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[...] o leitor ideal existe; e este não pode restringir o ato da leitura ao
movimento único de decifração lingüística da mensagem do texto, mas deve
completar este movimento receptivo pelo reconhecimento do uso social e
ideológico dos signos, ativado pelo autor, na construção desta mensagem.
Assim, autor e leitor, sujeitos históricos inseridos num determinado
contexto, momento e espaço sociais, são elementos igualmente
determinantes dos efeitos de sentido de um texto. Ao estabelecer as
relações dos signos de um texto com os próprios usuários destes signos
(quem diz? Para quem diz? Quando diz? Onde diz? Com que ponto de vista
ideológico-contextual diz?) o leitor estará na verdade realizando um
exercício de preenchimento ativo dos espaços vazios, ou seja, das malhas
de um texto.
Em outros termos, relacionar os signos de um texto com os sujeitos
interlocutores implica competência intelectual do leitor para ler não só o
conteúdo literal da mensagem, mas sobretudo para descobrir as estratégias
e mecanismos sociais de construção do sentido final desta mensagem.
Pela leitura completa, nos tornamos hábeis na percepção de todas as
situações, fatos e objetos, o que nos dá a impressão de ter o mundo ao nosso
alcance: podemos compreendê-lo, conviver com ele e até modificá-lo, à medida que
incorporamos experiências de leitura. Isto é aprendizagem. Para Lajolo (1988, p. 59):
Ler não é decifrar, como num jogo de advinhações, o sentido de um texto.
É, a partir de um texto, ser capaz de atribuir-lhe significação, conseguir
relacioná-lo a todos os outros textos significativos para cada um,
reconhecer nele o tipo de leitura que seu autor pretendia, e dono da própria
vontade, entregar-se a esta leitura, ou rebelar-se contra ela, propondo outra
não prevista.
Silva (1995, p. 6) define a leitura como “um processo de criação e
descoberta, dirigido ou guiado pelos olhos perspicazes do escritor”. E ainda, em
relação à leitura, afirma que:
A promoção da leitura é uma responsabilidade de todo o corpo docente de
uma escola, e não apenas dos professores de língua portuguesa. Não se
supera uma dificuldade ou crise com ações isoladas. Falamos em centros
de interesse, em interdisciplinaridade, em construção coletiva de
conhecimento, em integração, seqüenciação e unidade curricular, mas não
colocamos tais esquemas pedagógicos em prática. Será que não existe
cura para essa cegueira geral? (SILVA, 1995, p. 24)
Aprender a ler significa reconhecer a natureza móvel e plurivalente do
signo. Bakhtin (1995, p. 47) assim caracteriza o signo e enfatiza o interesse da
classe dominante em torná-lo monovalente: