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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS
CENTRO DE CIÊNCIAS EXATAS E TECNOLÓGICAS
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA DE PRODUÇÃO
ADOÇÃO DA TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO NA PECUÁRIA DE CORTE
João Guilherme de Camargo Ferraz Machado
SÃO CARLOS
2007
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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS
CENTRO DE CIÊNCIAS EXATAS E TECNOLÓGICAS
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA DE PRODUÇÃO
ADOÇÃO DA TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO NA PECUÁRIA DE CORTE
João Guilherme de Camargo Ferraz Machado
Orientador: Prof. Dr. José Flávio Diniz Nantes
SÃO CARLOS
2007
Tese apresentada ao Programa de
Pós-Graduação em Engenharia de
Produção da Universidade Federal de
São Carlos, como parte dos requisitos
para obtenção do título de Doutor em
Engenharia de Produção.
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Ficha catalográfica elaborada pelo DePT da
Biblioteca Comunitária/UFSCar
M149at
Machado, João Guilherme de Camargo Ferraz.
Adoção da tecnologia da informação na pecuária de corte
/ João Guilherme de Camargo Ferraz Machado. -- São
Carlos : UFSCar, 2007.
216 f.
Tese (Doutorado) -- Universidade Federal de São Carlos,
2007.
1. Uso de tecnologia (Administração da produção). 2.
Adoção de tecnologia. 3. Comportamento do consumidor. 4.
Administração rural. 5. Pecuária de corte. 6. Tecnologia da
informação. I. Título.
CDD: 658.514 (20
a
)
~
",,/
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA DE PRODUÇÃO
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO
Rod. Washington Luís, Km. 235 - CEPo 13565-905 - São Carlos - SP - Brasil
Fone/F ax: (O16) 3351-8236 I 3351-8237 13351-8238 (ram ai: 232)
FOLHA DE APROVAÇÃO
Aluno(a):João Guilherme de Camargo Ferraz Machado
TESE DE DOUTORADODEFENDIDAE APROVADAEM 10/05/2007 PELA
COMISSÃOJULGADORA:
,~~
Prot. DeoJé FlávioDinizNantes
Orientador(a) PPGEP/UFSCar
J2~ÚÃ~/
Prof3 Dr3Rosane Lúcia Chicarelli Alcântara
PPGEP/UFSCar
~J
Prof3Dr3Andrea La~ilva
PPGEP/UFSCar
Prol" DI' ~ ~SpagnOliGeraldo Martin.
FCAV/UNESP-Jaboticabal
JJ~ Jl ~.
rr~t Dr.Marcós Auréli~~op~s
DMV/UFLA
Prot. Dr.A
I'
Coorden
“Completou-se uma jornada.
Chegar é cair na inércia de um ponto final.
Na euforia da chegada, porém,
há um convite irrecusável
para uma nova partida”.
Helena Kolody
3
AGRADECIMENTO
Essas palavras foram pensadas durante minha viagem a São Carlos, na véspera da
defesa. Durante as quatro horas em que estive viajando, foi inevitável “rever o filme” da minha
trajetória na pós-graduação. Quando cheguei, há uns 7 anos, fui acolhido pelo Prof. José Flávio
Diniz Nantes, uma pessoa muito especial, hoje meu amigo, que dedicou parte da sua vida para me
passar conhecimentos teóricos, fundamentais para o desenvolvimento da dissertação de mestrado
e, agora, dessa tese. Como orientador, também me ensinou valores éticos, me apoiou, me ouviu e
me indicou caminhos, contribuindo muito para a minha formação profissional e pessoal.
Ao longo desses anos, outros nomes contribuíram para meu desenvolvimento
profissional e pessoal, alguns de forma mais direta. Por isso, quero registrar aqui o meu
agradecimento aos Professores do DEP Alessandra, Caju, Furquim, Hildo, Luiz Fernando,
Marcelo, Mian, Moacir, Roberto e Toledo. Deixei por último os professores Andréa, Batalha
e Rosane, que acompanharam o desenvolvimento da tese, numa convivência mais próxima,
com conversas, desabafos, cafés e cervejas.
Minha ida para Tupã, no início de 2004, com a missão de construir uma nova escola
e disseminar os conhecimentos teóricos e valores aprendidos, tem sido, desde então, muito
gratificante. Nesses aproximadamente três anos juntos formamos uma grande família, que se apóia
em busca de um mesmo ideal. Por isso, quero agradecer a todos os colegas da UNESP-Tupã, por
me ajudarem a escrever essa história e pelos momentos em que precisei me ausentar: Allan,
Alessandra, André, Daniel, Danilo, Dedé, Deise, Elias, Giba, Isao, Ivone, Leonardo, Marcelo,
Ricardo, Seu Roberto, Sandra, e os importados de São Carlos, Andréa, Ferenc e Sandra, Gessuir e
Giuliana, Timóteo, Wagner e Ana, que me fazem sentir como se não tivesse deixado a UFSCar.
Desse grupo, preciso destacar algumas pessoas: o amigo André que, juntamente
com as alunas Camila e Nárima, dedicaram boa parte de um sábado, para me ajudar com os
questionários da pesquisa de campo, e outras duas alunas, Diana e Iraci, que me ajudaram na
transcrição das 17 horas de entrevistas; o companheirismo do Timóteo na viagem ao Pantanal (parte
dos 5.000 km percorridos), nas noitadas e cervejadas, importantes momentos para reorganizar as
idéias e seguir em frente na jornada; a acolhida do Gessuir e Giuliana, que me receberam de braços
abertos quando cheguei a Tupã, ofereceram seus ombros quando precisei e estão presentes em todos
os momentos; a companhia da Andréa, por dividir a sala comigo, me confortando quando preciso e
acompanhando boa parte do meu dia-a-dia, o que nos garante boas risadas; e as meninas do 73,
Deise e Sandra (essa sempre pronta a me ensinar estatística), companheiras de muitas noitadas.
4
Não posso deixar de destacar a importância dos professores Andréa Lago da Silva
(UFSCar), Rosane Lúcia Chicarelli Alcântara (UFSCar), Maria Inez Espagnoli Geraldo Martins
(UNESP-Jaboticabal) e Marcos Aurélio Lopes (UFLA), pelas valiosas sugestões apresentadas na banca.
Agradeço também, aos amigos do GEPAI, por cada momento vivido junto. Nesse
período de convívio, apoio e ausências, destaco os colegas (e dinossauros) Carla e Fabiana, duas
inseparáveis amigas, responsáveis por ouvir muitos de meus desabafos e me confortarem, mesmo que
pelo Skype; Flaviane, Guilherme, Taís, Márcia, Mariângela, Melise, Vivian e Adriano. Mesmo não
sendo do GEPAI, mas sempre presentes nos cafés e confraternizações, Eduard, Mergulhão e Zuin.
Não poderia esquecer os amigos de São Carlos, que na medida do possível,
dada a minha grande ausência, estavam a par dos acontecimentos: Ary, Guilherme e Denise,
Luciano, Luis, Rafael e Paula.
Aproveito a oportunidade de agradecer a paciência e o apoio, nos momentos de
ausência e de conflitos, dos meus pais, Lilia, por ser a pessoal mais especial desse mundo, em
todos os sentidos, e Eloy, por ter sido o responsável por minha escolha profissional. A vocês
dois, dedico essa conquista.
Não menos importantes, meus irmãos Eloy, Carlos e Guta, minhas cunhadas
Denise e Ana, meus sobrinhos Gustavo, Carina e Luisa, meus compadres Fernanda e Rafael,
meu afilhado Fernando e o pequeno Leonardo.
Esse trabalho contou com o apoio imprescindível de algumas empresas e
instituições. Por isso, agradeço aos amigos Rafael e Luciano, que colocaram a Empresa Cubo
Multimídia à disposição para o desenvolvimento do site e do formulário eletrônico da pesquisa, e ao
colega André Locatelli, que abriu as portas da Associação dos Criadores de Nelore do Brasil –
ACNB, disponibilizando o site e o informativo institucional para contato com os associados.
Agradeço, também, a prontidão e disponibilidade dos pecuaristas e
administradores que responderam a pesquisa e, em especial, àqueles que me receberam em
suas propriedades para a execução da pesquisa de campo.
Estendo meus agradecimentos à Raquel e ao Thiago, da secretaria de pós-
graduação, pela dedicação e seriedade com que sempre me ajudaram, principalmente quando
a distância tornava as tarefas mais complexas.
Agradeço ao apoio da Pró-Reitoria de Pós-Graduação da UNESP, que me
concedeu um auxílio para os intermináveis deslocamentos Tupã – São Carlos – Tupã.
Por fim, gostaria de agradecer, de forma especial, duas pessoas, por fazerem
parte da minha vida: o Prof. Elias Simon (Coordenador Executivo da UNESP-Tupã), por se
tornar um grande amigo e companheiro das pizzas de quarta-feira, momentos em que sempre
5
me apoiou, incentivou, transmitiu conhecimentos e valores, contribuindo sobremaneira com
minha formação profissional e pessoal; e a Deise, amiga de grandes qualidades e valores,
companheira de todos os dias e das comidas e cachaças, talvez a pessoa que mais esteve ao
meu lado durante esse período, acompanhado meus momentos de alegria e tristeza, desabafos
e conquistas, incentivando (e cobrando) o fim da tese.
A todos vocês (e àqueles que porventura eu tenha me esquecido) o meu eterno
agradecimento, porque vocês fizeram, fazem e farão sempre parte da minha história.
6
RESUMO
“ADOÇÃO DA TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO NA PECUÁRIA DE CORTE”
A Tecnologia da informação (TI) começa a ganhar espaço no dia-a-dia do produtor, mudando a
maneira como os pecuaristas administram suas propriedades. A TI afeta a gestão do negócio, ao
facilitar a busca, o acesso, o armazenamento e a disseminação de informações, favorecendo a
tomada de decisão. Além dos softwares e portais sobre o agronegócio, a TI inclui dispositivos
eletrônicos para armazenamento de informações sanitárias, nutricionais e genéticas; canais de
televisão e estrutura de telecomunicações. O objetivo desse trabalho foi estudar o uso e a
difusão da TI na pecuária de corte, a partir de fatores que influenciaram a adoção; descrever
recursos, procedimentos e ações necessárias para o funcionamento da mesma; segmentar os
empreendimentos rurais a partir do nível tecnológico; e elaborar propostas para intensificar o
uso da TI na atividade pecuária. A pesquisa foi realizada em duas fases: uma quantitativa e
outra qualitativa. Na primeira, foi realizado um levantamento do tipo survey com produtores,
buscando informações acerca das diferentes tecnologias adotadas e das atitudes em relação às
mesmas, possibilitando identificar o grau de inovatividade dos produtores e agrupá-los pela
semelhança da postura tecnológica. A segunda analisou experiências, opiniões e perspectivas a
respeito da tecnologia integrada ao sistema produtivo de duas propriedades em cada categoria,
totalizando dez estudos de caso, a partir de entrevistas pessoais. Os resultados proporcionaram
entendimento sobre os motivos da adoção ou rejeição de uma determinada TI pelos produtores,
permitindo identificar as razões para alguns produtores adotarem mais rapidamente que outros.
Foi possível entender as alterações ocorridas na organização rural por ocasião da implantação
dessas tecnologias, observando-se, por exemplo, um avanço nas práticas gerenciais a partir da
adoção e uso da TI. De um modo geral, os processos foram aprimorados e facilitados, com
reflexos positivos em várias áreas da propriedade, incluindo recursos humanos e a imagem do
empreendimento no mercado.
Palavras-chaves: Adoção de tecnologia, comportamento do consumidor, gestão do
empreendimento rural, pecuária de corte, tecnologia da informação.
7
ABSTRACT
“ADOPTION OF INFORMATION TECHNOLOGY IN BEEF CATTLE BREEDING”
Information Technology (IT) starts to play an important role in the day-by-day, changing the
way the cattlemen manage their properties. IT affects business management as it allows for
search, access, storage and dissemination of information, improving the decision-making
process. Besides softwares and agribusiness websites, IT includes electronic devices for
storage of sanitary, nutricional and genetic information; television channels and
telecommunications’ structure. This research aimed to study the use and the diffusion of IT in
the beef cattle breeding, from the analysis of the factors that have influenced its adoption; to
describe resources, procedures and necessary actions for IT operation; to segment (classify)
rural enterprises by their technological level; and to elaborate suggestions to intensify the IT
uses in the cattle breeding business. The research was performed in two stages, quantitative
and qualitative. In the first stage, a survey with producers was performed. Information
concerning the different technologies adopted and the attitudes taken with IT, enabled to
identify the level of innovativeness of producers. It was possible to classify them by the
similarities of the technological position. The second stage analyzed experiences, opinions
and perspectives regarding the technology integrated to the productive system. Two properties
were analyzed by each category, totalizing ten case studies, by personal interviews. The
results indicated the reasons of the adoption or rejection of a certain IT by the producers,
allowing for the identification of the reasons why some producers have adopted it more
quickly than others. It was possible to understand the modifications in the rural organization
due to IT adoption, as, for example, improvement in managerial skills. Altogether, the
processes have been improved and became easier, with positive consequences in several
areas, including human resources and the enterprise’s image in the market.
Keywords: Adoption of technology, beef cattle breeding, consumer’s behavior, farm
management, information technology.
8
LISTA DE QUADROS
QUADRO 2.1 – Padrão de comportamento cultural baseado em vantagens
comparativas e competitivas .......................................................... 34
QUADRO 2.2 – Principais canais de televisão e programas disponíveis aos
produtores ...................................................................................... 70
QUADRO 2.3 – Comparação dos principais aspectos entre balanças mecânica e
eletrônica ........................................................................................ 74
QUADRO 3.1 – Paradoxos centrais dos produtos baseados em tecnologia ............. 81
QUADRO 3.2 – Estratégias de enfrentamento comportamentais para gerenciamento dos
paradoxos tecnológicos e seus efeitos emocionais ................................ 83
QUADRO 3.3 – Características das categorias de adotantes .................................... 89
QUADRO 4.1 – Principais variáveis determinantes da adoção de tecnologia
reportadas na literatura recente ............................................................ 107
QUADRO 5.1 – Antecedentes da adoção ................................................................. 126
QUADRO 5.2 – Processo de adão ........................................................................ 152
QUADRO 5.3 – Grau de satisfação do grupo ‘inovadores’ com as fontes de
informação técnicas e de mercado ................................................. 154
QUADRO 5.4 – Grau de satisfação do grupo ‘adotantes adiantados’ com as fontes
de informação técnicas e de mercado ............................................ 158
QUADRO 5.5 – Grau de satisfação do grupo ‘maioria adiantada’ com as fontes de
informação técnicas e de mercado ................................................. 163
QUADRO 5.6 – Grau de satisfação do grupo ‘maioria atrasada’ com as fontes de
informação técnicas e de mercado ................................................. 167
QUADRO 5.7 – Grau de satisfação do grupo ‘atrasados’ com as fontes de
informação técnicas e de mercado ................................................. 170
QUADRO 5.8 – Impactos da adão ........................................................................ 172
9
LISTA DE FIGURAS
FIGURA 1.1 – Estrutura e a organização da tese ...................................................... 21
FIGURA 2.1 – Níveis estratégicos da tecnologia da informação .............................. 38
FIGURA 2.2 – Principais meios de comunicação com o produtor ............................ 67
FIGURA 2.3 Programas de TV voltados à atividade agropecuária, mais
assistidos pelo produtor, com freqüência semanal ............................ 68
FIGURA 3.1 – Relação entre as crenças e a prontidão para tecnologia .................... 93
FIGURA 4.1 – Etapas da pesquisa ............................................................................. 97
FIGURA 4.2 – Relação entre os assuntos abordados ................................................ 98
FIGURA 4.3 – Modelo conceitual da pesquisa ......................................................... 100
FIGURA 4.4 – Banner no website da Associação de Criadores ................................ 102
FIGURA 4.5 – Website da pesquisa: apresentação e blocos de questões .................. 103
FIGURA 4.6 – Categorização dos adotantes com base na inovatividade .................. 109
FIGURA 5.1 – Localização das propriedades participantes da pesquisa ................... 113
FIGURA 5.2 Disncia entre o local de moradia dos produtores e as propriedades ...... 113
FIGURA 5.3 Produção de touros e matrizes nas propriedades e participação em
programas de melhoramento genético .............................................. 115
FIGURA 5.4 – Principais programas de melhoramento genético .............................. 116
FIGURA 5.5 Formas de assistênciacnica utilizadas nas propriedades .................... 117
FIGURA 5.6 Distribuição geográfica das propriedades selecionadas ......................... 124
10
LISTA DE TABELAS
TABELA 2.1 – Número de softwares agropecuários no Brasil, cadastrados no Guia
Agrosoft por categoria ...................................................................... 61
TABELA 5.1 – Características demográficas e sócio-econômicas da amostra .......... 112
TABELA 5.2 Área destinada à pecuária de corte e número de animais que compõem o
rebanho nas propriedades participantes da pesquisa ................................... 114
TABELA 5.3 Sistemas de produção utilizados nas propriedades participantes da
pesquisa ............................................................................................. 114
TABELA 5.4 Sistemas de criação utilizados nas propriedades participantes da
pesquisa ............................................................................................. 115
TABELA 5.5 – Tipos de instalações existentes nas propriedades .............................. 116
TABELA 5.6 – Tecnologias de produção existentes nas propriedades ...................... 117
TABELA 5.7 – Posse de produtos/serviços e uso de serviços tecnológicos .............. 118
TABELA 5.8 – Distribuição e classificação da amostra ............................................ 121
TABELA 5.9 Definão dos entrevistados a partir da análise da amostra ................... 123
TABELA 5.10 Análise das atitudes dos entrevistados a partir das dimensões de
prontidão para a tecnologia ............................................................... 124
11
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ............................................................................................................. 13
1.1. Apresentação ............................................................................................................... 13
1.2 Questões e hipóteses da pesquisa ................................................................................. 17
1.3 Objetivos ....................................................................................................................... 17
1.3.1 Objetivo geral ............................................................................................................ 17
1.3.2 Objetivos específicos ................................................................................................. 17
1.4 Justificativa ................................................................................................................... 18
1.5 Estrutura do trabalho ...................................................................................................... 19
2 INOVAÇÃO TECNOLÓGICA .................................................................................... 22
2.1 Apresentação ................................................................................................................ 22
2.2 Base conceitual ............................................................................................................. 22
2.2.1 Visão Schumpeteriana das inovações ........................................................................ 22
2.2.2 Contribuição neo-schumpeteriana ............................................................................. 24
2.2.3 Taxonomia de Pavitt .................................................................................................. 26
2.2.4 Tecnologia, inovação e inovação tecnológica ........................................................... 27
2.3 Tecnologia da informação .............................................................................................. 35
2.3.1 Papel da TI na gestão dos negócios ........................................................................... 36
2.3.2 Dinâmica da difusão e adoção da TI no setor rural brasileiro ................................... 43
2.3.3 Importância da TI na gestão do empreendimento rural ............................................. 51
3 INTERAÇÃO ENTRE O CONSUMIDOR E A TECNOLOGIA ............................. 76
3.1 Apresentação ................................................................................................................ 76
3.2 Produtos e serviços baseados em tecnologia ................................................................ 77
3.3 Aspectos emocionais da adoção de tecnologia ............................................................. 79
3.4 Paradoxos tecnológicos e estratégias de enfrentamento ............................................... 80
3.5 Implicações dos paradoxos tecnológicos e das estratégias de enfrentamento para o
estudo da difusão de inovações ................................................................................. 83
3.6 Classificação das categorias de adotantes com base na inovatividade ......................... 87
3.6.1 Método de categorização dos adotantes .................................................................... 87
3.6.2 Categorias de adotantes como tipos ideais ................................................................ 88
3.6.3 Características adicionais das categorias de adotantes .............................................. 90
3.7 Mensuração de atitudes em relação à tecnologia .......................................................... 92
12
4. MÉTODOS DE PESQUISA ........................................................................................ 95
4.1 Escolha do método de pesquisa .................................................................................... 95
4.2 Etapas da pesquisa ........................................................................................................ 97
4.2.1 Revisão da literatura .................................................................................................. 97
4.2.2 Desenvolvimento do modelo de investigação empírica ............................................ 98
4.2.3 Proposição do método para avaliação do uso e difusão da TI nos empreendimentos rurais ....... 99
4.2.4 Coleta de dados .......................................................................................................... 101
4.2.5 Categorização preliminar dos adotantes .................................................................... 108
4.2.6 Contribuão para a formulação de políticas públicas e privadas para os segmentos .......... 110
5. RESULTADOS ............................................................................................................. 111
5.1 Apresentação ................................................................................................................ 111
5.2 Caracterização da amostra de produtores ..................................................................... 111
5.2.1 Características dos produtores ................................................................................... 111
5.2.2 Características das propriedades ................................................................................ 112
5.2.3 Sistemas de produção ................................................................................................ 114
5.2.4 Infra-estrutura ............................................................................................................ 116
5.3 Classificação dos entrevistados nas categorias de adotantes ........................................ 119
5.3.1 Classificação dos entrevistados ................................................................................. 120
5.4 Estudos de caso ............................................................................................................. 122
5.4.1 Antecedentes da adoção ............................................................................................. 125
5.4.2 Processo de adoção .................................................................................................... 151
5.4.3 Impactos da adoção ................................................................................................... 171
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS ........................................................................................ 182
6.1 Verificação das hipóteses ............................................................................................. 182
6.2 Contribuições da pesquisa ............................................................................................ 182
6.3 Contribuição para a formulação de políticas públicas e privadas ................................. 183
6.4 Limitações da pesquisa, recomendações e sugestões para pesquisas futuras ............... 187
6.5 Conclusões ............................................................................................................................. 189
REFERÊNCIAS ................................................................................................................ 191
APÊNDICE A – AVALIAÇÃO DA NORMALIDADE DOS DADOS ........................ 207
APÊNDICE B – QUESTIONÁRIO DA PRIMEIRA ETAPA DA PESQUISA ......... 209
APÊNDICE C – ROTEIRO DE ENTREVISTA ........................................................... 213
13
1 INTRODUÇÃO
1.1 Apresentação
As alterações no ambiente sócio-econômico e institucional vêm impondo às
cadeias produtivas agroindustriais significativas transformações, pressionando os
empreendimentos rurais a assumirem características empresariais. A abertura da economia
brasileira intensificou o processo de globalização levando as empresas a investirem em
mudanças tecnológicas e organizacionais, com o objetivo de aumentar a competitividade
frente aos novos concorrentes internacionais (FONSECA et al., 2001).
Novas tecnologias exigem mudanças e adaptações nos empreendimentos rurais,
exercendo um forte impacto sobre as estruturas mais conservadoras, cujas estratégias e regras
de gerenciamento modificam-se gradual e lentamente, principalmente porque foram
desenvolvidas e organizadas para atender mercados e tecnologias estáveis. Nesse sentido, a
principal fonte dessas mudanças tem sido o emprego da informação, associada às tecnologias
facilitadoras de coleta, processamento, armazenamento e disseminação (YAMAGUCHI, 2002).
À medida que a tecnologia melhora a produtividade das empresas, influencia
sua competitividade, tornando-se condição para a ascensão em alguns mercados, seja pela
qualidade dos produtos obtidos a partir da sua adoção ou por essa tecnologia ser requisito para
consumar determinadas transações. Essa questão é confirmada por WAACK (2000), ao
ressaltar que a tecnologia é um dos principais fatores determinantes da competitividade das
organizações, por aumentar a velocidade e o dinamismo do processo inovativo, exigindo que
elementos de gestão do processo de desenvolvimento e o uso de tecnologias sejam
incorporados à rotina administrativa.
MORRIS e BRANDON (1994) consideraram a tecnologia como um fator
individual de mudança de grande importância na transformação das empresas, incluindo não
só a tecnologia de equipamentos, materiais e ambiente físico, mas também a tecnologia de
gerenciamento. Esse fato evidencia a importância de integrar o estudo das inovações
tecnológicas ao conjunto de ações estratégicas das empresas.
Nesse sentido, BATALHA (1995) justificou o desenvolvimento ou a
implantação de novas tecnologias, desde que estas aumentem de alguma forma a capacidade da
firma permanecer no mercado em condições consideradas satisfatórias. MUNIZ e VELLOSO
(1999) também destacaram a tecnologia como um dos instrumentos estratégicos para o
desenvolvimento dos empreendimentos rurais, ressaltando que essa tecnologia deve estar
comprometida com as necessidades dos consumidores.
14
A complexidade da gestão tecnológica acentua-se na medida da produção
exponencial de novos conhecimentos, acelerando as mudanças e provocando a introdução de
inovações no mercado. Por esse motivo, para tornar o empreendimento rural competitivo é
fundamental estabelecer uma postura empresarial com relação à tecnologia, definindo quais as
tecnologias-base utilizadas, quais as tecnologias-chave e quais as emergentes.
WAACK, TERRERAN e CORNELSEN (1996) definiram tecnologia-base como
“aquela que, sem o seu domínio, a produção de determinado bem ou insumo é inviável, sendo
amplamente dominadas pela concorrência e não proporcionando vantagens competitivas”;
tecnologia-chave como “uma tecnologia, cuja detenção por parte da empresa, pode conceder-lhe
uma real vantagem competitiva, podendo aumentar a eficiência, a produtividade e a qualidade”; e
tecnologia emergente, “cujo domínio pode provocar alterações radicais em processos e produtos,
possibilitando uma posição de liderança à empresa detentora”.
Uma vez identificadas as tecnologias estratégicas para o empreendimento, deve-
se definir estratégias em relação às fontes tecnológicas, os mecanismos de aquisição dessa
tecnologia e as fontes de recursos para a sua capacitação. A elaboração de um plano estratégico
envolve o conhecimento existente na própria organização, incluindo os diversos setores e não
apenas a área tecnológica da empresa.
O poder do mercado, as legislações, as preferências dos consumidores e a segurança
alimentar, são temas altamente relevantes e com forte impacto na definição das estratégias
tecnológicas das empresas agroindustriais. Um dos elementos básicos na gestão tecnológica é o fato
das tecnologias possuírem ciclos de vida definidos. A performance de uma dada tecnologia, no
início de sua existência é baixa, sendo necessário um grande esforço para elevar essa performance a
níveis competitivos. A partir de um dado momento, o crescimento é exponencial e supera os
resultados de outra tecnologia, até então considerada tradicional (WAACK, 2000).
Portanto, a tecnologia, assim como um produto, tem sua vida definida por três
momentos: a fase de desenvolvimento; a fase de ajustes, marcada por intenso crescimento e ampla
exploração; e uma fase de maturidade e superação por uma tecnologia nova, com melhor
performance. Nesse ciclo, o gestor deve observar alguns elementos com maior cuidado, buscando
alavancar continuamente a competitividade da organização, pois o resultado do uso de uma
determinada tecnologia pode ser considerado melhor que o de outra, em função de demandas que
variam com o tempo, quase sempre decorrentes das mudanças no ambiente institucional.
É importante destacar o impacto que algumas tecnologias, ditas transversais,
podem ter no gerenciamento dos sistemas agroindustriais. A Tecnologia da informação (TI), por
exemplo, pode afetar de forma substancial a gestão dos negócios agroindustriais. Além de
15
facilitar a busca, o acesso, o armazenamento e a disseminação de informações, a TI deverá cada
vez mais servir de instrumento de comunicação e coordenação entre os agentes de cadeias
agroindustriais, tornando-se um importante instrumento no aumento da eficiência e da eficácia,
auxiliando a tomada de decisão nos empreendimentos (BATALHA e SCARPELLI, 2002).
No setor rural, essa situação não é diferente. Os empreendimentos rurais tendem a se
tornar mais competitivos à medida que incorporam tecnologia em seus processos de produção e
comercialização de produtos. Entretanto, a incorporação de tecnologia deve ser realizada com
cuidado, em função da realidade do produtor, dos custos de implantação e manutenção, e dos
mercados em que o empreendimento rural está inserido.
Pelos motivos apresentados, torna-se muito importante que os produtores
defasados tecnologicamente tenham acesso a ferramentas que permitam tornar o
empreendimento mais competitivo. Dentre essas tecnologias, a TI se destaca como uma das
ferramentas de gestão administrativa que o agronegócio da pecuária de corte tem
sistematicamente incorporado em suas atividades, o que representa uma fonte de melhoria e
produtividade das empresas, aumentando a velocidade de transmissão de informação e, ao
mesmo tempo, diminuindo seu custo.
A TI começa a ganhar espaço no dia-a-dia do produtor rural, mudando a maneira
como os pecuaristas administram suas propriedades. Essa tecnologia, conhecida no meio rural
como agroinformática, reúne uma variedade de sistemas e programas de computador e portais
existentes na Internet sobre o agronegócio. Bem aplicada, a TI contribui para o aumento da
produtividade de forma sustentável, melhorando o aproveitamento dos alimentos para o gado,
auxiliando no gerenciamento sanitário e aprimorando as decisões genéticas, seja em planteis de
elite ou na escolha dos animais para os rebanhos comerciais.
Além da agroinformática, é preciso ressaltar que a TI não representa apenas o
uso de softwares e computadores. FURLAN e IVO (1992, p.3) definiram a tecnologia da
informação como sendo “aquela que abrange toda forma de gerar, armazenar, veicular,
processar e reproduzir informação”, indicando outras aplicações para a TI. Dentre elas,
podem ser citadas a utilização de dispositivos eletrônicos visando ao armazenamento de
informações relevantes sobre as condições sanitárias, nutricionais e genéticas dos animais
(MACHADO, 2002); os canais de televisão, ofertando além de informações, produtos e
serviços específicos para a atividade pecuária; e as telecomunicações fixa e móvel.
Softwares de gestão rural vêm substituindo as cadernetas de campo e produtos
como o transponder (microchip) e os brincos com códigos de barras são utilizados para
garantir a qualidade e o controle das informações. O desenvolvimento de novos softwares tem
16
gerado produtos utilizados como ferramentas de gestão, possibilitando controle mais rigoroso
dos custos e receitas e acesso, à distância, às informações de produção e de mercado.
MACHADO (2002) destacou o benefício dessas tecnologias no processo de
produção e na comercialização do produto final. Na produção da carne bovina, as vantagens do uso
da informática ocorrem devido ao armazenamento de informações que irão alimentar softwares de
gestão, enquanto na comercialização, os benefícios ocorrem na forma de um produto diferenciado,
atendendo aos interesses da indústria e dos consumidores.
Outra contribuição muito importante da TI aos empreendimentos rurais voltados à
pecuária de corte, refere-se ao acompanhamento das características sanitárias da carne,
principalmente para assegurar a participação do produtor nacional no mercado externo. O
primeiro passo nesse sentido é a identificação animal, procedimento que permite obter
informações corretas acerca do processo de produção, com o objetivo de registrar o histórico do
animal no computador e identificar os riscos de doenças, quando necessário.
Com o objetivo de avaliar a viabilidade do uso da TI aplicada à rastreabilidade,
MACHADO (2002) observou a disposição dos produtores em utilizá-la, principalmente pelo fato
de permitir a troca eletrônica de informações com a indústria. Nesse caso, a adoção de um sistema
de identificação eletrônica de animais teria como objetivo promover uma maior integração do
setor produtivo com os demais segmentos da cadeia produtiva, dinamizando a disponibilidade de
informações transmitidas e agregando maior valor de mercado ao produto. Os benefícios da
adoção de sistemas de identificação eletrônica de animais na gestão da produção da carne bovina
foram evidentes do ponto de vista administrativo, por introduzir uma visão empresarial aos
empreendimentos rurais. Esse aspecto demonstra a importância da TI para as organizações rurais,
sendo necessário incorporá-la de forma estratégica para tornar os empreendimentos rurais mais
competitivos, influenciando positivamente toda a cadeia produtiva.
Mesmo com todos esses benefícios, a TI ainda é pouco utilizada no setor rural.
É na produção agropecuária, inclusive na pecuária de corte, que se encontram as principais
dificuldades de inserção dessas tecnologias, uma vez que as grandes empresas processadoras e
distribuidoras as utilizam com freqüência. FRANCISCO e PINO (2004) destacaram que, no
meio rural brasileiro, o que mais se expande em termos de TI é a adoção da Internet, embora
ainda em uma taxa muito baixa.
Assim, torna-se importante estudar o processo de adoção e uso pelos
produtores rurais, não só da Internet, mas da TI de forma geral, possibilitando um melhor
entendimento dos fatores que afetam sua adoção e utilização, visando nortear ações que
permitam ampliar o uso da tecnologia para o sucesso da pecuária nacional.
17
1.2 Questões e hipóteses da pesquisa
A questão formulada na pesquisa é o ponto a partir do qual se estruturam as
explicações, as hipóteses e a natureza das respostas (MOURA CASTRO, 1978). Nessa
pesquisa, algumas questões orientaram o estudo, servindo de base para a estruturação desse
trabalho. As principais foram:
“Como se deu o processo de adoção da TI nos empreendimentos rurais
voltados para a pecuária de corte?”.
Pretende-se avaliar as seguintes hipóteses:
“Os empreendimentos rurais apresentam problemas de resistência à
mudança durante o processo de adoção de uma nova TI, devido à exigência
de reestruturação das organizações e de seus processos gerenciais.”
“A segmentação dos empreendimentos rurais com base no nível tecnológico
contribui para a formulação de políticas mais adequadas às realidades locais.”
1.3 Objetivos
1.3.1 Objetivo geral
O objetivo geral do trabalho foi estudar a difusão e o uso de tecnologias da
informação (TI) na produção rural, especificamente na pecuária de corte, onde essa tecnologia
vem se tornando imprescindível, tanto para o gerenciamento da produção, quanto para a
conquista e manutenção de mercados consumidores.
1.3.2 Objetivos específicos
Os objetivos específicos dessa pesquisa foram:
identificar os fatores que influenciaram na adoção da TI nos
empreendimentos rurais;
descrever os recursos, procedimentos e ações necessárias para o
funcionamento da TI;
18
segmentar os empreendimentos rurais a partir do grau de inovatividade,
visando contribuir para a formulação de ações e/ou políticas públicas e
privadas mais adequadas a partir das realidades locais;
elaborar propostas para facilitar o uso da TI nos empreendimentos rurais.
1.4 Justificativa
Essa pesquisa justificou-se pela adoção de tecnologia ser decisiva para o sucesso
da empresa, pois as exigências do mercado e a competição cada vez mais acirrada exigem que as
organizações se modernizem. Em toda atividade produtiva, a adoção de tecnologias, sejam elas
relacionadas ao produto, ao processo ou à gestão, assume especial importância, uma vez que a
escolha incorreta ou a adoção em um momento desfavorável podem influenciar negativamente o
desempenho da empresa e sua sobrevivência no mercado.
No setor rural, a adoção de tecnologia também é crítica e decisiva para tornar o
empreendimento competitivo. No entanto, observa-se que grande parte dos produtores não
tem acesso a ferramentas apropriadas de gestão, afastando-os ainda mais de tecnologias
adequadas às suas necessidades.
FRANCISCO (2003) observou que do total de propriedades rurais do estado de
São Paulo com exploração da pecuária de corte, 8% utilizavam a Internet para fins
agropecuários; 7% quando da exploração da pecuária leiteira; 8% para avicultura e 18% para
suinocultura. Dentre as propriedades que utilizam a Internet, as atividades rurais que mais se
destacam são a pecuária de corte, com 42%; seguida pela pecuária leiteira, com 22%; cana-de-
açúcar e milho, com 16% cada; café, com 13%; laranja, com 12%; e suinocultura, com 9%.
A utilização da TI no empreendimento rural pecuário está relacionada com a
confiabilidade das informações referentes à qualidade sanitária do rebanho, item considerado
essencial para o processo de rastreabilidade ao longo da cadeia produtiva da carne bovina.
Portanto, esse avanço no conhecimento, no tratamento e na disseminação das informações de
produção fornecerá subsídios para o desenvolvimento de futuros trabalhos em outros
segmentos da cadeia produtiva.
Uma outra justificativa reside no fato de que na literatura, predominam dois
tipos de pesquisa relacionados à adoção de tecnologias no meio rural (LINDNER, 1987). O
primeiro se concentra nos motivos da adoção ou rejeição de uma determinada inovação pelos
produtores. Exemplos recentes incluem MITCHELL e CLARK, (1999), PREMKUMAR e
ROBERTS (1999), ADESINA et al. (2000), GLOY e AKRIDGE (2000), KOSAREK,
GARCIA e MORRIS (2001), KREMER et al. (2001), ALEXANDER, FERNANDEZ-
19
CORNEJO e GOODHUE (2003), BURTON, RIGBY e YOUNG (2003), MARRA,
PANNELL e GHADIM (2003), SHEIKH, REHMAN e YATES (2003), BATTE (2005),
ALVAREZ e NUTHALL (2006) e PANNELL et al. (2006).
O segundo tipo procura identificar as razões de alguns produtores adotarem
tecnologias mais rapidamente que outros. Esses estudos são menos freqüentes, principalmente,
devido às dificuldades na coleta de dados para esse tipo de análise. Alguns exemplos incluem
MARSH, PANNELL e LINDNER (2000), WEIR e KNIGHT (2000), KORSCHING, EL-
GHAMRINI e PETER (2001), DIEDEREN, MEIJL e WOLTERS (2002), BATZ, JANSSEN
e PETERS (2003), DIEDEREN et al. (2003), HOLLIFIELD e DONNERMEYER (2003) e
ADRIAN, NORWOOD e MASK (2005). Portanto, na literatura não foram encontrados
trabalhos que permitam avaliar o uso e a difusão da TI nos empreendimentos rurais, visando a
formulação de ações e/ou políticas públicas e privadas a partir das realidades locais.
Essa situação provavelmente ocorre devido à necessidade de associar, na
mesma pesquisa, conhecimentos provenientes das áreas técnica de produção e gerencial do
empreendimento. Essas áreas de conhecimento, embora apresentem uma interface muito
grande, realizam poucos trabalhos em conjunto. Isso é importante pelo fato da aplicação das
ferramentas gerenciais ser facilitada pelo conhecimento prático da atividade, como no
desenvolvimento de softwares de gerenciamento da produção, cujo desenvolvedor necessita
conhecer em profundidade a atividade, seus processos e objetivos.
A contribuição teórica da pesquisa será dada pelo método de seleção e
segmentação dos empreendimentos rurais a partir do nível tecnológico, conferindo
originalidade ao estudo. A contribuição prática consistirá na análise e discussão dos fatores
que influenciam a adoção da TI nos empreendimentos rurais, além da elaboração de um
conjunto de propostas visando facilitar o uso da TI na atividade pecuária que, se levado em
consideração pelos agentes envolvidos, poderá aumentar as chances de sucesso da pecuária de
corte nos mercados nacional e internacional.
1.5 Estrutura do trabalho
O presente trabalho está dividido em seis capítulos, incluindo a Introdução. O
Capítulo 2 se inicia com uma revisão teórica sobre a abordagem de Schumpeter para inovação
tecnológica, as contribuições neo-schumpeterianas e a taxonomia de Pavitt. Apresenta também
alguns conceitos sobre tecnologia, inovação e inovação tecnológica. Em seguida, o capítulo aborda
os conceitos de Tecnologia da informação (TI), de forma a aplicá-lo nesse estudo, seu papel na
gestão dos negócios e a dinâmica da difusão/adoção da TI no Brasil. Discute, ainda, o uso da TI na
20
gestão do empreendimento rural, destacando as principais TI focadas nesse estudo: informática,
Internet, oferta de softwares, identificação eletrônica de animais, tanto na gestão da propriedade
quanto aplicada à rastreabilidade do rebanho, canais de televisão voltados à atividade agropecuária,
balanças eletrônicas e aspectos relacionados a integração dos diversos fornecedores, com o objetivo
de aumentar a competitividade de toda a cadeia produtiva.
O Capítulo 3 dá seqüência à revisão teórica, discutindo a interação entre o
consumidor e a tecnologia, ressaltando os aspectos emocionais do consumidor e sua
influência na adoção de tecnologias da informação. A coexistência de sentimentos positivos e
negativos em relação à tecnologia é abordada no item sobre os paradoxos tecnológicos e as
estratégias de enfrentamento. As implicações dessa teoria são aplicadas ao estudo da difusão
de inovações. O capítulo também apresenta as categorias de adotantes com base na
inovatividade e o método de categorização dos adotantes, proposta por ROGERS (1995). Por
fim, é apresentada a mensuração de atitudes em relação à tecnologia, a partir do índice de
prontidão para adoção de tecnologia, proposto por PARASURAMAN (2000).
O Capítulo 4 apresenta os métodos de pesquisa utilizados para o desenvolvimento
do estudo. São apresentadas a natureza do estudo, o modelo conceitual da pesquisa e as etapas
percorridas, o modelo de investigação empírica, incluindo a construção do survey, procedimentos
para coleta de dados e a categorização preliminar dos adotantes.
O Capítulo 5 aborda os resultados das duas etapas da pesquisa. Na primeira
parte, é apresentada uma caracterização da amostra e a categorização dos entrevistados a
partir do grau de inovatividade de cada produtor. Na segunda parte, os estudos de caso
apresentam os antecedentes da adoção, o processo de adoção e os impactos da adoção nas
propriedades, agrupados nas categorias de adotantes.
O Capítulo 6 trata das considerações finais do estudo, iniciando-se com a
verificação das hipóteses e apresentação das contribuições da pesquisa. Em seguida, são
apresentadas contribuições para a formulação de políticas públicas e privadas para o uso da TI
na atividade pecuária, as limitações da pesquisa, recomendações e sugestões de pesquisas
futuras. O capítulo se encerra com as conclusões da pesquisa. A Figura 1.1 ilustra a estrutura
e a organização da tese.
21
FIGURA 1.1 – Estrutura e organização da tese.
CAPÍTULO 1 – INTRODUÇÃO
Apresentação, Questões e hipótese da pesquisa, Objetivos,
Justificativas e Estrutura do trabalho.
Capítulo 2 – INOVAÇÃO TECNOLÓGICA
Inovação tecnológica, Contribuições neo-schumpeterianas,
Taxonomia de Pavitt, Conceitos de tecnologia, inovação e inovação
tecnológica, Tecnologia de informação, Papel da TI na gestão dos
negócios, Dinâmica da difusão/adoção da TI no Brasil e
Im
p
ortância da TI na
g
estão do em
p
reendimento rural.
Capítulo 3 – INTERAÇÃO ENTRE O CONSUMIDOR E A
TECNOLOGIA
Produtos e serviços tecnológicos, Aspectos emocionais da
adoção de tecnologia, Paradoxos tecnológicos e estratégias de
enfrentamento, Categorias de adotantes e Mensuração das
atitudes em rela
ç
ão à tecnolo
ia.
Capítulo 4 – MÉTODOS DE PESQUISA
Escolha do método, Modelo de investigação empírica, Proposição do
método para avaliação do uso e difusão da TI, Procedimentos de
coleta de dados e Cate
g
orização dos adotantes.
Capítulo 5 – APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS
Características da amostra, Classificação dos entrevistados em
categorias de adotantes, Estudos de caso, Antecedentes da
ado
ç
ão
,
Processo de ado
ç
ão e Im
p
actos da ado
ç
ão.
REFERÊNCIAS
APÊNDICES
Avaliação da normalidade dos dados, Questionário da primeira
etapa da pesquisa e Roteiro de entrevista da segunda etapa da
pesquisa.
Capítulo 6 – CONSIDERAÇÕES FINAIS
Verificação das hipóteses e contribuições da pesquisa, Contribuição
para a formulação de políticas públicas e privadas Limitações,
recomenda
ç
ões e su
g
estões de
p
es
q
uisas futuras e Conclusões.
22
2 INOVAÇÃO TECNOLÓGICA
2.1. Apresentação
Esse capítulo é dividido em dois grandes tópicos. O primeiro apresenta a
abordagem de Schumpeter para inovação tecnológica, discutindo questões sobre padrão de
concorrência e os tipos de inovação – radical ou incremental. Entretanto, o fato dessa
abordagem apresentar limitações quanto ao processo de inovação, conduz a uma discussão
baseada nas contribuições neo-schumpeterianas, a partir de uma linha conhecida como
‘evolucionista’, na qual se tenta explicar porque as inovações são delineadas dentro de um
padrão, baseado nos conceitos de paradigma tecnológico e trajetória tecnológica.
Ao identificar a existência de assimetrias, onde o ritmo e a intensidade das
inovações variam entre os setores produtivos, a análise apresenta a classificação setorial
proposta por PAVITT (1984), a qual está associada a distintos aspectos que ajudam a
sustentar as bases da competitividade. Trata, ainda, aspectos conceituais sobre tecnologia,
inovação e inovação tecnológica e apresenta, ao final, algumas razões para o insucesso das
inovações, indicando os principais fatores inibidores das inovações.
O segundo grande tópico apresenta os conceitos de Tecnologia da informação
(TI), seu papel na gestão dos negócios e a dinâmica da difusão/adoção da TI no Brasil. Em
seguida, é discutido o uso da TI na gestão do empreendimento rural, destacando-se as
principais TI focadas nesse estudo.
2.2. Base Conceitual
2.2.1 Visão schumpeteriana das inovações
O papel das inovações como elemento fundamental para o entendimento da
dinâmica capitalista foi discutido inicialmente por SCHUMPETER (1988). Para o autor, o
elemento motriz da evolução do capitalismo é a inovação, na forma de introdução de novos bens
ou técnicas de produção, do surgimento de novos mercados, fontes de matérias-primas ou
composições industriais. O indivíduo que implementa essas novas combinações, inserindo as
inovações no sistema produtivo, é denominado de inovador, podendo esse ser ou não o inventor.
A forma como essa inovação irá alterar o padrão de concorrência e as bases do
setor está relacionada com a extensão da mudança empreendida. Essa mudança está associada
ao tipo de inovação, podendo ser mais intensa (radical) ou de menor proporção (incremental).
FREEMAN (1994) definiu inovações radicais como eventos descontínuos, que
implicam em mudança técnica e organizacional de um sistema produtivo ou setor. Sua
introdução resulta em novas bases de produção, distintas das exploradas até então. Já as
23
inovações incrementais ocorrem de forma mais contínua, podendo ter diferentes velocidades
de adoção, dependendo do setor. Referem-se às melhorias nos produtos, processos,
organizações e sistemas de produção existentes, relacionadas à demanda do mercado e às
experiências dos usuários.
Para JOHANNESSEN et al. (2001), o termo radical está associado a inovações
revolucionárias, que resultam em inovações de produto e processo e em avanços do
conhecimento, enquanto o termo incremental está associado a inovações dentro de um paradigma
já existente, isto é, a um processo contínuo de melhoramento e técnicas.
SCHUMPETER (1988) destacou que o processo inovativo consiste de três
fases seqüenciais: (i) invenção, (ii) inovação e (iii) difusão. A diferença entre invenção e
inovação está no fato que a invenção constitui um conhecimento novo, cuja aplicação pode ou
não ser economicamente viável, enquanto a inovação refere-se a um fenômeno
essencialmente econômico, em que ocorre a comercialização de um novo produto ou a
implementação de um novo processo.
A partir dessa definição, dois caminhos podem ser seguidos: (i) adoção ou
inovação como difusão e (ii) esforço inventivo. No primeiro caso, a empresa pode inovar
investindo em equipamentos para novos processos ou comercializando bens, adquiridos de um
fornecedor. No segundo, a empresa pode inovar comercializando novos bens ou implementando
novos processos desenvolvidos por suas próprias atividades. As empresas também podem
inovar a partir da combinação desses dois caminhos, situação em que a empresa realiza algum
esforço inventivo para adaptar novas tecnologias de processo a fim de atender às necessidades
de seu próprio processo de produção.
Apesar do progresso técnico ser influenciado por forças econômicas,
MACHADO (1998) relatou que esse modelo de inovação tem sido muito criticado sob vários
aspectos a partir das limitações inerentes ao caráter estático, não histórico, inespecífico e de
neutralidade dos pressupostos neoclássicos. Nessa estrutura, as empresas são passivas e a
inovação tecnológica é apenas resultado de uma escolha ótima de fatores dentro de um
estoque de conhecimento.
Vários aprofundamentos sobre a teoria schumpeteriana, realizados por autores
comumente chamados de neo-schumpeterianos, surgiram gerando novas alternativas para o
tratamento da inovação e do progresso técnico.
As pesquisas realizadas nos países em desenvolvimento sobre a questão da tecnologia
têm sido muito influenciadas pelo paradigma neoclássico. Para a teoria econômica neoclássica os
24
preços são os grandes determinantes da competição. A inovação tecnológica é externa às empresas e é
tratada apenas como uma alocação racional de recursos para satisfazer a demanda.
2.2.2 Contribuição neo-schumpeteriana
As críticas à teoria neoclássica, relacionadas às características do processo de
inovação, deram origem a uma nova abordagem evolucionária, de inspiração schumpeteriana,
cujos argumentos se completam uns aos outros. Esse novo paradigma teórico se adapta muito
bem ao contexto da mudança tecnológica, inclusive em países latino-americanos, e é denominado
neo-shumpeteriano, por enfatizar as inovações incrementais, além do processo de geração de
inovações maiores, justamente as prováveis situações a serem encontradas nessa pesquisa.
O enfoque neo-schumpeteriano pode ser desdobrado em duas vertentes: a
abordagem ‘evolucionista’, de NELSON e WINTER (1982), e a abordagem de ‘paradigmas e
trajetórias tecnológicas’, de DOSI (1984). Do enfoque neo-schumpeteriano resulta um aporte
muito significativo à construção de uma teoria microeconômica alternativa, centrada na
dinâmica de transformação das próprias estruturas de mercado a partir de sua base produtiva
(POSSAS, 1989). Dessa forma, as diferentes versões desse enfoque procuram elaborar
modelos nos quais, tanto variáveis de comportamento, quanto variáveis estruturais, têm ação
recíproca, gerando trajetórias de mudança e transformação estrutural.
Segundo MACHADO (1998), a abordagem evolucionista faz uma analogia
com a teoria biológica de seleção natural para mostrar que as inovações não são decorrentes
de um mecanismo racional de seleção de mercado, mas fortemente determinadas pela base
tecnológica acumulada.
POSSAS (1989) relatou que as mudanças econômicas, entendidas tanto no
aspecto técnico-produtivo (processos e produtos), quanto na estrutura e dinâmica dos
mercados (concentração, diversificação, rentabilidade e crescimento), têm sua origem na
busca incessante, por parte das empresas, de inovações de processo e produto, que por sua vez
seriam submetidas aos mecanismos de seleção inerentes à concorrência e ao mercado.
Segundo o autor, um dos aspectos que mais se destacam como ruptura do enfoque
evolucionista sobre os processos de geração e difusão de inovações, em relação aos
tradicionais, é a recusa da dicotomia entre modelos centrados na demanda do mercado ou na
lógica interna do progresso tecnológico, respectivamente, demand pull e technology push. A
posição sustentada é a de que tais processos são influenciados tanto pela demanda, quanto
pela lógica interna da ‘trajetória natural’ da tecnologia.
25
No conceito de trajetória natural, o aparecimento de pontos de estrangulamento
em processos conexos, falhas evidentes em produtos, metas evidentes de aperfeiçoamento etc.,
está relacionado ao caráter cumulativo da mudança tecnológica, assumindo um papel
estratégico decisivo, o que exprime a idéia de ‘vizinhança tecnológica’, capaz de absorver
conhecimentos em áreas correlatas, impedindo que os efeitos positivos ou negativos da decisão
de inovar se esgotem em si mesmos.
Entretanto, POSSAS (1989) enfatizou que a abordagem evolucionista, apesar
de sua ênfase nas inovações tecnológicas, não fornece elementos suficientes, no plano teórico,
para aprofundar uma análise do próprio caráter estrutural da ‘trajetória natural’ das
tecnologias e sua influência sobre as decisões empresariais estratégicas. Essas insuficiências
do enfoque evolucionista têm sido superadas, dentro do mesmo paradigma neo-
schumpeteriano, pela corrente de Dosi, no âmbito teórico, e Pavitt, na pesquisa e análise
comparativa setorial da difusão de inovações.
Os conceitos de trajetórias tecnológicas
1
e paradigmas tecnológicos
2
, inicialmente
propostos por DOSI (1984), servem como instrumentos de análise do processo inovativo em seus
vários níveis, pois ordenam e hierarquizam a importância dos distintos âmbitos relativos ao
processo de inovação. Uma trajetória tecnológica pode ter um caráter excludente frente a
trajetórias alternativas do mesmo paradigma, em diferentes graus. No caso de uma mudança
radical – a do próprio paradigma – surge a questão das incertezas, que orienta as decisões que
envolvem a escolha e o investimento em mudanças tecnológicas (POSSAS, 1989).
DOSI (1984) chama atenção para a diferença entre mudanças tecnológicas dentro
de um dado paradigma e mudanças de paradigma. No primeiro caso, os padrões de inovação
seguem as trajetórias normais definidas pelos limites de um dado paradigma e são condicionados
por fatores ambientais, como demanda e preços relativos. Já as mudanças de paradigma
dependem fundamentalmente de avanços na ciência e das tecnologias gerais públicas, e
representam descontinuidades maiores nos padrões de mudança.
Segundo MACHADO (1998), cada empresa tem sua trajetória específica de
inovação que depende de aprendizagem local, específica e cumulativa de desenvolvimento e
1
Segundo BUAINAIN et al. (2002), as trajetórias tecnológicas são entendidas como a articulação no tempo
entre inovações geradas por diversas fontes de inovação e as diferentes formas de organização da produção,
envolvendo atributos do processo inovativo, como: definição de oportunidades tecnológicas (implicando
expectativas), construção de mecanismos de apropriabilidade e busca de cumulatividade (tecnológica, do
conhecimento e mesmo de investimentos que incorporam tecnologias em novos arranjos produtivos).
2
DOSI (1984) definiu paradigma tecnológico como um modelo de soluções de problemas tecnológicos
selecionados com base em princípios altamente selecionados e derivados das ciências naturais, em conjunto com
regras específicas elaboradas para adquirir novos conhecimentos e salvaguardá-los, tanto quanto possível, contra
uma excessivamente rápida difusão aos concorrentes.
26
exploração de suas competências tecnológicas. Para os evolucionistas, a capacidade de inovação,
além de ser assimétrica entre as empresas, varia entre países, setores e no tempo.
POSSAS (1989) destacou a chamada ‘assimetria tecnológica’, que trata de
diferenças entre empresas relacionadas à capacidade tecnológica para inovar, aos distintos graus
de sucesso na adoção e desenvolvimento de inovações de produtos e processos, e às estruturas de
custo. Essa diversidade resulta das características econômicas e tecnológicas do processo de
inovação tecnológica, e foi confirmada por GADELHA (1994), ao concluir que o impacto de um
novo paradigma tecnológico depende de sua força para superar os paradigmas anteriores e do grau
de penetração intra e inter-setorial que possui.
Outros dois aspectos de diversidade, relatados por POSSAS (1989), dizem respeito
à ‘variedade tecnológica’, entendida como diferenças que correspondem a especificidades da
acumulação de conhecimentos tecnológicos, ao uso de insumos e à linha de produtos da firma, e a
‘diversidade comportamental’, que consiste nas diferenças de procedimentos e critérios nas
decisões de preço, investimentos e rotinas básicas em que se traduz a estratégia da firma.
DOSI (1984) destacou algumas razões para explicar a existência de diferentes
padrões de geração e difusão do progresso técnico. Uma delas são as oportunidades
tecnológicas específicas de um paradigma, que se constituem em um determinante das
diferenças nas taxas de inovação. Os esforços para inovar são outra razão, por serem função
da estrutura da demanda e das condições de apropriabilidade dos lucros gerados por uma
inovação. Além disso, os agentes privados só irão investir em uma oportunidade tecnológica
se houver mercado disposto a pagar por isso.
2.2.3 Taxonomia de Pavitt
A existência de assimetrias em termos de padrões de geração e difusão
tecnológica possibilita a divisão dos setores em cinco categorias, as quais estão associadas a
distintos modos que ajudam a sustentar as bases da competitividade ao longo do tempo. Na
classificação setorial proposta por PAVITT (1984), a agropecuária poderia ser claramente
considerada como um ‘setor dominado por fornecedores’. Essa taxonomia se baseia nos
fatores específicos que explicam as diferenças na geração e difusão de inovações,
caracterizando um ponto de partida para o estudo dos fatores específicos do setor da dinâmica
da competição dentro de uma indústria. A justificativa se dá devido ao fato da origem das
inovações e mudanças técnicas nesse setor serem quase que inteiramente próprios às
indústrias fornecedoras, fornecedores de insumos e equipamentos manufaturados
(fertilizantes, sementes, herbicidas, medicamentos etc.).
27
Nesse caso, o setor agropecuário possui baixa apropriabilidade. As empresas
do setor realizam poucos investimentos em P&D e dominam as inovações de processo, pela
absorção de inovações geradas em outros setores. Essa absorção decorre da busca pela
redução de custos e pelo aumento da eficiência dos fatores.
POSSAS et al. (1994) argumentaram que o conceito de trajetórias tecnológicas
pode ser estendido à economia da agricultura, porém isso não significa dizer que analisar a
agropecuária como sendo um setor dominado por fornecedores seja suficiente, tampouco se
deve tratá-la como um setor, devido a uma série de especificidades que ela possui. Entre essas
especificidades encontra-se a grande dependência das condições naturais, que afetam as
tendências tecnológicas, principalmente nas dimensões espaço e tempo. O espaço envolve as
rotinas de transporte e a distância de centros consumidores, enquanto a dimensão tempo está
relacionada aos ciclos biológicos, comuns a todos os produtores em um mesmo mercado. Outra
especificidade diz respeito à redução de custos, associada aos grandes negócios (economias de
escala e escopo), muito limitadas na agropecuária devido à falta de condições que geram e
consolidam largas unidades produtivas, grandes negócios e alta concentração de mercado,
presentes nos setores industriais.
NANTES e MACHADO (2005b) destacaram que o procedimento de inovação
tecnológica na agropecuária brasileira refere-se predominantemente a um processo de difusão
de tecnologia e não a um processo interno às empresas de desenvolvimento de inovações. Em
outras palavras, o setor depende de outras indústrias desenvolverem as inovações tecnológicas
que serão, posteriormente, difundidas de acordo com as necessidades de cada atividade. Essa
realidade é evidente quando se trata de TI, sendo necessárias muitas vezes, adaptações para
aplicação nas atividades rurais.
2.2.4 Tecnologia, inovação e inovação tecnológica
De acordo com BRITANNICA (2001) a tecnologia é “a aplicação do
conhecimento científico aos objetivos práticos da vida humana ou, como é redigida às vezes,
à mudança e à manipulação do ambiente humano”.
Em outras palavras, o termo tecnologia refere-se a um conjunto de partes do
conhecimento, práticos ou teóricos, que adquire especificidades ao assumir formas concretas
de aplicação a determinada atividade. Esse conjunto é composto por procedimentos, métodos,
experiências, know-how, mecanismos e equipamentos, cujo principal objetivo é a busca de
novas soluções técnicas em processos ou produtos.
28
Segundo UDDIN (2006), a inovação tem origem no desenvolvimento tecnológico
e a gestão eficaz da promoção da inovação é que faz a tecnologia crescer. Uma vez que a
tecnologia tem sido e continua a ser uma das principais variáveis do rápido desenvolvimento
socioeconômico, a promoção da inovação e os atos conjuntos de difusão são as principais forças
condutoras à tecnologia e ao desenvolvimento socioeconômico. Pode-se notar que a inovação e a
produção ocorrem inicialmente em países em que há uma demanda interna para o
produto/tecnologia. De fato, quando uma inovação tem ou cria uma demanda de mercado que
conduz à difusão da inovação, articulada ao processo de produção, se transforma em tecnologia.
Contudo, a dificuldade em antecipar a evolução da tecnologia e seus efeitos é
composta não somente por sua rápida mudança e pela falta de percepção da tecnologia, mas
também porque a evolução é uma escolha social. No final é a sociedade quem escolhe um
resultado potencial, dependendo das decisões realizadas no investimento, na aceitação, na
adoção e na rejeição (SCHIEFER, 2004).
Segundo DUSSAUGE et al. (1992) a palavra tecnologia é muitas vezes utilizada
em contextos em que a palavra ‘técnica’ seria mais adequada. Essas técnicas são o resultado de
conhecimentos formalizados e transmitidos, representando a base do desenvolvimento de todas
as atividades industriais (GOUVEIA, 1997). A definição de tecnologia em todas as áreas da
empresa foi discutida por STEELE (1989), citado por GOUVEIA (1997), como a capacidade da
empresa em fornecer os seus produtos/serviços.
De acordo com PEDROSO (1999), apesar do termo tecnologia ser amplamente
difundido nos meios acadêmicos, governamentais e no ambiente das empresas, seu
significado pode variar em função do contexto em que ele é utilizado. O autor adota a
conceituação de tecnologia baseado em três considerações, de acordo com
STONESBRAKER e LEONG (1994):
i) os componentes da tecnologia, que contemplam três questões fundamentais:
a pesquisa, que diz respeito à descoberta de conhecimentos novos e abstratos;
o desenvolvimento, que considera a aplicação prática do conhecimento;
a mudança, que aborda a utilização efetiva do conhecimento.
ii) o nível de análise da tecnologia, que considera o estudo desta segundo três
níveis de abrangência:
29
o universo macro, que considera o campo de estudo delimitado segundo
características geográficas, comerciais ou políticas em diferentes níveis de
agregação;
o universo meso, que analisa a tecnologia no âmbito de setores industriais;
o universo micro, que estuda a tecnologia no contexto das empresas.
iii) a classificação da tecnologia, que contempla o desdobramento desta em
cinco tipos ou categorias:
tecnologia de processo, que aborda a pesquisa, o desenvolvimento e a
introdução de novas tecnologias de processo;
tecnologia de materiais, que considera a pesquisa, o desenvolvimento e a
introdução de novos materiais;
tecnologia de produtos e serviços, que contempla a pesquisa, o
desenvolvimento e a introdução de novos produtos e serviços;
Tecnologia da informação, que diz respeito à pesquisa, o desenvolvimento
e à introdução de novas tecnologias da informação;
tecnologia de gestão, que considera a pesquisa, o desenvolvimento e a
introdução de novas técnicas de gestão.
Como a busca pela eficiência tem se tornado um elemento-chave na
sobrevivência das propriedades rurais, a tecnologia passou a ser um elemento de destaque
entre os fatores concorrenciais dos empreendimentos, que alocam recursos em determinadas
tecnologias, no sentido de aumentar a competitividade em seus setores de atuação e melhorar
sua capacitação para penetrar em novos mercados.
É a partir do processo de transferência de tecnologia que as sociedades podem se
beneficiar do desenvolvimento evolucionário, isto é, o crescimento como resultado da inovação
tecnológica. Pode-se notar que uma inovação é dita ter ocorrido, quando uma idéia (conhecimento)
ou produto/processo, após passar pela pesquisa e desenvolvimento, formal e/ou informal, foi
incorporada(o) em um programa regular de produção ou em um uso prático. Essa transferência ou
disseminação das inovações pode ser compreendida como a difusão da tecnologia.
A difusão tecnológica pode ser entendida como o processo pelo qual uma nova
tecnologia, introduzida por uma empresa ou entidade, passa a ser utilizada por outras. Na
literatura encontra-se também a utilização do termo ‘adoção’ para a primeira introdução de
30
uma tecnologia e o termo ‘inovação’ para o processo de difusão dessa tecnologia (SANCHES
e CAPOTE, 1998).
Esses autores destacaram que a difusão tecnológica não deve ser vista apenas
como a multiplicação quantitativa de uma mesma inovação sem que esta sofra mudanças, uma
vez que esse processo geralmente vem acompanhado de uma série de inovações incrementais,
tornando assim a nova tecnologia mais atraente a seus usuários. Para que uma inovação seja
difundida, ela deve apresentar vantagens em relação a outras tecnologias em uso, que sejam
suficientes para vencer as barreiras de aceitação.
A inovação e sua difusão devem ser consideradas do ponto de vista do produtor
e do usuário, mantendo sempre sua interdependência. A difusão de uma inovação consiste na
melhoria contínua das características de desempenho dessa inovação, em sua modificação
progressiva e adaptação, para servir às exigências especializadas dos vários mercados
(ROSENBERG, 1983). A potencialidade tecnológica e o conhecimento local contribuem
significativamente para o processo de melhorias adaptáveis.
Segundo UDDIN (2006), a demanda por inovações origina do processo de
difusão de uma tecnologia em particular ou um conjunto de tecnologias. Conseqüentemente, a
inovação não é essencialmente a mesma durante todo o processo de difusão. Pode-se notar que
o processo de inovação contínua, parte da tecnologia modificada para satisfazer à necessidade
do usuário especializado, melhora a eficiência e o desempenho da tecnologia nova.
SHARIF (1986) relatou que a ausência de uma ‘cultura tecnológica’ em países em
desenvolvimento não é interessante e, em alguns casos, essa ausência questiona a necessidade
para promover inovações locais particularmente para mudanças tecnológicas incrementais
menores, as quais, no entanto, podem ter uma forte implicação econômica para os pequenos
produtores rurais e para a difusão da tecnologia que atende por inovação contínua.
De acordo com UDDIN (2006), a existência de uma ‘cultura tecnológica’ é
complementar às iniciativas existentes para a introdução das forças produtivas que podem
conduzir ao desenvolvimento tecnológico. As iniciativas que visam apoiar inovações locais
invariavelmente podem ter alguma influência nas ligações entre o conhecimento e a difusão
local da tecnologia.
Na perspectiva dos países em desenvolvimento, há uma necessidade de apoiar as
tecnologias que pertencem ao ‘domínio tradicional da tecnologia’
3
. Entretanto, a questão mais
3
O ‘domínio tradicional da tecnologia’ se refere àquelas áreas cujas tecnologias locais existem no país, mas são
necessárias para a modernização e para aumentar a produtividade do trabalho, realçar a qualidade e a
durabilidade do produto, diversificar a abrangência dos produtos e aumentar as oportunidades de empregos rurais
(SHARIF, 1986).
31
importante é o quanto esse país está se comprometendo no planejamento do desenvolvimento
nacional, com a integração de projetos que pertencem ao ‘domínio tradicional da tecnologia’.
Inovações locais enfatizam a necessidade de produção local de bens e serviços, e também
ocorrem em resposta à demanda local que surge fora da difusão de uma tecnologia particular,
assegurando sempre que possível, o uso dos recursos disponíveis localmente.
A distinção entre o conceito de inovação e inovação tecnológica foi relatada por
BERTZ (1987) definindo inovação como a introdução de novos produtos, processos e serviços no
mercado, enquanto a inovação tecnológica implica necessariamente na introdução desses
produtos, processos e serviços, a partir de novas tecnologias.
FREITAS (1996) destacou que a inovação representa, muitas vezes, uma
ruptura, dado que certas inovações destroem ou tornam obsoletas as competências já
adquiridas. Nesse sentido, no âmbito das empresas deve haver flexibilidade para os processos
de mutação, pois esses processos permitem o aprendizado, conduzindo a novas qualificações,
novos conhecimentos, novos produtos e novos mercados.
HIGGINS (1995) sugeriu a seguinte classificação para a inovação:
a) inovação do produto: resulta em novos produtos ou serviços ou em
melhorias de produtos ou serviços existentes; a inovação em nível de produto pode ser
subdividida em: melhoria contínua, produção de novos produtos a partir de produtos velhos e
produção de um novo produto que corta, de forma radical, com o passado;
b) inovação de processo: resulta em processos melhorados dentro da
organização. Está centrada na melhoria da eficiência e da eficácia do processo produtivo;
c) inovação de marketing: resulta numa melhoria significativa em alguns dos
elementos do “marketing-mix”: produto, preço, promoção, distribuição e mercado, podendo
basear-se na diferenciação ou nos custos;
d) inovação de gestão/organização: resulta em melhorias significativas na gestão da
organização; é fundamental para as empresas que quiserem acompanhar os desafios estratégicos;
baseia-se em alguns campos de ação como: planejamento, organização, liderança e controle.
As inovações podem ser divididas em dois grupos, com base nos aspectos
tecnológicos da inovação e nos aspectos simbólicos (HIRSCHMAN, 1981, citada em
MOWEN e MINOR, 2003, p.285). Uma inovação simbólica comunica um significado social
diferente do que fazia antes devido à aquisição de novos atributos intangíveis, como por
32
exemplo, a difusão
4
de novos estilos de moda. Uma inovação tecnológica resulta em uma
mudança nas características de um produto ou serviço por meio da introdução de uma
mudança tecnológica, como por exemplo, um CD player.
As inovações tecnológicas impactam de forma diferente o comportamento em
uma estrutura social. SAAKSJARVI (2003) relatou uma classificação para as inovações, cuja
tipologia tem sido largamente utilizada em marketing: (i) inovação contínua, (ii) inovação
dinamicamente contínua e (iii) inovação descontínua.
Uma inovação contínua é mais a modificação de um produto existente do que o
estabelecimento de um totalmente novo. Tem pouca influência na quebra de padrões de
comportamento estabelecidos, apenas acrescentando algo aos produtos existentes, como
televisores de alta-definição ou telefones com funções específicas.
Uma inovação dinamicamente contínua pode envolver a criação de um novo
produto ou a alteração de um existente, mas geralmente não altera padrões estabelecidos de
compra e uso de produto pelo cliente. É caracterizada por não representar nem uma inovação
radical, nem refletir somente em incremento. São os CDs, celulares e os notebooks, entre outros.
Uma inovação descontínua envolve a introdução de um produto inteiramente
novo, que faz os consumidores alterarem significativamente seus padrões de comportamento.
É caracterizada por produtos radicalmente novos quando introduzidos no mercado, como a
televisão, o telefone e o computador.
DAY, SCHOEMAKER e GUNTHER (2000) destacaram que as inovações
tecnológicas podem ser divididas em dois grandes grupos: (i) as tecnologias emergentes, com
potencial para criar ou transformar uma indústria, refletindo em produtos ou serviços
radicalmente novos para o mundo, e (ii) as tecnologias evolucionárias, formadas pela interação
de campos de pesquisa diversas.
Segundo GOUVEIA (1997), a inovação de produto conduz principalmente à
vantagem competitiva por meio da diferenciação. A inovação de processo conduz
principalmente à vantagem pelos custos baixos. A inovação de marketing ajuda a atingir os
objetivos da diferenciação relativa e/ou custos mais baixos por meio da melhoria das estratégias
e táticas relacionadas ao “marketing-mix”. Por fim, a inovação relativa à gestão permite atingir
ambos os objetivos: diferenciação relativa e custos baixos, por meio da melhoria da eficácia e
da eficiência dos esforços para atingir esses objetivos.
4
Ao se tratar de comportamento do consumidor, o termo difusão refere-se ao processo por meio do qual idéias,
produtos e serviços inovadores se tornam popular entre a população consumidora (MOWEN e MINOR, 2003, p.284).
33
Algumas das principais razões para o insucesso das inovações podem ser
atribuídas a: (i) falta de uma abordagem compreensiva e de visão futura; (ii) troca inadequada de
informação e de integração com processo de difusão da tecnologia; (iii) falta de infra-estrutura
institucional e (iv) ausência da participação dos indivíduos. O desenvolvimento de inovações
locais deve, conseqüentemente, considerar um conjunto de questões geralmente relacionadas à
demanda e o suprimento de apoio dos agentes de um processo de difusão da tecnologia e da
identificação desses fatores, que pode ser feita nos processos da interação da inovação-difusão.
Um componente crítico da inovação bem sucedida é a melhoria e adaptação
tecnológica contínua de um produto ou processo para uma diversidade crescente de usuários,
levando à adoção da mesma por um número cada vez maior de pessoas e ou de empresas nas
mais diversas posições.
Os fatores inibidores das inovações podem ser classificados como:
administrativo/gerencial, econômico, psico-social e cultural. Esses fatores inibem todos os
tipos das inovações: o processo de inovação tecnológica contemporâneo, os processos de
inovação organizacional e as inovações éticas (CANTISANI, 2006).
De acordo com o autor, os fatores inibidores administrativos/gerenciais e os
econômicos são mais visíveis e relativamente mais fáceis de se neutralizar, enquanto o
comportamento psico-social é considerado um determinante mais difícil de mudar em todos
os grupos. Quando a tecnologia é adotada por um grande número de indivíduos durante um
longo período de tempo, tende a se tornar fator inibidor cultural. Como um paradigma, que
ocorre no sentido de os indivíduos acreditarem em coisas sem nunca terem pensado se
realmente eram reais e todos acreditam nelas como se ‘fossem aprendidos por osmose’, os
fatores inibidores culturais são muito difíceis de neutralizar, uma vez que sua mudança
implica em retornar a mudanças de comportamento de ordem psico-sociais de um grande
número de indivíduos.
Uma das origens dos fatores econômicos inibidores das inovações no Brasil e
em outros países em desenvolvimento consiste na adoção, há aproximadamente 40 anos, de
um modelo de desenvolvimento econômico baseado na substituição de importações com
intensa proteção da nova transformação setorial. E aparentemente, o comportamento psico-
social do agente econômico, repetido por 40 anos, cristalizou-se nos padrões culturais do
comportamento listados por LINDSAY (2000) no Quadro 2.1.
A inovação é um processo contínuo e pode ocorrer em todo o estágio do ciclo
de vida da tecnologia. A inovação na economia rural se refere ao novo ou ao desenvolvimento
de técnicas de produção, de entradas, de processos, de pequenas ferramentas/máquinas ou de
34
uma nova abordagem da aplicação da tecnologia existente explorada pelos produtores ou
pelas empresas rurais. A inovação envolve uma mudança no conhecimento ou idéia,
acompanhada da pesquisa e do desenvolvimento (P&D). Induz mudanças na sociedade
gerando idéias novas para uma inovação posterior (CANTISANI, 2006).
QUADRO 2.1 – Padrão de comportamento cultural baseado em vantagens comparativas
e competitivas.
Vantagens comparativas Vantagens competitivas
Características de resistência ao
progresso
Características que facilitam o progresso
Mercado protegido Globalização e competição
Foco macroeconômico Foco microeconômico
Acesso aos líderes Nível de produtividade da firma
Capital financeiro e físico Capital humano e conhecimento
Organizações rígidas Organizações flexíveis
Economia de escala de produção Estratégias de migração
Abordagem reativa Abordagem pró-ativa
Governo é o principal estrategista Visão cooperativa e compartilhada
Distribuição de riquezas Criação de riquezas
Paternalismo
versus
Inovação
Fonte: LINDSAY (2000, p.291).
A adoção de um equipamento específico envolve freqüentemente a
descontinuidade de um equipamento mais velho e em alguns casos, mudanças nos equipamentos
induzem modificações em uma ou mais peças desse equipamento. Ocorrem também os chamados
complementos na adoção de equipamentos em uma propriedade rural: a especificação do tamanho
de um equipamento é freqüentemente dependente da especificação de outros fatores. A difusão de
diferentes modelos dos mesmos equipamentos na propriedade necessita ser analisada com critério
para identificar os motivos que levam à inovação e à difusão.
De acordo com ADAMIDES e KARACAPILIDIS (2006), a inovação é uma
tarefa que depende de indivíduos e do conhecimento coletivo da organização. Como um
processo, envolve em cada estágio a identificação, a resolução, a predição e a antecipação do
problema. A interação social é o elemento mais essencial desse processo e o papel da TI é
estruturá-lo de uma maneira que, enquanto de um lado é incentivada a divergência de
perspectivas, de outro, possibilita alcançar resultados valiosos.
IMPARATO e HARARI (1997) verificaram que a globalização e a tecnologia são
os principais responsáveis pela necessidade da inovação. A globalização diversifica o mercado,
35
aumenta o número de concorrentes, dá mais opções para o cliente oferecendo inúmeras
oportunidades. A tecnologia utiliza a velocidade como principal fator de competitividade,
obrigando as empresas a reformularem seus produtos e processos.
O desenvolvimento tecnológico acontece principalmente no plano dos
conhecimentos científicos aplicáveis à produção, sem se incorporar necessariamente ao processo
produtivo e, via de regra, precede o progresso técnico, que somente se materializa a partir do
momento em que essa integração ocorre. A defasagem cronológica que separa esses dois
momentos pode ser a responsável pela lentidão na difusão de novos desenvolvimentos e a perda
da potencialidade econômica de muitas de suas aplicações (NANTES e MACHADO, 2005b).
O surgimento do computador pessoal na década de 1980 e a criação da Internet
na década seguinte marcaram os recentes avanços na TI, influenciando a comunicação, a
atividade profissional, o entretenimento e o consumo de bens. Esse avanço pode ser considerado
uma inovação tecnológica para a sociedade em geral, que se caracteriza por trazer novas
ferramentas para um ambiente social. Segundo TORNATZKY e FLEISCHER (1990, p.11), a
inovação tecnológica “envolve situações de novos desenvolvimentos e a introdução de novos
conhecimentos derivados de ferramentas, artefatos e aparelhos, os quais as pessoas entendem e
interagem com seu meio ambiente, nos contextos social e tecnológico”.
ROBERTS (1984) definiu a inovação tecnológica a partir de quatro etapas: (i) a
criação de novos conhecimentos; (ii) a geração de idéias técnicas que permitam obter novos
produtos, processos e serviços e melhorar os já existentes; (iii) o desenvolvimento de idéias e
protótipos de trabalho; e (iv) a transferência destas mesmas idéias para as fases de fabricação,
distribuição e uso. Essa definição pode ser complementada por ROGERS (1995), ao sugerir que
a inovação tecnológica concretiza-se quando novas idéias são inventadas, difundidas, adotadas
ou rejeitadas, acarretando certas conseqüências, como mudanças sociais, por exemplo.
No meio rural, nem sempre uma tecnologia de ponta significa ser a melhor.
Portanto, é importante que a introdução de uma nova tecnologia venha acompanhada da
análise das variáveis que envolvem a sua adoção, principalmente as relacionadas aos custos
financeiros, sociais e ambientais e às possibilidades de mercado.
2.3. Tecnologia da informação
No meio rural, a economia do conhecimento e as tecnologias da informação (TI)
possibilitam novas oportunidades e desafios. As TI permitem equilibrar algumas desvantagens
econômicas do ambiente rural, reduzindo as barreiras de tempo e de distância dos principais
mercados. Dessa forma, o acesso às novas tecnologias da informação e de comunicação
36
transformou-se em uma questão central entre os agentes rurais que trabalham para assegurar a
viabilidade das comunidades rurais no longo prazo.
O século XXI deve ser caracterizado pelo desenvolvimento rápido e
continuado de novas tecnologias da informação e de comunicação. Em uma economia em que
a velocidade de acesso às informações é um fator significativo na competitividade dos
negócios e das comunidades, um atraso significativo na adoção de novas TI poderá colocar os
retardatários em uma expressiva desvantagem (HOLLIFIELD e DONNERMEYER, 2003).
Como junção de dois termos, Tecnologia e Informação, o conceito de TI engloba
hardware, software, telecomunicações, automação, recursos multimídia, recursos de organização
de dados, sistemas de informação, serviços, negócios, usuários e as relações complexas
envolvidas na coleta, uso, análise e utilização da informação (FERREIRA e RAMOS, 2005).
HAMEL (2002) enfatizou o papel da TI como um facilitador não somente do
produto ou do processo de inovação, mas também do que se chama de inovação do conceito do
negócio. Especificamente no agronegócio, SCHIEFER e ZAZUETA (2004) relataram que a TI
tem o potencial de promover suporte ao setor agroalimentar para que este lide com desafios,
sendo também um facilitador para futuros desenvolvimentos. A atual orientação das empresas
para a globalização se constrói sobre uma moderna tecnologia de comunicação e é acelerada
pela habilidade de uma comunicação tecnológica. Dessa dupla perspectiva, a adoção da TI por
membros do setor agroalimentar não é mais uma questão de escolha, mas de sobrevivência.
2.3.1 Papel da TI na gestão dos negócios
Dentre os diversos conceitos existentes na literatura para a TI, foram escolhidos
dois que parecem ser mais apropriados para o presente trabalho. Um deles, identificado no
Relatório do Office of Technology Assessment (OTA), define a TI como “o uso do computador e
da microeletrônica para a automação da coleta, manipulação e processamento das informações
com vistas ao controle e manejo da produção agrícola e de sua comercialização” (OTA, 1986,
p.6). O outro conceito, de FURLAN e IVO (1992, p.3) é mais direto e amplo, definindo que a TI
abrange toda e qualquer forma de gerar, armazenar, veicular, processar e reproduzir informação.
A TI vem sendo considerada um importante agente de reestruturação do ambiente
e das funções dentro e fora das organizações, por interligar pessoas, processos e empresas. No
campo administrativo, os produtores rurais vêm realizando mudanças administrativas, a partir da
contratação de funcionários mais qualificados, do controle dos custos de produção, da alocação
mais adequada de recursos, da padronização dos processos e do estabelecimento de fluxos de
produção de acordo com as épocas de maior retorno, da melhoria da qualidade dos produtos, da
37
participação ativa em Associações de Classe e, principalmente, a partir da implementação de
novas tecnologias da informação e comunicação, o que inclui computadores, periféricos,
programas, redes e sistemas de comunicação (FIGUEIRA et al., 2004).
A TI está intimamente ligada a diversas transformações ocorridas nas
empresas, sendo inserida em praticamente todas as atividades empresariais, provendo suporte
para a melhoria da qualidade de serviços e produtos. De acordo com FERREIRA e RAMOS
(2005), encontram-se exemplos do uso da TI nos níveis operacionais, de conhecimento,
gerencial e estratégico, tornando os investimentos em tecnologia cada vez mais altos e mais
constantes. Os funcionários dispõem de recursos computacionais mais potentes e com funções
e programas diversificados, além de assistentes digitais, laptops, sistemas sem fio etc. Os
sistemas das empresas se comunicam com filiais, fornecedores, clientes e todo o tipo de
conexão que se fizer necessária dentro da cadeia de valor.
A identificação dos fatores e efeitos da TI sobre as variáveis estratégicas foi tratada
nos trabalhos de PORTER (1991) e PORTER e MILLAR (1997), que apresentaram alterações na
maneira de se fazer negócios. Tais autores mostraram que não restam dúvidas da importância da TI
para o sucesso das estratégias competitivas. Os autores que utilizam essa teoria procuram identificar
a capacidade da TI em alterar a maneira de as empresas operarem, em transformar a cadeia de valor
e em apoiar a implementação de estratégias (MAHMOOD e SOON, 1991).
De acordo com VENKATRAMAN (1994), a TI pode ser usada de forma
estratégica pelas organizações em cinco níveis crescentes: (i) exploração localizada, (ii)
integração interna, (iii) reengenharia de processos, (iv) reengenharia de redes de negócios e
(v) redefinição do escopo dos negócios, oferecendo diferenciais de competitividade. Esses
níveis são ilustrados na Figura 2.1.
Os dois primeiros níveis são considerados evolucionários porque requerem
mudanças incrementais no processo organizacional existente, enquanto os demais níveis
constituem uma natureza revolucionária, determinando a transformação dos processos de
negócio. A exploração localizada ocorre quando o uso da tecnologia se dá de forma discreta
em processos localizados. A integração interna diz respeito à realização da integração dos
processos da organização, aumentando a eficácia e eficiência da mesma como um todo. A
reengenharia de processos é o nível na qual a tecnologia é usada com o objetivo de mudar o
negócio da empresa. A reengenharia de redes de negócios ocorre quando a tecnologia é usada
para redefinir a rede de negócios e a redefinição do escopo dos negócios significa o uso da
tecnologia para explorar novas oportunidades.
38
FIGURA 2.1 – Níveis estratégicos da tecnologia da informação.
Fonte: VENKATRAMAN (1994).
Segundo GRAEML (2003), a exploração localizada e a integração interna podem
trazer benefícios competitivos à organização, sendo que estes só ocorrem quando aparecem os
verdadeiros ganhos por meio do redesenho dos processos. O redesenho da rede de negócios, com o
apoio da TI, pode levar, na seqüência, à redefinição do próprio escopo de atuação da organização.
2.3.1.1. Papel da TI na competitividade das empresas
MORRIS et al. (1998) observaram que não é possível estruturar uma
organização eficiente apenas com a estratégia de informação e a aplicação dos recursos de TI,
sendo necessário, também, combinar a estratégia de negócios e recursos humanos. Por esse
motivo, uma questão importante a ser abordada diz respeito ao modo como os executivos
consideram a TI: despesa ou investimento. Segundo GRAEML (2003, p.37), “despesas são
normalmente associadas a gastos recorrentes e os benefícios advindos são imediatos e de vida
curta. Investimentos são gastos menos freqüentes, cujos benefícios estão usualmente associados
à estratégia da empresa e não ocorrem tão rapidamente”.
Muitas empresas ainda enxergam a TI como custo, não como investimento. As
aquisições de computadores e softwares são vistas como despesa, apenas como um meio de se
garantir mais agilidade no processo. Em muitos casos, os investimentos em TI são induzidos por
uma necessidade de acompanhar a concorrência. Essa visão pode ser comprovada em momentos
de corte de custos, onde a área de TI é uma das que mais sofrem com a redução de orçamentos.
Redefinição do escopo dos negócios
Reengenharia de redes de negócios
Reengenharia de processos
Integração interna
Exploração localizada
Baixo
Grau de transformação
Alto
Níveis revolucionários
Alto
Benefícios
Níveis evolucionários
39
O uso da TI e os efeitos sobre a produtividade e o desempenho organizacional
é uma área de grande interesse acadêmico e profissional. Segundo MAÇADA (2001), embora
haja uma quantidade significativa de pesquisas realizadas na área de Sistema de Informação, a
literatura falha em explicar, conclusivamente, o impacto estratégico e econômico que os
investimentos em TI têm sobre a produtividade e desempenho organizacional.
Segundo SMITH e McKEEN (1993), há duas formas básicas de saber se o uso
da TI afeta o desempenho e a produtividade organizacionais: (i) pela redução dos custos do
trabalho ou por fazer o trabalho mais eficiente; e (ii) através de geração de receitas devido à
criação de novos produtos ou serviços.
Resultados empíricos mostram que a TI está correlacionada positivamente com
a produtividade, mas há variações significativas entre organizações. Assim, alguns tipos de
negócios terão benefícios organizacionais maiores e mais visíveis, e retornos financeiros mais
rápidos do que outros. Variações entre as empresas também existem, pois enquanto grandes
somas de dinheiro têm sido gastas em TI obtendo-se pequeno retorno, outras gastaram
quantias similares com grande benefício (BRYNJOLFSSON e HITT, 2003).
Entretanto, KEMPIS et al. (1999) ressaltaram que a avaliação de investimentos
em TI não pode restringir-se a uma simples análise financeira, devendo incorporar outros
métodos de análise. CERRI e CAZARINI (2002) relatam que os retornos esperados pelos
executivos, quando investem em TI, são intangíveis, como qualidade, eficiência, eficácia,
integração de processos da empresa, agilidade, compreensão, permitindo melhor
entendimento com clientes, fornecedores e processos operacionais, produtividade e
eliminação ou redução de custos.
A abordagem da competitividade com base na TI teve origem na possibilidade de
considerá-la como um fator de sucesso para a organização. PORTER e MILLAR (1997)
sugeriram que a competitividade, de um modo geral, seria o principal fator para utilização da TI.
Contrariamente a essa afirmação, CARR (2003) relatou que a tecnologia não
traz diferencial competitivo, acrescentando que para a TI possuir valor estratégico, é preciso
permitir que as companhias a usem de uma forma diferenciada. Por isso, à medida que a
tecnologia está acessível a todos, esse uso diferenciado tende a desaparecer. Esse conceito de
TI diz respeito somente a hardware e software, os quais se tornaram fatores de produção
como qualquer outro. Ou seja, representam apenas mais um investimento obrigatório para a
continuidade do processo administrativo e que não garantem nenhuma vantagem competitiva.
Entretanto, diversos autores afirmam que a TI não significa somente hardware
e software. E justamente por ir além dessa definição, ou seja, incluindo informação e
40
conhecimento (sobre clientes, processos, operações e mercados), é que pode residir o
verdadeiro diferencial: o uso inteligente e eficaz da informação. De acordo com GRAEML
(2003) e FERREIRA e RAMOS (2005), é o processo de uso estratégico da informação que
pode vir a gerar o diferencial competitivo, o que implica na maneira como essas informações
serão utilizadas nos processos e serviços das empresas e no ambiente de negócios.
2.3.1.2. Papel da TI na competitividade do setor rural
SCHIEFER (2004) destacou que atualmente o setor agroalimentar tem que
enfrentar simultaneamente desafios críticos surgidos de várias fontes. A globalização aumenta
a competição, mas traz consigo riscos mais elevados em segurança e qualidade do alimento.
Essas crescentes pressões intensificam controles de processo e melhorias na qualidade e
segurança do alimento, na rastreabilidade dos produtos ao longo de toda a cadeia de produção,
e nas conseqüências ambientais de cada operação realizada.
Esses aspectos determinam grandes desafios a respeito da organização do setor
e da eficiência, que não podem ser enfrentados pelas empresas individualmente ou pelas
empresas de um determinado elo da cadeia como, por exemplo, as propriedades rurais. A
interdependência entre os níveis de produção de alimentos requer iniciativas comuns e novas
abordagens para a cooperação.
Enquanto as iniciativas requerem uma abordagem de cooperação, também são
necessárias mudanças nas atividades internas das empresas e em sua interação com as demais.
É nesse sentido que a TI surge como facilitador e, por isso, esforços estão sendo realizados
para integrar as oportunidades em TI de uma maneira apropriada nessas atividades. A
tendência de desenvolvimento da TI nessas categorias de atividades se encontra agrupada em:
atividades de mercado, atividades de processo e gestão das atividades de decisão e de
extensão (SCHIEFER, 2004).
As atividades de mercado focam a negociação, a logística e a comercialização.
Essas atividades determinam mercados relacionados ao negócio e são de relevância para a
organização e a eficiência operacional do setor. O papel da TI na melhoria do mercado
envolve qualidade e segurança do alimento, rastreabilidade, resposta eficiente ao consumidor
(ECR), eficiência na transação, comunicação para sustentar a confiança dos consumidores e a
coordenação da cadeia de suprimentos. Nesse caso, a palavra-chave para a TI é comunicação,
incluindo a utilização de tecnologias emergentes de comunicação integrada.
As atividades de processo nesse contexto se referem aos processos internos da
empresa na produção de alimento e no controle da produção. Nesse caso, o papel da TI inclui
41
confiabilidade, controle e eficiência do processo. O foco principal da TI é o controle
automático e otimização do processo.
A gestão de suporte à decisão por meio de sistemas baseados em TI, como
Sistemas de Gestão da Informação (MIS), Sistemas de Suporte à Decisão (DSS) ou Sistemas
Executivos de Informação (EIS), instalados dentro de uma empresa ou fornecido por terceiros
é uma prática já estabelecida (TURBAN et al., 1999). Envolve a coleta, seleção,
processamento e comunicação da informação em uma ou mais atividades. O atual
desenvolvimento da TI adiciona novas dimensões ao acesso e à comunicação da informação,
focando em ambientes que integram redes de conhecimento baseados em conhecimentos
locais, regionais ou globais.
Em relação à competitividade na pecuária de corte, as análises cada vez mais
complexas e o número de fatores que os pecuaristas precisam considerar no processo de
tomada de decisão devem aumentar continuamente em função, principalmente, das rápidas
mudanças no ambiente competitivo e do surgimento de novas TI, tornando necessário avaliar
variáveis anteriormente não consideradas nos processos decisórios.
Segundo SILVA et al. (2004), à medida que a competição se torna mais
acirrada, maior é a importância dos ganhos em produtividade trazidos pela TI. Dessa forma,
independentemente de porte ou atividade, as empresas passam a considerar os impactos
trazidos pela TI aos negócios, incluindo aspectos relacionados ao mercado e à concorrência
para, a partir daí utilizarem a tecnologia como ferramenta de competitividade, com impactos
positivos, nos mais variados ramos de atividade.
A competitividade do agronegócio brasileiro está diretamente relacionada ao
aumento de eficiência nas cadeias produtivas, papel desempenhado pela TI tanto em níveis
administrativos e operacionais quanto estratégicos, onde se decide sobre a condução das
atividades de modo a maximizar o potencial do negócio e, conseqüentemente, minimizar erros
de decisão (FRANCISCO e PINO, 2004).
O aumento de eficiência pode ser entendido como a capacidade da empresa
obter rentabilidade e manter participação de mercado no âmbito interno e externo, de maneira
sustentada. Nesse caso, a eficiência da empresa ou de uma cadeia produtiva qualquer pode ser
melhorada por meio do compartilhamento de informações e do planejamento conjunto entre
os diversos agentes de um canal de distribuição.
A TI está tendo importante papel na busca pela melhoria da posição
competitiva das empresas. Em um ambiente competitivo, ela é decisiva para o
desenvolvimento de processos operacionais e gerenciais. A sobrevivência no mercado
42
depende da habilidade para tratar informações oriundas de múltiplos sistemas e disponibilizá-
las amplamente aos responsáveis pela tomada de decisão.
SANTOS JUNIOR, FREITAS e LUCIANO (2005) relataram que a TI vem se
mostrando como ferramenta indispensável, na medida em que imprime maior velocidade aos
processos internos e permite aos gestores um conhecimento e um relacionamento amplo com
seu ambiente de influência. Ao ser incorporada ao sistema produtivo, altera radicalmente a
estrutura e o modo pelo qual o trabalho é executado, sobretudo no que diz respeito ao trabalho
de produção e de coordenação.
O trabalho de coordenação tende a tornar-se mais efetivo em razão do aumento
da capacidade em coletar, estocar, processar e transferir informações, possibilitando obter
maior velocidade de comunicação intra e interfirmas, reduzir tempo de resposta às variações
no ambiente, reduzir tempo e expandir o conhecimento. Quando combinadas, essas
características podem ser traduzidas em economias e ganhos de produtividade, mediante a
eliminação de etapas do processo produtivo que não agregam valor, intensificação da
comunicação e do feedback interno, maior capacidade de coordenação interdepartamental,
facilidade de monitorar e manter o processo sob controle, integração com as atividades dos
fornecedores por meio de um fluxo de informações permanente e atualizado (VALLE, 1996).
Internamente à empresa, o uso da TI é um instrumento capacitador para
promover a coordenação interdepartamental, na qual as diversas etapas do processo produtivo
precisam estar integradas de modo a estimular a cooperação interna, aumentar a capacidade
de resposta a imprevistos e dar flexibilidade às operações.
As oportunidades de aplicação da TI para a integração e aproximação nas
relações entre empresas, se referem principalmente à troca eletrônica de informações e
possibilidade de interligar pessoas e tarefas de organizações distintas. Esses aspectos têm
implicações positivas sobre o custo das transações, lucratividade e competitividade
organizacional, à medida que o contato direto entre as empresas elimina etapas de conversão de
informações, permite estabelecer programas conjuntos de aperfeiçoamento e desenvolvimento
de produtos, e dinamiza os processos decisórios e de resolução de problemas.
No entanto, apesar da evolução das tecnologias e do reconhecimento do imenso
potencial do uso de sistemas de informações como ferramenta de suporte à decisão, a TI não
tem sido normalmente utilizada como apoio aos processos gerenciais nas agroindústrias, e
principalmente no setor produtivo rural. A falta de sistemas específicos para cada setor é a
principal barreira para adoção desses sistemas nas empresas (FIEMG, 1993). Desse modo,
torna-se necessário que os sistemas de comunicação façam parte das informações utilizadas
43
pelos profissionais em todos os níveis da empresa como um instrumento eficaz de apoio aos
processos decisórios (SILVA et al., 2004).
2.3.2 Dinâmica da difusão e adoção da TI no setor rural brasileiro
2.3.2.1. Evolução da TI no setor rural
Até a década de 1970, pouco se falava em informática na agropecuária fora dos
centros de pesquisa. De acordo com SILVA (1995), foi a partir dos anos 1980 que a informática
avançou na agropecuária brasileira e, embora restrita aos setores de administração e
planejamento das grandes propriedades e empresas agroindustriais, deixou de ser exclusividade
dos centros de pesquisa e ensino, devido à expansão da micro-informática e à redução nos
preços dos produtos. A partir dos anos 1990, novas TI passaram a ser utilizadas na produção
propriamente dita.
Apesar das atividades administrativas dos empreendimentos rurais
apresentarem essa abertura à introdução da informática, o uso dessa tecnologia diretamente na
produção ocorreu posteriormente, por ocasião do desenvolvimento de programas específicos.
A falta de programas e soluções específicas para o setor era, inicialmente, a grande barreira à
adoção da informática em propriedades rurais. Os produtores eram obrigados a desenvolver
softwares próprios, atendendo inicialmente ao setor administrativo e em seguida ao
gerenciamento da produção. Com o surgimento de empresas especializadas e de pesquisas na
área, foi possível superar esse problema.
O crescimento da oferta de softwares permitiu que os produtores contassem com
boas opções de programas adequados às suas atividades. Porém, é importante ressaltar que o
produtor deve estar consciente que a informatização da produção dificilmente atingirá bons
resultados sem que ele prepare adequadamente a propriedade e a atividade antes de aplicá-la.
As aplicações da TI na agropecuária podem ser classificadas em três grandes
grupos, segundo o relatório do Office of Technology Assessment (OTA, 1986):
o processamento local de informações visando à comunicação e
gerenciamento, composto basicamente pela posse, na propriedade, de um
sistema computacional (microcomputador, impressora, programas) isolado
ou em rede (LAN), permitindo o tratamento e armazenamento dos dados;
as tecnologias de controle e monitoramento, utilizadas no gerenciamento
do processo produtivo, compreendendo desde sensores de umidade e
temperatura, até microprocessadores operados por controle remoto que
possibilitam automatizar operações padronizadas, como a alimentação
44
animal e o controle de pragas e doenças; também pode incluir, ainda, os
robôs para automatizar operações que exigem “movimentos livres”, como
o plantio de mudas, a ordenha de vacas e a tosquia de ovelhas;
as tecnologias de telecomunicações, que envolvem as redes de transmissão
de dados por meio de sistemas distintos (rádio, telefone e satélites),
permitindo o acesso aos bancos de dados, a comunicação entre redes LAN
e/ou com equipamentos de monitoramento e controle.
A classificação apresentada anteriormente representa três partes de um grande
sistema que se deseja operar de forma integrada: computadores instalados nas propriedades,
recebendo informações de locais distintos e comandando robôs e/ou equipamentos operados por
controle remoto (SILVA, 1995). Os relatórios do OTA (1986 e 1992) identificaram as
principais mudanças que estariam por vir na produção animal, resultantes da TI. Essas
mudanças viriam da integração dos computadores e da microeletrônica aos sistemas de
produção modernos, ajudando a tornar o produtor rural um gestor mais capacitado. Algumas
áreas promissoras para a TI que se destacam na produção animal são a identificação eletrônica
de animais, o controle da reprodução animal e o controle e a prevenção de doenças.
Essas tecnologias incluem desde máquinas e equipamentos com controle
informatizado, ordenhadeiras automatozadas, equipamentos eletrônicos variados
(microeletrônica) até os microcomputadores. Além dessa gama de hardwares, encontram-se
disponíveis softwares que vão desde planilhas eletrônicas de uso geral até sistemas de
controle administrativo e monitoramento de lavoura e criações, bem como de folha de
pagamentos relativamente sofisticados.
Um outro campo de aplicações das novas tecnologias da computação e da
informação na agropecuária brasileira é o da telemática (telecomunicações), pela importância
estratégica que ela representa. O acesso a bancos de dados, públicos ou privados, permite ao
produtor superar grande parte das dificuldades advindas da sua pulverização e isolamento,
tornando-se melhores administradores e comerciantes (SILVA, 1995).
Atualmente, muitas dessas tecnologias são realidade para alguns produtores.
Entretanto, o fato dos efeitos positivos diretos da adoção dessas tecnologias serem difíceis de
se medir, inibem ações de gerentes e administradores no sentido de investirem em TI. A partir
dessa constatação, TOMASZEWSKI et al. (1997), desenvolveram uma metodologia capaz de
quantificar os efeitos atribuídos aos sistemas de gerenciamento de informação em criações de
animais nas propriedades rurais. Esse estudo concluiu que, a partir do momento que todos os
45
rebanhos foram envolvidos em algum tipo de programa de controle de animais, observou-se
um melhor gerenciamento da produção, com um retorno do investimento da ordem de 220% a
348%, para a suinocultura e de 52% a 205%, para a bovinocultura leiteira.
Apesar das regras impostas pelas normas de qualidade e pelo código de
proteção e defesa do consumidor obrigarem as empresas a adotar as TI para agilizar seus
processos decisórios, gerenciar programas de qualidade, facilitar a capacitação para o uso de
novas tecnologias e inovar com produtos adequados ao mercado, boa parte dos recursos
investidos em um processo de automação da gestão são direcionados à preparação e
treinamento dos usuários, enquanto o percentual menor vai para o software propriamente dito
(REVISTA EMPREENDEDOR, 2001). Esse procedimento pode ser justificado pelo fato do
Sistema de Informação Gerencial (SIG) exigir recursos humanos capacitados a operar
plenamente a nova ferramenta, explorando todos os recursos.
2.3.2.2. Obstáculos na adoção e no uso da TI
Juntamente com os benefícios que a TI proporciona, surgem muitos obstáculos
relacionados à seleção, implantação, uso e manutenção da tecnologia. São, geralmente, custos
relacionados à aquisição da TI e à sua efetiva utilização (FREITAS e RECH, 2003). Dessa
forma, o sucesso da adoção de TI está relacionado com a escolha e o uso adequados,
indicando a assimilação das inovações tecnológicas, o alinhamento entre a TI e as estratégias
da organização, a elaboração de estratégias específicas para investimentos em TI, atitudes
gerenciais e comportamentais voltadas para a inovação (FERNANDES e ALVES, 1992).
Segundo FERNANDES e ALVES (1992), a preocupação das empresas reside
na implementação efetiva da TI e seu impacto na organização. Por isso, a introdução de
inovações deve ser planejada e administrada e o investimento associado deve estar em
sintonia com as necessidades do mercado, bem como com seus objetivos e estratégias de
curto, médio e longo prazo.
DIAS (1998) sugeriu a realização de um planejamento de medidas para gerenciar
os impactos organizacionais, de forma a respeitar o momento da organização, sua história em
relação à utilização de tecnologia, os recursos disponíveis e os conflitos a serem resolvidos.
Para a efetiva gestão da TI é fundamental que seja feita a análise dos custos, dos benefícios
mensuráveis e não-mensuráveis, dos resultados esperados, da realidade econômica, financeira e
político-social da empresa, além de questões sócio-políticas decorrentes do impacto da TI
implantada (MARTENS, 2001, p.13-14). A avaliação de todos esses aspectos deve ter como
foco principal a adequação da TI à necessidade da empresa (REZENDE e ABREU, 2000).
46
Esse cuidado deve-se ao fato de que os indivíduos e as empresas reagem de
diferentes maneiras diante da TI, como por exemplo: fascínio, perplexidade, deslumbramento
ou descrença; há, ainda, aqueles que aceitam as novas tecnologias sem maiores
questionamentos, enquanto outros relutam em aceitá-las (SANTOS et al., 2005).
Assim, ao analisar os obstáculos que as organizações enfrentam ao adotarem novas
TI e as ações que tomam para tentar resolvê-los, FREITAS e RECH (2003) verificaram a ocorrência
de problemas, que podem interferir no processo de adoção. Os principais obstáculos referem-se ao
uso inicial da TI nas empresas, como a questão do treinamento, do tempo exigido para torná-la
eficiente e produtiva e o custo de sua implantação.
O processo de informatização das organizações tem custo elevado, demanda
tempo, provoca alterações na estrutura organizacional e sofre resistências de ordem cultural,
além de apresentar resultados nem sempre satisfatórios (AUDY et al., 1999). Uma vez que a
adoção de TI impacta sobre os indivíduos e sobre os processos organizacionais, a cultura da
empresa deve ser considerada. A manifestação maior ou menor de cada um dos aspectos
relativos à cultura implica em maior ou menor grau de aceitação/resistência dos indivíduos e,
conseqüentemente, da organização à mudança.
Segundo RIBEIRO e SILVA (2001), pode ocorrer, por exemplo, resistência
por parte dos funcionários, advinda do temor ao controle e ao monitoramento. Essa resistência
à mudança pode provocar a esquiva dos funcionários, que passam a adotar a postura de
atribuir o sucesso ou a falha da mudança ao agente externo (BETIOL e TONELLI, 2001).
De acordo com SANTOS et al. (2005), a utilização adequada da TI está sujeita a
um conjunto de condições. São os componentes organizacionais e suas interações, que
determinarão a capacidade de utilização e adequação das TI disponíveis para o sucesso
empresarial. A intensidade de uso e o tipo de TI dependem do setor ou do ramo de atividade das
organizações e do grau de competitividade do setor (OZ, 2000).
O grau de dependência de uma empresa, em TI, está relacionado a quatro
fatores (FERNANDES e ALVES, 1992):
maturidade da empresa com o uso da TI (relacionada com fatores
culturais);
imposição do mercado (necessidade de investimento em TI para poder
competir);
ações gerenciais (relacionadas com a importância da TI para o sucesso do
negócio, do ponto de vista da alta administração e com o comportamento
dos gerentes com relação à inovações);
47
natureza dos produtos e serviços (produtos ou serviços que necessitam de
informação para serem produzidos, implicando em maiores investimento
em TI para apoiar a produção).
Não é uma tarefa fácil o uso da TI de forma competitiva se a empresa não possuir
um direcionamento estratégico bem definido. É preciso saber aonde a empresa quer chegar e
conhecer seu ramo de atuação para que a TI realmente possa auxiliá-la em seus objetivos. Muitas
vezes, organizações adotam novas tecnologias que são largamente utilizadas, porque os
indivíduos envolvidos, de certa forma, a forçam a isso (WEST e BERMAN, 2001).
A adoção de TI como instrumento de competitividade, requer a tomada de decisão
para tal. Entretanto, uma decisão racional possui limites e fatores cognitivos, situacionais,
informacionais e de valores, influenciando no processo decisório. Diante dessas limitações, o
indivíduo, impossibilitado de encontrar a decisão ótima, busca a mais adequada, tendo em vista as
condições disponíveis. Dessa forma, para que haja a decisão é preciso interesse, por parte dos
tomadores de decisão, de efetivamente adotar a TI como instrumento gerencial para alavancar a
competitividade da empresa e escolher a TI adequada (SANTOS et al., 2005). Quanto maior a
organização, mais fatores inibidores surgem, notadamente aqueles de ordem relacional
advindos de uma organização com sistemas organizacionais mais complexos. As principais
dificuldades para o uso da TI encontradas foram: necessidade de treinamento, falta de suporte
técnico, de políticas motivacionais, resistência cultural à mudança, entre outros fatores. Além
disso, questões de ordem econômica, como o custo do hardware e do software, são tidas
como potencialmente inibidoras da adoção da TI.
Apesar do custo da TI tender a diminuir, em função de sua universalização e
conseqüente ganho de escala, e da conscientização de que a TI pode proporcionar redução nos
custos organizacionais, os recursos financeiros necessários para aquisição ou mudança da TI
podem impactar significativamente, dependendo do sistema a ser utilizado. Além de
requererem recursos e demandarem tempo, AUDY et al. (1999) observaram que as
dificuldades de implementação, uso e manutenção são significativas, e que, muitas vezes, os
administradores não conseguem obter as informações quando necessárias. Fatores de ordem
técnica, como base de dados desorganizada, programas que impedem a entrada de novos
procedimentos com rapidez e flexibilidade, ambientes com plataforma de hardware e
software inadequados, são elementos que dificultam a utilização da TI.
SHIO (1997) destacou três grandes obstáculos na agricultura, relacionados à
TI, incluindo tecnologia de comunicação e de computação. O primeiro problema reside na
48
falta de conhecimento da alta tecnologia por parte da população do campo, principalmente das
pessoas com idades mais avançadas, que apresentam comportamentos de rejeitar os
computadores pelo desconhecimento de sua funcionalidade e impossibilidade de operá-los. O
segundo problema apontado foi a falta de instrutores para as novas tecnologias. Em escolas,
professores treinados ensinam tecnologia, mas existem poucos instrutores para os produtores
rurais. O terceiro problema diz respeito à falta ou ao desconhecimento do propósito da
tecnologia, ou seja, para qual finalidade uma nova tecnologia é introduzida.
YAMAGUCHI (2002) acrescentou a esses obstáculos, a migração dos filhos
para outras atividades nas cidades, a falta de recursos financeiros para aquisição de
equipamentos, materiais de informática e treinamento pessoal, a precariedade ou ausência de
serviços de telefonia e energia elétrica, e a ausência de provedores de Internet.
Por esses motivos, a implantação da TI nos empreendimentos rurais deve ser
feita com muita atenção. ANTUNES e RIES (2001) relataram que a adoção da TI nos
empreendimentos rurais deve priorizar a coleta de dados e receber uma atenção especial do
administrador. É fundamental que as pessoas envolvidas na coleta desses dados estejam
comprometidas com o processo, além de serem bem treinadas e orientadas.
Este fato foi confirmado por MACHADO e NANTES (2000b), ao relatarem
que a principal dificuldade encontrada para informatizar uma propriedade rural reside na
geração de informações com qualidade para a tomada de decisões. A importância da
estruturação administrativa e a qualificação de pessoal no campo devem preceder qualquer
ação de caráter tecnológico no campo, para que as informações sejam anotadas corretamente
e, em seguida, transferidas para o computador.
Essa prática não é só privilégio da agropecuária. Em qualquer segmento
produtivo, o computador necessita de informações precisas que só podem ser obtidas a partir
de uma estrutura interna bem organizada da produção e da administração.
Nesse sentido, SILVA (1995, p.26) destaca, como razões para a lenta difusão da
informática na agropecuária dos países em desenvolvimento, em relação a outros setores, a falta
de dados consistentes e precisos, inexperiência dos produtores e softwares e hardwares
inadequados. Essas “dificuldades inerentes” são agravadas pela inexistência de programas
públicos e privados para a sua difusão, com o objetivo de garantir aos usuários assistência técnica,
extensão rural e fomento, adequados à difusão da informática no setor rural.
Além dessas dificuldades, cabe mencionar outras duas situações: (i) os
softwares disponíveis são genéricos demais para abranger a diversidade de formas e
49
especificidades da agropecuária brasileira e (ii) a maioria dos sistemas disponíveis não
permite integrar os controles administrativos com os produtivos.
Essa situação pode ser verificada por MACHADO (2002), que a partir de um
estudo realizado com pecuaristas que haviam implantado sistemas de identificação eletrônica de
animais, constatou a falta de integração entre os diversos componentes do sistema (leitor,
balança e computador). Essa dificuldade, surgida devido ao pioneirismo desses
empreendimentos, tende a ser minimizada à medida que se observa um aumento da
concorrência entre as empresas que comercializam parte ou o pacote dessa tecnologia.
A padronização das diversas formas de TI é fundamental para se conseguir a
integração entre informações, software, hardware e recursos de telecomunicações das
diferentes empresas, situação que pode acelerar a adoção dessas tecnologias no meio rural.
Nesse sentido, os fornecedores de informática e telecomunicações e os principais usuários
vêm desempenhando papel preponderante na definição de padrões e na sua adoção pelo
mercado (KEEN, 1996).
2.3.2.3. Aspectos da TI no setor rural
No uso que atualmente se faz da TI na agropecuária brasileira, merecem
destaque, no campo produtivo, o controle de máquinas e equipamentos; a irrigação
automatizada; o controle de alimentação e ordenha; e no campo administrativo, a
contabilidade e as finanças; o controle de estoques, os rebanhos e máquinas; o controle de
pessoal; e o acesso a bancos de dados.
Essa última forma de contribuição está ligada à redução dos custos da
informação, principalmente os de natureza técnica e de mercado. A informatização das
instituições que dão suporte à agricultura foi uma medida importante para aceleração do
processo de desenvolvimento de novas tecnologias e aperfeiçoamento de seus serviços
essenciais (AZEVEDO FILHO, 1995).
Apesar dessa constatação, SILVA (1995, p.22) alertou para o fato de que as
cooperativas não facilitam a difusão das técnicas de informação entre seus associados. O autor
citou pesquisas em que foi observado que o uso de computador nas cooperativas de leite do
estado de Minas Gerais e Rio de Janeiro era limitado, para a grande maioria, a problemas
financeiros, controle de estoques e folha de pagamento. Para outras atividades, como o
controle de rebanho, planejamento de culturas, cálculo de ração, o computador não era
utilizado. A informatização não teve, como fator determinante, a quantidade de leite
produzida, mas sim o número de cooperados, concluindo que o fator mais importante para
50
essas cooperativas era o conceito de modernidade que cerca o computador. Portanto, os
motivos que as levaram à adoção do computador em suas operações foram, principalmente, o
prestígio e a imagem da cooperativa.
As informações relatadas indicaram a importância de uma intervenção do Estado
na formulação e implementação de uma política de difusão da TI para o campo, visando evitar
que a grande maioria dos pequenos e médios produtores, que não tem suas propriedades
organizadas em moldes empresariais modernos, não tenham acesso a essas novas tecnologias.
As novas TI demandam novos campos de intervenção do Estado para
possibilitar o desenvolvimento da agropecuária. Os investimentos em ciência básica e criação
de infra-estrutura tecnológica são fundamentais. Em outras palavras, na ausência de
investimentos em infra-estrutura de telecomunicações – telefonia, rádio, satélites etc. – e de
armazenamento de dados – banco de dados públicos –, a democratização do uso das novas
tecnologias não pode ser assegurada.
No caso do setor pecuário brasileiro observa-se uma defasagem em relação às
regiões nas quais a produção é mais desenvolvida, apresentando índices de produtividade
abaixo dos padrões internacionais. SILVA (1995) indicou que uma das maneiras encontradas
para o aumento da produtividade é a incorporação da TI à gestão de empresas pecuárias, na
forma de modelagem de processos físicos e biológicos, softwares de diagnose e prevenção,
para uso em saúde animal, e sistemas de monitoramento ambiental.
Com isso, a informática passa a ser essencial para que a complexa rede de cadeias
produtivas torne-se competitiva, uma vez que se configura como uma ferramenta estratégica para
melhorar a eficiência, tanto das unidades produtivas isoladas, como do sistema produtivo como
um todo (RODRIGUES, 1999). Além disso, o gerenciamento informatizado possibilita ao
pecuarista acessar um maior número de informações sobre seu rebanho, facilitando a seleção dos
melhores animais e aumentando a produtividade do empreendimento.
Essas informações mostram que o aprofundamento da questão envolvendo
interação entre TI e os diversos segmentos do setor pecuário, é fundamental na gestão do
empreendimento, porém seu uso ainda é restrito aos segmentos pós-porteira (LIBERALI
NETO e FREITAS, 1997).
O avanço tecnológico da TI deve continuar no meio rural, a partir da
introdução dos equipamentos wireless (sem fio). Com isso, se torna mais fácil utilizar
equipamentos eletrônicos e a Internet em ocorrências do dia-a-dia da atividade pecuária,
permitindo enviá-las em tempo real para a tomada de decisões (FORTES, 2004).
51
2.3.3 Importância da TI na gestão do empreendimento rural
A existência de grande volume de dados para coletar, processar, armazenar,
recuperar e distribuir exige uma transformação dos sistemas de informação manuais em sistemas
eletrônicos, visando melhores resultados organizacionais. Para o administrador e/ou produtor rural,
isso representa um maior conhecimento de questões técnicas e econômicas da produção,
melhorando a sua capacidade de tomada de decisão e de elaboração de estratégias (MINÉU, 2002).
O aumento da utilização da TI poderá causar impactos positivos na
agropecuária, destacando-se a substituição da força de trabalho e o aumento no controle das
atividades, contribuindo para a redução da incerteza e dos riscos. Dessa forma, é possível
esperar que sua incorporação no dia-a-dia da propriedade rural aumente o ingresso aos
mercados, por facilitar o acesso à informação.
As TI também podem afetar, de forma substancial a gestão dos negócios
agroindustriais. Além de facilitar a busca, armazenamento e disseminação das informações,
deverão cada vez mais servir como instrumento de comunicação e coordenação entre os
agentes de um dado sistema agroindustrial. No entanto, também deve ser considerado um
outro efeito decorrente do uso da TI: a possível exclusão de pequenos produtores que não
tenham acesso às tecnologias, a partir do aumento da eficiência e da eficácia das cadeias
agroindustriais (BATALHA, BUAINAIN e SOUZA FILHO, 2005).
Essa preocupação já havia sido citada no relatório do OTA (1986), que
destacou a preocupação com o padrão de difusão das novas tecnologias entre os produtores
rurais. Assim como as revoluções anteriores, causadas pela mecanização e pela quimificação,
espera-se índices de profunda desigualdade. Essa desigualdade, resultante dos pequenos e
médios produtores se tornarem menos aptos a competir com os grandes, é fruto da falta de
acesso à informação precisa e necessária e devido às dificuldades econômico-financeiras, do
baixo nível de conhecimento e da não-disponibilidade de assistência técnica local, que
interferem na adoção efetiva das novas tecnologias.
Independentemente da área de atuação, as informações armazenadas nos
computadores servem de base para tomada de decisões, auxiliando o processo administrativo. A
implantação de softwares, juntamente com um banco de dados, é uma maneira rápida de
informatizar a propriedade rural, fornecendo subsídios para que o produtor rural adquira o
conhecimento necessário para tomar decisões mais rápidas e adequadas.
A adoção da TI é particularmente importante na pecuária, na qual os sistemas
informatizados armazenam e fornecem informações sobre o controle de matrizes, cruzamento
de animais, inseminações artificiais, aspectos nutricionais e sanitários de cada animal. O
52
gerenciamento dessas informações pode ser realizado por meio de softwares específicos. A
seguir, são apresentadas diversas possibilidades de aplicação da TI no agronegócio, mais
especificamente, na pecuária de corte.
2.3.3.1. Uso da informática no setor rural
As potencialidades de uso do computador no meio rural não são, em princípio,
muito diferentes daquelas conhecidas no meio urbano. O ingresso na automação, no setor rural,
ocorre normalmente com os sistemas de contabilidade, pagamento de pessoal e controle de
estoque.
A utilização do computador como ferramenta de decisão, apresenta as
vantagens da confiabilidade dos dados, velocidade de informações e facilidade de
comunicação, dentro e fora da propriedade. Entre as desvantagens destacam-se o custo
elevado e a falta de mão-de-obra qualificada.
NANTES e SCARPELLI (2001) ressaltaram a crescente utilização da
informática nas atividades rurais, tanto na gestão dos empreendimentos, como no controle dos
processos de produção. Há também sistemas informatizados para análise econômica do
confinamento bovino e otimização de fórmulas de ração. Por outro lado, destacaram que os
produtores rurais não tem sido suficientemente ágeis para acompanhar a crescente e rápida
evolução na área de informática.
Dois movimentos contribuíram para aproximar a pecuária de corte dos recursos
da informática. Um ocorreu na década de 1990, por ocasião do lançamento de
diversos programas de melhoramento genético. O outro se iniciou na década de 2000 e talvez
por ser tão recente, não tenha tido tempo de se consolidar. Trata-se dos projetos de
rastreabilidade. Nos dois casos, há necessidade de guardar e usar registros.
A informática tem um grande papel quando se trata de melhoramento genético.
Várias centrais de inseminação artificial oferecem programas de acasalamento dirigido, com o
objetivo de evitar os efeitos deletérios da consangüinidade e para encontrar o reprodutor ideal
para cada matriz, a partir das opções escolhidas pelo criador, incluindo preço da dose de
sêmen. Para quem possui rebanho registrado, as associações de criadores aprimoram cada vez
mais a comunicação on-line, para agilizar a documentação de cobertura, nascimento,
controles e registro definitivo. A rastreabilidade ampliou o interesse do controle da
informática muito além da genealogia. Acompanhar as movimentações entre piquetes, a
alimentação do rebanho e as etapas de vacinação e aplicação de medicamentos, são aspectos
relevantes que atualmente fazem parte do cotidiano do produtor rural (FORTES, 2004).
53
É indiscutível a importância do uso do computador como mecanismo auxiliar
no processo de tomada de decisão, mas não adianta o produtor possuir informações precisas e
não saber lidar com elas. O sistema deve ser ‘alimentado’ com dados consistentes para gerar
informações úteis à tomada de decisões do administrador rural, uma vez que o custo de
decisões erradas tende a aumentar, diante de uma acirrada competição de mercado.
De acordo com RODRIGUES (1999), a TI pode ser utilizada na produção
agropecuária de várias formas, como por exemplo, a de troca de informações entre cooperativas e
associações, possibilitando melhores informações sobre clima, preços, assistência técnica etc. Além
disso, possibilita a verticalização entre empresas agroindustriais, integrando fornecedores, produção,
transformação, distribuição e comercialização.
A existência de uma infra-estrutura de rede de telecomunicações permite um
intercâmbio que elimina ou minimiza as distâncias e torna possíveis negócios, anteriormente
inviáveis. No que diz respeito à produção agropecuária, a aplicação da TI e de computadores
apresenta um potencial elevado em função da localização das unidades produtivas, geralmente
afastadas dos centros de consumo, possibilitando o acompanhamento do mercado e a
realização de transação com menor custo do que outros meios (telefone, contato direto).
A competitividade de uma empresa é diretamente proporcional à sua
capacidade de obter informação, processá-la e disponibilizá-la de forma rápida e segura,
reduzindo as incertezas geradas pelo ambiente na qual a empresa está inserida.
Entre as ferramentas tecnológicas que podem ser utilizadas na gestão
administrativa dos empreendimentos rurais, destaca-se a informática. Os computadores têm
grande potencial em auxiliar os processos administrativos, nos quais as tomadas de decisão com
segurança e tempo hábil representam condição básica para o sucesso das atividades.
FORTES (2004) ressaltou que ao investir na informatização do empreendimento,
é preciso seguir um roteiro, visando a otimização dos recursos. É necessário conhecer a
quantidade de computadores necessários e aonde estes serão localizados na propriedade.
Também é necessário definir a capacidade de processamento do equipamento e qual sistema
operacional será utilizado. Definidos esses pontos, estabelece-se o que vai ser utilizado:
programas gerais, que possibilitam controles financeiro e administrativo básicos, adquirir
softwares específicos para a pecuária ou partir para o desenvolvimento de programas próprios.
A primeira opção é mais indicada para os empreendimentos que possuem
atividades com operações consideradas simples, com apenas uma categoria de animais, por
exemplo. A segunda alternativa pode responder às necessidades de quem lida com a cria ou
investe em seleção. Nesses casos, existem aplicativos que permitem incluir módulos de controle
54
de estoque para controle dos insumos e agenda diária de atividades. É importante certificar-se que
o programa escolhido disponha de todas as funções necessárias para o controle da atividade, a
disponibilidade de suporte técnico e o custo do mesmo.
A terceira opção, ao escolher o desenvolvimento de um aplicativo próprio,
pode ser uma alternativa viável para propriedades rurais que necessitam controlar várias
atividades simultaneamente, como, por exemplo, realizar o ciclo completo, selecionar
reprodutores e manter um núcleo de preservação de linhagens. Em qualquer situação, é
preciso ponderar o custo-benefício da decisão.
Um aspecto importante a ser considerado é que, antes da utilização de qualquer
recurso de informática, torna-se necessária a organização interna e externa da empresa,
definindo todo o processo de produção e a necessidade de informações. Em muitos casos há
necessidade de mudanças organizacionais para a utilização da TI.
Em um estudo realizado com pecuaristas, MACHADO (2002) observou que o
processo de informatização das propriedades estudadas ocorreu de forma relativamente
tranqüila e a receptividade dessa nova tecnologia pelos funcionários colaborou para o sucesso
deste sistema. Entretanto, foram destacadas dificuldades ocorridas durante o processo de
informatização, como as alterações ocorridas nas atividades da propriedade, a coleta e
digitalização das informações e a falta de funcionários capacitados, situações que criaram
resistências à sua adoção.
Segundo FRANCISCO e PINO (2002), no estado de São Paulo, os níveis de
aquisição de computador para uso na propriedade rural ou no escritório, entre novembro de
2000 e junho de 2001, passaram de 9,0% para 13,2%. No ano seguinte, em 2002,
FRANCISCO (2003) verificou que esse número ficou inalterado, provavelmente porque os
produtores rurais ainda acreditam no elevado custo da informatização da propriedade, além de
desconhecerem os benefícios e o potencial dessa tecnologia.
A informatização nas propriedades rurais que se dedicam à pecuária de corte
apresentou sensível evolução nos últimos anos. MACHADO (2002) identificou que, apesar das
inúmeras dificuldades que os pecuaristas enfrentam, existe a disposição em utilizar mais
adequadamente essa tecnologia.
De forma geral, a adoção da informática tem feito os produtores acompanharem
mais de perto o desenvolvimento tecnológico. Em outras palavras, a adoção de tecnologia no setor
rural, embora ainda seja restrita a uma pequena parcela de produtores, tem colaborado para reduzir
as barreiras impostas pela questão cultural do produtor.
55
TURBAN (1993) também destacou a importância do uso de Sistemas de
Informação (SI) na gestão das empresas, ressaltando que as técnicas computacionais
objetivam integrar, recuperar e extrair dados de uma forma ordenada, para fornecer as
informações necessárias ao processo de tomada de decisão. Um SI é composto por pessoas,
métodos, processos, máquinas e materiais necessários para gerar informações a uma
organização. Dentre os diversos subsistemas de informação, o Sistema de Informação
Gerencial (SIG), se destaca por ser um sistema voltado para a coleta, armazenagem,
recuperação, processamento e distribuição de informações utilizadas por um ou mais gerentes,
no desempenho de suas atividades (RODRIGUES, 1999).
Os elementos que normalmente compõem um SIG são: (i) equipamentos
computacionais (hardwares) pessoais ou estações; (ii) programas computacionais (softwares)
próprios ou comerciais; (iii) banco de dados (memória principal ou discos); (iv) procedimentos e
manuais; e (v) pessoal de operação (SCHUTZER e PEREIRA, 2001).
Os sistemas especialistas – softwares ‘inteligentes’ que combinam o
conhecimento técnico acumulado de profissionais especializados com procedimentos e rotinas
de análise de decisão – já estão disponíveis e permitem integrar o acesso aos bancos de dados
por meio das telecomunicações disponíveis, com informações locais obtidas pelos
mecanismos de controle e monitoramento para obter prognósticos ou diagnósticos mais
rápidos e precisos (SILVA, 1995).
Segundo FORTES (2004), instituições de pesquisa e empresas privadas se
empenham no desenvolvimento de simuladores, que facilitem o planejamento do
empreendimento, indicando os passos a serem tomados para que as metas sejam atingidas,
com os recursos disponíveis.
No universo de aplicações da informática, novas ferramentas de gerenciamento
têm surgido para auxiliar a tomada de decisões, com destaque para a Internet, pela vantagem
que apresenta quando comparada a outras mídias. A Internet proporciona maior quantidade de
informação, além de permitir a todos os participantes igualdade de condições,
independentemente do tamanho e potencial econômico. Apesar disso, a sua utilização ainda é
baixa entre os produtores brasileiros, revelando a existência de um potencial elevado de
oportunidades a partir do seu emprego no agronegócio.
2.3.3.2. Uso da Internet no setor rural
A Internet é um dos meios mais dinâmicos quando se trata de informações. As
propriedades utilizam essa ferramenta na atividade pecuária, refletindo o interesse dos
56
empreendimentos na atualização das informações relativas aos preços dos insumos e à
evolução do mercado da carne. O acesso à Internet aproxima a empresa de outros mercados e
abre a perspectiva de novas oportunidades de negócio (MACHADO, 2002).
Na pecuária, diversos serviços, entre eles os portais especializados em
cotações, notícias e prestação de serviços, associações de criadores e centros de pesquisas,
estão disponíveis na rede, com um grande potencial de crescimento. Ao usufruir destas
tecnologias, nem sempre relacionadas a custos elevados e equipamentos complicados, o
produtor rural pode acompanhar a evolução do mercado, utilizando as informações, idéias e
recursos que podem melhorar o processo de produção.
Existe uma grande variedade de opções de serviços disponíveis na Internet em
sites voltados para a agricultura. Os portais agropecuários disponibilizam diversos tipos de
informações, bancos de dados e softwares aos produtores rurais, além de contribuírem para a
disseminação do computador nas propriedades e possibilitar a comercialização da produção na
rede, diminuindo distâncias e realizando as transações no momento mais adequado.
A procura por notícias do setor, a cotação de preços e análise do mercado
agrícola, são os principais serviços disponíveis nos sites voltados para o meio rural.
FRANCISCO (2003) verificou que os índices de uso da Internet para essas finalidades, em
junho de 2002, era de 84%. A obtenção de informações relativas à extensão rural e assessoria
técnica cresceu, em um ano, de 48% para 66% e 56%, respectivamente, em 2002. Entretanto,
apesar da existência de condições tecnológicas para realização de transações financeiras em
meio eletrônico, os percentuais da utilização da Internet para esse tipo de comércio
permaneceram em 28% no mesmo período.
O Brasil, apesar de ainda apresentar níveis modestos, tendo apenas 7,8% da sua
população com acesso à Internet, comparados aos 69,8% ou aos 67,8% da Islândia e da
Suécia, respectivamente, posiciona-se logo abaixo da média mundial, que é de 9,6% (NUA,
2003, citado por SILVA JUNIOR e SILVA, 2003).
No Estado de São Paulo, FRANCISCO e PINO (2002) observaram um
acréscimo de 73% no nível de utilização da Internet entre novembro de 2000 e junho de 2001,
passando de 3,9% para 6,7%. Em junho de 2002, FRANCISCO (2003) estimou que 8,5% das
propriedades do estado de São Paulo utilizavam a Internet em suas atividades agropecuárias.
De acordo com FRANCISCO e PINO (2004) as características comuns aos
empreendimentos rurais que adotam mais facilmente o uso de Internet em suas atividades
agropecuárias são as seguintes:
possuem caráter mais empresarial e maior porte;
57
possuem nível tecnológico mais alto, tanto na produção (inseminação
artificial, sementes melhoradas e conservação de solo), quanto na
administração (contabilidade e escrituração agrícola);
seus proprietários são mais novos e/ou com nível superior;
mantêm atividades, principalmente econômicas, fora da propriedade rural;
fazem parte de cooperativa de produtores;
pretendem aumentar a atividade nos próximos cinco anos;
possuem facilidades de informática, como computadores e comunicação
telefônica na propriedade.
O acesso dos produtores à Internet apresentou um acréscimo nos últimos anos.
ALVES (2000) constatou o crescimento da informática no setor agropecuário, ao relatar que o
número de produtores que possuem computador no Brasil é de 18%, no entanto, a
participação de agricultores que utilizam a Internet não ultrapassa 4% (CNA, 2000;
VILLELA, 2000).
Outro fato que pode prejudicar o avanço da adoção da Internet no meio rural é
a falta de infra-estrutura de acesso no que diz respeito às telecomunicações e aos prestadores
de serviços de Internet. Informações provenientes de produtores indicam que o acesso à
telefonia é deficiente, com taxas de transmissão baixas, tanto pelo acesso realizado por meio
do celular rural, quanto por linhas comuns. A inexistência de banda larga e Internet de alta
velocidade resultam em altos custos de ligações para um acesso muitas vezes ruim.
Entretanto, em áreas com grande concentração de computadores, como os grandes centros
urbanos, torna-se viável a expansão de serviços prestados pelas empresas de
telecomunicações e provedores de acesso à Internet.
Os fatores demográficos, como idade do proprietário, escolaridade e atividades
exercidas fora da propriedade são normalmente citados como capazes de influenciar a adoção
da informática. Esses aspectos foram observados por VALE e REZENDE (1999) na
agricultura mineira, onde 49% dos produtores que utilizavam essa tecnologia em suas
atividades agrícolas possuíam até 40 anos e 73% o nível superior. Em Mato Grosso e Mato
Grosso do Sul e na Região Sudeste, além do Triângulo Mineiro, os autores verificaram que
60% dos produtores que utilizam a Internet encontram-se entre 30 e 50 anos. FRANCISCO
(2003) não verificou correlação entre uso da Internet e a idade, mas observou que a relação
entre o nível de escolaridade do produtor e a adoção dessa tecnologia é marcante; cerca de
58
13% dos produtores paulistas possuem grau universitário, já entre aqueles proprietários que
usam a Internet, esse percentual foi estimado em 57%.
A autora sugeriu que algumas ações para que novos produtores adotem a
Internet. Dentre elas:
apresentar a tecnologia a mais produtores, visando o conhecimento de seus
benefícios e potenciais, por meio de seminários, demonstrações práticas,
testemunhos de produtores ou por empresários ligados à informática;
prover prestações baixas para a compra de equipamento;
melhorar a infra-estrutura de telecomunicações, permitindo o acesso à
velocidade alta e à banda larga, reduzindo os custos com provedores fora
da área da propriedade, que incorrem em altas cargas interurbanas, ou o uso
do celular rural que é muito lento, ou ainda, utilizar o celular móvel com
alto custo;
precificar o custo de acesso de forma que este seja compatível à renda do
agricultor;
criar centros rurais onde os agricultores possam ter acesso à Internet.
MACHADO (2000) sugeriu que a partir do uso mais intensivo da Internet, será
comum a seguinte realidade: “O produtor participa de um leilão eletrônico de animais,
sentado confortavelmente na sua poltrona da fazenda. À frente da tela de computador, ou até
de uma televisão, visualiza fotos dos animais ou filmes com imagens dos animais no curral.
Utilizando uma senha, esse produtor acessa um banco de dados onde se encontram
cadastrados todos os animais, a fim de obter informações sobre o histórico de cada um deles,
mais detalhadas do que as fornecidas em um leilão tradicional, onde o julgamento é
simplesmente visual. Ainda por meio digital, o pagamento é efetuado instantaneamente”.
Observa-se que a rotina do negócio é a mesma do que em uma negociação
tradicional, ou seja, é preciso negociar preço, assinar contrato, verificar as credenciais do
vendedor. O diferencial está na conveniência, rapidez e na quantidade de informações
disponíveis sobre o que está em jogo nesse negócio.
Apesar de pouco expressiva, a venda de animais e sêmen pela Internet já é uma
realidade. Desde 2003, algumas propriedades comercializam reprodutores pela Internet
(FORTES, 2004). As perspectivas para o comércio eletrônico no meio rural são promissoras,
sobretudo no mercado de elite. O segmento é impulsionado por empresários rurais que
59
residem nas cidades e que utilizam a Internet diariamente. Por meio dessa ferramenta, além da
foto, são apresentadas as fichas completas de cada animal: nome, data de nascimento,
pelagem, tatuagem, registro, perímetro escrotal, peso, grau sanguíneo e genealogia certificada.
Já no segmento de genética fina, as centrais de inseminação se voltam cada vez mais para o
comércio eletrônico.
Apesar da venda pela Internet contribuir para a redução de custos e facilitar a
comunicação direta entre vendedor e comprador, alguns aspectos contribuem para a
resistência em utilizar o comércio eletrônico. O pecuarista, assim como muitos consumidores
tradicionais, tende a considerar o sistema de vendas on-line muito impessoal. Esse aspecto
garante a sobrevida dos leilões tradicionais, realizados em recintos que apresentam como
vantagem, reunir um grande número de interessados em um mesmo local, no mesmo horário,
com a possibilidade de influenciar o preço final dos animais ou dos lotes comercializados.
As grandes distâncias entre as propriedades e as empresas fornecedoras de
insumos e compradoras da produção, são responsáveis por tornar o comércio eletrônico viável.
O receio de fraudes na Internet vem sendo minimizado cada vez com mais segurança, a partir
do uso intenso de tecnologias de criptografia das transações e do sigilo dos sites, que se tornam
mais sofisticados a cada dia. Essa segurança levou a Bolsa de Mercadorias & Futuros a incluir a
pecuária no seu sistema de WebTrading em 2004, operando mini-contratos de boi gordo
(FORTES, 2004).
O WebTrading é um sistema de negociação de mini-contratos futuros via
Internet, negociados eletronicamente por meio de um software de comunicação e
administração, instalado na instituição financeira participante. Todo o fluxo de informação
desde as ofertas até a liquidação das operações é realizado eletronicamente. A unidade de
negociação do mini-contrato futuro é um décimo de tamanho em comparação aos contratos
padrão negociados nos pregões. No caso do boi gordo, o tamanho de cada mini-contrato é de
33 arrobas líquidas ou dois animais.
2.3.3.3. Oferta de softwares
O uso do computador na agropecuária ainda é bastante reduzido considerando
todo o setor produtivo, mas a informática aplicada à agropecuária ainda deve crescer muito
nos próximos anos. Na pecuária, os avanços mais significativos da automação ocorreram nos
rebanhos leiteiros. Na pecuária de corte também se observa acentuado desenvolvimento,
principalmente com os programas de melhoramento genético (FORTES, 2004).
60
Segundo LOPES (2000), a maior utilização de computadores nas atividades
zootécnicas no Brasil encontra-se no gerenciamento de rebanhos bovinos. O uso de sistemas
computadorizados de informação é considerado uma ferramenta importante no monitoramento de
rebanhos bovinos, no qual a produção e a eficiência são fatores inter-relacionados, e cujos
resultados refletem diretamente na rentabilidade da propriedade. A partir de diagnósticos corretos,
é possível evitar perdas de investimento e lucratividade, otimizando a produtividade.
Nesses setores, o gerenciamento informatizado fornece ao produtor a
oportunidade de ter uma margem de acertos superior na avaliação do desempenho dos
animais, uma vez que os softwares fazem um controle geral de cada animal (data de
nascimento, número do animal, filiação, raça, grupo genético, cobertura, diagnóstico de
gestação, pesagens periódicas etc.), colocando o pecuarista em sintonia com a performance
individual de cada animal no pasto (UNESP RURAL, 1997).
PUTLER e ZILBERMAN (1989), citados em SILVA (1995) verificaram que por
ocasião do barateamento dos computadores pessoais nos EUA, as aplicações da TI na agricultura
americana se ampliaram. Entretanto, apesar de poucos esforços serem conduzidos para identificar
padrões de uso, os autores destacam que:
há uma clara tendência de privilegiar as grandes propriedades (medidas em
termos de renda bruta) e os produtores com maiores níveis de escolaridade;
a utilização de aplicativos genéricos (contabilidade, planilha de custos,
pagamentos e inventário) é muito superior aos aplicativos específicos para
a tomada de decisões em culturas e criações de animais;
os pecuaristas estão mais dispostos a utilizar a ajuda do computador nas
suas tomadas de decisão que os agricultores, provavelmente em função da
falta de disponibilidade de aplicativos específicos para os produtores da
região estudada.
Essa situação também pode ser verificada no Brasil. Segundo o Guia de Softwares
Agropecuários – Guia Agrosoft, o uso de softwares na agropecuária brasileira é maior na
produção animal do que na produção vegetal. Nesse período, houve um aumento de 54% na
oferta de softwares agropecuários em 1997, 17% em 1999 e 24% em 2004 (CÓCARO e LOPES,
2004). Deste total, 36% estavam relacionados à produção animal, 22% à produção vegetal e 17%
à administração rural. Dos 77 softwares existentes na área de produção animal em 2004, 34
referem-se ao gerenciamento do rebanho bovino representando 44% desse total (Tabela 2.1).
61
TABELA 2.1 – Número de softwares agropecuários no Brasil, cadastrados no Guia
Agrosoft por categoria.
Áreas e categorias 1995 1997 1999 2004
Produção Animal 43 74 56 77
Bovinos 26 46 26 34
Produção Vegetal 11 20 45 48
Administração Rural 32 45 34 39
Outros 09 07 36 49
TOTAL 95 146 171 213
Fonte: Adaptado pelo autor a partir de CÓCARO e LOPES (2004, p.5)
Os softwares utilizados na agropecuária brasileira, distribuídos em 23 categorias
inicialmente, segundo o Guia Agrosoft, foram agrupados em três grandes áreas: (i) produção
animal, (ii) produção vegetal e (iii) administração rural. A área de Produção Animal é composta
por produtos voltados ao gerenciamento da bovinocultura, avicultura, eqüinocultura,
suinocultura e piscicultura, além de softwares para o balanceamento de ração animal.
O grupo de Produção Vegetal inclui softwares para manejo de florestas,
aplicação de defensivos agrícolas, adubos e fertilizantes, gerenciamento da produção de
açúcar e álcool, arroz, fruticultura e manejo da irrigação. Os softwares agrupados na área
Administração Rural compreendem, além dos produtos voltados ao gerenciamento contábil e
financeiro de empreendimentos rurais, as categorias Cooperativas, Máquinas Agrícolas e
Comercialização on-line.
Apesar desses números, a quantidade de softwares nas propriedades ainda é
baixa. Pesquisa do Instituto Kleffmann apurou que, nos estados onde a pecuária de corte é mais
expressiva, o uso de qualquer programa para gerenciar os negócios não ultrapassa 10%. De
acordo com FORTES (2004), a baixa utilização de softwares pelas propriedades rurais pode ser
explicada sob dois aspectos. O primeiro refere-se à infra-estrutura, que dificulta a utilização de
computadores em locais afastados, onde não há energia elétrica, sendo necessário o uso de
geradores. O segundo aspecto apóia-se nos receios quanto à qualidade dos programas
específicos para pecuária de corte. Por se tratar de uma indústria relativamente recente, os
primeiros softwares apresentavam falhas (bugs). Um dos motivos para isso é que muitos desses
softwares foram desenvolvidos por técnicos de outras áreas, sem a vivência rural.
Entretanto, essa realidade vem mudando. Os softwares avançam para modelos
que contemplem as características típicas de produção do Centro-Oeste brasileiro: rebanhos
maiores, manejo extensivo, alimentação baseada em pastagens com suplementação, estações
62
climáticas bem definidas em períodos seco e das águas e predomínio da genética zebuína. Ao
considerar as peculiaridades de cada propriedade, os programas tendem a ser cada vez menos
genéricos.
Ao escolher o software, é preciso dimensionar os recursos disponíveis e com
quais se pretende trabalhar, além de verificar a compatibilidade do mesmo com outras
tecnologias, ou seja, se existe uma plataforma que se comunica com outras bases. Outro
aspecto a ser considerado é o grau de complexidade e o custo do processo de atualização das
versões incorporadas ao cotidiano da atividade (FORTES, 2004).
Também é importante verificar o formato de emissão dos relatórios e se o
programa possui uma interface ‘amigável’, com comandos de fácil compreensão para quem
vai operá-lo. Os softwares devem produzir relatórios que englobem as despesas operacionais
e também permitam detalhar os custos por tipo de despesa; custos do capital imobilizado,
manutenção da terra e da reprodução; dados referentes à venda de animais e dos descartes.
Essas informações permitem ao produtor desenhar um planejamento para um período de pelo
menos um ano para a propriedade.
É nítida a maior preocupação dos produtores em relação aos aspectos técnicos
da produção. Possivelmente, é por esse motivo que o desenvolvimento de programas
informatizados prioriza o processo produtivo em relação aos programas de gestão da
propriedade. Essa também deve ser a principal razão para o reduzido treinamento de
funcionários na área administrativa. As duas atividades deveriam ser tratadas da mesma
forma, pois são complementares e igualmente importantes (MACHADO, 2002).
Os programas padronizados de gerenciamento da produção rural,
particularmente os relacionados à pecuária de corte, demonstraram não atender às
necessidades dos produtores, devido à heterogeneidade da produção pecuária brasileira e aos
poucos produtos de informática direcionados ao setor.
Atualmente, uma importante rede de cooperação vem se organizando, podendo
trazer resultados benéficos no que diz respeito à informatização dos empreendimentos rurais.
Essa rede visa à elaboração de softwares livres, programas de código aberto, que não
necessitam de pagamento de licenças para uso e atualização.
A Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA), lançou em 2004,
com o apoio do Instituto Nacional de Tecnologia da Informação (INTI), a Rede de Software Livre
para Agropecuária (EMBRAPA..., 2004). Chamado de Agrolivre, esse projeto foi desenvolvido
para atender a demanda do setor agropecuário nas áreas de sistemas de apoio para tomada de
decisão, de apoio à pesquisa científica e também para projetos de inclusão digital. O site Agrolivre
63
também terá um repositório de software, um local onde programas podem ser colocados à
disposição dos usuários, com a possibilidade de acesso ao código fonte e documentação.
O Agrolivre vem sendo implantado em duas etapas, divididas em três anos de execução.
A fase ‘Criação e Estabelecimento’, que ocorreu durante todo o ano de 2004 e a de ‘Consolidação da
Rede Agrolivre’, durante os anos de 2005 e 2006, onde vem sendo realizada a implantação de software
livre na Embrapa Sede e nas Unidades Descentralizadas (EMBRAPA..., 2004).
Independentemente da fonte dos programas utilizados, a informática é fundamental
para o sucesso do empreendimento rural, em razão dos ganhos que proporciona, em termos de
velocidade, precisão, confiabilidade e padronização de procedimentos.
2.3.3.4. Identificação eletrônica de animais
O setor agropecuário brasileiro tem registrado nos últimos tempos, exemplos
bastante nítidos de evolução tecnológica. O setor rural tem disponível uma quantidade muito
grande de inovações que possibilitam ao produtor ganhar tempo e aumentar a produtividade.
O grande produtor rural tende a se beneficiar das inovações, principalmente em TI e
biotecnologia, recentemente desenvolvidas pela indústria ou centros de pesquisa.
Recursos em TI já disponíveis no mercado para identificar animais aumentam a
praticidade, a segurança e a agilidade do processo e reduz a possibilidade de erros de
digitação. Uma promissora aplicação de tecnologia já disponível é a utilização da
rastreabilidade de informações por meio da identificação eletrônica de animais, comumente
chamada de RFID (Radiofrequency Identification), que permite armazenar e recuperar
significativa quantidade de informações sobre o histórico e manejo dos animais.
Diversos pesquisadores (CLARK, 1996; LOPES, 1997; CURTO 1998;
LOPES, 2000; MACHADO, 2000; MACHADO e NANTES, 2000a; MACHADO e
NANTES, 2000b; MACHADO, 2002; MACHADO e NANTES, 2003) confirmaram os
benefícios da TI, por meio da RFID. Alguns tipos de identificadores disponíveis no mercado
são: transponders (microchips), código de barras e os colares eletrônicos.
Os transponders utilizam a tecnologia da rádio-freqüência na transmissão e
armazenamento de dados e podem ser injetados sob a pele (subcutâneo), depositados no rúmen
(bolus) ou encapsulados em um brinco plástico de identificação. A identificação eletrônica
também pode ser realizada por meio de código de barras e de colares eletrônicos. Nestes
identificadores, as informações alimentam os bancos de dados da propriedade, agilizando a
adequação dos manejos sanitários e nutricionais, de acordo com as condições dos animais.
64
De acordo com MACHADO (2000), embora venha sendo usada em alguns
países da União Européia, a etiqueta com código de barras não é prática para identificar os
animais em fazendas com rebanho grande pela dificuldade em ser lida, e isso inclui o Brasil.
O código de barras é mais útil a partir do abate, pois permite a captura automática da
identidade de cada animal em sua entrada no abatedouro e, principalmente, nas etapas
posteriores de etiquetagem da carne para distribuição no atacado e no varejo. Como os dados
que documentam o histórico de um animal são incluídos em seu passaporte, recomenda-se
também usar códigos de barras nos passaportes dos animais.
A identificação e a brincagem individual de animais foi concebida inicialmente
para facilitar a reprodução animal. Com a intensificação da produção e o crescimento do
mercado de animais vivos, a saúde animal e a segurança dos produtos de consumo humano
tornaram-se questões extremamente importantes, e a identificação dos animais na
comercialização, uma ferramenta usada no controle de epidemias, hormônios e resíduos, e um
instrumento bastante útil no mercado de carne e seus derivados (HABE et al., 2001).
Para viabilizar a rastreabilidade, o regime de identificação e registro de bovinos inclui
os seguintes elementos: (i) identificação individual dos animais; (ii) passaportes para os animais; (iii)
registros individuais mantidos em cada exploração e (iv) bases de dados informatizadas. Quando a
expectativa é rastrear os movimentos de milhares de animais durante o ano, com informações
individuais sobre data e local de nascimento, progênie, sexo, registros veterinários de controle sanitário
e trânsito, é inevitável contar com o suporte da TI para minimizar riscos provenientes de erros
humanos e anotações em papéis. Identificação por meio de brincos convencionais é vulnerável,
passível de erros na leitura e no registro manual dos dados (MACHADO, 2000).
No Brasil, a questão da qualidade sanitária da carne é fundamental para que o
produtor nacional possa participar do mercado internacional. Por esse motivo, a identificação
segura dos animais e a obtenção das informações geradas durante a produção, além de
facilitarem a gestão do empreendimento rural, permitem diferenciar o produto visando o
mercado externo. De acordo com CARNEIRO (2001) a identificação animal é uma maneira
eficiente de proporcionar o monitoramento do histórico de ocorrências e o desempenho dos
animais, registrando dados individualmente.
Entre os métodos de identificação animal, o uso da identificação eletrônica tem
sido a opção que agrega maior eficiência administrativa à propriedade. Entretanto, independente
do método escolhido, é preciso sempre aliá-lo a um sistema de gerenciamento de informações,
como um software de gestão da produção (MACHADO, 2002).
65
Diversas pesquisas (WISMANS, 1999; MACHADO, 2002; MACHADO e
NANTES, 2004; NANTES E MACHADO, 2005a) indicam que o sistema de RFID é,
atualmente, o mais seguro sistema de identificação existente, e deve beneficiar a pecuária,
pela contribuição ao melhoramento genético do rebanho, ao controle da produção, seja
nutricional ou sanitário, e à rastreabilidade.
A identificação eletrônica do rebanho possui inúmeras vantagens no
gerenciamento da propriedade e é justificada por uma considerável melhoria em relação à
identificação visual com números. Alguns benefícios deste sistema são a eliminação dos custos do
trabalho e a redução de leituras incorretas, de 6% para 0,1% (GEERS et al.1997).
A RFID pressupõe um salto quantitativo e qualitativo na gestão das
informações relacionadas ao plantel, possibilitando melhorias no controle da produção,
permitindo obter soluções mais concretas para os problemas do setor pecuário. Entretanto, a
RFID deve ser acompanhada de um sistema de informatização dos dados, para potencializar
os benefícios desta tecnologia (IDEA, 2000). As principais áreas beneficiadas pelas vantagens
de um sistema de RFID são:
administração (controle de prêmios, sanitário);
associações de criadores (livros genealógicos, controle da produção);
produtores (automação da produção, seleção e melhoramento genético);
autoridades sanitárias (fronteiras e controle de movimentação de animais);
frigoríficos (automação de registro e controle, origem dos animais, controle
de qualidade);
consumidores (garantia sanitária do produto).
A RFID permite interligar outras ferramentas práticas de manejo ao sistema,
como as balanças eletrônicas. Nesse caso, os animais que passam no brete são automaticamente
identificados, pesados e contados, sem necessidade de auxílio externo. Com isso são eliminados
os erros de identificação, pesagem e contagem, e os freqüentes erros nas anotações.
Apesar dos benefícios do sistema de RFID no gerenciamento das propriedades e
no controle e monitoramento mais eficaz do rebanho, a questão do custo do sistema ainda
representa a principal dificuldade para a disseminação dessa tecnologia (MACHADO, 2002).
De acordo com MACHADO (2000), a RFID pode eliminar a exigência do
envio de passaportes em papel para a base pública de dados, já que a informação contida no
microchip colocado no animal é captada por um leitor especial e transmitida para o
66
computador do próprio criador e para o banco central de dados, aumentando a praticidade, a
segurança e a agilidade do processo e reduzindo a possibilidade de erros de digitação. Assim,
o sistema de rastreabilidade controlado eletronicamente garante a manutenção da base de
dados central de forma atualizada, acompanhando passo a passo a movimentação dos animais.
Apesar dos benefícios decorrentes da implantação do sistema de RFID para o
gerenciamento administrativo e a possibilidade de sua utilização na rastreabilidade, é
importante ressaltar que a implantação da rastreabilidade na produção da carne bovina não
depende de nenhum sistema de identificação específica. Nesse caso, a TI, incluindo sistemas
informatizados de coleta e armazenamento de informações, pode ser adotada com o intuito de
proporcionar ganhos em eficiência produtiva e administrativa, por meio de melhorias na
gestão da qualidade, detecção e resolução de problemas ao longo do processo de produção e
pela oferta de um produto de maior qualidade à indústria (MACHADO, 2002).
O autor pesquisou o uso de sistemas de RFID na pecuária de corte visando um
melhor gerenciamento da produção, verificando um desempenho satisfatório a partir da
transferência digital das informações para os sistemas de informação, com menores taxas de
erro nas leituras, anotações e análises. Portanto, os benefícios da adoção de sistemas de RFID na
gestão da produção da carne bovina foram evidentes do ponto de vista administrativo, por
introduzir uma visão empresarial aos empreendimentos rurais, evidenciando a integração das
tecnologias de produção e de gestão.
Foi observada também a disposição dos produtores em utilizar essa tecnologia,
principalmente pelo fato da mesma permitir a troca eletrônica de informações com a indústria,
ainda pouco usual. Nessas condições, a adoção da RFID promoveria uma maior integração do
setor produtivo com os demais segmentos da cadeia produtiva, dinamizando a disponibilidade
de informações e agregando maior valor de mercado ao produto.
A informatização da propriedade rural representa o passo inicial para
implantação do processo de rastreabilidade das informações, pois o impacto cultural e o
despreparo da mão-de-obra constituem-se em barreiras, dificultando o sucesso da adoção
dessa tecnologia. Por esse motivo, a implantação de um sistema de RFID em propriedades
rurais, exige que os processos de informatização e de coleta de dados já se encontrem em
andamento, com o objetivo de minimizar o impacto tecnológico (MACHADO, 2002).
NANTES e MACHADO (2005a) ressaltam que as informações necessárias
para a rastreabilidade estão relacionadas com a gestão e administração da produção rural,
independentemente da demanda do mercado por maior segurança do alimento. O produtor
67
obtém benefícios ao coletar, processar e controlar essas informações, visando a tomada de
decisões com base em critérios técnicos, de manejo e econômicos em relação ao rebanho.
2.3.3.5. Canais de televisão aberta e por assinatura
Outra forma de TI aplicada ao meio rural é a televisão. Segundo pesquisa da
Associação Brasileira de Marketing Rural e Agronegócio (ABMR&A), realizada com 2.428
produtores de dez estados brasileiros, 97% dos entrevistados buscam informações pela TV.
Isso representa um aumento de 4,3% em relação a 1992, quando 93% dos produtores rurais
buscavam informações pela televisão (ABMR&A, 2005).
Outro dado relevante destacado pela pesquisa, diz respeito ao número de produtores
rurais com acesso à televisão. Em 2005, 94% dos produtores brasileiros possuíam aparelhos de
televisão em suas residências (cidade ou campo), representando um crescimento de 92% em relação
a 1999, quando apenas 49% dos produtores possuíam o equipamento.
A televisão representa, atualmente, uma importante ferramenta de difusão de
tecnologias no meio rural, auxiliando na adoção de novas tecnologias que permitam um
desenvolvimento maior das atividades agropecuárias. Os melhores meios de falar com o
produtor para divulgação de mensagem sobre lançamentos, usos, características de produtos,
máquinas e equipamentos, são apresentados na Figura 2.2.
51
33
24
10
9
9
7
6
4
TELEVISÃO
DIAS DE CAMPO
PALESTRAS
DEMONSTRÕES DE PRODUTOS
REUNIÕES TÉCNICAS
INTERNET
REVISTAS AGROPECUÁRIAS
JORNAL DE COOPERATIVA
BOLETINS TÉCNICOS DE EMPRESAS
FIGURA 2.2 - Principais meios de comunicação com o produtor.
Fonte: adaptado de KLEFFMANN (2005), citado em BIP (2005).
68
O aumento no número de produtores com acesso à televisão foi influenciado,
possivelmente, pelas melhorias na infra-estrutura de telecomunicações, que permitem levar o sinal
das transmissões ao campo. A pesquisa da ABMR&A indica um aumento na posse de antenas
parabólicas: 74% em 2005 contra 68% em 1999; SKY: 11% em 2005 contra 0% em 1999 e
DirecTV: 3% em 2005 contra 0% em 1999. Apesar do crescimento, a obtenção do sinal por meio
de TV a cabo (NET) diminuiu mais de 50% nesse período: 3% em 2005 contra 7% em 1999.
Nessa pesquisa, foi verificado que a distribuição do equipamento por região geográfica é: Sudeste
53%, Sul 19%, Centro-Oeste 8%, Nordeste 15% e Norte 5%.
ANDRADE (2005) relatou que o número de antenas parabólicas no Brasil é de
16 milhões, resultando em mais de 50 milhões de telespectadores. Desse total, 77%
(aproximadamente 12 milhões) se encontram nas áreas rurais. Dessa forma, é possível verificar
que existe, ainda, uma grande quantidade de produtores que não possuem acesso a essa TI.
Dentre as emissoras mais assistidas, as duas primeiras são a Rede Globo
(97%), seguida pelo SBT (49%) e o Canal Rural (41%). A pesquisa indica que o Canal Rural
é o canal segmentado mais assistido pelo produtor (CANAL RURAL, 2005).
Considerando apenas os programas de TV voltados à atividade agropecuária,
os mais assistidos pelo produtor são apresentados na Figura 2.3.
87
33
13
7
4
4
4
4
4
4
3
3
3
GLOBO RURAL (DOMINGO)
GLOBO RURAL (DIÁRIO)
LEILÕES
TÉCNICA RURAL
SBT RURAL (DOMINGO)
CANAL DO TEMPO
NOTÍCIAS AGRÍCOLAS
MERCADO AGRÍCOLA
PROGRAMAS DO CANAL RURAL
SBT RURAL (DIÁRIO)
JORNAL DO CAMPO
CAMPO E LAVOURA
MERCADO & COMPANHIA
FIGURA 2.3 - Programas de TV voltados à atividade agropecuária, mais assistidos pelo
produtor, com freqüência semanal.
Fonte: adaptado de KLEFFMANN (2005), citado em BIP (2005).
69
Os produtores indicaram que os melhores dias para transmissão de programas
sobre as atividades rurais são o domingo (79%), de 2ª. à 6ª. feira (69%) e o sábado (54%). O
horário mais assistido esteve entre 19 e 21 h durante a semana, sendo destacado também o
período da manhã, no domingo.
Um aspecto relevante, recentemente observado, diz respeito ao uso da televisão
não apenas como fonte de informação, mas também como canal de compra e venda de
produtos agropecuários. Nesse sentido, a transmissão de leilões vem se destacando em dois
canais especializados no setor, com programação 24 h dedicada aos produtores rurais: o Canal
Rural e o Canal do Boi.
Em 2000, o Canal Rural transmitia 21 leilões ao vivo, enquanto em 2005, esse
número passou para 470 eventos. Por meio da TV, os pecuaristas passaram a mostrar seus
animais para todo o país, permitindo uma maior interação dos selecionadores/investidores.
Segundo as empresas leiloeiras, a participação da TV nas vendas chega a aproximadamente
35% do total (CANAL RURAL, 2005).
De acordo com OLIVEIRA (2005), o Canal do Boi transmite, anualmente,
mais de 600 eventos ao vivo, sendo muitos diretos das fazendas. Considerada pioneira na
transmissão ao vivo de leilões de gado bovino, a emissora estima a existência de 18 milhões
de antenas parabólicas em todo o país, o equivalente a uma população de 35 milhões de
telespectadores, aproximadamente. A audiência é confirmada com mais de 1.200 chamadas
telefônicas em cada evento transmitido.
Cerca de 40% dos telespectadores assistem ao Canal do Boi diariamente, com
média de audiência de aproximadamente quatro vezes por semana ou dezoito vezes ao mês. A
amostra pesquisada indicou que, em geral, os telespectadores gastam mais de uma hora ao dia
assistindo ao canal, principalmente no período da noite e sem concentração específica em
algum dia da semana, dados também observados pela pesquisa realizada pela ABMR&A.
Uma pesquisa realizada pelo IBOPE Universo, com 200 clientes do Canal do
Boi, indicou que 70% dos entrevistados já compraram pelo canal mais de cinco vezes. Essas
compras são, basicamente, de animais.
Segundo FORTES (2004), as vendas de animais pela televisão devem
continuar a crescer de forma intensa, pela praticidade que oferecem a quem compra e a quem
vende, por meio dos lotes ‘filmados’. Muitos produtores vêm utilizando a estratégia de dividir
a produção anual em vendas no recinto, na transmissão pelos canais de televisão e nos
negócios diretos na propriedade.
70
Além desses dados confirmarem a importância da televisão como canal de
comercialização para a pecuária, principalmente por meio de leilões, outros aspectos destacam
o uso da tecnologia na atividade: mais da metade dos telespectadores do canal (57%) possuem
mais de uma propriedade rural com maior concentração nos Estados de São Paulo, Mato
Grosso do Sul, Mato Grosso e Paraná. Desses telespectadores, cerca de 38% são criadores de
bois, 33% recriam e 28% realizam a engorda de gado.
O Quadro 2.2 apresenta, de forma resumida, os principais canais de televisão e
os programas disponíveis aos produtores rurais. As emissoras foram agrupadas em dois
grupos: por antenas parabólicas e similares e por retransmissoras e/ou antenas parabólicas.
QUADRO 2.2 - Principais canais de televisão e programas disponíveis aos produtores.
Canais de televisão transmitidos por antenas parabólicas ou similares
Canal Rural
O Canal Rural transmite 18 horas diárias de uma programação inteiramente voltada ao campo. Desde 1996, a emissora tem
sido uma ferramenta importante para o produtor, apresentando informações e serviços do agronegócio, com programas que
trazem jornalismo, entretenimento, cotações, leilões e meteorologia.
A emissora está sediada em Porto Alegre e possui estúdios em São Paulo e Brasília, além de sucursais em pólos referenciais
de produção agropecuária, como Campo Grande, Goiânia e Londrina.
A programação do Canal Rural está ao alcance de mais de 35 milhões de telespectadores espalhados por todo o território
nacional, pelo canal 35 do sistema NET e 26 do sistema SKY Banda Ku Digital, além do sistema NEO TV e via antena
parabólica pela freqüência 4171 MHz LO980 MHz Brasil Sat B1 (CANAL RURAL, 2005).
Canal do Boi
Sediado em Campo Grande/MS, o Canal do Boi transmite diariamente uma extensa programação voltada para o homem do
campo, através de sinal aberto (Banda C) com recepção por antena parabólica, cabo (rede conveniadas) e DTH para todo o
Brasil. Também é possível assistir a programação do canal pela Internet.
Além dos leilões, o canal cobre outros eventos voltados para o setor rural como o programa “De Olho na Fazenda”, “De Olho na
Indústria” e “Dias de Campo” – ferramenta muito usada por empresas e empresários rurais para mostrar suas novas tecnologias.
Rede Bandeirantes
O canal Terra Viva, do Grupo Bandeirantes de Comunicação, tem programação diversificada, diretamente associada ao
agronegócio e seus representantes. São telejornais, cotações, informes de meteorologia, entrevistas e debates. Além disso,
possui links ao vivo da BM&F, dicas de negócios para produtores rurais e histórias de sucesso no setor.
Na linha de entretenimento, mostra o mundo country com rodeios, shows, eventos e culinária. As principais feiras
agropecuárias e de negócios do país, e programas de treinamento são apresentados em boletins ao vivo e reportagens
especiais. Os leilões têm destaque especial na programação e incluem remates ao vivo e virtuais de animais.
O canal Terra Viva tem o sinal disponível gratuitamente através de antenas parabólicas de todo país, e pode ser sintonizado
pela antena parabólica na freqüência 1.360 MHz, filtro BW 18 MHz, e pela SKY. Nas demais operadoras do Sistema Net
Brasil o sinal estará disponível para transmissão a título facultativo. O Terraviva também é transportado pelo canal 2 do
Tecsat (via DTH) e TV Cidade (via cabo) nas cidades de Recife e Cuiabá.
Operadoras de tevê a cabo também levam o sinal do Terraviva a João Pessoa e Presidente Prudente. Pela banda C, o canal chega
a 16 milhões de parabólicas em todo o país, sendo 77% delas situadas na área rural.
71
Canais de televisão transmitidos por retransmissoras e/ou antenas parabólicas
SBT
A cobertura via satélite do SBT abrange mais de 1,7 milhões de domicílios rurais, atendendo uma população de
aproximadamente 7 milhões de pessoas. Somando a população urbana, o SBT via satélite atinge 15,9 milhões de pessoas,
residentes em 3,9 milhões de domicílios (SBT, 2005a).
O programa SBT Rural desde 2003, é veiculado às 6h30, de segunda a sexta. Apresenta, diariamente, informações sobre
pecuária, culturas e a melhor forma de investir o dinheiro na propriedade rural, permitindo desta forma uma maior
rentabilidade (SBT, 2005b).
Rede Globo
Apresenta o programa Globo Rural diariamente, às 6h30 e aos domingos, às 8h. A edição diária do Globo Rural é, segundo
dados do Ibope, vista em todo o Brasil, em média, por 2,2 milhões de pessoas por dia. Já a edição de domingo do Globo
Rural atinge oito milhões de pessoas (BIP, 2005). Além das edições diárias e de domingo do Globo Rural, as emissoras da
Rede Globo oferecem vários programas locais que tratam do agronegócio. São Eles:
Região Sul
Rio Grande do Sul: Campo e Lavoura, domingo, 6h.
Região Sudeste
São Paulo: Nosso Campo, sábado, 8h e 12h; Caminhos da Roça, sábado, 8h45; Diário do Campo, sábado, 8h e reprises.
Minas Gerais: MG Rural, domingo, 7h; InterTV Rural, domingo, 7h.
Rio de Janeiro: InterTV Rural, sábado, 8h e reprises.
Espírito Santo: Jornal do Campo, domingo, 7h.
Região Centro-Oeste
Goiás: Jornal do Campo, domingo, 7h.
Mato Grosso: MT Rural, sábado, 8h35, e domingo, 7h.
Mato Grosso do Sul: MS Rural, sábado, 8h35, e domingo, 7h.
Região Norte
Amazonas: Amazônia Rural, domingo, 7h.
Tocantins: Jornal do Campo, domingo, 7h.
Região Nordeste
Alagoas: Gazeta Rural, domingo, 7h.
Bahia: Bahia Rural, domingo, 7h.
Ceará: Nordeste Rural, domingo, 7h.
Maranhão: TV Mirante Rural, domingo, 7h.
Sergipe: Estação Agrícola, domingo, 7h.
Rede Minas de Televisão
A Rede Minas de Televisão está no ar 24 horas por dia. A programação é captada por antena parabólica através do satélite Brasilsat
B1 e receptor digital freqüência 3695 MHz (1455 na banda BL) FEC = 3/4 e taxa de símbolos igual a 3600 ks/s. Aproximadamente
380 municípios de Minas Gerais captam os sinais via satélite e retransmitem utilizando canais de VHF ou UHF. Um convênio com
outras 60 emissoras, dentro e fora do Estado, garante a retransmissão parcial da programação. Na sua grade de programação
apresenta semanalmente o programa Minas Rural, porém não fornece maiores informações sobre o mesmo.
Grupo Paulo Pimentel - GPP Rural / Canal da Terra
O programa GPP RURAL é o único do estado do Paraná direcionado ao meio rural. Pertence ao Grupo Paulo Pimentel, com
sede em Curitiba, proprietário de diversos meios de comunicação, dentre jornais impressos, canais de televisão e portais na
Internet. A programação do canal de televisão, leva aos paranaenses uma programação diversificada do SBT.
O programa GPP RURAL constitui um canal direto para o setor de agronegócios, levando aos produtores rurais,
empresários, industriais e a todos os telespectadores do Paraná, notícias, informações e oportunidades do segmento. Na TV
Tibagi, sob o nome Canal da Terra, o programa já se consolidou como forte veículo de informação e prestação de serviços
ao produtor rural da região noroeste do estado, sempre registrando grandes índices de audiência, através de uma linguagem
simples com o seu telespectador.
O programa tem veiculação em rede estadual, aos domingos, das 9h às 9h30. Abrange 399 municípios, alcançando uma
população de 9,9 milhões de pessoas. Seu novo formato inclui além de matérias agrícolas, quadros com reportagens sobre
turismo rural, culinária, dicas práticas sobre a lida diária com a pecuária, cotação dos preços dos produtos agrícolas,
curiosidades do meio rural e notícias do segmento.
EPTV Afiliada da Rede Globo SP
Desde janeiro de 2002, o programa “Caminhos da Roça” leva a informação agrícola e pecuária a boa parte do interior de
São Paulo e sul de Minas Gerais, totalizando 355 municípios das áreas de cobertura da EPTV, nas regiões de Ribeirão Preto,
Campinas, São Carlos e Varginha, e da TV Fronteira, na região de Presidente Prudente.
72
O programa vai ao ar todos os sábados, às 8:45 h. Tem uma hora de duração e trata de assuntos do agronegócio (principal
tema do programa), com reportagens e entrevistas. O programa fala também sobre as novas tecnologias aplicadas ao campo,
as tradições rurais e presta serviços: informações sobre reservas de água no solo, lavouras, dicas de manejo, os valores dos
produtos agrícolas e pecuários sempre atualizados na sexta feira à noite. Informações que chegam quentinhas ao
telespectador, todas as manhãs de sábado (EPTV, 2005).
TV TEM Afiliada da Rede Globo SP
O “Nosso Campo” é o programa rural que valoriza a cultura regional, usando para isso todo o processo rural, do plantio à
colheita, da colheita à mesa do consumidor. Vai além de reportagens do manuseio da terra, mostra as inúmeras relações do
homem com o campo.
Fornece informações sobre as cotações de mercado, reportagens sobre a produção agropecuária, as novas tecnologias do
campo, como andam as safras e exposições. É exibido aos sábados às 8 h, com uma hora de duração, para quase metade do
Estado de São Paulo. São 318 municípios, onde vivem sete milhões e meio de pessoas.
Fonte: Autor
2.3.3.6. Balanças eletrônicas
As balanças eletrônicas estão se estabelecendo cada vez mais na pecuária de
corte. Geralmente, uma balança eletrônica é composta de um indicador de pesagem, de cabos
e de barras de pesagem.
As balanças eletrônicas indicam e registram o peso para leitura posterior,
informa o número de animais pesados, a média de peso, o maior e o menor peso, e podem ser
conectadas a computadores e impressoras. Modelos mais modernos, além dessas funções
básicas, ainda permitem a apartação com um ou dois limites de peso fornecido(s), aceitam o
número do brinco e informações sobre o lote do animal, fazem gráficos de ganho de peso e
calculam rendimento de carcaça.
Esses modelos podem ser conectados a leitores ópticos e coletores de dados, além
de serem compatíveis com os principais programas ou softwares de gerenciamento pecuário
existentes no mercado, informações necessárias nos sistemas de rastreabilidade.
Com a chegada da tecnologia eletrônica às balanças bovinas, abriu-se uma nova
etapa na pesagem de animais vivos. A balança eletrônica tem as mesmas funções de uma
balança mecânica – pesagem na compra e venda de animais, controle de ganho de peso
individual e pesagens para fins veterinários e zootécnicos – porém, apresenta outros recursos,
incluindo a conexão com microcomputador e impressora, para transmissão e impressão de
dados como relatórios e gráficos (COIMMA, 2005a).
Também permitem práticas de manejo, como a apartação de animais a partir de
limites de pesos, atribuídos ou configurados no indicador da balança. Modelos mais sofisticados
podem apresentar gráficos de ganho de peso, pesam com rendimento de carcaça, gravam e
imprimem on-line ou off-line, possuem teclado alfanumérico para receber observações sobre o
73
animal, além de outros recursos. Uma outra vantagem é a sua portabilidade, enquanto a mecânica
permanece fixa onde foi montada.
As balanças mecânica ou eletrônica desempenham praticamente o mesmo
trabalho, entretanto, possuem vantagens e desvantagens, quando comparadas. O produtor rural, ao
escolher um equipamento desse nível, precisa considerar suas necessidades, as características e as
peculiaridades da operação, visando buscar resultados positivos para seu rebanho. Diversos
aspectos técnicos podem ser observados a partir dos dados obtidos na pesagem dos animais:
desempenho de uma nova gramínea;
desempenho de uma nova formulação de suplemento mineral ou vitamínico;
resposta a um plano de calagem, de adubação ou a uma nova divisão de
piquetes para rotação;
determinar com precisão o peso vivo para administração de um medicamento;
determinar com precisão o peso vivo para inseminação artificial adequada
de animais de alto valor, para a primeira cria.
As principais vantagens são a rapidez com que trava ou estabiliza o peso do
animal, o fato de não exigir espaço, os múltiplos recursos que oferecem e sua grande
flexibilidade de uso. Além disso, podem operar de forma portátil, com barras embaixo de
simples plataformas no brete de vacinação, por baixo ou em cima de gaiolas, e ainda
formando os ‘troncos-balanças’ ou ‘balanças-tronco’.
As desvantagens consistem no fato de necessitar de energia elétrica, cabos e
‘plugues’ de conexão, e de exigir uma capacitação mínima do operador, permitindo que o
mesmo leia as telas do visor. Apesar dessa exigência, a operação da balança eletrônica não é
complicada. O Quadro 2.3 apresenta uma comparação entre balanças eletrônica e mecânica
indicando os principais pontos fortes de cada uma.
A competitividade cada vez mais presente na pecuária de corte e a busca por uma
maior profissionalização da atividade, levaram as empresas que comercializam balanças
eletrônicas a se tornarem, atualmente, fornecedoras de soluções em pesagem para pecuária,
atuando no controle e gerenciamento de rebanhos nas etapas de cria, recria, engorda e
comercialização. Isto vem se tornando possível a partir de pesquisas junto aos pecuaristas, onde é
possível detectar a falta de compatibilidade das diversas tecnologias da informação utilizadas no
manejo e no gerenciamento da atividade pecuária, e de parcerias com as principais empresas de
software de gerenciamento e sistemas de rastreabilidade para rebanhos.
74
QUADRO 2.3 - Comparação dos principais aspectos entre balanças mecânica e eletrônica.
BALANÇA MECÂNICA BALANÇA ELETRÔNICA
Equipamento tradicional e bem
conhecido pela durabilidade.
Tecnologia nova no Brasil, aproximadamente 9 anos de mercado.
Não depende de fonte de energia. Depende de fonte de energia elétrica-bateria interna ou bateria externa
de 12 V.
Fácil manutenção. Exige bom suporte do fabricante e manutenção especializada.
Exige pouco treinamento do
operador.
Exige um mínimo de capacitação do operador para leitura das telas.
É necessário esperar a estabilização
do braço na pesagem.
Estabiliza mais rapidamente, em poucos segundos.
Pouco flexível, exigindo estrutura
fixa no local, sem permitir alternativa
de uso múltiplo.
Oferece flexibilidade de uso - plataforma/ cocho/ gaiola fixa/ gaiola
suspensa/ tronco de contenção/ uso portátil, podendo ser facilmente
trasportada de uma fazenda a outra.
Mostra apenas o peso no ato da
pesagem. Algumas balanças oferecem
opção de braço com impressão de
ticket com o peso.
Mostra o peso na pesagem e o registra na memória, para leitura
posterior. Pode ser conectada a computador, impressora ou coletor de
dados. Possui recurso de apartação por limite de peso, de identificação
individual do animal, de pesagem com rendimento de carcaça, geração
de relatórios, gráficos e informações sobre o ganho de peso. São
compatíveis com softwares comerciais de gerenciamento pecuário.
Possibilidade de adaptação de um kit
de conversão, permitindo o acesso à
tecnologia eletrônica (embora
continue a pesar também com o
braço).
A pesagem é 100% eletrônica.
Não depende de cabos e conexões
para funcionar.
Depende de cabos e conexões.
Por ser de instalação fixa, exige
cobertura.
Por ser portátil, dispensa cobertura. Terminada a pesagem, pode ser
desligada, guardada ou levada para outra fazenda.
Maior investimento, pois a instalação
fixa consome mais materiais.
Menor investimento, devido à instalação mais econômica, com o uso de
menos materiais.
Ocupa espaço mínimo de curral e
cobertura de 3 m².
Praticamente não ocupa espaço.
Montagem com tronco de contenção é
inviável.
Funciona perfeitamente conjugada com tronco, formando o conjunto
balança-tronco.
A opção de escolha se dá apenas por
capacidade de pesagem e número de
animais ou tamanho da gaiola.
Inúmeras opções de indicadores de pesagem (cada um com seu leque de
recursos) e de barras de pesagem.
Fonte: adaptado de COIMMA (2005b).
Segundo TOLEDO DO BRASIL (2005), uma balança eletrônica pode oferecer
uma série de recursos para facilitar a identificação, pesagem e gerenciamento de seu rebanho.
Dentre eles, encontram-se:
arquivos com nomes definidos pelo usuário;
capacidade de aproximadamente 10.000 pesagens;
inserção automática de data e hora;
75
cálculo de ganho de peso em kg ou kg/dia;
apresenta o peso em arrobas, conforme o rendimento de carcaça definido
pelo usuário;
permite a mudança de um peso e identificação do animal, de um lote para outro;
permite apartação (classificação) em mais de uma faixa;
possui funções para localização de lotes cadastrados.
Além das vantagens citadas, a balança eletrônica possibilita a impressão de vários
tipos de relatórios, visando uma maior flexibilidade e segurança na tomada de decisões corretas.
Esses relatórios possuem uma diversidade de diferentes itens, incluindo:
pesagem total e média de um ou de todos os lotes;
apartação por peso;
apartação por ganho de peso comparado entre lotes;
detalhamento com ganho de peso;
listagem dos lotes;
movimentação de animais entre lotes;
animais / lotes excluídos;
sobra / falta de animais entre dois lotes.
De forma complementar, a utilização e o registro de outros dados precisam ser
coletados de maneira confiável, visando tornar o gerenciamento mais eficaz. Dentre eles, destacam-se:
identificação (tatuagem, marcação a fogo, brinco numérico, brinco eletrônico).
descrição de eventos: nascimento, primeira cria, sexo, raça.
aspectos sanitários e tratos recebidos: medicamentos e castração.
tipo de alimentação: pasto, confinamento e localização.
peso: em idades diferentes.
Com esses dados, o pecuarista pode realizar uma análise com equipe própria ou com
a ajuda de terceiros. Entretanto, para facilitar o gerenciamento, é preciso estar certo da integração
dos diversos fornecedores de soluções: identificação animal, balança, gaiola ou tronco/balança e
software de gerenciamento. Também é importante para o produtor assegurar-se do uso de
equipamentos e soluções de empresas que possam prestar assistência técnica e assessoria futura.
76
3 INTERAÇÃO ENTRE O CONSUMIDOR E A TECNOLOGIA
3.1. Apresentação
Nos últimos anos, os avanços tecnológicos, principalmente aqueles relacionados
à TI, vêm modificando a forma na qual os consumidores lidam com produtos cada vez mais
sofisticados e no modo como os serviços são produzidos e entregues. Assim, partindo da idéia
de que o comportamento dos consumidores em relação aos produtos e serviços de base
tecnológica difere daquele relacionado a produtos convencionais, torna-se fundamental o
conhecimento do consumidor e de seu comportamento, uma vez que tecnologia avançada não é
garantia de sucesso no mercado.
Ao lançar um produto tecnológico que substitui uma parcela do trabalho
humano, surgem crenças específicas que incluemveis de otimismo a respeito da tecnologia,
tendências para inovar, certo desconforto e insegurança inerente em relação à tecnologia.
Genericamente, a preferência pela interação humana e a falta de uma aptidão para a
tecnologia são alguns dos fatores apontados para explicar a aversão que alguns consumidores
manifestam por produtos e serviços baseados em tecnologia (MITCHELL, 1996). Por isso a
importância em conhecer as atitudes do consumidor-usuário em relação à tecnologia.
Se de um lado é relevante do ponto de vista científico, por permitir avanços
teóricos acerca do desenvolvimento tecnológico das empresas e das cadeias nas quais essas
empresas estão inseridas, por outro é relevante para as empresas que a fornecem, pois, de
acordo com ROBERTS (2000), em muitos mercados, a força que restringe o avanço
tecnológico não reside na capacidade das empresas em produzir novos bens e serviços, mas
na incerteza com relação à demanda.
Do ponto de vista do fornecedor de tecnologia, a compreensão inadequada das
atitudes dos consumidores em relação à tecnologia (e das variações dessas atitudes nos
diferentes segmentos de consumidores) pode resultar em ações mercadológicas inadequadas
para produtos e serviços baseados em tecnologia (PARASURAMAN e COLBY, 2001),
dificultando ou retardando a adoção e difusão de tecnologias que poderiam tornar a pecuária
de corte mais competitiva, trazendo ganhos para toda a cadeia produtiva, e principalmente,
para o produtor rural.
De maneira similar, o desconhecimento desses aspectos podem interferir nas
tentativas de se estabelecer políticas públicas ou privadas, no sentido de ampliar a difusão e
adoção da TI, principalmente no meio rural, onde outras variáveis são consideradas para a
adoção de tecnologias. Assim, entender como se dão as decisões do consumidor no processo
77
de adoção de produtos e serviços baseados em tecnologia, significa proporcionar uma oferta
mais adequada às necessidades do mercado.
Embora o desenvolvimento tecnológico propicie benefícios inquestionáveis
quanto a aspectos de conveniência, eficiência e rapidez, existem evidências de crescente
frustração no que se refere à adoção e à utilização desses produtos e serviços
(PARASURAMAN, 2000).
De acordo com PARASURAMAN e COLBY (2001), uma tecnologia mal
concebida resulta em produtos e serviços mais difíceis de usar, onerando a infra-estrutura de
suporte ao cliente, aumentando a rejeição e a devolução de produtos ou cancelamento de
serviços, refletindo negativamente nos lucros da empresa fornecedora. Do ponto de vista do
usuário da tecnologia, no meio rural, o custo da infra-estrutura de suporte ou mesmo a falta dela
e os produtos difíceis de usar, podem influenciar de forma negativa a competitividade do
empreendimento rural ou de toda uma cadeia produtiva.
Assim, torna-se imprescindível abordar os aspectos relacionados à interação
entre consumidor e tecnologia. SOUZA (2002) destacou que investigações que abordam os
determinantes do comportamento de adoção de produtos e serviços baseados em tecnologia
são oportunas, pois incluem elementos mais individuais da relação entre tecnologia e
consumidor, preocupando-se com as crenças e sentimentos envolvidos na adoção de produtos
e serviços, buscando ir além da classificação dos adotantes de tecnologia segundo sua
capacidade técnica ou tendência a ser pioneiro.
3.2. Produtos e serviços baseados em tecnologia
Segundo VENKATESH (1985), produtos e serviços baseados em tecnologia
adquirem o status de tecnologias domésticas, de acordo com sua capacidade de influenciar as
atividades cotidianas dos consumidores. O consumidor é o centro das atividades diárias e desse
conjunto de produtos ou serviços tecnológicos, uma vez que a tecnologia possui a função de
auxiliar no desempenho de atividades cotidianas, como a realização de compras, a administração
da vida financeira, a comunicação com outras pessoas e a busca por entretenimento.
Na década de 1990, observou-se uma intensa difusão de produtos e serviços
baseados em tecnologia, cuja utilização pode atender inúmeras atividades. A tecnologia da
computação ganhou destaque nesse período e as infinitas possibilidades de aplicação sugerem
a expansão para novas áreas.
No que se refere aos serviços, a presença física de um vendedor e um
comprador não mais é caracterizada como vital para que as transações sejam facilitadas. Por
78
esse motivo, LOVELOCK e WRIGHT (2001, p.55-56) relataram que “muitos serviços de alto
contato estão sendo transformados em serviços de baixo contato à medida que os clientes se
envolvem em compras a partir do domicílio, realizam suas operações bancárias por telefone
ou pesquisam e compram produtos pela Internet”.
SHETH, MITTAL e NEWMAN (2001) ressaltaram os benefícios
proporcionados pela tecnologia na vida dos consumidores. Os avanços tecnológicos afetam os
comportamentos de compra alterando o fluxo de informações sobre as alternativas de
mercado e o acesso a estas; disponibilizando novas gerações de produtos e serviços;
possibilitando os processos de automação que oferecem aos clientes maior flexibilidade e
controle; melhorando a produtividade e viabilizando, em termos econômicos, a oferta de
produtos personalizados. No aspecto econômico, destaca-se a redução dos custos de transação
para a empresa e a maior conveniência para os consumidores, como conseqüências positivas
do uso de interfaces tecnológicas.
Embora sejam perceptíveis as contribuições positivas da tecnologia para a
sociedade como um todo e, em particular, para os comportamentos de compra, diversas
pesquisas têm revelado a manifestação de sentimentos negativos dos consumidores em relação a
produtos e serviços tecnológicos, tais como computadores, caixas automáticos, aparelhos de fax
e secretária eletrônica, entre outros, resultando na crescente frustração do consumidor para
interagir com a tecnologia (PARASURAMAN, 2000).
A manifestação desses sentimentos negativos está relacionada aos fatores
psicológicos do indivíduo. Ao investigar as barreiras psicológicas dos indivíduos em relação
às mudanças, FOSTER (1964), encontrou que a aceitação ou rejeição de novas oportunidades
depende, sobretudo, de fatores psicológicos, além da condição cultural básica, de relações
sociais favoráveis e da capacidade econômica do indivíduo.
Outros aspectos relacionados aos fatores psicológicos foram identificados por
MICK e FOURNIER (1998). Os autores verificaram que os consumidores podem experimentar
situações de estresse e ansiedade quando confrontados com produtos tecnológicos, desencadeando
sentimentos de incompetência, escravização, perda de controle, entre outros. A ambivalência de
sentimentos em relação à tecnologia também é relatada a partir da análise de situações de
consumo de produtos como computadores, aparelhos de fax e secretária eletrônica.
DABHOLKAR (1996) indicou a necessidade de um maior aprofundamento
dos elementos que levam à adoção de tecnologia, especialmente àqueles relacionados aos
aspectos emocionais do consumidor em relação ao processo de tomada de decisão de compra
de produtos e serviços baseados em tecnologia.
79
3.3. Aspectos emocionais da adoção de tecnologia
O papel do afeto (sentimentos) e da cognição (crenças) nos comportamentos de
compra é determinante na formação das atitudes do consumidor, fundamental para uma
compreensão inicial das decisões de adoção de um produto ou serviço em particular. Para alguns
produtos, as atitudes dependem principalmente das crenças, enquanto para outros, os sentimentos
podem ser o principal determinante das atitudes. Também é possível que tanto as crenças quanto
os sentimentos influenciem as atitudes (ENGEL, BLACKWELL e MINIARD, 2000).
Genericamente, as atitudes refletem uma predisposição do indivíduo a se
comportar de maneira favorável (mais receptiva) ou desfavorável (menos receptiva) em
relação a uma oferta. As atitudes relativas ao comportamento de compra são aprendidas por
meio da (i) experiência direta com o produto, (ii) da informação adquirida de outros
indivíduos ou (iii) da exposição a outras formas de comunicação.
Praticando e aprendendo, as pessoas adquirem crenças e sentimentos que, por
sua vez, influenciam seu comportamento de compra. De acordo com DIAS (2003), uma
crença é um pensamento descritivo que uma pessoa mantém a respeito de alguma coisa,
podendo ter como base conhecimento, opinião ou fé, contendo ou não uma carga emocional.
Já os sentimentos vivenciados pelas pessoas afetam suas atitudes em vários contextos.
Geralmente ocorrem durante o consumo de muitos produtos e representam um papel
importante na determinação das avaliações pós-consumo dos consumidores (ENGEL,
BLACKWELL e MINIARD, 2000).
A formação de atitudes favoráveis ou desfavoráveis está fortemente relacionada à
incerteza em não poder prever as conseqüências (resultados) das decisões de compra. Essas duas
dimensões – incerteza e conseqüências – constituem a base do risco percebido pelo consumidor,
fator particularmente relevante nas decisões de adoção de produtos tecnológicos.
SCHIFFMAN e KANUK (2000) ressaltaram a importância do papel do risco
percebido no comportamento de adoção de produtos e serviços inovadores, pois os
consumidores que percebem pouco ou nenhum risco na compra de um novo produto, têm
maior tendência a fazer compras inovadoras do que consumidores que percebem muito risco.
Em outras palavras, a percepção de alto risco limita a capacidade de inovação. ENGEL,
BLACKWELL e MINIARD (2000) acrescentaram que quanto maior o risco percebido em
adotar novos produtos e, conseqüentemente, a incerteza, maior a probabilidade de que uma
compra seja adiada ou que a busca e a decisão sejam extensivas.
80
Sobre a utilização da Internet como canal de compra de produtos e serviços,
ARRUDA e MIRANDA (2003) identificaram variáveis comportamentais determinantes para
a decisão de compra no varejo virtual, a partir de um estudo com 368 usuários da Internet em
nove estados brasileiros. Os resultados mostraram que 44% dos internautas não utilizam o
comércio eletrônico. As principais causas para a não-utilização são o incomodo de comprar
sem ver e sentir o produto (52%), a falta de confiança nas ferramentas de segurança (47%) e a
preferência pela loja real (42%).
Segundo HIRSCHMAN e STERN (1999), as emoções exercem influência
direta em uma variedade de respostas cognitivas, bem como em diversas situações do
comportamento de consumo, por exemplo, na inovatividade do consumidor. As emoções
desempenham um papel significativo nas atitudes em relação às inovações tecnológicas, pois
estão relacionadas à aceitação ou resistência do consumidor em adotá-las.
BAGOZZI e LEE (1999) destacaram que o processo de decisão envolvendo a
adoção de produtos tecnológicos inclui a aceitação ou resistência emocional do consumidor, e
esses fatores levam às respostas de enfrentamento em relação à tecnologia. Assim, a aceitação
emocional de produtos e serviços baseados em tecnologia tem origem em emoções positivas
como prazer, orgulho, esperança, amor ou afeição. A resistência emocional deriva de emoções
negativas como raiva, medo, tristeza, culpa, vergonha ou inveja.
As emoções positivas e negativas do processo de decisão estão presentes em
questionamentos do tipo “o que aconteceria se eu adotasse/não adotasse o produto
tecnológico?” (BAGOZZI, BAUMGARTNER e PIETERS, 1998). A coexistência de
sentimentos positivos e negativos em relação à tecnologia caracteriza o que MICK e
FOURNIER (1998) denominaram Paradoxos Tecnológicos.
3.4. Paradoxos tecnológicos e estratégias de enfrentamento
Em um estudo sobre a avaliação e intenção de uso de tecnologias de auto-
serviço, DABHOLKAR (1996) percebeu que os consumidores diferem em termos de crenças
e sentimentos acerca das diversas opções e que essas crenças/sentimentos estão positivamente
relacionados à intenção de adoção, resultado consistente com o entendimento da formação da
atitude nos comportamentos de compra. Nesse aspecto, BAGOZZI e LEE (1999) enfatizam
que cada emoção está conectada a uma ou mais tendências à ação. Desta forma, a tendência à
ação da reação emocional de ansiedade é evitar ou fugir do objeto que causa ansiedade; a
tendência à ação da raiva é atacar a origem da raiva e da frustração. No âmbito das relações
entre clientes e empresas, a reação emocional de frustração com a utilização de um determinado
81
produto baseado em tecnologia pode desencadear tanto manifestações verbais, como a
propaganda boca-a-boca negativa, quanto manifestações físicas, quando o cliente busca lesar
economicamente a empresa ao decidir comprar um produto concorrente.
A coexistência de sentimentos positivos e negativos em relação à tecnologia é
destacada por MICK e FOURNIER (1998) a partir do entendimento do enfoque paradoxal da
tecnologia. Nesse sentido, a tecnologia pode gerar, além da liberdade, controle e eficiência,
sentimentos de escravização, descontrole e inaptidão. Os autores observaram que os
consumidores demonstram reações ambivalentes em relação à adoção de produtos baseados
em tecnologia. Essa ambivalência está relacionada com os paradoxos inerentes à tecnologia,
ou seja, a sua capacidade de promover, ao mesmo tempo, conseqüências positivas e negativas.
A partir daí, foram identificados oito paradoxos tecnológicos, apresentados no Quadro 3.1.
QUADRO 3.1 – Paradoxos centrais dos produtos baseados em tecnologia.
Paradoxos Descrição
Controle / Caos
a tecnologia pode facilitar o regulamento ou a ordem, ao mesmo tempo
em que pode conduzir a uma reviravolta ou desordem.
Liberdade / Servidão
a tecnologia pode facilitar a independência ou poucas limitações, ao
mesmo tempo em que pode conduzir à dependência ou a mais limitações.
Novo / Obsoleto
as novas tecnologias fornecem ao usuário os mais recentemente
benefícios desenvolvidos pelo conhecimento científico, ao mesmo tempo
em que logo serão obsoletas quando alcançam o mercado.
Competência / Incompetência
a tecnologia pode facilitar sentimentos da inteligência ou de eficácia, ao
mesmo tempo em que pode conduzir a sentimentos de ignorância ou de
inaptidão.
Eficiência / Ineficiência
a tecnologia pode reduzir esforço ou tempo gasto em determinadas
atividades, ao mesmo tempo em que pode conduzir a maiores esforços ou
tempo em determinadas atividades.
Satisfação / Necessidade
a tecnologia pode facilitar a realização de necessidades ou desejos, ao
mesmo tempo em que pode conduzir ao desenvolvimento ou consciência
de necessidades ou desejos não realizados.
Assimilação / Isolamento
a tecnologia pode aproximar o ser humano, ao mesmo tempo em que
pode conduzir a um distanciamento.
Engajamento / Desengajamento
a tecnologia pode facilitar a participação, o fluxo ou a atividade, ao
mesmo tempo em que pode conduzir à desconexão, ao rompimento ou a
passividade.
Fonte: Adaptado de MICK e FOURNIER (1998, p.126).
82
Esses paradoxos tecnológicos variam do razoavelmente concreto ao relativamente
abstrato, sendo os primeiros (controle/caos, liberdade/servidão, novo/obsoleto) experimentados
extensamente e articulados mais facilmente pelos consumidores, enquanto os últimos
(assimilação/isolamento, engajamento/ desengajamento) são mais sutis e mais difíceis de se
expressar. Os autores observaram que os paradoxos tecnológicos podem provocar conflito e
ambivalência que estimulam a ansiedade e o estresse, despertando estratégias de enfrentamento. A
relação entre o estresse e as estratégias de enfrentamento indica o efeito recíproco pretendido
dessas estratégias para diminuir o estresse (embora nem sempre ajam assim).
As estratégias de enfrentamento focadas por MICK e FOURNIER (1998) são
mais comportamentais que psicológicas. Essas estratégias foram classificadas como
estratégias de fuga ou de confronto e sub-categorizadas de acordo com os estágios de pré-
aquisição ou de consumo (Quadro 3.2).
Os estudos de MICK e FOURNIER (1998) e FOURNIER e MICK (1999)
trazem, portanto, resultados significativos e sinalizam a relevância do tema, tanto no âmbito
acadêmico quanto no ambiente empresarial. Os paradoxos tecnológicos estimulam, com
freqüência, emoções negativas, expressadas pelos sentimentos de frustração, inveja e derrota,
que desencadeiam uma variedade de estratégias de enfrentamento comportamentais.
Além disso, natureza e os efeitos dos produtos tecnológicos não são
imperceptíveis aos olhos do consumidor, que busca formas de gerenciamento dos paradoxos a
partir de estratégias de enfrentamento, assumindo um papel mais ativo na adoção de
tecnologia. Outro aspecto relevante diz respeito ao tempo de adoção da tecnologia estar mais
relacionado com a motivação do consumidor para gerenciar os paradoxos tecnológicos e com
as emoções experimentadas, do que com o seu grau de inovatividade ou competência técnica.
De acordo com MICK e FOURNIER (1998), os campos da psicologia e da
pesquisa do consumidor têm explicado o comportamento de adoção de produtos e serviços
tecnológicos dos indivíduos a partir da equação custo-benefício, prevalecendo um enfoque
essencialmente cognitivo, deixando de lado os elementos emocionais. Entre os diversos
modelos que procuram explicar como os indivíduos adotam inovações, o modelo da ‘decisão
de inovação’ proposto por ROGERS (1995) merece destaque pela larga utilização para
explicação da adoção de inovações.
83
QUADRO 3.2 - Estratégias de enfrentamento comportamentais para gerenciamento dos
paradoxos tecnológicos e seus efeitos emocionais.
Estratégias de
enfrentamento
Efeitos emocionais
Fuga de pré-aquisição
Ignorar
evitar informação sobre as características ou disponibilidade de certos produtos
tecnológicos
Recusar
recusar a oportunidade de possuir um produto tecnológico específico
Adiar
adiar a posse de um produto tecnológico específico
Confronto de pré-aquisição
Teste preliminar
usar o produto tecnológico de outra pessoa temporariamente
comprar o produto, mas não assumir sua posse definitiva até que a garantia
termine
Heurísticas de compra
o modelo mais recente de tecnologia
o modelo menos sofisticado
um modelo mais caro
um marca amplamente conhecida, familiar
uma marca confiável
Prolongar o processo de
decisão
fazer uma ponderação das necessidades e buscar por informações detalhadas do
produto/marca para, então, comprar a alternativa mais apropriada de forma
cuidadosa e calculada
Garantia prolongada /
contrato de manutenção
adquirir um seguro adicional no momento da compra do produto para cobrir
serviços e reparos
adquirir um contrato para manutenção preventiva periódica e reparos
emergenciais
Fuga de consumo
Negligenciar
mostrar indiferença temporária em relação a posse do produto tecnológico
Abandono
interromper ou descontinuar o uso do produto tecnológico
deixar o produto sem reparo, se estiver funcionando mal
Afastar-se
desenvolver regras restritivas para quando ou como o produto tecnológico será
ou não usado
colocar fisicamente o produto tecnológico em um local afastado, onde não possa
ser visto
Confronto de consumo
Acomodação
mudar tendências, preferências e rotinas, de acordo com as exigências,
habilidades e inabilidades para com o produto tecnológico
Parceria
estabelecer uma relação próxima e de profunda ligação com o produto
tecnológico
Domínio
dominar o produto tecnológico aprendendo suas operações, forças e fraquezas
Fonte: Adaptado de MICK e FOURNIER (1998, p.133).
3.5. Implicações dos paradoxos tecnológicos e das estratégias de enfrentamento para
o estudo da difusão de inovações
A primeira pesquisa sobre difusão da inovação foi realizada em 1903 pelo
sociólogo francês Gabriel Tardes que traçou a curva S original da difusão. A curva S de
84
Tardes (1903) é de importância atual porque, de acordo com ROGERS (1995), a maioria das
inovações tem uma taxa S de adoção.
A variação encontra-se na inclinação do ‘S’. Algumas inovações difundem
rapidamente, criando uma curva S íngreme; outras possuem uma taxa mais lenta de adoção,
criando uma inclinação mais gradual. A taxa de adoção ou a taxa de difusão tornou-se uma área
de pesquisa importante para os sociólogos, e mais especificamente, para os publicitários. Nos
anos 1940, dois sociólogos, Bryce Ryan e Neal Gross publicaram um estudo sobre a difusão da
semente híbrida de milho entre fazendeiros de Iowa, EUA, despertando um novo interesse na
curva S de difusão da inovação.
Esse estudo resultou em uma nova onda de pesquisas. A taxa de adoção da
inovação agrícola seguiu uma curva normal S quando traçada em uma base cumulativa sobre o
tempo. Essa taxa da curva de adoção similar à curva S da difusão foi representada graficamente
por Tardes quarenta anos antes. Ryan e Gross classificaram os segmentos de fazendeiros de
Iowa com relação à quantidade de tempo que eles levaram para adotar a inovação, nesse caso, a
semente híbrida de milho. Os cinco segmentos de fazendeiros que adotaram a semente, ou as
categorias de adotantes são: (1) inovadores, (2) adotantes adiantados, (3) maioria adiantada, (4)
maioria atrasada, (5) atrasados.
Os primeiros fazendeiros a adotarem (os inovadores) eram mais cosmopolitas,
característica indicada pela maior freqüência de viagens para Des Moines (capital de Iowa), e
possuidores de um status socioeconômico mais elevado do que os adotantes mais lentos. Uma
das características mais importantes dos inovadores é que eles requerem um período mais
curto de adoção do que qualquer outra categoria.
A Teoria da Difusão de Inovações tem sido investigada por diferentes disciplinas
ao longo do tempo, mas somente a partir da década de 1960, com ARNDT (1967), torna-se
mais visível no campo do comportamento do consumidor, constituindo o chamado ‘paradigma
da difusão do consumidor’ (GATIGNON e ROBERTSON, 1985).
Segundo ROGERS (1995), a difusão é o “processo pelo qual uma inovação é
comunicada no tempo, por meio de determinados canais, entre os membros de um sistema
social”. Essa definição contém quatro elementos que estão presentes no processo de difusão
da inovação, que são:
a) inovação: uma idéia, prática, ou objetos que sejam percebidos como
conhecidos por um indivíduo ou por outra unidade de adoção;
b) canais de comunicação: os meios pelos quais as mensagens passam de um
indivíduo para outro;
85
c) tempo: os três fatores de tempo são:
processo de decisão da inovação;
tempo relativo na qual uma inovação é adotada por um indivíduo ou
por um grupo;
taxa de inovação da adoção.
d) sistema social: um conjunto das unidades inter-relacionadas que estão
engajadas na resolução de problema comum para atingir um objetivo comum.
Difusão e adoção são conceitos intimamente relacionados, porém, não
sinônimos. ROGERS (1995) e ENGEL, BLACKWELL e MINIARD (2000) diferenciam o
processo de adoção do processo da difusão, relatando que o segundo ocorre em um sistema
social, refletindo o comportamento de um grupo de consumidores, enquanto o processo de
adoção diz respeito a um comportamento individual, no qual o consumidor passa pelo
processo provavelmente a taxas diferentes e com inícios diferentes de tempo. A difusão
representa um processo macro, enquanto a adoção é um processo micro que enfoca a
aceitação ou rejeição de uma inovação pelo consumidor (SHIFFMAN e KANUK, 2000).
De acordo com ROGERS (1995), as etapas do processo de decisão envolvem:
(i) consciência ou conhecimento; (ii) interesse ou informação; (iii) avaliação ou decisão; (iv)
experimentação ou implementação; e (v) adoção ou confirmação. Genericamente, o processo
de decisão envolve as atividades de busca e processamento de informações, por meio dos
quais o consumidor obtém informação para diminuir a incerteza sobre a inovação.
O conhecimento se inicia quando o consumidor recebe estímulo físico ou
social, despertando sua atenção para uma inovação. Não há, ainda, julgamento sobre a
relevância de um novo produto ou serviço. No estágio da consciência, o indivíduo é exposto à
inovação, mas falta a informação completa sobre a mesma.
No estágio interesse ou de informação, o indivíduo torna-se interessado na
idéia nova e procura informação adicional sobre ela, permitindo a formação de atitudes
favoráveis ou desfavoráveis em relação à inovação. Essa etapa está relacionada ao risco
percebido na avaliação das conseqüências de uso da inovação.
Na etapa de avaliação, o indivíduo aplica mentalmente a inovação a sua
realidade e antecipa uma situação futura, decidindo-se por tentar ou não. A decisão envolve a
escolha entre adotar ou rejeitar a inovação. A implementação ou estágio experimental, após a
decisão, refere-se ao uso efetivo da inovação, quando o indivíduo faz uso pleno da inovação.
86
No estágio de adoção, o indivíduo decide se continua com o uso pleno da
inovação. Trata-se da confirmação ou reforço, buscado pelo consumidor para uma decisão de
adoção que já foi tomada.
Segundo o modelo de ROGERS (1995), é possível observar que a adoção de
inovações envolve um processo de decisão, em que predominam os elementos cognitivos do
comportamento para a sua explicação. PETER e OLSON (1994) relataram que o processo de
decisão do consumidor abrange diferentes respostas psicológicas, ou seja, além dos aspectos
cognitivos, os aspectos afetivos.
Entretanto, a caracterização e segmentação dos adotantes proposta por
ROGERS (1995) consideram, sobretudo, a inovatividade do consumidor, que diz respeito ao
grau em que ele é relativamente mais imediato ou pioneiro na adoção de inovações em relação
aos outros membros de um sistema social.
As estratégias de fuga do estágio de pré-aquisição (ignorar, recusar e adiar)
apresentadas por MICK e FOURNIER (1998) a partir dos paradoxos tecnológicos, representam
um refinamento da idéia proposta por Rogers de rejeição tecnológica. ROGERS (1995) indicou
que uma inovação pode ser rejeitada durante qualquer estágio do processo de adoção. Essa
rejeição é uma decisão de não adotar uma inovação. Entretanto, ela não pode ser confundida
com descontinuidade. A descontinuidade é uma rejeição que ocorre após a adoção da inovação.
Sinteticamente, muitos dos resultados das pesquisas com descontinuidade demonstram que as
mesmas ocorrem em um período de tempo relativamente curto e que poucas foram causadas
pela sobreposição de uma inovação superior que substitui uma idéia previamente adotada.
Foram identificados dois tipos de descontinuidades:
descontinuidade por desilusão: a decisão de rejeitar uma idéia em
conseqüência do descontentamento com seu desempenho;
interrupção da recolocação: a decisão de rejeitar uma idéia a fim adotar
uma idéia melhor.
Essa descontinuidade ou fuga, sugerida por MICK e FOURNIER (1998), pode ser
desencadeada por quaisquer dos oito paradoxos tecnológicos. Sendo assim, os autores destacaram
que o paradigma da difusão de inovações, mais especificamente, a categorização dos adotantes
5
proposta por ROGERS (1995) não expõe os pormenores do comportamento de consumo.
5
A categorização dos adotantes baseia-se no grau de inovatividade dos consumidores, dando origem a cinco
grupos distintos: inovadores, adotantes adiantados, maioria adiantada, maioria atrasada e atrasados (ROGERS, 1995).
87
A estratégia de adiar a posse do produto tecnológico não deve ser entendida
somente a partir da classificação dos consumidores em maioria atrasada ou retardatários. Segundo
MICK e FOURNIER (1998), o consumidor adia de forma proposital a aquisição da tecnologia,
como uma estratégia de enfrentamento razoável e consciente.
ROGERS (1995) destacou que, ao invés de descrever os indivíduos em termos de
quanto tempo eles levam para adotar uma tecnologia, é mais significante descrever as categorias
de adotantes com base na inovatividade, onde cada categoria contém graus similares dessa
característica. A inovatividade indica mudança comportamental, considerada a última meta da
maioria dos programas de difusão, preferivelmente às mudanças cognitivas ou de atitude.
3.6. Classificação das categorias de adotantes com base na inovatividade
De acordo com ROGERS (1995), existe uma infinidade de termos utilizados
para categorizar os adotantes de tecnologia, assim como as metodologias empregadas para isso.
Nesse caso, torna-se difícil para os pesquisadores compararem suas descobertas, se não houver
uma padronização tanto da nomenclatura como do sistema de classificação. Um método
proposto pelo autor em 1962, com base na curva S de adoção, se destacou nesse sentido.
De uma forma resumida, a distribuição da curva S de adoção aumenta
lentamente em um primeiro momento, quando há poucos adotantes em cada período de
tempo. Em seguida, acelera ao máximo, até metade dos indivíduos do sistema terem adotado.
Então cresce a uma taxa gradualmente mais lenta, com os poucos remanescentes. Essa é a
curva S normal, cujo argumento se baseia nos papéis da informação e da redução de
incertezas na difusão de uma inovação.
3.6.1. Método de categorização dos adotantes
Segundo ROGERS (1995), uma pesquisa que procura padronizar categorias de
adotantes enfrenta três problemas: (i) determinar o número de categorias de adotantes para
conceituar, (ii) determinar quantos membros do sistema estarão incluídos em cada categoria, e
(iii) determinar o método, estatístico ou não, para a definição das categorias de adotantes.
Observa-se que não há questões sobre os critérios utilizados para a
categorização de adotantes. Nesse sentido, a inovatividade se destaca como uma dimensão
relativa, em que um adotante tem mais e o outro menos, em um dado sistema social. Trata-se
de uma variável contínua, e separá-la em categorias discretas é somente uma questão
conceitual, bastante semelhante à divisão do status social em classes alta, média e baixa. Tal
classificação é uma simplificação que auxilia o entendimento.
88
Antes de descrever o método proposto para a categorização, o autor evidenciou
as características que um conjunto de categorias deveria ter: (i) ser exaustiva, incluindo todas
as unidades do estudo; (ii) mutuamente exclusiva, excluindo das outras categorias a unidade
de estudo que aparece em uma categoria; e (iii) derivada de um princípio classificatório.
ROGERS (1995) mostrou que a distribuição de adotantes se aproxima da normalidade. Esse
dado é importante porque a freqüência de distribuição normal possui muitas características que
podem ser utilizadas para classificar os adotantes. Uma dessas características ou parâmetros é a
média (
x
) de uma amostra. Outro parâmetro de uma distribuição é o desvio-padrão (sd), uma
medida de dispersão sobre a média.
As duas variáveis estatísticas – a média (
x
) e o desvio-padrão (sd) – podem ser
utilizadas para dividir a distribuição normal dos adotantes em categorias. Se forem utilizadas
linhas verticais para marcar os desvios padrão dos dois lados da média, a curva é dividida em
categorias, resultando em porcentagens padronizadas de indivíduos em cada categoria.
Segundo SAAKSJARVI (2003), a distinção estabelecida com base na
inovatividade, sugere focar novos produtos e serviços para os inovadores que iniciarão o processo
de difusão, comunicando aos outros segmentos de adotantes. Entretanto, essa visão tem mudado
recentemente, sugerindo que focar na maioria pode ser mais vantajoso que focar nos inovadores
(MAHAJAN e MULLER, 1998; BOYD e MASON, 1999) e que o método do tempo de adoção
utilizado por ROGERS (1995) para mensurar a inovatividade é um conceito temporal, que não
pode ser utilizado para predizer comportamentos futuros (GOLDSMITH e HOFACKER, 1991).
3.6.2. Categorias de adotantes como tipos ideais
As cinco categorias de adotantes são mostradas como tipos ideais,
conceituados a partir de observações sobre a realidade e descritas para permitir comparações
possíveis (ROGERS, 1995). Sua função é conduzir esforços de pesquisa e servir como um
cenário para a síntese das descobertas de pesquisa. Na realidade não há uma ruptura
pronunciada na ‘linha’ da inovatividade entre cada uma das cinco características. Os tipos
ideais não são simplesmente uma média entre todas as observações sobre uma categoria de
adotantes. Eles são baseados em abstrações de casos empíricos e têm a pretensão de orientar
formulações teóricas e investigações empíricas. O autor identificou características dominantes
e valores para cada categoria proposta (QUADRO 3.3).
Muitos pesquisadores notaram que os termos ‘atrasado’ ou ‘retardatário’
possuem uma carga pejorativa, assim como ‘classe baixa’. Entretanto, o uso dessa
nomenclatura não significa desrespeito para com os indivíduos.
89
QUADRO 3.3 - Características das categorias de adotantes.
Inovador (aventureiro)
aventureiro, ávido por idéias novas, deseja o perigoso, o audaz e o risco;
controla substanciais recursos financeiros para absorver uma possível perda devido a uma inovação não lucrativa;
disposição para aceitar uma derrota ocasional, quando alguma nova idéia for mal-sucedida;
habilidade para compreender e aplicar um complexo conhecimento técnico;
capacidade de lidar com um grau elevado de incerteza sobre uma inovação;
possui um importante papel no processo de difusão, pela sustentação da nova idéia no sistema social.
Adotante adiantado (respeitável)
mais integrado no sistema social local do que os inovadores, que são cosmopolitas;
maior grau de liderança de opinião na maioria dos sistemas (potenciais adotantes o procuram atrás de
conselhos e informações);
serve de modelo para outros membros ou para a sociedade (por não estar tão distante da média individual de
inovatividade);
é usado pelos agentes de mudança como missionário na condução do processo de difusão;
respeitado pelos colegas;
personifica o sucesso e faz uso discreto de uma nova idéia;
exerce o papel de redutor de incertezas, por adotar a nova idéia e por conduzir uma avaliação subjetiva até
os colegas próximos.
Maioria adiantada (ponderado)
adota novas idéias antes da média dos membros de um sistema;
interage freqüentemente com os colegas;
raramente exerce posição de líder de opinião;
possui um importante papel no processo de difusão, por fazer a ligação entre os mais adiantados com os
relativamente atrasados;
compõe 1/3 dos membros de um sistema, sendo a maior categoria;
é mais ponderado, planejando antes de adotar uma idéia nova;
precisa de um tempo mais longo que os adotantes adiantados para a tomada de decisão;
têm como lema: “não seja o primeiro a tentar o novo, nem o último a deixar o velho de lado”.
Maioria atrasada (cético)
adota novas idéias após a média dos membros de um sistema;
compõe 1/3 dos membros de um sistema;
a adoção pode ocorrer tanto pela necessidade econômica como pelo aumento da pressão dos colegas;
cético e cauteloso (não adota até que a maioria o tenha feito);
90
Embora os nomes e os títulos adicionais para os adotantes de uma inovação
sejam usados em outros estudos, os rótulos de ROGERS (1995) para as cinco categorias de
adotantes são os preferidos (padrão) da indústria. Além disso, as características específicas
que o autor identificou em cada categoria de adotante são significativas para os publicitários
interessados em criar um plano de marketing integrado que visa a um público específico.
3.6.3. Características adicionais das categorias de adotantes
ROGERS (1995) realizou uma grande revisão na literatura com relação à inovatividade,
que pode ser resumida em uma série de hipóteses relacionadas a: (i) status socioeconômico, (ii) variáveis
de personalidade e (iii) comportamento de comunicação. Essas variáveis e as conclusões sobre suas
relações (positivas, negativa ou não-relacionada) são descritas a seguir:
Status socioeconômico
As principais generalizações em relação às características socioeconômicas
mostram que as variáveis que estão positivamente relacionadas à inovatividade são: (i)
educação; (ii) cultura; (iii) status social mais elevado; (iv) mobilidade social progressiva; (v)
unidades de tamanho maior; (vi) orientação comercial, em vez de subsistência (adotantes
atrasados); (vii) atitude mais favorável ao crédito; e (vii) operações mais especializadas.
Em relação ao efeito da idade, os estudos foram variados em suas conclusões.
Todas as conclusões acima foram modificadas ou contestadas em alguns estudos, indicando que
essas relações devem sempre ser interpretadas no contexto de produtos específicos e situações de
compra (ENGEL, BLACKWELL e MINIARD, 2000).
Em uma pesquisa realizada com produtores rurais brasileiros (ROGERS et al.,
1970) demonstraram que os inovadores possuem propriedades maiores e maior contato com
os agentes de mudança que qualquer outra categoria de adotantes. Outro aspecto
socioeconômico diz respeito à relação entre riqueza e inovatividade. Os produtores mais ricos
adotam antes uma inovação, devido ao fato de uma nova idéia possuir maior custo e, por isso,
demandar maior gasto inicial de capital. Esse risco de inovar é recompensado pelos lucros
maiores, criando uma vantagem financeira em relação aos demais.
Outros aspectos destacados pelo autor foram: (i) não há relação entre idade e
inovatividade, uma vez que 19% dos adotantes adiantados eram jovens, contra 33% mais
velhos, (ii) existe uma relação positiva entre
status social (renda, nível de vida, posse de
riquezas, prestígio ocupacional) e inovatividade, e (iii) os adotantes adiantados possuem
maior mobilidade social em direção aos mais altos
status.
91
Variáveis de personalidade
As variáveis de personalidade associadas à inovatividade ainda não receberam
muita atenção dos pesquisadores, em parte devido às dificuldades de mensuração das dimensões
de personalidade. Sendo assim, as principais generalizações positivas em relação às variáveis de
personalidade são: (i) empatia; (ii) habilidade para lidar com abstrações; (iii) racionalidade; (iv)
inteligência; (v) atitude favorável à mudança; (vi) habilidade para lidar com incertezas e riscos;
(vii) atitude favorável em relação à educação; (viii) atitude favorável em relação à ciência; (ix)
motivação de realização; e (x) maiores aspirações (para educação e ocupação).
Comportamento de comunicação
As principais generalizações em relação ao comportamento de comunicação,
positivamente associadas à inovatividade incluem: (i) participação social; (ii) interconexão
com o sistema social; (iii) cosmopolitismo (se relacionam com outros sistemas sociais); (iv)
contato com os agentes de mudança; (v) exposição aos canais de comunicação interpessoais;
(vi) exposição aos canais de comunicação em massa; (vii) procuram informações sobre
inovações; (viii) conhecimento sobre inovações; (ix) liderança de opinião; (x) pertencem a
sistemas altamente interconectados.
Na maioria dessas generalizações apresentadas, as variáveis independentes são
positivamente relacionadas à inovatividade. Isso significa que os inovadores possuem
pontuação maior nessas variáveis do que os atrasados. Duas variáveis – dogmatismo e
pessimismo – são negativamente relacionadas à inovatividade, e a liderança de opinião é maior
nos adotantes adiantados, na maioria dos sistemas.
O conjunto de características gerais de cada categoria de adotante surgiu da
pesquisa sobre difusão. Essas importantes diferenças entre as categorias sugerem que os
agentes de mudança deveriam usar abordagens diferentes para cada categoria de adotante,
seguindo uma estratégia de segmentação. ROGERS (1995) destacou ainda que as
características associadas à inovatividade são flexíveis e dinâmicas, podendo ser alteradas
pelos agentes de mudança (ao contrário de variáveis como idade e tamanho de propriedade,
que são difíceis ou impossíveis de se modificar).
A inovatividade tem despertado o interesse de muitos pesquisadores, que vem
comprovando a dificuldade em medi-la. Um consenso comum entre os pesquisadores é que
92
existem diferentes tipos de inovatividade (SAAKSJARVI, 2003). GOLDSMITH e
HOFACKER (1991) diferenciaram a inovatividade entre inata e de domínio específico.
A inovatividade inata pode ser explicada pela característica cognitiva do
consumidor, menos interessante para os pesquisadores do que mensurar a inovatividade de
domínio específico, definida pelos autores como a tendência para aprender sobre e adotar
inovações dentro de um domínio específico de interesse, consistindo em elementos
atitudinais, como reflexo dos sentimentos positivos que o consumidor inovador tem voltado
para novos produtos, e comportamentais, resultante desses sentimentos (GOLDSMITH e
HOFACKER, 1991, p.211).
Portanto, a inovatividade é bastante relacionada à disposição do consumidor
em se auto-educar sobre novos produtos, tendo atitudes positivas voltadas a esses novos
produtos, e baseado nessas atitudes, em adotá-los. Nos mercados tecnológicos, a
inovatividade tem sido descrita como uma tendência a ser um líder em pensamento e pioneiro
em tecnologia (PARASURAMAN, 2000), compreendendo uma auto-suficiência em termos
de confiança na operação de novas tecnologias, com um extenso conhecimento tecnológico
(PARASURAMAN e COLBY, 2001).
Diferentemente de ROGERS (1995), que considerou que as variáveis de
personalidade associadas à inovatividade não haviam recebido atenção dos pesquisadores,
diversos estudos mais recentes (FOURNIER e MICK, 1998; SHIH e VENKATESH, 1999;
PARASURAMAN e COLBY, 2001) demonstraram que uma tipologia dos adotantes não é
definida de forma unidimensional, a partir do tempo relativo de adoção, mas sim baseada em
múltiplos enfoques. A adoção de tecnologia está intimamente relacionada com a
predisposição para tecnologia que, por sua vez, é resultado de crenças e sentimentos positivos
e negativos do consumidor (PARASURAMAN, 2000; PARASURAMAN e COLBY, 2001).
A proliferação de produtos e serviços baseados em tecnologia e as evidências
de reações emocionais negativas associadas ao seu uso levam à discussão de questões
fundamentais, como o quão prontas as pessoas estão para a utilização de produtos e serviços
tecnológicos e se é possível agrupar consumidores em segmentos distintos, de acordo com sua
prontidão para tecnologia.
3.7. Mensuração de atitudes em relação à tecnologia
As atitudes em relação à tecnologia podem ser mensuradas utilizando-se o
conceito de Prontidão para a Tecnologia (Technology Readiness), proposto por
PARASURAMAN (2000). A Prontidão para Tecnologia diz respeito à propensão dos
93
indivíduos em adotar novas tecnologias, ou seja, é o estado resultante de aspectos
psicológicos que, por meio da condução ou inibição, determinam a predisposição do
indivíduo a interagir com produtos e serviços baseados em tecnologia.
PARASURAMAN e COLBY (2001) destacam que os indivíduos podem estar
em qualquer nível, ao longo de suas crenças tecnológicas, cujos extremos incluem
sentimentos negativos e positivos, cuja situação se relaciona à propensão (prontidão) do
indivíduo para adotar tecnologia, como ilustra a Figura 3.2.
Embora os sentimentos positivos e negativos possam coexistir, o domínio
relativo de um ou outro sentimento pode variar entre os indivíduos, concordando com os
paradoxos tecnológicos apresentados por MICK e FOURNIER (1998).
De acordo com PARASURAMAN e COLBY (2001), a prontidão para
tecnologia é composta por quatro dimensões:
otimismo: visão positiva em relação à tecnologia, crendo que a mesma propicia
maior controle, flexibilidade e eficiência na vida dos indivíduos;
inovatividade: representa uma tendência da pessoa a ser pioneiro na adoção
de tecnologia ou líder de opinião;
desconforto: expressa uma percepção de falta de controle sobre a
tecnologia e o sentimento de ser oprimido por ela;
insegurança: reflete uma desconfiança pela tecnologia e uma descrença em
relação às próprias habilidades em utilizar essa tecnologia de forma apropriada.
Crenças em relação à tecnologia
Resistência à tecnologia
Receptividade à tecnologia
Neutro
Alta
Média
Baixa
Prontidão para
tecnologia
FIGURA 3.1 – Relação entre as crenças e a prontidão para tecnologia.
Fonte: PARASURAMAN e COLBY (2001, p.32).
Ao ser lançada no mercado, uma nova tecnologia causa reações diferentes nos
consumidores, dependendo de suas crenças e sentimentos. Essa tipologia, resultante do Índice
94
de Prontidão para a Tecnologia (TRI), de PARASURAMAN (2000), tem origem nas
diferentes crenças e sentimentos do consumidor, ou seja, nas diferentes combinações
possíveis entre as dimensões condutoras e as dimensões inibidoras, e não apenas na dimensão
inovatividade, como propõe ROGERS (1995).
De acordo com PARASURAMAN e COLBY (2001), a prontidão do consumidor
para a tecnologia se dá pela combinação das dimensões: (i) otimismo e (ii) inovatividade, que são
condutores da prontidão para tecnologia, indicando fatores que motivam os indivíduos a adotarem
novas tecnologias; e (iii) desconforto e (iv) insegurança, considerados inibidores, por
representarem fatores que retardam ou impedem a adoção.
Essas dimensões atuam independentemente, de modo que um indivíduo possa
possuir diferentes combinações de motivações e inibições. Dessa forma, é possível
estabelecer que o fato de uma pessoa adotar uma tecnologia em um determinado campo não
implica que ela irá adotar outra tecnologia, em um campo diferente. Isso significa que o
indivíduo pode ser inovador em tecnologia, propenso à experimentação, mas cético a respeito
do valor da tecnologia, ou seja, pode acreditar na tecnologia, temendo-a simultaneamente.
A tipologia de PARASURAMAN e COLBY (2001) é baseada em um estudo
empírico, ainda em andamento, cujo modelo se encontra em desenvolvimento. Por isso, os
autores destacam que o que foi descrito, incontestavelmente mudará no futuro.
95
4 MÉTODOS DE PESQUISA
4.1. Escolha do método de pesquisa
O estudo caracteriza-se por ser de natureza exploratória-descritiva. A pesquisa
exploratória visa proporcionar ao pesquisador uma maior familiaridade com o problema em
estudo, tendo como meta tornar um problema complexo mais explícito ou mesmo construir
hipóteses mais adequadas. De acordo com MALHOTRA (2001), o objetivo principal da
pesquisa exploratória é possibilitar a compreensão do problema enfrentado pelo pesquisador.
É utilizada quando é necessário definir o problema com maior precisão e
identificar cursos relevantes de ação ou obter dados adicionais antes que se possa desenvolver
uma abordagem. Como o nome sugere, a pesquisa exploratória procura explorar um problema
ou uma situação para prover critérios e compreensão, utilizando, para isso, métodos amplos e
versáteis, como levantamentos em fontes secundárias, levantamentos de experiência, estudos
de casos selecionados e observação informal.
Por outro lado, a estrutura de coleta de dados da pesquisa foi típica de um estudo
descritivo. A pesquisa descritiva objetiva conhecer e interpretar a realidade sem nela interferir
para modificá-la (CHURCHILL, 1987). Busca descobrir e observar fenômenos, procurando
descrevê-los, classificá-los e interpretá-los, estabelecendo uma relação entre as variáveis.
A pesquisa descritiva expõe as características de determinada população ou de
determinado fenômeno, mas não tem o compromisso de explicar os fenômenos que descreve,
embora sirva de base para tal explicação. Normalmente ela se baseia em amostras grandes e
representativas. O formato básico de trabalho é o
survey.
Esse tipo de pesquisa utiliza o estudo longitudinal, em que a coleta de
informações ocorre ao longo do tempo, e o transversal, na qual a coleta de informações ocorre
somente uma vez no tempo. As pesquisas descritivas compreendem grande número de
métodos de coleta de dados, como as entrevistas pessoais e por telefone, questionários
pessoais e enviados pelo correio e observação.
O método de pesquisa do tipo
survey geralmente busca medir valores, crenças,
opiniões, conhecimento e comportamento das pessoas. A grande utilidade desse tipo de
metodologia é poder conhecer as atitudes e comportamentos de grandes populações, como, por
exemplo, a de produtores rurais voltados para a atividade de pecuária de corte, entrevistando um
número relativamente pequeno de pessoas escolhidas por meio de procedimentos
estatísticos/probabilísticos (MALHOTRA, 2001).
96
Após o levantamento quantitativo realizado por meio do survey, a pesquisa
utilizou uma abordagem qualitativa, pois esse procedimento metodológico abriga várias
técnicas que procuram descrever e traduzir a questão principal, promovendo o entendimento do
problema. O método qualitativo é mais direcionado à compreensão dos fatos do que na
mensuração de fenômenos (YIN, 1994). A pesquisa qualitativa é adequada em estudos de
assuntos complexos, permitindo que o pesquisador obtenha informações mais detalhadas e
trabalhe com mais profundidade a questão a ser estudada. A maior vantagem deste tipo de
pesquisa reside na riqueza dos detalhes obtidos.
Em um estudo qualitativo o pesquisador conduz o trabalho a partir de um plano
estabelecido, com hipóteses claramente especificadas e variáveis definidas. Essa abordagem
não busca enumerar e/ou medir os eventos estudados, nem emprega instrumento estatístico na
análise dos dados. Parte de questões de interesses amplos, que vão se definindo a medida que
o estudo se desenvolve (GODOY, 1995b).
Entre os diversos tipos de pesquisa qualitativa, o método de estudo de caso foi
considerado o mais adequado a essa pesquisa, pois se caracteriza pelo maior foco na
compreensão dos fatos do que na sua quantificação (YIN, 1994; LAZZARINI, 1997).
GODOY (1995a) acrescentou que o estudo de caso é um tipo de pesquisa cujo
objeto consiste na análise profunda de uma unidade, visando o exame detalhado de um
ambiente ou de uma situação em particular, procurando responder às questões ‘como’ e ‘por
quê’ certos fenômenos ocorrem, geralmente quando há pouca possibilidade de controle sobre
os eventos estudados.
De acordo com LAZZARINI (1997), o estudo de caso único é utilizado para a
análise de fenômenos de rara ocorrência ou de difícil observação, enquanto o estudo de casos
múltiplos baseia-se em replicações de um dado fenômeno, porém sem necessariamente haver lógica
de amostragem. Portanto, o estudo multicaso permite uma maior abrangência dos resultados, além
de obter evidências inseridas em diferentes contextos, tornando a pesquisa mais robusta. Por esse
motivo, optou-se pela escolha de um estudo multicaso, cujos integrantes serão formados por
produtores rurais ligados à atividade pecuária.
O foco da pesquisa foi a pecuária de corte, por ser esta uma atividade que, na
década de 1990, iniciou um processo de profundas transformações tecnológicas, visando
aumentar a competitividade do setor e, especificamente no que diz respeito às tecnologias da
informação, os objetivos estavam relacionados à rastreabilidade do rebanho, para garantir a
segurança do alimento ao mercado consumidor.
97
4.2. Etapas da pesquisa
A Figura 4.1 apresenta as etapas da pesquisa, desde o levantamento
bibliográfico até a publicação dos resultados.
FIGURA 4.1 - Etapas da pesquisa.
4.2.1 Revisão da literatura
O referencial teórico, revisão da literatura ou marco teórico, tem por objetivo
situar o problema no tempo e no espaço. Essa etapa apresenta uma discussão teórica do problema,
na perspectiva de fundamentá-lo nas teorias existentes. A fundamentação teórica apresentada
deve, ainda, servir de base para a análise e interpretação dos dados coletados na fase de
elaboração do relatório final. A Figura 4.2 apresenta a relação entre os assuntos abordados.
A revisão da literatura abordou inicialmente o tema inovação tecnológica, com
as contribuições schumpeterianas e neo-schumpeterianas, além de conceitos de tecnologia,
inovação e inovação tecnológica. Também foi explorado o tema Tecnologia da informação,
seu papel na gestão dos negócios, a dinâmica da difusão/adoção no Brasil e importância na
gestão do empreendimento rural. A TI foi base para a discussão de aspectos das teorias de
Revisão da literatura
Desenvolvimento do modelo de investigação empírica
Coleta de dados
SURVEY + ESTUDOS DE CASO
Análise dos dados e proposição de ações e políticas públicas e
privadas para segmentos diferenciados
Conclusões
Redação final
Proposição do método para avaliação dos fatores que afetam o
uso e difusão da TI
Publicação dos resultados
98
difusão das inovações, de ROGERS (1995), e da prontidão para a adoção de tecnologias,
PARASURAMAN (2000).
FIGURA 4.2 –Relação entre os assuntos abordados.
Um outro tópico foi reservado para uma revisão teórica sobre o comportamento do
consumidor em relação à tecnologia. O comportamento do consumidor foi abordado devido à
importância de sua compreensão em relação aos produtos ou serviços baseados em tecnologia,
que difere daquele para aceitação de um produto convencional (PARASURAMAN e COLBY,
2001). O tópico discute o comportamento do indivíduo e sua relação com a tecnologia, incluindo
o elemento emocional na discussão sobre adoção de produtos e serviços baseados em tecnologia e
as implicações desses conceitos para a teoria da difusão de inovações.
4.2.2 Desenvolvimento do modelo de investigação empírica
A segunda etapa constou do desenvolvimento do método de investigação
empírica, incluindo a definição do modelo de pesquisa, das fontes de dados, o tipo de pesquisa,
o tamanho e a composição da amostra. Nesse trabalho foram consideradas as tecnologias da
informação aplicadas ao processo de produção de carne e à gestão do empreendimento. Nesse
caso, as TI relacionadas ao processo de produção de carne são aquelas utilizadas na coleta e
ADOÇÃO DA
TECNOLOGIA DA
INFORMAÇÃO
TECNOLOGIA, INOVAÇÃO E
INOVAÇÃO TECNOLÓGICA
TEORIA DA
DIFUSÃO DAS
INOVAÇÕES
GESTÃO DO
EMPREENDIMENTO RURAL
MELHORIA DA
COMPETITIVIDADE
INTERAÇÃO ENTRE
CONSUMIDOR E
TECNOLOGIA
99
armazenamento de dados zootécnicos, como os dispositivos de identificação eletrônica de
animais, computadores, softwares e balança eletrônica.
As TI de gestão do empreendimento incluem os sistemas de informações
gerenciais e os produtos e serviços de base tecnológica, capazes de proporcionar facilidades
diárias, tais como, operações bancárias informatizadas, comunicação à distância,
entretenimento com Internet e compras eletrônicas. Especificamente na pecuária de corte,
destacam-se a Internet e e-mail, acesso on-line à base de dados do SISBOV, telefonia celular
e canais específicos de televisão via satélite.
4.2.3 Proposição do método para avaliação do uso e difusão da TI nos
empreendimentos rurais
A proposição de um método para a avaliação dos fatores que influenciam o uso
e a difusão da TI foi o objetivo da terceira fase do trabalho, que além de identificar esses
fatores, visa também descrever recursos, procedimentos e ações necessários para o
funcionamento da TI e identificar as dificuldades no processo de adoção, para posterior
segmentação dos empreendimentos rurais a partir do nível tecnológico. Os fatores foram
separados em três conjuntos distintos, em função do momento da adoção da TI. Foram
considerados os fatores existentes antes da adoção, durante a etapa de adoção e os reflexos
sentidos após a adoção da TI nos empreendimentos rurais. Tais fatores foram denominados
de: (i) fatores antecedentes à adoção; (ii) fatores do processo de adoção da TI e (iii) impactos
da adoção da TI. A Figura 4.2. apresenta o modelo conceitual da pesquisa, incluindo o
detalhamento dos três conjuntos de fatores.
Os antecedentes da adoção da TI pela organização rural incluem aspectos
relativos às características do produtor e da organização e a sua expectativa inicial,
possibilitando esclarecer os motivos pelos quais a TI foi adotada. Além disso, buscou-se
entender o processo de gestão da adoção, ou seja, o desenvolvimento e a coordenação do
processo de adoção da TI dentro do universo pecuário, e as características macroeconômicas,
visando à identificação de oportunidades e ameaças que possam ter influenciado na tomada de
decisão do produtor quando da adoção da tecnologia.
No processo de adoção, os fatores avaliados foram aqueles relativos aos
investimentos realizados pela organização em infra-estrutura. Nesse caso, a infra-estrutura diz
respeito aos equipamentos necessários, incluindo o treinamento da equipe. A realização ou não de
testes preliminares foi outro aspecto observado nessa fase, principalmente porque visa a facilitar o
aprendizado organizacional, com a preocupação inicial de colocar a TI em funcionamento,
100
verificar sua confiabilidade e corrigir possíveis erros.
FIGURA 4.3 – Modelo conceitual da pesquisa.
Outro fator de relevância no processo de adoção da TI é a percepção, na prática,
de vantagens e desvantagens do uso das tecnologias adotadas. Essa percepção pode ser
observada a partir dos resultados parciais, quando da realização dos testes preliminares. Por
último, foi avaliada a situação atual da organização em relação ao nível de uso da TI e das
informações no processo de produção e na gestão do empreendimento rural. Nesse caso, foram
incluídos levantamentos sobre o tipo de informação coletada, armazenada, tratada e distribuída,
a percepção dos benefícios reais da adoção e a disposição dos produtores para novos
investimentos em outras tecnologias.
Os impactos da adoção da TI foram analisados a partir de fatores relacionados às
SEGMENTAÇÃO COM BASE
NO TEMPO DE ADOÇÃO
- caracterização do produtor
- caracterização da organização rural
- posse / uso de produtos e serviços
tecnológicos
- atitudes em relação à tecnologia
Primeira Eta
pa
- expectativas iniciais /
motivos que levaram à adoção
- processo de gestão da adoção
- oportunidades e ameaças
encontradas
- investimentos em infra-
estrutura
- teste da tecnologia adotada
- resultados parciais
- situação atual
- mudanças internas
- mudanças externas
- benefícios intra-
organizacionais (gestão
interna)
- benefícios inter-
organizacionais (gestão
externa)
- obstáculos
Se
g
unda Eta
pa
CONTRIBUIÇÕES PARA A FORMULAÇÃO
DE POLÍTICAS PÚBLICAS E PRIVADAS
Antecedentes da ado
ç
ão Processo de ado
ç
ão
Im
p
actos da ado
ç
ão
101
mudanças internas e externas ao empreendimento rural. As mudanças internas compreendem o
sistema de informação utilizado, sua estrutura e tratamento de informações, a integração das
atividades de gestão e de produção, e as questões relacionadas à tomada de decisão.
As mudanças externas ocorridas a partir da adoção da TI envolvem aspectos
relacionados à manutenção e/ou desenvolvimento de clientes e mercados, a integração do
empreendimento rural com indústria frigorífica e com fornecedores de insumos, e imagem da
organização. Os benefícios obtidos ao longo do processo de adoção foram avaliados a partir
de melhorias intra-organizacionais quantitativas e qualitativas, relacionados à gestão interna,
como redução de custos e aprendizado e melhoria nos processos internos, respectivamente.
Os processos internos se referem à eficiência e à eficácia organizacional. De
acordo com GRAEML (2003), a TI melhora os processos utilizados pela empresa para obter
seus produtos ou serviços, como a redução do tempo de processamento, que pode ser
convertida em melhor resposta aos pedidos ou reclamações dos clientes. A TI melhora a
comunicação interna na empresa e permite melhor coordenação entre as áreas da organização,
facilitando o desenvolvimento de novos processos (para a execução do negócio da empresa),
como por exemplo, a eliminação ou redução de mão-de-obra.
Os obstáculos identificados no decorrer da adoção foram analisados com base
na resistência cultural, desqualificação da mão-de-obra e incompatibilidade com os sistemas
internos já existentes.
4.2.4 Coleta de dados
A pesquisa foi realizada em duas fases: uma quantitativa e outra qualitativa. Na
primeira fase, foi realizado um levantamento do tipo survey com aplicação de um questionário
estruturado para produtores rurais, cuja atividade principal é a pecuária de corte.
A amostra foi constituída a partir do quadro de associados de uma Associação
de Criadores do setor pecuário. A escolha dessa amostra se mostrou adequada devido à
heterogeneidade proporcionada, com uma boa distribuição geográfica no país e com
características diferenciadas em suas criações.
A amostra foi contatada por meio de um Informativo enviado por correio
bimestralmente a um grupo de 2.000 associados. Os pecuaristas foram convidados a responder
um questionário de duas maneiras: em formulário eletrônico, disponível em um website preparado
exclusivamente para esse fim, ou de forma escrita, em um formulário enviado juntamente com o
Informativo. Foi enviado um envelope juntamente com o formulário, contendo o endereço do
pesquisador, para facilitar o retorno do questionário respondido. Nessa ocasião, os respondentes
102
indicaram a disponibilidade ou não de participarem da segunda fase da pesquisa.
A Associação de Criadores também disponibilizou um banner (link) em seu
website, visando direcionar o produtor diretamente à pesquisa (Figura 4.4).
FIGURA 4.4 - Banner no website da Associação de Criadores.
Um exemplo do
website da pesquisa, contendo a página de apresentação e as
cinco etapas do questionário, é apresentado na Figura 4.5.
103
FIGURA 4.5 - Website da pesquisa: apresentação e blocos de questões.
O objetivo dessa primeira etapa da coleta de dados foi possibilitar a
identificação dos diferentes perfis de adotantes de tecnologia, baseado na caracterização
proposta por ROGERS (1995).
4.2.4.1 Construção do survey
O instrumento de coleta foi projetado para coletar dados relevantes à adoção da TI
e ao uso e difusão da mesma à atividade pecuária. Os resultados do survey foram utilizados para:
(a) diferenciar grupos distintos de adotantes, com base no ‘tempo’ de adoção a partir da
categorização proposta por ROGERS (1995) e (b) identificar tendências, questões e interesses
para serem verificados posteriormente, durante as entrevistas.
O questionário era constituído de 54 itens, divididos em cinco grupos de
respostas, mais um grupo para caracterização do produtor. Esse instrumento de coleta foi
desenvolvido a partir da consideração das finalidades básicas do estudo, por não ter sido
encontrado nenhum instrumento de survey padronizado, que se aplicasse à finalidade da
pesquisa. A seguir são apresentados os blocos de questões, bem como uma breve justificativa
para a escolha dos mesmos. Cada bloco foi elaborado a partir de pesquisa prévia, visando a
104
coleta de informações sobre atitudes, comportamentos e construções psicológicas, que
pudessem ser relevantes para a compreensão da adoção e do uso e difusão da tecnologia na
atividade pecuária.
Bloco 1: Posse de produtos/serviços tecnológicos
O primeiro bloco do levantamento consistiu de 11 itens sobre a posse de
produtos/serviços tecnológicos. Foram aplicadas questões relativas ao acesso às diversas
tecnologias da informação na propriedade rural, como uso de computador, balança eletrônica,
softwares específicos, entre outros. Os itens desse bloco foram desenvolvidos e/ou adaptados
com base em diversos instrumentos de pesquisa sobre o uso e a difusão de tecnologias da
informação (JACOBSEN, 1998; PARASURAMAN, 2000). Esse bloco apresentou escalas
nominais com três opções de respostas:
Os participantes indicaram também o ano em que adotaram as tecnologias
estudadas. Essa informação foi útil para explorar a teoria da difusão das inovações de ROGERS
(1995) e para categorizar os grupos de adotantes. Os resultados dessa seção foram usados para
determinar quando as várias tecnologias da informação foram adotadas na atividade pecuária ou
se ainda não foram adotadas, diferenciando os produtores em adiantados e atrasados, com base
na inovatividade
6
. Posteriormente, essas informações foram utilizadas para a proposição de
ações de caráter público e/ou privado.
Bloco 2: Uso de serviços tecnológicos
O segundo bloco compreendeu 7 questões sobre o uso específico de serviços
baseados em tecnologia, aplicados ao empreendimento rural, como compras on-line e acesso à
base de dados do SISBOV. Os itens desse bloco foram desenvolvidos e/ou adaptados com
base nos instrumentos de pesquisa sobre difusão, adoção e uso de tecnologias da informação
propostos por JACOBSEN (1998) e PARASURAMAN (2000). Foram propostas escalas
nominais com três opções de respostas:
6
ROGERS (1995) definiu inovatividade como “o grau em que um indivíduo adota uma inovação relativamente
mais cedo do que outros membros do sistema”.
Já Possui
Pretende adquirir nos
próximos 12 meses
Não pretende adquirir
105
Usou nos últimos 12 meses
Pretende usar nos próximos
12 meses
Não pretende usar
Bloco 3: Experiência com as tecnologias da informação
Os 11 itens dessa seção foram projetados para coletar informações sobre a
experiência do produtor rural com a TI. Os participantes avaliaram seu nível atual de
competência em relação aos diversos tipos de TI e as ferramentas que usam, indicando o grau
de experiência por meio de uma escala do tipo Likert de cinco pontos (1 = nenhuma, 2 =
pouca, 3 = média, 4 = substancial, 5 = intensa).
Nenhuma
Intensa
1 2 3 4 5
Bloco 4: Atitudes do entrevistado em relação à Tecnologia da informação
Essa seção consistiu de 25 itens que coletaram informações sobre atitudes do
entrevistado em relação à TI. Esses itens possibilitaram revelar importantes características,
utilizadas na classificação dos produtores rurais nas categorias propostas por ROGERS (1995).
Parte desse bloco foi desenvolvido a partir do estudo de PARASURAMAN (2000) e adaptado ao
objeto da pesquisa, por meio de afirmações que indicam a postura tecnológica do entrevistado.
De acordo com ENGEL, BLACKWELL e MINIARD (2000), a inovatividade
também pode ser medida com instrumentos de auto-relatório. Foi solicitado aos produtores
que indicassem sua concordância ou discordância com determinadas afirmações, por meio de
uma escala. Os participantes usaram uma escala de cinco pontos (1 = discordo totalmente, 2 =
discordo, 3 = indiferente, 4 = concordo, 5 = concordo totalmente) para avaliar cada afirmação.
Discordo
totalmente
Concordo
totalmente
1 2 3 4 5
4.2.4.2 Entrevistas com os produtores rurais
Essa etapa buscou informações acerca das diferentes tecnologias adotadas e dos
fatores que motivaram a adoção. Para atender a esse objetivo, foram conduzidas entrevistas
semi-estruturadas com produtores para obter informações mais profundas e específicas sobre a
106
difusão e uso da tecnologia na atividade pecuária. O objetivo preliminar das entrevistas foi
analisar as experiências, opiniões e perspectivas do produtor, no que diz respeito à tecnologia
integrada ao sistema produtivo.
A entrevista foi guiada por tópicos específicos, com perguntas abertas, de modo
a permitir ao entrevistado acrescentar pontos considerados relevantes (ALVES-MAZZOTTI e
GEWANDSZNAJDER, 1998). Esse roteiro foi desenvolvido a partir de desdobramentos dos
fatores que influenciam o uso e a difusão da TI, utilizando os tópicos relacionados no item 4.2.3
como guias. Essas entrevistas aconteceram pessoalmente e in loco, pois as visitas às
propriedades rurais permitem verificar a realidade dos produtores e a entrevista pessoal confere
maior confiabilidade aos dados coletados.
Escolha da amostra
Os produtores entrevistados foram escolhidos de forma a contemplar as cinco
categorias identificadas anteriormente, de acordo com o grau de inovatividade de cada grupo.
Foram definidos dois entrevistados por grupo, totalizando dez estudos de caso.
A literatura relata que pesquisas bem-sucedidas na área de difusão de
tecnologia apresentaram dados ricos e detalhados com um pequeno número de participantes
(ANDREWS, GARRISON e MAGNUSSON, 1996; JACOBSEN, 1998). As justificativas
desses autores para um número restrito de entrevistas ressaltaram o compromisso do tempo
necessário para entrevistas, transcrição dos dados e validação do transcrito, devido à riqueza
dos dados adquiridos por esses métodos.
A definição dos entrevistados deu-se a partir de uma análise da literatura recente
sobre adoção e difusão de tecnologia no meio rural. Observou-se que as variáveis mais
estudadas são o tamanho da propriedade (61%), a idade e o grau de instrução (67%) e a renda
anual do produtor (44%). O Quadro 4.1 apresenta as principais variáveis determinantes da
adoção de tecnologia reportadas na literatura recente.
107
Quadro 4.1 – Principais variáveis determinantes da adoção de tecnologia reportadas na literatura recente.
Variáveis
determinantes
da adoção
Premkumar
e Roberts
(1999)
Adesina
et al.
(2000)
Gloy e
Akridge
(2000)
Marsh,
Pannell
e
Lindner
(2000)
Weir e
Knight
(2000)
Kosarek,
Garcia e
Morris
(2001)
Korsching,
El-
Ghamrini
e Peter
(2001)
Kremer
et al.
(2001)
Diederen,
Meijl e
Wolters
(2002)
Alexander,
Fernandez-
Cornejo e
Goodhue
(2003)
Batz,
Janssen
e
Peters
(2003)
Burton,
Rigby e
Young
(2003)
Diederen
et al.
(2003)
Hollifield e
Donnermeyer
(2003)
Sheikh,
Rehman
e Yates
(2003)
Adrian,
Norwood
e Mask
(2005)
Batte
(2005)
Alvarez
e
Nuthall
(2006)
Tamanho da
propriedade
X X X X X X X X X X X
Área destinada
a atividade
X X X X X
Mercado
X X X X X
Idade
X X X X X X X X X X X X
Sexo (gênero)
X X X X X
Renda anual
X X X X X X X X
Grau de
instrução
X X X X X X X X X X X X
Atividade
X X X X X
Acesso a
informação
X X X X X X
Comportamento
de adoção no
passado
X
Experiência
X X X X X
Comportamento
de risco
financeiro
X X X X
Infra-estrutura
X X
Regulamentação
governamental
X X
Fonte: Autor
108
Essas variáveis foram aplicadas à amostra, seguindo o seguinte critério de
prioridade: (i) grau de instrução do proprietário; (ii) idade do proprietário; (iii) tamanho da
propriedade; (iv) renda anual; (v) local de moradia / distância em relação à propriedade; (vi)
tamanho do rebanho; (vii) grau de instrução do administrador / gerente da propriedade; (viii)
assistência técnica (acesso à informação); (ix) 2
a
. atividade na propriedade; e (x) forma de
resposta do primeiro questionário (carta ou internet).
Os quatro últimos fatores foram utilizados de forma complementar, auxiliando na
definição de realidades diferenciadas entre a amostra, uma vez que os seis primeiros fatores não
foram suficientes para indicar o número desejado de entrevistados.
O levantamento preliminar dessa pesquisa não contemplou o tamanho da
propriedade. Portanto, o fator utilizado na definição da amostra foi o tamanho da área destinada à
produção pecuária. Os demais fatores, embora não contemplados na análise da literatura recente,
foram utilizados pela sua relevância nessa pesquisa.
4.2.5 Categorização preliminar dos adotantes
A partir dos resultados obtidos no survey foi possível identificar o grau de
inovatividade dos produtores, possibilitando a segmentação e agrupamento dos
empreendimentos rurais pela semelhança de postura tecnológica. Essa segmentação teve
como base a categorização proposta por Everett Rogers em 1962, com base na curva normal
de difusão da adoção (ROGERS, 1995).
As cinco categorias de adotantes propostas por Rogers levam em conta o tempo
decorrido para a adoção da inovação pelo indivíduo: a inovatividade. Essas categorias são, na
verdade, tipos ideais, que não encontram perfeita correspondência na realidade, mas que
podem ser úteis para o melhor entendimento do processo (ROCHA e CHRISTENSEN, 1999).
Os aspectos utilizados na categorização dos produtores foram a experiência com as
tecnologias da informação (bloco 3) e as afirmações de 5 a 10 (bloco 4) do survey aplicado. O
objetivo de quantificar a experiência pessoal do entrevistado em relação às tecnologias da
informação foi explorar a teoria da difusão das inovações de ROGERS (1995). Embora essa
questão não dê nenhuma informação sobre a época de adoção ou do estágio em que o produtor se
encontra no processo de decisão da inovação, a suposição é que ao desenvolver algum nível de
experiência, os indivíduos tiveram que adotar a inovação em algum momento.
Os entrevistados foram distribuídos entre as categorias. A quantificação da
inovatividade foi obtida a partir da soma do (i) nível de experiência (1 para nenhum até 5 para
intenso) indicado para cada uma das 11 tecnologias da informação apresentadas e (ii) o nível
109
de concordância (1 para discordo totalmente até 5 para concordo totalmente) indicado para
cada um dos 6 itens (5 a 10) do bloco 4, relacionados à inovatividade.
Supõe-se que, para se ter experiência intensa com uma tecnologia em particular, o
produtor foi relativamente mais adiantado em adotá-la do que outro que avalia sua experiência
como ‘pouca’. Nessa etapa da pesquisa, o score total é a soma (i) do resultado das habilidades em
cada uma das 11 tecnologias, apresentadas no Bloco 3 do questionário, e (ii) do resultado das
afirmações apresentadas nas questões 5 a 10 do Bloco 4.
Com essa escala, o score máximo esperado era 85 e o mínimo 17. O resultado
da amostra encontra-se dentro desse intervalo e, quando traçado um gráfico, este deve se
assemelhar a uma curva normal padrão, assumindo normalidade para os dados.
A fim de verificar essa suposição, foi executado um teste de normalidade dos
dados utilizando o software estatístico MINITAB 13, que oferece métodos estatísticos
básicos, dentre os quais, a estatística descritiva e o teste de normalidade. Com o auxílio da
estatística descritiva, foram encontrados a média, a mediana, o desvio-padrão, o coeficiente de
variação e a assimetria, permitindo uma avaliação gráfica da normalidade dos dados.
As categorias de adotantes de ROGERS (1995) e os resultados individuais de
inovatividade foram utilizados para predizer quantos indivíduos da amostra são inovadores,
adotantes adiantados, maioria adiantada, maioria atrasada e atrasados, respectivamente. A
freqüência de distribuição normal foi dividida nas cinco categorias de adotantes propostas por
Rogers, compostas da seguinte forma (Figura 4.6).
FIGURA 4.6 – Categorização dos adotantes com base na inovatividade.
Fonte: ROGERS (1995, p.247).
Os procedimentos estatísticos foram aplicados ao score total. As porcentagens de
cada categoria foram aplicadas ao número de entrevistados, resultando, na divisão da amostra em
cinco grupos. Com base na distribuição dos entrevistados nessas categorias, foram escolhidos os
Inovadores
Adotantes
Adiantados
13
,
5 %
Maioria
adiantada
34%
Maioria
atrasada
34%
Atrasados
16%
2,5 %
x
- 2sd
x
- sd
x
x
+ sd
110
produtores rurais que participaram da segunda fase da pesquisa, os quais responderam outro
questionário, a fim de aprofundar os aspectos que os levaram a adotar cada tecnologia.
4.2.6 Contribuição para a formulação de políticas públicas e privadas para os segmentos
A partir dos resultados obtidos no levantamento survey e nos estudos de caso,
foi possível identificar os padrões de uso e difusão da TI nos diferentes tipos de organizações
rurais, possibilitando a segmentação definitiva e posterior agrupamento dos empreendimentos
pela semelhança tecnológica. Essa segmentação permitiu uma contribuição para a formulação
e proposição de políticas públicas e privadas para o setor, de forma adequada a cada realidade.
111
5 RESULTADOS
5.1. Apresentação
Esse capítulo apresenta os resultados da pesquisa de campo divididos em duas
partes. Na primeira, realizada entre outubro de 2005 e janeiro de 2006, são apresentados os
resultados do survey e as análises que permitiram distribuir os entrevistados nas categorias de
adotantes. Em seguida, a amostra foi classificada de acordo com o grau de inovatividade,
possibilitando a definição dos entrevistados que participaram da segunda etapa da pesquisa,
realizada entre setembro e novembro de 2006, na qual são apresentados os resultados dos
estudos de caso realizados.
5.2. Caracterização da amostra de produtores
Nessa etapa da pesquisa, a taxa de retorno dos questionários somando-se as
respostas por carta e pela Internet, foi de 3,1% do total de questionários enviados (62 produtores).
De acordo com McDANIEL e GATES (2003, p. 211), os índices de resposta em surveys
realizados pelo correio podem variar de menos de 5,0% para mais de 50,0%, dependendo de
fatores como a extensão do questionário, conteúdo, população pesquisada e incentivos
empregados. Nesse caso, um possível motivo para o baixo retorno foi a característica da
população pesquisada, composta por produtores rurais não habituados a participar desse tipo de
pesquisa. Apesar do índice de respostas ser inferior ao esperado, os dados obtidos possibilitaram a
realização das análises previstas, caracterizando satisfatoriamente a amostra de produtores.
5.2.1 Características dos produtores
As principais características demográficas (idade) e socioeconômicas (renda
familiar mensal e grau de instrução dos produtores e dos administradores das propriedades) da
amostra são apresentadas na Tabela 5.1.
A maior parte dos produtores (55,74%) se concentra na faixa etária entre os 36 e
55 anos. De modo geral, a faixa etária da amostra pode ser considerada relativamente baixa, pois
85,25% dos produtores têm idade inferior a 55 anos. Essa informação é muito importante, uma
vez que a idade geralmente está relacionada ao fato do produtor ser mais receptivo à adoção de
novas tecnologias. Foi identificada, ainda, a predominância do sexo masculino entre os
pecuaristas, que representaram 96,77% da população amostrada.
112
TABELA 5.1 – Características demográficas e sócio-econômicas da amostra.
Idade (anos) Renda (R$) Grau de instrução
Faixa
etária
(%)
Renda mensal
familiar
(%) Escolaridade
Produtor
(%)
Administrador*
(%)
18-25 9,84 2.500,00 – 4.500,00 11,48 1º. Grau incompleto 1,61 16,67
26-35 19,67 4.500,00 – 6.000,00 6,56 1º. Grau completo 1,61 16,67
36-45 24,59 6.000,00 – 10.000,00 26,23 2º. Grau incompleto 1,61 10,00
46-55 31,15
10.000,00 – 20.000,00
21,31 2º. Grau completo 9,68 18,33
56-65 13,11 + de 20.000,00 26,23 Superior incompleto 12,90 0,00
+ de 66 1,64 Não sabe 8,20 Superior completo 58,06 25,00
Pós-graduação 14,52 5,00
* 8,33% das propriedades não possuem administradores contratados.
Com relação às características sócio-econômicas, foi observado que 73,77% dos
produtores apresentaram renda mensal familiar entre R$ 6.000,00 e R$ 20.000,00. Verificou-se
um alto índice de pecuaristas com curso superior completo (72,58%), dos quais 14,52%
possuem cursos de pós-graduação. Dentre esses produtores, encontram-se advogados,
engenheiros civis, administradores, engenheiros agrônomos, médicos veterinários, zootecnistas,
médicos e analistas de sistema. Já em relação aos administradores, observa-se que 30,00%
possuem curso superior completo, dos quais 5,00% com pós-graduação. É importante ressaltar
que em 8,33% das propriedades não foram encontrados profissionais contratados para
administrar o empreendimento, sendo essa tarefa executada pelo próprio produtor.
5.2.2 Características das propriedades
A Figura 5.1 apresenta a localização das propriedades que compuseram a
amostra, indicando que os Estados com maior número de propriedades amostradas são Mato
Grosso do Sul e São Paulo, com 20,59%, Mato Grosso, com 13,24%, Goiás com 11,76% e
Roraima, com 10,29%.
A grande maioria dos produtores, cerca de 90%, reside na cidade, característica
que pode facilitar a adoção de TI que permitam o gerenciamento do negócio à distância.
Quanto maior for a distância entre a propriedade e a residência do proprietário, mais
necessária será a utilização da TI para o gerenciamento do negócio. Entre a população da
amostra, 26,79% residem até 50 km da propriedade.
113
1,47 1,47
11,76
1,47
2,94
20,59
13,24
2,94
7,35
2,94
10,29
1,47
20,59
1,47
0,00
5,00
10,00
15,00
20,00
25,00
AC BA GO MA MG MS MT PA PR RJ RO SE SP TO
FIGURA 5.1 – Localização das propriedades participantes da pesquisa.
A distância entre a moradia desses produtores e suas propriedades varia muito.
A Figura 5.2 apresenta os grupos de distâncias e o percentual de produtores em cada um
desses grupos. Dentre os 17,86% dos produtores que residem a distâncias superiores a 500
km, muitos deles residem em estados diferentes, o que eleva essas distâncias a 2.000 – 3.000
km. Com isso, a importância da TI como ferramenta de gestão da propriedade aumenta,
permitindo o acompanhamento do negócio e do mercado à distância.
Até 50 km
26,79%
De 51 a 100 km
17,86%
De 101 a 500 km
37,50%
Mais de 500 km
17,86%
FIGURA 5.2 – Distância entre a moradia dos produtores e as propriedades.
114
A Tabela 5.2 indica a área destinada à pecuária de corte e o tamanho do rebanho. Observa-
se que quase metade das propriedades que fizeram parte da amostra (47,28%) destina áreas à pecuária de
corte entre 500 e 2.500 ha. Esses valores são expressivos e retratam uma situação freqüentemente
encontrada na pecuária do Centro-Oeste do país, principal região participante da amostra da pesquisa.
Como conseqüência dessa situação, o tamanho do rebanho tamm é expressivo, uma vez que 56,14% das
propriedades participantes da pesquisa de campo possuem rebanhos entre 1.001 e 5.000 animais.
TABELA 5.2 – Área destinada à pecuária de corte e número de animais que compõem o
rebanho das propriedades participantes da pesquisa.
Área destinada à pecuária (ha) (%) Número de animais (%)
Até 250 12,73 Até 500 14,04
250 – 500 12,73 500 – 1.000 14,04
500 – 1.000 23,64 1.000 – 2.500 29,82
1.000 – 2.500 23,64 2.500 – 5.000 26,32
2.500 – 5.000 10,91 5.000 – 10.000 7,02
5.000 – 10.000 5,45 10.000 – 20.000 5,26
10.000 – 25.000 5,45 + de 20.000 3,51
25.000 – 50.000 5,45 --- ---
5.2.3 Sistemas de produção
A Tabela 5.3 apresenta os sistemas de produção existentes nas propriedades
analisadas. Cerca de 80% dos produtores utiliza o sistema de produção a pasto e 79,03%
utilizam sais minerais como complemento ao pastejo. Essa característica é conseqüência das
grandes áreas disponíveis para 50,90% das propriedades, com mais de 1.000 ha.
TABELA 5.3 – Sistemas de produção utilizados nas propriedades participantes da pesquisa.
Sistemas de produção (%)
Novilho precoce 32,26
Confinamento 27,42
Semi-confinamento 35,48
Pasto 80,65
Utilização de sais proteinados 79,03
Pastejo rotacionado 66,13
Pastejo intensivo 32,26
115
Em relação ao sistema de criação, uma parcela significativa da amostra (65,52%)
realiza as atividades de cria, recria e engorda, enquanto 15,52% realizam apenas a atividade de
cria (Tabela 5.4).
TABELA 5.4 – Sistemas de criação utilizados nas propriedades participantes da pesquisa.
Sistema de criação (%)
Cria 15,52
Cria + recria 10,34
Cria + engorda 1,72
Recria + engorda 1,72
Engorda 5,17
Cria + recria + engorda 65,52
A Figura 5.3 apresenta os índices de produção de touros e matrizes e a
participação dos produtores em programas de melhoramento genético.
70,49
78,95
36,07
0,00
10,00
20,00
30,00
40,00
50,00
60,00
70,00
80,00
Produção de touros (%) Produção de matrizes (%) Participação em programa de
melhoramento genético (%)
FIGURA 5.3 – Produção de touros e matrizes nas propriedades e participação em
programas de melhoramento genético.
A grande maioria dos produtores produz touros (70,49%) e matrizes (78,95%).
Entretanto, apenas 36,07% deles participam formalmente de programas de melhoramento genético,
sendo que alguns produtores participam de mais de um programa. Os principais programas de
melhoramento genético em que os produtores participam são apresentados na Figura 5.4.
116
PMGZ (ABCZ)
43%
PROGENEL (Yakult)
4%
GENEPLUS (CNPGC-
EMBRAPA)
8%
PMGRN (FMRP-USP
/ ANCP)
33%
PAINT (Lagoa da
Serra)
8%
PMGBB (FMV-
UNESP)
4%
FIGURA 5.4 – Principais programas de melhoramento genético.
Observa-se que 43% dos produtores participam do Programa de Melhoramento
Genético de Zebuínos, da Associação Brasileira dos Criadores de Zebu (ABCZ), e 33% participam
do Programa de Melhoramento Genético da Raça Nelore, da Associação dos Criadores de Nelore
do Brasil (ACNB), em parceria com a Faculdade de Medicina da USP de Ribeirão Preto e com a
Associação Nacional dos Criadores e Pesquisadores. O fato da amostra pesquisada pertencer ao
quadro de associados de ACNB justifica esses altos índices de adesão a ambos os programas.
5.2.4 Infra-estrutura
A maioria expressiva das propriedades possui instalações apropriadas para a
atividade, com exceção do silo, existente em menos da metade das propriedades (41,94%)
(Tabela 5.5).
TABELA 5.5 – Tipos de instalações existentes nas propriedades.
Instalações (%)
Curral 100,00
Piquete 93,55
Creep-feeding 67,74
Galpão para maquinário 85,48
Silos 41,94
A tecnologia de produção mais freqüente é a suplementação alimentar,
realizada por 82,26% das propriedades. Apesar dos altos índices de produtores que realizam a
117
inseminação artificial, a prática da estação de monta é relevante, sendo utilizada por 74,19% das
propriedades. As tecnologias de produção adotadas encontram-se na Tabela 5.6.
TABELA 5.6 – Tecnologias de produção existentes nas propriedades.
Tecnologias de produção (%)
Inseminação artificial 70,97
Suplementação 82,26
Melhoramento genético 72,58
Estação de monta 74,19
Promotor de crescimento 29,03
A assistência técnica também é considerada um tipo de infra-estrutura, não física,
mas de suporte. A grande maioria dos produtores utiliza assistência técnica própria (62,90%),
contratada (56,45%) e oferecida pelos revendedores e/ou fabricantes de insumos agropecuários
(46,77%), como medicamentos e suplementos nutricionais. O profissional de maior destaque
quando se trata de assessoria e assistência técnica é o médico-veterinário, com 85,48% da
preferência dos produtores. As principais formas de assistência técnica utilizadas pelas
propriedades são apresentadas na Figura 5.5.
62,90
56,45
30,65
17,74
33,87
22,58
46,77
29,03
85,48
40,32
35,48
0,00
10,00
20,00
30,00
40,00
50,00
60,00
70,00
80,00
90,00
Própria (%) Contratada
(%)
Órgão de
pesquisa (%)
Órgão do
governo (%)
Associação
(%)
Cooperativa
(%)
Revenda /
fabricante de
insumos (%)
Revenda /
fabricante de
TI (%)
Veterinária
(%)
Agronômica
(%)
Zootécnica
(%)
FIGURA 5.5 – Formas de assistência técnica utilizadas nas propriedades.
Na amostra estudada, os menores índices foram observados para a assistência
técnica oferecida pelos órgãos governamentais (17,74%), pelas cooperativas (22,58%) e pelos
revendedores e/ou fabricantes de tecnologia da informação (29,58%).
118
A Tabela 5.7 destaca os produtos e serviços tecnológicos, de uso exclusivo para a
atividade pecuária, que os produtores possuem, pretendem adquirir nos próximos 12 meses ou não
pretendem adquirir. Além dessas informações, são apresentados os serviços tecnológicos aplicados à
atividade pecuária, utilizados nos últimos 12 meses e se pretendem utilizá-los nos próximos 12 meses.
TABELA 5.7 – Posse de produtos/serviços e uso de serviços tecnológicos.
Produto/Serviço tecnológico Já Possui (%)
Pretende adquirir nos
próximos 12 meses (%)
Não pretende
adquirir (%)
Identificação eletrônica de animais (brinco,
código de barras, leitor etc.)
50,88 22,81 26,32
Balança eletrônica 72,13 16,39 11,48
Software para administração (contabilidade,
custos etc.)
70,49 18,03 11,48
Software para produção (manejo, sanidade
etc.)
62,71 27,12 10,17
Assinatura de TV por satélite (canais
específicos)
79,03 6,45 14,52
Telefone celular 98,36 1,64 0
Computador em casa 98,39 1,61 0
Computador na propriedade 57,63 23,73 18,64
Internet em casa 96,72 0 3,28
Internet na propriedade 28,57 30,36 41,07
SISBOV (acesso à base de dados) 50,88 35,09 14,04
Serviço tecnológico
Usou nos últimos
12 meses (%)
Pretende usar nos
próximos 12 meses (%)
Não pretende
usar (%)
Transação bancária por telefone 63,79 1,72 34,48
Transação bancária pela Internet 60,66 3,28 36,07
Compra de gado ou sêmen pela Internet 20,69 27,59 51,72
Compra de gado ou sêmen pela TV (leilão) 59,68 14,52 25,81
Troca eletrônica de informações com
fornecedor e/ou cliente
65,57 22,95 11,48
Participação em grupos de discussão pela
Internet
22,03 44,07 33,9
Treinamento on-line para qualquer
tecnologia
33,9 40,68 25,42
De modo geral, os produtores utilizam uma grande quantidade de produtos ou
serviços tecnológicos. Quase a totalidade dos entrevistados possui telefone celular (98,36%),
computador (98,39%) e Internet em casa (96,72%). É interessante destacar que o número de
produtores que possuem computador e Internet na propriedade (57,63% e 28,57%, respectivamente)
119
é expressivamente inferior aos que possuem essas TI em casa, sugerindo a possibilidade de um
gerenciamento à distância das atividades agropecuárias por uma grande parcela deles. Essa situação
pode ser confirmada pelos dados observados, que constataram que 90% dos produtores residem na
cidade, dos quais 17,86% a distâncias superiores a 500 km.
Destaca-se também que 41,07% dos produtores que informaram não estarem
dispostos a adquirir serviços de Internet para a propriedade. Um dos motivos para essa resistência
pode ser resultado da auncia de infra-estrutura adequada para a prestação desse serviço.
Outra tecnologia que se destacou pela resistência na sua adoção foi a
identificação eletrônica de animais, na qual 26,32% dos produtores informaram não pretender
adquiri-la. A justificativa para essa postura pode estar fundamentada no custo elevado da
tecnologia ou mesmo na integração com os sistemas já existentes.
A Tabela 5.7 mostra, ainda, que 59,68% dos produtores utilizaram a televisão
como um canal de compra de animais ou de sêmen, demonstrando ser esse um canal
significativo para a comercialização de insumos. Entretanto, o uso da Internet como um meio de
comercialização de animais e sêmen apresentou um alto grau de resistência para 51,72% dos
produtores, que não pretendem usá-la para esse fim.
A troca eletrônica de informações com fornecedores e/ou clientes apresentou
um alto índice de aceitação, com 65,57% dos pecuaristas indicando seu uso nos últimos 12
meses. Acredita-se que os produtores tenham considerado esse serviço de forma mais
abrangente, a partir do uso de e-mails.
5.3. Classificação dos entrevistados nas categorias de adotantes
O principal objetivo dessa primeira etapa da pesquisa foi quantificar o grau de
inovatividade dos produtores, a partir do uso, das competências e de suas atitudes em relação
à TI, visando identificar e classificar os indivíduos para a segunda etapa da pesquisa.
Para atingir esse objetivo, os produtores auto-avaliaram suas habilidades para
11 diferentes tecnologias. Em seguida, concordaram ou discordaram de afirmações sobre suas
atitudes em relação à TI. A fim de distribuí-los entre as categorias de adotantes de Rogers, foi
adaptada uma escala, a partir dos trabalhos de ANDERSON, VARNHAGEN e CAMPBELL
(1998) e PARASURAMAN (2000).
Do total de questionários recebidos, sete foram desconsiderados por não
conterem todas as respostas necessárias para a quantificação da inovatividade, segundo o
método proposto na pesquisa. A partir das respostas devidamente tabuladas, foi verificada a
normalidade dos dados (Apêndice 1).
120
De acordo com a metodologia proposta, assumiu-se que para se ter experiência
‘intensa’ em uma tecnologia específica, o produtor foi relativamente mais adiantado em adotá-la do
que outro que avalia sua experiência como ‘pouca’. Daí a característica inovativa do indivíduo.
Os procedimentos estatísticos foram aplicados ao score total, criado a partir da soma
(i) do resultado das habilidades em cada uma das 11 tecnologias, apresentadas no Bloco 3 do
questionário, relacionadas à experiência do produtor com a TI, onde o valor 1 indicava uma auto-
avaliação ‘baixa’ ou ‘nenhuma’, e o valor 5 indicava ‘alta’ ou ‘intensa’; e (ii) do resultado das
afirmações apresentadas nas questões 5 a 10 do Bloco 4, relativas às atitudes (com base na
inovatividade) do entrevistado em relação à TI, na qual a discordância total indicou valor 1 e a
concordância total, valor 5. Com essa escala, o score máximo possível era de 85 e o mínimo 17.
5.3.1 Classificação dos entrevistados
O resultado do score foi consistente com a afirmação de Rogers de que a taxa de
adoção da inovação é distribuída normalmente. A partir da confirmação da normalidade dos dados,
os produtores foram distribuídos entre os cinco tipos ideais de adotantes de inovação.
Para as finalidades desse estudo, a classificação individual de inovatividade foi
utilizada para estabelecer quantos indivíduos da amostra são inovadores (INO = 2,5%),
adotantes adiantados (AAD = 13,5%), maioria adiantada (MAD = 34%), maioria atrasada
(MAT = 34%) e atrasados (ATR = 16%).
As porcentagens de cada categoria foram aplicadas ao número de entrevistados,
resultando na divisão da amostra em cinco grupos. Os 2,5% dos pecuaristas que marcaram mais
pontos na escala somada foram selecionados e atribuídos ao grupo INO (n = 2). Os demais
pecuaristas foram distribuídos de forma que 13,5% foram atribuídos ao grupo AAD (n = 7); 34%,
atribuídos ao grupo MAD (n = 19); outros 34% ao grupo MAT (n = 19); e os oito menores scores,
selecionados e atribuídos ao grupo ATR (n = 8). Em outras palavras, nessa escala o grupo INO foi
constituído dos pecuaristas cuja auto-avaliação da experiência no uso de TI se encontra em um
nível mais elevado do que o grupo AAD, que por sua vez é maior que o grupo MAD e assim por
diante, até o grupo ATR, o mais atrasado em relação às inovações tecnológicas.
A Tabela 5.8 apresenta a distribuição e a classificação da amostra, bem como a
identificação,
score total, localização e disponibilidade do entrevistado em participar da segunda etapa
da pesquisa. Foram selecionados dois produtores de cada grupo, totalizando 10 estudos de casos.
121
TABELA 5.8 - Distribuição e classificação da amostra.
Categoria Identificação Score total Localização Estado Disponibilidade
9 80 Miranda MS sim Inovadores
(INO)
12 80 Aquidauana MS sim
8 79 Avaré SP sim
47 78 Rio Brilhante MS sim
53 78 Cuiabá MT sim
40 77 Inúbia Paulista SP sim
61 76 Jacupiranga SP sim
10 75 Avaré SP sim
Adotantes
Adiantados
(AAD)
1 74 Londrina PR sim
13 74 Goiânia GO sim
7 71 Franca SP sim
15 70 Camapuã MS sim
44 70 Naviraí MS sim
30 69 Belo Horizonte MG sim
43 69 Itumbiara / Inaciolândia GO sim
55 69 Dourados MS sim
48 68 Goiânia GO sim
11 67 Itabuna BA sim
14 67 Goiânia GO sim
33 67 Bataguassú MS xxx
37 66 Janaúba MG sim
51 64 Pimenta Bueno RO sim
57 64 Rolim de Moura RO sim
21 62 São Paulo SP sim
49 62 São Paulo SP sim
54 60 Campo Novo do Parecis MT sim
5 59 Sertãozinho SP sim
Maioria
Adiantada
(MAD)
6 59 Jacarezinho PR sim
4 58 Maracajú MS sim
25 58 São José dos Campos SP sim
62 58 Redenção PA sim
17 57 Ji-Paraná RO sim
23 57 Tupi Paulista SP sim
28 57 Presidente Prudente SP sim
56 54 Cuiabá MT não
22 53 Orlândia SP sim
27 53 Rio de Janeiro RJ sim
3 52 Corumbaíba GO não
46 52 Santo Antônio da Platina PR sim
26 51 Campinas SP sim
39 50 Nova Andradina MS sim
24 49 Presidente Venceslau SP sim
42 49 Guajará Mirim RO sim
50 48 Porto Velho RO sim
58 48 Chupinguaia / Caroal RO sim
16 47 Açailândia MA sim
Maioria
Atrasada
(MAT)
38 47 Lapa PR sim
36 46 Campos dos Goytacazes RJ sim
19 45 Rio Branco AC não
31 41 Brasília DF sim
41 41 Presidente Prudente SP sim
2 37 Frutal / S. J. Rio Preto MG sim
18 37 Indaiatuba SP sim
45 36 Goiânia GO sim
Atrasados
(ATR)
60 30 Paranatinga MT sim
122
5.4. Estudos de caso
Os estudos de caso são apresentados de forma a respeitar o sigilo das informações
prestadas. Para isso, as propriedades foram renomeadas após a definição dos casos. Os resultados
foram divididos em três partes, em função do momento da adoção da TI. Foram considerados os
fatores (i) antecedentes à adoção, (ii) durante o processo de adoção e (iii) os impactos da adoção
da TI nos empreendimentos rurais. Cada parte apresenta dois estudos de caso. A síntese da
caracterização geral dos grupos e dos estudos de caso é apresentada na Tabela 5.9. e a distribuição
geográfica das propriedades selecionadas, na Figura 5.6.
A pesquisa baseou-se na classificação de adotantes de ROGERS (1995),
associada à inovatividade, embora alguns autores, entre eles FOURNIER e MICK (1998),
SHIH e VENKATESH (1999) e PARASURAMAN e COLBY (2001), tenham demonstrado
que uma tipologia de adotantes não deve ser definida somente a partir do tempo relativo de
adoção e sim baseada em múltiplos enfoques.
Nesse sentido, PARASURAMAN e COLBY (2001) sugeriram que a adoção de
tecnologia está relacionada com uma predisposição para tecnologia, resultado de crenças e sentimentos
positivos e negativos do consumidor. Essas atitudes podem ser mensuradas pela propensão dos
indivíduos em adotar novas tecnologias, a partir de aspectos psicológicos de condução – otimismo e
inovatividade – ou inibição – desconforto e insegurança (PARASURAMAN, 2000).
Embora não fosse objeto desse estudo, a pesquisa mensurou essas atitudes, por
meio de uma adaptação da metodologia do autor, objetivando auxiliar na classificação dos
entrevistados, a partir da inovatividade. Com isso, foi possível analisar os resultados, não com
a pretensão de torná-los generalizações, mas sim como um indicativo de futuras pesquisas. Os
resultados encontrados indicaram a coexistência desses sentimentos positivos e negativos em
todas as propriedades, a partir de uma análise qualitativa das respostas de seus proprietários e
administradores, indicando a presença dos paradoxos tecnológicos apresentados por MICK e
FOURNIER (1998) também no meio rural.
123
TABELA 5.9 – Definição dos entrevistados a partir da análise da amostra.
PARÂMETROS INOVADORES ADOTANTES ADIANTADOS MAIORIA ADIANTADA MAIORIA ATRASADA ATRASADOS
Identificação da
Propriedade
CASO 1 CASO 2 CASO 3 CASO 4 CASO 5 CASO 6 CASO 7 CASO 8 CASO 9 CASO 10
Localização da
Propriedade
Mato Grosso do Sul Mato Grosso do Sul São Paulo
São Paulo
São Paulo
Paraná São Paulo Paraná
São Paulo
São Paulo
Pará
São Paulo
Mato Grosso
Mato Grosso
Mato Grosso
Grau de
Instrução do
Proprietário
Superior completo Pós-graduação Superior completo Superior completo Superior completo
Superior
incompleto
Superior
completo
Superior completo
Superior completo
Superior
completo
Idade
26 a 35 26 a 35 36 a 45 46 a 55 36 a 45 anos 26 a 35 anos 46 a 55 anos 36 a 45 anos 46 a 55 anos 46 a 55 anos
Renda
R$ 6.000,00 a
R$ 10.000,00
R$ 2.500,00 a
R$ 4.500,00
R$ 2.500,00 a
R$ 4.500,00
R$ 10.000,00 a
R$ 20.000,00
R$ 10.000,00 a
R$ 20.000,00
Mais de
R$ 20.000,00
R$ 6.000,00 a
R$ 10.000,00
R$ 10.000,00 a
R$ 20.000,00
R$ 10.000,00 a R$
20.000,00
R$ 4.500,00 a
R$ 6.000,00
Moradia
Cidade Cidade Cidade Cidade Cidade Cidade Propriedade Cidade Cidade Cidade
Distância
Mais de 500 km Até 50 km 101 a 500 km Até 50 km 51 a 100 km Até 50 km ---
Até 50 km
Mais de 500 km
101 a 500 km Até 50 km
Área
pecuária (ha)
35.000 1.720 500 3.700 250 600 100 7.000 28 1.000
Rebanho
8.000 2.900 600 8.000 4.050 1.400 260 15.000 60 2.000
Grau de Instrução
do Administrador
Superior completo Pós-graduação Superior completo Superior completo 1o. Grau incompleto
Superior
completo
2o. Grau
incompleto
Superior completo
Superior
incompleto
1o. Grau
completo
Assistência
Técnica
Própria, Contratada,
Órgão de Pesquisa,
Governo, Associação,
Revenda / Fabricante
de Insumos, Revenda /
Fabricante de TI,
Veterinário, Agrônomo.
Própria, Revenda /
Fabricante de
Insumos, Revenda /
Fabricante de TI,
Veterinário,
Agrônomo,
Zootecnista.
Contratada, Órgão de
Pesquisa, Governo,
Assoc., Revenda /
Fabricante de Insumos,
Revenda / Fabricante de
TI, Veterinário,
Agrônomo, Zootecnista
Própria, Contratada,
Org. Pesquisa, Governo,
Assoc., Cooper., Revenda
/ Fabricante de
Insumos, Revenda /
Fabricante de TI,
Veterinário.
Própria, Revenda /
Fabricante de
Insumos,
Veterinário.
Org. Pesquisa,
Governo, Assoc.,
Revenda /
Fabricante de
Insumos,
Veterinário,
Agrônomo,
Zootecnista.
Contratada,
Associação,
Veterinário,
Agrônomo.
Própria,
Cooperativa,
Veterinário,
Agrônomo.
Própria,
Contratada,
Veterinário.
Própria,
Associação,
Veterinário,
Zootecnista.
2a. Atividade
--- Venda de tourinhos Eqüinos Cana-de-Açúcar --- Eqüinocultura Soja --- Equinos ---
Tipo de Resposta
Internet Internet Internet Carta Internet Carta Carta Carta Internet Carta
124
1
2
3
4a
5
6
7
8a
9
10c
8b
8c
4b
10b
10a
FIGURA 5.6 – Distribuição geográfica das propriedades selecionadas.
A Tabela 5.10 apresenta o comportamento dos casos analisados para cada uma
das dimensões propostas por PARASURAMAN (2000). A média geral para cada dimensão
foi definida pela média das respostas fornecidas para as questões do bloco 4 do
survey
realizado na primeira etapa da pesquisa, agrupadas de acordo com cada dimensão do Índice de
Prontidão para a Tecnologia (TRI). Os casos foram analisados individualmente, comparados
com a média geral de cada dimensão e classificados como ‘alto’ ou ‘baixo’, respectivamente.
TABELA 5.10 – Análise das atitudes dos entrevistados a partir das dimensões de
prontidão para a tecnologia.
Casos
Dimensões
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
Média
Otimismo
alto alto alto alto alto baixo alto alto alto baixo 4,2
Inovatividade
alto alto alto alto baixo alto alto alto baixo baixo 3,6
Desconfiança
baixo baixo baixo alto alto baixo alto alto alto alto 3,0
Insegurança
baixo baixo baixo baixo baixo alto alto alto baixo baixo 2,6
125
Os casos dos dois grupos mais inovadores (casos 1 a 4) apresentaram uma
média de respostas acima da média geral das propriedades estudadas para as dimensões
condutoras ‘otimismo’ e ‘inovatividade’, enquanto as dimensões inibidoras tiveram uma
média de respostas abaixo da média das propriedades. Os demais casos apresentaram
alternâncias entre mais ou menos ‘otimismo’ e mais ou menos ‘inovatividade’, e apenas um
caso do grupo ‘atrasados’ apresentou médias baixas para as dimensões condutoras.
Os resultados mostraram, ainda, que as propriedades dos dois grupos mais
atrasados (casos 7 a 10) apresentaram resultados acima da média geral, para a dimensão
inibidora ‘desconfiança’, enquanto o grupo ‘maioria atrasada’ (casos 7 e 8) também
apresentou resultados acima da média dos demais casos para a dimensão ‘insegurança’.
Esses resultados foram utilizados de forma complementar na análise dos grupos de
adoção de tecnologia, na tentativa de um melhor entendimento acerca das atitudes em relação à
TI, uma vez que PARASURAMAN (2000) sugeriu que uma nova tecnologia causa reações
diferentes, ao ser lançada no mercado, dependendo de crenças e sentimentos dos consumidores.
5.4.1 Antecedentes da adoção
Nesse item são apresentados as expectativas iniciais, o desenvolvimento e a
coordenação do processo de adoção da TI dentro do universo pecuário e as características
macroeconômicas quando da adoção da tecnologia. Os antecedentes da adoção de TI estão
sintetizados no Quadro 5.1.
5.4.1.1 Inovadores
As propriedades mais inovadoras apresentaram um grau de inovatividade com
score total igual a 80, a partir do uso, das competências e de suas atitudes em relação a TI. De
um modo geral, as duas propriedades tinham grandes expectativas quanto à adoção de TI.
Entretanto, para uma delas, o entusiasmo não se confirmou em relação ao uso de softwares de
controle de produção. O motivo foi a dificuldade para a captação de dados na atividade
pecuária, por deficiência do funcionário. A coleta de dados depende principalmente da coleta
no campo, realizada normalmente, por funcionários não treinados e, na maioria das vezes, não
alfabetizados. Alguns fatores concorrem para dificultar ainda mais o processo, como brincos
sujos, que dificultam a leitura.
A coleta errada dos dados geralmente é verificada quando o software é
alimentado. Surgem dados conflitantes, como animais com intervalo de partos menor que
nove meses, por exemplo.
126
QUADRO 5.1 – Antecedentes da adoção.
Expectativas iniciais / motivos que levaram à adoção
Inovadores Adotantes adiantados Maioria adiantada Maioria atrasada Atrasados
Caso 1 Caso 2 Caso 3 Caso 4 Caso 5 Caso 6 Caso 7 Caso 8 Caso 9 Caso 10
Expectativa antes da
adoção
Grande Grande Grande Grande Grande Grande Grande Grande Grande Grande
Iniciativa de adotar
novas TI
Administrador Administrador Administrador Administrador Proprietário
Filho do
proprietário
Esposa do
proprietário
Proprietário Proprietário
Proprietário e
administrador
Influência da
associação
Sim Não Sim Não Não Não Sim Sim/Não Não Sim
Processo de gestão da adoção (desenvolvimento e coordenação)
Participações no
processo de adoção
Não houve Não houve Não houve Não houve Não houve Sim Sim Não houve Não houve Não houve
Áreas envolvidas
com a adoção
Administração e
produção
Administração e
produção
Administração
e produção
Administração
e produção
Administração
e produção
Administração
e produção
Administração
e produção
Administração
e produção
Administração
e produção
Administração
e produção
Necessidade de
suporte técnico
Média Baixa Baixa Alta Baixa Baixa Alta Média Baixa Alta
Oportunidades e ameaças encontradas
Política, legislação,
crédito, mercado
Favorável Não influenciou Favorável Favorável Não influenciou Não influenciou Favorável Favorável Desfavorável Favorável
Pontos fracos e pontos fortes do empreendimento
Qualificações, re-
cursos financeiros e
postura tecnológica
em relação aos
vizinhos ou região
Bom na área
administrativa
Médio na
produção
Médio na área
administrativa
Médio na
produção
Bom na área
administrativa
Bom na
produção
Bom na área
administrativa
Bom na
produção
Bom na área
administrativa
Bom na
produção
Bom na área
administrativa
Bom na
produção
Bom na área
administrativa
Bom na
produção
Igual na área
administrativa
Igual na
produção
Bom na área
administrativa
Bom na
produção
Médio na área
administrativa
Médio na
produção
127
Essa crítica é muito pertinente quando se trata da rastreabilidade. É freqüente,
durante a pesagem dos animais, um funcionário fazer a leitura do brinco em um ambiente com
ruídos, enquanto outro opera a balança, anotando os dados. O erro pode ocorrer ao anotar os
dados na planilha, na leitura ou no momento de enviar um lote para o abate. Animais não
rastreados podem ser abatidos sem a respectiva baixa nas planilhas.
Os resultados também demonstraram uma constante preocupação dos
proprietários e administradores com a coleta de dados e o comprometimento dos funcionários
responsáveis, chegando em alguns casos, a ser descontinuado o processo de adoção. Essa
constatação confirma o relatado por ANTUNES e RIES (2001) sobre a adoção da TI nos
empreendimentos rurais, que deve priorizar a coleta de dados, além de ser fundamental o
comprometimento das pessoas envolvidas com o processo. MACHADO e NANTES (2000b)
também observaram essa situação e sugeriram que, para superar a geração de informações de
baixa qualidade, é necessário qualificar e instruir os funcionários sobre a importância do
evento, anteriormente a qualquer ação de caráter tecnológico, para evitar o comprometimento
das informações anotadas.
No outro caso, a expectativa quanto à adoção foi atendida, principalmente após
o administrador ter se mudado para uma cidade distante aproximadamente 100 km da
propriedade. A proximidade com o local de moradia facilitava a utilização da informática,
situação que se tornou inviável pela distância e que passou a atrasar consideravelmente a
tomada de decisões. Com a implantação da Internet de banda larga na propriedade, esses
problemas foram resolvidos e a gestão foi facilitada.
O uso do computador no manejo também agilizou o trabalho. A digitação é
mais rápida e elimina erros, pois o software avisa se o número digitado não corresponde a um
animal, permitindo a conferência do brinco.
Apesar da satisfação com o uso da Internet, as expectativas iniciais em relação
ao uso de software não se confirmaram por falta de suporte técnico, em um período em que a
empresa desenvolvedora trocou de comando. Por causa desse episódio, foi adotado outro
sistema, que apresentou problemas de incompatibilidade com o software do Programa de
Melhoramento Genético do qual participa.
Outra expectativa mal sucedida foi a adoção de um sistema de identificação
eletrônica de animais, base de um gerenciamento 100% eletrônico. O sistema adotado nas três
unidades produtivas foi o brinco com código de barra, compatível com o SISBOV. Entretanto,
a identificação eletrônica não vem sendo utilizada, pois existe grande dificuldade na leitura do
código de barras, em razão do animal balançar a cabeça ou de sujeira. A leitura, que passou a
128
ser visual novamente, foi dificultada pela diminuição do tamanho (da fonte) dos números nos
brincos do SISBOV. O SISBOV também foi criticado por dificultar o manejo dos animais
entre as unidades de produção, sendo necessário comunicar o programa em quarenta dias. Se
isso não ocorrer, o animal embora se encontre fisicamente em um local, na realidade pertence
a outro, tornando a atividade ilegal.
Os resultados da pesquisa, referentes às dimensões de prontidão para a
tecnologia, embora não medidas com um rigor científico, sugerem a coexistência de
sentimentos ambíguos e diferentes combinações de motivações e inibições. Assim como o
estabelecido por PARASURAMAN e COLBY (2001), isso pode explicar o fato do indivíduo
acreditar em uma tecnologia, temendo-a simultaneamente.
Mesmo apresentando atitudes
7
mais otimista e inovativa, e menos desconfiança
e insegurança em relação ao outro caso, uma das propriedades não pretende usar a Internet
para a compra de sêmen, por falta de contato direto com o vendedor. Esse comportamento de
não comprar de empresas desconhecidas reside na possibilidade de não receber o produto
adquirido. Em relação aos leilões transmitidos pelos canais de televisão, mesmo sem estar em
contato com o vendedor essa postura é diferente, justificada por se tratar de uma empresa
cadastrada e conhecida.
A grande barreira para a televisão ou a Internet nesse tipo negócio é a
desconfiança do vendedor. O administrador admite que a imagem do animal na televisão é pior do
que ao vivo, porém ressalta ser melhor do que uma simples foto na Internet. Por isso, no ambiente
da pecuária de corte, a compra eletrônica parece ainda depender de uma mudança cultural, que
deverá vir com uma geração mais nova de pecuaristas, adaptada ao ambiente da Internet.
Apesar de já ter participado de treinamentos on-line, o administrador não o
considera uma prática comum no setor, pois, ainda que se acredite na eficácia dessa prática,
ela é muito dependente da vontade, dedicação e tempo disponível do indivíduo.
Foi possível perceber que a Internet faz parte do dia-a-dia dos gestores dessas
propriedades, principalmente no que diz respeito à obtenção de informações. Um exemplo
disso são os grupos de discussão na Internet, utilizados por uma das propriedades. A principal
razão para utilizar esse tipo de fonte de informação é a diversidade de especialistas, como
engenheiros agrônomos, médicos veterinários e zootecnistas, discutindo um mesmo assunto.
O outro caso não realiza compras pela Internet, pelos mesmos motivos:
desconfiança e insegurança. Por enquanto, a Internet serve para consulta de informações
acerca de insumos, como por exemplo, o sêmen, cujas informações são consideradas boas e
7
Observado a partir da análise dos questionários da primeira etapa da pesquisa.
129
muito úteis, de modo que a compra de sêmen no futuro pode se tornar realidade,
principalmente se for de Centrais conhecidas.
O administrador já participou de treinamento on-line, quando comprou um
curso de gerenciamento de gado de corte pela Internet. A expectativa foi atingida,
possivelmente pela sua experiência anterior com informática. Observou-se que essa
ferramenta é muito boa para o administrador, mas a dedicação ao curso restringe o tipo de
usuário. Além disso, muitas vezes o funcionário sequer participa de treinamentos presenciais.
A iniciativa em adotar as diversas TI partiu dos administradores, que
comunicaram aos proprietários os principais benefícios que a tecnologia pode trazer. Essa
constatação indica que a figura do administrador é muito importante no processo de adoção e
uso de TI nos empreendimentos, fato atestado nos dois casos.
O papel das Associações de Classes geralmente é benéfico para a adoção de TI,
o que não foi observado em uma das propriedades. Em um dos casos, a participação em
algumas entidades locais, motivada pelo companheirismo com seus fundadores influenciou,
de certa forma, a adoção de TI, ao permitir contato entre produtores por meio de palestras
técnicas e divulgações, realizadas mensalmente.
No outro caso, a participação em uma associação foi motivada pelo interesse
em melhorar a genética do rebanho. A escolha da entidade deu-se pelo Programa de
Melhoramento Genético gerido por ela, que possui um maior número de propriedades e
animais cadastrados. Apesar do motivo da associação ter sido mais concreto, não houve
influência da entidade na adoção da TI, adotadas anteriormente.
O processo de adoção de tecnologias em uma das propriedades se deu de cima
para baixo, sem a participação de funcionários do setor administrativo ou da produção.
Também não foram verificadas empresas parceiras na implantação dessas tecnologias.
Para participar do SISBOV, a propriedade conta com a parceria da empresa
certificadora, que a auxilia na coleta e armazenamento dos dados. O benefício dessa parceria é
o acesso às informações do rebanho e da propriedade, permitindo o acompanhamento e
consulta do que foi dado baixa.
A alimentação do banco de dados é realizada pela certificadora, enquanto o
produtor é responsável apenas pela transmissão dos dados para a empresa. Após o abate, o
frigorífico dá baixa no registro, por meio do Ministério da Agricultura, Pecuária e
Abastecimento (MAPA), que comunica à empresa certificadora. Embora o uso da TI tenha
como um dos principais benefícios os ganhos em coordenação (VALLE, 1996; SANTOS
130
JUNIOR, FREITAS e LUCIANO, 2005), a forma como o SISBOV está estruturado não
permite que o frigorífico converse com o produtor.
No outro caso, mesmo sem a participação de funcionários na utilização de
computador e software, são eles que operam a balança eletrônica e que possuem a
responsabilidade de coletar os dados dos animais. Por isso, alguns participam do processo de
adoção de tecnologia, por meio de palestras técnicas ministradas por profissionais da Associação,
sobre a importância da coleta de dados para um programa de melhoramento genético.
Na implantação da TI, não houve parcerias que pudessem facilitar o processo
de adoção, prática pouco comum entre as empresas do setor, mas muito comum entre
empresas de nutrição e medicamentos veterinários, no período de implantação de uma nova
tecnologia. Nesse sentido, não houve auxílio da empresa certificadora para implantação da
rastreabilidade. O processo consiste no pecuarista solicitar os brincos na quantidade
necessária, a certificadora os envia e após a implantação, o administrador passa uma planilha
para a empresa, que incluirá no sistema.
Adotar o sistema de rastreabilidade não é difícil, mas no manejo de campo, a troca
do gado entre as unidades de produção esbarra na burocracia, que não reflete o dia-a-dia da
atividade pecuária. Além disso, corre-se o risco de, em um lote separado para venda, que espera o
prazo de quarenta dias, ter um animal fugitivo ou intruso, gerando inconsistência aos dados. Nesse
caso, os benefícios da informática se perdem, pois é preciso localizar o Documento de Identificação
Animal (DIA) manualmente, para não receber um preço menor, pago ao gado não rastreado.
Uma das propriedades possui televisão via satélite no escritório e na sede. Por
esse motivo, os programas técnicos veiculados nos canais destinados ao meio rural não são
utilizados para treinamento e reciclagem de funcionários. Já na outra, os funcionários assistem
a alguns programas e os comentam com o administrador.
Durante a adoção da TI, não foi observado o envolvimento dos setores de
contabilidade e administração de uma das propriedades, que pertence a um grupo empresarial
sediado no Rio de Janeiro. Nessa Matriz, funcionam outros setores, provavelmente envolvidos
no processo de informatização da atividade agropecuária.
A freqüência de uso do suporte técnico para as diversas tecnologias é média. A
propriedade possui um
software contábil, mas as informações vêm do Rio de Janeiro e não
passam pelo administrador, indo da Matriz direto para o contador. O sistema de gestão da
produção pertence ao administrador e o suporte é dado pela empresa que o comercializou,
mediante o pagamento de uma taxa. Esse suporte, entretanto, não é muito utilizado, pois
apresenta limitações, principalmente na velocidade de resolução dos problemas apresentados.
131
No outro caso, não foi verificada uma organização formal, com departamentos, nem
a distinção entre as tecnologias administrativas ou de produção. Apesar de ser uma propriedade de
grande porte, ainda preserva características dos pequenos empreendimentos, quando o assunto é
administração. Por isso, as decisões são centralizadas na figura do administrador.
Também não há distinção entre as unidades de produção independentes. Talvez
seja esse o motivo do administrador encontrar dificuldades em acompanhar a mudança de
animais entre as unidades e a comunicação ao SISBOV. Por se tratar de mais de uma
propriedade, a adoção de tecnologias ocorre simultaneamente, mas em alguns casos, são
testadas em uma, para depois ser implantada nas demais.
O suporte técnico não é utilizado com freqüência, exceto quando o software
não se comunica com o sistema da Associação. O administrador possui conhecimentos de
informática e, geralmente, resolve os problemas.
O cenário existente na época de adoção das tecnologias (política, legislação,
acesso a crédito, concorrência, mercado, exigência do consumidor e concorrentes) foi favorável
à implantação em um dos casos, em que o SISBOV tornou-se uma oportunidade ao influenciar
a informatização da atividade. Essa situação reforça o mencionado por FORTES (2004), de que
a rastreabilidade ampliou o interesse por um controle informatizado além da genealogia,
tornando o acompanhamento das movimentações entre piquetes, a alimentação do rebanho e as
etapas de vacinação e aplicação de medicamentos, parte do cotidiano do produtor.
Em um segundo momento, também favorável para o negócio, o MAPA editou a
Instrução Normativa nº 17, de 13/7/2006, que estabelece a Norma Operacional do SISBOV
8
,
com o objetivo de adequar o sistema de rastreabilidade brasileiro e atender às exigências dos
mercados importadores de carne bovina. O novo sistema institui o conceito de Estabelecimento
Rural Aprovado no SISBOV e tem como principais requisitos a obrigatoriedade de
identificação individual de 100% dos bovinos e bubalinos da propriedade, o controle sobre a
movimentação de animais, eventos sanitários e insumos utilizados na produção, com a
realização de vistoria de inspeção na propriedade a cada 180 dias no máximo.
A adesão de produtores e demais segmentos da cadeia produtiva de bovinos e
bubalinos ao SISBOV permanece voluntária. No entanto, os frigoríficos que exportam carne
bovina para mercados que exigem rastreabilidade terão que, obrigatoriamente, comprar animais
de Estabelecimentos Rurais Aprovados no SISBOV para atendimento desses mercados.
8
Fonte: CONFEDERAÇÃO DA AGRICULTURA E PECUÁRIA DO BRASIL. Agropecuária brasileira:
balanço 2006 e perspectivas 2007. Brasília: CNA, Dezembro de 2006. Disponível em:
http://agencia.cna.org.br/cna/index_agencia.wsp. Acesso em: 20 jan. 2007.
132
Comparando as duas propriedades com outros produtores de suas regiões, a
partir do nível tecnológico, recursos financeiros e postura tecnológica, o administrador de
uma delas indicou dois pontos a serem considerados: a área administrativa e a produção. As
tecnologias na área administrativa, como Internet, computadores e telefonia são muito boas.
Na outra propriedade, o administrador reconheceu a possibilidade de haver propriedades
adotando mais tecnologias.
5.4.1.2 Adotantes adiantados
Os adotantes adiantados são aqueles que apresentaram um grau de
inovatividade com score total entre 74 e 79 pontos. Uma das propriedades foi informatizada
no início de 2004, com a chegada do atual administrador. Na época, não havia qualquer tipo
de controle ou registro das atividades e, por isso, a expectativa com a adoção da TI era
grande, pois o administrador trazia consigo a experiência de ter gerenciado uma propriedade
informatizada.
Após procurar por softwares comerciais, optou-se por desenvolver um sistema
próprio de gerenciamento, pois nenhum sistema atendia as necessidades iniciais. O
desenvolvimento do próprio sistema de gerenciamento foi motivado também pela
possibilidade de redução da dependência em relação ao suporte técnico que, muitas vezes, é
demorado e interrompe a atividade que está sendo executada. O sistema foi desenvolvido a
partir do programa Excel
®
, sendo desenvolvidas planilhas com comandos de pesquisa para
gerenciar os custos. Com o auxílio do proprietário, foram estabelecidas as variáveis controladas e os
centros de custos, de acordo com as necessidades.
Mesmo com uma grande variedade de softwares disponíveis no mercado (18%
do total cadastrado no Guia Agrosoft, segundo CÓCARO e LOPES, 2004), os resultados
demonstraram que grande parte das propriedades ainda desenvolve os próprios sistemas de
gerenciamento, principalmente na área administrativa. Em casos menos freqüentes, essa
situação também foi observada na área de produção, com a utilização de planilhas Excel
®
.
O outro caso já vinha profissionalizando a atividade antes de entrar no
Programa de Qualidade Nelore Natural (PQNN), desenvolvido pela Associação dos Criadores
de Nelore do Brasil, que visa garantir um padrão para carcaças bovinas, sistemas de cria,
sistemas de engorda e reprodutores da raça Nelore. Para seguir nesse programa, foram
realizadas adequações, dentre as quais o maior uso da TI. Atualmente, a propriedade aguarda
133
a certificação EurepGAP
9
, visando o mercado europeu. Por isso, as expectativas iniciais com
relação ao uso da TI eram boas, embora não tenham sido confirmadas totalmente,
principalmente no que diz respeito à valorização do mercado. Acreditava-se que a tecnologia
criasse serviços e produtos diferenciados e que o mercado entendesse e remunerasse tal
diferenciação, fato não ocorrido até o momento.
Uma das propriedades possui balança eletrônica e a identificação animal é
realizada com tatuagem do número nas orelhas, de acordo com os padrões exigidos pela
Associação. Ela não utiliza identificação eletrônica em razão do alto custo, mesma
justificativa dada pela outra propriedade.
Em um dos casos, a propriedade participa de dois Programas de Melhoramento
Genético e utiliza a balança eletrônica devido às exigências dos programas, simplificando o
manejo com o uso da TI. O processo se resume à emissão do relatório da Associação,
processamento no banco de dados e envio on-line para os dois programas.
Os dados da pesagem são utilizados também nas planilhas eletrônicas próprias
da propriedade, uma vez que a identificação dos animais é única. Também por esse motivo,
justifica-se o não-uso de um sistema de identificação eletrônica, pois ao adotá-lo, seriam dois
números identificando um mesmo animal.
A Internet é utilizada na compra de sêmen, medicamentos e hormônios em um
dos casos. A compra de gado é feita com freqüência pela televisão, pois é considerada uma
boa forma de aquisição, caso se tenha experiência na identificação de animais com
características fenotípicas desejadas. A Internet também é utilizada com freqüência para troca
de informações com fornecedores, principalmente cotações por e-mail.
Apesar de não fazer parte dos objetivos dessa pesquisa, o comportamento do
produtor e suas atitudes em relação à TI puderam ser observados, ainda que de forma
incipiente, a partir dos dados levantados na primeira etapa da pesquisa e explorados na
segunda parte, de forma a contribuir para o estudo da adoção de tecnologia no meio rural.
Os comportamentos favoráveis ou desfavoráveis em relação à TI verificados nos
caso apresentados, podem ser explicados por ENGEL, BLACKWELL e MINIARD (2000), que
relataram que as atitudes refletem uma predisposição do indivíduo a se comportar de maneira
9
EurepGAP é um sistema de gestão da qualidade, criado pelo European Retailers Produce Working Group
(EUREP), que preparou um protocolo de boas práticas agrícolas (Good Agricultural Practices – GAP),
considerado um código de conduta adotado para a certificação de unidades produtoras de frutas, vegetais frescos,
flores e carne. Tem como objetivos reduzir os riscos, assegurar a qualidade e inocuidade dos alimentos na
produção primária, enfocando também a implementação das melhores práticas para uma produção sustentável.
Inclui práticas de rastreabilidade, técnicas de produção, proteção do meio ambiente, aspectos higiênicos e
questões sociais.
134
favorável (mais receptiva) ou desfavorável (menos receptiva) em relação a um produto ou
serviço tecnológico. Os resultados observados poderiam explicar os comportamentos
diferenciados entre propriedades pertencentes a mesma categoria de adotantes.
Nesse sentido, uma das propriedades apresenta atitudes mais otimista, mais
inovativa e menos insegura que a outra, porém é mais desconfiada. Talvez por esse motivo não seja
utilizada a Internet para outras funções, além de fonte de informação. O administrador não participa
de grupos de discussão pela Internet, porém discute artigos dos portais ligados à atividade pecuária,
enviando suas opiniões, e não realiza compras de animais ou sêmen pela Internet ou televisão,
preferindo os leilões presenciais e as Centrais de Inseminação, respectivamente. Além disso, as
atividades do dia-a-dia não permitem que o administrador faça treinamento on-line, porém ele
acompanha os cursos disponíveis e, posteriormente, contrata os mais interessantes para serem
ministrados na propriedade, permitindo a participação dos funcionários.
A Internet não é utilizada para participação em grupos de discussão também no
outro caso, pois o administrador prefere realizar discussão em grupos com os funcionários de
cada setor, na presença de consultores, quando necessário. Os treinamentos on-line são mais
freqüentes, principalmente os ligados ao Programa de Melhoramento Genético.
A utilização da Internet na divulgação de produtos e ações realizadas nas
propriedades ainda é incipiente na pecuária de corte, provavelmente pelo fato da maioria dos
empreendimentos destinarem a produção ao abate. A prática de divulgação por meio de sites se
torna mais interessante em criações de animais para venda de reprodutores e matrizes. Entretanto,
foi observado em um dos casos que a propriedade utiliza um site para divulgar exclusivamente o
haras e seus produtos, apesar de ser conduzido um Programa de Melhoramento Genético na
pecuária de corte, com a comercialização de animais com alto padrão genético.
No outro caso, essa situação é mais evidente. Embora participe de um
programa de carne de qualidade e de certificar a propriedade visando a exportação de carne,
não há intenção de usar a Internet para divulgar ações, programas ou animais, por acreditar
que o fato de só comercializar animais para abate torna desnecessário esse tipo de divulgação.
No lugar disso, a propriedade leva o frigorífico para dentro dela, como forma de divulgar o
trabalho realizado com os animais.
A participação em Associações de Criadores é motivada por diferentes
necessidades e, na maioria dos casos, avaliada sob diferentes pontos de vista, o que não permite
generalizar os resultados obtidos. No grupo ‘adotantes adiantados’, uma das propriedades
pertence a três entidades, sendo uma para eqüinos. Em relação às Associações de Criadores de
135
Bovinos, observou-se dois tipos de motivação para participação: a necessidade de registro
genealógico dos animais e o Programa de Melhoramento Genético.
O papel de uma dessas Associações tem sido importante na decisão de adotar TI,
principalmente em relação ao software. Embora a entidade seja atuante nesse sentido, ela não
oferece uma consultoria em termos de TI, uma vez que as tecnologias indicadas por ela são aquelas
que complementam ou ampliam os benefícios de seu programa de melhoramento genético. Por
exemplo, o software comercializado pela Associação foi desenvolvido para o referido
Programa e, a partir daí, qualquer TI que seja compatível com sistema pode ser indicada ao
pecuarista, como a utilização de uma balança eletrônica.
Os fabricantes de TI vêm observando essa situação e passaram a disponibilizar
cada vez mais seus produtos em uma espécie de parceria, tornando-os compatíveis aos
softwares dos Programas de Melhoramento Genético. Apenas os microchips de identificação
eletrônica ainda encontram resistência das Associações, pois a numeração dos mesmos,
estabelecida por normas internacional (ISO 11784) e nacional (NBR 14766) visa a
rastreabilidade do animal e não o registro genealógico das entidades, e se adotado, resultaria em
duas numerações, tornando o processo de identificação e manejo dos animais mais complexos.
A outra propriedade participa de duas Associações, motivada pelo Programa de
Qualidade da Carne e pela possibilidade de parcerias com frigoríficos que premiam carcaças
com melhor qualidade, oferecendo bônus entre 2% a 6% aos animais padronizados sobre o
preço de mercado da arroba.
As opiniões divergentes em relação à postura das entidades podem ser resultado
das propriedades pertencerem a entidades diferentes. Embora o papel da Associação seja
defender os interesses do produtor, existe pouca influência na escolha das tecnologias.
Assim como no grupo ‘inovadores’, o papel do administrador nesse grupo foi
essencial para a adoção da TI, atuando como influenciador e decisor. Em um dos casos, não
houve participação de funcionários na escolha e adoção. Já no outro, o envolvimento dos
funcionários na adoção da TI ficou restrito à área administrativa e aos gerentes.
Outra característica semelhante entre as propriedades desse grupo é o
descontentamento parcial com os
softwares comercializados em escala, sendo necessário a
utilização de planilhas próprias. Dessa forma, parte dos sistemas de informação utilizado nos dois
casos foi desenvolvido na própria propriedade. Na tentativa de comercializar em escala, as
empresas desenvolvedoras de softwares padronizam as funções, tornando-os não-customizados,
de modo que em que algumas vezes faltam funções e, em outras, o sistema abrange funções
desnecessárias.
136
Essa situação também foi verificada por MACHADO (2002), que destacou que
os programas padronizados de gerenciamento da pecuária de corte não atendem às
necessidades dos produtores, devido à heterogeneidade da produção pecuária brasileira. O
fato dos softwares disponíveis serem genéricos demais para abranger as especificidades da
pecuária brasileira também foi destacado por SILVA (1995), que apresentou outro fator que
eleva o uso de sistemas customizados ou de planilhas: a não-integração dos controles
administrativo e produtivo, também verificada nos resultados de alguns grupos de adotantes
apresentados nessa pesquisa.
Não foram observadas parcerias de empresas na adoção de TI. Essa prática é
mais comum em outros segmentos da cadeia produtiva e possibilita uma atualização constante
dos produtores acerca das inovações disponíveis. Por esse motivo, uma das propriedades
contratou os serviços de um técnico, responsável pela difusão desse tipo de informação entre
os funcionários da propriedade.
Em um dos casos, os animais estão no SISBOV e a empresa certificadora é a
própria Associação de Criadores, credenciada pelo MAPA em 2004. Por enquanto, apenas as
receptoras estão no Programa, mas, em breve, todo o rebanho deverá ser rastreado, pois a
burocracia foi reduzida com a inclusão da entidade
10
entre as empresas certificadoras.
O administrador e todos os funcionários possuem acesso aos principais canais
de televisão ligados ao campo por meio de antena parabólica. A freqüente utilização desse
meio de comunicação tem conseqüências no comportamento dos funcionários, que passaram a
assistir leilões e a comentar os programas.
Os funcionários da outra propriedade também têm acesso à televisão por meio de
antena parabólica e, normalmente assistem a programação apenas quando há um programa específico.
Muitas vezes, reportagens, curso e DVDs são apresentados aos funcionários em um barracão, com
direito a um churrasco no final, como forma de motivá-los a participarem do treinamento.
Durante o processo de adoção da TI, uma das propriedades passou por uma
reestruturação, com a criação de uma área administrativa, onde funciona a administração,
compras e a área comercial. Além disso, as atividades foram divididas em centros de custos.
10
A partir da IN No.17, de 13 julho de 2006, ficou estabelecido que os bovinos registrados em Associações de
Raça podem utilizar o número do registro genealógico marcado a ferro quente ou tatuado, desde que o mesmo
corresponda a um número do SISBOV. Com isso, os documentos de registros, provisórios ou definitivos,
previstos no regulamento do Serviço de Registro Genealógico, deverão conter o respectivo número de cadastro
do animal no SISBOV. A identificação do animal registrado associado ao código do SISBOV do mesmo é,
então, armazenado na base de dados da Certificadora (da Associação) e exportado para o Banco Nacional de
Dados do SISBOV.
137
Apesar de não estar formalmente dividida em departamentos ou unidades, o
outro caso também apresenta um grau de organização. Os funcionários são divididos entre as
funções administrativas e de campo e são responsáveis pela parte jurídica, manejo, processo
de identificação, numeração e implantação do EurepGAP. Além disso, foi identificada uma
divisão hierárquica, onde o pessoal subordinado ao administrador, na verdade um gerente
geral do negócio, está envolvido no uso de computador e software. No campo, a hierarquia
também ocorre, entre os funcionários que respondem por cada setor.
Os dados obtidos e a observação in loco permitiram observar que os
empreendimentos rurais que adotaram a Internet em suas atividades agropecuárias,
apresentaram características semelhantes aos resultados da pesquisa de FRANCISCO e PINO
(2004). Dentre elas, destacam-se o caráter mais empresarial; um nível tecnológico mais alto,
tanto na produção quanto na administração; o grau de instrução e a idade dos proprietários ou
administradores, geralmente mais novos e/ou com nível superior; e o fato desses proprietários
manterem outras atividades, principalmente econômicas, fora da propriedade.
O suporte técnico para os computadores é pouco utilizado em um dos casos,
devido a procedimentos de segurança adotados, enquanto o suporte para software é mais
freqüente. De uma forma geral, o serviço prestado pelo fornecedor do software é satisfatório,
principalmente pela agilidade em solucionar o problema.
O suporte e a assistência técnica apresentaram características diferentes no
outro caso, sendo utilizados com freqüência para a atualização de software, por falta de tempo
dos envolvidos. De um modo geral, o administrador considera bom o serviço prestado.
Na época em que foram adotadas essas tecnologias, o cenário existente foi, de
modo geral, favorável à adoção para os dois casos. O maior problema de um deles é a questão
ambiental, por se localizar às margens de uma grande represa. A adoção da TI tem sido
fundamental nesse sentido, em razão do uso de GPS e da Internet, para ter acesso a fotos de
satélite, entre outros aspectos.
O mercado também influenciou a adoção da TI. O fato da comercialização de
animais com genética melhorada atingir valores em torno de 10% e 15% maiores tem
motivado a ampliação do Programa de Melhoramento Genético.
O mercado também teve um importante papel na adoção da TI. A evolução nos
comportamentos de compra e de consumo dos consumidores influencia o tipo de produto
comercializado e, no caso da carne bovina especificamente, a preocupação com a segurança
do alimento é grande, principalmente no mercado externo. Por isso, os frigoríficos dão
138
preferência a produtores que produzem de acordo com as exigências do mercado externo.
Para isso, estabelecem parcerias e levam os clientes na propriedade.
A rastreabilidade também foi um fator que influenciou a adoção de TI, pois
aumentou a preocupação com a coleta de dados. Entretanto, acredita-se em uma remuneração
diferenciada pela qualidade da carcaça e, por isso, as ações realizadas não se limitam às
exigências do SISBOV, dado que as ações empreendidas em busca da certificação EurepGAP,
na sua maioria, atendem as exigências do sistema brasileiro de certificação.
As duas propriedades se colocam à frente das demais de suas regiões, em relação
ao nível tecnológico, recursos financeiros e a gestão, sobretudo no planejamento de custos e
receitas. Em uma delas, a postura tecnológica é uma estratégia de mercado. Na outra, o
administrador destaca que a região é relativamente avançada em tecnologia, porque foi colonizada
por europeus, adotando uma postura diferente em relação as demais propriedades da região.
5.4.1.3 Maioria adiantada
O grupo ‘maioria adiantada’ corresponde as propriedades que apresentaram um
grau de inovatividade com score total entre 59 e 74 pontos. Um dos casos se localiza em uma
região mais atrasada tecnologicamente e carente de informações, sendo o uso da tecnologia uma
possível alternativa para diminuir os custos de produção. Entretanto, os produtores da região são
muito resistentes às mudanças.
O proprietário mora a 65 km da propriedade e a visita uma vez por semana. Exerce
outra atividade na cidade e, conseqüentemente, tem pouco tempo para se dedicar à pecuária de
corte. Por isso, foram adotadas formas de controle não-eletrônicas, buscando informações para
melhorar a atividade e aumentar a produtividade. Os animais foram identificados com brincos, mas
a taxa de perda dos mesmos compromete o trabalho de melhoramento genético. Por essa razão, tem-
se buscado uma alternativa à marcação a ferro, de baixo custo.
Não são utilizados softwares de administração e de produção, sendo o controle
realizado de forma incipiente em um editor de texto, como o Word
®
. A expectativa para a adoção
da TI foi grande, objetivando o controle produtivo do rebanho, planejamento de vendas de
bezerros, descarte e o acompanhamento da evolução individual dos animais. Também não há
telefone fixo, computador e Internet, por falta de infra-estrutura de telecomunicações. A
disponibilidade de energia elétrica permitiu a adoção de uma balança eletrônica.
No outro caso, a informatização teve início ao se perceber que não era mais
possível continuar na atividade sem um comprometimento maior com a administração do
negócio. As exigências de mercado e a quantidade de informações a serem processadas
139
acelerou a adoção da TI e a introdução de tecnologias de reprodução e manejo, focando a
atividade na criação de animais de raça. Atualmente, são criadas duas raças de bovinos e uma
raça exótica de jumentos e muares, em uma área localizada no centro do estado de São Paulo.
Inicialmente, a informatização foi realizada com planilhas Excel
®
, porém não
foi suficiente, sendo necessário adotar outro software, específico para a atividade. A
expectativa na época da adoção era grande, principalmente com a profissionalização da
atividade e a coleta de dados mais apurada.
A propriedade possui balança eletrônica e cogita a possibilidade de
implantação do código de barras na identificação dos animais, em razão do risco de anotações
e leituras erradas, por parte do funcionário. Por esses motivos, a adoção da TI para a coleta de
dados não atendeu as expectativas do produtor.
Nos dois casos não são realizadas compras de animais ou sêmen pela Internet
ou televisão. Esse resultado, juntamente com os anteriores revelam que o uso da Internet
como canal de compra destina-se a produtos e equipamentos e, em menor freqüência, animais
e sêmen, além de confirmar a preferência da televisão como canal de comercialização para a
pecuária, principalmente por meio de leilões. Esses dados concordam com FORTES (2004)
acerca das perspectivas para o comércio eletrônico no meio rural e sobre as vendas de animais
pela televisão, pela praticidade oferecida a quem compra e a quem vende.
Essas formas de comercialização são consideradas interessantes e facilitadoras,
porém a prioridade verificada na propriedade é implementar uma forma de controle mais
confiável, de forma a tornar o negócio mais rentável. A preocupação maior refere-se ao fato de
que um controle confiável depende do nível cultural do funcionário, que é baixo na região. Outro
aspecto observado é que, embora haja oportunidades de treinamento, muitas vezes oferecidos pela
Federação da Agricultura do Estado do Para(FAEP), é muito difícil um funcionário de campo
trabalhar com
software, de modo que essa atividade acaba sendo realizada pelo proprietário.
A FAEP oferece uma série de cursos em que o pecuarista e os funcionários
podem participar. Dentre esses cursos, destacam-se o de máquinas agrícolas e o de utilização
de EPI e medicina e segurança do trabalho, estes últimos por facilitarem o cumprimento da
Norma Regulamentadora 31, sobre segurança e saúde no trabalho na agricultura, pecuária,
silvicultura, exploração florestal e aqüicultura. Atualmente, todos os funcionários utilizam os
EPI e, além de gostarem, se sentem valorizados pelos investimentos realizados, fato
importante para o sucesso das implementações futuras de TI.
Na propriedade há antena parabólica e os funcionários têm acesso a todos os
canais especializados. Eles assistem aos programas e posteriormente discutem sobre a
140
linhagens dos animais, leilões, programas técnicos, lançamento de insumos, entre outros. O
proprietário não participa de grupos de discussão na Internet ou de treinamentos e cursos on-
line
, pois não tem informações sobre oferecimento de cursos ou aperfeiçoamento na área.
O outro caso explora a Internet como ferramenta de comunicação. Atualmente,
está organizando um leilão eletrônico, embora nunca tenha adquirido animais pela Internet. A
justificativa para a realização do leilão eletrônico é que grande parte dos leilões de gado é
virtual e, ao mesmo tempo presencial, pois os pecuaristas se reúnem em um espaço onde
assistem ao leilão por um telão. Para conhecer os animais, as empresas leiloeiras oferecem um
DVD com os lotes dos animais filmados e todas informações genealógicas.
Por esse motivo, essa propriedade, que é menos desconfiada e mais inovativa
que a outra, acredita que mudança de comportamento para a compra por meio da Internet
possa ser rápida, uma vez que o pecuarista está se acostumando a comprar à distância, prática
que reduz os custos com transporte, hospedagem e tempo.
Não foi verificada participação em grupos de discussão na Internet, pela
dificuldade em reunir especialistas para determinados assuntos, preferindo consultar
diretamente as Universidades e Centros de Pesquisa. A realização de treinamentos pela
Internet é inibida pela falta de disciplina e dedicação para o estudo. Essa situação reflete o
menor grau de otimismo e maior insegurança da propriedade em relação à outra.
A propriedade possui um site, onde é possível obter informações sobre o
trabalho realizado com as linhagens criadas, bem como comprar animais e sêmen.
Em um dos casos, a iniciativa em adotar a TI partiu do próprio proprietário, em
virtude da desorganização dos produtores da região. O tipo de controle realizado é, ainda,
precário, por não ser automatizado, mas já representa um primeiro passo rumo a informatização,
com o objetivo de facilitar a tomada de decisão, a partir de relatórios dos animais.
A justificativa por ainda não ter adotado um
software de gerenciamento da
produção reside na falta de conhecimento dos sistemas existentes e sobre a opção mais
adequada às necessidades do negócio. Por ter uma atividade paralela, torna-se difícil se
dedicar à propriedade e pesquisar as tecnologias disponíveis.
A forma de contornar essa situação seria acessar um maior número de
informações, mais direcionadas e de variadas fontes. Eventualmente, o proprietário utiliza
boletins enviados pela FAEP, os lê em casa ou em horários de menor fluxo de trabalho no
escritório, para se atualizar sobre as novidades de mercado.
Situações em que o produtor desconhece as tecnologias voltadas para a
administração e a produção da atividade são comuns. Nesse caso, a solução seria uma ampla
141
divulgação das informações, que precisam ser publicadas em meios de comunicação que
realmente atinjam o produtor. Os boletins enviados pelas entidades poderiam indicar sites de
interesse do pecuarista. No entanto, as associações geralmente só enviam comunicações sobre
reuniões, prestação de contas, assuntos mais relacionados ao andamento da entidade e exposições.
A necessidade de informações direcionadas é mais importante para os
produtores que possuem atividades paralelas, com maiores limitações de tempo. Nessa
situação, o produtor procura informações somente quando o problema já está instalado,
conferindo uma característica reativa e expondo a atividade ao risco.
No outro caso, a iniciativa em adotar a TI partiu do filho do proprietário, que
administra a atividade em conjunto com o pai. A propriedade não possui Internet por falta de linha
telefônica e, apesar do celular funcionar, o custo da Internet via banda larga é alto nesse sistema.
A falta de infra-estrutura é minimizada pela proximidade da residência na cidade e pelas visitas
diárias à propriedade, situação em que é possível tomar as decisões e acompanhar a atividade.
Os dois casos participam de Associações de Criadores, porém motivados por
diferentes necessidades. Em um deles, a razão para a afiliação foi o acesso às informações. A
expectativa era que, ao se tornar membro, as informações viessem com maior facilidade, fato
que não vem ocorrendo, de modo que a influência da entidade na adoção de tecnologia é nula.
Esperava-se que a Associação tivesse um papel importante na adoção propriamente dita da TI,
sobretudo no momento em que o pecuarista reconhece um problema e busca informações para
escolher a melhor opção.
A outra propriedade pertence a quatro Associações, sendo três de bovinos,
motivada pela necessidade de registro dos animais da raça. O papel da entidade não
influenciou a adoção da TI. Embora o proprietário considere importante o apoio, a entidade
visa fomentar a criação da raça e não prestar esse tipo de assessoria.
A criação de mais de uma raça pura de bovinos cria uma situação já observada
em outros grupos: o uso de vários sistemas de gerenciamento. Se fosse apenas uma raça, o
software comercializado pela Associação seria utilizado, pois é considerado bom e
proporciona descontos no envio eletrônico dos registros. Como não é essa a situação, a
propriedade utiliza um outro software, que permite gerenciar todas as atividades, além de
gerar a documentação necessária para o registro dos animais. O processo de registro é
realizado pelo envio dos documentos pelo correio.
A participação de funcionários no processo de implantação da TI é diferente nos
dois casos apresentados, variando o grau de envolvimento. Em um deles, não houve participação
dos mesmos na implantação da TI. Os funcionários que utilizam a balança eletrônica não
142
demonstraram resistência ao uso do equipamento, em razão da economia de tempo obtida. Na
realidade, os funcionários, quando apresentados a uma tecnologia nova, mostram-se receptivos,
por entender que estão evoluindo juntamente com empresa.
No outro caso, ocorreu participação dos funcionários nos treinamentos
oferecidos pela empresa fornecedora da balança eletrônica. Atualmente, toda a gestão contábil
da propriedade é realizada em uma empresa da família, porém, com a implantação da rotina
administrativa, essas funções passarão a ser gerenciadas na própria propriedade, exigindo a
contratação de recursos humanos qualificados.
Assim como nos grupos ‘inovadores’ e ‘adotantes adiantados’, em um dos
casos analisados não houve parceria com as empresas fornecedoras de TI. O fato do fabricante
apoiar e treinar o potencial cliente, informando como operar o equipamento representa um
fator de diferenciação. Outro ponto positivo seria o próprio fornecedor apresentar produtos de
empresas parceiras que complementam o desempenho do equipamento comercializado,
mostrando os benefícios e os possíveis resultados alcançados.
O cenário existente na época da adoção da TI não era favorável à adoção de
tecnologias nos dois casos. Uma análise mais rápida da situação permitiu observar que uma
das propriedades não reconhece a influência do ambiente nas tomadas de decisão do negócio.
O motivo é a insegurança em relação à produtividade, em virtude de haver freqüentes
invasões de terras na região. Nessas condições, a implementação de tecnologias com objetivos
de manter a produtividade, evitando riscos decorrentes dos movimentos sociais, apresenta-se
como fator amplamente favorável.
Essa questão é reforçada pela Instrução Normativa nº 11, de 04 de abril de
2003, editada pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA),
estabelecendo novos índices de lotação pecuária, para apuração do Grau de Eficiência na
Exploração (GEE) e Grau de Utilização da Terra (GUT), utilizados para verificar a
produtividade do imóvel rural e como critérios para desapropriação
11
, que aumenta a
preocupação da propriedade em atingir essas metas.
No outro caso, o cenário não foi favorável, em razão das constantes mudanças
nas legislações e do excesso de burocracia. Apesar disso, o SISBOV teve um papel
importante para aqueles produtores que não realizavam um controle adequado da atividade,
levando-os a buscar alternativas para continuar no mercado.
11
CONFEDERAÇÃO DA AGRICULTURA E PECUÁRIA DO BRASIL. Contribuição Sindical Rural - 2005.
Coletânea Estudos Gleba. Brasília: CNA, 2005, n.32, 60p. Disponível em: http://www.cna.org.br/cna/publicacao/
down_anexo.wsp?tmp.arquivo=E22_562cna_contribuicao_sindical_errata_pags18e58.pdf. Acesso em: 20 jan. 2007.
143
Comparando a qualificação, o aporte financeiro e a postura tecnológica em
relação a outros produtores do mesmo porte, as duas propriedades se consideram à frente das
demais, mesmo estando uma delas no início do processo de adoção da TI. Apesar de na região
existirem grandes pecuaristas adotando uma estrutura profissional, a realidade observada é de
um menor controle da atividade.
A questão da disponibilidade de recursos financeiros pode ser discutida sob a
ótica de ter ou não outra fonte de renda. O proprietário que vive da atividade parece estar mais
atrasado em relação ao produtor que possui outra atividade e não depende da renda gerada no
campo, enquanto os produtores que têm atividade paralela parecem estar à frente dos que
vivem exclusivamente da renda do campo.
5.4.1.4 Maioria atrasada
As propriedades do grupo ‘maioria atrasada’ apresentaram um grau de
inovatividade com score total entre 47 e 58 pontos. Um dos produtores acreditava que, ao
adotar a TI, poderia facilitar o processo administrativo em todos os níveis. Porém, em razão
do fato dos funcionários não conseguirem acompanhar, foram abandonados alguns projetos
ainda no início de sua implantação, reduzindo o uso da TI.
Atualmente, a propriedade não possui balança eletrônica, nem software de
gerenciamento da produção, fato que, somado a uma diminuição de aproximadamente 70% da
área destinada à pecuária, provocou uma forte redução nos investimentos e na adoção de
novas tecnologias.
Para resolver essa situação, o proprietário tem investido em treinamento para os
funcionários mais adaptados a lidar com a tecnologia, demitindo os demais, situação de quase 50% do
quadro inicial. As novas contratações privilegiam pessoas mais capacitadas.
Os obstáculos relacionados à seleção, implantação, uso e manutenção da TI,
relatados por FREITAS e RECH (2003) foram observados em alguns casos pesquisados. Em um
deles, pertencente ao grupo ‘maioria adiantada’, ocorreram problemas durante a seleção da TI,
enquanto no grupo ‘maioria atrasada’ a descontinuidade da TI deu-se durante o processo de
implantação. Assim como o relatado pelos autores, em algumas propriedades também foram
observadas questões relativas ao treinamento e ao custo de implantação, para alguns casos de não-
efetivação da adoção.
Embora tenha descontinuado a adoção de algumas TI, o proprietário acredita
que a busca por um software mais adequado à produção não representa uma dificuldade e que
144
a adaptação ao uso é um processo gradual de aprendizado. Por isso, ainda pretende implantar
um sistema para o gerenciamento da pecuária de corte.
Considerando que a adaptação vem com o aprendizado, tem-se buscado
maneiras mais simples de realizar a tarefa de anotar os dados de produção, permitindo ao
funcionário executá-la. Atualmente, é realizada uma adequação das anotações para alimentar
o sistema de informação, cujo objetivo é familiarizar o funcionário com a nova rotina de
coleta de dados, para posteriormente explorar mais suas possíveis habilidades.
O outro caso inclui três unidades de produção, sendo duas no estado de São
Paulo e uma no Pará. O início da informatização deu-se com o controle das unidades por meio
de planilhas em Excel
®
e, posteriormente, por meio de softwares específicos, devido a entrada
em um Programa de Melhoramento Genético e do software da Associação de Criadores, para
registro dos animais. Trabalhar com mais de um
software para a mesma atividade exige mais
do funcionário, porém o uso de um único sistema não é viável, uma vez que os
softwares de
Associações não foram desenvolvidos para gerenciar outras raças ou cruzamento industrial.
Por conta das várias unidades de produção, as informações são centralizadas na
unidade onde reside o proprietário. Os controles das unidades são independentes e o uso de
tecnologias e acesso à Internet facilitou a integração entre elas, embora em algumas unidades
o acesso à Internet ainda seja uma barreira, devido ao uso do sistema de telefonia celular
rural, cujo serviço é deficitário e dificulta a transferência de informações.
A propriedade chegou a fazer testes com um sistema de identificação
eletrônica. Embora os resultados tenham sido satisfatórios, o sistema não foi implantado por
ser uma tecnologia muito recente. Trata-se de uma tecnologia muito interessante por facilitar
a coleta e armazenamento de dados, sem a interferência do homem, eliminando os erros de
coleta quando anotado a mão.
Os adiamentos observados nesse caso e no grupo ‘atrasados’ simbolizam
atitudes cautelosas em relação à adoção de sistemas de identificação eletrônica de animais,
situação relacionada por ENGEL, BLACKWELL e MINIARD (2000) à incerteza em não poder
prever as conseqüências ou resultados das decisões de compra. Segundo esses autores, as
dimensões da incerteza constituem a base do risco percebido pelo consumidor e, quanto maior
esse risco, maior a probabilidade de adiar a compra ou estender a decisão.
A experiência de um dos casos com treinamento on-line se resume ao proprietário
ter cursado uma especialização on-line, com carga horária de aproximadamente 300 horas, durante
18 meses. Nesse período, ocorreram cinco encontros presenciais e a experiência foi válida como
alternativa de treinamento.
145
O proprietário, que pertence à diretoria da FAEP, acredita que a Federação não
deve ter como atribuição o treinamento dos produtores rurais, cujo responsável é o Serviço
Nacional de Aprendizagem Rural (SENAR), que já vem realizando ações nesse sentido, com
eventos de 40 horas até 360 horas.
Apesar do treinamento on-line ser uma tendência, na prática, é pouco
explorado no ambiente rural. Além disso, observa-se que o acesso é restrito a uma minoria de
produtores. Dentre os motivos, destacam-se o baixo índice de usuários de Internet no meio
rural, a falta de tempo e o comprometimento com outra atividade além da pecuária, dificultam
uma exploração maior desse recurso.
O proprietário não participa de grupos de discussão pela Internet por falta de
tempo, mas teve uma experiência na época do curso on-line. Já comprou animais pela
Internet, pela forma simplificada de comercialização quando se utiliza dados históricos de
genealogia e dos vendedores, conhecimento dos padrões raciais e características dos animais.
Entretanto, a importância dos leilões presenciais ainda é expressiva, onde é possível conhecer
linhagens e produtores, dando suporte para as compras eletrônicas.
No outro caso, foi relatada a compra de animais pela televisão, principalmente
os de elite. A experiência foi satisfatória, mas ressalta-se que a questão principal é conhecer a
origem do animal e, de preferência, o manejo realizado.
Apesar de apresentar características mais otimistas e inovativas, e menos
desconfiada e insegura, o proprietário ainda não participou de grupos de discussão, embora
leia artigos e cartas disponíveis em portais ligados à área. Também não participou de
treinamentos pela Internet, pois apesar de ser viável, é preciso disciplina para que
compromissos de última hora não inviabilizem o treinamento. A propriedade não possui site
para divulgação dos animais e do Programa de Melhoramento Genético desenvolvido, porém
pretende utilizá-lo, por se tratar de uma tendência do setor.
O maior motivador para a adoção da TI em um dos casos, foi a esposa do
proprietário, pois ele apresentava certa restrição com relação ao computador. Entretanto, a
partir da interação maior com a Internet no curso de especialização, foi preciso utilizar a
ferramenta, aprofundar o conhecimento acerca da informática e, como resultado, aprendeu a
utilizar a planilha Excel
®
e a trabalhar com controle de custos.
Uma das propriedades é membro de uma Associação de Criadores da Raça e o
proprietário acredita que o papel da entidade acaba influenciando na adoção de tecnologias.
Ele utiliza o
software da Associação para o registro dos animais, porém não faz as
comunicações à mesma de forma eletrônica, argumentando que, quando o documento é
146
preenchido e enviado, o produtor fica com uma cópia, permitindo um controle maior. Após o
registro na entidade, é informado ao produtor por e-mail, do sucesso do evento. A cópia do
registro, arquivada na propriedade, possibilita o rastreamento de comunicações erradas e a
conferência do documento enviado com as anotações de campo do funcionário.
A outra propriedade participa de duas Associações de Criadores, sendo que uma
influenciou a adoção de TI por, de certo modo, impor o uso de sistema próprio. Normalmente, a
Associação recomenda o uso de sêmen e touros, ou seja, recomendações mais técnicas do que de
mercado ou de gestão. Recomenda-se que as entidades tenham uma atuação mais pró-ativa em
relação às TI, testando e recomendando as melhores opções aos produtores.
O envolvimento de funcionários com a adoção de TI foi diferente nos dois casos.
Em um deles, na época da adoção do computador e do software administrativo, um funcionário
participou do processo, por meio de um treinamento de custos e administração e atualmente
exerce a função de assistente administrativo, buscando dados, catalogando-os e alimentando a
planilha para que os resultados possam ser analisados. No outro caso, não houve envolvimento
de funcionários no processo de adoção, ficando a cargo apenas do proprietário.
Não houve parcerias na adoção da TI em nenhuma das propriedades e, em razão
disso, o auxílio do suporte técnico foi fundamental em um dos casos, pois o sistema apresentou
problemas de incompatibilidade e no uso de funções. Geralmente, tais dificuldades ocorrem
devido ao desconhecimento das características da atividade pecuária por quem desenvolve o
software e, por isso, o pecuarista assume um papel muito importante na atualização de versões.
As operações de uma das propriedades são comandadas em um escritório, mesmo
antes da adoção da TI. Após a adoção, o que ocorreu foi a contratação de funcionários específicos para
lidar com os equipamentos e alimentar o sistema, pois os dados coletados aumentaram nesse período.
O suporte técnico, utilizado com baixa freqüência, foi avaliado como regular, pela
demora em apresentar a solução e, no caso do desenvolvimento do sistema próprio, em atender as
necessidades do proprietário. A questão do software representa um problema para todo o segmento,
pois são muitas as necessidades específicas dos pecuaristas. Como é necessário padronizar o sistema
para venda em escala comercial, torna-se inviável o atendimento a todos os requisitos.
No momento da adoção das tecnologias, o cenário era favorável para as duas
propriedades. Em uma delas, a necessidade do controle do rebanho influenciou a decisão de
adotar a TI. Essas influências resultam de um conjunto de fatores, como legislação, política
governamental e exigências de mercado, não sendo possível analisá-las isoladamente.
147
No passado, não havia estímulos para a adoção de tecnologias, porém, essa
situação mudou. No estado do Paraná, a inscrição no SISBOV proporciona vantagens na obtenção
de crédito, levando o produtor a buscar novas tecnologias para obter esse benefício.
Na outra propriedade, o SISBOV aumentou o rigor no controle do rebanho.
Mesmo assim, muitos animais têm sido comercializados para frigoríficos que não compram
animais rastreados, em razão do mercado não exigir um controle mais rigoroso dos animais.
Apesar dessa constatação, todo o rebanho é rastreado por decisão própria, pois a partir do
início do registro da movimentação dos animais, é mais difícil interromper o processo.
5.4.1.5 Atrasados
Os produtores classificados como ‘atrasados’ apresentaram um grau de
inovatividade com
score total entre 30 e 46 pontos. Um dos casos possui duas atividades
comerciais, a pecuária e um criatório de eqüinos, iniciado recentemente. A pecuária vem
perdendo espaço para a criação de eqüinos, que conta com uma estrutura mais avançada, com
práticas de transferência de embrião, aparelhagem necessária e baias fechadas.
O reduzido tamanho da propriedade é o principal fator de restrição à atividade
pecuária, que deverá ser retomada a partir da criação de animais com alto padrão genético e a
aplicação de tecnologias e técnicas apuradas, uma vez que o alto custo da terra na região
inviabiliza o aumento da área disponível para a pecuária de corte.
A propriedade possui computador, balança eletrônica e
software de gerenciamento,
criado pela empresa da qual o proprietário é sócio. O sistema é simples e contempla o
acompanhamento de peso, nascimentos e coberturas, sendo utilizado nas duas atividades.
A criação de eqüinos iniciou a implantação de um sistema de identificação eletrônica
com microchip para atender a exigência dos muitos dados solicitados pela Associação. Essa opção
pelo
microchip é uma decisão própria, para evitar uma marcação excessiva nos animais.
A aquisição de animais em leilões pela televisão foi uma experiência negativa,
devido a falta de informações e inexperiência com a atividade. A adesão a uma Associação de
Criadores foi muito importante para suprir as deficiências iniciais, permitindo ao proprietário a
aquisição de um segundo lote, com uma visão mais técnica e de forma facilitada. O leilão pela
televisão é uma forma de aquisição interessante que permite o parcelamento da compra e diminui
o capital imobilizado. O processo de aquisição é facilitado pelo conhecimento prévio do animal.
O proprietário não utiliza a Internet para discussão em grupos ou realização de
treinamentos, ressaltando a preferência pelo contato pessoal, onde é possível interagir com outros
criadores, discutir assuntos, comprar e vender animais. A expectativa inicial com o computador, o
148
software e a utilização da balança eletrônica, teve como aspecto motivador um controle mais
técnico e apurado da atividade, acompanhamento dos custos e evolução genética do rebanho.
O fato do proprietário ter outro negócio, distante aproximadamente 350 km da
propriedade, tem diminuído a dedicação em relação à atividade, tornando-o mais cauteloso
em relação à realização de investimentos maiores. Nesse sentido, algumas iniciativas foram
adiadas, como por exemplo, o desenvolvimento de um site para promoção dos animais.
Nesse caso, além da limitação pelo tempo, o acesso à Internet na região é
deficiente, por falta de infra-estrutura de telecomunicação, embora esteja localizado a 20 km
de uma grande cidade. Na tentativa de eliminar esse problema, pretende-se testar a Internet
via celular, instalando uma placa no computador da propriedade.
A equipe de funcionários é composta por duas famílias, que dividem as
responsabilidades entre cuidar dos eqüinos e dos bovinos. Na propriedade há um computador
sem acesso à Internet, operado pelo administrador, que realiza todo o acompanhamento das
atividades. Esses funcionários trocam informações sobre as atividades executadas e, na
ausência de um, o outro assume as responsabilidades.
O outro caso apresenta características mais atrasada em termos de TI. São três
propriedades localizadas no Mato Grosso, duas das quais ao norte do estado, região com
problemas de infra-estrutura e mão-de-obra. A infra-estrutura também foi descrita por
FORTES (2004) como responsável pela baixa utilização de softwares pelas propriedades, ao
dificultar o uso de computadores em locais afastados, sendo necessário o uso de geradores.
Os problemas de infra-estrutura resultam na ausência de computador nas três
unidades de produção, duas delas devido à falta energia elétrica na região. Mesmo utilizando
geradores, essas unidades só possuem balança mecânica. Com isso, as práticas de
gerenciamento utilizando TI são realizadas na sede da empresa onde trabalha o administrador
das propriedades, pertencente ao proprietário das terras. Embora ainda não tenha participado
de grupos de discussão ou treinamentos pela Internet, o administrador também pretende
utilizar a infra-estrutura da empresa para essa finalidade.
Mesmo com a instalação de computadores, por ocasião da disponibilidade de
energia elétrica, o isolamento das unidades de produção deve continuar devido a problemas de
acesso à Internet. Atualmente, as informações acerca do setor pecuário são trazidas para a
empresa a cada visita do administrador ou do proprietário às unidades de produção. Essas
informações são repassadas a uma empresa de consultoria, que alimenta o sistema e retorna ao
administrador, situação em que são discutidas questões sobre a atividade e melhorias no
software, ainda em etapa de desenvolvimento.
149
A pesquisa verificou que é grande a utilização de aplicativos genéricos em relação
aos específicos, na tomada de decisões das propriedades rurais, situação observada também por
PUTLER e ZILBERMAN (1989) por ocasião do barateamento de microcomputadores nos EUA,
por MACHADO (2002) em um estudo realizado com pecuaristas que haviam implantado
sistemas de identificação eletrônica de animais na gestão de empreendimentos rurais, e por
CÓCARO e LOPES (2004), que verificou o maior desenvolvimento de programas informatizados
para o processo produtivo do que para a gestão da propriedade.
As expectativas em relação à adoção da TI no gerenciamento da propriedade são
grandes e, embora o período de implantação ainda seja curto, os resultados têm sido positivos, pois
mesmo com o software em desenvolvimento, já é possível realizar planejamento das atividades.
A contratação da empresa de consultoria para informatizar a atividade partiu de
uma decisão conjunta do proprietário e do administrador, enquanto aguardam a chegada da
energia elétrica para implantar computadores nas unidades.
As duas propriedades possuem visões diferentes em relação à influência das
Associações da qual fazem parte sobre a adoção da TI. Em um dos casos, as Associações não
tiveram participação ativa na escolha das tecnologias mais adequadas, postura considerada
prejudicial aos associados.
No outro caso, observou-se a participação em três Associações, duas de
criadores da raça e outra de pecuaristas do norte mato-grossense. Os motivos da filiação a
essas entidades foram o registro dos animais, o controle zootécnico e exposições de animais.
Nesse caso, o papel de influenciadora na adoção da TI foi verificado pelo incentivo ao uso do
sistema próprio de gerenciamento e estímulo ao envio de dados por meio eletrônico, com
descontos nas comunicações on-line de registro dos animais da raça. Apesar desse benefício,
os registros dos animais da propriedade ainda não enviados pela Internet.
Além dos animais da raça, que utilizam o sistema de gerenciamento da
entidade, o rebanho comercial inserido no SISBOV é assessorado pela empresa prestadora do
serviço de certificação, responsável por controlar os animais rastreados em software próprio.
Devido ao SISBOV, os funcionários das unidades de produção têm a
responsabilidade de coletar os dados dos animais destinados ao abate e separar a
documentação necessária. Esse processo é realizado manualmente, sendo os dados dos
animais anotados no curral e repassados ao administrador nas ocasiões de visita à
propriedade, para que seja possível separar o DIA, armazenado em um escritório que presta
serviços à propriedade, localizado em município próximo.
150
Apesar de uma das unidades de produção possuir balança eletrônica, os dados
são coletados manualmente e trazidos pelo administrador, pois o computador ainda não esta
implantado na propriedade. O administrador relatou não ter pretensão de realizar esses
investimentos em um curto prazo, pelo alto custo de implantação. Na verdade, o motivo é que
as unidades de produção maiores são as mais distantes e com problemas de infra-estrutura e a
menor não comporta um computador.
Nos dois casos não foram verificadas parcerias com fornecedores de
tecnologia, embora reconhecida a importância desse tipo de parceria, por facilitar a adoção da
TI. Foi ressaltado que na região é difícil encontrar representantes que vão até a propriedade
difundir novas tecnologias, ficando sob responsabilidade do proprietário ‘garimpar’ as
informações, quando necessário, uma vez que não há material técnico para consulta. A outra
propriedade destacou como parceria, a participação da firma de consultoria no processo de
implantação da TI, auxiliando no desenvolvimento do programa que está sendo implantado.
A organização da propriedade, em um dos casos, não configura uma divisão
formal – áreas administrativa e produção –, embora se procure implantar uma visão
empresarial no negócio. O problema da mão-de-obra muitas vezes não qualificada é
contornado com o aprendizado que o proprietário adquiriu na indústria, transferindo-o para o
negócio. Dentre eles, incluem-se o uso adequado de Equipamentos de Proteção Individual
(EPI) como luvas, óculos, protetor auricular e botas, entre outros, instruções de
comportamento ao receber visitas e traje, orientando sobre o local que o cliente, futuro cliente
ou apenas visitante, deve ser conduzido para demonstrações de animais.
Também foi observado um cuidado com o lixo, desenvolvendo-se a prática e a
necessidade da reciclagem. Por se tratar de uma propriedade pequena, essas ações visam educar os
funcionários, criando uma nova cultura, por meio de material didático e informações necessárias
levadas da indústria para divulgação entre os funcionários.
Outro ponto positivo no processo de valorização dos recursos humanos inclui o
estabelecimento de contratos com os funcionários que, em troca da moradia gratuita, se
comprometem a zelar pelo patrimônio e não alterar as características do imóvel. Essas
medidas servem para conservar o ambiente, uma vez que a propriedade também se destina ao
lazer. Também existem normas a serem cumpridas quanto ao uso de armas de fogo, consumo
de bebidas alcoólicas e utilização de fogos de artifício.
O software utilizado na propriedade não necessita de suporte técnico, por ser
de comandos simplificados. Entretanto, o proprietário pretende adquirir um software
profissional com o respaldo da Associação, na escolha do melhor sistema. No outro caso,
151
também não foi verificada a necessidade de suporte técnico para software e computadores,
pois a empresa de consultoria e a propriedade estão tendo contatos freqüentes durante esse
período, incluindo o processo de implantação da TI.
Com relação ao cenário na época da adoção da TI, a visão do proprietário de um
dos casos é que questões econômicas e políticas dificultaram a implantação de tecnologias. O
custo elevado de algumas tecnologias, aliado às dificuldades de acesso ao crédito foram os
motivos que levaram o produtor a desistir de iniciar uma terceira atividade na propriedade.
Observou-se também a influência do mercado na adoção de tecnologia à medida que passa a
exigir animais de maior qualidade, com um padrão genético superior.
No outro caso, a visão do cenário foi de favorecimento à adoção da TI, tanto por
parte da Associação, que valoriza o envio dos dados eletrônicos, quanto pela rastreabilidade, que
requer maior controle dos manejos realizados dentro das propriedades e entre elas.
Com relação à postura tecnológica e a disponibilidade de recursos financeiros
em relação aos outros produtores da região, uma das propriedades se vê em uma posição mais
confortável. Os produtores da região não se unem para conquistar ou construir melhorias e
apresentam uma postura omissa em relação à adoção de tecnologias. Por essa razão, a
proposta de criação de uma pequena associação ou cooperativa não prosperou, provocando
um atraso tecnológico da região em relação a outras do estado.
No outro caso, a posição em relação às propriedades da região é semelhante,
quanto à qualificação dos funcionários e a postura tecnológica, uma vez que não existe mão-
de-obra qualificada, nem incentivos à adoção de tecnologias. Do ponto de vista da infra-
estrutura, há propriedades em situações mais críticas, sem telefone e energia.
Nessa região, apesar da pecuária ser explorada há mais de 15 anos, as propriedades
são distantes entre si e de difícil acesso. Recentemente essa situação vem melhorando, mas o produtor
rural precisa se adaptar às condições menos favoráveis, como por exemplo, o telefone à bateria.
5.4.2 Processo de adoção
Nesse item são discutidos os investimentos realizados em infra-estrutura, a prática
de testes preliminares, a percepção do uso das tecnologias adotadas e a situação atual das
propriedades em relação ao uso da TI. O processo de adoção de TI está sintetizado no Quadro 5.2.
152
QUADRO 5.2 – Processo de adoção.
Investimentos em infra-estrutura
Inovadores Adotantes adiantados Maioria adiantada Maioria atrasada Atrasados
Caso 1 Caso 2 Caso 3 Caso 4 Caso 5 Caso 6 Caso 7 Caso 8 Caso 9 Caso 10
Investimentos em recursos
físicos e de pessoal
Não houve Não houve Sim Sim
Energia elétrica e
cursos
Não houve
Cursos e
treinamentos
Cursos e
treinamentos
Não houve Não houve
Teste da tecnologia adotada
Teste da tecnologia, antes
de difundir seu uso
Não houve Não houve Sim Sim Não houve Não houve Sim Sim Sim Não houve
Resultados parciais
Vantagens que levam a
adotar a TI
Velocidade na
obtenção das
informações
Tempo de execução
das tarefas e precisão
da coleta de dados e
tomada de decisão
Enxergar a atividade
como um todo,
planejamento e a
tomada de decisão
Dependência em relação
a TI, facilidade no
gerenciamento e na
comunicação interna e
externa
Controle mais rígido e
confiável dos dados e
tomada de decisão
mais rápida
Profissionalização da
atividade, com coleta
de dados apurada
Controle
administrativo e
coleta de dados
Coleta de dados
e tomada de
decisão
Planejamento das
atividades
Planejamento
das atividades
Situação atual
Nível de satisfação com
fontes de informação
Técnicas:
satisfatório
Mercado:
Insatisfatório
Técnicas: satisfatório
Mercado: satisfatório
Técnicas: satisfatório
Mercado: satisfatório
Técnicas: satisfatório
Mercado: insatisfatório
Técnicas: satisfatório
Mercado: satisfatório
Técnicas: satisfatório
Mercado: insatisfatório
Técnicas:
satisfatório
Mercado:
satisfatório
Técnicas:
satisfatório
Mercado:
satisfatório
Técnicas:
satisfatório
Mercado:
insatisfatório
Técnicas:
satisfatório
Mercado:
insatisfatório
Freqüência de uso da
informática
Constante Constante Constante Constante Constante Constante Constante Constante Média Baixa
Troca informações com
outros produtores
Freqüência
média
Freqüência baixa Freqüência média Freqüência alta Freqüência alta Freqüência baixa Freqüência alta Freqüência baixa Freqüência baixa Freqüência alta
Tipo de informação trocada Apenas técnicas
Técnicas e de
mercado
Técnicas com maior
freqüência
Técnicas e de mercado
Principalmente de
mercado
Técnicas e de mercado
Técnicas, de
mercado,
administrativas
Técnicas e de
mercado
Técnicas, de
mercado e
administrativas
Técnicas e de
mercado
Meios de comunicação
utilizados
Telefone,
Internet e
contato pessoal
Telefone, Internet e
contato pessoal
Telefone, e-mail,
Skype, MSN e
contato pessoal
Telefone, e-mail e
contato pessoal
Contato pessoal
Telefone e contato
pessoal
Contato pessoal
Telefone e
conversa pessoal
Telefone, e-mail e
contato pessoal
Telefone e
contato pessoal
Situação que ocorre troca
Eventos e
visitas
(em menor
quantidade)
Eventos, feiras, dias
de campo, visitas e
treinamentos
Treinamento e dias
de campo
Eventos, feiras, dias de
campo e visitas
Eventos sociais,
treinamentos, feiras,
leilões e atividades de
lazer
Feiras, eventos, dias de
campo
Reuniões,
conversas
informais,
treinamentos e
eventos
Dias de campo,
visitas a
empresas,
treinamentos
Dias de campo,
feiras e visitas
Eventos, feiras,
dias de campo,
visitas
Participação atual da TI nas
atividades
Alta Alta Alta Alta Alta Alta Alta Alta Média Baixa
Desempenho atual em
comparação com
expectativas à época da
adoção
Igual Superior Superior Superior Superior Igual Igual Superior Superior Superior
153
5.4.2.1 Inovadores
O investimento em infra-estrutura de TI em uma das propriedades foi dividido
em duas partes. Na primeira, incluem-se computadores, software e balança eletrônica,
totalizando aproximadamente R$ 9.000,00. Na segunda, Internet, TV por satélite e telefonia
celular, totalizando aproximadamente R$ 1.500,00 mensais. O controle do SISBOV também é
considerado como investimentos em TI e o custo depende da quantidade de animais
rastreados. Atualmente, é de aproximadamente R$ 8.000,00 / mês.
A Internet é acessada via satélite na maioria das propriedades da região, uma vez
que o tamanho das propriedades inviabiliza a instalação de antenas para atender tão poucos clientes.
Entretanto, o acesso via satélite possui um custo elevado e restringe o número de usuários.
Esses resultados sugerem concordância com SILVA (1995) sobre a
importância de uma intervenção do Estado na formulação e implementação de uma política de
difusão de TI para o campo, de forma a garantir o acesso aos pequenos e médios produtores,
que não tem suas propriedades organizadas em moldes empresariais modernos. Segundo o
autor, as novas TI demandam investimentos em infra-estrutura de telecomunicações –
telefonia, rádio, satélites etc. – de forma a assegurar a democratização do uso das novas
tecnologias.
No outro caso, os investimentos realizados foram de aproximadamente R$
8.000,00, incluindo computador, software e balança eletrônica. A Internet, TV por satélite e
telefonia celular, consumiram cerca de R$ 250,00 mensais.
A adoção de tecnologias na atividade pecuária tem causado um impacto positivo
significativo nos recursos humanos, principalmente no que diz respeito a sua qualificação, indicando
um aumento na preocupação com o grau de instrução, segurança e bem estar dos funcionários. O
administrador, embora procure investir nesse setor, encontra resistência por parte do proprietário. Por
esse motivo, os investimentos realizados na ocasião da informatização e da pesagem eletrônica
contemplaram apenas a infra-estrutura.
O gerenciamento das unidades de produção utiliza um único software que se
encontra sob a responsabilidade do administrador, enquanto o controle de pessoal é realizado
por um escritório, localizado no Paraná.
Durante o processo de adoção, as propriedades não realizaram testes preliminares,
possivelmente porque as tecnologias utilizadas são comuns no meio urbano e conhecidas da
maioria dos usuários. Embora a inexistência de testes preliminares não tenha se constituído uma
barreira, essa prática é vista pelos produtores e administradores como de grande importância para
auxiliar na tomada de decisão sobre a adoção de determinada tecnologia.
154
As percepções das vantagens em adotar TI são semelhantes nos dois casos,
com destaque para a velocidade de obtenção de informação e economia de tempo e precisão
dos dados. A partir daí, a tomada de decisão, as respostas ao mercado e a realização de
investimentos são conseqüências da melhoria observada. Em um dos casos, o tempo no
manejo e pesagem dos animais foi reduzido em mais de uma hora, e os dados mais precisos
possibilitam a tomada de decisão mais adequada e no local do manejo.
Com o auxílio da TI, as propriedades passaram a controlar com mais freqüência as
cotações de preços, a contabilidade do negócio e as informações de mercado. No setor de produção,
os dados controlados referem-se à reprodução, ganho de peso e controle reprodutivo, do nascimento
ao abate. No caso em que a propriedade participa do Programa de Melhoramento Genético, o
controle das informações de produção é mais apurado, como peso individual, avaliação corporal e
identificação dos bezerros com tatuagem do número da mãe na orelha, entre outros.
O maior contato dos administradores com informações técnicas e de mercado nas
mais diversas fontes não garante o sucesso da atividade. Em muitos casos, as informações
disponíveis não são satisfatórias para o atendimento das necessidades específicas da propriedade e
do administrador. Nesse sentido, foi verificado o grau de satisfação do grupo ‘inovadores’ em
relação às principais fontes de informação técnicas e de mercado. O Quadro 5.3 apresenta esses
dados, em uma escala de satisfação variando de insatisfeito até muito satisfeito.
QUADRO 5.3 – Grau de satisfação do grupo ‘inovadores’ com as fontes de informação
técnicas e de mercado.
Caso 1 Caso 2
Fontes de informação
Técnicas (manejo)
Econômicas
(mercado)
Técnicas (manejo)
Econômicas
(mercado)
Televisão Pouco satisfeito Insatisfeito Satisfeito Satisfeito
Internet Satisfeito Insatisfeito Pouco Satisfeito Bastante Satisfeito
Assistência técnica -- -- -- --
Revistas especializadas Pouco Satisfeito Insatisfeito Pouco Satisfeito Satisfeito
Instituição de pesquisa Satisfeito Insatisfeito Satisfeito --
Universidade Satisfeito Insatisfeito -- Pouco satisfeito
Associação de criadores Satisfeito Insatisfeito -- --
Técnicos autônomos -- -- -- --
Indústria -- -- -- --
155
Pode-se observar que o nível de satisfação entre as propriedades foi bastante
diferente. Concorrem para ampliar ou diminuir essa diferença características individuais de
cada um, a partir do grau de exigência do tomador de decisão, do nível de conhecimento em
relação à atividade, da formação profissional e posição ocupada dentro da propriedade.
Em um dos casos, o grau de satisfação com as fontes atuais de informação é
baixo. O administrador mostrou-se insatisfeito, principalmente com as fontes de informação
de mercado, por considerar que esse tipo de informação, quando veiculada estão
desatualizadas, na maioria das vezes, por depender de edição das matérias e periodicidade das
publicações. Esse argumento permite considerar que o administrador leva em consideração
apenas cotações, como informações de mercado, uma vez que tendências, cenários e
exigências do mercado não perecem tão rapidamente.
O nível de confiança na fonte de informação, seja técnica ou de mercado, é
outro fator que deve ser considerado no momento da análise das mesmas. Nesse caso, foi
verificado que as informações técnicas disponibilizadas por uma unidade da Embrapa, é muito
utilizada por um dos administradores, pela proximidade do Centro de Pesquisa em Gado de
Corte, possivelmente uma vantagem para todos os pecuaristas do Mato Grosso do Sul, onde
está localizado a Unidade de Pesquisa.
A rede de relacionamentos pessoal é outro fator a ser destacado, podendo
potencializar ou não os resultados das tomadas de decisão do administrador. Com a adoção da
TI nas propriedades, a troca de informações é facilitada, uma vez que não existe a barreira da
distância. Os dois casos mostraram que a freqüência de troca informações com outros
produtores não foi afetada pela adoção da TI.
Em um deles, são trocadas apenas informações técnicas entre os responsáveis
pelas atividades. O administrador alega que as informações de mercado, quando trocadas com
outros produtores ou técnicos podem não ser confiáveis, por motivos estratégicos. Apesar dessa
desconfiança, os técnicos não são considerados concorrentes, e sim parceiros.
O meio de comunicação mais utilizado para essa troca de informações é o
telefone, seguido pela Internet. Também ocorrem trocas de informações em eventos, feiras,
dias de campo e treinamentos, mas em menor quantidade. Visitas a outros produtores e a
empresas para conhecer as práticas adotadas são raras, principalmente pela sensação de que as
visitas são mais comerciais do que técnicas.
A informática tem um papel de destaque na gestão das duas propriedades,
sendo utilizada em todas as operações, por melhorar o controle e a tomada de decisão. Mesmo
com todas as TI adotadas, a questão da infra-estrutura de telecomunicação continua sendo um
156
obstáculo, devido a única opção de acesso à Internet. Essa situação ocorre porque as empresas
preferem não disponibilizar seus serviços em áreas com baixa concentração de clientes, como
ocorre no Pantanal, região em que as propriedades distam 20 km, no mínimo, umas da outras.
Embora de caráter fundamental para a adoção da TI nas propriedades, o
problema de infra-estrutura de telecomunicações observado nos casos apresentados é
percebido por proprietários e administradores rurais da mesma forma que o apresentado no
estudo de HOLLIFIELD e DONNERMEYER (2003), em que os investimentos em infra-
estrutura da informação não são economicamente viáveis em regiões de baixa densidade
populacional, como no caso das áreas rurais.
O desempenho atual da TI em comparação com as expectativas à época da
adoção teve impactos diferentes nos dois casos. Em um deles, as expectativas iniciais foram
frustradas, uma vez que a deficiência na coleta dos dados não permitiu alimentar o
software
adequadamente. Nesse caso, o problema é anterior à adoção da TI e está relacionado ao grau
de instrução e treinamento adequado dos funcionários que lidam com as atividades de
produção. Para contornar essa situação, em alguns casos seriam necessários treinamento e
alfabetização ou optar pela utilização de tecnologias que não dependam da alfabetização do
funcionário, como em alguns casos de dispositivos eletrônicos.
Na outra propriedade, o desempenho da TI em comparação com as expectativas
iniciais foi considerado superior. O sucesso deve-se ao perfil do administrador, que se considera
inovador e atento às evoluções da tecnologia do setor. Mesmo quando a tecnologia não funciona
adequadamente, busca identificar o problema, evitando descontinuar a adoção.
5.4.2.2 Adotantes adiantados
O investimento em infra-estrutura em uma das propriedades foi de
aproximadamente R$ 12 mil em computadores, impressora, scanner, copiadora, software,
balança eletrônica, antena e decodificador. O
software da Associação teve um custo único na
aquisição; a manutenção é gratuita, desde que o pecuarista se mantenha associado. A balança
foi adquirida juntamente com a estrutura de pesagem, elevando os investimentos iniciais.
Os demais investimentos, divididos entre Internet, celular da fazenda, telefone
fixo e TV por assinatura somam cerca de R$ 850,00 mensais. Com os planos das operadoras
de telefonia fixa e móvel, somado ao uso de aplicativos como MSN
®
e Skype
®
, os custos com
telefone foram reduzidos em 60%.
No outro caso, o investimento em infra-estrutura de TI foi significativamente maior,
aproximadamente R$ 200 mil. A diferença no investimento se deve principalmente à aquisição de
157
uma balança rodoviária e à construção de algumas instalações, além de softwares, computadores,
balança eletrônica, GPS e Internet. Esta última, anteriormente com acesso via satélite por falta de
outra opção, foi substituída recentemente pelo acesso via rádio, mais econômica e eficiente. Os
investimentos em recursos humanos em um dos casos visaram a contratação de pessoal
especializado em algumas áreas para liderarem equipes, enquanto na outra propriedade, se
concentraram em cursos, melhoria das moradias e educação.
Foi observada a prática de testes preliminares à adoção do software da Associação,
durante 6 meses que precederam a implantação definitiva, visando uma adequação dos processos ao
funcionamento do sistema. Essa experiência resultou na quebra da resistência inicial, sendo útil para
a tomada de decisão, ao permitir o prévio conhecimento e maior confiança no sistema.
Na outra propriedade, o teste preliminar de inovações no campo ou na área
gerencial é uma prática comum, uma vez que facilita a adoção de qualquer tecnologia.
Ressalta-se que, embora essa prática facilite o processo de adoção, não elimina totalmente a
possibilidade de erro na escolha da tecnologia.
Observou-se que a adoção de tecnologia possibilitou o planejamento da
atividade, a melhoria no gerenciamento e na comunicação interna e externa, além da tomada
de decisão com uma visão holística do negócio. Por outro lado, o sentimento de dependência
em relação principalmente à informática também ficou demonstrado.
A reação ambivalente em relação à TI sugere concordância com a coexistência de
sentimentos positivos e negativos, destacada por MICK e FOURNIER (1998), a partir do
entendimento do enfoque paradoxal da tecnologia, onde a mesma pode gerar, além da liberdade,
controle e eficiência, sentimentos de escravização, descontrole e inaptidão. Os resultados da pesquisa
indicaram uma dependência da tecnologia em mais de uma propriedade, como conseqüência da
adoção da TI. Também foi observado o receio da tecnologia se tornar obsoleta rapidamente.
Atualmente, o controle de informações de uma das propriedades contempla
cotações de mercados, dados de contabilidade, inovações tecnológicas disponíveis e tendências
dos mercados nacional e internacional. Em um dos casos, além de controlar as informações
administrativas e de produção, a propriedade possui uma parceira o Centro de Estudos
Avançados em Economia Aplicada (CEPEA), da Esalq, estabelecida por meio de um contrato,
em que fornece dados diários da região para composição dos indicadores oficiais. Em troca, o
administrador recebe um boletim com informações e cotações disponibilizadas apenas para os
índices oficiais. Essas informações, por serem mais detalhadas, possibilitam um maior poder de
barganha nas negociações com frigoríficos e são de uso exclusivo dos parceiros do CEPEA.
158
Evidentemente, o maior poder de barganha dos clientes desagrada a indústria,
devido a uma redução da margem de negociação. Embora possa ser um caso restrito às propriedades
parceiras do CEPEA, outro exemplo de aumento do poder de barganha a partir do investimento em
TI, que influencia diretamente as negociações com a indústria, é o resultado do rendimento de
carcaça. A instalação da balança rodoviária na propriedade permitiu ao administrador conhecer o
rendimento aproximado do lote comercializado, deixando de depender apenas do resultado
informado pelo frigorífico.
Uma outra fonte de informação utilizada como suporte a tomada de decisão na
comercialização dos animais é o Informativo da Associação Brasileira Agropecuária
(ABRAPEC), distribuído apenas para os membros. Nele, constam as escalas dos frigoríficos,
a disponibilidade de compra, preço pago e prazos.
Para uma propriedade desse grupo, a satisfação para com as fontes de informações
foi mais positiva nas áreas técnica e de mercado, quando comparada com o grupo ‘inovadores’.
Isso ocorreu em razão da formação profissional do administrador e a localização da propriedade.
O grau de satisfação das propriedades do grupo ‘adotantes adiantados’ é apresentado no Quadro
5.4, em uma escala de satisfação variando de insatisfeito até muito satisfeito.
QUADRO 5.4 – Grau de satisfação do grupo ‘adotantes adiantados’ com as fontes de
informação técnicas e de mercado.
Caso 3 Caso 4
Fontes de informação
Técnicas (manejo)
Econômicas
(mercado)
Técnicas (manejo)
Econômicas
(mercado)
Televisão Bastante Satisfeito Bastante Satisfeito Satisfeito Insatisfeito
Internet Bastante Satisfeito Bastante Satisfeito Bastante Satisfeito Bastante Satisfeito
Assistência técnica -- -- Satisfeito Satisfeito
Revistas especializadas Satisfeito Satisfeito Satisfeito Satisfeito
Instituição de pesquisa Bastante Satisfeito -- -- --
Universidade Bastante Satisfeito -- Bastante Satisfeito Pouco satisfeito
Associação de criadores Satisfeito Satisfeito Pouco satisfeito Pouco satisfeito
Técnicos autônomos Bastante Satisfeito Bastante Satisfeito Satisfeito Satisfeito
Indústria Satisfeito Satisfeito Satisfeito Satisfeito
O Quadro mostra uma diferença grande entre os casos. Um deles destaca que
os canais de televisão são bons, principalmente com a entrada, recentemente, de um novo
concorrente. A Associação de Criadores fornece informações técnicas e de mercado de
qualidade. O outro caso mostrou-se insatisfeito com a maioria das fontes de informação,
159
principalmente àquelas relacionadas ao mercado. Da mesma forma que o grupo ‘inovadores’,
a justificativa é que as informações, quando veiculadas, estão desatualizadas. A Internet,
como fonte de informações é imprescindível e mais importante que a televisão, tanto para
informações técnicas, como de mercado. A assistência técnica e as revistas especializadas
também foram consideradas fontes de informação de qualidade.
Instituições de pesquisa, como a Embrapa, não são utilizadas como fontes de
informação e as Universidades, com exceção do CEPEA, são consideradas boas fontes de
informação na área técnica. A maior crítica com relação às fontes de informação diz respeito às
Associações, mesmo se tratando da mesma entidade elogiada pela outra propriedade. A
satisfação com as fontes de informação é muito subjetiva, dependente de fatores relacionados ao
indivíduo e à propriedade, não sendo possível generalizar as críticas relatadas.
As duas propriedades trocam informações com outros produtores, porém em
intensidade e freqüência diferentes. Em uma delas, a troca de informações ocorre em uma
freqüência média, ressaltando-se a desconfiança em trocar informações estratégicas. As
informações técnicas e de manejo são trocadas com maior freqüência, enquanto as
informações administrativas e sobre rastreabilidade são mais raras.
Embora os meios mais utilizados para comunicação sejam o telefone, e-mail,
MSN
®
e Skype
®
, a preferência ainda é maior pela presença física, em reuniões de um Núcleo
de Criadores local, realizadas para treinamento e dias de campo. Da mesma forma que as
propriedades do grupo ‘inovadores’, a prática da visita a outros produtores não é comum.
No outro caso, a troca de informações técnicas, econômicas, administrativas e
de rastreabilidade com outros produtores, indústria e fornecedores é mais freqüente. Os
principais meios de comunicação incluem telefone, e-mail e contato pessoal, em eventos e
dias de campo e as feiras, por ordem de relevância. As visitas a empresas e outros produtores
também são freqüentes, porém se restringem aos produtores de mesmo nível tecnológico.
A informática é utilizada na administração das duas propriedades com
freqüência. Em uma delas, além do uso dos softwares e planilhas, o gerenciamento da
produção é realizado pela Internet, por ocasião do envio de dados para a Associação,
proporcionando descontos de até 30%, dependendo do serviço (nascimento, morte, cobertura
ou transferência). Após o envio dos dados, o pecuarista pode consultar os processos pela
Internet e, se os dados estiverem corretos o processo é liberado. A contabilidade e gestão de
recursos humanos são realizadas em um escritório localizado no município de São Paulo.
A significativa incorporação da TI na gestão administrativa e da produção foi
desencadeada pela necessidade de profissionalização da atividade. O resultado foi a criação de
160
uma planilha própria, motivado por um sistema que não atendia as expectativas na época em
que foi iniciada a atividade de seleção de matrizes.
A falta de programas e soluções específicas para o setor era, segundo SILVA
(1995), a grande barreira inicial à adoção da informática em propriedades rurais. Os resultados
dessa pesquisa demonstraram que esse problema ainda persiste, embora não sendo
considerada barreira à adoção, mas indicando uma grande distância entre os sistemas
padronizados e a real necessidade dos pecuaristas.
Dentre as dificuldades encontradas pelo administrador nesse sistema, destaca-
se a ausência de uma função que gerasse uma lista de tarefas para os funcionários. Por isso,
foram criadas as próprias rotinas de tarefas em outra planilha Excel
®
. No total, foram criadas
cinco planilhas para auxiliar no gerenciamento das atividades dessa propriedade: uma para a
contabilidade, utilizada também no planejamento dos anos seguintes, duas para a produção
(acasalamentos e ganho de peso), outra para controle de estoques e a última para manejo
operacional da alimentação. Essas planilhas, juntamente com o sistema da entidade se
complementam e permitem uma administração profissional do negócio.
Os problemas relacionados ao software da Associação dizem respeito à
restrição ou limitação de seu uso apenas ao gerenciamento do rebanho de animais PO. O fato
da propriedade também realizar cruzamento industrial para a comercialização de animais para
o abate, dificulta o uso do software no gerenciamento das duas atividades. O controle de
estoque de sêmen, por exemplo, justifica essa incompatibilidade: as doses utilizadas nos
cruzamentos industriais não são debitadas do estoque, pois o programa não registra esses
animais. Dessa forma, é necessário trabalhar com dois sistemas.
O desempenho da TI, em comparação com suas expectativas à época da adoção
é bem superior nos dois casos. Apesar disso, em um deles, o resultado em relação ao mercado
não se confirmou. Após todo esforço empreendido, o produto de qualidade não é valorizado e
é remunerado pelo mesmo valor pago aos que não adotam tecnologias.
O impacto da implantação do EurepGAP mudou significativamente a rotina da
propriedade, que vem se adaptando há dois anos para receber a primeira certificação. Nesse
período, houve mudança na infra-estrutura e no comportamento dos funcionários, que
passaram a zelar mais pela propriedade.
5.4.2.3 Maioria adiantada
De um modo geral, o processo de adoção de TI desse grupo foi semelhante aos
demais casos apresentados, no que diz respeito aos investimentos realizados, ausência de
161
testes preliminares e nível de satisfação com as fontes de informação. Os investimentos
realizados para a adoção da TI nos dois casos foram de aproximadamente R$ 15 mil, sendo
que em uma das propriedades, foi necessário levar a energia elétrica até o local da balança
eletrônica. Os investimentos em infra-estrutura incluíram também a preparação do local para
futuramente receber um notebook com software de gerenciamento, permitindo a realização
das tarefas de manejo, pesagem, vacinação e tomada de decisão no próprio curral.
Com a implantação da TI, foram necessários investimentos nos recursos
humanos, principalmente em cursos relacionados à produção. Esses cursos são gratuitos e
oferecidos pela FAEP, mas as despesas referentes a transporte e alimentação são de
responsabilidade dos produtores. Além disso, pretende-se contratar pessoal mais qualificado,
oferecendo ao funcionário uma participação na produtividade.
No outro caso, além dos investimentos em informática, destaca-se a disponibilidade
de canais de televisão específicos por meio de antenas parabólicas a todos os funcionários. O acesso
dos recursos humanos às informações tem sido responsável por mudanças no comportamento dos
mesmos, a partir de discussões sobre técnicas, observação de animais melhorados e genética
utilizada, acompanhados pela televisão, enquanto o uso de produtos e técnicas de construção rural
são disponibilizados em manuais oferecidos por empresas privadas, elaborados em linguagem
acessível ao trabalhador do campo e igualmente importante para sua qualificação.
O mesmo software é utilizado para os dois rebanhos bovinos, enquanto para a
criação de muares, utiliza-se um sistema específico para a eqüinocultura. Um terceiro sistema
é utilizado no gerenciamento contábil e financeiro, desenvolvido sob encomenda.
Da mesma forma que o grupo ‘inovadores’, em ambas as propriedades não foram
realizados testes anteriores à adoção da TI. Para suprir a falta de testes, o proprietário costuma
acompanhar os equipamentos em funcionamento em outras propriedades para depois implantá-los.
A realização de testes é fundamental para aumentar a freqüência de adoção de tecnologias, pois
segundo os fabricantes seus produtos funcionam corretamente e se adaptam a qualquer negócio,
enquanto na realidade do campo, isso nem sempre se verifica.
A complexidade da tecnologia, o custo e a possibilidade de poder experimentá-
la e observá-la, foram destacadas por todos os grupos, como facilitadores das decisões de
adoção. Na falta de testes preliminares, proprietários e administradores tendem a uma maior
probabilidade de adoção se outros produtores de sua rede pessoal também adotarem.
Resultados similares foram encontrados por HOLLIFIELD e DONNERMEYER (2003), em
um estudo sobre a influência demográfica, comunidade e emprego na adoção e uso da Internet
e e-mail em quatro comunidades rurais do meio-oeste americano.
162
As atitudes relativas ao comportamento de compra também são, segundo
ENGEL, BLACKWELL e MINIARD (2000), aprendidas por meio da informação de outros
indivíduos. Essa situação foi observada nos casos estudados, a partir do contato pessoal e
visita a outras propriedades, para observar os equipamentos funcionando.
A percepção de vantagens nos dois casos se resume a maior precisão no
manejo, a partir de um controle mais rígido e confiável dos animais e de seus índices
zootécnicos. A tomada de decisão na produção se tornou mais rápida, e a atividade mais
profissional, resultando em uma coleta de dados mais apurada.
O controle de custos em uma das propriedades é realizado de forma incipiente,
por falta de um sistema que disponibilize todas as funções. No sistema adotado, ainda muito
rudimentar, as informações administrativas coletadas são controladas por meio do aplicativo
Word
®
. Mesmo com a disponibilidade de programas com opções diversas de planilhas e
fórmulas mais adequadas para esse fim, o proprietário não os utiliza, por não saber operá-los.
Com o sistema de gerenciamento simples, as informações controladas na produção são poucas –
peso individual e o controle de descartes – e as cotações são obtidas em jornais e na Internet.
No outro caso, as informações são coletadas por diferentes responsáveis. As de
mercado, são de responsabilidade do proprietário, as cotações, são tarefas do pessoal de
escritório, e os dados zootécnicos, como reprodução, peso individual, avaliação corporal, são
obtidos no campo, com supervisão do administrador.
O grau de satisfação das propriedades do grupo ‘maioria adiantada’ é muito
semelhante aos grupos ‘inovadores’ e ‘adotantes adiantados’, no que diz respeito
principalmente às informações de mercado. O resumo do grau de satisfação é apresentado no
Quadro 5.5, em uma escala variando de insatisfeito até muito satisfeito.
Na percepção de uma das propriedades, as informações técnicas fornecidas
pela televisão são razoáveis, pois os programas veiculados nesses canais possuem um caráter
muito comercial, existindo uma preocupação maior em comercializar o produto do que em
difundir uma nova tecnologia. De forma diferente, a Internet se destaca por oferecer boas
informações e permitir a interatividade e seleção do assunto de maior interesse à atividade.
Uma situação verificada foi a limitação de tempo do proprietário para buscar
informações relevantes na web, devido ao exercício de outra atividade. Essa situação, aliada a
dificuldade das informações atingirem o produtor da região, principalmente os mais
tradicionais, pode refletir em uma menor expressividade da atividade.
163
QUADRO 5.5 – Grau de satisfação do grupo ‘maioria adiantada’ com as fontes de
informação técnicas e de mercado.
Caso 5 Caso 6
Fontes de informação
Técnicas (manejo)
Econômicas
(mercado)
Técnicas (manejo)
Econômicas
(mercado)
Televisão Insatisfeito -- Satisfeito Pouco Satisfeito
Internet Bastante Satisfeito Bastante Satisfeito Bastante Satisfeito Bastante Satisfeito
Assistência técnica -- -- -- --
Revistas especializadas Satisfeito Satisfeito Insatisfeito Insatisfeito
Instituição de pesquisa Bastante Satisfeito Satisfeito Bastante Satisfeito Pouco Satisfeito
Universidade Pouco Satisfeito -- Satisfeito Bastante Satisfeito
Associação de criadores Satisfeito Satisfeito Satisfeito Insatisfeito
Técnicos autônomos Satisfeito -- Bastante Satisfeito Pouco Satisfeito
Indústria -- -- -- --
As revistas especializadas não são utilizadas regularmente como fonte de
informações, sendo eventual a aquisição de exemplares para obtenção de informações de
mercado. As instituições de pesquisa como a Embrapa ou o Instituto Agronômico do Paraná
(IAPAR) são consideradas fontes confiáveis e de informações de qualidade.
No outro caso, as fontes de informação técnicas disponíveis atualmente são
satisfatórias, ao contrário das de mercado. A crítica aos canais de televisão aberta, indicam
que os programas rurais ‘dramatizam’ as matérias, situação vista com menor freqüência nos
canais especializados. Entretanto, os programas veiculados pelos canais especializados
possuem forte apelo comercial, negligenciando o repasse das informações técnicas.
A rede de relacionamentos para troca de informações com outros produtores possui
intensidades diferentes nos dois casos. Enquanto em um deles foi observada uma comunicação
freqüente com produtores de mesmo porte, no sentido de buscar as práticas realizadas, no outro caso
não ocorre troca de informações com outros produtores.
A prática de trocar informações com produtores de mesmo porte é justificada
pela semelhança dos problemas apresentados, situações muitas vezes diferentes da realidade
dos grandes pecuaristas. Entretanto, não deveria ser descartada essa possibilidade de
aprendizado com quem provavelmente já foi menor e pode ter vivenciado essa realidade.
As informações trocadas são relacionadas ao mercado e, quando possível, às
inovações e manejos adotados na área técnica. O meio de comunicação mais utilizado é o
contato pessoal, geralmente em eventos sociais, treinamentos, feiras, leilões e atividades de
164
lazer. Apesar do interesse em conhecer a prática alheia, o proprietário visita outras
propriedades com uma freqüência muito baixa.
O fato de uma das propriedades não exercitar a troca de informações não
significa que a prática não seja necessária. Em vista disso, foi construído um espaço para a
realização de encontros na própria sede da propriedade, cuja infra-estrutura permite a
discussão de temas variados com pelo menos um convidado para expor sua experiência e
conhecimento no assunto.
Os demais convidados são selecionados de forma a manter o mesmo nível de
conhecimento entre os participantes. Em um segundo momento, os vizinhos serão
convidados, visando o desenvolvimento da região como um todo.
As expectativas iniciais comparadas ao desempenho atual das TI foram
superadas em um dos casos, incentivando o proprietário a buscar outras tecnologias para
implementar e aprimorar a atividade, porém, no outro, a expectativa não foi verificada, em
virtude da deficiência da mão-de-obra.
5.4.2.4 Maioria atrasada
O grupo ‘maioria atrasada’ foi o que apresentou a maior semelhança entre as
características do processo de adoção de TI. O total investido no processo de adoção da TI em
um dos casos foi de aproximadamente R$ 10 mil, valor considerado significativo, no momento
em que o negócio vive inúmeras incertezas, como reavaliação de metas, mudanças tecnológicas
e atividade explorada. Nesse sentido, a pecuária, tradicionalmente a atividade mais forte da
propriedade e responsável por 70% dos lucros da empresa, representa atualmente apenas 25%
do faturamento.
O acesso à Internet é via rádio mas, como a região sofre com muitos raios e
tempestades, são freqüentes os danos na antena de recepção. A adoção do sistema de Internet
só se deu após o rateio entre um grupo de cinco usuários, que investiram aproximadamente
R$ 2 mil na instalação da antena de recepção e em placas para os computadores. O custo
mensal de assinatura e manutenção é de R$ 70,00/produtor.
Nesse grupo, ambos os proprietários residem na propriedade. Em uma delas, há
antena parabólica e televisão por assinatura, a primeira disponibilizada aos funcionários. Embora não
seja possível afirmar o interesse dos mesmos em acompanham os programas dedicados às atividades,
o proprietário reconhece uma motivação por parte de alguns, que comentam alguns programas.
Apesar da televisão surgir como uma forma barata de treinamento, a dificuldade em conciliar os
horários de apresentação com a jornada de trabalho dos funcionários dificulta essa prática.
165
Na outra propriedade, apesar de não ser possível levantar os valores,
investidos, acredita-se que os investimentos realizados com a TI não tenham sido
significativos, por já possuir computadores. A Internet é de banda larga, porém o proprietário
não soube informar se o acesso é via rádio ou satélite.
Os funcionários não têm acesso aos canais de televisão, embora haja antena
parabólica e televisão por satélite disponível. Apenas um dos deles, responsável pela atividade
pecuária possui acesso e assiste aos programas, quando recomendado. Os investimentos em
recursos humanos com treinamento não incluem cursos de informática e administrativos.
O controle de custos é realizado com o auxílio de um software desenvolvido
por um analista de sistema, também responsável pelo suporte técnico.
Da mesma forma que o grupo ‘adotantes adiantados’, as duas propriedades
desse grupo já realizaram testes com TI antes da adoção, obtendo resultados diferentes. Em
uma delas, foram realizados testes com diversos softwares, mas o processo de adoção foi
descontinuado por uma série de dificuldades e complexidade do processo. Mesmo com o
resultado negativo, acredita-se que ao facilitar o aprendizado do processo, por meio de testes
preliminares, as empresas contribuiriam sobremaneira com a adoção da TI.
MICK e FOURNIER (1998) descreveram que o conflito e a ambivalência
provocados pelos paradoxos tecnológicos podem estimular a ansiedade e o estresse,
despertando estratégias de enfrentamento em dois estágios do processo de adoção de uma
tecnologia: pré-aquisição e consumo. As estratégias de fuga foram verificadas nos casos
apresentados, em que as propriedades dos grupos menos tecnológicos reagiram adiando a
posse da TI, enquanto as estratégias de confronto observadas incluíram o teste preliminar e o
prolongamento do processo de decisão.
Apesar dessa estratégia ter sido verificada nos grupos menos tecnológicos,
MICK e FOURNIER (1998) ressaltaram que a estratégia de adiar a posse do produto tecnológico
não deve ser entendida somente a partir da classificação dos consumidores em ‘maioria atrasada’
ou ‘atrasados’, pois o consumidor adia a aquisição da tecnologia de forma proposital, como uma
estratégia de enfrentamento razoável e consciente.
No estágio de consumo, a estratégia de fuga observada nos casos estudados foi
o abandono, a partir da identificação da interrupção ou descontinuidade do uso do produto,
em propriedades dos grupos ‘inovadores’ e ‘maioria atrasada’. Em ambos os casos, a
ansiedade e o estresse foram justificados pela desqualificação e despreparo dos recursos
humanos na utilização da TI.
166
Nas propriedades que superaram esse enfrentamento, foi observada uma
acomodação, estratégia de confronto associada ao paradoxo controle/caos. Os resultados
indicaram que os proprietários ou administradores de algumas das propriedades pesquisadas
mudaram rotinas, de acordo com as exigências, habilidades e inabilidades dos funcionários.
Pelos resultados obtidos, não foi possível estabelecer correlações entre os
grupos de adotantes e as estratégias de enfrentamento adotadas. Apesar disso, é importante
destacar que nesse processo de enfrentamento deve ser considerado o tipo de produto,
situação ou pessoa envolvida na adoção da TI.
No outro caso, o teste foi realizado com um sistema de identificação eletrônica. Na
ocasião, foi realizado um dia de campo pela empresa fornecedora, com a presença de outros
produtores da região e, por isso, o período do teste foi curto. Os resultados foram satisfatórios,
mas o alto custo de implantação impediu a adoção dessa tecnologia.
Esse resultado indicou outra barreira à adoção da TI, a resistência à adoção de
sistemas de identificação eletrônica, apesar dos proprietários e administradores reconhecerem os
benefícios desse sistema no controle e monitoramento mais eficaz do rebanho. O motivo dessa
resistência foi o mesmo encontrado em MACHADO (2002) e ainda representa a principal
dificuldade para a disseminação da tecnologia: o alto custo de aquisição e implantação.
Outras tecnologias adotadas não passaram por testes anteriores e o processo de
aquisição foi baseado em informações disponíveis em revistas. Ao adotar tal tecnologia, o
processo de implantação se inicia na sede, sendo estendido às outras unidades de produção.
As informações administrativas coletadas nos dois casos consistem em dados de
controle de pessoal, custos, contabilidade e cotações. As informações zootécnicas incluem apenas o peso
individual dos animais, reprodução e avaliação corporal, no caso da propriedade que realiza
melhoramento genético. As informações de mercado são obtidas por meio da assinatura de um boletim
semanal comercializado por uma empresa de consultoria especializada na área.
O grau de satisfação das propriedades do grupo ‘maioria atrasada’ com as
fontes de informação é diferente, principalmente no que diz respeito às fontes consultadas. O
Quadro 5.6 apresenta de forma sintetizada o grau de satisfação, em uma escala de satisfação
variando de insatisfeito até muito satisfeito.
Em um dos casos, o proprietário se mostrou satisfeito com as informações
técnicas oferecidas pela televisão, indicando diferenças em relação à opinião de um dos casos
do grupo ‘maioria adiantada’, que mesmo sendo da mesma região, se mostrou insatisfeito por
julgá-las muito comerciais. Embora satisfeito, o proprietário criticou programas que misturam
demais o lado técnico com o lado prático. Essa crítica pode estar relacionada à massificação
167
da informação, uma vez que nem sempre a tecnologia e o processo adotados em uma região
são adequados para outra, mesmo que a orientação técnica seja adaptada. É preciso levar em
conta as especificidades regionais, evitando apresentar a informação de forma única, de forma
a oferecer uma programação regional que atinja um número maior de produtores.
QUADRO 5.6 – Grau de satisfação do grupo ‘maioria atrasada’ com as fontes de
informação técnicas e de mercado.
Caso 7 Caso 8
Fontes de informação
Técnicas (manejo)
Econômicas
(mercado)
Técnicas (manejo)
Econômicas
(mercado)
Televisão Satisfeito Muito Satisfeito Pouco Satisfeito Pouco Satisfeito
Internet Bastante Satisfeito Bastante Satisfeito Bastante Satisfeito Bastante Satisfeito
Assistência técnica -- -- -- --
Revistas especializadas Satisfeito Satisfeito Satisfeito Satisfeito
Instituição de pesquisa Pouco Satisfeito Pouco Satisfeito Satisfeito --
Universidade Pouco Satisfeito Pouco Satisfeito Satisfeito --
Associação de criadores Satisfeito Satisfeito -- --
Técnicos autônomos -- -- Bastante Satisfeito Bastante Satisfeito
Indústria -- -- -- Pouco Satisfeito
No outro caso, as opiniões divergem quanto as informações de mercado, sendo
a televisão pouco satisfatória nessa situação. Assim, a tomada de decisão sobre o mercado é
baseada em informações adquiridas pela Internet, pois a periodicidade de circulação das
revistas especializadas resulta em informações de mercado desatualizadas. Essa postura
novamente sugere que a percepção dos produtores sobre as informações de mercado inclui
apenas cotações e não tendências e cenários.
Apesar de não se tratar de um levantamento quantitativo, os estudos de caso
ressaltaram que o uso da Internet na atividade pecuária está relacionado à procura por notícias
do setor, cotação de preços e análise do mercado agropecuário, a exemplo de FRANCISCO
(2003), que verificou que 84% dos produtores utilizavam a Internet para essas finalidades.
As duas propriedades trocam informações com outros produtores em intensidades
diferentes. Uma delas se comunica diariamente, por telefone ou e-mail e as informações trocadas
são, em ordem de freqüência, sobre mercado, técnicas e administrativas. Pessoalmente, a troca de
informações ocorre em reuniões, conversas informais, treinamentos e eventos, enquanto visitas a
outros produtores são raras. A facilidade do contato pessoal diário se deve ao fato do proprietário
pertencer ao quadro administrativo da Federação de Agricultura do estado.
168
No outro caso, a prática de trocar informações é rara e, quando ocorre,
contemplam questões técnicas, de mercado e de rastreabilidade. Os meios mais utilizados são
o telefone e a conversa pessoal, em dias de campo, visitas a empresas e treinamentos.
A expectativa inicial com a TI não foi superada em um dos casos, avançando
pouco na direção de soluções, por ocasião dos problemas surgidos no decorrer do processo de
adoção que resultaram em descontinuidade.
5.4.2.5 Atrasados
O processo de adoção da TI no grupo ‘atrasados’ retrata duas situações
particulares. Enquanto uma das propriedades encontra-se em fase de implantação da
informatização, a outra é de pequeno porte, com pouco tempo de atividade.
Os investimentos realizados em um dos casos foram de aproximadamente R$
50 mil, incluindo o computador, televisão por satélite e parabólica, e a balança eletrônica com
toda a estrutura de curral, que serve as duas atividades desenvolvidas. Os recursos humanos
são registrados, não possuem autorização para dirigir trator sem seguro contra acidentes
pessoais e recebem advertências se não estiverem utilizando os EPI.
No outro caso, não foi possível identificar o investimento realizado em TI e
com os serviços de consultoria, cujo custo é de 1 a 2% da verba de custeio da propriedade a
cada visita. Além dos investimentos em equipamentos e na consultoria, também foram
realizados investimentos em infra-estrutura, totalizando gastos de aproximadamente R$ 30
mil para levar energia elétrica até uma das unidades de produção.
A prática de testes preliminares ocorreu somente em um dos casos, por ocasião
da adoção da Internet, verificando a disponibilidade de sinal e velocidade de acesso. Por
possuir um plano corporativo de telefonia móvel na indústria em que é sócio, o proprietário
solicitou a placa para testá-la antes de adquirir o equipamento.
Segundo ENGEL, BLACKWELL e MINIARD (2000), as atitudes relativas ao
comportamento de compra são aprendidas por meio da experiência direta com o produto. Essa
situação foi verificada nas propriedades dos grupos ‘adotantes adiantados’ e ‘maioria atrasada’, além
de uma das propriedades do grupo ‘atrasados’, que puderam testar a TI anteriormente à adoção.
Com a participação da TI nas atividades dos empreendimentos rurais, as decisões de
gerenciamento em um deles são, em parte centralizadas na figura do proprietário, como decisões
sobre cruzamentos e alimentação dos animais, enquanto as decisões mais operacionais, como carga
do treinamento e seleção dos animais para exposições, são tomadas pelos funcionários.
169
A outra propriedade passa pelo processo de informatização auxiliada pela
empresa de consultoria, que dá o suporte necessário, por meio de visitas periódicas às
unidades de produção e pelas reuniões com o proprietário e o administrador, situações em que
são discutidas as ações realizadas e o cronograma de implantação.
Os problemas de infra-estrutura na região onde se localizam as unidades dificultam a
adoção de tecnologias pela falta de energia elétrica e estrutura de telecomunicações. Por isso, as
unidades de produção interagem entre si por meio de rádio amador e, quando utilizam o telefone é
preciso se dirigir à cidade mais próxima, para melhorar o sinal de recepção dos aparelhos celulares.
O acesso à telefonia como barreira à adoção da TI também foi observado por
FRANCISCO (2003), ao mensurar o nível de penetração da Internet entre os produtores paulistas,
indicando que essa deficiência, com taxas de transmissão baixas pelo acesso por meio do celular
rural ou por linhas comuns, resulta em altos custos de ligações.
Os principais dados coletados na área administrativas nos dois casos incluem
controle de custos e informações de mercado/cotações. A diferença observada é que em um dos
casos o proprietário acompanha leilões e websites, obtendo as informações necessárias para as
duas atividades e, pela televisão, obtém as informações técnicas necessárias, enquanto no outro
caso, os dados são obtidos pela empresa de consultoria e o controle de custo é realizado no
escritório da empresa em que o administrador trabalha no interior do estado de São Paulo.
Nas duas propriedades os funcionários têm acesso aos canais específicos de
televisão, porém as posturas em relação aos mesmos são diferentes. Em uma delas, os funcionários
são cobrados sobre os programas relacionados à atividade em conversas com o proprietário. Na
outra não há cobrança e, por isso, poucos assistem aos programas técnicos por iniciativa própria.
O grau de satisfação das propriedades do grupo ‘atrasados’ com as fontes de
informação é apresentado no Quadro 5.7, em uma escala variando de insatisfeito até muito
satisfeito. Ressalta-se que em um dos casos, a preocupação com a fonte de informação é
menor, uma vez que as mesmas são filtradas anteriormente pela empresa de consultoria.
Foi observado, nos dois casos, que a insatisfação é maior com as fontes de
informação sobre o mercado. Dentre as principais críticas, as informações disponíveis nos diferentes
veículos de comunicação diferem umas das outras e a televisão muitas vezes possui um apelo
comercial muito grande, criando certa desconfiança acerca da eficiência das técnicas apresentadas.
Para essa propriedade, instituições de pesquisa como a EMBRAPA,
disponibilizam informações de qualidade, enquanto as universidades não são utilizadas para
esse propósito. O proprietário ressaltou que algumas publicações são boas, porém têm custos
elevados, inviabilizando a aquisição por parte de pequenos produtores.
170
QUADRO 5.7 – Grau de satisfação do grupo ‘atrasados’ com as fontes de informação
técnicas e de mercado.
Caso 9 Caso 10
Fontes de informação
Técnicas (manejo)
Econômicas
(mercado)
Técnicas (manejo)
Econômicas
(mercado)
Televisão Pouco Satisfeito Pouco Satisfeito Pouco Satisfeito Pouco Satisfeito
Internet Bastante Satisfeito Bastante Satisfeito Bastante Satisfeito Bastante Satisfeito
Assistência técnica Satisfeito -- -- --
Revistas especializadas Pouco Satisfeito Pouco Satisfeito Satisfeito Satisfeito
Instituição de pesquisa Bastante Satisfeito -- Satisfeito --
Universidade -- -- Satisfeito --
Associação de criadores Insatisfeito Insatisfeito Insatisfeito Insatisfeito
Técnicos autônomos Bastante Satisfeito Bastante Satisfeito Bastante Satisfeito Bastante Satisfeito
Indústria -- -- -- Pouco Satisfeito
No outro caso, a busca por informações demanda menor esforço por parte do
administrador. Diferentemente da maioria dos casos já relatados, os canais de televisão foram
considerados fontes satisfatórias de informações de mercado, quando comparadas às técnicas,
por faltar programação informativa isenta de interesse comercial, nas quais a preocupação em
comercializar os produtos seja menor do que a de difundir conhecimento.
Dos casos apresentados, a freqüência do uso de informática nas atividades
dessas propriedades são os mais baixos. Os motivos estão ligados à precariedade do sistema
utilizado em um caso e ao processo de informatização em outro. A Internet é utilizada com
mais freqüência, embora em um dos casos, não seja possível estimar a freqüência de uso por
dividir a tarefa com a empresa de consultoria.
A freqüência de troca informações com outros produtores é diferente para as
duas propriedades. Embora um dos proprietários reconheça a necessidade dessa prática, ela é
pouco freqüente. As informações, quando trocadas geralmente por iniciativa do proprietário,
são técnicas, de mercado e administrativas. Os meios de comunicação mais utilizados são o
telefone, e-mail e visita pessoal, considerada por ele como a melhor forma para troca de
informações com outros produtores.
As situações em que os produtores se relacionam incluem os dias de campo e
exposições, porém a falta de tempo se tornou um limitador para a participação mais freqüente
nesses eventos. Por isso, o proprietário procura visitar os outros produtores em suas
propriedades, a fim de observar os manejos adotados.
171
No outro caso, há troca de informações com outros produtores com mais
freqüência, sobre cotações, mercado, manejo e, em raras ocasiões, sobre as tecnologias adotadas.
O meio mais utilizado é o contato pessoal, em ocasiões como eventos, feiras e dias de campo,
sempre que há oportunidade. Visitas a outras propriedades e empresas fornecedoras também
ocorrem com certa freqüência. Por trabalhar em outra função, ainda que na empresa do mesmo
proprietário, o administrador ressaltou a falta de tempo para participar de treinamentos.
5.4.3 Impactos da adoção
Os impactos da adoção da TI foram analisados a partir de mudanças internas e
externas ao empreendimento rural, dos benefícios obtidos e dos obstáculos identificados no
decorrer da adoção e estão sintetizados no Quadro 5.8.
5.4.3.1 Inovadores
No grupo ‘inovadores’, os impactos da adoção são semelhantes nos dois casos
apresentados. Uma das funções afetadas pela adoção da TI foram os recursos humanos. Observou-
se que as propriedades caminham para ter funcionários qualificados, alfabetizados e com maior grau
de instrução. Apesar disso, um grande número de funcionários não percebem a necessidade de
educação e profissionalização e, por isso, tornam-se inaptos para lidar com as novas tecnologias.
Essa percepção, quando tardia, pode levar ao desligamento de um ou mais indivíduos.
A adoção das tecnologias afetou pouco os recursos humanos nos dois casos,
uma vez que não são os funcionários de campo que as utilizam. A exceção fica por conta da
balança eletrônica, que influenciou na velocidade da coleta de dados e na tomada de decisão.
De modo geral, a TI teve um impacto positivo para o controle contábil, o
armazenamento e o processamento dos dados, mas não foi verificado nas atividades de coleta de
dados da produção e compras pela Internet, que tem sido utilizada com freqüência na busca por
informações. Essa percepção se refere apenas à propriedade, embora o Grupo Empresarial deva
ter se beneficiado com o acesso à informação e aumento da velocidade na tomada de decisão.
Com o envio de um e-mail, eliminou-se o problema da distância entre a Matriz do Grupo e
propriedade, possibilitando uma fácil obtenção da aprovação ou não da solicitação.
No outro caso, a TI teve um impacto mais significativo nas atividades, influenciando
o gerenciamento da produção. A Internet passou a ser utilizada para realização de compras, coleta e
transmissão de dados, como por exemplo, cotações e envio dos registros para a Associação.
172
QUADRO 5.8 – Impactos da adoção.
Mudanças internas
Inovadores Adotantes adiantados Maioria adiantada Maioria atrasada Atrasados
Caso 1 Caso 2 Caso 3 Caso 4 Caso 5 Caso 6 Caso 7 Caso 8 Caso 9 Caso 10
Áreas afetadas pela
adoção da TI
Administração e
produção
Administração e
produção
Administração e
produção
Administração e
produção
Administração e
produção
Administração e
produção
Administração e
produção
Administração e
produção
Administração e
produção
Administração e
produção
Mudanças nas atividades
/ funções
Recursos
humanos, controle
contábil
Coleta de dados, registro
de animais,
comportamento e
remuneração dos
funcionários
Recursos humanos,
contabilidade e
relacionamento com
fornecedores
Recursos humanos
Comportamento e
remuneração dos
funcionários
Comportamento e
rotina dos
funcionários
Adequações de
processos,
comportamento dos
recursos humanos
Coleta e registro de
dados
Remuneração dos
funcionários
Não foi observado
Impactos internos
Armazenamento e
processamento dos
dados
Não soube mensurar
Maior número de dados
zootécnicos coletados,
desenvolvimento de
site, tomada de decisão
facilitada,
estabelecimento de
níveis de hierarquia
Poder de barganha
com frigoríficos,
precisão na tomada
de decisão,
centralização das
decisões
Mudanças nas
rotinas
Aumento do
compromisso com
a coleta, melhora
no fluxo de
informações,
acesso a outros
setores
Aperfeiçoamento da
tarefa, coleta de
dados confiáveis,
facilidade na tomada
de decisão
Não soube
mensurar
Coleta de dados e
agilidade no manejo
Não foi observado
Mudanças externas
Mudanças externas Imagem do negócio Imagem do negócio
Maior credibilidade com
fornecedores e
clientes, melhora na
imagem do negócio
Melhora na imagem
do negócio
Imagem do negócio
Imagem do
negócio
Imagem do negócio Imagem do negócio
Imagem do negócio
(pouco)
Não foi observado
Benefícios intra-organizacionais
Benefícios da adoção
Redução de
custos,
aprendizado e
aprimoramento dos
processos internos,
imagem positiva
Redução de custos,
aprendizado e
aprimoramento dos
processos internos,
imagem positiva
Redução de custos,
experiência acumulada,
aprimoramento dos
processos internos,
impacto positivo na
imagem, redução no
custo de mão-de-obra
Redução de custo,
aprendizado e
aprimoramento dos
processos, imagem
positiva do negócio,
informações
precisas
Aprendizado e o
aprimoramento das
atividades
Aprimoramento de
processos,
experiência e
aprendizado,
informações
confiáveis
Redução de custos,
aprimoramento de
processos internos,
e disponibilidade de
informações
confiáveis
Disponibilidade de
informações
confiáveis, redução
de custos,
experiência e
aprendizado com o
processo
Disponibilidade de
informações
confiáveis, experiência
e aprendizado com o
processo, redução de
custos, aprimoramento
no processo
Não foi observado
Obstáculos / dificuldades
Obstáculos/dificuldades
enfrentados interna-
mente durante a adoção
Estudo, dedicação,
comprometimento
Qualificação dos
funcionários,
incompatibilidade entre
tecnologias
Resistência cultural e a
desqualificação dos
funcionários
Incompatibilidade
entre as tecnologias
Resistência cultural
e desqualificação
dos funcionários
Resistência
cultural e
desqualificação
dos funcionários
Utilização da TI,
resistência do
funcionário
Dificuldades com o
uso dos sistemas,
desqualificação dos
funcionários
Resistência cultural e
desqualificação do
funcionário
Desqualificação
do pessoal
Problemas ligados à
implantação
Pessoal
desqualificado e
crédito,
dependendo da
tecnologia
Qualificação de pessoal,
serviços de apoio e
incompatibilidade dos
sistemas
Resistência cultural e a
desqualificação dos
funcionários
Infra-estrutura de
telecomunicações e
falta de suporte
técnico
Infra-estrutura de
telecomunicações
e falta de
informações sobre
as diversas
tecnologias
Resistência
cultural e
desqualificação
dos funcionários
Velocidade de
mudança, infra-
estrutura de
telecomunicações
Incompatibilidade,
infra-estrutura de
telecomunicações,
necessidade de
grandes
investimentos
Infra-estrutura
Infra-estrutura
básica, suporte e
assistência
técnica
173
Os canais de televisão especializados também passaram a fazer parte da rotina
das propriedades. Os administradores assistem aos programas dedicados à pecuária e
acompanham os leilões, embora não realizem compra por meio da televisão.
Foi observada uma mudança positiva no comportamento dos funcionários de
campo, a partir do uso dos canais da televisão, que permite o acompanhamento da
meteorologia e de programas técnicos. O computador, software e Internet, embora não sejam
utilizados por eles, foram incorporados no dia-a-dia dos funcionários, que solicitam ao
administrador a busca de informações na Internet e consultas nas fichas dos animais.
Essa mudança no comportamento tem refletido na gestão dos recursos
humanos, com a implantação de uma política de valorização dos funcionários, incluindo
remuneração e o bem-estar. São oferecidas cestas básicas, uniformes e cursos, como forma de
motivá-los e aumentar o desempenho do grupo.
Nos dois casos, os principais benefícios decorrentes da adoção da TI foram a
redução nos custos, aprendizado e aprimoramento dos processos internos e o impacto positivo na
imagem do negócio, situação em que as mesmas passaram a ser consideradas como referências,
cada qual em sua região. Essa mudança tem sido fundamental na comercialização dos animais de
uma das propriedades, que divulga a participação em Programas de Melhoramento Genético.
Além desses benefícios, foi destacada a disponibilidade de informações,
mesmo na situação em que o software de produção não é utilizado, a administração foi
facilitada, com a possibilidade de comparação com resultados anteriores, conferindo uma
visão evolutiva do negócio. Motivada pelos benefícios obtidos, uma das propriedades estuda a
possibilidade de implantação do
microchip na identificação dos animais.
Deve ser ressaltado que a adoção de TI também apresentou problemas nos dois
casos. Dentre eles, o principal foi a qualificação dos recursos humanos, que em uma das
propriedades, prejudicou na alimentação do software, somado ao baixo comprometimento dos
funcionários com a qualidade dos dados coletados.
As questões culturais foram destacadas como barreiras à adoção, pois a
resistência é grande até serem observados os primeiros resultados, como no caso da balança
eletrônica que, por refletir diretamente no tempo de serviço do funcionário, foi aceita sem
problemas. Ciente desse problema, o caminho para superar essa situação pode ser mostrar o
impacto positivo da tecnologia no serviço dos funcionários, associado à alfabetização para
eliminar os problemas de coleta dos dados.
Na outra propriedade, além da qualificação do pessoal, os serviços de apoio e a
incompatibilidade entre sistemas surgiram como problemas decorrentes da adoção. A
174
incompatibilidade entre tecnologias foi observada na transmissão dos dados para o Programa de
Melhoramento Genético, mas não entre o software de gestão e a balança, uma vez que os dados
de pesagem são digitados diretamente no software e não transmitidos de um sistema para outro.
Os investimentos e disponibilidade de crédito não foram considerados barreiras
para a adoção de TI, pois dependem do montante gasto. Por isso, o administrador acredita que
políticas específicas não facilitariam a adoção, pois o problema de adoção é de caráter cultural
e não de crédito, sendo o produtor, em geral, muito desconfiado.
5.4.3.2 Adotantes adiantados
Os impactos da adoção de TI no grupo ‘adotantes adiantados’ não diferem muito
entre si e em relação ao grupo ‘inovadores’, indicando que as diferenças entre os grupos são
mais visíveis nas etapas que antecedem e durante o processo de adoção. Nos dois casos, uma das
principais áreas afetadas pela adoção da TI foram os recursos humanos. Os efeitos da adoção
foram positivos e ambas caminham para ter funcionários qualificados, alfabetizados e instruídos.
Em um dos casos, a adoção da TI resultou em demissões e novas contratações, devido à
dificuldade em implantar uma filosofia de gestão mais rigorosa, lidando com funcionários de
pouca instrução. Foi preciso contratar pessoas mais qualificadas e especializadas em determinadas
funções para gerir cada atividade dentro da propriedade. A partir daí, foi possível estabelecer
níveis de hierarquia e relações de autoridade. As decisões foram descentralizadas e houve
integração entre as atividades.
Em todos os grupos foram observadas mudanças na área administrativa, com um
impacto significativo da adoção da TI nos recursos humanos, por meio de treinamentos ou
dispensas causadas pela resistência cultural ou baixa instrução, e uma maior preocupação com
controle contábil das atividades. Essa situação também foi relatada por FIGUEIRA et al.
(2004), que observaram mudanças na contratação de funcionários mais qualificados, controle
dos custos de produção e alocação de recursos.
A postura empresarial adotada reflete na qualificação do funcionário que
trabalha na propriedade. A busca por profissionais melhor preparados para lidar com as
tecnologias atuais foi verificada nos outros casos analisados e, da mesma forma, observou-se
que essa exigência se restringe à área administrativa.
A pressão por gerar resultados cada vez mais positivos imprimiu novo ritmo
aos administradores. Pode-se observar uma mudança significativa nas exigências para o cargo
de administrador. Anteriormente à adoção, contratava-se aqueles que se destacavam entre os
175
demais e, atualmente, exige-se um grau mais alto de instrução, muitas vezes com curso
superior e pós-graduação.
A atuação dos funcionários mudou significativamente, com o avanço
tecnológico e a cobrança por resultados. Com o uso das planilhas, os funcionários passaram a
executar tarefas de acordo com as atividades planejadas para o dia, não tendo permissão para
fazer nada além do estabelecido. Por outro lado, houve melhoria na remuneração, por meio da
implantação de uma política de incentivos, que premia em dinheiro os resultados alcançados.
A gestão contábil foi outra área afetada pela implantação da TI, a partir de uma maior
interação entre o escritório, localizado em São Paulo e a propriedade. Os processos foram facilitados,
com troca de informações e acompanhamento de gastos e receitas. Essas atitudes reduziram a lentidão
na liberação de recursos para investimentos, agilizando a tomada de decisão e a resposta ao mercado.
O registro de dados zootécnicos foi influenciado pelo aumento de dados coletados.
O acesso à Internet permitiu o desenvolvimento de um site para o haras, enquanto a tomada de
decisão se tornou mais complexa e facilitada, em decorrência da maior quantidade de informações
disponíveis e aumento da confiabilidade. A melhoria na tomada de decisão foi resultado do uso
intensivo do computador, planilhas e software, enquanto a Internet teve uma atuação mais
significativa como fonte de informações.
No outro caso, o maior impacto da adoção da TI foi no aprendizado dos
recursos humanos. Uma pequena quantidade de funcionários foi dispensada em razão da
implantação da TI e os novos contratados se deparam com uma filosofia empresarial,
diferente da que estavam acostumados, sendo necessário um período de adaptação e
entendimento da nova dinâmica de trabalho.
Especificamente na coleta dos dados, o impacto não foi expressivo, uma vez que já
eram realizados procedimentos mais complexos na obtenção dos dados. No entanto, o impacto no
registro e armazenamento dos dados foi significativo com a implantação do computador e do
software, sendo necessário treinamento para o registro adequado de todo evento realizado com os
animais. O treinamento incluiu cursos ministrados pelos principais parceiros.
O manejo realizado na coleta dos dados de pesagem é realizado com balança
eletrônica, porém, os valores são anotados em papel, levados ao escritório e, posteriormente,
lançados no
software. Essa conduta é justificada pelo fato do administrador acreditar que o ambiente
não é próprio para o uso de computadores, devido a quantidade de poeira e alta umidade.
Não foram observados impactos internos, como descentralização ou
centralização das decisões, mudanças no fluxo de informação e integração das diferentes
176
atividades. A propriedade, que possui duas unidades produtivas, centraliza suas decisões em
uma delas, e os dados são enviados para a sede a cada visita do administrador ao local.
Essa outra unidade, apesar da proximidade com a primeira, é mais atrasada em
relação à TI, principalmente devido a ausência de infra-estrutura de telecomunicações. Por
isso, os dados são encaminhados à sede e somente então processados. A comunicação entre as
duas unidades é diária e por meio do rádio-amador, além de reuniões semanais e no início do
mês com os funcionários da segunda unidade.
O uso de TI nas atividades de gestão de uma das propriedades melhorou o
relacionamento com fornecedores, que passaram a ter maior interesse em vender para a
propriedade, permitindo a seleção dos melhores. A TI aumentou a credibilidade também para
os clientes, refletindo diretamente na imagem do negócio.
No outro caso, não foram verificados impactos significativos no relacionamento
com clientes e fornecedores. Como resultado das ações realizadas, foram veiculadas reportagens
sobre os manejos adotados em revistas especializadas, resultando em maior exposição na mídia e
um aumento no número de visitas à propriedade, melhorando a imagem da propriedade.
A adoção da TI desencadeou uma série de ocorrências positivas, envolvendo os
atores da cadeia. De um lado, o fornecedor passou a ter interesse em tornar a propriedade uma
vitrine para as demais, oferecendo vantagens nos preços dos produtos, enquanto do outro, o
frigorífico tem desejado comprar o produto, pretendendo comercializar a carne com mercados
mais exigentes e que remuneram melhor.
Com a implantação da certificação EurepGAP, acredita-se que as visitas se
tornarão mais freqüentes, pois os frigoríficos contrataram equipes que oferecem consultoria
gratuita acerca da implantação da certificação, porém os resultados práticos da implantação
são intangíveis, e os custos variam com o grau de mudança organizacional, clima e da cultura
organizacional, adaptações nos processo e destino adequado do lixo. Esse conhecimento
deverá ser obtido por meio da troca de experiência na visitação de propriedades que já
passaram por essa etapa do processo.
Os principais benefícios decorrentes da adoção da TI em um dos casos foram
redução de custos, experiência, aprimoramento dos processos internos e redução no custo de mão-
de-obra, apesar do custo mais elevado na fase de investimento. O suporte adequado para a tomada
de decisão, facilitou as negociações, aumentando o poder de barganha. A outra propriedade
destacou o aprendizado com processos como maior benefício, seguido pelo aprimoramento dos
processos e redução de custos, conseqüência do uso de informações mais confiáveis.
177
Todos os casos, independentemente do grupo a que pertencem,
experimentaram benefícios relacionados ao aprendizado, aprimoramento de processos,
rapidez na tomada de decisão e redução de custos, este em menor quantidade. Esses retornos
intangíveis, segundo CERRI e CAZARINI (2002), incluem ainda, qualidade dos dados e do
produto final, integração de processos da empresa, agilidade, melhoria no relacionamento
com clientes e fornecedores, também verificados nesse estudo.
Os problemas observados na adoção da TI foram a resistência cultural e a
desqualificação dos funcionários, situações contornadas à medida que os funcionários
perceberam o risco de dispensa e as facilidades que a tecnologia trouxe para as atividades. A
infra-estrutura disponível na época da adoção não chegou a ser impeditiva, mas foram
necessárias readequações, principalmente nas instalações da administração.
5.4.3.3 Maioria adiantada
Os impactos da adoção da TI no grupo ‘maioria adiantada’ apresentam, em um
dos casos, uma ressalva relacionada à ausência de coleta de dados anteriormente à
implantação das tecnologias. Dessa forma, os impactos foram relatados com base em
mudanças nas rotinas realizadas na propriedade.
Nas duas propriedades, os impactos decorrentes da adoção da TI foram grandes
nos recursos humanos. Em uma delas, o comportamento dos funcionários mudou de forma a
facilitar a transmissão de conhecimentos e houve aumento nas responsabilidades,
principalmente na coleta de dados. O envolvimento com a tecnologia resultou em mudanças
na gestão dos recursos humanos, com melhoria na remuneração e reconhecimento do esforço
empreendido. Esse incentivo tem como finalidade, manter o funcionário motivado e
executando as tarefas com uma postura pró-ativa, tornando-o um parceiro.
No outro caso, os recursos humanos também foram afetados de forma
significativa. O proprietário observou uma grande evolução, a partir de melhorias na coleta de
dados e no aumento do compromisso com as atividades. As mudanças realizadas em algumas
rotinas levaram ao preparo de instruções visando facilitar o uso das tecnologias. Alguns
funcionários foram demitidos, principalmente por não aceitarem o uso da nova tecnologia,
enquanto outros foram trocados de função. A remuneração não sofreu alterações, pois os
funcionários recebem 20% acima da média paga pelo mercado regional.
O processo de informatização provocou alterações na estrutura organizacional
de algumas propriedades, gerou resistência cultural por parte dos funcionários menos
qualificados e, em alguns casos, resultados pouco ou nada satisfatórios com o uso da TI.
178
AUDY et al. (1999) relataram problemas semelhantes em um estudo em que propuseram um
modelo de planejamento estratégico para sistemas de informação.
O registro de dados administrativos e zootécnicos melhorou significativamente,
em razão dos atuais sistemas auxiliarem no preenchimento dos campos solicitados. Além
disso, o fluxo de informações no negócio melhorou, devido a facilidade na troca de
informações com outros setores. Com isso, a tomada de decisão ficou mais centralizada,
permitindo ao proprietário tomar decisões em cima do trabalho do contador, por exemplo. A
integração entre as atividades melhorou, pelas facilidades na comunicação.
A mudança na imagem do negócio foi verificada nos dois casos e, da mesma
forma que os grupos anteriores, os fornecedores procuram estar presentes nessas propriedades
para aumentar a visibilidade na região. O poder de barganha em relação aos fornecedores cresceu
à medida que aumentou o conhecimento e o controle de compras anteriores e cotações de
concorrentes. O impacto pelo lado dos clientes foi verificado a partir da constatação por parte do
mercado acerca do controle realizado no rebanho, aumentando a procura pelos animais.
Os benefícios observados com a adoção da TI nos dois casos foram
semelhantes, e ambas as propriedades se beneficiaram do aprendizado e do aprimoramento
das atividades com os processos, e do controle mais efetivo da atividade. Para aproveitar a
oportunidade, uma delas se prepara para buscar certificações, como a ISO 14.000. A
propriedade passou a gerenciar o lixo, educando os funcionários sobre a importância das
ações e os benefícios para a atividade.
Da mesma forma que nos grupos anteriores, a adoção da TI apresentou obstáculos
nos dois casos. Dentre eles, estão a resistência cultural e a desqualificação dos funcionários, que
começaram a perceber as mudanças e procuraram se adaptar. A participação dos funcionários no
processo vem quebrando essa resistência, por meio do aprendizado e da redução do bloqueio inicial.
Outros problemas relacionados à adoção da TI referem-se à infra-estrutura de
telecomunicações, mais precisamente, o acesso à Internet, nos dois casos, e a escassez de
informações na região sobre as diversas tecnologias disponíveis, em um dos casos.
5.4.3.4 Maioria atrasada
Os impactos da adoção da TI no grupo ‘maioria atrasada’ são semelhantes aos
apresentados nos demais grupos. A exceção está em um dos casos em que os recursos
humanos não tiveram o mesmo impacto que os demais relatados
Em um dos casos, os efeitos da TI incluíram mudanças no processo, de forma
afetar diretamente os funcionários, que foram trocados de função ou demitidos, quando não se
179
adequavam à nova rotina. Na coleta dos dados, o aperfeiçoamento da tarefa tornou-a mais
confiável e facilitou a tomada de decisão. Os funcionários passaram por mudanças
comportamentais, aceitando a tecnologia e incorporando-a na rotina diária, postura que os
tornou mais ágeis e pró-ativos nas ações que executam. A tomada de decisão passou a ser
compartilhada e os dados analisados por mais de uma pessoa.
Em algumas propriedades, os efeitos positivos da TI incluíram mudanças internas,
como realocação de funções, reengenharia de processos e maior integração com outras áreas ou
atividades desenvolvidas. Esses benefícios também foram relatados por (SCHIEFER, 2004).
No outro caso, os recursos humanos foram pouco afetados, devido à
aposentadoria do pessoal mais antigo na época da adoção, evitando a necessidade de
demissões em razão da resistência ao uso da TI. O comportamento dos que permaneceram não
mudou com o uso de tecnologias e a remuneração não foi influenciada.
Na coleta de dados ainda se verificam anotações erradas, uma vez que a prática
exige a anotação dos dados em papel para posterior inserção no sistema. Uma forma de
contornar essa dificuldade seria alimentar o sistema no local do manejo, permitindo
diagnosticar problemas no ato da operação, mas por motivos de despreparo do gerente,
necessidade de treinamento e ausência da Internet para envio dos dados, essa operação não
deve ser colocada em prática tão prontamente.
A tomada de decisão foi, em parte, descentralizada. Cada unidade toma sua
decisão, enquanto as decisões estratégicas são realizadas na sede, local de moradia dos
proprietários. A ausência da Internet nas demais unidades dificulta o gerenciamento à
distância e, como conseqüência, são necessárias visitas, onde os proprietários permanecem
aproximadamente 12 dias/mês circulando pelas unidades.
A relação com fornecedores foi afetada pelo maior poder de barganha dos
produtores, conseqüência do maior volume de informações disponível. A imagem do negócio
também melhorou, mas os proprietários não sabem mensurar o quanto. A percepção de melhoria de
imagem se deu pelo fato dos clientes procurarem mais pelos produtos e pelo maior interesse dos
fornecedores em promover seus produtos no local.
Os benefícios decorrentes da adoção da TI foram redução de custo,
aprimoramento de processos internos, disponibilidade de informações confiáveis, e a
experiência e o aprendizado com o processo. Em um dos casos, o controle dos animais devido
ao Programa de Melhoramento Genético foi outro benefício destacado.
Dentre as dificuldades observadas nesse grupo, destacam-se os problemas com a
utilização da TI durante o processo de implantação, na coleta de dados e no uso dos sistemas devido,
180
principalmente, à desqualificação dos funcionários. Em seguida, verificou-se incompatibilidade
entre algumas tecnologias, a resistência ao uso e a velocidade com que a TI se torna obsoleta.
A infra-estrutura de telecomunicações foi uma barreira para a implantação da
Internet, pois a tecnologia disponível era lenta e o acesso de baixa qualidade. A disponibilidade de
crédito só é considerada barreira, quando se trata da implantação de um sistema de identificação
eletrônica, que depende de um grande número de dispositivos de identificação. Dentre os obstáculos
relacionados à adoção da TI relatados por YAMAGUCHI (2002) foram observados nos grupos
pesquisados, dois deles com certa freqüência: a precariedade ou ausência de serviços de telefonia e
energia elétrica, e a ausência de provedores de Internet.
A legislação foi citada como barreira à adoção, uma vez que algumas regras
são alteradas com freqüência, confundindo o pecuarista, que receia investir e ter que mudar
em seguida. O aumento da burocracia, como no caso do SISBOV, foi ressaltado na questão do
transporte dos animais, que anteriormente permitia o envio do DIA por e-mail, mas que,
atualmente, deve ser impresso e transportado junto com o animal. Embora essa prática tenha o
objetivo de garantir a procedência do animal, aumentou a perda dos certificados e da
rastreabilidade, refletindo em menor remuneração ao pecuarista.
Embora não seja possível generalizar essa situação, tampouco mensurá-la, a
solução para evitar acusações ao motorista ou à indústria, seria exigir as duas formas de
controle, ou seja, o envio por e-mail e a cópia sendo transportada junto ao animal. Outra
possibilidade seria o uso do microchip de identificação animal que permitisse a gravação dos
dados referentes ao documento animal. Essa prática, citada em MACHADO (2002) permite a
reutilização do dispositivo, porém seu custo ainda é elevado. Além disso, para seguir as
normas do SISBOV, seria necessário a identificação proposta pelo sistema.
5.4.3.5 Atrasados
Os impactos da adoção da TI no grupo ‘atrasados’ apresenta uma
particularidade. Em um dos casos, a atividade passa pelo processo de informatização, o que
limitou a percepção de mudanças e benefícios decorrentes da adoção. Nesse grupo de
produtores, a adoção da TI foi sentida por alguns funcionários que demonstraram inicialmente
certa resistência, mas que aos poucos foi superada com o auxílio de colegas mais experientes.
A remuneração dos funcionários é compatível com as habilidades relacionadas ao
uso da TI e, devido a essa política, identificar essas habilidades se tornou uma dificuldade para o
proprietário. Também se observou uma dificuldade referente à desqualificação e ao despreparo da
mão-de-obra, situação que o administrador geralmente não consegue superar. Decisões simples
181
como a instalação de computadores nas propriedades se tornam complexas, uma vez que não é
possível deixá-los sob responsabilidade dos funcionários. A ausência de profissionais qualificados
na região e a dificuldade em contratar indivíduos experientes e dispostos a se mudar para uma
região tão carente de infra-estrutura dificultam ainda mais essa decisão.
Diferentemente dos outros grupos analisados, mudanças na imagem de ambas as
propriedades em decorrência da adoção de tecnologias foram poucas ou inexistentes, assim como o
relacionamento com fornecedores e clientes. Essa situação é exemplificada pelo fato dos clientes
admirarem as ações realizadas sem, contudo, valorizar o produto pela qualidade. No caso dos
fornecedores, por se tratar do único produtor a investir na atividade, os produtos são oferecidos não
como forma de usar a propriedade como vitrine, mas para garantir as vendas naquela região.
Na propriedade em que o processo de informatização se encontra em implantação,
apesar de não ser possível perceber impactos internos e externos, a expectativa é grande.
Os benefícios da adoção da TI foram observados apenas em uma das
propriedades e se resumem na disponibilidade de informações confiáveis, experiência e
aprendizado do processo e redução de custos. O aprimoramento no processo, principalmente
na rotina de pesagem, também foi alterado de forma positiva, com ganhos significativos no
manejo (profilaxia e pesagem) e registro dos dados, que em seguida são transferidos para o
computador e analisados pelo proprietário por ocasião de suas visitas.
Dentre os obstáculos encontrados na adoção da TI, verificou-se a resistência cultural
dos funcionários. O medo do desconhecido, a falta de instrução e a imposição pela legislação
agravam essa situação. A forma encontrada para superar esse problema foi a introdução de
tecnologias com uma linguagem didática e simplificada. Essa situação já foi percebida por algumas
empresas de TI, que passaram a redesenhar displays e desenvolver menus de fácil compreensão e
utilização, com teclas coloridas para as funções. Como exemplo disso, podem ser citados os
fabricantes de balanças eletrônicas e algumas empresas de identificação eletrônica de animais.
A ausência de infra-estrutura de telecomunicação foi considerada um obstáculo para
a adoção da TI nas regiões onde ambas as propriedades estão localizadas. Os dois casos
consideraram interessante a possibilidade de linhas de crédito específicas para adoção de TI, desde
que a burocracia para efetivar o empréstimo não afaste os produtores.
A exemplo do relatado por RODRIGUES (1999), os casos apresentados nessa
pesquisa sugerem diferentes posturas administrativas a partir da existência de uma infra-estrutura
de rede de telecomunicações, que permita minimizar distâncias e tornar possíveis negócios
anteriormente inviáveis, em função da localização das unidades produtivas, possibilitando o
acompanhamento do mercado e a realização de transações com menores custos.
182
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
6.1. Verificação das hipóteses
As hipóteses iniciais de que (i) os empreendimentos rurais apresentam problemas
de resistência à mudança durante o processo de adoção de uma nova TI, devido à exigência de
reestruturação das organizações e de seus processos gerenciais, e que (ii) a segmentação dos
empreendimentos rurais com base no nível tecnológico possibilita a formulação de políticas
mais adequadas às realidades locais, foram verificadas em parte.
No primeiro caso, a resistência à mudança verificada é em grande medida cultural
e ocorre principalmente por parte do funcionário. Em menor grau, a resistência à mudança decorre
da exigência de reestruturação do negócio e dos processos gerenciais que, tende a ocorrer se a
reestruturação da empresa e/ou dos processos exigirem custos elevados, encarecendo o custo de
implantação da tecnologia. Nesse caso, podem surgir outras duas barreiras à adoção: a falta de
recursos financeiros e a dificuldade de acesso ao crédito.
No segundo caso, somente a segmentação dos empreendimentos rurais a partir
nível tecnológico não possibilita a formulação de políticas mais adequadas às realidades
locais, uma vez que outros fatores concorrem para facilitar ou dificultar a decisão de adoção,
dentre os quais destacam-se as características locais, como localização, influência de vizinhos;
a atividade principal (animais de elite ou comercial); o acesso à informação; e o
comportamento e atitudes dos produtores ou administradores das propriedades, situação que
sem uma análise mais profunda não permite generalizar tipologias.
6.2. Contribuições da pesquisa
Apesar de apenas a segmentação não ser suficiente para possibilitar a
proposição de ações, foi a partir dela que essas características foram identificadas. A reunião
dessas características, obtidas em diferentes momentos da pesquisa, permite a formulação de
propostas com a finalidade de incentivar a adoção da TI na atividade pecuária brasileira.
A contribuição teórica da pesquisa ocorreu pela utilização de diferentes métodos
de pesquisa para se estudar a adoção da TI na pecuária de corte: a estatística descritiva e a
entrevista em profundidade, em conjunto com os métodos de tempo de adoção e de prontidão para
a tecnologia. Cada uma dessas técnicas serviu para lidar com uma dimensão específica dos
fenômenos sociais.
A estatística descritiva foi utilizada para uma aproximação inicial dos complexos
fenômenos sociais, como a adoção da TI na pecuária de corte, enquanto o método de pesquisa
183
qualitativa foi importante para obter novas interpretações para esse comportamento. De forma
complementar, a categorização dos adotantes com base na inovatividade possibilitou verificar a
influência de uma predisposição para tecnologia, a partir de crenças e sentimentos positivos e
negativos do produtor ou do administrador da propriedade, quando este desempenha papel
relevante no processo de adoção de tecnologias.
Dessa forma, a pesquisa acrescenta uma contribuição para a teoria de adoção
de tecnologias, ao demonstrar que os diversos métodos de pesquisa social e as metodologias
empregadas na categorização e tipificação dos indivíduos adotantes de TI podem ser
complementares e não concorrentes.
No plano empírico, a contribuição foi pautada na discussão em torno do
problema da adoção da TI nos empreendimentos rurais e os fatores que a influenciaram,
apresentando um diagnóstico dos recursos, procedimentos e ações necessárias para o
funcionamento da mesma, a partir de diferentes perfis de produtores e administradores. Com
isso, espera-se abrir caminho para pesquisas mais aplicadas no campo do comportamento e
atitudes em relação à TI no ambiente rural.
Um outro ponto refere-se à caracterização dos produtores e propriedades, cujas
evidências encontradas demonstraram mudanças no nível de instrução e na postura
empresarial, influenciando a adoção da TI na gestão administrativa e da produção. A partir
dessa constatação, a elaboração, a implantação e o acompanhamento de cada proposta, bem
como ações e políticas públicas e privadas resultantes dessas propostas, são passos
fundamentais para aumentar a taxa geral de adoção de TI no meio rural.
Dessa forma, as diferentes contribuições sinalizam a possibilidade de elaboração
de modelos nos quais as variáveis comportamentais e estruturais tenham ação recíproca, de
forma a aprofundar o entendimento do processo de adoção e difusão da TI nesse setor.
6.3. Contribuição para a formulação de políticas públicas e privadas
Uma agenda de ações deve considerar os objetivos econômicos e sociais pretendidos
e, no caso da TI, a priorização dessas ações deve levar em conta as características do processo de
difusão e as alternativas técnicas, reguladoras e econômicas mais adequadas para o desenvolvimento
de cada região. Isso inclui, por exemplo, a educação, o papel do acesso às informações técnicas e de
mercado em diferentes regiões e as prioridades em termos de infra-estrutura.
As políticas públicas e privadas devem atuar de forma a melhorar e ampliar a
qualidade, a quantidade e o acesso a questões críticas, como fontes de financiamento,
identificação de prioridades e oportunidades, promoção da TI e criação de instituições de
184
apoio, entre outras. Sugere-se que o desenvolvimento de ações relativas à adoção e uso da TI
busque identificar e promover as diferentes competências envolvidas, articulando-as entre os
agentes envolvidos na cadeia da carne bovina, de forma a maximizar o resultado esperado das
ações já implantadas ou a serem implantadas.
As prioridades e objetivos em TI para a pecuária de corte demandam políticas
públicas e privadas para potencializar a competitividade da atividade. Nesse sentido, baseado
nos resultados obtidos nessa pesquisa, foram propostas ações que visam facilitar a adoção e o
uso da TI na pecuária de corte, a partir de observações e informações obtidas nos estudos de
caso realizados. As propostas consistem em sugestões de ações e de agentes responsáveis por
sua implantação e servem de contribuição para a formulação de políticas públicas e privadas.
A primeira ação a ser realizada seria a criação da Câmara Temática da
Agroinformática junto ao MAPA, visando priorizar a discussão de questões estruturais da TI em
todo o agronegócio brasileiro, de forma a colaborar para a formação de políticas de longo prazo.
Embora as questões tecnológicas estejam na pauta da Câmara Setorial da Cadeia Produtiva da
Carne Bovina, seu desmembramento resultaria na reunião de esforços em busca da difusão
entre os diferentes elos das cadeias produtivas, qualidade nos serviços prestados,
competitividade das cadeias, harmonização entre os setores e co-gestão pública e privada.
As demais propostas, agrupadas por tema, podem ser colocadas em prática
independentemente da criação da Câmara Temática sugerida, mas a integração entre elas se
faz necessário para atender aos objetivos propostos. São elas:
a) Capacitação tecnológica e nível educacional
criação de uma estrutura eficaz de treinamento em TI para os produtores e
funcionários envolvidos no manejo de campo nas principais cidades
brasileiras;
revisão das estruturas curriculares de cursos profissionalizantes e
superiores, nas áreas de ciências agrárias, economia, administração,
engenharia e informática, visando formar profissionais com habilidades
multidisciplinares.
A proposta se refere à capacitação para o uso da informática, percebida como
habilidades genéricas para entender comandos, textos e instruções, e à capacitação para geração,
adaptação e suporte ao uso da informática, de forma a incluir profissionais qualificados para
promover o processo de difuo, como programadores, técnicos em informática e
telecomunicações, analistas de sistemas e gestores. Esses profissionais são fundamentais para o
185
processo, na medida em que a implantação de sistemas requer adaptações, treinamentos, criação
de bases de dados, suporte a redes e manutenção.
b) Extensão rural
propiciar treinamento aos produtores e formação aos extensionistas em
parceira com as universidades locais, para difundir o uso da TI na atividade
pecuária e na gestão da propriedade;
difundir as novas TI para o setor, bem como assessorar a escolha das
melhores opções de sistemas para os produtores, financiando a estrutura
física necessária (um computador ligado à Internet para cada grupo de
produtores).
A proposta visa ampliar a difusão de informações por meio de seminários e
encontros em locais públicos ou privados, de documentos escritos ou eletrônicos, de
publicação de anuários de empresas de TI, bem como a oferta de serviços para membros e
outros usuários, como a disponibilização de infra-estrutura para cursos e treinamento,
desenvolvimento de softwares, fornecimento de suporte (como bases de dados e softwares
atualizados), publicação de informativos, organização de workshops, reuniões, boletins e site
com o objetivo de manter os pecuaristas e colaboradores atualizados.
c) Infra-estrutura
acesso aos serviços de telecomunicações, infra-estrutura de informática,
Internet e comércio eletrônico;
democratizar o acesso à TI, estabelecendo mecanismos que permitam o
aprendizado, o acesso e a incorporação da TI por produtores e trabalhadores
rurais, por meio da implantação de Centros Comunitários, para utilização e
disseminação de informações, propiciando o acesso à TI. Nesses espaços, a
comunidade rural poderia navegar na Internet, consultar bancos de dados,
participar de fóruns de discussão e realizar cursos profissionalizantes.
A disponibilidade de infra-estrutura de telecomunicações, como linhas
telefônicas fixas, difusão de TV a cabo e de telefonia celular, é considerado condição
fundamental para a difusão da TI. Ressalta-se que o acesso à Internet não depende apenas da
186
infra-estrutura de telecomunicações, sendo importante a influência exercida pelos fatores
culturais, demográficos, renda e educação.
Por esses motivos, os Centros Comunitários poderiam seguir os moldes do CRID
– Centro Rural de Inclusão Digital, do Laboratório de Pesquisa Multimeios da Faculdade de
Educação da Universidade Federal do Ceará –, que funciona como ambiente de aprendizagem,
instalado em comunidades de assentamento organizadas, de difícil acesso e dificuldade de
comunicação com o exterior. Caracteriza-se pela instalação em locais de acesso público e oferece
serviços de inclusão digital, informática educativa, cursos à distância e telecomunicações.
d) Oferta de crédito
criar linhas de crédito específicas para a adoção da TI, com crédito
suficiente e juros compatíveis.
A oferta de recursos a juros mais baixos é fundamental para a realização de
investimentos maiores, como por exemplo, a identificação eletrônica de um rebanho. Disponibilizada
em conjunto com o SISBOV, pode acelerar a adesão ao sistema e a competitividade do Setor.
e) Rastreabilidade
incentivar a adesão ao SISBOV;
criar formas de incentivo e estímulo à adoção e uso da TI;
informatização e a integração entre as agências de defesa, secretarias
estaduais de agricultura, certificadoras e SISBOV.
A adesão ao programa desenvolve uma cultura de coleta e registro dos dados
da produção, podendo ser um primeiro passo para a adoção de sistemas informatizados de
controle. De forma complementar, os incentivos para a adoção da TI poderão ocorrer na
forma de facilidades na obtenção de crédito, a exemplo do que vem ocorrendo no estado do
Paraná com a adesão ao SISBOV. Por fim, a integração das bases de dados em um sistema
único que facilite o acesso e a comunicação é essencial para uma adequada rastreabilidade e
fundamental para a eficiência e fiscalização.
f) Relacionamento entre agentes
preparar o setor rural para os desafios da TI;
187
promover a capacitação tecnológica em setores estratégicos do agronegócio
para o desenvolvimento da cadeia da carne bovina.
O treinamento contínuo dos diferentes agentes da cadeia, com cursos técnicos,
teóricos e práticos, e a capacitação tecnológica, visam integrar os agentes por meio da gestão,
rastreabilidade e troca de informações, de forma a fortalecer a competitividade da carne
bovina nos mercados interno e externo.
Os agentes envolvidos nas propostas apresentadas são os governos federal,
estadual e municipal, a iniciativa privada, as associações de classe, as universidades e as
instituições de pesquisa. Ressalta-se que para cada caso, determinados agentes assumem
maior importância em função das necessidades específicas de cada proposta.
As ações propostas tentaram englobar, de foram generalizada, os entraves e
demandas observadas na pesquisa, com o objetivo de fornecer elementos para a tomada de
decisão e delineamento de linhas de atuação, visando o desenvolvimento da pecuária
brasileira. O estabelecimento de prioridades, bem como a formulação de políticas setoriais e o
debate dos temas, dependem dos interesses dos agentes e formuladores envolvidos e de uma
análise mais criteriosa de cada situação.
6.4. Limitões da pesquisa, recomendações e sugestões para pesquisas futuras
a) Limitações da pesquisa
A natureza do tema escolhido proporciona algumas limitações. A primeira é
temporal, uma vez que os resultados obtidos se restringem ao período de realização da
pesquisa, dado o ritmo acelerado de mudanças nas aplicações da TI. Outra limitação temporal
se refere à motivação do indivíduo para a adoção, que sofre mudanças por influências sociais,
econômicas, comportamentais e ambientais.
A segunda limitação diz respeito ao foco da pesquisa. Os produtores rurais,
distribuídos por todo o território brasileiro, que apesar de receptivos, possivelmente não estão
acostumados ao tipo de pesquisa proposta. Essa situação acarretou uma baixa participação dos
pecuaristas na primeira etapa, o que de certa forma limita a validade dos resultados obtidos e
acabou por atrasar a pesquisa de campo na segunda etapa realizada.
A terceira limitação refere-se à realização das entrevistas somente na pecuária de
corte e o número restrito de casos estudados, cujas características particulares à atividade e
especificidades culturais não permitem extrapolar os resultados para outras atividades
188
agropecuárias. Contudo, nada impede que sejam utilizados os mesmos procedimentos
metodológicos para a análise de outros setores, sejam eles de produção animal ou vegetal.
A última limitação refere-se ao fato de a amostra do estudo ter-se restringido
geograficamente a três estados da federação. Nesse sentido, a validade e a contribuição do
trabalho estão limitadas a especificidades culturais.
Por fim, cabe considerar que a elaboração das propostas envolve certa subjetividade,
refletindo o posicionamento dos proprietários e administradores, sendo que a implementação das
mesmas somente seriam viabilizadas com a concordância e participação efetiva dos agentes
envolvidos – iniciativa privada, poder público, associações de classe e produtores. Acredita-se que o
presente estudo possa ser utilizado como ponto de partida para outros, nas demais atividades
agropecuárias e regiões do País, possibilitando inclusive comparações.
b) Recomendações para pesquisas futuras
Recomenda-se aos órgãos e indivíduos que elaboram programas de
desenvolvimento tecnológico e gerencial para o setor agropecuário, a análise das características
básicas do público-alvo, levando em consideração o nível tecnológico das propriedades, as
habilidades, conhecimentos e atitudes pessoais de produtores e recursos humanos disponíveis.
Para melhor fundamentar trabalhos dessa natureza com foco na atividade
agropecuária, recomenda-se a elaboração e execução de pesquisas quantitativas e qualitativas
nas diversas atividades, a partir da realidade brasileira nas diferentes regiões geográficas. Tais
pesquisas utilizam instrumentos de coleta e análise de dados e permitem identificar e
caracterizar comportamentos e atitudes em relação a TI.
c) Limitações para pesquisas futuras
Em termos de pesquisas futuras, além de ampliação do universo pesquisado,
esse estudo pode abrir caminho para responder, com mais profundidade, questões
relacionadas ao comportamento e às atitudes dos produtores em relação à adoção e utilização
de TI. Dessa forma, a continuidade do trabalho viria com:
o desenvolvimento de um modelo de avaliação da adoção de TI no meio rural;
a partir de uma amostragem maior, verificar a existência de correlação
entre as características observadas;
aplicação da pesquisa com outros indivíduos participantes do processo de
adoção e uso da TI, como funcionários administrativos e de campo, a fim
de verificar principalmente comportamentos e atitudes;
189
aplicação da metodologia de prontidão para a tecnologia de forma mais
criteriosa no meio rural;
outros estudos complementares à problemática da adoção da TI no meio
rural, como uma avaliação dos softwares de gerenciamento administrativo e
de produção sob a ótica do usuário, e a análise de estratégias
mercadológicas das empresas fornecedoras de TI para a agropecuária, a fim
de conhecer as ações realizadas e discuti-las com base no conhecimento
disponível acerca do comportamento do consumidor.
6.5. Conclusões
Considerando-se os objetivos e os resultados da pesquisa empírica realizada,
foi possível estabelecer as seguintes conclusões:
os empreendimentos rurais que adotam a Internet em suas atividades
agropecuárias apresentaram perfil mais empresarial, nível tecnológico na
produção/administração mais elevado, maior grau de instrução, menor faixa
etária dos proprietários ou administradores e desenvolvem, em sua maioria,
atividades econômicas externas à propriedade;
a utilização de sistemas customizados ou planilhas eletrônicas na gestão das
propriedades ocorre de forma significativa, pois os programas padronizados
não atendem às necessidades dos produtores, devido à heterogeneidade da
produção pecuária brasileira e a não-integração dos controles
administrativos e produtivos;
o uso da Internet está mais relacionado à procura por notícias do setor, cotação
de preços e análise do mercado agropecuário, do que como canal de compra.
Quando utilizada para esse fim, é mais freqüente para produtos e
equipamentos, do que para compra de animais e sêmen;
o processo de informatização provocou alterações na estrutura organizacional das
propriedades e gerou resistência por parte dos funcionários menos qualificados,
resultando em mudanças internas, como realocação de funções, reengenharia de
processos e maior integração com outras áreas ou atividades desenvolvidas;
as mudanças observadas se concentraram na área administrativa, com um
impacto significativo nos recursos humanos, por meio de treinamentos ou
dispensas provocadas pela resistência cultural ou baixo grau de instrução;
190
os obstáculos relacionados à adoção da TI foram a precariedade ou
ausência de serviços de telefonia, energia elétrica e provedores de Internet;
o comportamento do produtor em relação à TI indicou atitudes favoráveis e
desfavoráveis, de forma a explicar os comportamentos diferenciados observados
entre propriedades de um mesmo grupo;
as propriedades mais atrasadas apresentaram atitudes cautelosas em relação à
TI, devido a incerteza em relação às conseqüências ou resultados;
os resultados sugerem a importância da formulação e implementação de
políticas para adoção e uso de TI no campo, visando garantir acesso às
tecnologias para pequenos e médios produtores, cujas propriedades não são
organizadas nos moldes empresariais.
191
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YIN, R. K. Case study research: design and methods. London: SAGE (2
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ed.), 1994.
207
APÊNDICE A – AVALIAÇÃO DA NORMALIDADE DOS DADOS
Muitos procedimentos estatísticos assumem que os dados são normalmente
distribuídos. A fim de verificar essa suposição, foi executado um teste de normalidade dos
dados utilizando o software estatístico MINITAB 13. Esse software oferece métodos
estatísticos básicos, dentre os quais, a estatística descritiva e o teste de normalidade, utilizados
na análise dos dados dessa etapa da pesquisa.
Com o auxílio da estatística descritiva, foram encontrados a média, a mediana,
os quartis, o desvio-padrão, o coeficiente de variação, a assimetria e a curtose, permitindo
uma avaliação gráfica da normalidade dos dados (Figura A.1).
807060504030
95% Confidence Interval for Mu
656055
95% Confidence Interval for Median
53,7862
10,7645
55,9070
Maxim um
3rd Quartile
Median
1st Quartile
Minim um
N
Kurtosis
Skewness
Variance
StDev
Mean
P-Value:
A-Squared:
66,2138
15,7510
62,8203
80,0000
69,0000
59,0000
49,0000
30,0000
55
-7,5E-01
-2,1E-01
163,495
12,7865
59,3636
0,406
0,373
95% Confidence Interval for Median
95% Confidence Interval for Sigma
95% Confidence Interval for Mu
Anderson-Darling Normality Test
Descriptive Statistics
FIGURA A.1 – Avaliação gráfica da normalidade dos dados
O maior resultado obtido na pesquisa foi 80 e o menor foi 30. De acordo com a
Figura A.1, é possível observar, por meio de uma avaliação gráfica, que a distribuição dos
dados da amostra é normal (gráfico de barras). As possíveis distorções relação à linha vermelha
traçada como referência se deve ao fato da análise reunir os
scores em classes de resultados com
amplitude igual a 5.
A hipótese de normalidade dos dados foi avaliada pelo teste de Anderson-
Darling, ao nível de 1% de significância. Esse teste possui um excelente poder e é
especificamente efetivo na detecção da partida de normalidade em valores de distribuição
altos e baixos.
208
O resultado do teste foi acompanhado de um gráfico normal de probabilidade,
visando auxiliar na determinação da distribuição normal dos dados. Se os dados são perfeitamente
normais, os pontos no gráfico de probabilidade formam uma linha reta. A linha vermelha dos
mínimos quadrados foi desenhada como referência. O gráfico desenhado foi gerado a partir do
teste de normalidade de Anderson-Darling. A Figura A.2 apresenta o teste de normalidade de
Anderson-Darling para a amostra estudada.
P-Value: 0,406
A-Squared: 0,373
Anderson-Darling Normality Test
N: 55
StDev: 12,7865
Average: 59,3636
807060504030
,999
,99
,95
,80
,50
,20
,05
,01
,001
Probability
Normal Probability Plot
FIGURA A.2 - Teste de normalidade de Anderson-Darling.
O teste de normalidade avalia a nulidade da hipótese (H0) de que os dados são
normalmente distribuídos. Se o p-valor para o teste for menor que o nível de significância
escolhido, deve-se rejeitar H0, concluindo que os dados não estão normalmente distribuídos. O
resultado observado na Figura A.2 para o p-valor foi 0,406, permitindo concluir que os dados
apresentam um comportamento de distribuição normal.
209
APÊNDICE B – QUESTIONÁRIO DA PRIMEIRA ETAPA DA PESQUISA (SURVEY)
ADOÇÃO DA TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO EM ORGANIZAÇÕES RURAIS:
UM ESTUDO NA PECUÁRIA DE CORTE
Prezado(a) Pecuarista(a),
O estudo “Adoção da Tecnologia da informação em organizações rurais: um estudo na pecuária de corte”,
conduzido pelo Prof. João Guilherme de C. F. Machado, do Curso de Administração de Empresas e Agronegócios, da
UNESP de Tupã, faz parte da Tese de Doutorado do autor, realizada na UFSCar, e tem como objetivo identificar os fatores
que influenciam a adoção da Tecnologia da Informação nos empreendimentos rurais, descrevendo os recursos,
procedimentos e ações necessários para o funcionamento da mesma, e identificando as dificuldades no processo de adoção
dessas tecnologias na pecuária de corte nacional.
A Associação dos Criadores de Nelore do Brasil – ACNB, acreditando que essa pesquisa vem ao encontro da
proposta desenvolvida por ela, disponibilizou seus canais de comunicação com os associados, parceria de grande
importância para o sucesso da pesquisa.
Para tanto, estamos solicitando ao(a) senhor(a), que responda ao questionário a seguir. As questões foram divididas
em 5 blocos, buscando identificar os seguintes aspectos:
1) a posse de produtos/serviços tecnológicos e o ano de aquisição;
2) o uso de produtos/serviços tecnológicos;
3) o nível atual de competência (experiência) em relação aos diversos tipos de Tecnologias da informação;
4) as atitudes do entrevistado em relação à Tecnologia da informação;
5) caracterização do entrevistado e de sua propriedade/atividade rural.
Para mudar de bloco é necessário responder todas as questões e clicar no fim da página.
Nos blocos 1 e 2, o entrevistado deverá escolher uma das alternativas conforme indicação no próprio questionário
e indicar o ano de aquisição do produto/serviço, caso o possua (bloco 1 apenas).
Nos blocos 3 e 4, o entrevistado deverá utilizar uma escala de pontuação de 1 (um) a 5 (cinco), conforme indicação
no próprio questionário.
No bloco 5, as respostas irão caracterizar o entrevistado e seu negócio. Nesse bloco é muito importante que o(a)
senhor(a) indique a disposição em participar da segunda etapa da pesquisa, que visa obter informações sobre as diferentes
tecnologias adotadas e os fatores que os motivaram a realizar essa adoção.
Ressalto que as informações enviadas serão tratadas com o maior sigilo e não serão divulgadas
individualmente. Elas têm finalidade única para o desenvolvimento de trabalhos científicos, que possam viabilizar melhorias
na competitividade da cadeia produtiva da carne bovina.
Dada a necessidade de trabalhar com uma amostra significativa de respostas, conto com a sua colaboração e
compreensão em responder o questionário e enviá-lo o mais rápido possível.
Aproveito para agradecer sua participação e me coloco à sua disposição para quaisquer informações adicionais
necessárias ou dúvidas a esclarecer pelo e-mail
[email protected] ou pelo telefone: (14) 3404-4200.
Atenciosamente,
Prof. MSc. João Guilherme de C. F. Machado
UNESP – Tupã / Gepai/DEP - UFSCar
210
QUESTIONÁRIOS DE PESQUISA “ADOÇÃO DA TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO EM ORGANIZAÇÕES
RURAIS: UM ESTUDO NA PECUÁRIA DE CORTE”
As questões abaixo buscam identificar a percepção do produtor rural sobre produtos e serviços tecnológicos. Esse instrumento
foi projetado para obter dados relevantes à adoção da TI e ao uso e difusão da mesma visando identificar atitudes,
comportamentos e construções psicológicas, que possam ser relevantes para a compreensão dos fatores que interferem na adoção
e no uso da Tecnologia da informação na atividade pecuária, visando diferenciar grupos distintos de adotantes, com base no
“tempo” de adoção e identificar tendências, questões e interesses para serem verificados posteriormente.
Bloco I – Posse de Produtos/Serviços Tecnológicos
A lista a seguir apresenta algumas opções de produtos e serviços tecnológicos (de uso exclusivo para a atividade pecuária)
para que você indique se já possui, pretende adquirir nos próximos 12 meses ou não pretende adquirir. Indique o ano de
aquisição, caso já possua o item selecionado.
P
RODUTO/SERVIÇO TECNOLÓGICOPossui
Pretende adquirir
nos próximos 12
meses
Não
pretende
adquirir
Ano de
aquisição
1. Identificação eletrônica de animais (brinco, código de
barras, leitor etc.)
1( ) 2( ) 3( )
2. Balança eletrônica 1( ) 2( ) 3( )
3. Software para administração (contabilidade, custos etc.) 1( ) 2( ) 3( )
4. Software para produção (manejo, sanidade etc.) 1( ) 2( ) 3( )
5. Assinatura de TV por satélite (canais específicos) 1( ) 2( ) 3( )
6. Telefone celular 1( ) 2( ) 3( )
7. Computador em casa 1( ) 2( ) 3( )
8. Computador na propriedade 1( ) 2( ) 3( )
9. Internet em casa 1( ) 2( ) 3( )
10. Internet na propriedade 1( ) 2( ) 3( )
11. SISBOV (acesso à base de dados) 1( ) 2( ) 3( )
Bloco II – Uso de Serviços Tecnológicos
Abaixo são listadas algumas opções de serviços tecnológicos (aplicados à atividade pecuária) para que você indique se já
usou nos últimos 12 meses, se pretende usar nos próximos 12 meses ou se não pretende usar.
S
ERVIÇO TECNOLÓGICO
Usou nos
últimos 12
meses
Pretende usar nos
próximos 12
meses
Não pretende
usar
1. Transação bancária por telefone 1( ) 2( ) 3( )
2. Transação bancária pela Internet 1( ) 2( ) 3( )
3. Compra de gado ou sêmen pela Internet 1( ) 2( ) 3( )
4. Compra de gado ou sêmen pela TV (leilão) 1( ) 2( ) 3( )
5. Troca eletrônica de informações com fornecedor / cliente 1( ) 2( ) 3( )
6. Participação em grupos de discussão pela Internet 1( ) 2( ) 3( )
7. Treinamento on-line para qualquer tecnologia 1( ) 2( ) 3( )
Bloco III – Experiência com as tecnologias da informação
A lista a seguir apresenta algumas opções de produtos e serviços tecnológicos (de uso exclusivo para a atividade pecuária)
para que você indique o nível de experiência na lida com esses equipamentos, de acordo com uma escala que vai de 1 a 5,
sendo que 1 representa NENHUMA e 5 representa INTENSA.
NENHUMA
INTENSA
1 2 3 4 5
P
RODUTO/SERVIÇO TECNOLÓGICO Nenhuma Pouca Média Substancial Intensa
1. Identificação eletrônica de animais (brinco, código de
barras, leitor etc.)
1( ) 2( ) 3( ) 4( ) 5( )
2. Balança eletrônica 1( ) 2( ) 3( ) 4( ) 5( )
3. Software para administração (contabilidade, custos etc.) 1( ) 2( ) 3( ) 4( ) 5( )
4. Software para produção (manejo, sanidade etc.) 1( ) 2( ) 3( ) 4( ) 5( )
5. Assinatura de TV por satélite (canais específicos) 1( ) 2( ) 3( ) 4( ) 5( )
211
6. Telefone celular 1( ) 2( ) 3( ) 4( ) 5( )
7. Computador em casa 1( ) 2( ) 3( ) 4( ) 5( )
8. Computador na propriedade 1( ) 2( ) 3( ) 4( ) 5( )
9. Internet em casa 1( ) 2( ) 3( ) 4( ) 5( )
10. Internet na propriedade 1( ) 2( ) 3( ) 4( ) 5( )
11. SISBOV (acesso à base de dados) 1( ) 2( ) 3( ) 4( ) 5( )
BLOCO IV – Atitudes do entrevistado em relação à Tecnologia da informação
Leia as frases abaixo e indique o quanto concorda ou discorda, de acordo com uma escala que vai de 1 a 5, sendo que 1
representa DISCORDO TOTALMENTE e 5 representa CONCORDO TOTALMENTE.
DISCORDO
TOTALMENTE
CONCORDO
TOTALMENTE
1 2 3 4 5
1. A tecnologia no empreendimento rural permite ter mais controle sobre os processos de
produção da carne bovina, tornando mais eficiente o trabalho.
1( ) 2( ) 3( ) 4( ) 5( )
2. Você prefere usar a tecnologia mais avançada disponível. 1( ) 2( ) 3( ) 4( ) 5( )
3. Ao surgir uma nova tecnologia, você procura aprender rapidamente sobre seu funcionamento. 1( ) 2( ) 3( ) 4( ) 5( )
4. Você está seguro de que os equipamentos utilizados na produção funcionarão corretamente
seguindo as suas instruções.
1( ) 2( ) 3( ) 4( ) 5( )
5. Outros produtores lhe pedem conselhos e informações sobre novas tecnologias. 1( ) 2( ) 3( ) 4( ) 5( )
6. Você tem a impressão que a tecnologia utilizada por outros produtores é mais avançada do que
a que você utiliza. *
1( ) 2( ) 3( ) 4( ) 5( )
7. Em geral, você está entre os primeiros do seu grupo de produtores rurais a adquirir uma nova
tecnologia logo que ela surge.
1( ) 2( ) 3( ) 4( ) 5( )
8. Normalmente, você consegue entender os novos produtos e serviços de alta tecnologia sem a
ajuda de outras pessoas.
1( ) 2( ) 3( ) 4( ) 5( )
9. Você está atualizado com os últimos desenvolvimentos tecnológicos da pecuária de corte (nas
áreas administrativa e de produção).
1( ) 2( ) 3( ) 4( ) 5( )
10. Na compra de um produto ou serviço de alta tecnologia, você prefere o modelo básico em
vez de um modelo com muitas características adicionais.
1( ) 2( ) 3( ) 4( ) 5( )
11. Os serviços de suporte técnico (por telefone ou Internet) não ajudam, porque não explicam as
coisas de forma compreensível.
1( ) 2( ) 3( ) 4( ) 5( )
12. Às vezes, você acha que os sistemas de tecnologia não são projetados para serem usados
pelos funcionários da propriedade rural.
1( ) 2( ) 3( ) 4( ) 5( )
13. Não existe manual de produto ou serviço de alta tecnologia que seja escrito em uma
linguagem simples.
1( ) 2( ) 3( ) 4( ) 5( )
14. Quando você utiliza um suporte técnico, você sente que o fornecedor do produto ou serviço
tecnológico poderia estar tirando vantagem de você.
1( ) 2( ) 3( ) 4( ) 5( )
15. É constrangedor quando você tem problemas com algum equipamento de alta tecnologia
enquanto outras pessoas (ou funcionários ou produtores rurais) estão olhando.
1( ) 2( ) 3( ) 4( ) 5( )
16. A possibilidade da nova tecnologia falhar recomenda cuidado na substituição de tarefas
desempenhadas por pessoas.
1( ) 2( ) 3( ) 4( ) 5( )
17. As tecnologias parecem sempre falhar no pior momento possível. 1( ) 2( ) 3( ) 4( ) 5( )
18. Você considera inseguro comprar animais ou sêmen pela Internet. 1( ) 2( ) 3( ) 4( ) 5( )
19. Você tem receio de que as informações do SISBOV enviadas pela Internet serão vistas por
outras pessoas.
1( ) 2( ) 3( ) 4( ) 5( )
20. Quando você fornece informação a um equipamento ou pela Internet, você não tem certeza
de que ela realmente chegou ao destino certo.
1( ) 2( ) 3( ) 4( ) 5( )
21. Você considera inseguro alterar seu processo de produção mesmo que a tecnologia
empregada esteja ultrapassada.
1( ) 2( ) 3( ) 4( ) 5( )
22. Você considera inseguro utilizar qualquer produto ou serviço baseado em tecnologia antes
que outras propriedades rurais o façam, para que tenha a certeza sobre sua confiabilidade.
1( ) 2( ) 3( ) 4( ) 5( )
23. Você tem receio de que as informações que dispõe sobre novos produtos e serviços baseados
em tecnologia não sejam confiáveis, independente da fonte de informação.
1( ) 2( ) 3( ) 4( ) 5( )
24. Você se sente inseguro em adotar uma nova tecnologia em seu empreendimento rural porque
outras propriedades rurais podem fazer o mesmo.
1( ) 2( ) 3( ) 4( ) 5( )
25. Qualquer modificação no processo de produção utilizando alguma tecnologia nem sempre é
compensadora financeiramente.
1( ) 2( ) 3( ) 4( ) 5( )
212
BLOCO V – Caracterização do entrevistado / propriedade rural
As informações abaixo possuem fins científicos e são importantes para a realização da pesquisa. Têm como objetivo
caracterizar o entrevistado e sua propriedade rural, bem como indicar a disposição em participar da segunda etapa da
pesquisa. Ressalta-se que as informações prestadas não serão divulgadas individualmente, e não identificará o entrevistado.
1. Nome: 2. E-mail:
3. Telefone / celular:
4. Cidade: 5. Estado:
6. Disposição em participar da segunda etapa da pesquisa: 1. ( ) Sim 2. ( ) Não
7. Sexo: 1. ( ) Masculino 2. ( ) Feminino
8. Faixa etária:
1. ( ) De 18 a 25 anos
2. ( ) De 26 a 35 anos
3. ( ) De 36 a 45 anos
4. ( ) De 46 a 55 anos
5. ( ) De 56 a 65 anos
6. ( ) Mais de 66 anos
9. Estado civil: 1. ( ) Solteiro 2. ( ) Casado/união estável 3. ( ) Separado/divorciado 4. ( ) Viúvo
10. Grau de instrução (proprietário):
1. ( ) 1
o
Grau Incompleto
2. ( ) 1
o
Grau Completo
3. ( ) 2
o
Grau Incompleto
4. ( ) 2
o
Grau Completo
5. ( ) Superior Incompleto
6. ( ) Superior Completo
7. ( ) Pós-graduação
11. Profissão ou ocupação:
12. Renda familiar mensal aproximada:
1. ( ) De R$ 1.000,00 a R$ 2.500,00
2. ( ) De R$ 2.500,00 a R$ 4.500,00
3. ( ) De R$ 4.500,00 a R$ 6.000,00
4. ( ) De R$ 6.000,00 a R$ 10.000,00
5. ( ) De R$ 10.000,00 a R$ 20.000,00
6. ( ) Mais de R$ 20.000,00
7. ( ) Não sabe
13. Localização da propriedade rural (cidade/estado):
14. Local de moradia do proprietário: 1. ( ) Propriedade 2. ( ) Cidade
15. Distância média da residência até a propriedade (apenas se residir na cidade):
1. ( ) Até 50 km 2. ( ) De 51 a 100 km 3. ( ) De 101 a 500 km 4. ( ) Mais de 500 km
16. Grau de instrução (administrador da propriedade):
1. ( ) 1
o
Grau Incompleto
2. ( ) 1
o
Grau Completo
3. ( ) 2
o
Grau Incompleto
4. ( ) 2
o
Grau Completo
5. ( ) Superior Incompleto
6. ( ) Superior Completo
7. ( ) Pós-graduação
8. ( ) Não possui administrador
17. Principal atividade da propriedade: 18. E a segunda?
19. Área destinada para o gado de corte (em ha):
20. Número estimado do rebanho (cabeças):
21. Principais raças criadas:
1. ( ) Zebuína 2. ( ) Européia 3. ( ) Composta 4. ( ) Cruzamento industrial 5. ( ) Mocho
22. Sistema de criação: 1. ( ) Cria 2. ( ) Recria 3. ( ) Engorda
23. Produz touro: 1. ( ) Sim 2. ( ) Não 24. Produz matriz: 1. ( ) Sim 2. ( ) Não
25. Sistema de produção (pode assinalar mais de uma alternativa):
1. ( ) Novilho precoce
2. ( ) Confinamento
3. ( ) Semi-confinamento
4. ( ) Pasto
5. ( ) Pasto + Suplemento
6. ( ) Utilização de sais proteinados
7. ( ) Pastejo rotacionado
8. ( ) Pastejo intensivo
26. Tipos de instalações na propriedade (pode assinalar mais de uma alternativa):
1. ( ) Curral
2. ( ) Piquete
3. ( ) Creep-feeding
4. ( ) Galpão para maquinários
5. ( ) Silos
27. Utilização de tecnologia na produção (pode assinalar mais de uma alternativa):
1. ( ) Inseminação artificial
2. ( ) Suplementação
3. ( ) Melhoramento genético
4. ( ) Estação de monta
5. ( ) Utilização promotor de crescimento
28. Utilização de assistência técnica (pode assinalar mais de uma alternativa):
1. ( ) Própria
2. ( ) Contratada
3. ( ) Órgãos de pesquisa
4. ( ) Órgãos do governo
5. ( ) Associação
6. ( ) Cooperativa
7. ( ) Revenda / fabricante de insumos
8. ( ) Revenda / fabricante de Tecnologia da informação
9. ( ) Veterinária
10. ( ) Agronômica
11. ( ) Zootécnica
29. Participa de grupo de melhoramento / avaliação genética. Qual?
213
APÊNDICE C – ROTEIRO DE ENTREVISTA
DIAGNÓSTICO DO USO DE TI NA PECUÁRIA DE CORTE
Antecedentes da adoção da TI
Expectativas iniciais / motivos que levaram à adoção
1. Quais eram as expectativas em relação às tecnologias (computador, software específico para administração e produção,
balança eletrônica, identificação eletrônica) antes da adoção?
2. Você compra gado ou sêmen pela Internet? E pela TV (leilão)? Como foi a experiência? Vale a pena? Você acha que é
uma forma legal de comércio para esse tipo de produto ou não?
3. Troca de informação com o cliente ou fornecedor, é realizado somente por e-mail?
4. Já participou ou participa de grupos de discussão pela Internet? Como foi a experiência? Vale a pena?
5. E de treinamento on-line para qualquer tecnologia?
6. Utiliza a Internet para outros fins, como por exemplo Propaganda / Promoção dos animais da fazenda?
7. A quem coube a iniciativa (quem motivou) de adotar novas TI (computador, software específico para administração e
produção, balança eletrônica, identificação eletrônica)? Foi o ( ) filhos ( ) parente ( ) vizinho ( ) associação ( )
sócio ( ) administrador. Para todas elas?
8. Possui TV por satélite? Qual é? Parabólica? Os funcionários têm acesso aos programas? Como se dá isso? Eles
participam, comentam?
9. É membro de alguma associação? ( ) Sim ( ) Não. Qual? Há quanto tempo?
10. Qual a razão para associar-se?
11. O papel da associação é / foi importante na sua decisão de adotar as TI? Em qual caso? Você acha que ela deveria ser mais atuante
oferecendo opções para o produtor? Em que sentido?
12. Alguma dessas tecnologias (computador, software, balança) teve a participação dos funcionários durante o processo de adoção?
Quem lida com o computador, com o software? São eles ou só você (nesse caso, por qual motivo)?
13. Houve empresas parceiras na implantação das tecnologias (computador, software, balança)? Ou seja, a empresa testou a
tecnologia antes, ou simplesmente você comprou e começou a usar sem ajuda?
Processo de gestão da adoção (desenvolvimento e coordenação)
14. Dentro do empreendimento rural, existem áreas (tipo departamentos) que se envolveram diretamente com a adoção das
novas tecnologias? Foi criada alguma área nova para cuidar da implementação das novas tecnologias?
15. Sobre a necessidade de assistência técnica, indique a freqüência de uso para cada TI (computador, software, balança):
( ) nunca ( ) raramente ( ) às vezes ( ) freqüentemente ( ) sempre.
16. Como você avalia o serviço prestado pelos fornecedores?
Oportunidades e ameaças encontradas / pontos fracos e pontos fortes do empreendimento (na época da adoção)
17. Na época da adoção do computador, software, balança etc, você se lembra de questões políticas, alguma legislação que possa
ter afetado de forma positiva ou negativa a adoção? Facilidade de acesso ao crédito? Exigências do mercado. (por exemplo, o
SISBOV é uma legislação que acabou empurrando a adoção, por conta de uma exigência maior no controle de dados)
18. Como você vê sua propriedade em relação aos demais vizinhos, ou mesmo na região, em relação a qualificações em
relação a outros produtores, recursos financeiros e postura tecnológica? Vocês são melhores ou piores?
Processo de adoção da TI
Investimentos em infra-estrutura (equipamentos necessários / treinamento)
1. Qual o montante aproximado de investimento para cada nova tecnologia (computador, software, balança, TV por satélite etc)?
214
2. Existiram, ou vão existir, investimentos em recursos físicos e de pessoal, por conta da adoção dessas tecnologias?
3. Qual é o software utilizado para administração da propriedade e qual usado para o controle zootécnico? Ele foi
desenvolvido para a empresa ou é comercial?
4. Quais os principais problemas em relação à assistência técnica? Qual o custo médio?
Teste da tecnologia adotada (facilitar o aprendizado)
5. Algumas empresas preferem testar uma nova tecnologia, antes de difundir seu uso. Este foi o caso da sua propriedade?
Em caso afirmativo, comente sua experiência considerando a duração e os resultados.
Resultados parciais (percepção das vantagens)
6. Quais as maiores vantagens que levam os empreendimentos a adotarem a TI?
Situação atual (tipo de informação coletada, armazenamento, tratamento, distribuição, percepção dos benefícios,
disposição para novos investimentos)
7. Que tipos de informações administrativas são coletadas? ( ) contabilidade ( ) controle de pessoal ( ) cotações ( )
informações de mercado ( ) outras. Quais?
8. Que tipos de informações zootécnicas são coletadas? ( ) reprodução ( ) peso coletivo ( ) peso individual ( )
avaliação corporal ( ) outras. Quais?
9. Marcar um X sobre a coluna que corresponde ao seu nível de satisfação com cada fonte de informação que utiliza em
relação ao manejo e ao mercado bovino. Se não utilizar a fonte, não marcar nenhum número. Se possível, comentar.
Técnicas (manejo) Econômicas (mercado)
Fontes de informação
Insatisfeito
Pouco
Satisfeito
Satisfeito
Bastante
Satisfeito
Insatisfeito
Pouco
Satisfeito
Satisfeito
Bastante
Satisfeito
TV aberta
TV por assinatura
(satélite)
Internet
Assistência técnica
Revistas
especializadas
Instituição de pesquisa
(Embrapa)
Instituição de pesquisa
(Universidade)
Cooperativa
Associação de
criadores
Técnicos autônomos
Indústria (abate e
desossa)
Varejo / consumidor
final
10. Qual a freqüência de uso da informática nas atividades envolvidas na produção de carne bovina? ( ) nunca ( )
raramente ( ) às vezes ( ) freqüentemente ( ) sempre.
11. Troca informações com outros produtores? ( ) nunca ( ) raramente ( ) às vezes ( ) freqüentemente ( ) sempre.
12. Que tipo de informação é trocada?
Técnica: manejo/inovações tecnológicas ( ) nunca ( ) raramente ( ) às vezes ( ) freqüentemente ( ) sempre
215
Econômicas: mercados/cotações ( ) nunca ( ) raramente ( ) às vezes ( ) freqüentemente ( ) sempre
Rastreabilidade ( ) nunca ( ) raramente ( ) às vezes ( ) freqüentemente ( ) sempre
Administrativas ( ) nunca ( ) raramente ( ) às vezes ( ) freqüentemente ( ) sempre
13. Quais os meios de comunicação utilizados?
Telefone/Celular ( ) nunca ( ) raramente ( ) às vezes ( ) freqüentemente ( ) sempre
E-mail ( ) nunca ( ) raramente ( ) às vezes ( ) freqüentemente ( ) sempre
Conversa pessoal ( ) nunca ( ) raramente ( ) às vezes ( ) freqüentemente ( ) sempre
Boletins / folhetos ( ) nunca ( ) raramente ( ) às vezes ( ) freqüentemente ( ) sempre
14. Em que situação ocorre troca de informação?
Eventos/Feiras/Dias de campo ( ) nunca ( ) raramente ( ) às vezes ( ) freqüentemente ( ) sempre
Visita à empresa ( ) nunca ( ) raramente ( ) às vezes ( ) freqüentemente ( ) sempre
Visita a outros produtores ( ) nunca ( ) raramente ( ) às vezes ( ) freqüentemente ( ) sempre
Treinamentos ( ) nunca ( ) raramente ( ) às vezes ( ) freqüentemente ( ) sempre
15. Qual é a participação atual do computador, software, balança etc nas atividades de produção e de gestão? ( ) nunca ( )
raramente ( ) às vezes ( ) freqüentemente ( ) sempre
16. Em sua opinião, como tem sido o desempenho atual dessas tecnologias, em comparação com suas expectativas à época
da adoção? ( ) superiores ( ) comparável-iguais ( ) inferiores
Impactos da adoção da TI
Mudanças internas (SI utilizado, estrutura, tratamento, integração das atividades de gestão e produção, tomada de
decisão)
1. Indique, em uma escala de importância (1 – para “menos importante” até 5 para “mais importante”), quais as áreas
afetadas pela adoção do computador, software, balança etc. Se possível, comente essas mudanças.
Áreas Afetadas
Recursos
Humanos
Produção
(coleta dados)
Produção
(armaz. dados)
Relacionam. com
fornec./cliente
Tomadas de
decisão
2. Indique, em uma escala de importância (0 - para “nada mudou” até 5 - para “mudou muito / radicalmente”), se houve
mudanças nas seguintes atividades / funções, em função das tecnologias adotadas. Se possível, comente essas mudanças.
Atividades/funções
Comportamento/atuação dos
funcionários de campo
Remuneração dos funcionários Tomadas de decisão
3. Indique, em uma escala de importância (0 - para “nada mudou” até 5 - para “mudou muito / radicalmente”), como a
adoção do computador, software, balança etc. influenciou seu empreendimento, em termos de impactos internos. Se
possível, comente essas mudanças.
Impactos internos
Fluxo de
informação
Centralização ou
descentralização de decisões
Integração entre
diferentes atividades
Processo de
tomada de decisões
4. Identifique, dentre aquelas TI que você possui em seu negócio, quais contribuem para a tomada de decisão do
empreendimento rural. Utilize a seguinte escala de importância:
Tecnologia da informação: produtos e serviços Contribuição para a tomada de decisão do empreendimento rural
Computador ( ) Pouco importante ( ) Indiferente ( ) Muito importante
Software específico para administração ( ) Pouco importante ( ) Indiferente ( ) Muito importante
216
Software específico para produção ( ) Pouco importante ( ) Indiferente ( ) Muito importante
Balança eletrônica ( ) Pouco importante ( ) Indiferente ( ) Muito importante
Identificação eletrônica ( ) Pouco importante ( ) Indiferente ( ) Muito importante
Compra de gado ou sêmen pela Internet ( ) Pouco importante ( ) Indiferente ( ) Muito importante
Compra de gado ou sêmen pela TV (leilão) ( ) Pouco importante ( ) Indiferente ( ) Muito importante
Troca de informações com fornecedor / cliente ( ) Pouco importante ( ) Indiferente ( ) Muito importante
Participação em grupos de discussão pela Internet ( ) Pouco importante ( ) Indiferente ( ) Muito importante
Treinamento on-line para qualquer tecnologia ( ) Pouco importante ( ) Indiferente ( ) Muito importante
Mudanças externas (imagem da organização, clientes e mercados, integração com indústrias)
5. Indique, em uma escala de importância (0 - para “nada mudou” até 5 - para “mudou muito / radicalmente”), como as
novas tecnologias (computador, software, balança etc) influenciam seu empreendimento, em termos de mudanças
externas. Comente essas mudanças.
Impactos internos X
tecnologia adotada
Mudança na imagem da
empresa
Relação com fornecedores Relação com fornecedores
Benefícios intra-organizacionais (gestão interna – custo, aprendizado, processos)
6. Indique os maiores benefícios (pode assinalar mais de uma alternativa) da adoção d TI no empreendimento rural. ( )
redução de Custos ( ) experiência e aprendizado do processo ( ) aprimoramento dos processos internos ( ) impacto
positivo na imagem do negócio ( ) disponibilidade de informações mais confiáveis.
Obstáculos / dificuldades (resistência, desqualificação, incompatibilidade)
7. Indique os maiores obstáculos / dificuldades (pode assinalar mais de uma alternativa) enfrentados internamente durante a
adoção da TI no empreendimento rural. ( ) resistência cultural produtor ( ) resistência cultural funcionário ( ) pessoal
desqualificado ( ) incompatibilidade entre tecnologias ( ) assistência técnica ( ) disponibilidade de crédito ( ) legislação.
8. Indique, com base em sua opinião e na experiência no seu empreendimento, os maiores problemas ligados à implantação
de novas TI no seu negócio (resumo do que foi falado).
Problemas para implantação de TI Nível de concordância
Pessoal desqualificado para operações ( ) discordo muito ( ) descordo ( ) indiferente ( ) concordo ( ) concordo muito
Serviços de apoio dos fornecedores ( ) discordo muito ( ) descordo ( ) indiferente ( ) concordo ( ) concordo muito
Legislação governamental ( ) discordo muito ( ) descordo ( ) indiferente ( ) concordo ( ) concordo muito
Incompatibilidade com os sistemas
existente
( ) discordo muito ( ) descordo ( ) indiferente ( ) concordo ( ) concordo muito
Necessidade de grandes investimentos de
capital
( ) discordo muito ( ) descordo ( ) indiferente ( ) concordo ( ) concordo muito
Disponibilidade de crédito ( ) discordo muito ( ) descordo ( ) indiferente ( ) concordo ( ) concordo muito
Infra-estrutura ( ) discordo muito ( ) descordo ( ) indiferente ( ) concordo ( ) concordo muito
Software ( ) discordo muito ( ) descordo ( ) indiferente ( ) concordo ( ) concordo muito
Resistência cultural do empreendimento ( ) discordo muito ( ) descordo ( ) indiferente ( ) concordo ( ) concordo muito
Resistência cultural do funcionário ( ) discordo muito ( ) descordo ( ) indiferente ( ) concordo ( ) concordo muito
Outros, quais? ( ) discordo muito ( ) descordo ( ) indiferente ( ) concordo ( ) concordo muito
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