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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS
CENTRO DE CIÊNCIAS EXATAS E DE TECNOLOGIA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA DE PRODUÇÃO
ESFORÇO PARA INOVAÇÃO TECNOLÓGICA: UMA CARACTERIZAÇÃO DA
INDÚSTRIA DE ALIMENTOS DO MUNICÍPIO DE MARÍLIA/SP
Andréia de Abreu
SÃO CARLOS
2007
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ESFORÇO PARA INOVAÇÃO TECNOLÓGICA: UMA CARACTERIZAÇÃO DA
INDÚSTRIA DE ALIMENTOS DO MUNICÍPIO DE MARÍLIA/SP
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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS
CENTRO DE CIÊNCIAS EXATAS E DE TECNOLOGIA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA DE PRODUÇÃO
ESFORÇO PARA INOVAÇÃO TECNOLÓGICA: UMA CARACTERIZAÇÃO DA
INDÚSTRIA DE ALIMENTOS DO MUNICÍPIO DE MARÍLIA/SP
Andréia de Abreu
Dissertação de Mestrado apresentada ao
Programa de Pós-Graduação em Engenharia
da Produção da Universidade Federal de São
Carlos, como parte dos requisitos para
obtenção do Título de Mestre em Engenharia
de Produção.
Orientador:Prof. Dr. José Flávio Diniz Nantes
SÃO CARLOS
2007
Ficha catalográfica elaborada pelo DePT da
Biblioteca Comunitária da UFSCar
A162ei
Abreu, Andréia de.
Esforço para inovação tecnológica : uma caracterização
da indústria de alimentos do município de Marília/SP /
Andréia de Abreu. -- São Carlos : UFSCar, 2007.
185 f.
Dissertação (Mestrado) -- Universidade Federal de São
Carlos, 2007.
1. Inovações tecnológicas. 2. Alimentos - indústria. 3.
Cooperação para inovação. 4. Aprendizagem
organizacional. 5. Estratégia tecnológica. I. Título.
CDD: 658.4063 (20
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)
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~ -1'
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA DE PRODUÇÃO
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO
Rod, Washington Luis, Km. 235 - CEP,13565-905- São Carlos- SP - Brasil
Fone/Fax: (016) 3351-8236 /3351-8237 /3351-8238 (ramal: 232)
FOLHA DE APROVAÇÃO
Aluno(a): Andréia de Abreu
DISSERTAÇÃO DE MESTRADO DEFENDIDA E APROVADA EM 02/10/2007 PELA
COMISSÃO JULGADORA:
prai~n;es
Orientador(a) PPGEP/UFSCar
~~J
ProF DraRosane Lúcia Chicarelli Alcântara
PPGEP/UFSCar
~W{l; cIv flJw J&UJ0
ProF DraRoberta de Castro Souza
DEP/Centro Universitário FEl
)",
(Jd)l3j~~
Prot. Dr. Mário Otávio Batalha
Coordenador do PPGEP
Dedico este trabalho àqueles que têm sido minha
fonte de segurança, exemplo e alegria: meu pai
Luiz Eduardo, minha mãe Mildis, meu irmão
Rafael e meu companheiro Raul.
AGRADECIMENTOS
A realização deste trabalho somente se tornou possível com a ajuda de pessoas que, de
diversas formas, colaboraram comigo ao longo de sua elaboração. Diante da importância de
todas elas, as palavras se tornam insuficientes para expressar todo o meu agradecimento.
Sendo assim, além das palavras, recebam igualmente meus profundos sentimentos de
gratidão, carinho, respeito e admiração. Especialmente agradeço:
Ao meu orientador Prof. Dr. José Flávio Diniz Nantes: obrigada pela grande ajuda, pela
atenção sempre presente, pela compreensão por eu ter que dividir o meu tempo entre a
dissertação e o meu trabalho, por ter sido tão próximo e tão amigo e, acima de tudo, pelos
importantes ensinamentos que aprendi com você ao longo das orientações.
Ao meu amigo e sempre professor Prof. Dr. Márcio Antonio Teixeira: obrigada Márcio por
todos os ensinamentos aos longo desses seis anos de convivência, pelo incentivo à pesquisa,
pelas oportunidades de estágio durante a graduação, por ter me ajudado a escrever meu
projeto de pesquisa e por hoje dividir comigo a sala de aula, o que na verdade, é uma grande
honra. Obrigada pela oportunidade de ser você um dos meus exemplos de profissional.
A amiga Profª. Ms. Vânia Érica Herrera: obrigada por ter me “adotado” na graduação e por
ter sido tão incentivadora para que eu fizesse o mestrado, pela ajuda nas publicações, pelo seu
carinho e pela sua amizade.
Ao meu companheiro Raul: obrigada meu querido por tudo! Por ser sempre meu maior
incentivador, por compreender os momentos de ausência, por sempre me ajudar nos
momentos de angústia, por apreciar meu trabalho, por me ajudar a crescer como pessoa.
Tenho por você uma profunda admiração e um profundo respeito e gratidão.
Ao meu irmão Rafael: obrigada por ter sido “todo ouvidos” quando eu precisava desabafar as
angústias, os medos e incertezas e, sobretudo, por ser tão amigo, irmão de verdade, na
verdadeira acepção da palavra.
A todos aqueles que colaboraram e torceram por mim durante este trabalho: amigos e amigas,
colegas de trabalho do UNIVEM e entre estes, em especial à Profª. Ms. Marisa Rossinholi,
colegas do DEP, familiares, à Nina e aos empresários e administradores que me receberam, de
forma tão atenciosa, nas empresas estudadas.
E, a voces meus pais, Luiz Eduardo e Mildis: a ordem com que aparecem nesta gina é
inversa à gratidão que tenho explanado a essas pessoas. A maior gratidão, o maior amor, o
maior respeito é para voces. Obrigada por serem os exemplos da minha vida. Espero um dia
poder retribuir tudo o que voces tem sido para mim.
RESUMO
Diante do atual cenário empresarial, no qual novos padrões de competitividade
foram estabelecidos, as empresas têm sido forçadas a procurarem novas formas de atuação
para sobreviver no mercado. Entre as inúmeras formas, destacam-se aquelas que privilegiam o
desenvolvimento de inovações tecnológicas e o estabelecimento de relações de cooperação
entre diversos parceiros. Na indústria de alimentos, a realidade é a mesma. O
desenvolvimento de inovações tecnológicas tem se tornado cada vez mais importante, pois as
novas tecnologias, além de serem capazes de fornecer produtos que o mercado deseja, têm o
objetivo de garantir a segurança do alimento durante o processo de produção e no seu estado
de produto final, pronto para consumo. Uma outra forma encontrada pelas empresas deste
segmento para superar as dificuldades e tornarem-se mais inovadoras é a inserção em arranjos
cooperativos. Isto ocorre devido ao fato de não possuírem todos os recursos necessários ou
porque desejam reduzir os riscos associados à inovação. De acordo com este cenário, este
trabalho tem como objetivo caracterizar o esforço para a inovação tecnológica e as relações de
cooperação para inovação em empresas alimentícias do município de Marília/SP,
possibilitando identificar ações que possam auxiliar o desenvolvimento e a adoção de
tecnologia nas empresas estudadas. Além disso, este trabalho visa identificar e avaliar como
são estabelecidas relações de cooperação para a introdução de inovações nessas empresas.
Para que os objetivos fossem alcançados, foram realizados estudos de caso em quatro
empresas alimentícias do município. Como resultado, foi constatado que as empresas
estudadas promoveram importantes esforços visando o desenvolvimento de inovações
tecnológicas em produto, em processo ou em ambas.
Palavras-chave
: Inovação tecnológica. Cooperação para inovação. Indústria de alimentos
ABSTRACT
In the light of the entrepreneurial scenario, in which new competitiveness
patterns were established, companies have been forced to search for new manners of action in
order to survive the market. Among these forms, it is highlighted those which favor the
development of technological innovations and the establishment of cooperation relationships
among several partners. This same reality applies to the foodstuff industry. The development
of technological innovations has been increasingly important since they are capable of
providing the products the market need, as well as aimed at guaranteeing food safety
throughout its production and as final good already ready to consumption. Another manner
the companies adopt to overcome troubles and become more innovative is the insertion in
cooperative ventures, which occurs because these companies do not have necessary resources,
including knowledge to adopt and transfer innovation to their products and processes, or
because they want to reduce the risks related to innovation practices. According to this
scenario, the present work in intended for characterizing the efforts to establish technological
innovation and cooperative relationships to innovation on foodstuff companies based in
Marília, São Paulo, thus making possible to identify actions to aid the development and
adoption of technologies in the companies studied. Besides, this work is aimed at identifying
and evaluating how these cooperation relationships are established. In order to do so, case
studies were carried out in four foodstuff companies. As a result, it was verified that the
companies promoted a great deal of effort in order to introduce technological innovation to
their products, processes or both.
Keywords
: Technological Innovation, Cooperation to Innovate. Foodstuff Industry
LISTA DE TABELA
TABELA 1.
Caracterização das empresas inovadoras envolvidas em arranjos cooperativos
para inovação no período de 1998 a 2000 ............................................................................ 87
TABELA 2.
Caracterização geral das empresas estudadas................................................. 100
TABELA 3.
Número de pessoas ocupadas em atividades de P&D..................................... 105
TABELA 4.
Número de pessoas ocupadas em atividades de P&D..................................... 116
TABELA 5.
Número de pessoas ocupadas em atividades de P&D..................................... 128
TABELA 6.
Número de pessoas ocupadas em atividades de P&D..................................... 141
LISTA DE QUADRO
QUADRO 1.
Habilidades e conhecimentos necessários para a melhoria do PDP................. 71
QUADRO 2.
Mecanismos de aprendizagem, características e tipo de inovação .................. 85
QUADRO 3.
Principais dificuldades à inovação tecnológica e suas respectivas relevâncias109
QUADRO 4.
Síntese das informações relativas ao processo de cooperação....................... 113
QUADRO 5.
Síntese da caracterização da micro empresa ................................................. 114
QUADRO 6.
Principais dificuldades à inovação tecnológica e suas respectivas relevâncias121
QUADRO 7.
Síntese da caracterização da pequena empresa.............................................. 126
QUADRO 8.
Principais dificuldades à inovação tecnológica e suas respectivas relevâncias134
QUADRO 9.
Síntese das informações relativas ao processo de cooperação....................... 138
QUADRO 10.
Síntese da caracterização da média empresa............................................... 139
QUADRO 11.
Principais dificuldades à inovação tecnológica e suas respectivas relevâncias147
QUADRO 12.
Síntese das informações relativas ao processo de cooperação..................... 153
QUADRO 13.
Síntese da caracterização da grande empresa.............................................. 154
LISTA DE FIGURAS
FIGURA 1.
Diagramação da pesquisa................................................................................. 91
LISTA DE ABREVIATURAS
ABIA Associação Brasileira das Indústrias da Alimentação
ABICAB Associação Brasileira de Indústrias de Chocolates, Cacau, Amendoim, Balas e
Derivados
ADIMA Associação das Indústrias de Alimentos de Marília
APPCC Análise de Perigos e Pontos Críticos de Controle
BA Bahia
BPF Boas Práticas de Fabricação
CIESP Centro das Indústrias do Estado de São Paulo
C&T Ciência e Tecnologia
EMN’s Empresas Multinacionais
GASPIL Glossário de Arranjos e Sistemas Produtivos e Inovativos Locais
IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
MCT Ministério da Ciência e Tecnologia
OCDE Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico
OECD Organisation for Economic Co-operation and Development
P&D Pesquisa e Desenvolvimento
PDP Processo de Desenvolvimento de Produto
PIB Produto Interno Bruto
PINTEC Pesquisa Industrial de Inovação Tecnológica
PME’s Pequenas e Médias Empresas
SEBRAE Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas
SECEX Secretaria de Comércio Exterior
SENAI Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial
SP São Paulo
STIAM Sindicato dos Trabalhadores das Indústrias de Alimentação e Afins de Marília
e Região
TRI Technology Readiness Index
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO
............................................................................................................... 14
1.1 Apresentação.................................................................................................................. 14
1.2 Contextualização da pesquisa......................................................................................... 16
1.3 Justificativas .................................................................................................................. 22
1.4 Questões e proposições da pesquisa................................................................................ 23
1.5 Objetivos........................................................................................................................ 24
1.5.1
Objetivo geral ............................................................................................................. 24
1.5.2 Objetivos específicos................................................................................................... 24
1.6 Contribuições esperadas................................................................................................. 25
1.7 Estrutura da dissertação ................................................................................................. 25
2 INOVAÇÃO TECNOLÓGICA
...................................................................................... 27
2.1 Base conceitual .............................................................................................................. 27
2.2 Aprendizagem tecnológica............................................................................................. 32
2.3 Processo de adoção e difusão de inovações tecnológicas ................................................ 36
2.3.1
Padrões de inovação tecnológica ................................................................................. 38
2.3.2 Estratégias tecnológicas............................................................................................... 41
2.3.3 Limitações para adoção de inovações tecnológicas ..................................................... 45
2.4 Paradigmas para adoção de inovações tecnológicas........................................................ 47
2.4.1 Paradigmas tecnológicos ............................................................................................. 47
2.4.2 Paradigmas organizacionais......................................................................................... 49
2.4.3 Predisposições organizacionais para a inovação tecnológica........................................ 54
2.5 Inovação tecnológica na indústria de alimentos.............................................................. 57
2.5.1 Características e entraves à inovação tecnológica ........................................................ 57
2.5.2 Hábitos de consumo alimentar..................................................................................... 65
2.5.3 Desenvolvimento de produtos na indústria de alimentos.............................................. 67
3 COOPERAÇÃO PARA INOVAÇÃO TECNOLÓGICA
............................................. 73
3.1 Redes de inovação.......................................................................................................... 76
3.2 Sistemas locais de produção .......................................................................................... 80
3.2.1 Teoria dos meios inovadores ...................................................................................... 82
3.2.2
Teoria dos clusters ...................................................................................................... 83
3.3 Cooperação para inovação tecnológica na indústria brasileira......................................... 85
3.4 Cooperação na indústria de alimentos............................................................................. 88
4 MÉTODOS DE PESQUISA
........................................................................................... 91
4.1 Etapas da pesquisa ......................................................................................................... 91
5 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS
................................................ 99
5.1 Caracterização geral das empresas.................................................................................. 99
5.2 Caracterização dos indicadores de inovação tecnológica e cooperação para inovação... 104
5.2.1 Micro empresa .......................................................................................................... 105
5.2.2 Pequena empresa....................................................................................................... 115
5.2.3 Média empresa.......................................................................................................... 128
5.2.4 Grande empresa ........................................................................................................ 141
5.3 Considerações sobre os casos estudados....................................................................... 155
5.3.1 Atividades internas de P&D ...................................................................................... 155
5.3.1.1 Inovação em produto e processo............................................................................. 157
5.3.2 Demais indicadores de inovação tecnológica............................................................. 159
5.3.3 Cooperação para inovação......................................................................................... 161
5.4 Ações para dinamização das inovações tecnológicas .................................................... 163
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
........................................................................................ 164
6.1 Limitações da pesquisa................................................................................................. 166
6.2 Sugestões para pesquisas futuras.................................................................................. 166
REFERÊNCIAS
............................................................................................................... 167
APÊNDICE A
.................................................................................................................. 177
14
1 INTRODUÇÃO
1.1
Apresentação
Nas últimas décadas, o cenário empresarial tem presenciado profundas
modificações que têm afetado diretamente as empresas, definindo novas formas de atuação no
mercado. Novos padrões de competitividade foram estabelecidos, forçando as empresas a
procurarem novas formas de organização e cooperação para sobreviver no mercado.
De acordo com De Negri e Salerno (2005), é possível afirmar que a conduta
das empresas diante do novo ambiente competitivo ainda não foi devidamente entendida,
pouco se conhecendo sobre as estratégias competitivas adotadas em resposta ao desafio
colocado pela intensificação da competição nos diferentes mercados. Entre estas estratégias, a
inovação tecnológica tem se apresentado como fundamental para a competitividade.
Segundo a Pesquisa Industrial de Inovação Tecnológica (PINTEC)
1
, realizada
pelo IBGE entre os anos 2001 e 2003, a inovação tecnológica é definida pela implementação
de produtos ou processos tecnologicamente novos ou substancialmente aprimorados. A
implementação do produto ocorre quando o mesmo é introduzido no mercado e a do processo
no momento em que este passa a ser operado pela empresa.
Um produto tecnologicamente novo é aquele cujas características fundamentais
(especificações técnicas, usos pretendidos, software ou outro componente imaterial
incorporado) diferem significativamente de todos os produtos previamente produzidos pela
empresa, enquanto o produto substancialmente aprimorado refere-se àquele previamente
existente, cujo desempenho foi substancialmente aumentado ou aperfeiçoado pela utilização
de matérias-primas ou componentes de maior rendimento, ou por mudanças parciais em um
dos componentes já pertencentes ao produto.
O processo tecnologicamente novo ou substancialmente aprimorado refere-se à
introdução de tecnologia de produção nova ou significativamente aperfeiçoada, assim como
de métodos novos ou substancialmente aprimorados para manuseio e entrega de produtos,
cujo resultado deve ser significativo em termos do vel e qualidade do produto ou redução
dos custos de produção e entrega (PINTEC, 2005).
1
Pesquisa Industrial de Inovação Tecnológica – PINTEC: pesquisa realizada com o objetivo de fornecer
informações para a construção de indicadores das atividades de inovação tecnológica das empresas industriais
brasileiras.
15
Nas indústrias alimentícias, a inovação tecnológica tem se tornado cada vez
mais importante, pois o uso de novas tecnologias, além de serem capazes de fornecer produtos
que o mercado deseja, tem o objetivo de garantir a segurança do alimento durante o processo
de produção e no seu estado de produto final, pronto para consumo.
Portanto, a utilização de recursos tecnológicos é fundamental para enfrentar os
desafios da competição nacional e internacional, particularmente em relação aos novos
padrões de consumo, decorrentes da mudança no estilo de vida e da preferência do
consumidor.
Outro fator que também deve ser considerado no segmento de produtos
alimentícios, relatado por Conceição e Almeida (2005), refere-se à expressiva e crescente
diversificação do mercado, exigindo novas estratégias de gestão comercial que resultem em
produtos diferenciados. Contudo, a inovação neste segmento ocorre numa dinâmica bastante
diferente dos demais, por lidar com hábitos de consumo sensíveis às mudanças de padrões
consolidados, implicando, geralmente, em maiores esforços por parte da empresa.
Além deste fator, o segmento de produtos alimentícios apresenta a
particularidade da inovação estar mais direcionada ao mercado interno do que às exportações.
Por isso, o consumidor interno desempenha um papel fundamental na indução de inovações
tecnológicas neste segmento.
Estes motivos indicam que as empresas que desejam manter ou ampliar sua
participação no mercado necessitam inovar, devendo, portanto, ser proativas no sentido de
desenvolver mudanças significativas em seus processos e produtos.
Segundo Francis e Bessant (2005), inovar exige saber gerenciar e coordenar os
vários recursos internos e externos da organização, como os recursos financeiros, os sistemas
de informação, a disponibilidade de mão-de-obra, as habilidades técnicas e gerenciais
necessárias e o conhecimento acerca da tecnologia que se deseja incorporar.
Além da gestão destes fatores, o gerenciamento de tais recursos implica
também em saber lidar com uma série de paradigmas internos à organização, como burocracia
e restrição às mudanças, modificando-os a fim de possibilitar a inovação.
Dosi (1988b) utiliza a expressão paradigmas tecnológicos para representar os
programas de pesquisa tecnológica baseados em modelos ou padrões de solução de problemas
tecnológicos selecionados, derivados de princípios científicos e procedimentos tecnológicos
igualmente selecionados. Portanto, paradigmas são modelos ou padrões que servem como
marco de referência para explicar às pessoas, como lidar com diferentes situações e ajudá-las
nesse processo (MAXIMIANO, 2005).
16
Romper os paradigmas para adoção de tecnologia o é uma tarefa fácil, e é
por isso que os aspectos psicológicos e comportamentais, que envolvem receios e frustrações
relativos à adoção de tecnologias, também devem ser considerados.
Uma das formas encontradas pelas empresas para superar as dificuldades e
tornarem-se mais inovadoras é a sua inserção em arranjos cooperativos. Isto ocorre devido,
principalmente, pelo fato de o possuírem todos os recursos necessários, incluindo o
conhecimento para adotar e transferir a inovação para seus produtos e processos ou porque
desejam reduzir os riscos associados à inovação.
No entanto, ainda são poucas as empresas que participam desse processo,
mesmo aquelas localizadas em regiões que iniciaram o desenvolvimento regional com base
na troca de experiências e conhecimentos.
É neste contexto que se insere o presente trabalho, cujo objetivo é fornecer
informações que possibilitem uma melhor gestão do processo de inovação tecnológica,
possibilitando às empresas tornarem-se mais competitivas.
1.2
Contextualização da pesquisa
A contextualização da pesquisa foi baseada em três aspectos principais: (i) a
caracterização do setor industrial de alimentos, segmento no qual será desenvolvida a
pesquisa de campo, (ii) as características e importância da inovação tecnológica neste tipo de
indústria e (iii) os aspectos relacionados à cooperação para inovação, dado que o município
em estudo apresenta características favoráveis ao estabelecimento de colaboração entre as
empresas deste segmento.
(i) Características do setor industrial de alimentos
O desenvolvimento e lançamento de novos produtos alimentares têm
aumentado significativamente na indústria alimentícia mundial, por motivos como a
globalização e o aumento das exigências e da valorização por parte dos consumidores. As
novas tecnologias ligadas ao fluxo de informação e de transportes permitem que esses novos
produtos sejam distribuídos cada vez mais rapidamente em diferentes mercados, fato que tem
gerado modificações nos hábitos de consumo alimentar em todo mundo. Pode-se dizer que o
17
consumo de determinados alimentos tornou-se globalizado, principalmente aqueles
produzidos pelas grandes multinacionais.
De acordo com Rodrigues (2003), as empresas de alimentos orientadas para os
clientes são relativamente inovadoras e trabalham com um tempo de resposta cada vez menor
e mais eficiente, possibilitando o aparecimento de um novo padrão de produção, baseado num
novo padrão de consumo. Observam-se atualmente, mudanças nos produtos, nos processos de
fabricação e na forma de organização das empresas. Tais mudanças assumem grande
importância em razão da capacidade de discernimento dos consumidores quanto à qualidade,
valor, aparência e funcionalidade dos produtos que adquirem.
Outros fatores que influenciam a indústria mundial de alimentos, relatados por
Neves (1999), o: necessidade de lançamento de novos produtos; segmentação de mercado
com alimentos da linha light e diet; diferenciação de produtos apresentando novos sabores,
formatos e funções; disputa de espaço no mercado devido à forte concorrência; novas
embalagens, que além de conterem as informações exigidas pela legislação, atuam como um
atrativo para o consumidor no momento da compra.
O capital predominante nas empresas produtoras de alimentos é o capital
nacional e, independentemente do controle do capital, as empresas desse grupo têm como
foco os mercados estadual e regional, onde o esforço para a inovação é direcionado para a
conquista desse mercado local. Além do fato das empresas de alimentos terem como foco de
vendas o mercado doméstico, esse grupo é caracterizado como sendo de baixa inovação, com
predomínio de inovação de processo para a empresa (PINTEC, 2005).
O panorama mundial de negócios aponta algumas tendências importantes para
o setor. As principais referem-se ao aumento das exigências dos clientes, aumento da
concorrência mundial, diversificação de produtos, sistema de produção enxuta, concentração
em core competences, formação de cadeias e redes de produção globais e maior colaboração
entre atores das cadeias produtivas.
Atualmente, a indústria brasileira de alimentos é composta por pequenas,
médias e grandes empresas distribuídas por todo território nacional. As pequenas e médias,
em sua maioria, atuam em mercados regionais, enquanto as grandes, além do mercado
nacional, também participam do mercado internacional.
O setor reúne cerca de 40 mil empresas, das quais aproximadamente 330 são de
grande porte. A geração de emprego é significativa, empregando cerca de 850 mil
trabalhadores. A participação na economia do país também é expressiva, uma vez que o
segmento alimentício responde por 10,4% do PIB e apresenta um faturamento líquido anual
18
em torno de R$ 180,6 bilhões (ABIA, 2006).
As exportações brasileiras deram um grande impulso para o crescimento das
indústrias de alimentos nacionais. Em 2004, do total de alimentos comercializados, 17,8%
foram enviados para o mercado internacional, gerando R$ 47 bilhões no saldo da balança
comercial. O mercado europeu foi o principal destino dos produtos brasileiros com 32,3%,
seguido pelo Oriente Médio com 13,3%.
Mesmo com a valorização do Real, as vendas externas das indústrias brasileiras
de alimentos em 2005 totalizaram US$ 20 bilhões. Em volume, as vendas foram de 44,6
milhões de toneladas, superando 2004, que somou 41,2 milhões de toneladas. Com esses
números, o setor bateu o recorde de faturamento em 2005, representando um aumento de
4,7% em relação a 2004 (ABIA, 2006).
Araújo (2006) relata que o principal destino das exportações brasileiras de
alimentos industrializados é a União Européia, responsável por 26,4% das vendas externas,
com destaque para o Reino Unido com 3,2% deste total. A Rússia ocupa a segunda posição,
com 13%, seguida pelo Oriente Médio, com 12%. Os Estados Unidos, o Mercosul e a China
também se destacam no consumo de alimentos industrializados brasileiros, com participação
de 4,3%, 1,9% e 1,6%, respectivamente.
Para os próximos anos, as perspectivas permanecem otimistas para o setor.
Estima-se um crescimento de 4,5% a 5%, com vendas reais subindo de 4% a 10%. Segundo a
ABIA (2006), o alcance desta projeção dependerá de dois fatores. O primeiro, baseia-se na
exportação do agronegócio e o segundo, na possibilidade de estabilização do câmbio,
tornando-se mais valorizado. Além desses dois principais fatores, o país deverá se esforçar em
vender para o exterior, produtos com maior valor agregado.
Contudo, alguns aspectos podem não permitir que essa meta de crescimento
seja alcançada. Os mais significativos são o preço do petróleo e taxas de juros internacionais,
o crescimento lento da economia mundial, as regulamentações indiscriminadas, os baixos
investimentos em portos e estradas e o crescimento das marcas próprias do varejo (ARAUJO,
2006).
(ii) Inovação tecnológica
A inovação tecnológica é considerada uma condição essencial para as empresas
competirem nos seus respectivos mercados. No entanto, de acordo com dados da PINTEC
19
(2005), no ano de 2000, cerca de 77,1% das indústrias brasileiras não inovaram seus produtos
e processos. Estas empresas, embora representem um percentual significativo do setor
industrial brasileiro, contribuem com apenas 11,5% do faturamento e 38,2% da mão-de-obra
ocupada na indústria.
Por outro lado, a maior competitividade das empresas inovadoras pode ser
observada no indicador de liderança, que representa a média de participação destas firmas no
mercado. Tais empresas o líderes em seus respectivos mercados, indicando uma melhor
posição competitiva quando comparadas às firmas que não inovam (DE NEGRI e SALERNO
2005). Estes autores também relatam que as empresas que inovam apresentam 16% mais
chances de serem exportadoras, condição que contribui para o aumento da competitividade.
Mesmo com estes benefícios, a indústria de alimentos inova pouco. Conceição
e Almeida (2005) indicaram que a taxa de inovação neste segmento, em 2000, foi de
aproximadamente 18%, dos quais 13% foram inovações de processo e 5% inovações de
produto.
Resultados diferentes foram encontrados por Toledo et al. (2005), em um
estudo realizado com 25 empresas do setor alimentício. Estes autores relataram que 4,6%
destas empresas modificam periodicamente seus produtos, 56% lançam produtos novos para a
empresa, mas já existentes no mercado, e 52% desenvolvem produtos realmente novos.
Ressalta-se que as informações relatadas por Conceição e Almeida (2005) foram obtidas a
partir da PINTEC (2005), utilizando, portanto, uma base de dados muito mais abrangente
que a pesquisa foi realizada em âmbito nacional.
Cabe igualmente destacar a importância do porte da empresa e da sua
orientação exportadora. Estes dois fatores são determinantes na capacidade da empresa inovar
seus produtos e processos. Toledo et al. (2005) indicaram que as empresas brasileiras com
menos de 500 funcionários lançam, em média, 37,5% de produtos novos para o mercado,
enquanto nas empresas de grande porte, a dinâmica de inovação dirigida a novos produtos
atinge 61%.
No que diz respeito à orientação exportadora, estes autores relataram que nas
empresas exportadoras observa-se uma maior dinâmica de inovação, uma vez que 91% das
mesmas modificam seus produtos periodicamente, 63,6% lançam produtos novos apenas para
a empresa e 54,5% desenvolvem produtos novos para o mercado.
O processo de inovação tecnológica na indústria brasileira de alimentos é
predominantemente um processo de difusão de tecnologia e não um processo interno às
empresas, ou seja, as empresas do setor alimentício apresentam um padrão de inovação
20
voltado para a redução de custo, fortemente associado à difusão de tecnologias existentes
no mercado.
Uma outra característica importante deste segmento relaciona-se à atividade de
Pesquisa e Desenvolvimento (P&D), que neste setor ainda o é uma prática rotineiramente
incorporada às estratégias das empresas brasileiras de alimento. Nantes e Machado (2005)
relatam que os baixos índices de investimento em P&D do setor de alimentos, quando
comparado a outros setores, se justificam por dois principais motivos: o receio das empresas
em assumir riscos mercadológicos e o atual estágio das trajetórias tecnológicas, que neste
segmento conta com uma base tecnológica comum e disponível à maioria das empresas. Além
desses dois motivos, a indústria de alimentos é considerada uma indústria de tecnologia
madura, demandando maior tempo para as transformações mais significativas.
Dessa forma, é importante que as empresas de alimentos reconheçam a
necessidade da inovação tecnológica para a diferenciação de seus produtos e processos e
promovam ações a fim de que ela possa ocorrer de forma adequada.
(iii) Cooperação para inovação
As estratégias de cooperação têm se destacado como sendo uma alternativa
para a dinamização do processo de inovação tecnológica. Segundo Tether (2002), embora a
colaboração seja pouco realizada entre as empresas, as que participam de acordos
colaborativos são motivadas, principalmente, pelo fato de não possuírem todos os recursos
necessários, incluindo o conhecimento para adotar e transferir a inovação para seus produtos e
processos, e/ou porque desejam reduzir os riscos associados à inovação.
Neste sentido, a cooperação pode ocorrer entre diferentes atores, como clientes,
fornecedores dequinas e equipamentos, outras empresas do grupo, empresas concorrentes,
universidades e institutos de pesquisa, empresas de consultoria, centros de capacitação e
assistência técnica, instituições de testes e certificações e associações de classe.
Entre as inúmeras vantagens obtidas com a cooperação, o autor destaca as
situações em que o desenvolvimento do produto ou serviço são relativamente fáceis de serem
copiados, mas dispendiosos para serem desenvolvidos. Nestas situações, a cooperação com os
concorrentes pode ocorrer com sucesso. Apesar da competição direta pelo mercado, se estas
empresas souberem unir suas forças, superando as fraquezas umas das outras, torna-se mais
fácil a superação de problemas em comum e, conseqüentemente, melhoram suas capacidades
21
individuais no desenvolvimento destas inovações.
Com base em um conjunto de indicadores para o setor industrial, obtidos a
partir da PINTEC (2005), constatou-se que as empresas alimentícias brasileiras cooperam
muito pouco. Com as instituições de pesquisa e universidades a cooperação é ainda menor,
apenas 3,4% das empresas, independentemente do setor e do tipo de firma, ou seja, o processo
de inovação tecnológica nas indústrias brasileiras de alimentos é específico da empresa.
De acordo com Cassiolato, Britto e Vargas (2005), a cooperação existente entre
as indústrias de alimentos apresenta as seguintes características:
os processos cooperativos são muito pouco significativos, independentemente da
categoria da empresa;
existe uma tendência generalizada das empresas, independentemente da sua categoria,
de utilizar fontes externas de cooperação;
as firmas mais inovadoras utilizam de forma significativa outra empresa do grupo
como parceira,
as firmas pouco inovadoras utilizam como fonte principal de inovação outras empresas
e institutos de pesquisa.
De modo geral, observa-se que, embora a participação das empresas nacionais
de alimentos em arranjos cooperativos seja pequena, existe no país um espaço expressivo para
o incremento da cooperação, sobretudo em regiões que avançaram na formação de seus
sistemas produtivos locais. Esta é a situação do município de Marília/SP, local em que será
realizada a pesquisa de campo.
O município é considerado um pólo industrial de alimentos processados,
representando atualmente, 12% da produção nacional do setor. Acolhe 100 empresas do ramo
alimentício, além de inúmeras outras pequenas empresas do ramo, com uma produção mensal
de 30.000 toneladas de alimentos e receita bruta mensal de R$ 50 milhões (ADIMA, 2006). A
maioria das empresas é de micro e pequeno porte, e apenas 10% são de grande porte.
Os principais produtos fabricados são biscoitos, balas e doces, destinados
principalmente ao mercado regional e nacional. Há também uma pequena parcela de empresas
que destina parte de sua produção para exportação, com destaque para países do Mercosul,
Estados Unidos, Ásia, Europa e África. O volume de exportação encontra-se em crescimento,
superando a média do crescimento nacional, passando dos US$ 25 milhões anuais.
Segundo a ADIMA (2006), o parque industrial do município emprega na
atualidade mais de 12.000 trabalhadores, dos quais 7.000 empregos diretos estão concentrados
22
nas indústrias de alimentos, além dos 15.000 empregos indiretos. A grande maioria dos
trabalhadores conta com cursos de especialização, por meio de uma parceria realizada pela
ADIMA/SENAI/STIAM (Sindicato dos Trabalhadores das Indústrias de Alimentação e Afins
de Marília e Região).
De acordo com a Associação Brasileira das Indústrias de Alimentação (ABIA),
Marília/SP é o segundo maior pólo alimentício no segmento de biscoitos e derivados no
estado de São Paulo, atrás apenas da Grande São Paulo. Com relação ao número de empresas
do setor, o município ocupa a quinta colocação.
A partir desse contexto, um importante ponto a ser ressaltado é que as
empresas precisam ampliar sua base de conhecimento interno para desenvolver produtos mais
inovadores e que a cooperação facilita a transferência de conhecimento entre as organizações
nesse processo.
1.3
Justificativas
Diante do contexto apresentado, este trabalho justifica-se, primeiramente, pelo
fato da inovação tecnológica representar uma estratégia essencial para o aumento da
competitividade das empresas. Para as indústrias de alimentos, essa necessidade passou a se
tornar essencial a partir da década de 90, quando o processo de abertura comercial à
importação de alimentos aumentou a concorrência entre as empresas do setor, obrigando-as a
buscar vantagens competitivas que possibilitassem a diferenciação de seus produtos no
mercado nacional frente às multinacionais e aos produtos importados.
Mesmo com a incontestável necessidade de se desenvolver inovações
tecnológicas para obter maior competitividade e se adequar às novas exigências do mercado, a
indústria nacional de alimentos é pouco inovadora. Em 2000, apenas 18% dessas indústrias
desenvolveram inovações, ainda assim com predomínio de inovação em processo para
empresa (13%). Portanto, apenas 5% das empresas nacionais realizaram inovações em
produto, as quais tiveram como foco principal os mercados regionais e estaduais.
Um outro fator que justifica a realização desta pesquisa é a importância que as
relações de cooperação representam no processo de inovação tecnológica. Empresas que
cooperam no sentido de inovar seus produtos e processos, geralmente a fazem de uma forma
mais organizada, planejada e com menores custos.
23
Por estas razões, foi escolhido o município de Marília/SP para a realização dos
estudos de caso. Este município é considerado um pólo na produção de alimentos, abrigando
muitas empresas deste setor, dos mais diferentes portes e características. De acordo com
Rodrigues (2003), o município é classificado como um cluster incompleto, ressaltando,
porém, que os baixos níveis de cooperação destas empresas não estão relacionados com a falta
de confiança entre elas, mas exclusivamente à falta de informações sobre o conceito de cluster
e sobre os reais benefícios da cooperação. Assim, o município apresenta muitas das condições
necessárias para o estabelecimento de cooperação visando a inovação tecnológica.
Atualmente, Marília/SP conta com um plano de fomento e promoção,
desenvolvido pela ADIMA/Secretaria Municipal de Indústria e Comércio Exterior, com o
intuito de tornar esse município um pólo exportador de alimentos. Para tanto, estão sendo
implementadas políticas planejadas de comércio exterior como: busca de apoios logísticos;
cursos de formação e práticas de comércio exterior para os empresários; fortalecimento e
expansão da parceria com a SECEX (Secretaria de Comércio Exterior); promoção de
encontros com empresários e lideranças, órgão e entidades para unificar esforços e interesses
a fim de identificar as carências e coletar proposições visando envolver as universidades e
seus respectivos cursos, cujo objetivo é integrar os futuros profissionais ao ambiente
empresarial do município.
Observa-se, portanto, que o município tem avançado, embora de forma lenta e
gradual, na conscientização das empresas em relação às vantagens que a cooperação oferece
no sentido de facilitar a inovação tecnológica.
1.4
Questões e proposições da pesquisa
A problemática a ser abordada nesta pesquisa pode ser expressa na forma de
duas questões principais:
(i) Como ocorre o processo de inovação tecnológica de produto e processo nas
empresas alimentícias do município de Marília/SP e quais são os efeitos resultantes desse
processo?
(ii) As empresas participantes da amostra estabelecem relações de cooperação
visando introduzir inovações tecnológicas em seus produtos e processos? Em caso afirmativo,
de que forma as relações de cooperação são estabelecidas?
Diante das questões apresentadas, foram formuladas as seguintes proposições:
24
(i) Embora a inovação tecnológica de produto e processo seja um imperativo
para a sobrevivência das empresas nos dias atuais, na indústria de alimentos observa-se um
baixo padrão de inovação, principalmente nas micros e pequenas empresas.
(ii) As estratégias de cooperação têm se destacado como sendo uma importante
alternativa para a dinamização do processo de inovação tecnológica. Porém, as indústrias
alimentícias brasileiras, independentemente do porte, cooperam muito pouco no sentido de
inovar seus produtos e processos.
1.5
Objetivos
Com base nestas questões, foram formulados os seguintes objetivos:
1.5.1
Objetivo geral
O objetivo geral deste trabalho consiste em caracterizar o esforço para a
inovação tecnológica e as relações de cooperação para inovação em empresas alimentícias do
município de Marília/SP.
1.5.2
Objetivos específicos
Os objetivos específicos da pesquisa são:
1) Caracterizar as empresas do setor alimentício do município de Marília/SP em relação
ao esforço para a inovação tecnológica de produto e processo por meio de indicadores
propostos pela PINTEC-2005.
2) Identificar e avaliar as relações de cooperação estabelecidas pelas empresas do
município, dirigidas à inovação tecnológica de produto e processo.
3) Elaborar propostas visando auxiliar o desenvolvimento e a adoção de tecnologia nas
empresas estudadas.
25
1.6
Contribuições esperadas
Este trabalho pretende apresentar uma contribuição científica teórica e
empírica. A contribuição teórica está relacionada ao método de pesquisa, que utilizará os
indicadores propostos pela PINTEC (2005) para caracterizar as empresas de alimentos do
município de Marília/SP, em relação ao esforço para desenvolver e introduzir inovações
tecnológicas em seus produtos e processos. Trata-se, portanto, de uma iniciativa pioneira, que
poderá ser estendida às demais empresas deste município.
A contribuição empírica refere-se aos resultados práticos a serem obtidos nos
estudos de caso. Espera-se que os resultados demonstrem:
o atual padrão de inovação tecnológica das empresas analisadas;
as principais vantagens decorrentes da inovação tecnológica de produtos e processos;
as dificuldades encontradas pelas empresas para inovar seus produtos e processos;
se existe cooperação entre as empresas visando a inovação tecnológica e, em caso
afirmativo, de que forma essa cooperação encontra-se estabelecida,
as principais implicações gerenciais para as empresas do setor no processo de
inovação tecnológica de produtos e processos.
A partir desses resultados, serão elaboradas propostas visando auxiliar o
desenvolvimento e a adoção de tecnologia nas empresas estudadas. Além disso, espera-se que
pesquisa contribua para identificar quais as melhores alternativas para as empresas estudadas
aumentarem a participação em trabalhos conjuntos direcionados à inovação de produtos e
processos.
1.7 Estrutura da dissertação
Este trabalho esestruturado em seis capítulos, incluindo esta introdução, na
qual constam os objetivos, a contextualização e a justificativa da pesquisa. Neste item estão
descritas as principais características e especificidades do setor industrial alimentício no
Brasil, destacando a importância desse segmento para a economia do país.
O capítulo 2 apresenta os principais conceitos acerca da inovação tecnológica
no setor industrial, referencial teórico escolhido para embasar a pesquisa. Este capítulo
destaca, em especial, a base conceitual existente na literatura, as formas de aprendizagem
26
tecnológica, os processos de adoção de difusão, os paradigmas tecnológicos e organizacionais
que precisam ser superados e a predisposição existente nas empresas para inovar seus
produtos e processos. O capítulo termina com um breve relato acerca da inovação tecnológica
na indústria de alimentos, destacando dois outros tópicos que se relacionam diretamente com
a capacidade de inovação das empresas: o padrão de consumo alimentar nacional e o
desenvolvimento de novos produtos na indústria alimentícia.
O capítulo 3 enfoca a questão da cooperação para a inovação tecnológica. Para
isso, apresenta os conceitos de arranjos cooperativos, redes de inovação e sistemas locais de
produção. Além disso, destaca a performance atual das indústrias brasileiras em geral e,
especificamente, das indústrias alimentícias em relação à cooperação para a inovação
tecnológica.
O capítulo 4 apresenta o procedimento metodológico empregado na realização
da pesquisa, justificando e fundamentando sua escolha. São indicados o problema que
motivou a pesquisa, a metodologia adotada, contendo o instrumento e a técnica de coleta dos
dados, a seleção da amostra e a determinação das variáveis. Além disso, o capítulo descreve
como os dados serão analisados e interpretados.
O capítulo 5 está reservado para a apresentação dos resultados e para a análise
de como ocorre o processo de inovação tecnológica nas empresas pertencentes à amostra.
Também serão apresentados e analisados os dados relativos à cooperação para inovação
estabelecidos entre as empresas da amostra e as demais organizações. Ao final, são propostas
algumas ações para a dinamização da inovação nas empresas estudadas.
No capítulo 6 serão apresentadas as considerações finais, as contribuições do
trabalho e as principais limitações enfrentadas, incluindo a indicação de sugestões para
trabalhos futuros para a continuidade e aprofundamento do estudo realizado.
27
2
INOVAÇÃO TECNOLÓGICA
Em virtude das atuais exigências impostas pelo mercado, que se modifica e se
transforma rapidamente, as empresas que desejam manter ou ampliar seu posicionamento,
nesse mesmo mercado, necessitam ser proativas. Para tanto, é necessário intensificar a
incorporação de inovações tecnológicas de novos produtos e processos e aperfeiçoar os
existentes.
Assim, o desenvolvimento de novos produtos e processos é considerado um
instrumento essencial para a competitividade das empresas, cujos benefícios decorrentes
possam se traduzir em maiores taxas de retorno financeiro e ampliação da participação no
mercado (NANTES, ABREU e LUCENTE, 2006).
2.1 Base conceitual
O ritmo atual das inovações tecnológicas, que cria e aperfeiçoa produtos e
processos melhorando o padrão de vida das pessoas, caracteriza de forma particular a
atualidade e ofusca o ritmo das épocas passadas.
Segundo Olave e Amato Neto (2001a), o rápido crescimento econômico,
advindo desse ritmo intenso de inovações tecnológicas, apenas pode ser sustentado por meio
de novas formas de se usar os recursos, ou seja, as oportunidades de crescimento poderiam se
esgotar rapidamente sem progresso tecnológico. Da mesma forma, o processo rápido de
mudanças impõem às organizações uma permanente necessidade por inovação que as torne
capazes de se adaptarem às mudanças que ocorrem em seu ambiente, ou ainda, serem elas
próprias os agentes de mudança, antecipando-se em suas ações.
Nesse sentido, verifica-se a importância da mudança tecnológica como uma
das principais fontes de crescimento econômico. No entanto, seu tratamento como um
fenômeno econômico é relativamente recente, com registros a partir do final dos anos 1950. A
visão anteriormente dominante destacava a tecnologia como resultado do crescimento
autônomo da ciência, das artes industriais ou das idéias geniais. Segundo Freeman (1994), o
entendimento do processo era deixado para outras disciplinas sociais, ficando a economia
excluída, considerando que a tecnologia não precisava ser examinada em profundidade.
28
Schumpeter, no período precedente aos anos 1950, foi a exceção. O autor
ressaltava a influência significativa da inovação sobre a atividade empreendedora,
investimentos produtivos e mercado. Entre os economistas do início do culo XX,
Schumpeter tentou colocar a inovação técnica como elemento fundamental, definindo a
inovação em sentido amplo ao incluir não apenas inovações de produto e processo, mas
também a abertura de novos mercados, a conquista de novas fontes de fornecimento de
matéria-prima e a reestruturação organizacional.
Na perspectiva de Schumpeter (1984), a introdução de inovações explica e
impulsiona a evolução do sistema econômico e o apenas o aumento da população, do
capital e as variações do sistema monetário. Sendo assim, os novos bens de consumo, os
novos métodos de produção e transporte, os novos mercados e as novas formas de
organização industrial são os fatores que põem e mantém o capitalismo em funcionamento.
Nesse processo de transformações e mutações, onde os elementos velhos o
incessantemente destruídos e elementos novos o criados, ou seja, nesse processo de
destruição criadora, o que conta não é apenas a concorrência por preços, mas também, a
concorrência de novas mercadorias, novas técnicas, novas fontes de suprimento, novos tipos
de organização e a concorrência que determina uma superioridade decisiva no custo ou na
qualidade. Assim, a inovação tecnológica deve ser colocada no centro do processo de
mudança do sistema econômico, alterando e criando novas posições no mercado. No contexto
do processo de destruição criadora, algumas firmas inovariam, acompanhando o dinamismo
tecnológico, enquanto outras, à margem do processo de geração e difusão tecnológica,
declinariam e desapareceriam do mercado.
A definição de inovação mais amplamente utilizada nos trabalhos daqueles que
estudam a questão das mudanças tecnológicas é a derivada de Schumpeter (1984, 1988). Para
o autor, o processo inovativo consiste de três fases seqüenciais, que são a invenção, a
inovação e a difusão. A invenção constitui na geração de conhecimento novo, cuja aplicação
pode ou não ser economicamente viável. A invenção distingue-se da inovação pelo fato de ser
a segunda um fenômeno basicamente econômico, no qual ocorre a comercialização de um
novo produto ou implementação de um novo processo.
Duas rotas principais são criadas a partir da definição Schumpeteriana de
inovação, sendo elas:
1) adoção ou inovação como difusão: a aquisição de novos produtos ou processos de
fontes externas à firma. Nesse caso, a inovação não exige esforço intelectual
inventivo ou inovativo, que os equipamentos para novos processos ou a venda de
29
um novo produto são adquiridos de fornecedores e/ou outras firmas,
2) esforço inventivo: atividades criativas da firma para desenvolverem novos ou
melhorados produtos, processo ou serviços. A firma desenvolve internamente, por
meio de seu esforço, essas atividades.
As duas principais rotas apresentadas não devem ser entendidas como
mutuamente excludentes. A inovação pode caracterizar-se pela combinação das duas rotas
ideais, criando novas possibilidades de inovação. Uma alternativa comum é a combinação de
adoção com esforço inventivo quando, por exemplo, a firma realiza algum esforço inventivo
para adaptar novas tecnologias de processos a fim de atender as necessidades de seu próprio
processo de produção (SANTINI e SOUZA FILHO, 2005).
Vedpuriswar (2003) apresenta uma abordagem em que define a inovação por
meio de um processo: o processo de inovação, com a execução de um conjunto de atividades
que produza um resultado específico para um consumidor ou um mercado em particular, e não
apenas a realização de melhorias em produtos e processos já existentes.
Segundo o autor, o processo de inovação poderia ser compreendido pela
sucessão de três fases distintas: a fase variável, a fase transitória e a fase específica. Na fase
variável, a inovação é caracterizada por uma série de mudanças, porém, os resultados são
incertos, que a velocidade de mudança do produto é muito rápida, tornando-o caro, incerto
e ineficiente. As incertezas da inovação de produto ocorrem por dois principais motivos. O
primeiro refere-se ao alvo a ser alcançado, pois muitas inovações não desfrutam de um
mercado estabelecido: os mercados é que tendem a crescer ao redor dessas inovações. O
segundo é a incerteza técnica de produção, que as firmas não têm noção clara de onde
investir em Pesquisa e Desenvolvimento (P&D). Enfim, pode-se dizer que nessa primeira
fase as atividades são desenvolvidas de forma desordenada e não há um projeto de produto.
A segunda fase (transitória) se inicia quando expansão do mercado para o
produto, resultado da aceitação da inovação. Nessa fase, as inovações de produto e de
processo passam a estar conjugadas, já que a ênfase no desenvolvimento de produtos para
usuários específicos e as escalas de produção são perseguidas. Outra característica é que as
matérias-primas tornam-se mais especializadas e equipamentos específicos passam a ser
usados, aumentando a automação.
Na terceira e última fase (específica), os produtos tornam-se claramente
definidos, onde as diferenças entre os produtos dos concorrentes são marginais e a relação
entre inovação de produto e processo é ainda mais próxima. As operações são ainda mais
automatizadas, resultando em maior eficiência e custos unitários de produção menores.
30
Rogers (1995) define inovação como uma idéia ou objeto percebido como
novo por um indivíduo. O processo de desenvolvimento de inovação consiste em todas as
decisões, atividades e seus respectivos impactos, que acontecem no reconhecimento de uma
necessidade ou de um problema através da pesquisa, desenvolvimento e comercialização de
uma inovação, ou ainda, através da difusão ou adoção da inovação por usuários.
Portanto, o conceito de inovação é amplo, envolvendo aspectos
comportamentais e agentes de mudanças, não se restringindo apenas em produto e processo,
mas também em abertura de novos mercados consumidores, utilização de diferentes fontes de
suprimentos, entre outros.
A inovação tecnológica apresenta-se classificada de diferentes formas. De
acordo com a OECD (1996), ocorrem duas categorias principais: inovação tecnológica de
produto, que pode ser subdividida em novos produtos e produtos melhorados, e inovação
tecnológica de processo. As definições para esses três tipos de inovações são:
produto tecnologicamente novo: produto cujas características tecnológicas ou usos
pretendidos diferem significativamente dos produtos previamente produzidos. Essas
inovações podem envolver tecnologias radicalmente novas, serem baseadas na
combinação de tecnologias existentes, ou ainda, podem derivar-se do uso de novos
conhecimentos;
produto tecnologicamente melhorado: é um produto existente, mas cuja
performance foi significativamente aperfeiçoada ou atualizada. Um produto simples
pode ser melhorado por meio do uso de componentes ou materiais de alta
performance. um produto complexo, que consiste em um número de subsistemas
técnicos integrados, pode ser melhorado por mudanças parciais em um dos
subsistemas,
inovação tecnológica de processo: ocorre com a adoção de métodos de produção
tecnologicamente novos ou significativamente melhorados, incluindo métodos de
apresentação de produto. Esses métodos podem envolver mudanças em
equipamentos, organização da produção, ou a combinação dessas duas mudanças.
Além desses fatores, esses novos métodos podem derivar do uso de novos
conhecimentos e ter como objetivo a produção e apresentação de produtos
tecnologicamente novos ou melhorados, ou ainda, aumentar a eficiência de produção
ou de apresentação de produtos existentes.
Higgins (1995) propôs uma outra forma de classificar a inovação
tecnológica:
31
inovação do produto: resulta em novos produtos ou serviços, ou em melhorias de
produtos ou serviços existentes. A inovação em nível de produto pode ser
subdividida em: (i) kaizen, ou melhoria contínua; (ii) leaping, ou produção de novos
produtos a partir de produtos velhos; e (iii) big bang, ou produção de um novo
produto que corta, de forma radical, com o passado;
inovação de processo: cujo resultado são processos melhorados para a empresa,
direcionando-se na melhoria da eficiência e da eficácia do processo produtivo;
inovação de marketing: resulta numa melhoria significativa em alguns dos elementos
do marketing mix: produto, preço, promoção, distribuição e mercado, podendo
basear-se na diferenciação (produto, promoção, distribuição e mercado) ou nos custos
(preço),
inovação de gestão/organização: resulta em melhorias significativas na gestão da
organização, sendo imprescindível para as empresas que quiserem acompanhar os
desafios do mercado. Baseia-se em alguns campos de ação, tais como: (i)
planejamento: alianças estratégicas, técnicas de previsão; (ii) organização:
reengenharia, redes de empresas, e (iii) liderança: empowerment (delegação de
autoridade e responsabilidades).
Observa-se assim, que as possibilidades de mudanças podem estar relacionadas
a outras variáveis, que não o produto e processo. Alguns exemplos indicados por Schumpeter
(1988) são: a introdução de um novo bem, com o qual os consumidores ainda não estiverem
familiarizados; a introdução de um novo método de produção que ainda não tenha sido
testado no ramo próprio da indústria; a abertura de um novo mercado, em que o ramo
particular da indústria do país em questão, não tenha entrado; a conquista de uma nova fonte
de matéria-prima ou de bens semimanufaturados; e, o estabelecimento de uma nova
organização de qualquer indústria, como a criação de uma posição de monopólio.
Esta posição também é defendida por Oliveira, Neves e Scare (2003) ao
afirmarem que a inovação pode ser caracterizada por vários fatores, como as alterões na
forma de organização e gestão do estabelecimento, as mudanças na organização e
administração do processo produtivo, a incorporação de estruturas organizacionais
modificadas, e a implementação de novas orientações estratégicas corporativas ou
substancialmente modificadas.
Dessa forma, a geração ou adoção de uma inovação requer não somente um
processo técnico para se obter um resultado de êxito, mas também um conjunto de
32
competências e habilidades, assim como rotinas organizacionais internas que proporcionem as
bases competitivas em um determinado mercado ou em diferentes mercados.
Outro aspecto igualmente importante es relacionado à comercialização. A
inovação em comercialização envolve não somente novos métodos de entrega dos produtos,
mas também alterações na forma de empacotar e embalar o produto. Enfim, uma embalagem
inovadora pode trazer grandes benefícios para os consumidores e lucros para os fabricantes
(OLIVEIRA, NEVES e SCARE, 2003).
A extensão da mudança empreendida está diretamente relacionada com a forma
como a inovação irá alterar o padrão da concorrência e as bases da indústria. Nesse sentido,
destacam-se dois importantes tipos de inovações: as inovações radicais e as incrementais.
As mudanças radicais podem ser definidas como eventos descontínuos, que
implicam mudança técnica e organizacional de um sistema produtivo ou indústria. Não
emergem de um produto, processo ou sistema existente e sua introdução implica novas formas
de produção, distintas das exploradas até aquele momento. Outra característica é o fato das
mudanças radicais resultarem em mudanças estruturais na economia, por não se adequarem a
ambientes institucionalmente construídos (FREEMAN, 1994).
As inovações incrementais referem-se ao aperfeiçoamento de produtos,
processos, organizações, sistemas de produção e serviços existentes, podendo ocorrer de
forma mais contínua. É altamente sensível à demanda, redução de custos e melhora na
qualidade. Contudo, a velocidade com que são adotadas varia de indústria e, apesar de seus
efeitos serem importantes para o aumento da produtividade, as mudanças incrementais não
induzem mudanças estruturais na economia.
O que distingue esses dois tipos de inovações é o local onde elas são geradas.
As inovações radicais originam-se externamente à indústria, ao passo que as incrementais,
quase sempre têm origem na indústria. Assim, o termo radical está relacionado a inovações
revolucionárias, que resultam em inovações de produto e processo e em avanços do
conhecimento, enquanto o incremental está associado às inovações dentro de um paradigma já
existente, ou seja, um processo contínuo de melhoramentos e técnicas.
2.2 Aprendizagem tecnológica
As inovações tecnológicas representam o resultado de uma ampla gama de
processos de aprendizagem. Para Fleury (1990), tecnologia pode ser definida como um pacote
33
de informações organizadas de diferentes tipos (científicas, empíricas), provenientes de várias
fontes (descobertas científicas, patentes, livros, manuais), obtidas através de diferentes
métodos (pesquisa, desenvolvimento, cópia), utilizado na produção de bens e serviços. Assim,
aprendizagem tecnológica é o processo pelo qual as empresas criam e desenvolvem a
capacitação para produzir estes pacotes tecnológicos.
Segundo Rosal e Figueiredo (2006), o conceito de aprendizagem tecnológica é
geralmente definido em dois sentidos. O primeiro refere-se à trajetória que segue a
acumulação de capacidade tecnológica, que para Bell e Pavitt (1995) pode ser definida como
os recursos necessários para gerar e gerir aprimoramentos tecnológicos nos processos de
produção, nos produtos e nas atividades operacionais. Essa trajetória pode variar ao longo do
tempo, sendo assim, acumulada em direções e velocidades distintas. O segundo sentido diz
respeito às diversas formas em que o conhecimento técnico é adquirido pelas pessoas e
transferido para a empresa, ou seja, as formas em que o conhecimento tácito transforma-se em
capacidades tecnológicas internas das empresas.
Nesse sentido, para entender como uma empresa está relacionada a processos
de aprendizado, basta observar a grande diversidade de atividades envolvidas nos processos
de geração de inovações. Como exemplo, para o desenvolvimento de um novo produto é
necessário: a) o monitoramento da evolução das necessidades dos prováveis consumidores e a
identificação de oportunidades de mercado não aproveitadas por empresas rivais; b) a
combinação das capacitações incorporadas nas equipes de P&D, com informações técnicas e
científicas obtidas externamente; c) a transformação dos protótipos em bens com qualidade e
baixo custo, d) a adaptação do processo produtivo e das características da mão-de-obra ao
novo produto (PONDÉ, 2002).
Para Coriat e Dosi (2002), os processos pelos quais as empresas adquirem,
constroem e modificam suas capacidades são denominados aprendizado organizacional,
podendo ocorrer em dois níveis: por meio da troca de conhecimento e experiências com os
membros de uma organização ou pela introdução de novos membros que acumulem
conhecimentos que a organização não possuía previamente.
Garvin (1993) propõe cinco eixos para a aprendizagem organizacional:
resolução sistemática de problemas: privilegia a utilização de métodos científicos
para diagnosticar problemas ao invés do tradicional feeling”. Reforça a necessidade
de utilização de dados ao invés de suposições para a tomada de decisões, sendo que
esses dados devem ser organizados com o uso de ferramentas estatísticas, que
também servem para a estruturação dos problemas;
34
experimentação: consiste na procura e experimentação de novos conhecimentos,
utilizando métodos científicos;
aprendizagem com a experiência passada: baseia-se na revisão sistemática das
experiências passadas. Enfatiza a avaliação dos sucessos e fracassos a fim de planejar
as ações no presente e futuro;
aprendizagem com o ambiente externo: baseia-se na utilização de experiências
externas, ganhando uma nova perspectiva com a análise das experiências vividas por
outras organizações. A prática de benchmarking é utilizada para a análise das
melhores performances, avaliação e implantação das mesmas,
difusão do conhecimento: decorre da transferência do conhecimento por toda a
organização. Educação, treinamento, padronização e outras técnicas podem ser
utilizadas para promover a difusão desse conhecimento.
Garvin (1993) afirma que o melhoramento contínuo requer um compromisso
com a aprendizagem, e que uma organização não pode progredir sem antes aprender algo
novo.
Segundo a OECD (1996), podem-se distinguir dois tipos de fontes de
informação: (i) interna (endógena) à firma as fontes primordiais de informação tecnológica
são localizadas dentro da própria empresa, sendo o departamento de P&D e o de marketing os
mais relevantes por possuírem um importante papel nas decisões que envolvem a inovação, e
(ii) externa (exógena) à firmaas principais fontes são as instituições públicas de pesquisa, o
fluxo tecnológico interfirma e interindústria, os competidores, os clientes ou consumidores, as
firmas de consultoria, os fornecedores de equipamentos e matérias-primas.
Possas (1989) acrescenta a esta discussão a questão dos mecanismos de
aprendizado, que segundo o autor, são tipicamente de três modalidades. A primeira é
representada pelo investimento em P&D e constitui o mais importante meio de aprendizado: a
acumulação tácita de conhecimento realimenta o processo de busca de inovações e
aperfeiçoamento de produtos e processos.
Os processos informais de acumulação de conhecimento tecnológico dentro
das firmas representam o segundo meio de aprendizado. Estes processos de acumulação de
conhecimento não envolvem nem destinação específica de recursos e nem um formato
organizacional definido, contudo, no desenvolvimento de novos produtos e processos que
tenham sido incorporados, podem ser de extrema importância. Como exemplo desse meio de
aprendizado, pode-se citar os processos de learning by doing e learning by using.
35
O learning by doing consiste em uma forma de aprendizado que ocorre no
processo de produção e materializa-se no desenvolvimento de habilidades, na redução dos
custos com mão-de-obra e na diminuição de problemas de qualidade.
O learning by using ocorre com a utilização do produto pelo seu usuário final,
cujos resultados podem se refletir tanto em práticas de operação e manutenção mais eficazes,
quanto em informações que, se repassadas para a empresa produtora, refletem na introdução
de melhorias incrementais no produto (FORAY e LUNDVALL, 1996) .
O terceiro meio de aprendizado é representado pelo desenvolvimento de
externalidades intra e interindustriais. Essas externalidades incluem a difusão de informação,
mobilidade de mão-de-obra especializada e o crescimento de serviços especializados.
O capital humano é também considerado um fator de expressiva importância
na determinação do crescimento econômico, destacando a importância da educação formal e
da capacitação em instituições externas às firmas.
Embora muitas vezes as empresas sejam vistas essencialmente como usuárias,
e não como criadoras do capital humano, algumas habilidades e conhecimentos mais
específicos são somente adquiridos no âmbito dessas empresas, por meio de seus
investimentos em learning by doing e treinamento. Por outro lado, as instituições externas à
empresa, essencialmente as que se dedicam à pesquisa pública, destacam-se na geração de
conhecimento tecnológico, cujas descobertas não podem ser apropriadas sem elevados
investimentos por parte da iniciativa privada (BELL e PAVITT, 1993).
Para Bell (1984), o aprendizado depende de duas variáveis: mecanismos que
representam um menor custo de fabricação do produto e, alocação de recursos como
mecanismo sistemático de retorno de informações, treinamentos, contratação de pessoas.
Assim, na concepção do autor, seis diferentes tipos de informação ou conhecimento que
constituem o aprendizado, a saber:
learning by operating: consiste em uma combinação de estímulo à mudança e
aumento do entendimento do processo. Essa combinação tem como vantagem o
estímulo aos trabalhadores diretos da produção ou supervisores a aumentarem sua
execução de determinadas tarefas de produção. Contudo, este tipo de aprendizado
somente é gerado à medida que houver processos de feedback das atividades de
produção desenvolvidas;
learning from changing: relaciona-se ao aprendizado gerado por meio de vários tipos
de mudança técnica, e não ao aprendizado gerado realizando-se operações. Esse tipo
36
de aprendizagem resulta em maior entendimento de um tipo específico de tecnologia
e melhor entendimento dos princípios gerais;
system performance feedback: envolve a aplicação de mecanismos institucionalizados
para gerar, registrar, revisar e interpretar a experiência. Esse mecanismo sistemático
de retorno é importante a medida em que gera experiência na operação de produção;
learning through training: consiste em treinamentos formalizados que são
importantes como fontes de capacidade tecnológica;
learning by hiring: consiste na contratação de pessoas que personifiquem as
habilidades e conhecimentos já disponíveis no ambiente das empresas. Assim, não
precisam acumular sua capacidade tecnológica somente por criação,
learning by searching: depende do esforço ativo da firma em empregar recursos para
realizar a busca de novas tecnologias que são internas à empresa, ou seja, que estão
formalizadas em departamentos ou equipes de pesquisa e desenvolvimento.
É importante destacar que todas essas formas de aprendizado estão inter-
relacionadas com o próprio processo de mudança e o caráter o-estacionário das atividades
produtivas, na medida em que adicionam valor à capacidade da firma em buscar inovações
externas.
Nesse contexto, conclui-se que os processos de aprendizado não se restringem
apenas às atividades de Pesquisa e Desenvolvimento formais das empresas, mas também, e
cada vez mais, na capacidade da empresa em estabelecer mecanismos de interações com
outros agentes externos geradores e fornecedores de conhecimento.
2.3 Processo de adoção e difusão de inovações tecnológicas
Segundo Rogers (1995), difusão é o processo pelo qual uma inovação é
comunicada ao longo do tempo, por meio de canais, entre os membros de um sistema social.
Embora difusão e adoção sejam conceitos intimamente relacionados, não são sinônimos.
Enquanto a difusão reflete o comportamento de um grupo de tomadores de decisão em um
mercado, a adoção diz respeito a um comportamento individual. Assim, a difusão representa
um processo macro, enquanto a adoção é um processo micro, que enfoca a aceitação ou
rejeição de uma inovação por uma empresa.
37
O processo de decisão para adoção envolve cinco etapas: conhecimento,
persuasão, decisão, implementação e confirmação. Conforme Rogers (1995), a etapa do
conhecimento inicia-se quando a empresa recebe estímulo, despertando sua atenção para uma
inovação tecnológica. Na etapa da persuasão a formação de atitudes favoráveis ou
desfavoráveis em relação à inovação tecnológica, relacionando o risco percebido na avaliação
das conseqüências de uso dessa inovação. A etapa de decisão envolve a escolha entre adotar
ou rejeitar a inovação tecnológica. A etapa da implementação refere-se a uso efetivo da
inovação e, finalmente, a etapa da confirmação busca reforço pela empresa para a decisão de
adoção que já foi tomada.
Assim, observa-se que segundo o modelo de Rogers (1995), a adoção de
inovações tecnológicas envolve um processo de decisão, em que predominam os elementos
cognitivos do comportamento da empresa adotante para a sua explicação.
Segundo Bell e Pavitt (1993), a difusão é mais observada em países em
desenvolvimento, onde a acumulação tecnológica se encontra em estoques de capital,
associada às operações de conhecimento e especificações de produto. Porém, os autores
ressaltam que a difusão envolve mais do que a apropriação de tecnologias geradas
externamente por exigir contínua mudança incremental, a fim de adaptar a inovação original
aos usos específicos pretendidos de quem a adquiriu.
uma grande diversidade de razões e modos nos quais as inovações o
geradas, difundidas e usadas entre os setores ao longo do tempo. Essas diferenças se devem à:
(i) oportunidade de inovação que cada trajetória tecnológica representa; (ii) grau pelo qual as
firmas podem obter retornos econômicos para vários tipos de inovação ou apropriabilidade da
inovação e (iii) padrões de demanda com os quais as firmas se deparam (DOSI, 1988).
De modo geral, pode-se dizer que as condições de apropriabilidade diferem
entre indústrias e de acordo com o nível de tecnologia empregado. Patentes para prevenir
tanto os competidores de copiar o produto, quanto assegurar royalties, segredo industrial,
redução de lead-time e busca por vendas superiores o alguns dos meios existentes para
proteger a vantagem competitiva das inovações realizadas por uma empresa ou instituto
público e/ou privado.
38
2.3.1 Padrões de inovação tecnológica
- Taxonomia de Pavitt
Seguindo-se a taxonomia de Pavitt (1984) e Bell e Pavitt (1993), a existência
de assimetrias em termos de padrões de geração e difusão tecnológica possibilita a divisão dos
setores em cinco categorias:
dominados por fornecedores: nesse setor, as inovações são basicamente de processo,
incorporadas nos equipamentos e insumos. Por isso, são geradas fora do próprio setor,
essencialmente por meio da difusão de bens de capital e intermediários mais
avançados (best practice). São exemplos as indústrias têxtil, de vestuário, editorial e
gráfica, de couro, de alimentos, etc;
intensivos em escala: as inovações, tanto de produto, quanto de processo, envolvem o
domínio de sistemas complexos e a fabricação de produtos complexos. Apresenta
economias de escala de vários tipos, empresas de grande porte, altos gastos em P&D e
freqüente integração vertical. As indústrias de bens eletrônicos duráveis, metalúrgica,
de vidro e cimento servem como exemplos;
fornecedores especializados: nesse setor, as inovações, geralmente de produto,
envolvem contato íntimo das firmas com os usuários e domínio específico de
tecnologia de projeto e construção de equipamentos. Exemplos: atividades de
engenharia mecânica e de instrumentos;
intensivos em ciência: o processo de inovação está diretamente vinculado a um
paradigma tecnológico viabilizado por um paradigma científico e, consequentemente,
apresenta: (i) grandes oportunidades tecnológicas, (ii) grandes investimentos em
P&D, (iii) grande portes das empresas e (iv) difusão predominante por seleção (o
mercado e as empresas aceitam, redirecionam ou recusam estratégias e trajetórias que
o mercado e as firmas seguirão). A indústria eletrônica, algumas empresas da área
química e de base biotecnológica são exemplos desse setor,
intensivos em informação: as inovações são incrementais e baseadas na experiência,
cujo acúmulo tecnológico pelas firmas compreende: projeto, estrutura, operação e
melhorias de sistemas complexos para o armazenamento e processamento de
39
informação. Têm se tornado centros de acúmulo tecnológico as grandes firmas
industriais de serviços, como banco e varejo.
Segundo Possas (1989), os padrões de inovação e difusão tecnológica nesses
setores ocorrem da seguinte maneira: nos setores “dominados por fornecedores” a
apropriabilidade e a oportunidade (exógena) de inovação o baixas, e a difusão ocorre por
meio do aprendizado e não por seleção, sendo afetada principalmente pela interação entre
essas indústrias e os respectivos fornecedores especializados.
Os setores intensivos em ciência” apóiam-se em direitos de propriedade e
oportunidades tecnológicas, em que as possibilidades o economicamente exploradas com
base em investimentos e direcionadas em P&D, por meio dos quais opera o mecanismo de
aprendizado típico.
Nas indústrias “intensivas em escala” há a combinação, em diferentes graus, de
elementos dos dois extremos acima. Existem vantagens tecnológicas derivadas do
aproveitamento de economias de escala e de efeitos sinérgicos na produção, assim como
vantagens na utilização de grupos de inovações, que são internalizadas por integração vertical
e horizontal, além do uso de métodos de aprendizado tanto formais quanto informais.
Na medida em que os principais métodos para a proteção contra a imitação
consistem em proteger e operar o conhecimento, acrescido dos direitos de propriedade, o setor
intensivo em informação assemelha-se aos setores baseados em ciência e intensivo em escala.
Assim, os mecanismos de acesso à inovação e transferência tecnológica ocorrem com a
compra de equipamentos e software.
-
Tipologia de regimes tecnológicos de Marsili
Marsili (2000) relatou a existência de setores com distintas combinações
tecnológicas e diferentes mecanismos de seleção e aprendizado que são responsáveis pela
configuração dos regimes tecnológicos.
O nível de oportunidade tecnológica, as barreiras de entrada tecnológica, as
diversidades interfirma na proporção e direção de inovações, a intensidade e direções da
diversificação da base do conhecimento, a relevância de várias fontes externas do
conhecimento, as ligações com a pesquisa acadêmica e a natureza da inovação são dimensões
que influenciam esses regimes tecnológicos, sendo que as diferenças entre elas conduzem à
criação da seguinte tipologia:
40
intensivos em ciência: caracterizados por um alto vel de oportunidade tecnológica,
elevadas barreiras tecnológicas de entrada e alta cumulatividade de inovação. As
firmas são homogêneas em suas proporções e direções da inovação, e as atividades
inovativas estão principalmente relacionadas à inovação de produto, se beneficiando
da contribuição direta de avanços científicos e da pesquisa acadêmica. São exemplos
as indústrias farmacêuticas e eletroeletrônicas;
intensivos em processos: caracterizadas por um nível médio de oportunidade
tecnológica, elevada barreira tecnológica de entrada. A inovação caracteriza-se por
processos, beneficiando-se dos avanços científicos e da pesquisa acadêmica, apesar
dos usuários e outras firmas representarem as principais fontes externas de
conhecimento. São exemplos as indústrias química e a de petróleo;
sistema complexo de conhecimento: caracterizado por níveis médio-alto de
oportunidade tecnológica, barreiras de entrada em escala e conhecimento e
persistência em inovação. O alto grau de diferenciação de competências tecnológicas
é o fator que distingue este regime dos outros. Parte dessas competências beneficia-se
da contribuição da pesquisa acadêmica. As indústrias de aeronaves e de veículos são
exemplos;
baseado na engenharia de produto: caracterizado por um nível médio-alto de
oportunidade tecnológica, reduzidas barreiras de entrada para inovação e não intensa
persistência à inovação. Distingue-se pela alta diversidade de trajetórias tecnológicas
exploradas pelas firmas, cuja inovação de produto beneficia-se de fontes externas de
conhecimento, principalmente de usuários. São exemplos: indústrias de controle de
maquinário, de instrumentos mecânicos e elétricos,
baseado em processos contínuos:caracteriza-se pelo baixo grau de oportunidade
tecnológica, reduzidas barreiras tecnológicas de entrada e baixa persistência em
inovação. As firmas apresentam diferenças tecnológicas e bases de conhecimento
variadas. Inclui uma variedade de atividades de produção, tal como indústria de
processos metalúrgicos, metais e de construção de materiais, indústria de processos
químicos (têxteis e papel, alimento e tabaco), etc.
Apesar das diferenças em termos de agregação dos setores em sistemas ou
regimes tecnológicos, ambos os autores, em suas respectivas classificações, guardam muitas
semelhanças no padrão de inovação entre os setores.
41
2.3.2 Estratégias tecnológicas
A existência de padrões distintos de inovação, entre os setores produtores,
influi diretamente nas formas como as firmas irão desempenhar suas estratégias tecnológicas
para inovar no mercado.
Porter (1999) relata que o desenvolvimento de estratégias em setores
emergentes ou que passam por grandes transformações tecnológicas é desafiadora face ao
volume de incertezas inerentes ao ambiente onde a empresa está inserida. Nesse sentido, Reis
(2004) esclarece que a inovação depende do direcionamento estratégico praticado pela gestão
de uma organização, que ela deve ser capaz de antecipar necessidades, monitorar a
tecnologia e controlar custos com a aquisição de tecnologia.
De acordo com Pavitt (1990), existem quatro características principais das
atividades inovativas em uma empresa que devem ser consideradas estratégicas:
a inovação envolve uma contínua e intensiva colaboração e interação entre grupos
funcionais especializados: pesquisa e desenvolvimento, produção e marketing para
implementação, organização e finanças para decisões estratégicas;
são atividades de grande incerteza: apenas 1 em cada 9 projetos de pesquisa e
desenvolvimento acaba por se tornar um sucesso comercial, com os outros 9 o
atendendo aos objetivos técnicos e comerciais a que se propunham;
elas são acumulativas: a maioria do conhecimento tecnológico é especifica,
envolvendo o desenvolvimento e teste de protótipos e plantas-piloto,
elas são muito diferenciadas: habilidades tecnológicas específicas em uma área
podem ser aplicadas em poucas áreas correlatas.
Segundo Freeman (1982), as firmas podem usar e combinar seus recursos e
habilidades técnicas e científicas, delegar maior ou menor peso para questões de curto e longo
prazo, formar alianças de vários tipos, entre outras alternativas, para resultar em diversas
possibilidades de estratégias tecnológicas. Nesse sentido, o autor distingue seis tipos de
estratégias relativas à inovação tecnológica, sendo elas:
estratégia ofensiva: consiste na obtenção da liderança técnica e do mercado, sendo a
empresa pioneira na introdução de novos produtos. Intensidade em P&D, elevada
capacidade em engenharia de projeto, atividades de pesquisa aplicada, contato direto
com centros de pesquisa e esforço de pesquisa sica na empresa são as
características das empresas que adotam tal estratégia;
42
estratégia defensiva: empresas que adotam estratégias defensivas também são
intensivas em P&D, porém, não são capazes de desenvolver inovações originais.
Apenas respondem às inovações introduzidas pelo líder, conservando assim, suas
participações no mercado. Isso ocorre porque essas empresas preferem aproveitar os
novos mercados abertos pelo inovador e aprender com os erros que este comete
obtendo, por vezes, resultados superiores aos do próprio inovador;
estratégia imitativa: para poder competir com os inovadores, as empresas que adotam
estratégias imitativas devem obter certas vantagens, como acesso aos mercados
cativos, proteção política ou custos menores. Além disso, devem apresentar alta
eficiência nos processo de produção por meio de elevadas capacidades em engenharia
de produção e projeto. As empresas que adotam essa estratégia podem disputar
agressivamente o mercado quando a tecnologia se estabiliza;
estratégia dependente: empresas que adotam esse tipo de estratégia desempenham um
papel subordinado na indústria. Não realizam atividades de P&D e dependem das
especificações técnicas de seus clientes;
estratégia tradicional: tais empresas atuam em indústrias onde tem decrescido o
dinamismo tecnológico. Não realizam atividades de P&D e atuam em mercados
oligopolizados,
estratégia oportunista: esta estratégia é adotada nas situações em que a empresa pode
ocupar um nicho ou oportunidade de mercado com base no senso ou capacidade
empresarial, sem incorrer em gastos de P&D. Assim, adotando a estratégia
oportunista, alguns empresários podem encontrar novas oportunidades que têm
escassa relação com o processo de P&D.
O grau de apropriação e o vel de exclusividade apresentado pelas empresas
são fatores que igualmente devem ser considerados no estabelecimento das estratégias
tecnológicas. Nesse sentido, Reis (2004) relaciona as seguintes formas de acesso às
tecnologias que se conjugam entre si, com prevalência de uma ou de outra:
compra: a empresa adquire bens ou produtos que contem tecnologia apropriada para
as suas necessidades;
importação explícita de tecnologia: possui um estágio de desenvolvimento maior da
base produtiva em relação à compra. Além disso, apresenta formas mais
desenvolvidas de relacionamento com o capital estrangeiro e uma capacidade técnico-
científica de desenvolver desdobramentos nos pacotes tecnológicos importados;
43
vigilância tecnológica: é a apropriação de tecnologias detidas por empresas líderes e
não-líderes e que possuem o desempenho que se deseja atingir. Possibilita um custo
relativamente mais baixo comparado a outros todos de acesso à tecnologia.
Contudo, é necessária uma boa seleção de fontes de informação. O benchmarking
serve como exemplo desse caso;
cópia: advém da vigilância tecnológica e consiste em adaptações criativas. Para que a
cópia seja bem sucedida, é necessário o conhecimento exato de dois momentos: saber
o momento certo de entrada no mercado e combinar o atraso perante os pioneiros,
evitando iniciar quando o que se pretende copiar es em declínio. Para que o
produto tenha sucesso, a empresa deve ficar atenta para o fato de agregar valor a esse
produto copiado;
ser uma empresa subcontratada: a obtenção da tecnologia se pela transferência da
contratante, que o apoio necessário para a qualificação da subcontratada. Por esse
mecanismo, o acesso de todo o know-how da contratante pela empresa
subcontratada;
pesquisa corporativa: pesquisas realizadas por colaboração entre empresas, através da
estruturação de equipes que buscam compartilhar habilidades e vantagens e,
conseqüentemente, exclusividade da tecnologia adquirida;
formação de pessoal próprio: ocorre pelo incentivo para que funcionários da empresa
sempre adquiram novos conhecimentos. Para tanto, necessita sinergia entre as
expectativas da empresa e as expectativas dos funcionários e pode ser feita utilizando
especialistas externos para repasse de conhecimento. A satisfação da equipe e a
evolução da organização é a grande vantagem;
licenciamento: trata-se da concessão de uma licença para explorar um determinada
tecnologia. Possibilita ao licenciador uma expansão rápida da tecnologia desenvolvida
e ao licenciado maior possibilidade de exploração em menor tempo;
pesquisa por encomenda: realizada por institutos de pesquisa mediante terceirização
do trabalho de pesquisa e desenvolvimento. A encomenda de pesquisas para
universidades é um dos caminhos recomendados;
contratação de especialistas: cerca de metade a dois terços do conjunto de
conhecimento é formada por conhecimentos não formalizados, ou seja, por
conhecimentos tácitos ou implícitos e que são fundamentais para o domínio de uma
tecnologia. O rápido acesso ao conhecimento tácito é a principal vantagem desse tipo
44
de transferência;
associações e alianças estratégicas: a exclusividade da tecnologia é partilhada e o
domínio tecnológico é melhor do que seria individualmente, no mesmo período de
tempo. Existem diversos veis e formas de associações entre empresas: desde uma
sociedade simples até uma joint venture,
pesquisa e desenvolvimento: é a criação própria de inovação e exige grandes
investimentos em atividades de P&D. Constitui o mais alto grau possível de domínio
de uma nova tecnologia, se for obtida, possibilitando a obtenção de efetivo poder de
mercado em escala internacional. Porém, envolve elevados riscos e incertezas, típicos
de inovações radicais.
Zahra (1996) apud Rieg (2004) indica quais aspectos da empresa, relacionados
com o seu comportamento inovativo, podem ser considerados em uma análise de sua
estratégia tecnológica. O primeiro deles diz respeito a postura tecnológica da firma: se é
pioneira ou seguidora. Uma empresa é considerada pioneira quando é a primeira a introduzir
no mercado novas tecnologias de produto ou de processo. Por outro lado, a empresa seguidora
copia as tecnologias de produto e/ou processo desenvolvido por seus rivais. Assim, uma das
mais importantes escolhas estratégicas que uma empresa enfrenta consiste em determinar se
deve assumir uma postura de líder ou de seguidora de mercado.
O segundo relaciona-se com as fontes tecnológicas utilizadas pela empresa: se
internas (P&D) ou externas (alianças estratégicas ou de cooperação, licenciamento e compra
de tecnologias fora da empresa).
O portfolio de tecnologias, ou seja, as tecnologias nas quais a empresa vem
investindo ao longo do tempo formam o terceiro fator. Essas tecnologias podem ser distintas
entre básicas - aquelas necessárias a qualquer empresa para competir em uma determinada
indústria, não fornecendo vantagem competitiva à empresa; e chave - de alto valor e únicas à
empresa, provendo vantagem competitiva à mesma.
O quarto fator relaciona-se ao número de produtos (novos ou melhorados)
introduzidos no mercado ao longo do tempo. A introdução de novos produtos pode ajudar a
empresa a atender as necessidades de diversos consumidores, gerar maiores lucros e permitir
diferenciar-se das demais.
O quinto fator diz respeito às ações para proteger o capital intelectual da
empresa, como patentes, marcas registradas e segredos de comércio. A previsão tecnológica,
entendida como o monitoramento realizado pela empresa do desenvolvimento tecnológico do
setor no qual atua e em setores correlatos forma o sexto fator. Por ajudar na identificação de
45
ameaças e oportunidades, das iniciativas dos seus competidores, das mudanças tecnológicas
no ambiente e das tecnologias potencialmente substitutivas, esse fator se constitui um
importante componente da estratégia tecnológica da empresa.
2.3.3 Limitações para a adoção de inovações tecnológicas
O processo de inovação tecnológica geralmente começa com o reconhecimento
de um problema ou de uma necessidade, que estimula as atividades de pesquisa e
desenvolvimento visando resolver o problema.
As barreiras mais comuns de uma organização no processo de inovação são o
isolamento da alta administração, a intolerância com os pesquisadores, o horizonte de curto
prazo das empresas, as práticas contábeis conservadoras, a excessiva burocracia e os
incentivos inadequados aos pesquisadores.
Lira et al. (2004) citam outros fatores que limitam o desenvolvimento das
inovações tecnológicas. Tais fatores são classificados como de ordem: 1. tecnológica -
ausência de um sistema de máquinas e equipamentos e pouca incorporação de
desenvolvimento tecnológico; 2. organizacional - pouca ou nenhuma divisão técnica e social
do trabalho, administração tradicional (paternalista e autoritária) centrada, em geral, no
proprietário, e relações internas mais pessoais do que profissionais; 3. financeira pouco ou
nenhum capital para investimento.
Outros aspectos, segundo o Manual de Oslo (OCDE, 2004), podem limitar as
atividades de inovação, tais como os aspectos econômicos e os empresariais. A percepção de
riscos excessivos e custo muito alto, a falta de fontes apropriadas de financiamento e prazos
de retorno do investimento muito longos são algumas das peculiaridades que limitam as
atividades de inovação em seu aspecto econômico. No aspecto empresarial, os limitantes da
inovação são a falta de pessoal qualificado, falta de informação sobre tecnologia e sobre
mercados, dificuldade em controlar os gastos com inovação, resistências às mudanças na
empresa e falta de oportunidade para a cooperação.
Além dos aspectos econômicos e empresariais, existem ainda outros aspectos
limitantes da atividade de inovação, tais como: fraca proteção aos direitos de propriedade
intelectual; legislação, normas, regulamentos, e impostos; clientes indiferentes a novos
produtos e processos e, nenhuma necessidade de inovar devido a inovações anteriores.
46
De acordo com Freitas (1996), uma inovação apresenta principalmente dois
tipos de riscos: os riscos resultantes da concorrência, dos processos de produção e das
mudanças do mercado; e os riscos resultantes dos erros de gestão. Como todo lançamento de
uma inovação tecnológica implica a criação de uma novidade, e uma novidade contém
normalmente elementos que não são ainda completamente dominados e sobre os quais existe
uma enorme incerteza de sucesso, a incerteza se associa a cada um dos cinco riscos:
incerteza resultante da concorrência: determinada taxa de insucesso é inevitável
quando existe forte concorrência no mercado. Isso se pelo fato de existirem
situações em que o mercado é tão vasto que pode absorver a produção de várias
empresas durante certo tempo, mas também pode saturar-se rapidamente, diminuindo
assim a margem de lucro da empresa inovadora;
incerteza resultante do processo de produção: um processo ou produto que pareça
promissor num projeto pode ser inviável de se produzir, por motivos diversos, tais
como baixo rendimento, baixa confiabilidade, entre outros;
incerteza resultante do mercado: nem sempre o estudo de mercado é uma fonte
confiável de informação sobre a decisão de lançar um produto. Algumas vezes, a
intenção de compra identificada no estudo de mercado revela-se bem diferente da
decisão de compra após o lançamento da inovação. Além disso, o estudo de mercado
pode se tornar ultrapassado se o produto levar muito tempo para ser lançado,
incerteza resultante de erros de gestão: os erros de gestão mais comuns no processo
de inovação são as interpretações falhas das tendências do mercado, da concorrência e
da concepção do novo produto e a redação inadequada do pedido de patente.
As barreiras e incertezas apresentadas se tornam ainda mais impactantes para
as pequenas e médias empresas (PME’s). Segundo Quandt (1998) apud Olave e Amato Neto
(2001a), os obstáculos mais comuns na implementação de inovações nas PME’s são a
dificuldade de identificação das necessidades e dos tipos de capacidades tecnológicas a serem
desenvolvidas; o tamanho da empresa, que as pequenas empresas geralmente possuem
capacidade limitada de absorver informações do mercado para a inovação; a falta de
capacidades especializadas, onde recursos e capacitações podem estar completamente
ausentes; e a aversão generalizada ao risco, principalmente aqueles associados a
investimentos em novas tecnologias e mercados.
47
2.4 Paradigmas para adoção de inovações tecnológicas
O atual paradigma de competição internacional tem exigido das empresas o
desenvolvimento de capacitação tecnológica, inovação e flexibilidade numa intensidade cada
vez maior. Conseqüentemente, os inúmeros avanços no campo da tecnologia têm provocado
efeitos significativos no modo como os tomadores de decisão das empresas industriais se
posicionam diante da adoção de inovações tecnológicas nos processos de produção.
Como a inovação envolve um elemento fundamental de incerteza, que não é
explicado simplesmente pela falta de informação sobre a ocorrência de eventos conhecidos,
mas devido à existência de problemas técnico-econômicos cujas soluções são desconhecidas,
os aspectos psicológicos e comportamentais que envolvem receios, esperanças, desejos e
frustrações relativas à adoção e utilização de tecnologias evidenciam a necessidade de se
identificar a disposição desses profissionais em desenvolver, adotar e utilizar tecnologias
(GRAEML, 2003).
De certa forma, os agentes envolvidos no processo inovativo devem possuir
algum tipo de percepção quanto às oportunidades técnicas e econômicas de algo o
explorado, que o processo de inovação tecnológica envolve uma série de possibilidades - a
pesquisa, a descoberta, a experimentação, o desenvolvimento, a imitação, a adoção de novos
produtos, novos processos de produção e novas configurações organizacionais.
Nesse sentido, dois fatores de grande impacto na predisposição das empresas
quanto à decisão de inovar são os paradigmas tecnológicos e os paradigmas organizacionais.
2.4.1 Paradigmas tecnológicos
O processo de inovação tecnológica envolve um elemento que lhe é inerente e
inevitável: a incerteza. Essa incerteza se pela falta de informação sobre a ocorrência de
eventos conhecidos e devido à existência de problemas técnico-econômicos cujas soluções
são desconhecidas e à impossibilidade de traçar precisamente as conseqüências das ações.
Contudo, é justamente nos momentos de crise e de incertezas que os elementos
necessários para as transformações estruturais nos mais variados campos da ciência, da
tecnologia, do comportamento e da sociedade são criados.
48
Kunh (2006) em seu estudo sobre os paradigmas das revoluções científicas,
evidencia que é preciso que a pesquisa orientada para um paradigma seja um meio
particularmente eficaz de induzir as mudanças nesses mesmos paradigmas que a orientam.
Nesse sentido, descreve o termo “paradigma” essencialmente como um conjunto de crenças
compartilhadas por cientistas, ou um conjunto de acordos sobre os quais os problemas são
solucionados.
Segundo o autor, os paradigmas o essenciais para a pesquisa científica, pois
orienta os esforços da pesquisa de comunidades científicas. Assim, ao adquirir um paradigma,
essas comunidades adquirem um critério para a escolha de problemas: aqueles considerados
como dotados de uma solução possível. Outros problemas, enunciados em termos
incompatíveis com os instrumentos e conceitos do paradigma aceito naquele momento,
passam a ser rejeitados como sendo parte de outra disciplina.
Grof (1985, p.3) apresenta uma definição resumida de como a palavra
paradigma é comumente usada:
Um paradigma pode ser definido como uma constelação de crenças, valores e
técnicas compartilhadas por membros de uma determinada comunidade científica.
Alguns paradigmas são de uma natureza filosófica básica e são muito gerais e
abrangentes, outros governam o pensamento científico em áreas de pesquisa muito
específicas e circunscritas.
Dosi (1984) assinala que após o estabelecimento de certo paradigma, este
seguiria um processo normal de desenvolvimento ao longo de uma trajetória tecnológica,
definida pelo próprio paradigma. Novos paradigmas surgiriam, então, com base nas
oportunidades criadas tanto pelo progresso científico, como em função da crescente
dificuldade em se avançar ao longo do paradigma existente. O surgimento de novos
paradigmas tecnológicos estaria intimamente associado à implantação de novos setores
produtivos, assim como profundas transformações da estrutura produtiva existente.
Nota-se, então, que os paradigmas não têm apenas uma função explicativa, mas
também uma função normativa, determinando o que é ou não possível ser aceito e estudado
dentro dos padrões aceitos de como as coisas funcionam e são constituídas.
Valendo-se de várias definições sobre o progresso técnico e a importância do
conhecimento para a concepção da tecnologia, Dosi (1988b) utiliza a expressão paradigmas
tecnológicos para representar os programas de pesquisas tecnológicas que se baseiam em
modelos ou padrões de solução de problemas tecnológicos selecionados e em boa medida
predeterminados. Esses paradigmas seriam derivados de princípios científicos e
procedimentos tecnológicos igualmente selecionados. Assim, haveria no paradigma
tecnológico, como no científico, prescrições habituais sobre que direção tomar e quais evitar.
49
Nessa mesma concepção, Perez (1992) afirma que um paradigma tecnológico
possui certos limites, representados por seu clico de vida, dividido em quatro fases: (i) difusão
inicial: quando surgem as inovações radicais em produtos e processos, proporcionando
oportunidades de novos investimentos, surgimento de novas indústrias e novos sistemas
tecnológicos; (ii) crescimento rápido: novas indústrias vão se firmando e explorando
inovações sucessivas; (iii) crescimento tardio: desaceleração do crescimento das novas
indústrias e difusão do paradigma para os setores menos receptivos, (iv) maturação: fase em
que os mercados começam a se saturar, os produtos e processos se padronizam e as inovações
incrementais nos processos trazem pouco aumento de produtividade.
A busca pela superação da última fase pode, freqüentemente, resultar no
surgimento de um novo paradigma tecnológico. Pela busca de novas estratégias que as
mantenham no mercado de forma competitiva, as empresas desenvolvem novas tecnologias
que possibilite a criação de novos produtos e, com isso, podem provocar uma mudança tão
significativa, que implica em um novo paradigma tecnológico (PEREZ, 1992).
Enfim, é válido ressaltar que as trajetórias tecnológicas são fortemente
influenciadas tanto por fatores de ordem econômica, como estruturas e condições específicas
de mercado, como por elementos de ordem político-institucional, principalmente a atuação do
Estado na promoção ou inibição do desenvolvimento de determinadas trajetórias. Para a
emergência dos paradigmas tecnológicos, a trajetória tecnológica trilhada pela firma, o grau
de oportunidade e apropriabilidade das inovações em curso, os processos pelos quais as
pessoas e as firmas aprendem e acumulam experiências para guiar o progresso tecnológico
são alguns dos fatores que contribuem para a formação desses paradigmas.
2.4.2 Paradigmas organizacionais
Foram várias e profundas as mudanças nos ambientes competitivo,
tecnológico, econômico, social, e cultural ocorridas nos últimos tempos. Segundo Maximiano
(2005), essas mudanças e inovações levaram ao surgimento de novos conceitos e técnicas
para administrar as organizações, chamadas de “novos paradigmas da administração”.
50
No campo da Teoria das Organizações
2
, paradigmas são modelos ou padrões
que servem como marco de referência para explicar às pessoas, como lidar com diferentes
situações e ajudá-las nisso. No campo da administração, os paradigmas são:
premissas ou hipóteses: explicações que ajudam a entender as organizações e orientam
a maneira de administrá-las. Nessa situação, paradigma significa o mesmo que
doutrina;
modelos de administração e organização: compreendem todos os tipos de cnicas e
soluções para administrar as organizações,
contexto: compreende a conjuntura social, econômica, tecnológica e competitiva
dentro da qual as organizações são administradas.
Para Mintzberg (1979), sete tipos ou configurações de organizações:
empresarial, máquina, profissional, diversificada, inovadora, missionária e política. Cada tipo
é caracterizado pela parte da organização que é mais importante para as suas operações,
influenciando a organização e definindo sua estrutura. O tipo de organização que mais
privilegia o desenvolvimento e/ou adoção de inovações tecnológicas é a do tipo inovadora.
Portanto, para as empresas que buscam desenvolver estruturas internas que permitam
adaptações ao meio ambiente externo por meio de inovações em produtos, processos e gestão,
esse é o tipo mais eficaz de configuração.
Na organização inovadora, a parte mais importante é o pessoal de pesquisa e
desenvolvimento, ou seja, quem trabalha com o conhecimento e de quem a inovação depende.
Nesse tipo de organização, busca-se encontrar novos conhecimentos por meio de equipes
multidisciplinares que trabalham em projetos, onde a cooperação funciona como mecanismo
básico de coordenação. A característica principal da organização inovadora é a ênfase na
busca de conhecimentos para lidar com ambientes dinâmicos (MINTZBERG, 1979).
Embora seja uma configuração ideal para que o processo de inovação ocorra
rapidamente e com maior facilidade, não é um tipo de configuração fácil de se estabelecer.
Essas dificuldades ocorrem pela existência de fatores estruturais da organização e por fatores
pessoais dos integrantes da organização. Nos fatores estruturais, destaca-se a falta de
definição de responsabilidades e a inexistência de departamentalização clara. Nos fatores
pessoais, o item mais impactante é a dificuldade que alguns gerentes apresentam em dividir,
durante o tempo de duração de um projeto, a liderança do grupo com alguém que tenha alto
conhecimento técnico, mas que não ocupe cargo gerencial. então um conflito de poder e
2
Teoria das Organizações: campo do conhecimento humano que se ocupa do estudo das organizações em geral.
51
de subordinação e o desenvolvimento da inovação torna-se mais lento ou inviável.
Segundo Francis e Bessant (2005), inovar exige saber gerenciar e coordenar os
vários recursos internos e externos da organização, tais como: dinheiro, informação, mão-de-
obra, habilidades, tempo e conhecimento, ou seja, exige saber lidar com uma série de
paradigmas internos à organização (burocracia, restrição às mudanças) modificando-os a fim
de possibilitar a inovação. Os autores defendem a idéia de que as firmas devem sair da
posição estática de “fazer bem o que fazemos” para “fazer coisas diferentes em diferentes
meios”, argumentando que essa mudança se torna primordial no mercado de atuação.
Os autores desenvolveram um modelo, baseado na idéia de que o processo de
inovação pode e deve ser gerenciado, para direcionar a firma em seu processo de inovação, ou
seja, a direção que a mesma deve ter e o desenvolvimento das capacidades para que a
inovação ocorra. Nesse modelo, enfatizam a necessidade do desenvolvimento dos quatro P´s
da inovação: produto, processo, posicionamento e paradigma.
- P1: inovação para introduzir ou aperfeiçoar produtos
O desenvolvimento de novos produtos é uma direção óbvia da capacidade de
inovação, influenciado pelo grau de maturidade da empresa. Pode ser considerado em várias
dimensões, como: diferenciação de produtos (quantidade, tempo de desenvolvimento e taxa
de mudança do produto), variação do produto, freqüência de introdução de novos produtos.
Os recursos requeridos para o desenvolvimento ou aperfeiçoamento de
produtos podem variar freqüentemente. Para alguns, os recursos aplicados servem para várias
gerações do ciclo de vida do produto, enquanto para outros, a cada novo aperfeiçoamento são
necessários novos recursos. Enfim, o desenvolvimento de novos produtos pode ser, por ele
mesmo, a “direção” do processo de inovação, já que as empresas devem se esforçar na oferta
de produtos com funcionalidade superior, preço acessível e imagem forte no mercado.
- P2: inovação para introduzir ou aperfeiçoar processos
Processos são largamente aceitos como umas das “direções” na iniciativa da
inovação. Representam uma seqüência de atividades responsáveis pela montagem do produto,
a fim de que o mesmo seja produzido de acordo com as especificações delineadas no projeto.
52
Portanto, é necessário que esses processos sejam constantemente aperfeiçoados por meio de
novas tecnologias e treinamento da mão-de-obra que irá operacionalizá-lo.
- P3: inovação para definir ou redefinir o posicionamento da empresa ou dos produtos
A principal importância da inovação no posicionamento do produto não está na
melhoria da composição ou funcionalidade deste produto, mas no significado do mesmo para
o consumidor ou segmento de mercado ao qual pertence. Para alguns produtos, o sucesso
depende largamente do modo como serão introduzidos no mercado e posicionados na mente
dos potenciais consumidores. A inovação no posicionamento pode mudar as características de
um mercado ou criar um mercado que não existe, ou seja, criar novas oportunidades.
- P4: inovação para definir ou redefinir o paradigma dominante de uma empresa
Num ambiente em constante mudança, onde as organizações são influenciadas
pelos agentes do ambiente em que estão inseridas e pelas mudanças no modo de pensar e agir,
a velha forma de se fazer as coisas deve ser substituída por novas formas, adaptadas à esta
nova realidade. É nesse ponto que se encontra a importância da mudança de paradigma, que
inclui elementos como aprendizagem, auto-reflexão e cultura organizacional.
Essa mudança de paradigma deve ocorrer em duas dimensões, cuja união
forma a organização como um todo: i) inovação dos paradigmas internos à pessoa e ii)
inovação dos paradigmas internos à empresa (modelos de gestão).
A inovação dos paradigmas internos à pessoa refere-se ao modo de pensar, aos
valores e à visão do mundo dos participantes de uma organização. Dependendo das
características desses elementos, a inovação dos três outros P’s (produto, processo e
posicionamento) pode ser tanto estimulada, quanto desestimulada, tornando-se, muitas vezes,
uma questão fora de cogitação para a empresa. O excesso de burocracia é um exemplo de
elemento desestimulante, assim como a aversão à mudança, a rigidez na aceitação de idéias
advindas de outras pessoas e a aversão ao risco.
A inovação dos paradigmas internos à empresa refere-se aos modelos de gestão
utilizados pelos gestores para entender a empresa e compor seus processos, sistemas de
comunicação, hierarquia, dimensão de autoridade, departamentos e suas inter-relações,
53
normas e regulamentos, buscando alcançar sucesso e competitividade no mercado. Assim, um
teste para comprovar a eficácia do modelo de gestão aplicado por uma determinada empresa é
identificar se esse modelo permite a formação de uma arquitetura interna capaz de sustentar
ganhos de competitividade.
A utilização de modelos de gestão mais adaptados a conjuntura atual
possibilita, com maior eficiência, as inovações de produto, processo e posicionamento. Nesse
sentido, é necessária a busca pela reconfiguração da estrutura da empresa por meio de
utilização de modelos modernos de gestão ou por meio de estratégias como alianças, joint
ventures e aquisições (FRANCIS e BESSANT, 2005).
O entendimento dos quatro P’s como “direções” no processo de inovação,
possibilita à empresa se mover da sua situação estática de fazer sempre melhor aquilo que
faz”, para fazer coisas diferentes de maneiras diferentes. O entendimento dos quatro P´s (em
especial, o P de paradigma) permite o direcionamento de inovações em diferentes caminhos.
A predisposição para a adoção de uma nova tecnologia por parte da empresa
depende muito das características e dos paradigmas de sua cultura organizacional. Cultura
organizacional pode ser definida como o conjunto de valores em vigor numa empresa, suas
relações e sua hierarquia, definindo os padrões de comportamento e de atitudes que governam
as ações e decisões mais importantes da administração, ou ainda, as crenças em relação ao que
é importante na vida e expectativas sobre o comportamento dos membros da organização
(LACOMBE e HEILBORN, 2003).
A cultura organizacional tem impacto acentuado na capacidade de mudança
das organizações. Sendo um dos recursos da administração, pode ser usada para alcançar os
objetivos da mesma forma que a tecnologia, os insumos de produção, os equipamentos, os
recursos financeiros e humanos. Dos valores dessa cultura, pode ser priorizado em maior ou
menor grau o nível de desempenho e os critérios para a sua avaliação; a capacidade de
inovação e de criação; a competitividade e o espírito de lealdade (MAXIMIANO, 2005).
Mesmo em organizações onde a cultura organizacional é avessa aos processos
de inovação, ressalta-se que, muito embora essa cultura esteja enraizada muitas vezes por
longos períodos, ela pode e deve ser mudada. Lacombe e Heilborn (2003) ressaltam que os
executivos devem estar conscientes da possibilidade dessa mudança e que os administradores
com conhecimento da cultura, devem saber identificar o que e como deve ser mudado e
quando a mudança é necessária. Agindo dessa forma, a empresa estará constantemente
habilitada a enfrentar o mercado em permanentes mudanças.
54
2.4.3 Predisposições organizacionais para a inovação tecnológica
Os aspectos psicológicos e comportamentais que envolvem receios, esperanças,
desejos e frustrações relativas à adoção e utilização de tecnologias por parte dos profissionais
que desempenham papéis decisórios em uma empresa representam um dos fatores que podem
facilitar ou impedir o processo de inovação. Se uma empresa tiver uma cultura organizacional
favorável à mudança, normas e regulamentos que incentivem a inovação e clima
organizacional apto a lidar com esses processos, mas pessoas sem espírito empreendedor e
proativo, a inovação pode estar comprometida.
Para Badaway (1993), a gestão da tecnologia envolve um convívio com a
inovação, direcionada à mudança, ao desenvolvimento de novas maneiras de pensar, produzir
e competir. A gestão tecnológica somente será desenvolvida de forma eficiente se a
tecnologia tiver seu papel na estratégia da empresa. O empreendedor precisa estabelecer a
ligação entre a estratégia empresarial e a tecnológica, sabendo quais os tipos de tecnologias
são necessárias ao seu negócio, de forma a alcançar os objetivos previamente estipulados.
Nesse sentido, torna-se evidente a necessidade de aplicação de instrumentos
que utilizem variáveis capazes de identificar a disposição desses profissionais em
desenvolver, adotar e utilizar tecnologias e os principais fatores envolvidos nesse processo.
Conforme Graeml (2003), os resultados podem ser usados para avaliar o desempenho da
organização e compará-lo ao de outras organizações ao longo do tempo, revelando a sua
posição frente aos concorrentes. Além desses fatores, esses resultados podem possibilitar a
adoção de novas estratégias competitivas e permitir a correção dos desvios de rumo, quando
necessário.
No entanto, determinadas variáveis envolvidas no processo de tomada de
decisão, como as relacionadas ao comportamento humano, são difíceis de serem avaliadas.
Parasuraman (2000) estudou o comportamento das variáveis comportamentais,
propondo a utilização de um instrumento de medida denominado Technology Readiness Index
(TRI) Índice de Prontidão para a Tecnologia, cujo objetivo era mensurar a propensão das
pessoas em adotar inovações tecnológicas. Com esse instrumento, seria possível identificar a
ação de condutores e inibidores mentais que, coletivamente, determinam a predisposição das
pessoas tomadoras de decisões diante de fatores que condicionam a adoção de inovações
tecnológicas nos processos de produção.
55
De acordo com Parasuraman e Colby (2001), a prontidão para a tecnologia é
composta por quatro dimensões:
otimismo: representa as visões positivas em relação à inovação;
inovatividade: indica uma tendência da empresa em ser pioneira na adoção de
inovação tecnológica;
desconforto: denota a percepção de falta de controle sobre a inovação tecnológica e o
sentimento de ser oprimido por ela,
insegurança: demonstra desconfiança da inovação tecnológica e ceticismo em relação
às habilidades para utilizá-la de forma apropriada.
Dessas quatro dimensões, otimismo e inovatividade são os condutores da
prontidão para a tecnologia, ou seja, indicam fatores que motivam as empresas à adoção de
inovações tecnológicas. Os inibidores são as dimensões desconforto e insegurança,
representando fatores que retardam ou impedem a adoção. Os autores destacam que a
prontidão para a tecnologia varia de empresa para empresa, uma vez que o caminho que leva à
adoção e as implicações da adoção dependem do grau e da natureza da prontidão das
empresas adotantes e é multifacetada, pois diferentes tipos de crenças e sentimentos produzem
uma prontidão geral.
Segundo os autores, as dimensões condutoras e inibidoras da prontidão para a
tecnologia atuam independentemente, de forma que uma empresa pode possuir qualquer
combinação de motivações ou inibições. Mesmo que apresente níveis altos de otimismo e
inovatividade, o fato de uma empresa ser levada a adotar uma inovação tecnológica em uma
área específica não significa que ela será igualmente levada a adotar em outra.
Portanto, uma empresa pode ser inovadora em tecnologia, propensa à
experimentação, mas temerosa a respeito do valor da inovação tecnológica. Em outras
palavras, a empresa pode acreditar na inovação tecnológica, mas ao mesmo tempo temê-la.
Em razão desses aspectos, Parasuraman e Colby (2001) sugerem que as
empresas podem ser classificadas em cinco tipos (exploradoras, pioneiras, ticas, paranóicas
e retardatárias) em relação à predisposição para a inovação tecnológica.
O segmento das exploradoras apresenta altos índices de prontidão para a
tecnologia, com altos índices nas dimensões condutoras da adoção (otimismo e inovatividade)
e baixos índices nas dimensões inibidoras (desconforto e insegurança). O segmento das
pioneiras divide com as exploradoras altos níveis de otimismo e inovatividade, mas, ao
mesmo tempo, apresenta níveis altos de desconforto e insegurança. O grupo das céticas revela
56
índices baixos em todas as dimensões. O grupo das paranóicas apresenta altos níveis de
otimismo, mas revela níveis igualmente altos nas dimensões inibidoras da adoção. Este grupo
apresenta baixo grau de inovatividade. As retardatárias representam o oposto das
exploradoras, pois exibem baixos índices nas dimensões condutoras da adoção e altos índices
nas dimensões inibidoras.
Para Rogers (1995), as etapas do processo de decisão de adoção de uma
inovação tecnológica envolvem conhecimento, persuasão, decisão, implementação e
confirmação. A etapa do conhecimento inicia-se quando a empresa recebe estímulo,
despertando sua atenção para uma inovação tecnológica. Na etapa de persuasão, formação
de atitudes favoráveis ou desfavoráveis em relação à inovação tecnológica. Esta etapa está
relacionada ao risco percebido na avaliação das conseqüências de uso da inovação
tecnológica.
O terceiro estágio (etapa da decisão) envolve a escolha entre adotar ou rejeitar
a inovação tecnológica. O estágio seguinte, implementação, refere-se ao uso efetivo da
inovação, enquanto o quinto estágio envolve a confirmação ou reforço buscado pela empresa
para a decisão de adoção que já foi tomada. De maneira geral, o processo de decisão envolve
as atividades de busca e processamento de informações, através dos qual a empresa obtém
informação para diminuir a incerteza sobre a inovação.
Observa-se que, segundo o modelo de Rogers (1995), a adoção de inovações
tecnológicas envolve um processo de decisão em que predominam os elementos cognitivos do
comportamento da empresa adotante para a sua explicação. Sabe-se, contudo, que o processo
de decisão da empresa adotante abrange diferentes respostas psicológicas e que estas incluem
tanto aspectos cognitivos, quanto afetivos. A segmentação dos adotantes proposta pelo autor
leva em consideração, sobretudo, a inovatividade da empresa adotante, ou seja, o grau em que
esta é relativamente mais imediata ou pioneira na adoção de inovações tecnológicas que
outros membros de um sistema social.
57
2.5 Inovação tecnológica na indústria de alimentos
2.5.1 Características e entraves à inovação tecnológica
A inovação tecnológica, tanto de produto, quanto de processo, é reconhecida
como um poderoso instrumento para o desenvolvimento econômico de longo prazo e como
uma das principais fontes de vantagem competitiva para empresas de todos os segmentos
econômicos.
Segundo Wedeckin e Neves (1995), existe uma nova demanda por produtos
agroindustriais ocasionada pela mudança no estilo de vida do consumidor bem como pela
mudança no gosto e na preferência. Conseqüentemente, surgem novos paradigmas para o
setor: diferenciação por meio de aspectos qualitativos, interação entre consumo de alimentos e
meio ambiente e valorização da saúde. Nesse novo cenário, a diferenciação de produtos por
meio da qualidade ganha nova dimensão, que somente pode ser alcançada por meio da
inovação tecnológica de produto e processo.
Atualmente, as empresas agroalimentares no Brasil encontram-se em uma
posição em que os recursos tecnológicos passam a ser fundamentais no enfrentamento dos
desafios da competição nacional e internacional. Em virtude da maior concorrência advinda
da globalização e da diminuição do ciclo de vida do produto, investir em inovação tecnológica
de produto e processo tornou-se fator essencial para a sobrevivência de uma empresa.
Nesse sentido, as inovações tecnológicas atuais da indústria de alimentos estão
focadas no aumento de produtividade e na agregação de valor ao produto. A fim de atender
essas solicitações, essas indústrias têm utilizado equipamentos mais sofisticados, permitindo
programações para processamento de diferentes produtos sem alteração na linha de produção,
assim como maior assepsia decorrente da baixa manipulação direta dos produtos, reduzindo
os níveis de contaminação.
No ano de 2005, foram investidos no Brasil R$ 2,76 bilhões de recursos em
equipamentos, plantas e aquisições. Desse total, estima-se que R$ 1,28 bilhão tenha sido
efetivamente aplicado, dos quais R$ 533 milhões foram dirigidos ao desenvolvimento de
novos produtos. Como as indústrias alimentícias estão migrando para outros estados do país,
acredita-se que os investimentos na área deverão aumentar (ARAUJO, 2006).
58
Segundo Nantes e Machado (2005), na indústria de alimentos o
desenvolvimento tecnológico acontece principalmente no plano dos conhecimentos científicos
aplicáveis à produção, não se incorporando necessariamente ao processo produtivo. Isso quer
dizer que um produto pode sofrer alguma melhoria tecnológica em uma de suas características
sem necessidade de um novo processo de fabricação, como a compra de novas quinas e
equipamentos.
Nas inovações de processo na indústrias de alimentos é comum a adaptação de
máquinas e equipamentos existentes na planta. Essas adaptações têm como objetivo
permitir à empresa aumentar a produtividade e ao mesmo tempo reduzir os custos,
aumentando a competitividade no preço final do produto (SANTINI, SCHIAVI e SOUZA
FILHO, 2005). O preço é um fator muito importante para as empresas que fabricam produtos
com baixa diferenciação, que a concorrência entre esses produtos é bem maior em relação
aos produtos com maior diferenciação e valor agregado.
Estes autores relatam que essa estratégia é também utilizada pelas empresas
multinacionais, que realizam adaptações de processo definidas pela matriz no exterior. Tais
adaptações visam adequação dos produtos à demanda local, assim como adaptações em
função das matérias-primas disponíveis e características da mão-de-obra local.
Nas inovações de produtos, os autores destacam que as principais mudanças
ocorrem no tamanho e design das embalagens e na utilização de novos aditivos, ou seja,
alterações que visam a adequação do portfolio de produtos às novas necessidades dos
consumidores.
A indústria de alimentos apresenta características paradoxais. De um lado é um
setor intensivo em ações de marketing, principalmente por meio da propaganda, mas com
baixo investimento em P&D. Por outro lado, é perceptível ao lançamento de novos produtos
de alto valor agregado, voltados a atender setores específicos e mercados exigentes
(REVILLION et al., 2004).
Os conceitos envolvendo novos produtos variam entre dois extremos. No
conceito mais amplo, aceita-se qualquer tipo de inovação ou aprimoramento, como uma nova
embalagem ou um novo sabor de um alimento. No conceito mais restrito, produto novo é
apenas aquele com características inéditas.
Fuller (1994) apresenta uma tipologia classificando e descrevendo os principais
tipos de inovações em produtos alimentícios:
59
extensão de linha: compreende uma nova variação de uma linha de produtos
estabelecida. As extensões são produtos que demandam pouco tempo e esforço para
seu desenvolvimento, como por exemplo, um biscoito recheado com um novo sabor;
reposicionamento de produtos existentes: quando um produto existente pode ser
introduzido em um mercado totalmente novo. Geralmente, são necessários apenas
alguns procedimentos, como substituição de rótulo ou uma nova embalagem;
nova forma de produtos existentes: quando alteração na forma de produtos já
existentes. A mudança na forma do produto pode requerer um longo tempo de
desenvolvimento, além da compra de equipamentos para a produção e para
empacotamento;
reformulação de produtos existentes: realizar alguma melhoria no produto, como
mudança de cor e sabor, aumentar o teor de fibras e reduzir o teor de gorduras, entre
outras melhorias. São exemplos o pão com fibras e os produtos lácteos que não
contém lactose;
nova embalagem para produto existente: quando a mudança de embalagem tem como
objetivo aumentar a vida de prateleira do produto ou fornecer uma nova imagem
associada ao produto, como a mudança da embalagem de mostarda: de vidro para a de
plástico;
produto inovador: resultado da realização de mudanças em um produto existente,
produto inteiramente novo: caracterizado por um tempo extenso de desenvolvimento,
altos custos, altos investimentos em marketing com a função de educar os
consumidores, gastos com novos equipamentos, alto risco e possibilidade de serem
copiados pelos concorrentes se forem bem sucedidos.
De acordo com a classificação de Fuller (1994), as seis primeiras categorias de
inovação se encaixam no conceito mais amplo de produto novo, ou seja, qualquer
modificação no produto ou no processo de fabricação desse produto é considerada inovação.
Essas são as estratégias da maioria das indústrias alimentícias, por permitir
imitação de produtos e processos já existentes para o mercado e que serão novos apenas para
a empresa. A última categoria, produto inteiramente novo, se enquadra no conceito restrito ou
específico de inovação, já que se caracteriza pelo desenvolvimento de produtos com
características novas, tanto para a empresa, quanto para o mercado. Essa é a estratégia
utilizada pela minoria das empresas alimentícias em função dos altos custos e riscos
envolvidos no processo.
60
Existem alguns fatores que explicam a utilização de estratégias empresariais
que privilegiem o lançamento de novos produtos alimentares, inclusive os produtos com alto
valor agregado. Segundo Revillion et al. (2004), o processo de concentração do setor de
distribuição é um desses fatores. O aumento do poder de barganha e a crescente oferta de
produtos com marca própria geram um processo de concorrência entre a indústria e o setor de
distribuição. Assim, as indústrias de alimentos o forçadas a desenvolver produtos
diferenciados e a reforçar a marca no mercado.
O atendimento a novos e sofisticados mercados é outro fator que têm forçado a
indústria de alimentos a investir em novas tecnologias de produto e processo. Como a maior
parte dessas tecnologias é desenvolvida por outros agentes da cadeia produtiva, torna-se
fundamental o desenvolvimento de parcerias com fornecedores de matéria-prima (produtor
rural ou indústria de primeira transformação e segunda transformação), fornecedores de
equipamentos e insumos, instituições públicas de P&D e demais setores.
Para a adoção de uma estratégia tecnológica, uma indústria alimentícia deve
inicialmente ter conhecimento em qual grau de maturidade se encontra a tecnologia
predominantemente por ela utilizada em seus processos de fabricação: tecnologias de base,
tecnologias-chave e tecnologias emergentes.
Tecnologias de base são aquelas, sem cujo domínio, a produção de
determinado produto é inviável. São amplamente dominadas pela concorrência e não dão
acesso a vantagens competitivas. Tecnologias-chave são aquelas cuja detenção por parte da
empresa pode conceder-lhe uma real vantagem competitiva. São vantajosas ao aumentar a
eficiência, a produtividade e a qualidade. Tecnologias emergentes são tecnologias cujo
domínio pode provocar alterações radicais em processo e produto, permitindo à empresa
detentora uma posição de liderança (BATALHA e SILVA, 2001).
A grande parcela das indústrias alimentícias nacionais utiliza tecnologia de
base em seus processos produtivos, o que explica o baixo nível de inovação de produto e a
baixa influência sobre a concorrência, principalmente sobre as empresas multinacionais que
utilizam tecnologias-chave e emergentes desenvolvidas em seus países de origem (WAACK,
2000).
De modo geral, pode-se dizer que o padrão de inovação na indústria de
alimentos está ligado à dinâmica do setor, à extensão geográfica de atuação, à concorrência,
ao porte e capacidade financeira da indústria e às suas necessidades internas de inovação.
Santini, Schiavi e Souza Filho (2005), distinguem quatro padrões de inovação nas indústrias
de alimentos:
61
adaptações por multinacionais: multinacionais são inovadoras em produto e
processo no âmbito nacional, sendo pioneiras no mercado quando adotam alguma
inovação. Essa inovação é geralmente gerada na matriz do grupo ou em centros de
pesquisa no exterior, cabendo às filiais brasileiras a adaptação dessas inovações. Em
alguns casos, as empresas multinacionais conseguem realizar adaptações tão
importantes que podem ser consideradas inovações pela própria matriz;
inovações nacionais espelhadas no mercado externo: empresas nacionais,
geralmente de médio e grande porte, desenvolvem mudanças em produtos e processos
que embora caracterizem inovações para o mercado nacional, costumam ser cópias ou
adaptações de produtos ou processos existentes em outros países. Esse tipo de
inovação não pode ser considerado totalmente nacional. Porém, há um grande esforço
de inovação por parte dessas empresas, pelo fato delas não terem acesso às
informações da inovação (projetos, testes, estudo de mercado, etc), sendo necessário
passar por todo o processo novamente;
inovações espelhadas no mercado nacional: como as empresas nacionais de menor
porte tendem a atuar em mercados regionais e locais, ou em nichos de mercado, e
como possuem capacidade financeira restrita, são geralmente empresas seguidoras e
não inovadoras. Espelham-se nas grandes empresas, copiando seus produtos e
processos,
inovações genuinamente nacionais: inovações que sejam novidade para o mercado
mundial e são raras as empresas no Brasil que desenvolvem esse tipo de inovação:
somente aquelas que estão entre as líderes no mercado mundial. Tais empresas
possuem know-how e capacidade financeira suficiente para concorrerem com outras
empresas em termos de inovação.
O processo de inovação tecnológica na indústria brasileira de alimentos é
predominantemente um processo de difusão de tecnologia e não um processo interno às
empresas de desenvolvimento de inovações. Cabral (2001) demonstra que as inovações
tecnológicas nas indústrias de alimentos nacionais se concentram nos processos de produção
(57,2%), nos produtos (33,3%) e na combinação de processos e produtos (9,4%). Esta última
ocorre quando inovações no processo possibilitam o desenvolvimento de novos produtos.
Os setores de açúcar, frutas e derivados de cacau e trigo são relativamente mais
inovadores em tecnologia que os setores de laticínios e grãos. Os segmentos de
processamento de carnes e de café encontram-se em posição intermediária aos citados.
62
Entre os setores menos inovativos, um ponto comum à maioria das empresas é
a ocorrência de produtos com características de commodities. Nestas condições, as empresas
adquirem matéria-prima do setor agrícola e realizam um processamento simples, como
limpeza, classificação e empacotamento (CABRAL, 2001).
Grande parte das tecnologias adotadas na indústria brasileira de alimentos es
em consonância com os interesses econômicos das empresas multinacionais (EMNs).
Atuando como processadoras ou intermediárias na comercialização de produtos
agropecuários, as EMNs direcionam a investigação científica no setor e a configuração do
perfil de relações entre esse setor e os setores fornecedores de tecnologia a jusante da cadeia
produtiva. Como as tecnologias adotadas no Brasil foram desenvolvidas em países com
realidades econômicas diferentes, nem sempre essas tecnologias estão de acordo com os
interesses e a capacidade de mão-de-obra dos brasileiros. Por este motivo, as empresas
domésticas passam a adotar estratégias de imitação, favorecendo a importação de tecnologias
não completamente adaptadas às necessidades das empresas do país (NANTES e
MACHADO, 2005).
Outros problemas enfrentados pelas empresas nacionais no que diz respeito ao
uso de tecnologias importadas são a baixa qualificação da mão-de-obra, a falta de assistência
técnica especializada, o alto custo de investimento e a necessidade de contratação de
consultorias externas.
Como as empresas de bens de capital nacional não correspondem às
necessidades de máquinas e equipamentos das indústrias alimentícias, ao importar uma
máquina, a indústria não arca apenas com o custo do valor da compra, mas também com os
custos de treinamento da mão-de-obra, habilitando-a para lidar com a nova tecnologia e,
muitas vezes, com o custo de contratação de assistência técnica estrangeira, já que são poucos
os profissionais nacionais que têm conhecimento em tecnologias mais avançadas.
Estas dificuldades representam um rio obstáculo à inovação tecnológica
pelas pequenas e médias empresas alimentícias nacionais Ressalta-se, porém, que a
sobrevivência das pequenas e médias empresas parece ser fundamental na manutenção de um
ambiente concorrencial favorável ao desenvolvimento de inovações, que existem
evidências de que as grandes empresas tendem a ser mais inovadoras quando sofrem
concorrência de empresas menores (GALIZZI e VENTURINI, 1996).
Além dos custos financeiros provenientes da adoção de uma nova tecnologia,
existem outras variáveis que influenciam nas decisões da empresa no processo de inovação.
As características do ambiente institucional leis de proteção intelectual, regras de segurança
63
do alimento, leis de proteção ao consumidor, entre outras podem, muitas vezes, inviabilizar
um investimento em inovação se o mesmo não atender as regras estabelecidas.
Outro fator importante que também pode se tornar um entrave à inovação, é
que os empresários da indústria nacional de alimentos não se preocupam, na maioria das
vezes, em calcular a eficiência no uso das tecnologias. É interessante que a introdução de uma
nova tecnologia venha acompanhada da análise das variáveis que envolvem a sua adoção,
relacionadas não apenas aos custos financeiros, mas também àquelas relacionadas aos fatores
sociais, ambientais e às possibilidades de mercado que garantam retorno sobre o investimento.
Conceição e Almeida (2005) resumiram os principais resultados encontrados
pela PINTEC (2005) em relação à inovação tecnológica nas indústrias brasileiras de
alimentos:
as características internas da empresa e o mercado consumidor interno possuem forte
influência na indústria de alimentos no que diz respeito à inovação;
nesse segmento predomina a inovação de processo para a empresa;
as firmas de maior produtividade utilizam como principal fonte de inovação clientes e
consumidores;
questões relacionadas à distribuição são tão importantes quanto o esforço de inovação
no âmbito da produção;
gastos com P&D apresentam um efeito positivo, e estatisticamente significativo, para
a probabilidade da empresa adotar inovações. Quanto maior o gasto em P&D, maior a
probabilidade de inovar;
políticas públicas voltadas para o aumento da renda dos consumidores de menor poder
aquisitivo podem gerar um efeito indireto no estímulo à inovação das empresas
alimentares;
no Brasil, as exigências de competitividade no setor agroalimentar estão se tornando
cada vez mais sofisticadas. Além do aumento, da diversificação e da funcionalidade
dos produtos e processos de produção, o mercado alimentar exige também qualidade;
os gastos com propaganda se mostraram importantes sobre a probabilidade da firma
inovar, já que a propaganda desempenha um papel-chave nos objetivos das empresas
alimentícias na indução dos clientes ao teste de novos produtos;
o nível de formação educacional dos profissionais apresenta grande importância no
processo de inovação para que as empresas do setor de alimentos desenvolvam
atividades inovativas. Quando maior a formação, maior a probabilidade de inovar;
64
independentemente do tipo da empresa, uma baixa utilização de universidades e
institutos de pesquisa no setor para o desenvolvimento de produtos e processos;
para as empresas que inovam e diferenciam produtos
3
, a importância da inovação para
ampliar e abrir novos mercados, assim como aumentar a capacidade produtiva parece
ser uma tendência;
parece haver uma complementaridade entre inovação e enquadramento às regulações e
normas-padrão referentes aos mercados interno e externo para as empresas que dão
importâncias às inovações de produto e processo;
os índices de inovação entre as grandes e as médias empresas do setor é maior em
relação às pequenas. Isso se pelo fato das grandes empresas terem maior
possibilidade de reduzir os custos unitários de produção, ou seja, obter economia de
escala;
a cooperação é uma variável importante para a inovação. O esforço de P&D das
empresas alimentícias refere-se, em boa escala, a pesquisas realizadas por outras
instituições ou em parceria com elas,
não há correlação positiva entre a variável exportação sobre a probabilidade das
empresas realizarem inovações. A maioria das empresas alimentares no Brasil
exporta residualmente, mesmo no caso das maiores.
Enfim, para que ocorra a inovação nos produtos e nos processos é necessário
que haja um ambiente favorável, tanto dentro, quanto fora da empresa. Os fatores externos
que ajudam alavancar esse processo são as necessidades dos consumidores provenientes de
um novo modo de vida, inovações tecnológicas, políticas governamentais, entre outros. Os
fatores internos estão voltados para o desenvolvimento de uma estratégia, organização pela
empresa e competência tecnológica para a inovação.
3
Empresas que inovam e diferenciam produtos: aquelas que realizaram inovação de produto para o mercado e
obtiveram preço prêmio acima de 30% nas suas exportações quando comparadas com as demais exportadoras
brasileiras do mesmo produto. Nesse grupo estão incluídas as empresas que adotam estratégias competitivas
mais vantajosas, tendendo a criar mais valor, e compõem o segmento mais dinâmico, que tende a capturar
parcela maior da renda gerada pela indústria (PINTEC, 2005).
65
2.5.2 Hábitos de consumo alimentar
Um fator desafiador para as indústrias alimentícias e que até certo ponto pode
dificultar, ou amesmo inviabilizar, o desenvolvimento de novos produtos ou melhorias nos
produtos já existentes é o consumidor. Geralmente, em função dos hábitos de consumo
alimentar, os consumidores apresentam tendência conservadora na utilização de novos
produtos, estando dispostos a mudar apenas se tiverem uma boa razão para isso.
Beccatini (1994) afirma que as mudanças no comportamento de compra dos
consumidores, principalmente daqueles de renda mais alta, que passaram a demandar
produtos alimentícios com maior valor agregado, ocasionou impacto positivo sobre o
processo inovativo das empresas, que tiveram de se adaptar para o atendimento dessas novas
exigências do consumidor. Aspectos relacionados à qualidade e segurança do alimento
tornaram-se igualmente importantes na decisão do consumo.
No caso específico do Brasil, a condição de estabilização econômica do país a
partir de 1995, permitiu ao consumidor acesso a novos produtos e condições de compra. O
comportamento do consumidor, influenciado pela nova condição econômica, pelo acesso a
informação e pelo contato com os produtos importados vindos ao país em conseqüência do
processo de abertura comercial aumentou a competição entre as indústrias de alimentos, cujos
principais efeitos foram: intensa competição por market share; menor ciclo de vida dos
produtos; profusão de novos lançamentos; modificações nas tecnologias de produção,
transporte e embalagem; novos modos de comunicação com o consumidor final, e segurança
do alimento. Assim, esses fatores exigiram novas estratégias do setor no que se refere à
inovação de produtos e processos alimentares (WEDEKIN e NEVES, 1995).
Segundo Batalha, Lucchese e Lambert (2005a), a análise do comportamento e
dos hábitos alimentares de uma população deve considerar que os padrões de consumo
recebem influência de diversos tipos de variáveis além de renda e preço, que foram por muito
tempo consideradas as principais variáveis condicionantes do consumo.
Além da influência dos fatores econômicos sobre o consumo alimentar,
ainda a influência dos fatores psiculturais (fator cultural e valor simbólico do alimento),
antropológicos (identidade cultural e estilo de vida) e sociodemográficos (fatores sociais,
influência dos grupos de referências, processos de indução de comportamento). Portanto,
conhecer os hábitos e preferências de seus consumidores é aspecto fundamental para que as
empresas alimentícias adotem estratégias corporativas alinhadas com os desejos e
66
necessidades do mercado. No Brasil, essa necessidade é ainda maior em função da grande
desigualdade social, fazendo com que coexistam grupos de consumidores com características
muito distintas.
Estes autores definiram três grupos diferentes de consumidores. O primeiro
grupo, formado por consumidores de classes mais baixas, tem seu comportamento de escolha
e consumo de alimentos condicionado pela renda, onde o preço do alimento é o principal
critério de compra. O segundo grupo, formado por consumidores com renda superior ao
primeiro, possuem necessidade de diferenciação, alterando seus hábitos de consumo
alimentar. Consomem produtos mais caros e relacionados a fatores como conveniência e
saúde. O terceiro grupo, formado por consumidores que possuem altas rendas e altos níveis de
escolaridade, são mais seletivos quanto aos hábitos alimentares.
O conhecimento por parte da empresa sobre qual desses três grupos será seu
mercado alvo no lançamento de um novo produto torna-se fundamental para que a estratégia
de inovação obtenha sucesso. Assim, ao lançar um produto com características totalmente
novas, o melhor mercado-alvo seriam os consumidores do segundo grupo.
Segundo Neves, Chaddad e Lazarini (2002), no mercado brasileiro de
alimentos estão presentes as seguintes características e tendências gerais do comportamento
do consumidor:
consumo fora do domicílio: crescimento dos fast-foods, restaurantes “por quilo”,
serviços de alimentação nas empresas;
mudanças no perfil de faixa etária dos consumidores: ampliação dos consumidores
mais idosos e aumento da média de idade da população;
segurança do alimento: maior preocupação com a origem e qualidade dos alimentos,
isenção de contaminações;
busca por conveniência: demanda por produtos de fácil preparo, entrega no domicílio,
embalagens individualizadas;
valorização de produtos que enfatizam nutrição: linhas de produtos diet, light,
integral, funcional;
valorização de produtos que enfatizam aspectos culturais, regionais e exóticos:
produtos e serviços especializados em alimentação regional como japonesa, italiana,
produtos tropicais;
preocupação ambiental: demanda por produtos orgânicos e por produtos com selo
ambiental,
67
regulamentação: códigos de defesa do consumidor, agências reguladoras.
Além dos aspectos ressaltados, os autores ainda afirmam que outros requisitos
como uniformidade de produtos, agilidade na entrega e agregação de serviços aos produtos
são necessidades que cada vez mais influenciam a decisão de compra do consumidor de
alimentos.
Asp (1999) igualmente destaca a importância do consumidor para a indústria
de alimentos argumentando que o consumidor é o detentor do poder na cadeia de produção
dos alimentos e que muitos produtos lançados no mercado não são aceitos por
desconsiderarem, em seu desenvolvimento, as necessidades e exigências da demanda. Dessa
forma, os fatores culturais, psicológicos e de estilo de vida, assim como as barreiras para a
compra de alimentos relacionados à qualidade do produto, ao comportamento do consumidor
e a busca por uma alimentação saudável devem ser considerados pelas empresas produtoras
de alimentos.
2.5.3 Desenvolvimento de produtos na indústria de alimentos
O desenvolvimento de novos produtos ou aperfeiçoamento dos existentes
representa uma das formas mais importantes de materialização da inovação tecnológica.
Segundo Clark e Fujimoto (1991), o desenvolvimento de produto pode ser
definido como um processo pelo qual uma organização transforma as informações de
oportunidade de mercado e de possibilidades técnicas em informações para a fabricação. De
acordo com essa definição, o desenvolvimento de produto rompe as barreiras organizacionais,
à medida que esse processo não está relacionado apenas com as áreas internas da empresa
(departamentos de P&D, manufatura, marketing, logística), mas também com o ambiente
externo, ou seja, o mercado e suas exigências e necessidades.
Nas últimas décadas, as empresas alimentícias descobriram a importância de
agregar valor ao produto por meio de conveniências, fatores nutricionais, variedade, economia
e qualidade. O objetivo de agregar valor por meio de operações de processamento requer
melhor estruturação dos processos nas empresas, passando pelo desenvolvimento de produtos
e processos de produção. Desenvolver produtos mais rapidamente, com eficiência e
adequados às necessidades dos clientes confere à empresa vantagens competitivas importantes
(McLLVEEN, 1994).
68
O desenvolvimento e lançamento de novos produtos alimentares têm
aumentado significativamente na indústria alimentícia mundial pela globalização e pelo
aumento das exigências por parte dos consumidores. As novas tecnologias ligadas ao fluxo de
informação e de transportes permitem que os novos produtos sejam distribuídos cada vez mais
rapidamente em diferentes mercados, fato que têm gerado modificações nos hábitos de
consumo alimentar em todo mundo. O consumo de determinados alimentos tornou-se
globalizado, principalmente aqueles produzidos pelas grandes multinacionais.
Outro fator que tem impactado a indústria mundial de alimentos diz respeito à
velocidade com que novos produtos são desenvolvidos, industrializados e comercializados.
Da mesma forma que os demais setores industriais, a indústria de alimentos também está
inserida na chamada era da lean production ou produção enxuta, cujas principais
características são a busca pela eliminação de desperdícios, melhoria contínua das operações e
produção flexível. Este sistema de produção apresenta características bem marcantes, fruto da
evolução dos sistemas de produção anteriores (sistema de produção artesanal e em massa),
com destaque para o conceito de manufatura ágil e flexível, que permitem lançar produtos
rapidamente no mercado (KIDD, 1994).
No Brasil, as atividades de desenvolvimento de produtos residem,
principalmente, nas adaptações e melhorias de produtos existentes, adequando-os às
condições do mercado local, à estrutura dos fornecedores existentes e aos processos de
produção disponíveis (AMARAL, 2006). Esta situação é particularmente freqüente no
segmento de produtos alimentícios, setor caracterizado por inovações incrementais.
O processo de desenvolvimento de novos produtos (PDP) tem seu foco no
atendimento ao mercado, ao mesmo tempo em que busca assegurar a manufaturabilidade do
produto desenvolvido. Além desses fatores, o PDP envolve aspectos técnicos e gerenciais, nos
quais uma organização transforma oportunidades de mercado e possibilidades técnicas em
informações à produção de um produto comercial.
Este processo engloba o desenvolvimento do projeto de um novo produto
coerente com o seu ciclo de vida, que começa com planejamento e termina com o descarte ou
retirada do mercado. Assim, o PDP tende a ser visto como uma atividade corporativa e não
como uma atividade isolada realizada pela empresa.
Embora tenha começado a ser descrito por volta dos anos 60, a indústria de
alimentos levou muito tempo para reconhecer e empregar o PDP como um método científico
de pesquisa e desenvolvimento de produtos e processos.
69
Nas empresas do setor alimentício, o desenvolvimento de produtos deve estar
fortemente associado com a visão estratégica da empresa, incluindo, portanto, questões como
custo do desenvolvimento, requisitos de tecnologia, adequação às necessidades dos
consumidores, entre outros. Neste segmento, as exigências são maiores, pois além de atender
às demandas do mercado, é necessário garantir a segurança do alimento, tanto no processo de
produção, como no produto final pronto para consumo.
O projeto do produto na indústria alimentícia apresenta duas características
marcantes: a força do mercado sobre os novos produtos e as necessidades dos consumidores,
que variam significativamente em função dos bitos locais, cultura e costumes. Neste
segmento a subjetividade é muito acentuada, uma vez que o paladar é pessoal e a
possibilidade de rejeição ou a necessidade de ajustes no sabor é muito grande (NANTES,
2001).
Cleland e Ireland (2002) pesquisaram um conjunto de variáveis que afetam o
desenvolvimento de novos produtos alimentícios. Os principais fatores de sucesso de novos
produtos foram: i) questões econômicas relacionadas ao preço final do produto e ao custo de
fabricação; ii) os aspectos de mercado, como as necessidades do consumidor e o acesso aos
canais de distribuição e iii) domínio da tecnologia. As causas de insucesso referem-se a falta
de comprometimento da alta administração nos processos de desenvolvimento de produtos e o
tempo de desenvolvimento. Back e Forcellini (2002) relatam que em razão do dinamismo do
mercado, quanto maior o tempo de desenvolvimento e lançamento do produto, maior sea
incerteza quanto ao seu sucesso.
O projeto do processo assume particular importância na indústria de alimentos.
Os processos de transformação são responsáveis pela introdução de novos produtos, em
virtude de causarem mudanças nas características químicas, físicas, organolépticas e
nutricionais dos alimentos, alterando o padrão de qualidade inicial.
Novos processos de transformação podem fornecer novos produtos com maior
valor agregado, atendendo as necessidades dos consumidores. No entanto, constatou-se que a
grande maioria dos produtos existentes no mercado são extensões de linha, produzidos por
sistemas de manufatura universais. Esta situação ocorre pelo desconhecimento de
especificidades do projeto do processo. As metodologias de projeto são mais dirigidas para o
“que fazer” deixando em um segundo plano o “como fazer”.
Um dos fatores de sucesso no desenvolvimento de produtos é o uso de um
processo formal. Embora a literatura apresente vários modelos de referência específicos para
alimentos, esta não é uma prática freqüentemente utilizada pelas empresas deste setor.
70
De acordo com Rozenfeld et al. (2000), os modelos de referência são
representações dos processos de negócio que descrevem suas várias dimensões, como as
atividades, informações, recursos e organização. Tais representações servem como referência
para que as empresas possam planejar, controlar e gerenciar o desenvolvimento de produto.
Estas metodologias buscam oferecer às equipes de projeto um modelo
consistente, com recomendações e ferramentas que os auxiliem a exercer suas atividades,
além de sua abordagem estar voltada para as particularidades do desenvolvimento de produtos
na indústria alimentícia.
Uma dificuldade para o sucesso do PDP, apontada por Polignano, Drumond e
Cheng (2000), é a deficiência na fase de pesquisa de mercado. Pelo fato do departamento de
P&D ser considerado ainda bastante incipiente na estrutura organizacional das empresas de
alimentos, a operacionalização do desenvolvimento encontra dificuldades em algumas de suas
etapas, com destaque para as atividades referentes a “ouvir a voz do mercado”, transformando
as necessidades dos consumidores em informações para o projeto. Durante o projeto do
produto existe uma falha na execução de atividades ligadas à pesquisa de opinião dos
consumidores e intercâmbio das funções de marketing, especificamente pesquisa de mercado.
Rudolph (1995) cita que o processo para o desenvolvimento de produtos
alimentícios contém sérios defeitos, como, por exemplo, não haver informações precisas à
respeito dos sucessos e fracassos de novos produtos. uma estimativa de que 80 a 90%
fracassam em um ano após o lançamento, sem contar os produtos que nem chegam a ser
lançados. De forma semelhante, Mcllveen (1994) cita que um erro que algumas empresas
cometem é ignorar o fato de que a grande parte dos produtos requerem P&D ao longo de seu
ciclo de vida, caso a empresa deseje a manutenção da satisfação do consumidor.
No que diz respeito à capacitação para o PDP, Clark e Wheelwright (1992)
apontam que as empresas constroem essa capacitação por meio da aprendizagem ao longo dos
projetos, da criação de novas ferramentas e técnicas, revisões periódicas de suas abordagens
de desenvolvimento, foco em seus recursos e, principalmente, por meio do desenvolvimento
das capacitações de pessoas. Essas empresas vêem a capacitação como uma vantagem, a qual
a gerência precisa estar constantemente renovando por meio de atenção aos objetivos e
esforço pessoal. Nesse sentido, a construção da capacitação o é algo estático: precisa ser
continuamente ampliada, atualizada e melhorada o tempo todo.
A qualificação dos recursos humanos das indústrias alimentícias é fator
essencial para que o PDP, as melhorias nos processos de fabricação e as atividades de P&D
ocorram com eficiência e eficácia. Assim, essas empresas devem atribuir uma importância
71
significativa à gestão estratégica de recursos humanos, principalmente em relação ao
desenvolvimento de competências profissionais. O Quadro 1 apresenta as principais
habilidades e conhecimentos necessários à melhoria do processo de PDP.
Habilidades e conhecimentos necessários
Participantes do PDP
Técnico Organizacional Comercial
Alta gerência
Entender as mudanças
técnicas chave
Reconhecer a importância
de criar uma organização
de rápido aprendizado,
liderar e ter visão
Identificar oportunidades
estratégicas de negócio
Gerência departamental
Entender profundamente
e amplamente a
tecnologia
Treinar e selecionar
líderes, guiar equipes
cross-funcionais e
designar funções de
acordo com habilidades
Focar em segmentos de
consumidores chave,
arquitetar o produto e
suas extensões
Líderes de equipe
Prover capacitação,
compreender
profundamente os
requisitos
Selecionar, treinar e
liderar a equipe de
desenvolvimento, e
reconhecer a importância
de atitudes
Definir o conceito do
produto e a posição da
empresa em relação à
concorrência
Membros da equipe
Utilizar novas
ferramentas e aplicar
tecnologias
Integrar a solução de
problemas cross-
funcionais,
criar procedimentos para a
melhoria do
desenvolvimento
Operacionalizar o
desenvolvimento do
conceito direcionado ao
consumidor, refinar o
conceito do produto de
acordo com o feedback
do mercado
Quadro 1
: Habilidades e conhecimentos necessários para a melhoria do PDP
Fonte
: Clark e Wheelwright (1992)
Segundo Batalha et al (2005b), os principais conhecimentos, habilidades e
características que o profissional adequado aos novos paradigmas organizacionais da indústria
de alimentos deve apresentar, em ordem decrescente de importância, são:
qualidades pessoais: alto padrão moral e ético, iniciativa, capacidade de tomada de
decisão e resolução de problemas, habilidade para trabalhar em grupo, flexibilidade e
adaptabilidade, capacidade de liderança, comunicação persuasiva e habilidade de
negociação, alta criatividade para desenvolver soluções simples e rápidas;
comunicação e expressão: as duas principais habilidades requeridas são a capacidade
de falar clara e concisamente sobre informações técnicas e a capacidade de expressar
idéias oralmente. A capacidade de expressar idéias de forma escrita e ter
conhecimento de língua estrangeira são consideradas menos importantes que as duas
primeiras, embora sejam igualmente necessárias na qualificação do profissional;
economia e gestão: conhecimento em gestão da qualidade, controle de custos de
produção e planejamento e controle da produção são considerados absolutamente
necessários pelas empresas do segmento. Em segundo plano, são considerados os
72
conhecimentos em planejamento estratégico, gestão ambiental, gestão de recursos
humanos, organização empresarial, finanças, microeconomia, logística, administração
de estoques, análise e desenvolvimento de novos empreendimentos, análise de
investimentos, legislação, marketing, entre outros;
métodos quantitativos, computacionais e sistema de informação: utilização de
softwares gerais, utilização de softwares específicos, desenvolvimento de sistemas de
informação e programação computacional. Os dois primeiros conhecimentos o
considerados essenciais. Já os dois últimos são considerados pouco necessários por
serem de responsabilidade de outra área específica da empresa e não do profissional
de gestão;
tecnologias de produção: os conhecimentos necessários neste tópico são em processos
agroindustriais de transformação e de conservação, em processos de produção
agrícola e em ciências de conhecimento e tecnologia,
experiência profissional desejada: são baixas as exigências por experiência prévia na
indústria de alimentos. Experiências em empresa agroindustrial nacional, em mercado
varejista/atacadista, em desenvolvimento de planos de negócios, em estágios durante
a formação universitária e em experiência na produção agropecuária denota certa
valorização das indústrias alimentares sobre a experiência prévia em empresas
fornecedoras de matéria-prima, em empresas que realizam distribuição de seus
produtos e em empresas que atuam no próprio segmento do sistema agroindustrial.
Enfim, o capital humano é um dos principais fatores que contribuem para que
as empresas sustentem vantagens competitivas. Portanto, os responsáveis pela gestão da
indústria de alimentos devem incluir novos métodos de gestão que possibilitem um aumento
da motivação e, conseqüentemente, a melhora constante no desempenho dos recursos
humanos. As empresas que conseguem identificar, motivar, capacitar, treinar e direcionar o
capital intelectual mais rapidamente e de forma completa, possuem as melhores condições de
desempenho frente às concorrentes nacionais e estrangeiras.
73
3
COOPERAÇÃO PARA INOVAÇÃO TECNOLÓGICA
Para que as empresas possam sobreviver às condições impostas pela economia
vigente, observa-se o surgimento de novas formas de organização industrial baseadas na
flexibilidade e na parceria, com destaque às que estimulam as cooperações entre empresas de
um mesmo setor ou de setores complementares (INGLEY, 1999; AMATO NETO, 1999).
Estas relações entre empresas, também chamadas de redes de cooperação,
podem se dar de várias maneiras. Alguns exemplos destas relações são os consórcios
(empresas com necessidades similares criam uma nova entidade que preencha a necessidade
de todas), as alianças, parcerias (envolvimento de vários parceiros em diferentes estágios de
um processo de negócio), joint-ventures (constituição de um novo negócio ou ampliação de
algum existente), entre outros, e cada uma destas enfoca interações específicas entre
empresas.
Amato Neto (1999) relata que a cooperação entre empresas pode viabilizar o
atendimento de necessidades de difícil satisfação, caso cada empresa tenha atuação isolada.
Elenca as seguintes vantagens da cooperação produtiva: combinação de competências, divisão
do ônus referentes à realização de pesquisas tecnológicas, partilhamento de riscos e custos
relativos à exploração de novas oportunidades, oferecimento de uma linha de produtos mais
completa e diversificada, compartilhamento de recursos (sobretudo dos subutilizados),
fortalecimento do poder de compra, obtenção de maior força para a competição no mercado
internacional e fortalecimento da força competitiva.
Segundo Lorange e Ross (1996), a estratégia cooperativa impõe às
organizações uma série de desafios para que sejam experiências bem sucedidas, uma vez
que é bem mais simples gerenciar uma empresa individual do que uma empresa envolvida
em acordos e parcerias com outras organizações. Entre esses desafios, Barringer e Harrison
(2000) destacam a perda de informação de propriedade da empresa, a complexidade de
gerenciamento, os riscos financeiros e organizacionais, o risco de dependência de
parceiros, a perda parcial de autonomia de decisão, o confronto com a cultura dos parceiros
e a perda de flexibilidade organizacional como os riscos potenciais da cooperação entre
empresas.
Diante destes riscos e desafios, alguns fatores são fundamentais para a
formação de redes de cooperação. Olave e Amato Neto (2001b) ressaltam a importância da
cultura da confiança, pois a confiabilidade entre participantes da rede é essencial, da cultura
74
da competência, que se relaciona às competências essenciais de cada parceiro no que tange
aos aspectos materiais e da cultura da tecnologia, que procura verificar a agilidade dos fluxos
de informações e como eles são feitos para a cooperação ser efetiva.
Casarotto Filho e Pires (2001) sugerem um modelo geral de rede de cooperação
para o desenvolvimento de um sistema econômico local, que pode ser associado ao conceito
de cluster. Neste modelo, além das empresas presentes no local, destaca-se a participação de
outros atores, como bancos, grandes empresas, governos e instituições de pesquisa, e a
participação de instrumentos de integração, como cooperativa de garantia de crédito,
consórcios, centro catalizador de tecnologia e fórum local de desenvolvimento.
Tether (2002) é outro autor que contribui para o entendimento da formação de
arranjos cooperativos para inovação. Afirma que somente a partir da metade da década de
1980 que considerável atenção foi atribuída às “formas distribuídas de inovação”, incluindo
alianças estratégicas tecnológicas, arranjos colaborativos de P&D e redes de inovação. Entre
as razões destacadas pela literatura para o crescimento de alianças estratégicas, o autor
destaca o fato das firmas não possuírem todos os recursos necessários (incluindo
conhecimento) e/ou porque desejam reduzir os riscos associados à inovação. Os acordos
colaborativos seriam, então, uma forma de diminuir essas dificuldades.
Para o autor, haveria rios tipos de cooperação em um canal de suprimentos,
tanto dentro, como fora dele, principalmente com clientes e fornecedores. Com clientes ou
usuários a cooperação pode proporcionar vantagens como a criação de conhecimento
complementar, possibilitando a inclusão dos conhecimentos e habilidades dos usuários; ajudar
a encontrar o real equilíbrio entre desempenho e preço; prover um entendimento do
comportamento do usuário, que isso pode ser importante para a melhoria da inovação; e,
realçar as oportunidades de que a inovação será aceita e adotada por outras firmas dentro da
mesma comunidade de usuários. As relações com fornecedores estão mais na decisão de
“fazer ou comprar”, além dos mesmos fatores que impulsionam as relações com os clientes.
Além das relações entre clientes e fornecedores, as empresas podem se engajar
em arranjos cooperativos para inovação com vários outros tipos de parceiros, tais como:
competidores, universidades, consultores, organizações de tecnologia e pesquisa, institutos de
pesquisa, entre outros.
Na relação com competidores, o autor afirma que, nas situações em que o
desenvolvimento do produto ou serviço são relativamente fáceis de serem copiados, mas
dispendiosos para serem desenvolvidos, a cooperação pode ocorrer com sucesso. Apesar da
competição direta pelo mercado, se estas empresas souberem unir suas forças, superando as
75
fraquezas umas das outras, torna-se mais fácil a superação de problemas em comum e,
conseqüentemente, melhora suas capacidades individuais no desenvolvimento destas
inovações (TETHER, 2002).
De forma semelhante, Wood (2004) destaca que a cooperação para inovação
entre empresas com fornecedores, clientes e amesmo rivais, que pode se dar por meio de
arranjos como joint ventures, consórcios, alianças operacionais ou comerciais e terceirizações
estratégicas, vem se tornando um elemento fundamental para a competitividade e para a
formulação e implementação de estratégias corporativas que privilegiem as atividades
inovativas.
Outros atores que têm se destacado como importantes para o fornecimento de
novos conhecimentos científicos e tecnológicos o as universidades e institutos de pesquisa.
Tether (2002) destaca que a necessidade desses conhecimentos tem levado as universidades e
indústrias a realizar grandes projetos de colaboração conjuntamente, provocando a
substituição do tradicional conhecimento científico pela produção do conhecimento baseado
em problemas. Como resultado, mesmo as empresas que o participam diretamente desses
arranjos colaborativos, vêm explorando a conhecimento gerado pelas universidades e
institutos de pesquisa, tendo acesso a suporte técnico e complementar, como P&D interno.
O estreitamento da relação universidades/institutos de pesquisa e empresas não
deve ser analisado apenas como solução para escassez de recursos. Mathieu (1996) afirma que
essa relação deve ser entendida como uma iniciativa que objetive canalizar para a sociedade
os resultados dos desenvolvimentos gerados nos centros de pesquisa., por meio da oferta de
novos produtos e da melhoria na eficiência produtiva das empresas. Assim, a procura de
soluções mais competitivas em termos de custo, qualidade e desempenho cnico por parte
das empresas e, a motivação dos pesquisadores e das instituições em atender as demandas da
sociedade, seria o ponto de partida para o desenho de um modelo eficaz de produção
tecnológica e de transferência de conhecimento.
De acordo com o autor, a co-participação em projetos de desenvolvimento
tecnológico, liderados por empresas, envolveria:
a identificação de uma demanda e um cliente;
a definição de uma modalidade de retorno ou pagamento pelos serviços prestados
pela instituição (royalties, transferências, complemento salarial ou investimento em
laboratórios);
76
o estabelecimento de um espaço de transição entre instituição de Ciência e
Tecnologia (C&T) e mercado, para o caso do pesquisador empresário (incubadora de
empresas, pólo ou outro formato),
estruturar uma forma de financiamento capaz de sustentar a relação entre as
instituições de C&T e as empresas durante o processo de co-desenvolvimento e de
transferência de tecnologia, se necessário.
Além das universidades e institutos públicos de pesquisa, muitas vezes
observados como pouco capazes de atender às necessidades das empresas, consultores do
setor privado apresentam-se como fonte alternativa de informação, conhecimento para
inovação e habilidades específicas aplicadas (TETHER, 2002).
3.1 Redes de inovação
Segundo Batalha e Silva (2001), o conceito de redes de empresas refere-se a
uma “estrutura de ligações entre atores de um sistema social qualquer”. Outros autores, como
Miles e Snow (1992), definem redes organizacionais como agrupamentos ou unidades
especializadas, coordenadas por mecanismos de mercado ao invés das relações hierárquicas
tradicionais. De acordo com os autores, o incentivo pela busca de arranjos alternativos que
ofereçam maiores oportunidades de flexibilidade e inovação do que as estruturas
verticalizadas tradicionais, advém da incerteza do ambiente contemporâneo extremamente
exigente e concorrencial.
No que diz respeito ao processo de inovação tecnológica nas empresas, a
utilização de redes de inovação tem adquirido significativa importância como um mecanismo
de coordenação do processo de P&D industrial. Cassiolato e Lastres (2000) destacam que em
função da atual necessidade de desenvolvimento e lançamento de novos produtos cada vez
mais rápido, a colaboração e cooperação entre firmas e a montagem de redes cooperativas têm
marcado o processo inovativo por apresentar vantagens importantes às empresas na busca de
rapidez neste processo. Entre essas vantagens, destacam-se a flexibilidade, a
interdisciplinaridade e a geração compartilhada de idéias em nível administrativo e
laboratorial.
Na mesma concepção, Cassiolato, Paiva Brito e Vargas (2005) afirmam que o
processo inovativo tem se intensificado como resultado do uso das novas tecnologias digitais,
responsáveis por uma verdadeira automação da inovação a medida que são capazes de
77
transferir, transformar e controlar as informações utilizadas no processo de desenvolvimento
de novos produtos e processos. Do ponto de vista da organização, o resultado de tal evolução
é a explosão de redes e parcerias estratégicas voltadas à inovação, tanto no âmbito local
quanto nos âmbitos nacional e global.
Cassiolato e Lastres (2000) ressaltam a existência de quatro principais
tendências relativas às novas especificidades do processo inovativo que têm impulsionado a
formação de redes de inovação:
1) significativa aceleração da mudança tecnológica nas últimas décadas: redução do
tempo necessário para o lançamento de novos produtos; processo de produção do
conhecimento até a comercialização mais curto; ciclos de vida dos produtos menores;
2) a colaboração e a cooperação entre firmas e a montagem de redes cooperativas pré-
competitivas têm marcado o processo inovativo: novos produtos têm sido
desenvolvidos a partir da integração de diferentes tecnologias e estas o
crescentemente baseadas em diferentes disciplinas científicas;
3) a integração funcional e a montagem de redes têm dado vantagens importantes às
empresas na busca de rapidez no processo inovativo: a flexibilidade, a
interdisciplinaridade e a fertilização cruzada de idéias em nível administrativo e
laboratorial são importantes elementos do sucesso competitivo das empresas,
4) aumento da colaboração com centros produtores do conhecimento: em função da
crescente necessidade do processo inovativo se apoiar em avanços científicos em
praticamente todos os setores da economia.
Outra justificativa para a formação de redes de cooperação para a inovação está
na dificuldade que as empresas enfrentam, quando trabalham isoladas, em apreender a
variedade de domínios científicos e tecnológicos necessários para o desenvolvimento de
novos produtos e processo, crescentemente baseadas em diferentes disciplinas científicas.
Assim, observa-se um crescente aumento da colaboração com centro produtores do
conhecimento (CASSIOLATO e LASTRES, 2000).
Para Pyka (2002), na teoria da firma há três diferentes abordagens para explicar
a formação de redes de inovação, sendo que todas elas avaliam as redes como forma de
redução de custos de P&D, como meio de minimizar custos de transação e como um meio
para a criação de novidades.
Na primeira abordagem, a firma é vista como uma relação funcional de inputs e
outputs de produção, cujo ponto central esna otimização da alocação de recursos. Nesse
modelo, os arranjos cooperativos de P&D contribuem para melhorar o desempenho produtivo
78
da firma em situações em que baixa apropriabilidade tecnológica, e em situações cujos
retornos tecnológicos desestimulam das firmas a investir em processos de P&D.
A segunda abordagem o se desdobra sobre o processo de produção, mas sim
sobre os processos de transação econômica. Começou a ser traçada a partir de Coase (1937),
afirmando que as firmas poderiam incorrer em menores custos se passassem a coordenar as
transações por meio do mercado, ao invés de manter uma organização hierárquica interna.
Assim, as redes representam uma forma intermediária de coordenação entre hierarquia e
mercado.
A terceira abordagem difere das anteriores por explicar os arranjos
colaborativos não por meio do incentivo, como para restaurar os reduzidos incentivos de P&D
provocados pela baixa condição de apropriabilidade e reduzir os custos de transação, mas sim
por meio do conhecimento. Os proponentes pioneiros e principais desta teoria são Marshall
(1920), que reconhece o conhecimento como um fator decisivo na produção, e Penrose
(1959), que identifica a base de conhecimento de uma firma como um ativo específico.
Segundo Pyka (2002), as redes o somente influenciam a coordenação de
recursos, mas também impactam significativamente sua criação, o que pode ser visto sob duas
perspectivas: primeiro, o processo de criação de recursos em função da exploração de efeitos
complementares, como resultado da reunião de diferentes competências em redes de firmas;
segundo, a cooperação nas redes também cria uma real sinergia neste processo.
Nesse contexto, as redes representam um mecanismo para a difusão da
inovação por meio da colaboração, e as relações interativas tornam-se um fator possível de
geração de progresso técnico e não somente um instrumento de criação de recursos
(ZUSCOVITCH e JUSTMAN, 1995 apud PYKA, 2002).
As redes influenciam e contribuem para o processo de aprendizagem
organizacional, assim como na formação e transmissão dos conhecimentos tácito e local de
forma colaborativa. As firmas que seguem diferentes trajetórias tecnológicas e estão
engajadas em redes de inovação experimentam um tipo de convergência com importantes
conseqüências para suas oportunidades tecnológicas, superando as restrições de captação do
conhecimento construído sobre bases tecnológicas específicas.
Pyka (2002) analisa dois tipos de abordagens teóricas para explicar a existência
e necessidade de uma organização em rede em processos de inovação: sistemas nacional e
regional de inovação, e redes formais e informais. A primeira forma compreende um sistema
de interações estruturadas, de forma que as relações são freqüentemente repetidas e
institucionalizadas entre os agentes envolvidos no processo de geração de tecnologias. Dentro
79
dessa estrutura, não somente o papel das firmas industriais é relevante, mas também o papel
das instituições públicas de pesquisa, como por exemplo, as universidades.
Por outro lado, o processo de aprendizado coletivo é incitado pelo padrão
localizado de desenvolvimento, que o novo conhecimento é difundido mais rapidamente.
Conseqüentemente, um aumento na capacidade criativa das firmas e instituições da região
pertencentes à aglomeração, por motivos como a redução da incerteza no processo de
inovação e melhoria na fundamentação das decisões estratégicas. É a esse processo que se
designa sistema regional de inovação.
A segunda abordagem de redes de inovação é constituída a partir de contratos
formais e acordos informais. Os tipos específicos variam de rigorosos arranjos contratuais a
esforços cooperativos, como: a) joint-ventures e corporações de pesquisa; b) acordos para
P&D; c) acordos contratuais para troca de resultados de P&D e de acordos financeiros; d)
licenciamento de tecnologia; e) subcontratação de serviços de P&D; f) troca informal de
conhecimento entre firmas em rede ou o emprego de cientistas e engenheiros.
Segundo Freeman (1991), as redes informais se assemelhariam ao
“conhecimento tácito” dentro das firmas, devido à dificuldade de serem medidas e
classificadas, sendo uma forma de conhecimento mais importante do que as formas
específicas do conhecimento codificado por ser de difícil transmissão. Apesar de raramente
medidas sistematicamente, as redes informais denotam ser mais importantes, que as
múltiplas fontes de informação e formas de colaboração foram sempre a regra, e não a
exceção. A organização em rede é um arranjo básico institucional para enfrentar a inovação
sistêmica, envolvendo um conjunto de elos com parceiros preferenciais, cuja meta é a redução
de incertezas para lidar com o mercado
Ainda sobre a importância do conhecimento no processo de inovação e sua
relação com os arranjos organizacionais em rede, Cassiolato, Paiva Britto e Vargas (2005)
enfatizam que o processo de aprendizagem da firma pode ser interno, ligado às principais
funções da empresa, tais como P&D, marketing e organização e externo a ela, cujos processos
externos não podem substituir o interno, mas sim aumentar a sua velocidade e/ou modificar
sua direção e dimensões relevantes.
Em função do custo crescente no desenvolvimento de novas tecnologias, da
multidisciplinaridade de novos conhecimentos e da natureza sistêmica e complexa de novos
produtos e processos, o aprendizado interno deve ser cada vez mais vinculado a aprendizados
externos: a firma deve possuir capacidade suficiente de receber, elaborar e assimilar o
conhecimento obtido fora de suas fronteiras.
80
Nesse sentido, a inovação é cada vez mais entendida como sendo um processo
que resulta de complexas interações em nível local, nacional e mundial entre indivíduos,
firmas e outras organizações voltadas à busca de novos conhecimentos. Tais redes podem
estar associadas, por exemplo, a criação de consórcios de compra e exportação, à realização
de pesquisa sobre novos nichos de mercado, à construção de marcas coletivas e ao
desenvolvimento de novos canais de comercialização, entre outras iniciativas.
3.2 Sistemas locais de produção
Dentre as diversas possibilidades para a formação de redes de cooperação para
a inovação, anteriormente expostas, as formas de cooperação cuja existência está
condicionada à localização das empresas têm se destacado como forma de intensificar os
processos de inovação das mesmas.
Nesse sentido, as empresas estão cada vez mais integrando os aspectos
territoriais às suas estratégias. De acordo com Campeão (2004), as empresas têm se inserido
num determinado local com vista não apenas à exploração de recursos pré-existentes, mas
também à criação de novos recursos naquele espaço. Assim, o local de implementação deve
ser capaz de oferecer, além da infra-estrutura básica, sinergia entre as empresas e com isso
gerar economias externas, ou externalidades positivas, que favoreçam um desenvolvimento
duradouro, tanto para as empresas, quanto para sistema local de produção como um todo.
Segundo Garcia et al. (2004), sistemas locais de produção referem-se a
agrupamentos de um conjunto de empresas concentradas geográfica e setorialmente, ou ainda,
segundo Courlet (1994) apud Campeão (2004), é uma configuração de empresas agrupadas
num espaço de proximidade em torno de uma ou de várias especialidades industriais, de modo
que a presença de uma especialidade dominante não exclui a possibilidade de existência de
vários ramos industriais.
Outra característica importante em relação aos sistemas locais de produção é
que esses sistemas não procedem de uma geração espontânea, ou seja, são uma construção
sócio-econômica e institucional. Conforme Campeão (2004), as empresas que compõem um
sistema produtivo local possuem relações entre si que não são apenas comerciais, mas
também informais, e com o meio sócio-cultural no qual estão inseridas. Todos esses fatores
contribuem para o aumento da competitividade do sistema, bem como da região em que está
inserido.
81
Para Garcia et al. (2004), as vantagens competitivas das empresas pertencentes
a um sistema local de produção são de duas naturezas: as economias externas puras e as ações
conjuntas estabelecidas pelos agentes econômicos. As economias externas à firma decorrem
do extenso processo de divisão do trabalho e da especialização dos produtores, o que leva ao
fomento de um processo local de aprendizado pela interação. As ações conjuntas decorrem
das formas de cooperação, tanto privada (estabelecidas deliberadamente por empresas e
instituições), quanto por meio de políticas públicas específicas.
Lastres (2004) apresenta outras vantagens competitivas advindas de um
sistema local de produção: representar uma unidade prática de investigação que vai além da
tradicional visão baseada na organização individual (empresa), setor ou cadeia produtiva;
focalizar um grupo de diferentes agentes (empresas e organizações de P&D, educação,
treinamento, promoção, financiamento) e atividades conexas; cobrir todo o espaço onde
ocorre o aprendizado, onde o criadas as capacitações produtivas e inovativas e, onde fluem
os conhecimentos tácitos; representar o nível no qual as políticas de promoção do
aprendizado, inovação e criação de capacitações podem ser mais efetivas.
No que diz respeito à inovação tecnológica, os sistemas locais de produção
apresentam alguns aspectos que impulsionam e facilitam esse processo, tais como:
o reconhecimento de que inovação e conhecimento colocam-se cada vez mais
visivelmente como elementos centrais da dinâmica e do crescimento das nações,
regiões, setores e organizações;
a compreensão de que inovação constitui-se em um processo de busca e aprendizado.
Assim, é dependente de interações, sendo socialmente determinado e influenciado por
formatos institucionais e organizacionais específicos;
o entendimento de que existem importantes diferenças entre sistemas econômicos e de
inovação de países, regiões, setores, organizações, entre outros, em função de cada
contexto social, político, econômico e cultural,
a visão de que se, por um lado, informações e conhecimentos codificados apresentam
condições crescente de transferência, conhecimentos tácitos e de caráter localizado
continuam tendo um papel primordial para o sucesso inovativo e permanecem difíceis
de serem transferidos (LASTRES, 2004).
Lastres e Cassiolato (2003) afirmam que os formatos organizacionais que
privilegiam a interação e a atuação conjunta dos mais variados agentes, apresentam-se
atualmente como os mais adequados para promover a geração, aquisição e difusão de
82
conhecimentos e inovações. Entre eles, destacam-se os “meios inovadores” e os “clusters”.
3.2.1 Teoria dos meios inovadores
O conceito de meios inovadores foi criado por iniciativa do Gremi (Group de
Recherche Européen sur les Milieux Innovateurs), com o objetivo de desenvolver um enfoque
comum que permitisse uma análise territorializada da inovação, enfocando o papel do
ambiente no processo de desenvolvimento tecnológico. Portanto, neste contexto, o processo
de desenvolvimento tecnológico e a formação de um espaço econômico são fenômenos inter-
relacionados.
Meio inovador pode ser definido como o local ou a complexa rede de relações
sociais em uma área geográfica limitada que intensifica a capacidade inovativa local através
de processo de aprendizado sinérgico e coletivo, considerando não apenas as relações
econômicas, mas também sociais, culturais e psicológicas.
Outra definição é dada por Vargas (2002), que considera meio inovador como
um conjunto de elementos materiais (firmas, infra-estrutura), imateriais (conhecimento) e
institucionais (regras e arcabouço legal) que compõem uma complexa rede de relações
voltada para inovação, onde este conjunto de elementos e relacionamentos é representado por
vínculos entre firmas, clientes, organização de pesquisa, sistema educacional e demais
autoridades locais que interagem de forma cooperativa. Um aspecto importante é que a firma
não é considerada um agente isolado no processo de inovação, mas parte de um ambiente com
capacidade inovativa.
Nesse contexto, o meio inovador pode ser compreendido de duas formas: (i)
como uma rede concreta de atores que interagem dentro de um sistema produtivo local e (ii)
como o próprio ambiente que provê as condições que viabilizam e facilitam a existência de
interações entre os diferentes segmentos de atores nas aglomerações. A troca de informações,
a similaridade de atitudes culturais e psicológicas, a freqüência de contatos interpessoais e
cooperação, a capacidade inovativa, mobilidade e flexibilidade são facilitadas e favorecidas
pela proximidade espacial entre as empresas (LASTRES e FERRAZ, 1999; VARGAS, 2002).
De acordo com Campeão (2004), o meio inovador tem como grande vantagem
a rápida capacidade de inovação e reação às crises e turbulências externas.
83
3.2.2 Teoria dos
clusters
De acordo com Porter (1998), clusters se definem como concentrações
geográficas de empresas e instituições, ligadas por aspectos que podem ser compartilhados e
complementados entre si. Estas empresas cooperam e colaboram para o desenvolvimento de
vantagens econômicas e estratégicas. Os aglomerados também desempenham papel de imã na
atração de investimentos externos. O cluster é capaz de orientar tipos de políticas distintas,
como por exemplo, políticas de exportação, tecnológicas, de investimentos, de treinamentos e
educacionais. As políticas governamentais focadas nos aglomerados, por conseguinte,
facilitam o ajuste das empresas à nova realidade econômica, reduzindo os riscos da economia
local.
Os clusters possibilitam às empresas incrementos em seus processos
produtivos, tanto em termos de volume de produção, como em aumento de possibilidades
tecnológicas através do compartilhamento de meios produtivos e de investimentos na busca
por melhores tecnologias, sejam elas de produto, de processo ou de gestão. Outra vantagem
associada aos clusters diz respeito à possibilidade de cooperação entre as diversas empresas e
entre seus fornecedores, de tal forma a ganhar vantagem econômica e estratégica com a
localização. A cooperação entre empresas pode, ainda, proporcionar outras vantagens, como o
aumento de flexibilidade e agilidade no atendimento de pedidos em comparação a uma
empresa operando sozinha.
As vantagens de um cluster são muitas, mas a redução dos custos de transação
e as vantagens logísticas da aglomeração parecem ser de especial importância. Além disto, as
vantagens advindas da compra conjunta de insumos também devem ser destacadas.
Para Zaccarelli (2000), os aglomerados podem ser chamados de agrupamento
competitivo. Quanto à sua origem, eles não acontecem formalmente, como associações ou
redes de empresas, ou através de um planejamento feito pelos empresários da região. Nascem
naturalmente, tanto que muitas vezes os empresários não percebem que estão dentro deste
cluster e podem tirar vantagens disto.
O autor define como um cluster completo a concentração de empresas que
apresentem as seguintes características: alta concentração geográfica, existência de todos os
tipos de empresas e instituições de apoio relacionadas ao produto do cluster, empresas
altamente especializadas, total aproveitamento de materiais reciclados ou sub-produtos,
grande cooperação entre empresas, intensa disputa/substituição seletiva permanente,
84
uniformidade de nível tecnológico e cultura da sociedade adaptada às atividades do cluster.
Segundo Carbonara (2004), a literatura sobre os clusters tem identificado a
capacidade de inovação como um dos mais importantes fatores de competitividade do mesmo.
O processo de aprendizagem e sua conseqüente interação entre os diversos agentes é o que
tem se apresentado como o diferencial entre firmas que não se organizam e as que aproveitam
o fato de trabalharem com produtos similares numa mesma região. Nesse sentido, a autora
propõe um modelo cognitivo que permite investigar as características do processo de
inovação em três diferentes tipos de clusters, correspondendo a três diferentes estágios de
evolução dos mesmos.
Para tanto, a autora apresenta um modelo teórico analisando o processo de
inovação em três abordagens: empirical learning, learning by emulation e learning by
acquisition. No empirical learrning, o desenvolvimento de um novo conhecimento é baseado
na experiência prática do tipo “learning by doing” e, geralmente, não é planejado e surge
naturalmente. No learning by emulation, o conhecimento é gerado pelo encontro do
conhecimento desenvolvido internamente na empresa e o conhecimento captado por outras
empresas, tais como consultorias, fornecedores, clientes, consumidores, publicações técnicas
e científicas, entre outros.
No tipo learning by acquisition, o conhecimento é, na verdade, comprado de
fontes externas à empresa. Geralmente ocorre quando é preciso adquirir rapidamente um
conhecimento para solucionar um problema interno. Aquisição de novas tecnologias,
recrutamento dos melhores profissionais, relacionamentos com instituições públicas e
privadas de pesquisa, são exemplos de fontes externas de aquisição de conhecimento nesse
processo (CARBONARA, 2004).
O Quadro 2 caracteriza os três tipos de clusters propostos no modelo, o tipo de
mecanismo de aprendizagem predominante e a capacidade de inovação para cada um deles.
85
Tipo de
Cluster
Mecanismo de
aprendizagem do
cluster
Mecanismo de
aprendizagem
das organizações
do cluster
Características do cluster
Tipos de inovações
1
Aprendizagem
obtida pela
experiência e pelo
local (cultura,
costumes)
Empirical
learning
Conhecimento tácito e
habilidades profissionais.
Transferência rápida de
informações e facilidade
no compartilhamento do
conhecimento.
Inovações incrementais
de produto
2
Aprendizagem
obtida pela
experiência, pelo uso
e pelo local.
Empirical
learning
Obtenção de conhecimento
técnico de empresas
específicas.
Transferência rápida de
informações e facilidade
no compartilhamento do
conhecimento.
Inovações incrementais
e contínuas de produto e
processo
3
Aprendizagem
obtida pela
experiência, pelo uso
e pelo local, de
forma coletiva,
baseada em P&D, na
interação entre os
agentes e na idéia de
coletividade.
Learning by
emulation
Empirical
learning
Learning by
acquisition
Transferência rápida de
informações e facilidade
no compartilhamento do
conhecimento.
Obtenção de conhecimento
técnico de empresas
específicas.
Atividades de P&D.
Interação com agentes
externos.
Combinação entre
conhecimento externo e
conhecimento contextual.
Inovações radicais e
sistêmicas de produto,
processo, gerenciamento
organizacional e
sistemas
organizacionais.
Quadro 2:
Mecanismos de aprendizagem, características e tipos de inovação
Fonte:
Adaptado de CARBONARA (2004).
Esses novos formatos organizacionais que privilegiam a importância do
território, da aprendizagem coletiva e da cooperação, auxiliam as empresas a enfrentarem os
frequentes desafios oriundos da dinâmica do mercado já que favorecerem os processos
inovativos, assim como mobilizam e protegem as capacitações e os conhecimentos tácitos
gerados e acumulados dentro das empresas.
3.3 Cooperação para a inovação tecnológica na indústria brasileira
Segundo Cassiolato, Paiva Britto e Vargas (2005), a literatura brasileira
referente à cooperação para a inovação entre empresas e outras organizações é bastante
confusa e desbalanceada. Se por um lado uma ampla e diversificada literatura que analisa
os processos de cooperação entre universidade/instituições de pesquisa e empresas produtivas,
por outro, os estudos voltados para entender os processos cooperativos envolvendo empresas
ao longo da cadeia produtiva é muito recente e incipiente.
86
O IBGE relatou, com base em um conjunto de indicadores para o setor
industrial, obtidos a partir da PINTEC (2005), que de modo geral as empresas brasileiras
cooperam muito pouco. Com as instituições de pesquisa e universidades a cooperação é ainda
menor: apenas 3,4% das empresas, independentemente do setor e do tipo de firma.
Com relação às características gerais, principais parcerias e fontes de
informação para a inovação, a PINTEC (2005) indicou o seguinte:
importância da cooperação no desenvolvimento da principal inovação da empresa: no
que se refere ao desenvolvimento de novos produtos, (a) os processos cooperativos
são muito pouco significativos, independentemente da categoria da empresa; (b)
existe uma tendência generalizada das empresas em utilizar fontes internas de
informação; (c) as empresas que inovam e diferenciam produtos utilizam de maneira
significativa outra empresa do grupo como fonte interna de informação; (d) as
empresas que não diferenciam produtos e m produtividade menor
4
utilizam mais
outras empresas e institutos como fonte principal de informação para inovação. Em
relação ao desenvolvimento de novos processos, (a) a importância da cooperação é
também reduzida, com exceção das empresas que inovam e diferenciam produtos; (b)
para os três grupos, a introdução do principal processo produtivo da empresa foi
realizada por outra empresa ou instituição; (c) a compra de equipamentos deve se ser
o mecanismo mais importante para que as empresas atualizem seus processos;
fontes de informação voltadas ao aprendizado: as empresas industriais inovadoras que
apresentam alguma forma de envolvimento em arranjos cooperativos, indicam que as
fontes de informação mais importantes para a inovação são aquelas associadas a
outras empresas do grupo (45,2%), clientes (51,7%), fornecedores de máquinas e
equipamentos (44,7%), participações em feiras e exposições (40%), universidades e
institutos de pesquisa (16%). Aquisição de licenças e patentes, empresas de
consultoria e instituições de testes, ensaios e certificação são, para 60% das empresas,
fontes de importância nula. Para as empresas especializadas em produtos
padronizados
5
as fontes de informação mais importantes são: outras empresas do
4
Empresas que não diferenciam produtos e têm produtividade menor: engloba as empresas tipicamente não
exportadoras, menores, que podem inovar mas são menos eficientes nos mais variados sentidos, que se mostram
capazes de captar espaços em mercados menos dinâmicos através de baixos preços e outras vantagens (PINTEC,
2005).
5
Empresas especializadas em produtos padronizados: aquelas cuja estratégia competitiva impõe que o foco de
sua atuação seja redução de custos, em vez da criação de valor. São consideradas as empresas exportadoras não
incluídas na categoria das empresas que inovam e diferenciam produtos e as não-exportadoras que apresentam
eficiência igual ou maior do que as empresas que exportam nesta categoria. Tendem a ser atualizadas nas
87
grupo (51,6%), fornecedores de máquinas e equipamentos (49,4%), clientes ou
consumidores (48,7%) e feiras e exposições (42,9%). Já para as empresas que não
diferenciam produtos e têm produtividade menor, as fontes mais importantes são:
clientes ou consumidores (54,1%), fornecedores de máquinas e equipamentos
(40,6%), feiras e exposições (39%) e concorrentes (27,6%),
padrão de cooperação entre as empresas industriais brasileiras: cerca de 11% ou
2.407 empresas, apresentam alguma forma de participação em arranjos cooperativos
com vistas a desenvolver atividades inovativas. Desse total, 14% são empresas que
inovam e diferenciam produtos, 43% empresas especializadas em produtos
padronizados e 43% empresas que não diferenciam produtos e têm produtividade
menor. Contudo, a importância maior da cooperação para a inovação está para as
empresas que inovam e diferenciam produtos. Empresas inseridas em arranjos
cooperativos com vistas a desenvolver atividades inovativas tendem a apresentar um
desempenho superior em relação àquelas que não participam de tais arranjos,
independentemente do grupo considerado, conforme demonstra a Tabela 1. De modo
geral, para as três categorias de empresas, os principais parceiros para cooperação
com vistas a inovação, em ordem de importância, são: outras empresas do grupo
(46,6%), fornecedores (38,6%), clientes ou consumidores (33,7%), universidades e
institutos de pesquisa (13,4%), concorrentes (7,8%) e empresas de consultoria (7,5%).
Tabela 1:
Caracterização das empresas inovadoras envolvidas em arranjos cooperativos para inovação no
período de 1998 a 2000.
Características das empresas
Participa de
arranjos
cooperativos
Não participa de
arranjos
cooperativos
Número de empresas 2.407 19.694
Pessoal ocupado 382 98
Faturamento (R$ milhões) 107,78 11,48
Importações (US$ milhões) 10,57 0,07
Exportações (US$ milhões) 10,10 0,79
Remuneração (R$/mês) 988,76 622,66
Escolaridade (anos) 8,31 7,60
Tempo de emprego (meses) 49,29 38,46
Dispêndio em P&D sobre o faturamento (%) 2,03 0,93
Dispêndio em aquisição externa de P&D sobre o faturamento (%)
0,05 0,03
Fonte
: adaptado de IBGE/Diretoria de Pesquisas, Coordenação de Indústria, PINTEC-2000.
A análise dos dados da PINTEC (2005), sugere que, em termos gerais, quanto
maior a intensidade de gastos em P&D da atividade relacionada, mais expressiva tende a ser a
características operacionais como fabricação, gestão da produção, gestão da qualidade e logística, mas defasadas
em P&D, marketing e gerenciamento de marcas (PINTEC, 2005).
88
participação de empresas envolvidas em arranjos cooperativos em relação ao total de
empresas observadas.
As evidências sugerem que o envolvimento com arranjos cooperativos tende a
ser uma prática mais comum entre empresas vinculadas à atividades de maior conteúdo
tecnológico. A participação de faixas de dia e alta intensidade de gastos de P&D no total
das empresas reduz-se gradativamente do grupo das empresas que inovam e diferenciam
produtos para o grupo das empresas que não diferenciam produtos.
A disposição à cooperação com outras organizações cresce na medida em que o
tamanho da empresa aumenta. Por exemplo, as empresas com mais de 500 empregados
respondem por aproximadamente 40% das empresas que utilizaram essa estratégia. A
possibilidade de cooperação com clientes e fornecedores tende a ser mais efetiva para as
empresas de maior porte, que podem operar com maior poder de barganha em seus
relacionamentos interindustriais. Para as empresas de menor porte, a possibilidade de
cooperação tende a ser mais efetiva com clientes, empresas de consultoria e universidades.
Independentemente da faixa de tamanho, as relações interindustriais com
clientes e fornecedores são consideradas importantes fontes de informações. Para as empresas
de maior porte, é maior a importância como fonte de informação para as empresas de
consultoria e universidades, ao passo que para as empresas de menor porte essa importância
está nos concorrentes e nos centros de prestação de assistência técnica.
3.4 Cooperação na indústria de alimentos
Com base em um conjunto de indicadores para o setor industrial, obtidos a
partir da PINTEC (2005), constatou-se que as empresas brasileiras inovam muito pouco. Na
indústria de alimentos essa realidade é ainda mais acentuada. Um dos fatores que contribui
para isso é a baixa cooperação existente entre as empresas visando inovar produtos e
processo. Neste segmento, o processo de inovação tecnológica é específico da empresa.
Esta situação foi constatada por Cassiolato, Paiva Brito e Vargas (2005), ao
relatarem que apenas 10% das empresas alimentícias brasileiras estão envolvidas em arranjos
cooperativos. Desse percentual, as empresas que inovam e diferenciam produtos são as que
apresentam maior participação, com 40%, enquanto as empresas especializadas em produtos
padronizados e as que não diferenciam produtos apresentam participação sensivelmente
menor, com 22% e 6%, respectivamente.
89
Uma pequena parte dessas empresas estão inseridas em relações universidade e
indústria. Segundo Nantes, Abreu e Lucente (2006), duas razões poderiam explicar o baixo
envolvimento das empresas de alimentos em arranjos cooperativos com outras empresas e
instituições: (i) uma parte delas provavelmente o tem necessidade de estabelecer
cooperação para desenvolver inovações que são, na sua maioria, novas para a empresa, mas
não para o mercado e, (ii) não possuem capacitação necessária, especialmente em recursos
humanos, para estabelecer a cooperação.
Estes autores realizaram um estudo em três empresas do setor alimentício e
constataram as seguintes formas de cooperação para inovação tecnológica:
duas empresas formalizaram formas de cooperação com agentes externos por meio da
contratação de consultorias estrangeiras, especializadas no desenvolvimento de
produtos alimentícios;
embora não seja uma prática freqüente, as empresas têm realizado consultorias junto a
universidades, geralmente localizadas próximas à planta industrial;
uma outra forma de relacionamento com as universidades tem sido a participação de
alunos estagiários no setor de desenvolvimento de produtos das empresas;
a cooperação com fornecedores esteve presente nas três empresas estudadas. A
principal razão para a cooperação ocorreu pelas inovações nos equipamentos e
matérias-primas, incorporadas nos processos das empresas;
uma das empresas promoveu ações de cooperação com agentes externos para a
capacitação dos funcionários,
nas três empresas, as formas mais utilizadas para a busca de novos conhecimentos
foram viagens técnicas a indústrias fornecedoras de máquinas e equipamentos e
participação em feiras e workshops no Brasil e no exterior.
Nas empresas alimentícias do município de Marília/SP, considerado um pólo
nacional na produção de alimentos, a cooperação é igualmente baixa. Num estudo realizado
por Rodrigues (2003) em 55 empresas, apenas uma mostrou possuir conhecimento sobre o
conceito de cluster e das vantagens que podem ser obtidas desse arranjo. Em relação às
parcerias realizadas, estas restringiram-se às trocas de matérias-primas e ao rateio de fretes. A
autora concluiu que a cooperação ficou restrita à aquisição de insumos, não se estendendo ao
setor tecnológico das empresas.
Contudo, apesar do reduzido número de iniciativas para o estabelecimento de
relações cooperativas, as empresas estudadas se mostraram relativamente favoráveis a adotar
90
este procedimento. Esta afirmação pode ser constatada pelo fato de apenas duas das empresas
estudadas terem afirmado que não confiam em seus fornecedores e concorrentes. Esta posição
contrária à cooperação pode ser explicada por relacionamentos anteriores, que culminaram em
prejuízos para as empresas.
Rodrigues (2003) afirma que a falta de conhecimento sobre os reais benefícios
da cooperação não permite o estabelecimento de iniciativas mais incisivas nessa direção. Para
tanto, seria necessário o desenvolvimento de ações que impulsionassem uma maior interação
entre essas empresas, que deveriam trocar, além de matérias-primas, informações que
permitissem o compartilhamento de objetivos em comum.
91
4
MÉTODOS DE PESQUISA
Neste capítulo é apresentada a metodologia utilizada para a elaboração e
desenvolvimento da pesquisa de campo.
As etapas a serem cumpridas durante a realização da pesquisa foram
estabelecidas de acordo com o proposto por Gil (1996). A pesquisa foi dividida em nove
etapas, que se encontram detalhadas na Figura 1.
4.1 Etapas da pesquisa
A Figura 1 ilustra a visão geral da pesquisa:
Figura 1
:- Diagramação da pesquisa.
Fonte:
Adaptado de Gil (1996)
- Formulação do problema
O processo de inovação tecnológica na indústria brasileira de alimentos é
predominantemente um processo de difusão de tecnologia e não um processo interno às
empresas de desenvolvimento de inovações. As empresas do setor alimentício, em geral,
apresentam um baixo padrão de inovação, quase exclusivamente voltado para a redução de
custo e fortemente associado à difusão de tecnologias já existentes no mercado.
Formulação
do problema
Especificação dos
objetivos
Escolha do método de
pesquisa
Determinação
das variáveis
Seleção da
amostra
Elaboração dos
instrumentos de coleta
de dados
Coleta de
dados
Análise e
interpretação dos
dados
Redação e
publicação da
pesquisa
92
Estes motivos indicam a importância das empresas deste segmento
reconhecerem a necessidade da inovação tecnológica para a diferenciação de seus produtos e
processos, e, a partir disso, promoverem ações para que a inovação possa ocorrer de forma
adequada.
Estas informações serviram de base para a formulação das questões que a
pesquisa pretende responder ao final dos estudos de caso.
- Especificação dos objetivos
Em função da problemática envolvida com a inovação tecnológica na indústria
de alimentos, foram fixados o objetivo geral e os específicos. Basicamente, a pesquisa tratou
de caracterizar as empresas do setor alimentício do município de Marília/SP em relação à
inovação tecnológica de produto e processo. Esta caracterização indicou também os possíveis
benefícios decorrentes da inovação tecnológica. Para isto, foram utilizados indicadores de
esforço tecnológico propostos pela PINTEC (2005).
Em razão do município de Marília/SP representar um importante pólo de
produção de alimentos do estado, reunindo empresas de diferentes portes e características,
pretendeu-se verificar se as condições existentes no município estão favorecendo o
estabelecimento de relações de cooperação entre as empresas da amostra e outras
organizações, visando incrementar a inovação tecnológica nas empresas estudadas.
- Escolha do método de pesquisa
Para atender aos objetivos deste trabalho, foi utilizada uma abordagem
qualitativa, definida por Strauss e Corbin (1990) como um tipo de pesquisa na qual os
resultados não o obtidos mediante procedimentos estatísticos. A pesquisa qualitativa
procura descrever e promover o entendimento de uma determinada realidade.
A abordagem qualitativa é adequada a esta pesquisa uma vez que para avaliar o
desenvolvimento e a adoção de inovações tecnológicas de produto e processo nas empresas
alimentícias, é indispensável o conhecimento da realidade em relação ao processo de tomada
de decisão por estas empresas. Este procedimento é justamente uma das características da
pesquisa qualitativa, que tem como ênfase, captar a perspectiva dos indivíduos que estão
93
sendo estudados.
Entre os diversos tipos de pesquisa qualitativa, o estudo caso foi considerado o
mais adequado, por realizar uma análise detalhada de um ambiente ou de uma situação em
particular. Boyd e Stasch (1985) reforçam este argumento ao afirmarem que no estudo de caso
é dado ênfase à completa descrição e ao entendimento do relacionamento dos fatores de cada
situação. Em virtude da flexibilidade do planejamento do estudo de caso, o pesquisador, ao
longo de seu processo, mantém-se atento a novas descobertas.
Uma outra vantagem do estudo de caso é que o pesquisador, que
freqüentemente dispõe de um plano inicial de pesquisa, pode ter seu interesse despertado por
outras situações não previstas, que podem ser tão ou mais relevantes para a solução do
problema do que os considerados inicialmente (GIL, 1996).
Nesta pesquisa foi adotado o estudo de caso múltiplo, que se baseia em
reaplicações de um dado fenômeno em diferentes contextos, permitindo uma maior
abrangência dos resultados, tornando a pesquisa mais completa. Segundo Lazzarini (1997), as
vantagens desse método está na possibilidade de ser utilizada mais de uma unidade de análise
e de focar a interpretação dos dados e não a sua mensuração.
As principais limitações deste método de pesquisa estão nas dificuldades de
generalização dos resultados obtidos e conseqüentemente das conclusões (Bonoma, 1985).
Uma outra limitação acrescentada por Gil (1996), decorre do fato da unidade escolhida para
investigação, em muitos casos, não ser representativa em relação ao universo da qual faz
parte, comprometendo os resultados. Para que esses problemas sejam minimizados, é exigido
do pesquisador um nível de capacitação mais elevado do que o requerido para outros tipos de
delineamento.
Este trabalho envolve duas etapas principais: a exploratória e a descritiva. O
objetivo da pesquisa exploratória é fornecer insights para melhor compreensão do tema,
aumentando a familiarização do pesquisador com o problema em questão (CHURCHILL,
1995).
A etapa exploratória é constituída, fundamentalmente, da revisão de literatura
sobre inovação tecnológica nas indústrias de alimentos. A revisão bibliográfica fornece o
suporte conceitual para a pesquisa e também os dados secundários. De acordo com Bryman
(1989), os dados secundários são aqueles obtidos de estudos previamente desenvolvidos e que
se relacionam diretamente com o tema em estudo. Neste sentido, cabe destacar as informações
obtidas a partir da PINTEC, divulgada em 2005 pelo IBGE, que forneceram o quadro atual do
processo de inovação na indústria brasileira, permitindo situar a pesquisa dentro da realidade
94
tecnológica do País, assim como revelou os indicadores de esforço tecnológico aplicados nas
empresas da amostra.
Complementando as fontes de dados secundários, foram utilizadas informações
publicadas em trabalhos acadêmicos, livros, dissertações, teses e publicações institucionais do
Ministério da Ciência e Tecnologia.
A etapa descritiva constou de uma pesquisa de campo realizada pessoalmente e
in loco, junto a empresas de alimentos do município de Marília/SP, previamente selecionadas
de acordo com indicação da Associação das Indústrias de Alimentos de Marília/SP (ADIMA).
- Determinação das variáveis
As variáveis selecionadas para o desenvolvimento da pesquisa de campo e que
orientaram a escolha das empresas foram: os indicadores de esforço tecnológico, a partir dos
dados da PINTEC-2005, o porte das empresas, a origem do capital, a orientação exportadora e
o tipo de produto fabricado.
- Seleção da amostra
A pesquisa de campo foi realizada em quatro empresas alimentícias localizadas
no município de Marília/SP. Foram selecionadas empresas de micro, pequeno, médio e grande
porte, de capital nacional, exportadoras e não-exportadoras.O porte das empresas foi definido
com base na classificação proposta pelo Sebrae (2006), de acordo com o número de
funcionários.
A escolha de empresas de portes diferentes é justificada pelos seguintes
motivos: as empresas de micro e pequeno porte representam 76% das empresas alimentícias
do município e o responsáveis por 9% das empregos diretos gerados pelo setor (ADIMA,
2006). a inclusão de empresas de médio e grande porte na amostra se justifica (i) pela
importância econômica das mesmas para a economia e desenvolvimento regional, (ii) pela
maior capacidade de difusão de inovações tecnológicas para as demais empresas e, (iii) pela
maior possibilidade das mesmas estabelecerem relações de cooperação para inovação
tecnológica com outras empresas e instituições.
95
Um outro fator considerado
na escolha das empresas componentes da amostra
foi o produto fabricado. Os produtos foram agrupados em três linhas principais: confeitos de
amendoim, doces (balas, gomas e pirulitos) e salgadinhos de trigo.
Para tornar a amostra mais homogênea, dada a grande diversidade de produtos
fabricados pelas empresas do município, optou-se pela escolha de empresas que utilizam
matérias-primas semelhantes ou muito próximas. As principais matérias-primas utilizadas por
estas empresas são: farinha de trigo, açúcar, amendoim, gordura vegetal, glicose de milho e
amido de milho.
- Elaboração dos instrumentos de coleta de dados
Para a coleta de dados foram utilizados roteiros de entrevistas elaborados na
forma de questionários semi-estruturados, contendo questões abertas e fechadas. Os
questionários semi-estruturados são instrumentos que permitem uma interação entre o
pesquisador e o entrevistado, aplicando-se, portanto, perfeitamente a este estudo. Os roteiros
de entrevistas encontram-se detalhados no Apêndice A.
Na elaboração do questionário da pesquisa foram utilizadas informações
relatadas na PINTEC (2005), cujo objetivo foi a construção de indicadores setoriais, nacionais
e regionais, das atividades de inovação tecnológica nas empresas industriais brasileiras. O
roteiro de entrevistas foi dividido em dois blocos: o da inovação tecnológica e o da
cooperação para a inovação.
a) Inovação tecnológica
Com base na PINTEC (2005), foram definidos cinco indicadores para avaliar o
esforço para inovação tecnológica, que segundo o Ministério da Ciência e Tecnologia - MCT
(1997) podem ser definidos como medidas utilizadas para avaliar o potencial de inovação,
escolhidas para organizar informações qualitativas e quantitativas sobre os fatores
intervenientes nos processos de inovação.
Os cinco indicadores definidos são: i) atividades internas de P&D, ii)
aquisições externas de P&D, iii) aquisições de máquinas e equipamentos, iv) treinamentos e
v) introdução das inovações tecnológicas no mercado.
96
O indicador atividade interna de P&D compreende o trabalho criativo e
sistemático, objetivando o aumento e o uso de conhecimentos para desenvolver novas
aplicações, tais como o desenvolvimento de novos produtos e processos ou aprimoramento
dos mesmos. Inclui também o desenho, a construção e o teste de protótipos, de instalações
piloto e o desenvolvimento de softwares.
Portanto, este indicador deve fornecer informações sobre a inovação de
produto e de processo, relatar os projetos incompletos ou abandonados pela empresa e as
dificuldades encontradas para adotar a inovação tecnológica.
O indicador aquisição externa de P&D compreende as mesmas atividades do
indicador atividade interna de P&D, porém, realizadas por outras organizações (empresas ou
instituições tecnológicas) e adquiridas pela empresa.
O indicador aquisição de quinas e equipamentos está relacionado à compra
de máquinas e equipamentos, especificamente para a implementação de produtos ou
processos novos ou tecnologicamente aperfeiçoados.
O indicador treinamento refere-se ao treinamento dos recursos humanos da
empresa a fim de habilitá-los para o processo de desenvolvimento de produtos e processos
novos ou significativamente aperfeiçoados. Pode incluir a aquisição de serviços técnicos
especializados externos.
Por fim, o indicador introdução das inovações tecnológicas no mercado, analisa
as atividades de comercialização, diretamente relacionadas ao lançamento de produto
tecnologicamente novo ou aperfeiçoado, podendo incluir pesquisas de mercado, testes de
mercado e publicidade utilizada para o lançamento do produto desenvolvido.
A mensuração dos recursos alocados nestas atividades revela o esforço
empreendido pelas empresas no processo de inovação, assim como permitem identificar sua
relevância: muito relevante, relevante, média, pouco relevante e irrelevante. Deste modo, é
possível não apenas conhecer as atividades desenvolvidas, como também identificar a
importância relativa das mesmas.
b) Cooperação para inovação
A pesquisa também avalia as relações de cooperação estabelecidas entre as
empresas da amostra e outras organizações, com o objetivo de incrementar o processo de
inovação tecnológica. Este objetivo é justificado pelo fato do município de Marília/SP
97
apresentar características favoráveis ao estabelecimento de colaboração entre as empresas
produtoras de alimentos.
A concepção de cooperação utilizada neste trabalho é aquela definida pelo
Glossário de Arranjos e Sistemas Produtivos e Inovativos Locais - GASPIL (2005), em que o
significado genérico de cooperação é o de trabalhar em comum, envolvendo relações de
confiança mútua e coordenação, em níveis diferenciados entre os atores. Assim, a cooperação
para inovação visa a redução de riscos, custos, tempo e, principalmente, resulta no
aprendizado interativo, o que dinamiza o potencial de criação de capacitações produtivas e
inovativas, podendo ocorrer por meio de:
intercâmbio sistemático de informações produtivas, tecnológicas e mercadológicas
com clientes, fornecedores, concorrentes e outros;
interação envolvendo empresas e outras organizações em programas comuns de
treinamento, realização de eventos e feiras, cursos e seminários, entre outros,
integração de competências, por meio da realização de projetos conjuntos, incluindo
desde melhoria de produtos e processos até pesquisa e desenvolvimento propriamente
dita entre empresas e destas com outras organizações.
Nesse sentido, as questões focando a cooperação para a inovação neste trabalho
tiveram por objetivo identificar as relações entre um conjunto de parceiros interligados por
canais de troca, sua localização e o objeto da cooperação, sendo:
parceiros: clientes ou consumidores; fornecedores; concorrentes; outra empresa do
grupo; universidade e institutos de pesquisa; centros de capacitação profissional e
assistência técnica;
localização dos parceiros: Brasil (mesmo estado/outro estado); Mercosul; Europa;
outros países,
objetos de cooperação: P&D; assistência técnica; treinamento; desenho industrial;
ensaio para teste de produto; outros objetos de cooperação.
A importância em conhecer e fomentar as relações de cooperação para
inovação tecnológica, tanto de produto, quanto de processo, baseia-se no fato de que o
fortalecimento das interações entre os diferentes agentes do sistema no qual as empresas
alimentícias estão inseridas, desempenha papel fundamental no desenvolvimento tecnológico
das mesmas, na medida em que facilita o fluxo de informações e aprendizado, promovendo a
difusão de novas tecnologias.
98
- Procedimento de coleta de dados
A aplicação do questionário precedeu de um pré-teste, cujo objetivo foi
identificar possíveis incorreções do instrumento, possibilitando alterações para a etapa
descritiva da pesquisa. De acordo com Aaker, Kumar e Day (2004), o objetivo do pré-teste é
assegurar que o questionário atinja as expectativas do pesquisador, eliminando-se os
problemas relativos à tendenciosidade de questões, clareza de enunciados, entre outros.
As entrevistas definitivas foram realizadas de forma presencial, com
profissionais responsáveis pelo setor industrial. Pela vivência no processo industrial e pela
participação na tomada de decisão estratégica das empresas, os relatos desses profissionais
contribuíram para o entendimento do problema estudado.
O instrumento de coleta de dados mostrou-se capaz de identificar atitudes a
favor ou contra a inovação tecnológica, destacando as principais dificuldades para o
desenvolvimento e adoção de tecnologia e identificando com clareza as mudanças internas,
tanto as referentes à infra-estrutura física da empresa, como as relacionadas ao
comportamento do pessoal envolvido com o processo de inovação.Além destas questões,
esclareceu as relações de cooperação entre as empresas da amostra e outras organizações.
- Análise e interpretação dos dados
A análise dos cinco indicadores de esforço tecnológico é realizada para cada
empresa e entre as empresas da amostra, possibilitando, dessa forma, uma comparação entre
os indicadores. Tais análises são qualitativas, uma vez que o número de empresas amostradas
é insuficiente para análises quantitativas utilizando procedimentos estatísticos.
A partir da análise crítica dessas informações, são elaboradas propostas de
ações visando incentivar o desenvolvimento e a adoção de inovações tecnológicas nas
empresas estudadas.
99
5 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS
Este capítulo tem por objetivo analisar os resultados da pesquisa de campo
realizada em quatro empresas alimentícias do município de Marília/SP. Inicialmente é
apresentada uma caracterização geral das empresas estudadas, destacando informações como
porte, número de funcionários, tempo de existência, tipo de gestão, principais mercados de
atuação, linhas de produtos e participação dos mesmos no faturamento. Posteriormente, cada
uma das empresas é caracterizada separadamente, com base nos cinco indicadores de
inovação tecnológica e na cooperação para inovação. Por fim, é realizada uma análise dos
resultados obtidos com a caracterização da inovação tecnológica e a cooperação para
inovação e são propostas algumas ões para a dinamização da inovação nas empresas
estudadas.
5.1 Caracterização geral das empresas
O município de Marília/SP é reconhecido como a Capital Nacional do
Alimento. Atribui-se este título ao município pelo fato do mesmo comportar um grande
número de empresas deste segmento com uma alta quantidade de produção mensal distribuída
no Brasil e em vários países do exterior, gerando um elevado número de empregos diretos e
indiretos. Em torno dessas empresas, observa-se o estabelecimento de instituições que
promovem cursos específicos para a formação e capacitação de mão-de-obra para o setor e, a
presença de outras empresas fornecedoras de produtos e serviços associados a essas empresas.
As empresas do município apresentam portes variados. Para atender aos
objetivos da pesquisa, foram escolhidas quatro empresas de diferentes portes: micro, pequeno,
médio e grande. A Tabela 2 apresenta as principais características das empresas constituintes
da amostra.
100
Tabela 2:
Caracterização geral das empresas estudadas
Porte
Nº de
funcionários
Tempo no
mercado
(anos)
Tipo de gestão
Mercados de
atuação
Produtos fabricados
Micro 14 3 familiar
regional e
nordeste
confeitos de amendoim,
salgadinhos de trigo
Pequeno 40 3 familiar nacional
amendoim confeitado,
doces, salgadinhos de trigo
Médio 220 28 familiar nacional
bala de goma, amendoim
japonês e confeitado,
salgadinhos de trigo
Grande 2000 40 familiar
nacional e
internacional
bala de goma, amendoim
japonês e confeitado.
pastilhas e caramelos
Micro empresa
Esta empresa atua no mercado desde 1977, mas as informações obtidas foram
relativas aos últimos 3 anos, período da atual gestão, que adquiriu a empresa posteriormente a
outras duas gestões.
A empresa teve grande representatividade pelos produtos fabricados e pela
sua capacidade instalada, chegando a ser fornecedora de produtos semi-processados para
grandes empresas da região e algumas multinacionais. Porém, em função do cancelamento de
contratos de fornecimento para as grandes empresas, aliado às decisões estratégicas
precipitadas e às mudanças de mercado, a empresa entrou em um processo de crise financeira
que afetou fortemente sua imagem.
Neste período anterior, havia realizado significativos investimentos em
máquinas, equipamentos e mão-de-obra para atender essa demanda. Atualmente, a empresa
encontra-se instalada no mesmo prédio ocupado pela gestão anterior, porém, funcionando
com uma capacidade de produção inferior aos períodos anteriores.
A gestão é feita principalmente pelo proprietário, embora outros membros da
família também participem e cooperem na administração. O staff é formado pelo gerente de
produção, um auxiliar administrativo e técnicos de nível médio, porém, as principais decisões
estratégicas estão concentradas no proprietário atual. Com exceção da auxiliar administrativa,
não há nenhum outro funcionário com curso superior completo, inclusive o proprietário.
Os produtos fabricados são os confeitos de amendoim (doces e salgados) e os
salgadinhos de trigo de diversos sabores, com participação no faturamento de 70% e 30%,
respectivamente. O amendoim confeitado tipo japonês é o principal produto da empresa.
101
Como estratégia de posicionamento, a empresa utiliza o preço baixo, que
seus produtos o destinados ao atendimento das classes de consumidores de baixa renda.
Portanto, a estratégia da empresa é totalmente apoiada em preço.
A maior parte das vendas se destina ao Nordeste, cabendo aos municípios da
região uma parcela bem menor. Como na região existe um grande número de pequenas
empresas que fabricam os mesmos produtos, com as mesmas estratégias de posicionamento, a
concorrência tornou-se muito acirrada, justificando os esforços para consolidar o mercado
nordestino.
Pequena empresa
A empresa foi criada em 1997, funcionando até 1998, quando encerrou suas
atividades de produção em função de dificuldades financeiras. No período entre 1998 e 2004,
se dedicou ao desenvolvimento de novos produtos e testes de mercado, aumentando a escala
de produção a partir de meados 2004. Contudo, como a estratégia estabelecida não foi bem
sucedida, em 2005 houve troca de gestão, mudando o foco de atuação da empresa. Esta gestão
permanece até os dias atuais.
A gestão atual é exercida por quatro sócios-proprietários, pertencentes à
famílias diferentes, que dividem a execução dos cargos estratégicos e de direção da empresa,
tais como a gerência financeira, a gerência de produção, a gerência de pessoal e a gerência de
compras. Dois dos proprietários têm curso superior completo, sendo um deles formado em
Engenharia de Produção Mecânica e o outro em Direito.
Os produtos fabricados são os confeitos de amendoim (doces e salgados),
doces (paçoca e pastilhas de diversos sabores) e salgadinhos de trigo de diversos sabores, com
participação no faturamento de 35%, 30% e 35%, respectivamente. Embora com a mesma
participação no faturamento, a empresa considera os salgadinhos de trigo como os principais
produtos da empresa, que são mais associados com a marca que os demais por serem mais
conhecidos pelos consumidores.
Como estratégia de posicionamento, a empresa utiliza o preço baixo, que
seus produtos são destinados para as classes de consumidores de renda mais baixa.
A comercialização é realizada em âmbito nacional, cuja distribuição alcança 14
estados brasileiros, através de uma extensa rede de distribuidores atacadistas e varejistas. Foi
102
relatada a intenção de iniciar um trabalho visando atingir o mercado externo. Para isso, a
empresa está disposta a adequar sua estrutura produtiva e administrativa.
Média empresa
A empresa, que possui 28 anos de existência, foi fundada como revendedora e
distribuidora de produtos alimentícios produzidas por outras empresas do município. Com o
passar do tempo, os sócios-proprietários decidiram iniciar produção própria, motivados pelo
aumento do volume das vendas e pelo maior conhecimento da atividade e do mercado.
A empresa é dirigida por quatro sócios-proprietários, todos de uma mesma
família e emprega 220 funcionários. A gestão é caracterizada como familiar, uma vez que os
proprietários ocupam cargos estratégicos, tais como presidência e diretorias. Dois dos
proprietários têm curso técnico em contabilidade, embora as funções exercidas na empresa
não pertençam à essa área de conhecimento.
O portfolio de produtos é constituído por bala de goma, amendoim japonês,
amendoim confeitado e salgadinhos de trigo de diversos sabores, com participação no
faturamento de 40%, 30%, 20% e 10%, respectivamente. A bala de goma com diversos
sabores é o principal produto da empresa, porém, o amendoim japonês tem se destacado pela
sua penetração em mercados ainda não explorados pela empresa em razão da grande
concorrência existente para este produto.
Como estratégia de posicionamento, a empresa utiliza a marca. Em virtude de
possuir preço superior em relação as outras empresas, inclusive as situadas no município, e
destinar seus produtos para classes de consumidores com renda média a alta, a consolidação
da marca como diferencial torna-se necessária para a manutenção da empresa no mercado.
Para isso, uma das estratégias utilizadas é a manutenção do selo de qualidade ABICAB
(Associação Brasileira da Indústria de Chocolates, Cacau, Amendoim, Balas e Derivados) do
programa Pró-Amendoim, obtido pela empresa em 2006. Apenas 15 empresas no país
possuem este selo de qualidade, que tem por objetivo gerar segurança para o consumidor, à
medida que certifica produtos a base de amendoim como livres da aflatoxina
6
.
6
Grupo de substâncias produzidas, principalmente, por dois fungos bolores denominados Aspergillus flavus e
Aspergillus parasiticus , tóxicas para o homem e para os animais. Desenvolvem-se em muitos produtos agrícolas
e alimentos, com incidência maior no amendoim, quando as condições de umidade do produto, umidade relativa
do ar e temperatura ambiente são favoráveis.
103
A maior parte das vendas se destina aos estados de São Paulo e Rio de Janeiro.
Anteriormente, a empresa exportava para países da Europa e América do Sul. Porém, em
função do problema com a aflatoxina
7
enfrentando por empresas brasileiras no final da década
de 1990 e início de 2000, e do câmbio desfavorável para a exportação, a empresa desistiu das
exportações, atuando exclusivamente no mercado interno. Atualmente, os sócios-proprietários
estão cogitando a possibilidade de voltar a exportar.
Grande empresa
Esta empresa foi fundada como empresa individual em 1967, como fabricante
de pipoca e amendoim Ao longo dos anos foi aprimorando seus processos produtivos,
diversificando a gama de produtos, e ampliando a participação nos mercados nacionais e
internacionais.
Além da matriz localizada em Marília/SP, possui outra unidade de produção,
localizada no estado do Paraná. Além das unidades industriais, possui duas unidades de
distribuição localizadas em São Paulo e no Ceará.
A participação societária está dividida da seguinte forma: 92% das ações
pertencem à família proprietária e 8% a dois sócios-diretores da empresa. Como os principais
cargos estratégicos o ocupados por membros da família, como a presidência e algumas
diretorias, a empresa caracteriza-se como sendo de gestão familiar, porém, bastante
profissionalizada.
A profissionalização da gestão é observada pela política da empresa em
contratar profissionais para cargos estratégico e tático (diretorias e gerencias) que tenham, no
mínimo, curso superior completo. Para cargos operacionais (supervisores, auxiliares técnicos,
auxiliares administrativos) igualmente uma exigência de qualificação, ou seja, esses
profissionais devem possuir ou estar realizando algum curso de qualificação técnica ou
superior.
O atual portfolio da empresa é composto por 260 produtos, divididos em quatro
principais categorias: balas de goma, amendoim japonês e confeitado, pastilhas e caramelos.
Dentre estes produtos, aqueles diretamente enviados para o mercado internacional. Tais
7
A empresa não apresentou problemas pela presença de aflatoxina em seus produtos. Porém, como a imagem
das empresas nacionais em geral estava comprometida pelos constantes ataques da mídia, indiretamente a
empresa foi afetada, sofrendo embargos de seus produtos por parte dos compradores externos.
104
produtos são desenvolvidos ou adaptados de acordo com os hábitos de consumo dos países
importadores. Os produtos que utilizam como matéria-prima glucose, sacarose e amido se
destacam como os mais significativos em termos de faturamento.
A empresa possui como principal critério para avaliação de desempenho o
custo de seus produtos. A estratégia de posicionamento utilizada é o constante reforço da
marca, que se dá pela busca por certificações de qualidade e constantes inovações nos
produtos. Semelhante à empresa de médio porte, a manutenção do selo de qualidade
ABICAB, obtido pela empresa em 2002, reforça essa estratégia.
O maior preço dos produtos em relação à concorrência é outra justificativa para
o reforço da marca. Assim, a imagem de um produto inovador e seguro para a saúde é a
principal ferramenta para atrair um maior número de consumidores, e não apenas aqueles de
renda mais alta.
Do total produzido pela empresa, 30% se destinam para o mercado externo,
atendendo cerca de 75 países. Os 70% destinados ao mercado interno alcançam praticamente
todos os estados brasileiros.
5.2 Caracterização dos indicadores de inovação tecnológica e cooperação para inovação
Nesta seção são apresentados, para cada uma das empresas estudadas, a
caracterização dos cinco indicadores de inovação tecnológica propostos: 1. Atividades
Internas de P&D, que se divide em a) inovação de produto, b) inovação de processo, c)
projetos em andamento ou abandonados e d) dificuldades à inovação; 2. Aquisições Externas
de P&D; 3. Aquisição de Máquinas e Equipamentos; 4. Treinamento e 5. Introdução das
Inovações Tecnológicas no Mercado. A seção também apresenta a caracterização das relações
de cooperação para a inovação. Nas duas situações, o período de análise considerado para a
obtenção das informações foram os últimos três anos.
105
5.2.1 Micro empresa
Indicador 1: atividades internas de P&D
Esta empresa o possui uma cultura interna para atividades de pesquisa e
desenvolvimento. Embora tenha realizado, nos últimos três anos, algumas atividades internas
de inovação, as mesmas foram ocasionais.
A falta de capital para investimento é o principal motivo apontado como
justificativa para a empresa não desenvolver atividades internas de inovação em seus produtos
e processos. A margem de lucro baixa, a dificuldade para obter financiamento e a alta
inadimplência são os fatores principais que contribuem para a falta de recursos financeiros.
Um outro fator que justifica o desenvolvimento interno de inovações
tecnológicas serem ocasionais é a baixa qualificação dos profissionais envolvidos nas
atividades de P&D, situação também associada aos recursos financeiros, uma vez que
profissionais mais capacitados, custam mais caro. O nível de qualificação dos funcionários e
seus respectivos cargos encontram-se na Tabela 3.
Tabela 3
: Número de pessoas ocupadas em atividades de P&D
Nível de qualificação Número de funcionários Cargo
graduados 1 auxiliar administrativo
técnicos de nível médio 12 auxiliar de produção
sem qualificação 1 gerente de produção
Observa-se que entre os 14 funcionários, apenas um possui curso superior
completo, porém, ocupa um cargo o diretamente relacionado com atividades de P&D. Os
demais funcionários, inclusive o proprietário, não possuem curso superior. O gerente de
produção desenvolve suas atividades baseado em sua experiência na área, o possuindo
curso de qualificação técnica profissional.
Como não na empresa um departamento formal P&D, conseqüentemente,
não pessoas dedicadas exclusivamente para essas atividades. Assim, os mesmos
profissionais que se ocupam da rotina de produção, como o gerente e os auxiliares de
produção, são os que participam das atividades de P&D, quando ocasionalmente ocorrem.
106
a) inovação em produto
Nos últimos três anos não houve nenhuma inovação de produto. Os produtos
atualmente fabricados e suas respectivas linhas são exatamente os mesmos da gestão anterior.
Observa-se que além das dificuldades anteriormente relatadas, o mercado consolidado, o
conhecimento interno sobre como produzir e o segmento de consumidores para os quais os
produtos se destinam (classe baixa), o qual não exige inovação de produto, são outras
justificativas para a não ocorrência de inovações nos produtos.
Em função da estratégia de posicionamento utilizada pela empresa ser o baixo
preço dos seus produtos, naturalmente uma constante busca por redução dos custos diretos
e indiretos. Nesse sentido, merece ser destacado que a empresa conseguiu desenvolver, por
meio de esforço interno, uma das principais matérias-primas utilizadas em um dos seus
produtos com maiores participações no faturamento: o amendoim tipo japonês.
Um dos profissionais da linha de produção, com muitos anos de experiência no
ramo alimentício, por meio de observação e inúmeros testes, desenvolveu uma fórmula para a
matéria-prima desse produto, responsável pelo seu sabor. Esse ingrediente é importante, pois
além de conferir o sabor, constitui-se no ingrediente mais utilizado e responsável por
caracterizar o produto como sendo do tipo japonês.
Como conseqüência, foi possível uma redução considerável do custo final do
produto. Outra vantagem proporcionada pelo desenvolvimento interno dessa matéria-prima
foi a independência adquirida de fornecedores. A empresa relatou que o fornecimento era
irregular, causando problemas na produção.
Embora não tenha resultado num produto novo ou aperfeiçoado, pois as
características que o configuram foram mantidas, o desenvolvimento desta matéria-prima com
esforço totalmente interno, indica que a empresa apresenta características voltadas à inovação
tecnológica, e que em um cenário econômico diferente do atual, pode investir no
desenvolvimento de novos produtos.
b) inovação em processo
Na atual gestão foi introduzido um novo processo de fabricação para empresa,
mas existente no mercado. Contudo, a empresa é a segunda no município a adquiri-lo,
demonstrando certa proatividade na melhoria dos métodos de fabricação.
107
O novo processo se aplica à linha de despeliculação
8
do amendoim. Anterior à
este processo, o amendoim, principal matéria-prima utilizada pela empresa, era
despeliculizado em um processo que envolvia água e soda cáustica. Além do perigo de
contaminação, tanto para o produto, quanto para os funcionários, o processo demandava longo
tempo de execução, ocupava um espaço físico significativo e exigia seis funcionários para a
sua execução. Com o novo processo, a despeliculação ocorre à seco. Apenas uma máquina
realiza a atividade, sem a utilização de água e soda cáustica, sendo necessários apenas dois
funcionários na linha de produção, contra seis do processo anterior.
As principais razões que levaram a introdução deste novo processo foram:
redução de custos: a introdução do novo processo foi importante para a redução de
custos em razão da menor necessidade de funcionários, a utilização de energia elétrica
diminuiu (apenas uma quina) e houve economia de água e soda cáustica. Houve
também redução na quantidade de matéria-prima utilizada, em virtude do seu maior
aproveitamento. No final do processo, mais amendoins inteiros em relação ao
processo anterior;
aumento da capacidade produtiva: a maior eficiência do processo pode ser observada
na maior quantidade de amendoim despeliculizado, melhorando o fluxo do processo
de fabricação. Conseqüentemente, houve um aumento da flexibilização da produção,
pois os diferentes produtos do portfolio podem ser fabricados simultaneamente e com
maior rapidez. Como atualmente o mercado encontra-se estabilizado, a empresa não
tem se utilizado dessa vantagem, mas a considera importante para o futuro,
adaptação às exigências do mercado e às exigências legais: poder fabricar produtos
com maior qualidade e segurança para o consumo atende, ao mesmo tempo,
exigências de mercado e legais. Qualidade, porque o amendoim apresenta melhor
aspecto e, segurança, pela não utilização de soda cáustica no processo de fabricação,
possibilitando melhores condições de trabalho aos funcionários. Uma outra vantagem
importante é a possibilidade de entregar os produtos no prazo, em função do processo
de fabricação mais rápido.
A implementação do novo processo ocorreu graças ao desenvolvimento de uma
máquina em cooperação com uma empresa fabricante de máquinas e equipamentos para a
indústria de alimentos.
8
Processo responsável por retirar a pele do amendoim.
108
Outra característica relevante a ser destacada foram as alterações realizadas no
espaço físico destinado à produção após o implementação do novo processo, que passou a ser
melhor aproveitado. O novo layout ocupa um espaço bem menor, as máquinas e
equipamentos das demais linhas puderam ser melhor distribuídas, destinando mais espaço
para a circulação de pessoas e materiais, agilizando o fluxo e tornando o processo mais
racional e seguro.
A empresa não encontrou dificuldades para a introdução do novo processo de
fabricação. Problemas como aversão à mudança por parte dos funcionários, rigidez
organizacional e inadaptabilidade de gestão não foram observados. Isso ocorreu devido a
facilidade de manuseio da máquina, dispensando treinamentos longos.
Em resumo, as principais vantagens do novo processo foram: aumento da
segurança para consumo e na qualidade do produto; maior segurança no trabalho; redução dos
custos diretos e indiretos de fabricação; aumento da capacidade produtiva; aumento da
velocidade de produção; diminuição no desperdício da principal matéria-prima;
reaproveitamento de subprodutos (como a casca do amendoim permanece inteira após o
processo de despeliculação, a mesma é vendida para empresas fabricantes de ração); melhor
adequação à exigências legais e, utilização mais racional do espaço físico de produção.
c) projetos em andamento ou abandonados
um projeto em andamento na empresa para o desenvolvimento de um novo
produto, completamente diferente dos fabricados atualmente: o fondue de chocolate.
O interesse no desenvolvimento e fabricação deste novo produto surgiu em
função das freqüentes solicitações do mercado nordestino. Para sua fabricação, a empresa
comprou a principal máquina necessária para a nova linha de produção, levantou os custos
diretos e indiretos de produção e obteve informações sobre a fabricação do produto. A
produção ainda não se iniciou por falta de capital para os demais investimentos necessários. O
excesso de burocracia para empréstimos, tanto governamentais, quanto privados, tem
desestimulado o proprietário a iniciar esta nova linha de produção.
O esforço no desenvolvimento desse novo produto para a empresa tem sido
totalmente interno. Coube ao proprietário e ao gerente de produção buscarem as informações
sobre o os recursos e métodos necessários para a fabricação do fondue de chocolate. Os testes
109
de protótipo têm sido realizados na própria produção da empresa, com os mesmos
funcionários das demais linhas de produtos.
Foi possível perceber uma pré-disposição da empresa à inovação tecnológica,
pelo menos no que diz respeito à atitude favorável por parte dos funcionários e capacitação
em termos de conhecimento para o desenvolvimento de atividades inovadoras.
Não ocorreu na empresa, durante o período analisado, o abandono de algum
projeto para desenvolvimento de novo produto e/ou processo.
d) dificuldades à inovação
O Quadro 3 apresenta as dificuldades mais freqüentes nos processos de
inovações, suas relevâncias e algumas observações referentes à empresa em estudo.
Dificuldades Relevância Observações
Custos elevados de inovação I
Na inovação de processo, houve uma parceria com o
fornecedor que facilitou o pagamento da tecnologia.
Dificuldade de financiamento MR A linha de fondue ainda não foi acionada por falta de capital.
Rigidez organizacional I Proprietário e funcionários predispostos às mudanças.
Falta de pessoal qualificado PR
Os funcionários compensam o baixo índice de qualificação
profissional com a experiência adquirida no ramo.
Falta de informação sobre
tecnologia
média
Quando não informação interna, a empresa procura obtê-la
em outras fontes.
Falta de informações sobre
mercados
I
Mercado de atuação consolidado e conhecido. Não
pretensão, no momento, em abrir novos mercados. O projeto
em andamento foi solicitado pelo mercado.
Falta de cooperação com
outras empresas/instituições
I Observou-se cooperação no desenvolvimento do novo processo
Dificuldade para se adequar a
padrões, normas e
regulamentos
I O novo processo possibilitou as adequações necessárias
Fraca resposta dos
consumidores quanto a novos
produtos
I A empresa inova pouco.
Escassez de serviços técnicos
adequados
I
Há no município e região empresas prestadoras de serviços
técnicos em todas as áreas que a empresa necessita.
Riscos econômicos
excessivos
MR Os riscos econômicos desestimulam iniciativas de investimento
Quadro 3:
Principais dificuldades à inovação tecnológica e suas respectivas relevâncias
Obs: MR – muito relevante, I – irrelevante, PR – pouco relevante
A empresa analisada apresentou baixa taxa de inovação tecnológica em
produto e em processo nos últimos três anos, razão pela qual as dificuldades praticamente não
ocorreram. Para o projeto em andamento, a principal dificuldade relatada é a falta de capital,
decorrente da dificuldade na obtenção de financiamento.
110
Indicador 2: aquisições externas de P&D
No período analisado, a empresa não adquiriu atividade externa de P&D. As
razões para a não aquisição são praticamente as mesmas relatadas para as atividades internas
de P&D. O proprietário, juntamente com os funcionários, são quem pesquisam e desenvolvem
a melhor forma de fabricar os produtos, qual o melhor layout de produção e como aprimorar
os processos já existentes.
Indicador 3: aquisições de máquinas e equipamentos
A empresa em estudo adquiriu uma nova máquina de uma empresa fabricante
de máquinas e equipamentos para a indústria de alimentos, localizada no mesmo município.
Esta máquina é a mesma citada anteriormente, responsável pela despeliculação do amendoim.
Assim, é importante salientar que o desenvolvimento do novo processo de fabricação descrito
é uma conseqüência da aquisição desta máquina e não o contrário. Foram três os principais
motivos que levaram a empresa a adquirir a máquina.
Primeiro, a necessidade de diminuir os custos na despeliculação do amendoim
e tornar o processo mais rápido. Segundo, a oportunidade de melhorar a qualidade do produto,
tanto na sua aparência final, quanto na segurança para o consumo Terceiro, pela necessidade
de melhorar as condições de trabalho, adequando-se às leis trabalhistas.
Conseqüentemente, essa aquisição ocasionou algumas mudanças na empresa.
Entre elas, estão: a) alteração no processo de produção: mais rápido e seguro tanto para o
produto quando para o funcionário; b) capacitação dos funcionários: necessidade de
treinamento; c) mudanças nos padrões de qualidade: tornaram-se mais rígidos e d) mudanças
nos procedimentos de trabalho: nova forma de operacionalizar o processo.
Além das vantagens apontadas no item inovação de processo”, ainda uma
de extrema importância, por se adequar às exigências legais e por melhorar a visão dos
produtos da empresa no mercado: a redução dos riscos de desenvolvimento da aflatoxina no
amendoim. No processo anterior, utilizava-se a água para despeliculizar o amendoim,
procedimento que favorecia o desenvolvimento do fungo causador da doença. Atualmente, o
processo é realizado a seco. A aflatoxina é bastante tóxica e por isso é rigidamente controlada
111
pelos órgãos fiscalizadores. As multas são altas e os lotes dos produtos contaminados
apreendidos.
Outra máquina adquirida pela empresa, neste mesmo período de análise, é a já
citada no item “projetos em andamento ou abandonados”, destinada à fabricação de fondue de
chocolate.
Indicador 4: treinamento
Não é prática habitual da empresa realizar treinamentos para os funcionários. A
exceção ocorreu em razão da aquisição do novo equipamento. Os treinamentos foram
realizados na própria empresa e desenvolvidos por funcionários da empresa fornecedora da
máquina, juntamente com os funcionários da produção.
Treinamentos com outras finalidades e mais abrangentes, que pudessem atingir
um número maior funcionários, não faz parte dos planos da empresa.
Embora o treinamento citado tenha sido relevante, observa-se que, de um modo
geral, treinamentos se caracterizam como sendo pouco relevantes para a empresa em estudo.
Indicador 5: introdução de inovações tecnológicas no mercado
Embora não tenha desenvolvido um novo produto ou aprimorado
significativamente um já existente, a empresa tem realizado esforços de divulgação nos
mercados em que atua, com o intuito de reforçar sua marca.
Esses esforços são ocasionais e os mais utilizados são os que se referem à
divulgação. Mesmo ocasionais, a empresa os considerados relevantes, principalmente no que
se refere a ampliação da participação no mercado. A divulgação se destina exclusivamente
para a região Nordeste, com respostas positivas, que se traduzem na captação de novos
clientes. No entanto, observou-se que a divulgação o tem dado resultado para a abertura de
novos mercados.
A divulgação dos produtos ocorre exclusivamente durante o carnaval. A
principal razão está no fato desta festa ser muito representativa para a região Nordeste. No
carnaval de 2005, por exemplo, a empresa patrocinou um camarote na cidade de
Salvador/BA, distribuiu produtos gratuitamente e promoveu uma confraternização entre os
112
principais clientes. Além desses eventos, realizou propagandas em canais abertos de televisão
no estado do Ceará.
Em função desses esforços de divulgação, ocorreram mudanças na percepção
dos clientes quanto a imagem da empresa e de seus produtos. Os consumidores nordestinos
passaram a visualizar a empresa como sendo uma grande potência no ramo, aumentando a
confiança nos produtos por imaginá-los de maior qualidade e seguro para consumo.
Cooperação para inovação
A relação de cooperação com outra empresa ocorreu com o fornecedor da
máquina de despeliculação do amendoim. Os passos para o estabelecimento do processo de
cooperação foram os seguintes:
1) num primeiro momento, a empresa fornecedora desenvolveu a máquina de
despeliculação do amendoim;
2) posteriormente, como forma de testar a viabilidade e funcionalidade da mesma,
ofereceu-a à empresa, que a adquiriu,
3) neste momento, foi estabelecida uma parceria entre as empresas: à medida que a micro
empresa utilizava a máquina e identificava problemas, as informações eram repassadas à
empresa fornecedora, que, por sua vez, buscava a melhor solução. Esse procedimento
mostrou-se vantajoso para ambas, pois o produto pode ser aprimorado em uso.
Além dos ajustes promovidos, o fornecedor facilitou o pagamento da máquina
em troca das informações sobre seus problemas de funcionamento e sugestões sobre como
aperfeiçoá-la.
No treinamento dos funcionários também houve troca de informações entre as
empresas. Os técnicos da empresa fornecedora do equipamento inicialmente treinaram os
funcionários da micro empresa. Quando novos modos de utilização foram desenvolvidos, a
partir da sua utilização e posterior ajuste, as informações eram repassadas aos técnicos da
empresa fornecedora. Esta troca de informações resultou em abatimento no valor das parcelas.
Os principais benefícios gerados com essa relação de cooperação foram:
o estreitamento no relacionamento com um fornecedor importante de máquinas e
equipamentos para a indústria de alimentos: além de se localizar no mesmo
município, o que facilita o intercâmbio de informações, o estabelecimento de
confiança e o atendimento técnico, é um fornecedor bastante inovador e ciente da
113
realidade das micro e pequenas empresas alimentícias da região, desenvolvendo
máquinas e equipamentos adequados à realidade e necessidade dessas empresas,
a construção em conjunto do conhecimento técnico da máquina adquirida: a maior
parte dos problemas que a máquina venha a apresentar, a própria empresa poderá
corrigi-los internamente, sem a necessidade de contratação de assistência técnica.
Um fato importante é que durante todo o processo de cooperação não houve
atritos ou desconfiança de nenhuma das partes. O relacionamento foi tranquilo e bastante
construtivo para ambas. Por todos esses motivos, a relação de cooperação estabelecida se
configurou como muito relevante para a empresa. O Quadro 4
apresenta uma ntese das
informações relatadas.
Fatores Descrição
Parceiro fornecedor
Localização do parceiro mesmo município da empresa em estudo
Objeto de cooperação P&D, treinamento e assistência técnica
Relevância da cooperação muito relevante
Principais benefícios
melhor relacionamento com o fornecedor e construção em conjunto de
conhecimento técnico sobre a máquina
Principais dificuldades não houve dificuldades de relacionamento
Quadro 4:
Síntese das informações relativas ao processo de cooperação
Com clientes, consumidores, concorrentes, universidades e instituto de
pesquisa, centros de capacitação profissional e assistência técnica a empresa não tentou
estabelecer relação de cooperação. Os motivos são a falta de informação, incentivo e o fato de
nunca ter sido diretamente procurada por esses possíveis parceiros, principalmente pelas
instituições de ensino e centros de capacitação técnica/profissional estabelecidas no
município.
Observa-se que as relações de cooperação precisam ser melhor trabalhadas.
Algumas ações que facilitariam a aproximação dos parceiros, segunda a empresa, são as
seguintes:
facilitar o intercâmbio com investidores;
promover a participação das micro e pequenas empresas nas feiras nacionais e
internacionais de alimentos;
prestar ajuda técnica no momento em que as empresas necessitassem se adequar às
exigências dos clientes;
incentivar as universidades e institutos de pesquisa do município a realizar pesquisas
acadêmicas nas micro e pequenas empresas;
114
aproximar os empresários das empresas alimentícias do município para a troca de
conhecimentos;
incentivar o desenvolvimento de mais cursos técnicos e superiores voltados para a
área de alimentos, tanto em termos administrativos, quanto industrial, nas instituições
de ensino existentes no município e,
promover a aproximação entre as instituições e as micro e pequenas empresas nos
cursos já existentes.
A intenção da empresa é aumentar a participação nas relações de cooperação,
que teve uma experiência muito positiva de cooperação com fornecedor. Porém, a falta de
informação sobre como estabelecer essas relações causa desestímulo.
Comentário sobre o caso
O Quadro 5 apresenta uma síntese da caracterização da empresa para os cinco
indicadores de inovação tecnológica, incluindo a cooperação para inovação.
Indicador S/N Ocorrência Relevância Descrição
1 - produto não - -
Nenhum produto foi desenvolvido ou
aprimorado. Há um projeto de produto novo
para a empresa em andamento.
1 - processo sim ocasional MR Novo processo de despeliculação do amendoim.
2 não - - Todo o esforço para inovação é interno.
3 sim ocasional MR
Máquinas adquiridas para novo processo e para
projeto de novo produto em andamento
4 sim ocasional R
Internamente entre os funcionários, em função
da nova máquina e do novo processo de
despeliculação do amendoim.
5 sim ocasional R
Direcionadas ao mercado nordestino.
1. Propaganda em canais de televisão
2. Patrocínio de eventos
3. Distribuição gratuita dos produtos
Cooperação
para inovação
sim ocasional MR
Cooperação estabelecida com o fornecedor da
máquina de despeliculação do amendoim.
Quadro 5:
Síntese da caracterização da micro empresa
Obs: R - relevante, MR - muito relevante.
Conforme pode ser observado na descrição dos indicadores de inovação
tecnológica, a empresa em estudo apresentou poucas atividades inovativas nos últimos três
anos.
115
Embora não tenha uma cultura interna voltada à inovação, quando alguma
inovação ocorre, a empresa tem capacidade par articular as demais atividades inovativas
necessárias para sustentar a inovação. Esta afirmação pode ser comprovada pela análise dos
indicadores Aquisição de quinas e Equipamentos, Treinamento e Cooperação para
inovação.
Mesmo com um baixo desenvolvimento de inovações, é possível observar certa
capacidade interna para o seu desenvolvimento. Esta afirmação pode ser comprovada pela
análise do indicador Atividades Internas de P&D, no item inovação de produto, quando houve
desenvolvimento interno da principal matéria-prima utilizada pela empresa, e no item
inovação de processo, que o processo necessário a fabricação do novo produto ocorreu
dentro da empresa. O indicador Treinamento também demonstra a capacidade interna para o
desenvolvimento de inovações tecnológicas, pela receptividade dos funcionários e por ter sido
desenvolvido por eles próprios.
Outra característica interessante é a abertura da empresa em estabelecer
relações de cooperação voltadas à inovação de seus produtos e processos. Conforme aponta a
literatura, empresas que estabelecem relações de cooperação tendem a desenvolver suas
habilidades inovativas mais facilmente.
Enfim, pode-se concluir que o baixo nível de inovação tecnológica da empresa
se mais por fatores estratégicos, mercadológicos, financeiros, condições econômicas do
país e falta de apoio das instituições existentes no município, do que por fatores internos da
organização, como características pessoais do proprietário e dos funcionários, avessos às
mudanças e esforços necessários à implantação de inovações.
5.2.2 Pequena empresa
Indicador 1: atividades internas de P&D
Nos últimos três anos, a empresa realizou atividades internas de P&D voltadas
à inovação tecnológica de seus produtos. As inovações foram ocasionais, com o objetivo de
aumentar o portfolio de produtos e torná-los mais competitivos.
O fato da empresa ainda não possuir uma política contínua de desenvolvimento
de novos produtos não se deve a uma opção estratégica em não inovar e sim ao seu histórico
116
de tentativas frustradas, de modo que prefere trabalhar com os produtos tradicionais, já
conhecidos e aceitos pelo mercado. Ressalta-se também a estratégia de posicionamento
utilizando o preço baixo, fato que dificulta o desenvolvimento de inovações.
Não há um departamento formal de P&D, conseqüentemente, não existem
pessoas dedicadas exclusivamente às atividades de inovação. Os mesmos profissionais que se
ocupam da rotina de produção, como o gerente de produção, o gerente de compras, o técnico
em alimentos e os auxiliares de produção, são os que participam das atividades de P&D,
quando estas ocasionalmente ocorrem.
Contudo, o nível de qualificação destes profissionais é relativamente bom
quando comparado às outras empresas do ramo do mesmo porte. A Tabela 4 apresenta o nível
de qualificação e os respectivos cargos.
Tabela 4:
Número de pessoas ocupadas em atividades de P&D
Nível de qualificação Número de funcionários Cargo
graduados 2 gerente de produção e gerente de compras
técnicos de nível médio 1 técnico em alimentos
As informações da Tabela 4 correspondem aos funcionários diretamente
relacionados às atividades internas de P&D. A qualificação observada facilita à empresa
desenvolver suas atividades inovativas, principalmente pela presença de um técnico
especializado em alimentos.
a) inovação em produto
A empresa desenvolveu quatro novos produtos nos últimos três anos, sendo
eles: paçoca, amendoim de chocolate, amendoim doce colorido e amendoim do tipo japonês,
caracterizados como novos apenas para a empresa. Uma breve descrição de cada produto é
realizada a seguir:
Paçoca: este produto utiliza como ingrediente amendoim, úcar e sal. Apresenta-se
em três tipos de embalagens - pote de plástico contendo cinquenta unidades, mini-
embalagem de plástico contendo seis unidades e embalagem de papelão contendo
nove unidades. Cada uma das unidades pesa vinte gramas e são individualmente
envoltas numa embalagem plástica, na qual são apresentadas as informações do
produto;
117
Amendoim de chocolate: é composto por amendoim, açúcar cristal, glucose, chocolate
em e aroma artificial de baunilha. Apresenta-se em quatro tipos de embalagens
contendo 200g, 400g, 600g e 15g cada. As embalagens de 15g o aquelas
acondicionadas na forma de espeto, com 50 unidades cada;
Amendoim doce colorido: é constituído por amendoim, açúcar cristal, glucose e aroma
artificial de baunilha. Apresenta-se em quatro tipos de embalagens contendo 200g,
400g, 600g e 15g cada. As embalagens de 15g acondicionadas na forma de espeto,
com 50 unidades cada,
Amendoim japonês: este produto utiliza como ingrediente amendoim, farinha de trigo
enriquecida com ferro e ácido fólico, fécula de mandioca, açúcar, sal e molho shoyo.
Apresenta-se em quatro tipos de embalagens contendo 200g, 400g, 600g e 15g. As de
15g são acondicionadas na forma de espeto, com 50 unidades cada.
Nota-se que os quatro produtos utilizam como matéria-prima principal o
amendoim. Com exceção do amendoim japonês, os outros três produtos apresentam glúten na
sua composição. No amendoim de chocolate e no amendoim doce colorido, a única matéria-
prima diferente utilizada é o chocolate. Como os processos de fabricação são exatamente
iguais, a empresa pode desenvolver os dois produtos ao mesmo tempo sem grande esforço.
O desenvolvimento dos novos produtos foi realizado utilizando esforço
totalmente interno. O conhecimento do técnico em alimentos, a experiência na indústria
alimentícia de dois sócios da empresa e o know-how sobre o sistema produtivo amplamente
difundido no município, contribuiu para que o desenvolvimento pudesse ser interno à
empresa.
Além da manipulação de novas matérias-primas diferentes das que a empresa
utilizava, foi necessária a aquisição de novas máquinas, como por exemplo, drageadeiras
para a fabricação dos amendoins de chocolate, confeitado e do tipo japonês. A descrição
detalhada da aquisição dessas novas máquinas será realizada posteriormente.
Outras mudanças ocorreram na empresa com o desenvolvimento dos novos
produtos, ocasionando inúmeras vantagens. As principais são:
melhoria na qualidade: os novos produtos apresentam qualidade superior em sabor,
aparência e embalagem quando comparados aos produtos anteriormente produzidos;
ampliação do número de produtos ofertados e aumento do faturamento: as vendas
aumentaram em razão da maior oferta de produtos diferentes aos compradores
tradicionais;
118
abertura de novos mercados: participação em segmentos anteriormente não
explorados;
ampliação de participação no mercado: pela oferta de produtos diferenciados, a
empresa pode conquistar novos clientes nos mercados em que já atuava;
redução dos custos de produção: obtido por meio de economia de escala. Na linha de
confeitos de amendoim podem ser utilizadas máquinas em comum, uma mesma estufa
e um mesmo funcionário na fabricação dos três diferentes tipos de produtos:
chocolate, confeitado e tipo japonês,
melhoria da qualidade técnica, da funcionalidade e do desempenho do processo
produtivo: qualidade obtida como conseqüência dos padrões de produção exigido para
os novos produtos, pela aquisição das novas quinas e pela obtenção da economia
de escala.
Com o intuito de atender às exigências legais e de fornecer produtos seguros
para consumo, a empresa tem se esforçado na prevenção da aflatoxina. Para tanto, compra
amendoim apenas de fornecedores certificados e realiza testes internos de umidade a fim de
comprovar se o amendoim está realmente livre da aflatoxina.
A introdução dos novos produtos aumentou a importância de um controle
rígido da aflatoxina, que tem se tornado um critério diferencial de qualidade. Por esse motivo,
a empresa pretende ainda instalar um laboratório tecnologicamente completo visando
aperfeiçoar as análises.
Antes dos novos produtos serem lançados, a empresa realizou testes para
identificar a percepção inicial dos consumidores. Para isso, pequenos lotes dos produtos
foram produzidos e apresentados para degustação aos funcionários da empresa, desde os
proprietários até funcionários das áreas administrativas. Com aprovação interna, pequenas
quantidades destes mesmos lotes foram enviadas para degustação aos representantes da
empresa. Após a aprovação dos representantes e dos funcionários, teve início a produção em
escala normal e contínua, distribuindo-os em grande quantidade no mercado.
Conseguir padronizar o processo produtivo numa escala maior e contínua de
produção foi a maior dificuldade encontrada para o lançamento dos novos produtos. Foram
necessárias várias semanas para que a produção estabilizasse. A partir disso, os lotes se
tornaram homogêneos e os produtos passaram a apresentar as mesmas características em
termos de sabor, textura, aroma e coloração.
119
O lançamento dos novos produtos e os benefícios resultantes do
desenvolvimento foram considerados muito relevantes para a empresa, suplantando as
dificuldades encontradas durante o processo.
b) inovação em processo
No período analisado, a empresa o desenvolveu inovação de processo.
Embora quatro produtos novos para a empresa tenham sido desenvolvidos, não foram
necessários novos métodos de fabricação. Na linha do amendoim, por exemplo, foi possível
utilizar as mesmas máquinas e os mesmos métodos de fabricação da linha de “balinhas
confeitadas”, produzida anteriormente à estes produtos. Para a produção da paçoca, a situação
não foi diferente.
Assim, a empresa desenvolveu novos produtos utilizando tecnologia de
produção existente, bem como a experiência e conhecimento dos seus profissionais,
adquirida em atividades desenvolvidas em outras linhas de produção.
c) projetos em andamento ou abandonados
Atualmente, existem dois novos projetos de produtos em andamento:
amendoim crocante e chiclete, sendo o segundo completamente diferente dos fabricados
atualmente.
O interesse no desenvolvimento destes novos produtos surgiu em função de
sinalizações positivas nos mercados de atuação da empresa e pelo interesse em diversificar
seu portfolio de produtos.
Os produtos já passaram pela fase de desenvolvimento e foram testados no
mercado, comprovando a viabilidade de fabricação. Os processos de fabricação também
são conhecidos e dominados pela empresa.
A produção em larga escala ainda não se iniciou por falta de algumas máquinas
e equipamentos para completar as linhas de produção. Para o amendoim crocante espaço
físico disponível, mas para a produção do chiclete, a empresa ainda está ampliando as
instalações, com cronograma de entrega previsto para alguns meses.
120
Os projetos em andamento demandaram esforços internos e externos à
empresa. Internamente, destaca-se o desenvolvimento da quina para a fabricação do
amendoim crocante pelos proprietários e alguns funcionários da produção. A fabricação da
máquina está sendo realizada por um fornecedor de máquinas e equipamentos para a indústria
alimentícia. Ressalta-se que as formulações e os protótipos de ambos os produtos também
foram desenvolvidos internamente. O esforço externo encontra-se descrito no Indicador
Aquisições Externas de P&D.
O tempo médio para o desenvolvimento de novos produtos é de seis meses a
um ano, período considerado razoável para projetos no setor de alimentos. Durante os últimos
3 anos, não foi verificado o abandono de projetos para desenvolvimento de novo produto e/ou
processo. Essa característica parece indicar que a empresa é conservadora em seus projetos e
somente inova quando tem segurança do sucesso do empreendimento.
d) dificuldades à inovação
O Quadro 6 apresenta as principais dificuldades encontradas nos processos de
inovações, a relevância de cada uma e algumas observações referentes à empresa em estudo.
As dificuldades relatadas existem para os produtos lançados no mercado e também para os
que estão com projeto em andamento.
121
Dificuldades Relevância Observações
Custos elevados de inovação R
Os custos financeiros para o desenvolvimento dos novos
produtos foram altos. Novas máquinas foram adquiridas e a
estrutura física foi reformulada e ampliada com a construção de
barracões para a produção, separados da área administrativa. O
investimento foi feito aos poucos.
Dificuldade de financiamento PR Não houve dificuldade para obtenção do financiamento.
Rigidez organizacional média
Os proprietários e funcionários apresentam-se flexíveis à
mudanças. Como a empresa não possui um departamento
formal de P&D, a dificuldade está no fato destes profissionais
terem que dividir o tempo entre a rotina diária e o
desenvolvimento de novos produtos.
Falta de pessoal qualificado PR
O baixo índice de qualificação profissional dos funcionários da
produção é compensado pela experiência na atividade. Os que
estão diretamente ligados às atividades de P&D são mais
qualificados, possuindo curso superior completo e curso
técnico na área de alimentos.
Falta de informação sobre
tecnologia
R
Quando não informação interna, a empresa procura obtê-la
de outras fontes. Para o desenvolvimento dos projetos de novos
produtos, foi contratada uma empresa para obter informações
sobre as técnicas de produção.
Falta de informações sobre
mercados
média
Foi detectada uma redução na demanda, o que tem aumentado
os esforços para a realização de testes de mercado e divulgação
dos produtos. A empresa está procurando melhorar o sistema
de informações a respeito do mercado alvo.
Falta de cooperação com
outras empresas/instituições
R
A empresa pretende estabelecer relacionamentos com outras
empresas e instituições, porém alega que falta oportunidade e
informações sobre como isto poderia ocorrer.
Dificuldade para se adequar a
padrões, normas e
regulamentações
média
Foram necessários investimentos em máquinas, equipamentos e
qualificação da mão-de-obra e testes internos para comprovar a
qualidade do amendoim. A dificuldade está nos investimentos e
no tempo necessário para as adequações necessárias.
Fraca resposta dos
consumidores quanto a novos
produtos
média
É necessário aperfeiçoar os testes de mercado, visando
identificar as necessidades dos consumidores.
Escassez de serviços técnicos
adequados
I
Há no município e região empresas prestadoras de serviços
técnicos em todas as áreas que a empresa necessita.
Riscos econômicos
excessivos
MR
Os riscos econômicos do país representam um grande problema
e desestimulam iniciativas de investimento.
Quadro 6:
Principais dificuldades à inovação tecnológica e suas respectivas relevâncias
Obs: I - irrelevante, PR – pouco relevante, R - relevante, MR - muito relevante.
A dificuldade considerada muito relevante para a empresa, é justamente aquela
que se apresenta incontrolável, uma vez que suas características advêm de determinações
externas. A empresa tem procurado considerar tais dificuldades e, na medida do possível,
reformular o planejamento estratégico, adaptando-se aos problemas macroeconômicos da
economia brasileira.
Para os projetos dos novos produtos, as principais dificuldades referem-se aos
elevados custos de inovação e à falta de informação sobre tecnologia.
122
Indicador 2: aquisições externas de P&D
A empresa analisada adquiriu atividade externa de P&D voltada ao
desenvolvimento de novos produtos para a empresa Esta aquisições se referem ao
desenvolvimento do processo de fabricação de um dos produtos com projeto atualmente em
andamento: o amendoim crocante.
Apesar do desenvolvimento da formulação ter ocorrido internamente à
empresa, a forma de produzi-lo não era de conhecimento dos técnicos. Com o objetivo de
reduzir o tempo de desenvolvimento e o custo para ajustar o processo, a empresa optou pela
terceirização dessa atividade, por meio de uma empresa fornecedora de cursos específicos
para a indústria de alimentos.
Esse procedimento não é uma prática freqüente da empresa, provavelmente
pela simplicidade dos produtos e facilidade interna em lidar com alterações na composição
dos produtos e nos processos de fabricação. No período analisado, esta foi a primeira vez que
a empresa se deparou com uma dificuldade interna, ocasionando a necessidade de aquisição
externa de P&D, fato que torna este indicador ocasional para a empresa.
Quanto à relevância da aquisição, esta foi considerada média, em razão da
maior parte do esforço de desenvolvimento do produto ter ocorrido internamente à empresa.
Indicador 3: aquisições de máquinas e equipamentos
No período analisado, a empresa em estudo adquiriu novas máquinas em
função dos quatro produtos desenvolvidos. É importante salientar que o desenvolvimento
destes novos produtos foram os impulsionadores destas aquisições e não o contrário.
As máquinas adquiridas foram dregeadeiras, moinho de açúcar e torrador. As
drageadeiras são utilizadas na linha de confeitos de amendoim, sendo responsáveis pela
mistura, selagem e secagem dos ingredientes no amendoim. Esta máquina tem sido também
utilizada na linha de balas confeitadas, produzidas pela empresa antes da introdução da
linha de amendoim. O moinho de açúcar, responsável por triturar o úcar tornando-o mais
fino, foi adquirido para a linha de amendoim e paçoca, e também tem sido utilizado na linha
de balas confeitadas. O torrador, exclusivamente utilizado na fabricação dos novos produtos, é
a máquina responsável em torrar o amendoim.
123
Além da utilização nos novos produtos, estas máquinas tem sido utilizadas nas
linhas anteriormente existentes, o que naturalmente ocasionou a modernização da área
produtiva da empresa.
Foram dois os principais motivos que levaram a empresa a adquirir as novas
máquinas. Primeiro, a instalação das duas novas linhas de produtos: a linha dos amendoins
(chocolate, confeitado e tipo japonês) e a linha paçoca. Embora houvesse na empresa grande
parte das máquinas necessárias, outras específicas para a fabricação destes produtos tiveram
que ser adquiridas, como o torrador. Esta justificativa se liga ao segundo motivo: a
necessidade de aumento da capacidade fabril da empresa. A partir dos novos produtos, novos
clientes foram captados e os que compravam produtos das linhas anteriores, passaram a
comprar também os novos produtos. Conseqüentemente, a empresa precisou produzir em
maior quantidade todos os seus produtos.
Além do aumento da capacidade produtiva, ocasionado pelo aumento da
velocidade de produção, essas aquisições ocasionaram outras mudanças na empresa. As
principais foram: a) mudanças no espaço físico foi necessário aumentar o espaço físico
destinado à área de produção para que as linhas de produtos pudessem ser ampliadas e as
novas máquinas dispostas num layout correto; b) mudanças nos padrões de qualidade
melhor qualidade dos produtos em função da maior precisão das máquinas nos processos de
fabricação, c) capacitação dos funcionários necessidade de treinamento e d) aumento da
flexibilização da produção os diferentes produtos da empresa puderam ser produzidos em
maior quantidade, num mesmo momento, utilizando máquinas em comum.
A empresa ainda aguarda a chegada de duas novas máquinas para as linhas dos
produtos em andamento. As mesmas estão em processo de fabricação nos fornecedores e
devem ser entregues até o final de 2007, quando a produção destas linhas serão iniciadas.
A aquisição de novas quinas e equipamentos tem sido realizada com
freqüência, independentemente se novos produtos e processos são desenvolvidos. O objetivo é
melhorar a qualidade dos produtos. Essas características faz com que a realização desta
atividade interna inovativa seja continua na empresa.
Indicador 4: treinamento
Como conseqüência da aquisição das novas quinas, a empresa teve
necessidade de realizar treinamentos com seus funcionários. Os treinamentos foram internos e
124
externos à empresa. O treinamento externo se destinou ao técnico em alimentos e foi realizado
na fábrica de um dos fornecedores de máquinas. O conhecimento adquirido foi repassado aos
funcionários da área de produção da empresa. Portanto, no treinamento interno, o responsável
pela sua execução foi um funcionário da própria empresa, repassando conhecimentos
adquiridos externamente.
São duas as justificavas dadas pela empresa para a escolha de treinamento
descrita. Primeiro, o baixo custo por enviar apenas um funcionários para treinamento externo,
considerando a possibilidade do conhecimento ser facilmente repassado aos funcionários da
produção. Segundo, a relativa simplicidade do conhecimento de como operacionalizar as
máquinas.
É válido ressaltar que além desses treinamentos diretamente destinados às
inovações tecnológicas ocorridas na empresa, outros de maior abrangência também foram
realizados.Treinamentos como 5S e Boas Práticas de Fabricação (BPF) atingiram um maior
número de funcionários, de diferentes áreas administrativas.
Esse fato demonstra a preocupação da empresa em buscar novas e melhores
formas de executar suas atividades internas, independentemente da ocorrência ou não de
inovações. Em outras palavras, uma preocupação constante com a busca da qualidade, o
que caracteriza este indicador como sendo muito relevante para empresa. Os treinamentos
diretamente voltados às inovações tecnológicas foram igualmente considerados muito
relevantes para a empresa.
Indicador 5: introdução de inovações tecnológicas no mercado
Com o intuito de demonstrar os novos produtos desenvolvidos, bem como
reforçar sua marca, a empresa tem realizado esforços para a introdução de suas inovações
tecnológicas no mercado. Esses esforços foram de três naturezas: pesquisa de mercado, teste
de mercado e esforços de divulgação, destinados às cidades fora do estado de São Paulo, nas
quais a concorrência é maior ou onde há a presença dos compradores mais importantes para a
empresa.
A pesquisa de mercado é realizada de tempos em tempos, com o objetivo de
obter informações sobre a percepção dos clientes em relação à imagem da empresa e à
qualidade de seus produtos. Por meio desta, a empresa busca informações sobre sua
participação nas vendas em comparação com a concorrência, sendo importantes por
125
permitirem ações visando corrigir possíveis problemas. Os testes de mercado ocorrem quando
a empresa pretende lançar novos produtos.
A empresa realiza esforços de divulgação quando um novo produto é lançado e
também de tempos em tempos para reforçar a imagem daqueles que já fazem parte do seu mix
de produtos. A estratégia utilizada consiste na elaboração de catálogos explicativos, os quais
são distribuídos aos seus compradores.
Por esses motivos, tais esforços são considerados muito importantes no que diz
respeito à manutenção do mercado de atuação, pois têm constantemente promovido mudanças
na percepção dos clientes quanto a imagem da empresa e seus produtos, passando a visualizá-
la como uma empresa inovadora e fornecedora de produtos de qualidade e seguros para o
consumo. Pela freqüência de ocorrência, este indicador é considerado contínuo e muito
relevante, à medida que fornecem informações para empresa definir suas estratégias
inovativas e de atuação no mercado.
Cooperação para inovação
A empresa não estabeleceu cooperação com outras organizações para facilitar
suas atividades de inovação desenvolvidas. O esforço para inovar foi predominantemente
interno, uma vez que os esforços externos não utilizaram a troca de informações e formação
de conhecimento conjunto, atividades que caracterizam cooperação.
Contudo, a existência de capacidade interna e a possibilidade financeira de
contratar conhecimentos externos não são as principais razões para a empresa não cooperar. A
falta de oportunidade e uma experiência frustrada ocorrida anteriormente ao período em
análise, foram as principais razões.
A experiência frustrada de cooperação ocorreu com outra empresa do
município, fabricante de um produto diferente, mas pertencente ao ramo de alimentos. As
duas empresas, que na época estavam iniciando suas atividades, se uniram para distribuírem
seus produtos em conjunto para os mesmos mercados, utilizando os mesmos canais de
distribuição. Juntas, tinham a pretensão de se tornarem mais fortes nas negociações, além de
dividirem os custos do processo. A parceria não deu certo e nenhuma das empresas conseguiu
inserir seus produtos no mercado.
126
Com os demais possíveis parceiros, como: clientes, consumidores,
concorrentes, universidades e instituto de pesquisa, centros de capacitação profissional e
assistência técnica, a empresa sequer tentou estabelecer uma relação de cooperação.
Apesar da falta de oportunidade, a empresa tem interesse em estabelecer
relações de cooperação. Acredita ser esta uma excelente forma de aumentar os processos de
inovações tecnológicas, tornando-os mais rápidos e baratos. Recentemente, iniciou a
participação em reuniões realizadas pela ADIMA (Associação das Indústrias Alimentícias de
Marília/SP) que visam estimular as micro e pequenas empresas do município a
desenvolverem projetos em conjunto.
Comentário sobre o caso
O Quadro 7 apresenta uma síntese da caracterização da empresa para os cinco
indicadores de inovação tecnológica, incluindo a caracterização da cooperação para inovação.
Indicador S/N Ocorrência Relevância Descrição
1- produto sim ocasional MR
Foram desenvolvidos quatro novos produtos
para a empresa, mas já existentes no mercado.
dois projetos de produtos novos para a
empresa em andamento.
1- processo não - -
Nenhum processo novo foi introduzido, apesar
das inovações em produto.
2 sim ocasional média
Desenvolvimento do processo de fabricação de
um dos produtos com projeto em andamento.
3 sim contínua* MR
Máquinas adquiridas para:
1. novos produtos
2. projetos dos produtos em andamento
3. modernização da produção
4 sim ocasional MR
Realizados externamente e internamente à
empresa, entre os funcionários, em função das
novas máquinas.
5 sim contínua R
Direcionados à introdução dos novos produtos
no mercado e reforço de imagem dos existentes.
Tipos:
1. pesquisa de mercado
2. testes de mercado
3. esforços de divulgação
Cooperação
para inovação
não - - Principal razão é a falta de oportunidade.
Quadro 7:
síntese da caracterização da pequena empresa
Obs: R - relevante, MR - muito relevante.
* considerando o período de análise
127
Conforme pode ser observado na descrição dos indicadores de inovação
tecnológica, com exceção da inovação em processo e da cooperação para a inovação, a
empresa apresentou todas as demais atividades inovativas nos últimos três anos.
Diante disso, é possível observar algumas características da empresa no que diz
respeito à inovação tecnológica. Primeiramente, embora não tenha uma política interna
formalmente constituída e voltada à inovação tecnológica e, ainda, mesmo com a ausência de
um departamento de P&D, com profissionais exclusivamente dedicados às atividades
inovativas, a empresa tem desenvolvido essas atividades.
Nesse sentido, observa-se grande capacidade interna para o desenvolvimento
de inovações tecnológicas. Esta afirmação pode ser comprovada pelo desenvolvimento
interno de quatro novos produtos e do projeto conceitual de dois produtos em andamento,
utilizando conhecimento dos proprietários e dos funcionários da produção e, também, pelo
desenvolvimento interno de uma das máquinas necessárias à fabricação do amendoim
crocante.
Quando não capacidade interna para inovação, a empresa consegue adquiri-
la externamente, o que demonstra a predisposição em superar as dificuldades inerentes aos
processos de inovação. A descrição dos indicadores Aquisições Externas de P&D e
Treinamento confirmam esta afirmação.
Uma outra característica interessante a ser apontada é que, embora não tenha
ocorrida nenhuma relação de cooperação para inovação durante o período analisado, a
empresa apresenta predisposição em estabelecer esse tipo de relação com outras empresas e
instituições voltadas à inovação tecnológica, fato que demonstra o interesse em inovar seus
produtos e processos continuamente.
Quanto à em inovação em processo, é válido ressaltar que, mesmo com o
desenvolvimento de quatro novos produtos, foi possível utilizar tecnologia de produção
existente, ou seja, sua ausência não se justifica pela presença de dificuldades ou desinteresse
por parte dos proprietários em inovar os processos produtivos da empresa.
128
5.2.3dia empresa
Indicador 1: atividades internas de P&D
Nos últimos três anos, a empresa realizou atividades internas de P&D voltadas
à inovação tecnológica de seus produtos e processos. As inovações foram contínuas, com o
objetivo de aumentar o portfolio de produtos e torná-los mais competitivos, impulsionadas em
função da estratégia de posicionamento utilizada pela empresa - a marca e, pelos seus
principais mercados de atuação os estados de São Paulo e Rio de Janeiro, cuja concorrência
para o tipo de produto por ela fabricado é bem maior.
Não na empresa um departamento formal de P&D, conseqüentemente, o
pessoas dedicadas exclusivamente às atividades de inovação. O laboratório de controle de
qualidade é a área que mais se ocupa com as atividades de inovação, juntamente com os
funcionários das áreas de produção, comercial e financeira, dividindo o tempo de trabalho
entre essas atividades e as demais inerentes aos cargos formalmente ocupados. A
Tabela 5
apresenta o nível de qualificação e os respectivos cargos.
Tabela 5:
Número de pessoas ocupadas em atividades de P&D
Nível de qualificação Número de funcionários Cargo
técnicos de nível médio 5
controle de qualidade, gerente comercial e
gerente financeiro
As informações da Tabela 5 correspondem à dos funcionários diretamente
relacionados às atividades internas de P&D. Dos cinco citados, três são ligados ao laboratório
de qualidade e à área de produção e, outros dois, o sócios-proprietários ligados à área
comercial e financeira da empresa. A qualificação observada facilita a empresa desenvolver
suas atividades inovativas, principalmente pela presença de um técnico especializado em
alimentos e outro especializado em química.
a) inovação em produto
A empresa desenvolveu quatro novos produtos nos últimos três anos, sendo
eles: frutinhas de diversos sabores, goma sabor iogurte, goma sabor ice e paçoca,
129
caracterizados como novos apenas para a empresa. Uma breve descrição de cada produto é
realizada a seguir:
Frutinhas de diversos sabores: utiliza como ingrediente úcar; farinha de trigo
enriquecida com ferro e ácido fólico; xarope de glucose e maltodextrina e aromas
artificiais de abacaxi, coco, iogurte, framboesa, laranja, morango e tangerina.
Apresenta-se em dois tipos de embalagens - saco plástico contendo 20 Kg e destinado
ao atacado, e embalagem plástica na forma de isqueiro contendo 20g;
Goma sabor iogurte: é composto por açúcar; xarope de glucose; amido de milho
modificado; cremor de tártaro; gordura vegetal; aroma natural de mamão, pêssego e
aromas artificiais de morango e coco. Apresenta-se em embalagem de plástico, tipo
pacote, contendo 400g;
Goma sabor ice: é constituído por açúcar; xarope de glucose; amido de milho
modificado; cremor de tártaro; gordura vegetal; óleo essencial de eucalipto; aroma
natural de laranja e limão e aroma artificial de cereja e menta. Apresenta-se em
embalagem de plástico, tipo pacote, contendo 400g,
Paçoca: utiliza como ingrediente amendoim, açúcar, fécula de mandioca e sal.
Apresenta-se em dois tipos de embalagens pote de plástico contendo cinqüenta e
seis unidades, pesando vinte gramas cada e embaladas individualmente e, pote de
plástico contendo cinqüenta unidades.
Nota-se que dois produtos, a goma sabor iogurte e a goma sabor ice, utilizam
as mesmas matérias-primas, sendo diferenciados somente pelos aromas específicos.
Conseqüentemente, como os processos de fabricação são exatamente iguais, foi possível
desenvolvê-los ao mesmo tempo sem grande esforço. As gomas são os produtos mais
representativos da empresa em termos de quantidade produzida, diferenciação em sabor e
embalagem, participação nas vendas e faturamento, fatores que justificam os maiores esforços
de inovação nesta linha de produto. Com exceção das frutinhas, os outros produtos não
apresentam glúten na sua composição.
O desenvolvimento dos novos produtos foi realizado utilizando esforço interno
e externo a empresa. Internamente, foram desenvolvidas as frutinhas, a goma sabor iogurte e a
goma sabor ice. O conhecimento na área de alimentos dos técnicos em química e alimentos e,
a ampla experiência na indústria de alimentos por parte dos proprietários da empresa,
contribuiu para que o desenvolvimento pudesse ser interno à empresa. Mesmo com a
introdução de um produto antes não produzido, não houve dificuldades significativas.
130
No desenvolvimento da paçoca, a empresa utilizou esforço totalmente externo,
adquirido de outra organização especializada na fabricação deste tipo de produto. Em nenhum
momento a empresa participou do processo.
Os novos produtos desenvolvidos pela empresa utilizaram matérias-primas e
ingredientes diferentes e melhoram a qualidade técnica, a funcionalidade e o desempenho dos
processos produtivos. As frutinhas e as duas variáveis de gomas são uma adaptação de
produto produzidos por outras empresa, não sendo, assim, necessária a aquisição de
tecnologias radicalmente novas.
Outras mudanças ocorridas com o desenvolvimento dos novos produtos foram:
melhoria na qualidade: os novos produtos apresentam qualidade superior em sabor,
aparência e embalagem quando comparados aos produtos anteriormente produzidos.
A preocupação com a qualidade é uma constante na empresa, independentemente do
tipo de produto e do seu tempo de existência no portfolio;
ampliação do número de produtos ofertados: as inovações tornaram possível a oferta
de produtos diferentes aos compradores tradicionais,
manutenção de mercado: os quatro novos produtos não possibilitaram a abertura de
novos mercados, porém, permitiu a manutenção de participação nos mercados já
trabalhados.
Antes dos novos produtos serem lançados, a empresa realizou testes internos e
externos para identificar a percepção inicial sobre os mesmos. Internamente, os produtos
foram primeiramente testados pelo setor de qualidade, com o objetivo de certificar a
qualidade em termos de textura, aparência e resistência (luz, temperatura e umidade).
Posteriormente, pequenos lotes foram produzidos e apresentados para degustação aos
proprietários e funcionários.
Com aprovação interna, pequenas quantidades desses mesmos lotes foram
enviadas para degustação aos principais distribuidores da empresa. Com a aprovação destes,
teve início a produção em escala normal e contínua, distribuindo os produtos em grande
quantidade no mercado. Para todos os novos produtos desenvolvidos, este é o procedimento
padrão utilizado pela empresa.
Não foram relatadas dificuldades para o desenvolvimento dos novos produtos e
seus processos de fabricação, justificada pelo fato de dois produtos serem aprimoramento de
uma linha existente na empresa: a linha de gomas. O lançamento dos novos produtos e os
benefícios resultantes do desenvolvimento foram considerados muito relevantes para a
empresa.
131
b) inovação em processo
Embora quatro produtos novos tenham sido introduzidos, a empresa o
desenvolveu inovação de processo para os mesmos. Para as gomas sabor iogurte e sabor ice
foi possível utilizar as mesmas quinas e os mesmos todos de fabricação dos demais
produtos dessa linha. Para a produção das frutinhas, foi possível aproveitar as máquinas e
algumas etapas dos processos produtivos de outros produtos. Quanto à paçoca, este produto
não é produzido pela empresa
9
. Assim, a empresa desenvolveu os novos produtos utilizando
tecnologia de produção já existente.
Contudo, em função das determinações requeridas para a obtenção do selo de
qualidade ABICAB, do programa Pró-Amendoim, obtido pela empresa em 2006, foram
necessárias uma série de reestruturações internas nos processos de produção da linha de
amendoim. Nesse sentido, as inovações de processo a serem descritas ocorreram como
consequência dessa situação e não pela introdução dos novos produtos.
No setor destinado à linha de amendoim confeitado (colorido e chocolate),
foram necessárias a readequação do layout e a construção de uma nova área física com todas
as especificações requeridas, tais como: piso, iluminação, altura entre o piso e o teto,
ventilação entre outras, alterando radicalmente os processos de produção até então existentes.
Mesmo nas outras linhas de produtos algumas modificações tiveram que ser realizadas, por se
situarem no mesmo espaço de produção das linhas de amendoim.
Essas modificações foram realizadas em cooperação com os profissionais da
ABICAB, especialistas no acompanhamento dos processos de implementação do selo.
Durante um período de quase cinco anos, esses profissionais permaneceram na empresa
agindo, juntamente com os funcionários, na concretização das mesmas. Igualmente, criaram
capacitação interna para que a empresa consiga manter o selo continuamente.
Além da necessidade de se adaptar à exigências legais do setor de alimentos, a
introdução dos novos processos também foi impulsionada pela necessidade de adaptação às
exigências do mercado, que determina regras específicas para os produtos a base de
amendoim.
Outras mudanças ocorreram na empresa com a introdução dos novos
processos. As principais foram:
9
A descrição detalhada dessa situação será realizada num outro item.
132
aumento da velocidade de produção e da capacidade produtiva: houve a eliminação
de uma séria de gargalos antes existentes. Quando necessário, a empresa tem
capacidade para produzir seus produtos mais rapidamente;
aumento da flexibilização da produção: pela melhor organização e direcionamento
dos processos produtivos, obteve-se conhecimento sobre como os diferentes produtos
podem ser fabricados simultaneamente, utilizando os mesmos processos;
redução de custos de mão-de-obra e matéria-prima: a introdução dos novos processos
foi importante para a redução de custos de mão-de-obra em razão da menor
necessidade do uso de serviços terceirizados: a empresa tem hoje pleno domínio de
todos os seus processos produtivos. Houve também redução no desperdício de
matéria-prima em virtude do seu maior aproveitamento e da melhor definição da
quantidade necessária para cada lote de produto produzido,
redução de outros custos: como conseqüência da racionalização no uso de recursos
produtivos, houve a diminuição no consumo de energia elétrica e água, sendo
construída uma caixa d’água exclusiva para a produção e um novo relógio de energia
elétrica instalado.
A empresa não tem utilizado essas possibilidades na sua plenitude, pois seu
mercado encontra-se estabilizado. Contudo, a capacidade instalada é vista como uma grande
vantagem, caso haja expansão de seu mercado ou aumento de consumo no já existente.
Outra característica interessante a ser destacada foi a mudança de gestão
necessária para realização das atividades produtivas de acordo com os padrões exigidos pela
ABICAB. Todos os funcionários da produção ligados às linhas de amendoim tiveram que
adotar novas posturas profissionais, principalmente no que diz respeito ao controle de
qualidade durante todo o processo produtivo. Criou-se uma atmosfera de proatividade e
prevenção de falhas.
A principal dificuldade para a introdução dos novos processos foi a excessiva
burocracia imposta pelos órgãos responsáveis pela aprovação e acompanhamento das
mudanças internas de energia elétrica e água realizadas. Até a aprovação total por parte desses
órgãos, foi preciso tempo maior do que o previsto.
Em resumo, as principais vantagens obtidas com os novos processos foram:
aumento da capacidade instalada, aumento da flexibilização da produção, modernização da
área física destinada à produção, melhoria no layout, aumento da segurança para consumo e
da qualidade dos produtos, melhoria na qualificação técnica dos funcionários, diminuição de
133
desperdício de matérias-primas, diminuição de custos diretos e indiretos de produção e
obtenção do selo ABICAB, melhorando a imagem da empresa no mercado.
c) projetos em andamento ou abandonados
Atualmente, não há nenhum projeto de produto novo ou aperfeiçoado em
andamento. A principal justificava apontada é a estabilização do mercado consumidor, cuja
conseqüência é o desestímulo à introdução de novos produtos. A variedade e a quantidade de
produtos atualmente ofertados aparecem como outra justificativa: a empresa acredita que
esses produtos têm sido suficientes para atender às expectativas dos seus compradores Não foi
verificado o abandono de projetos para desenvolvimento de novo produto e/ou processo.
No caso do desenvolvimento de novo produto, o tempo médio necessário no
desenvolvimento tem sido de dois anos, tempo considerado elevado pela literatura, sobretudo
pelo fato das inovações geralmente serem incrementais.
d) dificuldades à inovação
O Quadro 8 apresenta as principais dificuldades encontradas nos processos de
inovações, a relevância de cada uma e algumas observações referentes à empresa em estudo.
134
Dificuldades Relevância Observações
Custos elevados de inovação média
Embora o desenvolvimento dos três dos novos produtos tenha
utilizado esforço totalmente interno e, o tenha sido
necessário investimento em processos para a fabricação dos
mesmos, um dos novos produtos foi adquirido externamente, o
que exigiu certo dispêndio financeiro. As modificações
estruturais exigidas pelas normas da ABICAB igualmente
geraram custos financeiros.
Dificuldade de financiamento média Houve dificuldade para a obtenção de financiamento.
Rigidez organizacional MR
Para a implementação das normas ABICAB, houve forte
restrição por parte de alguns funcionários. Aqueles que não se
flexibilizaram, foram desligados da empresa.
Falta de pessoal qualificado média
A falta de profissionais exclusivamente dedicados às atividades
de P&D tornou o desenvolvimento das inovações mais lentas
Falta de informação sobre
tecnologia
PR
A empresa possui grande capacitação interna na obtenção de
informações sobre tecnologia. Quando não informação
interna suficiente, procura obtê-la em outras fontes externas.
Falta de informações sobre
mercados
I
Mercado de atuação consolidado e conhecido. O diretor
comercial realiza viagens freqüentes para a obtenção de
informações relevantes.
Falta de cooperação com
outras empresas/instituições
I
Houve processo de cooperação no desenvolvimento dos novos
processos e na distribuição de seus produtos.
Dificuldade para se adequar a
padrões, normas e
regulamentações
R
Foram necessários investimentos em função da implementação
do selo ABICAB e para a reestruturação dos sistemas de água e
energia elétrica destinados à área de produção. Alguns
funcionários apresentaram restrições às novas regras.
Fraca resposta dos
consumidores aos novos
produtos
I Os novos produtos foram bem aceitos pelos consumidores.
Escassez de serviços técnicos
adequados
I
Há no município e região empresas prestadoras de serviços
técnicos em todas as áreas que a empresa necessita.
Internamente, a empresa possui uma oficina especializada em
realizar alguns tipos de reparos nas máquinas e equipamentos.
Riscos econômicos
excessivos
MR
Os riscos econômicos do país representam um grande problema
e desestimulam iniciativas de investimento.
Quadro 8:
Principais dificuldades à inovação tecnológica e suas respectivas relevâncias
Obs: I - irrelevante, PR – pouco relevante, R - relevante, MR - muito relevante.
Observa-se que uma das dificuldades consideradas como muito relevante para
a empresa, a rigidez organizacional, é uma dificuldade interna, estreitamente ligada à
concretização ou não de inovações tecnológicas. Nessa mesma linha, a falta de pessoal
qualificado para as atividades inovativas configura-se como sendo uma dificuldade média.
Contudo, no período de análise considerado, essas dificuldades não impediram que as
inovações em produtos e processos ocorressem, sendo bem gerenciadas pela empresa.
A outra dificuldade considerada muito relevante para a empresa, é justamente
aquela que se apresenta incontrolável, uma vez que suas características advêm de
determinações externas.
Outras duas dificuldades consideradas médias foram os custos elevados de
inovação e a dificuldade de financiamento. Porém, essas dificuldades são comuns à maioria
135
das empresas, que qualquer processo de inovação incorre em custos adicionais e o excesso
de burocracia dificulta a obtenção de financiamento.
Indicador 2: aquisições externas de P&D
A empresa adquiriu atividade externa de P&D, voltada ao desenvolvimento de
um dos novos produtos e seu processo de fabricação: a paçoca. A aquisição se deu por meio
da contratação de uma empresa fabricante de produtos a base de amendoim.
Além da contratação de P&D para o desenvolvimento do produto e seu
processo, a empresa contratada também é responsável pela sua fabricação, cabendo à empresa
contratante apenas fornecer a matéria-prima, embalar e comercializar a paçoca com a sua
marca.
A empresa preferiu adquirir essas atividades externas de P&D ao invés de
desenvolvê-las internamente porque não estava disposta a arcar com todos os custos
necessários para a implementação da linha em suas instalações. Dessa maneira, todo o
procedimento, desde sua concepção até o lançamento do produto no mercado, tornou-se mais
rápido, fácil e com menor custo.
Essa não é uma prática comum na empresa. No período analisado, bem como
ao longo de seus anos de existência, esta foi a primeira vez que uma atividade externa de
P&D foi adquirida. Mesmo nesse caso, a empresa optou pela aquisição externa não pela falta
de capacidade ou recursos para investimento, mas por comodidade.
Quanto à relevância da aquisição, esta foi considerada média, em razão do
produto ser considerado como pouco significativo em termos de venda e faturamento. Sua
inclusão no portfolio se deu em função de solicitação por parte de alguns clientes da empresa.
Indicador 3: aquisições de máquinas e equipamentos
No período analisado, a empresa em estudo não adquiriu novas máquinas e
equipamentos. Para os três novos produtos desenvolvidos, foi possível utilizar tecnologia de
produção já existente.
136
Mesmo com as modificações e readequações exigidas pela ABICAB, as
máquinas e equipamentos existentes na empresa foram adequadas, não havendo, assim,
necessidade de novas aquisições.
Indicador 4: treinamento
Como conseqüência do desenvolvimento dos novos produtos e das
readequações nos processos de fabricação ocasionadas pela obtenção do selo ABICAB, a
empresa teve necessidade de realizar treinamentos com seus funcionários.
Os treinamentos ocorreram internamente à empresa, realizados por
funcionários e por pessoal contratado. O gerente de produção e alguns encarregados,
realizaram treinamentos destinados a habilitar os funcionários na produção dos novos
produtos, repassando informações como tempo de produção, controle de qualidade e
formulação dos produtos.
Técnicos vinculados a instituições do município, especializados em técnicas
como Análise de Perigos e Pontos Críticos de Controle (APPCC), Controle de Pragas, Boas
Práticas de Fabricação, Controle de Qualidade, Condutas de Higiene Pessoal e Prevenção de
Contaminação de Alimentos, realizaram treinamentos que tiveram como objetivo eliminar, na
área de produção, condutas subjetivas dos funcionários para uma conduta racional e de acordo
com as normas do setor.
na empresa um auditório, especialmente construído para a realização de
treinamentos internos. Independentemente do setor, todos os funcionários da empresa passam
por treinamentos destinados às suas áreas específicas de atividade. Esse fato demonstra a
preocupação da empresa em buscar novas e melhores formas de executar suas atividades
internas, independentemente da ocorrência ou não de inovações.
As características citadas fazem com que esse indicador seja de ocorrência
contínua, cujas vantagens obtidas o torna muito relevante para a empresa.
Indicador 5: introdução de inovações tecnológicas no mercado
Com o intuito de demonstrar os novos produtos desenvolvidos, bem como
reforçar sua marca, a empresa tem realizado esforços para a introdução de suas inovações
137
tecnológicas no mercado. Esses esforços foram de três naturezas: pesquisa de mercado, teste
de mercado e esforços de divulgação, destinados à todas regiões de atuação da empresa.
A pesquisa de mercado é realizada pelo diretor comercial, que frequentemente
visita seus principais distribuidores, e pela equipe de vendas da empresa. Essas freqüentes
pesquisas têm como objetivo a obtenção de informações sobre a percepção dos clientes em
relação à imagem da empresa e à qualidade de seus produtos, e ainda, a captação de sinais
positivos de demanda para novos produtos.
Os testes de mercado ocorrem quando a empresa pretende lançar novos
produtos, cujo procedimento é o envio de pequenas quantidades, aos principais distribuidores
da empresa, para degustação. Já os esforços de divulgação são realizados constantemente pela
empresa, por meio da distribuição de catálogos explicativos de todos os produtos do seu
portfolio, os quais são distribuídos aos seus compradores.
Esses esforços são considerados muito relevantes para a empresa no que diz
respeito à manutenção do seu mercado de atuação. Quanto à abertura de novos mercados, são
considerados irrelevantes, pois no momento não há pretensão da empresa nesse sentido.
Como conseqüência desses esforços, a empresa pode perceber mudanças na
percepção dos clientes quanto a sua imagem e a de seus produtos, passando a visualizá-la
como inovadora e fornecedora de produtos de qualidade e seguros para o consumo. Porém,
como esses esforços se dirigem apenas para a manutenção de seu mercado, de um modo geral,
esse indicador é considerado como de relevância média para a empresa.
Cooperação para inovação
No período analisado, a empresa estabeleceu relacionamentos cooperativos
com outras organizações a fim de facilitar suas atividades de inovação e a distribuição de seus
produtos para algumas regiões do país.
Em inovação, o relacionamento cooperativo se voltou aos processos das linhas
de amendoim, sendo estabelecido com profissionais representantes da ABICAB, especialistas
no acompanhamento e capacitação das empresas interessadas em adquirir o selo de qualidade
em produtos a base de amendoim, o Pró-Amendoim.
Durante um período de quase cinco anos, esses profissionais permaneceram na
empresa em atuação conjunta com os funcionários, identificando e promovendo as
modificações necessárias nas linhas de amendoim. Além disso, viabilizaram o
138
desenvolvimento de capacitação interna para a manutenção o selo continuamente. Ao longo
de todo processo, houve troca de conhecimento e formação conjunta de habilidades.
Um fato importante, principalmente considerando o tempo de envolvimento, é
que durante todo o processo de cooperação não houve atritos ou desconfiança de nenhuma das
partes: o relacionamento foi tranqüilo e bastante construtivo.
A segunda forma de cooperação estabelecida pela empresa, e ainda em
vigência, é a parceria com uma outra empresa concorrente, fabricante de salgadinhos, na
distribuição conjunta de seus produtos. Essa empresa concorrente, localizada em outro estado,
distribui seus produtos em algumas regiões igualmente trabalhadas pela empresa em estudo.
Como a quantidade de produtos destinados para esses mercados é relativamente pequena para
ambas, a fim de diminuir os custos de transportes, preferem carregar e distribuir seus produtos
conjuntamente, num único caminhão. Para ambas, as vantagens obtidas com essa parceria
suplantam a condição de concorrência. O relacionamento é tranquilo e há confiança mútua.
Os principais benefícios gerados com essas relações de cooperação foram: (1)
melhoria na imagem da empresa perante o mercado a obtenção do selo reflete a imagem de
uma empresa moderna e responsável com a qualidade final de seus produtos, especialmente
na segurança dos mesmos no consumo; (2) aumento da capacitação interna tanto produtiva
quanto em conhecimento por parte dos funcionários; (3) adequação às exigências legais do
setor de alimentos e (4) diminuição dos custos de distribuição, tornando viável a distribuição
de seus produtos em mercados onde a demanda é menor. Por todos esses motivos, as relações
de cooperação estabelecidas se configuraram como muito relevante para a empresa. O Quadro
9 apresenta uma síntese das informações relatadas.
Fatores Descrição
Parceiros instituto de pesquisa e concorrente
Localização dos parceiros outros estados
Objeto de cooperação P&D em processo e distribuição
Relevância da cooperação muito relevante
Principais benefícios
melhoria da capacitação interna, melhoria na imagem da empresa e
diminuição em custos de distribuição
Principais dificuldades o houve dificuldades de relacionamento
Quadro 9:
Síntese das informações relativas ao processo de cooperação
Com clientes e consumidores, universidades, centros de capacitação
profissional e assistência técnica a empresa não tentou estabelecer relação de cooperação. Os
motivos apontados o a falta de informação e a restrição a este tipo de relacionamento por
139
parte dos proprietários da empresa. Em outras palavras, não interesse interno em fomentar
parcerias com esses outros agentes.
Na opinião da empresa, a predisposição e flexibilidade para troca de idéias e
habilidades é condição essencial para que haja esse tipo de relação entre as empresas e outras
instituições.
Comentário sobre o caso
O Quadro 10
apresenta uma síntese da caracterização da empresa para os cinco
indicadores de inovação tecnológica, incluindo a caracterização da cooperação para inovação.
Indicador S/N Ocorrência Relevância Descrição
1- produto sim contínua MR
Foram desenvolvidos quatro novos produtos
para a empresa.
1- processo não - -
Nenhum processo novo foi introduzido. As
modificações ocorridas foram em linhas de
produtos já existentes.
2 sim ocasional média
Desenvolvimento por outra empresa de um dos
novos produtos, seu processo de produção e a
fabricação: a paçoca.
3 o - -
Foi possível utilizar tecnologia de produção
existente nos novos produtos.
4 sim contínua MR
Realizados internamente à empresa, entre os
funcionários e pessoal contratado, em função
dos novos produtos e das readequações nos
processos de produção das linhas de amendoim.
5 sim contínua média
Direcionados à introdução dos novos produtos
no mercado e reforço de imagem dos existentes.
Tipos:
1. pesquisa de mercado
2. testes de mercado
3. esforços de divulgação
Cooperação
para inovação
sim continua MR/R
Muito relevante na cooperação estabelecida
com os profissionais da ABICAB para a
obtenção do selo de qualidade Pró-Amendoim.
Relevante na parceria com concorrente para a
distribuição conjunta de seus produtos.
Quadro 10:
Síntese da caracterização da média empresa
Obs: R - relevante, MR - muito relevante.
Conforme pode ser observado na descrição dos indicadores de inovação
tecnológica, com exceção da inovação em processo e da aquisição de máquinas e
equipamentos, a empresa apresentou todas as demais atividades inovativas nos últimos três
anos.
140
Diante disso, é possível observar algumas características da empresa no que diz
respeito à inovação tecnológica. A primeira a ser destacada é a existência de uma cultura
interna favorável à inovação de seus produtos e processos. Mesmo com gestão
predominantemente familiar, essa cultura favorável à inovação parte dos proprietários da
empresa e se direciona aos funcionários e não o contrário, característica esta que contribui
para a permanência dessa cultura na empresa.
Embora o tenha uma departamento formal de P&D, com profissionais
exclusivamente dedicados às atividades inovativas, observa-se grande capacidade interna para
o desenvolvimento de inovações tecnológicas. Esta afirmação pode ser comprovada pelo fato
de três, dos quatro produtos novos introduzidos, terem sido desenvolvidos com esforço
totalmente interno. Porém, quando não há capacidade ou predisposição interna para inovação,
a empresa consegue adquiri-la externamente, o que demonstra capacidade em superar as
dificuldades inerentes aos processos de inovação tecnológica. Essa afirmação pode ser
igualmente comprovada com a Aquisição Externa de P&D ocorrida.
Ainda nessa idéia, destaca-se o desenvolvimento interno constante, por parte da
empresa, de dois indicadores de atividade inovativa primordiais para a concretização das
inovações e sua projeção no mercado: treinamentos e esforços para a introdução das
inovações tecnológicas no mercado.
O estabelecimento de relações de cooperação é outra característica que merece
destaque no que diz respeito ao interesse da empresa em inovar seus produtos e processos
mais facilmente. Mesmo com certa restrição, por parte dos proprietários, no estabelecimento
de relações de cooperação, foi possível observar a ocorrência dos mesmos. Uma delas,
inclusive, é uma das mais complicadas de se estabelecer e, por isso, de menor ocorrência entre
as empresas: a parceria com concorrente.
Quanto à ausência de desenvolvimento de novos processos de fabricação e de
aquisição de novas máquinas e equipamentos, mesmo com o desenvolvimento dos novos
produtos, ao invés da não ocorrência desses indicadores demonstrar inaptidão da empresa
nessas atividades, demonstra constante preocupação em manter sua área de produção
atualizada tecnologicamente e ajustada aos requisitos de qualidade impostos pelo mercado.
141
5.2.4 Grande empresa
Indicador 1: atividades internas de P&D
A empresa possui uma forte cultura interna voltada para as atividades de
pesquisa e desenvolvimento. Como conseqüência, nos últimos três anos, novos produtos e
processos foram desenvolvidos e aprimorados.
A empresa conta com um departamento de P&D, exclusivamente destinado às
atividades inovativas. Os profissionais desse departamento possuem qualificação superior aos
das outras empresas do ramo, inclusive as de mesmo porte. A Tabela 6 apresenta o vel de
qualificação e os respectivos cargos.
Tabela 6:
Número de pessoas ocupadas em atividades de P&D
Nível de qualificação Número de funcionários Cargo
mestre 1 gerente de P&D
especialistas 2 assistentes de pesquisa
graduados 5 supervisores e técnicos
técnicos de nível médio 5 técnicos de produção
sem qualificação
10
6 auxiliares de produção e administrativos
A observação da Tabela 6 traz duas importantes informações. A primeira
refere-se a quantidade de profissionais envolvidos nas atividades de P&D ser bastante
significativo: dezenove no total. A segunda diz respeito a inter-relação entre as áreas de P&D,
produção e outras áreas administrativas. O departamento de marketing, por exemplo, auxilia
na identificação das oportunidades, enquanto o de produção permite a troca de conhecimentos
na fase de desenvolvimento dos produtos e processos, bem como no repasse de informações
no momento da fabricação, apontando os problemas de operacionalização e auxiliando nas
soluções. Essas características dinamizam os processos de inovação tecnológica da empresa.
A estratégia de posicionamento utilizada pela empresa e o atendimento aos
mercados externos igualmente justificam o desenvolvimento dessas inovações. Na estratégia
de posicionamento, destaca-se o constante esforço em reforçar a imagem da marca,
procedimento associado ao desenvolvimento de novos produtos. O mesmo ocorre em relação
ao atendimento do mercado externo, uma vez que a demanda internacional é diferente e mais
10
A empresa considera “sem qualificação” seus profissionais com qualificação ainda em andamento.
142
exigente, de modo que a empresa necessita desenvolver produtos adaptados aos hábitos de
consumo alimentar dos países importadores.
a) inovação em produto
Três novos produtos foram desenvolvidos nos últimos três anos, sendo dois
novos apenas para a empresa e outro novo para o mercado. Os produtos novos para a empresa
são o amendoim natural sem pele e a bala de gelatina, destinada exclusivamente ao mercado
internacional. O produto novo para o mercado é o amendoim natural com cobertura
superficial de mel. Uma breve descrição de cada produto é realizada a seguir:
Amendoim natural sem pele: utiliza como ingredientes o amendoim torrado, a
maltodextrina e o sal. Apresenta-se em embalagem plastificada sem nenhuma
transparência, em unidades contendo 60g e 180g;
Bala de gelatina: é composta por açúcar, glicose e gelatina. Têm uma textura macia,
porém mais elástica e pegajosa que as balas de goma de amido, sabores bem
concentrados e cores mais fortes. Podem ser açucaradas e com sabor bem ácido ou
simplesmente com acabamento brilhante (processamento com anti-aderente a base de
óleos vegetal). Apresentam-se em diferentes formatos (ursinhos, minhocas, morangos
e corações) e em diferentes tipos de embalagens, variando desde embalagens com
peso líquido de 141g até 2,270 kg,
Amendoim natural com cobertura superficial de mel: é composto por amendoim
torrado, açúcar, gordura vegetal, mel e sal.
Apresenta-se em embalagem plastificada
sem nenhuma transparência, contendo 150g.
Nota-se que dois produtos utilizam como matéria-prima principal o amendoim.
Ressalta-se que dos 260 produtos produzidos pela empresa, predominam os que utilizam o
amendoim na composição, fato que ocorre praticamente desde o inicio das atividades da
empresa, o que a tornou bastante eficiente no desenvolvimento desse tipo de produto.
A bala de gelatina utiliza como matéria-prima principal na caracterização do
produto a gelatina. Esta foi a primeira vez que a empresa desenvolveu um produto utilizando
essa matéria-prima, o que ocorreu em razão do produto ser dirigido ao mercado internacional,
indicando que os consumidores nacionais não requerem produtos com essa composição.
O desenvolvimento dos novos produtos foi realizado utilizando esforço interno
e externo à empresa. Internamente, foram desenvolvidos o amendoim natural sem pele e o
143
amendoim natural com cobertura superficial de mel. O conhecimento necessário para o
desenvolvimento e fabricação de produtos a base de amendoim é amplamente dominado pela
empresa, o que lhe permite desenvolver esse tipo de produto internamente. Por outro lado, o
desenvolvimento das balas de gelatina utilizou esforço externo por meio da contratação de
profissionais estrangeiros, especialistas no desenvolvimento de produtos a base de gelatina.
Os novos produtos desenvolvidos implicaram na compra de novas máquinas e
equipamentos e melhoram a qualidade técnica, a funcionalidade e o desempenho dos
processos produtivos. O amendoim natural sem pele e as balas de gelatina são uma adaptação
de produto produzidos por outras empresas, enquanto que o amendoim natural com
cobertura superficial de mel utiliza tecnologia radicalmente nova para a empresa. Outras
mudanças ocorreram na empresa com o desenvolvimento dos novos produtos, ocasionando
inúmeras vantagens, sendo as principais:
melhoria na qualidade: a preocupação com a qualidade é uma constante na empresa,
independentemente do tipo de produto e do tempo de existência no portfolio. As balas
de gelatina e o amendoim natural sem pele apresentam qualidade superior em termos
de aparência, sabor, embalagem e segurança para consumo, quando comparados com
a concorrência. O sistema de qualidade da empresa passou por reformulação, baseado
na proposta de melhoria contínua, onde novos padrões foram criados, como por
exemplo, um sistema de auditoria nos fornecedores;
ampliação do número de produtos ofertados e aumento do faturamento: embora a
quantidade de produtos no portfolio seja significativa (260), os novos produtos
possibilitaram um melhor atendimento em seus diversos canais de venda, aumentando
conseqüentemente o faturamento;
abertura de novos mercados: mesmo com participação em praticamente todos os
estados brasileiros e presente internacionalmente em 75 países, a inserção de novos
produtos é considerada uma estratégia que possibilita aumento de participação nos
mercados atuantes e abertura de novos mercados,
redução dos custos de produção: obtida como conseqüência dos padrões de produção
exigidos para os novos produtos e pela aquisição de novas máquinas e equipamentos.
Os novos produtos foram submetidos à análise sensorial, procedimento padrão
utilizado pela empresa. Para isso, foram fabricados pequenos lotes dos produtos, que foram
testados obedecendo os seguintes passos: 1) realização de análise sensorial pelo coordenador
de P&D; 2) realização de um painel sensorial com outros funcionários treinados para este fim,
144
e 3) realização de um painel sensorial com o alto escalão da empresa. Percebe-se que todo o
processo de teste foi realizado internamente.
Não foram relatadas dificuldades para o desenvolvimento, fabricação e
produção dos novos produtos. Como a empresa tem uma cultura interna voltada às atividades
inovativas, grande parte das habilidades humanas e aparato estrutural necessário já estão
desenvolvidos. Destaca-se que quando não houve capacitação interna para o atendimento a
uma determinada atividade, a empresa buscou ajuda externa.
Enfim, o lançamento dos novos produtos e os benefícios resultantes do
desenvolvimento foram considerados muito relevantes para a empresa.
b) inovação em processo
Foram introduzidos quatro novos processos nos últimos três anos, sendo três
deles novos apenas para a empresa e um outro ainda não existente no mercado.
Os processos novos para a empresa foram destinados às linhas de pastilhas,
caramelo e goma de mascar. Anteriormente ao período analisado, as pastilhas e os caramelos
faziam parte do portfolio da empresa, de forma que os novos processos tiveram a intenção
de aumentar a capacidade produtiva e a qualidade final desses produtos. A goma de mascar é
um produto com projeto ainda em andamento, contudo, a linha de produção destinada a
fabricação desse produto es praticamente montada. Para estes produtos, a empresa
adquiriu tecnologia disponível e amplamente difundida pelas empresas fornecedoras de
máquinas, equipamentos e sistemas produtivos para a indústria de alimentos.
O processo não existente no mercado foi destinado à linha de balas mastigáveis
recheadas com diversos sabores. Embora esse produto fizesse parte do portfolio da
empresa, o seu processo de produção foi aperfeiçoado com o objetivo de aumentar a
capacidade produtiva e melhorar a qualidade final do produto, principalmente em relação à
aparência e a uniformidade.
O aperfeiçoamento dessa linha foi realizado em cooperação com uma empresa
nacional produtora de máquinas e equipamentos para a indústria alimentícia. Para tanto, foi
introduzido no processo um sistema recheador, responsável por injetar os recheios na bala
mastigável no momento de extrusão. A união entre a linha tradicional de balas mastigáveis e o
sistema recheador tornou o sistema novo para o mercado, que nenhuma outra empresa
havia, até então, desenvolvido e utilizado esse processo.
145
Além da necessidade de aumentar a capacidade produtiva e se adaptar às
exigências do mercado, principalmente em termos de qualidade, a introdução dos novos
processos também foi impulsionada pela necessidade da empresa em diferenciar sua marca da
concorrência.
Outras mudanças ocorreram na empresa com a introdução dos novos
processos, a saber:
reduções de custos: a introdução dos novos processos foi importante para a redução
dos custos de mão-de-obra, uma vez que a maior parte dos processos são
automatizados. Houve também redução no desperdício de matéria-prima, em virtude
do seu maior aproveitamento;
aumento da velocidade de produção e da capacidade produtiva: a maior eficiência
pode ser observada na maior quantidade de produtos fabricados, num mesmo período
de tempo. Como as linhas são modernas e com alto desempenho, os produtos são
fabricados mais rapidamente e com menor desperdício. Ressalta-se também a
diminuição de paradas nas linhas, pois as mesmas não apresentaram problemas
técnicos, evitando ser desativadas para manutenção,
aumento da flexibilização da produção: diferentes produtos puderam ser fabricados
simultaneamente, utilizando os mesmos processos. Nessa situação, os setup são mais
rápidos em função das máquinas serem novas e modernas.
Outra característica relevante a ser destacada foram as alterações realizadas no
espaço físico destinado à produção, após o implementação dos novos processos. Para receber
as novas máquinas e equipamentos, foi necessário ampliar o espaço físico, bem como adquirir
novas áreas nos entornos da empresa e construir novos espaços nestas áreas. Assim, as linhas
puderam ser distribuídas de forma mais racional, obedecendo a necessidade de produção das
diversas linhas existentes. O fluxo de material e de pessoas tornou-se mais ágil e seguro,
alterando os processos de produção até então existentes.
No que diz respeito às adaptações técnicas, estruturais e de capacitação e
recepção de novos métodos de trabalho por parte dos funcionários, a empresa não encontrou
dificuldades relevantes que pudessem ameaçar ou impedir a introdução dos novos processos
de fabricação. A dificuldade considerada mais relevante foi o alto custo financeiro necessário
aos investimentos.
Em resumo, as principais vantagens obtidas com os novos processos foram:
aumento da qualidade dos produtos, redução de custos diretos de fabricação, aumento da
capacidade produtiva, da velocidade de produção, da flexibilização da produção, diminuição
146
no desperdício de matéria-prima, adequação às normas da ISO 22.000
11
e, utilização mais
racional do espaço físico de produção.
c) projetos em andamento ou abandonados
um projeto em andamento na empresa para o desenvolvimento de um novo
produto, completamente diferente dos fabricados atualmente: a goma de mascar com cores e
sabores variados. O interesse no desenvolvimento deste produto surgiu em função de
sinalizações positivas nos mercados de atuação da empresa e pelo interesse em diversificar
seu portfolio de produtos.
O produto passou pela fase de desenvolvimento e foi testado internamente.
Os processos de fabricação também são conhecidos e toda a linha de produção se encontra
praticamente montada. A empresa espera que a produção em larga escala seja iniciada em
alguns meses.
O esforço no desenvolvimento desse novo produto para a empresa tem sido
totalmente interno. Coube ao departamento de P&D, juntamente com os demais
departamentos envolvidos nos processos de inovação da empresa, a busca de informações
sobre o mercado e os processos de fabricação do produto. A formulação e os protótipos
também foram desenvolvidos internamente. O tempo médio necessário para a empresa
desenvolver novos produtos e processos tem sido, em média, de um ano.
Durante os últimos três anos, o foi verificado o abandono de projetos para
desenvolvimento de novo produto e/ou processo.
d) dificuldades à inovação
O Quadro 11
apresenta as principais dificuldades encontradas nos processos de
inovações, a relevância de cada uma e algumas observações referentes à empresa em estudo.
11
Formulada com o intuito de trazer requisitos para um sistema de gestão completo de segurança na produção de
alimentos, compreendendo toda a cadeia de fornecedores, desde o produtor primário às indústrias fabricantes de
alimentos, passando por lojas e prestadoras de serviços. Promove uma harmonização das exigências
internacionais, propondo um modelo de certificação de gestão alinhado à norma ISO 9001: 2000 e aos princípios
da APPCC estabelecidos no Codex Alimentarius.
147
Dificuldades Relevância Observações
Custos elevados de inovação R
Os custos financeiros para o desenvolvimento dos novos
processos foram altos. Novas máquinas e equipamentos foram
adquiridos, sendo a maior parte importada da Europa. A
estrutura física foi reformulada e ampliada com a construção de
novas áreas destinadas à produção.
Dificuldade de financiamento I Não houve dificuldade para obtenção do financiamento.
Rigidez organizacional PR
Os proprietários e funcionários apresentam-se flexíveis às
mudanças. A cultura organizacional é voltada à inovação, com
participação das diferentes áreas da empresa.
Falta de pessoal qualificado I
Como a empresa freqüente inova seus produtos e processos,
contrata profissionais qualificados e dispostos a obterem mais
conhecimento, independentemente da área de atuação em que
será vinculado. Constantemente são realizados treinamentos.
Falta de informação sobre
tecnologia
PR
A empresa possui capacitação interna para obter informações
sobre tecnologia. Quando as informações disponíveis são
insuficientes, utiliza fontes externas, sendo igualmente
capacitada nesse processo.
Falta de informações sobre
mercados
I
Mercado nacional consolidado e conhecido. Nos mercados
internacionais, freqüentemente são realizadas pesquisas a fim
de detectar oportunidades em mercados ainda não explorados.
Nos explorados, as pesquisam visam levantar informações
sobre oportunidades para lançamento de novos produtos e
opinião dos consumidores sobre os produtos comercializados.
Falta de cooperação com
outras empresas/instituições
I
Observou-se cooperação no desenvolvimento de novos
produtos e processos, tanto com agentes nacionais, quanto
internacionais. Relações de cooperação para a inovação
tecnológica são contínuas na empresa.
Dificuldade para se adequar a
padrões, normas e
regulamentações
média
Foram necessários investimentos em máquinas, equipamentos e
treinamento da mão-de-obra em função da implementação da
ISO 22.000. A dificuldade está nos investimentos e no tempo
necessário para as adequações necessárias.
Fraca resposta dos
consumidores quanto a novos
produtos
média
Para produtos novos, observa-se resistência dos consumidores
a produtos mais caros dentro do mesmo segmento. Os riscos
maiores referem-se ao mercado internacional, em razão da
necessidade em atender aos hábitos alimentares desses paises.
Escassez de serviços técnicos
adequados
I
Quando não no município e região, empresas prestadoras de
serviços técnicos, a empresa contrata o serviço em outras
regiões do país. Isso não acontece frequentemente, pois
existem funcionários habilitados a realizar manutenção cnica
nas máquinas e equipamentos.
Riscos econômicos
excessivos
MR
Os riscos econômicos do país representam um grande
problema, pelas altas taxas de juros para financiamento.
Quadro 11:
Principais dificuldades à inovação tecnológica e suas respectivas relevâncias
Obs: I - irrelevante, PR - pouco relevante, R - relevante, MR - muito relevante.
Não foram constatadas dificuldades internas relevantes capazes de impedir ou
retardar o processo de inovação tecnológica. Observa-se considerável capacidade interna nas
atividades inovativas, propiciada por uma política favorável à inovação, pela presença de um
departamento de P&D e pela alta qualificação da mão-de-obra envolvida nas atividades
inovativas. Quando necessidade de informações e conhecimentos externos, a empresa sabe
como obtê-los.
148
A única dificuldade interna considerada relevante é custo elevado de inovação.
Porém, essa é uma dificuldade comum à maioria das empresas nacionais, que qualquer
processo de inovação incorre em custos adicionais.
Observa-se que a dificuldade considerada muito relevante para a empresa, é
justamente aquela que se apresenta incontrolável, uma vez que suas características advêm de
determinações externas.
Indicador 2: aquisições externas de P&D
A empresa realizou atividade externa de P&D, voltada ao desenvolvimento de
um dos novos produtos e seu processo de fabricação: a bala de gelatina com diversos sabores.
Para isso, foram contratados profissionais especializados no desenvolvimento de produtos a
base de gelatina, vinculados a uma empresa de consultoria na área de alimentos e de empresas
fornecedoras de tecnologia em processos de fabricação. Nas duas situações as empresas eram
estrangeiras.
Ressalta-se que esse produto foi desenvolvido exclusivamente para o mercado
internacional, o que em parte justifica a necessidade da empresa em adquirir conhecimento
externo, diante da falta do mesmo no mercado nacional.
Durante todo o processo, a empresa contratante e as contratadas trabalharam
conjuntamente, compartilhando esforços e ajudando na formação da capacitação interna.
A opção de contratar empresas especializadas, no lugar de desenvolver
capacitação interna, ocorreu por dois motivos principais: rapidez e menor custo. Além dessas
vantagens, a alternativa escolhida justifica-se pela formação de conhecimento interno:
atualmente, a empresa cuida de todo o processo de fabricação e controle de qualidade desses
produtos e se encontra capacitada a iniciar o desenvolvimento de produtos a base de gelatina.
No período analisado, pode-se considerar que as aquisições externas de P&D
foram ocasionais, porém, considerando toda a sua existência, tais aquisições foram contínuas,
uma vez que a empresa sempre buscou informações externas.
A aquisição foi considerada muito relevante, em razão da quase totalidade do
esforço de desenvolvimento do produto ter ocorrido externamente à empresa.
149
Indicador 3: aquisições de máquinas e equipamentos
No período analisado, a empresa adquiriu novas máquinas em função dos
produtos e processos desenvolvidos, inclusive para o produto com projeto em andamento
12
. É
importante salientar que o desenvolvimento destes novos produtos foram os impulsionadores
destas aquisições, e não o contrário.
Outros fatores apontados como impulsionadores dessas aquisições foram a
necessidade de incremento da capacidade produtiva a fim de atender à demanda dos novos
produtos, a necessidade de atendimento às principais normas da ISO 22.000 e a manutenção
do processo de inovação da área de produção. Assim, independentemente se novos produtos
são desenvolvidos, sempre renovação das máquinas e equipamentos, bem como
aprimoramento dos processos produtivos visando a melhoria de qualidade dos produtos
existentes. Essas características fazem com que a realização da atividade interna inovativa
seja contínua na empresa.
A origem dessas aquisições é nacional e internacional. A importação de
máquinas e equipamentos ocorre em razão de alguns produtos serem produzidos
exclusivamente para o mercado internacional, exigindo máquinas e equipamentos que não
existem no Brasil. Mesmo para alguns dos produtos destinados ao mercado nacional, algumas
máquinas também são importadas.
Além do aumento da capacidade produtiva, ocasionado pelo aumento da
velocidade de produção, as aquisições externas de P&D ocasionaram outras mudanças na
empresa. As principais foram:
mudanças no espaço físico: foi preciso aumentar o espaço físico destinado à área de
produção para que as novas linhas de produtos pudessem ser instaladas, as linhas
existentes aumentadas e as novas máquinas e equipamentos dispostos num layout
mais adequado. Foi necessária a readequação da climatização do local, pois alguns
produtos exigem temperaturas menores em relação à ambiente;
mudanças nos padrões de qualidade: grande parte das aquisições se destinou à
adequação às principais normas da ISO 22.000. Conseqüentemente, houve maior
uniformidade, padronização e segurança nos processos produtivos, conferindo aos
produtos maior qualidade;
12
A empresa não divulgou a descrição detalhada das máquinas e equipamentos adquiridos.
150
capacitação dos funcionários: necessidade de treinamento para lidar com as novas
tecnologias,
mudanças nos procedimentos de trabalho: as rotinas foram alteradas em função das
novas formas de lidar com as máquinas e das exigências de manipulação dos
produtos ao longo da fabricação.
As principais vantagens obtidas com as novas máquinas e equipamentos foram:
diferenciação dos processos produtivos; adequação à normas específicas do segmento de
alimentos, inclusive normas internacionais; redução de alguns custos operacionais pela
flexibilidade e facilidade dos processos produtivos e, diferenciação dos produtos no mercado,
mesmo os mais tradicionais. Para a empresa, todas essas são vantagens competitivas em
relação à concorrência.
Indicador 4: treinamento
Como conseqüência da aquisição das novas máquinas e dos novos processos de
fabricação, a empresa realizou treinamentos a fim de habilitar os funcionários a extrair o
máximo da capacidade dos mesmos. Os treinamentos se destinaram as áreas de mecatrônica,
operação, análise de processos, engenharia de processos e manutenção técnica do sistema
produtivo.
Os treinamentos foram realizados interna e externamente à empresa. A opção
pelos treinamentos externos se deu pelo fato da empresa o conhecer as técnicas adquiridas
e, desenvolvê-las somente com esforço interno, demandaria tempo e dinheiro além do que
estava disposta a arcar. Desse modo, o conhecimento adquirido foi posteriormente repassado
aos demais funcionários das áreas de interesse. Análise de Perigos e Pontos Críticos de
Controle (APPCC), Instrumentação Eletrônica e Utilidades (vapor, energia elétrica e ar
comprimido), foram os treinamentos realizados externamente.
Internamente, os treinamentos foram realizados por funcionários da empresa e
por pessoal contratado. Os funcionários internos repassaram técnicas que eram de
conhecimento da empresa, tais como: Uso de Equipamentos de Proteção Individual, Brigada
de Incêndio, Prevenção de Acidente de Trabalho e Boas Práticas de Fabricação e Ambientais.
O treinamento externo foi realizado pelos fornecedores da tecnologia e por profissionais de
órgãos especializados e foi referente às novas máquinas e equipamentos adquiridos e aos
novos processos desenvolvidos.
151
Redução de custos e do lead-time, aumento da produtividade e redução dos
índices de rejeição do produto ao final do processo de fabricação foram as principais
vantagens obtidas com os treinamentos, caracterizados como muito relevante para a empresa.
Além de treinamentos diretamente destinados às inovações tecnológicas, outros
de maior abrangência também foram realizados, demonstrando a preocupação em buscar
novas e melhores formas de executar suas atividades internas, independentemente da
ocorrência ou não de inovações, tornando contínua a existência desse indicador na empresa.
Indicador 5: introdução das inovações tecnológicas no mercado
Embora constantemente desenvolva novos produtos, a empresa não realiza
esforços significativos para a introdução dos mesmos no mercado. Quando ocorrem, são de
duas naturezas: pesquisa de mercado e esforços de divulgação.
A pesquisa de mercado realizada o é destinada à obtenção de informações
sobre a percepção dos clientes em relação à imagem da empresa e à qualidade de seus
produtos ou dirigida à captação de sinais positivos de demanda para novos produtos. A
pesquisa de mercado é baseada em dados secundários, cuja análise fornece informações de
caráter geral do segmento alimentício, como aumento da demanda, possíveis crises no setor,
sazonalidade, entre outras.
A partir da análise dos dados secundários, são realizadas no início de cada ano
reuniões entre gerente e supervisores de vendas e diretores comerciais e de marketing, a fim
de traçar as metas de preços e vendas, bem como verificar a possibilidade de lançamento de
novos produtos, de acordo com as sinalizações do mercado.
Embora tenha sido veiculadas propagandas na mídia, os esforços de
divulgação atuais concentram-se na forma de merchandising, com a realização de campanhas
promocionais, sorteios e degustação dos novos produtos em grandes redes de supermercados.
Por ocasião do desenvolvimento de um novo produto, a empresa não realiza
testes de mercado com consumidores. Os mesmos ocorrem internamente, entre os
proprietários e funcionários.
Por possuir um canal de distribuição de seus produtos bem consolidado e uma
marca reconhecida, tanto no mercado interno, quanto no mercado internacional, a empresa
não realiza esforços significativos para a introdução de suas inovações tecnológicas no
mercado.
152
Cooperação para inovação
No período analisado, a empresa estabeleceu relacionamentos cooperativos
com outras organizações a fim de facilitar suas atividades de inovação, tanto de produto,
quanto de processo.
Em produto, foi estabelecida uma relação de cooperação com uma empresa
internacional de consultoria, visando o desenvolvimento das balas de gelatina com diversos
sabores. Durante todo o processo, houve troca de conhecimento e formação conjunta de
habilidades.
Em processo, foram duas as relações de cooperação. Uma destinou-se ao
processo de fabricação das balas de gelatina, sendo o parceiro, um fornecedor internacional de
tecnologia em processos de fabricação para este tipo de produto. A outra relação ocorreu com
uma empresa nacional, produtora de máquinas e equipamentos para a indústria alimentícia, no
intuito desenvolverem um sistema recheador para a linha de balas mastigáveis recheadas com
diversos sabores. Em ambas as situações, houve troca de conhecimento e formação conjunta
de habilidades.
Além das cooperações citadas, ocorreram relações de cooperação com um
instituto de pesquisa e com um fornecedor. O principal objetivo foi melhorar a capacidade
produtiva de um dos seus principais fornecedores de amendoim. Outra característica
interessante é que essa relação ocorreu com a participação de três agentes.
O instituto de pesquisa localiza-se no mesmo estado da empresa e de seu
fornecedor. O instituto desenvolveu pesquisas voltadas ao aprimoramento de técnicas que
pudessem aumentar a produtividade do amendoim. As técnicas foram desenvolvidas de
acordo com a necessidade e realidade do produtor e o objetivo foi garantir o fornecimento do
amendoim no prazo, na quantidade e com a segurança e qualidade desejados pela empresa.
Os parceiros envolvidos obtiveram benefícios com a cooperação: a empresa
garantiu o fornecimento de uma das suas principais matérias-primas, o fornecedor aprendeu
novas técnicas de produção que o tornou mais qualificado e o instituto de pesquisa cumpriu
com a sua função de gerar e transmitir conhecimento.
De um modo geral, pode-se dizer que as vantagens obtidas pela empresa com
as relações de cooperação foram: redução no tempo de desenvolvimento do novo produto e
seu respectivo processo; desenvolvimento do produto de acordo com as necessidades do
mercado, especificamente o mercado internacional; menor custo de desenvolvimento;
153
captação de novos conhecimentos, o que proporcionou melhor qualificação da mão-de-obra e,
o estreitamento do relacionamento com importantes agentes externos.
Durante o desenvolvimento da cooperação não ocorreram atritos ou
desconfiança: o relacionamento foi tranqüilo e bastante construtivo. Por todos esses motivos,
as relações de cooperação estabelecidas se configuraram como muito relevantes para a
empresa. O Quadro 12 apresenta uma síntese das informações relatadas.
Fatores Descrição
Parceiro fornecedor, instituto de pesquisa e consultoria
Localização dos parceiros outros países e mesmo estado de atuação da empresa
Objeto de cooperação P&D e ensaio para teste de produto
Relevância da cooperação muito relevante
Principais benefícios
melhor relacionamento com o fornecedor, construção em conjunto de
conhecimento técnico para o desenvolvimento de produtos e processos a
base de gelatina e de um novo processo para a linha de balas
mastigáveis recheadas
Principais dificuldades não houve dificuldades de relacionamento
Quadro 12:
Síntese das informações relativas ao processo de cooperação
A empresa ainda não estabeleceu relação de cooperação com outros parceiros,
como clientes, consumidores, concorrentes, universidades, centros de capacitação profissional
e assistência técnica. O motivo é que os benefícios e ajuda que esses parceiros poderiam
oferecer não são necessários atualmente.
No estabelecimento de suas relações de cooperação, a empresa não utiliza a
intervenção dos órgãos do município para este fim, tais como ADIMA e Sebrae. Esta
característica demonstra que, além da postura favorável à cooperação para inovação, a
empresa possui significativa capacidade interna necessária para a articulação com outras
organizações e agentes.
A determinação de quem ficará com o domínio da inovação resultante da
cooperação, na opinião da empresa, é condição necessária para estimular esse tipo de relação
entre as empresas e outras instituições. Nesse sentido, acredita que domínio deva ficar com a
parte que despendeu maior esforço e recursos para a concretização da inovação.
Comentário sobre o caso
O Quadro 13 apresenta uma síntese da caracterização da empresa para os cinco
indicadores de inovação tecnológica, incluindo a caracterização da cooperação para inovação.
154
Indicador S/N Ocorrência Relevância Descrição
1- produto sim contínua MR
Foram desenvolvidos três novos produtos,
sendo um novo para o mercado. um projeto
de produto novo para a empresa em andamento.
1- processo sim contínua MR
Foram desenvolvidos quatro novos processos,
sendo um novo para o mercado, destinados para
os novos produtos e para os já existentes.
2 sim ocasional MR
Desenvolvimento de um dos novos produtos e
seu processo de fabricação.
3 sim contínua* MR
Máquinas adquiridas para:
1. novos produtos e processos
2. projeto do produto em andamento
3. modernização da produção
4 sim contínua MR
Realizados externamente e internamente à
empresa, entre os funcionários e pessoal
contratado em função das novas máquinas e
processos de fabricação.
5 sim ocasional média
A empresa não realiza esforços significativos
para a introdução dos produtos no mercado.
Quando ocorrem, são de duas naturezas:
pesquisa de mercado e esforços de divulgação.
Cooperação
para inovação
sim ocasional MR
Cooperações estabelecidas com outras
organizações nacionais e internacionais para o
desenvolvimento de produtos e processos e para
capacitação do fornecedor de amendoim.
Quadro 13:
síntese da caracterização da grande empresa
Obs: R - relevante, MR - muito relevante.
* considerando o período de análise
Conforme pode ser observado na descrição dos indicadores de inovação
tecnológica, a empresa apresentou a ocorrência de todas as atividades inovativas nos últimos
três anos.
Diante disso, é possível observar algumas características da empresa no que diz
respeito à inovação tecnológica. A primeira a ser destacada é a existência de uma cultura
interna favorável à inovação de seus produtos e processos. Mesmo com gestão
predominantemente familiar, essa cultura favorável à inovação parte dos proprietários da
empresa e se direciona aos funcionários que, por sua vez, devem que adotar posturas
profissionais voltadas à inovação.
Diante da quantidade de inovações constantemente promovidas, a utilização
ocasional de Aquisições Externas de P&D e estabelecimento de Relações de Cooperação
demonstra a capacidade interna da empresa para inovar, fortemente facilitada pela existência
formal do departamento de P&D, interagindo com os demais departamentos da empresa.
Porém, quando não há capacidade interna para inovação, a empresa consegue adquiri-la
externamente, o que demonstra capacidade em superar as dificuldades inerentes aos processos
de inovação tecnológica.
155
Além disso, quando ocorre uma inovação em produto e/ou processo, a empresa
tem capacidade para articular as demais atividades inovativas necessárias para sustentar essa
inovação. Essa afirmação pode ser comprovada pela ocorrência positiva de todos os
indicadores de inovação tecnológica considerados.
As exportações e a estratégia de posicionamento são outros dois fatores que
parecem exercer uma força positiva para a ocorrência de inovações tecnológicas na empresa.
Nas exportações, duas razões se destacam: primeira, em função dos hábitos de consumo
alimentar e das exigências legais específicas de cada país, é necessário desenvolver produtos e
processos adequados a essas imposições; segunda, as inovações em processo são essenciais
para que os produtos tenham qualidade e preço para enfrentar a concorrência internacional. A
estratégia de posicionamento, que se dá pelo reforço da marca, faz com que a empresa
necessite constantemente desenvolver novos produtos e processos e aprimorar os existentes.
5.3 Considerações sobre os casos estudados
Este item apresenta uma análise dos casos estudados, propondo ao final, ões
para tornar mais dinâmica a inovação tecnológica nas empresas estudadas.
5.3.1 Atividades internas de P&D
As empresas estudadas apresentaram desenvolvimento de atividades internas
de P&D em produto, em processo ou ambas. Contudo, apenas as empresas de médio e grande
porte têm uma cultura interna voltada à inovação tecnológica contínua. As outras duas,
desenvolvem atividades inovativas de forma ocasional.
Os motivos para as diferenças estão relacionados às estratégias de
posicionamento, ao mercado de atuação e a orientação exportadora. As empresas de micro e
pequeno porte utilizam o preço baixo dos seus produtos como estratégia de posicionamento,
que são destinados ao atendimento das classes de consumidores de baixa renda, localizados
na região e em outros estados do país, de modo que as inovações são direcionadas ao aumento
no número de produtos ofertados e à diminuição dos custos de produção. De fato, a literatura
aponta que as empresas de menor porte têm como foco os mercados estadual e regional.
156
Por sua vez, as empresas de dio e grande porte utilizam a marca como
estratégia de posicionamento, que seus produtos são direcionados para classes de
consumidores com maior renda, localizados em praticamente todos os estados nacionais e em
alguns mercados internacionais. Conseqüentemente, promover constantes inovações em
produtos e processos torna-se essencial para a manutenção desses mercados.
O tempo de existência é outro fator a ser destacado, uma vez que a micro e a
pequena empresa possuem três anos de existência, ao passo que a média e grande encontram-
se no mercado há 28 e 40 anos, respectivamente.
A qualificação dos profissionais diretamente envolvidos nas atividades de P&D
parece exercer influência na ocorrência contínua ou ocasional de inovações tecnológicas. Nas
empresas de menor porte existem poucos funcionários qualificados, enquanto nas demais, a
exigência de qualificação faz parte da política de contratação.
Somente a empresa de grande porte possui um departamento formal de P&D,
com técnicos exclusivamente dedicados às atividades de inovação. As outras empresas
alocam profissionais de outras áreas para as atividades relacionadas à inovação tecnológica.
Segundo Nantes e Machado (2005), esse tipo de gestão é freqüentemente encontrado nas
empresas nacionais de alimentos e apresenta o inconveniente da equipe de projeto dividir o
tempo dedicado à inovação tecnológica com suas tarefas rotineiras.
De modo geral, os casos permitiram observar o receio das empresas em
assumir riscos mercadológicos. A micro empresa não desenvolveu novos produtos por
preferir trabalhar com aqueles que o mercado conhece e aceita, a pequena empresa prefere
não lançar produto novo para o mercado por temer que o mesmo não seja aceito, podendo
perder o investimento realizado.
Uma outra constatação está relacionada ao atual estágio das trajetórias
tecnológicas, que neste segmento conta com uma base tecnológica comum e disponível à
maioria das empresas. Nesse sentido, apenas a empresa de grande porte introduziu processo
de fabricação novo para o mercado, enquanto as demais inovaram seus produtos e processos
com tecnologia já existente.
Segundo Francis e Bessant (2005), inovar exige, além da capacidade em
gerenciar e coordenar os vários recursos internos e externos da organização, também a
capacidade em saber lidar com uma rie de paradigmas internos à organização, como
burocracia e restrição às mudanças. Nas empresas estudadas não foram observados
paradigmas organizacionais ou pessoais que pudessem impedir ou atrapalhar os processos de
inovação tecnológica. Na média empresa, alguns funcionários se apresentaram avessos às
157
mudanças em processo, porém, aqueles que não se adequaram aos novos padrões, foram
desligados da empresa.
As quatro empresas são formadas por capital predominantemente nacional e
possuem gestão familiar. Porém, esses fatores não podem ser considerados como impeditivos
ou impulsionadores do desenvolvimento das inovações tecnológicas.
5.3.1.1 Inovação em produto e processo
A literatura relata que indústria nacional de alimentos inova pouco e
preferencialmente na forma de inovações novas apenas para a empresa, mas existente no
mercado. As inovações em processo ocorrem em quantidade significativamente maior que em
produto. Os casos estudados apresentam uma realidade parcialmente diferente. As empresas
estudadas apresentaram inovação em produto, processo ou em produto e processo ao mesmo
tempo e de forma preferencial para as inovações em produto: três empresas desenvolveram
produtos novos e duas desenvolveram inovação em processo. Destas inovações, apenas um
produto e um processo se configuraram como novos para o mercado.
Dos onze novos produtos introduzidos, sete foram totalmente novos para a
empresa e quatro se enquadraram como extensão de linha de produto já existente. Apenas a
pequena empresa não realizou extensão de linha, provavelmente pelo fato da quantidade de
linhas de produto da empresa ser ainda pequena quando comparada à quantidade de linhas das
empresas maiores. No entanto, três dos novos produtos, amendoim de chocolate, amendoim
doce colorido e amendoim do tipo japonês, pertencem a uma mesma linha de produtos e,
como os processos de fabricação são exatamente iguais, a empresa pode desenvolvê-los ao
mesmo tempo, utilizando os mesmos esforços de inovação.
Apenas um produto foi totalmente novo para o mercado: o amendoim natural
com cobertura superficial de mel, desenvolvido pela grande empresa. Esse produto é resultado
de extensão de linha, portanto, a maior parte das habilidades necessárias ao seu
desenvolvimento já eram conhecidas pela empresa.
A maior ocorrência de produtos novos para a empresa em relação às extensões
de linha, se apresenta como uma característica interessante dessas empresas, pois denota
esforço em introduzir produtos diferentes, conseqüentemente, demandando maior esforço
tecnológico.
158
Também foram observados esforços internos para o desenvolvimento de novos
produtos, fato que demonstra capacidade em termos de habilidades humanas na manipulação
de recursos e conhecimento. Esse esforço se torna ainda mais significativo diante da ausência,
para a pequena e média empresa, de um departamento formal de P&D.
As inovações em processo foram desenvolvidas pelas empresas de micro e
grande porte. A principal razão para as reduzidas inovações em processo é a utilização da
tecnologia disponível e já dominada pelas empresas, mesmo para os produtos mais
inovadores.
As empresas estudadas demonstraram uma preocupação constante com o nível
tecnológico de seus processos produtivos, realizando contínuos investimentos nessa área,
independentemente do desenvolvimento de novos produtos. Esta característica havia sido
relatada na literatura, ao enfatizar que as inovações em processo nas indústrias de alimentos
têm o objetivo de permitir à empresa aumentar a produtividade e ao mesmo tempo reduzir os
custos, aumentando a competitividade no preço final do produto.
Foram quatro os novos processos introduzidos pela grande empresa, sendo um
direcionado a um produto novo com projeto ainda em andamento e outros dois para produtos
já existentes. Estes três processos são novos apenas para a empresa. O outro processo, embora
seja novo para o mercado, é resultado de uma adaptação de tecnologia previamente existente,
situação essa comum nas empresas de alimentos, cujas inovações em processo costumam
ocorrer por meio da adaptação de máquinas e equipamentos já existentes na planta.
Não foi observado nas empresas estudadas o desenvolvimento de um novo
produto em função de um novo processo desenvolvido ou de um processo aprimorado. Esta
característica demonstra que os esforços são mais direcionados ao desenvolvimento de novos
produtos. Por outro lado, observou-se o melhoramento de processos em função da aquisição
de novas máquinas, fato mais comum nas indústrias de alimentos.
As empresas estudadas afirmaram terem tido dificuldades no desenvolvimento
das inovações tecnológicas, sendo algumas delas impeditivas para a continuidade de alguns
projetos. Com exceção da micro empresa, as demais apontaram os altos custos de
investimento como sendo uma dificuldade relevante. A dificuldade para a obtenção de
financiamento foi apontada pela micro e média empresa. A rigidez organizacional foi
relevante para a pequena e média empresa, principalmente na adaptação dos funcionários às
mudanças. Quanto à adequação aos padrões, normas e regulamentação do setor, somente a
micro empresa não apresentou dificuldade. Os riscos econômicos do país se apresentaram
como sendo uma dificuldade muito relevante para as quatro empresas estudadas.
159
A micro empresa foi a que menos apresentou dificuldades, situação explicada
pelo fato de inovar pouco, enquanto a pequena empresa apresentou maiores dificuldades em
seus processos de inovação. Porém, essa empresa soube superar as dificuldades e desenvolveu
quatro produtos totalmente novos, além de ter realizado investimentos nos outros indicadores
de inovação considerados.
5.3.2 Demais indicadores de inovação tecnológica
Aquisições externas de P&D
Somente a micro empresa não apresentou participação, justificada por dois
motivos: (i) não houve desenvolvimento de novo produto, o que poderia impulsionar a
aquisição desses serviços e (ii) todas as atividades inovativas utilizaram esforço interno e
relação de cooperação com um de seus fornecedores. A pequena, média e grande empresa
adquiriam atividade externa de P&D em função do desenvolvimento de novos produtos,
inclusive produtos e processos com projetos ainda em andamento.
As aquisições externas de P&D demonstram que as empresas estudadas
possuem capacidade gerencial para superar dois grandes entraves nos processos de inovação:
falta de pessoal qualificado e falta de informação sobre tecnologia.
Aquisições de máquinas e equipamentos
Somente a média empresa não apresentou participação, pois foi possível
utilizar tecnologia de produção existente. Nas demais empresas, foram adquiridas máquinas e
equipamentos em função dos novos produtos e processos e dos projetos em andamento.
Quanto ao grau de maturidade das máquinas adquiridas, nenhuma delas pode
ser considerada como tecnologia emergente, preponderando assim, tecnologia de base (para a
pequena empresa) e tecnologia-chave (para a micro e grande empresa). Diante da grande
parcela das indústrias alimentícias nacionais que utilizam tecnologia de base em seus
processos produtivos, a aquisição de máquinas com tecnologia-chave pode ser considerada
um diferencial.
160
Treinamento
Foram realizados, nas quatro empresas estudadas, treinamentos em função dos
novos produtos e processos e das novas máquinas adquiridas. Para a pequena, média e grande
empresa, além de treinamentos diretamente destinados às inovações tecnológicas, outros de
maior abrangência também foram realizados, atingindo um maior número de funcionários de
diferentes áreas administrativas.
A realização constante de treinamentos demonstra a preocupação com a
qualificação da mão-de-obra nas áreas em que atuam e nas questões organizacionais. Os
treinamentos ajudaram as micro, pequena e média empresas a superarem dificuldades nos
processos de inovação provenientes da baixa qualificação profissional da mão-de-obra.
Introdução das inovações tecnológicas no mercado
As empresas estudadas desenvolveram esforços na forma de teste de mercado,
pesquisa de mercado e esforços de divulgação. A pequena e média empresa desenvolveram os
três tipos citados, a grande realizou pesquisa de mercado e esforços de divulgação e a micro
empresa, apenas esforços de divulgação. Observou-se que as empresas se preocupam em
desenvolver produtos que o mercado realmente queira demandar, de acordo com os hábitos e
padrões de consumo identificados. A pesquisa de mercado realizada após o lançamento,
denota preocupação com os novos produtos desenvolvidos à medida que essa técnica permite
comprovar sua efetiva aceitação pelo mercado, além da obtenção de outras informações
relevantes, como oscilação de demanda e solicitação de novos produtos. os esforços de
divulgação se configuram como um esforço efetivo para a introdução das inovações no
mercado.
A participação das empresas nesses indicadores de inovação tecnológica
demonstra significativos esforços para a inovação, cada uma dentro da sua realidade. Como
somente a pequena e a grande empresa participaram dos quatro indicadores, avalia-se que o
esforço para implementar inovações tecnológicas em produto e processo foi maior do que
para as outras duas empresas. Uma possível explicação para isso seria o fato dessas empresas
terem desenvolvido produtos novos para elas, exigindo para isso o desenvolvimento de
habilidades, conhecimento e estrutura ainda não existentes.
161
5.3.3 Cooperação para inovação
A pesquisa de campo indicou que as empresas estudadas, exceto a pequena
empresa, se apresentaram favoráveis à cooperação para inovação. A principal justificativa
apresentada pela pequena empresa para o não estabelecimento de cooperação foi a falta de
oportunidade, mesmo assim, a empresa é favorável a esse tipo de relacionamento, entende sua
importância e tem tomado atitudes para que o mesmo ocorra.
As seguintes características nas relações de cooperação foram observadas:
as relações de cooperação foram voltadas à inovação de produto e/ou processo;
as empresas consideraram as relações de cooperação como sendo muito relevantes nos
processos de inovação;
para a micro e grande empresa as relações voltadas especificamente para as inovações
foram ocasionais;
na média empresa foi observada uma relação contínua de cooperação com um
concorrente;
a micro e a grande empresa estabeleceram relações de cooperação com fornecedor;
a relação de cooperação com institutos de pesquisa foi observada na média e na grande
empresa;
a grande empresa foi a única a estabelecer relação de cooperação com um parceiro
localizado em outro país;
os objetos de cooperação para os quais as relações de cooperação se destinaram foram:
P&D em produto e processo, treinamento, assistência técnica, distribuição e ensaios
para teste de produto;
os principais benefícios obtidos com as cooperações foram: proximidade de
relacionamento com fornecedores importantes, melhoria da capacitação interna para o
desenvolvimento de atividades inovativas e melhoria da imagem no mercado,
não foram relatadas dificuldades nos relacionamentos de cooperação estabelecidos.
A literatura relata que as empresas de médio e grande porte tendem a ter maior
interesse em estabelecer relações de cooperação, em razão da maior quantidade de inovações
em produto e processo que promovem (PINTEC, 2005). Não foi possível confirmar tal
afirmação, possivelmente em virtude da amostra reduzida utilizada na pesquisa.
Conforme informações da ADIMA (2006), empresas de micro e pequeno porte
representam 76% das empresas alimentícias do município, e ao serem propensas em
162
estabelecer relacionamentos de cooperação para a inovação, cria-se um ambiente favorável à
inovação, de modo que a tendência é que essas empresas inovem com maior facilidade e
freqüência.
Mesmo contando com condições favoráveis, não foram observadas relação de
cooperação para a inovação tecnológica entre as quatro empresas estudadas, ou entre elas e
outras que não fizeram parte da amostra. A concorrente com a qual a média empresa
estabeleceu parceria na distribuição de seus produtos está localizada em outro estado.
Na verdade, essa situação havia sido constatada por um estudo realizado por
Rodrigues (2003), que concluiu que a cooperação entre as empresas do município ficou
restrita à aquisição de insumos, não se estendendo ao setor tecnológico das empresas.
Deixar de estabelecer relações de cooperação com outras organizações é o
aproveitar um potencial existente no município e que poderia contribuir para tornar os
processos de inovação mais freqüentes, dinâmicos e com menores custos.
Com outros possíveis parceiros, como clientes e consumidores, universidades,
centros de capacitação profissional e assistência técnica, também não foram observadas
relações de cooperação para inovação. O município estudado é muito bem servido de
universidades e centros de capacitação profissional, com cursos voltados aos diversos setores
da gestão da produção, porém, observou-se um grande distanciamento entre estes e as
empresas estudadas.
Os principais motivos alegados foram: (i) falta de necessidade, pois foi
possível obter dos outros parceiros as mesmas informações; (ii) distanciamento, alegando que
estes parceiros, principalmente as universidades e centros de capacitação profissional, nunca
procuraram as empresas com propostas realmente viáveis; (iii) falta de informação sobre os
reais benefícios que estes parceiros poderiam fornecer num processo de cooperação e, (iv)
falta de confiança, uma vez que as empresas têm receio que os segredos tecnológicos gerados
pela cooperação sejam difundidos no município.
Para que a cooperação seja efetivamente promovida no município, é importante
determinar claramente qual parte ficará com o domínio da inovação resultante da cooperação
e as empresas terem predisposição e flexibilidade para a troca de idéias e habilidades. De
qualquer modo, as empresas estudadas têm consciência que a cooperação facilita a
transferência de conhecimento entre as organizações.
163
5.4 Ações para dinamização das inovações tecnológicas
Muito embora as empresas tenham desenvolvido significativas atividades de
inovação em produto e processo, ainda procedimentos internos a serem melhorados para
que as inovações ocorram em maior quantidade e freqüência. Nesse sentido, sugere-se
algumas ações para a dinamização das inovações tecnológicas dessas empresas:
qualificação profissional dos funcionários: poderia ser obtida com a realização mais
freqüente de treinamentos internos e com a concessão de bolsas de estudos para os
funcionários que realizassem cursos nas áreas em que atuam. Uma outra possibilidade
é o desenvolvimento de uma política interna de recursos humanos que privilegie a
contratação de funcionários minimamente qualificados. A micro empresa poderia
obter profissionais mais qualificados por meio de uma parceria com as instituições de
ensino do município, concedendo vagas de estágio ou estimulando a realização de
pesquisas aplicadas na empresa, aumentando o contato entre os estudantes dessas
instituições e seus funcionários;
departamento formal de P&D: em razão das dificuldades financeiras da micro
empresa e por desenvolver um número reduzido de produtos, a empresa poderia
utilizar uma parceria com as instituições de ensino e pesquisa do município e região,
como forma de inovar utilizando recursos externos à baixo custo. A pequena e média
poderiam aproveitar a estrutura interna existente para o controle de qualidade e
expandir sua atuação para atividades de P&D;
testes externos de mercado: a percepção dos consumidores sobre os novos produtos
diminui o risco de fracasso no lançamento. Esta estratégia ainda é pouco utilizada;
pesquisa de mercado e esforços de divulgação: mesmo quando novos produtos não
são desenvolvidos, estas ações permitem reforço da imagem da empresa e da marca;
política de desenvolvimento de recursos humanos: seja formal ou informalmente, os
funcionários precisam ser sempre conscientizados da importância de novas atitudes
profissionais que favoreçam as atividades de inovações,
cooperação para a inovação: a aproximação das empresas com as instituições
públicas e privadas do município precisa ser estimulada. Instituições como Sebrae,
Senai, Universidades, Adima, Ciesp, estão preparadas para auxiliar as empresas do
município nas suas escolhas tecnológicas. Dessa forma, muitas dificuldades poderiam
ser superadas mais facilmente e em menor tempo.
164
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
O atual cenário empresarial, no qual novos padrões de competitividade foram
estabelecidos, tem forçado as empresas a procurarem novas formas de atuação para sobreviver
no mercado. Entre as inúmeras formas, destacam-se aquelas que privilegiam o
desenvolvimento de inovações tecnológicas e o estabelecimento de relações de cooperação
entre diversos parceiros.
Para a indústria de alimentos, a realidade é a mesma. Atualmente, esse
segmento tem sido fortemente influenciado por fatores como a necessidade de lançamento de
novos produtos, segmentação de mercado com alimentos da linha light e diet, diferenciação
de produtos apresentando novos sabores, formatos e funções, disputa de espaço no mercado
devido à forte concorrência, novas embalagens, que além de conterem as informações
exigidas pela legislação, atuam como um atrativo para o consumidor no momento da compra.
Observam-se também, mudanças nos produtos, nos processos de fabricação e
na forma de organização das empresas, assumindo grande importância em razão da
capacidade de discernimento dos consumidores quanto à qualidade, valor, aparência e
funcionalidade dos produtos que adquirem.
Por esses motivos, a inovação tecnológica neste segmento tem se tornado cada
vez mais importante, pois as novas tecnologias, além de serem capazes de fornecer produtos
que o mercado deseja, têm o objetivo de garantir a segurança do alimento durante o processo
de produção e no seu estado de produto final, pronto para consumo.
Além de competências internas necessárias para o desenvolvimento de
inovações em produto e processo uma outra forma encontrada pelas empresas desse segmento
para superar as dificuldades e tornarem-se mais inovadoras é a inserção em arranjos
cooperativos. Isto ocorre, principalmente, pelo fato de não possuírem todos os recursos
necessários ou porque desejam reduzir os riscos associados à inovação.
Perante este contexto, neste trabalho foi estudado como ocorre o processo de
inovação tecnológica de produto e processos em empresas alimentícias do município de
Marília/SP, através caracterização e análise dos esforços para a inovação tecnológica e das
relações de cooperação para inovação realizados por estas empresas, e quais são os efeitos
resultantes desse processo.
Pode-se notar que os processos de inovação dessas empresas ocorrem em
produto e processo, com prevalência de inovação em produto e, entre estes, produtos que são
165
novos para a empresa, mas já existentes no mercado. Como forma de superar as dificuldades
internas, foram estabelecidas relações de cooperação com diferentes parceiros, destinados à
P&D em produto e processo, treinamento, assistência técnica, distribuição de produtos e
ensaios para teste de produto. Os efeitos resultantes possibilitaram às empresas aumento da
competitividade, obtidos com a melhoria na utilização dos recursos internos de produção e
com a melhoria da imagem de seus produtos no mercado.
Dentre as principais contribuições deste trabalho, destacam-se:
definição do atual padrão de inovação tecnológica de produto e processo das empresas
estudadas, apresentando um diagnóstico em cada um dos cinco indicadores
considerados e da cooperação para inovação;
verificação da existência de iniciativas internas e busca de conhecimentos externos à
empresa direcionadas a alavancar os processos de inovação por elas desenvolvidos;
enumeração das principais vantagens e dificuldades oriundas dos processos de
inovação;
discussão das oportunidades não aproveitadas pelas empresas nos processos de
cooperação e a exposição das vantagens que essas oportunidades poderiam oferecer;
proposição de um elenco de atitudes, específicas a cada uma das empresas, que podem
ser tomadas para superar as dificuldades e existentes e se tornarem mais capacitadas e
dinâmicas no desenvolvimento interno de inovações;
levantamento de informações que podem auxiliar a gestão dos processos de inovação
tecnológica de produtos e processos dessas empresas;
discussão de como as variáveis mercado de atuação, orientação exportadora e
estratégia de posicionamento podem impulsionar ou não o desenvolvimento de
inovações tecnológicas;
possibilidade dessas informações serem utilizadas por outras empresas alimentícias,
ou outros órgãos ligados ao segmento, do município de Marília/SP,
sistematização da bibliografia dos assuntos relacionados ao estudo: inovação
tecnológica, cooperação para inovação, indústria de alimentos, inovação tecnológica e
cooperação para inovação na indústria de alimentos.
Espera-se, assim, que este trabalho tenha contribuído para auxiliar as empresas
estudadas a melhorarem suas gestões internas de inovação, tornando-as mais dinâmicas e
competitivas no mercado. Espera-se, também, que outras empresas alimentícias do município
possam se beneficiar da difusão dos resultados e propostas expostos neste trabalho.
166
6.1 Limitações da pesquisa
Uma primeira limitação a ser destacada refere-se ao número de empresas
utilizado na amostra. Não foi possível atingir um número maior em razão do tempo reduzido
constante no cronograma de execução da dissertação. Por essa razão, e também pelo método
de pesquisa utilizado, não como generalizar os resultados obtidos para as demais empresas
do município, tampouco para outras regiões, mesmo para as empresas do mesmo segmento e
que utilizam matérias-primas semelhantes.
Outra limitação está no fato de algumas informações terem sido omitidas pelas
empresas. Em algumas questões do questionário, elas preferiram fornecer respostas mais
genéricas, não revelando detalhes, fato compreensível e freqüente nesse tipo de pesquisa.
6.2 Sugestões para pesquisas futuras
Diante das limitações apresentadas é importante que estudos futuros possam
complementar os resultados obtidos na presente pesquisa. Algumas sugestões para trabalhos
futuros são os seguintes:
realizar estudos em um número maior de empresas do município e fabricantes de
outros tipos de produtos alimentícios;
estender os objetivos da pesquisa para empresas de outros segmentos industriais;
avaliar a relação entre os fornecedores e as empresas alimentícias na inovação de
produtos e processos;
identificar a relação estabelecida entre os centros de capacitação profissional, a
assistência técnica, os institutos de pesquisa e as empresas alimentícias na inovação
de produtos e processos;
comparar empresas de diferentes portes, identificando de que forma o porte da
empresa pode favorecer ou dificultar os processos de inovação tecnológica;
comparar empresas do mesmo porte, verificando se há, entre estas, a utilização de
estratégias inovativas distintas,
comparar empresas de capital nacional e de capital estrangeiro nos processos de
inovação tecnológica.
167
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177
APÊNDICE
A
13
13
Questionário de pesquisa elaborado com base na PINTEC (2005) e adaptado pela autora.
178
Identificação do Entrevistado
Cargo: _______________________________________________________________________________
Área de atuação (departamento)___________________________________________________________
Grau de instrução_______________________________________________________________________
Dados da Empresa
Razão social:____________________________________ Tempo de existência: _________________anos
Nº de funcionários: _________________ Gestão: ( ) familiar ( ) patronal ( ) outro______________
Principal mercado de atuação nos últimos 3 anos:
( ) local ( ) estadual ( ) outros países___________________
( ) regional ( ) nacional
Linhas de produtos da empresa:
Produto Mercado alvo
Estratégia de
posicionamento
Participação nas
vendas (% do
faturamento)
Breve descrição do produto mais importante em termos de faturamento:
____________________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________________
Indicadores de Inovação Tecnológica
Indicador 1: Atividades Internas de P&D
1) A empresa realizou alguma atividade interna de P&D, como desenvolvimento de novos produtos e
processos, nos últimos 3 anos?
( ) sim ( ) não
2) Se SIM, qual: ________________________________________________________________________
2.2) As atividades de P&D realizadas neste período foram: ( ) contínuas ( ) ocasionais
Comentário:___________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________________
3) Se NÃO, por que?
_____________________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________________
4) Número de pessoas normalmente ocupadas nas atividades de P&D:
nível de qualificação número de funcionários cargo
mestres/doutores
especialistas
graduados
técnicos de nível médio
sem qualificação
179
Inovação de Produto
5) Nos últimos 3 anos, a empresa introduziu algum produto novo ou aperfeiçoado para a empresa, mas
existente no mercado?
( ) sim ( ) não
5.1) Se SIM, quantos? _______________Quais? _______________________________________________
6) Nos últimos 3 anos, a empresa introduziu algum produto novo ou aperfeiçoado não existente no
mercado?
( ) sim ( ) não
6.1) Se SIM, quantos? _______________Quais? ______________________________________________
7) Breve descrição do principal produto novo ou aperfeiçoado:
_____________________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________________
8) Quem desenvolveu esta inovação e onde se localiza? Brasil Exterior
( ) a empresa [ ]
( ) outra empresa do grupo [ ]
( ) a empresa em cooperação com
outras empresas ou institutos [ ] [ ]
( ) outras empresas ou institutos [ ] [ ]
9) Os novos produtos desenvolvidos pela empresa:
( ) utilizam novas matérias-primas ou ingredientes
( ) melhoraram a qualidade técnica, a funcionalidade e o desempenho do processo produtivo
( ) implicaram na compra de novas máquinas e equipamentos
( ) são uma adaptação de produto desenvolvido por outras empresas
( ) usam tecnologia radicalmente nova
10) Indique qual a relevância para a empresa (muito relevante, relevante, média, pouco relevante,
irrelevante) da introdução dos produtos novos ou aperfeiçoados no mercado:
itens relevância breve descrição do item
melhoria na qualidade
ampliação do número de
produtos ofertados
abertura de novos mercados
aumento do faturamento
redução dos custos de produção
11) Como os produtos novos ou aperfeiçoados foram testados?
_____________________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________________
12) Quais dificuldades a empresa encontrou para o lançamento dos produtos novos ou aperfeiçoados?
_____________________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________________
Inovação de Processo
13) Nos últimos 3 anos, a empresa introduziu algum processo novo ou aperfeiçoado para a empresa, mas já
existente no mercado?
( ) sim ( ) não
13.1) Se SIM, quantos? _______________Quais? _____________________________________________
14) Nos últimos 3 anos, a empresa introduziu algum processo novo ou aperfeiçoado não existente no
mercado?
( ) sim ( ) não
180
14.1) Se SIM, quantos? _______________Quais? _____________________________________________
15) Breve descrição do principal processo novo ou aperfeiçoado:
_____________________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________________
16) Quais razões impulsionaram a introdução do processo novo ou aperfeiçoado?
( ) desenvolvimento de um novo produto
( ) necessidade de aumento da capacidade produtiva
( ) necessidade de adaptação à exigências do mercado
( ) necessidade de adaptação à exigências legais
( ) outras_____________________________________________________________________________
17) Quem desenvolveu esta inovação e onde se localiza? Brasil Exterior
( ) a empresa [ ]
( ) outra empresa do grupo [ ]
( ) a empresa em cooperação com
outras empresas ou institutos [ ] [ ]
( ) outras empresas ou institutos [ ] [ ]
18) As inovações em processo:
( ) implicaram na compra de máquinas e equipamentos
( ) alteraram os processos de produção até então existentes
( ) exigiram em mudanças organizacionais físicas/estruturais e/ou de gestão
( ) são adaptações de processo desenvolvidos no exterior
( ) são tecnologias de produção radicalmente novas
19) Indique qual a relevância para a empresa (muito relevante, relevante, média, pouco relevante,
irrelevante) da introdução dos processos novos ou aperfeiçoados:
itens relevância breve descrição
aumento da capacidade produtiva
aumento da flexibilização da
produção
aumento da velocidade da
produção
redução dos custos de mão-de-
obra
redução do consumo de matéria-
prima
redução de outros custos
20) Quais dificuldades a empresa encontrou para a introdução dos processos novos ou aperfeiçoados?
_____________________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________________
Projetos em Andamento ou Abandonados
21) A empresa tem algum projeto em andamento para desenvolver produto ou processo novo ou
aperfeiçoado?
( ) sim ( ) não
Se SIM, qual?__________________________________________________________________________
21) A empresa realizou algum projeto para desenvolver produto ou processo novo ou aperfeiçoado que foi
abandonado?
( ) sim ( ) não
Se SIM, qual foi o motivo?________________________________________________________________
22) Qual tempo médio a empresa necessita para desenvolver um novo produto ou processo?
_____________________________________________________________________________________
181
Dificuldades à Inovação
23) Nos últimos 3 anos, a empresa encontrou dificuldades para implementar projetos de inovação de
produto e/ou processo?
( ) sim ( ) não
23.1) Se SIM, assinale quais fatores dificultaram a inovação e qual a sua relevância:
relevância
fatores
muito
relevante
relevante média
pouco
relevante
irrelevante
custos elevados de inovação
dificuldade de financiamento
rigidez organizacional
falta de pessoal qualificado
falta de informação sobre tecnologia
falta de informação sobre mercados
falta de cooperação com outras
empresas/instituições
dificuldade para se adequar a padrões,
normas e regulamentações
fraca resposta dos consumidores quanto a
novos produtos
escassez de serviços técnicos adequados
riscos econômicos excessivos
Indicador 2: Aquisições Externas de P&D
24) Nos últimos 3 anos, a empresa adquiriu alguma atividade externa de P&D?
( ) sim ( ) não
24.1) Se SIM, qual?
( ) produto ( ) processo ( ) ambos
25) Qual a relevância da aquisição externa de P&D:
( ) muito relevante ( ) relevante ( ) média ( ) pouco relevante ( ) irrelevante
26) As aquisições externas de P&D foram:
( ) contínuas ( ) ocasionais
Comentário: ___________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________________
27) Que benefícios trouxe esta atividade ?
_____________________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________________
28) Quem desenvolveu esta inovação e onde se localiza? Brasil Exterior
( ) a empresa [ ]
( ) outra empresa do grupo [ ]
( ) a empresa em cooperação com
outras empresas ou institutos [ ] [ ]
( ) outras empresas ou institutos [ ] [ ]
29) Breve descrição da principal atividade de P&D adquirida externamente:
_____________________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________________
30) Por que a empresa preferiu adquirir atividades externas de P&D ao invés de desenvolvê-las
internamente?
_____________________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________________
182
Indicador 3: Aquisição de Máquinas e Equipamentos
31) Nos últimos 3 anos, a empresa adquiriu máquinas e equipamentos?
( ) sim ( ) não
31.1) Se SIM, quais e por quais motivos?
_____________________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________________
32) A aquisição foi feita no Brasil ou no exterior?_______________________________________________
33) Qual a relevância da aquisição destas máquinas e equipamentos?
( ) muito relevante ( ) relevante ( ) média ( ) pouco relevante ( ) irrelevante
34) As aquisições realizadas foram:
( ) contínuas ( ) ocasionais
Comentário: ___________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________________
35) As aquisições de máquinas e equipamentos exigiram:
itens sim/não descreva e exemplifique
mudanças no espaço físico
alteração no processo de
produção
capacitação dos funcionários
mudanças nos padrões de
qualidade
mudanças nos procedimentos de
trabalho
36) Breve descrição das principais vantagens obtidas com as aquisições:
_____________________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________________
Indicador 4: Treinamento
37) Nos últimos 3 anos, a empresa teve necessidade de realizar treinamentos com os funcionários em
decorrência das inovações ocorridas?
( ) sim ( ) não
37.1) Se SIM, qual a finalidade destes treinamentos?
_____________________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________________
38) Qual a relevância dos treinamentos realizados?
( ) muito relevante ( ) relevante ( ) média ( ) pouco relevante ( ) irrelevante
39) Os treinamentos desenvolvidos foram:
( ) internos a empresa ( ) externos a empresa. Por que?________________________________
39.1) Se, internos a empresa, foram desenvolvidos por:
( ) funcionários da empresa ( ) pessoal contratado. De onde?___________________________
40) Breve descrição dos tipos de treinamentos realizados, para quais departamentos e os principais
benefícios obtidos:
_____________________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________________
183
Indicador 5: Introdução das Inovações Tecnológicas no Mercado
41) Nos últimos 3 anos, a empresa realizou esforços para a introdução de inovações tecnológicas no
mercado?
( ) sim ( ) não
41.1) Se SIM, quais tipos de esforços foram realizados para a introdução de inovações tecnológicas no
mercado?
( ) pesquisa de mercado ( ) teste de mercado ( ) esforços de divulgação ( ) outros
Descreva e exemplifique:
_____________________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________________
41.2) Qual a abrangência destes esforços?
( ) local ( ) estadual ( ) outro_________________________
( ) regional ( ) nacional
42) Qual a relevância dos esforços realizados?
( ) muito relevante ( ) relevante ( ) média ( ) pouco relevante ( ) irrelevante
43) Os esforços para a introdução de inovações tecnológicas foram:
( ) contínuos ( ) ocasionais
Comentário: ___________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________________
43) Indique qual a relevância para a empresa (muito relevante, relevante, média, pouco relevante,
irrelevante) da introdução das inovações tecnológicas no mercado, nos seguintes itens
itens relevância comentário
manutenção no mercado
ampliação da participação no mercado
abertura de novos mercados
44) Ocorreram mudanças na percepção dos clientes quanto a imagem da empresa e de seus produtos?
( ) sim ( ) não
44.1) Se SIM, quais foram as principais mudanças?
_____________________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________________
Cooperação para a Inovação
45) Nos últimos 3 anos, a empresa desenvolveu algum tipo de cooperação com outra(s) organização(ões)
para facilitar as atividades de inovação:
( ) sim ( ) não
45.1) Se NÃO, quais são as principais razões da empresa não desenvolver relações de cooperação?
Exemplo: falta de informação, falta de incentivo, desconfiança, falta de necessidade, entre outros.
_____________________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________________
45.2) Se SIM, indique quais foram os parceiros e os objetos de cooperação:
Objetos de cooperação:
1. P&D
2. Assistência técnica
3. Treinamento
4. Desenho industrial
5. Ensaio para teste de produto
6. Outras atividades de cooperação
184
objeto de cooperação
parceiro
1 2 3 4 5 6 7
clientes ou consumidores
fornecedores
concorrentes
empresas do grupo
universidades e institutos de
pesquisa
centros de capacitação profissional
e assistência técnica
empresas de consultoria
45.3) Quais foram os principais benefícios gerados com estas relações de cooperação para inovação?
_____________________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________________
45.4) Quais foram as principais dificuldades encontradas no estabelecimento destas relações de
cooperação para inovação?
_____________________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________________
46) Indique a relevância de cada categoria de parceiro e a localização do mesmo em cada categoria:
Localização:
1. mesma cidade
2. mesmo estado
3. outro estado
4. outros países
relevância
parceiro
muito
relevante
relevante média
pouco
relevante
irrelevante
localização
clientes ou consumidores
fornecedores
concorrentes
empresas do grupo
universidades e institutos
de pesquisa
centros de capacitação
profissional e assistência
técnica
empresas de consultoria
47) Algum tipo de cooperação estabelecido pela empresa não deu certo?
( ) sim ( ) não
47.1) Se SIM, por que?
____________________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________________
48) Na opinião da empresa, o que é necessário para estimular a cooperação entre as empresas e outras
instituições?
____________________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________________
185
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