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RAFAELLA KRÜGER CORRÊA
SÃO JOSÉ – SC: DIMENSÕES DO LUGAR ENQUANTO ESPAÇO DE
PRODUÇÃO E CONSUMO DE ATIVIDADES DE LAZER E TURISMO
NA GRANDE FLORIANÓPOLIS
Florianópolis/SC
2007
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1
Universidade Federal de Santa Catarina
Centro de Filosofia e Ciências Humanas
Programa de Pós-Graduação em Geografia
Rafaella Krüger Corrêa
SÃO JOSÉ – SC: DIMENSÕES DO LUGAR ENQUANTO ESPAÇO DE
PRODUÇÃO E CONSUMO DE ATIVIDADES DE LAZER E TURISMO NA GRANDE
FLORIANÓPOLIS
Orientador: Ewerton Vieira Machado
DISSERTAÇÃO DE MESTRADO
Área de Concentração: Desenvolvimento Regional e Urbano
Florianópolis/SC, Agosto de 2007
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2
SÃO JOSÉ – SC: DIMENSÕES DO LUGAR ENQUANTO ESPAÇO DE
PRODUÇÃO E CONSUMO DE ATIVIDADES DE LAZER E TURISMO NA GRANDE
FLORIANÓPOLIS
Rafaella Krüger Corrêa
Coordenador: ___________________________________________
Prof. Dr. Carlos José Espíndola
Dissertação submetida ao Programa de Pós Graduação em Geografia, Área
de Concentração: Desenvolvimento Regional e Urbano, do Centro de
Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Federal de Santa Catarina,
em cumprimento aos requisitos básicos à obtenção do grau acadêmico de
Mestre em Geografia.
Presidente: ______________________________
Prof. Dr. Ewerton Vieira Machado
Membro: ________________________________
Prof. Dr. Odair Gercino da Silva
Membro: _________________________________
Prof. Dr. Marcos Aurélio Tarlombani Silveira
Florianópolis – SC, 17 de Abril de 2007
3
Aos meus queridos pais, Josel e Walquíria,
por serem o meu suporte, dando-me sempre
amor e incentivo, torcendo por minhas
vitórias e conquistas;
Ao meu esposo Paulo, companheiro de
todas as horas, por todo amor e paciência;
A minha adorada irmã Marcela e meu
cunhado Diones, presenças constante em
minha vida.
A minha querida avó, Leca, pelo carinho, e
meu eterno aIvo (in memorian), por estar
sempre iluminando meu caminho.
4
AGRADECIMENTOS
Tenho muito que agradecer a várias pessoas pela ajuda e disponibilidade ao
longo destes três anos de elaboração desta Dissertação de Mestrado. Assim,
começo por agradecer a Deus, por estar sempre presente em minha vida,
iluminando meu caminho;
Ao meu orientador, professor e amigo Ewerton Vieira Machado, pelo árduo
trabalho de orientação, que sempre foi repleto de incentivo, paciência e dedicação
constante; sempre indicando a direção a ser tomada nos momentos de maior
dificuldade;
Ao Coordenador do Curso de Pós Graduação em Geografia, Prof. Dr. Carlos
José Espíndola e a Marli, funcionária da Secretaria, pelo apoio e colaboração;
A todos os professores do Programa, sábios mestres, que de uma forma ou
de outra contribuíram para o meu crescimento pessoal e acadêmico;
Aos colegas do Mestrado pela excelente relação pessoal que criamos, e pelos
momentos agradáveis que compartilhamos. Em especial a Analice de Ávila, colega,
amiga e companheira nas orientações e Francinete de Britto, que mesmo longe
proporcionou muitos momentos de descontração e alegria;
As minhas amigas de longa data, sem nenhuma ordem em particular, Nicalle,
ílian, Alessandra, Janaíne, Ana Paula e Suelen, que foram perguntando pelo
trabalho e suportaram as minhas ausências, bem como as minhas presenças;
Aos Professores Membros da Banca Examinadora, Prof. Dr. Odair Gercino da
Silva e Prof. Dr. Marcos Aurélio Tarlombani Silveira, por contribuírem para o
aperfeiçoamento deste trabalho;
Por último (mas os últimos são sempre os primeiros), não podia deixar de
agradecer às pessoas mais importantes da minha vida. À minha família, pais, irmã,
esposo, cunhado, avó, e demais parentes, pelo apoio incondicional que sempre me
deram. Sei que estão orgulhosos de mim por ter concluído mais esta fase.
5
Especialmente quero agradecer aos meus pais por terem suportado os
encargos dos meus estudos, e pela confiança que me incutiram ao longo dos meus
anos de vida, sei que devo a vocês tudo o que sou hoje.
Agradeço ao Paulo, esposo, companheiro, e amigo, que apesar de muitos
‘débitos’ de atenção, me apoiou nos bons e nos maus momentos, sempre
manifestando paciência, amor e carinho.
Enfim, a todos que de alguma forma me ajudaram no desenvolvimento desta
Dissertação, os meus sinceros agradecimentos.
6
O passo mais importante para chegar a
concentrar-se é aprender a estar sozinho
consigo mesmo.
Erich Fromm
7
RESUMO
Esta pesquisa trata o Lazer e o Turismo no Município de São José - SC, e tem como
foco o (re)conhecimento dos espaços de produção e consumo daquelas
potencialidades para o lugar e sua inserção regional. Este município, como parte
integrante da Região da Grande Florianópolis teve, nas últimas décadas, um
desenvolvimento bastante significativo, uma vez que a urbanização se expandiu
como uma mancha indissociável, processo ditado pelas estratégias de
desenvolvimento da capital catarinense para sua hinterlândia. Isto vêm promovendo
elevado crescimento demográfico que, aliado à outras manifestações, fomentam a
geração de necessidades para a produção de espaços comuns de uso do tempo
livre (lazer, entretenimento e turismo). Assim, nos últimos anos, o resgate das
manifestações histórico-sócio-culturais (cultura de base açoriana, preservação do
patrimônio histórico, etc.), através de festas, feiras e outros eventos, têm servido de
estratégias para viabilizarem empreendimentos, muitos dos quais estão associados
às perspectivas de condições impostas pelos tentáculos da urbanização e do
desenvolvimento turístico de Florianópolis. Nessas condições nota-se que, nos
últimos anos, o município tem revelado interesse pelo incremento das receitas
geradas com a atividade turística, na economia local, despertando inovadora
mentalidade, advinda tanto do setor público quanto do privado e que vêm, cada vez
mais mostrando-se capaz de redirecionar o município para novas “trilhas” da
atividade turística, na região da Grande Florianópolis. Desse modo, este trabalho
tem como propósito identificar e analisar configurações cio-espaciais daquelas
atividades no município, como atrativos locais/regionais, associando-os às conexões
mundiais, na contemporaneidade promovidas a partir de Florianópolis e outros
espaços mundiais. Como referência nos fundamentos teóricos, foram utilizadas
contribuições acadêmicas de autores como Milton Santos, Roberto Lobato Corrêa,
Adyr Rodrigues, Celso Barroso Leite, Luiz Gonzaga Trigo, entre outros. Tomou-se
como apoio metodológico, procedimentos embasados em princípios de C.D.P.
(Condicionantes, Deficiências, Potencialidades), onde os dados/informações,
coletados a partir de fontes publicadas, foram reconhecidos in loco e,
sistematizados, deram suporte ao texto dissertativo. Espera-se então, através das
reflexões e discussões aqui contidas, contribuir para avanços nas análises da
temática focada, nos contextos espaciais analisados.
8
ABSTRACT
This research is about leisure and tourism at o Jose County SC, and its focus is
the recognition of the production spaces and the consumption of the power to the
place and its regional insertion. This County, as a part of the Region of the Big
Florianopolis had, in the last decades, a really significant development, once that the
housing development has expanded as a stain without reverse, process dictated by
the strategies of development of the Catarinense Capital to your outskirts. This has
promoted a high demographic growing that, with the other demonstrations, make the
generation of necessities to the production of common use spaces of free time
(leisure, entertaining and tourism). Likewise, in the last years, the ransom of this
demonstrations, historic-social-cultural (a culture of Açoriana basis, preserving the
historical heritage, etc), through parties, fairs and other events, has served of
strategies to make it possible the enterprising, most of the are associated to the
perspectives conditions commanded by the tentacles of the urbanization and the
tourism development of Florianópolis. In this conditions we notice that, in the last
Years, the County has revealed interest by the growth of the incomes generated with
the tourism activity, at the local economy, awaking a brand new mentality, brought by
both the public and the private sector which more and more shows capacity to make
it go into a direction of new ways of the tourism activity, in the Big Florianópolis. This
way, this work has as a propose, identify and analyze the settings social-space of
those activities in the County, as local-regional attractive, associating to the world
connections, promoted from Florianópolis and other world spaces. As reference at
the theories fundaments, were used academies contributions from authors’ as Milton
Santos, Roberto Lobato Correa, Adyr Rodrigues, Celso Barroso Leite, Luiz Gonzaga
Trigo, beside others. It became a methodological support procedures embased in
principals of C.D.P. (Conditions, Deficiencies, Potentiality), where this data bases,
collected by founts published, where recognized in loco and systemized, and gave
support to the dissertate text. From this reflections and arguments that it’s content,
we hope to contribute to the advance of the analysis of the focus thematic, in the
space contest analyzed.
9
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
FIGURA 01 Esquema Básico de Distribuição do Tempo Diário Ideal na Vida de um
Trabalhador ...............................................................................................................31
FIGURA 02 Tentativa de Análise da Relação Existente entre Tempo Livre, Ócio,
Lazer e Turismo .........................................................................................................32
FIGURA 03 – Desembarques Internacionais no Brasil Período: 2002-2005.............52
FIGURA 04 – Mapa de Localização do Município de São José – SC ......................63
FIGURA 05 Mapa do Município de São José: Divisão por Distritos
Administrativos...........................................................................................................66
FIGURA 06 – Bairros do Município de São José ......................................................67
FIGURA 07 – Casarões no Centro Histórico de São José (Década de 30)...............74
FIGURA 08 Vista Parcial da Cidade de São José: Edificações Próximas ao Mar
(Década de 1930) ......................................................................................................74
FIGURA 09 – Catraca de Travessia entre Ilha e Continente (década de 1920) .......76
FIGURA 10 Mercado Público de Florianópolis: Canoas Trazendo Gêneros (entre
1898 e 1935) .............................................................................................................77
FIGURA 11 Venda de Louças de Barro no Mercado Público (entre 1898 e 1935)
....................................................................................................................................77
FIGURA 12 Mercado Público: Venda de Gêneros Alimentícios (entre 1898 e 1935)
....................................................................................................................................78
FIGURA 13 – Início da Construção da Ponte Hercílio Luz .......................................79
FIGURA 14 – Esgoto Lançado Direto na Praia (Ponta de Baixo) .............................97
FIGURA 15 Assoreamento e Poluição de Rios e Córregos na Sede do Município
....................................................................................................................................97
FIGURA 16 – Praia do Bom Abrigo (década de 1950) ...........................................106
FIGURA 17 – Vista da Praia da Saudade em Coqueiros (década de 60) ..............106
FIGURA 18 Localização dos Grupos de Atrativos Turísticos e seus Principais
Tipos de Ofertas no Município de São José - SC, 2006..........................................113
FIGURA 19 – Beleza Cênica na Praia da Ponta de Baixo ......................................116
FIGURA 20 – Ilha da Casca ....................................................................................116
FIGURA 21 – Vista Aérea do Lago da Pedreira ......................................................117
FIGURA 22 – Igreja Matriz de São José..................................................................119
10
FIGURA 23 – Solar dos Ferreira Mello: Museu e Biblioteca Municipal ...................120
FIGURA 24 – Prédio da Fundação Municipal de Cultura e Turismo .......................121
FIGURA 25 – Theatro Adolpho Mello ......................................................................122
FIGURA 26 – Bica da Carioca ................................................................................123
FIGURA 27 – Antiga Casa da Câmara e Cadeia – Hoje Casa da Cultura ..............123
FIGURA 28 – Atual Cine York .................................................................................124
FIGURA 29 – Bar Cine York (1925) no Saguão do Theatro ...................................125
FIGURA 30 Exposição de louças de barro na 5ª edição da Açorfesta
..................................................................................................................................128
FIGURA 31 Oleiro Demonstrando Processo de Fabricação de Peças em Barro na
Açorfeta (2005) ........................................................................................................128
FIGURA 32 Escola de Oleiros em São José ........................................................130
FIGURA 33 Folder de Divulgação da Feira ..........................................................130
FIGURA 34 Renda de Bilro ..................................................................................132
FIGURA 35 – Artefatos de Cerâmica e Renda de Bilro ..........................................132
FIGURA 36 Exposição de Artesanatos na 5ª Açorfesta ......................................133
FIGURA 37 Artesanatos Confeccionados da Palha de Bananeira Açorfesta/2006
..................................................................................................................................133
FIGURA 38 Apresentação de Dança: Pau de Fitas .............................................134
FIGURA 39 Ilustração dos Serviços Hoteleiros Ofertados em São José .............140
FIGURA 40 – Entrada Principal do Centro Multiuso ...............................................157
FIGURA 41 – Vista Lateral do Centro Multiuso .......................................................157
FIGURA 42 – Fórum Municipal ...............................................................................159
FIGURA 43 Centro Empresarial Terra Firme .......................................................159
FIGURA 44 – Vista Parcial da Avenida Beira Mar Após o Aterro ...........................161
FIGURA 45 – Vista da Beira Mar antes do Aterro ...................................................161
11
LISTA DE TABELAS
TABELA 01 Motivações da Demanda Turística Internacional: Caso Brasileiro
Período de 1999 – 2003 ............................................................................................41
TABELA 02 Chegada de Turistas Internacionais no Mundo por Região Período:
2002 – 2005 ...............................................................................................................50
TABELA 03 – Receita Cambial Gerada pelo Turismo Internacional, por Região
Período: 2002 – 2005 ................................................................................................51
TABELA 04 Registros Demográficos de Municípios do Núcleo Metropolitano da
Grande Florianópolis – 2000 .....................................................................................64
TABELA 05 Evolução da Urbanização da População Josefense: Período de 1960
a 2000 ........................................................................................................................86
LISTA DE QUADROS
QUADRO 01 Hotéis Existentes no Município de São José Distribuídos por
Localidades .............................................................................................................137
QUADRO 02 – Equipamentos Hoteleiros: Capacidade Instalada em 2007 ............138
QAUDRO 03 – Valor das Tarifas Cobradas nas Diárias pelos Estabelecimentos
Hoteleiros ................................................................................................................139
QUADRO 04 Meios de Hospedagens do Tipo Empresário Existentes no Município
de São José (Ativos no Cadastro da JUCESC) ......................................................141
QAUDRO 05 Meios de Hospedagens do Tipo Sociedade Existentes no Município
de São José (Ativos no Cadastro da JUCESC) ......................................................142
QUADRO 06 Oferta de Serviços Turísticos no Município de São José e
Cadastrados no Ministério do Turismo ....................................................................150
QUADRO 07 Oferta De Outros Serviços Turísticos Existentes Em São JOSÉ
..................................................................................................................................151
12
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
ABIH – Associação Brasileira da Indústria de Hotéis
ABRASEL – Associação Brasileira de Bares e Restaurantes
ACARESC – Associação de Crédito e Assistência Rural de Santa Catarina
AUF – Aglomera Urbano de Florianópolis
BC – Banco Central
BESCTUR – Banco do Estado de Santa Catarina – Empreendimentos e Turismo S/A
BNH – Banco Nacional de Habitação
BRDE – Banco Regional de Desenvolvimento do Extremo Sul
CATI – Centro de Atenção a Terceira Idade
C.D.P. Condicionantes, Deficiências, Potencialidades
CASAN - Companhia Catarinense de Água e Saneamento
CELESC – Centrais Elétricas de Santa Catarina
CNDU – Conselho Nacional de Desenvolvimento Urbano
CODESUL – Conselho de Desenvolvimento do Extremo Sul
CODISC – Companhia de Distritos Industriais de Santa Catarina
COHAB – Companhia de HAbitação
CTG – Centro de Tradições Gauchescas
ELETROSUL – Central Elétrica do Sul do Brasil
EMBRATUR – Instituto Brasileiro de Turismo
FATMA – Fundação do Meio Ambiente
FGTS – Fundo de Garantia por Tempo de Serviço
FMCT – Fundação Municipal de Cultura e Turismo de São José
FUNDESC – Fundo de Desenvolvimento do Estado de Santa Catarina
IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
INADES – Instituto Nacional para o Desenvolvimento Sustentável
INFRAERO – Empresa Brasileira de Infra-Estrutura Aeroportuária
IPUF – Instituto de Planejamento Urbano de Florianópolis
JUCESC – Junta Comercial do Estado de Santa Catarina
MTUR – Ministério do Turismo
OMT – Organização Mundial do Turismo
13
SEBRAE – Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas
SFH – Sistema Financeiro de Habitação
SICT – Secretaria de Indústria, Comércio e Turismo
SPU – Serviço de Patrimônio da União
TELESC - Telecomunicações de Santa Catarina S.A.
UDESC – Universidade do Estado de Santa Catarina
UFSC – Universidade Federal de Santa Catarina
U.H – Unidade Habitacional
UNIVALI – Universidade do Vale do Itajaí
14
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO..........................................................................................................16
CAPÍTULO I - ESPAÇO GEOGRÁFICO E MANIFESTAÇÕES DE LAZER &
TURISMO..................................................................................................................22
1.1 Considerações sobre o espaço geográfico......................................................22
1.2 A produção e a reprodução do espaço turístico...............................................25
1.3 Do ócio ao lazer e do lazer ao turismo.............................................................29
1.3.1 Considerações sobre ócio.........................................................................33
1.3.2 Concepções de lazer.................................................................................38
1.3.3 Atividade turística: conceituação e notas evolutivas..................................43
1.4 Turismo e sua dinâmica sócio-econômica na produção espacial....................48
1.5 Perspectivas da atividade turística no mundo contemporâneo........................54
CAPÍTULO II MUNICÍPIO DE SÃO JOSÉ: PANORAMA SÓCIO-ESPACIAL E
SUA INSERÇÃO NA DINÂMICA REGIONAL DA GRANDE FLORIANÓPOLIS.....62
2.1 Breve caracterização da área de estudo..........................................................62
2.2 Contextos sócio-espaciais: elementos da gênese e da trajetória do lugar.......69
2.2.1 Os açorianos e a dinamização da economia.............................................72
2.2.2 Freguesia de São José..............................................................................73
2.3 Ascensão e decadência da economia josefense até 1950 ..............................75
2.4 Aspectos da expansão urbana: o estado como agente propulsor do
desenvolvimento comercial/industrial ....................................................................82
2.4.1 Transformações no espaço josefense.......................................................84
2.4.1.1 Conjuntos habitacionais e loteamentos no município de São José..87
2.4.2 Atividade industrial em São José...............................................................90
2.4.3 Urbanização e impactos sócio-ambientais ................................................92
15
CAPÍTULO III (RE)CONHECIMENTO DOS ESPAÇOS DE PRODUÇÃO E
CONSUMO DE LAZER E TURISMO: AS POTENCIALIDADES DO MUNICÍPIO DE
SÃO JOSÉ - SC......................................................................................................100
3.1 Estrutura atual: características e perspectivas...............................................100
3.1.1 Antecedentes das atividades de turismo em são josé.............................103
3.1.2 O turismo hoje .........................................................................................107
3.2 Atrativos locais: levantamento dos recursos turísticos...................................112
3.2.1 Atrativos ecológico-naturais.....................................................................114
3.2.2 Atrativos histórico-culturais......................................................................118
3.2.2.1 Artesanato, manifestações folclóricas, artísticas e culturais...........127
3.3 Infra-estrutura turística...................................................................................136
3.3.1 Meios de hospedagens............................................................................136
3.3.2 Equipamentos de alimentação (bares, restaurantes e afins)...................145
3.3.3 Infra-estrutura urbana e equipamentos de apoio.....................................148
3.4 Turistificação e espaços de modernidade contemporâneos: São José na lógica
do mundo globalizado..........................................................................................153
3.5 Equipamentos de lazer: o caso da beira mar de São José alguns
comentários .........................................................................................................160
CONSIDERAÇÕES FINAIS....................................................................................169
REFERÊNCIAS.......................................................................................................175
ANEXOS.................................................................................................................185
16
INTRODUÇÃO
Esta pesquisa é um estudo de caráter geográfico, que realiza uma reflexão
sobre o espaço municipal josefense. A idéia surgiu como tentativa de fazer um
(re)conhecimento dos espaços de produção e consumo de lazer e turismo naquele
lugar, identificando-os como potencialidades locais de desenvolvimento, articuladas
às condições da grande Florianópolis.
Nas pretensões desta pesquisa buscou-se, através de recortes espaço-
temporais do município, que vem revelando importância sob dimensões, oferecer
contribuições para a ciência geográfica brasileira, e afins, para diversas escalas de
análises. Acredita-se assim, que a partir das peculiaridades deste lugar, poderemos
discutir novas formas de organização espacial, permitindo compreender as
realidades cotidianas e suas contradições, bem como este espaço é produzido e
reproduzido constantemente através de atividades de entretenimentos turísticos.
O espaço geográfico, no âmbito deste estudo, é compreendido a partir das
contribuições do geógrafo Milton Santos, como uma totalidade social, constituído por
elementos que, além de marcar sua dinâmica, servem como possibilidade para
entender uma realidade concreta. Portanto o espaço, enquanto objeto geográfico,
caracteriza-se como sendo
(...) um conjunto indissociável de que participam, de um lado, certo arranjo
de objetos geográficos, objetos naturas e objetos sociais e, de outro, a vida
que os preenche e os anima, ou seja, a sociedade em movimentos
(SANTOS, 1988:26).
Assim, nesta perspectiva de totalização, o espaço geográfico de São José
não deve ser considerado de forma isolada, mas nas dimensões de sua inserção ao
processo atual dos circuitos da globalização, ao qual está centrado nas irradiações
de tentativas de explicação da contemporaneidade. Dessa forma, sua inserção como
unidade municipal contígua à capital catarinense, vem possibilitando sua
17
qualificação e transformação em dinâmico lo sócio-econômico, notadamente,
como lócus de atividades terciárias, na região da Grande Florianópolis.
Neste contexto, como cada lugar tem especificidades da sua formação, em
São José esta dinâmica não seria diferente. O município, enquanto lugar ou região,
desempenha conexões mundiais, fazendo parte de uma rede de inter-relação global
de lugares, e que de acordo com Machado (2005:03), o lugar se revela como “(...)
ponto de conexão e articulação com o mundo. Este, por sua vez, se encontra em
todos os lugares, manifestados a partir das possibilidades locais, dentro do
movimento realizado pelo espaço como um todo”.
Mediante a esta condição, considerou-se como prioritário, neste estudo, fazer
um resgate histórico do Município de São José, na tentativa de compreender as
transformações nele desencadeadas que vão desde a chegada dos imigrantes
açorianos no litoral catarinense, até os dias de hoje.
A partir daí, como fio condutor desta pesquisa, as reflexões partem de um
questionamento central, que assim se definiu: Os espaços de lazer de São José
podem ser considerados atrativos turísticos para o município? Contudo, é necessário
que outras questões também sejam esclarecidas, ou seja, o Município de São Jo
dispõe de atrativos, produtos e serviços possíveis de serem enquadrados no
contexto de consumo turístico e de lazer; nos condicionantes locais, quais são suas
potencialidades no contexto do desenvolvimento do turismo na região da Grande
Florianópolis; e por fim, como esta atividade tem induzido às novas reorganizações e
contribuído no contexto regional, influenciado por lógicas movidas a partir de
Florianópolis.
Como aporte metodológico nas tentativas de realização dos levantamentos,
sistematização e discussões para esta pesquisa, tomou-se como referencial de
apoio, procedimentos adaptados por Machado (1986) embasados em princípios de
C.D.P. - Condicionantes, Deficiências e Potencialidades (Vide anexo 01,
detalhamento da proposta). Assim sendo, as informações e dados foram coletados a
partir de fontes primárias, relatórios técnicos, estudos acadêmicos, e outros recursos
de base cartográfica (como mapas, fotos, etc) que geram os subsídios básicos
norteadores dos elementos empíricos, reconhecidos in loco e tratados, quando
18
conveniente, nas partes desta pesquisa. Em anexo (nº 02), segue também, todo um
quadro sintético ao levantamento exploratório que se fez, definindo as bases do que
se considerou como “Condicionantes Turísticas do Município”.
Os termos C.D.P. foram definidos pelo CNDU-MINTER para orientação
em planejamentos e usos do solo urbano, e já foi aplicado, por exemplo, pelo IPUF -
Instituto de Planejamento Urbano de Florianópolis, na montagem do Plano de
Desenvolvimento Turístico do AUF (Aglomerado Urbano de Florianópolis), assim
como pelo Departamento Técnico de Treinamento do Estado do Paraná, orientando
metodologias para a assistência técnica em Planos Diretores. Em nosso estudo, a
utilização dos princípios de C.D.P. possibilitou fazer um levantamento para análise e
sistematização dos espaços de consumo turístico e de lazer em São José, bem
como identificação dos fatores que limitam o desenvolvimento da atividade turística e
de lazer no município.
A utilização de elementos da sistemática de C.D.P. tem como vantagens, a
ordenação criteriosa de fatos e problemas, resultantes de observações,
levantamentos e reflexões, considerando os diferentes níveis de qualificação e
acesso à informação de que dispõem os municípios.
Assim, qualquer elemento da estrutura de um município pode ser
Condicionante ou possuir Deficiências ou ao mesmo tempo representar uma
Potencialidade, abrindo margem para interpretação pessoal e/ou coletivas, conforme
as conveniências que se fazem necessárias em cada caso estudado. Veja-se, então,
o que cada um desses elementos pode esclarecer a respeito de suas características
e possíveis caminhos norteadores sob usos metodológicos.
CONDICIONANTES: são basicamente os elementos físicos encontrados no
ambiente adaptado ou natural, determinantes da oferta e da demanda turística. Os
condicionantes figuram como aspectos de preservação, manutenção e conservação
das diversas peculiaridades.
DEFICIÊNCIAS: são elementos que geram situação de caráter negativo para
o desempenho de atividades com fins turísticos e/ou relacionadas, e que significam
estrangulamento de caráter qualitativo e/ou quantitativo do setor. Como os
19
condicionantes, as deficiências são também elementos da paisagem natural ou
adaptada.
POTENCIALIDADES: são elementos, recursos ou vantagens (da paisagem
natural ou adaptada) que até então não foram aproveitadas adequadamente e que
poderiam ser incorporadas positivamente ao sistema, gerando benefícios, sem a
necessidade de grandes investimentos públicos e/ ou privados.
Com esta sistemática é possível obter uma visão sintética qualitativa das
variáveis observadas. No entanto, isso não impede, quando oportuno, a utilização de
mecanismos quantitativos, a fim de auxiliar em análise comparativa dos fenômenos.
A partir de dados levantados, nos referenciais teóricos e nas visitas in loco, foi
possível fazer o reconhecimento das áreas e dos locais de lazer no Município de
São José, onde são apresentadas algumas tentativas de identificar os tais espaços
de produção para o consumo de lazer, que podem ser considerados atrativos
turísticos para aquele município. A partir das articulações que se estabelecem ente
São José com Florianópolis, são realizadas discussões acerca das possibilidades e
limitações que têm nessa integração e potencialidade para o desenvolvimento
urbano-regional.
Para delinear melhor as intenções desta pesquisa, estabeleceram-se os
seguintes objetivos norteadores de estudo:
OBJETIVO GERAL:
Identificar e Analisar configurações sócio-espaciais do Município de São José,
através de aspectos relacionados à produção de espaços para consumo turístico e
de lazer, como atrativos locais/regionais, associando-os às conexões mundiais, na
contemporaneidade, promovidas a partir de Florianópolis.
20
Objetivos Específicos:
1. Discutir aspectos do processo de formação sócio-espacial brasileiro e nele, a
inserção do Município de São José, a partir de Santa Catarina;
2. Reconhecer locais de produção para consumo turístico e lazer do município e
suas articulações/vinculações ao espaço regional florianopolitano;
3. Identificar, através da ação estatal (nacional, estadual, municipal) elementos
acerca de políticas públicas reveladoras de intenções diretas e/ou indiretas para o
desenvolvimento turístico;
4. Analisar, nas potencialidades locais, as possibilidades e as limitações
conjunturais como fatores para o desenvolvimento urbano e regional.
Diante desses esclarecimentos este estudo segue, também, percursos de
diferentes leituras, onde o espaço do Município de São José é visto como um fator
da evolução social, na sua historicidade, que é produzida e reproduzida
constantemente. Esperamos, então, com essas premissas discutidas, a partir das
potencialidades locais, revelar possibilidades e limitações daqueles espaços, através
de características de produção do lazer e consumos turísticos.
Nossas considerações, nesta pesquisa, estão estruturadas da seguinte forma:
o Capítulo 1 apresenta uma revisão teórico-conceitual, referente ao espaço
geográfico e seus desdobramentos. Assim, esta etapa tenta dar conta de explicar,
através dos conceitos de vários autores, como Milton Santos e Roberto Lobato
Corrêa, o significado da categoria espaço. Ainda nesta primeira parte procurou-se
entender a atividade turística, em sua totalidade, como um fenômeno sócio-espacial,
distinguindo-a de outras formas de “uso” do tempo livre, como o ócio e o lazer.
O Capítulo 2 procura tecer algumas considerações gerais sobre o Município
de São José, dando ênfase na gênese e na trajetória do lugar, que teve em sua
história, momentos de dinamização e crescimento, como também de estagnação
21
econômica. São apresentados aspectos da expansão urbana e desenvolvimento
comercial e industrial, bem como características das transformações recentes que
ocorreram. Nesta mesma direção também se procurou identificar e compreender
ações estatais e os principais agentes que contribuíram e/ou participaram da
produção e das transformações do espaço de São José.
No Capítulo 3 as discussões avançam acerca da estrutura atual do município
em termos de infra-estrutura, sua verticalização e a falta de espaços destinados às
práticas de atividades ao ar livre. Assim, destacamos, através dos processos de
renovações urbanas, e de valorização do patrimônio natural, histórico e cultural, os
espaços de produção e consumo de lazer, como potencialidades turísticas do lugar.
Por fim são apresentadas as Considerações Finais. Nelas estão sintetizadas
algumas das principais discussões que foram arroladas ao longo deste estudo.
É importante mencionar, desde já, que de modo algum tivemos a pretensão
de afirmar ou propor que São José pode ou deve se transformar em um pólo
autônomo de atração turística, capaz de concorrer com Florianópolis. Estamos
apenas deduzindo, que o município possui inúmeros atrativos e opções de lazer,
que podem representar uma complementaridade no processo de expansão da
atividade turística da cidade de Florianópolis.
Esperamos, finalmente, com esse esforço acadêmico não apenas ter
ampliado, transdisciplinarmente, a nossa formação profissional, mas, sobretudo, ter
realizado reflexões que também permitam contribuir para os avanços nas análises
da temática tocada no contexto local/regional.
22
CAPÍTULO I -
ESPAÇO GEOGRÁFICO E MANIFESTAÇÕES DE
LAZER & TURISMO
1.1 CONSIDERAÇÕES SOBRE O ESPAÇO GEOGRÁFICO
Entre as ciências que se preocupam com o a organização do espaço
terrestre, é a geografia que tem ele como seu objeto de estudo. Assim, nas
tendências que existem, atualmente, devem ser encontrados, com certeza, vários
pensadores que procuram fundamentar suas concepções a respeito do “espaço
geográfico” e/ou contribuições para estudos afins.
Em nossas reflexões adotamos contribuições apresentadas pelo professor
Milton Santos, a partir da idéia de que o espaço representa uma totalidade social,
constituído dos seguintes elementos: Homem – fornecedor ou condutor de trabalhos,
Firmas – produtoras de bens idéias e serviços, Instituições – produtoras de normas e
legislações, Infra-estruturas trabalho humano materializado ou geografizado, Meio
Ecológico – complexo territorial de base física do trabalho humano. Esses elementos
como categorias de análise, em conjunto servem, portanto, como possibilidade para
se entender e interpretar fenômenos espaciais em sua totalidade, na perspectiva de
uma realidade concreta, onde o espaço geográfico está em evolução permanente. É
através dele, que vai se processar uma dada organização social, induzindo um
complexo conjunto de usos da terra.
Essa evolução do espaço geográfico, mencionada por Santos, jamais termina
e, de acordo com esse autor, “o fato acabado é pura ilusão” (SANTOS, 1979:30).
Desta forma, a “totalização” do espaço geográfico é, pois, em diversas dimensões de
análises elaboradas pela geografia e ciências afins, freqüentemente mostrado em
escalas recortadas de lugar, de região, e da nação, a condição do que é o Mundo no
seu acontecer.
23
A caminho dessa mesma perspectiva, Konder (1984), reafirma que a
totalidade é apenas um momento de um processo de totalização, que nunca alcança
uma etapa definitiva e acabada. A modificação do todo se realiza, de fato, após
um acúmulo de mudanças nas partes que o compõem: “Uma certa compreensão do
todo precede a própria possibilidade de aprofundar o conhecimento das partes”
(KONDER, 1984:45).
Buscando-se uma conceituação para o vocábulo espaço se verificou que o
mesmo assume inúmeros significados, variando conforme o autor e o uso em
questão. Entendemos, então, o espaço como objeto geográfico, constituído de
características que marcam sua dinâmica. Desta forma, é preciso compreendê-lo a
partir de resultados da “junção” entre os aspectos naturais (ecológicos) e da
sociedade. Ele, o espaço geográfico, deve ser analisado como um fator da evolução
social, na sua historicidade, que é produzido e reproduzido constantemente, onde os
lugares mudam de valor, de papel e significações ao longo do tempo.
Desde início do culo passado o espaço tem freqüentemente aparecido em
temas de estudos de diferentes campos do conhecimento, notadamente nos meios
acadêmicos, graças não apenas às tendências dos índices de crescimento
econômico mas, sobretudo, às novas complexidades territoriais em todo o mundo.
Neste contexto, para Dollfus (1975), o espaço geográfico se faz e evolui a partir de
conjuntos de relações, as quais se estabelecem no interior de uma realidade, sob
um quadro concreto, ou seja, da superfície da terra.
Assim, o espaço geográfico é mutável, diferenciado, e conforme dito
anteriormente, sofre transformações à medida que avança o curso da história. Se
torna, portanto, lócus de complexas relações, que, de acordo com Santos, constitui
”um conjunto indissociável de que participam, de um lado, certo arranjo de objetos
geográficos, objetos naturais e objetos sociais e, de outro, a vida que os preenche e
os anima, ou seja, a sociedade em movimentos” (SANTOS, 1996:26).
Esses objetos naturais e sociais, articulados, constituem a organização
espacial da sociedade. Desta forma, ponderações adotadas por Corrêa (1990),
concluem que a organização espacial é o resultado do trabalho social acumulado ao
longo do tempo, que transforma diferencialmente a natureza, criando formas
24
espaciais diversas sobre a superfície da terra. E conforme Santos (1985)
1
, para se
compreender uma dada organização espacial e sua evolução, é necessário
interpretar, metodologicamente, a relação dialética existente entre processo, forma,
função e estrutura como referenciais de base de um todo geográfico para análise
espacial.
Para aquele autor, a forma é o aspecto visível, e possui dimensão material.
a função é a atividade a ser desempenhada pelo objeto. Existe assim, uma relação
direta entre a forma e a função, ou seja, a forma é criada para desempenhar
determinada função. Por fim, a estrutura diz respeito ao modo como os objetos estão
organizados e a maneira como estão inter-relacionados. O processo é então, uma
estrutura em seu movimento de transformação.
A análise da organização do espaço se torna, portanto, um objeto de estudo
pelo que é capaz de reproduzir dimensões de totalidade social, como se procurou
demonstrar nesta pesquisa, a partir do Município de o José. Pelos termos de
Santos (1985) o espaço é, pois, uma instância da sociedade (econômica, política,
cultural, etc.) que contém e é contida pelas demais instâncias, como também cada
uma dessas instâncias, contém e é por ele contida. Logo, reafirma-se que,
(...) a essência do espaço é social. Nesse caso, o espaço não pode ser
apenas formado pelas coisas, os objetos geográficos, naturais e artificiais,
cujo conjunto nos a Natureza. O espaço é tudo isso, mais a sociedade:
cada fração da natureza abriga uma fração da sociedade atual (SANTOS,
1985:1).
Neste estudo sobre São José, a partir da apropriação e da utilização do
espaço pela sociedade ao longo do tempo, verifica-se quais foram os elementos que
processaram as transformações espaciais, pois, é o movimento histórico que produz
e reproduz o espaço constantemente. Deste modo, a dinamicidade contemporânea
do espaço, que assume múltiplos aspectos, assume também funções de
1
Machado (2000:2) menciona e com freqüência reafirma essas abordagens miltonianas que sintetizam,
metodologicamente, o que autores com H. Lefébvre (1984 e 1981) e R. L. Corrêa (2002), se referem para estudo
de “organização espacial”.
25
especializações diferenciadas, entre as quais o turismo e o lazer, como destaques
nas especificidades desta pesquisa.
1.2 A PRODUÇÃO E A REPRODUÇÃO DO ESPAÇO TURÍSTICO
As relações sociais que se estabelecem sob um determinado espaço,
associadas ao desenvolvimento tecnológico e a universalização do capital, vem
produzindo, com freqüência, padrões de comportamento, de produção e de
consumo, em várias escalas mundiais. São formas globais, onde “(...) o ‘mundo’
invade cada espaço particular, seja do indivíduo ou de sua comunidade, e o
transforma em um território ‘aberto’, transfigurado, mercantilizado e integrado em um
complexo conhecido por (...) globalização” (TRIGO, 1997:26).
Neste processo, Carlos (1996:28), observa que “(...) as comunicações
diminuem as distâncias tornando o fluxo de informações contínuo e ininterrupto; com
isso, cada vez mais o local se constitui na sua relação com o mundial”. Assim, “(...) a
ordem global busca impor, a todos os lugares, uma única racionalidade. E os lugares
respondem ao Mundo segundo os diversos modos de sua própria racionalidade”
(SANTOS, 1996:272-3). Carlos também afirma que a globalização materializa-se
concretamente no lugar, pois é nele, que se lê/percebe/entende o mundo moderno
em suas múltiplas dimensões, ou seja, é no lugar que vive e se realiza o cotidiano, e
é desta forma que ganha expressão mundial.
Isso tudo vem reforçar que a “globalização” e/ou a mundialização
2
, são as
grandes responsáveis pela criação e pelo acesso às novas mercadorias e aos novos
mercados, onde “tudo se pode vender” e “tudo se pode comprar”.
Inserido também nesse circuito de troca, o espaço entra na esfera da
comercialização, onde os lugares, enquanto dimensões do espaço geográfico, são
2
De acordo com Carlos (1999), a globalização e mundialização são dois termos distintos. O primeiro está ligado
à internacionalização da produção e o segundo, refere-se ao fenômeno de constituição da sociedade urbana.
26
constantemente produzidos e reproduzidos, visando atender as necessidades
criadas por uma sociedade de consumo. Estes “espaços de consumo”, criados para
o “consumo do espaço”, m o lazer e o turismo como extensões das atividades
produtivas, um novo ramo econômico, que se manifesta em diferentes condições.
O lazer e o turismo, como possibilidades de entretenimento, estão entre as
atividades “campeãs” de crescimento econômico, alinhando-se entre as mais
promissoras da contemporaneidade. Estas práticas, realizadas sobre a superfície da
terra, criam faixas territoriais de espacializações, comumente chamado de “espaço
turístico”, que nada mais é do que uma expressão de construção, ou seja, um
espaço criado/produzido a partir de peculiaridades do próprio espaço geográfico.
Assim, a partir da definição de Santos (1979) de que o espaço representa
uma totalidade, entendemos a atividade turística como uma forma de utilização e de
consumo do espaço, onde este último é apropriado
3
pelo valor paisagístico que
oferece, e pelas condições ambientais específicas que prevalecem em cada
localidade. As características que marcam sua dinâmica revelam, portanto,
diferentes estágios de articulação entre “sistema de objeto” e “sistemas de ações”,
nas mais variadas dimensões de lugares.
Vale lembrar ainda, que nenhum espaço turístico tem sentido por si , ou
seja, fora de um contexto maior. Sua valorização não se somente a partir de
peculiaridades, mas, também, da diversificação de atrações que determinado lugar
oferece. Por exemplo, provavelmente, ninguém chega à Florianópolis em busca de
uma única praia. A atração de turistas, particularmente pela a Ilha de Santa Catarina,
ou para qualquer outro destino turístico se , na maioria das vezes, pela
diversidade de atrativos e pela combinação de serviços que o lugar oferece, como a
quantidade e qualidade das ofertas e infra-estruturas, equipamentos de
hospedagens, os restaurantes, o patrimônio histórico-cultural, etc. Enfim, é um
conjunto de fatores que possibilitam o entretenimento e o envolvimento do visitante
ou turista pelo tempo que permanecer no local visitado.
3
Não é apenas a atividade turística que se apropria e também transforma o espaço. No entanto, devido a
importância do espaço para o desenvolvimento do turismo, “(...) impõe-se a necessidade de um agir responsável,
concatenando forças e interesses, que resultem em atuações benéficas e satisfatórias, em termos sociais,
ambientais, econômicos e culturais e, principalmente, no que diz respeito a ordenação de seu
território”(CAMARGO & SILVA, 2005:244).
27
O turismo, conforme Rodrigues (2001), como fenômeno que articula áreas de
dispersão (emissoras), áreas de deslocamento e áreas de atração (receptoras),
desenvolve dinâmicas entre fixos e fluxos, revelando suas tendências em várias
escalas espaciais. É nessas áreas que se produz o espaço turístico e se reorganiza
o espaço anteriormente ocupado. também ocorre o consumo do espaço ou, o
consumo turístico do espaço. No entanto, a existência do espaço turístico está
condicionada a alguns elementos, que para aquela autora seriam os seguintes:
(...) oferta turística, demanda, serviços, transportes, infra-estrutura, poder de
decisão e de informação, sistema de promoção e de comercialização. É
evidente que esses elementos se encontram em ação e interação
recíprocas, não podendo ser compreendidos separadamente (RODRIGUES,
2001:45).
Estes elementos, espacializados e em conjunto, constituem as características
reveladoras dos lugares ditos como turísticos. Conseqüentemente, o turismo
introduz no espaço objetos (técnicos) definidos pela possibilidade de permitir, na
atividade, o seu desenvolvimento em um determinado lugar.
Contudo, verifica-se que os espaços produzidos e reproduzidos pelo turismo
e/ou para o turismo, são negociados como cenários criados sobre uma base (na
maioria das vezes paisagística) que, associada a aspectos culturais, históricos
sociais e ambientais, constitui a matéria-prima para o contínuo processo de
produção e reprodução de mercadorias, como também, para o consumo do espaço
enquanto tal.
Na “venda” dos destinos turísticos, por exemplo, torna-se evidente que, assim
como o espaço, a atividade turística deve ser vista, como bem lembra Machado
(1985:14), como “(...) uma mercadoria, pois está produzida a partir de variáveis do
meio geográfico, com finalidade de consumo em valores variados, a partir das
necessidades de consumo de cada ser humano”. Neste caso, o turismo não pode
ser analisado apenas na sua existência como um fator externo, uma atividade
exógena do espaço e da sociedade.
28
Portanto, o turismo constitui-se num fenômeno sócio-espacial complexo, de
grande valor simbólico-cultural aos sujeitos que o praticam e aos sujeitos que vivem
nos lugares onde ele é praticado. E como ressalta Ouriques (2005:20), essa
atividade no sistema capitalista se manifesta,
(...) como uma forma de fetichismo. As paisagens naturais e socialmente
construídas tornam-se objetos de consumo turístico, como se isso fosse
uma característica a elas inerente. Dessa forma, por meio da valorização de
lugares onde os atributos paisagísticos deliciam os sentidos humanos, é
produzido o fetichismo espacial.
Assim, sendo a produção e a reprodução do espaço um dado social e,
considerando que os espaços são valorizados e (re)valorizados de modo
diferenciado pelas sociedades, em função das possibilidades técnicas que
determinam sua utilização, dos fatores políticos, econômicos, ambientais e, também,
culturais, concorda-se com Cruz (2000), quando diz que qualquer espaço do planeta
pode ser considerado um “espaço turístico”. Isso, pois, “potencialmente”, todos os
lugares são turísticos, e existem tantos segmentos de turismos, como também, de
turistas.
Desta forma, assim como a atividade turística é uma invenção cultural,
diversos lugares e destinos são também constantemente criados e recriados,
procurando atender os mais variados gostos possíveis. Entretanto, a criação de
atrativos turísticos em um determinado lugar “(...) requer uma crescente
racionalidade devido à competitividade entre produtos turísticos, que se dá, hoje, em
escala global” (CRUZ, 2000:22).
Por isso são fatores determinantes para a turistificação do espaço, as
combinações entre objetos naturais e/ou artificiais com infra-estrutura (urbana e
turística), e os diversos serviços que viabilizem a produção turística, criando
produtos capazes de atrair, entreter e conquistar turistas. Desta forma, os elementos
do produto turístico
4
são de primordial importância, porque constituem o ponto sobre
4
Por elementos do produto turístico, entende-se o conjunto de bens e serviços recursos naturais, culturais,
infra-estrutura de acesso, alojamentos, infra-estrutura básica - ofertados numa região ou pólo turístico e
destinado ao consumo turístico.
29
o qual o núcleo receptor do turismo se organiza. Também acreditamos na relevância
de um planejamento antecipado e contínuo das atividades nessas áreas, a fim de se
evitar uma futura degradação ambiental e a agressão às características mais
originais do meio em que se insere.
1.3 DO ÓCIO AO LAZER E DO LAZER AO TURISMO
Nas últimas décadas as temáticas: ócio, lazer, e turismo vêm ganhando
destaque tanto nas preocupações da vida das pessoas, como em reflexões do
mundo acadêmico. Estes termos estão intimamente vinculados entre si, pois, a
ocorrência de qualquer um deles depende, entre outras circunstâncias, do tempo
disponível para cada indivíduo ou segmentos sociais.
Quando se fala em tempo disponível, estamos nos referindo ao tempo em que
é possível se dedicar mais às atividades prazerosas, de livre escolha, que não são
necessariamente obrigatórias. Neste contexto, a partir do culo XVIII, a
reivindicação pela possibilidade de se ter um maior tempo livre passou a ser uma
luta para significativa parte dos trabalhadores.
O gradual rompimento de desumanas condições de trabalho, que
caracterizaram parte das conseqüências da Revolução Industrial
5
, representou um
marco para as camadas mais baixas da população. Assim, com as conquistas
adquiridas pelos trabalhadores
6
, como as reduções nas horas de trabalho diário, o
descanso semanal e anual (férias) remunerado, além do direito a aposentadoria, ou
seja, com os direitos trabalhistas conquistados e garantidos por lei, surgiram novas
5
Entre estas desumanas condições de trabalho (que ocorreram na Inglaterra no início da Revolução Industrial)
destacam-se as péssimas condições de higiene das fábricas, os baixos salários e castigos físicos, o trabalho
infantil, a ausência de direitos dos trabalhadores, a elevada carga horária (as jornadas de trabalho chegavam até
dezoito horas por dias), entre outras.
6
Foram alcançadas depois de muitas lutas dos trabalhadores por melhores condições de trabalho. Tais
reivindicações tiveram início a partir organização de trabalhadores em grupos, formando as trade unions (espécie
de sindicatos), que se espalharam por diversas regiões da Europa. Estas primeiras formas de organizações
trabalhistas surgiram como forma de protesto e revolta contra a ordem social existente na época, fazendo com
que a classe operária passasse a lutar contra a situação de miséria e exploração em que vivam.
30
exigências (por parte dos trabalhadores) em razão, principalmente, da necessidade
de satisfações dos indivíduos e da possibilidade de adquirir novos produtos de
consumo.
O tempo livre (ou o tempo do ócio), como destaca Mendes (1996:73), “(...)
tornou-se o momento ilustre do consumo, da reposição de energias e de resistência
à fadiga latente que as atividades extremamente fragmentadas impõem aos
indivíduos”. Pode-se dizer que, em face, principalmente, ao consumo descontrolado
que tomou conta da sociedade contemporânea, este tempo disponível passou a ser,
em escala cada vez mais crescente, controlado pelo capital, onde a arte, a cultura, o
lazer, o turismo e qualquer tipo de diversão, entraram na “era da comercialização”.
Dumazedier (1979), lembra que é também no tempo liberado pelo trabalho
que as pessoas podem consumir bens e serviços culturais. Neste sentido, Leite
afirma: “(...) o progressivo aumento do tempo livre, (...) promoveu uma verdadeira
revolução na existência humana, na ordem social e, sobretudo na cultura” (LEITE,
1995:34).
No curso da evolução cultural e com os avanços tecnológicos, principalmente
no que diz respeito aos meios de comunicação e na compra de bens, práticas de
atividades como turismo e lazer, também passaram a ser “estimuladas” para os
indivíduos, impulsionados pelas diferentes atuações sociais no sistema capitalista.
Sob este contexto Vargas (1998:11) comenta que a
(...) necessidade de diversificação de fórmulas de vendas e segmentação de
mercado aliados às técnicas mais sofisticadas de indução do consumidor,
via propaganda, possível através da evolução dos meios de comunicação,
passaram, a despertar nos indivíduos desejos que estavam longe de serem
considerados necessários.
As viagens se tornaram uma das significativas maneiras de consumos criados
pelo sistema capitalista em tempos contemporâneos. Desta forma, as propagandas
e toda a mídia que envolve o imaginário, motivações, sonhos e desejos das
pessoas, fizeram com que o turismo também passasse a assumir forma de
mercadoria, onde qualquer tipo de diversão pode ser comercializado como tal.
31
É relevante salientar que, quando se menciona a idéia de tempo livre,
estamos nos referindo ao tempo desejável e disponível para um trabalhador (Vide
Figura 01) depois do cumprimento das necessidades básicas. A partir daí, o
indivíduo poderá dispor de seu tempo dentro de certas possibilidades da realidade
em que está inserido. Contudo, a ocupação deste mesmo tempo pode variar em
razão de certos fatores como: financeiros, culturais, sociais, profissionais,
psicológicos, etc.
Quanto à disposição e consumo do tempo livre, em geral, são consideradas
alternativas: as obrigações (sociais e familiares), o ócio, e o lazer como forma de
entretenimento. Entre as possibilidades deste último, também merece destaque a
atividade turística.
FIGURA 01 – Esquema Básico de Distribuição do Tempo Diário Ideal na
Vida de um Trabalhador
Fonte: Esboço Exploratório Organizado pela autora (2006), a partir de Boullón (2004)
Neste contexto, procurando melhor compreender a relação e a diferenciação
entre ócio, turismo e lazer (Vide Figura 02), destacamos que é preciso tomar como
referência o período mínimo de um dia, ou seja, vinte e quatro horas (24 hs). Este
tempo deve ser distribuído a partir de uma série de atividades como: trabalho, sono,
alimentação, deslocamentos, saúde, cuidados pessoais, ócio e, também lazer, que
pode ser diário, semanal e anual.
* saúde
* alimentação
Necessidades Básicas * sono
* higiene
* etc.
TEMPO DIÁRIO
TOTAL
Tempo Comprometido
(24hs) com Atividades Produtivas
*obrigações sociais, familiares
Tempo Livre *ócio
*lazer/entretenimento, turismo
32
Assim, é preciso destacar ainda que, além do repouso diário, temos “livres” os
finais de semana, eventuais feriados e repouso anual (férias), onde é possível
realizar as atividades obrigatórias e rotineiras, bem como o turismo. Este último, de
acordo com a OMT (Organização Mundial do Turismo), refere-se ao deslocamento
de pessoas do seu domicílio habitual para outro qualquer, por período superior a 24
horas. Neste contexto a atividade, conforme aquela instituição, “exige” que se realize
ao menos um pernoite em lugar diferente ao de sua residência.
FIGURA 02 Tentativa de Análise da Relação Existente entre Tempo Livre,
Ócio, Lazer e Turismo
Fonte: Esboço Exploratório Organizado pela autora (2006), a partir de leituras/interpretações
O turismo e o lazer surgem então, como possibilidades de uso e consumo do
“tempo ocioso”. No entanto, é importante ter claro que, embora essas atividades
tenham algumas particularidades similares, não possuem o mesmo significado.
Repouso diário
TEMPO LIVRE ÓCIO
Repouso semanal
(do trabalhador) Feriados
Repouso Periódico/férias
Lazer Ir ao parque
Jogos
TURISMO LAZER
Ir ao cinema/teatro
Eventos (deslocamento por mais de 24hs) Ler livros
Negócios Ir à praia
Atividades afins
Tempo e Espaço
33
Enquanto o ócio parece significar não fazer nada
7
, pois está relacionado com
atividades descomprometidas com o trabalho formal e que, geralmente, são
prazerosas e de livre escolha, o lazer supõe o consumo do tempo ocupado com
algum tipo de entretenimento, como ir ao parque, caminhar, ler um livro, ir ao
shopping, cinema, teatro, praia, entre outras atividades. De acordo com Ouriques
(2005:33) o ócio, “(...) entendido enquanto não fazer coisa alguma, é
desconsiderado, posto que o lazer pressupõe algum tipo de atividade”. o turismo,
para vários autores, refere-se a uma prática do lazer e, de forma simplificada, pode-
se dizer que é um conjunto de atividades realizadas por pessoas durante viagens,
mobilizando um grande fluxo de serviços
8
.
O turismo concretiza-se como um fenômeno sócio-espacial que, de acordo
com Coriolano & Silva (2005), envolve relações da sociedade e do espaço. Nesta
perspectiva, tanto o turismo como o lazer, o atividades que ocorrem em uma
determinada base física (que exige “certa” infra-estrutura) e em um determinado
período do tempo (geralmente, liberado das obrigações).
Para que as pessoas possam aproveitar melhor seu “tempo ocioso”, é de
grande importância gerar a conscientização pela educação da sociedade, pois,
aparentemente, as pessoas têm perdido a capacidade de divertir-se, o que é um
verdadeiro paradoxo, frente ao surgimento de variadas formas de diversão
verificadas recentemente, na esteira do desenvolvimento sócio-econômico.
1.3.1 Considerações Sobre Ócio
Desde os tempos da Grécia e de Roma antigas, o ócio era praticado pelas
camadas da alta sociedade. Na época, atividades que o eram consideradas
7
algum tempo, porém, tem se falado em ócio ativo, ou ócio criativo, onde De Masi (2000) sustenta a idéia de
integração entre o trabalho e o ócio. Este sociólogo acredita que “O futuro pertence a quem souber libertar-se da
idéia tradicional do trabalho como obrigação ou dever e for capaz de apostar numa mistura de atividades, onde o
trabalho se confundirá com o tempo livre, com o estudo e com o jogo, com o ócio criativo” (DE MASI,
2000:10).
8
Transportes, hospedagens, gastronomia, agenciamento, comércio, publicidade, etc.
34
físicas, como a política, o estudo, a poesia, a filosofia, de acordo De Masi (2000),
eram “ociosas”, ou seja, expressões mentais, dignas somente dos cidadãos de
primeira classe. Como salienta Leite, cabia a esta elite privilegiada se preocupar com
atividades contemplativas, como “(...) exploração de idéias, elucubrações filosóficas
e outras nobres ocupações da mente e do espírito” (LEITE, 1995:17). Boullón lembra
que a
(...) civilização grega soube aproveitar o tempo livre dos cidadãos em
benefício da cultura. Os valores estéticos sublimaram-se nas esculturas e o
sentido da beleza teve sua expressão no próprio corpo humano. O ócio
ativo e a paciência foram conceitos que lhes permitiram chegar ao
autoconhecimento físico e espiritual. Aparentemente, ao chegar ao século
a.C., essa sociedade quase chegou à felicidade permanente. A vida era
boa, mas não era para todos, porque, na época dos gregos, os escravos
importavam enquanto mão-de-obra (BOULLÓN, 2004:21).
Em síntese, o ócio para os gregos, por exemplo, tinha uma conotação
estritamente física, onde o “(...) ‘trabalho’ era tudo aquilo que fazia suar, com
exceção do esporte. Quem trabalhava, isto é, suava, ou era um escravo ou era um
cidadão de segunda classe” (DE MASI, 2000:17). Viver na ociosidade (e não na
vadiagem), era, então, um valor social bastante cultivado por gregos e romanos.
Nestas sociedades escravistas, poetas e filósofos cultivavam a beleza e
proclamavam que o ócio era indispensável para uma vida livre e feliz. Leite
(1995:63) cita que, “(...) os poetas cantavam a preguiça ‘presente dos deuses’, como
no conhecido verso de Virgílio, que ele cita ‘Deus nobis haec otia fecit’ (Deus fez
para nós esses ócios)”.
Assim, no decorrer do tempo, várias expressões de ócio ficaram registradas
na história das civilizações
9
. Sempre se opondo ao trabalho, este comportamento
passou, a partir da Revolução Industrial, a ser considerado uma necessidade das
pessoas, como forma de recompor energias físicas e poder trabalhar.
9
Através de atividades não produtivas, merecem destaque, principalmente, aqueles períodos oriundos do
Renascimento, pela valorização das artes, das letras, das ciências, etc.
35
Nestes processos o ócio, enquanto possibilidade de investigação pela elite
intelectual, deu origem a várias publicações entre as quais merecem destaque: O
direito a preguiça (Paul Lafargue – 1880), Teoria da classe ociosa” (Thorstein
Veblen – 1899), “Elogio ao Ócio” (Bertrand Russel – 1899), entre outros.
Escrito mais de 120
anos, em seu manifesto, Paul Lafargue, apesar de
lembrar que A preguiça é a mãe de todos os vícios”, alertava que a jornada de
trabalho poderia ser substancialmente reduzida, passando a ser de apenas três
horas diárias. Em sua obra, O Direito à Preguiça, aquele autor explica que o trabalho
deveria ser a essência do homem, onde este deveria ter interação com a natureza,
satisfazendo suas necessidades vitais, através de sua capacidade criativa e
inventiva.
Considerava a preguiça uma virtude, um elemento fortalecedor do corpo e do
espírito dos operários, pois acreditava que diante da preguiça eles poderiam se
preparar para revoluções, com o propósito de se atingir a emancipação humana.
Dizia que a principal virtude da preguiça se constituía em denunciar a maldição do
trabalho assalariado e expressar a necessidade de sua superação, e assim,
acreditava que a liberdade e o lazer da humanidade seriam conquistados com a
implantação massiva de máquinas.
A obra de Lafargue constitui-se, portanto, em uma manifestação de revolta e
indignação contra a superexploração da classe trabalhadora, que “se deixou
dominar pelo dogma do trabalho” e nesse processo, perdeu sua condição humana,
ganhando forma de objeto mercadológico, pois aceita qualquer situação para
exercer o trabalho. Contudo, Lafargue acreditava que a única forma de libertar a
humanidade de todas as formas de opressão e exploração, era a própria “classe
proletária”.
Nesta mesma direção, Bertrand Russel em O Elogio ao Ócio, publicado em
1935, concorda quase que plenamente com Lafargue quanto à necessidade de
redução das jornadas de trabalho, acreditando que aquela poderia passar a ser de
quatro horas diárias. Também considerava que o lazer era “indispensável à
civilização”, e propunha que o ócio poderia ser acessível a toda a população, se o
36
trabalho passasse por uma reestruturação baseada nas possibilidades abertas pelos
modernos métodos de produção.
Nota-se assim que, ambos os autores sustentam a necessidade de redução
da jornada de trabalho para não mais que três ou quatro horas diárias (sem redução
de salário), permitindo que o restante do tempo fique livre para a prática de outras
atividades, entre as quais o lazer.
Nessas propostas, aqueles autores acreditavam que ao ser reduzida a
jornada de trabalho (o que seria possível devido principalmente aos avanços
tecnológicos), o número dos empregos seria duplicado.
Estas questões, que até hoje geram discussões em vários lugares do mundo,
tiveram maior repercussão na segunda metade do século XIX, mas precisamente em
1880, ano da primeira publicação de O Direito à Preguiça”. Nesta época em Paris,
as jornadas de trabalho nas oficinas eram prolongadas, e chegavam a dezoito
horas diárias.
Certamente este foi um dos principais motivos que fez com que La Fargue
acreditasse, naquela época, que na sociedade capitalista, o trabalho é a causa de
toda “degeneração intelectual”, e de toda “deformação orgânica”.
Neste cenário, verifica-se que a prática do ócio está ligada a oposição do
trabalho, e é diretamente uma condição oposta aquele, pois, como diz Coriolano &
Silva (2005:50), “(...) se não houver trabalho, o tempo não será livre, estará sempre
desocupado”. Assim, o ócio se caracteriza pela retirada do indivíduo da função
social, ou seja, conforme já mencionado, o ócio refere-se a “não-atividade”. De
acordo com Avila (2003:27), “Actualmente, el hombre dispone, de más tiempo para
el ocio, conquistado por la legislación, que promovió la reduccíon de la jornada
laboral, reglamentó la jubilación, las vacaciones y el descanso de fin de semana”. O
autor, diferenciando ócio do tempo livre, acredita que este último é,
(...) una especie de categoría de tiempo, ya el ocio es un estado, una forma
de realizarse en el “tiempo libre”, que puede ser ocupado con actividades
políticas, sociales, filantrópicas etc. Las actividades realizadas en el tiempo
libre que no traen, en sim cualquier sentido de obligatoriedad, y están
37
relacionadas con el placer, el descanso, la diversión y el desarrollo personal,
son las actividades que llamamos de ocio (...) (Op. cit., p. 31).
As atividades realizadas durante o tempo do ócio geralmente não possuem
qualquer sentido de obrigação e, conforme Russel (2002:8), aquele “(...) torna as
pessoas despreocupadas, divertidas e propensas a se dedicarem a atividades de
sua livre escolha, que sejam ao mesmo tempo construtivas e prazerosas”.
Porém não se pode esquecer que o ócio, na sociedade capitalista, muitas
vezes acaba por virar um negócio, onde o tempo livre se torna alicerce para o
consumo de bens, mercadorias e serviços. Além disso, pode ser também um tempo
de oportunidade para alguns vícios como consumo de drogas, jogos, bebidas, etc.
Desse contexto, é preciso destacar algumas idéias do sociólogo italiano
Domenico De Masi, que propõe uma fusão entre produção e prazer. Para ele, não
deve haver diminuição das horas de trabalho, mas, talvez, até um aumento das
mesmas. Desta forma, acredita que “Se a necessidade é a mãe das invenções, o
ócio é, então, o pai das idéias” (DE MASI, 2000). O autor ainda diz que se um
indivíduo for “livre” para fazer seu trabalho pode, inclusive, fazer mais e melhor.
Ao fazer previsões para o futuro em relação ao trabalho, De Masi aponta que
a economia, através do desenvolvimento sem precedentes da tecnologia, caminha
em direção a redução e a flexibilização da carga de trabalho ou amesmo, em
alguns casos, para sua completa eliminação. E diz que,
(...) o futuro pertence a quem souber libertar-se da idéia tradicional do
trabalho como obrigação ou dever e for capaz de apostar numa mistura de
atividades, onde o trabalho se confundirá com o tempo livre, com o estudo e
com o jogo, enfim, com o “ócio criativo” (op. cit., p.10).
Paralelamente, para que o trabalho se torne benéfico, é preciso, dentro dos
limites impostos pelo corpo físico, que pratiquemos o ócio. Isso, pois, se formos
apenas seres robóticos e funcionais, nossa criatividade e nossa capacidade de
inventar e correr atrás do que queremos se perderá. Então, o ócio não é apenas um
38
exemplo a ser seguido. É, também, uma necessidade do corpo humano, e deve ser
visto como exercício de auto-conhecimento e de reflexão. Assim, a partir do
momento que nos “encontrarmos” e nos conhecermos, será possível distinguir o que
nos faz bem ou mal, o que nos faz feliz e o que nos deixa triste, o que gostamos ou
não.
1.3.2 Concepções de Lazer
O lazer é considerado um fruto das conquistas sociais pelo movimento
proletário, que conseguiu além da diminuição do tempo de trabalho, os fins de
semana livres e as férias remuneradas. Como lembra Mendes (1996:72), “(...) lazer
é um conceito delineado historicamente, a partir de lutas das classes trabalhadoras
por melhores condições de vida e diminuição da jornada de trabalho (...)”.
Desse modo, a luta dos trabalhadores em busca de melhores condições de
vida (local de trabalho e moradia), juntamente com o aumento demográfico nas
cidades (conseqüência principalmente da industrialização)
10
, contribuíram para
transformações na produção do espaço urbano que, com passar do tempo, passou a
compreender funções distintas.
Os processos decorrentes das transformações que ocorrem no espaço,
juntamente com ritmos e a dinâmica das sociedades, criam territorialidades urbanas,
às quais, são produzidas e reproduzidas constantemente. Esses processos são
identificados por Corrêa (2003), que também acrescenta o surgimento de áreas de
especialização no espaço urbano, onde se originam as zonas residenciais,
comerciais, industriais, financeiras e também recreacionais. Logo, o surgimento do
lazer e dos locais destinados a sua prática, “(...) decorrem de uma necessidade
presente nos indivíduos de se desligarem do local da produção ou da moradia para
usufruir o tempo livre” (MENDES, op. cit. p. 75).
10
Com o surgimento das indústrias, ocorreu o êxodo rural, onde as pessoas deixaram o campo e partiram em
direção às cidades, na expectativa de encontrar melhores condições de vida e de trabalho. No caso específico da
Inglaterra, com o estabelecimento do absolutismo no culo XVI, a burguesia em aliança com a nobreza,
promoveu um processo de expulsão dos camponeses de suas terras. Estas terras foram cercadas e transformadas
em áreas de pastagens para ovelhas, que ofereciam a matéria-prima básica para o tecido (lã). Houve, portanto,
um intenso processo de migração rural-urbana, que repercutiu no “inchaço” das grandes cidades, tornando-as um
lugar onde se encontrava grande disponibilidade de mão-de-obra.
39
De origem latina, o verbo “licere”, que significa ser lícito, ser permitido, livre,
espontâneo, o lazer teve seu primeiro manifesto em favor dos trabalhadores na
França, publicado em 1880 por Paul Lafargue. Desde então, o lazer tem sido uma
reivindicação freqüente e importante dos movimentos de organizações sindicais.
Contudo embora lazer seja um termo usualmente contemporâneo, ele tem, na
sua significância, origem bastante antiga. Desde lá, a ocupação das pessoas com
atividades voltadas ao descanso e ao entretenimento, bem como a noção do tempo
não dedicado ao trabalho, era justificada pela civilização grega. No entanto,
discordância entre alguns estudiosos sobre a origem da prática do lazer.
Leite acredita que esta atividade esteve presente em todas as civilizações,
pois,
(...) sabemos que alguma forma de lazer sempre existiu e que nas
sociedades primitivas ele misturava com freqüência ao trabalho. Por
conseguinte, o lazer que hoje conhecemos é fruto de longa evolução,
produzida por uma série de fatores de várias ordens
(LEITE, 1995:108).
Para Dumazedier (1979), consagrado autor nos estudos do lazer, embora
seja esta atividade tão antiga quanto o trabalho, ambas possuem traços específicos,
reforçados a partir da civilização Pós-Revolução Industrial. E conclui,
(...) duas condições prévias na vida social tiveram de realizar-se a fim de
que se tornasse possível para a maioria dos trabalhadores:
a) As atividades da sociedade o mais são regradas em sua totalidade por
obrigações rituais impostas pela comunidade. Pelo menos uma parte destas
atividades escapa aos ritos coletivos, especialmente o trabalho e o lazer.
Este último depende de livre escolha dos indivíduos, ainda que os
determinismos sociais se exerçam evidentemente sobre esta livre escolha.
b) O trabalho profissional destacou-se das outras atividades. Possui um
limite arbitrário, não regulado pela natureza. Sua organização é específica,
de modo que o tempo livre é bem nitidamente separada ou separável dele
(DUMAZEDIER, 1979:28).
40
Estas condições, conforme aquele autor, coexistem apenas nas sociedades
industriais e pós-industriais, pois, “(...) elas tornam o conceito de lazer inaplicável às
sociedades arcaicas e pré-industriais” (op. cit., p. 28). Neste raciocínio, Silva
acrescenta que na sociedade contemporânea ocidental,
(...) trabalho e lazer são aspectos alternados da vida cotidiana. Trabalha-se
para garantir o lazer, que por sua vez, serve como descanso e recuperação
das energias físicas e mentais para o trabalho. O lazer está ligado às
práticas desenvolvidas no tempo “livre” (do trabalho). Essa oposição entre
trabalho e lazer é uma das características da sociedade capitalista e ela não
é quantitativa (tempo “livre” e tempo “preso”), mas qualitativa: ao lazer
relaciona-se o prazer, o entretenimento, a satisfação dos desejos, enquanto
trabalho, o compromisso e a responsabilidade. No senso comum, o lazer é
diversão e o trabalho é coisa séria
(SILVA, 2004. a.:36).
Hoje, não resta dúvida que o lazer tornou-se uma atividade necessária para a
sociedade moderna. No entanto, esta prática apresenta um universo complexo de
significados, que variaram muito ao longo da história. Seus conceitos podem
justificar-se por vários motivos, como as diferenças de utilização do tempo livre em
diferentes países, regiões, culturas, e até mesmo, por conceitos pessoais e
ideológicos. Neste âmbito, Leite aponta o tempo do ócio como fundamental para a
existência do lazer, e acrescenta que a atividade deve se concretizar depois de
cumpridas as necessidades orgânicas. Ainda diz que,
(...) aspecto muito importante do conceito de lazer é o que aponta como
tempo disponível antes ou depois do trabalho ou, mais amplamente do
desempenho dos encargos habituais; isto é, fora das horas destinadas ao
cumprimento de obrigações ou ao atendimento de necessidades orgânicas,
tendo à frente o sono, o tempo que sobra pode ser empregado em lazer ou
considerado lazer (...) (LEITE, 1995:14).
Já Camargo (1986:12) acrescenta que,
(...) em toda a escolha de lazer, existe o princípio da busca do prazer,
mesmo que a atividade inicie com um esforço, para se obter o relaxamento
41
agradável ou a sensação posterior de estar em forma; ou que termine no
tédio, que a boa conversa e os copos de bebida não conseguiram evitar.
O lazer deve ser, portanto, uma atividade prazerosa e relaxante, necessária
ao desenvolvimento do homem. Como diz Andrade (2001:29) ele é “(...) dinâmico,
relaxante e alegre porque, além de valorizar as pessoas que o praticam, e as
características que as individualizam, tem capacidade de atendê-las de acordo com
os objetivos que elas almejam”.
Atualmente o lazer tem se constituído em uma das principais motivações de
viagens. Por exemplo, estudos feitos pela Embratur, sobre a demanda turística
internacional, e realizado através de dados coletados nos principais portões de
entrada de passageiros no Brasil, revelaram quais foram as principais motivações de
viagem no período entre 1999/2003, conforme mostra a Tabela 01.
TABELA 01 – Motivações da Demanda Turística Internacional: Caso Brasileiro
Período de 1999 - 2003
MOTIVO DA VIAGEM ANO
1999 2000 2001 2002 2003
Lazer 77,6% 57,0% 55,5% 51,2% 53,9%
Negócios / Congressos / Convenções 21,2% 27,9% 34,9% 28,3% 26,0%
Visitar familiares / amigos
11
-- 10,9% 10,6% 15,6% 17,1%
Estudo / Ensino / Pesquisa
11
-- 1,5% 1,1% 1,6% 1,1%
Religião / Peregrinação
11
-- 0,2% 0,1% 0,5% 0,5%
Tratamento de saúde
11
-- 1,5% 0,1% 0,3% 0,5%
Outros 1,2% 1,0% 2,2% 2,5% 0,9%
Fonte: A partir de dados da Embratur, 2003 - disponível em:
http://200.189.169.141/site/arquivos/dados_fatos/demanda%20turistica/demandaturististicainter
nacional2003_29_06_06.pdf
11
Motivações incluídas na pesquisa a partir do ano 2000.
42
Através dos números da tabela acima, pode-se perceber que o motivo da
viagem “Lazer” embora tenha decaído em termos de porcentagem no período
apontado, manteve-se como a principal razão dos deslocamentos internacionais,
com mais da metade dos turistas 53,9%. Seguido dele vem a opção
Negócios/Congressos/Convenções, com 26,0% e Visita a familiares/amigos, com
17,1%. Os dados do período reforçam a idéia de que lazer caracteriza-se como o
principal fator das demandas em viagens. Desta forma, ao estimular o
desenvolvimento social e cultural, o lazer proporciona o contato social, intensificando
a comunicação e, provocando a socialização entre indivíduos.
Vale destacar que existe uma diversidade de possibilidades que podem ser
enquadradas nas práticas do lazer, como atividades físicas, sociais, manuais,
intelectuais, artísticas, entre outras. As atividades são realizadas no tempo de não
trabalho, ou seja, no tempo destinado a realização pessoal onde, geralmente, se
escolhe o que se quer fazer
12
. Este tempo também pode ser utilizado para
encontros, diversão, esporte, estudo, descanso, ou ainda, desenvolver a sua
formação desinteressada.
Com efeito, as atividades referentes às práticas de lazer não dizem respeito à
população como um todo, mas, apenas, um reduzido segmento dela. Isso ocorre,
principalmente, pela falta de espaços estruturados e destinados ao lazer nas
cidades, o que acaba por provocar um “lazer privatizado”, onde, muitas vezes, “só
quem paga” tem o “direito” de usufruir.
Desse modo são as classes média e alta que têm as maiores possibilidades
de usufruírem de atividades e espaços destinados ao lazer pois, ambas, além de
disporem de maior tempo livre e conseguirem compatibilizá-lo com o trabalho,
também possuem as melhores condições sócio-econômicas para tal. Quanto a maior
parte dos trabalhadores, também constituída pela classe baixa, diversas são as
limitações que impedem a prática dessas atividades. Neste caso, o pouco tempo
livre disponível, associado a pouca renda, e a falta de acesso aos equipamentos
destinados às práticas do lazer, impossibilita o desfrute do mesmo.
12
Nas escolha de lazer, na maioria das vezes, estão as atividades que nos proporcionam prazer e que nos deixam
felizes.
43
Por fim, enfatiza-se, para que o lazer possa ser alcançado e praticado,
inclusive pelas classes menos privilegiadas, é necessário, minimamente, de infra-
estruturas e de meios de manutenção (alimentação, moradia, educação, saúde,
emprego, etc.). Desta forma, é papel do Estado, em suas diferentes escalas de
atuação (federal, estadual e municipal), através de políticas públicas, proporcionar a
todos os segmentos da população, locais e condições que permitam a prática
gratuita do lazer. Neste sentido, concorda-se com Figueiredo (2005:75) quando diz
que “(...) as cidades devem ser orientadas tendo em vista a significância e dimensão
das atividades de lazer, tão importantes quanto às estruturas de transporte,
saneamento, água tratada, educação, habitação e outros”.
1.3.3 Atividade Turística: Conceituação e Notas Evolutivas
Discutir, mesmo sob generalidades, acerca da atividade turística implica,
inicialmente, em conceituá-la. Para tanto, a Organização Mundial do Turismo
concebe aquela prática como um conjunto de atividades realizadas pelas pessoas
durante viagens e paradas em diferentes lugares que não o seu habitual, por um
tempo consecutivo inferior a um ano, com a finalidade de lazer, negócios, e outros
motivos. Autores consagrados no campo acadêmico, como Barreto (1995), Trigo
(1999), Beni (2003) entre outros, conceituam o turismo como o conjunto de
atividades realizadas por pessoas, predominantemente em atividades de viagens.
Barreto observa que “(...) turismo é o conceito que compreende todos os
processos, especialmente os econômicos, que se manifestam na chegada,
permanência e na saída dos turistas de uma determinada cidade, país ou estado”
(BARRETO, op. cit., p. 9). Para Beni, a atividade corresponde a:
(...) um conjunto de recursos naturais e culturais que, em sua essência,
constituem a matéria-prima da atividade turística porque, na realidade, são
esses recursos que provocam a afluência de turistas. A esse conjunto
44
agrega-se os serviços produzidos para dar consistência ao seu consumo, os
quais compõem os elementos que integram a oferta no seu sentido amplo,
numa estrutura de mercado (BENI, 2003:153).
Trigo (1999:12), define turismo como sendo,
(...) uma atividade humana intencional que serve como meio de
comunicação e como elo de interação entre povos, tanto dentro como fora
de um país. Envolve o deslocamento temporário de pessoas para outras
regiões ou países visando à satisfação de outras necessidades que não a
de atividades remuneradas.
Em geral conclui-se, o turismo refere-se a atividades realizadas pelas
pessoas em viagens, e envolve diversos serviços e comércio, movimentando vários
setores da economia. Entre elas, pode-se citar as dos ramos hoteleiros
(hospedagem), gastronomia, meios de transportes, agências de viagens, operadoras
turísticas, shoppings, guias de turismo e um vasto elenco de ofertas ligadas, direta
ou indiretamente, às viagens individuais ou em grupos.
Se o turismo está relacionado com viagens, porém, não são todos os tipos de
viagens que são consideradas turísticas. É preciso, então, voltar um pouco no tempo
para perceber que a atividade turística nem sempre existiu. A atividade turística, ou
seja, a viagem organizada para fins de lazer, começou ser praticada somente a partir
de meados do século XIX, quando houve uma melhora significativa nos sistemas de
transporte e comunicações. Nesse período s-Revolução Industrial, as pessoas
passaram a ser estimuladas a viajar, procurando descanso para reconstituição física
e mental
13
.
Nesta trajetória, se viagens caracterizam-se por deslocamentos humanos
sobre a superfície da terra, constituindo práticas antigas, que sempre ocorreram por
motivos variados. No entanto, não existe consenso entre muitos pesquisadores
sobre em qual momento é que se começou a viajar. De acordo com Oliveira (1999),
para se compreender as motivações que geram os deslocamentos ao longo do
13
As viagens não ocorriam apenas em função do lazer, mas, também, para tratamentos de saúde, por trabalho,
para participação em eventos, negócios, entre outros motivos.
45
tempo, deve-se reportar ao homem das cavernas, que buscava suprir suas
necessidades (de alimentação, água e abrigo) para sobrevivência. Mesmo com a
fixação, após o advento da agricultura, o homem não deixou de mover-se. Os
deslocamentos não mais para atender as necessidades de sobrevivência, mas para
buscar o desconhecido, e aumentar sua aprendizagem.
Assim, de tempos em tempos, os deslocamentos passaram a se tornar cada
vez mais constantes, e com motivações diferenciadas, como guerras, peregrinações,
descobrimentos, fins mercantis, entre outras razões que faziam com que as pessoas
se deslocassem de um lugar para outro
14
.
Registros históricos ocidentais indicam que os gregos e os romanos foram,
também, os primeiros povos a se deslocarem na “busca do prazer”, associado,
geralmente, ao aproveitamento da natureza. Na Grécia, em 776 a.C., os jogos
olímpicos
·
atraíam grande número de pessoas, vindos das mais distintas regiões.
Conforme Castelli (1990:13), “(...) os ginásios criados em diversas cidades tiveram
um importante papel para o desenvolvimento dos esportes além de constituírem em
locais onde eram ministrados cursos, conferências (...)”. Por ocasião dos jogos, foi
desenvolvida infra-estrutura específica para hospedagem e atrações, como as
competições e visitas a templos (OLIVEIRA, 2000).
Com relação a Roma, aquele autor reporta-se aos famosos circos romanos,
considerados “espaços de lazer” para a população do século III a.C. Além disso,
Castelli também diz que a construção de estradas foi determinante para que os
romanos pudessem viajar longas distâncias. Assim, considerável contingente de
pessoas partia em direção ao campo, ao mar, e áreas de águas termais. De acordo
com Barretto (1995), os romanos iam à praia e aos spas” (centros de tratamento de
saúde) buscando, na primeira, divertimento, e nos segundos, cura, através dos
banhos medicinais. Conforme Pires (2004), a talassoterapia, portanto, data de cerca
de 500 a.C.
Com o fim do Império Romano as viagens sofreram significativo retrocesso.
Segundo aquele autor, durante a Idade Média, com a organização da sociedade em
feudos auto-suficientes, as viagens tornaram-se uma grande aventura. No mesmo
14
Diante disto, é aceitável admitir que o turismo de negócios antecedeu o turismo de lazer.
46
período merecem destaque as Cruzadas
15
, que "(...) colocaram nos caminhos da
Europa muitos viajantes, entre peregrinos, soldados e mercadores (BARRETTO,
1995:46).
Por volta do ano 1000 d.C., “(...) começaram a aparecer as grandes estradas
por onde circulavam os comerciantes que transportavam suas mercadorias em
animais de carga, carruagens puxadas a cavalo, peregrinos, mendigos trovadores,
monges errantes e estudantes” (PIRES, 2004:18). Isso contribuiu para que as
viagens se tornassem mais seguras, e que ocorressem em maior freqüência.
O desenvolvimento do comércio, o que também implicou na ampliação das
rotas e uma melhora, embora não significativa, nas estradas e nos transportes. Os
roteiros marítimos, caracterizados pelas “Grandes Navegações”, constituíram
avanços, na perspectiva de descobrir novos continentes
16
.
Entretanto, o grande marco na história da humanidade, e também para o
turismo, foi a Revolução Industrial, ocorrida na Inglaterra na segunda metade do
século XVIII. Aquele período foi marcado por grandes transformações técnicas e
econômicas
17
, e gerou profundas conseqüências e implicações sociais, políticas e
culturais.
Assim o turismo, conforme o conhecemos hoje, começou, de fato, a partir do
ano de 1841, quando foram organizadas as primeiras atividades de viagens com
esse fim, devido à intervenção de personalidades importantes da sociedade inglesa.
O primeiro empreendedor a efetivar uma viagem agenciada foi o pregador e
vendedor de bíblias Thomas Cook. Ele alugou um trem, comprou e revendeu os
bilhetes, e transportou cerca de 570 pessoas para um Congresso contra o
alcoolismo, organizado por evangélicos, em 1841, na cidade de Leicester e
Loughborough, na Inglaterra (ANDRADE, 1995). Pode-se dizer então, que este foi o
começo do turismo coletivo, da excursão organizada.
18
Cook não obteve nenhum lucro com a organização e venda do seu primeiro
produto turístico, mas percebeu o potencial do negócio. Tanto é que, em 1845,
15
Expedições religiosas que visavam libertar Jerusalém do domínio árabe.
16
Datam desta época as “grandes viagens” de Marco Pólo (1271).
17
Merece destaque a invenção da máquina a vapor.
18
Hoje também conhecido como “Pacote Turístico”.
47
decidiu dedicar-se exclusivamente a organizar excursões. Dessa forma surgiu a
primeira operadora turística da história. Também promoveu outros passeios pela
Europa, África (Egito), Estados Unidos, e até uma volta ao mundo (que demorou 222
dias). Através de sua empresa, também fazia reserva de hotéis, disponibilizava guias
turísticos, entre outros serviços que marcaram a entrada do turismo na era industrial
e no aspecto comercial (BARRETTO, 1995).
Outros nomes também se tornaram importantes na história e desenvolvimento
da atividade turística, como Cesar Ritz (um dos primeiros empreendedores
hoteleiros), George Pullmann (que organizou a primeira viagem turística a bordo de
uma locomotiva, com padrão de primeira classe), e Thomas Bennett, (que
organizava viagens para os ingleses que visitavam este país).
no século XX ocorreu uma “revolução” no sistema turístico com o
surgimento do automóvel popular, que passou a ser considerado o “rei” do turismo
de massa. Esta inovação, que aparece no período compreendido entre Grandes
Guerras, possibilitou com que parte da população passasse a viajar com mais
freqüência.
Um pouco mais tarde destaca-se o surgimento do avião, uma inovação
tecnológica que reduziu, significativamente, a categoria tempo, propiciando maior
rapidez e conforto aos usuários. No entanto, era considerado um transporte bastante
restrito, devido ao alto custo das passagens aéreas.
É relevante salientar que viagens sempre existiram, mas sob a ótica do
turismo não. De acordo com Coriolano & Silva (2005) o turismo, conforme o
conhecemos hoje, é um fenômeno dos tempos modernos, uma (re)invenção do
capitalismo que, a partir da sua expansão, começou a despontar, a partir do século
passado, o interesse pelo potencial turístico dos lugares. O turismo foi, então, se
consolidando como atividade geradora de transformações espaciais, lucros e
criadora de empregos. Desde lá, ocorreu um sensível aumento de roteiros turísticos
para vários lugares, objetivando atrair diferentes camadas da população, em
especial, aquelas que possuem maior tempo livre, dinheiro e vontade de viajar
19
.
19
Pode-se dizer que sempre existiram motivações para se realizarem viagens turísticas. Entretanto, a maioria das
pessoas não tinha condições de fazê-las. Essas condições, no século XX, foram gradualmente alcançadas e as
viagens se tornaram produtos de grande consumo.
48
Nesse contexto assinala Barretto (1995:61), para que haja consumo de lazer
e turismo,
(...) é necessário que as pessoas tenham preenchido em primeiro lugar
todas as suas necessidades vitais, para o que devem desembolsar parte de
sua renda mensal. Portanto, para haver um consumo de lazer e de turismo,
deve sobrar dinheiro depois de pagas as despesas obrigatórias.
A viagem turística começou a ser praticada, intensivamente, somente a partir
de meados do século XX, quando o tempo livre passou a ser uma das conquistas
adquiridas pelas classes trabalhadoras, a partir de lutas por melhores condições de
vida e diminuição gradual da jornada de trabalho. Isso possibilitou com que o turismo
se expandisse por quase todos os países do mundo, provocando reorientação nas
maneiras de organização do espaço.
O desenvolvimento da atividade turística representa, portanto, a primeira
manifestação da importância do lazer ligado ao prazer (não somente a isso), e de
como este passaria a ocupar parte crescente da vida das pessoas. Desta forma o
turismo proporciona a oportunidade de conhecer o novo em termos de lugares,
culturas, hábitos, gastronomia e pessoas.
1.4 TURISMO E SUA DINÂMICA SÓCIO-ECONÔMICA NA PRODUÇÃO
ESPACIAL
A partir do século XX o turismo assume características de um fenômeno
global, com expressões econômicas, políticas, sociais e culturais, que conferem a
atividade papel importante nas análises relativas à produção e consumo do espaço.
Esta produção do espaço pelo turismo se realiza pelo volume de pessoas e receitas
49
que a atividade movimenta (direta e/ou indiretamente) e assim, participa deste
processo, através dos fixos e fluxos
20
, que nele atuam.
Como é uma atividade que envolve fortemente a sociedade com a cultura e o
meio ambiente das regiões, o turismo também se apropria, consome e modifica
espaços, comprometendo seus atributos paisagísticos. Em contrapartida, Camargo
& Silva (2005:245) mencionam que “(...) toda localidade está sujeita a qualquer tipo
de mudança, independente do fazer ou não turístico em que nela se instale”.
O fato é que o turismo tende a ocorrer em um dado território, impactando e
sendo por este impactado, positiva ou negativamente. A atividade passou então,
cada vez mais, a ser um dado de preocupação, e também de ocupação, para muitos
estudiosos, que vêem o turismo como um fator de risco para a degradação e até
extinção desses espaços.
No que se refere às transformações que o turismo produz no espaço, estas,
são, quase sempre, analisadas de forma fragmentada e parcial, destacando-se, em
geral, resultados econômicos da atividade. Isto proporciona uma visão restrita do
fenômeno que, geralmente, não leva em conta, a totalidade de elementos dos
processos e que envolvem diversos segmentos de atividades e pessoas, que vão
desde a chegada, até a saída do turista de um determinado lugar
21
.
Desta forma, acredita-se que a atividade turística, assim como o espaço, “não
resulta da soma das partes” (RODRIGUES, 2001:74), mas, de uma totalidade, onde
cada uma de suas partes o elementos, que “(...) se entrelaçam, fundem-se e se
confundem, contêm-se uns nos outros e são por eles contido (...)”(SANTOS,
1985:7).
A concepção de totalidade do espaço idealizado por Santos (1985), apresenta
as categorias de análise (anteriormente mencionadas: forma, função, estrutura e
processo) como uma possibilidade de se compreender e estudar fenômenos
20
De acordo com Rodrigues (2001), os fixos são objetos edificados que compõem e fazem parte da paisagem
dos destinos turísticos, como por exemplo, os meios de hospedagens, equipamentos de apoio, etc. os fluxos,
podem ser de pessoas, de mercadorias, de transportes, entre outros.
21
Esses processos e serviços englobam setores do ramo hoteleiro, gastronômico, meios de transporte, agências
de viagem, operadoras turísticas, comércio, shoppings, guias de turismo, além de diversos outros equipamentos
responsáveis, direta ou indiretamente, pelo entretenimento e o bem estar dos turistas.
50
espaciais, para se avaliar perspectivas de uma realidade. Para o autor, é através
desta interpretação, que pode-se ver nas partes, uma visão sistêmica do todo.
Assim, aquelas categorias analíticas também podem ser utilizadas para
compreender e interpretar o espaço turístico, que nada mais é, do que uma
construção, um espaço criado e/ou produzido, a partir de certas especificidades
territoriais. Deste modo, a proposta apresentada por Santos nos permite reconhecer
que a atividade turística é como uma maneira de utilização e consumo do espaço.
As características que marcam sua dinâmica revelam assim, diferentes estágios de
articulação entre “sistema de objetos” e “sistema de ações” nas mais variadas
dimensões de lugares.
É dessa forma que o turismo tem se revelado como importante atividade para
o desenvolvimento sócio-econômico de diferentes lugares, regiões e países do
mundo, onde através de suas modalidades, são (re)produzidas essas condições de
existência sócio-econômicas. Para melhor visualização dessa relativa importância,
em âmbito mundial, foram agrupados alguns dados e difundidos pela OMT (Vide
Tabela 02), que indicam movimento de chegada de turistas estrangeiros em todo
mundo entre os anos 2002 e 2005.
TABELA 02 – Chegada de Turistas Internacionais no Mundo por Região
Período: 2002 - 2005
(Em milhões US$)
Regiões
2002 2003 2004 2005
Europa
América
África
Ásia Oriental/Pacífico
Ásia Meridional
Oriente Médio
407,4
116,7
29,5
120,3
5,8
29,2
408,6
113,1
30,7
107,8
6,4
30,0
424,5
125,9
33,4
137,8
7,6
36,3
441,6
133,6
36,8
148,7
8,0
39,7
TOTAL
708,9 696,6 765,5 808,4
Fonte: Organização Mundial do Turismo – OMT
22
Notas: Dados de 2001
a 2004 revisados
Dados de 2005 estimados
22
Disponível em:
http://200.189.169.141/site/arquivos/dados_fatos/Anuario/anuario_2006___4versao_internet_dados_2005(08_03
_07).pdf
51
A tabela 02 mostra, então, que a Europa continua como a região que mais
recebe turistas, conforme o período analisado. Em 2002, a OMT registrou a entrada
de 407,4 milhões de estrangeiros naquele continente. Em 2005, este número
aumentou para 441,6 milhões. A procura pelo continente europeu se deve, em
grande parte, ao interesse que a tradição cultural européia desperta em outros
povos. Considerada “berço” da cultura ocidental, a Europa foi palco de
acontecimentos decisivos da história antiga e recente, destacando-se pela riqueza
de seu patrimônio histórico, artístico e cultural.
Em seguida está a América que, respectivamente, recebeu 116,7 e 133,6
milhões de turistas nos anos 2002 e 2005. A Ásia Meridional foi a que teve menor
número de visitantes, se comparado às outras regiões. Certamente, isso se deve
aos elevados níveis de pobreza que aqueles países vivem (cerca de 40% da
população vive em absoluta pobreza) e pelos diversos conflitos de disputa de terras
que lá comumente acontecem.
Do ponto de vista das receitas cambias movimentadas pela atividade turística
(Vide Tabela 03), a Europa e as Américas também mantiveram a liderança. Ambas
concentravam 74,7% das receitas mundiais em 2002. Em 2005, nota-se que este
numero não teve grande incremento. Pelo contrário, inclusive até diminuiu um
pouco, passando para 72,2%. Isso, certamente acontece pela procura de novos
destinos. A Ásia Meridional manteve-se como a região com a menor receita cambial
gerada pela atividade turística.
TABELA 03 - Receita Cambial Gerada pelo Turismo Internacional, por Região
Período: 2002 - 2005
(Em bilhões US$)
Regiões 2002 2003 2004 2005
Europa
Américas
África
Ásia Oriental/Pacífico
Ásia Meridional
Oriente Médio
246,9
117,3
12,1
91,9
5,2
13,5
287,2
115,7
16,1
91,9
5,2
13,5
328,2
132,1
19,1
119,1
8,7
25,5
347,4
145,3
21,3
129,0
9,9
28,6
TOTAL
486,9 532,8 632,7 681,5
52
Fonte: Organização Mundial do Turismo – OMT
23
Notas: Dados de 2001
a 2004 revisados
Dados de 2005 estimados
Observando os dados arrolados (nas Tabelas 02 e 03), pode-se deduzir que o
turismo é um dos fatores capaz de redistribuir renda, pois, aumenta o circuito
econômico do núcleo receptor e isso, contribui para o desenvolvimento da economia
local/regional, estimulando tendências de novos investimentos, capazes de gerar
empregos diretos e indiretos
24
.
No Brasil, a INFRAERO (Empresa Brasileira de Infra-Estrutura Aeroportuária),
registrou no mês de dezembro de 2005, 586.138 desembarques de passageiros
vindos do exterior nos aeroportos brasileiros. No referido ano, a soma total foi de
6.788.233 desembarques internacionais (Vide Figura 03).
4.630.062
5.375.343
6.138.217
6.788.233
2002 2003 2004 2005
FIGURA 03 – Desembarques Internacionais no Brasil
Período: 2002-2005
Fonte: Infraero (2006)
23
Disponível em:
http://200.189.169.141/site/arquivos/dados_fatos/Anuario/anuario_2006___4versao_internet_dados_2005(08_03
_07).pdf
24
A OMT espera que, em 2010, o turismo contribua com 328 milhões de empregos diretos e indiretos, atingindo
de 8,7% a 12,5% do PIB mundial e US$ 1,8 trilhão em impostos (atualmente, o setor contribui com US$ 802
bilhões em taxas e impostos diretos e indiretos).
53
Esses números, que incluem estrangeiros em visita ao país e brasileiros em
retorno de viagens ao exterior, representam um aumento de cerca de 10% com
relação ao ano anterior. Os resultados apontam um recorde histórico, não para o
país, como para outros destinos do mundo todo.
Desse modo, concorda-se com aqueles que dizem que “(...) o turismo
constitui uma possibilidade concreta de minimização de disparidades regionais entre
as regiões do país” (CRUZ, 2000), surgindo como uma alternativa capaz de fomentar
o crescimento e o desenvolvimento regional. Assim, conforme Wahab (1977), a
atividade turística produz implicações sócio-econômicas, merecendo destaque
aspectos como: aumento da urbanização, que implica em melhorias na infra-
estrutura; incremento de indústrias associadas ao serviço de turismo (transportes,
alojamentos, etc.); expansão de industrias relacionadas a equipamentos para hotéis,
artesanatos, etc.; aumento da produção de diversos produtos para suprir a demanda
do consumo; entre outros benefícios que o turismo, se bem planejado e bem
gerenciado, tendo o apoio de profissionais competentes, e a partir de peculiaridades
ecológicas, pode trazer.
No entanto, apesar de reconhecer que a atividade turística exerce grande
importância sobre a economia de determinada região ou nação, funcionando como
atividade propulsora do desenvolvimento econômico, no caso brasileiro ainda não há
estimativas específicas para caracterizar o segmento do turismo, isto é, no Brasil
existem poucos estudos que quantificam e qualificam, com maior rigor, os impactos
desse segmento sobre a economia nacional.
Além disso, são relativamente pequenos os investimentos que o poder público
aplica em setores que estão diretamente ligados ao desenvolvimento da atividade
turística como: infra-estruturas de acesso, infra-estrutura básica como saneamento,
transportes, comunicação, saúde, segurança. Outros problemas também dificultam o
“deslanchar” do turismo no Brasil, como a falta de mão-de-obra qualificada, de
planejamento, de parcerias (entre o setor público e privado), de conscientização da
população, de divulgação e comercialização dos destinos, etc.
54
Para que essas deficiências possam ser superadas, possibilitando que o
turismo venha a tornar-se um propulsor de desenvolvimento, é fundamental a
atuação do Poder Público, como promotor do espaço turístico. Ele deve agir como
agente fiscalizador, defendendo e preservando os recursos turísticos, o consumidor
e a população que recebe o turista. Deve controlar o equilíbrio entre a oferta e a
demanda; e estabelecer o cumprimento das normas e das políticas de apoio ao
desenvolvimento do turismo, além de regulamentar e ordenar o uso do solo e da
atividade.
Desse modo justifica-se a atuação do setor público, elegendo ou não o
turismo como atividade econômica e social de uma nação/região. Feita a opção, e se
esta for pelo desenvolvimento da atividade turística, cabe a ele criar políticas
públicas de desenvolvimento do setor e participar, ativamente, na definição e
elaboração de estratégias e linhas específicas de procedimento para o setor. O
objetivo não deve ser de solucionar os problemas intrínsecos da atividade
turística, mas, também, relacioná-las com os outros interesses nacionais.
1.5 PERSPECTIVAS DA ATIVIDADE TURÍSTICA NO MUNDO
CONTEMPORÂNEO
A abertura de mercados, as inovações tecnológicas na informática, e nos
meios de comunicações, e, principalmente, a expansão da economia de serviços,
são componentes do processo de globalização, que se constituem em fatores
fundamentais para a efetivação de mudanças significativas e o conseqüente
crescimento da importância do turismo na economia mundial.
A dinamicidade com que se processam as transformações se reflete, também,
no espaço onde, a todo momento, “(...) criam-se novas formas (objetos) para
responder às necessidades novas e precisas, ao mesmo tempo em que velhas
formas mudam de função, dando lugar a uma nova geografia construída com velhos
(e novos) objetos” (CRUZ, 2000:16 apud Souza, 1988:64).
55
Estamos assim, cada vez mais, diante de um mundo globalizado, onde “(...) a
palavra chave é a velocidade: velocidade da circulação, da informação, das
pessoas, dos objetos (...) enfim de tudo que compõe o ambiente (...)” (SANTOS,
2002:195). O desenvolvimento constante de novos produtos conduz a uma
competitividade selvagem, e faz com que tudo se torne obsoleto e ultrapassado em
questão de dias.
Esses processos estão atrelados à dinâmica capitalista, onde, cada vez mais,
os lugares, são redefinidos por padrões estéticos e de consumo, criando novos
fluxos e novas territorialidades. Contudo, acredita-se que com a popularização e as
facilidades de acesso aos meios e as ferramentas de comunicação, um novo
sistema técnico está se formando. Assim, conforme Carlos (1999:173),
(...) uma nova racionalidade que está sendo imposta ao cotidiano como
decorrência do desenvolvimento tecnológico, que permite à informação
chegar a todos os lugares. Ao mesmo tempo, podemos dizer que o mundo
não se caracteriza por áreas desconhecidas. A tecnologia levou o homem
para todos os pontos do planeta. A universalização do capitalismo produziu
um crescente e denso fluxo econômico provocando uma nova ordenação e
hierarquização do espaço mundial.
Esta nova ordenação do espaço pode ser observada, também, a partir da
prática da atividade turística, pois, à medida que o turismo se apropria e promove a
reorganização de seus espaços, determinadas normas e padrões são seguidos,
estabelecendo e mantendo certas tendências contemporâneas de gostos e
exigências. Isto acontece de forma que os espaços turísticos se revestem de
características e formatos comuns, tendendo a uma homogeneização globalizada,
em detrimento às especificidades que tornam única cada localidade. Com relação a
isso, Camargo & Silva dizem que,
(...) determinadas características que são intrínsecas a certos locais, as
quais são determinadas ou sugestionadas pela própria estrutura e tipologia
geográfica em que se encontram, características que determinam o modo
de ser e de viver local, tornando cada região do globo especial por sua
especificidade (CAMARGO & SILVA, 2005:245).
56
Aqueles autores também acreditam que essas peculiaridades de cada lugar,
(...) são as grandes riquezas que o mundo possui e que também o torna
fascinante suas diversidades paisagísticas, históricas e culturais. São
estas diversidades que a atividade turística não deve e não pode permitir
que seja destruídas ou agredidas em função de sua prática, até porque, na
maior parte das vezes, o o grande vetor e incentivador das visitações
(CAMARGO & SILVA, 2005:45).
Desta forma, inserido nas tendências globais, de que cada lugar apresenta
particularidades que o tornam especiais, o Município de São José, localizado no
litoral central do Estado de Santa Catarina e vizinho de Florianópolis, é possuidor de
peculiaridades que o faz um lugar único. Assim, diversas características o fazem
parecer moderno, com ares de cidade grande e, ao mesmo tempo, guarda
características do passado, ou do que sobrou dele, materializado na paisagem
urbana, e que ainda se mantém vivo no cotidiano do lugar. Exemplos são os traços
da história de base açoriana, arquitetura, manifestações folclóricas, artísticas e
culturais, que resistem até hoje.
Em São José coexistem o “velho” e o “novo”, ou seja, vestígios do passado
dividem espaço com novos fluxos e espacialidades, criando e recriando, a partir das
diferentes densidades de usos do solo, novas dinâmicas e variadas funções, em
antigas e novas formas. Neste sentido, o município expressa contradições espaciais
decorrentes de sua evolução, significando, um verdadeiro mosaico, dinâmico e
valorizado pelo vetor cultural.
Nesta conjuntura percebe-se que hoje, alguns elementos encontrados no
município são bastante importantes para a reconstrução da sua história. Eles
caracterizam aspectos particulares e significativos que, aos poucos, estão
despertando no município, a necessidade de criar uma identidade própria, diferente
da capital catarinense. Entre as opções existentes está o Centro Histórico, espaços
de lazer, produções culturais, entre outras.
57
Estes são aspectos do município que valorizam a história e a cultura local, o
que, de fato, têm se demonstrado como possibilidades a serem exploradas para fins
turísticos e/ou de lazer. Assim sendo, nesta tendência de turistificação dos espaços
e dos lugares, São José, assim como outros municípios do estado de Santa
Catarina, e de outros estados também, vislumbra, na atividade turística, a
possibilidade de complementar a economia local e as do pólo turístico de
Florianópolis.
Portanto reforça-se, mais uma vez, que o turismo apropria-se de
singularidades inerentes a cada localidade, com a finalidade de transforma-las em
atrativos turísticos capazes de absorver uma quantidade significativa de turistas.
Apodera-se, então, de
(...) lugares “exóticos”, de paisagens naturais”, de “paisagens históricas”,
transformando-os em lugares que deverão ser observados para se obter
conhecimentos culturais, históricos, possibilitar o descanso, e vários outros
motivos simbólicos ou reais (RODRIGUES, 1997:48).
A partir então das diferenciadas formas existentes nos modos de consumo do
espaço turístico, e mesmo no modo de vida das pessoas, é que surge as
diferenciações e as inovações dos produtos turísticos. São tentativas de atrair a
atenção dos visitantes para os “lugares turísticos”, e fazer com que eles, ao irem
embora, além de levarem como recordação boas lembranças, também divulguem,
para seus parentes e amigos, a experiência vivida, que supostamente deveria ser
“maravilhosa”, e ainda sintam vontade retornar.
Acredita-se assim que o turismo reestrutura o espaço segundo as
necessidades do capitalismo, de reproduzir e consumir os lugares. Tal afirmação nos
remete a pensar no futuro desta complexa atividade, que ao mesmo tempo em que
“preserva” os lugares turísticos, também os “destrói”. É o que Rodrigues (1997:42)
chama de “produção destrutiva”.
58
De todo modo é preciso pensar a atividade turística em toda a sua amplitude,
e a partir de sua dinâmica espacial, que se figura materialmente, criando e também
transformando formas espaciais.
Mundialmente o turismo se configura como uma das mais importantes
atividades econômicas, que faz parte, em menor ou maior escala, da vida de muitas
pessoas, e que se tornou elo de ligação entre diferentes culturas de qualquer lugar
do mundo, principalmente, sob a forma de atividades de massa nesses tempos
modernos e de globalização (MORIN, 1977), possibilitando a valorização da troca de
experiências, e também uma nova vivência que satisfaça as necessidades do turista
consumidor.
Estimativas feitas pela OMT, com relação à atividade turística, indicam que
este será, em breve, o setor mais importante quanto à geração de empregos e
divisas no mundo, “(...) especialmente para muitos países em desenvolvimentos e,
particularmente, para os menos desenvolvidos, o turismo apresenta-se como a
principal alternativa impulsionadora do desenvolvimento econômico” (MASINA,
2002:22).
Desta forma, os indicativos para o futuro da atividade turística conforme a
OMT, é que algumas megatendências irão revolucionar o mundo do trabalho.
Schmitz (2002), acredita inclusive que pode ocorrer a transição de uma sociedade
centrada no trabalho para uma outra baseada no lazer. Assim, diversos autores
fazem suas previsões para o futuro da atividade. Entre elas destacam-se:
As viagens de férias serão mais curtas e em períodos diferenciados;
Com a globalização do turismo, haverá uma maior valorização da
identidade local;
Haverá uma maior utilização da internet nas reservas (aéreas, de hotéis,
passeios, entre outras);
A viagem virtual predominará como principal meio de comunicação para
oferta de turismo;
59
Crescimento do turismo ecológico, de aventura e histórico-cultural;
Preço e segurança serão fatores chave;
Os consumidores serão cada vez mais exigentes e ativos;
A busca de um foco será essencial, pois muita diversidade acaba
atrapalhando;
Se preciso passar da venda de serviços para a venda de momentos
inesquecíveis; de bens e serviços para uma oferta de experiência;
O setor privado precisará inovar nos processos de comercialização;
Superação das resistências sócio-culturais à globalização do turismo pela
conscientização do que ele representa para as economias nacionais ou
regionais, e pela certeza de justamente nas diferenças geográficas e
culturais, estão os mananciais das fontes do turismo internacional;
Barateamento das viagens aéreas, tornando-as mais acessíveis a um
maior número de consumidores, ampliando o limite dos viajantes;
Procura por serviços personalizados, de excelência, de cortesia e de
detalhes;
Alto grau de exigência, pois a sociedade pós-moderna exige, entre outras
coisas, qualidade nos produtos que consome;
Mudança de atitude para com o turismo. Antes considerado um privilégio
de poucos agora, como direito a todos.
Estas tendências evidenciam que com os avanços tecnológicos e a
popularização dos meios de comunicação e de transportes, a atividade turística se
tornou mercado altamente competitivo, além de global, onde número cada vez maior
de turistas, se utilizam da internet como importante ferramenta para pesquisas,
60
comparações, escolhas, e compras de pacotes turísticos, passagens aéreas,
reservas de hotéis, entre outros serviços.
Nesse contexto os turistas se tornam consumidores mais exigentes, e
passaram a despertar nas agências de viagens, e em outros segmentos ligados ao
turismo, uma competição acirrada na tentativa de conquistar e fidelizar aqueles
clientes. Portanto, o principal desafio da oferta consiste em adiantar-se aos
movimentos da demanda para atendê-la e assegurar níveis adequados de
qualidade.
Esta também tem se revelado entre as dificuldades, frente ao enorme
leque de opções existentes no mundo todo.
Outra perspectiva para o turismo consiste na atividade assumir função social,
valorizando cada vez mais aspectos da história, cultura, identidade, das
especificidades e das belezas naturais de cada localidade. Nesse sentido, a OMT
acredita no aumento da procura por lugares selvagens e experiências exóticas, e
aponta que boa parte do boom do turismo acontecerá graças ao ecoturismo.
Assim sendo, dados oficiais divulgados em relatório da OMT revelam que
mais de 840 milhões de pessoas viajaram durante o ano 2006, o que representa um
crescimento de 4,5% em relação ao ano anterior. Portanto, as perspectivas para o
turismo nas próximas duas décadas é a expansão sem precedentes do número de
viajantes, que, conforme aquele órgão, chegarão a 1,6 bilhões de turistas até 2020,
gerando US$ 2 trilhões de receitas.
Entre as preferências dos visitantes, de acordo com a OMT, estará a China,
que à medida que se integrar à economia mundial, vai se tornar, em pouco tempo, o
país mais visitado do mundo. Países exóticos como África e Ásia também estarão
entre os mais procurados. para a Europa, perspectivas indicam que continuará
recebendo a metade do 1,5 bilhão de turistas do futuro, mas nos próximos 20 anos
deverá ter um crescimento anual de 3%, enquanto o turismo nos países asiáticos,
deverá aumentar em média 6,5% ao ano.
Quanto ao Brasil, a OMT acredita que o país mante o quarto lugar nas
Américas - atrás de americanos, canadenses e mexicanos - com 14 milhões de
visitantes, onde os destinos mais procurados serão os santuários naturais como
Lençóis Maranhenses, Fernando de Noronha e Chapada Diamantina.
61
Por fim, seja qual for o destino escolhido, o que se percebe nos últimos anos,
é uma certa mudança nas preferências turísticas, ou seja, insatisfação com destinos
tradicionais, comercializados nos pacotes turísticos. Este fato vem contribuindo para
a criação e exploração de novos destinos, bem como para o crescimento do turismo
cultural e natural.
Essas discussões tiveram como intuito ilustrar a amplitude da atividade
turística, enquanto um fenômeno sócio-espacial, resultante do desenvolvimento da
sociedade capitalista. o tentativas de compreender as realidades cotidianas e
suas contradições, bem como a forma como este espaço é produzido e reproduzido
constantemente. Posteriormente, serão tratadas questões específicas de nosso
objeto de estudo, ou seja, aspectos da gênese e da trajetória do Município de São
José aos dias de hoje, procurando entender as inter-relações que este lugar tem,
como parte integrante da área conurbada de Florianópolis, bem como, as
potencialidades de lazer e turismo daquele lugar.
62
CAPÍTULO II – MUNICÍPIO DE SÃO JOSÉ: PANORAMA SÓCIO-
ESPACIAL E SUA INSERÇÃO NA DINÂMICA REGIONAL DA
GRANDE FLORIANÓPOLIS
2.1 BREVE CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO
São José é o município mais próximo de Florianópolis, capital do Estado de
Santa Catarina. A interdependência dos fatores naturais e sócio-culturais contribuiu
na organização desses territórios e, conseqüentemente, para o desenvolvimento das
atividades econômicas, materializadas em diversas manifestações que se
expressam na (re)ordenação espacial de outros municípios.
Situado no litoral central do Estado de Santa Catarina, São José é, também,
parte integrante da Região Metropolitana de Florianópolis (Vide Figura 04). Está
localizado entre as coordenadas geográficas: 27º31’05’’ e 238’28’’ de latitude Sul
e 48º36’04’’ e 48º 44’ 44’’ de longitude Oeste, e tem como limite à leste às águas das
Baías Norte e Sul, além da porção continental de Florianópolis; a oeste os territórios
dos Municípios de São Pedro de Alcântara e Antônio Carlos, a norte Biguaçu, e a sul
Palhoça.
Apresenta relevo predominante do tipo planície, caracterizado pela estreita
faixa litorânea e bacias fluviais dos rios Maruim e seus afluentes e, ainda, Serraria,
Três Henriques, Araújo e cheler que, com exceção do Maruim, foram reduzidos a
córregos. As terras elevadas existentes na região fazem parte do conjunto
geomorfológico conhecido por Serra do Tabuleiro, cuja maior expressão isolada no
município é o Morro da Pedra Branca, com 450 metros de altitude.
63
FIGURA 04 – Mapa de Localização do Município de São José - SC
64
Com uma localização a poucos metros acima do nível do mar, próximo ao
Oceano Atlântico, em São José sobressaem condições climáticas associadas ao tipo
sub-tropical atlântico. As temperaturas ao longo do ano sofrem variações
acentuadas, face à presença de estações bem definidas. A temperatura média anual
é de 20,3ºC.
Conforme dados do IBGE (2000), a área territorial atual de São José
restringe-se a uma superfície de 113,17 km
2
e sua população estimada para 2006,
foi de 201.103 habitantes
25
. A pequena extensão territorial e o elevado número de
habitantes por km², torna o município o segundo maior em densidade demográfica
de Santa Catarina
26
, com 1.317 hab/km². Apresenta taxa de crescimento anual de
3,49%, e está entre os dez municípios mais populosos do estado. É o segundo com
maior número de habitantes da região, ficando atrás apenas de Florianópolis (Vide
Tabela 04).
TABELA 04 – Registros Demográficos de Municípios do Núcleo
Metropolitano da Grande Florianópolis – 2000
Município População
Total 2000
População
Urbana 2000
População
Rural 2000
Taxa de
Urbanização
Densidade
Demográfica
Águas Mornas 5.390 1.715 3.675 31,81 14,94
Antônio Carlos 6.434 1.760 4.674 27,84 28,08
Biguaçu 48.077 42.907 5.170 89,24 148,14
Florianópolis 342.315 332.185 10.130 97,04 789,98
Governador Celso Ramos 11.598 10.842
756
93,48 124,62
Palhoça 102.742 97.914 4.828 95,30 259,86
Santo Amaro da Imperatriz 15.708 12.536 3.172 79,80 50,55
São José 173.559 171.230 2.329 98,65 1.526,46
São Pedro de Alcântara 3.584 2.096 1.488 58,48 25,66
TOTAL 709.407 673.185 36222 94.89 295,71
Fonte: IBGE – Censo Demográfico 2000.
25
O censo demográfico de 2000 registra que São Jo possuía cerca de 173.239 habitantes. Entretanto, no
decorrer de seis anos este número aumentou.
26
O Estado todo tem em média 50 hab/km² e Florianópolis, cerca de 593 hab/km².
65
Hoje, atividades industriais, comerciais e de prestação de serviços, revelam-
se entre as principais estratégias econômicas do município. Dados da Secretaria da
Receita (Prefeitura Municipal), registraram em 2006, mais de 1.200 indústrias, cerca
de 6.300 estabelecimentos comerciais, 4.800 prestadores de serviços e 5.300
autônomos. rias dessas empresas estão distribuídas pelo território josefense. No
entanto, o Distrito de Barreiros é o que concentra o maior número de indústrias.
no Distrito Sede, estão as maiores, principalmente na Área Industrial e às margens
da BR-101.
Com pequena extensão territorial, e quase que totalmente ocupado por usos
para fins urbanos, São José é dividido em três distritos administrativos: Sede,
Barreiros e Campinas (Figura 05). Estes distritos estão ainda sub-divididos em 27
bairros (Figura 06), definidos pela lei municipal nº 3.514, de 5/01/2000. Entretanto,
parte deles não apresente infra-estruturas relacionadas com esta categoria urbana
27
.
27
De acordo com Farias (2006), para ser considerada bairro de fato, as comunidades m que apresentar uma
infra-estrutura que lhe assegure vida própria, ou seja, uma diversificação de atividades comerciais e de serviços,
escolas, posto de saúde, posto policial, farmácias, táxi, telefones públicos, correios, agência bancária, etc.
66
FIGURA 05 Mapa do Município de o José: Divisão por Distritos
Administrativos
Fonte: Mapa do Estado de Santa Catarina: Atlas de Santa Catarina, (1986) e Prefeitura Municipal de
São José – SEPLAN (2006). Edição Gráfica Diogo Barnetche.
67
FIGURA 06 – Bairros do Município de São José
Fonte: Mapa do Estado de Santa Catarina: Atlas de Santa Catarina, (1986) e Prefeitura Municipal de
São José – SEPLAN (2006). Edição Gráfica Diogo Barnetche.
Distrito Sede, onde se originou o núcleo urbano do município, é considerado o
maior em área territorial. Fazem parte dele, os seguintes bairros: Ponta de Baixo,
Fazenda Santo Antônio ou do Max, Distrito Industrial, Praia Comprida, Centro,
Forquilhinhas, Sertão do Maruim, Colônia Santana, São Luiz (Morro do Avaí - parte),
Picadas do Sul, Flor de Nápolis, Forquilhas, Potecas, Bosque das Mansões e
Roçado.
O Distrito de Campinas, originalmente, se constituía em local de passagem de
tropeiros de gado provenientes da região serrana. Eles tinham como destino o
68
matadouro oficial localizado no bairro Estreito (que a1943 pertencia a o Jo
com o nome de João Pessoa), com a finalidade de abastecer com carne a Cidade de
Florianópolis. Ainda na década de 1960, Campinas se configurava em um
verdadeiro “pasto de gado”, ou mesmo um “banhado”, sendo o comércio naquele
lugar, praticamente inexistente
28
. A partir desta data o local começou a se modificar,
e além do comércio beira de estrada, como oficinas e postos de gasolina, novos
ramos começaram a se instalar. Atualmente, o Distrito de Campinas é composto
pelos bairros de Campinas e Kobrasol. Neles concentra-se grande parte das
atividades comerciais, de serviços e de lazer, onde se pode dizer, que estes bairros
são os mais desenvolvidos do município.
o Distrito de Barreiros, considerado o mais populoso de todos, conta com
mais de 80.000 habitantes. É constituído pelos seguintes bairros: Sede do Distrito
(Barreiros), Bela Vista, Jardim Cidade de Florianópolis, Ipiranga, Areias, Real
Parque, Jardim Santiago, Serraria, Pedregal, Nossa Senhora do Rosário. Dessas
comunidades apenas quatro podem utilizar o título de bairro: Barreiros (Sede),
Ipiranga, Bela Vista e Serraria.
No entanto, vale destacar que São José nem sempre teve esta configuração
sócio-espacial. A estrutura atual do município é fruto de diversos processos que
deram origem a diferentes desdobramentos, os quais dinamizaram a produção
espacial de São José. Assim, como lembra Santos (2005:159), “(...) são fixos e
fluxos criando e recriando o espaço a todo instante, e os fluxos, naturalmente
imbuídos de movimento, dinamizam as interações sócio-espacias e agilizam as
transformações que se materializam no espaço (...)”, que em São José, pode-se
reconhecer a diversidade de territorialidades.
Neste contexto, participaram diferentes agentes sociais (proprietários dos
meios de produção, proprietários fundiários, promotores imobiliários, grupos sociais
excluídos, o Estado, além da própria sociedade), contribuindo para a produção e
reprodução do espaço josefense, cada qual, com interesses particulares que se
refletem, parcialmente, nas paisagens locais.
28
Grande parte da área total de Campinas, inicialmente, pertencia à família Di Bernardi (um dos primeiros
colonos desbravadores da região).
69
Para que se possa compreender como se deram alguns desses processos, é
preciso se reportar ao passado e fazer uma breve referência histórica aos períodos
que vão desde a fundação do município, acompanhando a evolução do lugar ao
longo de sua trajetória, chegando-se em sua atual configuração territorial. Desta
forma, no espaço-temporal, é possível ter um panorama geral dos elementos que
contribuíram nos processos de formação e transformação do espaço josefense.
2.2 CONTEXTOS SÓCIO-ESPACIAIS: ELEMENTOS DA GÊNESE E DA
TRAJETÓRIA DO LUGAR
O processo que gerou a ocupação da região sul do Brasil, mais
especificamente do litoral de Santa Catarina, pelo “homem branco
29
”, ocorreu em
meio ao movimento de expansão colonizadora, dirigido pela metrópole portuguesa
no século XVIII, no sentido de povoar a região, garantindo as terras para Portugal,
conforme a divisão do Tratado de Tordesilhas (1493). De acordo com Campos
(1991:20), “(...) o abandono do Sul e o iminente perigo da penetração espanhola
fizeram com que Portugal se preocupasse em ocupar a região e a integrasse
definitivamente à Colônia (...)”. A partir de então, o litoral catarinense passou a fazer
parte mais efetiva dos interesses daquela metrópole.
Até 1750 a reduzida população dispersa em pequenos povoados ao longo do
litoral de Santa Catarina, não produziu um efeito ocupacional expressivo. No
entanto, com o aumento do papel estratégico da região sul do Brasil, na geopolítica
portuguesa, a Ilha de Santa Catarina, e o sul do continente, foram elevados à
categoria de Capitania subalterna ao Rio de Janeiro (1738), que na época era capital
da colônia. Isto provocou a transferência de contingentes militares e oficiais
29
De acordo com Silva (2005), antes da chegada do europeu, o litoral catarinense era habitado por índios, que
também eram conhecidos por homem do sambaqui, ou guaranis. Aquela autora comenta que a respeito de um
sítio arqueológico encontrado na Ilha da Casca (em frente ao balneário Guararema), o que evidencia a presença
deste povo em São José. Dessa forma, os índios foram, aos poucos, sendo eliminados e/ou afastados, não apenas
das terras josefenses, mas de todo o litoral catarinense. Esses processos se deram a partir da dos primeiros
brancos de origem européia, na região, no século XVII.
70
portugueses para aquele local, e pode ser considerada a primeira fase da
colonização portuguesa em Santa Catarina, onde a ocupação da região, além de
assegurar a posse daquelas terras
30
para a coroa portuguesa, também criou um
sistema defensivo litorâneo para a região sul, e preencheu o vazio demográfico
existente (CAMPOS, 1989).
Aquele autor ainda lembra que a ocupação da região sul do Brasil ocorreu em
um momento de crise para o comércio português, onde o capital comercial havia
diminuído sua lucratividade e sentiu a necessidade de acelerar a acumulação de
capitais. Além disso, o excesso de população nos Açores e as dificuldades de
sobrevivência naquele arquipélago
31
, foram fatores que influenciaram,
decisivamente, nas correntes emigratórias.
A lógica da Coroa Portuguesa foi, então, trazer para Santa Catarina um
contingente populacional que viesse a desenvolver uma economia voltada para o
abastecimento das tropas militares aqui estacionadas e, eventualmente, também
garantir apoio ao exército em guerra. Esse interesse da Coroa em reforçar a defesa
da ilha, de acordo com Piazza (1992), era devido, principalmente, sua localização
estratégica. Conforme Campos (1989), outros fatores ainda eram determinantes no
interesse pela Ilha. Ele cita a descrição da Ilha de Santa Catarina do Conselho
Ultramarino de Lisboa, onde diz que,
1° - A posição geográfica da Ilha era estratégica, razão pela qual, afirma a
referida “Descrição da Ilha de Santa Catarina”, “a fazem apetecida de todas
as nações, que navegavam aquelles mares...”, haja vista, a excelente
proteção que suas baías proporcionavam ao abrigo dos navios.
- A Ilha mostrava-se também como importante ponto de
aprovisionamento dos navios, haja vista a “abundância de excellentes
madeiras para consertarem as embarcações, como também o refresco de
agoa admirável para fazerem as aguadas, muita abundância de peixe, e
outros fructos da terra”.
3° - A fortificação e o povoamento da Ilha não eram possíveis como
viáveis, pois além de havercomodidade para se fazerem grandes fazendas
30
Como em 1680 foi criada a Colônia de Sacramento (em terras onde hoje é o Uruguai), era de interesse da
metrópole portuguesa implantar um sistema defensivo litorâneo que protegesse a região sul. Daí, também, a
criação da Capitania de Santa Catarina.
31
Outros fatores também contribuíram para a vinda dos orianos para o litoral catarinense, como as catástrofes,
que afetavam a produção agrícola, gerando fome generalizada entre os mais pobres; o constante perigo dos
terremotos; a falta de perspectiva entre os menos afortunados e, principalmente, as promessas de uma vida
melhor, com ajuda de custos, terras e equipamentos, feitas pela Coroa Portuguesa.
71
de gado, engenhos de farinha e assuccar”, tornar-se-ia um baluarte de
defesa da costa, “servindo de praça de armas para defenção de huma
grande parte dos Domínios da Coroa”, o que inclui não apenas os povos
circunvizinhos como também a povoação do Rio de São Pedro (atual cidade
de Rio Grande).
4° - O povoamento da Ilha faria ainda crescer as rendas da Coroa,
justificando assim a construção de novas fortalezas, e principalmente, via-se
reforçada “a guarnição dos soldados para defender a Ilha e socorrer as
povoações circunvizinhas” (CAMPOS, 1989:23-24).
O autor ainda comenta sobre estes fatores, e diz que eles confirmam que o
povoamento da costa catarinense, e da Ilha de Santa Catarina, fazia parte de um
objetivo maior, que incluía os interesses da coroa portuguesa no Atlântico Sul.
Assim, a vinda de açorianos para o litoral e Ilha de Santa Catarina, resolveria
problemas importantes para a metrópole portuguesa, pois, além de ser abastecida
com artigos e produtos coloniais, supriria demograficamente a região, favorecendo
aos interesses que a mesma possuía sobre a área. Além disso, a região sul e,
principalmente, a Ilha de Santa Catarina, era motivo de cobiça, entre ingleses,
franceses e espanhóis
32
.
Neste contexto estratégico-territorial, e a partir da instalação de bases
político-militares em Desterro
33
, surgiu a necessidade de proteção tanto da Ilha
como do continente, contra possíveis ataques espanhóis. Portanto, no século XVIII o
brigadeiro José da Silva Paes (1º Governador da Capitania de Santa Catarina),
implantou as fortalezas de Anhatomirim, Jurerê e Ratones, que serviriam de ponto
de apoio e consolidariam a ocupação portuguesa no sul do Brasil (CABRAL, 1987).
Contudo, número “razoável” de fortificações “(...) colocava a região litorânea entre as
mais fortificadas do Brasil. Principalmente, considerando-se sua reduzida extensão
territorial e população (...)” (CAMPOS, 1989:35).
32
O grande interesse por esta área se dava devido à localização estratégica de acesso ao Prata. No entanto, a
exploração do litoral catarinense também atraía as “nações inimigas” que, a exemplo do óleo de baleia, poderiam
alimentar os capitais comerciais.
33
No século XVIII a Ilha de Santa Catarina era o extremo meridional do Tratado de Tordesilhas, e um ponto
estratégico de grande disputa e interesse entre as potencias mundiais daquela época.
72
2.2.1 Os Açorianos e a Dinamização da Economia
O povoamento do litoral catarinense se deu, efetivamente, por volta de 1748,
com a chegada dos açorianos na Ilha de Santa Catarina e continente fronteiriço.
Esses novos habitantes se espalharam por todo o litoral, fundando as freguesias de
São José, Enseada do Brito, Lagoa da Conceição, São Miguel, Santo Antônio e Vila
Nova (Imbituba). Segundo Cabral (1987), estes imigrantes vieram dar um novo
impulso à terra catarinense, e marcá-la com o cunho particular e característico da
sua formação cultural.
No entanto os limites impostos pela terra, que não era a mais adequada para
a agricultura, além do próprio contexto político que motivara a emigração, não
permitiram que se instalasse uma economia voltada para o mercado europeu. Isso
fez com que as atividades econômicas ficassem voltadas para o mercado interno da
colônia, sendo baseadas no regime de pequena propriedade (CAMPOS, 1989).
Aos poucos, estas freguesias foram progredindo com relação à exploração de
produtos agrícolas, especialmente a farinha de mandioca, destinada ao
abastecimento da população urbana, das tropas e de embarcações em trânsito.
Logo, este se tornou o principal produto de exportação. As atividades agrícolas e
pesqueiras constituíam assim, a base da economia josefense até as primeiras
décadas do século XX. No entanto, foi preciso que os imigrantes açorianos
passassem por um processo de adaptação à região sul do Brasil, onde o solo não se
prestava ao cultivo do trigo (base de sua alimentação).
Tiveram, pois, que se adaptar aos cultivos praticados anteriormente pelos
índios: milho, feijão, mandioca, etc. (FARIAS, 2004:189). A estes produtos
somavam-se outros artesanais, como salames e banha, produzidos pelos
colonizadores alemães instalados no interior do município, em localidades como
Colônia Santana e São Pedro de Alcântara. Ainda se sobressaiam os artefatos de
barro potes e vasilhames produzidos por oleiros (Ponta de Baixo e Ponte do
Maruim) e o cal de concha usado em caieira.
73
No que tange a colonização de base açoriana no litoral de catarinense,
merecem destaque especial os “casais” que vieram. Eles não apenas contribuíram
para o aumento da população existente
34
como também, a partir de sua expansão
por todo o litoral, para o rápido desenvolvimento de certos setores da economia.
2.2.2 Freguesia de São José
A freguesia de São José da Terra Firme foi criada em 26 de outubro de 1750,
através do Alvará Régio de Portugal. Os primeiros 182 casais de imigrantes
açorianos que chegaram instalaram-se, inicialmente, em uma localidade
(enseada) na baía sul (aproximadamente onde hoje está o Centro Histórico), e na
parte litorânea, tanto na porção norte, quanto sul. Mais tarde foram se espalhando e
povoaram a região do Rio Maruim e as terras férteis que o cercavam.
A estruturação deste primeiro assentamento seguiu as normas conforme a
prática portuguesa, de construir uma praça central, uma igreja em lugar alto (que
geralmente ficava de frente para o mar, sendo ponto de referência aos navegantes).
As ruas longitudinais à praça estão no sentido Noroeste – Sudeste e as ruas
transversais à mesma estão no sentido Nordeste – Sudoeste, imprimindo um “habitat
urbano” característico da época (MAMIGONIAN, 1958).
Desta forma se expressa a primeira etapa de estrutura urbana que deu
origem à Cidade de São José, com a população habitando ou edificando
construções para fins comerciais em torno da praça e próximo ao mar
35
(onde existia
um trapiche que fazia ligação marítima entre continente e ilha). A partir daí
desenvolveu-se uma continuidade espacial de ruas, becos e imbricações de casas
que, aos poucos, foram dando formas do que hoje é São José (Vide Figuras 07 e
08).
34
Que de acordo com Piazza (1992) era insignificante.
35
Tais características nos remetem à origem de áreas centrais: fluxos de mercadorias e pessoas influenciando o
crescimento econômico, o desenvolvimento da cidade e fomentando um certo padrão de centralidade urbana.
74
FIGURA 07 – Casarões no Centro Histórico de São José (Década de 30)
Fonte: Diário Catarinense, Visor de 19/03/2004 p.3 (Acervo Osni Machado)
FIGURA 08 – Vista Parcial da Cidade de São José:
Edificações Próximas ao Mar (Década de 1930)
Fonte: Diário Catarinense, Visor de 27/07/2006 p.3 (Acervo Particular)
Convém ressaltar que outros imigrantes, juntamente com os açorianos,
marcaram presença em território josefense, diversificando traços étnico-culturais.
Assim, italianos, espanhóis, árabes, poloneses, austríacos, franceses e negros
também deixaram suas contribuições. No entanto, foram os alemães que em 1829
75
fundaram em São José, no Alto Vale do Rio Maruim, a Colônia São Pedro de
Alcântara, considerada a primeira colônia alemã em Santa Catarina, atualmente
município autônomo
36
.
Nota-se, que, o território inicial de São José abrangia parte das terras hoje
pertencentes a municípios vizinhos como São Pedro de Alcântara, Angelina,
Palhoça e Alfredo Wagner. Conforme Farias (2006) aquele município se estendia de
Garopaba, ao sul, indo próximo a Lages, no oeste, e compreendendo todas as terras
litorâneas até o rio da Serraria a norte, nos limites com Biguaçu.
Entretanto com o crescimento demográfico e o surgimento de povoados,
quase que independentes da sede municipal (devido as grandes distâncias), iniciou-
se um processo de perda de áreas, com a seqüência de desmembramentos. Assim,
com o início do período Republicano, São José começa a perder, gradualmente, sua
extensão territorial inicial (de mais de 10.000 km² em 1840 para 113,17 km² em
2000) a partir do desmembramento em vários municípios, os quais hoje fazem parte
da microrregião da Grande Florianópolis.
Desta forma, emanciparam-se os atuais
Municípios de Palhoça
37
, Angelina, Rancho Queimado, e São Pedro de Alcântara.
2.3 ASCENSÃO E DECADÊNCIA DA ECONOMIA JOSEFENSE ATÉ 1950
São José era, na segunda metade do século XIX, um dos mais populosos e
ricos municípios da Província de Santa Catarina, além de possuir uma enorme
extensão territorial
38
. Sua produção agrícola dava para o consumo interno e ainda
exportava café, tapioca, açúcar, lenha, cachaça, mandioca e sub-produtos
39
. O
36
A referida colônia fazia parte de um projeto estratégico de povoamento da Capitania de Santa Catarina ao
longo do caminho das tropas, que ligava a vila nossa Senhora do Desterro ao planalto catarinense (JOCHE apud
BUSS et al 2002). Estes imigrantes introduziram em São José uma gastronomia, um linguajar e uma arquitetura
especial que ainda hoje pode ser encontrada na localidade de Colônia Santana.
37
Do Município de Palhoça emanciparam-se Bom Retiro (pegando parte também do Município de Lages), Santo
Amaro da Imperatriz, Garopaba, Paulo Lopes e São Bonifácio.
38
Nesta época, São José ainda não havia sofrido nenhum desmembramento.
39
De acordo com um caderno especial do Diário Catarinense publicado em 1999. nº 6, p. 2, sobre São José .
76
algodão e o linho sobressaíram-se entre as principais culturas. Registros e relatos
indicam que existiam, inclusive, pequenos e rudimentares teares na área do atual
bairro Roçado. Assim, as três localidades de maior importância na época eram:
Centro (pela concentração de funções políticas e administrativas), Ponta de Baixo
(pela produção de artefatos de barro) e Praia Comprida (pelo comércio e serviços).
A diversificação de atividades nas colônias e as funções relacionadas à
recepção e transporte de mercadorias dinamizaram atividades comerciais de São
José. no ano de 1756, a localidade da sede foi elevada à condição de freguesia.
Em 1833 transformou-se em vila e, posteriormente, em 1854, passou à categoria de
município
40
(CABRAL, 1987).
Relatos de estudiosos dizem que a cidade dispunha, naquela ocasião, de um
porto marítimo apreciável, freqüentado por considerável número de embarcações,
que faziam o transporte de mercadorias e pessoas, notadamente para Florianópolis.
Assim, São José teve importante papel na produção e no abastecimento de produtos
para a capital, pois sem outro meio de ligação com a ilha até 1926 se não o mar,
todos os produtos com destino a Florianópolis eram obrigados a uma baldeação em
São José, o que impulsionou a economia local (Vide Figura 09).
FIGURA 09 – Catraca de Travessia entre Ilha e Continente
(década de 1920)
Fonte: Arquivo Velho Bruxo da Ilha. Disponível em www.ufsc.br/~esilva
40
Vale lembrar que inicialmente São José pertencia a Desterro, tendo seu desmembramento em 04/05/1833.
77
Desta forma, a dinamização de parte da economia regional era dada pelo
intercâmbio comercial entre a vila Josefense e Desterro. Embarcações faziam o
transporte de pessoas e principalmente de mercadorias (Vide Figuras 10 e 11), que
eram comercializadas, notadamente no mercado público da capital, e a partir da
área central, adentrava-se para o interior da ilha.
FIGURA 10 – Mercado Público de Florianópolis:
Canoas Trazendo Gêneros (entre 1898 e 1935)
Fonte: Arquivo Velho Bruxo da Ilha. Disponível em www.ufsc.br/~esilva
FIGURA 11 – Venda de Louças de Barro no
Mercado Público (entre 1898 e 1935)
Fonte: Arquivo Velho Bruxo da Ilha. Disponível em www.ufsc.br/~esilva
78
Comentários de Peluso Junior (1991) mencionam que na época, as colônias
abasteciam basicamente a capital com produtos alimentícios (Vide Figura 12),
primeiramente através de São José, vila localizada no fundo de uma enseada (baía
sul) que possuía bom porto para pequenas embarcações
41
, posteriormente também,
através de Palhoça.
FIGURA 12 – Mercado Público: Venda de Gêneros
Alimentícios (entre 1898 e 1935)
Fonte: Arquivo Velho Bruxo da Ilha. Disponível em www.ufsc.br/~esilva
Ferreira (1998), ao se referir sobre a fixação de imigrantes estrangeiros nas
proximidades da ilha de Santa Catarina, comenta relatos de Andrade (1981)
42
e
assim se expressa:
(...) com a instalação de imigrantes estrangeiros em colônias próximas à Ilha
de Santa Catarina, a produção agrícola aumentou consideravelmente,
fazendo com se fizessem necessários melhoramentos das vias de acesso à
capital, para que a produção pudesse alcançar o mercado e o porto da
capital, onde eram embarcados os produtos para exportação. Dessa forma,
as antigas estradas foram melhoradas e novas foram abertas. Os produtos
41
Outros trapiches existentes no litoral do município também faziam essas conexões com Desterro. Porém, o de
maior expressão era o de São José.
42
ANDRADE, Djanira Maria Martins de. Hercílio Luz: uma ponte integrando Santa Catarina. Florianópolis: Ed.
da UFSC, 1981.
79
começaram a chegar com mais facilidade aos pontos de embarque, ou seja,
São José, Estreito e Palhoça, e daí embarcados para o porto da capital
(FERREIRA, 1998:27).
Além dos gêneros alimentícios produzidos nas colônias do município, outros
produtos também foram importantes para o desenvolvimento da economia
josefense. Destaca-se o gado em pé e, em especial, o charque, a madeira (pinheiro),
proveniente do planalto lageano, e a madeira extraída da Mata Atlântica, usada
como matéria-prima pelas madeireiras instaladas em Florianópolis e região.
Porém, esta dinamização da economia não foi duradoura. A precariedade de
comunicação entre a ilha e o continente foi um dos fatores que levou a construção
da Ponte Hercílio Luz (Vide Figura 13). Sem vida este foi um dos momentos
marcantes da história de São José, pois, a ligação entre Florianópolis e Estreito (que
naquela época pertencia a São José) passou a ser mais rápida e eficaz, provocando
rápido crescimento e desenvolvimento de algumas localidades do lado continental,
como Estreito e Coqueiros. Isso despertou em Florianópolis o interesse por aquelas
áreas.
FIGURA 13 – Início da Construção da Ponte Hercílio Luz
Fonte: Arquivo Velho Bruxo da Ilha. Disponível em www.ufsc.br/~esilva
80
Em decorrência da construção da ponte Hercílio Luz, o território josefense
vivenciou um período de estagnação econômica (entre as décadas de trinta e
cinqüenta do século passado), onde sua influência, juntamente com reflexos da
evolução da indústria automobilística brasileira, “(...) fez desaparecer o papel de São
José, enquanto pólo comercial-industrial regional, mergulhando a sua economia nas
atividades agrícolas de subsistência e configurando o município como cidade
dormitório” (Farias, 2004:204).
Neste ínterim, o município perdeu significativa parcela da vida econômica que
tinha fazendo a baldeação e o transporte de mercadorias para a capital –,
passando a viver, basicamente, das condições de sua proximidade em relação à
Florianópolis. Como lembra Farias apud Pereira (1999), São José em particular,
perdeu sua função de intermediação comercial, passando a ser apenas ponto de
passagem, não retendo mais as mercadorias. Notadamente, o comércio do
município sofreu impacto negativo e, assim como Palhoça e Biguaçu, São José
também se tornou “refém” de padrões do crescimento urbano influenciados pelos
fluxos da capital do estado.
Desse modo, muitos lugares litorâneos da região, ligados ao comércio
marítimo, perdem sua função. Como exemplo destacam-se os trapiches e
ancoradouros que, sem uso e preservação, foram desaparecendo ao longo do
tempo, sem que houvesse a preservação de tão importante patrimônio cultural.
Também com o surgimento das primeiras linhas de ônibus ligando
localidades no continente próximo ao centro da capital –, a própria população
passou a recorrer às casas comercias de Florianópolis, e o traçado urbano passou a
concentrar-se às margens das vias que conduziam à ponte. Isso originou uma série
de problemas econômicos para os municípios vizinhos, notadamente São José,
Palhoça e Biguaçu.
No entanto, um elemento teve grande importância para a economia josefense.
A tradicional articulação entre São José e o planalto Lageano, que se manteve
aproximadamente até a altura de 1960, não se deve apenas à economia do gado,
mas, também, da madeira. O beneficiamento desta matéria prima era feito na
localidade de Campinas, que passou a se constituir em importante local com
81
concentração de comércio atacadista, atraindo empresas de destaque, algumas das
quais continuam existindo e são importantes até hoje. Entre elas, merecem destaque
empresas dos grupos: Cassol S.A., Brasilpinho e Philippi & Cia. Hoje, estes grupos
estão ligados a atividades diversificadas do setor industrial e comercial, da
construção civil, produção de imóveis, entre outros.
Nesta perspectiva, gradativamente, Florianópolis foi se firmando como cidade
pólo regional. A construção da ponte Hercílio Luz, em 1926, representou um marco,
pois integrou a capital de Santa Catarina não apenas com a área continental, mas,
também, com o resto do estado e do país. Assim, em decorrência do dinamismo
urbano e de seu desenvolvimento, a capital catarinense inicia, a partir da década de
60, um processo que, no entender de Lago (1968:175), significou a
continentalização de Florianópolis”.
A cidade expandiu suas estratégias urbanizantes e, com a substituição do
transporte marítimo pelo rodoviário, a ocupação urbana passou a obedecer a uma
nova lógica, decorrente, basicamente, do sistema viário instalado. Por vários anos o
espaço da região conurbada assumiu papel de periferia da expansão urbana de
Florianópolis, apresentando baixas densidades, altas taxas de crescimento
demográfico e concentração das populações de baixa renda. Isto, por sua vez,
condicionou a integração político–administrativa da região metropolitana, face às
necessidades do planejamento integrado de toda a área, do qual faz parte o atual
Município de São José (CNDU/IPUF, 1980).
Descortinavam-se assim novos rumos para a economia da florescente
Grande Florianópolis onde, o Município de São José se destaca por ter servido, ao
longo dos anos, de base fundiária para a localização de empreendimentos menos
favoráveis à capital, como indústrias, loteamentos, conjuntos habitacionais
populares, sistema de tratamento de esgoto, hospital psiquiátrico, etc. Em face
disso, inicia-se, no eixo formado pelos Municípios de São José, Palhoça e Biguaçu,
um processo de periferia urbana.
82
2.4 ASPECTOS DA EXPANSÃO URBANA: O ESTADO COMO AGENTE
PROPULSOR DO DESENVOLVIMENTO COMERCIAL/INDUSTRIAL
O período que se inicia na cada de 50 assinala o surgimento de políticas
econômicas adotadas pelo Governo Federal (Jucelino Kubitschek: 1956-1961).
Também conhecido como 50 anos em 5 (cinqüenta anos de progresso em cinco
anos de realizações), este ideal desenvolvimentista foi consolidado num conjunto de
30 objetivos
43
, a serem alcançados em diversos setores da economia, que ficou
conhecido como Programa ou Plano de Metas
44
.
O Plano mencionava cinco setores básicos da economia, abrangendo várias
metas cada um, onde os investimentos públicos e privados deveriam ser
canalizados. Entre eles estavam: energia, transportes, indústrias de base,
alimentação e educação. No entanto, os setores que mais recursos receberam foram
energia, transportes e indústrias de base, num total de 93% dos recursos alocados.
O Estado investiu maciçamente no setor público, principalmente na
construção de estradas, construção de Brasília, etc., e na indústria de base, através
da criação de novas siderurgias, ampliação da capacidade produtiva da Petrobrás,
construção de usinas hidrelétricas e outros empreendimentos
45
.
Naquela conjuntura, também inserida sob influências de contextos
desenvolvimentistas, Florianópolis recebe atenção especial por parte do governo
estadual, refletindo a tendência nacional. A capital catarinense passa, então, a ter
novas perspectivas, relacionada à implantação de um aparato político-institucional,
público e privado.
Entre os principais investimentos, está a criação da Universidade Federal de
Santa Catarina (UFSC), no início da década de 1960; a conclusão da BR-101, a
construção da ponte Colombo Salles (ambas na década de 70); e ainda a
43
Que acabaram sendo 31, pois, na última hora o plano incluiu mais uma meta, a 31
a
, chamada de meta-síntese:
a construção de Brasília e a transferência da capital federal, o grande desafio de JK.
44
Plano de Metas de Juscelino foi elaborado com base em estudos e diagnósticos realizados desde o início da
década de 1940 por diversas comissões e missões econômicas.
45
Já os outros dois setores, alimentação e educação, não mereceram o mesmo tratamento dos primeiros.
83
implantação de outras estradas de rodagem, ligando a capital a diferentes regiões
do estado.
De acordo com Peluso Júnior (1991) também foram criados pelo Estado,
órgãos financeiros, tais como o Banco Regional de Desenvolvimento do Extremo Sul
BRDE (1961); Conselho de Desenvolvimento do Extremo Sul CODESUL (1961);
e Fundo de Desenvolvimento do Estado de Santa Catarina FUNDESC (1963).
Destaca-se ainda, a instalação da Central Elétrica do Sul do Brasil ELETROSUL
(1968), Centrais Elétricas de Santa Catarina CELESC (1955), Telecomunicações
de Santa Catarina S.A. – TELESC (1974), Associação de Crédito e Assistência Rural
de Santa Catarina ACARESC (1957), entre outras, que se configuram em
importantes fatores para o desenvolvimento da economia local/regional.
O aumento de atividades ligadas a empresas estatais no Município de
Florianópolis passou a atrair para aquele lugar, e adjacências, uma nova demanda,
formada basicamente por estudantes, professores e diversos outros profissionais,
que dão início a um processo de crescimento urbano.
Assim após os estímulos de políticas nacionais para o crescimento urbano na
década de 60 e, posteriormente, com incentivos para o desenvolvimento do turismo,
na década de 80/90, surgiu uma tendência de procura por imóveis (principalmente
na área central), provocando uma supervalorização dos terrenos urbanos da capital.
Notadamente o aumento demográfico na ilha provocou um “inchaço”
populacional, tornando evidente a falta de espaço e oportunidade de emprego.
Neste processo alguns bairros de Florianópolis foram, gradativamente, se tornando
seletivos, pois, com os investimentos estatais e a dinamização da economia urbana,
ocorre a ampliação dos setores de classe média alta. Desta forma, com poder
aquisitivo acima da média local, este novo mercado que estava se formando pode
optar por fixar residência nos melhores locais da ilha, onde existiam os serviços e as
infra-estruturas urbanas mais adequadas e sofisticadas, ao contrário do que ocorria
no continente, onde se fixavam os grupos sociais de menor poder aquisitivo.
Instalava-se assim a oficialização de paisagens urbanas segregadoras.
O Município de São José e entorno passaram a abrigar parte da população pobre
que vinha migrando para a capital, proveniente de outras regiões do estado, cujo
84
processo, embora um pouco lento, já havia iniciado por volta dos anos 40. De
acordo com Pereira (1999), a partir daquele período começou a ocorrer um intenso
processo de migração rural-urbana para São José, com o objetivo de suprir, em
parte, a demanda por mão de obra na indústria da construção civil e/ou outros
serviços urbanos que ainda não exigiam muita qualificação.
Em virtude do surgimento de novas rodovias e, conseqüentemente, com o
melhoramento do sistema viário, do transporte coletivo e de outras obras de infra-
estrutura, as localidades do Estreito, São José, Palhoça e Biguaçu vão, aos poucos,
transformando-se em eixos de expansão urbana. Como resultado, aumentaram as
possibilidades de se residir nos lugares mais distantes do centro da cidade, onde,
por exemplo, os preços da terra eram mais acessíveis a grande maioria do
contingente populacional que buscava a capital e suas ofertas de bens e serviços.
Essa conjuntura, associada a outras variáveis, indica que, aos poucos,
rompiam-se as descontinuidades entre Florianópolis e São José. Não apenas a
malha viária de grandes conexões, mas, também, a todo um conjunto de relações
sócio-espaciais no complexo metropolitano.
2.4.1 Transformações no Espaço Josefense
Nas últimas décadas São José vem se sobressaindo entre os municípios que
apresentam o maior crescimento populacional do Estado (3,46% ao ano). A
proximidade com a capital catarinense foi, e continua sendo, lócus atrativo para
migrantes, aonde, a partir da década de 1960, o município passou a receber elevado
contingente populacional, oriundo de pequenas cidades, do campo, do interior do
estado, além de outras regiões do país. De acordo com Müller (1997:5),
Em Santa Catarina, o êxodo rural foi semelhante ao que ocorreu no Brasil,
levando muitas pessoas do meio rural para os centros urbanos em busca de
melhores condições de vida, o que se subentende por mais oportunidades
de empregos e uma maior quantidade de prestações de serviços,
85
acreditando ser o caminho ideal para o crescimento sócio-econômico, ou
seja, uma condição financeira estável.
No entanto, a consolidação da área urbanizada de São José ocorreu com
maior expressão na década de 70, período em que foi concluída a construção da
BR-101 (iniciada em 1940, retomada em 1960). Esta ocupação se deu de forma
intensa, uma vez que a rodovia possibilitou a ligação da capital à rede urbana
nacional, impulsionando, principalmente o desenvolvimento do turismo regional.
Com as obras da BR-101 finalizadas ocorreu aumento do fluxo viário. Além
disso, com a solidificação das atividades turísticas em Florianópolis e com o
desenvolvimento de diversas atividades e serviços, principalmente na ilha (mas
atingindo também, os municípios mais próximos) indicavam que, aos poucos, estava
se formando um aglomerado urbano em volta da capital.
A partir daquela década no Brasil, e em Santa Catarina, houve o que Santos
(1988) chamou de “aceleração do processo de urbanização”, onde uma crise
financeira atingiu o campo
46
, “(...) reflexo de uma ampla modernização do setor
agrícola e falta de uma política pública que propiciasse ao pequeno agricultor a sua
permanência no campo” (MÜLLER, 1997:26).
Estes fatores, juntamente com inúmeras propagandas de possibilidades de
emprego e das belezas da região (principalmente de Florianópolis), trouxe para São
José (onde o preço da terra era mais baixo em relação à Florianópolis) os
“serranos”, tanto da região de Lages quanto do Oeste e Meio–Oeste catarinense
(FARIAS, 2004).
Também vieram gaúchos, paranaenses, paulistas e nordestinos. Esta
segunda leva, de acordo com Farias (2004), se localizou principalmente nos bairros
Forquilhinhas, Kobrasol, Bela Vista e outros loteamentos em localidades de origem
recente no próprio Município de São José. Neste contexto, verificou-se considerável
aumento da população, a partir da década de 1960, conforme mostra a Tabela 05.
46
Estudiosos afirmam que esta crise no campo foi provocada por uma “crise financeira” que atingiu o Estado
Brasileiro, e que se refletiu negativamente no campo. Soma-se a isso, os resultados da modernização tecnológica
da agricultura, que provocou acentuado êxodo rural em certas regiões do país.
86
TABELA 05 – Evolução da Urbanização da População
Josefense: Período de 1960 a 2000
DÉCADA POPULAÇÃO
TOTAL
POPULAÇÃO
URBANA
TAXA DE
URBANIZAÇÃO
1960 31.192 3.230 10,35
1970 42.235 28.916 67,98
1980 87.817 79.200 90,19
1990 139.493 128.375 92,02
2000 173.239 170.958 98,68
Fonte: Censo Demográfico do IBGE de 1960 a 2000
Os dados acima demonstram que entre as décadas de 70 e 80, ou seja, em
dez anos, a população duplicou, passando de 42.235 habitantes (1970) para 87.817
habitantes (1980). O grau de urbanização passa de 10,35% em 1960, para 90,19%
em 1980
47
.
Em face deste aumento demográfico, surgem, também, necessidades de
ampliação da rede de distribuição de produtos e serviços. Como conseqüência
gerou o desenvolvimento do comércio de gêneros alimentícios e, principalmente, o
comércio de material de construção
48
que, segundo Farias (2004), fez a riqueza de
muitos madeireiros que transformavam a matéria prima na serra para depois
beneficiá-la e comercializá-la em São José.
Além do desenvolvimento econômico, este acentuado crescimento
demográfico trouxe consigo problemas de desorganização espacial e moradia,
gerando ocupações irregulares, invasão de áreas que tradicionalmente eram rurais,
para extensão da cidade por intermédio dos loteamentos, favelizações, entre
inúmeras outras dificuldades que surgem em São José e outros municípios da área
continental, como conseqüência do crescimento urbano de Florianópolis.
47
Tal população fixou residência na sede ou nos bairros do município buscando melhores perspectivas de vida e
de emprego para a família. Outros também vieram em busca de complementação de estudos para os filhos.
48
Vale destacar que, o crescimento josefense tem possibilitado ao município se destacar entre os 10 maiores em
termos de contribuição para o PIB estadual. Em 2002, o município contribuiu com cerca de 2,5 % ao PIB de
Santa Catarina (que foi de 51,8 bilhões), estando na 8ª posição, atrás apenas de Joinville, Florianópolis,
Blumenau, Jaraguá do Sul, Chapecó, Itajaí e Criciúma.
87
2.4.1.1 Conjuntos Habitacionais e Loteamentos no Município de São José
A intensa procura por moradia e por trabalho na região da Grande
Florianópolis criou condições para o aparecimento de um imenso e irreversível
problema: a questão social refletida no grande déficit da moradia. Em São José isso
teve início com a acentuada migração que ocorreu na década de 60, provocando
crescimento da área urbanizada e começando a refletir práticas de especulação
imobiliária na região.
Desta forma, assim como na maioria das cidades brasileiras, em São José o
crescimento espontâneo, orientado por fatores econômicos e físicos, e a falta de um
planejamento territorial, influenciaram na consolidação de problemas de
desorganização espacial e inadequação de infra-estrutura. Surgiram assim
loteamentos desconexos entre si, ligados, prioritariamente, aos principais eixos
viários (que seguem em direção à ilha de Santa Catarina: BR-101 e BR-282),
polarizando uma densa “mancha urbana“ que, gradualmente, se expandiu para o
interior.
No âmbito nacional este período é caracterizado nas estratégias de políticas
púbicas pela criação do Sistema Financeiro de Habitação (SFH). Administrado pelo
extinto Banco Nacional da Habitação (BNH), o SFH foi idealizado para auxiliar na
aquisição da casa própria, principalmente por famílias de baixa renda. Este sistema
colocava a disposição da população recursos como da caderneta de poupança e o
Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS)
49
.
De acordo com o site do Ministério das Relações Exteriores
(www.mre.gov.br), o BNH era um banco de segunda linha, ou seja, não operava
diretamente com o público. Sua função era realizar operações de crédito e gerir o
FGTS, por intermédio de bancos privados e/ou públicos, e de agentes promotores,
como as companhias habitacionais e as companhias de água e esgoto. Com a
criação desta política habitacional as chamadas vilas habitacionais do BNH
49
Segundo as regras deste sistema, a casa a ser comprada deveria ser usada por quem a adquirisse, não podendo
ser revendida, alugada ou ainda, utilizada para fins comerciais. Os interessados deveriam firmar contrato de
financiamento no qual se comprometiam a pagar o imóvel. Em caso de não pagamento das prestações, o contrato
era suspenso.
88
espalharam-se por todo o país, transformando-se, mais tarde, em bairros
consolidados.
Semelhante ao que ocorreu no resto do país, em São José os Conjuntos
Habitacionais foram implantados no final da década de 60 pela Companhia de
Habitação de Santa Catarina (COHAB/SC), também através do financiamento do
BNH
50
. Dentre eles destacam-se os Conjuntos Habitacionais Bela Vista, Jardim
Pinheiros e Forquilhinhas.
A implantação destes, e também de outros, conjuntos habitacionais pela
COHAB, impulsionou a ocupação das áreas adjacentes, consideradas rurais, onde
loteamentos também foram implantados próximos a BR-101 (principalmente para a
classe média), algo que continua a proliferar-se pela região até os dias de hoje.
Assim foi realizada a implantação da política habitacional, para atender o
déficit de moradia existente em São José, onde diversos loteamentos foram
aprovados, juntamente com a construção de novos conjuntos habitacionais. No
entanto é preciso lembrar que a desarticulação das práticas oficiais levaram a
promover um planejamento deficitário pelos órgãos públicos, que provocou
(...) a ocupação desordenada do espaço, permitindo o aparecimento de
muitos loteamentos clandestinos sem infra-estrutura adequada, e por isso,
tornam-se mais baratos e atrativos para as pessoas de menor poder
aquisitivo (MÜLLER, 1997:27).
Reafirma-se, mais uma vez, que a construção da BR-101 também foi
particularmente importante para o desenvolvimento do Município de São José, pois
uniu algumas artérias de origem rural ao núcleo urbano, havendo a incorporação
dessas áreas aos novos contextos da vida na cidade. Por outro lado, ao mesmo
tempo em que ocorreu o crescimento urbano, com a expansão da cidade sobre a
zona agrícola, provocando a supervalorização de “espaços vazios”, também houve a
descaracterização desses espaços, que foram invadidos sem nenhum controle e
50
Com a extinção do BNH em 1988, a Caixa Econômica Federal (CEF) assumiu e também aumentou as opções
de financiamento.
89
planejamento, o que inviabiliza as atividades anteriormente praticadas como, por
exemplo, agricultura, pecuária, entre outras.
Muitos desses loteamentos, que foram iniciados sem qualquer infra-estrutura,
e em área rural, hoje formam verdadeiros bairros, com características de
centralidades, serviços adequados e diversas possibilidades de usos e consumos,
exercendo influência sobre as comunidades vizinhas.
No contexto então, de que várias áreas adquirem valor de uso, “(...) bairros
inteiros surgem em áreas onde antes sem nenhuma ou pouca ocupação
‘aguardavam’ por destinações em fins urbanos (...)” (CAMPOS ET AL., 2003:22). Foi
o que aconteceu em diversos conjuntos habitacionais e loteamentos, construídos em
São José.
Exemplo disso é o Kobrasol, loteamento construído na década de 70, em área
do antigo aeroclube da cidade (Aeródromo Nereu Ramos). Este loteamento, que
anos depois seria elevado a bairro, apresentava ruas largas e pavimentadas, além
da completa infra-estrutura urbana de comércio e serviços. Foi um dos primeiros
bairros formados pela iniciativa privada.
Assim, em função da expansão urbana de Florianópolis, a lógica da ação
sócio-econômica conjunta de capitais regionais (Koerich S/A Ind. e Com., Madeireira
Brasilpinho e Cassol S/A Ind. e Com.), fez surgir o Parque Residencial Kobrasol,
implantado em 1975 (PEREIRA, 1999). Essas três empresas,
(...) que fundaram a Kobrasol se uniram para viabilizar vários interesses:
aumentar a área do loteamento, fortalecer o capital privado através da
criação e valorização do solo urbano; ampliar a representatividade política;
fortalecer a teia de relações comerciais entre si e com a Grande
Florianópolis para manter as regras do loteamento (PEREIRA, 1999:95).
Pereira (op. cit., p.63) ainda lembra que “(...) o Estado e a Kobrasol
Empreendimentos Imobiliários Ltda. foram os principais agentes que contribuíram
para a formação do loteamento Kobrasol (...)”, e diz que coube ao Estado investir
principalmente no desenvolvimento da infra-estrutura urbana, intervir no
90
estabelecimento de leis para reger a estruturação deste espaço, e na captação
tributária, além de aumentar a rentabilidade do investimento das terras urbanas.
Restou então a Kobrasol Empreendimentos Imobiliários a regulamentação do uso do
solo, o controle e a limitação dos preços de terras, e a estruturação do espaço
através de inúmeras obras, que passaram a orientar a nova dinâmica daquele local.
Após serem concluídas as primeiras etapas daquele grandioso
empreendimento, comercializado primeiramente para uso residencial e depois para
fins comerciais, novas mudanças alteraram substancialmente a conformação urbana
de São José, dando início ao processo de verticalização no município. Em poucos
anos o Kobrasol se transformou em uma “verdadeira cidade”, muito mais
movimentada e dinâmica, inclusive, que o antigo centro histórico, na sede municipal.
Ainda na década de 70 ocorre o crescimento da malha viária em torno do
Centro Histórico, contribuindo para o surgimento de novos loteamentos periféricos,
como Flor de Nápolis, Forquilhinhas e Areias, o que refletindo as conseqüências dos
incrementos populacionais intensos ocorridos neste período.
Desta forma, seja em decorrência da migração, pelo êxodo rural, ou ainda
pelo elevado custo de moradia em Florianópolis, São José, a partir da década de 70,
retoma o seu crescimento econômico. O município passa por diversos processos e
marcantes transformações, que modificaram, de fato, a configuração daquele
espaço urbano.
2.4.2 Atividade Industrial em São José
A conclusão da BR-101, na década de 70, assinala a retomada do
crescimento do Município de São José e adjacências. O eixo formado pela
passagem de cargas e passageiros criou um fluxo dinâmico e resultou, hoje, na
inter-relação entre São José e os municípios vizinhos (Florianópolis, Palhoça e
Biguaçu).
91
Esta conformação, que se estruturou através de espaços formados
principalmente a partir de eixos rodoviários, representou o início do desenvolvimento
em escala extra-regional que, juntamente com reflexos dos tentáculos de
urbanização de Florianópolis, deu lugar ao crescimento urbano de São José.
Decorrente desses processos, o espaço josefense foi se estruturando de
modo que na década de 70 as primeiras atividades de diversos tipos de indústrias
começaram a aparecer. Consideradas de pequeno e médio porte, aquelas tinham
como origem à base familiar, e surgiram “aleatoriamente” pelo município. No
entanto, logo se expandiram por todo o território.
Contudo, ressalta-se que outras indústrias de grande expressão, inclusive
atuando no mercado internacional, também escolheram o Município de São José
para sediar suas instalações, como é o caso da fábrica de rendas e bordados
Hoepcke (ainda na década de 70). Mais tarde, outras como Macedo, Koerich e
Intelbrás se tornaram os maiores grupos de indústrias josefenses (FARIAS, 2004).
A industrialização em São José foi, aos poucos, alterando a estrutura de
produção e, com isso, transformando as paisagens locais. Percebe-se assim que
com o crescimento e desenvolvimento do setor, houve a necessidade de
acompanhamento, também, da infra-estrutura na cidade.
Por conseguinte, como suporte e complementação ao desenvolvimento
econômico, se estruturou uma reorganização na distribuição industrial por meio de
um parque industrial. Dessa forma, contemplando uma política de Centros
Empresariais, o Distrito Industrial de São José teve sua concessão dada pela lei n°
836, de 11 de julho de 1972. No entanto, sua implantação ocorreu somente em 1975
(OSTROSKI, 1988).
Localizado às margens da BR-101, no quilômetro 212, ao longo do Rio
Imaruí, na divisa do Município com Palhoça, e a 12 km de Florianópolis, o Distrito
Industrial de São José compreende terrenos que, originalmente, pertenciam ao
BESCTUR (Banco do Estado de Santa Catarina – Empreendimentos e Turismo S/A).
Em 1978, aqueles passaram a ser administrados pela CODISC (Companhia de
Distritos Industriais de Santa Catarina).
92
Contando com uma área de aproximadamente 113 ha, quando recém criado,
o Distrito Industrial passou a atrair diversas empresas, que receberam uma série de
incentivos (concedidos pela prefeitura municipal) para que se instalassem naquele
local. De acordo com Lago apud Pereira (1999), destaca-se: a isenção de impostos
(de cinco a dez anos, dependendo do capital investido), o fornecimento de água,
energia, terraplenagem, telecomunicações, pouco ou nenhum controle rígido de
poluição, saneamento, arruamento, concentração de mão-de-obra operária, uma
área somente industrial (longe de moradias), proximidade com a capital do estado e,
por fim, facilidade de acesso a BR-101 (principal rodovia de escoamento de
materiais de Santa Catarina).
Nota-se assim que a preferência de localização das indústrias é decorrente
das facilidades de acessos e interações com o escoamento regional. E este, é um
dos pontos fortes do Município de São José, pois, assim como Palhoça e Biguaçu,
têm localização privilegiada, e está na malha viária de grandes conexões, nas
margens da BR-101 e próxima a Florianópolis. Portanto, foi dessa forma que a
atividade industrial passou a introduzir transformações na base econômica do
Município de São José, dando início à consolidação de grandes mudanças no
espaço josefense.
2.4.4 Urbanização e Impactos Sócio-Ambientais
Nas últimas três décadas o processo de urbanização acelerado na região da
Grande Florianópolis resultou na consolidação de uma ampla área conurbada,
envolvendo a parte continental da capital catarinense e de municípios vizinhos.
Neste processo, a valorização de áreas próximas à BR-101 levou tanto o poder
público quanto o privado a engendrar novos e imensos loteamentos, fortalecendo
ainda mais os tentáculos da urbanização desses lugares.
Assim, em São José, a expansão urbana, que ocorreu de forma desordenada
em todo território, desencadeou no processo de verticalização em quase todo o
93
município, principalmente nos bairros de Campinas e Kobrasol. Hoje, prédios de até
vinte andares caracterizam o cenário urbano
51
, que culminou em um considerável
aumento na densidade urbana do município, se comparado às décadas passadas.
As transformações que ocorreram, principalmente nos últimos dez anos,
fizeram com que São José deixasse de ser apenas uma “cidade dormitório”,
passando a se enquadrar entre os maiores centros urbanos do estado. O antigo
núcleo central foi, aos poucos, traçando vetores em direção a bairros como
Campinas, Kobrasol e Barreiros. Estes últimos passaram a “dominar” praticamente
todas as atividades de comércio e serviços, resultando na descentralização da maior
parte dos órgãos administrativos do centro histórico, para as proximidades do
Shopping Itaguaçu
52
(nas imediações dos cruzamentos das BR’s 282 e 101).
Com os deslocamentos o centro histórico perdeu a função de centro
administrativo, provocando queda considerável nos serviços e no comércio local.
Grosso modo, pode-se dizer que, o centro histórico ficou quase que abandonado,
sendo hoje “mantido” basicamente pela população local.
Percebe-se neste contexto, algo que foi dito por Carlos (1999:179), ao afirmar
que
(...) o espaço dominado, controlado, impõe não apenas modos de
apropriação, mas comportamentos, gestos, modelos de construção que
excluem/incluem. Produz a especialização dos lugares, determina e
direcional fluxos, originando centralidades novas.
Para esses novos processos sociais, Corrêa (1990) lembra que as
centralizações e as descentralizações ocorrem em razão de vários fatores.
Percebemos, então, que São Jonão fugiu a regra, tornando seu espaço urbano
51
A área que compreende estes dois bairros é constituída por uma planície quaternária, formada por sedimentos
recentes de solos brejosos. O substrato rochoso da planície é desconhecido, e muitos prédios já apresentam sinais
de comprometimento em suas estruturas. Muitos edifícios foram construídos com base em estruturas de
madeiras. Em virtude do abaixamento do vel do lençol freático, as madeiras ficam expostas e apodrecem,
comprometendo assim a estrutura dos prédios.
52
No Centro Histórico restou apenas no antigo prédio da prefeitura, onde hoje é a Câmara de Vereadores do
município.
94
mais complexo, com novas áreas centrais, com grandes amplitudes de
possibilidades para consumidores, comércios, indústrias e promotores imobiliários.
Portanto, o que vem se verificando nas últimas décadas é que, São José
passou a assimilar estratégias de renovações urbanas, sendo alvo de diversos
investimentos em infra-estrutura, pavimentação, paisagismo, saneamento,
eletrificação, iluminação pública, sinalização, áreas de entretenimento e lazer
53
.
Muitas destas obras foram iniciadas na gestão do então prefeito do município,
Sr. Dário Berger (atual prefeito de Florianópolis), e outras tiveram continuidade no
mandato de seu sucessor, Fernando Elias (atual prefeito de São José). Nessas
administrações, diversos projetos foram concretizados e outros ainda estão em
andamento. Entre os principais, destaca-se o Calçadão da Avenida Central, a
Operação Tapete Preto, a Beira Mar Continental, Escola do Mar, Avenida das Torres
(conectando os bairros situados na porção norte à oeste da BR-101 e os municípios
limítrofes Florianópolis e Biguaçu)
54
, Centro Multiuso, Centros Empresariais,
Universidades, Colégio de Aplicação, Centro de Atenção à Terceira Idade, entre
outros.
Notadamente esses investimentos permitem enxergar, sob diferentes escalas,
que o Município de São José está vislumbrando, a partir de ações conjuntas entre o
setor público e/ou privado, ganhar identidade própria, com características
complementares àquelas encontradas na capital catarinense. Tal perspectiva vem se
manifestando a partir de possibilidades locais, que têm se revelado como fontes
inspiradoras de crescimento econômico e (re)valorização sócio-cultural para o lugar.
No entanto, antes de adentrar em questões relativas as possibilidades e
perspectivas para o lugar, é preciso (re)lembrar que o acelerado processo de
urbanização de São José ocorreu, proporcionalmente, como em outros centros
53
Somente em determinados locais, pois, a grande maioria dos bairros não dispõe de infra-estrutura nem locais
destinados a atividades de lazer.
54
A Avenida das Torres, no Distrito de Barreiros, que segue a rede de transmissão de energia elétrica, possui, no
projeto original, seis quilômetros de extensão, ligando o bairro Biguaçu à BR-282 (Via Expressa). Foi executado
um trecho de três quilômetros, que inicia no bairro Bela Vista e é interrompido no bairro Ipiranga. Com boa
parte da obra sem calçamento, calçadas para pedestre, sinalização, meio fio e equipamentos de redução de
velocidade, transformou-se em um local perigoso para a comunidade, principalmente os moradores do conjunto
habitacional Bela Vista. Infelizmente, o que poderia tornar-se um eixo de geração de renda para o município,
pois dificilmente será um espaço de convivência (por estar situada na faixa da rede de transmissão de energia, as
áreas dos canteiros centrais não são indicadas para uso de atividades de lazer), pode vir a ser somente mais um
espaço de especulação imobiliária, conseqüência direta das melhorias urbanas de grande porte.
95
urbanos no país, acompanhado de uma série de problemas, dificuldades e conflitos,
e apresentando graves distorções no que diz respeito ao uso de seus recursos
naturais e paisagísticos.
Em decorrência dos tipos de crescimento urbano, principalmente na década
de 70, São José se consolidou em um adensamento populacional sem qualquer
critério de orientação, sem seguir um modelo de zoneamento ou instrumentação
legal para controle do uso do solo. É possível notar, nos dias de hoje, que o
município possui muitas ocupações irregulares, loteamentos clandestinos, entre
vários problemas de ordem social.
Neste aspecto conflituoso a segregação espacial é uma realidade presente no
cotidiano de São José. A ocupação do território josefense por diferentes classes
sociais, e em porções bastante distintas, surge a partir das relações sócio-espacias
existentes entre as diferentes partes que garantem a articulação deste espaço.
Conforme destaca Corrêa (2003), o processo de segregação residencial representa
uma divisão social do espaço essencialmente, uma segregação social –, uma vez
que as residências constituem formas espaciais ligadas “sobretudo à existência e
reprodução dos diferentes grupos sociais”.
55
Dias acrescenta que,
(...) a diferenciação da paisagem urbana capitalista é fortemente marcada
pela distribuição das residências no espaço, uma vez que estas traduzem,
através de suas formas, o conteúdo social das populações que ocupam
cada porção da malha urbana na organização da cidade (DIAS, 2005:104).
Por sua vez a segregação espacial, notadamente residencial, desencadeia
outros problemas de ordem social, como por exemplo, ocupação desordenada e
necessidade de ocupação de encostas. Desta forma, dirigindo o foco do processo
migratório da pobreza para as periferias, notamos cada vez mais evidencias que o
resultado deste processo encontra-se estampado nas ocupações de encostas de
morros e baixadas, ocasionado pelo surgimento de loteamentos clandestinos e
irregulares, além das áreas em favelização.
55
Corrêa, op. cit. p.59.
96
As populações residentes dessas áreas de encostas são, em sua maioria,
procedentes de municípios do interior do Estado de Santa Catarina e de outros
estados da federação. Isso contribui para o aumento dos contrastes na urbanização
local, tornando a situação cada vez mais problemática para as autoridades locais
nas tentativas de redução dos problemas que as situações exigem.
É evidente que um problema desencadeia outro, e assim sucessivamente.
São José, como não poderia deixar de ser, acumula problemas na maioria dos seus
bairros, uma realidade onde especulação imobiliária, exclusão social, áreas de
risco de inundação, acúmulo de lixo nos canais, falta de saneamento, poluição
sonora e, principalmente, violência.
No que diz respeito à exploração dos recursos naturais, se percebe que a
“necessidade” de crescimento da área urbana vem acarretando em desequilíbrio
ambiental, e provocando a degradação daquelas áreas. Esses processos se tornam
evidentes logo que se percorre o Município de São José.
As praias
56
do lugar, por exemplo, Ponta de Baixo e Beira Mar, estão poluídas
(Vide Figura 14), e de acordo com relatórios de balneabilidade da Fundação do Meio
Ambiente (FATMA), são impróprias para banho. As areias desses locais também são
focos de contaminação. Os rios e córregos existentes naquele município também se
encontram na mesma situação (Vide Figura 15).
Quanto às encostas dos morros, se constituem em problemas para o
município, pois, além de serem ocupadas de forma irregular (a maior parte por
favelas), também são, na sua maioria, áreas de inundação. Assim, todo o lixo que
comumente é lançado, e se acumula nesses locais, é levado para os canais, criando
problemas para a drenagem das águas de chuva.
56
Praias como Ponta de Baixo se transformaram em depósitos de lixo. Além disso, os esgotos feitos com
ligações clandestinas são despejados no mar e na areia da praia.
97
FIGURA 14 – Esgoto Lançado Direto na Praia (Ponta de Baixo)
Fonte: arquivo da autora (Agosto 2006)
FIGURA 15 – Assoreamento e Poluição de Rios e Córregos
na Sede do Município
Fonte: arquivo da autora (Agosto 2006)
98
Outros problemas referentes a aterro em áreas de mangues, crescimento
urbano desordenado, ocupação indevida do solo, poluição do ar e sonora, presença
confirmada (por Herrmann, Mendonça & Campos, 1993) de “ilhas de calor”, nos
bairros Kobrasol, Fazenda Santo Antônio e Picadas do Sul, além áreas de risco de
enchentes e deslizamentos, também estão presentes no município.
Sob esses contextos, outra questão que chama atenção refere-se ao sistema
de esgoto sanitário de São José. De acordo com reportagens publicadas em jornais
locais, a Lagoa de Anaeróbica da Estação de Tratamento de Esgoto, localizada no
bairro Potecas, que está integrada ao da área continental de Florianópolis, encontra-
se comprometida. A Lagoa vem (há bastante tempo) sendo alvo de diversas
reivindicações por parte comunidade local, que reclamam do mau cheiro.
De acordo com o jornal Oi São Jo
57
, a Lagoa recebe todo o esgoto da
região continental de Florianópolis e parte de São José, o que resulta numa série de
conseqüências. Entre elas, a principal é o mau cheiro insuportável no entorno da
lagoa, que atinge outros bairros, como Potecas e Jardim Ipiranga; além disso, nos
períodos de fortes enxurradas pode ocorrer transbordamento da lagoa e,
conseqüentemente, maior poluição dos rios, que vão desembocar na Baía Sul.
A comunidade local, revoltada, está exigindo providências imediatas de
caráter definitivo. Já fizeram diversos protestos
58
o que até então, pareceu não
resultar em soluções definitivas. Notas divulgadas pela CASAN
59
(Companhia
Catarinense de Água e Saneamento) afirmavam que até o início de 2007 deveria ser
concluído o projeto que prevê a construção de dois reatores anaeróbicos e uma lona
de PVC, que será instalada sobre eles. De acordo com o Diretor de operações da
CASAN, isso aumentará a eficiência da estação e também sua capacidade.
Em meio a tantos fatores negativos, que provocam a degradação ambiental
no Município de São José, não se pode deixar de mencionar a existência de locais
como o Parque Ambiental dos Sabiás, localizado no bairro Forquilhas. O parque tem
como objetivo principal fomentar a possibilidade de uma nova consciência para que
a sociedade privilegie a sustentabilidade ambiental. O local possui açude, trilha
57
Oi São José. Maio/2006. p. 5.
58
Através de abaixo-assinados, passeatas, etc.
59
Publicada no Diário Catarinense de 17/06/2006.
99
ecológica, playground, minhocário, horta, pomar e viveiro de plantas da Mata
Atlântica, auditório, biblioteca, dois aquários, e mini museu ecológico, entre outros
atrativos que proporcionam a população uma opção de lazer, aliada a educação
ambiental.
O Município de o José também possui outras alternativas de locais
voltados ao lazer da população, embora as opções existentes não sejam muito
expressivas, conforme veremos a seguir no Capítulo 3. Contudo, o que se percebe
no município, é uma carência no que diz respeito a áreas verdes, praças púbicas,
entre outros locais destinados ao encontro, ao lazer e a prática de atividades físicas
para a população local. Notadamente isso ocorre pelo fato da cidade estar
crescendo de forma desordenada, sem planejamento adequado, e praticamente sem
controle oficial.
Percebe-se assim que são relativamente poucas as áreas públicas destinadas
ao convívio social no município de São José e, estas, concentram-se nos bairros de
maior, e/ou melhor, poder aquisitivo. Além disso, nota-se que estas áreas públicas
estão onde existem as maiores possibilidades de atividades de comércios,
serviços e infra-estruturas, como é o caso dos bairros de Campinas, Kobrasol e
proximidades.
100
CAPÍTULO III – (RE)CONHECIMENTO DOS ESPAÇOS DE
PRODUÇÃO E CONSUMO DE LAZER E TURISMO: AS
POTENCIALIDADES DO MUNICÍPIO DE SÃO JOSÉ - SC
3.1 ESTRUTURA ATUAL: CARACTERÍSTICAS E PERSPECTIVAS
Diversos condicionantes em conjunto vêm transformando São José em um
município industrial, comercial e de serviços, diversificando, significativamente, o
cenário sócio-econômico do seu território. As inúmeras transformações que o lugar
vem sofrendo ao longo de sua história alteraram a sua dinâmica espacial, e hoje,
apresentam-se articuladas e manifestadas de formas distintas.
Assim a estrutura urbana foi rapidamente se modificando, buscando se
adaptar às novas funções que se estabeleceram a partir da cidade. Neste processo
nota-se a pouca preocupação do Estado com a ordenação daquele espaço urbano,
onde a organização interna da cidade tem se estruturado com ausência de
planejamento e/ou não cumprimento do Plano Diretor, ora vigente. Percebe-se que
isso ocorre tanto por parte do poder bico, como de setores privados, que vêm
provocando radicais mudanças na região de Campinas e Kobrasol, gerando como
conseqüências diversos congestionamentos, tanto em termos de concentração de
edifícios, como em artérias de circulação por aqueles locais.
Os adensamentos têm ocorrido sem qualquer tipo de controle e/ou restrições
e são também, de fato, resultantes das influências exercidas por Florianópolis.
Verifica-se, portanto, naquele município, que o aglomerado urbano, com prédios
comerciais e residenciais, principalmente, vem reduzindo acentuadamente os
espaços livres, restando, hoje, poucos locais destinados às práticas de atividades
realizadas ao ar-livre. Sob essas condições o espaço físico fica limitado, tornando-se
“(...) reflexo tanto de ações que se realizaram no presente como também daquelas
101
que se realizaram no passado (...)” (CORRÊA, 2003:8), expressando dinâmicas
territoriais dos diversos segmentos de agentes sociais.
Quanto ao processo de verticalização, que algum tempo “tomou conta” da
cidade, hoje reflete as diversas necessidades que, naquele contexto, foram deixadas
de lado. Entre as quais, os espaços e os equipamentos destinados ao lazer
60
,
entretenimento, prática de exercícios físicos e ao convívio da população local, como:
praças, áreas verdes, jardins, teatros, museus, entre outros
61
.
No entanto nota-se que a partir de processos de renovações urbanas, e dos
“diferentes” usos que o dados à “antigos” espaços, diversas possibilidades
acabam surgindo e passam a ser exploradas na construção de novos espaços,
como é o caso de uma obra específica, que é a Avenida Beira Mar. O local, que
antes era ignorado e utilizado inclusive como depósito de lixo, ganhou novas formas,
não apenas com o aterro mas, sobretudo, pela implantação de infra-estruturas.
Conseqüentemente novos usos surgiram e, a partir das funções diferenciadas,
naquele local e adjacências, os objetos implantados criaram novas dinâmicas
paisagísticas.
Sob este aspecto é possível perceber que, nos últimos anos, o município tem
manifestado interesse pelo incremento das receitas geradas pela atividade turística
na economia municipal. Isso vem despertando uma inovadora mentalidade, advinda
tanto do setor público quanto do privado, que, cada vez mais, está mostrando-se
capaz de direcionar São José para novas “trilhas” da atividade turística na região da
Grande Florianópolis.
Finalmente, ao perceber no turismo uma “saída estratégica” para o
desenvolvimento local, a gestão municipal passou a idealizar a atividade como
possibilidade significativa em termos sócio-econômicos, capaz de proporcionar
benefícios para o José, e acarretar na geração de emprego, renda e aumento na
arrecadação de impostos.
60
Vale lembrar, que o lazer é visto na sociedade contemporânea como uma “necessidade” humana, onde a
reconstituição física e mental se torna necessária e indispensável ao desenvolvimento do Homem.
61
Notadamente, estas estão entre as conseqüências de agressivas intervenções na paisagem local que, grosso
modo, decorrem da falta de planejamento urbano e/ou da omissão do poder público, o qual, muitas vezes, não
cumpre com seu dever em conter o crescimento desordenado e assegurar proteção ao meio ambiente, entre outras
questões de interesse social.
102
Entretanto não se pode esquecer que, ao ocorrer em determinado território, o
turismo tende a provocar impactos (positivos e/ou negativos) em todos os níveis,
passando a atuar na economia, no meio ambiente, cultura, etc., produzindo
mudanças sócio-espaciais. Daí a importância de compreender claramente a
natureza desses impactos, especialmente no que se refere a sustentabilidade dos
locais onde é implementado, a fim de tentar evitar divergências e
descontentamentos entre os diferentes agentes que participam do processo de
produção e reprodução daquela atividade.
Assim, se a opção do município de São José for pelo desenvolvimento do
turismo, deve conciliar-se aos objetivos de manutenção do patrimônio, da cultura e
da identidade local, pois estes são essenciais para sua consolidação. Além disso, é
de fundamental importância a atuação do poder público como coordenador do
espaço turístico, cabendo a ele apoiar, orientar, fiscalizar e fomentar o
desenvolvimento da atividade, bem como, muitas vezes, desenvolver infra-estrutura
e condições para tal. Quanto ao setor privado, este deve atuar como agente de
transformação daquele espaço, assumindo funções de planejar e investir em
empreendimentos que garantam a sustentabilidade econômica da atividade turística.
Tanto o setor púbico como o privado, juntamente com outros agentes sociais
e políticos, e a comunidade local, devem agir de forma integrada, discutindo e
buscando alternativas próprias para o desenvolvimento da atividade turística, dentro
da realidade em que o município está inserido.
Vale (re)lembrar que antes de uma cidade/localidade ser turística ela deve,
em primeiro lugar, ser considerada “boa” para seus moradores. assim, e a partir
de um desenvolvimento turístico planejado
62
, integrando a comunidade local e
buscando rentabilidade por meio da gestão e otimização dos recursos, bem como
não deixando de lado peculiaridades locais, é possível que a atividade turística se
torne viável em qualquer localidade, trazendo benefícios para a população local e
para os visitantes, evitando que ocorram impactos territoriais irreversíveis.
62
Tendo o cuidado de preservar as características locais (tanto culturais como ecológicas), a fim de evitar efeitos
negativos dos recursos que possam destruir ou esgotar as possibilidades de uso e conservação desses
patrimônios.
103
3.1.1 Antecedentes das Atividades de Turismo em São José
Embora São José ainda não apresente dados oficiais relativos a atividade
turística, registros históricos apontam que, a partir do final da década de 1920,
aquele município contava com a presença de visitantes. Assim, Ferreira (1998)
comenta como e por que São José passou a ser um lugar procurado, principalmente
por moradores de Florianópolis.
Conforme aquele autor, a1926 a ligação entre a Ilha de Santa Catarina
com o continente, bem como com o resto do país, se dava apenas por via marítima.
Na época as estradas existentes eram “(...) apenas meras picadas a ligar as
freguesias” (FERREIRA, 1998:25). Contudo, a partir daquele ano, com a
inauguração da Ponte Hercílio Luz (13 de maio de 1926), Florianópolis pode contar
com travessias mais rápidas e seguras, além destas também se tornarem mais
constantes.
A “facilidade” que se estabeleceu para chegar a porção continental contribuiu
para que as praias daquele continente, como por exemplo, Coqueiros e Ponta do
Leal, passassem a ser percebidas pelas elites florianopolitanas, como locais
favoráveis a práticas do lazer, notadamente para banhos de mar e piqueniques
63
.
A partir então da década de 1930, quando o florianopolitano passou a
descobrir outras praias, que se encontravam além dos limites da Ilha, São José
passou a ser conhecido por suas “belezas naturais”. Coqueiros e Ponta do Leal (que
até o momento pertenciam aquele município) se tornaram os focos principais desta
“descoberta”. As duas localidades passaram a ser muito procuradas para veraneio,
63
Vale lembrar, que em Florianópolis (antiga Desterro), até o fim do século XIX, o mar e as praias não eram
locais de lazer, mas sim de trabalho (para muitos ainda é até hoje). A relação dos homens com o mar, era de
dependência, onde buscavam sobrevivência através da pesca. Ainda nesta época, de acordo com Cabral (1979),
em que existiam mínimas condições de higiene (não só em Desterro, mas também do Brasil e da Europa), a praia
era lugar de despejo de lixos e dos dejetos da população (conforme determinava o Código de Posturas de 1830),
e as construções ficavam com os fundos voltados para a praia. Porém, no fim daquele século, com a preocupação
de melhorar as condições sanitárias da cidade, o lançamento de dejetos no mar foi concentrado em pontos mais
afastados do centro da cidade. Assim, a orla do centro recebeu melhoramentos para servir de local de passeio
para as famílias. Conforme Ferreira (1998), somente anos mais tarde, o mar iria adquirir nova significação, ou
seja, as construções passaram a ter suas fachadas voltadas para ele, valorizando a paisagem local, e a praia
passou a ser considerada um local de lazer.
104
o que se deu, basicamente, devido à proximidade com o centro urbano de
Florianópolis, diferente do que ocorria com as praias do interior da ilha.
Ferreira também comenta que de colônia de pescadores, estas praias,
tornaram-se, gradativamente, balneários da elite da capital, repercutindo na
imprensa local. Ainda menciona que os jornais da época começaram a noticiar o
fato, permitindo com que se tornassem as praias chiques das décadas seguintes
64
.
Andrade (1981) lembra que as praias de Coqueiros e Itaguaçu surgiram como
lugares indicados para o descanso, e diz: “Nos domingos de verão, os auto-ônibus
levavam banhistas até aquelas praias. Logo os bairros tornaram-se local de moradia
permanente (...)” (ANDRADE, op. cit. p.124).
A busca pela praia para fins de lazer passou a ser tão intensa que,
A especulação imobiliária foi aos poucos concentrando suas atenções no
continente. Na praia de Coqueiros, a partir da década de 1930, alugavam-se
e vendiam-se casas para temporada, bem como eram abertos muitos
loteamentos para veraneio (FERREIRA, 1998:84).
Aquele autor, citando trecho do jornal O Estado de 1931, diz que era “(...)
grande o número de famílias de nossa capital que ali se achavam usufruindo as
delícias destas manhãs praieiras” (FERREIRA, 1998:83), e menciona que a praia do
Meio era a mais procurada pelos banhistas. Outra notícia do mesmo jornal se refere
às praias “(...) da Saudade, Desportiva (praia do Meio) e Santa Cruz (Itaguaçu) (...)”,
como sendo “(...) pontos de reuniões de inúmeros banhistas (...)”.
Como reflexo desta procura alguns moradores das praias mencionadas
vislumbravam na referida prática (de ir a praia), a possibilidade de aumentar a renda
familiar. Assim, segundo aquele autor, havia gente preocupada com o “bem estar
dos visitantes”. É o caso do “Sr. Cícero Cláudio”, antigo morador da praia do Meio
que, conforme um artigo do jornal O Estado, organizou em sua residência um
64
Até então, segundo Ferreira, (1998), antes da inauguração da ponte Hercílio Luz (1926), a imprensa ainda não
havia falado de banhos de mar nas praias de São José.
105
“Galpão Balneário”, para que fosse desfrutado por “(...) banhistas, principalmente
famílias, que estão afluindo àquele pitoresco sítio do lado continente” (Ferreira,
1998:83). O Galpão também fornecia lanches, e possuía chuveiros e quartos, que
podiam ser alugados por dia, semana ou mês.
Quanto às praias do Estreito, aquelas já atraíam veranistas desde 1910,
principalmente Ponta do Leal, que estava entre as preferidas. Entretanto, foi a partir
da década de 30 que o lugar foi loteado e passou a ser maciçamente ocupado,
inclusive por famílias importantes da sociedade florianopolitana, que fizeram suas
casas de veraneio.
Conforme lembra Ferreira, Ponta do Leal juntamente com Coqueiros e Rita
Maria, destacavam-se por organizar “famosos” banhos de mar à fantasia, que
abriam as festas de carnaval a partir da década de 30. Os eventos resgatavam
tradições de antigos carnavais, então em desuso, como as batalhas de limões-de-
cheiro (bolas de cera cheias de líquidos perfumados que explodiam ao atingir as
pessoas) e o entrudo, brincadeira em que os foliões jogavam uma mistura de água
com farinha uns nos outros.
As praias de Coqueiros (Vide Figuras 16 e 17) e também Ponta do Leal
tornaram-se os balneários preferidos da elite florianopolitana até a década de 1960.
O crescente e promissor desenvolvimento desses distritos (até então pertencentes
ao Município de São José) despertou na capital interesse por aquelas áreas, o que
ocasionou, em 1944, a transferência de jurisdição do Distrito de João Pessoa e de
Coqueiros para o Município de Florianópolis.
A partir daí, em decorrência do intenso crescimento imobiliário e comercial
que se deu naquelas localidades, e também no centro de Florianópolis
65
, uma nova
ordem foi se estruturando e influenciando nas dinâmicas urbanas
66
.
65
A região central da cidade foi loteada e ocupada, em sua maior parte por edifícios de doze pavimentos. A Praia
de Fora (centro da cidade) foi aterrada, dando espaço para a construção da avenida Rubens de Arruda Ramos
(hoje Beira Mar Norte).
66
Conforme mencionado em passagens anteriores, São José perdeu importantes fontes de renda, que eram os
abatedouros de gado e as madeireiras. Este fato, juntamente com outros fatores, contribuiu para que entre as
décadas de trinta e cinqüenta, do século passado, o território josefense vivenciasse um período de estagnação
econômica.
106
FIGURA 16 – Praia do Bom Abrigo (década de 1950)
Fonte: Arquivo Velho Bruxo da Ilha. Disponível em www.ufsc.br/~esilva/
FIGURA 17 – Vista da Praia da Saudade em Coqueiros (década de 60)
Fonte: Arquivo Velho Bruxo da Ilha. Disponível em www.ufsc.br/~esilva/
Essas mudanças refletiram diretamente na paisagem, notadamente nas
praias do continente e naquelas localizadas no centro de Florianópolis, onde a
poluição das águas das baías norte e sul foram fatores determinantes para que
perdessem sua balneabilidade, tornando-se bairros residenciais.
Gradativamente, com a expansão urbana para o interior da Ilha, houve o
deslocamento dessas funções de lazer para outras praias da capital catarinense.
107
Este processo ocorreu primeiramente naquelas que ficam voltadas para as baías
(entre o Ribeirão da Ilha e Santo Antônio de Lisboa), posteriormente alcançou as
praias oceânicas do Leste, Norte e Sul
67
.
Tais deslocamentos se tornaram possíveis à medida que ocorreram
melhoramentos e construções de estradas e acessos, que seguiam do centro em
direção ao interior da Ilha
68
. A popularização do automóvel também contribuiu,
significativamente, para mudança dos eixos de interesse dos veranistas, que
conforme lembra Ferreira (1998:103), antes da década de 70, “(...) freqüentavam, no
máximo, Cacupé e Sambaqui, ao Norte e Ribeirão da Ilha, ao Sul”.
Aos poucos a cidade foi se expandindo e, com isso, Florianópolis passou a
receber intensos processos de investimentos (tanto públicos como privados),
refletindo a tendência desenvolvimentista nacional. Assim, ao serem descobertas as
“belezas naturais”, juntamente com incentivos e políticas de turismo, inicia-se à
exploração turística na Ilha de Santa Catarina.
3.1.2 O Turismo Hoje
A existência de um fluxo turístico no Município de São José é um pressuposto
que norteia nossos questionamentos, uma vez que a falta de dados estatísticos
consistentes e oficiais, como o número de visitantes, por exemplo, impossibilita a
identificação de quantos e quais os tipos de atividades cio-econômicas a cidade
se beneficia atualmente. Apesar disso, já é possível apontar algumas pistas de como
o turismo, está cada vez mais, está se estruturando e se tornando uma das
67
Até a década de 1970 os veranistas conheciam algumas praias voltadas para as baías. Ao sul até o Ribeirão da
Ilha, e ao Norte até Cacupé. Com a abertura de novas estradas (para o Norte, Sul e Leste da Ilha), casas de
veraneio (segunda residência) começaram a ser construídas nas praias oceânicas, até então de difícil acesso à
maior parte da população, que morava no centro e proximidades.
68
O acesso ao norte da ilha foi iniciado em 1961, no governo de Celso Ramos, e seu asfaltamento ocorreu no
governo de Colombo Salles (1971- 1975), propiciando mudanças nesses lugares, até então de difícil acesso.
108
prósperas fontes inspiradoras de crescimento econômico e (re)valorização sócio-
cultural para o lugar.
Como reflexo dessa tendência turística, e no que se refere a atividades
complementares, como locais de entretenimento e lazer, pode-se dizer que muito
embora tenha “estrutura” própria, São José confunde-se com a capital. Isso, pois,
muitas pessoas não sabem, bem ao certo, onde termina uma cidade e começa
outra. No entanto mesmo não existindo nenhum tipo de registro oficial de fluxo
turístico, como se falou anteriormente, acredita-se que entre os inúmeros visitantes
que vêm à Florianópolis, muitos deles circulam, passeiam e/ou se hospedam até em
São José, deixando também divisas naquele lugar.
É bem verdade que São José, ainda hoje, não é referência em atrativos
turísticos como a capital catarinense, e este trabalho nem tem a pretensão de
afirmar isto. O que se quer, é despertar nos órgãos municipais (públicos e privados),
na população local, nos investidores e demais interessados que, mesmo não sendo
um formal “pólo turístico”, São José possui dimensões complementares de atrativos
e opções de lazer que podem suprir não apenas algumas necessidades turísticas de
Florianópolis, eventualmente, mas, sobretudo, para determinados tipos de circuitos
que se organize e/ou articulados com segmentos sociais de consumidores, conforme
as ofertas proporcionadas e demandas esperadas.
A busca de hospedagens mais baratas, e de qualidade, por exemplo, também
pode tornar-se uma opção para os visitantes, principalmente pela proximidade com a
capital catarinense. Os preços dos meios de hospedagens, atualmente, são muito
convenientes e atrativos, isso se comparados aos praticados na ilha, notadamente
na área central, que cada vez mais seletiza clientes com empreendimentos de “grife”
e ligados a grandes redes internacionais. Durante a temporada de verão e/ou em
feriados prolongados os preços se elevam consideravelmente, algo que o impede
de muitos estabelecimentos ficarem lotados, visto que a clientela que os freqüenta
está entre aquelas consideradas solváveis nesse tipo de negócio.
com relação à gastronomia, o município também não decepciona.
Concentra expressivo número de estabelecimentos voltados para fornecer
109
alimentação com culinária diversificada, valorizando traços da influência cultural
luso-açoriana-brasileira.
Quantos aos locais destinados aos circuitos de consumo propriamente ditos
de turismo e lazer, notadamente, no que diz respeito às ofertas de praias, lagoas e
dunas, a ilha oferece condições para práticas de banhos, passeios e diversidades de
atividades desportivas. Entretanto, estas não são as únicas opções da região.
Outros municípios da Grande Florianópolis também se destacam e
preenchem lacunas nas preferências dos consumidores, proporcionando aos
visitantes e turistas diferentes opções de lazer, compras, entretenimento, etc. Dentre
eles, merece destaque: Santo Amaro da Imperatriz e Águas Mornas
(termalismo/esportes radicais), Nova Trento (santuário da Madre Paulina), São João
Batista (indústria calçadista/consumo), Governador Celso Ramos (praias), Biguaçu
(gastronomia, Big Fest), Palhoça (praias como Guarda do Embaú e Pinheira, e
Parque da Serra do Tabuleiro), Antônio Carlos (parques aquáticos, ecoturismo e
turismo rural), São Pedro de Alcântara (turismo rural e festa do colono), entre outros.
Mesmo com a diversidade de opções existente nos municípios vizinhos, a Ilha
de Santa Catarina ainda está entre as cidades mais procuradas por turistas no
estado. É também, um dos principais destinos turístico do país. Todavia, é relevante
reafirmar que, quando se fala em turismo em Florianópolis e/ou no litoral
catarinense, não se pode deixar de dizer que o mesmo caracteriza-se, de modo
geral, por atividades balneárias. Assim, esta prática fica condicionada ao fator
climático, ou seja, acontece apenas em determinadas estações do ano, que no caso
é o verão.
Naquele período, que compreende os meses que vão de dezembro a
fevereiro, nota-se, todos os anos, que em Florianópolis, nos dias em que não faz sol,
ou quando chove, alguns locais da cidade, que praticamente dobram sua população
nesta época do ano, vira caos total. A opção mais procurada então pelos turistas
sempre foi o único grande shopping, existente
69
na ilha (Beira Mar), que fica quase
69
Em Novembro de 2006 um novo empreendimento foi inaugurado em Florianópolis (Floripa Shopping), às
margens da SC 401 rodovia que liga o Centro ao Norte da Ilha –, surgindo como outra opção para diferentes
tipos de consumo. Além dele, em abril de 2007, outra grande obra iniciou suas atividades em Florianópolis, o
Shopping Iguatemi (localizado no bairro Santa Mônica). Estes centros de compra e lazer vêm ampliar a oferta de
equipamentos na ilha, não apenas para o uso dos turistas, mas, sobretudo, para os moradores do local e região.
110
que totalmente lotado, podendo-se levar horas pra chegar até lá. Além disso, o
trânsito fica caótico e as ruas da cidade se tornam intransitáveis.
Esses são somente alguns exemplos de problemas decorrentes da
sazonalidade do turismo em Florianópolis. Outros, relacionados à infra-estrutura
urbana e básica, além de empregos temporários, também estão entre os principais.
Isso ocorre pelo fato do desenvolvimento turístico depender de diversos
investimentos. Estes, o produzem retorno econômico em outros períodos do ano
além da temporada de verão, se configurando como grande problema enfrentado
não apenas pela capital, mas por todas as cidades litorâneas do estado.
Acredita-se, portanto, que outras atividades poderiam ser desenvolvidas a fim
de captar novos fluxos de turistas nos demais períodos do ano. Isso reduziria a
sazonalidade do turismo, abastecendo a infra-estrutura técnico-turística de ofertas
durante os outros nove meses (março a novembro), considerado período de baixa
estação. Notadamente as manifestações culturais (artesanato, folclore, música,
gastronomia e religiosidade) e o turismo de negócios e eventos, se constituem em
excelentes mercados a serem explorados.
Outra alternativa a contribuir na diminuição da sazonalidade do turismo em
Florianópolis (e de qualquer cidade litorânea), é a ampliação da oferta dos destinos
turísticos. Estes, não se restringiriam apenas à capital e, integrariam os demais
municípios da região metropolitana. Acredita-se que esta integração se apresenta
como excelente oportunidade que, se articulada, tem potencial para formar circuitos
turísticos bastante promissores. O que está se propondo é que a capital catarinense
se torne área polarizadora e os demais municípios da grande Florianópolis, os
“pontos-satélites”.
A atividade turística se apresenta, portanto, como importante agente
reorganizador das configurações espaciais, capaz de criar núcleos de inclusão e de
exclusão. É possível notar que essas tendências já estão sendo percebidas na
região da Grande Florianópolis, aonde o perfil de turistas, que vinham somente em
busca de “sol e mar”, tem sistematicamente se alterado. Estes visitantes, que estão
se tornando cada vez mais exigentes, também vêm em busca de outras atividades,
como esportes, informação, cultura, entre outras opções de lazer.
111
Foi então com base nessa importância que o lazer adquiriu na sociedade
contemporânea que, segundo Castelli (2003), a atividade passou a ser uma
preocupação constante por parte da grande maioria das pessoas. Assim, cada vez
mais cresce o número de indivíduos que buscam se refazer psíquica e
somaticamente de desgastes que o ritmo da vida moderna lhes impõe. Desta forma,
durante seu tempo livre, as pessoas têm procurado por locais que lhes possam
oportunizar relaxamento mental, descanso, diversão e emoção, satisfazendo anseios
e necessidades cotidianas.
Gradualmente percebe-se que estas condições estão sendo oportunizadas no
Município de São José, onde as opções de consumo, destinadas às práticas do
lazer e do turismo, existentes, caracterizam-se como potencialidades locais. Assim,
entre os aspectos que passam a ser relevantes para o desenvolvimento da atividade
turística naquele município, destacam-se elementos de valor histórico, cultural e
natural, como: a Beira Mar, o Cetro Multiuso, Centro Histórico de São José, Ponta de
Baixo, Shopping Itaguaçu, o Calçadão da Avenida Central, a Escola de Oleiros,
Lago da Pedreira, Camelão, Horto e Parque Ambiental dos Sabiás, Calçadão da
Avenida Central, Morro da Pedra Branca, Clube de Junho, CTG Os Praianos,
CATI – Centro de Atenção a Terceira Idade, entre outros.
Tem se verificado que estes locais/equipamentos possuem significados de
valor sócio-cultural para os indivíduos que os utilizam, no caso os moradores locais.
Reafirma-se então, mais uma vez, que a partir dessas condições locais, é possível
propiciar e articular entretenimento e integração da comunidade josefense com
turistas/visitantes.
Nesta perspectiva destaca-se a importância do poder público, como agente
coordenador e regulador, atuando na ordenação do território josefense e objetivando
um modelo de desenvolvimento sustentável da atividade turística. Este diagnóstico
se apresenta como importante documento, que visa contribuir (a partir dos
levantamentos e análises), na medida do possível, para que o desenvolvimento do
turismo no Município de São Jo se de forma planejada, evitando perdas e
impactos irreversíveis, preservando suas condicionantes paisagísticas, históricas e
culturais.
112
3.2 ATRATIVOS LOCAIS: LEVANTAMENTO DOS RECURSOS TURÍSTICOS
Os espaços turísticos são, grosso modo, aqueles que possuem algum
fenômeno/ou atrativo capaz de despertar a sua visitação. Desta forma, as razões
que levam à procura destes espaços se dão, geralmente, pelos atrativos
70
por eles
ofertados que, conforme Barretto (1991), podem dividir-se em naturais e culturais
71
.
Os atrativos locais organizados e estruturados, juntamente com equipamentos
e infra-estruturas, formam o produto turístico
72
, que nada mais é que algo que possa
ser oferecido a um mercado para satisfazer necessidades e/ou desejos. Contudo, o
conceito de produto não está limitado a objetos físicos. Qualquer coisa capaz de
satisfazer uma necessidade pode ser denominada produto. Portanto, além de bens e
serviços, produtos incluem lugares, organizações, atividades e idéias. Nesse caso o
termo produto também pode ser substituído pela palavra oferta, onde ambos
revelam o potencial de determinado lugar.
Nota-se então que o (re)conhecimento das características como recursos
ofertados pelo Município de São José, em termos de atrativos a serem considerados
turísticos (Vide Figura 18), eles se revelam como indispensáveis na consolidação da
atividade no lugar, tornando-se capazes de gerar desdobramentos ante as
peculiaridades de um processo de desenvolvimento local. Assim, com os
levantamentos realizados (Vide Anexo 02) e discutidos nos sub-capítulos seguintes,
pode-se evidenciar como essas características dão dimensão a atividade e a partir
de suas peculiaridades, suscitar diferentes formas de aproveitamento, as quais
integradas às dinâmicas florianopolitanas, constituem-se em permanente evolução e
suas implicações sócio-espaciais.
70
Por atrativos turísticos entende-se a matéria-prima na qual se pode praticar alguma modalidade turística, e com
a qual se pode planejar e dimensionar a atividade em uma base física.
71
Lembramos também, que os atrativos turísticos podem ser de origem histórica, artificiais (como as construções
modernas, os shoppings centers), ou ainda, podem ter a sua atratividade atrelada aos seus movimentos
econômicos e/ou culturais, aos negócios, eventos, congressos, dentre outros.
72
Não se pode deixar de mencionar que sozinhos estes atrativos não têm condições de suprir “todas” as
necessidades dos turistas. Por tanto soma-se a eles algumas facilidades, como meios de hospedagens,
equipamentos de alimentação, entretenimento, além de infra-estrutura urbana e outros equipamentos de apoio
que, em conjunto, formam o produto turístico.
113
114
3.2.1 Atrativos Ecológico-Naturais
Os atrativos naturais são aqueles que aparecem em uma determinada base
física, constituindo o que tradicionalmente se convencionou associar com paisagem.
A paisagem natural se torna, assim, em elemento relevante no reconhecimento e na
seleção dos espaços destinados ao desenvolvimento da atividade turística. Nesse
contexto, Santos (1996) lembra que:
(...) tudo aquilo que nós vemos, o que nossa visão alcança, é a paisagem.
Esta pode ser definida como o domínio do visível, aquilo que a vista abarca.
Não é formada apenas de volume, mas também de cores, movimentos,
odores, sons, etc. (SANTOS, 1996:61).
E sob estas perspectivas são engendradas as diversas formas de
especulação da paisagem na produção e consumo de lugares turísticos.
Os vários destinos turísticos, estruturados em função da existência de
elementos naturais significativos, passam a atrair grande fluxo de visitantes. Por
conseguinte, aquilo que é dito como patrimônio natural é composto por praias,
balneários, cânions, montanhas, picos, rios, lagos, cascatas, cachoeiras, fontes,
bosques, parques, florestas, desertos, dunas, ilhas e outros fenômenos associados
às bases ecológicas.
Como mencionado em passagens anteriores, além de praias existem outros
elementos de base natural que apresentam grande valor turístico. Em São Jo
esses atrativos, embora (alguns) se encontrem, no momento, em precário estado de
monitoramento (falta de sinalização adequada, pouca ou nenhuma manutenção),
possuem, como diferencial, um conjunto paisagístico específico e de relevância
cênica para práticas, por exemplo, de ecoturismo.
Nesse contexto, situado a 4 Km do centro da cidade, o Morro da Pedra
Branca, se configura como um atrativo capaz, nas devidas ações de usos e
consciência ecoturística, de propiciar vantagens a serem agregadas socialmente por
115
um patrimônio dessa espécie. O local é costumeiramente visitado por pessoas que
gostam de subidas “morro acima”, onde é possível se chegar ao topo a pé, a cavalo,
ou de moto. Com 450 metros de altitude, o pico da Pedra Branca é um local propício
para a prática do alpinismo, caminhada, treking e outras observações. de cima,
tem-se um dos mais belos observatórios de paisagens da região litorânea
catarinense, integrantes basicamente nesse ecossistema, partes da baía sul e da
Ilha de Santa Catarina com seus atributos.
Entretanto pode-se dizer que o mais conhecido recurso natural do município é
a praia da Ponta de Baixo, antigo Balneário Guararema (Vide Figura 19). Ainda hoje,
nesse bairro (que também leva o nome da praia) situado cerca de 3 km do centro, é
possível encontrar significativo número de freqüentadores que, mesmo com índices
perceptíveis de degradação, aproveitam das potencialidades, notadamente em
banho de mar, ali existentes.
Dentre outros pontos do litoral josefense, este é o único que dispõe de uma
mínima infra-estrutura, envolvendo restaurantes, bares, e casas noturnas. É também
local onde se pode constatar a presença de antigos casarões residenciais, que até
recentemente se constituíam em segundas residências (para uso nos fins de
semana e durante o veraneio) de segmentos sociais mais abastados naquele
município. Nos dia de hoje a aceleração da urbanização do bairro está cada vez
mais inserida aos “padrões de vida própria”, conseqüentemente, tornando-se similar
às condições de “periferias” da cidade josefense e/ou da capital, conforme a lógica
atual que inscreve a metropolização regional.
Outro local que se revela com “possibilidade” de tornar-se atrativo turístico
para o Município de São José é a Ilha da Casca, que se encontra logo enfrente à
praia da Ponta de Baixo (Vide Figura 20), na baía sul. Entretanto, esta ilha ainda
está sob domínio particular, por concessão do SPU
73
, o que impede, atualmente,
qualquer planejamento e implantação de infra-estrutura para fins turísticos.
73
SPU – Serviço de Patrimônio da União.
116
FIGURA 19 – Beleza Cênica na Praia da Ponta de Baixo (Baía Sul)
Fonte: Arquivo da autora (2006)
FIGURA 20 – Ilha da Casca
Fonte: Arquivo da autora (2006)
Por fim merece ser citado o “Lago da Pedreira”. A propriedade onde hoje ele
se encontra foi adquirida a mais de 20 anos pela empresa Saibrita
74
, para a extração
de pedras. Ao longo do tempo os trabalhos de extração daquele recurso resultaram
na formação de um grande buraco, formado por inúmeros paredões de rochas, que
74
Empresa de mineração e construção que atua retirando pedras destinadas à construção civil.
117
deram origem a tal lago. Entretanto com o passar dos anos acabou sendo ocupado
pelas águas da chuva, formando o que passou a ser conhecido como “Lago da
Pedreira” (Vide Figura 21).
Situado a 3 km do centro, no bairro Bela Vista II, o local onde está o lago
pode ser utilizado para caminhadas, treking, banhos, pic-nic, e quem sabe a
refuncionalizado, a partir de inspirações preservacionistas, como se fez em alguns
tipos de locais de Curitiba PR, e nele serem implementadas infra-estruturas que
também articulam condições para fins culturais.
FIGURA 21 – Vista Aérea do Lago da Pedreira
Fonte: disponível em www.ctpmsj.sc.gov.br (Foto de Marcelo Pinheiro)
Embora São José não seja um município grande em extensão e “rico” em
atrativos naturais, os elementos paisagísticos que podemos encontrar merecem
ser preservados. Não apenas para fins turísticos, mas também para oferecer aos
moradores uma área destinada ao lazer. Locais como este deveriam, inclusive,
receber proteção legal, assegurando sua manutenção e preservação, dotando-lhes
de finalidades melhor planejadas e coletivamente apropriadas pelos usos.
Assim, a paisagem urbana vem sendo modificada em consonância com as
transformações no mundo do trabalho e da cultura, sendo resultante de um processo
histórico, onde o homem sempre assumiu sua contribuição. Isso, pois a paisagem,
bem como a cultura, nunca se encontra finalizada, mas em constante transformação.
118
3.2.2 Atrativos Histórico-Culturais
Os atrativos histórico-culturais são aqueles construídos e criados pela
atividade humana, que, por sua relevância, tornaram-se atrações turísticas. São
elementos que de alguma forma fizeram (e ainda fazem) parte da história, da cultura
e da memória de um povo, preservando traços e características de um determinado
tempo. Pode-se citar como exemplo de atrativos histórico-culturais, os castelos,
igrejas, museus, palácios, fortalezas, casarios, santuários, edifícios, festas,
tradições, etc., geralmente identificados como elemento da “memória tangível”.
Em São José estes elementos estão expressos principalmente na sede
municipal, estando presentes na arquitetura da cidade, na praça, nos casarios
antigos e em alguns atos e costumes de tradições que ainda hoje são preservados.
A maior parte do “acervo” histórico josefense está concentrada no chamado “Centro
Histórico”, e forma importante conjunto cultural para a cidade e para a própria região,
expressando as influências açorianas no lugar.
O Centro Histórico, onde se consolidou a primeira estrutura urbana de São
José, concentra grande parte da história da cidade. Representa a memória coletiva
do lugar e assim, de acordo com Abreu (1998), é um elemento essencial da sua
identidade. Para aquele autor, “(...) o que faz com que surja uma memória grupal ou
social, referida a algum lugar, é o fato de que aquele grupo ou classe social
estabeleceu ali relações” (ABREU, 1998:14) e, portanto, é o que se pode dizer das
significações que aquele espaço e seus objetos têm para os josefenses.
Um patrimônio de tamanha importância, ele, o Centro Histórico de São José,
vem sendo preservado, recuperado e (re)valorizado, pois representa não apenas um
espaço simbólico, mas, sobretudo, toda uma dinâmica de vivências e memórias de
determinada sociedade, materializada em formas espaciais distintas, cada qual com
suas especificidades, desempenhando diferentes funções com o passar do tempo.
Como forma de preservação deste patrimônio, informações obtidas junto a
Secretaria de Turismo do município revelam que a principal meta para 2007 é a
revitalização do Centro Histórico. Uma parceria entre o município e o Instituto
119
Nacional para o Desenvolvimento Sustentável (INADES), as obras de restauração
terão início logo que estiver concluído o levantamento arqueológico, que já foi
iniciado, segundo aquela secretaria.
O projeto, orçado em trinta milhões de reais, pretende garantir o tombamento
nacional das edificações existentes, que ainda hoje estão preservadas,
parcialmente modificadas. Outra intenção é impulsionar o turismo no local,
valorizando aspectos históricos, culturais e arquitetônicos, além de estimular outras
atividades ligadas ao lazer. Nota-se assim, que o Centro Histórico caracteriza a
centralidade urbana que o Município de São José exerceu no período que se inicia
no final do século XVIII e se estende até meados do século XIX.
Entre as edificações existentes está a Igreja Matriz, que foi construída em
1765 (Vide Figura 22). Destaca-se por ser considerada uma das obras mais antigas
da região. Depois de várias reformas, e inclusive desabamento da torre central, a
igreja se mantém no mesmo local em que os colonizadores ergueram a primeira
capela. Além disso, possui um acervo de obras sacras, onde se destaca a imagem
de São José, padroeiro do município.
FIGURA 22 – Igreja Matriz de São José
Fonte: Arquivo da autora (2006)
120
Outra edificação preservada no Centro Histórico é o “Solar dos Ferreira Mello”
(Vide Figura 23), um grande marco arquitetônico no município. Construído em fins
do século XVIII, o prédio pertenceu à família de Luiz Ferreira do Nascimento Mello,
político importante
75
da época. O local serviu, além de residência, de quartel,
escola militar, e até mesmo cortiço. Foi desapropriado pelo município em 1980 e
tombado como objeto do patrimônio histórico de Santa Catarina em 1986.
FIGURA 23 – Solar dos Ferreira Mello: Museu e Biblioteca
Fonte: Arquivo da autora (2007)
Outro exemplo de elemento cultural existente em São José é o sobrado onde
funciona a Fundação Municipal da Cultura e Turismo. Edificado em 1851, o prédio
serviu no passado de residência para a família de um comerciante português.
Posteriormente passou a ser propriedade do imigrante e também comerciante
polonês Gottieb Burgstaller Gerlack, que no culo XIX, mostrava sua
preocupação com a educação e o incentivo a cultura, cedendo duas salas para a
criação de um colégio de primeiras letras.
Entre 1912 e 1959, naquele prédio também funcionou o Café Social, que na
época, era ponto de encontro da sociedade josefense. Posteriormente, serviu de
sede para a Câmara Municipal durante mais de dez anos. A partir de 2003 passou a
abrigar o projeto de extensão universitária Casa da Cultura da Universidade Estácio
75
Ferreira Mello chegou à Vice-Presidência da Província de Santa Catarina (1875) e se destacou por diversos
cargos ligados a atividade política.
121
de , funcionando como centro cultural, atuando e divulgando atividades ligadas
com educação e lazer, com base nas memórias culturais josefenses.
A partir de abril de 2006, o local transformou-se na sede da Fundação de
Cultura e Turismo de São José, passando a funcionar na parte superior do prédio as
atividades administrativas. A parte inferior, chamada “Salão Nobre”, destina-se a
diversas atividades com programações variadas de eventos (Vide Figura 24).
FIGURA 24 – Prédio da Fundação
Municipal de Cultura e Turismo
Fonte: Arquivo da autora (2006)
O Theatro Adolpho Mello teve sua pedra fundamental lançada em setembro
de 1854 por um grupo de teatro da Vila São Jocom o nome de Sociedade União
Theatral. Estes resolveram realizar um velho sonho: edificar uma casa para aquele
tipo de espetáculos. Foi inaugurado então, dois anos mais tarde, em 21 de junho de
1856, no mesmo dia em que se festejara a transformação de São José em cidade.
Vinte e sete anos depois da inauguração o teatro passou a se chamar
"Theatro Adolpho Mello", em homenagem ao ilustríssimo maestro e violinista
josefense José Adolpho Ferreira de Mello, chamado por Gerlach & Machado (1982),
de “deus-da-música”. Em 1924 o Theatro sofreu uma reforma para adaptá-lo em sala
de projeções, passando a chamar-se Cine York. Conforme Silva (2004.b.), foram
122
levantadas platibandas nas suas quatro paredes externas em estilo neoclássico, o
que fez com que perdesse o aspecto de casarão colonial. Segundo aquela autora,
foi fechado novamente na década de 50 para mais uma reforma de quase dois anos.
Reaberto em 1955, como Cine Rajá, funcionou até 1979, quando novamente
foi fechado por estar completamente abandonado. Neste mesmo ano o Poder
Público e a Fundação Catarinense de Cultura assinaram um acordo para uma
reforma geral, voltando ao seu original, somente para peças teatrais. Foi
reinaugurado em 1981 com nome de Theatro Adolpho Mello e hoje, é considerado o
mais antigo do estado (GERLACH E MACHADO, 1982). Já restaurado, aquele,
funciona como palco de diversas atrações (Vide Figura 25).
FIGURA 25 – Theatro Adolpho Mello
Fonte: Arquivo da autora (2006)
A “Bica da Carioca”, localizada próximo da Igreja Matriz, é um local onde se é
possível imaginar o que era o cotidiano dos escravos, lavando as roupas de seus
senhores, ainda em tempos de trabalho servil, no século XIX (Vide Figura 26).
Construída num bosque, próximo a Igreja Matriz, a fonte também era destinada ao
abastecimento de água potável a toda população. Foi local de lazer, namoro e
descontração de muitos josefenses nos séculos passados. Atualmente a fonte da
Carioca está quase que totalmente abandonada e um tanto descaracterizada,
algumas conseqüências dos efeitos perversos de usos urbanos.
123
FIGURA 26 – Bica da Carioca
Fonte: Arquivo da autora (2007)
Quanto ao “Casarão” (Vide Figura 27), sobrado onde funcionava a antiga
Casa de Câmara e Cadeia, sua construção data de 1852, pelo então presidente da
Província João José Coutinho. Naquela época, “(...) essa construção era muito
necessária, uma vez que a Vila ganhava foros de cidade
76
. O pavimento rreo se
destinava aos presos e o superior a Câmara Municipal, Júri e Audiência.
FIGURA 27 – Antiga Casa da Câmara e Cadeia: Hoje Casa da Cultura
Fonte: Arquivo da autora (2006)
76
Diário Catarinense, 29 de Março de 1999 p. 6. Caderno 11 São José origens e destino de uma cidade
industrial.
124
Em 1910 a edificação passou pela primeira reforma, que modificou a planta
original. Alguns vãos do piso térreo foram fechados, e as grades de ferro da sacada
foram substituídas por elementos decorativos. A segunda grande reforma modificou
todas as aberturas da parte inferior e substituiu telhas originais por outras francesas.
Mais tarde concentrou funções de Delegacia de Polícia e Arquivo Público até sua
total desapropriação por falta de condições de habitação. Depois de restaurado, em
1981, pela administração municipal, recebeu feição mais próxima da original, e
passou a abrigar a Secretaria de Finanças. Atualmente no local funciona a Casa da
Cultura, onde diversas oficinas são oferecidas à comunidade.
O prédio do Cine York também integra os equipamentos do Centro Histórico.
Este casario, em falso estilo arquitetônico luso-brasileiro (Vide Figura 28),
inaugurado em 1998, é uma réplica do antigo bar existente, onde hoje se encontra o
Theatro Adolfo Mello. Este espaço procura recriar, permanentemente, um clima
cultural na cidade de São José, desde começo do século XX, quando o primeiro
Cine York foi inaugurado junto ao teatro municipal, em 1928 (Vide Figura 29).
FIGURA 28 – Atual Cine York
Fonte: Arquivo da autora (2006)
125
FIGURA 29 – Bar Cine York (1925) no Saguão do Theatro
Fonte: Gerlach e Machado (1982)
Na parte inferior do atual prédio funciona um café-bar, que além de possuir
rica decoração, com fotos antigas da cidade, é um excelente espaço para conversas
e happy hour, oferecendo, em alguns dias da semana música ao vivo. Na parte
superior se encontra uma luxuosa sala de cinema, com 132 lugares (poltronas
estofadas de veludo) cuja acústica é considerada de primeira qualidade. Possui em
suas paredes quadros e cartazes de filmes antiqüíssimos, o que o um charme
todo especial, memória de épocas passadas, reveladas pelo conteúdo dos filmes
que muitas vezes naquele local foram exibidos.
A Praça Hercílio Luz, ponto focal do Centro Histórico, foi implantada nas
comemorações alusivas ao centenário da independência brasileira, em 7 de
setembro de 1922. Onde se encontra o Jardim Carlos Napoleão Poeta, antigo pasto
no século XIX, foi local onde D. Pedro II e Dona Tereza Cristina passaram em sua
visita à municipalidade. Urbanizado no ano de 1920, hoje ainda preserva as
palmeiras plantadas em 1901.
Subindo uma pequena ladeira no Centro Histórico encontra-se a Capela
Nosso Senhor do Bonfim, erguida em 1851. A edificação, localizada no morro do
mesmo nome, foi financiada por doações de fiéis, e ainda hoje conserva seu piso
original. Entre as esculturas sacras lá existentes, está a imagem do Senhor do
Bonfim, que veio da Bahia em 1852.
126
A Capela Nosso Senhor dos Passos, construída em 1857 (localizada na
entrada da Ponta de Baixo) e a Capela Santa Filomena, edificada em 1879 (na Praia
Comprida), também são importantes obras históricas, culturais e religiosas,
encontradas em São José.
Outros locais também são atrativos histórico-culturais para o Município de
São José, como é o caso do Clube Recreativo de Junho, fundado em 1913.
Considerado a primeira associação da elite josefense, situava-se inicialmente, em
um casarão demolido fronteiro à atual Praça Arnaldo de Souza, no Centro
Histórico. Chegou a ter pelo menos outras duas sedes até adquirir o “Casarão”,
edifício do fim do século XIX, e se mudar definitivamente em 1976. Após passar por
reformas na década de 90, o clube oferecia entre suas opções de lazer: piscina,
quadras de esporte e churrasqueiras. Além disso, aos domingos, também
funcionava como boate, “Boate Casarão”, considerado na época, importante ponto
de encontro entre jovens e adolescentes.
A Usina Sertão do Maruim, que teve sua construção iniciada em 1907,
também pode ser considerada elemento do patrimônio histórico. Foi o então
Governador do Estado de Santa Catarina, Gustavo Richard que, em acordo com a
municipalidade de Florianópolis, mandou construir esta usina, que tinha potência de
600 KW (3 máquinas de 200 KW), para fornecer energia elétrica para a capital.
Construída, por uma firma inglesa, que a partir de 1910 ficou como
arrendatária dos serviços, a usina operou ininterruptamente durante 65 anos com
suas máquinas originais. Em 1972 foi definitivamente desativada para as finalidades
a qual havia sido implantada.
Poderá ser incorporada ao cotidiano e as vantagens turísticas, a partir de um
adequado processo de revitalização. Isso, não apenas nas condições infra-
estruturais, mas, sobretudo, dinamizando programas culturais associados às
identidades locais/regionais, e até articulando atividades que favorecem
complementariedades aos estabelecimentos de ensino fundamental.
127
Por fim, cita-se o Museu da Família Koerich
77
, localizado no bairro Colônia
Santana. Em estilo alemão, a casa que além de residência foi armazém de secos e
molhados, guarda mobiliário e máquinas das empresas do Grupo Koerich. é
possível conhecer um pouco da história e da trajetória da família e o início de suas
atividades comerciais, que tiveram como fundador Eugenio Raulino Koerich. O
acervo conta com fotos, objetos particulares, objetos dos estabelecimentos, além do
primeiro caminhão da família, que fazia o trajeto, por exemplo, para Florianópolis.
3.2.2.1 Artesanato, Manifestações Folclóricas, Artísticas e Culturais
Sendo um município de colonização açoriana, São José mantém vivo
aspectos da tradição deixada pelos lusos, de transformar barro (argila) em arte.
Trata-se de trabalhos artesanais, que consiste no molde, na secagem e na queima
(que dura em média doze horas) da cerâmica, para confecção de utensílios (louças)
domésticos e decorativos (Vide Figura 30). Este ofício surgiu como meio de
sobrevivência, inspirado na história e na cultura dos colonizadores, e hoje, é visto
como resgate daquela tradição.
Realizado pelo oleiro, que trabalha no torno (roda onde se modela e se
fabrica peças) tocando com os pés (Vide Figura 31), o processo consiste em dar
forma a uma porção de barro com as mãos e umas poucas ferramentas. A argila é
colocada no centro de um prato giratório, e com os dedos posicionados, externa e
internamente, levantam-se as paredes da peça na forma e altura desejada.
77
Família tradicional de Florianópolis que, em sua trajetória, atuou nos ramos de móveis e eletrodomésticos,
lojas de departamento, revendas de automóveis e motos, consórcios e construção civil, am de participações em
empreendimentos imobiliários, administração de shopping e abate de aves, empregando quase três mil pessoas.
As principais marcas do grupo eram as Lojas Koerich, a Koesa (revenda e consórcio de veículos), Kimoto (lojas
e consórcio de motocicletas), Construtora Zita, Construtora Koerich e Kilar vendida recentemente para a rede
paulista Magazine Luiza.
128
FIGURA 30 – Exposição de louças de barro na
5ª edição da Açorfesta
Fonte: Arquivo da autora (2005)
FIGURA 31 – Oleiro Demonstrando Processo de
Fabricação de Peças em Barro na Açorfeta (2005)
Fonte: Arquivo da autora (2005)
No passado, em São José, surgiram diversas olarias ao longo de seu
território. O bairro Ponta de Baixo foi o local escolhido para a construção das
primeiras, pois, constatou-se ausência desta técnica para a fabricação de louças de
barro cozido. Além disso, a proximidade da matéria-prima, a riqueza do solo e as
facilidades de transporte das mercadorias, estão entre os fatores de escolha daquela
localidade.
129
Assim, as olarias da Ponta de Baixo foram essenciais para o desenvolvimento
e sobrevivência da população de modo geral, pois, elas eram imprescindíveis para a
realização de diversas tarefas do dia-a-dia, como a fabricação de telhas e tijolos,
louças e utilitários. Conforme Diário Catarinense
78
(de 19 de março de 1997), nos
anos 40 (século XX) existiam mais de cinqüenta olarias em São José, quase sempre
constituídas como empresas familiares.
Este foi o período em que se teve o maior número de oleiros ativos em São
José. De acordo com Beck (1984), a atividade oleira manteve-se forte e
indispensável até a chegada das grandes indústrias no país, nas décadas de 50/60,
quando as pessoas deixaram de usar louça de barro, o que contribuiu para que
muitas olarias fechassem. Alguns oleiros foram embora para interior do estado atrás
de trabalho, e outros mudaram de profissão.
Tal mudança no processo produtivo não se deve apenas ao surgimento de
um novo mercado. Está relacionada, também, ao crescimento econômico brasileiro
que, precisamente naquele período, dinamizava sua grande escala
desenvolvimentista. Hoje em dia não há mais olarias em São José. Os antigos
oleiros, em sua maioria, faleceram, e seus filhos não deram continuidade à
produção. No entanto, a tradição está sendo preservada pela Escola de Oleiros
Joaquim Antonio de Medeiros
79
(Vide Figura 32), fundada em 1992 pela Secretaria
da Educação e Cultura
80
.
Considerada a única instituição do tipo no Brasil, a escola é mantida pela
Prefeitura Municipal, e tem como finalidade resgatar o ofício ora em extinção, além
de recuperar, valorizar e repassar técnicas de uma das atividades mais tradicionais
da cultura catarinense. Isso se dá através de oficinas gratuitas que são oferecidas
para a comunidade em geral. Nesta escola existem exposições permanentes de
trabalhos realizados por alunos, como forma de valorizar e divulgar a arte e a
cultura.
78
Caderno: Suplemento Especial (p. 9).
79
Em homenagem ao antigo proprietário.
80
O objetivo da criação da escola era impedir a extinção deste ofício secular, que já foi responsável pelo sustento
de muitas pessoas no Município de São José, há poucas décadas atrás.
130
FIGURA 32 – Escola de Oleiros em São José
Fonte: Arquivo da autora (2007)
Nas várias manifestações folclóricas, artísticas e culturais encontradas em
São José, pode-se observar parte da herança deixada pelos colonizadores. Além da
cerâmica, como se abordou anteriormente, outros artefatos também fazem parte da
cultura josefense, e muitos deles podem ser observados em Feira permanente de
Artesanato - São José Feito a Mão (Vide Figura 33) que é realizada todos os
sábados no pátio da Prefeitura Municipal de São José, ao lado do shopping
Itaguaçu.
FIGURA 33 – Folder de Divulgação da Feira
131
Com apoio do SEBRAE/SC (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas
Empresas), da Fundação Municipal de Cultura e Turismo de São José (FMCT), e da
Agência Empreender, esta feira surgiu como oportunidade de comercializar e inserir
os produtos e as peças artesanais nos circuitos econômicos, se tornando um
importante canal de comercialização e geração de renda para parcela da população
local e/ou da região.
Destinada à valorização das artes e do artesanato local, são mais de 4.500
produtos colocados à venda semanalmente na feira. Destacam-se os artigos em
tecido, tecelagem, cerâmica, metal, biscuit, madeira, vidro, patchwork, telas, velas,
resina, feltro entre outros, que são fruto do trabalho de mais de cem artesãos. A feira
conta com completa infra-estrutura: praça de alimentação, palco com apresentações
artísticas e culturais, fácil acesso e estacionamento gratuito. Como se vê, uma
excelente oportunidade para práticas do lazer, entretenimento que,
conseqüentemente, pode tornar-se parte integrante de circuitos turísticos.
Quanto aos eventos, a Açorfesta, que ocorre anualmente no município, é uma
oportunidade de exposição, divulgação e comercialização do artesanato josefense.
Esta festa, que promove a cultura açoriana, conta com apresentações de grupos
folclóricos, shows locais e nacionais, exposições e gastronomia (Vide Figuras 34, 35,
36 e 37). Outros eventos e festas promovidos em São José, cada vez mais têm se
revelado como “possibilidades” de atrair visitantes para o município (Vide Anexo 03).
Entre eles, ganham maior destaque a Festa do Divino
81
e o Carnaval
82
.
81
Tradição açoriana realizada em data móvel, no mês de maio, que apresenta, todos os anos, um novo imperador
e sua esposa, escolhidos entre representantes da comunidade. Envolve vários rituais e representa a forte
católica dos imigrantes.
82
Neste ano (2007), a cidade de São José foi homenageada no Carnaval de Florianópolis pela Sociedade
Recreativa Cultural e Samba Embaixada Copa Lord.
132
FIGURA 34 – Renda de Bilro
Fonte: Arquivo da autora (2006)
FIGURA 35 – Artefatos de Cerâmica e Renda de Bilro
Fonte: Arquivo da autora (2006)
133
FIGURA 36 – Exposição de Artesanatos na 5ª Açorfesta
Fonte: Arquivo da autora (2005)
FIGURA 37 – Artesanatos Confeccionados da
Palha de Bananeira – Açorfesta/2006
Fonte: Arquivo da autora (2006)
Ainda no que diz respeito ao folclore, outras manifestações, que são
consideradas bens imateriais, destacam-se, por também fazerem parte do
patrimônio cultural do Município de São José. Entre elas estão as danças, como:
Fandango, Ratoeira, Chimarrita, Pau de Fita (Vide Figura 38) e Quadrilha, os
Folguedos como Malhação de Judas, Boi de Mamão, Terno de Reis, Cantoria do
134
Divino, as Festas como a Junina e Farra do Boi. Na Literatura Popular pode-se citar
o Pão por Deus, Pasquim (fofocas), Casos (causos), Adivinhações, Ditados
Populares, Religiosidade e o Pagamento de promessas. Já os Mitos e Lendas,
merecem destaque: o Lobisomen, Bruxas, Assombrações.
Todos estes aspectos compreendem o chamado patrimônio intangível
83
, e
fazem parte da herança cultural deixa pelos colonizadores do município. São
manifestações que fazem parte dos valores e dos significados culturais do lugar,
transmitidos oral ou gestualmente, recriados coletivamente e modificados ao longo
do tempo
.
Constituem assim, importantes atrativos a serem explorados turisticamente
pelo município. No entanto, para que isso se torne possível, é preciso que sejam
preservados e protegidos do risco de desaparecimento. Processo este, que parece
estar acontecendo, principalmente, em função do desinteresse das novas gerações
por aquelas tradições.
FIGURA 38 – Apresentação de Dança: Pau de Fitas
Fonte: arquivo da autora (2005)
83
A UNESCO (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura) entende que o
patrimônio cultural imaterial ou intangível, transmitido de geração a geração, é recriado pelas comunidades e
grupos em função de seu meio, da sua interação com a natureza e sua história. A salvaguarda deste patrimônio é
uma garantia da preservação da diversidade cultural. Dessa forma, o patrimônio não se restringe apenas as
edificações, objetos materiais musealizados e documentos escritos e audiovisuais. São também considerados
patrimônio as tradições e expressões orais, as artes do espetáculo, as práticas sociais, lendas, mitos, ritos, saberes
e técnicas, e a dimensão cultural pressuposta entre grupos sociais e étnicos com diferentes elementos da
natureza, e também respeito às culturas indígenas e afro-descendentes.
135
Ainda como “atrativo turístico-cultural”, não se pode deixar de mencionar a
introdução de CTG Centro de Tradições Gaúchas no município. Sua presença é
marcante em São José, devido, principalmente, à transferência de costumes que
houve desde a época da colonização, pois a região foi passagem para tropeiros
vindo de outros estados, como, por exemplo, Rio Grande do Sul. Com isso,
instalaram-se locais específicos de conservação das tradições gaúchas.
Hoje o CTG “Os Praianos”, por exemplo, é um local que atrai pessoas que
gostam de cavalgar, são adeptos ou apenas simpatizam com a música e a tradição
gaúcha, ou mesmo aqueles que queiram conhecer manifestações de lazer através
de uma cultura diferente, que não a do açoriano. Assim a maior e mais freqüentada
festa que se destaca no município, em nível nacional e internacional, é o “Rodeio
Internacional do CTG Os Praianos” que, a cada dois anos, reúne grande contingente
de pessoas de vários estados e até mesmo de outros países, que vêm em busca de
atrações artísticas, campeiras, bailes, shows e muita festa.
Vale salientar, finalmente, que no Município de São José, outros grupos
organizados, no sentido de manter vivas tradições locais como a açoriana e alemã.
Verifica-se também, a existência de corais, grupos de danças e músicas, entre
outros, que têm a finalidade de preservar a cultura dos antepassados.
Com estas informações é possível se ter idéia dos atrativos, tanto histórico-
culturais, como ecológico-naturais, encontrados em São José, que podem servir de
base para muitos usos turísticos. Entretanto, a existência desses atrativos não é
suficiente para que sejam considerados efetivamente turísticos. Para tanto, também
é preciso, entre outros fatores, que haja equipamentos urbanos e infra-estruturas, a
fim de receber os visitantes. Em seguida, faremos considerações acerca da infra-
estrutura já existente no município de São José.
136
3.3 INFRA-ESTRUTURA TURÍSTICA
3.3.1 Meios de Hospedagens
Meios de hospedagens, segundo a EMBRATUR, sãos empreendimentos ou
estabelecimentos destinados a prestar serviços de hospedagem em aposentos
mobiliados e equipados, alimentação e outros, necessários aos usuários. É
considerada empresa hoteleira a pessoa jurídica que explore ou administre meio de
hospedagem, e que tenha em seus objetivos sociais o exercício da atividade
hoteleira. Em síntese, são considerados serviços de hospedagens, aqueles
prestados por empreendimentos ou estabelecimentos que ofertam alojamento
temporário para hóspedes, mediante adoção de contrato (tácito ou expresso) de
hospedagem e cobrança de diária pela ocupação da Unida Habitacional (UH).
Boullón (2005) define três tipos de hospedagens: as hoteleiras, para-
hoteleiras e a hospedagem extra-hoteleira. O primeiro, conforme aquele autor,
compreende os hotéis, motéis, hospedarias, pousadas e pensões; o segundo
abrange os apart-hotéis, conjuntos de chalés, albergues, trailer parks e campings; e
o terceiro compreende os apartamentos em condomínios e as casas e chalés
particulares.
Tomando como base a primeira categoria, ou seja, hoteleira, foram realizados
levantamentos in loco no Município de São José, além de coletas de informações na
internet, lista telefônica, assim como na Secretaria de Turismo municipal, Associação
Brasileira da Indústria de Hotéis (ABIH) e Ministério do Turismo (Mtur), por se
tratarem de entidades do trade turístico, a fim de determinar a oferta dos meios de
hospedagens lá existentes.
No entanto, cabe ressaltar que houve dificuldades de encontrar um banco de
dados coeso e com grau de confiabilidade, pois o Ministério do Turismo não dispõem
de cadastro atualizado e os hotéis do município não são obrigados a se cadastrarem
na ABIH. na Secretaria de Turismo, os registros eram os mesmos disponíveis no
site daquela entidade (
www.ctpmsj.sc.gov.br), com exceção apenas para o hotel
137
Slaviero Slim Golden, que por ter sido inaugurado recentemente (cerca de um ano),
ainda não está disponível na internet.
Dos levantamentos realizados, estes indicam a existência formal de dez
hotéis em São José, que estão distribuídos nas principais localidades do município,
conforme está demonstrado no Quadro 01.
QUADRO 01 – Hotéis Existentes no Município de São José Distribuídos por
Localidades
Hotéis
Bairros
1- Diaudi Kobrasol
2- Kennedy Campinas
3- Kroon Barreiros
4- Lunes Campinas
5- Marquinho Campinas
6- Nelso Campinas
7- Praia Comprida Praia Comprida
8- Slim Golden Barreiros
9- Werlich Campinas
10- Cruzeiro Kobrasol
Fonte: Organizado pela autora (2006)
Aparentemente pode-se considerar que se trata de um número bastante
satisfatório, principalmente, porque não se sabe qual é a demanda existente. Até
então, oficialmente, é desconhecido qualquer que seja o perfil dos clientes. Além
disso, não se pode negar a superioridade numérica de estabelecimentos hoteleiros
da capital catarinense, principalmente se comparado aos municípios vizinhos, como
é o caso de São José que pela quantidade e variedade de serviços oferecidos,
atinge várias dimensões de demandas.
Dentre os hotéis pesquisados, verificou-se que o único que está cadastrado
no Ministério do Turismo é o Hotel Slim Golden. Quanto a registro na ABIH-SC,
somente o Diaudi foi encontrado. Isso sem falar na Embratur, que menos de um
terço está cadastrado.
138
De todo modo, na tentativa de identificar a capacidade instalada de UH’s e
leitos naquelas unidades empresariais comentadas, buscou-se, junto às mesmas,
uma definição quanto aos números existentes. A primeira informação (do número de
UH’s), de fato, foi de cil acesso. Porém, a maior parte dos estabelecimentos teve
dificuldade em informar a quantidade de leitos existentes. De qualquer forma, os
dados obtidos podem ser conferidos no Quadro 02.
QUADRO 02 – Equipamentos Hoteleiros: Capacidade Instalada em 2007
HOTEL
Nº UH’s
Nº LEITOS
Diaudi 49 112
Kennedy 60 124
Kroon 20 46
Lunes 48 116
Marquinho 52 85
Nelso 38 78
Praia Comprida 30 100
Slim Golden 122 244
Werlich 49 89
Hotel Cruzeiro 64 109
TOTAL 580 1.103
Fonte: organizado pela autora (2007)
A oferta hoteleira de São José soma 580 UH’s. Quanto ao número de leitos,
aqueles equipamentos têm condições de receber, nas devidas unidades
habitacionais, até 1.103 pessoas.
A base da oferta existente, da indústria hoteleira, no Município de São José, é
formada por hotéis de pequeno e médio porte, predominantemente de propriedade
familiar. Na sua grande maioria, são estabelecimentos bastante simples, no entanto,
alguns se diferenciam pela qualidade nos serviços, e por oferecer melhor infra-
estrutura aos hóspedes.
Com relação aos valores cobrados nas diárias é possível notar, através dos
dados que estão evidenciados no Quadro 03, que as tarifas, de modo geral, são
semelhantes. No entanto, algumas apresentam valor mais elevado, por apresentar
139
diferencias na qualidade e nos serviços oferecidos, como mencionado
anteriormente.
QUADRO 03 – Valor das Tarifas Cobradas nas Diárias pelos
Estabelecimentos Hoteleiros
HOTEL
VALOR DA DIÁRIA
84
POR APARTAMENTO
APTO. SGL APTO. DBL APTO. TPL
85
Diaudi 120,00 170,00 210,00
Kennedy 55,00 75,00 99,00
Kroon 35,00 62,00 79,00
Lunes 55,00 75,00 95,00
Marquinho 36,00 60,00 80,00
Nelso 32,00 58,00 80,00
Praia Comprida 27,00 50,00 65,00
Slim Golden 109,00 119,00 -
Werlich 45,00 69,00 -
Cruzeiro 27,00 46,00 69,00
Fonte: organizado pela autora (janeiro de 2007)
Pelas informações disponíveis observa-se que, mesmo com diversidade de
preços nas diárias dos apartamentos, os valores ainda são bastante convidativos,
principalmente, se comparados à capital catarinense. Além disso, outra vantagem,
se comparado a Florianópolis, é que estes valores não se alteram na alta temporada
(verão) e em feriados prolongados. Certamente essa diversidade de tarifas, bem
como de tipos de instalações e de serviços prestados, demonstram a adaptabilidade
da oferta hoteleira da região aos diferentes tipos de visitantes. Assim os hotéis que
possuem as tarifas mais elevadas são também, aqueles que dispõe de melhor infra-
estrutura, como bar e restaurante, garagem, ar-condicionado, TV, frigobar, entre
outros serviços, que muitas vezes estão entre as preferências dos hóspedes, e que
podem ser visualizados na Figura 39.
84
De acordo com a Embratur, entende-se por diária o preço de hospedagem correspondente à utilização da UH e
dos serviços incluídos, observados os horários fixados para entrada (check-in) e saída (check-out) (Deliberação
Normativa nº 433 de 30 de dezembro de 2002).
85
Apartamento para uma, duas e três pessoas.
140
FIGURA 39 – Ilustração dos Serviços Hoteleiros
86
Ofertados em São José
Fonte: Organizado pela autora (Janeiro de 2007)
86
Legenda:
Estacionamento Cofre Tv a Cabo TV Acesso Internet Frigobar Telefone Ar Lavanderia Restaurante Facilidades Sala de Piscina
e/ou garagem no hotel no hotel no apto. Condicionado p/ deficientes Reuniões
Hotéis:
Cruzeiro
Diaudi
Kennedy
Kroon
Lunes
Marquinho
Nelso
Praia Comprida
Slim Golden
Werlich
141
Nos vários tipos de direcionamentos dados pelos estabelecimentos hoteleiros,
nota-se que estes, estão voltados para todos os segmentos de mercado. Portanto o
que se percebeu é que os hoteleiros estão tentando, cada vez mais, se diferenciar
no mercado, oferecendo acomodações especializadas, que visam atender diferentes
perfis de clientes. Entre eles, estão aqueles que buscam serviços e preços
diferenciados, e que atendam às suas expectativas.
Notadamente outros estabelecimentos hoteleiros estão dispersos ao longo do
território josefense. Assim, na tentativa de identifica-los, coletou-se informações na
Junta Comercial do Estado de Santa Catarina (JUCESC), a fim de obter os registros
de estabelecimentos de meios de hospedagens ativos no Município de São José. Os
dados disponibilizados estão divididos entre aqueles que pertencem a empresários,
e aos que são de sociedade (Vide Quadros 04 e 05).
QUADRO 04 – Meios de Hospedagens do Tipo Empresário Existentes no Município
de São José (Ativos no Cadastro da JUCESC)
EMPRESÁRIO
QUANTIDADE
Hotéis 03
Pensões (Alojamento) 01
Outros Alojamentos
87
02
Outros Tipos de Alojamentos
88
07
TOTAL 13
Fonte: Organizado pela autora a partir de dados
coletados junto a JUCESC (Janeiro/2007)
87
Não especificados anteriormente.
88
Não especificados anteriormente.
142
QUADRO 05 – Meios de Hospedagens do Tipo Sociedade Existentes no Município
de São José (Ativos no Cadastro da JUCESC)
Fonte: Organizado pela autora a partir de dados
coletados junto a JUCESC (Janeiro/2007)
Pelas informações disponíveis é possível constatar o cadastro de trinta e oito
meios de hospedagens ativos na JUCESC. Notadamente este número difere,
bastante, daqueles encontrados em nossas pesquisas. Com relação a campingns,
pensionatos e outros tipos de alojamentos, estes estabelecimentos não foram
localizados no município.
Quanto aos equipamentos de hospedagens existentes em São José,
encontrou-se, além dos hotéis (que foram citados), um dormitório (Vieira), uma
pensão (Luar do Sertão) e motéis, entre os quais pode-se citar: Las Vegas, Ylang
Lang, Kalipso, 2001, Dallas, Recanto, Corsário, Libido e Candelabro. Pousadas,
Albergues e Colônia de Férias, ainda não fazem parte da realidade do município.
Todos esses equipamentos têm papel fundamental para o crescimento e
desenvolvimento da atividade turística no Município de São José. No entanto, a falta
de dados concisos impede determinar o fluxo de visitantes que a cidade recebe,
bem como o de pessoas que se hospedam. Também não foi possível identificar,
com precisão, o perfil da demanda existente, ou seja, quem é, de onde vêm, por que
veio, e quanto tempo permaneceu na cidade ou na sua área de influência.
89
Não especificados anteriormente.
90
Não especificados anteriormente.
SOCIEDADE
QUANTIDADE
Hotéis 03
Motéis 04
Campings 01
Pensões (Alojamentos) 05
Outros Alojamentos
89
07
Outros tipos de Alojamentos
90
05
TOTAL 25
143
Nesse contexto acredita-se que a melhoria na qualidade e nos serviços
oferecidos por aqueles equipamentos, bem como o aumento da oferta hoteleira no
município, se dará a media que em que esta demanda passar a ser mais bem
conhecida. A partir de então, seus anseios e necessidades poderão ser
reconhecidos pelas autoridades e/ou órgãos interessados no crescimento do setor,
bem como suas características e participações na vida sócio-econômica
local/regional.
Contudo percebe-se que alguns meios de hospedagens estão modificando
suas ofertas, através de variados tipos de equipamentos para acomodações e
serviços. Isso, pois, na contemporaneidade, os diferentes tipos de consumidores não
querem somente um local para passar a noite e descansar, mas, também, um
espaço diferenciado, onde os serviços prestados sejam de qualidade e com preços
acessíveis. Além do mais os hóspedes também buscam espaços que ofereçam
opções de lazer e entretenimento, como forma de criar opções nos momentos de
tempo livre, mesmo quando estiverem hospedados em algum estabelecimento.
Assim é que, nessa perspectiva, dois novos empreendimentos hoteleiros
estão surgindo em São José. Um deles, localizado às margens da BR-101, no bairro
Serraria, tem chamado a atenção dos que transitam por aquela rodovia. Da rede
paranaense de hotéis Slaviero
91
, foi inaugurado em fevereiro de 2006 o hotel Slim
Golden, a primeira unidade no estado de Santa Catarina e a segunda fora do
Paraná.
O hotel dispõe de 122 apartamentos (sendo 12 suítes com vista para o mar),
e possui completa infra-estrutura de serviços: restaurante de categoria
contemporânea, centro de eventos (com quatro salas moduláveis com capacidade
para a230 pessoas em auditório), completo business center, área de lazer com
academia, sala de jogos e piscina.
Este empreendimento, instalado em São José, veio suprir carências de
hospedagem de alto padrão, similar aqueles de rede internacional na categoria
econômica
92
. Assim, o perfil dos hóspedes que procuram o hotel é uma mescla de
91
Uma das principais marcas do mercado hoteleiro do Estado do Paraná.
92
Á nível de informação, vale destacar que, conforme Anuário EXAME 2007/2008 (Ed. Abril, p.90/91),
edição dedicada ao tema TURISMO, figuram entre os novos (150) projetos de empreendimentos no Brasil (11 na
144
turistas e executivos, que buscam boa localização, com facilidade de locomoção,
além de bons preços e ótima infra-estrutura.
Próximo daquele estabelecimento, ao lado do Bosque das Mansões (um dos
locais mais valorizados do continente), a idéia de um grandioso empreendimento
está sendo comercializada pelo grupo empresarial paulista Santa Paula
93
.
Trata-se do empreendimento Altos de o José Home Village, um
condomínio imobiliário que, de acordo com material divulgativo (Vide Anexos 05 e
06), contará com completa infra-estrutura, com salão de festas, fitness e sauna,
quadra de tênis, etc.
Chamado também de “Club House”, no projeto do condomínio está incluída a
construção de um hotel-resort, que conforme o site do Grupo Santa Paula
(www.stapaula.com.br)
94
, pertencerá a rede hoteleira internacional Hawthorn. O
complexo contará com piscinas (coberta e aquecida e externa), quadra de tênis,
restaurante, bar, salão de convenções, várias praças, fitness, sauna e playgrounds.
Nota-se assim que na esteira desses novos empreendimentos, o Município de
São José, gradativamente, está se inserindo nas tendências globais. Neste
processo, a implantação de infra-estruturas, no caso hotéis, são apresentados como
elementos que se manifestam nas formas de “modernização” do lugar.
região sul), a implantação de uma filial da rede IBIS, em São José, dentro da categoria desse tipo de oferta de
hotéis (Grupo Accor Hotels) que se expande pelo mundo. Os investimentos para essa unidade estão estiados em
R$ 10.560.000,00, devendo criar na oferta local/regional mais 132 unidades de apartamentos e a possibilidade de
gerar 26 novos postos de empregos diretos. A previsão de abertura desse empreendimento é para 2009.
93
Com sede na cidade de Ourinhos, interior do Estado de São Paulo, e escritórios em diversas regiões do Brasil,
O Grupo Santa Paula é responsável hoje, por mais de 30.000 loteamentos, distribuídos nos Estados de Minas
Gerais, Goiás, São Paulo, Paraná e Santa Catarina.
94
Acessado em 12/04/2006.
145
3.3.2 Equipamentos de Alimentação (Bares, Restaurantes e Afins)
A satisfação das necessidades alimentares é uma condição indispensável
para a manutenção da vida. A partir daí, o aproveitamento da diversidade
gastronômica é um bom negócio para qualquer município. O turismo gastronômico,
que tem crescido muito nos últimos anos, surge como possibilidade de se tornar
referência para atrair turistas de diferentes regiões.
De acordo com Barretto (1999) é considerada rede gastronômica, o conjunto
de restaurantes, lanchonetes, bares e similares, com oferta alimentar. Neste sentido,
todo estabelecimento que visa comercialização de alimentos preparados ou prontos
para serem ingeridos, é considerado equipamento complementar de alimentação,
podendo ser restaurante, bar, lanchonete, cafés, quiosques, ou ter ainda, uma outra
nomenclatura.
Através deste estudo foi possível identificar que a presença da atividade
gastronômica em São José é bastante expressiva
95
e diversificada. O município
concentra número significativo de equipamentos de alimentação, localizados
principalmente na Avenida Central do Kobrasol e proximidades que, atualmente,
vêem se constituindo como local de destaque no setor, e alternativo para a cidade
de Florianópolis.
Entre as opções existentes alguns estabelecimentos merecem ser
destacados, pela qualidade na gastronomia e nos serviços oferecidos. Entre eles a
Churrascaria Meu Cantinho, O Galpão Pegorini, Macarronada Italiana, e outros,
internacionalmente conhecidos, como as redes de fast food Mac Donald’s, com duas
franquias na cidade (uma avenida Presidente Kennedy e outra no shopping
Itaguaçu), Subway, Bob’s, etc. Casa do Pão de Queijo, Mini Calzone e Myoshi,
também o bastante procurados, tanto por consumidores locais, como por aqueles
que estão em trânsito na cidade.
95
Dados do Cadastro Econômico da Secretaria da Receita Municipal mencionam a existência de mil e cem bares
e restaurantes em São José. a JUCESC, registra cadastro ativo de mil quatrocentos e dezenove empresas
daquele tipo.
146
Também merece destaque empresas como Pizzarias e Cantinas Italianas da
cidade, que fazem parte da rotina de muitos moradores locais, inclusive
florianopolitanos. Situadas muito próximas umas das outras, as casas: Luzia, Cia
das Massas, Juca Pato, Parma Pizzaria, Yellows, La Toscana, Hipopótamus, Tio
Patinhas, etc., constituem um mercado bastante promissor em circuitos
gastronômicos que, nas devidas proporções, lembram ares de renome de cidades
como São Paulo (Bexiga) ou Curitiba (Santa Felicidade), onde se tornaram
referências, principalmente para fluxos de turistas.
Portanto, ao mesmo tempo em que competem entre si para atrair a clientela,
aqueles estabelecimentos também se complementam, pois, cada um deles possui
um diferencial, alguma especificidade, que faz com que as pessoas, dentro de suas
preferências, os freqüentem. Uns por causa das massas, outros dos tipos de pizzas,
alguns por funcionarem no sistema de rodízio, etc. Até o preço também é um fator
atrativo bastante importante, que influencia na escolha do estabelecimento, inclusive
chegando a competir com estabelecimentos florianopolitanos, notadamente com
aqueles que estão localizados no próximo a área central da capital.
Com relação às lanchonetes, são diversas as opções para atender púbicos
diferenciados, com preços também bastante variados. Quanto às churrascarias,
entre as mais conhecidas estão: Galpão Pegorini, Gaitaço, Meu Cantinho,
Meneghini, Mein Haus, Tropilha Grill, Barriga Verde e Terra Firme.
Não se pode deixar de mencionar o Shopping Itaguaçu, que além de ser um
local de diferentes consumos e lazer, também dispõe de número significativo de
restaurantes e lanchonetes, oferecendo culinária diversificada em fast food.
A localidade da Ponta de Baixo também vem se constituindo como referência,
quando se trata de gastronomia típica regional. Neste balneário de águas calmas
(porém com indícios de poluição) e cenário indescritível, diversos bares e
restaurantes oferecem pratos à base de frutos do mar (de procedência confiável). A
típica comida de base açoriana se revela, assim, um tipo produto a ser
comercializado, se destacando como o principal atrativo daquela localidade, que,
gradativamente, tem sido recomendado como sugestão para a demanda turística.
147
A Ponta de Baixo é, portanto, uma daquelas áreas dos arrabaldes
florianopolitanos que, se melhor refuncionalizado, e dentro um planejamento
sustentável, tem potencial para atender às expectativas josefenses, assim como
expandir e consolidar a rede de localidades sob a influência da capital catarinense.
Sob esses contextos verificou-se que de toda a infra-estrutura gastronômica
existente no Município de São José, os estabelecimentos de bares e restaurantes
que estão cadastrados na Associação Brasileira de Bares e Restaurantes
(ABRASEL) são apenas os seguintes: Cafeteria São Paulo, Bobs’s, Mac Donald’s,
Batatas e Poemas, Caravelas Bar e Restaurante, Boliche Pingüim, China in Box,
Meu Cantinho Churrascaria, Galpão Pegorini, Companhia do Frango, Companhia do
Mar, Boriba Grill.
Notadamente o relativamente poucos os estabelecimentos associados
aquela entidade. Verifica-se então, que falta de “preocupação” do setor com
questões relativas ao aperfeiçoamento dos funcionários, da contratação de mão-de-
obra especializada e segurança alimentar. Esses dados, certamente, são
diferenciais entre os indicadores na hora de se escolher um estabelecimentos, por
parte das clientelas.
Por fim, pode-se dizer que são considerados serviços de alimentação
turísticos, aqueles que se caracterizam pela adequação do atendimento ao turista,
com cardápios em idiomas diferentes, culinária típica ou internacional, ou ainda
aqueles que estão localizados nas “áreas turísticas” das cidades. Portanto, este
ainda não é um mercado muito explorado no Município de São José.
O fato é que, a falta de infra-estrutura, de mão de obra especializada,
segurança alimentar, qualidade nos serviços, bom atendimento, e mesmo de
divulgação destes locais, muitas vezes acaba por restringir o desenvolvimento do
setor. Neste caso afirma-se, grosso modo, que os equipamentos de alimentação
ofertados naquele município atendem perfeitamente aos moradores. No entanto com
relação aos turistas, ainda deixam a desejar.
Acredita-se assim, que as opções gastronômicas ofertadas no Município de
São José, possuem potencial a ser explorado, inclusive turisticamente. Ressalta-se
então, a importância do resgate permanente da gastronomia típica local, uma vez
148
que, hoje, praticamente ela é encontrada expressivamente na área da Ponta de
Baixo. Desta forma, esse tipo de alimentação não se caracterizará somente como
um atrativo turístico para o município, mas, sobretudo, irá resgatar e valorizar a
identidade cultural do lugar.
Contudo, para que a gastronomia possa se tornar, de fato, um chamariz para
o município, se constituindo em forte atrativo turístico e contribuindo para seu
desenvolvimento econômico, é preciso, antes de mais nada, uma tomada coletiva de
consciência, acerca dos benefícios que atividade pode gerar. A partir daí todos os
agentes, direta ou indiretamente envolvidos no setor, precisam entender que não
basta apenas oferecer serviços, mas, que é preciso, também, conquistar clientes.
Quanto a isso, é inevitável a presença e o apoio estatal através dos serviços da
vigilância sanitária, bem como dos órgãos responsáveis pela fiscalização desses
estabelecimentos, garantindo a qualidade nos produtos e serviços oferecidos.
3.3.3 Infra-Estrutura Urbana e Equipamentos de Apoio
Para que a atividade turística possa se desenvolver em um determinado
lugar, é preciso que este disponha de infra-estruturas adequadas, principalmente no
que diz respeito às condições de abastecimento de água, esgoto e sistema viário.
Também são necessários outros serviços e/ou equipamentos de apoio, que são
indispensáveis ao desenvolvimento não apenas à comunidade local, mas também,
com capacidade para atender os fluxos turísticos, como agências bancárias,
correios, supermercados, lojas, papelarias, postos de gasolinas, farmácias,
hospitais, oficinas mecânicas, hotéis, restaurantes, pontos de táxi, entre outros,
Todos esses tipos de serviços fazem parte do cotidiano josefense, e vários deles
dizem respeito à infra-estrutura urbana do lugar e que se destacam:
149
Transporte: São José não possui transporte urbano nem rodoviária, apenas
duas sub-agências, uma da empresa Catarinense e outra da Reunidas;
Energia Elétrica: É distribuída pela CELESC, para cerca de 64.581
consumidores (SEBRAE, 2002);
Água: O abastecimento de água é responsabilidade da CASAN;
Esgoto: O município possui rede de esgoto sanitário, que é tratado através de
lagoas de estabilização;
Lixo: A coleta do lixo no município é feita pela empresa Engepasa
96
;
Telefonia: As comunicações telefônicas são administradas pela TELESC
Brasil Telecom, e GVT;
Veículos de Comunicação: São José dispõe de duas Emissoras de dio -
Luar (FM) e Guararema (AM), quatro Jornais Locais - Oi São José, Tribuna
Josefense, Jornal Regional, Correio de Santa Catarina, uma Emissora de TV
por assinatura - TV São José veiculado através da Viamax.
Esses dados, juntamente com outros citados em passagens anteriores, são
indispensáveis para a estruturação e o desenvolvimento de qualquer cidade. No
entanto, sozinhos não são suficientes para caracterizar uma infra-estrutura turística.
Para o fomento e desenvolvimento da atividade, alguns elementos devem ser
levados em consideração, como a implantação de centros ou postos de atendimento
e informações ao turista, agências de viagens, agências de turismo receptivo,
diversidade nos meios de hospedagens e alimentação, centros de eventos,
sinalização turística, espaços de lazer, atrativos turísticos consolidados, centros de
compras e artesanatos, além de material divulgativo do destino, como folders,
mapas, etc.
96
Atualmente a questão do lixo está gerando polêmica no Município de São José, pois ao ser desvinculado do
IPTU (Imposto Predial e Territorial Urbano), moradores afirmam que houve em 2007, aumento na taxa cobrada
pela coleta. Muitos deixaram inclusive de pagar a tarifa, que em alguns casos, chega a ser 85% mais alta que o
ano anterior.
150
Quanto a isso, observa-se uma carência muito grande no Município de São
José, onde a falta destes equipamentos de apoio, associado a outros fatores, como
a restrita divulgação do município e de seus atrativos, a pouca manutenção nos
locais que são considerados “potencialidades turísticas”, além é claro, da grande
influência exercida por Florianópolis, que, grosso modo, “rouba” as atenções,
restringindo a vinda de turistas para São José.
Dados disponíveis no sistema de cadastros CADASTUR do Ministério do
Turismo (disponível em www.cadastur.turismo.gov.br) referentes aos prestadores de
serviços turísticos no Município de São José, indicam os equipamentos registrados,
conforme está dispostos no Quadro 06.
QUADRO 06 – Oferta de Serviços Turísticos no Município de São José,
Cadastrados no Ministério do Turismo
NOME DA EMPRESA
TIPO DE SERVIÇO
Encanta Brasil Tur Agência de Viagens
Franlau Turismo Agência de Viagens
Hoffmantur Agência de Viagens
Ideal Tur Agência de Viagens
Ilhasul Agência de Viagens
J. Jê Turismo Agência de Viagens
Ondehospedar Agência de Viagens
Santostur Transportes Ltda-Me Agência de Viagens
Shopping Tur Agência de Viagens
TLS – Viagens Agência de Viagens
Veratur Agência de Viagens
W Trip Viagens e Turismo Agência de Viagens
Infoview Agência Organizadora de Eventos
Innovar Agência Organizadora de Eventos
Alexandre Turismo Transportadora Turística
Opening Representações Turísticas Transportadora Turística
Pendente Transportadora Turística
Ricardo Turismo Transportadora Turística
Fonte: Organizado pela autora, a partir de dados obtidos no Mtur (2007)
As empresas cadastradas no Mtur representam uma parcela dos
equipamentos existentes no município. Entretanto além das que foram citadas,
existem outras, que não aparecem naqueles registros, e que também compõem a
151
oferta de prestadores de serviços considerados turísticos em São José, como é o
caso dos meios de hospedagens e os equipamentos de alimentação (bares e
restaurantes), mencionados em passagens anteriores. As agências e
transportadoras turísticas identificadas, porém que não aparecem no CADASTUR,
podem ser visualizadas no Quadro 07.
QUADRO 07 – Oferta de Outros Serviços Turísticos Existentes em São José
Fonte: Organizado pela autora (2007
)
Pelas informações disponíveis é possível perceber que em São José
existem agências de viagens que trabalham com a emissão de turistas, não havendo
nenhuma responsável pelos serviços receptivos. Notadamente este se constitui em
fator negativo para o município.
Outros aspectos negativos são: a inexistência de casas de câmbio, a falta de
guias turísticos, e a pouca e/ou inexistência de sinalização turística nos diversos
locais mencionados ao longo deste estudo. Entre os fatores que restringem o
desenvolvimento da atividade turística em São José, também está a falta de um
NOME DA EMPRESA
TIPO DE SERVIÇO
Acatur Agência de Viagens
Atlântico Sul Agência de Viagens
Floritur Agência de viagens
Lazetur Turismo Agência de Turismo
Manubatur Agência de Viagens
Rosar Tur Agência de viagens
Via Brasil Agência de Viagens
Cristal Festa Organização de Eventos
Diferencial Com. e Eventos Organização de Eventos
Estratégia Organização de Eventos
Sul Brasil Prom. e Eventos Organização de Eventos
Work Store Prom. e Eventos
Organização de Eventos
WT Produções Organização de Eventos
Brenda Tur Transportadora Turística
José Maciel Neis e Cia Transportadora Turística
RB Transportadora Turística
Transmacedo Transportadora Turística
152
portal ou posto de recepção, orientação e informações aos turistas, com material de
divulgação do município e pessoal qualificado e apto para atender diferentes tipos
de visitantes, como também, a população local.
Com relação a isso, informações obtidas junto a Secretaria de Turismo do
município confirmam que entre as metas para o ano de 2007 está a construção de
um portal, denominado “Portal do Lazer”. No entanto, não se sabe, ao certo, qual
será sua exata localização. Quanto ao material de divulgação dos atrativos locais,
verificou-se a existência de alguns (Vide Anexo 04), embora não são comumente
vistos circulando pelo município e/ou hotéis e restaurantes da região.
Contudo, a partir do que foi exposto até agora, acredita-se que São José
possui diversos elementos que podem ser considerados atrativos para o município, e
contribuir para o desenvolvimento do setor turístico, oferecendo serviços que, de
modo geral, podem ser considerados de qualidade.
Nesse contexto grandes investimentos, resultado de parcerias entre o setor
público e privado, possibilitaram em São José a construção de obras de infra-
estrutura, como aterros, avenidas e modernos edifícios. Entre eles destacam-se: a
Avenida Beira Mar, o Centro Multiuso, e a Avenida das Torres. Outras ações de
investimentos também estão sendo realizadas, como melhoria das estradas e
aplicação de recursos em segurança.
Estes elementos são fatores que têm contribuído, significativamente, na
criação de novos empreendimentos que, cada vez mais, estão inserindo São José
no mundo globalizado. Portanto percebe-se que o Estado, na instância municipal,
está participando das relações locais, contribuindo na produção do território, e
inserindo aquele município ao chamado mundo global, onde São José se torna,
também, elemento integrante da reprodução capitalista.
153
3.4 TURISTIFICAÇÃO E ESPAÇOS DE MODERNIDADE CONTEMPORÂNEOS:
SÃO JOSÉ NA LÓGICA DO MUNDO GLOBALIZADO
Conforme ficou evidenciado ao longo deste trabalho, São José possui
diversos espaços de lazer, blicos e/ou privados, distribuídos ao longo de sua
extensão, que são constantemente refuncionalizados, reproduzindo a dinâmica e
lógica das atividades do mundo capitalista.
São investimentos que estão sendo direcionados na construção de um
território voltado para atender às exigências do mercado universal, onde pontos
de modernização, como se fossem “placas luminosas” que refletem as tendências
contemporâneas, onde estes espaços, ao mesmo tempo em que parecem ser
“únicos”, se revestem de características e formatos comuns a certos lugares,
tendendo a uma homogeneização globalizada.
Nesse tempo que estamos vivenciando, que Santos (1996) chama de período
técnico-científico-informacional, a velocidade, a renovação a e a inovação,
constituem-se nas mais importantes forças produtivas, agindo diretamente na
transformação do espaço. Neste ínterim o espaço é constantemente produzido e
reproduzido, revelando diferentes estágios do processo de mundialização.
Em São José, percebe-se que essas inovações concentram-se em maior
número nos bairros de Campinas e Kobrasol. São também nestes bairros onde está
significativa parte das atividades comerciais e também de serviços, como os
restaurantes, bares, centros de compras, bancos, escritórios, supermercados, etc.
Sob este prisma destaca-se como primeira manifestação de um local
destinado ao lazer, que procurou trazer “ares de modernidade” para o Município de
São José, o Shopping Center Itaguaçu. Inaugurado em 1982, está situado entre a
confluências das BRs 282 (Via Expressa) e 101, e é passagem, quase que
obrigatória, na região metropolitana da Grande Florianópolis.
154
Por se um empreendimento pioneiro
97
, aquele shopping transformou-se em
ponto de referência no tipo de comércio que empreende na região. Dispõe de
aproximadamente cento e quarenta lojas, e gera, segundo a gerência, cerca dois mil
empregos diretos e indiretos.
Atualmente com a inauguração de novos estabelecimentos do gênero na ilha
(Floripa Shopping e Iguatemi), o Itaguaçu está procurando expandir suas
estratégias, criando e modernizando suas instalações. Com acréscimo de 3.700
metros quadrados de área construída, o shopping está passando por reformas, e
ganhará, brevemente, onze novas lojas, outras cinco salas de cinema e um
restaurante, além de 250 vagas para estacionamento. Todo esse investimento, que
está calculado em cerca de dez milhões de reais, tem como perspectiva de retorno
em médio prazo, e está, também, dentro das novas perspectivas de concorrência
que aquelas atividades tendem a gerar, notadamente como expansão de fluxos
turísticos a partir de Florianópolis.
Nisso tudo, no que concerne aos shoppings, vale lembrar, que eles
desenvolvem papel importante nas dinâmicas do lazer urbano. De acordo com
Andrade (2001:94), eles “(...) recebem e têm condições de atender as pessoas de
todas as faixas etárias e com os mais variados gostos”. Este autor diz ainda que os
shoppings são locais de
(...) passeios, visitas e passatempo; de distração e perambulação; de
encontro de amigos; de espaços para encontros sociais e de paquera; de
circunstâncias especiais para higiene mental de todos quanto apreciam
movimentação de pessoas e/ou necessitam apreciar situações múltiplas
para desanuviar-se. Lazer, repouso e turismo juntam-se, em harmonia, nos
sons e nos movimentos e imagens multidiferenciados que caracterizam os
shoppings (ANDRADE, 2001:94).
Mas não é apenas isso. Estes modernos espaços de lazer também são
destinados à aquisição e ao consumo cotidiano de bens. Dentro desta lógica
percebe-se que cada vez mais, o uso do tempo livre tem uma “conotação
97
Foi o primeiro shopping construído no Estado de Santa Catarina.
155
consumista”, seja de espaços de comércio, de serviços ou de lazer. Sobre isso,
Rodrigues lembra, que na lógica atribuída ao tempo livre, este,
(...) torna-se um tempo social e o lazer torna-se um produto da sociedade de
consumo [...] A evolução da sociedade mostra que o tempo livre, torna-se
um tempo social, ou seja, criador de novas relações sociais carregados de
novos valores (RODRIGUES, 1997:109).
Portanto assim como existem diferentes formas de “usos” e “consumos”, estas
também podem ocorrer em espaços diferenciados, como se pode perceber na região
do Kobrasol, a partir da construção do Calçadão (inaugurado em 2001), obra que
mudou a imagem de uma das principais ruas do bairro (Avenida Lédio João Martins
ou, como á mais conhecida “Avenida Central”).
O Calçadão possui usos bastante diversificados, sendo estes, retratos do
bairro onde está inserido. Assim, ao analisa-lo, observou-se que além de ser um
local de circulação, cercado por fluxos de pessoas, bens, mercadorias e serviços,
também propicia à comunidade um espaço voltado ao lazer.
Costumeiramente se alguém tomando chimarrão, “jogando conversa fora”,
“vendo” o movimento, paquerando, ou simplesmente descansando antes de retomar
o trabalho. Aos sábados também acontece naquele local uma pequena feira de
artesanato, que além de representar opção cultural para a comunidade josefense,
artesãos da região têm a oportunidade de exercerem atividade lucrativa.
Contudo nota-se que os usos que se dão naquele local não estão totalmente
consolidados, aptos a mudanças que poderão acontecer de acordo com as
tendências obedecidas pela dinâmica do espaço. Assim, quaisquer que sejam os
motivos pelos quais as pessoas utilizam-se daquele espaço, ele deve ser entendido
como um espaço social, de integração, um lugar de encontro de diferentes estilos de
vida, classes sociais e culturas.
O Centro Comercial Camelão aparece como outro importante local destinado
a diferentes “consumos” na região, notadamente de lazer e compras. Localizado no
bairro Campinas, o Camelão é um tanto diferente daqueles tradicionalmente
156
conhecido na Ilha (camelódromo). O local transformou-se em um mini-shopping, com
ampla infra-estrutura, estacionamento, restaurante, cafeteria, salão de beleza, banca
de revistas, ar condicionado, entre outros serviços que proporcionam aos visitantes,
mais conforto e diversão, entre as diversas opções de consumo.
Em entrevista dada ao jornal Correio de Santa Catarina
98
o empresário
Amilton José da Silva, que idealizou aquele centro de comércio, mencionou sobre as
novas mudanças de hábitos e costumes dos consumidores. De acordo com ele a
tendência é haver mudança nos horários dos comércios, a fim de dar mais opções
aos consumidores (que segundo ele, são justamente as pessoas que trabalham o
dia todo). Esta perspectiva revela que existe um projeto em transformar o Camelão
(em um futuro breve), num espaço 24 horas.
Como se vê, essa iniciativa de acompanhar as tendências contemporâneas
está atrelada às dinâmicas capitalistas, onde, cada vez mais, criam-se novas
possibilidades, a fim de aumentar os fluxos de consumo. Nesses processos a
expansão do tempo para consumo é uma estratégia para atrair novas demandas,
oportunizando aqueles que trabalham o dia inteiro, condições de adquirir novas
mercadorias em tempo integral. Esta, sem dúvida, se constitui em excelente
oportunidade para práticas lazer, entretenimento e, conseqüentemente, de turismo.
Contudo verifica-se que de todas as opções existentes no Município de São
Jose, a mais moderna e de maior impacto em proporção, é a Avenida Beira Mar, ou
Avenida Litorânea (que trataremos com detalhamento a seguir). Neste local diversas
modalidades de lazer o diariamente praticadas, como caminhadas, corridas,
ginástica, etc. também é costume andar de bicicleta, roller, skate, patinete, além
de outras atividades e eventos que acontecem, como campeonatos, shows, carnaval
e “esquentas”. Muitas pessoas também vão até à Beira Mar para encontrar amigos,
olhar a paisagem, “pensar na vida”, tomar chimarrão, e até namorar.
Naquela Avenida se destaca o Centro Multiuso, o mais recente
empreendimento inaugurado na cidade (março de 2006), e com a promessa de
colocar o Município de São José na rota dos grandes acontecimentos, como os
espetáculos artísticos. O centro de eventos também é referência quando se fala em
98
Correio de Santa Catarina, de 10/09/2006 p. 03.
157
espetáculos artísticos. O centro de eventos, também é referência quando se fala em
lazer. São 11,5 mil metros quadrados de área construída e capacidade para
estacionamento de mais de mil veículos (Vide Figuras 40 e 41)
FIGURA 40 – Entrada Principal do Centro Multiuso
Fonte: Arquivo da autora (2006)
FIGURA 41 – Vista Lateral do Centro Multiuso
Fonte: Arquivo da autora (2006)
158
Construído com um custo orçado em pouco mais de dez milhões de reais, o
centro multiuso pode comportar até seis mil pessoas em sua platéia, e dispõe de
infra-estrutura versátil (quadras que se transformam em arquibancadas, por
exemplo), em condições cnicas e apropriadas para grandes realizações (que
reuniram e ainda pretendam reunir grandes públicos). Possui um teatro em espaço
separado, com capacidade para quase 900 espectadores. Sua entrada é
independente, e o estacionamento é exclusivo.
Além de receber eventos esportivos o local pretende abrigar outros tipos, de
cunho cultural, convenções, shows nacionais e internacionais, congressos, feiras de
negócios, etc. Como se vê, este é um espaço tipicamente produzido e direcionado
às condições de “fabricação de um lugar”, cujas intenções estabelecem conexão
com usos pelo/para o turismo, que com seus desdobramentos, cria novas
expectativas para os destinos locais/regionais, em relação ao potencial daquelas
atividades.
Quanto ao Centro de Atenção à Terceira Idade CATI –, ou “Cidade do
Idoso” como é mais comumente conhecido, este é, de acordo com o site na
UNISUL
99
(Universidade do Sul de Santa Catarina), um local de “encontros e
relações, fomentado por atividades diversas voltadas para a pessoa idosa”.
Localizado na Avenida Beira Mar, oferece aulas de ginástica e dança, lazer, cultura
e assistência à saúde, buscando proporcionar qualidade de vida aos idosos do
município.
Contudo, em termos de revelar ares de modernidade, dois prédios que não
passam despercebidos são destaque em São José: o Fórum do Município e o
Centro Empresarial Terra Firme. Situados ao lado do shopping Itaguaçu e do prédio
da Prefeitura, ambos chamam a atenção e se destacam entre todos os demais, por
seus designers futurísticos (Vide Figura 42 e 43), acompanhando a tendência da
moderna e discutível arquitetura mundial. Pode-se, inclusive, dizer que estes
empreendimentos, juntamente com Centro Multiuso, representam ícones da
modernidade no Município de São José, e revelam, em suas aparências, não
apenas uma tendência de desenvolvimento da indústria da construção civil, mas,
99
Disponível em www.unisul.br.
159
toda uma ideologia de superação aos “traços atrasados” do antigo centro histórico.
Nessa refuncionalização e transferência de atividades da área central da cidade, a
dinâmica do lugar atrai uma “valorização de paisagem”, e cria um ambiente de
fluxos, ente os quais os de interesses turísticos, e estarão entre aqueles que
poderão consumir novas mercadorias.
FIGURA 42 – Fórum Municipal
Fonte: Arquivo da autora (2006)
FIGURA 43 – Centro Empresarial Terra Firme
Fonte: Arquivo da autora (2007)
160
Diante do quadro apontado, observa-se que estes elementos, em conjunto,
são suficientes pra evidenciar como São Jo está se inserindo nas tendências
globais de mundialização, acompanhando a evolução e modernização nos serviços
e infra-estrutura tecnológica. São, de fato, várias horizontalidades e verticalidades,
que aumentam a articulação da escala local com consumos globais.
Assim, o município, que tem recebido maciços investimentos em infra-
estrutura, possui como vantagem sua localização estratégica, pois está nas rotas de
entrada de Florianópolis e no traçado da BR-101, que corta seu território no sentido
norte-sul. Desta forma São José se torna uma artéria importante no “Corredor
Mercosul”, que tem em seu trajeto, uma das áreas mais desenvolvidas do Estado de
Santa Catarina.
3.5 EQUIPAMENTOS DE LAZER: O CASO DA BEIRA MAR DE SÃO JOSÉ
ALGUNS COMENTÁRIOS
O grandioso projeto que transformou a orla marítima sul do Município de São
José na “Beira Mar Continental” (Vide Figura 44), como assim é denominada, trata
de uma obra decorrente das novas possibilidades de aterros sobre a baía sul. Este
empreendimento público (apesar de amplamente questionável), apresenta usos
diversificados, tanto para especulação imobiliária, como para fins de lazer e turismo.
Inicialmente chamado de Projeto de Desenvolvimento Urbano da Angra de
São José, a construção da Beira Mar (em local antes praticamente abandonado, que
servia inclusive como depósito de lixo - Vide Figura 45), surgiu com a finalidade de
solucionar parte do sistema viário na Grande Florianópolis, desafogando o intenso
tráfego rodoviário local, e interligando os Municípios de Florianópolis, São José e
Palhoça, em direção ao sul do estado.
161
FIGURA 44 – Vista Parcial da Avenida Beira Mar Após o Aterro
Fonte: Arquivo da autora (2006)
FIGURA 45 – Vista da Beira Mar antes do Aterro
Fonte: Diário Catarinense (19 de março de 1998 p.1)
162
A proposta original, orçada em trinta milhões de reais (O ESTADO
100
1999:8),
consistia na construção de um aterro hidráulico-mecânico, que serviria de substrato
para a construção da Avenida Beira Mar. Com extensão de 4,5 quilômetros, o
projeto iniciava-se no trevo de Capoeiras, e ia aa localidade da Ponta de Baixo,
passando pelos bairros de Campinas, Kobrasol, Praia Comprida e pelo Centro
Histórico de São José.
Em síntese o projeto se constituía de uma parceria entre a Prefeitura
Municipal e o Governo Federal, e baseava-se na construção de uma via rápida com
seis pistas, que percorreriam toda a orla marítima do município. Posteriormente seria
feita a ligação com o Município de Palhoça. Também estava prevista a construção
de calçadão, pista de ciclismo, praças, píer, vila gastronômica, serviços de hotelaria,
além da implantação de diversos equipamentos de esporte, lazer, e cultura. Estes
investimentos começariam a impulsionar o mercado imobiliário local e no seu
entorno, passando a incentivar outras atividades, como o turismo.
No entanto este ambicioso empreendimento não saiu do papel, pelo menos
não daquela forma. A falta de jazida de areia para a realização do aterro provocou o
embargo da obra
101
. Assim, após ser alvo de muita polêmica, discussões,
especulações, ações judiciais e embargos, o projeto da Beira Mar foi substituído por
outro, denominado “Via Litorânea”.
Esta foi a solução encontrada pelo então prefeito do município, Dário Berger,
para alcançar a licença ambiental, tão necessária para dar início as atividades de
construção. O novo projeto, com as modificações e alterações necessárias,
representou trinta por cento do original. Agora com apenas três pistas, que
percorreriam três quilômetros, a obra teria início na altura do Rio Araújo (divisa com
Florianópolis) no bairro de Campinas, e chegaria até o bairro Ponta de Baixo.
A diferença entre as duas propostas, de acordo com o Jornal O Estado
102
, é
que a Via Litorânea iria requerer menos aterro: “A quantidade de aterro necessário
reduz de 4 milhões de metros cúbicos para 1 milhão de metros cúbicos. Outra
100
Jornal O Estado, de 07 de abril de 1999 p. 08, Caderno Geral.
101
Inicialmente, seria utilizada como “área de empréstimo” para retirada de areia, a jazida de Tipitinga, na
Tapera, a mesma que foi utilizada na construção da Via Expressa Sul em Florianópolis. No entanto, a jazida
estava embargada pelo Ibama, o que impediu a execução da obra.
102
Jornal o Estado de 1ª e 2 de maio de 1999.
163
vantagem: pode ser executada com aterro mecânico”. Assim o aterro foi feito com
sedimentos retirados da baía em frente à atual avenida, por meio de dragagem.
Contudo o que mais se destacou foi a diferença de custos entre as duas propostas.
O que antes sairia por trinta milhões de reais, possivelmente passaria a custar
apenas sete milhões.
A construção da Via Litorânea teve início em janeiro de 2000, e a primeira
etapa foi inaugurada em março de 2004 (nas comemorações do aniversário da
cidade). De acordo com o Jornal Diário Catarinense, a obra foi entregue com:
(...) 359 mil metros de aterro, pista com três faixas de rolamento, calçada
com cinco metros de largura, ciclovia com três metros, pista de skate, praça
com acesso a para portadores de deficiência e rampa na praia para entrada
de barcos (DIÁRIO CATARINENSE, 2004:7)
103
.
Popularmente chamada de Beira Mar, a Via Litorânea foi avaliada em vinte
milhões de reais, ou seja, quase que o triplo do valor previsto. Porém nem tudo na
obra saiu conforme se esperava, pois, em 2002 a justiça concedeu uma liminar aos
moradores que fazem parte da Associação do Centro Histórico, que moveram uma
Ação Civil Pública, denunciando várias irregularidades. Entre elas estavam os
prejuízos que a obra iria causar ao meio ambiente, além da descaracterização que
provocaria no Centro Histórico
104
. O trecho que passava pelo Centro Histórico, e se
estendia até a Ponta de Baixo, foi embargado.
A questão aqui apresentada não é de assumir posicionamento contrário ou a
favor da continuação das obras até o bairro Ponta de Baixo, como estava previsto. O
que se pretende é discutir o assunto, uma vez que o Centro Histórico é um relevante
Patrimônio Histórico-Cultural, um símbolo vivo da cultura, da memória e da
identidade do lugar, e por isso precisa ser preservado.
103
Jornal Diário Catarinense de 19 de março de 2004. Caderno Especial de aniversário p.7).
104
Vale lembrar que com as diversas transformações que o município passou ao longo dos anos, o Centro
Histórico sofreu intervenções, que descaracterizaram suas características iniciais. Notadamente o que é mais
visível são as construções do prédio da Prefeitura Municipal (hoje Câmara dos Vereadores) e do Ginásio de
Esportes, em local onde havia um campo de futebol. Grosso modo, as novas edificações formaram uma barreira,
obstruindo a paisagem e modificando a relação que aquela comunidade tinha com o mar.
164
Nessas condições chama-se a atenção para o cuidado em que se deve ter
quando se planeja e se executam obras daquele porte, evitando que desapareçam
importantes registros da história em “nome do progresso” e da “modernidade“. Esse
movimento provoca o desaparecimento das marcas e referências do passado
histórico, presente nas construções, nas fachadas, nas ruas e praças, transformando
toda a paisagem urbana (FIGUEIREDO, 2005). Foi o que ocorreu em São José,
com a demolição de pelo menos três casarios antigos, além de tantas outras
edificações.
Torna-se evidente então, que a falta de políticas públicas claras neste setor
possibilitam grandes e irreversíveis perdas arquitetônicas para o município, fato que
levou o atual prefeito, Sr. Fernando Elias, a decretar o tombamento de vinte e dois
bens históricos no ano de 2005. Alguns locais como o Theatro Adolpho Mello e a
Igreja Santa Filomena, agora são monumentos considerados histórico-arquitetônicos
pelo município
105
.
Por sua vez percebe-se que deveria ser função do poder público preservar
tais patrimônios. No entanto, o que se é justamente ao contrário, ou seja, alguns
representantes conjunturais do poder público agindo de acordo com interesses
discutíveis e momentâneos. Verifica-se, portanto, a existência de “alianças” entre o
Estado e o mercado imobiliário na construção de “novos espaços”. Notadamente os
dois agentes se unem na intensificação do processo de incorporação de
determinadas áreas, que são, em algumas situações, de interesse comum entre
ambos. Portanto, o Estado assume o contraditório e duplo papel de favorecer a
concentração e a conseqüente especulação imobiliária
106
.
105
Outros monumentos também foram tombados, como: Igreja do Bonfim (Centro Histórico), Igreja da
Irmandade de Nosso Senhor dos Passos (entrada da Ponta de Baixo), antiga Casa da Câmara e Cadeia (Centro
Histórico), Sobrado da Casa de Cultura Estácio de (Centro Histórico), Sobrado do Arquivo Histórico
Municipal de São Jo(Centro Histórico), Sobrado estilo colonial com escadaria (Centro Histórico), Fonte da
Carioca e Tanque de lavação de roupas (Centro Histórico), Casario da Rua Gaspar Neves (Centro Histórico),
Casarão antiga sede do Clube Recreativo de Junho (Centro Histórico), Casa em frente ao Corpo de Bombeiros
(Praia Comprida), Escola de Oleiros Joaquim Antônio de Medeiros (Ponta de Baixo), Bar Praça 11 (Praia
Comprida), Píer do Rio Maruim (Ponta de Baixo), Usina de Geração de Energia do Sertão do Maruim, Casa em
estilo Germânico (Sertão do Maruim).
106
Entre as atuações do estado, está a sua interferência na mudança da legislação, criando novas leis e alterando
antigas. O estado também age criando mecanismos que permitam o remembramento de terrenos urbanos, além
de ter o poder de aumentar o coeficiente edificável.
165
Assim sendo, a Beira Mar de São José é um exemplo claro dessa atuação do
Estado. O mesmo assumiu e dirigiu os processos de desapropriação dos terrenos,
além de implantar as infraestruturas necessárias. Desse modo,
(...) sob a forma de renovação urbana as transformações necessárias a reprodução do
capital aparecem travestidas de necessidade social imposta pelo Estado enquanto de
‘interesse público’(...) o Estado interfere na reprodução espacial, não apenas
redefinindo usos e função do espaço, mas alterando, substancialmente a prática
espaço-temporal (CARLOS, 2003:14).
Contudo após o aterro, muitos moradores e proprietários de comércios e
terrenos na região próxima a Beira Mar tiveram seus bens comprados por grandes
construtoras e/ou outros investidores que, se ainda não começaram, têm grandes
planos de investimentos futuros no local. Confirma-se assim, que o espaço se
reproduz enquanto mercadoria, sob a forma de áreas incorporáveis pelo mercado
imobiliário.
Vale ressaltar, que diversos empreendimentos que antecederam a Beira
Mar, acabam por se aproveitar desta obra pública, e “usufruem” de sua localização
privilegiada, transformando um espaço público em privado. Isso acontece quando se
utilizam deste espaço para fins particulares, como, por exemplo, utilizando-se dele
para fazer estacionamento de seus estabelecimentos.
Enfim, são muitos descasos que deveriam ser repensados e analisados, e
que merecem mais atenção do poder público. Entretanto, no que diz ainda respeito à
discussão que concerne na passagem da Avenida Beira Mar pelo Centro Histórico,
acredita-se que, por ora, a conclusão da obra na forma prevista não seria de grande
eficácia, visto que o maior problema do trânsito se concentra nos bairros de
Campinas e Kobrasol, atingindo maior expressão no máximo até a Praia Comprida,
locais estes onde os fluxos de comércio são mais intensos. Num futuro, uma melhor
solução técnica poderá viabilizar a expansão da via em direção ao bairro Ponta de
Baixo e Município de Palhoça, com suas conexões pela BR-101 e demais áreas do
sul do estado.
166
Desta forma o discurso inicial e politiqueiro de que a Beira Mar seria a
“solução total” para os problemas do sistema viário da região demonstrou-se um
tanto ilusório, pois, aquela alternativa, criada para resolver problemas do trânsito no
município, não se mostrou eficaz nem mesmo adequada, fazendo com que a
população ainda pouco se utilize para a circulação de automóveis. Quanto a isso,
Silva (2003: 7), diz que aquela via:
(...) não teria, em hipótese alguma, a capacidade de promover a integração
do sistema viário da Grande Florianópolis, como prevê o EIA e conforme
justifica o Poder Púbico do Municipal de São José, por se tratar de uma via
periférica, sem conexão com outras vias rápidas em suas extremidades (...)
e com os municípios do Norte da Região.
Mesmo assim nota-se como pequenos fluxos de carros particulares, que
passam pelo local, acabam por formar consideráveis filas, uma vez que no trecho
atual que passa ao lado do rio Araújo em direção à Florianópolis, a situação causa
afunilamento em duas pistas, por conta dos dimensionamentos estruturais ali
existentes. Sem falar nos semáforos que articulam o trânsito com as avenidas Josué
Di Bernardi, Presidente Kennedy e Beira Mar. Quando aberto para quem está
passando pela Via Litorânea, indo em direção ao centro de Florianópolis, o tempo de
passagem é o curto, que não chega a dar vazão para tantos veículos, causando
congestionamentos.
Nos horários de pico se formam intermináveis filas para todo os lados, criando
um certo caos. E como se o bastasse, a Via Expressa, rodovia (BR-282) que liga
a ilha ao continente, possui apenas quatro pistas (duas em cada sentido).
bastante tempo, elas têm se mostrando insuficientes para desenvolver o fluxo
viário, que diariamente em dois turnos (de manhã e final de tarde), se estendem por
diversos quilômetros.
Os problemas produzidos pelo tráfego de automóveis e as crescentes
dificuldades de deslocamentos naquelas imediações. Elas surgem e até impõem que
um outro sistema de transporte mais eficiente seja implementado, onde se acredita,
por exemplo, que o hidroviário seria a alternativa mais viável no momento. Esta seria
167
uma forma de minimizar tais deficiências, até mesmo para que o fluxo de pessoas
seja mais bem deslocado entre as localidades que participam daquela região.
A ligação entre os municípios do continente com a ilha, além de ser feita por
terra poderia acontecer também por mar, nas Baías Norte e Sul, através de balsas
ou catamarãs que realizariam a travessia de pedestres e/ou mercadorias. A
viabilização desse meio de transporte foi discutida em décadas recentes, porém,
não saiu das intenções políticas e de projetos, como também da Secretaria da
Prefeitura Municipal, nos últimos governos.
Definitivamente, falta decisão administrativa e vontade para enfrentar
barreiras, entre as quais o monopólio de empresários do sistema de transporte, que
parece não ter afinidades com medidas dessa realeza.
O que está se propondo, por ora, é a construção de terminais de transporte
na região do aterro, na Beira Mar de São José (Via Litorânea). Isso, pois,
acreditamos ser aquele o melhor local para acolher embarcações, visto ser uma
região que compreende bairros densamente habitados. Quanto à ilha de Santa
Catarina, um outro terminal hidroviário-urbano poderia ser articulado na Baía Sul,
com micro-ônibus que realizariam os deslocamentos até a área central da cidade.
Considerando que os custos operacionais desta (possível) linha de transporte
hidroviário (São José-Florianópolis, e vice-versa) são bastante baixos, ela constitui-
se em importante alternativa a fim de contribuir para a resolução de diversos
problemas urbanos, notadamente os produzidos pelos intensos fluxos do sistema
viário no cotidiano dos moradores e nas eventuais formas de usos para lazer em
atividades turísticas.
Ressalta-se também a importância para que órgãos responsáveis
“despertem” quanto as necessidades de renovações e de adaptações das estruturas
existentes às novas possibilidades de formas e funções que emergem com o
crescimento da população. Daí também a importância do planejamento urbano ser
constantemente analisado e repensado, visando sempre articular e atender as
demandas causadas pelas transformações do espaço urbano, articulado com
interesses sociais.
168
Por fim, mas não menos importante, não se pode deixar de mencionar que,
embora não tenha exercido a função esperada, a Beira Mar se tornou em excelente
local destinado às práticas de lazer para a comunidade josefense, principalmente
para os que residem em locais como Campinas e do Kobrasol. Estes bairros,
densamente ocupados, apresentam limitações, fruto da ocupação e da
verticalização desenfreada, e provocam carências, no que diz respeito a locais
destinados a práticas de exercícios físicos e de atividades realizadas ao ar livre.
A falta de áreas verdes, praças entre outros logradouros públicos e/ou
privados, destinados ao lazer e ao convívio da população, é claramente visível na
paisagem urbana de São José, cujo território estruturou-se nos últimos tempos em
função das atividades comerciais e de serviços. Nesse contexto a região da Beira
Mar absorve boa parte da demanda existente, pois, além de infra-estrutura para
caminhadas, corridas, ginástica, etc., ainda dispõe de ciclovia, pista de skate, quadra
esportiva, entre outros equipamentos de lazer. No futuro, com o desenvolvimento
turístico, outros imobiliários urbanos poderiam ser introduzidos, como forma de
complementar as necessidades locais.
Contudo percebe-se que a Beira Mar de São José, por seus diferentes usos,
está se estruturando como um espaço de múltiplas funções, com ambientes
destinados à cultura e ao lazer, entretenimento, estudo, comércio e trabalho. Isso já
pode ser observado a partir dos diferentes tipos de empreendimentos que estão
se instalando, como Centro Multiuso, CATI, Clubes, Instituições de Ensino (em
construção), além de outros estabelecimentos ligados a atividades de comércio
(supermercados, revendedora de veículos, loja de materiais de construção, etc).
Portanto o aterro apresenta-se como uma oportunidade para dinamização de
empreendimentos de diversos tipos de atividades, entre as quais, aquelas ligadas
também ao setor turístico. Assim, diante da demanda de novos investimentos,
empresas do ramo hoteleiro estão entre os possíveis e prováveis equipamentos a
vierem se instalar naquele local, apresentando-se com possibilidades de realização
de viáveis negócios. Isso, se levado em consideração as finalidades dos tipos de
serviços, atrativos, demandas e, sobretudo, padrões de sustentabilidade às
peculiaridades sócio-ambientais.
169
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O Município de São José tem passado por várias transformações ao longo
das últimas cadas, causadas, principalmente, por influências do processo de
urbanização acelerada na região da Grande Florianópolis, que resultou na
constituição de uma ampla área conurbada. Desta forma, assumindo características
de lo econômico de atração de migrantes desde década de 70, São José, assim
como Palhoça e Biguaçu, se transformou em eixo de expansão
urbana/metropolitana.
As transformações que ocorreram, em diferentes níveis (econômico,
político, social, etc.), bem como as estratégias de desenvolvimento de capital para
sua hinterlândia, contribuíram para o crescimento do município, permitindo
significativa expansão demográfica, que se revela hoje, através de acelerado
processo de verticalização.
Neste contexto a falta de planejamento urbano e muitas vezes aa omissão
do Estado, vem provocando outros problemas de ordem social, como crescimento
da violência, prostituição, tráfico de drogas, miséria, além de tipos de ocupação
desordenada em quase todo o território josefense. Isso desencadeou numa certa
desorganização de usos territoriais e inadequação de infra-estrutura, que restringiu,
significativamente, os espaços de lazer e as áreas destinadas a atividades ao ar livre
no município.
Contudo ficou evidenciado que muito embora alguns bairros de São José
estejam saturados, como é o caso de Campinas e Kobrasol, pelas tendências de
inchaço urbano, é possível notar que a expansão da cidade ainda está ocorrendo,
através de demolições e da construção de grandes edifícios, e, aliado á outras
manifestações de crescimento do município, estas, fomentam a geração de
necessidades para a produção de espaços (públicos e/ou privados), possíveis de
usos em tempo livre (lazer, entretenimento e turismo).
Além disso, tem se verificado, nas últimas cadas, que o resgate de
manifestações histórico sócio-culturais (cultura de base açoriana, preservação do
170
patrimônio histórico), através de festas, feiras e outros eventos, têm servido de
estratégias para viabilizarem empreendimentos em São José, muitos dos quais,
estão associados às perspectivas de novas condições “impostas” pelos tentáculos
da urbanização e de desenvolvimento turístico de Florianópolis. São iniciativas que,
por ora, podem ser caracterizadas de repercussões locais, mas têm suas estratégias
articuladas às possibilidades de complementaridades aos tipos de fluxos articulados
pela capital.
Nesses processos observou-se que no Município de São José se está
almejando incrementar a economia municipal através das receitas que podem ser
geradas pela atividade turística, e das novas oportunidades que conseqüentemente
daquelas atividades podem surgir.
Assim, através da sistemática de C.D.P., foi possível fazer um
(re)conhecimento dos espaços produção e consumo de lazer e turismo em São
José, bem como identificação de fatores que limitam o desenvolvimento daquelas
atividades no município.
Os levantamentos realizados permitiram uma leitura sintética da realidade
josefense, onde se constatou, grosso modo, que o município não apresenta ainda
uma oferta adequada de equipamentos de lazer (públicos e/ou privados), tanto na
quantidade como na qualidade, que atenda a população em geral. Os poucos
existentes não estão distribuídos de forma minimamente concentrada no município,
estando presentes nas áreas mais centrais da cidade, se contrastando com os
setores que apresentam alto grau de exclusão social, que esses compreendem as
áreas de maior carência e que, por sua vez, são aqueles onde mais necessitam da
instalação de tais equipamentos.
Dessa forma a escassez e os esgotamentos de terrenos nas áreas centrais
para a construção de novos espaços de lazer, constitui-se num dos maiores desafios
para o Município de São José, a fim de se criar alternativas de entretenimento para a
população e, é claro, contribuir para que os espaços existentes se mantenham e
continuem preservados nos diversos tipos de usos públicos.
Contemplando esta visão, acredita-se que embora existam diferenciações
presentes em cada realidade, o turismo pode se constituir em importante aliado,
171
capaz de reinventar e criar novas funções, recuperando antigas práticas e bens
culturais, e possibilitar a revitalização de áreas já devastadas e/ou má conservadas.
No entanto é preciso lembrar dos possíveis impactos que podem advir a partir
do desenvolvimento desta nova atividade, pois o turismo tende a produzir mudanças
sócio-espaciais, muitas das quais, negativas, especialmente no que se refere a
sustentabilidade dos locais onde são implementados equipamentos e fluxos,
induzindo a fortes descontentamentos.
Mesmo assim, acredita-se que se houver interesse e preocupação do poder
público, juntamente com a participação de outros atores sociais na organização de
estratégias para o desenvolvimento e difusão da atividade turística planejada, ela
poderá sim, trazer muitos benefícios para todos.
Ficou então evidente através das opções hoje existentes no Município de São
José, como por exemplo, em locais do Centro Histórico, do aterro da Beira Mar, na
região da Ponta de Baixo, e até mesmo na Escola de Oleiros, entre outros, que
estes atrativos se destacam não apenas pelo seu potencial histórico-arquitetônico-
cultural, mas, por se constituírem em importantes fixos para o desenvolvimento de
fluxos turísticos.
Todavia o turismo, assim como o espaço, “(...) não resulta da soma das
partes (...)” (RODRIGUES, 2001:74), mas de uma totalidade, onde cada uma de
suas partes são elementos, que nos dizeres de Santos (1985:7) “(...) se entrelaçam,
fundem-se e se confundem, contêm-se uns nos outros e o por eles contidos”.
Desse modo, não são apenas os atrativos que constituem o produto turístico. O
desenvolvimento da atividade requer, como um todo, suportes, em termos de infra-
estruturas, como por exemplo, acomodação, alimentação, transporte, comunicação,
segurança, dentre outros elos dessa cadeia produtiva.
Quanto a isso, tem se observado mais recentemente em São José que
diversos investimentos têm sido feitos, refletindo o aumento das preocupações por
parte do poder blico, com relação ao melhoramento e a modernização da infra-
estrutura local. Além disso, percebe-se que algumas ações pontuais estão sendo
estruturadas, na tentativa de inserir, definitivamente, aquele município nos circuitos
turísticos do estado. Entre elas destaca-se a produção de materiais para divulgação,
172
como folders e mapas, e a criação de uma feira de artesanato local, “Feio a Mão”,
que está programada para acontecer todos os sábados, no estacionamento do
prédio da Prefeitura. No entanto outras ações de maior relevância ainda deverão ser
realizadas, como a revitalização do Centro Histórico, a construção de um portal
turístico, denominado “Portal do Lazer”, a definição de um Plano para o
desenvolvimento do turismo, a criação de circuitos para visitações na cidade, e a
reformulação do site da Fundação Municipal de Cultura e Turismo de São José.
Outro aspecto aqui destacável, que talvez esteja contribuindo negativamente
para o desenvolvimento da atividade turística, é que o município não dispõe ainda
de nenhum banco de dados e/ou mesmo um controle da existência de fluxos
turísticos. Ou seja, não sabe dizer, precisamente, quantos e quais serviços se
beneficiam atualmente com esta atividade. Essa se constituiu, certamente, em uma
das maiores dificuldades e entraves na realização de estudos e pesquisas como
esta, pois se tornou difícil encontrar dados precisos e consistentes, com grau de
confiabilidade, pois nem os órgãos ligados ao trade turístico, nem mesmo a
Secretaria de Turismo do Município dispõem de um cadastro minimamente
atualizado, e esta situação reforça a necessidade urgente de se definir
estratégias vinculadas à formação e complementação de um sistema de informações
competente.
Em resumo, ficou evidenciado que o Município de São José tem muito que
fazer, se realmente almeja “usufruir” dos benefícios a serem gerados pelo turismo,
começando por definir adequadas políticas públicas, como:
Captar parcerias entre instituições públicas, privadas, faculdades e empresas
do setor do turismo, com a finalidade de promover o desenvolvimento da
atividade turística;
Propor, orientar e apoiar novos empreendimentos turísticos; do ponto de vista
técnico, econômico-financeiro e operacional, com o objetivo de garantir um
padrão de qualidade;
Elaborar plano municipal de desenvolvimento turístico;
173
Desenvolver roteiros municipais que atentem para as características e
atrativos da região elaborando visitas cnicas para a realização/criação
desses roteiros, envolvendo segmentos do trade turístico;
Elaborar material divulgativo para o turista real e consumidor potencial;
Promover palestras junto à comunidade local, no sentido de sensibiliza-la
quanto à importância da atividade turística para o município como um todo;
Promover cursos para a qualificação dos agentes e tipos de serviços
prestados na área do turismo;
Organizar os atrativos locais para o efetivo ”consumo”, definindo locais e
estruturando roteiros no município;
Criar instrumentos de monitoramento e realizar avaliações técnicas, da oferta
turística;
Desenvolver eventos com outras secretarias viabilizando ações comuns de
promoção, na tentativa de estruturar uma interligação econômica e turística;
Divulgar o turismo local no município promovendo cursos, palestras e eventos
nos pontos turísticos, para a população local e os demais interessados,
sensibilizando-os sobre o potencial do turismo no município;
Divulgar as ações/empreendimentos de sucesso aos potenciais investidores;
Trabalhar a imprensa no sentido de valorizar potencialidades e imagens
positivas do município;
Realizar e participar de eventos com a finalidade de divulgar os atrativos
locais;
Criar parcerias com o setor privado na divulgação do turismo
Promover a realização de atividades de diversão para a população local, que
posam, por sua vez, ser aproveitadas pelos turistas.
174
Esses elementos apresentados servem de recomendações, como tentativas
de evitar buscas muitas vezes desenfreadas de exploração das oportunidades
locais, a partir do turismo. Assim acredita-se que os ordenamentos que venham a se
estabelecer, não propiciem perda das potencialidades, da cultura e da identidade
local.
Por ora pode-se dizer que os atrativos existentes no Município de São José,
bem como os espaços de lazer, estes, possuem potenciais de serem utilizadas não
apenas para fins turísticos, mas, sobretudo, para usos cotidianos, por todos os
cidadãos que moram ou transitam no município, criando possibilidades de
complementar a economia local e as do pólo turístico de Florianópolis. Nesse
contexto, o turismo também aparece como um aliado na tentativa de contribuir para
minimizar tradicional e acentuado fenômeno que ocorre no litoral catarinense, que é
a sazonalidade.
Nesta perspectiva a busca de novas modalidades de turismo, bem como a
criação de novos destinos, contribuem para a diversificação das ofertas do estado e,
principalmente, na região da Grande Florianópolis, que hoje é o principal lo
atrativo de demandas em Santa Catarina. Estes locais constituem-se assim, em
importantes roteiros, a fim de complementar e diversificar o consolidado “turismo
de sol e praia”. A área continental catarinense, inserindo-se São José, se torna
uma potencial “região turística” alternativa, de apoio aos atrativos oferecidos
tradicionalmente, na área central, ou balneários da Ilha de Santa Catarina.
175
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185
ANEXOS
186
ANEXO 01 – ESQUEMA DA SISTEMÁTICA CDP: REFERENCIAL DE BASE
METODOLÓGICA
RECURSOS CARACTERÍSITICAS GERAIS DOS ELEMENTOS DA SISTEMÁTICA
DE:
GRUPOS SUB-GRUPOS CONDICIONANTES
DEFICIÊNCIAS POTENCIALIDADE
S
MORFOLÓGICOS
- Praias/dunas
- lhas
- Restingas
- Serras/morros ou
colinas/ formações
rochosas
- Uso depredatório
- Falta de arborização
-
Acessibilidade/estacionamento
- Ocupação desordenada
- Poluição (indícios)
- Falta/insuficiênica de equipa-
mentos para uso público
- Locais para observação
da beleza
natural/cidade -
Locais para passeios,
recreação e lazer
- Locais ainda não
aprovei-tados
adequadamente -
Locais para práticas
desportivas
- Pescarias
HIDROLÓGICOS
- Rios/riachos
- Lagoas
-
Queda dágua (Bicas)
- Fontes hidro-mineral
- Acessibilidade
- Uso depredatório
- Poluição (indícios no corpo
d’água)
- Falta/insuficiência de equipa-
mentos para uso público
- Locais sujeitos a cheias ou
secas
- Local para observação
da beleza natural
- Locais para recreação,
passeios e lazer
- Locais para uso com
práticas desportivas
- Pescarias
I
NATURIAS OU
ECOLÓGICOS
BIOCLIMTÁICOS
- Formações veg
etais
(Tipos Genéricos)
-
Condições climáticas
(Tipo Genérico)
- Uso depredatório
-
Falta de preservação
- Acessibilidade
- Conseqüências climáticas
(secas, enchentes, altas
temperaturas)
- Local para
possibilidades para
instalação de reserva
natural
- Local para observação
da beleza natural
- Local para passeios,
recreação e lazer;
- Local para observação
do comportamento
atmosférico -
Local com condições
climáticas estabilizáveis
II CULTURAIS
HISTÓRICOS
- Locais com Patrimônio
Histór
ico (em conjunto ou
isolados, monumentos,
edificações civis,
religiosas e militares)
- Acessibilidade
- Locais sujeitos a
desmoronamentos
- Falta/ insuficiência de preserva-
ção, restauração e conservação
d
e locais históricos
- Falta ou insuficiências de
sinalização
- Uso inadequado de locais
históricos
-
Prédios abandonados
- Preservação da memória
histórica
- Locais para passeio de
in- teresse para
conhecimen-tos históricos
e/ou religiosos
- Locais apropriados para
instalação de museus,
gale- rias, casa de cultura,
etc.
- Locais apropriados para
uso turísticos e/ou afins
- Locais para observação
turística
187
POPULAR
REGIONAL
- Artesanato (peças de
couro, fibras, cerâmica,
doces e bebidas, etc.)
- Pratos e bebidas típicas
- Folclore
- Eventos
- Presença de intermediários na
comercialização
- Falta de insuficiência de apoio
a preservação e manutenção de
atividades
- Atividade sujeita a
desaparecimento
- Falta ou insuficiência de ambi-
entes para apresentação pública
- Deficiência na organização da
cooperativa artesanal
- Locais com pratos típicos de
baixa qualidade
- Falta ou insuficiência de apoio
na organização e realização de
eventos
- Preservação e
divulgação de atividades
e da memória cultural
- Locais com atividades
ar- tesanais e/ou
folclóricas para visita
pública
- Ampliação da fonte de
o- cupação e geração de
renda
- Local destinado à
exposi-ção e vendas de
artesanato
- Dinamização,
preservação e
manutenção de eventos
populares e/ou religiosos
- Locais com
potencialida-
des para instalação de res-
taurantes típicos e de
servi- ços de informações
turísticas.
- Ampliação de apoio a
realizações de eventos
- Local com condições
para implantação de
centros de tradições
populares e regional.
CULTURA
“URBANA”
- Locais para diversões
(ex. Vida noturna-boates,
cinemas, etc.)
- Teatros / salas de
espetáculos
- Centros de artes (ga-
lerias, conservatórios,
museus, etc.)
- Locais para práticas des-
portivas (aquáticas e não
aquáticas)
- Logadouros de interesse
turístico (praças, áreas
comercias, calçadões)
- Opções insuficientes para
diversões
-
Locais com baixa qualidade
- Deficiência de locais para di-
versões: teatros e/ou práticas
desportivas
- Falta ou insuficiência de sina-
lização/conservação
- Falta e/ou insuficiência de
informações para fins turísticos
- Insuficiência de locais adequa-
dos para realização de encontros
congressos, jornadas, etc.
- Área com condições
para implantação de
melhorias de locais com
equipamentos para
diversões
- Melhoria e/ou
ampliação de condições
de locais para práticas
desportivas (giná- sios
cobertos, quadras poli-
valentes, estádios, etc.)
- Locais para visitação
e/ou apresentações
públicas -
Melhoria e/ou ampliação
de locais adequados para
espetáculos
- Locais com condições
para implantação de
centro de convenções
III INFRA-
ESTRUTURAIS
ACESSOS
- Vias e Terminais
-Equipamentos para apoio
aos acessos (postos de ga-
solina, oficina mecânica,
locais para pequenas
refeições, etc.)
- Meios de Transporte
- Estradas não pavimentadas,
com péssimo estado de conser-
vação e sem sinalização
- Falta ou insuficiência de
equipamentos de apoio
- Fechamento de postos de
gasolina aos domingos e feriados
- Insuficiência técnica de meios
de transportes
-Falta ou insuficiência de
conservação de meios de
Implantar/melhorar/ampli
ar condições de
acessibilidade
- Possibilitar mais
seguran- ça nas rodovias
através de equipamentos
de apoio
- Melhoria das condições
de transporte e
passageiros
- Possibilidades de
188
transportes;
- Falta ou insuficiência de
serviços turísticos em terminais
de passageiros
criação e aumentos de
fluxo turístico
- Vias (ferroviárias ou
fluviais) com
possibilidades de gerar
passeios turísticos
- Implantação e/ou
melhoria de serviços
turísticos nos terminais de
passageiros
EQUIPAMENTOS
URBANOS
- Sistema viário
- Transporte coletivo
- Sistema de abastecimen-
to de água e/ou luz
- Saneamento básico
- Comunicações (correios,
telefônicas, emissoras de
rádio e TV, jornais)
- Agências de viagens e
turismo
- Atividades comerciais
- Postos com informações
turísticas
- Serviços de Apoio
(saúde, bancário, mecâni-
cos, segurança, etc.)
- Insuficiência e deficiência de
sinalizações e capeamento de
vias urbanas
- Falta ou insuficiência de trans-
portes coletivos e de conservação
e limpeza de vias
- Falta ou insuficiência de
técnicas nos serviços de
comunicações
- Falta ou insuficiência nos
serviços de agências de viagens e
turismo
- Atividades comerciais com
insuficiências e/ou com
deficiências
- Falta ou insuficiência de locais
com inforrmações turísticas
- Locais com condições
para melhorar sistema
viário
- Locais com
possibilidades de
desenvolvimento de infra-
estruturas de trans- portes
coletivos urbanos e/ ou
sub-urbanos
- Implantar abastecimento
de água e/ou luz
- Locais com expansão de
serviços de comunicações
- Melhorar e/ou expandir
serviços de comunicações
- Locais com condições
de melhorar e/ou
implantar serviços de
agências de viagens e
turismo
- Locais com atividades
comerciais em expansão
ALOJAMENTOS
- Hotéis/Motéis
- Pousadas
- Camping
- Casa de Veraneio
- Oferta superior a demanda
- Demanda superior a oferta
- Insuficiência ou baixa qualida-
de nas condições de alojamento
- Motéis de alta rotatividade
- Falta ou insuficiência de
camping
- Insuficiência das informações
para fins turísticos
- Falta ou insuficiência de mão
de obra não especializada
- Custos elevados nos
alojamentos
- Áreas com condições
para implantação e/ou
ampliação da oferta de
alojamento
- Locais com condições
para implantação de
camping
- Locais com
possibilidade de ampliar
pontes de ocu-pação e
renda
- Locais com condição de
ampliar ofertas de aloja-
mento em casas de
veraneio
GASTRONOMIA
- Serviços de restaurantes
- Serviços de bares e
similares
- Locais com ofertas superior a
demanda e com demanda
superior a oferta
- Locais com baixa qualidade de
serviços gastronômicos e/ou
ambientais
- Falta ou insuficiência de mão-
de-obra especializada.
- Locais com condições
de melhorar e/ou ampliar
ofertas de restaurantes,
bares e/ou similares
- Locais com
possibilidades de ampliar
fontes de ocupação e
renda
Fonte Machado (1985)
189
ANEXO 02 – LEVANTAMENTO EXPLORATÓRIO DE CARACTERÍSTICAS
TURÍSTICAS DO MUNICÍPIO DE SÃO JOSÉ, A PARTIR DO USO DA
SISTEMÁTICA DE C.D.P.
RECURSOS CARACTERÍSITICAS GERAIS DOS ELEMENTOS DA SISTEMÁTICA
DE:
GRUPOS
SUB-GRUPOS CONDICIONANTES
DEFICIÊNCIAS POTENCIALIDADES
* Balneário Guararema
(Praia da Ponta de Baixo)
* Poluição aquática
* Insuficiência/deficiência
de saneamento básico
* Deficiências de equipa-
mentos para uso público
* Beleza Cênica – local para
observação da beleza natural
* Local para passeios, recrea-
recreação e lazer
* Ilha da Casca
(Ponta de Baixo)
* Poluição aquática
* Propriedade particular
* Beleza cênica – local para
observação da beleza natural
* Local para passeios, recrea-
ação e lazer
* Implantar equipamentos
turísticos
* Morro da Pedra Branca
*Acesso localização
* Deficiência de equipa-
mentos para uso público
* Beleza cênica – local para
observação da beleza natural
* Prática de Ecoturismo
* Prática de Esportes Radicais
MORFOLÓGICOS
* Baías * Acessibilidade
* Indícios de poluição
* Usos depredatórios
* Paisagem cênica
* Implantação de base náutica
* Terminais de integração –
transporte marítimo e inter-
municipal
* Clima Subtropical
Atlântico
* Úmido com Verão
quente
* Identificadas “ilhas de
calor” nos bairros: Ko-
brasol, Fazenda do Max
e Picadas do Sul
* Temperaturas elevadas
no verão e amenas no
inverno
* Condições climáticas
estabilizáveis/melhor
conforto térmico
* Em áreas elevadas, cenários
para observação/aproveita-
mento ambiental
BIOCLIMÁTICOS
* Resíduos Vegetais
Naturais e/ou
Reflorestados
* Uso Depredatório
* Falta de preservação
* Criação de APA/Educação
Metodológica-Ambiental
I
NATURAIS OU
ECOLÓGICOS
HIDROLÓGICOS
* Lago da Pedreira
* Localização/acesso
*Falta de equipamentos
para uso público
* Beleza cênica - local para
observação da beleza natural
* Local para passeios, recrea-
ção e lazer
190
NATURAIS OU
ECOLÓGICOS
(cont.)
HIDROLÓGICOS
(cont.)
* Rios
- Rio Maruim
- Rio Três Henriques
- Rio Serraria ou Carolina
- Rio Bücheler
- Rio Araújo
* Poluição (odor e visual)
* Assoreamento
* Áreas sujeitas a
inundação
* Uso depredatório
* Expressivos índices de
contaminação
* Minimizar e/ou eliminar
efeitos de mau cheiro
* Evitar surgimento de focos de
contaminação por vetores
como mosquitos/roedores
* Ressurgimento do Mangue e
gerar processos de educação
ambiental
* Contribuir com processos de
conscientização ecológica
em meio urbano
* Orientar urbanização em
áreas de várzeas
* Centro Histórico
- Casa da Cultura
(Casa da Câmara e
Cadeia)
- Solar dos Ferreira Mello
(Museu e Bibioteca)
- Teatro Adolfo Mello
- Igreja Matriz
- Casarão
- Bica da Carioca
- Praça Hercílio Luz
- Monumento aos
Açorianos
- Monumento do
Centenário da Indepen-
dência do Brasil
* Insuficiência de preser-
vação, restauração e
manutenção de prédios
* Prédios Abandonados
* Pouca divulgação
* Usos inadequados
* Falta de sinalização,
orientação urbana
* Preservação da Memória
urbana
* Preservação da Memória
histórica
* Locais para passeios de
interesse histórico/cultural
* Criação de Roteiro Turístico
* Ocupação com atividades
culturais adequadas a cada
tipo de edificação
* Preservação de referenciais
históricos na paisagem
* Usina Sertão do
Imaruim
* Desativação e deprecia-
ção pelos desgastes
* Preservação da Memória
histórica de atividade
II CULTURAIS
HISTÓRICOS
* Museu da Família
Koerich
* Localização
* Pouca divulgação
* Falta de incentivo ao
patrimônio privado
* Preservação da Memória
histórica regional
* Incluir em Roteiros
Turísticos
191
* Capela Nosso Senhor
do Bonfin
* Depreciação pelo tempo
* Ações de vândalos
* Preservação da memória
histórica religiosa
* Local para passeios de
interesse histórico-religioso
* Valorização dos eventos
locais, festas e comemora-
coes da cultura regional
* Capela Nosso Senhor
dos Passos
* Depreciação pelo tempo
* Ações de vândalos
* Preservação da memória
histórica
* Local para passeios de
interesse histórico-religioso
* Clube 1º de Junho
* Insuficiência de preser-
vação, restauração e
manutenção da
edificação
* Preservação da memória
histórica
* Definição de Projetos sociais
para a comunidade
HISTÓRICOS
(cont.)
*Escola de Oleiros
* Localização
* Insuficiência de divul-
gação
* Preservação e divulgação da
memória histórica-cultural
* Local para visitação/práticas
culturais
* Inserir nos Roteiro Turísticos
da Grande Florianópolis
* Artesanatos
- Bordados
- Cerâmica
- Pinturas
- Trabalhos manuais
- Objetos de madeira
* Escola profissional – o
número insuficiente de
vagas não atende a
demanda
* Poucos eventos para
divulgação dos produtos
* Preservação e valorização das
atividades
* Divulgação dos trabalhos
* Ampliação de fontes de
emprego e renda
CULTURAIS
(cont.)
POPULAR
REGIONAL
* Folclore
Danças:
- Pau de Fitas
- Quadrilha
- Fandango
- Ratoeira
- Chimarrita
* Insuficiência de apoio
a preservação e divul-
gação, das atividades
* Atividades sujeitas a
desaparecimento/con-
corrência
* Deficiência de ambien-
tes para apresentação
pública
* Preservação e divulgação da
memória e da identidade
cultural
* Introduzir práticas educativas
como valorização da memó-
ria regional
192
* Eventos
- Festa do Divino
- Carnaval
- Aniversário da Cidade
- Açorfesta
- Rodeios
- Eventos religiosos
* Insuficiência de apoio
a preservação e divul-
gação das atividades
* Opções insuficientes de
atividades nas progra-
mações
* Preservação e divulgação da
memória cultural/regional
* Atrair diferentes públicos
respeitando-se as peculiari-
dades locais
* Atrair vários segmentos
* Dinamizar a economia local
* Folguedos
- Malhação de Judas
- Boi de Mamão
- Terno de Reis
- Cantoria do Divino
- Festas Junina
- Farra do Boi
* Insuficiência de apoio
a preservação e divul-
gação das atividades
* Atividades sujeitas a
desaparecimento/con-
corrência
* Preservação e divulgação da
memória cultural regional
* Introduzir práticas educativas
como valorização da memó-
ria regional
* Literatura Popular
- Pão por Deus
- Pasquim (fofocas)
- Casos (causos)
- Adivinhações
- Ditados Populares
- Religiosidade
- Pagamento de promessas
* Insuficiência de apoio
a preservação e divul-
gação, das atividades
* Atividades sujeitas a
desaparecimento/con-
corrência
* Preservação e divulgação da
memória cultural
* Introduzir práticas educativas
como valorização de memó-
ria e identidade regional
POPULAR
REGIONAL
(cont.)
* Culinária
- Pratos Típicos a base de
Frutos do Mar e/ou a
base das identidades
açorianas
* Restaurantes típicos
com baixa qualidade e
apresentação dos
produtos
* Poucos investimentos
em infra-estrutura
* Mão de obra pouco
qualificada
* Preservação e divulgação da
memória cultural gastronô-
mica
* Realização de Eventos
Gastronômicos
* Valorização de identidades
regionais
CULTURAIS
(cont.)
CULTURA
“URBANA”
* Locais para Diversão
(Vida Noturna)
- Bar Cine York
- Boliche Pinguim
- Maré Alta
- Skala – Danceteria
- Cantuária Bar/Choperia
* Locais com opções in-
suficientes para diversão
* Insuficiência de infor-
mações para fins turís-
ticos, articulados com
programações de Flo-
rianópolis
* Locais com condições de
melhorar suas infra-estruturas
* Aumentar e diversificar a
oferta
* Qualificar mão de obra
* Articular com atrativos de
Florianópolis
193
* Teatros e Salas para
Espetáculos
- Teatro Adolfo Mello
- Teatro do Centro Multi-
uso
* Insuficiência e/ou
deficiência de locais
para apresentações ar-
tísticas e culturais
* Sinalização
* Falta de estacionamento
* Ampliação de locais
adequados para apresentações
teatrais e/ou outros espetacu-
los e eventos
* Programações permanentes e
articulados com circuitos de
Florianópolis
* Locais de Lazer
- Beiramar de São Jo
- Shopping Itaguaçu
- Calçadão da Avenida
Central
- Centro Comercial
Camelão
- CTG Os Praianos
- CATI – Centro de Aten-
ção à Terceira Idade
* Deficiência nas progra-
mações
* Falta de sinalização
* Dificuldades de esta-
cionamento
* Locais para passeios, lazer,
compras e entretenimento
* Ampliar e melhorar a
programação cultural
* Desenvolvimento de progra-
mações permanentes/arti-
culadas com circuitos floria-
nopolitanos
* Locais para Eventos e
Convenções
- Centro de Eventos do
Shopping Itaguaçu
- Cento Multi-Uso
* Articular com circuitos
florianopolitanos
* Sinalização
* Ampliação de equipamentos
* Possibilidade de realização
de congressos, jornadas,
encontros
* Turismo de eventos/negócios
* Programar grandes apresen-
tações comunitárias, públicas
e, se possível, de baixo custo
* Locais para práticas
desportivas:
- Ginásios poliesportivos
- Beiramar (calçadões)
- Quadras Polivalentes
- Marinas para barcos
* Insuficiência de equipa-
mentos
* Má conservação de
equipamentos públicos
* Sinalização
* Realizar campeonatos/even-
tos
* Incentivar práticas desporti-
vas
* Incluir propostas de práticas
educativas
CULTURAIS
(cont.)
CULTURA
“URBANA”
(cont.)
* Logradouros de
Interesse turístico:
- Pracinha do Kobrasol
- Parque Ambiental dos
Sabiás
* Opções insuficientes de
equipamentos
* Deficiência na conser-
vação
* Falta de sinalização
* Locais para passeios, lazer e
recreação
* Incluir possíveis logradouros,
como espaços de práticas
educativas
194
* Via Rodoviária
- BR-101
- BR-282
* Viscinais (usos locais)
* Insuficiência de
sinalização
* Péssimas condições das
rodovias/manutenção
* Trânsito caótico em
certos trechos
* Falta de Terminal
Rodoviário: embarque
e desembarque
* Melhoria de acessibilidade
* Melhoria de condições de
equipamentos de apoio e de
acesso
* Segurança para transitantes
locais e/ou turistas
* Via Aquática
- Transporte Marítimo
* Inexistente
* Possibilidade de criação de
fluxo turístico por circuitos
integrados
* Desafogar o trânsito nas ime-
diações da capital
* Ampliar condições de acessi-
bilidade às várias localidades
ACESSOS
* Meio de Transporte
Rodoviário por ônibus
Insuficiência de equipa-
Mentos e horários
* Melhoria das condições de
equipamentos e meios de
transportes para desloca-
mentos
* Abastecimento de Água
e Luz
* Insuficientes e com
deficiências – manuten-
cão das redes
*Equipamentos obsoletos
* Melhorar e ampliar os servi-
ços de abastecimento de água
e luz
* Postos de Informações
Turísticas (Prefeitura)
* Locais para promover
orientações e distribuir
panfletos
* Inexistência
* Possibilidade de criar um
banco de dados e cadastros
de fluxos de visitantes
* Divulgação de pontos turísti-
cos do município
* Atendimento e prestar infor-
mações aos turistas e/ou
solicitações da comunidade
* Sistema Viário / infra –
Estrutura de ruas e
avenidas
* Deficiência na sinaliza-
ção e capeamento das
vias públicas
* Deficiência de
estacionamentos
* Engarrafamentos
* Locais com condição para
melhorar o sistema viário
nos usos cotidianos pela
comunidade e pelos visitantes
III INFRA-
ESTRUTURAIS
EQUIPAMENTOS
URBANOS
*Atividades Comerciais
* Gerenciamentos
* Apresentação de estabe-
lecimentos e produtos
* Orientação para práticas
possíveis e necessárias,
conforme normas técnicas
195
* Comunicações
Emissoras de Rádio:
- Rádio Luar (FM)
- Rádio Guararema (AM)
Jornais Locais:
- Oi São José
- Tribuna Josefense
- Jornal Regional
- Correio de Santa
Catarina
Canal de TV por assinatu-
ra - TV São José/ViaMax
* Carências de formação e
atualização técnica/pro-
fissional
* Articulações precárias à
vida regional
* Locais com condições de
melhorar e ampliar os ser-
viços de comunicação, nota-
damente de caráter regional
* Servir de meio para apoiar
e divulgar os valores locais/
regionais
* Equipamentos de Apoio
- Bancos
- Supermercados
- Postos de Gasolina
- Hospitais
- Táxi
- Farmácias
* Práticas de funciona-
mento
* Sistema de relações
públicas deficitário
* Valorização dos profissionais
com qualificação de mão de
obra e melhor remuneração
EQUIPAMENTOS
URBANOS
(cont.)
* Agências de viagens e
turismo
* Deficiência na oferta
de serviços
* Limitações nos usos de
recursos e informações
* Área profissional com cindi-
condições de expandir e
melhorar serviços de agência
de viagens e turismo
* Hotéis (10 registros)
* Mão- de- obra não
especializada
* Atendimento precário
* Geração de fontes de empre-
go e renda
* Área profissional com possi-
bilidade de ampliar novas
ofertas de alojamentos e
leitos
* Possibilidade de atender pú-
blicos diferenciados/comple-
mentariedade aos equipamen-
tos de Florianópolis
* Outros (2 registros)
* Mão-de-obra não espe-
cializada
* Atendimento precário
* Geração de fonte de renda e
emprego
* Melhoria nos serviços
ALOJAMENTOS
* Motéis (9 registros)
* Imagem púbica associ-
ada a “negócio de sexo”
* Opção alternativa de
hospedagem
* Complementar negócios
de serviços aos da Grande
Florianópolis
INFRA-
ESTRUTURAIS
(cont.)
GASTRONOMIA
* Bares, Restaurantes
e similares
* Mão-de-obra não
especializada
* Aparências de tipos de
negócios e produtos
oferecidos
* Locais com condições de
melhorias e ampliação dos
serviços
* Atrair atividades em circuitos
integrados com Florianópolis
196
ANEXO 03 – PROPAGANDAS DE DIVULGAÇÃO DA AÇORFESTA (2005-2006) E
RODEIO INTERNACIONAL DO CTG “OS PRAIANOS” (2005)
197
ANEXO 04 – CAPA DE FOLDERS DE DIVULGAÇÃO DE SÃO JOSÉ
198
ANEXO 05 – CAPA DE ENCARTE DIVULGATIVO DO CONDOMÍNIO
“ALTOS DE SÃO JOSÉ”
199
ANEXO 06 – PAISAGEM “COMERCIALIZADA” NO CONDOMÍNIO
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