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Da mesma forma que para Lévy (1996, p.74), o ferreiro, o esquiador, o
motorista de automóvel, a ceifeira, a tricotadora ou o ciclista modificam seus
músculos e seus sistemas nervosos para integrar os instrumentos em uma espécie
de corpo ampliado, modificado, virtualizado. E, como a exterioridade técnica é
pública ou partilhável, ela contribui em troca para forjar uma subjetividade coletiva; o
professor, o aluno e os agentes de apoio ao processo ensino-aprendizagem, tendo
as suas funções corporais e sensoriais ampliadas, modificadas e virtualizadas pelas
TIC como recursos próprios da prática escolar, potencializam-se e passam por um
processo de exteriorização técnica pública e partilhável que amplia percepções e,
conseqüentemente, possibilita novas formas de utilização coletiva de tais
tecnologias. A Escola sendo palco de exterioridades técnicas apresenta-se,
portanto, como espaço ou estrutura aonde se forja uma subjetividade coletiva.
A forma com o homem se apropria historicamente das tecnologias
como ação ampliadora das suas capacidades naturais, contextualiza o seu modo de
vida em sociedade; estabelece paradigmas e, conseqüentemente, cria a história do
mundo. As próprias definições e diferenciações do que seja técnica e tecnologia são
referenciadas pelo modo e intensidade das utilizações sistemáticas dos recursos
subsidiários desses conceitos. Para Vrubel (2001, p.26),
A história da tecnologia não coincide com a da técnica. A técnica é tão
antiga quanto o homem ou, em outras palavras, a técnica inicia
quando o homem começa a situar-se no mundo; enquanto que a
tecnologia moderna — conjugação da técnica e da ciência moderna —
tem história bem mais recente. Ela foi se constituindo a partir do
século XVII, pari passu ao desenvolvimento do capitalismo e à
substituição do modo de produção feudal-corporativo. A tecnologia
firmou-se na época da Revolução Industrial, com a percepção de que
tudo o que era construído pelo homem, podia ser feito segundo os
princípios das ciências. Porém, só veio a consolidar-se como
importante atividade humana no início do século XX.