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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS
CENTRO DE CIÊNCIAS EXATAS E DE TECNOLOGIA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA DE PRODUÇÃO
ATENÇÃO À SAÚDE NAS PEQUENAS E MÉDIAS
EMPRESAS DE SÃO JOSÉ DOS CAMPOS:
ESTUDOS DE CASO
DENISE DA CONCEIÇÃO DA COSTA
SÃO CARLOS
2007
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ATENÇÃO À SAÚDE NAS PEQUENAS E MÉDIAS
EMPRESAS DE SÃO JOSÉ DOS CAMPOS:
ESTUDOS DE CASO
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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS
CENTRO DE CIÊNCIAS EXATAS E DE TECNOLOGIA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA DE PRODUÇÃO
ATENÇÃO À SAÚDE NAS PEQUENAS E MÉDIAS EMPRESAS DE
SÃO JOSÉ DOS CAMPOS:
ESTUDOS DE CASO
Denise da Conceição da Costa
Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de
Pós-Graduação em Engenharia de Produção da
Universidade Federal de São Carlos, como parte dos
requisitos para a obtenção do título de Mestre em
Engenharia de Produção.
Orientador: Prof. Dr. Nilton Luiz Menegon
SÃO CARLOS
2007
Ficha catalográfica elaborada pelo DePT da
Biblioteca Comunitária da UFSCar
C837as
Costa, Denise da Conceição da.
Atenção à saúde nas pequenas e médias empresas de
São José dos Campos : estudos de caso / Denise da
Conceição da Costa. -- São Carlos : UFSCar, 2007.
179 f.
Dissertação (Mestrado) -- Universidade Federal de São
Carlos, 2007.
1. Ergonomia. 2. Saúde. 3. Segurança do trabalho. 4.
Pequenas e médias empresas. I. Título.
CDD: 620.82 (20
a
)
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA DE PRODUÇÃO
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLO S
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO
Rod. Washington Luis, Km. 235 - CEPo 13565-905 - São Carlos - SP - Brasil
Fone/Fax: (016) 3351-8236 /3351-8237 /3351-8238 (ramal: 232)
~-1
FOLHA DE APROVAÇÃO
Aluno(a): Denise da Conceição da Costa
DISSERTAÇÃO DE MESTRADO DEFENDIDA E APROVADA EM 22/06/2007 PELA
COMISSÃOJULGADORA: '
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~f. Dr.Nj bn Luiz Menegon
/Orientador ) PPGEP/UFSCar
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GEP/UFSCar
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~
Prof. dkrancisco José de Castro Moura Duarte
COPPÉiUFRJ
"o,
À minha mãe,
Ao meu pai (in memorian),
À Lindi
AGRADECIMENTOS
À minha mãe, por todo amor, apoio, ajuda e mesmo pela não-ajuda nas horas em que era
preciso crescer... Ao Leandro, meu mais que companheiro, pelo carinho, além do incentivo e
ajuda (inclusive técnica) em vários momentos deste trabalho. Aos amigos que acompanharam
os meus anos em Sanca, como Carol, Déia, Dê, Fezoca, Olívia, Mari, Sabrina, Vanessas e
tantas outras pessoas que conheci durante essa fase maravilhosa. Aos amigos de sempre...
Aos professores Camarotto e Francisco Duarte, pelo incentivo e pelas críticas construtivas que
só fizeram crescer este estudo. Ao meu orientador, por ter apoiado meu trabalho e contribuído
para meu crescimento como pesquisadora, apesar de todas as dificuldades. Às empresas
anônimas que colaboraram com este trabalho.
RESUMO
Construir ações relacionadas à saúde e segurança nas pequenas e Médias empresas não é
tarefa fácil, uma vez que estas empresas precisam lidar com o provimento deficitário de
informações, poucos recursos disponíveis e metodologias de ação desenvolvidas de acordo
com as características das empresas de grande porte. A partir de estudos de caso, o presente
estudo investigou, em quatro PME, a maneira como ações de saúde e segurança são
conduzidas, bem como as justificativas para sua forma de condução. A investigação
comprovou que aspectos tais como poucos recursos financeiros, pouco acesso à informação, a
cultura e o modelo gerencial assumido, exercem grande influência sobre a forma como as
ações em SST serão conduzidas, sendo que a Ergonomia, quando houver, será característica
pela condução perceptiva e informal das mudanças no local de trabalho. Concluiu-se que
algumas normas e leis, assim como ferramentas ergonômicas, deveriam ser desenvolvidas e
adaptadas às PME, de forma a facilitar sua utilização e assim promover uma melhora das
condições de saúde e segurança nas PMEs, de acordo com suas necessidades e limitações.
Palavras-chave: Ergonomia, Saúde e Segurança, Pequenas e Médias Empresas (PME)
ABSTRACT
Building actions related to health and safety in small and medium enterprises are not easy
tasks, since these enterprises need to deal with poor information, lack of available resources
and methodologies developed according to big company characteristics. Based on Case
Studies techniques, the present study investigated in four SME not only the way health and
safety interventions are carried on, but the reasons why they are conducted that way as well.
This investigation made us conclude that lack of available resources, poor information
access, the firm culture and management model exert clear influence on the way Heath and
Safety actions are conducted. Ergonomics, if conducted in the small firm, will be guided by
perception and based on informality, either for changes or measures of the changes. We can
conclude that some rules and laws, as well as ergonomic tools, should be developed
according to the limitations and needs of the small and medium firms, and so be used to help
improve health and safety into them.
Keywords: Ergonomics, Health and Safety, Small and Medium Enterprises (SME)
LISTA DE TABELAS
TABELA 2.1 Número de empresas de acordo com o mero de
empregados..............................................................................
- 27 -
TABELA 2.2 Dados do IBGE com a classificação das microempresas,
pequenas empresas e médias empresas....................................
- 31 -
TABELA 2.3 Diferença entre grandes e pequenas unidades de negócio....... - 33 -
TABELA 2.4 As normas e suas determinações.............................................. - 54 -
TABELA 4.1 Manipulação e armazenagem de materiais...............................
- 95 -
TABELA 4.2 Ferramentas manuais................................................................ - 96 -
TABELA 4.3 Segurança e maquinário de produção.......................................
- 97 -
TABELA 4.4 Melhoria do design do posto de trabalho................................. - 98 -
TABELA 4.5 Iluminação................................................................................ - 99 -
TABELA 4.6 Instalações................................................................................ - 99 -
TABELA 4.7 Riscos ambientais..................................................................... - 100 -
TABELA 4.8 Comodidade e bem-estar.......................................................... - 100 -
TABELA 4.9 Equipamentos de Proteção Individual..................................... - 101 -
TABELA 4.10 Organização do trabalho.......................................................... - 102 -
TABELA 4.11 Valores por categoria analisada...............................................
-103-
LISTA DE FIGURAS
FIGURA 2.1 Níveis hierárquicos presentes na PME........................................ - 36 -
FIGURA. 2.2 Os modelos gerenciais.................................................................
- 38 -
FIGURA 2.3 Campos de especialização da
Ergonomia...................................................................................
- 60 -
IGURA 4.1 A SST na PE-1 ........................................................................... - 88 -
FIGURA 4.2 A SST na MDE .......................................................................... - 90 -
FIGURA 4.3 A SST na PE-2 ........................................................................... - 92 -
FIGURA 4.4 A SST na ME ............................................................................. - 93 -
FIGURA 4.5 Gráfico com percentual de itens em não-conformidade na PE-1 - 106 -
FIGURA 4.6 Gráfico com percentual de itens em o-conformidade na
MDE...........................................................................................
- 108 -
LISTA DE SIGLAS, SÍMBOLOS E ABREVIATURAS
AET
Análise Ergonômica do Trabalho
ANACT
Agence Nationale Pour l’Amélioration dês Conditions du
Travail
BNDES
Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social
CAT
Comunicados de Acidentes de Trabalho
CIPA
Comissão Interna de Prevenção de Acidentes
DORT
Doenças Osteomusculares Relacionadas ao Trabalho
EPI
Equipamentos de Proteção Individual
FAP
Fator Acidentário Previdenciário
FUNDACENTRO
Fundação Jorge Duprat Figueiredo de Medicina e Segurança do
Trabalho
IEA
International Ergonomics Association
ILO
International Labour Office
LER
Lesão por Esforços Repetitivos
LVE
Lista de Verificação Ergonômica
MDE
Médias Empresas
MPE
Micro e Pequenas Empresas
MPME
Micro, Pequenas e Médias Empresas
OIT
Organização Internacional do Trabalho
PATME
Programa de Apoio Tecnológico às Micro e Pequenas
Empresas
PCMSO
Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional
PE
Pequena Empresa
PME
Pequena e Média Empresa
PPRA
Programa de Prevenção de Riscos Ambientais
P&D
Pesquisa e Desenvolvimento
SEBRAE
Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas
SESI
Serviço Social da Indústria
SESMT
Serviços Especializados em Engenharia de Segurança e em
Medicina do Trabalho
SIPAT
Semana Interna de Prevenção de Acidentes de Trabalho
SST
Saúde e Segurança no Trabalho
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO .................................................................................. - 15 -
1.1 Antecedentes da pesquisa .................................................................... - 15 -
1.2 Questões da pesquisa ...........................................................................
- 17 -
1.3 Justificativa e relevância do estudo ..................................................... - 19 -
1.4 Modelo conceitual e pesquisa de campo ............................................. - 19 -
1.5 A estrutura do trabalho ........................................................................ - 21 -
1.6 Delimitação do escopo e pressupostos chave ...................................... - 22 -
1.7 Conclusão ............................................................................................ - 23 -
2 REFERENCIAL CONCEITUAL PARA O ESTUDO DA SAÚDE,
SEGURANÇA E ERGONOMIA NA PEQUENA E MÉDIA
EMPRESA...........................................................................................
- 24 -
2.1 Introdução ............................................................................................
- 24 -
2.2 Conhecendo a Pequena e Média Empresa ...........................................
- 26 -
2.2.1 Critérios de classificação .....................................................................
- 28 -
2.2.2 Motivos que levam a empresa a se manter pequena ........................... - 32 -
2.3 A estrutura das Pequenas e Médias Empresas .................................... - 33 -
2.3.1 O gerenciamento nas PME .................................................................. - 36 -
2.3.2 Qualificação profissional nas PME ..................................................... - 38 -
2.3.3 Os desafios enfrentados: Inserção no mercado consumidor,
capacidade de adaptação às mudanças e disponibilidade de recursos
- 40 -
2.3.4 Incentivos à PME: políticas, programas de apoio e financiamentos.... - 42 -
2.3.5 As associações entre empresas e a proposta de formação de redes......
- 44 -
2.3.6 A capacidade de inovação das PME ................................................... - 47 -
2.4 Saúde e Segurança no ambiente do trabalho das Pequenas e Médias
Empresas..............................................................................................
- 49 -
2.4.1 As ações em Saúde e Segurança nas PME........................................... - 50 -
2.4.1.1 As legislação em Saúde e Segurança e a relação com as empresas de
pequeno e médio porte.........................................................................
- 52 -
2.4.2 A Ergonomia no contexto da PME ..................................................... - 59 -
2.4.2.1 As principais correntes da Ergonomia e sua relação com as PME...... - 62 -
2.4.2.2 Alternativas de ações ergonômicas voltadas às PME.......................... - 64 -
2.5 Conclusão ............................................................................................ - 66 -
3 MÉTODOS E PROCEDIMENTOS PARA OS ESTUDOS DE
CASO ..................................................................................................
- 69 -
3.1 Introdução ............................................................................................
- 69 -
3.2 Justificativa do paradigma e metodologia ........................................... - 69 -
3.3 Seleção das empresas .......................................................................... - 74 -
3.4 Coleta de dados ................................................................................... - 76 -
3.5 Conclusão ............................................................................................ - 84 -
4 RESULTADOS DA ANÁLISE .......................................................... - 86 -
4.1 Introdução ............................................................................................
- 86 -
4.2 A entrevista preliminar: primeira visita a campo ................................ - 86 -
4.2.1 Caso 1: A Pequena Empresa 1 (PE-1) .................................................
- 87 -
4.2.2 Caso 2: A Média Empresa (MDE) ...................................................... - 88 -
4.2.3 Caso 3: A Pequena Empresa 2 (PE-2) .................................................
- 90 -
4.2.4 Caso 4: A Micro Empresa (ME) ......................................................... - 92 -
4.2.5 Comentários sobre os dados da primeira entrevista ............................ - 94 -
4.3 Os aspectos físicos do local de trabalho, observados a partir da
aplicação da LVE ................................................................................
- 94 -
4.3.1 A PE-1: breve descrição do resultado da aplicação da LVE................ - 103 -
4.3.2 A MDE: breve descrição do resultado da aplicação da LVE............... - 106 -
4.4 Resultado da aplicação do questionário .............................................. - 108 -
4.4.1 Resultados da aplicação do questionário na PE-1 ............................... - 108 -
4.4.2 Resultados da aplicação do questionário na MDE .............................. - 111 -
4.4.3 Alguns contrastes evidenciados mediante aplicação do questionário.. - 113 -
4.5 Conclusão ............................................................................................ - 114 -
5 CONCLUSÕES E IMPLICAÇÕES ....................................................
- 115 -
5.1 Introdução ............................................................................................
- 115 -
5.2 Conclusões acerca das questões da pesquisa .......................................
- 118 -
5.2.1 Como são gerenciadas e conduzidas as ações em Saúde e Segurança
nas Pequenas e Médias Empresas? ......................................................
- 118 -
5.2.2 Quais as condições de Saúde e Segurança evidenciadas hoje nas
Pequenas e Médias Empresas estudadas e como a Ergonomia se
insere nestes ambientes?.......................................................................
- 123 -
5.2.2.1 Quais as dificuldades encontradas pela Ergonomia e por medidas em
SST para disseminarem-se nos ambientes de menor porte? ...............
- 126 -
5.2.3 Discussão sobre a Ergonomia ............................................................. - 131 -
5.3 Conclusões acerca do problema de pesquisa .......................................
- 134 -
5.4 Implicação para Teoria ........................................................................ - 138 -
5.5 Implicação para política e prática ........................................................
- 138 -
5.6 Pesquisas futuras ................................................................................. - 139 -
REFERÊNCIAS ................................................................................................... - 140 -
APÊNDICE A ...................................................................................................... - 149 -
APÊNDICE B ...................................................................................................... - 150 -
APÊNDICE C ...................................................................................................... - 171 -
APÊNDICE D ...................................................................................................... - 176 -
1 INTRODUÇÃO
1.1 Antecedentes da pesquisa
O grande número de doenças ocupacionais e acidentes de trabalho ocorridos
anualmente no Brasil e em outros países configura-se como motivador da discussão sobre o
tema saúde e segurança no ambiente laboral, estando cada vez mais evidente a importância do
zelo pela saúde e segurança, o que não somente traz ganhos para o trabalhador, mas também
para a empresa, que esta pode aumentar sua produtividade devido a tais ações, havendo
melhora do desempenho competitivo. Remeter a discussão ao campo da Ergonomia é
considerar e compreender fatores organizacionais e individuais ao construir ões que
objetivam a manutenção da saúde, com a prevenção de doenças ocupacionais e de acidentes
(HASLAM, 2002; MAENO et al, 2002); é buscar através da transformação do trabalho
equacionar as situações que levam à penosidade.
Hoje é reconhecida pelo meio acadêmico, por diversas instituições e por alguns
segmentos da sociedade, a importância da ergonomia sobre os processos produtivos, além, é
claro, de outras ações englobando saúde e segurança no trabalho. Não obstante, também é
reconhecida a importância das Pequenas e Médias Empresas (PME) para a economia
nacional, as quais são comprovadamente contribuintes na geração de empregos e
fornecimento de produtos para o mercado consumidor, colaborando significativamente na
geração de tecnologia, com o aumento do estoque do conhecimento nacional. As PME são,
além disso, capazes de atuar no comércio exterior e de atuar complementarmente a grandes
empreendimentos, favorecendo a geração de uma classe empresarial genuinamente nacional.
As PME possuem características próprias, diferenciando-se das Grandes
Empresas não apenas em tamanho, mas em termos estruturais e organizacionais. Ao mesmo
tempo, apresentam grande heterogeneidade entre si. Dentre as particularidades em relação às
grandes, estão a limitada base de recursos (financeiros, humanos, técnicos, tecnológicos e de
gestão), cultura organizacional singular e menor habilidade em influenciar as relações com o
ambiente externo, o qual inclui clientes, fornecedores, mercados de trabalho, agências de
promoção, fomento e financiamento (UNIÃO EUROPÉIA, 1999; citado por LEMOS, 2003,
SOARES, 1998). Dentre algumas vantagens em relação às grandes empresas, a grande
capacidade de absorção de trabalhadores a baixo custo e com menores exigências de
qualificação e a alta flexibilidade. A heterogeneidade entre as PME é identificada inclusive
em termos de capacidade inovativa, havendo diferenças quanto a questões organizacionais e
“Os trabalhadores têm direito à redução dos riscos in
erentes ao trabalho, por meio de
normas de saúde, higiene e segurança.”
Alínea XXII, artigo 7o, da Constituição Federal
16
capacidade de alavancar os negócios. (BORTOLI NETO, 1980; UNIÃO EUROPÉIA, 1999;
citado por LEMOS, 2003)
Diante da evidente heterogeneidade, é fácil presumir que as PME não são
simples miniaturas das grandes empresas, sendo que os preceitos tais como mecanismos
gerenciais e acesso a créditos –, desenvolvidos com base nas segundas, apresentam
dificuldades em atender as primeiras, possivelmente devido ao fato do ambiente não possuir
condições de atender às exigências legais ou estruturais para tanto, conforme alegam LEMOS
(2003) e CARVALHO (2004).
A questão da Saúde e Segurança no Trabalho –SST e da Ergonomia na PME
passa por um viés delicado, aonde múltiplos fatores colaboram para a dificuldade em
implementar tais ações nas mesmas, implicando em um desenvolvimento deficitário destas
ações, seja em países desenvolvidos ou em desenvolvimento (BULL et al, 2002;
CHAMPOUX & BRUN, 2001; BRADSHAW et al, 2001; JENSEN et al, 2001). São
apontados, por diversos pesquisadores, fatores tais como falta de informação e
esclarecimento sobre como conduzir as ações em SST de maneira adequada e mesmo
sobre quem deveria responsabilizar-se pelas mesmas
1
, além de ser descrita a falta de
estrutura destas empresas para apoiar a condução de programas de Ergonomia. Os
referidos problemas podem ser sustentados pela falta de abordagens adequadas e, ao colocar o
problema sob essa outra perspectiva, surge a questão da inadaptabilidade e dificuldade de
inserção e difusão de programas de saúde e segurança, incluindo ações em ergonomia,
dentro dos ambientes de menor porte, que estes programas tiveram como referencial
em sua criação a grande empresa
2
. O problema seria conseguir conduzir as ações em um
ambiente desfavorável pela escassez de recursos humanos e financeiros.
A partir da compreensão do ponto de vista dos empresários sobre a
importância das ações em SST e em ergonomia, quais dificuldades por eles percebidas na
implementação de tais ações e quais facilidades podem ser identificadas, tornou-se possível
uma discussão sobre os reais motivos da ausência e deficiência de tais programas nas
empresas, o que futuramente pode favorecer novas abordagens para inserção e disseminação
destas ações nas PME.
1
A noção de culpa da vítima coloca sob o trabalhador a responsabilidade de conduzir atos seguros e saudáveis.
Maiores detalhes sobre o tema serão expostos no capítulo 2.
2
A exemplo da dificuldade de aplicação de mecanismos gerenciais e de financiamento nas PME.
17
poucos estudos sobre as dificuldades encontradas pelas ações de saúde e
segurança principalmente dentro do escopo da Ergonomia para inserir-se nas empresas
industriais de menor porte, assegurando-se assim a relevância deste estudo.
1.2 Questões da pesquisa
DUARTE & FEITOSA (1998) colocam que entre o desejo de ver melhoras na
produtividade, na qualidade e na saúde e a aceitação das transformações que levam
necessariamente a essas melhorias, há uma distância que nem sempre a empresa almeja
verdadeiramente encurtar. Observando o problema a partir da perspectiva evidenciada no item
anterior, pode-se questionar a inadaptabilidade de certos programas de saúde e segurança,
incluindo ações em ergonomia dentro dos ambientes de menor porte. Torna-se útil explicitar
que TORRES (1998) e CARVALHO (2004) acreditam ser necessário compreender as
características específicas das PME para que ações quaisquer a serem desenvolvidas nestas
sejam direcionadas e elaboradas de acordo com suas realidades, particularidades,
necessidades e especificidades.
Sabe-se que a Norma Regulamentadora 17, do Ministério do Trabalho, faz
grande alusão à realização da Análise Ergonômica do Trabalho AET nas empresas, a fim
de investigar se as condições de trabalho estão adequadas à capacidade psicofísica dos
trabalhadores e à natureza do trabalho a ser executado. Fato concreto é que esta ferramenta,
além de dispêndio de tempo, exige um investimento financeiro que nem sempre a empresa
pode ou prioriza fazer.
Há, de fato, outras ferramentas divulgadas em nosso país que podem servir à
realização de um laudo sobre as condições de trabalho, de baixo custo para a empresa, a citar
a Lista de Verificação Ergonômica LVE –, um checklist contido no livro Pontos de
Verificação Ergonômica (ILO/IEA, 2001), o qual traz orientações muito úteis à melhora das
condições de trabalho, que privilegia vigilância às condições físicas do local e incentiva a
participação dos trabalhadores nas tomadas de decisões. Entretanto, cabe aqui considerar,
primeiramente, que a exigência de mudanças na estrutura física nem sempre será possível
devido ao pouco recurso disponível nas PME. Ainda os aspectos imateriais do trabalho não
são abordados pelos checklists, uma vez que o mesmo ocupa-se em examinar principalmente
os aspectos físicos, deixando uma lacuna no que se refere às diferentes percepções
expressadas pela subjetividade do discurso dos trabalhadores, seja quanto ao sofrimento ou
stress implícitos na atividade, sejam dados relativos à demanda cognitiva de suas atividades,
18
ou mesmo sobre as relações sociais no ambiente de trabalho. Como pode ser constatado, o
checklist, apesar de sua função positiva na melhora do local de trabalho, impede maior
completude e complexidade na avaliação dos riscos inerentes à saúde de quem trabalha. A
tempo, é importante lembrar que “os aspectos materiais não estão desconectados daqueles
imateriais”, sendo tais aspectos imateriais a “expressão material de uma estratégia produtiva
(...)” (MENEGON et al, 1998).
Considerando que muitas PME possuem recursos financeiros limitados e
precisam priorizar seus investimentos nas áreas onde há maior necessidade, uma última crítica
a ser feita versa sobre a pouca funcionalidade de desenvolver ações nas empresas de menor
porte sem antes haver análise da demanda. Tal necessidade de análise da demanda foi
identificada por ergonomistas Franceses, que desenvolveram, junto à Agence Nationale Pour
l’Amélioration dês Conditions du Travail/ ANACT, o chamado Diagnostic Court, destinado à
empresas de pequeno porte, o qual propõe-se justamente a fazer tal análise, auxiliando guiar
os investimentos em ações ergonômicas prioritárias.
Construir ações em ergonomia voltadas à PME de nosso país e justificar tal
construção exige complexa investigação envolvendo o universo das PME e a adaptabilidade e
completude das ferramentas ergonômicas hoje disponíveis e difundidas entre profissionais
que buscam a melhora das condições de trabalho. Entende-se portanto que o passo inicial para
a criação e difusão de estratégias que ampliem ões em Ergonomia nas PME consiste em
entender como hoje é vista a Ergonomia nestas empresas, a percepção de quem lida com os
cuidados em saúde e segurança sobre sua importância, necessidade e adaptabilidade, bem
como saber o que é feito hoje e os limites e obstáculos enfrentados pelas demais ações de
SST, favorecendo a elaboração de alternativas viáveis e apropriadas às particularidades destas
empresas.
Questiona-se, no presente estudo, “Quais os métodos e serviços utilizados para
tratar as questões de saúde e segurança nas pequenas e médias empresas estudadas?”, “Até
onde a Ergonomia da forma que a conhecemos e também as políticas públicas de saúde e
segurança no trabalho são adequadas às PME?”, “Até onde o ambiente colabora (ou não) para
implementação de tais ações?”, “Há falta de conscientização, de vontade ou de condições dos
líderes destas empresas em implantar tais ações?”. As questões colocadas aqui serão
desenvolvidas no capítulo 2.
19
1.3 Justificativa e relevância do estudo
A investigação justifica-se pela necessidade de compreender e discutir os
fatores relacionados às condições de saúde no ambiente de trabalho, bem como pela
necessidade de questionar a base de construção das ações em SST e da própria ergonomia,
que tiveram como referencial as grandes empresas, apesar de o trabalho estar nas pequenas.
Mediante a hipótese da baixa amplitude de ações em SST e em ergonomia em
muitas PME, bem como da dificuldade da condução destas ações, é importante identificar os
reais entraves às mesmas bem como as facilidades proporcionadas pelo meio, para então tecer
críticas aos métodos disponíveis atualmente e buscar soluções que permitam a maior inserção
dos conceitos de ergonomia nas empresas menores.
Levantar tal discussão é importante para que seja possível, aos diversos
profissionais que lidam com o trabalho, pensar em estratégias de ação em ergonomia
realmente eficazes e dentro da realidade da PME, indo além de prescrições de normas e
incentivando a busca por novas estratégias que colaborem de maneira mais ampla e completa
para a melhora das condições de trabalho.
1.4 Modelo conceitual e pesquisa de campo
Conforme disse THIOLLENT (1985): “A cientificidade supõe a racionalidade
entre meios e fins de investigação” (THIOLLENT, 1985, p.38). Uma vez exposta a finalidade
da investigação, nos itens anteriores, chega o momento de fazer algumas considerações em
relação aos meios utilizados para o desenvolvimento deste estudo.
A investigação conduzida nesta dissertação, baseada na inquirição das
características do trabalho e nas condições de saúde e segurança das empresas, caracterizou-se
como de cunho qualitativo. Tal classificação justifica-se pelo fato de que a proposta não foi
quantificar dados e sim analisar as situações e fatos observados, estabelecendo relações entre
estes e os achados teóricos, de modo a construir um debate sobre o tema proposto.
As pesquisas qualitativas medem uma qualidade, não importa o quão precisas
são as observações, havendo nestas uma predominância de categorizações e de análises mais
dissertativas ao invés de quantificações (GOODE & HATT, 1969; FORTE, 2006)
.
O estudo
apoiado na metodologia qualitativa realiza um exame intensivo dos dados, tanto em amplitude
quanto em profundidade, “através do estudo das ações sociais e grupais”, sendo as unidades
20
sociais investigadas tratadas como totalidades (MARTINS, 2004, p. 292). Os estudos
qualitativos têm como uma de suas características a flexibilidade, principalmente quanto às
técnicas de coleta de dados entrevistas, questionários, etc –, incorporando aquelas mais
adequadas à observação feita (MARTINS, 2004). Justamente por estudar processos sociais e
privilegiar-se da análise dos fatos observados, sem necessidade de manipulação matemática
dos dados, o método privilegia os estudos de caso (MARTINS, 2004), meio de estudo pelo
qual se optou.
Os estudos de caso buscam responder às questões “como?” e “por que?” e suas
derivações. As mesmas são direcionadas a um limitado número de eventos ou condições e
suas inter-relações, justificando assim seu uso em pesquisas qualitativas (YIN, 1994; SOY,
2005). YIN (1994), coloca que os pesquisadores utilizam os estudos de caso com sucesso em
investigações cuidadosamente desenvolvidas sobre situações de vida real e em diversas áreas
do saber. Entretanto, para GOODE & HATT (1969), este tipo de estudo não é propriamente
um método de pesquisa, sendo um meio de organizar dados sociais que preserva a unicidade
do objeto estudado.
3
Os estudos de caso, em sua maioria, o precedidos por observações não-
controladas do fenômeno principal (GOODE & HATT, 1969, p. 169), tendo sido descritas por
THIOLLENT (1985) as “técnicas de observação direta” e “técnicas de observação indireta”
como técnicas a serem combinadas em enquete sociológica convencional.
Técnicas de observação indireta, segundo THIOLLENT (1985), fazem uso de
análise de documentos relativos ao fato estudado. A intensa investigação da literatura
existente sobre os temas abordados na pesquisa, além de auxiliar no delineamento e melhor
direcionamento das questões da pesquisa, permite uma discussão sobre os mesmos, auxiliando
inclusive na validação científica dos estudos de caso, que provê suporte teórico aos fatos
observados (YIN, 1994).
Questionários e entrevistas são, segundo THIOLLENT (1985), os principais
recursos empregados em técnicas de observação direta, que estabelecem um contato com
pessoas implicadas no problema investigado. Recorrer a tais métodos durante a coleta de
dados opinativos ou fatuais envolve, de acordo com o autor supracitado, “um certo tipo de
sociabilidade manifestada no contato efetivo dos investigadores com as diversas populações”
(p. 52), sendo o discurso diferenciado de acordo com a população ou os sujeitos envolvidos
neste processo, o que gera críticas à subjetividade do discurso e de sua interpretação.
3
Outras considerações sobre estudo de caso e metodologia qualitativa são fornecidas no capítulo 3.
21
Apesar das críticas à subjetividade natural deste tipo de abordagem, inclusive à
possibilidade de resultados tendenciosos e manipulação do discurso pela estreita aproximação
entre pesquisador e pesquisado, MARTINS (2004) acredita que justamente tal aproximação
permite melhor compreensão do relato, sendo exigido do pesquisador uma capacidade
integrativa e analítica que, por sua vez, depende do desenvolvimento de uma capacidade
criadora e intuitiva” (p 292). Contra a visão negativa da subjetividade, torna útil grifar que
falamos de um estudo de fatos, cujo objetivo não é fazer generalizações estatísticas. No caso
do estudo presente nesta dissertação, é justamente a percepção que os líderes e os
responsáveis pela SST possuem sobre Saúde e Segurança no Trabalho e Ergonomia,
transmitida de forma subjetiva, que permitirá construir novos caminhos de condução destas
ações, futuramente. Conforme ilustra DEJOURS (2003), “toda ação, para ser racional, deve
passar pela dramaturgia adequada, em função do lugar, do tempo e do contexto cultural, social
e histórico da ação... um engajamento subjetivo, uma mobilização” (DEJOURS, 2003, p. 68).
1.5 A estrutura do trabalho
O trabalho é composto por cinco capítulos, partindo deste primeiro capítulo
introdutório.
Encontrar-se-á, no segundo capítulo, o embasamento teórico necessário ao
seguimento da discussão. Introduzindo o capítulo, tem-se a discussão acerca do adoecimento
resultante da atividade de trabalho, tendo destaque nesta discussão as LER/DORT e os
acidentes de trabalho. Adiante, aparecem os achados na literatura sobre as características das
pequenas e médias empresas tais como capacidade de geração de renda e emprego, estrutura
organizacional, importância social e principais dificuldades enfrentadas. Subseqüentemente,
surge o referencial teórico sobre a a saúde e segurança nas pequenas e médias empresas,
sendo feita, mais adiante, uma revisão sobre a ergonomia, suas escolas e abordagens, seu
potencial de inserção nas PME, proporcionando um elo entre os temas PME, SST e
Ergonomia. Cessada a revisão da literatura, inicia-se a discussão acerca do estudo realizado.
Nos capítulos seguintes são apresentadas referências à pesquisa, tais como
métodos utilizados, resultados e discussão dos achados. No terceiro capítulo é apresentada a
metodologia adotada no presente estudo, havendo descrição detalhada dos métodos
científicos, bem como da maneira como os dados foram coletados. O quarto capítulo traz em
detalhe os resultados obtidos mediante a coleta dos dados, incluindo informações sobre as
entrevistas e questionários aplicados nas Empresas em ambas as fases do estudo pré e pós-
22
qualificação deste trabalho. No quinto capítulo é feita a respectiva discussão dos achados e do
patamar conhecido hoje referente às condições de saúde e segurança nas empresas menores.
Surgem, ainda neste quinto capítulo, as considerações finais.
1.6 Delimitação do escopo e pressupostos chave
Buscando respostas para as questões propostas no item 1.2, escolheu-se
inicialmente como foco de estudo quatro empresas do setor industrial da região do Vale do
Paraíba, em São José dos Campos-SP.
São José dos Campos é uma cidade de grande produção industrial,
participando com 5,9% da produção industrial nacional; é, de acordo com o Serviço Brasileiro
de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (SEBRAE, 2006), um dos centros industriais e de
serviços mais importantes do interior paulista. Possui diversos estabelecimentos de
importância para a economia do país, tais como Embraer, Avibras, General Motors, Eaton,
Ericsson, Panasonic, Monsanto, Johnson & Johnson, Petrobrás, Gerdau, entre outras.
Somando todas as empresas da cidade, obtém-se um número superior a 700. (UNIVAP, 2005;
PREFEITURA DE SÃO JOSÉ DOS CAMPOS, 2005)
Na referida cidade existe um bairro característico pelo grande número de
empresas bairro Chácaras Reunidas –, sendo neste o número de micro, pequenas e médias
empresas superior a 200
4
. A maioria destas empresas está no setor industrial, não tendo sido
encontrado nas fontes de pesquisa números exatos de empresas por tamanho e segmento ao
mesmo tempo. Sabe-se apenas que o 133 empresas no setor industrial, 27 no setor de
comércio e 69 no setor de serviço. Dentre o total, 65 são pequenas empresas, 161 são médias
e 3 são grandes empresas (ASSECRE, 2004). As empresas pertencentes ao Distrito
Empresarial das Chácaras Reunidas são, em sua maioria, terceirizadas de grandes indústrias
locais (SEBRAE, 2006).
Colaboraram para a aquisição dos dados, mediante observação direta, quatro
empresas do bairro acima referido. A finalidade primeira da investigação foi averiguar se o
trabalho obedecia a padrões mínimos de segurança e manutenção da saúde, se havia respeito
às normas vigentes em ergonomia e quais os meios utilizados pelas empresas para equacionar
tais questões. Em um segundo momento, o foco da pesquisa foi identificar a compatibilidade
4
Como muitas empresas que abrem e fecham anualmente, fica difícil controlar, exatamente, quantas
empresas existem no vale. O valor foi estimado a partir dos dados fornecidos pela ASSECRE (2004) e pela
UniVap (2005).
23
entre os preceitos da ergonomia e as peculiaridades das PME, bem como a capacidade destas
empresas em assumir ações voltadas à saúde e segurança de seus empregados.
1.7 Conclusão
Este capítulo estabeleceu os fundamentos para a documentação da dissertação.
Aqui foram introduzidas as questões referentes à pesquisa e as justificativas, bem como as
delimitações do estudo. A estrutura do trabalho, bem como da metodologia aplicada, foram
brevemente descritas aqui. Posterior à fundamentação trazida pelo presente capítulo,
prossegue a dissertação e o detalhamento da pesquisa.
2 REFERENCIAL CONCEITUAL PARA O ESTUDO DA SAÚDE, SEGURANÇA E
ERGONOMIA NA PEQUENA E MÉDIA EMPRESA
2.1 Introdução
Para entender as relações de saúde e segurança nas Pequenas e Médias
Empresas – PME –, bem como a disseminação das ações de Saúde e Segurança no Trabalho –
SST nestas, torna-se essencial entender primeiramente a estreita relação que a saúde
mantém com o trabalho, já que o mesmo, quando não considera as questões humanas, pode
ser o causador ou agravante de patologias. Alguns dos fatores contribuintes para o
adoecimento, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS) são: ruído, temperatura,
mobiliários, iluminação não adequada, bem como deficiências dos fatores ambientais como
falta de atividade muscular, falta de comunicação com outras pessoas, monotonia do trabalho
e ausência de desafios intelectuais (MIYAMOTO et al, 1999).
A Organização Internacional do Trabalho OIT –, chama atenção à prevenção
de 250 milhões de acidentes e 160 milhões de doenças ocupacionais anuais mundiais. A
prevenção de acidentes ocupacionais, doenças ocupacionais e sobrecarga no trabalho,
segundo a OIT, ainda é uma prioridade global da saúde e segurança ocupacional, sendo que a
implementação de qualquer estratégia para saúde ocupacional requer infra-estruturas em bom
funcionamento, integradas, incluindo apoio multidisciplinar para as empresas, gerentes e
trabalhadores. (ILO, 1999)
No Brasil, em 2003, os gastos da Previdência Social com pagamento de
benefícios acidentários e aposentadoria especial (concedida em face de exposição a agentes
prejudiciais à saúde ou à integridade física, com redução no tempo de contribuição)
totalizaram cerca de 8,2 bilhões de reais. Entretanto, os valores são estimados e se referem
apenas ao setor formal de trabalho. (FUNDACENTRO
6
, 2004)
Segundo PASTORE (1998, citado por FUNDACENTRO, 2004), para cada
real gasto com o pagamento de benefícios previdenciários a sociedade paga quatro reais,
incluindo gastos com saúde, horas de trabalho perdidas, reabilitação profissional, custos
administrativos, etc. Esse cálculo eleva-se a um custo total para o país de aproximadamente
33 bilhões de reais por ano. O ônus para a empresa em particular caracteriza-se, além dos
gastos supra-citados, pela diminuição da produtividade. Portanto, investir em prevenção de
6
Fundação Jorge Duprat Figueiredo de Medicina e Segurança do Trabalho
25
doenças relacionadas ao trabalho, bem como em medidas de segurança, sanariam o déficit
sofrido ano a ano pela previdência social, trazendo benefícios também para a sociedade e
empresas.
Na relação entre saúde e trabalho, é muito comum a crença de que o
trabalhador é responsável por seus atos, bem como por manter sua saúde e bem-estar, sendo
comum que certas agressões à saúde sejam atribuídas a uma “fraqueza pessoal”, sem
considerar a relação das mesmas com a situação de trabalho (GUÉRIN et al, 2001). A
exemplo disso, as causas do acidente de trabalho, dentro de algumas concepções, são
atribuídas às ações do trabalhador. Tal concepção de causalidade de acidentes é vigente no
país entre empregadores e nos meios acadêmicos mais conservadores, segundo VILELA et al
(2004).
Acontece que a conduta não é somente a parte observável de um ato, mas
também sua parte não-visível, ou seja, os impulsos e pensamentos que acompanham,
precedem e seguem um comportamento, baseado no que é dado pela prescrição da tarefa,
relacionados com os níveis de stress, gerenciamento, comando e gestão sob os quais o
trabalhador se encontra (DEJOURS, 2003). Na década de 60 do século passado, alguns
trabalhos, em particular os de Faverge (citado por NEBOIT, 2002), consideraram o acidente
não mais um fenômeno isolado, e sim um sintoma de disfuncionamento do sistema, a
investigação se estendendo ao funcionamento do último (NEBOIT, 2002). A interação entre
as necessidades da organização e do ator envolvido no processo de produção torna possível
construir a saúde no trabalho, o que reforça a argumentação a respeito da necessidade de
direcionar ações preventivas não voltadas à orientação, mas também procedimentos
voltados à equação de todos os fatores desencadeantes da doença, citados acima, através de
ações de transformação das condições de trabalho. Dentro do escopo das medidas focadas no
ambiente, temos a ergonomia que, a partir da atuação sobre os aspectos físicos, cognitivos e
organizacionais da atividade, traz novas perspectivas de saúde, propiciadas pelo ambiente,
que reduzir o adoecimento e o sofrimento a partir da reorganização dos aspectos materiais
e imateriais do trabalho. Dentro do escopo da ergonomia, aquela abordagem que discute a
saúde de maneira simplista, como se tratasse apenas do respeito ou desrespeito do trabalhador
frente às normas de higiene e segurança, não encontra respaldo (SZNELWAR, 1989). Logo, o
conhecimento e a percepção dos trabalhadores sobre sua fadiga e estado de saúde,
relacionados, em certos casos, às características da situação do trabalho, são respeitados
(SZNELWAR, 1989; GUÉRIN et al, 2001).
26
O tratamento à saúde e à Ergonomia especificamente nas PME é discutido
neste capítulo, posterior à discussão sobre o ambiente das PME, o qual engloba aspectos tais
com a heterogeneidade entre elas e as principais diferenças em relação às grandes, em termos
de estrutura organizacional, processos e recursos; conhecer as condições de trabalho nestas
empresas implica em entender o meio aonde estão inseridas tais ões. Conclui-se o presente
capítulo com um detalhamento sobre o tratamento da saúde e segurança no ambiente das
pequenas e médias empresas, especificamente no que se refere à Ergonomia nestas.
2.2 Conhecendo a Pequena e Média Empresa
A importância das pequenas e médias empresas para a economia nacional não
deve ser desprezada. Se outrora foram consideradas instituições com pouca chance de
sobrevivência, hoje são consideradas elementos essenciais ao processo de produção, seja
formando organizações verticais com as grandes empresas a partir do processo de
terceirização dos serviços, o qual é economicamente interessante para ambos os lados, seja
formando redes com outras empresas de mesmo porte ou mesmo produzindo diretamente ao
mercado consumidor. Também é importante destacar que tais empresas são responsáveis pela
maior parte dos empregos no país, tendo portanto, além do importante papel econômico, um
papel social fundamental.
Em várias partes do mundo encontram-se referências à grande quantidade de
pequenas e médias empresas em relação ao total de empresas existentes em um país. Diante
da significância das mesmas para a geração de empregos e crescimento da economia, elas são
apontadas como uma resposta à crise econômica (VALLE, 1994, citado por RODRIGUES,
2000). Exemplos da grande quantidade de estabelecimentos são encontrados nos trabalhos de
GHOBADIAN & GALLEAR (1996), que falam sobre sua presença no ambiente europeu
mais precisamente no Reino Unido – e no Japão, bem como no trabalho de JUNG (1999), que
relata o número de pequenas empresas e empregos gerados na Coréia. De maneira geral, o
número de pequenos estabelecimentos em ambos os países citados superam a marca de 80% e
o percentual de empregados está entre 40% (Coréia) e 92% (Reino Unido).
No Brasil, a situação não é diferente. grande mero de estabelecimentos
de micro, pequeno e médio porte e, graças ao seu potencial de geração de renda e emprego,
estas empresas vêm colaborando nos últimos anos para o crescimento da economia brasileira
(LA ROVERE, 2001).
27
As empresas de pequeno porte são responsáveis, de acordo com RODRIGUES
(2000), por quase 60% das ocupações no país. LA ROVERE (2001) diz que em 1997, 66% do
emprego do país estava localizado em estabelecimentos com até 500 empregados, sendo 6%
destes localizados em estabelecimentos de até 100 empregados. Tal fato pode ser motivado,
de acordo com VILLELA & AMADEO (1994), pelo custo para geração de postos de trabalho
ser bastante inferior ao das grandes empresas, o que abre grandes perspectivas para políticas
oficiais de geração de empregos, principalmente em momentos recessivos.
Quanto ao número de estabelecimentos existentes no país, temos como fonte a
tabela fornecida pelo Relatório Anual de Informações Sociais – RAIS –, publicado pelo
Ministério do Trabalho e Emprego, relativo ao ano de 2002. Torna-se evidente o grande
número de micro, pequenas e médias empresas, as quais isoladamente ou somadas superam
em muito o número de grandes empresas.
Tabela 2.1 - Número de empresas de acordo com o número de empregados (Fonte: RAIS. Disponível em:
www.mte.gov.br. Acesso: 09/2005)
7
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É importante salientar que, apesar do grande número de estabelecimentos e de
sua importância econômica, uma alta taxa de mortalidade e natalidade destas empresas:
ROMERO (1999) diz que apenas 30% sobrevivem por mais de cinco anos, sendo um dos
principais motivos o pouco capital de giro disponível versus a necessidade de investir em
melhorias e em novas tecnologias para garantir a competitividade.
A consideração feita no século XX de que as pequenas e médias empresas
eram estruturas com pouca capacidade de sobrevivência, tendendo a desaparecer com a
modernização da economia, fez perseguir, em países menos desenvolvidos, uma estratégia de
industrialização acelerada no século passado, colocando recursos substanciais na promoção de
grandes empresas, consideradas como fundamentais para o progresso econômico (LEMOS,
2003). Hoje, percebe-se claramente que, mesmo havendo risco de morte, o peso das
atividades de pequeno porte na geração de ocupação e renda é uma realidade e, muito
presumivelmente, uma tendência irreversível (RODRIGUES, 2000). LA ROVERE (2001)
7
Não distingue-se, neste quadro, empresas industriais, comerciais ou de serviços.
28
também acredita que, mesmo diante das dificuldades em sobreviver, é evidente a importância
das Micro, Pequenas e Médias Empresas (MPME).
Segundo reportagem de TORRÉS (2006), publicada pela Agência Sebrae de
Notícias, o Brasil é o sétimo país em número de novos empreendedores, apesar da burocracia,
da dificuldade de crédito e da falta de orientação; treze milhões de brasileiros vivem hoje dos
próprios negócios, sendo que sete milhões viram patrões de si mesmos por vocação e outros
seis milhões tornam-se empresários por pura necessidade econômica. A matéria diz também
que os pequenos negócios estão durando mais: hoje, dentre os que resistem à mortalidade,
cerca de sessenta por cento sobrevive entre 10 e 15 anos. Há, no entanto, a falta de orientação
e de conhecimento por parte dos pequenos empreendedores como agente limitador do
aumento de tal índice. (TORRÉS, 2006, disponível em: www. asn.interjornal.com.br. Acesso:
05/2006)
2.2.1 Critérios de classificação
Antes de continuar a discussão a respeito de Pequenas e Médias Empresas é
fundamental entender quais os critérios de classificação comumente empregados.
Sobre os critérios de classificação, PINHEIRO (1996) diz que podem ser
qualitativos, quantitativos, ou a combinação de ambos, a saber:
Os critérios quantitativos são os econômicos e os contábeis, considerando
assim número de empregados, faturamento, patrimônio líquido, etc.
Os critérios qualitativos observam as empresas de um ponto de vista mais
íntimo e real, sendo mais difíceis de mensurar, destacando-se a estrutura
organizacional e administrativa, a especialização de pessoal, as facilidades e
dificuldades na obtenção de financiamentos, as condições de participação e domínio
do mercado em termos de concorrência, produtos comercializados, aquisição de
insumos e matérias-primas, o nível tecnológico e a independência de grupos de
empresas.
O critério misto combina indicadores econômicos com características políticas
e sociais, parecendo ser o mais adequado, a partir do momento em que considera as
peculiaridades da atividade exercida e a estrutura econômica do país ou região.
(PINHEIRO, 1996)
que se entender que a diversidade de tamanho ou das condições
econômicas produtivas bem como o estágio de desenvolvimento e nicho de produto/ mercado
29
dificulta a homogeneização das pequenas empresas, resultando em diferentes categorizações
(RODRIGUES, 2000), sendo expostas, nos parágrafos seguintes, as diferentes formas de
classificação.
De acordo com o setor econômico das suas atividades, as empresas são
classificadas em Industriais, Comerciais e Prestadoras de Serviços, a saber:
A. Empresas Industriais: transformam matérias-primas em mercadorias, através
de máquinas e equipamentos. Seus produtos podem ser utilizados para o consumo
direto ou para fabricar utensílios necessários para outras empresas, ou ainda para
produzir outras matérias-primas. Pertencem a esta classificação as empresas industriais
de madeira, confecção, metalúrgica, produtos alimentícios, calçados e outras.
B. Empresas Comerciais: desenvolvem a atividade de comércio, compra e venda
de mercadorias. Podem ser:
• Comércio Varejista - as vendas são feitas diretamente ao consumidor
• Comércio Atacadista - Compra diretamente do fabricante para vender aos varejistas
C. Empresas Prestadoras de Serviços: oferecem o próprio trabalho ao consumidor.
(Fonte: www.fiesp.com.br. Acesso: 05/2006)
Em relação ao porte das empresas, as mesmas podem ser classificadas em
Micro, Pequenas, Médias ou Grandes. Diversas entidades tais como o Banco Nacional de
Desenvolvimento Econômico e Social/ BNDES, Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e
Pequenas Empresas/ Sebrae, Governos Federal, Estadual e Municipal, utilizam diferentes
referências baseadas no número de funcionários e/ ou na receita anual (líquida ou bruta) para
classificá-las por porte.
O BNDES classifica as empresas baseando-se na receita operacional bruta,
sendo tal classificação aplicável à indústria, comércio e serviços. Editada na Carta Circular
64/02, de 14 de outubro de 2002, tal classificação visa enquadrar as empresas nas condições
de financiamento, a saber:
Microempresas: receita operacional bruta anual ou anualizada até R$ 1.200 mil
(um milhão e duzentos mil reais).
Pequenas Empresas: receita operacional bruta anual ou anualizada superior a
R$ 1.200 mil (um milhão e duzentos mil reais) e inferior ou igual a R$ 10.500 mil (dez
milhões e quinhentos mil reais).
30
Médias Empresas: receita operacional bruta anual ou anualizada superior a R$
10.500 mil (dez milhões e quinhentos mil reais) e inferior ou igual a R$ 60 milhões
(sessenta milhões de reais).
Grandes Empresas: receita operacional bruta anual ou anualizada superior a R$
60 milhões (sessenta milhões de reais).
Quando a empresa for controlada por outra empresa ou pertencer a um grupo econômico
8
, a
classificação do porte se dará considerando a receita operacional bruta consolidada. (Fonte:
www.bndes.gov.br. Acesso: 05/2006)
Em nível Federal, as empresas de pequeno porte podem ser classificadas do
seguinte modo:
I. Microempresa, a pessoa jurídica e a firma mercantil individual que tiver receita
bruta anual igual ou inferior a R$ 244.000,00 (duzentos e quarenta e quatro mil reais);
II. Empresa de pequeno porte, a pessoa jurídica e a firma mercantil individual
que, não enquadrada como microempresa, tiver receita bruta anual superior a R$
244.000,00 (duzentos e quarenta e quatro mil reais) e igual ou inferior a R$
1.200.000,00 (um milhão e duzentos mil reais). (Fonte:www.fiesp.com.br. Acesso:
05/2006)
Considerando a defasagem dos valores relativos à classificação por receita
bruta anual, a “Lei Geral das Micro e Pequenas Empresas”, editada pela Confederação
Nacional da Indústria –CNI– e tendo o apoio técnico do Sebrae, diz que os tais valores devem
ser corrigidos da seguinte forma:
Microempresa – a empresa com receita bruta anual igual ou inferior a R$ 480.000,00.
Empresa de pequeno porte a empresa com receita bruta anual superior a R$
480.000,00 e igual ou inferior a R$ 3.600.000,00. (Fonte: www.cni.org.br. Acesso:
abril, 2006)
Defensores da corrente “Empresa Menor”, a qual considera critérios
qualitativos de classificação das empresas, concordam que não se poderia falar de empresas
8
Grupo Econômico:
1. o grupo de empresas privadas que estejam, direta ou indiretamente, sob o mesmo controle acionário;
2. o grupo de empresas e entidades estatais, de âmbito estadual ou municipal, que estejam,
respectivamente, vinculadas direta ou indiretamente a um mesmo Estado ou a um mesmo Município; ou
3. o grupo de empresas estatais de âmbito federal que esteja, direta ou indiretamente, sob o controle de
uma mesma empresa estatal federal. (Fonte: BNDES, 2006)
31
pequenas, médias ou grandes sem considerar o setor ou indústria onde está inserida
(SCHMIDT, 1985). Seguindo tal consideração, o Sebrae adota, ao classificar as empresas por
número de empregados, critérios distintos para indústrias e empresas de comércio ou serviços.
A seguir é exposta uma tabela do Sebrae, que traz a classificação das empresas em micro,
pequena, média ou grande, segundo o número de funcionários e de acordo com a receita
anual. A receita bruta anual, descrita na tabela abaixo, apresenta defasagem de valores,
mesmo tendo sido publicada em edição de 2005 da Coletânea estatística da Micro e Pequena
Empresa.
9
Tabela 2.2 - Dados do IBGE com a classificação das microempresas, pequenas empresas e médias empresas.
(Fonte: Coletânea Estatística da Micro e Pequena Empresa. SEBRAE, 2005)
Dados do IBGE “Estrutura Produtiva Empresarial – 1994” Relativos à
participação das MPE
10
, segundo o critério de classificação de porte
Obs: Os dados apresentados neste conjunto foram gerados a partir de dados do Censo Cadastro do
IBGE “Estrutura Produtiva Empresarial – 1994”, censitários do IBGE. O conceito de porte baseado
em receita bruta anual é estabelecido pela Lei 9.317, de 5/12/96
Categoria Baseado em número de
empregados
Baseado na receita anual
ME
(Microempre
sa)
Na indústria a19 empregados e
no comércio/ serviço até 09
empregados
Empresas industriais,
comerciais e de serviços com
receita bruta anual de até R$
120.000,00
PE (Pequena
Empresa)
Na indústria de 20 a 99
empregados e no comércio/
serviço de 10 a 49 empregados
Empresas industriais,
comerciais e de serviços com
receita bruta anual acima de R$
120.000,00 até R$ 720.000,00
MDE (Média
Empresa)
Na indústria de 100 a 499 e no
comércio/ serviço de 50 a 99
empregados
GE (Grande
Empresa)
Na indústria acima de 499
empregados e no comércio/
serviço mais de 99 empregados
Empresas industriais,
comerciais e de serviços com
receita bruta anual acima de R$
720.000,00
Evidencia-se que os distintos critérios expostos pelo órgão em questão
permitem que uma empresa classificada pequena pelo número de funcionários tenha uma
receita bruta anual que a torne digna de ser classificada como média, bem como permite que
9
Espera-se que o mesmo seja corrigido de acordo com a determinação da “Lei Geral das Micro e Pequenas
Empresas”, aprovada em novembro de 2006.
10
Micro e Pequenas Empresas
32
uma empresa do setor de serviços possa ser classificada média tendo o mesmo número de
funcionários de uma pequena empresa do setor industrial.
11
Diante da variedade de classificação entre os diversos países ou de acordo com
o setor da economia onde estão inseridas, dificuldade em os pesquisadores, para efeito de
estudos, classificar as empresas (RODRIGUES, 2000). Nos subitens seguintes, são
explicitadas outras características e formas de classificar as PME, que levam a perceber
claramente a heterogeneidade entre tais empresas e mesmo as diferenças estruturais em
relação às grandes.
2.2.2 Motivos que levam a empresa a se manter pequena
Analisando a diversidade de motivos que levam a empresa a se manter
pequena, SCHMIDT (1985) distingue dois grupos de PME, as que o são por opção e aquelas
que o são por limitação. Quando por opção, razões administrativas ou interesses familiares
podem levá-la a manter-se do mesmo tamanho. No primeiro caso, o empresário deseja manter
o controle da mesma, o que não seria possível se novas filiais fossem abertas, ou então o
empregador aprecia a relação direta com seus empregados e clientes. No segundo caso, a
família proprietária pode, quando a empresa alcança um porte satisfatório, optar por investir o
capital em outros negócios, sejam eles imóveis ou outras pequenas empresas, as quais serão
distribuídas aos membros daquela família. (SCHMIDT, 1985)
Quanto à limitação ao crescimento, restrições ambientais ou internas
colaboram para manter o tamanho destas, sendo a limitação relacionada ao mercado, à
indústria ou mesmo à própria empresa. Sobre as limitações de mercado, o pequeno tamanho
deste atua como limitador à expansão dos negócios. A alta segmentação do mercado também
colabora para a existência de diversas pequenas empresas que provêm o mercado com uma
grande variedade de produtos (embora hoje muitas grandes corporações optem por aglomerar
diversas unidades de negócios e fornecer bens de marcas diferentes e para diferentes
segmentos do mercado
12
). A pequena empresa também pode primar pela fabricação de um
produto altamente diferenciado, o que faz com que os bens sejam fabricados em menor escala
11
As classificações oriundas do BNDES e do Governo Federal para porte, bem como a classificação exposta
pelo Sebrae por receita bruta anual, não serão consideradas para a seleção das empresas pertencentes os estudos
de caso deste trabalho, sendo adotada, para fins de padronização, a classificação por número de empregados
exposta pelo Sebrae.
12
Um exemplo é a Unilever, que detém diversas marcas de detergentes e outros produtos de limpeza, além de
fabricar desde produtos de higiene até produtos de gênero alimentício
.
33
e vendidos a um preço maior. Quanto às limitações de indústria, uma indústria fragmentada
ou setores de atividade totalmente novos, com mercado consumidor ainda pequeno, podem
ser condicionantes do não-crescimento. Finalmente, as limitações da empresa, quando se trata
de uma empresa nova, ainda sem potencial de crescimento ou a ausência de recursos para
crescer, o que é o caso clássico da maioria das pequenas e médias empresas, limita o
crescimento. (SCHMIDT, 1985)
Diante de tal exposição, é fato de que nem todas as empresas menores estão
fadadas à escassez de recursos como agente limitador. Há, por conseguinte, uma quebra do
estereótipo, conforme SCHMIDT (1985) conclui. Porém, mesmo não sendo questão unânime
em todas as PME, a questão da falta de recursos ainda é grande limitador de ações em muitas
delas, como será visto ao longo deste capítulo.
2.3 A estrutura das Pequenas e Médias Empresas
Colocando a questão da diferenciação entre pequenas e grandes empresas,
SCHMIDT (1985), diz que as diferenças colocam-se muito mais qualitativamente; as
primeiras não seriam simples miniaturas das segundas. RATTNER (1982) distingue as
características estruturais das pequenas e grandes empresas dentro da lógica qualitativa. Tal
diferenciação pode ser visualizada na tabela seguinte:
Tabela 2.3 – Diferença entre grandes e pequenas unidades de negócio (Adaptado de SCHMIDT, 1985)
GRANDES UNIDADES PEQUENAS UNIDADES
Diferenças acentuadas entre o trabalho
de execução (direto) e de direção
(planejamento, coordenação, etc.)
Pouca ou nenhuma divisão social e
técnica do trabalho
Hierarquização das funções com
predomínio de padrões organizacionais
burocráticos
Impossível de crescer e expandir-se, sem
uma divisão de trabalho mais
aprofundada
Sistema complexo de máquinas,
processos e equipamentos
Ausência de um sistema de máquinas e
equipamentos
Cooperação baseada em tarefas ligadas e
interdependentes
Cooperação simples
Assimilação e incorporação rápida de
inovações tecnológicas
Pouca ou nenhuma incorporação do
“processo técnico”
34
Utilizar tal classificação pode ser perigoso, uma vez que coloca as empresas
menores como que fadadas à precariedade. De fato, a maioria apresenta baixa complexidade
tecnológica, recrutando intensivamente pessoal pouco qualificado, com baixos índices
salariais e atuação em mercados tradicionais como confecções, calçados, vestuários e
alimentos (LEMOS, 2003), mas este não é o destino inexorável de todas as Pequenas e
Médias Empresas; algumas possuem alto poder inovador e acesso a tecnologias, como pode
ser observado no trabalho de LA ROVERE (2001) e também no de FERNANDES et al
(2004) os quais serão citados mais adiante –, contrariando algumas das colocações ou
generalizações da tabela acima referentes às PME.
As diferenças estruturais entre as grandes e pequenas empresas o além do
mostrado no quadro acima e relacionam-se, conforme cita GHOBARDIAN & GALLEAR
(1996), a procedimentos políticos e à utilização de recursos, não representando
necessariamente desvantagens da pequena empresa em relação à grande. As PME podem
apresentar características diferenciadas das grandes empresas, tais como maior
especialização
13
, flexibilidade, economias de escopo
14
, cooperação inter-firmas e estruturas
menos hierárquicas (LEMOS, 2003, p. 14). Também diferenças quanto ao alcance das
atividades, conhecimento e quadro de empregados (CARDOSO, 1998).
Citando algumas características positivas das PME em relação às grandes
organizações, pode-se dizer que:
São mais ágeis, mais enxutas em sua estrutura do que as grandes organizações, sendo
por isso mesmo mais flexíveis e adaptáveis rapidamente a novas situações ambientais
e de mercado, inclusive por estarem mais próximas da clientela;
Pelo fato de serem gerenciadas pelos proprietários e por seus familiares, ou por
pessoas a eles muito ligadas, podem ser influenciadas e motivadas, em muitos casos,
pelos desejos e ambições e pela personalidade marcante destes dirigentes.
Sua menor dimensão e maior proximidade do público interno facilitam sobremaneira a
comunicação que, na maioria dos casos, é feita diretamente, sem procedimentos
complicados e, conseqüentemente, diminuindo os riscos de distorções.
Tendem para a formação de seus próprios quadros de recursos humanos,
transformando-se em campo de treinamento de pessoas, particularmente de
13
A menor variedade de bens fabricados favorece especializar-se na produção dos mesmos.
14
Considera-se que existem economias de escopo em um processo produtivo quando o custo total de uma firma
em produzir conjuntamente, pelo menos dois produtos/ serviços, é menor do que o custo de duas ou mais firmas
produzirem separadamente estes mesmos produtos/ serviços, a preços dados de insumos. (CRUZ et al, 2004)
35
especialistas, com grande expansão de criatividade dos indivíduos devido às
oportunidades que comumente oferecem.
Estão geralmente voltadas para seus produtos principais, podendo com mais facilidade
concentrar total atenção à qualidade e aos custos dos mesmos em razão,
especialmente, da produção em menor escala. (PINHEIRO, 1996, p. 05)
A burocracia nas grandes organizações exige altos níveis de especialização,
padronização e formalização, ao passo que nas pequenas empresas, a forma orgânica de
organização torna os processos nada padronizados e as relações informais (GHOBARDIAN
& GALLEAR, 1996). A cultura de fábrica
15
das PME, apesar de muito informal e perceptiva,
dita quais as atividades e comportamentos devem ser estabelecidos para atingir resultados
satisfatórios, sendo as avaliações, recompensas e relatórios de procedimentos mais simples,
ficando mais fácil estabelecer uma relação entre comportamentos e recompensas
(CARDOSO, 1998).
A desburocratização em si pode apresentar-se vantajosa, eliminando várias
exigências desnecessárias que dificultam e lentificam o processo de aquisição de bens e
serviços, de implantação de melhorias no ambiente ou mesmo o processo produtivo. Logo, os
processos de licitação e a produção podem ser mais rápidos e simples do que nas grandes
empresas. Há, no entanto, críticas à falta de formalização nas PME, feitas por CARDOSO
(1998). O autor diz que os empresários, temendo a burocracia excessiva, não formalizam e
não padronizam os procedimentos. O o-estabelecimento de mecanismos claros de
comunicação interna para a transmissão de informações básicas traz como conseqüência
muitas atividades inadequadamente realizadas, ou seja, que não ocorrem na quantidade, na
qualidade e tempos corretos. Portanto, seria fundamental durante o projeto, principalmente na
fase de análise dos processos, o estabelecimento do mínimo de formalização necessário para
evitar erros básicos de operação do sistema produtivo.
Na opinião de CARVALHO (2004), o grau de formalização na pequena
empresa não precisa ser igual ao da corporação, que tende a uma grande estruturação em seus
processos administrativos; no entanto, a empresa de pequeno porte não pode ter a pouca
formalização do negócio pessoal. A autora sugere, então, um grau de formalização
“adequado” ao tamanho da empresa.
15
A cultura de fábrica pode ser definida como as tradições e valores da fábrica, tais como símbolos, linguagem,
comportamento, códigos de vestimentas, atitudes, valores e crenças (adaptado de HAUGH & McKEE, 2004).
36
2.3.1 O gerenciamento nas PME
Colocando em foco o gerenciamento das PME, é esperado que, diante do
tamanho reduzido das empresas menores e das peculiaridades deste ambiente, o quadro
administrativo diferencie-se muito do encontrado nas grandes corporações (PINHEIRO,
1996), havendo uma certa proporcionalidade entre os tamanhos do quadro administrativo e da
firma.
As PME conseguem operar com um único gerente localizado em um ponto
estratégico. Apesar dos níveis hierárquicos variarem de empresa para empresa, nas pequenas e
médias podem resumir-se a 5: Diretoria, Gerência, Chefes de Departamento (pessoal de nível
superior), Supervisores (pessoal de nível técnico ou especializado promovido), Operários. Na
pequena empresa, os níveis podem se limitar a três ou quatro, estando Diretoria e Gerência em
fusão, assim como Chefes de Departamento e Supervisores; em alguns casos a estrutura
encontra-se reduzida a dois níveis (SOARES, 1998):
Figura 2.1 - Níveis hierárquicos presentes na PME. Os círculos pontilhados indicam uma possível fusão,
reduzindo para 3 ou 4 os níveis da estrutura. As chaves indicam possível fusão das quatro funções, estando a
estrutura reduzida neste caso a dois níveis.
Uma das desvantagens deste modelo gerencial versa em torno da alta
fragilidade estrutural, referente ao rudimentar vel administrativo das empresas de menor
porte, não havendo uma estrutura organizacional que delimite claramente os papéis e os níveis
de responsabilidade de seus ocupantes (PINHEIRO, 1996).
Quanto à comunicabilidade entre gerência e funcionários dentro deste modelo,
as idéias são controversas: ao mesmo tempo em que se acredita que a falta de hierarquias
prejudica a comunicação entre os diferentes níveis hierárquicos devido à centralização do
poder (CARDOSO, 1998), a falta de hierarquias e as relações informais podem permitir um
GERÊNCIA
CHEFES DE
DEPARTAMENTO
SUPERVISORES
OPERÁRIOS
DIRETORIA
37
maior conhecimento por parte dos gerentes sobre os reais problemas enfrentados por aquela
empresa (GHOBARDIAN & GALLEAR, 1996). Na opinião de GHOBARDIAN &
GALLEAR (1996), as diversas hierarquias nas grandes organizações – resultado da divisão de
funções e de trabalho resultam em autoritarismo, uma vez que existem muitos
intermediários entre a gerência e os trabalhadores, o que impede a compreensão, por parte da
gerência, das questões operacionais, necessidades dos consumidores e controle da qualidade,
a menos que esses diretores decidam observar e experimentar a situação mais de perto. a
estrutura flexível nas PME e o menor número de interfaces departamentais podem resultar em
um ambiente de trabalho mais flexível, dando à gerência oportunidade de construir uma
relação mais forte com os empregados e conhecer melhor os problemas daquele ambiente, ao
mesmo tempo em que aumenta o potencial de conflito interpessoal (GHOBARDIAN &
GALLEAR, 1996).
Considerando os riscos aos quais estariam submetidos caso entrassem em
conflito com a gerência perseguição, desemprego –, muitos funcionários evitam confrontar
seus chefes, sendo que a ausência de um sindicato ou de um representante, que funciona como
escudo protetor, os intimida no momento em que desejam reivindicar algo. Além disso, a falta
de um maior quadro de funcionários na parte administrativa favorece a centralização do
poder, podendo haver pouca participação dos trabalhadores nas tomadas de decisão
(CARDOSO, 1998), centralização esta de certa forma inevitável quando não com quem
dividir a responsabilidade sobre as decisões pertinentes à administração.
Indo mais além na questão da comunicabilidade, esta pode estar relacionada
não simplesmente à questão dos poucos níveis hierárquicos, mas também ao modelo gerencial
assumido nas PME o qual, de acordo com estudo de BIQUAND et al (2001), pode ser um
modelo ou paternalista ou administrativo
16
. Segundo o autor, um modelo paternalista
caracteriza-se por favorecer os desarranjos, havendo falta de equilíbrio nas relações com os
trabalhadores, uma vez que os gerentes estão afastados da realidade do funcionamento de sua
empresa; em um modelo de gerenciamento administrativo, gestacional, é mais fácil
alcançar o equilíbrio nas relações, pois os gerentes estão mais próximos da realidade do
funcionamento da firma, confrontando a sua visão racional do negócio com as representações
que os trabalhadores possuem do trabalho. Neste último caso, é possível haver diálogo entre
chefia e trabalhadores e, uma vez que é possível ao gerente entender as contradições entre o
16
Os termos foram traduzidos livremente a partir do artigo em questão.
38
modelo funcional e prescritivo, torna-se mais fácil construir mudanças que levem ao
equilíbrio.
Figura 2.2 - Os modelos gerenciais, baseado em Biquand et al, 2001.
Mais do que vantagens e desvantagens em relação ao gerenciamento nas PME,
elucidam-se nestes parágrafos particularidades que devem ser consideradas quando se
constrói ações voltadas para a melhoria do ambiente de trabalho e fomento ao
desenvolvimento destes ambientes. Em suma, na pequena empresa maior visibilidade dos
processos, podendo haver maior clareza quanto aos problemas enfrentados no processo
produtivo, ao mesmo tempo em que pode haver uma maior dificuldade de diálogo entre
trabalhadores e gerentes. Contudo, é possível que a proximidade entre chefia e trabalhadores
favoreça o diálogo entre ambos, incentivando uma boa relação entre líderes e seus
empregados em prol da melhoria e do crescimento de seu negócio; a comunicação dependerá,
portanto, do modelo gerencial assumido.
2.3.2 Qualificação profissional nas PME
Os gerentes das pequenas e médias empresas são em geral os “donos do
negócio”, os quais decidem as condições, as máquinas e as atividades de trabalho e, portanto,
também os riscos aos quais o trabalhador está exposto (disponível em:
www.fundacentro.gov.br. Acesso: 04/2005). Eles devem ter formação em administração
financeira, mesmo que esta atividade seja conduzida na empresa por um especialista, dada a
necessidade de manter controle estreito para evitar fraudes (SOARES, 1998).
Apesar da expressa necessidade de qualificação para manter o negócio, em
muitos casos o empresário não tem a mesma formação e especialização de um gerente de
grande empresa, sendo encontrado nos trabalhos de LA ROVERE (2001) e CARDOSO
(1998) críticas ao déficit de pessoas especializadas na gerência das PME, o que agravaria os
Modelos Gerenciais
Gestacional
-
confronto da visão racional dos líderes com
a representação dos trabalhadores
-
favorece conduzir mudanças que levem ao
equilíbrio.
Paternalista
-desarranjos
- falta de equilíbrio nas relações
- distante da realidade do funcionamento da
firma
39
problemas das últimas, especialmente no Brasil. Mesmo diante de tais argumentos, é inegável
que hoje muitos gerentes possuem formação universitária e/ ou experiência anterior em
grandes empresas, tendo adquirido conhecimento e alguma especialização, mesmo que
informal. Além disso, programas de orientação e aprimoramento gerencial organizados
pelo Sebrae, por exemplo, que auxiliam na formação e informação destes gerentes, reduzindo
o déficit de conhecimento e auxiliando a melhor administrar seu negócio, tanto em termos de
produção como em relação à atenção ao trabalhador. Contra o pequeno número de pessoas
especializadas na gerência pesa o fato de que há um reduzido quadro administrativo nas PME,
não existindo espaço para abrigar muitos profissionais de diversas especialidades, havendo
por vezes acúmulo de funções entre os funcionários da área administrativa (fato exposto
anteriormente) os quais podem não possuir especialização formal ou aprimorado
conhecimento em todas as áreas que atuam.
A situação da baixa qualificação profissional formal estende-se aos demais
funcionários das PME (CORIAT, 1994; CARDOSO, 1998, RACHID et al, 2001), sendo que
a força de trabalho ou o cérebro-de-obra Brasileiro, na opinião de CORIAT (1994) é instável
e precário, o trabalho sub-remunerado e pouco ou não-qualificado. No caso dos trabalhadores,
também pesa a dificuldade em a PME corresponder às expectativas de remuneração, que
normalmente não está disposta a pagar aquilo que pessoas qualificadas gostariam de receber
ou mesmo o preço de mercado (CARDOSO, 1998). RACHID et al (2001) compartilha da
opinião de que os técnicos e operários mais qualificados não são freqüentemente contratados
nas PME pela questão da pouca remuneração por seus serviços. Tais profissionais migrariam
para as Grandes Empresas, graças à capacidade destas em corresponder às expectativas
salariais (CARDOSO, 1998; RACHID et al, 2001).
Um caminho encontrado pelas empresas para melhorar a qualificação de seus
trabalhadores é a capacitação interna, mais barata – contudo mais demorada –, onde o
funcionário é selecionado após algum tempo de convivência com o empreendedor
17
(CARDOSO, 1998). Entretanto, o treinamento em empresas de menor porte é limitado e
informal devido aos poucos recursos humanos, poucos profissionais qualificados e
constrangimentos financeiros enfrentados por muitas destas (GHOBARDIAN & GALLEAR,
1996). A educação continuada tende a apresentar dificuldades por ser muito frágil, pontual e
de tempo limitado, o que resulta freqüentemente em descontinuidade do processo (SOARES,
1998).
17
Junto com o aumento da qualificação deve vir o aumento do reconhecimento interno, sob risco de o
trabalhador em questão frustrar-se e procurar melhores propostas de emprego. (CARDOSO, 1998)
40
É importante deixar claro que heterogeneidade entre as empresas de menor
porte em termos de qualificação profissional de seus funcionários. Um argumento que leva à
quebra do estereótipo da precariedade do cérebro-de-obra das PME como problema unânime
é a consideração que nem todas as PME estão reduzidas à realização de trabalho sub-
remunerado e pouco especializado, tendo como exemplo empresas de base tecnológica, como
as de desenvolvimento de softwares, as quais, apesar do pequeno porte, precisam contar com
pessoal altamente especializado. Outro argumento que contesta a idéia de pouco
conhecimento é a questão do saber adquirido através da prática, por gerentes e trabalhadores.
Tal conhecimento não pode ser desprezado, mesmo não sendo uma especialização formal. A
experiência e vivências de diferentes situações no ambiente de trabalho, os constrangimentos
e as manobras utilizadas para conseguir atingir uma determinada meta e melhorar cada vez
mais seu desempenho favorecem o desenvolvimento de especialidades e aperfeiçoamento.
2.3.3 Os desafios enfrentados: Inserção no mercado consumidor, capacidade de
adaptação às mudanças e disponibilidade de recursos
O mercado consumidor das PME pode ser formado pelas Grandes Empresas ou
por outras PME, para as quais fornecem componentes e outros diversos produtos e serviços,
ou o mercado de venda por atacado (SOARES, 1998). O público-alvo destas é o mercado
interno e, mais modestamente, o exterior. Dados de 1999, citados no artigo de LA ROVERE
(2001), diziam que as empresas com até 500 empregados respondiam por 42% das
exportações, embora 92% destas fossem empresas exportadoras.
As PME enfrentam uma grande competição com concorrentes nacionais e
estrangeiros. RODRIGUES (2000) disserta sobre os desafios impostos às micro e pequenas
empresas pela globalização:
No caso específico das Micro e Pequenas Empresas (MPE) brasileiras, a
globalização impõe enormes desafios e sua inserção neste cenário apresenta uma
certa ambigüidade. Por um lado, elas atendem aos quesitos de descentralização
18
e
flexibilidade. Mas, por outro lado, as características do novo ciclo de
internacionalização impõem gastos elevados com P&D Pesquisa e
Desenvolvimento –, marketing e comercialização, exigindo das empresas maior
capacidade financeira e maiores escalas produtivas, o que constitui um grande
problema” (RODRIGUES, 2000, p.17).
18
Descentralização da produção das empresas maiores em direção às menores.
41
Garantir o sucesso no mercado competitivo é realmente um desafio a estas
empresas, aonde muitas vezes coexistem máquinas modernas e ultrapassadas, havendo grande
número de peças defeituosas sendo fabricadas por o existir um programa de qualidade ou
um departamento de engenharia de produção na empresa (LEVINTSKY, 1996; SOARES,
1998; LEMOS, 2003); quando da aquisição de novos equipamentos, SOARES (1998)
questiona a falta de manutenção compatível e a pouca ou nula existência de equipamentos
auxiliares e outros dispositivos necessários ao completo aproveitamento das máquinas,
acrescentando também a falta de treinamento adequado.
Em caso de haver mudança dos equipamentos, esta muitas vezes estabelece
novos procedimentos, novos códigos e atitudes sendo difícil mudar principalmente a cultura
dos empregados
19
(CARDOSO, 1998), especialmente quando não são feitas orientações.
Ainda que haja tal dificuldade de mudança cultural, GHOBARDIAN & GALLEAR (1996)
acreditam que as PME são mais adaptáveis às mudanças do que as grandes empresas,
respondendo melhor às necessidades de mercado e possuindo habilidade em atender melhor
aos desejos do cliente do que as grandes corporações.
A pouca disponibilidade de recursos financeiros e pouca disponibilidade de
crédito para investir e desenvolver a empresa configura-se como foco dos problemas
enfrentados pelas PME, pois limita investimentos em pessoas (fornecer treinamentos e apoio à
mudança cultural, contratação de especialistas) e no ambiente da empresa, bem como na
modernização de equipamentos. Isso interfere na competitividade, não havendo inclusive
recursos suficientes para uma estrutura forte em P&D, o que poderia ocasionar melhoria e
desenvolvimento de produtos cabe aqui colocar que mesmo diante das inúmeras
dificuldades, as PME conseguem algumas vezes desenvolver melhorias em alguns produtos e
inovar (SOARES, 1998).
A dificuldade em acesso ao crédito, bem como demais desafios enfrentados
pelas MPME tais como limitações no desempenho competitivo, motivados pelo uso de
máquinas obsoletas, dificuldade de comercialização dos produtos em novos mercados e má-
administração, interferindo negativamente na tentativa de atualização tecnológica, é
observado em vários países, tanto desenvolvidos quanto em desenvolvimento, conforme
argumenta LEVINTSKY (1996).
19
É mais fácil, segundo Cardoso (1998), mudar a cultura do empregador, embora isto também não seja simples.
42
2.3.4 Incentivos à PME: políticas, programas de apoio e financiamentos
No Brasil, segundo RODRIGUES (2000), as peculiaridades das MPE não
geram naturalmente benefícios às suas atividades produtivas, havendo necessidade de apoio
específico do governo e de instituições ligadas a este segmento empresarial, além da
necessidade de valorização social, para que principalmente as MPE possam cumprir
efetivamente seu papel econômico e social; no caminho inverso às necessidades de nossas
MPE, as políticas macroeconômica, industrial e tecnológica foram, até o início desta década,
essencialmente discriminatórias com as pequenas empresas políticas de crédito subsidiado,
incentivos ao investimento de diversas ordens, regulações comerciais, licenciamentos de
tecnologias, etc (SOARES, 1998; LA ROVERE, 2001; LEMOS, 2003).
Deve-se abrir aqui um parêntese sobre o acesso ao crédito e ao financiamento
por parte das médias empresas em particular. SOARES (1998) alerta para o fato de que as
MDE sofrem por não possuir os recursos das grandes e por possuir menos programas de
incentivo ao seu desenvolvimento e um menor conjunto de vantagens em relação às
microempresas, em termos de apoio e incentivo governamental
20
.
Na tentativa de propiciar melhor apoio, surgiram a partir dos primeiros anos do
século XXI políticas para aumento da inclusão das micro, pequenas e médias empresas na
economia, a partir da formulação de instrumentos por parte do governo federal e dos
organismos privados, que buscaram maior sintonia com as características das empresas de
pequeno porte. Desde então, novas estratégias de ação para aumento da competitividade e
capacidade de inovação das empresas e dos atores relevantes vêm sendo adotadas (LEMOS,
2003). Em se tratando de suprir algumas demandas, o Sebrae possui diversos programas de
capacitação, tecnologia, qualidade e produtividade voltados às micro e pequenas empresas; o
Programa de Apoio Tecnológico às Micro e Pequenas Empresas/ PATME e o Programa
Sebrae de Consultoria Tecnológica/
Sebraetec dão assistência e apoio tecnológico através de
uma espécie de consultoria voltada para o atendimento às necessidades da empresa em termos
tecnológicos (LEMOS, 2003).
Quanto ao apoio financeiro, diversos órgãos objetivam colaborar com um
melhor acesso das PME a créditos e empréstimos, que se faz necessário dispor de
20
O Sebrae, por exemplo, é um órgão exclusivamente direcionado às micro e pequenas empresas, o que propicia
maior incentivo e atenção a estes estabelecimentos em comparação com a atenção dispensada às médias
empresas.
43
financiamentos de produção, capital de giro
21
, equipamentos, exportação e capacitação
tecnológica para impulsionar o desenvolvimento e crescimento destes estabelecimentos
(LEMOS, 2003). O BNDES possui instituições financeiras públicas e privadas a ele
credenciadas, as quais financiam as operações nas empresas de porte menor,
responsabilizando-se pela análise e aprovação de crédito e das garantias. o Departamento
da Micro, Pequena e Média Indústria – DEMPI – efetivou as assinaturas de convênios
bancários a fim de estimular o acesso e melhorar as condições de crédito com o Banco do
Brasil, Bradesco, Caixa e Nossa Caixa. A Federação das Indústrias do Estado de São Paulo
FIESP –, por sua vez, lançou o SPCred, programa voltado ao aumento da oferta de crédito à
indústria e remoção dos obstáculos para o acesso a recursos. (Fontes: www.bndes.gov.br;
www.fiesp.com.br. Acessados em 05/06)
Questionando o financiamento oferecido às empresas, LA ROVERE (2001)
diz que o problema da falta de acesso aos mesmos não é necessariamente a falta de políticas
de incentivo, mas sim reside na necessidade da empresa estar em dia com as obrigações
fiscais para obter tais créditos e financiamentos, o que exclui a maioria das MPME. Os
entraves comumente citados pelas agências financiadoras, conforme aponta LEMOS (2003),
reside nos riscos inerentes ao financiamento de empresas de menor porte, tendo em vista que
o índice de mortalidade das mesmas é extremamente alto; também reside na impossibilidade
das empresas fornecerem, na maioria das vezes, garantias adequadas às solicitações dos
agentes financeiros. Além disso, é proporcionalmente maior o apoio financeiro dado às
grandes empresas se comparados os números de grandes e pequenas empresas e os recursos
disponíveis para ambas.
Para LEMOS (2003), o maior problema das políticas de financiamento e
mecanismos de apoio é terem sido concebidos para atendimento a empresas de grande porte,
havendo também um conflito entre a gica comercial e a lógica de política na ação dos
bancos públicos. Inverte-se então a problemática, uma vez que o problema estaria no sistema
de financiamento, não-adequado às empresas de menor porte (LEMOS, 2003).
21
É o conjunto de bens de uma empresa formado pelos recursos monetários, indispensáveis à sua operação,
produção e comercialização, representado pelo dinheiro disponível, pelo estoque de produtos e matérias primas e
pelos títulos a receber. Trata-se também, em
linguagem de mercado, de uma operação de crédito, oferecida pelos
bancos para financiar o capital de giro das empresas. (Fonte: www.fiesp.com.br. Acesso: 05/06)
44
2.3.5 As associações entre empresas e a proposta de formação de redes
Diante da impossibilidade de conduzir algumas ações somente com os recursos
humanos e financeiros disponíveis internamente, algumas empresas de menor porte contam
com o apoio de consultores externos tanto para serviços de assessoria jurídica, contábil,
tributária, manutenção específica de equipamentos especiais e outras
22
, quanto para realizar
ações que visem conformidade com as leis.
23
(RACHID et al, 2001, SOARES, 1998).
Logicamente vantagens e desvantagens neste tipo de serviço: se por um lado os custos são
menores, por outro lado o prejuízo caracteriza-se pela não-integração entre os contratados e a
cultura da empresa. É importante lembrar que, acima das vantagens e desvantagens deste
processo, a empresa de menor porte, sobretudo as pequenas empresas, possuem grande
incapacidade em comportar um grande número de especialistas em seu quadro de
funcionários (RACHID et al, 2001; SOARES, 1998), justificando a prática da terceirização de
serviços de consultoria, por exemplo.
A formação de redes horizontais com outras empresas de mesmo porte ou com
instituições de apoio ao desenvolvimento, estruturas de coordenação empresarial e órgãos de
pesquisa foi um dos caminhos encontrados por muitas PME para melhorar o acesso a novas
tecnologias e informação, auxiliando no confronto contra a maior competição nos mercados
internacionalizados e/ou dos requisitos de escala, pois quando as empresas estão isoladas no
mercado fica mais difícil o acesso à informação e tecnologia (LA ROVERE & CARVALHO,
s/d; RODRIGUES, 2000). Ainda, o aumento de gastos com formação, aperfeiçoamento
gerencial e programas de P&D versus a menor intensidade de capital disponível nas PME leva
à necessidade de formação de redes entre muitas empresas (FERRAZ et al, 1995) em nome da
manutenção da competitividade das mesmas. O estabelecimento de laços de cooperação entre
as MPME permite às empresas a obtenção de ganhos de escala e escopo ao gerar
externalidades positivas, desenvolvendo-se a partir de tal, práticas de padronização e
22
As normas ISO 9000, por exemplo, não podem ser conduzidas apenas com recursos internos nas PME. A
saber, elas tratam dos requisitos dos sistemas de qualidade estabelecidos através de procedimentos que buscam
avaliar: a qualidade na especificação, desenvolvimento, produção, instalação e serviço pós-venda; qualidade na
produção, qualidade da inspeção e ensaios finais. Essas normas especificam os requisitos necessários para a
implantação, acompanhamento de processo de produção e de satisfação do cliente em termos de prevenção
quanto a não conformidades em todas as etapas de elaboração do produto, incluindo serviços de pós-venda.
(Fonte: www.cnpma.embrapa.br. Acesso: 10/2005). A ISO 9000 objetiva, ainda, colocar as empresas em um
melhor patamar competitivo através da garantia da qualidade do produto.
23
É pertinente dizer que a escassez de recursos para serem aplicados torna difícil o cumprimento das leis mesmo
em áreas aonde existem constantes fiscalizações por técnicos dos órgãos governamentais. Um exemplo são os
investimentos escassos na área ambiental, que sofre constantes fiscalizações. (RACHID et al, 2001, SOARES,
1998).
45
certificação de qualidade nas firmas, o que pode estimular a adoção de novas técnicas
organizacionais que impulsionem a competitividade das empresas (LA ROVERE, 2001).
Quando são fornecedoras de produtos ou serviços para as grandes empresas, as
PME formam redes verticais com estas, favorecendo que haja nas empresas menores grande
especialização, flexibilidade, descentralização e constante sintonia com o mercado e com seus
clientes empresas mais modernas e competitivas, motivadas pelo aumento da
competitividade internacional, resultado da globalização (RODRIGUES, 2000). A
descentralização da produção das grandes empresas em direção às empresas de menor porte se
deve aos processos de informatização, terceirização, downsizing
24
e robotização implantados
pelas primeiras, além da expansão do setor de serviços (VILLELA & AMADEO, 1994).
Conforme RODRIGUES (2000) coloca, as PME estão adotando “estratégias conjuntas com as
grandes empresas globalizadas que, através do processo de terceirização, as incorpora como
parceiras normalmente como fornecedoras de algum insumo ou serviço específico” (p. 18).
A proposta de “formação de redes” a partir das grandes empresas pode basear-se na
“terceirização” de serviços ou do processo de produção, e tal tendência pôde ser evidenciada
na década de 90, quando as grandes empresas começaram a reduzir sua estrutura (RACHID et
al, 2001).
Através da melhor divisão de trabalho, tenta-se propiciar uma maior eficiência
empresarial, disponibilizando recursos inacessíveis para as empresas isoladamente (FERRAZ
et al, 1995). A aglomeração por meio de constituição de pólos regionais de produção permite,
na opinião dos autores citados, enfrentar aumento da competitividade tecnológica e dos custos
das atividades de pesquisa, favorecendo o acesso a equipamentos sofisticados, serviços
tecnológicos e formação de profissionais.
No entanto, o processo de “verticalização” citado anteriormente pode não
trazer necessariamente vantagens às empresas de menor porte. O processo de terceirização
pode representar, segundo RACHID et al (2001), uma mudança no perfil do emprego,
havendo diminuição do salário e menor atenção dos sindicatos à medida que o porte da
empresa diminui.
A relação entre as grandes e pequenas empresas pode caracterizar-se como de
total subordinação por parte destas últimas, que precisam aceitar, por uma questão de
24
Downsizing- Conjunto de atividades levadas a cabo pela gestão de uma organização, tendo como intuito
melhorar a eficiência organizacional, a produtividade e/ou a competitividade, envolvendo redução de pessoal,
embora não se limite a esse aspecto. Em síntese, é um processo de “emagrecimento” que visa atuar sobre número
de empregados da empresa. (Cameron et al, 1993; Cameron, 1994; West, 2000, citados por Rego e Cunha, 2004)
46
sobrevivência, o trabalho que a grande empresa não pode ou não se interessa em fazer, seja
por questões legislativas ou pelo desejo de baratear custos. SATO (2001), citando SALERNO
(1999), discute a relação entre as empresas em termos de qualidade de vida no trabalho e traz
o conceito de “trabalho sujo”, que seria o trabalho mais penoso ou em condições precárias. As
empresas poderiam então ser classificadas como “limpas” e “sujas”, havendo uma tendência
em as grandes empresas deixar o trabalho “sujo” para ser realizado por suas subordinadas:
“Nesse fim de século, observamos mais claramente as relações de interdependência
entre os mercados formal e informal, entre as empresas ‘limpas’ e as empresas
‘sujas’. Segundo Salerno (1999), as primeiras seriam caracterizadas pelos altos
investimentos em automação, mudanças nas formas de organização do processo de
trabalho, grupos denominados semi-autônomos, redução de níveis hierárquicos,
ampliação do espaço de autonomia para a tomada de decisões. Já as empresas ‘sujas’
seriam caracterizadas por exigirem o cumprimento de longas jornadas, de horários
irregulares de trabalho, apresentarem condições penosas e perigosas. Na visão de
Salerno (1999), as grandes empresas ‘jogam para fora’ o trabalho sujo, mas dele
dependem”. (p. 148)
Muitas PME estariam enfrentando uma situação delicada, realizando o trabalho
expurgado das grandes empresas. Dentro deste contexto, seria interessante para as grandes
empresas que as pequenas e médias aceitassem o trabalho “sujo”, pois alguém terá
inevitavelmente que fazê-lo. Além disso, o aumento do rigor de leis trabalhistas e a grande
atuação sindical nos ambientes de maior porte, com maior controle sobre as condições de
trabalho e constantes exigências, versus a menor atuação dos sindicatos nas PME fato
ilustrado por RACHID et al (2001) –, pode aumentar a emissão do trabalho sujo” para o
mercado informal e locais sob baixo controle.
Apesar dos processos de terceirização de serviços funcionarem muitas vezes
segundo esta lógica, deve haver cautela para não generalizar as situações de terceirização de
serviços como meros artifícios de expurgação do trabalho sujo. As PME não foram criadas
como canalizadoras do trabalho das grandes empresas, sendo este conceito de “trabalho sujo”
posterior ao surgimento das mesmas. Além disso, elas não vivem necessariamente em meio à
precariedade. LEMOS (2003) argumenta que enquanto em algumas indústrias, de diferentes
regiões e países, as PME apresentam pouco crescimento, com problemas relativos a níveis
salariais, condições de trabalho, desenvolvimento de recursos humanos e ciclos de vida
curtos, em outras parecem ter obtido crescimento marcante e competitivo.
47
2.3.6 A capacidade de inovação das PME
No universo das PME coexistem empresas de baixa incorporação tecnológica,
fabricante de bens mais tradicionais e empresas altamente flexíveis, inovativas, havendo uma
divisão entre as empresas de base tecnológica e as demais (LEMOS, 2003). Os fatores
determinantes desta heterogeneidade são sua estrutura, dinamismo e abrangência do mercado
de atuação, salientando-se a maior ou menor capacidade de alavancar financiamentos e
aprender, desenvolver, incorporar e inovar em novos processos e produtos (LEMOS, 2003).
A inovação
25
consiste em um processo complexo, interativo
26
e não linear
27
,
aonde os conhecimentos adquiridos com os avanços da pesquisa científica, combinados com
as necessidades oriundas do mercado, levam a inovações em produtos e processos e a
mudanças na base tecnológica e organizacional de uma empresa, setor ou país (LEMOS,
2003).
FERNANDES et al (2004) aplica três critérios que poderiam refletir atributos
de inovação básicos para as PME do nosso país. São estes:
a. a presença de um setor de P&D, mesmo que não estruturado formalmente
dentro da empresa;
b. relações com universidades e centros de pesquisa;
c. investimentos em atividades de P&D. (FERNANDES et al, 2004, p. 152)
Tais empresas possuem capacidade inovadora diferente das grandes empresas e
dependente de fatores relacionados à sua característica, área, contexto de atuação, organização
do setor e ao sistema de inovações no qual elas se encontram (LEMOS, 2003). Se nas grandes
vantagens materiais para adotar inovações e realizar atividade de P&D, nas MPME as
vantagens comportamentais, tais como maior flexibilidade a qual leva à maior rapidez no
processo decisório e clima positivo e a capacidade de adaptação a mudanças no mercado,
condicionam os esforços de atualização tecnológica destas empresas. Nos Estados Unidos,
tais unidades seriam responsáveis por mais da metade das invenções mais importantes nos
25
O esforço inovativo deve se orientar não propriamente à modernização tecnológica no processo produtivo, mas
essencialmente às características do produto. Os novos produtos fabricados pelas empresas de base tecnológica,
aonde o processo inovativo ocorre mais facilmente, trazem novas tecnologias desenvolvidas pela empresa.
(LEMOS, 2003)
26
É realizado com a contribuição de diversos agentes econômicos e sociais, os quais possuem diferentes tipos de
informação e conhecimento. (LEMOS, 2003)
27
O processo é descontínuo e irregular, com concentração de surtos de inovação, havendo também um alto grau
de incerteza, haja visto que os resultados são desconhecidos a priori. (LEMOS, 2003)
48
últimos 30 anos. (JOSIAS, 1993; KUEHL & LAMBING, 1990, citados por RODRIGUES,
2000; VILLELA & AMADEO, 1994; LA ROVERE, 2001)
As PME podem operar em nichos que apresentam alta taxa de inovação e seus
empregados se sentiriam então mais motivados em desenvolver a produtividade e
competitividade através de inovações (JULEIN, 1993; OECD, 1995; citados por LA
ROVERE, 2001). Além disso, as PME possuem complementaridade com as grandes
empresas, capacidade exportadora e de geração de empregos (VILLELA & AMADEO,
1994), o que também influencia positivamente um processo de inovação tecnológica.
Em contrapartida, as dificuldades enfrentadas pelas PME influenciam
negativamente no processo de inovação tecnológica, a citar o menor acesso às informações e
maior temor quanto aos riscos financeiros que acompanham as inovações (OECD, 1995;
citado por LA ROVERE, 2001). A maior dificuldade em obtenção de crédito (já citado) e
menor poder político, se comparado às grandes empresas, aumentam os riscos financeiros e
impossibilitam que essas empresas menores possam influenciar os rumos das políticas de
inovações para controlar tais riscos (MARCUN, 1992; OECD, 1995, citados por LA
ROVERE, 2001). Outra limitação às inovações tecnológicas reside na falta de consciência dos
possíveis ganhos de competitividade trazidos pelas inovações, conforme LA ROVERE (2001)
afirma, sendo as mesmas motivadas, em muitos casos, quando sob pressão dos clientes ou
fornecedores ou quando tais inovações mostram-se oportunas quanto aos novos negócios
ligados a esta.
Também a heterogeneidade do universo dessas empresas torna difícil a
implementação de políticas de inovação a elas destinadas (LA ROVERE, 2001) pela
dificuldade de elaboração de uma política uniformemente adequada.
Como resultado de todas as dificuldades citadas acima, é cil supor que as
empresas de menor porte são menos inovativas que as grandes, o que não significa, contudo,
que não inovem.
O Ministério da Ciência e Tecnologia –MCT e suas agências tentam
promover o desenvolvimento tecnológico das PME; no entanto, de acordo com LEMOS
(2003), suas ações o foram muito expressivas até a década de 90, tanto em termos de
abrangência como em termos de número de empresas apoiadas e recursos disponíveis.
Programas mais recentes como o Programa Brasil Empreendedor, do Governo Federal e o
PATME, parceria entre Sebrae e a Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP), possibilitam
às empresas de menor porte maior acesso a novas tecnologias e a informações sobre
49
melhorias na capacidade produtiva e de exportação, contribuindo para o desenvolvimento
destas.
O Programa Incubadora de Empresas, parceria entre Sebrae, Prefeituras
Municipais, Universidades e Entidades de Classe Empresariais, tem como objetivo estimular a
criação e o fortalecimento de empresas inovadoras, oferecendo condições para que as
empresas recebam capacitação e assistência técnica e gerencial. O programa se propõe a
fornecer acompanhamento no gerenciamento do negócio, gestão financeira e de custos,
orientação à comercialização de produtos, assessoria na busca de novas tecnologias e
informações técnicas, orientação para acesso a linhas de crédito e financiamento, serviços de
apoio administrativo, treinamentos e assessorias especializadas, infra-estrutura boxes
individuais e área compartilhada e orientação jurídica. (Fonte: www.fiesp.com.br. Acesso:
05/2006)
Discutiu-se até aqui conceitos relativos às empresas de pequeno e médio porte,
incluindo classificação, características, dificuldades enfrentadas e capacidade de crescimento.
O estudo detalhado das peculiaridades deste ambiente auxiliará traçar e entender as
possibilidades de construção da saúde e segurança neste ambiente.
2.4 Saúde e Segurança no ambiente do trabalho das PME
hoje um grande número de acidentes de trabalho e adoecimento ocorridos
anualmente, citados anteriormente. A Política Nacional de Segurança e Saúde do
Trabalhador /PNSST (FUNDACENTRO, 2004) diz que o atual sistema de segurança e saúde
do trabalhador carece de mecanismos que incentivem medidas de prevenção, responsabilizem
os empregadores, propiciem o efetivo reconhecimento dos direitos do segurado, diminuam a
existência de conflitos institucionais, tarifem as empresas de maneira mais adequada e
possibilitem um melhor gerenciamento dos fatores de riscos ocupacionais.
Cada empresa, de acordo com o tamanho e ramo de atividade, possui uma
forma de tratar questões relativas à saúde e segurança no ambiente de trabalho. Diante do
conhecimento de que as pequenas e médias empresas diferem-se das grandes em relação à
estrutura organizacional, processos e recursos, é natural que haja diferença entre as ações
referentes ao tema saúde e segurança nestes ambientes.
Diversos estudos, provenientes de várias partes do mundo, centralizam a
discussão em torno das queixas quanto à saúde e segurança ocupacional nas pequenas e
médias empresas, sendo encontradas referências ao problema nos estudos de BULL et al,
50
2002; JOHANSSON & JOHANSSON, 1992; DE KOK, 2005; BRADSHAW et al, 2001 e
RONGO et al, 2004, entre outros. A discussão segue em torno das condições de saúde nas
pequenas e médias empresas.
2.4.1 As ações em Saúde e Segurança nas PME
Os estudos de CHAMPOUX & BRUN (2001) demonstraram que a abordagem
à gestão SST na PE o é sistemática, a seleção dos problemas a resolver é feita de maneira
arbitrária e a PE tende a utilizar medidas de controle pouco elaboradas. Algumas empresas
gerenciam a atenção à saúde ocupacional somente direcionando ações em segurança
destacando-se o uso de Equipamentos de Proteção Individual/ EPIs –, havendo frustração
entre muitos empregadores ao ver que os EPIs fornecidos não são amplamente utilizados
(BRADSHAW et al, 2001; CHAMPOUX & BRUN, 2001; RONGO et al, 2004).
Considerando as empresas que desenvolvem ações em saúde e segurança,
estudos realizados por BRADSHAW et al (2001) e JUNG (1999) podem refletir uma
tendência global em manter profissionais de saúde nas PME atuando em meio-período ou
através de serviços de consultoria, quando houver. Na Grã-Bretanha, dentre algumas PME
estudadas, 14% possuíam um médico de saúde ocupacional durante meio-período, 10%
empregaram uma enfermeira ocupacional para meio-período, 7,1% empregaram conselheiro
em saúde e segurança, sendo que algumas empresas contrataram profissionais em saúde
ocupacional apenas como consultores (BRADSHAW et al, 2001). Na Coréia, os enfermeiros
ocupacionais desenvolvem seu serviço de acordo com o porte da empresa; nas empresas
maiores são contratados em tempo integral e em empresas menores estão associados a
agências de administração de saúde ocupacional, prestando visitas aos locais de trabalho
28
(JUNG, 1999).
A pesquisa realizada por BULL et al (2002) na Noruega mostrou que, além dos
desarranjos locais, os serviços de saúde destas empresas limitavam-se na maioria a serviços
multidisciplinares de orientação à prevenção de lesões (54%); outros tipos de programas, tais
como tratamento orientado e serviços médicos próprios da empresa estavam presentes em
28
Na Coréia, as PME compartilham as seguintes características em relação às grandes:
a) uma agência de gerenciamento de saúde profissional se responsabiliza por ações em saúde
b) a agência de gerenciamento de saúde gerencia diversos estabelecimentos como se fossem um grupo
c) as enfermeiras ocupacionais são contratadas como agentes de saúde pelas agências
d) os serviços são prestados através de visitas ao local de trabalho
e) as despesas são pagas na maioria pelas próprias empresas, mas alguns pequenos empreendimentos
recebem financiamento do governo desde 1993.
(JUNG, 1999)
51
15% destes ambientes, não havendo quaisquer serviços de saúde em cerca de 31% das
empresas daquele país.
Em relação à administração das ações em SST, pesquisa desenvolvida na Grã-
Bretanha por BRADSHAW et al (2001) mostrou que na maioria das pequenas empresas sob
estudo o responsável pela saúde e segurança era o gerente ou diretor e em 10% das empresas
estudadas não havia nenhum responsável por tal serviço. Um mero significativo de
empresas (42,8%) não possuía ou nunca havia visto por escrito políticas de saúde e segurança
no trabalho e apenas 7% possuía um responsável por gerenciar saúde ocupacional.
Não foi encontrado, a partir da revisão bibliográfica realizada, pesquisas sobre
os índices de profissionais de saúde ou de empresas de consultoria em saúde e segurança
atuando nas PME de nosso país. Porém, sabe-se que no Brasil as empresas, sobretudo
pequenas e médias, buscam os consultores externos em muitos dos serviços relativos ao
cumprimento das normas trabalhistas devido aos menores recursos experimentados pelas
mesmas. Enquanto nas grandes empresas é mais comum a presença de comitês internos
formados por diversos profissionais para assegurar saúde e segurança no local de trabalho, nas
PME freqüente ausência de RH
29
estruturado o que torna mais difícil a formação de tais
comitês e as mesmas freqüentemente possuem somente o apoio de um técnico de segurança
do trabalho.
Em se tratando de ações de orientação em saúde e segurança envolvendo os
trabalhadores, medidas encontradas pelas empresas, segundo estudo de BRADSHAW et al
(2001), consistem em elaborar e distribuir panfletos e pôster, em exibir vídeos sobre saúde e
segurança e em palestras. Não há, entretanto, medição formal da efetividade dos programas
adotados por tais empresas. Apesar do estudo mostrar que a maioria das companhias
estudadas acredita que deveriam se responsabilizar pela saúde de seus empregados, ainda não
está muito claro em que nível os empregadores deveriam ser responsáveis pela saúde.
Unanimidade entre os empregadores, tanto entre os que acreditam ser responsáveis pela saúde
dos seus empregados quanto entre os outros que se abstém desta responsabilidade, é a certeza
de que os trabalhadores devem (também) se responsabilizar pela sua própria saúde.
(BRADSHAW et al, 2001)
29
Departamento de Recursos Humanos
52
2.4.1.1 A legislação em saúde e segurança e a relação com as empresas de pequeno e
médio porte
TORP & MOEN (2006) relatam que a maioria dos países possuem legislação
protegendo os trabalhadores de riscos no trabalho. Na Dinamarca, por exemplo, a lei
prescreve aos empregadores estabelecer um ambiente seguro, sendo tarefa do empregador, em
cooperação com empregados, garantir a avaliação do local de trabalho
30
(JENSEN et al, 2001).
Não obstante, nosso país possui diversas medidas de manutenção de saúde e segurança. As
medidas tomadas pelo Ministério do Trabalho com intuito de melhorar acesso à saúde e
segurança no ambiente laboral inclui a edição de Normas Regulamentadoras, que determinam
alguns serviços básicos ao qual o trabalhador deve ter acesso através da empresa em que
trabalha. Interessa a este estudo a NR-4, NR-5, NR-6, NR-7, NR-9 e NR-17.
A NR-4 (Norma Regulamentadora 4) do Ministério do Trabalho diz respeito
aos Serviços Especializados em Engenharia de Segurança e em Medicina do Trabalho/
SESMT. De acordo com a norma, as empresas privadas e públicas, os órgãos públicos da
administração direta e indireta e dos poderes Legislativo e Judiciário, que possuam
empregados regidos pela Consolidação das Leis do Trabalho CLT, manterão
obrigatoriamente Serviços Especializados em Engenharia de Segurança e em Medicina do
Trabalho, com a finalidade de promover a saúde e proteger a integridade do trabalhador no
local de trabalho (Fonte: www.mte.gov.br. Acesso: 03/2006). De acordo com o ministério do
trabalho, estão enquadradas no SESMT empresas com mais de 50 funcionários, que deverão
ter à sua disposição, dependendo do mero de empregados e da periculosidade das
atividades desenvolvidas, técnicos de segurança do trabalho, Engenheiros de Segurança,
Médicos e Enfermeiros ocupacionais, todos operando em período integral, parcial ou não
operando, podendo em alguns casos os serviços ser realizados por firmas especializadas em
SESMT (www.mte.gov.br, acesso: 11/ 2006).
30
O termo “avaliação do local de trabalho” foi traduzido livremente do artigo em questão, sendo o termo original
workplace assessment”. Essa avaliação consiste em:
a) Identificar, através do levantamento do ambiente de trabalho na firma, o tipo e a amplitude dos problemas;
b) Descrever e avaliar os problemas do ambiente de trabalho;
c) Uma lista de prioridades aos problemas encontrados e um plano de ação para resolver os problemas, incluindo
o que vem em seguida à solução dos problemas;
d) Instruções de atividades seguintes ao plano de ação, especificando quem terá responsabilidade pelo
prosseguimento do trabalho.
As empresas estão livres para escolher os métodos que acham mais apropriados e devem documentar o processo.
(JENSEN et al, 2001)
53
A NR-5 (Norma Regulamentadora 5) tem como objetivo estimular a
informação e treinamento do trabalhador através de cursos, palestras e textos elucidativos para
que este, dispondo de tais informações, tenha condições de garantir a segurança no local de
trabalho. Para tal, a empresa deve constituir uma Comissão Interna de Prevenção de Acidentes
– CIPA –. Composta por representantes do empregador e dos empregados, tal comissão
objetiva a preservação da saúde e da integridade física dos trabalhadores e de todos aqueles
que interagem com a empresa (Fonte:www.puc-rio.br. Acesso: 07/2005). A NR-6, por sua
vez, determina nas empresas o uso dos EPIs, indicados para situações em que hajam riscos
vinculados à atividade realizada, tais como excesso de ruído, manipulação de substâncias
tóxicas ou perfurantes, soldagens, entre outras. São indicados por exemplo o uso de botas,
óculos, protetores auriculares, luvas, ou qualquer outro equipamento que possa proteger o
trabalhador. (www.mte.gov.br, acesso: 11/ 2006)
O Programa de Prevenção a Riscos Ambientais/ PPRA e o Programa de
Controle Médico e Saúde Ocupacional/ PCMSO são referidos como NR-9 (Norma
Regulamentadora 9) e NR -7 (Norma Regulamentadora 7), respectivamente. A
legislação brasileira que trata da segurança e da saúde no trabalho estabeleceu, em 1994, a
obrigatoriedade das empresas em elaborar e implementar tais programas (MIRANDA &
DIAS, 2004). MIRANDA & DIAS (2004) esclarecem que, de acordo com as Normas
Regulamentadoras, os trabalhadores têm o direito de apresentar propostas e receber
informações e orientações a fim de assegurar a proteção aos riscos ambientais identificados na
execução do PPRA, sendo que colaborar e participar na implantação e na execução do PPRA
e do PCMSO é uma das responsabilidades dos trabalhadores. O trabalhador tem o direito de
receber cópia dos resultados dos procedimentos médicos aos quais foi submetido, além da
segunda via do seu Atestado de Saúde Ocupacional
31
(ASO). As normas estabelecem também
que os parâmetros mínimos e as diretrizes gerais podem ser ampliados mediante negociação
coletiva de trabalho, embora uma pesquisa realizada pelos autores aponte para a não
participação dos trabalhadores nos programas de PPRA e PCMSO, em muitos casos.
Dentro da temática saúde e segurança, a questão da ergonomia e da
31
É um exame investigativo da história pregressa do trabalhador e das condições de saúde do mesmo, sendo um
documento útil, para trabalhadores e empregadores, caso haja necessidade de atestar em um processo que o
adoecimento do trabalhador foi ou não resultado da atividade laboral realizada na empresa. Entretanto, os
exames admissionais são usados, muitas vezes, não com a finalidade de alimentar um processo de vigilância em
saúde do trabalhador, funcionando, na prática, como um recurso para impedir o recrutamento de indivíduos cuja
saúde já esteja comprometida. (MINAYO-GOMEZ & THEDIN-COSTA, 1997)
54
organização do trabalho nas empresas relaciona-se à Norma Regulamentadora 17
32
, do
Ministério do Trabalho. Esta norma objetiva o estabelecimento de medidas que contribuam
para a construção da saúde no ambiente de trabalho, não apenas de forma a evitar acidentes
mas também minimizando índices de doenças relacionadas a este. “A organização do trabalho
deve ser adequada às características psicofisiológicas dos trabalhadores e à natureza do
trabalho a ser executado” (Norma Regulamentadora 17, p. 45). Criada no início dos anos 90
do século passado, ajudou a impulsionar tal demanda por estas ações nas empresas, que viram
surgir, durante os anos 80, Lesões por Esforços Repetitivos nos setores de processamento de
dados e posteriormente em outros setores da economia (JACKSON FILHO e AMORIM,
2001). A Norma determina que a empresa pode ser obrigada a realizar a Análise Ergonômica
do Trabalho/ AET após visita de auditor fiscal e comprovação de irregularidades, sendo tal
análise guiada pela demanda mais urgente constatada em laudo e financiada pelo próprio
empregador, que deverá contratar um Ergonomista para tanto (MTE, 2003).
No quadro abaixo são sintetizadas as normas referidas acima:
Tabela 2.4- As normas e suas determinações
NR-4
Refere-se ao Serviços Especializados em Engenharia de Segurança e em
Medicina do Trabalho/ SESMT
NR-5
Estimula a constituição da Comissão Interna de Prevenção de Acidentes/
CIPA nas empresas
NR-6
Determina o uso de Equipamentos de Proteção Individual/EPI, a fim de
assegurar a saúde e segurança do trabalhador contra riscos inerentes
NR-7
Refere-se ao Programa de Controle Médico e Saúde Ocupacional
PCMSO
NR-9
Refere-se ao Programa de Prevenção a Riscos Ambientais PPRA
NR-17
Diz respeito à Ergonomia
Embora não tenham sido encontrados estudos relativos ao cumprimento das
leis trabalhistas quanto à saúde e segurança nas pequenas e médias empresas de nosso país na
literatura
33
, sabe-se que as empresas menores possuem maiores deficiências quanto ao
32
Dentro das recomendações da NR-17, uma crítica pode ser feita: a ergonomia busca equacionar as questões
relativas à saúde e mesmo à segurança no trabalho, mas dentro de um trabalho de ergonomia, sabe-se que é
impossível eliminar todos os problemas que uma situação de trabalho carrega. Diante da noção de prescrito e
real, sabe-se que o trabalho real carrega consigo imprevistos, que nem a análise do trabalho é capaz de detectar.
Ainda, a mudança de uma condição de trabalho pode trazer melhoras em um ponto da situação, mas novas
situações surgirão e precisarão ser modificadas. A ergonomia deve ser um processo contínuo na empresa, uma
vez que é impossível “prever” os imprevistos.
33
A questão do cumprimento da legislação em nosso país será discutido a partir de achados práticos deste
estudo, mais adiante.
55
cumprimento das regras estabelecidas se comparadas às empresas maiores, sendo este fato
verídico em muitos países
34
, desenvolvidos ou em desenvolvimento (JENSEN et al, 2001). Na
Noruega, por exemplo, um grande número de PME mantém cultura de não-cumprimento das
regulações em Saúde e Segurança do Trabalho estabelecidas pelo governo de seu país, mesmo
sendo obrigadas por lei para tanto
35
, havendo poucos arranjos de proteção nas máquinas e
equipamentos das empresas sob estudo o que, somado ao pouco uso dos EPIs, duplica o risco
de acidentes de trabalho e lesões – tais lesões vêm crescendo na Noruega, mesmo com
intervenções públicas e privadas para evitá-las. O mesmo estudo diz que na Finlândia,
equipamentos versus riscos estavam apropriados em apenas 25% das empresas, satisfatório
em metade e pobre ou deficiente no restante, mesmo havendo normas de saúde e segurança
(BULL et al, 2002). JENSEN et al (2001) confirma tal deficiência no cumprimento das leis
por parte das PME, dizendo que a questão das mesmas apresentarem dificuldades em cumprir
as demandas legislativas no local de trabalho é geral. Conseqüentemente, os acidentes são
proporcionalmente mais freqüentes nas empresas de menor porte (EUROSTAT, 2000;
MIZOUE et al, 1999).
Se por um lado elevado número de acidentes de trabalho, WALTARI et al
(1980) acredita que as pequenas empresas apresentam uma vantagem sobre as grandes
empresas quanto à morbidade de suas atividades, pois como poucos funcionários e uma
diversidade de atividades a serem realizadas, os trabalhos podem ser alternados e variados e o
efeito de posturas extremas e repetição de movimentos pode ser aliviada, o que diminui o
número de doenças ocupacionais. Essa visão pode ser contestada, primeiro por que a não-
repetitividade pode até reduzir o risco de LER/DORT, mas diversos outros fatores
continuarão contribuindo para o adoecimento, podendo portanto as doenças desenvolverem-se
por outras vias. Além disso, o estudo de MIZOUE et al (1999) contradiz o autor acima ao
proferir que os riscos de saúde ocupacional são mais prevalentes entre PME, estando os
trabalhadores mais expostos a altos riscos de desenvolver doenças ocupacionais por haver
inadequado conhecimento e habilidades o-desenvolvidas para controlar os riscos no local
de trabalho.
Diante da contradição entre os baixos índices de adoecimento registrados na
Suécia e as deficiências encontradas nas PME, incluindo a grande exposição a riscos,
34
Para maiores detalhes quanto à legislação destes países, consultar os artigos citados neste subitem.
35
Na Noruega, fica estabelecido às empresas implementar o sistema de Controle Interno (CI), sendo um dos
principais objetivos desse sistema encorajar trabalhadores a participar das atividades de saúde e segurança e
mudar seu comportamento em relação à saúde. (BULL et al, 2002)
56
JOHANSSON & JOHANSSON (1992) lançam duas hipóteses. A primeira é a de que os
baixos índices de doenças ocupacionais são resultantes sim da variada carga de trabalho, e
então o problema seria apenas quanto à segurança. A segunda hipótese considera que pode
haver grande subnotificação dos registros. Como exemplo de subnotificação em nosso país,
temos a CAT
36
, “Comunicação de Acidentes de Trabalho”. Apesar deste documento ter como
objetivo assegurar ao trabalhador, legalmente, o direito ao seguro acidentário junto ao
Instituto Nacional de Seguridade Social INSS –, representando o registro e o
reconhecimento oficial do acidente, sabe-se que, mesmo havendo aumento de tais registros
nos últimos anos, ainda há um índice considerável de subnotificação no registro do número de
acidentes de trabalho e de doenças profissionais em nosso país (WÜNSCH FILHO, 1998;
REIS et al, 2000). É necessário considerar que a subnotificação de registros de acidentes e
adoecimento decorrente da atividade laboral nestas empresas é uma tendência a ser reforçada
cada vez que novas leis, como por exemplo o Fator Acidentário Previdenciário
37
(FAP), são
estabelecidas, mas não se estabelecem meios adequados para orientar e garantir que a lei faça-
se cumprir
38
. O aumento do rigor das leis também tende a aumentar os acidentes e
adoecimento, fato este descrito no trabalho de JOHANSSON &JOHANSSON (1992),
realizado em PME da Suécia; o efeito negativo das leis traduziu-se em aumento do número de
lesões e acidentes nos anos seguintes à determinação de que os empregadores se
responsabilizassem pela saúde de seus empregados, assumindo os custos pelas lesões
decorrentes do trabalho e responsabilidade sobre a reabilitação.
São diversas as hipóteses para o não-cumprimento (ou cumprimento
inadequado) das regulações em SST por muitas empresas, principalmente as de menor porte
39
.
36
Devem ser comunicados os acidentes-tipo (ocorridos durante o horário de exercício da atividade), os de trajeto
(ocorridos entre o percurso de casa para o trabalho e vice-versa) e as doenças profissionais decorrentes da
atividade de trabalho. A CAT deve ser emitida pela empresa à qual o trabalhador está vinculado, podendo ser
feito também pelos serviços de saúde, sindicatos, ou pelo próprio trabalhador. O maior conhecimento dos
trabalhadores tem favorecido aumento das notificações. (WÜNSCH FILHO, 1998)
37
O Fator Acidentário Previdenciário, publicado em 2004, é uma lei que busca instituir um valor a ser pago por
acidente de trabalho como forma de conferir estímulo ao desenvolvimento econômico via redução de custos e
fomento ao trabalho saudável, enquadrando os ramos de atividade econômica por grau de risco para fins de
incidência previdenciária. Considera o artigo 10 da Lei 10.666, de 8 de maio de 2003 que prescreve que a
alíquota de 1%, 2% ou 3%, por empresa
referentes ao custeio do GIILDRAT (antigo SAT) –, “poderá ser
reduzida pela metade, ou até dobrar, de acordo com os índices de freqüência, gravidade e custo dos acidentes de
trabalho. Ou seja, empresas que investirem em prevenção de acidentes de trabalho poderão receber até 50% de
redução dessa alíquota e, em dimensão oposta, onerar-se em até 100%.” (OLIVEIRA, 2004)
38
Além de prover as PME com informação, as leis deveriam ser “maleáveis”, considerando as limitações,
necesidades e particularidades de cada ambiente, facilitando assim o seu cumprimento. Isso será discutido
adiante.
39
Conforme estudos conduzidos em outros países.
57
Primeiramente, podemos citar os relatos quanto às limitações econômicas existentes nas
firmas menores, o que torna difícil esperar um alto grau de atividade em termos de saúde
(SOHN et al, 1998; CHAMPOUX & BRUN, 2001; JENSEN et al, 2001). Entretanto, DE
KOK (2005) contesta a influência das condições econômicas na predisposição da empresa em
assumir ações preventivas, embora acredite que, uma vez que tais ações são tomadas, o setor
financeiro é quem determina a natureza de tais ações.
Outra consideração comum é a de que falta educação e treinamento nas
empresas menores, o que resulta em prejuízos às ações em saúde e segurança, devendo haver
maior responsabilidade das empresas sobre a saúde de seus empregados (JOHANSSON &
JOHANSSON, 1992; CHAMPOUX & BRUN, 2001; JENSEN et al, 2001). O estudo
conduzido por JOHANSSON & JOHANSSON (1992) mostra que além de faltar
conhecimento por parte dos diretores das PME, falta reconhecer esse desconhecimento. Os
diretores, apesar de pouco saber sobre as lesões decorrentes do trabalho em suas empresas, da
pouca informação sobre o número de acidentes ocorridos e reportados, além de pouco
conhecimento dos custos associados ao absenteísmo, consideram que os problemas principais
foram solucionados e que o ambiente de suas empresas é melhor do que o de empresas
similares (JOHANSSON & JOHANSSON, 1992). As chances de identificar uma relação
entre condições de saúde e absenteísmo estão intimamente relacionadas à opinião do
empregador sobre as condições de trabalho, taxas de absenteísmo, número de empregados e
queixas quanto à saúde em seu aspecto físico (DE KOK et al, 2005; RONGO et al, 2004).
grande diferença de percepção entre empregadores e empregados quanto à necessidade de
informação nas empresas de menor porte, que os trabalhadores acreditam que
necessidade de permanentes orientações sobre prevenção de acidentes, uso de EPIs e
exposições relacionadas ao trabalho (RONGO et al, 2004).
JENSEN et al (2001) considera que a falta de recursos e de informações não é
o maior impedimento à adoção de políticas de saúde e segurança no ambiente de trabalho,
sendo necessário apenas qualificar uma pessoa de dentro da empresa a partir de um
treinamento, para que estes controlem as ações de SST, conduzindo ações e gerenciando a
informação. No entanto DE KOK (2005) e WALTERS (2002) acreditam que, no estado de
vulnerabilidade em que se encontra a maioria das PME, fica difícil aos gerentes disponibilizar
o pouco tempo que lhes sobra para trabalhar saúde e segurança na empresa. Essa
vulnerabilidade faz, muitas vezes, com que as empresas invistam e disponibilizem o tempo e
recursos no que consideram ser prioritários para manter a empresa funcionando e, somando-se
58
a falta de percepção sobre como o ambiente afeta a saúde do trabalhador
40
, tem-se como
resultado, em muitos casos, procedimentos voltados somente para segurança e algum controle
sobre a saúde, tais como exames periódicos. Somente em um segundo momento, quando as
empresas atingirem a estabilidade e puderem crescer, começarão a desenvolver ações mais
específicas em saúde e segurança, incluindo-se aqui a Ergonomia.
Um grande empecilho às ações de SST no ambiente de trabalho podem ser,
entretanto, relacionadas à natureza dos programas hoje existentes em todo o mundo. JUNG
(1999) acredita que as diferenças entre pequena, média e grande empresa demandam
atividades desenvolvidas de acordo com o tamanho da empresa e as características de cada
local de trabalho. TORP & MOEN (2006) concordam com JUNG, ao dizer que o sistema de
gerenciamento de ações em saúde e segurança deveria se adaptar ao tamanho e necessidades
da companhia, sendo que a menor complexidade estrutural das empresas menores não
exigiria, de acordo com o estudo, tanto em termos de exigência estrita das normas.
Mesmo programas desenvolvidos para PE vêem dificuldades tais como a
dificuldade de homogeneização destas empresas, conforme estudo realizado nas empresas da
França por CHAMPOUX & BRUN (2001), o que leva a constatar que a provisão de saúde e
segurança nas PME é algo complexo. Cada empresa requer diferentes níveis de cobertura,
dependentes do tamanho, processos operados, trabalho com riscos conhecidos e riscos
previamente identificados (BRADSHAW et al, 2001), sendo pertinente perguntar até onde as
propostas de ação nas empresas estão ajustadas aos seus constrangimentos e facilidades
(JOHANSSON & JOHANSSON, 1992).
Apesar de todos os problemas em conduzir ações em SST nas empresas
menores, incluindo aqui equívocos quanto à percepção dos gerentes sobre seu ambiente de
trabalho e sua responsabilidade pela saúde de seus empregados, é fato que para 71% dos
gerentes das PME da Grã-Bretanha, a saúde é parte importante para o andamento da firma,
enquanto que para 25% a saúde não o é. As empresas que consideram a saúde importante a
vêem em termos de perda da produtividade. Como atesta um dos gerentes entrevistados, se
um empregado adoece e se afasta do trabalho, há perda de 25% da força de trabalho, havendo
diminuição de 25% da produtividade, uma vez que só há 4 trabalhadores em sua firma
(BRADSHAW et al, 2001).
Observa-se a partir deste último relato quão estreita é a relação entre saúde e
produtividade nas empresas menores, sendo mais perceptível a conseqüência da ausência da
40
Falta percepção da influência do ambiente sobre a saúde, apesar da percepção de que eventuais acometimentos
à saúde diminuem a produtividade, a ser discutido adiante.
59
primeira sobre a segunda. Se forem feitas ações em saúde, os resultados em termos de
produtividade são mais rápidos e visíveis, revertendo em vantagens para a empresa. Da
mesma forma, mexer na organização do trabalho e nos arranjos produtivos reverte em
benefícios mais perceptíveis sobre a saúde e, conseqüentemente, sobre a produtividade. É
dentro deste contexto saúde-produção que insere-se a Ergonomia. A seguir, discute-se mais
detalhadamente a Ergonomia nas PME, suas possíveis limitações e problemas por ela
enfrentados neste ambiente.
2.4.2 A ergonomia no contexto da PME
MAFRA (2004) diz que as finalidades da ergonomia são aperfeiçoar a
qualidade da vida humana: saúde, segurança, conforto, usabilidade e produtividade. Os
profissionais que nela atuam estão sob contrato para transformar ou conceber uma situação de
trabalho (WISNER, 1996), fazendo um diagnóstico das situações que possam estar causando
nocividade, podendo tais modificações gerar impactos sobre a produtividade do trabalhador,
bem como sobre a qualidade e eficiência do trabalho, sobre a saúde ocupacional e sobre sua
segurança, conseqüências estas que podem ser negativas
41
, neutras ou positivas (DAS &
SENGUPTA, 1996; WINKEL & WESTGAARD, 1997). Para GUÉRIN et al (2001), as novas
situações de trabalho, concebidas a partir de um estudo ergonômico devem permitir aos
trabalhadores exercer suas competências num plano individual e coletivo, encontrando
possibilidades de valorização de suas capacidades e de preservação de sua saúde.
A Ergonomia, em sua interdisciplinaridade, estuda todos os aspectos
relacionados ao trabalho: físico, cognitivo e organizacional. Dentro do campo da “Ergonomia
Física”, destaca-se a relação entre as características humanas e as atividades físicas, além do
lay-out, saúde e segurança do posto de trabalho. A “Ergonomia Cognitiva” mantém relação
com os processos mentais e seus efeitos sobre a interação homem-sistema. A “Ergonomia
Organizacional” relaciona-se com a otimização do sistema sociotécnico estruturas
organizacionais, políticas e processo. A atividade de trabalho está na intersecção entre estas
três dimensões, sendo irredutível a uma ou outra (MENEGON et al, 2003), conforme se
evidencia na figura seguinte:
41
Um exemplo de efeitos negativos de uma intervenção pode ser encontrado em GUERÍN et al (2001), que cita
como exemplo uma intervenção focal realizada em um frigorífico com objetivo de melhorar a produtividade e
melhorar as condições de trabalho. A intervenção, que fez diminuir a penosidade do trabalho anteriormente
realizado, trouxe novos constrangimentos que fizeram aumentar as queixas sobre a saúde ocupacional.
60
Física
Cognitiva
Organizacional
Figura 2.3 Campos de especialização da Ergonomia: a atividade de trabalho é irredutível a uma ou outra
dimensão (Adaptado MENEGON et al, 2003, Fundamentos de Ergonomia).
O operário traz importante e significativa colaboração no processo produtivo,
sendo essa uma verdadeira premissa. Pessoas saudáveis têm maiores condições de produzir e
assim o resultado final do trabalho pode apresentar-se melhor do que anteriormente à
intervenção, quando as condições de saúde e segurança não eram consideradas. Além disso,
diminui-se gastos no que tange ao pagamento por dias de afastamento. Também devemos
considerar que, em alguns tipos de linha de produção, manter longe um operário que possui
um alto grau de especialização em uma determinada atividade pode diminuir a produtividade
local ou a qualidade do produto fabricado.
Considerando que a meta da Ergonomia deve ser também alcançar os objetivos
econômicos determinados pela empresa em função dos investimentos realizados ou futuros, já
que toda empresa objetiva lucro a curto ou em longo prazo, a mudança ocorrida no trabalho,
principalmente nos países industrializados, tornou a ergonomia um componente importante
para o êxito técnico, econômico e financeiro das novas tecnologias e crescimento da produção
nas novas instalações, deixando de ser somente uma luta pela saúde no trabalho, contra os
acidentes e pela melhoria das condições de trabalho, contribuindo para o desempenho positivo
da empresa (WISNER, 1996; GUÉRIN et al, 2001; SIQUEIRA, 2003). A melhora das
condições de saúde e alcance dos objetivos econômicos, na opinião de GUÉRIN et al (2001),
podem ser objetivos complementares, “desde que se aplique um procedimento que considere
interação entre uma lógica centrada no social e na produção” (p. 01), o que pode trazer como
resultado melhorias na lucratividade e ganhos para os trabalhadores em saúde, segurança no
trabalho e qualidade de vida (MAFRA, 2004). MAFRA (2004) diz que no desenvolvimento
de projetos de Ergonomia, uma necessidade econômica expressa também pela sociedade e
61
governo, à medida que ambos arcam com as conseqüências financeiras da ergonomia sobre o
projeto, funcionamento e decorrências dos sistemas de trabalho.
Nos últimos anos, tem-se observado aumento do interesse das empresas em
implantar ações ergonômicas (JACKSON FILHO e AMORIM, 2001). Algumas empresas têm
recorrido a serviços de consultores externos para implementar programas de ergonomia,
equacionar questões sobre saúde, conforto, projeto do espaço e de mobiliário, enquanto várias
outras têm desenvolvido estratégias para introduzir a Ergonomia e realizar ações ergonômicas
na empresa a partir da formação dos profissionais pertencentes aos SESMT, em Ergonomia e
da formação de “comitês de Ergonomia”, compostos por profissionais de diversos
departamentos e com função de definir os programas e as ações ergonômicas nas empresas.
(DIAS, 2000)
Apesar da clara vantagem da Ergonomia para as Empresas e do crescente
aumento da procura, esta ainda encontra barreira para disseminar-se nas empresas de menor
porte, não em nosso país, mas em outros. WALTARI et al(1980) diz que do ponto de vista
ergonômico, o lay-out do posto de trabalho e a produção das PME são pouco planejados,
sendo os conceitos de ergonomia pouco familiares às pequenas empresas, ao contrário do que
acontece na maioria das grandes empresas. Conseqüente às falhas ergonômicas nestes
ambientes, altas taxas de absenteísmo (DE KOK, 2005). Contesta-se muitas vezes a falta
de ergonomia nas PME, alegando que se houvesse tal estudo, grande parte destes problemas
poderiam ser detectados e poderiam ter sido evitados. Considerando que uma ação
ergonômica mostra seus resultados de forma mais clara nas empresas menores com claros
ganhos na produtividade, que as ações são mais interligadas e as reações mais visíveis, fica
difícil entender, à primeira vista, porque a mesma encontra-se ausente nestes ambientes. Antes
de questionar a pouca disseminação da Ergonomia nas empresas de pequeno e médio porte,
faz-se necessário entender a relação entre ambas.
Em primeiro lugar, as condições socio-econômicas em que um ambiente se
encontra, assim como o ambiente político, são importantes contribuintes para que ocorra ou
não uma ação ergonômica. WILSON (2000) diz que “a contribuição dos ergonomistas para o
crescimento e qualidade de vida nos países em desenvolvimento industrial é assunto para
política” (p. 561). Os trabalhadores e os ergonomistas enfrentam muitos dilemas e
dificuldades como constrangimentos impostos pelo meio externo, lidar com políticas internas
e sistemas sociais muito diferentes e tentar promover e apoiar profissionais locais através do
desenvolvimento de uma tecnologia ergonômica apropriada (WILSON, 2000).
62
Dentro do contexto de sistemas sociais diferentes, temos a questão da
ergonomia e a pequena e média empresa. O ambiente social e político das empresas menores
diferem muito do ambiente das grandes e mesmo entre si, como visto anteriormente. Na PME,
ausência formal de competências internas que possam apoiar a Ergonomia (BONNIN &
BEDR, 2001). Essa ausência de competências internas diz respeito à gestão econômica,
organização, regulamentação e também funcionamento humano, o que implica em uma gestão
que se apóia sobretudo no sentido implícito das coisas. O comportamento e as decisões dos
gerentes são guiados pelos indicadores financeiros da empresa, as ofertas do mercado, as
obrigações legais incontornáveis e o comportamento aprendido com seus pais ou com os
donos da empresa (BONNIN & BEDR, 2001). As peculiaridades deste ambiente irão,
portanto, demandar ações que possam adaptar-se às necessidades e limitações do mesmo. A
questão é até onde a Ergonomia insere-se facilmente nas empresas menores e quais as
abordagens mais condizentes com as PME.
Sobre os problemas relacionados à aplicação da Ergonomia nas PME, podemos
começar citando o tipo de gestão destas; quanto mais técnica e normativa ela o for, mais
afastado da realidade do funcionamento da empresa o gerente estará. Tal desconhecimento
trará dificuldades na hora de intervir na saúde de seus funcionários, podendo resultar em
equívocos. O estudo de BIQUAND et al (2001) atesta que a onipresença de lógicas simplistas,
quando não visão clara dos acontecimentos internos de suas empresas, traz como risco os
empregadores não conseguirem dar conta de ações em segurança, condições de trabalho e
ambiente, tampouco controlarem adequadamente a gestão de suas firmas.
2.4.2.1 As principais correntes da Ergonomia e sua relação com as PME
em 1984, a propósito da ergonomia em PME, era feita a constatação de que
a mesma “nasceu e desenvolveu-se em sistemas de maiores dimensões”
42
(BONNIN &
BEDR, 2001). Dentro do referencial da ergonomia, construído no contexto das grandes
42
Um equipamento pode ter incorporado os melhores conhecimentos oriundos da Human Factors Science e não
permitir um trabalho satisfatório à população de trabalhadores que o utilizam; esta seria a constatação fundadora
da Ergonomia Francófona.
Em relação à Análise Ergonômica do Trabalho, podemos dizer que visa à compreensão do trabalho para poder
transformá-lo, não se reduzindo à aplicação de conhecimentos nas situações de trabalho,
diferenciando-se da
prática tradicional da corrente “Human Factors”, “onde o ergonomista pode ser considerado um engenheiro das
‘interfaces’ de trabalho” (CHAPANIS, 1995; MEISTER, 1999, citados por JACKSON FILHO & AMORIM,
2001, p 02).
Apesar das diferenças, as duas correntes não são necessariamente “opostas”, sendo possível mesclar os
conhecimentos oriundos de ambas em uma ação ergonômica.
63
empresas, as principais correntes são a Abordagem Clássica, associada à Human Factors, de
origem anglo-saxão e que se apresenta focada na concepção de produtos e postos de trabalho
e a Abordagem Situada, associada à Análise Ergonômica do Trabalho (AET), de origem
francófona, centrada na análise da atividade e fundamentada no estudo das situações de
trabalho singulares e socialmente situadas (MENEGON et al, 1998, MENEGON et al, 2003).
Esta última abordagem também relaciona-se à Dinâmica da Negociação dos
Constrangimentos (WISNER, 1996).
Ao analisar as abordagens clássica e situada, vemos que a abordagem da AET,
se comparada à Human Factors, é a que possui maior instrumental para trabalhar dentro das
pequenas e médias empresas. VALOT (2001), por exemplo, acredita que a análise das
mudanças organizacionais a partir da Human Factors possui poucas ferramentas adaptáveis,
enquanto os modelos sociológicos e organizacionais podem nos ajudar a entender as
dinâmicas das necessidades e mudanças do trabalho e como elas fragilizam o operador.
BIQUAND et al (2001) diz que ao conduzir a mudança em pequenas empresas a partir da
ergonomia, deve-se construir uma nova relação de trabalho entre chefia e trabalhadores
também, devendo haver mudança na representação que ambos possuem sobre o trabalho,
havendo a necessidade de desenvolver em conjunto com eles indicadores de gerenciamento a
partir da análise da atividade de trabalho. Ainda, a intervenção ergonômica não pode mais se
limitar unicamente ao posto de trabalho do operador, pois os fatores que contribuem para
qualificar a complexidade e os constrangimentos são cada vez mais distantes deste posto de
trabalho (VALOT, 2001).
Indo além, sabe-se que a AET, ao propor uma abordagem centrada na lógica
social, convida a um trabalho baseado na análise participativa
43
e, conforme citado
anteriormente, na negociação dos constrangimentos, o que possibilitará criar uma realidade
comum, confrontando as necessidades da empresa e as opiniões dos trabalhadores, pois nem
sempre a visão dos trabalhadores condiz com a visão que os gerentes possuem sobre o
ambiente de trabalho, caracterizando assim diferentes representações da realidade. Desta
forma, fica mais fácil mudar a representação dos trabalhadores quando se implementam
mudanças. Conforme disse NANTEUIL (1998), a participação dos trabalhadores
correspondem a uma perspectiva de melhora das condições de trabalho e de pesquisa da
43
O desenvolvimento de um trabalho de Ergonomia baseado na análise participativa das situações de trabalho
real visa integrar a atividade de trabalho ao modelo administrativo, favorecendo ao mesmo tempo a apropriação
coletiva dos novos modelos de trabalho. (BIQUAND et al, 2001)
64
eficácia global. Esta participação tem como finalidade enriquecer ou renovar o diálogo social
nas empresas
44
.
Contudo, é necessário pensar em custos e adequação da AET à estrutura
organizacional das empresas de pequeno e médio porte, já que o alto custo e grande dispêndio
de tempo exigidos pela AET torna mais complicada a realização da mesma nos ambientes
menores, aonde recursos financeiros são mais escassos e poucos profissionais envolvidos
no gerenciamento da produção. Inverte-se a problemática, questionando não porque as
empresas menores apresentam maiores deficiências em seu ambiente, mas até onde a
ergonomia consegue responder às necessidades financeiras e organizacionais destas.
Além disso, um modelo de gerenciamento paternalista pode comprometer a
adoção de técnicas participativas
45
e impossibilitar mudar a representação dos trabalhadores,
que “problemas de comunicação” e grande resistência dos trabalhadores (e mesmo dos
empregadores) à mudança são muito comuns neste tipo de gerenciamento (BIQUAND et al,
2001).
2.4.2.2 Alternativas de ações ergonômicas voltadas às PME
A visível necessidade de adaptar a ergonomia à PME faz nascer algumas
alternativas de análise do trabalho e promoção à saúde adequadas ao tamanho da empresa, o
que reflete a necessidade de elaboração de um instrumento adequado e flexível às empresas
em questão, conciliando as peculiaridades deste ambientes e as suas reais necessidades, em
acordo com o que a estrutura pode oferecer em termos de recursos financeiros e humanos.
Na França, numerosos serviços de consultoria atuam em empresas de menor
porte, baseando-se nas necessidades e características destes ambientes. Estes serviços, não
exclusivos para PME mas adaptado a estas, são denominados Ergonomia de Performance
Global; nascem da necessidade da pequena empresa em obter uma análise da demanda
seguida pela análise do trabalho, que conduz a uma intervenção que reconstrua o projeto da
empresa em médio prazo, sendo que a interação direta com o chefe da empresa convida mais
fortemente a uma abordagem global que se afaste das abordagens técnicas e econômicas
(BONNIN & BEDR, 2001). São feitas evoluções entre o custo de práticas administrativas,
envolvendo simultaneamente considerações sobre eficiência, efetividade e relevância
enquanto colocam o trabalho humano no centro do problema, sendo assim um serviço
44
Tradução livre
65
diferenciado e abrangente (BONNIN & BEDR, 2001). O serviço investiga a coerência entre
métodos, objetivos e resultados, a partir da compreensão da atividade, combinando a
observação do real, o conhecimento científico sobre a relação homem/ trabalho e as
organizações, com propósito de elaboração participativa das soluções (BONNIN & BEDR,
2001).
Também na França, desenvolveu-se o Diagnostic Court (Diagnóstico Curto),
destinado a empresas com menos de 500 empregados e a estabelecimentos de grande grupos;
tem por objetivo ajudar os chefes das empresas e representantes dos trabalhadores a entender
as condições e os desafios de eventuais modificações da organização e do conteúdo do
trabalho, nos domínios das condições e da duração do trabalho, do emprego e da formação. É
feito gratuitamente e em cinco dias, por um especialista da Agence Nationale Pour
l’Amélioration dês Conditions du Travail/ ANACT ou por interventores indicados por ela
(Fonte: www.anact.fr. Acesso: 03/2006). Destes cinco dias, três são passados em campo e
dois são destinados ao tratamento dos dados (DELTOR & THON, 1992). Primeiro, o
Diagnostic Court faz análise da demanda, negociando as regras do jogo. Esta análise tem
como objetivo explicitar as grandes linhas da metodologia, desenhar o protocolo de
intervenção e apreciar as margens de manobra. Após este primeiro procedimento, é feito o
diagnóstico, com intuito de posicionar o problema colocado no contexto do sistema de
trabalho; é feita uma pesquisa dos pontos de entrada para uma ação. Finalmente, ocorre a ação
e restituição, sendo este o momento de apropriação das soluções, havendo hierarquização dos
pontos-chave e relacionando-os com a estratégia da empresa (DELTOR & GUERÍN, 1993).
O exercício de análise da demanda jamais deve ser interrompido na empresa (DELTOR &
GUERÍN, 1993).
O Diagnostic Court costuma ser desenvolvido com base em uma demanda do
chefe da empresa diante de contextos variáveis, tais como automação, modernização técnica,
concepção de uma nova unidade de produção, procedimentos de qualidade, prevenção de
riscos, reflexão sobre a evolução dos ofícios (DELTOR & THON, 1992), ficando evidente
sua forte atuação como orientadora de ações em um momento de mudança.
A rapidez do Diagnostic Court permite conciliar custo e eficácia; entretanto, o
método não visa levar soluções nem mesmo verdadeiros prognósticos a partir dos fatos
constatados, mas sim interpela a empresa sobre seu projeto e as condições colocadas em
prática para alcançar a credibilidade na condução de seu projeto (DELTOR & GUERÍN,
1993). Apesar de não visar propor soluções, observa-se no final que a distância entre
diagnóstico e intervenção não é tão grande (DELTOR & THON, 1992).
66
No Brasil, a FUNDACENTRO, com colaboração do International Labour
Office ILO – e da International Ergonomics Association – IEA –, editou a “Lista de
Verificação Ergonômica” LVE –, contida no livro “Pontos de Verificação Ergonômica”, a
qual traz não apenas um checklist para verificação dos principais fatores ergonômicos do local
de trabalho, mas também a explicação de cada aspecto que merece atenção. É voltada
principalmente para as empresas de menor porte, propiciando análise do local de trabalho a
baixo custo, que é facilmente aplicável (ILO/IEA, 2001). Contudo, tal objetividade dos
checklists não permite a análise das relações e da situação de trabalho, contrariando a visão da
abordagem situada e aproximando-se da abordagem clássica da Ergonomia. Conforme
ABDUCH DIAS (2000), a lista preocupa-se com a ênfase no sistema homem-máquina-tarefa,
ou mais precisamente no relacionamento do usuário com seu equipamento de trabalho. Por ser
uma divulgação recente, não foram encontrados, até a presente data, resultados da sua
aplicação em nosso país. A única alusão à lista encontrada refere-se ao trabalho do autor
citado acima, que atesta ser esta importante por estar voltada para projetos de máquinas e
equipamentos (ABDUCH DIAS, 2000).
Sobre a pertinência de tal lista, é óbvio que poderá trazer contribuições em
termos de melhoria dos dispositivos cnicos, principalmente em termos de segurança.
Entretanto, deixa a desejar em termos de confronto da subjetividade da atividade e as
diferentes representações. A distância entre o instrumento disponibilizado na França e a LVE,
assim como as devidas críticas à disseminação de ações ergonômicas em nosso país, será foco
de discussão no capítulo 5.
2. 5 Conclusão
Este capítulo iniciou-se com uma breve revisão acerca da saúde e segurança no
ambiente de trabalho, foco de nossa pesquisa realizada nas PME; a importância de
fundamentar tais ações não sob orientações quanto a atos seguros e procedimentos que
poupem a saúde, mas também sobre o ambiente, a fim de minimizar os riscos inerentes no
local de trabalho, foi discutida e justificada, deixando claro não as vantagens de tais ações
para o trabalhador, mas também para a empresa, com maiores ganhos de produtividade
advindos de menores taxas de absenteísmo e acidentes, assim como pelo aumento da
eficiência.
Compreendendo que para tal estudo também é fundamental entender as
características do ambiente sob análise, apresentou-se, seguinte à introdução supracitada, as
67
características das PME, considerando-se as diferenças de critérios classificatórios, os
motivos que levam a empresa a se manter pequena, as principais diferenças em relação às
grandes, os possíveis modelos gerenciais assumidos pelas PME bem como a população de
trabalhadores que a compõem, os problemas enfrentados, os caminhos encontrados para
driblar tais dificuldades e, por último, a capacidade inovativa destas empresas. As PME
mostraram grandes diferenças estruturais em relação às grandes em todos os tópicos, bem
como diferenças entre si. Há, entre elas, diversos motivos para o não-crescimento, bem como
distinto acesso à informação e à tecnologia, também sendo destaque os diferentes modelos
gerenciais assumidos nas PME, mesmo havendo semelhança entre elas quanto à proximidade
entre chefia e trabalhadores e quanto à visibilidade dos processos operados e das necessidades
dos trabalhadores, por parte dos gerentes. Dentre outras semelhanças entre as PME, destaca-se
a cultura, muito informal e perceptiva, também muito difícil de ser mudada, principalmente
entre os trabalhadores. A dificuldade de acesso ao crédito pela maioria, assim como as
alternativas para driblar a falta de recursos e de informação, tal como a formação de redes
com outras empresas, também se encontra exposta no capítulo.
Direcionando a discussão para os aspectos relacionados à saúde e segurança
nas PME, evidencia-se que as dificuldades enfrentadas acima também dificultam a condução
de tais ações nas PME: tanto a falta de recursos financeiros e humanos e de informação,
quanto o modelo gerencial assumido, mostraram-se em várias pesquisas como agentes
motivadores da dificuldade em conduzir tais ações nas PME, sendo muito comum achar
ambientes precários e ações sendo parcialmente desenvolvidas ou com ajuda de consultores
externos.
Analisando então as características da Ergonomia e sua compatibilidade com
as PME, evidencia-se a necessidade de desenvolver ações voltadas às empresas menores,
sendo que tal busca já foi pensada por pesquisadores da França, que expõem alternativas para
as PME tais como a Ergonomia de Performance Global e o Diagnostic Court, este último
financiado pela ANACT e não consistindo em agente interventor, mas sim em ferramenta de
diagnóstico das condições que podem ser melhoradas, guiando a empresa em seu momento de
crescimento ou de recriação.
A questão que se coloca neste trabalho refere-se às dificuldades enfrentadas
pelas PME sob estudo na adoção de ões em SST, mais especificamente em Ergonomia,
seguida de uma reflexão sobre métodos adequados às particularidade financeiras e gerenciais
destas empresas, visto que hoje muitos dos métodos divulgados em nosso país são
desenvolvidos tendo como ponto de referência empresas maiores ou apresentam-se com
68
poucas ferramentas adaptáveis às PME, que não investigação profunda de todos os
aspectos englobados na atividade de trabalho e tampouco a participação dos trabalhadores no
processo de análise.
Para entender melhor a relação entre saúde e trabalho nas PME, interessa-nos
esclarecer as seguintes questões:
- “Como são gerenciadas ações em SST no ambiente laboral?”
- “Quais seriam os requisitos mínimos em SST cumpridos pelas empresas de
pequeno e médio porte em nosso país?”
- “Como a ergonomia insere-se nestes ambientes?”
- “Como é vista a SST e a Ergonomia nestas empresas, bem como sua
importância?”
- “As possíveis dificuldades em conduzir ações em Ergonomia guardam
relação com o fato da mesma ter sido criada para as grandes empresas, as quais
por sua vez apresentam características organizacionais e recursos financeiros
diferentes dos encontrados nas empresas de menor porte?”
Recolher informação sobre a percepção que empresários têm da ergonomia,
das ações em Saúde e Segurança, das dificuldades em aplicar as normas nas empresas e de
como eles percebem a inadaptabilidade de certos preceitos, bem como suas limitações em
termos de informação e de recursos, é o objetivo deste estudo que mostrará, no próximo
capítulo, os dados da investigação conduzida.
3 MÉTODOS E PROCEDIMENTOS PARA OS ESTUDOS DE CASOS
3.1 Introdução
O capítulo 2 identificou diversas questões que serão respondidas no capítulo 4,
após condução da investigação prática e confronto dos dados encontrados na literatura. Tais
questões, alvo da pesquisa, giram em torno da forma como as PME tratam saúde e segurança
e como elas vêem sua importância, quais ações podem ser encontradas nas empresas menores
e qual o motivo da ausência de outras, quando houver. No presente capítulo, são descritas as
bases metodológicas que apóiam a pesquisa, envolvendo tanto a justificativa à revisão da
literatura, bem como a descrição e a justificativa dos meios utilizados para aquisição dos
dados práticos, complementado assim a argumentação trazida no capítulo 1, sobre modelo
conceitual, mais especificamente sobre estudos de caso e metodologia qualitativa.
3.2 Justificativa do paradigma e metodologia
A condição sinequanon para o início de qualquer investigação é a definição do
objeto de estudo, bem como o tipo de enfoque e os limites da pesquisa (CARVALHO, 1988).
Definiu-se como foco da pesquisa investigar as condições de saúde e segurança nas pequenas
e médias empresas, bem como verificar a existência e a abrangência de programas de
ergonomia nestes ambientes e as razões da ausência de medidas de saúde e segurança
(principalmente no tocante a ações ergonômicas), restringindo-se a observação prática a
empresas industriais de São José dos Campos. Como a pesquisa objetivou responder a
perguntas “como” e “por que”, a metodologia qualitativa foi o método adotado para a
pesquisa (cuja definição foi introduzida no capítulo 1 e será complementada a seguir).
A pesquisa qualitativa, como o próprio nome diz, presta-se a medir uma
qualidade, sendo muitas vezes fútil utilizar manipulação matemática, que investigações
sociais freqüentemente utilizam-se de interpretações e não de dados numéricos (GOODE &
HATT, 1969). De acordo com MARTINS (2004), graças ao fato desta metodologia
privilegiar os estudos de caso, forte crítica à questão da representatividade, que esta é
relacionada às possibilidades de generalização dos resultados e se baseia na noção estatística
da amostra. Contrapondo tal crítica, a autora diz que mesmo havendo dúvidas do ponto de
vista estatístico sobre a representatividade da amostra, em metodologia qualitativa não cabe
preocupar-se com a generalização, pois a característica deste tipo de estudo é a amplitude e a
70
profundidade, “visando à elaboração de uma explicação válida para o caso (ou casos) em
estudo, reconhecendo que o resultado das observações são sempre parciais” (p. 295). A
autora complementa o argumento citando LAPERRIÈRE (1997), que diz que a validade (e
rigor) destes estudos é sustentada e garantida pela solidez dos laços estabelecidos entre
nossas interpretações teóricas e nossos dados empíricos” (LAPERRIÈRE, 1997, p. 375,
citado por MARTINS, 2004, p 295).
Conceber uma pesquisa científica implica em não somente coletar dados
empíricos mas também em realizar pesquisas na literatura que permitam favorecer a criação
de “laços” entre as interpretações teóricas e os dados empíricos, além do estudo da
problemática teórica em torno do tema em pesquisa. Para THIOLLENT (1985), “a pesquisa
sociológica pode ser concebida de várias maneiras, mas sempre é construída em função de um
modelo teórico explicitamente formulado” (p. 38), ou em outras palavras, a pesquisa de
caráter científico requer uma explícita relevância dos fins, estabelecida a partir de uma
problemática teórica, sendo este o diferencial em relação a pesquisas de opinião pública
(THIOLLENT, 1985).
Seguinte a definição do objeto de estudo e do método de pesquisa, examinei as
referências bibliográficas existentes acerca dos temas em questão, o que possibilitou a
construção de um referencial teórico e isto, por sua vez, permitiu o traçar com maior
clareza os problemas a serem investigados, mas também prover informações e construir
interpretações sobre tais dados, tornando possível, em um momento posterior, construir
representações que apoiassem a discussão e confrontação dos achados na literatura, entre si e
em relação aos achados práticos.
A pesquisa bibliográfica é para KÖCHE (1999) aquela “que se desenvolve
tentando explicar um problema, utilizando o conhecimento disponível a partir das teorias
publicadas em livros ou obras congêneres” (p. 122), caracterizando-se como um meio
eficiente de obter informações, previamente ao início da investigação prática.
A partir da pesquisa bibliográfica, o pesquisador pode ampliar o grau de
conhecimento em uma área, o que possibilita por sua vez uma melhor delimitação ou
compreensão do problema de pesquisa. Graças à possibilidade de situar em que estado
encontra-se atualmente o problema, este tipo de pesquisa permite dominar o conhecimento
disponível e utilizá-lo como instrumento auxiliar na construção ou fundamentação da
hipótese, permitindo também descrever ou sistematizar o estado-da-arte sobre um
determinado tema ou problema (KÖCHE, 1999). Uma pesquisa que não se apóia em
referências bibliográficas corre o risco de cair em descrédito, podendo ter sua pouca
71
relevância científica assegurada por encontrar-se aquém das demais investigações feitas ou
mesmo pela ausência de bases que apóiem as idéias do autor e os achados práticos. Logo, a
pesquisa bibliográfica diminui o risco de equívocos ou de direcionar a investigação para
caminhos irrelevantes do ponto de vista científico.
que se considerar que a qualidade das fontes pesquisadas deve ser foco de
cautela por parte do pesquisador, devendo o mesmo evitar basear a pesquisa em referências
pouco confiáveis. Conforme colocação de CARVALHO (1988, p. 110), “é necessário
conhecer as fontes e os métodos para se chegar mais rapidamente e com segurança à
informação desejada”. Recorre-se às diversas fontes relevantes para consulta, incluindo desde
publicações avulsas, boletins, jornais, revistas, livros, pesquisas, monografia, teses, material
cartográfico etc, até meios de comunicação orais, tais como dio, gravação em fita
magnética, incluindo também os meios audiovisuais como filmes e televisão. Estabelece-se,
desta forma, um contato direto entre o pesquisador e tudo que foi escrito, dito ou filmado
sobre determinado assunto (LAKATOS & MARCONI, 1991; KÖCHE, 1999). Nesta
pesquisa, as fontes pesquisadas foram essencialmente fontes escritas, tais como artigos,
jornais, anais de eventos, entrevistas, livros, dissertações e teses, além de artigos disponíveis
na rede eletrônica e notas de aula.
A Pesquisa bibliográfica divide-se, segundo CARVALHO (1988), em três
momentos ou fases: identificação e localização de fontes e compilação de informações. A
partir da localização e consulta de fontes diversas de informação escrita ou audiovisual, sejam
dados gerais ou específicos a respeito de um determinado tema, o pesquisador levanta o
conhecimento disponível na área, analisando as principais contribuições teóricas existentes
sobre um determinado tema ou problema. Tais informações são necessárias para progredir no
estudo de um tema de interesse, uma vez que o levantamento teórico auxilia na compreensão
ou explicação do problema objeto da investigação. Após o acesso aos diversos dados, o
pesquisador deve manipular, articular e compilar as informações a ele disponibilizadas, de
forma a conduzir as informações para melhor apoiar a pesquisa em si e conduzir a conclusões
inovadoras. (LAKATOS & MARCONI, 1991; KÖCHE, 1999; CARVALHO, 1988) Logo, a
pesquisa bibliográfica não se caracteriza como mera repetição do que foi dito ou escrito sobre
determinado assunto, mas sim favorece o exame de um tema sob novo enfoque ou abordagem
(LAKATOS & MARCONI, 1991).
72
É importante citar que em um primeiro momento da pesquisa, anterior ao
exame de qualificação do mestrado
49
, a pesquisa apoiou-se em pontos de vistas outrem que os
atualmente apresentados. Houve, a partir desta primeira avaliação da pesquisa, uma mudança
da abordagem adotada e, conseqüentemente, das questões relacionadas à investigação do
estudo (e mesmo da representação do problema). Tal mudança de visão demandou novas
pesquisas sobre o tema, agora menos moldado em torno da visão sociológica, adotada na fase
anterior à qualificação. Foi exposta também, com maior clareza, a relação entre a abordagem
francofônica da Ergonomia e as PME. Se anteriormente à qualificação as pesquisas
apontavam para razões umas que justificassem a ausência da Ergonomia nas PME, tais como
a necessidade de realização do trabalho “sujo” expurgado das grandes empresas, além de
descaso com a saúde de quem trabalha, novos constructos teóricos surgiram sobre tal
ausência, graças ao refino da pesquisa, e assim as questões colocadas inicialmente sofreram
algumas modificações.
Após estabelecer as questões da pesquisa e realizar o levantamento
bibliográfico, naturalmente caminhou-se para a coleta dos dados empíricos. De acordo com
LAKATOS & MARCONI (1991), os dados empíricos podem ser obtidos através de pesquisa
de laboratório e pesquisa de campo. As questões levantadas (em ambas as fases) levaram à
realização de pesquisas de campo.
A pesquisa de campo pode ser definida como “aquela realizada com o objetivo
de conseguir informações e/ ou conhecimentos acerca de um problema para o qual se procura
uma resposta, ou de uma hipótese que se queira comprovar ou, ainda, descobrir novos
fenômenos ou a relação entre eles” (LAKATOS & MARCONI, 1991; p 186)
As técnicas específicas de pesquisa de campo têm como finalidade recolher e
registrar ordenadamente, através de técnicas tais como entrevista, questionário, formulário e
teste, os dados que interessam à pesquisa, podendo ser classificados como instrumentos de
observação controlada (CERVO & BERVIAN, 1972). Ainda, citam-se demais procedimentos
tais como observação participante, análise de conteúdo etc, para o estudo de um número
relativamente pequeno de unidades, mas geralmente sem o emprego de técnicas
probabilísticas de amostragem (LAKATOS & MARCONI, 1991).
Em uma pesquisa de campo, a possibilidade de observar como os fatos
ocorrem, coletar e registrar dados referentes ao que se pretende estudar, sendo possível
49
realizado em fevereiro de 2006.
73
comprovar ou refutar empiricamente, através destes, as hipóteses levantadas a partir das
referências teóricas e/ ou responder às questões feitas pelo pesquisador.
TRIPODI et al (1975) dividem a pesquisa de campo em três grandes grupos:
qualitativo-descritivo, exploratório e experimental. O presente estudo desenvolveu estudo de
campo exploratório, o qual pode ser definido, de acordo com TRIPODI et al (1975), como
investigações de pesquisa empírica que objetivam formular questões ou um problema, com
três finalidades, que são desenvolver hipóteses, aumentar a familiaridade do pesquisador com
um ambiente e realizar uma pesquisa futura mais precisa (ou modificar e clarificar conceitos).
Nos estudos exploratórios, são realizados procedimentos para obtenção de observações
empíricas, análise de dados ou ambos simultaneamente, sendo as descrições do objeto de
estudo tanto qualitativas quanto quantitativas (TRIPODI et al, 1975).
Os experimentos de campo
50
podem assumir, segundo FORTE (2006), três
formas: estudos de caso, estudo de campo e experimentos amostrais. O autor define o estudo
de caso como uma “situação, entidade ou conjunto de entidades que m um mesmo
comportamento ou são do mesmo perfil” (p. 09), assumindo maior profundidade e menor
amplitude em relação aos estudos de campo, em virtude do menor número de elementos de
pesquisa. As conclusões dos estudos de caso são particulares – o que impede generalizações –
e geram hipóteses para pesquisas de fenômenos que envolvam um maior contingente de
pesquisa. Os estudos de campo, por sua vez, “têm uma amplitude maior que os estudos de
casos, aceitam hipóteses, mas têm menos profundidade que os estudos de casos, resultando
em generalizações com certas restrições”.(FORTE, 2006, p. 09).
51
Finalmente, os
levantamentos amostrais “têm menor profundidade que os demais, mas são realizados com
uma população bem maior que os estudos de campo”, ou seja, têm uma grande amplitude,
utilizam-se de hipóteses e produzem generalizações na conclusão (FORTE, 2006, p. 09). O
estudo de casos foi eleito o método ideal para o estudo desenvolvido nesta dissertação, pois o
mesmo envolveu um pequeno número de pesquisados e buscou aprofundar a investigação dos
dados.
Os estudos de caso muitas vezes são criticados por não permitirem
generalizações; contra-argumentando tal crítica, que se dizer que, apesar destes não
50
É importante acrescentar que FORTE (2006), denomina de formas diferenciadas as expressões “experimento
de campo” e “estudo de campo”. Enquanto para este último, o termo “experimento de campo” assume a mesma
conotação do termo “pesquisa de campo” indicado por Lakatos & Marconi, o termo “estudo de campo” estaria
relacionado à profundidade assumida pelo experimento de campo.
Ter claro esta distinção da terminologia e de seu sentido é essencial, o que diminui o risco de má-interpretação
ou confusão dos termos neste trabalho.
51
O estudo de caso já foi descrito com detalhes no capítulo 1.
74
propuserem enumerar freqüências e não permitirem as generalizações estatísticas dos estudos
amostrais, eles permitem sim generalizações em relação às proposições teóricas evidenciadas
pela revisão da literatura, promovendo então generalizações analíticas. Além disso, o método
é o mais adequado para analisar fenômenos complexos, como no caso dos fenômenos
organizacionais, que não podem ser controlados pelo pesquisador (YIN, 1994). Em estudos de
caso, o pesquisador faz uso de análise fenomenológica para compreender os eventos a partir
de sua descrição e interpretação e tenta, ao mesmo tempo, reduzir a distância entre a teoria e
os dados (BERTO & NAKANO, 1998). A opção por estudo de caso deu-se pelo desejo de
estudar situações de vida real, em uma abordagem social, não quantificando dados mas sim
analisando o grupo a partir das representações dos envolvidos na pesquisa, seguindo um
paradigma interpretativo sobre os dados subjetivos, ou seja, o método escolhido privilegiou a
análise dos dados baseada na representação dos participantes e do examinador sobre os
problemas colocados pela pesquisa – dados não-quantificáveis.
Os estudos de caso podem ser simples ou múltiplos, sendo necessário, neste
último, indicar como e por que cada proposição isoladamente foi demonstrada (ou não
demonstrada) a partir de um tratamento individual para cada caso, sendo que a discussão deve
explicar possíveis contrastes e semelhanças entre os resultados obtidos, sem, entretanto,
promover generalizações estatísticas (LEE, 2005). Neste, realizou-se múltiplos estudos
(quatro, inicialmente), tendo sido preservada a unicidade de cada caso. Antes de iniciar a
descrição de como o estudo foi conduzido, será descrita a forma de seleção da população sob
estudo.
3.3 Seleção das empresas
Seguinte à definição da metodologia utilizada para a pesquisa, foi feito um
levantamento das pequenas e médias empresas existentes na cidade de São José dos Campos,
local escolhido para a realização dos estudos pelo grande número de empresas nela existentes.
Em um primeiro momento, foi feita uma seleção das empresas a partir de
catálogo fornecido pela ASSECRE Associação de Empresas das Chácaras Reunidas. No
referido catálogo, intitulado “GUIA do bairro Chácaras Reunidas 2004”, constam os nomes
apenas das empresas associadas à citada instituição cerca de 100 estabelecimentos,
incluindo os comerciais e de serviços. O catálogo fornecido não especifica o ramo de
atividade de muitas empresas nem o tamanho de cada uma, havendo somente no nome de
75
cada qual a possibilidade de identificação da área de atuação, o que acarretou dificuldades na
seleção. Muitas das empresas do catálogo são prestadoras de serviço ou micro empresas.
Foram selecionadas apenas empresas do ramo industrial, sendo que os critérios
de exclusão para o estudo foram o setor de atuação empresas do setor de comércio e
serviços não foram procuradas – e o tamanho – excluiu-se micros e grandes empresas.
Buscou-se, preferencialmente, encontrar empresas aonde houvesse programas de ergonomia.
Diante da ausência de empresas dispostas que atendessem a tais critérios, o critério passou a
ser a existência de programas focados na saúde e segurança do trabalhador.
Após excluir os estabelecimentos que obviamente não se adequavam à
pesquisa, foram selecionadas aleatoriamente 29 empresas, com as quais foi feito contato
telefônico e via correio eletrônico. BRADSHAW et al (2001), em seu estudo sobre provisão e
percepção da saúde ocupacional em várias PME de Sheffield, testaram diferentes formas de
abordar as empresas, que iam desde telefonemas às empresas explicando os objetivos da
pesquisa e requerendo contato direto com os gerentes, até o envio de uma carta a esses
gerentes, a qual continha em anexo um envelope selado para que a resposta fosse lhes enviada
de volta, a exemplo das cartas-resposta. A forma menos eficiente foi, sem dúvida, o contato
via telefone. A dificuldade do contato via telefone foi vivenciada por mim, ao tentar contatar
as empresas para que colaborassem com o estudo. A maioria das empresas com as quais foi
feito o contato se recusou a cooperar, alegando falta de tempo ou de interesse, o que dificultou
a coleta dos dados. Dentre as 29 empresas industriais sondadas, apenas quatro se propuseram
a participar do estudo. Como a quarta empresa era micro menos de 19 funcionários, fato
descoberto ao chegar na empresa
52
, não foi dada continuidade ao estudo desta, sendo a
mesma excluída das demais fases do estudo prático; entretanto, o relato do gerente foi de
grande valia e será citado no capítulo 4.
A seguir, uma breve descrição de cada uma das empresas que aceitou
participar deste estudo:
ME: Está é uma microempresa voltada para o ramo de usinagem, com
apenas 4 funcionários. Produz peças sob encomenda para vários tipos
de indústria.
52
Mediante contato via telefone, o próprio dono da empresa a qualificou como pequena e não como micro; além
disso, ele considera, ao contabilizar o número de funcionários, os temporários. Em algumas épocas, quando
aumentam as encomendas de produtos, o número de funcionários pode alcançar a margem para classificação da
empresa como pequena - 19 funcionários.
76
PE-1: É uma pequena empresa voltada para ferramentaria e estamparia,
possuindo 60 funcionários. Produz peças principalmente para o setor
automobilístico.
PE -2: A empresa fabrica cabos e componentes para telefonia, sendo
uma empresa de médio porte, segundo o gerente. Para o mercado, no
entanto, pode aparecer como pequena empresa. Possui 45 funcionários,
classificando-se como pequena de acordo com o SEBRAE.
MDE:A empresa pode ser considerada como de médio porte
caminhando para grande, pois possui 200 funcionários em seu quadro
geral. As atividades da empresa se concentram no setor de autopeças de
metalurgia, além de pintura e manutenção de tais peças.
(dados obtidos mediante entrevista)
53
Como a micro empresa foi excluída das demais etapas do estudo, seguiu-se
investigando apenas as outras três empresas, de pequeno e de médio porte, sendo que apenas
duas delas, a PE-1 e a MDE, participaram integralmente da primeira fase da pesquisa. Na
segunda fase, posterior à qualificação, o novo encaminhamento dado à pesquisa e as novas
questões tornaram necessária nova visita a campo. Retomado o contato com as três empresas
que participaram do início do processo, apenas as duas empresas que participaram
integralmente da primeira fase de pesquisa aceitaram colaborar, fornecendo as novas
informações necessárias ao estudo; a pequena empresa 2, que não havia participado
integralmente na primeira fase do estudo, continuou a manter-se distante. Cabe acrescentar
aqui que o contato com a PE-1 foi difícil nesta segunda fase, pois a funcionária com a qual era
mantido o contato havia sido desligada da empresa, dificultando a comunicação e acesso a
esta.
3.4 Coleta de dados
A coleta de dados é, de acordo com BARROS & LEHFELD (2000), “a fase da
pesquisa em que se indaga e se obtém dados da realidade pela aplicação de técnicas” (p. 89).
53
Usaremos as siglas PE para as Pequenas Empresas e MDE para a Média Empresa estudada,
siglas correspondentes ao porte destes estabelecimentos, já adotadas pelo SEBRAE.
77
Em pesquisas de campo e/ ou qualitativas, é comum utilizar questionários e entrevistas, sendo
a escolha do método guiada pelo tipo de informação que se deseja obter ou pelo tipo de objeto
de estudo (BARROS & LEHFELD, 2000, CERVO & BERVIAN, 1972). Para toda coleta de
dados, recomendam-se bons registros, sendo preciso para tanto utilizar meios mecânicos, tais
como filmagens, gravações e transcrições destas, fotografias, elaboração de relatórios,
preenchimentos de formulários, diários de campo, etc (GOODE & HATT, 1969; BARROS &
LEHFELD, 2000).
Tendo em vista a grande importância em se mapear o problema e melhor
delinear as questões que este trabalho desejava responder, foi feita uma visita preliminar às
empresas selecionadas para investigação, sob a forma de um “estudo piloto”, posterior a uma
prévia pesquisa sobre o assunto na literatura. GOODE & HATT (1969) elucidam que mesmo
depois de a literatura ter sido cuidadosamente estudada e os especialistas consultados, o
pesquisador ainda pode ter somente vaga idéia sobre os elementos cruciais no seu problema,
ou mesmo não ter certeza sobre o material que busca se informar, sendo, nesta fase
preliminar, de grande valia realizar um estudo-piloto, que ajudará o pesquisador a esclarecer e
formular hipóteses mais concretas para um estudo posterior. Este estudo-piloto auxilia
também a economizar tempo e esforço e a evitar hipóteses errôneas e insignificantes
(GOODE & HATT, 1969).
Fez-se o “estudo piloto” sob a forma de uma entrevista, conduzida dentro de
cada empresa, nos dias previamente marcados, entre os meses de janeiro e abril de 2005. A
entrevista foi registrada através de anotações e gravações em áudio utilizando-se gravador
portátil , realizada com a permissão dos entrevistados. GOODE & HATT (1969) dizem que
a entrevista é a base sobre a qual repousam os outros elementos da pesquisa.
A entrevista é uma conversa orientada para recolher, através do interrogatório
do informante, dados úteis à pesquisa, servindo também para evidenciar a realidade que se
deseja apreender (CERVO & BERVIAN, 1972; SILVA, 2002; YIN, 1994). Recorrem-se às
entrevistas também quando necessidade de dados que não podem se encontrar em registros
e fontes documentárias e podem ser fornecidos por certas pessoas, sendo utilizados os dados
para estudo de fatos, tais como estudos de casos ou de opiniões (CERVO & BERVIAN,
1972).
“Toda a entrevista consiste no desenvolvimento de precisão, focalização,
fidedignidade e validade de um certo ato comum à conversação” (GOODE & HATT, 1969, p.
237). Segundo estes mesmos autores, nem fidedignidade, nem profundidade podem ser
alcançadas se não estiver claro na mente do pesquisador que a entrevista é fundamentalmente
78
um processo de interação social, devendo o processo de obtenção dos dados ser tão
estruturado pelo caráter de interação social, que muita atenção é necessária para este aspecto.
É necessário não dispor de material adequado, mas também é importante “que o
pesquisado aceite o pesquisador, disponha-se a falar sobre a sua vida, introduza o pesquisador
no seu grupo e dê-lhe liberdade de observação” (MARTINS, 2004, p 294).
Para conduzir a entrevista, um roteiro foi elaborado
54
. GOODE & HATT
(1969) explicam a importância de um roteiro de entrevista, uma vez que este permite melhor
conduzi-la, sendo permitido ao entrevistador modificar as questões se necessário for para a
compreensão da mesma naquele momento. Acrescenta-se aqui a importância do roteiro para
que o entrevistador não se desvie do objetivo e não confunda a si mesmo ou ao entrevistado,
colocando questões desordenadas ou sem sentido, principalmente quando este entrevistador
não domina a técnica da entrevista. Com o planejamento das perguntas e ordenação das
mesmas, fica mais difícil esquecer, no momento da entrevista, questões importantes à
investigação, sendo mais fácil manter a segurança tanto do entrevistador quanto do
entrevistado. Conseqüentemente, o último sente-se confortável para expressar-se e fornecer,
de forma completa, as informações desejadas.
As questões da entrevista tiveram por objetivo observar as características dos
programas de saúde e segurança nas empresas, quais pessoas estavam envolvidas, os tipos de
atividades desenvolvidas por tais programas, assim como a forma de mensuração dos
resultados. A entrevista aplicada nesta fase também teve o propósito de trazer maiores
informações a respeito das empresas, tais como número de funcionários, características das
atividades desenvolvidas e dos produtos manufaturados, turnos de trabalho e ações voltadas à
saúde e segurança que poderiam ser encontradas nas empresas.
BARROS & LEHFELD (2000) classificam as entrevistas em “estruturadas” e
“não-estruturadas”
55
. A entrevista estruturada seria aquela que possui questões previamente
formuladas, isto é, o entrevistador estabelece um roteiro próprio de perguntas, não havendo
liberdade para alterar os tópicos ou fazer inclusões de questões frente às situações; já a
entrevista não-estruturada baseia-se em conversações que levantem aspectos relevantes que
possam ser utilizados na análise qualitativa. THIOLLENT (1985), por sua vez, chama de
entrevista dirigida o que anteriormente foi definido como “entrevista estruturada”. Os
54
Seu roteiro encontra-se no apêndice deste trabalho (apêndice A).
55
BARROS & LEHFELD (2000) utilizam o termo “estruturação” para designar as perguntas que não podem ser
alteradas durante o momento da entrevista. A interpretação para o termo “estruturação”, quando citados por
GOODE & HATT (1969) neste trabalho, refere-se entretanto a respostas que podem seguir um padrão pré-
estabelecido ou podem resultar em diferentes formas de responder, segundo interpretação do entrevistado. É
preciso ter claro as diferenças no uso do mesmo termo por ambos os autores.
79
entrevistadores seriam, neste caso, executores passivos das instruções do questionário e
descarregados de toda iniciativa ou esforço intelectual. a entrevista não-dirigida ou não-
diretiva, segundo THIOLLENT (1985), seria aquela que permite uma maior proporção de
perguntas livres, sendo este um meio de aprofundamento qualitativo da investigação, também
denominado por Barros & Lehfeld “entrevista não- estruturada”. GOODE & HATT (1969) e
CERVO & BERVIAN (1972), entretanto, não classificam como “entrevistas” o procedimento
de investigação anteriormente definido “entrevista estruturada” ou “entrevista dirigida”. Eles
atribuem a estes o termo “formulário”, uma vez que o pesquisador pergunta e preenche ele
mesmo a folha de respostas às perguntas formuladas, de acordo com a fala dos entrevistados.
A entrevista seria, para GOODE & HATT (1969), uma grande proporção de questões não-
estruturadas ou abertas
56
.
Como não foram rigidamente seguidas as questões propostas, havendo
modificações quando se julgava pertinente e de acordo com o rumo que a entrevista tomava, a
entrevista realizada seguiu o padrão de entrevista não-diretiva, se considerarmos a definição
de THIOLLENT (1985), ou entrevista não-estruturada, se considerarmos a visão de BARROS
& LEHFELD (2000); dentro deste padrão, a entrevista pôde ser definida, de acordo com
BARROS & LEHFELD (2000), como focalizada, uma vez que diante de uma série de
questões previamente definidas, foi possível inclusão ou exclusão de itens. Isso não diminuiu,
de forma alguma, a homogeneidade da aquisição dos dados essenciais, uma vez que o
objetivo era alcançar relatos sobre a qualidade, não sobre quantidade. Justifica-se também a
mudança em algumas perguntas pela necessidade de conduzir o entrevistado a fornecer os
dados de maneira completa e clara.
Essa primeira entrevista, realizada anteriormente à qualificação desta
dissertação, auxiliou na construção de objetivos mais específicos que se queria investigar. Se
anteriormente à entrevista o objetivo era inquirir sobre como eram conduzidas as ações em
Ergonomia nas PME, o contato preliminar com as empresas fez surgir um novo
questionamento; no caso, como são conduzidas as ações de saúde e segurança nas pequenas e
médias empresas e até onde a ergonomia encontra espaço de ação. Mais que um estudo piloto,
essas entrevistas trouxeram os resultados preliminares apresentados nesta dissertação.
Na fase pré-qualificação do presente trabalho, aplicou-se posteriormente à
entrevista, entre os meses de agosto e setembro de 2005, a “Lista de Verificação
Ergonômica”/ LVE, contida no livro “Pontos de Verificação Ergonômica”, que é uma
56
Apesar das diferentes classificações, deixo claro que o trabalho adotou a classificação de
CERVO & BERVIAN (1972) e GOODE & HATT (1969) para entrevista, questionário e formulário.
80
continuação da publicação ILO Higher Productivity and a Better Place to Work: Action
Manual (Maior Produtividade e um Melhor Local de Trabalho: Manual de Ações)
.
Este último
livro, preparado pela ILO- International Labour Office em 1988, teve como intuito melhorar
as condições de trabalho nas pequenas e médias empresas. Divulgado amplamente pelo
mundo, o livro “Pontos de Verificação Ergonômica” foi editado no Brasil em 2001 pela
FUNDACENTRO. Os Pontos de Verificação Ergonômica a que se referem o livro abordam
128 aspectos do local de trabalho que merecem atenção, sendo explicada a necessidade de
agir sobre cada um deles. Estes 128 pontos se dividem em 10 tópicos, a saber: manipulação e
armazenagem de materiais 21 itens; ferramentas manuais 15 itens; segurança e
maquinário de produção 20 itens; melhoria do design do posto de trabalho 15 itens;
iluminação 10 itens; instalações 6 itens; riscos ambientais 7 itens; comodidade e bem-
estar 5 itens; equipamentos de proteção individual 8 itens; organização do trabalho 21
itens. Estes itens foram identificados como de suma importância às pequenas empresas.
Cada um dos 128 itens tem sua importância descrita no livro, assim como dicas
de procedimentos úteis para sua viabilização. O checklist
57
“Lista de Verificação
Ergonômica” contida neste livro auxilia na checagem dos 128 pontos durante a inspeção na
empresa. A lista possui três alternativas de resposta para a pergunta “propõe alguma ação?”, a
saber: “não”, “sim” e “prioritário”. O examinador deve percorrer o local de trabalho
assinalando às alternativas dicotômicas (sim/não) e, após terminada a checagem, deve
percorrer novamente o local de trabalho e, dentre os itens assinalados “sim”, selecionar quais
são prioritários. A lista dispõe ainda de um espaço, em cada item, para possíveis observações
do analista. Uma cópia integral desta lista pode ser encontrada em apêndice neste trabalho
(apêndice B).
Considerando que alguns itens não se aplicavam às empresas em questão (itens
68, 69, 70, 121 e 122), os mesmos foram excluídos da checagem, reduzindo para 125 o
número de itens a serem analisados. Além disso, não foram estabelecidas prioridades de ação
para estas empresas no momento do preenchimento do checklist, pois o objetivo maior desta
aplicação era identificar apenas os pontos deficitários das empresas, sem distinção entre ações
mais ou menos urgentes. A lista foi aplicada, em ambas as empresas, por mim e pelo
entrevistado na ocasião, sendo que para tal preenchimento foi feita visita à fábrica,
possibilitando uma clara inspeção e checagem dos itens. A colaboração do entrevistado foi
57
O Ministério da Saúde diz que o procedimento através de checklists ajuda a diagnosticar de maneira simples e
ordenada os diferentes fatores de risco existentes, devendo estes ser utilizados em conjunto com uma análise
mais completa dos locais de trabalho (LEÃO & PERES, 1993)
81
fundamental para o esclarecimento de eventuais dúvidas relativas ao processo e ambiente de
trabalho.
O livro “Pontos de Verificação Ergonômica” propõe-se a levar aos
empresários, pessoal de saúde e segurança, profissionais de ergonomia, pesquisadores ou
qualquer outro profissional que esteja envolvido na melhoria das condições de trabalho,
instruções quanto à importância de cada ação sugerida e como melhorar os pontos deficientes
do local de trabalho, que o livro tenta cobrir os principais fatores ergonômicos deste local.
Nesta etapa, apenas duas das três empresas participantes do estudo, uma pequena e a média
empresa, colaboraram para a investigação.
A aplicação da lista contida no referido livro recebeu críticas da banca de
qualificação pois, apesar de ser um protocolo útil desenvolvido especialmente para pequenas e
médias empresas, visando uma melhoria das condições de trabalho, checklists são indicadores
das condições gerais e básicas do ambiente de trabalho, não fornecendo uma análise profunda
e detalhada das mesmas. Conforme achados da literatura, “os checklist correspondem a uma
primeira aproximação para o encaminhamento posterior de avaliações posteriores mais
detalhadas” (MENEGON et al, 2002, p 05), não respondendo à questão sobre os riscos
ergonômicos, pois a situação é única e condicionada por causas relacionadas (MENEGON et
al, 2002). Portanto, mais importante do que reconhecer os fatores de risco é entender a
atividade de trabalho, para saber de fato como um fator afeta a saúde do trabalhador
(ASSUNÇÃO & LIMA, 2003). De fato, tal lista não conseguiu responder às questões
colocadas, servindo apenas de parâmetro das condições de saúde e segurança
principalmente desta última nas empresas. Pouco ela se propõe a abordar o problema da
Saúde e da Ergonomia a partir da perspectiva francofônica, a qual, por sua vez, possui maior
ferramental para analisar as condições de saúde e as relações entre os atores do trabalho nas
PME, segundo colocação de CAMAROTTO (2006). Com esta fala, não se pretende
desmerecer o valor que a LVE pode ter ao trazer melhorias ao trabalho nos ambientes aonde
não é possível aplicar a metodologia AET; entretanto, os fatos evidenciados fizeram surgir
uma nova pergunta, relacionada à dificuldade de inserção de uma metodologia mais
direcionada às necessidades organizacionais da PME tal como a AET, tornando-se esta uma
nova questão a ser investigada. Pode-se dizer portanto que o exame de qualificação e os
questionamentos levantados a partir dos primeiros resultados obtidos, bem como a nova
revisão da literatura, determinaram um novo rumo para a investigação.
Diante da necessidade de refino da pesquisa e dos novos encaminhamentos,
um novo questionário foi elaborado para a fase pós-qualificação, propondo-se a perguntar
82
diretamente aos empresários, gerentes, ou responsáveis por saúde e segurança nas empresas
estudadas, quais visões possuíam estes sobre Ergonomia, Saúde e Segurança, sua importância
e suas limitações na empresa. Tal questionário inspirou-se em pesquisa realizada por
BRADSHAW et al em 2001 no Reino Unido, que inquiriram representantes das empresas
sobre a importância dada por eles à saúde e segurança no ambiente de trabalho, até onde eles
a viam como parte importante ao andamento da firma, quais ações eram por eles providas e
até onde eles viam-se responsáveis por gerenciar SST e fornecer informações aos
trabalhadores. A elaboração deste questionário também foi guiada pela expressa necessidade
de resposta às questões obtidas ao final da nova revisão da literatura, que se relacionam à
ausência de alguns requisitos em SST nas empresas, especialmente da Ergonomia.
O questionário é o instrumento mais utilizado para levantar informações,
estando restrito a uma determinada quantidade de questões, possibilitando medir com maior
exatidão o que se deseja (BARROS & LEHFELD, 2000; CERVO & BERVIAN, 1972). Este
meio de obter respostas a questões ocorre através do preenchimento direto do próprio
informante, sendo diferenciado do formulário por este último ser uma coleção de questões
perguntadas e anotadas por um entrevistador numa situação face a face com outra pessoa
(GOODE & HATT, 1969; CERVO & BERVIAN, 1972). Em ambos os casos as perguntas
são as mesmas para todos os informantes e cada item no questionário em si mesmo constitui-
se em uma hipótese ou parte dela, devendo as respostas obtidas serem significativas para seu
problema central (GOODE & HATT, 1969).
De acordo com BARROS & LEHFELD (2000), os questionários podem ser
abertos, fechados ou mistos. As perguntas abertas são aquelas que levam o informante a
responder livremente. As perguntas fechadas o aquelas que apresentam categorias de
respostas fixas, tais como alternativas dicotômicas sim/não ou múltipla escolha, sendo
para estas permitido, em alguns casos, a escolha de uma ou mais alternativas. Embora a
maioria das perguntas abertas ou fechadas deste tipo de instrumento permita somente algumas
alternativas de respostas itens estruturados, segundo GOODE & HATT (1969) pode
haver um ou mais itens que permitam um amplo número de respostas – itens não-estruturados
(GOODE & HATT, 1969).
O questionário elaborado para a segunda fase do estudo possui perguntas
abertas e fechadas e divide-se em três partes. Na primeira parte, são feitas quatro perguntas
fechadas sobre a empresa, a saber: porte, tipo, tempo de funcionamento e relacionamento com
os trabalhadores. Na segunda parte, são feitas 12 perguntas fechadas e 4 abertas sobre saúde e
segurança, tais como a forma de gerenciamento das ações de saúde e segurança na empresa,
83
as atividades desenvolvidas em termos de saúde e segurança, uso de EPIs, normas
regulamentadoras aplicadas na empresa, quem se responsabiliza por fazer cumprir as mesmas,
o que é considerado mais ou menos importante, por que não cumprem algumas normas – caso
não as cumpram –, o que acham que poderia ser melhorado em termos de saúde e segurança,
até onde acham que a saúde é responsabilidade dos empregadores ou dos trabalhadores, além
da opinião dos entrevistados sobre as políticas de SST existentes. Na terceira parte, são feitas
7 perguntas fechadas, direcionadas à ergonomia e organização do trabalho, tais como a
existência de estudos sobre a organização do trabalho na empresa, o conhecimento que
possuem sobre a ergonomia e como vêem suas vantagens para a organização, bem como a
disponibilidade em aplicar tais programas nas empresas e o que acham que poderia motivar
ações ergonômicas. O questionário é acompanhado de instruções de preenchimento, o qual
alerta ser possível anotar mais de uma resposta quando houver questões de múltipla escolha.
Além disso, há espaço para os respondentes anotarem suas opiniões e comentários. Modelo do
questionário encontra-se no apêndice deste trabalho (apêndice C).
Apesar de os questionários servirem como instrumento de coleta de dados para
análises quantitativas, este questionário não se propôs a quantificar os resultados nem a
comparar os resultados entre os respondentes, servindo de guia para investigação das
situações socialmente situadas neste estudo de caso. Através do exame das questões abertas e
fechadas, torna-se possível construir proposições acerca das questões levantadas, para cada
caso estudado.
O desenvolvimento de um questionário, segundo GOODE & HATT (1969),
deve esboçar as implicações lógicas de seu problema e apoiar-se na sua experiência e na
literatura para obter as questões. Uma vez elaborado o questionário, baseado na literatura
encontrada através da pesquisa bibliográfica e guiado pela necessidade de obter respostas às
questões levantadas, o mesmo foi submetido à avaliação do orientador deste projeto, o qual
forneceu seu aval para aplicação deste em campo.
Tendo em mãos o questionário, o passo seguinte foi pensar em como abordar
as empresas para que respondessem ao mesmo. duas formas de aplicar um questionário:
via contato direto ou envio por correio. Quando o contato é direto, o pesquisador pode
explicar e abordar os objetivos da pesquisa, esclarecendo possíveis dúvidas sobre as questões.
um questionário enviado via correio deve possuir as instruções claras para seu
preenchimento, residindo sua vantagem no fato de que uma maior população pode ser
envolvida na amostra. Desvantagens deste último método são a baixa taxa de devolução dos
84
questionários respondidos e a impossibilidade de esclarecer dúvidas do respondente.
(BARROS & LEHFELD, 2000; CERVO & BERVIAN, 1972)
A possibilidade de envio do mesmo via correios para outras empresas,
seguindo o exemplo de BRADSHAW et al (2001) foi a primeira alternativa pensada; porém,
foi recomendado a mim que não os distribuísse aleatoriamente nas empresas, sob risco de
obter um baixo número de retorno de questionários respondidos, principalmente se fosse
considerado o grande número de questões (28, no total) presentes no questionário. Antes, os
levar pessoalmente às empresas, conversar com os gerentes e estar presente no momento do
preenchimento, para esclarecer sobre possíveis dúvidas. Entretanto, ao contatar via telefone as
três empresas previamente contatadas na primeira fase, duas delas –no caso as duas pequenas
pediram que o questionário fosse enviado via e-mail, para que os responsáveis por
preenchê-los pudessem avaliar o conteúdo do questionário e a possibilidade de respondê-los
sozinhos, até porque estes respondentes dispunham de pouco tempo. Destas duas empresas,
apenas a PE-1 retornou o contato.
A média empresa, além de ter se proposto a responder o questionário, trouxe-
nos uma surpresa. Neste ano que passou desde o último contato, melhorias em termos de
organização do trabalho, saúde e segurança haviam sido implementadas, apesar de não terem
sido validadas com base na AET; foram mudanças feitas informalmente, segundo a percepção
dos responsáveis por saúde e segurança e a demanda por ações. O técnico de segurança,
responsável pela saúde e segurança nesta empresa, concordou em fornecer informações
complementares a este estudo e permitiu nova visita ao local de trabalho, completando desta
forma a segunda fase de coleta de dados.
A visita foi agendada para final de novembro de 2006 e consistiu na
observação das mudanças ocorridas, relatório de tais mudanças feito mediante entrevista com
o técnico de segurança e resposta ao questionário elaborado.
3.5 Conclusão
Seguindo a metodologia proposta, partiu-se para a coleta dos dados em campo.
A coleta de dados dividiu-se em duas fases: fase pré-qualificação, que apresentou resultados
preliminares da pesquisa, e fase pós-qualificação, após novo delineamento das questões da
tese. Diante da possibilidade de enriquecer a discussão, consideraram-se os achados de todas
as fases do estudo, a fim de melhor confrontar os achados práticos e teóricos. Na fase de
85
resultados, portanto, encontramos os achados práticos obtidos ao longo destes dois anos de
pesquisa, pertinentes para encaminhamento da discussão.
No capítulo 5, os dados práticos serão confrontados com os achados da
literatura, em uma discussão que não limitar-se-á a dissertar sobre os resultados da pesquisa
de campo versus a revisão de literatura, mas sim que ampliar-se-á para construir
considerações sobre o tema em questão, seja refletindo sobre os achados na literatura, seja
refletindo sobre os resultados das diversas fases da pesquisa, em uma discussão que se ocupa
em discutir os conflitos de opiniões e as idéias comuns.
4 RESULTADOS DA ANÁLISE
4.1 Introdução
Neste capítulo, são descritos os resultados das investigações em campo desta
pesquisa, tendo os dados empíricos sido coletados em duas fases, pré e pós-qualificação. Na
primeira delas, o objetivo era caracterizar de maneira geral as empresas envolvidas nos
estudos de caso, investigando especificamente as medidas voltadas à saúde e segurança dos
trabalhadores. Tal investigação foi realizada primeiramente através de uma entrevista
preliminar, cujo roteiro encontra-se no apêndice A, secundariamente através da aplicação da
“Lista de Verificação Ergonômica”, cujo roteiro encontra-se no apêndice B, que detectou
prontamente várias deficiências do local em termos de manutenção de bem-estar, saúde e
segurança dos trabalhadores. Novas questões vieram à tona após a qualificação, motivando
novos desdobramentos para a pesquisa, o que levou à necessidade da realização de uma nova
fase de estudos e coleta de dados, direcionada à percepção que os responsáveis pela Saúde e
Segurança possuem a respeito da importância das ações e as dificuldades enfrentadas para
implementar as mesmas, justificando a elaboração e aplicação de um questionário,
apresentado no apêndice C deste trabalho. Todos os dados coletados são apresentados neste
capítulo, segundo a ordem de coleta. A discussão, englobando os achados na literatura e os
resultados obtidos, será desenvolvida no capítulo 5.
4.2 A entrevista preliminar: primeira visita a campo
O primeiro procedimento em campo consistiu em uma entrevista com
representantes da empresa, os quais contribuíram com informações a respeito do número de
funcionários, atividades desenvolvidas, ações em saúde e segurança existentes na empresa,
entre outras
58
. Seguem abaixo os dados coletados na primeira entrevista, para as quatro
empresas participantes do estudo, até então.
58
Vide apêndice A para detalhes do roteiro.
87
4.2.1 Caso 1: A Pequena Empresa 1 (PE-1)
Esta pequena empresa produz peças principalmente para empresas do setor
automobilístico. Possui 60 funcionários, que se revezam em 2 turnos de trabalho: o primeiro
que se inicia às 7hs da manhã e o segundo que se inicia às 16hs 20min. pausa de 1 hora
para o almoço (ou jantar) todos os dias.
As atividades de confecção de peças para a indústria automobilística são
realizadas em dois setores: ferramentaria e estamparia. Dentro da ferramentaria, os postos de
trabalho são fixos, não havendo rodízio. São seis máquinas de prensa, molde e guilhotina e
em cada máquina um funcionário. na área de estamparia, um rodízio diário entre as
prensas, máquinas de solda e montagem de peças, determinado pelos supervisores. Para
manuseio de peso, utilizam carrinhos e empilhadeiras. Utilizam-se os seguintes Equipamentos
de Proteção Individual –EPI –: protetor auricular, óculos, sapatos de segurança, luvas.
na empresa a Comissão Interna de Prevenção de Acidentes CIPA –, que
verifica as situações de risco à integridade física. Os “cipeiros” fazem cursos e, uma vez ao
ano, é realizada na empresa a SIPAT – Semana Interna de Prevenção de Acidentes de
Trabalho.
Não há, no quadro da empresa, médicos, funcionários ou qualquer outro
profissional voltado para a saúde; aliás, nem técnico de segurança do trabalho há, tampouco
engenheiro de segurança. O responsável por manter a segurança, gerenciar ações e orientar
quanto à prevenção de acidentes são os dois “cipeiros”. O estudo da organização do posto de
trabalho é feito pelos líderes da empresa e em termos de produção, não de condições de
trabalho. Obviamente, não existem pessoas que trabalhem com ergonomia, nem comitês
internos, tampouco planejamento de posto de trabalho, ferramentais ou mobiliário.
Devido à não-existência de um quadro de funcionários voltado à saúde nas
empresas, uma prestadora de serviços em medicina do trabalho realiza os serviços de saúde
“necessários” (SIC
59
). Tendo como objetivo a execução do PCMSO (Programa de Controle
Médico de Saúde Ocupacional), são feitos exames periódicos incluindo testes de audiometria,
são providas informações em saúde e segurança para os funcionários, além serem realizados
com os funcionários 10 minutos de alongamento antes do início das atividades do turno. A
empresa terceirizada também realiza o PPRA (Programa de Prevenção de Riscos Ambientais).
Apesar de tentar cumprir as NR 4, 5, 6, 7 e 9, não serviços terceirizados ou serviços
59
Segundo informações colhidas
88
internos voltados para o cumprimento da NR-17 na empresa. As funcionárias da
administração, que forneceram as informações preliminares, não sabem ao certo o que é a
Ergonomia, havendo também desconhecimento do cipeiro” entrevistado quanto ao tema em
questão e sua importância.
O esquema a seguir sintetiza os dados sobre as ações em SST encontradas
nesta empresa:
Figura 4.1 – A SST na PE-1
Obs: pelo número de funcionários e atividades desenvolvidas, a empresa não necessita, pelo
SESMT, possuir técnicos ou engenheiros de segurança de trabalho, nem médicos, enfermeiros
ou auxiliares de enfermagem em seu quadro de funcionários, pois se classifica em grau de
risco 3.
4.2.2 Caso 2: A Média Empresa (MDE)
A empresa pode ser considerada como de médio porte caminhando para
grande, pois possui 200 funcionários em seu quadro geral, considerando sua outra filial. As
atividades da empresa se concentram no setor de autopeças de metalurgia além de pintura e
manutenção de tais peças, fornecendo seus produtos para empresas do setor automobilístico.


(Metal-mecânico)
Voltadas prioritariamente à
segurança e controle médico:
SESMT (terceirizado)
EPI’s
CIPA
PPRA (terceirizado)
PCMSO (terceirizado)

60 funcionários
Trabalhadores não opinam
sobre as mudanças
- ferramentaria
-
estamparia
89
O trabalho é realizado em dois turnos: o primeiro das 7 da manhã às 17 horas e o segundo das
17:10 às 2:40 da madrugada.
A empresa possui setores de usinagem, serragem, prensa e pintura de peças. A
especialização dos funcionários impede que o trabalho seja mais variado, sendo que cada
operador acaba se responsabilizando por uma atividade específica, havendo pouco rodízio.
Dentre as medidas de segurança, além de proteção nas máquinas de prensa, a
empresa estabelece que seus funcionários utilizem EPIs tais como botas, óculos de segurança,
protetor auricular, além de uniformes específicos na área de pintura como respirador com
filtro – e luvas nas áreas de serra e dobra.
Em termos de controle da saúde e segurança na empresa, nos últimos anos vem
se buscando melhorias no ambiente de trabalho. Além de o departamento de Recursos
Humanos RH estar começando a se estruturar, os serviços internos de saúde e segurança
vêm experimentando evoluções. A CIPA da empresa realiza palestras sobre saúde e segurança
no trabalho, bem como eventos como a SIPAT. Alguns serviços que não podem ser
conduzidos diretamente pela empresa, tais como o PCMSO e o PPRA, o feitos por uma
empresa terceirizada, havendo ões de preservação ambiental, tais como tratamento da água
utilizada na fabricação das peças antes que aquela caia na rede de esgoto. São cumpridas as
normas estabelecidas pelas NR-4, 5, 6, 7 e 9.
um técnico de segurança contratado pela empresa, cujo papel estende-se à
intermediação do diálogo entre empresa e funcionários. Os trabalhadores opinam na
introdução de melhorias nos locais de trabalho, sendo estas levadas para a gerência e, a partir
destas, transformações são pensadas. Quando mudança de maquinário ou quaisquer
mudanças no local de trabalho, a empresa realiza treinamento com os funcionários para
prepará-los para o novo ambiente. Importante citar que um ano, as ações da empresa em
relação ao trabalhador estavam mais voltadas para a parte de segurança, dificilmente havendo
mudança em um posto de trabalho ou em uma máquina. Apesar da constante busca da
melhora das condições de trabalho, iniciada no último ano, e da busca por cumprir a NR-17,
as melhorias não são estabelecidas formalmente dentro do escopo da ergonomia, tampouco
validadas por qualquer instrumento de análise, não havendo, na empresa, serviços internos ou
contratação de consultores externos especificamente voltados à Ergonomia. Resumem-se, no
esquema seguinte, os primeiros achados práticos sobre saúde e segurança nesta empresa:
90
Figura 4.2 A SST na MDE
Obs: pelo número de funcionários e atividades desenvolvidas, a empresa necessita, de acordo
com o SESMT, possuir 1 técnico de segurança de trabalho, pois se classifica em grau de risco
3, de acordo com o entrevistado.
4.2.3 Caso 3: A Pequena empresa 2 (PE-2)
A empresa, com 45 funcionários, fabrica cabos e componentes para telefonia,
sendo uma empresa de pequeno porte, considerada pelo gerente, no entanto, como de médio
porte. Cada setor é organizado de maneira diferente, havendo maior rotatividade na área
administrativa, onde um trabalho em equipe e auxílio do pessoal. Na produção, as funções
e postos são mais fixos, havendo alguma rotatividade com menor freqüência. Os
departamentos e setores da empresa não são definidos claramente.
O trabalho na linha de produção é realizado em um turno apenas, havendo uma
hora de intervalo por dia. As máquinas são semi-automatizadas e as atividades exigem mais
concentração do que operacionalização, consistindo na checagem do produto que sai da
máquina e no acionamento da máquina através de um pedal, o trabalho sendo basicamente de
acompanhamento da produção. Em caso de necessidade ou disfunção, assim como em caso de
desalinhamento do produto, será preciso apertar botões e acertar o material manualmente.
também uma máquina-teste, usada para testar os produtos fabricados. Não manuseio de


Voltadas à saúde e segurança:
SESMT (técnico de seg. do
trabalho)
EPI’s
CIPA
PPRA
PCMSO (terceirizado)
Estudo informal em
Ergonomia

200 funcionários
Trabalhadores opinam sobre
as mudanças no ambiente de
trabalh
-usinagem
-serragem
- prensa
- pintura
91
peso e nem manuseio de ferramentas para realizar as atividades. Na parte da máquina que
envolve concentração e na máquina teste, o trabalho pode ser feito sentado; nem sempre é
possível escolher ficar em pé.
Quanto aos EPIs, utilizam luvas como as de ferragem, pois outros EPIS não
são necessários, segundo os gerentes. Na empresa, não um comitê de ergonomia, mas
discussão com os funcionários sobre as condições de trabalho e formas de melhorar a
produtividade, havendo preocupação em relação à saúde. São feitos estudos entre o gerente de
produção e a liderança da empresa para eliminar fadiga e repetitividade nos setores
necessários; diretores, gerentes e supervisores são as pessoas que auxiliam no controle da
produção, produtividade e melhoria das condições de trabalho. Apesar de ser feita uma busca
direta para solucionar os problemas em foco, não há trabalho de prevenção de doenças
ocupacionais – a equipe envolvida percebe as deficiências a partir da observação e dos relatos
dos funcionários, estuda as possíveis soluções e as implanta. O trabalho em equipe é muito
forte e discussão das mudanças com as pessoas envolvidas no processo de trabalho, na
busca por um consenso entre a equipe e os funcionários. Somente não participação dos
trabalhadores no que diz respeito às decisões gerenciais. Apesar de haver resistência em
aceitar mudanças, pela preocupação com a perda da função ou mesmo do emprego, soluções
que não levam à mudança de função ou à demissão são aceitas.
Nunca houve acidente de trabalho ou absenteísmo causado por condições
insalubres de trabalho, conforme atesta o entrevistado. A empresa diz controlar as condições
de saúde de seus funcionários e os riscos ambientais, não tendo deixado claro se são eles ou
consultores externos os responsáveis por conduzir PCMSO e PPRA. Em 2000, 70
funcionários solicitaram no ministério do trabalho a vinda do médico e da segurança do
trabalho. Deste trabalho, aproveitaram o conhecimento adquirido e começaram a desenvolver,
sozinhos, as ações de saúde e segurança.
A preocupação por parte da engenharia e da equipe com saúde e segurança
surgiu após o aumento do quadro de funcionários de 12 para 55, para melhorar produtividade.
Antes, não havia tais preocupações. De um curso de administração feito pela gerência, surgiu
na empresa a filosofia de que seu maior patrimônio são os funcionários.
(Nas fases seguintes deste estudo, esta empresa não forneceu dados).
O subseqüente esquema mostra, de forma resumida, os achados sobre SST
nesta empresa:
92
Figura 4.3 A SST na PE -2
Obs: pelo número de funcionários, a empresa não necessita, pelo SESMT, possuir técnicos,
engenheiros de segurança de trabalho, nem enfermeiros, auxiliares de enfermagem ou
médicos em seu quadro de funcionários.
4.2.4 Caso 4: A Micro empresa (ME)
Apesar desta empresa ter sido excluída do estudo por seu porte, os relatos deste
empresário foram incluídos por serem considerados de suma importância para a discussão do
capítulo 5.
As atividades realizadas na empresa consistem na soldagem de peças, sendo
três os produtos fabricados (o empresário não os especificou); os funcionários fixos são
polivalentes, fazendo “um pouco de cada coisa” (SIC). Existem muitas frentes de trabalho,
não havendo segregação do trabalho porque a própria estrutura organizacional não permite,
inexistindo portanto o conceito de posto de trabalho ou funções definidas. As tarefas não são
repetitivas, tampouco exigem alto grau cognitivo. O controle de carga manuseada não é feito;
se o trabalhador não consegue levantá-la sozinho, a tarefa de carregamento é dividida entre
duas pessoas.
A fábrica possui dois funcionários em seu quadro fixo, contratando
temporários ou terceirizados de outras empresas quando aumenta a demanda por funcionários
devido ao aumento da produção. Em épocas de muitas encomendas, o número de




Voltadas à saúde e segurança:
EPI’s
CIPA
PPRA
PCMSO
Estudo informal do trabalho

45
funcionários
Trabalhadores opinam sobre
as mudanças no ambiente de
trabalho
cabos e
componentes
93
funcionários, somando temporários e efetivos, pode chegar a dez. No momento da entrevista
havia quatro funcionários no chão de fábrica.
O gerente (e dono) diz que em sua empresa uma preocupação voltada à
facilidade de trabalho, sendo que o conforto é pensado, mas não qualquer tipo de política
de ergonomia ou de promoção da saúde além da utilização dos Equipamentos de Proteção
Individual. Os funcionários possuem dificuldades em usar os EPIs, só fazendo uso dos
mesmos quando o chefe manda. Dentre os EPIs usados, citam-se dois tipos de máscara de
soldagem, luvas, protetor auricular.
Segundo este empresário, que foi proprietário de uma média empresa,
praticamente nenhuma pequena e média empresa hoje em dia investe em ergonomia; estuda-
se a facilidade de trabalho. Falta conhecimento, dinheiro, condições estruturais na empresa
para organizar um trabalho em ergonomia. O empresário relatou ainda que em todas as
empresas existe uma fase “heróica”, na qual o “cara da empresa” (SIC) faz tudo, até que a
mesma atinja um nível em que possa se profissionalizar. Essa profissionalização ocorre,
segundo o entrevistado, quando se tem em torno de 40 funcionários. É por estar vivendo esta
fase heróica que o empresário é o único pertencente à área administrativa da empresa.
No esquema a seguir, é possível visualizar os resultados em termos de SST
para a microempresa:
Figura 4.4 A SST na ME
Obs: pelo número de funcionários, a empresa não necessita, pelo SESMT, possuir técnicos,
engenheiros de segurança de trabalho, nem enfermeiros, auxiliares de enfermagem ou
médicos em seu quadro de funcionários.


Voltadas à segurança:
EPI’s

2 funcionários
Trabalhadores não
participam, não opinam
soldagem de peças
94
4.2.5 Comentários sobre os dados da primeira entrevista
Os relatos expostos acima permitem-nos presumir que as ações voltadas à
Saúde e Segurança tendem a ser menores à medida que diminui o porte da empresa, também
de acordo com as atividades exercidas e o modelo de gerenciamento assumido. Na ME,
muita improvisação de mobiliário, uso de máquinas obsoletas, o ambiente é evidentemente
precário. Não qualquer controle à saúde (mesmo que desenvolvidos por empresas
terceirizadas) a não ser o uso dos EPIs.
A PE-2
60
, que trabalha com tecnologia de ponta, apresentou preocupação em
desenvolver ações em Saúde e Segurança, mesmo que informais, assim como a MDE-1. Em
ambas tal interesse surgiu após atingirem um patamar de crescimento, refletido no aumento
do número de funcionários. Entretanto, a PE-1, mesmo estando há mais de 5 anos no mercado
no ramo de metalurgia, já tendo experimentado fases de crescimento, não demonstra interesse
em investir em ões referentes à Ergonomia e Organização do Trabalho, nem mesmo em
desenvolver ações informais voltadas à melhoria do ambiente de trabalho. Não se investigou
nesta fase a característica de gerenciamento de cada empresa, mas pelos relatos e por
entrevistas posteriores, sabe-se que na MDE e na PE-2 o relacionamento entre chefia e
trabalhadores é participativo, pois as mudanças informais são guiadas pelo diálogo entre
ambos.
Além do diálogo e do crescimento, é possível que a PE-2 (por ser Empresa de
Base Tecnológica) e a MDE possuam maior acesso ao conhecimento e melhor estrutura que
as demais, uma vez que o líder da ME alegou ser a falta de conhecimento e de estrutura um
fator importante para a não-ação. Tais fatos, bem como demais motivos para investir ou não
em SST além do mínimo exigido por lei ou mesmo em Ergonomia e Organização do Trabalho
serão investigados em fase seqüente, uma vez que estas entrevistas visaram fornecer dados
preliminares ao estudo.
4. 3 Os aspectos físicos do local de trabalho, observados a partir da aplicação da LVE
Tal procedimento contou com a colaboração da PE-1 e a MDE para a aquisição
dos dados. Para os 128 itens da lista, obtivemos os seguintes resultados, sumarizados nas
seguintes tabelas
61
:
60
A empresa se auto -classifica Média Empresa, provavelmente por critérios de receita bruta anual
61
Assinalando “sim”, indica-se a necessidade de propor ações que equacionem o problema relacionado ao item.
95
TABELA 4.1 Manipulação e armazenagem de materiais (21 itens):
PE MDE
Manipulação e armazenagem de materiais.
É proposta ação?
sim não sim não
01. Limpe e marque as rotas de transporte
X
X
02. Mantenha passagens e corredores amplos o suficiente para permitir transporte em duas vias
X
X
03. Faça com que as superfícies das rotas de transporte não sejam escorregadias e elimine obstáculos
X
X
04. Providencie rampas com inclinação menor que 5 a 8 por cento ao invés de escadas e elimine diferenças de nível
entre zonas de trabalho
X
X
05. Melhore o layout da área de trabalho, minimizando a necessidade de movimentação de materiais.
X
X
06. Use carrinhos, rebocadores ou outro dispositivo com rodas para a movimentação de materiais
X
X
07. Usar gaiolas móveis para evitar carregamentos e sobrecargas desnecessárias
X
X
08. Use gaiolas ou prateleiras com níveis, próximas ao local de trabalho p/ minimizar transporte manual de
materiais
X
X
09. Usar dispositivos mecânicos para abaixar, levantar e mover materiais pesados.
X
X
10. Reduza o manuseio de materiais usando correias, esteiras e outros dispositivos mecânicos de movimentação
X
X
11. Ao invés de carregar grande peso, divida a carga em porções menores
X
X
12. Utilize alças, cabos ou proporcione bons pontos de pega para objetos e embalagens
X
X
13. Elimine ou minimize diferenças de alturas quando materiais são movidos manualmente
X
X
14. Introduza e retire materiais horizontalmente, puxando ou empurrando, ao invés de abaixando e levantando
X
X
15. Elimine tarefas que exijam flexão ou rotação do corpo, quando do manuseio de materiais
X
X
16. Providencie dispositivo para que, quando do carregamento, o objeto seja mantido próximo do corpo
X
X
17. Providencie dispositivos que possibilitem elevar e abaixar os materiais, mantendo-os próximos do corpo e
minimizem rotação ou flexão
X
X
18. Quando do carregamento de carga por mais que uma pequena distância, providencie dispositivos que
distribuam simetricamente a carga e evite esforço assimétrico.
X
X
19. Combine trabalho pesado com atividades leves para prevenir lesões e fadiga.
X
X
20. Distribua convenientemente os coletores de resíduos.
X
X
21. Marque as rotas de escape e mantenha-as livres de obstáculos.
X
X
TOTAL 5 5
96
TABELA 4.2 Ferramentas manuais (15 itens):
PE MDE
Ferramentas manuais.
É proposta ação?
sim não sim não
22. Use ferramentas especiais para tarefas repetitivas
X
X
23. Providencie ferramentas manuais de potência seguras e promova a utilização das proteções
X
X
24.Especifique séries de ferramentas paras trabalhos repetitivos em um mesmo posto
X
X
25. Desenvolva dispositivos de fixação que suportem a peça e possibilitam o uso das duas mãos pelo operador
X
X
26. Providencie apoios para as mãos quando da execução de tarefas de precisão
X
X
27. Minimize o peso das ferramentas (exceto para ferramentas de impacto)
X
X
28. Escolha ferramentas que possam ser operadas com força mínima
X
X
29. Providencie ferramentas com uma pega de espessura, comprimento e forma que facilite o manuseio
X
X
30. Providencie ferramentas com pegas que tenham fricção adequada ou com guardas e batentes que evitem o
escorregamento e beliscões
X
X
31. Providencie ferramentas com isolamento para prevenir queimaduras e choques elétricos
X
X
32. Minimize vibrações e ruídos em ferramentas de potência
X
X
33. Providencie um local para cada ferramenta
X
X
34. Inspecione e faça manutenção regularmente nas ferramentas
X
X
35. Treine os trabalhadores antes de permitir que utilizem ferramentas de potência
X
X
36. Proporcione espaço suficiente e piso estável para operação de ferramentas de potência
X
X
TOTAL 6 2
97
TABELA 4.3 Segurança e maquinário de produção (20 itens):
PE MDE
Segurança e maquinário de produção.
É proposta ação?
sim não sim não
37. Proteja controles para evitar acionamentos acidentais
X
X
38. Posicione os controles de emergência em locais visíveis e de fácil acesso para os operadores
X X
39. Utilize diferentes tipos de controle para facilitar a distinção entre eles
X X
40. Certifique-se que o operador pode alcançar todos os controles confortavelmente
X
X
41. Localize os controles na seqüência da operação
X X
42. Use os movimentos esperados para os acionamentos dos controles
X X
43. Limite o número de pedais e facilite o acionamento dos mesmos
X N/A N/A
44. Projete mostradores e sinais fáceis de serem distinguidos uns dos outros e de fácil leitura
X
X
45. Utilize marcas ou cores em mostradores para ajudar o operador entender o que fazer
X X
46. Remova ou cubra mostradores que não estão sendo usados
X X
47. Use símbolos apenas quando eles são facilmente entendidos pelos operadores
X
X
48. Faça rótulos e sinais fáceis de serem vistos, fáceis para ler e entender
X
X
49. Use sinais de aviso que os operadores possam facilmente entender e compreender
X
X
50. Use gabaritos e dispositivos que facilitem e tornem segura a operação
X X
51. Compre máquinas seguras
X X
52. Use dispositivos de alimentação e ejeção para manter as mãos longe das partes perigosas das máquinas
X X
53. Use guardas fixas e barreiras para evitar contato com as partes móveis das máquinas
X X
54. Use comandos interligados para tornar impossível o acesso do operador às partes perigosas durante a
operação
X X
55. Regularize as inspeções, manutenções e limpezas dos equipamentos, inclusive instalações elétricas
X X
56. Treine os operadores para operação segura e eficiente
X X
TOTAL 6 0
98
TABELA 4.4 Melhoria do design do posto de trabalho (12 itens):
PE MDE
Melhoria do design do posto de trabalho.
É proposta ação?
sim não sim não
57. Ajuste as alturas de trabalho para o nível dos cotovelos ou um pouco abaixo, para cada trabalhador
X X
58. Garanta que os trabalhadores menores tenham acesso aos controles e matérias em uma postura natural
X X
59. Garanta que os operadores maiores tenham espaço suficiente para mover facilmente as pernas e o corpo
X X
60. Coloque matérias, ferramentas e controles freqüentemente usados na zona de alcance preferencial
X
X
61. Utilize, em cada posto de trabalho, superfícies auxiliares estáveis
X
X
62. Especifique trabalho sentado para tarefas que requerem precisão ou inspeção detalhada, e trabalho em pé
para tarefas que requerem movimentos do corpo e força
X
X
63. Garanta que o operador possa ficar em pé, suportando seu peso em ambos os pés, realizando o trabalho em
frente e perto do seu corpo
X X
64. Permita que o operador alterne posturas sentadas e em pé, sempre que possível
X
X
65. Para o trabalho em pé, providencie cadeiras ou apoios para que o operador sente-se ocasionalmente
X
X
66. Para o trabalho sentado, providencie cadeiras com regulagens e apoio para as costas
X
X
67. Providencie superfícies de trabalho ajustáveis para trabalhadores que trabalham com peças grandes e
pequenas alternadamente
X
X
71. Envolva os trabalhadores na introdução de melhorias nos locais de trabalho
X X
TOTAL 0 5
Obs: Itens 68, 69 e 70- não se aplicam
99
TABELA 4.5 Iluminação (10 itens):
PE MDE
Iluminação.
É proposta ação?
sim não sim não
72. Incremente o uso de luz natural
X
X
73. Utilize cores luminosas para paredes e teto quando mais luz se faz necessária
X X
74. Utilize maior iluminação em escadas, rampas e outras áreas de trabalho
X X
75. Melhore a iluminação das áreas de trabalho para minimizar mudanças de brilho
X X
76. Promova iluminação suficiente para que os operadores trabalhem confortavelmente o tempo todo.
X X
77. Providencie iluminação local para trabalhos de precisão e de inspeção
X X
78. Mude fontes de luz ou utilize barreiras para eliminar incidência de luz direta nos olhos
X X
79. Remova superfícies brilhantes do campo de visão do operador para eliminar reflexos
X X
80. Utilize um bom fundo visual para tarefas que requerem atenção continuada
X X
81. Mantenha janelas e luminárias limpas
X X
TOTAL 1 0
TABELA 4.6 Instalações (6 itens):
PE MDE
Instalações
É proposta ação?
sim não sim não
82. Proteja o trabalhador de calor excessivo
X
X
83. Proteja o operador de fontes externas de calor e de frio
X
X
84. Isole ou separe fontes de calor ou frio
X
X
85. Instale sistemas de exaustão efetivos que permitam trabalho seguro e eficiente
X
X
86. Incremente o uso de ventilação natural para melhorar o clima do ambiente interno
X
X
87. Melhore e mantenha o sistema de ventilação para assegurar a qualidade do ar
X
X
TOTAL 4 4
100
TABELA 4.7 Riscos ambientais (7 itens):
PE MDE
Riscos ambientais.
É proposta ação?
sim não sim não
88. Isole ou cubra máquinas ruidosas ou partes das máquinas
X
X
89. Mantenha máquinas e ferramentas regularmente em ordem para reduzir ruído
X
X
90. Deixe claro que o ruído não interfere na comunicação, segurança e eficiência do trabalho
X
X
91. Reduza a exposição à vibração para melhorar a segurança, saúde e eficiência do trabalho
X
X
92.Escolha lâmpadas de mão que tenham um bom isolamento elétrico e de calor
X X
93. Garanta instalações e conexões seguras para equipamentos e lâmpadas
X X
94. Proteja os operadores de riscos químicos de maneira que possam realizar o trabalho de forma segura e
eficiente
X X
TOTAL 2 2
TABELA 4.8 Comodidade e bem-estar (5 itens):
PE MDE
Comodidade e bem-estar
É proposta ação?
sim não sim não
95. Disponibilize e mantenha as instalações dos vestiários, lavabos e sanitários assegurando higiene e asseio
X X
96. Providencie bebedouros, áreas de alimentação e de descanso para promover bons desempenhos e bem estar
X X
97. Melhore as instalações de serviços pessoais em conjunto com os trabalhadores
X X
98. Planeje local para reuniões e treinamento dos trabalhadores
X X
99. Delimite claramente as áreas que exigem o uso de equipamentos de proteção individual
X X
TOTAL 0 0
101
TABELA 4.9 Equipamentos de Proteção Individual (8 itens):
PE MDE
Equipamentos de proteção individual.
É proposta ação?
sim não sim não
100. Especifique matérias de proteção individual que sejam efetivos na proteção
X
X
101. Especifique matérias de proteção individual que vistam bem e sejam fáceis de manter, quando o risco não
pode ser eliminado de outra maneira
X
X
102. Instrua, treine e promova a adaptação ao uso dos equipamentos de proteção individual
X
X
103. Assegure que em todos casos necessários o pessoal use efetivamente o equipamento de proteção
individual
X
X
104. Verifique se o equipamento de proteção individual é aceito pelos operadores
X
X
105. Providencie suporte para a manutenção regular dos equipamentos de proteção individual
X
X
106. Providencie local adequado para guardar os equipamentos de proteção individual
X
X
107. Defina responsabilidades diárias para a limpeza e manutenção da higiene dos locais de trabalho
X
X
TOTAL 3 1
102
TABELA 4.10 Organização do trabalho (19 itens):
PE MDE
Organização do trabalho.
É proposta ação?
sim não sim não
108. Envolva os trabalhadores no planejamento diário do trabalho
X X
109. Consulte os trabalhadores na definição de escalas de trabalho
X X
110. Resolva problemas do trabalho envolvendo grupos de trabalhadores
X X
111. Consulte os trabalhadores quando da implementação de mudanças na produção ou quando forem
necessários para a segurança, facilitação ou trabalho mais eficiente
X X
112. Recompense os trabalhadores pelas suas ajudas na melhoria da produtividade e do espaço de trabalho
X X
113. Informe os trabalhadores regularmente acerca dos resultados do seu trabalho
X X
114. Treine trabalhadores para assumir responsabilidades e lhes dê meios para fazer melhorias no seu trabalho
X X
115. Promova oportunidades de fácil comunicação e ajuda mútua no local de trabalho
X X
116. Promova oportunidades para o trabalhador aprender novas habilidades
X X
117. Projete trabalho em grupo, onde coletivamente o grupo fica responsabilizado pelos resultados
X
X
118. Melhores situações de trabalho que sejam difíceis ou rejeitadas
X
X
119. Combine tarefas para fazer o trabalho mais interessante e variado
X
X
120. Utilize um pequeno estoque entre diferentes estações de trabalho
X
X
123. Considere as preferências e habilidades dos trabalhadores quando da designação de tarefas
X
X
124. Faça adaptações para trabalhadores deficientes que possibilitem realizarem suas atividades de modo
seguro e eficiente
X
X
125. De a atenção devida para a segurança e a saúde de mulheres grávidas
X
X
126. Tome medidas para que trabalhadores idosos possam executar suas tarefas segura e eficientemente
X
X
127. Estabeleça planos de emergência para assegurar fácil acesso e evacuação em operações emergenciais
X
X
128. Aprenda e compartilhe meios de melhorar as situações de trabalho por intermédio das experiências da sua
empresa e de outras
X
X
TOTAL 4 4
Obs: Os itens 121 e 122 não se aplicam
103
Analisando os resultados por categoria, temos o seguinte resultado, para a
pequena e para a média empresa:
TABELA 4.11 Valores por categoria analisada:
Não-conformidade. É proposta
ação em quantos itens?
Resultado geral Itens por
seção
PE MDE
Manipulação e armazenagem de
materiais
21
5
5
Ferramentas manuais 15
6 2
Segurança e maquinário de produção 20
6 0
Melhoria do design do posto 12
0 5
Iluminação 10
1 0
Instalações 6
4 4
Riscos ambientais 7
2 2
Comodidade e bem-estar 5
0 0
Equipamentos de Proteção Individual 8
3 1
Organização do trabalho 19
4 4
Total 123
5
31 23
Ambas as empresas apresentam itens diversos que precisam de melhorias. É
evidente que as empresas possuem diferenças quanto aos itens a serem melhorados; sublinha-
se aqui que o objetivo não é comparar as empresas quanto aos itens cumpridos ou não, pois se
entende a unicidade de cada caso. A comparação a ser feita versa sobre a menor conformidade
com os itens da LVE, apresentada pela PE-1, em relação à Média Empresa, o que pode ser
conseqüência da menor disponibilidade de ações voltadas para a saúde e bem-estar do
trabalhador nas primeiras, incluindo falta de ações que busquem melhorar as condições físicas
do ambiente. clara demanda por ações ergonômicas nestas empresas, uma vez que o
que melhorar em termos de segurança, bem-estar, qualidade de vida e estrutura física do
ambiente em ambas. A seguir, breve descrição do resultado da aplicação da LVE em cada
empresa.
4.3.1 A PE-1: Breve descrição do resultado da aplicação da LVE
Observando os aspectos físicos do local de trabalho, ficam claras as limitações,
tais como pequeno espaço para transporte de cargas em carrinhos ou empilhadeiras, o que
pode vir a dificultar agilidade no transporte de cargas ou mesmo motivar o trabalhador a
5
5 dos 128 itens não se aplicavam às empresas investigadas, justificando a análise de apenas 123 itens nas
mesmas.
104
carregar manualmente pesos elevados, para desta forma agilizar o processo produtivo. Além
disso, os constantes obstáculos presentes nas rotas de transportes podem desmotivar ainda
mais o uso de carrinhos. Uma característica positiva do galpão é o fato de não possuir rampas
ou escadas na parte destinada a usinagem, somente havendo escadas para acessar os
escritórios.
Quanto ao layout da área de trabalho, algumas melhorias, tais como
diminuição de níveis de alcance manual ou redução da necessidade de movimentação de
materiais, poderiam ser pensadas. Muitos materiais são armazenados em pallets no chão,
exigindo grande flexão e rotação de tronco ao mesmo tempo em que manuseio de peso (20
kg). Mesmo diante da constatação de que manuseiam objetos de 20 kg, justificou-se que a
maioria dos produtos manuseados é leve e, portanto, não seria necessário, de acordo com a
empresa, utilizar dispositivos para auxiliar no levantamento e abaixamento.
Ferramentas manuais são pouco utilizadas, sendo freqüente o uso de prensas
que possuem pouca segurança, embora a empresa acredite que a segurança é garantida pelo
acionamento bi-manual, sistema comprovadamente passível de ser burlado. caso
comprovado na empresa de funcionário que, para agilizar o processo produtivo, burlou o
sistema bi-manual e teve, como resultado, um de seus dedos extirpados. Medidas tais como
grades protetoras, as quais existem em apenas duas máquinas, poderiam ser disseminadas por
todas elas.
O uso de ferramentas restringe-se ao momento de troca de produto, quando as
pesadas ferramentas, transportadas em carrinho hidráulico, são manipuladas. como
atenuante quanto à carga física empregada na manipulação o fato de estas ferramentas serem
deslocadas apenas da bancada para a máquina, sendo tais superfícies de mesma altura.
Em termos de ruídos, grande poluição sonora no ambiente, provinda das
máquinas em funcionamento e prensas, havendo rejeição de muitos à utilização dos protetores
auriculares. O ruído claramente interfere na comunicação, segurança e eficiência do trabalho.
A iluminação, feita por meios naturais somados a iluminação artificial, é um pouco deficiente,
havendo iluminação apropriada somente no local de inspeção. O fundo de trabalho é
composto por metal rústico, não havendo problemas com reflexão de luz. Pode-se dizer que o
calor é excessivo no galpão, apesar de haver ventilador; o telhado é baixo e feito de telha de
amianto e zinco, o que agrava o problema. O local não possui sistemas de exaustão efetivos.
Os controles e sinais de alerta estão em inglês ou indicados por códigos e
símbolos, nem sempre fáceis de serem compreendidos; o supervisor alega que os símbolos
devem ser de conhecimento de todos os operadores que trabalham nas máquinas. Apenas o
105
controle de emergência é fácil de ser identificado, pois é vermelho. Alguns controles estão
localizados mais superiormente na máquina, sendo obviamente difícil seu manuseio por
muitos, principalmente pelos de estatura baixa. Algumas poucas máquinas, mais novas,
apresentam mostradores e sinais mais fáceis de ser distinguidos e entendidos
A regulagem das alturas de trabalho, visando colaborar para manutenção de
boas posturas, pode ser feita através do ajuste das cadeiras, embora as máquinas de prensa e
mesas não regulem a altura para o trabalho em pé. Alguns trabalhos de prensa podem ser
feitos na posição sentada. a inspeção de peças pode ser feita tanto na posição ortostática
quanto sentada.
Mesmo havendo recusa de alguns funcionários em utilizar os EPIs, placas
delimitando aonde devem ser usados os equipamentos. Não há equipamento de proteção
individual disponível na entrada da fábrica; os mesmos ficam no almoxarifado, havendo
controle de entrada e saída dos mesmos.
A produtividade dos funcionários é estimulada pela presença de um quadro
informativo sobre os resultados do trabalho. No entanto, a consideração das preferências e
habilidades dos trabalhadores quando da designação de tarefas, as adaptações para
trabalhadores deficientes (a empresa não possui nenhum funcionário com necessidades
especiais) e a planos de emergência para assegurar fácil acesso e evacuação em operações
emergenciais, também podem e devem ser melhorados.
Diante de tais fatos, fica claro que não nenhum trabalho dentro do enfoque
da ergonomia, evidenciando a necessidade de tal ação nesta empresa, o que contribuiria em
muito para aumento da produtividade, que alguns obstáculos ao bom andamento do
processo produtivo cita-se aqui inclusive obstáculos impostos pelo ambiente físico
poderiam ser eliminados mediante estudos dentro da abordagem ergonômica na empresa.
O gráfico seguinte expõe os resultados da aplicação da LVE, indicando o
percentual de itens em não-conformidade:
106
Figura 4.5- Gráfico com o percentual de itens em não-conformidade na PE-1
40,00%
30,00%
10,00%
37,50%
25,20%
23%
66,67%
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
70%
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PE
4.3.2 A MDE: breve descrição do resultado da aplicação da LVE
A MDE, à primeira vista, é mais bem estruturada que a PE-1, possuindo
espaço de trabalho e corredores mais amplos para transporte de cargas, ferramentas, além de
equipamentos mais conservados e seguros.
A aplicação da LVE mostrou a necessidade de minimizar diferenças de altura e
a forma de movimentação da carga manual (empurrando e puxando o material ao invés de
erguê-lo e abaixá-lo); assim como é necessário eliminar tarefas que exijam rotação e flexão do
tronco quando do manuseio de materiais, principalmente aqueles que ficam acondicionados
em pallets no chão. Não grande manuseio de peso durante a realização das atividades,
segundo a empresa, sendo feito uso de prontolantes e empilhadeiras quando necessário
manusear cargas muito pesadas.
A falta de rodízio em alguns postos, devido à grande especialização dos
funcionários, impede a alternância entre trabalho leve e pesado para evitar fadiga. O
acionamento da prensa se caracteriza por extrema repetitividade de movimento de dedos e
punho e em algumas áreas a furação com auxílio de gabaritos exige precisão, havendo
sugestão para melhorias no apoio das mãos nestas tarefas.
As regiões que exigem uso de EPI’s são delimitadas por placas. Os
equipamentos de proteção individual estão todos em uso e são armazenados em lugar
107
específico na própria área da fábrica, mas não foi observada nenhuma estante na entrada do
galpão onde houvesse EPI disponível e facilmente acessível, ficando este item como sugestão
de melhora. Na empresa luvas para serem usadas com a lixadeira para reduzir vibração,
embora ainda possa ser melhorada a exposição à mesma. Detalhes sobre a efetividade da luva
para reduzir a vibração podem ser obtidos em estudo mais aprofundado. O isolamento e
cobertura de máquinas ruidosas ou parte delas merece atenção, pois este ruído interfere na
comunicação, segurança e eficiência do trabalho.
As máquinas novas que vêm sendo adotadas possuem um formato mais
voltado à saúde e segurança do trabalhador. As antigas estão sendo adaptadas, com a
instalação de grades de proteção para proteger as mãos dos trabalhadores de eventuais
acidentes, sendo esta uma alternativa viável do ponto de vista financeiro. As máquinas, além
da segurança, possuem sistemas de ajuste de altura semelhantes à válvula de registro de água,
as quais são pouco práticas, mas existem. A regulagem de altura também é feita, em alguns
postos que possuem cadeiras, pelo ajuste de altura da mesma.
Não são todos os postos que possuem cadeiras. Podem ser encontradas ao
longo da área muitas cadeiras improvisadas pelos próprios funcionários para descansar e por
vezes desenvolver o trabalho sentado, quando não é necessária a aplicação de forças muito
grandes. Há, no entanto, uma área de convivência no próprio galpão, com bancos e mesas
para o horário de pausa.
O telhado é composto por algumas telhas translúcidas, que permitem a entrada
de luz natural na área, além de haver janelas e luzes artificiais em todo o ambiente. O calor na
área é demasiado, principalmente no setor pintura aonde estufa de secagem –, mesmo
com a presença de ventiladores, calefação no teto e pé direito alto. As fontes de calor
deveriam estar devidamente isoladas no setor onde fica a estufa de secagem de peças.
Evidenciam-se buscas por soluções, principalmente no que tange a segurança
através da melhora do ambiente de trabalho, além de ser evidente uma boa estrutura nesta
empresa; obviamente, existem pontos a ser melhorados e o refino da análise ergonômica,
através de ferramentas que analisem os aspectos imateriais do trabalho, permitirá perceber
estes outros pontos.
O gráfico seguinte expõe os resultados da aplicação da LVE, indicando o percentual de itens
em não-conformidade:
108
Figura 4.6- Gráfico com o percentual de itens em não-conformidade na MDE:
23,81%
13,33%
41,67%
28,57%
12,50%
18,70%
21,00%
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
70%
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MDE
4.4 Resultados da aplicação do questionário
Em nova visita às empresas, a aplicação do questionário trouxe maiores
esclarecimentos sobre a visão corporativa a respeito da importância das ações de SST e da
Ergonomia, bem como as limitações e obstáculos enfrentados por tais ações dentro delas. Para
cada empresa, existe uma percepção e uma postura diferente a respeito da SST e da
Ergonomia. Nas próximas páginas, segue a exposição dissertativa dos dados obtidos mediante
aplicação do questionário na PE-1 e na MDE, respectivamente, acompanhados de comentários
e observações feitas pelo entrevistado, neste terceiro momento da pesquisa.
6
4.4.1 Resultados da aplicação do questionário na PE-1
O questionário foi respondido pelo presidente da CIPA, que é no caso a
responsável por gerenciar saúde e segurança no ambiente de trabalho. Tal visão a respeito da
má-vontade da gerência em relação à atenção em saúde e segurança, relatada no questionário,
tende a fazer acreditar em um descaso. Infelizmente, não foi possível ouvir os gerentes, pois
eles não dispunham de tempo para tanto. Mesmo havendo a visão parcial dos membros da
6
No apêndice D, há uma tabela com os resultados da aplicação do questionário.
66,67%
109
CIPA, é a percepção sobre o autoritarismo, desatenção às reivindicações por melhorias e o
não-atendimento aos pedidos feitos pela própria CIPA quanto a algumas melhorias que
beneficiem o trabalhador que demonstram haver falta de diálogo entre as diversas hierarquias
da empresa, sendo a falta de diálogo fortemente sentida por todos os trabalhadores, segundo a
CIPA.
As ações são quase todas voltadas à segurança uso de EPIs e orientação via
panfletos e pôsters havendo, além dos serviços de orientação à segurança, exames
periódicos de controle da saúde, mas não medidas de prevenção a agravos. O cumprimento da
NR-4, NR-7 e NR-9 através de consultores contratados que prestam visitas periódicas à
empresa justifica-se por não haver, no quadro da empresa, pessoas capacitadas para a função,
além de os custos de tais serviços serem menores para a empresa, que não dispõe de recursos
para contratar, por conta própria, tais serviços. A NR-5 é cumprida por membros da própria
empresa, que montaram a CIPA, assim como a NR-6. O zelo pela saúde e segurança é
colocado sob responsabilidade do trabalhador, havendo na empresa a noção de culpa do
mesmo por eventos traumáticos ou adoecimentos decorrentes da atividade laboral, não sendo
comum agregar o acidente a uma disfunção do sistema ou a problemas relativos à organização
do trabalho. Apesar de existir na empresa a CIPA, dificuldade de seus membros
organizarem a SIPAT, por empecilhos colocados pela própria direção da empresa. A visão
transmitida aos funcionários, a cada reivindicação por melhora das condições de trabalho, é
que os mesmos deveriam parar de “frescura” (SIC), pois estão querendo muito. Os líderes
consideram os aspectos físicos do trabalho como passíveis de queixas, desdenhando questões
relacionadas ao plano mental da atividade, stress, constrangimentos, sofrimentos. os
membros da CIPA vêem a saúde, não física, mas também a mental, como deveras
importante.
Alguns fatores que colocam em risco a integridade física dos trabalhadores,
motivadas pela própria liderança da empresa, podem ser observados no hábito de, quando
falta um funcionário, chamar pessoas de outros setores para cobrir o posto; pessoas não
especializadas, que não estão habituadas àquela função ou mesmo ao ambiente. Tal exigência
configura-se como um dos constrangimentos vivenciados pelos trabalhadores destas
empresas.
Quanto a caminhos para melhorar o acesso à saúde e segurança, os membros
da CIPA acreditam que os gerentes deveriam assumir sua responsabilidade sobre saúde e
segurança, além de ser importante existir menor rigor nas leis, para que elas se ajustem às
condições da pequena e média empresa; também eles percebem que os líderes acreditam que
110
os trabalhadores deveriam ser menos irresponsáveis. As ações em SST deveriam, segundo os
entrevistados, ser responsabilidade tanto dos trabalhadores quanto dos empregadores. Os
“cipeiros” acreditam que a direção não a saúde como responsabilidade também da empresa
ou prioridade de ação, mesmo que eles a considerem importante para o processo produtivo.
Não é claro para os “cipeiros” se a empresa vê a relação entre ações em
Ergonomia e aumento da produtividade, mesmo porque os primeiros também não têm muito
clara a visão de Ergonomia. Certo é que não há, dentre os líderes, demonstração de
preocupação ou interesse em implementar medidas voltadas à organização do trabalho,
ergonomia (NR-17), ou mesmo pensar em mudar informalmente as condições de trabalho
para assim garantir melhor qualidade de vida, condições de trabalho que não agridam corpo e
mente dos trabalhadores. O serviço de ginástica laboral foi descontratado e hoje os
trabalhadores que acharem pertinente alongar-se antes das atividades podem fazê-lo nos 10
minutos anteriores ao início do expediente, sem qualquer tipo de supervisão ou orientação.
Abre-se um parêntese para dizer que, na empresa, a ginástica laboral é vista como trabalho em
ergonomia, não como um serviço de “qualidade de vida” no trabalho. As razões para tal
desinteresse em ações ergonômicas são atribuídas à falta de recursos financeiros, o que faz
com que sejam escolhidas ações consideradas prioritárias, além da pouca capacidade em
empresas menores atenderem a tudo o que as normas vigentes pedem. Não há, devido à falta
de recursos financeiros, condições de mexer na organização do trabalho, havendo déficit de
pessoas que entendam do assunto. Também não condições financeiras para investir no
maquinário para aumentar a segurança ou para melhorar o design, o que asseguraria melhores
posturas de trabalho ou maior eficiência.
Além da falta de recursos, falta informação na empresa, havendo
desconhecimento sobre o que é ergonomia ao certo; é atribuída à disciplina o estudo dos
arranjos físicos do ambiente e a ginástica laboral, visando somente melhorar a saúde e a
segurança do trabalhador; desconhece-se sua importância para a empresa diretamente, que
veria aumentar sua produtividade e diminuir índices de acidentes e absenteísmo acredita-se
que tal desconhecimento também atinja os gerentes, o que justifica o desinteresse pela sua
aplicação. Há também a visão de que a Ergonomia somente se aplica em empresas maiores.
Os entrevistados acreditam que, se hoje fosse disponibilizado um programa
gratuito de ergonomia para as empresas, os gerentes poderiam se interessar, embora os
primeiros guardem dúvidas quanto à disponibilidade de espaço para tal ação na empresa e à
valorização de tais ações. Acham, inclusive, que se a empresa recebesse recursos financeiros,
não investiria em Ergonomia, mas provavelmente em outras necessidades. Portanto, investir
111
em ergonomia não dependeria somente do aumento de recursos capitais, mas também de uma
maior conscientização por parte da gerência.
Transcrevendo as observações feitas pela presidente da CIPA, ao responder o
questionário:
- “Muitas vezes não é visto o bem-estar dos funcionários. Há muita correria no
dia-a-dia da firma, com muitas dificuldades a serem enfrentadas; falta estrutura, informação,
conscientização dos empregadores. Quanto menor a firma, mais problemas, mais difíceis
ficam as coisas. Aí, a saúde fica em segundo plano... As leis exigem coisas impossíveis de
serem cumpridas pelas empresas menores”.
- “Mesmo os gerentes não sabem de sua importância (Ergonomia) para o
organizacional, tanto que consideram irrelevante investir nela pois acham que os ganhos
seriam só para os trabalhadores, e não para a empresa”. Segundo a funcionária, um ex-
funcionário, que tentou “revolucionar”, empregando novos métodos organizacionais, não
faz mais parte da empresa; houve insatisfação mútua, tanto dos gerentes, quanto do
trabalhador, cujas ações eram “podadas” (SIC). Isto evidencia, de forma clara, resistência às
mudanças.
No último ano (2006), foram 8 acidentes no total e nenhum caso de
afastamento por LER/DORT.
4.4.2 Resultados da aplicação do questionário na MDE
O responsável por responder o questionário foi o técnico de segurança da
empresa em questão.
Nesta empresa, o relacionamento é participativo, havendo diálogo entre
trabalhadores e gerentes, intermediado pelo próprio técnico de segurança; os trabalhadores
opinam sobre o que pode mudar. As ações são conduzidas com recursos internos, sendo
terceirizados apenas os serviços de PCMSO (NR-7), por não ser necessário manter um
médico no quadro da empresa. Os demais serviços, relativos às NR-4, 5, 6, 9 e 17, são
conduzidos internamente. Logo, a empresa desenvolve tanto serviços de controle e orientação
à saúde e segurança, incluindo distribuição de panfletos e elaboração de posters, quanto
estudo do trabalho para melhorar as condições físicas e organizacionais (este último ainda é
feito informalmente). O entrevistado considera boas as políticas de saúde e segurança, bem
como as NRs, não tecendo nenhuma crítica a elas.
112
Na empresa, acredita-se que tanto trabalhadores quanto empregadores, todos os
membros da corporação, são responsáveis por zelar pela saúde e segurança, devendo todos
eles ser os responsáveis por conduzir as ações, daí a valorização da técnica participativa.
Ainda, acredita-se que a saúde é importante para o andamento da firma, crença essa
assegurada pela importância dada às ações de SST e à própria Ergonomia. O entrevistado
citou como agente inibidor de ações em SST a grande dificuldade em mudar a cultura da
empresa e dos gerentes, mesmo havendo ciência da relação saúde/ produtividade. Ele tem
trabalhado muito a favor desta mudança cultural, incentivando ações em ergonomia, havendo
previsão de implantar na empresa um comitê de ergonomia até março de 2007. Por enquanto,
as ações em Ergonomia são informais, baseadas somente na percepção dos trabalhadores, não
sendo aplicados instrumentos de avaliação do posto ou das melhorias.
A empresa, que está sempre estudando as condições de trabalho e melhorando
o que é possível, implementou diversas melhorias no ambiente de trabalho no último ano,
todas guiadas pelas necessidades e requerimentos dos funcionários. Melhorou-se não somente
o layout dos postos, mas também os meios de transporte de peças, reduzindo flexão e rotação
de tronco para muitas tarefas; também houve melhoras no sistema de ventilação da empresa,
embora a área ainda sofra com o calor excessivo. É óbvio que ainda muito o que
aperfeiçoar mas, mesmo perante alguma resistência, há uma vontade de mudar, o que é, para o
técnico, condição essencial para implementar a Ergonomia nas empresas.
É evidente que, na MDE, o cnico de segurança possui maior esclarecimento
sobre a Ergonomia e sua importância. Ele entende que a disciplina, além de estudar os
arranjos físicos, também estuda a organização do trabalho, visa compreender a interação entre
os trabalhadores e outros elementos do sistema, tem como objetivo melhorar a saúde do
trabalhador, busca adaptar o trabalho ao homem e deve ser um processo contínuo, além de
saber da importância da saúde para a produtividade da empresa e para a segurança, sendo
pensada na empresa pelo menos desde que o funcionário lá entrou. A participação dos
trabalhadores no processo decisório traz grandes contribuições à condução das mudanças.
Considerando o grande grupo de funcionários, tem-se uma média de 8
acidentes ao ano - 2 para cada grupo de 50 funcionários. A média de absenteísmo não-
justificado é de 2,1 ao mês; o registro de LER/DORT chegou a um caso em 2006, mas
dúvidas se o trabalhador desenvolveu a doença na empresa aonde trabalhava anteriormente
pois, como se sabe, a LER é uma doença insidiosa.
113
4.4.3 Alguns contrastes evidenciados mediante aplicação do questionário
É interessante o contraste quanto ao tratamento da saúde e segurança nestas
empresas, bem como as diferentes justificativas para possíveis ausências de tais programas.
Enquanto a PE-1 contrata consultores para gerenciar grande parte das ações em
SST e limita-se a instruir seus trabalhadores em como manter a segurança, não realizando
nada em termos de Ergonomia ou melhorias informais no ambiente de trabalho, a MDE, além
de desenvolver quase todas as ações em SST por conta própria –exceto os exames médicos –,
realiza estudos informais sobre a organização do trabalho e possíveis mudanças que tragam
melhor condição de trabalho, além de orientar não os trabalhadores quanto à manutenção
da segurança, mas também sobre manutenção da saúde. Ambas empresas alegam que a
dificuldade que as leva a contratar consultores é a falta de pessoas qualificadas para a função
no quadro de funcionários; além disso, a PE-1 alega pouca disponibilidade de recursos
financeiros para conduzir as ações internamente, o que motiva também não investir em ações
sobre o ambiente de trabalho. Na PE-1 claro desconhecimento sobre o que é ergonomia e
suas vantagens para a organização, enquanto na MDE maior clareza sobre o assunto e
busca por pessoas qualificadas para montar um comitê.
Se na PE-1 acredita-se que os fatores impeditivos ao cumprimento de todas as
NR-s e o “descaso” a alguns fatores relativos à saúde envolvem a falta de recursos
financeiros, de conscientização dos líderes e a grande exigência das leis, na MDE acredita-se
na dificuldade em mudar a cultura dos empregadores para permitir desenvolver na empresa
tais ações, mesmo havendo consciência de que a saúde é importante e responsabilidade
também da empresa. Logo, enquanto a PE-1 aponta a conscientização e maiores recursos
como impulsionadores de ações ergonômicas, na MDE acredita-se que basta ter vontade de
mudar.
Sobre o porquê da ausência sobretudo de programas voltados à Ergonomia e a
mudanças na organização e no ambiente físico do trabalho, pode-se dizer portanto que há falta
de informação, de recursos e de consciência sobre mudanças necessárias para garantir boas
condições de manutenção da saúde no ambiente de trabalho, fatores estes já citados por alguns
representantes das empresas, no primeiro momento da pesquisa. Soma-se estes a questão do
modelo gerencial assumido, pois o autoritarismo impede a comunicação entre chefes e
funcionários, contribuindo para uma não-consideração da opinião do trabalhador a respeito do
que o constrange e o que poderia ser mudado para melhorar seu ambiente de trabalho. Mesmo
ante as grandes disparidades quanto ao conhecimento sobre a ergonomia, bem como sobre a
114
forma como são conduzidas ações em SST entre as duas empresas estudadas nas três etapas,
semelhanças são evidenciadas quando ambas afirmam não haver pessoas capacitadas no
quadro de funcionários para conduzir algumas ações em SST, a PE-1 mais do que a MDE.
Também homogeneidade na opinião de ambas sobre a responsabilidade de gerenciamento
das ações em SST, uma vez que os dois entrevistados acreditam ser responsabilidade tanto
dos trabalhadores quanto dos líderes e gerentes a condução de tais ações e a vigilância em
SST.
4.5 Conclusão
Este capítulo trouxe os resultados dos estudos de caso realizados ao longo
destes dois anos de pesquisa, dividindo a exposição dos resultados de acordo com as etapas do
estudo prático. Após breve caracterização das ações em SST encontrados nestas empresas,
bem como a averiguação das condições físicas no local de trabalho mediante aplicação da
LVE, nova inquirição feita às empresas trouxe-nos esclarecimentos sobre a forma de
condução das ações em SST nas empresas, quais normas são cumpridas, bem como o nível de
cumprimento e agentes responsáveis por tanto, assim como auxiliou-nos a entender a visão
dos entrevistados sobre a Ergonomia, sua importância e as dificuldades encontradas pela
disciplina para inserir-se nestas empresas. Conclui-se que metade das empresas deste estudo
cumprem somente o mínimo estipulado por lei, enquanto as outras duas buscam melhorar as
condições de saúde via ações sobre o trabalho, mesmo que informalmente. As dificuldades
financeiras, o pouco acesso à informação, bem como o modelo gerencial assumido,
mostraram-se contribuintes para a restrição de ações voltadas principalmente ao escopo da
Ergonomia. No capítulo seguinte, os resultados da pesquisa realizada nestas empresas serão
confrontados com os achados da literatura, sendo tal confronto fundamental para consolidação
da discussão, bem como para a validação dos dados obtidos em campo.
5 CONCLUSÕES E IMPLICAÇÕES
5.1 Introdução
A presente dissertação chega, neste capítulo, ao seu final. A breve iniciação ao
tema proposto para a elaboração desta dissertação, assim como os objetivos e questões da
pesquisa contidos nesta, foram expostos no capítulo 1. Como objetivo, estabeleceu-se o
estudo da Saúde e Segurança nas Pequenas e Médias Empresas do setor industrial da cidade
de São José dos Campos, SP, estudo este apoiado pela análise de casos, feita qualitativamente.
Centrou-se tal investigação na forma de inserção de ações em SST nas PME, com especial
enfoque nas ações Ergonômicas.
Diante do problema de saúde pública refletida no adoecimento do trabalhador
por conseqüência não da falta de vigilância por parte deste, mas também por uma suposta
falta de ações efetivas provindas e gerenciadas pelas empresas, decidiu-se investigar tanto
literatura quanto empresas, para assim sugerir constructos que explicassem o problema de
Saúde, Segurança e pouca disseminação da Ergonomia nas PME. A literatura evidenciou,
quanto às PME, uma série de peculiaridades inerentes a estas, tais como grande
heterogeneidade entre si em termos de cultura, capacidade inovativa, disposição de recursos
etc os quais dificultam estabelecer critérios classificatórios –, bem como a grande diferença
entre estas e as grandes empresas, em termos de estrutura, gerenciamento, formação e
qualificação profissional, formalização, fomento etc. Toda essa diferença entre empresas
evidenciou que não se podem desenvolver programas e mecanismos, sejam estes gerenciais,
de financiamento ou políticas, sem considerar a grande diversidade encontrada no meio,
ficando claro que principalmente os programas voltados para as grandes empresas não são
facilmente adaptáveis às pequenas. Os mecanismos e programas para a PME devem ser
flexíveis ante às particularidades e dificuldades de cada ambiente no qual propõe intervir, para
que desta forma não haja barreiras intransponíveis ou para que as dificuldades não
desestimulem sua adoção.
Em se tratando de ações voltadas à Saúde e Segurança dos trabalhadores nas
PME, a revisão mostrou diversas formas de abordagens em países como Japão, Coréia,
Dinamarca, Noruega, França e outros. Observou-se em todos os estudos um consenso,
relativo à condução muitas vezes informal ou incompleta das ações em SST e em Ergonomia,
com pouca elaboração destas e grandes dessaranjos locais, sendo muitas das empresas
investigadas marcadas por possuir um ambiente que não provê condições para a manutenção
116
da saúde e segurança, estando muitas das ações em segurança focadas no estímulo ao uso dos
EPI’s e orientações. Outra evidência em muitos destes estudos é o cumprimento do mínimo
exigido por lei. Os motivos podem ser diversos, particulares de cada empresa, sendo que as
justificativas versam em torno da falta de recursos, de informações e de pessoas treinadas para
administrar ões deste tipo em empresas pequenas, uma vez que faltam profissionais
providos de tal competência no quadro das PME.
Alguns autores, entretanto, perguntam até onde os programas estão ajustados
aos constrangimentos vivenciados pelas PME, sendo claro que as principais correntes da
Ergonomia Human Factors e Abordagem Situada –, tiveram como base para seu
desenvolvimento as Grandes Corporações, estando também muito disseminadas no setor de
serviços pela grande incidência de LER
1
, esta fortemente relacionada às condições de
trabalho. Em tempo, é importante destacar a importância de transformar o trabalho não
para reduzir casos de LER/DORT, mas também para eliminar outros riscos inerentes ao local
ou agravos à psique do trabalhador. Tal redução dos constrangimentos relaciona-se a uma
nova situação de trabalho, estimulada pela mudança de artefatos, maquinários e mesmo à
estrutura organizacional. A evidência de problemas relativos à disseminação da Ergonomia
fica clara diante de alguns caminhos procurados por pesquisadores de outros países para
desenvolver métodos principalmente destinados à PME, tais como a Lista de Verificação
Ergonômica (ILO/IEA) e o Diagnostic Court (ANACT).
A elaboração das questões principais da pesquisa desenvolveu-se à medida que
a revisão da literatura refinava-se e a exploração dos primeiros dados práticos, caracterizados
em um estudo piloto, foi feita. Logo, tanto o processo exploratório inicial dos dados empíricos
quanto o refino da pesquisa bibliográfica foram colaboradores para o direcionamento da
investigação a ser conduzida e apresentada nesta dissertação. No final do capítulo 2 foram
apresentadas, com maior refino, as perguntas que conduziram a investigação prática. Convém
repeti-las:
- “Como são gerenciadas e conduzidas ações em SST no ambiente laboral?”
- “Quais as condições de SST evidenciadas nas empresas de pequeno e médio
porte em nosso país?”
- “Como a ergonomia insere-se nestes ambientes incluindo a visão
corporativa sobre a importância da ação?”
1
Rememorando que hoje há uma terminologia mais abrangente, DORT – Doenças Osteomusculares
Relacionadas ao Trabalho –, que dá um sentido mais abrangente às desordens físicas relacionadas ao trabalho.
117
- “As dificuldades em cumprir as normas de SST dentro das empresas de
pequeno e médio porte guardam relação com o fato das mesmas terem sido
criadas para as grandes empresas, as quais por sua vez apresentam
características organizacionais e recursos financeiros diferentes dos
encontrados nas empresas de menor porte?”
Expandir a investigação para o estudo das ações em SST, não se restringindo
somente à investigação da Ergonomia, mostrou-se essencial para uma melhor compreensão do
tratamento à saúde nas PME e, conseqüentemente, para entender o processo que motiva
investimentos nestas áreas, uma vez que a SST mantém estreita relação com a Ergonomia,
sendo a última parte da primeira, que agir sobre o ambiente trará conseqüências sobre a
saúde dos trabalhadores.
Seguindo a metodologia exposta no capítulo 3 entrevistas, checklists,
questionários –, obteve-se como resultado prático a comprovação do cumprimento do mínimo
exigido pela nossa legislação em termos de ações de SST no que tange às NRs 4,5,6,7 e 9. A
Ergonomia –NR 17, por sua vez, não está presente em todos os ambientes estudados, sendo
cumprida informalmente mesmo aonde este interesse em intervir e aonde o
reconhecimento da importância da disciplina. Tal resultado, exposto no capítulo 4, evidencia a
dificuldade na implementação de ações formais na empresa, demonstrado anteriormente na
literatura. O estudo prático desenvolvido neste trabalho mostrou que também a cultura de
fábrica característica por sua resistência gera comprovada contribuição para a não-aceitação
de ações em Ergonomia por muitos empresários, sendo a resistência às mudanças e a possível
tendência à falta de diálogo, aliada ao autoritarismo, outros possíveis agentes impeditivos de
ações ergonômicas, principalmente no que tange a um processo participativo de elaboração
das mudanças, comum em ações moldadas na Abordagem Situada. Observou-se que, nas
empresas estudadas, quanto maior o autoritarismo e a falta de recursos, menor a tendência em
assumir ações ergonômicas.
O estudo nesta dissertação apresentado mostra, neste último capítulo, o
confronto entre seus resultados apresentados no capítulo 4 e os dados presentes na literatura
explícita no capítulo 2, seguidos por uma crítica aos métodos e aos meios como são feitas
ações em SST e em Ergonomia nas PME. As considerações finais do estudo também são
apresentadas após toda a discussão.
118
5.2 Conclusões acerca das questões da pesquisa
Diante dos resultados obtidos e explícitos no capítulo 4, bem como dos dados
referentes à revisão da literatura, chega-se naturalmente a algumas conclusões. As mesmas
são expostas abaixo, respeitando-se a seqüência de perguntas que este trabalho objetivou
responder.
5.2.1 Como são gerenciadas e conduzidas as ações em Saúde e Segurança nas Pequenas e
Médias Empresas?
O gerenciamento da saúde e segurança difere-se entre as empresas: na ME, o
mesmo caracteriza-se pela não-existência de um responsável por ações voltadas à saúde – fato
observado também em 10% das empresas da Grã-Bretanha por estudos anteriores de
BRADSHAW et al (2001) –, ficando sob responsabilidade do dono da empresa orientar seus
trabalhadores quanto à segurança; na PE-1 somente é gerenciada a segurança e quem a
gerencia são os membros da CIPA; na PE-2, quem gerencia saúde e segurança, além da CIPA,
é o gerente da empresa – fato observado na maioria das empresas da Grã-Bretanha por
BRADSHAW et al (2001) e na MDE, as ações em SST são gerenciadas por um técnico de
segurança do trabalho, que leva as propostas de mudanças para a gerência.
As quatro empresas alegaram orientar seus trabalhadores quanto à segurança.
Três das quatro empresas, no caso a PE-1, PE-2 e MDE, relataram fornecer ao trabalhador as
orientações através da CIPA ou de panfletos e pôsteres alocados na empresa, sendo que a
MDE e a PE-2 afirmaram prover informações também sobre manutenção da saúde. A PE-1
limitava-se a realizar, como medida de saúde, atividades de alongamento antes do início do
expediente mas, por questões financeiras, extinguiu o programa, sendo hoje opção do
trabalhador alongar-se ou não antes do início do turno. Medidas tais como elaboração de
panfletos e pôsteres também foram identificadas no estudo de BRADSHAW et al (2001)
como sendo medidas adotadas pela empresas de menor porte para orientar quanto à saúde,
destacando-se por serem alternativas práticas, de baixo custo e, justamente por isso,
facilmente divulgáveis na PME. A afirmação de que estas empresas oferecem treinamento em
algum grau a seus trabalhadores faz inquirir até onde a afirmação de JOHANSSON &
JOHANSSON (1992), CHAMPOUX & BRUN (2001), JENSEN et al (2001) sobre a falta de
treinamento e educação nas empresas menores pode ser considerada válida. Pode ser que o
conhecimento não seja transmitido de forma correta, mesmo porque o meio pouco
119
formalizado como são conduzidas as ações e o não-estabelecimento de mecanismos claros de
comunicação interna nas PME pode favorecer que as informações básicas não sejam
transmitidas da forma e no tempo corretos, fato que pode ser apoiado pelas afirmações de
CARDOSO (1998). Mesmo que se possa contestar a qualidade da informação provida, não se
pode negar que há a (tentativa de) transmissão desta.
Uma das principais características evidenciadas nas empresas pesquisadas é a
presença de consultores para guiar ações relativas à saúde e segurança de seus funcionários,
colaboração esta comum à PME, que muitas vezes não possuem recursos internos
financeiros, humanos ou estruturais que permitam conduzir tais ações por si só. É
proporcionalmente maior o apoio recebido destes consultores quanto menor for a empresa,
apesar destas ainda manterem um certo grau de dependência dos consultores mesmo quando
são de médio porte. Logo, evidências sobre a contratação de consultores, apontadas pelos
trabalhos de RACHID et al (2001) em pesquisa sobre o cumprimento de normas ISO 9001,
bem como nos trabalhos de BRADSHAW et al (2001) e de JUNG (1999), ambos a respeito de
ações em saúde e segurança desenvolvidas respectivamente na Grã-Bretanha e na Coréia,
confirmam-se para os casos em questão, seja por que tais serviços saem por um preço
reduzido, seja pela não-existência de profissionais capacitados pertencentes ao quadro fixo da
empresa, este último fator relacionado não ao custo de contratação, mas à falta de
capacidade destas empresas em comportar em seu quadro grande diversidade de profissionais
fato este evidenciado por LA ROVERE (2001) e CARDOSO (1998), e exposto no item
2.3.2 deste trabalho. O serviço destes consultores apresenta-se de forma diferenciada na PE-1
e na MDE. Enquanto na primeira há auxílio para o cumprimento da NR-7 e NR-9, na MDE
apoio somente para o cumprimento da NR-9, estando as outras ações sob responsabilidade da
própria empresa.
2
. Uma desvantagem que o serviço de consultoria pode apresentar na PME é
a sua análise nada holística do ambiente da mesma, sendo a contratação de consultores
geralmente direcionada para um assunto específico (fato evidenciado também por SOARES,
1998). Essa visão fragmentada da empresa impede reconhecer as causas não-imediatas dos
problemas os quais propõem tratar, citando como exemplo as ações em saúde. Simplesmente
promover exames e estimular ações direcionadas à segurança, sem conhecer os riscos aos
quais os trabalhadores estão submetidos, resultam em ações pobremente efetivas, que os
riscos continuarão presentes no local de trabalho.
2
Maiores detalhes sobre a NR-7 e 9 serão fornecidos mais adiante
120
Apesar do estudo de BRADSHAW et al (2001) ter evidenciado maior
tendência em possuir médico ou enfermeira ocupacional durante meio-período nestas
empresas ao invés de serviços de consultoria, profissionais da área de saúde atuando em meio-
período não foram identificados neste estudo, mesmo porque a Norma Regulamentadora 4
desobriga às empresas investigadas, pelo número de funcionários e grau de risco das
atividades desenvolvidas, em possuir tanto engenheiros de segurança quanto profissionais de
saúde atuantes, justificando que na MDE encontrasse-se apenas um técnico de segurança do
trabalho, na PE-1 e PE-2 somente ações da CIPA e na ME, nenhum serviço direcionado à
SST além do uso de EPI. Pode-se dizer que todas as empresas encontram-se sintonizadas com
a determinação da NR-4, o podendo questionar as empresas quanto a não-existência de
profissionais de saúde nas pequenas empresas, uma vez que a própria lei não os exige.
Sobre a CIPA, estabelecida pela NR-5, todas as empresas, exceto a ME,
possuem tal comissão em seus estabelecimentos, havendo uma desobrigação, de acordo com a
Norma, em estabelecimentos com menos de 20 empregados possuírem-na. Considerando tal
fato, todas as empresas possuem acordo com a Norma, que exige de cada empresa, de acordo
com o número de funcionários e setor de atividade, um determinado número de membros em
tal comissão. A NR-6, que determina o uso de EPI’s, é respeitada em todos os
estabelecimentos investigados, garantindo assim a segurança contra alguns agentes físicos e
químicos, embora muitos funcionários resistam e não os utilizem.
A NR-7 e NR-9 são cumpridas na PE-1, PE-2 e MDE, sendo que na PE-1 os
trabalhadores não possuem o direito de apresentar propostas ou participar dos programas, fato
comum em algumas empresas, de acordo com MIRANDA & DIAS (2004). O pouco espaço
para opinar mantém relação com a forma de gerenciamento vivenciada na PE-1, que não
permite participação dos trabalhadores, caracterizando-se como regime paternalista, segundo
estudo de BIQUAND et al (2001). O o-cumprimento integral das normas 7 e 9 na PE-1,
evidenciado pela não participação dos trabalhadores nos programas de PPRA e PCMSO, não
é fato exclusivo desta empresa, sendo que os estudos de BULL et al(2002) na Noruega e
Finlândia e os estudos de JENSEN et al (2001) comprovam, em seus argumentos, a tendência
ao cumprimento deficiente de normas e leis em países desenvolvidos ou em desenvolvimento.
Na referida empresa, clara centralização do poder, natural em empresas de menor porte,
embora este não seja o único sistema de gerenciamento das PME, que pode ter favorecida a
comunicação e visibilidade por parte de seus gerentes graças à falta de hierarquias,
proporcionando uma melhor relação de comunicação entre chefia e trabalhadores (fato que
pode ser apoiado pela afirmação de GHOBARDIAN & GALLEAR, 1996). A
121
comunicabilidade favorecida pela melhor visão é evidenciada na PE-2 e MDE, aonde é
permitido ao trabalhador participar e opinar, havendo nas empresas citadas participação dos
trabalhadores no PPRA e PCMSO.
Sobre a NR-17, sabe-se que mesmo ante a determinação de seu cumprimento,
as empresas se vêem obrigadas por lei a tanto quando um auditor fiscal visita as empresas,
comprova irregularidades e determina as mudanças primordiais, o que leva muitas ao descaso
com a saúde de seus trabalhadores até que sejam obrigadas, a partir de laudos, a mudar as
condições de trabalho. Uma possível deficiência desta fiscalização pode se relacionar com o
grande número de PME existentes, o que dificulta catalogação e disponibilidade de fiscais
para o serviço, além das grandes taxas de natalidade e mortalidade destas instituições, o que
dificulta o controle sobre as PME existentes.
Os claros ganhos em termos de aumento da produção e redução do
absenteísmo são, entretanto, reconhecidos pela PE-2 e MDE que, informalmente, executam as
determinações da NR-17 movidas pelo diálogo entre as diversas hierarquias. A clara visão do
valor em investir em ações voltadas ao ambiente de trabalho como garantia da boa saúde de
seus funcionários, na MDE e PE-2, contraria a visão conservadora ainda muito difundida de
que o trabalhador é responsável por seus atos e por manter sua boa saúde, crença relatada por
VILELA et al (2004) e ainda vigente em muitos locais, inclusive na PE-1, que atribuiu
pouco tempo à desatenção do trabalhador que burlou o sistema bi-manual de uma prensa a
culpa de um acidente, não sendo reconhecido neste caso a influência dos fatores físicos do
local e das exigências de produtividade que o levaram a tentativa de otimizar o processo de
produção. A falta de arranjos de proteção em máquinas e equipamentos das empresas também
fora identificado previamente na Noruega, por BULL et al (2001), o que confirma as PME
como mais propensas a possuir deficiências em sua estrutura.
Não na MDE, na PE-1 e na ME qualquer forma de avaliação e medição
formal dos resultados das ões em SST, nem aplicação da AET ou medição dos resultados
das ações Ergonômicas na MDE e na PE-2, tendo sido esta tendência evidenciada por
BRADSHAW et al (2001) também na Grã-Bretanha. Tal resultado é natural, visto que estas
empresas guardam como característica a pouca formalização de seus processos, fato
levantado por CARVALHO (2004) e por CARDOSO (1998), havendo também ausência de
competências internas que apóiem a Ergonomia nestas empresas, fator detectado também em
estudo de BONNIN & BEDR (2001).
Na MDE, as avaliações dos programas voltados à Ergonomia são pautadas na
percepção dos atores envolvidos no processo de transformação do trabalho. A afirmações de
122
CARDOSO (1998), de que a cultura destas empresas é informal e perceptiva, as mudanças
sendo guiadas de acordo com esta informalidade e percepção, e de BONNIN & BEDR
(2001), de que a gestão das PME apóia-se no sentido implícito das coisas, sustenta o resultado
encontrado para estas duas últimas empresas. Mesmo havendo dificuldade de mudança
cultural, natural de qualquer empresa e observado anteriormente por CARDOSO (1998),
vontade de mudar e o reconhecimento dos benefícios das mudanças ultrapassam as barreiras
impostas tanto pelos funcionários quanto pela diretoria, na PE-2 e na MDE.
Se por um lado, estas mudanças informais trazem benefícios para as empresas,
podendo, segundo VALOT (2001) o funcionamento relativo da improvisação se revelar uma
gestão da imprecisão capaz de produzir uma adaptação eficaz num ambiente marcado pela
incerteza e pela complexidade, por outro lado, as conseqüências negativas desta não-
formalização dos estudos em SST em nenhuma das quatro empresas estudadas versa em torno
do risco destas empresas utilizarem medidas pouco elaboradas, seguindo tendência apontada
por CHAMPOUX & BRUN (2001) de a abordagem à gestão SST principalmente na PE não
ser feita de maneira sistemática, com seleção arbitrária do que se deve resolver e ações pouco
elaboradas, correndo o risco ainda de, ao diminuir a periculosidade associada a uma atividade,
aumentar a periculosidade associada à outra, sendo tal assertiva sustentada por GUERÍN et al
(2001), citado no capítulo 2 deste trabalho. A ausência de medidas de orientação, evidenciada
na ME, também foi observada em 31% das pequenas empresas da Noruega em estudo de
BULL et al (2002).
Na PE-1, o não-cumprimento da NR-17 nem mesmo informalmente relaciona-
se, além da questão cultural e do não-reconhecimento da importância da Ergonomia, com o
não-diálogo existente com os trabalhadores. Toda transformação, para corresponder às
necessidades de quem usufrui desta, deve ser guiada por seus relatos, suas necessidades, sua
percepção sobre o ambiente e o que pode potencialmente ser melhorado. A participação dos
trabalhadores é muito valorizada principalmente dentro da abordagem situada da Ergonomia.
Confirma-se a afirmação de BIQUAND (2001) de que lógicas simplistas, quando não há clara
visão dos acontecimentos internos de suas empresas, apresentam riscos de os empregadores
não conseguirem administrar ações em segurança, ambiente e sobre as condições de trabalho,
tampouco controlar adequadamente a gestão de suas firmas. A falta de participação dos
trabalhadores, bem como de um confronto entre os achados e a percepção dos trabalhadores
sobre os constrangimentos impostos pela atividade também interfere negativamente sobre a
mudança de visão dos trabalhadores e gerentes para que aceitem as melhorias, segundo o
mesmo autor.
123
Diante destes fatos, a afirmação de BONNIN & BEDR (2001) de que os
comportamentos nas PME são guiados pelos indicadores financeiros, pelas obrigações legais
incontornáveis e pelo comportamento aprendido com seus pais ou com os donos das empresas
mostra-se válido. Resumindo os resultados relativos ao cumprimento das normas nas
empresas estudadas e demais ações evidenciadas, enquanto na MDE e na PE-2 busca-se
melhorar as condições de trabalho, na ME e PE-1 clara preocupação somente por ões
voltadas à segurança e zelo por parte dos trabalhadores, sendo cumprido o mínimo exigido
por lei, fatos estes evidenciados em outras pequenas empresas estudadas por BRADSHAW
et al (2001), CHAMPOUX & BRUN (2001) e por RONGO et al (2001). Se dentro da cultura
participativa da MDE e da PE-2 certa valorização do trabalhador como agente ativo na
mudança, sendo atendidas algumas das reivindicações colocadas por estes quanto a possíveis
melhorias no ambiente, dentro da cultura conservadora e paternalista da PE-1 é fácil assumir
que o trabalhador deve ser responsável pelos seus atos e prevenir os riscos no local,
desprezando o ambiente como contribuinte dos eventos traumáticos. Rememorando que a
conduta não é somente a parte observável do ato e que os acidentes podem ser também
resultado da disfunção do sistema, não sendo simples questão de atenção ou desatenção às
normas, (observações feitas por DEJOURS, 2003; NEBOIT, 2002 e VILELA et al, 2004;)
fica expressa a importância de medidas voltadas a transformar o trabalho.
5.2.2 Quais as condições de Saúde e Segurança evidenciadas hoje nas Pequenas e Médias
Empresas estudadas e como a Ergonomia se insere nestes ambientes?
Como foi dito em capítulo anterior, para aplicação da LVE nas empresas,
somente a PE-1 e a MDE participaram. O ambiente da ME, mesmo não tendo sido feita
aplicação da LVE, mostrou-se evidentemente precário, com máquinas obsoletas, bancadas e
cadeiras improvisadas. O ambiente da PE-2, aparentemente, é organizado e bem-estruturado.
A ocorrência de problemas relacionados às PME ocorrem em maior ou menor
grau não somente nas empresas estudadas, mas comprovadamente em muitas PME, fatos
anteriormente reportados por LA ROVERE (2001) ao citar o uso de máquinas obsoletas, bem
como por BULL et al (2002), DE KOK (2005) e WALTARI et al (1980), que relatam os
desarranjos locais e o pouco planejamento do lay-out e da produção. Considerando os
resultados evidenciados após aplicação da LVE, a PE-1 possui maior precariedade em seu
ambiente e menor índice de conformidade com os itens da lista do que a MDE, embora
apresente melhores condições que a ME. Na PE-1, a não-conformidade refere-se a condições
124
de saúde, bem-estar e também segurança e pode relacionar-se, ainda, com o não-cumprimento
formal das ações em SST, fato este exposto no item anterior, resultando em ações não
conduzidas adequadamente.
Conforme evidenciado no capítulo 4 e citado acima, na PE-1 as máquinas de
prensa somente possuem como segurança o sistema de acionamento bi manual; contudo, tal
sistema não evita que trabalhadores tentem burlar o sistema, conforme comprovação prática.
Na MDE, máquina semelhante possui grades de proteção contra o acesso das mãos, mesmo
havendo o mesmo controle de acionamento bi manual. Foram assinalados, para a PE-1, 25%
dos 128 itens da LVE, enquanto na MDE 18% dos itens foram assinalados, sendo identificado
na última, em nova visita, que alguns itens que apresentavam inconformidades, tais como
altura de bancadas e levantamento de materiais, foram melhorados.
As condições do ambiente parecem melhorar à medida que aumenta o porte da
empresa ou de acordo com o nível tecnológico da mesma, também relacionado à maior
necessidade de ações à medida que aumenta o número de funcionários e riscos, fator que por
sua vez leva à contratação de técnicos de segurança do trabalho, médicos ocupacionais,
engenheiros de segurança, ou seja, profissionais que possuem maior corpo de conhecimento
quanto aos problemas relativos à saúde e segurança em um ambiente insuficientemente
provedor de boas condições de trabalho.
DE KOK (2005) havia detectado que a probabilidade de assumir ações
preventivas de agravos à saúde aumenta com o tamanho da firma, sendo a probabilidade de
identificar a relação entre as condições de trabalho e absenteísmo dependente da opinião do
empregador sobre as condições de trabalho, em insatisfações sobre a saúde e no número de
empregados. O autor associa também a essa tendência o crescente aumento da atenção por
investidores externos para adotar ações preventivas, diferenças na legislação, ou
simplesmente a disponibilidade de conhecimento e de trabalhadores para implementar tais
ações. Os argumentos levantados por De Kok mostram, portanto, veracidade em relação aos
casos estudados, confirmando-se a tendência proposta pelo autor.
O número de acidentes por ano foi igual para ambas empresas 8 acidentes –,
com a diferença de que a população da PE-1 é bem menor do que a da MDE: são 60
funcionários versus 190. Proporcionalmente, portanto, os riscos à segurança são maiores na
empresa menor. Quanto aos índices de adoecimento, a PE-1 não possui nenhum índice
registrado, enquanto a MDE possui um registro, relativo a um trabalhador novo, que já passou
por outros processos produtivos que poderiam ter desencadeado tal doença, segundo o técnico
de segurança do trabalho. O fato de os acidentes de trabalho ocorrerem com maior freqüência
125
que os adoecimentos foi relatado anteriormente na literatura anteriormente por WALTARI et
al (1980), mas não faz desprezar a afirmação de MIZOUE et al (1999) sobre os maiores riscos
à saúde advindos dos menores estabelecimentos, uma vez que menor condição em
controlar os riscos à segurança nestas empresas, identificados através da aplicação da LVE.
Apesar da taxa nula de absenteísmo relacionado a adoecimentos nos
estabelecimentos estudados contradizer para estes casos a fala de DE KOK (2005), que
acredita que altas taxas de absenteísmos nas empresas menores, conseqüentes das falhas
ergonômicas, é plausível acreditar que o baixo índice de queixas de adoecimentos nestas
empresas possa guardar relação com a subnotificação de eventos (fato estudado por
JOHANSSON & JOHANSSON, 1992) tais como stress, dores, lombalgias, etc, por parte dos
funcionários das PME, que podem inclusive não associar senão à LER a influência do
ambiente no adoecimento. DE KOK (2005) afirma que as taxas de absenteísmo e reclamações
sobre stress não têm efeito sobre a probabilidade de assumir ações direcionadas à saúde e
segurança, apenas reclamações físicas e a proporção de trabalhadores que possuem tarefas de
alta demanda física, o que apóia tanto a premissa anterior quanto o resultado evidenciado na
PE-1, uma vez que os empregadores consideram muitas reivindicações feitas quanto ao stress
ou desarranjos físicos despropositais.
Contra-argumentando a opinião dos empregadores quanto às queixas
recebidas, há possibilidade de o maior índice percentual de acidentes na empresa menor
guardar relação com a menor atenção ao ambiente. NA PE-1, assim como em outros
estabelecimentos, crê-se provavelmente que a ergonomia e as ações sobre o ambiente não
serviriam para empresas menores e com baixos índices de adoecimento, uma vez que não
demanda para a prevenção de doenças, sendo grande o desconhecimento da ampla utilidade
da ergonomia não para dar mais conforto ao trabalhador mas também para sanar questões
relativas à estrutura de trabalho, colaborando para que o ambiente promova boas condições de
manter segurança que permite maior margem de manobra e redesenha os processos e o
ambiente, favorecendo tomadas de decisões que não coloquem em risco a integridade física.
A exemplo da potencial melhora da segurança decorrente de ações sobre o ambiente, cito dois
casos evidenciados na PE-1:
- uma máquina que deve ser usada com luvas para proteção dos dedos no
manuseio do material a ser trabalhado suga estas mesmas luvas durante seu funcionamento,
aumentando o risco de acidentes. A máquina poderia ser redesenhada ou melhorada de forma
a evitar agravos ou a luva poderia ser substituída por outra mais aderente às mãos.
126
- a máquina de prensa que há poucos meses extirpou o dedo de um funcionário,
poderia receber grades que impedissem o acesso das mãos à parte perigosa da máquina.
Tais soluções poderiam ser evidenciadas em um estudo ergonômico ou mesmo
se houvesse diálogo que permitisse guiar mudanças. O redesenho destas estações de trabalho
e adaptações são exemplos de ações fundamentais sobre o local de trabalho, assegurando a
condução das atividades com segurança, não se limitando as ações ao zelo do trabalhador.
Na MDE, apesar da vontade em agir, algumas ações e artefatos desenvolvidos
mediante essa busca pela melhora poderiam ser mais eficazes para minimizar ainda mais os
riscos, se tivessem o apoio de uma Análise Ergonômica ou se fossem orientadas por um
especialista da área. É evidente que mesmo havendo a intenção e a melhora em alguns
aspectos, mais poderia ser feito. espaço para soluções mais apropriadas do ponto de vista
físico, biomecânico e antropométrico, tais como artefatos de levantamento de materiais,
bancadas com regulagens práticas de altura, soluções que tragam respostas positivas ao longo
prazo. Uma intervenção guiada pelo discurso e pela intuição não pode ser desprezada quanto à
sua funcionalidade e capacidade de solucionar muitos problemas, mas é inegável que ões
conduzidas através de maior conhecimento na área, natural dos profissionais que estudam o
trabalho e a Ergonomia, traz menores riscos de erros, de pouca efetividade, de ações que não
sejam conduzidas na qualidade correta ou arranjos pouco elaborados, argumento colocado
por CARDOSO (1998). Não se pretende colocar aqui o Ergonomista como o solucionador
imediato, pois se sabe que mediante uma intervenção, novos problemas podem surgir, o que
justifica ser este processo algo contínuo. Busca-se, na verdade, valorizar o conhecimento
científico do interventor que, aliado ao conhecimento empírico de quem vivencia a situação,
pode construir ações mais dinâmicas e completas, que equacionem melhor os problemas
diagnosticados mediante análise.
5.2.2.1 Quais as dificuldades encontradas pela Ergonomia e por medidas em SST para
disseminarem-se nos ambientes de menor porte?
Para os casos estudados distintos agentes que promovem a dificuldade da
disseminação da Ergonomia e de ações em SST, bem como razões diversas para a forma
como são conduzidas as ações.
Colocando em discussão primeiro a SST na PE-1, a opção por consultores para
desenvolver parte das ações deve-se, segundo a empresa, à falta de recursos financeiros, de
127
estrutura e, complementarmente ou conseqüentemente, de competências internas para tanto.
Logo, os constrangimentos financeiros, caracterizados inclusive pela falta de crédito
subsidiado e de apoio específico a estas empresas, evidenciados anteriormente pelos
estudos de SOARES (1998), LA ROVERE (2001) e LEMOS (2003), motivam a falta de
investimentos em saúde, assegurando para este caso veracidade dos argumentos de SOHN et
al (1998), CHAMPOUX & BRUN (2001) e JENSEN et al (2001) sobre a influência exercida
pela disposição de recursos financeiros no alcance das atividades em SST. Entretanto, a
“cipeira” entrevistada na PE-1 acredita que assumir ações voltadas para a melhora das
condições de saúde, com enfoque em medidas ergonômicas, talvez não fosse prioridade na
empresa se fossem disponibilizados recursos para tanto, pois a empresa outras
necessidades como prioritárias, condizendo com a afirmação de DE KOK (2005), de que as
condições econômicas não repercutem sobre a opção da empresa em não investir em ões
preventivas.
Embora contraditório, fica expresso que algumas ações têm sua forma de
condução justificada pela falta de recursos financeiros, embora se acredite que mesmo com
recursos disponíveis, o desenvolvimento de ões para melhora da SST nesta PE-1 não seja
prioridade, mostrando que além de disponibilidade de recursos é preciso que haja algo além
guiando estes investimentos, tais como políticas mais abrangentes em SST ou pessoas
especializadas alocadas dentro destas empresas que guiassem estas ações.
A falta de estrutura e de competências internas na PE-1, referidas pela
entrevistada como um dos empecilhos a tais ações e anteriormente descrita por LA ROVERE
(2001), CARDOSO (1998), CORIAT (1994) e RACHID et al (2001), coloca a questão como
mais complexa do que proferiu JENSEN et al (2001), que afirma que para conduzir ações de
SST nas empresas menores, basta qualificar alguém de dentro da empresa a partir de um
treinamento. Versus tal possibilidade, é interessante rememorar GHOBARDIAN &
GALLEAR (1996), que acreditam que o treinamento em PME é limitado devido aos poucos
recursos humanos, poucos profissionais qualificados e constrangimentos financeiros
enfrentados, reforçando a necessidade de um apoio até mesmo governamental para disseminar
conceitos referentes ao melhor tratamento a SST e apoio a programas de Ergonomia..
Complementando as colocações acima, pode-se dizer que a falta de recursos,
ou melhor, a forma de utilização dos recursos (GHOBARDIAN & GALLEAR, 1996),
motivada pela instabilidade e vulnerabilidade torna difícil ao líder das empresas pequenas em
geral disponibilizar o seu tempo para trabalhar saúde e segurança confirmando assim os
argumentos de DE KOK (2005) e WALTERS (2002) somando-se à necessidade de manter
128
ações prioritárias do ponto de vista do gerente para a sobrevivência da empresa,
principalmente quando esta está vivenciando a “fase heróica”, aonde o dono da empresa faz
tudo, segundo o relato do proprietário da ME. Neste caso, a Ergonomia encontrará espaço
para inserção quando a empresa vivenciar seu momento de crescimento, que possibilitará a
recriação deste ambiente e novos investimentos, confirmando as evidências levantadas pela
ANACT, de que o momento de crescimento naturalmente motiva investimentos é propício pra
guiar ações voltadas à Ergonomia nas empresas (aplicação do Diagnostic Court).
É difícil para uma empresa que não nasceu tendo a Ergonomia como um de
seus pilares, adotá-la neste momento de tentativa de sobrevivência, visto o custo de novos
maquinários e das demais modificações propostas.
Na PE-1, o modelo gerencial paternalista e autoritário e não somente a falta de
recursos financeiros ou de pessoas, foi evidenciada como entrave às ações ergonômicas,
principalmente ao considerarmos que dentro da abordagem situada, que engloba a AET e a
negociação dos constrangimentos, assim como para a execução de outras ações em SST, a
participação dos trabalhadores pelo provimento de sua percepção é considerada necessária,
podendo tal crença ser apoiada pela afirmação de NANTEUIL (1998), de que a participação
dos trabalhadores correspondem a uma perspectiva de melhora das condições de trabalho e de
pesquisa da eficácia global, enriquecendo ou renovando o diálogo social nas empresas. O
claro autoritarismo com que a gerência se relaciona com os trabalhadores e o modelo
paternalista assumido contribuem para a não-construção de ações, que não é oferecida ao
trabalhador a oportunidade de opinar. Nesta empresa, nem os membros da CIPA conseguem
driblar a pouca vontade da gerência em atender às reivindicações dos trabalhadores, tendo
sido relatado, conforme consta no capítulo 4, que esses gerentes vêem as reivindicações como
despropositais, sendo somente os trabalhadores os responsáveis por sua saúde.
Conseqüência deste modelo paternalista, anteriormente descrito por
BIQUAND et al (2001), o os desarranjos, a falta de equilíbrio na relação com os
trabalhadores, sendo evidente que quanto menor a comunicação, mais difícil entender as
necessidades do trabalhador, o que resulta em equívocos de julgamento. Conforme disse
CARDOSO (1998), não se pode esperar que processos participativos de busca de melhoria
funcionem perfeitamente quando aplicados em organizações altamente centralizadas, onde um
manda e outros obedecem, de preferência, sem discutir.
Analisando a MDE, a disponibilidade de recursos financeiros não foi apontada
pelo seu entrevistado como dificultador de ações em SST, portanto tal assertiva não pode ser
considerada principal agente limitador neste caso, nem foi apontada impossibilidade de treinar
129
um profissional de dentro da empresa para gerenciar ações em SST, mesmo porque na
empresa um técnico de segurança que vem buscando aprimorar seus conhecimentos na
área de SST e Ergonomia. Fato é que, mesmo informalmente, busca-se cumprir as normas em
ergonomia. Considera-se nesta empresa, além de sua maior disponibilidade de recursos e
melhor acesso ao conhecimento, dois agentes facilitadores para a entrada de ações em SST e
da Ergonomia: o modelo gerencial assumido e a vontade de mudar. na MDE valorização
do trabalhador como agente ativo na mudança da empresa, opinando, fornecendo sua
percepção sobre o que pode ser melhorado, sendo o modelo gerencial desta empresa um
modelo administrativo, seguindo a definição de BIQUAND et al (2001). Ainda, na
empresa reconhecimento da importância da Ergonomia, além de clara visão sobre o que ela o
é realmente; estão inclusive tentando montar um comitê próprio de Ergonomia.
Foi apontado como agente inibidor de toda ação na MDE a resistência à
mudança cultural, principalmente por parte dos gerentes, mesmo que entre eles haja
reconhecimento da importância da Ergonomia (inclusive para o bom desempenho da
produtividade) e de ações providas pela empresa para assegurar saúde e segurança, embora
isso não impeça mudanças. Essa resistência à mudança cultural havia sido apontada por
CARDOSO (1998), conforme consta no capítulo 2, e atesta-se como verossímil, sendo
apoiada pela afirmação de DUARTE & FEITOSA (1998) de que entre o desejo de ver
melhorias e a aceitação desta mudança, uma distância que nem sempre a empresa almeja
verdadeiramente encurtar. Na PE-1, também foi identificada uma grande resistÊncia À
mudança e, conforme relatos da “cipeira”, um funcionário que tentou revolucionar o
tratamento à Saúde e Segurança na referida empresa foi desligado do quadro de funcionários,
pois a gerência passou a ver com maus-olhos todas as novas ações. Além disso, os próprios
funcionários, conforme atestou o gerente da PE-2, podem resistir a colaborar com as
mudanças, por medo de as mudanças levarem a soluções que ameacem seus empregos, tais
como automação de algumas atividade para reduzir índices de adoecimento.
Pode-se dizer que, mesmo ante certa resistência à mudança, a PE-2 e a MDE
expressam um reconhecimento do valor de ações sobre a saúde e segurança, reconhecendo
também que não o trabalhador, mas também a empresa, possuem responsabilidade sobre
tais ações, enquanto na PE-1 está explícito que os trabalhadores devem ser os responsáveis
por zelar por sua saúde; nesta última, mesmo quando houve acidente com a prensa, não se
assumiu que a máquina apresentava déficit de segurança, tendo sido atribuída toda a
responsabilidade sobre a causa do acidente à vítima. Tal resultado condiz com os dados
obtidos em pesquisa por BRADSHAW et al (2001) que viu que, apesar da maioria dos
130
empregadores achar saúde importante para o andamento da firma, não está claro em que nível
os empregadores devem se responsabilizar, embora haja unanimidade em considerar que o
trabalhador deve se responsabilizar por sua saúde.
Claramente, a PE-1 apresenta outra visão da Ergonomia e mesmo da
causalidade dos acidentes em relação à PE-2 e a MDE, tendo ficado evidente após entrevista e
aplicação do questionário o desconhecimento sobre a abrangência da Ergonomia e
importância não somente ao bem-estar físico e mental do trabalhador, mas também para a
redução de índices de morbidade e melhor produtividade. Não está claro para esta empresa a
reversão de ganhos também para a instituição, sendo a falta de conhecimento sobre o assunto
grande contribuinte para a limitação das ações. Aqui, a falta de conhecimento coloca-se
diferenciada da provisão de informação em Saúde e Segurança para os trabalhadores, sendo o
primeiro relativo ao esclarecimento dos líderes e gerentes das empresas sobre os benefícios de
algumas medidas, como a Ergonomia. JOHANSSON & JOHANSSON (1992) já haviam
observado que, além de haver falta de conhecimento entre diretores das PME, os mesmos não
reconhecem seu desconhecimento e ainda consideram que provêem o ambiente de forma
satisfatória. Esse pouco esclarecimento e cultura de causalidade de acidentes sob
responsabilidade do trabalhador seria o que leva empresários e gerentes a assumir ações mais
voltadas à segurança do que à saúde, tais como a promoção do uso dos EPIs e orientação
quanto aos atos seguros, confirmando o argumento de BRADSHAW et al, 2001,
CHAMPOUX & BRUN, 2001, RONGO et al (2004) de que algumas empresas gerenciam
saúde ocupacional privilegiando ações em segurança.
O Reino Unido coloca-se como exemplo de país que buscou, a partir de
campanhas tais como Good Health is Good Businesse Improving Access to Occupational
Health Support”, promovidas pelo Health and Safety Executive e Health and Safety
Comission, reverter este quadro característico pela pouca informação, promovendo
reconhecimento, por parte do empregador, da importância de programas de Saúde e
Segurança em seus negócios (BULL et al, 2002). Neste país, fora identificada uma deficiência
na provisão de informação para empregadores sobre a importância de ações em SST, ficando
evidente que não era a falta de vontade de agir o motivo da pouca ação sobre a saúde dos
trabalhadores, mas sim a falta de conhecimento sobre como agir, premissa que pode manter
relação com a resistência à mudança cultural. Novos instrumentos de avaliação mais
adequados às PME poderiam ajudar a difundir ações em SST e Ergonomia nestes ambientes,
o que é sugerido pelos relatos dos casos estudados e também no item seguinte.
131
5.2.3 Discussão sobre a Ergonomia
As diferenças entre as PME e destas em relação às grandes, que impedem
homogeneizações, manifestas em áreas como financiamento (LEMOS, 2003),
desenvolvimento de políticas de inovação (LA ROVERE, 2001), também impedem
homogeneizações na elaboração de programas em SST e em Ergonomia (CHAMPOUX &
BRUN, 2001), tendo JUNG (1999), BRADSHAW et al (2001) e TORP & MOEN (2006)
argumentado em seus trabalhos que as diferenças demandam atividades desenvolvidas de
acordo com o tamanho da empresa, as características e necessidades de cada local de trabalho,
processos operados e riscos previamente identificados, sendo pertinente retomar a questão de
JOHANSSON & JOHANSSON (1992) sobre até onde as propostas de ação nas empresas
ajustam-se aos seus constrangimentos e facilidades, uma vez que podem ser agentes
impeditivos a cultura conservadora, o modelo de gerenciamento, os poucos recursos
financeiros, a falta de profissionais qualificados, a falta de informação, não podendo se
determinar uma dificuldade específica para todas as empresas. Tal premissa sobre as
diferenças entre as PME demandarem ações ajustadas aos constrangimentos das mesmas é
sustentada por este trabalho.
Na PE-1, o conservadorismo e a pouca disponibilidade de recursos, além do
modelo de gerenciamento identificado e o acesso à informação, difere-se do modelo
participativo e maior disponibilidade de recursos encontrados na PE-2 e na MDE, sendo que o
argumento de WILSON (2000) de que “a adoção de ações ergonômicas relaciona-se ao
ambiente socio-econômico e político no qual propõe-se intervenção”, sustenta a idéia de
diferentes abordagens e caminhos para implementar a saúde, segurança e Ergonomia nestes
ambientes. O desenvolvimento de uma estrutura susceptível de adaptar-se eficazmente a
mudanças e constrangimentos não pode ser reduzido a um modelo único e universal, idéia
proferida por VALOT (2001) e compartilhada por este trabalho. Diversos autores (SOARES,
1998; LEMOS, 2003, CARVALHO, 1998) ressaltam que o grande problema que motiva as
dificuldades enfrentadas pelas empresas menores, tanto em termos de acesso a recursos
financeiros, cumprimento das leis, estratégias organizacionais, é que as mesmas não foram
construídas direcionadas para as peculiaridades deste ambiente, tendo sido construídas com
referencial nas grandes organizações. Na PE-2 e na MDE, a realização informal e a condução
perceptiva de programas de adequação do trabalho incluindo as estações de trabalho e os
artefatos, mesmo não havendo grandes problemas de ordem financeira, tampouco
desconhecimento da importância da transformação do trabalho como fonte de
132
equacionamento dos problemas de SST nas empresas, faz reforçar a crença em uma
dificuldade, oriunda da própria disciplina, em inserir-se nas empresas de menor porte. A
criação e divulgação de instrumentos voltados para a PME, tais como o Diagnostic Court da
ANACT e a LVE, esta última versão do Ergonomics Check Points evidenciam que, não só em
nosso país mas em outras partes do mundo, a demanda por ações Ergonômicas voltadas para
as PME é uma realidade, refletindo, presumivelmente, a dificuldade em utilizar os métodos da
Abordagem Clássica e da AET nas empresas menores, seja pelo alto custo de tais ações ou
pela não-conciliação com a demanda e limitação destas. A AET, que possui mais ferramentas
adaptáveis à PME do que técnicas vinculadas à Abordagem Clássica, que modelos
sociológicos e organizacionais nos ajudam a entender as dinâmicas das necessidades e
mudanças do trabalho e como elas fragilizam o operador, não se limitando mais somente a um
posto de trabalho – idéia sustentada por VALOT (2001) – é cara e requer grande investimento
de tempo e às vezes de competências internas, o que nem sempre existe nas PME.
Considerando as abordagens propostas por cada um dos instrumentos de
análise direcionados principalmente às PME citados acima, a LVE deve ser vista com certa
ressalva, pois a aplicação prática da mesma neste trabalho permitiu constatar a limitada
abordagem dos problemas, sendo interessante como ferramenta de primeira análise, mas não
como único recurso de análise das situações de trabalho, pois há pouco foco nas outras
questões que não as físicas se compararmos a ferramenta com a AET, esta última
recomendada pela NR-17 como instrumento de avaliação do local de trabalho. Não na
LVE, instrumento tão próximo da abordagem clássica da Ergonomia, espaço para uma visão
que não técnica dos problemas que não permite a análise das relações e da situação de
trabalho, pois não meios, no momento de aplicação da lista, para diálogo com os
trabalhadores, o que permitiria coletar dados sobre a percepção que os mesmos guardam do
processo de trabalho, confrontando essa visão com a dos líderes, em termos de demanda para
a mudança. A participação dos trabalhadores no processo de reconstrução do ambiente de
trabalho encontra-se desfavorecida pelo checklist. Conforme coloca VALOT (2001), é
necessário dispor de modelos explicativos e preventivos que permitam estruturar a
intervenção sobre as situações que necessitam de mudança. A intervenção não pode mais ser
limitada unicamente ao posto de trabalho do operador porque os fatores que contribuem para
qualificar a complexidade, os constrangimentos são cada vez mais numerosos e distantes
deste posto de trabalho. Seria portanto válido complementar a LVE posteriormente com
métodos próprios da abordagem situada, tais como a negociação de constrangimentos e
Análise Ergonômica do Trabalho, argumento já defendido por MENEGON et al (2002) sobre
133
o uso de checklists. Ainda, como ressalva à LVE, os custos de algumas das mudanças
apontadas mediante sua aplicação principalmente no tocante a mudança de maquinários e
ferramentas –, que muitas vezes não podem ser cobertos pelas empresas de menor porte em
um momento que não a reestruturação da empresa ou após a mesma atingir uma certa
estabilidade e estar apta a crescer. Apesar das contrariedades, a LVE tem sua utilidade
expressa pela possibilidade de contribuir para a resolução de alguns ou de muitos –
problemas no tocante aos dispositivos técnicos e em segurança (argumento levantado no
capítulo 2), através de criatividade e de um investimento relativamente baixo, a exemplo da
instalação de grades de segurança nas máquinas da PE-1 proposta na primeira fase deste
trabalho, após aplicação da LVE nesta empresa. Embora na PE-2 e MDE a demanda além
da aplicação da LVE, uma vez que a busca por melhorias é feita, na PE-1, o trabalho de
conscientização dos líderes quanto aos riscos inerentes é uma das demandas e tornaria mais
fácil integrar neste ambiente uma nova consciência sobre a importância da Ergonomia, sendo
neste a LVE importante contribuinte para apontar inicialmente o que pode ser melhorado. O
custo praticamente nulo da aplicação desta lista, uma vez que é facilmente aplicável pelos
próprios funcionários responsáveis por gerenciar saúde e segurança, também asseguram ser
este um método interessante quando não há meios de aplicação da AET.
Ferramentas tais como o Diagnost Court, que faz um diagnóstico das
demandas da empresa, guiando a ação para áreas prioritárias, auxiliam para que as ações não
se desenvolvam de maneira arbitrária e que não haja seleção equivocada dos problemas a
resolver. A vantagem de métodos tais como o Diagnostic Court para abordar empresas de
menor porte é que além de sua completude, por permitir essa negociação com os
trabalhadores, é um instrumento que foca na real demanda da empresa, fugindo da
reestruturação exclusivamente física e construindo novas relações, a partir do diagnóstico das
situações aonde se pode intervir. O Diagnostic Court e metodologias centradas na demanda
da empresa também conseguem conciliar-se com outra dificuldade muito evidenciada em
estudos gerenciais e em qualquer outro programa desenvolvido para PME, que é a dificuldade
de homogeneização, graças aos diferentes motivos que levam a empresa a se manter pequena
ou aos diversos setores ao qual pertence, havendo também que considerar o acesso a
tecnologias, à informação e disponibilidade de recursos financeiros.
O Diagnostic Court é um método que, segundo os artigos pesquisados
(DELTOR & THON, 1992), encontra seu momento de inserção na empresa quando esta
apresenta certo crescimento, no momento em que ela recria. De fato, tanto a PE-2 quanto a
MDE apontaram o momento de crescimento da empresa, quando aumenta o numero de
134
funcionários, como o momento em que começaram a pensar em melhorias na qualidade de
vida no trabalho, confirmando assim que este é um momento propício para esta “recriação”
também em termos de atenção à saúde e segurança.
5.3 Conclusões acerca do problema de pesquisa
Considerando as peculiaridades de cada ambiente estudado, suas formas de
abordar SST e as dificuldades naturais de cada, que implicarão na não adoção de programas
de Ergonomia ou na condução informal de mudanças no trabalho, dois argumentos foram
trazidos para a conclusão. O primeiro relaciona-se à dificuldade no desenvolvimento de
programas de Ergonomia nas empresas pelo pouco esclarecimento sobre a disciplina, além do
conservadorismo e da crença de causalidade de acidentes como responsabilidade do
trabalhador. O outro argumento relaciona-se à dificuldade de conduzir ações formalmente nas
empresas, mesmo aonde elas são aceitas.
Empresas aonde imperam a falta de clareza sobre a importância das ações em
SST e dos possíveis ganhos com a Ergonomia o abrem espaço para a introdução desta
última, o que se soma à falta de apoio de programas de ergonomia no momento de concepção
destas empresas. HASLAM (2002) argumenta que as ações dos indivíduos são moldadas por
seus conhecimentos, habilidades, hábitos e desejos, os quais por sua vez são influenciados por
aspectos psicológicos e sociais. Não só prover informação aos líderes, mas também aos
operadores, é essencial para que seja possível a ambos entender o benefício de uma melhoria.
Para HASLAM (2002), este entendimento é provido através de um processo de educação,
treinamento, encorajamento e feedback, caso seja necessário adotar uma maneira diferente de
realizar uma tarefa ou utilizar uma máquina redesenhada. De fato, o conhecimento e
provimento de informação colocam-se como pilares para a construção de ações ergonômicas,
fazendo surgir uma nova realidade, aonde a provisão da saúde é algo real e efetivo, favorecida
pelo ambiente de trabalho. Conhecer os riscos à saúde não implica necessariamente em
reconhecer a importância da Ergonomia, e é por isso que prover informação sobre a
disciplina, não para empregadores, mas também para trabalhadores é algo essencial para a
aceitação desta. Analisando os efeitos positivos do provimento da informação sobre
Ergonomia, JENSEN et al (2001) percebeu que além de ter favorecido a obtenção de
cooperação e clima psicológico, os empregados entenderam facilmente a abordagem básica
apresentada e implementaram um número de melhorias que afetaram positivamente tanto a
135
produtividade quanto o ambiente de trabalho, sendo possível que tal resultado se reproduza
nas empresas de nosso país, também.
O apoio de órgãos ligados à PME seria então essencial para aumentar o
esclarecimento e a divulgação de meios de executar ações em Ergonomia, uma vez que as
demais orientações em SST são mais conhecidas e divulgadas, até mesmo pelos consultores
que para elas trabalham. Apesar disso, a consulta aos órgãos de apoio às PME, tais como
SESI e SEBRAE, evidenciam, para a cidade em questão, não haver qualquer programa que
favoreça a informação sobre os benefícios da Ergonomia para as empresas, tampouco
programas que incentivem seu uso nas PME. Há, no SESI, incentivo à boa saúde no que diz
respeito à orientação sobre alimentação, controle da pressão arterial, além de outras dicas de
saúde, mas não nada voltado ao incentivo à Ergonomia. Em outros estados, como por
exemplo no Rio Grande do Sul, SEBRAE e SESI desenvolvem ações voltadas à SST e
Ergonomia nas empresas, estimulando a disseminação da última através da promoção de
análises em empresas menores. Quanto à divulgação da LVE na cidade sede do estudo,
indícios de fraca divulgação da ferramenta, assim como o é com outras medidas mais simples,
sendo que nenhuma das empresas visitadas nem mesmo o Sebrae ou SESI conheciam a LVE.
RONGO et al (2003) diz que a falta de políticas claras no setor informal e a
pobreza de locais de trabalho permanentes não encorajam investimentos na área de saúde
ocupacional e segurança, mesmo que empregadores e empregados estejam conscientes dos
riscos à saúde e segurança no ambiente laboral. Tal assertativa confirma-se para nosso país,
onde algumas (ou muitas) empresas cumprem o mínimo estabelecido por lei, pela própria
desobrigação de que elas mantenham profissionais da área de saúde ou segurança, mesmo que
o grau de risco de suas atividades seja alto ou mesmo pela falta de estrutura no caso de
empresas com menos de 50 funcionários. O problema coloca-se ante principalmente à micro e
pequena empresa que possuem menos de 50 funcionários, principalmente aquelas que são
pequenas por limitação e conseqüentemente não dispõem de recursos. Se por um lado,
reconheço a dificuldade em manter uma CIPA e contratar um técnico de segurança em um
estabelecimento com menos de 20 funcionários, por outro, tal desobrigação torna grande a
tendência de executarem atividades insalubres expurgadas das grandes empresas (RACHID et
al, 2001; SATO, 2001), principalmente quando leis como o FAP são colocadas em prática, lei
esta que determina o pagamento de alíquotas relativas ao enquadramento da empresa no
código CNAE, com alíquotas que variam de 0,5 a 6% dependendo dos índices de freqüência,
gravidade e custos dos acidentes de trabalho. As relações de terceirização entre grandes,
médias, pequenas ou microempresas muitas vezes funcionam seguindo a lógica da
136
expurgação do “trabalho sujo”. A relação entre o aumento de rigor nas leis e aumento do
número de acidentes fora identificado previamente por JOHANSSON & JOHANSSON
(1992) na Suécia, podendo, em nosso país, contribuir também para o aumento da emissão do
trabalho insalubre para ambientes aonde não há estrutura para prevenção adequada dos riscos.
A falta de políticas e de incentivos públicos ou de organizações ligadas às
empresas que assegurem que, mesmo em ambientes menores, a saúde possa ser mantida,
coloca este problema de expurgação do trabalho sujo como um grave problema de saúde
pública. Ora, se não necessidade de profissionais de saúde e segurança atuantes nestas
empresas e há tendência a expurgar o trabalho mais insalubre para estes ambientes, até mesmo
pela menor exigência feita a estes, se dificuldades em desenvolver ações ergonômicas, seja
pelo custo, pela falta de informação, de estrutura, ou mesmo por questões culturais e
gerenciais, o certo seria buscar, paralelamente ao estabelecimento de algumas políticas,
desenvolver e prover ações que possibilitassem maior entrada da Ergonomia nas PME, que
esta é capaz de reduzir os riscos inerentes ao trabalho. Digo prover, pois acredito que, diante
das dificuldades vivenciadas, as empresas menores necessitam de fato deste apoio para que
não a situação de saúde encontre um caminho para melhora, mas também para que estas
empresas experimentem um desenvolvimento pautado tanto no bem-estar de seus
funcionários quanto nos objetivos da companhia.
A falta de políticas direcionadas ao bem-estar do trabalhador pode não
contribuir para a expurgação do trabalho dito “sujo”, mas também pode trazer, mesmo em
empresas que não realizam tal trabalho, desestímulo ou desinteresse por iniciativas outras que
não abordagens focadas na segurança, havendo equívoco quanto à importância de desenvolver
tais ações, as quais acabam sendo relacionadas como que pertinentes somente às grandes
empresas, conforme relato colhido na PE-1, que considerava a Ergonomia um projeto
essencial somente para aquelas. Outro fator que se coloca como contribuinte para o não-
desenvolvimento de ações ergonômicas é a determinação legal para mudanças somente ser
feita nas empresas após um auditor fiscal visitar o estabelecimento e, a partir de um laudo,
determinar o que deverá ser mudado em termos de adequação do posto de trabalho. Os
trabalhadores e as empresas acabam, conseqüentemente à ausência da ergonomia, perdendo
melhorias em suas condições de trabalho, em termos de saúde, segurança e produtividade,
podendo haver também ineficácia na operação dos equipamentos projetados para
determinadas atividades, bem como dos resultados esperados dos sistemas de trabalho; as
empresas e organizações produtivas estariam, portanto, pagando o preço por sua ausência,
137
sendo tais preços a queda da produtividade e o absenteísmo laboral, teoria apoiada por
MAFRA (2004).
Ante as dificuldades vivenciadas pelas PME, a literatura mostra que momentos
essenciais para a introdução da Ergonomia são o momento da concepção (neste,
principalmente relacionados aos arranjos físicos) ou o da recriação, que são momentos em
que injeção de recursos financeiros em máquinas, ferramentas e (re) estruturação.
GROSJEAN & NEBOIT (2000) consideraram em trabalho anterior que para uma medida de
prevenção ser eficaz deve-se construir uma estratégia de prevenção integrada no projeto.
Considerou-se que o papel preventivo, em relação aos projetos de concepção, consiste em
assegurar que as novas situações de trabalho geradas pelo projeto sejam compatíveis com a
saúde e a segurança dos trabalhadores, ou em todo caso, assegurar que as condições de
segurança e saúde exigidas socialmente estejam inseridas no contexto da nova situação de
trabalho procedente do projeto. Aliás, não a Ergonomia deveria ser inserida no projeto de
concepção mas conjuntamente, de modo a apoiar tal ação, também o tema Saúde e Segurança
no Trabalho – SST (FUNDACENTRO, 2005).
Considerando as empresas que tentam desenvolver ou desenvolvem programas
em Ergonomia, a cultura e o modelo de gerenciamento participativo somam-se à visão que os
dirigentes guardam sobre a importância da Ergonomia, havendo também maior facilidade em
encontrar ações ergonômicas em ambientes de maior desenvolvimento tecnológico e aonde o
desempenho é marcante e competitivo (CARDOSO, 1998), que muitas vezes estas detém
maiores recursos financeiros e acesso à informação. Como exemplo, cito a empresa de
telefonia (PE-2), aonde o líder, além de possuir conhecimento, trabalha com produtos de alta
tecnologia. As ações guiadas pela lógica da Ergonomia, mesmo havendo acesso à informação
e recursos, não deixam de ser guiadas pela intuição e improvisação, sendo esta uma
característica própria das ações conduzidas nas PME, que nestas menor formalização
dos processos, maior proximidade entre chefes e empregados, menor nível hierárquico e
menor variedade de profissionais especializados na chefia, natural em ambientes com
reduzido quadro de funcionários. No entanto, essa informalidade reforça a necessidade de
políticas e, quem sabe, até financiamento público a programas de Ergonomia nas empresas.
É claro que informação e políticas incentivam adoção de medidas para
melhorar saúde e segurança nas empresas, mas as transformações não dependem somente
destes fatores, mas principalmente da aceitação e conscientização da necessidade de mudar.
Quanto ao potencial de conscientização dos líderes das empresas de menor porte ante à
necessidade de transformar o trabalho, é fato que eles, por possuírem maior visibilidade dos
138
processos e maior contato com os funcionários, possuem maior conhecimento dos problemas
vivenciados em chão-de-fábrica e por isso mesmo podem perceber a necessidade de algumas
mudanças e mudar o que traz constrangimento ao trabalhador, construindo, mesmo que
informalmente, uma nova situação de trabalho para sua equipe. Em contrapartida, muitas
empresas pequenas convivem com a arbritrariedade de seus líderes, que em meio ao
conservadorismo, ao autoritarismo e ao paternalismo, não consideram a possibilidade de
negociar constrangimentos, assimilando a idéia de que eles, e não seus empregados, são os
únicos capazes de determinar o que pode e deve ser melhorado, cabendo ao trabalhador
prevenir agravos à sua saúde através do uso de EPI’s fornecidos pela empresa e através de
conduta segura. Contra esta visão paternalista, é importante citar o argumento de BULL et al
(2002), que diz ser o caminho efetivo para reduzir os índices de lesões no trabalho, o maior
envolvimento dos trabalhadores nas tomadas de decisões, a maior disposição da junta de
saúde e segurança em resolver problemas internamente e a maior experiência da força de
trabalho, além da demonstração que o gerente faz de seu envolvimento com a força de
trabalho, tudo baseado na comunicação aberta e espírito de equipe positivo entre o grupo de
trabalho e o empregador.
5.4 Implicação para Teoria
Diante do pouco material disponível em termos de desenvolvimento de ações
Ergonômicas em nosso país, este trabalho contribui para um maior conhecimento da forma
como são conduzidas ações em Ergonomia nas nossas empresas, especialmente no que tange
a região estudada, trazendo constructos que explicam, baseados na literatura pesquisada sobre
as nossas PME e também em estudos realizados em PME de outros países, as dificuldades
enfrentadas pelas empresas e pela própria disciplina para a execução de ações pautadas na
transformação do trabalho, evidenciando a necessidade de construir um caminho para maior
inserção destes conceitos nas PME.
5.5 Implicação para política e prática
Como premissa inicial, coloco que simplesmente instruir quanto à segurança
não garante que tudo correrá bem. Organizar o trabalho é essencial para que a mudança seja
de fato eficaz para eliminar fatores de risco no trabalho, tanto em questão de segurança quanto
de saúde, não só contribuindo para diminuição de acidentes, mas também para a prevenção de
139
doenças relacionadas ao trabalho. Ora, a prevenção de LER/DORT também está ligada aos
fatores organizacionais da empresa, como propôs MAENO et al (2002)
3
, contribuindo
conjuntamente para a melhora da produtividade.
Esta pesquisa visou contribuir para melhorar as condições de saúde e
segurança nas empresas através da adoção de medidas pautadas na Ergonomia, uma vez que
esclarece quanto à sua importância e alerta para a dificuldade de disseminação destes
conceitos ou para a execução formal destas ações, já que as ações nas PME estudadas, quando
existem, são guiadas prioritariamente pela percepção e informalidade, tendo tal fato sido
observado em outras empresas de diversas partes do mundo.
A contribuição para a política implica na necessidade de desenvolver medidas
de estímulo, provisão e fomento à Ergonomia nas empresas de menor porte, instrumentos
flexíveis que possam adaptar-se e atender às diferentes necessidades impostas pela
individualidade de cada caso, entre empresas características pela coexistência em umas de
baixa incorporação tecnológica e em outras, de alta flexibilidade e inovatividade, variedade
esta já citada anteriormente por LEMOS (2003). Cada análise deve trabalhar os conflitos entre
os atores envolvidos para então trazer respostas para a melhora do ambiente do trabalho e para
a construção de uma ação ergonômica.
É preciso pensar em novas alternativas de inclusão de programas de ergonomia
nos ambientes industriais, os quais atinjam todos os níveis institucionais e estruturais, quiçá
propondo um programa público de orientação e institucionalização da ergonomia.
5.5 Pesquisas futuras
Futuramente, pretende-se pesquisar e desenvolver, baseando-se nas
peculiaridades e necessidades de cada estabelecimento, métodos de difusão dos conceitos da
disciplina imediatamente relacionada a este estudo, assim como instrumentos melhor
adaptáveis à PME, que favoreçam a quebra da abordagem somente aos artefatos e máquinas,
extensíveis às dimensões cognitivas e organizacionais que envolvem o trabalho, inclusive
privilegiando a participação dos trabalhadores no processo de diagnóstico e intervenção.
3
vide capítulo 2
140
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149
APÊNDICE A – Roteiro de Entrevista
1) Características gerais da empresa:
- Qual o tamanho da empresa?
- Qual o ramo de atividade?
- Quantos funcionários há na empresa? (permanentes, temporários)
- Você poderia detalhar como é a organização do trabalho dentro desta empresa?
- Como se distribuem os ciclos e turnos de trabalho?
2) Caracterização sucinta das atividades:
- As atividades são características mais pela repetitividade ou pela precisão?
- Os trabalhadores manuseiam peso? Qual o peso máximo manuseado e com que
freqüência?
- Quais as atividades desenvolvidas e os movimentos comumente empregados para
desenvolvê-las?
- Qual mobiliário e ferramentas utilizadas?
- Organograma *(se possível)
3) Ações em SST
- Quais EPIs utilizados?
- Eles utilizam os EPIs adequadamente?
- Quais as principais ações de Saúde e Segurança realizadas na Empresa ( SESMT, PPRA,
PCMSO, CIPA, Ergonomia)?
- Quais são os profissionais envolvidos/ responsáveis por controlar, gerenciar e implementar
ações em SST na empresa?
150
APÊNDICE B - “Lista de Verificação Ergonômica”
Apresentamos abaixo a lista de Verificação Ergonômica contida no Livro
Pontos de Verificação Ergonômica (FUNDCENTRO, 2001). Como complemento ao que foi
dito nos capítulos 2 e 3, é válido dizer que os pontos de verificação podem ser usados
eficazmente pelas empresas dos países em desenvolvimento, treinando o pessoal na busca por
soluções aos problemas ergonômicos do local de trabalho. É preciso que o avaliador selecione
e inspecione a área a ser analisada no caso das empresas menores, toda a empresa deve ser
analisada –, em seguida deve-se fazer nova inspeção, desta vez mais detalhada, verificando na
lista os itens que merecem modificação. Quando for necessário propor ação para determinado
item, marca-se “sim”. Seguinte ao preenchimento dos 128 itens, faz-se nova inspeção no
local, marcando as áreas prioritárias de ação, ou seja, aquelas que merecem ação mais
imediata.
Nas próximas páginas, o resultado da aplicação da LVE na pequena e média empresa
investigada.
151
Aplicação da LVE na Pequena Empresa PE-1
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Aplicação da LVE na Média Empresa - MDE
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171
APÊNDICE C – Questionário sobre Saúde, Segurança e Ergonomia
O objetivo deste questionário é levantar dados para pesquisa sobre Saúde,
Segurança e Ergonomia em Micro, Pequenas e médias empresas. Tal pesquisa compromete-se a
manter o sigilo quanto ao nome das empresas envolvidas, bem como a identidade dos respondentes.
É preciso ter claro a necessidade de veracidade dos fatos para que possa-se
construir, a partir deste, uma discussão que traga benefícios tanto às pequenas empresas quanto aos
seus trabalhadores.
Tal questionário faz parte de dissertação de mestrado vinculada à Universidade
Federal de São Carlos, não havendo portanto interesse em manipular as informações obtidas a partir
destes, tampouco em divulguar quais as empresas vinculadas às respostas.
Para cada questão, mais de um item pode ser assinalado. um espaço abaixo de
cada questão, caso o respondente se interesse em tecer comentários.
Grata desde já pela atenção
Denise C. Costa
1ª parte: SOBRE A EMPRESA
Porte da Empresa (critério SEBRAE)
( ) microempresa
( ) pequena empresa
( ) média empresa
Tipo de empresa
( ) indústria
( ) indústria de base tecnológica
( ) serviço
Tempo de funcionamento
( )menos de um ano
( ) um a três anos
( )três a cinco anos
( ) cinco a dez anos
( ) mais de dez anos
Relacionamento com trabalhadores:
( ) Participativo: temos diálogo, eles opinam no que
pode mudar
( ) Autoritário: não damos voz a eles para que eles não
“folguem”
( ) Temos diálogo, mas eles não dão opinião em nada
________________________________________________________________________________
2ª parte: SAÚDE E SEGURANÇA
1) Como são gerenciadas ações em saúde e
segurança em sua empresa?
( ) recursos internos e pessoal interno
( ) recursos internos e empresas terceirizadas
( ) recursos e pessoal externo
( )não há trabalho em saúde e segurança.
2) Quais as atividades desenvolvidas em termos de
saúde e segurança?
( ) uso de EPIs
( ) instrução quanto à segurança
( ) instrução de manutenção da saúde
( ) estudo do trabalho para melhorar as condições
físicas do ambiente/ Ergonomia
( ) ginástica laboral
172
2b) Quanto aos EPIs, os trabalhadores:
( ) recebem da empresa
( ) devem eles mesmos adquirir
( ) são orientados a usar
( ) usam
( ) não utilizam por teimosia
3) Quem são os responsáveis pela aplicação
das seguintes normas do trabalho?
* NR4 (SESMT)
( ) ninguém
( ) a própria empresa
( ) empresa terceirizada (consultoria)
( ) associação entre empresa e consultoria
( ) desconheço tal norma
* NR5 (CIPA)
( ) ninguém
( ) a própria empresa
( ) empresa terceirizada (consultoria)
( ) associação entre empresa e consultoria
( ) desconheço tal norma
* NR7 (PCMSO)
( ) ninguém
( ) a própria empresa
( ) empresa terceirizada (consultoria)
( ) associação entre empresa e consultoria
( ) desconheço tal norma
* NR9 (PPRA)
( ) ninguém
( ) a própria empresa
( ) empresa terceirizada (consultoria)
( ) associação entre empresa e consultoria
( ) desconheço tal norma
* NR17 (ERGONOMIA e O. T.)
( ) ninguém
( ) a própria empresa
( ) empresa terceirizada (consultoria)
( ) associação entre empresa e consultoria
( ) desconheço tal norma
3b) Caso contrate consultores, por que os
contrata?
( ) falta de recursos financeiros – serviços
saem a custo menor.
( ) falta de pessoas capacitadas para a função
no quadro de funcionários
( ) falta de tempo para gerenciar tais ações dentro
da empresa
( ) não os contrato
4)Quais das normas acima vocês acham de menor
importância? Por que?
__________________________________________
__________________________________________
__________________________________________
__________________
5) Qual a norma mais importante, na sua opinião?
Por que?
__________________________________________
__________________________________________
__________________________________________
__________________
6) Se não cumpre algumas destas normas, por que
não as cumpre?
( ) não acho que seja algo importante;
( ) devido à falta de recursos financeiros, somente
escolhi ações prioritárias.
( ) por que não há fiscalização
( ) a empresa de consultoria que aplica as NRs não
dispõe deste serviço
( ) não temos condições de atender a tudo que as
normas pedem.
7) Na sua empresa, são realizadas palestras e
distribuição de panfletos de orientação para
melhorar saúde e segurança?
( ) sim, em orientação à saúde
( ) sim, em orientação à segurança
( )não
8) O que vocês acham que poderia melhorar o
acesso à saúde e segurança nas empresas?
( ) nada, está tudo ótimo como está, não há
necessidades de maiores ações
( ) o governo e órgãos ligados à pequena e média
empresa deveriam fornecer recursos financeiros
e/ou pessoas para o serviço
173
( ) os gerentes devem assumir sua
responsabilidade sobre saúde e segurança
( ) devem ser dados mais cursos aos gerentes
sobre como gerenciar saúde e segurança nas
empresas
( ) maior rigor às leis
( ) menor rigor nas leis, para que elas se
ajustem às condições da pequena e média
empresa
( ) os trabalhadores devem ser menos
irresponsáveis
9) Você acha que as ações em saúde
deveriam ser gerenciadas:
( ) por pessoas alocadas pelo governo
( )por consultorias
( )por pessoas de dentro da firma
( )pelos gerentes
( ) por ninguém
( ) os trabalhadores é que devem zelar por
sua saúde e segurança
10)Na sua opinião, saúde e segurança:
( ) devem ser de total responsabilidade do
trabalhador
( ) deve ser responsabilidade somente da
organização
( ) deve ser responsabilidade de ambos, mas
a culpa é sempre do trabalhador;
( ) deve ser de responsabilidade de ambos,
podendo a culpa ser da organização
( )somente saúde deve ser responsabilidade
conjunta da empresa e trabalhador
( )somente segurança deve ser
responsabilidade conjunta da empresa e
trabalhador
11) Quanto às políticas de Saúde e
Segurança:
( ) São boas
( ) É possível cumprir algumas, outras são
mais difíceis porque não temos recursos
suficientes
( ) Só conseguimos cumprir com ajuda
externa (consultores, sebrae...)
( ) Exigem muito das pequenas empresas: quanto
menor a empresa, mais difícil cumprir. Deveriam
ser reformuladas de acordo com nossas condições
12) Voacha saúde importante para o andamento
da firma? Por que?
13) Há muitos acidentes de trabalho na empresa?
Qual a média mensal?
14) muitos casos de absenteísmo? Quantos por
mês, em média?
15) muitos adoecimentos por LER/DORT?
Quantos por mês, em média?
174
________________________________________________________________________________
3ª parte: ERGONOMIA e ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO
16) algum tipo de estudo sobre a
organização do trabalho em sua empresa?
( ) sim, estudo formalizado da organização do
trabalho
( ) sim, estudo informal da organização do
trabalho
( ) não
17) Em relação ao trabalho:
( ) não temos condições de mexer na
organização de trabalho (faltam pessoas que
entendam do assunto)
( ) não temos condições de mexer na
organização de trabalho (faltam recursos
financeiros para contratar o serviço)
( ) não temos condições financeiras de mexer
nos maquinários
( ) estamos sempre estudando as condições de
trabalho e alterando o que é possível
( ) aplicamos a ginástica laboral
18) O que você sabe sobre ergonomia?
( ) estuda os arranjos físicos: altura de mesas,
cadeiras....
( ) estuda a organização do trabalho
( ) visa compreender as interações entre os
trabalhadores e outros elementos do sistema
( ) tem como objetivo melhorar a saúde do
trabalhador
( ) envolve ginástica laboral
( ) busca adaptar o trabalho ao homem
( ) busca adaptar o homem ao trabalho
( ) basta aplicar uma vez
( ) deve ser um processo contínuo
( ) não sei o que é ergonomia
19) A sua empresa desenvolve algum tipo de
programa em ergonomia?
( ) sim
( ) não
19a) Em caso afirmativo, como são conduzidas
as ações:
( ) informalmente. Implementamos
modificações mas não medimos o resultado
das intervenções
( ) formalmente, aplicando inclusive a AET
( ) fazemos a ginástica laboral e alongamento.
19b) ainda em caso afirmativo, vocês
consideram a opinião dos trabalhadores na
hora de pensar essas mudanças?
( )sim, há diálogo
( ) sim, mas eles se recusam a participar
( ) não, nós observamos e determinamos o que
pode ser mudado
19c) ainda em caso afirmativo, em que
momento tornou-se possível para a empresa
pensar e agir em ergonomia?
( )logo que foi concebida
( ) quando passou a fase de instabilidade e se
firmou no mercado
( ) quando mudou de porte
( ) quando passou a trabalhar com novos
produtos
( ) outro. Comente:
20) Como vê as vantagens da Ergonomia?
( ) não sabemos de suas vantagens para a
organização
( ) não traz nenhum benefício, é uma
maneira de “arrancar” dinheiro da empresa
( ) ela não parece se encaixar na empresa
( ) é mais para empresas do setor de serviços
( ) é para empresas grandes, que possuem
mais recursos e pessoal
( ) é importante para manter a saúde dos
trabalhadores
( ) é importante para a segurança
175
( ) colabora para um melhor andamento da
firma, trazendo benefícios ao processo
produtivo
( ) ela é tão importante pra nós que é pensada
na empresa desde que esta foi concebida
( ) apesar de achar que pode trazer benefícios,
é cara e por isso não é aplicada.
21) Se fosse feito um programa de ergonomia
gratuito para a empresa, você o aplicaria?
( ) sim
( ) não tenho espaço pra isso
( ) não acredito que ajude em nada
( ) falta tempo, precisamos focar em coisas
mais importantes para mantermos a firma
( ) não sei
22) Haveria capacidade, caso fossem
fornecidos recursos financeiros, de capacitar
alguém da empresa para continuar o trabalho
ou contratar alguém da ergonomia?
( ) sim
( ) não
23) O que vocês acham que pode motivar a
Ergonomia nas empresas?
( ) aumento de recursos capitais
( ) dispor de pessoas capacitadas
( ) conscientizar os trabalhadores
( ) vontade de mudar
( ) melhoria das políticas públicas
( ) maior incentivo fiscal para empresas em
acordo com a Ergonomia
( ) fornecimento de mais informações sobre o
tema
( ) fornecer serviços de ergonomia gratuitos
ou financiados em parte.
24) Descreva, resumidamente, o que foi feito
nos últimos 18 meses em termos de melhora
das condições de trabalho na sua empresa:
ex: troca de maq
176
APÊNDICE D – Respostas obtidas mediante aplicação do questionário (descrito no apêndice C)
Tabela A.1 As questões relacionadas à SST e à Ergonomia:
Questões: SST PE-1 MDE
Relacionamento
com os
trabalhadores
Autoritário; os trabalhadores não
opinam
Participativo: temos diálogo, os
trabalhadores opinam sobre
possíveis mudanças
Gerenciamento das
ações em SST
Recursos internos e empresas
terceirizadas
Recursos internos, equipe
interna e empresas terceirizadas
Atividades
desenvolvidas em
termos de saúde e
segurança
* uso de EPIs
* instrução quanto à segurança
* uso de EPIs
* instrução quanto à segurança
* instrução de manutenção da
saúde
* estudo do trabalho para
melhorar as condições físicas do
ambiente/ Ergonomia
Quanto aos EPIs,
os trabalhadores:
* recebem da empresa
* usam
* recebem da empresa
* são orientados a usar
* usam
Quem são os
responsáveis pela
aplicação das
seguintes normas
do trabalho?
*NR-4 (SESMT): empresa
terceirizada (consultoria)
*NR-5 (CIPA): a própria
empresa
*NR-6 (EPI): a Empresa
*NR-7 (PCMSO): empresa
terceirizada
*NR-9 (PPRA): empresa
terceirizada
*NR-17 (ERGONOMIA e O.
T.): ninguém
*NR-4 (SESMT): a própria
empresa
*NR-5 (CIPA): a própria
empresa
*NR-6 (EPI): a Empresa
*NR-7 (PCMSO): empresa
terceirizada
*NR-9 (PPRA): a própria
empresa
*NR-17 (ERGONOMIA e O.
T.): a própria empresa
Por que contratam
consultores
* falta de recursos financeiros
serviços saem a custo menor.
* falta de pessoas capacitadas
para a função no quadro de
funcionários
* falta de pessoas capacitadas
para a função no quadro de
funcionários
Qual norma é
considerada de
menor importância
Os gerentes não acham
importante investir em,
ergonomia, segundo a presidente
da CIPA; Eliminaram os
serviços de ginástica laboral por
serem considerados caros.
Todas são importantes
Qual a norma
considerada mais
importante?
Não houve resposta
Idem acima
177
Se não cumpre
alguma destas
normas, por que
não as cumpre?
* não acho que seja algo
importante; (gerentes)
* devido à falta de recursos
financeiros, somente escolhi
ações prioritárias.
* não temos condições de
atender a tudo que as normas
pedem.
* Cumpre todas as normas
Na empresa, são
realizadas palestras
e distribuição de
panfletos?
* sim, em orientação à segurança
* sim, em orientação à segurança
* sim, em orientação à saúde
O que vocês acham
que poderia
melhorar o acesso à
saúde e segurança
nas empresas?
* os gerentes devem assumir sua
responsabilidade sobre saúde e
segurança (visão dos cipeiros)
* os trabalhadores devem ser
menos irresponsáveis (visão da
empresa)
* menor rigor nas leis, para que
elas se ajustem às condições da
pequena e média empresa
* O entrevistado não achou
nenhum dos itens adequados,
atribuindo à mudança cultural as
dificuldades. O gerente resiste,
mesmo sabendo que saúde afeta
a produtividade.
Você acha que as
ações em saúde
deveriam ser
gerenciadas:
* por pessoas de dentro da firma
* pelos gerentes
* por pessoas de dentro da firma
* pelos gerentes
* os trabalhadores devem zelar
por sua saúde e segurança
Na sua opinião,
saúde e segurança:
* deve ser responsabilidade de
ambos
* deve ser responsabilidade de
ambos
Quanto às políticas
de Saúde e
Segurança:
* É possível cumprir algumas,
outras são mais difíceis porque
não temos recursos suficientes
* conseguimos cumprir com
ajuda externa (consultores,
sebrae...)
* Exigem muito das pequenas
empresas.
* São boas
Você acha saúde
importante para o
andamento da
firma? Por que?
O pessoal da CIPA, sim. Eles
acreditam que não somente a
saúde física, mas a psicológica
também. os gerentes não
vêem tanta importância. Cada
reivindicação da CIPA por
melhora é vista de forma
negativa pelos gerentes, que
acreditam que os funcionários
deveriam parar de “frescura” e
que estão querendo demais.
Sim
Há muitos
acidentes de
Foram 8 acidentes em 2006.
(para um grupo de 50
* 1 acidente em novembro de
2006.
178
trabalho na
empresa? Qual a
média mensal?
funcionários) (Para cada grupo de 50
funcionários: 2 acidentes/ano)
Há muitos casos de
absenteísmo?
Não * 2,1 ao mês ausência não-
justificada
Há muitos
adoecimentos por
LER/DORT?
Não * Houve um único caso em
2006, mas não se sabe se o
trabalhador desenvolveu a
doença em outra empresa.
Tabela A.2 – Questões relacionadas à Ergonomia:
Questões:
Ergonomia e O.T.
Respostas assinaladas Respostas assinaladas
algum tipo de
estudo sobre a
organização do
trabalho na empresa?
Não Sim, estudo informal da
organização do trabalho
Em relação ao
trabalho:
* não temos condições de mexer
na organização de trabalho
(faltam pessoas que entendam do
assunto)
* não temos condições de mexer
na organização de trabalho
(faltam recursos financeiros para
contratar o serviço)
* não temos condições
financeiras de mexer nos
maquinários
Estamos sempre estudando as
condições de trabalho e
alterando o que é possível
O que você sabe sobre
ergonomia?
*estuda os arranjos físicos: altura
de mesas, cadeiras....
*tem como objetivo melhorar a
saúde do trabalhador
* envolve ginástica laboral
* estuda os arranjos físicos:
altura de mesas, cadeiras....
* estuda a organização do
trabalho
* visa compreender as interações
entre os trabalhadores e outros
elementos do sistema
* tem como objetivo melhorar a
saúde do trabalhador
* busca adaptar o trabalho ao
homem
* deve ser um processo contínuo
A sua empresa
desenvolve algum tipo
de programa em
ergonomia?
* Não * Sim
179
Em caso afirmativo,
como são conduzidas
as ações?
---- Informalmente. Implementamos
modificações mas não medimos
o resultado das intervenções
Em caso afirm., vocês
consideram a opinião
dos trabalhadores na
hora de pensar essas
mudanças?
---- * Sim, há diálogo
Ainda em caso
afirmativo, em que
momento tornou-se
possível para a
empresa pensar em
ergonomia e agir?
--- * Desde que o funcionário
entrou na empresa
Como as vantagens
da Ergonomia?
* não sabemos de suas vantagens
para a organização (Cipeiros)
* é importante para a segurança
* é importante para manter a
saúde dos trabalhadores
* é para empresas grandes, que
possuem mais recursos e pessoas
* não traz nenhum benefício
para a empresa (gerentes)
* é importante para manter a
saúde dos trabalhadores
* é importante para a segurança
* colabora para um melhor
andamento da firma, trazendo
benefícios ao processo produtivo
* ela é tão importante pra nós
que é pensada na empresa desde
que esta foi concebida
Se fosse feito um
programa de
ergonomia gratuito
para a empresa, você
o aplicaria?
* sim
(talvez) não tenho espaço pra
isso
(talvez) não acredito que ajude
em nada (os “cipeiros” acreditam
que esta seja a visão dos
gerentes, pois seria isso que
deixam transparecer)
* sim
Haveria capacidade,
se fossem fornecidos
recursos financeiros,
de capacitar alguém
da empresa para
continuar o trabalho
ou contratar alguém
da ergonomia?
*não.
Obs: Com certeza os gerentes
focariam em outras
necessidades, pois muita
instabilidade ainda e muitas
coisas a melhorar.
* sim
O que vocês acham
que pode motivar a
Ergonomia nas
empresas?
* aumento de recursos capitais
* maior conscientização.
* vontade de mudar
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