bebê: “eu quero ensinar ele a andar na Matilde, acho que ele vai adorar!” (PS, p. 207) Escolhe
o nome do bebê: Rico e vibra quando a médica faz a ultra -sonografia e confirma que é um
menino. Agora ela tem o bebê para “conversar” e é pa ra ele que ela conta suas dúvidas:
Nessa noite, deitada assistindo televisão, de repente senti minha barriga se mover. Gritei por mamãe, e
ela veio correndo, assustada. Ficamos, as duas, com as mãos sobre a minha barriga, enquanto o Rico
dava pernadas. Quando ele sossegou, mamãe foi dormir.
– Eu acho, Rico, que eu não sei ser mãe. Será que quando eu puser o peito na sua boca você não vai
entupir? Eu acho, Rico, que quando você sair daqui a minha barriga vai murchar igual chiclete de bola.
Eu acho que você vai gostar de Matilde, ela está velha mas ainda roda...
– Está falando sozinha, Leninha? – mamãe perguntou do seu quarto.
– Não, com o Rico.
– Durmam! (PS, p. 216)
As angústias da mãe de primeira viagem são compartilhadas com seu bebê. Somente
no nascimento de Rico é que Leninha e Jonathan se reencontram:
Manhã azul-bebê. Meu filho nasceu!
Acordei vesga, tonta, boca seca, com o meu bebê sobre a barriga. Luz sobre o mundo. Com dificuldade,
descobri mamãe ao lado, ela me dizendo que tinha saído tudo bem, q ue o neném era uma gracinha. E o
que era aquilo no meu braço!? Eu explicaria depois, e passei a mão no meu bebezinho, nuinho, que
tentava levantar a cabeça; levantei também a minha para me apresentar:
– Eu, Leninha, sua mãe! – disse, lambendo as minhas lág rimas.
À tarde, quarto cheio. Mamãe, curvada sobre a mesinha próxima à janela, apertando o elástico do rabo -
de-cavalo, calculava o mapa do Rico. Marisa, a todo momento consultava o relógio, não queria se
atrasar para o atendimento; Felícia não tinha ido co m medo de pegar infecção hospitalar. Papai, sentado
na cadeira ao lado de Miriam, perguntava a ela, em voz baixa, o que eu tinha no braço, e Miriam
respondeu que devia ser tatuagem de artista. Depois ela vai se arrepender, vai ver só, ela disse. Vovó,
apesar de se declarar contra nascimentos, sentou -se na ponta do sofá, com seu cachorro minúsculo
dentro da bolsa; não disse uma palavra, mas olhava para tudo o que se movimentava. Súbito a porta se
abriu, e Jonathan, empoeirado, cabelo despenteado (deve ter vi ndo com a janela do ônibus aberta),
entrou cheio de folhagens nas mãos, e, se aproximando da cama, despejou tudo sobre mim.
– Esse é o Jonathan, mãe!
Ele cumprimentou a todos com um gesto de cabeça e, em seguida, parou os olhos n os meus. Olhos de
rio correndo. (PS, p. 218/219)
Dessa forma Leninha termina de contar sua narrativa: ela, com seu bebê nos braços, no
hospital, cercada pelas pessoas próximas. Só nesse momento, considerando o período de nove
meses da gestação, e ela tinha feito a tatuagem um pouco antes, talvez cerca de um ano antes,
e, somente agora é que seus pais vêem a tatuagem em seu corpo. O corpo escrito, marcado,
homenagem ao amigo. Ela, inaugurando uma nova fase de sua vida, de menina à mulher,
agora Leninha: menina -mulher-mãe. E toda possibilidade de vida, renascimento e renovação,