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enunciados do próprio discurso e das relações, desses, com outros discursos, ou seja,
relações do interdiscurso.
As expressões metafóricas, em questão, são chamadas de enunciados metafóricos,
porque como enunciados permitem que “as unidades de signos apareçam com conteúdos
concretos no tempo e no espaço” MACHADO (1981), e são metafóricos porque o processo
da referenciação se dá de maneira indireta, exigindo a ativação da memória discursiva, ou
seja, refere-se a um signo querendo referir-se a outro, explicita a relação interdiscursiva e
instiga o ouvinte a atuar de maneira cooperativa.
Essa memória discursiva é resultante da experiência de cada indivíduo, que ao
ouvir e produzir enunciados diversos, através das articulações das práticas discursivas,
apreende e aprende saberes, regras sociais, jogos estratégicos de linguagem, o valor do
poder da palavra e da luta por seu controle.
No excerto do discurso presidencial, abaixo, encontram-se traços das relações
discursivas construídas pelo locutor e, provavelmente, compreendida pelo ouvinte.
Hoje estava andando com a Marisa – o Palocci não foi – e tem um monte de pé de
jabuticaba lá [no Palácio da Alvorada]. Estou desde janeiro naquela casa e a
gente vai no pé de jabuticaba e nunca tem jabuticaba, está sempre sem flor,
porque Brasília é muito seca, e o sol bebe a água antes de ela chegar na raiz. E
todo mundo sabe que jabuticaba precisa de água e sol. Colocamos lá um
gotejamentozinho. Hoje fomos lá e acho que daqui alguns dias eu vou encher
vocês de jabuticaba, porque tem muita jabuticaba que vai dar. Está acontecendo
com o pé de jabuticaba e que vai acontecer com este país, está acontecendo com o
meu pé de jabuticaba o que vai acontecer na economia nacional. No Brasil, tem
um tipo de gente tão pessimista, que acho que nem filhos eles podem ter. Primeiro
porque não têm tempo de esperar o período de fertilidade da mulher, depois
porque não tempo de esperar nove meses para nascer, depois porque não têm
tempo de esperar um ano para aprender a falar papai, então ‘já que demora muito,
eu não vou ter’. Eu e a Marisa somos otimistas, enchemos a casa
(Discurso do
presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, na reunião do Conselho de
Desenvolvimento Econômico e Social, Brasília, 04/09/03.( ANEXO V:39).
A relação do enunciado metafórico com os demais enunciados não se encontra
explicitada no texto, mas é estabelecida a partir da ativação da memória discursiva do