Download PDF
ads:
FUNDAÇÃO INSTITUTO CAPIXABA DE PESQUISAS EM
CONTABILIDADE, ECONOMIA E FINANÇAS – FUCAPE
NADIR SALVADOR
AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO ECONÔMICO-FINANCEIRO DAS
EMPRESAS BRASILEIRAS SOB A ÓTICA DA IMPLANTAÇÃO DAS
NORMAS ISO 9000
VITÓRIA
2007
ads:
Livros Grátis
http://www.livrosgratis.com.br
Milhares de livros grátis para download.
1
NADIR SALVADOR
AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO ECONÔMICO-FINANCEIRO DAS
EMPRESAS BRASILEIRAS SOB A ÓTICA DA IMPLANTAÇÃO DAS
NORMAS ISO 9000
Dissertação apresentada ao Programa de
Mestrado Profissional em Ciências Contábeis
da Fundação Instituto Capixaba de Pesquisas
em Contabilidade, Economia e Finanças
(FUCAPE), como requisito parcial para
obtenção do título de Mestre em Ciências
Contábeis – nível Profissionalizante.
Orientador: Prof. Dr. Ricardo Daher Oliveira.
VITÓRIA
2007
ads:
2
Dedico este trabalho aos meus
familiares, pelo apoio, e
sabedoria ao compreenderem
minhas ausências.
3
AGRADECIMENTOS
Ao meu orientador Prof. Dr. Ricardo Daher Oliveira, pelo direcionamento
objetivo e eficiente que me foi dado, reduzindo substancialmente as dificuldades e
sobressaltos normais nesse tipo de pesquisa.
A todos colegas de turma, pela gratificante oportunidade de compartilhar uma
parte dos seus momentos de vida, proporcionando-me crescimento intelectual e
moral.
Aos demais colegas de outras turmas que, com críticas, sugestões ou
qualquer outra forma, contribuiram para que eu pudesse levar avante o intento.
A todos os professores que, sabiamente brindaram-nos com uma parcela de
seus conhecimentos, aumentando o nosso capital intelectual, consequentemente,
abrindo novas oportunidades de realizações.
Aos funcionários da FUCAPE, por sempre estarem disponíveis e obsequiosos
no pronto atendimento às nossas solicitações, assumindo a verdadeira função de
facilitadores.
Por fim, a todos que participaram positivamente no desenvolvimento desse
trabalho.
4
RESUMO
Este estudo investiga se a certificação de empresas brasileiras de acordo com os
padrões da NBR ISO 9000 tem impacto positivo no seu desempenho econômico-
financeiro. Para tanto, realizou-se uma fundamentação baseada na teoria das
organizações, teoria dos sistemas e teoria de agência, que demonstram que as
certificações de qualidade, podem diminuir a incerteza das variações entre o padrão
esperado e o realizado e sinalizar qualidade para produtos e serviços. Essa
sinalização é realizada por meio de troca de informações com o meio externo e a
organização certificada, que funcionam como um sistema aberto e esperam que o
feedback das ações gerenciais em prol da qualidade seja positivo, com maiores
participações no mercado, menores custos e conseqüentemente maiores lucros.
Esta pesquisa foi desenvolvida a partir de uma revisão bibliográfica e foram
realizados testes empíricos que comparam o desempenho econômico-financeiro de
empresas certificadas com o de empresas não certificadas pela NBR ISO 9000, bem
como a própria evolução desse desempenho com o aumento do número de
empresas certificadas. As evidências encontradas, por meio da utilização de testes
estatísticos, demonstram que apesar das empresas possuírem certificação, a
hipótese que o desempenho financeiro é positivamente relacionado a este fato foi
rejeitada. Portanto, podendo-se concluir que, a certificação de qualidade de acordo
com a NBR ISO 9000 não, obrigatoriamente, garantirá maiores lucros para as
empresas certificadas.
Palavras-Chave: ISO 9000, SGQ, TQM, Retornos Financeiros e Produtividade.
5
ABSTRACT
This study investigates whether the certification of Brazilian companies according to
the standards of the NBR ISO 9000 has had a positive impact on the economic-
financial performance. To this end, some research was carried out based on the
theory of organizations, the theory of systems and the theory of agency, which show
that certifications of quality may reduce the uncertainty of fluctuation between the
expected standard and the achievable one, and signal quality for products and
services. This is achievable through ways of information exchange with the external
6
LISTA DE FIGURAS
Figura 1: Modelo de sistema aberto..........................................................................27
Figura 2: Qualidade e lucratividade: perspectiva do produto ....................................32
Figura 3: Qualidade e lucratividade: perspectiva de procesoos................................32
Figura 4: Qualidade e lucratividade: perspectiva de pessoas ...................................33
Figura 5: Qualidade e lucratividade: perspectiva de mercado...................................33
Figura 6: Ciclo operacional de compras e vendas.....................................................38
Figura 7: Ciclos Operacional e Financeiro.................................................................39
Figura 8: Análise comparativa para os indicadores econômico-financeiros..............50
Figura 9: Análise comparativa para os indicadores econômico-financeiros..............50
7
LISTA DE QUADROS
Quadro 1: Relações de agência................................................................................30
Quadro 2: Os prós e contras da implantação da certificação ISO 9000....................40
Quadro 3: Resumo das variáveis. .............................................................................47
Quadro 4: Empresas da amostra. .............................................................................49
8
LISTA DE TABELAS
Tabela 1: Comparação das médias dos indicadores econômico-financeiros – 13
trimestres antes e 21 depois da certificação. ............................................................52
Tabela 2: Comparação das médias dos indicadores econômico-financeiros 8
trimestres antes e 8 depois da certificação. ..............................................................53
Tabela 3: Análise da regressão da variável resultado econômico-financeiro das
empresas certificadas em função do tempo..............................................................55
Tabela 4: Análise da regressão da variável resultado econômico-financeiro das
empresas não certificadas em função do tempo.......................................................55
Tabela 5: Análise da regressão da variável resultado econômico-financeiro das
empresas em função da quantidade de empresas certificadas.................................56
Tabela 6: Valores das médias dos indicadores econômico-financeiros de empresas
certificadas (C) e não certificadas (NC).....................................................................57
9
LISTA DE GRÁFICOS
Gráfico 1: Análise comparativa das empresas certificadas e não-certificadas ROS.
..................................................................................................................................57
Gráfico 2: Análise comparativa das empresas certificadas e não-certificadas ROA.
..................................................................................................................................58
Gráfico 3: Análise comparativa das empresas certificadas e não-certificadas ROE.
..................................................................................................................................58
Gráfico 4: Análise comparativa das empresas certificadas e não-certificadas ciclo
financeiro...................................................................................................................59
Gráfico 5: Análise comparativa das empresas certificadas e não-certificadas ciclo
operacional................................................................................................................59
10
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO.......................................................................................................11
1.1
D
EFINIÇÃO DO PROBLEMA
...................................................................................15
1.2
O
BJETIVOS
........................................................................................................16
1.2.1 Objetivo Geral ...........................................................................................16
1.2.2 Objetivos específicos ................................................................................16
1.3
R
ELEVÂNCIA DO TEMA
.........................................................................................16
1.4
E
STRUTURA DO TRABALHO
..................................................................................20
2 REFERENCIAL TEÓRICO.....................................................................................22
2.1
D
ESENVOLVIMENTO DA GESTÃO DA QUALIDADE
:
PERSPECTIVA HISTÓRICA E
EVOLUCIONISTA
........................................................................................................22
2.2
A
S ORGANIZAÇÕES COMO UM SISTEMA ABERTO
:
UM ENFOQUE NA GESTÃO DA
QUALIDADE
..............................................................................................................26
2.3
G
ESTÃO DA QUALIDADE NAS RELAÇÕES DE AGÊNCIA
..............................................29
2.4
N
ORMAS
ISO
9000:
UMA ABORDAGEM CONCEITUAL
..............................................34
2.5
D
ESEMPENHO ECONÔMICO
-
FINANCEIRO
:
ANÁLISE DOS INDICADORES DE
RENTABILIDADE E ATIVIDADE
......................................................................................36
2.6
E
STUDOS SOBRE A RELAÇÃO ENTRE SISTEMA DE GESTÃO DA QUALIDADE E
DESEMPENHO FINANCEIRO
........................................................................................39
3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS...............................................................45
3.1
F
ORMULAÇÃO DAS HIPÓTESES
.............................................................................45
3.2
S
ELEÇÃO DA AMOSTRA
........................................................................................47
3.3
T
RATAMENTO DOS DADOS
...................................................................................50
3.3.1 Tratamento de Outliers..............................................................................51
4 ANÁLISE DOS DADOS.........................................................................................52
4.1
A
NÁLISE EM CORTE TRANSVERSAL
.......................................................................52
4.2
A
NÁLISE EM SÉRIES TEMPORAIS
...........................................................................53
4.3
A
NÁLISE EM PAINEL
.............................................................................................56
5 CONCLUSÕES......................................................................................................60
REFERÊNCIAS.........................................................................................................62
11
Capítulo 1
1 INTRODUÇÃO
O Século XX foi marcado por ocorrências que motivaram mudanças em todas
as áreas de conhecimento, algumas delas sendo decisivas para as transformações
verificadas na sociedade.
O grande conflito mundial, envolvendo as principais nações tecnologicamente
avançadas, foi um fato que contribuiu para o avanço da industrialização, uma vez
que promoveu a pesquisa e o desenvolvimento de novos materiais, processos e
equipamentos, fazendo com que, nesse período histórico, houvesse uma
significativa evolução no aprimoramento das tecnologias produtivas e administrativas
até então existentes.
Para Schumpeter (1985), a evolução é senão, um processo dialético da
constante inovação. Para esse autor a inovação é o ingrediente principal para o
desenvolvimento econômico, sendo o veículo de progresso técnico e material que irá
estimular e mesmo modificar profundamente o ambiente competitivo, uma vez que
modernamente a estratégia está fundamentada principalmente no processo de
inovação.
Com a evolução do capitalismo e dos diversos modelos de gestão, surgiu
uma nova era com a evolução das tecnologias produtivas, que tem feito com que os
trabalhadores passem a ser reconhecidos, de uma maneira crescente, pelo seu
conhecimento e criatividade, diferentemente de épocas anteriores, onde se
reconhecia apenas a força da mão de obra e se descartava qualquer tipo de
raciocínio no chão de fábrica. Isto fez com que, de forma simultânea, os
trabalhadores assumissem a função de planejar e controlar a produção, pensando
12
em novas formas de eficiência produtiva, de capacitação e de responsabilidade; um
novo perfil de trabalhador capaz de aprender e interagir com modelos de gestão
(CAMPOS; BARBOSA, 2001, p. 2).
A revolução que está em curso, a tecnológica, requer a transformação das
organizações, das modalidades de trabalhos e das relações entre empresas. Dessa
maneira, as organizações enquanto sistemas abertos devem combinar os fatores
endógenos aos exógenos, com as condições de mercado e os elementos políticos e
institucionais de forma a obterem a máxima produtividade com a máxima
lucratividade. De acordo com Bertalanffy (1969), a tecnologia e a sociedade
tornaram-se tão complexas que as soluções tradicionais já não são suficientes,
sendo necessário utilizar abordagens de natureza holística ou sistêmica,
generalistas ou interdisciplinares.
Em mercados competitivos, as empresas buscam formas de organização
mais eficazes para fazerem frente às mudanças nas exigências dos clientes, aos
avanços da concorrência, a evolução do mercado de trabalho, a evolução
tecnológica e outros fatores que passaram a exigir uma capacidade cada vez maior
de transformação e de adaptação das organizações. Segundo Roberts (2005, p. 9),
“a obtenção de um grande desempenho em um negócio resulta do estabelecimento
e da manutenção de um equilíbrio entre a estratégia da empresa, sua estrutura
organizacional e o ambiente em que ela opera”.
Esta percepção de habilidade competitiva, seja consciente ou não, induziu as
organizações a investirem em práticas gerenciais, métodos, soluções e
metodologias de gestão do conhecimento, pois, impulsionadas pelo movimento de
mercado, ou preocupadas com a concepção amplamente aceita de que o
conhecimento organizacional constitui a fonte de vantagem competitiva duradoura,
13
não haveria outra maneira de perpetuar-se no mercado senão pela melhoria do
conhecimento dos participantes da organização, tendo em vista a velocidade com
que o ambiente muda e a alta competitividade entre indústrias (NONAKA, 1991, p.
96).
Senge (2000, p.167) diz que “as organizações aprendem por meio de
indivíduos que aprendem. A aprendizagem individual não garante a aprendizagem
organizacional. Entretanto, sem ela, a aprendizagem organizacional não ocorre”.
Aliada à necessidade de aprendizagem e gestão do conhecimento, o contexto
organizacional implica na percepção de práticas gerenciais adotadas no ambiente
organizacional.
Oliveira & Schiehll (2007) investigaram a relação entre as práticas gerenciais,
a gestão do conhecimento organizacional e a implantação de programas de
qualidade total e concluíram que as empresas certificadas, de maneira geral,
apresentam uma melhor gestão do conhecimento, pois as empresas certificadas
apresentam mais práticas gerenciais e possuem uma maior percepção sobre a
utilidade das práticas gerenciais.
Portanto, uma das características do ambiente empresarial global durante as
últimas duas décadas foi o aparecimento da “qualidade” como fator de sucesso
competitivo (VAN DER WIELE; VALE; WILLIAMS, 2000).
Acompanhando esta denominada “revolução de qualidade”, aconteceu uma
sucessão de inovações organizacionais projetadas para auxiliar as empresas na
administração da qualidade, como por exemplo: Total Quality Management (TQM),
Just-in-time (JIT), Kambam, Poka Yoke, Zero Defeito, Manutenção Autônoma,
Células de Produção, Círculos de Controle da Qualidade (CCQ). Em consonância,
14
foram sugeridos sistemas unificados de administração de qualidade em nível
internacional. Esta tendência foi especialmente pronunciada em nível global,
acompanhando a crescente integração econômica que levantou a necessidade por
padrões comuns para facilitarem a cooperação e coordenação entre empresas
(NEUMAYER; PERKINS, 2004).
Para Barzel (2003) a tarefa dos consumidores em obter informações sobre as
características de qualidade de um produto tem custo elevado. Isto faz da
padronização um recurso para reduzir o custo de obter tais informações,
aproximando o mundo das informações onerosas ao da concorrência perfeita, que
assume implicitamente que os bens obedecem a padrões.
As organizações, por sua vez, para demonstrarem a garantia dos padrões de
qualidade, utilizam de certificações segundo organismos mundiais, do tipo
International Organization for Standardization (ISO), do qual o Brasil é país membro
e representado pela Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT).
Ter um padrão significa, sobretudo, ter uma base para comparação. De
acordo com a ISO (Padrão, 2006) é um "documento aprovado por um organismo
reconhecido que provê, pelo uso comum e repetitivo, regras, diretrizes ou
características de produtos, processos ou serviços cuja obediência não é
obrigatória". A ISO é o maior padrão privado de Sistema de Gestão da Qualidade
internacional.
Neste contexto, a maturação dos conceitos de qualidade surge no Brasil,
principalmente a partir da década de 90, quando houve a busca pela qualidade total,
privilegiando a gestão dos processos, com o foco gerencial ampliado para a
qualidade da gestão (LEITE, 2005).
15
Os Sistemas de Gestão da Qualidade podem impactar sobre as bases do
negócio, sendo associados a medidas-chaves de desempenho empresarial, como o
preço, a participação no mercado, a propaganda, a produtividade e a lucratividade
(GARVIN, 1992).
Visto assim, as normas ISO ganham considerável importância na gestão
eficiente das organizações, com promessas de maximização dos resultados, através
do gerenciamento das funções defendidas pelas escolas clássicas da administração
que visavam, principalmente, questões relacionadas com a organização,
coordenação, direção, planejamento e controle, objetivando o alcance das metas.
Neste sentido, o trabalho busca enriquecer o debate acerca da relação entre
a certificação ISO 9000 e o retorno para as empresas, desta prática gerencial, por
meio de uma análise econômico-financeira das companhias brasileiras de capital
aberto, com intuito de entender melhor a relação causal entre a certificação de
qualidade e seu reflexo no desempenho das organizações.
1.1
D
EFINIÇÃO DO PROBLEMA
As afirmações expostas mostram a necessidade de se conhecer o
desempenho econômico-financeiro das organizações que implantaram um Sistema
de Gestão da Qualidade baseada nas normas ISO 9000. Desse modo, esta
pesquisa procura investigar, no âmbito do mercado acionário brasileiro, a seguinte
questão:
Qual o impacto da certificação nos padrões ISO 9000 no desempenho
econômico-financeiro das organizações?
16
1.2
O
BJETIVOS
1.2.1 Objetivo Geral
Em decorrência da questão em estudo, tem-se como objetivo geral, identificar
se as empresas certificadas obtiveram melhorias nos seus resultados econômico-
financeiros a partir da certificação, avaliando os resultados de um grupo de
empresas certificadas pela ISO 9000.
1.2.2 Objetivos específicos
Para o alcance do objetivo geral são delineados os seguintes objetivos
específicos:
Definir quais indicadores econômico-financeiros usados para análise e os
métodos para cálculo dos retornos.
Levantar as empresas que foram certificadas segundo a norma ISO 9000,
constantes da lista da Bolsa de Valores do Estado de São Paulo (BOVESPA);
Comparar a variação dos ciclos operacionais e financeiros e a situação
econômico-financeira das empresas, em função da certificação pela ISO 9000.
Comparar, desse grupo, empresas certificadas com não certificadas;
1.3
R
ELEVÂNCIA DO TEMA
As organizações estão em busca de ferramentas que as auxiliem na gestão e
controle de seus processos, com um volume de informações que realmente
contribuam para o processo decisório. O ambiente de mercado faz que as
17
organizações usem ferramentas que as auxiliem no seu processo de gestão, assim,
investir em programas de qualidade pode trazer soluções para tomada de decisão.
Com o crescimento da competitividade, as organizações exercem controle
mais rigoroso, para reduzir custos, aumentar a produtividade e atender de maneira
mais rápida as mudanças do mercado. A implantação do Sistema de Gestão da
Qualidade nas organizações pode se tornar um fator diferencial na sua
competitividade. Neste cenário, as organizações buscam a melhoria contínua
tentando alcançar uma gestão pela “qualidade”.
O termo “qualidade” possui diversos significados e usos. Para Crosby (1979),
qualidade significa conformidade às especificações. Deming (1986) enfoca a
melhoria da conformidade pela redução da incerteza e variabilidade ao longo dos
processos de projeto e fabricação, sendo a variação a principal culpada pela
qualidade. Conforme Juran & Gryna (1991), a qualidade é um conjunto de
características do produto que satisfaça as necessidades dos clientes e, por esse
motivo, leve a satisfação em relação ao produto, afirmam também que na qualidade
não deverá existir falha em um bem a ser consumido.
Feigenbaum (1994), diz que o significado de qualidade no caso de produtos e
serviços nada mais é do que a combinação de características de produtos ou
serviços que envolvam ações de marketing, produção e manutenção, para
corresponder às expectativas dos clientes. A confiança, acesso e manutenção de
produtos ou serviços são exigências naturais para a determinação da qualidade e
fidelidade do cliente.
Para Garvin (1992) a fidelidade do cliente pode ser substancial, pois são os
clientes e não os departamentos internos, que conferem a última palavra para
determinar se o produto é, ou não, aceitável. Ainda de acordo com o autor,
18
pesquisas realizadas mostraram evidências do impacto da qualidade nos níveis
mínimos de retorno, como os estudos realizados com a base de dados de Impacto
sobre o Lucro das Estratégias de Marketing (PIMS), evidenciam que as empresas
americanas com produtos de qualidade possuíam maior retorno sobre o
investimento (ROI), qualquer que fosse sua participação no mercado.
Cliente fiel, ou leal à empresa, é o que buscam todas as organizações, pois
as conseqüências diretas da lealdade do cliente são representadas por sua
retenção, repetição de compras e recomendações a terceiros, comportamento
imprescindível ao crescimento da receita, aumento da lucratividade e melhor
desempenho econômico-financeiro (REICHELD, 1996).
Desta forma, a qualidade torna-se um assunto constante nas organizações,
constituindo-se numa importante dimensão competitiva. As empresas estão cada
vez mais preocupadas com a qualidade de seus produtos, buscando controlar seus
custos e não perder qualidade. Por isso, implementam programas de melhoria da
qualidade.
A preocupação das organizações tem se concentrado na medição de seus
resultados financeiros, traduzidos por vários indicadores tais como retorno sobre o
investimento, crescimento da receita, aumento de margens, giro de estoques, bem
como, mais recentemente, dos que se referem à qualidade de processos
operacionais - em sua maioria fruto de certificação segundo normas internacionais
como, por exemplo, as ISO 9000 (BARCELLOS, 2002).
Hansen & Mowen (2001) afirmam que um destaque maior na qualidade
aumenta a lucratividade com o acréscimo na demanda dos clientes, fornecendo
bens e serviços a um custo menor.
19
Para Garvin (1992) existem duas formas pela qual a qualidade poderia levar a
um melhor desempenho financeiro para as organizações. A primeira forma seria por
meio do mercado, pois as melhorias de desempenho, das características e outras
dimensões de qualidade podem gerar aumentos nas vendas e maior market-share.
A segunda forma é pelo lado do custo, pois menos falhas podem significar menores
custos de serviços pós venda.
Diante disso, essa pesquisa se justifica pela discussão sobre o tema Sistema
de Gestão da Qualidade nos padrões ISO 9000, integrando-o ao desempenho
financeiro das organizações.
Para a empresa ser competitiva, necessita conhecer o ambiente externo e ter
domínio do ambiente interno, com a definição de estratégias de ação que revertam
em sucesso para si. Como é difícil alterar o ambiente, as organizações o monitoram,
para definir as melhores práticas gerenciais internas. A certificação NBR ISO 9000 é
um sistema de informação, que pode permitir a ordenação do conhecimento utilizado
na empresa, sincronizando a atuação de pessoas, postos de trabalhos e
fornecedores em busca de objetivos comuns, para o alcance da vantagem
competitiva por meio da diferenciação e conseqüentemente melhor desempenho
financeiro.
Entretanto, a literatura sobre a implantação das normas ISO 9000 evidencia
prós e contras da sua implementação. Algumas análises consideram que o
desempenho gerado pela maior qualidade pode ser concreto, enquanto outras
inferem que os benefícios gerados são ilusórios e enfatizam que a administração da
qualidade por meio da ISO 9000 pode não ser apropriada para todas as
organizações (BRISCOE; FAWCETT; TODD, 2005).
20
Neste sentido, o trabalho busca enriquecer o debate atual acerca da relação
entre Sistema de Gestão da Qualidade e desempenho financeiro, por meio da
análise econômico-financeira de empresas certificadas, com intuito de entender
melhor essa relação.
1.4
E
STRUTURA DO TRABALHO
O trabalho encontra-se dividido em cinco capítulos. Procurou-se uma
estrutura que possibilitasse o melhor entendimento dos objetivos propostos e dos
resultados obtidos.
Capítulo 1 Introdução foram apresentados: a introdução; as questões de
pesquisa; os objetivos geral e específicos; a relevância do tema, bem como a
estrutura do trabalho.
Capítulo 2 Referencial Teórico – é discutido o Sistema de Gestão da
Qualidade, baseado em padrões internacionais ISO 9000 por meio da Teoria das
Organizações, Teoria dos Sistemas e Teoria de Agência, bem como uma análise
dos indicadores econômico-financeiros de rentabilidade e atividade.
Capítulo 3 Procedimentos Metodológicos apresenta-se a descrição de
todas as abordagens, procedimentos técnicos e testes efetuados, além da
formulação das hipóteses de trabalho.
Capítulo 4 Análise dos Dados - realiza-se uma análise e interpretação dos
dados, onde são apresentadas as compilações dos resultados dos testes efetuados.
Com intuito de responder as questões de pesquisa, é analisado e interpretado cada
um dos resultados obtidos.
21
Capítulo 5 Conclusões objetivando apresentar possíveis respostas à
questão de pesquisa, são mostradas algumas conclusões, indicando-se as
limitações da pesquisa e sugestões para futuros estudos.
22
Capítulo 2
2 REFERENCIAL TEÓRICO
2.1
D
ESENVOLVIMENTO DA GESTÃO DA QUALIDADE
:
PERSPECTIVA HISTÓRICA E
EVOLUCIONISTA
A qualidade faz parte do corpo de conhecimento da teoria das organizações,
pois evoluiu de um foco estreito em controle de processo, para abranger uma
variedade de métodos e de comportamentos para melhorar o desempenho
organizacional (DEAN; BOWEN, 1994). Essa evolução da administração da
qualidade se deve às idéias, principalmente de Taylor e Ford, que se agregam às
contribuições de Deming, Juran, Feigenbaum, Crosby, Ishikawa e outros estudiosos.
Existem duas formas principais de abordagem teórica da qualidade, a
primeira aborda os trabalhos dos autores do movimento de qualidade, que a
mostram como uma técnica de gestão útil e diferenciada, com uma procura para
compreensão de bases teóricas. A segunda abordagem mostra uma visão crítica em
torno de pensamentos pós-modernistas e mostra a qualidade como uma versão
revista e atualizada de velhas práticas industriais de base taylorista/fordista
(CUNHA; CUNHA; DAHAB, 2001).
A visão da qualidade como novo paradigma teórico tem sido contestado por
autores, tais como Tuckman (1994,1995); Du Gay & Salaman, (1992); Kerfort &
Knights (1995); Walsh (1995); Steingard; Fitzgibbons (1993); Boje & Windson (1995);
BOJE (1993); Hetrick & Boje (1992), que criticam a qualidade como status teórico,
afirmando que a qualidade é uma técnica de gestão, que oculta um taylorismo
revisado ao século XXI (BOJE; WINDSON, 1995).
23
Tuckman (1994) questiona a qualidade como teoria, pois a ênfase que os
principais integrantes da escola da qualidade colocam na necessidade de
especificar, medir e monitorar os processos é muito semelhante à idéia de controle
do modelo taylorista e afirma que a qualidade reforça as características do modelo
tradicional com uma nova roupagem.
Nesse sentido, a qualidade não constitui um novo paradigma substituto dos
modelos teóricos existentes, como o taylorista e fordista, mas uma nova linguagem
que tenta amenizar problemas ainda não solucionados p.87(s)-0.295ctp.87(s)-0.295ccquebltp.g39(n)-4.3315(o)-4.33117(l)130188(s)-0.295z73(t)7.84.2175(l)1.80439(e)31.87õ23(d)-4.33117(o)-4.33873(t)7.84154(o)-4.3-4.33117g87( )278]TJo .33117(r)2.436(a)-93eme117(n)-4.336558(a)-4.3-0.295585(t)-(r)2.1548 745.88 Tm[(T)-9.36-7.49588(o)5.67535(d)-.51003(o)-4.5(a)-4.33117(r)2.80561(,)-117( )-42.188(s)-05585(o)-4.33119(n)-4.3315(o)c odo odoo
24
Assim como Taylor, Henry Ford elevou ao grau mais elevado os princípios da
produção em massa, que são: fabricação de produtos não diferenciados em grande
quantidade (peças padronizadas) e trabalhador especializado. Conforme Reeves &
Bednar (1994, p. 422), o empenho de Ford por produção em massa conduziu a
melhores padrões de qualidade e a difusão do sistema americano de larga-escala.
Ford percebeu que, se o objetivo da Ford Motor Company fosse produzir um "carro
para as massas", teria que ser dada maior ênfase a intercambiabilidade entre as
partes e os trabalhos manuais teriam que ser minimizados.
A padronização tornou-se importante para as organizações, na passagem da
produção artesanal para a produção em massa, como a realizada com peças e
componentes na linha de montagem da Ford, fez também surgir padronizações dos
métodos e práticas de uma organização, similar aos adotados nos Sistemas de
Gestão da Qualidade.
Produzir de acordo com as especificações do projeto, num contexto histórico
influenciado por práticas tayloristas, levou uma intensificação do controle sobre as
etapas do processo produtivo e requereu inspeção permanente na produção final. A
adoção dos princípios de Taylor de gestão cientifica da produção permitiu o
crescimento na produtividade e incorporou-se o princípio da melhoria contínua e das
teorias humanistas, o alicerce para buscar o desenvolvimento das pessoas no
contexto da qualidade.
As atividades de inspeção transformaram-se em um processo de controle de
qualidade, ou seja, a estratégia utilizada pelas empresas para controlar deficiências
na produção foi criar departamentos de controles de qualidade.
As necessidades de reduzir custos com inspeção fizeram com que as
empresas adotassem um controle estatístico da qualidade, acrescentando uma outra
25
dimensão quantitativa, além do preço, à definição de qualidade. Grant, Shani &
Krishman (1994) afirmam que os conceitos modernos de qualidade podem ser vistos
nas teorias estatísticas desenvolvidas por engenheiros, físicos e estatísticos em
indústrias de armamento e de telefonia.
Para Reeves & Bednar (1994, p. 419) o conceito de qualidade foi
contemplado ao longo de história e, ainda hoje, continua sendo um tópico de intenso
interesse. Atualmente, qualidade é discutida em inúmeras publicações acadêmicas e
de comércio, pela mídia, e seminários; é, talvez, o mantra mais freqüentemente
repetido entre os gerentes e executivos em organizações contemporâneas.
Desse ponto de partida, a qualidade passou por diversos estágios, até chegar
a atual administração da qualidade total. Dentre eles destaca-se o estágio da
“garantia da qualidade” iniciado por volta do final da II Guerra Mundial, com Edwards
Deming em 1950, Joseph Juran em 1954, implementado os custos da qualidade;
Armand Feigenbaum em 1956, com o controle total da qualidade e Philip Crosby em
1961 com o zero defeito.
Nas duas últimas décadas do século XX, a qualidade passou a ser uma
gestão estratégia para as organizações, conforme Marshall Júnior et al. (2006) “[...] a
qualidade passou efetivamente a ser discutida na agenda estratégica do negócio, e
o mercado passou a valorizar quem a possuía e a punir as organizações hesitantes
ou focadas apenas nos processos clássicos de controle de qualidade”.
O desenvolvimento de estratégias para a competição externa é uma condição
necessária, mas não suficiente para dar sustentação ao sucesso da organização.
Deve ainda focar em seus processos, tanto internos, quanto externos à organização,
adotando minuciosos planejamentos para conseguir o perfeito domínio de todos os
26
processos, desenvolvendo sistemas gerenciais, produtivos e informativos que
consigam alinhar todas as metas para alcançar a eficiência da empresa.
Para Mintzberg (1995) a implantação de programas de qualidade em uma
organização pode provocar alterações significativas em sua estrutura organizacional,
promovendo a descentralização ou, ainda, a mudança no fluxo de trabalho e no
controle do processo de trabalho, passando a exigir um tipo de coordenação
apropriado.
A qualidade, dependendo do empenho e profundidade alcançados, pode
resultar em mudanças verdadeiras ou superficiais nas organizações, decorre de
como será a estratégia da gestão. Assim, a qualidade pode ser uma nova versão do
taylorismo e fordismo ou um movimento de renovação da gestão, de acordo com a
implementação escolhida, tanto se pode seguir o caminho taylorista, como o
renovador, ou ambos (CUNHA; CUNHA; DAHAB, 2001).
Assim, a introdução de uma administração da qualidade pode provocar
alterações expressivas nas organizações. Porém, vale destacar que um estudo
sobre gestão da qualidade, com bases teóricas, deve ser mais explorado, haja vista
que os princípios e as técnicas de administração da qualidade são de caráter
estratégico. Desta maneira, este estudo enfoca os sistemas de gestão da qualidade
sob a luz da Teoria dos Sistemas e Teoria de Agência.
2.2
A
S ORGANIZAÇÕES COMO UM SISTEMA ABERTO
:
UM ENFOQUE NA GESTÃO
DA QUALIDADE
As organizações o sistemas abertos que influenciam e sofrem influências
de agentes externos. Bertalanffy (1969) diz que os sistemas abertos não sobrevivem
sem trocas de energia com seu ambiente (FIGURA 1).
27
Fonte: Adaptada de Bertalanffy (1969, p. 43).
Figura 1: Modelo de sistema aberto
No pensamento sistêmico, as organizações são dinâmicas e têm processos
que interligam os componentes e transformam os elementos de entrada (informação,
energia, matéria-prima, pessoas, dentre outros) em saídas (produtos, serviços e
informações) para o meio ambiente.
Segundo Katz & Kanh (1977), para tentar se opor ao processo entrópico, em
que todas as formas organizadas tendem à exaustão, à desorganização, à
desintegração e, no fim, à morte, sistemas devem adquirir entropia negativa ou
negentropia. O sistema aberto (organizações), por importar mais energia do
ambiente do que necessita podendo, por meio desse mecanismo, adquirir entropia
negativa. Há, então, nos sistemas abertos, uma tendência geral para tornar máxima
a relação energia importada e energia exportada, visando à sobrevivência, mesmo
em tempo de crise e, inclusive, para sobrevida maior que a prevista. Entretanto, Katz
& Kanh (1977, p. 34), afirmam que “[...] o número de organizações que deixam de
existir todos os anos é enorme”.
Desta forma, seja para sinalização de uma boa imagem corporativa ao
mercado ou pela própria sobrevivência, as organizações precisam expandir seu
Informação
Energia
Matéria–prima
Pessoas
Entradas
Transformação
ou
processamento
Produtos
Serviços e
Informações
Saídas
Retroação (feedback)
Ambiente
Ambiente
28
pensamento estratégico. Neste contexto, as empresas buscam adotar novas práticas
gerenciais, como as sugeridas quando das certificações de qualidade.
O enfoque sistêmico por meio das contribuições da teoria da cibernética
desenvolve o conceito de feedback (retorno da informação, efeito retroativo ou
realimentação), que consiste no círculo de informação que retorna a organização
(sistema aberto) (BERTALANFFY, 1969, p. 150).
Os sistemas de gestão da qualidade podem aumentar os lucros das
organizações por meio da redução da assimetria informacional, a melhora do
desempenho no mercado, a diminuição de custos e o alinhamento de processos
internos. Se tal situação ocorre, conforme Bertalanffy (1969), as organizações
possuem um circuito de feedback positivo, caso contrário acontece um circuito de
feedback negativo, com a dificuldade de se aumentar a lucratividade.
A interação entre as dimensões estruturais e humanas das organizações e a
influência das forças ambientais externas, faz com que a organização seja um
sistema composto de subunidades ou subsistemas que interagem continuamente e
que dependem mutuamente uns dos outros (BOWDITCH; BUONO, 1997).
Assim, o estudo apenas das variáveis internas não proporciona uma
compreensão mais ampla da estrutura e comportamento organizacionais, surgindo a
necessidade de entender as variáveis externas e as relações entre os agentes
envolvidos.
29
2.3
G
ESTÃO DA QUALIDADE NAS RELAÇÕES DE AGÊNCIA
Para as organizações desempenharem seu papel é necessário que haja um
relacionamento entre seus agentes internos e externos. Este relacionamento é
chamado na Teoria de Agência de relação principal-agente.
De acordo com a Teoria da Firma esses relacionamentos fazem surgir
contratos, formais ou informais; assim, as organizações podem ser entendidas como
um complexo de relações contratuais entre indivíduos, que se intercalam em vários
sentidos e em diferentes partes da empresa. Jensen & Meckling (1976) afirmam que
é importante reconhecer que a maioria das organizações são ficções legais que
servem como uma ligação para um nexo de relações contratuais entre indivíduos.
A relação entre agente e o principal pode ser compreendida em diferentes
tipos, a mais comum, relaciona acionistas ou proprietários (principal) e os
administradores (agente), onde o proprietário delega poderes para os
administradores. Nestas relações podem existir problemas ou conflitos, que
conforme Eisenhardt (1989) ocorrem quando os objetivos do principal e do agente
são conflitantes; quando há dificuldade para o principal verificar as atitudes do
agente e o risco compartilhado quando o agente e o principal possuem
comportamentos diferentes em relação ao risco.
As dificuldades do principal em monitorar as ações do agente ocasionam
problemas, como as questões comportamentais dos agentes, de assimetria de
informações, influenciadas pela moral hazard e seleção adversa.
As relações de agência e seus conflitos estão presentes na administração da
qualidade ou sistemas de gestão da qualidade. O Quadro 1 apresenta algumas
situações de relacionamentos entre principal e agente neste contexto:
30
Relação principal-agente
Expectativas do principal às atitudes do
agente
Acionistas – Administradores
Gerentes maximizem a riqueza do Acionista
(valor das ações)
Credores – Administradores
Gerentes assegurem o cumprimento dos
contratos de financiamento
Clientes – Administradores
Gerentes assegurem a entrega de produtos de
valor para o Cliente; qualidade (maior), tempo
(menor), serviço (maior) e custo (menor)
Governo – Administradores
Gerentes assegurem o cumprimento das
obrigações legais da empresa.
Comunidade – Administradores
Gerentes assegurem a preservação dos
interesses comunitários, cultura, valores, meio
ambiente, etc.
Administradores – Empregados
Empregados trabalhem para a empresa com o
melhor de seus esforços, atendendo as
expectativas da mesma.
Empregados – Empregados
Cada empregado, comprometido com os
resultados da empresa, espera que seus pares
estejam focados nesse mesmo objetivo.
Administradores – Fornecedores
Fornecedores supram as necessidades de
materiais e serviços, no momento necessário e
na quantidade e qualidade requisitada.
Administradores - Auditorias
Externas de Qualidade
Auditores Externos atestem se o sistema de
gestão da qualidade está em conformidade com
o que foi planejado.
Administradores - Auditorias
Internas de Qualidade
Auditores internos avaliem as operações na ótica
de sua eficiência e eficácia, gerando
recomendações que agreguem valor.
Fonte: Adaptado de Nossa, Kassai, J. R. & Kassai, S. (2000).
Quadro 1: Relações de agência.
Nas relações de agência o principal confere ao agente a tarefa de
gerenciamento de recursos. A busca de eficiência, considerando que o principal não
dispõe de experiência, competência, capacitação, e tempo para a execução das
atividades, faz com que “ambas as partes do relacionamento sejam maximizadoras
de utilidade, existindo boa razão para acreditar que o agente não agirá sempre pelos
melhores interesses do principal” (JENSEN; MECKLING, 1976, p. 5).
Este contexto que inclui a evolução da competitividade mundial exigiu que os
fornecedores de bens, serviços ou informações adequassem seus produtos em
conformidade com as necessidades e exigências dos consumidores finais, de acordo
com seus usos, costumes e crenças.
31
A gestão da qualidade por meio de certificações, como as normas ISO 9000,
requerem que as empresas tenham um sistema de gestão da qualidade que suporte
as suas exigências básicas, o que pode resultar em mudanças nos processos de
gestão e produção aentão praticados. Desta forma, dentre outras mudanças, as
empresas tiveram que desenvolver e dominar diversos processos de gestão e
produção na busca da redução da variabilidade, tida por Deming (1986) como
causadora fundamental da falta de qualidade, culminando com a padronização dos
processos, métodos, peças e componentes.
A padronização diminui a incerteza da variabilidade entre o padrão esperado
e o realizado nas transações ao sinalizar um mínimo de qualidade para determinado
atributo num produto ou serviço (ROBERTSON; LANGLOIS et al., 1994). De acordo
com Barzel (2003) quando são criados padrões, as informações se tornam um bem
público disponível para todos e sem nenhum custo adicional.
Conforme Garvin (1992), em casos de padronizações, por meio de sistemas
de gestão da qualidade, os consumidores possuem informações para avaliar a
qualidade do produto ou serviço.
Portanto, a padronização reduz a assimetria informacional entre os agentes
nos processos e pode melhorar a comunicação, viabilizando redução dos custos e a
utilização do sistema de preços para produtos não homogêneos (BROUSSEAU;
RAYNAUD, 2006).
Portanto, as organizações ao aderirem a um sistema de gestão da qualidade,
e certificações, como as normas ISO 9000, podem reduzir a assimetria informacional;
melhorar seu desempenho no mercado; diminuir custos e alinhar processos internos,
tornando-se mais lucrativas (Figuras 2, 3, 4 e 5).
32
A melhoria de desempenho no mercado, conforme apresentado na Figura 2,
das características, ou de outras dimensões da qualidade podem levar a um
aumento das vendas e a maiores participações no mercado, ou a uma procura
menos elástica a preços mais altos, tudo isso aliado a custos contrabalanceados
poderá ser revertido em maiores lucros (GARVIN, 1992).
Fonte: Adaptado de Garvin (1992, p. 108).
Figura 2: Qualidade e lucratividade: perspectiva do produto
A melhoria da qualidade também pode afetar os lucros devido à redução de
custos pela padronização dos processos com conseqüente redução de defeitos ou
falhas e diminuição da assimetria informacional no ex-ante e ex-post à contratação
podendo significar menores custos (Figura 3); desde que esses ganhos superem as
despesas com prevenção de defeitos (GARVIN, 1992).
Fonte: Adaptado de Garvin (1992, p. 108).
Figura 3: Qualidade e lucratividade: perspectiva de processos
Maior
confiabilidade,
ou melhor,
conformidade
Maior produtividade
Menores retra-
balhos e sucatas,
maiores
rendimentos
Menores
reclamações
pós venda
Menores
custos de
f
abricação
Menores
custos de
serviços
Maiores
lucros
Melhores
características,
confiabilidade,
desempenho
Melhor
reputação pela
qualidade
Maior market-
share
Economia
de escala
baseada na
experiência
Preços
mais altos
Maiores lucros
33
O alinhamento de processos internos por meio de padronização e treinamento
em padrões operacionais sugere o abrandamento dos conflitos de agência nos
processos, aumentando a produtividade com redução na dispersão de energia
humana, induzindo a um maior alinhamento de todos os agentes envolvidos com os
objetivos traçados pela empresa (Figura 4).
Fonte: Adaptado de Garvin (1992, p. 108).
Figura 4: Qualidade e lucratividade: perspectiva de pessoas
A assimetria informacional pode impedir a realização de transações ou elevar
seu custo de mensuração. Para reverter este quadro, as organizações buscam a
certificação para sinalizar qualidade e desempenho ao mercado (BARZEL, 2003),
conforme apresentado na Figura 5.
Fonte: Adaptado de Garvin (1992, p. 108).
Figura 5: Qualidade e lucratividade: perspectiva de mercado
Para Pindyck e Rubinfeld (1995, p. 608) a assimetria informacional gera o
problema da relação agente-principal. Segundo os autores, se o monitoramento
fosse efetivo e a produtividade dos trabalhadores não envolvesse custos, os
proprietários de uma empresa poderiam estar seguros de que seus administradores
e funcionários estariam trabalhando com eficácia. Todavia, na maioria das empresas
Certificação
Sinalização
para o
mercado
Redução da
assimetria
com o
mercado
Aumento
da
participação
no mercado
Aumento
da
economia
de escala
Maiores
lucros
Maior
treinamento
Maior
padronização
dos processos
Menor
conflito de
agência nos
processos
internos
Menor
dispersão de
energia
humana
(maior
alinhamento)
Maior
produti-
vidade
Maiores
lucros
34
os proprietários não têm condições de monitorar tudo o que fazem seus funcionários,
ou seja, funcionários possuem mais informações do que proprietários.
A certificação é uma maneira de monitorar rotinas e padronizar práticas,
entretanto, são gerados custos de monitoramento, denominados pela Teoria de
Agência como custos de agenciamento. Todos estes custos, como os gerados pela
implantação as normas ISO 9000, são incorridos para buscar o alinhamento dos
objetivos entre principal e agente e reduzir as divergências de interesses.
2.4
N
ORMAS
ISO
9000:
UMA ABORDAGEM CONCEITUAL
A International Organization for Standardization (ISO) é uma organização
internacional, não governamental, que elabora normas internacionais, fundada em
1947, com sede em Genebra, na Suíça. Com aceitação por cerca de 120 países, é
suportada por organizações ou institutos de padronização nacionais. As normas
elaboradas pela ISO são voluntárias e no Brasil o representadas pela Associação
Brasileira de Normas Técnicas (ABNT).
O conjunto de normas elaboradas pela ISO é bastante amplo e abrange
vários ramos do conhecimento, é composto por mais de 10.000 normas
internacionais e nele encontra-se um subconjunto denominado “ISO Série 9000”.
As normas NBR série 9000 compõem um conjunto de normas técnicas que
tratam exclusivamente da gestão da qualidade. Sua adoção passou a ser
reconhecida pelo mercado como uma certificação de qualidade. A padronização dos
processos baseada na NBR 9000 possibilita a previsibilidade, podendo minimizar
riscos e custos, possibilitando, em alguns casos, resultados operacionais e
econômico-financeiros mais satisfatórios às organizações certificadas.
35
As normas ISO série 9000 foram revisadas e atualizadas em 1994 e 2000. A
partir de dezembro de 2000, os padrões ISO 9000, ISO 9001, ISO 9002, ISO 9003 e
ISO 9004 foram substituídos por um único padrão, ISO 9001:2000.
De acordo com Maranhão (2001, p. 37) o que motiva as organizações a
buscar implantação e certificação de seu Sistema de Gestão da Qualidade com base
na NBR ISO 9001:2000 é uma atuação contratual (obrigatoriedade do mercado) ou
não contratual, relacionada à melhoria do desempenho onde a certificação não é
elemento mais importante, e sim a implantação e melhoria do Sistema de Gestão da
Qualidade.
A NBR ISO 9001:2000 promove a adoção de uma abordagem de processo
para o desenvolvimento, implementação e melhoria da eficácia de um sistema de
gestão da qualidade para aumentar a satisfação do cliente pelo atendimento aos
requisitos almejados. A Associação Brasileira de Normas Técnicas (2000, p. 2)
afirma que “abordagem de processo” da NBR ISO 9001 faz uma organização
funcionar de maneira eficaz, pois faz que ela tenha que,
identificar e gerenciar diversas atividades interligadas. Uma atividade que
usa recursos e que é gerenciada de forma a possibilitar a transformação de
entradas em saídas pode ser considerada um processo. Freqüentemente a
saída de um processo é a entrada para o processo seguinte. A aplicação de
um sistema de processos em uma organização, junto com a identificação,
interações desses processos, e sua gestão, pode ser considerada como
“abordagem de processo”.
Para Zacharias (2001, p. 47), a NBR ISO 9001:2000 é mais clara em alguns
pontos básicos, como a satisfação dos clientes, melhoria contínua e processo, que
direciona as empresas para uma visão correta das suas atividades, abolindo o
conceito departamentalista.
Neste sentindo, o aspecto fundamental da NBR ISO 9001:2000 é o enfoque
por processos, que considera a organização um sistema sistemas aberto que
36
influencia e sofre influência de agentes externos e internos, conforme abordado na
Teoria dos Sistemas.
2.5
D
ESEMPENHO ECONÔMICO
-
FINANCEIRO
:
ANÁLISE DOS INDICADORES DE
RENTABILIDADE E ATIVIDADE
Para evidenciação dos aspectos econômico-financeiros das organizações é
necessário analisar a geração de resultados. Para isso é dada ênfase à
rentabilidade da empresa, o seu potencial de vendas e a sua habilidade em gerar
resultados.
A análise da rentabilidade tem como base os dados extraídos das
demonstrações contábeis, por meio de índices, indicadores ou quocientes que
permitam verificar relações entre os lucros da empresa em relação a certo nível de
venda, a certo nível de ativos ou ao volume do capital investido pelos proprietários
(GITMAN, 2005).
A técnica de análise de índices consiste em relacionar contas ou grupo de
contas das demonstrações contábeis para extrair conclusões sobre tendências e
situação econômico-financeira das empresas (HOJI, 2004).
Dessa forma os índices mais utilizados na análise da rentabilidade, que “é
resultante das operações da empresa em um determinado período e, portanto,
envolve todos os elementos operacionais, econômicos e financeiros do
empreendimento” (PADOVESE; BENEDICTO, 2004) são: ROA - Return on Assets;
ROE – Return on Equity; ROS – Return on Sales.
O ROA é uma medida que quantifica o retorno produzido pelas decisões de
investimento (ativo total) e avalia a atratividade econômica do empreendimento,
além de ser um parâmetro para avaliação da empresa em relação a períodos
37
anteriores (KASSAI et al, 2000). O ROA ou retorno do ativo total decompõe-se da
seguinte forma:
AtivoTotal
LíquidoLucro
ROA =
(1)
O retorno do capital próprio ou ROE, “[...] é uma das principais medidas de
rentabilidade da empresa e está diretamente relacionado aos interesses dos
proprietários” (KASSAI et al. 2000, p. 180). Enquanto o ROA mede o desempenho
sobre os recursos totais aplicados no patrimônio da empresa, o ROE mede a
rentabilidade sobre os recursos líquidos da empresa, sobre os recursos efetivamente
investidos pelos proprietários. Ele é calculado do seguinte modo:
LíquidoPatrimônio
LíquidoLucro
ROE =
(2)
O retorno das vendas ou ROS, também conhecido como margem de lucro
líquido ou lucratividade, é uma relação do resultado obtido com o valor da venda
(PADOVESE; BENEDICTO, 2004). O ROS é evidenciado peLuro
38
investimento em capital de giro por meio de ciclos, denominados: ciclo operacional e
ciclo financeiro.
O ciclo operacional é definido como todas as fases operacionais existentes
nas empresas, desde a aquisição de matérias-primas para a produção a o
recebimento das vendas realizadas, conforme demonstrado na Figura 6:
Fonte: Adaptada de Assaf Neto (2002, p. 178).
Figura 6: Ciclo operacional de compras e vendas.
Para mensurar o ciclo operacional é necessário somar os Prazos Médios de
Estoque (PME) e os Prazos Médios de Fornecedores (PMF), que são dados pelas
seguintes fórmulas:
VendidosodutosdosCusto
xmesesxEstoque
PME
Pr
30
=
(4)
VendidosodutosdosCusto
xmesesxesFornecedor
PMF
Pr
30
=
(5)
O PME indica o tempo médio (em dias) que a matéria-prima permanece no
estoque à espera de ser consumida no processo de produção e o PMF é o tempo
médio que a empresa demora em pagar suas compras (ASSAF NETO, 2002).
Dessa forma, o ciclo operacional é determinado pela seguinte relação:
PMRPMElOperacionaCiclo
+
=
(6)
Compra de
matérias-primas
Vendas
Produção Recebimento
39
O ciclo financeiro é determinado pela diferença entro o tempo médio (em dias)
do ciclo operacional e o Prazo Médio de Recebimentos (ASSAF NETO, 2002, p.
197). O PMR é representado pela seqüente equação:
VendidosodutosdosCusto
xmesesxceberaDuplicatas
PMR
Pr
30Re
=
(7)
O Prazo Médio de Recebimentos indica, em média, quantos dias a empresa
espera para receber suas vendas. E o ciclo financeiro corresponde ao processo de
efetivação financeira de cada evento econômico em termos de fluxo de caixa,
representado pela seguinte relação:
PMFPMRPMEFinanceiroCiclo
+
=
(8)
A Figura 7 seguinte ilustra o ciclo operacional e financeiro simultaneamente:
Fonte: Adaptada de Matarazzo (1998, p. 325).
Figura 7: Ciclos Operacional e Financeiro.
2.6
E
STUDOS SOBRE A RELAÇÃO ENTRE SISTEMA DE GESTÃO DA QUALIDADE E
DESEMPENHO FINANCEIRO
Os estudos realizados sobre sistemas de gestão da qualidade (ISO 9000,
TQM, dentre outros), geraram um conjunto numeroso de artigos e pesquisas
Compra Venda
Pagamento Recebimento
PME
PMR
Ciclo Operacional
PMF
Ciclo Financeiro
40
acadêmicas, que evidenciam além de desempenho financeiro, os prós e contras da
implantação desses sistemas.
No Quadro 2, apresenta-se uma síntese de trabalhos internacionais, que
evidenciaram prós e contras da certificação de qualidade baseado nas normas ISO
9000:
Os prós da certificação
ISO 9000
Autores
Os contras da
certificação ISO 9000
Autores
Aumentam qualidade
dos produtos e reduzem
os custos de qualidade.
Sun (2000); Khan &
Hafiz (1999); McAdam
& McKeown (1999);
Sun (1999); Kanji
(1998); Callghan
(1997); Rao, Ragu-
Nathan & Solis (1997).
Implantação das
41
Outros estudos relatam a importância de se relacionar a implantação de uma
administração da qualidade e os reflexos desta prática gerencial no desempenho
das organizações.
Terziovski, Samson & Dow (1996) fizeram um estudo, por meio de uma
pesquisa survey, com questionários aplicados a 1.000 empresas de manufatura
neozelandesas e a 3.000 empresas australianas, divididas em pequeno, médio e
grande porte. Com repostas de 962 empresas australianas e 379 da Nod.188(N)1.57564(o)-4.elendia,
42
certificas pela Registred Company Directory North América e Center for Research
in Security Prices (CRSP) com ações negociadas na New York Stock Exchange
(NYSE), American Stock Exchange (AMEX) e Nasdaq stocks, totalizando 363
empresas com 1.529 certificações. Utilizaram de estudos de eventos com uma
janela de 121 dias antes e 2 dias depois da primeira certificação e regressões
estatísticas. Evidenciaram por meio deste estudo empírico que as empresas
menores produzem um ganho no valor de mercado maior, comparadas às maiores
empresas e que, em equilíbrio, o mercado reage favoravelmente ao anúncio da
certificação.
Wayhan, Kirche & Khumawala (2002), utilizando análise multivariada,
estudaram o relacionamento entre certificação ISO 9000 e desempenho financeiro.
Por meio de uma pesquisa empírica em empresas americanas e utilizando o ROA
(retorno sobre o ativo) como medida de desempenho financeiro, os autores
concluíram que a certificação tem impacto limitado no desempenho financeiro e se
dissipa ao longo do tempo.
Mokhtar, Harbhari & Naser (2005) investigaram o impacto da certificação ISO
9000 na performance de 162 companhias da Malásia, comparando 81 empresas
certificadas com 81 não certificadas, listadas na Kuala Lumpur Stock Exchange nos
períodos de 1998-2001. Utilizaram diferentes formas para mensurar performance
financeira, tais como, retorno sobre o ativo (ROA); retorno sobre o patrimônio líquido
(ROE); retorno sobre as vendas (ROS); valor econômico adicionado (EVA), dentre
outras. Os resultados encontrados por meio de regressões estatísticas com as
variáveis do estudo evidenciaram que sistemas de administração da qualidade
contribuem para um desempenho financeiro superior aos das empresas não
certificadas, entretanto os autores alertam que tais resultados devem ser tratados
43
com certo grau de precaução, pois o desempenho financeiro pode ocorrer por outras
razões.
Corbett, Montes-Sancho & Kirsch (2005), analisaram a performance financeira,
melhorias de produtividade e participação no mercado de empresas industriais nos
Estados Unidos certificadas pelas normas ISO 9000 e não certificadas (grupo de
controle) entre 1987 a 1997, num total de 554 indústrias de capital aberto;
empregaram o método do estudo de eventos, e como variáveis: retorno sobre o ativo
(ROA); retorno sobre as vendas (ROS); vendas e giro do ativo (ativo e vendas). Os
resultados evidenciam que as empresas certificadas possuem melhorias
significantes no desempenho financeiro, entretanto esse efeito depende da
especificação do grupo de controle, portanto não significa que todas as empresas
são beneficiadas com a certificação das normas ISO 9000, pois algumas
implementam as normas de maneira mais rigorosa, e conseqüentemente é mais
provável que obtenham melhor performance.
Morris (2006) examina o desempenho financeiro de indústrias de eletrônicos
nos Estados Unidos certificadas pelas normas ISO 9000 comparando com as
indústrias não certificadas de acordo com Registred Company Directory – North
América. A hipótese da pesquisa é que as empresas certificadas possuem
performace financeira superior às empresas não certificadas. O autor utilizou de uma
regressão cross-sectional, e variáveis dependentes: venda líquidas, tamanho das
empresas, despesas com pesquisa e desenvolvimento (P&D), valor do patrimônio
líquido e a variável independente receita antes das depreciações, fizeram parte do
modelo. Os resultados rejeitaram a hipótese de melhor performance para as
indústrias certificadas, o autor afirma que esse resultado demonstrou que as
44
empresas buscam a certificação ISO 9000 por pressões do mercado e exigências
dos principais clientes.
Assim, observa-se que dos estudos realizados sobre desempenho financeiro
e sistemas de gestão da qualidade, alguns resultados indicam evidências de melhor
performance, entretanto ainda apresentam fragilidades e inconsistências, como
limitações para conclusões efetivas sobre essa relação.
45
Capítulo 3
3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
3.1
F
ORMULAÇÃO DAS HIPÓTESES
Sob a ótica da teoria dos sistemas e teoria de agência, nas quais essa
pesquisa baseou-se, as certificações de qualidade segundo as normas ISO 9000,
podem diminuir a incerteza das variações entre o padrão esperado e o realizado ao
sinalizar qualidade para produtos e serviços (ROBERTSON; LANGLOIS et al., 1994,
GARVIN, 1992, BARZEL, 2003. BROUSSEAU; RAYNAUD, 2006).
Essa sinalização é realizada por meio de troca de informações com o meio
externo. Desta forma, as organizações certificadas funcionam como um sistema
aberto e esperam que o feedback das ações gerenciais em prol da qualidade seja
positivo, com aumento das vendas, maiores participações no mercado, menores
custos e conseqüentemente maiores lucros.
Indicadores econômico-financeiros, como o Retorno sobre o Ativo (Return on
Assets ROA), o Retorno sobre o Patrimônio Líquido (Return on Equity ROE) e o
Retorno sobre as Vendas (Return on Sales – ROS), entre outros foram utilizados por
Corbett, Montes-Sancho & Kirsch (2005); Mokhtar, Harbhari & Naser (2005) e
Wayhan, Kirche & Khumawala (2002), em pesquisas onde foram utilizadas as
certificações ISO padrão 9000 como proxy do desempenho da qualidade para
avaliar a relação entre sistema de gestão da qualidade e desempenho financeiro,
por meio da análise econômico-financeira de empresas certificadas.
A operacionalização desta pesquisa tem o intuito de verificar o impacto da
certificação segundo as normas ISO 9000, no desempenho econômico-financeiro
46
das empresas da amostra. Neste propósito, foram utilizados indicadores econômico-
financeiros como ROA, ROE, ROS e dos ciclos financeiro e operacional das
empresas como proxy para desempenho econômico-financeiro.
Com objetivo de entender melhor essa relação as principais hipóteses
investigativas que objetivam responder à questão problema são:
H
1:
O retorno sobre ativos (ROA), o retorno sobre patrimônio líquido
(ROE) e o retorno sobre vendas (ROS) estão positivamente associados com a
certificação ISO 9000.
H
2:
Os ciclos operacional e financeiro das empresas estão
negativamente associados com a certificação ISO 9000.
47
Para testar as hipóteses da pesquisa são utilizadas as seguintes variáveis,
com suas respectivas fórmulas e construtos:
Variáveis Fórmulas Constructo
ROA
AtivoTotal
LíquidoLucro
Rentabilidade sobre o Ativo é a relação
percentual do resultado obtido com o
valor do ativo total
ROE
LíquidoPatrimônio
LíquidoLucro
Rentabilidade sobre o Patrimônio
Líquido é a relação percentual do
resultado obtido com o valor do
patrimônio líquido (capital próprio).
ROS
lOperacionaLíquidaceita
LíquidoLucro
Re
Rentabilidade sobre as Vendas é a
relação percentual do resultado (lucro
líquido) obtido com o valor da receita
líquida (vendas líquidas).
PME
VendidosodutosdosCusto
xmesesxEstoque
Pr
30
Prazo Médio de Estoque indica, em
média, quantos dias a empresa leva
para vender seu estoque.
PMF
VendidosodutosdosCusto
xmesesxesFornecedor
Pr
30
Prazo Médio de Fornecedores indica,
em média, quantos dias a empresa
demora para pagar seus fornecedores.
PMR
VendidosodutosdosCusto
xmesesxceberaDuplicatas
Pr
30Re
Prazo Médio de Recebimento indica, em
média, quantos dias a empresa espera
para receber suas vendas.
Ciclo
Operacional
PMRPME
+
Ciclo Operacional são todas as fases
operacionais da empresa, desde a
aquisição de matérias-primas ou
estoque até o recebimento das vendas
realizadas.
Ciclo
Financeiro
PMFPMRPME
+
Ciclo Financeiro corresponde ao
processo de efetivação financeira de
cada evento econômico em termos de
fluxo de caixa.
Quadro 3: Resumo das variáveis.
3.2
S
ELEÇÃO DA AMOSTRA
Para coleta dos dados financeiros utilizou-se a base de dados Economática.
Os indicadores econômico-financeiros: ROS, ROA, ROE, Ciclos Financeiro e
Operacional foram coletados para períodos trimestrais, por serem exclusivamente
dados das demonstrações financeiras publicados por sociedades anônimas de
capital aberto com ações negociadas na Bolsa de Valores de São Paulo
(BOVESPA).
48
Conforme consulta às empresas, a duração do processo de certificação
variou de 8 a 18 meses, com uma grande concentração em torno de 12 meses.
Considerando que a quase totalidade das empresas informaram em qual ano se
deu a primeira certificação, foi adotado o período de ocorrência do evento como
sendo o ano da certificação, que esse trabalho tomou como evento base a efetiva
e primeira certificação de acordo com as normas NBR ISO 9000 das empresas de
capital aberto, com ações negociadas na BOVESPA.
Da população inicial, foram consideradas as empresas do setor de produção
de bens de consumo, que possuíam uma única unidade produtiva, de forma que a
certificação dessa única unidade de negócios carregasse toda possível influência
para os resultados da organização, o que não seria análogo, caso se tratasse de
uma holding, com várias unidades fabris onde, a cada certificação, corresponderia
uma parcela de influência no todo. Também foram excluídas da população as:
Empresas com preços administrados pelo poder público, tendo em vista
que alterações de preços ditadas pelos órgãos governamentais podem afetar
significativamente os seus resultados financeiros;
Empresas administradoras de ativos diversos, pela possível assunção de
somente um percentual do impacto da certificação, proporcional a parte de ativo
certificada;
Empresas do ramo de construção civil, por não terem um parque fabril fixo
ao longo dos anos;
Empresas produtoras de bens de consumo que tiveram grandes expansões
no período analisado, que esse fato pode afetar significativamente os resultados
das variáveis consideradas no estudo.
49
A amostra totalizou 96 empresas, sendo que, após verificação no banco de
dados Economática, constatou-se que somente 47 empresas possuíam dados
disponíveis na série histórica, de 1989 até 2006.
Com a necessidade de verificação das datas de certificação, foi efetuada uma
pesquisa de campo, por meio de questionário enviado por e-mail e telefone às
empresas da amostra. Foi solicitado que informassem a data da primeira certificação
(em qualquer versão da norma), bem como a duração do processo de implantação
do sistema de qualidade até a sua efetiva certificação.
Das 47 empresas pesquisas, 25 responderam à solicitação, equivalendo a
53,2% da amostra, informando o ano da primeira certificação e duração aproximada
do processo de implantação do sistema da qualidade (Quadro 4).
E
mpresa
A
no
Ramo
atividade
Acesita
1994
Metalurgia
Acos villares
1991
Metalurgia
Agrale
1996
Maquinas industriais
Arno
1994
Eletroeletronicos
Bomb
ril
2000
Quimica
Bunge fertilizantes
1995
Fertilizantes
C
onfab/tenaris
2001
Metalurgia
Cremer
1996
Textil
Dixie
1996
50
3.3
T
RATAMENTO DOS DADOS
Para os indicadores econômico-financeiros, foi realizada uma comparação
das médias (antes e depois da certificação), que envolve o período trimestral, em
corte transversal. Devido à disponibilidade dos demonstrativos financeiros, o período
pós-certificação é composto por 21 trimestres (t+1 à t+21), comparando aos 13
trimestres anteriores a certificação (t -1 à t -13). A janela do evento é composta pelo
ano da certificação (t), conforme mostrado na Figura 8:
Figura 8: Análise comparativa para os indicadores econômico-financeiros.
Com objetivo de confirmar a comparação de médias dos indicadores anterior,
utilizou-se períodos menores, pós-certificação composto por 8 trimestres (t+1 à t+8),
comparando-os aos 8 trimestres anteriores a certificação (t -1 à t - 8), sendo a
janela do evento composta pelo ano da certificação (t), conforme Figura 9.
Figura 9: Análise comparativa para os indicadores econômico-financeiros.
De outra forma, foram realizadas análises em séries temporais, por meio de
regressões simples.
51
Por fim, os dados foram analisados em painel, sendo criado um grupo de
estudo, composto pelas empresas certificadas e um grupo de controle com as
empresas o certificadas, em que se comparou a média dos indicadores dos dois
grupos ao longo do tempo.
3.3.1 Tratamento de Outliers
Dados de uma amostra podem apresentar valores discrepantes da dia,
não significando efeitos do evento pesquisado, dados esses denominados “Outliers”.
Para minimizar a sua interferência nos resultados da pesquisa, eles foram
eliminados usando-se o método descrito por
Hofmann (1980), onde o intervalo de
confiança é dado por:
X – Z
σ
µ X + Z
σ (9)
Onde X e σ são, respectivamente, a média e o desvio padrão da amostra,
µ
é
o intervalo de dados significativos e Z igual ao t de student determinado pelo grau de
liberdade.
Como existiam alguns dados excessivamente discrepantes dos demais, foram
destacados e eliminados, inicialmente, os valores não pertencentes ao intervalo (
X
4
σ
µ X + 4
σ). Depois desse primeiro ajuste, foram recalculados a nova média (X’)
e o novo desvio padrão (σ’) e, então, excluídos os valores externos ao intervalo (
X` –
2,11
σ
µ X’ + 2,11
σ’).
52
Capítulo 4
4 ANÁLISE DOS DADOS
4.1
A
NÁLISE EM CORTE TRANSVERSAL
Para verificar as afirmações sobre as médias dos indicadores antes e depois
da certificação e as médias das empresas certificadas e não certificadas, aplicou-se
o teste de hipótese para diferenciação de duas médias aritméticas, utilizando-se o
Teste-Z: Duas Amostras para Médias, como ferramenta de análise estatística.
Calculou-se o ROS, ROA, ROE, Ciclos financeiro e operacional médios para
cada trimestre, das 23 empresas certificadas, integrantes da amostra, considerando
13 trimestres anteriores à certificação e 21 trimestres pós-certificação, para
comparar os seus desempenhos.
Tabela 1: Comparação das médias dos indicadores econômico-financeiros – 13 trimestres
antes e 21 depois da certificação.
Variáveis
Média
anterior
Variação
Média
posterior
Teste Z para
2 médias
ROS
2,5
1,2
53
Tabela 2: Comparação das médias dos indicadores econômico-financeiros – 8 trimestres antes
e 8 depois da certificação.
Variáveis
Média
anterior
Variação
Média
posterior
Teste Z para
2 médias
ROS
2,0
3,5
5,5
0,000
ROA
0,7
1,8
2,5
0,003
ROE
-0,4
0,8
0,4
0,419
Ciclo financeiro
99
4,4
103
0,007
Ciclo operacional
137
3,6
140
0,025
O Teste Z, conforme valores na Tabela 2, mostra que as médias dos
indicadores de ROE podem ser consideradas estatisticamente iguais, enquanto as
demais diferentes.
4.2
A
NÁLISE EM SÉRIES TEMPORAIS
Como os estudos em cortes transversais apresentaram resultados não
conclusivos, foi verificado o comportamento dos indicadores em séries temporais,
para confirmar ou o os resultados das diferenças obtidas pelos testes
apresentados anteriormente.
Para efeito desse estudo, devido ao baixo mero de empresas
respondentes não certificadas, foram consideradas como certificadas, todas as
empresas que obtiveram a sua primeira certificação ISO 9000 anterior ao ano de
2000, o que totalizou um número de 18 empresas.
Foram consideradas como não certificadas (grupo de controle), as empresas
não certificadas (2) e as que obtiveram certificação após o ano de 1999 (5),
perfazendo um total de 7 empresas.
Devido a esse recorte na amostra, quando da análise comparada entre os
dois grupos (de estudo e de controle), é considerado como período limite superior, o
ano de 1999.
54
Levando-se em consideração os preceitos da teoria dos sistemas descrita no
referencial teórico onde, para garantia de sobrevivência, as empresas, durante a
suas existência, devem absorver energia externa, foram regredidos os valores
econômico-financeiros das empresas certificadas e não certificadas em função do
tempo.
Essa análise foi feita para verificar a ocorrência de alguma possível relação
positiva entre a simples decorrência do tempo e os Retornos Econômico-Financeiros
(REF) das empresas, considerando a probabilidade de uma maior aquisição de
energia externa favorecendo as empresas certificadas, em relação às não
certificadas.
Para obtenção do REF (variável explicada); a variável explicativa sofrerá um
tratamento estatístico, por meio de uma regressão simples que contempla a seguinte
relação:
Onde:
REF = Resultado econômico-financeiro (ROS, ROA, ROE e Ciclos).
As Tabelas 3 e 4 demonstram os valores do nível de confiança (p-value) para
β
1
e dos coeficientes
β
0
e
β
1
com o resumo dos resultados obtidos das regressões
para empresas certificadas e não certificadas relacionando os retornos econômico-
financeiros (REF) com a evolução dos trimestres de publicação dos demonstrativos
financeiros, no período de 10 anos, compreendido de dezembro de 1989 a
dezembro de 1999.
εββ
++= trimestreREF
10
(10)
55
Tabela 3: Análise da regressão da variável resultado econômico-financeiro das empresas
certificadas em função do tempo.
ROS ROA ROE
Ciclo
financeiro
Ciclo
operacional
p-value (
β
ββ
β
1
) 0,148
0,281
0,305
0,593
0,444
β
0
(intercepto)
-1,298
-0,013
-1,808
106
136
β
1
(trimestre)
0,078
0,047
0,094
-0,095
0,160
Tabela 4: Análise da regressão da variável resultado econômico-financeiro das empresas
não certificadas em função do tempo.
ROS ROA ROE
Ciclo
financeiro
Ciclo
operacional
p-value (
β
ββ
β
1
) 0,000
0,000
0,000
0,015
0,110
β
0
(intercepto)
-7,187
-1,213
-2,171
138
168
β
1
(trimestre)
0,698
0,154
0,251
-0,988
-0,676
Pelos valores dos p-value obtidos, pode-se inferir que as empresas não
certificadas apresentaram, de um modo geral, resultados econômico-financeiros
relacionados positivamente com a evolução do tempo, enquanto as empresas
certificadas não mostraram a mesma relação.
Com o objetivo de verificar a relação entre os retornos econômico-financeiros
(REF) e o evento certificação segundo as normas NBR ISO 9000, foi feita a
regressão com os dados das 18 empresas certificadas, no período de 1989 a 1999,
conforme a seguinte relação:
Onde:
certif = número de empresas certificadas até o instante considerado.
A Tabela 5 demonstra os valores do nível de confiança (p-value) para
β
1
e
dos coeficientes
β
0
e
β
1
com o resumo dos resultados obtidos das regressões para
empresas certificadas, relacionando os retornos econômico-financeiros (REF) com o
número de certificações até o ponto, no período de dezembro de 1989 a dezembro
de 1999.
(11)
εββ
++= certifREF
10
56
Tabela 5: Análise da regressão da variável resultado econômico-financeiro das empresas
certificadas em função da quantidade de empresas certificadas.
ROS ROA ROE
Ciclo
financeiro
Ciclo
operacional
p-value (
β
ββ
β
1
) 0,035
0,088
0,080
0,877
0,295
β
0
(intercepto)
-1,241
-0,068
-2,075
104
136
β
1
(certificadas)
0,187
0,124
0,268
-0,047
0,368
Pelos valores dos p-value obtidos, não evidências fortes de que os
indicadores: ROA, ROE e Ciclos das empresas certificadas possam estar
relacionados com a evolução do número de empresas certificadas.
4.3
A
NÁLISE EM PAINEL
Quando da análise em corte transversal, comparados em períodos de
trimestres anteriores e posteriores à certificação, pode-se inferir que os indicadores
de retornos ROS e ROA experimentaram melhora, enquanto os de ciclo
apresentaram piora. Entretanto, outros fatores podem ter ocorrido de forma tal que,
pelo fato das empresas estarem alinhadas na data da certificação, e não no
calendário civil, tenham influenciado diferentemente os resultados para cada
empresa ou grupo.
No sentido de eliminar esse possível viés, fez-se a comparação, ao longo do
calendário civil, da média dos indicadores de desempenho (ROS, ROA, ROE, Ciclo
Financeiro e Ciclo Operacional) das empresas certificadas, com a das ainda não
certificadas. Desta forma a influência de outros fatores, além do evento certificação
passou a influenciar igualmente os resultados (exceto fatores exclusivos de grupos
estratégicos ou empresas específicas).
Foi escolhido o período de 1994 a 1999, por contemplar uma razoável
proporção entre empresas certificadas e não certificadas, tornando o valor de
comparação entre seus indicadores mais significativo.
57
A Tabela 6 mostra os valores médios dos indicadores nos balanços anuais
das 25 empresas, bem como a quantidade de empresas certificadas e não
certificadas na data da comparação.
Tabela 6: Valores das médias dos indicadores econômico-financeiros de empresas certificadas
(C) e não certificadas (NC).
Ano 1994 1995 1996 1997 1998 1999
Status
C NC C NC C NC C NC C NC C NC
Quantidade
6
19
9
16
14
11
16
9
18
7
18
7
ROS
1,6
9,9
4,2
3,1
-4,0
14,5
2,0
13,4
-6,8
12,6
-3,4
24,8
ROA
1,5
4,9
4,5
1,8
-1,6
5,2
2,2
4,2
0,8
1,8
0,3
8,3
ROE
2,6
6,7
6,7
1,0
-12,6
7,3
-7,8
5,7
4,4
2,6
6,1
10,4
Ciclo fin.
62,2
104
67
118
105
122
108
114
115
113
84
120
Ciclo op.
93,9
138
102
145
141
157
141
140
145
145
126
162
Para uma melhor visualização comparativa, os gráficos seguintes
representam a diferença (valor médio do índice das empresas ainda não certificadas,
subtraído do valor médio do índice das empresas certificadas) entre cada um desses
índices, ao longo dos 6 anos considerados (24 trimestres).
A visualização do Gráfico 1 não evidencia melhor resultado no ROS médio,
das empresas certificadas, comparado ao das não certificadas.
DIFEREA (CERTIFICADAS - O CERTIFICADAS)
-30
-25
-20
-15
-10
-5
0
5
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24
trimestre
diferença
ROS
Gráfico 1: Análise comparativa das empresas certificadas e não-certificadas – ROS
.
58
A visualização do Gráfico 2 não evidencia melhor resultado no ROA médio
das empresas certificadas, comparado ao das não certificadas.
59
A visualização do Gráfico 4 evidencia melhor resultado no Ciclo Financeiro
médio, das empresas certificadas, comparado ao das não certificadas, porém com
tendência de piora, à medida que aumenta o número de empresas certificadas.
DIFEREA (CERTIFICADAS - NÃO CERTIFICADAS)
-70
-60
-50
-40
-30
-20
-10
0
10
20
30
40
1 3 5 7 9 11 13 15 17 19 21 23
trimestre
diferença
Ciclo financeiro
Gráfico 4: Análise comparativa das empresas certificadas e não-certificadas – ciclo financeiro.
A visualização do Gráfico 5 evidencia melhor resultado no Ciclo Operacional
médio das empresas certificadas, comparado ao das não certificadas, porém com
tendência de piora, à medida que aumenta o número de empresas certificadas.
DIFERENÇA (CERTIFICADAS - NÃO CERTIFICADAS)
-70
-60
-50
-40
-30
-20
-10
0
10
20
30
40
1 3 5 7 9 11 13 15 17 19 21 23
trimestre
diferença
Ciclo operacional
Gráfico 5: Análise comparativa das empresas certificadas e não-certificadas – ciclo
operacional.
60
Capítulo 5
5 CONCLUSÕES
Esta pesquisa analisou a relação entre o evento certificação de qualidade
segundo as normas ISO 9000 e seu reflexo no desempenho econômico-financeiro
das organizações. Para isso, investigou-se o comportamento dos indicadores
econômico-financeiros (ROS, ROA, ROE, Ciclo Financeiro e Ciclo Operacional) das
empresas certificadas, comparando os resultados posteriores e anteriores à
certificação.
Também foi investigada a variação desses mesmos índices confrontando os
resultados de empresas certificadas com um grupo de controle, composto por
empresas não certificadas.
Das teorias utilizadas sugere-se que a certificação, segundo as normas ISO
9000, pode reverter em benefícios econômico-financeiros para as empresas.
Infere-se que as organizações ao aderirem a um sistema de gestão da
qualidade, e certificações, podem reduzir a assimetria informacional, melhorar seu
desempenho no mercado, diminuir custos e alinhar processos internos, tornando-se
mais lucrativas.
A pesquisa concluiu não existirem evidências objetivas que possam sustentar
as hipóteses de que as certificações baseadas nas normas NBR ISO 9000 impactam
no desempenho econômico-financeiro das empresas. Em relação à questão, as
hipóteses de trabalho foram rejeitadas, pois o retorno sobre ativos (ROA), o retorno
sobre patrimônio líquido (ROE) e o retorno sobre vendas (ROS) não demonstraram
estar positivamente associados com a certificação ISO 9000 e os Ciclos Operacional
e Financeiro, negativamente.
61
Apesar dos resultados obtidos e das conclusões apresentadas, deve-se levar
em consideração algumas limitações da pesquisa:
A pesquisa foi focada somente em empresas produtoras de bens de
consumo, com ações negociadas na Bolsa de Valores de São Paulo, o que reduziu
o número de empresas na amostra;
Não foram consideradas empresas de pequeno porte, que da amostra
constaram empresas com ações negociadas na BOVESPA, sendo esta uma
limitação que pode ter influenciado os resultados encontrados, pois empresas
maiores, mesmo não certificadas, normalmente, adotam práticas gerenciais mais
evoluídas, podendo a certificação não tornar-se um diferencial;
Não avaliação do nível de adoção do sistema de qualidade pelas
empresas. A certificação pode o representar que a empresa adotou um Total
Quality Management (TQM), mas somente respondeu a exigências de mercado ou a
posicionamentos de concorrentes dentro de seus grupos estratégicos.
Dessa forma, os resultados devem ser tratados com certo grau de precaução,
pois o desempenho econômico-financeiro pode decorrer de outras razões mais
influentes que a certificação segundo as normas ISO 9000.
Como sugestão para novas pesquisas ou complemento desta, sugere-se que
seja realizada uma análise setorial das empresas, estratificando por setor econômico
ou grupos estratégicos, por meio da especificidade de produtos ou serviços
oferecidos ao mercado.
Por fim, espera-se que as evidências encontradas nesta pesquisa contribuam
para aumentar o conhecimento sobre o impacto da certificação nos resultados
financeiros das organizações.
62
REFERÊNCIAS
ASSAF NETO, Alexandre, Estrutura e análise de balanço: um enfoque econômico-
financeiro. 7. ed. São Paulo: Atlas, 2002.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR ISO 9001. Rio de
Janeiro, 2000.
BAÊTA, Adelaide Maria Coelho; MARTINS Ângela Melo; BAÊTA, Flávia Maria
Coelho. Gestão do conhecimento para o processo de inovação: o caso de uma
empresa brasileira. In: ENCONTRO NACIONAL DA ANPAD (EnANPAD), 26,
Salvador: Associação Nacional de s-Graduação e Pesquisa em Administração
2002. CD-ROM.
BARCELLOS, Paulo Fernando Pinto. In: Schimidt, Paulo (org.) Controladoria:
agregando valor para a empresa. São Paulo: Bookman Companhia Editoria, 2002, p.
39-51.
BARZEL, Y. Standarts and the form of agreement. Working paper. Budapest, 2003.
Disponível em: <http://papers.ssrn.com/sol3/papers.cfm?abstract_id=906202>.
Acesso em: 23 nov. 2006.
BENSON, P. G.; SARAPH, J. V.; SCHROEDER, R. G. The effects of organization
context on quality management: an empirical investigation. Management Science.
V. 37, n. 9, set. 1991, p. 1107-1124.
BERTALANFFY, L. Von. General System Theory. New York: George Braziller,
1969.
BOJE, D. M.; WINDSON, R. D. The resurrection of taylorism: total quality
manegment`s hidden agenda. Advanced in the Management of organization
Quality. V. 1, 1995, p. 245-298.
BOWDITCH, J. L., BUONO, A. F. Elementos de comportamento organizacional.
São Paulo: Pioneira, 1997.
63
BRISCOE, J. A.; FAWCETT, S. E.; TODD, R. T. The implementation and impact of
ISO 9000 among small manufacturing enterprises. The Journal of Small Business
Management. V. 3, n. 43, 2005, p. 309-330.
BROUSSEAU, E; RAYNAUD, E. The economics of private institutions: an
64
______. Market interpretation of ISO 9000 registration. The Journal of Finance
Research, v. XXII, n. 2, p. 147-160, 1999.
EISENHARDT, Kathleen M. Agency theory: an assessment and review. Academy of
Management Review. v. 14, n. 1, 1989. p. 57-74.
FEIGENBAUM, A. V. Controle da qualidade total: gestão e sistemas. v. 1. São
Paulo: Makron Books, 1994.
GARVIN, David A. Gerenciando a qualidade: a visão estratégica e competitiva. Rio
de Janeiro: Qualitymark, 1992.
GITMAN, Lawrence J. Princípios de administração financeira. 10. ed. Tradução
técnica Antônio Zoratto Sanvicente. São Paulo: Addison Wesley, 2005
GRANT, R. M.; SHANI, R.; KRISHMAN, R. TQM`s challenge to management theory
and practice. Sloan Management Review. 1994, p. 25-35.
HANSEN, D. ; MOWEN, M. M. Gestão de custos: contabilidade e controle. São
Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2001.
HENDRICKS, K. B.; SINGHAL, Vinod R. Does implementig na effective TQM
program actually improve operating performance? Empirical evidence from firms that
won quality awards. Management Science. V. 43, n. 9, set. 1997, p. 1258-1274.
HOFFMANN, R. Estatística para Economistas. São Paulo: Pioneira, 1980.
HOJI, M. Administração financeira: uma abordagem prática. 5. ed. São Paulo:
Atlas, 2004.
INSTITUCIONAL ABNT/CB-25. Disponível em: <http://www.abntcb25.com.br/>.
Acesso em: 3 nov. 2006.
JENSEN, Michael C.; MECKLING, William H. Theory of the firm: managerial behavior,
agency costs and ownership structure. Journal of Financial Economics. n. 3, 1976.
p. 305-60.
65
JURAN, J. M.; GRYNA, F. M. Controle da qualidade handbook: conceitos,
políticas e filosofia da qualidade. v. 1. São Paulo: Makron Books, 1991.
KASSAI, José R. et al. Retorno de investimento: abordagem matemática e contábil
do lucro empresarial. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2000.
KATZ, D., KAHN, R.L. Características comunes de los sistemas abiertos. In:
Teoria geral de sistemas y administracion publica. Costa Rica: EDUCA-ICAP, 1977.
LEITE, Daniela Cristina Medeiros. Método de implantação de um sistema de
gestão da qualidade baseado na norma ISO 9001:2000. 2005. 136 f. Dissertação
(Mestrado em Engenharia de Produção) Programa de Pós Graduação do
Departamento de Engenharia de Produção, Universidade Federal de São Carlos,
São Carlos, 2005.
MARANHÃO, M. ISO série 9000: manual de implementação versão 2000. 6. ed. Rio
de Janeiro: Qualitymark, 2001.
MARCON, Rosilene. O custo de capital próprio das empresas brasileiras: o caso
dos American Depositary Receipts (ADRs). 2002. 150 f. Tese (Doutorado em
Engenharia de Produção) Programa de Pós-Graduação em Engenharia de
Produção (PPGEP), Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Florianópolis,
2002.
MARSHALL JÚNIOR, Isnard et al. Gestão da qualidade. 7 ed. Rio de Janeiro:
Editora FGV, 2006.
MATARAZZO, Dante. C. Análise financeira de balanços: abordagem básica e
gerencial. 5 ed. São Paulo: Atlas, 1998.
MINTZBERG, Henry. Criando organizações eficazes: estruturas em cinco
configurações. Tradução de Ciro Bernardes. São Paulo: Atlas, 1995.
MOKHTAR, M. Z.; HARBHARI, Y.; NASER, K. Company financial performance and
ISO 9000 registration: evidence from Malasya. Asia pacific Business review. V. 11,
n. 3, set. 2005, p. 349-367.
66
MORRIS, P. W. ISO 9000 and financial performance in the electronics industry. The
Journal of American of Business. V. 8, n. 2, mar. 2006, p. 227-234.
NEUMAYER, Eric; PERKINS, Richard. Uneven geographies of organizational
practice: explaining the cross-national transfer and diffusion of ISO 9000. Working
Paper Series, 2004. Disponível em: <http://ssrn.com/abstract=516863>. Acesso em:
03 nov. 2006.
NONAKA, Ikujiro. The Knowledge-Creating Company. Harvard Business Review,
Boston, v. 69, n. 6, p. 96-104, nov./dez. 1991.
NOSSA, Valcemiro; KASSAI, Roberto; KASSAI, Silvia. A teoria do agenciamento e
a contabilidade. In: ENCONTRO NACIONAL DA ANPAD (EnANPAD), 24,
Florianópolis: Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Administração
2000. CD-ROM.
OLIVEIRA, Ricardo Daher; SCHIEHLL, Eduardo. Práticas gerenciais como
determinantes da gestão do conhecimento: um estudo comparativo de empresas
certificadas pela ISO 9001:2000. Artigo científico ainda não publicado, 2007.
PADOVESE, C. L.; BENEDICTO, G. C. Análise das demonstrações financeiras.
São Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2004.
PADRÃO, 2006. Disponível em: < http://pt.wikipedia.org/?title=Standard>. Acesso
em: 03 nov. 2006.
PINDYCK, Robert S.; RUBINFELD, Daniel L. Microeconomics. 3. ed. New Jersey:
Prentice Hall, 1995.
REEVES, C. A.; E BEDNAR, D. A. Definig quality: alternatives and implications.
Academy of Management Review. v. 19, n. 3, 1994, p. 419-445.
REICHHELD, Frederick F. The Loyalty Effect: the hidden force behind growth,
profits, and lasting value. Boston: Harvard Business School Press, 1996.
ROBERTS, John. Teoria das organizações. São Paulo: Campus, 2005.
67
ROBERTSON, P. L; LANGLOIS, R.N. Innovation, networks, and vertical
integration. University College and University of Connecticut: 1994.
SCHUMPETER, J. A. A Teoria do desenvolvimento econômico: uma investigação
sobre lucros, capital, crédito, juro e o ciclo econômico. São Paulo: Nova Cultural,
1995.
SENGE, Peter M. A quinta disciplina: arte e prática da organização que aprende. 6
ed. São Paulo: Best Seller, 2000.
TUCKMAN, A. The yellow brick road: total quality management and the restructuring
of organization culture. Organization Studies. V. 15, n. 5, 1994, p. 727-751.
TERZIOVSKI, Milé; SAMSON, Danny; DOW, Douglas. The business value of quality
management systems certification evidence from Australia and New Zealand.
Journal of Operational Management, 15, p. 1-18, 1997.
VAN DER WIELE, A., DALE, B. G., WILLIAMS, A. R. T. 2000. ISO 9000 series and
excellence models: fad to fashion to fit. Journal of General Management. p. 50-66.
2000.
WAYHAN, Victor; KIRCHE, Elias T.; KHUMAWALA, Basheer. ISO 9000 certification:
the financial performance implications. Total Quality Management, Abingdon, v. 12,
n. 2, mar. 2002, p. 217-231.
ZACHARIAS, O. J. ISO 9000 conhecendo e implantando: uma ferramenta de
gestão empresarial. São Paulo: O. J. Zacharias, 2001.
Livros Grátis
( http://www.livrosgratis.com.br )
Milhares de Livros para Download:
Baixar livros de Administração
Baixar livros de Agronomia
Baixar livros de Arquitetura
Baixar livros de Artes
Baixar livros de Astronomia
Baixar livros de Biologia Geral
Baixar livros de Ciência da Computação
Baixar livros de Ciência da Informação
Baixar livros de Ciência Política
Baixar livros de Ciências da Saúde
Baixar livros de Comunicação
Baixar livros do Conselho Nacional de Educação - CNE
Baixar livros de Defesa civil
Baixar livros de Direito
Baixar livros de Direitos humanos
Baixar livros de Economia
Baixar livros de Economia Doméstica
Baixar livros de Educação
Baixar livros de Educação - Trânsito
Baixar livros de Educação Física
Baixar livros de Engenharia Aeroespacial
Baixar livros de Farmácia
Baixar livros de Filosofia
Baixar livros de Física
Baixar livros de Geociências
Baixar livros de Geografia
Baixar livros de História
Baixar livros de Línguas
Baixar livros de Literatura
Baixar livros de Literatura de Cordel
Baixar livros de Literatura Infantil
Baixar livros de Matemática
Baixar livros de Medicina
Baixar livros de Medicina Veterinária
Baixar livros de Meio Ambiente
Baixar livros de Meteorologia
Baixar Monografias e TCC
Baixar livros Multidisciplinar
Baixar livros de Música
Baixar livros de Psicologia
Baixar livros de Química
Baixar livros de Saúde Coletiva
Baixar livros de Serviço Social
Baixar livros de Sociologia
Baixar livros de Teologia
Baixar livros de Trabalho
Baixar livros de Turismo