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ANALICE DE AVILA
CAPINZAL-SC:
UM ESTUDO GEOGRÁFICO COMO CONTRIBUIÇÃO AO (RE)CONHECIMENTO DO
LUGAR E DA SUA REGIÃO
2007
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Universidade Federal de Santa Catarina
Centro de Filosofia e Ciências Humanas
Departamento de Geociências
Programa de Pós-graduação em Geografia
Analice de Avila
CAPINZAL-SC:
Um Estudo Geográfico como Contribuição ao (re)conhecimento do Lugar e da sua
Região
Orientador
Prof. Dr. Ewerton Vieira Machado
Dissertação de Mestrado
Área de Concentração: Desenvolvimento Regional e Urbano
Florianópolis-SC, 03 de Abril de 2007
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Catalogação na fonte por: Onélia Silva Guimarães CRB-14/071
A958c Avila, Analice de
Capinzal - SC : um estudo geográfico como contribuição ao
(re)conhecimento do lugar e da sua região / Analice de Avila;
orientador Ewerton Vieira Machado. – Florianópolis, 2007.
109f.
Dissertação – (Mestrado) Universidade Federal de Santa Catarina,
Programa de Pós-Graduação em Geografia, 2007.
Inclui bibliografia
1. Capinzal (SC) – Geografia. 2. Geografia urbana. 3. Geografia
Regional. 4. Geografia – Santa Catarina, Meio Oeste. I. Machado,
Ewerton Vieira. II. Universidade Federal de Santa Catarina. Programa
de Pós-Graduação em Geografia. III. Título.
CDU: 91
CAPINZAL-SC: Um Estudo Geográfico como Contribuição ao (re)conhecimento
do Lugar e da sua Região
Analice de Avila
Coordenador: Prof. Dr. Carlos José Espíndola
Dissertação submetida ao Programa de Pós-
Graduação em Geografia, área de concentração
Desenvolvimento Regional e Urbano, do Centro de
Filosofia e Ciências Humana da Universidade Federal
de Santa Catarina, em cumprimento aos requisitos
necessários à obtenção do grau acadêmico de Mestre
em Geografia.
Presidente: ____________________________________
Prof. Dr. Ewerton Vieira Machado (Orientador – UFSC)
Membro: ____________________________________
Profª. Dra. Margareth de Castro Afeche Pimenta (UFSC)
Membro: ____________________________________
Prof. Dr.
Rógis Juarez Bernardy (UNOCHAPECÓ)
Florianópolis-SC, 03 de Abril de 2007.
AGRADECIMENTOS
Para a realização desta pesquisa, contei com ajuda e apoio de muitas pessoas e
instituições. Cabe agora expressar e registrar os meus agradecimentos. Entre tantos,
registro e agradeço:
Primeiramente a minha família, que mesmo distante fisicamente, contribuíram com
pensamentos positivos e apoio emocional. Que durante minha pesquisa de campo
e entrevistas me acompanharam incansavelmente.
Ao meu companheiro Luciano, in memorian, que sempre me deu apoio em todos
os sentidos até o momento em que estivemos juntos aqui neste plano. A sua
expectativa era tão ou maior do que a minha na conclusão desta pesquisa para
obtenção do título de mestre. Que mesmo não estando mais fisicamente presente,
a certeza do apoio de dimensão espiritual.
Ao professor Ewerton Vieira Machado, orientador desta Dissertação, pela sua
paciência e tolerância, soube sempre respeitar meus limites e meu ritmo de
trabalho. Foi muito valorosa a sua orientação, me conduzindo sempre pelo caminho
da pesquisa, partilhando seu conhecimento e sua amizade. Foram especialmente
proveitosas todas as discussões individuais e em grupo, juntamente com outros de
seus orientandos (Rafella, Francinete), certamente cresci muito como pessoa e
como profissional.
Aos funcionários dos órgãos públicos, privados e autarquias pelo fornecimento de
dados/documentos: IBGE; CIDASC, unidade Capinzal; SIMAE; CELESC, unidade
Capinzal; Prefeitura Municipal de Capinzal; Perdigão Agroindustrial, unidade
Capinzal, em especial a Ivanir Bonato pelas valiosas informações e fornecimento
de dados sobre aquela empresa; entre outros.
Aos entre tantos entrevistados e colaboradores para esta pesquisa, dentre eles
Vitor Almeida, Jandir Coronetti, João Silveira de Avila e outros, que a partir de seus
conhecimentos sobre Capinzal, em nossas conversas formais e informais
contribuíram muitíssimo no produto final deste trabalho.
A todos os colegas e professores deste curso de pós-graduação, por partilharem
de idéias e discussões acadêmicas, além de vivências e descontrações fora do
âmbito acadêmico. Por extensão a amiga Simone C. Moretti pela sua contribuição
na construção de mapas cartográficos, a qual tornou-se também uma grande
amiga.
A coordenação e a funcionária Marli da Costa, do Programa de Pós-Graduação em
Geografia da UFSC, pelos apoios e encaminhamentos necessários durante a
minha formação naquele programa.
Enfim, dentre tantos agradecimentos, alguém especial, à DEUS, sempre presente
espiritualmente. Sem esta força maior, jamais eu conseguiria chegar até aqui.
RESUMO
Esta dissertação tem por finalidade analisar aspectos das relações entre elementos do
espaço e da sociedade a partir de contextos da produção urbano-regional do Município
de Capinzal-SC. Visa, ainda, estabelecer conexões sócio-econômicas entre o Lugar, a
sua Região e, conseqüentemente, as dinâmicas do Mundo, dentro das exigências
contemporâneas da produção capitalista. Na produção espacial do objeto aqui
estudado, entende-se que o mesmo é um reflexo e condicionante da ação efetiva da
sociedade, visto que, já no início do século XX, aquele lugar vinha se encaminhando às
condições da contemporaneidade. Na região da pesquisa, num primeiro momento, o
enfoque das análises baseou-se em elementos da formação sócio-espacial e seus
desdobramentos que tentam explicar na formação nacional, a trajetória da produção
urbano-regional de Capinzal. A presença de imigrantes ítalo-gaúchos naquele período,
e que passaram a dinamizar o lugar, constituíram entre os principais agentes
promotores de mudanças e organizadores do espaço com o aporte do Estado. Este,
viabilizou e legalizou formas de ocupação efetiva do território. Da mesma maneira,
“grandes corporações” representadas pela Brasil Railway Company, construtora da
Viação Férrea Federal São Paulo-Rio Grande e suas concessionárias, por meio de suas
intervenções, promoveram a ocupação efetiva e inserções de atividades sócio-
econômicas naquele município e sua região. Num segundo momento da pesquisa, o
sistema agroindustrial, representado pelo Grupo Perdigão teve seus tentáculos
introduzidos a partir de 1980 e mantém, até os dias atuais, uma relação de “domínio”
sócio-econômico local e regional. Dessa empresa, sua principal atividade é a produção
de frangos, que envolve tanto o campo quanto a cidade. O campo, por intermédio de
seus (re)produtores mantém um “sistema de integração” com aquele grupo na produção
da matéria-prima. A cidade, pelo fornecimento de infra-estrutura para a produção
industrial, através do poder público municipal, e a mão-de-obra oferecida pelos
habitantes locais no processo de industrialização de mercadorias, as quais são
comercializadas e consumidas em diversos lugares planetários, revelando, assim, a
conexão entre o lugar e o mundo. Essas corporações, entretanto, têm o intuito de
produzirem e acumularem lucros, e a sociedade, em geral, busca maneiras de
(re)produzir suas vidas. Portanto, ficou evidenciado, neste estudo, que o espaço
geográfico é verdadeiramente um lócus estratégico no processo de (re)produção da
vida, onde suas dinâmicas se revelam pelos ritmos de transformações e de organização
de territórios usados, que se refletem na expansão da cidade e as interconexões entre
o Urbano e o Rural do município de Capinzal e região.
Palavras-chave: Capinzal, Geografia, Geografia urbana, Geografia regional, Meio-oeste
catarinense, Santa Catarina.
ABSTRACT
This work has as a purposal to analyze aspects of the relations between elements of
the space and the society from contexts of the urban-regional production of the City of
Capinzal-SC. It aims at, still, to establish partner-economic connections between the
local, its region and consequently, the dynamic of the World, inside of the requirements
contemporaries of the capitalist production. In the space production of the object studied
here, you understand that it is a consequence of the action of the society, since the
beginning of century XX, that place has been heading to the conditions of the modern
times. On the region of the research, at a first moment, the approach of the analyses
was based on elements of the partner-space formation and its unfoldings that try to
explain in the national formation, the trajectory of the urban-regional production of
Capinzal. The presence of immigrant ítalo-gauchos in that period, who had started to
modify the place, had constituted among the main promotional agents of changes and
organizers of the space in the State. It made possible and legalized the forms of
effective occupation of the territory. In the same way, “great corporations” represented
by Brazil Railway Company, constructor of the Federal Railway - São Paulo – Rio
Grande and its concessionaires, by means of its interventions, had promoted the
effective occupation and insertions of partner-economic activities in that city and its
region. Later on the research, the agro-industrial system, represented by the Group
Perdigão had its branches introduced since 1980 until the current days, a relation of
“local and regional partner-economic domain”. From this company, its main activity is the
production of chickens, that involves the country in such a way as much as the city. The
country through of its reproductors keeps a “system of integration” with that group in the
production of the raw material. The city, through the infrastructure supply for the
industrial production, through the municipal public power, and the man power offered for
the local inhabitants in the process of industrialization of merchandises, which is
commercialized and consumed in several planetary places, disclosing, thus, the
connection between the place and the world. These corporations, however, have
intention to produce and to accumulate profits, and the society, in general, searchs ways
of reproducing its lives. Therefore, it was showed, in this study, that the geographic
space is truly one lócus strategical in the process of reproducing life, where its dynamic
are revealed by the rhythms of transformations and organization of used territories, that
are reflected in the expansion of the city and the interconnections between Urban and
Agricultural of the city of Capinzal and the region.
Word-key: Capinzal, Geography, urban Geography, regional Geography, catarinense
Half-west, Santa Catarina.
LISTA DE FIGURAS
01 – Localização do Município de Capinzal................................................................. 22
02 – Esboço da rede viária da cidade de Capinzal e algumas edificações do
complexo urbano no início da década de 1980 .................................................. 125
03 – Esboço da rede viária da cidade de Capinzal e algumas edificações do
complexo urbano em 2001 ................................................................................. 126
04 – Aspectos da evolução da ocupação e usos urbanos na cidade de
Capinzal ............................................................................................................. 131
05 - Demonstração do Evento Expovale de Capinzal realizado no ano de
2005 ................................................................................................................... 149
06 – Divulgação da Feira de Eventos e Negócios de Capinzal, 2006 ....................... 150
07 – Capinzal e a sua hinterlândia municipal ............................................................ 152
LISTA DE QUADROS
01 – Estações Ferroviárias, em território catarinense, da Estrada de Ferro
Federal São Paulo-Rio Grande, que desencadearam em futuras
cidades/municípios .................................................................................................36
02 – Animais existentes nos estabelecimentos em Capinzal nos anos de
1950, 1960, 1970 e 1980 .......................................................................................42
03 - Principais tipos de produção agrícola em Capinzal entre os anos
de 1950 e 1980 ......................................................................................................42
04 - População residente no município de Capinzal-SC entre 1920 e 2000 .................45
05 - Valor Adicionado por Setor de Atividade Econômica nos Anos de 1999,
2000, 2001 e 2002 de Capinzal e de Municípios Vizinhos ....................................65
06 - Impostos arrecadados em 2001 e 2002 por Capinzal e Município Vizinhos .........66
07 - Número de aviários e de integrados que possuem vínculo na produção de
frango com a Perdigão, unidade Capinzal, por Municípios dos Estados de
Santa Catarina e do Rio Grande do Sul .................................................................95
08 - Estimativa das perdas de produtos agrícolas causadas pela estiagem
na safra 2005/2006 no município de Capinzal-SC ...............................................102
09 - Estrutura fundiária de Capinzal em 1995 ...........................................................104
10 - Condição do produtor rural em Capinzal em 2002-2003 .....................................105
11 - Produção pecuária no Município de Capinzal em 2003 .....................................105
12 - Produção de laranja, pêssego e uva no Município de Capinzal em 2003 ..........106
13 - Produção das principais culturas agrícola no Município de Capinzal em
2003 ....................................................................................................................106
14 - Estabelecimentos de Atividades Sócio-econômicas no Distrito Sede de
Capinzal, Distrito de Ouro e no Interior do Município no período de
1930-1950 ...........................................................................................................134
15 - Média de preços de lotes urbanos em Capinzal em 2006 ...................................146
LISTA DE FOTOS
01 – Madeireira Movida a Vapor na Década de 1940 ..................................................46
02 – Antiga Estação Ferroviária de Capinzal ...............................................................50
03 – Caixa d´água ........................................................................................................51
04 – Miniatura da Antiga Estação Ferroviária de Capinzal ..........................................52
05 – Reconstrução da Ponte Pênsil sobre o Rio do Peixe que liga Capinzal
e Ouro - inaugurada em 1945 ..............................................................................63
06 – Alojamento de frangos há 3 dias antes do abate ...............................................108
07 – Vista parcial de aviário no interior do município de Capinzal .............................108
08 – Aves com 45 dias de idade .................................................................................109
09 e 10 – Carregamento das aves em gaiolas pela equipe responsável....................110
11 – Carregamento das aves no caminhão para serem transportadas até a
unidade industrial de abate ..................................................................................110
12 – Vista parcial da localidade Lindemberg, algumas moradias e rua
principal pavimentada ..........................................................................................116
13 – Vista parcial da Igreja e do Ginásio de Esportes da localidade de
Lindemberg .........................................................................................................116
14 e 15 – Vista parcial do Distrito de Alto Alegre, algumas moradias e rua
pavimentada ...............................................................................................117
16 – Vista parcial da Prefeitura Municipal de Capinzal ...............................................119
17 – Vista parcial da antiga edificação denominada Alexandre Thomazoni de
uso comercial no pavimento térreo e residencial no pavimento superior ...........121
18 – Vista parcial do antigo Hotel Imperial, atualmente com atividades comerciais
no pavimento térreo e residencial nos pavimentos superiores ...........................121
19 – Vista parcial da Rua Ernesto Hachmann ............................................................123
20 – Terminais intra-urbano e inter-regional .............................................................123
21 – Vista parcial da rua XV de Novembro ...............................................................124
22 – Vista aérea parcial da cidade de Capinzal no início dos anos de 1980 ..............125
23 – Vista aérea parcial da cidade de Capinzal em 2001............................................126
24 – Vista parcial da rua João Evangelista Parizotto no loteamento de mesmo
nome .................................................................................................................127
25 – Vista parcial das cidades de Ouro e de Capinzal .............................................129
26 – Vista parcial da vila do Distrito de Rio Capinzal na década de 1930 ................136
27 – Vista parcial da vila do Distrito de Rio Capinzal na década de 1940 ................136
28 – Vista parcial da cidade de Capinzal na década de 1950 .................................137
29 - Vista parcial da cidade Capinzal na década de 1950 .......................................137
30 – Casa comercial na década de 1930 .................................................................138
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
ACAR - Associação de Crédito e Assistência Rural
ACARESC - Associação de Crédito e Assistência Rural de Santa Catarina
ACARPESC - Serviço de Extensão Pesqueira
AMMOC - Associação dos Municípios do Meio Oeste Catarinense
CELESC - Centrais Elétricas de Santa Catarina
ELETROSUL - Centrais Elétricas do Sul do Brasil
EMPASC - Empresa de Pesquisa Agropecuária de Santa Catarina
EMPRESUL - Empresa Sul Brasileira de Eletricidade S.A.
EPAGRI - Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural e Santa Catarina S.A
ETA - Escritório Técnico de Agricultura
FAESC - Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Santa Catarina
FARESC - Federação das Associações Rurais do Estado de Santa Catarina
FUNASA - Fundação Nacional da Saúde
IASC - Instituto de Apicultura de Santa Catarina.
SDRs - Secretarias de Desenvolvimento Regional
SDR – Secretaria de Desenvolvimento Regional
SIMAEServiço Intermunicipal de Água e Esgoto
UBA - União Brasileira de Avicultura
VFFSPRG – Viação Ferroviária Federal São Paulo Rio Grande
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO .............................................................................................................. 14
1. O MEIO OESTE CATARINENSE E O MUNICÍPIO DE CAPINZAL ......................... 20
1.1 A Região e o Lugar: entre o rio e a ferrovia ..................................................20
1.2 Caracterização e formação sócio-espacial ...................................................26
1.3 Capinzal: a produção do Lugar a partir da presença de
Ílalo-gaúchos .................................................................................................37
1.4 Memórias do lugar: algumas (re)significações como marco da
formação sócio-espacial ................................................................................47
2. AGENTES PÚBLICOS E PRIVADOS NA FORMAÇÃO SÓCIO-ESPACIAL
DE CAPINZAL E REGIÃO ............................................................................................ 55
2.1 Participação Estatal como promotora de mudanças locais e regionais.........55
2.1.1 O Estado: (Re)visitando bases conceituais ....................................55
2.1.2 Dinâmica Estatal e a implantação de infra-estruturas ......................58
2.1.2.1 Acessos/Rodovias ..................................................................... 66
2.1.2.2 Atuação de órgãos e/ou empresas ............................................68
2.1.2.2.1 A CELESC ............................................................................69
2.1.2.2.2 A ACARESC/EPAGRI ......................................................... 72
2.1.2.2.3 O SIMAE .............................................................................. 74
2.1.2.2.4 Inserções recentes da Secretaria do Desenvolvimento
Regional .......................................................................................... ... 76
2.2 O papel do complexo agro-industrial ............................................... .......... 78
2.2.1 Trajetórias do segmento avícola: notações .................................... 78
2.2.2 Dimensões do setor agro-industrial no Meio Oeste
catarinense: segmento avícola/frango ........................................... 85
2.2.3 O Complexo Agro-industrial Avícola em Capinzal ......................... 90
3. CAPINZAL: DINÂMICA TERRITORIAL E AS RELAÇÕES LOCAIS E
REGIONAIS ................................................................................................................. 96
3.1 O espaço rural: antecedentes na/da gênese do lugar.................................. 96
3.2 Aspectos da produção do espaço rural capinzalense ................................. 97
3.2.1 A estrutura agrária e as principais atividades agropecuárias........103
3.2. 2 A relação entre o produtor rural/avicultor e a agroindústria .........107
3.3 Aspectos da produção do espaço urbano capinzalense ............................111
3.3.1 A cidade e o urbano: notas............................................................111
3.3.2 O espaço urbano de Capinzal ..................................................... 118
3.3.3 A expansão urbana: arranjos & desarranjos .............................. 129
3.3.4 Usos e especulação da terra urbana e suas conseqüências....... 145
3.4 Outras articulações nas relações urbano-regionais .................................. 147
CONSIDERAÇÕES FINAIS ........................................................................................156
BIBLIOGRAFIA .......................................................................................................... 160
Lista de Entrevistados................................................................................................. 172
ANEXOS ..................................................................................................................... 174
Anexo 01 - Roteiro das Entrevistas realizadas para Dissertação com
Moradores, Empreendedores de Atividades Sócio-econômicas e Produtores Rurais do
Município de Capinzal-SC.
Anexo 02 - Demonstrativo de Lotes de Aves.
14
INTRODUÇÃO
"Vivemos numa época perigosa. O homem
domina a natureza antes que tenha aprendido
a dominar-se a si mesmo."
Albert Schweitzer
Este estudo tem em sua gênese intenções acadêmico-profissionais como
desdobramento e complemento das atividades de formação, com as quais busca-se
uma compreensão de estruturas urbano-regionais, levando em conta, principalmente,
os movimentos da sociedade no espaço.
Assim, o movimento sócio-espacial reflete nas conjunturas escalares local,
regional e global, dando a idéia de um todo, pois as relações entre si são
interdependentes, e a busca do saber é um reflexo do conhecimento concreto – mas
não absoluto – de partes que, unidas apresentam um movimento de totalidade.
O Mundo, como um todo, é o resultado de um conjunto de inúmeras
possibilidades, sejam elas concretas, por meio de ações efetivas da sociedade, ou
abstratas, a partir do processo cognitivo, das idéias, da compreensão do que ele
representa e vem, constantemente, se (re)produzindo por intermédio dos lugares pela
própria ação social. Assim, tudo que em seu conjunto existe, nada está dissociado, e as
relações se dão em forma de “rede”, estrutura conectada por diversos pontos no
espaço geográfico.
Portanto, compreender o mundo nas dimensões de sua totalidade, a partir de
contextos urbano-regionais, cujo recorte espacial neste estudo é o município de
Capinzal, no Meio-oeste catarinense, nos dá a idéia de como as relações sociais se
manifestam no lugar e estão articuladas à multiterritorialidade. Assim, a idéia de
conjunto parte de uma análise forma-conteúdo e seus respectivos sistemas de ações e
temporalidades, permitindo verificar os (des)arranjos espaciais.
Compreender a dinâmica sócio-espacial de lugares como Capinzal é,
proporcionalmente, tão relevante quanto estudar as metrópoles, pois nesses também
vivem pessoas, porém cada lugar com suas particularidades, embora tudo seja uma
forma de ver o território. Este, por ser uma categoria geográfica complexa, é onde se
15
caracterizam elementos comuns entre si. É, também, “fundamentalmente um espaço
definido e delimitado por e a partir de relações de poder” (SOUZA, 1995, p.78), de uso.
Uma grande indústria, por exemplo, pode exercer, num determinado espaço, o domínio
econômico, de produção e, também, de decisões políticas, caracterizando assim um
território onde predomina a sua atividade, bem como as suas idéias e ações,
notadamente, voltadas ao sistema econômico de produção e comercialização de
mercadorias. É o caso do Grupo Perdigão que, por sua atuação no município de
Capinzal, vem se articulando com outros setores econômicos e com a sociedade em
geral.
De acordo com Souza (1995, p. 81), os territórios existem e são (des)construídos
em diversas escalas, da “mais acanhada”, como por exemplo uma rua, uma praça, um
bairro, às de dimensões internacionais como a atuação de grandes corporações em
mercados consumidores, a exemplo da Perdigão que comercializa seus produtos junto
a países europeus, asiáticos e americanos. Esses territórios são (des)construídos
dentro de escalas temporais variadas, séculos, décadas, anos, meses ou dias. Podem
ter um caráter permanente, mas também existências periódicas, cíclicas. Isso vai
depender da dinâmica social apreendida naquele espaço.
Assim, a partir do objeto deste estudo, o município de Capinzal, permitiu-se
analisar a produção do espaço urbano-regional e a suas transformações ocorridas do
século XX aos dias atuais.
Três fatores foram considerados como principais nas abordagens daquele lugar.
São eles: a gênese do município para a compreensão do desenvolvimento local e
regional, estabelecendo relações com a colonização do meio-oeste catarinense; os
diferentes aspectos de “economias locais”, bem como pequenos comércios
(alimentícios, imobiliários, de vestuários e calçados, entre outros), a agricultura e a
agropecuária; e, por fim, o processo de expansão urbana acentuado, principalmente, a
partir da década de 1980, influenciado, em boa parte, pelo poder irradiador da
industrialização naquele município, especificamente, relacionada ao papel indutor da
agroindústria alimentar, pelo Grupo Perdigão, que induz um tipo de dinamismo a
Capinzal e à região.
16
Portanto, tornou-se relevante a realização deste estudo, por Capinzal apresentar
em sua trajetória de produção do espaço importância sócio-econômica para o
desenvolvimento do estado catarinense, assim como em âmbito nacional, sob aspectos
relacionados às atividades madeireiras, das agropecuárias à agroindústria,
respectivamente.
Nesse contexto, autores como Brancher (1994), discutem em seus estudos que a
presença da Viação Ferroviária Federal São Paulo-Rio Grande (V.F.F.S.P.R.G.) foi o
principal fator responsável no processo da colonização de Capinzal, assim como de
quase toda a região do Vale do Rio do Peixe, em Santa Catarina, locais impulsionados
pela presença de empresas colonizadoras. Aquela ferrovia foi suporte para o
incremento de atividades sócio-econômicas ao longo do tempo, bem como a madeira, a
agricultura, a agropecuária e o transporte de pessoas, participando em várias etapas do
processo produtivo.
Dessa forma, além da atividade agropecuária, a agroindustrial também fez parte
da dinâmica sócio-espacial de Capinzal. Desde o final da década de 1930, o município
de Capinzal já estava inserido em circuitos da agroindústria alimentar, com a presença
das Indústrias Reunidas Ouro S/A. Porém, é a partir da década de 1980, com a
presença do Grupo Perdigão, que essa situação tendencialmente se refletiu na
urbanização e industrialização daquela região, possibilitando a transformação mais
acentuada do espaço local. Desse modo, estabeleceram-se conexões sócio-
econômicas locais e regionais e, conseqüentemente, com o mundo em geral.
Para o desenvolvimento deste estudo alguns aspectos foram levantados, dentre
eles destacam-se as economias de aglomerações que foram surgindo em Capinzal e
região, mostrando-se inseridas numa dinâmica que vem promovendo
transformações sócio-espaciais naquele município; a contribuição a estudos
geográficos como possibilidade de aporte a futuras pesquisas; e a contribuição à
população local, sobretudo na formação de educandos, como possibilidade de
(re)conhecimento do lugar em que vivem.
Os aspectos acima esboçados indicam que os estudos geográficos são
possibilidades de compreender a relação entre o homem e o espaço, por intermédio de
suas “marcas” deixadas na paisagem. Desse modo, são as particularidades e as
17
singularidades dos lugares que dão indicativos para entender o Mundo. Sendo o lugar
Capinzal uma dessas possibilidades.
Portanto, a pergunta central, como ponto de partida para se compreender a
produção do espaço de Capinzal, é abordada da seguinte forma: como e em que
momento aspectos da produção do espaço urbano-regional do município de Capinzal
vêm se articulando entre o Lugar, a sua Região e, conseqüentemente, o Mundo?
Esse questionamento foi sendo respondido, neste estudo, a partir da
investigação e análise dos dados, desde a gênese da colonização do município de
Capinzal e suas relações com a colonização do oeste catarinense; análise do papel do
Estado e a sua contribuição como agente indutor e articulador de mudanças sócio-
espaciais locais regionais; avaliação e análise dos aspectos da articulação entre
processos das (re)produções e transformações sócio-espaciais que vêm ocorrendo
naquele município, mais especificamente a partir da década de 1980, com a presença
da agroindústria alimentar, o Grupo Perdigão; e, finalmente, identificação de aspectos
de potencialidades do município e suas articulações com tendências de
desenvolvimento apregoado para Santa Catarina e Brasil.
O estudo está estruturado em três partes. A primeira, apresenta a área
pesquisada num recorte espacial, sua caracterização por intermédio da identificação da
localização e de aspectos ambientais, econômicos e populacionais e, ainda, discorre
sobre aspectos do processo da ocupação por migrantes, principalmente, ítalo-gaúchos,
(re)contextualizado com o meio-oeste e, por extensão, com o estado catarinense. Outro
aspecto, também analisado nesta primeira parte, é a implantação da viação férrea
V.F.F.S.P.R.G. com suas respectivas estações ferroviárias que atuaram como um vetor
à ocupação e ao surgimento das primeiras vilas, embriões de futuras cidades.
Nesse processo de ocupação, ocorrido por meio de companhias colonizadoras,
enfatiza-se, de certa forma, como as empresas fizeram, na prática, o papel do Estado
no processo colonizatório do meio-oeste e oeste de Santa Catarina.
Este capítulo perpassa pela compreensão da produção do espaço de Capinzal a
partir da presença de ítalo-gaúchos, e estratégias da inserção de diferentes atividades
sócio-econômicas, desde a pequena produção agrícola familiar, a atividade da extração
e transformação da madeira, a agropecuária, a indústria entre outras, que foram
18
ocorrendo ao longo do século XX. Buscou-se também, rapidamente, estabelecer
discussões sobre a memória do lugar e suas (re)significações, isto é, a partir de alguns
elementos que tiveram determinadas presenças no passado e que, na atualidade,
apresentam outras funções e significações, como a ferrovia e a estação ferroviária, de
hábitos trazidos por migrantes gaúchos, enfim, de vários aspectos que caracterizam
uma “memória do lugar”.
Para esta etapa do estudo, foram levantados dados e informações documentais
em diversas áreas das ciências humanas como história, geografia, sociologia, entre
outras. Buscou-se, nessas áreas do conhecimento, elementos para identificar a origem
e a conseqüência da colonização de Capinzal e região. A busca e a manipulação
dessas informações ocorreram por meio de manuseios de livros, jornais, revistas
científicas e coletas em instituições como o IBGE, extraindo-se dados relevantes para
este estudo. Entrevistas orais semi-estruturadas e semi-abertas (Anexo 01) também
foram realizadas, para a identificação de aspectos sócio-econômicos e culturais de
Capinzal, bem como documentos de base cartográfica e iconográfica, para ilustração e
identificação da temática proposta.
Na segunda etapa do estudo, as discussões partem do papel e da atuação do
sistema estatal, sua participação e interação na vida sócio-econômica do município
e/ou da região. O Estado promove transformações e organização do espaço urbano-
regional a partir de órgãos e empresas governamentais assim como, indiretamente, por
intermédio de instituições privadas. Outro agente importante e participante como
organizador do espaço urbano-regional de Capinzal, na contemporaneidade, é o
sistema agroindustrial. Para esse contexto da atividade agroindustrial, a partir do
segmento avícola, fez-se um paralelo da atuação no Brasil e em Santa Catarina, mais
especificamente no meio-oeste e, por conseguinte, Capinzal.
Como aporte para fundamentar e analisar esses agentes, foram levantados
documentos como estudos de caso e de base teórica e empírica, procurando-se discutir
conceitos, com a aquisição de dados pontuais estatísticos e concretos. Utilizou-se,
também, de documentos e relatórios de instituições públicas e privadas como da UBA
(União Brasileira de Avicultura), da Perdigão Agroindustrial S/A, da Prefeitura Municipal
de Capinzal, da CELESC, da EPAGRI, da ACARESC, do SIMAE, entre outros. Assim,
19
considerando a idéia de como os agentes sócio-espaciais vêm atuando a partir das
estratégias de sua dinâmica na sociedade, buscou-se estabelecer uma relação de
poder para o reconhecimento das ações entre dominante e dominado.
Na terceira parte, as discussões discorreram sobre a produção do espaço rural e
urbano de Capinzal e suas articulações regionais, em contextos contemporâneos.
Assim, foi levado em consideração o espaço agrário brasileiro, por conseguinte e
especificamente de Capinzal, bem como a estrutura agrária e as principais atividades
agropecuárias que vêm se configurando, tais quais a relação entre o produtor rural e a
agroindústria Perdigão, a (re)produção e expansão do espaço urbano, a especulação
nos usos da terra urbana e as suas influências no território a partir das dinâmicas
sociais.
Para o desenvolvimento deste terceiro capítulo, serviram de base ao aporte
teórico-conceitual livros, artigos e revistas de produções científicas. Utilizou-se também
de entrevistas semi-estruturadas e semifechadas, realizadas com antigos moradores,
produtores rurais, empreendedores de atividades sócio-econômicas, promotores
imobiliários (Anexo 01); entrevistas abertas com representantes do sindicato dos
trabalhadores rurais, ex-vereadores, agrônomo da Epagri, entre outros, que serviram de
apoio à construção deste texto. Ainda, foram utilizados dados e documentos obtidos
junto à Prefeitura Municipal de Capinzal, além da legislação municipal e do plano físico
territorial urbano.
Durante a elaboração do texto preocupou-se em estabelecer discussões acerca
de relações entre o local, o regional e o global, dentro das possibilidades já
mencionadas pelos recortes tanto teóricos quanto empíricos. Sendo uma forma de ver o
mundo por intermédio de Capinzal.
Por fim, na última parte, apresentam-se considerações sintetizadas, a partir do
que foi discutido neste estudo, dando um fecho, por ora, ao caminho percorrido durante
o curso de pós-graduação e o que seus desdobramentos oferecem como contribuição
socializada ao (re)conhecimento do Lugar, que também é, proporcionalmente, uma
maneira de auto-reconhecimento desta pesquisadora.
20
1. O MEIO-OESTE CATARINENSE E O MUNICÍPIO DE CAPINZAL
1.1 A REGIÃO E O LUGAR: ENTRE O RIO E A FERROVIA
O espaço geográfico é o resultado da produção social em todas as suas
dimensões. Não pode ser entendido apenas como uma localização ou as relações
sociais da posse de propriedade. Em conjunto, é uma localização física, um bem imóvel
e, ao mesmo tempo, uma “liberdade existencial” e uma “expressão mental”.
(GOTTDIENER 1997, p. 28).
As ações humanas, a partir de determinados objetivos e necessidades criadas,
resultam no espaço, onde este é dinâmico e constantemente (re)produzido. Pois, o
espaço representa, simultaneamente, o local onde ocorrem eventos e engajamentos da
sociedade nesses eventos. Desse modo, a “essência do espaço é social”, porém ele é
formado por coisas, objetos geográficos naturais e artificiais e, pela sociedade.
(SANTOS, 1985, p.1).
Os eventos são, portanto, tipos de movimentos naturais produzidos pela própria
natureza, como o curso de um rio, a chuva, o vento, entre outros. São, também,
movimentos sociais, resultantes da ação humana, da interação entre os homens e dos
seus efeitos sobre a natureza (SANTOS, 2004), como a construção de uma ponte, de
uma rua, a prática e o cultivo agrícola, entre outros. O engajamento da sociedade
nesses eventos é, no entanto, a maneira de garantir a sua sobrevivência, além de criar
outras necessidades para o seu bem estar.
Desse modo, para compreender o espaço geográfico na sua totalidade,
idealizando o que é o Mundo, é necessário compreendê-lo por meio de seus
fragmentos, isto é, a partir das diversas e diferentes escalas de lugares, como um
bairro, uma cidade, representados pela vida cotidiana, que permitem uma visão, em
conjunto, do todo. De acordo com Machado (2000, p. 21), “o lugar é, para o espaço
geográfico, o ponto de conexão e articulação com o mundo”. Assim, os lugares são,
pois, condições e suportes de relações globais que sem eles não se realizariam
(SANTOS, 2005). São, ainda, as concretizações de eventos, isto é, a ação contínua e
21
indissociável resultantes da interação e integração entre a sociedade e a natureza.
Conforme Corrêa (2005, p. 5), o “lugar pode ser visto como a expressão geográfica da
singularidade, o resultado da ação combinada de processos universais, particulares e
singulares, de determinações contingenciais. Não é único, mas é singular”.
É nessa perspectiva de compreender a singularidade do lugar, por meio de
(des)arranjos da dinâmica sócio-espacial, que este estudo baseia-se no município de
Capinzal-SC, que localizado na porção sul do meio-oeste Catarinense
1
, na chamada
“zona fisiográfica” do baixo vale do Rio do Peixe, à margem esquerda deste e nas
encostas da margem direita do rio Uruguai (Fig. 01).
Apresenta, entre suas peculiaridades e especificidades, uma trajetória da
produção do espaço própria daquele lugar, porém articulado a outros lugares, também
singulares. Está integrado à microrregião da AMMOC (Associação dos Municípios do
meio-oeste catarinense), tendo Joaçaba como a “capital regional”, que abrange 13
municípios
2
, totalizando uma área de 3.598,6 km², o correspondente a
aproximadamente 3,77% do território catarinense.
Inicialmente, aquela região foi colonizada por descendentes de italianos e
alemães oriundos do Estado Rio Grande do Sul e, posteriormente, por austríacos e
japoneses, entre outros.
Nessas condições, se farão, ao longo do texto e/ou quando pertinente,
inferências para além de suas fronteiras político-administrativas, com a perspectiva de
compreender como, em Capinzal, o espaço geográfico vem (re)produzindo-se e
articulando-se com outros lugares, na contemporaneidade. Isso, a partir das chamadas
“conexões geográficas” que, conforme Souza (1992), ocorrem entre pontos e escalas
diferenciadas e lugares não contíguos do espaço, conectados por intermédio das
relações estabelecidas pelas urbanizações e sistemas produtivos, os mais distintos e
variados na escala planetária.
1
O uso dessa tipologia se deve a dois aspectos principais que criam uma identidade do lugar: a) pelas
características da formação social; b) pelo uso comum dessa tipologia entre a população local, a mídia,
pesquisadores das áreas da história, geografia, entre outras, o Governo do Estado de Santa Catarina que
caracteriza essa divisão regional, órgãos como a Fatma, associações de municípios como a AMMOC,
entre outros.
2
Capinzal, Erval Velho, Ouro, Lacerdópolis, Erval d´Oeste, Joaçaba, Luzerna, Ibicaré, Treze Tilhas, Água
Doce, Catanduvas, Vargem Bonita e Tangará.
22
23
Assim, os limites territoriais atuais da unidade político-administrativa daquele
município ocorrem da seguinte forma: ao norte, limita-se com os municípios de Ouro e
Lacerdópolis; ao sul, com o Estado do Rio Grande do Sul; ao leste, com os municípios
de Campos Novos e Zortéa e; ao oeste, com os municípios de Piratuba e Ipira (Fig. 01).
Porém, deve-se levar em conta que aquele território tem como elemento
marcante e de maior influência, a sociedade, que, por meio da sua dinâmica, tem
promovido mudanças nas formas geográficas, criando suas particularidades, o que faz
do lugar singular, entretanto sintonizado com outros lugares, também singulares. Nesse
sentido, concorda-se com Santos (1985) ao dizer que são nos lugares que se
concretizam ações sociais e esses expressam uma idéia de mundo. Como a idéia de
mundo é uma abstração, é nas singularidades e nas especificidades dos lugares que
ela se concretiza.
Outro aspecto também levado em consideração com o objetivo de caracterizar a
área de estudo, entre aqueles aspectos físicos, é a rede de drenagem. Desse modo,
Capinzal dispõe de um sistema fluvial distribuído da seguinte forma: o distrito sede,
além do rio do Peixe, é banhado pelo rio Capinzal. Este é formado por dois afluentes
principais, o rio São Roque e o rio da Pedreira. A junção de ambos afluentes origina o
rio Capinzal, que lança suas águas à margem esquerda do rio do Peixe, passando pelo
centro da cidade sede do município. Assim, a rede de drenagem do território municipal
é formada por outros rios menores, entre os quais se destacam os lajeados da Divisa, o
Leãozinho e o Santa Cruz. O rio Uruguai, um dos coletores da vertente do Interior, na
Bacia do Prata, também, constitui a rede de drenagem do município, que estabelece
limites entre os Estados de Santa Catarina e do Rio Grande do Sul, sendo o receptor do
rio do Peixe.
Dentre outras peculiaridades que caracterizam o município de Capinzal, é
pertinente considerar a origem de sua denominação, como possibilidade para
compreender o processo e a conseqüência da ocupação. O nome Capinzal nada mais
é do que uma derivação da palavra capim, devido à existência de grande quantidade
desse tipo vegetal na várzea onde hoje se localiza a sede do município. O nome foi
sendo adaptado até se consolidar oficialmente. Entretanto, a semente do capim -
denominado popularmente como capim paulista, também conhecido por capim gordura
24
ou melado (Melinis minutiflora) - vinda do Estado de São Paulo, foi plantada por
Antônio Lopes de Abreu, fazendeiro que possuía boa parte daquelas terras que hoje
constituem a base física municipal (BRANCHER, 1994; ALMEIDA, 2004).
Na segunda metade do século XIX, as terras capinzalenses integravam uma
grande fazenda de criação de gado, originariamente denominada Campo Bonito
3
e,
posteriormente, fazenda São Pedro (também denominada fazenda Santo Antônio ou
dos Lopes)
4
. Essa fazenda correspondia a uma área de 26.598,4ha e era constituída
por mata, principalmente pela árvore Araucária angustifólia, além de outras madeiras
nobres, como a imbuia (Ocotea porosa), o sassafrás (Ocotea odorifera), a canela
(Octea acutifolia), o cedro (Cedrela fissilis), a peroba (Aspidosperma pavifolium), o
angico (Parapiptadenia regida), a cabriúva (Myrocarpus frondosus), entre outros, assim
como de pastagens nativas e da erva-mate (Ilex paraguariensis) (ALMEIDA, 2004 p.
28), que formam a floresta de araucárias no Sul do Brasil, no Planalto Meridional.
A zona das araucárias, entretanto, principia no primeiro planalto, imediatamente
a oeste da Serra do Mar e estende-se pelos chamados segundo e terceiro planaltos no
Estado do Paraná. Ocorrem entre as e/ou nas altitudes médias de 600 a 800m, e em
alguns poucos lugares ultrapassam 1.000m de altitude. O limite inferior dessas matas
situa-se entre 500 e 600m nos estados do Sul brasileiro (AMBIENTEBRASIL, 2006). A
floresta de araucárias era praticamente intacta pela devastação e ocupação humana
em toda a região do Vale do Rio do Peixe, inclusive em Capinzal, até o início do século
XIX.
3
Campo Bonito era uma Sesmaria que foi inicialmente requerida por Jesuíno de Mattos na primeira
metade do século XIX, que, segundo Almeida (2004), dispunha de grandes afetos junto às autoridades
imperiais brasileiras, porém não há registros de sua procedência e, nem de realização de qualquer tipo
de ocupação e uso naquelas terras. Posteriormente, as terras de Campo Bonito foram repassadas por
Jesuíno de Mattos ao Barão de Antonina (João da Silva Machado), um empresário e político paranaense.
Da mesma forma, não foi ocupada (ALMEIDA, 2004).
4
Em 1854, o Barão de Antonina vendeu a Sesmaria ao Coronel Manoel Ferreira da Silva Farrapo e a
Manoel Lopes de Abreu, ambos fazendeiros e residentes no recém criado distrito de Campos Novos.
Porém, não se sabe a origem desses dois personagens antes de se instalarem em Campos Novos. No
mesmo ano (1854), Manoel F. da Silva Farrapo vendeu sua parte da terra a Manoel Lopes de Abreu.
Este iniciou, então, a ocupação das terras de Campo Bonito, juntamente com a sua família, seus
empregados e escravos, vindo a falecer alguns anos depois. Um dos herdeiros, Antônio Lopes de Abreu
(filho de Manoel Lopes de Abreu), recebeu como herança a maior parte da fazenda e passou a
administrá-la com a denominação de fazenda Santo Antônio ou dos Lopes (ALMEIDA, 2004).
25
A denominação de Capinzal, portanto, está relacionada com a introdução do
capim paulista como alimento, este aumentava a possibilidade de maior peso dos
animais, visto que as pastagens nativas não eram consideradas ideais a animais para o
abate. Desse modo, depois de adquirirem o peso considerado ideal para serem
abatidos, eram transportados pelos tropeiros
5
para as feiras de Sorocaba e Itapetininga,
em São Paulo, onde eram comercializados (ALMEIDA, 2004). Esse tipo de comércio,
entretanto, levou a uma formação de “redes” com o espaço extra-regional, característica
mantida e ampliada até a atualidade, inclusive na produção de matéria-prima,
principalmente de alimentos.
Pelo fato de o capim paulista ter sido semeado na várzea do rio, o nome
Capinzal se referiu, inicialmente, somente ao rio. Posteriormente, os trabalhadores da
ferrovia VFFSPRG - Viação Ferroviária Federal São Paulo Rio Grande (inaugurada em
20 de outubro 1910) e os primeiros colonos vindos do Estado do Rio Grande do Sul,
passaram a chamar o lugar de “Villa de Rio Capinzal” (BRANCHER, 1994; ALMEIDA,
2004). Villa de Rio Capinzal pertencia ao município de Campos Novos, porém, em
1914, ela passou a 5º Distrito do município de Campos Novos, recebendo o nome de
Rio Capinzal. Em 1948, foi criado o atual município denominado Capinzal.
A criação do município ocorreu em 30 de dezembro de 1948 e a sua instalação
oficial deu-se somente a 17 de fevereiro de 1949, segundo a Lei nº 247, de 30 de
dezembro de 1948 do Estado de Santa Catarina. A mesma lei foi aplicada para a
criação de mais seis municípios catarinenses, dentre os quais denominam-se
Ituporanga, desmembrado dos municípios de Bom Retiro e Rio do Sul; Massaranduba,
desmembrado dos municípios de Blumenau, Itajaí e Joinvile; Piratuba, desmembrado
de Campos Novos e de Concórdia; Taió, desmembrado de Rio do Sul; Tangará,
desmembrado de Videira e; Turvo, desmembrado de Araranguá (IBGE, 1959, p. 70).
5
Termo designado aos homens que transportavam principalmente tropas de gado do Rio Grande do Sul
para os mercados consumidores do sudeste.
26
1.2 CARACTERIZAÇÃO E FORMAÇÃO SÓCIO-ESPACIAL
Encontrar estratégias para (re)produzir a vida é uma característica desenvolvida
pelo ser humano desde o princípio de sua existência. Ao longo de sua evolução, o
homem vem cada vez mais (re)produzindo e socializando o espaço, para garantir suas
necessidades vitais (como alimento, saúde, habitação, convivência social, etc.) e,
paralelamente, criando outras necessidades (como lazer, bem estar social). Isso,
movido pela curiosidade, vontade de aprender e, até mesmo pela conquista do poder,
do domínio sobre o outro e/ou sobre a natureza, em lugares diversos e distintos.
Desse modo, de acordo com as idéias de Milton Santos, a produção espacial é
um fato social e, a cada momento, a sociedade transforma-se em espaço, a partir das
relações sociais estabelecidas no seu modo de produção, do trabalho empreendido
para (re)produzir a vida.
Nessa perspectiva, compreender a sistemática da colonização
6
do meio-oeste de
Santa Catarina, como resgate da posse de um território, foi a possibilidade de construir
uma idéia da produção do espaço e entender como Capinzal, enquanto lugar, se insere
nesse contexto sócio-espacial.
Como ponto de partida para essa compreensão, têm-se nas relações que a
ocupação e exploração do território brasileiro tiveram, inicialmente, por meio de
influências de colonos portugueses e, posteriormente, espanhóis, alemães, italianos,
entre outros, resultando em tentáculos da expansão capitalista européia, sobre novas
realidades.
A colonização do território catarinense na trajetória das condições pré-
capitalistas ocorreu a partir de 1645, quando o litoral começava a ser ocupado por
vicentistas (descendentes de europeus na Província de São Paulo) que desceram a
costa brasileira em direção ao Sul e ocuparam, naquele mesmo ano, locais que deram
origem a São Francisco do Sul. Em seguida, em 1651, foi fundado o município de
Desterro, embora a tentativa de sua colonização tenha fracassado devido a morte do
fundador Dias Velho, pela tripulação de um navio corsário estrangeiro, obrigando mais
6
Colonização significa povoar áreas desocupadas e iniciar um processo de ocupação e uso do solo
(WERLANG, 2002). Colonizar, “ocupar um novo chão, explorar seus bens, submeter os seus recursos
naturais”. (BOSI, 1996).
27
tarde os povoadores a retornarem à Província de São Paulo. Em 1676, foi fundada a
vila de Santo Antônio dos Anjos de Laguna, que entrou também no processo de
colonização vicentista, tendo por fundador Domingos de Brito Peixoto.
Nessa primeira fase da colonização em Santa Catarina, nota-se que a ocupação
se fez pela necessidade, no período colonial do Brasil, de ocupar e desenvolver terras
que ainda não haviam sido efetivamente incorporadas ao território brasileiro.
Caracterizava-se por uma migração interna e como possibilidade de estabelecer maior
integração sócio-econômica entre o sul e o sudeste e, conseqüentemente, todo o seu
território.
Porém, em virtude da disputa entre Portugal e Espanha pelo domínio do Estuário
do Prata (na Argentina), acreditava-se haver naquele lugar grande quantidade de
minérios de valor. O governo português promoveu a vinda de casais açorianos e
madeirenses entre os anos de 1748 e 1756 para se estabelecerem em Desterro, na
Ilha de Santa Catarina e em Laguna. Esse período se caracterizou formalmente como
uma ou a segunda fase da colonização catarinense.
No planalto catarinense, por volta de 1725, começaram a ser explorados
caminhos que possibilitavam a passagem do gado oriundo dos campos de Viamão (Rio
Grande do Sul) em direção ao chamado centro do país (notadamente São Paulo).
Surgiu, então, em 1771, o núcleo populacional de Lages e, posteriormente, São
Joaquim, Curitibanos, Rio Negro e Mafra. Essas localidades, ligadas ao ciclo do gado,
entre Rio Grande do Sul e São Paulo, tiveram em suas origens traços de uma migração
interna brasileira por descendentes de europeus.
A partir do século XIX, o processo de ocupação do território catarinense se
intensificou, sobretudo pela vinda de alemães que, em 1829, fundaram o primeiro
núcleo de povoamento alemão na localidade de São Pedro de Alcântara, próximo ao
litoral (na grande Florianópolis). Posteriormente, a ocupação alemã se destacou e
expandiu nos vales nos rios de Cubatão, Cachoeira, Joinville, Itajaí-Açu e Itajaí-Mirim.
Ainda, no século XIX, com a vinda de italianos, em 1836, fundou-se a colônia de
Nova Itália, atual município de São João Batista, no Vale do rio Tijucas. A partir de
1875, foram fundadas colônias em Rio dos Cedros, Rodeio, Ascurra, Nova Trento, entre
28
outras. Posteriormente, ocorreu, também, a ocupação italiana nos vales dos rios Itajaí-
Açu, Tubarão, Urussanga, Mãe Luzia e Aranranguá.
Por volta da segunda metade do século XIX, em 1871, o primeiro grupo de
poloneses chegou a Brusque. A partir de 1889, novas levas de imigrantes poloneses e
russos se instalaram nos vales dos rios Urussanga, Tubarão, Mãe Luzia, Araranguá,
Itajaí, Itapocu e São Bento do Sul.
Nota-se que até o final do século XIX a ocupação do território catarinense foi aos
poucos se interiorizando, até então comumente no litoral, porém com forte influência da
migração européia, principalmente pelos países Portugal, Itália, Alemanha e,
posteriormente eslavos.
Por fim, no século XX, a ocupação chegou, de fato, no Meio-oeste e Oeste
catarinense, respectivamente. A partir de 1910, foram sendo ocupadas as áreas
marginais dos vales dos rios do Peixe e do Uruguai e, paulatinamente, o médio e o
extremo-oeste, por descendentes, principalmente, de alemães e italianos vindos do Rio
Grande do Sul. De acordo com Singer (1977), este movimento colonizador no estado
catarinense sofreu outros desdobramentos. Assim, a partir de Joinville e Blumenau,
correntes de povoamento se lançam para o Oeste, até os limites das bacias da
vertente Atlântica. A bacia do Uruguai, por sua vez vai sendo povoada por
correntes provenientes dos núcleos de colonização alemã e italiana do Rio
Grande do Sul. Para se ter uma idéia da intensidade deste processo
colonizador, basta observar que em 1920 todo o Vale do Rio do Peixe estava
subdividido em apenas dois Municípios e o Vale do Rio Chapecó constituía um
Município só. Hoje no Vale do Rio do Peixe há 13 Municípios e no Vale do
Chapecó 17. Trinta Municípios em 1958, onde em 1920 havia apenas três.
(SINGER, 1977, p. 82-83).
Neste contexto, a ocupação do meio-oeste catarinense e dos vales dos rios do
Peixe e Uruguai, após a Primeira Guerra Mundial, também teve ingressos de eslavos,
principalmente de poloneses.
Destarte, tanto o Vale do Rio do Peixe, no meio-oeste quanto o Oeste, tiveram
suas colonizações tardias, influenciadas, principalmente, por descendentes de italianos
e alemães vindos do Estado do Rio Grande do Sul.
29
Conforme remonta Brancher (1994), o processo de colonização na região do
Vale do Rio do Peixe se inicia a partir de 1910, com o término da construção da ferrovia
São Paulo–Rio Grande, que atraiu significativa quantidade de levas imigratórias às
extensões de terras ainda não ocupadas e nem cultivadas e/ou exploradas pela
sociedade capitalista.
Entretanto, a ocupação daquelas regiões, segundo alguns autores, se divide em
três fases, cada uma com características distintas. Poli (1995, p. 73), diz que até
meados do século XIX a ocupação predominante era de índios Kaingang,
posteriormente, “a população que sucedeu à indígena e miscigenou-se com esta foi a
dos luso-brasileiros, mais conhecidos como caboclos” e, por fim a fase de colonização.
Esta, caracterizada pela ocupação de descendentes ítalo-germânicos (oriundos,
principalmente, do Estado do Rio Grande do Sul), os quais tiveram maiores influências
e efetivação no processo de ocupação daquela região, sob a ótica capitalista.
Desse modo, a colonização do meio-oeste foi impulsionada, em partes, pela
política de integração inter-regional brasileira entre o Sudeste, que se mostrava ser
mais dinâmico, e o Sul, que ainda preservava uma certa resistência de características
mais tradicionalistas. Assim, a formação sócio-econômica no Vale do Rio do Peixe
estava articulada à grande via de circulação representada pela ferrovia, refletindo
diretamente sobre o centro paulista que começava a escapar de sua quase exclusiva
economia exportadora de bens primários e se urbanizava rapidamente a partir da
industrialização (LAGO, 1978).
Neste contexto, o final do século XIX e o início do século XX, foram marcados
por grandes transformações sócio-econômico-políticas no Brasil, sobretudo, no Centro-
Sul, em virtude das transformações ocorridas no sistema capitalista mundial. Isto, de
acordo com Cavallazzi (2003), deu-se até o final do século XIX, quando a hegemonia
capitalista britânica possibilitava o aprimoramento na produção manufatureira, através
de uma política de livre comércio que almejava solidificar uma Divisão Internacional do
Trabalho, no qual o resto do mundo proveria os mercados britânicos de alimentos e
matérias-primas mais baratos. Assim é que o investimento estrangeiro, nessa fase,
abrangia as obras de infra-estrutura, tais como ferrovias, companhias de navegação e
de seguro, bancos financeiros, entre outras.
30
A partir das duas últimas décadas do século XIX e, definitivamente, a partir do
início do século XX, houve uma radical transformação em escala global, onde se
verificou a consolidação da ascensão dos Estados Unidos e da Alemanha, em
detrimento da Inglaterra, no cenário capitalista mundial. Essa nova fase planetária da
economia capitalista, a partir de 1900, teve entre suas causas a crise crônica da
agricultura européia, por volta de 1870. Isso, em virtude do excesso de produtos
agrícolas vindos dos países agro-exportadores (CAVALLAZZI, 2003), inclusive do
Brasil, assim como de toda a América Latina, países também vistos como mercados
potenciais a serem dominados.
O papel do Brasil nesse contexto econômico internacional, era de um mero
fornecedor de matérias-primas, até o final do século XIX, e também um interessante
mercado, como receptor de investimentos, a partir do início do século XX
(CAVALLAZZI, 2003).
Praticamente até o final do século XIX, a posição do Brasil, diante da Divisão
Internacional do Trabalho, como país agro-exportador, foi de participante incipiente na
dinâmica da economia mundial (CAVALLAZZI, 2003). A condição periférica, não gerava
influência suficiente para que as transformações de sua conjuntura causassem reflexos
nos países que compunham o centro dinâmico do sistema e suas estruturas internas
caracterizadas, majoritariamente, por grandes áreas isoladas, a exemplo do meio oeste
e oeste catarinense assim como algumas áreas do Norte do país. Essa condição
periférica não permitia, assim, influências recebidas do exterior, exceção feita às áreas
diretamente envolvidas com a produção primária exportadora como as do café no Vale
do Paraíba, entre os Estados de São Paulo e Rio de Janeiro; seringais na floresta
amazônica; açúcar em Campos, no Rio de Janeiro.
Até o inicio do século XX, o Brasil não proporcionava ainda, ou efetivamente,
condições estimulantes para investimento de capitais estrangeiros. Naquele período, os
investimentos externos, predominantemente ingleses, preocupavam-se com o
estabelecimento de infra-estrutura, de modo a facilitar as atividades exportadoras.
Assim, os setores privilegiados foram os de transportes (ferrovias, navegação, portos)
e, ainda, os de seguros e os bancários, principalmente (CAVALLAZZI, 2003).
31
Sobre os investimentos em infra-estrutura, principalmente externos no setor de
transporte, o Brasil viu-se obrigado a também investir no setor, para não perder
mercado internacional. Isso se deu, em grande parte, pela consolidação de um projeto
do governo imperial inicialmente e, posteriormente, republicano de conectar regiões
brasileiras que ainda não haviam sido ocupadas e nem exploradas economicamente
com as demais que já se mostravam com tendências dinâmicas.
O “grande projeto”, assim chamado, estava alicerçado na implantação de uma
ferrovia que ligasse São Paulo ao Rio Grande do Sul, como possibilidade de conectar
zonas produtoras, principalmente o Rio Grande do Sul com zonas consumidoras e/ou
exportadoras, situadas no eixo Rio-São Paulo. A Ferrovia São Paulo-Rio Grande
possibilitaria conectar não somente o centro-sul, como também as demais regiões
brasileiras em ferrovias longitudinais. Essas ferrovias permitiriam a ligação do interior ao
litoral brasileiro, possibilitando também maior integração entre a população rural e a
urbana, no processo de circulação e comercialização de mercadorias em âmbito
nacional e internacional.
Desse modo, o traçado da estrada de ferro (São Paulo-Rio Grande) projetado
pelo engenheiro brasileiro João Teixeira Soares, em 1887, foi de 1.403km de
extensão, entre Itararé (SP) e Santa Maria (RS), ligando as províncias de São Paulo,
Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul pelo interior, possibilitando ainda a
conexão dessa ligação da então capital federal Rio de Janeiro às regiões fronteiriças
do Brasil com a Argentina, Uruguai e Paraguai (THOMÉ, 1983). Naquela época, o
único acesso viável entre essas províncias e/ou entre uma região e outra se limitava
pelo litoral, o qual se tornava longo e dificultoso. Daí a possibilidade de se encurtar o
caminho e proporcionar ocupação de locais ainda não explorados economicamente. A
partir de Thomé (1983, p. 52), vê-se que o traçado da ferrovia atravessaria territórios
quase distintos, desde áreas
no Paraná, praticamente toda região estava ocupada por fazendas de criação
e de cultura, com muitas pessoas detendo títulos de posses e sesmarias,
enquanto que do Rio Iguaçu rumo Sul, as terras eram devolutas, com
pouquíssimas posses até Passo Fundo, pois no Rio Grande do Sul voltava-se
a encontrar fazendas. O terreno possibilitava que a ferrovia fosse do tipo
“colonizadora”, havendo terras suficientes para nelas se promover a instalação
de núcleos coloniais, nos moldes das normas vigentes.
32
Nota-se, então, que no Sul brasileiro o território catarinense era o único em que
ainda havia áreas a serem colonizadas e exploradas. A implantação do sistema
ferroviário possibilitou, assim, a ocupação e o desenvolvimento do Sul do Brasil, região
esta que despontava com grandes potenciais econômicos e começava a ser vista com
“outros olhares”, na possibilidade de inseri-la na dinâmica econômica do Sudeste.
A ocupação que se iniciou por volta de 1908, quando também se iniciou a
construção da ferrovia, em território catarinense, foi tarefa de uma companhia
francesa que, segundo Pimenta (1984), cedeu seus direitos à Brasil Railway Company,
do Grupo Farquhar. O Grupo Farquhar era conhecido pelo conglomerado de empresas
que atuava e controlava os sistemas de transporte ferroviário da Amazônia e do
centro-sul brasileiro (CAVALLAZZI, 2003). A atuação da empresa Brazil Railway
Company no centro-sul começou através do novo traçado para a construção da
ferrovia favorecendo melhores condições técnicas para desenvolver o trabalho. Aquela
empresa contratou, então, os serviços técnicos do engenheiro norte-americano Achiles
Stenghel, o qual fez o novo traçado e liderou a construção dos 372km da ferrovia, no
Vale do Rio do Peixe. Stenghel contratou aproximadamente 8.000 trabalhadores, os
quais foram distribuídos ao longo do traçado e concluíram aquele trecho em 1910
(THOMÉ, 1983).
Como forma de pagamento à empresa construtora, o governo da República
Brasileira cedeu 15km de terras de cada lado do leito da estrada, independente de já
existir qualquer tipo de ocupação, legalizada ou não. Assim, a Brazil Railway Company,
por intermédio de suas empresas subsidiárias, a Southern Brazil Lumber e a
Development & Colonization Co., passou a atuar rapidamente.
A Southern Brazil Lumber foi responsável pelo desmatamento e serragem da
madeira, na maioria araucária, sendo que parte se destinou aos assentamentos dos
trilhos da ferrovia; outra parte para exportação; o restante, à construção de casas para
os novos habitantes, dentre eles os primeiros colonos e os trabalhadores da ferrovia.
A outra subsidiária, a Development & Colonization Co., com sede em Portugal e
Estados Unidos, e autorizada a funcionar no Brasil pelo Decreto nº 9442, de 1912, foi
responsável pelo processo de colonização. Ambas subsidiárias, tinham por objetivo
expulsarem camponeses posseiros e pequenos proprietários, originários de vários
33
lugares de Santa Catarina e do Paraná, em geral caboclos, que lá estavam instalados
sem documentos legais de posse e uso das terras (PIMENTA, 1984; THOMÉ, 1983).
Esses camponeses e/ou posseiros, segundo Machado (2004), praticavam uma
agricultura de subsistência. Eles estavam distribuídos em diferentes regiões do Estado,
assim como em terras próximas à costa do Rio do Peixe, distantes dos dispositivos do
Estado (o qual mostrava-se ausente), que poderiam levar à regulamentação de suas
posses, mas na maior parte das vezes não sentiam necessidade de assim proceder.
Caso quisessem regularizar suas terras, teriam que dispor de documentos que não
possuíam e gastar muito dinheiro que, a época, lhes era escasso, para medições de
terreno, taxas e emolumentos.
Desse modo, por existirem na região grandes áreas sem demarcação e sem
proprietários legalizados das terras, a Brazil Railway Company se tornara proprietária
delas, oficialmente legalizada e autoriza pelo Estado a proceder com a efetiva
colonização do Vale do Rio do Peixe, expulsando os camponeses da região. A
empresa estrangeira (Brazil Railway Company) para garantir retorno do investimento
tinha grandes interesses em colonizar as áreas de terras havidas por cessão gratuita do
governo federal, pois sua reversão para os domínios da União seria inevitável após o
ano de 1940
7
, caso não fossem devidamente utilizadas, conforme contrato estabelecido
de concessão de terras entre o governo e a empresa (CAVALLAZZI, 2003).
Naquele período, foi grande o conflito entre camponeses posseiros e/ou intrusos
e a empresa construtora, por intermédio de sua subsidiária. Porém, as terras dos
fazendeiros que se encontravam entre as havidas por concessão em virtude da
construção da ferrovia foram invariavelmente respeitadas, quando da demarcação, por
se tornarem os latifundiários aliados à empresa estrangeira. Já as terras dos posseiros
foram imediatamente demarcadas, e eles foram expulsos concordando ou não com tal
decisão.
Quando necessário, a empresa acionava a tutela jurisdicional (que sempre
arbitrava a seu favor) e os posseiros se viam obrigados a desistirem de suas terras e
meios de sobrevivência. Entretanto, a luta entre a empresa construtora da ferrovia e os
posseiros não era nada ponderável, pois a resistência dos camponeses que se viam
7
Esse, era o prazo limite que a empresa obtinha para colonizar efetivamente a região.
34
sem terras e estrutura de trabalho, em muitos casos lhes custava a vida, sem contar a
humilhação que sofriam pela perda do direito a permanecer no lugar.
São exemplos como esses que sugerem como as oligarquias manipulam uma
significativa parcela de massa populacional não favorecida pelo poder público de uma
dada região, pondo em prática os seus objetivos independentemente dos meios para a
obtenção dos resultados. Esse agravante demonstra que o poder sobre um território,
não necessariamente é responsabilidade do Estado mas, também, das oligarquias
distribuídas em diferentes lugares do território como vem ocorrendo no Brasil, em
particular no meio-oeste catarinense cujos objetivos são reproduzir e acumular capital e,
ainda, manipular os menos favorecidos, (des)informados e excluídos do poder de
decisão.
A atuação de empresas privadas, em particular, a Brazil Railway Company no
meio-oeste catarinense fez o papel do Estado, quando do processo de demarcação,
legalização e colonização de terras a serem exploradas, assim como, o procedimento
para tal. Desse modo, o Estado se eximia de responsabilidades e as repassava, nesse
caso, ao poder privado. Este, normalmente não age a favor da sociedade como um
todo e sim a uma pequena minoria.
Nesse período, além do processo colonizatório conflituoso, o Vale do Rio do
Peixe fazia parte da devida área “Contestada”, que era disputada por Paraná e Santa
Catarina, desde a segunda metade do século XIX até 1916, onde a questão dos limites
entre os dois estados estava associada aos interesses de ricos proprietários de terras
desses lugares e à questão da cobrança de impostos (SERPA, 1999, p.12).
Nos fins de 1912, além dos conflitos entre os sertanejos humildes que viviam nas
terras às margens do Rio do Peixe em busca de trabalho, que se viram na iminência de
serem expulsos pela empresa Lumber das terras que ocupavam e sobre as quais
construíram seus ranchos, travavam-se também os confrontos de limites da área
contestada (CABRAL, 1979). Possibilitando, então, o desencadeamento da guerra que
se estendeu de 1912 até 1916, não apenas por questões de limites territoriais como
também e, principalmente, por questões sociais, vinculadas ao desespero de sertanejos
que se viram sem suas terras e, os funcionários da estrada de ferro, desempregados e
35
sem estrutura nenhuma (MACHADO, 2004). Isso, pelo fato da nova política de
colonização das áreas concedidas pelo governo à empresa construtora da ferrovia.
Dessa forma, para colonizar a área concedida à empresa, foram vários os
responsáveis designados pela venda de terras pertencentes à companhia ao longo da
ferrovia. Segundo Pimenta (1984), o primeiro núcleo populacional efetivo a se
estabelecer no Vale do Rio do Peixe, por meio da empresa colonizadora, foi a colônia
“Bom Retiro”, em 1916, situando-se em torno da estação do mesmo nome nas
proximidades da atual Cidade de Joaçaba. Eram descendentes de alemães vindos do
Rio Grande do Sul. Joaçaba foi, também, ocupada posteriormente por ítalo-gaúchos. A
sua formação, em 1916, deu-se em função de acordos no final do conflito do
Contestado, que definiram os domínios das áreas de terras do denominado “território
contestado”, no qual intensificou-se o processo de colonização em direção ao oeste
catarinense.
A partir de 1917, desencadeou-se não somente em direção a Joaçaba, mas para
todo o Vale do Rio do Peixe e no Alto Uruguai, uma ocupação gradativa do sul para o
norte. Ou seja, através das diversas empresas colonizadoras que foram surgindo
ligadas à Brazil Railway Company, descendentes de alemães oriundos de Novo
Hamburgo, Montenegro, São Leopoldo, Santa Cruz do Sul, Estrela e Lajeado e, de
italianos vindos de Farroupilha, Bento Gonçalves, Caxias do Sul, Garibaldi, Cachoeira
do Sul e regiões adjacentes, encontraram meios para se expandirem e passaram a se
instalar e (re)produzirem suas vidas nas novas terras (THOMÉ, 1983, p. 184). De
acordo com Thomé (1983), a ocupação foi aos poucos atingindo os limites com o
Estado do Paraná e com a Argentina, seguindo as direções Sul-Norte e Leste-Oeste,
respectivamente.
Neste contexto em que envolvia a construção da ferrovia, os problemas de
limites territoriais e a ocupação efetiva do Meio-oeste e Oeste catarinense, nas
proximidades das estações férreas construídas foram surgindo, paulatinamente,
pequenos núcleos de povoamento que deram origem às primeiras cidades ao longo do
Vale do Rio do Peixe, dentre elas se destacam: Matos Costa, Caçador, Rio das Antas,
Videira, Pinheiro Preto, Tangará, Ibicaré, Joaçaba, Herval d’Oeste, Lacerdópolis,
Capinzal, Ouro, Piratuba e Ipira (BRANCHER, 1994).
36
Algumas dessas cidades, como Joaçaba e Herval d’Oeste, Capinzal e Ouro são
exemplos de “cidades geminadas” que, no decorrer das suas histórias, se
desmembraram, isto é, tornaram-se municípios administrativamente independentes,
porém mantêm um processo de inter-dependência, com vínculos muito fortes nos
aspectos econômicos e culturais, que por vezes se confundem.
Assim, ao longo do Vale do Rio do Peixe foram implantadas 13 (treze) estações
ferroviárias (embriões de futuras cidades), distantes umas das outras cerca de 25 (vinte
e cinco) quilômetros (MARTORANO, 1982) (Quadro 01). A primeira estação foi
inaugurada em abril de 1908, que deu origem ao atual Município de Matos Costa
(cabeceira do rio do Peixe) e, a última foi inaugurada em 1910, em terras do atual
Município de Piratuba (que faz divisa com o Estado do Rio Grande do Sul pelo rio
Uruguai).
Quadro 01 - Estações Ferroviárias, em território catarinense, da Estrada de Ferro
Federal São Paulo-Rio Grande, que desencadearam em futuras
cidades/municípios.
Nome da Estação
original
Data da inauguração da
estação
Emancipação
Municipal
Nome atual do
Município
São João 30 de abril de 1908 23 de abril de 1962 Matos Costa
Osmar de Medeiros
(posteriormente
denominada Calmon)
03 de abril de 1909
09 de janeiro de 1992
Calmon
Taquaral Liso
(posteriormente
denominada
Presidente Penna
03 de abril de 1909
Pertence ao Município
de Caçador
Taquaral Liso é uma
vila do atual município
de Caçador
Rio Caçador 01 de maio de 1910 1934 Caçador
Rio das Antas 01 de maio de 1910 21 de novembro de
1958
Rio das Antas
Rio das Pedras 01 de maio de 1910 1944 Videira
Pinheiro Preto 01 de maio de 1910 04 de abril de 1962 Pinheiro Preto
Rio Bonito 01 de setembro de 1910 30 de dezembro de
1958
Tangará
Barra São Bento 01 de setembro de 1910 30 de março de 1962 Ibicaré
Herval 01 de setembro de 1910 30 de dezembro 1953 Herval do Oeste
Rio Capinzal
20 de outubro 1910
30 de dezembro de
1948 (a instalação
oficial foi em 17 de
janeiro de 1949)
Capinzal
Rio do Peixe 29 de outubro de 1910 30 de dezembro
de1948
Piratuba
Rio Uruguai 29 de outubro de 1910 Localidade de Uruguai
(Distrito de Piratuba)
Piratuba
Fonte: A partir de Thomé, (1983); Martorano (1982), entre outros autores, os dados foram compilados e
organizados pela autora.
37
Entretanto, à medida que o Vale do Rio do Peixe foi sendo colonizado, as formas
e as funções geográficas daquele território foram se modificando e, alguns lugares
progredindo mais do que outros. Novas estações férreas foram construídas com o
passar dos anos, de acordo com as necessidades e o aumento de produção para
exportação. Esse novo traçado apresentava em média 11km de distância entre uma
estação e outra (THOMÉ, 1983). Em Capinzal foram construídas mais duas as quais,
atualmente, estão completamente abandonas e pertencem a propriedades de
particulares.
De acordo com Brancher (1994), a localização da primeira estação em Capinzal
só ocorreu em razão de haver no local fonte de água potável suficiente para atender ao
consumo necessário na cozinha/refeitório e demais necessidades do sistema
ferroviário, assim como o sítio local estar em planície nas proximidades do rio que
favorecia nesta situação.
A construção da VFFSPRG foi um dos elementos preponderantes no processo
de colonização e formação sócio-espacial de Capinzal, bem como para a região do
Vale do Rio do Peixe, em Santa Catarina, impulsionada por empresas construtoras e
colonizadoras. Aquela ferrovia foi, portanto, suporte para o incremento de atividades
econômicas ao longo do tempo, bem como a madeira, a agricultura, a agropecuária,
entre outros. Foi, também, um fator que muito influenciou aquela sociedade na busca
de novas formas de organização e produção de suas vidas.
1.3 CAPINZAL: A PRODUÇÃO DO LUGAR A PARTIR DA PRESENÇA DE ÍTALO-
GAÚCHOS
Alguns estudos que tratam da dinâmica populacional ao longo do Vale do Rio do
Peixe apontam os índios Caiguangues (ou Kaingang), principalmente, e os Xokleng os
primeiros habitantes a interagirem com aquele território. Eles viviam da caça e da pesca
nos afluentes dos rios Iguaçu, Uruguai, Canoas, Negro, assim como no Vale do Rio do
Peixe (BRANCHER, 1994; MARTORANO, 1983; et alii).
Em Capinzal, o período que antecedeu a implantação da Estação Ferroviária da
Linha Federal São Paulo–Rio Grande, as terras se mantiveram quase que inexploradas
38
e, apenas, serviam de passagem por caminhos e veredas aos homens do sertão,
índios, tropeiros
8
e os remanescentes das revoluções Farroupilha (1835-1845) e
Federalista (1891-1894) (BRANCHER, 1994, p.37). A Revolução Farroupilha ou Guerra
dos Farrapos, segundo Piazza e Hübener (2003), eclodiu na Província de Rio Grande
de São Pedro, estendendo-se até a Província de Santa Catarina. Foi uma revolução
popular relacionada com o desejo de maior autonomia política para as Províncias,
contra uma política reacionária dos Governos Provinciais, que se punham naquele
período com o desejo de oferecer mais atenção aos interesses unânimes, por parte do
Governo central (imperial), voltados principalmente para atividades de pecuária.
A Revolução Federalista cuja eclosão ocorreu igualmente no Rio Grande do Sul,
estendendo-se aos Estados de Santa Catarina e do Paraná foi, também, um movimento
político em oposição ao autoritarismo do Governo do Presidente Floriano Peixoto. Os
revolucionários federalistas pretendiam obrigar o Governo Federal a cumprir
determinações da Constituição e exigir a destituição do Governo estadual (PIAZZA;
HÜBENER, 2003). Mas, apesar desses conflitos, somente ao final do século XIX e
início do século XX, ocorreram as primeiras explorações de cunho capitalista das terras
capinzalenses, vinculadas principalmente à criação de gado.
Já na primeira década do século XX, Capinzal se caracterizava pelo início da
colonização ítalo-gaúcha. Em 1908, os primeiros colonos a se instalarem efetivamente
foram as famílias de José Blasi, João Vachi, José Zoccoli, Antonio Freitas, Carmine
Zoccoli, José Maria, Adelino Ferreira, Frederico Alves, Francisco Miguel, Leandro
Padilha, Vergílio Urbano de Moraes, Manoel Bitencourt, Bernardino Macedo, Paulo
Lenzi, Paulo Zoccoli e Carmelo Zoccoli (IBGE, 1959).
A maioria dessas famílias descendentes de italianos viviam em antigas colônias
no Rio Grande do Sul e migraram para Capinzal (inicialmente Rio Capinzal), assim
como outras famílias migraram para outras regiões do território catarinense, sobretudo,
ao longo do Vale do Rio do Peixe, como Vila do Rio das Pedras (posteriormente
Perdizes e atual Videira), Barra Fria (atual Lacerdópolis), Bom Retiro (posteriormente
Cruzeiro e atual Joaçaba).
8
Condutores de tropas. Eram os indivíduos, isto é, os intermediários, que compravam e vendiam o gado
dos fazendeiros, uma vez que normalmente os donos das fazendas não comercializavam seus rebanhos
diretamente com os consumidores (PELUSO JR, 1949).
39
Dessa forma, o Vale do Rio do Peixe no Meio-oeste catarinense
[...] começou a ser ocupado por um contingente de gaúchos que vinham em
busca de terras férteis e ricas em madeira.
A população ítalo-gaúcha que se estabeleceu em Capinzal, veio em sua maioria
de Viadutos, Guarama, Erechim, Erebango, Passo Fundo, Lageado,
Sananduva, Nova Prata, Veranópolis, Bentos Gonçalves, Vacaria, Lagoa
Vermelha e de outros lugares. (BRANCHER, 1994, p. 76).
O deslocamento de migrantes do Rio Grande do Sul, segundo Lago (1978), não
ocorreu apenas pela atração às novas terras mas, também, como possibilidade de
extração e comercialização de produtos naturais, nos quais os migrantes encontravam
perspectivas mais favoráveis para mercados externos. Nessas condições, a economia
que se desenvolvia nas antigas colônias gaúchas, encontrava frágeis suportes quanto à
comercialização dos produtos que, em geral, eram primários e sofriam ampla
concorrência entre os pequenos produtores rurais, além das limitações pelo
esgotamento do solo que dificultava em se obter bons resultados das colheitas.
Assim, o processo de colonização inicial de Capinzal foi ocorrendo
continuamente até o final da década de 1920. Posteriormente, a imigração passou a
ser mais esporádica e também oriunda de outros lugares como por exemplo de Piratuba
e Ipira, localidades catarinenses que tiveram suas origens a partir de migrantes
também oriundos, principalmente, do Estado do Rio Grande do Sul.
A região de Capinzal, anterior à Estrada de Ferro ao processo de colonização,
era coberta por vegetação pertencente ao grupo da mata subtropical alta e mista
caracterizada pela marcante presença da Araucária angustifólia. Entre os anos de 1910
e 1930 a população que se concentrava na várzea do rio do Peixe, foi formando uma
pequena vila e, viviam em função de pequenos negócios e trocas de produtos
agrícolas, tais como: milho, feijão, alfafa e, da pecuária, principalmente bovinos e
suínos. A produção agropecuária, portanto, era apenas para o mercado local e de
subsistência.
A araucária foi, segundo vários autores e principalmente Brancher (1994), um
dos principais atrativos de madeireiros, oriundos notadamente do Rio Grande do Sul,
em busca de fixar empresas na região para a exploração daquele recurso, a qual se
tornou a base sócio-econômica de Capinzal, entre as décadas de 1930 a 1950,
40
juntamente com a extração e industrialização da erva-mate (Ilex paraguariensis),
também abundante na região. A erva mate é, portanto, uma “cultura permanente” e
sempre se fez presente nas atividades sócio-econômicas de Capinzal. É uma planta
muito difundida entre os pinheirais, nas matas de imbuia e em terras úmidas e planas;
originária da região subtropical da América do Sul, presente no sul do Brasil e no Mato
Grosso do Sul, no norte da Argentina, no Paraguai e no Uruguai.
No período de 1930 a 1949 estabeleceram-se processos de exploração da
araucária, e instalaram-se em Capinzal 16 empresas madeireiras, entre as quais duas
destacavam-se tanto na transformação quanto na comercialização da madeira e, ainda
hoje mantêm algumas atividades na região. A empresa Emílio D’Agnoluzzo Ltda, atual
Madeluzzo Madeiras, cuja procedência familiar remonta a Bento Gonçalves-RS, se
destacava regionalmente operando, no início de suas atividades, no fabrico de carroças
(carros de tração animal) e, posteriormente, no beneficiamento da madeira em portas,
forros, rodapés etc, para a construção civil (BRANCHER 1994; ALMEIDA, 2004). Por
volta de 1994, aquela indústria passou a desenvolver suas atividades em quase 100%
na produção de paletes
9
. Praticamente toda a produção é absorvida pela Agroindústria
Perdigão (DAGNOLUZZO, 2006).
A empresa Pagnocelli Hachmann & Cia. Ltda. (atual Hachmann Ltda.) já exercia
atividades nesse ramo no Rio Grande do Sul (no Município de Estrela) e,
posteriormente, a partir de 1917, em Piratuba (SC). Em Capinzal, se instalou em 1930,
de onde exportava a madeira beneficiada em tábuas e aberturas para a Alemanha,
Holanda e Porto Rico, seus principais consumidores. O transporte das tábuas era feito
por caminhões até um depósito em Itajaí e/ou via estrada de ferro até São Francisco do
Sul, São Paulo e Rio de Janeiro (BRANCHER 1994). Aquela indústria também se
dedicava ao fabrico de pasta mecânica e de papel, porém com a matéria-prima a partir
do Pinus Elliottii e Taeda (espécies exóticas de pinheiros no Brasil, originárias do
Canadá e dos Estados Unidos da América). O uso dessa matéria-prima se deu ao
esgotamento da araucária, a partir dos anos de 1950, em função da sua excessiva
exploração por madeireiras.
9
Um tipo de madeira beneficiada em forma de ripas largas.
41
Atualmente, a principal atividade da empresa Hachmann Ltda é a fábrica de
beneficiamento da madeira em tacos, que serve de assoalhos para construção civil,
caixas etc. (HACHMANN, 2005). Aquela empresa continua sendo uma das maiores no
ramo madeireiro na região de Capinzal, com produtos voltados para exportação. Outras
empresas madeireiras surgiram posteriormente, porém, com menor destaque e com
potencial econômico restrito à região de Capinzal, cuja matéria-prima, em sua maioria,
é o pinus (Elliottis e Taeda) e o eucalipto (Eucalyptus), respectivamente.
O eucalipto é também uma planta exótica no Brasil cuja origem e australiana, no
continente da Oceania. No Brasil, esse vegetal se intensificou a partir do início do
século XX, sendo utilizado durante algum tempo nas ferrovias como dormentes e lenha
para as marias-fumaças, mais tarde como postes para eletrificação das linhas e
iluminação pública. Este último uso foi bastante comum até recentemente em Capinzal.
Atualmente, o eucalipto é muito utilizado como lenha nos fornos de cerâmicas, para a
produção de telhas, tijolos etc.
Com a inserção de empresas madeireiras e algumas ainda remanescentes, em
Capinzal, esse fato se configurou num processo de alta e posteriormente de baixa
atividade econômica no ramo e, conseqüentemente, sofreu adaptações locais na
dinâmica do modo de produção, de acordo com o mercado consumidor e a
concorrência com outros produtos. Pois, a partir da década de 1950, a madeira nativa
começou a se esgotar na região e, com isso, a industrialização desse bem natural no
município e região praticamente desapareceu, resultando então no fechamento e/ou
transferências de muitas fábricas para outras regiões, ainda, com reserva florestal
nativa.
Com a decadência da atividade madeireira por falta da matéria-prima, esta
causou impacto tanto nas atividades urbanas, quanto rurais desestabilizando,
principalmente, trabalhadores ligados à extração e comercialização daquele produto
quando beneficiado (BRANCHER, 1994). Difundiu-se, então, com maior significância,
naquele período da decadência madeireira, as atividades agropecuárias. A partir do
final dos anos de 1940 e, principalmente, dos anos de 1950 em diante, a agropecuária
42
desponta como um significativo potencial econômico
10
. A pecuária entretanto, destaca-
se, principalmente, na criação de aves, de suínos e de bovinos (Quadro 2); na
agricultura, as culturas temporárias ganham destaque na produção de milho, do trigo,
do feijão, do arroz e da soja (Quadro 3) e, algumas culturas permanentes como uva,
laranja, pêssego, bergamota, (BRANCHER, 1994; IBGE, 1959), tiveram significativas
expressões econômicas entre os anos de 1950 a 1980, mostrando-se atividades em
desenvolvimento no Município de Capinzal.
Quadro 2 – Animais existentes nos estabelecimentos em
Capinzal nos anos de 1950, 1960, 1970 e 1980
Tipo de animais
(total)
Ano
1949
Estab
Ano
1960
Estab.
Ano
1970
Estab.
Ano
1980
Estab.
Bovinos
11.481 971 13.730 1.414 6.603 421 8.242 405
Eqüinos
675 171 2.192 1237 442 228 323 161
Asininos
13 8 3 3 24 22
* *
Muares
125 22 357 272 59 40
* *
Suínos
33.706 1.008 54.604 1424 7.749 421 12.293 391
Aves
46.831 999 91.377 1.411 101.432 432 366.411 416
Caprinos
148 42 170 53 125 25 58 6
Ovinos
1.220 128 2.138 327 631 84 705 44
Fonte: IBGE - Censos Agrícolas, 1950, 1960, 1970 e 1983.
* Dados não computados pelo IBGE no ano de 1980.
Obs.: Dados mais recentes sobre os tipos de animais existentes em Capinzal serão abordados adiante,
no Capítulo 3.
Quadro 3 - Principais tipos de produção agrícola em Capinzal entre os anos
de 1950 a 1980
Ano Milho* Trigo* Feijão* Arroz* Soja*
1950 8.881 1.372 338 211 **
1960 14.466 1.565 408 423 78
1970 3.720 432 103 138 105
1980 5.066 12 108 173 7.536
Fonte: IBGE - Censos Agrícolas, 1950, 1960, 1970 e 1983.
*Produção expressa em tonelada.
** Dados não computados pelo IBGE no ano de 1950.
Obs.: Dados mais recentes sobre os principais tipos de produção agrícola em Capinzal serão abordados
adiante, no Capítulo 3.
10
Devido, principalmente, à decadência da atividade madeireira, por falta de matéria-prima. Daí a
necessidade de se criar outras formas de produzir a vida.
43
Desse modo, paralelo a essas atividades agropecuárias que vinham se
desenvolvendo, houve incentivos por parte do governo municipal, bem como o amparo
ao pequeno produtor rural no fornecimento de assistência e orientação técnica por meio
de agrônomos, veterinários e agentes sociais, assim como infra-estruturas (construção
de estradas e escolas) municipais que possibilitassem a inserção de novas atividades
econômicas (BRANCHER, 1994), amparadas pelas mínimas condições possíveis para
o seu desenvolvimento. Visando, dessa forma, à qualidade na produção e aos
rendimentos acima de tudo tributários, pois com a expansão e diversificação de
atividades, automaticamente, aumentaria a tributação municipal.
Com o incremento da suinocultura a partir de fins da década de 1940, a
economia municipal, naquele momento voltava-se, também, para a produção da banha
de porco. Em 1955, dados demonstram que essa produção atingiu 619.268Kg,
resultando no valor de Cr$ 18.161.930,00. Outros produtos derivados, também, da
carne suína, como o salame, a mortadela e semelhantes, tiveram uma produção
significativa. A produção desses derivados suínos, naquele ano de 1955, foi de
145.378Kg, resultando no valor de Cr$ 5.887.210,00 (IBGE, 1959). Parte da produção
era comercializada e o transporte era feito via Estrada de Ferro São Paulo-Rio Grande
para o mercado consumidor, principalmente, do sudeste.
Outros produtos agrícolas como abóbora, alfafa, amendoim, batata doce etc.
também foram economias complementares na vida sócio-econômica local no período
compreendido entre 1950 e 1980, embora voltados mais para subsistência.
Nesse contexto da dinâmica sócio-econômica de Capinzal, desenvolvia-se numa
escala regional, notadamente, no Vale do Rio do Peixe, a partir dos anos de 1930, a
atividade frigorífica, um processo nacional de industrialização. Uma nova situação, de
um ramo industrial em desenvolvimento que precisava ampliar seu mercado em função
da revolução de 1932, quando ocorreu a extinção de barreiras à circulação de
mercadorias entre os Estados da União (PIMENTA, 1984). Isso marcou a integração
econômica do espaço nacional. Naquela época surgiram os frigoríficos Perdigão (1934)
em Videira, Reunidas Ouro S/A (1937) em Capinzal, e Pagnocelli (1942) em Herval
D’Oeste. Mas o processo de industrialização teve continuidade na atividade frigorífica
no país, a partir da Segunda Guerra Mundial, com a criação de empresas como a Sadia
44
(1944) em Concórdia, a Seara (1949) em Seara, e a expansão desta atividade, em
direção ao Oeste catarinense (PIMENTA, 1984; ESPÍNDOLA, 1999).
Desde 1937, o Município de Capinzal já estava se inserindo nesse circuito
econômico não apenas no setor agropecuário mas, também, sediava uma indústria
frigorífica, as Indústrias Reunidas Ouro S/A, a qual foi responsável pelo incentivo à
suinocultura após o declínio do “ciclo madeireiro” (BRANCHER, 1994). Porém, aquela
empresa não teve poder irradiador significativo sobre a economia local como um todo,
pelo fato da indústria frigorífica apresentar uma tendência à concentração e
centralização econômicas que se realizavam, principalmente a partir da década de
1970, no Vale do Rio do Peixe.
Houve, então, a partir daquele momento, um incremento acentuado na escala da
produção e, conseqüentemente da acumulação, com destino ao mercado nacional e
mundial. Concomitantemente, houve um processo de acumulação de capitais,
resultando na reunião de empresas existentes. Isto é, frigoríficos menores foram
adquiridos pelas empresas maiores (PIMENTA, 1984; ALBA, 2002).
No caso, o grupo Perdigão com sede no Município de Videira, adquiriu as ações
das Indústrias Reunidas Ouro S/A de Capinzal e implantou, em 1980, o complexo
agroindustrial alimentar naquele município com grande repercussão na economia local,
tanto rural quanto urbana. Ampliando, todavia, a sua escala de produção no Meio Oeste
e Oeste catarinense e comercialização com países, principalmente europeus.
Nesse viés da produção do espaço, Capinzal já representava a partir da
presença ítalo-gaúcha uma dinamicidade populacional, que veio se (re)adaptando e se
(re)organizando de acordo com as necessidades que a própria população vem criando,
cada vez mais influenciada pelo sistema de mercado. De pequena vila, passou,
gradativamente a se estruturar e adquirir aspectos de Cidade e, conseqüentemente,
município, inserindo-se às redes de negócios que engendram relações sócio-
econômicas.
Quanto à dinâmica populacional, até 1920, não há registros que identifiquem
números exatos ou próximos da população existente, mas foi um período de pequena
mobilidade humana não somente em direção às áreas do atual município de Capinzal,
45
como também em todo o Vale do Rio do Peixe, período em que o processo migratório
populacional se encontrava incipiente até 1930.
Por outro lado, a partir de 1920 (Quadro 04), aquele lugar demonstra
crescimento populacional um pouco mais significativo. De acordo com Brancher (1994),
em 1925, a sede do então Distrito de Capinzal apresentava de 80 a 100 casas, todas
em madeira e sob influências de estilos rurais italiano. A maior parte da população
estava concentrada na sede e um pequeno contingente no interior do distrito.
Entretanto, a dinâmica sócio-econômica, tanto no contexto urbano quanto rural, de
1930 em diante é marcada inicialmente pela presença de pequenas atividades
agropecuárias (milho, feirão, alfafa e suínos, bovinos etc.) de subsistência; passando
pela exploração da madeira nativa (Foto 01) e extração da erva-mate, concomitante a
atividade agropecuária e, atualmente, a atividade agroindustrial, foi dando novas formas
e funções no espaço urbano-regional de Capinzal.
Quadro 04 - População residente no município de Capinzal-SC entre 1920 e 2000
Ano População Total População Urbana População Rural
1920 3.082 - -
1930 - - -
1940 5.535 824 5.711
1950 13.935 1.868 12.067
1960 16.645 3.023 11.994
1970 7.772 3.545 4.227
1980 10.891 4.785 5.636
1991 13.694 9.358 4.336
1996 15.569 10.412 5.157
2000 19.955 15.460 4.495
Fonte: IBGE - Censos Demográficos, (1924, 1951, 1955, 1968, 1973, 1982, 1991, 1996, 2002).
Dados preparados pela autora.
46
Foto 01 - Madeireira Movida a Vapor na Década de 1940
Nesse contexto, a partir dos primeiros colonos em 1908, a população residente
no Município de Capinzal teve um crescimento significativo, se comparada a quase
inexistência de habitantes anterior a essa data. Porém, não há registros que
comprovem o número exato populacional até o ano de 1920. O IBGE realizou o censo
demográfico, em 1920, porém não forneceu dados nas divisões urbana e rural, assim
como, em 1930, não realizou a contagem populacional no Estado de Santa Catarina.
Dificultando sobremaneira a possibilidade de computar a população naqueles períodos.
No período entre 1940 e 1960, além de um aumento considerável, a população
de Capinzal localizava-se, em sua maioria, em área rural e/ou vivia de atividades
agropecuárias. Entre 1960 e 1970, entretanto, houve uma queda no número da
população residente devido à emancipação do Distrito de Ouro, em 1963, que subtraiu
aproximadamente mais de 53% da população de Capinzal. Percebe-se, também, que a
partir desse período ocorre um processo de urbanização um pouco mais concentrada,
pois houve uma maior diversidade das atividades industriais. Dentre elas destacam-se a
de produção alimentar, com a industrialização de carnes de aves, suínos e bovinos; de
transformação da madeira em aglomerados, tacos, janelas, portas etc.; de minerais não
Fonte: Acervo particular de Vitor Almeida, residente em Capinzal.
Editada por Analice de Avila.
Serraria movida a
vapor, em pleno
funcionamento, no
Distrito de Rio
Capinzal. Denominada
Santo Antonio, de
propriedade de José
Thomazzoni & Irmãos.
Na vista, ao fundo,
parte da Mata de
Araucárias,
abundante na época.
47
metálicos que envolvem a produção de cerâmicas, como cimento, telhas, areia, brita
etc.;de mobiliária na fabricação de móveis em geral, mesas, cadeiras e estantes; entre
outras, que favorece a ocupação de pessoal no setor industrial.
Entre os anos de 1970 e 1980, nota-se uma tendência de um certo equilíbrio
entre a população urbana e a rural e um maior crescimento industrial do município,
principalmente, da atividade agroindustrial. No censo de 1991, a população urbana em
Capinzal era de 68%. Lembrando, também, que em dezembro de 1995, o Distrito de
Zortéia emancipou-se e teve parte de seu território constituído por desmembramentos
capinzalenses e por outra parte do próprio município de Campos Novos. Em 1996,
Capinzal mantinha um total de 67% da população em área urbana e, em 2000, esse
número aumentou para 77%. Dados mais recentes, segundo estimativa do IBGE
(2005), mostram que a população local é de 22.515 habitantes.
Essa dinâmica populacional de Capinzal não é um caso isolado, pois algumas
dessas características são comuns em cidades localizadas no Vale do Rio do Peixe,
que se formaram a partir da construção da ferrovia São Paulo-Rio Grande e tiveram o
processo de ocupação vinculado às empresas colonizadoras, concessionárias da
construtora ferroviária Brazil Railway Company.
Consubstanciado a essa dinâmica populacional, o processo de urbanização que
vem se pronunciando ao longo do tempo representa características peculiares que
marcam, desde o início da ocupação de Capinzal, uma trajetória da ação humana que
além de gravada na memória de seus habitantes, também, se mantém registrada em
documentos como fotografias provando, em parte, a sua dinâmica sócio-espacial.
1.4 MEMÓRIAS DO LUGAR: ALGUMAS (RE)SIGNIFICAÇÕES COMO MARCO DA
FORMAÇÃO SÓCIO-ESPACIAL
Memória de um lugar, significa lembranças, registros, reminiscências de um
tempo passado. São, também, remanescentes de algo que mudou, ou que não possui
mais a forma e função de outrora. A memória pode estar registrada em museus,
bibliotecas, livros, fotografias, edifícios, enfim, em diversas formas de armazenamento
de dados. Porém, não podemos nos restringir somente a isso, pois a idéia de memória
48
é, em conjunto, além das formas e dos objetos, uma gama de possibilidades que nos
remete ao passado, que pode ser percebida no presente e até projetar um futuro de
dada formação sócio-espacial .
A memória humana, seja ela individual ou coletiva, é uma possibilidade de
reconstituir a identidade de um dado lugar, de uma cidade. São pois, as memórias
humanas que possibilitam entender como o passado influenciou no acontecer presente
e influencia no por vir, resultado este da (re)produção da vida. Para Abreu (1998, p. 8-
9),
o presente se desenrolou e o futuro se construiu a partir de uma sólida base
material e espiritual herdada de outros tempos. Em outras palavras, o passado
acompanhou pari passu o processo de desenvolvimento da sociedade; ele
sempre fez parte do presente e da idéia de futuro.
Dessa forma, o passado faz parte do cotidiano de diversas sociedades
contemporâneas, sejam elas européias, africanas, americanas ou quaisquer outras.
Enfim, cada sociedade tem o seu passado específico e/ou singular, que carrega na
memória todo o processo de produção da vida. O passado é, pois, o “espelho” das
relações sócio-espaciais que se reflete no hoje e, conseqüentemente, no amanhã.
Independentemente das transformações sócio-espaciais ocorridas em um dado lugar, a
exemplo de Capinzal, as memórias podem estar nele presentes e, de certa maneira,
(re)produzidas.
Nessa perspectiva, dizer que o passado já foi é uma contradição, pois muito do
que vemos e vivenciamos a partir das relaçõescio-espaciais, no presente, é reflexo
de algo ou de alguma coisa que o passado determinou e influenciou, mas que se
manifesta por meio de um processo contínuo de ações, de vivências. Desse modo,
O passado é uma das dimensões mais importantes da singularidade.
Materializado na paisagem, preservado em ”instituições de memória”, ou ainda
vivo na cultura e no cotidiano dos lugares, não é de se estranhar, então, que
seja ele que vem dando o suporte mais sólido a essa procura de diferença. A
busca da identidade dos lugares, tão alardeada nos dias de hoje, tem sido
fundamentalmente uma busca de raízes, uma busca de passado. (ABREU,
1998, p. 7).
49
O tempo é uma variável fundamental para a compreensão do momento atual,
consubstanciado ao espaço e sociedade, isto é, às relações sócio-espaciais que vêm
se (re)produzindo constantemente.
Assim, a categoria lugar é, para a geografia, uma dimensão do espaço produzido
a partir das interações sócio-espaciais. Nesse sentido, o caráter simbólico dos lugares
nas idéias de Costa (2003, p. 33), “revela-se ao ser humano como algo que precede a
linguagem e a razão discursiva, apresentando assim determinados aspectos do real,
enfatizando as relações entre o simbólico e o lugar.“ Entretanto, estas relações são
mediatizadas pelos símbolos, que podem ser uma realidade material (formas, objetos,
documentos) e que se unem a uma idéia, um valor, um sentimento (COSTA, 2003),
revelando um significado.
Conforme a sociedade vai se (re)organizando e se (re)adaptando ao espaço ela
deixa suas marcas na paisagem por meio de suas ações, implicando sua
materialização. O conceito paisagem geográfica deve ser entendido não como espaço
geográfico e, sim como um lugar composto por associações distintas de formas físicas
e culturais, ou seja, não apenas o espaço físico, mas a própria sociedade interagindo
com ele, em constante movimento. Nessas condições,
A paisagem geográfica, vista como um conjunto de formas naturais e culturais
associadas em uma dada área, é analisada morfologicamente, vendo-se a
integração das formas entre si e o caráter orgânico ou quase orgânico delas. O
tempo é uma variável fundamental. A paisagem cultural ou geográfica resulta
da ação, ao longo do tempo, da cultura sobre a paisagem natural. (CORRÊA;
ROSENDAHL, 1998, p. 8-9).
Entretanto, o espaço social e concreto se manifesta na paisagem por intermédio
da materialização de eventos sociais, possibilitando, assim, uma forma de ver o
território que, de acordo com Santos (1998, p. 24), é formado por “sistemas de objetos e
por sistemas de ações numa união indissolúvel e dialética”.
Nesse viés de compreensão e discussão da memória e de suas (re)significações
que a geografia cultural permite explorar, tomou-se o lugar Capinzal como exemplo
empírico na tentativa de expressar um entendimento e explorar essa temática, não
como fundamental neste estudo, mas como uma possibilidade de complementá-lo, para
50
entender como aquele lugar vem sendo (re)produzido a partir das relações sócio-
espaciais, nas quais a memória se mantém presente.
São vários os símbolos que revelam a memória do lugar Capinzal, dentre eles a
estação ferroviária, atualmente desativada, que teve grande significado sócio-
econômico e, no momento é uma casa comercial de materiais de construção (Foto 02).
A ferrovia, no trecho Capinzal/Piratuba/Marcelino Ramos, vez ou outra atua como
trajeto de passeio turístico. Já a caixa d´água (Foto 03), outrora importante reservatório
de água para abastecer as locomotivas durante o seu funcionamento na ferrovia São
Paulo-Rio Grande encontra-se em desuso e, de certo modo, abandonada. Ela foi
construída em 1910 toda em estrutura de ferro, com material importado da Inglaterra e
é sustentada por barras, numa altura de 8 metros. Tem forma cilíndrica e possui
capacidade para 40 mil litros de água (BRANCHER, 1994, p. 48-49). Está situada nas
proximidades da Estação Ferroviária, onde ainda hoje se encontra formando
monumento histórico. Nas condições relatadas, tanto a estação ferroviária quanto a
própria ferrovia e a caixa d´água têm um significado, muito embora não mais com as
mesmas utilidades de outrora, e nem tão bem preservados na paisagem.
Foto 02 – Antiga Estação Ferroviária de Capinzal
51
Fonte: Acervo particular de Vitor Almeida
Foto 03 - Caixa d´água
Assim, alguns habitantes de Capinzal que vem (re)produzindo suas vidas
naquele lugar guardam nas suas lembranças marcas do tempo passado e tentam de
uma forma ou outra registrar fatos que simbolizam essas vivências; outros reconstituem
o passado por meio da construção de miniaturas, como a antiga estação ferroviária
(Foto 04), a primeira ponte pênsil, um moinho de trigo etc. Enfim, essas são formas de
(re)constituir o passado e revivê-lo no presente, dando um significado e reconhecimento
das diversas maneiras de (re)produzir a vida a partir do trabalho apreendido por uma
sociedade.
A Igreja Matriz São Paulo Apóstolo também revela uma expressão social, pois,
como em quase toda história da humanidade, o símbolo da religiosidade se mantém
entre os principais ícones da sociabilidade. De acordo com as informações e
lembranças do Sr. Névio Lanhi, agricultor aposentado e antigo morador de Capinzal, foi
seu pai - juntamente com os filhos - que doou boa parte do barro e dos tijolos para a
construção da referida Igreja, iniciada em 1931. Na ocasião, a família tinha uma
pequena olaria, de trabalho familiar, e se dispôs a colaborar para a construção daquele
monumento (LANHI, 2006). Lanhi lembra, ainda, que o material para a construção da
Igreja era transportado por carro de tração animal, pois era a maneira mais viável na
época, haja vista a escassez de recursos.
52
Autor: Jackson Betin – 02/10/2006
Foto 04 Miniatura da Antiga Estação Ferroviária de Capinzal
11
Nessas condições, a construção da Igreja contou com o esforço e a colaboração
de muitos capinzalenses. E a tradição que vem se cultivando todos os anos é a festa do
padroeiro de mesmo nome, que ocorre sempre no mês de janeiro. A festividade
religiosa atrai pessoas da cidade e do interior do município, bem como dos municípios
de Ouro, Zortéa, com diversas atrações como jogos, bailes e/ou matinês, rifas,
churrascos etc. Essa é uma maneira de unir a religiosidade ao lazer. O encontro social
abrange diversos segmentos da sociedade local.
Também são expressões de memória, algumas tradições que ainda se mantém
pela cultura trazida pelos ítalo-gaúchos como o chimarrão, conhecido por mate amargo,
uma bebida que faz parte da cultura indígena guarani no bacia do Prata, e foi se
disseminando em quase toda a região sul brasileira. Portanto, essa cultura é praticada
pela maioria das famílias em Capinzal, assim como em todo o meio-oeste e oeste
catarinense.
O chimarrão é sorvido quente por uma bomba de metal e servido numa vasilha,
chamado cuia, de metal, louça ou porongo. Este, originário de um tipo vegetal, tem a
preferência de boa parte dos usuários, pois dizem ser mais saboroso. De acordo com
Almeida (2005) e com antigos moradores, era hábito nas fazendas de Rio Capinzal
11
(Re)constituída por Antônio Pasqual Sartori, antigo morador do Município de Capinzal.
Miniatura da
antiga estação
ferroviária de
Capinzal.
Miniatura do
trem que
circulava na
Estrada de
Ferro São
53
levantar cedo e providenciar em primeiro lugar o preparo do chimarrão, que era tomado
com a família e/ou amigos convidados para a rodada.
Somente depois de sorver o chimarrão, tomava-se o café da manhã e iniciava-se
a jornada de trabalho. Ainda na atualidade, a maior parte das famílias, quando recebem
visitas, servem, em primeiro lugar, o chimarrão aos visitantes. Assim, aquela bebida se
tornou hábito cultural, que dificilmente perde tal prática, pelo fato de normalmente fazer
parte do convívio familiar, passando de pais para filhos.
Inicialmente, a fabricação da erva-mate para o chimarrão era processada em
casa, na propriedade familiar, de forma artesanal. Eram colhidos os ramos verdes e,
posteriormente, eles passavam pelo processo de torrefação para, em seguida, serem
socados no pilão - recipiente feito do tronco de árvore com uma abertura no meio,
agregado de uma outra peça chamada “mão-de-pilão”, também feita a partir de um
galho de árvore. Obviamente, essa forma de fabricar a erva-mate, de forma geral, não é
mais ou é pouco utilizada atualmente, sendo comprado o produto já processado .
Outras tradições que também se mantêm são os bailes e festas, que
normalmente são animados por músicas regionais da tradição gauchesca. Esses tipos
de eventos são comuns no interior do município, assim como em boa parte do oeste e
meio-oeste catarinense, e são geralmente promovidos pelas igrejas e escolas locais
com o objetivo de levantar proventos. As festas comunitárias, geralmente, ocorrem nos
meses em que se comemora o dia do padroeiro(a) das igrejas católicas locais,
acompanhadas das tradicionais missas. Há também as festas de rodeios, do chamado
CTG – Centro de Tradições Gaúchas, que em Capinzal denomina-se Estância da
Querência, localizado em Lindenberg, localidade do interior do município.
Essas festividades são formas de absorver tradicionalistas e simpatizantes de
vários lugares de Santa Catarina, do Rio Grande do Sul e do Paraná. Elas têm duração
de 2 dias (sábado e domingo), com programação que inclui churrascadas, touradas,
torneios de laço, baile e matinê, entre outras atividades.
Outra tradição cultuada é a festa italiana, denominada Noite Italiana, que
comemora a colonização daquele município por ítalo-gaúchos. É acompanhada por
comidas típicas e vinhos, há apresentação de danças folclóricas e ocorre anualmente
no mês de julho.
54
Esses exemplos citados revelam que a memória da sociedade registrada tanto
em documentos quanto na paisagem, nas formas espaciais e na própria cultura local,
por meio de alguns hábitos e tradições vem se cultivando e expressando uma
peculiaridade que difere de qualquer outro lugar, mesmo que outros lugares também
tenham hábitos, culturas e até mesmo a formação sócio-espacial parecidos, mas nunca
iguais no seu conjunto.
Desse modo, como a memória individual e coletiva pode contribuir para a
recuperação do lugar, da cidade, é a partir dela e de seus registros que se pode
enveredar pelas lembranças das pessoas e atingir momentos que já passaram e formas
espaciais que já desapareceram (ABREU, 1998, p. 11). Mas há de se ter cuidado, pois
ela é subjetiva.
Entretanto, a memória coletiva “é um conjunto de lembranças construídas
socialmente e referenciadas a um conjunto que transcende o indivíduo”. (ABREU, 1998,
p. 12). E, nesse conjunto de lembranças, a veracidade e as minúcias dos fatos
corroboram com mais amplitude e profundidade, pois aí está envolvida uma gama maior
de informações que muitas vezes um indivíduo, por si só, não possui, mas no coletivo
sim. É o que ocorre como as memórias intangíveis, como as tradições populares, as
festividades que fazem do lugar único e especial, e aos quais agregam-se valores
sócio-culturais próprios daquele lugar.
Capinzal certamente se insere nesse circuito de memórias tangíveis e
intangíveis, (re)produzidas a partir da dinâmica sócio-espacial, agregando valores
peculiares, próprios daquela sociedade, mas, herdados, em partes, de outras
sociedades.
55
2. AGENTES PÚBLICOS E PRIVADOS NA FORMAÇÃO SÓCIO-
ESPACIAL DE CAPINZAL E REGIÃO
2.1 PARTICIPAÇÃO ESTATAL COMO PROMOTORA DE MUDANÇAS LOCAIS E
REGIONAIS
2.1.1 O Estado: (Re)visitando bases conceituais
Na perspectiva de compreender a produção sócio-espacial a partir dos diversos
elementos que o espaço geográfico constitui, a presença do Estado é, também,
importante na organização da sociedade em contextos atuais, além das grandes
corporações e da própria sociedade.
Nesse sentido, vale pontual que o Estado se manifesta por diversas instituições
que, juntas, constituem sua realidade e interagem como partes do que pode ser
chamado de sistema estatal (HARVEY, 2005). O sistema estatal representado de forma
geral pelas esferas municipal, estadual e federal, sendo a primeira esfera subordinada
pela segunda e a terceira e a segunda, subordinada pela terceira, por intermédio de
seus instrumentos de dominação sobre a sociedade em geral - a legislação e a
normatização, o poder de tributação, a regulação do uso de bens naturais, a
segregação espacial, entre outros – é um agente extremamente intervencionista e
organizador do território.
Com relação a essa questão, importa, ainda, considerar que dentro das três
esferas do sistema estatal, cada uma se constitui a partir da existência de vários órgãos
que a si competem e também interagem, quase sempre subordinados a cada esfera
que constituem e ao poder estatal maior, a instância federal. Entretanto, de acordo com
Harvey (2005), o Estado sempre esteve presente como agente central para o
funcionamento da sociedade capitalista; apenas suas formas e modos de
funcionamento mudam conforme esse sistema vem amadurecendo.
Para Marx e Engels, a origem do Estado se consolida a partir da contradição
entre alguns interesses particulares e os da comunidade em geral. “No entanto, como o
56
Estado tem que assumir uma existência “independente”, para garantir o interesse
comum, torna-se o lugar de um poder “alienígena”, o qual pode dominar os indivíduos e
os grupos” (HARVEY, 2005, p. 80) sociais. E, assim como o trabalhador, mediante o
trabalho, cria capital como instrumento para a sua própria dominação, os seres
humanos em geral também o fazem, na forma do Estado. Isso pressupõe que o capital
e o Estado surgiram a partir de um mesmo ideal. E, dentre as diversas formas de
dominação do Estado, em particular, a lei, o poder de tributação e o poder de coação,
podem ser transformados, pela luta política, em meios para a dominação de classe
(HARVEY, 2005).
Essas compreensões acerca do entendimento do que é o Estado ou o que ele
representa na organização sócio-espacial, sugerem questionamentos, pois ele nada
mais é que um poder dominante de classe instituído pela própria sociedade. Os
questionamentos a esse respeito podem ser colocados da seguinte forma: se o Estado
surgiu de uma necessidade de organizar o território, quem o representa? Quem detém
o poder, formula e aplica as leis? E para que existem essas leis? Essas dúvidas podem
ter respostas a partir do momento que tenhamos claro que, se na sociedade há
diferenças de classes e, essa está dividida por subclasses; que numa divisão geral se
classificam entre o dominante e o dominado, então há quem subordina e quem é
subordinado.
Portanto, no atual sistema capitalista de produção, para o qual será direcionada
a discussão, essas duas classes são bem evidentes. Numa conceituação geral, uma é
representada pelos que dominam o capital e são os produtores e articuladores de
idéias, geralmente, a seu próprio favor; e a outra é representada pelos que produzem o
capital, por intermédio da força do trabalho e, por ela são remunerados. Nessa lógica,
se o Estado é um poder dominante instituído, logo, de acordo com Marx e Engels,
quem o representa é a “classe economicamente dirigente”, ou seja, os detentores de
grande capital. E a mesma classe economicamente dirigente também é a “classe
politicamente dirigente” (HARVEY, 2005, p. 80). Assim, as leis são por eles, os
dirigentes do poder político e econômico, constituídas e aplicadas, segundo seus
interesses, beneficiando-os. O Estado torna-se, então, o poder dominante de uma
minoria e, as leis são estabelecidas de forma a privilegiar os detentores do grande
57
capital, das grandes corporações, mas não para interesses comuns de uma
coletividade.
No decorrer da história, o poder do Estado vem se constituindo sob diversas
formas, de acordo com cada sistema de produção. Porém, o espaço social precede o
espaço político e do poder. Em adição a essa lógica capitalista contemporânea, Lipietz
(1988, p. 151) diz que são as relações de produção que determinam a existência do
Estado e o uso da força e do poder, pois a ligação entre o espaço social e o poder
político diz respeito à sobredeterminação do primeiro pelo segundo.
Todavia, o Estado contemporâneo se solidifica cada vez mais como um agente
indutor e articulador das mudanças sócio-espaciais. Ele influencia e articula as relações
de produção determinadas pela própria sociedade como um todo. Para Bobbio (1995),
o Estado caracteriza-se por relações de subordinação entre governantes e governados,
isto é, entre os detentores do poder e destinatários. Desse modo, a partir da divisão do
trabalho, o Estado tornou-se da(s) classe(s) dominante(s) o instrumento para dividir,
controlar e domar as classes dominadas (LIPIETZ, 1988), sobretudo, o sistema político
e econômico.
O Estado contemporâneo por meio de seus representantes das esferas
municipal, estadual e da união é um agente capaz de organizar a sociedade por
intermédio de um ordenamento legal. Isto é, as leis criadas voltadas aos interesses
públicos por meio do instrumento jurídico, permitem estabelecer regras e/ou normas
que levam a sociedade a se organizar. Assim, ainda concordando com Lipietz (1988), o
espaço é um dos campos de ação das forças políticas, e o Estado é, também, uma
entidade geográfica que organiza o espaço de modo a exercer seu poder sobre os
homens.
Nessa perspectiva o espaço, por ser “considerado um mosaico de elementos de
diferentes eras, sintetiza de um lado, a evolução da sociedade e explica de outro lado,
situações que se apresentam na atualidade.” (SANTOS, 1985, p. 22).
Assim, os elementos e/ou atores essenciais que constituem e possibilitam a
organização do espaço efetivando relações e/ou interações uns com os outros, são
considerados os homens que produzem o trabalho e a técnica, buscando meios de
(re)produzir a vida. As instituições, que também fazem parte desse contexto, apoiadas
58
nos órgãos privados e governamentais das instâncias municipal, estadual e federal, na
criação de normas, legislação, supõem certa organização do espaço e sua relação com
a sociedade. Assim como as firmas que geram mercadorias, capital, trabalho,
estabelecendo hierarquia no modo de produção. As infra-estruturas, como pontes,
casas, túneis, rodovias que são formas criadas pela sociedade para determinadas
funcionalidades. E, a base ecológica, como terreno, rio, montanha, a que serve de
suporte aos demais elementos para a organização espacial.
Estes elementos interagem e expressam a idéia do todo, consubstanciados a
idéia de movimento social mais a natureza. Entretanto, esses elementos podem ser
considerados subsídios, que numa escala local permitem a compreensão da produção
e organização sócio-espacial de um dado lugar, no caso, Capinzal e sua região. Assim,
a sociedade, as instituições, as firmas, as infra-estruturas e o meio ecológico estão
presentes em todos os lugares. Apresentam-se de forma singular e, permeiam por
relações indissociáveis entre si, possibilitando integrar-se a outros lugares. A
singularidade é e depende da formação social de cada lugar. Porém, esse conjunto de
elementos está atrelado ao poder estatal, inerente ao poder do grande capital, que
juntos determinam a organização e o uso do território, do domínio do homem, através
do poder a ele instituído.
2.1.2 Dinâmica Estatal e a implantação de infra-estruturas
Por meio das diversas instâncias que constituem o Estado e de suas relações
com a sociedade como um todo, entende-se que é necessária a compreensão da sua
atuação nas particularidades e especificidades, ou seja, como se processa a sua
atuação de forma concreta e objetiva. Nesse caso, a partir da compreensão da
produção do espaço urbano-regional de Capinzal por meio da articulação entre esses
elementos que produzem e consomem o espaço (os homens, as firmas, as instituições,
as infra-estruturas e a base ecológica), interagindo-se simultaneamente, oferecem-se
subsídios que, a partir de uma análise local, concreta, particular, contribuem para o
entendimento da temática de projeção global, porém abstrata.
59
Nesse sentido, vale pontuar que tanto a cidade quanto o campo, são territórios
econômicos, políticos e culturais “que se efetivam através de relações
consubstanciadas via interdependência entre eles” (SILVA, 1998, p. 7). Essas relações
expressam a singularidade dos lugares, porém, conectados uns aos outros, que dão a
noção de totalidade, de mundo.
Com relação a essa questão, importa considerar que em Santa Catarina, por
exemplo, a atuação estatal tem uma certa peculiaridade, especialmente quando diz
respeito a sua presença nos processos de colonização do Meio-oeste e Oeste
catarinense. Pois a atividade colonizadora era um negócio entre particulares, onde o
grande capital fazia valer suas regras e era um dos principais organizadores do espaço,
mas com o total apoio estatal, com base na legislação vigente.
Os colonos, por sua vez, eram atraídos pelos colonizadores pelas promessas e
perspectivas de progresso e de boas condições de vida onde se instalavam e fixavam
suas residências. A Brasil Railway Company, construtora da VFFSPRG, por intermédio
de suas subsidiárias, dentre elas a Development & Colonization Co., que tinha o poder
estatal a seu favor, oferecia os projetos prontos, abria estradas, promovia a construção
de igrejas e de escolas, atraía a atividade hoteleira, comércio e indústrias, estimulando
sempre um clima de solidariedade (PILATI, 1991).
O Estado, portanto, legislava, procurando sempre manter o controle tributário,
mas praticamente ausente no processo diário das instalações infra-estruturais, pois
Florianópolis e o governo estadual, para os novos núcleos populacionais que se
formavam, eram longínquos, “como um pai que não assumia a paternidade, vivendo
para outra família e outra realidade” (PILATI, 1991, p. 34).
Desse modo, no período republicano, o Estado brasileiro fixou várias leis e
reformas, referentes ao processo de colonização no Brasil. Em Santa Catarina, a
colonização era regulada pela Lei nº 571, de agosto de 1903, sob a jurisdição da
Diretoria de Viação, Terras e Obras Públicas, que em 1920, passou a atuar como
Diretoria de Terras, Colonização e Agricultura. A este órgão, estavam subordinadas em
todo o Estado catarinense, nove agências de terras, sendo que Campos Novos
pertencia à 4ª agência, com sede em Lages. Conseqüentemente, o Médio e o Baixo
60
Vale do Rio do Peixe, assim como Capinzal, estavam subordinados a esta agência
(BRANCHER, 1994, p. 60-61).
O processo de ocupação legal das terras em Capinzal teve início a partir de
1914. No período correspondente entre 1914 e 1929 foram registrados 506.340m² de
terras, sendo que desse total, 274.518m², isto é, 54,3% das terras foram
concessionárias a Cia. Estrada de Ferro São Paulo-Rio Grande (BRANCHER, 1994, p.
66). As demais, ao que tudo indica, foram ocupadas por posseiros a partir da
construção da Estrada de Ferro, os quais acabaram tendo suas terras legalizadas
através da Lei nº 571/1903 (BRANCHER, 1994).
Entretanto, a predominância na comercialização dos lotes eram de dimensões
entre 500m² e 1500m², cerca de 55.8% das unidades negociadas. Nos anos de 1924 a
1926, houve um aumento na extensão das áreas de terras comercializadas. Esse
momento foi considerado o auge, em função da maior quantidade de unidades
vendidas e com maior área (BRANCHER, 1994). Isso se deve principalmente a maior
procura dos migrantes em fixar moradia e atividades sócio-econômicas no local. As
pequenas e médias propriedades eram constituídas de lotes urbanos e de áreas
destinadas à agricultura (produção de milho, amendoim, alfafa, feijão etc.).
Nesse processo de ocupação e uso do solo em Capinzal, houve, também,
conflitos durante o período da Guerra do Contestado, onde posseiros caboclos foram
expulsos de suas terras por latifundiários, que se apropriaram das mesmas
(BRANCHER, 1994). Esse é mais um exemplo da ausência da atuação do Estado,
voltado ao bem comunitário, principalmente nas regiões do Meio-oeste e Oeste
catarinense, para minimizar conflitos e resolver questões fundiárias, além de questões
sociais, durante os primeiros anos de colonização.
Várias questões foram surgindo durante a colonização de Capinzal, dentre elas,
o Município de Campos Novos se sentia isolado por falta de comunicação através de
estradas de rodagem ou carroçável com a Estação Ferroviária do Distrito de Rio
Capinzal, que na época pertencia a Campos Novos, dificultando sobremaneira o
escoamento de produção.
A distância entre o Distrito sede de Campos Novos e o Distrito de Rio Capinzal
era de aproximadamente 68km. Os caminhos eram estreitos, sinuosos, e muito sujeitos
61
a obstáculos das matas e campos desabitados. Em 1916, portanto, o Superintendente
Municipal de Campos Novos, enviou ao Conselho Municipal um relatório constatando a
necessidade imediata da construção de uma estrada de rodagem ou carroçável que
ligasse a sede municipal à ferrovia, principalmente à estação ferroviária. Pois, o
percurso, tanto para Campos Novos quanto para o interior do Distrito de Rio Capinzal,
era feito por meio de trilhas, picadas ou veredas por onde os animais andavam
(BRANCHER, 1994, p. 56), dificultando sobremaneira o transporte de mercadorias e o
acesso às mesmas.
Ao longo do tempo, conforme a população crescia, novas necessidades iam
surgindo. Em 1917, através da resolução nº 1002 de dezembro de 1917 foi nomeado o
primeiro Juiz distrital em Rio Capinzal, o Sr. Carmine Zoccoli, um dos primeiros colonos
e proprietário de uma casa comercial. Em 1919, aquele distrito foi contemplado com o
primeiro professor público concursado, devido a demanda que naquele momento
dispunha (ALMEIDA, 2004; BRANCHER, 1994). Assim, além de instruções públicas,
havia a necessidade de serem implantados outros serviços, como de saúde,
saneamento, entre outros, que aos poucos foram sendo criados.
Desse modo, o Estado vem criando condições infra-estruturais com a atuação,
em conjunto, das grandes corporações, que também influenciam na tomada de
decisões, de planejamentos, pois se cria toda uma estrutura para o seu funcionamento
nas proximidades onde uma indústria está instalada.
No caso de Capinzal, o Grupo Perdigão, o qual exerce grande poder na tomada
de decisões quanto na criação de novos loteamentos, principalmente em áreas
próximas e de influências da agroindústria, que dão suporte a moradia de funcionários
e, conseqüentemente, a novos empreendimentos de atividades sócio-econômicas no
ramo alimentício (mercados, restaurantes, lanchonetes), saúde (farmácias), imobiliários
(comercialização terrenos e imóveis), que suprem, parcialmente, a demanda local.
Resultando na expansão da área urbana.
Com relação a essa questão, importa, ainda, considerar que o Estado, em favor
da agroindústria, também atua em áreas rurais, neste caso representado pela instância
municipal, que se responsabiliza pela abertura e manutenção de estradas e rodovias
que possibilitem o transporte de aves do produtor rural à agroindústria, ou seja, do
62
interior do município a área industrial. Obviamente, não só com esse objetivo, mas
servindo também para a mobilidade de populações locais, em geral. Desse modo, o
Estado não atua sozinho, está atrelado ao sistema industrial capitalista, principalmente
à agroindústria Perdigão. Sendo subserviente ao poder econômico.
Nessas condições, a atuação de órgãos governamentais, tanto da instância
municipal quanto estadual e federal, até os anos de 1950, era quase ausente no
processo da construção sócio-espacial do Meio-oeste e Oeste catarinense, inclusive em
Capinzal. Porém, instituições privadas tiveram uma relativa participação nesse
processo.
No processo de produção sócio-espacial na contemporaneidade, elementos
infra-estruturais são extremamente importantes para a organização da sociedade no
espaço, principalmente quando dizem respeito à mobilidade, seja para fins econômicos,
políticos, culturais ou outras formas quaisquer que possibilitem a dinâmica social. Nesse
contexto, pelo fato do rio do Peixe ser um elemento limitante para a dinâmica
populacional de Capinzal, se fez necessário construir ponte(s) que possibilitasse(m) a
sua travessia.
Desse modo, a criação da primeira Ponte Pênsil, inaugurada em 1934,
possibilitou entre a localidade de Palmas
12
e o Distrito de Rio Capinzal, uma maior
mobilidade sócio-espacial. Entretanto, o segundo crescia consideravelmente, tanto em
aspectos populacionais quanto econômicos por meio de produções agropecuárias e
algumas indústrias, dentre elas madeireiras, ervateiras, agroindústrias etc., além de
comércios, que começavam a se destacar na região.
O frigorífico Indústrias Reunidas Ouro é um exemplo dessa mobilidade sócio-
econômica. A construção da ponte, portanto, partiu da iniciativa entre as lideranças do
Distrito de Rio Capinzal, que sobre a mesma foi edificada uma pequena casa destinada
à cobrança de pedágio para a amortização dos custos de sua construção. Entretanto,
em junho de 1939, a ponte que possibilitava com grande valia a passagem e mobilidade
da população local, além de circulação de produtos e mercadorias do interior para a vila
distrital e, particularmente, para a estação ferroviária, foi destruída com a enchente que
assolara todo o Vale do Rio do Peixe.
12
Posteriormente, Distrito de Dois Irmãos e atualmente cidade de Ouro.
63
Porém, como não era viável naquele momento ficar sem comunicação entre um
distrito e outro, devido a conjuntura sócio-econômica que se apresentava, a população
local tomou novamente a iniciativa da reconstrução da ponte, mais uma vez com total
ausência de iniciativa e apoio dos poderes públicos instituídos: Estado e Município.
Dessa forma, as pessoas propuseram-se a financiar o saldo necessário para a
realização da obra por intermédio de uma comissão constituída por alguns moradores e
lideranças locais.
Depois de concluído o trabalho, em fevereiro de 1945, verificou-se que o gasto
total foi de Cr$ 200.000,00. O governo estadual, portanto, para não dizer que estava
ausente, liberou Cr$ 90.000,00 e, o restante foi assumido pelos habitantes locais, ou
seja, por comerciantes, industriais, agricultores, pecuaristas e pela população em geral,
por intermédio do programa do pedágio adotado na época para levantar fundos
financeiros e cobrir os gastos (BRANCHER, 1994; ALMEIDA, 2004) (Foto 05).
Fonte: Acervo particular de Vitor Almeida
Foto 05 – Reconstrução da Ponte Pênsil sobre o Rio do Peixe que liga Capinzal e
Ouro - inaugurada em 1945
Em 1956, quando Capinzal já era Município independente economicamente de
Campos Novos, tinha uma população de 13.935 habitantes (IBGE, 1959) e obtinha uma
considerável produção agropecuária e industrial, inclusive de exportação, sendo que,
em 1955, a sua produção industrial atingiu um valor estimado de Cr$ 60.458.775,00. A
64
população pecuária, dentre eles, suínos, bovinos, aves etc., foi avaliada, em 1956, em
Cr$ 292.162.500,00 e, em 1957, a produção agrícola de milho, feijão, trigo, arroz, etc.,
foi num valor de Cr$ 95.222.722,00 (IBGE, 1959, p. 72).
No ano anterior, pelas necessidades que se apresentavam devido ao
crescimento populacional, foi inaugurada outra ponte, esta em concreto armado, que
possibilitaria o acesso de pedestres e veículos motorizados, como automóveis,
caminhões etc., a todo o estado de Santa Catarina e a outras regiões da Federação
brasileira via rodoviária. Pois a ferrovia já não supria todas as necessidades de
transporte de mercadorias. A ponte Irineu Bornhausen, assim denominada, foi
financiada totalmente pelo governo estadual, através da Secretaria de Viação e Obras
Públicas e o Departamento de Estradas de Rodagem (ALMEIDA, 2004).
A distância naquele momento entre a capital do estado e o seu interior, parecia
não ser tão grande, como era 10 ou 20 anos antes, devido ao fato de já existirem
algumas rodovias de acesso que permitiam a articulação entre esses lugares. As
lideranças estatais começavam a se aproximar e voltar os olhares para o interior do
território, em particular ao meio-oeste e oeste catarinense, pois a região despontava
com um potencial econômico, principalmente no setor agropecuário. Característica que
vem se (re)produzindo até os dias atuais consubstanciada principalmente a atividade
agroindustrial.
Nessa perspectiva de potencial econômico, isso vem manifestando atualmente
um ritmo de crescimento significativo. Vale ressaltar que Capinzal, em particular, faz
parte desse processo. Comparado a alguns municípios vizinhos como Ouro, Zortéa,
Lacerdópolis, Piratuba, Joaçaba e Campos Novos
13
, tem demonstrado nos principais
setores das atividades econômicas, agropecuária, industrial e de serviços (Quadro 05)
uma superação do valor total adicionado
14
, entre os anos de 1999 e 2002. Porém,
quando analisado setorialmente, nota-se que as atividades agropecuárias a sua
produção é inferior as dos municípios de Campos Novos e Ouro, respectivamente,
13
A escolha desses municípios se deve pelo fato dos mesmos fazer parte dos limites territoriais com
Capinzal, exceção feita a Joaçaba que é considerada a “capital regional” do Meio-oeste catarinense.
Ainda, por serem municípios que representam certas relações sócio-econômicas, na conjuntura de
formação sócio-espacial.
14
É o cálculo que cada ramo de atividade adicionou ao valor do produto final, em cada etapa do processo
produtivo. É dado pela diferença entre as receitas de vendas e as de compras de insumos intermediários.
65
devido ao fato de os mesmos serem grandes produtores de grãos e pecuária,
principalmente Campos Novos, que supera os demais na cultura da soja, milho, feijão
etc., devido em parte, as condições do relevo e solo propício a essa atividade.
No setor de serviços, Capinzal também fica aquém de Campos Novos, e,
principalmente, de Joaçaba, pois desde o princípio não teve poder irradiador suficiente
com tendência a esse tipo de atividade, ao contrário dos outros dois que deram origem
a inúmeros outros municípios, e foram se consolidando como influências regionais.
Mas, no setor industrial, Capinzal supera todos os demais municípios acima citados,
por absorver boa parte da produção agroindustrial no segmento de aves daqueles e de
outros municípios (Quadro 05).
Quadro 05 - Valor Adicionado por Setor de Atividade Econômica nos Anos de
1999, 2000, 2001 e 2002 de Capinzal e de Municípios Vizinhos
Ano de 1999 (R$ 1.000,00)
Municípios Setor
Agropecuário
Setor
Industrial
Setor
Serviços
Total
Capinzal 25.813 213.032 55.221 294.066
Joaçaba 21.799 99.936 92.069 213.804
Campos Novos 88.246 40.341 65.159 193.746
Ouro 33.842 2.635 13.934 50.411
Lacerdópolis 15.321 951 4.913 21.185
Piratuba 7.422 1.715 9.829 18.966
Zortéa 6.882 737 4.042 11.661
Ano de 2000 (R$ 1.000,00)
Municípios Setor
Agropecuário
Setor
Industrial
Setor
Serviços
Total
Capinzal 33.585 245.176 61.504 340.265
Joaçaba 25.241 127.859 109.094 262.194
Campos Novos 102.158 50.574 76.276 229.007
Piratuba 8.625 98.539 16.647 123.811
Ouro 40.126 3.144 15.085 58.355
Lacerdópolis 18.829 1.271 5.594 25.695
Zortéa 9.292 939 4.652 14.883
Ano de 2001 (R$ 1.000,00)
Municípios Setor
Agropecuário
Setor
Industrial
Setor
Serviços
Total
Capinzal 39.178 344.473 76.747 460.398
Joaçaba 28.285 146.609 116.594 291.487
Campos Novos 118.305 62.194 83.226 263.726
Piratuba 13.852 84.181 18.477 116.510
Ouro 44.616 4.048 16.543 65.208
Lacerdópolis 22.282 1.627 6.122 30.030
Zortéa 9.613 1.051 4.909 15.573
66
Ano de 2002 (R$ 1.000,00)
Municípios Setor
Agropecuário
Setor
Industrial
Setor
Serviços
Total
Capinzal 56.332 354.318 84.409 495.059
Joaçaba 38.528 199.567 142.050 380.144
Campos Novos 136.230 63.510 102.962 302.701
Piratuba 16.530 66.266 17.494 100.290
Ouro 60.879 4.928 18.961 84.768
Lacerdópolis 27.878 1.848 6.906 36.632
Zortéa 11.537 1.429 5.365 18.331
Fonte: ICEPA. Produto Interno Bruto dos Municípios 1999-2002. Disponível em:
http://cepa.epagri.sc.gov.br/. Acesso em: 03 jul. de 2006.
Em termos de arrecadação de impostos, Joaçaba supera todos os demais
municípios (Quadro 06). Capinzal aparece em terceiro lugar, isso pelo fato de tanto
Joaçaba quanto Campos Novos terem maior arrecadação de Impostos sobre a
Propriedade Predial e Territorial – IPTU e de Imposto Sobre Serviços – ISS.
Quadro 06 - Impostos Arrecadados em 2001 e 2002 por Capinzal e
Municípios Vizinhos
Município Ano 2001 (1000 reais) Ano 2002 (1000 reais)
Joaçaba 43.621 26.101
Campos Novos 3.214 5.413
Capinzal 2.652 3.378
Piratuba 1.673 681
Ouro 181 235
Lacerdópolis 122 126
Zortéa 89 79
Fonte: IBGE. Cidades@. Produto Interno Bruto 2001, 2002. Disponível em:
http://www.ibge.gov.br. Acesso em: 03 jul. de 2006.
2.1.2.1 Acessos/Rodovias
O elevado custo financeiro para a implantação e conservação das ferrovias no
território brasileiro levou os governos estadual e federal, por volta da década de 1940, a
optarem pelos investimentos no setor rodoviário, que é de implantação mais rápida e
menos onerosa. As rodovias começaram a serem implantadas e melhoradas a partir da
década de 1940 e rapidamente se expandiram em direção às diversas regiões do
estado catarinense (SANTA CATARINA, 1991, p. 66).
67
Na década de 1950, o desenvolvimento industrial, em especial a implantação da
indústria automobilística na região Sudeste brasileira, favoreceu ainda mais a expansão
da rede rodoviária e, principalmente, nas duas décadas consecutivas.
As rodovias de Santa Catarina, que concentram praticamente todo o transporte
de passageiros no estado, estão distribuídas, como nos demais estados, em rodovias
federais, estaduais e municipais. As BRs longitudinais que cortam o estado catarinense,
dentre elas a BR-101 - que acompanha o litoral, na Vertente do Atlântico, rodovia
federal que possui uma extensão de 4.551,4km indo no sentido Norte-Sul por boa parte
do litoral brasileiro, do Rio Grande do Norte ao Rio Grande do Sul, ligando a várias
outras rodovias estaduais e municipais a cidades litorâneas - e a BR-116 - que
atravessa o Planalto catarinense, passando pelo Município de Canoinhas e pelos
Campos de Lages - têm trajetos serranos em sua maior parte e ligam grandes centros
urbanos a capitais brasileiras como Porto Alegre, Curitiba, Rio de Janeiro etc.
Em Santa Catarina, praticamente toda sua extensão pertence à Vertente do
Interior e em conformidade, em grande parte, com a Estrada de Ferro que liga Porto
Alegre a Brasília e passa pelo Planalto Catarinense, nos Municípios de Lages e Mafra;
a BR-153, atravessa o meio-oeste catarinense, passando por Porto União e Concórdia.
Esta BR é a principal ligação rodoviária do centro-oeste brasileiro com as demais
regiões do Brasil. No território catarinense há, também, a BR-282 transversal, que liga o
litoral ao oeste, e a BR-470, que também liga o litoral com o interior do estado no
sentido oeste, até Campos Novos. Entretanto, essas BRs estão interligadas umas as
outras por meio de uma rede de rodovias estaduais e municipais, possibilitando a
dinâmica sócio-econômica de todo o território catarinense, inclusive Capinzal, que aos
poucos foram substituindo as ferrovias.
Portanto, o sistema viário nos primeiros anos da colonização de Capinzal, era
incipiente, sendo a VFFSPRG a primeira forma de locomoção que não fosse por lombo
de animais, carroçável ou a pé. Porém, no momento em que, no Vale do Rio do Peixe a
população crescia e as atividades econômicas se desenvolviam, era necessário que
surgissem novas rodovias para conectar com outras já existentes no estado e essas se
ligassem com rodovias longitudinais, formando, assim, uma rede rodoviária.
68
Com a implantação do sistema rodoviário, a partir da construção da BR-282 que
conecta Florianópolis a São Miguel do Oeste, permitiu-se uma “integração” do Oeste
Catarinense com as demais regiões do estado e com outros lugares brasileiros.
Capinzal está conectado à BR-282 pela SC-303, interligando-se também e, ao mesmo
tempo, por essa SC às cidades como Joaçaba, Videira, Caçador no sentido nor-
nordeste e a Piratuba no sentido oeste. A construção de estradas reprodutoras, isto é,
de ramais que interligam todo o município, beneficiou consideravelmente as empresas
e os produtores rurais locais, facilitando o intercâmbio econômico, a locomoção e a
comunicação (BRANCHER, 1994, p. 132), principalmente o setor agroindustrial.
E assim foram surgindo as rodovias municipais, estaduais e federais interligando
e/ou conectando o município com outros municípios, estados e até mesmo com seu
interior com interesses sumariamente sócio-econômicos. Uma das ligações rodoviárias
concluídas recentemente com recapeamento asfáltico, no início do século XXI, entre a
SC-303 e a BR-470 foi a SC-458, trecho que liga Campos Novos, Zortéia e Capinzal,
facilitando o transporte rodoviário em direção à região serrana e ao litoral catarinense.
2.1.2.2 Atuação de órgãos e/ou empresas
Dentre as instituições públicas/privadas e autarquias que fazem parte do
processo da produção do espaço urbano e regional de Capinzal, faremos referência
apenas a algumas. Pontuamos a CELESC – Centrais Elétricas de Santa Catarina -, a
ACARESC - Associação de Crédito e Assistência Rural de Santa Catarina -, a EPAGRI-
Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina - e o SIMAE -
Serviço Intermunicipal de Água e Esgoto -, dentre aquelas relevantes para a
compreensão desse processo. A escolha dessas instituições ocorreu pela inviabilidade
de mencionar todas neste momento, devido à complexidade que cada uma representa,
além dessas instituições apresentarem mais subsídios para a nossa análise.
69
2.1.2.2.1 A CELESC
Um fator importante no conjunto infra-estrutural do Município de Capinzal foi a
chegada da energia elétrica. Durante os primeiros anos de colonização o tipo de
iluminação utilizada nas residências era a partir das queimas do combustível querosene
nos chamados lampiões; as velas produzidas artesanalmente a partir da matéria-prima
do sebo de ovinos e bovinos e; com o aparecimento dos primeiros estabelecimentos
comerciais passou-se a utilizar também as velas de espermacete
15
(ALMEIDA, 2004;
2005).
A partir do início dos anos de 1930, uma nova perspectiva começa a surgir a
esse respeito e, Ana ocasião, a primeira usina hidráulica de propriedade particular, de
José Zortéa, foi construída. Ela se destinava a movimentar principalmente as primeiras
e ainda incipientes unidades industriais de transformação como ervateiras, moinhos
coloniais, ferrarias, olarias, serrarias, marcenarias, além de fornecer energia elétrica a
algumas poucas residências na sede distrital de Rio Capinzal.
Posteriormente, foram construídas outras usinas, uma de propriedade das
Indústrias Reunidas Ouro S/A, para seu próprio uso industrial e, outra, já na década de
1950, cujo nome era Companhia Hidroelétrica de Rio Santa Cruz que, posteriormente,
foi encampada pela CELESC, localizada no Município de Campos Novos, a qual atingia
maior número de localidades e alguns municípios vizinhos. Porém, a demanda de
consumo de energia elétrica aumentava cada vez mais, principalmente em decorrência
da industrialização que se pronunciava na região (ALMEIDA, 2004).
Após a Segunda Guerra Mundial, com a dimensão de processos de
desenvolvimento industrial no Brasil, houve repercussão em Santa Catarina, as
companhias regionais de energia elétrica como a Força e Luz Videira S.A. e a Empresa
Sul Brasileira de Eletricidade S.A. – EMPRESUL, responsáveis pelo fornecimento de
energia elétrica no Vale do Itajaí, em Joinville e nos arredores, respectivamente, não
conseguiam suprir a demanda.
15
Cera extraída do cérebro dos cachalotes (uma espécie de baleia) para uso na fabricação de velas e
para fins medicinais ou cosméticos.
70
A necessidade de suprir a falta e a possibilidade de aproveitar o excedente de
carvão mineral produzido no sul do Estado de Santa Catarina, na década de 1950,
levaram os governos estadual e federal a implantar a Sociedade Termoelétrica de
Capivari - SOTELCA, atual Usina Termoelétrica Jorge Lacerda, em Tubarão. Com a
implantação dessa usina, expandiram-se duas empresas na produção, transmissão e
distribuição de eletricidade: a Centrais Elétricas de Santa Catarina – CELESC - e a
Centrais Elétricas do Sul do Brasil – ELETROSUL. A CELESC, criada em dezembro de
1955 pelo decreto estadual nº 22/1955, incumbiu-se de duas tarefas principais, tais
quais a absorção das empresas regionais de eletricidade, incorporando várias
pequenas usinas e a implantação de duas linhas de transmissão, sendo a primeira, da
Usina Jorge Lacerda passando por Lages até o Oeste, e a segunda, para Florianópolis.
A ELETROSUL passou a se encarregar da ampliação da Usina Jorge Lacerda a partir
de 1973, ampliando sua capacidade de geração de energia (SANTA CATARINA, 1991,
p. 68).
Portanto, até a metade do século XX, as necessidades energéticas do Estado de
Santa Catarina eram supridas por pequenos e médios sistemas elétricos
regionalizados. Essas, eram geralmente mantidas pela iniciativa privada (CELESC,
2006), como por exemplo, a Companhia Hidroelétrica de Rio Santa Cruz, situada no
Município de Campos Novos, no meio-oeste catarinense, que atuava regionalmente.
Alguns municípios da vertente do Atlântico, porém, já nas primeiras décadas do
século XX, por exemplo Blumenau, já dispunham de um rudimentar sistema de
iluminação pública. Nesse município, especificamente, a Usina Hidroelétrica Salto
Weissbach, datada de 1916, representou uma evolução dos pequenos geradores
mantidos pelos empreendedores imigrantes. Essa usina foi, também, muito significativa
para a expressão industrial no Médio Vale do Itajaí (CELESC, 2006). Em Joinville, a
Usina Hidroelétrica Piraí entrou em funcionamento em 1908 e, em 1913, foi a vez da
São Lourenço, em Mafra. Em São José, foi construída a Usina Hidroelétrica Maroim,
para suprir a demanda da Capital e região, a qual vinha se desenvolvendo
consideravelmente e necessitava de infra-estrutura.
Tais exemplos, no entanto, revelam que a produção da energia elétrica em Santa
Catarina teve sua gênese a partir de iniciativas privadas que atuavam regionalmente.
71
Este modelo, porém, começou a mostrar certa incapacidade de responder ao
incremento da demanda, pois foi pressionada pelo surto desenvolvimentista que tomou
conta do país no governo de Juscelino Kubitschek. E o governo catarinense,
preocupado em oferecer condições infra-estruturais aos investimentos, decide, então,
pela criação da estatal (CELESC, 2006), a CELESC. O início das operações da
CELESC viabilizou a entrada de Santa Catarina no Sistema Elétrico Interligado Sul-
Sudeste. Essa medida garantiu o fornecimento de eletricidade adequado ao parque
industrial catarinense (CELESC, 2006).
A CELESC realizou suas atividades, a princípio, mais como um órgão de
planejamento do sistema elétrico estadual. Posteriormente, assumiu o papel de holding
até começar a incorporar, gradativamente, o patrimônio das velhas empresas regionais
(CELESC, 2006). Assim, o primeiro grupo de empresas tornadas suas subsidiárias foi
formado pela Empresa Sul Brasileira de Eletricidade S.A. – EMPRESUL, com base em
Joinville; pela Empresa Força e Luz Santa Catarina S.A., com atuação no Vale do Itajaí
e sede em Blumenau; pela Força e Luz Videira S.A.; pela Companhia Serrana de
Eletricidade, de Lages; pela Companhia Oeste de Eletricidade, com base em Concórdia
e; pela Companhia Pery de Eletricidade, de Curitibanos. A consolidação técnica da
CELESC e o delineamento definitivo do sistema elétrico estadual ocorreram a partir do
ano de 1965, com a construção da Linha de Transmissão Tubarão – Lages – Joaçaba –
São Miguel d’Oeste que, gradativamente, atingiu praticamente todo o estado e tornou-
se a estatal catarinense mais importante (CELESC, 2006).
É neste contexto, então, que no final dos anos 1960, a região serrana e o Vale
do Rio do Peixe, já se industrializando, precisavam de infra-estrutura mínima para suprir
as necessidades emergenciais que se apresentavam. Foi assim, que a CELESC
passou a ampliar sua área de atuação naquelas regiões. Em Capinzal e região, como
Ouro, Campos Novos, Joaçaba etc., aquela empresa passou a atuar a partir de 1967,
quando incorporou a Companhia Hidroelétrica de Rio Santa Cruz e, gradativamente,
além de atuar no perímetro urbano daqueles municípios, passou, também, a atuar na
área rural. No final da década de 1970 e início da década de 1980, quase todas as
localidades do interior do Município de Capinzal já dispunham de energia elétrica.
72
(ALMEIDA, 2005; BRANCHER, 1994), dando uma outra perspectiva de vida para as
populações locais.
Dados demonstram que em abril de 2005, havia, em Capinzal, um total de 7.899
ligações de energia elétrica, dentre as quais, 5.679 eram destinadas às residências,
530 eram de estabelecimentos comerciais, 165 de consumo industrial, 1.393 situadas
na área rural, 100 eram de órgãos públicos e 31 das ligações estavam distribuídas
entre outros tipos de consumidores
16
.
2.1.2.2.2 A ACARESC/EPAGRI
Outra importante instituição também presente na vida sócio-espacial, não só em
Capinzal como em todo o Estado de Santa Catarina, principalmente vinculada ao
espaço rural, foi a antiga ACARESC. Segundo Silva (1996), em fevereiro de 1956 criou-
se em Santa Catarina o Serviço de Extensão Rural, sob a designação do Escritório
Técnico de Agricultura - ETA.
Inspirado em projeto e experiência bem sucedida em Minas Gerais, a Associação
de Crédito e Assistência Rural
ACAR - e com a busca de conhecer o funcionamento
da extensão rural, um grupo de líderes rurais catarinenses, através dos dirigentes da
Federação das Associações Rurais do Estado de Santa Catarina - FARESC, precursora
da atual Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Santa Catarina - FAESC,
solicitaram ao Ministério da Agricultura e ao Escritório de Agricultura a implantação de
um serviço similar para dar assistência aos agricultores e suas famílias. Um convênio
foi firmado entre o Governador do Estado, através da Secretaria da Agricultura, a
FARESC e o ETA, para pôr em prática o projeto.
Em novembro de 1956, após um treinamento prévio da primeira turma de
extensionistas, profissionais habilitados a dar assistência técnica aos agricultores e
suas famílias, foi instalado o escritório piloto de extensão rural do ETA no município de
São José. Logo em seguida, foram instaladas mais 8 unidades em Santa Catarina,
dentre elas, 04 no Vale do Itajaí, nos municípios de Rio do Sul, Ibirama, Indaial e
16
Dados fornecidos por Amarildo P. Fachin, gerente da Celesc, unidade Capinzal, correspondente ao
mês de abril de 2005.
73
Ituporanga e, mais 04 no Vale do Rio do Peixe, nos municípios de Joaçaba, Herval
D'Oeste, Videira e Capinzal. Como o convênio criado teria a vigência de apenas quatro
anos, o governo estadual viabilizou a sua transformação em uma associação civil, sem
fins lucrativos, de direito jurídico privado, denominada Associação de Crédito e
Assistência Rural de Santa Catarina - ACARESC em 21 de junho de 1957, nos modelos
da ACAR/MG (SILVA,1996).
No início da década de 1990, na segunda metade do ano de 1991, surge a
EPAGRI, que substitui a ACARESC. A EPAGRI, portanto, surgida no bojo de uma
reforma administrativa promovida pelo governo estadual no serviço público agrícola, foi
constituída como uma sociedade de economia mista, com personalidade jurídica de
direito privado, sob a forma de sociedade por ações, nos termos do art. 99 da Lei
Estadual nº 8.245, de 18.04.1991, vinculada à Secretaria de Estado da Agricultura
e Desenvolvimento Rural, integrante da Administração Indireta do Estado de Santa
Catarina (EPAGRI, 2006). Sua constituição surgiu da fusão da EMPASC - Empresa de
Pesquisa Agropecuária de Santa Catarina -, da ACARPESC - Serviço de Extensão
Pesqueira - e do antigo IASC - Instituto de Apicultura de Santa Catarina. Essa junção
deu origem, na segunda metade de 1991, à EPAGRI. O processo de fusão repassou a
atividade de extensão rural para as prefeituras municipais, deixando ao Estado os
custos com pessoal, o que foi modificado em 1995, com a volta das atividades de
extensão rural pela EPAGRI, cuja razão social era Empresa de Pesquisa Agropecuária
e Extensão Rural de Santa Catarina (SILVA, 1996; EPAGRI, 2006).
Em junho de 2005, a EPAGRI incorporou o Instituto de Planejamento e
Economia Agrícola de Santa Catarina - CEPA/SC – e, na mesma data, a Assembléia de
Acionistas aprovou sua transformação em empresa pública (EPAGRI, 2006).
No contexto da atuação de serviços de Extensão Rural, essa atividade foi
implantada em Capinzal em 1957 (RECH, 2004). A atuação desse tipo de serviço,
inicialmente da ACARESC e, posteriormente, da EPAGRI em Capinzal, tem
apresentado um trabalho de orientação técnica aos produtores agropecuários e seus
familiares objetivando orientá-los na atividade agrícola, avaliando o processo da
produção na busca de alternativas junto aos governos das instâncias municipal,
estadual e federal, ao sindicato dos trabalhadores rurais, entre outras instituições, na
74
tentativa de encontrar soluções convincentes, principalmente técnicas, para que o
produtor rural permaneça no campo. Porém, mesmo com esse tipo de serviço prestado
a produtores rurais, principalmente aos de economia familiar, não tem sido evitado o
constante êxodo rural, especialmente dos jovens.
Vale pontuar, nesse sentido, que os agricultores de economia familiar
entrevistados
17
para esta pesquisa têm se mostrado insatisfeitos com as atuais
conjunturas da política agrícola brasileira, pois, segundo alegam, o incentivo que
recebem para a produção não garante a sobrevivência e a permanência de seus
familiares no campo. Boa parte dos entrevistados prefere estarem vinculados ao
sistema agroindustrial de integração e se sentirem seguros de certa maneira quanto ao
retorno financeiro, do que trabalhar a terra durante um ano inteiro sem nenhuma
garantia de retorno. É raro encontrar uma família com filhos jovens/adultos, que pelo
menos um de seus membros não tenha buscado alternativas de trabalho fora do meio
rural.
2.1.2.2.3 O SIMAE
Inicialmente, a população urbana de Capinzal e Ouro não possuía um sistema
público de abastecimento de água. As pessoas se abasteciam de poços escavados e
tubulares e fontes d´agua. Esses eram os meios disponíveis na época para suprir as
necessidades básicas e vitais, embora rudimentares.
Conforme a população urbana aumentava, as necessidades sociais sofriam
mudanças. Era necessário implantar um sistema de abastecimento de água que
oferecesse solução a um problema, pois a demanda local exigia um sistema eficiente
que atingisse um maior número de habitantes locais.
Numa tentativa de amenizar e solucionar a enigmática, foi elaborado um projeto
em 1959, que atingia apenas 2500 pessoas aproximadamente, visto que a população
urbana era de 3.023 pessoas em 1960 (IBGE, 1968). Portanto, menos de 83% dos
habitantes poderiam ser contemplados se o projeto fosse executado, mas não resolvia
completamente a questão. Porém, inicialmente, não foi posto em prática. Ficou
17
A esse respeito, discussão no capítulo 3 deste trabalho.
75
paralisado durante 12 anos, isto é, somente em 1971 foi executado, passando a
abastecer cerca de 3000 pessoas, aproximadamente 60% da população das duas
cidades, Capinzal e Ouro (SIMAE, 2006), ou seja, atingia uma pequena parte da
população. Não era qualquer um que tinha acesso a esse tipo de serviço. Portanto,
existiam naquele momento, nos dois municípios, 3 poços perfurados de 78m, 120m e
90m de profundidade, produzindo 2800 l/h, 2000 l/h e 800 l/h, respectivamente. O poço
de 78m era de propriedade particular e abastecia 4 residências. O outro, de 120m, era
utilizado no Educandário das Irmãs Franciscanas, atual Colégio Estadual Mater
Dolorum, na época, também de propriedade particular. O terceiro poço, de 90m de
profundidade, abastecia 3 residências particulares. E o restante da população se
abastecia de águas provenientes de poços rasos, fontes e córregos d’água (SIMAE,
2006).
Como o problema de abastecimento de água de Capinzal e Ouro deveria ser
solucionado, as prefeituras de ambos os municípios, por meio de seus representantes,
criaram as Leis nº 654 e nº 179 de fevereiro de 1972, respectivamente, instituindo o
SIMAE – Serviço Intermunicipal de Água e Esgoto, que é uma autarquia, responsável
pelo tratamento e abastecimento de água e coleta de esgotos nos dois municípios. Os
serviços da autarquia entraram em operação em abril de 1974 e foram administrados
pela FUNASA - Fundação Nacional da Saúde até 1999, empresa que também dava
suporte técnico. Atualmente aquela autarquia está vinculada às prefeituras municipais
de Capinzal e Ouro, porém com autonomia administrativa e financeira (DALAVECHIA,
2004).
O projeto inicial da Estação de Tratamento de Água era para uma
produção/tratamento com a capacidade de 25 l/s de água. No entanto, começou suas
atividades com um volume menor devido à baixa demanda. Nesse contexto, a estação
de tratamento de água foi construída no período de 1972 a 1974, juntamente com um
reservatório de acumulação com capacidade para 400m³ de água. Posteriormente, foi
construído um segundo reservatório com a mesma capacidade ao lado do já existente.
Inicialmente a distribuição da água tratada era feita somente na parte central da cidade.
Posteriormente, com a expansão urbana e levando-se em conta o relevo da região, fez-
se necessária a construção de diversos sistemas de recalque de água compostos de
76
casa de bomba e reservatório em diversos bairros e loteamentos dos municípios de
Capinzal e Ouro (SIMAE, 2006).
Nas condições atuais, a capacidade de tratamento da água é de 90 l/s, sendo
que a operação é de aproximadamente 75 l/s, devido à demanda local (SIMAE, 2006),
tendo como principal manancial o rio do Peixe. Aquela autarquia opera também com
sistema de poços artesianos, em localidades isoladas do interior com maior
concentração de população, como Alto Alegre, Lindemberg, entre outras. Cerca de 95%
da população da área urbana dos dois municípios é atendida com água captada do rio
do Peixe e 5% é atendida através de poço artesiano, sendo que, para se atingir todas
as residências, construiram-se 12 sistemas de recalque, compostos de casas de
bombas, adutoras e reservatórios.
2.1.2.2.4 Inserções recentes da Secretaria do Desenvolvimento Regional
Até recentemente, a unidade administrativa do Estado de Santa Catarina
encontrava-se, de certo modo, distante de regiões como o meio-oeste e o oeste
catarinense. Mantinha-se em Florianópolis praticamente toda a centralidade da
administração pública estadual. Somente a partir da gestão 2003/2006, uma nova
realidade apresentou-se à população catarinense. Criaram-se e implantaram-se, em
2003, as SDRs - Secretarias de Desenvolvimento Regional, com o objetivo de
descentralizar e desconcentrar a execução das atividades da administração pública
estadual. A Lei Complementar nº 243/2003, estabelece uma nova Estrutura
Administrativa do Poder Executivo do Estado de Santa Catarina criando, inicialmente,
29 secretarias regionais
18
. Atualmente, são 30 SDRs, visto que em 2005 criou-se a de
Dionísio Cerqueira, no oeste do estado, por meio da Lei Complementar nº 284/2005
(SANTA CATARINA, 2005).
18
As Secretarias Regionais do Estado de Santa Catarina inicialmente eram: Araranguá, Blumenau,
Brusque, Caçador, Campo Novos, Canoinhas, Chapecó, Concórdia, Criciúma, Curitibanos, Ibirama,
Itajaí, Ituporanga, Jaraguá do Sul, Joaçaba, Joinville, Lages, Laguna, Mafra, Maravilha, Palmito, Rio do
Sul, São Joaquim, São José, São Lourenço D´Oeste, São Miguel D´Oeste, Tubarão, Videira e Xanxerê.
77
Assim, as Secretarias de Estado do Desenvolvimento Regional estão instaladas
nas chamadas “cidades pólo” com atuação nas unidades territoriais designadas. Da
SDR de Joaçaba, fazem parte os municípios de Capinzal, Ouro, Joaçaba (sede da
unidade administrativa regional), Lacerdópolis, Erval Velho, Herval d´Oeste, Luzerna,
Ibicaré, Treze Tílias, Catanduvas, Água Doce e Vargem Bonita.
De acordo com a Lei Complementar nº 243/2003, cada SDR é responsável pela
regionalização do planejamento e da execução orçamentária; pela articulação que
resulte no engajamento, integração e participação das comunidades, com vistas ao
atendimento das demandas pertinentes as suas áreas de atuação como da saúde, da
infra-estrutura, da educação, ciência e tecnologia, entre outras; e pelo
acompanhamento das audiências do Orçamento Estadual Regionalizado previsto na Lei
Complementar nº 157/1997 e a mobilização das comunidades para participação nas
audiências (SANTA CATARINA, 2003).
Fazem parte dos Conselhos de Desenvolvimento Regional membros natos como
o Secretário de Estado do Desenvolvimento Regional, todos os Prefeitos da região de
abrangência, todos os Presidentes de Câmara de Vereadores da região de abrangência
e representantes dos segmentos sócio-culturais, sócio-políticos, sócio-ambientais e
sócio-econômicos mais expressivos de cada região, assegurando, assim, a
representatividade empresarial e a trabalhistas (SANTA CATARINA, 2003).
Assim sendo, dentre as atuações do governo estadual, a partir da SDR de
Joaçaba, em Capinzal, foi a retomada e a finalização da rodovia SC-458, trecho que
liga Capinzal-Zortéa-Campos Novos, conforme já dito. A pavimentação do trecho de 31
Km era esperada há aproximadamente 3 décadas (CAPINZAL, 2007). Com início em
2003, a obra foi concluída e inaugurada em 2004, possibilitando o acesso entre os 3
municípios vizinhos, além do acesso à unidade industrial da Perdigão em Capinzal -
uma das mais beneficiadas com a conclusão e pavimentação da rodovia -, agilizando
assim o transporte dos produtos industrializados aos portos para exportação, visto que
anteriormente o trajeto era feito por Joaçaba com, aproximadamente, 30 km a mais.
Outros exemplos recentes da atuação do governo do estado a partir da SDR de
Joaçaba, em Capinzal, são a construção do Ginásio de Esportes da Escola de
Educação Básica São Cristóvão, localizada no bairro São Cristóvão, a Passarela da
78
Ponte Irineu Bornhausen, que liga os municípios de Capinzal e Ouro, proporcionando
maior segurança aos pedestres e a conclusão de um novo setor de nutrição no Hospital
Nossa Senhora das Dores, dentre outros.
Embora esse sistema do poder executivo descentralizado seja, também, uma
estratégia político-partidária para o governo catarinense se fortificar e garantir a
reeleição em 2006, ele lançou seus tentáculos por todas as regiões catarinenses por
intermédio da implantação das SDRs. Entretanto, com essa descentralização, a
população, em geral, pode estar mais próxima dos dispositivos do governo e, ao
mesmo tempo, exigir benfeitorias e qualidade na administração pública estadual. Isso
se, realmente, for trabalhado em parceria com os municípios e outros órgãos públicos e
privados de cada regional.
2.2 O PAPEL DO COMPLEXO AGRO-INDUSTRIAL
2.2.1 Trajetórias do segmento avícola: notações
A dinâmica social de determinado lugar decorre, muitas vezes, em função do
capital, isto é, da dinamicidade e dos interesses de grandes corporações industriais em
fazer do lugar um ponto estratégico para a (re)produção de bens de consumo que
atinjam os mais diversos segmentos e/ou um específico da sociedade, cujo objetivo
final seja a acumulação de lucro e capital.
A industrialização, nos diversos segmentos produtivos, favorece não somente
uma maior mobilidade social como também o surgimento de cidades, de vida urbana
e/ou expansão de áreas urbanas e até mesmo a segregação sócio-espacial inerentes
às suas atividades no contexto da lógica capitalista contemporânea. A expressão
industrialização é um processo amplo e extremamente vinculado às diretrizes da
dinâmica social. De acordo com Sposito (2005, p. 43), “caracteriza-se pelo predomínio
da atividade industrial sobre as outras atividades econômicas” , como de comércio,
serviços e agrícolas de um dado lugar. Os setores industriais como o automobilístico, o
químico, o eletrodoméstico e, logicamente, o alimentar, entre outros, alguns articulados
79
entre si, complementam a lógica da produção e do consumo de produtos duráveis e
não-duráveis.
Dentre esses setores, mais especificamente o complexo agroindustrial alimentar,
a abrangência de sua atuação se dá de forma horizontal e, principalmente, vertical,
assim como os demais setores, com o domínio de um espaço amplo e, muitas vezes,
sem fronteiras.
Nessa perspectiva, Espíndola (1999, p.16) argumenta que a “presença
significativa do ramo alimentar na estrutura industrial brasileira decorre da constituição
de grandes agroindústrias processadoras voltadas ao atendimento do mercado interno
e externo.” Ainda segundo aquele autor, o ramo agroindustrial alimentar está
representado no Brasil por cinco fases inerentes a cada momento histórico, sob a lógica
capitalista num contexto internacional de produção de bens e consumo.
A primeira fase, no entanto, decorre anterior ao século XIX, caracterizada pela
instalação de engenhos de açúcar. A segunda fase, entre o século XIX e a década de
1930, é representada por moinhos de trigo, indústrias de óleos vegetais, frigoríficos
[numa escala local, pode-se citar o município de Capinzal no meio-oeste catarinense
que, a partir de 1930, já sediava o frigorífico Indústria Reunidas Ouro
S/A] e usinas de
açúcar. A terceira fase, iniciada entre as décadas de 1940 e 1970, foi quando se
estabeleceram alguns frigoríficos no Brasil central, com a agroindústria de suínos e
aves no sul e a entrada de grandes agroindústrias multinacionais. A quarta fase, entre
1970 e 1990, consagra a expansão das agroindústrias do sul brasileiro, via
modernização tecnológica, diversificação produtiva (inserção nos segmentos bovinos e
soja) e a centralização do capital. A quinta e última fase, sobreposta à anterior, continua
até os dias atuais.
Este último período, portanto, indica os novos processos de reestruturação
agroindustrial devido à mudança nos hábitos alimentares e à emergência de um
conjunto de tecnologias (microeletrônica, biotecnologia etc.) (ESPÍNDOLA, 1999) que,
com a velocidade, a partir, principalmente da década de 1990, atingiu praticamente
todos os segmentos da sociedade, articulando e estabelecendo maiores relações
urbano-regionais em cidades como Capinzal. Esses períodos, além da tendência de
que o Brasil, num contexto global, vem se pronunciando como um dos maiores
80
produtores de alimentos mundiais tanto in natura quanto processados, também tiveram
em comum a dinamicidade social, embora cada momento com sua particularidade.
As constantes mudanças ocorridas nos padrões de consumo nacional e
internacional, entretanto, vêm possibilitando um ritmo acelerado de avanços
tecnológicos no desenvolvimento de produtos por parte das empresas do setor
agroindustrial, particularmente o de frango, para o qual direcionamos nossa análise
nesta pesquisa. Isto ocorre não somente por meio de inclusões e/ou lançamentos de
novos produtos, mas também por retiradas de produtos do mercado para reformulação
de suas características principais como cor, sabor, textura ou até mesmo por formato,
embalagem etc. (MARTINELLI; SOUZA, 2005), para se tornarem mais atrativos.
Os hábitos alimentares, portanto, se caracterizam também, atualmente, pela
procura de produtos processados e semi-processados que, com a sua praticidade,
como produtos enlatados, frios, congelados, entre outros, atingem determinados nichos
do mercado consumidor. Porém, devido a forte concorrência interna e externa, o setor
agroindustrial viu-se obrigado a diversificar e melhorar sua produção para garantir a sua
sobrevivência suprindo, dessa forma, vários nichos do mercado.
Na conjuntura do sistema capitalista de produção de bens e consumo, o
mercado é o elo entre as etapas produtivas, mesmo que estas detenham relações
trabalhistas diferenciadas. Nesse contexto, a agricultura moderna, de modo geral é,
dentre as múltiplas facetas do capitalismo,
desempregadora de mão-de–obra, não podendo este problema ser resolvido
pela agroindústria. Isto porque à medida que a grande indústria se desenvolve,
a criação de riquezas depende cada vez menos de tempo de trabalho e da
qualidade de trabalho utilizado, e cada vez mais da potência mecânica que são
colocados em movimento durante o período de trabalho. (SOUZA; PEREIRA;
VILAROUCA, 1998, p. 108),
que certamente no Brasil isso não é diferente. A mão-de-obra que há vinte, trinta anos
era indispensável, atualmente, por intermédio da emergência tecnológica e
mecanicismo cada vez mais eficiente, supre em boa parte essas necessidades.
Com isso, o atual estágio de crescimento econômico é caracterizado pelos
avanços das inovações tecnológicas e pela globalização e monetarização da economia,
estendendo e acelerando, embora desigualmente, os processos de reestruturação
81
produtiva que redefinem a efetividade do Estado (SOUZA; PEREIRA; VILAROUCA,
1998).
Nesse sentido, expressam relações de produção mais ampla, nas quais as
relações de trabalho são politicamente importantes, mesmo sendo uma relação de
dominante/dominado. É o que ocorre entre as grandes corporações capitalistas que
determinam a forma de atuação; o Estado, por sua vez, faz valer esta atuação por meio
de legalização e normatização; os subordinados, que são os que prestam os seus
serviços e mão-de-obra em troca de um salário, absorvem as imposições colocadas
pelas corporações e pelo Estado. Daí, a representatividade dos lugares, onde se
concretizam essas determinações e, em conjunto, ao mesmo tempo produzem e
consumem espaço.
Entretanto, as relações de trabalho e suas possibilidades de mudanças na
dinâmica das atuais relações sócio-espaciais, tomando como base o setor
agroindustrial alimentar, atingem tanto a cidade quanto e diretamente o campo,
principalmente os pequenos produtores rurais de trabalho familiar.
Nessas condições, em específico a agroindústria de carnes, em particular o
segmento de aves/frango, que é o caso da atuação do Grupo Perdigão em suas
diversas unidades de produção, inclusive em Capinzal, mantém relações de trabalho
com produtores rurais, na grande maioria de trabalho familiar; mão-de-obra assalariada;
empresas terceirizadas (de transporte, de ração etc.), entre outros. Os produtores
rurais, em particular, são prestadores de serviços no chamado “sistema de integração”
ou de “parceria”, que não possuem vínculo empregatício, ficando a empresa
descompromissada com encargos sociais.
O sistema de produção agropecuária “integrada”, segundo a União Brasileira de
Avicultura – UBA (2001) teve o seu início de implantação no Brasil na década de 1960,
no Estado de Santa Catarina, no segmento da avicultura. Posteriormente, foi se
estendendo para a suinocultura, assim como para os demais estados do sul brasileiro.
A princípio o sistema de integração funcionou por acordos informais entre o
produtor/criador e a agroindústria. Na medida em que os processos foram se tornando
mais complexos, desenvolveram-se mecanismos mais formais, inclusive contratos entre
a empresa integradora e o integrado (UBA, 2001).
82
Atualmente, o sistema de integração, de uma forma geral, funciona com as
empresas integradoras disponibilizando de recursos na forma de insumos como
reprodutores, pintinhos para abate, rações, vacinas, assistência técnica, entre outros.
Em contrapartida, o produtor integrado se responsabiliza com instalações, infra-
estrutura, mão-de-obra, e alguns custos, dentre eles energia elétrica, água, gás etc.,
consumidos no processo produtivo.
Esse sistema, porém, funciona sob inspeções técnicas designadas pela
agroindústria. Ao entregar os frangos para o abate, o produtor integrado é remunerado
em determinado valor, levando-se em consideração a conversão alimentar e a
mortalidade ocorrida dos frangos que é de sua responsabilidade, exceto problemas
ocasionados ou falha(s) técnica(s) por parte da agroindústria.
O sistema de integração, no entanto, é uma das características do complexo
agroindustrial no Brasil, sobretudo no segmento de aves, que vem promovendo novas
perspectivas econômicas para os produtores rurais, principalmente aos minifundiários,
que vêm desempenhando um papel importantíssimo na economia local, onde essa
atividade se (re)produz. Os pequenos produtores rurais vêem perspectivas que de outra
maneira possivelmente não teriam nas atuais conjunturas da agricultura brasileira, pois
a produção de culturas temporárias e permanentes como de milho, feijão, trigo, arroz,
fruticultura, entre outras, de modo geral, não lhes trazem vantagens e ganhos
suficientes para manter suas famílias no meio rural, devido ao elevado preço dos
insumos, sementes, e a própria manutenção das lavouras, além de fenômenos naturais
como estiagens, enchentes, ou seja, as mudanças climáticas e até mesmo o
empobrecimento do solo, tendo que constantemente recuperá-lo. Como se não
bastassem esses elementos, não há capital de giro suficiente o que obriga-o a financiar
suas lavouras que, no final de cada colheita, se tudo ocorrer bem, deixa boa parte da
sua produção nos bancos para cobrir os seus financiamentos.
Isso torna inviável a manutenção do pequeno produtor rural no campo e a
agroindústria, de certa forma, traz uma outra perspectiva de ganho quase que
permanente e certo a cada lote de frangos, que varia de 40 a 50 dias, com intervalo de
83
10 a 20 dias para um novo alojamento
19
. Porém, o produtor/criador se submete a seguir
as suas ordens e regras, a mercê do capital que domina a economia de mercado.
Nesse contexto de relação de trabalho, há ainda outras exigências por parte da
agroindústria para garantir resultados de qualidade na criação das aves para corte.
Dentre as exigências consideradas mais importantes, se destacam: a) os cuidados
permanentes com a limpeza e a desinfecção durante o período em que a instalação
estiver vazia; b) os cuidados com o aquecimento adequado dos pintos; c) cuidados com
a preservação da qualidade das rações estocadas; d) uso de cama de aviário
de boa
qualidade como por exemplo a serragem, a partir da casca de arroz e de café, sabugo
de milho triturado etc., que são materiais utilizados para forrar o piso dos aviários, sem
que haja a presença de objetos estranhos que possam comprometer a qualidade do
lote; e) a proibição da entrada de pessoas vindas de outras propriedades na instalação
para evitar transmissão de doenças e/ou comprometimento do lote; f) registro preciso
de todos os campos exigidos pela Ficha de Acompanhamento do Lote; g) medicação
dos lotes somente seguindo rigorosamente a orientação dos técnicos responsáveis; h)
limpeza periódica dos silos e dos bebedouros; i) manutenção preventiva das
instalações; j) arborização ao redor das instalações; l) uso dos princípios de qualidade
total em toda a propriedade; m) controle adequado de roedores sem o uso de produtos
tóxicos; n) uso adequado da composteira (se houver); o) corte de ração antes de se
enviar as aves para o abatedouro dentro dos períodos estipulados pela empresa
(AVICULTURA INDUSTRIAL, 2006), que varia de 07 a 10 horas. Essas exigências são,
no entanto, para garantir lotes de qualidade, pois na falta de alguns desses cuidados
pode-se comprometer a saúde e a qualidade dos frangos, além da perda de peso.
Segundo Espíndola (1999; 2002), com a modernização e a (re)organização de
certos setores agroindustriais, a abertura de novos campos de exportações de
manufaturados e o desenvolvimento tecnológico industrial favoreceram a expansão na
produção de frangos no Brasil. Em 10 anos, de um total de 217 mil toneladas
produzidas em 1970 foi para 1.250 mil toneladas em 1980. Esses dados, no entanto,
nos últimos 15 anos tiveram um aumento substancial. De acordo com o relatório anual
19
Dados preparados a partir de entrevistas feitas com produtores rurais de Capinzal e funcionários da
Perdigão, unidade Capinzal, em maio e agosto de 2005 e fevereiro de 2006.
84
da UBA (2005/2006), o Brasil produziu em 2005 aproximadamente 9,3 milhões de
toneladas de carne de frango, o segundo maior produtor mundial, perdendo apenas
para os Estados Unidos que continuam no ranking mundial de produção, com 16
milhões de toneladas no ano de 2005.
O Brasil exportou naquele mesmo ano 2,8 milhões de toneladas de frango e
atingiu uma receita cambial correspondente a US$ 3,5 bilhões, isto é, 35% maior em
valor do que o ano de 2004, e 15% maior em volume, o que manteve o país como o
maior exportador mundial de carne de frango (UBA, 2005/2006). Os estados da Região
Sul, portanto, nesse período respondem por cerca de 64% da produção nacional
(MARTINELLI; SOUZA, 2005) e são os maiores exportadores de carne e de produtos
de frango industrializados do país.
Santa Catarina, em primeiro lugar, exportou em 2005 cerca de 792.822.179
toneladas, com a participação nacional de 27,86% do produto de carne de frango
exportado; em segundo lugar o Paraná, com a exportação de 791.126.002 toneladas,
com a participação de 27,8% e, em terceiro lugar o Rio Grande do Sul com 676.675.879
toneladas e a participação de 23,8% de carne de frango exportado (UBA, 2005/2006).
Os outros estados, em ordem crescente, São Paulo, Minas Gerais, Goiás, Mato Grosso
do Sul, Mato Grosso e Distrito Federal, são responsáveis pelos demais 20,9% da
exportação do Brasil daquele produto. Contudo, esta configuração geográfica vem
mudando substancialmente com constantes investimentos das agroindústrias no centro
oeste brasileiro, caracterizando uma expansão do domínio agroindustrial naquela
direção.
A exportação de carne de frango tem como principais mercados consumidores a
União Européia, o Oriente Médio, a América do Sul, a África, a Ásia e Rússia. Nesse
contexto, a Sadia, a Perdigão e a Seara são as principais agroindústrias exportadoras
do Brasil. As maiores empresas nacionais, como Sadia e Perdigão respectivamente,
possuem mercados que se estendem geograficamente do sul ao nordeste do país,
atuando por meio de seus centros de distribuição e revendas, diferentemente das
pequenas e médias empresas que atuam em mercados regionalizados (MARTINELLI;
SOUZA, 2005).
85
Desse modo, particularmente, o Grupo Perdigão com suas unidades industriais
distribuídas em vários estados brasileiros como em Santa Catarina (municípios de
Videira, Santo Veloso, Lages e Capinzal); Rio Grande do Sul (municípios de Serafina
Corrêa e Marau); Goiás (municípios de Rio Verde, Mineiros, Jataí, Cachoeira Alta e
Brasília no Distrito Federal); Paraná (município de Carambeí) e no Mato Grosso (em
Nova Mutum) vêm ampliando substancialmente sua área de atuação e,
conseqüentemente, influenciando nas relações de trabalho e na própria dinâmica sócio-
espacial desses lugares. A Perdigão possui também vários centros de distribuição
localizados em Belo Horizonte (MG), Florianópolis (SC), Campinas (SP), Recife (PE),
Marau (RS), Fortaleza (CE), Salvador (BA), Santos (SP), Manaus (AM), entre outros
(PERDIGÃO, 2005), que caracteriza sua atuação em quase todo o território nacional,
como uma potência econômica.
Porém, as corporações como as agroindústrias em geral, possibilitam
transformações sócio-espaciais locais que se articulam na dinâmica econômica de
escala nacional, visto que o Brasil por ser um país agro-exportador tanto de produtos in
natura quanto de produtos industrializados é um reflexo do que vem se (re)produzindo
nos diferentes lugares que o compõe.
2.2.2 Dimensões do setor agro-industrial no meio-oeste catarinense: segmento
avícola/frango
Dentre os descendentes de italianos oriundos do Estado do Rio Grande do Sul
em direção ao meio-oeste e oeste catarinense, como as famílias de Attílio Fontana
(fundador do Grupo Sadia) e de Saul Brandalise (um dos fundadores do Grupo
Perdigão, juntamente com a família Ponzoni), seguindo os passos de comerciantes
gaúchos e paulistas, muitos dedicaram-se à atividade de intermediários, entre a
pequena produção mercantil e os mercados das cidades do centro-sul brasileiro
(ESPÍNDOLA, 1999).
Na década de 1930, as famílias Ponzoni e Brandalise estabeleceram um
pequeno comércio de secos e molhados, atividade comercial corriqueira na região
naquela época, com o nome de Ponzoni, Brandalise & Cia. - embrião do futuro Grupo
86
Perdigão -, na Vila das Perdizes atual município de Videira. Em 1939, a empresa iniciou
suas atividades industriais com um abatedouro de suínos, alcançando, em 1942, a
média de 100 animais abatidos diariamente (PERDIGÃO, 2006). Esse processo
difundido no meio-oeste e oeste catarinense seguiu os exemplos já ocorridos no norte
do Estado de Santa Catarina e do Rio Grande do Sul (ESPÍNDOLA, 1999).
Destarte, os investimentos da empresa Ponzoni, Brandalise & Cia. começaram a
atingir também outros ramos e setores econômicos como o curtume no processamento
de peles suínas e o ramo madeireiro, atividade comum na região, principalmente na
extração e no processamento de araucária. Porém, a empresa se consolida na
atividade comercial e de processamento de suínos, direcionando seus investimentos
para a agropecuária, no segmento alimentício, com a construção da Granja Santa
Gema, em 1954, voltada à produção de animais suínos de “alta linhagem”, no então
município de Videira (este, criado em 01 de março de 1944) (PERDIGÃO, 2006).
Ainda nos anos de 1950 a empresa Perdigão S.A. Comércio e Indústria S.A.
iniciou suas atividades, também no abate de aves, em 1955, de forma artesanal, nas
dependências do frigorífico de suínos, chegando a uma produção média diária de 500
aves abatidas no ano de 1962. A produção era comercializada quase que em sua
totalidade em São Paulo (PERDIGÃO, 2006). Porém, o novo produto favorecia um
sistema de criação integrada com pequenos produtores rurais, devido ao aumento da
produção e à sua crescente demanda de consumo. Em 1966, esse sistema foi colocado
em prova com a engorda de lotes experimentais de 1,2 mil pintinhos, sendo apenas o
primeiro passo de um sistema que difundiu não somente com a empresa Perdigão
como com outros grupos agroindústrias, a Sadia, a Seara etc.
Desse modo, pelo avanço da biotecnologia e de aparatos infra-estruturais, o
início da automação do processamento de aves da Perdigão ocorre em 1968, com a
capacidade de abate que atingia aproximadamente 1,5 mil aves diariamente
(PERDIGÃO, 2006), somente em Videira. No início da década de 1970 a Perdigão
também passou a se dedicar à produção de ração animal, produto usado por ela
própria e por produtores integrados à criação de aves e de suínos para suprir parte da
alimentação na criação e engorda dos animais. Cria-se também, em Videira, o primeiro
abatedouro exclusivo de aves.
87
Entre os anos de 1975 e 1976 a Perdigão começou a exportar carne de frango,
sendo uma das pioneiras no Brasil, tendo na Arábia Saudita o primeiro mercado
consumidor externo. Passou a dedicar-se também à industrialização de soja e
derivados
, ao esmagamento do grão, ao refino de óleo e à produção de farelo, matéria-
prima usada na produção da ração (PERDIGÃO, 2006). Até 1976, a Perdigão, com
uma diversificada linha de produção agroindustrial, restringia suas atividades industriais
somente a Videira.
Porém, no final da década de 1970, a Perdigão já era considerado um dos
maiores processadores de carne de frango do estado catarinense. A partir desse
mesmo período, passa a incorporar outras empresas menores em Santa Catarina,
agregando produção, capital e lucro. Nesse contexto, como já se sabe, a partir da
década de 1970, ocorreram grandes crises da suinocultura na Região Sul do Brasil e,
conseqüentemente, houve um processo de acumulação de capitais e as indústrias de
pequeno porte não tendo condições de competir tanto no mercado interno quanto
externo acabaram, em sua maioria, sendo incorporadas pelas grandes organizações
empresariais, como por exemplo a União Velosense de Frigorífico-Unifrico S.A., uma
empresa de abate e industrialização de suínos, em Salto Veloso (SC) que foi comprada
pela Perdigão em 1977.
Em 1979, a Perdigão incorpora a empresa Rações Pagnocelli S.A., localizada
em Catanduvas (SC). Naquele mesmo ano, com o objetivo de conquistar mais mercado
consumidor interno e, principalmente externo, aquela agroindústria passou a investir em
melhoramento genético de frango e criou a marca Chester
20
.
A década de 1980 iniciou também, com a incorporação de outras empresas
como a Agropecuária Confiança Ltda; o Comércio e Indústria Saulle Pagnocelli, ambas
situadas em Herval Velho (SC); a Indústria Reunidas Ouro S.A., como já se sabe,
20
A palavra Chester é uma derivação da palavra inglesa “chest” que significa “peito”, cuja característica
da marca é aves com maior concentração de “carnes nobres”. Entretanto, a marca Chester é o resultado
de uma pesquisa em laboratório de melhoramento genético que foi produzida a partir de uma ave tipo
Roater-Americano”, com o objetivo de desenvolver uma ave especial com 70% de suas
carnes
concentradas no peito e nas coxas, caracterizada como carnes nobres. A pesquisa durou
aproximadamente um período de 15 anos, a qual trabalhou no aprimoramento doGallus-Gallus” . O
pacote genético foi comprado pela empresa Perdigão de um grupo de pesquisadores especialistas em
genética de aves dos Estados Unidos (PERDIGÃO, 2006; PERDIGÃO(a), 2006; BRANCHER, 1994).
88
localizada em Capinzal (SC), composta por um abatedouro de aves e uma unidade de
industrialização de suínos e granjas (PERDIGÃO, 2006). No decorrer da década de
1980 o Grupo Perdigão passou a atuar para além das fronteiras do estado catarinense,
adquirindo e criando outras unidades industriais no Rio Grande do Sul e em São Paulo.
Assim como, a partir da década de 1990, com novas e diversificadas linhas de
produção, ampliou suas unidades industriais e passou a comercializar com países
europeus e asiáticos, entre outros.
Nesse contexto, a tendência do ramo alimentar, entre as empresas
agroindustriais, a Perdigão, a Sadia, a Seara, entre outras, em 1949 já representava
33,8% da participação no valor total produzido pela indústria de transformação
catarinense, enquanto as agroindústrias gaúchas representavam 65,7%. Em 1970,
Santa Catarina representava 14,2% no ramo alimentar do Sul do Brasil e o Rio Grande
do Sul 54,4%. Em 1980, Santa Catarina representava 21,35% e o Rio Grande do Sul
38,30%. Portanto, a indústria alimentar catarinense apresentou ganhos de proporção na
Região Sul (ESPÍNDOLA, 1999, p. 27), cada vez mais se especializando,
principalmente a partir da década de 1980 com a expansão e incorporação da
produção.
O Oeste Catarinense é caracterizado, na economia nacional, o maior pólo de
frigorificação de carnes suínas e avícolas, por suas diversas unidades industriais.
Dentre as agroindústrias atuais destacam-se a Sadia, a Chapecó, a Seara e a
Perdigão, entre outras.
No entanto, recentemente, um problema influenciou parte da produção e
consumo de carne de aves, desestabilizando sócio-economicamente muitos países,
sobretudo, lugares que dependem do capital girado pela produção e comercialização
desse produto: o vírus da gripe aviária. O vírus Influenza Aviária
21
, assim chamado, não
21
A gripe das aves, popularmente conhecida, foi identificada pela primeira vez na Itália, há cerca de 100
anos. Acreditava-se que a gripe só infectava aves, até que os primeiros casos humanos foram
detectados em Hong Kong em 1997. Recentemente, foi detectada em vários países da Ásia, a infecção
da gripe em patos e galinhas, mas registraram-se também alguns casos de infecção de gripe das aves
em seres humanos. Atualmente alguns países europeus e africanos também registram caso da infecção
de aves em seres humanos. A gripe das aves é transmitida pelo contacto com as aves domésticas, aves
infectadas ou com as excreções fecais destas aves, sendo ineficiente a transmissibilidade entre
humanos.
Os sintomas nos seres humanos infectados pelo vírus da gripe das aves são muito
semelhantes os dos seres humanos infectados pela gripe humana. Todavia, com freqüência, a gripe das
89
será detalhadamente discutido neste trabalho por não ser o foco desta pesquisa, mas
merece um estudo a parte devido à sua complexidade. Dessa forma, para a
compreensão no contexto generalizado, a Influenza Aviária é uma doença causada pelo
vírus Influenza,
semelhante ao vírus que afeta os humanos e provoca a gripe. Só que os vírus
aviários possuem características muito diferentes dos vírus que atingem os
humanos. Os vírus aviários apresentam 16 subtipos, dos quais alguns são
altamente patogênicos. O H5 e o H7 são os dois que caracterizam a gripe do
frango. Nas aves, geralmente, a doença é devastadora, provocando lesões
sérias nos sistemas respiratório, digestivo, nervoso e reprodutivo. Nos
humanos, nos casos relatados até agora, a doença se manifesta como uma
infecção pulmonar aguda. Mas em pelo caso dois casos, o vírus foi encontrado
também no cérebro das vítimas. (BRENTANO, 2005).
Com essa problemática da Influenza Aviária, a estimativa é de que 2.500
empregos diretos e indiretos do setor agroindustrial de aves de Santa Catarina e do Rio
Grande do Sul tenham “desaparecido” por conta da doença das aves. Sabe-se que é
sabido o vírus H5N1, causador da gripe das aves não tem incidência no território
brasileiro, porém alguns dos principais importadores de carne de frango brasileiro, a
Europa e a Ásia, suspenderam temporariamente a comercialização desse produto com
o Brasil, temendo a possibilidade de contaminação também no Brasil (DIÁRIO
CATARINENSE, Jun/2006).
Esse problema atinge diretamente o grande capital e aqueles que dele
dependem, que são os fornecedores da matéria prima, os criadores das aves -
produtores rurais, em geral, que temem perder ou diminuir a produção -; os
funcionários das agroindústrias que receiam perder seu vínculo empregatício; outros
setores econômicos, como de transportes, serviços etc. que, de alguma forma, mantêm
laços econômicos com o setor agroindustrial de carnes, especificamente de aves e
podem, também, perder espaço.
aves por H5N1 no homem, manifesta-se por febre alta, pneumonia, insuficiência respiratória e, falência
de diversos órgãos e conduz, até mesmo, à morte. (BRENTANO, 2005).
90
2.2.3 O Complexo Agro-industrial Avícola em Capinzal
A dinâmica sócio-espacial de Capinzal é reflexo da inserção de novos agentes
e/ou (re)direcionamento da economia local baseada na grande indústria de
processamento de carnes, especificamente o segmento de frango, representado pelo
Grupo Perdigão. A chegada do complexo agroindustrial em Capinzal, em 1980,
sobretudo do Grupo Perdigão desencadeou uma (re)organização do espaço, isto é, as
relações espaciais passaram a assumir novas realidades, consubstanciadas às
funcionalidades que também sofreram mudanças.
Portanto, quando a sociedade sofre mudanças de modo geral, sejam
econômicas, políticas ou culturais, de acordo com as idéias de Santos (1985), as
formas ou objetos geográficos, isto é, os objetos móveis e imóveis representados pelas
relações sócio-espaciais, que são os resultados da ação humana sobre o espaço,
assumem novas funções, um novo direcionamento e uma nova perspectiva de produzir
a vida no lugar. Isso, a partir de um processo contínuo, resultante da dinâmica social,
ou seja, a maneira de como a sociedade se organiza no espaço.
Desse modo, Corrêa (1986, p. 60) diz que a organização espacial é o “resultado
do trabalho humano acumulado ao longo do tempo”. No capitalismo a organização
espacial é realizada pela ação do Estado capitalista. Isto é, o capital e seu Estado são
os principais agentes organizadores do espaço (CORRÊA, 1986, p. 61) e ambos agem
em parceria. As grandes corporações capitalistas, como a Perdigão, são exemplos de
agentes promotores de mudanças e organizadores do espaço, que agem direta e/ou
indiretamente na vida social urbana e regional de lugares onde estão instaladas. Os
reflexos das mudanças em pequenas cidades são, na grande maioria, mais evidentes,
visto que a atuação desses grupos atinge a sociedade local, que vive em função e/ou
sob influência do grande capital, das corporações capitalistas.
Nessa perspectiva, a influência do grande capital em Capinzal, com a
implantação da agroindústria alimentar - o Grupo Perdigão -, a partir da década de
1980, manifesta não somente naquele município, mas também em municípios
circunvizinhos tais quais Ouro, Lacerdópolis e Zortéia, um outro dinamismo no
crescimento econômico, tornando-se um reflexo da urbanização e da industrialização
91
daquela região, representada pela transformação mais acentuada do espaço local.
Estabelecendo-se, desse modo, relações sócio-econômicas local e regional e,
conseqüentemente com o mundo.
Essas relações são a forma como se processa o território usado, o qual Santos
(1994, p.16) chama de “espaço humano, espaço habitado”, resultado da nova
construção do espaço e do novo funcionamento do território, que são as idéias de
“horizontalidades” e “verticalidades”. Essas são relações sociais estruturadas na
“combinação-tipo” dos modos de produção e aqueles articulados entre si (LIPIETZ,
1988, p.151).
As horizontalidades são os domínios da contigüidade, de lugares vizinhos
reunidos por uma conformidade territorial (SANTOS, 1994). Podem ser entre
comunidades locais; cidade e campo; municípios vizinhos; ramos de atividades
econômicas; relações de trabalho etc.
Esses aspectos de horizontalidades podem ser percebidos no objeto deste
estudo por meio das relações entre a cidade sede e sua hinterlândia, assim como entre
os municípios circunvizinhos Ouro e Zortéa, com os quais mantêm significativas
relações nos aspectos econômicos, culturais, históricos. Econômicos, porque boa parte
das indústrias, comércios e serviços estão localizados em Capinzal e atraem
populações vizinhas para o trabalho, o consumo e o lazer. Culturais e históricos, pelo
fato de fazerem parte do mesmo contexto de ocupação e de sua trajetória. Portanto, as
relações sócio-espaciais de Capinzal entre a cidade e o campo; os diferentes ramos de
atividades sócio-econômicas como agricultura, agropecuária, comércio alimentício,
imobiliário etc; comunidades locais e municípios circunvizinhos, caracterizam uma
cooperação e articulações mais limitadas, ou seja, o lócus, porém não menos
importantes, pois a partir de uma escala local e regional estabelecem-se relações que
podem ser verticais com outra(s) dimensão(es) escalar(es).
Nas verticalidades no entanto, a organização do território se apresenta com outro
sentido. Segundo Santos (1994), são formadas por pontos “descontínuos”, ligados por
todas as formas e processos sociais. São, por exemplo, desde a instância local até a
mundial, uma questão hierárquica de poder e dominação. Nesse caso o que tem mais
relevância é a política externa, o poder e as normas (SANTOS, 1994), que são criadas
92
intencionalmente como possibilidade de organizar territórios. São exemplos disso, os
que exploram e dominam e os explorados e dominados (LIPIETZ, 1988). As
verticalidades, por outro lado, são as conexões de lugares em rede, com diferentes
funcionalizações, ou seja, cada lugar com suas especificidades, mas ligados por algum
objetivo comum, o mercado.
As verticalidades se manifestam neste estudo por intermédio de relações e
integrações mais amplas, tanto geográfica quanto econômica e politicamente do lugar
com outros lugares, do lugar com outras regiões e do lugar com o mundo, por meio, por
exemplo e principalmente, do complexo agroindustrial Perdigão, veículo de integração
mais amplo, principalmente nas questões de produção e comercialização de
mercadorias.
A agroindústria mantém no local grande parcela de domínio econômico, de
produção, de serviço e de mercado. Mesmo que a produção de mercadorias em grande
parte seja em locus, a comercialização delas ultrapassa as fronteiras municipal,
estadual, nacional e continental. Além disso, a categoria verticalidade permite uma
compreensão nas articulações entre as diferentes classes socais e entre os que
dominam e os que obedecem no processo da produção do espaço urbano e regional de
Capinzal.
A verticalidade é mais um elemento (re)estruturador do espaço, sempre
vinculado às dinâmicas do capitalismo internacional. Nesse caso, torna-se conveniente
destacar o que Souza (1995, p. 78) diz, que o território “é fundamentalmente um espaço
definido e delimitado por e a partir de relações de poder”, ou seja, o poder econômico e
o de produção de mercadorias que, no caso, a agroindústria detém sendo reflexo,
também, de poder de decisão de como, quanto, onde, o que e para quem produzir,
além de estabelecer e definir relações, de certa forma, de domínio de produção com
produtores rurais, fornecedores de matéria-prima.
Assim, a partir da compreensão das diferenças entre horizontalidades e
verticalidades e suas possibilidades de interpretar como categorias que vêm se
articulando dinâmicas do lugar em Capinzal, Santos (2004, p. 284) nos diz que
,
Enquanto as horizontalidades são, sobretudo, a fábrica da produção
propriamente dita e o lócus de uma cooperação mais limitada, as verticalidades
93
dão, sobretudo, conta dos outros momentos da produção (circulação,
distribuição, consumo), sendo o veículo de uma cooperação mais ampla, tanto
econômica e politicamente, como geograficamente.
O território é o resultado desses desdobramentos e o papel do Estado é ser
agente organizador do espaço. As diferentes funções das instituições e dos centros de
poder político no desdobramento do espaço sócio-econômico são, segundo Lipietz
(1988), de assegurar as condições econômicas, políticas e ideológicas da reprodução
do capital de cada um dos modos de produção, bem como intervir para acelerar, inibir
ou até mesmo reverter os processos de articulação dos modos de produção co-
presentes na formação social. Esses elementos estão, também, presentes em Capinzal.
Assim, a atuação da agroindústria alimentar em Capinzal, principalmente a partir
dos anos de 1980 vem se pronunciando cada vez mais como uma potência econômica
local, horizontal e vertical. A sua atuação sócio-econômica, inicialmente, se configura
com uma pequena produção, se comparado atualmente. No início de suas atividades, a
empresa empregava uma média de 370 funcionários e, na ocasião, abatia
aproximadamente 7 mil frangos por dia, possuindo três integrados avícolas, com
6.870m² de aviários construídos. No início nos anos de 1990, o número de funcionários
aumentou consideravelmente, a empresa já abatia cerca de 260 mil frangos
diariamente e possuía 1.063 integrados cujos aviários ocupavam uma área de
1.142.926m². A produção mensal girava em torno de 9.300 toneladas, das quais 47%
eram exportadas para diversos países do Oriente Médio e da Europa, entre outros.
Naquele período, a empresa empregava 2.610 funcionários, habitantes de Capinzal e
de municípios como Ouro e Lacerdópolis (BRANCHER, 1994, p. 134-135).
A principal matéria-prima da Perdigão na unidade de Capinzal vem sendo
frangos para o abate. Do total de frangos abatidos no início dos anos de 1990, 7%
destes eram fornecidos pelos integrados situados em Capinzal e os demais vinham de
outros municípios (BRANCHER, 1994), tais quais Piratuba, Ipira, Ouro, Lacerdópolis,
Campos Novos, entre outros, além do Estado do Rio Grande do Sul, dos municípios de
Machadinho, Cacique Doble etc.
Atualmente, a unidade de Capinzal da Perdigão abate aproximadamente 430 mil
aves diariamente, possui em torno de 1550 integrados e 2383 aviários cadastrados,
94
com 2.265.600m² de área construída, localizados em Capinzal, Ouro, Zortéa,
Lacerdópolis, Ipira, Piratuba, Campos Novos, Joaçaba, Água Doce, entre outros, além
dos municípios gaúchos de Machadinho, Pain Filho, Cacique Doble, Maximiliano de
Almeida etc. (Quadro 07) (BONATO, 2005), ampliando e intensificando
consideravelmente a sua área de atuação. Ela emprega aproximadamente 5.600
funcionários, oriundos também de Ipira, Piratuba, Lacerdópolis, Ouro, Zortéa, Herval
D’Oeste e, principalmente, de Capinzal, Santa Catarina. Grande parte dos funcionários
também se desloca dos municípios gaúchos de São José do Ouro, Barracão,
Machadinho, Maximiliano de Almeida, Pain Filho, Sananduva e Viaduto, para compor
os recursos humanos da empresa
22
(BONATO, 2005).
Em 2006, portanto, por conta da queda nas exportações de frango e,
conseqüentemente, pela diminuição na produção em decorrência da gripe aviária, a
Perdigão, unidade de Capinzal, deu férias coletivas no mês de maio a 1200
funcionários, assim como as agroindústrias Aurora e Seara também o fizeram além de
demitir alguns de seus funcionários (AVICULTURA INDUSTRIAL, 2006). Em Capinzal,
portanto, não houve redução no quadro de funcionários, apenas férias coletivas para o
terceiro turno de abate
23
, tendo em vista que a indústria trabalha com três turnos diários
naquele setor.
Contudo, a atuação das grandes corporações, como o Grupo Perdigão,
independente do lugar que se estabeleça, cria, de certa forma, vínculo com a população
local de modo geral, como em Capinzal, mas isso não garante sua permanência efetiva.
O seu maior interesse, óbvia e exclusivamente, é produzir e comercializar mercadoria,
com expectativas de ganhos, o lucro. Ser um organizador e articulador do território ou
um desarticulador e desestruturador que é indiferente na concepção capitalista, visto
que, enquanto o lugar for um ponto estratégico e de possibilidades, sua permanência
está garantida.
Nesse contexto, como o lugar não é uma garantia de permanência da
produção industrial, a linha Chester, do Grupo Perdigão, que até recentemente, em
2006, era produzida na unidade Capinzal, foi transferida para a unidade de Mineiros,
22
O transporte dos funcionários é de responsabilidade da empresa Perdigão, que é terceirizado.
23
Informação fornecida pela empresa Perdigão (05 jul. 2006).
95
em Goiás, devido à viabilização de custos com a matéria-prima e à logística de
distribuição. Sendo assim, os principais tipos de frangos abatidos na unidade Capinzal
são, atualmente, o Frangão (macho especial), a Fêmea especial e o Frango Misto.
Quadro 07 - Número de aviários e de integrados que possuem vínculo na
produção de frango com a Perdigão, unidade Capinzal, por municípios dos
Estados de Santa Catarina e do Rio Grande do Sul.
Municípios de Santa Catarina Nº de Aviários Nº de Integrados
Água Doce 109 77
Campos Novos 28 16
Capinzal 390 211
Catanduvas 75 45
Luzerna 110 72
Erval Velho 45 27
Herval D´Óeste 97 66
Ibicaré 57 40
Ipira 145 88
Irani 17 15
Jaborá 109 75
Zortéa 22 11
Ibiran 13 7
Joaçaba 226 154
Lacerdópolis 112 69
Ouro 367 232
Piratuba 68 45
Presidente Castelo Branco 12 9
Treze Tílias 50 35
Vargem Bonita 110 72
Agrolândia 3 2
Braço do Trombudo 4 2
Laurentino 2 1
Mirim Doce 12 9
Pouso Redondo 7 6
Rio do Campo 11 11
Salete 35 27
Taió 83 68
Trombudo Central 2 1
Sub Total 2.321 1.493
Municípios do Rio Grande do Sul Nº de Aviários Nº de Integrados
Cacique Doble 7 6
Machadinho 39 29
Maximiliano de Almeida 4 4
Paim Filho 15 13
São João da Urtiga 4 4
São José do Ouro 3 3
Sub Total 72 59
Total 2.393 1.552
Fonte: Dados fornecidos pelo funcionário da Perdigão Agroindustrial, unidade Capinzal, Ivanir Bonato (08
set. de 2005)
.
96
3. CAPINZAL: A DINÂMICA TERRITORIAL E AS RELAÇÕES LOCAIS E
REGIONAIS
3.1 O ESPAÇO RURAL: ANTECEDENTES NA/DA GÊNESE DO LUGAR
A prática da agricultura e o trabalho na terra é, certamente, a atividade
econômica mais antiga da sociedade e vem se desenvolvendo desde os povos
coletores até os dias atuais, sempre com novas técnicas e meios de produção.
A vida agrícola é composta não somente do trabalho da terra, mas também da
exploração de vegetais espontâneos, isto é, do extrativismo vegetal (FERREIRA, 2002).
Esse conjunto de atividades somado à prática da pecuária resulta no espaço rural, onde
muitos homens, por meio do trabalho, vêm praticando a sua sobrevivência.
Neste contexto, de acordo com Ferreira (2002), até as décadas de 1930-1940, a
atividade econômica hegemônica era a agricultura. Portanto, a partir de 1950, o
desenvolvimento do sistema urbano-industrial e a concretização da Divisão Social do
Trabalho colocaram a cidade e a indústria como precursores de uma nova realidade
econômica.
Assim, a agricultura, de hegemônica passou a ser coadjuvante num sistema
econômico constituído por muitos elementos ou partes. Nesse contexto, a agricultura é
uma delas, sendo um campo de estudo pelo qual a geografia também se interessa em
estudar, por intermédio das relações sócio-espaciais, tanto nos aspectos econômicos
quanto sociais, enfim, inúmeras formas de interesses para entender o mundo agrário.
Assim, o “mundo agrário”, numa análise geográfica, é uma tentativa de explicar
paisagens e modos de vidas rurais por meio dos sistemas agrícolas e de sua evolução.
Esses sistemas caracterizam o habitat, tendo como condicionantes fatores físicos e
trabalho humano.
No contexto agrário brasileiro, a estrutura fundiária no período colonial surgiu sob
o signo de grandes propriedades rurais, o latifúndio. Isto é, dos títulos de domínio, da
natureza da posse e da forma de administração, grandes extensões de terras
concentradas e exploradas por poucos proprietários. Passado alguns séculos, esse tipo
97
de estrutura não sofreu significativas mudanças em determinados lugares,
principalmente no Nordeste e no Centro-oeste brasileiros, pois a concentração fundiária
agravou-se, devido à intensificação do êxodo rural, a partir, principalmente, da década
de 1970, por meio da expulsão em massa dos parceiros, colonos e assalariados de
suas terras e/ou do meio rural onde produziam suas vidas, por falta de uma política
agrícola que fosse ao encontro das necessidades para mantê-los no campo.
O resultado disso é a aglomeração de pessoas em centros urbanos, em busca
de emprego, principalmente nas indústrias que começavam a se fortalecer cada vez
mais. Essa realidade vem se refletindo também em cidades como Capinzal, que
absorve boa parte da população vinda do campo para produzir o trabalho e deste o seu
sustento, em particular, na indústria.
3.2 ASPECTOS DA PRODUÇÃO DO ESPAÇO RURAL CAPINZALENSE
A atividade rural em Capinzal desde a vinda dos primeiros colonizadores, no
início do século XX, pode ser contada a partir de relatos de antigos moradores que dão
idéia de como a prática e o uso do solo rural vêm sendo utilizados de forma a
produzirem seu sustento. São olhares e vivências de pessoas como os Srs. Névio
Lanhi, Omar S. de Araújo, Osmar S. de Avila, entre outros, que procurou-se “costurar” e
reconstituir, em partes, a (re)produção e suas transformações do espaço rural de
Capinzal.
Nesse contexto, ascendentes de Lanhi (2006)
24
vindos do Rio Grande do Sul,
em 1912, foram uma das primeiras famílias a fixar moradia e a praticar atividade voltada
à agricultura, com o objetivo de desbravar um novo lugar, com novas expectativas e
perspectivas de produzir o sustento familiar em Capinzal. Aquela família se estabeleceu
onde hoje é a Vila Sete de Julho, e alguns descendentes, assim como ele, ainda
residem naquele lugar. Muitos deles com outras atividades econômicas, como
comerciários, bancários e, na própria atividade agropecuária.
24
Lanhi tem 74 anos de idade, aposentado como agricultor. Nasceu e vive até os dias atuais em
Capinzal, na atual Vila Sete de Julho, localidade considerada, atualmente, parte do perímetro urbano
daquele município. Diz o Sr. Névio: “minha mãe veio de Bento Gonçalves e meu pai com 6 anos de
idade, veio de Antonio Prado, Rio Grande do Sul (....) vieram com a família.”
98
Inicialmente, a atividade desenvolvida por sua família foi cultivar um parreiral e
produzir vinhos, juntamente com o cultivo principalmente de milho, além da mandioca,
dentre outras culturas - atividades comuns entre os primeiros colonos (LANHI, 2006).
A família, com o intuito de aumentar a produtividade, tão logo se estabeleceu, adquiriu
um terreno de “uma colônia de terras”, correspondente a 10 alqueires que, “na época,
era tudo sertão, mata, pinheiral” (LANHI, 2006). De acordo com Lanhi (2006) e com os
demais entrevistados aqueles foram tempos muito difíceis, mas tudo o que se plantava,
se produzia. Em qualquer pedaço de chão era possível produzir o sustento familiar. Isso
se deve ao fato de a terra até aquele momento não ter sofrido com a erosão pelo
desmatamento, nem com o uso de fertilizantes, agrotóxicos, entre outros produtos
nocivos.
Passado algum tempo, a família Lanhi adquiriu mais 04 colônias, correspondente
a 40 alqueires de terras, agregando a que já possuía, e posteriormente agregaram mais
uma colônia, 10 alqueires, constituindo um total de 60 alqueires de terras férteis e
praticamente toda coberta por mata, principalmente araucária. Intensificou assim, a
atividade agrícola no cultivo do milho, feijão, mandioca, amendoim, alfafa, além de
criação de bovinos, suínos, aves caipiras, entre outros. A produção era tanto para o
consumo próprio familiar, a qual era numerosa, quanto para comercialização local no
caso do excedente.
Dentre as questões por nós levantadas, uma delas foi considerada relevante
para a compreensão das alterações sócio-espaciais em Capinzal. Perguntou-se sobre a
sua opinião em relação às principais mudanças observadas por ele e sua família
25
ao
longo dos anos em Capinzal. Em resposta objetiva, ele diz:
As mudanças são muito grandes daquela época pra hoje. Porque naquela
época só existia serviço na agricultura e hoje tem outras opções. Tem
empresas/indústrias e isso mudou muito, até mesmo o sistema de vida mudou
muito. Naquela época era tudo mais simples e hoje é bem mais modernizado.
(LANHI, 2006).
Essas suas explanações expressam uma certa satisfação de ver que houve
muitas mudanças significativas e se tornou bem mais fácil produzir a vida, pois
25
A entrevista ocorreu juntamente com sua esposa e alguns filhos, os quais participaram de forma
conjunta na argumentação das respostas.
99
atualmente há mais opções tanto de trabalho quanto de lazer. As oportunidades de
trabalho foram aparecendo e se diversificando conforme novas inserções de atividades
econômicas, principalmente industriais, se pronunciavam, e a população residente
também aumentava gradativamente de número, criando outras necessidades de
maneira a garantir sobrevivência.
Em seguida, perguntou-se se hoje é melhor viver na agricultura do que
anteriormente. Ele responde pensativo:
[...] antes era melhor. Hoje, se vive mais fácil, só que é mais difícil na
agricultura, porque os insumos agrícolas são muito caros e quase não dá para
utilizar, pois a colheita não compensa para pagar os insumos. Hoje é mais
difícil, eu acho! Naquela época não era necessário adubo, a terra era boa,
forte, dava tudo o que se plantava e, hoje a terra já está mais usada, mais
fraca e precisa de adubo. Só que é um negócio muito caro e se torna bem mais
difícil para viver. (LANHI, 2006).
Essas situações apresentadas por Lanhi (2006), são quase que unânimes por
todos os entrevistados para esta pesquisa, que vivem e/ou viveram da atividade
agrícola naquela região. Quando na sua fala ele diz que a terra era boa e mais forte,
isso é pelo fato de que naquela região de Capinzal, assim como o meio-oeste
catarinense até o início da ocupação efetiva a terra ainda tinha uso incipiente. Era
coberta quase que totalmente por vegetação nativa, sem uso de produtos químicos,
entre outros aspectos que favorecessem a degradação do solo. Neste contexto, outros
entrevistados como Omar Araújo
26
, cuja família, pais e irmãos, originária de Monte
Negro, Rio Grande Sul, que veio estabelecer residência em Capinzal em 1939, na atual
localidade de Barro Branco
27
, com o objetivo de também desbravar novas terras, férteis
e produtivas, compartilha da mesma idéia de Lanhi.
A família Araújo, portanto teve, inicialmente, nas suas principais atividades
agrícolas desenvolvidas, a cultura do milho, do feijão e da cana-de-açúcar. Em seguida
agregou-se, também, a produção do açúcar mascavo e da farinha da mandioca, cuja
comercialização dos produtos manufaturados era feita na sua maioria em Piratuba, via
26
Tem 79 anos de idade. É aposentado como agricultor. Reside na atual localidade de Barro Branco, ao
sudoeste do município de Capinzal (divisa com o Estado do Rio Grande do Sul), desde sua vinda com
familiares para estabelecer residência naquele município.
27
Naquela localidade, as terras eram, inicialmente, de propriedade do Lopes, dos quais a família
procedeu a compra de parte delas.
100
estrada de ferro. Produção exclusivamente familiar. Nas palavras de Araújo (2006), “na
época era essa atividade que tinha para fazer, pois valia mais a pena”, dava mais
retorno financeiro e garantia o sustento familiar. Ainda, no seu relato, diz que naquela
localidade de Barro Branco e entorno como de Barro Preto, de Nova Beleza era tudo
mata, o solo muito fértil, qualquer coisa se reproduzia na agricultura.
Com o passar dos anos os filhos foram crescendo e se tornando independentes
e, alguns deles, procuraram outras atividades econômicas e/ou até mesmo foram
produzir suas vidas em outros lugares. Atualmente, Araújo (2006), juntamente com sua
esposa, pratica apenas a cultura do milho e cria alguns animais como suínos, bovinos e
aves caipiras, mas apenas para o sustento familiar. Diz não valer mais a pena o cultivo
agrícola para a comercialização, nem mesmo a produção do açúcar mascavo e da
farinha da mandioca. Por se tornar uma prática de custo elevado, é melhor não realizar,
diz Araújo (2006).
Ainda, dentre as suas colocações, além da prática agrícola ter custo elevado,
Araújo (2006) se reporta também à questão climática e à fragilidade do solo. Diz ele, “o
clima mudou muito e, por isso, não se produz quase nada”. Isso é, devido às freqüentes
e longas temporadas de secas, a cultura agrícola tem prejuízos significativos,
repercutindo no dia-a-dia da vida de agricultores como ele. Outro agravante também
exposto por Araújo (2006) é a questão do uso de adubos e produtos químicos, sem os
quais não é possível obter resultado positivo de colheita, devido ao brusco
enfraquecimento do solo
28
.
Outra entrevista também complementar à construção desta pesquisa deu-se com
o Sr. Osmar Avila
29
, cuja família, pais e irmãos é originária de Monte Negro, Estado do
Rio Grande do Sul. A família Avila se estabeleceu, inicialmente, em 1928, no atual
município de Piratuba, mudando-se para Capinzal em 1952. A família a se estabeleceu
no município de Piratuba motivada pelo fato de parentes já estarem fixados na região e,
28
O enfraquecimento do solo vem ocorrendo principalmente pelo fato do excessivo uso de produtos
químicos e a falta de um período de descanso entre uma safra e outra. Essa, é uma prática comum em
quase todas as áreas agrícolas de Capinzal, assim como no Oeste Catarinense.
29
Tem 60 anos de idade. Veio aos 6 anos residir juntamente com familiares na atual localidade Barro
Branco, Município de Capinzal, onde reside até hoje. A entrevista foi realizada juntamente com a sua
família, cujas respostas foram construídas em conjunto.
101
principalmente porque, em Monte Negro, “na agricultura não se produzia mais nada”,
afirma Avila (2006).
Dessa forma, via-se, então, na região oeste de Santa Catarina, uma nova
perspectiva de continuarem as atividades agrícolas, porém, num “novo lugar” de terras
férteis e produtivas. Outros motivos contribuíram para que a família passasse a residir
em Capinzal, entre eles a possibilidade de comprar um terreno e de exercer a atividade
que dominavam, a agricultura. Inicialmente, a principal atividade foi o cultivo da
mandioca concomitante à produção da farinha. Era uma atividade que “dava mais lucro
e havia a possibilidade de vender a produção ao comércio em Piratuba e até mesmo
para outros Estados”, inclusive para o Rio Grande do Sul. Posteriormente, há
aproximadamente 35 anos, a família passou à produção de grãos como milho, soja,
feijão e a atividade pecuária, principalmente na produção de suínos. Mais
recentemente, há 6 anos, além da atividade de grãos e de suínos, passou também a
produzir frangos, cuja comercialização vem sendo com a empresa Perdigão por
intermédio do sistema de integração, que é a principal atividade atualmente.
Na sua fala, Avila (2006) diz que “na lavoura não dá lucro mais, devido o alto
custo da produção e os longos períodos de seca” que vem assolando aquela região.
Esse fenômeno da seca vem desestimulando de forma generalizada os produtores
rurais, os quais não vêem mais perspectivas no meio rural.
Em outras palavras, Avila (2005) argumenta que dentre vários aspectos
[...] trabalhar na agricultura com plantio não garante renda fixa, arriscando
perder toda a produção ou parte dela com secas ou com o excesso de chuva.
Falta, ainda, incentivo por parte do governo com financiamentos compatíveis
para a produção, falta de acompanhamento técnico permanente, além do custo
muito elevado dos insumos agrícolas como sementes, adubos, produtos
químicos. [....]. Enfim, na agricultura hoje o investimento é muito alto e em 3 ou
4 anos os maquinários utilizados no processo produtivo se tornam ineficazes.
Sem contar que a safra que é apenas uma vez por anos, e assim a entrada de
dinheiro também ocorre uma vez no ano. (AVILA, 2005).
Sobre as estiagens em Santa Catarina, esse fenômeno vem ocorrendo
freqüentemente e causando prejuízos na agricultura, uma das variáveis que influencia
em parte o êxodo rural. Desse modo, a exemplo da estiagem que recentemente vem
repercutindo na agricultura catarinense, a qual a partir de novembro de 2005, alguns
102
municípios do Planalto, meio-oeste, oeste e o Vale do Itajaí catarinense, começaram a
decretar situação de emergência em virtude da falta de chuva.
A estiagem nas regiões do meio-oeste e oeste catarinense causou prejuízo de
aproximadamente R$ 371,8 milhões no setor agropecuário (ACAYABA, 2006). Segundo
informações fornecidas à imprensa pela Secretaria de Agricultura e Desenvolvimento
Rural, a produção de milho foi a que mais registrou perdas na safra 2005/2006, com um
total de 1,007 milhão de toneladas, o equivalente a R$ 251,8 milhões. Isso representa
cerca de 25% total da produção. (ACAYABA, 2006; DIÁRIO CATARINENSE, 2006).
Entre novembro de 2005 e janeiro de 2006, período da safra do milho, a estiagem se
prolongou por mais tempo comprometendo principalmente todas as lavouras de milho
no meio-oeste e oeste. Mesmo com a interrupção da estiagem, que salvou a safra da
soja no final de março de 2006 (DIÁRIO CATARINENSE, 2006), em abril grande parte
dos produtores rurais naquelas regiões foram atormentados pela volta da estiagem,
agora repercutindo também na pastagem do gado leiteiro. Certamente a falta de chuva
impossibilitou o crescimento do pasto e fez com que os agricultores alimentassem o
gado com milho moído. Essas forragens, assim como é chamado o milho moído,
deveriam ser utilizadas nos meses de julho e agosto, quando o frio é mais intenso e a
pastagem é escassa (ACAYABA, 2006).
São, dentre outras questões, as estiagens que vêm freqüentemente dizimando
lavouras inteiras de culturas agrícolas e desestimulando agricultores, principalmente os
jovens do meio-oeste catarinense e de Capinzal, a permanecerem na atividade rural.
Em Capinzal, as perdas da produção de culturas como milho, feijão e soja
(Quadro 08) representam 60, 50 e 20 %, respectivamente, em virtude da estiagem,
fenômeno responsável pela diminuição da produção de leite e perda de peso de
bovinos de corte, que tiveram uma produção de 35 e 25 % menor do que deveria ser.
Quadro 08 - Estimativa das perdas de produtos agrícolas causadas pela estiagem na
safra 2005/2006 no município de Capinzal-SC
Cultura/Criação Área plantada Produção esperada Produção a obter Perdas (%)
Milho 2.800 há 15.120 toneladas 6.048 toneladas 60
Feijão 140 há 259,2 toneladas 129,6 toneladas 50
Soja 3.200 há 8.640 toneladas 6.912 toneladas 20
Leite - - 136.500 litros 35
Bovino para corte - - 71.000 Kg 25
Fonte: EPAGRI, 01/2006.
103
3.2.1 A estrutura agrária e as principais atividades agropecuárias
De acordo com o censo demográfico do IBGE de 2000, a região oeste de Santa
Catarina contava com uma população total de 1,1 milhão de habitantes residentes,
sendo que desse total, 414.150 eram residentes no meio rural, o equivalente a
aproximadamente 37% do total da população da região, assim como também quase
37% em relação à população rural do estado catarinense. Neste contexto, a micro-
região de Joaçaba, onde Capinzal está inserido
30
, contava com um total de 304.043
habitantes e, desses, 79.730 eram do meio rural, aproximadamente 26% da população
total. No município de Capinzal, o total da população residente em 2000 era de 19.955,
dos quais 4.495 residiam no meio rural, isto é, menos de 1% da população residente no
campo em relação à micro-região de Joaçaba (IBGE, 2002).
A população rural residente de Capinzal diminuiu significativamente se
comparado os dados de 1991 para 2000, pois de 13.694 habitantes em 1991, 4.336
eram rurais, o equivalente a quase 32%. Em 2000, habitavam o meio rural menos de
22% da população residente naquele município (IBGE, 1991; 2002). Desse modo, nota-
se que a população rural, em termos percentuais, é menor em relação a micro-região
de Joaçaba e do oeste catarinense. O abandono do campo ocorre, principalmente pelos
jovens, que vão a busca de trabalho fora do meio rural, principalmente na indústria.
Em termos de estrutura fundiária, as propriedades que fazem parte do meio rural
em Capinzal tinham, em 1995, um total de 515 estabelecimentos rurais (Quadro 09).
Deste total, quase 50% eram propriedades menores que 10ha, e mais de 71% menores
que 20ha. Entretanto, o total de propriedades menores que 50ha equivalem a quase
90% dos estabelecimentos rurais, isso quer dizer que os outros 10% estavam
distribuídos entre as propriedades de 50 a 500 ou mais hectares, um número
relativamente pequeno. Sendo que apenas 04 proprietários eram donos de
propriedades de 500 ou mais hectares.
Neste contexto da estrutura agrária de Capinzal, a condição do produtor rural,
isso é, o enquadramento dos estabelecimentos rurais, segundo as condições de posse
da terra de acordo com as principais categorias, tais como: terras próprias, que são os
30
De acordo com as definições do IBGE.
104
estabelecimentos de propriedade do produtor; terras arrendadas, são aquelas áreas do
estabelecimento de propriedades de terceiros, mas que são exploradas pelo produtor
rural, mediante pagamento de uma quantia fixa previamente combinada, em dinheiro ou
sua equivalência em produtos; terras em parceria, são as áreas do estabelecimento de
propriedade de terceiros, e que são exploradas pelo produtor mediante pagamento de
uma parte da produção (meia, terça, quarta etc) previamente estabelecida entre as
partes; e as terras ocupadas são aquelas áreas do estabelecimento também
pertencentes a terceiros, podendo ser públicas ou privadas, pelas quais o produtor
nada paga por seu uso de ocupação, posse ou cessão (SANTA CATARINA, 2005).
Quadro 09 - Estrutura fundiária de Capinzal em 1995
Tamanho das propriedades N
o
de estabelecimentos % de estabelecimentos
Menos de 10 ha 254 49,33
10 a menos de 20 ha 113 21,95
20 a menos de 50 ha 94 18,25
50 a menos de 100 ha 33 6,5
100 a menos de 500 ha 17 3,3
500 há ou mais 4 0,77
Total 515 100
Fonte: SANTA CATARINA, 2003.
Dados preparados por esta autora.
Dessa forma, dados de 1995-1996 em relação a 2002-2003 apontam que houve
um acréscimo de 184 estabelecimentos rurais. Portanto, a condição do produtor rural
em Capinzal em 2002-2003 (Quadro 10), nas principais categorias acima referenciadas,
está classificada de forma que aproximadamente 92% são proprietários, porém do total
de 643 proprietários, 52 não possuem título de posse de suas terras (SANTA
CATARINA, 2005), mas juntos, classificados como proprietários, somam uma
porcentagem de quase 87% do total da área rural com estabelecimentos; na condição
de arrendatário, não chega a 1%, o equivalente a pouco mais de 1% do total da área de
estabelecimentos rurais; e os demais, entre parceiros e ocupantes também
representam uma pequena minoria, que não atinge 0,5%.
Essas condições do produtor rural sugerem que a maioria são proprietários rurais
visto que por se tratar de custos elevados para produção e pelas condições climáticas
que por vezes não colaboram, não vale a pena cultivar a terra nas referidas condições,
principalmente de arrendatários e parceiros, pois há o risco de não obtenção de
105
resultados positivos da produção que, além de ter prejuízos tem que pagar o
arrendamento e/ou parceria, dependendo da forma e pagamento estabelecidos em
contrato.
Quadro 10 - Condição do Produtor Rural em Capinzal em 2002-2003
Condição do Produtor Número de Estabelecimentos Área (ha)
Proprietário 643 24.091,9
Arrendatário 46 3.329,5
Parceiro 3 178,3
Ocupante 7 159,0
Total 699 27.758,7
Fonte: SANTA CATARINA, 2005
Dados preparados por esta autora.
Quanto às atividades desenvolvidas no campo pelos produtores rurais, as
principais que vêm se desenvolvendo são, entre elas, a pecuária de aves, bovinos,
suínos e produção de leite (Quadro 11). Sendo que a produção de bovinos, suínos e
aves sempre foram as atividades de maior significância nesse segmento (vide Quadro
2). Quanto à produção de leite, há alguns produtores, a exemplo de Zenaro (2006), que
mantêm vínculo de comercialização com empresas como a Copérdia, de Concórdia,
cuja produção e entrega diária é de 150 litros. Outros laticínios, a Tirol, de Treze Tílias,
a Elegê que faz parte do grupo Avipal e tem um posto de recebimento e resfriamento
em Capinzal, também atuam naquela região.
Quadro 11 - Produção pecuária no Município de Capinzal em 2003
Tipo Quantidade
Bovinos 17.600 cabeças (efetivos)
Suínos 29.900 cabeças (efetivos)
Aves (galinha, galo, frango(a), pinto) 2.680.400 cabeças (efetivos)
Eqüinos 330 cabeças (efetivos)
Ovinos 700 cabeças (efetivos)
Caprinos 152 cabeças (efetivos)
Vacas ordenhadas 2.400 cabeças (efetivos)
Leite de vaca 4.824 mil litros/dia (média)
Mel de abelha 7.300 Kg
Ovos de galinha 7.639 mil dúzias
Fonte: IBGE - Produção da Pecuária Municipal, 2003.
Dados preparados por esta autora.
106
Na agricultura de produção permanente, atualmente, as principais são a cultura
da laranja, pêssego e uva, cujo valor produzido em 2003 foi de R$ 136.000,00, com
aproximadamente 396 toneladas (IBGE, 2003) (Quadro 12). E, na produção agrícola
temporária, as culturas que vêm se destacando são do milho, da soja e do trigo,
respectivamente, seguidas por produtos, como feijão, aveia e arroz (Quadro 13). A
produção temporária apresentou em 2003, aproximadamente 40.000 toneladas dentre
esses produtos acima especificados, com um valor total de produção de R$
14.164.000,00.
Quadro 12 -
Produção de laranja, pêssego e uva no Município de Capinzal em 2003
Tipo
Quantidade
produzida em
toneladas
Área
plantada
(ha)
Área
colhida
(ha)
Rendimento
médio
(kg/ha)
Valor da
produção (R$)
Laranja 216 18 18 12.000 4.000
Pêssego 120 15 15 8.000 84.000
Uva 60 5 5 12.000 48.000
Fonte: IBGE - Produção Agrícola Municipal, 2003.
Dados preparados por esta autora.
Quadro 13 - Produção das principais culturas agrícola no Município de Capinzal em 2003
Tipo Quantidade
produzida
(tonelada)
Área
plantada
(ha)
Área
colhida
(ha)
Rendimento
médio (Kg/ha)
Valor da produção
(1.000 - R$)
Arroz 270 90 90 3.000 119
Aveia 840 700 500 1.200 168
Feijão 435 300 300 1.450 471
Milho 24.000 4.000 4.000 6.000 6.192
Soja 10.710 3.500 3.500 3.060 6.062
Trigo 3.840 1.600 1.600 2.400 1.152
Fonte: IBGE, Produção Agrícola Municipal, 2003.
Dados preparados por esta autora.
Apesar de Capinzal apresentar uma produção significativa no setor agropecuário,
o destaque das atividades é na produção de aves/frangos para corte, cuja atividade
está extremamente vinculada à agroindústria Perdigão, com 211 produtores integrados
ao sistema e 390 aviários instalados no interior daquele município. Essa tendência vem
cada vez mais se fortalecendo pelo “sistema de integração” produtor rural e
agroindústria.
107
3.2. 2 A relação entre o produtor rural/avicultor e a agro-indústria
Muitas famílias agricultoras, atualmente, dependem das empresas e indústrias
para garantirem seus sustentos. A principal relação entre os produtores rurais e a
agroindústria Perdigão em Capinzal, no momento, é por meio do sistema de integração
na engorda de frangos para o abate. Uma parcela significativa dos produtores rurais
também comercializa parte da produção de milho e soja com aquela indústria, no caso
do cultivo desses produtos.
Nas condições do sistema de integração, há produtores rurais que estão certos
de que a melhor alternativa para o agricultor atualmente é a atividade avícola. Nas
palavras de Araújo (2005) ele diz que “a salvação do agricultor é a avicultura”, pois é a
atividade que ainda dá mais retorno financeiro. Dessa forma, é possível em um lote de
frangos, cujo alojamento seja entre 12.000 e 14.000 mil pintos em uma área de 1200m²
(Fotos 06 e 07), que é o tamanho padrão atualmente daquela empresa, se tudo ocorrer
bem durante a criação dos mesmos, obter-se um lucro entre 50 e 70%. Isso é, se o
valor bruto, por exemplo, der em torno de R$ 6.000,00, o que facilmente ocorre, o
produtor poderá receber o valor líquido de até R$ 4.200,00. As despesas periódicas são
basicamente com energia elétrica, gás, maravalha e lenha que são por conta do
produtor e, mais a conversão alimentar e outras despesas de carregamento e
transporte das aves etc., que já são descontadas pela empresa (BASEI, 2006; AVILA,
2006; ARAUJO, 2005).
No anexo 02, é possível ter uma idéia dos indicadores técnicos, como metas a
serem alcançadas pelo integrado, resultado do lote, área do aviário, aves alojadas,
aves abatidas, ração consumida, entre outros, além de dados sobre a remuneração ao
produtor. Nesse caso, a remuneração mínima é de R$ 1.050,00, ou seja, mesmo que o
produtor não alcance a meta proposta pela empresa ou ocorra algum problema, como
grande quantidade de mortalidade ou peso reduzido das aves, ele não deixa de
receber. Obviamente se o problema se repetir, o produtor pode ser excluído do sistema
de integração, caso seja provada a falta de cuidados. Assim, nos dizeres de Scapini
(2006), “o ganho é seguro, dando lote bom ou ruim, faça chuva ou faça sol, ou caia
pedra, a gente recebe” ao contrário da lavoura, que depende das condições climáticas
108
e de preços bons na hora da comercialização dos produtos. Há “segurança no sistema
de parceria, o ganho é garantido, mesmo que ocorra seca, o retorno financeiro é
garantido”, diz outro produtor. Pois “se fechar a Perdigão passaremos fome.”
(TEIXEIRA, 2006).
Autora: Analice de Avila – Julho de 2006
Foto 06 – Alojamento de frangos há 3 dias antes do abate
Autora: Analice de Avila – Julho de 2006
Foto 07 – Vista parcial de aviário no interior do município de Capinzal
Nesse contexto, parte dos produtores rurais que estão no sistema de integração
associa também essa atividade a um outro fator que se torna viável muitas vezes, que é
109
o aproveitamento do adubo produzido nos aviários e serve para abastecer as lavouras.
De acordo com Araújo (2005), “a principal vantagem de ser integrado é a questão
financeira, que vale a pena pelo retorno mais rápido e certo, em segundo lugar é o
aproveitamento do adubo para lavouras de milho” que ele e sua família produzem e
comercializam. Em alguns casos, quando o avicultor não utiliza o adubo em sua
propriedade, ele vende para outros produtores rurais ou compradores intermediários,
não somente em Capinzal como também em municípios vizinhos e até mesmo no Rio
Grande do Sul.
Durante o acompanhamento da retirada de aves de um aviário, observou-se que
o trabalho de carregamento delas mesmas ocorre por intermédio de equipes
especializadas de empresas terceirizadas pela Perdigão (Fotos 08, 09, 10 e 11), como
a Linger, situada em Joaçaba e que atua em Capinzal. As equipes de carregamento
são normalmente de 12 pessoas
31
. Quanto ao pagamento desse tipo de trabalho, parte
é de responsabilidade do produtor, cujo pagamento vem descontado no final de cada
lote, na nota fiscal e, outra parte é de responsabilidade da agroindústria. Assim como,
no processo de transporte da ração e das aves, existem também empresas que
prestam esses tipos de serviços.
Autora: Analice de Avila – Julho de 2006
Foto 08 – Aves com 45 dias de idade
31
Esse procedimento é preferido por boa parte dos avicultores, pelo fato de não haver necessidade de se
preocupar em arrumar mão-de-obra toda vez que sai um lote de frangos, que muitas vezes é difícil
conseguir.
110
Autora: Analice de Avila – Julho de 2006 - Foto 09
Autora: Analice de Avila – Julho de 2006 - Foto 10
Fotos 09 e 10 – Carregamento das aves em gaiolas pela equipe responsável
Autora: Analice de Avila – Julho de 2006
Foto 11 – Carregamento das aves no caminhão para serem transportadas até a
unidade industrial de abate
111
Esse sistema de integração entre o produtor rural e a agroindústria cria uma
certa dependência entre ambos, que juntos atingem seus objetivos. A agroindústria tem
a garantia da matéria-prima mediante suas normas e exigências na sua produção. Caso
não esteja contente com o resultado, cancela-se o contrato com o produtor. O produtor
rural aceita as normas e as exigências impostas, sentindo-se seguro do retorno
financeiro, porém totalmente dependente, pois seu vínculo por meio do sistema de
integração está única e exclusivamente relacionado àquela indústria, não tendo a
liberdade de estabelecer suas exigências, nem mesmo comercializar o produto com
outras indústrias.
3.3 ASPECTOS DA PRODUÇÃO DO ESPAÇO URBANO CAPINZALENSE
3.3.1 A cidade e o urbano: notas
O Brasil é um país de cidades novas em relação aos países europeus. A maior
parte dos núcleos urbanos brasileiros surgiu no século XX. Há cidades, entretanto, que
são do começo da colonização, algumas delas têm mais de 400 anos, como Olinda,
Salvador, Rio de Janeiro, São Paulo, dentre outras. Em Santa Catarina, as primeiras
cidades que surgiram foram São Francisco do Sul, Florianópolis, Laguna e Lages,
durante os séculos XVII e XVIII, em função dos primeiros núcleos colonizatórios.
Outras, foram fundadas durante o século passado, dentre elas Capinzal, Joaçaba,
Videira e Campos Novos, estas localizadas no interior do estado, particularmente no
Vale do Rio do Peixe, no meio-oeste.
Nesse contexto, analisar a cidade na sua organização e como lugar de atuação
humana é, sobretudo, entender qual(is) função(es) ela exerce como forma
organizacional da sociedade no espaço. É preciso observar as relações sociais
manifestadas e articuladas à vida urbana e regional. A cidade é a manifestação social
concreta, existindo como um ponto estratégico da (re)produção da vida materializada,
na qual os movimentos da sociedade se apresentam de maneira visível na paisagem.
112
A idéia de cidade
32
não é recente. Surgiu com civilizações antigas, como a grega
e a romana e evoluiu até chegar aos dias atuais. Porém, o seu significado nesse
trabalho, assim como o de urbano, é de interpretações contemporâneas e, representa
um conjunto de formas justapostas entre si. O urbano representa a articulação das
partes que compõe a cidade, pela sociedade. Desse modo, Capinzal é a base para a
compreensão do que a cidade e o urbano e suas interligações representam para a
sociedade como agentes promotoras de mudanças das formas espaciais.
Diversos estudiosos como historiadores, sociólogos, antropólogos, urbanistas,
economistas, arquitetos, geógrafos, assim como políticos, planejadores e, até mesmo,
os que possuem alguma fração do capital financeiro, industrial, comercial, imobiliário
e/ou fundiário e os próprios citadinos se interessam em entender e conhecer o processo
e a dinâmica da cidade, devido aos muitos significados que ela tem. Porém, cada um
tem percepção e interpretação diferentes dessa representação, segundo os seus
interesses. Para os geógrafos, essa percepção está vinculada às relações sócio-
espaciais. A cidade representa, simultaneamente, uma região e um lugar, pois resulta
por sua produção contínua, uma totalidade do espaço geográfico, pois é nela que o
urbano se manifesta pelas inúmeras atividades desempenhadas pela sociedade
(SANTOS, 1996).
O interesse pelo estudo da cidade pode se manifestar pela sua complexidade,
pois ela representa, sobretudo, uma ação concreta e efetiva da sociedade que nela
vive, pelo sistema de habitação, de transportes, do urbanismo e seu processo, de infra-
estruturas como redes de energia elétrica, água, esgoto, drenagem pluvial e
arruamento.
32
Para os gregos, segundo Harouel (1990), a cidade era antes de tudo uma comunidade de cidadãos,
uma associação de caráter religioso, político e moral. A idéia de cidade surgiu numa sociedade rural com
habitações dispersas e, com associações políticas que se formaram independente de qualquer idéia
urbana. Para os romanos, fundar uma cidade era um ato sagrado, marcado pela observação de um ritual,
principalmente religioso. Tanto para os gregos quanto para os romanos a noção de cidade expressava
um caráter de religiosidade, além de político.
No “curso natural da gênese e evolução das cidades, o papel desempenhado pela religião foi essencial”
(ROSENDAHL, 1999, p. 17), mas não determinante, pois o caráter político e econômico também
favoreceram ao seu surgimento, mesmo que atrelado à religião. É necessário salientar de que a gênese
das primeiras cidades está, também, vinculada à apropriação de um excedente de produção agrícola,
propiciando quase que simultaneamente o aparecimento do Estado. O Estado, juntamente com a religião,
foram elementos de controle efetivo político, militar, ideológico e institucional, assegurando e justificando
a dominação e poder de um determinado território e, da sociedade nele vinculado.
113
A cidade é o fruto da imaginação e do trabalho de muitas pessoas. É uma obra
coletiva que desafia a própria natureza. Construída, totalmente artificial e representada
pelas edificações, avenidas, áreas verdes, praças públicas, entre outros monumentos,
os quais dão formas a ela. Essas, entretanto, não são estáticas. Estão em constantes
transformações conforme as ações e as necessidades criadas pelas pessoas. Isto é,
constantemente novas construções de edifícios, de novas ruas pavimentadas ou
calçadas, praças com formas e funções atribuídas etc, são feitas. As formas espaciais,
portanto, vão sendo adaptadas de acordo com as funções designadas por nós.
Certamente, quanto maior e mais complexa for a cidade, maiores são os
impactos sociais, culturais e ambientais. Enfim, devido às adversidades
permanentemente inseridas em cada parte que a compõe. Conseqüentemente, os
conflitos ideológicos, éticos e a luta pela sobrevivência são constantes, mas
independente de quaisquer fatores citados, a sociedade como um todo, produz e
consome espaço. Exemplos disso são as grandes cidades como São Paulo e Rio de
Janeiro, que trazem ao longo das suas trajetórias e transformações sócio-espaciais,
maiores dinamismo e concentração econômica e de poder. Elas servem como um “ímã”
às populações de outras regiões, como o norte e o nordeste brasileiro, na busca utópica
por empregos e/ou melhoramento das condições de vida.
Já nas grandes cidades, muitas pessoas não conseguem manter-se e
aglomeram-se em favelas com infra-estrutura inadequada, ocasionando a segregação
social e impactos ambientais. O Estado, nas instâncias municipal, estadual e federal se
abstém, freqüentemente, de formular uma política sócio-ambiental que favoreça
condições básicas de sobrevivência.
Essas constatações, são apenas alguns exemplos entre tantos outros de que o
homem, ao longo de sua existência, vem se apropriando da natureza de forma
inconseqüente. A própria segregação social demonstra claramente quem detém o
poder e quem é desfavorecido por esse poder. Nas cidades, a possibilidade de
observar essas complexidades é maior, em função da grande aglomeração de pessoas.
Alguns desses exemplos são comuns em cidades como Capinzal, que mantêm,
desde o seu surgimento, concentração econômica e de poder com os agentes, como
madeireiros, latifundiários, agropecuaristas e, mais recentemente, a agroindústria. Este
114
último agente detém, atualmente, significativo poder econômico, não só em Capinzal,
mas também em cidades vizinhas, como Ouro, Zortéa e Lacerdópolis, agindo na
produção de empregos e subordinação da mão-de-obra; e na captação de matéria-
prima sob subordinação de produtores rurais a seu serviço por meio do sistema de
integração, dentre outros aspectos.
Concomitante a isso, desenvolve-se a segregação espacial, isto é, áreas
destinadas a moradias de funcionários da indústria Perdigão, áreas reservadas às
atividades daquela empresa, áreas ocupadas por pessoas de menor poder aquisitivo,
áreas destinadas ao lazer (esportes, eventos sociais), áreas reservadas à expansão
urbana em detrimento ao êxodo rural por diversos fatores, entre outros. Obviamente, o
Estado vem sempre marcando presença, por intermédio de prestação de serviços, infra-
estrutura, cobrança de impostos, regulação de terras, mas de forma diferenciada,
agindo como mediador na produção do espaço urbano-regional de Capinzal,
favorecendo, principalmente, os detentores da economia local, como a agroindústria.
A cidade, embora representada também pela segregação sócio-espacial, é o
resultado de uma obra coletiva. Mesmo com interesses particulares dos indivíduos, ela
representa, na contemporaneidade, um conjunto de diferentes usos da terra, que define
áreas como a central, industrial, de atividade comercial, de serviço e gestão, de lazer,
residencial em diferentes níveis sociais, o qual, o urbano se manifesta nela como
espaço fragmentado (CORRÊA, 1989), também perceptível em Capinzal pois,
independentemente da escala espacial, esses fragmentos são evidentes, porque a
sociedade no seu conjunto é extremamente capitalista e, a partir dessa lógica, ela
busca (re)produzir suas vidas.
O espaço urbano na cidade é fragmentado, mas cada uma das partes se
relaciona e se articula com as demais, sendo
[...] reflexo e condicionante social, um conjunto de símbolos e campo de lutas
[...]. Estas relações manifestam-se empiricamente através de fluxos de veículos
e de pessoas associados às operações de carga e descarga de mercadorias,
aos deslocamentos quotidianos entre as áreas residenciais e os diversos locais
de trabalho, aos deslocamentos menos freqüentes para compras no centro da
cidade ou nas lojas do bairro, às visitas aos parentes e amigos, e às idas ao
cinema, culto religioso, praias e parques.
(CORREA, 1989, p. 7 e 9).
115
Nessa mesma perspectiva, Santos (1996) sugere que ao contrário da cidade que
é o particular, o concreto e o interno; o urbano é o abstrato, o geral e o externo. Pois no
espaço urbano inclui todas as atividades que se realizam na cidade como a do
emprego, da divisão do trabalho e do seu inverso, das classes sociais, entre outros. Isto
é, a própria sociedade em movimentos, se articulando entre si e com o meio em que
vive em diferentes localizações da cidade, produzindo e consumindo espaço.
Lefebvre (1991), em suas idéias, argumenta que durante séculos, a Terra foi o
grande laboratório do homem, grandes e importantes descobertas ocorreram; porém só
há pouco tempo é que a cidade assumiu esse papel. Dessa forma, além de atrair e
concentrar grande número de pessoas é o lugar onde a lógica da acumulação
capitalista é regulada e resulta num desenvolvimento desigual e de injustiças sociais,
que são distribuídas tanto espacial quanto demograficamente (GOTTDIENER, 1997).
Nesse contexto, a cidade representa o ponto de maior expressões espaciais,
reflexos da organização e influência de uma grande concentração cumulativa de
funções, bem como: industriais, comerciais, serviços, técnico-financeiros e políticos-
culturais (ROSSINI, 1986), servindo como espelho de sua região e estabelecendo fortes
relações com o campo, dentre as quais se destacam a atração urbana sobre a
população regional; as migrações pendulares provenientes de núcleos localizados em
periferias rurais e urbanas e municípios vizinhos; a comercialização pela cidade dos
produtos rurais; a distribuição de bens e serviços; o consumo pela população rural de
bens e serviços urbanos como de supermercados, sistemas financeiros como
movimentação de conta bancária, empréstimos, financiamentos, etc., de sistemas de
tratamento de saúde; entre outros.
Esses fatores ocorrem com freqüência em cidades como Capinzal, que produz
uma integração urbano-regional de cumplicidade, que por vezes se confunde o que e
quem é urbano e o que e quem é rural, ou seja, até que ponto o indivíduo que vive no
espaço rural e trabalha, estuda ou mantém atividades na área urbana, é do campo, ou
até mesmo quem vive na cidade e trabalha no campo. Por isso, as funções urbanas e
rurais pré-estabelecidas pelos indivíduos que habitam nesses lugares não são
estanques e dissociadas, elas estão extremamente articuladas entre si.
116
Assim, o urbano-regional se articula por meio da produção do espaço, onde a
sociedade se organiza e estabelece normas que possibilitam certa ordem na forma de
produzir a vida. Na abordagem geográfica, de acordo com Corrêa(a) (1989) as relações
entre cidade e região se caracterizam entre uma cidade e sua hinterlândia constituída
por centros urbanos menores e áreas rurais interagindo entre si. Em Capinzal existem
algumas localidades que manifestam certas características urbanas, porém, não há
uma contigüidade territorial, como é o caso de localidades como Lindemberg (Fotos 12
e 13), o Distrito de Alto Alegre (Fotos 14 e 15), Barro Preto que, normalmente estão
vinculadas às atividades industriais como de cerâmicas, serrarias etc.
Autora: Analice de Avila – Fevereiro de 2006
Foto 12 – Vista parcial da localidade Lindemberg, algumas moradias e rua principal
pavimentada
Autora: Analice de Avila – Fevereiro de 2006
Foto 13 – Vista parcial da Igreja e do Ginásio de Esportes da localidade de Lindemberg
117
Autora: Analice de Avila – Fevereiro de 2006 - Foto 14
Autora: Analice de Avila – Fevereiro de 2006 - Foto 15
Fotos 14 e 15 – Vista parcial do Distrito de Alto Alegre, algumas moradias e rua
pavimentada
O conceito de região além das relações entre uma cidade e sua hinterlândia ou
uma área central articuladas às áreas periféricas, pode não ser muito claro e
certamente nem definitivo quando as escalas de análises se ampliam e se diferenciam
umas das outras. Desse modo, entende-se enquanto categoria geográfica que o termo
região está vinculado aos temas da política, da cultura, das atividades econômicas e,
que todos esses temas têm em comum a sociedade, ou seja, as relações entremeadas
entre diversos fatores que vão caracterizar uma região. A região é uma realidade
concreta, ela existe como um quadro de referência para a população que aí vive.”
118
(GOMES, 1995, p. 57). Ou seja, as regiões são, de acordo com Santos (2004), o
suporte e a condição de relações globais da sociedade que nelas se realizam.
Nesse contexto, pode-se definir uma região como uma área de influência de
atividades de uma certa indústria, e nela as articulações das relações sociais de
trabalho, de prestação de serviços com outras empresas etc. Ou até mesmo uma
cidade como Capinzal, que mantém com municípios vizinhos, principalmente Ouro,
Zortéia, certas relações comuns quanto às suas atividades econômicas, hábitos
culturais, religiosos e, principalmente, como área de influência de um ramo de atividade
que a partir da agroindústria Perdigão atrai pessoas desses lugares para realizar o
trabalho, ou ainda consumir produtos e serviços de comércios locais que, por vezes,
não são oferecidos por aqueles municípios vizinhos.
Desse modo, o urbano, a cidade e a região, têm como agente organizador do
espaço, principalmente o Estado, mas não somente, no caso de Capinzal também
aparece a Agroindústria Perdigão, que define como, onde e de que forma usar o
espaço para realizar sua produção econômica, além, é claro, a própria sociedade em
geral que é induzida a ocupar e a permanecer num determinado lugar de acordo com a
imposição da lógica capitalista, que é ostentada por grandes corporações
33
, estas
amparadas pelo poder estatal. No caso de Capinzal ambos, Estado e agroindústria
contribuem também para a compreensão de que modo as inter-relações desses
fenômenos se manifestam na paisagem.
3.3.2 O espaço urbano de Capinzal
O espaço urbano de Capinzal vem freqüentemente se (re)produzindo por
intermédio da interação entre as diversas partes da cidade, estas unindo-se em um
conjunto articulado à área central. Portanto, na área central localizam-se as mais
diversas formas da expressão urbana daquele município, ou seja, um processo de
centralização que concentra as principais atividades comerciais, como lojas de
eletroeletrônicos, de vestuários, calçados, agropecuárias, alimentícias, farmácias, entre
outras. Assim como, o setor de serviços, representado pelos bancos e instituições
33
A exemplo do Grupo Perdigão.
119
financeiras, Banco do Brasil, Banco do Estado de Santa Catarina, Caixa Econômica
Federal, Bradesco e SICOOB/SC – Sistema de Cooperativas de Crédito do Brasil, estes
localizados na principal rua da cidade, a VX de Novembro, com exceção à CEF que
está situada a rua Carmelo Zócolli, ainda, clínicas e laboratórios médicos,
odontológicos, escritórios de contabilidade, de advocacia etc. Concentra também o
centro administrativo municipal (Foto 16) e jurídico, os terminais intra-urbano, inter-
regional e inter-municipal, que possibilitam a mobilidade da população. Enfim, uma
gama de comércios, serviços e gestão pública e privada, que supre boa parte para
demanda urbano-regional, e está concentrada num espaço que é um reflexo da
sociedade, independente dos tipos de classes sociais. Isso é, a cidade por ser um
ambiente extremamente artificial, é o reflexo do trabalho e da ação humana.
Autora: Analice de Avila – 21/07/2004
Foto 16 – Vista parcial da Prefeitura Municipal de Capinzal
A centralização, como um processo social que ocorre no espaço ao longo do
tempo (CORRÊA, 1989), dá a idéia de movimento e de concentração de atividades
sócio-econômicas, consubstanciadas a convergência da dinâmica social à área central
de uma dada cidade. Desse modo, a área central urbana de Capinzal atrai, pelo
processo de centralização, pessoas de diversos lugares tanto da cidade e sua
hinterlândia quanto do espaço rural, assim como da vizinha cidade de Ouro. Sendo um
ponto de encontro para as diversas atividades nela desempenhadas para a realização
do trabalho, das movimentações financeiras, da aquisição e comercialização de
120
produtos, tratamento de saúde, enfim, diversas outras funções que cidades como
Capinzal e Ouro absorvem pela dinâmica social.
O espaço urbano de Capinzal e Ouro vem se reproduzindo a partir de reflexos e
condicionantes tanto das ações da dinâmica da sociedade, que se realizam no
presente, quanto daquelas que se realizaram no passado e deixaram suas marcas
impressas nas formas espaciais do presente. Essas formas espaciais estão
representadas, em parte, pelas antigas edificações
34
, algumas de uso misto comercial e
residencial, a exemplo da casa de dois pavimentos denominada Alexandre Thomazoni,
construída em 1931, em alvenaria (Foto 17), que tinha função e uso como casa
comercial no primeiro pavimento e residencial no segundo pavimento
35
.
Atualmente, essa mesma edificação exerce funções semelhantes, porém com
outras perspectivas e atividade comercial diversificada e contemporânea. Antes era um
comércio misto de secos e molhados de um único proprietário e, de acordo com a
dinamicidade da sociedade, essas atividades foram sendo substituídas ou inseridas por
outras.
Há, naquelas instalações, uma farmácia, uma loja de caça e pesca e uma loja de
produtos de beleza. Outro exemplo é a edificação, também construída em alvenaria no
ano de 1940, que tinha como função inicialmente comercial e, posteriormente,
prestação de serviços no ramo hoteleiro, denominado Hotel Imperial (ALMEIDA, 2005).
Porém, aquela edificação foi destruída por um incêndio na década de 1950 e, no local,
outra foi construída (ALMEIDA, 2005). Atualmente, comporta três estabelecimentos
comerciais, lojas de confecções e calçados no primeiro pavimento e residencial no
segundo pavimento (Foto 18). Esses são apenas alguns exemplos de como as formas
e as funções urbanas se diversificam e sofrem mudanças. As formas em muitos casos
permanecem sobrepostas umas as outras, que para Santos (1985) são primariamente o
resultado de um fator social. São criadas e usadas na execução de funções que lhe foi
designada e, freqüentemente, sofre novas determinações quando parte da sociedade
procura impor novas funções, resultando nas chamadas “rugosidades”.
34
A primeira casa construída em alvenaria no distrito de Rio Capinzal foi iniciada em 1928 e concluída
em 1930, de propriedade de José Zortéa, um dos primeiros moradores da Vila de Rio Capinzal. A
edificação era destinada ao comércio no primeiro pavimento e à residência do proprietário com seus
familiares no segundo pavimento (ALMEIDA, 2005).
35
A casa era de propriedade de Alexandre Thomazoni, assim como a atividade comercial.
121
Isto é, uma mistura de formas novas e velhas se articulando e dando uma nova
forma no seu conjunto, consubstanciais a novas funções que, ao longo do tempo, vão
sendo criadas e absorvidas pela própria sociedade (SANTOS, 1985). O passado e o
presente se mantêm materializados no espaço produzido pelo homem. Nesse
contexto, forma e função estão relacionadas entre si e ambas vão sendo readaptadas
conforme as exigências e características da sociedade de um dado lugar, das
diferentes e diversas localizações, que nunca serão iguais umas as outras.
Autora: Analice de Avila – Julho de 2006
Foto 17 – Vista parcial da antiga edificação denominada Alexandre Thomazoni
de uso comercial no pavimento térreo e residencial no pavimento superior
Autora: Analice de Avila – Julho de 2006
Foto 18 – Vista parcial do antigo Hotel Imperial, atualmente com atividades
comerciais no pavimento térreo e residencial nos pavimentos superiores
Dentre os aspectos sobre formas e funções do espaço urbano de Capinzal,
fazem parte também as vias de circulação. Visto que toda cidade, obviamente, é
Antigo
Hotel
Imperial
122
constituída por ruas que ligam as suas diversas localizações e sua hinterlândia.
Caracterizando assim novas formas espaciais em detrimento de novas funções
pronunciadas pela sociedade local. Assim, procurou-se pontuar algumas vias de
circulação urbana como as principais, as quais se localizam na área central e que dão
acesso a várias outras localizações. São consideradas aqui as ruas XV de Novembro,
Ernesto Hachmann e Presidente Nereu Ramos, que são vias estratégicas e, além de
concentrarem a maior parte das atividades urbanas, dão acesso à entrada e saída de
pessoas, automóveis, mercadorias etc. da cidade.
A rua Presidente Nereu Ramos é uma rua de ligação, que por meio da ponte
Irineu Bornhausen, liga a cidade de Capinzal com a de Ouro e a outros municípios ao
nordeste, além de permitir a entrada e saída do/para o interior do município ao sul e a
leste e com os municípios de Zortéa, Campos Novos, Piratuba e o Estado do Rio
Grande do Sul. Aquela rua, pode ser classificada como uma das principais vias de
ligação da cidade com outros lugares, inclusive com acesso a chamada Cidade Alta
36
,
onde se localiza a empresa Perdigão e alguns loteamentos como o Parizotto, o Lar
Imóveis, o Universitário.
A rua Ernesto Hachmann (Foto 19) também é uma via de circulação e articulação
extremamente importante, pois é uma rua transversal da Avenida Presidente Nereu
Ramos e da rua XV de Novembro, que possibilita acesso aos terminais intra-urbano e
inter-regional (Foto 20) à antiga estação ferroviária, à ponte pênsil, entre outros,
fazendo ligação também com várias outras vias de circulação. Permite ainda conectar a
cidade com o interior oeste daquele município.
A rua XV de Novembro (Foto 21), localizada no núcleo urbano da cidade, é onde
se concentra a maior diversificação das atividades comerciais e de serviços e também é
uma via estratégica que faz ligação com a rua Ernesto Hachmann e com a rua
Presidente Nereu Ramos permitindo, inclusive, a entrada e saída para várias direções
da cidade. Certamente, outras vias de circulação também são importantes no processo
36
Esse nome, em função do relevo se caracterizar como uma parte elevada, no planalto, em relação a
área central da cidade, a qual se localiza nas imediações do Rio do Peixe. A denominação Acesso a
Cidade Alta foi aprovada e sancionada pela Lei nº 1593/1991, da Prefeitura Municipal de Capinzal
(CAPINZAL, 1991).
123
da produção urbana de Capinzal, articulando-se umas as outras, dando a idéia de rede,
isto é, de articulação às diversas localizações da cidade e do seu interior.
Autora: Analice de Avila – Julho de 2006
Foto 19 – Vista parcial da Rua Ernesto Hachmann
Autora: Analice de Avila – Julho de 2006
Foto 20 – Terminais intra-urbano e inter-regional
Legenda:
Acesso aos
terminais urbano e
rodoviário, à antiga
estação ferroviária, à
ponte pênsil, etc.
Terminais
urbano e rodoviário.
Avenida
Presidente Nereu
Ramos.
Acesso à
Ponte Governador
Irineu Bornhausem.
Rua XV de
Novembro.
Escritório da
empresa de
Telefonia
Brasil
Telecom
Terminal
Urbano
Terminal
Rodoviário
124
Autora: Analice de Avila – Julho de 2006
Foto 21Vista parcial da rua XV de Novembro
As primeiras pavimentações das ruas da área central da cidade de Capinzal e
algumas ruas do Distrito de Ouro, com pedras paralelepípedos, ocorreram somente a
partir da emancipação de Capinzal entre os anos de 1954 e 1959. Na época, o
município já contava com máquinas modernas para aquele momento, principalmente,
caminhões, tratores, patrolas etc. As primeiras ruas a serem pavimentadas/calçadas
foram as ruas XV de Novembro, Carmelo Zocoli e a Ernesto Hachmann, em Capinzal, e
as ruas Felipe Schimidt e da Praia, no Distrito de Ouro. Na gestão pública municipal de
1983-1988, todas as ruas da área central receberam recapeamento asfáltico
(ALMEIDA, 2004, p. 88-89).
A área central da cidade de Capinzal, portanto, está estruturada de maneira que,
de acordo com o processo de apropriação daquele espaço e as condições do relevo,
convergem em uma certa aproximação entre as suas diversas localizações (Fotos 22 e
23 e Fig. 02 e 03).
O espaço urbano da cidade é composto também pelos bairros e os loteamentos
residenciais, dentre eles o loteamento São Luiz, Santa Terezinha Jacob Dorini, o bairro
São Cristóvão e nele os loteamentos Vila 7 de Julho, Colina, João Evangelista
Parizotto, Lar Imóveis, Universitário, entre outros que, além de uma contigüidade da
Legenda:
Rua Ernesto
Hachmann.
Agência do
Banco
Bradesco.
Agência do
Banco Besc.
Agência do
Banco do Brasil.
125
área urbana, apresenta suas funções articuladas e vinculadas à área central, sendo que
alguns desses lugares apresentam-se interligados entre si, em detrimento dos aspectos
sócio-econômicos que vêm se reproduzindo naquele município.
Ferrovia SPRG
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Legenda:
1- Cinema: “Cine Odete”
2- Agência bancária Bradesco
3- Terminal Rodoviário
4- Antiga Estação Ferroviária
5- Hospital São José
6- Prefeitura Municipal
7-rum
8- Igreja Matriz São Paulo Apóstolo
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9- Casa Paroquial
10- Hospital Nossa Senhora das Dores
11- Cogi o Estadu al Mat er Doloru m
12- SIMAE
13- Ginásio de Esportes Dileto Bertaiolli
14- Agência bancária CEF
15- Agência do Banco do Brasil
16- Agência do Banco Besc
Foto 22- Vista aérea parcial da cidade de Capinzal no icio dos anos de 1980
Fonte: Equiplan Serviços Gráficos Ltda, Concórdia-SC
Fig. 02 - Esboço da rede v ria da c idade de Capi nzal e al gumas edi ficações do
complexo urbano no icio da década de 1980
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Ferrovia SPRG
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1 - Igreja Universal do Reino de Deus
2 - Ag ência bancária Bradesco
3 - Terminal Urbano
4 - Terminal Rodoviário
5 - Brasil Telecom
6 - INSS e Posto de Saúde Municipal
7 - Centro E ducacion al Pref ei to Cel so Farin a
8 - Antiga Estação Ferroviária
9 - Câmara Municipal de Vereadores
10- Epagri
11- Biblioteca Púb.Mun. Romildo Casagrande
12- Hospital São José
Legenda:
13 - Prefeitura Municipal
14 - Fórum
15 - Agência bancária C EF
16 - Igreja Matriz São Paulo Apóstolo
17 - Colég io Esta dual Mater Dolorum
18 - Hospital Nossa Senhora dasDores
19 - Casa Paroquial
20 - Agência do Banco do Brasil
21 - Agência do Banco Besc
22 - SIMAE
23 - Escola de Educação Básica Belizário Pena
24 - Ginásio de Esportes Dileto Bertaiolli
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Fig. 0 3 - Esboço da rede viária da cidade de Capinzal e algumas edificações do complexo urbano em 2001
Foto 23 - Vista aérea parcial da cidade de Capinzal em 2001
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Fonte: Acervo d a Prefeitura Municipal de Capinzal - Julho de 2001
127
Um dos aspectos que pode ser levado em consideração nesse processo é o
serviço de transporte coletivo intra-urbano. Ele é realizado pela própria Prefeitura
Municipal, com funcionários e carros públicos. O itinerário é normalmente feito com
saída do terminal urbano, localizado na rua Ernesto Hachmann, no centro da cidade.
Passa pela rua XV de Novembro e segue em direção ao acesso Cidade Alta. Seque até
a Vila 7 de Julho, pela rua Leonardo Santos e retorna indo a direção do loteamento
Parizotto, passando pela rua João Evangelista Parizotto (Foto 24). Retorna indo a
direção da unidade industrial da Perdigão e Unoesc, nas proximidades dos loteamentos
Lar Imóveis e Universitário, retornando ao centro passando pelas ruas Presidente
Nereu Ramos e Ernesto Hachmann com destino ao terminal urbano. Em alguns
horários o itinerário ocorre também o inverso.
Autora: Analice de Avila – 20/07/2004.
Foto 24 – Vista parcial da rua João Evangelista Parizotto no loteamento de
mesmo nome
O transporte coletivo está sob a responsabilidade do município há
aproximadamente 3 anos, devido a desentendimentos entre administração pública
municipal e empresas de ônibus, cujos interesses das empresas privadas eram alto
custo tarifário, entre outras questões de ordem política que não serão aqui abordados.
Nesse contexto, desde que a responsabilidade pelo transporte coletivo passou para a
prefeitura municipal o custo tarifário era de R$ 0,50 até recentemente. Atualmente, a
tarifa unitária custa R$ 0,60 e a Prefeitura dispõe de 4 ônibus para o transporte coletivo
urbano de passageiros.
128
A média diária de passageiros é de aproximadamente 1750. Assim, o sistema de
transporte coletivo urbano articula as diversas localizações da cidade, bem como: no
transporte de trabalhadores que residem num determinado loteamento ou bairro e
trabalham no centro da cidade ou, ainda, moram nas proximidades do centro e
trabalham em outros lugares; no transporte de estudantes e de outros cidadãos para
fins de passeios, compra de mercadorias; enfim, o vai e vem de pessoas que buscam
formas de (re)produzirem suas vidas.
Nessa perspectiva, analisar a produção do espaço urbano de Capinzal por si só
se torna um pouco vaga ou incompleta a análise. Partindo do princípio de que Capinzal
e Ouro, ambos tem características de cidade gêmeas, isto é, surgiram de um mesmo
contexto de formação sócio-espacial, a partir do processo colonizatório no início do
século XX, é conveniente falar de como essas duas cidades, vêm se articulando e se
complementando no processo da produção do espaço urbano.
Capinzal por se destacar sócio-economicamente frente aos municípios
circunvizinhos, Zortéa, Lacerdópolis, Piratuba e Ouro, absorve parte dos recursos
humanos daquelas cidades nos setores de comércios, serviços, indústrias,
principalmente na agroindústria. Porém, Ouro, que tem cerca de 7.419 habitantes,
destes 4.165 são populações urbanas (IBGE, 2002), possui um setor de comércio e
serviços e de indústria vinculado sócio-economicamente à Capinzal, devido a sua
proximidade e origem como “cidades geminadas” (Foto 25). Capinzal, por sua vez,
absorve grande parte dos recursos humanos da cidade de Ouro, principalmente na
agroindústria, além do comércio local e de clínicas médicas, hospitais, supermercados.
Enfim, não somente no consumo de mercadorias como também na questão de
emprego e uso de serviços não existentes ou de poucas opções no município de Ouro,
a exemplo de unidades hospitalares e clínicas médicas, que Ouro não dispõe desse
tipo de serviço
37
. Assim sendo, certos tipos de comércios e serviços também são
absorvidos pela população de Capinzal, ou seja, constante troca de atividades sócio-
econômicas vem sendo realizada desde suas origens.
37
Em muitos casos as populações locais de ambos os municípios procuram serviços médicos
hospitalares em Joaçaba, Chapecó e/ou em outras cidades com maior e diversificados recursos desse
tipo de serviço.
129
O processo das relações urbanas entre Capinzal e Ouro tem uma característica
histórica que não pode ser desconsiderada. Há uma cumplicidade que por vezes se
confunde às diferenças entre uma cidade e outra no cotidiano das populações locais.
Fonte: Prefeitura Municipal de Capinzal.
Site: www.capinzal.sc.gov.br/arquivos/idx.conheçacapinzal.htm.
Acesso em: 20/11/2004.
Foto 25 – Vista parcial das cidades de Ouro e de Capinzal
3.3.3 A expansão urbana: arranjos & desarranjos
Sobre o processo da expansão urbana de Capinzal tomou-se como base para
essa análise entrevistas e relatos obtidos com moradores locais e funcionários públicos
municipal; estudos realizados por autores como Brancher (1994) e Almeida (2004,
2005(a)), que possibilitam a compreensão desse processo; documentos junto à
prefeitura municipal, bem como leis e decretos; observação em campo; entre outros.
Visto, também, falar da produção do espaço urbano da cidade de Capinzal, torna-se
conveniente associar em momentos, conforme já dito, relações com a da vizinha cidade
de Ouro, ambas caracterizadas como cidades gêmeas. Além disso, se farão inferências
as relações urbanas e regionais, as quais se caracterizam como um processo articulado
da produção do espaço.
Para entender esse processo convém discorrer em interpretações vinculadas aos
primeiros anos de ocupação daquelas áreas com perspectivas voltadas a compreensão
da expansão da área urbana. Assim sendo, a construção da VFFSPGR, no Vale do Rio
do Peixe, foi um dos fatores que culminou o surgimento dos primeiros núcleos urbanos
Cidade
de Ouro
Rio do
Peixe
Ponte Gov.
Irineu
Bornhausen
Cidade de
Capinzal
Ponte
Pênsil
130
naquela região. As companhias colonizadoras responsáveis em colonizar as terras ao
longo da ferrovia passaram a realizar o desmembramento das mesmas e comercializá-
las, algumas como lotes rurais e outras como lotes urbanos. Tanto o Distrito de Rio
Capinzal, na época assim denominado, como o Distrito de Palmas, atual Município de
Ouro
38
, também foram alvos da política colonizatória.
Com o início do processo de ocupação legal das terras de Capinzal e Ouro a
partir de 1914, as transações foram feitas por meio de documentos legais com contrato
de compra e venda de terras urbanas e rurais. Inicialmente, por intermédio do
tabelionato do município de Campos Novos e, posteriormente, em 1915, já no
tabelionato do Distrito de Rio Capinzal.
A partir do levantamento de dados documentais de Brancher (1994, p. 66 e 68),
aquela autora constatou que no período de 1914 a 1929 foram registrados em Capinzal
506.340m² de terras, sendo que desse total, 274.518m², isto é, 54,3% foi
concessionária a Cia. Estrada de Ferro. Os outros 45,7% de diversos proprietários
particulares. Alguns desses desmembramentos se destinavam a lotes urbanos que, no
caso, houve a predominância na venda deles com dimensões entre 500m² e 1500m²,
cujo período áureo da comercialização ocorreu entre os anos de 1924 e 1926
(ALMEIDA, 2004; BRANCHER, 1994), em conseqüência do contingente migratório
neste período, oriundo principalmente do Rio Grande do Sul.
Neste contexto, a partir de 1914, com o processo da formação de uma pequena
vila e, conseqüentemente, a criação do Distrito no mesmo ano, surgiu o primeiro núcleo
de concentração humana e de funções urbanas nas proximidades da estação
ferroviária, alongando-se na parte plana do Vale do Rio do Peixe e do seu tributário, o
Rio Capinzal (Fig. 04). De acordo com Almeida (2004), as primeiras moradias
construídas foram nas imediações das atuais ruas XV de Novembro e Ernesto
Hachmann, estas foram também as primeiras ruas construídas pela população e
autoridades distritais, as quais foram construídas à base de ferramentas rudimentares –
picaretas, enxadas, pá, carrinhos de mão, carroças com tração animal e arado.
38
Este, até 1917 estava subordinado ao estado paranaense, por estar na faixa de terras disputadas entre
Paraná e Santa Catarina , resultando em uma das causas da Guerra do Contestado, que mais tarde foi
assegurada ao Estado de Santa Catarina.
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Em 1925, a sede do Distrito de Rio Capinzal apresentava-se como uma vila, com
80 a 100 moradias, aproximadamente, todas em madeira e estilo italiano, cuja
população concentrava-se na sede, muito pouca no interior do distrito, dando sinais de
um processo de formação urbana, com atividades de pequenos negócios comerciais e
trocas de produtos agrícolas feijão, alfafa, milho etc. (BRANCHER, 1994). Já, em 1948,
de acordo com Brancher (1994, p. 111-112), o número de casas de moradia no espaço
urbano do ainda Distrito de Rio Capinzal cresceu para 278 construções
39
, assim como
algumas de atividades sócio-econômicas, também, representavam um total de 51
estabelecimentos dentre eles armazéns, escritórios, fábricas e outros
40
. Naquele
mesmo ano, o perímetro urbano do Distrito de Ouro constituía 119 casas de moradia e
22 estabelecimentos de escritórios, fábricas, armazéns.
41
(BRANCHER, 1994).
Nesse contexto, entre os anos de 1930 e 1950, com a inserção das novas e
diversificadas atividades econômicas, como: a extração e o processamento da
araucária, a extração da erva-mate e a atividade agropecuária, direcionadas não
somente para o mercado local, mas regional e para exportação, contribuíram a
evolução e a inserção de novas funções urbanas. Em 1940, portanto, o Distrito de Rio
Capinzal possuía a população total de 5.711 habitantes. Na área urbana, residiam
menos de 15%, isto é, 824 habitantes. Passados 10 anos, em 1950, a população total
aumentou consideravelmente, chegando a 13.935 habitantes em todo o território
municipal
42
. Os habitantes urbanos eram de 1.868 no total (IBGE, 1951 e 1955), isso é,
menos de 14%, possivelmente pelas atividades primárias agrícolas serem, ainda, uma
característica marcante naquela região e sobressaírem os demais ramos de atividades
econômicas.
De acordo com a Lei municipal nº 101, de 29 de setembro de 1952, foi criado o
Distrito de Dois Irmãos, atual Município de Ouro, anexado ao Município de Capinzal
39
Toda a área distrital de Rio Capinzal era servida de 470 casas edificadas, sendo que desse total 397
eram de moradia e 73 destinadas aos estabelecimentos como fábricas, armazéns e outros (BRANCHER,
1994, p. 111).
40
Dentre aquelas edificações, 35 eram construções em alvenaria, as demais em madeira, principalmente
da araucária.
41
Dentre aquelas edificações, 6 eram construções em alvenaria, as demais em madeira.
42
Emancipado de Campos Novos desde 1948, mas incorporando a localidade de Dois Irmãos, atual
Município de Ouro. Em 1950 foi criado o Distrito Sede de Capinzal.
133
(IBGE, 2006). Portanto, as atividades e as funções urbanas também foram sofrendo
alterações como parte de um processo que incluía questões político-administrativas e
paralelamente a constante dinâmica sócio-espacial, ampliando conseqüentemente o
número e a diversificação de estabelecimentos comerciais, de serviços e industriais
(Quadro 14), cujas atividades sócio-econômicas, consubstanciadas às atividades rurais
que criavam condições para essa nova realidade urbana que se configurava. Com o
aumento populacional, o consumo de produtos manufaturados, industrializados e
serviços urbanos tendencialmente aumentaram, inclusive serviços médicos para
prevenção e tratamento de saúde.
Quanto aos serviços de saúde, a primeira casa para esse fim construída no
Distrito de Rio Capinzal foi, segundo Almeida (2004), em 1922, onde os pacientes
recebiam visitas e diagnósticos médicos de Vicente Gramazio, um imigrante italiano
radicado naquele distrito, que afirmava ser farmacêutico formado na Itália
43
. Aquele
mesmo profissional estabelecera também uma farmácia, dispondo de diversos tipos de
medicamentos. Nesse contexto, na década de 1930, foi instalado o Hospital São José,
edificação em madeira, características das edificações da época, devido a abundância
de tal matéria-prima e conseqüentemente menor custo em relação às construções em
alvenaria. Posteriormente, aquele hospital foi reconstruído em alvenaria, sendo
inaugurado em 1940, o qual vem prestando serviços com atendimento de emergências,
internações etc. Ainda, no final da década de 1930, outro centro de tratamento de
saúde foi fundando, também construído todo em madeira, o qual deu origem ao atual
Hospital Nossa Senhora das Dores. As suas atuais instalações foram inauguradas em
1947.
Dentre os diversos tipos de prestações de serviços, o de alfaiataria era uma das
atividades que na época se valorizava pelo fato da pouca existência de comércios de
vestuários já confeccionados, principalmente vestes masculinas. Ao longo do tempo,
esse processo se inverteu, há atualmente inúmeras lojas de confecções e calçados, e
parte delas comercializa tanto para o gênero feminino como para masculino e infantil,
suprindo a demanda local e até mesmo de municípios circunvizinhos, Ouro e Zortéa.
43
A formação profissional desse cidadão não aparece muita clara em documentos pesquisados.
134
Quadro 14 - Estabelecimentos de Atividades Sócio-econômicas no Distrito Sede
de Capinzal, Distrito de Ouro e no Interior do Município no período de 1930-1950.
Tipo de Estabelecimento Quantidade
Total
Distrito Sede
de Capinzal
Distrito Sede
de Ouro
Interior do Município
de Capinzal
Alfaiataria 2 1 x 1
Açougue 2 1 x 1
Barbearias 3 2 x 1
Bares 2 2 x x
Carpintarias 3 2 x 1
Curtumes 3 3 x x
Casas Comerciais 17 5 3 9
Escritórios e
Representações
3 3 x x
Fábricas (carrocerias,
carroças, cervejaria,
agroindústria, vassouras,
telhas e tijolos, etc.)
10
6
1
3
Farmácias 1 1 x x
Ferrarias 6 2 x 4
Fotógrafo 1 1 x x
Funilaria 1 1 x x
Hotéis 2 2 x x
Médicos/hospitais 3 2 x 1
Marcenarias 2 2 x x
Moinhos 6 1 x 5
Mercadores Diversos 3 2 x 1
Panificadora 1 1 x x
Selarias 4 3 x 1
Sapatarias 2 2 x x
Torrefação de Café 2 2 x x
Dados preparados e organizados por esta autora a partir de Brancher (1994).
Outro tipo de estabelecimento de serviços prestados era os de barbearias, ainda
hoje essa atividade permanece. Os serviços de carpintaria e marcenaria aparentemente
parecem não serem atividades muito procuradas pela população local, isso porque
parte das famílias elas mesmas construíam suas moradias e fabricavam sua própria
mobília. Esse tipo de atividade ia sendo transferido de pai para filho.
As ferrarias tinham inúmeras utilidades devido aos constantes usos de
ferramentas rústicas (machados, enxadas, foices, marretas, arados etc), mas modernas
para a época, que contribuíam na manutenção da estrada de ferro, para abertura e
conservação de ruas, construções de moradias, atividades agrícolas, enfim, inúmeras
outras utilidades.
As atividades industriais também possibilitavam no período compreendido entre
1930 e 1950 (Quadro 14) uma diversificação de produção, visto que era comum a
135
fabricação de carroças de tração animal para o trabalho agrícola, de carrocerias de
caminhões, de cerâmicas como de tijolos e telhas, suprindo em partes a demanda local.
A fabricação de vassouras, principalmente vassouras de palha feitas a partir de um tipo
vegetal, produto usado diariamente por donas de casa e estabelecimentos comerciais.
Capinzal passou a sediar também a partir de 1930, uma fábrica de cervejas e de
gasosas, que atualmente não possui mais atividades. Quanto aos estabelecimentos
comerciais (Quadro 14), parte deles localizados nos distritos sede de Capinzal e Ouro,
outros em localidades do interior como Barra do Pinheiro, Alto Alegre, Barro Preto, os
quais supriam parte da demanda desses locais. Os produtos comercializados eram
diversificados, bem como de utensílios domésticos, produtos alimentícios, de vestuários
(parte em tecidos para confecções de roupas), entre outros.
Outros estabelecimentos de atividades econômicas eram os de moagens
(moinhos coloniais), os quais na maioria localizados no interior do distrito de Capinzal,
como Barra do Pinheiro, Lindemberg. Os moinhos coloniais eram locais onde se
produzia principalmente a farinha de trigo e de milho para a demanda local, assim como
o processamento do descasque do arroz. Esse tipo de serviço prestado era uma
atividade ainda comum até o final da década de 1970 e início da década de 1980,
principalmente utilizado por famílias que viviam da agricultura e produziam seus
próprios alimentos, necessitando em alguns casos o processamento dos mesmos, em
particular a produção da farinha do milho e o beneficiamento do arroz.
Neste contexto, o desenvolvimento das atividades econômicas no espaço rural
de Capinzal criava condições para a expansão e inserção de novas atividades e
funções urbanas que vão suprir em parte a demanda.
De acordo com análise de documentos oficiais sobre Capinzal, tais como
decretos e leis municipais, imagens fotográficas, censos demográficos do IBGE e
conversas informais com moradores locais, essas leituras possibilitaram-nos a
interpretações de que até 1960, a área urbana não sofreu significativas expansões. A
população, porém, da sede distrital se concentrava em sua maior parte na várzea do
vale. Alguns indicadores demonstram que a partir da década de 1930 (Fotos 26, 27, 28,
29 e 30) começou a ocupação em direção às áreas um pouco mais elevadas do relevo
em relação ao rio, onde hoje se localizam a Igreja Matriz São Paulo Apóstolo, com início
136
de sua construção na década de 1930 e a inauguração em 1950 (ALMEIDA, 2004); o
atual Colégio Mater Dolorum, edificado nos anos de 1940; o Hospital Nossa Senhora
das Dores, edificação atual iniciado em 1950; entre outros.
Fonte: Acervo particular de Vitor Almeida, residente em Capinzal.
Editado por Analice de Avila.
Foto 26 – Vista parcial da vila do Distrito de Rio Capinzal na década de 1930
Fonte: Acervo particular de Vitor Almeida, residente em Capinzal.
Editado por Analice de Avila.
Foto 27 – Vista parcial da vila do Distrito de Rio Capinzal na década de 1940
137
Fonte: Acervo particular de Vitor Almeida, residente em Capinzal.
Editado por Analice de Avila
Foto 28 – Vista parcial da cidade de Capinzal na década de 1950
Fonte: Acervo particular de Vitor Almeida.
Editado por Analice de Avila.
Foto 29 - Vista parcial da cidade de Capinzal na década de 1950
Legenda:
01 – Igreja Matriz São
Paulo Apóstolo
02 – Ginásio Mater Dolorum
03 – Hospital Nossa
Senhora das Dores
04 – Casa Paroquial
05 – Cine Farroupilha
Legenda:
01 - Igreja Matriz São
Paulo Apóstolo.
02 - Residência
denominada “mansão” por
moradores locais de
propriedade de Cosemino
Epifhani (antigo morador).
03 – Hospital Nossa
Senhora das Dores.
04 – Colégio Mater
Dolorum.
05 – Ateneu Clube .
06 – Cine Farroupilha
138
Fonte: Acervo particular de Vitor Almeida, residente em Capinzal.
Editada por Analice de Avila.
Foto 30 – Casa comercial na década de 1930
A partir de 1961 e até 1980, o processo de loteamento para fins urbanos, por
vias legais, era ainda incipiente (Fig. 04). O primeiro documento expedido e aprovado
pela administração pública municipal do qual se teve acesso para esta pesquisa com
referência a loteamentos, foi o Decreto nº 033/1962, que autoriza os loteamentos Santo
Antônio, São Luiz e Santa Terezinha e incorpora-os ao quadro urbano da cidade
(CAPINZAL, 1962). Outros loteamentos foram surgindo, como o Sezinando, o Nossa
Senhora de Lourdes, o Bela Vista, o São Cristóvão e o Por do Sol, por meio dos
Decretos nº 021/1967, 007/1978, 008/1978, 031/79 e 020/1980, respectivamente
(CAPINZAL, 1967, 1978, 1978, 1979, 1980). Conforme a administração pública
municipal autorizava os referidos loteamentos, o decreto correspondente aprovava
também a incorporação de tais áreas ao perímetro urbano.
Num período menor, de 1981 até 1990 (Fig. 04), o número de loteamentos
urbanos da cidade de Capinzal cresceu significativamente em relação aos períodos
anteriores. Dentre os documentos acessados, foram aprovados, por exemplo o Santa
Maria, o São Cristóvão II, o Jardim Cidade Alta, o Casagrande, o São João, o
Fernanda, o Poggere etc., segundo os decretos nº 011/1982, 091/1983, 003/1984,
019/1984, 059/1985, 004/1987 e 104/1990, respectivamente (CAPINZAL, 1982, 1983,
1984, 1984, 1985, 1987, 1990).
139
Nesse contexto de expansão da ocupação urbana de Capinzal, são muitas as
variáveis que vêm influenciando esse processo, dentre as quais destacam-se
condicionantes naturais como o relevo, que faz parte do Planalto Dissecado Rio
Iguaçu/Rio Uruguai e do Planalto dos Campos Gerais em Santa Catarina. A área
central urbana, portanto, é constituída por planície de inundação e morros, uma das
características do Planalto Dissecado.
As inundações provocadas pelas enchentes em conseqüência do tipo do relevo
foram, em específico, outra condicionante natural que também influenciou, em partes, a
expansão urbana de Capinzal. Dentre as enchentes com conseqüente inundação,
destacou-se a de julho de 1983
44
, pelo fato de atingir maior número de população
residente e provocar o seu deslocamento para outras áreas da cidade, resultando em
(re)arranjos sócio-espaciais. A inundação de 1983 não afetou apenas a população
local, mas também a de todo o Vale do Rio do Peixe.
Desse modo, como a área central da cidade de Capinzal em que a ocupação e
as atividades econômicas de comércio e serviços estão concentradas, principalmente
na várzea do rio do Peixe, inúmeras edificações residenciais e algumas poucas
destinadas às atividades comerciais e de serviços se localizavam na chamada Beira Rio
(Fig. 04), nas proximidades da antiga estação ferroviária. Em função da enchente de
julho de 1983, toda a planície de inundação foi atingida e aproximadamente 87
residências (ALMEIDA, 2005 (b)) localizadas na parte mais baixa da planície foram
completamente destruídas. Em decorrência àquela inundação, as famílias que
perderam suas moradias, próprias ou alugadas, foram relocadas
45
para o bairro São
44
Ocorreram outras inundações como a do ano de 1911 que, de acordo com Almeida (2004), no mês de
setembro ocorreu uma das primeiras e das mais violentas enchentes que atingiu não somente a Vila de
Rio Capinzal, mas todo o estado catarinense, levando a um grande somatório de prejuízos e até casos
de mortes em locais atingidos pelas inundações. Aquela enchente, porém, atingiu cidades localizadas
nas bacias hidrográficas do rio do Peixe, do rio Uruguai, do rio Itajaí, do rio Iguaçu, entre outras. Em
junho de 1939, mais precisamente no dia 21 (vinte e um), a população de Capinzal do Distrito de Rio
Capinzal sofre novamente com outra enchente, assim como todo o vale do Rio do Peixe, principalmente
aquelas localidades próximas ao rio. Na ocasião, aquele rio e seus afluentes transbordaram de forma
assustadora, criando inúmeros problemas aos habitantes do distrito, bem como prejuízos ao comércio, à
pequena indústria e a todos os moradores ribeirinhos que tinham suas casas edificadas na planície
(ALMEIDA, 2005(a)).
45
As famílias atingidas após a enchente de julho de 1983 estavam alojadas em casas de parentes e
amigos (CORONETTI, 2005) até que fossem resolvidas suas situações de moradia e residência pela
administração pública municipal.
140
Cristóvão, onde foi criado o loteamento Vila 7 de Julho
46
para essa finalidade. O
processo de relocamento das famílias que perderam suas moradias, de acordo com
Almeida (2005(b)), aquelas que tinham terreno com edificação ou não e com escritura
pública legalizada, a administração pública municipal da época adquiriu um terreno no
bairro São Cristóvão, denominado Vila 7 de Julho, em função da enchente, e fez uma
permuta com cada proprietário no valor equivalente.
A prefeitura indenizou pelos lotes e moradias localizados na área de risco quem
não aceitou a permuta (CORONETTI, 2005). Aqueles moradores que não eram
proprietários, residiam de aluguel, mas tinham condições de comprar e pagar um lote
parceladamente também foram relocados e proporcionadas condições para que seu
terreno fosse pago. As famílias que não tinham condições de pagar as prestações de
um terreno, segundo Almeida (2005(b)), foram alojadas da mesma forma.
Posteriormente, todas as famílias se tornaram proprietárias dos terrenos a elas
designados, dos quais a “prefeitura repassou a escritura pública individual para que
elas pudessem morar naquelas propriedades, na Vila 7 de Julho.” (CORONETTI, 2005).
Nessas condições, não era mais possível que aquelas famílias permanecessem no
local de inundação, já que a área é considerada inadequada para residências, pois é
caracterizada como de risco.
Aquela área, portanto, posteriormente foi considerada pela legislação municipal
imprópria para parcelamento e uso do solo para fins de edificações residenciais,
comercias ou industriais. De acordo com o artigo 5º, do parágrafo V, da Lei municipal nº
1291/1987, não é permitido o parcelamento do solo em “terrenos alagadiços ou sujeitos
à inundação antes de tomadas as providências para assegurar o escoamento das
águas” (CAPINZAL, 1987(a)). Assim como o artigo 12 da Lei municipal nº 1552/91, que
alterou o artigo 12 da Lei nº 1.291/87 entrou em vigor com a seguinte redação: “Ao
longo das águas correntes e dormentes das faixas de domínio público das rodovias,
ferrovias e dutos, será obrigatória a reserva de faixa nom aedificant, correspondente a
50 (cinqüenta por cento) de largura dos mesmos, mas, nunca inferior a 05 (cinco metros
lineares) da sua margem. Porém, “Todas as construções já edificadas e as em
46
O nome é em decorrência da enchente, que teve o nível mais alto das águas no dia 07 de julho de
1983.
141
andamento não podem ser prejudicadas pelo presente artigo.” Assim como, para “as
construções que se fizerem necessárias até as margens do rio será obrigatoriamente
construído um muro de ciclope de acordo com as exigências da municipalidade,
tornando sem efeito a reserva técnica constante do artigo.” (CAPINZAL, 1991).
O local tem, atualmente, a finalidade de uso público e foi transformado em área
de lazer com quadras de esportes, local para festividades, ciclovias etc. (Fig. 04).
O terreno destino ao loteamento Vila 7 de Julho era rural e foi adquirido
47
e
desmembrado pela prefeitura municipal em lotes urbanos com infra-estrutura como
energia elétrica, água, arruamento, anexando-se ao perímetro urbano. De acordo com
Coronetti (2005) “alguns que ganharam o terreno na Vila 7 de Julho ou que fizeram a
permuta já venderam e foram embora, mas a maioria ainda permanece no local”.
Atualmente, a Vila 7 de Julho, como é denominada toda a região próxima ao
loteamento inicial, tem características eminentemente urbanas, em que as atividades
sócio-econômicas são diversificadas, principalmente relacionadas às atividades
comerciais e de serviços como de vestuários e calçados, panificadoras, mercados,
mercearias, bares, lanchonetes, oficinas mecânicas, salão de beleza, entre outras
atividades que suprem boa parte da demanda local.
Alguns dos empreendedores dessas atividades econômicas foram entrevistados
para esta pesquisa. Dentre os questionamentos levantados, frisou-se a questão do
motivo pelo qual estabeleceram suas atividades no local. Os entrevistados
responderam unanimemente que foi pelo fato de a demanda local e por falta,
inicialmente, daquele tipo de comércio e serviço. Pode-se observar, também, que boa
parte da comercialização de produtos e dos serviços prestados são consumidos por
funcionários da empresa Perdigão e/ou moradores locais. Segundo um dos
entrevistados
48
, proprietário de uma loja de confecções de vestuários e calçados,
aproximadamente 80% da venda dos produtos de seu estabelecimento são para
funcionários daquela empresa (CERUTTI, 2006). Isso ocorre também com outros tipos
47
O terreno adquirido era de propriedade da família Lanhi e a outra parte era da família Bressan.
(CORONETTI, 2005).
48
Comerciante há 13 anos na Vila 7 Sete de Julho. Entrevista realizada em 02 fev. de 2006.
142
de atividades sócio-econômicas, bem como, mercados, mercearias, salões de beleza,
visto que parte dos consumidores trabalha na empresa Perdigão
49
.
Outro exemplo de expansão da área urbana foi a criação do loteamento Colina
em 1992, por meio do decreto nº 004/1992 (CAPINZAL, 1992), também no bairro São
Cristóvão (Fig. 04). O terreno era de propriedade da Prefeitura Municipal de Capinzal,
que foi desmembrado e loteado com o objetivo principal de vender os lotes aos
funcionários públicos municipais que não possuíssem outro imóvel.
Nessas condições, de acordo com Coronetti (2005), foi feito um levantamento e
aqueles que não tinham lote e nem casa tiveram prioridade nesse procedimento.
Alguns terrenos excedentes foram vendidos às famílias mais carentes e, ainda, aos
proprietários de pequenas empresas para incentivar a atividade sócio-econômica.
Dentre as empresas beneficiadas, pode-se citar as de atividades de estofaria,
transportes, ferro velho, indústria e comércio de máquinas, entre outras. Atualmente,
algumas dessas empresas não têm mais atividade no local e/ou até mesmo não
existem mais.
Ainda, sob contextos de expansão urbana de Capinzal, articulada às atividades
sócio-econômicas, percebe-se também que há uma tendência desse fenômeno de
expansão em direção às proximidades das instalações da agroindústria Perdigão.
Alguns loteamentos têm sido criados em função de novas exigências sócio-econômicas
e especulação imobiliária, assim como do surgimento da extensão do Campus
Universitário Unoesc de Joaçaba em Capinzal
50
. Dentre os loteamentos, destacam-se
o João Evangelista Parizotto (conhecido como Parizotto), o Lar Imóveis e o
Universitário, todos aprovados pelos decretos nº 073/1992, nº 011/1998 e nº 024/2000,
respectivamente (CAPINZAL, 1992, 1998, 2000).
De acordo com Coronetti (2005), o loteamento Parizotto foi aprovado há
aproximadamente 16 anos quando teve início a comercialização de lotes. “Surgiu em
conseqüência do desenvolvimento do município, com a presença da empresa Perdigão”
(CORONETTI, 2005). Na época em que foi loteado, muitas famílias oriundas do interior
49
Informações obtidas por intermédio de conversas informais com moradores e empreendedores de
atividades sócio-econômicas.
50
Os cursos superiores oferecidos pela Unoesc em Capinzal são de Administração, Pedagogia,
Pedagogia Empresarial, Tecnologia em Gestão de Agronegócio e Tecnologia em Informática, cursados
tanto por alunos residentes em Capinzal como em Ouro, Zortéa etc.
143
de Capinzal, assim como de outros municípios vizinhos tais quais Campos Novos,
Machadinho (RS), Piratuba e Ipira começaram a se concentrar naquela área,
principalmente pela proximidade do trabalho, naquela empresa. “Daí o desenvolvimento
de Capinzal, a partir dos novos loteamentos” (CORONETTI, 2005), em função da
agroindústria.
O loteamento Parizotto, portanto, foi um dos que mais cresceu em termos de
fixar residências e, conseqüentemente, pequenos comércios locais. Atualmente, parte
da população que lá vive é composta de funcionários da empresa Perdigão. “Em
conseqüência disso, lógico, veio o comércio, outras pequenas indústrias, outras
prestadoras de serviços (....), a universidade também está trazendo um novo
loteamento, e já começou a valorização dos lotes”, diz Coronetti (2005).
Assim sendo, as atividades sócio-econômicas que vêm se desenvolvendo
nesses novos loteamentos se distribuem entre lojas de materiais de construção,
mercados, bares, lanchonetes, confecções de vestuários e calçados, oficinas
mecânicas, restaurantes e sala de costura, entre outras atividades. Essas atividades,
assim como aquelas desenvolvidas na Vila 7 de Julho, suprem boa parte da demanda
local. Os loteamentos nas proximidades da Perdigão e da Unoesc (extensão Capinzal)
vêm demonstrando uma maior dinamicidade tanto em crescimento populacional quanto
de atividades de comércio e serviços, devido à concentração de trabalhadores na
agroindústria e ao fato de algumas deles estudarem na universidade. Dentre as
atividades desenvolvidas, a partir de entrevistas realizadas no local com proprietários
de um comércio de materiais de construção e uma prestadora de serviços de confecção
de vestuários, cama e mesa, constatou-se que ambos compartilham da idéia de que
manter atividades sócio-econômicas no loteamento Parizotto é vantajoso pelo fato de a
demanda local gerar maior possibilidade de comercialização e, o mesmo, vir crescendo
substancialmente. “O loteamento é novo e de futuro, com possibilidade de mais
clientela”, além do aluguel ser mais em conta do que no centro da cidade, afirma Avila
(2005). E, ainda, de acordo com Bof (2006), proprietário de uma loja de materiais de
construção, “há muitas vantagens nesse tipo de atividade, pois tem demanda, sempre
estão construindo ou reformando casas. A procura por materiais de construção é
bastante na região” (BOF, 2006). Desse modo, ambos os entrevistados afirmam que a
144
comercialização e prestação de serviços são principalmente para funcionários da
Perdigão que residem naquelas proximidades e clientes que residem em outras partes
da cidade e loteamentos e, até mesmo, no interior do município.
Ainda, nessa perspectiva da expansão urbana de Capinzal, há um projeto
elaborado pela administração pública municipal, por meio do Conselho Municipal da
Indústria, Comércio e Turismo de Capinzal – INCOTUR, para a implantação do Distrito
Industrial em um terreno já adquirido para essa finalidade, com a extensão de
67.000m², localizado às margens da rodovia SC-458, km 05, trecho Capinzal/Zortéa
(CAPINZAL, 2006), a aproximadamente 2Km da unidade industrial da Perdigão e a
8Km da cidade de Zortéa.
Sobre a lei para o parcelamento do solo urbano, que abrange também a criação
de novos loteamentos, foi criada em 1987 sob o nº 1291/1987. Dessa forma, entre os
requisitos urbanísticos para loteamentos, são consideradas as áreas destinadas ao
sistema de circulação e com espaços livres para uso público, isto é, são consideradas
áreas públicas pelo menos 35% da gleba a ser loteada, nas seguintes proporções: 8%
para as áreas comunitárias, destinadas à implantação de equipamentos urbanos e
comunitários; 7% para as áreas verdes e espaços livres de uso públicos e; 20 % para
áreas destinadas ao sistema de circulação. Outro requisito, nenhum lote poderá ter
área inferior a 360m², e frete para a via de circulação de largura inferior a 12m. Também
não é permitido o parcelamento do solo em terrenos com declividade igual ou superior a
30%, (CAPINZAL, 1987(a)), por se tratar, nessas condições, dá área de risco de
deslizamentos. Nesses termos, os novos loteamentos que vêm surgindo devem passar
pela aprovação do projeto na prefeitura, dentro das normas exigidas, para
posteriormente dar início ao parcelamento e loteamento.
Nesse contexto da produção do espaço urbano de Capinzal que envolve
diversas atividades sócio-econômicas inerentes à dinâmica da sociedade, vem se
desenvolvendo, também, as atividades do setor metal-mecânico. Dentre essas
atividades destacam-se as empresas Gratt Indústria e Comércio Ltda., que há
aproximadamente 16 anos atua no loteamente Santa teresinha (GRATT, 2006), e,
posteriormente, a Fast Indústria e Comércio Ltda, situada na Vila 7 de Julho. Esse setor
industrial e comercial em Capinzal tem como principal produto industrializado e
145
comercializado o decanter centrífugo, tecnologia que permite separar uma fase sólida
de uma ou duas fases líquidas, amplamente utilizada em Estações de Tratamento de
Esgoto, Estações de Tratamento de Despejos Industrias e Frigoríficos e Estações de
Tratamento de Água. Esse tipo de produto fabricado é pioneiro no Brasil, tecnologia
trazida pela Gratt Indústria e Comércio Ltda. Com isso, a comercialização e
manutenção desse tipo de produto vêm sendo desenvolvidas em boa parte do território
nacional, entre eles o Sul, o Sudeste, o Nordeste, com perspectivas de ampliar para o
mercado internacional (GRATT, 2006). Essa é, portanto, uma tendência de uma nova
atividade sócio-econômica que desponta em Capinzal, um reflexo da produção sócio-
espacial.
3.3.4 Usos e especulação da terra urbana e suas conseqüências
A terra urbana tem, em princípio, um duplo papel, “o de suporte físico e o de
expressar diferencialmente requisitos locacionais específicos às atividades” (CORRÊA,
1989, p. 13) nela desempenhadas, inerentes a especulação fundiária. Assim, a
especulação fundiária geradora do aumento do preço da terra é um ícone entre os
agentes produtores do espaço urbano, como: os proprietários dos meios de produção,
que estão diretamente envolvidos com as atividades produtivas; os proprietários
fundiários, que têm interesses na urbanização, isto é, transformar terras rurais em
urbanas, pois as valoriza mais; os promotores imobiliários, que agem como mediadores
entre os proprietários imobiliários e consumidores/compradores; além, é claro, do
Estado que, via de regra é normatizador/legislador e fornecedor de infra-estrutura mas,
muitas vezes, é também proprietário fundiário que, por razões óbvias, têm interesses na
urbanização e na expansão da área urbana. Esses interesses bem como os impostos e
a tributação trazem para o município maior receita tributária.
Nesse contexto, a terra urbana, de maneira geral, de acordo com a sua
localização e condições físicas, dentre outras condicionantes, tem valorização
diferenciada, isso também ocorre em Capinzal (Quadro 15) e onde a comercialização
quase sempre vem sendo mediada por promotores imobiliários, em alguns casos pelo
146
proprietário fundiário, a exemplo do loteamento João Lanhi, no qual o proprietário fez o
desmembramento e vem comercializando os terrenos.
Quadro 15 - Média de preços de lotes urbanos em Capinzal em 2006.
Localização Metragem (média) em m² Valor (médio) em reais
Loteamento São Luiz 360 a 420 10.000 a 15.000
Vila 7 de Julho 360 a 420 15.000 a 20.000
Prox. do Colégio Mater Dolorum 1.500 a 1.600 25.000 a 30.000
Centro – Rua XV de Novembro 420 300.000 a 600.000
Centro – Rua Presidente Nereu
Ramos
900 400.000
Loteamento Santa Terezinha (nas
imediações da sub estação da
CELESC)
360 a 420
20.000 a 25.000
Loteamento Santa Terezinha (nas
proximidades da SC 303 e da
Delegacia de Polícia)
360 a 420
40.000 a 50.000
Loteamentos Parizotto, Lar
Imóveis e Universitário
360 a 420 20.000 a 40.000
Loteamento Colina 360 a 420 15.000
Bairro São Cristóvão (nas
proximidades da Escola de
Educação Básica São Cristóvão)
360 a 420
20.000
Loteamento São Roque 360 a 420 5.000 a 8.000
Loteamento João Lanhi 450 a 530 8.000 a 9.000
Fonte: Informações fornecidas por empreendedores imobiliários, dentre eles o corretor Alvair Faccin da
empresa Empreendimentos Imobiliários Compras e Vendas de Terras, e Haroldo J. Lanhi. Dados obtidos
nos dias 24 e 25 de julho de 2006.
Para exemplificar, os lotes localizados na área central da cidade, nas
imediações das ruas XV de Novembro e Presidente Nereu Ramos (Quadro 15), são os
mais valorizados, principalmente pelas suas proximidades aos serviços e funções
urbanas e por serem terrenos planos. Já alguns terrenos localizados nas imediações do
Colégio Mater Dolorum, próximos à área central, com dimensões maiores em relação
aos do centro da cidade, apresentam preço, em média, 15 vezes menor.
Isso ocorre, em partes, pela declividade dos terrenos, entre outros agravantes,
sendo necessárias terraplanagem e/ou pilares de sustentação para edificações. Nessa
perspectiva, tanto aqueles quanto esses terrenos são alvos de promotores imobiliários.
As condições físicas também afetam a valorização de terrenos localizados no
loteamento São Luiz, praticamente toda aquela área é íngreme, não dispondo ainda,
em algumas localizações, de ruas pavimentadas, dificultando seu acesso.
147
Ainda, na perspectiva do valor da terra urbana de Capinzal, os loteamentos João
Lanhi e São Roque, que são desmembramentos recentes em relação aos demais e
incorporados à área urbana, ainda não dispõem de escritura pública individual dos
lotes, além disso, até o momento, as ruas não foram pavimentadas (LANHI, 2006(a);
FACCIN, 2006), o que justifica o menor valor em relação aos demais. A comercialização
dos terrenos daqueles loteamentos é, em sua maioria, para funcionários da empresa
Perdigão. Dos terrenos do loteamento João Lanhi, em particular, sobretudo os
localizados nas proximidades da Vila 7 de Julho, segundo Lanhi (2006(a)),
aproximadamente 80% dos compradores são funcionários daquela empresa.
Outros exemplos de que a valorização da terra urbana está vinculada à
localização e às condições físicas são os loteamentos Parizotto, Lar Imóveis e
Universitário, nas imediações da Perdigão e da Unoesc. Estes, vêm tendencialmente
valorizando, isto é, há dois ou três anos era possível adquirir lotes naquela região por
valores entre R$ 10.000,00 e R$ 15.000,00. Devido à especulação imobiliária e à
proximidade, principalmente com a grande indústria, essa realidade vem se
modificando, pelo fato, também, de maior dinamicidade sócio-econômica local de
comércios e serviços urbanos que vêm sendo implantados, além de boas condições
físicas dos loteamentos como um todo, localizados no planalto da cidade.
Esses exemplos do preço da terra urbana de Capinzal sugerem uma certa
tendência. Muitas vezes num mesmo loteamento, determinadas localizações são mais
valorizadas do que outras. Isso ocorre pela facilidade do acesso, pela proximidade com
algumas instituições e serviços públicos urbanos, pela disponibilidade de maiores
recursos infra-estruturais, como arruamento pavimentado, entre outros aspectos, como
é o caso do loteamento Santa Terezinha, onde os lotes que se localizam nas
imediações da SC 303 e da Delegacia de Polícia são mais valorizados do que aqueles
que estão mais ao interior do loteamento e na encosta.
3.4 OUTRAS ARTICULAÇÕES NAS RELAÇÕES URBANO-REGIONAIS
A predominância da população urbana em relação à população rural que vem
ocorrendo em Capinzal nas últimas décadas, principalmente, a partir dos anos de 1990,
148
embora com essa tendência desde a década anterior (Quadro 04), demonstra reflexos
do dinamismo sócio-espacial relacionados ao comportamento de desenvolvimento
local/regional. Esse comportamento vem se manifestando a partir do momento em que
as atividades sócio-econômicas - no caso o sistema agroindustrial - começaram a
ocupar mais espaço, refletindo, assim, nos processos de mudanças e nos modos de
vida urbano e rural.
Porém, independente de quem vive no espaço rural ou urbano, isso não significa
que a sociedade rural não consuma o espaço urbano e não faça parte de seu processo.
Muito pelo contrário, pois é ativa e participa indiscutivelmente dessa relação
urbana/regional que, cada vez mais, está articulada por meio de aspectos sociais,
políticos, culturais e econômicos.
Entre tantos outros exemplos dessa articulação, estão os eventos da feira do
gado com leilões e exposições, rodeios, atividades esportivas, shows etc. Esses
eventos, como a Expovale (Fig. 05) e a Feira de Eventos e Negócios (Fig. 06) acorrem
intercalados de dois em dois anos e mobilizam boa parte da população capinzalense
tanto na organização quanto na comercialização e diversão proporcionadas por meio da
administração pública municipal, de empresários, de produtores rurais e da sociedade
como um todo. Interagindo também com municípios vizinhos, como Ouro e Zortéa.
Ainda, esse tipo de evento projeta, de certa forma, o lugar para dimensões
escalares maiores tanto a nível local/regional como estadual e, até mesmo com
perspectiva nacional, apesar deste ainda ser incipiente. Assim sendo, eventos como
esses une pelas relações urbano-regionais os quatro aspectos acima referidos, o social,
o político, o econômico e o cultural, simultaneamente. Consubstanciados, ainda, a uma
perspectiva de cidade de agronegócio.
149
Fonte: Expovale Capinzal. In: www.capinzal.sc.gov.br. Acesso em 20/08/2006.
Fig. 05 - Demonstração do Evento Expovale de Capinzal realizado no
ano de 2005.
150
A Associação Amigos de Capinzal, presidida pelo vice-
prefeito, Leonir Boaretto, reuniu-se na sexta-feira (04) para
discutir a organização da Feira de Eventos e Negócios 2006,
que realiza-se bianualmente, intercalada à Expovale. A feira
foi confirmada para os dias 12 a 15 de outubro, no Parque de
Exposições Domingos Pellizzaro, em Engenho Novo.
A programação será a
b
erta no feriado de 12 de outubro, com o
jantar de entrega da premiação do Troféu Destaque Econômico
2006, cuja seleção dos empresários e produtores rurais
agraciados caberá ao Conselho Municipal de Desenvolvimento
da Indústria, Comércio e Turismo (Incotur), com base em
dados relativos ao ano 2005 do retorno da arrecadação de
impostos do Município.
No dia 13, ocorrerá o II Leilão da Raça Simental transmitido
ao vivo para todo o Brasil pelo Canal do Boi. No dia 14 será a
vez da XVII Feira do Gado Geral e no dia 15, as provas válidas
pelo Sul Brasileiro e pelo catarinense Riffel de Motocross.
A programação agropecuária está sendo coordenada pelo
Sindicato Rural e as provas de motocross pelo Moto Clube. A
Associação Amigos de Capinzal ainda estuda a organização de
outras atrações na área esportiva, bem como a reedição da
tenda eletrônica realizada durante a Expovale.
Dia 13 de outubro de 2006 (sexta-feira) – 20:00h
45 lotes de reprodutores e matrizes de alto padrão genético.
Ao vivo para todo o Brasil pelo Canal do Boi durante a Feira
de Eventos e Negócios 2006, no Parque de Exposições
Domingos Pellizzaro, SC- 303, km 12, Engenhno Novo, em
Capinzal.
Fonte: Feira de Eventos e Negócios. In: www.capinzal.sc.gov.br/noticiasonline/molduras/expo2006.htm.
Acesso em: 20/08/2006.
Fig. 06 - Divulgação da Feira de Eventos e Negócios de Capinzal, 2006.
151
Nesse contexto, não há como discutir o urbano e o rural sem fazer relações,
mesmo porque essas relações estão também calcadas por intermédio da agroindústria,
já que ela depende, grosso modo, de ambos para a sua sobrevivência. De um lado, são
os produtores rurais que fornecem a matéria-prima (no caso, a criação do frango), e
muitos deles praticam paralelamente a cultura do milho, da soja, do feijão etc. Boa parte
dessa produção, principalmente de milho, é adquirida pela agroindústria para ser
transformada em ração/alimento, outra parte é comercializada com as cooperativas, a
Copérdia de Concórdia e a Coper Campos de Campos Novos, ambas com unidade em
Capinzal, a Coper Rio de Joaçaba e a Agro Ouro do município de Ouro.
De outro lado, está a população urbana, que se divide entre o fornecimento da
mão–de–obra para o processo industrial e de transformação e o sistema de comércio e
serviços, que comercializa e presta serviços à sociedade como um todo. Nesse
processo, as relações sócio-econômicas entre o campo e a cidade estabelecem
cumplicidades, refletindo em Capinzal a particularidade do lugar. Porém, essas relações
remetem à idéia que culmina com a “vitória da cidade sobre o campo” a partir da grande
indústria (CORRÊA, 1989, p.41), pelo fato de a cidade comportar maior concentração e
circulação de pessoas, poder de decisão e ser o lugar que comporta sistematicamente
a agroindústria, no caso Capinzal.
Dessa forma, analisar Capinzal significa compreender a dinâmica social
independentemente do recorte espacial apreendido. Pois pensar as relações entre a
cidade e o campo é ter uma idéia do todo, de como o espaço vem sendo apropriado por
meio das relações urbano-regionais.
Nessa perspectiva, algumas atividades sócio-econômicas e formas de
(re)produzir a vida em contextos atuais no interior do município, tomou-se como
exemplo algumas localidades
51
(Fig. 07) a partir das quais far-se-á uma interpretação
das relações urbano-regionais daquele município.
51
A escolha por apenas algumas localidades dá-se porque a partir delas mesmas é possível ter uma
idéia de como vem se processando o comportamento da dinâmica sócio-espacial no interior do município
de Capinzal.
152
Figura 07 - Capinzal e a sua hinterlândia municipal
S
C
3
0
3
L
A
C
E
R
D
Ó
P
O
L
I
S
153
Assim sendo, no Distrito de Alto Alegre (Fig. 07), dentre as atividades sócio-
econômicas e serviços à comunidade que vêm se desenvolvendo são destaque um
abatedouro de bovinos; duas indústrias de cerâmicas; um mini-mercado; uma fábrica de
cadeiras; um posto de saúde, que atende a população local de segunda a sexta-feira;
um posto telefônico; uma agência de correio; uma escola de ensino fundamental;
produção de leite, cuja comercialização é com a empresa de laticínios Tirol, de Treze
Tílias (SC). Boa parte das atividades está, também, vinculada ao sistema agroindustrial
da Perdigão, onde a maioria da população local trabalha na unidade industrial
52
ou na
granja de recria situada naquele distrito ou, até mesmo mantém algum vínculo com
aquela empresa através do sistema de integração.
Alguma “semelhança” ocorre na localidade de Lindemberg (Fig. 07), que dispõe
de dois mini-mercados; dois bares; um ginásio de esportes; uma escola de ensino
fundamental; uma indústria de cerâmicas; um posto de saúde, que atende à população
de segunda a sexta-feira, com disponibilidade de médico dois dias por semana e
dentista uma vez semanal; uma usina elétrica de propriedade particular da indústria de
cerâmicas; e um CTG – Centro de Tradições Gaúchas, entre outros. Naquela localidade
de Lindemberg, de acordo com conversas informais com moradores locais, alguns
trabalhadores são funcionários da empresa Perdigão, cerca de 40%, outros são
funcionários de uma empresa terceirizada, Linger, que presta serviços de carregamento
de frangos a partir de acordo firmado entre a Perdigão e os produtores de frangos,
alguns, ainda, trabalham na indústria local de cerâmicas, e outros são avicultores.
Essas são as maneiras de aquela população encontrar os modos de produzirem suas
vidas.
52
Os funcionários da unidade industrial da empresa Perdigão que residem nas localidades do interior do
município ou até mesmo na cidade, em loteamentos distantes e municípios como Ipira, Piratuba,
Lacerdópolis, Ouro, Zortéa, Herval D´Oeste em Santa Catarina e, de São José do Ouro, Barracão,
Machadinho, Maximiliano de Almeida, Paim Filho, Sananduva e Viaduto, no Rio Grande do Sul são
transportados por empresas de transporte coletivo terceirizadas por aquela agroindústria (BONATO,
2005).
154
Outra localidade foi a de Vidal Ramos, na qual a população local dispõe de um
posto telefônico
53
com atendimento ao público duas vezes semanais; duas indústrias de
cerâmicas em funcionamento; uma ervateira; dois bares; uma biblioteca municipal; uma
granja de recria de propriedade da empresa Perdigão. Naquela localidade os
trabalhadores se dividem entre as atividades na granja denominada Ouro, na ervateira,
nas indústrias de cerâmicas e principalmente na unidade industrial da Perdigão.
Barro Preto (Fig. 07) é um outro exemplo de localidade que reflete claramente
suas relações com o setor industrial, porém com um diferencial, boa parte das terras e
das atividades que lá se desenvolvem estão vinculadas à família Hachmann -
proprietária de uma madeireira de serragem e de beneficiamento, além da produção de
pasta mecânica e florestamento de pinus, referida anteriormente. Outras atividades,
são as de sistema de integração com a empresa Perdigão, por meio das granjas
matrizes, além de granjas de frangos de corte, de propriedade da, também, família
Hachmann, que é empregadora de mão-de-obra da maior parte da população local,
tanto no segmento madeireiro quanto na avicultura.
O vínculo, pelo sistema de integração da localidade de Barro Preto com a
Perdigão ocorre também com alguns produtores rurais, porém em menor escala. Ainda,
aquela localidade dispõe de uma indústria de cerâmicas, dois mini-mercados, um posto
de saúde, um posto telefônico, uma unidade escolar de ensino fundamental e uma
creche, atendendo, em partes, a demanda local e também das vizinhas localidades de
Barro Branco e Nova Beleza.
Na localidade de Barro Branco (Fig. 07), situada ao sul do município de Capinzal,
na divisa com o Estado do Rio Grande do Sul, as atividades vinculadas à empresa
Perdigão são praticamente maciças, pois boa parte das famílias são produtoras rurais
de economia familiar e integradas ao sistema agroindustrial. A localidade dispõe
também de uma indústria madeireira, porém sem vínculo empregatício, com base
apenas no trabalho familiar.
Esses são apenas alguns exemplos, em Capinzal, que mantém ativamente a
dinamicidade sócio-espacial além do uso de determinados recursos urbanos como de
53
A localidade de Vidal Ramos foi a primeira a receber a instalação de telefonia no município de
Capinzal.
155
comércio e serviços, movimentações financeiras, a migração pendular, que é uma
característica comum de quem reside num bairro e trabalha em outro, ou que todos os
dias se desloca do interior do município ou de outros municípios para produzir seu
trabalho na unidade industrial.
Esses tipos de uso do território nas suas diferentes localizações tendencialmente
representam o domínio do espaço geográfico pela sociedade que nele habita por
intermédio de suas interações e articulações, na busca pela sobrevivência. Porém,
quase sempre subverniente ao poder econômico industrial.
156
CONSIDERAÇÕES FINAIS
“Somos frutos da paisagem em que vivemos; ela
dita nosso comportamento e até nossos
pensamentos, na medida em que reagimos a
ela.”
Laurence Durrel
Para embasar o estudo sobre aspectos da produção do espaço geográfico de
Capinzal a partir das relações e trajetórias urbano-regionais procurou-se, neste
trabalho, antecedentes da formação sócio-espacial para entender como na atualidade,
as articulações local-regional vêm se (re)produzindo a partir de aspectos dinâmicos da
sociedade.
Analisaram-se dados de sua ocupação efetiva, a partir das primeiras décadas do
século XX, por processos colonizatórios, articulados às conjunturas de escala nacional
e regional, passando-se pelas intervenções estatal e de empresas privadas, até chegar
aos dias atuais, para assim conhecer as relações espaciais, consubstanciadas nas
atividades sócio-econômico-culturais.
Este estudo, portanto, dá uma idéia de como a dinâmica sócio-espacial vem se
articulando no município e de como ela mesma é um reflexo de conjunturas das
relações de escalas regional e nacional. Num primeiro momento, nota-se que sob
contextos político-administrativos a ocupação efetiva de Capinzal, assim como de todo
o oeste e meio-oeste catarinense tiveram influências (in)diretas do governo federal, isto
é, de facilitador da ocupação e o uso de espaços que até então não haviam sido
explorados e encontravam-se, de certo modo, ociosos nas configurações e trajetórias
capitalistas de produção naquele período.
Na ótica estatal e capitalista havia a necessidade de ocupar e explorar aqueles
espaços, mas para isso precisava-se conectar aquelas áreas, em vias de expansão
produtiva, com outras áreas que já se encontravam no circuito econômico do Brasil,
principalmente com o sudeste, que se mostrava mais dinâmico sócio-economicamente
em relação às demais regiões do país.
Foi, então, a partir da construção da chamada “grande” via de circulação
ferroviária, a Viação Férrea Federal São Paulo Rio Grande, com investimentos de
157
capitais estrangeiros, sob responsabilidade da empresa concessionária Brasil Railway
Company, no início do século XX, que os contextos de usos & abusos territoriais
começaram a ser demarcados.
Aquela ferrovia passou, desse modo, a fazer parte do cenário nacional e
interligar as diversas partes do país, possibilitando a produção e circulação de
mercadorias. Sem dúvidas, a ferrovia foi um importante vetor para a inserção de novas
atividades econômicas e/ou expansão de colônias gaúchas alemãs e italianas, que se
estenderam por boa parte do meio-oeste e oeste catarinense.
Nesse contexto, Capinzal não fugiu a regra, sendo colonizado, principalmente,
por descendentes de italianos por empresas subsidiárias da Brasil Railway Company.
No final da primeira década do século XX, Capinzal passou a fazer parte de uma nova
realidade nacional, pois nascia lá como em vários outros lugares do território
catarinense, inclusive, no Vale do Rio do Peixe, a possibilidade do surgimento de novas
cidades e, conseqüentemente, geração de novos municípios.
Com a inserção de atividades sócio-econômicas por meio da agricultura de
pequena produção familiar, da atividade madeireira, da agropecuária e, por fim, da
agroindústria, Capinzal passa, lentamente, a contribuir no cenário nacional como
integrante na produção de mercadorias.
De mero ponto estratégico de passagem e circulação de produtos para
comercialização, dentre eles o gado já no início do século XX, do Rio Grande do Sul
para São Paulo, por tropeiros e viajantes, a partir de então passa a registrar em suas
“páginas diárias” a (re)produção da vida local, chegando a significante difusor de
tecnologias pela produção de frangos, no Brasil da atualidade. Realidade que é um
reflexo da economia nacional, principalmente a partir da década de 1980, quando, por
intermédio da atividade agroindustrial ela se projeta, de certo modo no cenário regional,
estadual, nacional e atravessa fronteiras nacionais e continentais, inserindo-se no
contexto do capitalismo industrial de produção pela atividade avícola, o frango.
Essa realidade é uma tendência em Capinzal como uma cidade de
agronegócios, que vem se desenvolvendo desde a década de 1930, com o início da
inserção da atividade agroindustrial pelas Indústrias Reunidas Ouro S/A, voltada ao
processamento de carnes suínas e aves.
158
Porém, essa atividade ganha maior dinamismo a partir da década de 1980,
quando o Grupo Perdigão adquire aquela indústria e assume a produção e
industrialização de frangos, um segmento da economia que abarca tanto o campo, por
meio do sistema de integração com produtores rurais, que são responsáveis pelo
fornecimento da matéria-prima, quanto a cidade que oferece a mão-de-obra, a infra-
estrutura necessária por intermédio da sociedade e o poder público municipal para o
processo industrial e a relação com outros segmentos econômicos, como comércios e
serviços, outras indústrias, e o setor imobiliário, entre outros. Forma-se, então, uma
rede, onde o trabalho e a produção econômica se relacionam e articulam entre si,
criando assim uma interdependência sócio-econômica. Além disso, a atividade
agronegócio é uma tendência também, atualmente, mostrada em exposições e feiras
de produtos agropecuários que ocorrem, anualmente, com perspectivas regionais,
dinamizando ainda mais a partir das relações sócio-espaciais, a proximidade entre
localidades do campo e da cidade e entre municípios circunvizinhos, como Ouro e
Zortéa.
Desse contexto de relações sócio-espaciais pode-se articular às idéias de Santos
(2004, p. 286) que diz, de um modo geral, que “as cidades são o ponto de intersecção
entre verticalidades e horizontalidades”, por meio de arranjos territoriais. É, ainda, nas
cidades que as forças centrípetas e centrífugas “atravessam o território, como
tendências ao mesmo tempo contrastantes e confluentes, agindo em diversos níveis e
escalas”.
Desse modo, as forças centrípetas são resultados do processo econômico e
social. Elas agem no campo, na cidade, respectivamente, como fatores de
homogeneização e de aglomeração, assim como agem, também, entre cidade e
campo, como fatores de coesão (SANTOS, 2004). Ambas as maneiras simbolizam as
relações sócio-econômicas.
As forças centrífugas, portanto, “podem ser consideradas como um fator de
desagregação, quando retiram da região os elementos do seu próprio comando, a ser
buscado fora e longe dali.” (SANTOS, 2004, p. 286-287).
Em ambas as forças, mesmo nas peculiaridades de Capinzal, elas são vistas
pela dinâmica que aquele lugar revela. As forças centrípetas conduzem a um processo
159
de horizontalização na perspectiva local e regional, isto é, a partir de relações intra-
urbano, urbano-regionais, entre cidades vizinhas, com base nos aspectos sócio-
econômico-culturais que estão a articulados entre si na busca da (re)produção da vida
pela sociedade dos que lá vivem.
Já as forças centrífugas conduzem a um processo de verticalização entre o lugar
e o mundo, intermediado por escalas regionais, supra-regionais, nacionais e inter-
continentais que, no caso de Capinzal, são representadas pela agroindústria do Grupo
Perdigão, traduzindo modos como o capitalismo industrial está inerente às conjunturas
globais, que buscam ampliar fronteiras e competir no mercado mundial. Capinzal se
comporta, portanto, como um dos pontos estratégicos daquela corporação no processo
e na atuação industrial, onde ocorre a produção in locus e dali os produtos se destinam
ao mercado consumidor de diversos e diferentes lugares do planeta.
Fatores como esses influenciam, dentre outros aspectos, a expansão da área
urbana naquele município, interferindo nas transformações mais acentuadas do espaço
local e regional. Além da dinâmica sócio-econômica interna, esta recebe, também,
influências externas, visto que a produção do espaço não se dá apenas no lugar, mas,
resulta de contextos em escalas mais abrangentes. Assim, é o que cada vez mais
indicam relação campo-cidade ao estabelecerem vínculos entre si, tanto pela produção
do trabalho como pelo consumo de bens e serviços e de mercadorias, presentes nos
níveis das atividades que compõem os circuitos da economia capinzalense.
Entretanto, ficou evidenciado neste estudo que, no espaço geográfico de
Capinzal, o elemento estratégico para o processo da (re)produção da sociedade
decorre de contextos estruturantes de como as transformações e a organização dos
territórios se viabilizam.
Esta pesquisa que ora se finaliza, além do grande desafio e da satisfação de
socializar idéias, cumpre com a proposta que se delineou junto ao seu objeto de estudo
durante o trabalho acadêmico. Numa perspectiva de oferecer contribuições a outros
pesquisadores interessados na temática e na continuidade desse trabalho, assim como
à comunidade capinzalense em geral, como informação e conhecimento do meio em
que vivem. Acredita-se que conhecer a própria região é criar uma identidade com o
lugar.
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UBA – União Brasileira de Avicultura. Integração, a Parceria que deu certo. Brasília, jul.
2001. Disponível em: <http://www.uba.org.br/integracao.html>. Acesso em: 19 jun. 2006.
_______. Panorama da Avicultura Brasileira. Relatório Anual 2005/2006.
WERLANG, Alceu. A colonização do Oeste Catarinense. Chapecó: Argos, 2002. 86p.
172
Lista de Entrevistados:
ALMEIDA, Vitor. Advogado/Ex-vereador. Entrevista concedida em: 20 mai. 2005. Capinzal,
2005(b).
ARAÚJO, Orlando S. de. Agricultor/Avicultor. Entrevista concedida em: 23 mai. 2005.
Capinzal, 2005.
ARAÚJO, Omar S. de. Agricultor/aposentado. Entrevista concedida em: 04 fev. 2006.
Capinzal, 2006.
AVILA, Enir M. de. Prestadora de Serviços. Entrevista concedida em: 25 mai. 2005.
Capinzal, 2005.
AVILA, Osmar S. de. Agricultor/avicultor. Entrevista concedida em: 20 mai. 2005. Capinzal,
2005.
_______. Agricultor/avicultor. Entrevista concedida em: 05 fev. 2006. Capinzal, 2006.
BASEI, Nair. Agricultora/Presidente do Sindicato dos trabalhadores Rurais de Capinzal.
Entrevista concedida em: 31 jan. 2006. Capinzal, 2006.
BOF, Glacir A. Comerciante. Entrevista concedida em: 26 jul. 2006. Capinzal, 2006.
BONATO, Ivanir. Funcionário da Perdigão, unidade Capinzal. Dados e informações
fornecidas em: 08 set. 2005. Capinzal, 2005.
CERUTTI, Ermínio. Comerciante. Entrevista concedida em: 02 fev. 2006. Capinzal, 2006.
CORONETTI, Jandir A. Ex-vereador. Entrevista concedida em: 23 mai. 2005. Capinzal,
2005.
173
DAGNOLUZZO, Emilson L. Empresário. Entrevista concedida em: 31 jan. 2006. Capinzal,
2006.
DALAVECHIA, José L. Coordenador/Simae. Entrevista concedida em: 21 jul. 2004.
Capinzal, 2004.
FACCIN, Alvair. Promotor imobiliário. Entrevista concedida em: 24 jul. 2006. Capinzal,
2006.
GRATT, Bernhard J. Empresário. Entrevista concedida em: 02 fev. 2006. Capinzal, 2006.
HACHMANN, Helmuth. Empresário. Entrevista concedida em: 15 ago. 2005. Capinzal,
2005.
LANHI, Névio. Agricultor/Aposentado. Entrevista concedida em: 02 fev. 2006. Capinzal,
2006.
LANHI, Haroldo J. Agricultor. Entrevista concedida em: 25 jul. 2006. Capinzal, 2006(a).
RECH, Vilmar. Engenheiro Agrônomo/Epagri unidade Capinzal. Entrevista concedida em:
21 jul. 2004. Capinzal, 2004.
SCAPINI, Sandra E. M. Agricultora. Entrevista concedida em: 02 fev. 2006. Capinzal, 2006.
TEIXEIRA, Getúlio O. Agricultor/avicultor. Entrevista concedida em: 03 fev. 2006. Capinzal,
2006.
ZANARO, Osvaldo. Agricultor. Entrevista concedida em: 25 jul. 2006. Capinzal, 2006.
174
ANEXOS
175
Anexo 01
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA
DEPARTAMENTO DE GEOCIÊNCIAS
CENTRO DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GEOGRAFIA
DISSERTAÇÃO DE MESTRADO/DESENVOLVIMENTO REGIONAL E URBANO
Roteiro das Entrevistas realizadas para Dissertação com Moradores, Empreendedores de
Atividades Sócio-econômicas e Produtores Rurais do Município de Capinzal-SC
Responsável: Analice de Avila
Data da realização da entrevista: _________________
A - Identificação:
Nome: _______________________________________________________________________
Idade:_________________Naturalidade: _______________________________
Profissão atual:_______________________ Profissão anterior: __________________ Grau de
escolaridade: _________________________________________
Bairro/localidade que reside: _____________________________ Tempo: ________________
Há quanto tempo reside no Município de Capinzal?___________________________________
Antes de residir no Município de Capinzal, quais outros lugares
residiu?_____________________________________________________________________.
Obs. pertinentes: _____________________________________________________________
____________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________
B - Antigos Moradores e/ou Descendentes de Migrantes Colonizadores:
1 – Motivo(s) de estabelecer residência no Município de Capinzal: ______________________
____________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________
______________________________Veio com a família? ( ) Sim ( ) Não
2 – Qual(is) tipos de atividade(s) econômica(s) que sua família passou a exercer quando veio
residir no Município de Capinzal?__________________________________________________
____________________________________________________________________________
Por quê? ____________________________________________________________________
176
____________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________
3 - Você e/ou sua família continua exercendo o mesmo tipo de atividade econômica?
( ) Sim ( ) Não. Por quê? _____________________________________________________
____________________________________________________________________________
4 – Na sua opinião, quais as principais mudanças que ocorreram no Município ao longo do
tempo, que você julga significativas? ______________________________________________
____________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________
5 - Na sua opinião, também, viver no Município de Capinzal hoje está melhor que antes?
( ) Sim ( ) Não Por quê? _______________________________________________________
____________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________
Obs pertinentes: _____________________________________________________________
____________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________
C - Empreendedores de Atividades Sócio-econômicas (Indústria, Comércio e Serviços):
6 – Ramo/tipo da atividade: ______________________________________________________
7 – Local da atividade: _________________________________________________________
8 – Tempo que possui estabelecimento comercial e/ou industrial no local? ________________
9 – Possui filial(is) de seu estabelecimento empresarial? ( ) Sim ( ) Não. Quantas?
__________________________Onde?_____________________________________________
O que motivou possuir filial(is) de seu negócio? ______________________________________
____________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________
10 – O que o motivou implantar esta atividade (econômica) na localidade?_________________
____________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________
11 – A empresa possui algum vínculo comercial com outras empresas? ( ) Sim ( ) Não
Qual(is) empresas? ____________________________________________________________
Como? ______________________________________________________________________
177
____________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________
12 - Para você quais são as vantagens dessa atividade econômica?_____________________
____________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________
Obs. Pertinente:______________________________________________________________
____________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________
D - Produtores Rurais:
13 – Que tipo(s) de atividade(s) agrícola(s) desenvolve? _______________________________
A(s) atividades desenvolvida(a) é(são) de subsistência ou comercializa a
produção?______________________ Como? _______________________________________
____________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________
14 – Quantidade de membros da família atualmente: _______________ Todos trabalham no
meio rural? ( ) Sim ( ) Não.
15 – Possui algum vínculo com a Agroindústria Perdigão? ( ) Sim ( )Não. Que tipo
____________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________
16 – O que o motivou a ser um integrado do sistema agroindustrial? _____________________
____________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________
17 – Como foi o processo de implantação do(s) aviário(s)? Houve apoio da agroindústria e/ou
bancos financeiros/empréstimos etc? ______________________________________________
De que forma? ________________________________________________________________
____________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________
18 – Quantos aviários possui?_____________________ Como é(são) os equipamento(s) de
seu(s) aviário(s)? ______________________________________________________________
____________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________
178
19 – Todos os membros da família trabalham no(s) aviário(s)? ( ) Sim ( ) Não.
20 – Quantas horas diárias você acha que são necessárias para trabalhar no aviário?
____________________________________________________________________________
21 – Qual(is) é(são) a(s) despesa(s) e o lucro com um aviário por lote de frangos? __________
____________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________
22 – Você acha que tem vantagens de ser um integrado da Perdigão? ( ) Sim ( ) Não. Por
quê? ________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
23 – Hoje, é possível manter uma família na agricultura sem que algum membro busque
alternativas de trabalho em outras atividades não agrícolas? ( ) Sim ( ) Não. Quais?
____________________________________________________________________________
Por quê? ____________________________________________________________________
____________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________
24 – Atualmente quais suas expectativas nas atividades ligadas à agricultura? _____________
____________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________
Obs. pertinentes: _____________________________________________________________
____________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________
Capinzal-SC, _____ de _______________ de 2006.
_____________________________________
Analice de Avila
179
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