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I
CINELÂNDIA
Um Conjunto Histórico
Taisa Soares de Carvalho
Dissertação de Mestrado apresentado ao
Programa de Pós Graduação em Arquitetura,
Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, da
Universidade Federal do Rio de Janeiro,
como parte dos requisitos necessários à
obtenção do título de Mestre em Ciências da
Arquitetura, área de concentração em Gestão
e Restauração de Espaços Preservados.
Orientadora: Prof. Dra. Cláudia Nóbrega
Rio de Janeiro
Março/ 2007
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II
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO
FACULDADE DE ARQUITETURA E URBANISMO
PROARQ – Programa de Pós-Graduação em Arquitetura
CINELÂNDIA
Um Conjunto Histórico
Taisa Soares de Carvalho
Orientadora: Prof. Dra. Cláudia Nóbrega
Dissertação de Mestrado submetida ao Programa de Pós-graduação em
Arquitetura, Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, da Universidade Federal do Rio de
Janeiro – UFRJ, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Mestre
em Ciências em Arquitetura, área de concentração em Gestão e Restauração de
Espaços Preservados.
Banca Examinadora:
Prof. Doutora Cláudia Nóbrega
Universidade Federal do Rio de Janeiro
Prof. Doutora Elisabete Martins
Universidade Federal do Rio de Janeiro
Prof. Doutor Júlio Sampaio
Universidade Federal de Juiz de Fora
Doutora Ana Lúcia Gonçalves
Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional
IPHAN/ 6ªSR
III
Carvalho, Taisa Soares de.
Cinelândia: Um Conjunto Histórico/ Taisa Soares de Carvalho. –
Rio de Janeiro: UFRJ/ FAU, 2007.
Orientadora: Prof. Doutora Cláudia Nóbrega.
Dissertação de Mestrado em Arquitetura – UFRJ/ PROARQ/
Programa de Pós-graduação em Arquitetura, 2006.
Referências Bibliográficas: f. 181
1.Sítos Urbanos 2. Inventário. 3. Rio de Janeiro - Cinelândia
I. Nóbrega, Cláudia. II. Universidade Federal do Rio de Janeiro,
Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, Programa de Pós
Graduação em Arquitetura. III. Título.
IV
RESUMO
CINELÂNDIA
Um Conjunto Histórico
Taisa Soares de Carvalho
Orientadora: Prof. Dra. Cláudia Nóbrega
A vocação e a importância da Cinelândia vêm desde a transferência do ponto de
fundação da cidade no antigo Morro do Castelo; da descida para a vársea ao centro
político da nova república, a evolução urbana pela qual a Praça Floriano passa
exprime parte de sua trajetória que a consagra como uma área de grande potencial
para a cultura e a sociedade do Brasil.
A reforma na malha urbana idealizada pelo prefeito Pereira Passos (1903-1906) foi
denominada “Embelezamento e Saneamento da Cidade” e promoveu, além de
melhorias nas condições higiênicas, melhorias estéticas, trazendo para o centro da
cidade vitalidade cívica, econômica e cultural. Na Praça formou-se o pólo-político
cultural da República, onde ergueu-se edifícios monumentais, grandes exemplares da
arquitetura eclética.
Posteriormente a Praça vive os tempos áureos dos cinematógrafos, com todo o
glamour que a arquitetura das salas de projeções poderiam oferecer. A Cinelândia se
configura na paisagem da cidade como um marco de diferentes momentos,
sobrepostos, mas de grande significado para a história arquitetônica, urbana, política,
social e econômica.
A leitura da unidade “conjunto histórico” se faz necessária para a salva-guarda não
apenas da Cinelândia, mas como forma de valorização do centro da cidade que foi
sede política do Brasil Colônia até a República, considerando seu patrimônio histórico
monumental e cultural.
O inventário do Conjunto Histórico da Cinelândia visa compreender a forma pela qual
a paisagem construída contribuiu para a formação da identidade local em meio a
profundas transformações urbanas e sociais ocorridas nos últimos séculos, enfocando
o patrimônio histórico construído como parte da herança cultural, não limitado aos
edifícios isolados, compreendendo, contudo o ambiente edificado, tecido urbano,
paisagem natural e paisagística, relações sociais, memória, identidade e história.
V
ABSTRACT
CINELÂNDIA
A Historical Set
Taisa Soares de Carvalho
Orientates: Teacher Cláudia Nóbrega
The vocation and the importance of the Cinelândia come since the transference of the
point of foundation of the city in the old Mount of the Castle; of the descending for the
plain, to the center politician of the new republic, the urban evolution for which the
Floriano Square passes states part of its trajectory that consecrates it as an area of
great potential for the culture and the society of Brazil.
The reform in the urban mesh idealized by mayor Pereira Passos (1903-1906) was
called "Beauty and Sanitation of the City" and promoted, beyond improvements in the
hygienical conditions, aesthetic improvements, bringing for the center of the city civic,
economic and cultural vitality. In the Square the cultural polar region-politician of the
Republic formed itself, where he rose monumental buildings, great units of the eclectic
architecture.
After that the Square lives the golden times of the cinematographs, with all glamour
that the architecture of the rooms of projections could offer. The Cinelândia if
configures in the landscape of the city as a landmark of different moments, overlapped,
but of great meaning for history architectural, urban, politics, social and economic.
The reading of the historical "urban set" unit if makes necessary for safeguards not
only of the Cinelândia, but as downtown form of valuation that was headquarters
politics of Brazil Colony until the Republic, considering its monumental and cultural
historic site. The inventory of the Historical Set of the Cinelândia aims at to understand
the form for which the constructed landscape contributed for the formation of the local
identity in way the deep occured urban and social transformations in the last centuries,
focusing the constructed historic site as cultural party to inheritante, not limited to the
isolated buildings, understanding, however the built environment, fabric urban, natural
and landscape, social relations, memory, identity and history.
VI
Dedico aos meus pais,
Antonio Gerson Ferreira de Carvalho e
Leila Dias Soares de Carvalho
Por acretitarem nos meus sonhos e
permitirem que se tornem realidade.
VII
AGRADECIMENTOS
De todas as teorias, conceitos, de todos os estudos que aqui apresento nessa
dissertação, nenhuma página é mais importante do que esta. Nenhum agradecimento
seria o bastante para as muitas pessoas que contribuíram para que eu chegasse até
aqui, mas ainda assim, cabe-me dizer a todos: “muito obrigado!”
Aos meus pais, Antonio Gerson e Leila, e ao meu mano Antonio, meus grandes
exemplos, meus amores, minha vida. Àqueles que muitas vezes, mesmo sem querer,
me ouviram dizer muitas e muitas vezes sobre arquitetura, confiaram no meu amor ao
patrimônio cultural e acreditaram nesse sonho que a cada dia se torna mais real. À
minha cunhadinha Marcelle que também esteve engajada nessa loucura toda. Sem
vocês eu nada seria.
À toda a minha grande família, em especial à base disso tudo, meus avós Sylvia e
José, Zuinglia e Antônio (in memorian), porque tudo aqui tem um pedacinho de cada
um. À minha tia e madrinha Lúcia Helena, porque se há algo de mais belo que existe
num ser humano é a capacidade de ser forte e lutar pelos seus objetivos – sonhar,
acreditar e realizar; e isso muito aprendi com você.
Aos funcionários e professores do Proarq, em especial os professores: Rosana Najjar,
Rosina Trevisan, Gustavo Peixoto, Ceça Guimaraens, Walmor Prudêncio, Elisabete
Martins, por passarem mais do que teorias, por dividirem toda a experiência vivida.
Aos convidados para a Banca de Qualificação e Defesa, que se dispusseram com
muito prazer em me presentear com esta troca de conhecimentos: Júlio Sampaio
(UFJF), Ana Lúcia Gonçalves (IPHAN/ 6ªSR), Elizabete Martins (Proarq/ FAU/ UFRJ).
Um carinho todo especial pela minha orientadora Cláudia Nóbrega, que confiou no
potencial do meu trabalho, se desafiou a todo instante em entender tudo o que eu não
conseguia escrever e deixava nas entrelinhas, clareou minhas idéias, cobrou-me o
meu melhor, sofreu e comemorou todos os momentos ao meu lado. Cláudia, obrigada!
Às Instituições que me abriram suas portas, aos seus funcionários que sempre com
muito zelo me conduziram a encontrar muitas questões e respostas, a todos aqueles
que auxiliam a nós pesquisadores porque acreditam nesse trabalho intelectual.
VIII
À equipe da DIPRIT/ETU, à Diretora Maria Ângela, por me darem incentivo na
realização deste mestrado, por contribuírem no meu engrandecimento profissional e à
minha companheira e amiga de trabalho, Lélia Fiúza, por entender todo meu
nervosismo, minhas ausências, por toda palavra de apoio.
Aos meus amigos do IPHAN, Jurema Arnault, Mauro Pazzini, Isabelle Cury, Maria
Harlindis Viana, Joyce Penna, Ana Lúcia Gonçalves, porque foi lá que tudo começou,
por me mostrarem que nesta luta sempre existirão os que agem por amor ao
patrimônio e é graças a essas pessoas que eu acredito nessa luta e sempre vai valer a
pena o trabalho.
À Turma Sambaqui, que me mostrou a humildade de que cada um não poderia ser
melhor do que todos juntos; pelos entusiasmos, vivências, alegrias, grupos de
estudos, debates, críticas e conselhos: André Coelho, Alexandre Vidal, Isabel Rocha
(mãe!), Marisa Hoirisch, Simone Guerra, Claudia Baima, Priscyla Árias, Paula Merlino.
Porque deste enorme sambaqui que se formou sou apenas mais uma concha.
Aos meus amigos extra-muros que souberam me tirar da minha questão diversas
vezes e que graças a isso, me auxiliaram a encontrar todos os objetivos e justificativas
necessários: Ana Carolina Maia, Elayne Lites, Eduardo Lites, Rafael Tardelli, Patrícia
Mathias, Thiago Mattos, Thais Mattos, Phelipe Coutinho, Fernanda Vecchi, Rafael
Moreira, Fábio Júnior, Gualter Lemos, Marcellus Araújo, à Confraria e tantos outros
amigos que muitas vezes, mesmo sem dizer, sei que torceram muito por mim.
A uma pessoa recente na minha vida, mas que se mostrou muito presente, a você,
Leonardo Paura, pelo apoio carinhoso, pela atenção, motivação, por acreditar na
minha realização, por estar ao meu lado sempre, pois só você foi capaz de me deixar
mais tranqüila.
A todos, que mesmo não citados nesses agradecimentos, num breve pensamento
acreditaram que tudo isso seria possível e a mim enviaram boas energias para que eu
chegasse até aqui, o meu enorme agradecimento.
IX
ÍNDICE DE IMAGENS
Figura 1: Ouro Preto.........................................................................................................
Fonte: foto da autora, 2003
Figura 2: Mapa dos conjuntos urbanos de tombamento federal no Brasil, por
Região e Estado ................................................................................................
Fonte: Elaborado pela autora sobre mapa do IBGE e dados colhidos no Bens
Móveis e Imóveis Inscritos no Livro do Tombo do IPHAN, 1994.
Figura 3: Vista da cidade de Olinda ...............................................................................
Fonte: foto da autora, 2003
Figura 4: Planta de Salvador/ Bahia, 1715. De autoria de João Massé .......................
Fonte: SANTOS, 2001.
Figura 5: Salvador/ Bahia ...............................................................................................
Fonte: www.salvador.com.br. Junho 2006.
Figura 6: Ma
pa do centro histórico de Ouro Preto .......................................................
Fonte: www.ouropreto.com.br. Junho 2006
Figura 7:
Conjuntos tombados no Estado do Rio de Janeiro ......................................
Fonte: Elaborado pela autora sobre mapa da cidade do Rio de Janeiro, IBGE.
Figura 8: Bairro Peixoto. Área da APA do Bairro Peixoto inserida no bairro de
Copacabana........................................................................................................
Fonte: Mapa retirado do www.googlearth.com.br. Junho 2006.
Figura 9
: Imagens do Bairro Peixoto. Conjunto arquitetônico e urbano preservado
pela APA do Bairro Peixoto..............................................................................
Fonte: www.bairropeixoto.com.br. Junho 2006
Figura 10: Corredor
Cultural. Seus limites e suas áreas...............................................
Fonte: Corredor Cultura, como recuperar, reformar ou construir seu imóvel.
Prefeitura do Rio de Janeiro, 2002
Figura 11: Fachadas do Corredor Cultural.....................................................................
Fonte: Corredor Cultural, como recuperar, reformar ou construir seu imóvel.
Prefeitura do Rio de Janeiro, 2002
Figura 12: Organograma de Metodologia de Inventário................................................
Fonte: Elaborado pela autora segundo metodologia proposta por Gustavo N.
Coelho. COELHO, 2001
Figura 13: Organograma de Metodologia de Inventário IPAC-BA...............................
Fonte: Elaborado pela autora segundo inventário IPAC-BA. COELHO, 2001
Figura 14: Os “centros” do Rio de Janeiro.....................................................................
Fonte: retirado do Google-earth, www.google.com.br
Figura 15: Mapa do Conjunto Histórico da Cinelândia..................................................
Fonte: Elaborado pela autora sobre levantamento aerofotogramétrico, 1990.
Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro/ Instituto Pereira Passos.
Figura 16: Colégio e Igreja dos Jesuítas.........................................................................
Fonte: NONATO, 2000.
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X
Figura 17: Gravura da primeira Sé da Cidade, Igreja de São Sebastião......................
Fonte: COARACY, 1965
Figura 18: Planta da cidade de São Sebastião e suas fortificações, 1713..................
Fonte: CZAJKOWSKI, 2000
Figura 19: Perspectiva do Morro do Castelo e suas construções...............................
Fonte: NONATO, 2000
Figura 20: Vista do Morro do Castelo e suas construções...........................................
Fonte: NONATO, 2000
Figura 21: Primeiro aqueduto da Carioca, 1781.............................................................
Fonte: COARACY, 1965
Figura 22: Largo da Mãe do Bispo...................................................................................
Fonte: MARANHÃO, 2000
Figura 23: Planta da cidade do Rio de Janeiro, 1750.....................................................
Fonte: CZAJKOWSKI, 2000
Figura 24: Gravura do Convento da Ajuda.....................................................................
Fonte: COARACY, 1965
Figura 25: Planta da cidade do Rio de Janeiro, 1812.....................................................
Fonte: CZAJKOWSKI, 2000
Figura 26: Evolução da arquitetura residencial.............................................................
Fonte: REIS FILHO, 2004
Figura 27: Plano da Comissão de Melhoramentos, 1874..............................................
Fonte: LIMA, 2000
Figura 28: Malha urbana do Rio de Janeiro antes da reforma de Pereira Passos,
1890....................................................................................................................................
Fonte: CZAJKOWSI, 2000
Figura 29: Planta da cidade do Rio de Janeiro, 1905.....................................................
Fonte: CZAJKOWSI, 2000
Figura 30: Recorte de jornal sobre o desmonte do Morro do Castelo.........................
Fonte: NONATO, 2000
Figura 31: Projeto de abertura da Avenida Central........................................................
Fonte: LIMA, 2000
Figura 32: Desmonte de parte do Morro do Castelo......................................................
Fonte: NONATO, 2000
Figura 33: Abertura da Avenida Central..........................................................................
Fonte: FERREZ, 1983
Figura 34: Praça Ferreira Viana.......................................................................................
Fonte: LIMA, 2000
Figura 35: Câmara Municipal...........................................................................................
Fonte: LIMA, 2000
Figura 36: O obelisco comemorativo da abertura da Av. Central................................
Fonte: FERREZ, 1983
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XI
Figura 37: Palácio Monroe e o obelisco..........................................................................
Fonte: MARANHÃO, 2000
Figura 38: Vista da Avenida Central................................................................................
Fonte: LIMA, 2000
Figura 39: Escola Nacional de Belas Artes.....................................................................
Fonte: FERREZ, 1983
Figura 40: Supremo Tribunal Federal..............................................................................
Fonte: Arquivo Nacional
Figura 41: Biblioteca Nacional.........................................................................................
Fonte: Guia da Arquitetura Eclética do Rio de Janeiro, 2000
Figura 42: A Praça Ferreira Viana e o monumento à Marechal Floriano.....................
Fonte: COHEN, 1998
Figura 43: Planta da cidade do Rio de Janeiro, com seus principais edifícios
elevados, 1914...................................................................................................................
Fonte: CZAJKOWSI, 2000
Figura 44: O novo prédio da Câmara..............................................................................
Fonte: Guia da Arquitetura Eclética do Rio de Janeiro, 2000
Figura 45: Exposição Internacional de 1922...................................................................
Fonte: ROBERTO, 1992
Figura 46: Os projetos de Francisco Serrador para seu centro de diversões............
Fonte: LIMA, 2000 e COSTA, 1998
Figura 47: Localização dos cinemas do Bairro Serrador..............................................
Fonte: Elaborado pela autora com os dados levantados, sobre planta
cadastral de 1928
Figura 48: Cinema Capitólio e Cine Glória......................................................................
Fonte: LIMA, 2000
Figura 49: Cine Império....................................................................................................
Fonte: LIMA, 2000
Figura 50: Cine Odeon e Pathé-Palácio..........................................................................
Fonte: LIMA, 2000 e COSTA, 1998
Figura 51: Cinelândia e seus cinematógrafos................................................................
Fonte: COHEN, 1998
Figura 52: Recorte de jornal sobre demolição do Monroe............................................
Fonte: MARANHÃO, 2000
Figura 53: Chafariz do Monroe.........................................................................................
Fonte: Guia da Arquitetura Eclética do Rio de Janeiro, 2000
Figura 54: Cinelândia hoje................................................................................................
Fonte: COHEN, 1998
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XII
Figura 55: Imóveis tombados ns Cinelândia..................................................................
Fonte: Elaborado pela autora sobre levantamento aerofotogramétrico, 1990.
Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro/ Instituto Pereira Passos. Com base
nos guias de bens tombados.
Figura 56: O bairro do Centro na cidade do Rio de Janeiro.........................................
Fonte:retirado do site do Instituto Pereira Passos: http://www.rio.rj.gov.br/ipp.
Em 10 de dezembro de 2006.
Figura 57: O bairro do Centro .........................................................................................
Fonte:retirado do site do Instituto Pereira Passos: http://www.rio.rj.gov.br/ipp.
Em 10 de dezembro de 2006.
Figura 58: Mapa do Conjunto Histórico da Cinelândia..................................................
Fonte: Elaborado pela autora sobre levantamento aerofotogramétrico, 1990.
Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro/ Instituto Pereira Passos.
Figura 59: Mapa de evolução urbana da área da Cinelândia........................................
Fonte: Elaborado pela autora sobre mapas do Rio de Janeiro e com base no
levantamento histórico e iconográfico.
Figura 60: Mapa de acesso .............................................................................................
Fonte: elaborado pela autora sobre mapa retirado do site do Instituto pereira
Passos: http://www.rio.rj.gov.br/ipp. Em 10 de dezembro de 2006.
Figura 61: Mapa do sistema metroviário da cidade do Rio de Janeiro com suas
estações ..........................................................................................................
Fonte: retirado do site do Metrô Rio.
http://www.metrorio.com.br/estacoes.htm, em 05 de janeiro de 2007.
Figura 6
2: Mapa do sistema ferroviário da cidade do Rio de Janeiro com suas
estações ..........................................................................................................
Fonte: retirado do site da Supervia. http://www.sipervia.com.br/estacoes.htm,
em 10 de jan
eiro de 2007.
Figura 63: Mapa de acesso e fluxo viário do Conjunto Histórico da Cinelândia e
entorno imediato.............................................................................................
Fonte: Elaborado pela autora sobre aerofotogramétrico 1990, com dados de
levantamento realizado em outubro de 2006.
Figura 64: Mapa de calçamento das pistas de rolamento do Conjunto Histórico da
Cinelândia e entorno imediato.......................................................................
Fonte: Elaborado pela autora sobre aerofotogramétrico 1990, com dados de
levantamento realizado em outubro de 2006.
Figura 65: Mapa de calçamento dos passeios e vias exclusivas de pedestres do
Conjunto Histórico da Cinelândia..................................................................
Fonte: Elaborado pela autora sobre aerofotogramétrico 1990, com dados de
levantamento realizado em outubro de 2006.
Figura 66: Foto dos mosaicos em pedra portuguesa dos passeios da Cinelândia ...
Fonte: arquivo da autora, retirado em janeiro de 2007.
Figura 67: Mapa de mobiliário urbano............................................................................
Fonte: Elaborado pela autora sobre aerofotogramétrico 1990, com dados de
levantamento realizado em outubro de 2006.
Figura 68: Foto de poste das vias...................................................................................
Fonte: Arquivo da autora. Retirado em janeiro de 2007.
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XIII
Figura 69: Foto de postes da Praça Floriano ................................................................
Fonte: Arquivo da autora. Retirado em janeiro de 2007.
Figura 70: Foto de poste antigo ......................................................................................
Fonte: Arquivo da autora. Retirado em janeiro de 2007.
Figura 71: Foto de poste de indicação turística.............................................................
Fonte: Arquivo da autora. Retirado em janeiro de 2007.
Figura 72: Foto de totem de informação do edifício .....................................................
Fonte: Arquivo da autora. Retirado em janeiro de 2007.
Figura 73: Foto do mobiliário urbano .............................................................................
Fonte: Arquivo da autora. Retirado em janeiro de 2007.
Figura 74: Fotos dos bustos da Praça Floriano.............................................................
Fonte: Arquivo da autora. Retirado em janeiro de 2007.
Figura 75: Mapa de vegetação do Conjunto Histórico da Cinelândia .........................
Fonte: Arquivo da autora. Retirado em janeiro de 2007.
Figura 76: Foto da vegetação na Av. Rio Branco ..........................................................
Fonte: Arquivo da autora. Retirado em janeiro de 2007.
Figura 77: Foto da vegetação da Praça Floriano...........................................................
Fonte: Arquivo da autora. Retirado em janeiro de 2007.
Figura 78: Bloqueio visual da Biblioteca Nacional.......................................................
Fonte: Arquivo da autora. Retirado em janeiro de 2007.
Figura 79: Bloqueio visual do Museu Nacional de Belas Artes ...................................
Fonte: Arquivo da autora. Retirado em janeiro de 2007.
Figura 80: Mapa de acesso e fluxo viário do Conjunto Histórico da Cinelândia e
entorno imediato ............................................................................................
Fonte: Elaborado pela autora sobre aerofotogramétrico 1990, com dados de
levantamento realizado em outubro de 2006.
Figura 81: O bairro do Centro, seus acessos e principais localizações......................
Fonte: elaborado pela autora sobre mapa retirado do site do Instituto pereira
Passos: http://www.rio.rj.gov.br/ipp. Em 10 de dezembro de 2006.
Figura 82: Mapa de identificação dos edifícios do Conjunto Histórico da
Cinelândia .......................................................................................................
Fonte: Elaborado pela autora sobre aerofotogramétrico 1990, com dados de
levantamento realizado em outubro de 2006.
Figura 83: Mapas área construída x área livre – do conjunto e do entorno imediato
Fonte: Elaborado pela autora sobre aerofotogramétrico 1990, com dados de
levantamento realizado em outubro de 2006.
Figura 84: Mapa de uso e ocupação do Conjunto Histórico da Cinelândia e
entorno imediato ............................................................................................
Fonte: Elaborado pela autora sobre aerofotogramétrico 1990, com dados de
levantamento realizado em outubro de 2006.
Figura 85: Mapa de uso e ocupação no térreo do Conjunto Histórico da Cinelândia
e entorno imediato..........................................................................................
Fonte: Elaborado pela autora sobre aerofotogramétrico 1990, com dados de
levantamento realizado em outubro de 2006.
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XIV
Figura 86: Mapa de gabarito do Conjunto Histórico da Cinelândia e entorno
imediato...........................................................................................................
Fonte: Elaborado pela autora sobre aerofotogramétrico 1990, com dados de
levantamento realizado em outubro de 2006.
Figura 87: Mapa de indicação dos perfis........................................................................
Fonte: Elaborado pela autora sobre aerofotogramétrico 1990, com dados de
levantamento realizado em outubro de 2006.
Figura 88: Croqui Perfil 1 .................................................................................................
Fonte: Elaborado pela autora com base no levantamento de gabarito.
Figura 89: Skyline do Perfil 1 ..........................................................................................
Fonte: Arquivo da autora. Retirado em janeiro de 2007.
Figura 90: Foto Perfil 1; arranha-céu. ...........................................................................
Fonte: Arquivo da autora. Retirado em janeiro de 2007.
Figura 91: Croqui Perfil 2 ................................................................................................
Fonte: Elaborado pela autora com base no levantamento de gabarito.
Figura 92: Vista Perfil 2 ...................................................................................................
Fonte: Arquivo da autora. Retirado em janeiro de 2007.
Figura 93: Croqui Perfil 3 .................................................................................................
Fonte: Elaborado pela autora com base no levantamento de gabarito.
Figura 94: Skyline perfil 3.................................................................................................
Fonte: Arquivo da autora. Retirado em janeiro de 2007.
Figura 95: Skyline perfil 3.................................................................................................
Fonte: Arquivo da autora. Retirado em janeiro de 2007.
Figura 96: Croqui Perfil 4...............................................................................................
Fonte: Elaborado pela autora com base no levantamento de gabarito.
Figura 97: Skyline perfil 4 .............................................................................................
Fonte: Arquivo da autora. Retirado em janeiro de 2007.
Figura 98: Mapa de unidade x diversidade ....................................................................
Fonte: Elaborado pela autora sobre aerofotogramétrico 1990, com dados de
levantamento realizado em outubro de 2006.
Figura 99: Foto Teatro Municipal ..................................................................................
Fonte: fotografado por Gean Jacques Limbourg. Retirado do site do Teatro
Municipal em janeiro de 2007.
Figura 100: Foto Museu Nacional de Belas Artes .........................................................
Fonte: retirado do site www.guiadasemana.com.br, em janeiro de 2007.
Figura 101:
Foto Hotel Serrador e o Cine Odeon ..........................................................
Fonte: arquivo da autora. Retirado em janeiro de 2007.
Figura 102: Foto Bar do Amarelinho .............................................................................
Fonte: retirado do site: www.amarelinhodacinelandia.com.br em janeiro de
2007.
Figura 103: Foto Bar do Amarelinho ..............................................................................
Fonte: retirado do site www.guiadasemana.com.br, em janeiro de 2007.
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XV
Figura 104: Manifestação política na Cinelândia ..........................................................
Fonte: Arquivo O Globo.
Figura 105: Manifestação cultural na Cinelândia ..........................................................
Fonte: retirado do site: http://expressen.se em 15 de janeiro de 2007
Figura 106:
O Cordão do Bola Preta – estandarte ........................................................
Fonte: arquivo Cordão do Bola Preta.
Figura 107: Campos Visuais percurso 1........................................................................
Fonte: Elaborado pela autora.
Figura 108: Fotos e croquis dos Campos Visuais percurso 1 .....................................
Fonte: Elaborado pela autora.
Figura 109: Campos Visuais percurso 2.........................................................................
Fonte: Elaborado pela autora.
Figura 110: Fotos e croquis dos Campos Visuais percurso 2 .....................................
Fonte: Elaborado pela autora.
Figura 111: Campos Visuais percurso 3.........................................................................
Fonte: Elaborado pela autora.
Figura 112: Fotos e croquis dos Campos Visuais percurso 3 .....................................
Fonte: Elaborado pela autora.
155
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Sumário
Introdução
............................................................................................................................................Pág. 01
Capítulo 1
Sítios Urbanos: um novo conceito de preservação
1.1. Sítios Urbanos como Monumentos..........................................................................Pág. 07
1.2. A Preservação de Sítios Urbanos no Brasil...........................................................Pág. 14
1.3. Sitios Urbanos no Estado do Rio de Janeiro.......................................................................
1.3.1 – O Panorama do Estado do Rio de Janeiro...............................................Pág. 27
1.3.2 – O Caso da Cidade do Rio de Janeiro.......................................................Pág. 29
Capítulo 2
Inventários: instrumentos de preservação
2.1. Os inventários como fonte de preservação........................................................... Pág. 36
2.2 Inventário da Cinelândia: metodologia para estudo do conjunto........................ Pág. 48
Capítulo 3
Inventário da Cinelândia: Levantamento Histórico
3.1. O Campo da Ajuda.................................................................................................... Pág. 59
3.2. A Praça Ferreira Viana ............................................................................................. Pág. 77
3.3. A Cinelândia.............................................................................................................. Pág. 95
3.4. Uma Praça de muitos nomes................................................................................. Pág. 106
Capítulo 4
Inventário da Cinelândia: Leitura da Paisagem
4.1. Leitura da Paisagem: conceito ..............................................................................Pág. 114
4.2. Estrutura Urbana....................................................................................................................
4.2.1 – Localização ............................................................................................Pág. 115
4.2.2 – Evolução Urbana.....................................................................................Pág. 117
4.2.3 – Acessibilidade e circulação......................................................................Pág. 120
4.2.4 – Calçamento .............................................................................................Pág. 125
4.2.5 – Mobiliário Urbano.....................................................................................Pág. 128
4.2.6 – Área Verde...............................................................................................Pág. 132
4.2.7 – Proteções ................................................................................................Pág. 134
4.2.8 – Potencialidades........................................................................................Pág. 137
4.3. Conjunto Arquitetônico ........................................................................................................
4.3.1 – Os edifícios ............................................................................................Pág. 138
4.3.2 – Área construída e área livre ................................................................... Pág. 139
4.3.3 – Uso e ocupação do solo .........................................................................Pág. 140
4.3.4 – Gabarito ..................................................................................................Pág. 143
4.3.5 – Perfil .......... .............................................................................................Pág. 144
4.3.6 – Unidade e diversidade ............................................................................Pág. 150
4.2.7 – Referências: pontos nodais, marcos e simbologias ................................Pág. 153
Capítulo 5
Inventário da Cinelândia: Percepções da Paisagem
5.1. Percepções da Paisagem: conceito ....................................................................................
5.1.1 – Percepções da paisagem: conceito........................................................Pág. 167
5.2. Percursos .......................................... ....................................................................................
5.2.1 – Percurso 1 ..............................................................................................Pág. 158
5.2.2 – Percurso 2 ..............................................................................................Pág. 161
5.2.3 – Percurso 3 ..............................................................................................Pág. 175
5.2.4 – Percepção geral dos percursos .............................................................Pág. 168
5.3. A Imagem da Paisagem ......................................................................................... Pág. 169
Considerações Finais
..........................................................................................................................................Pág. 176
Bibliografia
......................................................................................................................................... Pág. 181
Anexos
Anexo 1 – Levantamento dos sítios urbanos tombados federal, Estado e Município do
Rio de Janeiro ..................................................................................................................Pág. 187
Anexo 2 – Referências: fichas de inventário......................................................Pág. 193
Anexo 3 – Ficha Catalográfica do Inventário do Conjunto Urbano Histórico da
Cinelândia: Programa Monumenta ..................................................................................Pág. 196
Anexo 4 – Entrevistas ........................................................................................Pág. 203
Cinelândia: um conjunto histórico
Taisa Soares de Carvalho
Introdução
Quem ou o que intitula um edifício como monumento? O que é que lhe garante
excepcionalidade diante aos demais? O que precisa para se constituir um sítio
histórico?
O homem sempre necessitou manter vivas suas raízes, foi a forma pela qual ele
garante sua perpetuação através dos tempos, registrando seus passos, sua evolução,
através das construções, dos objetos, dos fazeres, de sua cultura, permitindo manter-
se gravado na história. O monumento liga-se então diretamente a essa necessidade, é
representante da memória e garante a identidade cultural de uma sociedade. Expressa
na arquitetura e se estende à cidade, porque uma não funciona sem a outra e é nesse
entendimento que focamos este estudo.
Para o homem é necessária a arquitetura, para a arquitetura o homem, para a cidade
a arquitetura, para a arquitetura a cidade, para o homem a cidade, para a cidade o
homem. Com isso o valor do bem cultural se amplia deixando de ser apenas focado no
monumento isolado, mas também o conjunto e as produções sociais, culturais,
intelectuais, políticas e econômicas que se dão neste ambiente pelo homem.
O patrimônio é reconhecido pelo valor que a sua sociedade lhe atribui, sendo assim,
os sítios urbanos podem ser entendidos tanto como um centro histórico, como um
bairro ou trecho de um bairro, uma cidade ou um aglomerado urbano. Responder
esses questionamentos e entender esses pensamentos era uma questão fundamental
para o desenvolver dessa dissertação.
A cidade do Rio de Janeiro foi por muito tempo a grande capital do país, sendo palco
dos principais acontecimentos histórico, político, social e econômico. Essa
sobreposição de períodos e de momentos vividos pelo homem se refletiu diretamente
sobre sua arquitetura e consequentemente sobre a cidade. A malha urbana foi se
modificando, arquiteturas foram substituídas, somadas, as relações espaciais
mudavam e a cidade era o espelho dessas transformações vividas pela sociedade,
marcando nela a sua história e trajetória.
1
INTRODUÇÃO
Nessa sobreposição e mudanças o bairro do Centro da cidade acabou por apresentar
centralidades com características peculiares, se diferenciando dos demais bairros da
cidade e dos demais sítios urbanos do país. Sua malha recortada pelos diferentes
momentos carrega não só uma história, mas diferentes espaços de tempo, diferentes
momentos e se faz necessário entender que a cidade não pode ser vista como um
objeto estático, ela é um organismo vivo em constante mutação e suas alterações são
capazes de dizer muito para a memória e a identidade de sua nação.
A diversidade encontrada no Centro não diminui o seu valor enquanto conjunto,
mesmo que este não se configure num bairro coeso. Suas centralidades são ricas em
informações, em história e em bens culturais que devem ser preservados. E destes
muitos “centros” que compõem o Centro da cidade do Rio de Janeiro destacamos a
Cinelândia.
A área da Cinelândia foi sendo explorada desde o período colonial, da descida do
Morro do Castelo, e que onde, anos mais tarde vai ser palco das mais profundas
transformações urbanas vividas pela cidade, a reforma trazida pelo período
republicano. Daí por diante, outros momentos se sobreporam, muitas alterações foram
realizadas para atender novas aspirações que a sociedade almejava.
A Cinelândia é a representação que em um conjunto, diferentes momentos podem
coexistir e viver em harmonia, pois são frutos das necessidades de sua sociedade,
que guarda vestígios de momentos importantes para a sua nação, se configurando
como um forte pólo de sua identidade. É na diversidade que está a excepcionalidade
do aqui nomea-se como o Conjunto Histórico da Cinelândia, como a grande marca
urbana da República, nos seus monumentos ecléticos, onde posteriormente também
foram somados os edifícios dos cinematógrafos e que atualmente ainda teima em
resistir ao avanço dos arranha-céus envidraçados que se espalham pela cidade.
A questão aqui seria entender como esse sítio urbano, tão diferente poderia ser visto e
analisado enquanto um conjunto. O objetivo primeiro é compreender a forma pela qual
a paisagem construída da Cinelândia contribuiu e contribui para a formação da
identidade local em meio a profundas transformações urbanas e sociais ocorridas nos
últimos séculos.
2
Cinelândia: um conjunto histórico
Taisa Soares de Carvalho
Essa dissertação inicia-se na busca pelas bases teóricas do pensamento de
preservação. No capítulo I, procurou-se o respaldo em alguns dos principais teóricos
sobre preservação, também foi realizada uma análise de evolução destes
pensamentos através das cartas patrimoniais, que são reflexões desses intelectuais;
focando sempre no sentido de buscar o entendimento do valor do bem cultural, isolado
ao conjunto, e no quanto isso tende a engrandecer sua salvaguarda.
Segue-se ainda neste mesmo capítulo o estudo das preservações dos sítios urbanos
no Brasil, de como se deram essas transformações nos pensamentos sobre o
patrimônio, do surgimento dos primeiros decretos para a preservação de sítios, à
criação de órgãos de gestão do patrimônio cultural e suas ações sobre o tema. Da
descentralização destes pensamentos e na criação de órgãos específicos, com o
mesmo objetivo, no país, no Estado e na Cidade do Rio de Janeiro.
Através do panorama compreendido no plano federal, estadual e municipal é possível
perceber os valores que são atribuídos aos bens culturais e como a sua salvaguarda é
trabalhada pelos órgãos, pois são estes que representam na gestão as necessidades
do grupo social que representam. A idéia de preservação destes conjuntos como
forma de manter a memória coletiva se fortalece nos decretos, nas leis e demais
ações.
O capítulo II tratará justamente de uma dessas ações para a preservação, os
inventários, instrumentos fundamentais que servem como base para os estudos sobre
os bens e para que se sucedam as formas preservacionistas mais adequadas. Neste
capítulo, traça-se a evolução deste instrumento, de um documento quantitativo a um
registro qualitativo, uma fonte de conhecimento inacabável sobre o bem cultural.
Também serão demonstrados alguns dos mais significativos inventários realizados no
Brasil, sua aplicação, sua amplitude, entendendo seus objetivos, analisando sua
abrangência onde através destes referenciais, mais adiante, fossem tomados como
base para uma metodologia de estudo para o Conjunto Histórico da Cinelândia. Ainda
nesse capítulo se apresentará o que o inventário da Cinelândia pretende focar, alguns
objetivos e justificativas que cada etapa se faz necessária, quais serão os pontos
abordados para a geração do conhecimento sobre a área para garantir meios para a
sua gestão integrada, entendendo suas especificidades, necessidades e
3
INTRODUÇÃO
potencialidades, no quanto a arquitetura e o urbano se integram e interagem e assim
devem seguir com o único propósito da preservação.
O inventário do Conjunto Histórico da Cinelândia tem como objetivo, dentre os muito
citados, direcionar o estudo da unidade histórico-cultural para propostas de
preservação do conjunto e salvaguardar o objeto de futuras intervenções provocadas
pelo processo evolutivo da cidade, procurando garantir sua permanência na
contemporaneidade sem impedir seu crescimento necessário. Visa valorizar o centro
histórico como ponto turístico e área de grande potencial para o desenvolvimento da
cidade, capaz de receber novos equipamentos urbanos, estimulando o contato da
população com a paisagem cultural.
Daí por diante os capítulos que se seguem são o estudo de caso que aqui se propôs.
Iniciando no levantamento histórico, o capítulo III tem como objetivo trazer o
conhecimento sobre a área, desde seus tempos mais remotos, compreendendo sua
inserção no bairro, na cidade e no país, pois é através dessa história que encontramos
os pontos cruciais para a identidade da nação e da necessidade de sua preservação.
O levantamento histórico completo da formação urbana do espaço da Cinelândia
responde a uma série de questões quanto aos seus valores adquiridos e demonstra a
importância da sua existência em relação ao contexto urbano da cidade, formação da
nação e da sociedade local, e da história como um todo.
O capítulo IV tratará a leitura da paisagem; através da realização de levantamentos
físicos do conjunto e da análise da configuração urbana para o entendimento de como
o patrimônio cultural está inserida na estrutura da cidade, como ela se articula, se
relaciona e se interliga, identificando os pólos de animação urbana, os referenciais e
culturais e afetivos. E se o inventário é uma fonte inesgotável de conhecimento, este
levantamento também servirá de base de estudos futuros, como um referencial
comparativo da evolução que a área poderá vir a sofrer com o tempo.
Por último, o capítulo V verificará a percepção da paisagem, pois tão importante
quanto às questões formais e materiais, entender como essa sociedade percebe e
apreende o ambiente é fundamental para a sua preservação. É através dessa leitura
que se poderá conhecer o que a população identifica como marco, quais os pontos
importantes a serem trabalhados, devendo essas considerações interferir diretamente
nas ações de preservação.
4
Cinelândia: um conjunto histórico
Taisa Soares de Carvalho
5
O inventário do Conjunto Histórico da Cinelândia buscou gerar conhecimento sobre a
área, entender que um conjunto não precisa ser visto como um monte de peças iguais,
estáticas no tempo, é possível encontrar excepcionalidade em um ambiente de
diferentes momentos, diferentes arquiteturas, pois o seu valor está além da produção
dos edifícios, mas das relações que ali se desenvolvem. Gerar este conhecimento
sobre a Cinelândia é estar garantindo meios para as ações de gestão integradas, tanto
no que diz respeito ao conjunto arquitetônico como respeitando o ambiente urbano e a
sua sociedade.
Além disso, estimula o contato da população com o conjunto histórico, funcionando
como forma de preservação, faz do comprometimento populacional e de sua
participação uma forma de incrementar a qualidade de vida.
Este trabalho pretende ser a continuação dos estudos sobre sítios e conjuntos
históricos urbanos, na busca pela continuidade desses trabalhos que a cada dia
tendem a enfrentar novas necessidades, novas expectativas procurando sempre em
desenvolver melhor entendimento sobre o patrimônio, agindo diretamente na
qualidade dos estudos a serem realizados. Assim como a cidade não é estática, os
estudos sobre ela não podem ser estagnados, devem seguir a evolução dos
pensamentos da sociedade e de seus anseios para a garantia da memória e da
identidade da nação.
Cinelândia: um conjunto histórico
Taisa Soares de Carvalho
Sítios Urbanos: um novo conceito de preservação
1
1.1 – Sítios Urbanos como Monumentos
A presença do monumento “assegura, acalma (...), ele constitui uma garantia das
origens e dissipa a inquietação gerada pela incerteza dos começos” (CHOAY, 2001,
p.18). O monumento permite vivenciar o passado, entender a sociedade, sua história
evolutiva, de cultura, ocupação, política e economia.
A palavra monumento origina do latim, monumentum, significa lembrar, é aquilo que
traz à lembrança algo ou alguma coisa. Refere-se à memória, à capacidade de se
reter idéias, sensações e impressões que foram vivenciadas anteriormente, uma
recordação guardada para a posterioridade.
O monumento estimula a memória da sociedade historicamente e contribui garantindo
sua identidade cultural, influenciando na sua qualidade de vida futura. A autora Choay
faz um recorte nas palavras de Ruskin retratando o valor dado à arquitetura enquanto
monumento histórico a ser valorizado: “Nós podemos viver sem [a arquitetura], adorar
nosso Deus sem ela, mas sem ela não podemos nos lembrar” (Ibidem, p.139).
Para a construção de um monumento, enquanto bem edificado, é necessária uma
arquitetura, munida de um estilo, uma tipologia, e é através desse estilo
contextualizado que surge a originalidade, e dela se constrói a cidade. O monumento
então se constitui num elemento historicamente determinado.
A arquitetura é o meio pelo qual se dá essa expressão, é a técnica, que representadas
sucessivamente se expande e se configura na cidade. Ou seja, a cidade é a
continuidade da arquitetura, seu prolongamento, é através da arquitetura que ela se
materializa, “como um grande artefato arquitetônico”. (ROSSI, 2001, p. 189).
7
Capítulo I
Sítios Urbanos: um novo conceito de preservação
“(...) precisamente por ser a cidade um fato
eminentemente coletivo, ela se define e é naquelas
obras de natureza essencialmente coletiva e que,
embora nascendo como meios para constituir a
cidade, tais obras logo se tornam um objetivo – e
têm esse objetivo em seu ser e em sua beleza. E
que tal beleza reside ao mesmo tempo nas leis da
arquitetura e na opção pela qual a coletividade quer
essas obras”.
(ROSSI, op.cit., p.188)
Mas a cidade também não pode ser entendida apenas pelo elemento estático da
construção e sua paisagem natural, devemos levar em consideração seus signos,
seus acontecimentos. O homem ao tomar posse de um território, ocupa não somente
o espaço de terra, nele constrói sua sociedade, constrói sua cidade, casas e seus
monumentos, delimita os espaços, edifica também seu modo de vida, constrói sua
cultura, exprime seus saberes, constrói sua identidade e deixa registrada a sua
história, sua memória guardada através dos tempos.
Com essas definições procuramos então entender o que seria patrimônio. “Tudo é
patrimônio” (MOTTA, 1998, p.133); tudo aquilo que é produzido pelo homem ou
reapropriado por ele: objetos, o ambiente natural que o envolve, o ambiente edificado
por ele, bens móveis, imóveis, materiais ou imateriais, é tudo aquilo que traduz o valor
de uma sociedade, que lhe remete à sua memória e exprime a sua identidade, seus
caracteres próprios e exclusivos, que são sua excepcionalidade diante outras
sociedades. O patrimônio cultural é capaz de proporcionar ao homem o conhecimento
de si mesmo e do ambiente que o envolve.
“A idéia de posse coletiva como parte do exercício da
cidadania inspirou a utilização do termo patrimônio para
designar o conjunto de bens de valor cultural que
passaram a ser propriedade da nação, ou seja, do
conjunto de todos os cidadãos”.
(FONSECA, 1997, p.59)
O patrimônio que inicialmente era visto por sua materialidade, privilegiava o
monumento arquitetônico e com o passar do tempo tem seu conceito ampliado,
passando a abranger as diferentes representações culturais, portador do modo de vida
social, suporte da memória de seu povo, de grande importância para a sua identidade,
inserido na dinâmica urbana.
8
Cinelândia: um conjunto histórico
Taisa Soares de Carvalho
A noção de monumento é pensada por Le Goff na sua relação com a noção de
documento, considerado “a forma científica da memória coletiva” (apud FONSECA,
1997, p.51). Documento enquanto salvaguarda de um registro histórico, cultural,
arquitetônico e urbano; o monumento está vinculado a mais do que uma simples
construção.
A evolução técnica e científica dos conhecimentos acumulados, seja em qualquer
forma de expressão, e de certa forma preservados, são documentos que retratam a
história da humanidade. O patrimônio é então reconhecido pelo seu valor, o valor que
lhe é atribuído por aquela sociedade. Sendo assim o conceito de patrimônio não pode
ficar fadado ao edificado, às construções artísticas e históricas. É “preciso olhar a
cidade não mais como uma obra de arte composta pelo correr de fachadas e pelos
telhados e sim como objeto urbano” (MOTTA, op.cit., p.134). Todo processo de
ocupação do espaço deve ser valorizado e com ele devem ser resgatados os valores
de relações sociais e culturais.
Com isso, incluímos o monumento arquitetônico edificado dentro do contexto social e
cultural em que foi gerado, enriquecido pelos valores simbólicos que foram
acrescentados ao longo de sua existência. Em meio a tantos valores atribuídos aos
monumentos – valores históricos, artísticos, etnográficos, etc. – o valor nacional
independe destes; é o valor pelo qual a sociedade se apropria do patrimônio e o elege
como identidade, construidor de sua nação. A mudança no olhar sobre o patrimônio
cultural, passa a enfocar o patrimônio histórico construído como parte da herança
cultural, desta forma, passa a não se restringir a apenas aos edifícios isolados,
compreendendo, contudo o ambiente edificado, tecido urbano, paisagem natural e a
agenciada pelo homem, as relações sociais, tempo, memória, identidade e história.
Os chamados “sítios urbanos” podem ser constituídos por centros históricos, bairros,
cidades ou aglomerados urbanos, sendo eles de grande valia ao patrimônio nacional,
regional e local, pois abrangem tanto os valores arqueológicos, arquitetônicos,
urbanísticos e paisagísticos quanto os valores imateriais que nele se constituíram,
suas relações e simbologias; porém esta definição será discutida mais adiante. O
primeiro a incluir os conjuntos neste diálogo, segundo Choay, foi Ruskin, que amplia o
conceito de monumento histórico, deixando de valorizar apenas os edifícios isolados,
incorporando também sua malha urbana e seu entorno, incluindo as edificações mais
humildes e a sua continuidade através do tempo. Rossi também diz da importância de
9
Capítulo I
Sítios Urbanos: um novo conceito de preservação
unir o edifício monumental às construções menos significativas do ponto de vista
estético, mas de valor quando falamos do conjunto urbano:
“Também estou disposto a admitir que reconhecer
apenas os monumentos uma afetiva
intencionalidade estética, a ponto de colocá-los
como elementos fixos da estrutura urbana, pode ser
uma simplificação. É indubitável que, admitindo-se
precisamente a hipótese da cidade como artefato e
como obra de arte na sua totalidade, se possa
encontrar uma legitimidade de expressão numa
residência, ou, em todo caso, numa obra menor,
igual à de um monumento”.
(ROSSI, 2001, p.56)
É importante manter o compromisso cultural e social, respeitando e valorizando os
exemplares históricos de uma produção arquitetônica e urbana, porém não se pode
deixar de lado a continuidade dessa formação cultural e social através dos tempos. A
conservação do patrimônio também não deve negar à modernidade, deve estar
inserida no processo evolutivo da cidade. “Arquiteturas e espaços não devem ser
fixados por uma idéia de conservação intransigente, mas sim manter a sua dinâmica”
(CHOAY, op.cit., p.16). A cidade que hoje se apresenta não é mais a cidade original, é
comum a sobreposição delas, mudando sua fisionomia e suas referências. “A forma da
cidade é sempre a forma de um tempo da cidade, e existem muitos tempos na forma
da cidade.” (Ibidem, p.57)
Neste contexto de preservação está também o arquiteto e historiador Giovannoni
1
,
para ele a proteção do patrimônio não deve visar exclusivamente os edifícios
isoladamente ou a malha urbana, mas também as relações geradoras destes; seu
valor está além do histórico ou estético, mas inclui-se o social e por este motivo não se
deve submetê-lo a uma proteção estática. A malha urbana e as edificações mais
pitorescas estão ligadas aos grandes monumentos, como um único organismo. Sem
isso, o monumento não tem contexto, não está inserido na “arquitetura coletiva
propriamente urbana. É mais grave alterar este conjunto do que estragar um
monumento” (GIOVANNONI, p.11).
1
Gustavo Giovannoni (1873-1947), italiano, engenheiro, arquiteto, historiador da arte e restaurador.
10
Cinelândia: um conjunto histórico
Taisa Soares de Carvalho
Analisando as Cartas Patrimoniais podemos verificar um aumento da preocupação
pela preservação dos conjuntos. A Carta de Atenas, de outubro de 1931,
recomendava respeitar o entorno e perspectivas de certos conjuntos unicamente como
uma forma de valorização dos monumentos edificados. Em 1964, a Carta de Veneza é
a primeira a citar a importância da preservação dos sítios urbanos, porém não se
aprofunda no assunto, resumindo-se a um único artigo:
“Art. 14. Os sítios monumentais devem ser objeto de
cuidados especiais que visem salvaguardar sua
integridade e assegurar seu saneamento, sua
manutenção e valorização. Os trabalhos de
conservação e restauração que neles se efetuarem
devem inspirar-se nos princípios enunciados nos
artigos precedentes”.
(CURY, 2000, p.94)
Ao mesmo tempo em que a Carta de Veneza torna evidente importância na
salvaguarda do sítio urbano, ela o iguala ao monumento isolado quanto à sua
preservação e conservação, não o considera como um organismo detentor de muito
além de edifícios construídos. Já com as Normas de Quito, de 1967, a idéia do espaço
é inseparável do conceito do monumento, e sendo assim, sua tutela deve ser
estendida ao contexto urbano. Embora a Norma entenda o entorno como forma
compositiva desse monumento, considerando que a área onde um monumento de
valor é implantado passa a ser parte dele quando valorizado, e deve seguir as ações
de proteção e revalorização, ainda não entende o sítio urbano por seu valor enquanto
conjunto único, como também acontece na Carta de Veneza. Até este momento, o
conjunto é valorizado enquanto entorno para a preservação do monumento isolado.
Valorização essa que só é reconhecida em 1972 com a Carta de Restauro, quando
passa a se falar de “conjuntos de edifícios de interesse monumental, histórico ou
ambiental, (...), particularmente os centros históricos” (Ibidem, p.148) e traça
instruções para a sua tutela.
“Para efeito de identificar os centros históricos, levam-se
em consideração não apenas os antigos centros
urbanos, assim tradicionalmente entendidos, como
também de um modo geral, todos os assentamentos
humanos cujas estruturas unitárias ou fragmentárias,
ainda que se tenham transformado ao longo do tempo,
se hajam constituído no passado ou, entre muitos, os
11
Capítulo I
Sítios Urbanos: um novo conceito de preservação
que eventualmente tenham adquirido um valor especial
como testemunho histórico ou por características
urbanísticas ou arquitetônicas particulares”.
(CURY, op.cit., p.166)
Em 1976, a Conferência da Unesco em Nairóbi publica a Recomendação relativa à
proteção dos conjuntos históricos e tradicionais e ao seu papel na vida
contemporânea, trazendo, a nível internacional, não somente o interesse pelos
conjuntos antigos, mas focando também a sua integração à vida atual. A
Recomendação considera que os conjuntos históricos “constituem a presença viva do
passado que lhes deu forma, asseguram ao quadro da vida a variedade necessária
para responder à diversidade da sociedade”, sendo os “testemunhos mais intangíveis
da riqueza e da diversidade das criações culturais, religiosas e sociais da humanidade
e que sua salvaguarda e integração na vida contemporânea são elementos
fundamentais no planejamento das áreas urbanas e no ordenamento do espaço” (Ibid.,
p.217).
Ressalta ainda que numa época em que vivemos o crescimento universal e
globalizado das técnicas construtivas e das formas arquitetônicas, o risco de
uniformização da ocupação humana, faz da preservação dos conjuntos históricos
como contribuição da “manutenção e do desenvolvimento dos valores culturais e
sociais peculiares de cada nação e para o enriquecimento arquitetônico do patrimônio
cultural mundial” (Ibid, p.221). A Recomendação de Nairóbi pode ser considerada,
conforme a autora Choay mesmo relata, como sendo o tratado mais completo sobre a
preservação dos sítios urbanos por não tratar os conjuntos como um museu, preso ao
tempo passado, estático, e relata os perigos inerentes a esta política.
“Tendo se tornado patrimônios históricos de pleno
direito, os centros e os bairros históricos antigos
oferecem atualmente uma imagem privilegiada,
sintética e de certa forma magnificada, das
dificuldades e contradições com as quais se
confrontam a valorização do patrimônio arquitetônico
em geral, e em especial sua reutilização ou, em
outras palavras, sua integração na vida
contemporânea”.
(CHOAY, op.cit., p.222)
12
Cinelândia: um conjunto histórico
Taisa Soares de Carvalho
À medida que se cresce o interesse em preservação dos conjuntos, cresce também a
problemática do tema, e tão importante quanto a sua salvaguarda, está a sua
integração no ambiente urbano e na vida social que nela se desenvolve na
contemporaneidade, para que seus aspectos peculiares permaneçam presentes na
vida da cidade. Reunindo-se em 1986 em Washington, o Conselho Internacional de
Monumentos e Sítios – ICOMOS – publica a Carta de Washington, carta internacional
para a salvaguarda das cidades históricas, que inclui as grandes e pequenas cidades,
bem como centros e bairros históricos, seu entorno natural ou construído, integrando
os bens materiais e espirituais que expressem a imagem deste conjunto, incluindo as
diversas vocações adquiridas ao longo de sua história.
“Ao complementar a Carta Internacional sobre a
Conservação e a Restauração de Monumentos e Sítios
(Veneza, 1964), este novo texto define os princípios e os
objetivos, os métodos e os instrumentos de ação
apropriados a salvaguardar a qualidade das cidades
históricas, a favorecer a harmonia da vida individual e
social e a perpetuar o conjunto de bens que, mesmo
modestos, constituem a memória da humanidade”.
(CURY, op.cit., p.282)
A cidade é entendida então como um organismo vivo, dinâmico, acumulador de
culturas que se apropriam de seu passado e que vão se sucedendo traçando a história
da sociedade, construidor da identidade nacional.
Em 1987, ocorre em Petrópolis/ RJ, o 1° Seminário Brasileiro para Preservação e
Revitalização de Centros Históricos, que resulta na Carta de Petrópolis. Por esta Carta
o chamado sítio histórico urbano é o “espaço que concentra testemunhos do fazer
cultural da cidade em suas diversas manifestações”, sendo “parte integrante de um
contexto amplo que comporta as paisagens natural e construída, assim como a
vivência de seus habitantes num espaço de valores produzidos no passado e no
presente, em processo dinâmico de transformação, devendo os novos espaços
urbanos ser entendidos na sua dimensão de testemunhos ambientais em formação”
(Ibidem,p.285).
O conceito de sítios urbanos históricos, aos poucos, vai se ampliando, se
desenvolvendo e tomando importância. A valorização das cidades enquanto
13
Capítulo I
Sítios Urbanos: um novo conceito de preservação
patrimônio aumenta, tornando-se mais democrática, possibilitando a sua preservação
e o conhecimento da noção de patrimônio.
1.2 – A preservação de sítios urbanos no Brasil
No Brasil, o patrimônio toma importância política a partir da década de 20 com a falta
de meios para a sua proteção e com as denúncias de abandono das cidades
históricas; o Estado passariam a ser chamado para responder pelas depredações
desses considerados bens nacionais.
Em meio a profundas transformações políticas e culturais provocadas pelo Movimento
Moderno
2
e a instauração do Estado Novo (1937), urge então a necessidade de se
construir um pensamento sobre o patrimônio. O primeiro órgão federal nesse sentido
foi criado em 1934, a Inspetoria dos Monumentos Nacionais, por Gustavo Barroso, no
Museu Histórico Nacional, que permaneceu atuante até a criação do Serviço de
Patrimônio Histórico e Artístico Nacional/ SPHAN
3
em 1937, sob a direção de Rodrigo
Mello Franco de Andrade.
Se por um lado, o movimento modernista procurava romper com as tradições, não
apenas no sentido estético, mas com toda tradição cultural dos produtores e
consumidores de literatura e arte e de toda a sociedade; por outro, os modernistas se
envolviam com a questão do nacionalismo.
É como se o ingresso na ordem mundial, portanto, na vida
moderna, ao exigir da produção cultural feita no Brasil uma
contribuição própria, nacional, exigisse ao mesmo tempo em
que esta explicitasse na sua visão do passado relações de
cumplicidade que viessem definir para o caso brasileiro uma
forma específica de modernidade.”
(MORAES, Eduardo Jardim de, apud FONSECA, 1997, p. 96)
2
Semana de Arte Moderna em 1922.
3
O SPHAN começou a funcionar experimentalmente em 1936, somente em 13 de janeiro de 1937 passa
a funcionar oficialmente. Em 1946 passa a denominar-se Departamento de Patrimônio Histórico e
Artístico Nacional/ DPHAN, passando ao título de Instituto, IPHAN, em 1970.
14
Cinelândia: um conjunto histórico
Taisa Soares de Carvalho
Os mesmos intelectuais que rompiam com o passado na busca por uma nova
linguagem estética, buscavam nele a continuidade para a construção do conceito de
uma tradição nacional. Nesse pensamento, Minas Gerais se tornou de grande
importância para o Movimento Modernista, que fora considerada por eles como o
berço da nação brasileira em meio ao barroco e a arquitetura e arte colonial, sendo de
grande importância a sua preservação para a construção da identidade e da tradição
nacional que procuravam.
É dentro do contexto de preservação desta identidade, expressa nesse patrimônio,
que surgem normas de ação jurídica para dar respaldo institucional às ações
empreendidas no sentido de salvaguarda a memória nacional.
Nesse momento, no que se refere à construção da nação, o
barroco é emblemático, é percebido como a primeira
manifestação cultural tipicamente brasileira, possuidor,
portanto, da aura da origem da cultura brasileira, ou seja, da
nação. Daí o valor totêmico que se constrói, sendo
identificado, sistematicamente, como representação de
‘autêntico’, de ‘estilo puro’”.
(SANTOS, Marisa Veloso M., apud. FONSECA, op. cit., p. 99)
Sendo assim, em 1933 foi promulgada a primeira lei patrimonial que se tem notícia no
Brasil, elegendo a cidade de Ouro Preto à categoria de monumento nacional pelo
Decreto n° 22.928. Com esta lei, estava proibida a realização de mudanças na
arquitetura civil e religiosa da cidade, todas as construções novas deveriam seguir as
características da arquitetura colonial da cidade, também foi realizado um intenso
programa de recuperação dos monumentos: igrejas, prédios oficiais e chafarizes,
retirando destes as modificações que lhes foram feitas durante os séculos XIX e XX e
que os descaracterizavam.
A partir daí os sítios urbanos passariam a ser entendidos também como
representantes do patrimônio cultural a ser preservado e desencadearia o tombamento
de diversos conjuntos em função do seu valor cultural.
15
Capítulo I
Sítios Urbanos: um novo conceito de preservação
Fig 1. Ouro Preto. Fonte: foto da autora, 2003.
A Constituição Federal de 1934 introduz a prerrogativa do Poder Público à proteção
dos bens culturais do território brasileiro, porém somente com o Decreto-lei 25, de 30
de novembro de 1937, do recém criado SPHAN é que surge a primeira
regulamentação de proteção dos monumentos no Brasil, onde são determinados os
valores específicos a que o patrimônio vai estar caracterizado, todavia unifica todas
essas características num único valor, o de bem nacional.
Art.1° - Constitui o patrimônio histórico e artístico nacional o
conjunto dos bens móveis e imóveis existentes no País e cuja
conservação seja de interesse público, quer por vinculação a
fatos memoráveis da História do Brasil, quer por seu
excepcional valor arqueológico ou etnográfico, bibliográfico ou
artístico”.
Decreto-lei 25
4
Com esta nova visão, a valorização das cidades enquanto patrimônio se amplia, torna-
se mais democrática, aumentando as possibilidades de preservação e o conhecimento
da noção do patrimônio garantida pela Constituição Federal de 1988. Nesta, segundo
o Art. 180, parágrafo único, a proteção dos bens culturais passa a não ser apenas uma
prerrogativa, mas um dever do Poder Público.
4
In www.iphan.gov.br
16
Cinelândia: um conjunto histórico
Taisa Soares de Carvalho
Ela considera como sendo patrimônio cultural “os bens de natureza material e
imaterial, tomados individualmente ou em conjunto, portadores de referência à
identidade, á ação, à memória dos diferentes grupos formadores da sociedade
brasileira”
5
, incluindo: as formas de expressão, os modos de criar, fazer e viver, as
criações científicas e artísticas e tecnológicas, as obras, objetos, documentos,
edificações e demais espaços destinados às manifestações artístico-culturais, os
conjuntos urbanos e sítios de valor histórico, paisagístico, artístico, arqueológico,
paleontológico, ecológico e científico.
A Constituição eleva o valor não só do monumento isolado, não apenas um objeto
único, mas passa a considerar o conjunto, a cidade, englobando o etéreo, seu
imaterial. Sendo assim, volto-me então as palavras de Lia Motta: “tudo é patrimônio”
(MOTTA, op.cit., p.133), e sua preservação mantém a memória daquela sociedade
viva, construindo sua identidade.
O tombamento é a maneira pela qual o Poder Público reconhece, através de atos
administrativos, e após estudos técnicos, quais bens, móveis ou imóveis, tem valor
cultural e serão de interesse preservação, e de que forma se dará esta proteção;
impondo limitações a direitos individuais em função do interesse coletivo da sociedade
que o bem cultural representa. É pelo tombamento que se dá a principal forma de
preservação do bem cultural, uma proteção legal que fica sob responsabilidade do
órgão que o efetua.
Segundo o Decreto-Lei 25, o IPHAN possuirá quatro tipos diferentes de tombamento,
podendo o bem estar inscrito em apenas um deles ou em mais de um:
no Livro do Tombo Arqueológico, Etnográfico e Paisagístico – os bens
pertencentes às categorias de arte arqueológica, etnográfica, ameríndia e
popular;
no Livro do Tombo das Belas Artes – os bens de arte erudita nacional ou
estrangeira;
no Livro do Tombo das Artes Aplicadas – as obras incluídas nas artes
aplicadas, nacionais ou estrangeiras;
5
Constituição Federal - Art. 216
17
Capítulo I
Sítios Urbanos: um novo conceito de preservação
no Livro do Tombo Histórico – dos bens de interesse histórico e as obras de
arte histórica.
A importância desses bens a serem preservados tem importância não apenas a nível
federal, seus tombamentos abrangem as diferentes categorias que o conjunto urbano
pode vir a exprimir, podendo ser também de nível estadual ou municipal, chegando
inclusive a de interesse mundial. Os bens preservados, sejam em quaisquer
instâncias, ficam sujeitas à vigilância do órgão que o compete preservar.
Para o Instituto de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, os “sítios urbanos são
bens patrimoniais autônomos que demandam instrumentos próprios de análise e
critérios de intervenção adequados a essa especificidade. Estes bens não são obras
de arte prontas e concluídas num determinado período, transpondo-lhe pura e
simplesmente os procedimentos de restauração de edifícios, possuem natureza
dinâmica e mutante típica das áreas urbanas.”
Em setembro de 2003, o IPHAN, publica o “Plano de Preservação de Sítio Histórico
Urbano-Termo Geral de Referência” no intuito de orientar o estudo e as ações de
preservação dos sítios urbanos, ao que se refere a implementação, acompanhamento
e à avaliação, contribuindo para a preservação destes bens culturais e para a
consolidação de uma cultura urbanística de patrimônio.
O Plano de Preservação busca um equilíbrio entre sociedade, economia e valor
cultural dos sítios tombados. Tem como objetivo, entre outros, “instituir um regime de
disciplina urbanística e edilícia compatível com o regime de proteção dos sítios
históricos urbanos” (IPHAN, 2003, p.08), tornando mais compreensíveis os princípios e
normas das ações de preservação, criando novos padrões de abordagem pautados no
planejamento urbanos, levando em consideração os aspectos econômicos, sociais,
ambientais, culturais, políticos e institucionais de cada caso.
O Plano de Preservação fundamenta-se no reconhecimento
do valor patrimonial do sítio em sua expressão objetiva,
relacionada ao ambiente urbano que o constitui; no
entendimento da preservação como fenômeno/ processo
inerente ao chamado desenvolvimento urbano.
Fundamenta-se ainda no reconhecimento da necessidade de
uma abordagem urbanística da preservação do sítio histórico
urbano que contemple os seus aspectos patrimoniais e os
18
Cinelândia: um conjunto histórico
Taisa Soares de Carvalho
referentes às dinâmicas social, econômica, fundiária e
ambiental nas quais está inserido”.
Plano de Preservação
6
O Plano considera as diferentes realidades em que estão inseridas os sítios urbanos e
por este motivo, pode ser desenvolvido e aplicado em etapas de acordo com os
objetivos a serem atendidos, podendo até mesmo não ser aplicado por completo.
Baseia-se em três dimensões: normativa – regulamenta a ordenação urbana e de
preservação ao sítio urbano; estratégico- operacional – programa de atuação no sítio
urbano; e avaliadora – sistema de avaliação do Plano de Preservação.
A dimensão normativa proposta pelo Plano é a etapa básica e se torna necessária
para a aplicação das demais dimensões, consta de: levantamento de informações
sobre o sítio, diagnóstico da área avaliando as carências na infra-estrutura e serviços,
produção de regulamentos de zoneamento urbano, de normas e critérios de
intervenção urbana, elaboração de plano de massas para a definição de volumes e
gabaritos.
O estratégico-operacional decorre da etapa normativa, definindo as atribuições e
responsabilidades dos órgãos de gestão. É o programa de ações e intervenções a
serem realizadas na área constando de mapeamento das ações a serem
implementadas, com definição da estratégia de atuação, cronograma, estruturação e
detalhamento das ações a serem implementadas e elaboração de estudos de impacto
no entorno. E a terceira parte, a avaliadora, constitui-se no monitoramento e análise
para o acompanhamento das condições da dinâmica urbana da área, através da
confecção de relatórios periódicos.
6
In www.iphan.gov.br
19
Capítulo I
Sítios Urbanos: um novo conceito de preservação
Fig. 2. Mapa dos conjuntos urbanos de tombamento federal no Brasil por Região e
Estado. Fonte: Elaborado pela autora sobre mapa do IBGE e dados colhidos no Bens Móveis
e Imóveis Inscritos nos Livros do Tombo do IPHAN, 1994.
Tabela 1. Quantitativo de conjuntos
urbanos de tombamento federal por
região e Estados
Tabela 2. Porcentagem de conjuntos
urbanos de tombamento federal por região
20
Cinelândia: um conjunto histórico
Taisa Soares de Carvalho
O IPHAN tem tombado em todo o território nacional 62 conjuntos urbanos
7
, alguns são
tombados pelo seu conjunto arquitetônico, e/ou conjunto paisagístico, e/ou urbanos;
sejam eles representantes de uma cidade, parcela de uma cidade, uma rua ou um
pequeno conjunto de edificações a que se quer preservar. Como podemos observar a
região Nordeste, assim como a região Sudeste, apresentam o maior número de
Conjuntos Urbanos tombados a nível nacional, com 37% (trinta e sete porcento) cada
uma.
No Nordeste são ao total 22 (vinte e dois) Conjuntos distribuídos em 5 (cinco) Estados
dos 10 (dez) totais da região. Com destaque para o Estado da Bahia, que apresenta
12 (doze) destes conjuntos, e é de todo o país o Estado que salvaguarda o maior
número de sítios urbanos preservados. Dentre os desta região, três foram elevados à
Lista do Patrimônio Mundial, estabelecido pela Unesco, a cidade de Olinda em
Pernambuco, Salvador na Bahia e São Luís do Maranhão.
Em 1982, o centro histórico de Olinda/ PE integrou a Lista do Patrimônio Mundial por
reunir momentos significativos da história do Brasil e das Américas. Fundada em 1535
a cidade se desenvolveu pelo cultivo da cana-de-açúcar e embora tenha sofrido com
ataques e saqueamentos de outros povos nos séculos XVI e XVII ainda conserva o
traçado urbano e a paisagem da vila de sua fundação, apresentando o conjunto das
mais antigas casas e igrejas da América, exemplares dos períodos colonial e imperial
do Brasil, o que lhe deu o seu “valor universal excepcional” para o tombamento.
Fig. 3. Vista da cidade de Olinda. Fonte: foto da autora, 2003.
7
Vide tabela dos conjuntos urbanos de tombamento federal, em anexo; baseado no livro “Bens móveis e
imóveis inscritos nos Livros do Tombo IPHAN”, 1994.
21
Capítulo I
Sítios Urbanos: um novo conceito de preservação
Sua proteção se dá a nível federal com o tombamento
8
pelo IPHAN pelo Decreto-Lei
25; a nível municipal pela Lei n° 4.119 de 1979 com a criação do Conselho para a
Preservação dos Sítios Históricos de Olinda, com o Instituto do Tombamento do
Município e o Fundo para Preservação dos Bens Culturais de Olinda.
O centro histórico de Salvador foi inscrito pela Unesco na Lista, em 2 de dezembro de
1985, por conservar quase que inalterada a sua estrutura urbana do século XVI, com
uma densidade de monumentos no conjunto que o elevavam à capital do nordeste
brasileiro por excelência. Foi a primeira cidade fundada no Brasil (1549), Sede do
Governo Geral, pólo da colonização portuguesa; foi centro político, administrativo e
econômico durante o ciclo da cana-de-açúcar, e também o ponto de convergência do
comércio português e os países ultramarinos; considerado o mais importante ponto
estratégico do Brasil Colônia.
Fig. 4. Planta de Salvador/ Bahia, 1715. De autoria do brigadeiro João Massé.
Fonte: SANTOS, Paulo. Formação das Cidades, 2001.
8
Tombado em 19 de abril de 1968, processo 674-T-62, no Livro das Belas Artes – vol. 1, inscrição n°
487, folha n° 88; no Livro Arqueológico Etnográfico e Paisagístico – inscrição n° 44, folha n° 11; e no Livro
Histórico – vol. 1, inscrição n° 412, folha n° 66. Ocorrendo um segundo tombamento em 4 de junho de
1979 no Livro Arqueológico Etnográfico e Paisagístico – inscrição n° 75, folha n° 19.
22
Cinelândia: um conjunto histórico
Taisa Soares de Carvalho
Conserva ainda o traçado urbano característico do século XVI, seu conjunto
arquitetônico, urbanístico e paisagístico foi tombado pelo IPHAN sob este título em
1959, e em 1984 foi tombado como centro histórico pelo mesmo Instituto
9
. Seus
espaços públicos – Praça Municipal, Terreiro de Jesus, Caminho de São Francisco,
Largo do Pelourinho, Largo do Boqueirão e Largo de Santo Antonio – juntos com seu
traçado de ruas, ladeiras e becos, formam um dos mais peculiares conjuntos urbanos
de origem portuguesa na Brasil.
Fig. 5. Salvador/ Bahia. Fonte: www.salvador.com.br
A região Sudeste também apresenta 37% (trinta e sete porcento), com 22 (vinte e
dois) Conjuntos, distribuídos em 3 (três) dos 4 (quatro) Estados que compõe a região.
O maior número se concentra no Estado do Rio de Janeiro, 12 (doze) sítios, nele
vamos nos deter no subcapítulo mais adiante. Porém, sem dúvidas, merece destaque
também nesta Região, o Estado de Minas Gerais, com 8 (oito) sítios, dentre os quais
três foram também elegidas como Patrimônio Mundial pela Unesco: Ouro Preto,
Congonhas e Diamantina.
A cidade de Ouro Preto foi também a primeira de todas as cidades brasileiras a ser
inscrita na Lista do Patrimônio Mundial. Sua inscrição feita em 1980, compete ao
conjunto histórico e urbanístico. A antiga cidade de Vila Rica representa um dos mais
9
Tombado em 14 de julho de 1959, processo 464-T-52, no Livro Arqueológico, Etnográfico e
Paisagístico - inscrição n° 19 à 27, folha n° 5 à 7. E em 19 de julho de 1984, processo 1.093-T-83, no
Livro Arqueológico, Etnográfico e Paisagístico – inscrição n° 86, folha n° 29.
23
Capítulo I
Sítios Urbanos: um novo conceito de preservação
importantes centros históricos barrocos do século XVIII, foi fundada em 1738 e
desenvolveu um estilo barroco diferenciado e único em relação às outras cidades,
abrigando importantes obras do escultor Aleijadinho; consolidou-se sendo o maior
testemunho da Idade do Ouro, um importante período da história da colonização não
só do Brasil quanto das Américas. Foi também palco da Inconfidência Mineira,
movimento que antecedeu a Independência do Brasil. Sua preservação é garantida
pelo Decreto-Lei 25, seu tombamento pelo IPHAN primeiramente ocorreu em 1938
com a sua inscrição no Livro das Belas Artes
10
, no ano de 1986 passou a ser inscrito
também no Livro Histórico e no Livro Arqueológico, Etnográfico e Paisagístico
11
.
O Centro Oeste apresenta em sua região 8 (oito) conjuntos urbanos, representando
12% (doze porcento) do total de conjuntos do território brasileiro, dentre eles, dois são
também Patrimônio Mundial estabelecido pela Unesco: a cidade de Goiás e de
Brasília.
Fig 6. Mapa do Centro Histórico de Ouro Preto. Assinalados no mapa os bens
imóveis. Fonte: www.ouropreto.com.br
10
Processo 070-T-38, Livro das Belas Artes – inscrição n° 39, folha n° 8 – em 20 de janeiro de 1938.
11
Livro Histórico – vol.1, inscrição n° 512, folha n° 98. Livro Arqueológico, Etnográfico e Paisagístico –
inscrição n° 98, folha n° 47. Ambos em 15 de janeiro de 1986.
24
Cinelândia: um conjunto histórico
Taisa Soares de Carvalho
Ao total, dos 62 (sessenta e dois) conjuntos urbanos tombados pelo Governo Federal
do Brasil, 8 (oito) também foram elevados à categoria nacional, um pequeno número,
porém muito significativo para a história, não só da nação brasileira, mas de
importância mundial.
Como observamos, o órgão de gestão federal, o IPHAN, além do Decreto-Lei 25 que
gerencia todo o patrimônio por este tombado de uma maneira geral, pode colocar em
vigor decretos e portaria mais específicos para a preservação destes patrimônios,
atendendo suas particularidades se necessário for.
O Programa Monumenta, desenvolvido pelo Ministério da Cultura, tem o objetivo de a
longo prazo, preservar as áreas prioritárias do patrimônio histórico e artístico urbano
sob proteção federal, aumentando a consciência da população brasileira acerca desse
patrimônio, aperfeiçoando sua gestão e o estabelecimento de critérios para a
implementação de prioridades de conservação. O Programa então elaborou uma lista
de Áreas de Projeto prioritárias, incluindo sítios históricos urbanos nacionais e
conjuntos urbanos de monumentos nacionais.
O primeiro, referente aos sítios históricos urbanos nacionais, foi identificado
diretamente na listagem de bens tombados pelo órgão federal, o IPHAN; o segundo,
os conjuntos urbanos de monumentos nacionais, dependeram de um conjunto de
critérios adotados pelo Programa: a presença de no mínimo dois monumentos
tombados federais, a presença de fatores que contribuam para o entendimento da
conformação enquanto conjunto (estrutura urbana, unidade histórica e morfológica),
inserção em sítio protegido pelos órgãos estaduais e municipais ou onde se registrem
monumentos por eles preservados.
Seguindo estes critérios, cidades como o Rio de Janeiro e Salvador, além dos sítios
urbanos reconhecidos nacionalmente, apresentam também um grande número de
conjuntos urbanos, uma vez que possuem bens tombados fora da área dos sítios, mas
se organizam sob a forma de conjuntos. O Programa Monumenta identificou 101 áreas
nos estados brasileiros.
Dentro destes sítios e conjuntos selecionados, cabe aqui destacar os bens do Estado
e da Cidade do Rio de Janeiro, focalizando a área a ser estudada nesta dissertação.
Dentro do Estado, o Programa Monumenta considera todos como sítios históricos
25
Capítulo I
Sítios Urbanos: um novo conceito de preservação
urbanos nacionais, os sítios tombados pelo IPHAN, conforme os critérios vistos
anteriormente. E ainda, segundo estes mesmos critérios, selecionam classifica
enquanto conjuntos urbanos de monumentos nacionais, cinco exemplares: dois no
Estado – centro histórico de Angra dos Reis e a praça central de Itaboraí – e três na
cidade – o conjunto arquitetônico do Catete, Cinelândia e Praça Tiradentes.
Tabela 3. Sítios e Conjuntos do Programa Monumenta. Quantitativo por região do país.
Fonte: Elaborado pela autora com base em tabela dos Cadernos Técnicos 3, vol.1, Ministério
da Cultura, 2005.
Conceitualmente, o Programa leva em consideração que o patrimônio não deve ser
entendido pelo ângulo da propriedade, da imobilização no espaço e no tempo, mas em
termos de sua apropriação e produção, um recurso cultural capaz de geral renda.
Também considera que o patrimônio não tem valor em si, pois é socialmente
produzido, produção de memória, devendo buscar o pluralismo que ele pode oferecer.
Numa classificação prévia os sítios históricos urbanos nacionais apresentam um
conjunto organicamente funcional, complementaridade, completude e grande
densidade cronológica. Enquanto os conjuntos urbanos de monumentos nacionais
devem apresentar documentos de regiões, períodos e processos sociais fundamentais
para a compreensão do presente e para uma regionalização da memória nacional.
Saindo da esfera mundial e federal, os Estados e Municípios também possuem
autonomia para selecionar os conjuntos urbanos que sejam de interesse de sua
sociedade e criar suas formas de preservação. Evidente que esta seleção será de
26
Cinelândia: um conjunto histórico
Taisa Soares de Carvalho
acordo com a história urbana e social de cada Estado e Município, com seus critérios
próprios de avaliação.
De um modo geral, essa seleção significa os conjuntos urbanos que são
representativos daquela sociedade. Da mesma maneira como ocorre pelo poder
federal, os Estados e Municípios têm autonomia para criar suas leis próprias para as
ações de preservação dos seus bens patrimoniais, estabelecendo seus critérios,
analisando as condições particulares que lhes cabem.
O que se segue neste estudo, é a analise dos bens tombados e preservados pelas
diferentes instâncias no Estado e no Município do Rio de Janeiro, onde se localiza o
estudo de caso aqui proposto, excluindo-se os levantamentos do Programa
Monumenta como dados quantitativos, já que os sítios por eles selecionados são os
sítios de tombamento federal e os conjuntos, não apresentam necessariamente um
tombamento enquanto conjunto nas demais instâncias, somente são áreas de
interesse de preservação.
1.3 – Sítios Urbanos no Estado do Rio de Janeiro
1.3.1 – O Panorama do Estado do Rio de Janeiro
Passando à alçada estadual, para a proteção e legislação do patrimônio cultural, o
Governo do Estado do Rio de Janeiro criou, em 31 de dezembro de 1968, a Divisão do
Patrimônio Histórico e Artístico da Guanabara, sendo sucedido pelo Instituto Estadual
do Patrimônio Cultural – INEPAC, ficando a cargo deste departamento a elaboração
de estudos, realização de fiscalizações, vistorias, pareceres técnicos, catalogando e
efetuando tombamentos de sua competência.
Os bens no Estado do Rio de Janeiro encontram-se divididos em três instâncias: de
nível federal, como visto anteriormente, realizado pelo IPHAN, gerenciado no Estado
do Rio de Janeiro por sua 6ª Regional; de nível estadual, junto ao órgão do Governo
do Estado do Rio de Janeiro, pelo Instituto Estadual do Patrimônio Cultural – INEPAC;
e em departamentos, secretarias e afins que ficam sob gestão de seus respectivos
municípios. Em geral, a atribuição desses órgãos é de registrar esses bens,
27
Capítulo I
Sítios Urbanos: um novo conceito de preservação
normatizar, fiscalizar as ações sobre eles e implementar meios para sua proteção
legal.
O Estado do Rio de Janeiro apresenta 12 (doze) conjuntos tombados, incluídos nos
ditos Livros do Tombo, pela esfera federal, distribuídos em 8 (oito) municípios,
conforme se pode verificar na Tabela de Conjuntos Urbanos de Tombamento Federal.
A estes 12 conjuntos, somam-se no Estado outros 17; estes sob tutela do poder
estadual, como exposto na Tabela de Conjuntos Urbanos de Tombamento Estadual
em anexo, conforme a “Listagem de Bens Tombados pelo Estado do Rio de Janeiro”
(INEPAC, 2004).
Fig. 7. Conjuntos tombados no Estado do Rio de Janeiro. Fonte: Elaborado pela autora
sobre mapa da cidade do Rio de Janeiro, IBGE.
O Decreto-Lei n° 2, de 11 de abril de 1969, define os bens integrantes do patrimônio
histórico, artístico e paisagístico do Estado da Guanabara, no Art. 1°, como sendo as
“construções e obras de arte de notável qualidade estética ou particularmente de
determinada época ou estilo; prédios, monumentos e documentos intimamente
vinculados a fato memorável da história local ou a pessoa de excepcional notoriedade;
monumentos naturais, sítios e paisagens, inclusive os agenciados pela indústria
humana, que possuam especial atrativo ou sirvam de habitat a espécimes
interessantes da fauna e da flora local; e sítios arqueológicos”, e nele institui medidas
28
Cinelândia: um conjunto histórico
Taisa Soares de Carvalho
à sua proteção. Os tombamentos estaduais se dão pelo Decreto n° 5.808, de 13 de
julho de 1982, que regulamenta:
Art. 5° O processo de tombamento será iniciado pelo Instituto
Estadual do Patrimônio Cultural, da Secretaria do Estado de
Educação e Cultura, mediante as seguintes normas de
procedimento”:
“I – identificado o bem a ser tombado, o Instituto solicitará ao
Secretário de Estado de Educação e Cultura que de ciência
prévia ao Governador, para que seja determinado o
tombamento provisório do bem”.
Decreto n° 5.808
Dentro das especificidades de cada órgão – IPHAN e INEPAC – e pelo valor que cada
conjunto urbano representa, a proteção desses bens culturais garantem a preservação
da história do Estado, da memória coletiva e identidade de sua sociedade, com
autonomia para a criação de leis e decretos que garantem a salvaguarda desses
patrimônios.
1.3.2 – O Caso da Cidade do Rio de Janeiro
A cidade do Rio de Janeiro, conforme visto anteriormente apresenta conjuntos
urbanos tombados pelos órgãos federal e estadual, neste mesmo sentido, o Município
também apresenta conjuntos urbanos que são de interesse preservação dentro do
contexto evolutivo da cidade, de interesse para salvaguarda de sua história e como
identidade de sua coletividade. A Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro conta com a
SEDREPAC
12
, responsável pela política de proteção ao patrimônio cultural da cidade.
Dentre as atribuições desta Secretaria estão o registro, normatização, fiscalização e a
implementação de ações de proteção legal dos bens de natureza tangível e intangível
para a preservação da memória cultural carioca. Além do tombamento, o SEDREPAC
se utiliza das Áreas de Proteção Ambiental (APAs) e das Áreas de Proteção do
Ambiente Cultural (APACs) como instrumento à proteção dos bens culturais.
12
A Secretaria Extraordinária de Promoção, Defesa, Desenvolvimento e Revitalização do Patrimônio e da
Memória Histórico-Cultural da Cidade do Rio de Janeiro foi instituída pelo Decreto 26.239 de 6 de março
de 2006, sendo o antigo Departamento Geral de Patrimônio Cultura – DGPC – extinto e suas
competências transferidas para esta nova Secretaria.
29
Capítulo I
Sítios Urbanos: um novo conceito de preservação
Numa APAC, independente do valor individual deste ou
daquele imóvel, o que importa é o valor de conjunto”. A
proposta de proteção de uma área é precedida de um estudo
da evolução urbana do lugar, mapeando sua forma de
ocupação e seu patrimônio edificado, bem como as relações
que os imóveis, logradouros e atividades ali desenvolvidas
estabelecem entre si.
A partir daí, os elementos de composição são inventariados,
cadastrados e classificados como tombados, preservados ou
tutelados; os bens de valor excepcional são tombados; os que
são caracterizadores do conjunto são preservados; e os
demais são tutelados.
A APAC protege conjuntos arquitetônicos que, por suas
características, conferem qualidades urbanas à região, sem,
contudo, impedir o seu desenvolvimento.
As APACs podem variar em tamanho, desde a preservação de
um conjunto de imóveis situados em uma única rua, até que
compreendem um ou mais bairros. Atualmente, o DGPC
detém a tutela de 36 áreas urbanas protegidas, entre APACs e
áreas de proteção de entorno de bens tombados, localizadas
nas Zonas Norte, Sul, Oeste e Central da Cidade e que
incluem cerca de 30 mil imóveis, entre tombados, preservados
e tutelados”
(Retirado do site: www.rio.rj.gov.br/ em 26 de junho de 2006)
Através desses meios de preservação este órgão do município mostra que o olhar
sobre o patrimônio cultural não se foca em edifícios e monumentos isolados, mas
também na preservação de conjuntos arquitetônicos que, por suas características
excepcionais, vão conferir qualidades urbanas à área que se quer preservar.
Tab 4. Porcentagem dos Conjuntos Urbanos Tombados na Cidade
do Rio de Janeiro. Gráfico comparativo entre as três instâncias de
tombamento dos Conjuntos Urbanos na Cidade do Rio de Janeiro.
30
Cinelândia: um conjunto histórico
Taisa Soares de Carvalho
Evidente que dentro do contexto da cidade existirá um número maior de áreas a serem
preservadas, de maior interesse para o órgão municipal do que para o estadual ou
federal. A proximidade da área com a população local é o que garante a esses
conjuntos e bens culturais a sua importância na cidade, pois é o valor que lhe é
atribuído por esta que lhe confere sua excepcionalidade.
Um exemplo desta ação de preservação é a APAC Botafogo
13
, embora não se
enquadre no seu conceito restrito por não possuir uma continuidade urbana nas suas
tipologias arquitetônicas, o bairro de Botafogo é considerado um dos maiores acervos
de bens tombados da cidade, onde a diversidade social proporcionou o surgimento de
diferentes tipologias arquitetônicas; seu conjunto fragmentado pelas diferentes épocas
que se sucederam não diminui o valor de alguns trechos com características
homogêneas representativas de uma identidade cultural.
Uma área de proteção independe do tamanho do sítio urbano que se quer preservar, o
importante é o valor que aquele conjunto representa dentro daquele grupo social,
como é o que acorre com o chamado Bairro Peixoto, uma pequena parte do bairro de
Copacabana, criado pelo PA 2990 em 14 de junho de 1938, que inicialmente previa a
formação de um bairro residencial, isolado e fechado ao tráfego de passagem.
Com as ações de preservação que se sucederam no Bairro Peixoto essas
características se mantêm até os dias atuais, incluindo a fixação do gabarito em 4
pavimentos. Essa aparente estagnação do bairro não fez com que ele perdesse seu
valor em meio à elegância de Copacabana, ao contrário, em meados da década de 50,
ainda havia terreno na praça e dava-se ênfase à situação privilegiada do local. A vida
prática e moderna continuava a se mostrar, com seus apartamentos conjugados com
cozinha embutida – as chamadas kitchenettes – símbolo dos anos 50, identificam a
arquitetura da época; edifícios de 4 pavimentos com elevador, construídos sobre
pilotis, sem apartamentos no térreo dando lugar a jardins e vagas para automóveis,
marca da arquitetura moderna.
O tombamento provisório do Bairro Peixoto somente aconteceu em 1988 pelo Decreto
n° 7.985, pela Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro, que o considera um “projeto
urbano peculiar dentro do bairro de Copacabana e da Cidade do Rio de Janeiro”, e no
13
Decreto 22.221 de 04/11/2002 (já anexado o Dec. 22.643/03).
31
Capítulo I
Sítios Urbanos: um novo conceito de preservação
ano seguinte então, se tem a criação da Área de Proteção Ambiental do Bairro
Peixoto, reunindo cerca de 440 edificações, controlando a altura das edificações e
evitando assim o processo de verticalização, marca do processo evolutivo do espaço
urbano, evitando a sua descaracterização.
Fig. 8. Bairro Peixoto. Área da APA do Bairro Peixoto inserida
no bairro de Copacabana. Fonte: Mapa retirado do
www.googlearth.com.br. Junho 2006.
Fig. 9. Imagens do Bairro Peixoto. Conjunto arquitetônico e urbano preservado pela APA do
Bairro Peixoto. Fonte: www.bairropeixoto.com.br. Junho 2006
Uma outra importante ação de preservação que a Prefeitura do Rio de Janeiro, foi a
criação do Plano de Preservação Paisagística e Ambiental para as Áreas
Consideradas de Interesse Histórico e Arquitetônico localizadas no Centro da Cidade –
Corredor Cultural, instituída pelo Decreto n°. 4141, de 14 de julho de 1983, “tendo em
vista o interesse de se preservar e revitalizar áreas no Centro da Cidade levando em
consideração os elementos ambientais que representam valores culturais, históricos,
arquitetônicos e tradicionais para a população” através da aprovação do PA 10.290 e
do PAL 38.871.
32
Cinelândia: um conjunto histórico
Taisa Soares de Carvalho
Em 17 de janeiro de 1984, através da aprovação da Lei n° 506, se tem o
reconhecimento do Corredor Cultural como Zona Especial do centro histórico do Rio
de Janeiro, definindo as condições para a preservação de cerca de 1.300 edificações.
Este projeto de preservação e revitalização propõe por meio de legislação a proteção
do conjunto arquitetônico antigo, orientando a inserção de novas construções quando
necessárias.
O Corredor Cultural abrange uma área total com cerca de 1.294.625 m² que é então
dividido em quatro: Lapa-Cinelândia, Praça XV, Largo de São Francisco e imediações
e SAARA. Essa divisão foi feita após estudos e por terem sido consideradas estas
áreas, espaços de grande potencial arquitetônico a se preservar por suas
características tipológicas, de usos e por sua história.
Fig. 10. Corredor Cultural. Seus limites e suas áreas. Fonte: Corredor
Cultural, como recuperar, reformar ou construir seu imóvel, 2002.
33
Capítulo I
Sítios Urbanos: um novo conceito de preservação
34
Fig. 11. Fachadas do Corredor Cultural. Fonte: Corredor Cultural, como recuperar, reformar
ou construir seu imóvel, 2002.
Embora os bens culturais estejam divididos em instâncias diferentes, seguindo
critérios e normas de seus respectivos órgãos de preservação, é importante frizar que
somam-se as ações para garantir a salvaguarda do patrimônio. Com essas ações
também aumenta o respeito pelo patrimônio cultural em questão, preservando não
apenas os bens imóveis, mas também os bens intangíveis, essenciais para a
identidade da nação e na construção de sua memória. É no patrimônio que
encontramos a nossa árvore genealógica e através dele se mantém presente os
antepassados de uma história construidora da sociedade, seja da Cidade, do Estado
ou do País.
Capítulo II
Inventários: instrumento de preservação
Inventários: instrumento de preservação
2
2.1 – Os Inventários como fonte de preservação
A partir da análise das Cartas Patrimoniais, como foi visto no capítulo anterior, à
medida que cresce o pensamento da preservação de conjunto, surge um novo
conceito de patrimônio, o dos sítios urbanos enquanto bem cultural a ser preservado, e
dos meios para que se dêem essa preservação. Teorias são pensadas e vão se
engrandecendo proporcionalmente à importância que o assunto que vai sendo
abordado.
Dentre os muitos conceitos e teorias, os inventários surgem como um instrumento
fundamental para a preservação, uma documentação que serve de base de estudos
sobre os bens e para as ações de preservação. Mesmo quando os conjuntos urbanos
eram vistos pela Carta de Atenas (1931) como entorno para a valorização do bem
isolado, já se pronunciava a execução de um inventário dos monumentos, munido de
informações e fotografias, para a formação de uma documentação internacional,
disponibilizada em arquivos referentes aos seus monumentos históricos, publicados e
depositados no “Escritório Nacional dos Museus”
14
(CURY, 2000, p.17).
A Carta de Veneza (1964) não fala propriamente em inventários mas na formação de
uma documentação e na publicação dos trabalhos de conservação, restauração e
escavação, com relatórios analíticos e críticos de todas as etapas dos trabalhos
realizados. Ressaltando também a importância da publicação e criação de um arquivo
para a disponibilização destes aos pesquisadores. (Ibidem., p.95)
Também não se usa a propriedade do inventário nas Normas de Quito (1967), quando
somente é dito de um instrumento da valorização como “requisito prévio a qualquer
propósito oficial dirigido para a revalorizar seu patrimônio monumental: legislação
eficaz, organização técnica e planejamento nacional” (Ibid., p.116). Podemos entender
o inventário como um documento técnico, neste caso.
14
Arquivos onde serão reunidos todos os documentos relativos a seus monumentos históricos (Ibidem,
p.17).
36
Cinelândia: um conjunto histórico
Taisa Soares de Carvalho
O assunto inventário só se torna explícito de uma maneira que faça jus à sua
importância pela Recomendação de Nairóbi (1976), quando então é tomado como
medida técnica para a salvaguarda dos conjuntos históricos.
“Deveria ser feita uma análise de todo o conjunto,
inclusive de sua evolução espacial, que contivesse os
dados arqueológicos, históricos, arquitetônicos, técnicos
e econômico. Deveria ser produzido um documento
analítico destinado a determinar os imóveis ou os grupos
de imóveis a serem rigorosamente protegidos,
conservados sob certas condições, ou, em
circunstâncias absolutamente excepcionais e
escrupulosamente documentadas, destruídos, o que
permitiria às autoridades suspender qualquer obra
incompatível com esta recomendação. Além disso,
deveria ser realizado, com a mesma finalidade, um
inventário dos espaços livres, públicos e privados
, assim
como de sua vegetação”.
(CURY, op.cit, p.225 – grifo nosso)
Ressalta que devem ser considerados não somente o levantamento dos caracteres
arquitetônicos, mas um estudo das estruturas sociais, econômicas, culturais e técnicas
do contexto urbano, abrangendo o modo de vida, as atividades econômicas e
culturais, as relações sociais, problemas urbanos e de infra-estrutura, imprescindíveis
para a elaboração de planos de ação de preservação desses conjuntos.
Para a Carta de Petrópolis (1987), o inventário deve ser considerando como uma parte
dos procedimentos de preservação dos sítios urbanos, de mesma importância que o
tombamento e as normas urbanísticas. É uma fonte de conhecimento cultural, que
permite compreender a realidade que o sítio está inserido, e que, ao incluir a
participação da sociedade passa a considerar não somente o valor que lhe é atribuído,
mas contribui no “fortalecimento dos seus vínculos em relação ao patrimônio” (CURY,
op.cit, p.286).
O Conselho de Cooperação Europeu, em 1962, uniformizou internacionalmente o
método de inventários, criando o Inventário de Proteção do Patrimônio Cultural
Europeu, que desenvolveu uma ficha para o registro dos monumentos e a
identificação dos sítios (COELHO, 2001, p. 31).
37
Capítulo II
Inventários: instrumento de preservação
No Brasil, a preocupação com os inventários vem desde o período colonial, na
necessidade em se registrar os bens e acervos no território brasileiro, permitindo o
conhecimento, e também o controle, desses bens por Portugal. (AZEVEDO, Paulo
Ormindo, apud COELHO, op.cit, p. 29). Estes inventários eram documentos de registro
quantitativo do patrimônio, um mapeamento dos bens.
Quando se inicia, por parte dos intelectuais do Movimento Moderno (1922) uma busca
pela “identidade nacional”, volta a preocupação de preservação dos bens culturais e a
necessidade de uma catalogação desse patrimônio, sobretudo na arte e arquitetura
colonial, onde estaria a referência projetual de uma arquitetura moderna.
No território nacional, o órgão de competência para este assunto é o Instituto de
Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, e embora considere atualmente que a
produção e a divulgação do saber que o bem cultural promove seja tão importante
quanto o tombamento, como uma etapa fundamental à proteção, esse pensamento
nem sempre foi assim.
O primeiro pensador sobre sua importância foi Mário de Andrade, no anteprojeto para
a criação do SPHAN, em 1936 (Ibidem, p. 30). Durante os primeiros anos do então
SPHAN, o inventário é visto como um instrumento dos tombamentos, restringindo-se
aos imóveis de caráter excepcional, apenas como um meio de identificação e
catalogação desses bens.
O inventário continuava a ser apenas um registro do bem, cuja preservação se limitava
na ação do tombamento; o patrimônio focava-se na sua excepcionalidade, analisados
por sua expressão única de estilo, a mesma abordagem era utilizada tanto para bens
isolados quanto para os sítios urbanos. Em 1938, com a ausência de registros sobre a
nossa arquitetura O SPHAN sugere um inventariamento minuciosas da arquitetura civil
rural e urbana incluídas as técnicas construtivas utilizadas e o mobiliário.
Uma pesquisa realizada por conta do Encontro de Inventários de Conhecimento
15
verificou que os estudos sistemáticos de inventário passaram a ser realizados na
década de 80, afirmando que os trabalhos realizados anteriores a esta data eram
“inexpressivos no sentido de refletirem uma prática institucional” (MOTTA, 1998, p.13),
15
Realizado pelo IPHAN em 1995.
38
Cinelândia: um conjunto histórico
Taisa Soares de Carvalho
pois eram estes até então, um documento que apenas registrava o patrimônio para o
tombamento.
Por esta pesquisa também foi possível observar que, nos primeiros anos de atuação
deste Instituto, embora considerado um trabalho prioritário, o inventário, era entendido
apenas como um veículo para o tombamento e incluía apenas ao registro das
características estéticas e estilísticas dos bens culturais que lhes garantiam o “valor”
que justificavam sua não demolição.
A partir da década de 60, o tombamento de imóveis isolados, conjuntos urbanos
edificados e áreas de preservação natural eram utilizados como meio de conter a
especulação imobiliária vivida naquele tempo. Os bens culturais, isolados ou em
conjuntos, eram inventariados e conservados por suas características estéticas,
havendo uma distância das relações espaciais urbanas, sociais, e econômicas. Esse
foco somente se altera nos anos 70 com o processo de descentralização das políticas
de patrimônio e a criação de órgãos de gestão de preservação nas esferas estaduais e
municipais.
Esses trabalhos de levantamento do patrimônio cultural que ocorre por via do
inventário são de responsabilidade dos órgãos de proteção, não se restringindo a
esfera federal, mas a todos os órgãos em todas as instâncias. Essa descentralização
permite que, a partir da década de 80, os trabalhos de inventários sejam ampliados
envolvendo registros de bens não tombados, sendo necessários o emprego de novas
metodologias e recortes temáticos diferenciados.
Os inventários passam a produzir um grande acúmulo de informações e de produção
de estudos e pesquisas, incluindo as informações sobre os bens imóveis, com fotos,
desenhos das construções, mapas, informações bibliográficas e levantamento dos
dados sócio-econômicos; visando garantir não apenas a proteção da integridade
material do bem cultural, mas o conhecimento sobre ele e sua perpetuação através
dos tempos.
Ele revela a imagem da cidade, seu significado perante a sua sociedade e identifica a
construção do bem imóvel enquanto produção arquitetônica dentro do contexto social,
econômico e cultural daquela região. Os registros passaram a incluir também
diferentes tipos de bens: imóveis, móveis, fazeres culturais e outros.
39
Capítulo II
Inventários: instrumento de preservação
Segundo Leornando Barci (apud LIMA, 2004, p.69) o inventário tem sua função
original de produzir um registro, porém, se bem explorado, pode vir a “constituir um
tipo de diagnóstico interdisciplinar” fornecendo dados melhores para a execução das
ações dos órgãos de gestão governamentais. Devendo ser consideradas as
particularidades que cada cidade apresenta, procurando a integração das políticas
urbanas em geral com as políticas de preservação dos bens culturais.
O mapeamento das edificações permite analisar o processo de adaptação do
ambiente construído e da paisagem a essas transformações e adaptações
arquitetônicas que seguem as novas necessidades e atividades desenvolvidas,
identificando o potencial simbólico que a área apresenta em relação aos demais sítios
que a circunda ou que com ela se relacionam de alguma maneira.
Gustavo N. Coelho (op.cit., p. 31) distingue três tipos de inventário: o pré-inventário, o
inventário científico e o inventário de proteção. O primeiro consiste num levantamento
geral, de reconhecimento do que existe, superficialmente, de modo a se ter noção de
todo o material a ser inventariado, um levantamento quantitativo.
Fig. 12. Organograma de Metodologia de Inventário.
Fonte: Elaborado pela autora segundo metodologia de Gustavo N. Coelho.
O segundo, o inventário científico, reúne todas as informações pesquisadas
profundamente, com riqueza de dados de cada bem cultural. E o último, o de proteção,
consiste no levantamento dos dados necessários de identificação dos bens juntamente
com uma análise do seu estado de conservação e dos seus usos para a verificação e
elaboração de ações de salvaguarda. O produto final destes levantamentos se dá na
40
Cinelândia: um conjunto histórico
Taisa Soares de Carvalho
elaboração de fichas com o registro identificando todas as características de dados
obtidos na pesquisa.
Os trabalhos de inventário são e devem ser realizados pelos órgãos de preservação,
sejam de nível federal, estadual ou municipal, devendo procurar a integração desses
órgãos juntamente com a população e instituições, para a promoção da preservação.
Um dos trabalhos pioneiros neste sentido foi o Inventário de Proteção do Acervo
Cultural da Bahia (IPAC-BA), publicado em 1985, e que consistiu num levantamento
do acervo cultural do Estado da Bahia, com um estudo detalhado de todos os
monumentos e sítios urbanos, integrados ao contexto social e socio-cultural, com o
objetivo de revelar o significado do patrimônio.
O inventário do IPAC-BA se constituía por dois tipos de fichas: uma de levantamento
de município e outra de levantamento do edifício. A primeira contextualiza a segunda,
integrando o bem imóvel inventariado ao ambiente que pertence.
Fig. 13. Organograma de Metodologia de Inventário IPAC-BA.
Fonte: Elaborado pela autora, segundo o IPAC-BA. (COELHO, op.cit)
A ficha de levantamento de municípios identifica o município a ser descrito, sendo
consideradas suas características geográficas, históricas, sócio-culturais e
urbanísticas; o número de conjuntos arquitetônicos, edifícios relevantes, espaços livres
e sua infra-estrutura e equipamentos, recebendo estes uma identificação geral por seu
estado de conservação; o uso do solo; evolução demográfica e territorial; população;
perspectivas de desenvolvimento; perigos potenciais; a proteção existente e proteção
41
Capítulo II
Inventários: instrumento de preservação
proposta; o grau de proteção que recebe e vai direcionar as ações de preservação
(estabelecidos como visto anteriormente); além de bibliografia básica.
A ficha de levantamento do edifício é utilizada em cada bem inventariado, localizando-
o no logradouro; identificando a denominação por qual é conhecido; sua situação e
ambiência; espaço temporal a que pertence; utilização atual; total da área construída;
descrição de suas características arquitetônicas; identificando o grau do estado de
conservação da estrutura portante, elementos secundários, cobertura, interior,
instalações e serviços e salubridade; a proteção existente e proposta; identificação
fotográfica e plantas baixas; dados históricos; restaurações e intervenções realizadas;
características especiais; e o grau de proteção que recebe e vai direcionar as ações
de preservação.
Adotando uma metodologia de inventário visando a proteção dos bens culturais, o
IPAC-BA leva em consideração tanto os bens imóveis tombados quanto os que não
recebem este registro. Através das fichas de catalogação dos bens foi realizada uma
análise crítica que organizou os monumentos em cinco categorias: 1. Arquitetura
religiosa assistencial ou funerária; 2. Arquitetura militar; 3. Arquitetura civil de função
pública; 4. Arquitetura civil de função privada; e 5. Arquitetura industrial ou agrícola.
Também foram estabelecidos quatro graus de proteção, sendo os dois primeiros: GP1
e GP2, de ação direta, integral ou parcial, sobre o imóvel inventariado; e os dois
últimos: G3 e G4, como proteção de referência, onde o importante é a relação que o
imóvel mantém com a área de preservação selecionada:
GP1. Proteção direta: monumentos que devem ser conservados integralmente;
GP2. Proteção direta: monumentos que apresentaram sucessivas modificações e
que por este motivo, devem ser conservadas parcialmente, apenas as partes que
justificam a proteção;
G3. Proteção de Referência: edifícios que podem eventualmente sofrer
modificações, demolições parciais, podendo ser substituídos por novas
construções que não contrastem com o ambiente;
42
Cinelândia: um conjunto histórico
Taisa Soares de Carvalho
G4. Proteção de Referência: edifícios que podem ser demolidos, sem
reconstrução, somente reconhecidos como complemento da malha urbana.
Este trabalho foi inovador no sentido que não apenas documenta o bem imóvel
tombado, mas leva em consideração o contexto no qual se insere.
“Ao lado das medidas administrativas que, por certo,
resultarão da publicação deste inventário, acreditamos
que a simples divulgação de valores culturais é, em si
mesma, uma das mais eficientes formas de proteção dos
bens de cultura”.
(ORMINO, Paulo, in COELHO, op.cit, p.36).
O mesmo foi realizado para o Inventário de Proteção do Acervo Cultural de Minas
Gerais (IPAC-MG), também publicado em 1985. Um pouco diferenciado do caso da
Bahia, este inventário, além do levantamento do município e do imóvel, levou em
consideração, os sítios arqueológicos, as artes aplicadas e bens móveis que
pertencem aos imóveis inventariados. O que não poderia ser diferente tendo em vista
a riqueza desses elementos que são de grande valor ao patrimônio mineiro. Dentre as
várias categorias para a identificação e classificação do município selecionado
estavam incluídos nas fichas as “artes e saberes” e as festas e folclore.
O IPAC-MG é mais do que uma catalogação de bens imóveis, mas um inventário de
conhecimentos voltado para a identificação dos bens de interesse de preservação:
móveis, imóveis e imateriais. Ele amplia a concepção do patrimônio e procura evitar a
simples descrição do monumento, porém, numa visão de conjuntos urbanos, o IPAC-
MG permanece como uma catalogação dos bens culturais onde a estrutura urbana é
citada apenas como uma referência circunstancial.
A primeira leitura de preservação visando o conjunto acontece em nível municipal,
pela Prefeitura da Cidade de São Paulo, com o Inventário Geral do patrimônio
Ambiental e Cultural Urbano de São Paulo. “São objetos de inventariação não apenas
os bens ambientais e culturais urbanos considerados como ‘monumentais’, mas
também modos de organização do espaço urbano e suas várias etapas e formas de
evolução”. (LIMA, 2004, p.74)
43
Capítulo II
Inventários: instrumento de preservação
Essa abordagem se tornou necessária visto que o patrimônio da cidade de São Paulo
não está explícito ou representado em épocas marcantes como no caso da Bahia ou
Minas Gerais, era necessário primeiramente identificar e eleger estes bens. Além
disso, ainda contava com o agravante da velocidade com que a cidade evoluía e
crescia, sobrepondo arquiteturas e paisagem urbana, provocando a perda de suas
características mais singulares. Desenvolveu-se uma mova metodologia levantando
questões de identidade, memória urbana, meios e modos expressivos de organização
do espaço.
O IGEPAC-SP também se utiliza das fichas de catalogação com registros diversos,
porém dá ênfase às análises urbanísticas das áreas inventariadas, abordando-as sob
os aspectos históricos, socio-culturais e urbanísticos. O Inventário se desenvolve em
duas etapas:
Primeira etapa:
de caráter global e quantitativo, com o levantamento e a indicação de
manchas urbanas mais significativas para o plano de preservação do patrimônio:
1. Estudo da evolução urbana através de levantamento histórico para a
interpretação do processo de ocupação da cidade (origem, formação dos
bairros, características sócio-econômicas, urbanísticas, transformações
marcantes). Dados obtidos através de mapas, fotografias, gravuras,
documentos e bibliografia.
2. Levantamento de normas legais, as legislações urbanísticas vigentes de
zoneamento, bens tombados, imóveis públicos, etc.
3. Trabalho de campo com levantamento atual da área.
4. Leitura da Paisagem com levantamento das características morfológicas,
tipologias, equipamentos e mobiliário urbano, uso e ocupação do solo, estado
de conservação e marcos visuais.
5. Percurso, reconhecimento e leitura do estudo da evolução urbana.
44
Cinelândia: um conjunto histórico
Taisa Soares de Carvalho
Com estes dados é então feita a sistematização das informações através de relatórios
analíticos do bairro, contendo o levantamento histórico, iconográfico, plantas e fichas
dos imóveis. A primeira etapa termina com as propostas de preservação, definindo
suas diretrizes de proteção.
Segunda etapa
: de caráter específico e qualitativo, se aprofunda nos estudos dessas
manchas e nos imóveis a serem preservados:
1. Seleção de manchas urbanas a serem estudadas.
2. Aprofundamento da pesquisa histórica das manchas urbanas e das
edificações.
3. Detalhamento do levantamento de campo.
Finalizando com a sistematização dos dados obtidos e no diagnóstico das
necessidades da área e definição das propostas de proteção. Além de constituir numa
documentação de conhecimento técnico-científico do patrimônio, este inventário
procura auxiliar numa proposta de preservação e valorização do patrimônio ambiental
urbano, servindo de base para o planejamento da cidade, educando e sensibilizando a
sociedade, criando uma consciência de preservação deste patrimônio.
Em 2001, o IPHAN publica o Plano de Preservação de Sítio Histórico Urbano; inclui
em seus Aspectos Operacionais, o levantamento de informações como instrumento de
conhecimento e de pesquisa. Sugerindo quatro instrumentos produzidos pelo IPHAN a
serem utilizados, podendo estes ser adaptados a cada situação:
O Inventário Nacional de Bens Imóveis em Sítios Urbanos Tombados –
INBI-SU – com o levantamento e organização do conjunto de informações que
caracterizam os sítios como bens culturais, através de pesquisa histórica, dos
levantamentos físico-arquitetônicos e entrevistas com moradores e usuários.
O Inventário de Configuração de Espaços Urbanos – INCEU – para a
avaliação da identidade que os sítios urbanos configuram, interpretando suas
características morfológicas dos conjuntos arquitetônicos, urbanos e
paisagísticos.
45
Capítulo II
Inventários: instrumento de preservação
O Inventário de Bens Arquitetônicos – IBA – registro dos bens tombados
individuais, com suas características tipológicas, estado de conservação, uso,
ambiência, etc.
O Inventário Nacional de Referências Culturais – INRC – identifica e
documenta os bens culturais, materiais e imateriais apreendendo os sentidos e
os signos do patrimônio cultural por sua sociedade.
Através desses levantamentos deverão ser produzidas informações sobre os bens
imóveis e demais aspectos do patrimônio, da dinâmica social e econômica, com a
finalidade de rever os “instrumentos de gestão e ordenamento”, para a realização de
intervenções urbanas, processos de desenvolvimento urbano e para o controle dos
“fatores de deterioração ambiental/ social”.
Os dados que são coletados pelo inventário poderão ser determinadas as
características do tombamento, os aspectos históricos, arquitetônicos, urbanos e
paisagísticos. Sobre eles também poderão ser realizadas análises das características
morfológicas e de tipologias, dos aspectos construtivos dos imóveis, da infra-estrutura,
uso e ocupação do solo, dos elementos vegetais, dos possíveis sítios arqueológicos,
das manifestações culturais e econômicas que ali possam existir, bem como permite
analisar a dinâmica urbana, sua evolução, para a então realização de projetos e
planos urbanísticos que o integrem ao processo evolutivo da cidade.
“Logo, no caso dos centros históricos, os inventários dizem
respeito não apenas a um conjunto de imóveis, mas também a
um ambiente, ao modo como determinados sujeitos ocuparam
aquele solo, como usam e valorizam os recursos naturais e
culturais de que dispõem, como constroem seus prédios, como
elaboram sua história etc. Todos esses conteúdos constituem
referências culturais que singularizam aquele espaço e que
possivelmente são marcos para que os grupos que ali vivem
construam sua identidade coletiva.”
(MOTTA, op.cit., p.38)
São considerados nestes estudos os espaços vazios, o caráter socio-econômico
desenvolvido no sítio, a condição ambiental e todas as legislações, normas e
procedimentos em vigor, não apenas no que diz respeito à preservação, mas de
crescimento e ocupação urbana.
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Cinelândia: um conjunto histórico
Taisa Soares de Carvalho
O Programa Monumenta, como foi referido em capítulo anterior, identificou no território
brasileiro 101 áreas classificadas em sítios históricos urbanos nacionais e em
conjuntos urbanos de monumentos nacionais. Como forma de catalogação desses
sítios e conjuntos, foram concebida as Fichas de Informações Básicas, com dados
levantados sobre eles. Essas fichas compõem:
Identificação – dados oficiais dos tombamentos nacionais e fotografias dos
locais;
Outras proteções – registro de tombamentos estadual e municipal que possam
existir, identificados com plantas e croquis;
Relação com o contexto urbano e tipologia funcional – descreve o porte da
área e sua relação com o contexto urbano;
Formação e representatividade histórico-cultural – conteúdo desenvolvido por
historiadores, com descrição do processo de formação da área e seus valores
históricos, arquitetônicos e culturais;
Fatores de risco quanto à conservação – descrição dos fatores ou processos
que estejam agindo contra a integridade do bem, seja de caráter físico,
institucional, social ou econômico;
Gestão – aborda processos e mecanismos existentes na região dos sítios e
conjuntos em todos os níveis: federal, estadual e municipal.
Além disso, para se classificar as áreas o Programa cria um banco de dados, no qual
estão apresentadas as prioridades por eles consideradas, a tipologia do sítio e do
conjunto, além de dados como: nome, caracterização, localização, porte da cidade,
delimitação do espaço, data de fundação do município e do sítio ou conjunto, datação
original, predominante e geral, história e descrição e bibliografia.
A partir desses estudos se tem um conhecimento global do sítio urbano para que
então se busque o aprimoramento da gestão urbana, levando em consideração a
preservação do patrimônio e a sua relação à cidade a que se insere. Permite o
47
Capítulo II
Inventários: instrumento de preservação
estabelecimento de normas e legislações próprias, adequando o uso, compatibilizando
a dinâmica urbana e o crescimento da cidade, melhorando a qualidade do ambiente
urbano e do seu uso por sua população.
Os inventários podem e devem ser utilizados como o meio mais eficiente de
desenvolvimento de políticas de preservação, envolvendo para além das ações legais
de proteção, a participação da comunidade, essencialmente para esses trabalhos.
Devem ser considerados não apenas os espaços construídos, mas os espaços
abstratos e de vivência e que, portanto, dependem da sociedade que o ocupa e
interage com ele.
Além de ser um trabalho extenso e minucioso, o inventário é interdisciplinar,
dependendo desses levantamentos para a riqueza do resultado. Também cabe
ressaltar que os inventários devem ser contínuos, sendo atualizados periodicamente e
seus dados comparados para entendimento das ações de preservação e novas
concepções.
Os inventários são um meio de produção de conhecimento que compreende a
dinâmica da ambiente cultural quando abrange informações além dos aspectos
formais e materiais, incluídas as ações culturais e sociais.
2.2 – Inventário da Cinelândia: metodologia para estudo de um conjunto
Para este estudo o objeto principal a ser investigado é a área da Cinelândia. A seleção
parte de uma análise sobre o centro da cidade do Rio de Janeiro, área de grande
atrativo, sobretudo cultural, e por esta apresentar um grande acúmulo de camadas
históricas de diferentes momentos importantes para a história da sociedade carioca e
também como um forte identificador da formação da nação.
Dentro do contexto evolutivo da cidade do Rio de Janeiro não é possível identificar um
único centro histórico coeso e sim, centralidades representantes de diferentes
momentos ao longo de sua trajetória político-econômica e social.
O Centro do Rio de Janeiro teve ao longo de sua formação urbana a configuração de
três centros político-administrativos, formados por marcos representativos do poder:
48
Cinelândia: um conjunto histórico
Taisa Soares de Carvalho
no Período Colonial, o Largo do Paço, atual Praça XV; no Período Imperial, o Campo
de Santana; e no Período Republicano, a Praça Floriano, conhecida como Cinelândia.
(SISSON, 1986, p. 58-81).
Fig. 14. Os “centros” do Rio de Janeiro. Fonte: retirado do Google-earth,
www.google.com.br
Sendo assim, a cidade do Rio de Janeiro assumiu importância nacional como centro
administrativo, político, econômico e cultural, e ao longo desses anos, as
transformações vividas pela sociedade provocaram alterações morfológicas no espaço
urbano e nas suas funções exercidas.
Entendendo que essa diversidade de informações e as especificidades que apresenta,
com uma riqueza de dados a serem estudados não seria possível abranger essas
centralidades em um único estudo, por mais atraente que poderia aparecer. O recorte
para este trabalho de inventário se faz no Período Republicano, mais especificamente
a Cinelândia, conforme dito anteriormente.
A cidade do Rio de Janeiro, como capital da Nova República, passou por um processo
inovador de remodelação, de intenção sanitária, mas também plástica. A reforma na
malha urbana idealizada pelo prefeito Pereira Passos (1903-1906) foi denominada
“Embelezamento e Saneamento da Cidade” e promoveu, além de melhorias nas
49
Capítulo II
Inventários: instrumento de preservação
condições higiênicas, melhorias nas condições estéticas, trazendo para o centro da
cidade vitalidade cívica, econômica e cultural.
O processo de remodelação urbana de caráter estético-sanitária que foi a grande
marca do período republicano na cidade, faz erguer sobre a malha urbana colonial,
praças, jardins públicos e largas avenidas como a Avenida Central, que rasga o centro
histórico da Candelária a então Praça Floriano e nela se faz a construção do pólo
político-cultural: Câmara de Vereadores, Supremo Tribunal da Justiça (atual Centro
Cultural da Justiça Federal), o Museu Nacional de Belas Artes, Teatro Municipal e
Biblioteca Nacional, Palácio Monroe (Pavilhão das Exposições Internacionais de Saint
Louis/ EUA), que funcionou como Câmara dos Deputados e mais tarde, Senado.
A praça atinge anos mais tarde um período áureo na sua história, pelas mãos do
empreendedor Francisco Serrador, com o projeto do Quarteirão Serrador na antiga
área do Convento da Ajuda, demolido em 1911, onde vão ser construídos os
cinematógrafos que lhe deram além do glamour, o nome pelo qual é conhecido até os
dias atuais – Cinelândia.
Atualmente a Cinelândia resiste aos avanços urbanos graças aos seus bens
tombados, contudo ainda é necessário um olhar para o conjunto e seu entorno, que
carece de conservação e manutenção.
De maneira a classificar a área a que se propõe estudar, o documento que melhor
explícita e categoriza os “tipos de sítios” é o Plano de Preservação de Sítios Urbanos
(IPHAN, 2003), que apresenta três definições diferentes, criadas em relação à
delimitação da área urbana de interesse patrimonial:
Cidade histórica – sítio urbano que compreende a área sede do município;
Centro histórico – sítio urbano localizado em área central da área-sede do
município, seja em termos geográficos, seja em termos funcionais e históricos,
configurando-se em centro tradicional;
Conjunto histórico – sítio urbano que se configura em fragmento do tecido
urbano da área-sede do município ou de qualquer um dos seus distritos ou,
ainda, sítio urbano que contenha monumentos tombados isoladamente, os
50
Cinelândia: um conjunto histórico
Taisa Soares de Carvalho
quais configuram um conjunto arquitetônico-urbanístico de interesse de
preservação, situado na área-sede ou nos distritos.
Com base neste documento, tendo em vista a ocupação da cidade do Rio de Janeiro,
seu contexto histórico e social, considerando o processo evolutivo e suas
modificações, incluimos a Cinelândia como conjunto histórico.
Conjunto histórico este representante do processo de remodelação urbana vivido pela
então Capital do Brasil, inserido sobre a malha urbana colonial que ainda resiste em
seu entorno, com os seus edifícios monumentais do Período Republicano, tombados,
considerados a grande marca do ecletismo vivido nesta época, o local onde se
encontra o obelisco de inauguração da Avenida Central, atual Rio Branco, e somado
aos edifícios remanescentes da era dos cinematógrafos, de grande importância no
contexto social. E ainda incluídos os signos e a memória destas épocas que a Praça
adquire para a preservação história formadora da identidade da nação.
Essa inclusão da Cinelândia enquanto conjunto histórico também prevalece segundo
os critérios utilizados pelo Programa Monumenta, que mencionamos no capítulo
anterior. Segundo suas definições a área de estudo não poderia ser considerada um
sítio histórico urbano, pois não apresenta tombamento nacional, enquanto conjunto.
Porém, se seguirmos as definições dos conjuntos urbanos de monumentos nacionais,
a Cinelândia apresenta as condições estabelecidas pelo Programa:
Presença de no mínimo dois monumentos tombados em nível federal – a área
da Cinelândia apresenta três: Teatro Municipal, Museu Nacional de Belas Artes
e a Biblioteca Nacional;
A Cinelândia também apresenta fatores que contribuem para a configuração do
conjunto, é uma área inserida na malha urbana colonial, do período da
fundação da cidade, de grande representação simbólica e é uma malha
consolidada dentro do processo evolutivo da cidade, grande representação do
período republicano;
E se apresenta num espaço sob ação de preservação do Corredor Cultural,
estabelecido pela Prefeitura do Rio de Janeiro, além de conter vários bens
imóveis isolados tombados pelo Estado e Município.
51
Capítulo II
Inventários: instrumento de preservação
Sendo assim, atinge os critérios do Programa Monumenta classificado enquanto
conjuntos urbanos de monumentos nacionais e por este motivo, está classificado no
trabalho de levantamento intitulado Sítios Históricos e Conjuntos Urbanos de
Monumentos Nacionais (Ministério da Cultura, 2005).
Denominaremos como Conjunto Histórico da Cinelândia, a área da Praça Floriano e
os edifícios ao seu redor, de valor histórico e artístico ou não, já que a Praça
apresenta edifícios contemporâneos, mas incluídos aqui como forma de assegurar a
preservação da área em ações de gestão para a posteridade. Com destaque: os
edifícios do Teatro Municipal, Câmara dos Vereadores, Museu Nacional de Belas
Artes, Biblioteca Nacional, Centro Cultural da Justiça, os edifícios do Quarteirão
Serrador, inclusive o Edifício Serrador; a Praça Mahatma Gandhi com o chafariz do
Monroe e o obelisco.
“Nas condições da urbanização moderna, que produz um
aumento considerável na escala e na densidade das
construções, ao perigo da destruição direta dos conjuntos
históricos ou tradicionais se agrega o perigo real de que os
novos conjuntos destruam indiretamente a ambiência e o
caráter dos conjuntos históricos adjacentes. Os arquitetos e
urbanistas deveriam empenhar-se para que a visão dos
monumentos e conjuntos históricos, ou a visão que a partir
deles se obtém, não se deteriore e para que esses conjuntos
se integrem harmoniosamente na vida contemporânea”.
(Recomendação de Nairóbi, in CURY, op.cit., p. 221)
Levando em consideração a recomendação citada acima, justifica-se a inclusão neste
perímetro da Praça Mahatma Gandhi, não somente por ter sido nela construído o
Palácio Monroe, e ter o chafariz que recebeu em homenagem o nome do palácio,
preservado neste local, mas também por ser uma área que favorece a visão da Praça
Floriano, seguindo a Recomendação.
Difere da área considerada pelo Programa Monumenta, não consideraremos o
Passeio Público como área deste conjunto, pois, segundo os conceitos pré-
estabelecidos para este estudo, o Passeio Público, embora sua importância histórica,
não configura a mesma linguagem do conjunto que aqui se propõe.
52
Cinelândia: um conjunto histórico
Taisa Soares de Carvalho
Legenda:
1. Teatro Municipal
2. Câmara dos Vereadores
3. Edifícios do Quarteirão
Serrador
4. Edifício Serrador
5. Chafariz do Monroe
6. Obelisco
7. Centro Cultural da Justiça
Federal
8. Biblioteca Nacional
9. Museu Nacional de Belas
Artes
Fig. 15. Mapa do Conjunto
Histórico da Cinelândia.
Fonte: Elaborado pela autora sobre
levantamento aerofotogramétrico,
1990. Prefeitura da Cidade do Rio
de Janeiro/ Instituto Pereira Passos.
9
1
8
2
7
3
4
5
6
O perímetro que define a área do conjunto histórico da Cinelândia se inicia da linha
imaginária aos fundos do Teatro Municipal (1) com a Rua Treze de Maio, seguindo por
ela até a Rua Evaristo da Veiga junto ao edifício da Câmara dos Vereadores (2),
seguindo por esta rua, lateralmente a Câmara, até os fundos do edifício, seguindo pela
Rua Álvaro Alvim, abrangendo os edifícios do Quarteirão Serrador (3), passando pelos
fundos do Edifico Serrador (4), contornando-o em direção a Praça Mahatma Gandhi
(5), seguindo por esta até a bifurcação do obelisco (6), descendo pela Avenida Rio
Branco em direção à Santa Luzia, seguindo por esta até o final do edifício do Clube
53
Capítulo II
Inventários: instrumento de preservação
Naval, passando pelo final dos lotes até o encontro do prédio anexo do Supremo
Tribunal da Justiça, contornando-o até o encontro com a Rua México, descendo por
esta nos fundos dos edifícios do Centro Cultural da Justiça Federal (7), Biblioteca
Nacional (8) e Museu Nacional de Belas Artes (9), até novamente encontrar a linha
imaginária dos fundos do Teatro Municipal (1).
Sua preservação valoriza também toda a área a sua volta, incluindo um olhar especial
a proteção do seu entorno mais imediato. Sua proximidade com os outros centros
históricos da cidade, Praça XV e Campo de Santana, valoriza toda a área central,
permitindo compreender a forma pela qual a paisagem construída na Cinelândia
também contribuiu e contribui para a formação da identidade local em meio a
profundas transformações urbanas e sociais ocorridas nos últimos séculos.
Os capítulos que se seguem nesta dissertação é a elaboração deste inventário de
conhecimento, que visa como o Conjunto Histórico da Cinelândia faz parte deste
patrimônio da cidade e de sua população e o quanto sua preservação é importante
para a identidade e a memória dessa sociedade e complementa os levantamentos
realizados pelo Programa Monumenta.
“Para que o conjunto urbanístico em questão possa ser
adequadamente salvaguardado, tanto em relação a sua
cidadania e modernidade em seu interior, é necessário
principalmente que os centros históricos sejam organizados
em seu mais amplo contexto urbano e territorial e em suas
relações e conexões com futuros desenvolvimentos; tudo isso,
além do mais, com o fim de coordenar as ações urbanísticas,
de maneira a obter a salvaguarda e a recuperação do centro
histórico a partir do exterior da cidade, através de um
planejamento físico territorial adequado.”
(Carta do Restauro, in CURY, op.cit., p. 166)
Baseado nos dados oferecidos pelas Cartas Patrimoniais e no Plano de Preservação,
na leitura de teóricos selecionados para este estudo, tendo como referência alguns
inventários realizados e entendendo que cada conjunto apresenta suas
especificidades, foi elaborado uma metodologia a ser aplicada para o Conjunto
Histórico da Cinelândia.
54
Cinelândia: um conjunto histórico
Taisa Soares de Carvalho
Este inventário não busca a catalogação dos bens imóveis, com fichas de registro,
pois tendo a área um conjunto de bens sob tutela de órgãos de preservação, esse tipo
de registro já existe. Sendo assim, este estudo volta-se no sentido de produzir
conhecimento sobre o conjunto, integrando o imóvel isolado, a estrutura urbana a que
está inserido e a sua população.
Também não se trata de realizar apenas uma ambiência dos bens culturais, mas
analisar a paisagem urbana e entender o quanto este conjunto, inserido em uma
cidade que apresenta outros “centros” importantes, pode ainda oferecer grande
significado para a sociedade, e o quanto ela o toma como identidade.
Essa documentação identifica o ambiente urbano do conjunto, as percepções que este
ambiente transmite e como a população absorve essas informações, auxiliando em
intervenções futuras e garantindo assim a preservação dos bens culturais, para a
cidade e sua sociedade.
Dentro deste contexto, a metodologia para o inventário que se segue passar a ter a
seguinte estruturação:
Histórico – através do levantamento histórico do espaço estudado, dos bens
isolados, da sua inserção no meio urbano em diferentes períodos e do
levantamento das intervenções urbanas sofridas, é possível analisar o tecido
urbano e como se deu sua configuração inicial, sua evolução, entendendo os
tipos de ocupação e o tipo de arquitetura que se desenvolveu nesse espaço. O
levantamento histórico deve ser realizado através de pesquisas em
documentos primários e secundários, encontrados nos principais órgãos de
preservação, bibliotecas e arquivos, abrangendo a história local inserido no
contexto da cidade, incluindo levantamento iconográfico, bibliográfico e
documental.
O levantamento histórico completo da formação urbana do espaço da Cinelândia é a
base para a proposta de preservação e responde a uma série de questões quanto aos
seus valores adquiridos, demonstra a importância da sua existência em relação ao
contexto urbano da cidade, formação da nação e da sociedade local, e da história
como um todo.
55
Capítulo II
Inventários: instrumento de preservação
Leitura da Paisagem – realização de levantamentos físicos do conjunto, tanto
no que diz respeito a sua estrutura urbana, quanto ao seu conjunto
arquitetônico: vias de circulação, acessos, população, uso e ocupação,
gabarito, etc. Produção de dados atuais e, quando necessário, verificação de
dados anteriores para comparação das alterações sofridas.
A leitura da paisagem através dos levantamentos físicos permite entender como o
patrimônio cultural está inserido na estrutura da cidade como ela se articula, se
relaciona e se interliga. Sendo assim, não serão utilizadas as fichas catalográficas
normalmente aplicadas, não será realizado um registro quantitativo dos bens, ou sua
descrição estética, mas um levantamento analítico de pontos considerados
importantes para a percepção da imagem do patrimônio e que lhes garantem
identidade e valor. Análise feita sobre mapas, descrições, croquis e fotografias.
Percepção da Paisagem – realização de levantamentos fotográficos de campos
visuais pelo walkthought
16
(COLLEN) e realização de entrevistas com os
usuários (LYNCH, 1997). Através desses levantamentos serão produzidas
análises, no primeiro caso, uma análise de como o ambiente se apresenta ao
olho de um observador treinado, como sugere Gordon Coolen, ao qual
chamaremos de percursos. No segundo, as interpretações serão feitas pelos
usuários, no que é absorvido por ele, suas emoções no Conjunto e o que ele
significa para cada indivíduo.
A percepção da paisagem é tão importante quanto às questões formais e materiais
que um estudo sobre a área requer, um levantamento sobre como o usuário entende o
ambiente é ponto fundamental para verificar as imagens com que ele se identifica.
Segundo Vicente Del Rio, “é a percepção que direciona essas intervenções, na
perseguição de paradigmas urbanos específicos, embora, na maioria das vezes não
assumidamente” (RIO, 1994, p. 116).
O inventário do Conjunto Histórico da Cinelândia tem como objetivo, dentre muitos,
direcionar o estudo da unidade histórico-cultural para propostas de preservação do
conjunto, a salvaguarda do objeto de futuras intervenções provocadas pelo processo
16
Gordon Cullen utiliza-se da seleção de campos visuais para o entendimento da morfologia da cidade,
entende que os elementos que a compõe podem dar um novo valor estético ao urbano.
56
Cinelândia: um conjunto histórico
Taisa Soares de Carvalho
57
evolutivo da cidade, identificar carências existentes na área para melhor direcionar a
aplicação de recursos para o seu desenvolvimento.
Gerar este conhecimento sobre a área da Cinelândia é estar garantindo meios para as
ações de gestão integradas, tanto no que diz respeito ao conjunto arquitetônico como
respeitando o ambiente urbano, entendendo suas especificidades, necessidades e o
quanto arquitetura e urbano se integram e se interagem.
Visa valorizar o centro histórico como ponto turístico e área de grande potencial para
geração de empregos e aumento econômico. Ser atrativo para receber novos
equipamentos culturais como museus, salas de exposições, teatros, inclusive
estrangeiros, incluindo a “Capital” no centro de acontecimentos culturais do mundo.
Estimular o contato da população com o sítio histórico como forma de preservação,
fazer do comprometimento populacional e de sua participação uma forma de garantir o
êxito da proposta. Educar a sociedade para a conservação dos bens edificados
representativos de sua história como forma de incrementar a qualidade de vida.
Cinelândia: um conjunto histórico
Taisa Soares de Carvalho
59
Inventário da Cinelândia: Levantamento Histórico
3
3.1– O Campo da Ajuda
“Não há tempo nem oportunidade para recuarmos;
porque de um lado nos cercam estas penhas e do
outro as águas do Oceano; e pela direita e à
esquerda os inimigos; só podemos romper o cerco
debandando-os. Mensagem de Estácio de Sá aos
seus companheiros de viagem no momento da
Fundação do Rio de Janeiro”.
(GERSON, 2000, p.01)
A fundação da cidade do Rio de Janeiro se deu no Morro Cara de Cão (Pão de
Açúcar, Urca) por Estácio de Sá, em 1° de março de 1565; necessária e
estrategicamente situada para a retomada da Guanabara dos franceses, que dela se
apossaram desde 1555.
Tradicionalmente, as colônias portuguesas apresentavam a primeira ocupação dita
provisória; com a expulsão dos franceses e a consequente morte de Estácio de Sá,
sucedendo então à governadoria, Mém de Sá transferiu a administração da cidade
para o Morro de São Januário ou do Descanso (depois, do Castelo, alto da Sé ou alto
de São Sebastião) em 1567, e a cidade do Morro Cara de Cão passou a ser a Cidade
Velha ou Vila Velha, “destinada a consumir-se sem deixar vestígios” (Ibidem, p.04).
Novamente a ocupação se deu numa elevação, “a colocação da cidadela no alto –
ainda que não regra geral – era freqüênte, porque oferecia em si condições naturais
de defesa” (SANTOS, 2001, p.33), seguia a tipologia de urbanização medieval,
fortificado, com muralhas, como retrata o mapa do Brigadeiro João Massé, de 1713, é
o primeiro sendo com o traçado das ruas (Idem, 1981, p.19).
O primeiro dos caminhos que subiam o morro, aberto para a construção da cidade era
íngreme e foi dos mais movimentados, a Ladeira da Misericórdia foi ponto de partida
para o primeiro largo e a primeira rua, ambos também de mesmo nome.
Capítulo III
Inventário da Cinelândia: Histórico
60
Mandou Mém de Sá construir uma “cidade grande cercada com baluartes e fortes,
igreja telhada, casa da Câmara telhada e sobradada, a cadeia, casas dos armazéns e
para a fazenda real, sobradados telhados e com varandas e outras mais para os seus
primeiros habitantes” (GERSON, op.cit., p.04).
Subindo o morro, à esquerda da ladeira da Misericóridia edificou-se o Colégio da
Companhia de Jesus, em torno deste, organizava-se toda a vida colonial da cidade do
Rio de Janeiro no primeiro século, sendo deliberadas importantes questões
administrativas, econômicas e políticas.
Tão logo, ainda em 1567, foram construídas duas igrejas no alto do morro, a de São
Sebastião, e a de Santo Inácio, no Colégio dos Jesuítas, também edificado no mesmo
ano, ambas dos padres da Companhia; e uma no largo, no sopé do morro, a da
Misericórida, cuja verdadeira invocação é de Nossa Senhora do Bom Sucesso
17
.
Fig 16. Colégio e Igreja dos Jesuítas. Construídos no sopé do Morro do
Castelo. Fonte: NONATO, 2000.
O Colégio dos Jesuítas possuía cerca de duzendos metros de comprimento, com
quatro andares, muitas celas, onde nelas moraram Anchieta, Gouveia, Cardim e
Simão de Vasconcelos.
17
Padroeira da Santa Casa. O culto a virgem de Bom Sucesso foi iniciado nela em 1637 pelo Padre
Miguel da Costa; em 1639 houve a primeira festa dedicada à ela. “Dela era que saía, na véspera do dia
de finados, a mais impressionante, talvez, das nossas procissões noturnas há um século esquecida: a
lúgibre, a estranhamente fúnebre procissão dos ossos, instituída pela Santa Casa”. (GERSON, op.cit.,
p.06)
Cinelândia: um conjunto histórico
Taisa Soares de Carvalho
61
A instituição, também conhecida por Colégio Santo Inácio, somente começou a
funcionar como escola no ano de 1573, em definitivo. Era destinado a alfabetização
dos pobres, pois os rico, ou eram mandados à Europa para estudar ou se contratavam
professores particulares locais ou estrangeiros. Não era comum a alfabetização de
mulheres, a elas cabiam aprender os afazeres domésticos.
Também em 1567, o Forte de São Sebastião foi edificado ao norte do morro, com
muralhas e torres, em pedra e cal, considerado o castelo da cidade e que mudaria
mais tarde o nome do Morro do Descanço para Morro do Castelo. Do Forte de São
Sebastião “corria” até o Forte de São Tiago, na Ponta do Calabouço, uma muralha,
que deixava de fora do tecido urbano a Praia de Santa Luzia; nela ficavam as “portas
da cidade”, que ainda apresentavam vestígios no século XIX no antigo Beco da
Música.
Ao lado da construção dos padres jesuítas havia uma pequena ermida, construída por
Salvador Corrêa de Sá, nela ergueu-se em 1569, de taipa de pilão, a Matriz da
Freguesia de São Sebastião, a primeira Sé criada na cidade do Rio de Janeiro,
concluída somente em 1583. Para ela foram transferidos os restos mortais do
fundador da cidade, Estácio de Sá.
O Convento de Santo Antonio criado em 1606 na Ermida de Santa Luzia foi transferido
a 20 de janeiro de 1607 para a ermida de Nossa Senhora da Ajuda, ficando lá até
receberem do governador Martim de Sá, o Outeiro do Carmo que passou a
denominação de Morro de Santo Antonio.
O pórtico era de granito, possuía uma janela e um óculo no côro, e um frontão reto;
tinha duas torres, uma em cada extremidade, com pináculo em forma piramidal. O
interior era dividido em três naves, na capela mor um painel de Manoel Cunha no teto
compunha a ornamentação junto as pinturas laterais de Leonardo Joaquim. Junto a
ela, edificou-se em 1650, o mosteiro.
Em 1569, a emida de São Sebastião foi elevada a Matriz de São Sebastião passando
a Igreja Catedral com a instalação do primeiro Cabido da Sé em 1676, permanecendo
até 1734, quando foi removido para a Igreja da Cruz dos Militares.
Capítulo III
Inventário da Cinelândia: Histórico
62
Fig 17. Gravura da primeira Sé da Cidade, Igreja de São Sebastião. Fonte: COARACY,
1965.
A ermida caiu em ruínas em 1861 por conta de um temporal, foi então entregue aos
frades Capuchinhos italianos que deram início as obras de reedificação; elevando as
paredes da Igreja e da capela-mor, reconstruindo as torres, construíram ainda duas
capelas fundas, nove altares, púlpito e ornamentos em obra de talha, apresentando
claramente o gosto jesuítico.
Por trás da Igreja os frades, conhecidos vulgarmente por Barbadinhos, construíram um
hospício com dois pavimentos: no primeiro, a sala do refeitório e sete celas e no
segundo, doze celas e a sala do relógio; e através de concessões acabaram por se
apossar da Praça da Sé.
Construído ao sul do Morro do Castelo, o Reduto de São Januário, chamado também
de Baluarte da Sé, foi construído em 1710 para coibir o desembarque na praia de
Santa Luzia.
“Em princípios do século XVII havia na cidade: no
sopé do Morro do Castelo, o Forte de São Tiago
(depois, do Calabouço); na Cidadela, o Baluarte
Cidadela, o Forte de São Sebastião e o Baluarte da
Sé, ligando esse Baluarte ao Forte de São Tiago, a
muralha em que ficava a Porta da Cidade, onde até
pouco tempo atrás existia o beco da Música”.
(SANTOS, op.cit, p.17)
Cinelândia: um conjunto histórico
Taisa Soares de Carvalho
63
Legenda:
A. Forte de São
Sebastião
B. São Januário
C. Colégio dos
Jesuítas
D. Igreja da
Misericórida
E. Forte de São
Tiago
S. Muralha
Fig 18. Planta da Cidade de São Sebastião e suas fortificações,
1713. De João Massé. Fonte: CZAJKOWSKI, 2000.
Na Planta da Cidade de João Massé pode-se ver que a cidade se resumia na praia de
Dom Manuel, e em alguma poucas ruas, como as de São José, das Violas, dos
Pescadores, da Misericórdia, Direita, da Candelária, Quitanda, terminando na rua dos
Ourives; algumas outras ainda sem nome e com poucas casas.
Esta planta é considerada um importante documento deste tempo, pois além de
registrar com maior fidelidade o arruamento da cidade, apresenta também a
representação da muralha que ía do Morro da Conceição ao do Castelo, que protegia
e limitava a cidade.
Também apresenta os marcos de centralidade representativas do poder religioso e
civil, com a construção, na parte mais alta do morro, da Igreja de São Sebastião,
padroeiro da povoação, suas igrejas, edifícios públicos e fortificações.
Capítulo III
Inventário da Cinelândia: Histórico
64
Fig 19. Perspectiva do Morro do Castelo e suas construções. Maquete do Morro do
Castelo, Museu da Cidade do Rio de Janeiro. Fonte: NONATO, 2000.
Fig 20. Vista do Morro do Castelo e suas construções. Maquete do Morro do Castelo,
Museu da Cidade do Rio de Janeiro. Fonte: NONATO, 2000.
“Bem no cocuruto da montanha foi que se construíram as famosas
casas de pedra que punham o colonizador ao abrigo das flechadas
inimigas, prestigiosas massas, paredes portentosas, casarões
severos onde se instalou a sede da administração e da justiça
públicas. E como, pelo tempo, por onde fosse o homem havia de lhe
ir, ao pé, sempre, o sacerdote de Deus, um templozinho ergueu-se,
branco e garrido, dando ao quadro feliz do povoado nascente
amenidade e linha, alegria e frescor.
Em torno da paisagem era linda, a arvoredo copava e o caule flébil
do coqueiral vistoso erguia para o alto, abrindo em leques ou em
repuchos, palmas frescas e largas que se arrepiavam ao vento,
espanejando ao sol.
Diante da igreja havia uma espécie de pracinha, irregular e feia,
onde, tempos depois, toda uma multidão, vinda dos quatro cantos do
morrete, em massa se ajuntava: homens de prol, capitães da
armada, capitães e soldados da guarnição da terra, índios aliados,
fortes e nus, e até as damas que roçavam sedas, as sedas lavadas e
brosladas da época, que era a dos decotes amplos e quadrados, das
marlotas e dos chapins de cetim. Que os homens de qualidade,
esses vestiam gibões de raso, meias de chamalote cobrindo perna e
coxa, capas de baeta sobre os ombros, e, à cabeça, um
chapeuzinho de copa rígida, posto um pouco de banda, com sua
Cinelândia: um conjunto histórico
Taisa Soares de Carvalho
65
pluma, colorida, a fremir e a ondular. Ao selvagem da América a
indumentária espaventava. Era a civilização trazida pelo luso,
dominado a bruteza da terra. (...)
Serenado, afinal, o ânimo gentio, primeiro, pelas encostas que iam
ao mar, depois, por ermos, irregulares e íngremes caminhos, foram
as casas e os quintais descendo, escorregando, esparramando,
morro abaixo, em direção à várzea ainda coberta de mangais e
lagoas verdes, onde, pela hora do crepúsculo, cruzavam garças e
coaxavam rãs.”
(MARANHÃO, 2000, p.16-17)
A urbanização e a arquitetura do período colonial se caracterizava por um lote bem
definido, seguindo as antigas tradições urbanas de Portugal. As ruas apresentavam
aspecto uniforme, definidas pelas residências que eram construídas sobre o
alinhamento das vias públicas, não havia calçamento nem se conhecia o passeio
(calçada), apresentava também ausência de áreas verdes, parques públicos e
arborização nas ruas.
As residências seguiam a tipologia de casas térreas e sobrados na área urbana, de
chácaras, na rural; em sua maioria construídas de pau-a-pique, adobe ou taipa de
pilão, nas edificações mais importantes empregava-se pedra e barro, raramente
utilizavam tijolos e pedra e cal. As casas eram telhadas, com duas águas,“dimensões
e números de aberturas, altura de pavimentos e alinhamento com as edificações
vizinhas foram exigências correntes no século XVIII” (REIS FILHO, 2004, p. 24)
O Morro do Castelo até o século XIX foi morada nobre, pouso de abastados; ali se
ergueram grandes habitações em meio a chácaras, mesmo porque, no clima da
cidade, o morro era tradicionalmente considerado um lugar mais sadio, fresco e
tranqüilo.
Ainda no século XVI, a ocupação se extravasou para a vársea, em meio ao terreno
alagadiço à margem do Caminho do Desterro, construiu-se uma ermida em devoção à
Nossa Senhora da Conceição da Ajuda, padroeira dos navegantes, e em tão pouco
tempo ficou conhecido como Campo da Ajuda.
Nos dois séculos seguintes, mantém-se a centralidade da cidade no Morro do Castelo,
mas o crescimento e diversificação da população faz com que ela se expanda pela
vársea, onde se deu a construção das ermidas de São José, Santa Luzia, Nossa
Senhora do Ó e do hospício da Misericórdia, em torno das quais se agrupavam os
casarios.
Capítulo III
Inventário da Cinelândia: Histórico
66
“Não era mesmo fácil morar num morro de 64
metros de altura – do tamanho de um prédio de 22
andares – que tinha apenas uma nascente de água
e onde gêneros alimentícios e material de
construção tinham que ser levados nas costas, a
duras penas.”.
(Sérgio Garcia in NONATO, 2000, p.62)
O traçado irregular das ruas do Morro era sucedido pelo traçado regular da vársea, já
na primeira metade do século XVII se falavam em codeamento, demarcação e ruas
direitas. Sempre acompanhando o contorno do morro a cidade seguia pela rua São
José, indo em direção à rua da Ajuda.
Em 1617, a ladeira da Misericórdia, juntamente com a praça defronte a Sé, tiveram a
primazia de receber o primeiro calçamento em pedras da cidade, feita com lajes
grandes e irregulares, pedras de mão, colocadas soltas sobre o solo, ajustadas por
soquete, chamada por Simão de Vasconcelos de “caminhos de pé posto” (apud,
Ibidem, p.56).
Alguns anos depois, abriram-se dois novos acessos ao centro do governo da cidade
no alto do Castelo: uma foi a Ladeira do Poço do Porteiro, que recebeu este nome em
alusão ao poço existente na casa do porteiro da cidade, no pé do morro
18
; a outra, a
Ladeira do Colégio, ou do Castelo, do Cotovelo ou do Carmo. Ambas desembocavam
na praça do Colégio dos Jesuítas.
“O íngreme, o desigual, o mal calçado da ladeira
mortificavam os pés às duas pobres donas. Não
obstante, continuavam a subir, como se fosse
penitência, devagarinho, cara no chão, véu para
baixo. A manhã trazia certo movimento: mulheres,
homens, crianças, algum logista, algum padre, todos
olhavam espantados para elas, que aliás vestiam
com grande simplicidade; mas há um donaire que se
não perde, e não era vulgar naquelas alturas. A
mesma lentidão do andar, comparada à rapidez das
outras pessoas, fazia desconfiar que era a primeira
vez que ali iam”.
(Machado de Assis apud, Ibid, p.58)
18
Ao longo do tempo recebeu diversas outras denominações, provavelmente no século XVIII, como:
Ladeira do Seminário, Ladeira da Mãe do Bispo e Ladeira da Ajuda.
Cinelândia: um conjunto histórico
Taisa Soares de Carvalho
67
Com crescimento e desenvolvimento da cidade se fazia necessária a melhoria na
infraestrutura para suprir as necessidades da população, dentro deste diálogo, a
necessidade do abastecimento de água canalizado, que até então era comercializada
por senhores e distribuídas por seus servos, os índios, que saiam pelas ruas com latas
d’água na cabeça fazendo as “entregas”.
Em 1672, sob o governo de João da Silva e Souza (1670 a 1675) são dispostos os
primeiros recursos financeiros para a execução da obra para canalização do rio
Carioca, sendo no ano seguinte contratados João Fernandes e Albano de Araújo que
dariam início a construção do aqueduto que deveria, segundo projeto original, vir ao
longo do Morro do Desterro, e do Morro das Mangueiras até o Campo da Ajuda.
“A idéia de conduzir as águas do Rio Carioca ao
coração da cidade cabe ao ouvidor Manuel Pereira
Franco, que por acórdão tomado em Câmara, a 21
de abril de 1648, deliberou, com os respectivos
vereadores, pôr a obra em andamento, consistindo
em conduzir o precioso líquido por meio de calhas
de madeira, sustentadas por arcos, pelo sopé dos
morros até o Campo da Ajuda”.
(PASSOS, 1965, p.151)
A canalização das águas do Carioca enfrentou muitas dificuldades o que ocasinou no
seu embargo pelo Rei, suspendendo “de todo as obras até ulterior decisão e aviso”
(COARACY, 1965,p.130), embora parte do aqueduto já servisse à população.
Fig 21. Primeiro aqueduto da Carioca, 1781. Primeira planta conhecida, autoria de Manuel
dos Reis Couto. Fonte: COARACY, 1965.
Capítulo III
Inventário da Cinelândia: Histórico
68
Anos após, o governador Aires de Saldanha ignorou a ordem do Rei e contratou o
engenheiro Félix Carneiro e Cunha para as correções no projeto, modificando o
traçado do aqueduto, que não mais chegaria ao Campo da Ajuda, mas ao Campo de
Santo Antônio.
Os arcos então margeavam o Caminho do Desterro até o Campo da Ajuda, sofrendo
um desvio para atingir o Largo da Carioca, onde fôra instalado um chafariz para que
se fizesse o abastecimento de água à população. O caminho sinuoso e a construção
de baixa qualidade fizeram com que os “arcos velhos” rapidamente apresentassem
estado de ruína.
No governo de Gomes Freire de Andrada (1735-1762) a cidade de São Sebastião teve
um grande impulso urbano, avançando além da rua da Vala, fazendo o aterramento da
lagoa de Santo Antonio, atual Largo da Carioca.
Também tomou a frente da obra dos arcos velhos, mandando-o demolir por inteiro e
substituindo-o por uma nova construção, com um traçado mais retilíneo, ligando
diretamente o Morro do Desterro ao de Santo Antonio, surgindo, em 1750, os arcos
novos, os chamados arcos da Carioca. É esta considerada pelo autor Paranhos
Antunes como sendo “a maior obra monumental dos tempos do Brasil-Colônia”
(ANTUNES, 1965, p.28).
Na antiga rua dos Barbonos e Velha Guarda
19
, havia um casarão onde residiu Ana
Teodoro Ramos de Mascarenhas, mãe do sexto bispo do Rio de Janeiro, Dom José
Joaquim Justino Mascarenhas Castelo Branco, entre 1731 e 1805. Dona que
participava ativamente em obras de caridade, exercia também a função de juíza pelo
seu enorme prestígio, resolvendo pendências, desentendimentos e decidindo sobre
questões diversas que lhe eram apresentadas.
A “casa nobre” daria nome ao lugar: Largo da Mãe do Bispo, e mais ou menos neste
local, um século antes, havia sido construído pelo Governador João da Silva e Sousa
o primeiro depósito d’água para a cidade, abastecido pelo rio Carioca através de um
aqueduto que descia de Santa Teresa pela atual Rua Almirante Alexandrino.
19
Atual Evaristo da Veiga e 13 de Maio respectivamente.
Cinelândia: um conjunto histórico
Taisa Soares de Carvalho
69
A área do Largo era uma região de lagos e alagadiços, o autor Brasil Gerson cita uma
passagem lida em Everardo Backeuser onde diz:
“nas escavações para o lançamento dos alicerces do Teatro Municipal
foram encontrados restos de embarcações, de que nela se utilizavam
os primitivos colonizadores para cruza-la economizando caminho. Mais
tarde, ainda no século XVII, chegou a existir uma ponte de madeira, na
Ajuda, para facilitar o trânsito entre a Rua dos Barbonos e a Ladeira do
Seminário, que levava ao alto do Morro do Castelo”.
(GERSON, op.cit., p.99)
Fig 22. Largo da Mãe do Bispo. Fonte: MARANHÃO, 2000.
Nestes terrenos, havia uma ermida “de que não se sabe quando foi originalmente
construída nem quem a fundou” (COARACY, op.cit., p.222), provavelmente ainda no
século XVI, a de Nossa Senhora da Ajuda. Em 1600, a ermida em ruínas é substituída
por uma capela, que passou a ser frequentada e muito famosa naquela tempo.
A cidade já contava com três seminários masculinos, as dos beneditinos, dos
franciscanos e dos carmelitas, carecia ainda de um feminino. Por iniciativa do padre
Francisco da Silva Dias de dotar a cidade de um recolhimento de mulheres devotas
que quisessem dedicar-se exclusivamente a Deus, o convento foi erguido próximo à
pequena Capela da Ajuda, inaugurado em 30 de março de 1750, localizado nas
imediações das ruas Evaristo da Veiga e Treze de Maio.
Capítulo III
Inventário da Cinelândia: Histórico
70
Fig 23. Planta da cidade do Rio de Janeiro, 1750. André Vaz Figueira.
Com a área onde se formará a Cinelândia em destaque. Fonte:
CZAJKOWSKI, 2000.
O primeiro grande monumento erguido na área do Largo da Mãe do Bispo, pode-se
considerar o Convento de Nossa Senhora da Conceição da Ajuda; abrigou as freiras
da Ordem da Imaculada Conceição, fundada na Espanha, e é considerada a
comunidade religiosa feminina mais antiga do Brasil. (MARANHÃO, op.cit., p.13)
Seu projeto é dedicado ao Brigadeiro José Fernandes Alpoim
20
, iniciada em 1745,
teve sua construção concluída cinco anos depois. O edifício apresentava dois andares
e em seu pátio interno foi colocado, em 1795, o chafariz das Saracuras
21
, obra do
Mestre Valentim, doado às freiras pelo Vice-Rei Conde de Resende.
20
Brigadeiro José Fernandes Alpoim foi também o autor do projeto do Paço Imperial, na Praça XV de
Novembro, Centro/ RJ.
21
O Chafariz das Saracuras hoje se encontra na Praça General Osório, em Ipanema.
Cinelândia: um conjunto histórico
Taisa Soares de Carvalho
71
Fig 24. Gravura do Convento da Ajuda. Fonte: COARACY, 1965.
Abrigou os túmulos da Infanta D. Mariana (1813), da primeira Imperatriz do Brasil, D.
Maria Leopoldina (1826), e da filha da Princesa Imperial D. Isabel (1874).
Nas proximidades do Convento da Ajuda, havia a Lagoa do Boqueirão que foi
mandado aterrar com o material do arrasamento do Morro das Mangueiras por
determinação do Vice-Rei D. Luís de Vasconcelos, com a justificativa de que a lagoa
infeccionava a cidade.
Nesta área aterrada foi criado o primeiro jardim público, ficando encarregado desta
obra o Mestre Valentim da Fonseca e Silva, que abriu o Passeio Público à população
no ano de 1783, tornando este jardim num lugar de recreio para a sociedade, com
vista para o mar.
Na planta levantada por J. A. dos Reis e Paulo dos Santos Ferreira Souto, em 1808 e
publicada em 1812, para a comemoração da chegada da família Real ao Brasil,
podemos ver o jardim do Passeio Público na paisagem da cidade, apresentando
edificações em suas imediações, bem como verificar o grande aumento de ruas e
áreas edificadas, avançando até o Campo de Sant’Ana.
D. Luís de Vasconcelos também realizou a construção de grande parte do cais da
Praça do Carmo (atual Praça XV de Novembro) para onde a cidade já havia avançado,
substituindo o antigo chafariz existente ali por um novo, também de autoria de Mestre
Valentim, que se encontra na praça até os dias atuais.
Capítulo III
Inventário da Cinelândia: Histórico
72
Fig 25. Planta da Cidade do Rio de Janeiro, 1812. Apresentando o
Passeio Público e em destaque a área onde irá se formar a Cinelândia.
J. A. Dos Reis e Paulo dos Santos Ferreira Souto. Fonte:
CZAJKOWSKI, 2000.
O Vice-Rei não só inaugurou a implantação de parques públicos como também a
prática de arrasar morros e os utilizar como aterros para cobrir lagoas, mangues e
praias, abrindo espaços livres e arejados favorecendo o crescimento da cidade.
Com a presença da família Real, a cidade de São Sebastião entra num período de
grande progresso, acrescentada de vida cultural e social. Algumas ruas recebem
calçamento, muitos edifícios públicos são reformados e outros, construídos.
No que podemos ressaltar quanto às residências, com a chegada da Missão Francesa
na Corte, em 1816, funda-se a Academia Imperial de Bellas Artes, que acaba por
favorecer algumas transformações: a construção de casas se tornou mais refinada, os
sobrados e casas térreas abriam espaço para a casa de porão alto, elementos
decorativos passavam a integrar a fachada, com colunas e frontões, platibandas,
balautradas, janelas de balcão, peitoris em ferro e bandeiras de vidro.
Cinelândia: um conjunto histórico
Taisa Soares de Carvalho
73
Fig 26. Evolução da arquitetura residêncial. Casa térrea e sobrado, até cerca de 1800; e
casa térrea e sobrado com porão alto, de 1800-1850. Fonte: REIS FILHO, 2004.
Na rua da Ajuda, próximo ao Largo da Mãe do Bispo, se instalou em 1863 o pequeno
Teatro Eldorado, que por algum tempo denominou-se Recreio do Comércio até
receber o nome de Jardin de Flore pelo empresário francês Labocaire. Neste teatro,
instalou-se em janeiro de 1868 a companhia do artista português Vasquez, que ao
assumir o estabelecimento o rebatizou de Teatro de Fênix Dramática, tornando-se
uma das salas de espetáculos mais freqüentadas do período.
O edifício abrigou o teatro até a abertura da Avenida Central (1905) quando foi
demolido, porém já não funcionava como casa dramática, seu último grande sucesso
foi uma peça traduzida por Artur Azevedo, em 9 de outubro de 1890.
A área da Ajuda ainda sofreria algumas alterações na sua configuração urbana, em
1884, após ações jurídicas entre as freiras do Convento e o governo municipal, foi
rasgada a chácara da Ajuda, onde se localizava o convento, para a abertura da rua
Senador Dantas.
Esta rua ficou famosa por abrigar pensões onde se instalavam os artistas, sendo então
mal vista pela sociedade e segundo Vivaldo Coaracy, “um eufemismo para esconder
as casas de prostituição de luxo, que adquiriam renome nas rodas da boêmia da
época”. (apud Lima, 2000, p. 178)
Sua fama se extendeu até o início do século XX, quando após pressões das famílias
de bons constumes que ali transitavam de bonde, fizeram com que o governo retirasse
as locatárias não bem vistas, transferindo-as para regiões mais discretas, e os
edifícios passaram a abrigar repúblicas para estudantes.
Capítulo III
Inventário da Cinelândia: Histórico
74
As terras vastas que circundavam o Convento da Ajuda, foram desmembradas para a
construção do edifício do Colégio São José em 1871, depois conhecido como
Seminário Episcopal São José e que acarretou na mudança do nome da praça para
Praça São José. O seminário era vizinho ao convento, estava em parte situado na
Ladeira de São José, próximo a rua da Ajuda, seu muro se estendia desde onde hoje
se encontra a Biblioteca Nacional, junto ao morro, até quase o mar. Em 1895, se
instalou no Colégio São José o Conselho da Câmara.
O portão do Seminário se abria para um jardim, ao fundo ficava o edifício de dois
pavimentos; de um dos lados a portaria com um alpendre no primeiro pavimento, e no
segundo duas janelas de peitoril, do outro lado uma porta de acesso ao primeiro
pavimento, e no segundo, duas janelas. No centro da edificação havia uma capela,
com pórtico, duas janelas no côro, frontão reto e um óculo no tímpano; do lado oposto,
as salas de aula; na parte posterior, os dormitórios.
Com a abolição, sem uma política de inclusão da mão-de-obra antes escrava, o que
se vê na cidade, a partir de 1860, é um agravamento das condições da vida no centro
da cidade. Sem trabalho, os negros passavam a residir na região central, trabalhando
ali como vendedores informais, operários da construção civil ou conduzindo carroças e
charretes. Houve uma tendendência desde então do êxodo da população menos
favorecida para o o centro da cidade, intensificado pelo crescimento da imigração.
Um plano para reurbanização da cidade do Rio de Janeiro foi idealizado pelo Ministro
Barão do Rio Branco (1871-1875), elaborado pelo engenheiro Pereira Passos, o Plano
da Comissão de Melhoramentos visava combater as constantes pestes que se
alastravam pela população. Sem o apoio do Imperador e com a crise política que se
desencadeou em 1875, sendo deposto o Ministro, o projeto foi abandonado sem
recursos para sua implantação.
A cidade continuava a crescer lentamente, permanecendo com o tecido urbano que se
configurou durante os séculos XVIII-XIX. Até o governo de D. Fernando Portugal,
penúltimo Vice-Rei do Brasil no Rio de Janeiro, o Morro do Castelo ainda permanecia
com residências de ricos e altos funcionários da colônia.
Cinelândia: um conjunto histórico
Taisa Soares de Carvalho
75
Fig 27. Plano da Comissão de Melhoramentos, 1874. Elaborada pelo engenheiro
Pereira Passos no governo de Rio Branco. Fonte: LIMA, 2000.
Porém o Morro do Castelo não comportava mais a população e aos poucos a cidade
foi deixando a elevação, se desenvolvendo na planície; os próprios edifícios públicos
acabaram sendo transferidos para a vársea. A Igreja da Sé, afastada da população,
acabou no esquecimento, a matriz foi então transferida e o antigo edifício entrou em
ruinas.
“Na parte sul da cidade, e algum tanto arredado do mar, está situado
o Monte do Castelo, onde os jesuítas fundaram o seu colégio, que
presentemente (escrevia ele ao tempo de D. João VI) é o Hospital
Real Militar; na parte mais alta deste mesmo monte se vê
sobranceiro à cidade a fortaleza ou castelo de S. Sebastião que, por
antigo, ameaça ruína e aqui se fazem os sinais dos navios, que
entram pela barra. No lado fronteiro à barra por detrás do colégio, ou
hospital, se conserva ainda hoje a primeira igreja que se fundou
nesta cidade, dedicada a São Sebastião seu padroeiro, a qual por
muitos anos foi matriz, e também catedral por largo tempo; o Conde
de Resende, sendo vice-rei, reparou e ornou decentemente esta
igreja, que estava quase a cair; junto dela se vê um marco de pedra
mármore da altura de quatro palmos com as Quinas portuguesas em
uma face, e na outra a Cruz da Ordem de Cristo; sobre a chapada
deste monte, entre a Sé velha e o Castelo, existem algumas casas
antigas, que parecem ser da primeira fundação da cidade, além de
várias outras, que se levantaram sobre a ruína das que caíram, ou
se demoliram por serem muito velhas; por quanto foi aqui, e no
terreno inferior ao monte pelo lado do mar, o primeiro berço desta
Capítulo III
Inventário da Cinelândia: Histórico
76
cidade, sendo tudo mais uma vargem coberta, em parte, de lagoas e
pântanos, e, em parte, de matos, que pouco a pouco se esgotaram e
aterraram ou se derrubaram para sobressair e se elevar esta linda
cidade”.
(Padre Luís Gonçalves dos Santos in GERSON, op.cit.,p.05).
A Igreja abandonada acabou servindo para abrigar o Observatório Militar; ergueu-se
sobre o morro uma torre metálica, com um balão que inflava, todos os dias ao meio
dia, era o chamado “balão do Castelo” (Muniz Barreto in NONATO, 2000, p.101). O
Observatório foi instalado ali provisóriamente, sendo mais tarde transferido para o
Morro de São Januário, até sua extinção em 1918.
Com a construção do Paço dos Governadores em 1743 no Largo do Carmo
22
, já
possuía a cidade um novo centro que apresentava os principais edifícios do período
colonial. Mais tarde, no período imperial, a valorização da freguesia de Santana
provoca a transferência do centro político para o Campo de Santana
23
.
Foi pouco a pouco se despovoando a montanha, ergueram-se casas nas ruas abertas
na planície, que se estendiam entre os montes da nascente cidade, e o Morro tornou-
se solitário, pois, excetuando-se os jesuítas e os cônegos, poucos indivíduos subiam
as ladeiras íngremes e extensas dessa montanha.
22
Também conhecido como Largo ou Terreiro da Polé ou do Passo, depois em 1871, Praça D.Pedro II e
em 1890, Praça XV de Novembro, como se mantém até os dias atuais.
23
Depois Praça da Aclamação e mais tarde, Praça da República.
Cinelândia: um conjunto histórico
Taisa Soares de Carvalho
77
3.2– A Praça Ferreira Viana
“A cidade está se transformando...
Quem se lembrará d’aqui a anos do que agora
cessou de existir?
Como se poderá comparar a cidade de 1900 com a
cidade de 1910, com a cidade de 2000?”.
(O Commentario, janeiro/ 1094, in PEREIRA, 1996)
Toda a planície próxima ao Castelo já estava construída em 1770, com arruamentos
na parte entre o Castelo, Santo Antônio, São Bento e Conceição. Vinte oito anos
depois, o Senado da Câmara abriu um inquérito entre os médicos da cidade na busca
pelas causas das epidemias; o Morro do Castelo foi então condenado pelo Dr. Manuel
Joaquim Moreira:
“Eis aqui, novamente os morros sendo causa das moléstias da
cidade por concorrerem para o calor do clima; destes, porém, o mais
nocivo é o Castelo, porque é o que obstrui mais a viração do mar,
vento mais constante, mais forte e mais saudável”.
(MARANHÃO, op.cit.,p.18)
Já em 1814, o médico José Maria Bontempo divulga Memória sobre algumas
enfermidades do Rio de Janeiro, aconselhando também a demolição do Morro do
Castelo e do Morro de Santo Antonio, não só como meio de arejar a cidade e eliminar
as molétias e as pestes, mas também de forma a tornar a cidade mais elegante e
majestosa. A idéia do arrasamento dos morros se estendeu por muitos anos, alguns
mostravam-se contra, sendo uma obra dispendiosa e desnecessária.
“Tudo delira e todos nós estamos atacados de megalomania. De
quando em quando, dá-nos esta moléstia e nós esquecemos de
obras vistas, de utilidade geral e social, para pensar só nesses
arremedos parisienses, nessas fachadas e ilusões cenográficas.
Remodelar o Rio! Mas como? Arrasando os morros... Mas não será
mais o Rio de Janeiro; será toda outra qualquer cidade que não ele.
É o caso de apelar para os ditados. Vão dois: cada louco com a sua
mania; sua alma, sua palma”.
(Lima Barreto in NONATO, op.cit.,p.212)
Capítulo III
Inventário da Cinelândia: Histórico
78
A adoção da República dos Estados Unidos do Brasil, que coloca fim ao período
imperial não foi imediata; sua proclamação, em 15 de novembro de 1889, foi seguida
de uma enorme crise econômica e, depois de alguns acertos foi reinstitucionalizado a
política do país sob os governos de Deodoro da Fonseca e Floriano Peixoto.
O início do século XX marca uma nova era para a cidade do Rio de Janeiro, em 1902
toma posse da presidência, Rodrigues Alves. Fica a seu cargo a tarefa de reabilitar a
capital do país, devendo esta expressar modernidade.
Se fazia necessária uma reformulação da capital, era preciso dar certeza de que ela
ofereceria condições comerciais favoráveis e segurança, por outro lado, a cidade
carecia de cuidados sanitários, melhorias na aeração e na iluminação para combate às
pestes; essas ações estavam presentes no Manifesto à Nação
24
:
“Aos interesses da imigração, dos quais depende em máxima parte o
nosso desenvolvimento econômico, prende-se a necessidade do
saneamento desta capital, trabalho sem dúvida difícil, porque se filia
a um conjunto de providências, a maior parte das quais de execução
dispendiosa e demorada. É preciso que os poderes da República, a
quem incumbe tão importante serviço, façam dele a sua mais séria e
constante preocupação aproveitando-se de todos os elementos de
que se puderem dispor para que se inicie e caminhe. A Capital da
República não pode continuar a ser apontada como sede de vida
difícil, quando tem fartos elementos para construir o mais notável
centro de atração de braços, de atividades e de capitais nesta parte
do mundo”.
(BENCHIMOL, 1985, p.424)
Inspirada pela modernização da cidade de Paris, iniciada na segunda metade do
século XIX, pelo projeto urbanístico de Haussmann, com suas largas avenidas que
cortavam a cidade francesa, se baseou o Plano de Reforma para Embelezamento e
Saneamento da Cidade do Rio de Janeiro.
Nomeado para assumir a Prefeitura do Distrito Federal, o engenheiro Francisco
Pereira Passos (1903-1906)
25
apresenta seu plano urbanístico, sendo este aprovado
em três dias no Clube de Engenharia. A partir de 1903 se inicia uma série de medidas
administrativas, jurídicas e financeiras para tornar possível a remodelação tão quista.
24
Divulgado em 15 de novembro de 1902. Câmara dos Deputados, Documentos Parlamentares
(1980/1910).
25
O mandato do Prefeito Pereira Passos foi de 30 de dezembro de 1903 à 15 de novembro de 1906.
Cinelândia: um conjunto histórico
Taisa Soares de Carvalho
79
Dentro de sua proposta de trazer melhorias sanitárias, o Plano Pereira Passos adotou
uma série de ações para combate do que poderiam causar as moléstias, colocando
em prática o serviço de política sanitária, com seus comissários de higiene que
acompanhavam as carroças de limpeza pública, vistoriando as edificações,
desinfetando reservatórios de água, ralos, valas e bueiros, fazendo a desocupação
dos sótãos e porões e proibindo a existência de animais tipicamente rurais nas
residências.
Em 1903 é nomeado médico higienista Oswaldo Cruz que realizou o combate às
epidemias, principalmente à febre amarela. Pelo método proposto por ele, aprovado
em 1904, o governo tinha poderes, inclusive, de demolir as edificações que fossem
consideradas insalubres, além de instituir a vacinação obrigatória contra a varíola em
todo o país, o que acabou por ocasionar na Revolta da Vacina
26
.
“O problema do saneamento do Rio de Janeiro foi sempre
considerado, por todas as autoridades que delle se têm ocupado,
como dependendo em grande parte da remodelação architectonica
da sua edificação e consequentemente da abertura de vias de
communicação amplas e arejadas em substituição das actuais ruas
estreitas, sobrecarregadas de um trafego intenso, sem ventilação
bastante, sem arvores purificadoras e ladeadas de predios anti-
hygienicos.
Certamente não basta obtermos água em abundância e esgotos
regulares para gosarmos de uma perfeita hygiene urbana. É
necessario melhorar a hygiene domiciliaria, transformar a nossa
edificação, fomentar a construção de predios modernos e este
desideratum sómente pode ser alcançado rasgando-se na cidade
algumas avenidas, marcadas de forma a satisfazer as necessidades
do trafego urbano e a determinar a demolição de edificação actual
onde ella mais atrazada e mais repugnante se apresenta”.
(Prefeitura do Districto Federal, in PEREIRA, 1996, p.179)
A abertura das avenidas traria à cidade, melhoria da circulação de transportes
facilitando a comunicação entre os diferentes bairros da cidade, melhorias no sistema
de canalização de águas e da diminuição da umidade do solo.
Procurando dar respaldo às ações de remodelação, é aprovada uma nova lei de
regulamento de obras
27
, fazendo exigências quanto a prova de posse do terreno das
construções e na aprovação do projeto de obra, estabelecendo as condições do
terreno, incluindo a necessidade de aterros de pântanos e alagadiços, exigindo largura
26
“Considerada pela historiografia tradicional como um choque entre as massas incultas, lideradas por
forças retrógradas”, contra a imposição irreversível do progresso; um movimento reunindo forças sociais
de naturesa distinta. E que ocasionou a revogação da lei da vacina obrigatória, tornando-a voluntária em
2 de setembro de 1905. (PEREIRA, 1996, p.176-177)
27
Decreto n° 391 de 10 de fevereiro de 1903.
Capítulo III
Inventário da Cinelândia: Histórico
80
mínima de seis metros para os terrenos nas ruas novas, bem como fixando a altura
máxima das construções em relação à largura das ruas, regulamentava as fachadas,
as paredes divisórias, os materiais de construção, a ventilação, a colocação de
reservatórios de água e a instalação de rede de esgoto.
Também reduzia o pé direito mínimo do primeiro pavimento para quatro metros, e nos
pavimentos superiores para três metros, autorizava a utilização de porões como área
habitável. Extingüia construções do tipo chalé e as construções rurais nas vias de
maior acesso e mais valorizadas do meio urbano, também excluía as casas térreas,
devendo nestas áreas serem construídas residências de pelo menos um sobrado.
Estabelecia normas para edificações comerciais, habitações coletivas e grupo de
habitações , excluindo as casas de cômodos, cortiços e estalagens.
Uma reforma no governo possibilitou a aprovação da Lei Orgânica
28
que ampliava os
poderes do executivo municipal. Esta também permitiu ao Prefeito ter autorização para
a realização de empréstimos para o plano de saneamento e embelezamento da
cidade, o que ocasionou no aumento dos impostos cobrados, principalmente o predial,
além da criação de novos tributos fiscais, como a taxa sanitária. Com estas medidas,
houve um aumento da receita municipal e da renda da Diretoria do Patrimônio e
Obras.
Neste mesmo ano, se aprova a nova Lei das Desapropriações; seguido a lei em vigor
que datava de 1855, as muitas desapropriações necessárias para as obras oneraria
absurdamente o custo da reforma, com esta nova legislação, o custo reduziria em
cerca de 45% do valor calculado sobre a lei anterior. Além disso, ela permitia ao poder
executico municipal vender ou realizar permutas das partes de terrenos
desapropriados que não fossem utilizados para a abertura de ruas.
Organizada a parte administrativa, legal e econômica, a Reforma Pereira Passos se
torna a grande marca republicana no urbanismo carioca e finalizaria a polêmica do
Morro do Castelo, tornando efetivo o desmonte de uma pequena parte, da aba que
terminava no Campo do Convento da Ajuda. O arrasamento se iniciou com uma
cerimônia oficial, com as demolições de edifícios da Ladeira do Seminário.
28
Decreto n° 1.101 de 09 de novembro de 1903.
Cinelândia: um conjunto histórico
Taisa Soares de Carvalho
81
“As grandes obras de arrasamento – a cavaleiro da cidade,
remoçada pela ação construtiva do governo de Rodrigues Alves, o
Morro do Castelo constituía chocante contraste com as obras de
remodelação do Rio antigo. Isolado da febre renovadora, evocava
cenários da metrópole, de que fora célula mater, reavivando, na
história do Rio de Janeiro dos séculos XVI e XVII, as principais
etapas do desenvolvimento urbano.
Ao assumir a 19 de novembro de 1920 a administração do Distrito
Federal, tratou o engenheiro e professor Carlos Sampaio de resolver
vários problemas de engenharia ainda não estudados com afinco por
seus antecessores, e entre eles o do arrasamento daquele morro,
consoante pareceres dos mais ilustres profissionais e com a
experiência própria adquirida desde 1890, quando obtivera
concessão para o desmonte”.
(Noronha Santos in NONATO, op.cit.,p.212)
Fig 28. Malha urbana da Cidade do Rio de Janeiro antes da Reforma de Pereira
Passos, 1890. Com a área onde irá se formar a Cinelândia em destaque
Fonte:CZAJKOWSKI, 2000.
A cidade ainda colonial, com suas ruelas tortuosas e consideradas insalubres
recebiam largas ruas, avenidas, aeradas e belas. Casas foram desaproriadas,
moradores indenizados e transferidos para outros pontos da cidade.
Começava-se a erguer sobre a malha urbana colonial do Centro do Rio de Janeiro o
Plano Pereira Passos; a frente, o engenheiro Paulo de Frontin ordenava a abertura de
largas avenidas como a da Assembléia, a Beira Mar, Marechal Floriano, Inhaúma, do
Capítulo III
Inventário da Cinelândia: Histórico
82
Acre, Uruguaiana, Camerino, Sacramento, Frei Caneca, Mém de Sá, Treze de Maio,
Sete de Setembro e a Avenida Central, além de praças e jardins públicos, como os da
Glória, da Tijuca, de São Cristóvão, da Carioca, do Valongo e São Salvador.
Fig 29. Planta da Cidade do Rio de Janeiro, 1905. Com as modificações na paisagem
urbana realizados pelo Plano Pereira Passos e a área onde vai se forma a Cinelândia em
destaque. Anônimo. Fonte: CZAJKOWSKI, 2000.
O Bota-abaixo desapropriou comerciantes, pequenos proprietários industriais, pessoas
que viviam de renda, além da população menos abastada, que residia e trabalhava no
centro, somando cerca de vinte mil desabrigados, e uma grave crise habitacional
começava a se instalar. Houve o início da separação entre os locais de morar e de
trabalhar, “os velhos sobrados comerciais de tipo português, com residências e lojas,
começaram a ser substituídos por prédios de alguns andares, com destinação
exclusivamente comercial” (REIS FILHO, op.cit., p. 60)
Cinelândia: um conjunto histórico
Taisa Soares de Carvalho
83
Fig 30. Recorte de jornal sobre o desmonte do Morro do Castelo. Reportagem de O
Malho n° 988, 20 de agosto de 1921. Fonte: NONATO, 2000.
Capítulo III
Inventário da Cinelândia: Histórico
84
Parte desta população passou a ocupar a Freguesia do Espírito Santo
29
, que na época
apresentou um alto crescimento demográfico, muito maior que outras freguesias
centrais. Somente permaneceram no centro os mais pobres, que não podiam custear
com moradia distante do local de trabalho e necessitavam do mercado informal para a
sua sobrevivência, vivendo estes nas casas de cômodos que resistiam à reforma.
Também se notou um aumento considerável de habitações que subiam os morros do
centro: Providência, São Carlos e Santo Antonio, iniciando o processo de favelização
nestas áreas.
“Quatro meses apenas foram necessário para que o energético
engenheiro Frontin pudesse levar a bom trêmo as expropriações,
que foram tôdas tratadas amigavelmente, e para demolir até os
alicerces 641 imóveis de grande valor locativo, botando abaixo ruas
inteiras e limpando completamente uma superfície edificada avaliada
em 13 hectares, exatamente 131.400 metros quadrados. A êle se
deve a construção de uma larga avenida, partindo do terceiro lado
promotório, onde se fazem os cais, e chegando ao primeiro lado, a
praia de Santa Luzia, que se volta para a entrada da baía, exigiu a
abertura de um formidável vão de 2.000 metros de comprimento por
100 de largura, através do próprio coração do velho Rio Colonial”.
(ANTUNES, op.cit.,p.35)
As novas ruas e avenidas passavam a apresentar recuo dos edifícios reconstruídos,
tendo em sua maioria 17 metros de largura, sendo substituídos os típicos caimentos
no centro das vias por sarjetas laterais; foram colocados novos tipos de calçamentos,
de tijolões ou de asfalfo com paralelepípedos de granito e lastro em concreto no lugar
do tradicional pé-de-moleque.
Em meio a tantas aberturas e alargamentos de vias, destaca-se a abertura da Avenida
Central, com seus 33 metros de largura, nenhuma outra recebeu tal tratamento de
monumentalidade como esta. É este realmente o fato capital daqueles anos, e
também o mais simbólico, expressão tangível das transformações econômicas e
sociais que ocorriam.
29
Catumbi, Estácio, Rio Comprido e parte de Santa Teresa.
Cinelândia: um conjunto histórico
Taisa Soares de Carvalho
85
Fig 31. Projeto da abertura da Avenida Central. O novo traçado se impondo sobre a malha
colonial da cidade do Rio de Janeiro. Fonte: LIMA, 2000.
O projeto da nova avenida, juntamente com o novo parcelamento do solo em grandes
lotes destinados às edificações institucionais, as amplas persperctivas que favoreciam
a visibilidade das fachadas monumentais dos palacetes aprovados pelo concurso de
fachadas e os requintados jardins que se construíam, deixavam claro tendência pelo
apuro francês.
Ainda em 1903 Lauro Müller aprovou as regulamentações da Comissão Construtora
da Avenida Central que coordenaria as desapropriações, demolições, loteamentos
para atender ao projeto da nova avenida, com a finalidade de fazer a comunicação do
novo cais e o centro da cidade, e para além disso, seria a grande representação da
modernização da cidade e a imagem cosmopolita que ela deveria transmitir.
Em 1904, dá-se início a sua abertura, com a demolição de 585 prédios e o desmonte
das abas dos morros de São Bento e Castelo, com 1.800 metros em linha reta da
Prainha (atual Praça Mauá) até o Largo da Ajuda. A rua da Ajuda, na altura já
chamada de Chile, foi reduzida ao trecho entre a avenida e rua São José; foram
demolidos, além dos casarios do Castelo, o Seminário São José.
O arrasamento do Morro do Castelo abriu cerca de 200.000 m² de área livre na base,
servindo o material do seu desmonte para o aterro de 608.400 m² sobre o mar. As
demolições em massa presenciadas neste período evidentemente provocaram uma
Capítulo III
Inventário da Cinelândia: Histórico
86
mudança brusca na paisagem da cidade e com isso, a perda das referências espaciais
pela população.
Fig 32. Desmonte de parte do Morro do Castelo. Foto datada de 21 de outubro de
1905. Fonte: NONATO, 2000.
Para dotar a cidade do padrão de beleza que se pretendia promoveu-se o Concurso
de Fachadas para os edifícios que iriam compor a Avenida Central, não importava que
tipologia arquitetônica as edificações apresentassem, também não havia restrição
quanto às distribuições internas dos compartimentos; no programa constava apenas a
largura do lote e o gabarito regulamentar, a única obrigatoriedade imposta era o uso
dos pavimentos térreos para estabelecimentos comerciais de luxo, que contriubuía
para o visual cosmopolita que eles deveriam transpassar para a cidade.
Muito rapidamente começam a surgir os novos prédios da Avenida Central. Em 8 de
maio deste 1904, se realiza uma solenidade, em meio aos escombros das demolições
da rua da Prainha, para o lançamento da pedra fundamental do primeiro edifício da
Avenida Central, de propriedade da família Guinle, que detinha muitos outros
loteamentos na avenida.
Cinelândia: um conjunto histórico
Taisa Soares de Carvalho
87
Fig 33. Abertura da Avenida Central: com a construção dos edifícios do concurso de
fachadas. Fonte: FERREZ, 1983.
Após seis meses de iniciadas as obras inaugurou-se, com muita festa, o eixo da
Avenida e a linha de bondes elétricos, que substituiam os bondes de tração animal,
apresentando quase dois quilômetros, e já estavam sendo concluídos os edifícios dos
Guinle, o do Jornal do Commercio, do Jornal do Brasil, do O Paiz e da Loja
Hasenclever.
“Pelo sítio das ruelas demolidas, pisando ladrilhos, topando em
restos de alicerces, formigavam famílias, estudantes e cavaleiros
circunspectos, admirando a brecha de dois quilômetros rompida, mar
a mar, no bairro antigo. O Dr. Frontin fizera trabalhar de noite
operários e engenheiros no assentamento dos trilhos, para que,
nesse aniversário da Independência, o Presidente da República
transitasse, em bonde elétrico, do Boqueirão à Prainha, inaugurando
o eixo da Avenida (...) Há grande alvoroço. Executa-se o hino. Os
bondes, transportando as autoridades, iniciam lentamente o seu
percurso. No meio disso tudo, um deputado e um médico higienista,
que participavam como espectadores, manifestavam seu entusiasmo
com o fato de que erradica-se o espírito colonial do Rio de Janeiro e
o país penetrava, corajosamente, a estrada do futuro, criando uma
pátria individualizada, empreendedora, americana”.
(Crônica de José Vieira em 1904, in BENCHIMOL, op.cit.,p.472)
Das mudanças ocorridas na cidade, promovidas por Pereira Passos, surge no antigo
Largo da Mãe do Bispo uma nova praça. Embora a Praça Ferreira Viana já possuísse
esse nome desde 1888, em homenagem ao presidente do Conselho Municipal, que ali
Capítulo III
Inventário da Cinelândia: Histórico
88
já se encontrava instalado desde 1895, podemos dizer que somente com as reformas
se altera a confirugação do espaço ainda com características do colonial-imperial.
Fig 34. Praça Ferreira Viana. Projeto da nova configuração da Praça após a Reforma de
Pereira Passos. Fonte: LIMA, 2000
Antes mesmo da abertura oficial da Avenida Central, o primeiro marco da reforma foi
construído sobre a praça, instalou-se a Câmara Municipal no prédio do Colégio São
José que fora adaptado à nova função.
Fig 35. Câmara Municipal. Antigo Colégio São José (1871-
1896). Fonte: LIMA, 2000.
Em 1904 foi realizado o concurso para o projeto do Teatro Municipal do Rio de
Janeiro, sendo o vencedor Francisco de Oliveira Passos, deixando o francês Albert
Guilbert em segundo lugar. O projeto construído sofreu algumas alterações mesclando
elementos dos dois projetos vencedores, fazendo referência à Ópera de Paris,
construído por Charles Garnier. Sua construção foi realizada pelo próprio arquiteto,
Cinelândia: um conjunto histórico
Taisa Soares de Carvalho
89
com a colaboração de René Barba, Antonio Raffin, Charles Peyroton, Emilio Bion e J.
Personnene, com início em 1905.
O edifício é uma síntese e melhor exemplo eclético do período republicano para a
então capital do Brasil, que coroa a Praça Ferreira Viana. A planta é perfeitamente
simétrica em sua parte frontal, onde se dão o foyer e a sala de espetáculos, apresenta
estrutura mista de alvenaria, granito e aço que se apoiam em fundações de pedra e
estacas de madeira.
Em 15 de novembro de 1906 é então inaugurada, sob forte chuva, a Avenida Central,
pavimentada com asfalto, iluminada por eletricidade, arborizada, com calçadas em
mosaico português, com 85 prédios novos em acabamento e seu obelisco
comemorativo doado pela firma Antonio Jannuzi Filhos & Cia
30
. O jornal O
Commentario publicava no dia seguinte: “O que parecida impossível fora executado
com ordem, presteza e qualidade, como por milagre, em apenas 20 meses e 7 dias.”
(apud, FERREZ, 1984,p. 18)
“Cheguei a janela e os meus olhos dominaram um espetáculo
magnífico, a fulguração da Avenida. Aquela rua era uma apoteose
permanente e era um símbolo. Mesmo não conhecendo o País, os
costumes e sua vida, sentia-me como um gigante criança que de
súbito deixasse a selvageria e o berço das tradições para lançar-se
como um desafio à corrente geral da civilização.”
(João do Rio, 1912, in LIMA, op.cit.,p.179)
A Avenida Central recebera pavimentação em asfalto, os cantos dos quarteirões foram
arredondados ou chanfrados, criou-se as calçadas para o passeio dos pedestres que
receberam desenhos decorativos de pedras calcáreas e basálticas, trazidas de
Portugal, executadas por calceiros especializados, que ficaram a posteriore
conhecidos como pedra-portuguesa, e se tornariam uma das marcas da cidade.
30
Foram eles que construíram o maior número de edifícios da Avenida Central, incluidos os prédios do
Jornal do Brasil e o das Docas de Santos, onde atualmente funciona a 6ª Superintendência Regional do
instituto de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional/ IPHAN.
Capítulo III
Inventário da Cinelândia: Histórico
90
Fig 36. O Obelisco comemorativo da
abertura da Av. Central. Fonte: FERREZ,
1983.
Até a segunda metade do século XVIII, não existia vida noturna na cidade, a
iluminação de azeite de baleira não permitia que se fizesse passeios depois das sete
horas da noite, com as transformações e a inauguração da nova avenida com sua
iluminação elétrica, trazia para sociedade uma nova vida, um novo jeito de gozar a
cidade, permitindo o passeio noturno, abrindo as portas para novos entretenimentos e
um novo conceito de relações sociais.
Se até o fim do Império se mantinha a hegemonia neoclássica, a reforma ajudou a
afirmar o ecletismo na arquitetura e no urbanismo e a nova avenida retratava todo
esse novo conceito que se instaurava.
No mesmo ano da inauguração da Avenida Central é inaugurado o edifício do Clube
Naval, de projeto de Tommaso Bezzi, com colaboração na sua construção de Heitor
de Mello; onde, a partir deste inicia-se a área monumental da Praça Ferreira Viana.
Cinelândia: um conjunto histórico
Taisa Soares de Carvalho
91
Ainda em 1906, foi remontado, nas proximidades do Convento da Ajuda, uma réplica
do Pavilhão do Brasil
31
na Exposição Internacional de Saint Louis / EUA (1904). O
Palácio Monroe, como ficou conhecido, foi edificado por Souza Aguiar, inaugurado em
23 de julho para sediar a 3ª Conferência Pan-Americana e permaneceu para as
comemorações do Centenário da Independência em 1922, tornando-se mais tarde a
sede do Senado da República.
Fig 37. Palácio Monroe e o obelisco.
Fonte: MARANHÃO, 2000
Fig 38. Vista da Avenida Central. Em primeiro
plano o Palácio Monroe, seguido pelo Convento da
Ajuda, nos fundos o Teatro Municipal em fins de
construção. A Av. Central ainda apresentando
muito prédios em construção, inclusive da
Biblioteca Nacional e Museu de Belas Artes. Fonte:
LIMA, 2000.
31
O Pavilhão do Brasil foi desenhado pelo Coronel e Engenheiro Francisco Marcelino de Souza Aguiar no
intuito de firmar o país perante a situação mundial que vivia a euforia da “Belle Époque”. Foi condecorado
com o maior prêmio da arquitetura na época: o “Grande Prêmio Medalha de Ouro”.
Capítulo III
Inventário da Cinelândia: Histórico
92
A Escola Nacional de Belas Artes, de projeto do arquiteto Adolpho Morales de Los
Rios tem sua pedra fundamental lançada em 7 de abril de 1906, com uma solenidade
na qual estava presente o presidente Rodrigues Alves.
Inaugurado em setembro de 1908, somente passou a funcionar como Escola no ano
seguinte, quando o então Diretor Rodolfo Bernardelli transfere seu funcionamento das
antigas instalações da Academia Imperial das Belas Artes
32
. Em sua arquitetura
eclética predomina o gosto pelo renascimento francês, com disposição clássica do
embasamento, corpo e coroamento.
Fig 39. Escola Nacional de Belas Artes. Fonte:
FERREZ, 1983.
Fig 40. Supermo Tribunal
Federal. Fonte: Arquivo Nacional
Ao lado de onde estava sendo construído o prédio da Biblioteca Nacional, também se
construía o edifício que abrigaria a Mitra Arquiepiscopal, de autoria do arquiteto
Adolpho Morales de Los Rios e construção de Casemiro Pereira Costa. Após
negociações com governo de Affonso Pena, o Ministro da Justiça e Negócios
Interiores, conseguiu adquirir o edifício, que já apresentava construção adiantada, para
a instalação do Supremo Tribunal Federal.
Foram feitas então, alterações no projeto original, recebendo elementos decorativos
inspirados no renascimento francês, com acréscimo de dois torreões em substituição
32
O edifício da Academia Imperial de Belas Artes foi projetado por Grandjean de Montigny, vindo com a
Missão Francesa, e se localizava na Travessa das Belas Artes.
Cinelândia: um conjunto histórico
Taisa Soares de Carvalho
93
aos mirantes previstos e que acabaram por assim suprimir as características da
fachada do templo religioso.
O prédio do Supremo Tribunal Federal foi inaugurado em março de 1909, seguido pela
inauguração do Teatro Municipal, que abre suas portas ao público em 14 de julho,
data nacional francesa.
Um dos edifícios mais importantes da República Velha é o da Biblioteca Nacional,
alguns atribuem seu projeto a Héctor Pépin, porém conforme consta na justificação do
projeto, constatado por Gilberto Vilar (apud, LIMA, op.cit., p.193) a autoria se deve à
Francisco Marcelino de Souza Aguiar
33
.
Fig 41. Biblioteca Nacional. Fonte: Guia da Arquitetura
Eclética no Rio de Janeiro, 2000.
O edifício também apresenta planta simétrica, tem suas fachadas de características
classicizantes, com um corpo central semelhante a um templo romano, que se solta do
pano principal, com seis colunas cotíntias e frontão. Sua construção tem uma caixa
externa em alvenaria, complementada internamente por estrutura em ferro.
Sua construção teve início em 1905 e somente foi concluído cinco anos depois. A
nova biblioteca passou a abrigar a coleção trazida por D. João na época da chegada
da Corte, e que se encontrava no prédio da rua do Passeio
34
.
33
Autor do projeto do Palácio Monroe, construído em 1922 por conta das comemorações do Centenário
da independência.
34
Inicialmente a coleção de D. João instalou-se no Convento da Ajuda, passando a posteriore para o
edifício construído para a Biblioteca Imperial, na rua do Passeio; neste local, hoje se encontra a Escola de
Música da UFRJ.
Capítulo III
Inventário da Cinelândia: Histórico
94
Após as reformas, a cidade do Rio de Janeiro recebe a designação por seus
habitantes de “Cidade Maravilhosa”.
Fig 42. A Praça Ferreira Viana e o monumento à Marechal Floriano. Ainda com os muros
do Convento da Ajuda, tendo na esquina da antiga rua dos Barbonos a Câmara Municipal
instalada no local do Colégio São José e já com o prédio do Teatro Municipal construído.
Fonte: COHEN, 1998.
Em 1910, a Praça Ferreira Viana passou por uma nova reforma, sendo nela erguido
um monumento em homenagem à Marechal Floriano Peixoto, de autoria do escultor
Edurado Sá, executado em Paris; desde momento em diante, ficou ela conhecida
como Praça Marechal Floriano.
Voltava a região do Castelo, agora através da Praça Marechal Floriano, a ser um
espaço representativo do poder público, marcada pela presença de instituições
importantes do legislativo – Câmara e Senado - e do judiciário – Tribunal de Justiça,
além de apresentar instituições de cultura – Teatro Municipal, Belas Artes e Biblioteca
Nacional.
“Esses prédios, símbolos de um novo tempo de vida cultural e
política do País, traziam espelhados em suas respectivas
arquiteturas os princípios de ordem e de racionalidade das
edificações renascentistas. Através da representação física do
poder, os governos republicanos buscavam promover a ordem e o
progresso.”
(LIMA, op.cit.,p.195)
Cinelândia: um conjunto histórico
Taisa Soares de Carvalho
95
3.3– A Cinelândia
“O cinematógrafo apossa-se da ciência, do teatro, da
arte, da religião, junta verdades positivas e ilusões
para criar o bem maravilhoso de mentira, e fixa de
novo a multidão, fixa-a pela recordação, dá-lhe
qualidades de visão retrospectiva, fá-la ver e crer,
celestemente removida ao momento da tortura ao
lado do Deus-Homem, humano na tela, mais ainda
irreal porque apenas uma luz do écran.”
(João do Rio, in LIMA, 2000, p.235)
As edificações imponentes edificadas para coroar o período republicano podiam ser
vistos de qualquer ângulo, porém, destava-se fora deste tempo de afirmação política o
prédio do Convento da Ajuda. Mesmo com a abertura da Avenida Central, o Convento
continuava imponente na paisagem da cidade, ocupando um grandioso terreno com
sua cerca conventual, que se estendiam da atual rua Evaristo da Veiga à rua do
Passeio.
Fig 43. Planta da Cidade do Rio de Janeiro, com seus
principais edifícios elevados, 1914. Na Praça Floriano
estão, o Teatro Municipal, Escola Nacional de Belas Artes,
Biblioteca Nacional, Supremo Tribunal Federal, o Conselho
Municipal, o Monumento à Mar. Floriano, já sem o Convento
da Ajuda; ao final da Av. Central, o Palácio Monroe e o
obelisco; e ainda a presença do Morro do Castelo e suas
edificações remanescentes. Mapa de Carlos Aenishänslin.
Fonte: CZAJKOWSKI, 2000.
Capítulo III
Inventário da Cinelândia: Histórico
96
“Mas, ali? Naquele centro de civilização? Na intensidade daquela
vida diária? Palavra que estou te estranhando; tu, o eterno rebelde, o
exigente antitradicionalista; tu surge-mes agora cheio de amores e
cuidados pela velharia de uma inexpressiva construção de pedra,
soturna, silenciosa, erguida no ponto mais elegante da nossa melhor
artéria, no mesmo trecho em que só há palácios?”
(revista Fon-Fon in LIMA, op.cit.,p.257)
Em 1911, as freiras do Convento foram transferidas para novas instalações no
Andaraí, o edifício da Ajuda foi comprado pela Light & Power, que o demoliu no
mesmo ano, em seu lugar seria instalado um complexo hoteleiro com 300 quartos,
mas o projeto não foi exectudao, permanecendo o terreno vazio por muitos anos.
A abertura de prédios modernos e arrojados na Avenida Central, juntamente com o
favorecimento da implantação da energia elétrica, contribuiu para a instalação das
salas cinematográficas.
A existência destas salas vem de longas datas, o primeiro registro da exibição de
película no Brasil encontrada é de 8 de junho de 1896, em uma loja da rua do Ouvidor
n° 57. (apud LIMA, op.cit., p.236), porém é com a Avenida que se afirma a hegemonia
deste lazer para a sociedade.
Os prédios dos antigos cinematógrafos espalhados pela cidade, velhos, defasados,
incapazes de atender as novas expectativas vão sendo substituídos pelo luxo e pelo
glamour da Avenida Central, sendo inauguradas inúmeras salas de ecrán. O
Parisiense, o Central e o Pathé foram inaugurados em 1907, este último, por Marc
Ferrez e Arnaldo Gomes de Souza, tendo sido muito famoso pelas exibição de uma
orquestra femina no mezanino da sala de espera. Ainda viriam o Pavilhão
Internacional, o antigo Odeon, que era um dos mais requisitados pela sociedade, o
Kosmos, o Éclair-Palace, o Avenida e o Palais.
O cinematógrafos tornaram-se a mania da população, as salas de cinema
emocionavam por sua arquitetura monumental com muitos ornamentos, além de
oferecerem preços mais acessíveis do que os teatros e não exigindo tanto um
vestuário luxuoso. Com a importação de filmes de diferentes nacionalidades, a partir
de 1918, vê-se uma mudança no comportamento da sociedade, agora em mais
contato com o mundo através de um enorme ecrán.
Cinelândia: um conjunto histórico
Taisa Soares de Carvalho
97
“Na avenida era impossível entrar em qualquer casa-cinema. Havia
uma multidão suarenta e febril até o meio da rua disputando lugar e
uma onda de gente feliz que saía. O movimento era de tal sugestão,
que quem passava parava, olhava e instintivamente incorporava-se
ao exército invasor, limpando a cara lustrosa de suor, dando
empurrões, querendo entrar, querendo ver.”
(João do Rio in LIMA, op.cit.,p.250)
O aperfeiçoamento cinematográfico passou a exigir mais das instalações dos
cinematógrafos, aos poucos, as salas da Avenida foram se tornando obsoletos, sendo
necessárias salas maiores, verdadeiros arranha-céus, permitidos pelo avanço da
tecnologia das construções com o concreto armado, como já acontecia na Europa e
nos Estados Unidos. Ainda assim, aqui, as salas de cinematógrafos continuavam a se
improvissar e a adaptar o espaço.
A popularidade dos cinemas foi crescendo de uma forma impressionante, as salas
continuavam a se multiplicar pela cidade, chegando a zona sul e aos surbúrbios. O
público que antes era constituído pela classe operária passava a ser mais seletiva de
acordo com a categoria do cinema.
Na década de 20 os filmes de melhor qualidade eram das grandes empresas norte-
americanas: Fox, Paramount e Universal Filmes, e mesmo com as adaptações
realizadas nos antigos cinematógrafos a indústria cinematográfica necessitava de
espaços mais adequados. A entrada de filmes sonoros afirmavam essa necessidade,
as salas não haviam sido projetadas para esta inovação, era urgente a construção de
novas edificações, grandes salas de espetáculos para atender as novas tecnologias.
Em meio a tanta euforia, em 1919 ocorre o incêndio do prédio da Câmara, na Praça
Floriano, o que dele restou seria demolido em 1921, e em seu lugar ergue-se o Palácio
Pedro Hernesto, concluído três anos depois por Archimedes Memória e Francisque
Cuchet pelo escritório Técnico de Heitor de Melo.
Seguindo o estilo da época o prédio deixa transparecer claramente a influência
francesa, com formas neo-Luiz XVI. A fachada principal simétrica, possui três corpos
diferenciados, o volume central é apoiado no embasamento de granito com grandiosa
escadaria. Segundo Raquel Sisson, o prédio “é um excelente exemplar de arquitetura
civil do primeiro quartel do século XX, pelo que representa como testemunho da
variedade de gostos arquitetônicos da época” (apud, LIMA, op.cit., p. 194).
Capítulo III
Inventário da Cinelândia: Histórico
98
Fig 44. O novo prédio da Câmara. Fonte: Guia da
Arquitetura Eclética no Rio de Janeiro, 2000.
Em 1922, por ocasião das comemorações do Centenário da Independência, o Prefeito
Carlos Sampaio consegue, enfim, concluir o arrasamento do morro do Castelo iniciado
nos planos de remodelação de Pereira Passos.
Em 20 de janeiro do mesmo ano houve uma cerimônia para a transladação do relicário
da antiga Igreja Matriz que ainda resistia, dela foram retirados a imagem de São
Sebastião, os restos mortais do fundador da cidade Estácio de Sá, sua lápide tumular
e o marco de fundação. O mosteiro dos barbadinhos, que também persistiu durante os
anos, foi fechado e demolido junto com a montanha.
O arrasamento foi o ponto de partida do projeto e da execução da Exposição
Internacional de 1922, seu material serviu de aterro para a construção da Avenida das
Nações, que ligava o Palácio Monroe à Ponta do Calabouço, e onde se fez a
montagem da exposição.
Cinelândia: um conjunto histórico
Taisa Soares de Carvalho
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Fig 45. Exposição Internacional de 1922. Montagem da exposição na Avenida das
Nações. Fonte: ROBERTO, 1992.
O terreno do antigo Convento da Ajuda continuava desocupado, era vez ou outra
utilizado como centro de diversões, chamado de Parque do Centenário, foi então
comprado pela Companhia Brasil Cinematográfica, fundada por Francisco Serrador
em 1917.
O objetivo do empreendedor Serrador era instalar no terreno da Ajuda o maior centro
de diversões da América do Sul, com um enorme centro comercial que deslocaria o
comércio de luxo da rua do Ouvidor, unido a grandes salas de cinema e acima deles,
enormes arranha-céus ocupados por escritórios e quartos de hotel.
Com algumas modificações, o projeto original apresentado para a área de
entretenimento constava de três teatros, quatro cinemas com cerca de 800 lugares
cada, um hotel, 17 grandes lojas, um grande rink de patinação, parque de diversões, 9
ruas de acesso ao parque e saídas dos cinemas, fonte luminosa, salas de escritórios,
terraço em toda a extensão dos prédios, destinados a bares e restaurantes, ficou este
conhecido como “Quarteirão Serrador”.
Capítulo III
Inventário da Cinelândia: Histórico
100
Fig 46. Os projetos de Francisco Serrador para seu Centro de Diversões. Fonte: LIMA,
2000 e COSTA, 1998, respectivamente.
O projeto não foi todo implantado, foram construídos quase simultaneamente os
quatro cinemas, na verdade cines-teatro – o Odeon, Capitólio, Império e o Glória –
além de edifícios de escritórios, um hotel e pequenas lojas ao redor dos cinemas –
bares, sorveterias, charutarias, bombonières, etc.
Fig 47. Localização do Cinemas do Bairro Serrador. Incluído o Pathé-Palácio, inaugurado
somente em 1928. Fonte: Elaborado pela autora com os dados levantados, sobre planta
cadastral de 1928.
Cinelândia: um conjunto histórico
Taisa Soares de Carvalho
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A edificação de novos cines-teatro foi o principal ponto das propostas de Serrador,
investindo não apenas na construção dos belos prédios, luxuosos, grandes, mas
também na importação dos melhores filmes.
O projeto foi concluído em 1925 e embora existissem mais cinemas na época do que
no Quarteirão Serrador, representou a consolidação desse tipo de entretenimento na
Praça Floriano, que tão rapidamente passou a ser chamada de Cinelândia.
Consolidava-se não apenas o espaço público onde a população poderia usufruir de
espaços confortáveis e seguros para o lazer, mas também significou a consolidação
da indústria cinematográfica, que passou a representar uma fonte de investimentos.
“A Avenida Rio Branco e a Cinelândia pareceram-me o Times
Square, em robusta miniatura transplantada da grande metrópole
yankee. Os jardins e os parques bem cuidados lembraram-me os de
Washington, Nova York, Paris e Londres; nenhum desses centros
possui uma praça tão bela, com uma moldura e o suntuoso fundo da
Praça Floriano Peixoto.”
(Jornal do Brasil -1928, in LIMA, op.cit.,p.250)
Tab 5. Cinematógrafos da Av. Central e Cinelândia
LOCAL 1827-1906 1907-1924 1925-1950
Praça Floriano
Peixoto
(Cinelândia)
Fênix Dramática Eldorado Cinema Capitólio
Cinema Império
Cine-Teatro Glória
Cinema Pathé
Palácio
Odeon
Avenida Central
(Av. Rio Branco)
Parisiense
Central
Eclair-Palace
Odeon (antigo)
Palais
Avenida
Kosmos
Pavilhão Internacional
Parisiense
Eldorado
Trianon
As salas de cinema da Cinelândia vão introduzir o padrão norte-americano,
aumentando a influência da sua cultura sobre a brasileira, trazendo para a arquitetura
desses espaços o estilo Paramount
35
, com salas grandiosas e luxuosas. Este estilo
também introduziu novos hábitos ao cinema, como o prólogo cinematográfico, uma
peça teatral contando resumidamente o enredo do filme que viria a seguir.
O primeiro dos cinemas a ser inaugurado foi o Capitólio, em 23 de abril de 1925, seu
nome faz alusão ao cinema Capitol de Nova Iorque (1919). Apresentava três
35
Paramount Filmes: distribuidora norte-americana de filmes.
Capítulo III
Inventário da Cinelândia: Histórico
102
pavimentos no embasamento e mais seis acima deste; sua arquitetura rebuscada
possuía características ainda ecléticas, com um grande arco central que coroa o
embasamento, destacando o portão principal e elementos decoraticos neoclássicos.
Fig 48. Cinema Capitólio e Cine Glória: Projeto de fachada do cinema Capitólio e foto da
entrada do Cine Glória. Fonte: LIMA, 2000.
Depois foi inaugurado no mesmo ano, o Glória, em 3 de outubro, situado no interior do
Edifício Heidenreich, construído na Avenida Rio Branco n° 254/256, ocupava os três
primeiros pavimentos e tinha uma arquitetura singela. Foi muito famoso, abrigando as
Companhias Tro-ló-ló e Jaime da Costa.
O Império foi edificado por iniciativa de Marcolino Ribeiro de Carvalho, inaugurado
ainda em 1925, em 12 de novembro, era um verdadeiro arranha-céu com 15
pavimentos, o embasamento, onde se dava o cinema, apresentava tratamento
diferenciado do edifício e sobre ele, 89 apartamentos. O Império apresentava em seu
projeto original um rebuscamento no estilo art-noveau, com marquise em ferro e vidro
projetada sobre o terraço da sala de espera, porém este detalhe não foi executado.
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Taisa Soares de Carvalho
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Fig 49. Cine Império. Fonte: LIMA, 2000.
O novo Odeon de propriedade de Francisco Serrador foi construído na Cinelândia pela
Companhia Construtora Nacional, e abriu as portas em 3 de abril de 1926. De
arquitetura monumental, inspirada nos grandes cinemas americanos, rasgou os céus
da praça com seus 14 pavimentos - um pavimento térreo, dois de escritórios e onze de
apartamentos com quarto e banheiro – sua fachada também eclética apresenta
embasamento rustificado, encimado por oito pavimentos que são o corpo da
edificação e mais três que fazem o coroamento do grande maciço.
“Magnífico na visão que proporciona a todos, em sala vasta, a maior
do Rio, sem que haja uma só coluna a servir de empecilho à vista do
espectador, o novo Odeon é a cópia de um desses esplêndidos
cinemas da Broadway”.
(Jornal do Brasil -1926, in LIMA, op.cit.,p.275)
Capítulo III
Inventário da Cinelândia: Histórico
104
Fig 50. Cine Odeon e Pathé-Palácio: desenho de Wriedt para o Cine Odeon e
foto do Pathé-Palácio. Fonte: COSTA, 1998 e LIMA, 2000, respectivamente.
Quando os cinemas passaram a ser considerados de segunda categoria, Marc Ferrez
resolveu edificar o Pathé-Palácio, ao lado do Capitólio, inaugurado somente em 1° de
outubro de 1928. O cinema foi projetado por Ricardo Wriedt nos três primeiros
pavimentos dos treze do Ed. Natal; recebeu um tratamento luxuoso, de estilo eclético,
mas já com tendências art déco.
A cultura dos cines-teatro traziam para o público um programa de entretenimento
completo, onde além de se assistir também peças teatrais, podia-se ouvir boa música
de orquestra, freqüentar os restaurantes, bares, os muitos cafés, bombonieres e
sorveterias, e comer um bom hot dog.
Os novos cinemas também ganhavam em altura, não ocupavam mais apenas o térreo
do prédio, utilizavam-se dos três ou quatro primeiros andares de um prédio de no
mínimo oito pavimentos. Mudava a proporção, o térreo era diferenciado, o corpo
principal retilíneo com volumetrias contidas, o coroamento superior da construção com
os dois últimos pavimentos, e o telhado em destaque, a simetria rigorosa pelo eixo
central do terreno, ritmo severo de aberturas, uso de elementos decorativos: colunas,
guirlandas, balcões em estuque e em ferro, vitrôs, arcos, etc.
Cinelândia: um conjunto histórico
Taisa Soares de Carvalho
105
Fig 51. Cinelândia e seus cinematógrafos. Fonte: COHEN, 1998.
A Cinelândia era conhecida por muitos com a Broadway Brasileira, principalmente o
chamado “Quarteirão Serrador”, concentrando os melhores cinemas da cidade na
época.
Já consolidada como espaço de lazer da cidade, o empreendedor Serrador idealizou o
cinema Alhambra; seu projeto inicial previa um edifício de 28 andares, porém as leis
municipais o impediu de realizar o alto prédio. Embora a crise econômica, em 1932 o
edifício estava construído, era um centro de diversões, cultura e lazer, e possuía um
centro gastronômico. O prédio foi destruído por um incendio em 1940.
Capítulo III
Inventário da Cinelândia: Histórico
106
3.4– Uma Praça de muitos nomes
“Qualquer chuva um pouco intensa transforma agora
a Cinelândia num grande lago que passa depois a
chocante lamaçal. O temporal de ontem deixou-a
inteiramente inundada, e é difícilo dizer-se ainda em
que se transformará.”
(Correio da Manhã, 1950, in LIMA, 2000, p.343)
A cidade continuou a crescer, em 1943 outros desapropriamentos foram realizados,
agora no Campo de Santana, para a abertura de mais uma nova avenida, larga, a
Avenida Presidente Vargas. É feito o arrasamento do Morro de Santo Antonio para
abertura das avenidas ligando o norte e o sul da cidade e da Avenida Perimetral.
Desse desmonte foram feitos aterros ao longo da Av. Beira Mar, entre o Morro da
Viúva e o aeroporto Santos Dumont, cumprindo o projeto de urbanização aprovado em
1953, pelo então arquiteto e urbanista do Departamento de Urbanismo da
Municipalidade, Afonso Eduardo Reidy.
“Essa área conquistada ao mar possibilitará a concretização de dois
grandes objetivos, essenciais para a vida da Capital: criação de um
parque público arborizado, exclusivamente recreativo, e
desafogamento do tráfego através da execução das novas pistas
que ligarão as avenidas Norte-Sul e Perimetral (projetadas) com as
vias de acesso ao túnel do Pasmado, estabelecendo, assim, franca
ligação dos bairros litorâneos da zona sul com o centro e a zona
norte.”
(Alberto Ribeiro Lamego, in ANTUNES, op.cit.,p.42)
É evidente que essas novas conquistas territoriais não só favoreciam a comunicação
do centro com as demais regiões da cidade como facilitavam o exôdo da população,
que iam em busca de lugares mais aprazíveis para morar. Os demais bairros da
cidade foram se construindo para receber essa população, recebendo infra-estrutura e
todo um equipamento urbano para atender a demanda.
Com o crescente êxodo, o centro passava a se configurar numa área de trabalho e,
numa cidade saturada de salas de cinemas e de outros entretenimentos, desfocou-se
a grande era dos cinemas que a partir de 1940 começavam a entrar em decadência,
Cinelândia: um conjunto histórico
Taisa Soares de Carvalho
107
sem manutenção, e acabavam por fechar. Em 1956 o Cine-Glória deixava de
funcionar, pois já apresentava precariedade nas instalações e fora demolido, o mesmo
ocorreu com o Império, também fechava as portas o Pathé-Palácio.
Além disso, a entrada da televisão nas residências fazia com que as famílias que
antes frenquentavam as salas de cinema, não precisassem mais ir à rua para se
deslumbrar diante uma imagem projetada.
A partir da década de 50 a Cinelândia perdia suas características de pólo-cultural da
cidade. Com o fechamento dos cinemas, tantos outros cafés e casas de chá fecharam
as portas, em seu lugar, abriram-se bancos, tabacarias e bares. A relação da
população com a praça se modificava.
Aos poucos se esvaziava o centro, servindo apenas como área comercial e de
trabalho, e com ele a área da Cinelândia. Os demais bairros da cidade, cada vez mais
autônomos, com seus cinemas modernos, com ar condicionado, diminuiram o
deslocamento da população para o centro, a vida da sociedade carioca que antes ali
se concentrava, agora possuía diferentes polaridades.
O aumento de veículos particulares nas vias, junto com os bondes, deixavam cada vez
mais caótica a circulação no Centro, perdia-se o caminhar pelos passeios, o
presenciar a cidade e sua arquitetura.
Mudavam-se as relações sociais e culturais. O centro da cidade do Rio de Janeiro se
estagnava, edifícios entravam em decadência, envelhecidos, sendo rapidamente
substituídos por novos, mais modernos, vidrados, altos, altíssimos, proporcionados
pela evolução técnica construtiva do concreto armado. A especulação imobiliária
permanecia, mudara somente o foco.
A saída do poder político da cidade do Rio de Janeiro também contribuíu para sua
decadência, deixando de atrair os olhares do país, agora focados na construção da
nova capital, o grande marco do modernismo, Brasília.
E que por fim, acarretará na demolição de um dos marcos da República instalado da
Cinelândia; o Palácio Monroe, que abrigara o Senado desde 1925, com a transferência
da capital em 1960, perdia a sua função. Condenado por atrapalhar o trânsito e a
Capítulo III
Inventário da Cinelândia: Histórico
108
construção do metrô, e dizendo-se esta edificação desprovida de qualidade
arquitetônica, em meio a protestos, demolia-se o edifício em 1975.
Fig 52. Recorte de Jornal sobre a
demolição do Monroe. Fonte: MARANHÃO,
2003.
No lugar do Monroe surge a Praça Mahatma Gandhi; em 1979 é colocado em seu
centro um chafariz em ferro fundido, de autoria do francês Louis Sauvaceau, datado
de 1861, fundido na França e adquirido no período Imperial, em 1878. Primeiramente
instalado na Praça XV, foi removido para a Praça da Bandeira em 1962 por conta das
obras da Perimetral, somente com o tratamento paisagístico dado à praça do extindo
Monroe é que vai ser transferido para o local que se encontra até os dias atuais, sendo
inaugurado em 19 de dezembro de 1979.
Fig 53. Chafariz do Monroe. Fonte: Guia da Arquitetura
Eclética do Rio de Janeiro, 2000.
Cinelândia: um conjunto histórico
Taisa Soares de Carvalho
109
Mas algums remanescentes dos períodos da Cinelândia ainda resistem as inovações
e a modernidade, foram adaptados às novas exigências da sociedade. Ainda estão
presentes na paisagem o Teatro Municipal, a Biblioteca Nacional, o prédio da Escola
Nacional de Belas Artes, o Supremo Tribunal, o Palácio Pedro Ernesto, alguns dos
edifícios do Quarteirão Serrador: Natal, Fontes, Heidenreich, Glória e Odeon, além do
monumento à Marechal Floriano Peixoto e o que restou em memória ao Monroe, o
chafariz.
A Escola Nacional de Belas Artes, foi transformado no Museu Nacional de Belas Artes
em 13 de janeiro de 1937, pela Lei n° 378, sendo inagurada como museu em 19 de
agosto de 1938.
A centralidade da Cinelândia instituído pelo Plano Pereira Passos se mantém, a praça
ainda apresenta os grandes marcos do poder público, além de representações do
poder econômico e financeiros, com a presença de grandes bancos e empresas
nacionais e multinacionais. Também ainda presentes os imponentes e mais
importantes edifícios culturais da cidade.
Fig 54. Cinelândia hoje. Fonte: COHEN, 1998.
Segundo as teorias de Kevin Lynch, a praça enquanto espaço urbano é um ponto
nodal, de encontros da sociedade, e sem dúvidas se configura na identidade da cidade
enquato catalizador da memória coletiva, cheia de simbolos.
Capítulo III
Inventário da Cinelândia: Histórico
110
Por toda sua importância na história na cidade do Rio de Janeiro e para a sua
sociedade, ações de preservação para a salvaguarda desse patrimônio vêm sendo
tomadas há alguns anos. Seu conjunto arquitetônico histórico é tombado nas
diferentes instâncias: municipal, estadual e federal, permitindo assim, através de leis e
ações preservacionistas a sua permanência na paisagem para a posteridade.
Mas só tombar e preservar não bastam, é importante para o bem imóvel a sua
permanência na vida da sociedade, sua continuidade no cotidiano.
Fig 55. Imóveis tombados na Cinelândia. Fonte:
Elaborado pela autora sobre aerofotogramétrico 1990, com
base nos guias dos bens tombados.
Funcionam como pólo culturais na Cinelândia: o Teatro Municipal, com suas
apresentações de balé, teatro, sendo espaço para eventos de festivais de música e
dança, abrindo suas portas para projetos como “Teatro aos domingos” com atrações a
Cinelândia: um conjunto histórico
Taisa Soares de Carvalho
111
preços populares; a Biblioteca Nacional, a maior biblioteca da América Latina, a 8ª do
mundo, com seus acervos preciosos, aberto ao público gratuitamente, diariamente; o
Museu Nacional de Belas Artes, que além das exposições permanentes, abriga
exposições provisórias, inclusives internacionais, de grandes nomes como as mostras
de Rodin, Monet, Dali, que quebraram recorde de público.
Em 20 de janeiro de 2001 o vereador Ricardo Maranhão envia à Câmara Municipal o
projeto de lei n° 306/2001, por ele, se institucionou a Semana da Cinelândia, a ser
comemorada anualmente, de 15 a 22 de novembro. No ano seguinte, o então prefeito
da cidade do Rio de Janeiro, César Maia, assina a Lei n° 3.405, de autoria do mesmo
vereador, sancionando as comemorações da Semana da Cinelândia como parte do
calendário oficial dos eventos da cidade.
“Art. 1° Fica instituída a Semana da Cinelândia a ser comemorada,
anualmente, de 15 a 22 de novembro.
Parágrafo único – Consiste a Semana da Cinelândia em evento de
manifestação cultural com o objetivo de estimular a sua revitalização
e resgatar seu valor histórico e turístico para a Cidade.”
(Lei n° 3.405, in MARANHÃO, op.cit.,p.86)
Em dezembro de 2002, inaugurou-se sob o terreno da Praça Mahatma Gandhi, um
enorme estacionamento, com capacidade para mais de mil veículos.
Integrando ao edifícios culturais, o Supremo Tribunal tornou-se Centro Cultural da
Justiça, e realiza exposições, como o de fotografias, que aconteceu recentemente,
Comemorativa da Abertura da Avenida Central, com fotos importantes deste marco
urbano da cidade que completou 100 anos em 2005.
Muitos outros projetos são desenvolvidos na Praça Floriano, a Prefeitura instala
periodicamente feira de livros, ações comunitárias de atendimento à população, e uma
feira gastronômica aconteceu em março de 2006.
Dos cinemas ainda se encontra funcionando apenas o Odeon, que além das sessões
tradicionais, realiza “maratonas” de filmes, sendo um grande atrativo de público. O
Palácio Pedro Ernesto ainda continua a cargo do poder político, nele encontra-se
instalado a Câmara dos Deputados, que também oferece eventos culturais com
exposições periódicas.
Capítulo III
Inventário da Cinelândia: Histórico
112
Nos edifícios do Quarteirão Serrador espalham-se restaurantes que servem refeições
para a população que ali trabalha durante o dia, e funcionam como bares a noite, para
a população que ali se diverte; como o Amarelinho, instalado no térreo do Ed. Natal.
Oposto a ele, na calçada do Supremo Tribunal, os edifícios mais modernos também
abrigam restaurantes, agências de viagens, bancos e boates.
A vida noturna hoje voltou a ser presente na Cinelândia, muitos não resitem a ir ao
Odeon assistir a um filme depois do expediente de trabalho, ou sentar-se em uma das
milhares de cadeiras que se alastram pelas caçadas e invadem a praça e desfrutar do
espaço descontraído. Algumas boates foram instaladas e contribuem para manter viva
a cultura do lazer tão idealizada por Serrador.
E sem esquecer da maior festa que a cidade do Rio de Janeiro abriga, o Carnaval é
muito presente na Cinelândia, concentrando anualmente o maior público reunidonum
bloco carnavalesco, do Cordão do Bola Preta que arrasta uma multidão pelas ruas do
centro da cidade.
A Praça sempre foi palco de muitos eventos políticos, como as manifestações das
Diretas Já em 1984, ou pelo Impeachiment do Presidente Collor em 1992, dois grande
marcos da história política masi recente do país, e tantas outras; também as de caráter
social, como da Rio Parede, que ocorreu em 2003 e juntou mais de 100.000 pessoas,
sendo considerado o maior evento de música eletrônica da história da cidade; é
comum desses eventos, começar na Candelária, se alastrar por toda Avenida Rio
Branco e acabar na Cinelândia.
Mesmo sem alguns exemplares, apagados da paisagem da praça, não podemos dizer
que se apagou a memória que ela traz à população e seus significados para a cidade.
Ela continua viva, presente, seja em suas muitas denominações: Praça Floriano,
Praça Marechal Floriano Peixoto, Praça Floriano Peixoto ou Cinelândia.
Capítulo IV
Inventário da Cinelândia: Leitura da Paisagem
114
Inventário da Cinelândia: Leitura da Paisagem
4
4.1– Leitura da Paisagem: conceito
“A necessidade de reconhecer e padronizar nosso ambiente é tão crucial e tem raízes
tão profundamente arraigadas no passado, que essa imagem é de enorme importância
prática e emocional para o indivíduo.” (LYNCH, 1997, p. 4).
Ainda segundo o autor, um ambiente bem ordenado serve como um sistema de
referências, organizador da atividade, da crença ou do conhecimento, sobretudo,
desempenha papel social, fornecendo referências e informações para a memória
coletiva.
A imagem da paisagem de uma cidade é o resultado da relação entre a população e o
meio ambiente, onde vão se realizar suas ações cotidianas necessárias para a sua
sobrevivência e para o desenvolvimento da vida coletiva desta sociedade. É na
paisagem que se materializam essas relações expressas na ocupação deste espaço,
nos seus usos, nas suas transformações, na evolução, na expressão de sua cultura e
no desenvolvimento de suas tradições.
Para entendimento de como se configura a paisagem da Cinelândia, neste capítulo se
faz uma análise urbana que busca reunir informações sobre a área para a produção
de conhecimento e entendimento desta, de como ela se relaciona na paisagem do
bairro e da cidade, com sua população, através da identificação dos elementos
naturais e construídos, das relações sócio-político-econômicas, formas, volumes,
usos, apropriações e percepções dos espaços; informações que demonstram como o
Conjunto se apresenta na paisagem, como se relaciona, se estrutura e se interliga
com a cidade.
A primeira etapa desta leitura visa entender a estrutura urbana, com a localização da
área, a identificação da malha urbana, das vias de circulação, seus acessos, área
construída, apropriação dos espaços, mobiliário, etc. Na segunda etapa, a análise do
conjunto arquitetônico da área, unidade/ diversidade visual, gabarito, simbologia e
usos e outros dados que demonstram o caráter do Conjunto.
Cinelândia: um conjunto histórico
Taisa Soares de Carvalho
115
4.2– Estrutura Urbana
4.2.1 – Localização e limites:
“Os limites são elementos lineares não usados ou
entendidos como vias pelo observador. (...) Os
bairros são as regiões médias ou grandes de uma
cidade, concebidos como dotados de extensão
bidimencional.” (LYNCH, op. cit., p. 52)
A Cinelândia encontra-se inserida no bairro do Centro na cidade do Rio de Janeiro,
criado em 23 de julho de 1981. Pertence a II Região Administrativa da Prefeitura da
Cidade, na Área de Planejamento 1/ AP1, e na Unidade Especial de Planejamento 3.
Fig 56 – O bairro do Centro na Cidade do Rio de Janeiro.
Fonte: retirado do site do Instituto Pereira Passos:
http://www.rio.rj.gov.br/ipp. Em 10 de dezembro de 2006.
O bairro do Centro é delimitado legalmente através do Decreto n° 5.280 de 23 de
agosto de 1985 que determina os seguintes limites:
“Da Baía de Guanabara no Cais do Porto (incluindo o Píer Mauá);
daí, seguindo pela Praça Mauá (incluída); Rua do Acre, Rua Leandro
Martins, Rua dos Andradas (até o seu final), Rua Júlia Lopes de
Almeida, Rua da Conceição, Rua Senador Pompeu, Rua Camerino,
Praça dos Estivadores, Rua Barão de São Félix (todas incluídas);
daí, pela Rua Alfredo Dolabela Portela (excluída), atravessando a
Rua Senador Pompeu, ao Ramal Principal da RFFSA e, pelo leito
deste, até o Viaduto São Sebastião; por este (excluído) até a
Avenida Salvador de Sá; por esta (incluída) até a Rua Frei Caneca;
por esta (incluída) até a Rua Riachuelo; por esta (incluída); Rua
Costa Bastos, Rua Cardeal Dom Sebastião Leme e Rua Monte
Alegre (todas excluídas), Rua Riachuelo (incluída) até a Praça
Cardeal Câmara (antigo Largo dos Pracinhas), Rua Evaristo da
Veiga, Rua Joaquim Silva e Rua Conde de Lages (todas incluídas);
Capítulo IV
Inventário da Cinelândia: Leitura da Paisagem
116
por esta, até a Rua da Glória; por esta (excluída, excluindo o Largo
da Glória) até a esquina da Rua da Lapa (incluída) com a Avenida
Augusto Severo; por este (excluída) até a esquina da Rua Teixeira
de Freitas; daí, pelo eixo da Rua Mestre Valentim, em linha reta, ao
Obelisco da Avenida Rio Branco; deste alinhamento, em ângulo
noventa graus, até a Avenida Beira Mar; por esta (incluída) até a
Praça Senador Salgado Filho; por esta (incluída) até a Avenida
Almirante Silvio de Noronha; por esta (incluída), no seu primeiro
alinhamento, ao mar (excluindo todo o Parque do Flamengo); daí,
pela orla marítima, até o Píer Mauá, ponto de partida, incluindo sob
sua jurisdição as ilhas de Vilegaignon, Fiscal, das Cobras e das
Enxadas.” (Fonte: Publicação no Diário Oficial do Estado do Rio de
Janeiro – Municipalidades de 25 de agosto de 1985. Cópia de
decreto obtida na Divisão de Documentação da Secretaria Municipal
de Urbanismo. Retirado do site do Instituto Pereira Passos.
http://www.armazemdedados.rio.rj.gov.br/. )
Fig 57 – O bairro do Centro. Em destaque a localização da área do Conjunto
Histórico da Cinelândia. Fonte: retirado do site do Instituto pereira Passos:
http://www.rio.rj.gov.br/ipp. Em 10 de dezembro de 2006.
Inserido no bairro do Centro, o Conjunto Histórico da Cinelândia, dentro dos critérios
estabelecidos e apresentados no Capítulo II desta dissertação, é parte dessa estrutura
urbana, sendo delimitado pela área representada no mapa abaixo.
O perímetro que define a área do conjunto histórico da Cinelândia se inicia da linha
imaginária aos fundos do Teatro Municipal com a rua Treze de Maio, seguindo por ela
até a rua Evaristo da Veiga junto ao edifício da Câmara dos Vereadores, seguindo por
esta rua, lateralmente a Câmara, até os fundos do edifício, seguindo pela rua Álvaro
Alvim, abrangendo os edifícios do Quarteirão Serrador, passando pelos fundos do
Cinelândia: um conjunto histórico
Taisa Soares de Carvalho
117
Edifico Serrador, contornando-o em direção a Praça Mahatma Gandhi, seguindo por
esta até a bifurcação do obelisco, descendo pela Avenida Rio Branco em direção à
Santa Luzia, seguindo por esta até o final do edifício do Clube Naval, passando pelo
final dos lotes até o encontro do prédio anexo do Supremo Tribunal da Justiça,
contornando-o até o encontro com a rua México, descendo por esta nos fundos dos
edifícios do Centro Cultural da Justiça Federal, Biblioteca Nacional e Museu Nacional
de Belas Artes, até novamente encontrar a linha imaginária dos fundos do Teatro
Municipal.
Fig 58. Mapa do Conjunto Histórico da Cinelândia. Fonte: Elaborado pela autora sobre
levantamento aerofotogramétrico, 1990. Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro/ Instituto
Pereira Passos.
4.2.2 – Evolução urbana:
A evolução urbana da área do Conjunto da Cinelândia pôde ser apreciada pelo
capítulo anterior, com o levantamento histórico, dentro do contexto das transformações
sociais, culturais, políticas e econômicas. Porém, para uma análise mais clara da
evolução urbana no plano físico, foi feito uma compilação desses dados levantados
juntamente com os mapas de João Massé, 1713, André Vaz, 1750, A. J. dos Reis,
1812, Masheck, 1890, sobre os mapas de evolução do CANABRAVA, e deles
resultando uma seqüência de 8 croquis, que ilustram o crescimento urbano de parte
do Centro do Rio de Janeiro, focado na área de estudo.
Capítulo IV
Inventário da Cinelândia: Leitura da Paisagem
118
Fig. 59 – Mapa de evolução urbana da área da Cinelândia. Fonte:Elaborado pela autora
sobre mapas do Rio de Janeiro e com base no levantamento histórico e iconográfico.
Cinelândia: um conjunto histórico
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119
LEGENDA DOS CROQUIS:
Princípio do Século XVII
1.Ladeira do Poço Pequeno
2. Caminho da Ajuda
3. Ladeira do Colégio
4. Caminho do Desterro
5. Caminho do Boqueirão
6. Caminho da Carioca
7. Forte de São Sebastião
8. Forte de São Thiago
9. Baluarte da Sé
10. Igreja de São Sebastião (Sé Velha)
11. Igreja de Santo Inácio e Colégio dos
Jesuítas
12. Santa Casa de Misericórdia
13. Ermida de Santa Luzia
14. Ermida de Nossa Senhora da Ajuda
15. Ermida de Santo Antônio
Meados do Século XVII
16. Terreiro do Carmo ou da Polé
17. Vala
Princípio do Século XVIII
18. Capela de Santa Cruz
19. Convento do Carmo
20. Igreja de Nossa Senhora do Carmo
(1ª Ordem)
21. Casa de Câmara e Cadeia
22. Pelourinho ou Polé
23. Ermida de São José
24. Hospital da Santa Casa de
Misericórdia
25. Cemitério da Misericórdia
26. Arcos Velhos da Carioca
27. Fonte da Ajuda
28. Calabouço
29. Convento da Ajuda
30. Seminário São José
1750
Aterramento das Lagoas de Santo
Antônio e do Boqueirão
1812
31. Rua do Passeio
32. Passeio Público
1905
33. Avenida Central
34. Avenida Beira Mar
35. Desmonte parcial do Morro do
Castelo
36. Praça Ferreira Viana
37. Aterro
38. Teatro Municipal
39. Escola Nacional de Belas Artes
40. Biblioteca Nacional
41. Câmara Municipal
42. Supremo Tribunal Federal
43. Obelisco
44. Palácio Monroe
1928
45. Desmonte total do Morro do Castelo
46. Reformulação da praça – Praça
Floriano Peixoto
47. Quarteirão Serrador - Cinematógrafos
Capítulo IV
Inventário da Cinelândia: Leitura da Paisagem
120
Os croquis se iniciam no princípio do século XVII, com as primeiras ocupações no
Morro do Castelo, seguindo para meados do mesmo século com a descida para
várzea no sentido do Largo do Paço, atual Praça XV, passando para princípio do
século XVIII, com a construção do Convento da Ajuda e do Seminário São José, as
duas primeiras construções do Largo da Ajuda.
Em 1812 com a construção do Passeio Público sobre o aterramento da Lagoa do
Boqueirão, mostrando em 1890 o crescimento viário em torno do Morro do Castelo.
Chegando a 1906, após a Reforma Pereira Passos, com a abertura da Avenida
Central e demais avenidas, e a construção dos principais edifícios do período
republicano, que em sua maioria configuram a paisagem atual da área estudada.
E por último, croqui de 1928, com o desmonte completo do Morro do Castelo, dando
início a ocupação da nova planície que se configurou no espaço da cidade, a
demolição de alguns dos vestígios dos períodos colonial e imperial, mostrando o
crescimento em potencial da área, e como marco desse processo, a construção do
Quarteirão Serrador.
4.2.3– Acessibilidade e Circulação
“As vias são canais de circulação ao longo dos
quais o observador se locomove de modo habitual,
ocasional ou potencial. (...) Os habitantes de uma
cidade observam-na à medida que se locomovem
por ela, e ao longo dessas vias, os outros
elementos ambientais se organizam e se
relacionam.” (LYNCH, op. cit., p. 52)
Desde a sua formação, a área onde se formou o Conjunto Histórico sempre teve uma
ligação importante no que diz respeito à circulação. Já período colonial (século XVI)
apresentava vias de grande importância para a cidade, como foi a Ladeira da Ajuda,
que servia de acesso ao Morro do Castelo e suas importantes edificações – o Forte, a
Sé e outras – como observado no levantamento histórico e pelos croquis de evolução
urbana.
Aproximando-nos mais para a atualidade, no período republicano (século XIX), a
abertura de uma nova via veio coroar um momento histórico importante vivido pela
sociedade e foi a responsável pelo nascimento da praça onde se formou a Cinelândia,
a Avenida Central. A larga avenida foi um marco da modernidade e dos novos tempos
Cinelândia: um conjunto histórico
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121
que a República almejava trazer para o país. Hoje a larga avenida perdeu o nome,
passou a ser chamada de Avenida Rio Branco, também deixou de ser a avenida mais
larga da cidade, porém não perdeu sua importância, sendo um dos principais eixos de
ligação da cidade.
O acesso à Cinelândia se faz principalmente por 4 vias como podemos observar no
mapa de acesso (Fig. 62): pela Av. Presidente Vargas – acesso Zona Norte,
atendendo também aos que vêm da Zona Sul pelo Túnel Rebouças e Santa Bárbara;
pelo Elevado da Perimetral – acesso Zona Norte, que faz ligação com a Av. Brasil,
Linha Amarela e Ponte Rio-Niterói; Av. Rio Branco – ligação de um extremo ao outro
do Centro, ligando a Praça Mauá, Candelária e Cinelândia; e Av. Beira Mar – acesso
Zona Sul.
Fig. 60 – Mapa de acesso. Fonte: elaborado pela autora sobre mapa retirado do site do
Instituto pereira Passos: http://www.rio.rj.gov.br/ipp. Em 10 de dezembro de 2006.
Além do transporte rodoviário, a área consta com o sistema metroviário, atendido pela
linha 1 do metrô que liga a Zona Sul (Copacabana, Botafogo, Flamengo, Largo do
Machado e outros) passando pelo Centro, com estação também localizada na
Capítulo IV
Inventário da Cinelândia: Leitura da Paisagem
122
Cinelândia, à Zona Norte (Tijuca), integrando ainda outros bairros da Zona Norte que
são atendidos pela linha 2 do metrô e que fazem conexão na estação do Estácio,
permitindo o fluxo até a Pavuna.
Entendendo o sistema rodoviário local de acesso e circulação e o sistema metroviário,
atendido pela linha 1, podemos dizer que estas são meios de acesso e circulação
diretos da área. Sendo assim, podemos entender que a linha 2 do metrô como acesso
indireto, já que é necessário a conexão com a linha 1 deste mesmo sistema de
transporte.
Fig. 61 – Mapa do sistema metroviário da cidade do Rio de Janeiro
com suas estações. Fonte: retirado do site do Metrô Rio.
http://www.metrorio.com.br/estacoes.htm, em 05 de janeiro de 2007.
Cinelândia: um conjunto histórico
Taisa Soares de Carvalho
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Fig. 62 – Mapa do sistema ferroviário da cidade do Rio de Janeiro com suas
estações. Fonte: retirado do site da Supervia. http://www.sipervia.com.br/estacoes.htm,
em 10 de janeiro de 2007.
Da mesma maneira podemos então verificar outros meios de acesso feitos
indiretamente, é o caso do sistema ferroviário, que se conecta ao sistema metroviário
e rodoviário na Central do Brasil, onde se configura um importante ponto de
embarque/ desembarque da população. Ou ainda, o sistema marítimo de barcas,
fazendo o elo entre Niterói e o Centro, mais especificamente, a Praça XV.
O que se verifica que o acesso e a circulação para o Centro, dentro dele e para outros
bairros é muito vasto, intenso, e assim vai se configurar na área do Conjunto Histórico
da Cinelândia.
Analisando as vias mais próximas a Cinelândia quanto a circulação que apresentam,
podemos classifica-las segundo a intensidade do fluxo que apresentam. Podemos
dizer que as vias que apresentam fluxo mais intenso são hierarquicamente mais
importantes para a circulação na área, elas garantem o acesso e a circulação da
população entre os bairros que se utilizam dos meios de transportes rodoviários –
automóveis particulares, motos, veículos coletivos (ônibus e vans) e táxis, hierarquia
esta que decresce juntamente com o fluxo apresentado.
Capítulo IV
Inventário da Cinelândia: Leitura da Paisagem
124
Fig. 63 – Mapa de acesso e fluxo viário do Conjunto Histórico da
Cinelândia e entorno imediato. Fonte: Elaborado pela autora sobre
aerofotogramétrico 1990, com dados de levantamento realizado em
outubro de 2006.
O Conjunto Histórico da Cinelândia apresenta vias de circulação exclusiva para
pedestres e vias destinadas a estacionamento de veículos, além de um
estacionamento subterrâneo localizado na Praça Mahatma Gandhi. Também
apresenta pontos de parada de ônibus e acesso à estação de metrô.
Cinelândia: um conjunto histórico
Taisa Soares de Carvalho
125
4.2.4– Calçamento
O levantamento do calçamento utilizado no Conjunto Histórico da Cinelândia foi
dividido em duas categorias: pista de rolamento, ou seja, vias de uso de veículos, e
passeio, de uso de pedestres, sendo neste caso, incluídas as vias de uso exclusivo de
pedestres.
Fig. 64 – Mapa de calçamento das pistas de rolamento do
Conjunto Histórico da Cinelândia e entorno imediato. Fonte:
Elaborado pela autora sobre aerofotogramétrico 1990, com
dados de levantamento realizado em novembro de 2006.
Capítulo IV
Inventário da Cinelândia: Leitura da Paisagem
126
Os calçamentos das pistas de rolamento apresentam dois tipos: asfalto e
paralelepípedo. Nas vias onde o fluxo de veículos é intenso, os antigos
paralelepípedos foram sobrepostos pela camada de asfalto. São preservadas apenas
as vias em paralelepípedos da Rua Álvaro Alvim e a rua com a Praça Floriano e na
lateral do Teatro Municipal, pois estas, embora apresentem fluxo de veículos, são
destinadas a áreas de estacionamento.
Fig. 65 – Mapa de calçamento dos passeios e vias exclusivas
de pedestres do Conjunto Histórico da Cinelândia. Fonte:
Elaborado pela autora sobre aerofotogramétrico 1990, com
dados de levantamento realizado em novembro de 2006.
Cinelândia: um conjunto histórico
Taisa Soares de Carvalho
127
Nos passeios, ou vias de uso exclusivo de pedestres, há um número maior de tipo de
calçamentos, dentre eles o mais usado é a pedra portuguesa, seja ela apenas com
pedras brancas, ou com pedras pretas e vermelhas formando diferentes mosaicos que
decoram as calçadas.
Também apresenta áreas em paralelepípedos nos passeios, estas demarcam áreas
de passagem de veículos em entrada/ saída de edificações, ou de vias, como forma
de identificar esses acessos.
Se destacam os mosaicos de pedra portuguesa de alguns passeios, ou de trechos dos
passeio, localizados no calçamento
dos principais prédios, como o do Teatro Municipal (piso A), Museu Nacional de Belas
Artes (piso B), Biblioteca Nacional (piso C), Supremo Tribunal de Justiça (piso D),
Clube Naval (piso E), Passeio Público (piso F), Odeon (piso G) e a própria Praça
Floriano (piso H).
Piso A Piso B Piso C Piso D
Piso E Piso F Piso G Piso H
Fig. 66 – Fotos dos mosaicos em pedra portuguesa dos passeios da Cinelândia. Fonte:
arquivo da autora, retirado em janeiro de 2007.
Capítulo IV
Inventário da Cinelândia: Leitura da Paisagem
128
4.2.5– Mobiliário Urbano
Fig. 67 – Mapa de mobiliário urbano. Fonte: Elaborado pela autora sobre
aerofotogramétrico 1990, com dados de levantamento realizado em outubro de 2006.
Cinelândia: um conjunto histórico
Taisa Soares de Carvalho
129
Na área do Conjunto Histórico da Cinelândia, são 12 tipos de mobiliários utilizados,
dentre suas muitas funções. De uma maneira geral, a área é bem atendida por esta
estrutura, facilmente identificados e bem conservados.
Levantados os postes de iluminação pública, podemos analisar que a Cinelândia
apresenta boa iluminação, com postes altos nas avenidas e ruas e com posteamento
mais baixo no meio da praça, visando assim, atender melhor às questões de
luminosidade necessária.
Nas vias que não se abrem para a Praça Floriano, Evaristo da Veiga, Treze da Maio,
Araújo Porto Alegre e Santa Luzia apresentam postes com haste de iluminação para
apenas um dos lados, diferente do que acontece nos postes que se voltam para a
Praça Floriano, Praça Mahatma Gandhi ou em áreas mais abertas, como no
entroncamento da Avenida Rio Branco e o prolongamento da Rua do Passeio, que
apresentam duas hastes de iluminação.
Em frente ao Teatro Municipal dois postes antigos são mantidos como referência
histórica e se encontram em ótimo estado de conservação e funcionando.
Fig. 68 – Foto de poste das vias – poste
alto, com duas hastes de iluminação e
placas de identificação. Fonte: Arquivo da
autora. Retirado em janeiro de 2007.
Fig. 69 – Foto de postes da Praça
Floriano – poste baixo, com duas hastes
de iluminação. Fonte: Arquivo da autora.
Retirado em janeiro de 2007.
Capítulo IV
Inventário da Cinelândia: Leitura da Paisagem
130
Fig. 71 – Foto de poste de indicação
turística – poste baixo para identificação
de pontos turísticos. Fonte: Arquivo da
autora. Retirado em janeiro de 2007.
Fig. 70 – Foto de poste antigo – referência
histórica/ Teatro Municipal. Fonte: Arquivo da
autora. Retirado em janeiro de 2007.
Alguns postes de iluminação são também utilizados como postes de identificação, com
placas de referências, indicando a localização de outros pontos importantes da cidade,
auxiliando na circulação viária. Algumas placas de identificação possuem postes
próprios, alguns, alguns são específicos dos pontos de interesse turístico, sendo estes
mais baixos para facilitar a leitura do pedestre e apresentando cores indicativas.
A praça apresenta também um número grande de assentos (bancos), mobiliário
convidativo para a permanência da população no local. Porém o número de lixeiras
nas vias e na praça mostrou-se baixo, se tornando insatisfatório para a conservação
da limpeza.
Os pontos de ônibus e as bancas de jornal apresentam mobiliário padronizado,
mantém a unidade e garantem a fácil identificação visual. O mesmo ocorre para a
única cabine de policiamento, localizado na praça, apresenta unidade padrão utilizado
pela cidade. Bem sinalizadas também estão os acessos à estação de metrô da
Cinelândia e o acesso ao estacionamento subterrâneo.
Cinelândia: um conjunto histórico
Taisa Soares de Carvalho
131
Os semáforos de trânsito são visíveis, sendo os cruzamentos mais importantes para
circulação de pedestres apresentando faixa de passagem, auxiliando na travessia
destes.
Fig. 73 – Foto do mobiliário urbano – postes, assentos,
lixeira, telefones públicos, banca de jornal. Fonte: Arquivo
da autora. Retirado em janeiro de 2007.
Fig. 72 – Foto de totem de
informação do edifício.
Fonte: Arquivo da autora.
Retirado em janeiro de 2007.
Em se tratando de uma praça que apresenta uma quantidade significativa de
edificações de grande importância, há um número muito pequeno de totens para
identificação destes. Porém, os dois que existem, um informativo sobre o prédio do
Centro Cultural da Justiça e ou outro sobre a Biblioteca Nacional, apresentam texto
resumido sobre a história e importância destas edificações bilíngüe, um na língua
oficial do país, no caso, o português, e outro, na língua considerada internacional, o
inglês.
Diferente do que ocorre da área do Conjunto, a Praça Mahatma Gandhi apresenta um
número grande de totens que informam além da história e importância da praça,
ilustram os estudos e as etapas da sua revitalização.
A Cinelândia apresenta dois grandes monumentos, o obelisco comemorativo de
abertura da Av. Central e o monumento à Marechal Floriano, além de 4 bustos de
celebridades importantes para a cidade.
Capítulo IV
Inventário da Cinelândia: Leitura da Paisagem
132
Paulo de Frontin.
17/09/1925
Francisco Serrador.
Sem data
Getúlio Vargas. Sem
data.
Juscelino Kubitschek.
25/11/1983
Fig. 74 – Fotos dos bustos da Praça Floriano. Fonte: arquivo da autora, retirado em janeiro
de 2007.
4.2.6– Área Verde
A principal via de acesso à Cinelândia apresenta uma vegetação arbórea bem
marcada em todo o seu curso, sendo estas de grande porte, copa densa; poucas
apresentam gola no passeio. A Praça Floriano também segue o mesmo padrão, com
árvores de médio e pequeno porte, alinhadas ao meio fio, apresentando gola em todas
elas, algumas com forração (grama).
No passeio que circunda a Praça Mahatma Gandhi, também árvores de mesma
espécie das demais vias, porém em seu interior, o projeto paisagístico se utilizou
apenas de palmeiras, dispostas em canteiros cobertos de forração (grama),
contrastando a área plana com a altura esguia desta espécie, se diferenciando do
projeto paisagístico da área do Conjunto.
Cinelândia: um conjunto histórico
Taisa Soares de Carvalho
133
Fig. 75 – Mapa de vegetação do Conjunto Histórico da Cinelândia. Fonte:
Elaborado pela autora sobre aerofotogramétrico 1990, com dados de levantamento
realizado em outubro de 2006.
A vegetação vasta traz melhoria na qualidade da temperatura, provoca áreas de
sombra, torna o local mais aprazível, porém, algumas delas, provocam o bloqueio
visual dos edifícios histórico, comprometendo pontos de interessante campo visual.
Capítulo IV
Inventário da Cinelândia: Leitura da Paisagem
134
Fig. 76 – Foto da vegetação na Av. Rio
Branco. Fonte: Arquivo da autora. Retirado
em janeiro de 2007.
Fig. 77 – Foto da vegetação da Praça
Floriano. Fonte: Arquivo da autora. Retirado
em janeiro de 2007.
Fig. 78 – Bloqueio visual da Biblioteca
Nacional. Fonte: Arquivo da autora. Retirado
em janeiro de 2007.
Fig. 79 – Bloqueio visual do Museu
Nacional de Belas Artes. Fonte: Arquivo da
autora. Retirado em janeiro de 2007.
4.2.7 – Proteções
O tombamento dos edifícios históricos da Cinelândia garante sua proteção e
permanência para a posteridade, se apresentando nas três instâncias: federal,
estadual e municipal. São bens tombados exclusivamente pelo órgão federal –
Instituto de Patrimônio Histórico Nacional/ IPHAN – os edifícios marcos do período
republicano, foram tombados pelo mesmo processo, porém com registro isolado:
Teatro Municipal – processo: 860-T-72; Livro das Belas Artes, vol. 1- n° de
inscrição 503 – folha n° 92 – Data; 24/05/1973.
Museu Nacional de Belas Artes – processo: 860-T-72; Livro das Belas Artes,
vol. 1 – n° de inscrição 505 – folha n° 92 – Data: 24/05/1973.
Cinelândia: um conjunto histórico
Taisa Soares de Carvalho
135
Biblioteca Nacional – processo: 860-T-72; Livro das Belas Artes, vol. 1 – n° de
inscrição 504 – folha n° 92 – Data: 24/05/1973.
Tombados pelo órgão estadual – Instituto Estadual do Patrimônio Cultural/INEPAC:
Palácio Pedro Ernesto (Câmara dos Vereadores) – processo E- 03-038.237/78
– Data do tombamento provisório: 08/10/1979 – Data do tombamento definitivo:
17/05/1988
Monumento a Marechal Floriano – processo: E-18/000.165/89 – Data do
tombamento provisório: 30/11/1989 – Data do tombamento definitivo: sem data.
Tombados pelo órgão municipal, atual Secretaria Extraordinária de Promoção, Defesa
e Revitalização do Patrimônio e da Memória Histórico-Cultural da Cidade do Rio de
Janeiro/ SEDREPAHC:
Supremo Tribunal Federal (Centro Cultural da Justiça)
Conjunto Arquitetônico da Cinelândia - formado pelos edifícios: Fontes (Praça
Floriano n° 55), Heidenreich (Rua Álvaro Alvim n° 24), Natal (Rua Álvaro Alvim
n° 48), Glória (Rua Francisco Serrador n° 2) e Cine Odeon (Praça Mahatma
Gandhi n°2) – Lei n° 1.467 – Data: 30/11/1989.
O único que apresenta dois tombamentos é o Chafariz do Monroe, tanto no órgão
federal, quanto no municipal:
Tombamento federal – processo: 1.132-T-84; Livro das Belas Artes, vol. 2 – n°
de inscrição 597, folha n° 18 – Data: 21/02/1990.
Tombamento Municipal – Decreto 7.396 – Data: 03/02/1988.
Capítulo IV
Inventário da Cinelândia: Leitura da Paisagem
136
Fig. 80 – Mapa de acesso e fluxo viário do Conjunto Histórico da
Cinelândia e entorno imediato. Fonte: Elaborado pela autora sobre
aerofotogramétrico 1990, com dados de levantamento realizado em
outubro de 2006.
Além dos tombamentos dos edifícios e do conjunto de edifícios, também garante a
proteção do Conjunto Histórico da Cinelândia o projeto de preservação, renovação e
revitalização do Corredor Cultural, estando incluído na área 01 deste, conforme visto
no Capítulo I desta dissertação.
Cinelândia: um conjunto histórico
Taisa Soares de Carvalho
137
4.2.8– Pontencialidades
Diversos fatores contribuem garantindo o potencial do Conjunto Histórico da
Cinelândia, a facilidade de acesso e circulação atendidos pelos mais diferentes meios
de transportes, a proximidade com outros núcleos de interesse histórico-cultural,
pontos turísticos, áreas verdes; além de se localizar num bairro que apresenta um
potencial atrativo para a instalação de escritórios, empresas, disponibilizando para a
população uma gama variada de serviços, comércio, além de bares, restaurantes,
centros culturais, teatros e cinemas.
Fig 81 – O bairro do Centro, seus acessos e principais localizações. Fonte: elaborado pela
autora sobre mapa retirado do site do Instituto pereira Passos: http://www.rio.rj.gov.br/ipp. Em
10 de dezembro de 2006.
Capítulo IV
Inventário da Cinelândia: Leitura da Paisagem
138
4.3– Conjunto Arquitetônico
4.3.1 – Os edifícios
O Conjunto Histórico da Cinelândia é composto por 16 edifícios aqui identificados e
que serão analisados segundo algumas características neste capítulo que se segue.
Fig. 82 – Mapa de identificação dos edifícios do Conjunto Histórico
da Cinelândia. Fonte: Elaborado pela autora sobre aerofotogramétrico
1990, com dados de levantamento realizado em outubro de 2006.
Cinelândia: um conjunto histórico
Taisa Soares de Carvalho
139
4.3.2 – Área Construída e Área Livre
Se analisarmos o Conjunto Histórico da Cinelândia segundo sua área construída e
área livre podemos dizer que a área não é densamente construída, sendo bem
marcada pelo espaço livre onde se formam as praças Floriano e Mahatma Gandhi;
suas construções são periféricas à praça, nem todas são coladas nas divisas, os
prédios do Período Republicano se caracterizam por se situarem no centro do lote,
garantindo maior monumentalidade.
A densidade das construções se torna um pouco maior no lado oposto da Avenida Rio
Branco, no perímetro onde foram construídos os edifícios dos cinematógrafos,
aumentando consideravelmente fora do perímetro, no seu entorno imediato.
Fig. 83 – Mapas área construída x área livre – do conjunto e do entorno imediato.
Fonte: Elaborado pela autora sobre aerofotogramétrico 1990, com dados de levantamento
realizado em outubro de 2006.
Capítulo IV
Inventário da Cinelândia: Leitura da Paisagem
140
4.3.3 – Uso e Ocupação do Solo
É fato que para um bem tombado a sua conservação está diretamente relacionada à
sua utilização, desta forma, podemos então dizer que, no caso de um sítio urbano, é
importante a existência de unidades de habitação que garantam o seu uso
diariamente, evitando a evasão populacional.
O Centro do Rio de Janeiro se configura como um forte pólo comercial, se
apresentando na paisagem da cidade como uma área fundamentalmente de trabalho,
como pôde observar nas tabelas demonstradas anteriormente em relação à população
residente, densidade demográfica, etc.
O levantamento que aqui será demonstrado é atual, realizado no mês de outubro de
2006 pela autora; através deste, pode-se verificar que a área do Conjunto Histórico da
Cinelândia, como já afirmado pelos dados do Censo sobre população e habitação, tem
características comerciais e de serviço, entendendo como comercial: lojas, lojas de
departamento, galerias, centros comerciais, escritórios, restaurantes, bares, mercados,
e por serviços: correios, bancos, tinturarias, lavanderias.
O mapa de uso e ocupação do solo apresenta não apenas a leitura da área do
Conjunto, mas também de seu entorno imediato, visto que, sua proximidade influencia
diretamente à área e sua interpretação ajuda na ampliação da análise e no
entendimento do Conjunto no meio inserido.
Em sua área, os grandes edifícios construídos para as importantes instituições da era
da República permanecem com seus usos inalterados – Teatro Municipal, Biblioteca
Nacional, Câmara, Supremo Tribunal Federal e Museu Nacional de Belas Artes –
embora algumas de suas características tenham se modificado, como é o caso do
edifício do Supremo Tribunal onde hoje funciona seu centro cultural, porém ainda
servindo ao Supremo. Dois edifícios anexos ao Supremo e a Câmara servem para
atender o crescimento destas duas instituições, apresentando parte da administração
dos serviços por estes prestados.
Existe ainda nessa área dois edifícios sem uso/ ocupação, se tratando de prédios em
obra, fechados ao público que, porém, através de entrevista com seus responsáveis, é
sabido que estes também integrarão as demais construções na questão do uso, se
tornando edifícios ligados ao comércio, com salas comerciais e de serviços.
Cinelândia: um conjunto histórico
Taisa Soares de Carvalho
141
As praças que se apresentam na área e o parque do Passeio Público, localizado em
seu entorno imediato, são considerados nesta análise como área recreacional, por
possuírem características propícias ao tempo livre, de descontração, promovendo o
encontro e o lazer se sua população.
Fig. 84 – Mapa de uso e ocupação do Conjunto Histórico da
Cinelândia e entorno imediato. Fonte: Elaborado pela autora sobre
aerofotogramétrico 1990, com dados de levantamento realizado em
outubro de 2006.
Uma outra característica muito marcante nas edificações do Centro, e evidenciada na
área da Cinelândia, é o uso/ ocupação do térreo diferenciado, para fins comerciais ou
de serviços, intensão essa já mencionada pelos planos de Francisco Serrador para
seu quarteirão de entretenimento. As salas de cinemas e teatro em sua maioria deram
espaço para grandes lojas, bares e restaurantes, o único remanescente ainda vivo é o
Cine Odeon, que ainda funciona com todo seu glamour de cinema, o Pathé Palácio,
Capítulo IV
Inventário da Cinelândia: Leitura da Paisagem
142
embora apresente algumas de suas características de cinema preservadas, abriga
uma igreja evangélica.
A ausência de edificações destinadas à habitação só confirma os dados do
levantamento populacional e de habitação vistos no tópico anterior, demonstrando a
forte vocação da área para fins comerciais e de serviço, servindo como área de
trabalho, se configurando em uma área transitória e de não permanência. Há uma
carência de unidades de habitação, contribuindo para a baixa densidade demográfica,
que no caso da área selecionada, não apresentando nenhuma residência, é nula.
Fig. 85 – Mapa de uso e ocupação no térreo do Conjunto Histórico
da Cinelândia e entorno imediato. Fonte: Elaborado pela autora
sobre aerofotogramétrico 1990, com dados de levantamento realizado
em outubro de 2006.
Cinelândia: um conjunto histórico
Taisa Soares de Carvalho
143
4.3.4 – Gabarito
Entende-se por gabarito, a quantidade de pavimentos que cada edificação apresenta,
o que influencia diretamente na altura que estes irão possuir. O estudo de gabarito da
área, além de demonstrar as alterações na legislação urbana da cidade, também
mostra a mudança espacial sofrida através dos tempos, mudanças vividas na
sociedade e na economia e que vão se refletir na cultura e em todo o modo de vida
dessa sociedade através dos tempos.
Fig. 86 – Mapa de gabarito do Conjunto Histórico da Cinelândia e
entorno imediato. Fonte: Elaborado pela autora sobre
aerofotogramétrico 1990, com dados de levantamento realizado em
outubro de 2006.
Pelo mapa de gabarito, podemos identificar claramente os momentos vividos pela área
através de sua história, alguns cuidados, porém se fazem necessário, isso porque no
Capítulo IV
Inventário da Cinelândia: Leitura da Paisagem
144
caso dos edifícios institucionais, marcos construídos no Período Republicanos,
apresentam pé-direito maior do que os dos demais edifícios; o Supremo Tribunal e a
Câmara, por exemplo, têm altura relativa a uma edificação de até 5 pavimentos. O
mesmo ocorre para o Teatro Municipal, Biblioteca Nacional e Museu Nacional de
Belas Artes, que embora apresentem altura relativa a uma edificação entre 6 a 10
pavimentos, não apresentam efetivamente este número de pavimentos em sua
distribuição interna.
Ainda assim, essas edificações da República apresentam de certa maneira uma
mesma unidade no que diz respeito a altura. Alteração esta que pode ser sentida com
os edifícios construídos anos mais tarde na Era dos Cinemas de Serrador, as novas
edificações, mais modernas, também apresentavam um avanço tecnológico no
sistema construtivo e permitiram prédios mais altos, variando entre 11 e 15
pavimentos.
Esse avanço tecnológico vivido nos sistemas construtivos continua a poder ser
observado nas demais edificações, construídas posteriormente, que vão variar de 16 a
20 pavimentos, chegando á construções de mais de 20 pavimentos.
A análise do gabarito da área não só demonstra o avanço no setor de construção, com
novas técnicas, novos materiais – estruturas metálicas, o concreto armado – como
também demonstram o crescimento da especulação imobiliária. Se no período colonial
um lote poderia abrigar apenas um estabelecimento comercial, ocupando
exclusivamente o térreo, o crescimento vertical permitia que o mesmo lote abrigasse
muitos outros estabelecimentos, 15, 20, um número cada vez maior e dito necessário
para o desenvolvimento comercial da área.
4.3.5 – Perfil
As variações de altura podem ser melhor analisadas com a utilização de perfis do
Conjunto Histórico da Cinelândia, principalmente considerarmos sua evolução,
comparando-o com perfis dos diferentes momentos. São ao total 4 perfis, identificados
na planta baixa, considerando apenas o perímetro selecionado para estudo.
O primeiro deles – Perfil 1 – passa pela Avenida Rio Branco,voltado para a calçada da
fachada dos edifícios do Museu Nacional de Belas Artes, Biblioteca Nacional,
Cinelândia: um conjunto histórico
Taisa Soares de Carvalho
145
Supremo Tribunal de Justiça e edifícios seguintes. Seguindo no sentido horário, o
Perfil 2 visualiza a Praça Mahatma Gandhi e o entroncamento da Avenida Rio Branco
com Beira Mar. O Perfil 3, de costas para a Avenida Rio Branco, o antigo “Quarteirão
Serrador” e Palácio Pedro Ernesto; e por último o Perfil 4, que visualiza o Teatro
Municipal.
Fig. 87 – Mapa de indicação dos perfis. Fonte: Elaborado pela autora sobre
aerofotogramétrico 1990, com dados de levantamento realizado em outubro de 2006.
No Perfil 1 encontra-se a maioria dos edifícios construídos no Período Republicano, na
ordem da esquerda pra direita estão: o Museu, a Biblioteca e o Supremo. Neste perfil
podemos notar que o gabarito pouco se altera, tendo em vista a permanência destes
principais edifícios, alterando apenas no perímetro que se segue após o Supremo,
onde os antigos sobrados e edificações baixas (1910) foram sendo substituídos por
prédios cada vez mais altos, verdadeiros arranha-céus.
Capítulo IV
Inventário da Cinelândia: Leitura da Paisagem
146
Fig. 88 – Croqui Perfil 1. Fonte: Elaborado pela autora com base no levantamento de gabarito.
Traçando um skyline em uma fotografia deste perímetro, podemos notar claramente
essa ruptura. Aqui, a vegetação arbórea bloqueia praticamente por completa a vista
dos edifícios mais baixos, sendo visíveis ao observador apenas os mais altos que
rasgam o céu.
Fig. 89 – Skyline do Perfil 1. Elaborado pela autora.
Fonte: Arquivo da autora. Retirado em janeiro de 2007.
Ainda assim podemos notar uma linha contínua, que mostra o mesmo padrão de altura
das construções do Período Republicano que é rompida bruscamente pelos edifícios
mais contemporâneos de grande altura.
Cinelândia: um conjunto histórico
Taisa Soares de Carvalho
147
Fig. 90 – Foto Perfil 1; arranha-
céu. Fonte: Arquivo da autora.
Retirado em janeiro de 2007.
Seguindo para o Perfil 2, temos a vista, num primeiro momento, do obelisco
comemorativo da Avenida Central e do Palácio Monroe, construído sobre a Praça
Mahatma Gandhi, que fechava a paisagem, bloqueando a vista da orla do Aterro do
Flamengo. A alteração do gabarito é bastante sentida após a demolição do referido
palácio, onde atualmente encontra-se em seu local, o Chafariz do Monroe.
Fig. 91 – Croqui Perfil 2. Fonte: Elaborado pela
autora com base no levantamento de gabarito.
Capítulo IV
Inventário da Cinelândia: Leitura da Paisagem
148
Neste perfil, não só foi alterado as questões referentes ao gabarito levantado pelo
perfil, mas também se altera o campo visual deste, que ante bloqueado pelo palácio,
permite agora a vista do Aterro do Flamengo e seu monumento aos Pracinhas.
Fig. 92 – Vista Perfil 2. Ao fundo a esquerda o obelisco, a
direita o campo da Praça onde se localizava o Palácio Monroe.
Fonte: Arquivo da autora. Retirado em janeiro de 2007.
O Perfil 3 apresenta maiores alterações, no primeiro momento, na época da abertura
da Praça Ferreira Viana (1910) ainda com a presença do Convento da Ajuda, o
gabarito era baixo e o perfil mais contínuo. Num segundo momento, após a demolição
do Convento para dar espaço ao “Quarteirão Serrador” (1930), o gabarito já se altera
com a construção dos altos edifícios dos cinematógrafos. Atualmente, com a
demolição de dois dos edifícios, outros novos foram implantados e seguindo a mesma
linguagem dos demais edifícios contemporâneos, como ocorre no perfil 1, marcam a
paisagem pela sua grande altura.
Cinelândia: um conjunto histórico
Taisa Soares de Carvalho
149
Fig. 93 – Croqui Perfil 3. Fonte: Elaborado pela autora com base no
levantamento de gabarito.
Fig. 95 – Skyline perfil 3. Vista da Av. Beira Mar.
Fonte: Arquivo da autora. Retirado em janeiro de
2007.
Fig. 94 – Skyline perfil 3. Vista da
Praça Floriano. Fonte: Arquivo da
autora. Retirado em janeiro de 2007.
Capítulo IV
Inventário da Cinelândia: Leitura da Paisagem
150
O Perfil 4 é o único que permanece inalterado se o considerarmos por si só, sem o seu
entorno. Porém traçando um skyline numa fotografia com o monumento inserido na
paisagem da cidade, notamos que a sua volta a tendência de construção de prédios
de alto gabarito também se fez presente, não apenas dos edifícios limites do
perímetro, mas também podemos notar essa variação de alturas pelos edifícios que
servem de fundo ao Teatro (tracejado).
Fig. 96 – Croqui Perfil 4.
Fonte: Elaborado pela autora com base
no levantamento de gabarito.
Fig. 97 – Skyline perfil 4. Prédios limites e de
fundos. Fonte: Arquivo da autora. Retirado em
janeiro de 2007.
4.3.6 – Unidade e Diversidade
Conforme visto no levantamento histórico apresentado no Capítulo desta dissertação,
uma característica marcante do Conjunto Histórico da Cinelândia é a presença de
diferentes momentos da evolução urbana da área. Podemos selecionar na área 3
unidades, cada uma referente a um momento importante para a configuração atual do
Conjunto.
A primeira – unidade 1 – quando da formação da Praça Ferreira Viana (1905 – 1910)
durante o Período Republicano, com seus prédios monumentais ecléticos
36
, ocupando
o centro do lote, sem encostar nas divisas; o segundo – unidade 2 – posterior a
36
“A palavra ecletismo significa a atitude antiga de formar um todo a partir da justaposição de elementos
escolhidos entre diferentes sistemas. (...) Eclética seria, num sentido estrito, a arquitetura que associa
num mesmo edifício referências estilísticas de diferentes origens. Entretanto no Brasil, convencionou-se
usar o termo numa acepção mais elástica para designar a produção de arquitetura inspirada pela
academia após o declínio do neoclassicismo” (Guia da Arquitetura Eclética, 2000, p.6)
Cinelândia: um conjunto histórico
Taisa Soares de Carvalho
151
reforma urbana de Pereira Passos, após a demolição do Convento da Ajuda e a
construção do Quarteirão Serrador, com os edifício dos cinematógrafos, não só
traziam a modernidade dos cinematógrafos como inseriram na paisagem uma
linguagem arquitetônica diferente, o art-déco
37
; e por último – unidade 3 – os edifícios
contemporâneos, que superaram a altura dos antigos cinematógrafos e configuram na
paisagem verdadeiros arranha-céus, envidraçados e espelhados.
Fig. 98 – Mapa de unidade x diversidade. Fonte: Elaborado pela
autora sobre aerofotogramétrico 1990, com dados de levantamento
realizado em outubro de 2006.
37
O Art Déco foi um conjunto de manifestações artísticas, estilisticamente coeso. (...) Pode ser
classificado como uma das derradeiras manifestações do Ecletismo, ao mesmo tempo em que se constitui
como uma das primeiras expressões do modernismo” (Guia da Arquitetura Art Déco, 2000, p.14).
Capítulo IV
Inventário da Cinelândia: Leitura da Paisagem
152
Fig. 99 – Foto Teatro Municipal.
Unidade 1. Fonte: fotografado por Gean
Jacques Limbourg. Retirado do site do
Teatro Municipal em janeiro de 2007.
Fig. 100 – Foto Museu Nacional de Belas
Artes. Unidade 1. Fonte: retirado do site
www.guiadasemana.com.br, em janeiro de
2007.
Fig. 101 – Foto Hotel Serrador e o Cine Odeon. Unidade 2. Fonte:
arquivo da autora. Retirado em janeiro de 2007.
Podemos entender que em sua paisagem há uma diversidade de unidades que se
dialogam, interagem e formam uma nova unidade, a do Conjunto Histórico da
Cinelândia, onde, é na diversidade entre as unidades que se encontra seu diferencial
na configuração da cidade e de tantos outros conjuntos e sítios urbanos.
Cinelândia: um conjunto histórico
Taisa Soares de Carvalho
153
4.3.7 – Referências: pontos nodais, marcos e simbologia
“Os pontos nodais são pontos, lugares
estratégicos de uma cidade através dos quais o
observador pode entrar, são focos intensivos para
os quais ou a partir dos quais ele se locomove.
Podem ser basicamente junções, locais de
interrupção do transporte, um cruzamento ou uma
convergência de vias, momentos de passagem e
uma estrutura a outra.” (LYNCH, 1997, p. 52)
Segundo o autor Kevin Lynch, a Praça Floriano pode ser considerada um ponto
nodal
38
de grande importância para a cidade do Rio de Janeiro, sobretudo para o
bairro do Centro, conquistando uma identidade singular, “um lugar distinto e
inesquecível, impossível de ser confundido com qualquer outro” (Ibidem, p. 113).
Sua singularidade fica mais forte se analisarmos seus marcos; “os marcos, pontos de
referência considerados externos ao observador, são apenas elementos físicos cuja
escala pode ser bastante variável.” (Ibid., p. 88).
“Os marcos são outro tipo de referência, mas
neste caso, o observador não entra neles: são
externos. Em geral são um objeto físico definido
de maneira muito simples: edifício, sinal, loja ou
montanha. Seu uso implica a escolha de um
elemento a partir de um conjunto de
possibilidades. (...) São geralmente usados como
indicadores de identidade, ou até de estrutura, e
parecem tornar-se mais confiáveis à medida que
um trajeto vai ficando cada vez mais conhecido.”
(Ibid., p. 53)
Sendo assim podemos dizer que a Cinelândia possui um conjunto de marcos,
representados pelos seus edifícios monumentais, pois são facilmente identificados
pela sociedade em seu contexto urbanos, representantes da identidade local. Dentre
eles podemos destacar o Teatro Municipal, o Museu Nacional de Belas Artes, o
obelisco e a Biblioteca Nacional.
Porém os marcos também podem ser identificados pela simbologia que apresentam
para a população, como o prédio do Cine Odeon, que junto com os demais edifícios do
Quarteirão Serrador formavam o maior pólo de entretenimento construído na cidade
Capítulo IV
Inventário da Cinelândia: Leitura da Paisagem
154
naqueles tempos. A construção dos novos cinematógrafos não são apenas marcos da
tecnologia daquele tempo como também marcam a ampliação do convívio social, a
inserção dos equipamentos de lazer para a população e a vida noturna. Sua
simbologia foi de tamanha importância que a Praça Floriano acabou por ser conhecida
como Cinelândia, a terra dos cinemas.
Também podemos incluir como marco por seu potencial simbólico o Edifício Fontes,
também construído no Quarteirão Serrador, abrigou por alguns anos o cine Capitólio,
porém hoje, sua marca é o bar do Amarelinho, reduto da boêmia carioca.
Fig. 103 – Foto Bar do Amarelinho. Unidade 1.
Fonte: retirado do site
www.guiadasemana.com.br, em janeiro de 2007.
Fig. 102 – Foto Bar do Amarelinho.
Fonte: retirado do site:
www.amarelinhodacinelandia.com.br
em janeiro de 2007.
Se a imagem de uma paisagem não é feita apenas de suas construções, mas da
relação do ambiente construído e população, sendo assim, a arquitetura e o
urbanismo são espaços destinados às manifestações culturais de sua sociedade,
representando símbolos de valores intangíveis que cumprem seu importante papel no
desenvolvimento cultural da comunidade.
Na Cinelândia dois bens imateriais se configuram e fazem parte da sociedade carioca,
um de caráter político expressado na tradição das manifestações na praça ou em
passeatas que começam na Candelária e terminam na Cinelândia, e o outro, na maior
manifestação cultural que a nossa cidade apresenta, o carnaval, materializado pelo
Cinelândia: um conjunto histórico
Taisa Soares de Carvalho
155
mais antigo e tradicional bloco de rua, o Cordão do Bola Preta, onde desde a 1918,
foliões saem fantasiados, enchendo a Praça Floriano de festa, música e cultura.
Fig. 105 – Manifestação cultural na Cinelândia.
Carnaval – Cordão do Bola Preta, 2006. Fonte:
retirado do site: http://expressen.se em 15 de
janeiro de 2007
Fig. 104 – Manifestação política na
Cinelândia. Fonte: Arquivo O Globo.
Quem não chora não mama
Segura meu bem a chupeta
Lugar quente é na cama
Ou então no Bola Preta
Vem pro Bola meu bem
Com alegria inferna
Todos são de coração
Todos são de coração
Foliões do carnaval
Marchinha de Carnaval do Cordão do
Bola Preta. Nelson Barbosa e Vicente de
Paiva, 1962.
Fig. 106 – O Cordão do Bola Preta -
estandarte. Fonte: arquivo Cordão do Bola
Preta.
Cinelândia: um conjunto histórico
Taisa Soares de Carvalho
157
Inventário da Cinelândia: Percepções da Paisagem
5
5.1– Percepções da Paisagem: conceito
Os campos visuais valorizam a paisagem e auxiliam o usuário na identificação e
orientação do espaço em que se localiza; são estes estímulos visuais formados pela
paisagem urbana que são absorvidos pelo usuário e destes, tira suas impressões
segundo o espaço. Essa percepção será feita de duas maneiras: a primeira através de
uma vistoria por percursos
38
, através dos campos visuais do observador feitos a pé
pela área, analisando pelas visadas como se configura o espaço e seus elementos
integrados.
“A descoberta do caminho é a função primeira da
imagem ambiental e a base sobre a qual talvez se
tenham desenvolvido as associações emocionais.
Mas a imagem é válida não apenas nesse sentido
imediato, no qual funciona como um mapa para a
orientação do movimento; em sentido mais amplo,
pode servir como um sitema geral de coordenadas
dentro do qual o indivíduo pode agir, ou em relação
ao qual pode associar seu conhecimento. Nesse
sentido, ela se assemelha a um conjunto de crenças
ou de hábitos sociais: é um organizador de fatos e
possibilidades.” (LYNCH, 1997, p.142)
Del Rio, em seu estudo sobre o Desenho Urbano (1990) também propõe a análise
visual como meio de compreender as mensagens entre os elementos da paisagem
urbana e as emoções que elas transmitem, ressaltando que este tipo de análise se faz
de forma subjetiva, dependendo da “capacidade de observação e de interpretação do
pesquisador, conseqüentemente permeada por seus próprios sistemas de valores”
(DEL RIO, 1990, p. 23).
Em segundo, para a percepção da paisagem através do usuário tomou-se como base
a metodologia de Kevin Lynch para a identificação das imagens coletivas, através de
entrevistas com a população. Diferente do que acontece na análise de percursos,
nesta, não importa o olhar do observador terinado, e sim, o que é percebido pela
população, como ela identifica e se orienta, as suas sensações e emoções.
38
Gordon Cullen utiliza-se da seleção de campos visuais para o entendimento da morfologia da cidade,
entende que os elementos que a compõe podem dar um novo valor estético ao urbano.
Capítulo V
Inventário da Cinelândia: Percepção da Paisagem
158
5.2– Os Percursos
A percepção da paisagem sugerida pelo percurso de Gordon Coolen tem o objetivo
além do conhecimento do ambiente, mas do reconhecimento deste através do
movimento do indivíduo e por seqüências de cenas selecionadas – campos visuais,
“cones que determinam o registro de estações, porque é por seu intermédio que
recebemos estímulos provenientes da configuração dos lugares” (KOHLSDORF, 2000,
p. 38).
Este estudo será realizado em três percursos, onde o observador analisará a
paisagem a partir de diferentes ângulos, onde cada campo visual é responsável por
uma única paisagem e nela importa observar o seu conjunto, em como se organizam
todos seus elementos integrantes, sejam eles, vegetação, construções, relevo e
mobiliário urbano.
5.2.1 – Percurso 1
O primeiro percurso se faz na principal via de acesso à praça da Cinelândia, a Avenida
Rio Branco. Por ser uma via muito extensa, a seleção dos campos visuais inicia-se na
Avenida Almirante Barroso, junto ao Clube Naval, seguindo pela calçada da direita do
Teatro Municipal, até a praça.
Fig. 107 – Campos Visuais Percurso 1. Fonte: Elaborado pela autora.
Cinelândia: um conjunto histórico
Taisa Soares de Carvalho
159
Percurso 1 – Chegada à Cinelândia pela Avenida Rio Branco.
Campo Visual 1 – lateral do Clube Naval,
vista parcial do Museu Nacional de Belas
Artes.
Croqui Campo Visual 1 – a perspectiva
oferece direcionamento com estreitamento
do campo visual. O bloqueio visual da
vegetação provoca a sensação de surpresa.
Campo Visual 2 – lateral do Clube Naval,
vista do Museu Nacional de Belas Artes.
Croqui Campo Visual 2 – direcionamento e
bloqueio visual do monumento. Não é
possível perceber a chegada à Cinelândia.
Campo Visual 3 – lateral do Teatro
Municipal, vista do Museu Nacional de Belas
Artes.
Croqui Campo Visual 3 – direcionamento e
estreitamento do campo visual. O bloqueio
visual pela vegeteção não permite a
visualização da praça e não permite a
contemplação do monumento. O totem é
uma referência visual marcante.
Capítulo V
Inventário da Cinelândia: Percepção da Paisagem
160
Campo Visual 4 – lateral do Teatro
Municipal.
Croqui Campo Visual 4 – direcionamanto,
alargamento. Permanece o bloqueio visual,
não é possível identificar a praça.
Campo Visual 5 – lateral do Teatro
Municipal, vista da Biblioteca Nacional.
Croqui Campo Visual 5 – direcionamento
com alargamento do campo visual. O
bloqueio visual pelo tapume é provisório,
compromete a vista da praça. Cone visual
com presença de monumento.
Campo Visual 6 – frente do Teatro Muncipal,
vista da Praça da Cinelândia.
Croqui Campo Visual 6 – a chegada à
praça amplia o campo visual, que fica
realçada pelos edifícios a sua volta. A
vegetação bloqueia a vista de fundos da
praça.
Cinelândia: um conjunto histórico
Taisa Soares de Carvalho
161
De uma maneira geral o percurso 1 na Avenida Rio Branco mostra que a avenida
apresenta uma boa perspectiva, com direcionamento para a praça, porém o acesso à
Cinelândia por esta via não tem muitas surpresas, os edifícios monumentais vão
surgindo progressivamente na paisagem, o bloqueio visual pela vegetação também
minimiza o contraste de paisagem. Ao final, o alargamento do campo visual com a
chegada da praça traz a sensação de mudança de ambiente, demarcando bem a
entrada à Cinelândia e contrasta com o corredor da Avenida Rio Branco e seus altos
edifícios.
A vegetação densa bloqueia a vista de fundos da praça, não é possível ver além dela,
percebendo-se pouco a Praça Mahatma Gandhi e a vista da Beira Mar. Destaque para
o calçamento, a medida que se anda diferentes desenhos em mosaicos de pedra
portuguesa marcam os principais edifícios.
5.2.2 – Percurso 2
Após se perceber como se dá a chegada à praça da Cinelândia, o segundo percurso
tem como objetivo demonstrar a percepção do obervador que caminha por ela, no
sentido do Teatro Municipal para o seu interior, chegando à Praça Mahatma Gandhi.
Fig. 109 – Campos Visuais percurso 2. Fonte: Elaborado pela autora.
Capítulo V
Inventário da Cinelândia: Percepção da Paisagem
162
Percurso 2 – Pela Praça Floriano até a Praça Mahatma Gandhi
Campo Visual 1 – em frente ao Teatro
Municipal, vista da Praça da Cinelândia.
Croqui Campo Visual 1 – alargamento do
campo visual pela presença da praça, as
construções emolduram a paisagem. O
direcionamento só é sentido pela
continuidade da Av. Rio Branco. A vegetação
bloqueia a vista de fundos da praça.
Campo Visual 2 – no interior da Praça.
Croqui Campo Visual 2 – alargamento do
campo visual pela presença da praça, a
vegetação não só evita a percepção do
fundo da praça como também bloqueia a
vista dos edifícios. Direcionamento pelo
meio-fio, pelo detalhe de piso e pelo ritmo
das árvores e dos equipamentos (bancos).
Cinelândia: um conjunto histórico
Taisa Soares de Carvalho
163
Campo Visual 3 – no interior da Praça.
Croqui Campo Visual 3 – interrupção da
visual e confusão de informações pela
aglomeração de equipamentos.
Direcionamento da visão provocado pelos
detalhes do piso e pelo ritmo do caule das
árvores. Bloqueio visual pela vegetação
densa.
Campo Visual 4 – no interior da Praça.
Croqui Campo Visual 4 – direcionamento
pela continuação da Av. Rio Branco em
conflito com o direcionamento da
continuação da Rua do Passeio. Bloqueio
visual provocado pelo estacionamento de
veículos. Campo visual confuso, muito
obstruído, a Praça Mahatma Gandhi é pouco
percebida.
Capítulo V
Inventário da Cinelândia: Percepção da Paisagem
164
Campo Visual 5 – no interior da praça.
Croqui Campo Visual 5 – direcionamento
pela continuação da Av. Rio Branco e pelo
direcionamento da continuação da Rua do
Passeio, induzindo a percepção da paisagem
de fundo. Há um leve enquadramento
valorizando esta paisagem de fundo.
Campo Visual 6 – no extremo da praça,
vista da Praça Mahatma Gandhi.
Croqui Campo Visual 6 – leve
direcionamento provicado pelo alinhamento e
ritmo da vegetação. A presença do gradil,
embora seja um elemento “transparente”
induz a diferença entre os espaços, uma
barreira, indicando o limite da Praça
Mahatma Gandhi.
A chegada à Praça já garante uma diferença de ambiente em relação à sua chegada
pela Av. Rio Branco como se pôde observar no percurso 1; o alargamento sentido pela
presença da Praça garante que o observador sinta bem essa diferença. Aumenta
também o campo visual, permitindo melhor apreciação dos edifícios que emolduram o
ambiente e que no caso da Cinelândia a contemplação é favorecida pela reunião dos
edifícios históricos; também fica realçado o contraste destes edifícios com os arranha-
céus envidraçados, que rasgam a paisagem verticalmente.
Cinelândia: um conjunto histórico
Taisa Soares de Carvalho
165
A arborização da praça garante um ar aprazível, convidativo à permanência que é
auxiliado pelos mobiliários urbanos que apresenta – bancos, bancas de jornal,
telefones públicos. Por causa da vegetação densa, não é possível vizualizar com
clareza o fundo da Praça Floriano, o final da Avenida Rio Branco e seu obelisco, bem
como a Praça Mahatma Gandhi e o chafariz do Monroe só serão percebidos pelo
observador ao final do trajeto, a imagem surge aos poucos á medida que se caminha
pela Praça. O caminhar é agradável, sem muita interferência de elementos urbanos,
que foram posicionados de forma que a circulação torna-se facilitada, direcionada; em
poucos momentos sente-se desconforto no caminhar, quando há então uma
aglomeração de informações por parte dos equipamentos públicos.
Ao final a sensação novamente de mudança de ambiente, sente-se a ampliação do
campo visual, é possível vizualizar a paisagem do obelisco e a Beira Mar, também é
possível apreciar a Praça Mahatma Gandhi e o chafariz, porém o gradeamento ao seu
redor provoca a sensação de separação dos espaços.
5.2.3 – Percurso 3
O terceiro e último percurso para percepção da paisagem da Cinelândia foi realizado
no seu interior, desta vez no sentido contrário ao anterior, este vai da direção da Praça
Mahatma Gandhi no sentido do Teatro Municipal.
Fig. 111 – Campos Visuais percurso 3. Fonte: Elaborado pela autora.
Capítulo V
Inventário da Cinelândia: Percepção da Paisagem
166
Percurso 3 – Pela Praça Floriano, do Cine Odeon em direção ao Teatro Municipal
Campo Visual 1 – no extremo da praça.
Croqui Campo Visual 1 – direcionamento
da visão pelo detalhe do piso, porém aqui, a
vegetação provoca o bloqueio visual do
monumento do Teatro Municipal. Destaque
para os altos prédios da Av. Rio Branco.
Campo Visual 2 – no interior da praça.
Croqui Campo Visual 2 – direcionamento
da visão pelo detalhe do piso. A vegetação
ainda produz o bloqueio visual do
monumento. Contraste de dois panos de
fundo, no primeiro o Teatro Municipal e no
segundo os altos prédios do Centro.
Cinelândia: um conjunto histórico
Taisa Soares de Carvalho
167
Campo Visual 3 – no interior da praça.
Croqui Campo Visual 3 – direcionamento
da visão pelo detalhe do piso. Alargamento e
ampliação do campo visual.
Campo Visual 4 – no interior da praça. Croqui Campo Visual 4 – alargamento e
ampliação do campo visual. Quebra da
continuidade da praça pela mudança de
piso. Se destaca na paisagem o monumento
do Teatro Municipal em contraste com os
altos edifícios do Centro.
Neste percurso sente-se uma maior visualização e conseqüente valorização dos
edifícios da Cinelândia, em especial ao Teatro Municipal que se torna figura de fundo e
vai sendo aos poucos melhor apreendido pelo observador. O trajeto acontece sem
grandes surpresas, fica a cargo do calçamento da praça o direcionamento do
percurso. No início a densa arborização fecha o campo visual, com o caminhar a
vegetação vai se tornando mais escassa e o campo se amplia, abrindo o visual ao se
aproximar do teatro Municipal, permitindo melhor visualização deste, da Câmara dos
Vereadores e dos edifícios da Biblioteca e Museu Nacional.
Capítulo V
Inventário da Cinelândia: Percepção da Paisagem
168
5.2.3 – Percepção geral dos Percursos
De uma maneira geral as análises feitas pelos percursos permitem identificar
claramente duas paisagens apreendidas pelo observador, a de fora da Cinelândia (seu
entorno) e a de dentro, essa alteração é sentida principalmente pela sensação de
alargamento produzida pela inserção do espaço livre da praça, provocando a
ampliação do campo cisual, em oposição ao sentimento de confinamento que é
sentido na caixa das vias de circulação que dão acesso à área. Essa diferença
também pode ser sentida em relação aos edifícios, no contraste dos arranha-céus
envidraçados que se expandiram no Centro em justaposição aos prédios antigos,
monumentais, porém mais baixos, com riqueza de detalhes nas fachadas que
compreendem na Cinelândia, como se pode observar pelas análises no percurso 1 e
3.
A vegetação embora seja um elemento aprazível dentro de muitas questões
urbanísticas de conforto na maioria das vezes ela limita e bloqueia a vista dos
edifícios, dificultando a apreensão dos principais monumentos da Cinelândia. Somente
em alguns campos visuais é possível a contemplação destes edifícios, alguns, em
nenhuma perspectiva podem ser observados em sua totalidade. Todavia, a vegetação
garante ao espaço da Praça Floriano o convite a permanência, garantindo sombra e
conforto térmico.
Nenhum outro monumento é tão privilegiado pela configuração da praça quanto o
Teatro Municipal, como pode ser percebido pelo percurso 3. Seu enquadramento
como plano de fundo deste percurso que só faz aumentar a sua percepção por parte
do observador.
No percurso 2, há uma segregação dos espaços, de um lado o caminhar livre pela
praça da Cinelândia e por fim, a barreira, não só visual, mas uma barreira na
passagem do observador para a Praça Mahatma Gandhi provocada pelo gradeamento
da praça. Na maioria dos campos visuais selecionados, o mobiliário urbano instalado
na praça não prejudica a qualidade de percepção visual, ao contrário, sua disposição
parece ter sido intencionada a direcionar os espaços de estar e espaços de passagem
para fluxo de pedestres.
Cinelândia: um conjunto histórico
Taisa Soares de Carvalho
169
5.3– A Imagem da Paisagem
“A cada instante, há mais do que o olho pode ver,
mais do que o ouvido pode perceber, um cenário
ou uma paisagem esperando para serem
explorados. Nada é vivenciado em si mesmo, mas
sempre em relação aos seus arredores, às
seqüências de elementos que a ele conduzem, à
lembrança de experiências passadas”
(LYNCH, 1997, p.3)
A configuração de uma cidade, ou de uma parte dele, influencia e induz a percepção
do usuário sobre seus elementos, essa influência pode ser notada pela análise
anterior feita pelos percursos. Porém vai depender da cultura de cada usuário, das
suas pré-determinações e dos seus pré-conceitos como ele absorve essas
informações e o que por ele é evidenciado.
Essa análise só poderia ser entendida em contato com os usuários, realizado por meio
de entrevistas como sugere o autor Kevin Lynch. Em sua metodologia, Lynch tinha o
objetivo de entender a imaginabilidade do lugar, procurando não só entender o quanto
a paisagem se pronunciava para esses indivíduos, mas também identificar o interesse
deles pelo espaço.
Evidente que em se tratando de entrevista, há toda uma individualidade que deve ser
levada em consideração. Baseado nas questões levantadas pelo autor, elaborou-se
um questionário tentando identificar a percepção da Cinelândia e de seus
monumentos pela população, verificar se dentre eles um ou mais edifícios se
destacariam e os que seriam de maior e menor relevância para a paisagem da praça.
Foram formuladas 15 perguntas, aplicadas a 12 usuários entre transeuntes, pessoas
que utilizam da área apenas para passagem, pessoas que trabalham em locais
próximos à Cinelândia e pessoas que trabalham dentro da área da Cinelândia. Essa
diferença dos usuários engrandecem a pesquisa a medida que analisam diferentes
pontos de vistas e de interesses desses usuários em relação à praça.
1. Você sabe identificar em que bairro da cidade a Cinelândia se localiza?
2. Tente identificar os limites da Cinelândia, onde ela começa e onde ela termina
para você.
Capítulo V
Inventário da Cinelândia: Percepção da Paisagem
170
A primeira pergunta tenta verificar se a Cinelândia, em se tratando de um dos eixos do
bairro, consegue ser compreendida dentro dos limites do bairro que se insere, se a
área faz para os usuários parte do Centro. A segunda pergunta verifica se mesmo
inserida nesse contexto urbano do Centro se ela se destaca, se seus limites são bem
percebidos.
3. Qual a imagem mais forte que lhe faz lembrar ao bairro do Centro do Rio de
Janeiro?
4. Qual a primeira coisa que lhe vem a cabeça quando se fala de Cinelândia?
Pode ser elementos físicos ou emocionais.
A terceira pergunta é feita em relação a todo o bairro do centro para identificar o
quanto a imagem da Cinelândia ou de algum de seus elementos são de maior ou
menor potencialidade em relação as demais centralidades. Seguida pela pergunta
número quatro para então, dentro da área da Cinelândia identificar o seu fator mais
forte. Nessas perguntas o importante não são necessariamente os edifícios, podendo
também estar presentes questões emocionais, imateriais, questões que são de
importância para estes usuários como ponto de identidade do local.
5. Com que freqüência vai à Cinelândia? Com que função?
6. Qual elemento você considera principal para a identificação da Cinelândia?
7. Quais outros elementos você também considera importantes para a
Cinelândia?
8. Você conhece os prédios da Cinelândia? Quais?
9. Você conhece os espaços culturais da Cinelândia? Quais? Com que freqüência
se utiliza desses espaços?
As perguntas que se seguem tentam visualizar a utilização da Cinelândia pela
população, a freqüência, seu conhecimento sobre a área, sobre o que ela oferece de
atrativo para a sociedade. Essas perguntas sinalizam não só os pontos que exercem
maior atração, mas também identificam os pontos que precisam ser valorizados.
10. Você reconhece a Cinelândia por sua importância: cultural, histórica,
econômica e/ou política?
11. Você conhece a história da Cinelândia? O que mais lhe chama atenção sobre
ela?
Cinelândia: um conjunto histórico
Taisa Soares de Carvalho
171
As perguntas de número dez e onze verificam se o conhecimento sobre a área vai
além dos seus edifícios construídos, se existe um conhecimento histórico, cultural,
político e econômico e o quanto esses pontos são importantes para a população, se
ela reconhece a área por outras manifestações.
12. Qual o trajeto que você se utiliza para chegar à Cinelândia? Não precisa se
prender ao nome das ruas, mas descreva o caminho, o ambiente, aos
elementos que você julga importantes.
13. Você se orienta com facilidade no bairro do Centro? E na Cinelândia? Se sente
confortável e seguro quanto ao lugar que você se encontra?
Seguem então perguntas sobre orientação, do acesso e circulação á área,
identificando as vias que são de maior importância, o tipo de circulação predominante,
entendendo que esse percurso e o modo de circulação influenciam diretamente na
apreenção da paisagem pelo usuário. Por último, perguntas que tentam trazer do
usuário suas sensações, levantar as questões mais ligadas ao seu lado emocional,
perceber o que ele absorveu e identifica para si como sendo a Cinelândia.
14. De uma forma geral, como você se sente quando está na Cinelândia?
15. A Cinelândia não seria a Cinelândia sem...
As perguntas tentaram ser as mais objetivas possíveis, de maneira que fossem
realizadas rapidamente não necessitando uma grande disponibilidade de tempo pelos
usários, visto que estas seriam feitas no próprio local. Das perguntas elaboraram-se
mapas ilustrando as respostas dos entrevistados para melhor entendimento das
questões. Ao final, foram feitas as compilações das entrevistas, vale resaltar que aqui
não foram avaliadas as questões quantitativas e sim qualitativas da paisagem como
sugere o autor Kevin Lynch.
Nesta compilação percebe se que dentro a Cinelândia é identificada como parte do
bairro do Centro, pode-se notar que a área enquanto espaço único é bem apreendido,
os limites da área são conhecidos pelos limites da praça, há um limite claro
evidenciado, o espaço livre e o espaço construído, sua configuração de destaque na
paisagem favorece sua excepcionalidade.
Pelas entrevistas percebem-se bem as centralidades que o bairro do Centro
apresenta, foram citados como imagens representativas em igualdade de indicações:
Capítulo V
Inventário da Cinelândia: Percepção da Paisagem
172
a Candelária, Praça XV, Cinelândia, o Teatro Municipal e a Avenida Rio Branco. Deste
modo podemos então entender a atratividade que o Conjunto Histórico da Cinelândia
apresenta, citado tanto pelo seu conjunto quanto pelo edifício isolado do teatro. Mas
ainda assim, há uma igualdade de imagens para o bairro entre a Candelária, Praça XV
e Cinelândia.
Tab. 06 – Gráfico representativo da Imagem do Centro, referente à
questão número 3 das entrevistas. Fonte: Entrevista realizada pela
autora (vide anexo).
Seguindo para a imagem da Cinelândia pode-se constatar que seu grande marco é o
Teatro Municipal, citado por quase todos os entrevistados, com uma diferença
signicativa dos demais também foram mencionados o prédio da Câmara de
Vereadores, o Museu Nacional de Belas Artes, a Biblioteca Nacional, o conjunto de
edifícios antigos e o Cordão do Bola Preta. Também foram considerados pelos
entrevistados como elementos para identificação da Cinelândia em ordem decrescente
de votação, além do Teatro, mencionado novamente pela maioria, o Chafariz do
Monroe e a Praça Floriano, o monumento à Marechal Floriano, e os prédios históricos.
Tab. 07 – Gráfico representativo da Imagem da Cinelândia, referente
à questão número 4 das entrevistas. Fonte: Entrevista realizada pela
autora (vide anexo).
Cinelândia: um conjunto histórico
Taisa Soares de Carvalho
173
Tab. 08 – Gráfico representativo de outras
identificações da Cinelândia, referente à questão
número 6 das entrevistas. Fonte: Entrevista realizada pela
autora (vide anexo).
Também indicados como representativos da Cinelândia foram citados, além do Teatro
Municipal, que representa o marco do conjunto, em ordem decrescente, o Chafariz do
Monroe, situado na Praça Mahtma Gandhi e a Praça Marechal Floriano, seguido dos
prédios históricos em geral, do monumento à Merachal Floriano e os prédios dos
cinemas.
Os edifícios que compõe a Cinelândia são de grande destaque na paisagem do
Centro, sua arquitetura monumental garante essa identidade à área se destacando em
meio ao crescimento imobiliário do bairro. Esse destaque pode ser sentido pelas
entrevistas, das perguntas realizadas, a maioria dos usuários lembram da Cinelândia
por seus prédios históricos. Embora conheçam e reconheçam estes edifícios, apenas
uma pequena parcela dos usuários usufruem destes, conforme podemos verificar
pelas tabelas 13 e 14 de compilação dos dados verificados nas entrevistas.
De todos os edifícios, os mais conhecidos e utilizados são os de uso cultural, como o
Teatro Municipal, a Biblioteca Nacional e o Museu Nacional de Belas Artes, seguido,
em ordem decrescente de interesse pelo Cine Odeon e o Amarelinho. Este fato
fortifica a área da Cinelândia como um importante pólo atrativo cultural para a cidade.
Capítulo V
Inventário da Cinelândia: Percepção da Paisagem
174
Tab. 09 – Gráfico representativo de edificações
conhecidas pelos usuários na Cinelândia,
referente à questão número 8 das entrevistas. Fonte:
Entrevista realizada pela autora (vide anexo).
Tab. 10 – Gráfico representativo
de edificações utilizadas pelos
usuários na Cinelândia, referente
à questão número 9 das entrevistas.
Fonte: Entrevista realizada pela
autora (vide anexo).
Na questão histórica levantada quatro entrevistados mencionaram algum
conhecimento, na sua maioria pela abertura da antiga Avenida Central e a construção
dos prédios históricos monumentais do período republicano; um dos entrevistados
ressaltou como valor histórico o carnaval, representado pelo Cordão do Bola Preta.
Podemos constatar ainda que o grande marco da Cinelândia é sem dúvidas o edifício
do Teatro Municipal, evidente que sua situação é privilegiada, sem edificações coladas
em suas divisas, com uma perspectiva bem apreciada na praça, e claro, por sua
arquitetura monumental. Os demais edifícios também foram mencionados,
principalmente o Museu e a Biblioteca seguidos pelos edifícios dos antigos
cinematógrafos, principalmente o Cine Odeon que ainda permanece funcionando
como cinema e sendo de grande atrativo para a população.
Em se tratando de apropriação do espaço público, tão importante quanto as questões
urbanas e arquitetônicas, estão as questões sociais: foram identificados com maior
freqüência, além do lazer proporcionado pelo bar do Amarelinho, um dos redutos da
boêmia carioca, a ocupação da praça pela maior festa cultural da cidade, o carnaval,
sendo o Cordão do Bola Preta o representante da área, em meio a tantos outros
blocos carnavalescos que por ali passam. Também foram mencionadas as
manifestações políticas que ali se realizam.
Cinelândia: um conjunto histórico
Taisa Soares de Carvalho
175
Em resumo, a leitura da paisagem da Cinelândia pelos entrevistados está associada
principalmente por esta uma praça, pelo edifício do Teatro Municipal como grande
marco, Museu Nacional de Belas Artes, Biblioteca Nacional, pela presença do
Amarelinho e do Cordão do Bola Preta. Esse método permite identificar os pontos
especiais da paisagem, que são de interesse para a sua população e ainda, a
identificação de pontos que podem ser trabalhados por projetos de intervenção para a
sua valorização.
Cinelândia: um conjunto histórico
Taisa Soares de Carvalho
177
Considerações Finais
Quem intitula um edifício como monumento, o que garante sua excepcionalidade e o
que é necessário para que estes monumentos formem um sítio urbano histórico
depende exclusivamente do valor que sua sociedade vai atribuir àquele bem e àquele
sítio. Sendo assim a excepcionalidade pode ser encontrado na diversidade, na
sobreposição, como podemos observar neste estudo. A Cinelândia não é mais ou
menos importante do que outros conjuntos tão coesos, tão uniformes, pois a sua
importância está registrada na memória e na idenditade da sua população.
Pela análise realizada pode-se verificar que o conceito de patrimônio, antes atribuído
somente aos bens materiais, privilegiava o monumento arquitetônico, se ampliou
passando a abranger diferentes manifestações culturais, portador do modo de vida
social, da memória coletiva de sua sociedade. Com isso, abre suporte para a
preservação dos sítios urbanos, já que é no ambiente urbano que se dão essas
relações, integrando os valores arquitetônicos, arqueológicos, urbanísticos e imateriais
que nele se constituem e simbologias.
Essa evolução no pensamento da preservação também é verificada não só no Brasil,
como em seus Estados e municípios através da criação de órgãos especiais, na
geração de leis e diretrizes que visam a salavaguarda de seus monumentos isoldos e
sítios, selecionados segundo o interesse de sua sociedade como representativos de
sua identidade local.
O interesse pela preservação de conjuntos também contribuiu para a ampliação dos
métodos de estudo do patrimônio. Como apresentado, os inventários, que antes eram
visto como um registro documental para o tombamento passou a documentos de
conhecimento, capazes de produzir um grande acúmulo de informações. Os
inventários são capazes de revelar a imagem da cidade, seu significado perante a
sociedade e identifica a construção arquitetônica dentro do contexto social, econômico
e cultural daquela região, incluindo não apenas o registro de bens imóveis, mas
móveis, fazeres culturais, imaterial e outros.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
178
Nesse sentido, pelos inventários analisados verificou-se a capacidade deste
instrumento em se adaptar segundo as necessidades do objeto de estudo e ao que ele
se pretende. A metodologia apresentada para o estudo do Conjunto Histórico da
Cinelândia visou a produção do conhecimento sobre a área além de seus aspectos
formais e materiais, para isso foi incluído as ações sociais, a percepção, a imagem, a
simbologia e a forma de adaptação do ambiente para entender como essa área, tão
diversificada, produzida por momentos históricos distintos ainda poderia ser vista
como um conjunto único na paisagem da cidade.
Este trabalho complementa os estudos que vêm sendo realizados na cidade do Rio de
Janeiro para a preservação de seu chamado centro histórico, que abrange
centralidades tão diferentes capazes de produzir um todo, como visto na área aqui
proposta. A leitura da unidade “sítio/ conjunto histórico” se faz necessária para a sua
preservação, não apenas do seu patrimônio histórico monumental, mas também do
patrimônio cultural existente na região que foi sede política colonial, imperial e
republicana. Se entendemos que a história abrange diferentes períodos, é necessário
entender que o conjunto também apresenta diferentes momentos, mas que não deixa
de ser um conjunto, pois interagem entre si.
Essa documentação identifica o ambiente urbano da Cinelândia; procurou entender
que embora não coeso, em sua diversidade havia um reconhecimento enquanto um
conjunto, que a área apresenta potencial representativo da memória coletiva e como
identidade de sua população, o que segundo a questão de valores, é o que dá a ela
sua excepcionalidade.
Para isso, a metodologia aplicada buscou além dos aspectos formais de catalogação
arquitetônica, entender a morfologia urbana, como ela se apresenta nos dias atuais,
buscando na imagem e na percepção da paisagem o diferencial para o estudo
proposto. A partir dos levantamentos realizados – histórico, leitura da paisagem e
percepção da paisagem – de um modo geral, é possível entender a sua história e
evolução, analisar o processo de adaptação do ambiente, identificar seu potencial
simbólico.
Através do levantamento histórico foi possível entender a importância dos
monumentos isolados, da sua inserção no meio urbano e das intervenções sofridas
pelos diferentes períodos, possibilitando a compreenção desse processo evolutivo da
cidade. Também é pelo histórico que estarão implícitos muitos dos valores adquiridos
Cinelândia: um conjunto histórico
Taisa Soares de Carvalho
179
pelos edifícios e do conjunto, que deverão ser considerados para as ações de
preservação.
Nos levantamentos físicos atuais apresentados na leitura da paisagem observamos
como a área está inserida na estrutura da cidade atual, como o conjunto atende à sua
sociedade, o quanto ela se adaptou às novas necessidades e o quanto ainda é
necessário se adaptar para garantir que este trecho da cidade permaneça presente na
vida de sua população, pois é esta vida que é capaz de garantir a sua salvaguarda.
Esse vínculo necessário com a população é sentida na percepção da paisagem, onde
se analisou essa visão do ambiente, entendendo seu valor, sua compreenção, suas
potencialidades.
É através desse vínculo que se verifica por exemplo, que embora a Praça Marechal
Floriano somente apresente um único exemplar remanescente da era dos
cinematógrafos, onde o uso dessas suas antigas edificações foram modificadas dando
lugar a bancos, restaurantes e igrejas, alguns inclusives tendo sido completamenbte
demolidos, ainda seja conhecida por Cinelândia, em referência à “terra dos cinemas”.
Ou ainda, que o Teatro Municipal representa o grande marco não só da Cinelândia
mas do bairro do Centro, reconhecido pela sociedade, e que este edifício possui
perspectiva visual privilegiada, o que aumenta a sua percepção pelo observador e que
assim, outros edifícios, da mesma era, por não possuírem tal destaque na paisagem
não tenham tanta apreensão.
Trabalhar essas potencialidades, identificar suas carências e entender que essa
relação arquitetura – cidade – homem, contruibui para a valorização do bem isolado,
do seu conjunto, sua cidade e de sua população. Através do inventário é possível
promover ações de desenvolvimento da área, estabelecendo-se como um forte pólo
cultural-histórico através de educação patrimonial, através de ações de incentivos,
como o que vem sendo realizado pelo Teatro Municipal a preço popular. É importante
a interação da população, pois é ela que garante o seu valor e vai exigir das
autoridades a preservação da área, a conservação dos edifícios.
O inventário do Conjunto Histórico da Cinelândia tem como objetivo, dentre os muitos
citados, direcionar o estudo da unidade histórico-cultural para propostas de
preservação e salvaguardar o objeto de futuras intervenções provocadas pelo
processo evolutivo da cidade. Bem como também é um registro para uma análise
comparativa futura, de como foi se dando as modificações na cidade durante os anos,
CONSIDERAÇÕES FINAIS
180
como ela se adaptou, se os monumentos que hoje constituem a paisagem da
Cinelândia perpetuaram através dos tempos, se valorizaram ou se perderam.
Através deste estudo é possível verificar as novas relações da comunidade local e o
conjunto histórico. A realização de um inventário faz parte do procedimento de análise
e compreenção da realidade contando com a participação da população para atingir
além do conhecimento do valor por ela atribuído ao patrimônio, o fortalecimento dos
seus vínculos em relação aos bens culturais.
Porque um inventário não é um fim, é o início dos estudos, que deverão ser
periodicamente atualizados para o entendimento desse processo evolutivo da cidade,
na geração de ações preservacionista, para a garantia da salvaguarda do bem
cultural.
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ANEXO 1
Conjuntos Urbanos de Tombamento Federal.
Dados retirados do Livro de Bens Móveis e Imóveis Inscritos nos Livros do Tombo.
IPHAN, 1994.
Região/ Estado Livro Ano
Pará
Conjunto arquitetônico da Av. Governador José Malcher e
Travessa Rui Barbosa
Belas Artes
1985
Conjunto Arquitetônico da Av. Nazareth Belas Artes 1985
Conjunto Paisagístico do Cemitério de N. Sra. Soledade Arq,Et.e Pais. 1964
Conjunto Arquitetônico, Urbanístico e Paisagístico da
Praça Frei Caetano Brandão, ex- Largo da Sé
Histórico 1964
Conjunto Arquitetônico e Paisagístico Ver o Peso Histórico
Belas Artes
Arq,Et.e Pais.
1977
Maranhão
Conjunto Arquitetônico e Urbanístico da Cidade de
Alcântara
Histórico
Belas Artes
Arq,Et.e Pais.
1948
1974
1974
Conjunto Arquitetônico e Paisagístico da Cidade de São
Luís
Belas Artes
Arq,Et.e Pais.
1974
Conjunto Arquitetônico e Urbanístico do Largo do Desterro Belas Artes 1955
Conjunto Arquitetônico e Paisagístico da Praça Benedito
Leite
Belas Artes 1955
Conjunto Arquitetônico e Paisagístico da Praça Gonçalves
Dias
Belas Artes 1955
Conjunto Arquitetônico e Paisagístico da Praça João
Francisco Lisboa
Belas Artes 1955
Tocantins
Conjunto Arquitetônico, Paisagístico e Urbanístico da
Cidade de Natividade.
Histórico
Belas Artes
Arq,Et.e Pais.
1987
Pernambuco
Conjunto Arquitetônico e Paisagístico da Cidade de
Igarassu
Belas Artes 1938
Conjunto Arquitetônico, Urbanístico e Paisagístico da
Cidade de Olinda.
Histórico
Belas Artes
Arq,Et.e Pais.
1968
Sergipe
Conjunto Arquitetônico, Urbanístico e Paisagístico da
Cidade de São Cristóvão
Arq,Et.e Pais. 1967
Bahia
Conjunto Arquitetônico e Paisagístico da Cidade de
Cachoeira*
Arq,Et.e Pais. 1971
Conjunto Arquitetônico, Urbanístico e Paisagístico da
Igreja Matriz do Santíssimo Sacramento.
Histórico
Belas Artes
Arq,Et.e Pais.
1980
Conjunto Arquitetônico e Paisagístico da Cidade de Arq,Et.e Pais. 1973
187
ANEXO 1
Lençóis
Conjunto Arquitetônico, Urbanístico e Paisagístico Serra
do Monte Santo.
Arq,Et.e Pais. 1983
Conjunto Arquitetônico e Paisagístico do Cemitério de
Mucugê
Arq,Et.e Pais. 1980
Conjunto Arquitetônico e Paisagístico da Cidade Alta de
Porto Seguro
Histórico
Arq,Et.e Pais.
1974
Município de Porto Seguro, em especial o Monte Pascoal. Histórico
Arq,Et.e Pais.
1974
Conjunto Arquitetônico da Cidade de Rio das Contas Arq,Et.e Pais. 1980
Conjunto Arquitetônico, Paisagístico e Urbanístico do
Centro Histórico da Cidade de Salvador.
Arq,Et.e Pais. 1984
Conjunto Arquitetônico, Urbanístico e Paisagístico da Av.
Otávio Mangabeira, Conceição da Praia, Dique, Mares e
Penha, Penha, Praça Ana Nery, Praça Severino Vieira,
Santo Antônio da Barra, Sé e Passo.
Arq,Et.e Pais. 1959
Conjunto Arquitetônico da Rua Carneiro de Campos Sodré
e Travessa Aquino Gaspar
Arq,Et.e Pais. 1964
Conjunto paisagístico em Santa Cruz e o Conjunto
Arquitetônico e Paisagístico da Cidade Alta
Arq,Et.e Pais. 1981
Mato Grosso
Conjunto Arquitetônico, Urbanístico e Paisagístico da
Cidade de Cuiabá.
Histórico
Belas Artes
Arq,Et.e Pais.
1993
Distrito Federal
Conjunto Urbanístico de Brasília Histórico 1990
Goiás
Conjunto Arquitetônico e Urbanístico da Cidade de Goiás Histórico
Belas Artes
Arq,Et.e Pais.
1978
Conjunto Arquitetônico e Urbanístico da Praça Brasil
Caiado
Belas Artes
Arq,Et.e Pais.
1951
1978
Conjunto Arquitetônico e Urbanístico da Rua João
Pessoa, antiga da Fundição
Belas Artes
Arq,Et.e Pais.
1951
1978
Conjunto Arquitetônico, Urbanístico e Paisagístico da
Cidade de Pirenópolis
Histórico 1990
Conjunto Arquitetônico e Paisagístico da Cidade de Pilar
de Goiás
Histórico
Belas Artes
1954
Mato Grosso do Sul
Conjunto Histórico, Arquitetônico e Paisagístico de
Corumbá
Histórico
Belas Artes
Arq,Et.e Pais.
1993
Rio de Janeiro
Conjunto Arquitetônico e Paisagístico de Mambucaba Arq,Et.e Pais. 1969
Conjunto paisagístico de Cabo Frio Arq,Et.e Pais 1967
Conjunto Arquitetônico e Paisagístico Ilha da Boa Viagem
– Niterói
Histórico
Belas Artes
Arq,Et.e Pais.
1940
1938
1938
188
ANEXO 1
Conjunto Arquitetônico e paisagístico da Praça Getúlio
Vargas – Nova Friburgo
Arq,Et.e Pais. 1972
Conjunto Arquitetônico e Paisagístico da Cidade de Parati Belas Artes
Arq,Et.e Pais.
1958
Conjunto Urbano-Paisagístico da Avenida Koeller -
Petrópolis
Arq,Et.e Pais. 1964
Conjunto Residencial Parque Guinle – Rio de Janeiro Belas Artes 1986
Conjunto Arquitetônico e Paisagístico Jardim e Morro do
Valongo – Rio de Janeiro
Histórico
Belas Artes
1938
Conjunto Arquitetônico da Rua do Catete – Rio de Janeiro Histórico
Belas Artes
1938
Área Central da Praça XV de Novembro – Rio de Janeiro Histórico
Belas Artes
Arq,Et.e Pais.
1990
Conjunto Urbano da Quadra entre as Ruas da
Constituição e Luís de Camóes – Rio de Janeiro
Arq,Et.e Pais. 1980
Conjunto Urbano e Paisagístico da Cidade de Vassouras Arq,Et.e Pais. 1958
Minas Gerais
Conjunto Arquitetônico e Paisagístico do Santuário de N.
Sra. da Piedade
Histórico
Arq,Et.e Pais.
1956
Conjunto Arquitetônico e Urbanístico da Cidade do Campo Arq,Et.e Pais. 1941
Conjunto Arquitetônico e Urbanístico de Diamantina Belas Artes 1938
Conjunto Arquitetônico e Paisagístico da Praça da Matriz Belas Artes
Arq,Et.e Pais.
1973
Conjunto Arquitetônico e Urbanístico de Ouro Preto Histórico
Belas Artes
Arq,Et.e Pais.
1986
1938
1986
Conjunto Arquitetônico e Urbanístico de São João del Rei Belas Artes 1938
Conjunto Arquitetônico e Urbanístico da Cidade do Serro Belas Artes 1938
Conjunto Arquitetônico e Urbanístico de Tiradentes Belas Artes 1938
São Paulo
Conjunto Arquitetônico e Urbanístico da Aldeia de
Carapicuíba
Arq,Et.e Pais. 1940
Remanescentes da Antiga Vila Colonial de São Vicente Histórico 1955
Santa Catarina
Conjunto Arquitetônico e Paisagístico da Vila São Miguel Arq,Et.e Pais. 1969
Centro Histórico da Cidade de Laguna Histórico
Arq,Et.e Pais.
1985
Centro Histórico de São Francisco do Sul Histórico
Arq,Et.e Pais.
1987
Rio Grande do Sul
Conjunto Arquitetônico e Urbanístico de Antônio Prado Histórico 1990
Prédios na Praça Coronel Pedro Osório Belas Artes
Arq,Et.e Pais.
1977
189
ANEXO 1
Conjuntos Urbanos de Tombamento Estadual.
Dados retirados da Listagem de Bens Tombados pelo estado do Rio de Janeiro.
INEPAC, 2004.
Área Indígena Guarani Bracuí
Angra dos Reis
Processo: E-28/000.486/91
Parque Nacional da Bacaina (aproximadamente 700ha)
Data: 14/03/1991
Sítio Histórico do Conjunto Arquitetônico de Cabo Frio
Cabo Frio
Processo: E-18/000.881/03
Casa Grande, Igreja de Santo Inácio e Cemitério da
Fazenda Campos Novos.
Data: 24/07/2003
Largo de São Benedito e adjacências
Cabo Frio
Processo:
Igreja de São Benedito, Largo de São Benedito e imóveis
n° 8, 11, 13, 53 e 60, Rua Almirante Barroso n° 399, Rua
Maestro Clodomiro Guimarães de Oliveira n° 25, Rua 1° de
Maio n° 5, 9 e 58, e Rua Manoel Antonio Ribeiro n° 16, 22,
30, 36, 58, 66 e 78. Bairro da Passagem
Data:
Conjunto Urbano da Extinta Vila Iguaçu
Nova Iguaçu
Processo: E-03/02.453/78
Denominada Iguaçu Velha – 3° Distrito de Cava
Data: 08/04/1983
Conjunto Fabril da Companhia Têxtil Brasil Industrial
Paracambi
Processo: E-18/300.031/84
Edifício Central, usina de força, edificações
complementares, Casa do Diretor e Capela Nossa Senhora
da Conceição.
Data: 16/12/1985
Litoral Fluminense
Paraty, Niterói e São
João da Barra.
Processo: E-18/300.459/85
Todo o litoral desses três municípios
Data: 09/12/1985
Conjuntos Urbano-paisagístico
Petrópolis
Processo: E-18/000.165/91
I) Praça D. Pedro II e Praça dos Expedicionários
II) Rua do Imperador e adjacências
III) Praça da Inconfidência
IV) Ruas Marechal Floriano Peixoto e Alberto Torres
V) Ruas João Caetano e Casimiro de Abreu
VI) Ruas Buenos Aires, Figueira de Melo e Santos
Dumont.
VII) Ruas Dr. Sá Earo e Bartolomeu de Gusmão
VIII) Ruas Padre Siqueira, Alfredo Pachá, Sete de
abril e Montecaseros
IX) Ruas Paulino Afonso, Carlos Gomes e Francisco
Manuel
X) Ruas Mosela, Ingelheim, Barão do Rio Branco,
Washington Luiz, Coronel Veiga, Fernandes
Vieira e, Bairro Valparaíso e Hotel Quitandinha
Data: 21/04/1991
Conjuntos Industriais
Petrópolis
Processo: E-18/000.165/91
Fábrica Wernere, Centro de Instrução SENAI, Fábrica de
Cia de Tecidos Aurora D’Olne, Fábrica de Tecidos Santa
Helena, Represa e Cascata Bulhões
Data: 25/04/1991
190
ANEXO 1
Conjuntos da Carioca
Rio de Janeiro
Processo: E-03/037.709/82
Do n° 2 ao n° 87
Data: 04/07/1985
Casas Casadas
Rio de Janeiro
Processo: E-03/01.633/78
Rua das Laranjeiras 307 e Rua Leite Leal n° 11, 19, 29, 33
e 45
Data: 13/12/1978
Conjunto Arquitetônico Beco e Largo do Boticário
Rio de Janeiro
Processo: E-18/300.258/87
Cosme Velho
Data: 13/11/1987
Conjunto Arquitetônico e Urbanístico de Botafogo
Rio de Janeiro
Processo: E-18/000.038/91
Rua Martins Ferreira, Rua Conde de Irajá, Rua Capistrano
de Abreu, Rua São Clemente, Rua Real Grandeza e os
conjuntos arquitetônicos das Ruas Camuirano, Miranda
Valverde, Goethe e Coronel Afonso Romano
Data: 05/02/1991
Conjunto Arquitetônico e Esportivo do Fluminense
Futebol Clube
Rio de Janeiro
Processo: E-18/000.687/98
Laranjeiras
Data: 06/07/1998
Conjunto Arquitetônico de Laranjeiras
Rio de Janeiro
Processo: E-18/001.553/98
Rua das Laranjeiras (entre a Praça Gurion e Rua Mario
Portela e entre a Rua Leite Leal e Ribeiro de Almeida),
Ruas Ipiranga, Paissandu e Esteves Jr., Praça São
Salvador, Ruas Senador Correa e São Salvador, Igreja N.
S. Da Glória, Colégio Wakigawa.
Data: 09/12/1998
Conjunto Urbano Paisagístico Leme, Copacabana,
Ipanema e Leblon
Rio de Janeiro
Processo: E-18/000.030/91
Orla do leme, Copacabana, Ipanema e Leblon, incluindo
calçamento
Data: 25/01/1991
Conjunto da Colônia Juliano Moreira
Rio de Janeiro
Processo: E-18/001.178/90
Portal do antigo engenho, antiga sede, muro, pavilhões de
1 a 7, chafariz, Igreja N. S. Dos Remédios e conjunto de
casas de funcionários. Jacarepaguá
Data: 27/08/1990
Conjunto Arquitetônico e Paisagístico da UFRRJ
Rio de Janeiro
Processo: 18/001.540/98
Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro
Data: 09/12/1998
191
ANEXO 1
192
Conjuntos Urbanos Tombados na Cidade do Rio de Janeiro
Dados retirados da listagem de bens tombados dos respectivos órgãos de
preservação.
Gestão Federal
Conjunto Arquitetônico da Rua do Catete – Rio de Janeiro 1938
Área Central da Praça XV de Novembro – Rio de Janeiro 1990
Conjunto Urbano da Quadra entre as Ruas da Constituição e Luís de
Camões – Rio de Janeiro
1980
Gestão Estadual
Conjuntos da Carioca 1985
Casas Casa das Laranjeiras 1978
Conjunto Arquitetônico de Laranjeiras 1998
Conjunto Arquitetônico e Esportivo do Fluminense Futebol Clube 1998
Conjunto Arquitetônico Beco e Largo do Boticário 1987
Conjunto Arquitetônico e Urbanístico de Botafogo 1991
Conjunto Urbano Paisagístico Leme, Copacabana, Ipanema e Leblon 1991
Conjunto da Colônia Juliano Moreira 1990
Conjunto Arquitetônico e Paisagístico da UFRRJ 1998
Gestão Municipal
Botafogo – Decreto 22.221 2002
Catete – Decreto 25.693 2005
São José – Lei 1.769 1991
Corredor Cultural – Decreto 4.141 1983
Corredor Cultural – Lei 1.139 1987
Corredor Cultural – Lei 506 1984
Cidade Nova e Catumbi – Decreto 10.040 1991
Estácio – Decreto 19.000 2000
Cruz Vermelha – Decreto 11.883 1992
Teófilo Otoni – Decreto 16.419 1997
Sagas (Saúde, Gamboa e Santo Cristo) – Lei 971 e Decreto 7.351 1987/88
Lido – Decreto 11.448 1992
Conjunto da Cinelândia – Lei n° 1.467 1989
Bairro Peixoto – Lei 1.390 e Decreto 9.226 1989/90
Cosme Velho – Lei 1.784 e Resolução SMC 27 1991/97
Humaitá – Decreto 4.665 e Lei 730 1984/85
Ipanema – Decreto 23.161 2003
Chácara do Algodão – Decretos 7.313 e 23.067 1987/2003
Cosme Velho – Lei 1.784 1991
Laranjeiras – Decreto 17.028 1998
Casas Casadas – Decreto 13.051 1994
Leblon – Decreto 20.300 2001
Paquetá – Decreto 17.555 1999
Santa Cruz – Decreto 12.524 1993
Santa Teresa – Lei 495 e Decreto 5.050 1984/85
São Cristóvão – Lei Complementar 24 1993
Tijuca – Decreto 12.864 1994
Urca – Decretos 7.451 e 16 1988/98
Vila Isabel – Lei 2.038 1993
ANEXO 2
193
Referências : Fichas de Inventário
Ficha IPAC-BA: levantamento de municípios. Fonte: COELHO, 2001.
Ficha IPAC-BA: levantamento do edifício. Fonte: COELHO, 2001.
ANEXO 2
194
Ficha IPAC-MG. Levantamento de imóvel. Fonte: COELHO, 2001.
ANEXO 2
195
Ficha IPAC-MG. Levantamento de bem integrado. Fonte: COELHO, 2001.
ANEXO 3
196
Assunto do documento: Ficha Catalográfica do Inventário do Conjunto Urbano
Histórico da Cinelândia, fls. 6
Fonte: Programa Manumenta
Sítios Históricos e Conjuntos Urbanos de Monumentos Nacionais: sudeste e sul.
Cadernos Técnicos 4, v. 2. Original em documento digital (.pdf)
Pág. 253 a 258 do documento original
253
Ficha de Informações Básicas
Sítios e Conjuntos Urbanos de Monumentos Nacionais
Programa Monumenta
IDENTIFICAÇÃO
(1) NOME:
Conjunto Urbano - Cinelândia.
(2) MUNICÍPIO: (3) ESTADO: (4) SR IPHAN
Rio de Janeiro RJ
CARACTERÍSTICAS DOS TOMBAMENTOS FEDERAIS NO CONJUNTO URBANO DE MONUMENTOS
NACIONAIS
(5) DENOMINAÇÃO: (6) DATA: (7) LIVRO DE TOMBO:
Biblioteca Nacional, 860-T-72 24/05/1972 LBA, insc. 504, fl. 92
Museu Nacional de Belas Artes, 860-T-72 24/05/1973 LBA, insc.505, fl.92
Teatro Municipal, 860-T-72 24/05/1973 LBA, insc.503, fl. 92
Passeio Público, 99-T-38 30/06/1938 LBA, insc. 153, fl. 27
LH, insc. 71, fl. 13
5 - Chafariz na Praça Mahatma Gandhi, 1.132-T-84 21/02/1990 LBA, insc.597, fl. 18
CARACTERÍSTICAS DOS TOMBAMENTOS ESTADUAIS E/OU MUNICIPAIS NO CONJUNTO URBANO DE
MONUMENTOS NACIONAIS
(8) DENOMINAÇÃO: (9) RESP. P/ TOMBAM.
Monumento ao Marechal Floriano Peixoto INEPAC
Palácio Pedro Ernesto INEPAC
Chafariz do Monroe DGPC
Supremo Tribunal Federal (edifício) DGPC
Conjunto Arquitetônico da Cinelândia DGPC
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254
Programa Monumenta
Ficha de Informações Básicas
Sítios e Conjuntos Urbanos de Monumentos Nacionais
FOTOGRAFIA DO CONJUNTO URBANO DE MONUMENTOS NACIONAIS
OUTRAS PROTEÇÕES
(10) EXISTÊNCIA DE PROTEÇÃO ESTADUAL DE CONJUNTO COINCIDENTE COM O CONJUNTO URBANO
DE MONUMENTOS NACIONAIS, TOTAL OU PARCIAL – DESCREVER:
Não há.
(11) EXISTÊNCIA DE PROTEÇÃO MUNICIPAL DE CONJUNTO COINCIDENTE COM O CONJUNTO URBANO
DE MONUMENTOS NACIONAIS, TOTAL OU PARCIAL – DESCREVER:
Conjunto Arquitetônico da Cinelândia, Tombamento Municipal.
(12) JUSTIFICAR A SELEÇÃO DO CONJUNTO URBANO DE MONUMENTOS NACIONAIS:
Existência de uma série de Monumentos Tombados em níveis Federal, Estadual e Municipal próximos uns
aos outros, em uma área fisicamente bem delimitada, com uma certa concentração de Bens Ecléticos,
resultantes de uma proposta de modernização do Rio de Janeiro, no início da República.
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255
Ficha de Informações Básicas
Sítios e Conjuntos Urbanos de Monumentos Nacionais
Programa Monumenta
MAPA DO CONJUNTO URBANO DE MONUMENTOS NACIONAIS COM INDICAÇÃO DOS TOMBAMENTOS
ISOLADOS
1 - Biblioteca Nacional; 2 - Museu Nacional de Belas Artes; 3 - Teatro Municipal; 4 - Passeio Público; 5 - Chafariz na Praça Mahatma
Gandhi. A - Monumento ao Marechal Floriano Peixoto; B - Palácio Pedro Ernesto; C - Chafariz do Monroe; D - Supremo Tribunal Federal
(edifício); E - Conjunto Arquitetônico da Cinelândia.
RELAÇÃO DO CONJUNTO URBANO DE MONUMENTOS NACIONAIS COM O CONTEXTO URBANO
PORTE DA CIDADE ONDE SE INSERE O CONJUNTO URBANO NACIONAL:
(1) PEQUENO (até 50.000 hab.);
(2) MÉDIO (até 400.000 hab.);
(3) GRANDE (maior que 400.000 hab.).
(4) POPULAÇÃO ESTIMADA NO CONJUNTO URBANO DE MONUMENTOS NACIONAIS:
Desprezível.
(5) N° ESTIMADO DE DOMICÍLIOS NO CONJUNTO URBANO DE MONUMENTOS NACIONAIS:
900 unidades
(6) RELAÇÃO ESPACIAL ENTRE O CONJUNTO URBANO DE MONUMENTOS NACIONAIS E O CONTEXTO
URBANO – DESCREVER:
O Conjunto selecionado é formado por duas praças, a Marechal Floriano e a Mahatma Ghandi, articuladas
por um trecho de via urbana. Todos esses espaços são recentes, início do século XX ou posteriores,
produtos de uma proposta de modernização do urbanismo. A Cidade, contudo, apesar de apresentar
várias outras Áreas nascidas de propostas de valorização e melhoramentos urbanos, não pode ser
classificada como resultante de um plano governamental, sendo seu desenvolvimento irregular, muito
condicionado pela topografia e pelas vias de acesso aos espaços centrais da Cidade.
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256
Programa Monumenta
Ficha de Informações Básicas
Sítios e Conjuntos Urbanos de Monumentos Nacionais
TIPOLOGIA FUNCIONAL DO CONJUNTO URBANO DE MONUMENTOS NACIONAIS
O CONJUNTO URBANO DE MONUMENTOS NACIONAIS CORRESPONDE:
(7) A TODA A ÁREA URBANA DA CIDADE;
(8) AO CENTRO HISTÓRICO DA CIDADE;
(9) A UM BAIRRO, TRECHO OU FRAGMENTO DO ESPAÇO URBANO.
(10) JUSTIFICAR A CLASSIFICAÇÃO, REFERENCIANDO-SE À SITUAÇÃO ATUAL E, SE POSSÍVEL, AO
PROCESSO DE TOMBAMENTO:
O Conjunto selecionado corresponde a um trecho da Área Central da Cidade, formado por: duas Praças,
a Marechal Floriano e a Mahatma Ghandi; por um jardim urbano o Passeio Público; por um trecho
da Avenida Rio Branco, onde situam-se alguns imóveis do século XX, de grande expressão no cenário
carioca, mas sem incluir todos os tipos de edificações que caracterizam a vida urbana.
FORMAÇÃO/REPRESENTATIVIDADE HISTÓRICO-CULTURAL
Fundação do sítio urbano: 1531
Fundação do município: 1565
Datação genérica (origem): 1780-1820
Datação genérica (predominante): 1860-1930
Datação genérica (final): 1860-1930
Tipologia:
Conjunto urbano inorgânico
Prioridade social
Prioridade regional
Prioridade por densidade cronológica
Prioridade por vazio cronológico
O Conjunto Urbano da Cinelândia compreende a Biblioteca Nacional (público civil, 1905-1910); o Passeio
Público (espaço público, 1783); e o Chafariz Monroe (cultural, século XIX).
A Biblioteca Nacional, localizada na Avenida Rio Branco, tem sua origem na Biblioteca Real do Rio de
Janeiro, fundada por D. João VI no antigo Convento do Carmo, quando da transferência da Corte para
o Rio de Janeiro, em 1808. O acervo de mais de catorze mil volumes desta antiga Biblioteca faz parte da
atual Biblioteca Nacional, construída entre 1905 e 1910. À mesma comissão encarregada da construção
da Avenida Central, hoje Avenida Rio Branco, coube o encargo de sua construção. De arquitetura
eclética, deve seu projeto aos escritórios parisienses de Hector Pepin e Taupenot.
O Passeio Público deve sua origem ao aterramento do antigo Boqueirão da Ajuda, em 1783. Por
determinação do Vice-rei Luís de Vasconcelos e Sousa, o pântano foi aterrado e, após quatro anos de
trabalho, deu lugar ao Jardim do Passeio Público, feito sob o traçado do mestre Valentim da Fonseca
e Silva. Em 1835, já sofrendo o peso da falta de cuidados, o Passeio Público foi cercado com grades de
ferro e reformado em suas varandas e pavilhões. Em 1861, por determinação de D. Pedro II, sofreu
grande reforma sob a direção do paisagista Auguste Glaziou. Da época da construção restam o antigo
Portão, obra do mestre Valentim, a Fonte dos Jacarés, as Armas de Luís de Vasconcelos, duas pirâmides
e a estátua em chumbo de um menino com a inscrição, “Sou útil inda brincando”.
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Ficha de Informações Básicas
Sítios e Conjuntos Urbanos de Monumentos Nacionais
Programa Monumenta
O chafariz Monroe é de origem francesa, e encontrava-se inicialmente na Praça XV.
Este Conjunto documenta diferentes aspectos da vida política e cultural do Rio de Janeiro, desde a sua
transformação em Capital Imperial Portuguesa até Capital da República do Brasil. Devem ser destacadas,
as empresas de urbanização levadas a cabo no século XX e reveladoras de um projeto “civilizador”.
ESTADO GERAL DE CONSERVAÇÃO DO CONJUNTO URBANO DE MONUMENTOS NACIONAIS
(1) ESTADO GERAL DE CONSERVAÇÃO DO CONJUNTO URBANO DE MONUMENTOS NACIONAIS E DE
SEUS IMÓVEIS. INTERVENÇÕES DE PRESERVAÇÃO RECENTES – RESULTADOS:
O estado de conservação dos Edifícios Tombados pelo IPHAN é satisfatório, todavia os demais prédios
situados nesta área estão apenas em estado razoável. poucos anos foi realizada uma reforma na
Praça. Acontece, neste momento, a restauração do Cinema Odeon.
DINÂMICA URBANA DA ÁREA ONDE SE INSERE O CONJUNTO URBANO DE MONUMENTOS NACIONAIS
(2) INFORMAR SOBRE A DINÂMICA DE USO E OCUPAÇÃO, INDICANDO SE OCORRE CRESCIMENTO
ORDENADO OU DESORDENADO, CONFORME LEGISLAÇÃO URBANÍSTICA; ADENSAMENTO OU PROCESSO
DE ESTAGNAÇÃO, COM ABANDONO DE IMÓVEIS. TENDÊNCIAS DE USO E OCUPAÇÃO DO SOLO.
TENDÊNCIA DE SUBSTITUIÇÃO DO USO RESIDENCIAL E OUTROS:
O uso do solo é fundamentalmente de comércio e serviços. Não há crescimento urbano nesta área. Um
dos cinemas tradicionais da área foi modificado e ocupado como templo da Igreja Universal.
IDENTIFICAÇÃO DE FATORES DE DEGRADAÇÃO E DESCARACTERIZAÇÃO DO CONJUNTO URBANO DE
MONUMENTOS NACIONAIS
(3) IDENTIFICAR A PRESENÇA DE FATORES, TAIS COMO: DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO O
ACOMPANHADO POR CONTROLE DO USO DO SOLO; PRESENÇA DE EMPREENDIMENTOS CAUSADORES DE
IMPACTO AMBIENTAL; TURISMO PREDATÓRIO O ACOMPANHADO POR POLÍTICA PRESERVACIONISTA
E OUTROS:
O desenvolvimento do local em questão foi consolidado. As modificações que ocorrem na área são
desprezíveis, não alterando, portanto, a estrutura urbanística do Conjunto Urbano de Monumentos
Nacionais e seu entorno.
PROCESSOS DE DEGRADAÇÃO LOCALIZADOS
(4) DESTACAR SITUAÇÕES MAIS RELEVANTES REFERENTES A EDIFÍCIOS, A CONJUNTOS DE EDIFÍCIOS
OU A TRECHOS DO CONJUNTO URBANO DE MONUMENTOS NACIONAIS, TAIS COMO PROCESSOS
EROSIVOS, INFILTRAÇÕES, CONSERVAÇÃO, ATAQUE POR INSETOS XILÓFAGOS, INSTALAÇÕES
ELÉTRICAS E OUTROS:
Alguns dos edifícios mais altos da Cinelândia vêm sendo objeto de reformas, pois estavam, até pouco
tempo, em condições precárias de conservação, como foi o caso do prédio do Restaurante Amarelinho
e agora do Edifício Serrador e do Odeon. Os outros problemas detectados são passageiros, decorrentes
apenas de problemas menores de manutenção.
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Programa Monumenta
Ficha de Informações Básicas
Sítios e Conjuntos Urbanos de Monumentos Nacionais
GESTÃO DO PATRIMÔNIO CULTURAL DO CONJUNTO URBANO DE MONUMENTOS NACIONAIS
(1) ORGANIZAÇÃO INSTITUCIONAL DA PREFEITURA, ESTADO E MUNICÍPIO PARA A GESTÃO DO
CONJUNTO URBANO DE MONUMENTOS NACIONAIS. LEGISLAÇÃO, ESTRUTURA OPERACIONAL,
FISCALIZAÇÃO. EXISTÊNCIA DE AÇÕES COOPERADAS E SUA INSTITUCIONALIZAÇÃO:
A Área tem sido trabalhada pela Prefeitura, que tombou a Praça. Não existe cooperação efetiva entre
os diferentes órgãos de preservação, a não ser em iniciativas isoladas.
(2) EXISTÊNCIA DE LEGISLAÇÃO MUNICIPAL (Plano Diretor, Lei de Uso do Solo, Posturas) E SUA
COMPATIBILIDADE COM A PRESERVAÇÃO, GRAU DE INFORMAÇÃO DISPONÍVEL (inventário, cartografia
básica, outros cadastros):
A Cidade dispõe de Legislação de Uso do Solo e Plano Diretor, que prevêem tratamento diferenciado a
Áreas Acauteladas, como a presente.
(3) GRAU DE CONSCIENTIZAÇÃO E MOBILIZÃO DA COMUNIDADE (existência de associações,
participação, resultados):
A comunidade tem diversas associações que tratam dos interesses locais, mas não se pode dizer que a
preservação do patrimônio seja um fator preponderante em suas considerações.
(4) GRAU DE PARTICIPAÇÃO DO SETOR PRIVADO (apoio a projetos de preservação, interesse e
organização do setor turístico):
E existente, mas não é um fator preponderante. Constatou-se que o apoio da iniciativa privada nas
restaurações foi originária de empresas que não se localizam na Área, Banco Real, no caso da Biblioteca
Nacional, por exemplo.
(5) EXISTÊNCIA E GRAU DE VITALIDADE DE MANIFESTAÇÕES CULTURAIS (festas, tradições, produção
artesanal):
Ocorrem no local manifestações políticas e reivindicativas, promovidas por segmentos específicos da
sociedade: estudantes, funcionários públicos, membros de ONG´s. Após passeatas na Avenida Rio
Branco, ocupa-se a Praça no trecho fronteiro à Câmara dos Vereadores, Teatro Municipal e Biblioteca
Nacional.
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ANEXO 4
203
Assunto do documento: Questionário de entrevistas realizados para análise de
percepção da paisagem pelos usuários da Cinelândia.
Data: Janeiro 2007
Realizado pela autora.
Total de entrevistas: 12 (doze)
ANEXO 4
204
Entrevista 1
Sexo: Masculino Idade: 31 anos Profissão: Administrador
Trabalha no Centro, na Candelária.
1. Você sabe em que bairro da cidade a Cinelândia se localiza?
Centro
2. Tente identificar os limites da Cinelândia, onde ela começa e onde ela
termina para você.
Entre a Avenida Chile e a Avenida Beira Mar
3. Qual a imagem mais forte que lhe faz lembrar ao bairro do Centro do Rio
de Janeiro?
O Teatro Municipal
4. Qual a primeira coisa que lhe vem à cabeça quando se fala de Cinelândia?
Pode ser elementos físicos ou emocionais.
O Teatro Municipal
5. Com que freqüência vai à Cinelândia? Com que função?
De três a quatro vezes por semana, sempre de passagem.
6. Qual elemento você considera principal para identificação da Cinelândia?
Os prédios históricos
7. Quais outros elementos você também considera importantes para a
Cinelândia?
A praça, utilizada como mobilizações sociais
8. Você conhece os prédios da Cinelândia? Quais?
O Teatro Municipal, a Câmara dos Vereadores, a Biblioteca Nacional, o Museu
Nacional de Belas Artes, o edifício Amadeus Mozart e o prédio do Cine Odeon.
9. Você conhece os espaços culturais da Cinelândia? Quais? Com que
freqüência se utiliza desses espaços?
O Teatro Municipal, a Biblioteca e o Museu, porém raramente os freqüento.
10. Você reconhece a Cinelândia por sua importância: cultural, histórica,
econômica, política.
Cultural e histórico.
11. Você conhece a história da Cinelândia? O que mais lhe chama atenção
sobre ela?
Não conheço.
12. Qual o trajeto que você se utiliza para chegar à Cinelândia? Não precisa
se prender ao nome das ruas, mas descreva o caminho, o ambiente, aos
elementos que você julga importante.
Da Candelária, direto pela Rio Branco ou pelo metrô.
ANEXO 4
205
13. Você se orienta com facilidade no bairro do Centro? E na Cinelândia? Se
sente confortável e seguro do lugar que você se encontra?
Sim, é fácil se orientar pelos bairros do Centro.
14. De uma forma geral, como você se sente quando está na Cinelândia?
Inseguro.
15. A Cinelândia não seria a Cinelândia sem........
Seus prédios históricos e suas mobilizações sociais.
ANEXO 4
206
Entrevista 2
Sexo: Feminino Idade: 25 anos Profissão: Estudante
Trabalha no Centro, na Santa Luzia.
1. Você sabe em que bairro da cidade a Cinelândia se localiza?
Centro
2. Tente identificar os limites da Cinelândia, onde ela começa e onde ela
termina para você.
Começa perto do Teatro Municipal e acaba no final da Rio Branco.
3. Qual a imagem mais forte que lhe faz lembrar ao bairro do Centro do Rio
de Janeiro?
O Teatro Municipal
4. Qual a primeira coisa que lhe vem à cabeça quando se fala de Cinelândia?
Pode ser elementos físicos ou emocionais.
O Teatro Municipal
5. Com que freqüência vai à Cinelândia? Com que função?
Raramente, as vezes vou para pegar ônibus para voltar para casa.
6. Qual elemento você considera principal para identificação da Cinelândia?
Teatro Municipal
7. Quais outros elementos você também considera importantes para a
Cinelândia?
A Biblioteca, os bares e o teatro Odeon.
8. Você conhece os prédios da Cinelândia? Quais?
Não.
9. Você conhece os espaços culturais da Cinelândia? Quais? Com que
freqüência se utiliza desses espaços?
Alguns, o Teatro Municipal, a Biblioteca Nacional, Teatro Odeon. Nunca fui a
nenhum deles.
10. Você reconhece a Cinelândia por sua importância: cultural, histórica,
econômica, política.
Cultural.
11. Você conhece a história da Cinelândia? O que mais lhe chama atenção
sobre ela?
Não. O que mais me chama a atenção são as mudanças que ocorreram ao
longo dos anos. Qual mudança? A construção dos prédios altos.
ANEXO 4
207
12. Qual o trajeto que você se utiliza para chegar à Cinelândia? Não precisa
se prender ao nome das ruas, mas descreva o caminho, o ambiente, aos
elementos que você julga importante.
Pego o ônibus 247 que faz o trajeto Méier x Passeio, ele passa em toda a
Avenida Presidente Vargas, entra na Avenida Rio Branco e vai até o final dela,
depois entra na rua do Passeio, portanto, passa por toda a Cinelândia.
13. Você se orienta com facilidade no bairro do Centro? E na Cinelândia? Se
sente confortável e seguro do lugar que você se encontra?
Sim, na Cinelândia embora não conheça muito bem as ruas, mas consigo me
achar.
14. De uma forma geral, como você se sente quando está na Cinelândia?
Sendo sincera, me sinto insegura pela quantidade de pivetes que ficam na
praça.
15. A Cinelândia não seria a Cinelândia sem........
O Teatro Municipal
ANEXO 4
208
Entrevista 3
Sexo: Feminino Idade: 27 anos Profissão: Contadora
Trabalha no Centro, na Praça XV.
1. Você sabe em que bairro da cidade a Cinelândia se localiza?
Centro
2. Tente identificar os limites da Cinelândia, onde ela começa e onde ela
termina para você.
Começa na Evaristo da Veiga e termina na rua do Passeio.
3. Qual a imagem mais forte que lhe faz lembrar ao bairro do Centro do Rio
de Janeiro?
A Igreja da Candelária
4. Qual a primeira coisa que lhe vem à cabeça quando se fala de Cinelândia?
Pode ser elementos físicos ou emocionais.
O Teatro Municipal
5. Com que freqüência vai à Cinelândia? Com que função?
Muito raramente, passo lá por conta do trabalho.
6. Qual elemento você considera principal para identificação da Cinelândia?
O chafariz
7. Quais outros elementos você também considera importantes para a
Cinelândia?
Os prédios que a cercam.
8. Você conhece os prédios da Cinelândia? Quais?
O prédio do Cine Odeon
9. Você conhece os espaços culturais da Cinelândia? Quais? Com que
freqüência se utiliza desses espaços?
Somente o Cine Odeon e utilizo muito pouco.
10. Você reconhece a Cinelândia por sua importância: cultural, histórica,
econômica, política.
Cultural.
11. Você conhece a história da Cinelândia? O que mais lhe chama atenção
sobre ela?
Não conheço.
ANEXO 4
209
12. Qual o trajeto que você se utiliza para chegar à Cinelândia? Não precisa
se prender ao nome das ruas, mas descreva o caminho, o ambiente, aos
elementos que você julga importante.
Sempre chego a Cinelândia pela rua do lado do Teatro Municipal.
13. Você se orienta com facilidade no bairro do Centro? E na Cinelândia? Se
sente confortável e seguro do lugar que você se encontra?
Me oriento facilmente pelo Centro.
14. De uma forma geral, como você se sente quando está na Cinelândia?
Encantada com a beleza das construções porém chateada pelo abandono e a
falta de cuidado com os prédios.
15. A Cinelândia não seria a Cinelândia sem........
O chafariz
ANEXO 4
210
Entrevista 4
Sexo: Feminino Idade: 25 anos Profissão: Estudante
Trabalha no Centro, na Santa Luzia.
1. Você sabe em que bairro da cidade a Cinelândia se localiza?
Centro
2. Tente identificar os limites da Cinelândia, onde ela começa e onde ela
termina para você.
Avenida Rio Branco, Evaristo da Veiga, Araújo Porto Alegre e Passeio.
3. Qual a imagem mais forte que lhe faz lembrar ao bairro do Centro do Rio
de Janeiro?
A Rio Branco
4. Qual a primeira coisa que lhe vem à cabeça quando se fala de Cinelândia?
Pode ser elementos físicos ou emocionais.
A Câmara Municipal
5. Com que freqüência vai à Cinelândia? Com que função?
Uma a duas vezes na semana, por funções distintas, mas principalmente
trabalho.
6. Qual elemento você considera principal para identificação da Cinelândia?
O chafariz e o monumento a Marechal Floriano.
7. Quais outros elementos você também considera importantes para a
Cinelândia?
Sua importância histórica e política do país
8. Você conhece os prédios da Cinelândia? Quais?
Não.
9. Você conhece os espaços culturais da Cinelândia? Quais? Com que
freqüência se utiliza desses espaços?
Câmara, Biblioteca Nacional, Teatro Municipal, Museu de Belas Artes e o
Mozart, do Amarelinho.
10. Você reconhece a Cinelândia por sua importância: cultural, histórica,
econômica, política.
Cultural, histórica e política.
11. Você conhece a história da Cinelândia? O que mais lhe chama atenção
sobre ela?
Alguma coisa, mais pelos atos políticos que tiveram lá.
ANEXO 4
211
12. Qual o trajeto que você se utiliza para chegar à Cinelândia? Não precisa
se prender ao nome das ruas, mas descreva o caminho, o ambiente, aos
elementos que você julga importante.
Depende de onde estou, normalmente pela Rio Branco ou Evaristo da Veiga,
ou pelo metrô.
13. Você se orienta com facilidade no bairro do Centro? E na Cinelândia? Se
sente confortável e seguro do lugar que você se encontra?
Sim.
14. De uma forma geral, como você se sente quando está na Cinelândia?
Hoje anda meio perigoso.
15. A Cinelândia não seria a Cinelândia sem........
O Amarelinho
ANEXO 4
212
Entrevista 5
Sexo: Feminino Idade: 50 anos Profissão: Dona de Casa
Vai ao Centro para o comércio e serviços.
1. Você sabe em que bairro da cidade a Cinelândia se localiza?
Sim, no Centro
2. Tente identificar os limites da Cinelândia, onde ela começa e onde ela
termina para você.
Do Teatro Municipal, Av. Rio Branco até o mar.
3. Qual a imagem mais forte que lhe faz lembrar ao bairro do Centro do Rio
de Janeiro?
O Teatro Municipal
4. Qual a primeira coisa que lhe vem à cabeça quando se fala de Cinelândia?
Pode ser elementos físicos ou emocionais.
Os edifícios antigos do teatro, do Museu e da Biblioteca
5. Com que freqüência vai à Cinelândia? Com que função?
Raramente, para compras.
6. Qual elemento você considera principal para identificação da Cinelândia?
O Teatro Municipal
7. Quais outros elementos você também considera importantes para a
Cinelândia?
O Odeon e o Amarelinho
8. Você conhece os prédios da Cinelândia? Quais?
Alguns, o Teatro, o Museu, a Biblioteca e o Odeon.
9. Você conhece os espaços culturais da Cinelândia? Quais? Com que
freqüência se utiliza desses espaços?
Sim, estes que mencionei. Vou com muito pouca freqüência, gostaria de poder
ir mais. Já levei meus filhos.
10. Você reconhece a Cinelândia por sua importância: cultural, histórica,
econômica, política.
Cultural e histórica.
11. Você conhece a história da Cinelândia? O que mais lhe chama atenção
sobre ela?
Pouco, sei de um prédio que demoliram por conta do metrô.
ANEXO 4
213
12. Qual o trajeto que você se utiliza para chegar à Cinelândia? Não precisa
se prender ao nome das ruas, mas descreva o caminho, o ambiente, aos
elementos que você julga importante.
Normalmente venho pela Rio Branco ou pelo Largo da Carioca, passando pelo
lado do teatro.
13. Você se orienta com facilidade no bairro do Centro? E na Cinelândia? Se
sente confortável e seguro do lugar que você se encontra?
Sim.
14. De uma forma geral, como você se sente quando está na Cinelândia?
Acho lindos os prédios, gosto muito de ir lá.
15. A Cinelândia não seria a Cinelândia sem........
O Teatro Municipal
ANEXO 4
214
Entrevista 6
Sexo: Masculino Idade: 25 anos Profissão: Estudante
Vai ao Centro para o comércio
1. Você sabe em que bairro da cidade a Cinelândia se localiza?
Acho que a Cinelândia é um bairro.
2. Tente identificar os limites da Cinelândia, onde ela começa e onde ela
termina para você.
Não, mais ou menos no Teatro até o fim da praça.
3. Qual a imagem mais forte que lhe faz lembrar ao bairro do Centro do Rio
de Janeiro?
A Praça XV e as barcas
4. Qual a primeira coisa que lhe vem à cabeça quando se fala de Cinelândia?
Pode ser elementos físicos ou emocionais.
O Teatro Municipal
5. Com que freqüência vai à Cinelândia? Com que função?
Uma vez por semana, normalmente vou próximo, até o prédio da Av. Central
para compra de material de informática.
6. Qual elemento você considera principal para identificação da Cinelândia?
O Teatro
7. Quais outros elementos você também considera importantes para a
Cinelândia?
A Biblioteca.
8. Você conhece os prédios da Cinelândia? Quais?
Não.
9. Você conhece os espaços culturais da Cinelândia? Quais? Com que
freqüência se utiliza desses espaços?
Só o Teatro e a Biblioteca. Mas vou muito pouco, no teatro fio apenas uma vez.
10. Você reconhece a Cinelândia por sua importância: cultural, histórica,
econômica, política.
Cultural e histórica.
11. Você conhece a história da Cinelândia? O que mais lhe chama atenção
sobre ela?
Não, nada.
ANEXO 4
215
12. Qual o trajeto que você se utiliza para chegar à Cinelândia? Não precisa
se prender ao nome das ruas, mas descreva o caminho, o ambiente, aos
elementos que você julga importante.
Pela Rio Branco sempre.
13. Você se orienta com facilidade no bairro do Centro? E na Cinelândia? Se
sente confortável e seguro do lugar que você se encontra?
Sim.
14. De uma forma geral, como você se sente quando está na Cinelândia?
Acho muito tumultuado, muitas pessoas, muito trânsito.
15. A Cinelândia não seria a Cinelândia sem........
O teatro
ANEXO 4
216
Entrevista 7
Sexo: Feminino Idade: 47 anos Profissão: Arquiteta
Trabalha na Cinelândia
1. Você sabe em que bairro da cidade a Cinelândia se localiza?
No Centro
2. Tente identificar os limites da Cinelândia, onde ela começa e onde ela
termina para você.
No Teatro Municipal, com a Avenida Rio Branco, indo até depois da Praça
Mahatma Gandi, Passeio e voltando pela Praça da Cinelândia.
3. Qual a imagem mais forte que lhe faz lembrar ao bairro do Centro do Rio
de Janeiro?
A Avenida Rio Branco, na verdade a abertura da Avenida Central.
4. Qual a primeira coisa que lhe vem à cabeça quando se fala de Cinelândia?
Pode ser elementos físicos ou emocionais.
Os prédios da época da abertura da Avenida Central, o Teatro, a Biblioteca, o
Museu e o Tribunal de Justiça.
5. Com que freqüência vai à Cinelândia? Com que função?
Sempre, todos os dias durante a semana. A Trabalho.
6. Qual elemento você considera principal para identificação da Cinelândia?
O Teatro Municipal.
7. Quais outros elementos você também considera importantes para a
Cinelândia?
O Museu, a Biblioteca e o Cine Odeon.
8. Você conhece os prédios da Cinelândia? Quais?
Sim, todos eles.
9. Você conhece os espaços culturais da Cinelândia? Quais? Com que
freqüência se utiliza desses espaços?
Sim, o teatro, o museu, a biblioteca, o centro cultural da justiça, o Odeon. Pelo
menos uma vez por semana vou em algum.
10. Você reconhece a Cinelândia por sua importância: cultural, histórica,
econômica, política.
Cultural, histórica e política.
11. Você conhece a história da Cinelândia? O que mais lhe chama atenção
sobre ela?
Sim, da abertura da Avenida Central, da construção dos cinemas. Sem dúvidas
a necessidade de renovação, o bota-abaixo.
ANEXO 4
217
12. Qual o trajeto que você se utiliza para chegar à Cinelândia? Não precisa
se prender ao nome das ruas, mas descreva o caminho, o ambiente, aos
elementos que você julga importante.
Venho de metrô e desço na Pedro Lessa.
13. Você se orienta com facilidade no bairro do Centro? E na Cinelândia? Se
sente confortável e seguro do lugar que você se encontra?
Sim, sempre sinalizado, com placas, é fácil se encontrar e se locomover.
14. De uma forma geral, como você se sente quando está na Cinelândia?
Muito tranqüila, acho tudo com facilidade e praticidade, porém a segurança
ainda é um ponto a ser melhorado.
15. A Cinelândia não seria a Cinelândia sem........
O Teatro
ANEXO 4
218
Entrevista 8
Sexo: Masculino Idade: 62 anos Profissão: Administrador
Trabalha na Cinelândia.
1. Você sabe em que bairro da cidade a Cinelândia se localiza?
No Centro.
2. Tente identificar os limites da Cinelândia, onde ela começa e onde ela
termina para você.
Do Teatro Municipal até a praça do Chafariz
3. Qual a imagem mais forte que lhe faz lembrar ao bairro do Centro do Rio
de Janeiro?
A Praça XV
4. Qual a primeira coisa que lhe vem à cabeça quando se fala de Cinelândia?
Pode ser elementos físicos ou emocionais.
O Teatro Municipal.
5. Com que freqüência vai à Cinelândia? Com que função?
Todos os dias. Trabalho na Carioca.
6. Qual elemento você considera principal para identificação da Cinelândia?
O Teatro.
7. Quais outros elementos você também considera importantes para a
Cinelândia?
O espaço da praça, onde as pessoas passam, tem muito espaço.
8. Você conhece os prédios da Cinelândia? Quais?
Sim, alguns. O Teatro, a Biblioteca e o Museu.
9. Você conhece os espaços culturais da Cinelândia? Quais? Com que
freqüência se utiliza desses espaços?
Só conheço por fora, por dentro só o Museu. Vou quando apresenta
exposições importantes como o Dali.
10. Você reconhece a Cinelândia por sua importância: cultural, histórica,
econômica, política.
Cultural.
11. Você conhece a história da Cinelândia? O que mais lhe chama atenção
sobre ela?
Pouco, da abertura da Presidente Vargas pra ficar mais larga.
ANEXO 4
219
12. Qual o trajeto que você se utiliza para chegar à Cinelândia? Não precisa
se prender ao nome das ruas, mas descreva o caminho, o ambiente, aos
elementos que você julga importante.
Venho do Largo da Carioca pela lateral do Teatro Municipal.
13. Você se orienta com facilidade no bairro do Centro? E na Cinelândia? Se
sente confortável e seguro do lugar que você se encontra?
Sim.
14. De uma forma geral, como você se sente quando está na Cinelândia?
Muito bem, é um lugar muito bonito, com prédios antigos, eu gosto.
15. A Cinelândia não seria a Cinelândia sem........
O Teatro Municipal.
ANEXO 4
220
Entrevista 9
Sexo: Masculino Idade: 50 anos Profissão: Publicitário
Trabalha na Cinelândia.
1. Você sabe em que bairro da cidade a Cinelândia se localiza?
Sim, fica no Centro.
2. Tente identificar os limites da Cinelândia, onde ela começa e onde ela
termina para você.
O Teatro até a Praça do Monroe e de um lado ao outro da Praça da Cinelândia.
3. Qual a imagem mais forte que lhe faz lembrar ao bairro do Centro do Rio
de Janeiro?
A Candelária.
4. Qual a primeira coisa que lhe vem à cabeça quando se fala de Cinelândia?
Pode ser elementos físicos ou emocionais.
O Teatro, mas me lembro muito do carnaval, do Bola Preta.
5. Com que freqüência vai à Cinelândia? Com que função?
Todos os dias a trabalho, aqui na Cinelândia mesmo.
6. Qual elemento você considera principal para identificação da Cinelândia?
O Teatro.
7. Quais outros elementos você também considera importantes para a
Cinelândia?
A Praça do Monroe onde tem hoje um chafariz.
8. Você conhece os prédios da Cinelândia? Quais?
Sim, tem também o Museu, a Biblioteca Nacional, a Câmara, os antigos
prédios dos cinemas, o cinema Odeon.
9. Você conhece os espaços culturais da Cinelândia? Quais? Com que
freqüência se utiliza desses espaços?
Sim, o Museu principalmente. Vou muito lá, aproveito a hora do almoço para ir.
10. Você reconhece a Cinelândia por sua importância: cultural, histórica,
econômica, política.
Cultural e política.
11. Você conhece a história da Cinelândia? O que mais lhe chama atenção
sobre ela?
Ah sim, a construção dos prédios do teatro, do museu e da biblioteca na antiga
avenida central, que hoje é a Rio Branco. Da demolição do Monroe, que era
um prédio belíssimo ali na praça do chafariz.
ANEXO 4
221
12. Qual o trajeto que você se utiliza para chegar à Cinelândia? Não precisa
se prender ao nome das ruas, mas descreva o caminho, o ambiente, aos
elementos que você julga importante.
Venho sempre pelo mesmo caminho, venho do Menezes Cortes, sigo até a Rio
Branco, gosto de vir por ali.
13. Você se orienta com facilidade no bairro do Centro? E na Cinelândia? Se
sente confortável e seguro do lugar que você se encontra?
Sim, conheço bem o Centro, as ruas.
14. De uma forma geral, como você se sente quando está na Cinelândia?
Gosto muito da praça e os prédios, mas acho perigoso, com alguns moradores
de rua e isso me incomoda.
15. A Cinelândia não seria a Cinelândia sem........
O Teatro Municipal.
ANEXO 4
222
Entrevista 10
Sexo: Masculino Idade: 52 anos Profissão: Garçon
Trabalha na Cinelândia.
1. Você sabe em que bairro da cidade a Cinelândia se localiza?
No Centro.
2. Tente identificar os limites da Cinelândia, onde ela começa e onde ela
termina para você.
Vai do Teatro até a praça do chafariz e dos prédios daqui da calçada
(Amarelinho) até o outro lado da Rio Branco.
3. Qual a imagem mais forte que lhe faz lembrar ao bairro do Centro do Rio
de Janeiro?
A Cinelândia
4. Qual a primeira coisa que lhe vem à cabeça quando se fala de Cinelândia?
Pode ser elementos físicos ou emocionais.
O Teatro Municipal
5. Com que freqüência vai à Cinelândia? Com que função?
Todos os dias para trabalhar.
6. Qual elemento você considera principal para identificação da Cinelândia?
A praça. É aqui que tudo acontece.
7. Quais outros elementos você também considera importantes para a
Cinelândia?
Gosto de ver as pessoas passando, indo pros eventos do Odeon, vindo para o
happy hour do Amarelinho.
8. Você conhece os prédios da Cinelândia? Quais?
Só por fora, nunca entrei neles. Tem o Teatro, a Biblioteca e o Odeon.
9. Você conhece os espaços culturais da Cinelândia? Quais? Com que
freqüência se utiliza desses espaços?
Igual ao que eu disse entes. Nunca fui nos prédios do teatro nem na biblioteca,
fui uma vez no Odeon, sempre venho pro trabalho e fico preso aqui, quando
saio quero chegar logo em casa.
10. Você reconhece a Cinelândia por sua importância: cultural, histórica,
econômica, política.
Cultural.
11. Você conhece a história da Cinelândia? O que mais lhe chama atenção
sobre ela?
Tem o carnaval aqui que é muito famoso, o Cordão do Bola Preta abrindo o
carnaval, fica sempre muito cheio, as pessoas vêm de longe pra cá.
ANEXO 4
223
12. Qual o trajeto que você se utiliza para chegar à Cinelândia? Não precisa
se prender ao nome das ruas, mas descreva o caminho, o ambiente, aos
elementos que você julga importante.
Venho da Tiradentes, passo pela carioca e entro na Treze de Maio.
13. Você se orienta com facilidade no bairro do Centro? E na Cinelândia? Se
sente confortável e seguro do lugar que você se encontra?
Sim, sempre trabalhei aqui, conheço bem.
14. De uma forma geral, como você se sente quando está na Cinelândia?
Gosto daqui, acho bonito, cheio de gente, alegre.
15. A Cinelândia não seria a Cinelândia sem........
O Amarelinho (risos)
ANEXO 4
224
Entrevista 11
Sexo: Masculino Idade: 36 anos Profissão: Artista Plástico
Trabalha na Cinelândia.
1. Você sabe em que bairro da cidade a Cinelândia se localiza?
Sim, no Centro.
2. Tente identificar os limites da Cinelândia, onde ela começa e onde ela
termina para você.
Desde o Teatro Municipal, passando pela praça do chafariz, até a Beira Mar e
do quarteirão do Odeon, ali da Câmara também até o outro lado no quarteirão
da Avenida Rio Branco.
3. Qual a imagem mais forte que lhe faz lembrar ao bairro do Centro do Rio
de Janeiro?
A Cinelândia
4. Qual a primeira coisa que lhe vem à cabeça quando se fala de Cinelândia?
Pode ser elementos físicos ou emocionais.
O Teatro Municipal e os edifícios dos cinemas.
5. Com que freqüência vai à Cinelândia? Com que função?
Quase todos os dias, na maioria a trabalho, mas sempre que posso aproveito a
parte de lazer.
6. Qual elemento você considera principal para identificação da Cinelândia?
Tem a praça que é um ponto central com os prédios históricos em volta.
7. Quais outros elementos você também considera importantes para a
Cinelândia?
Acho que a procura por lazer e cultura muito importante para a Cinelândia, seja
no teatro, no museu, no cinema, tem muitos bares.
8. Você conhece os prédios da Cinelândia? Quais?
Os principais sim, do Teatro, do Museu e a Biblioteca, o Centro Cultural da
Justiça, tem o Clube Naval. Daqui desse lado o Odeon, o Amarelinho e aquele
prédio branco depois é... assembléia, eu acho. – (referindo-se a Câmara de
Vereadores)
9. Você conhece os espaços culturais da Cinelândia? Quais? Com que
freqüência se utiliza desses espaços?
Sim, quase todos, acho que o único que não conheço bem, que quase não vou
é a Biblioteca. O Teatro, o Museu, o Odeon e o Amarelinho sempre estou indo.
10. Você reconhece a Cinelândia por sua importância: cultural, histórica,
econômica, política.
Por todas. Cultural pelo Teatro, Biblioteca, Museu e cinema, histórica pela
abertura da Avenida Central e a construção dos prédios, econômica, porque
cultura gera renda e política, sempre tem uma manifestação acontecendo aqui.
ANEXO 4
225
11. Você conhece a história da Cinelândia? O que mais lhe chama atenção
sobre ela?
Sim, da abertura da Avenida Central que foi quando construíram os prédios
daqui, acho que a maioria, quando a cidade era capital do país.
12. Qual o trajeto que você se utiliza para chegar à Cinelândia? Não precisa
se prender ao nome das ruas, mas descreva o caminho, o ambiente, aos
elementos que você julga importante.
Chego de metrô, bem aqui do lado, então ando pouco, mas quando saio daqui
gosto de passear pela praça até o Teatro.
13. Você se orienta com facilidade no bairro do Centro? E na Cinelândia? Se
sente confortável e seguro do lugar que você se encontra?
Não, tenho dificuldade pra me achar no Centro, só conheço bem a Cinelândia.
14. De uma forma geral, como você se sente quando está na Cinelândia?
Fico alegre mas inseguro.
15. A Cinelândia não seria a Cinelândia sem........
Se faltasse qualquer um desses prédios não seria mais a Cinelândia.
ANEXO 4
226
Entrevista 12
Sexo: Masculino Idade: 59 anos Profissão: Engenheiro
Participa de grupo na Cinelândia.
1. Você sabe em que bairro da cidade a Cinelândia se localiza?
Centro
2. Tente identificar os limites da Cinelândia, onde ela começa e onde ela
termina para você.
Teatro Municipal e termina no estacionamento depois da Rio Branco.
3. Qual a imagem mais forte que lhe faz lembrar ao bairro do Centro do Rio
de Janeiro?
Dos prédios altos, grandes edificações.
4. Qual a primeira coisa que lhe vem à cabeça quando se fala de Cinelândia?
Pode ser elementos físicos ou emocionais.
Amarelinho.
5. Com que freqüência vai à Cinelândia? Com que função?
Só de passagem.
6. Qual elemento você considera principal para identificação da Cinelândia?
Os cinemas.
7. Quais outros elementos você também considera importantes para a
Cinelândia?
A Câmara de Vereadores.
8. Você conhece os prédios da Cinelândia? Quais?
Conheço a Câmara de Vereadores, o Museu da Justiça, o Belas Artes, o
Teatro Municipal, o Bola Preta, a Biblioteca Nacional.
9. Você conhece os espaços culturais da Cinelândia? Quais? Com que
freqüência se utiliza desses espaços?
São só os cinemas, não freqüento.
10. Você reconhece a Cinelândia por sua importância: cultural, histórica,
econômica, política.
Sim, por todas elas.
11. Você conhece a história da Cinelândia? O que mais lhe chama atenção
sobre ela?
Não.
ANEXO 4
227
12. Qual o trajeto que você se utiliza para chegar à Cinelândia? Não precisa
se prender ao nome das ruas, mas descreva o caminho, o ambiente, aos
elementos que você julga importante.
Sempre no sentido da Candelária, da Rio Branco ou do Largo da Carioca.
13. Você se orienta com facilidade no bairro do Centro? E na Cinelândia? Se
sente confortável e seguro do lugar que você se encontra?
Sim.
14. De uma forma geral, como você se sente quando está na Cinelândia?
Relembro o Rio antigo, como o Rio era antigamente, nostalgia.
15. A Cinelândia não seria a Cinelândia sem........
As manifestações políticas, o carnaval, o teatro.
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