um conjunto de idéias e de teorias que também provém da realidade concreta, mas que
buscam prioritariamente naturalizar, legitimar, preservar e aprofundar a dominação
exercida pela classe hegemônica.
Sendo então, a consciência social formada hegemonicamente pelas teorias da
ideologia da classe dominante, na sociedade capitalista essa ideologia se expressa através
das idéias e valores burgueses. É esse ideário burguês
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, de justificação e perpetuação do
sistema social, que permeia a sociedade hegemonicamente como “verdade” construída pelo
seu conjunto e portanto reveladora da realidade.
A classe dominante primeiramente no processo de produção e reprodução da vida,
necessita que essa dominação estenda-se ao terreno da superestrutura da consciência social,
para que a classe dominada, vivendo a realidade concreta e cotidiana, tenha aonde buscar
em “seus” pensamentos as justificativas e respostas para continuarem expropriadas e
mutiladas enquanto seres humanos. E “ao progredir a produção capitalista, desenvolve-se
uma classe trabalhadora que por educação, tradição e costume aceita as exigências
daquele modo de produção como leis naturais evidentes” (Marx, 1988, p.854).
E é nesse cenário de dominação material e ideológica que a classe subjugada no
processo de produção, a classe trabalhadora forma sua primeira forma de consciência, a
alienação (Iasi, 2001). Através de “instituições como a família, como socialização
primária, e outras instituições de socialização secundária, como escola, trabalho, e outras
inserem os indivíduos em relações que são a base sobre a qual eles constituirão suas
concepções de mundo” (Iasi, 2002, p. 108). Essas instituições por sua vez, também estão
imersas dentro das relações capitalistas e portanto, hegemonicamente, às reproduzem.
O trabalhador necessariamente estabelece suas relações, imerso nessa dominação
ideológica, e acaba assumindo como seus os valores construídos pela classe que o domina
e que são valores hegemônicos na sociedade. Essas idéias trazem a ele a sensação de que a
realidade que vive está devidamente explicada, encontram nesses pensamentos explicações
que se por vezes não agradam, justificam sobremaneira as relações às quais está submetido
no seu cotidiano, situando-as como naturais ao seres humanos.
Generalizar uma forma particular de organização da sociedade, e tomá-la como
universal e única, é sentar-se sobre a linha da história do gênero humano. Desconsiderar
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Podemos resumir esse ideário como sendo os da revolução burguesa: Liberdade, Igualdade e Fraternidade.
Esses valores tidos como “universais” devem estar subordinados às leis capitalistas, de direito à propriedade
privada dos meios de produção e à exploração da força de trabalho mediante um salário. Ou seja, por
exemplo, na questão da liberdade, os trabalhadores devem ser livres para vender sua força de trabalho para
quem quiserem (?) e do outro lado, os burgueses devem ser livres para comprá-la também de quem quiserem.
Dessa forma, estão bem colocados os limites da liberdade burguesa.