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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA
CENTRO DE CIÊNCIAS RURAIS
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM MEDICINA VETERINÁRIA
COBRE SÉRICO E ENZIMAS RELACIONADAS AO SEU
METABOLISMO EM OVINOS PREPARADOS PARA
EXPOSIÇÃO E CRIADOS A CAMPO NA DEPRESSÃO
CENTRAL DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL
DISSERTAÇÃO DE MESTRADO
Ubiratã Rezler
Santa Maria, RS, Brasil
2007
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COBRE SÉRICO E ENZIMAS RELACIONADAS AO SEU
METABOLISMO EM OVINOS PREPARADOS PARA
EXPOSIÇÃO E CRIADOS A CAMPO NA DEPRESSÃO
CENTRAL DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL
por
Ubiratã Rezler
Dissertação apresentada ao Curso de Mestrado do Programa de Pós-
Graduação em Medicina Veterinária, Área de Concentração em Clínica
Médica, Sub-área em Endocrinologia e Metabologia Animal, da
Universidade Federal de Santa Maria (UFSM, RS), como requisito
parcial para obtenção do grau de
Mestre em Medicina Veterinária.
Orientador: Marcelo Cecim
Santa Maria, RS, Brasil
2007
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Universidade Federal de Santa Maria
Centro de Ciências Rurais
Programa de Pós-graduação em Medicina Veterinária
A Comissão Examinadora, abaixo assinada, aprova a
Dissertação de Mestrado
COBRE SÉRICO E ENZIMAS RELACIONADAS AO SEU METABOLISMO
EM OVINOS PREPARADOS PARA EXPOSIÇÃO E CRIADOS A CAMPO
NA DEPRESSÃO CENTRAL DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL
elaborada por
Ubiratã Rezler
como requisito parcial para a obtenção do grau de
Mestre em Medicina Veterinária
COMISSÃO EXAMINADORA:
Marcelo Cecim, PhD.
(Presidente/Orientador)
Luiz Alberto Oliveira Ribeiro, Dr. (UFRGS)
Marcelo Soares, Dr. (UFSM)
Santa Maria, 14 de setembro de 2007
AGRADECIMENTOS
Ao Grande Arquiteto do Universo, pelo ar que respiramos, pelo alimento que
consumimos, pela saúde que desfrutamos e pelos amigos que nos cercam;
Aos meus pais, irmãos, cunhadas, sobrinhos e sobrinhas, por serem
presentes em minha vida;
Ao meu orientador, Marcelo Cecim, pela disponibilidade em orientar meu
mestrado;
Ao professor Luiz Alberto Oliveira Ribeiro, Betinho, pelo auxílio, amizade,
companheirismo e constante transmissão de conhecimentos enquanto da minha
estada na UFRGS;
Aos amigos Fernando e Ana Cláudia Groff, Marcelo e Patrícia Alievi, que
foram e são minha família em Porto Alegre;
Aos estagiários do Centro de Estudos em Pequenos Ruminantes da UFRGS,
Gustavo Lopes, Carla, Fernando, Samuel, Marcelo e Gustavo Agnes, pelo trabalho
na colheita a campo e processos laboratoriais;
Às tantas pessoas que cruzaram na minha vida, nas mais diferentes
oportunidades e com os mais diferentes objetivos. o importa se trouxeram alegria
ou tristeza, saibam que aprendi com vocês o ensinamento da vida, aquele que não
se em artigos ou livros e não se encontra à venda na loja da esquina, mas o que
se fixa em nosso ser, alegrando nossa alma ou deixando cicatrizes, porém
carregado para sempre.
“Tudo na vida são idéias inteligentes
e decisões firmes.”
(Goethe)
RESUMO
Dissertação de Mestrado
Programa de Pós-graduação em Medicina Veterinária
Universidade Federal de Santa Maria
COBRE SÉRICO E ENZIMAS RELACIONADAS AO SEU METABOLISMO EM OVINOS
PREPARADOS PARA EXPOSIÇÃO E CRIADOS A CAMPO NA DEPRESSÃO
CENTRAL DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL
AUTOR: UBIRATÃ REZLER
ORIENTADOR: MARCELO CECIM
Santa Maria, 14 de setembro de 2007.
O objetivo desse trabalho foi identificar as concentrações séricas de cobre e enzimas
aspartatoaminotransferase (AST) e gamaglutamiltransferase (GGT) tanto em ovinos
preparados para exposição como criados a campo, a fim de contribuir para a
formação de valores de referência e auxiliar no prognóstico da saúde desses
animais. Colheram-se 120 amostras de sangue de animais de exposição e 110 de
animais de campo, independente de sexo, raça e idade. Os níveis séricos médios de
cobre, AST e GGT dos animais de exposição e a campo foi igual a 66,14 ±9,76 e
62,01 ±16,36 µg.dl
-1
(P<0,0357); 85,01 ±40,02 e 65,58 ±16,19 UI (P<0,0001); 41,02
±10,61 e 41,91 ±9,49 UI, respectivamente. Em conclusão, as médias do elemento
cobre de animais preparados para exposição mostraram-se dentro dos valores de
referência e as de alguns animais mantidos a campo abaixo do intervalo fisiológico.
Os níveis séricos de AST e GGT aumentados no grupo exposição parecem não
estar relacionados com o acúmulo hepático de cobre.
Palavras-chave: aspartatoaminotransferase, gamaglutamiltransferase, intoxicação
crônica por cobre, ovino.
ABSTRACT
Dissertação de Mestrado
Programa de Pós-graduação em Medicina Veterinária
Universidade Federal de Santa Maria
SERUM COPPER AND LIVER ENZYMES RELATED TO ITS METABOLISM IN SHOW
SHEEP AND SHEEP RAISED UNDER FIELD CONDITIONS IN THE CENTRAL
DEPRESSION OF RIO GRANDE DO SUL STATE, BRAZIL
AUTOR: UBIRATÃ REZLER
ORIENTADOR: MARCELO CECIM
Santa Maria, 14 de setembro de 2007.
The objective of the present work was to identify serum copper levels and
aspartateaminotransferase (AST) and gamagluthamyl transferase (GGT) activity in
purebred show and field raised sheep and to contribute to formation of regional
reference values. Blood samples of 120 show sheep and 110 field raised animals
were collected independently of age, sex and breed. Means serum levels of copper
for show and field sheep 66.14 ± 9.76 and 62.01 ±16.36 µg.dl
-1
(P<0.0357),
respectively; AST activity was higher in show sheep than in field animals (85.01
±40.02 vs. 65.58 ±16.19 IU, P<0.0001); GGT activity was 41.02 ±10.61 and 41.91
±9.49 IU with no differences between groups. In conclusion, serum copper levels in
all show animals were within international reference values, whereas field raised
animals presented several individuals that fell bellow the lower limit. Serum activitiy of
AST and GGT appear not to be related to copper metabolism in these animals.
Key words: aspartate aminotransferase, gamma-glutamyl transferase, chronic cooper
poisoning, sheep.
LISTA DE TABELAS
TABELA 1 Concentrações séricas médias do elemento cobre e enzimas AST e
GGT medidas em ovinos machos e fêmeas preparados para exposição e criados a
campo na região da Depressão Central do Estado do Rio Grande do Sul ..............28
LISTA DE FIGURAS
FIGURA 1 Concentrações séricas do elemento cobre medidas em ovinos machos
e fêmeas preparados para exposição e criados a campo na região da Depressão
Central do Estado do Rio Grande do Sul.................................................................29
FIGURA 2 - Concentrações séricas da enzima AST medidas em ovinos machos e
fêmeas preparados para exposição e criados a campo na região da Depressão
Central do Estado do Rio Grande do Sul.................................................................30
FIGURA 3 - Concentrações séricas da enzima GGT medidas em ovinos machos e
fêmeas preparados para exposição e criados a campo na região da Depressão
Central do Estado do Rio Grande do Sul.................................................................31
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO .........................................................................................................10
2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA.....................................................................................12
2.1. Cobre.....................................................................................................................12
2.2. AST e GGT ............................................................................................................17
3. CAPÍTULO 1 Cobre sérico e enzimas relacionadas ao seu metabolismo
medidos em ovinos preparados para exposição e criados a campo na região da
Depressão Central do Estado do Rio Grande do Sul...............................................19
4. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.........................................................................32
1. INTRODUÇÃO
A criação de ovinos foi, por muitos anos, uma importante fonte de renda nas
grandes propriedades da região Sul e Fronteira Oeste do Estado do Rio Grande do
Sul (RS). Durante e após a crise da , que se estendeu do final da cada de 70 e
inicio da década de 80, os rebanhos laneiros reduziram-se substancialmente, onde
seu efetivo de 13 milhões de cabeças baixou para não mais de quatro milhões nos
dias atuais, distribuídos na Fronteira Oeste (39,8%), Sul (19,3%) e Campanha
(13,2%) (ANUALPEC, 2003).
Em virtude disso, ocorreu uma maior procura por carne ovina de qualidade.
Ovinos de raças com aptidão para produção de carne tornaram-se valorizados.
Seguiu-se um intenso tráfico de animais vindos do exterior ou mesmo de diferentes
partes do Brasil, o que favoreceu o aparecimento de várias doenças de origem
infecciosa e/ou metabólica até então exóticas ou raras no RS.
Uma doença de origem metabólica que se tornou bastante comum entre os
ovinos do tipo carne é a intoxicação crônica por cobre (ICC), manifestando-se
principalmente em animais de alta genética preparados para exposições.
Underwood & Suttle (1999) enfatizam que animais das raças Texel e Suffolk são
mais susceptíveis a essa intoxicação quando comparados com ovinos Corriedale ou
Ideal, tradicionalmente criados no RS.
Os primeiros relatos da ocorrência de casos de ICC em exposições
agropecuárias no RS foram feitos por Galvão & Williams (1966) em animais com
aptidão e, desde então, óbitos por essa doença vêm sendo observados. A
alimentação fornecida a esses animais no período pré-exposição é o fator principal
para o acúmulo excessivo do elemento cobre no fígado. Em muitos casos, rações
não indicadas para a espécie ou mesmo mal formuladas, e ainda a relação
concentrado:volumoso acima de 30:70 contribuem para aumentar a casuística. Os
ovinos têm baixa tolerância ao cobre (WELLS et al., 2000), onde a ingestão acima
de 10 mg.kg
-1
ao dia desse mineral causa seu acúmulo no fígado (CAVALHEIRO &
TRINDADE, 1992), predispondo o animal à crise hemolítica.
11
Como os sinais clínicos da ICC são evidenciados em uma fase crítica da
intoxicação, pesquisam-se métodos diagnósticos para evitar a morte de animais e
melhor compreender o metabolismo desse mineral no organismo ovino. Dentre os
métodos pesquisados está a mensuração das concentrações séricas do elemento
cobre e de enzimas hepáticas participantes do seu metabolismo, tais como a
aspartatoaminotransferase (AST) e a gamaglutamiltransferase (GGT).
As concentrações ricas do elemento cobre e das enzimas AST e GGT para
ovinos encontrados na literatura são muito díspares. O cobre varia de 58 a 160
µg.dl
-1
(KANECO et al, 1997; UNDERWOOD & SUTTLE, 1999), a AST entre 0 e 350
UI (KANEKO et al, 1997; BLOOD & RADOSTITS, 1989) e a GGT entre 0 e 70 UI
(KANEKO et al, 1997; BLOOD & RADOSTITS, 1989), o que causa dúvidas quanto a
real injúria que o tecido hepático pode estar sendo vítima. Por outro lado,
praticamente não dados sobre concentrações normais de cobre e dessas
enzimas hepáticas tanto em ovinos criados a campo como para àqueles preparados
para exposições no RS.
Esse trabalho tem por objetivo identificar as concentrações séricas do
elemento cobre e das enzimas AST e GGT em ovinos preparados para exposições e
criados a campo na depressão central do RS, e, com isso, contribuir para a
construção de valores de referência locais, auxiliando, assim, no diagnóstico e
prognóstico da saúde desses animais.
2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
2.1 Cobre
O cobre é um microelemento essencial para o organismo animal, sendo
encontrado em diversas enzimas que atuam na produção de hemoglobina, formação
dos ossos e pigmentação dos pêlos e da lã. É absorvido tanto no intestino grosso
(CAVALHEIRO & TRINDADE, 1992) como no intestino delgado (UNDERWOOD &
SUTTLE, 1999). O requerimento diário para ovinos está entre 4 e 5 mg.kg
-1
(GAVILLON & QUADROS, 1976), e sua absorção é diretamente relacionada aos
níveis de outros elementos, tais como ferro, molibdênio, zinco, sulfato e enxofre.
Ovinos criados em pastagens deficientes desses elementos podem acumular
quantidades excessivas de cobre no fígado (KIMBERLING, 1988).
O fígado é de fundamental importância no metabolismo do cobre, sendo
responsável por até 90% do seu armazenamento (HIDIROGLOU & IVAN, 1993). As
fontes potenciais de excesso de cobre incluem rações indicadas para outras
espécies animais, como bovinos, eqüinos e suínos, misturas minerais, soluções de
pedilúvio contendo sulfato de cobre, pastagens adubadas tanto com sulfato de cobre
como com esterco de suínos e frangos e alimentos contendo proporção cobre :
molibdênio acima de 10 : 1 (BELKNAP & PUGH, 2005). A soja é uma das
leguminosas que têm naturalmente uma alta concentração de cobre (KIMBERLING,
1988), devido principalmente aos fungicidas aspergidos sobre ela.
Pastagens adubadas com esterco de aves ou suínos são uma prática comum
em regiões produtoras de ovinos. Em virtude disso, essas pastagens ficam
saturadas com íons cobre, tornando-se fonte de intoxicação. Kerr & McGavin (1991)
relataram a morte de oito ovinos que pastoreavam em locais adubados com esterco
de suínos, encontrando concentrações séricas de cobre iguais a 194 mg.dl
-1
,
hepático entre 1473 mg.kg
-1
e 3025 mg.kg
-1
e renal entre 62 mg.kg
-1
e 630 mg.kg
-1
.
No solo adubado com o esterco, os níveis de cobre e molibdênio encontrados foram
13
iguais a 26,35 mg.kg
-1
e 0,65 mg.kg
-1
,
respectivamente. Em áreas adjacentes, onde
não foi utilizado esse tipo de adubação, o nível de cobre no solo foi igual a 7,25
mg.kg
-1
e o de molibdênio a 0,85 mg.kg
-1
.
Muitos anti-helmínticos possuem em sua formulação sais de cobre, o que os
torna potencialmente tóxicos para ovinos, podendo resultar em ICC. Pastagens
contaminadas com sulfato de cobre, quando este é usado para controlar footrot ou
fascíola hepática, também são fontes de intoxicação (ALBINSON, 1975).
No RS, a ICC vem sendo diagnosticada em ovinos estabulados e alimentados
com rações comerciais (RIBEIRO et al, 1985), pois esses animais recebem
quantidade de ração acima da sua exigência em virtude da preparação para
exposições. A primeira referência de ICC em ovinos estabulados no Brasil foi em
1966, em animais exibidos na Exposição Estadual de Animais de Porto Alegre, RS,
sendo a ingestão continuada de dietas com altos níveis de cobre durante a
preparação dos animais para a feira somado a situações estressantes, como a
viagem para a feira e a mudança de ambiente, fatores determinantes para o
desencadeamento desse quadro (GALVÃO & WILLIAMS, 1966). Möllerke & Ribeiro
(2005) pesquisaram o teor de cobre em rações comerciais oferecidas a ovinos de
uma feira agropecuária por dois anos consecutivos, encontrando no primeiros ano
média igual a 11,37 ±3,08 mg.kg
-1
e no segundo, 16,37 ±7,00 mg.kg
-1
.
A ICC resulta da ingestão, absorção e mobilização do cobre estocado no
fígado por semanas ou meses para a corrente sangüínea (KIMBERLING, 1988).
estando condicionada ao acúmulo lento do mineral no tecido hepático dos animais
(BOSTWICK, 1982).
Os ovinos têm baixa tolerância ao cobre (WELLS et al., 2000), sendo mais
vulneráveis a ICC do que outros animais de produção, devido ao mecanismo de
excreção biliar do cobre ser menos eficiente (FIGUERA, 2001). Conforme Cavalheiro
& Trindade (1992), o cobre na dieta de ovinos não pode exceder a 10 mg.kg
-1
.
Animais recebendo dieta com níveis superiores a esse são particularmente
suscetíveis a acumular esse metal no tecido hepático e, conseqüentemente, sofrer
de ICC (SOLI, 1980).
A ICC pode ser primária, quando causada pela ingestão de alimentos com
alto conteúdo de cobre; secundária, quando, mesmo os níveis de cobre mantendo-
se abaixo do limite máximo de ingestão diária, acúmulo hepático do mineral em
decorrência do baixo teor de molibdênio nas pastagens ou no concentrado; e
14
hepatógena, quando o cobre e o molibdênio ingeridos estão em níveis normais,
porém acúmulo do mineral devido a lesões hepáticas causadas pela ingestão de
plantas tóxicas compostas por alcalóides pirrolizidínicos (BRIGHTLING, 1988;
PEREIRA & RIVERO, 1993 apud RIET CORREA).
A ingestão de níveis de cobre acima dos tolerados não produz sinais clínicos
enquanto este se acumula no tecido hepático, o que pode levar semanas ou até
mesmo meses (MÉNDEZ, 2001). Quando acumulado, esse mineral se liga a
metaloproteína ceruloplasmina, levando a uma saturação hepática. Condições
estressantes desencadeiam a liberação do metal armazenado para a corrente
sangüínea (KIMBERLING, 1988; MÉNDEZ, 2001; NAVARRE & PUGH; BELKNAP &
PUGH, 2005) e, como o cobre livre ou não ligado é potencialmente hemolítico
(BELKNAP & PUGH, 2005), inibição de enzimas via pentose fosfato e, assim,
redução dos níveis de glutation reduzido, o que causa a oxidação da hemoglobina e
posteriormente anemia hemolítica pela formação dos corpúsculos de Heinz. A
hemólise é intravascular, ocorrendo metemoglobinúria com conseqüente
insuficiência renal aguda, causando a morte do animal (KIMBERLING, 1988;
FIGHERA; MÉNDEZ, 2001).
Ovinos com aptidão têm requerimento diário de cobre igual a 6,0 mg.kg
-1
,
mantendo-se o molibdênio abaixo de 1,5 mg.kg
-1
(GAVILLON & QUADROS, 1976).
Cordeiros em crescimento têm exigência entre 1,0 e 2,9 mg.kg
-1
e ovelhas em
reprodução e/ou lactação entre 4,4 e 5,9 mg.kg
-1
(GRACE, 1983).
A concentração sérica fisiológica de cobre para ovinos varia substancialmente
entre os pesquisadores. Kaneko et al (1997) identificam-na entre 58 e 160 µg.dl
-1
. Já
Underwood & Suttle (1999), entre 57 e 95 µg.dl
-1
, sendo que, para esses autores,
animais com concentrações entre 127 e 158 µg.dl
-1
são potencialmente susceptíveis
e estariam em risco de desenvolver uma crise hemolítica. Kimberling (1988) refere-
se a normocupremia entre 100 e 200 µg.dl
-1
, e Navarre & Pugh (2005) afirmam que
os valores séricos desse metal aumentam de 10 a 20 vezes quando crise
hemolítica aguda.
A concentração de cobre no tecido hepático ovino menor ou igual a 500
mg.Kg
-1
, segundo Bostwick (1982) e Pereira & Rivero (1993), está dentro dos
padrões para a espécie. Ambos concordam que concentrações acima desse valor
tornam os animais predisponentes a uma crise hemolítica. Kimberling (1988) cita que
15
em animais que ingerem quantidades excessivas em poucas semanas, é comum
encontrar níveis hepáticos de cobre entre 1000 e 3000 mg.Kg
-1
.
Rodrigues et al (1995) reuniram dados de 1985 a 1994 de uma feira
agropecuária de Esteio, RS, num total de 16 casos de ICC. Desses casos, cinco
foram necropsiados e o tecido hepático e renal avaliados.. O resultados dessas
análises evidenciou níveis de cobre entre 1485 e 2061 mg.Kg
-1
no tecido hepático e
150 a 411 mg.Kg
-1
no tecido renal.
Durante dois anos, Möllerke & Ribeiro (2005) relataram a observação de um
grupo de ovinos de diversas raças expostos em uma feira agropecuária. A análise da
ração fornecida a eles revelou uma média de 11,37 mg.Kg
-1
de cobre. A mensuração
desse mineral no tecido hepático e no tecido renal dos animais necropsiados foi de
1641 mg.Kg
-1
e 305 mg.Kg
-1
, respectivamente.
No solo, o cobre encontra-se na matéria orgânica e a sua deficiência pode
estar associada ao excesso de calagem ou à aplicação de altos níveis de nitrogênio
e/ou fósforo. A calagem propicia um aumento do pH do solo, tornando o molibdênio,
que é o principal antagonista do cobre, mais disponível. A toxicidade do cobre em
solos de pastejo é improvável, salvo locais onde eram plantadas culturas sujeitas a
pulverizações com cobre, como parreirais e macieiras (BOOM, 2002). Ribeiro et al
(1995) encontraram teores de 60 mg.Kg
-1
na pastagem de solos cultivados com
macieiras, o que resultou na morte de 17,5% de um rebanho ovino. Mais
recentemente, Ribeiro et al (2007) encontraram altos teores de cobre em pastagens
sob videiras adubadas com cama aviária.
Gavillon e Quadros (1976) pesquisaram os teores de cobre e molibdênio nas
pastagens nativas do RS e concluíram que estas possuem quantidades suficientes
desses minerais durante a primavera, estando entre 5,6 a 9,9 mg.Kg
-1
de cobre, com
molibdênio mantendo-se abaixo de 1,0 mg.Kg
-1
. Durante o verão, os valores tornam-
se muito próximos dos limítrofes para os ovinos, porém as reservas hepáticas de
cobre feitas durante a primavera permitem que os animais passem por esta estação
sem sofrer conseqüências de hipocupremia. Para esses autores, qualquer aporte
extra de cobre em ovinos criados em pastoreio no RS poderá induzir a um quadro de
ICC, dada a falta de molibdênio para obstaculizar sua absorção. Em outra pesquisa,
Cavalheiro & Trindade (1992) obtiveram um teor médio de cobre no solo da região
da campanha do RS de 5,0 mg.Kg
-1
, levando-se em conta as variações nas quatro
estações do ano.
16
Os sinais clínicos da ICC somente tornar-se-ão reconhecidos quando houver
a presença de fatores estressantes (BLAKLEY, 2006). Imediatamente antes e
durante a crise hemolítica, os sinais clínicos mais reconhecidos são taquipnéia,
fraqueza, polidipsia, xifose, inapetência, apatia, dor abdominal, febre, diarréia, urina
vermelho-amarronzada, icterícia e isolamento do rebanho. Animais encontrados
mortos e com sinais de hemólise e icterícia também se juntam aos achados da ICC
(BOSTWICK, 1982; BRIGHTLING, 1988; PUGH, 2001). Em um rebanho afetado, as
mortes ocorrem em poucas semanas e a maioria dos animais morre entre 3 e 5 dias
após os sinais se tornarem aparentes. Animais que não morrem em uma semana
tendem a recuperar-se, mas tornam-se subdesenvolvidos quando comparados a
animais sadios (BRIGHTLING, 1988).
No exame clinico-patológico é possível encontrar anemia, hemoglobinemia,
hiperbilirrubinemia, aumento da atividade das enzimas hepáticas e azotemia. A
urinálise revela hemoglobinúria e isostenúria que, somada a azotemia, indica
insuficiência renal aguda. Durante a necropsia, a determinação do teor de cobre nos
rins é o exame de maior valor diagnóstico, uma vez que a concentração hepática
pode estar normal em virtude da liberação do mineral para a corrente sangüínea.
Uma concentração renal superior a 100 mg.Kg
-1
e hepática a 350 mg.Kg
-1
o
indicadores para diagnóstico, porém o diagnóstico definitivo requer a dosagem do
nível sérico de cobre (NAVARRE & PUGH, 2005).
O tratamento indicado para a ICC varia na quantidade, freqüência e tempo de
administração, porém vários autores concordam que o molibdato de amônia e o
sulfato de dio são os produtos de eleição. Kerr & McGavin (1991) indicam o uso
de 300 mg de molibdato de amônia e 500 mg de sulfato de sódio por animal, por via
oral (VO) diariamente durante quatro semanas. Kimberling (1988) indica o uso de
50 a 100 mg de molibdato de amônia e 0,5 a 1,0 g de sulfato de sódio diariamente,
VO, para cada animal, durante três semanas. Ribeiro et al (1995) utilizaram 100 mg
de molibdato de amônia e 1 g de sulfato de sódio, VO, por animal, durante 10 dias,
em um rebanho remanescente que era mantido em pomar de macieira. Humphries
et al (1988) controlaram a fase aguda da ICC em 12 animais através da
administração de tetratiomolibdato de amônia por via subcutânea, a cada 48 horas.
17
2.2 AST e GGT
O uso de provas bioquímicas ricas, através da mensuração de AST e GGT
para a detecção precoce da crise hemolítica e diagnóstico da ICC em ovinos, vem
sendo estudada desde os anos 60, porém ainda muita disparidade entre os
pesquisadores quanto às concentrações ricas fisiológicas dessas enzimas. Para
Blood & Radostits (1989), concentrações séricas de AST entre 260 e 350 UI e de
GGT igual ou menor a 70 UI indica a funcionalidade desses órgãos. para Kaneko
et al (1997), têm outra variação. Para esses autores, a AST em níveis igual ou
menor a 90 UI e a GGT entre 20 e 52 UI é a tradução da boa saúde do animal
testado.
A AST é uma enzima encontrada no citosol e na mitocôndria celular. É mais
abundante no fígado, eritrócitos e nos músculos esquelético e cardíaco. O aumento
dessa enzima é observado em hepatite infecciosa e tóxica, cirrose, obstrução biliar e
fígado gorduroso, deficiência de selênio e vitamina E, exercício físico intenso e
hemólise. Em ruminantes, é um bom indicador do funcionamento hepático. A
presença dessa enzima em vários tecidos a torna não-especifica, porém muito útil
como um marcador de dano tecidual.
A GGT é uma enzima associada às membranas, estando também no citosol,
especialmente dos ductos biliares e renais. Quando encontrada no plasma é de
origem hepática, indicando colestase e proliferação de ductos biliares, cirrose e
colangiocarcinoma.
Diferentes concentrações séricas de AST são relatadas em ovinos
sobreviventes de rebanhos acometidos pela ICC. Conforme Möllerke & Bernhard
(2002), a variação encontrada está diretamente relacionada ao tempo de exposição
dos animais ao cobre. Kerr & McGavin (1991) relataram a morte de oito ovinos que
pastoreavam em locais adubados com esterco suíno, encontrando concentração
sérica média dessa enzima igual a 2040 UI. Em seu estudo, Ribeiro et al (1995)
encontraram valores iguais a 334,50 ±175,50 UI e llerke & Bernhard (2002) a
1030,80 ±263,33 UI. Em outro estudo, Ribeiro et al (2007) encontraram 403,30 UI
em ovinos que pastoreavam pomares de videira adubados com cama aviária.
Lemos et al (1997) monitoraram um grupo de animais através da
concentração rica de AST e GGT e observaram elevação de GGT entre duas e
18
três semanas antes do surgimento dos sinais clínicos de ICC, sugerindo que essa
enzima é o melhor parâmetro para avaliação da lesão hepática.
3. CAPÍTULO 1
Cobre sérico e enzimas relacionadas ao seu metabolismo medidos em ovinos preparados
para exposição e criados a campo na região da Depressão Central do Estado do Rio
Grande do Sul
Serum copper and copper related liver enzymes in show sheep and sheep raised under field
conditions in the Central Depression region of Rio Grande do Sul State, Brazil
Ubiratã Rezler
I
; Luiz Alberto Oliveira Ribeiro
II
; Carla Menger Lehugeur
II
; Gustavo Felipe
Lopes
II
; Samuel Carnesella
II
; Fernando Magalhães de Souza
II
, Andreane Fillappi
I
, Danívia
Prestes
I
, Marcelo Cecim
I
Resumo
O objetivo desse trabalho foi identificar as concentrações séricas de cobre e enzimas
aspartatoaminotransferase (AST) e gamaglutamiltransferase (GGT), tanto em ovinos
preparados para exposição como criados a campo, a fim de contribuir para a formação de
valores de referência e auxiliar no diagnóstico e prognóstico da saúde desses animais.
Colheram-se 120 amostras de sangue de animais de exposição e 110 de animais de campo,
independente de sexo, raça e idade. Os níveis séricos médios de cobre, AST e GGT dos
animais de exposição e a campo foi igual a 66,14 ±9,76 e 62,01 ±16,36 µg.dl
-1
(P<0,0357);
I
Programa de Pós-graduação em Medicina Veterinária, Departamento de Clínica de Grandes Animais,
Universidade Federal de Santa Maria, (UFSM), Avenida Roraima, 1000, CEP 97105-900, Santa Maria, RS,
Brasil. E-mail:
[email protected]m.br. Autor para correspondência.
II
Departamento de Medicina Animal, Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Avenida Bento
Gonçalves, 9090, CEP 91540-000, Porto Alegre, RS, Brasil.
20
85,01 ±40,02 e 65,58 ±16,19 UI (P<0,0001); 41,02 ±10,61 e 41,91 ±9,49 UI, respectivamente.
Em conclusão, as médias do elemento cobre de animais preparados para exposição
mostraram-se dentro dos valores de referência e as de alguns animais mantidos a campo
abaixo do intervalo fisiológico. Os níveis séricos de AST e GGT aumentados no grupo
exposição parecem não estar relacionados com o acúmulo hepático de cobre.
Palavras chave: aspartatoaminotransferase, gamaglutamiltransferase, intoxicação crônica por
cobre, ovinos.
Abstract
The objective of the present work was to identify serum copper levels and
aspartateaminotransferase (AST) and gamagluthamyl transferase (GGT) activity in purebred
show and field raised sheep and to contribute to formation of regional reference values. Blood
samples of 120 show sheep and 110 field raised animals were collected independently of age,
sex and breed. Means serum levels of copper for show and field sheep 66.14 ± 9.76 and 62.01
±16.36 µg.dl
-1
(P<0.0357), respectively; AST activity was higher in show sheep than in field
animals (85.01 ±40.02 vs. 65.58 ±16.19 IU, P<0.0001); GGT activity for same groups was
41.02 ±10.61 and 41.91 ±9.49 IU with no differences between them. In conclusion, serum
copper levels in all show animals were within international reference values, whereas field
raised animals presented several individuals that fell bellow the lower limit. Serum activitiy of
AST and GGT appear not to be related to copper metabolism in these animals.
Key words: aspartatoaminotransferase, gamagluthamyltransferase, copper poisoning, sheep .
21
Introdução
No Rio Grande do Sul (RS), após a crise da dos anos 70, a criação de ovinos com
aptidão carne cresceu acentuadamente, tornando-se comum doenças de origem metabólica e
nutricional, destacando-se a Intoxicação Crônica por Cobre (ICC).
Segundo SOLI (1980), os ovinos são mais vulneráveis a essa alteração do que outras
espécies de produção, sendo que essa sensibilidade é atribuída ao mecanismo de excreção de
cobre pelo sistema biliar ser menos eficiente (FIGUERA, 2001).
No RS, a ICC vem sendo diagnosticado em ovinos estabulados e alimentado com
rações comerciais (RIBEIRO et al., 1995), pois esses animais recebem grande quantidade de
ração em virtude da sua preparação para exposições. A primeira referência de ICC em ovinos
no Brasil foi em 1966 em animais exibidos na Exposição Estadual de Animais de Porto
Alegre, RS, sendo a ingestão continuada de dietas com altos níveis de cobre e situações
estressantes como a viagem para a feira e a mudança de ambiente, fatores considerados
determinantes para o desencadeamento desse quadro (GALVÃO & WILLIAMS, 1966). Mais
recentemente, LLERKE & RIBEIRO (2005) pesquisaram, por dois anos consecutivos, o
teor de cobre em rações comerciais oferecidas a ovinos de uma feira agropecuária. Os valores
médios encontrados foram 11,3 ±3,0 e 16,3 ±7,0 mg.kg
-1
, respectivamente, no primeiro e no
segundo ano de observação. Conforme WELLS et al. (2000), esses valores encontram-se
acima dos tolerados pela espécie, que é de até 10 mg.kg
-1
ao dia (CAVALHEIRO &
TRINDADE, 1992). A ICC tem sido registrada em ovinos submetidos a dietas contendo
valores superiores a 25 mg.kg
-1
de cobre e, quando esta dieta conter molibdênio e sulfato em
quantidades inferiores às necessárias, acima de 15 mg.kg
-1
(RADOSTITS, 2007).
22
Mensurações das concentrações séricas das enzimas aspartatoaminotransferase (AST)
e gamaglutamiltransferase (GGT), além do cobre, vêm sendo estudadas a fim de auxiliar no
diagnóstico e tratamento dessa doença. De acordo com MÖLLERKE & BERNHARD (2002),
a variação das concentrações enzimáticas encontradas a campo está diretamente relacionada
ao tempo de exposição dos animais ao cobre. LEMOS et al. (1997) monitoraram grupos de
ovinos através das concentrações séricas de AST e GGT. Cada animal recebeu, diariamente,
quantidades entre 15 e 120 mg.kg
-1
de cobre. Os autores observaram elevação das
concentrações de GGT entre duas e três semanas antes do surgimento dos sinais clínicos de
ICC, sendo que as concentrações de AST elevaram-se somente durante ou imediatamente
antes da crise hemolítica, e sugeriram que a avaliação das concentrações séricas de GGT seria
o melhor parâmetro para avaliação prévia de lesão hepática.
Devido às divergências existentes na literatura sobre os valores fisiológicos de cobre,
AST e GGT, e pela pouca informação de referência locais, foi conduzido o presente trabalho.
O principal objetivo do mesmo foi verificar as concentrações séricas de cobre e enzimas AST
e GGT em ovinos preparados para exposição e criados a campo, a fim de contribuir para a
formação de valores de referência e auxiliar no diagnóstico e prognóstico da saúde desses
animais.
Material e Métodos
O presente experimento foi dividido em dois estudos. O primeiro estudo, denominado
“grupo exposição” (GE), consistiu na colheita de amostras de sangue de ovinos criados para
exposição. Todos os animais estavam presentes na 29ª edição da Exposição Internacional de
Animais, Máquinas, Implementos e Produtos Agropecuários do Rio Grande do Sul (29ª
Expointer), em Esteio, RS, e as coletas foram feitas nos meses de agosto e setembro de 2006;
23
o segundo grupo, denominado “grupo campo” (GC), consistiu na colheita de amostras de
sangue de ovinos criados a campo no município de Pantano Grande, RS, em outubro de 2006.
Ambos os grupos foram selecionados ao acaso, independente de raça, sexo ou idade.
Do GE, 120 animais, com idade variando entre um e dois anos, foram submetidos à colheita.
Esses animais permaneciam em baias individuais, recebiam água ad libidum e alimentação
baseada em ração comercial, feno e pastagem. Do GC, foram submetidos à colheita 110
animais, com idades variando entre um e quatro anos. Esses animais recebiam água ad
libidum e sua alimentação baseada apenas em pastoreio de campo nativo.
As amostras de ambos os grupos foram colhidas através de punção da veia jugular,
usado tubos vacutainer (Becton-Dickinson, Rutherford, NJ, USA) de 10 ml, sem
anticoagulante. Foram centrifugadas a 2500 rpm, durante 15 minutos, e o soro armazenado
em tubos de 1,5 ml do tipo eppendorf , identificados e congelados para posterior análise.
A concentração sérica de AST e GGT foi determinada através de kit comercial
(Labtest, Minas Gerais, Brasil), e do cobre sérico através de espectrofotometria de absorção
atômica (Espectrofotômetro GBC 932AA, modo de absorção com chama de ar + acetileno),
conforme técnica descrita por FICK et al. (1980) . A estatística constou de uma análise de
variância ANOVA, sendo a comparação entre médias feita pelo teste “t” de Student.
Resultados e Discussão
As médias dos resultados das análises de cobre, AST e GGT estão reunidos na tabela
1. As concentrações séricas de cobre dos dois grupos, na sua grande maioria, ficaram dentro
dos padrões sugeridos por KANEKO et al. (1997) e UNDERWOOD & SUTTLE (1999). A
análise dos dados, por outro lado, mostrou que quase a metade dos animais do GC (33/72) e
alguns animais do GE (24/106) revelaram concentrações de cobre abaixo do vel nimo
24
para a espécie mencionado na literatura. Esses resultados são mostrados graficamente na
figura 1. Concentrações normais de cobre no soro de ovinos criados a campo no RS não são
disponíveis, sendo os dados aqui apresentados a primeira referência na literatura. Casos de
carência ou mesmo intoxicação por esse elemento não têm sido registrados em nosso meio.
Os veis de cobre verificados em pastagens do RS por GAVILON & QUADROS (1976) de
5,3 mg.kg
-1
parecem suprir as necessidades da espécie. Entretanto, os mesmos autores
encontraram níveis de molibdênio no pasto de 0,1 mg.kg
-1
, o que estaria nos valores limítrofes
necessários para interferir com a absorção do cobre. Finalmente, a literatura cita valores de
cobre sérico entre 126 e 158 µg.dl
-1
como zona potencialmente hemolítica para a espécie
ovina (KANEKO et al., 1997; UNDERWOOD & SUTTLE,1999). Tomando por base esses
dados aqui apresentados, nenhum animal de ambos os grupos está dentro da zona de risco
sugerida.
Os animais com concentrações séricas de cobre abaixo do mínimo indicado por
KANEKO et al. (1997) podem estar sofrendo de carência do mineral ou aporte maior de
minerais quelantes do cobre em sua alimentação. Conforme pesquisa anteriormente citada,
pastagens do RS mostraram que essas não sofrem nem de excesso nem de carência de cobre.
Foi, entretanto, identificada uma leve carência de molibdênio, mineral que obstaculiza a
absorção de cobre. A falta de molibdênio para obstaculizar o maior aporte de cobre, causado
pelo uso de concentrado, poderia ser o responsável pelas concentrações séricas de cobre mais
elevadas, encontrado nas amostras dos animais do GE (66,14 µg.dl
-1
), comparado com o GC,
que foi de 62,01 µg.dl
-1
(P<0,001).
As concentrações séricas de AST nos grupos estudados são mostradas na tabela 1 e na
figura 2. É possível identificar que a grande maioria dos animais de ambos os grupos
(162/198) está dentro dos padrões fisiológicos sugeridos para a espécie por KANEKO et al.
(1997). Alguns animais do GC (5/97) têm suas concentrações séricas de AST acima dos
25
padrões fisiológicos. Dos animais do GE, um terço deles (34/101) está com as concentrações
de AST acima do proposto pelos mesmos autores. As concentrações séricas médias de AST
encontradas em ovinos no RS criados em pomares de macieiras e de videiras, adubadas com
cama aviária, foram respectivamente 274 e 172 UI (RIBEIRO et al., 1995; RIBEIRO et al.,
2007). Nesses casos, os animais estavam submetidos à dieta com níveis elevados de cobre, o
que ocasionou a morte de vários deles. LLERKE & BERNHARD (2002), estudando
concentrações de AST em ovinos expostos em feira internacional, encontraram valores entre
274 e 339 UI, bem acima dos aqui relatados, mas também nesse caso os animais recebiam
concentrado, o que poderia elevar o aporte de cobre. Assim, o valor médio da concentração
sérica de AST encontrado no GC pode ser tomado normal para ovinos em pastoreio no RS.
Contrariamente do que foi observado para a AST, o valor encontrado da enzima GGT
não revelou diferença entre os grupos. Os valores encontrados para essa enzima estão dentro
da normalidade da espécie e bem abaixo dos considerados de risco de ICC, conforme
mostram os dados da tabela 1 e figura 3.
Conclusões
Como conclusões, pode-se sugerir que:
1. O resultado das análises das variáveis cobre e GGT mostrou-se dentro dos parâmetros
fisiológicos indicados pelos autores, sugerindo que nenhum dos animais testados
encontra-se dentro de zona de risco de ICC;
2. Há diferença estatística na análise da AST dos animais dos grupos campo e exposição.
Essa diferença pode estar relacionada com o maior desafio hepático dos animais do
grupo exposição, em virtude da carga alimentar que esses animais são submetidos na
26
preparação para a feira, além do estresse conferido pelo transporte e pela manutenção
dos animais na feira;
3. uma relativa deficiência sérica de cobre nos animais do grupo campo, sugerindo
uma possível deficiência na interação do mineral cobre e seus quelantes;
Referências
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27
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WELLS, N.H. et al. Serum profiles in ewe lambs fed commercial feed with accidentally
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Agradecimentos
À Vanessa Esteves, mestranda do Laboratório de Análises Clínicas Veterinárias da
UFRGS, pelo auxílio na preparação das amostras.
À professora Mariângela, à residente Ana Carolina e à laboratorista Fabiana, do
Laboratório de Patologia Clínica da ULBRA, por disponibilizar os equipamentos para a
análise das amostras.
28
Tabela 1. Concentrações séricas médias do elemento cobre e enzimas AST e GGT medidas
em ovinos machos e fêmeas preparados para exposição e criados a campo na região da
Depressão Central do Estado do Rio Grande do Sul.
COBRE
(58-160 µg.dl
-1
)
AST
(0-90 UI)
GGT
(20-52 UI)
EXPOSIÇÃO
66,14 ±9,76 85,01 ±40,02 41,02 ±10,61
CAMPO
62,01 ±16,36 65,58 ±16,19 41,91 ±9,49
29
0,00
50,00
100,00
150,00
200,00
Amostras
Cobre (µg.dl-1)
campo
exposição
Figura 1.
Concentrações séricas de cobre medidas em ovinos machos e fêmeas
preparados para exposição e criados a campo na região da Depressão
Central do Estado do Rio Grande do Sul.
30
0,00
50,00
100,00
150,00
200,00
Amostras
AST (UI)
campo
exposição
Figura 2
.
Concentrações séricas da enzima AST medidas em ovinos machos e
fêmeas preparados para exposição e criados a campo na região da
Depressão Central do Estado do Rio Grande do Sul.
31
0,00
25,00
50,00
75,00
100,00
Amostras
GGT (UI)
campo
exposição
Figura 3.
Concentrações séricas da enzima GGT medidas em ovi
fêmeas preparados para exposição e criados a campo na região da
Depressão Central do Estado do Rio Grande do Sul.
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