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Demilson José Malta Vigiano
ESTUDO DE CASO DE DEGRADAÇÃO QUÍMICA DE PAPÉIS ÁCIDOS
Belo Horizonte
Escola de Belas Artes da UFMG
2008
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Dedico este trabalho, integralmente à
minha família, mãe e irmãos e a
Wellington, companheiro de todas as
horas.
A vocês, mais esta etapa...
A
GRADECIMENTOS
A minha família e a Wellington Berloffa, que sempre me incentivaram e me deram apoio.
Aos amigos que também me apoiaram e me entenderam nos momentos difíceis.
A Edilane Carneiro e Renato Venâncio pelo apoio do início ao fim.
A todos os membros do corpo técnico do Centro de Conservação e Restauração de
Bens Culturais Móveis, CECOR, que colaboraram de diversas formas para a realização
deste trabalho, especialmente Profª. Betânia Veloso, que acreditou e ajudou bastante
para esta realização.
A Selma Otília Rocha - Auxiliar de Laboratório pelas análises laboratoriais, montagem
de lâminas, dispersões e fotografias, além de sua amizade.
A Antônio Gonçalves da Silva, por tudo.
À Fernanda, Érika, Eder, Cristina e todos da Escola SENAI “Theobaldo de Nigris” que
estavam sempre prontos a ajudar.
A professora Lílian Brasileiro do COLTEC - UFMG, a quem sempre pude recorrer nas
dúvidas.
A José Nazaret, instrutor do CECOTEG / SENAI -MG por sua atenciosa ajuda
Ao pessoal da Secretaria de Pós-Graduação da Escola de Belas Artes / UFMG por
todas as atenções.
A todos os amigos e funcionários do APM que de alguma forma contribuíram para a
elaboração, desenvolvimento e conclusão deste trabalho.
A todos os funcionários da Biblioteca da Escola de Belas Artes pela gentileza e atenção.
A FINEP pelo auxílio financeiro.
No interesse de difusão do conhecimento em conservação e restauração, foram
empenhados esforços para localizar os detentores dos direitos autorais de qualquer
material utilizado. Deixa-se, portanto, esta dissertação disponível para possíveis
acertos posteriores, caso, inadvertidamente, a identificação de algum deles tenha
sido omitida ou por algum motivo esteja errada.
R
ESUMO
Esta pesquisa apresenta uma análise das degradações sofridas por papel ácido,
procurando caracterizar o envelhecimento do papel que permaneceu acondicionado
por um determinado período de tempo.
Foram escolhidos documentos impressos para que a pesquisa não fosse
influenciada por outros elementos como, por exemplo, a tinta ferrogálica, usada nos
manuscritos desse e de outros períodos, e cujas degradações exigem uma
avaliação própria. O objeto de estudo faz parte da coleção intitulada "Presidentes da
Província" que está sob a guarda do Arquivo Público Mineiro. O período de produção
de papéis, escolhido para este estudo, abrange aqueles produzidos de 1850 a 1889,
por ser essa uma época de transição entre os papéis de trapo, papel antecessor de
qualidade superior, e os que viriam a dominar o mercado, os papéis que utilizam a
madeira como matéria-prima.
A partir de um conhecimento prévio de fatores que interferem na permanência do
papel, foram realizados experimentos que pudessem colocar à mostra
características próprias do material como o tratamento ao qual a pasta foi
submetida, presença de compostos não celulósicos e natureza de aditivos como
colas. E ainda, ensaios físicos como resistência a alongamento e arrebentamento, e
capacidade de absorção de água.
Os resultados indicam que as características de envelhecimento natural específicas
de cada processo de produção do papel devem ser levadas em consideração ao se
estabelecer procedimentos de restauração.
A
BSTRACT
This research presents a comparative analysis of the suffered degradations for the
produced acid paper, trying to characterize the aging of the paper that stayed
conditioned by a certain period of time.
Printed documents were chosen for the research to avoid influences by other
elements as, for instance, the ink gall ink, used in the manuscripts of that period, and
whose degradations demand an own evaluation. The study object is part of the
collection entitled "Presidentes da Província” (Presidents of the Province) that is
under the guard of the Arquivo Público Mineiro (State of Minas Gerais Archives). The
period of production of papers, chosen for this study, it embraces those produced
from 1850 to 1889, for being that a transition time among the rag papers, paper
predecessor of superior quality, and the one that would come dominate to the
market, the papers produced by wood.
Starting from a previous knowledge of factors of interference in the permanence of
the paper, experiments were accomplished to show own characteristics of the
material and the treatment to which the paste was submitted, presence of
components as lignin and nature of addictive as glues. And, also, physical research
as tensile strength, bursting strength , and water absorption – Cobb method.
The results indicate that the characteristics of natural aging specific of each process
of production of the paper should be considerate when the restoration procedures will
be establish.
L
ISTA
D
E
I
LUSTRAÇÕES
Figura 1 – Papel de polpa química............................................................................19
Figura 2 – Foto de papiro..........................................................................................21
Figura 3 – Antiga manufatura de papéis na China ...................................................22
Figura 4 – Moinho de papel.......................................................................................24
Figura 5 – Johannes Gutenberg................................................................................24
Figura 6 – René de Réaumur....................................................................................25
Figura 7 – Réaumur observa vespas ........................................................................25
Figura 8 – Keller........................................................................................................26
Figura 9 – Scheele ....................................................................................................26
Figura 10 – Fábrica de Orianda.................................................................................30
Figura 11 – Barão de Capanema..............................................................................30
Figura 12 – Carta de 1799 ........................................................................................31
Figura 13 – Lista de 1799..........................................................................................32
Figura 14 – araucaria angustifolia .............................................................................35
Figura 15 – eucalyptus grandis .................................................................................35
Figura 16 – Anselme Payen......................................................................................36
Figura 17 – Fórmula empírica da celulose ................................................................36
Figura 18 – Corte transversal da celulose.................................................................36
Figura 19 – Molécula de glicose................................................................................37
Figura 20 – Fibras têxteis principais..........................................................................37
Figura 21 – Fibras de madeiras.................................................................................38
Figura 22 – Auto fluorescência de tecido lignificado .................................................43
Figura 23 – Acervo Presidentes da Província ...........................................................53
Figura 24 – Dispersões – pasta mecânica ..............................................................103
Figura 25 – Dispersões – polpa química.................................................................104
Figura 26 – Dispersões – papel de trapo ................................................................105
Figura 27 - Espessímetro........................................................................................111
Gráfico 1 – Tratamentos de polpa química ...............................................................96
Gráfico 2 – Pesquisa de cola aplicada – pasta mecânica .......................................106
Gráfico 3 – Pesquisa de cola aplicada – polpa química..........................................108
9
Gráfico 4 – Padrões de degradação – pasta mecânica...........................................115
Gráfico 5 – Padrões de degradação – polpa química .............................................116
Gráfico 6 – Celulose degradada – pasta mecânica.................................................117
Gráfico 7 – Celulose degradação – pasta química..................................................119
Quadro 1 – Características das amostras.................................................................57
Quadro 2 – Amostras selecionadas para ensaios físicos..........................................70
Quadro 3 – Ensaios com corante Graff “C” – resultados esperados.........................75
Quadro 4 – Ensaios com reativo de Herzberg...........................................................77
Quadro 5 – Características das fibras de madeira (padrão)......................................80
Quadro 6
Resultados das amostras submetidas à pesquisa de cola .....................81
Quadro 7
Amostras reveladas como pasta mecânica ............................................94
Quadro 8 – Amostras reveladas como polpa química...............................................95
Quadro 9
Pasta mecânica submetida à solução de floroglucina ............................97
Quadro 10 – Polpa química submetida à solução de floroglucina.............................98
Quadro 11
Pasta mecânica submetida ao corante de Herzberg ..........................100
Quadro 12
Polpa química submetida ao corante de Herzberg.............................101
Quadro 13
Pesquisa de cola – pasta mecânica ...................................................105
Quadro 14
Pesquisa de cola – polpa química ......................................................107
Quadro 15
Corante Eriocromocianina – pasta mecânica .....................................109
Quadro 16
Corante Eriocromocianina – polpa química........................................110
Quadro 17 – Padrões de degradação – amostras de pasta mecânica....................114
Quadro 18 – Padrões de degradação – amostras de polpa química ......................115
Quadro 19 – Reativo de Tollens – pasta mecânica.................................................117
Quadro 20 – Reativo de Tollens – polpa química....................................................118
Quadro 21 – pH – pasta mecânica..........................................................................120
Quadro 22 – pH – polpa química.............................................................................120
Quadro 23 – pH – papel de trapo............................................................................121
Quadro 24 –
pH – papel contemporâneo – off set...................................................121
L
ISTA
D
E
T
ABELAS
1 – Características métricas das amostras de pasta mecânica...............................112
2
Características métricas das amostras de pasta química..................................112
3
Características métricas da amostra de trapo ...................................................113
4
Características métricas do papel contemporâneooff set..............................113
5 – Resultados – ensaios físicos e respectivos resultados .....................................124
L
ISTA DE
A
BREVIATURAS
# – Number
µm – milimicra
a.C. – Antes de Cristo
Ag
+
– Íon prata
AgNO
3
– Nitrato de prata
Al
+3
– Íon alumínio
AlCl
3
– Cloreto de alumínio
AlCl
3
.6H
2
O – Alumínio hexahidratado
APM – Arquivo Público Mineiro
CaCl
2
– Cloreto de cálcio
Ca(HCO
3
)
2
– Bicarbonato de cálcio
Ca(HSO
3
)
2
– Bissulfito de cálcio
CECOR – Centro de Conservação e Restauração de Bens Móveis
CECOTEG – Centro de Comunicação, Design e Tecnologia Gráfica
CH
3
OH – Metanol
COLTEC – Colégio Técnico – UFMG
C
23
H
15
Na
3
O
9
S – Corante eriocromocianina
D. – Dom / Dona
Dor. / Dr. – Doutor
Exa. – Excelência
Exmo. – Excelentíssimo
FINEP – Financiadora de Estudos e Projetos
H
2
SO
3
– Ácido sulfuroso
H
2
SO
4
– Ácido sulfúrico
H
+
– Íon Hidrogênio
HCl – Ácido clorídrico
I
2
– Iodo
Illmo. – Illustríssimo (grafia de época)
Inc. – Incorporation
ISO – International Organization for Standardization
12
KAl(SO
4
)
2
– Sulfato de alumínio e potássio (alúmen)
KI – Iodeto de potássio
kPa – Quilopascal
MNBA – Museu Nacional de Belas Artes
N – Newton
Na
2
B
4
O
7
.10H
2
O – Tetraborato de sódio (bórax)
Na
2
SO
4
.10H
2
O – Sulfato de Sódio
Na
2
S – Sulfeto de Sódio
NaOH – Hidróxido de Sódio
NH4OH – Hidróxido de amônio
HNO
3
– Ácido nítrico
NBR – Norma Brasileira
NM – Norma Mercosul
O
3
– Ozônio
-
OH – íon hidroxila
pH – Potencial hidrogeniônico
pp – Presidentes da Província
SENAI – Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial
Snr. – Senhor
SO
2
– Dióxido de enxofre
UR – Umidade Relativa do Ar
UV – Ultravioleta
V. – Vossa
ZnCl
2
– Cloreto de zinco
S
UMÁRIO
1 Introdução .....................................................................................................15
2 Revisão Bibliográfica.....................................................................................17
3 Papel.............................................................................................................19
3.1 Breve histórico do papel................................................................................21
3.2 Produção de papel no Brasil antes do século XX..........................................28
3.3 Características do papel................................................................................34
3.3.1 Características Físicas..................................................................................34
3.3.2 Características Químicas..............................................................................36
3.4 Tipos de fibras de celulose ...........................................................................37
3.5 Tipos de polpa de celulose usados na fabricação do papel..........................39
3.6 Compostos não-celulósicos..........................................................................41
3.6.1 Hemiceluloses ..............................................................................................41
3.6.2 Lignina..........................................................................................................42
4 Degradações do papel ..................................................................................44
4.1 Características do Envelhecimento Natural..................................................45
4.2 Fatores intrínsecos de degradação...............................................................45
4.3 Fatores extrínsecos de degradação..............................................................47
5 Introdução aos materiais utilizados...............................................................52
5.1 Descrição dos suportes testados..................................................................52
5.1.1 Do acervo escolhido como objeto de estudo................................................53
5.1.2 Metodologia de identificação das amostras..................................................56
5.1.3 Critérios para seleção das amostras ............................................................57
6 Parte experimental........................................................................................71
6.1 Exames.........................................................................................................71
6.1.1 Exame de pasta............................................................................................72
6.1.1.1 Corante Graff “C”..........................................................................................73
6.1.1.2 Pesquisa de lignina.......................................................................................75
6.1.1.3 Dispersões....................................................................................................78
6.1.1.4 Pesquisa de cola aplicada............................................................................81
6.1.1.5 Pesquisa de alúmen .....................................................................................81
6.1.2 Exame métrico .............................................................................................82
6.1.3 Exame óptico ...............................................................................................82
6.2 Ensaios relacionados ao envelhecimento.....................................................83
6.2.1 Identificação do grau de alteração da celulose ............................................83
6.2.2 pH ................................................................................................................85
6.2.3 Testes de envelhecimento acelerado...........................................................87
6.3 Ensaios físicos para papéis ..........................................................................90
6.3.1 Resistência a Tração e ao Alongamento......................................................91
6.3.2 Arrebentamento............................................................................................92
14
6.3.3 Capacidade de absorção de água................................................................93
7 Resultados....................................................................................................94
7.1 Exame de pasta............................................................................................94
7.2 Exame métrico ...........................................................................................111
7.3 Exame óptico ..............................................................................................113
7.4 Ensaios relacionados ao envelhecimento...................................................116
7.5 Ensaios físicos para papéis ........................................................................122
8 Discussões..................................................................................................125
9 Conclusões .................................................................................................127
Referências Bibliográficas.......................................................................................128
Glossário.................................................................................................................133
Anexos ....................................................................................................................139
1 I
NTRODUÇÃO
A preocupação do homem com a preservação daquilo que está documentado em
papel tem se intensificado ao longo do tempo, motivado pelo crescente
conhecimento a respeito da degradação deste suporte e a conseqüente conquista
de novas maneiras de se fazer o papel
1
. A não-perenidade do papel vem, neste
contexto, justificar a busca de aprofundamento de nosso conhecimento,
especificamente sobre os processos de degradação de seus materiais constitutivos
e suas conseqüentes interações. Este estudo traz uma análise entre os tipos de
papel ácido para impressão de documentos, utilizados a partir de 1850, data a partir
da qual chega ao mercado o papel de madeira em substituição ao papel produzido
através de trapos de algodão, linho e outras fibras xteis. Foram escolhidos
documentos impressos entre o acervo do Arquivo Público Mineiro, para que o estudo
de papel ácido não fosse influenciado por produtos resultantes da degradação de
outros materiais como, por exemplo, as tintas utilizadas em manuscritos,
especialmente a tinta ferrogálica.
Através de observações das alterações estéticas e estruturais ocorridas no papel,
espera-se contribuir com os estudos relacionados à conservação e restauração de
obras sobre papéis, sejam elas, livros, documentos ou obras de arte, trazendo um
maior conhecimento a respeito dos constituintes do papel produzido nessa época e
que são capazes de potencializar seu envelhecimento.
A evolução de estudos voltados para a área de conservação e restauração reside,
principalmente, no fato de que sem a compreensão, a nível científico, dos processos
1
SILVA; D’ALMEIDA, 2005
16
que caracterizam a degradação dos materiais constitutivos de uma obra de valor
histórico, a preservação do patrimônio cultural torna-se difícil. A memória e uma
importante parte de nossa cultura estão representadas, não por documentos e
livros, mas também por obras de arte sobre papel.
Nas atividades institucionais relacionadas à conservação, constata-se como é
importante a disponibilidade de dados confiáveis sobre o acervo, seja ele pequeno,
médio ou grande. Na maioria dos casos, o tamanho das coleções é grande o
suficiente para impedir um exame totalizante, portanto, faz-se necessário trabalhar
com amostragens. Considerando que foi analisada apenas uma parte do acervo,
espera-se que esta parte possa refletir um resultado aproximado se fosse
investigada, minuciosamente, a coleção inteira.
O objeto de estudo faz parte da coleção intitulada "Presidentes da Província" que
está sob a guarda do APM, e está organizada em dezessete caixas de documentos
impressos sobre papel ácido, em sua maioria.
O total de caixas contém uma grande quantidade de documentos em variados graus
de acidificação, além de outros problemas de degradação física e biológica. Possui
ainda, documentos impressos sobre papel de trapo que embora tenham constituição
diferente em sua matéria prima e processamento, foram usados como comparativos
em alguns ensaios, por terem permanecido junto aos papéis ácidos.
17
2 R
EVISÃO
B
IBLIOGRÁFICA
Conservação (...) inclui todas as medidas tomadas e todos os
estudos feitos com o propósito de reabilitar trabalhos danificados ou
deteriorados e preservar ou manter trabalhos de arte nas condições
apropriadas. O termo “restauração” refere-se somente a reposição de
partes que estejam faltando, imitando o original pelo uso de tinta ou
construindo fragmentos perdidos (...). A competência na conservação
não é inteiramente uma questão de conhecimento artístico e químico,
aos materiais e métodos, etc. este conhecimento é necessário, mas
sua aplicação bem-sucedida é um resultado de perícia especializada
e discernimento desenvolvido através da experiência. Além de
dominar os aspectos estritamente técnicos da profissão, o
conservador deve conhecer a natureza (...) da obra com a qual está
envolvido, talvez a consideração mais importante seja a atitude do
restaurador em relação ao trabalho (...) (MAYER, 2002, p. 545).
No decorrer do desenvolvimento desta pesquisa, cujo objetivo foi realizar um estudo
dos papéis ácidos utilizados como documentos na segunda metade do século XIX,
percebeu-se a importância na identificação dos processos de produção – pasta
mecânica ou polpa química entre esses papéis, antes de procedimentos de
restauração, por tratarem-se de material muito fragilizado pelo tempo e por seus
próprios constituintes.
De fato, ao longo do desenvolvimento de pesquisas em conservação e restauração
de obras sobre papel, diversas substâncias e compostos químicos foram
utilizados com os mais variados propósitos, como por exemplo, produtos como
Tetraborato de Sódio [Bórax (Na
2
B
4
O
7
.10H
2
O)] que já foi amplamente empregado na
desacidificação de documentos. No entanto, seu uso foi abandonado por ser
apontado como catalisador de reações de degradação de grupos alcoólicos da
celulose.
Esta característica incômoda levou a sua substituição pelo Hidróxido de Sódio [Soda
Cáustica (NaOH)], pela conveniência de ser empregado no próprio processamento
18
da celulose, matéria-prima do papel. No entanto, o uso deste composto na
desacidificação de papéis, pode quebrar ligações que unem as moléculas de
glicose, que são as formadoras da celulose. Esta reação é observada apenas na
desacidificação de papéis produzidos com polpa química branqueada. Não obstante,
é possível utilizá-lo na desacidificação de papéis fabricados com pasta mecânica,
que possui constituintes não celulósicos da madeira como a lignina. O NaOH
contribui na extração desses constituintes, aumentando a alvura do papel tratado e
melhorando sua resistência mecânica, possivelmente através do incremento das
ligações interfibras por ligações de hidrogênio.
2
Portanto, o uso de produtos como NaOH, um álcali forte, deve limitar-se a papéis de
pasta mecânica, onde também atua na remoção de ligninas oxidadas. Em papéis de
polpa química a desacidificação deve ser feita com álcalis fracos como o
Bicarbonato de Cálcio [Ca(HCO
3
)
2
], que álcalis fortes podem quebrar as ligações
que unem as moléculas de glicose, formadora da celulose, reação indesejável
quando o objetivo é justamente preservar acervos em papel.
Como a desacidificação é uma das principais etapas nos trabalhos de restauração
de papéis, justifica-se a identificação correta de pastas celulósicas, para que estes
trabalhos sejam feitos de forma mais adequada, alcançando o seu propósito final,
que é a preservação. O desenvolvimento de tratamentos que pudessem abarcar os
vários tipos de papéis é, sem dúvida, uma tarefa impossível, devido à diversidade de
problemas e variáveis envolvidas.
2
SILVA; D’ALMEIDA. 2005
3 P
APEL
Segundo o dicionário Michaelis
3
, o papel é um
material constituído de uma pasta de fibras de
celulose, cargas minerais e outros produtos. Folha
fina, formada sobre uma tela a partir de uma
suspensão aquosa de fibras de celulose. Pasta
refinada de fibras vegetais, resinas e cargas, em
forma de folhas ou de bobinas, utilizada para
imprimir, escrever, embalar, desenhar etc., classificada de acordo com o processo
de fabricação, a natureza das fibras, o acabamento superficial e a destinação.
Para atender aos requisitos dos processos de impressão e de acabamento, o papel
deve reunir uma série de propriedades, incluindo:
Opacidade: qualidade de uma folha de papel para inibir a observação de
caracteres de outra página ou folha. Com isso evita-se a interferência de
leitura ou imagens, provocada pela visão de objetos que escritos na face
oposta à face observada.
Brancura: graduação em que o papel reflete a luz. É um dos atributos mais
solicitados nos papéis para impressão e escrita. Na impressão, a brancura
realça as cores, devido à luminosidade do fundo. A brancura do papel pode
ser natural, ou seja, mantendo-se a cor natural das fibras, ou através de
alvejantes ópticos, que se por um processo de depuração com
3
Dicionário Escolar – Português / Português. São Paulo: Melhoramentos. 2002
FIGURA 1 – Papel de polpa química
com filigrana
Fonte: Foto do autor.
20
componentes químicos, que faz com que os papéis tornem-se fluorescentes
quando expostos à luz ultravioleta.
Absorção: propriedade do papel de absorver água ou fluidos da tinta durante
o processo de impressão. Os materiais celulósicos, tais como o papel,
também absorvem a água do ambiente quando existe um diferencial de
umidade relativa.
Brilho: grau com que a superfície de um papel reflete a luz incidente em raios
paralelos, chamada de reflexão especular.
Resistência: a permanência dos papéis depende principalmente da sua
acidez, visto que esta causa a reversão de alvura (amarelecimento) e a
degradação da celulose que compromete a resistência mecânica.
Cada uma dessas e de outras variáveis, dependem da composição fibrosa e de
outros constituintes, e do todo de acabamento aplicado durante ou após a
fabricação.
4
Não importa se o papel é antigo ou contemporâneo, estas propriedades
sempre foram buscadas, pois elas concedem as características necessárias ao uso
do papel. Os parâmetros para controle destas propriedades, tão comum na indústria
papeleira atual, provavelmente começaram a ser desenvolvidos desde quando o
papel começou a tornar-se o suporte de impressão preferido, substituindo o
pergaminho e outros suportes menos práticos. A transição para o papel industrial
produzido a partir da madeira, naturalmente iria fazer com que esses padrões de
controle se desenvolvessem consideravelmente.
4
Disponível em: http://www.internationalpaper.com.br/downloads/marketing/glossario. Acesso em: 03
jul 2006.
21
3.1 Breve Histórico do Papel
O homem começou a registrar sua história por volta de 6000 a.C.. As primeiras
tentativas de registrar as atividades humanas foram feitas através de entalhes em
pedra
5
. O ato de se expressar impulsionou as civilizações pelos tempos de sua
existência a desenvolver o hábito de desenhar, de pintar objetos ou de registrar sob
símbolos seus feitos. Utilizava-se para esta prática o material advindo da natureza
como cascas de árvores, folhas de plantas, ossos, pedras, parede rochosa e tudo o
mais que pudesse servir de suporte. Com a evolução do raciocínio, seus desenhos e
símbolos ficavam cada vez mais sofisticados. O homem, ser cada vez mais
complexo, passou a desenvolver idéias que permitiram o crescente domínio das
circunstâncias, que o levaram a criar novos suportes para demonstrar seu cotidiano.
A história distingue o uso de diversos suportes manufaturados para o registro de
acontecimentos, como tabletes de barro, tecidos de fibra vegetal, papiros,
pergaminhos e, finalmente, o papel.
De todos os antecedentes do papel, dois merecem ser citados pela similaridade com
que podiam ser manuseados:
1. O papiro que era preparado à base de tiras
extraídas dos caules de uma planta da
família das ciperáceas, cyperus papyrus
abundantes às margens do rio Nilo, no
Egito. A maioria dos exemplares
conhecidos deste antecedente do papel,
5
Disponível em: www.radiobras.gov.br/ct/. Acesso em 14 ago 2006.
FIGURA 2 – Ramo de cyperus
papyrus e papiro já
preparado.
Fonte: www.eca.usp.br.
22
foi produzida entre os anos 2500 e 2000 a.C., no entanto, os espécimes mais
antigos de papiro, encontrados em túmulos egípcios, datam cerca de 3500
a.C.. As tiras eram posicionadas em ângulos retos, molhadas, marteladas e
coladas. Sua técnica de preparação permanece ainda sem uma descrição
fidedigna, apesar da descrição oferecida pelo naturalista romano Plínio, O
Velho, que viveu entre os anos 23 e 79. Entretanto, sabe-se que o uso do
papiro continuou até meados do século IX.
6
Embora a palavra papel seja
derivada de papyrus, são produtos completamente diferentes.
2. O pergaminho é produzido a partir da pele esticada e curtida de ovelhas ou
cabras, servindo, após este tratamento, como suporte para a escrita. Seu uso
vem desde o ano 170 a.C., embora existam registros de uso de pergaminhos
rudimentares desde o ano 2000 a.C.
7
. O nome deriva da cidade onde,
acredita-se, foi fabricado pela primeira vez, Pérgamo, na atual Turquia. Foi
largamente utilizado na antiguidade ocidental, em especial na Idade dia,
até a difusão do uso do papel.
O papel é o suporte mais comum dos documentos e
livros conservados em arquivos e bibliotecas. Teve
sua origem na China, local em que seu uso
estendeu-se até os confins do império. Entra na
Europa via Espanha, após o conhecimento de sua
técnica pelos povos árabes. Era produzido,
principalmente, com restos de tecidos de origem
vegetal, como linho, algodão e cânhamo e, ainda,
com fibras de origem animal, como a seda.
A fabricação desse tipo de papel
6
Celulose e Papel, vol. 1, 1988, p. 2.
7
idem
FIGURA 3
Manufatura de papéis
na China.
Fonte: www.celuloseonline.com.br
23
persiste até meados do século XIX.
O papel tem uma história das mais notáveis. Atribui-se a T’sai Lun, oficial da corte
imperial chinesa a invenção do papel como o conhecemos, no ano 105 de nossa
era. Por meio, inicialmente da polpação de velhas redes de pesca e de trapos e,
mais tarde, usando fibras vegetais, ele produziu uma substância feita de fibras como
da casca da amoreira, umedecendo e batendo a mistura até obter uma solução
homogênea.
8
A seguir, usando uma peneira e secando ao sol a fina camada ali
depositada, obteve uma folha de papel. A confecção do papel artesanal utilizava-se
das fibras vegetais cozidas, depois batidas e esmagadas. A pasta obtida pela
dispersão das fibras é depurada e a folha, formada sobre uma peneira feita de
juncos delgados unidos entre si por seda ou crina, é fixada sobre uma armação de
madeira, que é submersa em uma tina que contém essa dispersão. E após, secava-
se pendurada ou comprimida entre placas de material poroso. Os espécimes que
chegaram aos nossos dias provam que o papel feito pelos antigos chineses era de
alta qualidade, permitindo compará-lo aos melhores papéis feitos atualmente.
A manufatura do papel foi um segredo chinês por mais de seis séculos. A partir da
captura, no ano de 751, de alguns artesãos chineses por muçulmanos em
Samarcanda, cidade que fica no atual Uzbequistão, a técnica de fabricação de papel
chega a Bagdá, no Iraque, e Damasco, na Síria, pondo fim ao monopólio chinês na
produção do papel. Nesse momento, a difusão dos conhecimentos sobre a
manufatura do papel segue pela costa norte da África pelas os dos povos
muçulmanos. Com a expansão desses povos, a arte da manufatura do papel chega
à Europa através da Península Ibérica. Data de 1094 a primeira fábrica de papel em
solo europeu, na cidade de Xativa, Espanha.
8
TOCHETTO et al., 1995, p. 607
24
Por volta de 1150, é montada uma brica na cidade de Fabriano, Itália. A partir daí,
a arte de produzir papel começa a disseminar pela Europa. Chega à França em
1189, à Alemanha em 1291, à Inglaterra em 1330.
Curiosamente, a idéia de fazer papel a
partir de fibras de madeira perdeu-se
em algum lugar do trajeto, pois o
algodão e os trapos de linho
transformaram-se na principal matéria-
prima utilizada até o século XIX.
Com o desenvolvimento da imprensa,
por volta de 1440 a partir de seu uso
por Johannes Gutenberg (1397 1468),
o papel passou a ter um maior destaque em todos os
meios sociais, impondo-se como um produto
indispensável para a disseminação da cultura. A partir
desse evento, a produção cultural acelerou seu
crescimento e, como conseqüência, a divulgação
ampliou-se. E com essa divulgação, aumentou,
também, o número de pessoas letradas e
intelectualizadas. Diante desse crescimento
ininterrupto, foram muitas as tentativas de encontrar
uma matéria-prima que substituísse satisfatoriamente
os restos de tecidos, que se tornavam cada vez mais raros e caros, na produção do
papel, com o agravante de que, na ausência de um todo viável de
branqueamento, o papel branco só podia ser obtido a partir de trapos brancos.
FIGURA 4
Cerca de 1390.
Fonte: do livro de MARTINS, A palavra escrita.
FIGURA 5 – Gutenberg.
Fonte: www.noticianainternet.
bloguer.com.br
25
em 1719, o entomologista francês René de
Réaumur (1683 1757) sugere o uso da
madeira como matéria-prima para a fabricação
de papel ao observar que as vespas
mastigavam madeira podre e empregavam a
pasta resultante para produzir uma substância
semelhante ao papel na confecção de seus
ninhos.
A busca por matérias-primas alternativas ao
trapo era necessária, pois a revolução industrial
na metade do século XVIII, além de todas as
inovações que trouxe, também contribuiu para
um maior interesse pelo papel e isto fez com que
houvesse um grande aumento da demanda,
incrementando os meios de comunicação,
através de notícias via jornais, livros escolares e
obras literárias.
9
Além disso, a forte concorrência
da indústria têxtil dificultava e encarecia a
principal matéria-prima usada na época: trapos
de algodão e linho. Se a contínua escassez de matéria-prima proporcionava a
inovação, a crescente demanda exigia processos mais eficientes.
Em 1840, o alemão Friedrich Gottlob Keller (1816 1895), lendo a obra de
Réaumur, desenvolveu um processo de moagem de madeira através do qual seria
possível reduzi-la a fibras.
9
Celulose e Papel, vol. 1, 1988, p. 4.
FIGURA 6 René-
Antoine Ferchault de
Réaumur.
Fonte: www.nndb.com.
FIGURA 7
Réaumur observa vespas
construindo seu ninho.
Fonte: www.griffenmill.com.
26
FIGURA 8 – Friedrich Gottlob Keller.
Fonte:cerig.efpg.inpg.fr/histoire-metiers.
Com a introdução do processo de produção de
papel de pasta mecânica a partir da madeira,
desenvolvido por Keller, houve um barateamento
do produto, não tendo, porém, uma aceitação
plena, devido à sua cor escura e fragilidade.
Com a descoberta do cloro, pelo químico sueco
Karl Wilhelm Scheele (1742 1786) em meados
do século XVIII, ampliou-se o círculo das
matérias-primas possíveis, incluindo as
coloridas, que até então tinham sido deixadas de lado.
O efeito deteriorador, exercido pelos novos agentes
sobre o material, motivou estudos sistemáticos do
processo de branqueamento, levando à criação de
modos e condições que minimizariam o eventual dano
causado ao material.
O branqueamento possibilitava a obtenção de pasta
clara para a produção de papel também claro, mas seu
preço era alto, devido aos custos materiais e
operacionais, além de, invariavelmente, causar
degradação na fibra. Assim, até o desenvolvimento posterior de proporções
equilibradas das substâncias envolvidas no processo de branqueamento, o uso da
madeira como matéria-prima não teve boa aceitação, afinal o mercado exigia um
papel que fosse mais econômico em sua produção para que seu uso pudesse
ampliar-se, mas que tivesse qualidade também.
A madeira, especialmente aquela proveniente de pinheiros (madeira mole), por
FIGURA 9 – Karl Wilhelm
Scheele.
Fonte:www.geocities.com/
zabavniprirodninauki
27
possuir fibras mais longas e a dos eucaliptos (madeira dura), por ser de fácil
obtenção e ser relativamente resistente apesar de curta, é a matéria-prima principal
na fabricação do papel a partir da segunda metade do século XIX. Para que as fibras
possam ser usadas na fabricação de papel, algumas propriedades são necessárias
na matéria-prima escolhida, como alto conteúdo de celulose, baixo custo e fácil
obtenção.
Para transformar madeira em papel, as fibras devem ser separadas. Para isso
existem alguns processos para a obtenção da polpa, entre eles, dois foram
considerados nesta pesquisa: o processo mecânico e o químico, a partir dos quais
foi produzida a maior parte dos papéis utilizados como documentos no período de
produção estudado.
No processo mecânico, a pasta que dará origem às folhas de papel, é obtida através
da prensagem dos cavacos contra pedras de moer na presença de água. Esses
processos basicamente trituram a madeira, desagregando e reduzindo-a a fibras,
sem, no entanto, retirar compostos não celulósicos como lignina e hemiceluloses,
produzindo uma pasta de baixa qualidade, com fibras curtas que formarão papéis
amarelados. Atualmente este ato de desfibrar é finalizado na presença de vapor e o
produto é chamado de pasta termomecânica. Quando o utilizados reagentes
químicos, o produto gerado é chamado de pasta quimiotermomecanica.
O principal processo químico utilizado atualmente pela indústria papeleira é
conhecido como “Processo Kraft”, palavra da língua alemã que quer dizer forte.
Nesta técnica, compostos químicos como,
NaOH: possui a propriedade de amolecer e desagregar as fibras de celulose.
Sulfeto de sódio (Na
2
S): Composto químico que constitui o principal
ingrediente no processo sulfato de obtenção de polpa química para a
28
fabricação do papel. É formado na caldeira de recuperação no processo
sulfato, pela redução, em presença de carbono, do sulfato de sódio
(Na
2
SO
4
.10H
2
O). Forma com o NaOH a lixívia branca ou licor de cozimento
do processo sulfato.
são acrescentados aos cavacos de madeira que o submetidos a um cozimento
para que haja a desagregação das fibras a alta pressão em imensos vasos de
pressão chamados digestores. A ação combinada das substâncias químicas e o
calor dissolve grande parte da lignina e separa as fibras.
3.2 Produção de Papel no Brasil Antes do Século XX
Tão logo Dom João VI (1767 1826) e sua comitiva tenham vindo para o Brasil, em
1808, houve tentativas de se produzir papel em nosso país. É o que se conclui de
um documento, datado de 22 de novembro de 1809, pertencente ao arquivo do
Conde d’Eu (1842 1922), e que se encontra sob a guarda do Museu Imperial na
cidade de Petrópolis, em que Frei José Mariano da Conceição Velozo
(1742 1811)
oficia ao Ministro da Guerra e dos Negócios Estrangeiros, D. Rodrigo Domingos de
Souza Coutinho Teixeira de Andrade Barbosa, o Conde de Linhares (1745 – 1812)
10
,
nos seguintes termos:
“Querendo aproveitar-se da ocasião do portador e antecipar minha
notícia, que julgo será a V. Excia. agradável, lhe remeto uma amostra do
papel, bem que não alvejado, feito em primeira experiência, da nossa
embira. Prosseguir-se-á a procurarmos outros gêneros de plantas
filamentosas as mesmas tentativas. A segunda que já está em obra se
dará alvo, e em conclusão pode V. Excia. contar com esta fábrica.”
10
A rainha de Portugal, D. Maria I (1734 1816), determinava através de uma longa memória que
pesquisas fossem realizadas com o fim de se "promover a agricultura”. E naquele mesmo ano através
de uma outra ordem de Sua Majestade: pesquisas deveriam ser realizadas com várias madeiras
nativas para saber quais delas poderiam ser utilizadas na fabricação de papel, ficando o Conde de
Linhares, poderoso ministro do governo português, encarregado de delegar funções para se obter
estas informações.
Fonte: www.fotoplus.com/dph.
29
Junto ao oficio, encontra-se a amostra citada, com a seguinte indicação:
“O primeiro papel, que se fez no Rio de janeiro, em 16 de novembro de 1809.”
Não são conhecidas as providências tomadas pelo Conde de Linhares relativas a
esse empreendimento. De qualquer forma, os fatos politicos que tumultuavam a
Europa, a invasão napoleônica e a morte do ministro em 1812, não permitiriam que
as experiências e estudos do grande botânico Frei Velozo
11
fossem levadas adiante,
mesmo que pelas mãos de outras pessoas.
12
Não obstante, a produção industrial de papel no Brasil, tem início entre 1810 e 1811,
na cidade do Rio de Janeiro pelas mãos dos empresários portugueses Henrique
Nunes Cardoso e Joaquim José da Silva que se transferiram para a colônia que
acabara de virar metrópole devido a transferência da Família Real Portuguesa. Não
foi encontrada qualquer notícia a respeito da evolução desta fábrica de papel e seu
posterior fechamento.
Em 1837, com o Brasil independente, outra fábrica é fundada, também, no Rio de
Janeiro, montada por And Gaillard, e logo em seguida, em 1841, o escultor e
gravador que fez parte da Missão Artística Francesa de 1816, Zeferino Ferrez (1797
– 1851) inaugura sua fábrica na freguesia do Engenho Velho.
11
Duas obras notabilizaram Frei José Mariano da Conceição Velozo como grande homem que foi: os
onze anos de estudo de flora brasileira da Serra do Mar, que deram origem a importante obra “Flora
Fluminense”, com descrições e desenhos de grande quantidade de plantas da província do Rio de
Janeiro, hoje considerada obra rara. E as experiências de fabricação de papel de embira, o primeiro
feito no Brasil. Fonte: www.tiradentes.mg.gov.br/f_veloso.html.
12
MOTTA, SALGADO, 1971. pp. 43, 44
30
O governo imperial procurou ajudar
estes produtores de papel concedendo-
lhes o direito de exploração de quatro
loterias, duas para cada um dos
fabricantes de papel. A loteria era uma
forma de obtenção de fundos garantida
pelo tesouro,.
Em 1852, em meio a serra na região de
Petrópolis, província do Rio de Janeiro,
foi construida por Guilherme Schüch, o Barão de Capanema (1824 – 1908), a
Fábrica de Orianda. Sua produção atingiu um excepcional índice de perfeição
técnica fazendo com que várias editoras de jornais, nela se abastecessem, assim
como o Tesouro Nacional, que utilizou “papel selado” (papel que tinha uma marca,
como marca d’água, e que servia para diversos documentos oficiais) de sua
fabricação.
A brica de Orianda passou por graves dificuldades
e, em mais de uma ocasião, foi socorrida pelo governo
imperial. A irregularidade no fornecimento da matéria-
prima, devido a falta, no Brasil, da atividade organizada
do trapeiro, obrigava o Barão de Capanema a importar
trapos de linho e algodão da Europa, o que,
naturalmente encarecia o produto que não conseguia
competir com o papel produzido fora do país. Outro
golpe sofrido pela fábrica foi causado por uma
epidemia de peste bubônica ocorrida em 1855 e que
FIGURA 10 – Fábrica de Orianda, no meio
da
Serra.
Fonte: Quadro do artista
Agostinho José da
Motta. Acervo MNBA
FIGURA 11 – Guilherme
Schüch, Barão de
Capanema.
Fonte: paginas.terra.com.br/
educacao.
31
atingiu todo seu operariado. o obstante as dificuldades permanentes ou
ocasionais, a Fábrica de Orianda contiuou a produzir papeis até 1874, quando foi
decretada sua falência.
Na região de Minas Gerais também houve quem se ocupasse de encontrar plantas
nativas que fossem adequadas à produção de papéis. As FIG. 12 e 13, reproduzem
documentos que indicam essa busca.
FIGURA 12 - Carta de Bernardo José de Lorena (1756? 1818?), governador das Minas, para D.
Rodrigo de Sousa Coutinho (Conde de Linhares), informando que, em conseqüência,
de 1799, abril, 5, encarregou o Dr. Joaquim Vellozo de Miranda, professor da
Universidade de Coimbra, do exame de plantas e de árvores próprias para o fabrico
de papel.
Fonte: Acervo do Arquivo Histórico Ultramarino, 1799.
32
Transcrição:
Illmo. e Exmo, Snr.
Em conseqüência do Officio de V. Exa. De 5 de Abril, encarreguei ao Dor.
Joaquim Vellozo de Miranda o cuidado de fazer as precizas Indagaçoens de
Plantas, e Arvores que sirvão para fabricar Papel; em tempo próprio informarei
a V. Exa. do rezultado.
Deos Guarde a V. Exa.
Villa Rica 20 de Novembro de 1799.
Illmo. E Exmo. Snr.
D. Rodrigo de Souza Coutinho
Bernardo Jozé de Lorena
FIGURA 13 - Lista de Bernardo José de Lorena, governador das Minas, ao Conde de Linhares,
enviando amostras de plantas e de árvores para o fabrico de papel, acompanhadas da
nota do Professor Dr. Joaquim Vellozo de Miranda.
Fonte: Acervo do Arquivo Histórico Ultramarino, 1800.
33
Transcrição:
Embiras e lascas de paos macerados, para as experiencias do papel; que
gastarão onde para novos meios se aprontarem no estado em que se
achão.
1. Guaxiuma branca
2. Guaxiuma ordinaria (a)
3. Embira branca
4. Ditta vermelha
5. Paina de embiruçu vermelho
6. Gameleira
Ficão em os boxes de maceração por se acharem ainda muito rijas e
intratáveis, as seguintes.
7. Baçoura grande de folha ruiva
8. Carrapixo
9. Iraticu
10. Jiquitiba
11. Pindaíba preta
12. Ditta vermelha
13. Embiriçu branco
14. Ditto vermelho
15. Baçoura grande
16. Embauba
17. Pitta
18. Arco de pipa
(“) Quando procurava em lavagens repetidas branquear e aprontar esta
lasca tentei consegui-lo fazendo a ferver em agoa mãi de salitre, e então
tinha entre (?) porém foi tal a adherencia de principio extractivo e matéria
collorante, de que abunda a mesma agoa mãi, que não obstante fazes ao
depois ferver por vezes a ditta lasca, ou em agoa pura, ou ajuntando-lhe
cinza nunca pude reduzila a cor, que d’antes tinha, e tem a primeira espécie
de Guaxiuma, e porque me não parece desprezível esta observação assim
a invio.
Dor. Joaquim Vellozo de Miranda
Da mesma forma, não foi possível precisar se tal pesquisa teve aplicação na
manufatura de papéis no Brasil ou em outros lugares.
Após estas primeiras investidas de implementar a indústria papeleira no brasil,
34
modernamente, temos nossa primeira fábrica capaz de sobreviver, instalada em
Salto do Itu em São Paulo no ano de 1906
13
Devido às dificuldades de obtenção de matéria-prima (trapos), as primeiras fábricas
instaladas no país provavelmente tiveram vida curta, com exceção daquela instalada
pelo Barão de Capanema que produziu papéis especiais por 22 anos, é de se
acreditar que a maior parte do papel consumido na redação de documentos durante
a segunda metade do século XIX fosse importada.
3.3 Características do Papel
3.3.1 Características Físicas
O papel é formado pelo entrelaçamento de fibras de celulose juntamente com outros
materiais, como compostos químicos adicionados, os quais conferirão propriedades
especiais que resultarão em papéis de qualidades distintas e usos variados. A
qualidade do papel depende diretamente do tipo e do conteúdo de celulose; o
algodão constitui a forma mais pura da celulose e, portanto, é empregado na
produção dos melhores papéis. Na madeira, o comprimento e a forma das fibras
variam conforme o tipo, resultando em papéis com diferentes características.
Existem duas classes de madeiras que são utilizadas para fabricação de papel e são
conhecidas por madeiras moles e madeiras duras.
13
MARTINS, 2002. p. 124
35
Madeiras moles são derivadas de árvores
coníferas como pinus ou araucária, esta última
nativa do Brasil. A celulose obtida dessa classe
de madeira é de fibras longas (cerca de 3 mm)
utilizada na fabricação de certos tipos de papéis
que requerem menores quantidades de aditivos
na colagem interna, produzindo papéis mais
absorventes ou papéis com características
especiais que o tornam mais resistentes.
as madeiras duras são derivadas de árvores
folhosas, classe angiospermae. Produzem fibras
curtas (cerca de 1 mm), utilizadas comumente na
fabricação de papéis de imprimir e de escrever. Esta
característica requer na produção do papel maiores
acréscimos de aditivos se for desejado que o mesmo
tenha uma superfície apropriada para impressão, ou
seja, para a ancoragem da tinta. No Brasil, o
eucalipto é a madeira dura mais usada para
fabricação de celulose.
Não obstante, é importante salientar que, o desenvolvimento da indústria papeleira
permite a produção de papéis a partir de madeiras duras ou moles, com
características que podem ser melhoradas durante o processo de refino.
FIGURA 14 - araucaria angustifolia
Fonte: www.cataratasdoiguacu.com.br
FIGURA 15 - eucalyptus grandis
Fonte: www.answers.com/topic.
36
3.3.2 Características Químicas
A celulose é um polímero natural, presente na
estrutura das paredes das células de plantas tendo
sido assim notada pela primeira vez em 1838 pelo
químico francês Anselme Payen (1795 1891) após
tratar a madeira com ácido nítrico (HNO
3
)
concentrado, isolando um material fibroso ao qual
deu esse nome.
Suas moléculas, que têm longas cadeias de
moléculas de glicose, os polissacarídeos, não são
solúveis em água, diferentemente da maioria dos
outros carboidratos. A celulose é um polímero de cadeia longa de peso molecular
variável. (FIG 17)
Essas moléculas de celulose tendem a uma
configuração paralela, formando microfibras
duras que são envolvidas por lignina FIG 18,
para maior força.
Em geral, a celulose representa cerca de 40
45% em peso de uma árvore. O restante
corresponde à hemiceluloses e lignina. Na
estrutura da celulose, o monômero é a
molécula da glicose (FIG. 19).
O número de unidades sicas presentes na
molécula do polímero determina o grau de
FIGURA 17 - celulose
Fonte: z.about.com/d/biology/1/0/z/3/
celulose.gif
FIGURA 18 Corte transversal de fibras
de celulose (madeira).
Fonte: www.dfisica.ubi.pt
FIGURA 16 – Anselme Payen.
Fonte: www.allposters.com/-
sp/Anselme-Payen-
French-Chemist-Posters
37
polimerização e, no caso da celulose, chega-se a
estruturas com cerca de 3.000 unidades de glicose.
Para uso comercial, a celulose é proveniente,
principalmente, da madeira e de linteres de
algodão, que são fibras muito curtas para serem
aproveitadas pela indústria têxtil.
3.4 Tipos de Fibras de Celulose
Fibras têxteis: são muito longas e apresentam um canal central estreito, chamado
lúmen, São provenientes, sobretudo, do linho, do cânhamo ou do algodão, em
pedaços que são desprezados pela indústria têxtil como retalho ou proveniente de
trapo velho (FIG. 20).
O algodão puro é formado por 99,8% de celulose. Outras fibras têxteis, como o
cânhamo e o linho também possuem grande proporção desse polissacarídeo.
Normalmente têm um comprimento médio de 2 a 5 mm e os papéis antigos que
foram feitos a partir dessas fibras são comumente chamados de “papéis de trapo”.
FIGURA 20 - a) Fibras de linho ampliada 100 x
b) Fibras de
cânhamo ampliada 100 x
c) Fibras de algodão ampliada 100 x
Fonte: Reference set nº CF-7 commercial fibers, Cargille Laboratories Inc., lot # 1274.
Fotos: Selma Rocha
a)
b)
c)
FIGURA 19 – Molécula de glicose.
38
Fibras de madeira: são provenientes de duas classes, chamadas industrialmente
de madeiras moles e madeiras duras:
Madeiras moles são provenientes das Gimnospermas. A classe mais
importante é a das Coníferas, também designadas na literatura
internacional como softwoods. São árvores típicas dos climas temperados
e frios, embora existam algumas espécies tropicais. Na América do Sul é
possível encontrar o pinheiro do Paraná (araucaria angustifolia). Situa-se
no Brasil uma parte expressiva da zona de
crescimento dessa espécie, englobando
os estados do Paraná, de Santa Catarina
e do Rio Grande do Sul.
Madeiras duras são provenientes das
Angiospermas, os mais organizados
vegetais. Distinguem-se as dicotiledôneas,
usualmente designadas na literatura internacional como hardwoods.
Produzem árvores com folhas de diferentes formatos, renovadas
periodicamente, e constituem a quase totalidade das espécies das
florestas tropicais. No Brasil, diversos espécimes de dicotiledôneas são
consagrados no mercado papeleiro, mas normalmente as fibras curtas,
para produção de papéis são provenientes do eucalipto (eucalyptus
urophylla e eucalyptus grandis).
FIGURA 21 – Fibras de madeira.
Fonte: www.biomatnet.org/secure
39
3.5 Tipos de Polpa Usados na Fabricação do Papel
A polpa é um produto constituído de fibras de celulose, obtido por processos
mecânicos ou químicos, destinada à fabricação do papel, também chamada de
pasta de celulose, onde as fibras refinadas de celulose estão dispersas em meio
aquoso e recebe aditivos como agentes de colagem interna, corantes, cargas e
outros tantos produtos que lhe confiram propriedades especiais. Na América do
Norte e na Europa, a principal fonte de fibras de celulose provém de madeiras moles
(softwoods) e dão origem a fibras longas com cerca de 3 mm. No Brasil, a indústria
papeleira utiliza principalmente o eucalipto, árvore tropical de crescimento rápido e
que oferece um bom rendimento. Possui madeira dura (hardwoods) e origina fibras
curtas com cerca de 1 mm. O comprimento das fibras determina certas propriedades
ao papel: fibras longas produzem papéis mais resistentes, porém as fibras curtas,
quando recebem agentes de colagem interna e superficial em proporções
controladas, formam papéis que oferecem melhor printabilidade.
Atualmente, existem diversos processos de produção da pasta de papel a partir de
fibras de celulose. A terminologia usada para classificação de pastas baseia-se no
seu processo industrial de fabricação, não sendo diferente quando nos referimos
àquelas processadas na segunda metade do séc. XIX:
Pasta mecânica: obtida, principalmente, a partir de madeiras moles, como
coníferas, cujas fibras desagregam mais facilmente através de procedimentos
unicamente mecânicos, em máquinas chamadas “moinhos de pasta”, onde a
madeira cortada em toras de tamanho adequado, descascada e limpa, é
pressionada contra uma pedra rotativa ou processada em refinadores. Não envolve
qualquer tipo de tratamento químico. A única modificação química que ocorre na
40
pasta mecânica é a pequena hidratação das fibras, provocada pelo longo contato
com a água. Os papéis resultantes são altamente impuros, contendo diversos
componentes da madeira, como lignina, e apresentam, geralmente, opacidade e
absorção elevadas, além de ter baixa alvura, baixa resistência mecânica e pouca
permanência, sofrendo amarelecimento em presença de luz, como ocorre com o
papel jornal.
Polpa semiquímica: obtida de madeira ou outras matérias-primas de origem
vegetal, mediante tratamentos químicos como:
Soda a frio: impregnação de cavacos de madeira de folhosas com solução de
NaOH, seguida da separação mecânica das fibras em desfibrador
mecânico.
14
Sulfito neutro: este processo, dentre os semiquímicos, é o mais difundido.
Nele os cavacos de madeira são tratados com um licor à base de sulfito de
sódio (Na
2
SO
3
) ou sulfito de amônio (NH
4
)
2
SO
3
. Este licor é tamponado com
carbonato de sódio (Na
2
CO
3
) e bicarbonato de dio (NaHCO
3
). Essa
composição do licor, contendo uma solução de sulfito acrescido de um
agente tampão, é utilizada a fim de que seu pH durante o cozimento se
mantenha entre 7 e 8, razão pela qual resultou o nome sulfito neutro.
15
Estes tratamentos eliminam parcialmente os componentes não-celulósicos, como
lignina e hemiceluloses; para separação das fibras é necessário tratamento
mecânico posterior. No entanto esse tipo de polpa não foi considerado neste
estudo, pois esse tipo de tratamento passou a ser utilizado pela indústria a partir de
1925
16
e o acervo que foi objeto de estudo foi produzido na segunda metade do
século XIX, abrangendo o período entre 1850 e 1889.
14
Celulose e Papel, vol I, 1988. p. 396
15
idem. p. 395
16
SHREVE; BRINK, 1997, p. 504.
41
Polpa química: obtida de madeira mediante tratamento químico que elimina grande
parte de componentes o-celulósicos, como lignina, hemiceluloses e extrativos,
não sendo necessário tratamento mecânico para separação das fibras. O processo
mais comum consiste no mergulho dos cavacos de madeira em um caldo leitoso, o
licor branco, que combina NaOH e Na
2
S, entre outros ingredientes. Substâncias
como o Na
2
S promovem reações que provocam a solubilização na água de tudo o
que não é celulose, como a lignina. As hemiceluloses são também reduzidas a
compostos mais simples. A polpação química é, basicamente, uma deslignificação
da madeira por meio de reagentes químicos não-oxidantes. Entretanto, o processo
não é seletivo e com a remoção da lignina, que faz ligações químicas com
carboidratos, podem ocorrer solubilização e degradação de celulose, ocorrendo
certo prejuízo de suas propriedades físicas. E, ainda, quando o tratamento é
associado a processos de branqueamento da celulose, provocam ainda mais sua
degradação, levando a formação de produtos ácidos, que nestes processos são
utilizados produtos oxidantes.
3.6 Compostos Não-celulósicos
3.6.1 Hemiceluloses
São polissacarídeos, macromoléculas formadas pela união de muitos
monossacarídeos, que ajudam a formar a parede celular das células vegetais. As
hemiceluloses encontram-se intercaladas às microfibrilas de celulose dando
elasticidade e impedindo que elas se toquem.
Enquanto a celulose, como substância química, contém exclusivamente glicose
42
como unidade fundamental, as hemiceluloses são polímeros em cuja composição
podem aparecer, condensados em proporções variadas, além da glicose, outros
açucares, deste modo, quando isoladas da madeira apresentam-se como misturas
complexas de polissacarídeos.
É importante ressaltar que o termo hemicelulose não designa um composto químico
definido, mas sim uma classe de componentes poliméricos presentes em vegetais
fibrosos, possuindo, cada componente, propriedades peculiares. Como no caso da
celulose e da lignina, o teor e a proporção dos diferentes componentes encontrados
nas hemiceluloses de madeira variam grandemente com a espécie e,
provavelmente, também de árvore para árvore.
Sua reatividade é semelhante à da celulose por serem, também, estruturalmente
semelhantes. De modo similar à celulose, formam compostos de adição e
substituição com seus grupos hidroxilas, podendo sofrer reações de oxidação e
degradação.
Não foi encontrado qualquer exame que pudesse estabelecer uma pesquisa
quantitativa ou qualitativa de presença de hemiceluloses na polpa utilizada para
confecção do papel. De qualquer modo, a literatura consultada não apresentou
efeitos negativos consideráveis a respeito da presença desses compostos.
3.6.2 Lignina
A palavra lignina tem origem no termo latino lignum, que significa madeira e se
caracteriza por ser um composto aromático. Os compostos aromáticos apresentam
um ciclo de átomos de carbono similar ao do benzeno.
Depois dos polissacarídeos, a lignina é o polímero orgânico mais abundante no reino
43
vegetal. Proporciona rigidez à parede celular e atua como ponte de união entre as
células da madeira, criando um material que é notavelmente resistente aos
impactos, compressões e flexões.
Na FIG. 22 pode ser observada a posição da lignina nas paredes celulares da
estrutura vegetal.
Os tecidos lignificados resistem ao ataque dos microorganismos impedindo a
penetração de enzimas destrutivas na parede celular.
A lignina, sendo um material muito reativo, é facilmente oxidável, sua presença no
papel leva, portanto, à acidificação deste, com efeitos negativos tanto para a
celulose que o compõe quanto para sua apresentação estética, pois, contribui
grandemente com o amarelecimento.
FIGURA 22 - Autofluorescência natural dos tecidos lignificados vistos em seções transversais dos
pedúnculos de diferentes tipos de tabaco. A barra branca representa 50 µm.
Fonte: personal.rhul.ac.uk/uhbc/006/CopolWEB/lignin.htm
44
4 D
EGRADAÇÕES DO PAPEL
O papel, desde sua invenção na China no segundo século de nossa era, é um dos
suportes preferidos para o registro de acontecimentos. Como todo material orgânico,
porém, com o passar do tempo, vários fatores contribuem para sua degradação,
incluindo alguns de seus próprios componentes.
De todos os meios utilizados para a divulgação de informação e cultura, encontra-se
o papel entre os mais versáteis, por sua relativa facilidade de produção, sua
facilidade de transporte, sua facilidade em acumular-se. O papel desdobra-se em
obras de arte, manuais, livros, documentos. Enfim, toda sorte de informação pode
nele ser impresso, gravado. Através daquilo que nos é deixado registrado em papel,
podemos ver o que já foi escrito sobre o conhecimento humano.
No entanto, o conhecimento contido nos documentos produzidos em papéis ácidos
está condenado a se fragmentar em partes ininteligíveis. A incumbência de
arquivamento pressupõe que os registros acumulados sejam disponibilizados como
informação e ao mesmo tempo preservados, para que possam alcançar gerações
futuras.
O envelhecimento do papel produzido na segunda metade do século XIX é algo
preocupante, por tratar-se de papel cujas propriedades o tornam especialmente
frágil e suscetível a uma degradação intrínseca acelerada em comparação com
outros papéis produzidos a partir de matérias-primas e aditivos diferenciados.
45
4.1 Características do Envelhecimento Natural
Por degradação do papel, entende-se a cisão da ligação entre moléculas de
celulose, ou seja, a cisão da ligação entre monômeros de glicose. A degradação
produz fibras com menor grau de polimerização, reduzindo o tamanho das
moléculas formadoras das fibras de celulose, afetando, portanto, as propriedades do
papel que dependem do comprimento da cadeia molecular da celulose, como a
resistência mecânica.
A permanência é uma propriedade relativa que depende do ambiente onde o papel é
guardado, pois este irá influenciar sua durabilidade através de interações com as
propriedades da celulose e dos aditivos usados na formação do papel.
4.2 Fatores Intrínsecos de Degradação
Devido ao caráter orgânico dos materiais celulósicos, estes tendem a uma
degradação mediante processos físico-químicos desencadeados pelos próprios
compostos acrescentados ao papel durante sua produção para conferir propriedades
desejáveis.
Dentre estas propriedades tem-se a capacidade de receber tintas sem absorção
excessiva, o que impediria a leitura clara, por provocar a migração para o verso da
folha. Ao mesmo tempo é necessário que o papel ofereça uma boa ancoragem, ou
seja, impeça que a tinta borre quando tocada, pelos dedos, por exemplo.
A partir da segunda metade do século XIX, a produção de papel em máquinas
contínuas permitiu a utilização, depois de muitas pesquisas, de outras matérias-
primas além das fibras têxteis. Com o processo da polpação de madeiras, surgiu um
46
novo processo de colagem de papel através de uma resina natural, de origem
vegetal, proveniente de madeiras coniformes, principalmente pinheiros. Essa resina
natural, chamada de breu ou colofônia é muito eficiente por permitir uma
impermeabilidade controlada da superfície do papel.
Assim como a celulose, essa resina tem carga negativa possuindo um elevado efeito
indutivo negativo, portanto, é necessário adicionar uma substância para criar uma
carga positiva na resina. Os oxigênios, presentes nesses grupos, são bastante
eletronegativos e é possível dizer que há grande concentração de elétrons nas
regiões da molécula onde se encontram as moléculas de oxigênio. Essa carga
positiva é conseguida com a utilização do alúmen [sulfato de alumínio e potássio -
KAl(SO
4
)
2
] e como ele tem uma reação fortemente ácida, esse processo passou a
ser denominado de colagem ácida. O KAl(SO
4
)
2
é uma substância iônica, formada
pelos íons Al
+3
. Estes íons ficam, portanto, associados aos átomos de oxigênio das
substâncias presentes no breu por atração eletrostática. O caráter ácido do íon Al
+3
está associado à definição de Lewis para ácidos e bases, ou seja, ácido é toda
espécie química – molécula ou íon – que pode receber elétrons.
Esta união promove a colagem interna dos papéis de pasta mecânica e polpa
química produzidos no período de produção dos papéis estudados. As
características do processo de colagem ácida resultam em um papel com boa
qualidade para escrita e impressões em geral. Mas, por ter uma superfície com
reação ácida, pH entre 4 e 5, com o tempo o KAl(SO
4
)
2
restante libera resíduos
ácidos que tendem a atacar as fibras de celulose e os papéis têm uma duração
menor que os papéis anteriores a este processo que utilizavam colagem animal.
Em geral, por causa da utilização acentuada dos compostos de KAl(SO
4
)
2
no final do
século XIX e início do século XX, os restauradores e conservadores se referem a
47
este período como "A Era do Mau Papel". Em um arquivo, onde os papéis devem ser
conservados permanentemente e onde o acervo é de caráter único, sua fragilidade
perante a degradação química configura-se em um problema especialmente crítico.
O uso do KAl(SO
4
)
2
provoca a manifestação da acidez no papel, outro problema
considerado como importante fator intrínseco de degradação.
Como indicadores de alteração, temos o amarelecimento que se caracteriza pela
redução do brilho provocado pelo envelhecimento ou exposição à luz e uma relativa
perda de resistência. Pode ser causada pela presença de resíduos de produtos
químicos usados ainda no processo de produção ou adicionados para se obter
propriedades especiais como é o caso do uso do KAl(SO
4
)
2
.
A molécula de celulose será degradada por hidrólise, neste caso, catalisada pelo
meio ácido. Como resultado, temos que o grau de polimerização da celulose diminui,
ou seja, as moléculas ficam menores pelas sucessivas quebras de ligação. O efeito
desta diminuição será o enfraquecimento mecânico quando valores baixos de pH
associam-se a degradação de constituintes como a lignina e levam à formação de
compostos ácidos, geralmente coloridos, que têm o duplo efeito de diminuir mais o
pH do papel e provocar o amarelecimento deste.
17
4.3 Fatores extrínsecos de degradação
O papel, mesmo aquele que possui propriedades físicas e químicas que o façam
durar séculos, sofre influências de condições ambientais que podem prejudicá-lo.
Fatores externos afetam, acelerando o envelhecimento do papel que se encontra
guardado. Dentre eles podemos destacar quatro classes de fatores:
17
SOUZA, 1988, p. 38.
48
1. Antropogênicas. Podem ser divididas em dois grupos:
Guarda, manutenção e manipulação, cujos mecanismos de alteração
são as deteriorações físicas ou mecânicas provocadas por sistemas de
guarda inadequados ou manipulação incorreta. Aceleração de reações
químicas ou ataques biológicos por espaços inadequados para a
conservação ou carência de medidas de limpeza e manutenção.
Hidrólise ácida por contato com materiais ácidos das unidades de
conservação. Oxidação ou danos físicos pela utilização de materiais
metálicos na organização e guarda de documentos. Os principais
indicadores de alteração são os rasgos, manchas provocadas por
umidade, deformações no corpo dos livros e partes faltantes.
Fragmentação provocada por dobras, abrasões, falta de resistência.
Vandalismo: deterioração física ou mecânica em geral, causadas por
manejos mal intencionados. Como indicadores de alteração tem-se os
rasgos, manchas, inscrições e fragmentação, entre outras.
2. Desastres como incêndios, terremotos, inundações, cujos mecanismos de
alteração são a combustão do material por calor, mudanças físicas, condições
favoráveis para ação biológica. Também acelera processos de oxidação e
hidrólises. Normalmente corre-se o risco de perder todo o acervo.
3. Biológicas, podem ser divididas em três grupos:
Microorganismos fungos e bactérias que provocam degradação
enzimática de celulose e proteínas. Deixam o material extremamente
fragilizado. Normalmente são notados por alterações de cor, erosões
49
superficiais, deixando o suporte fraco e absorvente. Às vezes
apresenta aspecto pulverulento.
Insetos que provocam a destruição física do material e a destruição
enzimática por excrementos, contribuindo para o aumento da acidez. O
ataque, ativo ou não, é denunciado pela presença de perfurações,
erosões superficiais, galerias e manchas.
Roedores: provocam a destruição física de materiais e a oxidação por
excrementos. Denunciados pela presença de manchas e perdas de
suporte.
4. Ambientais, que podem ser divididos nos seguintes fatores:
Poluentes atmosféricos que provocam a despolimerização da celulose
por hidrólise ácida e também podem iniciar a corrosão do papel pelas
tintas utilizadas para impressão ou escrita. São indicadores de
alteração, as manchas e a perda irreversível de resistência. E ainda,
contribui para acelerar o envelhecimento natural. A poluição
atmosférica pode afetar todos os tipos de documentos especialmente
quando associada a altas temperaturas e umidade relativa elevada. A
queima de combustíveis fósseis, óleos e carvão respondem em grande
parte pela presença de compostos poluentes. E esses compostos ao
depositarem-se sobre o acervo, contribuem para acelerar a
deterioração química do papel. Alguns deles:
- Dióxido de enxofre (SO
2
), um gás emitido na queima de
combustíveis em veículos e indústrias, que é absorvido pela
50
celulose e quando em contato com umidade e metais de
transição como ferro, cobre, dos quais muitas vezes as tintas
são compostas, é convertido em ácido sulfúrico (H
2
SO
4
) que
causa o amarelecimento
.
- Ozônio (O
3
), gás extremamente oxidante e reativo que causa o
esmaecimento de corantes e pigmentos.
Partículas em suspensão que podem causar atritos e degradação em
materiais por abrasão. Também contribui com a degradação dos
materiais por serem higroscópicas, potencializando ação de
contaminantes. Os indicadores de alteração são as sujidades,
manchas de umidade e oxidação.
Luz visível e luz ultra-violeta que provocam a degradação da celulose
quando esta é sujeita a altos níveis de iluminação e tempos de
exposição, além de ocasionar reações de oxidação de lignina.
Evidencia-se com a descoloração do suporte e pigmentos. Perda de
resistência, tornando-se quebradiço. O dano causado pela luz é
cumulativo.
Umidade relativa que é a porcentagem de vapor de água presente na
atmosfera, relativamente à quantidade máxima possível - 100% - na
mesma temperatura. Existe sempre uma quantidade de água na forma
de vapor presente no ar, e esta quantidade de água varia dependendo
das condições de temperatura e da pressão atmosférica em dado
ambiente. Pode causar prejuízos aos acervos nas seguintes situações:
- Umidade relativa do ar alta: estimula ação biológica, oxidação e
hidrólise da celulose. Provoca mudanças de volume e absorção
51
de contaminantes. Os indicadores, normalmente, são
evidenciados por perda de resistência, deformação,
arrebentamento de costuras, fragilidade de partes coladas,
oxidação de tintas e cargas, amarelecimento, alta acidez do
suporte.
- Umidade relativa do ar muito baixa: causa perda de umidade
estrutural. Reduz ligações de hidrogênio nas moléculas. Deixa o
material frágil, quebradiço, provoca perda de resistência e
craquelamento de colas.
No entanto, quando a umidade relativa do ar é baixa, próxima de 40%
ou oscilar próxima deste valor, pode-se conseguir estabilidade
estrutural do material celulósico.
Temperatura alta que acelera ação biótica e processos de oxidação e
hidrólise. Além de provocar dilatação, decomposição, enfraquecimento
da celulose e das colas utilizadas na produção do papel.
Temperatura baixa: normalmente é favorável à preservação, pois
reprime ação biológica e química. No entanto a flutuação freqüente cria
problemas como o umedecimento pela condensação do ar. Como
indicadores tem-se manchas de umidade, deformações do corpo do
livro e enfraquecimento.
52
5 I
NTRODUÇÃO AOS MATERIAIS UTILIZADOS
5.1 Descrição dos Suportes Testados
Encontrar amostras de papéis degradados e cuja remoção, caso fosse necessária,
não causasse perdas informacionais ao acervo foi um tarefa árdua no
desenvolvimento do trabalho. Para conseguir tais amostras, foi necessário um
levantamento criterioso de papéis “em branco”, que fossem representativos do
processo de produção industrial do papel na segunda metade do culo XIX, mas
que não possuíssem informações. Portanto, sua retirada total não deveria causar
prejuízos ao acervo, para que não afetasse o entendimento do documento. Para
tanto foi redigido um documento oficial, (ANEXO A), assinado pelos Diretores e
Superintendente do Arquivo blico Mineiro deixando claro que esta autorização
somente foi possível pela importância que a pesquisa poderia ter para a preservação
do acervo, tanto desta Instituição, quanto para outros acervos. Foi necessária esta
autorização e, claro, compreensão da diretoria do APM, pois as amostras retiradas
seriam submetidas a ensaios muitas vezes destrutivos. E, ainda foi elaborada uma
documentação fotográfica que informasse a posição de tais amostras dentro do
acervo (ANEXO B). Não obstante todo este cuidado, a retirada de amostras efetuou-
se apenas daquilo estritamente necessário para o estudo.
53
5.1.1 Do Acervo Escolhido como Objeto de Estudo
O objeto de estudo faz parte da coleção intitulada "Presidentes da Província" que
está sob a guarda do Arquivo Público Mineiro, e está organizada em dezessete
caixas de documentos impressos sobre papel ácido em sua maioria.
O total de caixas contém uma grande quantidade de documentos que possuem
variados graus de acidificação além de outros problemas de degradação física e
biológica. Possui, ainda, documentos impressos sobre papel de trapo que, embora
esse papel tenha constituição diferente, em sua matéria-prima e processamento,
foram usados como comparativos em alguns ensaios por terem permanecido junto
aos papéis ácidos por período que ultrapassa os cem anos.
A organização dos documentos do Fundo Presidentes da Província foi projetada a
partir da estrutura administrativa regida pelo Regulamento n° 79, de 30 de Novembro
de 1876. Os documentos são organizados em ries: correspondência recebida,
expedida, documentação interna e compreendem as Mensagens dos Presidentes
das Províncias. Estas comunicações, emitidas anualmente durante o Império,
apresentam uma síntese das atividades em cada Província. Dentro desse Fundo
podem ser encontrados os seguintes tipos de documentos: ofícios, portarias, leis e
resoluções, requerimentos e petições, inventários, termos de nomeação, de posse e
FIGURA 23 – Acervo “Presidentes da Província”
Fonte: Fotos do autor.
54
de juramento, matrícula e exoneração de funcionários, protocolos, avisos
ministeriais, projetos, atas de exames, correspondência entre autoridades e órgãos
régios, imperiais, provinciais e municipais. Referem-se à Assembléia Geral e
Provincial, Câmaras Municipais, Conselho de Governo e Conselho Geral da
Província. Força Pública Geral, Guarda Nacional, Corpo Policial, Polícia. Catequese.
Comércio e agricultura, artes e indústria, pecuária. Sociedades musicais, literárias,
políticas filantrópicas e partidos políticos, correios. Cultos públicos, divisão
administrativa, judiciária e eclesiástica, assuntos fazendários. Mapas de população,
eleições. Movimentos políticos de 1833 e 1842. Mineração. Naturalização. Obras
militares. Saúde e assistência. Jardim Botânico, terras públicas, títulos e
condecorações, cadeia e prisões, colonização (imigração). Compromissos de
irmandades, confrarias e seminários, Santa Casa, estradas de ferro, instrução
pública, navegação e canalização de rios, obras públicas. Presos pobres, registros,
barreiras e recebedorias, agentes consulares, magistratura. Sistema métrico, divisas
territoriais, economia municipal. Terrenos diamantinos, tipografia provincial.
18
O acervo encontra-se sob acesso restrito de consulta desde o ano 2000 devido à
sua fragilidade física. É considerado de natureza rara e está inserido na coleção de
obras raras, por isso, esta coleção encontra-se em ambiente climatizado desde que
foi higienizada, microfilmada e acondicionada. O acesso é franqueado através de
microfilmes disponibilizados pelo Arquivo Público Mineiro e pelo Center For
Research Libraries da Fundação Andrew W. Mellon sediada nos Estados Unidos.
Este acervo foi escolhido como objeto de estudo por ser grande a possibilidade de
que ele tenha permanecido a maior parte do tempo, um período superior a cem
anos, na mesma instituição. Este fato contribui com a pesquisa no sentido de evitar
18
Arquivo Público Mineiro/Diretoria de Gestão de Documentos
55
uma quantidade muito ampla de variáveis que poderiam interagir com a degradação
do suporte. Provavelmente, o referido acervo, foi recolhido ao Arquivo Público
Mineiro tão logo esta instituição tenha sido criada em 1895, ficando em Ouro Preto,
conforme documento que atesta:
Foi instituída a Presidência da Província pela lei imperial de 20 de
outubro de 1823 que dava nova forma aos governos provinciais,
criando para cada um desses um Presidente e Conselho. Ficavam
abolidas assim, as juntas provisórias de Governo e o Presidente
passava a ser o executor e administrador da Província. O acervo
documental dessa instituição foi recolhido ao Arquivo Público Mineiro
provavelmente a partir de 1895, ano de sua instalação em Ouro
Preto, sendo transferida para Belo Horizonte em 1901, quando da
mudança da sede desse órgão para a capital
. (Arquivo Público Mineiro /
Diretoria de Arquivos Permanentes)
A propósito da Instituição, o Arquivo Público Mineiro originou-se de um projeto
apresentado pela Câmara dos Deputados ao Congresso Mineiro, a 4 de junho de
1894, pelo então membro daquela Câmara, Dr. Levindo Ferreira Lopes. Foi criado
pela lei 126, de 11 de julho de 1895, regulament ado pelo decreto 860 de 19 de
setembro do mesmo ano, assinado pelo Presidente do Estado, Dr. Chrispim Jacques
Bias Fortes, e pelo Secretário do Interior, Dr. Henrique Augusto de Oliveira Diniz.
Tendo como principais funções, naquele momento, receber e conservar, sob
classificação sistemática, todos os documentos concernentes ao direito público, à
legislação, à administração, à história, à geografia e, em geral, à manifestações do
movimento científico, literário e artístico do Estado de Minas Gerais, bem como
quaisquer outros documentos que o governo determinar que nele se depositem.
Com isso procurava-se evitar a dispersão e o desaparecimento de documentos
valiosos, relativos ao patrimônio moral do Estado pondo-se seus estudos e sua
inspeção ao alcance de todos. Essa instituição deveria ser o mostruário permanente,
o quadro sempre atual da formação, do desenvolvimento político, da administração
56
pública e do progresso da terra mineira.
19
Algumas partes principais da lei de criação do Arquivo Público Mineiro:
O povo do Estado de Minas Geraes, por seus representantes,
decretou e eu, em seu nome, sancciono a seguinte lei:
Art. Fica creada em Ouro Preto uma repartição denominada
“Archivo Público Mineiro” destinada a receber e a conservar debaixo
de classificação systemática todos os documentos concernentes ao
direito público, à legislação, à administração, à história e geographia,
às manifestações do movimento scientífico, litterário e artístico do
Estado de Minas Geraes.
(...)
Art. 4º Na 1ª divisão serão archivados:
(...)
j) Os originaes e exemplares impressos das falas, exposições e
relatórios dos Presidentes da antiga Província de Minas aos
Conselhos Geraes e as Assembléas Provinciaes.
k) Os originaes e exemplares impressos das mensagens dos
presidentes do Estado ao Congresso Mineiro e dos relatórios dos
secretários de estado aos ditos presidentes, ou de quaesquer
funccionários aos referidos secretários.
(
Revista do Archivo Público
Mineiro, 1896).
5.1.2 Metodologia de Identificação das Amostras
Para identificação, localização e, caso houvesse necessidade, retirada das
amostras, as mesmas foram nomeadas da seguinte forma:
pp refere-se ao nome do acervo que serviu de objeto de estudo: “Presidentes
da Província”.
primeiro número refere-se ao número da caixa onde encontra-se o livro de
onde foi retirada a amostra.
segundo e terceiro números (quando têm) referem-se ao número de ordem
do livro e da folha, respectivamente, dentro da caixa.
19
Revista do Archivo Público Mineiro, 1927.
57
5.1.3 Critérios para Seleção das Amostras
Foram adotados todos para caracterizar as amostras no que se refere a seu
aspecto visual. E, a partir desta seleção foram aplicados testes químicos para
confirmar essa caracterização e estabelecer padrões de degradação entre elas. Os
suportes testados são papéis de pasta mecânica, polpa química e papel de trapo
que permaneceram reunidos desde sua redação na segunda metade do século XIX.
O QUADRO 1 apresenta as amostras, sua posição dentro do acervo (as folhas “em
branco”) e suas principais propriedades visuais.
QUADRO 1
Características das amostras
(continua)
Identificação e imagem da amostra
Características
visuais
pp 2
Foto: Demilson Vigiano
Presença de
filigrana, áspero
ao tato, opaco,
sem
homogeneidade
Obs.: papel de
trapo.
58
QUADRO 1
Características das amostras
(continua)
Identificação e imagem da amostra
Características
visuais
pp 3.1
Foto: Demilson Vigiano
Sem filigrana,
claro, liso ao
tato, pouca
opacidade,
homogêneo.
pp 4.1
Foto: Demilson Vigiano
Presença de
filigrana, tipo
“vergê”, claro,
liso ao tato,
opaco, frágil,
sem
homogeneidade
59
QUADRO 1
Características das amostras
(continua)
Identificação e imagem da amostra
Características
visuais
pp 4.2
Foto: Demilson Vigiano
Sem filigrana,
áspero ao tato,
escurecido,
Opacidade
média, sem
homogeneidade
pp 4.3
Foto: Demilson Vigiano
Presença de
filigrana, tipo
“vergê”, claro,
liso ao tato,
opacidade
média,
homogêneo
60
QUADRO 1
Características das amostras
(continua)
Identificação e imagem da amostra
Características
visuais
pp 4.4
Foto: Demilson Vigiano
Presença de
filigrana, tipo
“vergê”, claro,
liso ao tato,
opacidade
média,
homogêneo.
pp 5
Foto: Demilson Vigiano
Sem filigrana,
liso ao tato,
pouca
opacidade,
homogêneo.
61
QUADRO 1
Características das amostras
(Continua)
Identificação e imagem da amostra
Características
visuais
pp 10.5
Foto: Demilson Vigiano
Presença de
filigrana, tipo
“vergê”, liso ao
tato, opaco,
homogêneo.
pp
10.7.1
Foto: Demilson Vigiano
Presença de
filigrana, tipo
“vergê”, liso ao
tato, opaco,
homogêneo.
62
QUADRO 1
Características das amostras
(continua)
Identificação e imagem da amostra
Características
visuais
pp 11.4
Foto: Demilson Vigiano
Presença de
filigrana, tipo
“vergê”, claro,
liso ao tato,
opacidade
média,
homogêneo.
pp 11.5
Foto: Demilson Vigiano
Presença de
filigrana, tipo
“vergê”, claro,
liso ao tato,
opacidade
média,
homogêneo.
63
QUADRO 1
Características das amostras
(Continua)
Identificação e imagem da amostra
Características
visuais
pp 12.3
Foto: Demilson Vigiano
Presença de
filigrana, tipo
“vergê”, claro,
liso ao tato,
opacidade
média,
homogêneo.
pp 15.1
Foto: Demilson Vigiano
Sem filigrana,
claro, liso ao
tato, opaco,
homogêneo.
64
QUADRO 1
Características das amostras
(continua)
Identificação e imagem da amostra
Características
visuais
pp 15.2
Foto: Demilson Vigiano
Sem filigrana,
claro, liso ao
tato, opaco,
homogêneo
pp 16
Foto: Demilson Vigiano
Sem filigrana,
liso ao tato,
opaco, sem
homogeneidade
65
QUADRO 1
Características das amostras
(continua)
Identificação e imagem da amostra
Características
visuais
pp 17.1
Foto: Demilson Vigiano
Sem filigrana,
áspero ao tato,
escurecido.
Opaco, sem
homogeneidade
pp
17.1.2
Foto: Demilson Vigiano
Sem filigrana,
áspero ao tato,
escurecido.
Opaco, sem
homogeneidade
66
QUADRO 1
Características das amostras
(continua)
Identificação e imagem da amostra
Características
visuais
pp
17.1.3
Foto: Demilson Vigiano
Sem filigrana,
áspero ao tato,
escurecido,
Opacidade
média, sem
homogeneidade
pp 17.2
Foto: Demilson Vigiano
Presença de
filigrana, tipo
“vergê”, liso ao
tato,
escurecido.
Opaco, sem
homogeneidade
67
QUADRO 1
Características das amostras
(conclusão)
Identificação e imagem da amostra
Características
visuais
pp 17.3
Foto: Demilson Vigiano
Sem filigrana,
áspero ao tato,
claro. Opaco,
sem
homogeneidade
pp 17.4
Foto:
Demilson Vigiano
Sem filigrana,
áspero ao tato,
escurecido,
Opaco, sem
homogeneidade
De acordo com os objetivos da pesquisa, efetuar um estudo dos processos de
produção do papel da segunda metade do século XIX, dois conjuntos de amostras
foram preparados para a avaliação das características de envelhecimento. Um que
68
visasse os ensaios químicos e outro que permitisse a realização dos testes físicos.
Para os ensaios químicos, não é necessário o uso de amostras de grandes
dimensões. Portanto, foram utilizadas amostras de cerca de 5 x 5 mm, retiradas de
locais que não interferissem na apresentação estética. A análise de uma amostra de
papel com valor histórico e ou artístico, deve obedecer estritamente às
necessidades. Não é cil intervir sobre um material cuja representatividade é
fundamental para a transmissão da memória e da cultura.
para os ensaios físicos, é necessário o uso de amostras de dimensões
consideráveis. Encontrar essas amostras entre os papéis degradados e efetuar sua
remoção total, foi uma tarefa difícil no desenvolvimento do trabalho. Vinte e uma
folhas de todo o conjunto foram localizadas através de um levantamento criterioso
de papéis “em branco”, que fossem representativos do processo de produção
industrial do papel, mas que o possuíssem informações, portanto, sua retirada
não causaria prejuízos ao acervo, evitando a perda de entendimento do documento.
Mesmo assim foram retiradas, para os testes físicos, apenas sete folhas que
apresentavam características comuns a todas as amostras. Características essas
que pudessem de algum modo interferir na resistência física dos papéis. São elas:
Presença de filigrana: Tipo de marca produzida no papel pela tela ou desenho
translúcido estampado no papel, durante a fabricação, para fins de
identificação, tornando-se visível quando o papel é observado contra a luz,
imitando o papel antigo, que era produzido artesanalmente através de telas
de bambu amarradas com fios de seda. Essas marcas, quando em papéis
antigos, o denominadas de pontusais e vergaduras. Nos papéis
contemporâneos são conhecidas como “acabamento vergê”.
69
Aspereza: condição do papel que denuncia, através do tato, uma superfície
desigual, acidentada, irregular.
Liso ao tato: qualidade que expressa o nivelamento superficial de um papel
de imprimir.
Opacidade: relação entre a intensidade da luz incidente e a quantidade de luz
transmitida pelo original. Um papel completamente opaco não permite a
passagem da luz. Quando tem baixa opacidade, a imagem impressa num dos
lados interfere no resultado impresso no verso, o que prejudica a leitura e
altera as cores. As fibras de celulose são transparentes por natureza, porém
causam a difusão da luz que atravessa a folha de papel; as cargas minerais
aumentam a opacidade do papel, embora promovam redução das
propriedades mecânicas; a opacidade aumenta em função da gramatura e do
corpo do papel, e diminui com o aumento da refinação e da calandragem.
Homogeneidade: que consiste em apresentar características visuais e
translúcidas análogas por toda a área da folha.
Aspecto claro ou escurecido que denuncia se o papel está em boas
condições, ou em estado avançado de deterioração, acidificação.
Com base nestes critérios e após a realização dos ensaios químicos foram
escolhidas as seguintes amostras para a realização dos testes físicos (QUADRO 2)
70
QUADRO 2
Amostras selecionadas para ensaios físicos
Amostra Características
Pasta mecânica
pp 17.1.3 Sem filigrana, áspero ao tato, escurecido, Opacidade
média, sem homogeneidade
pp 17.2 Presença de filigrana, tipo “vergê”, liso ao tato,
escurecido. Opaco, sem homogeneidade. Obs.: esta
amostra apresenta aspecto de polpa química.
Polpa química
pp 4.3 Presença de filigrana, tipo “vergê”, claro, liso ao tato,
opacidade média, homogêneo
pp 10.5 Presença de filigrana, tipo “vergê”, liso ao tato, opaco,
homogêneo.
pp 15.1 Sem filigrana, claro, liso ao tato, opaco, homogêneo.
pp 15.2 Sem filigrana, claro, liso ao tato, opaco, homogêneo.
As outras quinze amostras apresentavam características muito próximas entre si,
não justificando efetuar os ensaios físicos em todas elas. Como foi descrito em 4.1 -
Descrição dos suportes testados, na página 52
desta dissertação, a retirada total da
amostra somente seria efetuada por absoluta necessidade. Não obstante às
dificuldades de retirada das amostras, as mesmas puderam ser ensaiadas conforme
as normas NBR NM ISO especificadas para cada ensaio.
6 P
ARTE EXPERIMENTAL
Este capítulo é dedicado à apresentação dos ensaios aos quais foram submetidas
as amostras para identificação de polpa e avaliação de sua degradação.
As etapas para este estudo envolveram a coleta de amostras em locais precedidos
de observação minuciosa e levantamento fotográfico das folhas que poderiam, em
caso de necessidade, ser removidas em sua totalidade para a realização dos
ensaios físicos que requerem dimensões específicas.
Algumas amostras tiveram pequenos fragmentos preparados em dispersão,
conforme procedimento descrito na página 78 e observados ao microscópio
estereoscópico, marca Olimpus, modelo SZ-ll, e registrados no livro de
documentação do LACICOR - Laboratório da Ciência da Conservação do Centro de
Conservação e Restauração de Bens Móveis - CECOR.
Baseado na comprovada experiência do LACICOR para análises em obras de arte e
na bibliografia existente, foi utilizada metodologia para a caracterização dos
materiais constituintes do papel e sua degradação química da seguinte forma:
Aplicação de reagentes
Análise microscópica
Análises comparativas
6.1 Exames
O papel pode ser submetido a três tipos de exames distintos:
Exame de pasta.
72
Exame métrico.
Exame óptico.
6.1.1 Exame de pasta
Como primeiro passo, foram identificados os processos de produção de pasta para
estabelecer entre as amostras estudadas, aquelas compostas por pasta mecânica
ou polpa química. Na maioria das vezes um exame visual é suficiente para esta
determinação, no entanto, algumas amostras podem aparentar características de
processos de produção diferentes dos quais foi produzida. Para que o estudo
comparativo possa ser eficiente é, portanto necessária esta correta diferenciação.
O tipo de pasta usado na fabricação do papel pode ser manifestado através da
identificação de alguns componentes como a lignina através do uso de reagentes
específicos. A presença desse composto está condicionada ao tipo de tratamento
que recebeu a matéria-prima. O tratamento químico, a elimina e o processo
mecânico a mantém. Estes são os dois métodos utilizados para produção de papel
na segunda metade do século XIX e que são aqui estudados.
A aplicação dos reagentes foi efetuada com o auxílio de um capilar de vidro estando
a amostra sobre uma lâmina e este sistema sob a lente de um microscópio
estereoscópico, para que pudessem ser observadas as mudanças de coloração que
o reagente proporcionaria. Foram realizados os seguintes ensaios para pesquisa de
tratamento da pasta:
73
6.1.1.1 Graff “C” (NBR 14132:1998)
A aplicação do corante Graff "C" permite a identificação de quase todos os tipos de
fibras usados na fabricação de papel.
As principais aplicações deste corante são:
a) diferenciação entre pasta química e mecânica;
b) diferenciação entre o processo sulfato
20
e sulfito
21
de pasta branqueada de
conífera (madeira macia);
c) diferenciação entre processo sulfato e sulfito de pasta de folhosa (madeira
dura). A diferença de cor é mais acentuada para pastas não branqueadas do
que branqueadas;
d) diferenciação entre pasta de conífera e de folhosa;
É, portanto, um exame sugerido para análise geral do tratamento a que foi
submetida a polpa durante seu processamento. Para este ensaio é necessário,
antes, preparar as seguintes soluções:
a) 40 g de cloreto de alumínio hexahidratado (AlCl
3
.
6H
2
O) em 100 ml de água.
b) 100 g de cloreto de cálcio (CaCl
2
) em 150 ml de água.
c) Adicionar cerca de 100 g de cloreto de zinco seco (ZnCI
2
) em cerca de 50 ml
de água quente a o aparecimento de um resíduo. Esperar esfriar a
20
Processo sulfato: neste processo, o licor de cozimento é o NaOH com Na
2
S. Quando este era feito
visando uma celulose de alto rendimento e resistência, chamava-se “processo Kraft”. Este termo é
hoje empregado indistintamente como equivalente da celulose sulfato. A resistência da celulose
sulfato é mais elevada que a dos demais processos, porém sua cor é mais escura, o que leva ao
emprego de vários estágios de branqueamento para alvejá-la. (Fonte: www.aracruz.com.br)
21
Processo sulfito: neste processo, o licor de cozimento é o Ca(HSO
3
)
2
, formado pela mistura de
bissulfito de cálcio com um excesso de ácido sulfuroso (H
2
SO
3
). A celulose sulfito cozida lentamente
a baixas temperaturas, desenvolve alta resistência, com alto teor de hemicelulose, sendo
especialmente adequada para produção de papéis impermeáveis. (Fonte: idem)
74
temperatura ambiente e verificar se houve cristalização de parte do (ZnCI
2
),
d) Misturar 0,9 g de iodeto de potássio (KI) e 0,65 g de iodo (I
2
). Adicionar 50 ml
de água, gota a gota e com agitação constante. A dissolução do I
2
com uma
quantidade mínima de água é importante, porque o solvente para o I
2
é o Kl.
Para obter o corante Graff “C” é necessário transferir para um recipiente 20 ml
da solução de AICI
3
, 10 ml da solução de CaCI
2
e 10 ml da solução de ZnCI
2
e misturar. Adicionar 12,5 ml da solução de l
2
, misturar novamente e deixar
em repouso em local escuro de 12 a 24 horas para deposição de qualquer
precipitado formado. Transferir o sobrenadante para um frasco de cor âmbar
e adicionar uma partícula de iodo. Guardar em local escuro.
Procedimento:
Aplicar duas ou três gotas do corante Graff "C" nas fibras a serem estudadas.
Colocar a lâmina com as fibras coloridas no microscópio e examinar com aumento
de 40x a 120x. Identificar as fibras com base nas cores desenvolvidas pelo corante
Graff "C".
No QUADRO 3 apresentamos os resultados esperados das amostras de papel
submetidas ao corante Graff “C”.
75
QUADRO 3
Resultados esperados com o corante Graff “C”
Coloração desenvolvida após
aplicação do corante
Tratamento ao qual a celulose foi
submetida
Tons de amarelo, marrom e azul
Cinza-azulado claro ou cinza
Tons de amarelo
Tons de violeta-claro
Polpa química de coníferas (madeira macia)
- processo sulfato não branqueada
- processo sulfato branqueada
- processo sulfito não branqueada
- processo sulfito branqueada
De verde-azulado a azul-escuro
Tons de azul
Tons de cinza
Azul-claro ou cinza-azulado
Pasta química de folhosas (madeira dura)
- processo sulfato não branqueada
- processo sulfato branqueada
- processo sulfito não branqueada
- processo sulfito branqueada
Amarelo-vivo Pasta mecânica
Vinho ou marrom-avermelhado Trapos
Fonte: ABNT – NBR 14132:1998, pp 2 e 3.
6.1.1.2 Pesquisa de lignina
Os exames com finalidade de determinar a presença de compostos não-celulósicos,
como a lignina, podem ser realizados com os seguintes reagentes:
o Solução de floroglucina
22
Trata-se de um ensaio quantitativo que evidencia o grau de estabilidade e de
durabilidade do papel a partir da presença de lignina.
Para a preparação do reagente é necessário dissolver 1g de floroglucina
23
em uma
mistura de 50 ml de metanol (CH
3
OH), 50 ml de ácido clorídrico concentrado (HCl) e
50 ml de água.
22
MORAL, 2001, p. 54.
23
1,3,5 Benzenotriol. Um derivado de trinitrobenzeno que é usado, principalmente como um reagente
laboratorial e, por ter propriedades antiespasmódicas, também é usado na indústria farmacêutica.
(Fonte: www.websters-online-dictionary.org)
76
Procedimento:
Aplica-se o reagente sobre a amostra com o auxílio de um capilar e observa-se ao
microscópio. As fibras que desenvolvem a coloração rosa carmim são as que
acusam a presença de lignina, se a totalidade das fibras apresentar esta coloração,
o papel caracteriza-se como produzido a partir de pasta mecânica. Isto acontece
devido ao reativo que em contato com a lignina forma grupos cromóforos. Se a
amostra não apresenta mudanças de cor, permanecendo da cor natural ou uma
porcentagem muito pequena de fibras desenvolve a cor rosa carmim, esta amostra é
considerada como papel produzido a partir de polpa química.
o Reação corante de Herzberg (NBR 14131:1998)
Este reagente a base de iodo pode confirmar o resultado encontrado através da
aplicação da solução de floroglucina, ou seja, confirmar a presença de lignina e o
processo ao qual a pasta foi submetida. O método que usa o corante Herzberg é
aplicável para diferenciação qualitativa entre pastas mecânicas, polpas químicas e
papéis de trapos.
Reagentes:
a) Solução de ZnCI
2
, saturada à temperatura ambiente.
Adicionar ZnCl
2
a cerca de 100 ml de água quente a o aparecimento de um
resíduo. Esperar esfriar a temperatura ambiente e verificar se parte do ZnCI
2
cristaliza. Estocar em frasco de cor âmbar.
b) Solução de iodo.
77
Misturar 2,1 g de KI e 0,1 g de l
2
, Adicionar 5 ml de água, gota a gota e com agitação
constante. A dissolução do I
2
com uma quantidade mínima de água é importante,
porque o solvente para o I
2
é o KI. Se parte do I
2
permanecer insolúvel,
provavelmente é porque a água foi adicionada muito rapidamente; neste caso,
descartar esta solução.
Preparação do Corante de Herzberg
Misturar 15 ml da solução (a), 1 ml de água e toda a solução (b). Deixar repousar
por 6 horas para deposição de qualquer precipitado formado. Transferir o
sobrenadante para um frasco de cor âmbar e adicionar uma partícula de I
2
.
Procedimento
Aplicar duas ou três gotas do corante Herzberg nas fibras preparadas sobre a lâmina
que irá ao microscópio.
Colocar a lâmina com as fibras coloridas sob a lente do microscópio e examinar com
aumento de 40x a 120x. Identificar as fibras com base nas cores desenvolvidas pelo
corante de Herzberg.
QUADRO 4
Ensaios com corante de Herzberg
Coloração desenvolvida Constituição revelada
Amarela Pasta mecânica de madeira
Azul a violeta-azulada Polpa química de madeira
Vermelha a vinho Papel de trapo
78
6.1.1.3 Dispersões
Dispersão é qualquer disseminação de uma substância ao longo do volume de outra
substância. Consiste numa suspensão das partículas do material a ser examinado
num meio resinoso transparente, de índice de refração conhecido, preparada na
forma de um filme, numa lâmina para microscopia. Uma observação microscópica
da amostra dispersa pode proporcionar informações sobre a morfologia e estado de
conservação da fibra.
- Preparação de dispersões para análise por microscopia de luz polarizada
24
Equipamentos e Materiais:
Placa aquecedora (mantida a 90-95°C).
Bisturi de ponta fina.
Agulha de fio de tungstênio.
Lâminas para microscopia.
Lamínulas para microscopia.
Resina “Aroclor” ou resina “Cargille Meltmount”.
Espátula metálica de ponta fina.
Procedimento:
As amostras são cuidadosamente manipuladas sob um microscópio estereoscópico,
com o auxílio de um micro-bisturi e uma espátula metálica de ponta fina. As
minúsculas amostras são retiradas, devendo então ser preparadas as dispersões
para análise por microscopia de luz polarizada. Uma vez selecionados os
fragmentos a serem examinados, a amostragem destes é efetuada com a ponta de
24
SOUZA, 1991. p. 60.
79
uma agulha ou com um bisturi, de modo que os minúsculos fragmentos fiquem,
portanto, concentrados na ponta do utensílio utilizado para sua retirada. Em seguida,
é efetuada a colocação destes fragmentos sobre uma gotícula de resina termo-
plástica (as indicadas acima, cujos índices de refração são conhecidos),
previamente depositada numa lâmina de vidro para microscopia. Uma vez
depositados, a lâmina de vidro é colocada sobre uma chapa aquecida a 90 95°C
para que a resina seja fundida, englobando os fragmentos. A lâmina de vidro é então
resfriada e sobre a gotícula de resina é colocada uma lamínula de vidro para
microscopia. O conjunto é novamente colocado sobre a placa aquecida, a resina se
funde novamente e se espalha, por capilaridade, no espaço lâmina-lamínula, e
enquanto a lâmina ainda está aquecida pressiona-se ligeiramente a lamínula com a
extremidade de um lápis-borracha, em movimentos circulares, formando, portanto,
uma dispersão dos pigmentos no meio resinoso. A lâmina de vidro com a dispersão
está, desta forma, pronta para ser analisada por microscopia de luz polarizada.
80
O QUADRO 5 apresenta as características dos dois tipos de pasta estudados, pasta
mecânica e polpa química.
QUADRO 5
Características das fibras de madeira (padrão)
Fibra Aparência microscópica (aumento de 100 X) Características
Pasta
mecânica
de
madeira
Foto: Selma Rocha
Desfibramento
através de agentes
puramente
mecânicos, por não
utilizar produtos
químicos, os
compostos não
celulósicos, como a
lignina,
permanecem,
conferindo-lhe
coloração
amarelada.
Polpa
química
de
madeira
Foto: Selma Rocha
Fibras obtidas
através do uso de
agentes químicos.
Fonte: Reference set nº CF-7 commercial fibers, Cargille Laboratories Inc., lot # 1274.
81
6.1.1.4 Pesquisa da cola aplicada à pasta
A colagem interna consiste na adição à pasta que dará origem ao papel, de um
agente de colagem que possibilitará sua utilização como suporte para a escrita e a
impressão melhorando a resistência à penetração pelos líquidos. o sendo
efetuado este procedimento, o papel tenderia a absorver excessivamente a tinta.
Somente os papéis mata-borrão e outros absorventes, nos quais a penetração é
desejada, não recebem o adicional de cola.
- Identificação de agentes de colagem interna: amido e dextrina
25
Reativos:
Solução iodo-iodeto de potássio: 1,7 g de KI e 2,5 g de I
2
em 100 ml de água.
Procedimento:
Adicionar uma gota de reagente na amostra sob o microscópio. Os resultados
esperados são descritos no QUADRO 6.
QUADRO 6
Resultados esperados
Coloração desenvolvida Agente de colagem revelado
Azul Amido (alta concentração)
Pontos dispersos azuis ou negros Amido (baixas concentrações)
Vermelho tendendo para violeta Dextrina
6.1.1.5 Pesquisa de alúmen [KAl(SO
4
)
2
]
26
Este exame pode revelar a presença do composto KAl(SO
4
)
2
utilizado para fixação
25
MORAL, 2001, p. 70
26
idem
82
do breu na colagem do papel. Geralmente, a prova de KAl(SO
4
)
2
é utilizada para
auxiliar na determinação do grau de envelhecimento da celulose. Como reagente,
utiliza-se o corante eriocromocianina cuja fórmula é C
23
H
15
Na
3
O
9
S.
É preparado dissolvendo-se 5 g de C
23
H
15
Na
3
O
9
S por litro de água deionizada.
Este é um reativo bastante sensível, originalmente de cor café amarelado, que pode
metalizar-se com íons Al
+3
e formar um pigmento de cor violeta que se fixa ao papel.
O resultado é uma mancha azul-violeta. É um exame qualitativo, apenas denuncia a
presença deste composto no papel. A intensidade da coloração está em proporção
com a concentração de íons Al
+3
.
6.1.2 Exame métrico
Para determinar as características métricas de uma folha de papel, é preciso tomar
as seguintes medidas:
Dimensões da folha (comprimento, largura e espessura conforme norma: NBR
NM – ISO 534:2006).
Peso por metro quadrado (gramatura
27
conforme norma: NBR NM ISO
536:2006).
6.1.3 Exame óptico
Consiste na observação dos aspectos visuais relacionados abaixo:
Presença de sujidades: excrementos, poeira, fuligem e outras partículas que
27
Massa de uma folha de papel expressa em gramas por metro quadrado (g/m²). Peso de uma folha
de papel cuja medida é um metro quadrado de área, expresso em gramas.
83
podem estar aderidas ao papel.
Desgastes provocados por atrito ou fricção.
Perfurações provocadas por insetos xilófagos.
Manchas provocadas, principalmente, por líquidos.
Rasgos provenientes do manuseio associado à fragilidade do papel.
Presença de manchas provocadas por fungos.
Presença de foxing, manchas amarelas ou castanhas que se manifestam no
papel e são, provavelmente provocadas pelo desenvolvimento de
microorganismos ou causadas por impurezas no papel em presença de
umidade.
Suscetibilidade a fragmentação quando se encontra em estado elevado de
acidificação, tornando-o quebradiço.
Estas características irão mostrar as mudanças estéticas sofridas pelos papéis
ácidos ao longo do tempo.
6.2 Ensaios Relacionados ao Envelhecimento
6.2.1 Identificação do grau de alteração da celulose – Reação de Tollens
28
O nível de degradação da celulose pode ser determinado através da titulação de
suas propriedades redutoras, isto é, da quantidade de grupos aldeídos
29
finais
presentes.
28
MORAL, 2001, p. 67
84
Uma celulose inalterada apresenta cadeias longas com poucos grupos aldeídos
terminais. Ao deteriorar-se, a celulose sofre rupturas na cadeia com formação de
numerosos grupos aldeídos finais. Estes grupos são capazes de reduzir os íons de
prata (Ag
+
) que são a base das reações de Tollens
30
. Esta reação é revelada com o
desenvolvimento de partículas de prata sobre a amostra estudada, no entanto, pela
falta de padrões relacionados a este ensaio, o nível de degradação foi estabelecido
através da observação direta e comparação entre as amostras submetidas a este
teste. É um ensaio qualitativo, apenas mostra a celulose degradada através de
partículas de Ag
0
manifestadas sobre a amostra. No reagente de Tollens, o cátion
selecionado é a prata, que passa de Ag
+
a Ag
0
, modificando uma solução incolor em
um precipitado negro, capaz de espelhar a face interna de um recipiente de vidro.
Preparação:
Reativos:
nitrato de prata (AgNO
3
): 1%
hidróxido de amônio (NH
4
OH).
Material de controle: glicose.
Procedimento:
Verter aproximadamente 2 ml da solução de AgNO
3
a 1% em um tubo de ensaio.
Acrescentar NH
4
OH gota a gota, agitando sempre. Aparecerá um precipitado
29
Composto químico orgânico que se caracteriza pela presença, em sua estrutura, do grupamento
H-C=O (carbonila), ligado a um radical alifático ou aromático. Aldeído é uma palavra derivada do
termo em inglês: alcohol dehydrogenated. (Fonte: pt.wikipedia.org)
30
Bernhard Christian Gottfried Tollens (1841 1918), químico alemão que se debruçou
principalmente sobre a estrutura química das moléculas de úcar. A fórmula molecular da glicose
(C
6
H
12
O
6
) foi estabelecida por ele em 1888. (Fonte: pt.wikipedia.org)
85
pardacento que se acentua a medida que aumenta a concentração do reativo.
Continuar a adição do segundo reativo até que o precipitado se dissolva e se
obtenha uma solução incolor, transparente.
Acrescentar uma pequena quantidade de glicose à solução e colocar o tubo de
ensaio em “banho maria” a 70 – 80°C durante dez min utos, aproximadamente.
Repetir o mesmo procedimento, mas substituindo a glicose por amostras de papel
onde se acredita tenha celulose deteriorada. No caso da glicose, a prata metálica
forma um espelho na parede do tubo de ensaio. No caso do papel deteriorado
aparecem partículas de prata na superfície do papel, devido à quebra das moléculas
de celulose em monômeros de glicose. Isto pode ser observado sob o microscópio
logo que o reagente tenha secado sobre a amostra.
6.2.2 pH (NBR 14348:1999)
O pH é definido como a concentração de íons hidrogênio (H
+
) em uma solução. Para
que uma solução seja ácida é necessário que a concentração de íons H
+
seja maior
que a concentração de íons hidroxila
-
OH. Se a solução for neutra, pode-se dizer
que a H
+
é igual a
-
OH. Por outro lado, se uma solução é básica, significa que a
-
OH
é maior que a H
+31
. O valor do pH é um número aproximado entre 0 e 14 que indica
se uma solução é ácida (pH<7), neutra (pH=7), ou sica/alcalina (pH>7). pH é o
símbolo para a grandeza físico-química potencial hidrogeniônico” ou poder de
concentração de íons H
+
. Essa grandeza potencial hidrogeniônico é um índice
que indica o grau de acidez, neutralidade ou alcalinidade de um meio qualquer. O
31
SOUZA, 1988. p. 39
86
conceito foi introduzido em 1909 pelo químico dinamarquês Søren Peder Lauritz
Sørensen (1868 – 1939).
O efeito da acidez sobre as fibras de celulose, provoca sua degradação por
hidrólise. O pH, como dito anteriormente, é influenciado pela qualidade dos
constituintes do papel.
Para determinar o pH das amostras estudadas, foi utilizado o método descrito na
Norma ABNT NBR 14348. Esta Norma descreve um método para determinar o pH
superficial, pela medida da concentração do íon H
+
da superfície do papel, sem
destruição da amostra. Como o método não é destrutivo, ele pode ser aplicado em
papéis de livros e documentos.
A acidez excessiva é uma causa séria para a degradação do papel; portanto, é
necessário conhecer a concentração do íon hidrogênio, para que possam ser
aplicadas técnicas adequadas de preservação ou restauro para aumentar a vida útil
de livros e documentos.
Princípio da norma:
Um eletrodo de membrana chata é imerso em uma gota d'água na superfície do
papel. O pH do papel é determinado com alta exatidão e repetitividade, sem
destruição da amostra.
Reagentes:
Água destilada ou deionizada com pH entre 6,2 e 7,3
Soluções-tampão padrão, com valores conhecidos de pH de 4,0; 7,0; e 9,2.
Aparato:
Aparelho medidor de pH com eletrodo de membrana chata, que permita
medição em uma gota d'água.
87
Material não absorvente, para servir de apoio e permitir um contato firme do
eletrodo com a superfície do corpo-de-prova em exame (por exemplo,
borracha).
Material absorvente, para remover a água ao término do ensaio.
Cronômetro.
Preparação dos corpos-de-prova:
Selecionar no mínimo cinco corpos-de-prova de diferentes espécimes. Como
este procedimento é usado normalmente como ensaio não destrutivo, a
unidade pode ser um livro e o corpo-de-prova uma folha deste livro.
Procedimento:
Colocar o material não absorvente sobre uma superfície nivelada e sobre esta
o corpo-de-prova.
Colocar uma gota de água destilada ou deionizada sobre o corpo-de-prova,
sem espalhar o líquido.
Imergir a membrana do eletrodo na gota d'água, deixando-a imersa até que o
valor do pH seja constante, o que em geral é atingido após 2 minutos de
contato. Imediatamente após a leitura, remover o eletrodo verticalmente.
6.2.3 Testes de envelhecimento acelerado
Os testes de envelhecimento acelerado foram sugeridos neste trabalho para que
pudessem servir de comparativo ao envelhecimento natural das amostras. No
entanto, através de dois artigos, percebeu-se que o envelhecimento acelerado traria
pouca ou nenhuma contribuição a esta pesquisa.
Henk Porck e Rene Teygeler,
no artigo de sua autoria:
Paper Decay - Accelerated
88
aging and rate of degradation
32
, relatam que o envelhecimento acelerado
potencializa o processo de envelhecimento natural do papel ao submetê-lo a
condições extremas na câmara de climatização. Testes de envelhecimento
acelerado são freqüentemente usados para determinar a permanência do papel e
antecipar os efeitos em longo prazo de um tratamento de conservação em particular,
mas mesmo nesta aplicação específica, muitas questões sobre a veracidade na
predição dos resultados.
As alterações que são registradas nas complexas propriedades do papel através do
envelhecimento acelerado, não podem ser simplesmente relatadas em sua
composição química, pois no envelhecimento natural as variáveis são inúmeras.
Um fator complicador é a maneira como o papel é exposto a condições de
envelhecimento artificial. Confirmando estudos anteriores de algumas instituições
como, Library of Congress (Washington - EUA) e The Netherlands Institute for
Cultural Heritage (Amsterdam - Holanda), e ainda pesquisas da National Library of
Australia (Canberra - Austrália), Slovak National Archives (Bratislava - Eslováquia), e
da Koninklijke Bibliotheek (Haia - Holanda), têm mostrado que os papéis de livros
envelhecem diferentemente de uma folha. Alguns desses estudos mostraram que
sob condições de envelhecimento artificial, o centro de uma pilha de papel sofre
maior deterioração que as regiões mais próximas das margens diferentemente do
que ocorre no envelhecimento natural.
Os ensaios de envelhecimento acelerado de papel são feitos, comumente, sob uma
variedade de temperaturas e índices de umidade relativa porque as reações de
degradação química do papel variam de acordo com estas condições, por isso
mesmo, a validade dos resultados do envelhecimento acelerado quando
32
Disponível em: <http://www.kanw.nl> . Acesso em 25 set. 2006.
89
relacionados com envelhecimento natural tem várias limitações.
No segundo artigo, A papermaker's view of the standard for permanent paper, ISO
9706
33
, Inga-Lisa Svensson e Ylwa Alwarsdotter, pesquisadoras da Suécia,
questionam a importância da lignina nos processos degradativos do papel. Durante
o desenvolvimento de padronização para o papel permanente (ISO 9706) foram
discutidos diversos fatores que deveriam ser levados em conta para o
envelhecimento e a permanência do papel. A questão do pH, não foi problema,
que existe uma concordância que as reações hidrolíticas associadas à acidez, estão
entre os principais agentes da degradação do papel, a discussão é se a lignina é
algo danoso ou não. Durante o desenvolvimento do padrão ISO 9706, vários
métodos de envelhecimento acelerado foram estudados. Temperaturas de 80°C e
umidade relativa de 65% foram usadas por 24 dias nos testes laboratoriais. Alguns
ácidos e compostos não-celulósicos, como a lignina, contidos no papel
proporcionaram uma boa resistência depois do envelhecimento acelerado, até
melhor que papéis neutros feitos de polpas químicas, cujos processos de polpação,
sabe-se que eliminaram a lignina e, portanto, este composto não poderia ser a
causa do envelhecimento natural. A decisão, a partir dos resultados dessa pesquisa,
foi excluir o envelhecimento acelerado do texto da padronização. Um anexo
informativo ao texto do padrão explica o porquê. Segundo as autoras, existem três
razões principais para esta exclusão:
Envelhecimento acelerado toma muito tempo.
Envelhecimento acelerado não maiores informações que outros testes, a
respeito do papel.
Muitos papéis que passaram pelo teste de envelhecimento acelerado
33
Disponível em: <http://www.ifla.org>. Acesso em 25 set. 2006.
90
continham proporções substanciais de polpa mecânica e isto necessita de
certificação científica para que essas polpas sejam comparadas ao papel
especificado no padrão.
Sabe-se também que:
Lignina é facilmente oxidável.
Lignina causa mudanças severas de cor.
Papéis que contêm lignina interferem na cor de outros papéis quando em
contato com eles.
Entretanto, a determinação ISO 9706 não estabelece qualquer limite para a lignina
contida nos papéis. Em vez disso, o padrão apresenta um limite para número Kappa,
um número que expressa a sensibilidade do material à oxidação baseado na
quantidade de resíduos de lignina. O mais lógico, segundo elas, seria considerar o
fato de que o papel é sensível à oxidação, portanto, será oxidado em pouco tempo
e, portanto, instável em longos períodos de tempo.
Baseado nestes dois artigos, decidiu-se por descartar quaisquer análises
comparativas entre processos de envelhecimento acelerado artificial e o ocorrido
naturalmente.
6.3 Ensaios Físicos para Papéis
Estes ensaios foram realizados na Escola SENAI “Theobaldo De Nigris” na cidade
de São Paulo no período entre os dias 11 e 21 de dezembro de 2006.
A maneira de o papel resistir à ação de forças externas depende de sua composição
fibrosa, de sua formação e também de seu estado de conservação. Existem vários
ensaios de resistência que são utilizados, atualmente, pela indústria papeleira e que
91
podem ser aplicados ao papel envelhecido com fins de pesquisa. Nenhum dos
ensaios, entretanto, é uma medida fundamental, mas uma combinação de vários
fatores, como:
Flexibilidade, que permite que o papel se dobre sem quebrar.
Integridade das ligações interfibras que proporcionam resistência ao rasgo.
Resistência da própria fibra que permitirá algum alongamento.
Como parâmetros de resistência foram selecionados os seguintes ensaios:
Resistência à tração e ao alongamento: NBR NM – ISO 1924-2:2001
Arrebentamento: NBR NM – ISO 2758:2007
Capacidade de absorção de água – método Cobb: NBR NM – ISO 535:1999
6.3.1 Resistência à Tração e ao Alongamento
Tração define-se como a força máxima tracionada por unidade de largura que o
papel suporta antes de se romper.
Tem por princípio a submissão de um corpo-de-prova de dimensões padronizadas a
tração até a ruptura a uma velocidade constante de carga, usando um aparelho
capaz de medir e indicar a força máxima de tração. Este princípio também está
relacionado ao alongamento. O alongamento é a deformação causada no papel,
antes que ele se rompa, quando é submetido a um esforço de tração.
Os valores de alongamento sofrem, portanto, interferência dos mesmos fatores que
afetam a resistência à tração.
O ensaio de resistência à tração é importante em papéis para embalagens. No caso
de papéis para impressoras rotativas a resistência à tração indica a possibilidade de
92
ruptura, quando submetidos à tensão exercida durante o processo de impressão.
Durante o processo de fabricação do papel, os principais fatores que afetam a
resistência à tração são:
Refinação. Dependendo do tratamento recebido durante seu processamento,
as fibras podem ter sofrido degradação e enfraquecimento, dando origem a
papéis fracos.
Resistência individual das fibras;
Formação e estrutura da folha;
Comprimento médio da fibra;
A quantidade/qualidade do agente de colagem adicionado à pasta
Quantidade de carga mineral adicionada
6.3.2 Arrebentamento
É a pressão máxima que uma única folha de papel pode suportar sob as condições
de ensaio. Esta pressão é uniformemente distribuída e aplicada perpendicularmente
à superfície do papel
Tem por princípio a colocação de um corpo-de-prova sobre um diafragma elástico
circular, preso rigidamente nas bordas, mas com a superfície sobre o diafragma
livre. Um fluido hidráulico é bombeado a uma velocidade constante, expandindo o
diafragma até a ruptura do corpo-de-prova. A resistência ao arrebentamento é a
pressão hidráulica máxima aplicada ao papel.
Este ensaio determina a resistência ao arrebentamento de papel, quando submetido
à pressão hidráulica crescente. Esta resistência é controlada por diversos fatores,
93
como:
Resistência ao arrebentamento aumenta com crescente refinação, para
decrescer com excesso desta. A baixa resistência ao arrebentamento pode
ser atribuída, em parte, ao corte das fibras.
As variações na gramatura e na espessura causam comumente variação na
resistência ao arrebentamento;
O uso de aditivos e colas afeta consideravelmente o comportamento do papel
e o resultado do ensaio.
6.3.3 Capacidade de Absorção de Água - Método de Cobb
Por definição temos que é a massa de água, calculada, absorvida por 1m² de papel
em um tempo especificado, sob condições normalizadas de ensaio.
Tem por principio a pesagem de um corpo-de-prova imediatamente antes e após
exposição à água por um tempo especificado. O resultado do seu aumento em
massa é expresso em gramas por metro quadrado (g/m²)
Este ensaio determina a capacidade de absorção de água em papéis e os
resultados estão diretamente ligados à colagem interna e superficial.
7 R
ESULTADOS
7.1 Exame de Pasta
o Ensaio com o corante Graff “C”
A partir deste exame foi possível determinar corretamente os tratamentos aos quais
as pastas foram submetidas e tivemos como resultados:
Pasta mecânica: 35% do total de amostras estudadas
Dimensões das amostras: cerca de 5 x 5 mm.
As amostras identificadas como pasta mecânica são discriminadas no QUADRO 7.
QUADRO 7
Amostras submetidas ao ensaio com o corante Graff “C” reveladas como
pasta mecânica
Amostra Coloração desenvolvida
pp 4.2
Amarelo vivo.
pp 17.1
Amarelo vivo.
pp 17.1.2
Amarelo vivo.
pp 17.1.3
Amarelo vivo.
pp 17.2*
Amarelo vivo.
pp 17.3
Amarelo vivo.
pp 17.4
Amarelo vivo.
*
Aparenta, visualmente, polpa química.
Polpa química: 65% do total de amostras estudadas
Dimensões das amostras: cerca de 5 x 5 mm
As amostras encontradas de polpa química submetidas ao ensaio com o corante
Graff “C” apresentaram dois tipos de tratamento (QUADRO 8).
95
QUADRO 8
Amostras submetidas ao corante Graff “C” reveladas como polpa química
Amostra Coloração desenvolvida Tratamento
pp 3.1 Cinza azulado claro ou cinza Polpa madeira macia, sulfato,
branqueada
pp 4.1
Cinza azulado claro ou cinza
Polpa madeira macia, sulfato,
branqueada
pp 4.3
Cinza azulado claro ou cinza
Polpa madeira macia, sulfato,
branqueada
pp 4.4
Cinza azulado claro ou cinza
Polpa madeira macia, sulfato,
branqueada
pp 5 Cinza azulado claro ou cinza Polpa madeira macia, sulfato,
branqueada
pp 10.5 Tons de violeta-claro Polpa de madeira macia,
sulfito, branqueada.
pp 10.7.1
Cinza azulado claro ou cinza
Polpa madeira macia, sulfato,
branqueada
pp 11.4
Cinza azulado claro ou cinza
Polpa madeira macia, sulfato,
branqueada
pp 11.5
Cinza azulado claro ou cinza
Polpa madeira macia, sulfato,
branqueada
pp 12.3
Cinza azulado claro ou cinza
Polpa madeira macia, sulfato,
branqueada
pp 15.1 Tons de violeta-claro Polpa de madeira macia,
sulfito, branqueada.
pp 15.2
Cinza azulado claro ou cinza
Polpa madeira macia, sulfato,
branqueada
pp 16
Cinza azulado claro ou cinza
Polpa madeira macia, sulfato,
branqueada
Na análise das amostras identificadas como polpa química todas elas apresentaram,
polpa de madeira macia branqueada. Os tratamentos de polpa observados foram
dois. (GRÁF. 1).
96
Obs.: todas as amostras, de pasta mecânica e de polpa química revelaram o uso de
madeira macia, ou seja, coníferas.
Papel de trapo
Número total de amostras de referência: 1
Dimensões da amostra: cerca de 5 x 5 mm.
Resultado: A amostra apresentou neste ensaio o desenvolvimento da coloração
vinho ou marrom avermelhado. Este resultado indica o uso de fibra têxtil na
composição deste papel.
Papel contemporâneo: off set
Número total de amostras de referência: 1
Dimensões das amostras: cerca de 5 x 5 mm.
Resultado: A amostra de papel contemporâneo off set apresentou o
desenvolvimento da coloração azul claro ou cinza azulado, indicando, como era de
se esperar, polpa de madeira dura, que, atualmente, a pasta para produção do
papel off set é proveniente de angiospermas como o eucalipto. E, ainda, revelou
GRÁFICO 1 – Tratamentos de polpa química
15,38%
84,60%
Sulfito Sulfato
97
tratamento ao sulfito e branqueada.
o
Pesquisa de lignina
Uso da solução de floroglucina
Pasta mecânica
Número total de amostras de referência:
7
Dimensões das amostras:
cerca de 5 x 5 mm
O QUADRO 9 traz os resultados das amostras identificadas como pasta mecânica e
que foram submetidas à solução de floroglucina.
QUADRO 9
Amostras de pasta mecânica submetidas à Solução de floroglucina
Amostra
Coloração desenvolvida nas
fibras
Resultados
pp 4.2 Rosa carmim. Presença de lignina
pp 17.1 Rosa carmim. Presença de lignina
pp 17.1.2 Rosa carmim. Presença de lignina
pp 17.1.3 Rosa carmim. Presença de lignina
pp 17.2* Rosa carmim. Presença de lignina
pp 17.3 Rosa carmim. Presença de lignina
pp 17.4 Rosa carmim. Presença de lignina
*
Aparenta, visualmente, polpa química.
Todas as amostras identificadas como pasta mecânica adquiriram a tonalidade rosa
carmim ao serem submetidas ao reativo de floroglucina, indicando que não houve
qualquer tipo de tratamento para eliminação de lignina, confirmando, portanto, a
identificação de pasta mecânica.
Polpa química
Número total de amostras de referência:
13
Dimensões das amostras:
cerca de 5 x 5 mm
O QUADRO 10 traz os resultados das amostras que foram identificadas como polpa
química e que foram submetidas à solução de floroglucina.
98
QUADRO 10
Amostras de polpa química submetidas à Solução de floroglucina
Amostra
Coloração desenvolvida nas
fibras
Resultados
pp 3.1 Sem mudança de cor. Sem lignina
pp 4.1 Sem mudança de cor. Sem lignina
pp 4.3 Sem mudança de cor. Sem lignina
pp 4.4 Sem mudança de cor. Sem lignina
pp 5 Poucas fibras adquiriram coloração
rosa carmim.
Sem lignina*
pp 10.5 Poucas fibras adquiriram coloração
rosa carmim.
Sem lignina*
pp 10.7.1 Sem mudança de cor. Sem lignina
pp 11.4 Sem mudança de cor. Sem lignina
pp 11.5 Sem mudança de cor. Sem lignina
pp 12.3 Sem mudança de cor. Sem lignina
pp 15.1 Poucas fibras adquiriram coloração
rosa carmim.
Sem lignina*
pp 15.2 Poucas fibras adquiriram coloração
rosa carmim.
Sem lignina*
pp 16 Sem mudança de cor. Sem lignina
*
A quantidade de fibras lignificadas foi insignificante.
A maioria das amostras identificadas como polpa química, não apresentou
mudanças de cor nas fibras quando submetidas ao reativo de floroglucina. Em
algumas amostras, uma quantidade muito pequena de fibras apresentou coloração
rosa carmim. Este resultado foi considerado como insignificante, confirma, portanto,
a identificação do tratamento de polpa.
99
Papel de trapo
Número total de amostras de referência:
1
Dimensões das amostras:
cerca de 5 x 5 mm.
Resultado:
Esta amostra quando submetida ao reativo de floroglucina o
apresentou mudança de cor nas fibras. Resultado esperado, pois os papéis de trapo
eram produzidos com fibras xteis, sendo as principais provenientes de algodão,
linho ou cânhamo, portanto não possui lignina em sua constituição.
Papel contemporâneo: off set
Número total de amostras de referência:
1
Dimensões das amostras:
cerca de 5 x 5 mm.
Resultado:
Esta amostra quando submetida ao reativo de floroglucina o
apresentou mudança de cor nas fibras. Resultado esperado, pois os papéis
off set
atuais são produzidos com polpas provenientes de madeiras duras, como eucalipto
por exemplo, submetidas a tratamentos que eliminam os compostos não celulósicos.
Uso do corante Herzberg
Pasta mecânica
Número total de amostras de referência:
7
Dimensões das amostras:
cerca de 5 x 5 mm.
O QUADRO 11 traz os resultados das amostras de pasta mecânica submetidas ao
reativo de Herzberg.
100
QUADRO 11
Amostras de pasta mecânica submetidas ao corante Herzberg
Amostra
Coloração desenvolvida nas
fibras
Resultados
pp 4.2
Amarela
Presença de lignina
pp 17.1
Amarela
Presença de lignina
pp 17.1.2
Amarela
Presença de lignina
pp 17.1.3
Amarela
Presença de lignina
pp 17.2*
Amarela
Presença de lignina
pp 17.3
Amarela
Presença de lignina
pp 17.4
Amarela
Presença de lignina
*
Aparenta, visualmente, polpa química.
Todas as amostras de pasta mecânica apresentaram-se totalmente amarelas, não
houve qualquer tipo de tratamento para eliminação de constituintes não celulósicos.
Portanto, confirma o resultado encontrado no uso do reativo de floroglucina.
Pasta química
Número total de amostras de referência:
13
Dimensões das amostras:
cerca de 5 x 5 mm.
O QUADRO 12 traz os resultados das amostras de polpa química submetidas ao
reativo de Herzberg.
101
QUADRO 12
Amostras de polpa química submetidas ao Reativo de Herzberg
Amostra Coloração desenvolvida nas fibras
Resultados
pp 3.1
Azul. Sem lignina
pp 4.1
Azul. Sem lignina
pp 4.3
Azul. Sem lignina
pp 4.4
Azul. Sem lignina
pp 5
Violeta, tendendo para azul. Algumas
fibras tendendo para marrom.
Sem lignina*
pp 10.5
Violeta, tendendo para azul. Algumas
fibras tendendo para marrom.
Sem lignina*
pp 10.7.1
Violeta, tendendo para azul. Algumas
fibras tendendo para marrom.
Sem lignina*
pp 11.4
Azul. Sem lignina
pp 11.5
Azul. Sem lignina
pp 12.3
Azul. Sem lignina
pp 15.1
Violeta, tendendo para azul. Algumas
fibras tendendo para marrom.
Sem lignina*
pp 15.2
Violeta, tendendo para azul. Algumas
fibras tendendo para marrom.
Sem lignina*
pp 16
Azul. Sem lignina
*
A quantidade de fibras lignificadas foi insignificante.
Algumas amostras de polpa química apresentaram o desenvolvimento de coloração
violeta, tendendo para azul com algumas fibras tendendo para marrom, mas mesmo
assim as concentrações encontradas foram muito baixas, por isso foram
consideradas como polpa química, conforme resultado indicado em NBR 14131. A
maioria das amostras de polpa química apresentou coloração azulada que indica a
presença de celulose pura. Confirma, portanto, a identificação no exame com reativo
de floroglucina.
Papel de trapo
Número total de amostras de referência:
1
Dimensões das amostras:
cerca de 5 x 5 mm.
Resultado:
Esta amostra quando submetida ao corante de Herzberg desenvolveu a
102
coloração vermelha tendendo para vinho. Este resultado indica o uso de fibra têxtil
na composição deste papel, portanto não possui lignina em sua constituição.
Papel contemporâneo: off set
Número total de amostras de referência:
1
Dimensões das amostras:
cerca de 5 x 5 mm.
Resultado:
Esta amostra quando submetida ao corante de Herzberg desenvolveu a
coloração violeta-azulada. Resultado esperado, pois os papéis
off set
atuais são
produzidos com polpas provenientes de madeiras duras, como eucalipto por
exemplo, submetidas a tratamentos que eliminam os compostos não celulósicos.
o
Dispersões
Apenas três amostras de pasta mecânica, três de polpa química e a amostra de
trapo foram submetidas à análise por dispersão. Estes amostras apresentaram nos
exames ópticos algumas características comuns às demais amostras.
Nas amostras de pasta mecânica:
Sem filigrana
Áspero ao tato
Escurecido
Opaco
Sem homogeneidade
E na maioria das amostras de polpa química:
Sem filigrana
Claro,
Liso ao tato
Pouca opacidade
Homogêneo
103
Não foi considerado necessário fazer a dispersão de todas as amostras por serem
visualmente muito similares e os ensaios químicos, feitos anteriormente,
apresentarem, também muitas semelhanças entre as amostras de cada grupo
identificado.
Através da observação microscópica da dispersão de fragmentos da amostra foi
possível analisar as condições físicas das fibras.
Pasta mecânica
Imagens das dispersões das amostras de pasta mecânica ao microscópio (FIG. 24).
pp 4.2
Ampliado 100x
pp 17.2*
Ampliado 200x
pp 17.4
Ampliado 100x
FIGURA 24 – Imagens das dispersões das amostras de pasta mecânica.
Fotos: Selma Rocha
*
Aparenta, visualmente, polpa química.
As imagens das dispersões das amostras de pasta mecânica apresentaram fibras
com aparência deteriorada e várias partículas que foram consideradas resíduos não
eliminados durante o processamento da pasta, que esta interpretação não
contradiz os resultados dos exames referentes à identificação deste processamento.
104
Polpa química
Imagens das dispersões das amostras de polpa química ao microscópio (FIG. 25).
pp 3.1
Ampliado 200x
pp 5
Ampliado 100x
pp 16
Ampliado 200x
FIGURA 25 – Imagens das dispersões das amostras de pasta química.
Fotos: Selma Rocha
As imagens das dispersões das amostras de polpa química apresentam fibras em
bom estado de conservação e presença de poucas partículas que foram
consideradas sujidades, já que esta afirmativa não contradiz os resultados dos
exames referentes à identificação deste processamento.
105
Trapo
Imagem da dispersão da amostra de trapo sob o microscópio (FIG 26)
pp 2
Ampliado 200x
FIGURA 26 – Imagem da dispersão da amostra de trapo.
Foto: Selma Rocha
A imagem da dispersão da amostra de papel de trapo apresenta fibras em bom
estado de conservação, sem partículas que pudessem ser identificadas como
resíduos de qualquer natureza.
Pesquisa de cola aplicada
Pasta mecânica
Número total de amostras de referência:
7
Dimensões das amostras:
cerca de 5 x 5 mm. O QUADRO 13 traz os resultados
das amostras de pasta mecânica submetidas ao reativo para pesquisa de cola
aplicada.
QUADRO 13
Amostras de pasta mecânica submetidas ao reativo para pesquisa de cola
Amostra Coloração desenvolvida Resultados
pp 4.2 Azul. Presença de muito amido
pp 17.1 Pequenas inclusões negras. Presença de pouco amido
pp 17.1.2 Pequenas inclusões negras. Presença de pouco amido
pp 17.1.3 Vermelho com áreas arroxeadas. Presença de dextrina
pp 17.2* Pequenas inclusões negras. Presença de pouco amido
pp 17.3 Vermelho com áreas arroxeadas. Presença de dextrina
pp 17.4 Pequenas inclusões negras. Presença de pouco amido
*
Aparenta, visualmente, polpa química.
106
O GRÁF. 2 mostra, estatisticamente, os resultados das amostras de pasta mecânica
submetidas à Pesquisa de Cola Aplicada.
GRÁFICO 2 – Pesquisa de cola aplicada em pasta mecânica.
28,57%
57,14%
14,28%
Dextrina Pouco amido Muito amido
107
Polpa química
Número total de amostras de referência:
13
Dimensões das amostras:
cerca de 5 x 5 mm.
O QUADRO 14 traz os resultados das amostras de polpa química submetidas ao
reativo para pesquisa de cola aplicada.
QUADRO 14
Amostras de polpa química submetidas ao reativo para pesquisa de cola
Amostra Coloração desenvolvida Resultados
pp 3.1 Azul
Presença de muito amido
pp 4.1 Azul
Presença de muito amido
pp 4.3 Azul
Presença de muito amido
pp 4.4 Azul
Presença de muito amido
pp 5 Azul
Presença de muito amido
pp 10.5 Azul
Presença de muito amido
pp 10.7.1 Vermelho com áreas arroxeadas. Presença de dextrina
pp 11.4 Azul
Presença de muito amido
pp 11.5 Azul
Presença de muito amido
pp 12.3 Azul
Presença de muito amido
pp 15.1 Pequenas inclusões negras. Presença de pouco amido
pp 15.2 Vermelho com áreas arroxeadas. Presença de dextrina
pp 16 Azul
Presença de muito amido
O GRÁF. 3 mostra, estatisticamente, os resultados das amostras de polpa química
submetidas à Pesquisa de Cola Aplicada.
108
Papel de trapo:
este papel possui, em sua constituição, colagem de origem animal.
Não justificaria, realizar ensaios para estudo desse tipo de colagem, que o
objetivo da mesma foi estudar o papel ácido.
Papel contemporâneo
Produtos utilizados para colagem do papel contemporâneo:
34
Cola sintética tipo ASA (anidrido de alquil succinico)
Cola sintética tipo AKD (dímero de alquil ceteno)
A cola ASA Baysize I 18 do fornecedor Kemyra tem os seguintes registros no CAS:
32072-96-1 (55 a 65%); 28777-98-2 (35 a 45%); 53520-67-5 (1 a 10%) e 58598-42-8
(1 a 2%).
A cola ASA Lasar 220 do fornecedor EKA tem o registro CAS 68784-12-3.
A cola AKD EKA DR C222 (emulsão catiônica) tem registro CAS 84989-41-3.
Identificação de alúmen
Pasta mecânica
Número total de amostras de referência:
7
34
Dados gentilmente fornecidos por International Paper do Brasil Ltda.
GRÁFICO 3 – Pesquisa de cola aplicada em polpa química.
15,38%
7,69%
76,92%
Dextrina Pouco amido Muito amido
109
Dimensões das amostras:
cerca de 5 x 5 mm.
O QUADRO 15 traz os resultados das amostras de pasta mecânica submetidas ao
corante eriocromocianina.
QUADRO 15
Amostras de pasta mecânica submetidas ao corante eriocromocianina
Amostra Coloração desenvolvida Resultados
pp 4.2 violeta Presença de alúmen
pp 17.1 violeta Presença de alúmen
pp 17.1.2 violeta Presença de alúmen
pp 17.1.3 violeta Presença de alúmen
pp 17.2* violeta Presença de alúmen
pp 17.3 violeta Presença de alúmen
pp 17.4 violeta Presença de alúmen
Resultados esperados, pois se sabe que o alúmen [KAl(SO
4
)
2
] foi utilizado neste
período para a fixação do breu como agente de colagem interna, propiciando
condições favoráveis a impressão.
110
Polpa química
Número total de amostras de referência:
13
Dimensões das amostras:
cerca de 5 x 5 mm.
O QUADRO 16 traz os resultados das amostras de polpa química submetidas ao
corante eriocromocianina.
QUADRO 16
Amostras de polpa química submetidas ao corante eriocromocianina
Amostra Coloração desenvolvida Resultados
pp 3.1 violeta Presença de alúmen
pp 4.1 violeta Presença de alúmen
pp 4.3 violeta Presença de alúmen
pp 4.4 violeta Presença de alúmen
pp 5 violeta Presença de alúmen
pp 10.5 violeta Presença de alúmen
pp 10.7.1 violeta Presença de alúmen
pp 11.4 violeta Presença de alúmen
pp 11.5 violeta Presença de alúmen
pp 12.3 violeta Presença de alúmen
pp 15.1 violeta Presença de alúmen
pp 15.2 violeta Presença de alúmen
pp 16 violeta Presença de alúmen
Resultados esperados, pois se sabe que o alúmen [KAl(SO
4
)
2
] foi utilizado neste
período para a fixação do breu como agente de colagem interna, propiciando
condições favoráveis a impressão.
111
Papel de trapo
Papéis de trapo possuem em sua constituição, colagem animal, sendo então
desnecessário o uso de KAl(SO
4
)
2
para qualquer função. Portanto, não justificaria
realizar esse ensaio sobre este papel.
Papel off set
Os papéis
off set
contemporâneos possuem em sua constituição, colagem sintética
(AKD, ASA, etc.), sendo então desnecessário o uso do KAl(SO
4
)
2
para qualquer
função. Portanto, não justificaria realizar esse ensaio sobre este papel.
7.2 Exame Métrico
Após realizar os exames de pasta, pudemos separar corretamente os papéis de
pasta mecânica e polpa química e, assim, estabelecer valores dios de gramatura
e espessura. Para determinar a gramatura e espessura das amostras, as mesmas
foram retiradas (apenas folhas antecipadamente soltas), medidas e pesadas e após,
foram devolvidas às suas respectivas posições no acervo. O resultado da gramatura
é um valor aproximado. Para procedimento padrão conforme a norma NBR NM
ISO 536:2000 seria necessário efetuar a retirada
de uma peça de dimensões 100 x 100 mm o que
configuraria, neste caso, um ensaio destrutivo,
não sendo justificável. A espessura das amostras
foi estabelecida com o uso do instrumento
“Espessímetro Mitutoyo Nº 2046-08”.
FIGURA 27 – Espessímetro
Fonte: Foto Mário Souza
112
A TAB. 1 traz os resultados da gramatura e espessura das amostras de pasta
mecânica.
TABELA 1
Características métricas das amostras de pasta mecânica
Identificação da amostra Gramatura Espessura
pp 4.2 ~ 55 g/m² 0,1 mm
pp 17.1 ~ 65 g/m² 0,1 mm
pp 17.1.2 ~ 60 g/m² 0,08 mm
pp 17.1.3 ~ 65 g/m² 0,1 mm
pp 17.2* ~ 60 g/m² 0,08 mm
pp 17.3 ~ 70 g/m² 0,085 mm
pp 17.4 ~ 45 g/m² 0,09 mm
*
Aparenta, visualmente, polpa química.
Temos para as amostras de pasta mecânica:
Gramatura média: 60 g/m²
Espessura média: 0,09 mm
Na TAB. 2 os resultados da gramatura e espessura das amostras de polpa química.
TABELA 2
Características métricas das amostras de polpa química
Identificação da amostra Gramatura Espessura
pp 3.1 ~ 55 g/m² 0,11 mm
pp 4.1 ~ 60 g/m² 0,07 mm
pp 4.3 ~ 50 g/m² 0,07 mm
pp 4.4 ~ 65 g/m² 0,08 mm
pp 5 ~ 55 g/m² 0,08 mm
pp 10.5 ~ 80 g/m² 0,15 mm
pp 10.7.1 ~ 65 g/m² 0,085 mm
pp 11.4 ~ 70 g/m² 0,085 mm
pp 11.5 ~ 65 g/m² 0,07 mm
pp 12.3 ~ 65 g/m² 0,09 mm
pp 15.1 ~ 60 g/m² 0,075 mm
pp 15.2 ~ 85 g/m² 0,09 mm
pp 16 ~ 85 g/m² 0,12 mm
113
Temos para as amostras de polpa química:
Gramatura média: 66g/m²
Espessura média: 0,08 mm
Na TAB. 3 os resultados da gramatura e espessura da amostra de trapo.
TABELA 3
Características métricas da amostra de trapo
Identificação da amostra Gramatura Espessura
pp 2 ~ 85 g/m² 0,11 mm
Como comparativo, foi utilizado um papel contemporâneo –
off set
(TAB. 4).
TABELA 4
Características métricas do papel contemporâneo – off set
Identificação da amostra Gramatura Espessura
Marca:
Ripax, Laser 75
Premium Quality Paper
Archival Quality
75 g/m²* 0,1 mm
*
Conforme identificação na embalagem do fabricante
7.3 Exame Óptico
Após a caracterização dos processos de produção dos papéis estudados, foi
possível estabelecer alguns padrões visuais de degradação para os papéis
produzidos com pasta mecânica e polpa química. Para este exame foram
observadas as seguintes características visuais das amostras:
Sujidades: partículas aderidas ou sobrepostas ao suporte.
Desgaste: dano causado por fricção, pelo uso.
Perfurações: causadas pela presença de insetos.
Manchas causadas por líquidos.
114
Rasgos causados por manuseio
Fungos que se desenvolvem sobre materiais celulósicos em presença
de umidade, causando a fragilização do mesmo.
Foxing: manchas amarelas ou castanhas que se manifestam no papel
com o tempo. São provavelmente provocadas pelo desenvolvimento de
microorganismos.
Fragmentação causada pela acidificação elevada do acervo estudado.
O QUADRO 17 apresenta os padrões de degradação que foram encontrados nas
amostras selecionadas de papéis de pasta mecânica.
QUADRO 17
Padrões de degradação presentes nas amostras de pasta mecânica
Degradações
Identificação da Amostra
Sujidades
Desgaste
Perfurações
Manchas
Rasgos
Fungos
Foxing
Fragmentação
pp 4.2
pp 17.1
pp 17.1.2
pp 17.1.3
pp 17.2
pp 17.3
pp 17.4
As amostras de pasta mecânica apresentaram, estatisticamente, os resultados
conforme GRÁF. 4.
115
O QUADRO 18 apresenta os padrões de degradação que foram encontrados nas
amostras selecionadas de papéis de polpa química.
QUADRO
18
Padrões de degradação presentes nas amostras de polpa química
Degradações
Identificação da Amostra
Sujidades
Desgaste
Perfurações
Manchas
Rasgos
Fungos
Foxing
Fragmentação
pp 3.1
pp 4.1
pp 4.3
pp 4.4
pp 5
pp 10.5
pp 10.7.1
pp 11.4
pp 11.5
pp 12.3
pp 15.1
pp 15.2
pp 16
GRÁFICO 4 – Padrões de degradação encontrados nas amostras de pasta mecânica.
85,71%
42,86%
71,42%
85,71%
42,86%
0,00%
28,57%
100,00%
Suj
ida
d
es
Des
g
aste
Perfurações
Manchas
Rasgos
F
u
ngos
F
ox
in
g
F
r
a
gme
n
taç
ão
116
As amostras de polpa química apresentaram, estatisticamente, os resultados
conforme GRÁF. 5.
Na amostra de papel de trapo foram encontradas as seguintes degradações:
Sujidades
Manchas
Fungos
Foxing
7.4 Ensaios Relacionados ao Envelhecimento
o
Identificação do grau alteração de celulose
Pasta mecânica
Número total de amostras de referência:
7
Dimensões das amostras:
cerca de 5 x 5 mm.
O QUADRO 19 traz os resultados das amostras de pasta mecânica submetidas à
reação de Tollens.
GRÁFICO 5 – Padrões de degradação encontrados nas amostras de polpa química.
30,76%
38,46%
53,84%
46,15%
30,76%
23,07%
100,00%
69,23%
Sujidades
De
sg
aste
P
e
rfu
r
õ
es
M
a
nch
a
s
R
a
s
gos
Fun
go
s
Foxing
Fra
g
me
nta
çã
o
117
QUADRO 19
Amostras de pasta mecânica submetidas à reação de Tollens
Amostra
Reação sobre a amostra Resultados
pp 4.2 Desenvolvimento de poucas
partículas de prata tendendo para
quantidade média
Degradação baixa
pp 17.1 Coloração da amostra mascara
prováveis partículas de prata.
indefinido
pp 17.1.2
Coloração da amostra mascara
prováveis partículas de prata.
indefinido
pp 17.1.3
Coloração da amostra mascara
prováveis partículas de prata.
indefinido
pp 17.2* Coloração da amostra mascara
prováveis partículas de prata.
indefinido
pp 17.3 Desenvolvimento de quantidades
médias de partículas de prata
Degradação média
pp 17.4 Coloração da amostra mascara
prováveis partículas de prata.
Indefinido
*
Aparenta, visualmente, polpa química.
No GRÁF. 6 os resultados, estatisticamente, para os papéis de pasta mecânica.
A maioria das amostras de pasta mecânica submetidas ao ensaio, apresentou
resultado indefinido, pois a coloração do papel impossibilitou a observação de
partículas de prata sobre o mesmo. Este resultado não coloca em questão a
qualidade do ensaio que no grupo de amostras de polpa química apresentou
resultados mais concretos.
GRÁFICO 6 – Degradação encontrada nas amostras de pasta mecânica
71,48%
14,28% 14,28%
Indefinido Degradação baixa Degradação média
118
Polpa química
Número total de amostras de referência:
13
Dimensões das amostras:
cerca de 5 x 5 mm.
O QUADRO 20 traz os resultados das amostras de polpa química submetidas à
reação de Tollens.
QUADRO 20
Amostras de polpa química submetidas à reação de Tollens
Amostra
Reação sobre a amostra Resultados
pp 3.1
Desenvolvimento de poucas
partículas de prata
Degradação baixa
pp 4.1
Não apresentou desenvolvimento
de partículas de prata.
Degradação muito baixa ou
inexistente
pp 4.3
Desenvolvimento de poucas
partículas de prata
Degradação baixa
pp 4.4
Desenvolvimento de poucas
partículas de prata
Degradação baixa
pp 5
Desenvolvimento de poucas
partículas de prata
Degradação baixa
pp 10.5
Desenvolvimento de muitas
partículas de prata
Degradação alta
pp 10.7.1
Desenvolvimento de poucas
partículas de prata
Degradação baixa
pp 11.4
Desenvolvimento de poucas
partículas de prata
Degradação baixa
pp 11.5
Desenvolvimento de quantidades
médias de partículas de prata
Degradação média
pp 12.3
Desenvolvimento de poucas
partículas de prata tendendo para
quantidade média
Degradação de baixa a média
pp 15.1
Desenvolvimento de poucas
partículas de prata tendendo para
quantidade média
Degradação de baixa a média
pp 15.2
Desenvolvimento de poucas
partículas de prata
Degradação baixa
pp 16
Desenvolvimento de poucas
partículas de prata
Degradação baixa
No GRÁF. 7 os resultados, estatisticamente, para os papéis de polpa química.
119
Papel de trapo
Número total de amostras de referência:
1
Dimensões das amostras:
cerca de 5 x 5 mm
Resultado:
Esta amostra quando submetida ao reativo de Tollens não apresentou
desenvolvimento de partículas de prata. Por ser papel produzido com fibras têxteis,
este resultado era esperado.
Os resultados foram inconclusivos por causa da interferência do amido usado como
agente decolagem nas amostras de pasta mecânica e polpa química.
o
pH
Número total de amostras de referência:
22
Dimensões da amostras:
o houve retirada de amostras. O ensaio foi realizado
conforme norma NBR 14348:1999
O QUADRO 21 traz os resultados das amostras de pasta mecânica submetidas à
mensuração do pH.
GRÁFICO 7 – Degradação encontrada nas amostras de polpa química.
7,69%
61,53%
15,38%
7,69% 7,69%
Degradação
muito baixa
Degradação
baixa
Degradação
baixa a média
Degradação
média
Degradação alta
120
QUADRO 21
Amostras de pasta mecânica submetidas ao ensaio para pH
Identificação da amostra Resultados
pp 4.2 4,2
pp 17.1 4,1
pp 17.1.2 4,5
pp 17.1.3 4,6
pp 17.2* 3,2
pp 17.3 4,2
pp 17.4 4,2
*
Aparenta, visualmente, polpa química.
Maior valor: 4,6
Menor valor: 3,2
Valor médio: 4,1
O QUADRO 22 traz os resultados das amostras de polpa química submetidas à
mensuração do pH.
QUADRO 22
Amostras de polpa química submetidas ao ensaio para pH
Identificação da amostra Resultados
pp 3.1 4,4
pp 4.1 5,3
pp 4.3 4,2
pp 4.4 4,3
pp 5 5,3
pp 10.5 6,6
pp 10.7.1 6,4
pp 11.4 5,1
pp 11.5 4,1
pp 12.3 5,2
pp 15.1 5,1
pp 15.2 4,5
pp 16 5,4
121
Maior valor: 6,6
Menor valor: 4,1
Valor médio: 5,0
O QUADRO 23 traz o resultado da amostra de trapo submetida à mensuração do
pH.
QUADRO 23
Amostra de papel de trapo submetida ao ensaio para pH
Identificação da amostra Resultado
pp 2 5,7
Este resultado está relacionado ao contato do papel de trapo com os papéis ácidos
por um longo período.
O QUADRO 24 traz o resultado da amostra de papel contemporâneo –
off set
submetida à mensuração do pH.
QUADRO 24
Papel contemporâneo – off set submetido ao ensaio para pH
Identificação da amostra Resultados
Marca:
Ripax, Laser 75 Premium
Quality Paper Archival Quality.
8,0
Resultado esperado, pois este é o valor médio de pH informado pelos fabricantes
deste tipo de papel.
Todas a amostras selecionadas do acervo apresentaram pH abaixo de 7,0, ou seja,
todas elas foram consideradas como ácidas ou acidificadas, inclusive a amostra de
papel de trapo pp 2 que permaneceu junto ao acervo, composto, na grande
maioria, por papel ácido.
122
7.5 Ensaios Físicos para Papéis
Após a realização dos ensaios relacionados à pasta, percebeu-se que seria
desnecessário realizar os testes físicos com todas as 21 amostras por
apresentarem, a maioria, características similares. Apenas 7 amostras que
continham características comuns a todas as outras, foram retiradas do acervo e
submetidas aos testes realizados na Escola SENAI “Theobaldo de Nigris”. Os
critérios para escolha destas amostras foram os descritos a seguir:
Amostras de pasta mecânica: pp 17.1.3 e pp 17.2
Colagem do papel: dextrina e amido. As demais amostras apresentam
resultados análogos.
Valores de gramatura aproximados às médias encontradas para o
processo de produção do papel de pasta mecânica. Maior espessura: pp
17.1.3 e menor: pp 17.2.
Resultados no exame óptico são representativos do conjunto de
amostras selecionadas.
As duas amostras apresentam, respectivamente, o maior e o menor
valores de pH encontrados nas amostras de pasta mecânica, 4.6 e 3.2.
Amostras de polpa química: pp 4.3; pp 10.5; pp 15.1; pp 15.2.
Tratamento ao qual foi submetida a polpa: duas amostras de processo
sulfito e duas de processo sulfato. Os dois processos encontrados através da
aplicação do Corante Graff “C
Colagem do papel: amostras representativas do uso de dextrina, muito
amido ou pouco amido.
123
No exame métrico, os valores de gramatura encontrados nas amostras
de polpa química foram variados, portanto, optou-se por selecionar amostras
que abrangessem esses valores encontrados. Uma amostra apresenta
gramatura de 50 g/m² (menor valor encontrado), outra apresenta 85 g/m²
(maior valor encontrado) e outras duas amostras que apresentam valores
médios. Os valores encontrados para espessura tambémo representativos
do conjunto de amostras selecionadas.
Resultados do exame óptico são representativos do conjunto de
amostras selecionadas.
As quatro amostras de polpa química selecionadas para estes ensaios
apresentaram no teste de degradação da celulose (reação de Tollens)
valores representativos de todo o conjunto selecionado. Ou seja, degradação
baixa (duas amostras), degradação baixa a média (uma amostra) e
degradação alta (uma amostra)
Entre as amostras selecionadas para este ensaio, foram também,
considerados o maior valor de pH, 6.6 e valores médios.
A TAB. 5 traz, comparativamente, os resultados dos ensaios físicos.
124
TABELA 5
Amostras selecionadas para ensaios físicos e respectivos resultados
Amostra
Resistência à
tração. Média
Direção de
Fabricação
(N)
Resistência à
tração. Média
Direção
Transversal
(N)
Cobb
(%)
Resistência ao
arrebentamento
média (KPa)
Resistência
ao
alongamento
Direção de
Fabricação
(%)
Resistência
ao
alongamento
Direção
Transversal
(%)
Pasta mecânica
pp 17.1.3 13,68 7,82 8,20 17,65 2,55 2,55
pp 17.2 15,13 11,72 5,60 23,04 2,55 2,57
Polpa química
pp 10.5 32,21 15,78 5,80 26,47 2,55 2,55
pp 4.3 21,93 13,17 8,40 33,33 2,55 2,57
pp 15.1 22,51 12,01 7,20 32,35 2,55 2,57
pp 15.2 20,41 16,79 11,20 44,12 2,55 2,55
Papel de trapo
pp 2 50,00 44,73 43,00 188,73 3,10 4,22
Papel
contemporâneo
off set
85,42 39,39 27,60 183,7 2,68 6,36
8 D
ISCUSSÕES
O ensaio com reativo de Tollens não trouxe nenhuma contribuição a esta pesquisa,
pois o mesmo reagiu com agentes de colagem, especialmente nas amostras que
apresentaram o uso de amido, por ser reativo na presença de glicose. O amido,
portanto, evitou a correta observação da degradação da celulose. Devido a esse
resultado, foi sugerido o uso do ensaio de viscosidade descrito em NBR ISO
5351:2005, por ser a viscosidade das soluções de celulose, proporcional ao
comprimento da cadeia e ao peso molecular da mesma. Esta prova, portanto, seria
útil para avaliar a degradação da celulose, por processos de hidrólises e oxidação,
os quais determinam a redução do peso molecular. Poderia ser de valor ao estudar
os efeitos da acidez do papel e as características de envelhecimento. No entanto,
segundo MORAL (2001. p. 66), este ensaio dificilmente traria novas contribuições,
pois tem uma limitada aplicação sobre o papel envelhecido. Antes de iniciar o
ensaio, é necessário remover os constituintes não fibrosos do papel (cargas, colas,
etc) o que torna inútil a aplicação deste ensaio no estudo do papel envelhecido.
A celulose sulfato é considerada mais resistente que aquela obtida pelo processo
sulfito, porém sua cor é mais escura, o que leva ao emprego de vários estágios de
branqueamento para alvejá-la o que provavelmente propicia certa degradação da
celulose ocasionando perda de resistência. No ensaio relacionado à “resistência à
tração, média direção de fabricação”, as duas amostras de polpa ao sulfato tiveram
menor resistência em relação às duas amostras ao sulfito, que, segundo a literatura
pesquisada, desenvolvem alta resistência, com alto teor de hemiceluloses por serem
cozidas lentamente a baixas temperaturas.
126
Embora sejam papéis produzidos na segunda metade do século XIX, é notável como
a resistência das pastas mecânicas e polpas químicas mostrou-se muito inferior à do
papel de trapo da mesma época e do papel off-set que mesmo sendo atual, possui
fibras muito curtas. Sua constituição apresenta valores de resistência bem próximos
ao papel de trapo, possivelmente por ser polpa ao sulfito, este tipo de
processamento de polpa também foi encontrado em duas das amostras submetidas
aos ensaios físicos e, da mesma forma, apresentaram maior resistência à tração,
média direção de fabricação e menor capacidade de absorção pelo método Cobb.
Esta fragilidade do papel, confirmada nos ensaios físicos, foi potencializada por
poluentes atmosféricos cujas concentrações aumentam a cada década, contribuindo
com a despolimerização da celulose que provoca a perda irreversível da resistência
e a aceleração do envelhecimento natural denunciado pelo escurecimento dos
papéis. A oscilação da umidade que é percebida na região onde permaneceram os
papéis estudados por período que ultrapassa os cem anos, também é capaz de
interagir favorecendo a absorção de contaminantes como dióxido de enxofre e
ozônio, produtos comuns na atmosfera das cidades atualmente e que agem no
amarelecimento dos papéis e esmaecimento de corantes e pigmentos, contribuindo
para acelerar a degradação destes papéis.
127
9
C
ONCLUSÕES
Os ensaios para determinação do tipo de cola aplicada não trouxeram maiores
hipóteses a não ser o fato de que possivelmente o uso de amido contribui para uma
melhor impermeabilização em comparação com o uso de dextrina. Observação feita
após a realização do ensaio “capacidade de absorção de água – método Cobb”.
O tipo de cola usada como agente de colagem interna irá influenciar a penetração de
produtos usados como reagentes e solventes. Especialmente quando associada à
gramatura mais alta e maior prensagem/calandragem observadas nas amostras de
polpa química.
A pesquisa de alúmen que apresentou resultado positivo em todas as amostras
estudadas sugere o uso de breu combinado à colagem interna feita através do uso
de amido ou dextrina.
As alterações ópticas observadas nos dois grupos de amostras (pasta mecânica e
polpa química) indicaram maiores interações dos papéis de pasta mecânica com o
meio, que os padrões de degradação encontrados são diretamente influenciados
pelas condições ambientais, tais como ação de poluentes, oscilações de
temperatura e UR e os papéis de pasta mecânica serem mais suscetíveis a essas
interações com fatores extrínsecos.
O processo de cozimento lento da polpa ao sulfito contribui para preservar a
integridade das fibras garantindo-lhes maior resistência.
R
EFERÊNCIAS
B
IBLIOGRÁFICAS
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D’ALMEIDA, M. L. O., TAKAHASHI, R. C. T., KOGA, M. E. T., MOTTA, G. C.,
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Influência de tratamentos de alcalinização na
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Desacidificação de
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129
NBR 14132:1998 Papel, cartão e pasta celulósica - Análise da composição
fibrosa - Método de ensaio com o corante Graff “C”.
NBR 14348:1999 Papel e cartão - Determinação do pH superficial - todo
com eletrodo
NBR NM – ISO 534:2006 – Papel e cartão - Determinação da espessura,
densidade e volume específico.
NBR NM ISO 535:1999 Papel e cartão - Determinação da capacidade de
absorção de água - Método de Cobb
NBR NM – ISO 536:2000 – Papel e cartão - Determinação da gramatura
NBR NMISO 1924-2:2001 – Papel e cartão - Determinação das propriedades
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REVISTA DO ARCHIVO PÚBLICO MINEIRO
: Anno I Fascículo - Janeiro a
Março de 1896. Ouro Preto: Imprensa Official de Minas Geraes, 1896.
REVISTA DO ARCHIVO PÚBLICO MINEIRO
: Anno XXI Fascículo - Janeiro a
Março de 1927. Bello Horizonte: Imprensa Official de Minas Geraes, 1927.
Sciencesurvey_2_paper.pdf. Disponível em: <www.ifla.org>. Acesso em 07/07/2006.
SHREVE, R. Norris; BRINK JR, Joseph A..
Indústrias de Processos Químicos.
Tradução de Horacio Macedo. Rio de Janeiro: Editora Guanabara, 1997.
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132
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A Importância da Conservação Preventiva
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SOUZA, L.A.C.,
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: Curso de Conservação /
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em: <www.websters-online-dictionary.org> Acesso em 03 mar 2007.
G
LOSSÁRIO
Aditivos:
Materiais adicionados ao papel para conferir-lhe características especiais.
Ânion:
é um íon com carga negativa.
Amido:
Substância utilizada na composição de adesivo aplicado na colagem de
papéis. Polissacarídeo presente em quase todos os vegetais, cuja forma pura é um
pó branco, de granulação uniforme, característica do vegetal de onde é obtido,
utilizado na fabricação do papel, como os amidos de milho e de mandioca,
adicionados à massa na ordem de 2% a 3% , depois de cozidos, sendo sua principal
função aumentar a retenção de carga mineral e dar ao papel melhores
características de toque e de brilho.
AKD (Dímero Alquil Ceteno):
Molécula complexa obtida da mistura de ácidos
palmítico e esteárico, que reage parcialmente com os grupos hidroxil celulose
enquanto deixa os grupos hidrófobos na superfície das fibras de celulose, tornando-
as resistentes à penetração de líquidos polares, como a água e o álcool, utilizada na
forma de dispersão aquosa catiônica como agente de colagem na fabricação de
papéis alcalinos.
Alumen (sulfato de alumínio):
de fórmula: [Al
2
(SO
4
)
3
] composto cristalino branco
ou incolor, conhecido como composto anidro (sem água), ou como hidratado. Sal
obtido da dissolução da bauxita (óxido de alumínio hidratado) com ácido sulfúrico. O
sal anidro é solúvel em água e levemente solúvel em etanol: o sal hidratado é muito
solúvel na água e insolúvel em etanol. O sulfato de alumínio é comercialmente um
dos mais importantes compostos de alumínio; é usado na indústria do papel para
precipitar a cola de breu sobre as fibras que compõem o papel. Geralmente é
134
adicionado no final da preparação da massa.
Angiospermas:
vem das palavras gregas
angio
que significa proteção, e
sperma
,
semente. Desta forma, as Angiospermas são aquelas plantas cujas sementes estão
protegidas, encerradas em um fruto pelo menos até o momento da sua maturação.
Bissulfito:
processo de tratamento da pasta celulósica, caracterizado pelo uso de
um licor de cozimento que tem na composição, bissulfito de magnésio.
Breu:
é uma importante matéria-prima para a fabricação de agente de colagem para
papéis. Produto natural, sólido e resinoso, extraído de árvores da família das
pinaceas
. O mesmo que colofônia.
Carga:
produto mineral ou orgânico, geralmente inerte, empregado para assegurar o
tipo desejado de apresentação e/ou consistência. As cargas adicionadas ao papel
proporcionam aumento da opacidade, da “brancura” e da resistência mecânica
deste. São substâncias inorgânicas de composição diversa, dentre as quais,
atualmente, podemos citar como os mais importantes: caolim, carbonato de cálcio,
sulfato de bário.
Cátion
: é um íon com carga positiva.
Ciperáceas:
vegetal da
família das herbáceas dicotiledôneas geralmente perenes e
graminiformes. Composta por aproximadamente 4000 espécies, agrupadas em
cerca de 115 neros, que o encontradas em todo o mundo, mas pincipalmente
nas regiões temperadas e frias. São mais comuns em terrenos úmidos.
Colagem:
Ato de adicionar cola à massa do papel, durante a fabricação, no tanque
de mistura. A cola é precipitada sobre as fibras pela adição posterior de sulfato de
alumínio, dando ao papel pronto a propriedade de colagem, o que o torna menos
absorvente à água e outros líquidos. Propriedade do papel resultante da alteração
das características superficiais das fibras através de dois processos: colagem
135
interna, que consiste em acrescentar à massa elementos de colagem como AKD
usado atualmente pela indústria papeleira antes da formação da folha, a fim de
aumentar-lhe a resistência à penetração de líquidos e colagem superficial, que
consiste em revestir a folha acabada com finas camadas de cola, de um ou de
ambos os lados, para aumentar-lhe a resistência à água, à abrasão, ao vinco,
promover lisura, reduzir a porosidade, aumentar a resistência ao arrancamento e
melhorar a printabilidade.
Dextrina:
pasta translúcida, quase sem gusto e sem cheiro, usada como substituta
para colagem. É obtida do amido por ação de calor.
Espessímetro:
Instrumento empregado para verificar a espessura de papéis.
Filigrana:
Fio metálico que produz a linha-d'água no papel. Desenho translúcido
produzido no papel por pressão de um rolo filigranador, ou através de marcas
d'água, para propósitos de identificação ou segurança. Marcas, tais como letras,
logotipos, figuras, brasões etc., não-reproduzíveis, vistas contra a luz, incorporadas
ao papel durante a fabricação, por meio de fios metálicos, para servir como
elementos de segurança ou de controle. As filigranas foram inventadas na primeira
fábrica italiana de papel, em 1270; as figuras eram chamadas de marcas e
indicavam o formato do papel.
Foxing:
Manchas amarelas ou castanhas que se manifestam no papel. São
provavelmente provocadas pelo desenvolvimento de um microorganismo ou
causadas por impurezas no papel em presença de umidade.
Gimnospermas:
são plantas vasculares com sementes. O termo provém das
palavras gregas "gimnos" = "nu" e "spermos" = "semente". Este termo é aplicado
porque as sementes destas plantas não estão encerradas num ovário como
acontece nas angiospermas: as sementes das gimnospermas são desprotegidas,
136
inseridas em escamas que formam uma estrutura mais ou menos cônica (pinha).
Gramatura:
É o peso em gramas das fibras secas mais seus componentes em um
metro quadrado de papel. Massa de uma folha de papel expressa em gramas por
metro quadrado. É expressa em g/m².
Hidróxido de sódio:
NaOH, também conhecido como sodaustica, é um hidróxido
cáustico usado na indústria, principalmente como uma base química, na fabricação
de diversos produtos entre eles o papel. O hidróxido de sódio é produzido por
eletrólise de uma solução aquosa de cloreto de sódio. É um subproduto deste
processo que é utilizado para a obtenção do cloro.
Holandesa:
Antigo desintegrador de trapos e refinador de pasta, que a converte em
polpa para a fabricação do papel. quina de refinação de massa que consiste
essencialmente de um tanque retangular de concreto ou de alvenaria, geralmente
revestido de azulejos, dotado de um cilindro ou tambor provido de facas de material
duro e resistente, ou de uma pedra especial de lava-basalto. O cilindro, girando com
pressão sobre uma platina ou encosto, do mesmo material, colocada no fundo do
tanque, dá às fibras o tratamento mecânico chamado refinação. Para facilitar a
circulação de massa, que geralmente está em uma concentração de 5% a 8% , o
fundo do tanque tem um declive, mais alto na saída do cilindro.
Íon:
é uma espécie química eletricamente carregada, geralmente um átomo ou
molécula que perdeu ou ganhou elétrons. Íons carregados negativamente são
conhecidos como ânions, que são atraídos para ânodos, enquanto íons com carga
positiva são denominados como cátions, que são atraídos por cátodos.
Madeira dura:
Madeira derivada de árvores folhosas, as
angiospermae
principalmente do gênero eucalipto, das quais se obtém a polpa de fibras curtas,
utilizada na fabricação de papéis para impressão e escrita.
137
Madeira mole:
Madeira derivada de árvores coníferas, pertencentes a família
gimnospermae,
das quais se obtém a polpa de fibras longas, utilizada na fabricação
de papéis de usos especiais.
Opacidade:
É a capacidade do papel de dificultar a passagem de luz e, desta forma,
receber uma tinta sem que esta seja vista do outro lado da folha.
Papel alcalino:
Papel fabricado em meio alcalino (pH superior a 7), com resinas
sintéticas como ASA (anidrido de alquil succinico), AKD (dímero de alquil ceteno) e
carbonato de cálcio como carga, apresentando elevada permanência, opacidade e
brancura.
Papel off set:
Papel de impressão, com ou sem revestimento, fabricado com pasta
química branqueada, conteúdo de carga mineral entre 10% e 15% , boa colagem
interna e superficial, produzido nas gramaturas de 60 g/m² a 150 g/m² com requisitos
específicos para o processo de impressão
off set
.
Peso molecular:
é a massa da molécula de uma substância relativa à unidade de
massa atômica u (igual a 1/12 da massa do isótopo carbono-12,
12
C). Formalmente
deve ser chamada massa molecular relativa devido a esta relação. O termo peso
molecular (abreviatura: MW, do inglês
molecular weight
) é também usado para
designar esta propriedade, embora tenda a cair em desuso.,
Polímero:
espécie química que se distingue por sua grande massa molar, sendo
formado pela união de muitos monômeros.
Processo sulfato:
Método de obtenção de polpa de celulose por digestão de
cavacos de madeira num licor alcalino composto de soda cáustica e sulfato de sódio.
Processo sulfito:
Método de obtenção de polpa de celulose por digestão de
cavacos de madeira num licor ácido composto de ácido sulfuroso e um sal,
geralmente bissulfito de cálcio.
138
Quilopascal:
O pascal (cujo símbolo é Pa) é a unidade padrão de pressão e tensão
no Sistema Internacional de Unidade. Equivale a força de 1 N aplicada sobre uma
superfície de 1 m
2
.O nome desta unidade é uma homenagem a Blaise Pascal,
eminente matemático, físico e filósofo francês. O quilopascal é um dos ltiplos da
unidade e equivale a 10
3
e é representado pelo símbolo kPa.
Reversão de alvura:
Perda de alvura ou amarelecimento do papel com o tempo.
Termo alternativo: reversão de cor.
Sulfato:
designação genérica dos sais e ésteres do ácido sulfúrico.
Sulfeto de sódio:
(Na
2
S) é obtido através da neutralização de gases provenientes
do processo de regeneração do licor negro oriundo do processo de obtenção da
celulose. Sua utilização vai da indústria de curtume, onde é aplicado na depilação de
couro, até a indústria metalúrgica, onde participa da flotação de materiais não-
ferrosos como zinco e cobre. É também usado nos processos Kraft das indústrias de
celulose.
Sulfito:
sal ou éster do ácido sulfuroso.
Sulfonação:
reação química que permite introduzir numa molécula um ou mais
radicais sulfônicos (-SO
3
H) pela ligação direta carbono com enxofre.
Vergê:
Tipo de acabamento que se ao papel cuja textura é constituída de linhas
paralelas uniformemente espaçadas, visíveis contra a luz.
A
NEXOS
A
NEXO
A
A
UTORIZAÇÃO PARA
R
ETIRADA DE
A
MOSTRAS
140
A
NEXO
B
R
ELATÓRIO A
R
ESPEITO DAS
A
MOSTRAS
R
ETIRADAS
RELATÓRIO APRESENTADO À SUPERINTENDÊNCIA DO ARQUIVO PÚBLICO
MINEIRO REFERENTE AO TRABALHO REALIZADO EM DOCUMENTAÇÃO SOB A
GUARDA DESSA INSTITUIÇÃO, QUE FOI OBJETO DE ESTUDO DE DEMILSON
JOSÉ MALTA VIGIANO
Introdução:
O presente relatório tem por objetivo descrever os procedimentos realizados para retirada de
amostras do acervo para realização de ensaios laboratoriais concernentes ao desenvolvimento
do trabalho de dissertação.
Título da dissertação:
Estudo da degradação química dos papéis ácidos produzidos a partir
de 1850: acervo Arquivo Público Mineiro
Orientador: Prof. Doutor Luiz Antônio Cruz Souza
141
Descrição dos suportes utilizados na pesquisa
Encontrar amostras de papéis degradados e cuja remoção, caso fosse necessária, não causasse
perdas informacionais ao acervo foi um tarefa árdua no desenvolvimento do trabalho. Para
conseguir tais amostras, foi necessário um levantamento criterioso de papéis “em branco”,
que fossem representativos do processo de produção industrial do papel, mas que não
possuíssem informações, portanto, sua retirada não poderia causar prejuízos ao acervo, e nem
afetar o entendimento do documento. Para tanto foi elaborada uma documentação fotográfica
que informasse a posição de tais amostras dentro do acervo. Existe, ainda, uma autorização
assinada pelos diretores e superintendente do Arquivo Público Mineiro deixando claro que
esta autorização somente foi possível pela importância que a pesquisa terá para a Instituição.
Foi necessária esta autorização e, claro, compreensão da diretoria do APM, pois as amostras
retiradas seriam submetidas a ensaios muitas vezes destrutivos. Não obstante todo este
cuidado, a retirada de amostras efetuou-se apenas do material estritamente necessário para o
estudo.
Do acervo escolhido como objeto de estudo
O objeto de estudo faz parte da coleção intitulada "Presidentes da Província" que está sob a
guarda do Arquivo blico Mineiro, e está organizada em 17 (dezessete) caixas de
documentos impressos sobre papel ácido em sua maioria.
O total de caixas contém uma grande quantidade de documentos que possuem variados graus
de acidificação além de outros problemas de degradação física e biológica. Possui ainda,
documentos impressos sobre papel de trapo que embora possuam material muito diferente em
sua matéria prima e processamento, foram usados como comparativos por terem
permanecidos junto aos papéis ácidos por período que ultrapassa os cem anos. O período
escolhido para o estudo abrange papéis produzidos e utilizados de 1850 a 1889.
Este acervo foi escolhido como objeto de estudo por ser grande a possibilidade de que ele
tenha permanecido a maior parte do tempo na mesma instituição, ou seja, um período superior
a cem anos. Esse fato contribui com a pesquisa no sentido de evitar uma quantidade muito
ampla de variáveis que poderiam interagir com a degradação intrínseca do suporte.
Provavelmente, o referido acervo, foi recolhido ao Arquivo Público Mineiro tão logo esta
instituição tenha sido criada em 1895, ficando em Ouro Preto conforme documento que
atesta:
Foi instituída a Presidência da Província pela lei imperial de 20 de outubro de 1823 que
dava nova forma aos governos provinciais, criando para cada um desses um Presidente e
Conselho. Ficavam abolidas assim, as juntas provisórias de Governo e o Presidente
passava a ser o executor e administrador da Província. O acervo documental dessa
instituição foi recolhido ao Arquivo Público Mineiro provavelmente a partir de 1896,
ano de sua instalação em Ouro Preto, sendo transferida para Belo Horizonte em 1901,
quando da mudança da sede desse órgão para a capital.
35
35
Fonte: Arquivo Público Mineiro / Diretoria de Arquivos Permanentes
142
Metodologia de identificação das amostras
Para identificação, localização e, caso houvesse necessidade, retirada das amostras, as
mesmas foram nomeadas da seguinte forma:
pp refere-se ao nome do acervo que serviu de objeto de estudo: “Presidentes da
Província”
primeiro número – refere-se ao número da caixa onde encontra-se o livro de onde foi
retirada a amostra.
segundo e terceiro números (quando têm) referem-se ao número de ordem do livro
e da folha, respectivamente, dentro da caixa.
Características das amostras que foram retiradas em sua totalidade:
Foram localizadas, ao todo, 22 (vinte e duas) folhas que poderiam ser retiradas em sua
totalidade, conforme as características descritas acima. No entanto, após os ensaios químicos
realizados onde foram utilizados pequenos fragmentos encontrados dentro do acervo,
constatou-se a necessidade de retirada de apenas 7 (sete) folhas em razão de suas
características distintas. Todas as amostras retiradas são as folhas sem informações (“em
branco”) apresentadas nas fotos. É importante ressaltar que não houve necessidade de retirar
amostras, nem fragmentos do acervo “Assumptos Mineiros”, pois o mesmo, após uma
avaliação mais minuciosa não correspondeu às necessidades do estudo em questão.
Amostras selecionadas de pasta mecânica
Número total de amostras de referência: 2 (duas)
Dimensões da amostras: folha total, tamanho aproximado de uma folha A4
Identificação
da amostra
Imagem da localização da amostra
dentro do acervo
gramatura espessura
pp 17.1.3
~65 g/m² 0,1 mm
143
pp 17.2
~60 g/m² 0,08 mm
Amostras selecionadas de pasta química
Número total de amostras de referência: 4 (quatro)
Dimensões da amostras: folha total, tamanho aproximado de uma folha A4
Identificação
da amostra
Imagem da localização da amostra
dentro do acervo
gramatura espessura
pp 4.3
~50 g/m² 0,07 mm
pp 10.5
~80 g/m² 0,15 mm
144
pp 15.1
~60 g/m² 0,075 mm
pp 15.2
~85 g/m² 0,09 mm
Amostras selecionadas de trapo
Número total de amostras de referência: 1 (uma)
Dimensões da amostras: folha total, tamanho aproximado de uma folha A4
Identificação
da amostra
Imagem da localização da amostra
dentro do acervo
gramatura espessura
pp 2
~85 g/m² 0,11 mm
Créditos:
A documentação fotográfica foi realizada pelo autor do trabalho.
Demilson José Malta Vigiano
Diretoria de Conservação de Documentos
Arquivo Público Mineiro
Belo Horizonte, 22 de dezembro de 2006.
145
A
NEXO
C
R
ESULTADOS DOS
E
NSAIOS
F
ÍSICOS
146
147
148
149
150
151
152
Livros Grátis
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