa, aproximadamente, 13% do universo total
de 2273 professores da Rede Municipal de Ensino que atuam neste segmento.
Esses participantes estão filiados a seis Escolas Públicas Municipais localizadas
em um dos estados da Região Sudeste.
4.2. Local
O projeto de pesquisa foi desenvolvido em seis escolas da Rede
Municipal de Ensino, localizadas em um dos Estados da Região Sudeste. Esses
estabelecimentos educacionais são todos vinculados à Fundação Municipal de
Educação e acolhem um total de 27.019 alunos, distribuídos por 82 unidades
escolares. Essas unidades estão organizadas em cinco Pólos Regionais, a saber:
Pólo 1, constituído por 18 escolas e 182 professores, lo 2, com 11 escolas e
294 professores, lo 3, com 22 escolas e 195 professores, Pólo 4, com 18
escolas e 107 professores e Pólo 5, com 13 escolas e 158 professores. Trata-se
de um universo constituído de 2273 professores.
4.3. Instrumentos
Os instrumentos utilizados para a coleta de dados foram: CBP-R, versão
revisada do instrumento CBP Cuestionário de Burnout do Profesorado(Moreno,
Oliver e Aragones, 1993). Esta escala avalia a Síndrome de Burnout e de outros
três fatores: stress, desorganização e problemática administrativa. Além dessa
escala foi aplicado um inventário sócio-demográfico, elaborado para o
levantamento das variáveis sócio-demográficas.
56
O CBP-R é um instrumento auto–aplicável com duração média de 30 a 40
minutos de aplicação e é constituído por 66 itens, respondidos em uma escala
tipo Likert de 5 pontos. Na pesquisa Avaliação do Burnout em Professores:
Comparação de Instrumentos: CBP-R e MBI-ED, Moreno-Jimenez et al (2003)
descrevem este instrumento. O Questionário de Burnout para Professores -
Revisado (MORENO et al, 2000) analisa as diferentes fases da Síndrome de
Burnout, explicando sua sintomatologia, através da análise de três fatores: Fator I
(Stress e Burnout) que compreende itens referentes ao processo de stress
(especificamente ao stress produto das disfunções de papel) e questões relativas
ao processo de Burnout e suas dimensões. Mediante um estudo teórico e
posterior confirmação empírica, distinguem-se neste fator duas sub-escalas:
Stress de papel são exemplos destes itens: “Os critérios de funcionamento para
meu trabalho são muito altos” e É impossível tratar os alunos em base pessoal e
individual”. A segunda sub-escala Burnout é constituída por 19 itens. Podem-se
tomar medidas de cada uma das três dimensões ou do total através de um índice
global, obtido a partir da media das três dimensões. Cada uma das dimensões de
Burnout: Exaustão Emocional, Despersonalização, Falta de Realização. No Fator
II (Desorganização): há referência às condições nas quais se realiza o trabalho
(materiais, recursos de que se dispõe, etc.), ao estilo de direção e ao apoio
recebido por parte do/s supervisor/es. E por fim o Fator III (Problemática
administrativa): é avaliado em função da presença de itens que têm a ver com as
preocupações profissionais e o reconhecimento profissional percebido pelos
professores, Preocupações profissionais: Alguns exemplos destes itens são
“Conflitos com a administração” ou “Contatos negativos com os pais”, Falta de
reconhecimento profissional: “Baixo salário”, “Falta de serviços de apoio para
problemas profissionais”. O instrumento está constituído por 66 itens, que são
respondidos mediante uma escala tipo Likert de 5 pontos. As pontuações altas em
cada uma das escalas do questionário indicam maior incidência ou problemática
da variável que se está analisando. O questionário apresenta uma estrutura
inovadora que tenta avaliar os elementos do processo e consta de fatores
antecedentes e fatores conseqüentes. O bloco dos fatores antecedentes
determina as variáveis do contexto organizacional e laboral que podem estar
atuando como fontes de stress e Burnout, e o bloco de conseqüentes permite
realizar uma avaliação das dimensões do desgaste profissional ou Burnout.
57
4.4. Coleta de dados
A aplicação dos instrumentos de coleta de dados ocorreu em seis escolas
da Rede, seguindo-se os critérios definidos pelo projeto amostral. Em cada uma
dessas escolas foram mantidos os mesmos critérios e condições de aplicação dos
dois instrumentos, tais como: o dia da aplicação, os horários, além dos
procedimentos a serem seguidos pelos aplicadores. Esse conjunto de medidas
serve ao pesquisador como tentativa de controle das variáveis intervenientes, que
porventura possam interferir nos resultados da pesquisa. A aplicação dos
instrumentos de coleta de dados contou com a participação de cinco funcionários
da Fundação Municipal de Educação, os quais receberam treinamento específico
para tal.
4.5. Fonte de dados
Como fontes de dados foram utilizadas documentos contendo
informações sobre o quantitativo de professores matriculados em toda a Rede de
Ensino e o número total de professores por unidade de ensino.
1. Dados Estatísticos de Maio de 2004: Este documento faz parte do
Setor e Assessoria de Estudos e Administração da Secretaria Municipal
de Educação.
2. Relatório de Servidores por Unidade Administrativa (2004), versão
eletrônica: Este documento faz parte do Sistema de Setor de Recursos
Humanos na Seção de Pagamentos-Departamento de Gestão de
Pessoas.
58
4.6. Procedimentos gerais
Para a execução do trabalho de pesquisa, foram cumpridas as etapas
essenciais, conforme abaixo discriminadas:
o O acesso à Fundação Municipal de Educação ocorreu através de um
contato informal com abordagem dos objetivos da pesquisa (junho de
2004).
o Após o consentimento verbal dos gestores, foi entregue à Presidente
da Fundação de Educação um ofício com os seguintes dados:
identificação (pesquisadora e orientador); objetivo da pesquisa;
solicitação dos dados estatísticos dos professores do Ensino
Fundamental em atividade, com a identificação da unidade escolar, o
gênero, a faixa etária, escolaridade e tempo de serviço (Julho de
2004).
o Após a aprovação do projeto de pesquisa, foi solicitado o Relatório de
Servidores por Unidade Administrativa (Agosto de 2004), para
proceder-se ao cálculo amostral.
o Entrega de um ofício ao novo Presidente da Fundação Municipal de
Educação, para a aprovação da continuidade da pesquisa (Março de
2005).
o Requisição de um documento, que foi entregue à Comissão de Ética,
onde a Fundação Municipal de Educação autoriza a aplicação dos
instrumentos para a coleta de dados (Junho 2005).
o Realizações de reuniões com as diretoras das escolas identificadas
como de interesse da pesquisa, segundo o estudo estatístico. Nessas
reuniões foram esclarecidos os objetivos e a validade social da
pesquisa, e a entrega de um documento para as diretoras que
constava (10,17 e 24 de agosto 2005):
o Entrega de uma carta onde as diretoras autorizavam a realização da
pesquisa.
o Cronograma das atividades (alertando para a possibilidade de
eventuais alterações ao longo do trabalho).
o Apresentação dos Instrumentos utilizados na pesquisa.
59
o Esclarecimento quanto ao tipo de investigação, que se tratava de uma
pesquisa de campo, onde não existiriam avaliações individuais ou
institucionais, sendo as respostas anônimas e de caráter confidencial.
Foi assinalado também, que os resultados obtidos seriam
direcionados à Fundação Municipal de Educação.
o Participação do Fórum das Diretoras, evento mensal realizado na
Fundação de Educação, para a entrega às diretoras ausentes na
primeira reunião de trabalho de material explicativo sobre a
pesquisa que não participaram das reuniões anteriores (6/10/05).
o Após os encontros com as diretoras ocorreram as visitas às escolas,
para detalhamentos da pesquisa, junto as diretoras, promovendo uma
maior sensibilização quanto aos objetivos e procedimentos
empregados. O período das visitas às escolas ocorreu do dia 27 de
novembro até o dia 6 de dezembro de 2005.
o Foi enviado, por Correio, uma correspondência Sedex para as escolas
apontadas pelo estudo estatístico, com o seguinte conteúdo: um
pedido de autorização para a realização da pesquisa com a data e dia
previamente combinados (19/05/06).
o Realização de um treinamento com os aplicadores (24/05/06)
o Entrega do material aos aplicadores, constando: lista com os nomes
dos professores, dados referentes à escola (endereço, telefone,
pessoa responsável pela aplicação na escola), o instrumento para a
coleta de dados e a carta de consentimento dos participantes da
pesquisa, como exigência da comissão de ética. (29/05/06).
o Dia da aplicação (31/05/06).
o Envio de uma carta de agradecimento às escolas que participaram da
pesquisa (3/06/06).
o Aplicação do instrumento de pesquisa na escola substituta (14/06/06).
60
4.7. Procedimentos específicos
Os procedimentos específicos para a coleta de dados se constituíram,
durante a primeira etapa, na elaboração de um estudo estatístico baseado em
informações extraídas de fontes de dados específicas, conforme já descritas.
Esse primeiro estudo estatístico consistiu na elaboração de um plano
amostral, com o objetivo de atender os requisitos de uma pesquisa de grupo,
conforme essa modalidade aqui apresentada. Para tanto, foi analisado um
universo constituído por 2273 professores que atuavam em educação infantil,
ensino fundamental e educação de jovens e adultos, todos filiados à Fundação
Municipal de Educação. Por conta do interesse do pesquisador principal, desse
universo foram destacados somente aqueles profissionais da Educação que
atuavam no Ensino Fundamental, o que resultou em um quantitativo de 1335
professores.
A segunda etapa dos procedimentos específicos da pesquisa consistiu na
determinação de uma amostra estratificada por cada um dos cinco Pólos
pesquisados, ocasião na qual foram selecionadas as escolas que abrigavam um
número significativo de profissionais, chegando-se a um total de 119 professores.
De posse desses dados amostrais iniciais, foram tomadas as providências
necessárias para a aplicação dos instrumentos da pesquisa. Então, após o
consentimento formal da Presidência da Fundação Municipal de Educação, para a
realização da pesquisa, foram iniciados contatos com os diretores das escolas
envolvidas. Esses contatos serviram para a explicitação dos objetivos e
procedimentos da pesquisa, além de definir, em comum acordo com cada uma
das cinco escolas, um cronograma de atividades para a aplicação dos
instrumentos de coleta de dados. Assim, as quartas-feiras foram de escolha de
todas as escolas, ocasião onde todos os professores se faziam presentes para o
planejamento escolar.
Após tentativas para definição de um cronograma de trabalho, a primeira
data escolhida pelo grupo para a aplicação dos instrumentos da pesquisa foi
alterada por conta do envolvimento de uma das cinco escolas em outras
atividades.
Para a coleta de dados foram convocados cinco profissionais da própria
Fundação Educacional, não integrantes da amostra, sendo posteriormente
61
treinados na aplicação dos instrumentos da pesquisa. Essa decisão foi tomada
para que a tarefa de coleta de dados mantivesse as mesmas condições, por
escolas, considerando-se o dia, a hora e procedimentos de aplicação. Trata-se de
tentativa para mitigar interferências de variáveis estranhas que poderiam
comprometer a validade da pesquisa. Por fim, o programa de treinamento dos
aplicadores dos instrumentos de pesquisa constou das seguintes etapas:
1ª. Os próprios aplicadores foram submetidos à aplicação dos
instrumentos da pesquisa; o objetivo foi cada um vivenciar a situação, além de
levantar dúvidas sobre a tarefa a ser realizada.
2ª. Ao término da aplicação dos instrumentos foi sugerido a cada
aplicador que expressasse sua opinião sobre a experiência de responder os dois
questionários.
3ª. Uma exposição detalhada sobre os objetivos do estudo, sua validade
social e a importância dos instrumentos de coleta de dados serviu, também, para
conduzir o processo de investigação dentro dos padrões aceitáveis da pesquisa
científica. Para tanto, foi entregue a cada aplicador um conjunto de instruções
padronizadas, a serem lidas para os participantes, antes da aplicação dos
instrumentos. Eram diretrizes a serem seguidas como, por exemplo, não
conversar, não se retirar da sala, não pedir opinião aos colegas, dentre outras.
4ª. Os aplicadores foram alertados sobre a importância do controle do
ambiente, para que os resultados da pesquisa não tivessem a validade
comprometida, como por exemplo, observarem atentamente se os participantes
haviam respondido todas as perguntas dos questionários.
5ª. A cada aplicador foi entregue um termo de comprometimento sobre as
instruções que deveriam ser seguidas; uma carta de agradecimento pela
participação; data e horário da aplicação; nome do responsável/diretor da escola;
nome, endereço e telefone da escola; lista nominal dos participantes e os
telefones de contato da pesquisadora principal.
6ª. Rigorosamente, conforme o cronograma da pesquisa, foram aplicados
os instrumentos para a coleta de dados, em cada uma das cinco escolas. A
aplicação teve duração variável de 30 a 60 minutos. Os questionários preenchidos
pelos professores foram devolvidos aos aplicadores. Apesar das medidas
preventivas, uma das escolas deixou de participar da aplicação. Como
forma de
solução do impasse, uma outra escola da rede foi incluída no projeto amostral.
62
Esta apresentava características similares a escola excluída da pesquisa, como
por exemplo, a localização geográfica, o atributo de pertencer ao mesmo Pólo e
abrigar um quantitativo semelhante, tanto de alunos quanto de professores.
Nessa escola foram aplicados os mesmos procedimentos utilizados anteriormente
nos outros Pólos.
Aplicados todos os inventários, em junho de 2006, os dados coletados
foram devidamente processados com o apoio do programa estatístico SPSS 10
(Statiscal Package for Social Science, 2003).
4.8. Análise dos dados
Utilizando-se dos dados obtidos, por intermédio da pesquisa exploratória
de campo e transcritos para o programa MS Excel, foi procedida a análise
exploratória com o apoio do Programa SPSS (Statistical Package of Social
Science) versão 10.
Com o apoio dos programas citados, os dados foram analisados,
aplicando-se uma estatística t de Student, com o propósito de medir a
significância da diferença entre as duas amostras independentes, tendo como
objetivo testar o grau de significância da relação entre as diferentes variáveis.
Em seguida foram verificadas correlações para a análise do Test-t de
Student, sendo encontrada apenas uma como significativa em cada variável
independente, na associação com o Burnout.
4.9. Delimitação da pesquisa
As delimitações deste estudo foram traçadas com o objetivo de avaliar o
índice da Síndrome de Burnout em professores da Rede Pública de Ensino. Para
tanto, foi utilizado um delineamento de pesquisa denominado amostras
independentes, para a obtenção dos resultados da análise dos dados obtidos a
partir da aplicação do inventário sócio demográfico elaborado para a presente
pesquisa, e do CBP-R “Cuestionário de Burnout do Profesorado - Revisado
(MORENO e ARAGONES, 1993).
63
5. RESULTADOS
O objetivo desta pesquisa descritiva de campo foi avaliar o índice de
Burnout em uma amostra constituída por 119 professores do Ensino
Fundamental, que atuam em seis escolas da Rede Pública Municipal, em um dos
municípios localizados em Estado da Região Sudeste.
Dos 119 professores selecionados para o estudo, 77, ou seja, 64,7%
participaram da pesquisa. Setenta e um por cento pertenciam ao gênero feminino,
34% tinham idade entre 31 e 40 anos, 56% possuíam uma jornada de trabalho
menor que 60 horas, 86% se sentiam ameaçados em sala de aula e 55% dos
professores analisados trabalhavam junto a alunos com necessidades educativas
especiais.
Os resultados da pesquisa apontaram que do total dos professores que
responderam aos instrumentos de coleta de dados, 54, ou seja, 70,13%,
apresentavam sintomas de Burnout.
64
A seguir, o Gráfico 1, demonstra a ocorrência da Síndrome de Burnout
entre os respondentes.
29,87%
70,13%
Sim
Não
Gráfico 1: Ocorrência da Síndrome de Burnout nos respondentes.
Como se pode observar através do Gráfico 1, a incidência da Síndrome
de Burnout entre os professores que participaram da pesquisa, alcançou
porcentagens bem significativas.
65
A seguir, o Gráfico 2, abaixo, apresenta o quantitativo de participantes
distribuídos por gênero, com os seguintes resultados:
71%
29%
Masculino
Feminino
Gráfico 2: Distribuição dos respondentes por gênero.
Conforme os resultados apresentados no gráfico foram expressivos o
percentual de participantes do gênero feminino. Do universo de N=199
professores, 77 responderam aos instrumentos de coleta de dados, sendo que 55
pertenciam ao gênero feminino e 22 ao gênero masculino.
66
Em relação à faixa etária dos participantes, segue o Gráfico 3, com os
respectivos resultados.
10%
34%
26%
25%
5%
Menos de 30
Entre 31 e 40
Entre 41 e 50
Entre 51 e 60
Entre 61 e 70
Gráfico 3: Distribuição dos respondentes por faixa etária.
O Gráfico 3 aponta, 10% dos professores possuem idade inferior a 30
anos; 34% tinham idade entre 31 e 40 anos; 26% tinham idade entre 41 e 50
anos; 25% entre 51 e 60 anos e 26% entre 61 e 70 anos.
67
Quanto à distribuição dos participantes com relação à Jornada de trabalho
de 60 horas/semanais, segue o Gráfico 4, contendo os seguintes resultados:
44%
56%
Maior que 60HS
Menor que 60HS
Gráfico 4: Distribuição dos respondentes por Jornada de trabalho.
Conforme o Gráfico 4, N=34 (44%) dos professores possuem uma carga
horária maior que 60 horas/semanais e N=43 (56%) possuem carga horária
menor que 60 horas/semanais.
68
No que se refere ao sentimento de ameaça experimentado pelos
professores em sala de aula, segue o Gráfico 5, contendo os seguintes
resultados:
86%
14%
Sim
Não
Gráfico 5: Distribuição dos respondentes em relação ao
Sentimento de ameaça em sala de aula.
Em relação ao exposto no Gráfico 5, observa-se um número expressivo
de professores que se sentem ameaçados em sala de aula, N=66 (86%) e
somente, N=11 (14 %) professores não compartilhavam deste sentimento.
69
Quanto à distribuição dos Professores que trabalham junto aos alunos,
com necessidades educativas especiais, segue o Gráfico: 6, contendo os
seguintes resultados:
45%
55%
Sim
Não
Gráfico 6: Distribuição dos respondentes que trabalham
junto a alunos com necessidades educativas especiais.
De acordo com o Gráfico 6, verifica-se que N= 42 (55%) professores
trabalhavam junto aos alunos portadores de necessidades educativas especiais e
N= 35 (45%) professores não trabalham junto aos alunos portadores de
necessidades educativas especiais.
A partir dos escores obtidos com a aplicação dos instrumentos de coleta
de dados, inventário sócio-demográfico e do CBP-R Cuestionário de Burnout do
Profesorado-Revisado” (MORENO e ARAGONES, 1993), foram calculadas as
médias para Burnout, Condições Organizacionais Positivas, Preocupações
Profissionais, Stress de Papel e Clima Social Positivo, considerando os fatores:
gênero, professores que trabalham junto a alunos portadores de necessidades
educativas especiais, jornada de trabalho e sentimento de ameaça em sala de
aula.
70
A seguir, o Gráfico 7 apresenta o comparativo do Burnout em relação ao
Sentimento de ameaça experimentado pelos professores em sala de aula.
Gráfico 7: Gráfico comparativo de Burnout em relação ao
Sentimento de ameaça experimentado em sala de aula.
Utilizando uma estatística paramétrica denominada Teste t de Student,
teste estatístico utilizado para testar o grau de significância da diferença entre as
médias. Foi observada uma diferença significante entre as médias de Burnout,
levando-se em consideração os professores com sentimento de ameaça em sala
de aula e aqueles que não apresentavam este sentimento (t
(75)=
- 1,995 e p,0,05),
segue a tabela 1 apresentando os seguintes resultados.
44
22
10
1
0
10
20
30
40
50
60
70
C/ sentimento
de ameaça
S/ sentimento
de ameaça
s / burnout
c / burnout
71
Tabela 1: Burnout e Sentimento de ameaça em sala de aula
T - t de Student
gl – Grau de liberdade
Sig (2tailed) – Nível de significância para o teste bicaudal
Mean Difference – Diferença das médias
A seguir, o Gráfico 8 apresenta o comparativo de Burnout em relação à
Jornada de trabalho do professor.
21
13
33
10
0
5
10
15
20
25
30
35
40
45
Maior que 60hs Menor que 60hs
s / burnout
c / burnout
Gráfico 8: Gráfico comparativo de Burnout em relação à
Jornada de trabalho do professor.
t gl
Sig(2tailed)
Dif
erença
das
Médias
Burnout e Ameaça em
sala de aula
variância iguais
assumidas
-1,995
75
0,050
-6,94
teste-t de Igualdade de Médias
Teste de Amostra Independente
72
Com relação ao stress de papel, foi observada uma diferença significativa
entre as médias para esta variável, considerando professores com jornada de
trabalho inferior a 60 horas semanais, comparados aqueles com jornada de
trabalho inferior a 60 horas (t
(75)
= -1, 997, p < 0,05). Segue a tabela 2
apresentando os seguintes dados:
Tabela 2: Stress de papel e Jornada de trabalho
T - t de Student
gl – Grau de liberdade
Sig (2tailed) – Nível de significância para o teste bi caudal
Mean Difference – Diferença das médias
t
gl
Sig(2tailed)
Diferença
das
Médias
Stress de papel
jornada de trabalho
do professor
variâncias iguais
assumidas
-1,997
75
0,049
-3,38
teste-t de Igualdade de Médias
Teste de Amostra Independente
73
Ainda nesse sentido, foi observada uma diferença significativa expressada
pelas médias para stress de papel, considerando professores com sentimento de
ameaça em sala de aula e aqueles que não apresentavam este sentimento (t
(75)
=
- 3, 949, p,0,000). A seguir a tabela 3, apresenta os seguintes dados.
Tabela 3: Stress de papel e Sentimento de ameaça em sala de aula
T - t de Student
gl – Grau de liberdade
Sig (2tailed) – Nível de significância para o teste bi caudal
Mean Difference – Diferença das médias
No que tange à relação entre sentimento de ameaça expresso pelo
professor em sala de aula e a preocupação profissional, vale ressaltar que foi
observada uma diferença significativa entre os professores que expressavam um
sentimento de ameaça em sala de aula e aqueles que não apresentavam este
sentimento, levando-se em consideração a Preocupação Profissional (t
(75)
= -
4,328, p<0,000). Segue a tabela 4, apresentando os seguintes resultados.
t
gl
Sig(2tailed)
Diferença
das
Médias
Stress de papel
Ameaça em sala
aula
variâncias iguais
assumidas
-3,949
75
0,000
-8,85
Teste de Amostra Independente
teste-t de Igualdade de Médias
74
Tabela 4: Preocupação profissional e Sentimento de ameaça em sala de
aula
T - t de Student
gl – Grau de liberdade
Sig (2tailed) – Nível de significância para o teste bi - caudal
Mean Difference – Diferença das médias
Em acréscimo, foi utilizada uma Correlação Linear de Pearson com o
objetivo de avaliar o grau de associação entre os professores que expressavam
um sentimento de ameaça em sala de aula e a idade, levando-se em
consideração o Burnout. Os resultados apontaram para uma correlação
significativa entre os fatores mencionados (v = 0,27; p<0,05). Segue a tabela 5,
apresentando os seguintes resultados.
Tabela 5: Burnout e Sentimento de ameaça em sala de aula
Pearson Correlation - Correlação Linear de Pearson
Sig. (2-tailed) – Nível de significância para o teste bi caudal
N – Número de participantes.
B
urnout
Ameaça em
sala de aula
Correlação de Pearson
1000
0,269
*
Sig. (2-tailed)
0,018
N
77
77
Burnout - Ameaça
em sala de aula
Burnout
Idade
Correlações
t
gl
Sig(2tailed)
Diferença
das
Médias
P
reocupação
Profissional - A
meaça
em sala de aula
variâncias
iguais
assumidas
-4,318
75
0,000
-9,17
Teste de Amostra Independente
teste-t de Igualdade de Médias
75
6. DISCUSSÃO E CONCLUSÕES
A presente pesquisa teve como objetivo avaliar o índice de Burnout em
professores do ensino fundamental. Para tanto, foram formuladas, com base na
literatura revisada, cinco hipóteses relativas aos fatores contribuintes para o
desenvolvimento dessa Síndrome em profissionais que atuam nesse segmento
educacional. Os resultados revelaram que 54 dos professores que responderam
aos instrumentos da pesquisa, 13%, apresentavam sintomas de Burnout. Dentre
as hipóteses formuladas pelo pesquisador principal, apenas três apresentaram
resultados significantes, a saber: a) os professores com jornada de trabalho
superior a 60 horas semanais apresentam um quadro de Burnout; b) a idade do
professor é fator determinante para a presença da Síndrome de Burnout; c) o
sentimento de ameaça, experimentado pelo professor em sala de aula, favorece o
desenvolvimento da Síndrome de Burnout.
Resultados de pesquisas ergonômicas sustentam que a carga horária de
trabalho excessiva contribui para o adoecimento de trabalhadores que atuam em
áreas diversas e o magistério não constitui exceção, principalmente por estar
incluído entre as profissões de risco. Assinale-se que à carga horária de trabalho
dos professores muitas vezes são adicionadas tarefas domésticas, o que se
costuma chamar de dupla jornada. Assim, os dados desta pesquisa confirmam o
aparecimento da Síndrome de Burnout em professores que excedem os limites da
jornada de trabalho. Trata-se de sobrecarga decorrente também da quantidade de
vínculos empregatícios a que o professor está se sujeitando na tentativa de
complementar os ganhos salariais, considerados escassos. Os motivos pelos
quais os professores trabalham excessivamente e em mais de um
estabelecimento de ensino costumam ser justificados pelos baixos salários e pela
precarização do trabalho docente.
Por vezes, a idade do professor, somada a sua pouca experiência
profissional e formação inadequada para o atendimento das demandas na
atualidade, se constituem em fatores que começam a ser observados e
registrados pelos pesquisadores. Uma das mais recentes descobertas é que a
idade do professor é fator determinante para o desenvolvimento da Síndrome de
Burnout. Nesse aspecto, a evidência empírica aponta que os professores mais
jovens, de maneira geral, fazem uso exagerado de conseqüências aversivas em
76
sala de aula, na tentativa de controlar o comportamento dos seus alunos a
qualquer custo. Todavia, a utilização inapropriada do controle aversivo na
manutenção da disciplina desencadeia efeitos colaterais indesejáveis, como, por
exemplo, sentimentos de revanchismo e exacerbação de condutas agressivas,
dentre outras manifestações comportamentais que interferem no processo ensino-
aprendizagem. Além de menos vulneráveis aos sintomas do Burnout, indícios
de que os professores de mais idade e com maior experiência estão mais bem
capacitados para administrar situações de sala de aula, pois utilizam, além dos
recursos técnicos, habilidades profissionais adquiridas ao longo do tempo.
Os resultados desta pesquisa sustentam também que o sentimento de
ameaça experimentado pelo professor em sala de aula favorece o
desenvolvimento da Síndrome de Burnout. A esse respeito, o fato de professores
se sentirem amedrontados com a escalada de terror e violência que se instala no
ambiente das escolas é assunto que não pode ser ignorado pela sociedade civil e
pelos analistas das políticas públicas. Sobre essas ocorrências, e, de acordo com
a mídia, existe um contingente expressivo de professores que se recusam a
retornar aos seus postos de trabalho por conta de terem vivenciado cenas
chocantes de violência durante sua jornada de trabalho. Os fatos acompanhados
pela mídia sugerem associações fortes entre o tráfico de drogas e variadas
formas de delitos praticados por alunos, até mesmo pelos do ensino fundamental.
Como se não bastasse, ocorrem diariamente afastamentos de professores do
magistério por terem estes sido protagonistas de situações marcadas pela
violência urbana no ambiente das escolas.
Com relação ao vandalismo e à violência, a literatura registra a ocorrência
desses eventos em toda a sociedade, inclusive nas escolas, que se ressentem
dos efeitos. Os atos de violência usualmente observados nas instituições de
ensino compreendem atentados contra o patrimônio quase sempre, pichações
de parede, móveis e banheiros –, violência sexual e brigas entre alunos, além dos
atos de violência dirigidos contra o professor, não exclusivamente os de natureza
física.
Os episódios de violência nas escolas estão vinculados a atos de
indisciplina, evidenciados por condutas desafiadoras, pequenos furtos, ameaças e
agressões verbais, por parte dos alunos, a colegas e professores. Nesse
contexto, a formação profissional do professor não chega a contemplar conteúdos
77
sobre como administrar situações o adversas em sala de aula como os atos de
indisciplina, o que contribui para o agravamento da violência escolar. O fato de
não saber como gerenciar o comportamento dos alunos já é, por si só, um
poderoso estressor nas atividades de magistério. Não saber fazer é, de fato, um
estressor que futuramente, talvez, possa ser generalizado para qualquer estação
de trabalho. Assim, o sentimento de ameaça experimentado pelo professor em
sala de aula favorece o desenvolvimento da Síndrome de Burnout.
Por conta das contingências observadas, o cotidiano da educação,
principalmente no ensino fundamental, é permeado por um clima de angústia e de
tensão constantes, o que prejudica o desempenho dos alunos e sobrecarrega o
professor, refém de uma situação a qual ele desconhece os meios para
administrar. Os professores se queixam do descaso das autoridades no que se
refere às situações de violência, que geram sentimentos de insegurança e medo,
interferindo na saúde e na qualidade de vida no trabalho.
O contexto das desconformidades também corrobora o “mal-estar
docente”, incluindo-se as péssimas condições de trabalho, evidenciadas por
temperaturas elevadas nas dependências da escola, principalmente nos meses
mais quentes do ano; ruído intenso nas proximidades das salas de aula;
iluminação insuficiente; número excessivo de alunos por turma; e falta de
equipamentos de suporte. Como acréscimo, não ficam descartadas as
possibilidades de o professor apresentar sintomas de Burnout.
Ainda sobre os fatores que contribuem para o desenvolvimento dos
sintomas de Burnout entre os educadores é importante salientar os problemas
quanto aos conteúdos curriculares, que na sua maioria estão dissociados da
demanda observada na prática escolar; a sobrecarga de trabalho extra-classe;
relações inter-pessoais e clima organizacional.
É importante ressaltar também os aspectos vinculados à rotina diária do
professor, como carregar material didático, permanecer em pé e em posição
inadequada por um longo espaço de tempo e o excesso de carga de trabalho, que
se encontra diretamente relacionada à variabilidade do trabalho docente,
determinado pela gestão, políticas educacionais, composição e tamanho das
turmas e infra-estrutura material das escolas.
Mas apesar dessas limitações, as pesquisas apontam que alguns
professores apresentam flexibilidade e criatividade na elaboração e execução de
78
suas atividades. Porém, diante do atual quadro do sistema educacional, essas
estratégias de manobra estão se reduzindo cada vez mais, pois estão
sobrecarregando este profissional, favorecendo o seu desgaste cognitivo, físico e
emocional, levando-o a um quadro de stress crônico.
A incidência do absenteísmo e o número elevado de funcionários que
pedem afastamento do trabalho por motivos de saúde ligados ao stress e ao
Burnout é prova disso. Os dados apontam que existe uma relação direta entre os
episódios de absenteísmo e os afastamentos dos Professores com as doenças de
ordem neuropsiquiátricas, incluindo-se nesta categoria o stress e a Síndrome de
Burnout e outras morbidades, tais como, as doenças respiratórias; doenças do
sistema osteomuscular; tecido conjuntivo e do aparelho circulatório.
Com base na literatura e na pesquisa de campo realizada, foi possível
observar que o professor é um trabalhador sujeito a inúmeros infortúnios devido à
sua atividade ocupacional, e que seu posto de trabalho está, a cada dia, mais
desumanizado em virtude da desvalorização da profissão, das péssimas
condições de trabalho, da formação inadequada, dos baixos salários, das
excessivas jornadas de trabalho, da violência e de tantos outros males,
responsáveis pelo seu esgotamento e pelo conseqüente desenvolvimento da
Síndrome de Burnout.
79
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85
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