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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA DE PRODUÇÃO
A INTERNACIONALIZAÇÃO DO P&D EM EMPRESAS MULTINACIONAIS E
A FORMAÇÃO DE EMPRESAS DE BASE TECNOLÓGICA NO BRASIL
Antonio Luiz Corrêa de Mattos Barretto
Dissertação apresentada ao Programa
de Pós-Graduação em Engenharia da
Produção da Universidade Federal de
São Carlos, como parte dos requisitos
para a obtenção do título de Mestre
em Engenharia da Produção.
São Carlos
2007
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Ficha catalográfica elaborada pelo DePT da
Biblioteca Comunitária da UFSCar
B273ip
Barretto, Antonio Luiz Corrêa de Mattos.
A internacionalização do P&D em empresas multinacionais
e a formação de empresas de base tecnológica no Brasil /
Antonio Luiz Corrêa de Mattos Barreto. -- São Carlos :
UFSCar, 2008.
82 f.
Dissertação (Mestrado) -- Universidade Federal de São
Carlos, 2007.
1. Gestão de empresa. 2. Empresas de base tecnológica.
3. Empresas multinacionais. I. Título.
CDD: 658.4 (20
a
)
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ii
Dedico esse trabalho a minha família e
amigos.
iii
AGRADECIMENTOS
Agradeço a todos que me acompanharam nessa jornada e que, cada um ao seu jeito, me
auxiliaram na realização deste trabalho.
A Deus, por mais esta grande conquista em minha vida.
A minha família. A meus pais pelos valiosos valores de vida que me ensinaram e por serem
meu porto seguro.
Aos velhos e aos novos amigos. Luciana, Marina, Luciano, Ana Elisa, Rodrigo, Selene, Leila,
Ivo, Fábio, Rafael, Vanderléia, Tato, Rafão, Larissa, pessoal do GETEC e da gradução pelo
companheirismo.
Ao meu orientador, Marcelo Pinho, pelo seu profundo conhecimento teórico e valores.
Admiro a integridade com que conduz seus estudos e exerce suas atividades acadêmicas e
pela sua habilidade em transmitir o conhecimento.
Aos professores da banca de qualificação, Rogério Gomes e Mauro Rocha Côrtes (Caju), por
fazerem parte dessa longa caminhada sempre contribuindo para minha evolução.
Agradeço pelo profissionalismo e excelência do Programa de Pós Graduação da UFSCar. Aos
professores dedicados, altamente qualificados e sempre atenciosos. Ao pessoal da secretaria
da Pós, em especial a Raquel, pela disposição em auxiliar os alunos, pela competência e
simpatia. Agradeço pela dedicação do Caju dedicada ao departamento de Engenharia de
Produção e ao Alceu na coordenação do Programa de Pós-Graduação por tornarem a UFSCar
referência nessa área. Agradeço a professora Ana Lúcia Torkomian pelos cuidados com os
resultados científicos e tecnológicos da Universidade.
A minha paixão, Marcela, pelo companheirismo, amor e compreensão.
Agradeço ainda à Fundação CAPES pelo apoio financeiro concedido a mim nos primeiros 12
meses de trabalho.
MUITO OBRIGADO A TODOS. TENHO MUITO ORGULHO DE TÊ-LOS COMO
AMIGOS!!
iv
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO.....................................................................................................................................................1
1. A ATUAÇÃO TECNOLÓGICA EXTERNA DAS EMPRESAS MULTINACIONAIS.........................7
1.1. PROCESSO DE INTERNACIONALIZAÇÃO TECNOLÓGICA..........................................................................7
1.2. COMPORTAMENTO TECNOLÓGICO TRADICIONAL E AS FORÇAS DESCENTRALIZADORAS DE P&D .........8
1.3. REESTRUTURAÇÃO ORGANIZACIONAL ................................................................................................12
1.4. A DESCENTRALIZAÇÃO DA ATIVIDADE DE P&D..................................................................................15
1.5. O PAPEL DO INVESTIMENTO DIRETO ESTRANGEIRO............................................................................19
1.6. FORÇAS CENTRALIZADORAS VERSUS DESCENTRALIZADORAS.............................................................22
1.7. FUNÇÕES DOS LABORATÓRIOS DE P&D..............................................................................................23
1.8. LIMITES DO PROCESSO DE INTERNACIONALIZAÇÃO TECNOLÓGICA .....................................................24
1.9. PAÍSES EM DESENVOLVIMENTO E O CASO BRASILEIRO........................................................................30
1.10. A EXPERIÊNCIA BRASILEIRA NA ATRAÇÃO DE ATIVIDADES DE P&D....................................................34
1.11. CONSIDERAÇÕES FINAIS......................................................................................................................38
2. A FORMAÇÃO DE EMPRESAS DE BASE TECNOLÓGICA E O PROCESSO DE SPIN-OFF...40
2.1. EMPRESAS DE BASE TECNOLÓGICA ....................................................................................................40
2.2. TRANSFERÊNCIA DE TECNOLOGIA.......................................................................................................43
2.3. OS SPIN-OFFS E A FORMAÇÃO DE EMPRESAS DE BASE TECNOLÓGICA.................................................45
2.3.1. OS SPIN-OFFS DE UNIVERSIDADES........................................................................................................48
2.3.2. OS SPIN-OFFS CORPORATIVOS..............................................................................................................51
2.3.2.1. GESTÃO DE SPIN-OFFS PATROCINADOS ................................................................................................54
2.4. CONSIDERAÇÕES FINAIS .....................................................................................................................57
3. ANÁLISE EMPÍRICA DOS SPIN-OFFS TECNOLÓGICO DE MULTINACIONAIS NO BRASIL..59
3.1. METODOLOGIA....................................................................................................................................59
3.2. CARACTERIZAÇÃO DA BASE DE DADOS SOBRE EBTS ..........................................................................60
3.3. RESULTADOS.......................................................................................................................................61
3.4. CONSIDERAÇÕES FINAIS .....................................................................................................................72
4. CONCLUSÃO............................................................................................................................................74
5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.....................................................................................................78
v
ÍNDICE DE SIGLAS
CNAE – Classificação Nacional de Atividades Econômicas
DPP – Diretório da Pesquisa Privada
EBTs – Empresas de Base Tecnológica
F&A – Fusões e Aquisições
IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
IDE – Investimento Direto Estrangeiro
EMNs – Empresas Multinacionais
NICs – Newly Industrializing Countries
P&D – Pesquisa e Desenvolvimento
PDs – Países Desenvolvidos
PEDs – Países em Desenvolvimento
PINTEC – Pesquisa Industrial de Inovação Tecnológica
RICYT – Rede Ibero-americana de Ciência e Tecnologia
SNI – Sistema Nacional de Inovação
SNA – Sistema Nacional de Aprendizado
TCT – Teoria dos Custos de Transação
UNCTAD – United Nations Conference on Trade and Development
vi
LISTA DE GRÁFICOS, QUADROS E TABELAS
Lista de Gráficos
Gráfico 2.1 - Gastos em P&D por setor de execução em 2004*..............................................50
Lista de Quadros
Quadro 2.1 – Identificação das Empresas de Base Tecnológica..............................................41
Lista de Tabelas
Tabela 1.1 – Gasto em P&D de subsidiárias estadunidenses (em milhões de US$)................21
Tabela 3.1 – Caracterização da origem das EBTs pesquisadas................................................61
Tabela 3.2 – Caracterização dos tipos de origem das EBTs.....................................................62
Tabela 3.3 – Distribuição Setorial das EBTs segundo origens selecionadas ...........................63
Tabela 3.4 – Distribuição dos Spin-offs por localização geográfica........................................64
Tabela 3.5 – Distribuição das EBTs por origem e por porte...................................................65
Tabela 3.6 – Produtividade dos spin-offs por porte (R$ mil/ pessoa ocupada)........................66
Tabela 3.7 – EBTs por origem dos fundadores segundo vários recortes analíticos.................67
Tabela 3.8 – Média e Mediana da Taxa de Crescimento Real do Faturamento......................69
Tabela 3.9 – Características do Produto das EBTs por origem dos fundadores.......................70
Tabela 3.10 – Média e Mediana do Market share dos spin-offs por origem............................71
Tabela 3.11 – Principais Clientes por natureza de capital........................................................72
Tabela 3.12 – Principais Fornecedores por natureza de capital ...............................................72
vii
RESUMO
Pretende-se avaliar, neste trabalho, alguns dos efeitos da mundialização das empresas
multinacionais presentes na economia brasileira. A partir da década de 80 as empresas
multinacionais passaram a atuar de forma diferenciada em relação à produção internacional.
Essa alteração está evidenciada no aumento do investimento direto estrangeiro e em
mudanças na sua forma de organização. A empresa passa a atuar como um grupo – maior
divisão internacional do trabalho – em base mundial, integrando funcionalmente suas diversas
operações forâneas e a de seus fornecedores. Essa atuação diferenciada ganha forma também
nas atividades tecnológicas (P&D). Contudo, os estudos que contemplam essa temática
revelam a concentração geográfica desses investimentos, especialmente em economias
desenvolvidas. A preocupação reside em entender a contribuição das atividades das
multinacionais em uma economia como a brasileira – que configura um dos principais
receptores de Investimento Direto Estrangeiro dentre os países em desenvolvimento – através
da formação de spin-offs de base tecnológica. As especificidades dessas empresas na
economia brasileira – como sua organização fonte (parent organization), diferenciais de
desempenho, e formas de atuação no cenário econômico nacional e internacional são
relevantes para o seu fomento e desenvolvimento. O estudo foi baseado na análise de uma
base de dados de 102 EBTs nacionais. A análise empírica mostrou que existem algumas
características que estão presentes em todas as EBTs independentemente da origem, como a
concentração setorial. Porém, algumas diferenças são signficativas e não devem ser
negligenciadas. EBTs oriundas de outras empresas destacam-se em indicadores econômicos,
enquanto aquelas advindas de universidades apresentam melhor desempenho tecnológicos. As
EBTs oriundas de multinacionais apresentam singularidades, mas possuem peso relativamente
menor nos indicadores econômicos das EBTs oriundas de outra empresas.
Palavras-Chave: Spin-offs, EBTs, Multinacionais, P&D, Inovação Tecnológica.
viii
ABSTRACT
This dissertation aims to evaluate technology spin-offs Brazilian economy in the context of
internationalization of multinational companies. Since 1980, the multinationals modify its
international production strategies stressing efforts in R&D and other high value-added
activities and affiliated companies gain a more important role at the international strategy of
the group. As an indirect result of the technological role of the affiliated in national economy
technology spin-offs are an important subject that need to be more attention. This work
analyses the chacteristics of spin-offs from different origins focusing on affiliated as the
parent organization.
Keywords: Spin-offs, TBFs, Multinationals Companies, R&D, Technology.
1
INTRODUÇÃO
A atual estrutura da indústria brasileira, com participação crescente do capital
estrangeiro (especialmente em setores intensivos em tecnologia), confere às multinacionais
grande importância dentro do Sistema Nacional de Inovação (SNI) brasileiro. Ao empreender
atividades intensivas em P&D, as multinacionais formam mão-de-obra qualificada, dão
acesso a técnicos às tecnologias do grupo e promovem a formação de spin-offs em nichos
tecnológicos
1
brasileiros.
A formação de Empresas de Base Tecnológica (EBTs) através de processos de
spin-offs constitui um importante efeito de transbordamento das atividades das grandes
empresas transnacionais nos países desenvolvidos (PDs), conforme mostra o estudo empírico
de Dhalstrand (1997) na Suécia. Este efeito é indicativo de um ambiente propício à difusão e
geração de conhecimento, ou seja, reflexo da existência de Sistemas Nacionais de Inovação
maduros nessas economias com fortes interações entre seus agentes, ambientes regulatório e
financeiro favoráveis à inovação, força tecnológica dos atores nacionais etc. As atividades
tecnológicas destas empresas são atraídas pelo SNI e quando instaladas o reforçam
sobremaneira.
Os efeitos dos spillovers tecnológicos nas empresas industriais dos países
receptores de investimentos entrangeiros não podem ser negligenciados, apesar da distinta
intensidade com que a internacionalização das atividades de P&D ocorre entre setores e
empresas. A possibilidade da ocorrência de spillovers gerados quando da transferência de
tecnologias da matriz para a subsidiária ou propiciados pelo recebimento de atribuições de
novas competências à filial e a seus fornecedores locais, é um dos motivos pelos quais muitos
países passaram a criar agências nacionais encarregadas de atrair esses investimentos.
Entre os principais canais difusores de spillovers tecnológicos está o
investimento direto estrangeiro, que, no caso brasileiro, desempenhou um importante papel na
reestrututuração das empresas instaladas no país. É comum dividir a intensidade da presença
das empresas multinacionais no Brasil em dois momentos. No primeiro, segunda metade dos
anos 1950, a vinda das EMNs estava atrelada à ampliação da base produtiva do país em
conjunto com o capital privado nacional e o governo. No segundo movimento, principalmente
1
Os nichos tecnológicos consistem em segmentos tecnológicos bem delimitados e, geralmente, de extensão
reduzida. Esses mercados tecnológicos residuais não atraem prontamente as grandes empresas, o que abre espaço
para atuação das empresas nacionais.
2
nos anos 1990, a vinda das EMNs teve um aspecto mais ligado a mudanças na estrutura
patrimonial do que expansão produtiva propriamente dita (Laplane & Sarti, 1999).
Nesta última etapa, o ingresso de investimento direto na economia brasileira se
deveu, em sua maior parte, aos processos de privatização e de fusões e aquisições de ativos
privados. O resultado imediato na estrutura e no perfil da indústria foi o crescente peso das
subsidiárias brasileiras de empresas multinacionais, inclusive como fonte supridoras de
modernização tecnológica.
O estudo de Moreira (1999: 11) mostra que a correlação entre o crescimento da
produtividade e a participação do capital estrangeiro é positiva e estatisticamente
significativa. 71,6% da receita operacional líquida (ROL) das firmas estrangeiras em 1997
estavam concentrados nos setores intensivos em capital, cujo crescimento da produtividade no
período recente ficou muito acima da média da indústria.
A mudança de regime comercial fez com que a decisão de investir na
indústria do país passasse primordialmente por uma avaliação das vantagens
locacionais, ao mesmo tempo que criou incentivos para que as empresas
estrangeiras, já instaladas ou não, buscassem escalas competitivas e
produtos, processos e produtividade mais próximos dos parâmetros
internacionais (MOREIRA, 1999: 39).
Os trabalhos de Zucoloto & Toneto (2005) e de Furtado & Quadros (2005)
chegam a uma conclusão diferente. Controlando-se os viéses de porte e setor, o controle
estrangeiro deprime o esforço tecnológico no Brasil. “A propriedade estrangeira do capital
pode se constituir em fator limitante dos esforços internos de P&D (FURTADO &
QUADROS, 2005: 83)”.
Apesar de alguns estudos comprovarem a atuação dessas empresas tem
propiciado ao Brasil lograr parcelas crescentes de investimentos – incluindo os tecnológicos –
realizados pelas empresas multinacionais, a deficiência do SNI brasileiro e o hiato tecnológico
em setores de maior intensidade tecnológica colocam dúvidas sobre a extensão do fenômeno
da internacionalização tecnológica e de se seus benefícios para a economia no longo prazo.
Diante da divergência de pontos de vista da literatura sobre o papel da
multinacionais no Brasil, o presente estudo procura contribuir com a análise de um dos efeitos
indiretos da atuação das multiancionais no país, os spin-offs. O foco central do trabalho é
estudar os spin-offs corporativos na economia brasileira resultantes da atuação das empresas
multinacionais, procurando entender melhor as características das empresas assim formadas.
Como ao longo da industrialização brasileira a formação de elevada capacidade produtiva não
foi acompanhada de desenvolvimento tecnológico, a fragilidade do Sistema Nacional de
3
Inovação
2
acaba por conferir grande importância à atuação das EMNs como fonte de
progresso técnico.
Com efeito o objetivo dessa dissertação de mestrado não é avaliar as distintas e
polêmicas interpretações acerca da atuação das empresas multinacionais no país. O que este
trabalho pretende é apontar e entender as características da atuação das empresas de base
tecnológica formadas por empreendedores oriundos de empresas multinacionais. Dito de outra
forma busca-se avaliar se o desempenho das EBTs é beneficiado pela facilidade de acesso e
pela experiência gerencial acumulada por fundadores com vivência profissional prévia em
EMNs.
Para isso, o trabalho de análise está baseado no estudo de uma amostra
composta por 96
3
empresas de base tecnológica assim distribuídas geograficamente: 62 são
paulistas, 20 da Região Sul, 8 da Região Nordeste e seis de outros estados. Vale ressaltar que
a amostra não pretende ser representativa da distribuição geográfica do conjunto de EBTs
brasileiras, reconhecendo-se uma representação acima da real de EBTs paulistas (PINHO et
al, 2005). Essas empresas foram selecionadas a partir da metodologia adotada no âmbito do
Diretório da Pesquisa Privada (DPP/FINEP). Dessa base de dados foram extraídas as
informações mais relevantes para o objeto desta dissertação e cujas dimensões principais
serão apresentadas no capítulo 3.
Além desta introdução, a presente dissertação está estruturada em quatro
capítulos. No primeiro, serão descritos os principais elementos envolvidos nas razões,
interpretações, efeitos e implicações econômicas da internacionalização das empresas
multinacionais, dando enfoque à descentralização das atividades tecnológicas. Para isso, serão
mostradas as formas tradicionais e as novas práticas de internacionalização das atividades de
pesquisa e desenvolvimento e em que medida elas propiciam processos de up-grade
tecnológico nas empresas industriais locais. No final deste capítulo, é dado destaque ao
processo recente de ingresso de investimentos no Brasil. O segundo capítulo procura
descrever o processo de formação de novas empresas principalmente daquelas que possuem
características que as distinguem como empresas de base tecnológica e spin-offs. Destaca
também os principais mecanismos que permitem a transferência de tecnologia e o
2
Para Albuquerque (1998, p. 77-80) o SNI brasileiro é imaturo, pois o país não conseguiu transformar sua
infraestrutura de ciência e tecnologia em um sistema capaz de endogeneizar o progresso tecnológico. As
atividades tecnológicas internas concentram-se basicamente, na adaptação, imitação e aperfeiçoamentos
incrementais de tecnologias estrangeiras.
3
A base de dados originalmente possui 102 EBTs. Em virtude do foco da disertação esse número caiu para 96
empresas, retirando-se quatro empresas que não responderam a origem de seus fundadores e duas que foram
formadas por profissionais liberais.
4
comportamento dos spin-offs corporativos e de universidades, em especial as motivações e as
competências necessárias para sua formação. No terceiro capítulo são apresentados os
principais resultados da pesquisa empírica sobre as empresas spin-offs originadas em
multinacionais constantes da base de dados, comparando-as com os demais spin-offs
acadêmicos e corporativos. Por fim, o quarto capítulo traz as conclusões do trabalho.
5
Objetivo
O foco central do trabalho é estudar os spin-offs corporativos na economia
brasileira resultantes da atuação das empresas multinacionais, procurando entender melhor as
características das empresas assim formadas. Como, ao longo da industrialização brasileira, a
formação de elevada capacidade produtiva não foi acompanhada de desenvolvimento
tecnológico, a fragilidade do Sistema Nacional de Inovação acaba por conferir grande
importância à atuação das EMNs como fonte de progresso técnico.
Procedimentos Metodológicos
A presente dissertação se baseará (i) na revisão da literatura e (ii) na análise de
uma bases de dados sobre EBTs. A revisão bibliográfica busca contemplar três temas amplos:
atuação tecnológica internacional das multinacionais, a formação de spin-offs e as EBTs. A
pesquisa empírica dessa dissertação vale-se de uma base de dados realizada no âmbito do
Diretório da Pesquisa Privada (DPP/FINEP) entre 2003 e 2004.
A literatura sobre a descentralização da P&D realizada pelas multinacionais
identifica razões e dificuldades para a alocação de uma atividade imersa em altos riscos em
outras localidades além do país de origem da matriz. Avalia, também, as funções atribuídas
aos laboratórios de P&D externos e conseqüentemente o papel da subsidiária para o grupo
empresarial. Soma-se a esta literatura a formação de redes globais de produção, marcadas pela
estruturação de nexos de cooperação intrafirma e inter-firmas. Evidencia assim a importância
da subcontratação para a dinâmica do modelo e para as EBTs que podem entrar nas redes
internacionais das multinacionais como empresas subcontratadas.
Os textos que tratam das EBTs fornecem informações sobre suas
características, seu perfil dentro da economia brasileira, suas principais contingências e
potenciais. A literatura apóia a definição do fenômeno spin-off e de suas variantes. A análise
da amostra de empresas será realizada pela comparação entre as empresas spin-off de
instituições de pesquisa e universidades e de multinacionais através de diversos indicadores
como: despesas tecnológicas; atividade de patenteamento; inserção em mercados externos;
participação em redes de cooperação e portfólio de produtos. A classificação por origem
busca explicar diferenças de desempenho das EBTs. Esse recorte é feito através da origem do
fundador, definida pela última organização em que esteve empregado.
6
Hipóteses
O trabalho apóia-se em duas hipóteses:
1) As empresas multinacionais realizam no Brasil um esforço de
desenvolvimento e capacitação tecnológica modesto, o que repercute em uma geração de
spin-offs pouco significativa.
2) As empresas spin-offs de base tecnológica advindas de multinacionais
tendem a apresentar melhor desempenho do que as resultantes de universidades e instituições
públicas de pesquisa. Isto decorreria da capacidade gerencial superior, participação em redes
nucleadas pela empresa-mãe e conhecimento prévio de canais de comercialização e
cooperação.
7
1. A ATUAÇÃO TECNOLÓGICA EXTERNA DAS EMPRESAS MULTINACIONAIS
O presente capítulo tem como objetivo apresentar elementos da
internacionalização das atividades produtivas das empresas multinacionais, com enfoque às
suas atividades tecnológicas. Apresenta-se nas primeiras sessões os fatores que contribuem
para impulsionar o movimento de internacionalização tecnológica nas últimas décadas. Diante
da constatação desse movimento em países que antes não faziam parte do círculo alvo de
investimentos tecnológicos, alguns autores passaram a assumir, com base nas características
dos países receptores, que este movimento seria consistente e capaz integrar diferentes
competências independentemente da localização geográfica. Por outro lado, as evidências
empíricas apontadas por outro grupo de autores colocam ressalvas sobre a intensidade e a
qualidade desses investimentos para o novo grupo de países receptores. Por fim, apresenta-se
essa discussão para o contexto brasileiro, destacando os seus fatores de atração e a principal
forma de realização dos investimentos pelas EMNs.
1.1. Processo de internacionalização tecnológica
A internacionalização tecnológica
4
não é um fenômeno recente, mas ganha
novos impulsos, alterando-se qualitativamente e intensificando-se nos últimos vinte anos. A
tecnologia tornou-se elemento central na nova dinâmica capitalista, gerando muitos estudos
sobre o principal gerador e difusor tecnológico, as empresas multinacionais.
Estes estudos buscam compreender a atuação tecnológica internacional destas
empresas diante de um novo contexto que se apresenta desde os anos 1980. Os dois principais
fatores que caracterizam um novo ambiente são: i) a intensificação da concorrência e ii) o
surgimento de novas tecnologias.
A abertura dos mercados nacionais deslocou a concorrência antes travada em
diversos cenários locais para o mundial. A concorrência em âmbito mundial leva a uma visão
diferenciada de como as multinacionais devem atuar internacionalmente para enfrentá-la,
levando-as a um processo de reestruturação organizacional.
4
Entende-se, neste trabalho, o processo de internacionalização tecnológica como a alocação externa de
atividades de pesquisa e desenvolvimento (P&D). A atividade de P&D é a forma de investimento mais explícita
e sistemática de desenvolvimento tecnológico e por isso, possui efeitos maiores e mais profundos na economia
de um país.
8
Por sua vez, as novas tecnologias são marcadas pela maior aproximação com a
ciência e pela multidisciplinaridade, imprimindo-lhes maior complexidade. Assim, o termo
tecnologia passa a possuir maior conteúdo científico e informacional e um caráter
desincorporado a bens de capital.
Estes dois fatores convergem em diferentes forças que levam as multinacionais
a atuarem de forma mais estratégica internacionalmente, e assim, organizarem-se
mundialmente como um grupo coeso para enfrentar de maneira sistêmica a concorrência
mundial e guiada pela introdução de inovações, e as novas demandas tecnológicas.
1.2. Comportamento tecnológico tradicional e as forças descentralizadoras de P&D
Tradicionalmente, a alocação externa de P&D, consiste em uma estratégia
competitiva local. Neste contexto, a decisão de investir fora do país de origem numa atividade
específica como a de P&D é mais guiada por forças do lado da demanda de mercados
consumidores expressivos, ainda que num primeiro momento em um ambiente de
predominância das forças centralizadoras. A atividade adaptativa desses laboratórios externos
implica em extensão e efeitos limitados, para a maioria dos países receptores. Essa apreciação
está embasada principalmente na forma organizacional das multinacionais e nas
características da concorrência vigente, refletindo no papel concebido para as subsidiárias e
seus laboratórios de P&D no exterior.
Dentro deste padrão tradicional a P&D externa destina-se, principalmente, para
adaptação de produtos e processos às condições locais. Somente no caso de filiais presentes
em mercados muito avançados em um campo tecnológico realizam-se funções de maior
relevância para o grupo, como o (co)desenvolvimento de produtos e o acompanhamento
tecnológico. Pearce
5
(1989 citado por Chesnais, 1996: 150) aponta a existência de três tipos
de laboratórios nos anos 1970:
a) Laboratório “de apoio”: função de adaptação de processos e produtos às condições
locais da economia – recursos e preferências. Em algumas filiais localizadas em países
desenvolvidos atribuía-se também a função de acompanhamento tecnológico do
ambiente inovativo local;
b) Laboratório especializado: considerado raro naquele período, atuaria em programas
tecnológicos do grupo, ou seja, dentro de uma estratégia global de pesquisa e
centralização dos conhecimentos;
5
É preciso ter em mente que o estudo realizado por Pearce em 1989 direciona seu olhar para a atuação das filiais
na economia da Inglaterra. Essa tipificação de laboratórios e suas considerações são especialmente válidas para
as filiais inglesas, mas isso não impossibilita a utilização como uma referência genérica de tipos de laboratórios.
9
c) Grande laboratório relativamente autônomo: situado junto a uma filial importante,
localizada principalmente em um país desenvolvido, o laboratório recebe a incumbência
da concepção, produção e comercialização de um produto(s) – mandato mundial. Esse
laboratório é importante também para a atividade de acompanhamento tecnológico no
país que está localizado, assim como o laboratório anterior.
Nesse sentido, as estratégias de deslocalização da P&D concentravam-se nos
países da Tríade (Estados Unidos, Europa e Japão) e se caracterizavam pela “invasão
recíproca” entre países desenvolvidos com objetivo de ter contato direto com o Sistema
Nacional de Inovação e com os mercados concorrentes possuidores de demandas mais
sofisticadas. Esses investimentos externos poderiam ocorrer pelo estabelecimento de uma
unidade de P&D junto a uma filial importante, pelos acordos de cooperação ou pelas alianças
estratégicas com a intenção de acompanhar o desenvolvimento tecnológico de outros
mercados. Um exemplo de como o processo de “invasão recíproca” operava é dado por
Chesnais (1996) ao descrever o comportamento da indústria farmacêutica estadunidense
6
.
Segundo o autor, as principais características dessa internacionalização, entendida como
tradicional, diziam respeito à “sucção de tecnologias” realizada nos países triádicos e a
adaptação dos produtos para os mercados locais. A internalização no laboratório centralizado
dessas atividades externas era o quanto bastava para assegurar a posição no mercado.
Do ponto de vista da intensidade inovativa e tecnológica, as atividades de
adaptação tecnológica geram baixa intensidade e efeitos limitados para as economias
receptoras desses investimentos, ainda que sejam estratégicas para a multinacional, por
valorizar as atividades tecnológicas realizadas centralmente. O acompanhamento tecnológico
das grandes empresas multinacionais busca a “internalização de externalidades”. Estas são
entendidas como “(...) as infra-estruturas e serviços públicos, o nível de qualificação da mão
de obra, por fim a qualidade do sistema de pesquisa (centros de pesquisa públicos e
universitários) e das infra-estruturas científicas” (CHESNAIS, 1996: 122-123). Essa atividade
realiza-se através de acordos de cooperação assimétricos e aquisição de empresas de alta
tecnologia, representando, muitas vezes, ruptura no desenvolvimento local da tecnologia com
a internalização desta nas atividades centralizadas da multinacional. Tanto as atividades
adaptativas quanto as de acompanhamento tecnológico garantiam e ainda garantem vantagens
competitivas às multinacionais, suficientes para que mantenham suas posições de liderança.
6
A deslocalização de atividades tecnológicas dessa indústria possui um caráter peculiar em face da obrigação
das empresas em realizar testes clínicos.
10
Assume-se que o comportamento tradicional é condizente com a forma
organizacional
7
predominantemente adotada pelas empresas industriais multinacionais até o
último quarto de século, em que as forças para aprofundar a internacionalização das
atividades tecnológicas eram menores. As grandes empresas internacionalizadas são
denominadas nesse modelo como multidomésticas por entender que as subsidiárias
estrangeiras constituíam réplicas em miniatura da matriz e voltavam-se para os mercados
locais, seja para buscar ativos estratégicos, mercados ou insumos.
No processo de industrialização dos países em desenvolvimento, as
multinacionais, dentro desse formato organizacional, somavam em capacidade produtiva às
economias nacionais, uma vez que as atividades tecnológicas estavam concentradas na sede.
Nesse modelo, a maior parte dessas subsidiárias não possuía um papel tecnológico ativo para
agregar ao pool de conhecimentos do grupo.
Os processos de industrialização pesada pelos quais passaram os países em
desenvolvimento da América Latina ocorreram em um momento de maturidade nas principais
trajetórias tecnológicas em desenvolvimento, restando espaço para inovações menores –
incrementais – de processo e produto
8
. A apropriação privada das tecnologias impossibilitou o
acesso de grande parcela deste ativo necessário à industrialização pesada na periferia, exceto
naquelas exploradas por firmas estrangeiras. “A tecnologia desenvolvida e apropriada no
exterior, pois, singularizou as experiências de industrialização tardia” (CANUTO, 1992: 173-
175).
Forças Centralizadoras
A multinacional centraliza a P&D em face da importância do mercado nacional
da sede corporativa. O “enraizamento” das atividades inovativas do grupo nesse mercado
explica-se, portanto, por este ser desenvolvido e, assim, capaz de fornecer uma ampla base de
recursos técnicos, com os quais a empresa desenvolve suas capacidades tecnológicas,
7
O paradigma organizacional era o da corporação moderna de Chandler. As empresas neste modelo possuíam
grandes dimensões e eram altamente verticalizadas. Apresentavam uma estrutura dividida em vários
departamentos responsáveis por uma área de negócio específica – financeira, propaganda, etc. – para lhes
conferir maior flexibilidade operacional e assim maior capacidade de planejamento. A internacionalização das
empresas era marcada pelo estabelecimento de uma réplica em miniatura da matriz – nos países em
desenvolvimento isso era feito geralmente com um aporte relativamente pequeno de capital (uma planta
produtiva), sendo que as funções nobres (que agregam maior valor) eram retidas nas matrizes.
8
A caracterização do fluxo internacional de tecnologia das empresas internacionais foi feito no seminal artigo de
Vernon em 1966 e depois no artigo do mesmo autor em 1979 cujas premissas iniciais foram atualizadas.
11
produtivas e comerciais e por constituir sua principal área de atuação comercial (PEARCE,
1999; GOMES, 2003: 64-65)
O sigilo e segurança nas atividades inovativas favorecem a centralização destas
atividades na área de proteção do governo (por exemplo, através de leis de propriedade
industrial) do país-sede da empresa. Permite também uma coordenação mais forte. O controle
e a coordenação eficientes contribuem para evitar a divulgação indevida de informações
técnico-científicas ou a perda de foco nas pesquisas geograficamente dispersas (DUNNING,
1994; PEARCE, 1999; GOMES, 2003: 65). A distribuição espacial da P&D requer elevados
recursos financeiros, habilidades organizacionais e gerenciais.
O custo de integração e a complexidade do intercâmbio de informações e
conhecimentos entre os laboratórios de P&D atuam também como um forte fator
centralizador. A natureza tácita de parte do conhecimento tecnológico impede a transferência
perfeita dos desenvolvimentos realizados externamente e as características local-específicas
também não estimulam a prática da transferência (CANUTO, 1992: 176). A integração da
P&D externa aos contextos locais, desenvolvendo vínculos com instituições governamentais
de financiamento, fornecedores, universidades e centros de pesquisa públicos e privados,
também requer grandes esforços e habilidades.
As economias de escala e a “massa crítica” dos laboratórios são fatores
centralizadores que estão ligados ao elevado custo e ao resultado incerto das atividades
inovativas. O tamanho da empresa e a necessidade de um grande volume de recursos atuam
como fatores limitadores à descentralização, assim como a indivisibilidade de equipamentos e
instalações de pesquisa e pessoal qualificado (PEARCE, 1999; PAOLI e GUERCINI, 1997).
A preponderância desses fatores leva à pequena extensão da alocação externa
da P&D e com funções diferentes do laboratório central. A necessidade de adaptação às
condições locais de produtos e processos seria um fator para a localização de laboratórios em
mercados externos. Nesta função as inovações são incrementais ou marginais. Os mercados
mais expressivos em determinados campos tecnológicos são alvo de laboratórios de P&D
(junto a uma filial importante) para o acompanhamento tecnológico.
A década de 1980 presenciou o crescimento dos grupos multinacionais
marcado pela expansão internacional, predominantemente via fusões e aquisições. Essa forma
de expansão resultou em um processo de concentração industrial, que por sua vez, levou as
empresas a engendrarem processos de “racionalização” e reestruturação (CHESNAIS, 1996:
91). Apresenta-se a seguir um modelo organizacional de empresas em rede explorado por
ERNST (1997) e STURGEON (1997).
12
1.3. Reestruturação organizacional
A dificuldade das grandes empresas americanas do setor eletroeletrônico em
responder à elevação na complexidade das exigências da competitividade gerou dúvidas em
torno do modelo vigente. As empresas eletroeletrônicas americanas, por estarem perdendo seu
poder relativo no oligopólio mundial, foram as pioneiras na formulação de modelos novos,
mais flexíveis e mais dinâmicos de organização da produção industrial, os quais se
aproximam do conceito de globalização sistêmica
9
proposto por Ernst (1997). A visão
apontada agora – de descentralização – apóia-se no conceito de empresas em rede, em um
contexto de novas tecnologias e de concorrência acirrada.
Uma das características importantes que diferencia o período anterior, em que
prevaleciam empresas multidomésticas, do recente, é alteração na intensidade e na
abrangência espacial da concorrência. A concorrência, além de ficar mais intensa com o
fortalecimento das empresas asiáticas e européias, ganha dimensão global, o que significa que
as empresas competem umas com as outras em base mundial, com a posição em cada país
afetando a posição competitiva global do grupo (QUEIROZ, 2001: 2).
Uma nova forma de organização da produção internacional somente se mostrou
viável em face da emergência de novas tecnologias – microeletrônica e as demais tecnologias
da informação – que permitiram a comunicação instantânea (controle e coordenação) entre as
unidades independentemente de onde estão localizadas e o maior fracionamento da cadeia de
valor.
As estratégias de integração vertical mostraram-se inconsistentes com o novo
contexto da economia mundial pós 1980. A lógica da aparente expansão inexorável das
estruturas internas das empresas desvaneceu, abrindo espaço para o incremento das relações
com economias externas criadas pela interação entre empresas do setor (STURGEON, 1997).
O acesso aos mercados e a redução de custos são elementos importantes que
agora precisam ser conciliados com outros fatores capazes de enfrentar o novo ambiente
colocado com a globalização: maior flexibilidade operacional (organizacional e geográfica)
9
“Systemic globalization implies that a company attempts to network its operations and inter-firm relationships
worldwide, both across functions and locations. It is systemic, as the firm can now generate closer, faster, and
more cost-effective interactions between the different nodes of these international production networks. By
providing more cost-effective ways of coordinating these interactions, systemic globalization enables the firm to
internalize, on an international scale, resources and capabilities without running into the constraints of excessive
centralization” (ERNST, 1997).
13
devido à compressão da velocidade para o mercado (introdução rápida dos produtos no
mercado mundial com a redução do ciclo de vida dos produtos); ao aprendizado e aquisição
de capacidades externas especializadas; e uma mudança de estratégias de penetração para as
de estabelecimento em mercados emergentes (ERNST, 1997).
O surgimento dessa nova forma organizacional está relacionado com os setores
altamente intensivos em tecnologia, nos quais as empresas vinham sofrendo contínua pressão
de excesso de capacidade, guerra de preços e compressão dos lucros. Outros setores,
incluindo os menos dinâmicos tecnologicamente, parecem perseguir também formas de
acesso ao mercado mundial através de estratégias descentralizadoras e de terceirização. A
rede de produção internacional constitui uma forma singular de organização de transações
econômicas.
A reestruturação organizacional contém como característica principal a
segmentação de etapas da cadeia de produção, tecnologicamente possíveis e espacialmente
distribuídas, regional e globalmente, mas integradas organizacionalmente através de sistemas
de gestão e controle (ENCISO, 2005: 9). A resposta das empresas à volatilidade do mercado
foi a externalização produtiva (desverticalização), o outsourcing (aquisição de serviços de
manufatura) e focalização nas atividades intensivas em conhecimento que agregam mais valor
no interior da rede corporativa - desverticalização. A contrapartida da externalização de
diversas funções é a retenção de funções corporativas de maior valor agregado no interior da
rede da multinacional, o que em geral inclui muitas atividades de P&D, especialmente aquelas
relacionadas à oferta de novos produtos (GOMES, 2000: 109).
O encurtamento do ciclo de vida dos produtos constitui um dos principais
fatores que forçaram as grandes empresas industriais a desinvestirem nas áreas em que
fornecedores poderiam ser mais eficientes (principalmente nos segmentos produtivos). A
necessidade de vultosos investimentos em P&D para introduzir constantemente novos
produtos implicou na necessidade de focalização nessas atividades e em outros ativos
complementares (marca, canais de distribuição etc.). E em grande medida é esta elevada
capacidade inovativa e financeira que as mantém no mercado.
A estratégia de terceirização produtiva proporciona às empresas que
adquirem estes serviços uma redução nos investimentos em recursos
humanos, na carga financeira, administrativa e técnica do capital fixo
relacionado à produção (como, por exemplo, planta e equipamentos),
principalmente em indústrias em que o ciclo de vida dos produtos é
crescentemente menor, como nas indústrias da informação (eletrônicos de
consumo, computadores, telecomunicações, etc.), farmacêutica, etc. Esta
14
política apresenta duas outras importantes vantagens para a empresa que
transfere sua capacidade produtiva. A primeira é a disponibilização de uma
fonte suplementar de recursos, que se transforma em um importante
mecanismo de financiamento da pesquisa inovativa, necessária à luta
competitiva e à própria sobrevivência no mercado. A segunda vantagem é o
aumento da flexibilidade organizacional e geográfica decorrente do
enxugamento da estrutura empresarial e da maior maleabilidade resultante,
facilitando a busca global por novos ativos (GOMES, 2003: 40).
A transferência de capacidade produtiva se destina – ou todas aquelas funções
que não forem estratégicas para a manutenção da posição no mercado – para empresas
especializadas em sub-segmentos produtivos
10
, altamente capacitadas que atendem mais de
uma empresa do setor e assim, conseguem atuar eficientemente no mercado.
Fornecedores, subcontratadas e pequenas e médias empresas suprem de forma
barata, flexível e rápida recursos para uma variedade de insumos produtivos. A relação das
empresas multinacionais com essas empresas fornecedoras de serviços de manufatura
11
se
realiza através de acordos de licença, contratos de gerenciamento, subcontratos e contratos de
acordos de produção e remessa de bens. Estas operações caracterizam uma complexa rede
inter-firmas de produção
12
.
As redes de produção internacional tendem a atuar em áreas concentradas
espacialmente e, assim, formam economias externas, geralmente em mercados emergentes
(notadamente os países asiáticos conhecidos como Newly Industrializing Countries), voltadas
ao suprimento das grandes empresas. Essas macro-regiões externas aglomeram diversas
empresas que se especializam em determinados segmentos da cadeia produtiva.
Economias externas são criadas quando uma empresa terceiriza ou subcontrata
uma atividade antes desenvolvida internamente pela multinacional. “As ligações externas
criadas pelas relações de contratação engendram economias de aglomeração que tendem a ser
alocadas em distritos industriais específicos ao setor” (STURGEON 1997b citado por
GOUVEIA, 2004: 62). Enciso (2005: 104) aponta a importância de encadeamentos à
10
Outras funções também estão sendo externalizadas como distribuição, logística e algumas funções de suporte.
11
A subcontratação constitui um tema altamente relevante para países em desenvolvimento por constituir uma
forma de inserção no mercado mundial com conseqüentes implicações para a formulação de uma política
industrial e de ciência e tecnologia. Este assunto e seus desdobramentos vêm sendo abordados nos trabalhos
recentes de Sturgeon. Este tema foge do escopo do objetivo do presente trabalho.
12
“Inter-firm production networks are an important feature of the shift to systemic globalization; indeed, firms
are increasingly developing a variety of increasingly dense linkages with formally independent firms.
Frequently, these linkages cut across national boundaries. Such cross-border inter-firm production networks
cover the whole gamut of industrial manufacturing, from component production to final assembly. Increasingly,
they also include such knowledge-intensive activities as marketing, standardization, product design, the
development of production technology, generic technologies, and scientific knowledge” (ERNST, 1997).
15
montante e à jusante da cadeia do segmento eletrônico com a atração em momentos e
intensidade diferentes de novas empresas fornecedoras e compradores externos para a
formação dos clusters industriais de Hong Kong e Taiwan.
Sturgeon (1997) sustenta que o estabelecimento das redes gera um canal de
transferência de aprendizado e de tecnologia entre a multinacional e as regiões receptoras de
investimentos, em ambas as direções. Este fato fornece a essas regiões a habilidade de
reconfiguração dos elementos das funções da produção de acordo com a dinâmica das
exigências tecnológicas e o surgimento de novos mercados.
Essa nova configuração organizacional impulsionaria um processo evolutivo de
subsidiárias e fornecedores em vista da necessidade do acompanhamento tecnológico das
demandas de seus clientes. Essa argumentação está baseada nas economias asiáticas e é de
especial interesse para os demais países em desenvolvimento. Freeman e Hagedoorn (1994
citado por HAGEDOORN, 1994: 18) assumem a construção de complexas redes internas de
P&D internacional e departamentos de engenharia, mas fazem a ressalva de que estas redes
possuem um alcance bem menos global e o mercado de origem sendo mais relevante do que é
assumido.
No caso de migração de atividades mais intensivas em conhecimento (recursos
humanos, marketing, design, desenvolvimento de produto) para países em desenvolvimento
ter-se-ia como resultado o aprimoramento do sistema produtivo doméstico. Este
aprimoramento fornece condições mais vantajosas de inserção no mercado internacional à
indústria nacional, sendo capaz de promover o desenvolvimento econômico da região, se este
processo for acompanhado por políticas públicas específicas. Esses atores – multinacionais e
suas filiais e diversos fornecedores – se integrariam, então, em uma complexa rede de intenso
fluxo de produtos e informações formando uma rede de produção global. Esta compreende as
redes inter-firmas, como já mencionado, e intra-firma.
1.4. A descentralização da atividade de P&D
A reestruturação organizacional pressupõe uma nova forma das atividades
tecnológicas serem organizadas, conseqüentemente novos papéis são atribuídos aos
departamentos de P&D localizados externamente. Inversamente aos papéis tradicionais da
P&D externa, a habilidade de gerar novas tecnologias e produtos em localidades externas, ou
seja, o aprofundamento tecnológico dos laboratórios de P&D e a integração em redes
corporativas, vêm ganhando força com a maior complexidade das novas tecnologias e custo
16
elevado da P&D e mostram-se importantes para as empresas manterem suas posições
competitivas. Neste sentido, forças contrárias à centralização compensam, até certo nível,
muitas das forças centralizadoras das atividades inovativas.
O modelo organizacional de empresas em rede permite a adoção de um
comportamento tecnológico internacional mais pró-ativo, realizando pesquisa pré-competitiva
e desenvolvimento de novos produtos através da partilha de informações tecnológicas entre as
unidades de P&D integradas internacionalmente. Nesta visão, a estratégia descentralizadora
da P&D evidencia o papel dos fatores supply-side. O aprofundamento da internacionalização
é acompanhado por uma mudança qualitativa no papel das atividades tecnológicas das
subsidiárias. As transnacionais fazem P&D externamente não somente para explorar todo o
potencial de suas próprias tecnologias e amortizar os elevados gastos em pesquisa, mas
crescentemente para adquirir novos conhecimentos e capacidades (QUEIROZ, 2001). A
descentralização dos laboratórios de P&D é entendida a partir de uma forte mudança nas
funções corporativas das multinacionais, na direção de sustentar a vitalidade e originalidade
do núcleo básico de pesquisa (GOMES 2003: 119).
A P&D externa não está mais voltada estritamente para os mercados locais. Ela
precisa, agora, ser capaz de internalizar os transbordamentos locais e disseminá-los para todo
o grupo, contribuindo para o portfolio de ativos tecnológicos deste. A integração em rede
permite a formação de estratégias tecnológicas mundiais através da integração das atividades
com intercâmbio de informações e absorção de capacidades externas especializadas. A
criação e aplicação comercial do conhecimento são reformuladas com o conseqüente
aprofundamento dos papéis dos laboratórios externos. Contudo, ainda não está clara a
extensão deste fenômeno (QUEIROZ, 2001). Alguns limites são postos para um alcance mais
generalizado com disseminação mundial dos efeitos positivos. A participação de países e
empresas não é homogênea, ao contrário, os participantes do processo assumem papéis
diferentes apropriando-se assim, dos benefícios de forma diferenciada também.
Para Cantwell (1999 e 2000), a mudança na atitude das multinacionais tem
levado em alguns segmentos industriais a algo parecido com um programa de inovações
simultâneas em vários mercados expressivos. Nas multinacionais que caminham para uma
rede com maior integração internacional, as afiliadas começam a se especializar mais
intensamente em certas linhas de desenvolvimento e, em alguma extensão, o fazem no lugar
da matriz e de outras filiais, particularmente se estiver localizada em economias integradas
economicamente. As estratégias de criação de tecnologia passariam a ocorrer na
17
multinacional como um todo e não mais com recomendações separadas para cada área
geográfica.
Para Queiroz (2001), a formação da rede global de produção implica em
mudanças qualitativas na função da P&D externa mais importantes que as quantitativas,
medidas pelo grau de descentralização geográfica. Para Pearce (1999) a maior qualidade das
atividades inovativas externas pode ser verificada pelos mercados atingidos pelos produtos
desenvolvidos nessas unidades. Portanto, esse modelo resulta em um maior refinamento da
divisão internacional do esforço tecnológico.
A integração na estratégia mundial do grupo está condicionada pelo acúmulo
prévio de capacidades tecnológicas nas subsidiárias. A força tecnológica da subsidiária
desenvolvida durante o predomínio do modelo organizacional de empresas multidomésticas,
ou seja marcada pelos condicionantes do ambiente local em que estava estabelecida, implicará
na posição da unidade na hierarquia da corporação. Atividades de P&D, densidade
tecnológica diferentes, são distribuídas ao longo da rede conforme a capacidade das
subsidiárias em fornecer soluções rápidas e de forma eficiente (GERYBADZE e REGER,
1999). Neste sentido, entende-se as subsidiárias com capacidade de tomar certas decisões de
forma autônoma e concorrer com as demais para ganhar mandatos supranacionais através de
processos de licitação corporativa. O Estudo de Consoni (2004) mostrou o processo de
engajamento em atividades tecnológicas de filias multinacionais do setor automotivo
nacional. A acumulação gradativa de competências tecnológicas das subsidiárias permitiu que
elas evoluíssem da adaptação às condições locais (“tropicalização limitada”) para a concepcão
de modelos locais “tropicalização avançada”, e por fim para a definição de conceitos globais,
demostrando capacidade de sediar projetos globais de P&D.
O Box 1.1 a seguir apresenta resumidamente a construção teórica de um
modelo conceitual previsto por Sturgeon (1997; 1999) de sistemas tecnológicos integrados
mundialmente. Este sistema seria fruto da adoção de estratégias de desverticalização,
outsourcing e descentralização das atividades tecnológica em seu ponto limite, o que
representaria a separação de controle e gestão das atividades materiais e imateriais da cadeia
produtiva. A concentração nas atividades intensivas em ciência e tecnologia das empresas
multinacionais líderes de seus mercados, implicaria na reformulação da estrutura de mercado,
com a criação de clusters (aglomerações produtivas) para o fornecimento de produtos
intermediários e a produção final permanecendo em nome da empresa que antes se
encarregava de todo processo produtivo (GOUVEIA, 2004: 62).
18
BOX 1.1 SISTEMAS TECNOLÓGICOS INTEGRADOS INTERNACIONALMENTE
As multinacionais valem-se do
desenvolvimento dos meios de comunicação
para coordenar atividades diversificadas
geograficamente, e assim ter a capacidade de
desenvolver redes tecnológicas interligadas. As
EMNs dos setores mais dinâmicos e altamente
intensivos em conhecimento, notadamente o
setor eletrônico, têm perseguido estratégias
agressivas de subcontratação reservando para
si apenas as atividades estratégicas que são
capazes de manter suas posições no mercado.
Estas funções estratégicas possuem como
característica comum e principal o caráter
intangível, referindo-se às atividades de P&D,
de marketing, conhecimentos sobre canais de
distribuição etc.
As multinacionais focalizam suas
estratégias nas funções que lhes rendem
maiores retornos e em que puderam acumular
capacidades e recursos para, de alguma forma,
manter barreiras à entrada. Dentro da nova
lógica algumas empresas que se constituíram
dentro da dinâmica anterior podem agora se
apoiar em sua capacidade inovativa e marca –
com respaldo de sua capacidade financeira e de
logística – e subcontratar as demais funções.
As empresas, em face da dinâmica
concorrencial estar ligada a introdução
sistemática de inovações, focalizam seus
recursos e habilidades em direção ao seu
fortalecimento tecnológico. A inserção dos
novos produtos está relacionada com vultosos
investimentos em P&D e ao aproveitamento
dos conhecimentos gerados em nível de todo
grupo.
Este objetivo pretende ser buscado na
constituição de sistemas tecnológicos
integrados, em que as diferentes unidades de
P&D dispersas geograficamente formam uma
rede por onde flui todo o conhecimento do
grupo. Ao entender cada localidade com suas
especificidades, admite-se a existências de
linhas de desenvolvimento diferentes e
peculiares a cada unidade. Assim, com base
em um conhecimento comum que circula por
toda rede surge uma cesta de novos
conhecimentos e produtos. Esta argumentação
está amparada na característica das novas
tecnologias – não incorporadas e com retornos
ascendentes de adoção.
As atividades de P&D serão
distribuídas ao longo da rede conforme a
capacidade das subsidiárias em fornecer
soluções rápidas e de forma eficiente. Neste
sentido, entende-se as subsidiárias com
capacidade de tomar certas decisões de forma
autônoma e concorrer com as demais para
ganhar processos de licitação corporativa.
A separação entre as atividades
empreendidas pelas multinacionais e pelas
subcontratadas toma a forma de um modelo
proposto por Sturgeon (1997) em que ocorre
uma ruptura entre o material e o imaterial. Esta
separação é consubstanciada, então, pelas
redes de inovação e pela elevada capacitação
dos fornecedores e por uma possível
apropriação das economias externas pelas
subcontratadas ou fornecedores especializados.
Dentro deste modelo, países em
desenvolvimento ocupariam um posição
marginal, dedicando-se a produzir bens
intermediários.
19
1.5. O papel do Investimento Direto Estrangeiro
A internacionalização tecnológica através do Investimento Direto Estrangeiro
(IDE) ganha maior importância nesta fase atual, pois assegura um controle maior sobre os
ativos intangíveis e evita a formação de concorrentes. O investimento direto estrangeiro se
apresenta de diferentes formas no processo de intensificação da internacionalização
tecnológica (PAOLI e GUERCINI, 1997; PEARCE e PAPANASTASSIOU, 1999):
i) Estabelecimento direto de laboratórios externos;
ii) Aquisição de uma instalação de P&D existente e independente;
iii) Operações internacionais de fusão e aquisição (especificamente take-overs) de
organizações com absorção indireta de seus centros de P&D;
iv) Processo evolucionário de unidades produtivas externas, inicialmente
caracterizadas pelas capacidades técnicas limitadas.
Uma parte significativa do aumento da descentralização da P&D entre
companhias globais é resultado de fusões e aquisições (F&A) que se realizam através do IDE
(QUEIROZ, 2000; PATEL e VEGA, 1999). A aquisição de empresas é considerada uma
ferramenta importante para ganhar acesso a conhecimentos científicos e tecnológicos novos,
mas a dificuldade de integração entre organizações diferentes pode evidenciar outros
objetivos que não o P&D. Operações de F&A permitem que a entrada em um novo mercado
seja mais rápida, pois a empresa tem acesso a estrutura já estabelecidas, como canais de
distribuição, marca, carteiras de clientes e fornecedores, além da fatia de mercado.
Nos Estados Unidos, a expansão do IDE em P&D na década de 1990 foi
acompanhada por um crescimento significativo das operações de fusão e aquisição. As F&A
de empresas estadunidenses repercutiram nos dados de P&D do país, principalmente nas
empresas de alta tecnologia, gerando dúvidas se o P&D controlado por estrangeiros representa
nova fonte de financiamento ou apenas mudança no controle da atividade (DALTON E
SERAPIO, 1999).
É difícil distinguir as estratégias de IDE do tipo ii e iii, mas ambas representam
limitações do processo de internacionalização da P&D. A aquisição de empresas com
objetivos que não o conteúdo tecnológico (caso iii) representa uma distorção das estatísticas
de descentralização da P&D realizada internacionalmente, medida através dos gastos
realizados internacionalmente por esta atividade. Dessa forma, o investimento direto externo
20
realizado não faz parte de uma estratégia tecnológica como no caso da aquisição de
laboratórios de P&D. Contudo essa forma de investimento representa limitações em relação
aos efeitos locais. A troca de controle na condução das atividades tecnológicas não garante o
incremento dos resultados, podendo até constituir na diminuição das funções desse laboratório
dentro da lógica de racionalização, ou mesmo representar o encerramento das atividades após
internalização dos conhecimentos desenvolvidos localmente no interior do grupo (GOUVEIA,
2004).
A amplificação do P&D no exterior tamm toma a forma de novos
investimentos. O investimento novo (green field) em laboratório de P&D no exterior é o caso
mais evidente de internacionalização e o mais desejável pelas economias locais, pois
representam um incremento no total destes investimentos realizados internacionalmente. Em
detrimento deste tipo de investimento as F&A aparentam, em geral, ser a forma de IDE em
internacionalização de P&D mais perseguida pelas multinacionais
13
.
A evolução das competências tecnológicas as subsidiárias a fim de atrair
mandatos supranacionais e atividades tecnologicamente mais intensas é um fenômeno
importante e vem ganhando importância nas decisões de investimento do grupo. O
desenvolvimento da unidade externa ao longo do tempo representa uma melhora na sua
posição relativa na hierarquia das operações de P&D do grupo. A correlação positiva entre a
idade das subsidiárias e a participação dos gastos em P&D no exterior em relação ao total do
grupo, encontrada por Pearce e Papanastassiou (1999) no Reino Unido, indica a ocorrência do
processo evolucionário das unidades externas. O desenvolvimento dos meios de comunicação
permitiu que as subsidiárias apresentassem seus resultados de forma rápida e assim um
acompanhamento mais próximo do desempenho delas realizado pela matriz. Isso permitiu que
as subsidiárias defendessem “suas pretensões diante dos outros membros do grupo, para a
obtenção de novos investimentos; ou de transferir recursos excedentes para novos projetos de
investimento” (ANTONELLI, 1989 citado por CHESNAIS, 1996: 27).
Para Narula (1999), a atividade de P&D reflete o mesmo padrão do IDE, em
face do papel dominante das multinacionais na realização de atividades inovativas. As
grandes multinacionais empreendem uma participação crescente de sua atividade de P&D
total no exterior, mas apenas um pequeno grupo de PEDs, que inclui os NICs (Newly
Industrializing Countries) e China, receberam aumento significativo no ingresso de IDE. A
tabela 1 apresenta os gastos em P&D realizados internacionalmente pelas multinacionais
13
Pearce e Papanastassiou (1999) apontam que no caso do Reino Unido o IDE novo predomina como forma de
estabelecimento de P&D externo.
21
estadunidenses em algumas economias e apesar da tendência de elevação dos gastos
internacionais ser generalizada, as economias asiáticas foram beneficiadas com um aumento
médio de mais de 203% dos gastos entre 1994 e 2000. A China é o caso mais emblemático,
beneficiando-se de um aumento explosivo dos gastos das empresas estadunidenses.
Tabela 1.1 – Gasto em P&D de subsidiárias estadunidenses (em milhões de US$)
1994 2000 2002
País
Rank P&D Rank P&D Rank P&D
Israel 16 96 9 527 N/D 889
China 30 7 11 506 N/D 646
Cingapura 14 167 8 548 N/D 589
Irlanda 8 396 10 518 N/D 537
Brasil 10 238 17 250
N/D
306
Hong Kong 19 51 14 341 N/D 289
México 13 183 16 305 N/D 284
Malasia 20 27 19 214 N/D 218
Coréia do Sul 26 17 22 131 N/D 167
Taiwan 15 110 21 143 N/D 70
Fonte: Science & Engineering Indicators, 2006.
A decisão de investir externamente é tomada pela multinacional através do
balanceamento entre as forças favoráveis e contrárias à descentralização da P&D. Contudo,
somente a primeira forma de investimento (estabelecimento direto de laboratórios externos)
corresponde a escolhas deliberadas da matriz
14
(PAOLI e GUERCINI, 1997). O processo de
evolução das subsidiárias pode ser apoiado diretamente pela matriz ou ser um resultado
involuntário, sendo realizado paralelamente às suas decisões. As subsidiárias possuem certos
graus de liberdade para tomarem decisões e investirem em capacitação, em busca de
atividades tecnologicamente mais densas.
A evolução das subsidiárias está relacionada com suas competências
acumuladas ao longo do tempo. A subsidiária pode realizar esforços, paralelamente as
funções pré-determinadas pela matriz, para se capacitar e concorrer (licitação corporativa) a
funções mais sofisticadas. Mesmo subsidiárias que inicialmente receberam mandatos de
atividades simples e maduras possuem espaço, em conformidade com seus recursos
14
As estratégias de internacionalização de P&D são caracterizadas dentro de um continnum de intencionalidade
em que nos extremos as estratégias são caracterizadas como: puramente deliberadas e perfeitamente não
intencionais. O balanço das forças contrárias e a favor da descentralização resultaria na formação de uma
estratégia deliberada (plano pré-estabelecido) com base em cálculo de custo-benefício. Este comportamento é
possível apenas para investimentos novos, pois para as outras formas de investimento existem forças externas
que interferem no processo de execução do plano. A estratégia real seria a forma mais adequada de caracterizar o
comportamento das matrizes, uma vez que constitui um híbrido entre decisões deliberadas e as não-planejadas
(PAOLI e GUERCINI, 1997).
22
tecnológicos, para realizar funções mais densas tecnologicamente ao longo da cadeia
(CONSONI, 2004).
O crescente investimento estrangeiro em pesquisa e desenvolvimento em
países em desenvolvimento na década de 90 é atribuído, também, ao peso das operações de
fusão e aquisição durante os últimos anos. Contudo, as estatísticas de P&D estrangeiro são,
em grande parte, infladas por outros objetivos das F&A que não a de aquisição de
competências tecnológicas.
1.6. Forças centralizadoras versus descentralizadoras
As grandes empresas adotam estratégias de dispersão geográfica das
instalações de pesquisa para ganhar acesso a caminhos complementares de desenvolvimento
tecnológico. O crescimento do processo de descentralização da P&D sustenta-se na
necessidade de um amplo portfolio tecnológico, que em virtude da maior complexidade
tecnológica atual requer o aproveitamento de sistemas científicos estrangeiros. Nesse sentido,
a formação de transbordamentos de tecnologia e economias externas geradas pela
concentração da produção e das atividades inovativas constituem atrativos que atraem novas
ondas de investimentos. A integração em rede realizada pelas empresas com essas localidades
externas é impulsionada pelas forças descentralizadoras que compensam, em algum nível, as
forças que atuam no sentido da centralização das atividades na matriz ou em um número
restrito de laboratórios em países desenvolvidos.
O conjunto de características das novas tecnologias corrobora no sentido do
aprofundamento da internacionalização através da integração em rede das unidades
subsidiárias e a matriz com o compartilhamento de informações tecnológicas dentro de uma
estratégia de atuação no mercado mundial. As economias de escala, o controle e coordenação
e o mercado de origem tiveram sua influência centralizadora reduzida pelo desenvolvimento
das tecnologias de comunicação e informação e pela capacidade das empresas se organizarem
em rede (GOMES, 2003).
As tecnologias de informação (TI) são muito importantes no processo de
dispersão geográfica das atividades inovativas. Elas permitem o rápido intercâmbio de
informações entre os laboratórios de pesquisa, favorecendo a coordenação e o controle das
pesquisas. A codificação da tecnologia necessária para uma transferência ampla e eficiente
também é favorecida pela evolução das tecnologias da informação, permitindo que toda a rede
tenha acesso rápido ao conhecimento gerado.
23
Os fatores políticos característicos de cada contexto local, como quotas de
investimento tecnológico e programas de financiamento tecnológico, também atuam como
fonte de influência na decisão de realizar P&D externo. A atividade inovativa externa está
sujeita a diversas pressões positivas e negativas e que podem ter origem tanto interna às
decisões da matriz e, em menor escala, da unidade local, quanto externa, como as condições
institucionais e políticas locais.
Dentre os fatores favoráveis encontrados por Pearce e Papanastassiou (1999)
destacam-se os internos à corporação, em que pesam o fortalecimento dos laboratórios na
atividade científica do grupo gerador de um “individualismo interdependente” e o desejo de
desenvolver produtos distintos para o mercado da subsidiária. Na gama de fatores limitadores
prevalecem também os internos, principalmente na capacidade da matriz de limitar o papel do
laboratório fruto da divisão de tarefas numa organização em rede (racionalização) ou devido à
situação financeira eventualmente negativa da subsidiária. Mas, o trabalho dos estudiosos
também aponta a situação financeira do país hospedeiro como um fator externo que pode
prejudicar a expansão das atividades inovativas dos laboratórios locais.
1.7. Funções dos Laboratórios de P&D
No que diz respeito às funções designadas aos laboratórios de P&D dispersos
geograficamente, verifica-se que alguns laboratórios passaram a ser contemplados com a
função de “assistência” (advising). A nova forma de atuação internacional em rede permite
que uma subsidiária exerça funções de suporte a operações de produção para unidades
localizadas em outros países. O desenvolvimento de produtos novos pode ser realizado
através do conhecimento tecnológico previamente acumulado na atividade produtiva para o
mercado local, gerando variantes para mercados mais abrangentes. Assim, podem posicionar-
se como bases regionais de pesquisa e desenvolvimento.
Os países que apresentam elevada força em alguma área científica ou que
contam com uma infra-estrutura tecnológica e de pesquisa robusta podem ser alvos de
investimentos para a revitalização e reforço do núcleo tecnológico do grupo através da
pesquisa pré-competitiva (básica e aplicada). A pesquisa básica externa busca ganhar acesso a
áreas de conhecimento científico consideradas potencialmente relevantes para a evolução da
trajetória tecnológica do grupo. Contudo, mostrou-se relativamente menos relevante como
fator de alocação externa de P&D do que a pesquisa aplicada. Esta se apropria dos resultados
da pesquisa básica disponibilizados pelo grupo com objetivo de gerar novos conceitos de
24
produtos comercialmente aplicáveis. Contudo, a pesquisa básica mostrou-se fortemente
concentrada no país de origem das empresas (DALTON e SERAPIO, 1999; PEARCE e
PAPANASTASSIOU, 1999).
As atividades de adaptação, desenvolvimento de produtos e novas tecnologias
continuam sendo realizadas, mas diferentemente do modelo tradicional atuam de forma
integrada com a matriz e outras unidades externas e dentro de uma lógica de divisão
internacional do esforço tecnológico. Assim, as atividades externas passam a ser mais
valorizadas e ganham maior relevância nas estratégias do grupo.
1.8. Limites do processo de internacionalização tecnológica
Embora haja consenso na literatura sobre a intensificação da
internacionalização tecnológica, principalmente no sentido do aprofundamento das funções
realizadas externamente, os limites desse processo também são identificados. Apesar dos
crescentes gastos em atividades de P&D externo, as forças centralizadoras, e a especificidade
setorial do fenômeno, continuam presentes, limitando a internacionalização tecnológica de
forma generalizada, para todos os países e para todos os laboratórios de P&D.
A especificidade setorial da internacionalização tecnológica limita a
extensão deste fenômeno. O processo de internacionalização, entendido como a maior
dispersão geográfica da P&D com a valorização das atividades externas e integração em
rede, está muito mais relacionado com os segmentos industriais mais dinâmicos como a
química (farmacêutica e biotecnologia) e, principalmente, a eletrônica. Apesar de as novas
tecnologias nestes setores possuírem um grande efeito difusor sobre os mais diversos
segmentos econômicos, o fato de as mudanças não serem generalizadas em termos
setoriais implica na persistência de forte concentração geográfica do desenvolvimento
tecnológico nesta fase da concorrência internacional.
Os setores que absorvem mais as mudanças organizacionais são aqueles
mais dinâmicos tecnologicamente, baseados em conhecimento científico e tecnológico. A
composição peculiar da cadeia de valor em setores nos quais a concorrência visa a
inovação e a diferenciação de produto permite uma maior externalização produtiva em
favor da focalização de seus recursos financeiros e humanos nas atividades imateriais
relacionadas a funções corporativas estratégicas (P&D e marca). As forças
25
descentralizadoras atuam fortemente nestes setores (químico, farmacêutico, biotecnologia e
eletrônica)
15
.
A força tecnológica do país-sede ainda continua sendo muito importante,
expressa no alto nível de gastos em P&D em casa, e também limita a extensão da
internacionalização tecnológica. Os gastos em P&D das empresas estadunidenses ainda
estão muito concentrados nos Estados Unidos, perfazendo 87% dos gastos totais nesta
atividade (SCIENCE and ENGINEERING INDICATORS, 2004).
Alguns autores como Gouveia (2003 e 2004) atribuem à teoria dos custos de
transação (TCT) uma ferramenta adicional de análise e compreensão dos limites da
internacionalização tecnológica. Longe de estar perdendo poder explicativo diante da nova
forma organizacional e das tecnologias da informação, a TCT apontaria a baixa especificidade
dos ativos como fator para a transferência de funções ao longo da rede para subsidiárias em
PEDs e especialmente para fornecedores. A externalização de funções, nesta perspectiva, teria
um peso bem menor do que o vislumbrado por Ernst (1997) na capacitação tecnológica dos
PEDs.
Isso porque os processos de padronização e codificação de um amplo conjunto
de atividades industriais permitiram a alienação destas para fornecedores especializados, que
se valem também da facilidade de reprogramação das funções para atender várias empresas.
Diversos ativos-chave para o processo produtivo sofreram, então, um processo de
comoditização e passam a assumir um caráter não específico. A baixa especificidade gera
menos oportunismo, menores custos de transação e conseqüentemente maior tendência à
externalização (GOUVEIA, 2004).
O fato de que poucos países desenvolvidos concentrem o maior volume
desses gastos reforça esses argumentos. Apenas seis países receberam dois terços (US$
13,2 bilhões) de tudo que foi investido no exterior em atividade inovativas pelas
multinacionais estadunidenses, em termos absolutos, os gastos no exterior aumentaram em
quase US$ 8 bilhões em seis anos, aproximando-se da cifra de US$ 20 bilhões em 2000.
Apesar dos aumentos significativos dos fluxos para PEDs, conforme a tabela 1.1, a maior
parcela dos recursos destina-se para alguns países europeus, Canadá e Japão.
A alocação externa está fortemente relacionada à força do Sistema Nacional
de Inovação e dessa maneira o reforça, obtendo-se como resultado a aglomeração das
15
A análise de Patel e Vega (1999) mostrou que para as áreas de alta tecnologia, como farmacêutica (incluindo
biotecnologia), computadores, telecomunicações, imagem e som e materiais, a atividade tecnológica externa é
importante, mas que também uma parte substancial dessas atividades externas estão relacionadas com
aperfeiçoamentos em tecnologia de processo e de maquinaria.
26
atividades tecnológicas em determinado país, naquele campo tecnológico. Os estudos de
Cantwell e Patel e Vega
16
, (ambos de 1999), demonstram que os investimentos mais
sofisticados e de elevada magnitude concentram-se nos países que já possuem elevada
força tecnológica. A metodologia utilizadas nestes dois trabalhos é apresentada a seguir no
Box 1.2.
Eles concluem também que os investimentos externos em atividades
inovativas se diferenciam qualitativamente em função da origem, ou mais precisamente da
intensidade tecnológica do país. As EMNs com sede em centros de excelência de certo
segmento industrial (responsáveis pela definição da fronteira tecnológica) têm maior
probabilidade de adotar estratégias de diferenciação de sua atividade tecnológica no
exterior para apoiar sua força central no país-sede (CANTWELL, 1999). Na outra ponta,
empresas oriundas de centros de menor expressão têm grande propensão em simplesmente
ampliar seus esforços no mesmo campo de suas tentativas tecnológicas realizadas no país-
sede. A localidade externa escolhida para sediar seus esforços externos (grandes centros)
atua como fonte de habilidades e competências gerais para compensar a fraqueza interna.
16
As localidades mais importantes para alocação de P&D externo são Estados Unidos, Alemanha, Reino Unido
e Japão. Em conformidade com os demais estudos, a alocação externa prioriza alguns países desenvolvidos
(PATEL e VEGA, 1999).
27
BOX 1.2 METODOLOGIA PARA A ANÁLISE DA INTERNACIONALIZAÇÃO DA P&D.
A metodologia usada nos trabalhos de Cantwell e Patel e Vega (1999) para avaliar o
processo de internacionalização dos laboratórios de P&D baseia-se em dados de patentes do
Escritório Estadunidense de Patentes e Marcas (USPTO) e dos escritórios nacionais das
empresas. Os dados utilizados são séries históricas de 1965-1995 no caso do trabalho de
Cantwell e de 1969-1996 no de Patel e Vega (1999).
As patentes foram classificadas pelo país de origem da invenção e pela origem de capital da
empresa. O indicador Revealed Technological Advantage index (RTA) construído mede
participação campo técnico de especialização da empresa total de patentes depositadas nos
Estados Unidos naquele campo em relação à participação de todas suas patentes no total de
depósitos do escritório. Indicando por Pij o número de patentes no escritório estadunidense
de um grupo de empresas (j) em uma indústria no setor tecnológico (i), o índice RTA para
cada grupo naquela indústria é definido como:
Patel e Vega (1999) buscam padrões de internacionalização das atividades tecnológicas
baseado no patenteamento no USPTO 1969-1996 e em dados de vendas para saber o principal
setor de atividade das 220 empresas da amostra (Fortune list). Os autores criam outro
indicador baseado no RTA, o CompHomeRTA. Esse último indicador fornece um índice
RTA baseado no patenteamento da empresa em seu país de origem em um determinado
campo técnico, e indica a força relativa da empresa (ou fraqueza) naquele campo nas bases de
sua atividade doméstica.
Com base nesses dois indicadores é possível estabelecer quatro categorias em relação a
força (fraqueza) da empresa com base na combinação campo técnico/país de origem e
retirar conclusões sobre as suas motivações de internacionalização das atividades
tecnológicas (Patel e Vega, 1999: 149-153):
a) Tipo 1, quando RTA > 1 e CompHomeRTA < 1: estas são as tecnologias na qual a
empresa é relativamente fraca em casa e a localidade externa é relativamente forte –
a empresa estaria explorando as vantagens do hóspede em áreas de fraqueza
doméstica;
b) Tipo 2, quando RTA < 1 e CompHomeRTA > 1: estas são tecnologias que a empresa
é relativamente forte em casa e a localidade externa é relativamente fraca – a
empresa estaria explorando as vantagens criadas em casa (funções externas de P&D
de adaptação ou suporte técnico, por exemplo);
c) Tipo 3, quando RTA > 1 e CompHomeRTA > 1: Campo tecnológico em que a
empresa possui vantagem relativa em casa e a localidade externa é forte também
busca por forças complementares (atividades externas de P&D ligadas à concepção
e desenvolvimento de novos produtos ou processos).
d) tipo 4, quando RTA < 1 e CompHomeRTA < 1: Nestes campos técnicos não existe
nem vantagem em casa nem na localidade externa e são provavelmente resultados
de atividades de fusão e aquisição em que os motivos não estão relacionados com a
tecnologia.
Pij / jPij
iPij / ijPij
28
Em termos agregados, mais de 75% dos casos analisados envolvem campos
técnicos em que a empresa tem vantagem relativa em casa. Em aproximadamente 40% dos
casos, empresas alocam externamente suas atividades tecnológicas nas suas áreas de
vantagem relativa e onde a localidade tem apresentado vantagens, demonstrando um
caráter de complementaridade. A análise nas mudanças de importância de cada categoria
ao longo do tempo evidencia que o maior aumento tem sido na categoria em que a força
relativa da empresa é complementada pela força do país hóspede. Em termos setoriais,
evidenciou-se que as empresas químicas, farmacêuticas, mineração, alimentos e materiais
são relativamente mais ativas na categoria em que a força doméstica é combinada pela
força do país hóspede (PATEL e VEGA, 1999).
Em ambos os casos, os alvos principais do investimento externo são os
países com elevada capacidade científica e tecnológica, notadamente os países
desenvolvidos. O caráter de cumulatividade da tecnologia reforça o padrão locacional. Os
investimentos em novas unidades de P&D são destinados a centros de excelência (grande
mercados e sistemas de pesquisa em países desenvolvidos), repercutindo na concentração
das atividades inovativas em poucos países da Tríade (GERYBADZE & REGER, 1999).
A par disso, a internacionalização das atividades tecnológicas
empreendida pelos grandes grupos internacionais apresenta duas tendências – dois
movimentos interligados e concomitantes. Um consiste na dispersão internacional e o outro
é a aglomeração geográfica e setorial (ou sub-setorial). Esta última característica do
processo de internacionalização tecnológica estabelece o limite à sua extensão.
Outro fator que limita a dispersão de investimentos em P&D apontado
nestes trabalhos, deve-se à capacidade de explorar a expertise tecnológica de outros países
ser dependente da força tecnológica do país de origem. Um número limitado de países em
cada campo tecnológico possui capacidade de absorver o que está sendo desenvolvido
externamente, e assim de adotar estratégias de diferenciação. Isso reforça a concentração
dessas estratégias entre poucos países desenvolvidos.
As multinacionais com origem nos grandes centros de sua respectiva
indústria possuem maiores chances de evoluir na direção da integração internacional de
diferenciação das atividades geograficamente dispersas, por estas empresas apresentarem
grande capacidade inovativa e organizacional, mas também grande capacidade de
absorção. Assim, são capazes de reconhecer a relevância e utilizar fontes externas de
inovação ou oportunidades que surgem de diferentes trajetórias tecnológicas e explorá-las
29
através do desenvolvimento de uma complexa rede intrafirma internacional em atividades
inovativas especializadas (CANTWELL, 1999).
Esta nova forma de organização em rede implica na atribuição de atividades
qualitativamente diferentes às subsidiárias e fornecedores ao longo da cadeia. Gouveia
(2003) espera, como resultado, a transferência de atividades mais maduras e simples para
fornecedores externos e subsidiárias instaladas em economias sem vantagens locacionais
para as atividades mais sofisticadas. O novo arranjo organizacional imprime, assim, um
padrão assimétrico no processo produtivo e de desenvolvimento tecnológico.
Os países que não estão na fronteira tecnológica são alvos de investimentos
menores em termos quantitativos e qualitativos (tecnologias difundidas). Patel e Vega
(1999) e Gerybadze e Reger (1999) constataram que os investimentos que visam explorar
as vantagens tecnológicas do país-sede e dirigidos pela demanda (asset-exploiting) ainda
são mais relevantes, em termos de gastos internacionais em P&D, em relação aos que
buscam diversificar suas competências através de estratégias de produção internacional de
tecnologia guiadas pelo lado da oferta (asset augmenting). Esta última estratégia promove
o desenvolvimento de capacidades tecnológicas locais mais profundas e visa a
internalização de transbordamentos.
Atividades de adaptação, relacionadas à transferência de tecnologias mais
maduras e simples, ainda continuam tendo papel significativo, independente do setor ou
origem de capital, demonstrando que persistem as estratégias que priorizam o uso efetivo
da tecnologia desenvolvida centralmente.
O padrão assimétrico na atribuição de funções tecnológicas torna-se mais
evidente quando se trata dos PEDs. A atribuição das funções ao longo da rede intrafirma de
produção está condicionada pela existência de competências tecnológicas diferenciais em
algum campo tecnológico e de uma infra-estrutura científica atrativa. Neste sentido,
economias nacionais pouco significativas seriam alvo de funções menos densas
tecnologicamente (GOUVEIA, 2004). Enciso (2005: 88) aponta quatro considerações que
devem ser feitas antes de se assumir que arquitetura em rede das empresas multinacionais
induz a troca de conhecimento entre os agentes:
i) A existência de informação codificada (principalmente em relacionamentos de
outsourcing), transitando ao longo da cadeia produtiva, não implica
necessariamente numa maior acessibilidade de parte das empresas;
ii) Parte desse conhecimento e informação continua sendo tácita, o que limitaria
as possibilidades de apropriação e transferência.
30
iii) O uso e apropriação da informação codificada circulando ao longo da cadeia
estão fortemente ligados às capacidades cognitivas acumuladas pelas empresas.
iv) A absorção do conhecimento codificado envolve a necessidade de esforços
próprios das empresas na cadeia para sua apropriação.
A transferência de atividades de manufatura, externalização produtiva,
requer maior qualificação para atender as exigências mínimas por parte dos fornecedores.
Espera-se que este processo de capacitação seja resultado de transferências de
conhecimento entre as empresas contratantes (multinacionais) e as terceirizadas. Contudo,
apesar de a formação em rede abrir possíveis canais de acesso a conhecimento e
informações, o trabalho de Enciso (2005) sobre a indústria de computação no México e na
Ásia mostra que a transferência de conhecimentos não é imanente ao novo modelo
organizacional. Os resultados apontaram para a não existência “de um sistema de
transmissão efetiva de informação para a elevação de capacidades das interfases, ou em
outras palavras, os mecanismos relacionais, ainda que existindo uma intensa conectividade,
não implicam a transmissão de informação ou a existência de colaboração ao longo do
circuito de relacionamentos” (ENCISO, 2005: 277).
1.9. Países em Desenvolvimento e o caso brasileiro
As maiores economias da América Latina adotaram o modelo de
Substituição de Importações para se industrializar (1940-1980) e, assim, promover o
desenvolvimento econômico. A transferência de tecnologia dos países desenvolvidos
constituía um elemento essencial para o processo de industrialização das economias
periféricas em face da realização tardia deste processo nestes países. Este modelo baseou-
se na “tríplice aliança” (Estado, capital nacional e estrangeiro), em que as multinacionais
eram a principal fonte principal de difusão de tecnologia.
Segundo a abordagem da Capacitação Tecnológica
17
, os conhecimentos
tecnológicos das empresas em países em desenvolvimento são acumulados através de um
processo de aprendizado adaptativo e incremental. O esforço tecnológico de adaptação e
17
A abordagem da Capacitação Tecnológica – ou escola Incrementalista – constitui uma linha teórica da escola
evolucionista que se dedica ao entendimento do processo de mudança técnica em países em desenvolvimento.
Esta escola de pensamento foi influenciada principalmente por Schumpeter e sua concepção da inovação
tecnológica como motor do desenvolvimento capitalista (COSTA, 2003). Esta abordagem enfatizou estudos
empíricos sobre a aquisição em PEDs das capacidades tecnológicas, que compreendem as capacidades de
adquirir, assimilar, usar, adaptar, mudar ou criar tecnologia, segmentando-se em atividades operacionais, na
execução de projetos de investimento e em atividades inovativas (CANUTO, 1992: 176).
31
melhoria incremental constitui o mecanismo de capacitação, ou seja, de aprendizado
tecnológico desse grupo de países.
Os evolucionistas atribuem características especiais à tecnologia, como o
caráter cumulativo, tácito e idiossincrático, que impedem a efetividade da absorção por
outras empresas (países) através da importação passiva. Diante disso, a tecnologia
importada precisa passar por alterações para servir às condições locais de produção
(disponibilidade de fatores) e às preferências da demanda local. Esse processo necessário
de adaptação constitui o esforço tecnológico típico dos Países em Desenvolvimento
(PEDs).
O processo de capacitação dos PEDs está relacionado à importação de
tecnologia e aos esforços adaptativos e de melhoria incremental que a acompanham. O
caráter cumulativo da tecnologia permite que as empresas e países engendrem um processo
evolutivo (dependente das decisões tomadas pelas empresas, sujeito a path dependence, e
assim, passível de trajetórias diferentes) que evolui da capacidade operacional (uso
eficiente das tecnologias existentes) e de melhoria (mudanças técnicas incrementais) para a
capacidade de projeto (novos investimentos) e de geração de conhecimento tecnológico
(realizar inovações na fronteira tecnológica). O nível de aprendizado (conhecimento
acumulado ao longo do tempo) de um país repercutirá em seu estágio de desenvolvimento
econômico (BELL e PAVITT, 1993; COSTA, 2003: 48).
Países em desenvolvimento acumulam seu conhecimento através,
principalmente, de mecanismos não intencionais, como o learning by doing, em que o
conhecimento tecnológico advém da experiência na atividade produtiva (CONSONI,
2003). No entanto, as capacidades tecnológicas mais complexas e sofisticadas estão
relacionadas com esforços tecnológicos mais sistemáticos e deliberados. O mecanismo de
acumulação tecnológica mais propício assume, nesse nível, a forma das atividades de
P&D.
A industrialização dos países da América Latina não resultou na formação
de competências tecnológicas avançadas. Em alguns países, como o Brasil, desenvolveu-se
uma estrutura produtiva robusta, mas, persistiu um descompasso entre a capacidade
produtiva e a capacidade tecnológica. O papel tecnológico das subsidiárias mostrou-se
limitado, pois eram alvos dos resultados de inovação e não do processo inovativo
(PAVITT e BELL, 1993; COSTA, 2003). A estratégia de aprendizado baseada nas
multinacionais limitou-se, então, à formação de capacidade operacional (produtiva).
32
A fragilidade do processo de capacitação tecnológica desenvolvido no
Brasil expressa-se no incremento dos fluxos de importação de tecnologia, sem acompanhar
tal esforço com investimentos significativos em processos de capacitação que transcendam
a mera absorção dessas tecnologias (FURTADO et. al. 2000: 133).
Em países de industrialização recente, como o Brasil, a maior parte das atividades
ligadas à inovação refere-se à difusão, adaptação e melhoria de tecnologias de
produtos e processos já existentes, mais que a geração de novas tecnologias.
Freqüentemente essas atividades são realizadas por funções de rotina como controle
de qualidade, a engenharia de manutenção e a engenharia de manufatura, ou ainda
no âmbito de pequenos grupos de engenharia de produto e processo, em vez de
laboratórios de P&D formalmente organizados (Furtado et. al, 2000: 132-133).
O Sistema Nacional de Inovação é delimitado pela interação entre agentes,
que, em um ambiente institucional e concorrencial favorável assumem papéis específicos e
interagem para promover o processo de inovação. A imaturidade dos SNI dos PEDs
implica baixa capacidade inovativa, expressa na natureza adaptativa do processo de
inovação. Esta característica os torna pouco atrativos para investimentos mais sofisticados
(do lado da oferta), criando um círculo vicioso que aprofunda o hiato tecnológico dessas
economias.
Dada a condição tecnológica dos países em desenvolvimento, o conceito de
Sistema Nacional de Aprendizado é mais condizente para tratar do processo de mudança
técnica nesses países. O enfoque do SNA constitui uma visão mais ampla, pois olha para o
processo de aprendizado e difusão tecnológica, e não só no processo de inovação
(MATHEWS, 1999; COSTA, 2003).
Nesta perspectiva, a relevância de capacidade operacional de adaptação e de
inovações incrementais não deve ser desprezada, pois demonstra um certo nível de esforço
inovativo, o que na dinâmica do processo de aprendizado constitui uma base, mediante
esforços mais explícitos, para o desenvolvimento de capacidades mais complexas
necessárias ao desenvolvimento de longo prazo. Os PEDs precisam lançar mão de
mecanismos explícitos de aprendizado tecnológico para a formação de capacidades
avançadas e assim ter condições de passar de meros usuários de tecnologias para geradores
de conhecimento tecnológico.
Para Mathews, o processo de difusão tecnológica não pode ser um
fenômeno passivo para se alcançar o emparelhamento (catching-up) com as empresas de
países desenvolvidos. As diversas instituições que aceleram o processo de difusão são
relevantes dentro do SNA. “Na realidade, as economias como um todo se beneficiam das
33
inovações somente quando elas se dispersam, ou difundem, para um grande número de
empresas (MATHEWS, 1999: 1). A difusão assim, depende do esforço das empresas em
estabelecer relações inter-organizacionais e de subcontratação como fontes de
conhecimento para serem alavancados.
Apesar dos baixos gastos em atividades de P&D das subsidiárias (no
período de Industrialização por Substituição de Importações), a criação de departamentos
de engenharia, o desenvolvimento de fornecedores locais e de grupos de assistência técnica
teve importante participação nos fluxos incrementais de conhecimentos tecnológicos. A
influência positiva das subsidiárias pode ser apontada na qualificação da mão-de-obra, nos
padrões de qualidade e na exposição de seu quadro técnico e profissional à “cultura”
tecnológica e de negócios da matriz (KATZ, 1998: 11).
A discussão do papel do IDE nas economias em desenvolvimento ganha
novas dimensões com as transformações na economia mundial. Os efeitos para o
aprendizado local estão relacionados ao papel da subsidiária na estratégia corporativa, isto
é, sua participação no “sistema tecnológico integrado” desenvolvido pelas empresas.
Existe um consenso na literatura de que os papéis das subsidiárias
localizadas em PEDs no novo arranjo organizacional continuam ligados a atividades
menos densas tecnologicamente. Mas as empresas que receberem mandatos regionais ou
mundiais, com base em suas capacidades tecnológicas acumuladas, ganham novo impulso
em seu processo de capacitação através da especialização. As subsidiárias têm também
capacidade para investir em sua capacitação tecnológica e disputar recursos e atribuições
mais sofisticadas. O tipo de função exercida pela subsidiária implica aprendizado
tecnológico local, conferindo importância ao processo evolutivo da empresa para o
desenvolvimento dos PEDs. De maneira mais abrangente, as formas de inserção dos países
em desenvolvimento nas redes das multinacionais dependem da atuação do conjunto de
forças centralizadoras e descentralizadoras.
O sistema em rede pode implicar também diminuição dos esforços
tecnológicos adaptativos, em vista da intensificação da divisão de tarefas. Katz (1998,
citado por Costa 2003: 30) aponta esses movimentos de redução de esforços e
modernização nas economias da região como um aparente paradoxo, pois há diferentes
níveis de internacionalização das funções tecnológicas. A modernização está relacionada à
lógica de explorar internacionalmente a tecnologia gerada de forma concentrada.
34
Essas constatações confirmam os limites do processo de internacionalização
tecnológica empreendido pelas multinacionais. A adaptação de produtos e processos e a
assistência às plantas produtivas continuam sendo a principal motivação deste processo.
1.10. A experiência brasileira na atração de atividades de P&D
A crescente participação das empresas multinacionais no Brasil durante a
década de 1990 elevou o grau de internacionalização da estrutura produtiva do País. A
participação brasileira no fluxo mundial de IDE quase triplicou, passando de 1% entre
1990-95 parra 2,9% entre 1996-2001, com média anual de aproximadamente de US$ 23,7
bilhões (HIRATUKA, 2005: 105). Barros e Goldstein (1997 citados por LAPLANE e
SARTI, 1999) consideram a entrada de novas empresas estrangeiras (através de IDE) como
estímulos para a reestruturação produtiva doméstica e para a maior capacitação
competitiva.
O papel das filiais brasileiras na rede corporativa das respectivas matrizes revela
atualmente uma mudança importante, em relação às décadas anteriores. As filiais
brasileiras são menos verticalizadas e mais especializadas na sua linha de produtos
do que anteriormente. Apresentam também maior integração produtiva e comercial
com outras filiais no âmbito do Mercosul. Essa mudança reflete características
gerais da evolução das redes de filiais no mundo inteiro (especialização e
complementação interfilial), e também a adaptação à abertura da economia brasileira
nos últimos dez anos (LAPLANE; SARTI, 1999: 37).
Participando do processo de reestruturação organizacional das
multinacionais, com atribuição de funções específicas para as subsidiárias e busca de
fornecedores especializados, a economia nacional poderia engendrar um processo de
aprimoramento produtivo e tecnológico. A conquista de etapas da cadeia que agreguem
mais valor e que contem com funções corporativas mais nobres (P&D, design) através de
mandatos regionais ou mundiais abre espaço para a formação de aglomerações produtivas
com o encadeamento de atividades a montante para o fornecimento de insumos por
empresas independentes e atração de investimentos para integração a jusante. Contudo, a
exportação para além do Mercosul não se apresenta como prioridade. Exemplos em que a
subsidiária recebe o papel de fornecedora mundial (mandato mundial), tornando-se a única
produtora de um produto ou linha de produtos para o grupo são casos isolados na economia
brasileira.
Apesar da entrada crescente de capital estrangeiro, a economia nacional não
parece ensejar um circulo virtuoso. Ernst (1997) aponta que o aproveitamento da integração
em rede depende da acumulação de massa crítica de capacidades especializadas. Em geral, a
35
economia nacional aponta para outras direções que não a formação de clusters em setores
dinâmicos e comandados pelas multinacionais.
Nos anos 1990 os investimentos diretos estrangeiros no Brasil foram
predominantemente direcionados para programas de privatização e operações de fusão e
aquisição (F&A) – perfazendo 65% do total de IDE entre 1993 a 1998, segundo dados da
UNCTAD. As operações fusões e aquisições representaram o principal instrumento das
multinacionais para aumentar a participação no mercado brasileiro (MIRANDA, 2001).
Pesquisa de Bonelli (2000) sugere que na motivação das F&A predominam as estratégias
market seeking (em referência à terminologia proposta por Dunning, 1994), seja pelo mercado
não comportar concorrentes, seja para aumentar poder de mercado. Constatou-se também que
o mercado interno é o principal fator de atração do investimento, seja do tipo green field,
resultante de privatização ou de F&A.
Laplane e Sarti (1999: 26) apontam que os fluxos de IDE no início da década
de 1990 estavam relacionados à racionalização e modernização da estrutura produtiva
(desverticalização, terceirização, redução da linha de produtos) e organizacional, enquanto
que parcela dos investimentos em meados da década voltou-se para criação ou expansão de
capacidade produtiva para atender o mercado interno em expansão e ao regional com a
integração do Mercosul
18
. Embora, as multinacionais reconheçam no Brasil uma infra-
estrutura científica robusta, são priorizados investimentos em eficiência e em capacidade
produtiva, que resulta num comportamento tecnológico seja em termos de investimento em
P&D, desenvolvimento de inovações, e de cooperação científico-tecnológica bastante
limitado.
Apesar dos resultados de Miranda (2001) estarem em consonância com os
apresentados por Bonelli, apontam também que estratégias efficiency seeking são
contempladas. Diante da abertura comercial, recorreu-se a estratégias de racionalização para
melhorar a produtividade e a qualidade dos processos e produtos desenvolvidos internamente.
Miranda (2001) mostra que os investimentos realizados ao longo da década de 1990
evidenciam estratégias de reforço do core business das empresas multinacionais em
detrimento da diversificação das áreas de atuação, sendo a maior parte dos investimentos para
a reposição de equipamentos e redução de custos com efeitos importantes para a
produtividade.
18
“Os países da América Latina são, invariavelmente, mercados mais importantes do que centros de P&D (...)”
(Hiratuka, 2006: 109).
36
Os incremento de produtividade, estabelecimetnos de vinculos com a economia
global, a criação de capacidade produtiva, e a transferência de tecnoogia e capacidade
gerencial são elementos positivos ressaltados pelas análises de Franco (1996 e 2005) da
entrada do IDE no país. Para o autor o volume de ativos criados no país pelo IDE gera mais
impacto do que os fluxos de entrada podem sugerir isoladamente, denvendo ser vistos como
“ativo estratégico” e não como “passivo externo”.
No que se refere à distribuição setorial dos investimentos industriais realizados
no Brasil naquele período, observa-se uma concentração com predomínio dos setores de bens
de consumo duráveis e não-duráveis (42,4%), e intermediários (31,1%). No setor de bens de
consumo, em que é forte a participação de capital estrangeiro, os bens finais produzidos pelas
subsidiárias apresentaram redução de seus índices de nacionalização. Isso é decorrente da
desverticalização a montante, com conseqüentes desencadementos produtivos (substituição de
fornecedores locais por estrangeiros). Este setor foi alvo também de novos entrantes
internacionais, principalmente através de aquisição de atores nacionais. A maior participação
de empresas internacionais em diversos segmentos produtivos deste setor industrial
(farmacêutico, higiene e limpeza, informática, automobilística, eletrônica, mecânica, plásticos
e borracha) tornou as multinacionais cruciais para os níveis de investimento, produção,
exportação e importação brasileiros (MIRANDA, 2001; LAPLANE; SARTI, 1997). A maior
parte desses segmentos industriais experimentou expressivo crescimento da produção e das
vendas, estimulados pela queda da inflação e expansão do crédito para o consumo
(LAPLANE; SARTI, 1999: 30; IEDI 2004 e 2006).
Insumos e componentes experimentaram fraco desempenho, resultado do
processo de especialização produtiva e comercial das grandes empresas com aumento das
exportações. A estratégia empresarial nestes segmentos baseou-se na maior especialização
(geralmente em produtos menos complexos), em ganhos de produtividade e em redução de
custos. As grandes empresas estrangeiras acompanharam esse processo de reestruturação com
a introdução de novas técnicas organizacionais e de gestão aproveitando-se e estimulando
estratégias de outsourcing (LAPLANE; SARTI, 1999: 31). O processo de especialização das
empresas locais (inclusive subsidiárias) e o recurso mais freqüente às importações
restringiram os encadeamentos tecnológicos.
A recente ampliação da internacionalização da economia brasileira aprofundou
uma característica do processo de inovação industrial que já era dominante em períodos
anteriores. Empresas localizadas no Brasil estão propensas a realizar gastos na importação de
tecnologias e no P&D interno necessário para adaptá-las às condições brasileiras (condições
37
de mercado ou matéria-prima). Isto se observa no significativo crescimento recente das
importações de tecnologia no Brasil (FURTADO et al., 2000: 133; QUADROS et al., 2000
citado por CONSONI, 2003: 21).
O trabalho de Hiratuka (2005), baseado nos dados de gastos de P&D das
subsidiárias estadunidenses reconhece que a internacionalização tecnológica não ficou restrita
aos países desenvolvidos. Contudo, os principais países em desenvolvimento receptores desse
tipo investimento estão concentrados na Ásia. O Brasil, apesar de receber investimentos não
desprezíveis ainda mais se comparado com os demais países da América Latina, fica muito
aquém das economias asiáticos. “(...) em 1989 e 1994, as filiais instaladas no país
representaram a maior participação entre os países em desenvolvimento analisados. Em 1989,
os gastos em P&D das filiais brasileiras chegaram a representar 25% do total realizado nos
países em desenvolvimento, diminuindo para cerca de 20% em 1994 e 10% em 1999”
(HIRATUKA, 2005: 109).
Os gastos em P&D com relação às vendas realizados pelas subsidiárias
estadunidenses localizadas na América Latina elevam-se entre 1989 e 1994. No Brasil, esse
indicador passou de 0,3% para 0,7%, configurando-se como o segundo país em
desenvolvimento em termos de intensidade das atividades inovativas. A partir da segunda
metade da década de 1990 os países da América Latina sofreram redução na importância
como destino externo de esforços tecnológicos, em favor dos países asiáticos, que
experimentaram, no mesmo período, reforço da tendência de aumento dos gastos em P&D. A
elevada participação destes gastos em relação às vendas em alguns países asiáticos demonstra
a capacidade da região de atrair investimentos direcionados ao desenvolvimento tecnológico
(HIRATUKA, 2005: 111-112).
O estudo realizado por Zucoloto & Toneto (2005: 358) analisa a influência da origem
do capital no esforço tecnológico de um grupo de empresas. O estudo apresenta conclusões
semelhantes ao trabalho de Hiratuka (2005). As empresas que continham algum nível de
controle estrangeiro possuíam, na maioria dos casos, desempenho acima da média num
indicador de esforço tecnológico relativo
19
. Contudo, o indicador de esforço tecnológico
relativo e o grau de controle estrangeiro (participação na receita operacional líquida)
mostraram-se inversamente relacionados. Para os autores, isso ocorre devido à concentração
realizada por essas empresas da produção de bens pouco sofisticados em países em
desenvolvimento, que não exigem a mesma intensidade das atividades de P&D. Os setores
19
O indicador de esforço tecnológico utilizado no trabalho de Zucoloto & Toneto é a relação entre dispêndios
em atividades internas de P&D e o valor da produção industrial do Brasil como proporção da média da OCDE.
38
mais intensivos em tecnologia são aqueles em que o capital estrangeiro detém maior
participação e os hiatos tecnológicos são maiores justamente nesses setores.
Laplane e Sarti (1999: 42) concluem que as empresas industriais nacionais
obtiveram grandes ganhos de competitividade na década de 90. Mas, o caminho adotado –
importação de componentes e equipamentos, redução de linhas de produto, de postos de
trabalho, de capacidade de geração de inovação – para se alcançar essa eficiência
microeconômica reduziu a capacidade da indústria nacional ser promotora de
desenvolvimento (crescimento econômico e distribuição de renda). Os resultados de Hiratuka
(2005: 113) e de Zucoloto & Toneto (2005) reforçam as conclusões de Laplane e Sarti (1999)
ao demonstrar que o envolvimento tecnológico restrito do País dentro da nova estrutura
organizacional e produtiva das multinacionais, com os laboratórios de P&D das subsidiárias
estadunidenses permanecendo com funções de baixa densidade tecnológica, limita a economia
nacional de se beneficiar com a transferência de tecnologia e geração de transbordamentos
(spillovers).
1.11. Considerações finais
A internacionalização tecnológica empreendida pelas empresas multinacionais
é reconhecida aqui como um processo que ganha força nos últimos anos e países em
desenvolvimento também foram alvo deste tipo de investimento. A intensificação da
internacionalização do P&D das EMNs não é estranha ao Brasil, conforme o indicador de
gastos em P&D com relação às vendas presente em Hiratuka (2005) e citado no item anterior.
O Brasil, no entanto, perdeu posição relativa no conjunto de atividades tecnológicas das
EMNs, o que pode ser explicado por:
i) O papel das subsidiárias brasileiras, resultado das estratégias dominantes de IDE no
Brasil;
ii) Inserção pobre do Brasil e das filiais brasileiras no comércio internacional;
iii) Imaturidade do SNI, que não fornece atrativos fortes para a localização das
atividades tecnológicas das EMNs.
Ainda assim, filiais instaladas no Brasil realizam esforços tecnológicos
siginificativos – apesar de a intensidade variar – e têm um papel central em muitas das
operações tecnologicamente mais densas realizadas no país. A dinâmica de suas operações
têm efeitos diretos e indiretos críticos para as competências tecnológicas existentes no Brasil.
39
Nesta dissertação aborda-se um dos efeitos indiretos, o spin-off tecnológico, que será o tema
do capítulo 2.
40
2. A FORMAÇÃO DE EMPRESAS DE BASE TECNOLÓGICA E O PROCESSO DE
SPIN-OFF
Este capítulo trata do processo de formação de novas empresas com
características diferenciais, as empresas de base tecnológica. Esse processo é conhecido como
spin-off. Tanto o processo como as próprias empresas são temas que vêm ganhando destaque
recentemente, o que requer esforços de conceituação. Este esforço será realizado aqui,
dedicando atenção especial aos spin-offs acadêmicos e de multinacionais.
Incialmente será apresentado o conceito de Empresas de Base Tecnológica. Em
seguida é apresentado o conceito de spin-offs de uma forma geral assim como as
especificidades dos spin-offs de empresas de base tecnológica. O principal diferencial desse
tipo de spin-off reside na transferência de tecnologia, principal recurso a ser transferido para a
formação de uma empresa.
Após discorrer sobre o processo de transferência de tecnologia, são discutidos
especificamente os spin-offs de universidades e aos de multinacionais. O primeiro é o mais
abordado em estudos atribuindo-se a ele responsabilidade como vetor do crescimento
tecnológico e econômico. O segundo é o foco deste trabalho, que entende que as empresas
multinacionais possuem um papel importante nas atividades industriais e tecnológicas no país.
Por fim é apresentado um caso de gestão de spin-offs, que descreve as políticas da XEROX
S.A. para lidar com o fenômeno.
2.1. Empresas de Base Tecnológica
O conceito de empresa de base tecnológica (EBTs) é amplo e contempla
diversas interpretações. Na literatura sobre o assunto encontram-se diferentes definições para
este tipo de empresa. Por exemplo, para Ferro e Torkomian (1988: 44), as EBTs são um
conjunto particular de empresas, que, se diferenciam por disporem “de competência rara ou
exclusiva em termos de produtos ou processos, viáveis comercialmente, que incorporam grau
elevado de conhecimento científico”. EBTs são empresas de intensidade tecnológica
elevada
20
, ou como identificam Côrtes et al. (2005), são empresas que realizam esforços
tecnológicos significativos materializados no desenvolvimento de “novos” produtos.
20
Ferro e Torkomian (1988: 43-44) preferem o termo empresas de alta tecnologia no lugar de EBTs. Os autores
definem alta tecnologia como sendo aquelas “não-existentes anteriormente” para evitar juízos de valor com a
hierarquização da tecnologia em relação à sua intensidade.
41
Côrtes et al., (2005) buscam caracterizar as EBTs conforme mostra o quadro
2.1 abaixo, que enquadra tipos diferentes de empresas segundo o esforço tecnológico e o peso
das inovações em produto. Os autores apontam a existência na literatura de recortes setorial e
de origem do capital, para definir as EBTs. Contudo, consideram que estes recortes são
elementos indesejáveis na caracterização das EBTs, pois restringem o objeto de estudo e
desconsideram diversos elementos da dinâmica dessas empresas. Um conceito mais fiel à
heterogeneidade das estruturas industrial e econômica deve privilegiar, então, basicamente os
dois eixos do quadro 2.1.
QUADRO 2.1 IDENTIFICAÇÃO DAS EMPRESAS DE BASE TECNOLÓGICA
maior inovação em produto Menor inovação em produto
maior esforço
tecnológico
EBTs (ou de “alta intensidade e
dinamismo tecnológicos”)
Empresas modernizadas / densas, mas
não-dinâmicas
menor esforço
tecnológico
Empresas produtoras, p. ex., de bens de
consumo leves não-maduros
Empresas tradicionais em setores
maduros
Fonte: Côrtes, et al. (2005).
Assim, os autores resumem a definição de EBT pela combinação de grau de
inovação em produto e grau de esforço tecnológico. Essa definição mais simples e ampla
consegue abarcar melhor a realidade de empresas com esforços tecnológicos distintos. Assim
recortes setoriais deixariam de lado diversos resultados positivos da atividade tecnológica,
Apesar de reconhecer que a relação entre o porte das empresas com a
capacidade de inovar é um tema em aberto, a pesquisa de Côrtes et al.,(2005) acabou por
circunscrever-se apenas a pequenas e médias empresas de base tecnológica por entender ser
isso necessário para conferir maior consistência às análises, dado que com entidades tão
diferentes (pequenas e médias empresas e as de maior tamanho) a investigação perderia em
consistência e precisão
21
.
Resumem-se abaixo as condições que Fernandes et al. (2000) reconhecem
como necessárias para formar um conceito apropriado para as EBTs em países em
desenvolvimento:
i) Dadas as condições de subdesenvolvimento da economia, contemplar como
inovação tecnológica não apenas aquelas “significativas”, mas também a
inovação incremental e a imitação;
21
Freeman (1997) que considera não se poder fazer generalizações sobre o tipo ideal de empresa inovadora. As
especificidades setoriais, tecnológicas e do processo histórico de formação das indústrias permitem observar
maiores capacidades inovativas ora em empresas pequenas ora nas grandes empresas.
42
ii) Esforço tecnológico, que considere arranjos menos formalizados do que os
departamentos de P&D e a articulação direta com instituições de pesquisa;
iii) A realização de inovações de produto. Este critério distingue as EBTs de
empresas “modernizadas”, ao contemplar a presença de resultados expressivos
em tecnologia de produto em detrimento das de processo. A introdução de
novas variedades e gerações atualizadas de produtos mais antigos deve fazer
parte da noção de novidade em termos de produto nas economias em
desenvolvimento.
As empresas de base tecnológica, por serem dinâmicas tecnologicamente
apresentam como característica diferencial, amplamente apregoada, retorno de crescimento
elevado. Por essa razão e por seus efeitos para o desenvolvimento regional, muita atenção tem
sido dada a esse grupo de empresas por formuladores de política e pesquisadores acadêmicos.
O caso do Vale do Silício nos Estados Unidos é emblemático e muitos administradores
públicos buscam replicá-lo em suas regiões. Contudo, essa característica deve ser relativizada,
associando-a com perfis, motivações, setores e localização que expliquem as taxas
extraordinárias de uma parcela das EBTs. Estudos recentes (Autio, 1999; Chiesa e Piccaluga,
2000) mostram que muitas EBTs não são orientadas pelo crescimento. Ao contrário de
desqualificar essa categoria de empresas, tal característica pode denunciar dificuldades e
deficiências presentes em aspectos sócio-culturais, locacionais, mercadológicos ou
institucionais enfrentadas por elas.
A contribuição dessas empresas para o desenvolvimento regional, inclusive
brasileiro, constitui uma forte razão para o interesse de formuladores de políticas públicas e
pesquisadores acadêmicos. A tendência dessas empresas de participar em esquemas de
cooperação com universidades e centros de pesquisa e sua demanda de mão-de-obra
qualificada favorecem a concentração espacial e conseqüentemente a apropriação dos
benefícios econômicos – criação de empregos e geração de renda – tende a ser local.
Os resultados da pesquisa empírica realizada para as EBTs brasileiras pelo
Diretório da Pesquisa Privada mostram que a produtividade (relação entre emprego e
faturamento) média dessas empresas em 2002 foi de R$ 145,2 mil por pessoa ocupada,
superando largamente os valores da economia nacional como um todo (R$ 38,3 mil) e mesmo
da indústria de transformação (R$ 124,8 mil).
Acredita-se que as EBTs requerem mecanismos de apoio adequados às suas
características, distinguindo-as das demais empresas inovadoras. Neste sentido, é importante
envidar esforços para aperfeiçoar a definição das EBTs e enquadrá-las em tipologias para
explicar o seu desempenho e demandas – comportamento – diferenciadas através de estudos
43
empíricos ou dados secundários. A comparação entre EBTs incubadas e não incubadas, ou
entre spin-offs de base tecnológica e demais start-ups, são alguns exemplos de estudos
disponíveis na literatura que buscam a melhor caracterização dessas empresas. Spin-offs
muitas vezes são confundidos conceitualmente com as EBTs. Na verdade os spin-offs são
parte de um fenômeno maior, encabeçado pela transferência de tecnologia e EBTs
(DJOKOVIC e SOUITARIS, 2006: 6-31).
2.2. Transferência de Tecnologia
A transferência de tecnologia é uma atividade complexa, cujo sucesso depende
de uma série de fatores. O modo de transferência de tecnologia mais eficiente depende da
complexidade da tecnologia e também da maturidade da indústria. A eficiência da
transferência está em proporcionar que a empresa receptora consiga aprender a desenvolver
novos conhecimentos, habilidades e capacidades tecnológicas (TAKAHASHI e
SACOMANO, 2002).
Os autores apontam que a literatura sobre transferência de tecnologia classifica
os fatores de sucesso da transferência como internos e externos. Os fatores externos seriam as
características da infra-estrutura, ambiente competitivo, modos de transferência, fatores
culturais e o papel do governo. Os fatores internos, por sua vez, seriam a capacidade de
absorção, experiência da empresa, disponibilidade de treinamento, características estruturais
da empresa e capacidades gerenciais.
Shane (2001 citado por Djokovic e Souitaris 2006: 12) acrescenta a idade do
segmento tecnológico, condições de apropriabilidade e porte da empresa, entre outros
elementos. A intensidade tecnológica, ou de P&D, do setor (ou segmento tecnológico)
também é considerada um fator fortemente relacionado aos processos de spin-off, tanto que
alguns estudos fazem o recorte de suas amostras considerando apenas empresas de setores
intensivos em P&D ou baseados em ciência.
O processo de transferência de tecnologia via spin-off é encarado de maneira
diferente por universidades e empresas. As universidades buscam transferir seus
conhecimentos à sociedade, sem necessariamente receberem retornos financeiros em
contrapartida. As empresas, por sua vez, buscam explorar internamente seus recursos. Assim
os spin-offs nem sempre são um resultado visto com bons olhos pelas empresas.
Com relação à transferência de tecnologia realizada pelas universidades,
Torkomian as separa em duas classes: interação universidade-empresa e criação de novas
44
empresas. A interação universidade-empresa se subdivide em outras modalidades, como
pesquisa contratada, prestação de serviços técnicos e consultoria. Rogers et al. (2001 citado
por Djokovic e Souitaris, 2006: 8) complementam a lista ao considerar o licenciamento e as
publicações acadêmicas.
No Brasil, a Pesquisa Industrial de Inovação Tecnológica – PINTEC (2003) -
mostrou que no período de 2001 a 2003 apenas 8,4% das empresas inovadoras consideraram
as universidades e centros de pesquisa como fontes de informação relevantes para a inovação
tecnológica
22
. Esse dado mostra que existe uma distância enorme entre universidade e
mercado.
Essa distância pode encontrar explicação nas dificuldades inerentes aos
mecanismos de interação convencionais, como a consultoria e a pesquisa contratada. Nestas
formas de cooperação, a disponibilidade de tempo dos pesquisadores, as restrições jurídicas,
as disputas quanto à titularidade das patentes desenvolvidas, a escassa divulgação dos serviços
e áreas de expertise, a falta de aderência dos objetivos da universidade e os da empresa são
entraves para a efetivação da parceria entre universidade e empresa citados por AZEVEDO et
al. (2003: 5).
O spin-off apresenta-se como um mecanismo alternativo de transferência
tecnológica com maiores chances sucesso. Kondo (2001 citado por Azevedo 2003: 5) acredita
que a criação de empresas é a forma mais rápida e direta de levar inovações para o mercado.
Assim, o spin-off seria o mecanismo mais apropriado dentro do novo paradigma tecnológico
por aproximar a pesquisa básica da aplicada de forma rápida.
Apesar dos spin-offs serem considerados por diversos autores a forma mais
eficaz de transferência de conhecimentos (ROGERS et al., 2001), não estão imunes a
dificuldades, como a carência de capacidade gerencial dos pesquisadores para administrar a
empresa nova. Além disto, a saída de pesquisadores da academia pode afetar a capacidade de
realização da pesquisa científica. Nas empresas, o spin-off geralmente é fruto de resultados
inesperados das atividades tecnológicas, principalmente da P&D.Os resultados das atividades
tecnológicas são sujeitas a uma boa dose de imprevisibilidade. Assim, os spin-offs devem
fazer parte da gestão tecnológica das empresas inovadoras, podendo ser resultado de decisões
de desinvestimento quando a tecnologia desenvolvida se distancia do core business da
empresa ou ser um processo assistido com vistas à diversificação da empresa. Em ambos os
casos a empresa pode se beneficiar financeiramente com o spin-off. Através da gestão
22
IBGE, Diretoria de Pesquisas. Coordenação de Indústria, Pesquisa Industrial Tecnológica, 2003.
45
tecnológica, em especial dos spin-offs, a empresa deve evitar que pesquisadores ou unidades
de pesquisa se desvinculem da empresa para atuarem como concorrentes. Neste, caso o spin-
off apresenta-se como uma perda para a empresa
23
.
2.3. Os spin-offs e a formação de Empresas de Base Tecnológica
Alguns trabalhos recentes vêm buscando sistematizar as diversas definições de
spin-off presentes na literatura e, num esforço mais incipiente, outros apontam para uma
fundamentação teórica. Contudo ainda não existe um conceito único para o termo. Em parte,
isso demonstra que os estudos sobre esse fenômeno ainda estão numa fase
predominantemente descritiva e exploratória. Um dos objetivos desta seção é apresentar um
conceito abrangente de spin-off reunindo diferentes elementos e classificações presentes na
literatura.
Resumidamente, spin-off é o fenômeno de criação de uma empresa com base
na transferência de recursos (equipamentos, competências incorporadas em capital humano e
conhecimentos tecnológicos) de uma organização fonte para a empresa nova. Desdobrando-se
dois pontos dessa definição, fica melhor demarcado o espaço em que está inserido o
fenômeno estudado. O primeiro refere-se à natureza da transferência dos ativos e o segundo, à
origem, as organizações fonte.
O Centro Europeu de Pesquisas Econômicas (ZEW, 2002) classificou dois
tipos de spin-offs conforme a natureza da transferência de direitos da organização fonte
24
:
Transfer spin-off: relacionado à pesquisa desenvolvida na organização fonte em que
um dos fundadores estava envolvido;
Competence spin-off: refere-se à formação de mão-de-obra com habilidades
especiais, que resultam na criação de empresas.
Quanto à origem, Dahlstrand (1997) apresenta três tipos: a) Spin-offs de
universidades; b) Spin-offs corporativos; e c) Spin-offs institucionais. Os spin-offs podem ser
originados a partir de outras empresas (spin-offs corporativos) ou de centros de pesquisa
públicos ou privados (spin-offs institucionais), além das universidades. A revisão da literatura
mostra que muitos estudos contemplam apenas parte do fenômeno ao considerar apenas as
23
O processo de transferência de tecnologia através de spin-offs corporativos é tratado adiante com a
contribuição da abordagem da gestão tecnológica e dos empreendimentos corporativos como um subitem dos
spin-offs corporativos de multinacionais.
24
Para ampliar o escopo da classificação substituiu-se a referência às universidades ao termo organização fonte.
46
instituições públicas de pesquisa e universidades como fontes de spin-offs. No presente
trabalho, os spin-offs institucionais englobarão os de universidades.
Algumas particularidades herdadas da organização fonte podem ser analisadas
através das características dos fundadores. Nos trabalhos de Barringer et al. (2004) estão
presentes algumas variáveis relacionadas aos fundadores que podem explicar diferenças de
crescimento: a) origem; b) nível educacional; c) experiência acumulada no mesmo setor; d)
experiência empreendedora; e) rede de contatos sociaise profissionais e; f) fundador
individual ou grupo de fundadores.
Barringer et al. (2004: 666) apontam três razões que justificariam a relação
entre fundador e desempenho. Primeiro, um “perfil” herdado da organização fonte influencia
a cultura e o comportamento da nova empresa. Segundo, as competências dos fundadores para
iniciar um empreendimento são um fator muito avaliado por investidores. Terceiro, abrir uma
empresa é um processo em que as qualidades do empreendedor mostram-se cruciais para o
sucesso do empreendimento.
Roberts e Malone (1996 citado por Djokovic e Souitaris, 2004) enfatizam
quatro elementos do processo de criação de spin-offs: a) organização fonte, de onde é extraída
a tecnologia; b) pesquisador que desenvolve tecnologia até o estágio em que ela pode ser
transferida para o mercado; c) empreendedor, que cria o novo empreendimento; e d)
investidor de risco. Somente o empreendedor e a organização fonte são elementos
indispensáveis para formação dos spin-offs, uma vez que o pesquisador e empreendedor
podem sobrepor-se e o financiamento pode ser realizado com outras fontes que não
investidores de risco, como receita própria, parcerias privadas ou públicas.
Em relação ao inventor que não se vincula com a empresa criada com base na
tecnologia que desenvolveu, um outro ator pode fazer esse papel – surrogate entrepeneuer –,
que pode ser algum pesquisador assistente com competência para efetivar a transferência
(DJOKOVIC e SOUITARIS, 2006; AZEVEDO et al., 2003). O processo de transferência
pode ser apoiado pelo pesquisador através de consultorias, seminários, novos projetos para o
sucesso da implementação da tecnologia, sem que ele se envolva diretamente no novo
empreendimento.
A característica que distingue as empresas spin-offs de outras empresas
nascentes – start-ups – é o vínculo com uma organização fonte no processo de spin-off, onde a
tecnologia a ser explorada foi desenvolvida ou onde os empreendedores do novo negócio
formaram suas competências específicas. Muitas definições buscam frisar esse vínculo em
suas definições de spin-offs, ao caracterizar como imprescindíveis para o surgimento da nova
47
empresa a transferência de uma tecnologia desenvolvida na organização fonte ou das
competências específicas acumuladas e incorporadas pelo empreendedor.
O relacionamento da organização fonte com a empresa formada pode assumir
diferentes formas, desde fenômenos indesejáveis por representarem uma possível
concorrência até práticas incentivadas pelos gestores da organização fonte. Diversas
características irão influenciar esse relacionamento após o spin-off, como sua origem e as
características da tecnologia. As universidades, apesar de alguns entraves burocráticos,
buscam transferir os conhecimentos tecnológicos para a sociedade. Por isso, laços de
cooperação são esperados como resultado do spin-off. No caso de empresas como
organizações fonte, a relação esperada de concorrência colocou os spin-offs por muito tempo
como um fenômeno indesejável e involuntário. Contrariando essa premissa, a definição de
Dahlstrand (1997) contempla também a existência de spin-offs patrocinados (sponsored spin-
offs), que ocorrem quando a organização fonte voluntariamente apóia a formação de uma
nova empresa, inserindo a gestão de spin-offs em seu rol de funções.
Dahlstrand (1997) aponta que uma definição estreita deve considerar spin-offs
aquelas empresas em que a origem da idéia do produto que fundamentou o estabelecimento da
nova empresa foi desenvolvida na organização fonte (universidade, empresa privada ou
qualquer outra organização). Em outros termos, a empresa spin-off é baseada em tecnologia
desenvolvida na organização fonte. Essa definição é mais estreita, pois seria preciso
comprovar um estágio avançado do processo de desenvolvimento da tecnologia a ser
transferida e que a materialização deste processo tenha sido fruto da estrutura da organização
fonte – laboratórios, pessoal, etc. – e das competências tecnológicas da organização.
Roberts (1991 citado por Djokovic e Souitaris, 2006), por sua vez, propôs
níveis de importância para o papel da tecnologia no processo de spin-off: 1) direta, a empresa
não poderia ter sido formada sem a transferência da tecnologia; 2) parcial, aspectos
importantes da formação da empresa são baseados na tecnologia transferida; 3) vaga, nada
específico é transferido; 4) nenhuma, nada que a empresa faz está relacionado com as
tecnologias desenvolvidas pela organização fonte. Esta visão separa a empresa spin-off da sua
“fonte tecnológica” e abarca a transferência de pessoal como condição suficiente para se
considerar a ocorrência de um spin-off.
Ao conferir níveis de importância à tecnologia desenvolvida na organização
fonte abre-se espaço para um conceito mais flexível. Sem desconsiderar as demais
contribuições, esta dissertação buscou estabelecer um conceito passível de ser aplicado
empiricamente. Assim, a despeito da importância da tecnologia transferida para a formação da
48
nova empresa, a presente dissertação associa-se a posição defendida por Roberts (1991), que
considera spin-off de base tecnológica todas as empresas em que desenvolvimento de novas
tecnologias constitui o cerne da estratégia competitiva e cuja origem em uma organização
fonte possa ser traçada.
A consistência dessa definição reside na necessidade de competências
tecnológicas previamente acumuladas para o êxito de empresas de base tecnológica. Assume-
se que essas competências são formadas na organização de que os fundadores da nova
empresa de base tecnológica faziam parte e, portanto, mantém-se a condição de relevância do
vínculo entre organização fonte e nova empresa, pelo menos durante o processo de spin-off.
A ocorrência de spin-offs é favorecida por fatores tecnológicos e de mercado.
Segmentos industriais que estão no início de seu ciclo de vida são apresentados como
exemplo por Garvin (1983 citado por Ferro e Torkomian, 1988: 45) devido à entrada no
mercado ser mais fácil por não existirem empresas dominantes e o capital necessário não ser
tão alto. A existência de nichos de mercado também favorece a formação de spin-offs por
representarem espaços protegidos de atuação de empresas nascentes. Os nichos tecnológicos
consistem em segmentos de mercado bem delimitados e de extensão reduzida. Esses
mercados tecnológicos residuais não atraem prontamente as grandes empresas, o que abre
espaço para o estabelecimento de pequenas empresas com linhas de produtos bem específicas.
Outro fator que impulsiona os spin-offs é a intensificação das atividades
tecnológicas, em especial a P&D, como fonte de vantagens competitivas. Isso porque o maior
conteúdo científico da tecnologia requer maiores investimentos por parte das grandes
empresas para se alcançar resultados comercializáveis. A biotecnologia e a microeletrônica
representam àreas em que a pesquisa aplicada está mais próxima da básica. A biotecnologia é
uma área de estudo científico que se tornou um setor industrial por apresentar enorme
potencial de geração de novos produtos e conceitos (Dogson, 1993 citado por Chiesa e
Piccaluga, 2000: 331). Essa característica das novas tecnologias impulsiona tanto spin-offs
corporativos quanto acadêmicos.
2.3.1. Os spin-offs de universidades
Como dito anteriormente, a natureza da organização fonte influencia a empresa
nascente. As particularidades da organização fonte são, em algum nível, assimiladas pela
empresa spin-off, sejam deficiências ou virtudes. Assim, os spin-offs de universidades ou
acadêmicos são um tipo especial de spin-off, já que as características das universidades, sua
49
cultura e valores, são distintas das outras fontes de spin-offs, como as grandes empresas
nacionais, as multinacionais, pequenas empresas e EBTs.
Os spin-offs acadêmicos têm sido alvo de inúmeros estudos, por ser um
fenômeno que vem ganhando grandes proporções recentemente. Djokovic e Souitaris (2004)
realizaram uma análise bibliográfica sobre spin-offs e encontraram trabalhos de origens
geográficas diversas, demonstrando que a preocupação com o assunto não é localizada ou
restrita a poucas economias. Contudo, os países desenvolvidos estão à frente nos estudos e no
estabelecimento de mecanismos de apoio para este fenômeno. Com relação aos spin-offs
acadêmicos, os autores constataram uma forte concentração nos países europeus, com 65%
dos estudos, seguido pelos Estados Unidos, com pouco mais de 30%.
Os estudos sobre criação de empresas estão diretamente ligados ao
desenvolvimento regional e têm recebido grande atenção em países desenvolvidos. Os casos
mais conhecidos são o Vale do Silício na Califórnia e a Route 128. Na primeira região
destaca-se a presença da Stanford University e a Route 128 conta com o Massachusetts
Institute of Technology (MIT). Mas para Djokovic e Souitaris (2004) o forte desempenho
dessas instituições configura mais uma exceção do que a regra, pois já possuem uma estrutura
inovativa bem consolidada. Essas duas regiões dos Estados Unidos apresentam economias
dinâmicas, com altas taxas de spin-off. “Entre 1975 e 1992 a base de empresas de alta
tecnologia do Vale do Silício saltou de 831 para mais de 4.000, enquanto que na Route 128
saltou de 840 para cerca de 2.500 empresas” (SAXENIAN, 1994 citado por AZEVEDO et
al., 2004).
Nos países europeus o fenômeno dos spin-offs acadêmicos é mais recente, mas
também têm sido criadas regras e procedimentos para impulsioná-los (DJOKOVIC e
SOUITARIS, 2004). Os estudos realizados pelo Centro de Estudos Econômicos (Zew, 2002)
da Alemanha sobre o tema mostram a preocupação e interesse pelo fenômeno devido a seus
impactos sócioeconômicos positivos. Outros países como Reino Unido, países Nórdicos e
Japão também estão realizando diversos estudos e implementando mecanismos de suporte.
Apesar da importância das universidades para essas regiões, o estudo de
Sturgeon (2000) sobre a gênese do Vale do Silício ressalta a presença de grandes empresas e a
formação de spin-offs corporativos. Sem diminuir a importância da universidade na formação
de economias regionais tecnologicamente dinâmicas, o autor busca desmistificar algumas
funções das universidades nesse processo e apontar a contribuição de outros atores e das
50
formas de relacionamento entre eles na constituição de um modelo de desenvolvimento
regional, que em sua visão é passível de ser reproduzido
25
.
Países em desenvolvimento projetam maior responsabilidade para as
universidades no desenvolvimento tecnológico regional/nacional em função da participação
significativa deste ator nos gastos de P&D nacionais. Como mostra o gráfico 2.1 abaixo da
Rede Ibero-americana de Ciência e Tecnologia – (RICYT), nos países desenvolvidos como
Estados Unidos, Canadá, Japão e na União Européia com um todo, a atividade de pesquisa e
desenvolvimento (P&D) é predominantemente realizada pelas empresas privadas. Já nos
países da América Latina esta atividade é realizada maciçamente pelo Estado, seja por
empresas estatais, centros de pesquisa ou universidades.
Gráfico 2.1 - Gastos em P&D por setor de execução em 2004 *
0%
25%
50%
75%
100%
US CA ES PO MX AC BR CH AR
Org. sem fins
lucrativos
Governo
Educação
Superior
Empresas
Fonte: RICYT.
Legenda: Estados Unidos (US), Canadá (CA), Espanha (ES), Portugal (PO), México (MX), América Latina e
Caribe (AC), Brasil (BR), Chile (CH), Argentina (AR).
Contudo, os resultados e benefícios destas atividades realizadas nas
universidades, em geral, não chegam à sociedade. São as empresas o agente capaz de
transformar conhecimentos e tecnologias novas em novos produtos, geração de emprego e
renda e disseminá-los através do mercado. A força do sistema de ciência e tecnologia
brasileiro é comprovada através da quantidade de publicações acadêmicas, mas essa força
científica nacional não foi revertida, em geral, em competitividade e dinamização do setor
produtivo.
25
Segundo Brito Cruz (2000), o principal papel das universidades nestas regiões tecnologicamente dinâmicas
nos Estados Unidos foi a formação de mão-de-obra qualificada. A visão de que as universidades possuem a
responsabilidade de realizar inovações tecnológicas e transferir para as empresas para torná-las competitivas
seria equivocada (BRITO CRUZ, 2000: 10).
51
De todo modo, é preciso cautela ao interpretar esses dados, pois grande parte
dos gastos das universidades refere-se às atividades de ciência e tecnologia (C&T). A
distinção de C&T e P&D é difícil de ser captada nos indicadores usualmente utilizados. O
papel das universidades de transferir conhecimentos tecnológicos não deve ser negligenciado,
ao contrário acredita-se que deve ser incentivado. Contudo, não se pode atribuir às
universidades um papel que não lhes cabe, como o de motor do desenvolvimento técnico-
econômico de uma região ou país.
2.3.2. Os spin-offs corporativos
Este item aproxima-se do capítulo 1 por tratar a questão dos spin-offs sob a
perspectiva das empresas fonte. A geração de spin-offs em território nacional fruto da atuação
das empresas multinacionais precisa ser melhor compreendida para que se criem as condições
favoráveis para o aproveitamento desse fenômeno. Conforme mostrado no capítulo 1, o
reforço do conteúdo tecnológico da operação das filiais de empresas multinacionais poderá
resultar no aumento da ocorrência de spin-offs, assim este item busca ajudar na sua
compreensão. Busca-se reunir abordagens que forneçam subsídios teóricos para a
compreensão das decisões empresariais que perpassam desde o incentivo a novas idéias e
projetos de produto com a intensificação da P&D até a incorporação dos novos projetos nas
funções correntes da empresas ou a sua desvinculação formal. Esta última decisão pode tomar
diferentes formas, resultando em spin-offs corporativos com diferentes formas de
relacionamento com a empresa mãe.
Penrose (1959) considera que as empresas são entidades complexas do ponto
de vista administrativo e organizacional e marcadas por estruturas hierarquizadas orientadas
para o crescimento e geração de lucro. Enfatiza também a existência de fatores internos – os
seus recursos – e da dimensão administrativa/deliberativa da empresa que exercem influência
direta (mesmo que parcial) sobre sua sorte.
A tomada de decisão consiste em um processo pelo qual o empresário procura
entender seu ambiente interno – incluindo os recursos da empresa – e externo – ameaças
competitivas, por exemplo. O caráter cognitivo das decisões faz com que as empresas sigam
movimentos diferentes, e conseqüentemente produzam resultados diferenciados de seus
concorrentes. Por outro lado, ainda segundo Penrose (1959), será o tipo de concorrência que
irá relacionar as modificações dos fatores internos e externos e influenciar a tomada de
decisão da empresa no sentido da diversificação. A concorrência está crescentemente
52
relacionada com a introdução rápida de inovações e diversificação de atividades, conferindo
papel de destaque às atividades de pesquisa e desenvolvimento como fonte de
competitividade para as empresas. Em um contexto oligopolista, a competitividade está,
portanto, fortemente relacionada à capacidade tecnológica. As inovações conferem vantagens
competitivas às empresas que as introduzem através de patentes ou outros mecanismos de
proteção e/ou por serem as pioneiras (first mover).
A atividade de P&D atua como uma das mais importantes fontes de novas
oportunidades para a diversificação, e a sistematização dessa atividade abre possibilidades
para melhorar as condições de lucratividade da empresa no longo prazo. Esta função tem uma
dimensão especulativa, ou seja, nada garante que os novos conhecimentos e serviços
produtivos por ela gerados se refiram apenas à produção corrente da empresa. Assim, alguns
resultados desta atividade não são aproveitados ou ganham corpo próprio e não se integram às
atividades correntes da empresa. Em ambos os casos, o spin-off é um resultado esperado.
Parhankangas (2001) em estudo sobre 50 empresas de base tecnológica
finlandesas identificou três motivações para a formação de novas empresas a partir da
empresa-mãe:
i) Novas Tecnologias: desenvolvimento de tecnologias novas para o mercado,
inexistência de mercado/competidores para os produtos em desenvolvimento;
ii) Novos Mercados: tecnologia semelhante da empresa-mãe e da empresa spin-
off, com atuações em mercados diferentes. Estas empresas visam à renovação;
iii) Reestruturação: redirecionamento estratégico da empresa-mãe.
Os spin-offs corporativos são geralmente resultado do investimento contínuo de
grandes empresas industriais em atividades de pesquisa, as quais são atualmente muito mais
densas em conhecimento científico. Esse tipo de investimento gera transbordamentos – novos
conhecimentos, produtos, conceitos – que podem ser aproveitados pela empresa,
internalizando-os ou formando empresas que se dediquem ao seu desenvolvimento
(sponsored spin-offs). Os transbordamentos são resultados inesperados que podem constituir
fundamento tecnológico para a entrada em áreas novas, criação de novos mercados, re-
posicionamento nas áreas correntes de especialização da empresa, entre outras oportunidades.
O investimento em P&D gera, assim, diversas oportunidades de diversificação no horizonte
de operação da empresa. Não é incomum, porém, que estes transbordamentos sejam
aproveitados por pesquisadores da empresa na realização de empreendimentos próprios, ou
simplesmente não aproveitados por nenhum agente.
53
Para aproveitá-los, é preciso criar capacidade gerencial para enxergar, conceber
e integrar essas oportunidades, e organizacional, com a formação de uma estrutura que
estimulem o florescimento de novos departamentos ou vínculos com spin-offs (patrocinados
ou não). Esses, geralmente, são atributos da grande empresa multinacional em face de sua
superioridade administrativa, financeira e tecnológica.
A análise financeira dos spin-offs corporativos coloca-os como importante
mecanismo de valorização da empresa no mercado, ou mais precisamente, correção de
eventuais sub-valorizações. A separação de divisões da empresa em unidades independentes
através de spin-offs reduz a assimetria informacional no mercado sobre a lucratividade e
eficiência das operações das diferentes divisões da empresa.
O spin-off corporativo é visto também como um dos meios pelo qual a empresa
pode desinvestir em uma divisão e refinar seu foco de atuação. Os spin-offs constituem um
modo único de realizar uma operação de desinvestimento de ativos sem envolver transações
monetárias (KRISHNASWAMI e SUBRAMANIAM, 1999). A contrapartida está nas
participações acionárias assumidas pela organização fonte e na conseqüente maior capacidade
de levantar recursos financeiros deste tipo de empresa nascente.
Krishnaswami e Subramaniam (1999) encontraram duas categorias de
empresas que possuem maior probabilidade de se engajar em spin-offs: empresas com altos
níveis de assimetria de informação, dado que são as mais diversificadas, e empresas com
grandes oportunidades de crescimento e com menor capacidade de gerar capital internamente.
Contudo, encontraram em seu etudo empírico menos capacidade explicativa para algumas
motivações presentes na literatura, a saber:
i) Refinamento do foco de atuação e eliminação de sinergias negativas;
ii) Transferência de renda de acionistas preferenciais para os ordinários;
iii) Vantagens regulatórias e fiscais;
iv) Estabelecimento de formas proveitosas de relacionamento com a empresa spin-
off.
Em favor da explicação relacionada com o aspecto informacional, evidências
apontam a reação positiva dos preços das ações em torno de anúncios de spin-offs, gerando
retornos supranormais. Mesmo numa perspectiva de longo prazo o desempenho de empresas
envolvidas em spin-offs é sobremaneira positivo (CUSATIS et al., 1993 citado por
KRISHNASWAMI e SUBRAMANIAM, 1999).
Na interpretação de Szmrecsányi (2001), os recursos internos das empresas,
além de serem quantitativamente e qualitativamente mutáveis através do tempo, possuem um
54
valor econômico fundamentalmente determinado pelos serviços que são capazes de
proporcionar. Os serviços passíveis de serem obtidos de cada recurso vinculam-se diretamente
à acumulação de experiências e conhecimento. A acumulação desses recursos pode ser, e tem
sido na prática, induzida e/ou acelerada por meio da pesquisa científica e tecnológica.
2.3.2.1. Gestão de spin-offs patrocinados
Os spin-offs são resultados naturais de organizações que buscam novos
produtos e mercados através do investimento em P&D. Dessa forma, as empresas precisam se
prevenir de saídas indesejadas de pessoal e conhecimento tecnológico através da monitoração
das atividades de P&D. A empresa que incorporar a gestão de spin-offs como uma das
funções de sua gestão tecnológica abre espaço para o aproveitamento financeiro desses
empreendimentos. Soma-se à abordagem da gestão tecnológica a de empreendimentos
corporativos internos (internal corporative ventures). Ambas apresentam elementos que
colaboram na compreensão da formação dos spin-offs corporativos.
A abordagem dos empreendimentos corporativos internos relaciona-se com a
literatura sobre gestão tecnológica e a de spin-offs corporativos. A gestão de tecnologia refere-
se a um estágio anterior ao de implementação das corporate ventures, as quais se apresentam
como um resultado esperado dessa gestão. Estes empreendimentos, por sua vez, podem tomar
a forma de um spin-off. A coordenação dos empreendimentos corporativos internos relaciona-
se diretamente com a administração da formação dos spin-offs.
Os empreendimentos corporativos internos referem-se aos projetos internos de
empresas industriais direcionados para estender suas áreas de atuação para novos segmentos
tecnológicos e de mercado (ELFRING e FOSS, 1997; TUKIAINEN, 2004). Estes
empreendimentos são incentivados por representarem um mecanismo de renovação das
competências e manutenção da competitividade da empresa. Os empreendimentos
corporativos são caracterizados por Block e MacMillan (1993 citado por Tukiainen, 2004: 9)
como negócios em que estão presentes as seguintes características:
i) Envolvimento com novas áreas de negócio para a empresa;
ii) Iniciados ou conduzidos internamente à empresa;
iii) Elevados riscos de insucesso ou de gerar perdas em comparação ao negócio
base da empresa;
iv) São administrados separadamente;
v) Possuem a missão de elevar o faturamento, produtividade ou qualidade.
55
Os empreendimentos corporativos, entendidos como resultados da gestão
tecnológica podem ter diferentes destinos. Alguns não se desenvolvem, fracassando ainda em
um estado embrionário (na fase da formulação da idéia), ou apesar de terem sido iniciados
não deslancham. Aqueles que mostram maior vigor podem ser integrados na estrutura
corporativa e deixar de serem um apêndice. Outros empreendimentos podem tomar a forma
de spin-offs, ao se desligarem formalmente da empresa mãe.
O último efeito – os spin-offs – apresenta-se como um fenômeno a ser
incorporado nas funções da gestão tecnológica e dos empreendimentos internos. Ao assumir
esse papel os gestores devem selecionar as idéias merecedoras de apoio da empresa através de
práticas de formação dos empreendimentos corporativos internos. A empresa deve adotar
também uma política de spin-offs, definindo mecanismos de desinvestimento, financiamento e
transferência tecnológica, além de práticas de valorização da criatividade dos pesquisadores e
formas de relacionamento com a empresa nascente.
Elfring e Foss (1997) classificam os spin-offs corporativos em duas categorias:
os virtuosos e os viciosos. Os primeiros podem ser desinvestimentos de unidades de negócio,
atividades de suporte ou projetos e subdividem-se em dois grupos: i) uma unidade
organizacional que produz bens e serviços para a empresa e ii) um empreendimento de
sucesso que foge das áreas de competência da empresa, ou por esta desejar se concentrar em
seu core business. Ambos não oferecem ameaça competitiva à organização fonte e podem ser
aproveitados, criando valor para a empresa. Os spin-offs viciosos são aqueles em que um
pesquisador decide deixar a empresa e formar seu próprio negócio, representando uma perda
da possibilidade da organização fonte explorar a oportunidade enxergada por seu ex-
funcionário.
O estudo realizado por Chesbrough (2002) sobre a postura da Xerox
Corporation em relação aos seus spin-offs é interessante por mostrar formas de gestão deste
fenômeno e as dificuldades administrativas enfrentadas. A empresa buscou aperfeiçoar sua
gestão dos spin-offs, para capturar seus benefícios econômicos. O autor aponta três posturas
diferentes da empresa em que fica visível o processo de aprendizado vivenciado pelos
administradores.
A primeira, denominada de Laissez Faire (1979-1982), foi marcada pela
limitada apreciação das aplicações dos resultados de pesquisa e inexperiência na criação de
novos empreendimentos, o que levou diversos pesquisadores a deixarem a empresa. No geral,
a empresa procurou lucrar com suas tecnologias incorporando-as em fornecedores ou através
de participações acionárias nas empresas. Os empreendimentos spin-offs de sucesso foram
56
aqueles associados às tecnologias inseridas em um padrão industrial e os insucessos foram
referentes à comercialização de componentes próprios do sistema Xerox.
A segunda fase, chamada de graceful exits (1983-1988), foi marcada por
esforços ad hoc para guiar os spin-offs tecnológicos. O contexto desfavorável foi marcado
pela focalização na linha principal de negócios (copiadoras). A empresa não quis criar
constrangimentos para os spin-offs, mas buscou evitar apenas a livre saída dos pesquisadores
como acontecia na 1ª fase, através de um processo de permissão para a separação, envolvendo
a participação acionária em contrapartida do licenciamento da tecnologia para os novos
empreendimentos
26
.
Na terceira fase, conhecida como Empreendimentos Tecnológicos da Xerox
(1989-1995), a empresa mostrou ter aprendido, com alguns casos específicos, o valor
potencial de novos negócios. Para aproveitá-los, criou uma entidade para capitalizar sua
tecnologia, Xerox Technology Ventures (XTV), que tinha como objetivos a agilização dos
processos de deliberação e a abertura de mercados para as tecnologias não incorporadas pela
Xerox, participando efetivamente de seus resultados.
O caso da Xerox mostra a necessidade de construção de uma estrutura
organizacional com novos elementos institucionais e formação de capacidade gerencial
através de experiência acumulada para lidar com as operações de spin-off. A capacidade de
enxergar o ambiente externo apresenta-se como um fator relevante na avaliação de
tecnologias promissoras.
Na opinião de Chesbrough (2002), a Xerox deveria ter administrado seus spin-
offs como um portfolio e se apoiado em capital de risco externo para administrar estas
empresas. Ao invés de considerar os spin-offs como fontes de renda de curto-prazo
incremental aos negócios correntes, os spin-offs poderiam ser administrados como opções de
longo-prazo em mercados futuros e novos. Isto proveria à empresa uma plataforma para
construir futuros negócios e enfrentar a maturação de suas linhas correntes de negócios.
26
Para reduzir problemas de seleção adversa, a Xerox, em geral, não apoiava financeiramente as saídas – as
empresas spin-off precisavam levantar fundos sozinhas –, somente fornecia suporte para projetos que
desenvolviam tecnologias que tinham aplicação na linha corrente de negócios da multinacional. As avaliações
eram realizadas por uma comissão de inovação, especialmente criada para essa finalidade (CHESBROUGH,
2002).
57
2.4. Considerações Finais
O presente capítulo tratou da formação de novas empresas de base tecnológica.
Inicialmente, com base na literatura, foi definido o que são EBTs, valendo-se de estudiosos
que levaram em conta as particularidades de países em desenvolvimento. Em seguida, foi
realizado um esforço para definir uma forma especial de se gerar novas empresas: o spin-off,
que vem a ser o processo de criação de uma empresa com base em algum ativo transferido de
uma organização fonte. Como o interesse aqui se concentra em empresas de base tecnológica,
tratou-se dos spin-offs também de uma maneira especial, buscando definir spin-offs
tecnológicos, ou seja, aqueles que geram empresas de base tecnológica.
Estabeleceu-se uma definição simples e ampla para os spin-offs tecnológicos,
abarcando como tal qualquer empresa de base tecnológica em que o fundador formou suas
competências científicas e tecnológicas em uma organização fonte. Assim, a simples
transferência do capital humano fundamenta o conceito operacional adotado nesta dissertação,
pois como estamos tratando de empresas em que os ativos mais valiosos são intangíveis,
pode-se admitir que a absorção de conhecimento tecnológico em uma instituição seja crítica
para a formação da nova empresa, que é então definida como fruto de um spin-off.
Transferências de propriedade de patentes e de bens de capital são indícios fortes e
importantes, mas sua ausência não inviabiliza a aplicação do conceito para a base de dados
utilizada. Como o conhecimento é cumulativo, ao sair da empresa o funcionário valer-se-á dos
conhecimentos e habilidades aprendidos e desenvolvidos na organização fonte para criar sua
empresa.
Após propor uma definição abrangente e aplicável à base de dados a ser
utilizada, examinou-se o spin-off com uma forma singular e eficaz de transferência de
conhecimento tecnológico. Neste sentido, o spin-off assume um papel importante no
desenvolvimento regional e no melhor aproveitamento interno das atividades realizadas pelas
empresas multinacionais e das suas competências.
A discussão sobre os spin-offs acadêmicos e corporativos mostra diferenças
oriundas da natureza distinta de suas instituições de origem, que deverão ou não ser
corroboradas pela análise empírica do próximo capítulo. Em suma, spin-offs acadêmicos são
importantes e devem ser icentivados, mas a problemática dos spin-offs tecnológicos em
absoluto se restringe a empresas com essa origem. Os spin-offs corporativos são muito
desejáveis para o fortalecimento de economias regionais. O caso da XEROX mostra que a
58
formação de spin-offs não é óbvia e nem depende da vontade da empresa, mas é possível, com
base neste tipo de experiência, criar condições favoráveis e incentivá-los, seja como política
interna da empresa ou como parte da política científica e tecnológica governamental. Desse
ponto, emerge uma consideração sobre a literatura de spin-offs, que é a ênfase nos spin-offs
patrocinados ou, pelo menos, deliberados. Spin-offs involuntários são, contudo, os mais
comuns entre os spin-offs corporativos, ao menos no Brasil. O capítulo 3 apresenta-se como
um primeiro passo na compreensão deste fenômeno conforme as características peculiares da
nossa economia e história.
59
3.
ANÁLISE EMPÍRICA DOS SPIN-OFFS TECNOLÓGICO DE MULTINACIONAIS NO
BRASIL
Este capítulo objetiva analisar as características dos spin-offs tecnológicos de
multinacionais no Brasil, apoaindo-se em informações disponíveis numa base de dados sobre
EBTs. A amostra foi classificada segundo a origem dos spin-offs sob diversos recortes,
enfatizando as empresas spin-offs originadas em multinacionais, que serão comparadas ao
total da amostra e aos demais spin-offs corporativos e institucionais.
3.1. Metodologia
Nesta parte do trabalho, será analisada uma base de dados formada em uma
pesquisa sobre as empresas de base tecnológica que abarcou grande parte do território
nacional. A pesquisa de campo que gerou esta base de dados foi apoiada pelo Diretório da
Pesquisa Privada (DPP), financiado pela Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP), e pelo
Programa de Políticas Públicas da Fapesp. Através da informação da origem dos fundadores
foi classificada a origem do spin-off e assim será realizada uma análise descritiva das EBTs
segundo suas origens, enfocando as originadas em multinacionais. Serão apresentadas
inicialmente tabelas descritivas e depois outras, que contêm variáveis de desempenho, esforço
tecnológico e resultados inovativos em produto.
De 117 empresas entrevistadas em 2003 e 2004, foram classificadas como
EBTs 102 firmas, das quais 98 responderam a origem de seu(s) fundador(es). Apenas duas
não foram classificadas como spin-offs, já que seus fundadores eram profissionais liberais.
Contrariando a definição operacional de spin-off exposto no capítulo 2, que diz ser necessária
haver uma transferência de recursos de uma instituição mãe para a empresa que está sendo
criada. No caso de profissionais liberais, não há como estabelecer tal relação com a
organização fonte.
A base de dados da presente pesquisa não foi confeccionada especificamente
para análise do fenômeno de spin-offs. Assim, as EBTs não foram questionadas sobre suas
empresas de origem. Mas pelas razões expostas no capítulo 2 sobre a conceituação de spin-
offs, acredita-se que a classificação pela origem do fundador seja uma boa aproximação para a
caracterização das EBTs como oriundas de um processo de spin-off. Assim, as análises feitas
ao longo deste capítulo serão realizadas sobre o total de 96 EBTs.
60
3.2. Caracterização da base de dados sobre EBTs
O primeiro passo para apresentar a base de dados reside na localização
geográfica das empresas. Das 96 EBTs analisadas, 62 são paulistas, 20 da Região Sul, 8 da
Região Nordeste e seis de outros estados. Vale ressaltar que a amostra não pretende ser
representativa da distribuição geográfica do conjunto de EBTs brasileiras, reconhecendo-se
uma representação acima da real das EBTs paulistas (PINHO et al., 2005: 8).
Considerando o peso desse estado na amostra, é interessante discriminar os
principais municípios onde estão localizadas as EBTs. Quase dois terços delas estão
localizadas no interior do estado. Os dois principais pontos de aglomeração são as regiões de
Campinas e São Carlos, que respondem por dois terços das empresas do interior paulista. Na
Grande São Paulo, a capital com 16 empresas é o principal município das EBTs da amostra,
que conta também com quatro EBTs localizadas no ABC e uma em Barueri.
As três regiões do estado com maior contingente de empresas pesquisadas –
Grande São Paulo, Campinas e São Carlos – concentram mais de 60% das empresas paulistas
em número, porém apenas 43% dos empregos e menos de 25% do faturamento. Duas
empresas pesquisadas e que estão fora das principais regiões em termos de contigente,
representam juntas mais de 67% da receita das EBTs pesquisadas no estado de São Paulo.
Uma está em Sertãozinho, região de Ribeirão Preto, e a outra em São José dos Campos.
O pequeno porte é uma característica comum à maioria das EBTs pesquisadas.
As empresas que empregam menos de 20 funcionários, representam 54% do total da amostra.
Essa importância relativa está presente em todos os recortes por origem. Em média, essas
empresas empregam nove funcionários, estão no mercado há oito anos e faturam R$ 700 mil
reais por ano.
Outro item importante para a caracterização das EBTs pesquisadas é a
distribuição por setores de atividade. A unidade básica de análise neste tema são as divisões
(classificação em nível de dois dígitos) da CNAE (Classificação Nacional de Atividades
Econômicas). Estão representadas na amostra empresas de 13 setores. No entanto, dois setores
congregam 47 das 96 empresas, são responsáveis por 56% do faturamento e somam mais de
67% do pessoal ocupado. Esses dois setores de maior peso na amostra são a fabricação de
equipamentos médico-hospitalares, instrumentos de precisão e equipamentos para automação
industrial (divisão CNAE # 33) e as atividades de informática (divisão CNAE # 72).
61
No item seguinte, apresenta-se uma análise mais detalhada, com foco nas
empresas oriundas de multinacionais. Assim, toda a análise é realizada com a categorização
da amostra de EBTs pela origem de seus fundadores, sendo que as empresas podem ser
originadas em empresas multinacionais localizadas no Brasil, grandes empresas nacionais,
EBTs, universidades nacionais ou estrangeiras e centros de pesquisa nacionais ou
estrangeiros.
3.3. Resultados
Conforme a tabela 3.1 abaixo, a amostra apresenta um total de 96 EBTs com
origem conhecida. A maioria da empresas foi formada por um grupo de sócios (79,2%), que
em sua maioria (68,8%) também eram originários de um mesmo tipo de instituição. Apenas
13,5% do total das empresas possuem fundadores de origens diferentes, sendo que somente
4,2% das empresas spin-offs da amostra foram formadas por pessoas originárias de empresas
e de instituiçõs de pesquisa, ou seja, intituições com culturas bem diferentes.
Tabela 3.1 – Caracterização da origem das EBTs pesquisadas
Sócio Indivíduo Total
Origem
n % n % n %
Única 66 68,8 17 17,8 83 86,5
Mista 13 13,5 0 0,0 13 13,5
Total 79 82,3 17 17,8 96 100,0
Fonte: Elaboração própria, GeTec/UFSCar
Alguns estudos, como de Barringer (2005), consideram a formação por um
único indivíduo ou por um grupo de sócios uma variável que influencia o desempenho da
empresa formada. Empresas formadas por grupos de sócios teriam vantagens e sendo estes de
origens diferentes as chances das competências individuais serem complementares favoreceria
ainda mais o desempenho da empresa formada. Para Barringer o maior número de fundadores
oferece uma gama mais ampla recursos, maior diversidade de pontos de vista e maior
habilidade de enfrentamento dos riscos, comparado às empresas abertas por uma única
pessoa.
A Tabela 3.2 mostra informações sobre os tipos de origens das EBTs.
Apresentam-se os dados sobre a formação dos spin-offs agregados em dois grupos – os spin-
offs institucionais (incluindo os acadêmicos) e os spin-offs corporativos –, e tamm
segmentados em vários tipos de origem. A tabela informa quais as origens mais freqüentes e
62
se sua formação foi realizada por pessoas de um único tipo de instituição ou de instituições de
diferentes tipos. Os valores da coluna de origem mista inevitavelmente sofrem de dupla
contagem, sendo 4 empresas de origem comum (spin-off corporativo e institucional).
Tabela 3.2 – Caracterização dos tipos de origem das EBTs
Total Origem única Origem mista
Spin-offs corporativos
66 51 15
Multinacionais 15 10 5
Grande Empresa Nacional 23 18 5
EBTs 22 18 4
Pequenas Empresas 6 5 1
Spin-offs institucionais
40 32 8
Universidades 32 26 6
Centros de Pesquisa 8 6 2
Fonte: Elaboração própria, GeTec/UFSCar
A tabela mostra o predomínio de EBTs originadas em outras empresas – spin-
offs corporativos –, que compreendem 68,8% da amostra. Dentre esse tipo de spin-off, 22,7%
foram formados a partir de pessoal que fora empregado anteriormente em multinacionais,
34,9% em grandes empresas nacionais, 33,3% em EBTs e 9,1% em pequenas empresas.
Dentre os spin-offs institucionais, 75% são originadas em universidades
brasileiras. Apenas duas empresas possuem origem em universidades estrangeiras. Empresas
formadas em centros de pesquisa representam 20% do total de spin-offs institucionais.
Em relação à distribuição setorial, a amostra total está representada por
empresas de 13 setores. Note-se a importância de setores que compõem o complexo
eletrônico, os quais têm posição central na dinâmica tecnológica atual. Os setores de Serviços
de Informática (Software) (divisão CNAE # 72) e de Equipamentos Médico-Hospitalares, de
Automação e Precisão (divisão CNAE # 33) são os de maior peso na amostra. Somados
representam 63% do total. Essa importância relativa está presente na maioria dos grupos de
EBTs segundo suas origens. No caso dos spin-offs de multinacionais, além dos setores de
Equipamentos Médico-Hospitalares, de Automação e Precisão e Serviços de Informática, é
preciso somar-se o setor de Máquinas e Equipamentos Mecânicos para alcançar-se uma
proporção similar.
63
Tabela 3.3 – Distribuição Setorial das EBTs segundo origens selecionadas
EMNs Nacional EBT
Instituições
de Pesquisa
Total da amostra
Divisão CNAE
N % N % N % N % N %
72 - Serviços de
Informática (
Software
) 4 26,7 10 43,5 7 31,8 10 25,0
31
31,0
33 – Eqptos. Médico-
Hospitalares, de
Automação e Precisão
3 20,0 7 30,4 7 31,8 15 37,5
32
32,0
24 – Química 1 6,7 1 4,3 0 0,0 5 12,5
7
7,0
74 - Serviços Prestados às
Empresas 1 6,7 1 4,3 1 4,5 3 7,5
6
6,0
29 – Máquinas e
Equipamentos Mecânicos
3 20,0 0 0,0 1 4,5 2 5,0
6
6,0
32 - Material Eletrônico e
de Telecomunicações
1 6,7 0 0,0 2 9,1 1 2,5
4
4,0
31 – Máquinas, Aparelhos
e Material Elétrico
1 6,7 1 4,3 2 9,1 1 2,5
5
5,0
30 - Equipamentos de
Informática (
Hardware
) 0 0,0 1 4,3 1 4,5 2 5,0
4
4,0
35 - Material de Transporte
Não-Automobilístico
1 6,7 0 0,0 0 0,0 0 0,0
1
1,0
28 – Metalurgia 0 0,0 1 4,3 0 0,0 0 0,0
1
1,0
26 – Produtos de Minerais
Não-Metálicos 0 0,0 0 0,0 0 0,0 1 2,5
1
1,0
25 – Artigos de Borracha e
Plástico 0 0,0 0 0,0 1 4,5 0 0,0
1
1,0
01 – Agropecuária 0 0,0 1 4,3 0 0,0 0 0,0
1
1,0
Total 15 100,0 23 100,0 22 100,0 40 100,0 100 100,0
Fonte: Elaboração própria, GeTec/UFSCar.
A próxima tabela cruza a distribuição geográfica e os spin-offs por origem. Do
conjunto de 100 spin-offs têm-se uma concentração na região sudeste (67%), seguida da
região sul com 22% do total
27
. A mesma concentração regional se verifica nas EBTs
originárias em multinacionais, sendo que dois terços das empresas desta categoria localiza-se
na região sudeste. Contudo, levando-se em conta os 66 spin-offs identificados nesta região a
participação dos spin-offs de EMNs é de 15% em relação aos demais spin-offs. Dentro da
região sudeste os munícipios que se destacam, em termos quantitativos, como provedores de
spin-offs originários de EMNs são São Paulo, São Carlos e São Bernardo do Campo e São
José dos Campos.
27
O valor supera o total de 96 EBTs pelo fato de ocorrer dupla contagem quando se separa a amostra por origem.
64
O peso destes municípios é relativizado quando se trata de faturamento e
pessoal ocupado, pois respondem por 12% e 27% respectivamente no total da categoria na
região sudeste. A participação na amostra cai devido a uma empresa localizada em São José
dos Campos que representa sozinha 86% da receita e 71% do pessoal ocupado desta categoria
na região. Um característica diferencial dessa empresa e de outras quatro da base de dados é a
participação de capital estrangeiro em sua estrutura patrimonial (PINHO et al, 2005).
Tabela 3.4 – Distribuição dos Spin-offs por localização geográfica
Sudeste Sul Norte Nordeste Centro-Oeste Total
N % n % n % n % n %
Spin-offs de Multinacionais 10 15 5 23 0 0 0 0 0 0 15
Demais Spin-offs Corporativos 26 39 10 45 1 33 7 88 1 100 45
Spin-offs Institucionais 30 45 7 32 2 67 1 12 0 0 40
Total da amostra 66 100 22 100 3 100 8 100 1 100 100
Fonte: Elaboração própria, GeTec/UFSCar
Discrimina-se na tabela 3.5 por porte e segundo diferentes critérios as empresas
com origem em multinacionais, em outras empresas (EBTs e grandes empresas nacionais) e
em instituições de pesquisa (inclusives as universidades) para avaliar a importância
econômica e na geração de emprego dessas empresas. As empresas foram avaliadas segundo a
idade, pessoal ocupado e faturamento, com dados de 2002
28
.
Em termos totais, as EBTs originadas em multinacionais representam 17% dos
R$ 840 milhões de faturamento total da amostra. Os spin-offs institucionais e os corporativos
(exceto multinacionais) representam respectivamente 27% e 57% do faturamento total. O
porte dos spin-offs de EMNs é sensivelmente maior, na média, do que o dos spin-offs
acadêmicos, seja em termos de faturamento, seja em termos de pessoal ocupado. Por outro
lado, o porte de outros spin-offs empresariais é maior, segundo os dois critérios, do que o dos
spin-offs de multinacionais. Esse resultado, contudo, é fortemente influenciado pelo fato de as
duas maiores empresas da amostra, ambas com mais de 500 funcionários, serem oriundas de
empresas de capital nacional.
28
Conforme apresentado na tabela 3.5, a quantidade de empresas respondentes varia segundo os diferentes
critérios (número de pessoal ocupado, pessoas ocupadas e faturamento) por categoria de porte por haver lacunas
na base de dados. Assim, para cada categoria da amostra e critério de análise é apresentado a quantidade (n) de
respondentes.
65
Tabela 3.5 – Distribuição das EBTs por origem e por porte
Pessoas Ocupadas Faturamento (R$ milhões)
Porte (n.o de
pessoas)
Número
de Firmas
Idade
Média
N Média Total % N Média Total %
Spin-offs de Multinacionais
menos que 20 7 9 7 11 77 6,4 7 1,2 8,3 5,8
Entre 20 a 99 5 15 5 42 209 17,4 5 2,8 14,0 9,7
Entre 100 a 499 2 16 2 456 912 76,1 2 60,8 121,6 84,5
Acima de 500 0 0 0 0 0 0,0 0 0,0 0,0 0,0
Subtotal 14 12 14 86 1.198 100,0 14 10,3 143,9 100,0
Demais Spin-offs Corporativos
menos que 20 21 7 21 10 201 5,9 15 1,0 15,5 3,3
Entre 20 a 99 14 12 14 48 667 19,7 12 6,5 78,0 16,9
Entre 100 a 499 4 18 4 219 878 26,0 4 44,5 178,2 38,5
Acima de 500 2 18 2 817 1.634 48,3 2 105,0 210,0 45,4
Subtotal 41 10 41 82 3.380 100,0 33 14,0 481,7 100,0
Spin-offs Institucionais
menos que 20 20 8 20 9 174 13,1 17 0,3 5,1 2,3
Entre 20 a 99 9 16 9 39 347 26,1 7 3,3 23,0 10,1
Entre 100 a 499 5 18 5 162 810 60,9 4 30,4 121,5 53,7
Acima de 500 0 0 0 0 0 0,0 0 0,0 0,0 0,0
Sub-Total 36 12 34 39 1.331 100,0 30 7,5 226,3 100,0
Total de Spin-offs
Menos de 20 48 8 48 9 452 7,9 39 0,7 28,8 3,4
Entre 20 a 99 28 14 27 44 1.203 21,1 22 5,7 124,8 14,9
Entre 100 a 499 11 18 10 242 2.420 42,4 9 44,4 399,3 47,6
Acima de 500 2 18 2 817 1.634 28,6 2 105,0 210,0 27,5
sem resposta 2 17 - - - - 2 38,4 76,7 9,1
Total 91 12 87 66 5.709 100,0 73 11,2 839,7 100,0
Fonte: Elaboração própria, GeTec/UFSCar
Os spin-offs de multinacionais se destacam no recorte de menor porte com um
faturamento médio 70,4% acima da amostra como um todo. Contudo, o faturamento médio
total das spin-offs de multinacionais acompanha o valor do total da amostra de R$ 11,2
milhões anuais. Em termos de pessoal ocupado, esse tipo de spin-off, puxado pelas empresas
de maior porte, supera em 30,3% a média do total da amostra.
Os demais spin-offs corporativos destacam-se em termos de faturamento
médio, apresentado um valor 33,3% acima da média do total da amostra. Em relação à média
de pessoal ocupado, o valor é 24,2% maior ao da média da amostra. Os spin-offs acadêmicos,
por sua vez, ficaram abaixo da média nos dois indicadores econômicos, mostrando menor
capacidade tanto de geração de emprego quanto de receita em relação às empresas de outras
origens.
A produtividade das EBTs formadas em multinacionais é confrontada com os
valores médios da amostra de empresas com outras origens e com a amostra como um todo na
66
tabela 3.6
29
. A produtividade em pequenos spin-offs de multinacionais supera a de outras
origens, confirmando o destaque anteriormente atribuído às empresas deste porte. Contudo, a
produtividade média dos spin-offs de multinacionais é inferior à da amostra.
Tabela 3.6 – Produtividade dos spin-offs por porte (R$ mil/ pessoa ocupada)
Porte
(no. de pessoas)
n
spin-offs
de EMNs
n
spin-offs
corporativos
n
spin-offs
acadêmicos
n
Total da
amostra
Menos que 20 7 107,1 15 103,1 14 32,3 40 72,8
Entre 20 e 100 5 66,9 12 131,8 5 96,5 22 121,9
Entre 100 e 500 2 133,3 4 203,0 4 205,9 9 181,5
Mais de 500 0 0,0 2 128,5 0 0,0 2 128,5
Total 14 120,0 33 148,0 23 157,0 73 145,2
Fonte: Elaboração própria, GeTec/UFSCar
A produtividade abaixo da média na faixa de 100 a 500 pessoas ocupadas é
responsabilidade de uma empresa do setor de equipamentos eletroeletrônicos, que produz
antenas, conectores, shelters, assim como os equipamentos eletrônicos necessários para o
envio de sinais via satélite. Ao assumir pedaços da cadeia à montante, no segmento de
metalurgia, a empresa garante maior qualidade e autonomia no mercado. A verticalização
para trás é em parte exigência do mercado no caso dos conectores que seguem especificações
internacionais e uma estratégia de crescimento. O seu efeito sobre o indicador de
produtividade é, contudo, adverso.
Os spin-offs de EBTs e de grandes empresas nacionais mostraram produtividade
acima da média da amostra em todos os recortes por porte, demonstrando o melhor
desempenho por origem. Os spin-offs acadêmicos superaram a média do total das EBTs no
seu recorte de empresas de maior porte, de 100 a 500 pessoas ocupadas, nos demais recortes
ficaram abaixo da média da amostra.
A tabela 3.7 apresenta alguns indicadores de desempenho das EBTs segundo as
principais origens de seus fundadores. O depósito de patentes é um indicador de resultados
inovativos em produto. A atividade de patenteamento está presente em 53,6% das EBTs
pesquisadas. As EBTs originadas em multinacionais demonstraram o menor nível de
patenteamento com 38,5% contra 50% e 63,6% das EBTs com origem em grandes empresas
nacionais e em universidades brasileiras, respecticamente, que patenteram pelo menos uma
inovação.
29
O indicador de produtividade utilizado foi a razão entre faturamento e número de pessoas ocupadas.
67
Tabela 3.7 – EBTs por origem dos fundadores segundo vários recortes analíticos
Multinacional Corporativo Acadêmico Total
Discriminação
N % N % N % N %
Patentes
Brasil 5 38,5 19 50,0 21 63,6 45 53,6
Exterior 0 0.0 2 5.3 3 9.1 5 6.0
No. de respostas
13 100.0 38 100,0 33 100,0 84 100,0
Departamento de P&D
Estruturado 6 40,0 17 37,8 16 41,0 39 41,1
Não Estruturado 9 60,0 28 62,2 23 59,0 56 58,9
No. de respostas
15 100,0 45 100,0 39 100,0 95 100,0
Cooperação
Agentes Externos 10 71,4 31 72,1 35 97,2 74 82,2
No. de respostas
14 100,0 43 100,0 36 100,0 90 100,0
Instituições Pesquisa 10 66,7 33 76,7 38 97,4 77 81,9
No. de respostas
15 100,0 43 100,0 39 100,0 94 100,0
Competência Gerencial
Formação 6 40,0 24 53,3 7 17,9 34 35,8
No. de respostas 15 100,0 45 100,0 39 100,0 95 100,0
Experiência 11 78,6 27 62,8 10 28,6 42 47,7
No. de respostas 14 100,0 43 100,0 35 100,0 88 100,0
Crescimento Real do Faturamento
Menor do que 0% 2 25,0 2 13,3 3 27,3 7 20,0
0% a 5% 1 12,5 0 0,0 1 9,1 2 5,7
5,1% a 10,0% 1 12,5 1 6,7 2 18,2 5 14,3
10,1% a 25,0% 1 12,5 5 33,3 3 27,3 10 28,6
25,1% a 50,0% 1 12,5 4 26,7 0 0,0 6 17,1
Maior do que 50% 2 25,0 3 20,0 2 18,2 5 14,3
No. de respostas
8 100,0 15 100,0 11 100,0 35 100,0
Apoio Financeiro
Recebeu Algum Tipo de Apoio
8
53,3 24 53,3 32 80,0 65 67,7
Sem resposta
7
46,7 21 46,7 8 20,0 31 32,3
Total
15
100,0 45 100,0 40 100 96 100,0
Fonte: Elaboração própria, GeTec/UFSCar
Algumas empresas, duas de origem acadêmica e duas de grandes empresas
nacionais, apresentaram atividade de patenteamento no exterior, o que denota um salto de
qualidade da atividade inovativa dessas empresas. De toda maneira, a baixa participação desta
atividade na amostra de EBTs mostra um dinamismo tecnológico bem inferior quando
comparadas as de países desenvolvidos.
A atividade de pesquisa e desenvolvimento (P&D) é a forma de investimento
mais explícita e sistemática de desenvolvimento tecnológico e, por isso, possui efeitos
maiores e profundos nas empresas e na economia como um todo. Assim, estruturas
formalizadas e pessoal qualificado para realizar essas atividades representam um
compromisso maior com o crescimento e com o desenvolvimento de inovações tecnológicas.
No entanto, essas atividades também são muito custosas e de elevado risco. Por isso em
68
economias em desenvolvimento é de se esperar que muitas empresas realizem atividades de
P&D, mas sem um departamento próprio, através de projetos esporádicos. As porcentagens de
empresas com departamentos estruturados de P&D não variam muito segundo a origem,
exceto para as EBTs originárias de centros de pesquisa (25%), não ultrapassando em nenhuma
categoria os 45%. Atividades não formalizadas são mais comuns nas EBTs brasileiras,
estando presentes, por exemplo, em 60% das EBTs originárias de multinacionais.
A atividade de cooperação é uma forma de diluir os elevados custos da
pesquisa e desenvolvimento tecnológico e, principalmente, de ter acesso a competências não
disponíveis internamente às empresas. A inovação tecnológica é considerada por essência
uma atividade interativa. A pesquisa indagou às empresas se elas realizavam atividades de
cooperação com agentes externos, como clientes, fornecedores, instituições de pesquisa e
consultorias entre outros, e obteve um índice elevado de respostas positivas.
Ao especificar as instituições de pesquisa como parceiros os valores mantêm-se
altos. No caso das EBTs de origem acadêmica, 97% mantém vínculos com universidades. Os
spin-offs de EMNs não parecem mais engajados do que outros spin-offs corporativos em
atividades de cooperação. Neste caso, entretanto, a discrepância de ambas as categorias em
relação aos spin-offs acadêmicos é marcante, sendo bem maior a propensão destas à
cooperação.
A taxa de crescimento real do faturamento das EBTs com base nos dados de
1997 e 2002 pode ser calculada para uma parcela da amostra (35 empresas)
30
. A apresentação
dos dados de crescimento em faixas mostra que é grande a dispersão. A existência de uma
parcela siginificativa, 60%, da amostra presente nas faixas de crescimento acima 10% mostra
o caráter diferencial desse tipo de empresa, que é a capacidade de crescimento. Agora, taxas
extraordinárias de crescimento, acima de 25%, correspondem a 31,4% da amostra, mostrando
que taxas elevadas de crescimento estão presentes em uma parcela menor da amostra, embora
siginificativa.
30
A taxa média geométrica anual calcula a taxa de crescimento anual constante necessária para que o
faturamento do período “n-5” alcance o valor declarado no período “n”. Utilizou-se para este cálculo como
deflator o IPCA.
69
Tabela 3.8 – Média e Mediana da Taxa de Crescimento Real do Faturamento
Média Mediana
Spin-offs de EMNs
29,5% 10,1%
Demais Spin-offs Corporativos 28,4% 18,3%
Spin-offs Institucionais
25,5% 18,3%
Fonte: Elaboração própria, GeTec/UFSCar
A tabela 3.8 apresenta o cálculo da média e da mediana da taxa de crescimento
do faturamento das EBTs por origem. A taxa média de crescimento real fica acima dos 25%
ao ano para as EBTs respondentes de todas as origens, com destaque para as oriundas de
EMNs que cresceram em média quase 30% ao ano. Contudo, conforme dito anteriormente
existe uma grande dispersão, o que torna interessante o cálculo da mediana para realizar um
contraponto. Nesse caso, ao desconsiderar os valores extremos, o cálculo da mediana
apresenta, para todas as origens, taxas de crescimento nem um pouco extraordinárias. No caso
das EBTs oriundas de EMNs a posição se inverte, passando a ser a categoria com pior
desempenho. A explicação está no fato da dispersão dos dados de crescimento da receita para
essa origem ser mais acentuada, sendo que de um lado têm-se cinco empresas com uma taxa
média de crescimento de 2% a.a. e, de outro, três empresas com uma taxa média de
crescimento de 75% a.a.
Outro ponto importante na diferenciação das origens das EBTs refere-se às
competências gerenciais. A tabela 3.7 mostra que a existência destas competências é
característica dos spin-offs corporativos. Sendo que mais de 79% dos fundadores de spin-offs
de EMNs possuem experiências em atividades gerenciais e 40% possuem formação em áreas
administrativas.
Os fundadores de EBTs de origem acadêmica são carentes dessas
competências, sendo que somente 18% dos fundadores tinha formação e 29% contavam com
alguma experiência na área gerencial de um empreendimento. A literatura aponta essa
carência de formação acadêmica em áreas administrativas ou de experiência em funções
gerenciais como uma das dificuldades encontradas pelas EBTs formadas por pesquisadores de
universidades e centros de pesquisas.
Com relação ao financiamento de suas atividades, as empresas foram
perguntadas se haviam recebido algum tipo de recurso público nos últimos anos e 67,7% delas
responderam de forma afirmativa. Pela tabela 3.7, 80% dos spin-offs institucionais contam
70
com apoio, proporção que cai para 53% entre todos os spin-offs corporativos (incluindo-se os
de multinacionais).
A tabela 3.9 apresenta informações sobre as características tecnológicas e de
inserção de mercado das empresas estudadas. As informações sobre a tecnologia utilizada no
produto e o seu grau de novidade foram avaliações feitas pelos gerentes das próprias
empresas. Em relação a tecnologia utilizada pelas EBTs a maioria a classificou como sendo
nova e em mudança constante, e em segundo lugar ficaram as tecnologias difundidas mas que
ainda contam com espaço para mudanças e aperfeiçoamentos. Neste aspecto, nos demais spin-
offs corporativos as tecnologias difundidas e estáveis ocupam uma posição mais relevante se
comparada às outras origens e o peso das tecnologias novas e em mudança constante é
inferior à média. Segundo esta classificação, pode-se inferir que outros fatores tenham maior
capacidade explicativa sobre o elevado faturamento médio dessa categoria de empresas.
Contudo é preciso ter cautela na análise, em função das informações serem subjetivas.
Tabela 3.9 – Características do Produto das EBTs por origem dos fundadores
Spin-offs de
Multinacionais
Demais spin-offs
corporativos
Spin-offs
Institucionais Total
N % n % n % n %
Tecnologia do Produto
Nova e em mudança constante
19 54,3 36 36,4 53 62,4 110 49,5
Difundida e em mudança constante
6 17,1 25 25,3 18 21,2 50 22,5
Nova e estável 5 14,3 12 12,1 10 11,8 26 11,7
Difundida e estável 5 14,3 26 26,3 4 4,7 36 16,2
Total da Amostra 35 100 99 100,0 85 100,0 222 100,0
Mudanças no produto
Novidade para o Mercado Mundial
1 7,1 7 14,6 12 28,6 22 21,8
Novidade para o Mercado Regional 0 0,0 5 10,4 1 2,4 6 5,9
Novidade para o Mercado Nacional 8 57,1 25 52,1 26 61,9 53 52,5
Novidade para a Empresa 5 35,7 11 22,9 3 7,1 20 19,8
Total da Amostra 14 100,0 48 100,0 42 100,0 101 100,0
Market Share
Menos que 25% 4 50,0 5 27,8 3 18,2 13 30,2
Entre 25% a 50% 2 25,0 8 44,4 6 54,5 16 37,2
Mais de 50% 2 25,2 5 27,8 7 27,3 14 32,6
Total da Amostra 8 100,0 18 100,0 16 100,0 43 100,0
Exportação
Realiza 6 40,0 10 22,2 12 30,0 28 29,2
Não realiza 7 46,7 28 62,2 21 52,5 56 58,3
sem resposta 2 13,3 7 15,6 7 17,5 12 12,5
Total da amostra 15 100,0 45 100,0 40 100,0 96 100,0
Fonte: Elaboração própria, GeTec/UFSCar
71
Com relação ao grau de novidade das mudanças realizadas em seus produtos, a
maioria, 52,5% das empresas considerou que fosse uma novidade para o mercado nacional.
Os spin-offs corporativos, em especial os de multinacionais, ficaram abaixo da média quando
a mudança se tratava de uma novidade para o mercado mundial. Mudanças consideradas
novas apenas para a própria empresa foram significativas para os spin-offs de multinacionais,
com 35,7% de respostas, denotando a atuação em mercados mais consolidados.
A participação elevada de mercado do produto principal mostra uma
característica importante das EBTs, que é a atuação em mercados de nicho, em que quase
70% da amostra possui mais de 25% do mercado em seu produto principal. Os spin-offs de
multinacionais são os únicos a não seguirem a média da amostra. Participações de mercado
menores do que 25% são predominantes nesse tipo de empresa. Provavelmente essas
empresas atuam em mercados mais competitivos, considerando concorrentes locais e
estrangeiros em seus sub-segmentos. A tabela 3.10 apresenta a média e a mediana do market
share das EBTs por origem. Para as EBTs oriundas de EMNs a mediana é bem inferior à
média, em face da grande dispersão dos valores de participação de mercado dessa categoria.
Tabela 3.10 – Média e Mediana do Market share dos spin-offs por origem
Média Mediana
Spin-offs de EMNs 36,7 10,0
Demais Spin-offs Corporativos 45,5 35,0
Spin-offs Institucionais 52,4 55,0
Total
45,8 40,0
Fonte: Elaboração própria, GeTec/UFSCar
A maior parte das EBTs não exportam seus produtos, 58,3% do total da
amostra. Apesar disso ser verdade independente da origem, as empresas spin-off de
multinacionais exportadoras superam em 37% a média da amostra. A atividade exportadora é
um elemento importante, seja para geração de receita em dólares, seja na qualidade e
adequação aos padrões internacionais. O fato dos fundadores serem originários de
multinacionais pode explicar o maior acesso dessas empresas ao mercado externo.
A Tabela 3.11 demonstra que os principais clientes dos spin-offs de
multinacionais são as empresas multinacionais, que provavelmente abriram as portas, de
alguma maneira, para o mercado externo. Os principais clientes dos demais spin-offs
corporativos são as grandes empresas nacionais e dos institucionais são as pequenas e médias
empresas. Para as EBTs em geral, o principal cliente são as grandes empresas nacionais.
72
Tabela 3.11 – Principais Clientes por natureza de capital
Multinacionais
Grande
Empresa
Nacional
Pequenas e
Médias
Empresas
Total
n % n % n % n %
Spin-offs de Multinacionais 13 50,0 8 30,8 5 19,2 26 100,0
Demais Spin-offs corporativos 18 22,0 38 46,3 26 31,7 82 100,0
Spin-offs Institucionais 29 33,0 28 31,8 31 35,2 88 100,0
Total 60 30,6 74 37,8 62 31,6 196 100,0
Fonte: Elaboração própria, GeTec/UFSCar
Por outro lado, os mais citados como fornecedores foram as empresas
multinacionais, seguidos pelas pequenas e médias empresas e por último as grandes empresas
nacionais. Existe uma distribuição relativamente equilibrada dos fornecedores dos spin-offs de
multinacionais, sendo que as pequenas e médias empresas levam uma pequena vantagem,
sendo citadas em 40% das respostas. Para os demais spin-offs corporativos as multinacionais
são os principais fornecedores, com 51% das respostas. E para os institucionais as pequenas e
médias empresas predominam, sendo citadas 45% das vezes, conforme apresentado na tabela
3.12.
Tabela 3.12 – Principais Fornecedores por natureza de capital
Multinacionais
Grande
Empresa
Nacional
Pequenas e
Médias
Empresas Total
n % n % n % n %
Spin-offs de Multinacionais 6 30,0 6 30,0 8 40,0 20 100,0
Demais Spin-offs corporativos 27 50,9 9 17,0 17 32,1 53 100,0
Spin-offs Institucionais 8 27,6 8 27,6 13 44,8 29 100,0
Total 41 40,2 23 22,5 38 37,3 102 100,0
Fonte: Elaboração própria, GeTec/UFSCar
3.4. Considerações finais
Ao longo deste capítulo foram mostrados diversos elementos que caracterizam
as EBTs e as diferenciam de empresas tradicionais. Existe muita convergência entre as
características das empresas de diferentes origens, mas algumas diferenças são significativas e
não devem ser negligenciadas.
73
Os spin-offs corporativos apresentam maior porte, mas a superioridade reflete
principalmente características de EBTs oriundas de empresas nacionais e não dos spin-offs de
multinacionais. As EBTs com origens em outras empresas, especialmente grandes empresas
nacionais, mostraram melhor desempenho em termos de ocupação de pessoal e de geração de
receita.
O desempenho tecnológico dos spin-offs acadêmicos parece um pouco
superior, expressando-se na inserção de campos tecnológicos mais dinâmicos, freqüência
maior de iniciativas de cooperação e proporção mais elevada de inovações de maior alcance.
Todavia, as competências gerenciais – tanto em termos de experiência quanto de formação –
são mais difundidas nos spin-offs corporativos, especialmente, nos de EMNs.
Do mesmo modo, os spin-offs acadêmicos parecem mais enraizados na
inserção de mercado típica das EBTs brasileiras: nichos de mercados localizados no mercado
interno. Ainda que os spin-offs corporativos não cheguem a fugir desse padrão, exceções à
regra são mais frequentes entre eles. No caso dos spin-offs de EMNs, em particular, as
exportações são mais relevantes.
Algumas características estão presentes em todas as EBTs independentemente
da origem, como a concentração setorial e geográfica, com algumas ressalvas como presença
no Nordeste de spin-offs de grandes empresas nacionais. O predomínio da fundação com um
grupo de sócios, o peso de empresas de porte pequeno (com menos de 20 funcionários), assim
como o baixo número de patentes registradas e a parca estruturação do departamento de P&D
são todas características presentes nas EBTs brasileiras indistintamente de sua origem.
A análise da taxa de crescimento das EBTs brasileiras revelou que taxas
extraordinárias são menos freqüentes. A taxa média de crescimento real fica acima dos 25%
ao ano para as respondentes de todas as origens, com destaque para as oriundas de EMNs que
cresceram em média quase 30% ao ano. Contudo, o valor da mediana da taxa de crescimento
para as EBTs oriundas de EMNs é de 10%, e para as demais categorias é de 18%. Isolando-se
os efeitos de algumas poucas empresas que apresentam grande porte e elevadas taxas de
crescimento, as EBTs oriundas de multinacionais apresentam taxas de crescimento
relativamente mais modestas.
74
4. CONCLUSÃO
A presente dissertação buscou estudar um tema pouco explorado até o presente
momento, as empresas de base tecnológica brasileiras formadas por empreendedores oriundos
de empresas multinacionais.
As multinacionais engendraram um processo de reestruturação organizacional para um
melhor aproveitamento de recursos externos ao longo de sua cadeia produtiva, garantindo
assim maior competitividade. Muitas empresas focalizaram suas atenções nas operações de
maior valor agregado da cadeia produtiva, incluindo atividades de marketing e de pesquisa e
desenvolvimento, desinvestindo nas etapas em que fornecedores externos se tornaram mais
eficientes. Novos países e novos atores ganham espaço, em graus diferentes, nesse processo.
A reestruturação organizacional das multinacionais conferiu maior autonomia para
suas filiais, propiciando-lhes um papel mais decisivo na estratégia tecnológica do grupo. As
filiais têm a incumbência de somar conhecimentos local-específicos e produtos à cesta do
grupo. As filiais buscam, assim, ganhar mercados e maior apoio financeiro da matriz por meio
do desenvolvimento de novos produtos e tecnologias.
Esses movimentos geram algum tipo de transferência de tecnologia para as economias
dos países hospedeiros. Economias emergentes procuram se beneficiar desses movimentos
com a absorção de tecnologia em seus parques industriais, ainda que seus efeitos sejam mais
acentuados nos países desenvolvidos. Países em desenvolvimento localizados no Leste
Asiático atraíram esses novos investimentos por contarem com mão-de-obra qualificada e
barata, fornecedores especializados nos novos setores e com o ambiente favorável ao
investimento, em especial o acelerado crescimento econômico.
A internacionalização tecnológica empreendida pelas multinacionais ocorre através do
Investimento Direto Estrangeiro em setores dinâmicos e é potencializada se o país receptor
possuir competências para absorver localmente as novas tecnologias. A forma mais óbvia e
direta de internacionalização tecnológica é a criação de laboratórios de P&D fora do país-
sede.
As filiais localizadas no Brasil vêm buscando melhor posicionamento na rede mundial
do grupo, mas, apesar de possuir uma estrutura científica reconhecida, o país ficou, grosso
modo, à margem da intensificação desses investimentos. Contudo, não se pode negar a
ocorrência de efeitos indiretos da presença e dos investimentos tecnológicos das filiais
nacionais.
75
A atuação de empresas estrangeiras gera transbordamentos de conhecimento, técnicas
e pessoal. Uma forma específica é o spin-off, que consiste na criação de uma empresa com
base na transferência de recursos (equipamentos, competências incorporadas em capital
humano e conhecimentos tecnológicos) de uma organização fonte para a empresa nova.
Esta dissertação defende a posição de que o conhecimento incorporado no pesquisador
que deixa uma empresa e funda uma nova é suficiente para caracterizar uma empresa como
spin-off. Esse tipo de spin-off é a origem de muitas empresas de base tecnológica (EBTs). As
EBTs são empresas que têm como estratégia principal o desenvolvimento de novos produtos
através da capacidade inovativa e tecnológica acumulada por elas.
O objetivo central da dissertação era a melhor compreensão das EBTs brasileiras
originadas em multinacionais. A pesquisa mostrou que, na amostra pesquisada, a maioria tem
como origem outras empresas. Do total da amostra, 69% são spin-offs corporativos e os 31%
restantes são empresas formadas por universidades públicas e institutos de pesquisa. Os spin-
offs de multinacionais possuem participação relevante, representando 14% do total.
A análise da base de dados apresentada no capítulo 3 indica que existem diversas
características das EBTs que independem de sua origem. Por exemplo, essas empresas são
formadas por um grupo de sócios provenientes em sua maioria de um mesmo tipo de origem.
A distribuição setorial também não é afetada por essa variável. Os setores mais
representativos são o de Equipamentos Médico-Hospitalares, de Automação e Precisão
(divisão CNAE # 33) e de Serviços de Informática (Software) (divisão CNAE # 72),
representando 65% das empresas pesquisadas. Além disso, as empresas são majoritariamente
de pequeno porte, com menos de 20 empregados e em média com 8 anos no mercado.
Outras características presentes nas EBTs que independem da sua origem referem-se à
organização da pesquisa e à estrutura do mercado. A maioria das empresas recorre a
departamentos não-estruturados de pesquisa e desenvolvimento. Apresentam também elevada
participação de mercado, que, dado o porte das empresas, define a situação de nicho dos
mercados em que elas atuam.
Contudo, corroborando a literatura abordada no capítulo 2, foram identificadas
também diferenças entre os spin-offs segundo suas origens. As maiores diferenças foram
verificadas entre dois grandes grupos: spin-offs corporativos e spin-offs acadêmicos.
Os spin-offs corporativos apresentam porte maior, tanto em termos de pessoal ocupado
quanto de faturamento médio. Esses spin-offs apresentam também com maior freqüência taxas
elevadas de crescimento do faturamento, acima de 25% a.a. Outra característica em que os
76
spin-offs corporativos sobressaem é a maior qualificação administrativa dos empreendedores,
seja por experiência profissional ou por formação especializada.
Os spin-offs institucionais, por sua vez, se destacam nos indicadores de esforço
tecnológico, como a atividade de patenteamento e a participação em esquemas de cooperação
voltados para pesquisa e desenvolvimento. Também o apoio financeiro recebido de
instituições de fomento à inovação tecnológica é mais freqüente nesse tipo de EBT.
Fica claro também que os melhores resultados dos indicadores econômicos realizados
pelos spin-offs corporativos são puxados pelos spin-offs de outras EBTs e de grandes
empresas nacionais. Entre as empresas estudadas, as oriundas de multinacionais apresentam
um desempenho abaixo da média dos demais spin-offs corporativos nos indicadores citados. O
desempenho inferior das EBTs oriundas em multinacionais fica melhor evidenciado com a
mediana da taxa de crescimento do faturamento, que para esse grupo de empresas fica em
torno de 10% ao ano.
Os spin-offs de multinacionais demonstraram maior engajamento na realização de
exportação. 40% das empresas desta categoria já exportaram seus produtos. Por outro lado,
50% delas têm participações de mercado menores que 25%, o que as distingue dos demais
spin-offs. Isso sugere que atuam em mercados de maior alcance.
O fato de empresas multinacionais serem os principais clientes dos spin-offs de
multinacionais mostra o estabelecimento de laços com empresas de mesma natureza da sua
organização fonte. Isto é um indicador da influência das habilidades, rede de contatos,
conhecimentos técnicos e de mercado assimiladas da organização fonte.
As evidências, contudo, não são conclusivas com relação à primeira hipótese
postulada nesta dissertação, que estabelece que o esforço modesto de desenvolvimento e de
capacitação tecnológica das empresas multinacionais no Brasil repercute em uma geração de
spin-offs pouco significativa. De todo modo, em um país em que as EMNs têm um peso tão
grande nos setores industriais de maior conteúdo tecnológico, a escassez relativa dos spin-offs
de EMNs e a uma posição abaixo da média em alguns indicadores conferem apoio à hipótese.
Já em relação à segunda hipótese, que sustenta que spin-offs de base tecnológica
advindos de multinacionais tendem a apresentar melhor desempenho, há evidências na
direção contrária. De um lado, existem evidências de um comportamento tecnológico mais
agressivo dos spin-offs acadêmicos do que dos corporativos. Por outro lado, a melhor
capacitação gerencial e de desempenho – porte e faixa de crescimento – apontam a
superioridade dos spin-offs corporativos em geral, mas não dos spin-offs de EMNs em relão
77
às demais EBTs originadas de empresas. Portanto, nos limites de uma análise calcada na base
de dados utilizada nesta dissertação, é possível rejeitar a segunda hipótese.
78
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