É comum as mulheres reclamarem muito do parto, mas geralmente esse
trauma é suplantado por receberem uma recompensa: o bebê. No caso das
mulheres do nosso estudo, não houve o prêmio, então a lembrança do parto ficou
marcada pela indignação. Os trechos a seguir espelham bem esse sentimento:
“No dia da minha internação, eu já havia estado no
Fernandes Figueira pela manhã, fui fazer a marcação da
cesárea e já não me sentia bem. (...) A doutora que estava
de plantão me examinou e falou que eu estava com 1 cm de
dilatação. Ela disse: ‘Fará repouso absoluto até a data da
cesárea’ [10 dias após]. A partir das 13h passei a sentir
contrações. (...) Me levaram de volta e informaram que eu iria
fazer a cesárea naquele dia.” (Tarciana)
“Ao sentir os primeiros sintomas, dirigi-me imediatamente ao
hospital. (...) Fui enviada de volta para casa por estar,
segundo eles, em falso trabalho de parto. Retornei mais
tarde, pois as contrações tornavam-se mais constantes e as
dores insuportáveis. Quando fui finalmente internada, os
médicos custaram a realizar a cesariana, insistindo num
parto normal de uma criança cujos ossos desmembravam-se
ao manuseio e de uma parturiente com apenas 1 cm de
dilatação. Somente resisti por recomendação da minha
médica particular que insistia que ter o bebê no instituto seria
importante para as investigações do caso pela genética.”
(Andrea)
“Quando fizemos a intervenção [interrupção de gravidez de
feto com anencefalia] colocaram cytotec para induzir o parto,
e o bebê já estava morto na minha barriga. Tudo foi muito
dolorido pra mim. E logo depois fizeram uma curetagem.
Deveriam ter feito logo tudo sobre o efeito da anestesia.
Parecia que estavam com preguiça de me atender. Depois
me colocaram numa enfermaria com várias mulheres que
tinham acabado de ter bebês. Foi uma experiência horrível.”
(Alba)
(Lewin e Mirlesse, 2002; Orozco, 2007). É importante o parto vaginal para o futuro reprodutivo,
sobretudo em casos de interrupção da gestação no segundo trimestre. As pacientes que possuem
uma cesariana prévia, quando submetidas ao trabalho de parto, apresentam risco cerca de duas
vezes maior de ruptura uterina e também maiores riscos de complicações fetais, quando
comparadas a pacientes que são submetidas à cesariana eletiva (Martins - Costa et al., 2002).