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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL
FACULDADE DE CIÊNCIAS ECONÔMICAS
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ECONOMIA
ANDERSON ANTONIO DENARDIN
ASSIMETRIA DE INFORMAÇÃO, INTERMEDIAÇÃO FINANCEIRA E O
MECANISMO DE TRANSMISSÃO DA POLÍTICA MONETÁRIA: EVIDÊNCIAS
TEÓRICAS E EMPÍRICAS PARA O CANAL DO EMPRÉSTIMO BANCÁRIO NO
BRASIL (1995-2006)
Porto Alegre
2007
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ANDERSON ANTONIO DENARDIN
ASSIMETRIA DE INFORMAÇÃO, INTERMEDIAÇÃO FINANCEIRA E O
MECANISMO DE TRANSMISSÃO DA POLÍTICA MONETÁRIA: EVIDÊNCIAS
TEÓRICAS E EMPÍRICAS PARA O CANAL DO EMPRÉSTIMO BANCÁRIO NO
BRASIL (1995-2006)
Tese de Doutorado apresentada ao Programa
de Pós-Graduação em Economia da
Faculdade de Ciências Econômicas da
Universidade Federal do Rio Grande do Sul
como requisito parcial para a obtenção do
título de Doutor em Economia.
Orientador: Prof. Dr. Giacomo Balbinotto Neto
Porto Alegre
2007
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ANDERSON ANTONIO DENARDIN
ASSIMETRIA DE INFORMAÇÃO, INTERMEDIAÇÃO FINANCEIRA E O
MECANISMO DE TRANSMISSÃO DA POLÍTICA MONETÁRIA: EVIDÊNCIAS
TEÓRICAS E EMPÍRICAS PARA O CANAL DO EMPRÉSTIMO BANCÁRIO NO
BRASIL (1995-2006)
Tese de Doutorado apresentada ao Programa
de Pós-Graduação em Economia da
Faculdade de Ciências Econômicas da
Universidade Federal do Rio Grande do Sul
como requisito parcial para a obtenção do
título de Doutor em Economia.
Aprovada em: Porto Alegre, 17 de Dezembro de 2007.
___________________________________________________________________
Prof. Dr. Giacomo Balbinotto Neto - Orientador
UFRGS
___________________________________________________________________
Prof. Dr. Fernando de Holanda Barbosa
FGV - RJ
___________________________________________________________________
Prof. Dr. Roberto Camps de Moraes
UNISSINOS
___________________________________________________________________
Prof. Dr. Paulo Renato Soares Terra
UFRGS
AGRADECIMENTOS
Dedico meus agradecimentos a todos aqueles que contribuíram para mais uma
grande conquista:
- Agradeço à Deus, criador e senhor onipotente, onisciente e onipresente, por
ter me concedido o dom da vida, a incansável disposição de lutar, e por ser um
vencedor.
- Tenho a grata satisfação de compartilhar mais esta conquista com aqueles
que me concederam a primeira e a maior vitória, “a vida”. Aos meus magníficos pais,
minha grande riqueza e fonte dos melhores exemplos, agradeço pela dedicação,
pelo sacrifício, e pela excelente educação. Agradeço pela oportunidade de conviver
com pessoas que souberam cultivar e transmitir valores como humildade,
honestidade, integridade, dignidade, caráter, generosidade e humanidade, e que me
instruíram a dar importância para o que realmente vale a pena nessa vida.
- Agradeço a todos aqueles que amo, pelo incentivo a traçar um caminho em
busca de meus ideais, e pela permanente torcida para que tudo desse certo. A
esses peço desculpa pela cara amarrada, pela falta de tempo, de paciência, de
espaço, de abraço. Agora, poço lhes oferecer a conquista e o futuro.
- Agradeço ao meu orientador, Prof. Dr. Giacomo Balbinotto Neto, pelo
entusiasmo com que abraçou a proposta de pesquisa, pela dedicação, inspiração,
exemplo, seriedade, paciência, excelência acadêmica e, principalmente, por ter sido,
além de um grande mestre, um amigo extraordinário. Agradeço, sobretudo, o
excelente resultado obtido.
- Agradeço a todos os professores do Programa de Pós Graduação em
Econômia (PPGE), os quais comprovaram altíssima qualidade e ofereceram
condições para uma excelente formação. Também, aos colegas e amigos, pelos
bons momentos que compartilhamos durante essa árdua e difícil caminhada.
- De um modo muito especial, dedico meus agradecimentos às secretárias Iara,
Raquel, Claudia, Aline, Lurdes, que, além da eficiência, dedicação, presteza, e
profissionalismo, mostraram-se grandes amigas.
- Agradeço à Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), em
especial, ao Programa de Pós Graduação em Econômico (PPGE), por ter
oportunizado o desenvolvimento do curso de doutorado. Também, ao Conselho
Nacional de Pesquisa e Tecnologia (CNPQ), pelo apoio financeiro concedido.
“A teoria monetária é como um jardim japonês. Possui
uma unidade estética nascida da variedade; uma
simplicidade aparente que esconde uma sofisticada
realidade; uma visão superficial que se dissolve em
perspectivas cada vez mais profundas. Os dois só
podem ser plenamente apreciados se examinados de
muitos ângulos diferentes, só se estudados com calma,
mas a fundo. Os dois têm elementos que podem ser
desfrutados independentemente do todo e que, só
atingem a realização plena como parte do todo.”
Milton Friedman
“Se a moeda é o líquido que sacia a vontade de beber da
economia, não nos esqueçamos que existem muitos
percalços entre a taça e os lábios”.
John Maynard Keynes
RESUMO
Nesta tese investigaremos se os bancos, em geral, e se os empréstimos
bancários, em particular, desempenham alguma função especial na economia
brasileira, especificamente, no que se refere em explicar a performance da atividade
produtiva. Procuramos averiguar as evidências teóricas e empíricas que visam
desvendar a relevância do canal do crédito, em especial, do canal do empréstimo
bancário, enquanto um canal adicional para a transmissão da política monetária.
Isso é feito levando em conta o ambiente institucional em que a economia brasileira
está inserida, cujo caráter específico, supõem-se de grande relevância para o melhor
entendimento das reais condições apresentadas pelo mercado financeiro e, em
especial, pelo mercado de crédito. A hipótese central considerada é que, além do
impacto promovido pelo tradicional canal da taxa de juros (custo do capital) - através
do efeito que exerce sobre as obrigações (depósitos) dos intermediários financeiros
e sobre as decisões de investimento dos agentes - a política monetária afeta a
atividade econômica através do mercado de crédito, em especial, através do canal
do empréstimo bancário, devido ao efeito que exerce sobre a composição dos ativos
das instituições financeiras, em particular, sobre as decisões dos bancos em relação
ao volume e as condições em que os empréstimos serão ofertados. Considera-se
ainda que, o sistema legal do país constitui a base para a formação de sua estrutura
financeira e, por conseguinte, contribui para explicar o grau de desenvolvimento do
mercado de crédito, bem como, a intensidade com que o canal do crédito responde
aos choques de política monetária. Utilizando-se, como instrumento para a análise
empírica, da metodologia de vetor auto-regressivo (VAR) constata-se que, os
resultados observados estão em sintonia com a teoria do “canal do crédito”, a qual
sugere que fricções informacionais no mercado são agravadas em períodos de
restrição monetária, resultando em queda na oferta de crédito e aumento no prêmio
de financiamento externo (spreads), o que contribui para potencializar a ação da
política monetária sobre o produto e sobre os preços. Além disso, corroboram com
os argumentos levantados pela literatura de “law and finance”, segundo a qual,
aspectos institucionais, relacionados a baixa proteção do direito dos investidores,
(associados às deficiências nas regras legais e à ineficiência na execução dessas
regras), contribuem para intensificar as fricções informacionais no mercado de
crédito e de capitais.
Palavras-chave: Canal do crédito, Empréstimos bancários, Instituições, Mecanismo
de transmissão de política monetária, VAR.
ABSTRACT
In this research we investigated if the banks, in particular, if the bank loans,
carry out some special function in the Brazilian economy, specifically, to explain the
performance of the productive activity. We tried to discover the theoretical and
empirical evidences that seek to expose the relevance of the credit channel,
especially, of the bank loan channel, while an additional channel for the transmission
of monetary policy. Taking into account the institutional atmosphere in that the
Brazilian economy is inserted, whose specific character is supposed relevant for
understanding of the real conditions of the financial market and, especially, of the
credit market. The central hypothesis is that, besides the impact caused by the
traditional channel of the interest rate (cost of capital) - through the effect that it is
done over the obligations (deposits) of the financial intermediaries and over the
decisions of the agents' investment - the monetary politics affects the economical
activity through the credit market, especially, through the channel of the bank loan,
due to the effect that it exercises on the composition of the assets of the financial
institutions, in particular, about the decisions of the banks in relation to the volume
and the conditions the loans will be offered. The legal system of the country
constitutes the basis for the formation of its financial structure and, consequently, it
contributes to explain the degree of development of the credit market as well as the
intensity with which the channel of credit responds to shocks on monetary policy. As
instrument for the empirical investigation, the VAR analysis demonstrated that results
are in syntony with the theory of the "credit channel". This theory suggests that
informational frictions in the market are worsened in periods of monetary restriction,
resulting in fall in the credit supply and increase in the premium of external financing
(spreads). This contributes to accelerate the action of the monetary policy on output
and prices. In addition, they corroborate the arguments from the literature of "law and
finance", which suggests that institutional aspects, related to the low protection of the
investors' rights (associated to the deficiencies in the legal rules and to the
inefficiency in the execution of those rules), contribute to intensify the informational
frictions in the credit and capital market.
Key Words: The Credit channel, bank loans, Institutions, The mechanism of
Transmission of monetary policy, VAR.
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 - Síntese dos Canais de Transmissão da Política Monetária.............39
Figura 2 - As Conseqüências de uma Política Monetária Restritiva no
Modelo IS-LM.......................................................................................44
Figura 3 - Descrição Estilizada do Mecanismo de Transmissão da Política
Monetária - Canal do Balanço Patrimonial e Canal do
Empréstimo Bancário..........................................................................48
Figura 4 - Ligações entre Política Monetária e o PIB: Canal do Balanço
Patrimonial...........................................................................................56
Figura 5 - Canal do Balanço Patrimonial: efeitos da política monetária .........57
Figura 6 - Curvas LM e “Commodities-Credit (CC)”..........................................66
Figura 7 - O Canal do Crédito da Política Monetária.........................................67
Figura 8 - Estrutura Legal, Estrutura Financeira e o Mecanismo de
Transmissão da Política Monetária..................................................158
Figura 9 - Funções de Resposta a Impulso para Contas do Passivo dos
Bancos - Depósitos, Depósitos a Prazo e Depósitos à Vista ........249
Figura 10 - Funções de Resposta a Impulso para Contas do Ativo dos
Bancos – Credito Total, Crédito Direcionado, Crédito Livre,
Empréstimos Financiamentos e Títulos e Valores Mobiliários .....250
Figura 11 - Funções de Resposta a Impulso para Operações de Crédito
com Recursos Livres Realizados à Taxas Pré-Fixadas ................254
Figura 12 - Funções de Resposta a Impulso para Variáveis de Preços das
Operações Ativas dos Bancos.........................................................255
Figura 13 - Funções de Resposta a Impulso: Índice de Produção Industrial
Geral, Crédito Livre Total e Spread Médio (Pré-Fixado).................275
Figura 14 - Funções de Resposta a Impulso: Índice de Produção Industrial
Geral, Crédito Livre Pessoa Física e Spread Médio Pessoa
Física (Pré-Fixado) ............................................................................
281
Figura 15 - Funções de Resposta a Impulso: Índice de Produção Industrial
Geral, Crédito Livre Pessoa Jurídica e Spread Médio Pessoa
Jurídica (Pré-Fixado).........................................................................
282
Figura 16 - Funções de Resposta a Impulso: Índice de Produção Industrial
Geral, Crédito Livre Pessoa Física (Crédito Pessoal) e Spread
Médio Pessoa Física (Pré-Fixado)....................................................283
Figura 17 - Funções de Resposta a Impulso: Índice de Produção Industrial
Geral, Crédito Livre Pessoa Jurídica (Capital de Giro) e Spread
Médio Pessoa Jurídica (Pré-Fixado)................................................283
Figura 18 - Funções de Respostas a Impulso do Produto em Diferentes
Segmentos da Atividade Produtiva..................................................288
Figura 19 - Evolução em Nível e em Primeira Diferença das Séries de
Interesse Envolvidas na Estimação.................................................325
LISTA DE GRÁFICOS
Gráfico 1 - Evolução da Relação Crédito Total/PIB subdividido nas
categorias Crédito Direcionado/PIB e Crédito Livre/PIB -
(1996:10-2006:12)...............................................................................122
Gráfico 2 - Evolução do Número de Empresas Listadas na Bovespa e do
Valor das Empresas Listadas na Bovespa e no Ibovespa.............124
Gráfico 3 - Taxa Média Mensal Cobrada nas Operações de Crédito com
Recursos Livres Pré-fixados (% a.a - período 1995:01 –
2006:12)..............................................................................................126
Gráfico 4 - Spread Médio Cobrado nas Operações de Crédito com
Recursos Livres Pré-fixados (% a.a – período 1995:01-2006:12) ..
126
Gráfico 5 - Composição do Crédito no Brasil – Média Mensal para o
período 2002 - 2006. ..........................................................................133
Gráfico 6 - Prazo Médio Consolidado das Operações de Crédito com
Recursos Livres - (em dias - período 2000:06 - 2006:12)..............134
Gráfico 7 - Índice de Proteção de Direitos dos Investidores – Proteção dos
Direitos de Acionistas Minoritários..................................................173
Gráfico 8 - Índice de Proteção de Direitos dos Investidores – Proteção do
Direito dos Credores.........................................................................192
Gráfico 9 - Relação entre Proteção dos Direitos de Credores e o Grau de
Acesso ao Crédito Privado em Diferentes Países..........................193
Gráfico 10 - Indicadores de Eficiência na Execução de Regras Legais –
Relação entre Crédito Privado / PIB e Risco de Expropriação......208
Gráfico 11 - Indicadores de Eficiência na Execução de Regras Legais –
Relação entre Crédito Privado/PIB e Risco de Repúdio aos
Contratos............................................................................................
208
Gráfico 12 - Índice de Percepção de Corrupção (CPI) – Compreende 159
Países.................................................................................................210
Gráfico 13 - Indicadores de Eficiência de Execução de Regras Legais –
Relação entre Crédito Privado/PIB e Corrupção ............................211
Gráfico 14 - Relação entre Eficiência do Sistema de Informação de Crédito
e Acesso ao Crédito..........................................................................213
Gráfico 15 - Relação entre Padrões de Contabilidade e Acesso ao Crédito...218
LISTA DE QUADROS
Quadro 1 - Sumário da Literatura Empírica para o Canal do Balanço
Patrimonial ........................................................................................81
Quadro 2 - Sumário da Literatura Empírica para o Canal do Empréstimo
Bancário ............................................................................................90
Quadro 3 - Sumário da Literatura Empírica para o Canal do Empréstimo
Bancário no Brasil............................................................................98
Quadro 4 - Principais Características Relacionadas ao Processo de
Concordata e a Falência no Brasil Regulamentada pelo
Decreto Lei 7661/45 ........................................................................184
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 - Número de Instituições Financeiras do Segmento Bancário..........112
Tabela 2 - Número de Instituições Financeiras .................................................113
Tabela 3 - Participação das Instituições Financeiras Bancárias no
Patrimônio Líquido do Segmento Bancário....................................114
Tabela 4 - Participação das Instituições Financeiras Bancárias nos Ativos
do Segmento Bancário......................................................................114
Tabela 5 - Participação das Instituições Financeiras Bancárias nos
Depósitos do Segmento Bancário ...................................................115
Tabela 6 - Participação das Instituições Financeiras Bancárias nas
Operações de Crédito do Segmento Bancário ...............................115
Tabela 7 - Indicadores para o Mercado Financeiro Brasileiro..........................119
Tabela 8 - Pesquisas Selecionadas que avaliam a Hierarquia das Fontes
de Financiamento das Empresas Brasileiras e em Outros
Países.................................................................................................120
Tabela 9 - Indicadores do Mercado de Capitais no Brasil – Emissões
Primárias de Ações, Debêntures e Notas Promissórias (em
Bilhões R$).........................................................................................124
Tabela 10 - Taxa Média de Juros e Spreads das Operações de Crédito
com Recursos Livres Pré-fixados (% a.a.) .....................................127
Tabela 11 - Taxa Média de Juros e Spreads das Operações de Crédito
com Recursos Livres Pré-fixados – Pessoa Jurídica (% a.a.).......128
Tabela 12 - Taxa Média de Juros e Spreads das Operações de Crédito
com Recursos Livres Pré-fixados – Pessoa Física (% a.a)...........
129
Tabela 13 - Prazo Médio das Operações de Crédito Consolidadas com
Recursos Livres Pré-fixados............................................................
133
Tabela 14 - Direito dos Acionistas em Diferentes Países Classificados
pela Origem Legal .............................................................................
170
Tabela 15 - Proteção dos Direitos de Acionistas Minoritários
(Investidores).....................................................................................171
Tabela 16 - Composição Acionária Direta das Empresas Brasileiras .............175
Tabela 17 - Concentração de Propriedade Acionária ao Redor do Mundo.....176
Tabela 18 - Direito dos Credores em Diferentes Países Classificados pela
Origem Legal......................................................................................189
Tabela 19 - Ordem de Prioridade na Falência....................................................190
Tabela 20 - Facilidade de Acesso ao Crédito no Brasil ...................................192
Tabela 21 - Execução das Regras Legais...........................................................196
Tabela 22 - Execução de Contratos....................................................................198
Tabela 23 - Processo de Cobrança Judicial – Valor Esperado de
Recuperação de Contratos de Crédito ............................................202
Tabela 24 - Opções ente Garantir Cumprimento de Contratos e Busca da
Justiça Social – Ponto de Vista dos Magistrados ..........................203
Tabela 25 - Condições de Acessibilidade às Informações de Crédito ...........214
Tabela 26 - Padrões Contábeis ao Redor do Mundo (Nota Máxima 90
Pontos)...............................................................................................217
Tabela 27 - Estatística Descritiva para as Séries de Interesse.........................238
Tabela 28 - Teste de Causalidade de Granger para Variáveis em Nível -
Balanço Patrimonial..........................................................................
242
Tabela 29 - Teste de Causalidade de Granger para Variáveis em Diferença
– Balanço Patrimonial.......................................................................243
Tabela 30 - Seleção da Ordem de Defasagem dos Modelos VAR para a
Análise do Balanço Patrimonial dos Bancos..................................247
Tabela 31 - Decomposição de Variância para Indicadores de Balanço
Bancário e Preços Praticados nas Operações de Crédito após
24 Meses.............................................................................................256
Tabela 32 - Teste de Causalidade de Granger Bivariado para Variáveis em
Nível – Atividade Produtiva ..............................................................262
Tabela 33 - Teste de Causalidade de Granger Multivariado para Variáveis
em Nível - Selic, Crédito Livre (Pré-Fixado) – (H0: Variável não
Granger Causa Produto)...................................................................264
Tabela 34 - Teste de Causalidade de Granger Multivariado para Variáveis
em Nível – Taxa Média, Crédito Livre (Pré-Fixado) e Moeda
(M1) – (H0: Variável não Granger Causa Produto)..........................
265
Tabela 35 - Teste de Causalidade de Granger Multivariado para Variáveis
em Nível – Spread, Crédito Livre (Pré-Fixado) e Moeda (M1) –
(H0: Variável não Granger Causa Produto).....................................266
Tabela 36 - Teste de Causalidade de Granger Multivariado para Variáveis
em Nível (H0: Produto Não Granger Causa Variável).....................
267
Tabela 37 - Seleção da Ordem de Defasagem dos Modelos VAR para a
Análise do Produto............................................................................273
Tabela 38 - Decomposição da Variância para Indicadores de Atividade
Produtiva após 24 meses..................................................................291
Tabela 39 - Testes de Raiz Unitária - Dickey-Fuller Aumentado (ADF) e de
Philips-Perron (PP)............................................................................333
Tabela 40 - Testes de Cointegração de Johansen para Modelos que
Alternam os Indicadores do Balanço Patrimonial dos Bancos.....
335
Tabela 41 - Testes Estatísticos para os Modelos VARs Tomando em Conta
Variáveis do Balanço Patrimonial dos Bancos...............................336
Tabela 42 - Funções de Resposta a Impulso para Indicadores do Balanço
Patrimonial dos Bancos....................................................................338
Tabela 43 - Testes de Cointegração de Johansen para Modelos que
Alternam os Indicadores de Crédito e de Produto .........................340
Tabela 44 - Testes Estatísticos para os Modelos VARs Tomando em Conta
Variáveis de Produção......................................................................341
Tabela 45 - Funções de Resposta a Impulso para Indicadores de Atividade
Produtiva - Produção Industrial Total, Crédito Livre Total e
Spread Médio.....................................................................................344
Tabela 46 - Funções de Resposta a Impulso para Indicadores de Atividade
Produtiva - Produção Industrial Total, Crédito Livre Pessoa
Física e Spread Médio Pessoa Física ..............................................346
Tabela 47 - Funções de Resposta a Impulso para Indicadores de Atividade
Produtiva - Produção Industrial Total, Crédito Livre Pessoa
Jurídica e Spread Médio Pessoa Jurídica.......................................348
Tabela 48 - Funções de Resposta a Impulso para Indicadores de Atividade
Produtiva - Produção Industrial Total, Crédito Pessoal e
Spread Médio Pessoa Física ............................................................350
Tabela 49 - Funções de Resposta a Impulso para Indicadores de Atividade
Produtiva - Produção Industrial Total, Capital de Giro e Spread
Médio Pessoa Jurídica......................................................................352
Tabela 50 - Funções de Resposta a Impulso para Diferentes Indicadores
de Atividade Produtiva......................................................................354
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO......................................................................................................15
2 REVISÃO DE LITERATURA ................................................................................28
2.1 OS CANAIS DE TRANSMISSÃO DA POLÍTICA MONETÁRIA: UMA
EXPOSIÇÃO TEÓRICA. ..........................................................................................29
2.2 A “VISÃO DA MOEDA”......................................................................................40
2.3 A “VISÃO DO CRÉDITO” ..................................................................................46
2.4 CONSIDERAÇÕES FINAIS ..............................................................................73
3 EVIDÊNCIAS EMPÍRICAS SOBRE O MECANISMOS DE TRANSMISSÃO
DA POLÍTICA MONETÁRIA VIA CANAL DO CRÉDITO........................................75
3.1 EVIDÊNCIAS EMPÍRICAS PARA O CANAL DO BALANÇO PATRIMONIAL....75
3.2 EVIDÊNCIAS EMPÍRICAS PARA O CANAL DO EMPRÉSTIMO
BANCÁRIO...............................................................................................................83
3.3 EVIDÊNCIAS EMPÍRICAS PARA O CANAL DO CRÉDITO NO BRASIL .........96
3.4 CONSIDERAÇÕES FINAIS ..............................................................................99
4 EVOLUÇÕES RECENTES DO SISTEMA FINANCEIRO E A NATUREZA
DO MERCADO DE CRÉDITO NO BRASIL...........................................................101
4.1 REESTRUTURAÇÃO, REGULAÇÃO PRUDENCIAL E REDES DE
PROTEÇÃO: TRANSFORMAÇÕES RECENTES DO SISTEMA FINANCEIRO
NACIONAL.............................................................................................................102
4.2 EFEITOS DAS REFORMAS ESTRUTURAIS SOBRE O
DESENVOLVIMENTO DO MERCADO FINANCEIRO BRASILEIRO ....................117
4.3 CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................141
5 O AMBIENTE INSTITUCIONAL E O DESENVOLVIMENTO FINANCEIRO
NO BRASIL............................................................................................................143
5.1 A LITERATURA DE “LAW AND FINANCE” E A IMPORTÂNCIA DO
AMBIENTE INSTITUCIONAIS PARA O DESENVOLVIMENTO DO MERCADO
FINANCEIRO .........................................................................................................144
5.2 A IMPORTÂNCIA DO AMBIENTE INSTITUCIONAL PARA O
DESENVOLVIMENTO DO MERCADO FINANCEIRO NO BRASIL.......................155
5.3 CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................
219
6 O MECANISMO DE TRANSMISSÃO DA POLÍTICA MONETÁRIA –
EVIDÊNCIAS EMPÍRICAS PARA O CANAL DO EMPRÉSTIMO BANCÁRIO
NO BRASIL............................................................................................................226
6.1 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS PARA A ANÁLISE EMPÍRICA .......227
6.2 AVALIAÇÃO DOS DADOS A SEREM UTILIZADOS NA ANÁLISE
EMPÍRICA..............................................................................................................235
6.3 EFEITO DA POLÍTICA MONETÁRIA SOBRE O BALANÇO PATRIMONIAL
DOS BANCOS .......................................................................................................239
6.4 EFEITO DA POLÍTICA MONETÁRIA SOBRE DIFERENTES AGREGADOS
ECONÔMICOS E SOBRE DISTINTOS SETORES DE PRODUÇÃO....................260
7 CONCLUSÃO.....................................................................................................296
REFERÊNCIAS......................................................................................................307
APÊNDICE A – ANÁLISE ESTATÍSTICA DAS SÉRIES DE INTERESSE
ENVOLVIDAS NAS ESTIMAÇÕES.......................................................................325
APÊNDICE B – ANÁLISE DOS MODELOS QUE ALTERNAM OS
INDICADORES DO BALANÇO PATRIMONIAL DOS BANCOS..........................335
APÊNDICE C – ANÁLISE DOS MODELOS QUE ALTERNAM OS
INDICADORES DE CRÉDITO E DE PRODUTO...................................................340
15
1 INTRODUÇÃO
O principal objetivo desta tese é investigar se os bancos, em geral, e se os
empréstimos bancários, em particular, exercem alguma função especial na
economia brasileira, especificamente, no que se refere em contribuir para o
desempenho da atividade produtiva. Procurar-se-á investigar as evidências teóricas
e empíricas que visam desvendar a relevância do canal do crédito, em especial, do
canal do empréstimo bancário, como um canal adicional para a transmissão da
política monetária. Este propósito será cumprido levando-se em conta o ambiente
institucional em que a economia brasileira está inserida no período de análise, que
compreende o período pós Plano Real (1995:06 – 2006:06).
Os mecanismos de transmissão de política monetária são representados
por estruturas lógicas que permitem interpretar os caminhos pelos quais as decisões
de política podem exercer influência sobre o nível de preços, de consumo, de
investimentos e de demanda agregada. O canal do crédito, particularmente, o do
empréstimo bancário, representa um dos canais através do qual a política monetária
pode ser transmitida, e é nesse canal que concentraremos atenção especial na
pesquisa. Fundamentado na suposição da existência de assimetria de informações
no mercado financeiro, o canal do crédito procura entender a relação que se
estabelece entre a política monetária e as condições em que o crédito é negociado e
ofertado (preços, prazos e quantidades), buscando identificar os possíveis efeitos
que alterações na política monetária promovem sobre o mercado de crédito e,
conseqüentemente, sobre a atividade econômica real.
Tem-se como principal argumento que a oferta de empréstimos bancários
depende dos depósitos e assim, temos que a política monetária, ao afetar o lado do
passivo do balanço patrimonial dos bancos (comprometendo o volume de depósitos)
afeta, também, o lado do ativo do balanço alterando a composições de portfolio, em
especial, as condições (volume e preços) em que os empréstimos são realizados.
Portanto, a política monetária acaba afetando as decisões de gastos dos agentes
(tomadores de empréstimos) que são banco dependentes e, conseqüentemente, a
atividade produtiva, contribuindo, deste modo, para potencializar os efeitos de
choques monetários sobre o setor real da economia. Isto implica em um novo modo
de pensar o mecanismo de transmissão da política monetária, uma vez que, em
16
acréscimo ao tradicional canal da taxa de juros/moeda, existirá um canal adicional
de transmissão da política que atua via canal do “empréstimos bancários”.
Um tema de grande relevância que tem, recentemente, concentrado a
atenção de pesquisadores está relacionado à importância que o crédito em geral, e
os empréstimos bancários, em particular, representam para o desempenho da
atividade econômica, sendo que a questão fundamental que tem sido levantada
pelos pesquisadores, e que está no âmago das discussões é se - faz o canal do
empréstimo bancário representar um canal distinto através do qual a política
monetária pode ser transmitida para a atividade econômica real? Se a resposta para
esta questão for afirmativa, o canal do empréstimo bancário funciona como um
potencializador dos efeitos da política monetária sobre o produto e sobre o nível de
preços, portanto, merece ser tratado com maior atenção e estudado com maior
profundidade, tanto do ponto de vista teórico como do ponto de vista empírico. Assim
sendo, o tema merece um tratamento especial por parte dos formuladores de política
econômica (police maker).
Dada a relevância e a atualidade do tema, tem-se como principal propósito
averiguar as evidências teóricas e empíricas que visam identificar a importância do
canal do crédito, em especial, do canal do empréstimo bancário, como um canal
adicional para a transmissão da política monetária, tomando em conta o caso
específico do Brasil, no período pós Plano Real (1995:06 - 2006:06).
Isso será feito levando-se em conta o ambiente institucional em que a
economia brasileira está inserida, cujo caráter específico, supõem-se de grande
relevância, uma vez que a capacidade de instituições em proteger os direitos de
propriedade e executar a garantia desses direitos (contratos) podem contribuir para
explicar a magnitude da assimetria de informação e dos problemas por ela gerados
(seleção adversa, risco moral e problemas de agência), o grau de desenvolvimento
da estrutura de intermediação financeira (mercado de crédito e de capital), em
especial, o grau de desenvolvimento do mercado de crédito, bem como, a forma com
que se estabelece a alocação do crédito entre diferentes setores produtivos da
economia, e a forma ou intensidade com que o montante do crédito pode responder
a choques de política econômica.
Para cumprir esse propósito, tomar-se-á como referência a recente literatura
de “law and finance”, a qual considera que o grau de desenvolvimento financeiro de
um país varia de acordo com a origem de seu sistema legal e da conseqüente
17
proteção que é dada aos direitos de propriedade dos investidores (compreendendo
regras legais e eficiência em sua execução). Essa literatura procura destacar a
importância dos aspectos institucionais para explicar as diferenças no
desenvolvimento financeiro entre os países (cross countries).
A hipótese central que consideraremos na pesquisa é que, além do impacto
promovido pelo tradicional canal da taxa de juros (custo do capital) - através do
efeito que exerce sobre as obrigações (depósitos) dos intermediários financeiros - a
política monetária afeta a atividade econômica através do mercado de crédito, em
especial, através do canal do empréstimo bancário, devido ao efeito que exerce
sobre a composição dos ativos das instituições financeiras, em particular, sobre as
decisões dos bancos em relação ao volume e as condições em que os empréstimos
serão ofertados. Considera-se ainda que, o sistema legal do país constitui a base
para a formação de sua estrutura financeira e, por conseguinte, contribui para
explicar o grau de desenvolvimento do mercado de crédito, bem como, a intensidade
com que o canal do crédito responde aos choques de política monetária.
É geralmente aceito o argumento de que a política monetária exerce
significativa influencia sobre o comportamento real da economia. Evidências
empíricas sugerem que, no longo prazo, a moeda é neutra uma vez que a correlação
entre o crescimento da moeda e a taxa de inflação é igual à unidade, e a correlação
entre o crescimento monetário e o crescimento do produto real é zero. Porém, no
curto prazo, os choques monetários exógenos produzem efeitos sobre o produto
real. Existe uma extensa gama de formulações alternativas que capturam este fato.
Dentre elas incluem-se: o modelo IS-LM tradicional; modelos que atribuem
importância à moeda ao assumirem que indivíduos derivam utilidade direta em
manter uma quantidade real de moeda em seu portfolio e que incorporam este ativo
na função de utilidade, como é o caso do money-in-the-utility function (MIU),
apresentado por Sidrauski (1967); modelos de equilíbrio geral que destacam a
importância da moeda para levar a cabo certos tipos de transações, como é o caso
de modelos cash-in-advance (CIA); dentre outros.
1
1
Embora esses modelos difiram no modo em que geram rigidez no ajustamento de preços, eles
compartilham duas características básicas: (i) derivam seus modelos considerando a existência de
dois ativos na economia (moeda e títulos); e, (ii) consideram que o efeito da política monetária opera
pelo canal da taxa de juros e pelo impacto que a taxa de juros exerce sobre as decisões de
investimento e, conseqüentemente, sobre a atividade econômica real.
18
Têm-se argumentado que a política monetária pode exercer efeitos diretos
sobre os gastos agregados os quais tendem a operar não apenas pelo tradicional
canal da taxa de juros. Porém, o mecanismo através do qual a política monetária
efetivamente opera, se existe um mecanismo de transmissão da política monetária
dominante, ou se existe mais de um canal que, quando combinados, afetam o
produto, ainda é motivo de significativas controvérsias e especulações. Não obstante
a falta de consenso com relação a estes aspectos, pelo menos duas visões têm
dominado o debate teórico acerca do referido tema - a “visão da moeda” e a “visão
do crédito” de transmissão da política monetária.
Os trabalhos empíricos para o entendimento do mecanismo de transmissão
da política monetária, baseado na “visão da moeda”, concentram-se basicamente no
canal da taxa de juros.
2
Os modelos macroeconômicos com esta natureza,
geralmente utilizados pelos gestores de política monetária, assumem que as
operações do mercado financeiro podem ser plenamente resumidas por preços
financeiros (taxa de juros, taxa de câmbio, preço das ações), e não pela quantidade
de ativos presentes nesses mercados (base monetária, crédito bancário, oferta de
títulos do governo). Ou seja, validam uma versão do teorema de Modigliani-Miller
(1958), segundo a qual, os bancos não representam nenhum papel especial na
economia, a não ser o de realizar a função de intermediação dos recursos entre
poupadores e investidores, uma vez que, segundo eles, as operações de mercado
aberto não exercem nenhum efeito significativo sobre as operações ativas dos
bancos (CLAUS; GRIMES, 2003; KASHYAP; STEIN, 1997).
As dificuldades apresentadas pela teoria convencional (“visão da moeda”)
em explicar fenômenos como a falta de uma significativa correlação no movimento
do produto e da taxa de juros, fez com que se passasse a dar maior atenção à
chamada “visão do crédito”, a qual, devido sua relevância, passou a ser o tema
recorrente em pesquisas recentes (BERNANKE; GERTLER, 1995).
De acordo com a “visão do crédito” os modelos tradicionais são muito
limitados para descrever como os choques de política monetária podem ser
transmitidos para o setor real da economia. Essas limitações derivam do fato de
estes modelos desconsiderarem a assimetria de informações existente entre
emprestadores e tomadores de empréstimos e, fundamentalmente, por
2
Um exemplo característico é o modelo apresentado por Taylor (1995).
19
negligenciarem a importância que os intermediários financeiros (bancos)
representam para um desempenho eficaz da atividade econômica. Considerando
estes aspectos, pode-se dizer que modelos macroeconômicos que confiam somente
no canal de preços tradicionais para transmissão da política monetária, podem
ocultar informações importantes que são imprescindíveis para entender como a
política monetária realmente afeta a atividade econômica e o nível de preços.
A “visão do crédito”, por sua vez, destaca o papel distinto desempenhado
pelos “ativos financeiros” e pelas “obrigações” no balanço patrimonial dos agentes.
Ao contrário do que faz a teoria econômica convencional, ao invés de agregar todos
os ativos financeiros não monetários em uma única categoria chamada títulos, a
“visão do crédito” argumenta que modelos macroeconômicos necessitam fazer uma
distinção entre diferentes ativos não monetários, tanto no que diz respeito às fontes
de fundos (se bancárias ou não bancárias), como no que diz respeito às fontes de
financiamentos (se internas ou externas). A visão do crédito também destaca a
heterogeneidade entre os tomadores de empréstimos, salientando que alguns
podem ser mais vulneráveis as mudanças nas condições de crédito que outros. Por
fim, considera que os investimentos podem estar relacionados com variáveis como
valor líquido e fluxo de caixa, além da taxa de juros (WALSH, 2003).
Em termos gerais, para que o canal do crédito, em especial, o canal do
empréstimo bancário, represente um mecanismo distinto e relevante de transmissão
da política monetária os bancos devem ocupar um papel de destaque na economia,
principalmente para algumas classes de firmas ou setores específicos que são
tradicionalmente caracterizados como dependentes de empréstimos bancários para
o financiamento de suas atividades produtivas. Além disso, duas condições
adicionais são necessárias. Primeiro, os bancos não devem dispor de substitutos
perfeitos para as transações com depósitos, assim, a política monetária afeta não só
o lado das obrigações dos balanços dos bancos, mas também, seus ativos e,
conseqüentemente, a oferta de empréstimos. Segundo, as firmas não devem dispor
de substitutos perfeitos para os empréstimos bancários, de modo que os bancos
tornam-se especiais na medida em que resolvem problemas de agência e de
assimetria de informações no âmbito das firmas, os quais outras instituições
financeiras não conseguem resolver.
Assim, a importância do canal de transmissão da política monetária via
empréstimos bancários está diretamente relacionada à extensão em que os bancos
20
dependem dos depósitos bancários para o financiamento de suas operações ativas,
o que, por sua vez, depende do grau de assimetria de informações no mercado
financeiro o qual torna outras fontes de recursos, alternativas aos depósitos,
substitutas imperfeitas. Ou seja, o canal do empréstimo bancário depende da forma
como os bancos ajustam sua composição de portfolio, em particular, as operações
de empréstimos, seguindo uma mudança na política monetária que altera as
reservas bancárias e, conseqüentemente, a oferta relativa de fontes de
financiamento (dado o grau de dependência, por parte dos tomadores de
empréstimos, de empréstimos bancários).
Alguns argumentos relevantes para justificar a importância e a necessidade
de se fazer uma distinção entre o “canal da moeda” e o “canal do crédito” e que
servem, também, para dar estimulo às pesquisas que se propõe entender e
quantificar os canais de transmissão da política monetária, são apresentadas por
Kashyap e Stein (1993):
(1) Se a concepção do mecanismo de transmissão da política monetária via
canal do crédito estiver correta, a política monetária pode ter importantes efeitos
sobre os investimentos e sobre a atividade agregada, mesmo sem grandes
alterações na taxa de juros de mercado aberto, desde que, possa afetar a oferta de
crédito pelo sistema bancário. Isto sugere que é necessário tomar em conta outras
variáveis que podem ser relevantes para a definição do padrão de política a ser
implementado.
(2) Modelos de investimento padrão - os quais tipicamente utilizam a taxa de
mercado aberto como medida do custo de financiamento – podem dar uma
descrição enganosa da extensão em que diferentes setores são afetados pela
política monetária.
(3) Considerações sobre custos e benefícios não correspondem ao único
fator relevante a ser levado em consideração para as decisões de investimento, faz-
se necessário, além disso, levar em conta a disponibilidade de recursos (oferta de
crédito).
(4) O efeito global da política monetária sobre os gastos agregados não
podem ser completamente caracterizado por um vetor de preços, uma vez que,
também, depende de fatores adicionais, tais como, a propensão à oferta de fundos,
o grau médio de substituição entre diferentes fontes de recursos, e da distribuição
dessa taxa de substituição entre diferentes agentes econômicos.
21
(5) O canal do crédito implica que o processo de transmissão da política
monetária depende de características institucionais do sistema financeiro. Isto
significa que mudanças estruturais na área financeira (isto é, aumento de instituições
financeiras não bancárias, o desenvolvimento de mercados públicos de títulos “junk
bond”, liberalização no mercado financeiro) podem afetar a transmissão da política
monetária.
(6) Similarmente, o impacto agregado do canal de empréstimo bancário
pode depender de condições no setor bancário, ou seja, quando o capital bancário é
reduzido (e particularmente quando os empréstimos realizados pelos bancos estão
sujeitos ao requerimento de ajustamento ao risco de capital) o canal do empréstimo
bancário é muito provável que seja enfraquecido. Assim, compreender o
funcionamento do canal do empréstimo bancário é um pré-requisito para entender
como inovações nas instituições financeiras podem influenciar a potência da política
monetária, e sua habilidade em compensar eventuais tipos de choques adversos.
(7) Por fim, a política monetária pode ter conseqüências distributivas que
surgem não apenas pelo canal monetário, uma vez que podem afetar os agentes
econômicos de forma assimétrica, dependendo do grau de relevância das
imperfeições no mercado financeiro e do grau de heterogeneidade dos agentes. Por
exemplo, o canal do empréstimo bancário sugere que o custo de um choque
monetário pode afetar desproporcionalmente firmas pequenas que, em geral, são
incapazes de acessar o mercado de capitais, e são geralmente banco-dependentes.
De forma equivalente, pode afetar distintamente os bancos responsáveis pela oferta
de crédito, em virtude de apresentarem diferentes características (tamanho, liquidez
e capitalização).
3
Tais desproporções devem ser levadas em consideração para a
formulação de políticas monetárias alternativas, em diferentes arranjos institucionais
e com alternativas hierarquias de financiamento.
Tomando em conta estes aspectos, teorias que abordam a “visão do
crédito”, distinguem dois canais de transmissão da política monetária que tem
freqüentemente concentrado a atenção dos pesquisadores, a saber - o canal do
balanço patrimonial (ou canal de crédito amplo) e o canal de empréstimos bancários.
3
Importante destacar que pequenas empresas e bancos de pequeno porte são, em geral, mais
duramente atingidos pela assimetria de informação e pelos problemas por ela gerados, tais como
seleção adversa e risco moral (KASHYAP; STEIN, 1993).
22
O canal do balanço patrimonial representa uma explicação mais abrangente
para o canal do crédito, uma vez que supõe que todas as fontes externas de
financiamento são substitutas imperfeitas para os fundos internos da firma. Este
canal destaca o potencial impacto de mudanças na política monetária sobre o
balanço patrimonial dos tomadores de empréstimos. O canal do empréstimo
bancário, por sua vez, concentra-se apenas em uma das fontes de financiamento
externo, a saber, a oferta de crédito bancário, como sendo um canal pelo qual a
política monetária pode ser transmitida para a economia.
O canal do empréstimo bancário procura analisar mais estreitamente os
possíveis efeitos das ações de política monetária sobre a oferta de empréstimos dos
intermediários financeiros. Portanto, dado o propósito da pesquisa, é nesse canal de
transmissão que concentraremos nossa atenção.
É importante destacar ainda que a política monetária não ocorre num vácuo
institucional, ou seja, é necessário considerar que o processo de transmissão da
política monetária via canal do crédito depende de características institucionais do
sistema financeiro que são específicas de cada país.
Um número crescente de estudos fundamentados na recente literatura de
law and finance tem destacado a relevância do quadro institucional (compreendendo
regras legais e eficiência de sua execução) como sendo um poderoso instrumento
para explicar a diferença no desenvolvimento financeiro e no grau de profundidade
dos mercados de crédito em diferentes países (NORTH, 1990, 2006; LA PORTA;
LOPEZ-DE-SILANES; SHLEIFER, 1998, 1999, 2002; BECK; LEVINE, 2002, 2005a,
2005b). Estes apontam as diferenças no sistema legal entre os países, e o grau de
proteção que é dado aos direitos de propriedade dos investidores, bem como a
eficiência com que os direitos são executados pelo sistema institucional e judicial,
como determinantes da variação em suas estruturas financeiras e,
conseqüentemente, ajudam explicar as divergências no mecanismo de transmissão
da política monetária. Isso sugere que a estrutura legal de um país, a estrutura
financeira, e o mecanismo de transmissão monetária estão interligados, o que
equivale a dizer que a capacidade de instituições em proteger os direitos de
propriedade e executar a garantia desses direitos correspondem os determinantes
críticos do grau de profundidade dos mercados financeiros, da alocação do crédito
entre grupos de investidores e da forma como essa alocação e o montante do
crédito respondem a choques econômicos.
23
Considerando, conjuntamente, os argumentos apresentados pela literatura
de “law and finance”, e os argumentos apresentados pela literatura do canal do
crédito (“visão do crédito”), em especial, aqueles relacionados ao mecanismo de
transmissão da política monetária via empréstimo bancário, levanta-se a hipótese de
que o sistema legal de um país, ao contribuir para a formação da estrutura de sua
intermediação financeira, pode contribuir, também, para explicar o impacto que a
política monetária exerce sobre o desempenho da atividade econômica.
Para justificar a relevância da pesquisa, destaca-se que as discussões e
avaliações técnicas e institucionais referentes ao mecanismo de transmissão da
política monetária via canal do crédito e suas implicações econômicas ainda se
encontram num nível bastante incipiente no Brasil, tanto do ponto de vista teórico,
quanto do ponto de vista empírico. Pouca atenção tem sido dada ao referido tema
tanto pela academia quanto pela autoridade monetária. Além de apresentar-se em
número reduzido, as pesquisas, também, oferecem resultados conflitantes, ou seja,
não estabelecem um consenso em torno da existência do mecanismo de
transmissão via canal do empréstimo bancário, o que revela a necessidade de
promover um aprofundamento nos estudos sobre o referido tema.
Além disso, as pesquisas já realizadas no Brasil têm ignorado a relevância
dos aspectos institucionais, como um instrumento poderoso, que pode contribuir
para explicar tanto o desenvolvimento do mercado financeiro como a relevância do
mecanismo de transmissão da política monetária via canal do crédito, em especial,
para explicar a relevância do mecanismo de transmissão via canal do empréstimo
bancário. Nesse ponto, a tese busca contribuir de forma original.
Segundo a concepção da autoridade monetária brasileira, a reduzida
participação do crédito na economia é um fator que pode minimizar a importância do
canal do crédito. Werlang, Bogdanski e Tombini (2000), sugerem que - devido ao
baixo grau de alavancagem das empresas brasileiras, combinado com um rígido
controle do crédito e da política monetária, implementada pelo Plano Real - o
mecanismo de transmissão via canal do crédito não tem operado e, por conta disso,
sua importância, em termos do impacto das taxas de juros sobre a inflação, tem sido
negligenciado.
Porém, ao contrário do que sugere essa concepção, é provável que as
razões que contribuem para justificar o baixo desenvolvimento do mercado de
crédito no Brasil (fragilidades institucionais) podem, também, contribuir para explicar
24
a intensidade com que medidas de política monetária são transmitidas para a
economia real. Assim sendo, negligenciar a importância do canal do crédito, e a
natureza institucional específica que regula as relações econômicas no Brasil, pode
representar um grave equivoco por parte da autoridade monetária.
Os fatos estilizados que descrevem a economia brasileira demonstram: (i) a
existência de um mercado de crédito muito pouco desenvolvido; (ii) de um mercado
de capitais incipiente, o qual não representa um substituto perfeito dos empréstimos
bancários para as firmas; (iii) dispõe de taxas de juros reais e spreads bancários
excessivamente elevados nas operações de crédito com recursos livres, as quais
apresentam significativa rigidez em reduzir-se; (iv) as operações de crédito com
recursos livres são realizadas mediante curtíssimo prazo de maturação; (v) a
predominância de elevada segmentação no mercado de crédito; (vi) e, alto grau de
dependência, por parte das empresas (particularmente as de pequeno e médio
porte), de empréstimos bancários como principal fonte de financiamentos. Em
acréscimo a estas características, soma-se o fato de o Brasil apresentar um precário
sistema de proteção dos direitos de propriedade dos investidores (acionistas e
credores).
É importante destacar que, no Brasil, os bancos tem importância
fundamental para a atividade econômica, pois representam a principal fonte de
financiamento para as famílias e empresas. Isso se justifica, em parte, pelo fato de o
mercado de capitais ainda ser muito pouco desenvolvido. Além disso, os
empréstimos bancários caracteriza-se por ter um prazo de maturação muito curto, o
que pode representar um indício em favor de que, os empréstimos bancários podem
funcionar como um acelerador na transmissão da política monetária, uma vez que,
são renegociados com maior freqüência.
Tais características constituem evidências fortemente favoráveis à
existência de um canal de empréstimo bancário no Brasil, e representam
argumentos relevantes que justificam o estudo desse canal de forma mais
aprofundada. Esses argumentos fornecem subsídios suficientes para que maior
atenção seja dada ao mecanismo de transmissão através do empréstimo bancário.
Soma-se a isso, o fato de que evidências empíricas sobre os mecanismos de
25
transmissão pelo canal do crédito, para economias em desenvolvimento, têm
recebido pouca atenção na literatura em geral.
4
Distinguir a relativa importância do canal da moeda e do crédito para a
transmissão da política monetária é de suma importância, uma vez que permite uma
melhor compreensão do mecanismo de transmissão da política monetária
contribuindo para enriquecer o conjunto de informações e evidências à disposição
da autoridade monetária, e melhorar sua atuação, dado que – o conhecimento
preciso dos agregados financeiros que sofrem os efeitos da política monetária,
poderia contribuir para um melhor entendimento da ligação que há entre o setor
financeiro e o setor real da economia, e para identificar as causas de imperfeições
no mercado financeiro. Desse modo, tem-se que os gestores de política econômica
poderiam interpretar movimentos nos agregados financeiros de modo mais preciso e
criar mecanismos para aperfeiçoá-los, contribuindo para uma melhor escolha de
metas (fine tuning policy) a serem perseguidas, o que aumentaria a eficiência na
condução da política econômica.
Em outras palavras, para que a política monetária seja conduzida com
sucesso, seus gestores devem ter uma completa avaliação da magnitude, do timing
e da composição dos efeitos de suas ações sobre o setor real da economia. Isto
sugere um entendimento preciso do mecanismo de transmissão, pelo qual, a política
monetária afeta as decisões dos agentes econômicos, incluindo aí, as razões que
justificam a relevância de um determinado canal através do qual a política é
transmitida. Em particular, se o canal do crédito constitui uma importante parte do
mecanismo de transmissão da política monetária, então, os itens que compões os
ativos bancários deveriam ser o foco de maior atenção por parte das autoridades
responsáveis pela gestão da política.
Para cumprir o propósito da pesquisa, a tese será organizada da seguinte
forma:
No primeiro capítulo faz-se uma revisão da literatura abordando os distintos
canais pelos quais a política monetária pode ser transmitida para a economia,
procurando destacar as diferenças fundamentais entre a “visão da moeda” e a “visão
do crédito" as quais representam o foco principal da controvérsia entre as pesquisas
4
Trabalhos recentes, que tratam do mecanismo de transmissão da política monetária, tem sua
atenção basicamente voltada para economias desenvolvidas. Por exemplo, Kashyap e Stein (1993,
1994); Cecchetti (1995); Gertler e Gilchrist (1993, 1995); Bernanke e Gertler (1995); Kashyap, Stein, e
Wilcox (1993); Christiano, Eichenbaum e Evans (1996, 1998); Bernanke, Gertler e Gilchrist (1998).
26
que tratam do referido tema. A atenção será concentrada no mecanismo de
transmissão via canal do crédito, em especial, no canal do empréstimo bancário,
cujo entendimento para a economia brasileira, representa a essência da presente
pesquisa.
No segundo capítulo é feito um levantamento dos principais trabalhos
empíricos que tratam do mecanismo de transmissão da política monetária
abordando a “visão do crédito” [o canal do balanço patrimonial (canal do empréstimo
amplo) e o canal do empréstimo bancário] utilizando-se de diferentes metodologias
de análise para diferentes países, onde, também, são incluídas as principais
pesquisas já realizadas sobre o referido tema para a economia brasileira. O principal
propósito será identificar a relevância empírica do mecanismo de transmissão da
política monetária através do canal do crédito em diferentes economias.
No terceiro capitulo procura-se analisar algumas características específicas
do mercado de crédito brasileiro (fatos estilizados) tomando em conta recentes
transformações estruturais do Sistema Financeiro Nacional, os quais fizeram parte
de um amplo programa de ajuste com vistas a promover a estabilidade
macroeconômica, bem como, promover o desenvolvimento e o aprofundamento das
relações financeiras na economia brasileira. Tem-se como principal propósito
identificar as razões pelas quais essas transformações mostraram-se tímidas para a
promoção do desenvolvimento do mercado financeiro (compreendendo mercado de
crédito e de capitais) nos moldes em que é desejado, as quais estão intimamente
relacionadas às fragilidades institucionais que regulam direitos de propriedades e a
eficiência da execução de regras legais.
No quarto capítulo concentramos a atenção no ambiente institucional em
que a economia brasileira está inserida e na importância que ele representa para
explicar o grau de desenvolvimento e a dinâmica do mercado financeiro no Brasil,
em especial do mercado de crédito. Assumindo que a estrutura legal de um país, a
estrutura financeira, e o mecanismo de transmissão da política monetária estão
interligados, o principal propósito do capítulo será avaliar o atual estágio de
desenvolvimento do mercado financeiro brasileiro a luz dos argumentos
apresentados pela literatura de “law and finance” e dos aspectos institucionais por
ela considerados.
No quinto capítulo desenvolvemos os testes econométricos com vistas a
observar as evidências empíricas para a transmissão da política monetária via canal
27
do empréstimo bancário no Brasil, no período pós Plano Real (1995:06 – 2006:06).
Num primeiro momento, procura-se investigar o impacto que a política monetária
exerce sobre o balanço patrimonial dos bancos, com vistas a averiguar se a política
monetária afeta somente o lado do passivo do balanço, conforme sugere a visão
tradicional (“visão da moeda”), ou se, também, afeta o lado do ativo do balanço, ao
interferir na decisão dos bancos quanto à composição de seu portfolio, em especial,
nas decisões dos bancos em realizar empréstimos, como sugere a “visão do
crédito”. Num segundo momento, concentraremos a atenção no efeito que a política
monetária exerce sobre diferentes setores de atividade produtiva, procurando
averiguar se a política monetária afeta de forma distinta os diferentes setores, em
função do grau de dependência do crédito como fonte de financiamento, que eles
apresentam.
Por fim, apresentamos as principais conclusões derivadas da análise teórica
e empírica. Deste modo, ao final do trabalho, pretende-se ter contribuído de maneira
satisfatória para evidenciar as principais contribuições teóricas e empíricas
oferecidas pela literatura de law and finance e pela literatura do canal do crédito para
o melhor entendimento do mecanismo de transmissão da política monetária no
Brasil. Também, pretende-se ter extraído subsídios que permitam dar contribuições
relevantes para o aumento da eficiência na formulação e no emprego dos
instrumentos de política monetária.
28
2 REVISÃO DE LITERATURA
Neste capítulo procura-se fazer um revisão teórica dos canais de
transmissão da política monetária, onde se busca discutir as principais
especificidades de cada um deles.
Por mecanismo de transmissão compreende-se o desenvolvimento de
estruturas lógicas que possibilitam interpretar os caminhos pelos quais as decisões
de política econômica podem afetar o nível de preços, de consumo, de investimentos
e de demanda agregada. O mecanismo de transmissão monetária, por sua vez,
procura detectar os canais pelos quais as medidas de política monetária são
transmitidas para o setor real da economia.
1
A literatura tem considerado diferentes canais através dos quais um choque
de política monetária pode ser transmitido para as variáveis reais, sendo que,
podemos destacar: 1) o canal da taxa de juros ou “canal da moeda”; 2) o canal da
taxa de câmbio; 3) o canal dos ativos (a teoria q de Tobin e o canal da riqueza); 4) e,
o canal do crédito (canal do crédito amplo e o canal do empréstimo bancário).
Existem muitas controvérsias teóricas com relação a relevância de cada um desses
canais, as quais tem induzido a uma profusão de pesquisas, e trabalhos teóricos e
empíricos, cujo principal propósito é tentar encontrar algumas regularidades
empíricas no comportamento das variáveis de interesse.
No presente capítulo, atenção especial será dada para à visão tradicional
que atribui importância significativa ao canal de transmissão de política monetária via
taxa de juros (“visão da moeda”), bem como, para a moderna visão de transmissão
da política monetária via canal do crédito (“visão do crédito”), em especial, para o
canal do empréstimo bancário, o qual constitui o objeto central da pesquisa. Pela
falta de consenso em relação à relevância dos distintos canais de transmissão,
essas duas visões tem alimentado a controvérsia existente entre os pesquisadores
e, portanto, dominado o debate teórico sobre o referido tema.
1
A política monetária pode ser definida como a atuação da autoridade monetária (Banco Central), a
qual utiliza-se de instrumentos de efeitos diretos e indiretos (fixação da taxa de reservas
compulsórias, realização de operações de redesconto, realização de operações de mercado aberto,
controle e seleção de crédito, persuasão moral), para atingir os objetivos da política econômica fixada
pelo governo (estabilidade de preços, estabilidade da taxa de juros, estabilidade do sistema
financeiro, elevação do nível de emprego, crescimento econômico sustentável) (MISHKIN, 1996a).
29
2.1 OS CANAIS DE TRANSMISSÃO DA POLÍTICA MONETÁRIA: UMA
EXPOSIÇÃO TEÓRICA.
De acordo com Stiglitz e Greenwald (2004), a razão central para o crescente
interesse pela teoria monetária é que a política monetária continua sendo um dos
meios mais eficazes pelo qual o governo pode controlar o nível de atividade
econômica, “pelo menos em certos momentos”.
A mudança de enfoque, que passa a dar maior relevância para a política
monetária em detrimento da política fiscal, deveu-se ao enfraquecimento no uso da
política fiscal como instrumento de estabilização do produto, em virtude das
incertezas quanto a sua eficácia e da crescente preocupação com relação aos
elevados déficits públicos.
A mudança de enfoque na política econômica traz para o centro do debate,
a importância de se ter em mente, quando da elaboração de regras de política
monetária, o conhecimento preciso dos efeitos que medidas de políticas poderão
surtir sobre a atividade econômica. Em outras palavras, para que a política
monetária seja conduzida com sucesso, seus gestores devem ter uma completa
avaliação da magnitude, do timing e da composição dos efeitos de suas ações sobre
o setor real da economia. Isto sugere um entendimento preciso do mecanismo de
transmissão, pelo qual, a política monetária afeta as decisões dos agentes
econômicos.
A matéria relativa ao mecanismo de transmissão da política monetária ainda
é sinônimo de controvérsias, uma vez que existem problemas com relação à efetiva
ligação entre mudanças na taxa de juros e seu efeito sobre as variáveis reais.
Bernanke e Gertler (1995), por exemplo, referem-se a esta misteriosa ligação como
uma “caixa preta”, uma vez que não é tratada pelos modelos tradicionais.
Segundo Mishkin (1995, 1996a e 1996b), por mais de cinqüenta anos,
acreditou-se que o canal da taxa de juros seria o principal mecanismo de
transmissão da política monetária, considerando a antiga tradição Keynesiana. Esta
posição ganhou força, principalmente, após a sistematização elaborada por Hicks
(1937) com o desenvolvimento da tradicional estrutura IS-LM. A idéia básica que
está por trás desse modelo é simples: uma política monetária contracionista que
reduz a oferta monetária (M) (mantida inalterada a função demanda por moeda)
eleva a taxa de juros nominal (i) de equilíbrio de curto prazo no mercado monetário
30
e - considerando algum grau de rigidez de preços e as expectativas racionais –
eleva, também, a taxa de juros real (r) de curto e de longo prazo. Uma elevação
nessas taxas produz uma queda nos gastos com investimentos (I) em capital fixos,
investimentos residenciais, em consumo de bens duráveis (C), investimentos em
estoques, todos os quais implicam em redução no produto agregado (Y).
Esquematicamente tem-se:
↓⇒↑⇒↑⇒↓⇒ YIr Rigidos Salários e Preços iM
Uma característica importante do mecanismo de transmissão de taxas de
juros é a sua ênfase na taxa de juros real como a taxa de juros que efetivamente
afeta a atividade econômica. Além disso, é a taxa de juros real de longo prazo, e não
a de curto prazo, que tem maior impacto sobre a demanda agregada. A hipótese das
expectativas da estrutura a termo (ou de prazo) da taxa de juros, que dita que a taxa
de juros de longo prazo é uma média das taxas de juros esperadas de curto prazo
no futuro, indica que a taxa de juros real de curto prazo mais baixa tende a promover
aumentos nos investimentos os quais são responsáveis pela elevação do produto
agregado.
Alguns economistas como John Taylor (1995) são altamente favoráveis a
posição de que há uma forte evidência empírica para os efeitos significativos da taxa
de juros sobre os gastos do consumidor e com investimento através do custo de
capital (taxa de juros), fortalecendo o mecanismo de transmissão monetário das
taxas de juros. Recentemente, Taylor (1995) reafirmou a necessidade da elaboração
de trabalhos empíricos para o entendimento dos mecanismos de transmissão,
concentrando a atenção especial no canal da taxa de juros.
Além disso, ele também chamou a atenção para o fato de que a política
monetária afeta não só a taxa de juros de curto e de longo prazo, mas também,
exerce efeito sobre a economia através da taxa de câmbio. Em economias abertas,
considerando a condição de paridade descoberta da taxa de juros, a política
monetária também afeta o produto pela influência que exerce sobre a taxa de
câmbio. O argumento da paridade da taxa de juros assegura que o retorno esperado
de um título denominado em moeda estrangeira deve ser o mesmo que o retorno
esperado por título idêntico avaliado em moeda doméstica. Um diferencial entre a
31
taxa de juros doméstica e externa reflete movimentos esperados na taxa de câmbio.
Então, uma mudança na política monetária que resulte em movimentos
diferenciados entre a taxa de juros doméstica e externa implica que a taxa de
câmbio corrente, a taxa de câmbio esperada, ou ambas devem mudar. Este último
efeito deve-se ao incentivo que variações na taxa de juros doméstica exercem sobre
o movimento de capitais.
A título de exemplo, Mishkin (1996a) observa que, quando a taxa de juros
doméstica aumenta (i), por conta de uma política monetária restritiva (M), torna as
aplicações realizadas em ativos denominados em moeda doméstica mais atrativas
que as aplicações realizadas em ativos denominados em moeda estrangeira. A
busca por aplicações em moeda doméstica provoca um aumento no valor dos
depósitos denominados em moeda doméstica relativos aos depósitos denominados
em moeda estrangeira, ocasionando uma apreciação na taxa de câmbio (E)
(considerando um regime de taxa de câmbio flutuante). O maior valor da moeda
doméstica torna os bens domésticos mais caros relativos aos bens estrangeiros. Por
conta disso, a apreciação cambial restringe as exportações e impulsiona as
importações, reduzindo o saldo em conta corrente do balanço de pagamentos (NX)
e o dispêndio com bens domésticos, o que promove, conseqüentemente, uma queda
no produto (Y). O esquema para o mecanismo de transmissão monetário que
funciona através da taxa de câmbio é dada por:
↑⇒↑⇒↓⇒ YNX E iM
Segundo Meltzer (1995), a visão do processo de transmissão apresentada
pelo modelo IS-LM, é considerada restritiva e mecânica. Observa que, as
modificações na quantidade nominal e real de moeda não modificam simplesmente a
taxa de juros de curto prazo ou o custo dos empréstimos, mas também, os preços
relativos dos demais ativos reais e financeiros, denominados em moeda doméstica e
estrangeira. Assim sendo, a corrente monetarista propõe a necessidade de se
estudar os efeitos da política monetária sobre os preços de todos os ativos da
economia, e não apenas sobre a taxa de juros. Desta forma, a corrente monetarista
enfatiza dois canais de transmissão para a política monetária: um que valoriza o
efeito da política monetária sobre a economia através do impacto que exerce sobre
32
os preços relativos dos ativos (teoria q de Tobin para investimento); e outro que
enfatiza o seu efeito sobre a riqueza, e sua repercussão sobre o consumo.
No que tange aos seus efeitos sobre o preço dos ativos, considera-se que a
política monetária afeta o preço dos ativos de forma mais genérica quando interfere
diretamente no valor de mercado do fluxo de caixa futuro esperado, devido ao efeito
que promove sobre o fator de desconto aplicado. Esse efeito atinge indistintamente
todos os ativos (títulos, ações, propriedades, etc.) uma vez que, o valor de todos os
ativos pode ser definido como uma combinação de fluxo de caixa futuro esperado.
A teoria “q de Tobin” provê um mecanismo pelo qual a política monetária
afeta a economia pelo seu efeito sobre o valor das ações. Tobin (1969) define q
como o valor de mercado da firma dividido pelo custo de reposição do capital, sendo
que, esta razão pode ser superior, igual ou inferior a unidade.
Dada esta definição, se q for elevado (maior que a unidade), significa que o
preço de mercado da firma é superior ao custo de reposição de seu capital, e novas
plantas e equipamentos de capital tornam-se mais baratos relativo ao valor de
mercado em que a empresa pode ser negociada. Em tais condições, torna-se
vantajoso para a empresa emitir ações e obter um elevado preço por elas, relativo
ao custo da planta e dos equipamentos que pretendem comprar. Como resultado,
verifica-se um aumento nos níveis de investimentos, pois as firmas podem comprar
novos bens de investimentos com uma reduzida emissão de ações.
Por outro lado, se o “q de Tobin” se reduz (torna-se inferior a unidade) o
valor de mercado da firma diminui relativamente ao custo de reposição do seu
capital (i.e, se o custo de uma nova planta e equipamento de capital aumenta
relativo ao valor de mercado da firma). Em tais circunstâncias, se as empresas
quiserem adquirir capital, quando o q for baixo, elas preferem comprar outras
empresas mais baratas e adquirir capital velho reduzindo, assim, os gastos com
novos investimentos.
Dada a relação existente entre o “q de Tobin” e os gastos com
investimentos, os monetaristas estabelecem uma estrutura lógica para relacionar a
política monetária e o preço das ações. Conforme sugere Mishkin (1996a), uma
política monetária expansionista, ao promover um aumento na oferta monetária
(M), coloca nas mãos dos agentes uma quantidade monetária superior aquela que
desejam manter. Os agentes, por sua vez, procuram reduzir a quantidade de moeda
disponível aumentando seus gastos. Um lugar para onde, tipicamente, estes
33
recursos excedentes são canalizados é para o mercado acionário, pressionando a
demanda por ações e, conseqüentemente, seus preços. A elevação no preço das
ações (P
e
) promove um aumento no “q de Tobin” estimulando, assim, o gasto em
novos investimentos (I) e, por conseqüência, o aumento no produto (Y).
Esquematicamente tem-se:
↑⇒↑⇒↑⇒ YI q
e
PM
Outra forma de tratamento do mecanismo de transmissão da política
monetária, que leva em conta o preço dos ativos, assume que os consumidores
possuem balanços patrimoniais que podem afetar suas decisões de gastos. Isso
ocorre pelo fato de os ativos representarem um importante componente da riqueza
dos agentes.
O canal da riqueza tem sido fortemente defendido por Modigliani (1971)
que, em seu modelo do ciclo de vida, apresenta a riqueza como um dos
determinantes do consumo ao longo da vida do indivíduo. Para ele, os gastos em
consumo são determinados pelos recursos que os consumidores adquirem por conta
da riqueza herdada, acrescida pelos recursos que esperam obter durante toda sua
vida, compreendendo capital humano corrente e futuro, capital físico (terras, casas,
empresas) e riqueza financeira (ações, títulos). A hipótese do ciclo de vida
condiciona o consumo não à renda corrente, mas à riqueza (renda permanente), a
qual determina o seu nível durante a vida do indivíduo. Portanto, mudanças na
riqueza podem ser a principal causa para provocar alteração no consumo.
Conforme observa Mishkin (1996a), em países desenvolvidos como os
Estados Unidos, a maior componente da riqueza financeira dos agentes são as
ações ordinárias. Assim, uma política monetária restritiva (M) que reduza o valor
desses ativos (P
e
), reduz também o valor da riqueza. Tal efeito sobre a riqueza
promove uma redução no consumo (C) e, por conseguinte, no produto (Y).
Esquematicamente tem-se:
↓⇒↓⇒↓⇒ YConsumo Riqueza
e
PM
34
Em termos gerais, taxa de juros, taxa de câmbio e preço dos ativos são
importantes canais pelos quais a política monetária pode afetar a atividade
econômica e a inflação. Todos, ou grande parte desses canais são geralmente
considerados pelos modelos macroeconômicos tradicionais. Porém, na presença de
assimetria de informação, preços financeiros são pouco prováveis para refletir uma
descrição perfeita do mecanismo de transmissão da política monetária.
Em decorrência disso, uma outra linha de pesquisa, que tem como
principais expoentes Bernanke e Gertler (1995), argumenta que, apesar da teoria
convencional ser consistente com uma boa parcela das evidências empíricas,
existem alguns paradoxos que não podem ser explicados apenas pelo mecanismo
de transmissão tradicionalmente considerado. Em primeiro lugar, o lado real da
economia é afetado pela política monetária em uma magnitude muito maior que a
esperada, levando-se em conta apenas o efeito dos juros. Em segundo lugar,
embora a política monetária atue através da taxa de juros de curto prazo, alguns
componentes da demanda que são tipicamente de longo prazo, parecem ser
afetados de forma mais significativa.
Para tentar elucidar esse paradoxo, a literatura vem concentrando sua
atenção no chamado “canal do crédito”. Conforme observam Bernanke e Gertler
(1995), o canal do crédito não corresponde um mecanismo de transmissão
monetária per se, mas representa um conjunto de fatores que contribui para
amplificar e propagar os efeitos da política monetária sobre a taxa de juros na
economia.
Um dos desenvolvimentos mais importantes da recente teoria econômica,
diretamente relacionada ao mecanismo de transmissão de política monetária via
canal do crédito, tem sido a exploração das conseqüências da informação
assimétrica para o funcionamento do mercado financeiro (BERNANKE; BLINDER,
1992; BERNANKE; GERTLER, 1995; KASHYAP; STEIN, 1993, 1994 e 1997).
Segundo Stiglitz e Greenwald (2004), os modelos baseados em informação
assimétrica fornecem explicações institucionais sobre o mercado financeiro que, ou
são inconsistentes com os modelos de mercados perfeitos ou sobre os quais tais
modelos não tem nada a dizer. Porém, os modelos baseados em informação
assimétrica fornecem uma explicação sobre os muitos aspectos do comportamento
macroeconômico que parecem inconsistentes com o modelo convencional.
35
A informação assimétrica no mercado financeiro surge quando uma das
partes envolvida em um contrato dispõe de conhecimento insuficiente sobre a outra
parte envolvida na transação, de modo que sua tomada de decisão é dificultada. A
presença de assimetria de informação leva a problemas de seleção adversa e risco
moral.
Seleção adversa é um problema de informação assimétrica que se
manifesta antes que a transação efetivamente ocorra, representa a possibilidade de
serem selecionados, para a obtenção de empréstimos, os tomadores de risco ruim,
ou seja, aqueles que se aventuram a tomar empréstimos independente da taxa de
juros cobrada, uma vez que, não dispõe de intenção de honrar seus compromissos
(AKERLOF,1970).
O risco moral, por sua vez, representa um problema de assimetria de
informação que se manifesta após a transação ter ocorrido, ou seja, quando o
emprestador corre o risco de o tomador se engajar em atividades indesejáveis, ou
excessivamente arriscadas, reduzindo a probabilidade de recuperação de um
empréstimo. Ambos os problemas gerados pela presença de informação assimétrica
nos mercados financeiros tendem a introduzir significativas fricções nesses
mercados e interferir na eficiência de seu funcionamento, particularmente, no que se
refere as operações que devem ser realizadas no mercado de crédito (MISHKIN,
1992, 1995, 1996ª, 1996b, 1999).
Stiglitz e Greenwald (2004) verificam que, o modelo de equilíbrio geral
padrão não ajuda a compreender os mercados de crédito, e pode até levar a
enganos. Enganos podem surgir porque estamos aptos a pensar que a taxa de juros
é um preço como outro qualquer, ajustando-se para equilibrar o mercado. Pois a
taxa de juros não é como um preço convencional, ela é uma promessa de se pagar
uma quantia no futuro. Promessas freqüentemente são descumpridas. Se não
fossem, não haveria razão para determinar o mérito de se obter crédito.
2
Além disso,
o mercado financeiro e creditício diferem dos mercados de bens e serviços
2
Stiglitz e Weiss (1981) mostram que aumentar a taxa de juros pode não aumentar o retorno
esperado de um empréstimo. Com taxas de juros mais altas, obtém-se um conjunto de qualidade
inferior de tomadores de empréstimos (o efeito da seleção adversa) e cada tomador assume riscos
maiores (o efeito de risco moral, ou incentivo adverso). Esses efeitos são tão fortes que o retorno
líquido esperado pode decrescer quando o banco aumenta a taxa de juros cobrada porque a
probabilidade de que os tomadores de crédito não paguem cresce com a taxa de juros mais elevada.
Assim, o equilíbrio de mercado pode ser caracterizado pelo racionamento de crédito. O credor prefere
racionar o crédito a aumentar a taxa de juros, porque o seu retorno esperado pode se tornar uma
função não-monotônica da taxa de juros.
36
convencionais, uma vez que a característica fundamental dos mercados
convencionais é sua natureza “anônima”. No entanto, o crédito é totalmente
diferente, por tratar-se de uma relação que exige tratamento “individual” e, a
informação relevante para fornecer crédito é altamente “específica”. Portanto, é
natural supor que os mercados financeiros se comportem de maneira bastante
distinta dos mercados tradicionais, uma vez que são freqüentemente caracterizados
por competição imperfeita e que, por conta de problemas de informação assimétrica
podem facilmente ser caracterizados por racionamento de crédito.
Existe uma longa tradição em macroeconomia, iniciando com Fisher (1933)
e Keynes (1936) e culminando pesquisas mais recentes que passam a dar um papel
de destaque para as condições no mercado de crédito e suas relações com a
propagação do ciclo de negócios. (BERNANKE, 1983; BERNANKE; BLINDER, 1992;
BERNANKE; GERTLER, 1995; GERTLER; GILCHRIST, 1993; KASHYAP; STEIN,
1993, 1997; KASHYAP; STEIN; WILCOX, 1993; OLINER; RUDEBUSH, 1996a).
Nessa visão alternativa, a deterioração nas condições do mercado de crédito -
aumento nas insolvências e falências, aumento no fardo de dívida real, colapso no
preço de ativos, e falha dos bancos em avaliar o risco de crédito - não são
simplesmente reflexos passivos de uma contração na economia real, mas são
fatores que contribuem para aprofundar o declínio da atividade econômica, e
aumentar a assimetria de informações e os problemas por ela gerados de seleção
adversa e de risco moral.
Supõe-se, portanto, que a assimetria de informação e os problemas por ela
gerados (seleção adversa e risco moral), na medida em que exercem efeitos sobre o
volume de crédito e, conseqüentemente, sobre o investimento e o produto, podem
contribuir para esclarecer alguns paradoxos e problemas que não conseguem ser
explicados apenas pelo mecanismo de transmissão via taxa de juros. A abordagem
alternativa sugere que o canal de crédito promove o surgimento de um “acelerador
financeiro” que, através de desenvolvimentos endógenos nos mercados de crédito,
contribui para amplificar a propagação de choques macroeconômicos, reforçando o
efeito da política monetária sobre as taxas de juros.
Em síntese, o canal do crédito representa uma interpretação alternativa
sobre como a taxa de juros interfere na atividade econômica, tendo como principal
alicerce, a hipótese da existência de assimetria de informação no mercado
financeiro. Em oposição ao mecanismo de transmissão via da taxa de juros, o canal
37
do crédito estabelece que os mercados financeiros não trabalham de forma perfeita,
havendo imperfeições significativas para a transmissão da política monetária.
Discussões do canal do crédito, freqüentemente, fazem distinções entre
duas vias de transmissão para política monetária, as quais passam a concentrar a
atenção dos pesquisadores: o canal de balanços patrimoniais ou canal de crédito
amplo (balance sheet channel); e o canal de empréstimos bancários (banking
lending channel).
3
O propósito dessa nova abordagem para a pesquisa é examinar o
papel dos intermediários financeiros (bancos) e do crédito como canais adicionais de
transmissão da política monetária os quais podem desempenhar significativa
influência sobre a atividade econômica.
Como observam Mishkin (1995, 1996a, 1996b) e Bernanke e Gertler (1995),
o canal do empréstimo bancário surge pelo reconhecimento da natureza especial do
crédito bancário e do papel peculiar desempenhado pelos bancos na estrutura
financeira da economia. Esse canal de transmissão assume a imperfeita
substitutibilidade entre depósitos bancários que exigem reservas (principal fonte de
fundos para operações bancárias) e outras fontes alternativas de fundos.
Considerando a significativa dependência dos bancos em relação aos depósitos que
exigem reservas para o desempenho de suas operações ativas (empréstimos e
aplicações em títulos), uma política monetária restritiva que promove uma redução
no volume agregado de reservas bancárias reduz, também, o nível de depósitos e,
conseqüentemente, conforme estabelece o canal do empréstimo bancário, a oferta
de empréstimos. Se considerarmos que um significativo conjunto de firmas e
indivíduos depende fortemente ou exclusivamente do financiamento bancário, uma
redução na oferta de empréstimos pode dificultar o acesso desses grupos a fontes
alternativas de recursos forçando-os a contrair suas atividades comprometendo,
assim, os gastos agregados e o produto. Esquematicamente, o efeito da política
monetária via canal do empréstimo bancário pode ser representado por:
↓⇒↓⇒↓⇒ YI Bancários sEmpréstimo Bancários DepósitosM
3
Uma variedade de excelentes surveys e avaliações referentes ao canal do crédito são disponíveis.
Dentre os mais importantes destacam-se: Gertler (1988), Bernanke (1983), Gertler e Gilchrist (1993),
Ramey (1993), Kashyap e Stein (1994), Bernanke e Gertler (1995), Cecchetti (1995), Hubbard (1995),
Mishkin (1996a, 1996b), Bernanke, Gertler e Gilchrist (1998).
38
O canal do balanço patrimonial, por sua vez, não é restrito ao canal do
empréstimo bancário. Segundo esta visão, a assimetria de informação e os
problemas por ela gerados caracterizam todo o mercado de crédito, influenciando a
natureza dos contratos financeiros, aumentando a probabilidade de equilíbrio com
racionamento de crédito, e criando uma cunha entre o custo de financiamento
externo e o custo de financiamento interno. Como resultado, o fluxo de caixa e o
valor líquido das empresas tornam-se variáveis relevantes para afetar o custo e a
disponibilidade de financiamento, bem como, o nível de gastos em investimentos.
Em tais circunstâncias, o impacto de políticas monetárias que induz a mudanças na
taxa de juros pode ser magnificado pelo “acelerador financeiro”(WALSH, 2003).
A política monetária contracionista (M), que causa uma redução no preço
das ações (P
e
) reduz o valor líquido das firmas e, devido ao aumento nos
problemas de seleção adversa e risco moral, eleva o prêmio de financiamento
externo (Spread) induzindo a uma redução nos gastos com investimentos (I) e,
conseqüentemente, uma redução no produto (Y). Isto leva ao seguinte esquema
para um mecanismo de transmissão via balanço patrimonial:
↓⇒
↓⇒↓⇒
YI Bancários sEmpréstimo
Spread moral risco , adversa seleção
e
PM
Baseando-se nas diferentes concepções, acerca do mecanismo de
transmissão da política monetária previamente analisadas, o esquema a seguir
(Figura 1) procura sintetizar os principais caminhos pelos quais a política do Banco
Central pode afetar a demanda agregada, através de operações de mercado aberto.
39
Figura 1 - Síntese dos Canais de Transmissão da Política Monetária.
Fonte: Kuttner e Mosser (2002, p.16).
Como é possível constatar, o mecanismo de transmissão da política
monetária corresponde a um processo complexo desde que, existe não apenas um,
mas diferentes caminhos pelos quais a política monetária pode afetar a demanda
agregada.
A importância de se entender o funcionamento destes mecanismos de
transmissão é fundamental para o desenho da política monetária. Diferentes visões
implicam em diferentes regras ótimas. Taylor (2000), por exemplo, argumenta que
Operações de Mercado Aberto
Reservas
Bancárias
Oferta de
Empréstimo
Taxa básica de Juros
Base Monetária
Oferta de Moeda
Taxa de Juros de Mercado
N
ível de Pre
ç
os dos Ativos Taxa de
Câmbio
Taxa de Juros Real
Demanda Agregada
Colateral
(
Garantias
)
Preço dos
Ativos
q Tobin
π
e
Canal do
Empréstimo
Bancário
Canal do
Crédito
Amplo
Canal da
Riqueza
Canal da
Taxa de
Juros
Canal da
Taxa de
Câmbio
Canal
Monetarista
Banco Central
40
regras simples de política monetária podem possuir resultados satisfatórios para
diversos modelos estruturais, mas regras mais complexas podem gerar implicações
bastante diferentes na economia, considerando o modelo de transmissão de política
monetária escolhido, e a estrutura institucional subjacente.
A literatura mais recente - representada por trabalhos de Bernanke (1983),
Bernanke e Blinder (1993), Gertler e Gilchrist (1993), Bernanke e Gertler (1995),
Romer e Romer (1993), Kashyap e Stein (1993, 1994, 1997), Kashyap, Stein e
Wilcox (1993), Walsh e Wilcox (1995), Oliner e Rudebush (1996a), dentre outros -
concentra o debate nos, considerados, principais canais de transmissão da política
monetária, a saber: o “canal da moeda” (ou canal da taxa de juros) e o “canal do
crédito” (canal do balanço patrimonial e canal do empréstimo bancário).
Visando cumprir o propósito dessa pesquisa, na seqüência, procura-se dar
um tratamento formal para os considerados principais canais de transmissão da
política monetária e estabelecer as principais distinções entre eles.
2.2 A “VISÃO DA MOEDA”
Para entender o mecanismo de transmissão da política monetária, sugerida
por abordagens alternativas, é conveniente destacar algumas suposições
estabelecidas pela visão tradicional do mecanismo de transmissão monetária via
taxa de juros.
Na visão tradicional do mecanismo de transmissão da política monetária -
cuja formulação mais simples do canal da moeda é descrita pelo modelo padrão IS-
LM - considera-se a existência de um único bem, dois ativos [moeda (D) e títulos
(B)], quatro tipos de agentes (famílias, firmas, bancos e governo), e uma única taxa
de juros, a qual reflete as condições do mercado de crédito na economia (FREIXAS;
ROCHET, 1997).
A renda real das famílias (y) e a taxa de juros dos títulos (r
B
) determinam o
nível de poupança (real) S(y, r
B
), a qual é alocada entre moeda e títulos:
4
),(),(),(
+
+
+
+
+
+=
B
h
B
h
B
ryBryDryS (2.1)
4
Este modelo é desenvolvido tomando como referência a obra “Microeconomics of Banking” de
Freixas e Rochet (1997).
41
onde, o sobrescrito “h” faz referência às famílias, e (+/-) indicam os sinais das
derivadas parciais. Similarmente, a demanda por investimento das firmas I(r
B
) é
financiada por títulos:
)()(
B
f
B
rBrI = (2.2)
onde, o sobrescrito “f” faz referência às firmas.
No que se refere aos bancos, o modelo é bastante simples, isto é, eles
emitem depósitos D
b
, compram títulos B
b
, e mantém reservas R, obedecendo a
seguinte restrição:
bb
D
=
+
(2.3)
De acordo com a “visão da moeda” os intermediários financeiros (bancos)
são completamente passivos, ou seja, não oferecem nenhum serviço especial do
lado dos ativos do balanço patrimonial. Já no lado das obrigações do balanço
(passivo), o sistema bancário cumpre um papel especial ao criar moeda (fiduciária)
emitindo demanda por depósitos. B
b
e D
b
são determinadas pela taxa de reservas α
exigida pelo Banco Central (R=α D
b
), implicando:
α
R
D
b
= e
α
α
)1(
=
R
B
b
(2.4)
Por fim, o último agente do processo é o governo, o qual financia seus
dispêndios (reais) através das reservas tomadas emprestadas dos bancos R e,
através da emissão de títulos B
g
, conforme demonstra a seguinte identidade:
g
BRG += (2.5)
Utilizando-se da lei de Walras, duas equações são suficientes para
caracterizar o nível de equilíbrio das variáveis endógenas y e r
B
:
- Equilíbrio no mercado monetário
42
),(
B
h
ryDR
α
= (2.6)
- Equilíbrio no mercado de bens
),()(
BB
rySGrI
=
+
(2.7)
De acordo com a análise Keynesiana, (2.6) e (2.7) correspondem,
respectivamente, as curvas LM e IS.
Freixas e Rochet (1997) destacam algumas suposições adicionais implícitas
a estrutura padrão que sustenta a “visão da moeda” para a transmissão da política
monetária, a saber:
(1) os preços não se ajustam instantaneamente de modo a compensar
mudanças na quantidade nominal de moeda, isto equivale a dizer que existe um
grau de rigidez no ajustamento de preços;
(2) o Banco Central pode influenciar diretamente a quantidade nominal de
moeda através do ajustamento nas reservas; e,
(3) os empréstimos e os títulos são considerados substitutos perfeitos para
os tomadores de empréstimos, por conta disso, a introdução, de forma explícita, dos
intermediários financeiros, no modelo padrão, é desnecessária.
De acordo com a “visão da moeda” a taxa de juros representa o canal pelo
qual a política monetária afeta a atividade econômica e a inflação. Este canal de
transmissão é incorporado nos modelos macroeconômicos tradicionais e opera em
conjunção com vários graus de rigidez de preços.
A visão keynesiana (arcabouço IS-LM) representa a estrutura padrão para a
análise macroeconômica do mecanismo de transmissão da política monetária
através da taxa de juros.
5
Segundo esta estrutura, a política monetária afeta a
demanda agregada e o produto real através de mudanças induzidas na taxa nominal
de juros de curto prazo. Explicitamente, uma alteração nas reservas afeta a
habilidade do setor bancário de gerar moeda fiduciária (depósitos), o que equivale
5
Além dos modelos IS-LM, existe uma ampla gama de formulações alternativas que capturam esta
essência, tais como o modelo de equilíbrio dinâmico cash-in advance de Rotemberg (1984),
Grossman and Weiss (1983), Lucas (1990) e Christiano and Eichenbaum (1992), modelo que introduz
a moeda na função utilidade – MIU Model – Sidrauski (1967). Embora essa classe de modelos difere
no número de dimensões (por exemplo, no modo em que eles geram incompleto ajustamento de
preços), eles compartilham a característica de incluírem somente dois ativos nos modelos (moeda e
títulos).
43
dizer que este deve alterar o volume de títulos na composição de seus ativos. Isto
implica que o setor não-bancário também será levado a alterar sua composição
entre títulos e moeda, o que induz a uma alteração na taxa de juros nominal de curto
prazo. Se os preços e salários nominais são rígidos, ou seja, não se ajustam
automaticamente às mudanças na política econômica, então, as mudanças na taxa
nominal de juros afetam a taxa real e, dessa forma, o custo do capital, influenciando
as decisões de investimento e o dispêndio agregado.
A título de exemplo, suponha que ocorra uma contração na oferta
monetária. Nessa conjuntura, o mecanismo de transmissão da política monetária,
sugerido pela “visão da moeda”, opera da seguinte forma: uma política monetária
contracionista reduz a liquidez da economia (M), elevando a taxa nominal de juros
(i), o que por sua vez, implica aumento do juro real (r) (supondo rigidez de preços
e salários no curto prazo). A elevação da taxa real de juros eventualmente aumenta
o custo do capital, o que acaba deprimindo o nível de investimento (I) e,
conseqüentemente, a demanda agregada (Y). (MISHKIN, 1996a).
Esquematicamente tem-se:
↓⇒↑⇒↑⇒↓⇒ YIr Rigidos Salários e Preços iM
Em termos do modelo IS-LM simplificado, a política monetária restritiva
promove um deslocamento para a esquerda da curva LM para LM’, de modo que a
nova condição de equilíbrio é estabelecida a um nível mais baixo de atividade
econômica e a uma taxa de juros (r
B
) mais elevada, conforme pode-se verificar na
Figura 2 abaixo.
44
LM’
LM
IS
Y Y*Y**
r*
B
r**
B
r
B
0
Figura 2 - As Conseqüências de uma Política Monetária Restritiva no Modelo
IS-LM
Fonte: Freixas e Rochet (1997, p. 115).
Nesse modelo, a estrutura de capital não exerce influência nas decisões
reais dos emprestadores e dos tomadores de empréstimos. Isto equivale dizer que
não faz diferença se os bancos mantém empréstimos ou títulos do governo na
composição de seus ativos, e que, não faz diferença se os tomadores de
empréstimos obtém créditos no mercado de leilões (commercial paper market e
corporate bond market) ou nos bancos.
De acordo com o modelo keynesiano tradicional - exceto pelos termos em
que a taxa de juros real, junto com as expectativas de pagamentos futuros, afetam o
preço dos ativos - as condições no mercado financeiro e de créditos não afetam a
atividade econômica real. Em outras palavras, esta abordagem mainstream adota a
suposição subjacente ao teorema de Modigliani-Miller (1958), o qual estabelece que,
se os mercados são perfeitos, as decisões das variáveis reais são independentes da
estrutura financeira das firmas. No caso dos bancos, equivale a dizer que as
decisões, quanto à alocação de empréstimos (ativo), são independentes da
composição de suas fontes de recursos (passivos), implicando que o sistema
financeiro de uma economia desempenha um papel de intermediação e, portanto, é
irrelevante para a atividade real (“o lado financeiro é um véu”). (BERNANKE;
GERTLER; GILCHRIST, 1998; HUBBARD, 2000).
No mundo idealizado por Modigliani-Miller (1958), operações de mercado
aberto não promovem efeitos significativos sobre a atividade dos bancos. Quando o
45
Banco Central drena reservas do sistema financeiro, ele pode estar comprometendo
a habilidade dos bancos de se financiar utilizando uma fonte de recursos como
transações com depósitos segurados. Mas as políticas do Banco Central não podem
restringir o uso de obrigações “não reserváveis”, tais como certificado de depósitos
(CDs), como forma de financiamento alternativo para os bancos. Portanto, nesse
modelo os bancos são indiferentes, na margem, entre se financiar via transações
com depósitos e CDs, de tal forma que uma restrição nas reservas não tem impacto
em seu comportamento real, ou seja, não altera suas decisões no que se refere à
concessão de empréstimos. Assim, tudo o que a política monetária pode fazer é
alterar o lado das obrigações do balanço patrimonial dos bancos, isto é, mudar a
proporção relativa de depósitos e CDs que eles emitem. Neste contexto os bancos
representam um canal passivo pelo qual o banco central implementa a troca de
títulos por moeda, e nada mais (KASHYAP; STEIN, 1997).
É importante destacar, também, algumas características que servem de
alicerce para esse mecanismo de transmissão, a saber - o setor bancário participa
da transmissão da política monetária apenas por sua habilidade em gerar moeda
fiduciária, valendo o teorema de Modigliani-Miller (1958), o qual sugere que a
estrutura de capital dos bancos não influencia decisões reais dos agentes; o efeito
da taxa de juros é homogêneo sobre os agentes, de modo que empresas com
situações financeiras diferentes apresentam o mesmo comportamento diante dos
choques de política monetária; e, a queda no nível de investimentos que ocorre em
decorrência do aumento da taxa de juros não é “ineficiente”, uma vez que são os
projetos com retornos menores os que deixarão de ser realizados,
independentemente de quem esteja realizando o investimento (CECCHETTI, 1995).
Alguns pesquisadores reconhecem a importância do mecanismo de
transmissão monetária através da taxa de juros. Taylor (1995), por exemplo,
argumenta que preços no mercado financeiro são componentes chaves de como a
política monetária afeta a atividade real.
A posição de Taylor é altamente controvertida. Por exemplo, Bernanke e
Gertler (1995), argumentam que as evidências empíricas não autorizam a supor que
haja fortes efeitos de taxa de juros operando através do custo do capital. Na
verdade, eles viram na falha empírica dos mecanismos de transmissão monetárias
da taxa de juros um estímulo para a busca de outros mecanismos de transmissão da
46
política monetária, ganhando destaque àqueles que operam por meio dos efeitos de
informação assimétrica sobre os mercados de crédito (“visão de crédito”).
2.3 A “VISÃO DO CRÉDITO”
Segundo Walsh (2003), embora a moeda tenha tradicionalmente
desempenhado um papel de destaque na macroeconomia e na teoria monetária pela
relação estabelecida entre o estoque nominal de moeda e o nível de preços
agregados, a importância da moeda para entender a determinação do nível geral de
preços e da taxa média de inflação não necessariamente implica que o estoque de
moeda represente uma variável chave para entender a ligação entre o setor real e
financeiro, ou que represente o indicador mais apropriado de curto prazo para
influencia de fatores financeiros na economia. Por conta disso, em anos recentes,
tem-se dado grande atenção ao mercado de crédito como representando um papel
crucial na transmissão da política monetária para a economia real. Essa nova linha
de pesquisa procura destacar o papel das ações implementadas pelo Banco Central
em afetar o produto, em parte, pelas mudanças causadas na oferta de empréstimos.
De acordo com a “visão do crédito” o mecanismo de transmissão da política
monetária, via canal do crédito, surge, principalmente, devido à existência de
assimetria de informações entre tomadores de empréstimos (borrowers) e
emprestadores (lenders) no mercado financeiro.
6
Essa nova abordagem mostra
como a assimetria de informações e os problemas por ela gerados (seleção adversa
e de risco moral), combinados com os custos de elaboração de contratos (custos de
transação), geram problemas de agência no mercado financeiro.
Conforme a teoria do canal do crédito, os efeitos diretos da política
monetária sobre taxa de juros são amplificados por uma mudança endógena no
chamado “prêmio de financiamento externo”, o qual corresponde à diferença entre o
custo pela obtenção de fundos externamente (através da emissão de ações e/ou
endividamento) e o custo de oportunidade dos fundos obtidos internamente (através
da retenção de lucros).
6
Teorias correntes do papel econômico dos intermediários financeiros, elaboradas sob a suposição
de informação assimétrica, derivam da contribuição de Akerlof (1970), Spence (1973) e Rothschild e
Stiglitz (1976). Com base nessas teorias, os intermediários financeiros existem porque eles podem
reduzir custos de informação e de transação que surgem da assimetria de informação entre
emprestadores e tomadores de empréstimos (CLAUS; GRIMES, 2003).
47
Conforme observam Bernanke e Gertler (1995), o tamanho do prêmio de
financiamento externo reflete imperfeições no mercado de crédito que dirigem uma
cunha entre o retorno esperado recebido pelo emprestador e o custo enfrentado pelo
potencial tomador de empréstimos. A “visão do crédito” estabelece que, uma
mudança na política monetária, que altera a taxa de juros (através de operação de
mercado aberto), altera também o prêmio de financiamento externo na mesma
direção. Assim, o efeito direto da política monetária sobre a taxa de juros acaba
sendo amplificado por mudanças no prêmio de financiamento externo.
Nos termos colocados pela “visão do crédito”, o movimento complementar
no prêmio de financiamento externo, causado pela política monetária, pode ajudar a
compreender a força, o timing, e a composição dos efeitos da política monetária
melhor do que a taxa de juros por si só. Assim, baseando-se na suposição de
informação imperfeita no mercado financeiro, o canal do crédito procura entender a
relação que se estabelece entre a política monetária, o prêmio de financiamento
externo e as condições em que o crédito é negociado e ofertado, buscando
identificar os efeitos que alterações na política monetária promovem sobre o
mercado de crédito e, conseqüentemente, sobre a atividade econômica real.
A teoria do “canal do crédito” estabelece que a disponibilidade de crédito
pode ser afetada pela política monetária através de dois caminhos distintos, porém
proximamente relacionados – o “canal do balanço patrimonial” (também conhecido
como o canal do crédito amplo), e o “canal do empréstimo bancário”.
O canal do balanço patrimonial representa uma explicação mais abrangente
para o canal do crédito, pois supõe que todas as fontes externas de financiamento
(incluindo o empréstimo bancário) são substitutas imperfeitas para os fundos
internos da firma (geração de caixa e lucros retidos). Este canal destaca o potencial
impacto de mudanças na política monetária sobre o balanço patrimonial dos
tomadores de empréstimos, concentrando-se em variáveis como valor líquido, fluxo
de caixa e liquidez dos ativos.
Por sua vez, o canal do empréstimo bancário se concentra em apenas uma
das fontes de financiamento externo, a saber, a oferta de crédito bancário, como
mecanismo de transmissão da política monetária. Este canal procura analisar mais
estreitamente os possíveis efeitos das ações de política monetária sobre a oferta de
empréstimos dos intermediários financeiros (bancos).
48
Uma síntese das relações, estabelecidas entre esses canais - onde é
possível verificar a seqüência de eventos entre o choque monetário, a oferta de
empréstimos bancários e as conseqüências sobre a atividade econômica - é
apresentada na Figura 3 a seguir.
Figura 3 - Descrição Estilizada do Mecanismo de Transmissão da Política
Monetária – Canal do Balanço Patrimonial e Canal do Empréstimo
Bancário.
Fonte: Elaborado pelo Autor.
De acordo com Walsh (2003), uma outra linha de pesquisas que concentra
atenção no “racionamento de crédito” considera que o canal do crédito também pode
operar quando mudanças na política monetária alteram a eficiência no mercado
financeiro em canalizar recursos entre emprestadores e tomadores de empréstimos
ou pela extensão em que os tomadores de empréstimos enfrentam racionamentos
no mercado de crédito, de modo que, os gastos agregados acabam sendo
influenciados por restrição de liquidez. De acordo com as teorias do “racionamento
de crédito”, existem algumas formas de equilíbrio com racionamento de crédito que
não são conquistados pelo convencional mecanismo de preços.
Jaffee e Russel (1976), por exemplo, definem uma situação de equilíbrio
com racionamento de crédito quando, a uma determinada taxa de juros, os
emprestadores ofertam uma quantidade de empréstimos inferior àquela que os
tomadores de empréstimos efetivamente demandam.
Aumento na
Taxa de Juros
Piora do Risco
Característico dos
Tomadores de
Empréstimos
Declínio dos Depósitos
Bancários
Problemas de
Assimetria de
Informação: Seleção
Adversa e Risco Moral
Redução na Oferta
de Empréstimos em
Geral
PIB
(
Canal do Balan
ç
o Patrimonial
)
(
Canal do Em
p
réstimo Bancár
i
o
)
Medidas de Política
Monetária Restritiva
Redução na Oferta
de Empréstimos
Bancários
49
Jaffee e Stiglitz (1990), porém, mostram que, numa situação de equilíbrio
com racionamento pelo mecanismo de preço padrão é determinado na medida em
que, um elevado volume de empréstimos normalmente é acompanhado por um
aumento na taxa de default e, conseqüentemente, carrega uma elevada taxa de
juros. Ao invés dessa definição, Jaffee e Stiglitz (1990) caracterizam um
“racionamento de crédito puro” para ocorrer quando, entre um grupo de agentes
(firmas ou indivíduos) aparentemente idênticos, alguns recebem empréstimos
enquanto outros não.
Por sua vez, Stiglitz e Weiss (1981) definem equilíbrio com racionamento de
crédito uma situação para ocorrer quando – em um grupo de candidatos idênticos,
predispostos a tomar empréstimos, alguns conseguem obter empréstimos enquanto
outros não e, os candidatos rejeitados, não receberiam o empréstimo mesmo se
estivessem dispostos a pagar uma taxa de juros mais elevada por ele; ou, quando
existe um identificável grupo de indivíduos na população que, para uma dada oferta
de crédito, não estariam aptos a obter empréstimos qualquer que fosse a taxa de
juros, o que ocorreria mesmo se a oferta de crédito fosse elevada. O ponto crítico
desta definição é que na taxa de juros de equilíbrio de mercado existe uma demanda
por empréstimos não satisfeita que não pode ser eliminada através do aumento na
taxa de juros.
Não obstante essa linha de pesquisa para o canal do crédito deve ser
reconhecida, é importante destacar que o racionamento de crédito representa uma
condição suficiente, mas não necessária para que o canal do crédito exista.
Conforme destaca Cecchetti (1995), se tomarmos em conta um modelo de escolha
de portfolio, verificamos que a maneira pela qual as ações de política se
transformam em mudanças na oferta de empréstimos não necessita ser o resultado
de um racionamento de empréstimos, embora este possa ocorrer. Por exemplo, o
canal do empréstimo bancário não requer que existam tomadores de empréstimos
dispostos a assumir dívidas a um preço corrente, e que lhes seja negado de exercer
esse direito, conforme determina o modelo de racionamento apresentado por Stiglitz
e Weiss (1981). Ele surge quando existem firmas que não dispõem de fontes
alternativas equivalentes para financiar seus projetos de investimentos e os
empréstimos representam substitutos imperfeitos no portfolio de investimentos.
(CECCHETTI, 1995).
50
Uma vez que o mecanismo de transmissão da política monetária via canal
do crédito não requer a existência de racionamento de crédito no mercado
financeiro, concentraremos nossa atenção especificamente no canal do balanço
patrimonial e no canal do empréstimo bancário. Na seqüência discutiremos, de
forma detalhada, como a política monetária pode operar através desses canais.
Deste modo, será possível entender, com maior grau de abrangência e
profundidade, a importância do canal do crédito para a transmissão da política
monetária e, por conta disso, a relevância de tomá-lo em conta para melhorar tanto o
entendimento das respostas da economia às mudanças nas políticas praticadas pela
autoridade monetária, como para aperfeiçoar os instrumentos por ela utilizados.
2.3.1 O Canal do Balanço Patrimonial
O canal do balanço patrimonial de transmissão de política monetária toma
em consideração, para sua análise do impacto de políticas, todas as fontes externas
de financiamento, atribuindo importância equivalente para todas as disponibilidades
de fundos ofertadas pelo mercado, inclusive para os empréstimos bancários.
Conseqüentemente, ao contrário do que fazem as análises que concentram atenção
especificamente no canal do empréstimo bancário, a versão do balanço patrimonial
não atribui um papel especial aos bancos. O canal do empréstimo amplo (broad
credit channel), como também é chamado, supõe que todas as fontes externas de
financiamento representam substitutos imperfeitos às fontes internas de fundos das
firmas.
A análise do mecanismo de transmissão da política monetária via “canal do
balanço patrimonial” concentra sua atenção no impacto que mudanças na política
monetária exercem sobre o balanço patrimonial dos tomadores de empréstimos e
nos efeitos produzidos sobre o prêmio de financiamento externo por eles enfrentado.
Esse padrão de análise atem-se, fundamentalmente, em variáveis como valor
líquido, fluxo de caixa, liquidez dos ativos, prêmio de financiamento externo e oferta
de empréstimos.
De acordo com Mishkin (1996a), o canal do balanço patrimonial surge
devido à presença de problemas de assimetria de informação no mercado de
crédito. Para ele, um baixo valor líquido dos tomadores de empréstimos, combinado
51
com um severo problema de seleção adversa e de risco moral comprometem as
condições de acesso ao crédito.
Fricções no mercado de crédito, oriundas da assimetria de informação
entre emprestadores e tomadores de empréstimos, interferem no funcionamento do
mercado financeiro ao promover o surgimento de uma cunha entre o custo dos
fundos levantados externamente e o custo de oportunidade dos fundos internos, o
chamado prêmio de financiamento externo.
De acordo com Bernanke e Gertler (1995), alguns fatores interferem na
determinação do prêmio de financiamento externo: o prêmio visa compensar os
credores pelo custo incorrido na avaliação dos projetos de investimentos, no
monitoramento dos tomadores de empréstimos e na exigência de resultados
(cobrança); o prêmio dos “limões” que resulta do fato de os tomadores de
empréstimos disporem de melhores informações sobre seus riscos reais do que os
credores; e o custo pela distorção no comportamento dos tomadores de
empréstimos que se origina do risco moral, ou pelas restrições dos contratos que
visam conter esse tipo de comportamento (estipular restrições ou exigir garantias e
fazê-las cumprir).
O canal do balanço patrimonial é baseado na predição teórica de que o
prêmio de financiamento externo, enfrentado pelos tomadores de empréstimos,
depende da posição financeira que estes apresentam. Em particular, quanto maior o
“valor líquido” do tomador de empréstimos – definido operacionalmente como a
soma de seus ativos líquidos e as garantias (collaterais) comercializáveis – mais
baixo tende a ser o prêmio de financiamento externo por eles enfrentado.
Intuitivamente, uma forte posição financeira (elevado valor líquido) habilita o tomador
de empréstimos a reduzir o potencial conflito de interesses com os emprestadores,
seja por aumentar sua capacidade para auto financiar seus projetos de
investimentos ou suas compras, seja por oferecer maior collateral para garantir suas
obrigações perante os credores.
7
Desde que a posição financeira dos tomadores de empréstimos afeta o
prêmio de financiamento externo e, conseqüentemente, os termos de crédito que
7
Esta percepção está por trás de muitos arranjos financeiros, tais como exigências de que os
tomadores de empréstimos cumpram certas relações financeiras, que eles ofereçam garantias, que
eles emitam sinais de pagamentos, dentre outros (BERNANKE; GERTLER, 1995).
52
eles enfrentam, flutuações na qualidade de seus balanços patrimoniais também
podem afetar seus investimentos, bem como, suas decisões de gastos.
Assim, o mecanismo de transmissão da política monetária, via balanço
patrimonial, surge porque a política monetária afeta não somente as taxas de juros
de mercado, mas também e, sobretudo, a posição financeira dos tomadores de
empréstimos e, por conta disso, o prêmio de financiamento externo, as condições
em que os empréstimos são ofertados, bem como, o volume de empréstimos
ofertado.
Bernanke e Gertler (1995) observam que, os efeitos da política monetária
sobre o balanço patrimonial podem ocorrer de forma direta e indireta. Uma política
monetária restritiva enfraquece diretamente o balanço patrimonial dos tomadores de
empréstimos de dois modos distintos.
Primeiro, o aumento na taxa de juros é freqüentemente associado com o
declínio no preço dos ativos, efeito este que acaba por estreitar o valor dos ativos
dados como garantias (collateral) e comprometendo o valor líquido dos tomadores
de empréstimos. No que se refere ao efeito da política monetária sobre o preço dos
ativos, Mishkin (1996a) observa que, a conseqüente redução no valor líquido
promovido por uma elevação na taxa de juros significa, por um lado, que os
emprestadores tem menos collateral para garantir seus empréstimos, o que implica
um aumento no risco de perdas por “seleção adversa”. Por outro lado, uma redução
no valor líquido aumenta o problema de “risco moral” uma vez que, por terem o valor
líquido de seu patrimônio reduzido, os proprietários (tomadores de empréstimos)
dispões de menor patrimônio líquido sob risco, o que aumenta o incentivo para se
engajarem em projetos de investimentos arriscados.
Conforme observam Kuttner e Mosser (2002), o valor dos ativos exercem
um importante papel via canal do balanço patrimonial, porém, de uma maneira
distinta daquela apresentada pelo canal da riqueza. Via canal do balanço
patrimonial, os preços dos ativos são especialmente importantes ao determinar o
valor das garantias (collateral) que as firmas e os indivíduos podem oferecer quando
obtém empréstimos.
Em um mercado de crédito que não apresenta fricções, uma queda no valor
das garantias e do valor líquido dos tomadores de empréstimos não interfere nas
decisões de investimentos, mas considerando a presença de assimetria de
informação, financiar projetos de investimentos mais arriscados aumenta a
53
probabilidade de os empréstimos não serem honrados, assim, o hiato entre a taxa
de juros na qual os contratos de empréstimos são negociados e a taxa de juros livre
de riscos aumenta, tornando mais rígidas as condições em que o financiamento
externo torna-se disponível. Na prática, um aumento no custo de financiamento
externo faz com que os gastos que são sensíveis à taxa de juros declinem
promovendo assim, uma redução nos gastos com investimentos e,
conseqüentemente, ocasionando uma queda no produto.
Em segundo lugar, o aumento na taxa de juros afeta diretamente as
despesas com juros das empresas na medida em que onera os serviços com o
estoque de dívidas em aberto ou com taxas flutuantes, bem como, outras formas de
serviços, reduzindo, assim, seus fluxos de caixa líquidos e, por conseguinte, sua
capacidade de pagamento.
Sob o efeito de um aumento na taxa de juros, induzida por uma política
monetária contracionista, as receitas dos tomadores de empréstimos declinam,
enquanto seus custos não se ajustam, proporcionalmente, no curto prazo,
promovendo uma piora na composição patrimonial das empresas. De acordo com
Mishkin (1996a), os custos aumentam por conta do aumento nas despesas com
capital de giro, pelo maior valor dos juros pagos pelas obrigações contratadas e pelo
maior custo de oportunidade da manutenção de recursos em estoques e em outras
formas fixas.
O hiato financeiro, oriundo de desajustes patrimoniais, provoca, assim, uma
deterioração no fluxo de caixa das empresas, o que acaba por erodir seu valor
líquido e, conseqüentemente, contribui para uma piora no risco característico de um
potencial tomador de empréstimos ao reduzir o valor presente dos ativos usados
como collateral.
A redução do valor presente dos ativos pode ser causada por um aumento
na taxa de desconto aplicada aos pagamentos futuros esperados e/ou pela redução
nos pagamentos esperados oriundos de outros canais de transmissão (i.e, o canal
do custo do capital e/ou o canal da taxa de câmbio). Como resultado desse
processo, verifica-se uma intensificação nos problemas de seleção adversa e risco
moral, com conseqüente redução no mérito dos potenciais tomadores de
empréstimos em obter crédito. Esse processo afeta adversamente o valor líquido
dos tomadores de empréstimos e, por conseguinte, as decisões de investimento e o
produto.
54
Bernanke e Gertler (1995) ressaltam ainda que, indiretamente, a política
monetária restritiva se manifesta na medida em que as reduções no fluxo de caixa e
no valor das garantias deterioram os gastos em consumo dos agentes.
Embora a maior parte da literatura do canal do crédito concentra-se nos
gastos das firmas, o canal do crédito pode ser aplicado igualmente para os gastos
em consumo, particularmente com os gastos em bens de consumo duráveis e
moradias.
Tomando em conta o canal do balanço patrimonial das famílias, em
especial, Mishkin (1978) observa que o declínio na oferta de empréstimos pelos
bancos, induzido por uma política monetária contracionista, pode causar um declínio
nas compras de bens duráveis e moradias pelos consumidores que não tem acesso
a fontes alternativas de crédito. Similarmente, aumentos na taxa de juros promovem
uma deterioração no balanço patrimonial dos indivíduos porque seus fluxos de caixa
são adversamente afetados comprometendo, assim, suas decisões de consumo.
Também, o canal do balanço patrimonial pode operar através do consumo
devido ao “efeito liquidez” que exerce sobre as decisões de gastos com bens
duráveis e moradias. Mishkin (1996a) enfatiza que o efeito liquidez sobre o balanço
patrimonial opera através do impacto que exerce sobre o desejo dos gastos em
consumir antes que sobre o desejo do emprestador em conceder crédito. Ele explica
que, devido à assimetria de informação que existe em relação as reais qualidades
apresentadas por bens duráveis e moradias, eles acabam caracterizando-se como
ativos muito ilíquidos (de difícil comercialização). Assim, se os consumidores fossem
acometidos por um choque adverso em suas rendas e necessitassem se desfazer
de seus bens duráveis e moradias para conquistar liquidez imediata (moeda), eles
poderiam esperar uma grande perda, pois não conseguiriam obter o efetivo valor de
mercado pela venda do bem.
8
Em contrapartida, se os consumidores mantivessem
ativos financeiros (tais como moeda em bancos, ações ou títulos) eles poderiam
vendê-los imediatamente pelo seu efetivo valor de mercado, sem maiores
problemas, uma vez que estes representam ativos considerados altamente líquidos.
Em tais circunstâncias, tomando em conta o efeito liquidez, se os
consumidores atribuíssem uma alta probabilidade de que poderiam atravessar por
eventuais dificuldades financeiras, eles desejariam manter menos ativos ilíquidos
8
Esta é justamente a descrição do “problema dos limões” apresentada por Akerloff (1970) o qual
ajudou a estimular as pesquisas sobre o canal do crédito (MISHKIN, 1996a).
55
(bens duráveis e moradias) e mais ativos financeiros líquidos (tais como moeda em
bancos, ações ou títulos). Portanto, em circunstâncias em que ocorre uma contração
monetária seguida por um aumento na taxa de juros, a conseqüente redução no
fluxo de caixa dos consumidores, por ela promovida, leva a um aumento na
percepção dos indivíduos de que possam vir a enfrentar problemas de liquidez,
acarretando um aumento na demanda por ativos líquidos e um declínio nos gastos
com bens duráveis e moradias, com uma conseqüente redução no produto
agregado.
9
Uma outra forma de abordagem para o canal do balanço patrimonial foi
sugerida por Fisher (1933), ao analisar a grande depressão de 1929 nos EUA, a
qual trata do efeito que a política monetária exerce sobre o nível geral de preços.
Segundo ele, uma contração monetária pode provocar uma redução não antecipada
no nível geral de preços. Se considerarmos o fato de que os pagamentos das
dívidas são contratualmente fixados em termos nominais, uma redução não
antecipada no nível de preços aumenta o valor das obrigações em termos reais, mas
não aumenta o valor do ativo das firmas na mesma proporção. Portanto, como
decorrência da restrição monetária, uma redução não antecipada no nível de preços
promove uma redução no valor líquido dos tomadores de empréstimos e um
aumento nos problemas informacionais de seleção adversa e risco moral. Ocorrem
também, reduções na oferta de empréstimos, nos gastos com investimentos e,
conseqüentemente, no produto agregado. A visão de que movimentos não
antecipados no nível de preços desempenham um importante efeito sobre a
demanda agregada já tem uma longa tradição em economia, pois este representa a
característica chave da visão de debt-deflation da Grande Depressão sugerida por
Fisher (1933).
Em termos gerais, o mecanismo de transmissão via fluxo de caixa, via efeito
liquidez e via nível de preços não antecipados podem ser consideradas como um
subgrupo do mecanismo de transmissão via balanço patrimonial. A seqüência de
eventos, previamente analisadas, as quais constituem argumentos relevantes para
dar sustentação ao canal de transmissão da política monetária via balanço
patrimonial, são esquematicamente sintetizados na Figura 4.
9
Este comportamento é confirmado no estudo desenvolvido por Mishkin (1978) para o período da
Grande Depressão, onde ele procura analisar o comportamento do consumo das famílias frente às
mudanças no seu balanço patrimonial – “The Household Balance Sheet and the Great Depression”.
56
Mecanismo de Transmissão da Política Monetária via Balanço Patrimonial
Política Monetária (M)
Taxa de Juros (i)
Preço dos Ativos (P
e
)
Assimetria de Informação ()
(Seleção Adversa e Risco Moral)
Prêmio de Financiamento Externo ()
Atividade de Empréstimos ()
Investimento ()
PIB ().
Mecanismo de Transmissão
via Fluxo de Caixa
Mecanismo de Transmissão
via Nível de Preços Não
Antecipados
Efeitos da Liquidez do
Indivíduo
Política Monetária (M)
Taxa de Juros (i)
Fluxo de Caixa ()
Assimetria de Informação ()
(Seleção Adversa e Risco
Moral)
Atividade de Empréstimos ()
Investimento ()
Política Monetária (M)
Taxa de Juros (i)
Nível de Preços Não
Antecipados ()
Assimetria de Informação ()
(Seleção Adversa e Risco Moral)
Atividade de Empréstimos ()
Investimento ()
Política Monetária (M)
Taxa de Juros (i)
Preço das Ações (P
e
)
Riqueza Financeira ()
Probabilidade de Apuros
Financeiros ()
Atividade de
Empréstimos()
Gastos com Imóveis
Residenciais, Bens de
Consumo Duráveis. ()
PIB () PIB () PIB ()
Figura 4 - Ligações entre Política Monetária e o PIB: Canal do Balanço
Patrimonial
Fonte: Este esquema foi elaborado pelo autor com base em Mishkin (1996a, 1996b).
Desde que os argumentos apresentados para viabilizar o canal do balanço
patrimonial estão relacionados a qualquer forma de financiamento externo, estes
também se aplicam aos empréstimos bancários, de modo que, os bancos podem
reduzir seus empréstimos em períodos de restrição monetária uma vez que aumenta
57
a percepção da fragilidade da estrutura financeira das empresas, ou seja, aumenta a
probabilidade de que estas entrem em default. Esse comportamento ajuda
compreender o motivo pelo qual o impacto do canal do crédito sobre o produto pode
persistir além do período compreendido pela restrição monetária.
Para avaliar o impacto da política monetária sobre o custo dos fundos
externos e seus efeitos sobre as decisões de investimentos, uma boa referência é o
modelo de análise para o canal do balanço patrimonial apresentado por Oliner e
Rudebuch (1996a).
O custo referente aos fundos é mostrado pela curva S
1
na Figura 5, onde F
representa o montante de fundos internos de que a firma dispões. O custo desses
fundos internos r
1
, pode ser decompostos em
θ
+
f
r
1
, onde
f
r
1
representa a taxa de
juros livre de riscos, a qual é tomada como o instrumento de política monetária, e
θ
representa o risco ajustado para a firma específica.
Com mercado de capitais perfeito, isto é, livre de problemas informacionais,
os fundos externos [Fundos Externos (B) = Investimentos (I) – Fundos internos (F)]
(os quais representam a fonte marginal de financiamento quando os investimentos
excedem F) também podem ser disponibilizados a uma taxa r
1
, ou seja, a uma taxa
igual ao dos fundos internos e sua oferta é perfeitamente elástica, como demonstra
a curva S
0
. Em tais circunstâncias o investimento ótimo seria obtido pela condição
de equilíbrio representada por I*.
Figura 5 - Canal do Balanço Patrimonial: efeitos da política monetária
Fonte: Oliner e Rudebuch (1996a, p. 5).
D
S
0
Fundos Internos
Investimentos (I)
Custo de Fundos (r)
II* I
1
I
2
I
3
F
S
1
S
2
S
3
r
3
r
2
r
1
r
0
58
Porém, se considerarmos a existência de assimetria de informação entre
emprestadores e tomadores de empréstimos, verifica-se que esta produz um risco
moral, uma vez que, as firmas são mais prováveis a não honrar suas dívidas aos
olhos dos credores do que em sua própria concepção. Este risco moral aumenta o
custo dos fundos externos acima de r
1
por um prêmio denotado por Ω .
O tamanho do prêmio
Ω
depende de dois fatores. Primeiro, o custo
marginal dos financiamentos externos (prêmio de risco
Ω
) torna-se uma função
crescente do volume financiado B, obtido da diferença entre (I – F). Pois quanto
maior o volume de dívida da empresa maior será o risco moral que deverá enfrentar.
Essa ligação entre Ω e o volume de empréstimos torna a curva S
1
positivamente
inclinada. Segundo, o prêmio de risco também aumenta com o nível da taxa de juros
livre de riscos
f
r
1
. Assim, tem-se que os dois fatores que determinam o prêmio de
risco podem ser capturado pela equação ),(
1
f
rBΩ=Ω , onde: 0/ >Ω B e
0/
1
>Ω
f
r .
Como observam Oliner e Rudebuch (1996a), a dependência de Ω da taxa
de juros livre de risco implica que imperfeições no mercado de crédito podem atuar
para potencializar os efeitos dos choques monetários, o que representa a essência
do canal do balanço patrimonial de transmissão da política monetária. Em termos da
Figura 5, um aumento na taxa de juros livre de risco amplia o custo dos fundos
externos por
ff
rrr Ω+ //
1
, onde o segundo termo representa o efeito
potencializador. Um aumento na taxa de juros livre de risco (r), devido ao efeito
potencializador, desloca S
1
para S
3
ao invés de deslocá-la para S
2
, e os
investimentos caem de I
1
para I
3
, ao invés de I
1
para I
2
. Verifica-se, portanto, que o
custo de financiamento externo aumenta mais que proporcionalmente em relação a
um aumento na taxa de juros, isso ocorre porque o aumento na assimetria de
informação eleva a probabilidade de default do tomador de empréstimos. As
relações estabelecidas na Figura 5 podem ser sintetizadas através da curva de
demanda por investimentos e pela oferta de fundos, como sugere as equações (2.8)
e (2.9) que seguem:
(demanda)
kIvr = (2.8)
(oferta) ))((),(
1
FIrrrBrr
fff
++=Ω+=
λθ
(2.9)
59
onde, FIBBrrB
ff
==Ω ,),(
λ
, e os parâmetros k, λ e ν > 0. Com λ > 0,
Ω
depende positivamente de
f
r
1
e B. Igualando a oferta e a demanda, obtém-se o nível
de investimento de equilíbrio descrito pela equação (2.10):
f
ff
e
rk
Frrv
I
λ
λθ
+
+
=
)(
(2.10)
a sensibilidade do investimento de equilíbrio (
e
I ) à mudanças nos fundos internos é
dada por (2.11):
f
fe
rk
r
F
I
λ
λ
+
=
Φ
(2.11)
Além disso, Φ varia diretamente com
f
r uma vez que:
0
)(
2
>
+
=
Φ
f
f
f
rk
r
r
λ
λ
(2.12)
A ligação entre Φ e
f
r reflete na inclinação da curva de oferta que se torna
mais íngreme com um aumento em
f
r , ou seja, descrevendo a rotação de S
2
para
S
3
na Figura 5.
As condições de equilíbrio do modelo sugerem que
Φ pode ser
relativamente alto durante o período de aumento na taxa de juros livre de risco, que
ocorre após um choque monetário. Com o aumento em
f
r aumenta o spread entre
a taxa dos empréstimos bancários ou outras fontes de financiamentos externos em
relação a taxa livre de risco, assim, os fundos internos (F) tornam-se uma importante
fonte de financiamento para as firmas. Isso sugere que um significante aumento em
Φ , após uma política monetária contracionista, pode prover evidências favoráveis ao
canal do balanço patrimonial.
Dado o que foi exposto, os argumentos gerais que racionalizam a existência
do canal do balanço patrimonial podem ser sintetizados da seguinte forma - os
mercados de crédito são caracterizados por imperfeições (fricções), que surgem em
virtude da presença de assimetria de informação entre emprestadores e tomadores
60
de empréstimos e dos graves problemas, por ela gerados, de seleção adversa e de
risco moral; essas imperfeições criam um hiato entre o custo dos fundos internos e
custo dos fundos externos, denominados “prêmio de financiamento externo”. Isso
sugere que essas duas fontes de recursos deixam de ser substitutos perfeitos; existe
uma relação inversa entre o prêmio de financiamento externo e a saúde financeira
dos tomadores de empréstimos (riqueza líquida do tomador). Uma saúde financeira
robusta reduz o conflito de interesse entre devedor e credor e contribui para a
diminuição do prêmio; os choques macroeconômicos, de natureza monetária ou não,
que afetam a riqueza líquida do tomador, também afetam o prêmio de financiamento
externo, comprometendo a capacidade de financiamento externo da firma e, logo,
seus gastos com investimentos; e, os efeitos dos choques são assimétricos, pois,
dado que os problemas informacionais são maiores para as firmas com dificuldades
de acesso aos mercados de capitais (firmas pequenas e jovens), então, esse grupo
de firmas enfrenta maior restrição de liquidez durante um choque macroeconômico
adverso. (BERNANKE; GERTLER, 1995; BERNANKE; GERTLER; GILCHRIST,
1998; OLINER; RUDEBUSH, 1996a).
De acordo com Bernanke, Gertler e Gilchrist (1998), a conecção entre os
aspectos relacionados ao balanço patrimonial das firmas e sua habilidade para
obterem fundos (ou para suportar os elevados custos), também formam a base do
que é conhecido como a abordagem do “acelerador financeiro”. De acordo com essa
abordagem, flutuações cíclicas no valor dos ativos, elegíveis como collateral,
conduzem a um reforço nos ciclos de negócios. De acordo com a abordagem do
“acelerador financeiro”, o efeito direto promovido pela política monetária produz
deteriorações na posição do balanço patrimonial das empresas e,
conseqüentemente, na sua capacidade de obter fundos externos, além de
enfraquecer sua habilidade de autofinanciamento (gerar fundos internamente). O
efeito da taxa de juros é amplificado por mudanças no spread, de modo que o
desenvolvimento endógeno no mercado de crédito trabalha para intensificar o efeito
de choques sobre a economia, levando a significativa redução nos gastos das
corporações e contribuindo para a queda da atividade econômica.
Considerando o canal de transmissão da política monetária via balanço
patrimonial, Bernanke, Gertler e Gilchrist (1998) procuram incorporar as imperfeições
(fricções) do mercado de crédito nos modelos macroeconômicos tradicionais, para
melhorar sua habilidade para explicar flutuações cíclicas, permitindo, assim, aos
61
modelos padrão justificar porque pequenos choques (política monetária restritiva)
podem surtir largos efeitos reais, bem como, explicar as mudanças na extensão do
crédito e no spread entre taxa de juros para ativos arriscados e a taxa juros para
ativos livres de riscos (seguros).
2.3.2 O Canal do Empréstimo Bancário
De acordo com a “visão do crédito”, a política monetária também pode
afetar o prêmio de financiamento externo e a atividade produtiva através do efeito
que exerce sobre a decisão dos intermediários financeiros (bancos) em conceder
empréstimos.
Para Bernanke e Blinder (1988) a justificativa microeconômica para a visão
do crédito é a observação de que, num contexto de assimetria de informação, os
empréstimos dos intermediários financeiros tornam-se “especiais”. A habilidade
adquirida pelos bancos no processo de avaliação e seleção de candidatos aos
empréstimos e no monitoramento de sua performance os torna capaz de estender o
crédito para clientes que encontram dificuldades ou impossibilidade de obtê-lo no
mercado aberto.
Os bancos representam a principal fonte de intermediação de crédito na
maioria das economias e, por isso, se especializam em superar problemas de
informações e outras fricções relacionadas ao mercado de crédito. Se, por alguma
razão, a oferta de empréstimos dos bancos é interrompida, os tomadores de
empréstimos que são dependentes desses recursos (em geral pequenas e médias
firmas) não podem ser literalmente excluídos do crédito, mas eles estão virtualmente
certos de que incorrerão em custos para encontrar um novo credor e estabelecer
uma nova relação de crédito. Conseqüentemente, uma redução na oferta de crédito
bancário, relativo a outras formas de créditos, provavelmente, promoverá um
aumento no prêmio de financiamento externo e reduzirá a atividade real
(BERNANKE; GERTLER, 1995).
Esta lógica sugere um canal adicional para transmissão da política
monetária sobre a atividade produtiva, o qual vai além do tradicional efeito liquidez
que atua sobre o mercado de depósitos. Trata-se do canal do empréstimo bancário.
A questão mais controvertida em relação a esse canal de transmissão da política
62
monetária é se a atuação do Banco Central, pode, efetivamente, afetar a oferta de
empréstimos dos bancos.
A essência da visão do empréstimo bancário está na idéia de que o Banco
Central pode, por uma simples operação de mercado aberto, alterar o padrão de
comportamento em relação aos empréstimos realizados pelos intermediários
financeiros. Por exemplo, uma política monetária restritiva, ao promover uma
contração nas reservas e nos depósitos bancários, induz os bancos a reduzir sua
oferta de crédito e a aumentar o seu custo para os tomadores de empréstimos
banco-dependente. Isto sugere que, se existe um canal de empréstimo bancário
operante, as ações do Banco Central afetam, não apenas a taxa de juros dos títulos
no mercado aberto, mas também o spread entre a taxa dos empréstimos bancários e
a dos títulos do tesouro e, como conseqüência, afetam as decisões de investimento
e o produto agregado. Esquematicamente, os efeitos de uma política monetária
restritiva - considerando um canal de transmissão da política monetária via
empréstimos bancários operante - podem ser sumarizados como segue:
↓⇒
Y I spreads
bancários sempréstimo bancários depósitos M
Fazendo um contraponto com a “visão da moeda” convencional, Kashyap e
Stein (1993) chamam a atenção para o fato de o canal de transmissão da política
monetária via “empréstimos bancários” considerar a existência de três ativos na
economia – moedas, títulos públicos e empréstimos bancários – os quais diferem
entre si de modo significativo e, por conta disso, devem ser considerados
separadamente quando se procura analisar o impacto da política monetária. No
modelo de três ativos, a política monetária pode operar não somente por seu
impacto sobre a taxa de juros no mercado de títulos, mas também por seu
“independente” impacto sobre a oferta de empréstimos dos bancos. Assim, de
acordo com essa visão, o setor bancário passa a ocupar um papel especial, pois
além de criar moeda, faz empréstimos.
A incorporação de mais um ativo no modelo implica que o mercado de bens
passa a ser afetado por duas taxas de juros - a taxa de juros sobre títulos, conforme
apresentado pelo modelo convencional, e a taxa de juros sobre empréstimos. Assim,
pela nova abordagem, os choques monetários passam a afetar a demanda
63
agregada tanto direta como indiretamente. Diretamente na medida em que seu efeito
sobre a taxa de juros altera o custo do capital, e indiretamente através do impacto
sobre o custo e sobre a oferta de crédito.
Tomando como referência para a análise a estrutura apresentada por
Bernanke e Blinder (1988), constata-se que seu modelo transforma o arcabouço
padrão ao atribuir papel relevante para o crédito (empréstimo bancário) e para a
moeda, antes que somente para a moeda como faz a tradicional estrutura IS-LM.
Uma suposição explicita considerada nesse modelo é que os empréstimos e os
títulos são vistos como substitutos imperfeitos (devido a problemas informacionais),
o que permite ao modelo incorporar o mercado de créditos e de títulos em adição ao
mercado de moeda.
10
Considerando um modelo de três ativos (moeda, títulos e empréstimos), e a
hipótese de imperfeita substitutibilidade entre moeda e títulos, Bernanke e Blinder
(1988) assumem que ambos, os tomadores de empréstimos e os emprestadores,
escolhem a composição entre títulos e empréstimos de acordo com as taxas de juros
dos dois instrumentos de crédito visando otimizar seu portfolio.
Para a derivação do modelo, a curva LM permanece inalterada sendo
derivada de um conjunto de condições de equilíbrio de portfolio em um mundo com
dois ativos (moeda e títulos), semelhante ao modelo IS-LM convencional. Já, para a
derivação da curva de crédito ou “commodities and credit” (CC) (conforme
denominação dada pelos autores), procura-se incorporar o mercado de crédito na
curva IS tradicional. Assim, para entendermos como o mercado de empréstimos
opera, concentraremos a atenção na derivação da curva CC.
Consideramos, primeiramente, a função demanda por empréstimos,
representada por:
),,(
++
= yiLL
d
ρ
(2.13)
Onde, ρ, i e y representam, respectivamente, a taxa de juros dos
empréstimos, a taxa de juro dos títulos e a renda. A dependência da demanda por
empréstimos em relação à renda procura capturar a demanda por empréstimos para
10
Para a construção do modelo, Bernanke e Blinder (1988) seguiram a tradição de Tobin (1969) e
Brunner e Meltzer (1972).
64
transações, a qual pode surgir em função da necessidade de capital de giro ou de
liquidez. Os sinais indicam a relação de cada variável com respeito à demanda por
empréstimos.
Para entender a origem da função de oferta de empréstimos, considera-se
uma estrutura simplificada do balanço patrimonial dos bancos, representado por:
ATIVOS OBRIGAÇÕES
Reservas (R) Depósitos (D)
Títulos (
b
)
Empréstimos (
S
L )
Onde, as reservas (R) compreendem as reservas exigidas pela autoridade
monetária (
D
τ
) mais as reservas voluntárias (E), ou seja, EDR +
=
τ
.
Assim, somando a restrição dos bancos obtemos: )1(
τ
=++ DELB
Sb
.
Assumindo que a alocação dos fundos emprestáveis pelos bancos resulta de um
processo de otimização de seu portfolio e que a proporção desejada depende da
taxa de retorno dos ativos disponíveis (zero para as reservas voluntárias), nós
obtemos a função de oferta de empréstimos como segue:
)1(),(
τρλ
=
+
DiL
S
(2.14)
Equações semelhantes podem ser derivadas para
b
e E. Assim, a
condição de equilíbrio para o mercado de empréstimos estabelece que a demanda
por empréstimos se iguale a oferta de empréstimos (
Sd
LL
=
), da seguinte forma:
)1(),(),,(
τρλρ
= DiyiL (2.15)
O mercado monetário é descrito por uma curva LM convencional. Supõe-se
que os bancos mantém excesso de reservas (E) iguais a
)1()(
τ
ε
Di . Então, a oferta
de depósitos é igual as reservas bancárias (R) vezes o multiplicador monetário
65
[]
1
)1)(()(
+=
ττε
iim .
11
A demanda por depósitos surge do motivo transação e
depende da taxa de juros, da renda, e da riqueza total (a qual é constante e
conseqüentemente é omitida): D(i, y). Assim, temo:
RimyiD
d
)(),(
++
= (2.16)
Usando (2.16) para substituir D em (2.15) obtemos:
)1()(),(
τ
ρ
λ
= RimiL (2.17)
Então (2.15) pode ser resolvido para
ρ como uma função de i, y e R:
),,(
++
= Ryi
ρ
(2.18)
A equação (2.18) mostra que a taxa de juros dos empréstimos é
positivamente relacionada à taxa de juros dos títulos e à renda, mas inversamente
relacionada às reservas bancárias. Para resolver para a curva de demanda
agregada, Bernanke e Blinder (1988) usam a seguinte curva IS genérica:
),(
=
ρ
iYy (2.19)
e, finalmente, substituindo (2.18) em (2.19) obtemos:
)),,(,( RyiiYy
φ
= (2.20)
a qual, representa a curva “commodities and credit” (CC), assim denominada por
Bernanke e Blinder (1988) em deferência a Patinkin (1956). Esta, por sua vez,
representa uma curva IS modificada pela incorporação do mercado de crédito.
11
Para a derivação do multiplicador temos:
RRE
D
im
+
=)(
.:
[]
DD
D
im
ττε
+
=
)1)((
)(
.:
[]
1
)1)(()(
+=
ττε
iim .
66
Conforme Bernanke e Blinder (1988), a curva CC é negativamente inclinada
assim como o é a curva IS, porém, a curva CC é deslocada pela política monetária
(R) e por choques no mercado de crédito que afetam as funções L(.) ou λ(.),
enquanto a curva IS não reage a este tipo de estímulo. A principal diferença entre
esta abordagem e a abordagem tradicional é que R aparece na curva CC, mas não
está presente na curva IS. As curvas CC e LM são mostradas na Figura 6.
Figura 6 - Curvas LM e “Commodities-Credit (CC)”.
Fonte: Bernanke e Blinder (1988, p. 4)
É importante considerar que os choques convencionais operam, no modelo
que avalia o canal do crédito, de modo equivalente ao que ocorre no modelo IS-LM.
A única diferença, apontada por Bernanke e Blinder (1988), é que uma política
monetária, ao promover alterações nas reservas bancárias, pode gerar efeitos
ambíguos sobre a taxa de juros, uma vez que, no modelo de crédito, alterações no
nível das reservas promovem mudanças conjuntas nas curvas CC e LM.
A Figura 7 ilustra, conjuntamente, a curva CC, IS e LM, e os movimentos
derivados de uma política monetária restritiva. Como resultado de uma redução nas
reservas verifica-se que, a queda na oferta de moeda desloca a curva LM para a
esquerda, para LM’ e, em adição, o volume de crédito se reduz, com a curva CC
deslocando-se para CC’. Esse movimento na oferta de crédito promove uma piora
nas condições de investimento por parte das firmas e, como conseqüência, uma
significativa redução no produto (y* para y
cc
), sendo que, o efeito sobre a taxa de
juros pode ser ambíguo.
y
y*
i
*
0
i
CC
LM
67
A curva IS tradicional é incorporada na figura para efeito de comparação,
nota-se que ela é menos inclinada do que a curva CC. Se a hipótese de
substitutibilidade perfeita entre moeda e títulos fosse satisfeita, apenas a curva LM
seria deslocada, uma vez que a curva IS não sofreria efeitos da política monetária e,
como conseqüência, o efeito sobre a renda seria menor (y* para y
IS
) e ocorreria uma
elevação na taxa de juros (i* para i
IS
).
Figura 7 - O Canal do Crédito da Política Monetária.
Fonte: Freixas e Rochet (1997, p. 116).
Como é possível verificar, a política monetária pode ter significativos efeitos
reais, que não são completamente explicados pelo aumento na taxa de juros no
mercado aberto, mas que podem ser explicados pela decisão dos bancos em
relação ao volume de empréstimos que decidirão ofertar. O ponto chave aqui é que
o efeito real de um aumento na taxa de juros pode ser amplificado pelo canal do
empréstimo bancário além do que poderia ser predito, caso a política monetária
fosse transmitida somente pelo tradicional canal da taxa de juros (custo do capital).
Como a taxa de juros aumenta, após uma restrição monetária, os
investimentos caem não somente devido ao aumento no custo de capitais, que
forçam grande parte das firmas (inclusive as de grande porte) a cortarem sua
demanda por investimentos, mas também devido a uma redução na oferta de
empréstimos, fundamentalmente, para firmas de pequeno e médio porte, o que
acaba acelerando o declínio da atividade econômica.
y
* y
y
IS
0
y
CC
i
i
IS
i
*
LM’
LM
IS
CC
CC’
68
Assim, a existência do canal do empréstimo bancário, contribui para reforçar
o efeito do aumento na taxa de juros sobre o investimento por gerar um adicional
declínio nos gastos com investimentos das pequenas e médias firmas, tornando a
política monetária mais potente em relação ao caso em que apenas o canal da taxa
de juros é operante.
Kashyap e Stein (1993) procuram estabelecer uma distinção entre o “canal
monetário” padrão e o “canal do crédito” via empréstimos bancários, tomando um
exemplo extremo, onde os agentes percebem os dois ativos, por eles mantidos –
moeda e títulos – como substitutos perfeitos. Se este for o caso, uma redução nas
reservas, que induz a um declínio na oferta de moeda, terá um impacto insignificante
sobre a taxa de juros dos títulos mantidos. Assim, o canal de transmissão da política
monetária, através da taxa de juros, torna-se muito fraco. Por outro lado, a redução
nas reservas pode ainda promover importantes efeitos reais se, por conta disso, os
bancos forem levados a cortar o crédito. Uma vez que o custo dos empréstimos
relativo ao dos títulos aumenta, aquelas firmas que dependem do empréstimo
bancário (por que não dispõe de acesso ao mercado público de títulos) serão
levadas a reduzir e/ou cortar seus investimentos.
Estudos empíricos que tem concentrado atenção no canal do empréstimo
bancário como mecanismo de transmissão da política monetária, sugerem algumas
condições que devem ser satisfeitas com vistas a sustentar esta visão, a saber:
(1) Depósitos bancários e fundos não intensivos em reservas, tais como
certificados de depósitos (CDs) e commercial papers (CPs), não podem ser
substitutos perfeitos no passivo dos bancos, implicando que o Banco Central deve
estar apto a restringir a habilidade dos bancos em emprestar por meio de mudanças
nas reservas ou na taxa básica de juros. Isto equivale dizer que os intermediários
financeiros como um todo, não estarão aptos a isolar completamente suas atividades
de empréstimos dos choques sobre as reservas. Neste caso, o teorema de
Modigliani-Miller (1958) será violado para os bancos, uma vez que, a mudança na
composição de seus passivos, induzida pelo Banco Central, afeta o seu
comportamento real ou sua alocação ótima de crédito, isto é, afeta também a
composição de seus ativos. (BERNANKE; BLINDER, 1988; KASHYAP; STEIN,
1993, 1994; CECCHETTI, 1995).
(2) Os empréstimos bancários devem representar uma importante fonte de
recursos para algumas classes de firmas – principalmente para aquelas que são
69
banco-dependente, geralmente representadas por firmas de pequeno porte ou de
baixo valor líquido. E, não devem existir substitutos perfeitos para esta modalidade
de crédito, tais como títulos de mercado aberto [commercial papers (CPs) e
debêntures] ou outras fontes de fundos quaisquer. O teorema de Modigliani-Miller
(1958) será violado para este grupo de firmas, uma vez que, a mudança na
composição de seus passivos, induzida pelo deslocamento na oferta de crédito
bancário, afeta sua atividade real na medida em que interfere nas suas decisões de
produção e investimento. (BERNANKE; BLINDER, 1988; KASHYAP; STEIN;
WILCOX, 1993; ROMER; ROMER, 1990; KASHYAP; STEIN, 1993, 1994).
(3) Os tomadores de empréstimos dependentes dos bancos (pequenas
firmas ou firmas de baixo valor líquido) devem apresentar limitações em substituir
crédito para outros intermediários financeiros. (BERNANKE; BLINDER, 1988;
GERTLER; GILCHRIST, 1993, 1995; CHRISTIANO; EICHENBAUM; EVANS 1996).
(4) Deve existir ajustamento imperfeito de preços que impeçam que
qualquer choque monetário seja neutro no curto prazo. Se os preços se ajustam sem
atrito, uma mudança nominal nas reservas será amortecida por uma mudança
proporcional nos preços de modo que, o balanço patrimonial dos bancos e das
firmas permanece inalterado em termos reais. Neste caso, a política monetária não
promove efeitos reais seja por meio do canal convencional, seja pelo canal dos
empréstimos bancários. Portanto, essa suposição compreende uma condição
necessária a ser incorporada nos modelos de ciclos, com flutuações monetárias,
uma vez que se trata de uma condição comprovada empiricamente. (BERNANKE;
BLINDER, 1988; KASHYAP; STEIN, 1993, 1994, 1997; BERNANKE; GERTLER;
GILCHRIST, 1998).
Essas condições estabelecem, então, que o “canal do empréstimo bancário”
é operante desde que os empréstimos concedidos pelos bancos sejam relevantes,
particularmente, no que se refere aos efeitos que promovem sobre as pequenas e
médias empresas banco-dependente.
Nesse contexto, o papel especial desempenhado pelos bancos é
potencializado se considerarmos que os empréstimos bancários diferem de modo
significativo das emissões públicas de títulos no mercado aberto (dado que esses
dois ativos são considerados substitutos imperfeitos). E, pelo fato de as pequenas e
médias empresas terem de enfrentar problemas de informação assimétrica no
mercado financeiro e, por conta disso, dependerem, especialmente, dos
70
empréstimos bancários como principal fonte de financiamento externo (pois torna
proibitivamente oneroso, para este tipo de firmas, emitirem títulos no mercado
aberto).
Importante destacar que, se as duas primeiras condições para a existência
do canal do empréstimo bancário falharem em se manter, os empréstimos e os
títulos tornam-se substitutos perfeitos, e retornaríamos, assim, a visão monetária
pura de transmissão da política monetária.
Kashyap e Stein (1993), utilizando evidências para os Estados Unidos,
examinam quatro aspectos que poderiam conceber um enfraquecimento ou, até
mesmo, promover uma ruptura da ligação entre as reservas e a oferta de crédito, o
que poderia comprometer a habilidade do Banco Central em afetar a oferta de
empréstimos pelos intermediários e, conseqüentemente, frustrar o mecanismo de
transmissão monetária através do empréstimo bancário:
(1) a existência de intermediários não bancários, como substitutos perfeitos
para os bancos;
(2) a habilidade dos bancos para reagir a mudanças nas reservas, ajustando
seus estoques de segurança (ativos líquidos) antes que a oferta de empréstimos
(ativos ilíquidos);
(3) a habilidades dos bancos em captar fundos mediante fontes de
financiamento que não exijam a manutenção de reservas; e,
(4) a existência de requerimentos baseados no risco de capital.
Vejamos os argumentos que contradizem cada um dos aspectos
considerados, e que corroboram para reforçar as condições supra citadas, que dão
sustentação para o canal de transmissão via empréstimos bancários.
No que se refere ao primeiro aspecto, para que este atrapalhe a atuação do
Banco Central, seria necessário que os custos incorridos, quando os tomadores de
empréstimos mudam de um emprestador para outro, fossem desprezíveis. Trabalhos
teóricos e evidências empíricas levam a crer que tal suposição é inapropriada, o que
existe na verdade é um significativo grau de lock-in (aprisionamento) entre os
bancos e seus clientes, o que implica que os intermediários não bancários não são
substitutos perfeitos para os bancos. Além disso, o crédito bancário tem sido a
principal fonte de financiamento para as firmas (mais importante do que os
commercial papers que seriam os substitutos mais próximos do crédito bancário).
71
No que se refere ao segundo aspecto, os bancos poderiam querer se
desfazer de seus estoques de segurança líquidos (estoque de títulos), ou aumentar
o financiamento através de outras fontes (CDs, emissão de ações, dividas de longo
prazo, etc.) que não a de depósitos, para não comprometer sua carteira de créditos.
Porém, os títulos de mercado aberto não funcionam como um amortecedor (buffer)
perfeito para a carteira de empréstimos dos bancos contra os choques nas reservas.
Argumenta-se que existe um trade-off entre títulos (liquidez) e empréstimos
(retorno), implicando que deve existir uma composição ótima de título e empréstimos
que os bancos devem manter em carteira para minimizar riscos de iliquidez e,
maximizar o retorno esperado. Isso sugere que os bancos não estão aptos a
protegerem suas carteiras de créditos contra choques nas reservas, através de
variações irrestritas na carteira de títulos.
No que se refere ao terceiro aspecto, essa possibilidade é apresentada por
Romer e Romer (1990), na medida em que eles assumem que a oferta de CDs
disponíveis para qualquer banco é perfeitamente elástica a uma taxa corrente de
mercado, isto é, um banco pode emitir quantos CDs desejar sem pagar qualquer
prêmio extra por isso. Porém, existem razões que desmistificam essa prática. Como
as grandes emissões de CDs não são protegidas por seguro-depósito, os
investidores devem preocupar-se com a qualidade dos bancos emissores. Se existe
algum grau de assimetria de informação entre bancos e investidores, o problema
padrão de seleção adversa pode ocorrer. Isso faz com que os investidores passem a
exigir prêmios de financiamento externo para comprar os papéis emitidos pelos
bancos, implicando custos marginais crescentes no montante das emissões, relação
esta semelhante a que ocorre entre firmas e credores.
Kashyap e Stein (1993, 1994) argumentam que as firmas bancárias podem
estar sujeitas ao mesmo tipo de imperfeição, no mercado de capitais, enfrentada
pelas firmas não financeiras (isto é pequenas e médias firmas). De acordo com sua
visão, se o canal do empréstimo bancário é efetivo, uma contração monetária pode
levar os pequenos bancos a cortar a oferta de empréstimos numa proporção maior
que a dos grandes bancos, refletindo a hipótese que pequenos bancos são mais
prováveis para enfrentar altos custos em atrair fontes de recursos alternativos para
compensar sua perda de reservas. Portanto, nessa conjuntura os bancos não tem
acesso perfeito (ilimitado) aos fundos não intensivos em reservas.
72
Por fim, considerando o último aspecto, nós argumentamos que o mix de
ativos dos bancos (empréstimos e títulos) representam um problema de escolha
ótima de alocação de portfolio, o que implica que o banco não desejaria promover o
ajustamento, frente a um choque monetário, somente através da compra e venda de
seus ativos líquidos, ou seja, com o intuito de preservar a combinação ótima, o
banco desejaria, também, reduzir o montante de empréstimos. Porém, os
requerimentos baseados no risco de capital (do tipo apregoado pelo acordo de
Basiléia) podem restringir a margem de manobra dos bancos, na medida em que
impõe a eles a condição de estender seus empréstimos em conformidade com seu
nível de patrimônio líquido, o que equivale a uma condição binding que imporia aos
bancos a necessidade de fazer o ajustamento marginal apenas através da compra e
venda de seus ativos líquidos (títulos). Isso exigiria a manutenção de mais títulos
que o necessário para fazer frente à proposta de liquidez. Sob estas circunstâncias,
a política monetária não teria nenhum efeito sob o desejo dos bancos em alterar
suas aplicações em empréstimos. Nesse contexto, a condição necessária para que a
política monetária interfira nas decisões de empréstimos dos bancos é que os
requerimentos, baseados no risco de capital, não sejam binding mesmo quando
existam regras que limitem o nível de alavancagem dos bancos.
Estes argumentos, de um modo geral, contribuem para reforçar a condição
número um, a qual estabelece que o Banco Central deve estar apto a restringir a
habilidade dos bancos em emprestar por meio de mudanças nas reservas ou na taxa
básica de juros.
No que diz respeito à validade da segunda e da terceira condições, que
contribuem para dar sustentação ao mecanismo de transmissão via empréstimo
bancário, considera-se a relevância do crédito bancário para um certo grupo de
firmas (firmas jovens e de pequeno porte), destacando que os bancos são mais
eficientes do que os intermediários não bancários (mercado aberto) no que se refere
à redução da assimetria de informação e dos custos de monitoramento. Além disso,
distingue-se o fato de que os bancos, ao estreitarem relações com seus clientes,
acabam tendo acesso a valiosas informações, as quais não estarão disponíveis aos
demais intermediários financeiros. Isso leva a crer que as firmas acabam por
estabelecer um grau de confiança com um particular intermediário com o qual
mantêm relações, isto é, estabelecem um grau de lock-in que cria uma certa
resistência (custos) para eventuais mudanças de intermediário. Portanto, se o efeito
73
lock-in existir efetivamente, ele pode ter importantes conseqüências na transmissão
da política monetária, tornando o canal do empréstimo bancário mais potente
(KASHYAP; STEIN, 1993, 1994).
Tomando em conta o que foi exposto, é importante salientar que a
assimetria de informação desempenha um papel de destaque, tanto no que se refere
a sua habilidade para afetar a capacidade de alguns bancos para levantar fundos
em situações de baixa liquidez de mercado, quanto à de gerar um conjunto de
clientes cativos. E nesse ambiente, devido a sua vantagem comparativa em coletar e
processar informações, bem como sua capacidade de estabelecer relações de longo
prazo com seu clientes, os bancos são os únicos aptos para oferecer créditos para
certos grupos de clientes.
Se esse grupo de clientes banco-dependente for quantitativamente
importante, num ambiente em que opera o mecanismo de transmissão via canal de
empréstimos bancários, uma queda na oferta de fundos, derivados de um choque de
política monetária, promoverá efeitos negativos sobre a demanda agregada.
Evidências empíricas internacionais mostram que, encontrar fontes
alternativas de crédito representa um processo difícil, particularmente, se levarmos
em conta as firmas de pequeno porte. Conseqüentemente, uma redução na oferta
de crédito, que afeta um número significativo de empresas banco-dependente, induz
as firmas a reduzirem suas atividades, as quais são, geralmente, trabalho intensivo,
o que implica em uma redução do nível de emprego. Desde que, o aumento no
desemprego é fortemente correlacionado com a confiança do consumidor, a
demanda agregada cai, reforçando a fase declinante do ciclo econômico. Nessa
linha de raciocínio, Hancock e Wilcox (1998), por exemplo, comprovam que, bancos
que se engajam em atividades intensivas de crédito, ao reduzirem sua oferta de
empréstimos, promovem um significativo impacto na atividade econômica, medida
em termos de desemprego, salário real, produto e número de falências.
2.4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este capítulo procurou apresentar uma visão geral sobre os mecanismos de
transmissão da política monetária, com ênfase nas diferenças de concepção
apresentadas pelos proponentes da “visão da moeda” e da “visão do crédito”. O
principal propósito consistiu em evidenciar as diferenças entre as duas linhas de
74
pensamento, com vistas a destacar os argumentos que procuram justificar a
relevância do canal do crédito como um canal que contribui para intensificar a
transmissão da política monetária sobre a economia real, bem como, os argumentos
que oferecem incentivos para que a autoridade monetária passe a considerar esse
canal de transmissão com vistas a aumentar a eficiência da política monetária.
Como se pode constatar, as referências teóricas oferecem argumentos
relevantes em favor da idéia de que o crédito constitui um componente importante
que deve ser levado em consideração em estudos que procuram identificar a
relevância e a eficiência do mecanismo de transmissão da política monetária.
Além disso, os argumentos teóricos sugerem que o canal do crédito
constitui um importante canal de transmissão de política monetária, particularmente,
em ambientes econômicos que apresentam, como principal característica, uma
elevada dependência do crédito como importante fonte de financiamento da
atividade produtiva, ou seja, onde as empresas são mais banco dependentes. Para
que isso seja possível, a assimetria de informação no mercado financeiro e os
problemas que dela derivam representam condição fundamental para a existência e
para a intensidade da transmissão da política monetária via canal do crédito.
Ao destacar a importância da assimetria de informação no mercado
financeiro, as diversas teorias que tratam do tema abrem espaço para que se leve
em conta aspectos institucionais específicos de cada país, uma vez que, estes
tendem a ser de grande relevância tanto para se entender a diferença no
desenvolvimento do mercado financeiro, em especial do mercado de crédito, como
para se entender as diferenças na intensidade na transmissão da política monetária
através do canal do crédito em diferentes países.
Dados os aspectos teóricos tratados até então, nos próximos capítulos
procuraremos consolidar a relevância teórica do canal do crédito através do
levantamento das principais evidências empíricas que procuram identificar a
relevância do mecanismo de transmissão da política monetária via canal do balanço
patrimonial e do empréstimo bancário para diferentes países e, em especial, para o
Brasil. Também, na seqüência, procuraremos identificar a relevância de aspectos
institucionais para justificar o grau de desenvolvimento do mercado financeiro (de
capitais e de crédito) no Brasil, bem como, sua contribuição para entender a
relevância do mecanismo de transmissão da política monetária na economia
brasileira.
75
3 EVIDÊNCIAS EMPÍRICAS SOBRE O MECANISMOS DE TRANSMISSÃO DA
POLÍTICA MONETÁRIA VIA CANAL DO CRÉDITO
Neste capítulo, será apresentado um resumo dos principais trabalhos
empíricos realizados referentes ao canal do crédito, bem como, as principais
conclusões e implicações obtidas. Estas pesquisas procuraram investigar a
relevância do “canal do crédito” como mecanismo de transmissão da política
monetária. É importante considerar que a maior parte das pesquisas foram
realizadas, tomando como referência para análise, as economias desenvolvidas,
sendo que, parte significativa está, particularmente, relacionada ao caso da
economia americana.
Primeiramente, consideramos as evidências empíricas que procuram
investigar a relevância do mecanismo de transmissão da política monetária via canal
do balanço patrimonial. Num segundo momento, concentraremos a atenção nas
evidências empíricas do mecanismo de transmissão via empréstimo bancário. Por
fim, consideraremos as pesquisas realizadas sobre o referido tema, para o caso
específico do Brasil.
3.1 EVIDÊNCIAS EMPÍRICAS PARA O CANAL DO BALANÇO PATRIMONIAL
As pesquisas que concentram atenção no canal do balanço patrimonial têm
como principal propósito investigar as reações da economia real frente aos choques
macroeconômicos (essencialmente choques monetários), atendo-se
fundamentalmente às diferentes reações apresentadas no âmbito das firmas por
conta dos efeitos que a política monetária exerce sobre sua estrutura patrimonial. A
maior parte dos testes empíricos utilizou dados macroeconômicos referentes a
séries temporais ou dados desagregados de cross-section no âmbito das firmas.
O trabalho seminal que conferiu importância ao canal do crédito - tendo
como foco de análise o balanço patrimonial das firmas - foi desenvolvida por Fisher
(1933) para analisar o período entre 1930-1933, referente a Grande Depressão nos
Estados Unidos.
A tese defendida por Fisher (1933) era que, a combinação de dívida elevada
e deflações de preços ajudam a explicar a gravidade e as proporções tomadas pela
76
crise. Para ele, a combinação de um elevado grau de endividamento do setor
privado e a redução da atividade econômica precipitaram uma onda de falências, o
que contribuiu para acelerar ainda mais a queda na atividade econômica e promover
uma significativa redução no nível geral de preços. Como os grandes estoques de
dívida eram contratualmente fixados em termos nominais, um declínio no nível de
preços aumentou o valor das obrigações contratuais em termos reais (aumentou a
carga da dívida), mas não aumentou, na mesma proporção, o valor real dos ativos
das firmas. Deste modo, a deflação de preços, além de provocar uma deterioração
no balanço patrimonial das firmas, piorando sua situação financeira, promoveu uma
redistribuição de riqueza em favor dos credores. Como conseqüência, por conta do
corte nos investimentos e do aumento no número de falências, o produto reduziu-se
significativamente, intensificando ainda mais a crise. Essa tese apresentada por
Fisher (1933) é reconhecida como teoria de debt deflation.
Na mesma linha de Fisher (1933), um dos mais influentes estudos, que teve
como principal propósito, examinar a relevância do canal de transmissão do balanço
patrimonial para explicar a queda do produto americano, durante a Grande
Depressão, foi desenvolvido por Mishkin (1978). Ao investigar movimentos nos
ciclos de negócios durante esse período, a análise de Mishkin (1978) combina uma
abordagem keynesiana, na medida em que enfatiza mudanças na demanda em
setores particulares da economia, bem como, uma abordagem monetarista na
medida em que considera eventos ocorridos no mercado financeiro como críticos
para o entendimento da gravidade da crise.
Em sua análise, Mishkin (1978)
concentra-se, especificamente, na mudança do balanço patrimonial das famílias.
Fundamentando-se em teorias dos gastos em consumo - que postulam uma ligação
estreita entre movimentos no balanço patrimonial e na demanda agregada (“hipótese
do ciclo de vida” de Ando e Modigliani (1963) e da “hipótese de liquidez”) -, suas
aplicações empíricas demonstraram que o comportamento do balanço patrimonial
das famílias constituíram um importante mecanismo de transmissão para explicar a
severidade no declínio da demanda agregada durante o período de crise. As
evidências indicam que um aumento no endividamento, combinado com uma queda
no valor dos ativos financeiros mantidos pelas famílias, ocorridas durante os
primeiros anos da depressão, contribuíram para arrefecer a demanda dos
consumidores de ativos tangíveis, ocasionando uma profunda queda nos gastos em
77
bens de consumo duráveis e em residências, resultando em graves conseqüências
adversas sobre o desempenho da atividade econômica (entre 1929 e 1933).
Bernanke (1983), por sua vez, atribuiu a responsabilidade pela severidade e
persistência da Grande Depressão ao aumento no custo real do crédito que,
segundo ele, teria sido provocado tanto pelo rompimento efetivo no mercado de
crédito (causado pelo pânico bancário 1930-1933), quanto pela crise da dívida
[analisada de acordo com os padrões apresentados por Fisher (1933)]. Sua
premissa básica é que - devido ao fato de mercados financeiros serem incompletos -
a intermediação entre algumas classes de tomadores de empréstimos e
emprestadores exige relacionamentos não triviais e custosos serviços de coleta de
informações. Como o custo de intermediação aumenta, para alguns tomadores de
empréstimos (especialmente famílias, proprietários rurais e pequenas empresas) o
crédito torna-se caro e de difícil acesso. Deste modo, ele afirma que o efeito da
restrição no crédito sobre a demanda agregada ajuda a transformar o que era para
ser apenas uma severa queda de atividade em uma depressão profunda. Ele conclui
que um modelo padrão de transmissão monetária poderia explicar uma extensa
queda no produto, porém, um significativo montante do declínio no produto não pode
ser explicado puramente recorrendo a influência monetária.
A interpretação de Bernanke (1983) tornou-se parte de uma explicação não
convencional para a profundidade e persistência da Grande Depressão nos Estados
Unidos, e uma das mais persuasivas evidências para a visão de que mudança na
oferta de empréstimos pode ser significativamente importante para a determinação
do produto.
Os resultados de pesquisas que utilizam dados agregados de série de
tempo, como os apresentados por Fisher (1933), Mishkin (1978) e Bernanke (1983),
em termos gerais, convergem com as predições teóricas estabelecidas pelo canal do
crédito. Porém, algumas dificuldades acompanham este tipo de análise.
Como observam Kashyap e Stein (1993), uma dificuldade é que existem
poucos episódios onde a política monetária muda, ou sofre alterações tão
dramáticas. Em quase todos os casos as mudanças ocorrem próximas às
recessões, tal que, muitas das correlações discutidas podem não se tornar evidentes
ao contrastar o comportamento durante as fases de prosperidade e decadência do
ciclo de negócios. Para dirimir este tipo de ambigüidade, recentes pesquisas
78
passaram a dar maior atenção para dados de cross-section, visando obter maior
transparência para os resultados.
Kashyap, Lamont e Stein (1994), conduzem um conjunto similar de testes
usando dados desagregados ao nível da firma (cross-section), tomando como
parâmetro para análise seu nível de estoques. Eles concentram atenção na
diferença entre as firmas comerciais, que tem acesso aos mercados de capitais, e as
que não dispõe dessa facilidade. Sua principal hipótese é que as firmas que não tem
acesso ao mercado de capitais são pequenas, comparadas àquelas que dispõe de
acesso e, portanto, são banco-dependente.
1
Pelo fato de existir um conjunto de
evidências que comprovam que a política do FED foi restritiva no período que
antecede 1982, os pesquisadores concentram seu estudo no exame da recessão de
1982. Eles constatam que, durante este episódio, o movimento dos estoques das
firmas que não dispunham de acesso ao mercado de crédito mostraram-se muito
mais dependes de seus recursos próprios (caixa mantido), do que o movimento nos
estoques das firmas que dispunham de livre acesso a esses mercados. Portanto, as
firmas de pequeno porte eram forçadas a reduzir seus investimentos em estoques,
numa proporção maior, quando comparado ao movimento nos estoques das firmas
de grande porte. Em contrapartida, em períodos subseqüentes (períodos normais),
constata-se pouca relação entre o caixa mantido e movimentos nos estoques para
as pequenas firmas. Portanto, na pesquisa desenvolvida por Kashyap, Lamont e
Stein (1994), as evidências corroboram com as predições teóricas de que firmas
com restrições no acesso ao crédito são mais sensíveis a restrições monetárias do
que as que possuem livre acesso ao mercado de capitais.
Na mesma linha de raciocínio desenvolvido por Kashyap, Lamont e Stein
(1994), estão as recentes pesquisas realizadas por Gertler e Gilchrist (1995) e Oliner
e Rudebush (1996a), as quais também contribuem para dar sustentação empírica à
visão do canal do balanço patrimonial. Ambas utilizam um longo período amostral,
as quais foram extraída de várias edições do Quarterly Financial Report for
Manufacturing, Mining and Trade Corporations (QFR), um survey de
aproximadamente 7000 firmas manufatureiras americanas. O propósito das
1
Existe um rico conjunto de implicações entre as firmas que são mascaradas quando se utilizam
dados de série de tempo em nível agregado. Um exemplo é que nem todas as firmas são banco-
dependente, de modo que nem todos os efeitos previstos teoricamente atigem de forma homogênea
todas as firmas. Assim, é provável que a discriminação entre firmas e a utilização de dados micro
podem ser usados para complementar os resultados obtidos pela utilização de dados agregados.
79
pesquisas é contrastar o desempenho de pequenas e grandes firmas, sob a
hipótese de que as pequenas firmas são banco-dependentes.
Gertler e Gilchrist (1995) analisam a reação das pequenas e grandes firmas
do setor industrial americano frente a contrações monetárias, utilizando como
indicador de política monetária Romer dates e a taxa dos Federal Funds.
Primeiramente, eles mostraram que os empréstimos para pequenas firmas declinam
significativamente quando a taxa de juros sofre um aumento, o que não acontece
com as grandes firmas, pois ocorre um redirecionamento do crédito para estas (flight
to quality). Uma explicação para tal comportamento é que algumas firmas grandes
emitem commercial paper para financiar a concessão de crédito para pequenos
clientes, os quais tem seu crédito extinto pelos bancos.
Uma segunda evidência encontrada por Gertler e Gilchrist (1995) é que o
investimento em estoques das pequenas firmas é muito mais sensível aos choques
monetários do que o investimento das grandes. Por fim, concluem que a queda do
investimento das pequenas firmas representa a principal causa do declínio da
atividade industrial durante as recessões.
Oliner e Rudebush (1996b), nessa mesma linha de raciocínio, procuram
investigar mudanças no comportamento dos investimentos de pequenas e grandes
firmas após uma mudança na política monetária. Supõem que, sob um broad credit
channel, os gastos com investimentos estarão mais proximamente relacionados com
as fontes de financiamento interno durante a restrição na política monetária, do que
em outros momentos. Esta ligação reflete o elevado prêmio de financiamento
externo exigido após uma contração monetária.
Em contrapartida, na ausência do broad credit channel, Oliner e Rudebush
(1996b) supõem que a ligação entre os fundos internos e os gastos com
investimentos mantêm-se constantes. Como evidências, mostram que o
investimento em ativos fixos das pequenas firmas é mais sensível à disponibilidade
de fundos internos, vis-à-vis ao investimento das grandes firmas, e que essa
sensibilidade aumenta significativamente nos períodos de contração monetária. Esse
efeito não se verifica nos momentos de expansão monetária, o que contribui para
fortalecer o argumento de que o broad credit channel amplifica os efeitos das
contrações monetárias.
Bernanke, Gertler e Gilchrist (1998), por sua vez, desenvolvem um modelo
de equilíbrio geral dinâmico que incorpora fricções no mercado de crédito, visando
80
entender como imperfeições nesse mercado interferem na flutuação dos ciclos de
negócios, do ponto de vista quantitativo e qualitativo. O modelo representa uma
síntese das principais abordagens desenvolvida na literatura. Uma particularidade
interessante desse modelo é exibir um “acelerador financeiro”, através do qual o
desenvolvimento endógeno no mercado financeiro trabalha para amplificar e
propagar choques para a economia real. Além disso, o modelo procura adicionar
várias características que são designadas para melhorar a relevância empírica.
Primeiro, incorporam a moeda e a rigidez de preços, o que permite estudar como
fricções no mercado de crédito podem influenciar na transmissão da política
monetária. Em segundo lugar, permite a utilização de defasagens no investimento o
que possibilita gerar uma forma curva para a dinâmica do produto e um tempo de
defasagem entre o preço dos ativos e o investimento, tornando o modelo consistente
com o comportamento nos dados. Por fim, permite uma heterogeneidade entre as
firmas para capturar o fato de que os tomadores de empréstimos têm acesso
diferenciado ao mercado de capitais.
Sob razoável parametrização do modelo, Bernanke, Gertler e Gilchrist
(1998) concluem que o acelerador financeiro tem uma significativa influência na
dinâmica dos ciclos de negócios, o que vem agregar evidências favoráveis ao canal
do balanço patrimonial de transmissão da política monetária.
Como se pode constatar, as evidências empíricas, em termos gerais, tem
sido bastante convincentes, uma vez que, os resultados obtidos convergem com os
argumentos propostos pela teoria do canal do balanço patrimonial.
No Quadro 1 apresentaremos, de uma forma sucinta, os principais trabalhos
que concentraram a atenção especial no canal do balanço patrimonial, procurando
destacar o período de análise, a metodologia e variáveis utilizadas, bem como as
principais conclusões obtidas.
81
Quadro 1 - Sumário da Literatura Empírica para o Canal do Balanço
Patrimonial
AUTOR
(ANO)
PAÍS / DATA /
FREQUÊNCIA
METODO DE
ESTIMAÇÃO
VARIÁVEIS
UTILIZADAS
RESULTADOS OBTIDOS
Fisher
(1933)
EUA
Grande Depressão
(1930-1933)
Análise
Descritiva
Dívida do Setor
Privado
O autor argumenta que a combinação de dívida
elevada e deflação de preços fora responsável
pela severidade da Grande Depressão (teoria de
debt-deflation). Por um lado, diante do elevado
endividamento do setor privado, a
desaceleração dos negócios no final dos anos
1920 precipitou uma onda de falências que
acabaram intensificando a própria
desaceleração. Por outro lado, como o grande
estoque de dívida tinha valor nominal fixo, a
deflação de preços, na medida em que
aumentou o valor real do estoque da dívida,
provocou uma forte redistribuição de riqueza em
favor dos credores e a deterioração da saúde
financeira dos devedores, que foram forçados a
cortar investimentos correntes e a postergar
gastos futuros, igualmente intensificando a crise.
Os resultados obtidos são favoráveis ao
mecanismo de transmissão do canal do balanço
patrimonial.
Frederic
Mishkin
(1978)
EUA
Grande Depressão
(1929-1941)
Análise
descritiva e
estimação de
equações de
regressão
(MQO).
Endividamento das
famílias, volume de
ativos financeiros
detidos pelas
famílias, valor
líquido das
unidades
familiares, volume
de empréstimos
segurados,
hipotecas, crédito
ao consumidor,
volume de
empréstimos
bancários, produto
agregado.
O significativo aumento do endividamento das
famílias em 1929, combinado com a deflação de
preços ocorrida entre 1929 e 1933 (as quais
contribuíram para aumentar o fardo de
endividamento), e o crash no preço das ações
de 1929, e seu contínuo declínio nos anos
seguintes, são vistos como fatores
determinantes para a intensidade do declínio na
demanda agregada e, portanto, fatores críticos
para a significativa contração econômica
registrada. Isso porque promoveram efeitos
adversos sobre a valorização dos ativos
financeiros das famílias e, conseqüentemente,
sobre o valor líquido de seu balanço patrimonial.
Devido a ligação entre o preço das ações
ordinárias e a política monetária, as forças
monetárias foram identificadas como um
importante fator para a gravidade da crise. A
análise de Mishkin (1978) sugere que a
abordagem do balanço de pagamentos prove
importantes subsídios para o melhor
entendimento da severidade da Grande
Depressão.
Ben
Bernanke
(1983)
EUA
Grande Depressão
(1930-1933)
Análise
descritiva e
estimação de
equações de
regressão
para o produto
(MQO).
Ativos e passivos
de empresas e
bancos falidos
durante a Grande
Depressão.
O autor mostra que o principal responsável pela
propagação e severidade da Grande Depressão
foi o aumento do custo real do crédito, que teria
sido provocado tanto pela crise bancária de
1930 – 1933 (metade dos bancos americanos
faliram no período), que reduziu a eficiência da
intermediação financeira, como pela crise da
dívida. A alta do custo do crédito atingiu
principalmente os tomadores mais dependentes
do crédito bancário (famílias, agricultores e
pequenas empresas).
Anil
Kashyap,
Owen
Lamont e
Geremy
Stein
(1994)
EUA
Recessão de
(1981-1982)
Cross-
section/VAR
Acesso ao Crédito
(rating)
Mostram que as firmas com acesso ao mercado
de capitais conseguiram obter recursos para
financiar o acúmulo de estoques indesejados
durante a recessão de 1981 – 1982. Por outro
lado, as firmas sem acesso tornaram-se muito
mais dependentes dos escassos recursos
internos, sendo, por isso, forçadas a reduzir o
investimento em estoques. As evidências
comprovam as previsões teóricas de que firmas
com restrição de crédito são mais sensíveis aos
arrochos monetários do que as que possuem
acesso ao mercado de capitais.
82
Quadro 1 - Sumário da Literatura Empírica para o Canal do Balanço
Patrimonial
AUTOR
(ANO)
PAÍS / DATA /
FREQUÊNCIA
METODO DE
ESTIMAÇÃO
VARIÁVEIS
UTILIZADAS
RESULTADOS OBTIDOS
Mark
Gertler e
Simon
Gilchrist
(1995)
EUA
Foram utilizados
dados trimestrais
para período
(1975:1-1991:4)
Vetor Auto-
Regressivo
(VAR)
log do produto real
(PIB); taxa de
inflação; taxa de
juros nominal do
Federal Fund; log
de variáveis
financeiras (i.e
empréstimos totais,
empréstimos às
empresas, títulos
totais (securities),
empréstimos
imobiliários,
depósitos de longo
prazo empréstimos
ao consumo –
todas essas
variáveis na forma
desagregada de
acordo com
pequenas e
grandes firmas).
Os autores argumentam que existe uma notável
diferença em respostas do fluxo de crédito para
pequenas versus grandes empresas,
potencialmente consistente com a visão que
imperfeições no mercado de crédito ajudam a
propagar o impacto da política monetária.
Stephen
D. Oliner
e Glenn
D.
Rudebush
(1996a)
EUA
Foram utilizados
dados trimestrais
do setor
manufatureiro para
o período
(1975:1-1991:4)
Modelo
estrutural
(modelo de
Kashyap,
Stein and
Wilcox –
1993).
Dívida
(empréstimos
bancários,
commercial papers,
outras dívidas
bancárias);
indicadores de
política monetária
(Dummy de
“Romer Date” e
mudanças nas
taxas dos fundos
federais).
Suas evidências são consistentes com a visão
do canal do balanço patrimonial que enfatiza a
assimetria de informação enfrentada por todos
os emprestadores.
Stephen
D. Oliner
e Glenn
D.
Rudebush
(1996b)
EUA
Foram utilizados
dados trimestrais
do setor
manufatureiro dos.
Para o período
(1958:4– 1992:4)
Fluxos de
caixa das
pequenas e
grandes
firmas –
dados foram
ajustados
sazonalmente.
Vendas liquidas;
fluxo de capitais;
gastos de
investimentos em
estoque de
capitais; custo de
capital
Usando dados para o setor manufatureiro dos
EUA, os autores testaram a existência do canal
do balanço patrimonial para a política monetária,
o qual opera através da oferta de empréstimo
total. Este estudo concentrou na relação entre
os fundos internos e o investimento em
negócios. Verifica-se que o investimento em
ativos fixos das pequenas firmas é mais sensível
à disponibilidade de fundos internos, vis-à-vis ao
investimento das grandes firmas, e que essa
sensibilidade aumenta sobremaneira nas
contrações monetárias. Em contrapartida, esse
efeito não se verifica nas expansões monetárias.
Essas evidências dão sustentação ao canal do
balanço patrimonial.
Ben
Bernanke,
Mark
Gertler e
Simon
Gilchrist
(1998)
EUA
Recessão
Monetária.
Cross-
section/VAR
Crédito Bancário e
Comercial Papers
(CPs)
Além de encontrar evidências para o canal do
balanço patrimonial, estimam que as diferenças
entre as pequenas e as grandes firmas
respondem por cerca de 1/3 da flutuação da
indústria americana. E, por fim, concluem que o
acelerador financeiro tem uma significativa
influencia para a dinâmica dos ciclos de
negócios.
Fonte: Elaborado pelo Autor
83
3.2 EVIDÊNCIAS EMPÍRICAS PARA O CANAL DO EMPRÉSTIMO BANCÁRIO
Os trabalhos empíricos relacionados ao canal do empréstimo bancário
utilizam, em sua maioria, dados agregados de séries de tempo (macroeconômicos)
ou dados desagregados cross-section. Estes estudos têm se concentrado nas
relações entre renda agregada, empréstimos dos bancos comerciais, choques
monetários, taxa de juros, indicadores monetários, características específicas dos
bancos (como tamanho, liquidez e capitalização), dentre outras. Quanto ao
instrumental utilizado, restringem-se basicamente no uso de Painel Dinâmico
(MGM), Vetores Auto-Regressivos Estruturais, Vetores Auto-Regressivos Padrão, e
Mecanismos de Correção de Erro (SVAR - VAR - VEC), bem como, na
correspondente análise do comportamento das funções de resposta a impulso
(Quadro 2).
Uma pesquisa pioneira, que concentra atenção no canal do empréstimo
bancário, foi desenvolvido por Bernanke (1986). Este, por sua vez, procurando
entender a relação entre moeda, crédito e renda, explora a visão alternativa de que
choques no mercado de crédito (devido à política monetária ou alguma outra fonte)
também tendem a produzir efeitos sobre o produto real. Em sua análise, ele utiliza a
abordagem do “Vetor Auto-Regressivo Estrutural (SVAR)”. Esta metodologia é
similar, na forma, a abordagem de Vetor Auto-Regressivo padrão, porém, difere do
VAR usual na medida em que impõe restrições de covariância nos termos de
perturbação das equações, isso, para permitir identificar choques estruturais no
processo de intermediação.
2
Os resultados obtidos por Bernanke (1986) são favoráveis à visão do
crédito, pois verifica que choques no crédito são importantes para a determinação do
produto. Além disso, constata que a nova abordagem não implica que o canal do
crédito venha substituir por completo o canal monetário tradicional, ao invés disso,
sugere que a moeda e o crédito são forças paralelas de importância equivalente.
Assim, conclui que a visão tradicional da correlação entre moeda e produto é
significativamente, porém, não completamente, deslocada pela teoria que sugere
abordagem alternativa (visão do crédito).
2
Um exemplo representativo para esta restrição é que choques nos empréstimos agregados não são
contemporaneamente correlacionados com gastos militares e com a moeda (BERNANKE, 1986).
84
Bernanke e Blinder (1988) desenvolvem uma versão análoga, porém,
ampliada do modelo IS-LM padrão ao qual procuram incorporar uma visão não
convencional (mas bastante antiga) para a transmissão da política monetária, a qual
considera que as políticas do Banco Central afetam não só o lado das obrigações
(depósitos) dos bancos, mas também e, sobretudo, seus ativos (empréstimos).
Assim, além da moeda e dos títulos, incorporam em seu modelo uma variável para o
crédito (empréstimos bancários). O modelo provê uma estrutura que permite
organizar o raciocínio para a “visão do crédito” de forma equivalente ao que o
modelo IS-LM tradicional permite fazer para a “visão da moeda”. Para o tratamento
empírico, os autores procuram verificar se a demanda por crédito está se tornando
relativamente mais estável que a demanda por moeda.
As evidências empíricas encontradas por Bernanke e Blinder (1988) são
favoráveis a uma maior estabilidade na demanda por crédito, uma vez que choques
na demanda por moeda tornaram-se muito mais importante relativo a choques na
demanda por crédito, nos anos 1980, se comparado à década anterior. Mas,
conforme destacam, isso não constitui razão suficiente para passarmos a ignorar
completamente a moeda e a concentrar a atenção única e exclusivamente no
crédito, pois seria perfeitamente concebível que o tamanho relativo dos choques da
demanda por crédito e demanda por moeda, se alterassem ao longo do tempo, e
retornassem ao que eram antes. Portanto, eles sugerem que o mais conveniente a
fazer seria dar um tratamento simétrico para a moeda e para o crédito, a
semelhança do que recomenda Bernanke (1986).
Em uma nova pesquisa, utilizando-se de um Vetor Auto-Regressivo (VAR) e
da taxa dos Federal Funds como um instrumento eficiente para capturar mudanças
na política monetária, Bernanke e Blinder (1992) procuraram identificar o efeito da
política monetária sobre alguns agregados do balanço patrimonial dos bancos
(depósitos, títulos e empréstimos), e alguns indicadores de atividades selecionados,
onde encontraram algumas regularidades interessantes. Em primeiro lugar, como
conseqüência de um choque de política monetária adverso, observam, uma imediata
e significativa liquidação de títulos mantidos nas carteiras dos bancos, enquanto os
empréstimos respondem lentamente às mudanças na taxa de juros, permanecendo
praticamente inalterada nos seis primeiros meses. Tal comportamento tem um
sentido econômico forte para os autores, que interpretam esse movimento não como
uma possível endogeneidade do crédito, mas como uma conseqüência da rigidez
85
contratual, dado que os empréstimos representam compromissos de longo prazo e
levam tempo para se ajustar.
3
Em segundo lugar, observam que a partir do sexto
mês o crédito começa a declinar. Isso ocorre na medida em que os bancos liquidam
empréstimos antigos e se recusam a conceder novas linhas de crédito. Dada a
extensão em que alguns tomadores de empréstimos são dependentes de crédito
bancários, a redução na sua oferta leva a uma queda no produto real. Em terceiro
lugar, o efeito da política sobre a taxa de desemprego é praticamente nulo durante
os primeiros seis meses, mas após os nove meses a taxa de desemprego começa a
aumentar atingindo seu pico após dois anos. O tempo de resposta do desemprego é
interessante, porque ele corresponde ao tempo estimado para o efeito do choque
sobre os empréstimos. Por fim, verificam que dois anos após o choque, o crédito e o
produto continuam declinando, enquanto as carteiras de títulos e os depósitos
bancários (proxy para o canal monetário) estão praticamente recompostos.
Bernanke e Blinder (1992) constatam que os resultados são consistentes
com a visão de que a política monetária opera em parte por afetar a composição dos
ativos bancários. E o fato de os empréstimos e o desemprego se moverem juntos,
seguindo uma mudança na taxa dos fundos, é consistente com a visão de que os
empréstimos bancários representam um importante componente para o mecanismo
de transmissão da política monetária.
Walsh e Wilcox (1995) estimam um Vetor Auto Regressivo baseado em
dados mensais no qual os choques na oferta de empréstimos bancários são
identificados com inovações na prime lending rate. Eles mostram que as inovações
estimadas na oferta de empréstimos estão relacionadas a mudanças na razão de
capital dos bancos, mudanças nas exigências de reservas, e à imposição de controle
de créditos. Esse resultado provê algumas evidências de que inovações
representam fatores relevantes para afetar a oferta de empréstimos bancários.
Enquanto choques na prime rate são estimados para reduzir a quantidade de
empréstimos e o produto, não se mostraram eficientes para demonstrar uma relação
casual com o ciclo de negócios nos Estados Unidos, embora seu desempenho foi
atípico e significativo durante a recessão de 1990 – 1991.
3
Gertler e Gilchrist (1993) observam que, além da rigidez contratual sugerida por Bernanke e Blinder,
outro fator que impede a queda imediata do crédito é a necessidade de financiar o acúmulo de
estoques indesejados.
86
Estudos que utilizam dados para o Reino Unido foram testados por
Matthews e Ioannidis (1992) e por Dale e Haldane (1995). Esses estudos também
empregaram a metodologia VAR para estimação dos efeitos da política monetária.
Matthews e Ioannidis (1992), utilizando-se de dados agregados, mostram
que, tanto o crescimento do crédito quanto da moeda desempenham um significativo
papel para a determinação do produto.
Por outro lado, Dale e Haldane (1995), utilizando-se de dados
desagregados ao nível pessoal e corporativo (no âmbito das empresas), constatam
que a importância dos bancos no processo de transmissão da política monetária
varia em intensidade e entre os setores. Também argumentam que medidas
setoriais para a moeda e para o crédito provêem sinais mais acurados e adequados
para futuros movimentos na inflação e no produto. Metodologia semelhante foi
utilizada por Fruinhas (2006), em análise desenvolvida para Portugal, onde foram
obtidos resultados equivalentes.
Hülsewing, Mayer e Wollmershaüser (2004), avaliam o canal do empréstimo
bancário para a Alemanha utilizando um modelo de firma bancária, o qual especifica
as decisões de oferta de empréstimos dos bancos tomando em conta as incertezas
quanto ao futuro curso da política monetária. Utilizando-se da abordagem do Vetor
de Correção de Erros (VECM), e de análises de resposta a impulso eles constatam
que os resultados obtidos contribuem para validar a existência do canal do crédito
na Alemanha, uma vez que as variáveis de crédito colaboram para propagar o
choque da política monetária, amplificando o efeito inicial sobre a taxa de juros.
É importante destacar que as evidências para o canal do empréstimo
bancário não são consensuais, uma vez que têm sido contestadas por alguns
pesquisadores. Romer e Romer (1990), por exemplo, rejeitam o papel dos
empréstimos bancários como parte do processo do mecanismo de transmissão da
política monetária para os Estados Unidos. Eles analisam seis episódios de política
monetária restritiva (Romer dates) em que o Federal Reserve parece ter,
deliberadamente, se utilizado deste instrumento numa tentativa para debelar
aumentos na taxa de inflação. Eles argumentam que a proposta de utilizar estes
episódios como indicadores de política monetária deve-se a dificuldade em encontrar
uma proxy que verdadeiramente representasse a ação do banco central. Assim eles
estimam o erro de previsão para a oferta monetária e para os empréstimos
bancários, e constatam que o efeito do erro de previsão dos empréstimos é menor
87
que o do erro de previsão da oferta monetária, indicando, conseqüentemente que, o
canal da moeda transmite mais informação para o setor real do que o canal do
crédito.
Conclusões equivalentes a Romer e Romer (1990), utilizando metodologia
distinta, são encontradas por Ramey (1993). O autor apresenta uma solução
alternativa para resolver o problema da endogeneidade, ao basear seus testes nas
velocidades do crédito e da moeda, antes que nas séries de quantidades. Seus
resultados são favoráveis à visão da moeda.
A observação de que mudanças na política monetária são seguidas por
mudanças no volume de empréstimos ofertados e na atividade econômica ainda não
é suficiente, segundo alguns pesquisadores, para garantir que o Banco Central
esteja apto - via mudanças na quantidade de reservas disponíveis no sistema
bancário - para afetar a oferta de empréstimos dos intermediários.
Como observam Kashyap e Stein (1993), uma possível leitura para este
resultado seria que, a política monetária restritiva poderia operar pelo canal
tradicional da taxa de juros, reduzindo a atividade econômica e, conseqüentemente,
a demanda por crédito, em vez da oferta, como sugere a abordagem alternativa.
Assim, poderia haver uma correlação entre a atividade econômica e o empréstimo
bancário, mesmo não existindo um canal de crédito operando. Esse problema de
identificação sugere que, embora esta correlação seja consistente com a visão de
que a política monetária opera através do canal de crédito, tais evidências não
podem prover um suporte que não seja ambíguo (duvidoso) para a visão do crédito.
Uma abordagem que se propõe a resolver esse problema de identificação é
oferecida por Kashyap, Stein e Wilcox (1993). Eles tomam como parâmetros para
análise a flutuação relativa nos empréstimos bancários e uma fonte alternativa de
empréstimos (commercial papers) para o financiamento das empresas. Ou seja,
exploram as mudanças no mix de financiamento das firmas, definido pela razão
(crédito bancário)/(crédito bancário + commercial papers), como uma hipótese de
identificação para o canal do empréstimo bancário. A idéia central é que,
movimentos em fontes alternativas aos empréstimos bancários podem conter
informações relevantes para a demanda por financiamento bancário. Por exemplo,
se a oferta de empréstimos está caindo, enquanto a emissão de commercial paper
está aumentando, isso representa uma forte evidência de que é a oferta de
empréstimos e não a demanda que está sendo reduzida.
88
Para verificar que o Banco Central pode afetar a oferta de empréstimos,
Kashyap, Stein e Wilcox (1993) examinam o movimento no “mix” entre empréstimos
bancários e commercial paper mediante mudanças no padrão de política monetária.
Usando Romer dates
4
e a taxa dos Federal Funds, eles verificam que - quando o
Banco Central restringe a política monetária - a emissão de commercial paper
aumenta enquanto a oferta de empréstimos bancários declina lentamente. Isto é, o
movimento no “mix” indica que a oferta de empréstimos está caindo em relação às
demais fontes de crédito.
Em análise equivalente realizada para a Suécia, Hallsten (1999) observa
uma queda no mix de financiamento à disposição das firmas (definido como a
relação entre os empréstimos bancários e os demais tipos de financiamentos) e uma
elevação do spread bancário como conseqüência da política monetária
contracionista. E conclui em favor do canal do empréstimo, uma vez que, tanto a
redução do mix de financiamento quanto a elevação do spread acabam contribuindo
para a queda do produto.
Com relação à questão específica da existência do canal do empréstimo
bancário, muitas evidências relevantes têm sido produzidas nos últimos anos. De
acordo com a maioria das pesquisas anteriormente analisadas - Bernanke (1986),
Bernanke e Blinder (1988, 1992), Kashyap, Stein e Wilcox (1993), dentre outros –
ficou evidente que mudanças no padrão de política monetária são seguidas por
movimentos no volume agregado de empréstimos bancários, com implicações
significativas sobre o ritmo da atividade econômica real.
A maioria das evidências que tratam desse tema baseiam-se em dados
agregados, ou em dados desagregados para as firmas não financeiras. Além disso,
os argumentos apresentados por estes estudos ainda não superaram
completamente o problema fundamental de distinguir o efeito da oferta de
empréstimo do efeito da demanda.
Uma questão levantada por Kashyap e Stein (1994), é se existem
importantes diferenças cross-sectional no modo em que os bancos, com distintas
características, respondem a choques de política monetária.
4
As Romer dates foram identificadas por Romer e Romer (1989) como datas em que o Federal
Reserve implementou uma política monetária claramente antiinflacionária, tendo entrado para a
literatura como períodos clássicos de contração monetária. São elas: outubro de 1947; setembro de
1955; dezembro de 1968; abril de 1974; agosto de 1978; e setembro de 1979.
89
Utilizando-se de microdados no âmbito dos intermediários bancários,
inúmeras pesquisas surgem, com o propósito de testar se as características dos
bancos (tamanho, liquidez e capitalização) são relevantes para explicar o
comportamento da oferta de empréstimos, mediante um choque de política
monetária. A literatura tem apontado vários aspectos que podem tornar a oferta de
empréstimos bancários mais sensível à política monetária:
- Um banco fracamente capitalizado, por exemplo, pode enfrentar maiores
limitações para ter acesso a fontes de financiamentos que não exijam reservas [tais
como certificados de depósitos (CDs) e commercial papers (CPs)] e, assim, pode ser
forçado a reduzir seus empréstimos numa proporção maior que os bancos mais bem
capitalizados (PEEK; ROSENGREN, 1995).
- O papel desempenhado pelo tamanho dos bancos também tem sido
enfatizado, uma vez que, os pequenos bancos são assumidos para sofrerem de
problemas de assimetria de informação numa intensidade maior que grandes
bancos, e encontram mais dificuldades em obter fundos não segurados, em
momentos de restrição monetária, sendo forçados a reduzir suas ofertas de
empréstimos numa proporção maior que os grandes bancos (KASHYAP; STEIN,
1994).
- Outra distinção é feita tomando em conta a liquidez dos bancos, ou seja,
enquanto os bancos mais líquidos podem se desfazer dos seus ativos líquidos para
proteger seu portfolio de empréstimos, isso não é possível para os bancos ilíquidos,
sendo estes forçados a reduzir seus empréstimos (KASHYAP; STEIN, 1994).
No que tange as evidências empíricas para essa nova linha de pesquisa,
Kashyap e Stein (1994) se propuseram a testar se o impacto da política monetária
sobre os empréstimos torna-se mais intenso para bancos que enfrentam problemas
de liquidez. Sua principal conclusão é simples: verificam que, dentro de uma classe
de pequenos bancos, a mudança na política monetária afeta mais intensamente a
oferta de empréstimos para o grupo de bancos com balancetes menos líquidos. Este
resultado é fortemente conclusivo e estatisticamente significante, e mostrou-se
inabalável a uma ampla gama de variações na especificação e na técnica de
estimação. De acordo com Kashyap e Stein (1994), com este resultado, parece ter
ficado mais difícil negar a existência do canal do empréstimo bancário para a
transmissão da política monetária, pelo menos para os Estados Unidos, e para o
período de amostragem utilizado.
90
Ainda nessa mesma linha, valendo-se da discriminação dos bancos
segundo suas características em uma forma mais ampla, ou seja, tomando em conta
tamanho, liquidez e capitalização, destacam-se os trabalhos desenvolvidos por
Hernando e Martinez-Pagés (2000) (para a Espanha); Ehrmann et al. (2001) (para a
área do Euro); Worms (2001) (para a Alemanha); Farinha e Marques (2001) (para
Portugal); Loupias, Savignac e Sevestre (2001) (para a França); e Çavuşoğlu (2002)
(para a Turquia). Com exceção de Hernando e Martinez-Pagés (2000), e de
Çavuşoğlu (2002), onde todas as características mostram-se irrelevantes para
justificar um canal de empréstimos bancários, os demais trabalhos chegaram a
conclusões equivalentes (totalmente ou parcialmente) àquelas apresentadas por
Kashyap e Stein (1994).
No Quadro 2 apresentamos um sumário dos principais trabalhos empíricos
os quais concentraram sua atenção, especialmente, no canal do empréstimo
bancário, procurando destacar o período de abrangência da pesquisa, metodologia
utilizada, as variáveis relevantes, bem como, os principais resultados obtidos.
Quadro 2 - Sumário da Literatura Empírica para o Canal do Empréstimo
Bancário
AUTOR
(ANO)
PAÍS / DATA /
FREQUÊNCIA
METODO DE
ESTIMAÇÃO
VARIÁVEIS
UTILIZADAS
RESULTADOS
Ben Bernanke
(1986)
EUA
Foram utilizados
dados trimestrais
para o período
(1953:1- 1984:4)
Forma estrutural
reduzida -
SVAR; seis
variáveis (Y, P,
G, M1, B, C); na
estimação todas
as variáveis
estavam em log
-nível ou log -
diferença.
Produto Real (Y);
deflator de preços (P);
gastos reais em defesa
(G); estoque de moeda
(M1); base monetária
(B); variáveis de crédito
(C) (soma dos
empréstimos dos
bancos comerciais,
hipotecas mantidas por
S&L, e hipotecas e
outros empréstimos
mantidos por bancos
mútuos de poupança);
taxa nominal de juros (r)
(taxa de títulos do
tesouro de três meses
Duas conclusões são destacadas:
- Primeiro, os choques de crédito são
importantes para a determinação do
produto;
- Segundo, a moeda e o crédito são
aproximadamente de importância
equivalentes no que se refere à força
para a transmissão da política
monetária.
Ben Bernanke
e Alan S.
Blinder (1988)
EUA
Foram utilizados
dados trimestrais
para o período
(1974:1– 1985:4)
Variáveis
Instrumentais;
modelos
logarítmicos de
ajustamentos
parcial.
Produto real (Y); deflator
do produto (P); Taxa
primaria de juros; taxa
dos títulos do tesouro de
três meses (r); crédito
agregado (soma do
crédito para as famílias
e para as empresas).
O resultado da estimação mostra que
choques na demanda por moeda
tornam-se muito mais importante
relativo ao choque na demanda por
crédito nos anos 1980. Porém, não
existem fortes evidências para rejeitar
o papel da demanda por crédito, e
assim, justifica um tratamento
simétrico entre a moeda e o crédito.
91
Quadro 2 - Sumário da Literatura Empírica para o Canal do Empréstimo
Bancário
AUTOR
(ANO)
PAÍS / DATA /
FREQUÊNCIA
METODO DE
ESTIMAÇÃO
VARIÁVEIS
UTILIZADAS
RESULTADOS
Christina D.
Romer e
David H.
Romer (1990)
EUA
Foram utilizados
dados mensais
para o período
(1941 – 1984).
Análise
descritiva
Crédito bancário
(empréstimos realizados
por bancos comercias);
Estoque de moeda M1;
dammis para o período
anti inflacionário
(outubro de 1947,
Setembro de 1955,
dezembro de 1968, abril
de 1974, agosto de
1978 e outubro de
1979); taxa de juros do
tesouro americano de
três meses; produção
industrial.
Usando seis períodos de política
monetária restritiva, eles encontram
que o erro de previsão da oferta de
crédito é menor que o erro de
previsão da oferta monetária. Isto
implica que o canal da moeda
transmite mais informações que o
canal do crédito.
Ben Bernanke
e Alan S.
Blinder (1992)
EUA
Foram utilizados
dados mensais
para o período
(1957:7-
1989:12)
Vetor Auto-
Regressivo
(VAR).
Taxa de desemprego,
Log CPI; log de M1 e
M2; taxa de Fundos
Federais; e o log de três
medidas do balanço
patrimonial dos bancos:
depósitos, títulos e
empréstimos. Todos os
dados foram
sazonalmente
ajustados.
Os autores supõem que a taxa dos
Federal Funds representa uma
variável de política, e portanto não é
afetada por todas as outras inovações
contemporâneas.
Utilizando essa taxa como indicador
de política monetária os autores
identificam alguns padrões. O crédito
bancário responde lentamente às
inovações monetárias, permanecendo
praticamente inalterado nos primeiros
seis meses. A partir do sexto mês o
crédito começa a declinar, causando
uma redução no produto real. Dois
anos após o choque, tanto o crédito
como o produto continua declinando,
enquanto os depósitos bancários
estão plenamente recompostos.
Três conclusões podem ser extraídas
desse estudo:
- Primeira, a taxa dos fundos
representa um bom indicador de
política monetária até mesmo para o
período após 1979.
- Segundo, a taxa de juros nominal é
um bom previsor de variáveis reais.
- Terceiro, a política monetária
trabalha, em parte, para afetar a
composição dos ativos dos bancos,
ou seja, a política monetária afeta a
oferta de empréstimos bancários.
Kent
Matthews and
Chris
Ioannidis
(1992)
Reino Unido
Foram utilizados
dados trimestrais
para o período
(1970:1– 1990:1)
Vetor Auto-
Regressivo
Estrutural
(SVAR).
Taxa de crescimento
anual do crédito;
inflação; renda real; M4
e M0.
O resultado mostra que: a existência
de relações de longo prazo entre a
base monetária e a taxa de inflação;
tanto o crescimento do crédito quanto
de M0 desempenham um importante
papel na determinação da inflação e
do produto; choques de crédito
afetam a variância da inflação mas
não sua média; a taxa média de
inflação é dominada pela taxa de
crescimento de M0; e M0 é um usual
advance indicator”.
92
Quadro 2 - Sumário da Literatura Empírica para o Canal do Empréstimo
Bancário
AUTOR
(ANO)
PAÍS / DATA /
FREQUÊNCIA
METODO DE
ESTIMAÇÃO
VARIÁVEIS
UTILIZADAS
RESULTADOS
Anil K.
Kashyap,
Jeremy C.
Stein e David
W. Wilcox
(1993)
EUA
Foram utilizados
dados trimestrais
para o período
(1963:1- 1989:4)
Modelo
Estrutural e
Modelo VAR
Commercial Paper;
empréstimos de bancos
comerciais;
empréstimos bancários
como uma fração do
financiamento externo
de curto prazo - Mix
definido pela razão entre
[crédito bancário /
crédito bancário +
Comercial Papers
(CPs)]; dados de
investimentos e
estoques; indicadores
de ciclo de negócios;
spread entre a taxa de
commercial paper e a
taxa básica de juros
(TBR)
Esta pesquisa procura explorar as
mudanças no mix de financiamento
das firmas, como uma hipótese para
identificação do canal do empréstimo
bancário. Este estudo mostra que
uma restrição na política monetária
conduz a uma mudança no mix de
financiamento externo: a emissão de
commercial papers aumenta
enquanto o empréstimo bancário cai.
Os autores constatam que o mix se
reduz em resposta às contrações
monetárias, o que sinaliza uma queda
na oferta de crédito bancário em
relação às demais fontes de crédito.
Isto sugere que uma política
contracionista reduz a oferta de
empréstimo e, assim, afeta os
investimentos, a taxa de juros e o
produto. Portanto, os resultados
obtidos são condizentes com a
existência do canal do crédito.
Valerie A.
Ramey (1993)
EUA
Foram utilizados
dados mensais
para o período
(1951:1–
1991:12)
Testes baseados
na velocidade do
crédito e da
moeda.
Produção industrial; M1;
M2; Empréstimos
bancários e
arrendamentos; ativos
mantidos pelos bancos
em ralação aos
empréstimos; a
diferença na taxa de
crescimento das dívidas
de curto prazo das
pequenas e grandes
firmas; índice de preços
ao consumidor; taxa dos
Federal Funds; taxa de
três meses para os
Treasury Bills; taxa de
seis meses dos
commercial paper;
Na maioria dos casos a variável
crédito apresenta um efeito
insignificante sobre o produto frente a
choques monetários. Por sua vez, o
resultado apóia a visão da moeda.
Spencer Dale
e Andrew G.
Haldane
(1995)
Reino Unido
Foram utilizados
dados mensais
para o período
(1974:6 –
1992:10).
Foi estimado um
Vetor Auto
Regressivo
Padrão (VAR)
utilizando-se
variáveis
setoriais (crédito
pessoal, e
crédito
corporativo),
sendo estas
variáveis obtidas
no balanço dos
bancos.
Instrumento de política
monetária (taxa de juros
oficial); Taxa de
Cambio; Atividade Real
(GDP); Índice de
Preços; Variáveis do
balanço patrimonial dos
bancos(crédito pessoal,
crédito empresarial e
depósitos); Preços de
ativos (mercado de
ações).
Foi simulado o efeito de um choque
monetário exógeno sobre o preço dos
ativos (ações), as variáveis bancárias
(crédito pessoal e corporativo e
depósitos), sobre o produto e preços,
tomando em conta distintos setores
(empréstimos pessoais e
empréstimos para setores
corporativos). Foram encontradas
significativas diferenças setoriais para
o canal de transmissão de política
monetária. Em adição o uso de dados
setoriais permitiu fazer uma distinção
entre o canal da moeda e o canal do
crédito para a transmissão da política
monetária.
Carl E. Walsh
e James A.
Wilcox (1995)
EUA
Foram utilizados
dados mensais
para o período
(1955:1–
1994:12)
Modelo Vetor
Auto-Regressivo
( VAR)
Log de indicadores
coincidentes (i.e. renda
pessoal disponível
menos transferências,
produção industrial,
comercio de
manufaturas real,
empregados no setor
não agrícola); inflação;
taxa dos fundos
federais; taxa prime;
empréstimos bancários
reais.
O resultado coincide com a visão do
crédito, os choques dos empréstimos
foi um fator determinante no boom no
final dos anos 1980 e na recessão
dos anos 1990.
93
Quadro 2 - Sumário da Literatura Empírica para o Canal do Empréstimo
Bancário
AUTOR
(ANO)
PAÍS / DATA /
FREQUÊNCIA
METODO DE
ESTIMAÇÃO
VARIÁVEIS
UTILIZADAS
RESULTADOS
Kerstin
Hallstein
(1999)
Suécia Análise
Agregada
Mix (definido como a
relação entre os
empréstimos bancários
e os demais tipos de
financiamento) e spread
bancário
Como resultado da pesquisa,
observa-se uma queda no mix de
financiamento à disposição das firmas
suecas e uma elevação do spread
bancário em resposta às contrações
monetárias. Também se constata que
tanto a redução do mix quanto a
elevação do spread acabam afetando
negativamente o produto real.
Portanto, constata-se que o canal de
transmissão da política monetária via
canal do crédito é importante na
Suécia.
Anil K.
Kashyap,
Jeremy C.
Stein (1994)
EUA
Foram utilizados
dados trimestrais
para o período
(1976:1– 1993:2)
Estimação por
Painel Dinâmico
de modelos de
oferta de
empréstimos –
utilizando-se
dados Cross-
section (MGM)
Ativos Bancários - Toma
como padrão de
referência a
discriminação dos
bancos de acordo com
as seguintes
características:
tamanho, liquidez e
capitalização.
Os autores utilizam a mesma
metodologia usada para os testes do
canal do balanço patrimonial, porém
baseando-se em micro dados para a
oferta de crédito bancário. Eles
mostram que os bancos pequenos
e/ou menos líquidos são mais
sensíveis aos apertos monetários do
que os bancos maiores e/ou mais
líquidos. Como resultado da
pesquisa, verifica-se que o impacto
da política monetária no
comportamento dos empréstimos
bancários é significativamente mais
pronunciado para bancos com
balanço patrimonial menos líquido,
isto é, aqueles que não conseguem
substituir facilmente e sem elevados
custos os depósitos por outras fontes
de financiamentos. Logo, são
forçadas a reduzirem suas carteiras
de empréstimos com maior
intensidades. Assim, entre outras
coisas, a pesquisa provê forte suporte
para a existência do canal do
empréstimo bancário para a
transmissão da política monetária.
Ignacio
Hernando e
Jorge
Martínez
Pagés (2000)
Espanha
Foram utilizados
dados mensais
para o período
(1991-1998)
Estimação por
Painel Dinâmico
de modelos de
oferta de
empréstimos –
utilizando-se
dados Cross-
section (MGM)
Ativos Bancários
Toma como padrão de
referência a
discriminação dos
bancos de acordo com
as seguintes
características:
tamanho, liquidez e
capitalização.
Embora se observam algumas
características no balanço dos
bancos que são consistentes com a
existência de fricções para pequenos
bancos, os resultados obtidos são
fortemente desfavoráveis à existência
de efeitos distribucionais relacionados
ao canal do empréstimo bancário no
período em consideração. Constatou-
se que a reação do empréstimo
bancário à um choque monetário
reagiu de forma mais pronunciada no
caso dos bancos menos líquidos,
porem nenhum efeito significante foi
identificado no que se refere ao
tamanho e à capitalização dos
bancos. Os resultados são ainda
piores quando analisadas as
diferentes categorias de empréstimos.
Além disso, constata-se que a
mudança de depósitos para fundos
mútuos não se reflete em queda de
crédito, mesmo para pequeno, menos
capitalizados e ilíquidos bancos.
94
Quadro 2 - Sumário da Literatura Empírica para o Canal do Empréstimo
Bancário
AUTOR
(ANO)
PAÍS / DATA /
FREQUÊNCIA
METODO DE
ESTIMAÇÃO
VARIÁVEIS
UTILIZADAS
RESULTADOS
Michael
Ehrmann,
Leonardo
Gambacorte
Jorge
Martínez-
Pagéz, Patrick
Sevestre e
Andréas
Worms (2001)
Europa
(Área do Euro)
Foram utilizados
dados trimestrais
para o período
(1992-1998)
Estimação por
Painel Dinâmico
de modelos de
oferta de
empréstimos –
utilizando-se
dados Cross-
section (MGM)
Ativos Bancários
Toma como padrão de
referência a
discriminação dos
bancos de acordo com
as seguintes
características:
Tamanho, liquidez e
capitalização.
Usando microdados, ao nível dos
bancos, constata-se que a liquidez é
importante para caracterizar a reação
de um banco à ação de política
monetária, os bancos menos líquidos
reagiram de forma mais intensa que
os bancos mais líquidos, embora não
em todos os países. Por outro lado,
tamanho e capitalização não
representam fatores determinantes
para o ajustamento dos empréstimos
às mudanças de política. De um
modo geral, conclui-se que os
empréstimos dos bancos contraem-se
significativamente em resposta a uma
contração monetária, tanto
considerando a área do Euro de
forma agregada, quanto à nível de
país.
Andréas
Worms (2001)
Alemanha
Foram utilizados
dados mensais
para o período
(1992-1998)
Estimação por
Painel Dinâmico
de modelos de
oferta de
empréstimos –
utilizando-se
dados Cross-
section (GMM)
Ativos Bancários
Toma como padrão de
referência a
discriminação dos
bancos de acordo com
as seguintes
características:
Tamanho, liquidez e
capitalização.
A pesquisa mostra que os bancos
médios reduzem seus empréstimos
de forma mais agressiva em reação a
uma política monetária contracionista,
essa reação tende a ser tanto mais
intensa quanto menor for a razão dos
depósitos interbancários de curto
prazo em relação aos ativos totais.
Este resultado mostra-se robusto
diante de uma ampla variedade de
mudanças nas especificações. A
dependência, com relação ao
tamanho pode ser encontrada
somente se explicitamente controlada
por seu efeito dominante e/ou se os
bancos muito pequenos forem
excluídos. O resultado global indica a
compatibilidade das evidências
obtidas com a existência do canal do
crédito, embora este é enfraquecido
pela administração de liquidez dos
bancos.
Luisa Farinha
e Carlos
Robalo
Marques
(2001)
Portugal
Foram utilizados
dados mensais
para o período
(1990:1– 1998:4)
A análise é
desenvolvida
utilizando uma
“abordagem
estrutural” a qual
se propõe
estimar o
comportamento
da oferta de
empréstimos
bancários,
utilizando
variáveis em
nível. Para esta
proposta são
considerados
dados que levam
em conta
características
dos bancos
(tamanho,
liquidez e
capitalização)
utilizando-se da
técnica de co-
integração para
dados de
painéis.
Variáveis do Balanço
Patrimonial para uma
amostra selecionada de
18 bancos,
compreendendo: ativo
(Crédito ao setor privado
não financeiro, mercado
monetário doméstico,
títulos do governo e
depósitos em moedas
estrangeiras MFIs); e
passivos (depósitos do
setor privado não
financeiro, mercado
monetário doméstico,
capital e depósitos de
estrangeiros MFIs).
Os resultados obtidos sugerem a
existência de um canal de
empréstimo bancário no mecanismo
de transmissão da política monetária
em Portugal. Como era esperada, a
incidência do canal do empréstimo
mostrou-se mais intensa para os
bancos que são menos capitalizados,
onde o efeito da política monetária
sobre as decisões de empréstimos
mostrou-se mais significativa. Por
outro lado, o tamanho e a liquidez dos
bancos não representam
características relevantes na
determinação de impactos
diferenciados da política monetária
sobre a oferta de empréstimos.
95
Quadro 2 - Sumário da Literatura Empírica para o Canal do Empréstimo
Bancário
AUTOR
(ANO)
PAÍS / DATA /
FREQUÊNCIA
METODO DE
ESTIMAÇÃO
VARIÁVEIS
UTILIZADAS
RESULTADOS
Claire
Loupias,
Frédérique
Savignac e
Patrick
Sevestre
(2001)
França
Foram utilizados
dados trimestrais
para o período
(1993-2000).
Estimação por
Painel Dinâmico
de modelos de
oferta de
empréstimos –
utilizando-se
dados Cross-
section (MGM),
semelhante ao
proposto por
Kashyap e Stein
(1999).
Variáveis do Balanço
Patrimonial para uma
amostra selecionada de
312 bancos. Toma como
padrão de referência a
discriminação dos
bancos de acordo com
as seguintes
características:
Tamanho, liquidez e
capitalização.
O principal propósito da pesquisa é
identificar diferenças cross-sectional
no modo em que bancos com
diferentes características respondem
aos choques de política monetária, ou
seja, se é possível através do
comportamento assimétrico de
distintos bancos que apresentam
diferentes características, encontrar
evidências favoráveis ao canal do
empréstimo bancário.
Como resultado observa-se alguma
assimetria de comportamento entre
bancos com distintos graus de
liquidez, sendo que os bancos mais
ilíquidos apresentam maior
sensibilidade aos choques de política.
Este resultado está de acordo com
aqueles obtidos para vários outros
países na área do Euro [c.f Ehermann
et al (2001)].
Ao contrário do que ocorre para os
EUA [c.f Kashyap e Stein (1999)], as
outras duas característica (tamanho e
capitalização) não apresentam
impactos significativos sobre as
decisões dos bancos em emprestar.
Em nível agregado, as estimativas
mostram um impacto significativo da
política monetária nos empréstimos
bancários
Tarkan
Çavuşoğlu
(2002)
Turquia
Foram utilizados
dados anuais
para o período
(1988-1999).
Estimação por
Painel Dinâmico
de modelos de
oferta de
empréstimos –
utilizando-se
dados Cross-
section (MGM),
semelhante ao
proposto por
Kashyap e Stein
(1999).
A análise é baseada nos
dados de balanços
patrimoniais de 58
bancos depositários de
moeda (DMBs). Toma
como padrão de
referência a
discriminação dos
bancos de acordo com
as seguintes
características:
Tamanho, liquidez e
capitalização. Assume-
se que o choque de
política monetária
promove efeitos reais
quando eles são
distribuídos de forma
desproporcional na
economia, o que ocorre
devido as diferentes
características
estruturais dos bancos,
as quais promovem
efeitos desproporcionais
dos empréstimos sobre
a atividade econômica
real.
Os resultados dos modelos de oferta
de empréstimos estimados não
oferecem nenhuma evidência para
um potencial canal de empréstimo
bancário na Turquia. Tal resultado é
reflexo da falta de uma significante
relação entre a mudança do indicador
de política monetária e a taxa de
crescimento real da oferta de
empréstimos nos modelos estimados.
Discriminando a resposta da oferta de
empréstimos dos bancos com
respeito a diferentes tamanhos, não é
verificada nenhuma melhora
significativa que possam revelar
evidências favoráveis ao canal do
empréstimo bancário.
Os resultados empíricos sugerem
que o comportamento dos
empréstimos bancários é influenciado
significativamente por fatores
específicos dos bancos tais como
força do balancete, pela qualidade do
portfolio dos ativos e pela dinâmica
do financiamento de dívidas (venda
de dívida pelo sistema bancário).
96
Quadro 2 - Sumário da Literatura Empírica para o Canal do Empréstimo
Bancário
AUTOR
(ANO)
PAÍS / DATA /
FREQUÊNCIA
METODO DE
ESTIMAÇÃO
VARIÁVEIS
UTILIZADAS
RESULTADOS
Oliver
Hülsewing,
Heric Mayer e
Timo
Wollmershaüs
er (2004)
Alemanha
Foram utilizados
dados trimestrais
para o período
(1991:1– 2003:2)
Utiliza-se de um
modelo de firma
bancária, o qual
especifica as
decisões de
oferta de
empréstimos dos
bancos tomando
em conta as
incertezas
quanto ao futuro
curso da política
monetária.
Aplica-se um
Modelo Vetor de
Correção de
erros (VECM).
Produto Real; taxa de
juros controlada pela
política monetária; taxa
de juros dos
empréstimos bancários;
oferta agregada de
empréstimos.
A pesquisa procura explorar o canal
do crédito na Alemanha utilizado-se
da análise de respostas a impulso
com base em dados agregados. Os
resultados obtidos contribuem para
validar a existência do canal do
crédito na Alemanha, uma vez que as
variáveis de crédito colaboram para
propagar o choque da política
monetária, amplificando o efeito inicial
sobre a taxa de juros.
José A.
Fuinhas
(2006)
Portugal
Foram utilizados
dados mensais
para o período
(1989:1-2005:6).
Análise do
comportamento
setorial de
créditos
bancários,
utilizando-se
Vetor Auto
Regressivo
Padrão (VAR) –
análise de
cointegração
sugeriu a
utilização de um
VAR em nível, a
partir do qual foi
desenvolvida
uma análise de
impulso
resposta.
Produto Doméstico
Bruto (GDP); Índice de
Preços ao Consumidor
(Deflator do GDP); Taxa
de Câmbio Nominal;
Índice de preços das
Ações no mercado
secundário; Moeda
(M3); Variáveis de
Crédito - Crédito para
indivíduos e
Corporações não
financeiras, e créditos
para indifíduos (dados
dos balanços dos
bancos); a taxa de juros
como instrumento de
política monetária
(Interbank Mney
Market).
A análise do comportamento setorial
dos créditos bancários sugerem que o
choque não antecipado na política
monetária, promovem
comportamentos sobre as variáveis
de crédito que estão em
conformidade com o que prediz o
“canal do empréstimo bancário” de
transmissão da política monetária. Ou
seja, quando o choque é imposto
sobre uma das variáveis de política
monetária existe um impacto restritivo
sobre as variáveis de crédito.
Fonte: Elaborado pelo Autor
3.3 EVIDÊNCIAS EMPÍRICAS PARA O CANAL DO CRÉDITO NO BRASIL
É de significativa importância se ter um melhor entendimento da intensidade
com a qual os distintos canais de transmissão de política monetária (além do
tradicional canal da taxa de juros) podem agir sobre o setor real da economia, uma
vez que, isso contribui para o aperfeiçoamento e para a melhora dos instrumentos
de política a serem utilizados, bem como, para o aumento da eficiência com a qual a
política monetária pode ser conduzida. No entanto, pouca atenção tem sido dada ao
referido tema, no Brasil.
Em particular, no que se refere ao canal de transmissão via crédito -
apontado pela literatura como um canal de grande relevância na medida em que
desempenha um papel muito importante na transmissão dos choques monetários
para a atividade econômica, ao funcionar como um canal de propagação adicional
97
que reforça o canal da taxa de juros – as discussões e avaliações encontram-se num
estágio muito incipiente se comparado aos países desenvolvidos, principalmente
quando comparado aos Estados Unidos.
Recentes avaliações da importância do canal do crédito para o Brasil foram
realizadas por Souza Sobrinho e Nakane (2002), Graminho e Bonomo (2002),
Nakane e Takeda (2002) e Fonseca (2003).
Utilizando séries do mercado de crédito e do mercado monetário para o
período 1996:10 e 2001:12, Souza Sobrinho e Nakane (2002) realizam testes de
causalidade de Granger que mostram que a oferta de crédito e, em menor grau o
spread, contém informações que ajudam a prever o comportamento do produto
futuro. Ao analisar as funções de resposta a impulso, verificam que os bancos
reduzem a oferta de crédito e aumentam o spread, em resposta a um aperto
monetário, afetando negativamente a atividade econômica. Os autores mostram
ainda que, além dos indicadores do mercado de crédito baseados em preços e
quantidades, os testes baseados na velocidade do crédito indicam que esta variável
tem um impacto significativo sobre a trajetória do produto, quando é afetada pelos
choques monetários.
Ao contrário de Souza e Sobrinho e Nakane (2002), Graminho e Bonomo
(2002) não encontram evidências favoráveis para a operação de um canal de
empréstimos bancário no Brasil. Utilizando informações individuais a partir dos
balancetes mensais (COSIF) de 291 instituições financeiras para o período 1994:07
e 2001:12, os resultados da pesquisa sugerem que um aumento na taxa básica de
juros relaxa as restrições de crédito bancário em relação a sua posição patrimonial.
Seguindo Kashyap e Stein (1994), Nakane e Takeda (2002) procuram
analisar os impactos da política monetária sobre os balanços patrimoniais dos
bancos brasileiros. Utilizando dados agregados dos balanços dos bancos para o
período 1994:12 a 2002:08, procuraram verificar se a política monetária afeta os
bancos através de seus passivos, de seus ativos, ou de ambos. Suas conclusões
são favoráveis à existência do canal do empréstimo bancário, uma vez que
encontraram evidências de que a política monetária é capaz de afetar os balanços
patrimoniais dos bancos.
Fonseca (2003), por sua vez, utilizando-se de dados desagregados em nível
dos estados e regiões do país, buscou identificar a eficiência da política monetária
via canal da taxa de juros e via canal do crédito, procurando averiguar se ocorrem
98
impactos diferenciados desta política nos distintos estados da federação, bem como,
nas cinco regiões geográficas do Brasil. Os resultados mostram que a política
monetária promove efeitos distintos quando avaliados a nível desagregado, e que a
responsabilidade pela transmissão via canal do crédito demonstrou ser mais eficaz
do que via canal da taxa de juros. Com base nesses resultados, ele chama a
atenção para a importância da autoridade monetária buscar uma melhor avaliação
dos mecanismos de transmissão e, também, de considerar os impactos
diferenciados promovidos pela política monetária a nível desagregado, ao tomar as
decisões de política.
No Quadro 3, apresentaremos uma síntese das pesquisas já realizadas no
Brasil, procurando destacar o período de abrangência da pesquisa, metodologia
utilizada, as variáveis relevantes, bem como, os principais resultados obtidos.
Quadro 3 - Sumário da Literatura Empírica para o Canal do Empréstimo
Bancário no Brasil
AUTOR
(ANO)
PAÍS / DATA /
FREQUÊNCIA
METODO DE
ESTIMAÇÃO
VARIÁVEIS
UTILIZADAS
RESULTADOS
Nelson
Ferreira
Souza
Sobrinho e
Marcio Izão
Nakane
(2002)
Brasil
Foram utilizados
dados mensais
para o período
(1996:10-
2001:12)
Análise
descritiva do
mercado de
crédito
brasileiro.
Testes de
causalidade
de Granger, e
análise com
Vetor Auto-
Regressivo
(VAR) e
funções de
resposta a
impulso;
análise da
velocidade
com base em
Ramey
(1993); e
testes
baseados em
estimativas
das curvas IS
e CC com
base em
Hallsten
(1999).
Indicadores de Polícita
(Selic); Indicadores de
Crédito (Spread, Taxa
Média de Juros, Crédito
Total, e Crédito com
taxa de juros Pré-
Fixadas); Indicadores
Monetários (Swap seis
meses, Swap 12 meses,
Inflação IGP-DI, Títulos
Públicos, M1);
Indicadores de Produto
(Produção Industrial
Geral, Bens duráveis,
Bens não duráveis,
Material de transporte, e
Produtos Alimentares).
- Os testes de causalidade sugeriram que a
velocidade seguida pela oferta de crédito e
pelo spread bancário contém informações
econômicas relevantes para prever o
comportamento futuro do produto, o
mesmo não ocorrendo com agregados
monetários.
- As funções de resposta a impulso (FRIs)
baseadas em preços e quantidades
mostraram que tanto o mercado de crédito
como a economia real reagem muito
rapidamente às inovações monetárias.
Elas mostram também que um aperto
monetário aumenta a carteira de títulos
públicos em poder dos bancos, reduz os
recursos disponíveis para empréstimos,
eleva o custo do crédito e, através desse
impacto no mercado de crédito, reduz o
ritmo da atividade econômica,
principalmente nos setores intensivos em
capital de giro.
- As FRIs baseadas nas velocidades
sugeriram que o mercado de crédito é mais
importante do que o mercado monetário na
transmissão das inovações monetárias.
- O teste de canal de crédito baseado na
previsão do modelo de Bernanke e Blinder
(1992) sugere a existência da curva CC no
Brasil, embora a evidência seja menos
contundente e quando se considera a
estrutura a termo da taxa de juros.
99
Quadro 3 - Sumário da Literatura Empírica para o Canal do Empréstimo
Bancário no Brasil
AUTOR
(ANO)
PAÍS / DATA /
FREQUÊNCIA
METODO DE
ESTIMAÇÃO
VARIÁVEIS
UTILIZADAS
RESULTADOS
Flávia
Mourão
Graminho e
Marco
Bonomo
(2002)
Brasil
Foram utilizados
dados mensais
para o período
(1994:07-
2001:12)
Adotou-se
uma
metodologia
de estimação
em dois
estágios e em
painel,
baseada em
Kashyap e
Stein (2000).
São utilizados dados
dos balancetes mensais
de 291 instituições
financeiras (bancos
múltiplos, comerciais e
Caixa Econômica
Federal).
A pesquisa constata que, ao contrário do
esperado, políticas monetárias restritivas –
representadas por aumentos na taxa de
juros – diminuem a sensibilidade do crédito
bancário em relação à liquidez do seu
ativo. Em outras palavras, choques
positivos na taxa de juros relaxam as
restrições de liquidez das instituições
financeiras.
Desta forma, é refutada a existência de um
canal de empréstimos bancários no Brasil
nos moldes propostos pela literatura
americana.
Marcio
Nakane e
Toni
Takeda
(2002)
Brasil
Foram utilizados
dados mensais
para o período
(1994:12–
2002:08)
Vetor Auto-
Regressivo
(VAR) e
funções de
resposta a
impulso.
Índice de Produção
Industrial, taxa de
inflação (IPCA), taxa de
juros SELIC, taxa média
do compulsório sobre
depósitos á vista,
indicadores de balanço
patrimonial dos bancos
(passivo - depósitos e a
sub-conta depósitos à
vista; do lado dos ativos
– operações de crédito,
a sub-conta
empréstimos e títulos
descontados, a sub-
conta financiamentos e
a conta títulos e valores
mobiliários e
instrumentos financeiros
derivativos).
O trabalho encontrou evidências de que a
política monetária é capaz de afetar os
balanços patrimoniais dos bancos. Os
efeitos de cada um dos instrumentos,
entretanto, são diferenciados: enquanto os
requerimentos de compulsório impactam
os depósitos à vista, a taxa Selic tem
efeitos sobre o total de depósitos, sobre os
créditos livres e sobre os títulos e valores
mobiliários. As operações globais de
crédito, por sua vez, não se mostram
sensíveis a alterações nos instrumentos
considerados. O resultado com relação ás
operações globais de crédito não é
surpreendente em vista da inclusão de
modalidades de crédito direcionado como
empréstimos habitacionais e rurais neste
grupo, cujos movimentos são pouco
influenciados pelos instrumentos de política
monetária.
Marcos
Wagner da
Fonseca
(2003)
Brasil
Foram utilizados
dados mensais
para o período
(1994:08-
2000:12), para
estados
selecionados.
São aplicados
Vetor Auto-
Regressivo
(VAR) na
construção de
duas funções
de resposta a
impulso: a
primeira para
verificar o que
a modificação
de um desvio
padrão na
taxa selic
provocaria na
produção
industrial e a
segunda para
verificar o
impacto no
montante das
operações de
crédito.
Taxa Selic; Índice de
produção industrial
calculado pelo IBGE
para o Brasil e para
alguns estados
selecionados (São
Paulo, Minas Gerais,
Rio de Janeiro, Paraná,
Rio Grande do Sul,
Santa Catarina, Ceará,
Pernambuco, Bahia e
região Nordeste); o
crédito bancário
expresso por um
número índice
construído com as
informações de
Operações de Crédito
mensal divulgadas pelo
Banco Central, para o
Brasil e para todos os
estados, com exceção
de Amapá, Sergipe,
Tocantins e Distrito
Federal.
O estudo empírico buscou avaliar a
transmissão da política monetária via canal
da taxa de juros e do crédito e se haveria
impactos diferenciados desta política nos
estados e nas distintas regiões brasileiras.
Para isso, foram estimados dois modelos
VAR para identificar a relação da taxa
Selic: primeiro, com a produção industrial,
e, segundo, com o crédito.
A conclusão geral relativa aos impactos
diferenciados da política monetária nos
estados da federação e nas cinco regiões
geográficas foi que a responsabilidade pela
transmissão via canal do crédito
demonstrou ser mais efetiva do que via
canal da taxa de juros. Isto permite inferir
que o impacto tende a ser maior nas
regiões Norte, Centro-Oeste e Nordeste,
do que nas regiões Sul e Sudeste.
Fonte: Elaborado pelo Autor
3.4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Como se pode constatar, a existência de um canal de transmissão
monetária através do balanço patrimonial parece razoavelmente bem estabelecida.
100
Já no que se refere ao mecanismo de transmissão via canal do empréstimo bancário
existem controvérsias.
Ao analisar a economia americana, Bernanke e Gertler (1995)
observam que, se por um lado, mudanças no ambiente institucional podem colaborar
para tornar o canal do empréstimo bancário, pelo menos como tradicionalmente
concebido, um pouco menos plausível, por outro lado, outros tipos de
desenvolvimentos podem ter aumentado a importância do canal do empréstimo
bancário na transmissão da política monetária. As diversas pesquisas já realizadas,
sobre o referido tema, tornam evidentes essas controvérsias em função da falta de
consenso verificado nos resultados obtidos.
Não obstante, observa-se que as evidências empíricas analisadas - as quais
procuram testar a relevância do canal do crédito (canal do balanço patrimonial e
canal do empréstimo bancário) como um importante canal de transmissão de política
monetária -, em sua maioria, convergem com as predições teóricas, uma vez que, os
resultados obtidos estão em sintonia com os argumentos propostos pela “visão do
crédito”.
Para o caso do Brasil, em especial, no que se refere às pesquisas já
realizadas sobre o referido tema, constata-se que estão concentradas,
fundamentalmente, no canal do empréstimo bancário, sendo que, com relação ao
canal do balanço patrimonial, ainda não existem evidências concretas. Além de
apresentar-se em número reduzido, as pesquisas, também, oferecem resultados
contraditórios, ou seja, não estabelecem um consenso em torno da existência do
mecanismo de transmissão via canal do empréstimo bancário. Isso revela a
necessidade de promover um aprofundamento nos estudos sobre o referido tema,
levando em conta um aspecto importante, ainda não abordado pelas pesquisas, que
é a relevância de aspectos institucionais para explicar tanto o grau de
desenvolvimento do mercado financeiro brasileiro, em especial do mercado de
crédito, bem como a intensidade da transmissão da política monetária via canal do
crédito.
Com vistas a dirimir as controvérsias referentes ao mecanismo de
transmissão do canal do crédito, nos próximos capítulos, procuraremos investigar as
razões que determinam o grau de desenvolvimento do mercado de crédito no Brasil,
bem como, a intensidade na transmissão da política monetária, procurando destacar
o papel desempenhado por aspectos institucionais nesse processo.
101
4 EVOLUÇÕES RECENTES DO SISTEMA FINANCEIRO E A NATUREZA DO
MERCADO DE CRÉDITO NO BRASIL
Os mercados financeiros em geral são submetidos a um sistema de
regulação e supervisão mais sofisticados do que os verificados em outros
segmentos da economia, o que é justificado por características intrínsecas à
natureza das operações realizadas no âmbito desses mercados.
Entre tais características é possível destacar algumas que explicariam a
suscetibilidade das instituições financeiras, em especial as bancárias, à crises, ou a
movimentos de contágio que poderiam ocasionar risco sistêmico. Instituições
bancárias, em particular, constituem-se receptoras e criadores de depósitos à vista,
instrumentos plenamente líquidos. Operam alavancadas, ou seja, suas posições
ativas e passivas são mais elevadas do que o capital próprio e, em geral, são
transformadoras de prazos (os prazos das operações do passivo são mais curtos
que os do ativo). Os contratos firmados por estas instituições são transações que
envolvem obrigações e direitos a serem exercidos em datas futuras e, desta forma,
os valores dos contratos dependem da confiança de que estes serão efetivamente
honrados. Essas características sinalizam que estas instituições ocupam papel de
destaque no sistema de crédito e de pagamento, de modo que, a credibilidade
constitui elemento fundamental para sua atuação, dado o elevado nível de
alavancagem e o descasamento de prazos de suas operações. Quebras de
confiança dos agentes em determinada instituição pode ocasionar movimentos
adversos do público depositante não só na instituição em questão mas também em
outras instituições, mesmo que estas apresentem-se sólidas. Sendo assim,
movimentos de contágio podem ser gerados, até mesmo a partir de instituições
equilibradas, e podem ocasionar problemas sistêmicos, sendo que problemas de
liquidez e/ou solvência bancário podem transbordar para todo o sistema, dada sua
importância na operacionalidade do sistema de pagamentos e recebimentos, bem
como nas operações de crédito (pânico bancário).
Estas características justificam o aparato de regulação e supervisão mais
intenso a que estão submetidas, cujos principais propósitos é garantir a saúde e a
solidez do sistema, bem como a proteção dos depositantes.
O arcabouço de regulação e de supervisão que rege o sistema financeiro
brasileiro passou por um importante processo de transformação ao longo dos anos
102
1990. Este processo deve ser analisado dentro de um contexto de transformações
vivenciadas pela economia, tanto no âmbito doméstico quanto na sua forma de
integração a economia internacional. Dentre as transformações no ambiente em que
operam as instituições financeiras destacam-se: i) o processo de liberalização
financeira, que possibilitou a entrada de capitais estrangeiros no sistema permitindo
uma maior integração com diferentes mercados; ii) a redução da inflação, obtida
através da implementação do Plano Real, que impactou fortemente no sistema
devido à eliminação de uma importante fonte de lucro para as instituições financeiras
(ganhos com floating)
1
; iii) um amplo movimento de fusões e aquisições, processos
de intervenção e liquidação de bancos privados, extinção ou privatização de grande
parte dos bancos públicos estaduais, o que implicou numa importante diminuição do
segmento público no sistema financeiro, e no aumento da concentração e da
participação estrangeira no referido setor; iv) e, reestruturação das instituições
financeiras públicas federais.
O presente capítulo procura analisar algumas especificidades do mercado
de crédito e de capitais brasileiro tomando em conta recentes transformações
estruturais e regulatórias ocorridas no âmbito do Sistema Financeiro Nacional. O
propósito é identificar a relevância de aspectos institucionais, os quais supõem-se de
significativa importância, para entender não só a natureza e as causas do atual
estágio de desenvolvimento do mercado financeira, em especial, do mercado de
crédito, mas também, a relevância do canal do crédito enquanto canal de
transmissão da política monetária.
4.1 REESTRUTURAÇÃO, REGULAÇÃO PRUDENCIAL E REDES DE PROTEÇÃO:
TRANSFORMAÇÕES RECENTES DO SISTEMA FINANCEIRO NACIONAL
Entre as reformas estruturais implementadas na América Latina nos anos
1990, as reformas no sistema financeiro estão entre as que mais prosperaram.
2
E o
Brasil, em especial, ilustra bem as significativas transformações experimentadas
pelo mercado financeiro neste período.
1
Em razão do ambiente inflacionário que predominou durante a década de 1980 e nos primeiros anos
da década de 1990, as instituições financeiras auferiram elevadas receitas com as transferências
inflacionárias (floating), que atingiam, em 1993, participação equivalente a 4,2% do produto interno
bruto (PIB) e 35,3% das receitas totais do sistema. [Andima/IBGE: Sistema Financeiro – Uma análise
das Contas Nacionais; 1990-1995]
2
Para maiores informações consultar Lora (2001).
103
A partir da implantação do Plano Real, no início de julho de 1994, as
reformas empreendidas na área financeira tiveram como principal propósito, a
finalidade de fortalecer e reestruturar o sistema financeiro nacional. Tais reformas
tornaram-se essenciais com a estabilização da economia, principalmente se
considerarmos a perda de importante fonte de receita do sistema financeiro advinda
das transferências inflacionárias (floating). De acordo com Puga (1999), até então
não havia um arcabouço institucional que prevenisse o sistema contra os riscos de
uma crise financeira. A atuação do Banco Central para socorrer as instituições se
dava mais em caráter emergencial, utilizando recursos da reserva monetária, que
contava com parte da arrecadação do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF).
Nos primeiros meses, seguindo a implantação do programa de estabilização
introduzido pelo Plano Real, a perda das receitas com floating foi compensada pelo
aumento das operações de crédito, favorecidas pelo rápido crescimento econômico
decorrente da estabilização. Com a redução dos índices de inflação vigentes até
então, houve um crescimento da demanda por crédito, impulsionado também pela
maior disponibilidade de recursos no sistema bancário decorrente do aumento
expressivo no volume de depósitos. Esses fatores conjugados com a necessidade
de compensar a perda das receitas inflacionárias, levaram os bancos a incrementar
a destinação de recursos para operações de empréstimos e financiamentos.
A liberalização financeira que caracterizou grande parte das economias
emergentes na década de 1990 foi acompanhada, também, pelo desaparecimento
das restrições sobre tetos nas taxas de juros e sobre tipos de empréstimos que
poderiam ser realizados. Dadas estas circunstâncias e a perda de uma das
principais fontes de receita dos bancos (ganhos com floating), era natural a
ocorrência de uma expansão nas operações de crédito. O problema em si não
estava no fato de os empréstimos se expandirem, mas no modo como o fizeram, ou
seja, de forma muito intensa e com uma excessiva exposição ao risco.
Na segunda metade da referida década, o sistema bancário passou por
importante processo de fragilização. No início de 1995, além dos impactos
conjugados da redução nas taxas de inflação e da extinção das receitas
inflacionárias, o sistema bancário confrontou-se com políticas monetária e creditícia
104
restritivas devido a crise mexicana e um crescimento do nível de inadimplência.
3
A
política econômica daquele período foi marcada por um aumento nos níveis e
criação de novas modalidades de depósitos compulsórios, introdução de outros
controles sobre a criação de crédito, bem como por uma elevação das taxas de juros
básicas (referencial dos custos de captação), objetivando reduzir a liquidez do
sistema e, conseqüentemente, diminuir a taxa de crescimento da demanda por bens
e serviços.
Conforme observam Pinheiro e Moura (2001), no período imediatamente
posterior à implantação do programa de estabilização, os bancos não estavam
preparados para a explosão da oferta de crédito que se sucedeu, uma vez que, esta
ocorreu sem que tivesse havido qualquer mudança essencial nas práticas de
concessão de crédito, que continuavam a utilizar métodos antiquados para a seleção
dos tomadores. Outros credores, como lojas de departamentos e pequenos
varejistas, estavam em situação ainda mais difícil, já que não contavam nem com
essa limitada experiência.
4
Isso revela uma situação em que os credores não estavam preparados para
utilizar as informações disponíveis e não dispunham de instrumentos suficientes
para selecionar bons tomadores de empréstimo, ou seja, não estavam preparados
para lidar com problemas de assimetria de informação (seleção adversa e risco
moral). Além disso, a qualidade e a natureza das informações disponíveis
contribuíam para o fraco desempenho do setor.
5
3
A expansão do volume de crédito nos primeiros meses do Plano Real trouxe consigo altos índices
de inadimplência e, por conseqüência, necessidade de constituição de vultosas provisões contábeis
para créditos de liquidação duvidosa (BANCO CENTRAL DO BRASIL – BACEN, 2000).
4
Assim, não foi surpresa quando os índices de inadimplência aumentaram dramaticamente nesse
segmento do mercado levando à falência credores que apenas há alguns meses exibiam recordes de
vendas e de receitas de juros, como foi o caso das duas maiores lojas de departamento do país:
Arapuã e Mesbla. Os bancos também não ficaram imunes: tanto os públicos quanto os privados –
nacionais e estrangeiros – testemunharam um aumento das taxas de inadimplência nos seus
empréstimos para pessoas físicas. O Boavista, um dos bancos mais tradicionais do país, foi à falência
um ano após divulgar a taxa mais alta de lucro do setor, resultante quase que inteiramente da receita
de juros cobrados sobre empréstimos aos consumidores (PINHEIRO; MOURA, 2001, p. 8)
5
Os bureaus de informação de crédito (BICs) existiam no Brasil há várias décadas, mas
tradicionalmente mantinham essencialmente informações negativas, obtidas dos cartórios judiciais e
de títulos, das associações de diretores lojistas e do registro do Banco Central sobre cheques
devolvidos. Como, após o Plano Real, muitos tomadores estavam tendo acesso aos mercados de
crédito pela primeira vez, as informações disponíveis nesses BICs forneciam pouca orientação sobre
a probabilidade de inadimplência do tomador. Além disso, de certa maneira, a função dos BICs era
menos a de informar os credores e mais a de estimular os tomadores a quitar suas dívidas, já que o
nome do mau pagador é apagado desses registros uma vez quitado o pagamento. Isto é, a ênfase
era sobre a execução da dívida e não sobre a criação de bancos de dados sobre histórico de
pagamento do tomador (PINHEIRO; MOURA, 2001, p. 8).
105
Mishkin (1999) aponta duas razões para a excessiva exposição do sistema
financeiro ao risco que, em geral, caracterizou as economias emergentes após o
processo de liberalização financeira: a incapacidade dos gestores do sistema
bancário em avaliar de forma eficiente o risco envolvido em novas oportunidades de
investimentos. Com o rápido crescimento dos empréstimos, as instituições bancárias
não puderam aumentar o capital empresarial (técnicos bem treinados em operações
de crédito, sistemas de avaliação de riscos etc.) de modo breve o suficiente para
capacitar essas instituições à protegerem e monitorarem os novos empréstimos de
forma adequada; e, pela insuficiência do sistema de regulamentação e supervisão
por parte dos Bancos Centrais, dos países emergentes, num contexto de economias
financeiramente liberalizadas.
Além dessas razões, mesmo que não houvesse uma rede de segurança
governamental explícita para o sistema bancário, havia uma rede de segurança
implícita que criava problemas de risco moral. Os depositantes e os credores
externos, sabendo que provavelmente haveria uma assistência governamental para
protegê-los (com o Banco Central dos países e instituições internacionais, tais como
Fundo Monetário Internacional, atuando como emprestadores de última instância),
dispunham de poucos incentivos para monitorar os bancos. E estes, por sua vez,
sem nenhuma restrição, eram estimulados a se expor excessivamente ao risco,
procurando de forma agressiva novos recursos para financiar seus negócios.
Este cenário, também caracterizou o mercado de crédito do Brasil,
imediatamente após o Plano Real. Como observam Pinheiro e Moura (2001) a
supervisão dos bancos e a regulação prudencial não foram capazes de criar
instrumentos que impedissem a falência de um grande número de instituições
financeiras, os bancos tinham pouca experiência na concessão de crédito e os
bureaus de informação de crédito (BICs) estavam mal equipados para fornecer as
informações necessárias à implementação de uma análise de risco de crédito
adequada.
6
Ou seja, o ambiente institucional e regulatório que prevaleceu
imediatamente após a implementação do programa de estabilização não
6
Esse quadro contribuiu para a insolvência e a liquidação de várias instituições bancárias e
financeiras, que apresentavam desequilíbrios em sua atuação. Inicialmente foram atingidos os
pequenos bancos criados a partir de 1988 com o estímulo das altas receitas inflacionárias. Entre
junho de 1994 e dezembro de 1995, o Banco Central decretou regime especial em 28 instituições
bancárias. No entanto, os desajustes atingiram também dois dos maiores bancos privados do país: O
Banco Econômico (agosto de 1995) e o Banco Nacional (novembro de 1995), os quais, por sua
representatividade, agravavam o risco de crise bancária sistêmica. [Relatório de Atividades da
Diretoria de Fiscalização do Banco Central do Brasil – 1995 – 2002].
106
representou um ambiente propício ao tipo de expansão do crédito ao setor privado
nos moldes que seria necessário para justificar um processo de crescimento
econômico acelerado e estável.
7
Segundo Moura (1998), o aparato de supervisão então vigente não se
mostrava adequado para lidar com problemas bancários, e tal inadequação era
disfarçada pela política monetária acomodacionista característica do período
inflacionário. Desta forma, com a estabilização da economia as fragilidades do
sistema tornaram-se evidentes. Dentre os problemas mais comuns que se
apresentavam, destacam-se: i) níveis inadequados de provisões para perdas de
empréstimos; ii) concentração setorial e regional de crédito; iii) investimentos
acionários de bancos em instituições não-financeiras; iv) liberalização prematura das
regras de entrada no sistema bancário; e por fim v) fraudes e grandes dificuldades
no monitoramento de instituições não financeiras do bancos.
Tratava-se de um ambiente contaminado por elevada assimetria de
informações, sujeito aos graves problemas que dela poderiam advir tais como de
seleção adversa e o risco moral. Diante deste quadro, emergiu a necessidade de
promover uma profunda reforma no âmbito do setor financeiro brasileiro. Desde
então, o setor vem experimentando uma intensa transformação. O Governo Federal
colocou em andamento um conjunto de reformas voltadas para a reestruturação e o
fortalecimento do sistema financeiro nacional. As reformas têm contemplado
fundamentalmente a implantação de mecanismos mais sofisticados para a análise
de risco, com os bancos investindo em novas técnicas para o aperfeiçoamento de
análise de crédito; a maior facilidade na entrada de instituições estrangeiras para
viabilizar a concorrência no setor; o saneamento e a privatização de bancos que
estavam sob o domínio público; aperfeiçoamento nos mecanismos de informação de
crédito; promoção da reestruturação e o fortalecimento do sistema, com o Banco
Central introduzindo eficientes mecanismos para a regulamentação e supervisão do
sistema financeiro. Estas reformas revelavam-se essenciais num contexto em que se
tinha como principal propósito a consolidação da estabilização da economia.
Num primeiro momento, acreditou-se que o instrumental então vigente –
baseado nos regimes de intervenção, liquidação extrajudicial e administração
7
Para maiores informação referentes à relação entre aprofundamento financeiro e crescimento
econômico, conferir os trabalhos de King e Levine (1993a, 1993b, 1993c) e Beck, Levine e Loayza
(2000).
107
especial temporária – aliado à atuação das instituições financeiras públicas federais,
em especial Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal, no mercado interbancário,
fornecendo liquidez para instituições com problemas, seria suficiente para abortar a
possibilidade de risco sistêmico. No entanto, a necessidade de intervenção em
grandes bancos privados explicitou a maior gravidade da situação.
Diante da fragilidade que se apresentava, o Banco Central do Brasil adotou
um conjunto de medidas de caráter emergencial de modo a garantir o saneamento
do sistema. No que diz respeito às reformas encaminhadas com vistas a promover a
reestruturação do sistema financeiro, Puga (1999) considera como sendo de maior
relevância:
- A criação do Programa de Incentivos à Reestruturação e Fortalecimento
do Sistema Financeiro Nacional (PROER - Resolução 2.208/95), o qual
procurou estabelecer um quadro legal para a reestruturação dos bancos
privados, visando assegurar a liquidez e a solvência do sistema;
- A criação do Programa de Incentivos à Redução do Sector Público
Estadual (PROES) (MP 1.514/96), com a finalidade de sanear o sistema
financeiro público estadual através da reestruturação e privatização desses
bancos;
- A criação do Programa de Fortalecimento das Instituições Financeiras
Federais (PROEF) aplicado ao Banco do Brasil e à Caixa Econômica
Federal, o qual permitiu o saneamento dessas instituições e a transferência
de parte de seus ativos para a Empresa Gestora de Ativos (EMGEA),
contribuindo para a reestruturação patrimonial e para a redução dos
respectivos capitais dessas instituições aos níveis mínimos exigidos.
- A criação do Fundo Garantidor de Créditos (FGC – Resolução 2.197/95)
para dar cobertura a depósitos e aplicações de clientes de instituições, nos
casos de decretação de intervenção, liquidação extrajudicial, falência ou
reconhecimento pelo Banco Central do Brasil do seu estado de insolvência.
O FGC é uma entidade privada sem fins lucrativos, cujos recursos tem
origens na contribuição das instituições participantes de 0,025% dos saldos
mensais dos instrumentos segurados;
- A Exposição de Motivos 311, que estabeleceu ser do interesse do país a
entrada ou o aumento da participação de instituições estrangeiras no
sistema financeiro nacional. Dentre os aspectos destacados, incluem-se a
108
escassez de capitais nacionais; a eficiência operacional e a capacidade
financeira superior dos bancos estrangeiros com vistas a promover reflexos
positivos sobre o preço dos serviços e sobre o custo dos recursos
oferecidos à população, através do aumento na oferta de recursos; e com a
introdução de novas tecnologias. A Resolução 2.212/95 eliminou a
exigência de que o capital mínimo de um banco estrangeiro fosse o dobro
daquele exigido de um banco nacional;
- A ampliação dos poderes do Banco Central, de maneira que esse pudesse
realizar ações preventivas para sanear o sistema financeiro. Essa medida
permitiu que a autoridade monetária passasse a exigir das instituições com
problemas de liquidez um novo aporte de recursos, a transferência do
controle acionário ou a reorganização societária por meio de incorporação,
fusão ou cisão (a MP 1.182/95, posteriormente transformada em Lei
9.447/97, criou o modelo de cisão, permitindo a separação entre banco bom
e banco ruim). Além disso, facultou ao Banco Central desapropriar as ações
do controlador de um grupo financeiro e, posteriormente, efetuar sua venda
por meio de oferta pública, caso ele não acatasse suas recomendações.
Também, estendeu ao acionista controlador a responsabilidade solidária
com os administradores, no caso de problemas com instituições.
As reformas estruturais foram complementadas pela definição de normas
que dificultaram a constituição de novas instituições financeiras, e criaram um
sistema de incentivos fiscais e facilidades de crédito para promover uma rápida
consolidação do sistema bancário através de fusões, aquisições e transferência de
controle acinário.
Ainda no que tange à constituição de rede de proteção, mas com relação à
função da autoridade monetária enquanto emprestadora de última instância, convém
destacar que a promulgação da Lei de Responsabilidade Fiscal (Lei Complementar
101/00) restringiu a capacidade e a flexibilidade de atuação do Banco Central em
situações de fragilidade, dificultando ou mesmo inviabilizando a criação de
programas nos moldes do PROER. Uma vez que a lei determina que, salvo
mediante lei específica, não poderão ser utilizados recursos públicos, inclusive de
operações de crédito, para socorrer instituições do Sistema Financeiro Nacional,
ainda que mediante a concessão de empréstimos de recuperação ou financiamento
para mudanças de controle acionário. Além disso, estabelece que a prevenção de
109
insolvência e outros riscos ficará a cargo de fundos, e outros mecanismos,
constituídos pelas instituições do próprio sistema.
Além das reformas de caráter estruturais, o Banco Central vem atuando de
forma consistente ao adotar medidas rígidas para disciplinar o comportamento das
instituições financeiras, através da melhoria e aperfeiçoamento no arcabouço de
regulamentação prudencial e supervisão do sistema financeiro brasileiro. Para se
entender o formato assumido pelo arcabouço de regulação/supervisão que passa a
viger no sistema brasileiro é possível pensar as mudanças a partir de algumas
grandes linhas: adequação ao risco, transparência de informações e regras para o
acesso e controle interno das instituições. De acordo com Puga (1999), essas
medidas compreendem:
- O estabelecimento de limites mínimos de capital para a constituição de um
banco (Resolução 2.099), definindo o nível mínimo de patrimônio líquido
que as instituições deveriam manter, além de limites adicionais que
variariam de acordo com o grau de risco dos ativos (risco de crédito, risco
de mercado e risco operacional), procurando atuar em consonância com o
Acordo de Basiléia;
- A instituição da co-responsabilidade das empresas de auditoria e dos
auditores independentes em casos de irregularidades na instituição
financeira, forçando os auditores a informarem ao Banco Central sobre
eventuais dificuldades das instituições (MP 1.334/96);
- A permissão para que as instituições financeiras cobrassem tarifas pela
prestação de serviços. Tal medida se mostrou necessária em virtude da
perda de receita pelos bancos com a queda da inflação (Resolução
2.303/96).
- Abriu a possibilidade de os bancos venderem parte ou toda a carteira de
crédito a sociedades anônimas de objeto exclusivo, a partir de então
denominadas Companhias Securitizadoras de Crédito Financeiros (CSCF)
(Resolução 2.493/98). A medida abrange, inclusive, os créditos em atraso e
em liquidação. As CSCFs podem comprar os créditos das instituições
financeiras e securitizá-los, ou seja, transformá-los em títulos negociáveis.
Também centralizam a cobrança dos créditos adquiridos, reduzindo os
custos administrativos. Com isso, ficou facilitada a recuperação do capital
emprestado ou, pelo menos, uma parte, estimulando as instituições
110
financeiras a ampliarem a oferta de crédito. Ao permitir o repasse dos
créditos das instituições sob intervenção, a medida também agilizou o
processo de saneamento dos bancos.
- A criação, pelo Conselho Monetário Nacional, do Sistema Central de Risco
de Crédito (Resoluções 2.390/97 e 2.724/00) o qual estabelece que as
instituições financeiras devem identificar e informar a autoridade monetária
sobre os clientes (pessoas físicas e jurídicas) que possuam saldo devedor
superior ao limite pré-estabelecido, assim como o nível de risco das
operações/clientes, garantias e créditos já considerados como prejuízo. A
idéia subjacente é que essas informações devem contribuir tanto para o
fortalecimento da atuação da supervisão quanto para uma melhor gestão do
risco pelas instituições financeiras, uma vez que estas podem ser
acessadas em momentos de decisões de empréstimos, na busca pela
diminuição da inadimplência e conseqüente aumento do volume de crédito;
- As instituições financeiras devem apresentar ao Banco Central um
programa para a implementação do sistema de controle interno, em
concordância com as regras estabelecidas pelo Comitê de Basiléia, o qual
deve definir as responsabilidades de cada um dentro da instituição,
auxiliando na definição dos responsáveis por crimes no setor financeiro
(Resolução 2.554/98). Também, deve prever a contínua avaliação dos
diversos riscos associados às atividades da instituição; a agregação das
atividades atribuídas aos integrantes da instituição, de modo a evitar
conflitos de interesse; os meios de identificar fatores internos e externos que
possam prejudicar a realização dos objetivos da instituição; a existência de
canais de comunicação que assegurem aos funcionários o acesso a
informações relevantes para suas responsabilidades; o acompanhamento
sistemático das atividades desenvolvidas; e a existência de testes
periódicos de segurança para os sistemas de informação.
- No que concerne à transparência de informações destacam-se as medidas
que permearam a publicação de informações trimestrais pelas intituições,
assim como a abertura de dados em consonância com regras internacionais
possibilitando a consolidação das informações pelo Bank for International
settlements (BIS).
111
- Classificação de risco de empréstimos e provisionamento (Resolução
2.282/1999). As instituições financeiras passaram a ter que classificar as
operações de sua carteira de crédito e constituir provisões para as perdas
esperadas desta carteira a partir dos critérios estabelecidos. Para tal, não só
a operação de crédito passou a ser avaliada e classificada a partir de
características tais como valor, finalidade, tipo de transação e garantia, mas
também e em especial, o tomador e o garantidor da operação passaram a
sê-lo a partir de aspectos tais como capacidade de geração de fluxo de
caixa do devedor, segmento econômico de atuação, condições macro e
setoriais. A classificação das operações deve ser revista periodicamente em
função de atraso no pagamento da dívida e publicada nos balanços dos
bancos, de modo a garantir maior transparência às informações quanto ao
nível de risco da carteira de crédito da instituição em questão.
- Diversificação do risco por cliente (Resolução 2.844/01). Este mecanismo
impõe restrições à composição de carteira dos bancos ao limitar a
exposição a tomadores individuais a 25% do patrimônio da instituição.
Procura garantir nível mínimo de diversificação, assim como evitar
empréstimos conectados uma vez que proíbe operações de crédito para
proprietários, administradores da instituição, assim como para seus
parentes.
Como se pode constatar, o Banco Central implementou expressivos
esforços no sentido de criar uma série de medidas que significaram o ajustamento
de sua estrutura de regulação e supervisão às novas necessidade de controle e
monitoramento do mercado financeiro e de capitais, implicando na constituição de
uma estrutura voltada para a necessidade de mensuração avaliação e administração
de risco. O novo arcabouço se distingue significativamente do que vigorou até então,
e se aproxima do padrão de qualidade das melhores práticas internacionais.
Lundberg (1999) avalia o processo de saneamento enumerando uma série
de pontos positivos, tais como: i) baixo custo quando comparado à outras
experiências internacionais; ii) o modelo de cisão, em contraponto com o modelo de
aquisição até então adotado, implicou melhor definição e caracterização da
responsabilidade dos ex-controladores e ex-administradores pela inadimplência; iii)
no modelo adotado, os custos a serem efetivamente bancados pelo governo seriam
menores dada a possibilidade de ressarcimento, ao menos parcial, com base no
112
patrimônio dos ex-controladores e acionistas; e, iv) com a criação do Fundo
Garantidor de Crédito, não só uma lacuna do esquema regulatório teria sido
preenchida, como também os prejuízos do governo teriam sido divididos, por se
tratar de um mecanismo privado.
Em decorrência das reformas estruturais e regulatórias implementadas no
âmbito do setor financeiro brasileiro, no período pós Plano Real, algumas evidências
relevantes marcam as recentes transformações ocorridas no setor.
A Tabela 1 demonstra os efeitos da estabilização da economia e dos
programas de reestruturação sobre o número de instituições financeiras do
segmento bancário.
8
É possível constatar que a estrutura do setor bancário foi
profundamente alterada durante o período considerado (1994 – 2005). No computo
geral, verifica-se uma redução no número total de bancos, que era de 246 em 1994
e passou para 161 em 2005.
Em termos de composição, destaca-se uma queda significativa no número
de bancos privados nacionais (de 176 em 1994 para 90 em 2005), bem como, no
número de bancos públicos (de 32 em 1994 para 14 em 2005), que ocorreu por
conta da redução do número de bancos estaduais. Por outro lado, o número de
bancos estrangeiros (que compreende filiais de bancos estrangeiros, bancos com
controle estrangeiro, e bancos com participação estrangeira), aumentou
significativamente, passando de 38 em 1994 para 57 em 2005.
Tabela 1 - Número de Instituições Financeiras do Segmento Bancário
1994
Dez
1995
Dez
1996
Dez
1997
Dez
1998
Dez
1999
Dez
2000
Dez
2001
Dez
2002
Dez
2003
Dez
2004
Dez
2005
Dez
Bancos Públicos
32 32 32 27 23 19 19 16 14 14 14 14
Bancos Privados
214 210 199 190 180 175 176 166 157 150 150 147
Nacional
176 173 159 145 122 108 107 96 92 88 92 90
Estrangeiros
38 37 40 45 58 67 69 70 65 62 58 57
Total de Bancos
246 242 231 217 203 194 195 182 171 164 164 161
Fonte: Banco Central do Brasil, Relatório de Estabilidade Financeira (1994-2005)
Conforme observa Puga (1999), o aumento no número de bancos
estrangeiros mostrou-se positivo tanto no que se refere à melhoria da qualidade dos
serviços e ao aporte de novas tecnologias, como no tocante à maior eficiência
operacional. Além disso, os bancos estrangeiros têm demonstrado maior capacidade
de absorver os efeitos de choques macroeconômicos. Isso indica que o ingresso de
8
Nesta categoria estão discriminados os bancos públicos Federais e Estaduais, bancos privados
nacionais, filiais de bancos estrangeiros (comerciais), bancos com controle estrangeiro, bancos com
participação estrangeira.
113
bancos estrangeiros tem contribuído para dar mais solidez e eficiência ao sistema
financeiro nacional.
9
No que se refere às instituições não bancárias, demonstradas na Tabela 2,
o destaque está na queda substancial do número de Distribuidoras de Câmbio e
Valores Mobiliários, que se reduziu a menos da metade (de 367 em 1994 para 137
em 2005).
10
Em contrapartida, verificou-se um significativo crescimento do número
de Cooperativas de Crédito (de 946 em 1994 para 1430 em 2005).
Tabela 2 - Número de Instituições Financeiras
1994
Dez
1995
Dez
1996
Dez
1997
Dez
1998
Dez
1999
Dez
2000
Dez
2001
Dez
2002
Dez
2003
Dez
2004
Dez
2005
Dez
Bancos Múltiplos
210 205 191 179 173 168 163 153 146 141 140 138
Bancos Comerciais
1
34 35 38 36 28 25 28 28 24 23 23 22
Bancos de Desenvolvimento
6 6 6 6 6 5 5 4 4 4 4 4
Bancos de Investimentos
17 17 23 22 22 21 19 20 21 21 21 20
Caixas Econômicas
2 2 2 2 2 1 1 1 1 1 1 1
Soc. Crédito, Financ. e Investim.
41 42 47 48 42 41 42 39 43 47 46 47
Corretoras de Valores
2
280 271 255 237 228 230 225 218 212 190 186 183
Distribuidoras de Valores
367 323 281 235 207 186 173 156 149 146 138 137
Soc. de Arrendamento Mercantil
72 78 74 78 80 79 77 71 68 58 51 48
Soc. Créd. Imob./Assoc.Poup.Em.
27 23 22 22 21 19 18 18 18 18 18 18
Companhias Hipotecárias
0 0 3 3 4 6 7 7 6 6 6 6
Agências de Fomento
0 0 0 0 0 5 8 9 9 11 12 12
Soc. Crédito Microempreendedor
0 0 0 0 0 3 6 14 21 49 51 52
Subtotal 1 1056 1002 942 868 813 789 772 738 722 715 697 688
Cooperativas de Crédito
946 980 956 1015 1088 1183 1235 1333 1356 1454 1436 1430
Subtotal 2 2002 1982 1898 1883 1901 1972 2007 2071 2078 2170 2133 2118
Administradoras de Consórcio
490 462 446 433 422 406 404 397 386 365 364 350
Total 2492 2444 2344 2316 2323 2378 2411 2468 2464 2535 2497 2468
Fonte: Banco Central do Brasil, Relatório de Estabilidade Financeira. (1994-2005)
(1) - Inclui as Filiais de Bancos Estrangeiros.
(2) - Inclui as Sociedades Corretoras de Câmbio
Com relação ao Sistema Financeiro Nacional em sua totalidade, verifica-se
que a redução do número de instituições bancárias tem sido compensado pelo
aumento de instituições não bancárias.
Além das transformações na composição do sistema, observam-se
mudanças significativas na evolução das contas patrimoniais do sistema
(compreendendo patrimônio líquido, ativos totais, operações de crédito e depósitos),
conforme evidencia as Tabelas 3 à 6.
No que se refere a participação das instituições financeiras bancárias no
patrimônio líquido do segmento bancário, descrito na Tabela 3, observa-se um
9
Vale mencionar, a titulo de exemplo, que a aquisição do Bamerindus pelo HSBC possibilitou a
transferência de controle de um banco privado nacional para uma instituição estrangeira, evitando a
falência de uma grande instituição, caso inédito no Brasil. Além disso, houve expressivo aumento de
eficiência da instituição após a transferência do controle acionário (PUGA, 1999, p. 48).
10
A categoria de instituições não-bancária inclui a Sociedade de Crédito, Financiamento e
Investimento, Sociedade de Arrendamento mercantil, Corretoras de Câmbio e Valores Mobiliários,
Distribuidoras de Câmbio e Valores Mobiliários, Sociedade de Crédito Imobiliário e Associação de
Poupança e Empréstimos, Cooperativas de Crédito e Companhias Hipotecárias.
114
crescimento significativo da participação do setor privado (de 65,7% em 1994 para
81% em 2005), com destaque para a participação dos bancos privados estrangeiros,
que passou de 9,6% em 1994 para 25,3% em 2005. A participação dos bancos
privados nacionais, que responde por mais da metade do patrimônio líquido do
setor, se manteve relativamente estável.
Tabela 3 - Participação das Instituições Financeiras Bancárias no Patrimônio
Líquido do Segmento Bancário
1994
Dez
1995
Dez
1996
Dez
1997
Dez
1998
Dez
1999
Dez
2000
Dez
2001
Dez
2002
Dez
2003
Dez
2004
Dez
2005
Dez
Bancos Públicos
34,3 36,8 33,5 32,8 27,2 26,5 19,8 16,5 16,4 16,9 17,9 19,0
Bancos Privados
65,7 63,2 66,5 67,2 72,8 73,5 80,2 83,5 83,6 83,1 82,1 81,0
Nacional
56,1 49,9 56,1 52,7 50,6 47,6 51,3 52,1 50,4 54,4 54,3 55,7
Estrangeiros
9,6 13,3 10,4 14,5 22,2 25,9 28,9 31,4 33,2 28,7 27,8 25,3
Total de Bancos
100 100
100 100 100 100 100 100 100 100 100 100
Fonte: Banco Central do Brasil, Relatório de Estabilidade Financeira (1994-2005)
Os bancos privados nacionais, além de deterem maioria sobre o patrimônio
líquido das instituições bancárias, respondem por uma significativa parcela das
operações ativas (41,3% em 1994 e 43,7% em 2005), conforme demonstra a Tabela
4. Os bancos estrangeiros, por sua vez, vem aumentando sua participação nas
operações ativas do setor, dado que sua participação que representava 7,2% em
1994, passou para 23,2% em 2005.
Tabela 4 - Participação das Instituições Financeiras Bancárias nos Ativos
do Segmento Bancário
1994
Dez
1995
Dez
1996
Dez
1997
Dez
1998
Dez
1999
Dez
2000
Dez
2001
Dez
2002
Dez
2003
Dez
2004
Dez
2005
Dez
Bancos Públicos
51,5 52,3 51,1 50,2 46,1 43,3 36,9 32,3 33,3 37,7 34,9 33,1
Bancos Privados
48,5 47,7 48,9 49,8 53,9 56,7 63,1 67,7 66,7 62,3 65,1 66,9
Nacional
41,3 39,3 39,1 36,9 35,4 33,4 35,5 37,6 36,3 41,3 42,3 43,7
Estrangeiros
7,2 9,8 9,8 12,9 18,5 23,3 27,6 30,1 30,4 21 22,8 23,2
Total de Bancos
100 100
100 100 100 100 100 100 100 100 100 100
Fonte: Banco Central do Brasil, Relatório de Estabilidade Financeira (1994-2005)
Desempenho semelhante é observado com relação às operações passivas
do setor, conforme demonstra a Tabela 5. O setor privado aumentou sua
participação de 44% em 1994 para 62% em 2005, sendo que, parte significativa
desse aumento é explicada pelo crescimento da participação dos bancos privados
estrangeiros que passou de 4,6% em 1994 para 20,6% em 2005.
115
Tabela 5 - Participação das Instituições Financeiras Bancárias nos
Depósitos do Segmento Bancário
1994
Dez
1995
Dez
1996
Dez
1997
Dez
1998
Dez
1999
Dez
2000
Dez
2001
Dez
2002
Dez
2003
Dez
2004
Dez
2005
Dez
Bancos Públicos
56,0 58,1 61,4 59,4 51,5 51,0 44,4 43,8 43,4 43,2 39,8 37,3
Bancos Privados
44,0 41,9 38,6 40,6 48,5 49,0 55,6 56,2 56,6 56,8 60,2 62,7
Nacional
39,4 36,5 34,2 33,0 33,3 32,1 34,2 35,8 36,1 38,9 40,0 42,1
Estrangeiros
4,6 5,4 4,4 7,6 15,2 16,9 21,4 20,4 20,5 17,9 20,2 20,6
Total de Bancos
100 100
100 100 100 100 100 100 100 100 100 100
FONTE: Banco Central do Brasil, Relatório de Estabilidade Financeira (1994-2005)
No que se refere à participação das instituições financeiras bancárias nas
operações de crédito do segmento bancário (Tabela 6), observa-se um crescimento
expressivo da participação dos bancos privados (de 40,7% em 1994 para 68,7% em
2005) com destaque para os bancos privados estrangeiros que aumentaram sua
participação de 5,2% em 1994 para 27,1% em 2005. Não obstante, os bancos
privados nacionais ainda são responsáveis pela maior parcela das operações de
crédito do sistema, e vem ampliando sua participação (de 35,5% em 1994 para
41,6% em 2005).
Tabela 6 - Participação das Instituições Financeiras Bancárias nas Operações
de Crédito do Segmento Bancário
1994
Dez
1995
Dez
1996
Dez
1997
Dez
1998
Dez
1999
Dez
2000
Dez
2001
Dez
2002
Dez
2003
Dez
2004
Dez
2005
Dez
Bancos Públicos
59,3 62,3 58,4 52,6 53,7 48,0 39,6 25,2 28,1 33,4 32,0 31,3
Bancos Privados
40,7 37,7 41,6 47,4 46,3 52,0 60,4 74,8 71,9 66,6 68,0 68,7
Nacional
35,5 32,0 32,9 35,6 31,3 32,0 34,9 42,8 41,3 42,3 42,3 41,6
Estrangeiros
5,2 5,7 8,7 11,8 15,0 20,0 25,5 32,0 30,6 24,3 25,7 27,1
Total de Bancos
100 100
100 100 100 100 100 100 100 100 100 100
Fonte: Banco Central do Brasil, Relatório de Estabilidade Financeira (1994-2005)
Em termos gerais, observa-se que a redução da participação das
instituições financeiras públicas no segmento bancário, devido ao intenso processo
de reestruturação e privatização que marcou o setor após a implantação do
programa de estabilização, foi compensada pelo aumento significativo da
participação de instituições privadas estrangeiras, as quais participaram
intensamente do processo de privatizações, principalmente na aquisição de bancos
estaduais. Não obstante, constata-se que os bancos privados nacionais tem
preservado sua hegemonia em comparação com os bancos estrangeiros no que se
refere aos ativos, aos depósitos, aos créditos concedidos, e ao patrimônio líquido.
Além disso, vem mantendo a liderança no ranking das principais instituições
financeiras no que se refere aos ativos totais.
116
De acordo com Puga (1999), no que diz respeito a indicadores de
alavancagem, qualidade dos ativos e lucratividade, os bancos privados nacionais se
encontram em uma posição menos vulnerável do que estavam nos primeiros anos
pós Plano Real, e vem apresentando constante melhora. Além disso, comparações
internacionais evidenciam que os principais bancos privados nacionais mostram-se
bem menos vulneráveis ao risco de crédito do que os bancos da Argentina, México,
Indonésia, Tailândia e Coréia do Sul. Isto demonstra que, pelo menos no tocante
aos empréstimos do setor bancário, o sistema financeiro apresenta-se bastante
sólido, tornando remota a possibilidade de crises sistêmicas, e que têm reagido à
maior presença de bancos estrangeiros perseguindo, permanentemente, uma maior
eficiência.
No que diz respeito à exposição do sistema à vulnerabilidade externa
(oscilações cambiais), Puga (1999) observa que uma parcela significativa das
captações externas tem sido realizada por bancos estrangeiros, que podem recorrer
às suas matrizes no exterior para resolver eventuais dificuldades em honrar
compromissos externos. Além disso, as obrigações externas líquidas dos bancos
são direcionadas principalmente para empresas exportadoras, que possuem receitas
também em dólar; a importadores, aos quais os bancos têm oferecido contratos
futuros para protegê-los de uma desvalorização da moeda; ou a títulos com hedge
cambial. Todos estas medidas revelam uma baixa exposição ao risco cambial.
Em termos gerais, fazendo um balanço dos efeitos das reformas estruturais
implementadas com vistas a promover a reestruturação, regulamentação e
supervisão do Sistema Financeiro Nacional, constata-se que os resultados mostram-
se bastante satisfatórios, e tem cumprido um papel crucial para a consolidação da
estabilidade macroeconômica. As medidas saneadoras não somente afastaram a
situação de crise iminente como também foram bem sucedidas ao garantir uma
maior solidez ao sistema, que emergiu desse processo mais concentrado e com
maior participação do capital estrangeiro.
Todas as medidas de reforma contribuíram para dar mais transparência e
solidez ao sistema financeiro e, por conseguinte, foram fundamentais para ajudar a
reduzir a assimetria de informações, e conter os problemas de seleção adversa e
risco moral por ela gerados. Portanto, constata-se que as reformas atuaram
intensamente e mostraram-se eficientes para a transformação das estruturas,
garantindo a solidez e transparência ao sistema. Porém, resta saber se estas
117
transformações estruturais contribuíram para as transformação das relações
estabelecidas no mercado financeiro, especialmente, no que se refere às relações
que se estabelecem no mercado de crédito (entre credores e tomadores de
empréstimos), as quais supõe-se fundamentais para a criação de um ambiente
favorável ao desenvolvimento econômico.
4.2 EFEITOS DAS REFORMAS ESTRUTURAIS SOBRE O DESENVOLVIMENTO
DO MERCADO FINANCEIRO BRASILEIRO
Embora as reformas estruturais e regulatórias implementadas no âmbito do
Sistema Financeiro Nacional, logo após a introdução do Plano Real, tenham sido
necessárias, e tem se mostrado amplamente eficientes, especialmente para garantir
a solidez e solvabilidade do sistema (contribuindo para consolidação da estabilidade
macroeconômica e abrindo espaço para a retomada da trajetória de crescimento
econômico sustentável no longo prazo), os resultados observados, principalmente no
que se refere aos efeitos sobre o aprofundamento nas relações de intermediação
financeira e, em especial, sobre o desenvolvimento no mercado de crédito,
mostraram-se tímidos.
No que se refere aos indicadores relevantes relacionados ao grau de
aprofundamento e ampliação das relações que se estabelecem no mercado
financeiro algumas regularidades são observadas, tais como: i) baixo
desenvolvimento do mercado de crédito e de capitais; ii) taxas de juros reais e
spreads bancários excessivamente elevadas nas operações de crédito; iii)
operações de crédito com recursos livres são realizadas mediante curtíssimo prazo
de maturação; e, iv) a predominância de uma importante característica do mercado
financeiro brasileiro que é a elevada segmentação do seu mercado de crédito.
Analisaremos, na seqüência, cada um desses aspectos, seus principais
determinantes e suas possíveis contribuições para justificar a existência de um canal
de transmissão de política monetária via empréstimos bancários.
4.2.1 Atual Estado de Desenvolvimento do Mercado de Crédito e de Capitais
Não obstante os significativos avanços observado no que se refere reformas
estruturais e regulatórias que ocorreram no âmbito do sistema financeiro, desde a
118
implementação do programa de estabilização, o Brasil continua apresentando uma
característica desfavorável, ou seja, um baixo nível de intermediação financeira, o
qual pode ser confirmado por: um baixo volume de crédito para o setor privado
como proporção do PIB; e, um baixo volume comercializado no mercado de ações
como proporção do PIB. Esses índices são comumente utilizados como indicadores
relevantes para se avaliar o grau de desenvolvimento do mercado financeiro
(mercado de crédito e de capitais) em diferentes países. (BECK; LEVINE, 2004;
DJANKOV; MCLIESH; SHLEIFER, 2005).
Na Tabela 7 é possível observar diferentes indicadores de desenvolvimento
do mercado financeiro para diversos países de diferentes níveis de renda.
Comparando o Brasil com alguns países selecionados, tomando em conta
indicadores de desenvolvimento do mercado de crédito, de capitais e indicadores de
rendimento, algumas particularidades se destacam. No que diz respeito ao
desenvolvimento do mercado de crédito, o país ocupa o 37º lugar no ranking da
relação credito total como proporção do PIB, e o 34° lugar com relação ao crédito
bancário ao setor privado como proporção do PIB, estando muito aquém do
observado em países com níveis de desenvolvimento equivalente ou com idêntica
renda per capta. No que se refere aos indicadores de desenvolvimento do mercado
acionário, o Brasil ocupa o 30º lugar no rank, quando consideramos o valor
comercializado no mercado de ações como proporção do PIB, indicando um fraco
desempenho do mercado de capitais que, em tese, deveria funcionar como um
substituto para o mercado de crédito bancário.
Assim, observa-se que, num grupo de 47 países de diferentes níveis de
renda, o Brasil ocupa uma das piores posições no ranking de desenvolvimento do
mercado financeiro, embora, em termos de rendimento esteja entre os dez primeiros.
O Brasil fica atrás de países como Chile, Tailândia, Malásia, Coréia do Sul e
Singapura.
119
Tabela 7 - Indicadores para o Mercado Financeiro Brasileiro
Relação
Crédito
Total /
PIB
1
RanK
Crédito
Bancário
ao Setor
Privado /
PIB
2
RanK
Crédito
Bancário e de
Outras
Instituições
ao Setor
Privado / PIB
2
RanK
Valor Total
Comercializa
do no
Mercado de
Ações / PIB
2
RanK
PIB Per
Capta
(US$
Mil)
PIB
(PPP)
(US$
Bilhões)
RanK
África do Sul 157 3 64,9 22 120,2 10 45,2 14 12,160 509,359 18
Alemanha 133 9 109,9 5 109,9 11 43,0 15 30,579 2.335,494 4
Argentina 25 45 19,1 43 19,5 44 4,3 39 14,109 510,266 17
Austrália 83 22 81,4 15 81,4 21 51,8 12 30,897 609,988 14
Áustria 129 10 97,4 9 97,4 15 6,5 36 33,615 263,803 25
Bélgica 151 5 75,6 18 75,6 24 14,5 32 31,244 324,053 22
Brasil 46,7 37 27,9 34 34,5 33 15,8 30 8,584 1.507,106 8
Canadá 98 15 64,1 24 95,8 16 53,8 11 34,273 999,608 11
Chile 62 30 53,8 27 64,8 27 9,6 34 11,937 175,324 32
Cingapura 77 24 99,9 8 120,4 9 81,1 8 28,100 119,053 40
Colômbia 44 38 18,4 44 29,0 36 1,2 42 7,565 325,915 21
Coréia do Sul 74 26 67,8 19 124,7 6 100,2 5 20,590 985,649 12
Dinamarca 55 31 78,4 16 78,4 22 32,7 22 34,737 172,478 33
Egito 83 23 42,5 29 48,2 29 5,4 38 4,317 305,884 23
Equador 37 41 26,1 35 27,5 37 0,4 46 4,316 51,681 43
Espanha 106 12 88,1 12 88,1 19 99,2 6 26,320 1.069,253 9
EUA 134 8 39,3 30 186,9 1 168,8 2 41,399 11.651,11 1
Filipinas 68 28 36,4 32 41,4 31 15,1 31 4,923 376,586 19
Finlândia 65 29 58,6 25 58,6 28 80,3 10 31,208 156,590 37
França 101 13 84,9 14 84,9 20 49,0 13 29,316 1.769,171 6
Grécia 88 20 46,0 28 46,0 30 37,2 19 22,392 245,514 27
Hong Kong 154 4 154,6 2 154,6 3 165,1 3 33,411 212,136 29
Índia 49 36 25,7 37 25,7 39 39,2 18 3,344 3.389,670 3
Indonésia 53 32 34,5 33 34,5 34 23,4 27 4,458 785,169 13
Irlanda 73 27 86,9 13 90,4 17 25,7 25 40,610 157,958 35
Israel 84 21 76,7 17 76,7 23 24,1 26 23,416 165,738 34
Itália 96 16 67,5 20 67,5 26 35,6 21 28,760 1.622,425 7
Japão 293 1 111,2 4 147,1 4 39,6 17 30,615 3.737,289 2
Jordânia 93 18 66,9 21 71,1 25 13,4 33 4,825 25,502 47
Malásia 138 6 90,6 11 130,0 5 81,8 7 11,201 255,818 26
México 42 39 20,4 41 21,3 42 9,3 35 10,186 1.017,529 10
Nigéria 19 46 12,3 46 12,3 46 0,7 45 1,188 148,553 39
Noruega 75 25 64,7 23 90,1 18 28,8 24 42,364 176,543 31
Nova Zelândia 89 19 103,0 7 104,0 13 15,8 29 24,769 95,080 41
Paquistão 51 34 22,8 39 22,8 41 31,2 23 2,628 338,399 20
Peru 12 47 20,8 40 21,3 43 4,2 40 5,983 156,511 38
Portugal 93 17 107,1 6 107,1 12 22,0 28 19,335 206,142 30
Quênia 52 33 25,8 36 30,3 35 0,8 44 1,445 38,141 44
Reino Unido 125 11 123,6 3 123,6 7 100,4 4 30,470 1.845,169 5
Sri Lanka 34 42 25,2 38 25,2 40 2,2 41 4,384 85,242 42
Suécia 99 14 57,8 26 97,8 14 80,6 9 29,898 265,630 24
Suíça 182 2 160,1 1 160,1 2 175,6 1 29,898 244,149 28
Tailândia 136 7 91,5 10 122,6 8 36,8 20 8,319 515,268 16
Turquia 31 43 15,7 45 16,5 45 40,7 16 7,950 556,074 15
Uruguai 38 40 38,0 31 38,0 32 0,0 47 10,028 32,402 45
Venezuela 27 44 9,2 47 10,9 47 1,1 43 6,186 157,877 36
Zimbábue 51 35 19,5 42 26,9 38 6,2 37 2,607 26,716 46
Fonte: Elaboração própria com informações obtidas no World Bank.
Nota; O conceito de crédito utilizado é o de “crédito doméstico concedido pelo setor bancário”.
(1) Valores calculado considerando a média anual para o período 1994-1997 – World Bank.
(2) Valores calculado considerando a média anual para o período 1994-2004 – World Bank .
Os indicadores de desenvolvimento do mercado de crédito demonstram que
a participação do crédito na economia brasileira é muito reduzida quando
comparada às demais economias, o que constitui - segundo a literatura que
relacionam o crescimento econômico ao desenvolvimento do mercado financeiro
(law and finance)
11
- um indicativo fortemente desfavorável ao desempenho da
atividade econômica, principalmente, se tomarmos em conta uma das principais
11
Para maior detalhamento dos padrões de financiamento das empresas privadas no Brasil, ver –
Rodrigues Júnior e Melo (1999).
120
características da economia brasileira, que é a elevada dependência das empresas
(particularmente as de pequeno e médio porte) de empréstimos bancários, como
uma das principais fonte de financiamento externo.
Na Tabela 8 são demonstradas algumas pesquisas selecionadas que
procuraram avaliar a hierarquia das fontes de financiamento de empresas em
diferentes países e, em especial, para a economia brasileira. Para as empresas
brasileiras observam-se evidências favoráveis à hipótese da hierarquia de fontes de
financiamento (pecking order), segundo a qual, as firmas dão preferência aos fundos
gerados internamente (recursos próprios) às emissões de dívida, e estas ao
lançamento público de ações.
Tabela 8 - Pesquisas Selecionadas que avaliam a Hierarquia das Fontes de
Financiamento das Empresas Brasileiras e em Outros Países
Estudo Amostra Período Recursos
Internos
(%)
Dívida
(%)
Ações
(%)
Fonte dos Dados
Mayer (1990) Empresas de 8 países
industrializados
1970-1985 71,4 25,4 2,5 Estatísticas de fluxo de
fundos
Singh (1995) 100 maiores empresas
de 10 países em
desenvolvimento
1980-1990 38,8 20,8 39,3 Dados de Balanço
Ferreira e Brasil
(1997)
11 empresas brasileiras 1987-1995 46,6 31,2 20,4 Dados de balanço
Reis, Branco e
Bielschowisky
(1997)
730 empresas brasileiras 1995-1999 55,0 40,0 5,0 Questionário enviado às
empresas
Rodrigues Junior e
Melo (1999)
20 empresas distribuídas
setorialmente
1
1987-1996 63,9 29,6 6,5 Demonstrações de origens
e aplicações de recursos e
dados de balanço.
Fonte: Rodrigues Junior e Melo (1999).
(1) Os setores considerados são: bebidas, comércio, construção, eletroeletrônicos, material de transportes, mineração, papel e celulose,
química e petroquímica, serviços públicos, telecomunicações e transportes.
Rodrigues Junior e Melo (1999) consideram que essa hierarquização ocorre
devido aos diferenciais de custo de cada tipo de recursos os quais são
determinados, essencialmente, por assimetrias informacionais que existem entre os
administradores das empresas e os financiadores externos.
Nota-se que o padrão de comportamento da hierarquia de financiamento
das empresas brasileiras, observado nas pesquisas desenvolvidas por
Ferreira e
Brasil (1997); Reis, Branco e Bielschowisky (1997); e Rodrigues Junior e Melo
(1999), se assemelha muito ao padrão encontrado nos países industrializados por
Mayer (1990). Além disso, se considerarmos a média de endividamento para o
Brasil, observa-se que ela é bastante superior à média mostrada pelas pesquisas
121
que tomam em conta tanto os países industrializados como os países em
desenvolvimento.
12
Essas evidências sugerem que o crédito bancário constitui a fonte de
financiamento externo mais importante para as empresas brasileiras, principalmente
se considerarmos que o mercado de capitais, o qual deveria funcionar como um
substituto para o mercado de crédito bancário, mostra-se muito pouco desenvolvido.
Não obstante o fraco desenvolvimento do mercado de crédito, registra-se
ainda seu péssimo desempenho e eficiência, uma vez que, segundo Pinheiro e
Giambiagi (2006, p. 177), a intermediação financeira no Brasil se dá de uma forma
que contribui pouco para aumentar o investimento e a produtividade do capital, ou
seja, a intermediação financeira não é majoritariamente voltada para diluir riscos,
selecionar bons projetos, monitorar empresas, mas para canalizar a poupança das
famílias para financiar o excesso de gastos do setor público, uma vez que este é
responsável por drenar uma parcela elevada da poupança agregada para financiar o
seu déficit e rolar a sua dívida. Mesmo quando essa poupança é dirigida às
empresas, faltam incentivos para que as instituições financeiras desempenhem suas
funções da forma mais favorável ao crescimento, isto é, de modo a estimular a
poupança e elevar a produtividade do capital.
Soma-se a isso o fato de que o Estado intervém de forma a reduzir o
impacto da intermediação financeira sobre a produtividade e eficiência econômica,
por meio de mecanismos de poupança compulsória, as quais ficam depositadas em
fundos [como Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT), Fundo de Garantia por
Tempo de Serviço (FGTS), Programa de Integração Social e Programa de Formação
do Patrimônio do Servidor Público (PIS-PASEP) e Fundo Nacional de
Desenvolvimento (FND)], que tem o compromisso de financiar as operações de
bancos públicos (Bando Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social, Banco
do Brasil, Caixa Econômica Federal, etc.).
Além disso, o Estado estabelece regulamentações que obrigam as
instituições financeiras a realizarem aplicações compulsórias de recursos em
determinados setores, geralmente caracterizados pela elevada assimetria de
12
Um painel balanceado com 1.580 firmas não-financeiras, atuando em 25 setores de atividade,
mostra que a média da relação dívida total/ativo total, para o período 1994 a 1998, é de apenas 47%.
No entanto, a análise da estrutura de dívida dessas empresas revela que cerca de 45% do
endividamento total refere-se à dívidas bancárias, percentual bastante superior ao de outros países
como é o caso dos Estados Unidos 33% (KASHYAP; STEIN, 1993) e na Suécia 20% (SOUZA
SOBRINHO, 2003, p. 29).
122
informação e, portanto, por elevados riscos, como é o caso da agricultura, habitação
e microcrédito. Tratam-se dos chamados créditos direcionados, os quais tem,
tradicionalmente, comprometido parcela significativa do volume de crédito total
ofertado na economia, como é possível verificar no Gráfico 1, onde está
representada a evolução do crédito total como proporção do PIB, subdividido nas
categorias crédito direcionado/PIB e crédito livre/PIB.
0
5
10
15
20
25
30
35
1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006
ses
Crédito / PIB (%)
Crédito Direcionado/PIB Crédito Livre/PIB
Gráfico 1 - Evolução da Relação Crédito Total/PIB subdividido nas categorias
Crédito Direcionado/PIB e Crédito Livre/PIB - (1996:10-2006:12).
Fonte: Elaborado pelo Autor.
É importante destacar que a excessiva interferência estatal nas operações
de crédito pode contribuir para criar assimetria de informações e intensificar os
problemas por ela gerados (seleção adversa e risco moral), por conseguinte,
introduzir significativas distorções na economia ao sacrificar o papel das instituições
financeiras em diluir riscos, selecionar e monitorar projetos, comprometendo a
qualidade e a eficiência nas aplicações de recursos.
Além da participação do crédito na economia brasileira ser relativamente
baixa, observa-se que a proporção do crédito total em relação ao PIB tem
apresentado uma tendência declinante na maior parte do período analisado. Mesmo
apresentando sinais de recuperação, a proporção do Crédito Total em relação ao
PIB encontra-se abaixo do nível de uma década atrás. No início de 1995, o crédito
total representava aproximadamente 37% do PIB, caiu para seu menor nível, 21,8%
123
entre janeiro e abril de 2003, e atualmente (dezembro de 2006) está em torno de
31% do PIB, ou seja, abaixo do nível apresentado a uma década atrás (Gráfico 1).
Acredita-se que a queda da relação crédito/PIB está parcialmente
relacionada à imposição de regras mais rígidas de controle do crédito introduzidas
com o advento do programa de estabilização, na segunda metade da década de
1990. Em tese, segundo apontam Kashyap e Stein (1993), um ambiente regulatório
restritivo pode reduzir a importância do canal do crédito. No entanto, mesmo nesse
ambiente altamente regulamentado supõe-se que aspectos institucionais adversos
que regulam as relações que se estabelecem entre credores e tomadores de
empréstimos também possam contribuir para intensificar a assimetria de informação
no mercado financeiro e agravar os problemas por ela gerados, de modo que,
mesmo assim, o crédito possa desempenhar um papel importante na transmissão
da política monetária, principalmente se considerarmos a elevada dependência das
empresas de empréstimo bancário como principal fonte de financiamento externo.
Com relação ao mercado de capitais brasileiro, o qual supõe-se que deveria
funcionar como um substituto para o mercado de crédito bancário, observa-se que
não só é muito pouco desenvolvido, como também, tem demonstrado sinais de
deterioração durante o período analisado.
A emissão primária de títulos privados (ações, debêntures, e notas
promissórias), como alternativa de financiamento para as empresas, tem
representado um recurso muito pouco utilizado na economia brasileira, e mostrado
sinais de deterioração em boa parte do período analisado. A emissão de ações, em
particular, tem se mostrado pouco expressiva sendo que a emissão de debêntures
tem representado a principal fonte de receita nessa categoria de financiamento,
embora, também, essa mostra-se bastante inexpressiva (Tabela 9).
124
Tabela 9 - Indicadores do Mercado de Capitais no Brasil – Emissões Primárias
de Ações, Debêntures e Notas Promissórias (em Bilhões R$)
Ano Ações % Debêntures % Notas Promissórias % Total
1995 1.935 0,22 6.884 0,78 0 0,00 8.819
1996 9.173 0,52 8.398 0,48 0 0,00 17.571
1997 3.828 0,23 7.518 0,46 5.021 0,31 16.367
1998 4.112 0,15 9.658 0,36 12.906 0,48 26.676
1999 2.749 0,16 6.677 0,38 8.082 0,46 17.508
2000 1.410 0,08 8.748 0,49 7.591 0,43 17.749
2001 1.354 0,06 15.162 0,70 5.267 0,24 21.783
2002 954 0,05 13.391 0,75 3.476 0,20 17.821
2003 80 0,01 5.283 0,71 2.128 0,28 7.491
2004 3.661 0,24 9.614 0,62 2.241 0,14 15.516
2005 4.365 0,09 41.538 0,86 2.631 0,05 48.534
2006 14.220 0,16 69.463 0,78 5.278 0,06 88.961
Fonte: Banco Central do Brasil – BACEN, 2006.
Como é possível verificar no Gráfico 2 - onde é demonstrada a evolução do
número de empresas bem como do valor das empresas listadas na Bovespa e no
Ibovespa, no período 1997:01-2006:12 - não obstante a contínua valorização das
empresas que tem suas ações negociadas na bolsa, o número de companhias
abertas ou listadas vem registrando uma significativa redução. Em janeiro de 1997
cerca de 550 companhias tinhas suas ações comercializadas na bolsa de valores,
contra apenas 350 em dezembro de 2006.
0
200
400
600
800
1.000
1.200
1.400
1.600
1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006
ses
Bilhoes R$
330
380
430
480
530
580
de Empresas Listadas
Valor das Empresas Listadas no Ibovespa
Valores das Empresas Listadas na Bovespa
Número de Companhias Listadas na Bovespa
Gráfico 2 - Evolução do Número de Empresas Listadas na Bovespa e do Valor
das Empresas Listadas na Bovespa e no Ibovespa
Fonte: Elaborado pelo Autor.
Em termos gerais constata-se que, a existência de um mercado de capitais
incipiente (os quais demonstram não constituir uma fonte alternativa que possa
substituir, sem fricções, as necessidades de empréstimos para as empresas),
125
combinado com a elevada dependência das empresas do crédito bancário como
principal fonte de financiamento externo (comprovadas pelos dados da estrutura de
financiamento das empresas), constituem fortes indícios a favor da existência de um
canal do empréstimo bancário no Brasil, conforme sugere os pressupostos
estabelecidos pela teoria do canal do crédito. E é provável que esse canal possa ser
expressivo apesar da baixa relação que há entre o crédito e o PIB, uma vez que
aspectos institucionais relacionados a baixa proteção de direitos de propriedade de
investidores e da ineficiência na execução de contratos podem ser determinantes
para justificar o ambiente de elevada assimetria de informações que caracteriza o
mercado de crédito e de capitais no Brasil.
4.2.2 Taxas de Juros e Spreads nas Operações de Crédito Bancário
As taxas de juros e os spreads cobrados nas operações de crédito com
recursos livres, que são os mais proximamente relacionados as reais condições de
mercado, ou seja, que podem ser alocados a critério do agente financeiro com taxas
livremente contratadas entre as partes, tem se mostrado historicamente elevadas no
Brasil, e tem apresentado uma significativa resistência em reduzir-se, o que constitui
um sério obstáculo ao desenvolvimento de uma cultura de crédito no país, que se
assemelhe aos melhores padrões internacionais. Desde 1999, o Banco Central vem
se debruçando para obter o diagnóstico das causas dos elevados custos, bem
como, dos altos spreads praticados pelos bancos em suas operações de crédito,
como parte do projeto “Juros e Spread Bancário no Brasil”, com vistas a encaminhar
soluções para o referido problema.
Embora venham apresentando uma tendência declinante no decorrer do
tempo, e tendo sofrido quedas mais expressivas recentemente - em virtude do
encaminhamento de uma série de medidas de longo prazo voltadas à redução dos
custos dos empréstimos bancários - o custo do crédito ainda situa-se em patamares
muito elevados, como é possível contatar no Gráfico 3, onde está representada a
evolução da taxa de juros media cobrada nas operações de crédito com recursos
livres pré-fixados, incluindo a taxa média para pessoas físicas e jurídicas.
126
0
50
100
150
200
250
300
1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006
ses
Taxa de Juros Média (% a.a)
Taxa Média Geral Taxa Média Pessoa Jurídica Taxa Média Pessoa Física
Gráfico 3 - Taxa Média Mensal Cobrada nas Operações de Crédito com
Recursos Livres Pré-fixados (% a.a - período 1995:01 – 2006:12)
Fonte: Elaborado pelo Autor.
O spread médio, que corresponde a diferença entre a taxa de aplicação e a
taxa de captação de recursos dos bancos, tem se mostram excessivamente
elevados, particularmente, no que diz respeito às operações de crédito com pessoas
físicas (Gráfico 4).
0
50
100
150
200
1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006
ses
Spread Médio (% a.a)
Spread Médio Geral Spread Médio Pessoa Jurídica Spread Médio Pessoa Física
Gráfico 4 - Spread Médio Cobrado nas Operações de Crédito com Recursos
Livres Pré-fixados (% a.a – período 1995:01-2006:12)
Fonte: Elaborado pelo Autor.
As taxas de juros e os spreads médios, cobrados nas operações de crédito
com recursos livres (pré-fixados) tanto para pessoas físicas como para pessoas
jurídicas representam, atualmente, cerca de um quarto do que representavam há
127
uma década atrás, o que significa uma queda expressiva (Tabela 10). Porém, nos
últimos cinco anos vem apresentando uma maior resistência em reduzir-se, não
obstante o significativo esforço que vem sendo implementado com este propósito.
Tabela 10 - Taxa Média de Juros e Spreads das Operações de Crédito com
Recursos Livres Pré-fixados (% a.a.)
Ano Média Geral Média Pessoa Jurídica Média Pessoa Física
Juros Spread Juros Spread Juros Spread
1995
190,31 137,84 155,23 102,76 223,55 171,08
1996
106,29 80,25 78,38 52,34 138,27 112,23
1997
79,37 55,80 63,23 39,66 105,26 81,69
1998
88,23 60,66 68,26 41,14 122,66 94,44
1999
81,91 55,76 64,84 39,16 114,16 87,23
2000
57,22 39,31 41,87 24,26 75,13 56,89
2001
57,62 37,50 41,07 22,14 69,79 48,91
2002
62,88 40,48 44,42 23,81 74,81 51,37
2003
67,08 44,86 49,81 27,53 77,79 55,60
2004
55,04 38,50 41,11 24,90 62,93 46,39
2005
56,20 37,86 43,66 25,18 61,39 44,51
2006
51,98 36,78 41,18 25,93 59,68 41,91
Fonte: Banco Central do Brasil, 2006.
Nota: Os valores para 2006 são calculados considerando a Média para o período Janeiro à julho de 2006.
Isso sugere que as principais causas que explicam a escassez e o custo do
crédito no Brasil continuam presentes e demandando a atuação mais firme por parte
das autoridades monetárias para que sejam superadas.
Dentre os principais fatores que afetam o custo, bem como a oferta de
crédito no país destacam-se: a taxa básica de juros (Selic), determinada pelo Banco
Central; os recolhimentos compulsórios dos bancos na autoridade monetária; os
créditos direcionados; a taxa de inadimplência bancária; os impostos indiretos; o
grau de estabilidade da economia. Além disso, existem significativas dificuldades
para a obtenção de informações, o que se traduz em prejuízos à concorrência e à
avaliação do risco de crédito que, somados a um ambiente institucional bastante
desfavorável ao crédito, caracterizado por um sistema legal e judicial ineficiente que
não dá a devida proteção aos direitos de propriedade dos investidores e dificulta a
renegociação ou recuperação dos empréstimos não pagos, e por ser altamente pró-
devedor, agravam a assimetria de informações no mercado financeiro e os
problemas de seleção adversa e risco moral, por ela gerados.
Em geral, estes fatores contribuem para onerar o crédito e representam
sérios obstáculos para o maior desenvolvimento da intermediação financeira no
Brasil.
128
É importante considerar que a média geral das taxas de juros e dos spreads
escondem uma importante característica do mercado de crédito, que é a diferença
substancial incorrida por tipo de tomador. Ou seja, tanto a taxa de juros média
quanto o spread cobrado nas operações de crédito às pessoas jurídicas são
inferiores aos cobrados às pessoas físicas (Tabela 10). E, para cada categoria de
tomador, a taxa de juros e o spread também diverge substancialmente, em
conformidade com a modalidade do contrato que é estabelecido entre as partes.
No caso de pessoas jurídicas, tanto a taxa de juros quanto o spread médio
cobrado na operação de vendor, e na aquisição de bens está muito aquém daqueles
cobrados nas demais modalidades, especialmente se comparadas à modalidade
conta garantida (Tabela 11).
13
Tabela 11 - Taxa Média de Juros e Spreads das Operações de Crédito com
Recursos Livres Pré-fixados – Pessoa Jurídica (% a.a.)
Ano
Hot Money Desconto de
Duplicatas
Desconto de
Promissórias
Capital de
Giro
Conta
Garantida
Aquisição de
Bens PJ
Vendor
Juros Spread Juros Spread Juros Spread Juros Spread Juros Spread Juros Sprea Juros Sprea
1995 120,5 - 161,1 - 176,2 - 158,8 - 192,2 - 183,9 - 92,4 -
1996 63,9 - 88,8 - 102,7 - 74,5 - 100,5 - 91,6 - 44,9 -
1997 66,8 - 73,8 - 83,8 - 62,0 - 75,5 - 54,8 - 37,5 -
1998 73,5 48,5 79,0 54,9 84,6 54,1 66,0 59,4 80,6 37,8 55,9 26,7 40,9 12,7
1999 72,1 49,3 76,1 51,1 81,0 53,2 62,7 58,2 73,9 35,3 52,4 23,7 40,3 13,1
2000 44,7 27,6 48,4 31,4 54,3 37,2 38,4 20,2 54,7 37,7 32,9 14,1 24,1 6,2
2001 45,5 28,2 47,5 30,3 52,6 35,3 35,7 15,3 58,1 40,8 32,4 10,8 23,8 4,3
2002 49,1 30,4 50,5 31,0 51,9 33,2 38,0 15,9 66,3 47,6 35,6 11,7 26,0 5,6
2003 56,3 34,6 52,8 29,7 60,1 37,1 42,5 20,3 76,9 55,3 37,1 14,9 29,6 6,9
2004 49,9 34,5 41,6 24,9 50,5 34,3 35,9 19,3 67,1 51,7 28,1 11,2 21,8 5,5
2005 52,4 34,7 42,9 23,8 53,1 33,9 38,7 19,9 69,6 51,9 30,1 11,8 24,2 5,1
2006 51,6 36,6 39,7 23,9 51,8 36,0 34,8 19,6 68,8 53,8 27,2 12,1 21,1 5,5
Fonte: Banco Central do Brasil, 2006
Nota: Os valores para 2006 são calculados considerando a Média para o período Janeiro à julho de 2006.
Com relação às linhas de crédito para pessoas físicas, chama a atenção as
altas taxas de juros e os elevados spreads cobradas no cheque especial e no crédito
pessoal, principalmente, quando comparados aos juros e aos spreads cobrados na
aquisição de veículos (Tabela 12).
13
A operação de vendor é uma cessão de crédito que permite a uma empresa vender seu produto a
prazo e receber o pagamento à vista. A empresa vendedora transfere seu crédito ao banco e recebe
o pagamento à vista. A conta garantida é uma espécie de cheque especial para empresas, ou seja, é
um crédito associado à conta corrente de pessoa jurídica, com um determinado limite pré-
disponibilizado pelo banco.
129
Tabela 12 - Taxa Média de Juros e Spreads das Operações de Crédito com
Recursos Livres Pré-fixados – Pessoa Física (% a.a)
Ano
Cheque
Especial
Crédito Pessoal Veículos Outros Bens Aquisição de
Bens PF
Juros Spread Juros Spread Juros Spread Juros Spread Juros Spread
1995 270,23 - 214,49 - - - - - 211,48 -
1996 185,92 - 129,80 - - - - - 122,68 -
1997 157,93 - 109,62 - - - - - 74,91 -
1998 177,44 - 119,92 - - - - - 80,27 -
1999 169,07 - 106,29 - - - - - 69,11 -
2000 151,47 134,43 70,85 52,59 20,42 16,91 42,44 55,42 42,78 -
2001 153,28 136,01 77,91 57,31 39,17 16,58 65,39 44,78 42,72 -
2002 159,62 140,91 85,31 62,83 46,21 20,11 69,09 47,01 48,99 -
2003 165,33 143,69 91,40 69,23 44,76 22,39 75,09 52,81 48,73 -
2004 141,49 126,07 73,55 56,74 35,70 18,69 62,07 45,47 39,26 -
2005 147,56 129,92 69,40 51,02 36,13 18,22 59,10 40,31 39,59 -
2006 145,57 130,65 64,24 49,19 33,88 18,83 58,00 42,76 37,30 -
Fonte: Banco Central do Brasil, 2006.
Nota: Os valores para 2006 são calculados considerando a Média para o período Janeiro à julho de 2006.
Conforme observam Fachada, Figueiredo e Lundberg (2003), por exemplo,
a inadimplência e as garantias (collaterais) nas operações de crédito contribuem
para explicar essas discrepâncias nos spreads e nas taxas de juros incorridos por
pessoas físicas e jurídicas, uma vez que colaboram para pressionar o prêmio de
risco embutido nos spreads. Observam que o risco de crédito não está associado
somente à eventualidade do devedor entrar em inadimplência (como sugere o
estimador utilizado pelo Banco Central para capturar o componente de
inadimplência), mas também, ao processo de recuperação de garantias e do valor
emprestado pelo banco.
14
O papel das garantia, na medida em que constitui elemento essencial para
reduzir problemas de seleção adversa e risco moral, é fundamental para explicar a
desproporção dos spreads entre as várias modalidades de crédito no Brasil.
Segundo Mishkin (1992), a concessão de garantias (collateral) como
contrapartida para a obtenção de empréstimos constitui um modo eficiente para os
credores reduzirem problemas de seleção adversa e risco moral no mercado de
dívida. Com a concessão de garantias, mesmo se os tomadores de empréstimos
não honrarem seus compromissos, os credores podem resgatar seus direitos, os
quais podem ser liquidados para cobrir eventuais perdas. Assim, se as garantias
forem de boa qualidade, torna-se de menor relevância o fato de os tomadores de
14
Os Colaterais, são todos os tipos de ativos que podem ser dados como garantia adicional em uma
operação de crédito. É definido por Gitman (1997, p.696) como: “ /O montante de ativos colocados à
disposição pelo solicitante para garantir o crédito\”. Naturalmente, quanto maior esse montante, maior
será a possibilidade de se recuperar o valor creditado, no caso de inadimplência. O exame do
balanço patrimonial e a avaliação de ativos em conjunto com o levantamento de pendências judiciais
podem ser usados para estimar os colaterais. “ Para Berni (1999, p.104) o colateral “/vai informar-nos
sobre as garantias adicionais que poderão amparar uma linha de crédito.\“
130
empréstimos serem de boa ou má qualidade, desde que, as perdas incorridas pelos
credores, se os empréstimos não forem honrados, possam ser substancialmente
reduzidas pelos sistema de garantias. Em tais circunstâncias, o fato de existir
assimetria de informação entre os tomadores de empréstimos e os credores torna-se
um problema de menor relevância para o mercado de crédito.
15
Para o caso do Brasil, em especial, algumas situações constituem
indicativos favoráveis aos argumentos propostos por Mishkin (1992). Tomando como
exemplo o custo do crédito para a aquisição de veículos comparativamente aos
demais contratos de financiamento para pessoas físicas, observa-se que, embora na
prática os tomadores sejam os mesmos e guardam igual risco de crédito, a diferença
origina-se no fato de que o veículo financiado representa a garantia da operação e
pode ser executada pelo credor, prerrogativa nem sempre assegurada pelas demais
modalidades contratuais. Uma vez que o financiamento para aquisição de veículos é
100% coberto por garantia fiduciária, isso faz com que o risco seja reduzido e,
conseqüentemente, o spread médio praticado em contratos de financiamento de
veículos seja o mais competitivo dentre as operações de crédito com recursos livres
pré-fixadas para pessoas físicas (Tabela 12).
Assim, a garantia fiduciária se configura como a forma mais eficiente de
oferecer collateral, pois representa na prática a transferência da propriedade do bem
financiado para o credor.
O contrato de vendor para pessoa jurídica é outra situação em que a
qualidade das garantias ajuda a explicar o menor custo do financiamento. Na
prática, o vendor é uma linha de crédito aberta pela empresa compradora (em geral
uma grande empresa) junto a um banco em favor de seus fornecedores (em geral,
pequenas empresas). Nesse caso, o risco de crédito é transferido pelo intermediário
financeiro do devedor para a empresa que fez originariamente a cessão do crédito.
15
A importância das garantias para redução de problemas de seleção adversa e risco moral no
mercado de dívida adquire outra face quando a ruptura financeira afeta adversamente a atividade
econômica agregada. Como enfatizam Calomiris e Hubbard (1990) e Greenwald e Stiglitz (1988), um
profundo declínio no valor dos ativos das firmas no mercado de ações baixa o valor das garantias e,
conseqüentemente, torna a seleção adversa e o risco moral um problema mais importante para os
credores uma vez que as perdas pela falência das empresas tornam-se mais elevadas. O declínio no
valor dos ativos podem ocorrer devido às expectativas de baixa futura da renda originada desses
ativos ou pelo aumento na taxa de juros de mercado a qual baixa o valor presente descontado da
renda futura esperada. A análise dos problemas dos limões indica que o aumento na importância da
seleção adversa conduz à um declínio nos empréstimos e um conseqüente declínio nos
investimentos e na atividade econômica agregada.
131
Como conseqüência, observa-se que o spread médio praticado em contratos de
vendor é o mais competitivo entre as operações pré-fixadas (Tabela 11).
Com relação às demais modalidades de crédito para pessoas físicas e
jurídicas que são contratadas sem quaisquer garantias, ou que exigem a
manutenção de contas bancárias onde os clientes estão presos (locked in) a suas
instituições, pela dificuldade de transferir a instituições competidoras seu histórico
cadastral e reputação, como é o caso do crédito pessoal e do cheque especial, para
pessoa física, e da conta garantida para pessoa jurídica, verifica-se a cobrança de
spreads exagerados.
É importante destacar que para o caso do Brasil, em especial, o problema
mais grave não está associados unicamente à existência ou não de garantias, mas
essencialmente a qualidade e a facilidade com que as garantias podem ser
executadas, ou seja, depende da eficiência de aspectos institucionais e jurídicos.
Portanto, o risco de crédito e os spreads são também afetados pelo tratamento dado
aos credores pela legislação falimentar vigente, bem como pela maior ou menor
agilidade do processo judicial em promover a recuperação do crédito. Destaca-se
que nenhum desses aspectos é particularmente favorável no país, o que aumenta
enormemente o risco de crédito das instituições bancárias e impacta negativamente
na determinação da taxa de juros e dos spreads cobrados nas operações de
empréstimos e, conseqüentemente, na oferta de crédito. A importância dos aspectos
institucionais serão analisados com maior profundidade nos capítulos que seguem.
Em decorrência da insegurança dos contratos e do funcionamento deficiente
do sistema judiciário, a assimetria de informação no mercado de crédito e os
problemas por ela gerados acabam se agravando, fazendo com que a sociedade
como um todo arque com o ônus na forma de aumento do spreads e de
encolhimento na oferta de crédito, sendo que, até mesmo o bom tomador de crédito
acabe incorrendo em um custo extraordinário, independente de seu histórico de
crédito e de sua capacidade de pagamento. Isso sugere que as elevadas taxas de
juros cobradas nas operações de empréstimos e os spreads estruturalmente
elevados tem implicações importantes para a transmissão da política monetária via
canal do empréstimo bancário no Brasil.
132
4.2.3 Prazo de Maturação nas Operações de Credito com Recursos Livres
Pode-se dizer que um mercado financeiro é bem desenvolvido quando
dispõe de uma estrutura operacional eficiente e de uma ampla capacidade de
movimentação dos recursos disponíveis, o que pressupõe a existência de eficientes
mecanismos de transferência de poupança para financiar o investimento de longo
prazo. No Brasil, este último aspecto deixa a desejar dado que as instituições
financeiras concentram-se, fundamentalmente, nas operações de crédito de curto
prazo, sendo que a oferta de crédito de longo prazo sob a orientação de mercado
livre é praticamente inexistente. (ARIDA; BACHA; LARA-RESENDE, 2005).
Em geral, as instituições não têm atuado em operações de longo prazo,
exceto como repassadores de recursos governamentais, em especial, aquelas
realizadas basicamente pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e
Social (BNDES), Caixa Econômica Federal (CEF) e Banco do Brasil (BB). Isso
equivale dizer que o setor público é responsável por quase a totalidade dos
financiamentos de longo prazo no país. Ao longo das últimas décadas, o Estado, ao
instituir diversas formas de transferência de recursos da sociedade para o setor
público, tomou para si a responsabilidade de alocar grande parte da poupança
privada.
Considerando a composição da oferta de crédito no Brasil (média mensal
dos últimos cinco anos compreendendo o período 2002 - 2006) observa-se que, do
total das operações de créditos realizadas na economia brasileira, uma parcela
significativa está relacionada à repasses e financiamentos diretos com recursos do
BNDES (22%), outra parcela corresponde a recursos bancários compulsoriamente
direcionados para atividades específicas, como o é o caso do crédito para Habitação
(5,4%) (gerenciado pela Caixa Econômica Federal), e para o setor Rural (7,5%)
(gerenciado pelo Banco do Brasil). As operações de crédito com recursos livres, os
quais podem ser alocadas a critério do agente financeiro com taxas livremente
pactuada entre as partes, compreendem o crédito livre para pessoa física (24,4%) e
para pessoa jurídica (33,2%). Além disso, o setor público absorve 3,5%, e as
operações de Leasing 3,1% do crédito total. Por conseguinte, os recursos
direcionados respondem por aproximadamente 36% do total do crédito na economia,
enquanto os recursos livres representam 57,6% do total (Gráfico 5).
133
Leasing
3,1%
Outros Créditos
Direcionados
1,0%
BNDES-Repasses
10,4%
BNDES-Direto
11,6%
Rural
7,5%
Habitacional
5,4%
Crédito Livre
Pessoa Jurídica
33,2%
Seto Público
3,5%
Crédito Livre
Pessoa Física
24,4%
Gráfico 5 - Composição do Crédito no Brasil – Média Mensal para o período
2002 - 2006.
Fonte: Elaborado pelo Autor.
As operações de crédito com recursos livres além dos elevados custos,
conforme já verificamos, tem como característica adicional serem de curtíssimo
prazo. A Tabela 13 exibe o prazo médio das operações de crédito consolidadas com
recurso livres, para o período 2000:06 a 2006:12.
Tabela 13 - Prazo Médio das Operações de Crédito Consolidadas com
Recursos Livres Pré-fixados
% das
Operações de Crédito Consolidadas
com Recursos Livres
Prazo
Médio
(Dias)
Prazo
Médio
(Meses)
Hot money 0,2 12,3 0,4
Desconto de Duplicatas 3,1 34,1 1,1
Desconto de Notas Promissórias 0,2 33,7 1,1
Capital de Giro 12,7 256,7 8,6
Conta Garantida 9,6 23,3 0,8
Financiamento Imobiliário - Pessoa Jurídica 0,5 864,2 28,8
Aquisição de Bens - Pessoa Jurídica 2,2 282,3 9,4
Vendor 3,3 76,5 2,6
Adiantamento sobre Contrato de Câmbio (ACC) 10,7 111,7 3,7
Export Notes 0,1 263,5 8,8
Repasses Externos 8,3 337,2 11,2
Outras Operações – Pessoa Jurídica 5,4 141,7 4,7
Cheque Especial 4,3 20,3 0,7
Crédito Pessoal 13,7 233,5 7,8
Financiamento Imobiliário - Pessoa Física 0,9 1641,3 54,7
Aquisição de Bens Veículos - Pessoa Física 12,6 496,4 16,5
Aquisição de Outros Bens - Pessoa Física 2,2 160,3 5,3
Cartão de Crédito - Pessoa Física 2,6 36,6 1,2
Outras Operações – Pessoa Física 2,4 154,1 5,1
Financiamento a Importações e Outros 5,0 455,6 15,2
Total Pessoa Física 38,7 312,2 10,5
Total Pessoa Jurídica 61,3 191,7 6,3
Total 100 238,04 7,9
Fonte: Elaborado pelo Autor , com base nos dados obtidos junto ao Banco Central do Brasil (BACEN), 2006.
134
Nota-se que 81% do volume de crédito com recursos livres possui prazo
médio de maturação inferior a um ano, sendo que, a média ponderada para todas as
operações é de apenas 7,9 meses. O prazo médio das operações que financiam
atividades produtivas (Pessoa Jurídica), a qual representa a maior parte das
operações de crédito com recursos livres (61%), é muito baixa representando
apenas 6,3 meses, sendo que as operações com desconto de duplicatas tem prazo
de apenas 1,1 meses, capital de giro de 8,6 meses, e conta garantida tem prazo
inferior a um mês. Já as linhas de crédito para a pessoa física (representam 38,7%
do crédito livre), que financiam basicamente o consumo, têm um prazo médio maior
de aproximadamente 10,5 meses, com destaque para a aquisição de veículos com
prazo de 16,6, e para o crédito pessoal de 7,8 meses.
Além de o prazo médio das operações de crédito com recursos livres
mostrar-se muito baixo, tem registrado queda em boa parte do período analisado.
Entretanto, observa-se um leve sinal de recuperação mais recentemente (Gráfico 6).
150
200
250
300
350
400
2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006
ses
Dias
Prazo Médio Geral Prazo Médio Pessoa Jurídica Prazo Médio Pessoa Física
Gráfico 6 - Prazo Médio Consolidado das Operações de Crédito com Recursos
Livres - (em dias - período 2000:06 - 2006:12)
Fonte: Elaborado pelo Autor.
De acordo com Teixeira (2005), a preferência da sociedade brasileira pelo
curto prazo tem uma razão de ser, a qual está na baixa previsibilidade da economia,
após décadas de significativa volatilidade e profundas incertezas. Uma economia
pouco previsível impede que o mercado de capitais atue de forma eficiente em
135
horizontes mais dilatados, pois reduz bastante a atratividade de aplicações
financeiras de longo prazo.
A assimetria de informação no mercado financeiro é identificada como a
grandes responsáveis pelas incertezas e pela baixa previsibilidade na economia.
16
Portanto, ela representa um grande obstáculo para o desenvolvimento desses
mercados, principalmente, no que diz respeito ao estabelecimento de relações de
longo prazo, dado que os acordos nesse mercado são estabelecidos na base de
contratos, e as incertezas em relação aos contratos de longo prazo podem
inviabilizar sua constituição.
Os contratos, que representam o instrumento de barganha no mercado
financeiro, são constituídos na base da troca entre uma quantidade de moeda no
momento presente contra uma promessa de se obter uma quantidade de moeda em
um dado momento futuro, o que implica em uma enorme profissão de fé em um
“futuro incerto”. Segundo Beck (2006, p. 6), a natureza intertemporal dos contratos e
a presença de elevadas fricções no mercado tornam os contratos financeiros
diferentes de outros contratos em uma economia de mercado. Em primeiro lugar,
porque existe uma incerteza se o reembolso dos recursos contratados (tais como
juros, pagamentos de seguro, dividendos, ganhos de capitais, dentre outros) serão,
no futuro, os mesmos em termos de unidades de consumo presente, devido à
existência de inflação.
17
Em segundo lugar, porque a assimetria de informação, que
existe entre tomadores de empréstimos e credores, torna a avaliação de projetos de
investimentos viáveis difíceis e conduz a problemas de agente-principal, seleção
adversa e risco moral, isto é, a possibilidade de que o tomador de empréstimos não
atue no melhor interesse do credor. Ou seja, as fricções no mercado financeiro criam
obstáculos para a execução de contratos a baixo custo, aumentando os incentivos
para os tomadores de empréstimos se desviarem dos compromissos acordados.
Soma-se a isto a existência de insegurança jurídica.
16
Sabe-se que mercados financeiros e instituições surgem devido à assimetria de informações que
impedem a interação direta entre poupadores e investidores, portanto, a eficiência na intermediação
financeira pressupõe mecanismos eficientes que reduzam a assimetria de informação (BECK, 2006,
p. 9).
17
Uma baixa e estável taxa de inflação além de prover os incentivos para que todas as relações de
poupança e empréstimos se realizem através de instrumentos financeiros, também possibilita a
realização de contratos de poupança e empréstimos de longo prazo ao prover certeza monetária. Por
um lado os poupadores terão mais incentivos para poupar, a uma dada taxa de juros, se eles
estiverem seguros do retorno esperado em termos de unidades de consumo real. Por outro lado, os
investidores poderão computar adequadamente o retorno dos projetos e os compromissos de
pagamentos em termos reais.
136
Além da certeza monetária e da estabilidade de preços, os contratos
financeiros dependem da certeza de que os direitos legais de tomadores de
empréstimos, de investidores externos e principalmente de credores sejam
executados com rapidez e imparcialidade. Assim, os direitos de propriedade e a
execução de contratos – sejam eles contra a contraparte privada ou contra o Estado
– constituem um importante pilar de sustentação da eficiência do sistema financeiro,
e para constituição de relações financeiras de longo prazo. Poupadores estarão
dispostos a renunciar o controle de suas poupanças no longo prazo, isto é, investir
em companhias e projetos com longo horizonte de maturação, se eles podem estar
seguros de que receberão o principal e a taxa de retorno contratada, o que só seria
possível mediante a certeza de que seus direitos legais contratuais serão garantidos.
Assim, dada a natureza intertemporal dos contratos financeiros, a
estabilidade macroeconômica e a segurança institucional constituem-se em pré-
requisitos fundamentais para a eficiência de operação do sistema financeiro, para o
seu desenvolvimento, bem como para o desenvolvimento da economia em geral.
Isto é, representam condições fundamentais para o estabelecimento de contratos de
longo prazo e, conseqüentemente, para constituição de poupança e investimentos
de longo prazo sob a orientação de mercado livre, ao prover certeza monetária e
institucional.
No Brasil, incertezas quanto à consolidação da estabilidade de preços,
combinados com uma elevada carga tributária; passivos fiscais gerados por
decisões de governo sem amparo legal adequado; ausência de abertura plena da
conta de capitais, preservando a incerteza associada ao controle de capitais; e risco
de foro gerado pela incerteza quanto à alteração de regras (não apenas no âmbito
da justiça como também pelo governo) e por interpretações desfavoráveis aos
credores pelos tribunais, contribuem significativamente para a baixa previsibilidade
na economia e, conseqüentemente, são apontadas como causas explicativas para a
inexistência de um mercado de crédito de longo prazo no segmento livre.
18
Portanto, dadas estas circunstâncias e, por conseguinte, a natureza de
curtíssimo prazo das operações de crédito com recursos livre no Brasil, supõe-se
que, tanto as operações de crédito quanto a atividade econômica real respondem
rapidamente aos choques da política monetária, o que significa que essa
18
Teixeira (2006), trata dos aspectos geradores de baixa previsibilidade em gerais, enquanto Arida,
Bacha e Resende (2005) destacam a importância do foro.
137
particularidade do mercado de crédito brasileiro contribui para reforçar a concepção
favorável a existência de um canal de transmissão da política monetária via
empréstimo bancário.
19
4.2.4 A Segmentação do Mercado de Crédito.
O mercado de crédito no Brasil vem passando por profundas
transformações, com os bancos investindo cada vez mais no aperfeiçoamento de
suas análises de crédito, no aprimoramento dos bureaus de informação de crédito
(BICs), e uma significativa melhora nos instrumentos de regulamentação e
supervisão do sistema pelo Banco Central. Mais recentemente, com o projeto “juros
e spread bancário” esforços concentrados têm sido implementados com vistas a
aprofundar e ampliar as relações financeiras e o mercado de crédito em particular.
Não obstante estas transformações, uma característica marcante do
mercado de crédito brasileiro ainda persiste, a saber, sua segmentação em
diferentes submercados, onde tomadores que oferecem os mesmos riscos para os
bancos recebem diferentes condições de empréstimos, dependendo do seu
tamanho e da natureza de suas relações bancárias.
Segundo Pinheiro e Moura (2001), o mercado de crédito brasileiro é dividido
em três segmentos – o mercado de varejo, o mercado médio (middle-market) e o
mercado corporativo – que diferem fundamentalmente com relação ao tamanho
típico do empréstimo e à natureza e quantidade de informações sobre os tomadores,
que são utilizadas pelos credores. A segmentação faz com que o processo de
análise de crédito seja diferente para cada tipo de tomador de empréstimo.
Definiremos as principais características de cada segmento do mercado de crédito
tomando como referência a pesquisa desenvolvida pelos autores.
O mercado de varejo caracteriza-se pela concessão de um grande número
de empréstimos de baixo valor para pequenas empresas e para pessoas físicas. A
tendência geral desse mercado é de introduzir um processo altamente
descentralizado de gestão de crédito, ou seja, todas as solicitações de empréstimos
tendem a ser tratadas automaticamente por métodos estatísticos, com base nas
informações fornecidas pelo próprio clientes e/ou disponíveis nos registros públicos
19
Minella (2003) argumenta que a predominância de empréstimos de curto prazo no Brasil é
responsável pela rápida reação do mercado de crédito e da economia real aos choques de política.
138
(BICs), com a rápida tomada de decisão no âmbito da própria agência. A variável
discriminante nesse mercado é o cadastro de crédito do tomador, que tende a
priorizar fortemente as informações restritivas. Nesse caso, as informações
negativas fornecidas pelos BICs são os dados mais relevantes e provavelmente os
únicos utilizados no processo de decisão de crédito.
20
Uma característica marcante
desses mercados é a elevada taxa de juros e dos spreads cobrados nas operações
de crédito.
No mercado médio, os bancos tendem a basear suas decisões em
informações coletadas internamente, freqüentemente obtidas através do
relacionamento contínuo com seus clientes. As relações estabelecidas nesse
mercado tendem a ser mais complexas, por conta disso, a importância das
informações negativas para análise de crédito diminui significativamente. Em geral,
são utilizados dois tipos de informações para tomar as decisões de empréstimos
nesse segmento de mercado: informações negativas e positivas fornecidas pelos
BICs e outros credores; e, fundamentalmente, dados coletados pelo próprio banco
através da análise de balanços e visitas às empresas.
Conforme observam Pinheiro e Moura (2001), alguns bancos mais
agressivos nesse segmento de mercado praticamente desconsideram os dados dos
balanços publicados, dado que existe um elevado grau de deturpação da real
situação econômico-financeira das empresas. A péssima qualidade das informações
contidas nos balanços desses tomadores, que se deve basicamente à sonegação
fiscal e às práticas contábeis ineficientes, faz com que alternativas mais eficientes
sejam perseguidas. Assim, os bancos substituem as informações contábeis formais
por um sistema de informações de gestão criado internamente para rastrear as
verdadeiras mudanças nas condições financeiras da empresa. Neste contexto, as
informações sobre o fluxo de caixa do tomador se tornam extremamente valiosas
para avaliar sua efetiva capacidade de pagamento. Um elemento importante desse
sistema é o monitoramento da liquidez das contas a receber do tomador
(principalmente duplicatas), já que elas são as garantias mais comumente aceitas
nos empréstimos comerciais no Brasil. Os dados e a análise da capacidade de
20
Uma vez estabelecida uma relação de crédito, as informações fornecidas pelos BICs tornam-se
úteis também para o monitoramento da situação financeira do tomador, isto é, para se informar sobre
a ocorrência de eventos que podem levar à inadimplência. Assim, tanto o aumento como a diminuição
da capacidade de obtenção de crédito dos tomadores podem ser previstos pelo monitoramento das
mudanças na sua situação econômica como contabilizada nesses registros (PINHEIRO; MOURA,
2001).
139
obtenção de crédito do tomador, coletados por sistemas de informação de
gerenciamento desenvolvidos internamente, permanecem privativos do banco e não
são compartilhados com bureaus de informação de crédito.
Nesse segmento de mercado, a seleção adversa faz com que os melhores
clientes acabem sendo “informacionalmente capturados” pelos bancos, criando altos
custos de transferência, ou seja, não é possível para um banco fazer ofertas para
atrair os melhores clientes de seu rival sem, ao mesmo tempo, também atrair os de
pior qualidade (NAKANE, 2003).
O chamado mercado corporativo, por sua vez, caracteriza-se pelos
empréstimos realizados para grandes empresas nacionais e estrangeiras
(corporações privadas brasileiras, multinacionais e algumas empresas estatais).
Nesse segmento de mercado as informações fornecidas pelos BICs apresentam um
papel muito limitado no processo de análise de crédito, se comparadas com as
pesquisas e análises conduzidas pelo próprio credor e combinadas com outras
informações privadas previamente coletadas pelo intermediário financeiro. Ao
contrário do que ocorre no segmento do mercado médio, as auditorias de balanços e
outras demonstrações financeiras são mais valiosas para este segmento de
mercado, por se mostrarem mais confiáveis do que informações equivalentes
tomadas no âmbito das pequenas empresas.
Uma particularidade interessante do mercado corporativo é que, como
corporações públicas (com ações ou títulos negociados nos mercados financeiros
nacionais e internacionais), as empresas que participam desse mercado são
obrigadas a fornecer aos investidores um fluxo regular de informações sobre suas
condições econômicas e financeiras. O processo de crédito é mais demorado e mais
caro, se comparado a outras operações de empréstimos. Os empréstimos para o
mercado corporativo respondem por uma grande proporção da carteira total de
crédito dos bancos de varejo brasileiro, embora disponha de uma pequena base de
clientes. Além disso, os juros e spreads são relativamente pequenos nesse tipo de
operação de crédito (PINHEIRO; MOURA, 2001).
Em termos gerais, os bancos lucram mais com as operações de crédito no
mercado médio do que nos mercados corporativos e de varejo, e como estes lucros
dependem do acesso privilegiado às informações sobre a capacidade de obtenção
140
de empréstimos do tomador, eles não têm nenhum incentivo para compartilhar
informações positivas com outras instituições bancárias.
21
Sabe-se que as informações geradas por relacionamentos bancários
continuados são valiosas para que os credores disponham de condições para avaliar
o risco envolvido nas operações de empréstimos. Porém, o valor dessas
informações acaba sendo potencializado em mercados onde o ambiente institucional
é precário, marcado por falta de transparência e eficiência, onde persistem praticas
contábeis deficientes e ampla sonegação fiscal como é o que ocorre no Brasil. Este
acaba sendo um ambiente propício para preservar e estimular a segmentação do
mercado de crédito, uma vez que, possibilita a manutenção de estruturas que
garantem lucros mais elevados para um segmento específico.
A divisão do mercado de crédito em três segmentos tem como principais
conseqüências negativas as altas taxas de juros impostas aos pequenos tomadores
seguros e os efeitos distorcidos do poder de monopólio dos bancos no mercado
médio, onde os tomadores são “informacionalmente capturados”. Verifica-se que,
embora os participantes nos mercados médios e corporativos apresentem riscos
equivalentes, os primeiros acabam pagando taxas mais altas, sendo a diferença a
renda extraída pelos bancos em virtude da vantagem informacional que dispõe.
Isso sugere que, existe um forte poder de mercado dos bancos, não nos
moldes tradicionais através da manutenção de estruturas clássicas de organização
de mercado, mas através do monopólio que alguns segmentos mantêm sobre as
informações. A presença de assimetria de informação no mercado financeiro, ao
permitir com que os clientes dos bancos possam ser informacionalmente capturado
a semelhança do que ocorre no segmento de mercado médio, cria a possibilidade de
exercício de poder de mercado sob outras formas, derivadas principalmente da
possibilidade de obtenção de rendas (rents) informacionais.
Segundo Sharpe (1990), a literatura que trata das praticas de fidelização do
cliente (customer relationships), e dos custos de transferências (switching costs) nos
mercados bancários sugere que um banco tem uma vantagem sobre seus
concorrentes porque, ao emprestar para seus clientes, o mesmo sabe mais a
respeito das características dos mesmos do que seus rivais. Esta vantagem
21
Esse é o caso dos dados e análises sobre a capacidade de obtenção de empréstimos coletados por
sistemas internos de informações, que permanecem privativas do banco e não são compartilhados
com as agências de avaliação de crédito (BICs).
141
informacional do banco traduz-se em poder de mercado temporário ex post mesmo
quando os bancos são competitivos ex ante, criando altos custos de transferências.
Tomando em conta a industria bancária brasileira, Nakane (2003) observa
que, modalidades de crédito relacionadas com a manutenção de contas bancárias,
tais como cheque especial para pessoas físicas e conta garantida para pessoas
jurídicas são tipicamente situações em que os clientes mantêm um elevado grau de
locked in com suas instituições bancárias, pela dificuldade que dispõem em transferir
às instituições competidoras seu histórico cadastral e reputação. Como resultado de
elevados custos de transferências, as taxas de juros nestas modalidades são
sensivelmente mais elevadas que em modalidades representando substitutos
próximos.
Em termos gerais, o poder de mercado obtido através do monopólio
imformacional, e da extração de renda que isso possibilita em função dos altos
custos para transferência - derivados da segmentação do mercado - pode ajudar a
explicar não só as elevadas taxas de juros e dos spreads excessivos cobrados em
alguns segmentos de mercado e em algumas modalidades de créditos específicas,
mas também a resistência que estas apresentam em reduzi-se. Portanto, constitui
uma característica importante do mercado de crédito brasileiro que pode contribuir
favoravelmente para a existência de um canal de transmissão da política monetária
via empréstimo bancário.
4.3 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A assimetria de informação no mercado financeiro, gerada por deficiências
institucionais, tem sido apontada como uma das causas das elevadas taxas de juros
reais e spreads bancários, pelo curto prazo de maturação e, pela predominância da
segmentação do mercado de crédito, no Brasil. Por conseguinte, como um dos
responsáveis pela assimetria de informação, as características institucionais têm
sido apontados como elemento determinante do baixo desenvolvimento do mercado
de crédito e de capitais verificado no país.
As deficiências institucionais são responsáveis pela introdução de
incertezas nas relações contratuais estabelecidas entre credores e tomadores de
empréstimo. Daí pode-se aludir que a oferta de crédito, os custos e as condições em
que pode ser obtido não dependem apenas da boa vontade da autoridade
142
monetária, isto é, depende também e, sobretudo, de aspectos institucionais e
jurídicos que regulam as relações entre emprestadores e tomadores de empréstimos
na economia.
A capacidade de instituições em proteger os direitos de propriedade e
executar a garantia desses direitos com eficiência e imparcialidade, são de suma
relevância para explicar não só o grau de desenvolvimento do mercado financeiro de
um país, mas também, a alocação do crédito e a forma como essa alocação e o
montante do crédito respondem a choques econômicos. Portanto, são muito
importantes na medida em que contribuem para a formação das expectativas dos
agentes econômicos quanto à manutenção do quadro de estabilidade econômica, e
do grau de risco envolvido nas relações financeiras (elaboração de contratos).
Dada a importância do tema, na seqüência concentraremos a atenção nos
aspectos institucionais, procurando identificar sua relevância para justificar o atual
estágio de desenvolvimento do mercado de crédito, bem como, sua contribuição
para explicar a relevância do canal do empréstimo bancário para a transmissão da
política monetária no Brasil.
143
5 O AMBIENTE INSTITUCIONAL E O DESENVOLVIMENTO FINANCEIRO NO
BRASIL
Evidências empíricas corroboram com a concepção de que a política
monetária (de mesma magnitude) produz efeitos que diferem de modo significativo
entre os países (é mais intensa em alguns países do que em outros), e que, dentro
de um mesmo país, promovem efeitos diferenciados ao longo do tempo e sobre
distintos setores de produção. Isso ocorre em virtude das diferenças que apresentam
em suas estruturas financeiras, ou seja, de diferenças no grau de desenvolvimento
de seus mercados de crédito e de capitais, bem como, de diferenças no grau de
dependência de alternativas fontes de financiamento. Tais diferenças demonstram
ser determinadas por especificidades nas características institucional apresentadas
pelos distintos países, conforme sugere a literatura de “law and finance”.
1
De acordo com a literatura de “law and finance”, o grau de desenvolvimento
financeiro de um país varia de acordo com a origem de seu sistema legal e da
conseqüente proteção que este assegura aos direitos de propriedade dos
investidores. Essa literatura procura destacar a importância do ambiente
institucionais para explicar as diferenças no desenvolvimento financeiro entre os
países.
As evidências empíricas sugerem que a estrutura legal de um país
(compreendendo regras legais e eficiência em sua execução), a estrutura financeira
(envolvendo a formação e o desenvolvimento dos mercados de crédito e de
capitais), e o mecanismo de transmissão da política monetária estão interligados.
Características institucionais, relacionadas às deficiências nas regras legais
e à qualidade com que tais regras são execução, contribuem para a geração de
assimetria de informações no mercado financeiro e, por conseguinte, pelos
problemas de seleção adversa, de risco moral e de agência que dela derivam. Os
problemas informacionais interferem na natureza e na eficiência das relações
contratuais que procuram disciplinar as relações financeiras entre emprestadores e
tomadores de empréstimos, conseqüentemente, contribuem para determinar o grau
de desenvolvimento e a importância relativa dos intermediários financeiros (bancos),
1
A pesquisa desenvolvida por Cecchetti (1999), tomando em conta os países que integram o
Mercado Comum Europeu, representa uma boa referência, que comprova empiricamente o impacto
diferenciado da política monetária e sua relação com aspecto institucionais em diferentes países.
144
do mercado de títulos e de capitais (ações) como fonte de financiamento para os
tomadores de empréstimos.
Conforme sugere a literatura que aborda a “visão do crédito”, a assimetria
de informação no mercado financeiro é uma condição necessária para a existência
do canal do empréstimo bancário, enquanto um canal relevante para a transmissão
da política monetária. Portanto, o canal do empréstimo bancário, também, depende
de características institucionais do sistema financeiro, isto é, de características legais
que estão diretamente relacionadas ao desenvolvimento do mercado de crédito e de
capitais.
Tomando em conta a suposta relação entre as características do ambiente
institucional e o desenvolvimento do mercado financeiro de um país, procuramos
avaliar o atual estágio de desenvolvimento do mercado financeiro brasileiro -
particularmente o desenvolvimento no mercado de crédito - a luz dos argumentos
apresentados pela literatura de “law and finance” e dos aspectos institucionais por
ela abordados. Esta análise será de grande valor na medida em que contribuirá para
o melhor entendimento das reais condições do mercado de crédito brasileiro e, por
conseguinte, para analisarmos a relevância empírica do canal do empréstimo
bancário, enquanto um canal de transmissão da política monetária no Brasil.
5.1 A LITERATURA DE “LAW AND FINANCE” E A IMPORTÂNCIA DO AMBIENTE
INSTITUCIONAIS PARA O DESENVOLVIMENTO DO MERCADO FINANCEIRO
Importantes indagações surgem com relação ao que determina o efetivo
desenvolvimento do mercado financeiro de um país, uma vez que, constatam-se
expressivas variações no sistema de intermediação financeira entre países com
diferentes níveis de renda e mesmo entre países com níveis de renda equivalentes.
Conforme sugere a literatura de “law and finance” - a qual concentra sua
atenção no estudo da relação entre estrutura legal e finanças - diferenças nas
estruturas financeiras entre os países são conseqüências de diferenças em suas
estruturas institucionais.
As instituições surgem com o objetivo de superar fricções na economia, tais
como problemas de custos de transações e assimetria de informação, as quais
145
impedem o agrupamento de poupanças e sua canalização para o uso mais
eficiente.
2
Um mercado financeiro bem desenvolvido e amparado por instituições
adequadas viabiliza as transações econômicas (troca de bens e serviços) ao prover
serviços de pagamentos, ao ajudar na mobilização, agrupamento e alocação de
poupanças de um grande número de poupadores, ao adquirir e processar
informações sobre empreendedores e seus respectivos projetos de investimentos.
(BECK, 2006; LEVINE, 2005).
Além disso, colabora para a estabilidade e para o progresso econômico na
medida em que: (i) permite a alocação mais eficiente de recursos e o conseqüente
aumento na produtividade; (ii) amplia o acesso ao financiamento para indústrias e
firmas mais dependentes de recursos externos; (iii) permite que pequenas firmas
superem restrições financeiras e obtenham um crescimento mais rápido; (iv)
neutraliza o impacto de choques externos na economia doméstica; (v) aperfeiçoa e
aprofunda as relações de comércio exterior; e, (vi) reduz desigualdades de renda e
acelera o crescimento econômico.
3
Em geral, um sistema financeiro estável, bem desenvolvido e - o que é mais
importante - amparado por instituições sólidas e flexíveis, colabora na alocação de
recursos, no monitoramento de investimentos, exerce governança corporativa, e
ajuda a diversificar e reduzir riscos intertemporais e de liquidez.
Um arcabouço institucional que colabore com a solidez e estabilidade de um
sistema financeiro deve possuir, antes de qualquer coisa, uma eficiente capacidade
de adaptação. Conforme observa North (2006, p. 21), os estados democráticos e as
economias de mercado descentralizadas e com regimes de direitos de propriedade
bem definidos e aplicados são os que mais se aproximam, hoje, de um arcabouço
institucional eficiente, do ponto de vista da adaptabilidade institucional. Essa
generalização implica em grandes variações no desempenho econômico. Tais
2
Segundo definição dada por North (2006, p.13), instituições compreendem regras formais,
limitações informais (normas de comportamento, convenções e códigos de conduta auto-impostos) e
os mecanismos responsáveis pela eficácia desses dois tipos de normas. Em suma, constituem o
arcabouço imposto pelos seres humanos a seu relacionamento com os outros. Estas, por sua vez,
aliadas à tecnologia empregada, afetam os custos de transação e o desempenho do processo de
produção.
3
Estas idéias são compartilhadas por Beck, Levine e Loayza (2000); Demirguc-Kunt e Maksimovic
(1998,); Rajan e Zingales (1998); Beck, Demirguc-Kunt e Maksimovic (1998); Beck, Demirguc-Kunt,
Laeven e Levine (2004); Beck, Lundberg e Majnoni (2006); Beck (2002, 2003).
146
variações advêm das diferentes estruturas institucionais e modelos mentais dos
atores, que resultam, por sua vez, em variações das estruturas organizacionais.
Um número crescente de estudos, os quais fazem parte do corpo teórico da
literatura de “law and finance”, tem destacado a relevância do quadro institucional (o
que compreende regras legais e qualidade com que tais regras são executadas)
como um poderoso instrumento para explicar as diferenças no desenvolvimento
financeiro, em geral, e no grau de desenvolvimento dos mercados de crédito, em
particular, em diferentes países e, por conseguinte, as diferenças observadas no
progresso econômico e nas taxas de crescimento.
(LA PORTA et al, 1998; BECK;
LEVINE, 2004).
O quadro subjacente das discussões que tratam da importância de aspectos
institucionais para o desenvolvimento das estruturas financeiras deriva naturalmente
da evolução da teoria sobre as finanças corporativas.
4
Modigliani e Miller (1958), por exemplo, pensam as firmas como uma
coleção de projetos de investimentos e os fluxos de caixa que estes projetos criam e,
conseqüentemente, partem do princípio de que os títulos, tais como as dívidas e as
ações, conferem aos credores e acionistas um direito sobre esses fluxos de caixa.
Eles não explicam, contudo, por que motivo os administradores seriam induzidos a
reembolsar o fluxo de caixa para os investidores.
Jensen e Meckling (1976) salientam que o retorno do fluxo de caixa dos
projetos para investidores pode não ser garantido e que os insiders (administradores
e acionistas majoritários) das firmas podem usar esses recursos para seu próprio
benefício, o que acaba gerando problema de agência e custo de agência. Portanto,
as dívidas e ações devem ser vistas como contratos que concedem aos investidores
externos direitos sobre os fluxos de caixa da firma.
Pesquisas indicam que esta não representa toda a história e, conforme
observa Hart (1995), a característica definitiva de vários títulos de propriedade
(ações e dívidas) é o direito que eles representam e que asseguram aos seus
proprietários. Por exemplo, as ações tipicamente dão aos seus proprietários o direito
de votar nos diretores da companhia, enquanto as dívidas dão aos credores o poder
4
As discussões que tratam da importância da estrutura financeira para o desenvolvimento econômico
estiveram, tradicionalmente, restritas aos relativos benefícios advindos da forma com que o mercado
financeiro se organiza para execução de suas atividades, seja num sistema de provisão dos serviços
financeiros centrado no mercado ou num sistema de provisão centrada nos bancos. Porém, conforme
destacam Beck e Levine (2002), é a provisão dos serviços financeiros, antes que quem os provê, que
tem relevância para o desenvolvimento econômico.
147
para recuperar as garantias quando as firmas falham em cumprir suas promessas de
pagamentos.
5
O direito vinculado aos títulos proporcionam aos investidores o poder de
extrair dos insiders o retorno sobre seus investimentos. Sem esses direitos, os
investidores poderiam não estar aptos a recuperar seus recursos e,
conseqüentemente, as firmas poderiam não dispor do benefício de obter fundos
desses investidores.
Para La Porta et al (1998), a visão de que os títulos são caracterizados por
alguns direitos intrínsecos ainda é incompleta. Consideram que esta concepção
ignora o ponto óbvio de que estes direitos dependem de regras legais da jurisdição
onde estes títulos são emitidos e da eficiência com que os direitos são executados.
Segundo La Porta et al (1998), a diversidade de elementos do sistema
financeiro entre os países - tais como amplitude e profundidade de seus mercados
de capitais, o ritmo de novas emissões de títulos, a estrutura de propriedade das
corporações, as políticas de dividendos, e a eficiência na alocação de investimentos
- são explicada conceitualmente e empiricamente pela forma com que as leis e a
qualidade com que são executadas protegem o direito de propriedade dos
investidores. Isso sugere que, a abordagem legal é o modo mais adequado para
compreender as razões das diferenças nas finanças corporativas e no grau de
desenvolvimento dos mercados financeiros em diferentes países.
A proteção do direito de propriedade, particularmente, a proteção de
investidores mostra-se crucial porque, em muitos países, a expropriação de
acionistas minoritários e de credores por acionistas controladores ou
administradores (os chamados insiders) é extensa. Quando investidores externos
financiam empreendimentos, eles enfrentam o risco e, às vezes, a certeza de que o
retorno de seus investimentos pode não se materializar, pois acionistas
controladores ou administradores podem simplesmente apropriar-se dos recursos.
6
5
Para maiores informações conferir Zingales (1994).
6
A expropriação pode tomar uma variedade de formas. Em alguns países os acionistas controladores
e administradores (insiders) simplesmente roubam o lucro. Em outros países os insiders vendem o
produto ou ativos das firmas que eles controlam, mas a qual os investidores externos tenham
financiado, para outra entidade de sua propriedade abaixo dos preços de mercado. Tais
transferências via preço e retirada de ativos, mesmo que por via legal, tem o efeito equivalente ao de
um roubo. Em outras circunstâncias, a expropriação legal toma a forma de contratação de membros
da família desqualificados na condição de administrador, ou da supervalorização do pagamento da
remuneração de executivos. Todas estas formas de expropriação significam que os insiders usam o
lucro da firma para seu autobenefício, antes que para retornar os recursos para os investidores
externos.
148
A literatura de “law and finance” tem contribuído de modo significativo para a
compreensão das diferenças na amplitude e na profundidade do desenvolvimento do
mercado financeiro em diferentes países. Ela destaca a forma com que o ambiente
institucional - relacionados às leis de contratos, leis das companhias, leis de
falências, à ênfase com que os direitos de propriedade são protegidos e, à eficiência
do sistema de execução de regras legais - influencia o grau de expropriação e, por
conseguinte, a confiança com a qual pessoas compram títulos e participam no
mercado financeiro em diferentes países. (BECK; LEVINE, 2004).
A principal idéia por trás dessa teoria é que os investidores (acionistas
minoritários e credores) necessitam ser protegidos contra eventuais riscos de
expropriações por parte de acionistas controladores ou administradores (insiders),
para sentirem-se seguros e estimulados a participar do mercado financeiro. Assim,
estariam dispostos a financiar as firmas se dispusessem de poder para limitar o
comportamento oportunista dos insiders sobre o retorno de seus investimentos. Um
modo de pensar sobre a abordagem legal é que a proteção do direito de propriedade
de investidores torna a tecnologia de expropriação menos eficiente. Assim, o
mercado financeiro torna-se mais dinâmico, e as firmas, então, conseguem obter
financiamento externo em condições mais favoráveis.
A proteção dos direitos de investidores por um eficiente sistema de regras
legais, sob o ponto de vista de La Porta et al (1998), deve contemplar:
i) No caso dos credores, regras legais que tratam, essencialmente, com
processos de reorganização e falências, dispondo sobre o direito de: recuperar as
garantias que lhe são dadas nos contratos de financiamento no caso de default; ter
prioridade na recuperação das garantias durante um processo falimentar; controlar
os ativos da companhia durante um processo de recuperação; dificultar o acesso
das firmas à proteção judicial em um processo de reorganização; nomear novos
administradores;
ii) No caso dos acionistas, as regras legais estabelecem o direito de: exercer
o voto; de receber os dividendos oportunamente; de participar no encontro de
acionistas; de desafiar decisões dos insiders; de subscrever nova emissão de ações
e manter sua participação acionária inalterada; de convocar encontros
extraordinários de acionistas; de autuar diretores ou outros responsáveis suspeitos
de expropriação; dentre outras provisões para assegurar sua participação nas
decisões feitas no âmbito da firma;
149
iii) Além disso, ambos, acionistas e credores, devem dispor do direito de
obter informações acuradas sobre a situação financeira da firma, com um eficiente
sistema de regras contábeis e demonstrações financeiras que disponibilizam aos
investidores informações confiáveis, as quais contribuem para o exercício dos
demais direitos.
A teoria de “law and finance”, considera ainda que, os contratos financeiros
entre as partes, constituídos com base em regras legais, não são suficientes para
dar plenas garantias aos direitos de propriedade dos investidores a menos que
sejam complementados com um eficiente processo de execução. Assim, mais
importante do que o conteúdo legal, para garantir o desenvolvimento e
aprofundamento dos mercados financeiros, é a existência de um intenso e eficiente
processo de execução de regras legais. A qualidade da execução das leis está
relacionada a elementos como a capacidade de operacionalização do sistema
judiciário e ao cumprimento efetivo das determinações por ele estabelecidas. Em tais
circunstâncias, o rigor com que as regras legais são executadas constitui elemento
crucial para a determinação de que direitos os detentores de títulos possuem e como
estes direitos são protegidos.
Conforme advertem Beck e Levine (2004), em países onde o sistema legal
protege os direitos de propriedade, sustenta arranjos contratuais, e protegem direitos
legais de investidores, os poupadores estão mais propensos a financiar as firmas e o
mercado financeiro prospera. Em contraste, instituições legais que não protegem
direitos de propriedades nem facilitam os contratos privados inibem as finanças
corporativas e retardam o desenvolvimento financeiro.
A literatura de “law and finance” enfatiza, ainda, que a diferença na tradição
legal, que emergiu na Europa há alguns séculos e que se difundiu
internacionalmente por conquista, colonização, e imitações, ajudam explicar as
diferenças observadas na proteção de investidores, no ambiente de contratos e,
conseqüentemente, no atual desenvolvimento financeiro apresentados pelos países.
A tradição do sistema legal dos distintos países derivam de duas principais
categorias – a civil law e a common law.
A Civil law representa a tradição legal mais antiga, a mais influente e a mais
amplamente difundida ao redor do mundo. Derivada da lei romana, a civil law abarca
150
três famílias dentro de sua tradição: francesa, alemã e escandinava.
7
A principal
diferença estabelecida entre estas famílias relaciona-se ao modo com que as
práticas legais podem ser incorporadas na lei, isto é, ao modo com que a lei possa
evoluir de acordo com as circunstâncias e necessidades econômicas. Enquanto as
tradições legais Germânica e Escandinavas proporcionam mais flexibilidade para
que as leis evoluam de acordo com os precedentes (jurisprudência), o sistema legal
francês caracteriza-se pela sua rigidez, limitando a evolução da lei às especificações
ditadas em um código legal. A civil law baseia-se, em grande medida, no trabalho de
juristas que formulam suas regras, estatutos e códigos de forma abrangente, e esses
constituem um meio primário para ordenar a matéria legal.
A common law, por sua vez, tem como principal característica o fato de que
os juízes representam a principal fonte de lei.
8
Suas decisões emergem de disputas
específicas e tornam-se leis, de modo que as leis acabam sendo constituídas com
base em precedentes ou jurisprudência. Os códigos também são utilizados na
common law, porém, ao contrário do que ocorre na civil law, eles não têm pretensão
de serem perfeitos de modo que os juízes não estão compelidos a encontrar a base
de decisão de um caso específico dentro do código.
A forma com que as instituições protegem o direito de propriedade em geral
e dos investidores externos em particular variam sistematicamente entre as tradições
legais. Uma das principais conclusões da literatura de “law and finance” é que países
com origem na common law inglesa dispõem de uma forte proteção dos direitos de
propriedades em geral e, em especial, do direito dos investidores (ambos acionistas
e credores), enquanto países com origens na civil law francesa dispõem de mais
fraca proteção. Países com origens na civil law Germânica e Escandinava, as quais
derivam da civil law francesa, situam-se numa posição intermediária. Essas
7
O código comercial francês foi escrito em 1807, durante o império Napoleônico, e foi implantado, por
seus exércitos, na Bélgica, Nova Zelândia, parte da Polônia, Itália, e regiões da Alemanha ocidental.
Na era colonial, a França estendeu sua influência para o Leste, Norte e África Subsaariana,
Indochina, Oceania, e ilhas francesas no Caribe. A Influência legal francesa também foi significante
em Luxemburgo, Portugal, Espanha, alguns cantões suíços, e Itália. Quando o império espanhol e
português se dissolveu na América Latina, foi fundamentalmente a civil law francesa que serviu de
inspiração para os legisladores das novas nações. O código comercial germânico foi escrito em 1897
após Bismarck promover a unificação da Alemanha, e talvez, devido ao fato de este ser produzido
décadas mais tarde, não adotou tão amplamente o código francês. Este teve uma importante
influência na Áustria, Tchecoslováquia, Grécia, Hungria, Suíça, Iugoslávia, Japão e Coréia. A família
Escandinava, por sua vez, tem sua tradição na civil law, embora sua lei deriva menos da lei romana
do que a francesa e a germânica (LA PORTA ET AL, 1998, p, 9).
8
Este sistema legal é modelado com base na lei Inglesa e abrange suas ex-colônias, incluindo
Estados Unidos, Canadá, Austrália e Nova Zelândia e alguns países da África e do Sudeste Asiático.
151
evidências independem do nível de renda per capita e se confirmam tanto no que se
refere à elaboração de regras legais, as quais procuram estabelecer direitos, como
com relação à eficiência na execução dessas regras.
Conforme observam La Porta et al (1998), dado que as famílias legais se
originaram antes do mercado financeiro ter se desenvolvido, é improvável que as leis
fossem elaboradas em resposta às pressões do mercado. Ao contrário disso, as
famílias legais aparecem para formar as regras legais, as quais, por sua vez,
exercem influência sobre o mercado financeiro. As famílias legais podem,
conseqüentemente, ser tratadas como exógenas aos padrões de propriedade das
corporações e à estrutura financeira dos países.
Considerado que a estrutura legal constitui um elemento determinante para
a proteção do direito de propriedade dos investidores e sua origem ajuda explicar
diferenças na extensão e profundidade do desenvolvimento financeiro entre os
países, resta saber por que razões a origem legal afeta o desenvolvimento do
mercado financeiro e, em particular, por que os países de origem na common law
protegem os investidores de forma mais eficiente que os de origem na civil law.
Beck e Levine (2004), sustentam que as razões pelas quais a origem legal
afeta o desenvolvimento do mercado financeiro e determina a vantagem da common
law em gerar um ambiente legal mais favorável do que a civil law, na proteção dos
direitos de propriedade dos investidores, repousam sob duas explicações básicas: a
explicação “política” e da “adaptabilidade”.
A explicação “política” está relacionada à forma com que tradições legais
diferem em termos da prioridade que atribuem à proteção dos direitos do investidor
privado vis-à-vis aos direitos do estado. De acordo com esta concepção, a proteção
do direito de propriedade privada constitui o fundamento para o desenvolvimento
financeiro.
O canal “político” argumenta que diferenças na história política por traz de
cada sistema legal determinam diferentes abordagens para proteção do direito de
propriedade. De acordo com essa visão, a diferença entre as tradições legais reside
na importância que elas atribuem à proteção da propriedade privada e à proteção
dos direitos do estado. Conforme sugerem La Porta et al (1998), a common law
evoluiu para proteger a propriedade privada contra os domínios da coroa inglesa. Na
Inglaterra do século dezessete, a coroa parcialmente perdeu o controle sobre os
tribunais, os quais estavam sob a influência do parlamento e dos proprietários
152
privados que representavam sua maioria dominante. Como conseqüência, a
common law evoluiu para proteger os proprietários privados contra os domínios da
coroa. Com o passar do tempo, os tribunais estenderam esta proteção dos direitos
de propriedade privada para proteger os direitos de propriedade dos investidores.
Em contrapartida, no mundo governado pela civil law, La Porta et al (1998)
observam que o sistema legal colocou o estado no âmago das atenções, na medida
em que a lei foi usada como instrumento para construir instituições que reforçam seu
domínio e poder. Nesse sistema, a lei tem tendido a garantir o direito do estado,
antes que o direito da propriedade privada. Essas circunstâncias sugerem que um
estado poderoso ancorado em um sistema legal a sua disposição tende a desviar o
fluxo de recursos sociais para fins que lhe favorecem, o que constitui um obstáculo
para o desenvolvimento de um mercado financeiro competitivo. Além disso, um
estado poderoso terá dificuldades de credibilidade no que se refere ao compromisso
de não interferir no mercado financeiro, o que também representa um obstáculo ao
desenvolvimento financeiro de um país.
Uma segunda explicação que procura estabelecer uma relação entre a
origem legal com o desenvolvimento financeiro é a da “adaptabilidade”. A explicação
relacionada à capacidade de “adaptabilidade” do sistema legal estabelece que os
sistemas legais diferem com relação ao formalismo e a habilidade com que se
ajustam às mudanças nas condições e às necessidades da economia.
De acordo com essa concepção, se o sistema legal dos países se adaptam
lentamente às mudanças nas circunstâncias, significativas defasagens se originam
entre as necessidades financeiras de uma economia e a habilidade com que seu
sistema legal pode suportar estas necessidades. Por outro lado, um sistema legal
que abraça a lei de caso e a discricionariedade do poder judiciário tende a se
adaptar mais eficientemente às mudanças nas condições econômicas do que um
sistema legal que adere rigidamente a processos formalísticos e confiam
estritamente no discernimento baseado minuciosamente em um estatuto legal.
Tomando em conta estes aspectos, observa-se que o sistema com origem na
common law inglesa mostra-se mais flexível e adaptável do que um sistema com
origem da civil law francesa.
La Porta et al (1998), ao reportar-se ao sistema de common law, observam
que regras legais são usualmente elaboradas por juízes, fundamentadas em
precedentes e inspiradas em princípios gerais. Os juizes regulamentam novas
153
situações aplicando princípios gerais até mesmo quando condutas específicas ainda
não tenham sido descritas ou estabelecidas no estatuto. No que se refere à questão
de expropriação de direitos dos investidores, os juízes procuram identificar até
mesmo se condutas ainda não previstas para o comportamento dos insiders violam
suas obrigações fiduciárias. A expansão de precedentes legais para violações
adicionais de obrigações, e o temor de tal expansão, limitam a expropriação pelos
insiders em países com origens na common law.
Em contrapartida, as regras legais (códigos e estatutos) num sistema com
civil law são elaboradas por legisladores, e os juízes não são habilitados para ir além
do que é determinado pela letra da lei. Como conseqüência, os insiders que
encontram modos para expropriar os investidores externos, utilizando-se de recursos
ainda não explicitamente proibidos pela lei, podem proceder sem temer qualquer
repressão judicial.
Beck e Levine (2004) consideram que o sistema de common law é mais
eficiente que o sistema baseado em estatutos porque leis ineficientes são
constantemente litigadas visando obter um resultado mais eficiente, além disso,
exigem menor formalismo legal em termos de regulação no que se refere à:
organização e apresentação de evidências; elaboração de requerimentos e
extensivos processos para apreciação judicial; exigência para a escrituração de
documentos em todos os estágios do processo; e exigência de rígido requerimento
processual na comunicação entre as partes. Em contrapartida, argumentam que leis
estatutárias de origem na civil law evoluem lentamente e estão sujeitas a um maior
grau de formalismo, ineficiência e interferência política.
Em termos gerais, o canal da “adaptabilidade” prediz que países com
origem na civil law francesa dispõem de menor probabilidade de desenvolver um
sistema financeiro eficiente que seja mais flexível que países com origem na
common law. Além disso, sustenta que a common law é inerentemente dinâmica na
medida em que responde caso a caso no que tange às mudanças das necessidades
sociais, o que limita a possibilidade de ocorrer grandes defasagens entre as
demandas sociais e a lei propriamente dita. Nessa perspectiva, o sistema legal,
organizado com base na common law tende a ser mais eficiente para proteger o
direito de propriedade de investidores externos e promover o desenvolvimento do
sistema financeiro do que o sistema legal organizado com base na civil law, dado
que este último pode, freqüentemente, ser ludibriado por insiders criativos.
154
O desenvolvimento da literatura de “law and finance” fundamentou-se em
trabalhos empíricos que tiveram como principal propósito testar a relevância dos
argumentos por ela apresentados. Em geral, os resultados obtidos corroboram com
as hipóteses geradas pela estrutura teórica, ou seja, constata-se uma significativa
diferença no que se refere às leis que protegem o direito de propriedade dos
investidores entre os países, tais diferenças mostram-se altamente correlacionadas
com as variações observadas no grau de desenvolvimento dos mercados
financeiros. Parte expressiva dessa variação mostram-se estar associadas a
diferenças observadas na origem legal dos países, o que significa dizer que, está
fortemente relacionada a aspectos institucionais que são específicos de cada país.
(LA PORTA et al, 1998).
Em geral, os resultados empíricos indicam que o sistema legal (incluindo
regras legais e mecanismos eficientes de execução) - ao assegurar garantias de
propriedade privada em geral e o direito dos investidores em particular – constitui-se
num importante determinante para o desenvolvimento do mercado financeiro, sendo
esse entendido como o desenvolvimento do mercado de crédito (sistema bancário) e
de capitais (mercado de ações e títulos). Mostram, também, que a tradição legal
pode ter efeitos persistentes para o desenvolvimento financeiro no longo prazo,
indicação disso é que os países com origem na common law apresentam vantagens
para o desenvolvimento do mercado financeiro, quando comparados aos países com
origem na civil law francesa, dado que suas regras legais e seu sistema de execução
asseguram uma maior proteção para o direito de propriedade em geral e dos
investidores em particular. Importante destacar que estes resultados independem do
nível de renda dos países.
Em suma, a recente literatura de “law and finance” dá sustentação à idéia
de que o modo pelo qual os países adotam seus sistemas legais e os executam,
constituem determinantes chaves para seu subseqüente caminho de legalidade e
sua capacidade para gerar condições favoráveis para a ampliação e
aprofundamento do mercado financeiro, para os negócios e, conseqüentemente,
para o desenvolvimento econômico. Isso implica que, as instituições compreendem
elementos relevantes a serem levados em consideração, para se ter uma maior
compreensão do grau de desenvolvimento financeiro de um país, para se entender
as diferenças no desenvolvimento financeiro entre diferentes países, bem como,
155
para se entender o papel e eficácia da política monetária, dados os distintos canais
pelos quais ela pode ser transmitida.
5.2 A IMPORTÂNCIA DO AMBIENTE INSTITUCIONAL PARA O
DESENVOLVIMENTO DO MERCADO FINANCEIRO NO BRASIL
Os programas implementados com vistas a promover a reestruturação e
supervisão do setor financeiro [complemento às reformas de natureza
macroeconômica e patrimonial (privatizações) para promover a estabilização da
economia], bem como, para reforçar e aprofundar o papel da intermediação
financeira no Brasil tiveram um desempenho favorável na medida em que
contribuíram para consolidar a estabilidade da moeda e do sistema financeiro e,
conseqüentemente, para aprofundar o grau de previsibilidade nas relações
financeiras (poupança, empréstimo e investimentos). Entretanto, embora essas
reformas representam condições necessárias, não se mostram suficientes para a
promoção do desenvolvimento do mercado financeiro nos moldes que é desejado.
Não obstante os avanços positivos verificados, tanto com relação à
implementação de reformas como em relação aos efeitos por elas promovidos,
algumas características contraproducentes ainda persistem no mercado financeiro
brasileiro, tais como: 1) baixo volume de crédito para o setor privado; 2) um fraco
desempenho do mercado de capitais; 3) taxas de juros reais e spreads
excessivamente elevados nas operações de empréstimo bancário; 4) a oferta de
credito no segmento de mercado livre, além de ser muito reduzida, concentra-se em
operações de crédito de curtíssimo prazo de maturação, e representa a principal
fonte externa de financiamento para as firmas; 5) e, a predominância de uma
elevada segmentação no mercado de crédito.
É provável que a explicação para a persistência de tais características na
economia brasileira, apesar dos avanços verificados, esteja em terreno muito pouco
ou ainda não explorado, ou seja, pode estar relacionada à natureza dos aspectos
institucionais que regulam as relações que se estabelecem entre credores e
tomadores de empréstimos no mercado financeiro. Assim sendo, as deficiências
institucionais (compreendendo falhas nas regras legais e ineficiência na sua
execução) associadas, fundamentalmente, à falta de proteção dos direitos de
propriedade, particularmente do direito dos investidores (credores e acionistas),
156
podem ser apontadas como causa da predominância dessas características e, por
conseguinte, elementos determinantes do atual estágio de desenvolvimento do
mercado financeiro, em particular, e da economia em geral.
De acordo com a literatura de “law and finance” os principais instrumentos a
disposição de uma sociedade moderna para garantir os direitos de propriedade dos
investidores abarcam o sistema de regras legais e a qualidade do sistema de
execução dessas regras, compreendendo um eficiente sistema judicial e de
regulamentação a elas associadas. Portanto, um eficiente sistema de proteção do
direito de propriedade implica que tanto regras legais quanto um hábil processo de
execução representam dois elementos distintos de uma mesma engrenagem que
pode não funcionar bem se qualquer uma das duas partes falharem em operar.
Sabe-se que regras legais e eficiência de sua execução diferem substancialmente
dependendo da origem legal do país e, por conta disso, diferenças também são
observadas no padrão de financiamento e de organização da propriedade, bem
como, no grau de desenvolvimento financeiro e econômico.
9
A questão que se coloca, então, é saber se os aspectos institucionais que
tem regulado as relações econômicas no Brasil, principalmente, aqueles
relacionados à proteção dos direitos de propriedade dos investidores, podem ser
apontados como determinantes do atual estagio de desenvolvimento de seu
mercado financeiro.
Reunindo os argumentos apresentados pela literatura de “law and finance”,
com os argumentos apresentados pela literatura que aborda a “visão do crédito”, em
especial, para a transmissão da política monetária via empréstimo bancário, levanta-
se a hipótese de que o sistema legal de um país, ao constituir a base para a
formação da estrutura de sua intermediação financeira, pode contribuir, também,
para explicar a relevância do canal do empréstimo bancário enquanto um canal de
transmissão da política monetária para o setor real da econômica.
A predição teórica decorrente desta hipótese é que, a eficiência e o impacto
da política monetária varia com base na origem do sistema legal de um país. Ou
seja, países que possuem uma fraca proteção legal para investidores (geralmente
países com origem legal no sistema de civil law francesa) dispõem de estruturas
9
Estas teorias são corroboradas empiricamente em pesquisas desenvolvidas por La Porta et al
(1998), por Beck e Levine (2004).
157
financeiras (mercado de crédito e de capitais) pouco desenvolvidas nas quais o
mecanismo de transmissão da política monetária via canal do empréstimo bancário
tende a ser mais potente. Para estes países, o efeito do impacto de mudanças nas
taxas de juros sobre o mercado de crédito e, conseqüentemente, sobre o produto e
sobre a inflação tende a ser potencializado.
10
Considerando essa predição teórica e tomando como referência a literatura
de “law and finance”, procuraremos avaliar o atual estágio de desenvolvimento do
mercado financeiro brasileiro. Com base no arcabouço apresentado na Figura 8,
onde observa-se o encadeamento de episódios que relacionam aspectos
institucionais e o mecanismo de transmissão da política monetária, procuraremos
identificar a seqüência de eventos que verdadeiramente caracteriza a economia
brasileira.
10
Esses argumentos foram testados e, empiricamente, comprovados por Cecchetti (1999).
158
Figura 8 - Estrutura Legal, Estrutura Financeira e o Mecanismo de Transmissão
da Política Monetária.
Fonte: Elaborado pelo Autor.
É de fundamental importância compreender os fatores determinantes do
desenvolvimento financeiro, uma vez que, considera-se que as diferenças no nível
de desenvolvimento financeiro tende a promover um efeito considerável sobre o
desempenho corrente e futuro da economia.
O Brasil representa um laboratório natural para averiguar se as leis e a
qualidade com que são executadas representam elementos relevantes para se
entender o atual estágio de desenvolvimento de seu mercado financeiro, em
especial, do mercado de crédito, bem como, a importância do canal do empréstimo
LAW AND FINANC
E
- Proteção do Direito de Propriedade de Investidores
- Execução de Regras Legais
- Transparência da Estrutura Informacional
Fraca
(Origem na
Civil Law
Francesa
)
Forte
(Origem
na Common Law
Inglesa)
Elevado Grau de Assimetria de
Informação e de Problemas de Seleção
Adversa, Risco Moral e de Agência.
Baixo Grau de Assimetria de Informação
e de Problemas de Seleção Adversa,
Risco Moral e de Agência.
Baixo Grau de Desenvolvimento do
Mercado de Crédito e de Capitais
Elevado Grau de Desenvolvimento do
Mercado de Crédito e de Capitais
Maior Dependência das Empresas por
Empréstimos Bancários
Menor Dependência das Empresas
por Empréstimos Bancários
Mecanismo de Transmissão da Política
Monetária via Canal do Empréstimo
Bancário tende a ser mais potente.
Mecanismo de Transmissão da Política
Monetária via Canal do Empréstimo
Bancário tende a ser menos potente.
EMPREGO
,
INVESTIMENTO
,
INFLA
Ç
ÃO E PRODUTO
159
bancário enquanto um canal relevante para a transmissão da política monetária. Isto
porque:
- Trata-se de um país em desenvolvimento que tem suas origens legais na
civil law francesa (a qual distingue-se por atribuir baixa proteção aos direitos de
propriedade privada em geral e dos investidores, em particular), e que dispõe de um
mercado de capitais incipiente e um mercado de crédito muito pouco desenvolvido, o
qual tem representado o principal instrumento de financiamento externo para as
empresas e para a atividade economia em geral;
- Com base nas classificações apresentadas por La Porta et al (1998), o
Brasil situa-se entre os piores países no que se refere a oferecer garantias aos
direitos de propriedade para os investidores, tanto para acionistas como para
credores;
- Os atuais índices de regras legais apresentados pelo Banco Mundial
(Doing Business), que sinalizam a eficiência com que as leis são executadas,
mostram que, a execução dos direitos de propriedades são frágeis. Além disso, o
país apresenta um recorde perverso no que tange a execução de contratos,
corrupção, e repúdio aos contratos por parte do governo.
Todas estas características, as quais analisaremos com maior acuidade na
seqüência, sinalizam que a economia brasileira apresenta um ambiente institucional
relativamente perverso para o desenvolvimento do mercado financeiro,
particularmente, para o mercado de crédito e, conseqüentemente, hostil no que
tange a atração de investimentos, e a realização de novos negócios, e isso irá
impactar diretamente sobre a eficiência da política monetária.
Nesse contexto, a capacidade de instituições em proteger os direitos de
propriedade e executar a garantia dos mesmos - na medida em que contribuem para
determinar o grau de assimetria de informações no mercado financeiro -
correspondem os determinantes críticos do grau de profundidade dos mercados
financeiros, da alocação do crédito entre grupos de investidores e da forma como
essa alocação e o montante do crédito respondem a choques econômicos, e afetam
o produto real.
Na seqüência, passaremos a analisar as características do ambiente
institucional do Brasil, concentrando a atenção nos principais aspectos abordados
pela literatura de “law and finance”, ou seja: i) na garantia dos direitos de
propriedade para acionistas minoritários e credores; ii) no compromisso e eficiência
160
na execução dos contratos (regras legais); iii) e, na transparência e eficiência da
estrutura informacional. Estes, conforme estabelece a literatura, são fundamentais
para explicar a assimetria de informação e os problemas por ela gerados e, por
conta disso, contribuem para o entendimento do grau de desenvolvimento financeiro
do país.
5.2.1 Proteção dos Direitos de Propriedade dos Investidores
Nessa seção, analisaremos a eficiência do sistema de regras legais para
proteção do direito de propriedade de acionistas minoritários e de credores no Brasil.
Para este fim, examinaremos as regras legais que procuram dar garantias aos
direitos de propriedade de acionistas minoritários contra o domínio e expropriação
dos acionistas controladores nas corporações (Lei das Sociedades por Ações –
S.A.s), bem como, as regras legais que procuram assegurar o direito dos credores
(Leis de Falências).
O propósito é averiguar se as regras legais contribuem para explicar o atual
estágio de desenvolvimento do mercado financeiro brasileiro, sendo este
compreendido por um baixo grau de desenvolvimento do mercado de capitais e de
crédito.
5.2.1.1 Proteção dos Direitos dos Acionistas Minoritários
A assimetria de informações e os problemas por ela gerados (de seleção
adversa e risco moral) assumem um papel importante para o desempenho dos
mercados de títulos (mercado de bônus e ações) e, para seu conseqüente
desenvolvimento. Conforme observa Mishkin (1996b), a assimetria de informações
no mercado de títulos pode gerar problema semelhante ao dos limões esboçado por
Akerlof (1970) (como conseqüência da seleção adversa), e de agente e principal
(como conseqüência do risco moral), comprometendo a eficiência e o
desenvolvimento desses mercados.
Assim sendo, leis para as corporações (Lei das Sociedades por Ações –
S.A.s), procuram estabelecer as regras que visam assegurar garantias e proteção
aos direitos de propriedade dos investidores, e reduzir a assimetria de informações
entre as partes contratantes e os problemas de seleção adversa e risco moral, por
161
ela gerado. Essas leis (estatutos) têm como principal preocupação definir as regras
que regulam as relações entre a empresa e seus dirigentes (insiders,
compreendendo, acionistas controladores, diretores e administradores), bem como,
as relações entre as empresas e investidores externos (outsiders, acionistas
minoritários que não participam diretamente da administração da empresa, e
credores), dando maior transparência e garantia nas relações contratadas entre as
partes.
Conforme definição dada por Shleifer e Vishny (1997, p. 12), “/a governança
corporativa trata dos mecanismos pelos quais os fornecedores de capitais procuram
se certificar de que receberão o retorno dos investimentos que realizam\”.
11
Compreendem um conjunto de mecanismos através dos quais os investidores
externos procuram proteger-se contra a expropriação pelos insiders, ou seja, visam,
fundamentalmente, minimizar os problemas de agência.
12
Fazer com que o controle
atue de fato em benefício das partes com direitos legais sobre a empresa,
minimizando o oportunismo.
Além de ser fundamental para a boa administração de uma companhia e
para assegurar que esta opere num nível de eficiência ótimo, Mallin (2004) considera
que a governança corporativa é importante por várias razões, dentre as quais
apontam: i) assegurar que um adequado e apropriado sistema de controle opere
dentro de uma companhia e que seus ativos sejam protegidos; ii) prevenir que
qualquer indivíduo, isoladamente, desfrute de muito poder ou influência; iii)
preocupar-se com a relação estabelecida entre o administrador da companhia, o
corpo de diretores, os acionistas, e outros stakeholders; iv) assegurar que a
companhia seja administrada no melhor interesse dos acionistas, e de outros
stakeholders; e, v) procurar encorajar a transparência e a responsabilidade, as quais
os investidores crescentemente exigem na administração e na performance da
companhia.
No contexto das corporações e questões relacionadas ao controle
corporativo, a teoria de agência vê os mecanismos de governança corporativa como
11
O conceito de governança empresarial aqui usado é apenas um dos conceitos existentes. Para
uma discussão sobre esse ponto ver Rajan e Zingales (2000).
12
O problema de agência (ou problema agente-principal) aparece quando o bem-estar de uma parte
(denominada principal) depende das decisões tomadas por outra (denominada agente). Embora o
agente deva tomar decisões em benefício do principal, muitas vezes ocorrem situações em que os
interesses dos dois são conflitantes, dando margem a um comportamento oportunista por parte do
agente (referido como moral hazard ou oportunismo).
162
sendo um conjunto de dispositivos que são essenciais à atividade de monitoramento
para assegurar que qualquer problema que possa ser pensado sobre relações de
agente-principal, seja minimizado. A teoria de agência que está relacionada às
corporações é estabelecida num contexto de separação entre a propriedade e o
controle de uma companhia, onde, os agentes são os administradores responsáveis
pelo controle da corporação e o principal são os acionistas proprietários, e esta
relação de agência é a mais comumente citada no contexto da governança
corporativa.
Porém, um dos principais conflitos de agência comumente encontrado no
âmbito das corporações é estabelecido entre os acionistas minoritários (principal) e
acionistas majoritários, administradores e diretores (agentes). Portanto, nessas
circunstâncias, a proteção aos acionistas minoritários consiste numa questão central
de governança corporativa e, justifica a adoção de práticas eficientes que visam
minimizar os conflitos de agência entre os provedores de capital e as organizações.
(RAJAN; ZINGALES, 1998).
Em função de os acionistas geralmente exercerem seu poder através do
direito que dispõem para votar nos diretores das companhias, La Porta et al (1998)
consideram conveniente, concentrar atenção no procedimento de votação para
avaliar os direitos que efetivamente são conferidos aos acionistas e,
conseqüentemente, o grau de proteção que a eles é atribuído.
Os direitos conferidos aos acionistas podem ser interpretados como regras
de governança corporativa que visam minimizar os problemas de agência, ou seja, o
conflito entre acionistas minoritários e controladores da corporação. Segundo La
Porta et al (1998), estes direitos geralmente compreendem: i) a fixação do direito de
voto à posse das ações; ii) direitos que dão sustentação ao mecanismo de votação
contra a interferência e domínio dos insiders; e, iii) o direito de receber dividendo, por
conta da obrigatoriedade legal, por parte da companhia, de pagar uma certa fração
dos ganhos declarados, aos acionistas, o chamado “direito medicinal”.
No que diz respeito à fixação do direito de voto à posse das ações, os
investidores podem ser mais bem protegidos quando os direitos de dividendos são
estreitamente ligados ao direito de voto, isto é, as firmas estão sujeitas à regra que
estabelece “uma ação um voto”.
13
A idéia por trás dessa regra é que, quando os
13
Existem muitos modos, que não a regra de “uma ação um voto” que as leis em diferentes países
contemplam. As companhias podem emitir ações sem direito a voto, ações de alto e baixo direito ao
163
votos são relacionados aos dividendos, os insiders tem reduzida a sua capacidade
de se apropriar do fluxo de caixa da empresa para si controlando somente uma
pequena parcela do fluxo de caixa da companhia, ainda que mantenha o controle da
votação.
Os direitos que sustentam o mecanismo de votação contra a interferência e
domínio dos insiders, essencialmente, descrevem quão simples é para os acionistas
exercerem seu direito de votação. Pelo fato de estes direitos medirem a força que o
sistema legal concede aos acionistas (contra insiders) no processo de votação, são
denominados de “direitos anti-diretor”. La Porta et al (1998), baseando-se nesse
critério, criaram um índice de proteção a acionistas minoritários. O índice é um
número inteiro entre zero e cinco e é construído pelo somatório de pontos cada vez
que um dos cinco critérios é obedecido, compreendendo: i) base legal para que os
acionistas votem em assembléias por meio de procurações; ii) direito de
representação proporcional no Conselho de Administração; iii) direito de redimir
ações pelo valor patrimonial quando certas decisões fundamentais (tais como fusão,
venda de ativos, mudança de estatutos etc) são tomadas (direito de recesso); iv)
direito de subscrever novas emissões proporcionalmente ao capital detido; e, v)
porcentagem do capital necessário para convocar uma assembléia extraordinária
(soma-se um ponto quando esse percentual é menor do que 10%).
A última medida de direito dos acionistas, denominada “direito medicinal”,
compreende a obrigatoriedade do direito de dividendos, ou seja, em alguns países
as companhias são obrigadas por lei a pagar uma certa fração de seus ganhos
declarados, na forma de dividendos. Conforme observa La Porta et al (1998), o
direito ao dividendo obrigatório pode ser necessário quando outros direitos de
acionistas são muito fracos para induzi-los a investir, constitui realmente uma
proteção medicinal para os acionistas que dispõe de fraca proteção legal.
Tomando em conta todos esses critérios, para determinação da proteção
dos direitos de propriedade dos acionistas, uma característica freqüentemente
observada quando os direitos dos acionistas são fracamente protegidos, isto é,
quando esses critérios de proteção não são respeitados, é a forte concentração de
voto, acionista fundador com extremamente elevado direito ao voto, ou ações cujo direito ao voto
aumenta quando são mantidas por longo período. As companhias também podem restringir o número
total de votos que qualquer dado acionista pode exercer nos encontros de acionistas, não importando
quantas ações ele controla. Assim, um país é regido pela regra “uma ação um voto” se nenhuma
dessas praticas for permitida pela lei (LA PORTA et al, 1998, p. 16)
164
propriedade das companhias nas mãos de poucos acionistas. (SHLEIFER; VISHNY,
1986). A idéia que justifica este comportamento é que, quando os investidores
dispõem de poucos direitos legais, os dirigentes das corporações (administradores e
diretores) serão induzidos a devolver o retorno dos investimentos para estes
investidores somente se estes representarem um número muito pequeno e deterem
a proprietários da maioria das ações. Somente nessas condições o acionista
controlador pode exercer maior influência sobre os dirigentes das corporações.
Conforme sugere a teoria de “law and finance”, quando os direitos dos
acionistas são fracamente protegidos, não se torna atrativo para um pequeno
investidor comprar ações de uma companhia, pois ele corre o risco de ser
expropriado pelo administrador ou pelo acionista controlador. Assim, a baixa
demanda de investidores minoritários pelas ações das corporações estimulam ainda
mais a concentração de propriedade, comprometendo o desenvolvimento do
mercado de capitais. Se, por outro lado, as garantias de proteção do direito dos
acionistas minoritários forem mais significativas, torna-se possível uma maior
dispersão da propriedade, uma vez que, os pequenos investidores estariam mais
dispostos a comprar ações por conta da maior certeza que conseguirão obter retorno
pelos investimentos realizados, o que, por sua vez dá maior dinamismo e incita o
desenvolvimento desse mercado.
Os aspectos abordados pela literatura de “law and finance” - no que se
refere à proteção dos direitos dos acionistas minoritários e sua importância para o
desenvolvimento do mercado acionário – são extremamente úteis para analisar o
sistema de proteção dos direitos de propriedade de acionistas minoritários no Brasil.
Embora tenha havido significativas transformações na década de 1990, com
a abertura econômica e financeira e com a estabilização da economia, que
proporcionaram um aumento no fluxo de recursos para o mercado financeiro e
estimularam o seu desenvolvimento, o mercado de capitais brasileiro ainda
encontra-se pouco desenvolvido, apresentando: i) baixa capitalização; ii)
inexpressivo volume transacionado; iii) poucas emissões primárias; iv) reduzido
número de companhias abertas; v) alta concentração das transações em poucas
ações; vi) alta concentração da propriedade das corporações ou da parcela
possuída pelo maior proprietário (sendo a empresa de controle familiar nacional uma
165
das principais características da economia brasileira em termos societários); e, vii)
baixa liquidez.
14
Com relação à estrutura de governança corporativa das empresas
brasileiras com capital aberto, Silveira (2005) observa que, apesar de as principais
formas de constituição das companhias abertas (empresas privadas nacionais,
estatais e subsidiárias de multinacionais) gerarem diferentes modelos de
governança, as pesquisas já realizadas sobre o referido tema [realizadas pelo IBGC
(2001) e pela McKinsey & Company e Korn/ferry International (2001)] permitem
traçar um perfil para a governança corporativa das empresas brasileiras listadas em
bolsa. As seguintes características são identificadas: i) estrutura de propriedade com
forte concentração das ações com direito a voto (ordinárias) e alto índice de emissão
de ações sem direito a voto (preferenciais); ii) empresas com controle familiar ou
compartilhado por alguns poucos investidores alinhados por meio de acordo de
acionistas para resolução das questões relevantes; iii) presença de acionistas
minoritários pouco ativos; iv) alta sobreposição entre propriedade e gestão, com os
membros do conselho representando os interesses dos acionistas controladores; v)
pouca clareza na divisão dos papéis entre conselho e diretoria, principalmente nas
empresas familiares; vi) escassez de conselheiros profissionais no conselho de
administração; vii) remuneração dos conselheiros como fator pouco relevante; e, viii)
estrutura informal do conselho de administração, com ausência de comitê para
tratamento de questões específicas, como auditoria ou sucessão.
Se relacionarmos o baixo grau de desenvolvimento do mercado de capitais
brasileiro com as características de governança corporativa apresentadas pelas
empresas com capital aberto que atuam na bolsa, podemos estabelecer uma relação
de causalidade entre elas. Segundo Carvalho (2002), a base da atrofia do mercado
de capitais nacional é determinada pelo baixo nível de proteção que gozam
acionistas minoritários e credores no Brasil.
Para verificar se essa afirmação procede, analisaremos o caso brasileiro
tomando em conta os seguintes aspectos: (a) a disponibilidade da regra que
determina “uma ação um voto”; (b) os direitos que são assegurados aos pequenos
acionistas contra a interferência e domínio dos insiders, os denominados “direitos
14
Para maiores detalhes sobre forma de organização de propriedade empresarial e sua evolução,
conferir Siffert Filho (1998), que apresenta as 100 maiores empresas não-financeiras segundo uma
tipologia de controle acionário que permite avaliar suas transformações, assim como realizar
comparações internacionais
.
166
anti-diretores”; (c) a concentração da propriedade acionária e, a necessidade de
política compensatória que utiliza a distribuição de dividendos como um remédio
para contrabalançar a baixa proteção que é assegurada aos acionistas minoritários.
O principal propósito é verificar a consistência do argumento que atribui à
fraca proteção do direito dos investidores minoritários a responsabilidade para
explicar o baixo desenvolvimento do mercado de capitais brasileiro e, por conta
disso, a elevada dependência, por parte das empresas (principalmente as de
pequeno e médio porte), de créditos bancários como principal fonte de
financiamento.
5.2.1.1.1 A disponibilidade da regra que determina “uma ação, um voto”;
Conforme observam La Porta et al (1998), os investidores (particularmente
pequenos acionistas) podem ser mais bem protegidos quando o direito de
dividendos estão relacionados ao direito de voto que as ações oferecem aos seus
detentores, ou seja, quando as companhias de um país estão sujeitas à regra que
estabelece “one share one vote”. Esta constitui uma pratica mais comum em países
anglo-saxões.
No Brasil, uma característica importante do modelo de governança das
companhias abertas é o alto índice de emissão de ações sem direito a voto, as
chamadas ações preferenciais. Embora seja possível emitir tais ações em outros
países, elas não são tão difundidas como no Brasil, sendo esta uma particularidade
do mercado acionário brasileiro.
Além da alta concentração da propriedade de capital votante (posse das
ações) e do controle (tomada de decisões), que constituem características
marcantes da organização corporativa no Brasil, constata-se uma ampla utilização
de ações sem direito a voto, ou seja, existe um distanciamento da regra que
estabelece “uma ação, um voto”. De acordo com Valadares (2002), isso demonstra
que, mesmo numa situação com alta concentração de capital, criam-se mecanismos
que possibilitam a separação de controle e propriedade, como é o caso permitido
pela emissão de ações sem direito a voto. Tais mecanismos permitem a captação de
recursos no mercado acionário sem que seja necessário abrir mão do controle da
empresa. Assim, o controle pode ser preservado mesmo dispondo de menos de 50%
do capital total da empresa.
167
Carvalho (2002) avalia que, pelo fato de a maior parte das empresas
pertencerem a grupos familiares com capacidade limitada de recursos para
investimento, a emissão de ações com direito a voto (ações ordinárias), para suprir
necessidades financeiras, acarretaria o risco da perda de controle das empresas.
Por conta disso, a resistência em abrir mão do controle acionário imporia
significativos limites à oferta de ações. Para contornar esse obstáculo, é permitido às
empresas brasileiras emitir ações preferenciais sem direito a voto até dois terços
(66%) do capital total de que dispõe, essa possibilidade foi estabelecida pela Lei n°
6404. Esse mecanismo dá o direito de as empresas poderem emitir ações sem a
necessidade de abrir mão do controle, sendo essa uma forma de separar
propriedade e controle. Isso tornou possível a manutenção do controle da
companhia com apenas um sexto (17%) de seu capital total.
15
Em uma pesquisa que considera uma amostra de 325 empresas, Valadares
(2002) observa que, a emissão de ações sem direito a voto é pratica amplamente
utilizada pelas empresas brasileiras. Na amostra, apenas 35 empresas (11%) não
dispõem de ações preferenciais. A média da utilização de ações com direito a voto
como proporção do total de ações é de 54%, sendo a mediana 50%. Ou seja, na
média o capital social é dividido da seguinte forma: 54% de ações com direito a voto
e 46% de ações sem direito a voto. Além disso, constatam que cerca de 88
empresas apresentavam-se praticamente no limite de emissão de ações sem direito
a voto, isto é, dispõem de menos 34% de seu capital social composto por ações com
direito a voto. Nas empresas com um acionista majoritário, este possui em média
74% dos votos, mas apenas 51% do capital total e apenas 22% do capital não
votante. Tomando em conta toda a amostra, os cinco maiores acionistas possuem
82% do capital votante, mas apenas 61% do capital total.
Uma vez que a maior parte das ações comercializadas no Brasil não
carrega o direito de voto (de modo que a regra que estabelece “uma ação, um voto”
não é predominante), se existe alguma dispersão na propriedade do capital das
empresas, ela se dá através das ações sem direito a voto, circunstância em que os
15
Posteriormente, como a mudança legal introduzida pela Lei 9.457, de 5 de maio de 1997, procurou-
se compensar o direito de voto suprimido com o pagamento de dividendos 10% acima daquele pago
às ações ordinárias (ações com direito a voto). Somente as companhias cujo controle pertencia a
acionistas estrangeiros estavam limitadas a ter somente ações ordinárias (one share, one vote).
(CARVALHO, 2002, p.25).
168
pequenos acionistas (normalmente os mais prejudicados por não dispõem do direito
ao voto) não têm como garantir os seus direitos junto aos dirigentes da empresa.
Assim, a emissão de ações preferenciais acaba atuando como um
mecanismo para promover a separação entre a propriedade e o controle nas
companhias, assegurando o direito de os acionistas majoritários preservarem o
controle com uma participação muito pequena no capital da empresa e, por conta
disso, criando incentivos para expropriação da riqueza dos pequenos investidores.
De acordo com Carvalho (2002), o uso de ações sem direito a voto, por
permitir o controle de uma empresa com apenas 17% do capital, constitui um dos
maiores incentivos à expropriação dos minoritários: para cada um real pago em
dividendos, o controlador recebe menos de 17 centavos (pois as ações preferenciais
recebem 10% a mais do que as ordinárias). Assim, essas circunstâncias sugerem
que qualquer outra maneira de retirar recursos da empresa, que não dividendos,
torna-se muito atraente.
O uso de ações sem direito a voto, na medida em que permite ao acionista
ter maior participação no capital votante do que no capital total, pode aumentar o
problema de incentivo entre controladores e acionistas minoritários. Uma vez que os
acionistas minoritários sintam-se desprotegidos com relação à garantia de obter
retorno de seus investimentos, serão desencorajados de investir em ações, com um
efeito fortemente negativo sobre o mercado de capitais.
16
5.2.1.1.2 Direitos que protegem pequenos acionistas contra o domínio dos insiders
- “direitos anti-diretores”
Alguns direitos, associados à facilidade com que acionistas minoritários
exercem seu direito ao voto, medem a força com a qual o sistema legal pode
favorecer tais acionistas em sua autodefesa contra o domínio e a expropriação dos
dirigentes (acionistas controladores, diretores e administradores) no processo de
votação. Esses são denominados de “direitos anti-diretor”.
16
Gomes (1997) sugere que a emissão de ações sem direito a voto pode ter um efeito benéfico para
o desenvolvimento do mercado de capital, uma vez que os acionistas controladores desejam manter
uma boa reputação no mercado para voltar a captar recursos. Ele argumenta que, a possibilidade de
voltar ao mercado de capitais para captar mais recursos leva o acionista controlador a agir de acordo
com os interesses dos pequenos investidores, obtendo poucos benefícios privados do controle e
criando uma boa reputação no mercado. Porém, ainda não há evidências empíricas que comprovem
este argumento, embora testá-lo seja bastante relevante, dada a significativa utilização de ações sem
direito a voto pelas empresas brasileiras.
169
Com base nesses direitos, La Porta et al (1998) construíram um índice que
possibilita mensurar o grau de proteção concedido aos acionistas minoritários em
diferentes países ao redor do mundo. No caso do Brasil, em especial, dentre os
critérios considerados para assegurar proteção aos acionistas minoritários, que são
utilizados para compor o índice, verifica-se que não é disponibilizada: uma base
legal para que os acionistas possam votar em assembléia de acionistas por meio de
procuração; o direito de representação proporcional no Conselho de Administração;
nem, o direito de subscrever novas emissões proporcionalmente ao capital detido.
O Brasil obtém três pontos no índice que vai de zero a cinco, conforme é
possível verificar na Tabela 14. Entretanto, Carvalho (2002) ressalta que, esse índice
superestima a efetiva proteção que é dada aos acionistas minoritários no Brasil, uma
vez que, a maior parte das ações negociadas não carrega o direito de voto.
A titulo de comparação, se tomarmos em conta o grupo de países com
origem na civil law francesa, do qual o Brasil faz parte, constata-se um baixo grau de
proteção de direito de acionistas minoritários em geral, quando confrontados aos
países com origem legal no sistema de common law inglesa.
Num grupo de 48 países analisados, apenas a África do Sul, Canadá, Chile,
Estados Unidos, Hong Kong, Índia, Paquistão e Reino Unido obtêm a pontuação
máxima (cinco pontos), correspondendo os países que apresentam o mais alto
índice de proteção aos direitos dos acionistas. Além disso, observa-se que, somente
o Chile pertence ao grupo dos países com origem na civil law francesa, sendo que,
os mais bem protegidos têm sua origem legal na common law inglesa.
170
Tabela 14 - Direito dos Acionistas em Diferentes Países Classificados pela
Origem Legal
Países
Uma
Ação
Um
Voto
Procuração
pelo
Correio
Ações não
são
Bloqueadas
Representação
Proporcional
Minoria
Oprimida
Direito de
Subscrever
Novas Ações
Capital para
Convocar
Assembléia
Extraordinária
Índice de
direito anti-
diretor
Áustria 0 1 1 0 1 0 0.05 4
Canadá 0 1 1 1 1 0 0,10 5
Hong Kong 1 1 1 0 1 1 0,05 5
Índia 0 0 1 1 1 1 0.10 5
Irlanda 0 0 1 0 1 1 0,10 3
Israel 0 0 1 0 1 1 0,10 3
Quênia 0 0 1 0 1 0 0.10 3
Malásia 1 0 1 0 1 1 0.10 4
Nova Zelândia 0 1 1 0 1 0 0.10 4
Nigéria 0 0 1 0 1 0 0.10 3
Paquistão 1 0 1 1 1 1 0.10 5
Singapura 1 0 1 0 1 1 0.10 4
África do Sul 0 1 1 0 1 1 0.05 5
Sri Lanka 0 0 1 0 1 0 0.10 3
Tailândia 0 0 1 1 0 0 0.20 2
Reino Unido 0 1 1 0 1 1 0.10 5
EUA 0 1 1 1 1 0 0.01 5
Zimbábue 0 0 1 0 1 0 0.10 3
Média Or. Inglesa 0,17 0,39 1 0,28 0,94 0,44 0,09 4
Argentina 0 0 0 1 1 1 0,05 4
Bélgica 0 0 0 0 0 0 0.20 0
Brasil 1 0 1 0 1 0 0.05 3
Chile 1 0 1 1 1 1 0,01 5
Colômbia 0 0 1 1 0 1 0.25 3
Equador 0 0 1 0 0 1 0.25 2
Egito 0 0 1 0 0 0 0.10 2
França 0 1 1 0 0 0 0.10 2
Grécia 1 0 0 0 0 1 0.05 2
Indonésia 0 0 1 0 0 0 0.10 2
Itália 0 0 0 0 0 1 0.20 1
Jordânia 0 0 1 0 0 0 0.15 1
México 0 0 0 0 0 1 0.33 1
Países Baixos 0 0 1 1 0 0 0.10 2
Peru 1 0 1 1 0 1 0.20 3
Filipinas 0 0 1 1 1 0 0.10 3
Portugal 0 0 1 0 0 1 0.05 3
Espanha 0 0 0 1 1 1 0.05 2
Turquia 0 0 1 0 0 0 0.10 2
Uruguai 1 0 0 0 1 1 0.20 2
Venezuela 0 0 1 0 0 0 0.20 1
Média Or. Francesa 0,29 0,05 0,57 0,29 0,29 0,62 0,15 2,33
Áustria 0 0 0 0 0 1 0.05 2
Alemanha 0 0 0 0 0 0 0.05 1
Japão 1 0 1 1 1 0 0.03 4
Coréia do Sul 1 0 0 0 1 0 0.05 2
Suíça 0 0 0 0 0 1 0.10 2
Taiwan 0 0 0 1 1 0 0.03 3
Média Or. Germân. 0,33 0,00 0,17 0,33 0,50 0,33 0,05 2,33
Dinamarca 0 0 0 0 1 0 0.10 2
Finlândia 0 0 1 0 0 1 0.10 3
Noruega 0 1 1 0 0 1 0.10 4
Suécia 0 0 0 1 1 0 0.10 3
Média Or. Escand. 0,0 0,25 1 0 0 0,75 0,1 3
Fonte: La Porta et al (1998, p. 43)
Ressalta-se, no entanto, que o índice em questão é arbitrário, uma vez que
se atem apenas a aspectos relativos aos mecanismos de votação. Portanto, faz-se
necessário considerar outros aspectos mais abrangentes para verificar de forma
mais consistente a efetiva proteção que é conferida aos acionistas minoritários.
171
Com vistas a avaliar a força com que acionistas minoritários são protegidos
contra atitudes abusivas de diretores e administradores no âmbito das corporações
(insiders), o Banco Mundial procura calcular índices que buscam medir a proteção
que é dada aos direitos dos acionistas minoritários em diferentes países ao redor do
mundo. Seus indicadores distinguem três dimensões para proteção dos investidores,
compreendendo: transparência nas transações (índice de transparência);
responsabilidade dos diretores (índice de obrigações de diretores); e, habilidade dos
acionistas para processar administradores e diretores que tenham demonstrado má
conduta profissional (índice de facilidade para acionistas processar) (Tabela 15).
Tabela 15 - Proteção dos Direitos de Acionistas Minoritários (Investidores)
REGIÕES / ECONOMIAS
Transparência nas
Transações
(Disclosure) (Índice)
(0-10)
Responsabilidades
do Diretor
(Índice)
(0-10)
Facilidade de
Processar
Dirigentes
(Índice)
(0-10)
Proteção dos
Acionistas
Minoritários
(Índice)
(0-10)
Leste da Ásia e Pacífico 5.6 4.2 6.2 5.3
Europa e Ásia Central 4.5 4.3 5.6 4.8
América Latina e Caribe 4.1 3.8 5.7 4.5
Oriente Médio e África do Norte 5.5 4.7 3.5 4.6
OCDE - Alta Renda 6.1 5.1 6.6 5.9
África do Sul 4.1 4.6 6.4 5.0
África Subsaariana 5.4 4.6 5.0 5.0
Brasil
5 7 4 5.3
Chile 8 4 5 5.7
Colômbia 7 1 9 5.7
México 6 0 5 3.7
Venezuela 3 2 2 2.3
Argentina 7 2 7 5.3
Coréia do Sul 7 2 5 4.7
Indonésia 8 5 3 5.3
Tailândia 10 2 6 6.0
Malásia 10 9 7 8.7
Fonte: World Bank – Doing Business (2005)
Nota: Os dados procedem de pesquisas realizadas em 155 países, utilizando-se de consultas com advogados de corporações, bem como,
investigação das leis de corporações, códigos de processo civil e regulamentos de segurança.
No que diz respeito ao índice de transparência, são levados em conta para
a realização do cálculo, o cumprimento dos seguintes critérios: a especificação de
quem são os responsáveis pela aprovação das transações que são implementadas
pela companhia; a demonstração das transações realizadas deve ser divulgada
imediatamente para o público, para os acionistas ou para ambos; a exigência de
relatórios demonstrativos anuais informando as atividades; exigência de
transparência do acionista controlador perante o grupo de diretores; e, exigência de
que um grupo externo (auditores) revise as transações antes de serem efetivadas.
Para o caso do Brasil observa-se que o grau de transparência é muito fraco, estando
pouco acima da média para a América Latina, porém bem abaixo das principais
172
economias da região ou das economias que, recentemente, tem apresentado
excelente desempenho econômico, como é o caso dos países asiáticos (Coréia do
Sul, Indonésia, Tailândia e Malásia).
Com relação às responsabilidades dos diretores, os seguintes critérios são
levados em conta: a exigência de que os acionistas controladores e dirigentes
(administradores e diretores) respondam por danos causados à companhia;
habilidade para anular as transações; a exigência de que o acionista controlador
arque com o ônus pelos prejuízos causados à companhia; multas e prisões podem
ser impetradas contra o acionista controlador e dirigentes; a habilidade para
processar diretores ou fazer responder por danos que a companhia sofreu como
resultado de suas transações. Ao exigir maior responsabilidade dos dirigentes, o
Brasil tenta impor um maior grau de proteção aos acionistas minoritários, colocando-
se, com relação a este critério, acima da média internacional.
No que diz respeito à facilidade que os acionistas dispõe de mover processo
contra infratores, considera-se: o volume de documentos e testemunhas necessárias
para promover a acusação e o processo; se o demandante tem a habilidade para
examinar diretamente o acusado e as testemunha no transcorrer do processo; se o
demandante pode obter qualquer documento do acusado sem necessariamente
identificá-lo; se acionistas que possuem 10% ou menos do capital acionário da
companhia têm o direito para inspecionar os documentos relacionados à transação
antes de mover o processo; e, se a exigência de provas para um processo civil é
mais baixo do que para um processo criminal. Com relação a esse critério, o Brasil
está bem abaixo da média internacional, particularmente, se comparado aos países
da América Latina como Argentina, Chile e Colômbia. Isso revela um alto grau de
dificuldade para fazer com que os dirigentes sejam efetivamente punidos por agirem
de forma irresponsável e oportunista.
Em termos gerais, tomando em conta uma média dos três critérios utilizados
(transparência, responsabilidade dos diretores e facilidade de promover processos
contra dirigentes), verifica-se que a proteção dada aos direitos dos acionistas
minoritários no Brasil é muito fraca, ficando atrás da média apresentada por países
desenvolvidos e de países que apresentam níveis de renda equivalente.
No quesito proteção de direitos de acionistas, dos 155 países considerados
na pesquisa do Banco Mundial, o Brasil ocupa a 53° posição no ranking, estando
173
atrás de países como Chile (36°), Argentina (51°), Colômbia (37º), Malásia (5º) e
Tailândia (33º), conforme se pode verificar no Gráfico 7.
Índice de Proteção de Direitos dos Investidores - Proteção dos Direito de Acionistas
Minoritários (Compreende 155 países - Banco Mundial)
0,00
0,50
1, 0 0
1, 5 0
2,00
2,50
3,00
3,50
4,00
4,50
5,00
5,50
6,00
6,50
7,00
7,50
8,00
8,50
9,00
9,50
10 , 0 0
New Zealand
Israel
United Kingdom
Zambia
Norway
Peru
Vanuatu
India
Portugal
Cameroon
Finland
Oman
Slovenia
Brazil
Germany
Lithuania
Taiwan, China
Kazakhstan
Saudi Arabia
Algeria
Cote d'Ivoire
Hungary
Mali
Panama
Arab Emirates
Guyana
Syria
Azerbaijan
Ecuador
Morocco
Austria
Mexico
Honduras
Costa Rica
Ethiopia
Ukraine
Afghanistan
Países
ìndice
Gráfico 7 - Índice de Proteção de Direitos dos Investidores – Proteção dos
Direitos de Acionistas Minoritários
Fonte: Elaborado pelo Autor.
Constata-se que, tanto com relação aos critérios de avaliação apresentados
por La Porta et al (1998), como com relação aos critérios apresentados pelo Banco
Mundial, o Brasil é identificado como um país que atribui fraca proteção aos direitos
dos acionistas minoritários. Portanto, não é de se surpreender com o baixo
desenvolvimento do mercado acionário como fonte de financiamento no Brasil, e o
significativo desinteresse por parte do pequeno investidor em atuar nesse mercado,
uma vez que, o maior grau de risco por ele apresentado somado a baixa proteção do
direito de propriedade amplia as incertezas de retorno dos investimentos.
5.2.1.1.3 A concentração da propriedade acionária e a necessidade de política
compensatória que utiliza a distribuição de dividendos.
Conforme a literatura de “law and finance”, quando a proteção do investidor
é pobre, ou seja, quando a lei não assegura seus direitos adequadamente, a
concentração de propriedade torna-se um substituto natural para a fraca proteção
legal, isto por que, somente grandes acionistas podem estar seguros de receber um
retorno satisfatório por seus investimentos. A maior concentração de propriedade
174
aumenta os benefícios de monitoramento para os acionistas, diminuindo o problema
de free-rider no monitoramento dos gerenciadores da firma. Esse comportamento
deriva do fato de a concentração de propriedade acionária ser negativamente
relacionada à proteção dos direitos dos acionistas, como demonstram as pesquisas
realizadas por La Porta et al (1998).
Quando os acionistas podem influenciar o controle da companhia, o
problema de agência apresenta-se sob nova roupagem, ou seja, ele se estabelece
entre o acionista controlador (aquele que detém mais de 50% dos votos da
companhia) e os pequenos acionistas, e não mais entre executivos e acionistas,
como, em geral, ocorre em casos onde prevalece a propriedade difusa.
No tocante à estrutura de controle e propriedade nas empresas brasileiras,
Silveira (2005) observa que, a forte concentração de propriedade das ações com
direito a voto é característica marcante do modelo de governança das companhias
abertas, com uma ausência quase total de empresas com estruturas de propriedade
pulverizadas.
Com relação à composição acionária direta das empresas brasileiras,
Valadares (2002) mostra que, das 325 empresas pesquisadas, 203 (62,5%)
possuem um acionista que detém o controle da empresa, ou seja, que possui mais
de 50% do capital votante. Este acionista detém, em média, 74% do capital votante,
sendo a mediana 73,4%. Já em empresas onde o controle não está concentrado nas
mãos de apenas um acionista (122), o maior acionista possui em média 32% do
capital votante, com mediana de 29%. Isso revela que, mesmo onde não há apenas
um acionista com a maioria absoluta dos votos, o maior acionista ainda consegue
controlar uma fração significativa desses. Considerando a amostra em sua
totalidade, verifica-se que, o maior acionista, os cinco maiores e os três maiores
possuem, respectivamente, 58%, 78% e 82% do capital votante, o que revela uma
significativa concentração do capital votante das empresas (Tabela 16).
175
Tabela 16 - Composição Acionária Direta das Empresas Brasileiras
Empresas com acionistas
majoritários (203)
Empresas sem acionistas
majoritários (122)
Total da Amostra
(325)
Capital
Votante
(%)
Capital Total
(%)
Capital
Votante
(%)
Capital
Total
(%)
Capital
Votante
(%)
Capital
Total
(%)
Média Maior Acionista 74 51 32 25 58 41
Mediana (73) (50) (29) (18) (58) (36)
Média Três Maiores Acionistas 89 63 67 49 78 58
Mediana (93) (63) (65) (42) (82) (53)
Média Cinco Maiores Acionistas 90 64 76 56 82 61
Mediana (94) (64) (73) (48) (87) (56)
Fonte: Valadares (2002), p. 282.
Constata-se que, mesmo não havendo um acionista majoritário, o maior
acionista da empresa detém parcela significativa do capital votante e, a empresa, em
média, acaba sendo controlada pelos três maiores acionistas. Portanto, o controle é
bem definido, uma vez que é possível apontar aqueles ou, mais comumente, aquele
que controla a empresa.
Para se ter uma idéia de como esse resultado está distante dos padrões
apresentados em outras regiões do mundo, particularmente das mais desenvolvidas,
observa-se, na Tabela 17 - onde está discriminada a concentração de propriedade
acionária por origem legal, considerando as dez maiores empresas privadas com
capital aberto -, que o Brasil não só apresenta uma elevada concentração de
propriedade (com uma média de 57% das ações concentrada nas mãos dos três
maiores acionistas e mediana de 63%), mas também está acima da média dos
países que tem sua origem legal na civil law francesa, e muito acima da média dos
países com origem na civil law Germânica e Escandinava e da common law inglesa.
176
Tabela 17 - Concentração de Propriedade Acionária ao Redor do Mundo
Propriedade dos três maiores acionistas
10 maiores firmas privadas não financeiras
Capitalização das Firmas
(Milhões US$)
Ranking
Países Média Mediana 10 maiores privadas
Áustria 0,28 0,28 5.943 10
Canadá 0,40 0,24 3.015 14
Hong Kong 0,54 0,54 4.282 11
Índia 0,40 0,43 1.721 21
Irlanda 0,39 0,36 944 30
Israel 0,51 0,55 428 34
Quênia n.a n.a 27 46
Malásia 0,54 0,52 2.013 19
Nova Zelândia 0,48 0,51 1.019 28
Nigéria 0,40 0,45 39 44
Paquistão 0,37 0,41 49 43
Singapura 0,49 0,53 1.637 22
África do Sul 0,52 0,52 6.238 8
Sri Lanka 0,60 0,61 4 47
Tailândia 0,47 0,48 996 29
Reino Unido 0,19 0,15 18.511 3
EUA 0,20 0,12 71.650 1
Zimbábue 0,55 0,51 28 45
Média Origem Inglesa 0,43 0,42 6.586 -
Argentina 0,53 0,55 2.185 18
Bélgica 0,54 0,62 3.467 12
Brasil 0,57 0,63 1.237 25
Chile 0,45 0,38 2.330 16
Colômbia 0,63 0,68 457 33
Equador n.a n.a n.a -
Egito 0,62 0,62 104 41
França 0,34 0,24 8.914 5
Grécia 0,67 0,67 163 38
Indonésia 0,58 0,62 882 31
Itália 0,58 0,60 3.140 13
Jordânia n.a n.a 63 42
México 0,64 0,67 2.984 15
Países Baixos 0,39 0,31 6.400 7
Peru 0,56 0,57 154 40
Filipinas 0,57 0,51 156 39
Portugal 0,52 0,57 259 37
Espanha 0,51 0,50 1.256 24
Turquia 0,59 0,58 477 32
Uruguai n.a n.a n.a -
Venezuela 0,51 0,49 423 35
Média Origem Francesa 0,54 0,55 1.844 -
Áustria 0,58 0,51 325 10
Alemanha 0,48 0,50 8.540 6
Japão 0,18 0,13 26.677 2
Coréia do Sul 0,23 0,2 1.034 27
Suíça 0,41 0,48 9.578 4
Taiwan 0,18 0,14 2.186 17
Média Origem Germânica 0,34 0,33 8.057 -
Dinamarca 0,45 0,4 1.273 23
Finlândia 0,37 0,34 1.980 20
Noruega 0,36 0,31 1.106 26
Suécia 0,28 0,28 6.216 9
Média Origem Escand. 0,37 0,33 2.644 -
Média Geral 0,46 0,45 4.521 -
Fonte: La Porta et al (1998, p.49)
Em termos de concentração de propriedade acionária o país só perde pela
Indonésia (58%), Itália (58%), Turquia (59%), Egito (62%), Colômbia (63%), México
(64%), Grécia (67%), Sri Lanka (60%) e Áustria (58%), num grupo de 49 países
analisados.
Além da forte concentração do controle acionário das empresas brasileiras,
verifica-se ainda uma pequena capitalização do mercado acionário, com um baixo
177
valor das dez maiores companhias listadas na bolsa. O valor das empresas
brasileiras (1.237 milhões US$) está abaixo da média dos países de origem na civil
law francesa (1.844 Milhões US$), Germânica (8.057 Milhões US$) e Escandinava
(2.644 Milhões US$), e muito distante da média dos países com origem na common
law inglesa (6.586 Milhões US$). Com relação a este critério o Brasil ocupa o 25°
posição no ranking.
Os resultados mostram que o Brasil se assemelha muito com os demais
países que tem sua origem legal na civil law francesa, ou seja, compartilham
semelhanças significativas tanto com relação à concentração da propriedade
acionária das companhias, como com relação à baixa capitalização de suas ações
comercializadas em bolsa.
O mais importante nessa história toda é entender a lógica que está por trás
da necessidade de manter um excesso de concentração do capital das empresas
brasileiras. De acordo com Valadares (2002), considerando que os indivíduos são
avessos ao risco, a concentração de capital significa que se está incorrendo num
custo, qual seja, o excesso de risco. O que só é justificável se os indivíduos esperam
obter um retorno por deter uma parcela tão grande da empresa. Ou seja, existe um
benefício por deter tal parcela. A gênese desse benefício está justamente na
possibilidade que os acionistas controladores dispõem de poder expropriar
acionistas minoritários.
Os indicadores mostram que o Brasil confirma a regra ditada pela literatura
de “law and finance”, de que a concentração de propriedade acionária está
fortemente relacionada à fraca proteção assegurada aos direitos dos acionistas
minoritários. Assim, como era de se esperar como conseqüência, observa-se uma
alta concentração de capital nas empresas, principalmente no que se refere ao
capital votante. Vale destacar ainda que, num cenário como este, um recurso legal
freqüentemente utilizado para compensar a baixa proteção do direito de propriedade
concedida aos acionistas minoritários, pelos países em geral e pelo Brasil em
particular, é a garantia do direito de receber dividendos pela posse de ações (direito
determinado pela obrigatoriedade legal). Este representa o chamado “direito
medicinal”, na designação dada por La Porta et al (1998). Trata-se de um
instrumento comum nos países cuja origem legal deriva da civil law francesa, onde
geralmente o direito de propriedade é fracamente protegido. Dentre os países
considerados na Tabela 17, esse procedimento é adotado apenas pelo Brasil, Chile,
178
Colômbia, Equador, Uruguai e Grécia, todos com origem na civil law francesa. Essa
prática, de certa forma, serve como estimulo para o investimento em ações, uma vez
que contribui para contrabalançar a baixa proteção dada ao acionista minoritário.
5.2.1.2 Proteção dos Direitos dos Credores
A relação entre emprestadores e tomadores de empréstimos é definida num
contexto em que a assimetria de informação desempenha papel fundamental.
Problemas de seleção adversa e risco moral definem contratos de empréstimos que
se diferenciam substancialmente daqueles que prevaleceriam em condições de
informação perfeita. As diferenças fundamentais se estabelecem em termos de
quantidades e preços, com efeito sobre a alocação eficiente de recursos.
Assim sendo, as relações de crédito são beneficiadas sempre que é
possível reduzir a assimetria de informações, permitindo uma maior transparência,
traduzida em termos de risco menor ou, equivalentemente, de uma maior
capacidade de avaliação ou mensuração dos riscos assumidos.
Sistemas legais de resolução de insolvência corporativa (falência e
concordata) também estão intimamente relacionados à eficiência e transparência
nas operações do mercado de crédito, pois interferem nas decisões de bancos
(volume de empréstimos, juros e spreads) e de tomadores (volume de
investimentos), contribuindo para a definição de situações mais ou menos eficientes,
em função da proteção que atribui aos direitos dos credores.
A legislação falimentar ou Lei de Falências constitui peça fundamental para
o estabelecimento das normas e procedimentos que devem ser adotados com vistas
a minimizar os problemas informacionais no mercado de crédito. Na medida em que
permitem alinhar incentivos, aumentar a eficiência, dar mais transparência e
segurança para as relações estabelecidas nos contratos de empréstimos, colaboram
para criar um ambiente propício à ampliação dos volumes e redução dos preços
(juros e spreads) nas operações de crédito.
Conforme observa Costa (2004), o processo de insolvência corporativa
desempenha uma função específica no funcionamento do sistema. Elas representam
a eliminação de empresas ou corporações ineficientes, o que implica em elevação
da eficiência média do sistema, fato desejável em termos de bem-estar. Por esta
ótica, não há justificativa econômica para que se defenda a manutenção em
179
funcionamento de empresas inviáveis, qualquer que seja o setor da economia
envolvido, uma vez que, os ganhos em termos de bem-estar geral tendem a superar
as perdas particulares envolvidas. Destaca, porém, a necessidade de se ter uma
definição clara para insolvência financeira, uma vez que, esta pode não significar
falta de viabilidade econômica, sob pena de estar pondo em risco empresas
momentaneamente insolventes, que apresentam potencial de reversão ou, até
mesmo, promover o desaparecimento de unidades produtivas (representando bens
tangíveis e intangíveis) cuja perda de valor pode piorar ainda mais a insuficiência de
recursos disponíveis.
17
Dispondo de uma definição clara para insolvência financeira, uma legislação
falimentar poderia ser considerada eficiente, na medida em que pudesse, por um
lado, preservar a integridade da empresa insolvente, porém viável, por meio de um
processo de reestruturação e recuperação. E, por outro lado, promover a liquidação
da empresa insolvente, porém inviável, cuidando para que seja maximizado o valor
de venda dos ativos da empresa falida, significando menores perdas econômicas e
sociais de uma forma geral e menores perdas individuais, em particular.
Definir o padrão de insolvência para uma companhia não representa uma
tarefa fácil, uma vez que requer muito discernimento e rapidez para fazer um
diagnóstico crível sobre suas reais condições. Além disso, existe o conflito de
interesses que se estabelece entre credores e devedores, que pode tornar esse
processo ainda mais difícil.
18
Mesmo que este conflito seja superado, e que a legislação falimentar
consiga estruturar uma forma que permita promover uma escolha ótima entre
reestruturação e liquidação, ainda resta um outro conflito distributivo a ser resolvido,
no caso de liquidação. Sabe-se que, em um caso de falência, o valor ao qual as
17
A titulo de exemplo, pode-se identificar dois tipos de definição para estado de insolvência. Primeiro,
uma empresa pode encontrar-se em insolvência financeira devido a uma crise temporária no setor em
que opera, por má gestão de recursos, ou até mesmo por uma crise do sistema. Porém, uma vez
superada as dificuldades, a empresa pode voltar a operar tornando-se lucrativa novamente. Segundo,
algumas empresas em estado de insolvência não apresentam qualquer viabilidade de recuperação.
Neste caso, os ativos da empresa geralmente valem mais do que a própria empresa, de modo que a
única alternativa viável é promover a sua liquidação.
18
De acordo com Carvalho (2002), a diferença de atitude de credores e controladores, com relação à
manutenção da empresa ocorre porque o valor ao qual os credores têm direito é fixo. Isto gera uma
assimetria: se uma empresa em estado de insolvência voltar a ser lucrativa, os controladores irão se
beneficiar do lucro gerado, ao passo que os credores nem tanto. Por outro lado, se a empresa
quebrar, a perda é exclusivamente dos credores (os acionistas pouco perdem, pois geralmente são
os últimos na lista de prioridade sobre a massa falida). Assim, os credores são mais freqüentemente
favoráveis à liquidação do que os controladores.
180
partes credoras (empregados, fornecedores, bancos credores, debenturista, fisco,
ect.) tem direito é superior ao valor da massa falida. Portanto, existe também a
necessidade de regras claras que estabeleçam a forma de repartição dos proventos
gerados com a liquidação.
Carvalho (2005) aponta uma dificuldade relacionada à questão da
repartição. Ele observa que a partilha é vista como um problema que afeta apenas
as partes privadas, sendo desconsiderados os aspectos de caráter social. Por esta
razão, tem sido continuamente enfocada pela ótica do mérito procurando, na maioria
das vezes, defender a parte economicamente menos privilegiada (no caso, os
assalariados), em detrimento dos direitos dos credores. Essa abordagem é parcial e
equivocada, uma vez que os credores conseguem antecipar (forward looking) o
resultado do conflito e tomam isso em conta quando decidem conceder empréstimos
às empresas.
Dadas estas circunstâncias, deve-se ter cautela com relação à maneira
como a distribuição dos proventos de uma empresa é encaminhada, caso esta entre
em insolvência financeira. Uma vez que esta afeta a decisão dos agentes, deve-se
também levar em conta que impacto isto pode ter sobre o sistema econômico, mais
notoriamente, sobre as condições de acesso ao crédito.
Embora existam diversos aspectos institucionais que influenciam o
desenvolvimento financeiro de um país, para se ter um entendimento mais claro das
relações que se estabelecem entre bancos e tomadores de empréstimo, a atenção
deve ser concentrada no sistema legal de resolução de insolvência. Assim, é
possível identificar em que medida diferentes características nas regras legais (leis
de falência) podem afetar a decisão dos bancos em realizar empréstimos e, por sua
vez, o desenvolvimento do mercado de crédito bancário em diferentes países.
A relação existente entre o sistema legal de insolvência e o
desenvolvimento do mercado de crédito tem sido amplamente explorada pela
literatura de “law and finance”. Esta, por sua vez, estabelece que a estrutura das leis
de insolvência, no que diz respeito à repartição dos direitos entre devedores e
credores, exibe significativas diferenças em virtude da origem legal dos países e, por
conta disso, ajudam a explicar as diferenças no desenvolvimento do mercado de
crédito. Constatam que, nos países com origem legal no sistema da common law
inglês, os credores são mais bem protegidos, em média, enquanto naqueles, cuja
estrutura jurídica se baseia no direito francês, as leis de insolvência tendem para
181
uma maior proteção dos devedores (LA PORTA et al, 1998). Em síntese, essa
literatura sugere que o nível de proteção que é assegurado aos credores, mediante
um eficiente sistema de regras legais, é determinante para o desenvolvimento do
mercado de crédito e, conseqüentemente, para o desenvolvimento econômico.
Vários estudos têm demonstrado que a taxa de crescimento de um país depende,
fundamentalmente, do nível de desenvolvimento de sua intermediação financeira.
(GOLDSMITH, 1969; KING; LEVINE, 1993a, 1993b, 1993c).
Os direitos dos credores, considerados pelos especialistas como essenciais
para assegurar a devida proteção de suas posses e facilitar o financiamento através
de dívidas, são os que lhe dão a capacidade para recuperar as garantias (collateral)
quando um empréstimo não é honrado pelo devedor (default) e que lhe permite
interferir no processo de reorganização e reestruturação de uma firma inadimplente.
(HART, 1995; PAUL VISHNY, 1994; AGHION; HART; MOORE, 1992; BAIRD, 1995;
WHITE, 1993).
Procurando destacar a importância da proteção do direito dos credores,
para explicar o desenvolvimento do mercado de crédito em diferentes países, La
Porta et al (1998), destaca alguns aspectos relevantes que, quando incorporados em
um processo de insolvência, contribuem para dar maior garantias aos direitos dos
credores e maior credibilidade as operações de empréstimos: i) em alguns países o
processo de reorganização impõe a permanência automática nos ativos, impedindo
os credores segurados de recuperar as garantias dos seus empréstimos. Coibir essa
prática permite assegurar maior proteção ao direito do credor, daí a necessidade de
impor restrições para que a firma detenha ativos dados como garantia de
empréstimos em caso de concordata; ii) alguns países não dão prioridade aos
credores segurados no processo de recuperação de suas garantias na
eventualidade de falência. Os credores segurados ficam na fila atrás do governo e
dos trabalhadores, os quais desfrutam absoluta prioridade sobre os credores, na
massa falida da companhia. Nessas circunstâncias, na eventualidade de falência,
um critério para proteger o direito de propriedade do credor é inverter a ordem de
prioridade assegurando preferência às dívidas com ativos dados em garantia aos
credores sobre os demais interesses (tributos, dívidas trabalhistas, etc.); iii) com
relação à reorganização, os administradores, em alguns países, buscam proteger-se
de credores de forma unilateral procurando encaminhar o processo de
reestruturação da firma sem obter o legítimo consentimento dos credores. Para
182
coibir essa forma de comportamento, busca-se a proteção dos credores através da
imposição de restrições para entrar em concordata, tal como, a exigência do
consentimento dos credores. Assim, os administradores não têm como se esquivar
facilmente das exigências impostas pelos credores, quando esses dão permissão
para reestruturação da companhia; iv) em alguns países é dada a permissão para
que os administradores permaneçam em seus cargos durante o processo de
reorganização. Porém, um mecanismo utilizado para melhorar os direitos dos
credores é a substituição dos administradores por um interventor indicado por um
tribunal, ou pelos próprios credores, para que este se responsabilize pela
administração da firma durante o processo de reestruturação. Parte-se do princípio
de que a ameaça de demissão melhore o desempenho dos administradores e
aumente o poder de controle por parte dos credores; v) por fim, quando os critérios
anteriormente analisados não asseguram a devida proteção aos direitos dos
credores, um recurso freqüentemente utilizado, o qual é usado como um paliativo à
fraca proteção do credor é o “requerimento de reservas legais”. Assim como o
pagamento de dividendos para acionistas minoritários, esse recurso equivale a um
“direito medicinal”, que visa compensar a baixa proteção que é dada aos credores.
19
Estes critérios são geralmente utilizados pela literatura de law and finance
para avaliar o grau de proteção incorporados nas leis de insolvência, que visam
assegurar proteção aos direitos dos credores em diferentes países. Tomando em
conta esses critérios e, como exemplo, o caso do Brasil - devido à baixa proteção
que confere ao direito dos credores - a Lei de Falências (regida pelo Decreto Lei
7661 de 21 de junho de 1945) foi considerada como responsável por significativas
distorções introduzidas na economia, e uma das principais causas do baixo volume e
do elevado preço do crédito. Por conta disso, mostrou-se inadequada para as
necessidades de uma economia moderna. (CARVALHO, 2005; ARAÚJO;
LUNDBERG, 2003; COSTA, 2004).
Dentre as principais limitações apresentadas pelo sistema brasileiro de
resolução de insolvências corporativas, Carvalho (2005) aponta: i) seu excesso de
rigidez; ii) não oferece condições para a recuperação de empresas economicamente
viáveis em estado de insolvência financeira; iii) burocratiza excessivamente o
19
Com base nesses critérios, La Porta et al (1998) desenvolveram um índice para mensurar o grau
de proteção que é assegurado aos credores em diferentes países. Esse índice é um número interior
entre zero e quatro, e é constituído pela soma de um ponto cada vez que um dos direitos dos
credores é cumprido.
183
processo de liquidação de empresas; iv) não otimiza os proventos da massa falida
por afastar do processo os credores que são os agentes mais aptos para conduzi-la;
e, v) dificulta a obtenção de crédito pelas empresas.
Dadas estas limitações, é razoável supor que o sistema brasileiro de
resolução de insolvências corporativas (Lei de Falência), na medida em que impôs
um sistema frágil para assegurar garantias e proteção aos direitos dos credores,
ampliou a assimetria de informação no mercado financeiro e os problemas de
seleção adversa e risco moral, colaborando, assim, para explicar o desenvolvimento
do mercado de crédito brasileiro.
Na seqüência concentraremos a atenção nos princípios que nortearam a lei
de falências (regida pelo Decreto Lei 7661/45), a qual regulamentou o processo de
insolvência brasileiro até recentemente, procurando destacar suas principais
limitações no que tange à proteção dos direitos dos credores, bem como, sua
relevância para explicar o atual estágio de desenvolvimento do mercado de crédito
no Brasil.
5.2.1.2.1 A Lei de Falências Regida pelo Decreto Lei 7661/45 e suas Principais
Limitações para o Desenvolvimento do Mercado de Crédito
Tomando como referência a análise desenvolvida por Rowat e Astigarraga
(1999), constata-se que a legislação falimentar brasileira que vigorou até fevereiro
de 2005, regulamentada pelo Decreto Lei 7661/45, dispunha de dois instrumentos
legais para lidar com as empresas que se apresentavam em condição de insolvência
financeira: a “concordata” e a “falência”. A falência consiste num instrumento para a
liquidação supervisionada pelo judiciário, utilizado para lidar com empresas que
apresentam problemas irreversíveis. A concordata, vinculada a desequilíbrios
financeiros transitórios, compreende um dispositivo utilizado para reescalonar ou
reduzir os pagamentos devidos a credores não-segurados.
A concordata é dita preventiva quando solicitada pela empresa devedora,
tão logo for detectada sua situação de iliquidez. E, suspensiva, se solicitada e
deferida ao longo do processo de falência, quando eventualmente se verifica que a
empresa falida é capaz de honrar seus compromissos e voltar a operar. As principais
características relacionadas ao processo de concordata e falência no Brasil estão
descritas no Quadro 4.
184
Quadro 4 - Principais Características Relacionadas ao Processo de
Concordata e a Falência no Brasil Regulamentada pelo
Decreto Lei 7661/45
Concordata
Definição: a concordata trata-se de um dispositivo através do qual um devedor insolvente renegocia mediante supervisão
judicial sua dívida com os credores não segurados (quirográficos). Quando concedida, a concordata impede qualquer ação
dos credores não segurados para coletar seus haveres. Isto, no entanto, não se estende às dívidas com credores
segurados.
Existem duas modalidades de concordatas: a suspensiva e a preventiva. A distinção está relacionada ao tempo do
preenchimento da mesma, ou seja, se anterior ou posterior à decretação da falência.
A concordata pode assumir a forma de uma moratória, um abatimento da dívida ou uma combinação das duas.
Concordata Preventiva:
- Dentre outros requisitos, o devedor deve estar em funcionamento há mais de 2 anos, não ter nenhum título protestado,
não ter pedido concordata no prazo de 5 anos e não ter tido sua falência decretada.
- Durante a vigência da concordata os acionistas continuam no controle da empresa, mas sujeitos à supervisão de um
comissário indicado pelo judiciário. Dentre outras tarefas, cabe ao comissário indicar um contador para verificar os créditos
e ativos do devedor.
- Concordata Suspensiva:
- É concedida a uma empresa que já teve sua falência decretada, mas que preenche determinados requisitos. Por esta, os
acionistas retomam o controle da empresa e seus ativos, condicionados a pagar aos credores não segurados de acordo
com critérios especificados:
- quando a concordata propõe um abatimento, o pagamento a vista deve ser de pelo menos 35% aos credores não-
segurados;
- pagamento de 50% é requerido, com a condição de que esta não se estenda por um prazo superior a 2 anos e
que pelo menos dois quintos sejam pagos durante o primeiro anos;
- dívidas relativas á previdência, impostos, salários e aquelas contraídas pela massa falida antes da concessão da
concordata preventiva devem ser pagas dentro do prazo de 30 dias da concessão da concordata suspensiva.
- Os critérios para a obtenção de uma concordata suspensiva são menos restritivos que os necessários para uma
concordata preventiva.
- O devedor deve propor aos credores não-segurados um plano de pagamento que respeite os seguintes critérios:
- pagamento a vista de pelo menos 50% da dívida total, quando a concordata propõe um abatimento;
- pagamento de 60%, 75%, 90% e 100% quando os termos de pagamento são de 6, 12, 18 e 24 meses,
respectivamente;
- em qualquer caso, a dívida deve ser liquidada em 24 meses; e
- se o plano levar mais de 12 meses, pelo menos dois quintos da dívida devem ser resgatados ao final do primeiro
ano.
Obs: uma concordata pode ser rescindida com base em vários argumentos como, por exemplo, o pagamento a alguns
credores que prejudique os demais ou falha em cumprir o plano de pagamento estipulado.
Falência
Definição: a falência compreende um processo judicial para coleta, disposição e liquidação dos ativos de uma empresa
insolvente.
- A falência pode ser requerida somente por um credor não-segurado, pelo próprio devedor, seus herdeiros, sócios ou
acionistas. Para que um credor segurado possa pedir a falência de um devedor é necessário que abra mão dos ativos
dados como garantia ou que prove que o valor destes ativos não é suficiente para liquidar seus créditos;
- O tribunal que decreta a falência deve apontar um síndico. A lei dá preferência a que o maior credor residente na comarca
seja o síndico da massa falida. Caso os credores declinem desta indicação, o juiz tem liberdade para indicar um síndico
dativo.
- Caso a falência seja decretada, os procedimentos legais envolvem duas fases:
- verificação dos ativos e passivos da massa falida;
- liquidação e distribuição dos proventos
- A primeira fase da falência consiste em coletar e lacrar todos os bens da empresa, levantar um quadro e preparar um
inventário dos bens e ativos da massa falida. Em casos em que a manutenção da atividade da empresa seja conveniente, o
tribunal pode indicar um admistrador para gerenciar a empresa. No entanto, todas as transações devem ser liquidadas a
vista. Isto, na prática, inviabiliza a manutenção das atividades. Cada um dos credores deve ter sua dívida habilitada
judicialmente. Assim, a existência de conflitos entre credores e a contabilidade da empresa pode tornar esta fase
extremamente morosa;
- Como existe a possibilidade de que o proprietário da empresa retome o controle por meio de uma concordata suspensiva,
a liquidação dos ativos (segunda fase) é feita somente após a conclusão da primeira fase. A lei estipula que a liquidação
seja feita por meio de leilões públicos.
- O processo de falência termina com a distribuição dos proventos às partes credoras, de acordo com a seguinte ordem de
prioridade:
1°) dívidas trabalhistas;
2°) dívidas fiscais e previdenciárias;
3°) dívidas seguradas (com garantias reais);
4°) dívidas quirográficas (sem garantias reais); e
5°) acionistas.
Fonte: Elaborado pelo Autor com base em Rowat e Astigarraga (1999).
185
A legislação falimentar brasileira, nos moldes que estão descritos no Quadro
4, tem demonstrado ser bastante inadequada, tanto no que diz respeito à promoção
da recuperação de empresas viáveis como para liquidação daquelas julgadas
inviáveis.
A concordata representa simplesmente um instrumento utilizado para
promover o reescalonamento ou abatimento de dívidas e, por isto, não constitui um
mecanismo efetivo para a reestruturação das empresas. Conforme observa
Lundberg (2002), na maioria das vezes a concordata é seguida pela decretação de
falência, servindo apenas de um “favor legal” para adiar o que é inevitável.
Lundberg (2002) e Carvalho (2005) destacam algumas limitações que estão
relacionadas ao instrumento legal da concordata:
a) prevê alívio em termos de reescalonamento ou abatimento apenas para
as dívidas quirografárias (sem garantias reais). Os credores com garantias reais
podem executá-las e obter a posse de ativos que sejam essenciais para o
funcionamento da empresa, comprometendo, assim, a recuperação da mesma;
b) os prazos e percentuais são muito rígidos (liquidação da dívida em 24
meses e pagamento de pelo menos 50% da dívida total ao fim do primeiro ano). Isto
torna muito pouco viável a recuperação efetiva das empresas;
c) trata-se de um alívio que a empresa pode obter à revelia dos seus
credores, uma vez que, para a obtenção da concordata não é necessária nem a
apresentação de um plano de reestruturação, nem a concordância dos credores.
Deste modo, a avaliação da viabilidade da empresa fica a cargo do Judiciário, que
reconhecidamente tem pouca destreza para avaliar a viabilidade econômica de
empresas;
d) dificulta um acordo extrajudicial entre credores e empresas, já que, para
isto, seria necessário obter a aprovação de todos os credores. A necessidade de
consenso estimula que algum credor sempre discorde do acordo, de modo a obter
maiores vantagens, mesmo que o acordo proposto lhe seja vantajoso;
e) não prevê senioridade das novas dívidas: as modernas legislações
falimentares estabelecem senioridade para as novas dívidas contratadas pela
empresa durante o período de reestruturação com o objetivo de facilitar a
manutenção das operações da firma. Caso contrário, a obtenção de crédito de
fornecedores e bancos pode inviabilizar as operações de uma empresa, mesmo que
esta seja economicamente viável.
186
No que diz respeito à falência, conforme verificamos, um processo de
liquidação eficiente tem que zelar pela maximização dos proventos da massa falida,
procurando preservar o seu valor econômico e social. Nesse caso, conforme
observa Carvalho (2005), a legislação brasileira peca nos seguintes aspectos:
a) A ordem de prioridade sobre os proventos da massa falida elimina do
processo os agentes mais qualificados para conduzi-lo, ou seja, os credores
segurados. Como a lei prioriza as dívidas trabalhistas e fiscais, raramente sobram
recursos da massa falida para os demais credores. Por esta razão, estes geralmente
declinam da indicação para síndico da massa falida, obrigando o juiz a indicar um
síndico dativo.
20
Uma vez que a liquidação passa a ser conduzida por um agente
sem participação (interesse) no montante a ser realizado, cresce a probabilidade do
processo ser ineficiente, devido a problemas de risco moral que podem ser gerados.
b) A pequena possibilidade dos credores da empresa receberem algum
retorno no fim do processo de liquidação, dificulta a utilização de ativos, por parte
das empresas, como garantia para a obtenção de crédito;
c) A prioridade no pagamento das dívidas trabalhistas também tem sido
explorada pelos acionistas como uma maneira de expropriar as demais partes
credoras. Uma vez que a insolvência acontece, o controlador dispõe de um incentivo
para registrar familiares como empregados da firma com salários absurdamente
altos. Assim, a indenização a estes últimos acaba consumindo parte significativa dos
recursos da massa falida, dado que estes dispõem de prioridade no recebimento das
dívidas;
d) O encerramento de todas as atividades, acompanhadas do fechamento e
lacre da empresa, é inadequado para a preservação do seu valor econômico e
social. Esta prática pode ser defensável para pequenas empresas, mas imprópria
para grandes e médias empresas. Devido à rápida obsolescência de ativos quando
a manutenção é inadequada, e da importância cada vez maior de ativos não
tangíveis (valor da marca, clientela, ponto comercial, etc.), o fechamento da empresa
ou a demora na liquidação judicial acaba por causar a desvalorização de seus bens
de capital, perda de ativos intangíveis, produção e emprego;
e) O processo de liquidação prevê que a venda dos ativos ocorra através de
leilões públicos tradicionais. Essa prática pode ser inadequada para promover a
20
O sindico dativo representa o administrador indicado pelo tribunal, o qual tem a responsabilidade
de gerenciar a empresa no caso em que a manutenção da atividade seja conveniente.
187
efetiva participação dos possíveis interessados. Ela também permite a manipulação
por determinados grupos, os quais - na presença de competidores - aumentam sua
oferta de modo a não permitir que os eventuais participantes arrematem quaisquer
ativos. Uma vez que os participantes, ao sentirem-se desestimulados, deixem de
comparecer aos leilões, esses grupos obtêm a vantagem de poder arrematar os
lotes em condições mais favoráveis. Processos alternativos, como leilões com
propostas seladas e via Internet, deveriam ser previstos;
f) Não há prioridade para que os ativos de uma empresa sejam vendidos em
conjunto (blocos). Quando os ativos da empresa são leiloados separadamente,
alguns ativos, por conta da liquidez que apresentam, são valorizados. Outros ativos
que são específicos à determinada atividade empresarial perdem valor, pois nem
sempre podem ser usados separadamente. É importante destacar que a venda
individual dos ativos não favorece a aquisição por aqueles que queiram manter o
uso produtivo da massa falida; e,
g) A legislação não prevê juros para as dívidas da massa falida (apenas
correção monetária). Deste modo, quanto mais longo o processo, mais vantajoso
para os acionistas, pois ativos tangíveis (como imóveis) se valorizam, ao passo que
as dívidas não. Isto estimula os acionistas a buscar todas as brechas legais para
retardar ao máximo o processo de liquidação, na esperança de que, passados
alguns anos, o valor do ativo supere o do passivo.
Essas limitações demonstram que a lei falimentar brasileira se apresenta
ineficaz no que se refere ao propósito de permitir a realização dos ativos de uma
empresa falida, levando-se em conta a lisura do processo e a maior valorização
possível. Na prática, constata-se o oposto, uma vez que, a legislação falimentar
acaba sendo responsável pelo desperdício de recursos e inevitável perda para os
credores da massa falida.
Tomando em conta o ponto de vista dos bancos, que representam a
principal fonte de empréstimos na economia brasileira, pode-se considerar que, a
figura da concordata e da falência, nos moldes em que se apresentavam, não
constituíam instrumentos eficientes para a minimização de prejuízos com
empréstimos concedidos às empresas que enfrentam dificuldades financeiras. Assim
sendo, não criavam condições favoráveis para redução de risco de crédito em
operações de empréstimos bancários para uma economia moderna.
188
A Lei de Falências, conforme descrita, na medida em que servia apenas aos
interesses dos controladores, em detrimento dos credores, impunha significativos
limites ao desenvolvimento do mercado de crédito.
Conforme sugere a literatura de “law and finance”, as instituições que
regulamentam o processo de insolvência corporativa tem importância fundamental
para o desenvolvimento do mercado de crédito de um país, uma vez que,
representam indicadores da intensidade com que os direitos dos credores são
protegidos pela legislação.
A análise que considera este aspecto demonstra claramente que o Brasil
apresentava uma situação particularmente desfavorável. Indicadores que refletem as
regras ditadas pelas leis que ordenavam o processo de falência e, em especial, o
uso de garantias (collateral) em operações de empréstimos, demonstravam que a
proteção legal que era dada aos credores era muito fraca, portanto desfavorável
para o desenvolvimento do mercado de crédito, e responsável pelas elevadas taxas
de juros e spreads cobrados nas operações de empréstimos bancários. Com base
no índice de direitos dos credores apresentado por La Porta et al (1998), constata-se
que o Brasil somava apenas um ponto, ao impor restrições para as firmas entrarem
em concordata (Tabela 18). Com relação aos demais critérios, observa-se que: não
eram impostas restrições para retenção de ativos dados como garantias por parte da
firma; os administradores permaneciam na gestão das operações da firma
concordatária; e, o que é pior, as dívidas trabalhistas e as obrigações fiscais tinham
prioridade sobre as dívidas com garantias reais.
Tomando como referência este índice, o Brasil figura entre os países que
menos oferece proteção aos direitos dos credores, sendo que, dos 47 países
analisados por La Porta et al (1998), 32 países apresentam desempenho superior ao
do Brasil.
189
Tabela 18 - Direito dos Credores em Diferentes Países Classificados pela
Origem Legal
Países
Restringe o
direito da firma
de reter ativos
quando estiver
em concordata.
Prioridade
para o
credores em
caso de
falência.
Restrição
para entrar
em
concordata
Interventor
em caso de
Concordata
Índice de
direito
dos
credores
Exigências
de Reserva
Legal
(% do
capital)
Áustria 0 1 0 0 1 0
Canadá 0 1 0 0 1 0
Hong Kong 1 1 1 1 4 0
Índia 1 1 1 1 4 0
Irlanda 0 1 0 0 1 0
Israel 1 1 1 1 4 0
Quênia 1 1 1 1 4 0
Malásia 1 1 1 1 4 0
Nova Zelândia 1 0 1 1 3 0
Nigéria 1 1 1 1 4 0
Paquistão 1 1 1 1 4 0
Singapura 1 1 1 1 4 0
África do Sul 0 1 1 1 3 0
Siri Lanka 1 0 1 1 3 0
Tailândia 1 1 0 1 3 0,10
Reino Unido 1 1 1 1 4 0
Estados Unidos 0 1 0 0 1 0
Zimbábue 1 1 1 1 4 0
Média Origem Inglesa 0,72 0,89 0,72 0,78 3,11 0,01
Argentina 0 1 0 0 1 0,20
Bélgica 1 1 0 0 2 0,10
Brasil 0 0 1 0 1 0,20
Chile 0 1 1 0 2 0,20
Colômbia 0 0 0 0 0 0,50
Equador 1 1 1 1 4 0,50
Egito 1 1 1 1 4 0,50
França 0 0 0 0 0 0,50
Grécia 0 0 0 1 1 0,33
Indonésia 1 1 1 1 4 0
Itália 0 1 1 0 2 0,20
Jordânia n.a n.a n.a n.a n.a 0,20
México 0 0 0 0 0 0,20
Países Baixos 0 1 1 0 2 0
Peru 0 0 0 0 0 0,20
Filipinas 0 0 0 0 0 0
Portugal 0 1 0 0 1 0,20
Espanha 1 1 0 0 2 0,20
Turquia 0 1 1 0 2 0,20
Uruguai 0 1 0 1 2 0,20
Venezuela n.a 1 n.a n.a n.a 0,10
Média Origem Francesa 0,26 0,65 0,42 0,26 1,58 0,21
Áustria 1 1 1 0 3 0,1
Alemanha 1 1 1 0 3 0,1
Japão 0 1 0 1 2 0,25
Coréia do Sul 1 1 0 1 3 0,5
Suíça 0 1 0 0 1 0,5
Taiwan 1 1 0 0 2 1
Média Origem Germânica 0,67 1 0,33 0,33 2,33 0,41
Dinamarca 1 1 1 0 3 0,25
Finlândia 0 1 0 0 1 0
Noruega 0 1 1 0 2 0,2
Suécia 0 1 1 0 2 0,2
Média Or. Escandinava 0,25 1 0,75 0 2 0,16
Média Total 0,49 0,81 0,55 0,45 2,3 0,15
Fonte: La Porta et al (1998, p. 44)
Os campeões de proteção aos direitos dos credores (somando 4 pontos)
são Hong Kong, Índia, Israel, Quênia, Malásia, Nigéria, Paquistão, Singapura, Reino
Unido, Zimbábue, Equador, Egito e Indonésia sendo que a grande maioria com
origem legal no sistema de common law inglesa. Enquanto que os que menos
190
protegem (zero pontos) são a Colômbia, França, México Peru e Filipinas, todos com
origem legal na civil law francesa.
É importante destacar que, o Brasil é um dos poucos países onde os
credores segurados não dispõem de prioridade absoluta para recuperação dos
ativos dados como garantias, quando da liquidação da empresa. Compartilham com
este procedimento apenas a Nova Zelândia, Sri Lanka, Grécia, Colômbia, Filipinas,
França, México e Peru (Tabela 19).
Conforme observam Araújo e Lundberg (2003), na grande maioria dos
países não existe a prioridade do fisco, como ocorre no Brasil, sendo que, os
créditos com garantias reais têm prioridade com relação aos demais credores, em
casos de falência. A justificativa para esse padrão internacional é a manutenção de
um ambiente favorável ao crédito, procurando privilegiar a empresa produtiva com a
possibilidade de acesso a empréstimos e financiamentos fartos e baratos.
Tabela 19 - Ordem de Prioridade na Falência
PAÍSES PRIORIDADE NA FALÊNCIA
Alemanha Créd. c/ Gar. Real Extra-concursais
Austrália Créd. c/ Gar. Real Extra-concursais Salários atrasados
Áustria Créd. c/ Gar. Real Extra-concursais
Bélgica Créd. c/ Gar. Real Extra-concursais Fisco e Prev. Social
Bermudas Créd. c/ Gar. Real Salários e Encargos Extra-concursais Créditos Fiscais
Brasil Créd. Trabalhistas Créditos Fiscais Extra-concursais Créd. c/ Gar. Real
Bulgária Créd. c/ Gar. Real Extra-concursais
Canadá Créd. c/ Gar. Real Extra-concursais Salários atrasados Créditos Fiscais
China Créd. c/ Gar. Real Extra-concursais Créd. Trabalhistas
1
Créditos Fiscais
Coréia Créd. c/ Gar. Real Extra-concursais
Escócia Créd. c/ Gar. Real Extra-concursais Créditos Fiscais Créd. Trabalhistas
Eslováquia Créd. c/ Gar. Real Extra-concursais
2
Espanha Salários
3
Créditos Fiscais Créd. c/ Gar. Real
Estados Unidos Créd. c/ Gar. Real Extra-concursais Créd. Trabalhista Créditos Fiscais
Estônia Extra-concursais Créd. c/ Gar. Real Créd. Trabalhista Impostos em Atraso
Finlândia Créd. c/ Gar. Real Extra-concursais
França Salário em atraso Extra-concursais Créd. c/ Gar. Real
Holanda Créd. c/ Gar. Real Extra-concursais Créditos Fiscais Créd. Trabalhistas
Hong Kong Extra-concursais Créd. c/ Gar. Real Créd. Trabalhistas Fiscais
4
Hungria Extra-concursais Créd. c/ Gar. Real Créd. Alimentícios Créditos Fiscais
Inglaterra Créd. c/ Gar. Real Extra-concursais Fisco e Prev. Social Créd. Trabalhistas
Irlanda Créd. c/ Gar. Real Créditos Fis. (limit) Créd. Trabalhistas
Israel Créd. c/ Gar. Real Extra-concursais Créd. Trabalhistas Créditos Fiscais
Itália Extra-concursais Fiscais e Traba
5
Créd. c/ Gar. Real
Japão Créd. c/ Gar. Real Extra-concursais Créd. Trabalhistas
Malásia Créd. c/ Gar. Real Extra-concursais Créd. Trabalhistas Créditos Fiscais
Polônia Créditos Fiscais Extra-concursais
6
Créd. c/ Gar. Real
Portugal Créd. c/ Gar. Real Créd. Trabalhistas Extra-concursais Créditos Fiscais
Rússia Extra-concursais Créd. Trabalhistas Créd. c/ Gar. Real Créditos Fiscais
Singapura Créd. c/ Gar. Real Extra-concursais Créd. Trabalhistas
Suécia Extra-concursais Créd. c/ Gar. Real Créd. Trabalhistas Créd. Trabalhistas
Suíça Créd. c/ Gar. Real Extra-concursais Créd. Trabalhistas
Tailândia Extra-concursais Créd. c/ Gar. Real Créd. Trabalhistas
Republica Tcheca Créd. c/ Gar. Real Extra-concursais Créd. Trabalhistas
Vietnã Extra-concursais Créd. c/ Gar. Real Créd. Trabalhistas Créditos Fiscais
Fonte: Araújo e Lundberg (2003, p. 53)
(1) Em algumas regiões antecedem os extraconcursais. (2) Inclusive eventuais três salários atrasados. (3) Últimos trinta dias até dois salários
mínimos. (4) Alguns associados a fundos trabalhistas. (5) Mediante ações de apreensão judicial. (6) Dívidas ativas com garantias até 50% do
valor da venda do ativo garantidor.
191
Araújo e Lundberg (2003) ressaltam que, a existência da prioridade do fisco
enfraquece e coloca em dúvida o mecanismo de entrega de bens como garantia real
de obrigações, aumentando o risco de quase todas as operações de crédito a
pessoas jurídicas efetuadas pelo sistema financeiro nacional. Advertem ainda que,
em conjunto com as demoras e deficiências do sistema judicial, a prioridade do fisco
sobre o crédito com garantia real ajuda a entender porque o crédito bancário ao
setor produtivo no Brasil é tão mais caro e escasso do que em outros países.
O Banco Mundial também apresenta algumas medidas de direitos legais
que são assegurados aos credores visando identificar a diferença na proteção de
direitos de credores, e o grau de acessibilidade ao mercado de crédito em diferentes
países ao redor do mundo. O conjunto de indicadores, relacionado à proteção legal
que é dada aos credores, procura descrever quão bem as garantias e as leis de
falência facilitam as operações de crédito. Quanto maior a pontuação atingida por
um país ou região significa que as garantias e a lei de falência são melhores
estruturadas para assegurar a proteção de credores e para garantir a expansão do
acesso ao crédito.
Conforme se pode verificar na Tabela 20, esse indicador mostra que a
proteção legal ao credor e a acessibilidade ao mercado de crédito é bem mais fraca
no Brasil do que na média da América Latina ou de qualquer outra região do mundo.
Observa-se que a diferença do Brasil com relação a alguns países Latino
Americanos e Asiáticos selecionados e, principalmente, com países da OCDE
(considerados de alta renda) é significativamente elevada.
192
Tabela 20 - Facilidade de Acesso ao Crédito no Brasil
REGIÕES / ECONOMIAS Direitos Legais - Índice* (0-10)
Leste da Ásia e Pacífico 5.3
Europa e Ásia Central 5.6
América Latina e Caribe 3.8
Oriente Médio e África do Norte 4.1
OCDE - Alta Renda 6.3
África do Sul 3.8
África Subsaariana 4.4
Brasil 2
Chile 4
Colômbia 4
México 2
Venezuela 4
Argentina 3
Coréia do Sul 6
Indonésia 5
Tailândia 5
Malásia 8
Fonte: World Bank – Doing Business (2005)
* Para a elaboração do índice são considerados os seguintes critérios: se os credores segurados são aptos a recuperar suas garantias
quando o devedor entra em processo de reorganização (não existe “permanência automática” nem “congelamento de ativos” por parte dos
tribunais); se os credores segurados têm prioridade (antes que o governo e dos trabalhadores) para recebimento, no processo de liquidação
da firma; se os administradores não permanecem nos empregos durante o processo de reorganização; descrição geral, e não específica, de
ativos é permitida em acordos colaterais; descrição geral, e não específica, de dívida é permitida em acordos colaterais; os credores
segurados têm prioridade fora do processo de falência; as partes podem estabelecer o processo de execução por meio de contratos; os
credores podem recuperar e vender as garantias sem a interferência judicial. Cada um dos critérios cumpridos soma um ponto a favor do
credor. O índice varia numa escala entre 0 e 10.
Num conjunto de 155 países analisados, o Brasil ocupa a 80ª posição,
situando-se bem atrás de países como Malásia (6ª), Coréia (25ª), Chile (32ª),
Argentina (42ª), Tailândia (59ª), Colômbia (62ª), Indonésia (63ª) e México (68ª),
colocando-se entre os piores países do mundo no que diz respeito à proteção aos
direitos de propriedade dos credores, e um dos países que apresenta a maior
dificuldade de acesso ao crédito. (Gráfico 8)
Índice de Proteção de Direitos dos Credores
(Compreende 155 países - Banco Mundial)
0
0,5
1
1, 5
2
2,5
3
3,5
4
4,5
5
5,5
6
6,5
7
7,5
8
8,5
9
9,5
10
Hong Kong
Australia
Bosnia
Israel
Malaysia
Canada
Malawi
Samoa
Bulgaria
Jamaica
Korea
Moldova
Puerto Rico
Switzerland
Belarus
Ghana
Iran
Mongolia
Serbia
Sudan
Tonga
Armenia
Chile
Rep. Dominicana
Lebanon
Mozambique
Pakistan
Tunisia
Algeria
Bolivia
Ecuador
Guyana
Paraguay
Senegal
Brasil
Cote d'Ivoire
Mexico
Yemen
Afghanistan
Países
ìndice
Gráfico 8 - Índice de Proteção de Direitos dos Investidores – Proteção do
Direito dos Credores
Fonte: Elaborado pelo Autor
193
As evidências apresentadas pela literatura de law and finance, através das
pesquisas desenvolvidas por La Porta et al (1998) e Djankov, Mcliesh e Shleifer
(2005), demonstram que uma forte proteção legal dos direitos dos credores são
geralmente associadas com um nível mais elevado do desenvolvimento do mercado
de crédito. As evidências também mostram que os benefícios de uma forte proteção
dos credores são mais significativas em países ricos, os quais dispõem de sistemas
legais mais bem desenvolvidos.
Estas evidências são amplamente consistentes com a teoria do canal do
crédito, e podem ser confirmadas no Gráfico 9, o qual demonstra uma forte
correlação positiva entre a proteção dos direitos de propriedade dos credores e o
acesso ao crédito, em diferentes países ao redor do mundo.
0.0
0.4
0.8
1.2
1.6
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
Proteção aos Direitos Legais (Índice)
C
r
é
d
i
t
o
P
r
i
v
a
d
o
/
P
I
B
Gráfico 9 - Relação entre Proteção dos Direitos de Credores e o Grau de
Acesso ao Crédito Privado em Diferentes Países
Fonte: Elaborado pelo Autor
Um recurso freqüentemente utilizado por países que não asseguram a
devida proteção aos direitos dos credores, é o “requerimento de reservas legais”. O
Brasil - assim como fazem a maioria dos países de origem legal na civil law
francesa, germânica e escandinava onde, tradicionalmente, o direito do credor é
mais fracamente protegido - lança mão desse recurso, pois se trata de uma “regra
legal medicinal” pró-credor que funciona como um paliativo à fraca proteção que lhe
é oferecida. Conforme se pode verificar na Tabela 18, esse requerimento quase não
Crédito Privado / PIB
194
existe em países de origem na common law inglesa onde se supõe que as demais
regras legais, estabelecidas para dar proteção ao credor, são suficientes.
Este cenário que acabamos de descrever, que tem caracterizado a proteção
do direito dos credores no Brasil, acaba impondo uma dinâmica muito perversa para
o comportamento da economia brasileira.
Conforme observam Araújo e Lundberg (2003) - considerando o caso
específico do setor empresarial, vital para o processo de crescimento econômico,
geração de emprego e inovação tecnológica – a lei de falências brasileira tem
representado um importante entrave ao crédito e causa de perpetuação do
funcionamento de empresas inadimplentes. Por conta da referida Lei, instituições
financeiras (Bancos) acabam tendo mais cautela, e oferecendo créditos moderados
às firmas sadias (restringindo o crédito). Ao menor sintoma de dificuldades
financeiras, os credores procuram reduzir seus créditos (temendo problemas de
seleção adversa e risco moral) e as firmas a atrasar o pagamento de impostos. Em
resposta, os credores ficam ainda mais receosos em não reaver seus créditos, pois
em caso de liquidação da firma, são os últimos a receber, dada a prioridade atribuída
ao crédito trabalhista e fiscal, no caso de falência. Isto faz com que eles diminuam
ainda mais a disponibilidade de créditos, inclusive executando garantias, enquanto
as firmas tendem a atrasar ainda mais os impostos até que elas fiquem desprovidas
de crédito e numa situação de extrema fragilidade. Por fim, os credores restantes
não se atrevem a pedir a falência da firma, em função da prioridade já apontada na
Lei de Falências, enquanto o fisco, devido a várias razões, também não o faz.
Assim, a Lei de Falências brasileira regulamentada pelo decreto Lei
7661/45, na forma como se apresenta, ao ocasionar profundas distorções na
economia, comprometem o desenvolvimento do mercado de crédito e, por conta
disso, o desenvolvimento econômico.
5.2.2 Eficiência na Execução das Regras Legais
As regras legais representam apenas uma componente para a proteção dos
direitos de propriedade de investidores. Igualmente, ou mais importante é a
eficiência com que essas regras legais são executadas. Segundo La Porta et al
(1998), um forte sistema de execução legal pode até mesmo substituir regras legais
195
fracas, desde que, um sistema judicial ativo e que funcione de forma eficiente possa
dar a devida proteção aos investidores.
Para avaliar a efetiva proteção concedida aos investidores, denotada pela
eficiência de execução de regras legais, a literatura de law and finance toma em
conta alguns aspectos (proxis) que refletem a qualidade de execução dessas regras
em diferentes países de diferentes origens legais, os quais compreendem: a
eficiência do sistema judiciário, regras de lei, corrupção, risco de expropriação por
parte do governo (significando um confisco total ou nacionalização forçada) e, a
probabilidade de repúdio aos contratos pelo governo.
Considerando estes aspectos, e tomando em conta o caso específico do
Brasil, verifica-se que o país apresenta uma condição muito desfavorável no que diz
respeito às variáveis consideradas relevantes para uma eficiente execução de regras
legais. Conforme demonstra a Tabela 21, o país encontrando-se bem abaixo da
média dos países com origem legal na common law inglesa e, dos países com
origem na civil law germânica e escandinava, com relação a todos os critérios
considerados. E, também, apresenta um dos piores desempenhos dentre os países
com origem na civil law francesa.
196
Tabela 21 - Execução das Regras Legais
Variáveis para Execução de Regras Legais
Países
Eficiência do
Sistema Judiciário
Regras
de Lei Corrupção
Risco de
Expropriação
Risco de Repúdio aos
Contratos
Áustria 10,00 10,00 8,52 9,27 8,71
Canadá 9,25 10,00 10,00 9,67 8,96
Hong Kong 10,00 8,22 8,52 8,29 8,82
Índia 8,00 4,17 4,58 7,75 6,11
Irlanda 8,75 7,80 8,52 9,67 8,96
Israel 10,00 4,82 8,33 8,25 7,54
Quênia 5,75 5,42 4,82 5,98 5,66
Malásia 9,00 6,78 7,38 7,95 7,43
Nova Zelândia 10,00 10,00 10,00 9,69 9,29
Nigéria 7,25 2,73 3,03 5,33 4,36
Paquistão 5,00 3,03 2,98 5,62 4,87
Singapura 10,00 8,57 8,22 9,30 8,86
África do Sul 6,00 4,42 8,92 6,88 7,27
Siri Lanka 7,00 1,90 5,00 6,05 5,25
Tailândia 3,25 6,25 5,18 7,42 7,57
Reino Unido 10,00 8,57 9,10 9,71 9,63
Estados Unidos 10,00 10,00 8,63 9,98 9,00
Zimbábue 7,50 3,68 5,42 5,61 5,04
Média Origem Inglesa 8,15 6,46 7,06 7,91 7,41
Argentina 6,00 5,35 6,02 5,91 4,91
Bélgica 9,50 10,00 8,82 9,63 9,48
Brasil 5,75 6,32 6,32 7,62 6,30
Chile 7,25 7,02 5,30 7,50 6,80
Colômbia 7,25 2,08 5,00 6,95 7,02
Equador 6,25 6,67 5,18 6,57 5,18
Egito 6,50 4,17 3,87 6,30 6,05
França 8,00 8,98 9,05 9,65 9,19
Grécia 7,00 6,18 7,27 7,12 6,62
Indonésia 2,50 3,98 2,15 7,16 6,09
Itália 6,75 8,33 6,13 9,35 9,17
Jordânia 8,66 4,35 5,48 6,07 4,86
México 6,00 5,35 4,77 7,29 6,55
Países Baixos 10,00 10,00 10,00 9,98 9,35
Peru 6,75 2,50 4,70 5,54 4,68
Filipinas 4,75 2,73 2,92 5,22 4,80
Portugal 5,50 8,68 7,38 8,90 8,57
Espanha 6,25 7,80 7,38 9,52 8,40
Turquia 4,00 5,18 5,18 7,00 5,95
Uruguai 6,50 5,00 5,00 6,58 7,29
Venezuela 6,50 6,37 4,70 6,89 6,30
Média Origem Francesa 6,56 6,05 5,84 7,46 6,84
Áustria 9,50 10,00 8,57 9,69 9,60
Alemanha 9,00 9,23 8,93 9,90 9,77
Japão 10,00 8,98 8,52 9,67 9,69
Coréia do Sul 6,00 5,35 5,30 8,31 8,59
Suíça 10,00 10,00 10,00 9,98 9,98
Taiwan 6,75 8,52 6,85 9,12 9,16
Média Origem Germânica 8,54 8,68 8,03 9,45 9,47
Dinamarca 10,00 10,00 10,00 9,67 9,31
Finlândia 10,00 10,00 10,00 9,67 9,15
Noruega 10,00 10,00 10,00 9,88 9,71
Suécia 10,00 10,00 10,00 9,40 9,58
Média Origem Escandinávia 10,00 10,00 10,00 9,66 9,44
Média Total 7,68 6,85 6,90 8,05 7,58
Fonte: La Porta et al (1998, p. 46)
Esses índices demonstram que, além de baixa proteção aos direitos dos
investidores, oferecidas pelas regras legais, o Brasil destaca-se, também, pela
péssima qualidade na execução dessas regras. Fica evidente que a proposição
segundo a qual um eficiente sistema de execução legal poderia substituir fracas
regras legais, não se aplica para esse caso particular.
197
Tomaremos em conta esses critérios - amplamente abordados pela
literatura de “law and finance” – e passaremos a analisar, de forma detalhada, como
as regras legais são efetivamente executadas no Brasil.
5.2.2.1 Avaliação do Desempenho do Judiciário
A ineficiência do judiciário – materializada na morosidade das decisões, no
elevado custo de uso e acesso à justiça e, no alto risco embutido na falta de
imparcialidade e previsibilidade das decisões judiciais – é apontada como uma das
principais causas do baixo volume de crédito e dos elevados spreads cobrados nas
operações de empréstimos no Brasil.
21
O índice de eficiência do sistema judiciário, apresentado por La Porta et al
(1998), na Tabela 21, mostra que o Brasil obtém um valor muito baixo (5,75), sendo
este bem inferior à média dos países com origem legal na civil law francesa (6,56), o
qual já se encontra bem abaixo da média dos países com origem legal Germânica
(8,54), Escandinava (10), e na common law inglesa (8,15). Isso sugere que, não só o
Brasil, mas também os demais países com origem na civil law francesa apresentam
uma característica comum, a saber, a ineficiência no que diz respeito à execução de
regras legais.
Tomando em conta algumas medidas para a execução de contratos -
instrumento fundamental para estabelecer as relações entre os agentes em uma
economia de mercado - oferecidas pelo Banco Mundial, observa-se que o Brasil se
destaca pelo elevado número de procedimentos necessários para realizar um
processo judicial, pela excessiva demora para a execução do processo e pelo
elevado custo do processo (Tabela 22).
21
Aith (2000) estima que cerca de 10% a 30% do spread bancário no Brasil se deve à ineficiência do
judiciário. Pinheiro e Cabral (2001) mostram que, controlando para o efeito da legislação e de
diferenças de renda percapita, obtém-se que a qualidade do judiciário afeta significativamente a
quantidade de crédito bancário na economia, medida pela relação crédito/PIB. Laeven e Majoni
(2003) mostram que, controlado para um conjunto de características de diferentes países, a eficiência
do judiciário é, junto com a inflação, o principal determinante das diferenças de spreads de juros entre
os 106 países analisados (PINHEIRO, 2003b).
198
Tabela 22 - Execução de Contratos
REGIÕES / ECONOMIAS Nº Processos Tempo (dias) Custo (% da dívida)
Leste da Ásia e Pacífico 30.0 406.8 61.7
Europa e Ásia Central 29.6 393.0 17.4
América Latina e Caribe 35.5 461.3 23.3
Oriente Médio e África do Norte 39.5 432.1 17.7
OCDE - Alta Renda 19.5 225.7 10.6
África do Sul 29.7 385.5 36.7
África Subsaariana 35.9 438.5 41.6
Brasil 24 546 15.5
Chile 28 305 10.4
Colômbia 37 363 18.6
México 37 421 20.0
Venezuela 41 445 28.7
Argentina 33 520 15.0
Coréia do Sul 29 75 5.4
Indonésia 34 570 126.5
Tailândia 26 390 13.4
Malásia 31 300 20.2
Fonte: World Bank – Doing Business (2005)
Nota: Número de Processos: compreende todos os procedimentos designados por lei ou pelo regulamento do tribunal que exigem interação
entre as partes, ou entre elas e o juiz (ou administrador) ou oficial de justiça.
Tempo (dias): o tempo requerido para resolução da disputa, contado do momento em que o autor da ação move o processo no tribunal até
determinação ou pagamento.
Custo (% da dívida): O indicador de custo mede o custo oficial de passar por um processo judicial, incluindo custos de tribunal e taxas com
advogados onde o uso de advogados é obrigatório ou comum, ou os custos de um procedimento de recuperação de dívida administrativo,
expressos como uma porcentagem do valor de dívida.
Num total de 155 países analisados pelo Banco Mundial, o Brasil ocupa a
70ª posição no que diz respeito à eficiência na execução de contratos, ficando bem
atrás de países com nível de renda equivalente (como é o caso de alguns países da
OCDE), e de países como Coréia do Sul (18ª), Chile (41ª), Tailândia (49ª) e Malásia
(61ª).
Analisaremos na seqüência, de forma detalhada, os principais
determinantes da ineficiência do sistema judiciário no Brasil, os quais compreendem:
morosidade nas decisões judiciais; altos custos de acesso à justiça; e, falta de
previsibilidade nas decisões judiciais.
5.2.2.1.1 Morosidade da Justiça
Com base em resultados de pesquisas realizadas junto a empresários e
magistrados, Pinheiro (2003b) constata que, a morosidade da justiça é percebida
como o principal problema relacionado ao funcionamento da justiça em geral e, na
cobrança judicial de empréstimos inadimplentes, em particular. Ele destaca duas
causas principais para a morosidade da justiça. A primeira está relacionada ao
número excessivo de casos que são encaminhados aos tribunais por pessoas,
empresas e grupos de interesse, não para garantir direitos, mas, para explorar a
199
lentidão do judiciário e protelar o cumprimento de uma obrigação. A segunda inclui
fatores mais diretamente relacionados à operação do judiciário, tais como, carência
de recursos, a legislação e a forma de atuação dos juízes e de outros operadores do
direito (advogados).
Com relação à exploração da lentidão do judiciário, observa que, trata-se de
uma prática muito freqüente na área tributária, particularmente na esfera federal,
sendo o setor público um dos maiores interessados, particularmente, quando a
União é uma das partes envolvidas. É também muito freqüente em causas
envolvendo operações de crédito (empréstimos), aluguéis, e disputas comerciais e
trabalhistas.
Com relação à forma de atuação do judiciário, as causas mais importantes,
apontadas como determinantes da morosidade da justiça, em ordem de relevância,
são: a insuficiência de recursos, as deficiências do ordenamento jurídico, o
formalismo processual exagerado e a forma de atuação dos advogados.
Em relação à insuficiência de recursos, a falta de juízes apresenta-se como
o problema mais importante, seguidos pela falta de informatização e, em terceiro
lugar, a precariedade das instalações.
No que diz respeito ao ordenamento jurídico, embora uma parcela
importante dos magistrados aponta problemas com a legislação substantiva para
explicar a morosidade da justiça (no que concerne ao seu anacronismo,
instabilidade, existência de contradição e inadequação), estes problemas são
percebidos como secundários quando comparados às falhas existentes na
legislação processual. Além do excessivo formalismo, o ordenamento jurídico cível
vigente na legislação processual disponibiliza muitos meios para protelar decisões
judiciais, e oferece a possibilidade de recursos a um número excessivo de
instâncias. Esses instrumentos contribuem de modo significativo para tornar o
processo judicial excessivamente demorado.
Com relação à forma de atuação dos advogados destaca-se, como
obstáculo a uma maior agilidade do judiciário, a tendência dos advogados em
estender a duração dos litígios e a sua falta de preparo técnico.
Em termos gerais, todos os elementos apontados como determinantes da
morosidade da justiça - a falta de recursos (materiais e humanos); o excessivo
formalismo dos procedimentos judiciais; a excessiva facilidade de recorrer-se a
instâncias superiores; o interesse das partes (inclusive do setor público), de
200
prolongar a duração dos processos; e o despreparo dos advogados – tendem a
produzir fortes efeitos negativos sobre o mercado de crédito.
Pinheiro (2003b), sugere três formas diferentes através das quais uma
justiça lenta e ineficiente pode introduzir conseqüências danosas sobre a decisão
dos bancos em emprestar e, conseqüentemente, sobre o desenvolvimento do
mercado de crédito. Primeiro, ela torna a perspectiva de uma ação judicial muito
menos ameaçadora do ponto de vista do devedor, criando condições mais
favoráveis para que este venha a agir de forma irresponsável (aumentando os
problemas decorrentes de risco moral) . Segundo, a morosidade reduz
significativamente o valor das garantias como proteção contra a inadimplência e,
mais geralmente, diminui a relevância da propriedade de ativos como uma garantia
implícita para os credores.
22
Terceiro, a falta de agilidade cria incentivos para que os
devedores usem o judiciário como um instrumento para postergar o pagamento de
suas dívidas.
23
Estes elementos contribuem para intensificar a assimetria de informação e
os problemas por ela gerado de seleção adversa e risco moral, o que implica em
redução na oferta de crédito e na elevação dos custos de financiamento,
constituindo sérios obstáculos para o desenvolvimento do mercado de crédito no
Brasil.
Fachada, Figueiredo e Lundberg (2003) consideram que a morosidade
judicial, ao dificultar o recebimento de valores contratados, promove uma retração na
atividade de crédito e provoca o aumento dos custos dos financiamentos por meio
de dois canais. Primeiro, a insegurança jurídica aumenta as despesas
administrativas das instituições financeiras, inflando em especial as áreas de
avaliação de risco de crédito e jurídica. Segundo, reduz a certeza de pagamento
22
“Exija um colateral igual a 3 vezes o valor do empréstimo, que depois da decisão judicial a garantia
vale muito menos do que a dívida.” Essa afirmação, feita pelo gerente de um banco, expressa a visão
de que as garantias reais são freqüentemente insuficiente ex-post, independente de quão
significantes elas pareçam ex-ante. No mínimo, o valor do colateral não acompanha o valor da dívida,
em parte como conseqüência do acúmulo de juros e multas por atraso. E também há casos em que
as garantias simplesmente desaparecem enquanto o caso está sendo julgado, ou em que os
devedores vendem ou transferem a propriedade dos ativos dados como colateral ou listados para a
penhora. Ainda que essas operações possam ser revertidas na justiça, e sujeitem o infrator a
penalidades elas alongam ainda mais a duração do processo judicial. Por fim, quando o credor
finalmente consegue retomar a garantia, ela já está depreciada, não apresentando utilidade prática
alguma (PINHEIRO, 2003b).
23
Segundo Pinheiro (2002b), os magistrados consideram esta uma prática muito freqüente em casos
que envolvam operações de crédito, que ficam atrás apenas dos casos que envolvem questões
tributárias, e à frente de casos de inquilinato, transações comerciais e conflitos trabalhistas.
201
mesmo numa situação de contratação de garantias, pressionando o prêmio de risco
embutido no spread.
5.2.2.1.2 Custos de Uso da Justiça
O custo de cobrança judicial é apontado como um outro sério problema que
funciona como um obstáculo ao desenvolvimento do mercado de crédito, na medida
que dificulta a utilização da justiça como um instrumento de cobrança de dívidas.
Para encaminhar uma cobrança judicial, é necessário incorrer em uma série
de despesas, compreendendo: despesas com advogados (honorários), despesas
para iniciar um processo, custas judiciais, despesas para encaminhar recursos,
despesas com ação de execução, despesas para registrar documentos, dentre
outras. A título de exemplo Pinheiro (2003b) observa que, um advogado de fora do
banco cobra entre 10% e 20% do valor recuperado, mais o reembolso de despesas,
enquanto os advogados do próprio banco recebem um pagamento que varia de 3%
a 20% do valor recuperado, dependendo do estágio do processo em que o
empréstimo é recuperado. Em São Paulo, a parte que inicia o processo tem de
pagar custas judiciais de 1% do valor em questão, mais 1% quando se dá o recurso
a uma instância superior, mais 1% para a ação de execução. Os credores têm de
pagar também para registrar documentos, para que o oficial de justiça notifique o
devedor e/ou liste os bens para penhora.
Em geral, apenas quando o credor dispõe de um advogado trabalhando
dentro da empresa e o empréstimo supere um certo patamar torna-se conveniente
apelar à cobrança judicial. Em caso de pequenos empréstimos torna-se
prativamente inviável recorrer à justiça para tentar recuperá-lo.
A Tabela 23 apresenta estimativas ad-hoc para a expectativa de
recuperação de empréstimos em processos judiciais, para quatro contratos
hipotéticos entre R$ 500 e R$ 50 mil. Além das estimativas para as despesas
processuais diretas (custas, advogados, oficial de justiça e perícia, cartórios, dentre
outros) é também considerada a taxa de desconto intertemporal aplicada sobre o
capital e arbitrada em 20% a.a.
Observa-se que, quando atravessadas todas as fases processuais, o custo
de recuperação para empréstimos até R$ 1.000 iguala ou supera o valor do
principal. Para um crédito de R$ 50.000, estima-se recuperar 24,1% do principal.
202
Mesmo para a cobrança extra-judicial, que exige despesas com correio, protesto,
negativação e comissão paga um cobrador especializado, e que caracteriza-se por
ser um processo mais simples, espera-se recuperar entre 56,8% (para valores de R$
500) a 83% (para valores de R$ 50.000) do valor do principal.
Tabela 23 - Processo de Cobrança Judicial – Valor Esperado de Recuperação
de Contratos de Crédito
Fases do Processo R$ 500 R$ 1.000 R$ 5.000 R$ 50.000
Cobrança Extrajudicial Simples R$ 284 R$ 680 R$ 4.003 R$ 41.498
(até um ano) 56,8% 68,0% 80,1% 83,0%
Fase de Conhecimento Judicial R$ 14 R$ 221 R$ 1.982 R$ 21.878
(Até três anos) 2,80% 22,1% 39,6% 43,8%
Fase de Execução Judicial Zero R$ 33 R$ 1.011 R$ 12.054
(Até cinco anos) - 3,3% 20,2% 24,1%
Fonte: Fachada, Figueiredo e Lundberg (2003)
Nota: Os prazos máximos para cada fase do processo foram definidos com base em informações fornecidas por instituições
financeiras.
Este panorama sugere que a opção de recorrer ao judiciário trata-se de uma
alternativa desfavorável e altamente desestimulante para a recuperação de crédito.
No caso da maioria dos empréstimos em que a cobrança judicial não é
necessária, os bancos usualmente fazem uma primeira tentativa direta de
recuperação e, se mal sucedida, transferem o caso a uma empresa de cobrança.
Este representa o caso da maior parte das operações de varejo (cheque especial,
crédito ao consumidor, empréstimos pessoais, etc.). Este instrumento, além de ser
menos custoso que uma ação judicial (cobram uma taxa de sucesso entre 5% e 10%
do valor eventualmente recuperado), dá maior garantia de recuperação do
empréstimo. (PINHEIRO, 2003).
5.2.2.1.3 Falta de Previsibilidade nas Decisões Judiciais
A falta de previsibilidade nas decisões judiciais é tida como um outro fator
de grande relevância para determinação do fraco desempenho do mercado de
crédito, bem como, dos elevados spreads bancários no Brasil.
De acordo com Pinheiro (2002b), além das causas apontadas para
morosidade do judiciário, que também representam fonte de incerteza nas decisões
judiciais, um fator adicional, freqüentemente, apontado como principal fonte de
incerteza jurisdicional é a tendência de “politização” nas decisões judiciais,
resultante, eminentemente, de um posicionamento espontâneo dos próprios juízes.
203
Este posicionamento pode traduzir-se numa tentativa de privilegiar determinados
grupos sociais menos favorecidos com o intuito de promover uma melhor
redistribuição de renda. Os próprios magistrados referem-se a esse posicionamento
como refletindo um compromisso que os juízes tem de promover a justiça social.
24
Em pesquisa com magistrados, Pinheiro (2002b) observa que, a maioria
deles (cerca de 50%) consideram que a “politização” nas decisões judiciais ocorre
apenas ocasionalmente. Mesmo assim, cerca de 20% dos entrevistados consideram
que este tipo de comportamento ocorre com freqüência. Ainda que não existam
parâmetros para comparações internacionais, supõe-se que representa uma
proporção alta o suficiente para que a “politização” das decisões judiciais possa ser
considerada um fator importante para explicar porque, em alguns casos, juizes
diferentes chegam a distintas decisões sobre casos muito semelhantes ou mesmo
iguais.
Este tema foi explorado em pesquisa com os magistrados quando se
perguntou a eles, se confrontados com a necessidade de optar entre duas posições
extremas – (A) sempre respeitar os contratos, independente de suas repercussões
sociais ou (B) decidir de uma forma que viole os contratos, na busca de justiça social
-, qual das duas alternativas eles escolheriam. A grande maioria dos magistrados
(73,1%) respondeu que optaria pela busca da justiça social (Tabela 24).
Tabela 24 - Opções ente Garantir Cumprimento de Contratos e Busca da
Justiça Social – Ponto de Vista dos Magistrados
Freqüência %
Concorda mais com a Primeira Alternativa (A) 146 19,7
Concorda mais com a Segunda Alternativa (B) 542 73,1
Não sabe / Sem Opinião 21 2,8
Não Respondeu 32 4,3
Total 741 100
Fonte: Pinheiro (2002b)
Nota: A questão colocada para os juízes foi: ”Na aplicação da lei, existe freqüentemente uma tensão entre contratos, que
precisam ser observados, e os interesses de segmentos sociais menos privilegiados, que precisam ser atendidos.
Considerando o conflito que surge nesses casos entre esses dois objetivos, duas posições têm sido defendidas: (A) Os
contratos devem ser sempre respeitados, independentes de suas repercussões sociais; (B) O juiz tem um papel social a
cumprir, e a busca da justiça social justifica decisões que violem os contratos. Com qual das duas posições o(a) senhor(a)
concorda mais?
Pinheiro (2002b) constata que, este tipo de comportamento é muito mais
freqüente em casos que envolvem operações de crédito do que em outras
24
Estendendo-se para além dos mercados de crédito, este tipo de comportamento freqüentemente
reflete uma intenção de favorecer grupos sociais e/ou econômicos mais fracos, como trabalhadores e
pequenos devedores, ou simplesmente as inclinações políticas do magistrado em relação ao conflito
em questão (PINHEIRO, 2003b).
204
operações comerciais, o que serve de indício favorável à visão de que o mercado de
crédito é, particularmente, afetado por esse posicionamento dos juízes.
Pinheiro (2003b) toma como exemplo, o caso dos contratos de leasing com
correção cambial que existiam antes da desvalorização do real em 1999. Dado que
eles transferiam o risco da desvalorização do banco para o devedor, sobre eles
incidia uma taxa de juros menor, o que os tornava atraente para o devedor. Era
evidente que a diferença entre os juros pagos em contratos indexados ao câmbio e
aqueles (bem mais altos) de contratos corrigidos pela inflação correspondia a um
prêmio que o devedor estava recebendo por assumir o risco da desvalorização.
Quando efetivamente ocorreu a desvalorização, os contratos com correção cambial
se mostraram mais caros, e o judiciário decidiu que os devedores poderiam pagar
seus empréstimos com a (mais baixa) correção pela inflação, mesmo sabendo que
os bancos deveriam honrar seus compromissos com credores externos respeitando
a correção cambial. Assim, o judiciário, num ato unilateral de completo desrespeito
aos contratos, decidiu redistribuir ex-post as responsabilidades das partes, em
completo prejuízo dos credores.
Um judiciário majoritariamente favorável aos devedores representa um fator
adicional para o enfraquecimento dos direitos dos credores que, conforme
analisamos, já são fracamente protegidos pelas regras legais. Este comportamento
conflita com a racionalidade para a existência de contratos os quais tem como
principal propósito eliminar conflitos de interesses, ao permitir o estabelecimento de
acordo vantajoso entre as partes envolvidas. Além disso, fere a lógica básica que
sustenta o princípio de que o judiciário tem o compromisso de fazer com que as
regras estabelecidas nos contratos sejam fielmente cumpridas. A não neutralidade
por parte do judiciário implica na introdução de uma importante fonte de incerteza
em qualquer transação baseada em contratos. Assim, como principais
conseqüências, pode-se verificar desde a completa recusa de setores menos
favorecidos pelo judiciário de participar de contratos, ou a exigência de elevados
prêmios para compensar o risco de participar.
Esses são procedimentos que se observam no mercado de crédito onde os
credores, por conta do sentimento de estarem desprotegidos, tornam-se
extremamente cautelosos na realização de empréstimos e, são induzidos a cobrar
elevados spreads para compensar o risco envolvido nessas transações.
205
Segundo Pinheiro (2003b), o elevado grau de incerteza jurisdicional explica
porque há tão pouco crédito imobiliário voluntário para famílias pobres no Brasil,
bem como, porque a criação da lei que instituiu o Sistema Financeiro Imobiliário,
estendendo o uso da alienação fiduciária para o financiamento imobiliário (já
utilizada com sucesso no financiamento de veículos), não permitiu o
desenvolvimento desse mercado, nos moldes que era esperado.
Enquanto persistem incertezas com relação às decisões judiciais, os bancos
optam por esperar que um número suficientemente grande de decisões estabeleça a
interpretação do judiciário sobre a questão (jurisprudência), antes de estruturarem
operações baseadas em uma nova legislação.
5.2.2.2 Desrespeito aos Contratos e Corrupção
Quando se tem, como prática comum, agentes públicos se insurgindo contra
os desígnios estabelecidos pela legislação, desrespeitando contratos ou atribuindo a
si poderes para interpretar o que seja “socialmente justo”, independente do que
determina a letra da lei, isso denota um ambiente em que o Estado – expresso pelos
seus integrantes nas três esferas (Federal, Estadual e Municipal) incluindo o
judiciário – procura colocar-se acima da própria lei.
Para Pinheiro e Giambiagi (2006), o que torna o Estado especial, é o
monopólio de coerção legal a ele atribuído pela sociedade, o que aumenta a sua
liberdade para, unilateralmente, mudar, invalidar ou não honrar os termos da
relação, não sendo por isso punido. Nesse sentido, o risco regulatório resulta da
capacidade de o Estado mudar as regras “no meio do jogo”, isto é, o Estado pode
mudar a regra ex post a seu favor, em prejuízo do investidor.
Esse comportamento por parte do Estado agrega um novo tipo de risco ao
ambiente econômico, ou seja, um risco de natureza regulatória que, segundo
Pinheiro e Giambiagi (2006), está relacionado à incerteza sobre as regras
estabelecidas pelo próprio Estado, tanto no que tange às relações deste com os
agentes privados como nas transações entre estes.
Conforme estabelece a literatura de “law and finance”, um dos princípios
básicos para a eficiência da execução de regras legais é o compromisso das
instituições públicas não só em estabelecer regras, mas especialmente, zelar pelo
seu efetivo cumprimento. Se este compromisso é falho, e o mau exemplo advém do
206
próprio Estado, as instituições públicas, ao invés de contribuir para aumentar a
transparência nas transações econômicas, acabam sendo responsáveis por
adicionar fricções que limitam a potencialidade do desenvolvimento.
No caso do Brasil, em particular, a insegurança institucional representa uma
característica marcante na relação do Estado com os agentes privados. É notório a
freqüência com que a Administração Pública atua no sentido de modificar ou
invalidar seus atos pretéritos e, o que é pior, com o apoio e a cobertura do sistema
judiciário. Suas ações incluem desde a quebra recorrente de contratos até as
constantes alterações nas regras tributárias.
25
Conforme se pode observar, nos
dados apresentados por La Porta et al (1998) (Tabela 21) que tratam da eficiência
da execução das regras legais, o Brasil destaca-se não só por apresentar um
elevado risco de expropriação, mas também, um elevado risco de repúdio aos
contratos, por parte do governo.
Com relação ao risco de expropriação por parte do governo, dos 49 países
analisados, o Brasil ocupa a 28ª posição no ranking, sendo que, numa escala entre
zero e dez, obtém nota 7,62. Embora não represente um caso extremo, esse
indicador revela um elevado risco de desrespeito à propriedade privada por parte do
governo. No total dos países considerados, o Brasil coloca-se pouco acima da média
dos países com origem na civil law francesa (7,46), porém muito abaixo da média
dos países com origem Germânica (9,45), Escandinava (9,66), e abaixo da média
dos países com origem na common law inglesa (7,91). Para citar alguns exemplos, o
desempenho do Brasil é pior do que países como Índia (7,75), Malásia (7,95) e
Singapura (9,3).
No que diz respeito ao risco de repúdio aos contratos por parte do governo,
o desempenho é ainda pior. O Brasil ocupa a 34ª posição no ranking, e obtém uma
nota muito baixa (6,3), ficando bem aquém da média dos países com origem
Germânica (9,47), Escandinava (9,44), e da common law inglesa (7,41). Com
relação a este critério, o Brasil coloca-se abaixo da média dos países com origem na
civil law francesa (6,84), grupo do qual faz parte, perdendo pelo Chile (6,8),
Colômbia (7,02), Egito (9,19) e Uruguai (7,29).
25
Conforme observam Pinheiro e Giambiagi (2006), é comum observar algum governador tentar
revogar o aumento de algum pedágio, alegando que o valor é inaceitável e/ou que tinha sido fixado
pelo governador anterior, ou ministros de estado se posicionando contra o reajuste de tarifas, previsto
em atos juridicamente perfeitos.
207
A falta de compromisso do governo com os acordos, por ele contratados,
torna as transações econômicas mais incertas e eleva os riscos e os custos de
realizar negócios. Ao se comportar de modo imprevisível o Estado cria o que
Pinheiro e Giambiagi (2006) denominam de “inconsistência dinâmica”, ou seja, cria
incertezas nas relações que exigem contrapartidas diferidas no tempo. O pior é que
este tipo de comportamento, por parte do Estado, tem sido endossado por um
sistema judiciário caracterizado pelo excesso de morosidade, pela parcialidade e
pela imprevisibilidade nas decisões. Uma vez que não existe estabilidade nas
relações constituídas pelo próprio Estado, sendo estas agravadas pelas incertezas
nas relações jurídicas, mais incertas e arriscadas tornam-se as relações
econômicas, já que as bases em que estas se calcam tornam-se mais vulneráveis,
seus efeitos mais difíceis de prever, e seus custos e benefícios mais complicados de
calcular.
Estas incertezas introduzem significativas restrições na economia, as quais
acabam penalizando principalmente as transações que envolvem contrapartidas
diferidas no tempo, como é o caso das operações realizadas no mercado de crédito.
Uma vez que as relações de empréstimo se fundamentam basicamente em
trocas intertemporais, o aumento da incerteza regulatória e jurídica compromete o
desenvolvimento do mercado de crédito (oferta de empréstimos), e aumenta os
custos nas transações (spreads) como forma de compensar riscos mais elevados.
Conforme já verificamos, tanto o baixo volume de crédito como os elevados spreads
cobrados nessas operações representam características marcantes da economia
brasileira. Quanto maior o risco de expropriação por parte do governo, menor tende
a ser a oferta de crédito privado como proporção do PIB em uma economia.
O Gráfico 10 mostra a relação entre o crédito privado como proporção do
PIB e o risco de expropriação, observa-se que quanto mais elevado a nota (índice)
obtida pelos países menor o risco de expropriação e, portanto, maior é a oferta de
crédito na economia.
208
-2
-1
0
1
2
5 6 7 8 9 10
Risco de Expropriação
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o
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B
Indicadores para Eficiência na Execão de Regras Legal
Gráfico 10 - Indicadores de Eficiência na Execução de Regras Legais –
Relação entre Crédito Privado / PIB e Risco de Expropriação
Fonte: Elaborado pelo Autor
Comportamento semelhante verifica-se com relação ao respeito de
contratos por parte do governo. Ou seja, quanto menor o comprometimento do
governo em honrar seus compromissos, menor tende a ser a oferta de crédito
privado como proporção do PIB (Gráfico 11).
-2
-1
0
1
2
4 5 6 7 8 9 10
Risco de Repúdio aos Contratos
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B
Indicadores para Eficiência da Execão de Regras Legal
Gráfico 11 - Indicadores de Eficiência na Execução de Regras Legais – Relação
entre Crédito Privado/PIB e Risco de Repúdio aos Contratos
Fonte: Elaborado pelo Autor
Crédito Privado / PIB Crédito Privado / PIB
209
Ambos os gráficos (10 e 11) demonstram uma correlações positivas entre
as variáveis que sinalizam a eficiência na execução de regras legais por parte do
governo (risco de expropriação e repúdio aos contratos) e o desenvolvimento no
mercado de crédito. O péssimo desempenho dessas variáveis, ao refletir ineficiência
na execução de regras legais, seguramente, contribui para explicar o baixo
desenvolvimento do mercado de crédito no Brasil.
Um outro indicador de grande relevância para determinação da eficiência da
execução de regras legais é o que avalia o nível de corrupção que contamina as
estruturas públicas, compreendendo o governo em suas três esferas (Federal,
Estadual e Municipal) e o judiciário.
Os índices apresentados por La Porta et al (1998) (Tabela 21) revelam que
o Brasil, mais uma vez, apresenta um indicador desfavorável no que se refere a
garantir a eficiência na execução de regras legais. No que diz respeito ao item
corrupção, o país obtém uma nota muito baixa (6,32), quando comparado às médias
dos demais países de diferentes origens legais, o que revela um alto nível de
corrupção contaminando a esfera governamental.
De forma equivalente, o índice de incidência de corrupção calculado pela
Transparência Internacional, numa escala entre zero e dez, atribui nota 3,7 para o
Brasil. Este índice é calculado desde 2001 e, o que chama a atenção, é a constante
deterioração que o Brasil vem apresentando ao longo do tempo. Em 2001 obteve
nota (4,0), em 2004 obteve (3,9) e, em 2005 obteve (3,7).
Como se pode verificar no Gráfico 12, dos 159 países analisados, o Brasil
ocupa a 63ª posição, situando-se no nível dos países que apresentam as piores
práticas com relação à percepção de corrupção no setor público.
210
Índice de Percepção de Corrupção - (CPI)
(Compreende 159 países)
0
0,5
1
1,5
2
2,5
3
3,5
4
4,5
5
5,5
6
6,5
7
7,5
8
8,5
9
9,5
10
Países
ìndice
Gráfico 12 - Índice de Percepção de Corrupção (CPI) – Compreende 159 Países
Fonte: Elaborado pelo Autor
O nível de corrupção, assim como os demais indicadores da eficiência de
execução das regras legais, promove significativo impacto sobre o desenvolvimento
do mercado de crédito de um país. Como é possível verificar no Gráfico 13, existe
uma correlação positiva entre o nível de corrupção e a oferta de crédito privado
como proporção do PIB. Países que apresentam alta incidência de corrupção ou,
equivalentemente, um baixo índice calculado pela Transparência Internacional,
apresentam fraco desenvolvimento nos seus mercados de crédito.
211
-1
0
1
2
3
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
Corrupção
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B
Indicadores para Eficncia de Execão de Regras Legais
Gráfico 13 - Indicadores de Eficiência de Execução de Regras Legais – Relação
entre Crédito Privado/PIB e Corrupção
Fonte: Elaborado pelo Autor.
Esses resultados sugerem que a elevada incidência de percepção da
corrupção no Brasil, na medida em que contribui para tornar menos eficiente o
sistema de execução de regras legais, representa um fator adicional para explicar o
baixo desenvolvimento observado no mercado de crédito.
As incertezas com relação ao comportamento do Estado (elevado risco de
expropriação e de repúdio aos contratos, por parte do governo), agravadas por um
intenso processo de corrupção, além de comprometer o desenvolvimento financeiro,
materializado em um fraco desempenho do mercado de crédito, desestimula o
investimento e o aumento da produtividade, e acaba comprometendo o crescimento
econômico.
Em decorrência da insegurança dos contratos e do funcionamento deficiente
do sistema judiciário, o bom tomador de crédito no Brasil arca com um custo
extraordinário, independente de seu histórico de crédito e de sua capacidade de
pagamento. Na prática, esse custo adicional é repartido por toda a sociedade, na
forma de aumento do spread e de encolhimento na oferta de crédito.
Crédito Privado/PIB
212
5.2.3 Estrutura Informacional
A abordagem econômica da informação, particularmente, no que diz
respeito aos reflexos sobre a estrutura de mercado financeiro e desempenho
econômico, também ganha destaque na literatura de “law and finance”. A informação
tem sido apontada como um dos elementos crucias na determinação da oferta de
crédito bem como do custo para obtê-lo (taxa de juros). Portanto, trata-se de um
tema de relevância para entender a conduta tanto dos tomadores de crédito como
dos credores.
Com relação aos credores, a informação ganha relevância na medida em
que a assimetria de informação e os problemas por ela gerados, de seleção adversa
e risco moral, promovem fricções no mercado de crédito. Isso demonstra que a
deficiência de um sistema informacional faz com que os credores não consigam
avaliar com eficácia as reais características dos tomadores de recursos.
26
Para os tomadores de empréstimo, a informação ganha relevância, por
conta do problema da dispersão das taxas de juros nas operações de crédito, e da
falta de transparência da precificação do crédito de acordo com as características
individuais do tomador, o que dificulta e torna custosa a realização do trabalho de
pesquisa para reunir as informações necessárias para a tomada de decisão. Há
ainda, particularmente no caso dos pequenos tomadores, os custos de mudança
(swithing-costs) que, no aspecto informacional, se devem ao desconhecimento, por
parte das instituições financeiras, das características do novo cliente, o que exige um
certo tempo de interação com o credor para serem determinadas. Os custos de
mudança representam situações em que os clientes estão presos (locked in) a suas
instituições bancárias, pela dificuldade de transferir para instituições competidoras
seu histórico cadastral e reputação. (CHU; SCHECHTMAN, 2003).
As evidências internacionais têm demonstrado que, quanto melhor for a
estrutura do sistema informacional disponível aos credores e aos tomadores de
empréstimos, melhores tendem a ser as condições de acesso ao crédito.
Tomando em conta o índice que mede regras que afetam a extensão,
acessibilidade e qualidade das informações de crédito que são disponibilizadas por
agências públicas ou privadas (bureaus of credit information BICs), em diferentes
26
Esse problema da incerteza com relação à qualidade do agente econômico é conhecido como
problema de identificação dos “lemons”, e foi primeiramente sugerido por Akerlof (1970).
213
países, verifica-se que, quanto melhor for o sistema de informação disponível, maior
tende a ser o acesso ao crédito por parte da população.
Isso pode ser constatado no Gráfico 14, onde é evidenciada a relação entre
o índice que mede a acessibilidade às informações de crédito e a oferta de crédito
privado como proporção do PIB, para 155 países. Para o cálculo do índice, seis
critérios são levados em conta, sendo que, cada um soma um ponto quando
satisfeito, destacando-se – a disponibilidade de informações de crédito positivas e
negativas referentes aos cadastros dos tomadores de empréstimos; a
disponibilidade e distribuição de dados referentes a empresas e indivíduos; a
disponibilidade de dados de varejistas, credores comerciais, bem como de
instituições financeiras; a disponibilidade de séries temporais de informação de
crédito, compreendendo mais de dois anos de dados históricos; a disponibilidade de
dados de empréstimos que superam 1% da renda per capta; e, lei que permite aos
tomadores de empréstimos terem o direito de acessar seus dados cadastrais.
(WORLD BANK, 2005).
0.0
0.4
0.8
1.2
1.6
0 1 2 3 4 5 6
Informação de Crédito (índice)
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v
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B
Eficiência do Sistema de Informação de Crédito e Acesso ao Crédito ao Redor do Mundo
Gráfico 14 - Relação entre Eficiência do Sistema de Informação de Crédito e
Acesso ao Crédito
Fonte: Elaborado pelo Autor.
A disponibilidade de um eficiente sistema de informação sobre os devedores
facilita o trabalho dos credores ao permitir com que consigam selecionar e
discriminar positivamente os tomadores de empréstimos, beneficiando aqueles que
apresentam melhores históricos com o cumprimento de suas obrigações mediante
Crédito Privado/PIB
214
maiores facilidades na obtenção de crédito e com preços (taxa de juros) mais
vantajosos, ou seja, cria uma ambiente favorável de acesso ao crédito ao reduzir o
problema de seleção adversa. Por outro lado, cria incentivos positivos em relação
àqueles que tendem a agir de forma irresponsável, ao desencorajar a inadimplência,
reduzindo assim, problemas de risco moral. O conteúdo, a qualidade e o grau de
acessibilidade dos credores às informações compreendem elementos fundamentais
desse processo.
Como é possível verificar na Tabela 25, onde se procura medir a cobertura,
a extensão, a qualidade e a acessibilidade de informações de crédito, o Brasil está
em uma posição relativamente boa em termos das informações (registros de créditos
públicos e privados) mantidas e divulgadas pelos bureaus de informação de crédito
(BICs), os quais são bem estabelecidos e contam com uma elevada cobertura.
Tabela 25 - Condições de Acessibilidade às Informações de Crédito
REGIÕES / ECONOMIAS
Cobertura dos Bureaus de Informação de Crédito (BICs)
(% da população adulta)
Informação de
Crédito
1
(Índice)
BICs Públicos
2
BICs Privados
3
Leste da Ásia e Pacífico 1.8 1.7 9.6
Europa e Ásia Central 2.5 1.4 6.6
América Latina e Caribe 4.5 11.5 31.2
Oriente Médio e África do Norte 2.0 1.9 1.7
OCDE - Alta Renda 5.0 7.5 59.0
África do Sul 1.8 0.1 0.6
África Subsaariana 1.5 0.8 3.5
Brasil 5 9.6 53.6
Chile 6 45.7 22.1
Colômbia 4 0.0 31.7
México 6 0.0 49.4
Venezuela 4 16.8 0.0
Argentina 6 22.1 95.0
Coréia do Sul 5 0.0 80.7
Indonésia 3 0.0 0.1
Tailândia 4 0.0 18.4
Malásia 6 33.7 0.0
Fonte: World Bank – Doing Business (2005).
(1) Este índice reflete as regras que afetam o escopo, a acessibilidade e a qualidade das informações de crédito disponíveis
nos bureaus de informação de crédito público e privado.
(2) Um registro de crédito público (BICs públicos) é definido como um banco de dados administrado pelo setor público,
normalmente pelo banco central ou o superintendência de bancos que colecionam informação sobre a capacidade de
pagamento de tomadores de empréstimos (pessoas ou empresas) no sistema financeiro e torna essas informações
disponíveis para instituições financeiras. O indicador de cobertura informa o número de indivíduos e empresas listado no
registro de crédito público com informação atual sobre história de reembolso, dívidas não pagadas. O número é expresso
como uma porcentagem da população de adulto. Se nenhum registro público operar, o valor de cobertura é 0.
(3) Uma agência de crédito privada (BICs privados) é definido como uma empresa privada ou organização sem fins
lucrativos que mantêm um banco de dados sobre a capacidade de pagamento dos tomadores de empréstimos (pessoas ou
empresas) no sistema financeiro, e facilita a troca de informação de crédito entre bancos e instituições financeiras. O
indicador de cobertura informa o número de indivíduos ou empresas listado pela agência de crédito privada com informação
atual sobre história de reembolso, dívidas não pagadas ou crédito excelente. O número é expresso como uma porcentagem
da população de adulto. Se nenhuma agência privada operar, o valor de cobertura é 0.
215
Porém, é necessário destacar que existem alguns problemas importantes
com relação à qualidade da informação a que os investidores (compreendendo
acionistas minoritários e credores) têm acesso, o que coloca significativos
obstáculos para o bom funcionamento do mercado financeiro brasileiro. Parte do
problema está relacionado à forma de operacionalização dos bureaus de
informações de crédito, e parte está relacionado a falhas nas regras de
transparência (disclosure) nos demonstrativos financeiros por parte das empresas,
especialmente as de capital fechado, e insuficiente fiscalização no cumprimento
dessas regras.
No que diz respeito à forma de operacionalização dos BICs, Pinheiro e
Moura (2001) chamam a atenção para o fato de esses terem concentrado
historicamente suas atividades em manter informações relativas a devedores
inadimplentes (informações negativas), e apenas enquanto eles permanecessem
nessa condição, funcionando mais como um mecanismo de estimulo (enforcement)
ao pagamento de dívidas em atraso. Ou seja, a função dos BICs era menos a de
informar os credores e mais a de estimular os tomadores a quitar suas dívidas, já
que o nome do mau pagador é apagado desses registros uma vez quitado o
pagamento.
27
A forma de atuação dos BICs no Brasil demonstra que, a ênfase era
sobre a execução da dívida e não sobre a criação de bancos de dados referente ao
histórico de pagamento do tomador (informações positivas).
Apesar de os BICs mais tradicionais terem em comum a ênfase sobre as
informações negativas e do fato de compartilharem algumas dessas informações,
eles diferem com relação à sua fonte de dados, à sua clientela e no grau em que
suas informações são atualizadas e abrangentes.
A relevância de um sistema de cadastro de crédito positivo para o
desenvolvimento do mercado financeiro fez com que, mais recentemente, alguns
BICs tenham voltado sua preocupação em construir cadastros de créditos positivos
de seus clientes, como é o caso Equifax, Fica, Relato, Crédit Bureau e Central de
27
Tradicionalmente, os BICs no Brasil concentraram suas atividades na manutenção de listas negras
sobre tomadores inadimplentes, essencialmente com o objetivo de enforcement, e os tomadores que
pagavam suas dívidas tinham seu nome retirado das listas – na prática, os BICs têm regras explícitas
que obrigam os participantes a retirar o nome do devedor desses registros em caso de pagamento da
dívida. Mesmo que os credores não cumpram estritamente essas regras, os BICs fornecem recursos
aos devedores para que eles o façam. E o tomador tem fortes incentivos para fazê-lo, já que a
inclusão do seu nome em qualquer uma dessas listas em geral é suficiente para excluí-lo do mercado
de crédito (PINHEIRO; MOURA, 2001).
216
Risco de Crédito. Isso significa um avanço, muito embora estes BICs ainda estejam
em um estágio inicial.
Outro obstáculo relevante, que impede o bom funcionamento do mercado
financeiro brasileiro, é identificado na falha das regras de transparência (disclosure)
nas demonstrações financeiras (padrões de contabilidade) por parte das empresas.
Conforme observam La Porta et al (1998), a qualidade das demonstrações
financeiras (padrão de contabilidade) de uma companhia desempenha um papel
crítico em governaça corporativa e, portanto, decisivo para explicar a diferença no
desenvolvimento do mercado financeiro em diferentes países. Para que o investidor
tenha conhecimento sobre as companhias em que desejam investir e segurança na
elaboração de contratos, deve existir um padrão mínimo de qualidade nas
demonstrações financeiras que tornem as informações transparentes e confiáveis.
Hay, Shleifer e Vishny (1996), considera que um padrão de contabilidade
eficiente pode ser necessário para a elaboração de contratos financeiros,
especialmente em circunstâncias em que o direito de investidores é fracamente
protegido.
A Tabela 26 contém o índice de qualidade dos padrões contábeis, o qual
serve como medida de disclosure. Como é possível verificar, a maior nota é obtida
pela Suécia (83 pontos) país pertencente ao grupo de origem legal escandinava os
quais apresentam a maior média de pontos (74). Na seqüência, estão os países com
origem na common law inglesa com média (69,62) e Germânica com média (62,67).
Por último, na escala de transparência nos padrões de contabilidade, encontram-se
os países com origem legal na civil law francesa, com a menor média (51,17), dentre
os quais, encontra-se o Brasil com (54) pontos. O Brasil encontra-se pouco acima da
média do grupo de países com origem na civil law francesa, o que demonstra uma
baixa qualidade de seus padrões contábeis.
217
Tabela 26 - Padrões Contábeis ao Redor do Mundo (Nota Máxima 90 Pontos)
Países
Avaliação do
Padrão de
Contabilidade
Países
Avaliação do
Padrão de
Contabilidade
Países
Avaliação do
Padrão de
Contabilidade
Origem Inglesa Origem Francesa Origem Germânica
Áustria 75 Argentina 45 Áustria 54
Canadá 74 Bélgica 61 Alemanha 62
Hong Kong 69 Brasil 54 Japão 65
Índia 57 Chile 52 Coréia do Sul 62
Israel 64 Colômbia 50 Suíça 68
Malásia 76 Egito 24 Taiwan 65
Nova Zelândia 70 França 69
Nigéria 59 Grécia 55 Média 62,67
Singapura 78 Itália 62
África do Sul 70 México 60
Tailândia 64 Países Baixos 64
Reino Unido 78 Peru 38
Estados Unidos 71 Filipinas 65 Origem Escandinávia
Portugal 36 Dinamarca 62
Espanha 64 Finlândia 77
Turquia 51 Noruega 74
Uruguai 31 Suécia 83
Venezuela 40
Média 69,62 Média 51,17 Média 74
Fonte: La Porta et al (1998, p. 48)
Nota: Este índice tem como fonte primária o Center for International Financial Analysis & Research. Ele é construído tomando em conta a
omissão ou inclusão, em demonstrativos financeiros e relatórios, de 90 itens considerados importantes para a transparência na
demonstração financeira (o índice tem por base 1990).
Conforme observam Pinheiro e Giambiagi (2006), o principal problema com
a qualidade da informação financeira no Brasil não está nas leis, mas na
parcialidade de sua aplicação, o que resulta do alto grau de informalidade que
impera no país. Segundo eles, as evidências demonstram que existem empresas
que preferem manter seu capital fechado, mesmo tendo que incorrer em custo de
financiamento maior, a ter de respeitar regras contábeis que limitam a sua habilidade
de “administrar” sua carga tributária. As pequenas e médias empresas, em
particular, seja por fazerem parte de uma extensa cadeia de atividades informais, em
que não se mantêm registros contábeis, seja pelo esforço de distorcer suas contas
de maneira a pagar menos impostos, não tem como oferecer aos seus financiadores
dados confiáveis para que possam avaliar o risco de nelas investir. Para essas
empresas, o custo de oportunidade tributário parece ser uma barreira fundamental à
manutenção de uma contabilidade transparente, o que se constitui num obstáculo
para o acesso ao mercado de crédito.
Conforme demonstra o Gráfico 15, existe uma relação positiva entre o
padrão de contabilidade de um país e o acesso ao credito privado como proporção
do PIB. Isso sugere que, a baixa qualidade no padrão de contabilidade das
empresas brasileiras contribui para explicar sua dificuldade de acesso ao mercado
de crédito, bem como, o baixo desenvolvimento do mercado de crédito no Brasil.
218
0.0
0.4
0.8
1.2
1.6
20 30 40 50 60 70 80 90
Padrão de Contabilidade (Índice)
C
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i
t
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P
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o
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P
I
B
Qualidade dos Padrões de Contabilidade e Acesso ao Crédito ao Redor do Mundo
Gráfico 15 - Relação entre Padrões de Contabilidade e Acesso ao Crédito
Fonte: Elaborado pelo Autor
A deficiência da estrutura informacional no Brasil, proveniente do fato de os
BICs terem, tradicionalmente, concentrado suas atividades tomando como referência
as informações restritivas sobre os tomadores de crédito, e devido a deficiência nos
padrões de demonstrações financeiras (padrão de contabilidade), dificultam o
acesso das empresas (particularmente as pequenas e médias) ao mercado de
capitais. Desse modo, além de justificar o fraco desempenho do mercado de
capitais, os problemas informacionais contribuem para explicar o elevado grau de
dependência das pequenas e médias empresas de empréstimos bancários, bem
como, o elevado grau de segmentação no mercado de crédito.
Segundo análise desenvolvida por Pinheiro e Moura (2001), as práticas
contábeis deficientes e a alta sonegação fiscal fazem com que o relacionamento
bancário seja uma das principais fontes de informações sobre um amplo espectro de
tomadores de empréstimos, ou seja, grande parte das informações relevantes sobre
a capacidade de obtenção de crédito é privativa dos bancos. Neste ambiente, os
mercados de crédito tendem a se fragmentar em segmentos com diferentes
características relativas às taxas de juros e ao tamanho médio do empréstimo.
Sendo assim, sugerem que, quanto mais difusa a sonegação fiscal e mais obscuras
as informações publicamente disponíveis, maior tenderá a ser a fatia de crédito
canalizado por segmentos de mercado não competitivos, onde os bancos exploram
seu monopólio de informações para extrair renda dos tomadores, restringindo a
Crédito Privado/PIB
219
oferta de empréstimos e cobrando taxas de juros acima daquelas que prevaleceriam
em um contexto de informação simétrica.
Os dados e a análise da capacidade de obtenção de crédito do tomador,
coletados por sistemas de informação de gerenciamento, desenvolvidos
internamente pelos bancos, permanecem privativos do banco e não são
compartilhados com bureaus de informação de crédito. Assim, nesse segmento de
mercado, a seleção adversa faz com que os melhores clientes acabem sendo
“informacionalmente capturados” pelos bancos, criando altos custos de
transferência. Em um mercado de crédito tão segmentado, o papel dos BICs
privados acabam limitando-se essencialmente ao fornecimento de informações
negativas sobre os tomadores, cujo maior objetivo acaba sendo o de fomentar o
pagamento da dívida.
Em termos gerais, pode-se concluir que os problemas informacionais
apresentam uma parcela significativa de responsabilidade para o fraco desempenho
do mercado financeiro brasileiro, o qual é caracterizado por um mercado de capital
incipiente, baixa oferta de crédito como proporção do PIB, elevada segmentação do
mercado de crédito, elevadas taxas de juros e spread bancários nas operações de
empréstimos.
5.3 CONSIDERAÇÕES FINAIS
No que diz respeito à importância da proteção do direito de propriedade,
podemos destacar os argumentos apresentados por De Soto (2001) em sua obra
intitulada “O Mistério do Capital”. O autor chama a atenção para o elevado valor dos
ativos detidos pelos pobres do mundo subdesenvolvido ou em desenvolvimento, e
analisa como a falta de documentação e identificação desses ativos, que os tornem
legais e, portanto, capazes de securitização ou de serem utilizados como garantia
em operações de crédito, os torna “capital morto” no sentido de que sua contribuição
para a economia é relativamente pequena, ficando restrita aos serviços diretos que
advêm de sua posse. O autor contrasta esta situação com a dos ativos detidos por
indivíduos e empresas em países ricos, em que não apenas a posse, mas também a
sua propriedade é bem definida, permitindo explorar todo o potencial contido nesse
capital. É a boa definição dos direitos de propriedade nos países desenvolvidos, e
220
daí a capacidade de explorar todo o potencial do capital por eles detidos, que os
permitiu alcançar a riqueza e a prosperidade de que gozam atualmente.
Conforme observa De Soto (2001) é a propriedade e a garantia de sua
proteção que consegue extrair o potencial abstrato contido no capital e o fixa em
representação que nos permite ir além daquilo que representa seu mero uso
passivo. A contribuição da propriedade formal para a humanidade não é a proteção
da posse em si, mas o fluxo de comunicação sobre a qualidade dos ativos e de seus
proprietários que ela propicia. Tornando os ativos fungíveis – capazes de serem
divididos, combinados, mobilizados para servirem a qualquer transação – ligando os
proprietários aos ativos, os ativos aos endereços, a posse ao compromisso, e
tornando as informações da história dos ativos e seus donos facilmente acessíveis,
os sistemas formais de propriedade convertem os cidadãos em uma rede de
indivíduos identificáveis e agentes de negócios responsáveis. O processo formal de
propriedade cria toda uma infra-estrutura de dispositivos de conexão que, permitem
aos ativos correrem com segurança entre as pessoas.
Um bem integrado sistema de propriedade legal, em essência, tem duas
funções: primeiro, reduz tremendamente os custos de sabermos as reais qualidades
econômicas dos ativos, representando-os de uma forma que nossos sentidos logo
compreendem; e segundo, facilita a capacidade de implementação de acordos que
permitam usar ativos para criar produção adicional e aumentar a divisão de trabalho.
A genialidade ocidental foi a de ter criado um sistema que permitiu às pessoas
compreenderem com a mente valores que os olhos humanos nunca poderiam ver, e
manipular coisas que as mãos nunca poderiam tocar. (DE SOTO, 2001, p. 79).
Duas conclusões importantes podem ser extraídas da obra de De Soto
(2001), no que diz respeito aos efeitos da proteção do direito de propriedade sobre o
processo de desenvolvimento econômico. Primeiro, que a má definição dos direitos
de propriedade reduz a contribuição do capital detido por um país para o seu
crescimento econômico, reduzindo a liquidez dos ativos e aumentando o risco
envolvido no investimento. Segundo, como em geral, são os ativos das classes
menos favorecidas aquelas para os quais a propriedade é menos bem definida, é
exatamente a parcela mais pobre da sociedade a que menos benefício é capaz de
extrair de seus ativos, o que reduz a sua capacidade de sair do estado de pobreza.
Em termos gerais, a má definição e a deficiência na proteção do direito de
propriedade pode tornar alguns tipos de investimentos e transações comerciais e
221
financeiras extremamente difíceis ou, no limite, praticamente inviáveis, contribuindo
para a baixa escala de produção, lento crescimento da produtividade e firmas
ineficientes, incapazes de sobreviver na ausência de proteção comercial e à entrada
de concorrentes. Este representa um quadro característico da economia latino
americana em geral, e da brasileira em particular.
Recentemente, na tentativa de perseguir os padrões de progresso
econômico apresentado pelas economias desenvolvidas, procurou-se imitar as
condições de vida nessas economias, promovendo a estabilização monetária, a
abertura de mercados, a privatização de empresas, a reestruturação do sistema
financeiro, dentro do que foi denominado “reformas macroeconômicas e de ajuste
estrutural”. Porém, as verdadeiras razões para a riqueza apresentada pelas
economias desenvolvidas podem estar em terreno muito pouco ou ainda não
explorado, ou seja, nos aspectos institucionais que regulam as relações econômicas
entre os indivíduos, principalmente, aquelas que estão relacionadas aos direitos de
propriedade privada, geralmente chamadas de reformas microeconômicas ou de
segunda geração.
Se considerarmos a existência de dois tipos de riscos, ou seja, o risco de
natureza macroeconômica (muito ligado aos desequilíbrios estruturais do sistema), e
o risco de natureza institucional ou regulatória (relativo à incerteza sobre as regras
estabelecidas pelo Estado e ao seu efetivo cumprimento, tanto no que tange às
relações deste com os agentes privados como nas transações entre estes), pode-se
dizer que muito se avançou, em termos de reformas para tentar reduzir o primeiro
tipo de risco, porém ainda persistem sérios problemas vinculados ao segundo tipo
(incertezas institucionais) que, com certeza, acaba sendo o grande calcanhar de
Aquiles para o desenvolvimento do mercado financeiro e, por conseguinte, para o
desenvolvimento econômico.
Tomando em conta os aspectos considerados pela literatura de law and
finance para analisar o grau de proteção concedida ao direito de propriedade dos
acionistas minoritários no Brasil – tais como, a disponibilidade da regra que
determina “uma ação um voto”; os direitos que são assegurados aos pequenos
acionistas contra a interferência e domínio dos insiders, os denominados “direitos
anti-diretores”; e, a concentração da propriedade acionária – observa-se que as
evidências confirmam a fraca proteção assegurada aos direitos dos acionistas
minoritários. Por conta disso, é razoável supor que os efeitos sejam sentidos pelo
222
mercado acionário, o qual é marcado por um baixo grau de desenvolvimento,
característica dominante entre os países que asseguram fraca proteção aos
acionistas minoritários. Trata-se de um sintoma comum entre os países cuja origem
legal deriva da civil law francesa, como é o caso do Brasil.
Conforme averiguamos, o mercado de capitais brasileiro apresenta como
principais características: baixa capitalização; inexpressivo volume de transações;
poucas emissões primárias de ações; reduzido número de companhias abertas; alta
concentração das transações em poucas ações; alta concentração da propriedade
das corporações ou da parcela possuída pelo maior acionista; e, baixa liquidez.
O Brasil dispõe de um mercado acionário tradicional com regras de
governança corporativa muito fracas, o qual atribui baixa proteção aos direitos de
propriedade para acionistas minoritários. Não obstante os esforços concentrados na
busca de alternativas que visam suprir as deficiências apresentadas pelo mercado
tradicional, e dar mais transparência ao mercado e maior grau de proteção aos
acionistas minoritários como é o caso da criação de níveis de governança
corporativa alternativos (Nível 1, Nível 2 e Novo Mercado), por conta do elevado
nível de exigibilidades que são impostos, infligem significativos limites quanto ao tipo
de empresas que podem ter acesso a esses mercados, dificultando a proliferação de
práticas de governança corporativa que justifiquem um desenvolvimento do mercado
de capitais nos moldes que se deseja e num espaço de tempo razoável.
28
Isso sugere que, a pobre proteção do direito de acionistas minoritários além
de difícil torna custoso para as companhias levantar fundos no mercado acionário,
dado o desinteresse e o alto grau de risco envolvido nesse tipo de operação. A fraca
proteção concedida aos pequenos acionistas, na medida em que exacerba os
problemas de agência, acaba contribuindo para justificar, não só o desenvolvimento
incipiente do mercado de capitais, mas também, a necessidade de se buscar fontes
alternativas para o financiamento das empresas, como é o caso dos empréstimos
28
Esses instrumentos de governança corporativa que visam garantir maior grau de proteção aos
direitos dos acionistas minoritários forma introduzidos pela Bovespa através da criação de níveis de
governança corporativa alternativos, aos quais as empresas poderiam aderir para sinalizar maior grau
de transparência em suas atividades. Com esse intuito, foram estabelecidos quatro mercados, onde
as empresas dispõem da liberdade para escolher em qual deles pretendem atuar, se desejam
sinalizar maior grau de solidez e transparência aos investidores. Estes compreendem: o mercado
tradicional, regido por regras clássicas; o Nível 1, Nível 2 e Novo Mercado, regidos pelas novas
regras estabelecidas pela bovespa (cada um desses representando um selo de qualidade para o
mercado acionário). De acordo com Carvalho (2002), a conveniência para cada empresa de aderir ou
não às novas categorias, em particular ao novo mercado, depende do balanço que elas fazem em
relação aos custos e benefícios que deverão enfrentar.
223
bancários. Uma vez que o mercado de capitais brasileiro não constitui um substituto
perfeito para o financiamento externo das firmas, contribui para explicar a enorme
dependência, da maior parte das empresas brasileiras (particularmente as de
pequeno e médio porte), dos créditos bancários como principal fonte de recursos
externos para o financiamento de seus projetos de produção, expansão e, inovações
tecnológicas e administrativas.
Tomando em conta os critérios considerados pela literatura de law and
finance, que visam minimizar problemas informacionais no mercado de crédito, e
assegurar proteção aos direitos dos credores baseados na legislação falimentar,
observa-se que, para o caso do Brasil, a lei de falências tem sido considerada
responsável pelas distorções introduzidas na economia, e uma das principais causas
do baixo volume e do elevado custo do crédito, devido à baixa proteção que confere
ao direito dos credores.
Dentre as principais limitações apresentadas pelo sistema brasileiro de
resolução de insolvência corporativa, destacam-se: o excesso de rigidez; a
incapacidade de oferecer condições para a recuperação de empresas viáveis em
estado de insolvência financeira; o excesso de burocracia no processo de liquidação
de empresas; o comprometimento dos proventos da massa falida devido ao
afastamento dos credores, que são os agentes mais aptos para conduzir o processo
de liquidação; e, a dificuldade de obtenção de crédito pelas empresas.
A legislação falimentar brasileira, regida pelo Decreto Lei 7661 de 21 de
junho de 1945, introduzia um elevado grau de risco nas operações de crédito dos
bancos (principal fonte de financiamento para a economia brasileira), uma vez que,
estabelecia critérios que privilegiavam os interesses dos devedores em detrimento
dos interesses dos credores.
Por conta destas limitações, o sistema brasileiro de resolução de
insolvência, ao não assegurar a devida proteção ao direito de propriedade dos
credores, contribui para aprofundar a assimetria de informações no mercado
financeiro e os problemas de seleção adversa e risco moral por ela gerados e,
portanto, para justificar o ambiente altamente desfavorável para a expansão do
mercado de crédito no Brasil.
Além das restrições impostas pela legislação falimentar, soma-se, a elevada
deficiência na execução das regras legais, sendo estas entendidas como: a
ineficiência do judiciário, consolidada na morosidade das decisões, no elevado custo
224
de uso e acesso à justiça, e no alto risco embutido na falta de imparcialidade e
previsibilidade das decisões judiciais; as incertezas com relação ao comportamento
do Estado, consolidada no elevado risco de expropriação e de repúdio aos contratos
por parte do governo, agravadas por um intenso processo de corrupção. Além disso,
as deficiências na estrutura informacional, refletida na falta de transparência e
qualidade nos padrões de demonstrações financeiras das empresas, contribuem
para colocar obstáculos adicionais ao desenvolvimento no mercado de crédito.
As discrepâncias observadas nas estruturas institucionais na economia
brasileira no período recente, uma vez que contribuem para geração e exacerbação
de problemas de assimetria de informação, tornam as relações econômicas mais
difíceis. Assim sendo, contribuem para explicar importantes padrões de
comportamento na economia, padrões estes que podem ser mantidos por longo
período de tempo introduzindo significativas distorções na eficiência do sistema, e
criando rigidez para o desenvolvimento e modernização das estruturas que, por sua
vez, comprometem o desenvolvimento econômico.
Em geral, as evidências encontradas para o Brasil sugerem que a pobre
proteção dos direitos de propriedade dos acionistas e credores assegurada pela lei e
a pobre execução das regras legais, somadas a falta de transparência de um
sistema informacional (padrão de demonstrações financeiras), podem ser apontadas
como responsáveis pelo baixo desenvolvimento do mercado financeiro brasileiro,
sendo este entendido pela existência de um mercado de capitais incipiente (o qual
não representa um substituto perfeito para a obtenção de recursos) e um mercado
de crédito muito pouco desenvolvido (o qual representa a principal fonte de
financiamento para as empresas, especialmente para as de pequeno e médio porte).
As evidências são favoráveis ao argumento apresentado pela literatura de
law and finance de que a fragilidade nas estruturas legais de um país, ao garantir
baixa proteção aos direitos de propriedade dos credores, comprometem seu
desenvolvimento financeiro, por conta da elevada assimetria de informações que
introduz no mercado.
As características do ambiente institucional que regulam as relações no
mercado financeiro brasileiro contribuem para que as empresas tornem-se altamente
dependentes dos bancos como principal fonte de financiamento, uma vez que o
mercado de capitais representa um substituto imperfeito aos empréstimos bancários.
225
Isto sugere que, os bancos desempenham um papel de destaque na economia
brasileira, uma vez que representam a principal fonte de recursos para as empresas.
Assim sendo, embora o mercado de crédito mostra-se muito pouco
desenvolvido, por dispor de estruturas institucionais deficientes e, por conseguinte,
de um mercado de crédito altamente contaminado por assimetria de informações
sujeito aos graves problemas que dela podem surgir (de seleção adversa e risco
moral), os empréstimos bancários podem representar um importante canal através
do qual a política monetária pode ser transmitida, na medida em que pode contribuir
para potencializar os efeitos de um choque de política monetária sobre a atividade
produtiva. Tomando em conta esta proposição, o próximo capítulo consiste em
investigar se as evidências empíricas mostram-se consistentes com estes
argumentos teóricos.
226
6 O MECANISMO DE TRANSMISSÃO DA POLÍTICA MONETÁRIA – EVIDÊNCIAS
EMPÍRICAS PARA O CANAL DO EMPRÉSTIMO BANCÁRIO NO BRASIL
Neste capítulo procuramos investigar a relevância empírica do canal do
empréstimo bancário no Brasil. Isso será feito supondo que as características
institucionais adversas apresentadas pelo sistema legal brasileiro, ao contribuírem
para a geração de problemas informacionais no sistema colaboram para a
introdução de fricções no mercado de crédito e de capitais interferindo na eficiência
de seu funcionamento e, conseqüentemente, na formação da estrutura de sua
intermediação financeira, por conseguinte, tais características tendem a colaborar
para tornar relevante o canal do empréstimo bancário enquanto um canal adicional
através do qual a política monetário pode ser transmitida.
Adotamos, como referência para a análise, os argumentos teóricos
apresentados pela literatura do “canal do crédito” e pela literatura de law and
finance, e a predições que delas derivam de que a estrutura legal, a estrutura
financeira, e o mecanismo de transmissão da política monetária estão interligados.
Conforme sugerem essas literaturas, países que oferecem uma fraca proteção legal
para investidores geralmente dispõem de estruturas financeiras (mercado de crédito
e de capitais) pouco desenvolvidas, ou seja, apresentam mercados de capitais
incipientes que não representam substitutos perfeitos para o financiamento das
firmas, e um mercado de crédito pouco desenvolvido que acaba representando a
principal fonte externa de financiamento, tornando a dependência das empresas por
empréstimos bancários relativamente mais elevada.
Em países que apresentam tais características, como é o caso do Brasil,
supõe-se que o grau de assimetria de informação no mercado financeiro é mais
elevado e, portanto, o mecanismo de transmissão da política monetária via canal do
empréstimo bancário tende a ser mais intenso, ou seja, o efeito do impacto de
mudanças nas taxas de juros sobre o mercado de crédito e, conseqüentemente,
sobre o produto tende a ser potencializado.
Uma vez que o canal do empréstimo bancário para a transmissão da política
monetária se concentra no efeito potencial que um choque de política monetária
exerce sobre a oferta de empréstimo dos bancos, a possibilidade de administrar os
efeitos da política monetária depende crucialmente da dimensão e da organização
do setor bancário, da estrutura institucional e regulatória, do grau de
227
aprofundamento do mercado financeiro (Financial deep), e do grau de dependência
relativa das empresas de empréstimos bancários e do mercado de capitais como
fonte externa de financiamento, bem como, da forma com que é feita a alocação do
crédito entre grupos de investidores e de como essa alocação e o montante do
crédito respondem a choques de política.
Tomando em conta esses argumentos, procuraremos testar a relevância
empírica do canal do empréstimo bancário para o Brasil. A análise será desenvolvida
em duas etapas:
Num primeiro momento, com o intuito de dirimir a controvérsia estabelecida
com relação ao papel desempenhado pelos bancos na atividade econômica,
procuraremos examinar a forma com que os balanços patrimoniais dos bancos
reagem aos choques de política monetária, ou seja, investigaremos se a política
monetária afeta o balanço dos bancos através de seus passivos, de seus ativos ou
de ambos. Nesse primeiro estágio, tem-se como principal propósito verificar se a
política monetária produz efeitos apenas no lado do passivo dos bancos, conforme
sugere a literatura tradicional, sem nenhuma implicação sobre o lado do ativo do
balanço patrimonial, ou se também interfere no lado do ativo do balanço,
particularmente, sobre as decisões dos bancos em conceder empréstimos, conforme
sugere a moderna visão do crédito.
Num segundo momento, procuramos identificar o impacto da política
monetária sobre a atividade produtiva agregada, bem como, sobre setores
produtivos específicos. O principal propósito é identificar não só a relevância do
canal do crédito (empréstimo bancário) na transmissão da política monetária em
nível agregado, mas também, sobre diferentes segmentos produtivos, dado o distinto
grau de dependência, por eles apresentado, de financiamento via empréstimos
bancários. Espera-se que estes efeitos, além de relevantes, mostrem-se mais
expressivo em setores de produção onde o grau de dependência de empréstimos
bancários seja mais significativo, onde se supõe que os problemas de fricções
informacionais gerados por fragilidades institucionais sejam mais intensos.
6.1 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS PARA A ANÁLISE EMPÍRICA
A dificuldade em precisar o caminho exato trilhado pelo impulso monetário,
desde quando é aplicado à economia até o instante em que faz sentir seus efeitos
228
sobre os agregados reais, põe em cheque o tradicional emprego do modelo
estrutural na realização de investigações empíricas, por demandar previamente um
embasamento teórico correto que sustente a especificação escolhida. Uma crítica
apresentada com relação a esta abordagem, é que inferências extraídas de modelos
estruturais são altamente sensíveis à escolha da especificação e às suposições de
identificação para o instrumento de política monetária.
Para contornar o problema, a maior parte dos estudos que se tem
debruçado em investigar questões relativas ao mecanismo de transmissão de
política monetária, em particular, o mecanismo de transmissão via canal do crédito,
têm recorrido ao emprego de Vetores Auto-Regressivos (VAR), o qual tem se
mostrado um instrumento hábil para avaliação empírica, conforme averiguamos ao
analisar as evidências para o canal do crédito no capitulo 2. Modelos VAR são
amplamente empregados em análises empíricas de questões relacionadas à política
monetária por apresentarem a faculdade de não demandarem uma especificação
prévia da estrutura da economia. A abordagem VAR, muito embora possa ter uma
natureza de “caixa preta”, conforme rotulam Bernanke e Gertler (1995), por não
envolver interpretação econômica dos relacionamentos entre as variáveis nela
descritas, revela-se particularmente útil quando o objetivo primário da investigação
empírica é o de derivar unicamente as interdependências estatísticas dinâmicas
entre um conjunto de variáveis e suas inovações.
Uma questão fundamental que se apresenta no emprego da técnica da
auto-regressão vetorial, para avaliação empírica do mecanismo de transmissão de
política monetária, é a identificação apropriada dos choques monetários exógenos.
Sabe-se que uma ação de política monetária pode decorrer, por um lado, de uma
reação endógena da autoridade monetária às variações contemporâneas nas
variáveis econômicas que compõem sua função de reação. Por outro lado, a
execução da política monetária pode ter caráter estritamente exógeno, refletido uma
ação de política que independe das variações contemporâneas dessas mesmas
variáveis. Para a avaliação empírica dos efeitos reais de transmissão de política
monetária, apenas este último tipo de choque monetário constitui objeto de
interesse, por contemplar uma atitude ativa da autoridade monetária, em
contraposição à sua passividade no primeiro caso.
Sendo assim, uma alternativa é tentar isolar uma medida eficiente que
possa ser utilizada como um instrumento de política monetária. Isto é, que seja
229
possível encontrar uma variável cuja porção sistemática possa depender, em
qualquer modelo arbitrário, de variáveis econômicas defasadas, e que inovações em
seu comportamento possam ser interpretadas como um “choque de política”. Além
disso, devido à existência de defasagens informacionais deve-se supor que esta
medida de “choque de política” seja independente de distúrbios econômicos
contemporâneos. Assim, a resposta da economia aos choques de política poderia
medir corretamente o efeito estrutural dinâmico de uma efetiva mudança na política
monetária.
Diagnosticado o tipo de ação de política monetária que é relevante para o
estudo, o próximo passo é determinar a técnica que permita separar corretamente,
dentre as ações tomadas pela autoridade monetária, aquelas que tenham natureza
estritamente exógena, daquelas que decorram simplesmente de reações endógenas
do Banco Central aos acontecimentos correntes na economia.
Alguns autores buscam identificar os choques de política monetária através
da análise de dados históricos para detectar os momentos exatos em que houve
alterações significativas propositais na condução da política monetária. É o caso, por
exemplo, do trabalho de Romer e Romer (1989), que recorreu às minutas dos
encontros do Comitê Federal do Mercado Aberto (FOMC) para precisar as datas em
que a condução da política monetária norte-americana tornara-se claramente
restritiva. A abordagem histórica, como comumente é referida, apesar de bastante
interessante, apresenta o inconveniente de as medidas dos choques serem apenas
qualitativas, não refletindo sua intensidade relativa. Além disso, somente poucos
episódios de alterações significativas na condução da política monetária são
detectáveis através do emprego desta metodologia.
Uma outra forma de identificar os choques monetários consiste em derivá-
los do próprio sistema VAR, através da imposição de restrições apropriadas,
conforme sugere Bernanke (1986).
Para entender o processo vamos tratá-lo de forma mais específica,
pensando a economia como sendo representada por um modelo estrutural geral,
com a seguinte representação:
tttttt
uXCXCYBYBY
+
+
+
+
=
110110
(6.1)
230
ttttt
GXDYYDX
η
+
+
+
=
110
(6.2)
onde
t
Y é um vetor (n x 1) de variáveis econômicas de interesse (não-políticas), e
t
X
é um vetor de variáveis de políticas e
t
e
η
t
u são distúrbios ortogonais. Esta
técnica considera que o comportamento, no período t de cada uma das n variáveis
do vetor
t
Y e
t
X , objeto da estimação, são explicadas pela combinação dos efeitos
das variáveis de interesse no período t e de seus valores defasados t-i, ou seja, a
estrutura do sistema incorpora feedback desde que permite com que as variáveis se
inter-relacionem contemporaneamente. É importante destacar que, em função das
variáveis endógenas integrarem o conjunto das variáveis explicativas, ou seja,
devido ao efeito feedback inerente ao sistema, as equações (6.1) e (6.2) são
obviamente não identificadas. A razão para isso é que
t
Y é correlacionado com o
termo de erro
t
η
e
t
X é correlacionado com o termo de erro
t
u , não sendo possível
estimá-lo, uma vez que a técnica de estimação padrão (Ordinary Least Square
OLS) requer que os regressores sejam não correlacionados com o termo de erro.
Portanto, duas estratégias para a identificação podem ser utilizadas.
Pode-se excluir
t
Y de (6.2), o que significa assumir que não existe relações
de feedback na economia para as ações de política monetária dentro do período. Se
0
0
=D , é possível converter o sistema em um vetor auto-regressivo padrão
substituindo (6.2) em (6.1) e resolvendo para
t
Y , obtendo-se:
tttt
GXDYX
η
+
+
=
11
(6.3)
])()[()(
0110101
1
0 ttttt
CuXCGCYDCBBIY
η
+++++=
(6.4)
Como é possível constatar, os efeitos de inovações de política sobre as
demais variáveis econômicas de interesse podem ser identificadas de forma explicita
através de funções de resposta a impulso de
t
Y às mudanças passadas em
t
η
através de um VAR não restrito constituído por (6.3) e (6.4), com X vindo primeiro no
ordenamento.
231
Um processo de identificação alternativa supõe que X contemporâneos não
entram na equação (6.1), isto é 0
0
=
C , tal que, as ações de políticas afetam as
variáveis reais somente com defasagens. Neste caso, um VAR apropriado coloca X
por último no ordenamento, como segue:
][)(
1111
1
0 tttt
uXCYBBIY ++=
(6.3’)
ttttt
uBIDXCBIDGYBBIDDX
1
0011
1
0011
1
00
)(])([])([
+++++=
η
(6.4’)
Nesta simulação alternativa,
t
η
continua representando uma inovação de
política, porém,
t
X também é afetado por choques contemporâneos nas demais
variáveis
t
u .
Esta representação simplificada desenvolvida por Bernanke e Blinder
(1992), demonstra como é possível separar a componente sistemática da
componente não sistemática para a regra de política monetária, e entender como
mudanças nessa última pode efetivamente interferir no comportamento das demais
variáveis econômicas de interesse. Com base nestas demonstrações sugerem que
se o indicador de política é independente dos choques econômicos
contemporâneos, não há necessidade de se desenvolver um modelo estrutural
explícito para estudar os efeitos de política, sendo que, as respostas das variáveis
econômicas na forma reduzida representam um instrumento satisfatório para medir
os efeitos genuínos de política.
Assim sendo, partiremos de um modelo estrutural genérico representado
por:
t
p
i
ititt
YBYBCY
ε
+++=
=
1
0
(6.5)
em que
t
Y é um vetor (n x 1) de variáveis econômicas de interesse no instante t; C é
um vetor (n x 1) de constantes;
i
B , com i= 0,....,p uma matriz (n x n) de coeficientes;
e,
t
ε
um vetor (n x 1) de choques estruturais que se deseja identificar, cujas
características são: i) média zero 0)(
=
t
E
ε
; ii) ausência de autocorrelação serial
232
) (t com 0),(
'
τεε
τ
=
t
E ; e, matriz de variância-covariância na forma de identidade de
dimensões (n x n)
ttt
IE =),(
'
εε
.
Sua representação na forma reduzida é dada por:
][][
1
1
0 t
p
i
itit
YBCBIY
ε
++=
=
(6.6)
fazendo,
11
0
][
= BBI ; CBA
1
0
= ;
ii
BBA
1
= ; e,
tt
Bv
ε
1
= , podemos reescrever a
equação (6.6) na forma padrão como segue;
t
p
i
itit
vYAAY ++=
=
1
0
(6.7)
onde
t
v é um vetor (n x 1) de termos aleatórios que apresenta média zero, variância
constante, e são individualmente serialmente não correlacionados, isto é,
),0.(..~ Ωdiiv
i
, em que Ω é uma matriz (n x n) de variância-covariância dos erros.
Uma vez que em um VAR padrão as variáveis explicativas são
contemporaneamente dissociadas das variáveis que serão estimadas, cada equação
no sistema pode ser obtida utilizando-se Ordinary Least Square (OLS).
Observe-se que, diferentemente do que ocorre na forma estrutural (equação
6.5), onde o termo de erro
t
ε
é provido de interpretação econômica, na forma
reduzida (equação 6.7) o vetor de choques econômicos subjacentes
t
v representa
simplesmente uma inovação, desprovido de significado econômico. O
relacionamento entre os dois termos de distúrbios é estabelecido por
tt
Bv
ε
1
= ,
onde
1
0
1
][
= BIB representa a matriz de impactos contemporâneos.
O modelo VAR na forma estrutural original e reduzida admite sua
representação na forma de um Vetor de Médias Móveis (VMA), onde as variáveis
podem ser expressas em termos de choques correntes e passados, conforme
demonstra a equação que segue:
it
i
i
t
vAcY
=
+=
0
1
(6.8)
233
A representação em VMA é uma característica essencial da metodologia
adotada por Sims (1980), uma vez que esta permite traçar o caminho no tempo de
vários choques nas variáveis que compõem o sistema VAR. Dada a relação que se
estabelece entre
t
ε
e
t
v a equação (6.8) pode ser reescrita da seguinte forma:
=
+=
0
1
01
][
i
it
i
t
BIAcY
ε
(6.9)
fazendo
i
i
BIA
φ
=
1
01
][ podemos reescrever a equação (6.9) como segue:
=
+=
0i
itit
cY
εφ
(6.10)
A equação (6.10) nada mais é do que a função de resposta a impulso aos choques
primitivos estruturais
t
ε
, onde os coeficientes
i
φ
representam as repostas aos
choques ou inovações em determinada variável de interesse.
Essa formalização também permite determinar as propriedades dos erros de
previsão em termos da seqüência de choques primitivos estruturais
t
ε
, de modo que
o erro de previsão “m” períodos a frente (
mttmt
YEY
++
) pode ser determinado por:
=
+++
=
1
0
m
i
imtimttmt
YEY
εφ
(6.11)
A partir da equação (6.11), é possível identificar a variância do erro de
previsão “m” períodos à frente
2
)(m
Y
σ
, para cada uma das variáveis de interesse
que compõe o sistema (vetor Y). Tomando como exemplo um vetor composto pelas
variáveis X e Z, a variância do erro de previsão para cada uma delas é dada por:
2
1
1
22
1
1
22
)()()( iim
m
i
ijZ
m
i
ijXX
=
=
+=
φσφσσ
e, (6.12)
2
1
1
22
1
1
22
)()()( iim
m
i
ijZ
m
i
ijXZ
=
=
+=
φσφσσ
234
A partir de (6.12) é possível decompor a variância do erro de previsão “m”
passos a frente, identificando a proporção dos movimentos na seqüência da
variância dos erros que pode ser atribuída a cada um dos choques primitivos
Zt
e
ε
ε
Xt
sobre as variáveis X e Z. Assim, as equações em (6.12) podem ser
reescritas em termos da decomposição da variância do erro de previsão, como
segue:
2
2
1
1
2
2
2
1
1
2
)(
)(
)(
)(
100
m
i
m
i
X
m
i
ijZ
X
m
i
ijX
X
σ
φσ
σ
φσ
=
=
+=
e, (6.13)
2
2
1
1
2
2
2
1
1
2
)(
)(
)(
)(
100
m
i
m
i
Z
m
i
ijZ
Z
m
i
ijX
Z
σ
φσ
σ
φσ
=
=
+=
Estas relações mostram que é possível derivar todos os elementos do
modelo estrutural - desde os choques primitivos, a função de resposta-impulso, até a
decomposição da variância dos erros - a partir da estimação da forma reduzida
(equação 6.7), desde que se conheçam todos os
2
n elementos da matriz de
impactos contemporâneos
1
0
1
][
= BIB .
Porém, é importante destacar um problema que se apresenta tanto para a
análise das funções de resposta a impulso como para a análise da decomposição da
variância. Dada a simetria da matriz de variância-covariância , são obtidos
somente n(n+1)/2 restrições não-lineares sobre os
2
n elementos de
1
0
1
][
= BIB .
Portanto, n(n-1)/2 restrições adicionais são necessárias para que o processo de
identificação de todos os coeficientes da forma estrutural, a partir dos componentes
estimados da forma reduzida, seja completa.
A literatura refere-se a diversas abordagens alternativas para o esquema de
identificação do VAR. A mais tradicional é a decomposição de Cholesky, a qual
assume que a matriz de impactos contemporâneos seja triangular inferior, o que
implica o estabelecimento de um ordenamento para as variáveis de interesse. Outra
alternativa consiste em atribuir restrições de longo prazo, baseadas em
interpretações teóricas a priori. Neste caso, as restrições recaem sobre os
elementos da matriz de coeficientes. Por fim, pode-se, também, atribuir restrições de
235
não contemporaneidade a algumas variáveis. Considerando-se, ainda, que as
citadas alternativas não são excludentes e, portanto, podem ser interpostas umas às
outras, conclui-se que há uma variedade extensa de esquemas de identificação. A
escolha irá depender, basicamente, dos objetivos específicos de cada investigação.
Para o propósito do presente trabalho, onde o interesse primário recai sobre
a resposta dos níveis de produto e de variáveis do mercado de crédito e do balanço
bancário aos choques de política monetária, é razoável supor que um choque na
taxa de juros não tenha efeito imediato sobre o nível de produção, devido à rigidez
dos preços nominais em um horizonte de curto prazo, porém pode exercer efeitos
contemporâneos sobre as variáveis de crédito. Portanto, é razoável supor que a
análise pode ser adequadamente representada pela identificação, via decomposição
de Cholesky, onde as equações são ordenadas de forma recursiva, a partir da
variável “mais exógena” (afetada contemporaneamente apenas pelo seu próprio
choque estrutural) até a variável “mais endógena” (afetada contemporaneamente por
todos os choques).
Assim, a análise com base em funções de resposta a impulso e
decomposição de variância (chamadas de innovation accounting) de um modelo
VAR padrão, que utiliza o critério de decomposição de Cholesky, constitui
ferramenta adequada para analisar a relação entre as variáveis econômicas de
interesse, e mostram-se convenientes para serem utilizadas na presente pesquisa.
6.2 AVALIAÇÃO DOS DADOS A SEREM UTILIZADOS NA ANÁLISE EMPÍRICA
Nessa seção faremos uma descrição completa das séries de interesse que
serão utilizadas nos testes econométricos com vistas apontar as evidências
empíricas para o canal do empréstimo bancário. As séries que serão utilizadas na
pesquisa compreendem:
- Um indicador de política monetária, a saber, a taxa de juros overnight-
Selic, a qual representa o principal instrumento de política monetária adotada pelo
Banco Central, e que equivale à taxa dos Federal Funds dos Estados Unidos. Esta
escolha segue Bernanke e Blinder (1992), e a maior parte da literatura para a
transmissão da política monetária baseada no VAR. Isso é consistente com o fato de
que esta variável é considerada pelo Banco Centra do Brasil como o principal alvo a
236
ser perseguido no curto prazo, com vistas a cumprir o programa de metas de
inflação.
- Indicadores do mercado monetário, compreendendo: a definição mais
restrita de moeda, a qual é composta por papel moeda em poder do público e os
depósitos bancários (M1); e títulos públicos federais (indexados à taxa Selic) em
poder do público.
- Um índice de preços, representado pelo Índice Geral de Preços
Disponibilidade Interna (IGP-DI), calculado pela FGV, que agrega as variações de
preços mensuradas pelo Índice de Preços por Atacado – Disponibilidade Interna
(IPCA-DI), com peso de 60%; pelo Índice de Preços ao Consumidor – Brasil (IPC-
Br), com peso de 30%; e, pelo Índice Nacional do Custo da Construção (INCC), com
peso de 10%.
- Indicador para o mercado de câmbio, compreendendo, a taxa de câmbio
nominal livre (média de período – mensal R$/US$).
- Indicadores do Balanço Patrimonial dos bancos incluindo - do lado do
passivo: depósitos (conta 4.1.0.00.00-7), e as sub-contas depósitos a prazo (conta
4.1.5.00.00-2) e depósitos à vista (conta 4.1.1.00.00-0); e, do lado dos ativos: a
conta operações de crédito (conta 1.6.0.00.00-1), a qual engloba os empréstimos
realizados com recursos livres e a taxa de mercado (crédito com recursos livres),
bem como, empréstimos com alocação determinada legalmente e com taxas
controladas (crédito direcionado); a sub-conta empréstimos e títulos descontados
(conta 1.6.1.00.00-4), a sub-conta financiamentos (conta 1.6.2.00.00-7), e a conta
títulos e valores mobiliários e Instrumentos Financeiros Derivativos (conta
1.3.0.00.00-4). Os indicadores dos balanços patrimoniais dos bancos referem-se a
diferentes contas do Plano Contábil das Instituições Financeiras (COSIF), calculados
para o grupo dos bancos múltiplos, bancos comerciais e caixas econômicas.
- Indicadores do mercado de crédito que inclui o crédito com recursos livres
e a taxas prefixadas, os quais representam um subgrupo do crédito com recursos
livres, compreendendo: crédito livre total, crédito livre para pessoa física (crédito
pessoal) e crédito livre para pessoa jurídica (capital de giro).
- Indicadores de atividade econômica, compreendendo: o índice de
produção industrial (geral); índice de produção por categoria de uso (produção de
bens de capital, bens intermediários e bens de consumo, sendo estes subdivididos
em bens de consumo duráveis e não duráveis); índice de produção por setores de
237
atividades (maquinas e equipamentos, equipamentos eletrônicos, veículos,
construção civil, vestuário, calçados e alimentos).
- Indicadores de preços para as operações de crédito, que compreendem - a
taxa de juros média geral e para pessoas físicas e jurídicas, bem como, o spread
médio geral e para as pessoas físicas e jurídicas, cobradas nas operações de crédito
com recursos livres. Os spreads são medidos pela diferença entre a taxa média
cobrada nas operações de empréstimos e a taxa de juros Selic.
Estas séries têm periodicidade mensal e, com exceção da taxa de juros, dos
spreads bancários, e da taxa de câmbio, que são tomadas nominalmente, estão
expressas em termos reais sendo deflacionadas pelo Índice Geral de Preços
Disponibilidade Interna (IGP-DI), fornecido pela Fundação Getúlio Vargas, e
expressas em logaritmo. As observações estão relacionadas ao período que se
estende de julho de 1995 (data base) a agosto de 2006, com exceção das variáveis
de crédito com recursos livres a taxa de juros pré-fixadas, que estão disponíveis
desde outubro de 1996. A série de produção e o indicador do mercado monetário
(M1) foram sazonalmente ajustadas utilizando-se o método multiplicativo X-11.
Na Tabela 27 são apresentadas as estatísticas descritivas das séries de
interesse, expressas nas unidades de medida originais.
238
Tabela 27 - Estatística Descritiva para as Séries de Interesse
VARIÁVEIS PERÍOD. OBS MÉDIA MÁXIMO MÍNIMO DES. PAD. NORM FONT
Indicador de Política Monetária
Selic %a.m 134 1,71 4,02 1,01 0,56 0,000*** BC
Indicadores do Mercado Monetário
M1 R$ MM 134 32.233 43.055 18.224 4.387 0,000*** BC
Títul. Pub. Index. à Selic R$ MM 134 45.950 65.917 26.612 8.286 0,061* BC
Inflação (IGP-DI) Índice 134 226,51 335,64 133,14 72,16 0,004*** FGV
Indicador do Mercado de Câmbio
Taxa de Câmbio Nom. a.m 134 2,15 3,81 1,03 0,74 0,031** IBGE
Indicadores do Balanço Patrimonial dos Bancos (Passivo)
Depósitos R$ MM 134 179.368 239.530 154.664 19.052 0,000*** BC
Depósito a Prazo R$ MM 134 76.063 101.928 64.590 9.315 0,013** BC
Depósito a Vista R$ MM 134 20.129 28.400 9.447 4.772 0,000*** BC
Indicadores do Balanço Patrimonial dos Bancos (Ativo)
Operações de Crédito R$ MM 134 119.208 155.710 88.375 17.581 0,072* BC
Crédito Livre R$ MM 134 82.212 114.913 60.537 11.867 0,099* BC
Crédito Direcionado R$ MM 134 36.995. 66.972 13.982 19.596 0,000*** BC
Títulos Valores Móbil. e
Instr. Financeiros Deriv.
R$ MM 134 105.773 153.474 49.271 26.105 0,000*** BC
Empréstimos R$ MM 134 52.154 72.257 35.357 8.347 0,369 BC
Financiamentos R$ MM 134 30.058 43.629 19.024 5.825 0,449 BC
Indicadores do Mercado de Crédito (Pré-Fixados)
Crédito Livre Total R$ MM 118 75.703 113.754 51.445 17.085 0,018** BC
Crédito Livre Total P.J R$ MM 118 48.795 61.977 38.507 6.480 0,037** BC
Crédito Pessoal R$ MM 118 9.469 22.217 3.120 4.926 0.063* BC
Crédito Livre Total P.F. R$ MM 118 26.907 53.766 11.824 11.434 0,011** BC
Capital de Giro R$ MM 118 10.308 16.859 7.150 2.274 0,05* BC
Indicadores de Atividade Econômica
Prod. Industrial Geral Índice 118 99,19 115,60 85,80 8,20 0,018** IBGE
Prod. Bens de Capital Índice 118 103,21 138,10 76,00 15,88 0,048** IBGE
Bens Intermediários Índice 118 98,56 114,40 85,10 8,68 0,014** IBGE
Bens de Consumo Índice 118 101,07 116,20 89,40 6,18 0,013** IBGE
Bens de Cons. Duráveis Índice 118 106,75 158,80 70,50 21,32 0,171 IBGE
Bens de Cons. Não Dur. Índice 118 99,77 108,40 92,40 3,38 0,012** IBGE
Máquinas e Equipam. Índice 118 99,57 137,10 65,30 17,09 0,036** IBGE
Equipam. Eletrônicos Índice 118 139,39 272,40 72,20 36,92 0,535 IBGE
Veículos Índice 118 110,56 166,20 40,00 25,10 0,884 IBGE
Construção Civil Índice 118 102,37 118,60 86,70 6,82 0,088* IBGE
Vestuário Índice 118 95,06 132,10 60,30 16,13 0,291 IBGE
Calçados Índice 118 101,29 148,50 75,90 16,17 0,011** IBGE
Alimentos Índice 118 96,83 122,00 67,80 13,74 0,099* IBGE
Indicadores de Custo do Crédito
Taxa Média %a.m 118 3,96 6,16 2,95 0,91 0,000*** BC
Taxa Média P. Juridica %a.m 118 3,02 5,33 1,74 0,96 0,000*** BC
Taxa Média P. Fisica %a.m 118 5,14 7,54 3,68 1,08 0,002*** BC
Spread Médio %a.m 118 3,15 4,53 2,49 0,54 0,000*** BC
Spread Pessoa Jurídica %a.m 118 2,18 3,47 1,52 0,51 0,000*** BC
Spread Pessoa Física %a.m 118 4,07 6,19 2,82 0,99 0,000*** BC
Fonte: Elaborada pelo autor.
(***) Rejeição da hipótese nula a 1%; (**) Rejeição da hipótese nula a 5%; (*) Rejeição da hipótese nula a 10%.
Nota: Banco Central (BC), Fundação Getúlio Vargas (FGV), Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Na Figura 19 (Apêndice A), é demonstrada a evolução em nível e em
primeira diferença das séries de interesse utilizadas nas estimações. Uma inspeção
visual nas sérias torna visível a não estacionariedade das mesmas. Com vistas a
confirmar a presença de não estacionariedade nas variáveis de interesse,
primeiramente, investiga-se a ordem de integração para cada uma das séries. As
séries de interesse foram submetidas aos testes de raiz unitária Dickey-Fuller
239
Aumentado (ADF) e de Philips-Perron (PP), sob a hipótese nula de que as variáveis
são integradas de primeira ordem I(1), isto é, apresentam raiz unitária.
As estatísticas dos testes, são apresentadas na Tabela 39 (Apêndice A).
Elas indicam que a série de produção de bens de capital, bens intermediários e bens
de consumo não duráveis são não estacionárias a um nível de significância de 1%;
as séries de produção Industrial e da taxa Selic, são não estacionárias a um nível de
significância de 1% e 5%; e, todas as demais séries são não estacionárias aos níveis
de significância de 1%, 5% e 10%. Assim, observa-se que ao nível de significância
de 1% todas as séries são integradas de ordem um I(1). O teste para as séries em
primeira diferença, por sua vez, revela que todas as séries tornam-se estacionárias
I(0) após uma diferenciação.
6.3 EFEITO DA POLÍTICA MONETÁRIA SOBRE O BALANÇO PATRIMONIAL DOS
BANCOS
Com o intuito de identificar a existência do canal do empréstimo bancário no
Brasil essa seção procura analisar os impactos da política monetária sobre os
balanços patrimoniais dos bancos brasileiros. Utilizando-se de dados agregados, o
propósito é verificar se a política monetária conduzida pelas autoridades monetárias
exerce influência apenas sobre o passivo dos bancos, deixando o lado dos ativos
inalterado (conforme sugere a visão tradicional de transmissão de política monetária
baseada na “visão da moeda”), ou se também exerce efeito sobre o comportamento
dos bancos quanto às decisões de composição de portfolio, interferindo no lado do
ativo do balanço patrimonial, em particular, sobre as decisões dos bancos em
conceder crédito (conforme sugere a moderna “visão do crédito”).
A hipótese básica a ser considerada aqui, na qual se fundamenta o canal do
crédito, é que o impacto inicial da política monetária sobre o balanço patrimonial dos
bancos acontece sobre as reservas bancárias. Este impacto inicial é posteriormente
transferido para o passivo do balanço patrimonial onde afeta o volume de depósitos.
Por fim, acaba afetando, também, o lado dos ativos bancários alterando as decisões
de composição de portfolio dos bancos, em particular, a decisão dos bancos em
conceder empréstimos. (BERNANKE; BLINDER, 1992; KASHYAP; STEIN, 1994).
Dado que as instituições que protegem os direitos de propriedade no Brasil
têm se mostrado muito frágeis e têm, tradicionalmente, se caracterizado, por serem
240
pró-devedores não assegurando as devidas garantias aos direitos dos credores,
espera-se que, em circunstancias adversas, em que a assimetria de informações e
os problemas por ela gerados tendem a ser intensificados, os bancos tendem a agir
com maior prudência restringindo significativamente a oferta de empréstimos na
economia, como é o caso do que ocorre em circunstâncias em que a economia é
acometida por um choque de política monetária adverso (política monetária
restritiva).
6.3.1 Testes de Causalidade de Granger para Indicadores do Balanço
Patrimonial dos Bancos
Como um primeiro passo para identificar a forma com que o balanço
patrimonial dos bancos reagem aos choques de política monetária, testaremos a
hipótese da existência de causalidade entre o instrumento de política monetária
(taxa de juros Selic) e os indicadores bancários de interesse. Para cumprir o
propósito da pesquisa foram realizados testes de causalidade de Granger com base
em equações bivariadas em nível e em diferença, utilizando-se, no máximo, nove
defasagens. Especificações menos parcimoniosas foram evitadas para não
comprometer os graus de liberdade do teste.
O teste de Causalidade de Granger baseia-se na idéia de precedência de
causalidade de uma variável em relação à outra, ou seja, supõe que as informações
relevantes para previsão das respectivas variáveis Y e X estejam contidas
exclusivamente nos dados de séries temporais destas variáveis. O teste envolve a
estimativa das seguintes regressões:
∑∑
==
++=
n
i
n
j
tjtjitit
uXYY
11
1
βα
(6.14)
∑∑
==
++=
n
i
n
j
tjtjitit
uYXX
11
2
δλ
(6.15)
onde supõe-se que as perturbações
t
u
1
e
t
u
2
sejam não correlacionadas. A equação
(6.14) postula que
t
Y se relaciona com seus próprios valores defasados e dos
valores defasados de
t
X , um comportamento similar é descrito por
t
X em (6.15).
241
Para que estas relações se confirmem, os coeficientes estimados sobre
t
X
defasado (isto é
j
β
), na equação (6.14) devem ser, conjuntamente,
significativamente diferente de zero. Equivalentemente, os coeficientes estimados
sobre
t
Y defasados (isto é
j
δ
) na equação (6.15), devem ser, conjuntamente,
significativamente diferente de zero.
O critério utilizado para testar a hipótese nula ( 0....
210
=
===
=
j
H
β
β
β
), a
qual supõe que os termos defasados de
t
X não pertencem a regressão de
t
Y é um
teste de Wald para coeficientes restritos. Nesse teste, SQR
r
é a soma dos quadrado
dos resíduos da equação restrita (equação em que se supõe que
j
β
é zero); SQR
i
é
a soma dos quadrados dos resíduos da equação irrestrita (equação em que se
supõe que
j
β
é diferente de zero). Para testar essa hipótese, aplica-se o teste F
dado por:
)2/(
/)(
knSQR
kSQRSQR
F
i
ir
= (6.16)
o qual segue a distribuição F com k e (n – 2K) graus de liberdade. Onde “k” é o
número de parâmetros estimados e “n” o tamanho da amostra. Assim, se o valor
calculado de F exceder o valor crítico de F para um dado nível de significância, a
hipótese nula é rejeitada. Esse procedimento pode ser repetido para testar a
hipótese nula ( 0....
210
=
=
==
=
j
H
δ
δ
δ
), na Equação (6.15).
Os resultados dos testes para variáveis em nível são demonstrados na
Tabela 28. A primeira parte da tabela mostra os resultados considerando a hipótese
nula de que o instrumento de política não-Granger causa os indicadores bancários.
A segunda parte da tabela inverte a ordem de causalidade da hipótese nula, visando
acessar o grau de endogeneidade das variáveis de interesse.
242
Tabela 28 - Teste de Causalidade de Granger para Variáveis em Nível -
Balanço Patrimonial
H0: Selic não Granger Causa Indicador Bancário
Lag DEP. DEP. À
PRAZO
DEP. À
VISTA
Crédito
Total
Crédito
Direc.
Crédito
Livre
EMPRÉST. FINAN. TÍTULOS Spread
Médio
2 0.455 0.3256 0.1934 0.0028*** 0.0952* 0.00002*** 0.000043*** 0.0033*** 0.0504* 0.0002***
3 0.073 0.4359 0.1715 0.0131** 0.2018 0.00007*** 0.000017*** 0.0065*** 0.0385** 0.0004***
6 0.032** 0.3682 0.4447 0.0155** 0.3699 0.00025*** 0.000058*** 0.0156** 0.0332** 0.0008***
9 0.019** 0.7118 0.4080 0.0502* 0.7360 0.00107*** 0.000113*** 0.1660 0.1031 0.0011***
H0: Indicador Bancário não Granger Causa Selic
Lag DEP. DEP. À
PRAZO
DEP.À
VISTA
Crédito
Total
Crédito
Direc.
Crédito
Livre
EMPRÉST. FINAN. TÍTULOS Spread
Médio
2 0.9086 0.4040 0.3844 0.1377 0.4334 0.47232 0.44651 0.7637 0.20318 0.0669*
3 0.9717 0.4308 0.2919 0.1118 0.6667 0.05445* 0.18075 0.1339 0.38075 0.1438
6 0.9947 0.2846 0.3251 0.2308 0.7262 0.10428 0.14125 0.3195 0.0399** 0.2146
9 0.9844 0.2339 0.7070 0.3525 0.8495 0.14751 0.06284* 0.6964 0.0107** 0.4664
Fonte: Elaborada pelo autor.
(*) Rejeição a 10% (**) Rejeição a 5% (***) Rejeição a 1%
Nota.: P-valores relativos ao teste F de exclusão dos parâmetros.
Como é possível constatar, os testes de causalidade de Granger confirmam
a influência do instrumento de política monetária sobre valores futuros dos
indicadores bancários. Essa influência demonstra-se bastante significativa sobre as
variáveis relacionadas ao segmento de mercado de crédito livre, ou seja, sobre os
empréstimos e títulos descontados, financiamentos e sobre o spread médio cobrado
nessas operações. Sobre estas variáveis a taxa Selic demonstra conter informações
relevantes que possibilitam fazer previsões com até nove meses de antecedência.
O instrumento de política monetária também causa, no sentido Granger, o
volume total de depósitos, o volume total das operações de crédito e o volume de
títulos e valores mobiliários, porém com menor grau de significância. No entanto, a
Selic falha em causar no sentido Granger os depósitos a prazo, os depósitos à vista
e a parcela de crédito direcionado. Também, é possível verificar na segunda parte
da tabela que, com exceção dos títulos e valore mobiliários que é a variável mais
afetada pela endogeneidade, o problema de endogeneidade não está presente, uma
vez que, a hipótese nula de que o indicador bancário não-Granger causa a Selic é
não rejeitado para todas as demais variáveis.
A Tabela 29 mostra os testes de causalidade para variáveis em diferença.
Como é possível verificar o mesmo padrão de comportamento apresentado pelas
variáveis em nível são identificados.
243
Tabela 29 - Teste de Causalidade de Granger para Variáveis em Diferença –
Balanço Patrimonial
H0: Selic não Granger Causa Variável
Lag DEP. DEP. À
PRAZO
DEP. À
VISTA
Crédito
Total
Crédito
Direc.
Crédito Livre EMPRÉST. FINAN. TÍTULOS Spread
Médio
2 0.4559 0.4363 0.5335 0.0025*** 0.3303 0.000033*** 0.000003*** 0.0553* 0.0246** 0.0011***
3 0.0733 0.6146 0.6952 0.0068*** 0.4870 0.000051*** 0.000005*** 0.0679* 0.0297** 0.00030***
6 0.032** 0.4060 0.7357 0.0112** 0.6963 0.00035*** 0.000048*** 0.2383 0.1018 0.00026***
9 0.019** 0.5341 0.8840 0.0316** 0.9569 0.00142*** 0.000085*** 0.4085 0.0514* 0.0001***
H0: Variável não Granger Causa Selic
Lag DEP. DEP. À
PRAZO
DEP.À
VISTA
Crédito
Total
Crédito
Direc.
Crédito Livre EMPRÉST. FINAN. TÍTULOS Spread
Médio
2 0.9086 0.2912 0.1787 0.1631 0.9256 0.0225** 0.1021 0.1224 0.8402 0.16831
3 0.9717 0.2860 0.1366 0.3083 0.6363 0.0231** 0.1131 0.1393 0.9635 0.29079
6 0.9947 0.1394 0.4455 0.5818 0.9186 0.1499 0.1780 0.3761 0.0620* 0.66726
9 0.9844 0.1736 0.4035 0.0245** 0.8109 0.1740 0.2100 0.7107 0.008** 0.54530
Fonte: Elaborada pelo autor.
(*) Rejeição a 10% (**) Rejeição a 5% (***) Rejeição a 1%
Nota.: P-valores relativos ao teste F de exclusão dos parâmetros.
Em termos gerais, o teste de causalidade de Granger para indicadores do
balanço patrimoniais dos bancos sugere que, além de afetar o lado do passivo do
balanço bancário, observa-se uma forte influencia do instrumento de política
monetária sobre as contas do lado do ativo do balanço. Isso mostra que, além de
estar em sintonia com as predições teóricas da “visão da moeda”, existem
evidências fortemente favoráveis a “visão do crédito”, uma vez que, o instrumento de
política também afeta de modo significativo indicadores do lado do ativo do balanço,
o que constitui evidência favorável à existência do canal de transmissão de política
monetária através dos empréstimos bancários.
6.3.2 Análise das Funções de Respostas a Impulso e Decomposição da
Variância para Indicadores do Balanço Patrimonial dos Bancos
Para investigar os efeitos que a política monetária exerce sobre o balanço
patrimonial dos bancos, com vistas a identificar a relevância do canal do empréstimo
bancário na transmissão da política monetária no Brasil, utilizaremos, como recurso,
a análise de resposta a impulso e de decomposição da variância, fornecido por um
Vetor Auto-Regressivo padrão. Estas, como já discutimos, representam técnicas
eficientes e amplamente utilizadas em estudos que concentram a atenção no
mecanismo de transmissão de política monetária.
Seguindo a literatura que analisa o mecanismo de transmissão da política
monetária com base no VAR, utilizaremos como instrumento de política monetária a
taxa básica de juros da economia. Para o caso do Brasil, será utilizada a taxa de
juros Selic a qual representa o principal instrumento de política monetária adotada
244
pelo Banco Central, e que equivale à taxa dos Federal Funds dos Estados Unidos. A
taxa Selic é considerada pelo Banco Centra do Brasil como o principal alvo a ser
perseguido no curto prazo, com vistas a cumprir o programa de metas de inflação.
Supõe-se que a taxa Selic reflita apenas ações de política monetária, e não o estado
corrente da economia, o que significa que flutuações de curto prazo nas variáveis
sejam dominadas apenas por mudanças no padrão de política, ou seja, devem estar
isentas de influências de fatores não políticos.
1
Para avaliar o efeito da política monetária sobre o passivo e sobre o ativo
dos bancos brasileiros utilizou-se um VAR representado pela equação (6.7), onde
foram incluídas as seguintes variáveis: o índice de produção industrial, o índice de
preços (IGP-DI), o indicador de política monetária (taxa de juros Selic), e um dos
indicadores do balanço bancário (compreendendo: depósitos; depósitos a prazo;
depósitos à vista; crédito total; crédito direcionado; crédito livre total; empréstimos;
financiamentos; crédito livre com taxas de juros pré-fixadas; títulos e valores
mobiliários; bem como, indicadores de preços, representado pelo spread médio
geral, e pelo spread médio cobrados nas operações de crédito com pessoas físicas
e jurídicas).
Procurou-se fazer uma análise que levasse em conta um significativo grau
de desagregação nas variáveis, com vistas a identificar as especificidades
comportamentais mantida entre elas, e para identificar particularidades relativas à
economia brasileira. Optou-se por estimar diferentes modelos VAR, com as variáveis
em nível, contendo respectivamente o produto, o índice de preços, o indicador de
política monetária e uma variável indicativa do balanço bancário ou spread.
A escolha das variáveis está relacionada à pesquisa desenvolvida por
Bernanke e Blinder (1992), a qual constitui referência para diversas pesquisas que
abordam o referido tema. Estes autores analisam o mecanismo de transmissão da
política monetária enfocando o comportamento dos ativos e passivos dos bancos
visando separar o canal do crédito e o canal da moeda.
Sabe-se que uma regressão entre variáveis não estacionárias seria espúria,
uma vez que os estimadores de mínimos quadrados não constituem estimadores
eficientes para os parâmetros do modelo. Porém, Engle e Granger (1987) postulam
1
Conforme observam Bernanke e Blinder (1992), ações de política podem ser influenciados por
condições econômicas pretéritas. Porém, é importante que o indicador de política não seja sensível
ao desenvolvimento corrente da economia, ou seja, a movimentos que ocorram dentro do próprio
período. Eles oferecem evidências que comprovam este padrão de comportamento.
245
uma situação em que a regressão entre duas ou mais séries não estacionárias
podem ser estacionárias. Trata-se de uma situação em que existe uma combinação
linear estacionária entre as séries, ou, de forma equivalente, situação em que as
séries não estacionárias são ditas para serem co-integradas. De fato, se as variáveis
são co-integradas, os estimadores de mínimos quadrados funcionam bem, uma vez
que se tornam estimadores eficientes e não viezados para os verdadeiros
parâmetros da amostra.
Uma vez que as variáveis a serem utilizadas na estimação são não
estacionárias I(1), foram realizados testes de co-integração utilizando a metodologia
desenvolvida por Johansen (1991, 1995) (Tabela 40, Apêndice B). Dadas as
relações de co-integração encontradas, concluiu-se que utilizar um VAR em primeira
diferença poderia eliminar informações relevantes sugeridas pelas relações de
equilíbrio de longo prazo estabelecidas entre as variáveis. Teoricamente, o processo
apropriado, em tais circunstâncias, seria o de incluir no sistema VAR um termo de
correção de erro na forma de um vetor de co-integração obtido através da utilização
do processo de Johansen, ou seja, o ideal seria utilizar um modelo VEC (Vetor de
Correção de Erros). Porém, especificar a equação de co-integração poderia requerer
um número de suposições considerando a estrutura do termo de correção de erros e
a natureza das relações de equilíbrio de longo prazo.
Para o propósito da pesquisa, que é identificar como diferentes variáveis
reagem a um choque de política monetária, não é relevante preocupar-se com a
estrutura da co-integração que se estabelece entre as variáveis. Por esta razão, um
VAR que inclui as variáveis de interesse em nível (integradas de ordem um I(1))
mostra-se adequado, uma vez que a estimação é consistente, ou seja, cumpre o
propósito da pesquisa e, ao mesmo tempo, captura a relação de co-integração que
existem no sistema (SIMS; STOCK; WATSON, 1990; WATSON, 1994).
O ordenamento das variáveis no VAR é baseado na decomposição de
Cholesky para identificar os distúrbios ortogonais
t
v . Esta estrutura recursiva sugere
que, contemporaneamente, a primeira variável no ordenamento não é afetada por
choques nas demais variáveis, mas choques na primeira variável afetam as demais
variáveis do sistema; choques na segunda variável afeta a terceira e a quarta, mas
não é afetada contemporaneamente por choques nessas variáveis; e assim
sucessivamente.
246
Sob a ordenação que utilizaremos, o produto não responde
contemporaneamente aos choques nas demais variáveis, já que as decisões de
produção são implementadas com alguma defasagem de tempo. Os índices de
preços respondem aos choques no produto real, mas não aos choques nas demais
variáveis. A taxa de juros, por sua vez, ajusta-se rapidamente aos choques de
produção e de preços. Por fim, supõe-se que variáveis do balanço patrimonial dos
bancos são afetadas pelas inovações em todas as demais variáveis, mas os
choques nesse mercado não se transmitem instantaneamente para elas.
Uma inspeção visual na Figura 19 (Apêndice A), onde estão demonstradas
a evolução das variáveis de interesse que serão utilizadas na estimação, permite
constatar alguns out lines nas séries, sendo estes constatados - na série do índice
de preços (IGP-DI), causada por flutuações cambiais ocorridas em janeiro de 1999 e
novembro de 2002; na taxa Selic, por conta dos ajustes bruscos da taxa de juros de
curto prazo quando a economia era acometida por choques externos (crise asiática
em novembro de 1997, crise russa em setembro 1998, e mudança de regime
cambial no Brasil em janeiro de 1999); e sobre as variáveis de crédito total e das
contas que o compõe (empréstimos e financiamentos) onde se observam duas
quebras, a primeira relacionada com os créditos do Banespa envolvidos no processo
de renegociação da divida do estado de São Paulo com o Governo Federal e o
acordo para a federalização do banco ocorrida em dezembro de 1997, e a segunda
está relacionada à transferência de crédito da Caixa Econômica Federal para a
Empresa Gestora de Ativos (Emgea) como regra estabelecida no programa de
Fortalecimento das Instituições Financeiras Federais (PROEF), ocorrida em junho de
2001. Em vista do comportamento singular dessas séries, os modelos estimados
incluem variáveis dummy com vistas a representar tais episódios.
Para a escolha da ordem de defasagem a ser utilizada na estimação dos
modelos, levou-se em conta a indicação de diferentes critérios estatísticos de
seleção. Porém, em alguns casos, foi necessário utilizar uma ordem de defasagem
mais elevada com vistas a eliminar eventuais problemas de correlação serial nos
resíduos, mantendo-se a preocupação em preservar os graus de liberdade. A Tabela
30 mostra as defasagens selecionadas pelos diferentes critérios estatísticos, bem
como, aquelas efetivamente utilizadas na estimação dos modelos.
247
Tabela 30 - Seleção da Ordem de Defasagem dos Modelos VAR para a Análise
do Balanço Patrimonial dos Bancos
LR FPE AIC SC HQ DEFASAGEM
UTILIZADA
DEPÓSITOS 2 2 2 2 2 4
DEPÓSITOS À PRAZO 2 2 2 2 2 3
DEPÓSITOS À VISTA 3 3 3 2 2 3
CRÉDITO TOTAL 3 3 2 2 2 3
CRÉDITO DIRECIONADO 3 2 2 2 2 3
CRÉDITO LIVRE 3 3 3 2 2 3
EMPRÉSTIMOS 2 2 2 2 2 6
FINANCIAMENTOS 3 2 2 2 2 3
TÍTULOS E VALORES MOBILIÁRIOS 3 2 2 2 2 5
SPREAD MÉDIO 4 2 2 2 2 2
SPREAD MÉDIO PESSOA FÍSICA 4 2 2 2 2 2
SPREAD MÉDIO PESSOA JURÍDICA 2 2 2 1 1 2
Fonte: Elaborada pelo autor.
(Cada teste foi realizado considerando o nível de significância de 5%) - LR: teste de razão de verossimilhança seqüencial para
significância da maior defasagem (Sequential Modified LR Test Statistic); FPE: erro de predição final (Final Prediction Error);
AIC: critério de informação de Akaike (Akaike Information Criterion); SC: critério de informação se Schuarz (Schwarz
Information Criterion); HQ: critério de informação de Hannan-Quinn (Hannan-Quinn Information Criterion).
Os principais resultados estatísticos dos modelos estimados são
apresentados na Tabela 41 (Apêndice B). Nas tabelas estão discriminados os
resultados referentes ao coeficiente de determinação (
2
) e coeficientes de
determinação ajustados (
__
2
), os quais representam o grau de ajuste de cada uma
das equações do VAR ao conjunto de dados; o critério de informação de Akaike
(AIC), o qual fornece uma medida eficiente para estabelecer o equilíbrio entre o
melhor grau de ajuste do modelo e a parcimônia em sua especificação; a análise dos
resíduos do sistema através do teste do Multiplicador de Lagrange (LM) com quatro
defasagens, bem como, os testes dos resíduos para cada equação individual, onde
LM(1) e LM(4) se referem ao teste do multiplicador de Lagrange para a auto-
correlação dos resíduos em primeira e quarta ordem, respectivamente, sob a
hipótese nula de que os resíduos não apresentam correlação seria nas respectivas
ordens; também foram realizados testes para identificar a presença de
heteroscedasticidade condicional auto-regressiva (ARCH) até a quarta ordem,
considerando a hipótese nula de ausência de heteroscedasticidade condicional auto-
regressiva; por fim, foi testada a hipótese nula de presença de normalidade dos
resíduos, para cada equação dos diferentes modelos estimados, com base no teste
de normalidade dos erros de Jarque-Bera (JB). Todos os valores mostrados se
referem ao p-valor. Os coeficientes estimados nos diferentes modelos VAR, não são
diretamente interpretados, e são de pouca relevância para a presente análise,
portanto não serão apresentados.
248
Como é possível averiguar, os modelos demonstram um excelente grau de
ajustamento, além disso, são satisfatório no que se refere à ausência de auto
correlação e heteroscedasticidade condicional, dado que os testes LM e ARCH, para
cada equação individual, não rejeitam as hipóteses nulas em um grau
estatisticamente considerável. Porém, os resultados são pobres no que se refere à
hipótese de normalidade dos resíduos, o que não é surpreendente, dado o padrão
de comportamento apresentado por algumas séries, particularmente, aquelas
referentes aos balanços bancários.
6.3.2.1 Análise das Funções de Respostas a Impulso
Com base nos resultados apresentados pelos modelos foram derivadas as
funções de resposta a impulso das principais variáveis de interesse, mediante um
choque de um desvio padrão no instrumento de política monetária (isto é, na taxa de
juros Selic), sendo essas funções obtidas através da decomposição de Cholesky. As
linhas pontilhadas representam um intervalo de confiança de dois desvios padrão.
Sob a suposição de que inovações no instrumento de política monetária
representam ações genuínas de política, as respostas das variáveis dos balanços
bancários estarão descrevendo as reações dinâmicas frente a tais choques. Dado
que as variáveis estão em logs, as funções de resposta a impulso podem ser
interpretadas como a taxa de crescimento acumulada relativa à base, com exceção
da taxa de juros e dos spreads que pode ser interpretada como variação percentual
relativo à base. Os dados referentes à evolução das funções de resposta a impulso,
bem como sua significância estatística, para as variáveis de interesse, cuja atenção
concentraremos nesta seção, estão demonstrada na Tabela 42 (Apêndice B).
Primeiramente, concentraremos a atenção na analise das funções de
resposta a impulso de variáveis do passivo dos bancos. A idéia aqui é checar uma
premissa teórica básica, segundo a qual, uma restrição na política monetária
promove uma contração nos depósitos disponíveis para os bancos. A Figura 9
mostra o efeito de um choque da taxa de juros sobre as variáveis de depósito. Como
é possível constatar, os depósitos totais registram, inicialmente (primeiros dez
meses), uma resposta positiva aos choques na taxa básica, este movimento é
justificado pela inclusão dos depósitos a prazo, os quais apresentam um aumento
médio de meio ponto percentual nos primeiros dez meses. A partir do décimo mês
249
os depósitos totais passam a reduzir-se atingindo seu piso no 34º mês, quando
registra uma queda de -0,92%. Embora, reinicie um lento processo de recuperação,
tendem a manter-se persistentemente abaixo de seu nível inicial.
O efeito de um aumento na taxa de juros sobre os depósitos à vista por sua
vez, é intenso e imediato, ocasionando uma significativa redução no volume de
recursos nessa conta do passivo bancário, cuja queda supera -1% nos primeiros dez
meses. Não obstante demonstre um processo de lenta recuperação, o nível de
depósitos à vista tende a se manter persistentemente abaixo do seu nível inicial,
contribuindo para impor essa mesma tendência para o nível de depósitos totais.
Figura 9 - Funções de Resposta a Impulso para Contas do Passivo dos Bancos
- Depósitos, Depósitos a Prazo e Depósitos à Vista
Fonte: Elaborada pelo Autor.
Constata-se que a política monetária faz realmente reduzir o volume de
depósitos mantidos pelas instituições depositárias. Embora o efeito da política
monetária sobre os depósitos totais não é imediato, os resultados ocorrem de acordo
com o que é esperado, ou seja, está em sintonia com as predições teóricas. Em
termos gerais, verifica-se que a política monetária exerce forte influência sobre
variáveis do passivo bancário, confirmando a existência do canal da moeda de
transmissão da política monetária, conforme sugere a visão tradicional.
Como nosso propósito é averiguar a existência do mecanismo de
transmissão da política monetária via empréstimo bancário, nosso maior interesse
repousa sobre o efeito que a política monetária produz no lado do ativo do balanço
patrimonial dos bancos, sobre o qual passaremos a concentrar nossa atenção.
-.04
-.03
-.02
-.01
.00
.01
.02
.03
RESPOSTA DOS DEPÓSITOS À PRAZO
-.03
-.02
-.01
.00
.01
.02
RESPOSTA DOS DEPÓSITOS
-.030
-.025
-.020
-.015
-.010
-.005
.000
.005
RESPOSTA DOS DEPÓSITOS À VISTA
250
A Figura 10 mostra o efeito do choque da política monetária sobre as
diversas contas do lado do ativo do balanço patrimonial dos bancos. Chama a
atenção o aumento estatisticamente significativo no estoque de títulos e valores
mobiliários que ocorre imediatamente após o choque de política. O estoque de
títulos atinge o valor máximo (1,95%) logo no quarto mês, retornando ao seu nível
inicial já no final do segundo ano.
Figura 10 - Funções de Resposta a Impulso para Contas do Ativo dos Bancos
– Credito Total, Crédito Direcionado, Crédito Livre, Empréstimos
Financiamentos e Títulos e Valores Mobiliários
Fonte: Elaborada pelo Autor.
Se concentrássemos a análise tomando em conta as operações de crédito
em sua totalidade, já seria suficiente para constatar que o choque na taxa de juros
exerce um efeito negativo, e estatisticamente significativo, sobre o agregado de
crédito. Ainda que apresente uma certa resistência no período imediatamente após o
choque, as operações de crédito totais iniciam um processo de redução, atingem
seu valor mínimo (-0,86%) após dois anos, e volta a recuperar-se a partir de então.
Segundo Bernanke e Blinder (1992), a resistência à queda, apresentada nos
meses que imediatamente seguem ao choque de política - que observamos tanto
-.03
-.02
-.01
.00
.01
.02
5 10 15 20 25 30 35 40 45 50
RESPOSTA DO CRÉDITO TOTAL
-.03
-.02
-.01
.00
.01
.02
.03
5 10 15 20 25 30 35 40 45 5
0
RESPOSTA DOS CRÉDITOS DIRECIONADOS
-.03
-.02
-.01
.00
.01
.02
5 10 15 20 25 30 35 40 45 50
RESPOSTA DO CRÉDITO LIVRE
-.06
-.04
-.02
.00
.02
.04
.06
10 20 30 40 50 60
RESPOSTA DOS EMPRÉSTIMOS
-.025
-.020
-.015
-.010
-.005
.000
.005
10 20 30 40 50 6
0
RESPOSTA DOS FINANCIAMENTOS
-.02
-.01
.00
.01
.02
.03
.04
5 10 15 20 25 30
RESPOSTA DOS TÍTULOS
251
nas operações de crédito em geral, bem como, nas operações com recursos livres,
em particular - estão associadas aos comprometimentos contratuais que dificultam
uma imediata mudança nos estoques de crédito. Porém, na medida em que os
contratos vão vencendo, os bancos se recusam a fazer novas renovações, optando
pela redução na concessão de créditos novos.
É importante destacar que, no total das operações de crédito realizadas
pelo sistema bancário é integrada uma parcela de recursos financeiros - denominado
crédito direcionado - cuja aplicação não é determinada por regras estabelecida pelo
mercado livre. A aplicação desses recursos é previamente definida pelos
formuladores de políticas, e contemplam, fundamentalmente, dois setores
específicos, a saber, o setor rural e o setor imobiliário (habitacional). Por
representarem segmentos de mercado que apresentam elevado risco financeiro,
estes setores tem tido significativas dificuldades em atrair investimentos privados de
forma espontânea, portanto tem merecido atenção especial por parte do governo,
que optaram por induzir a aplicação de recursos baseada no controle quantitativo
(via direcionamento obrigatório de crédito) combinados com controles de preços
(estabelecendo taxas de juros inferiores às taxas praticadas no mercado livre), além
de promover o repasse de recursos orçamentários específicos.
Dada as condições das estruturas institucionais apresentadas pelo Brasil,
analisadas em capítulos anteriores, não é difícil imaginar as razões que impedem a
integração desses setores, em particular, o setor imobiliário, no segmento de
mercado livre. A insegurança jurídica pode ser apontada como uma das razões,
senão a principal, responsável por agregar elevado grau de assimetria de
informações a qual adiciona significativa incerteza nesses mercados, submetendo-os
aos graves problemas que dela derivam (seleção adversa e risco moral). Por conta
da elevada incerteza jurídica - representada pela insegurança quanto à efetiva
recuperação das garantia (collaterais) oferecidas em um contrato de financiamento -
os imóveis acabam não representando uma garantia crível, nos padrões exigidos por
um sistema de alienação fiduciária, o que contribui para o baixo desenvolvimento ou
até mesmo para a completa atrofia desse setor, como um segmento de mercado
livre.
2
2
A garantia fiduciária se configura como a forma mais eficiente de oferecer colateral, pois representa
na prática a transferência da propriedade do bem financiado para o credor. Num quadro de
insegurança jurídica, onde a recuperação judicial do bem é dificultada, ou torna-se duvidosa, um
252
Por conta das características apresentadas por este segmento de mercado,
é razoável supor que tendem a se manter inerte, ou responder de forma muito lenta
aos choques de política. Para confirmar esta suposição, separamos as operações de
créditos totais em duas categorias para verificar se existem diferenças significativas
de comportamento mediante as mudanças de política. Agregamos empréstimo e
financiamentos em uma única categoria denominada crédito livre, e o restante dos
recursos na categoria crédito direcionados.
Como é possível constatar pela função de resposta a impulso, apresentadas
na Figura 10, a categoria crédito direcionado reage muito pouco frente aos choques
de política, além disso, mostram-se estatisticamente insignificante, confirmando
nossas expectativas. Em contrapartida, a categoria crédito livre responde de forma
mais imediata e reage mais intensamente aos choques. Nos primeiros seis meses
registra uma certa rigidez (reduzindo-se em média 0,6%), a partir de então cai mais
intensamente atingindo o valor mínimo (-1,21%) no 22º mês, iniciando uma lenta
recuperação a partir de então.
Essa tendência com relação ao comportamento do crédito livre é melhor
entendida se considerarmos as operações de crédito a nível mais desagregado,
onde é possível identificar particularidades adicionais com relação ao
comportamento das diferentes modalidades de crédito, as quais podem ser
facilmente associadas às especificidades institucionais da economia brasileira.
No que se refere às operações de empréstimos, por exemplo, observa-se
uma resposta significativa aos choques de política monetária, com uma queda de -
1,7%, após 28° mês (Figura 10). Esta modalidade de crédito está, em grande parte,
relacionada com a manutenção de contas bancárias, tais como cheques especiais e
créditos pessoais para pessoas físicas, bem como, capital de giro e conta garantida
para pessoas jurídicas, sendo que, boa parte delas apresenta, como principal
característica, o fato de serem majoritariamente contratadas sem garantias reais e,
por representarem situações em que os clientes estão informacionalmente presos
(locked in) a suas instituições bancárias, por conta da dificuldade de transferir a
instituições competidoras seu histórico cadastral e reputação. Tais características
contribuem para agregar elevada assimetria de informações nas operações de
empréstimos, as quais ajudam a explicar o curtíssimo prazo de maturação nessas
contrato baseado na alienação fiduciária torna-se praticamente inviável o que representa um
obstáculo ao desenvolvimento do mercado.
253
modalidades de crédito, bem como, a intensidade da reação das funções de
resposta a impulso frente aos choques de política.
As operações de financiamento, por sua vez, também reagem intensamente
aos choques de política, porém, de forma ainda mais rápida que as operações de
empréstimos. Além de mostrar uma significativa queda (-1,35%) logo no 11º mês,
mostram uma queda persistente, não demonstrando sinais de retorno aos seu níveis
pré-choque. Este segmento de mercado de crédito é significativamente afetado pela
assimetria de informações e pelos problemas por ela gerados, em virtude da
dificuldade de se consolidar um sistema de cobertura por garantias fiduciárias que
dêem plena segurança de recuperação de créditos. Isso ocorre, em virtude da
elevada insegurança jurídica que domina o sistema de recuperação das garantias
concedidas nas operações de financiamento.
Como já verificamos, setores onde a cobertura por garantia fiduciária já está
consolidada, como é o caso do financiamento para aquisição de veículos, em que o
próprio veículo representa a garantia para o empréstimo, estão sendo favorecidos,
tanto pelo aumento na oferta de crédito como por seu baixo custo. Dada a menor
incidência de problemas relacionados à assimetria de informações nesse setor, é
provável que os choques de política monetária exerçam menor efeito sobre o crédito
destinado para este segmento do mercado.
Se considerarmos apenas a parcela de crédito com recursos livres que são
realizadas mediante taxas pré-fixadas (crédito pré) - as quais são classificadas pelo
Banco Central como um subgrupo do crédito com recursos livres, e que incluem
apenas os empréstimos e financiamentos que estão intimamente relacionados às
reais condições de mercado -, e as características apresentadas pelo mercado de
crédito brasileiro, é razoável supor que estas modalidades sejam mais diretamente
acometidas por problemas informacionais e, portanto, muito mais sensíveis aos
choques de política monetária.
Com relação a esta expectativa, a Figura 11 evidencia algumas
particularidades interessantes. Como é possível contatar, a resposta do crédito livre
com taxas pré-fixadas aos choques de política monetária é bastante intensa e
bastante rápida, uma vez que, após uma breve resistência, começa a reduzir-se e,
logo no 16º mês, atinge seu valor mínimo (-1,15%). Também se recupera bastante
rápido, dado que, logo no terceiro ano retorna ao nível pré-choque. É importante
frisar que, as operações com recursos livres pré-fixados refletem apenas as
254
condições médias de mercado, portanto escondem uma importante característica do
mercado de crédito, que é a diferença substancial incorrida por tipos de tomadores.
Ao separarmos a oferta de crédito-pré entre crédito para pessoa física e
para pessoa jurídica observam-se diferenças comportamentais significativas. O
crédito para pessoa física reage de forma muito mais intensa e mais rápida aos
choques de política monetária do que o crédito para pessoa jurídica. Como se pode
observar na Figura 11, logo após o primeiro ano o credito para pessoa física atinge
seu menor nível (-1,9%), e embora se recupere, não retoma seu nível inicial. Em
contrapartida, o crédito para pessoa jurídica se reduz de forma mais suave, atinge
seu menor nível (-0,98) depois de um ano e meio, e, após três anos retoma seu nível
inicial.
-.025
-.020
-.015
-.010
-.005
.000
.005
.010
5 10 15 20 25 30 35 40 45 50
RESPOSTA DO CRÉDITO LIVRE
(COM TAXAS PRÉ-FIXADAS)
-.04
-.03
-.02
-.01
.00
.01
.02
5 10 15 20 25 30 35 40 45 50
RESPOSTA DO CRÉDITO LIVRE PESSOA SICA
(COM TAXAS PRÉ-FIXADAS)
-.020
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.008
5 10 15 20 25 30 35 40 45 50
RESPOSTA DO CRÉDITO LIVRE PESSOA JURÍDICA
(COM TAXAS PRÉ-FIXADAS)
Figura 11 - Funções de Resposta a Impulso para Operações de Crédito com
Recursos Livres Realizados à Taxas Pré-Fixadas
Fonte: Elaborada pelo autor.
Essa diferença de comportamento é explicada pelo fato de a assimetria de
informações e os problemas que dela derivam acometerem o segmento de mercado
de crédito para pessoas físicas de forma mais intensa do que o fazem para o
segmento de crédito para pessoas jurídicas. A principal razão para isso, conforme já
aventamos, é que os empréstimos a pessoas físicas são majoritariamente
contratados sem garantias, portanto, representa um segmento de mercado onde os
problemas com inadimplência são mais significativos e, envolvem maior grau de
risco.
3
3
Para maiores informações conferir Fachada, Figueiredo e Lundberg (2003).
255
As reações das funções de resposta a impulso de indicadores do passivo e
ativo dos balanços bancários, que analisamos até o presente momento, tratam
apenas do efeito que os choques de política monetária exercem sobre o volume dos
recursos envolvidos nas operações financeiras. Porém, uma questão fundamental a
ser considerada é que, o efeito dos choques da política monetária não se restringe
apenas sobre o volume de crédito do setor bancário, mas também, exerce efeito
significativo sobre o custo (preço) do crédito.
Na Figura 12, estão demonstradas as funções de resposta a impulso do
spread médio, bem como, do spread para pessoas físicas e jurídicas, cobrados nas
operações de crédito com recursos livres. A resposta do spread frente a um choque
de política monetária é bastante intensa e estatisticamente significativa (Cf. Tabela
42, Apêndice B). As funções reagem rapidamente registrando uma significativa
elevação dos spreads cobrados, sendo que, meio ano após o choque os spreads
atingem seu valor máximo, (7%) para pessoa física e (6%) para pessoa jurídica.
Figura 12 - Funções de Resposta a Impulso para Variáveis de Preços das
Operações Ativas dos Bancos
Fonte: Elaborada pelo Autor.
Chama a atenção o fato de a política monetária exercer maior efeito sobre
os spreads cobrados nas operações de crédito com pessoas físicas, onde,
reconhecidamente, tanto a taxa de juros quanto os spreads cobrados são
excessivamente elevados, por razões já discutidas.
-.04
-.02
.00
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.06
.08
.10
5
10
15
20
25
30
35
40
45
50
RESPOSTA DO SPREAD MÉDIO
-.04
-.02
.00
.02
.04
.06
.08
.10
.12
5 10 15 20 25 30 35 40 45 50
RESPOSTA DO SPREAD MÉDIO PESSOA FÍSICA
-.04
-.02
.00
.02
.04
.06
.08
.10
5 10 15 20 25 30 35 40 45 50
RESPOSTA DO SPREAD MÉDIO PESSOA JURÍDICA
256
6.3.2.2 Análise da Decomposição da Variância dos Erros de Previsão
A análise da decomposição da variância para os erros de previsões dos
indicadores bancários prove suporte adicional aos resultados encontrados na análise
das funções de resposta a impulso. A Tabela 31 mostra a decomposição percentual
da variância do erro de previsão para os indicadores do passivo e ativo dos balanços
bancários, bem como, sobre os indicadores de preços (spreads) das operações de
crédito, após 24 meses. A decomposição da variância é baseada na ortogonalização
de Cholesky à semelhança do que é feito para as funções de resposta a impulso.
Como é possível observar, a taxa de juros Selic exerce influência tanto sobre os
indicadores de quantidade (variáveis do passivo e ativo) quanto sobre os indicadores
de preços dos balanços bancários.
No que se refere aos indicadores do passivo dos bancos percebe-se que, o
efeito da taxa de juros sobre as variáveis de depósitos é sensivelmente menor,
quando comparados aos indicadores do ativo. Isso ocorre mesmo quando
consideramos as variáveis em nível mais desagregado (depósitos à vista e depósitos
a prazo). Para os depósitos totais, em particular, a taxa de juros explica 7,71% da
variância no erro de previsão, enquanto explicam 7,88% e 5%, para os depósitos a
prazo e depósitos à vista, respectivamente.
Tabela 31 - Decomposição de Variância para Indicadores de Balanço Bancário
e Preços Praticados nas Operações de Crédito após 24 Meses
PRODUTO IGP-DI SELIC INDICADOR BANCÁRIO
DEPÓSITOS 39.21 24.21 7.71 28.87
DEPÓSITOS À PRAZO 49.44 6.32 7.88 36.37
DEPÓSITOS À VISTA 13.29 5.40 5.01 76.30
CRÉDITO TOTAL 26.24 20.69 5.93 47.15
CRÉDITO DIRECIONADO 22.71 6.17 3.82 67.29
CRÉDITO LIVRE 29.82 36.36 16.74 17.09
EMPRÉSTIMOS 23.34 12.22 22.94 41.51
FINANCIAMENTOS 15.86 37.12 22.32 24.71
CRÉDITO LIVRE PESSOA FÍSICA 7.92 23.52 22.92 45.65
CRÉDITO LIVRE PESSOA JURÍDICA 14.60 47.15 16.30 21.96
TÍTULOS E VALORES MOBILIÁRIOS 7.03 26.43 9.20 57.35
SPREAD MÉDIO 3.24 6.04 34.31 56.41
SPREAD MÉDIO PESSOA FÍSICA 6.48 2.40 46.10 45.02
SPREAD MÉDIO PESSOA JURÍDICA 8.18 1.46 33.96 56.40
Fonte: Elaborada pelo autor.
Nota: Os valores representam o percentual (%) explicado por cada variável (produto, IGP-DI, Selic e Indicador Bancário) na variância do erro
de previsão de indicadores do balanço bancário e de preços (spreads) nas operações de crédito.
Para indicadores do ativo do balanço bancário o que chama a atenção é o
baixo poder explicativo da taxa Selic sobre a variância no erro de previsão das
operações de créditos totais, ou seja, a taxa Selic explica aproximadamente 6% da
257
variância no erro de previsão sobre esta variável. Esse desempenho é justificado
pelo baixo efeito que a taxa exerce sobre o crédito direcionado, dado que a taxa
Selic explica apenas 3,82% da variância no erro de previsão dessa variável.
Em contrapartida, quando analisamos o segmento de crédito livre,
observamos um aumento significativo no poder preditivo da taxa de juros, uma vez
que esta explica 16,74% da variância no erro de previsão sobre o crédito livre total.
Esse poder é ainda mais expressivo, quando consideramos as variáveis a níveis
mais desagregados. No que diz respeito às operações de empréstimos e
financiamentos, a taxa de juros explica, respectivamente, 22,94% e 22,32% da
variância nos erro de previsão, sendo que, quando desmembrados nas categorias
créditos livres para pessoas físicas e jurídicas, a taxa Selic explica, 22,92% e
16,30% respectivamente.
O poder preditivo da taxa de juros também é expressivo para os títulos e
valore mobiliários sobre os quais contribui com 9,2% da variância no erro de
previsão.
No que se refere aos indicadores de preços nas operações de crédito,
observa-se um elevado poder preditivo da taxa de juros sobre os spreads cobrados
nas operações de crédito com pessoas físicas (46,10%) e jurídicas (33,96%). Como
era previsível, o mesmo padrão de comportamento observado nas funções de
resposta a impulso é observado na análise de decomposição da variância, ou seja, o
poder preditivo da taxa de juros é mais expressivo sobre os spreads cobrados nas
operações com pessoas físicas.
Em termos gerais, a análise de decomposição da variância nos erros de
previsão contribui para sancionar as evidências observadas através da análise das
funções de resposta a impulso, além de contribuir para confirmar o padrão de
comportamento observado nos resultados do teste de causalidade de Granger.
6.3.3 Considerações Finais
Algumas conclusões relevantes podem ser extraídas dos diversos testes
estatísticos utilizados para analisar o efeito da política monetária sobre variáveis do
ativo e passivo dos balanços bancários, em síntese podemos destacar que:
- A política monetária exerce efeito significativo sobre o volume de depósitos
mantidos pelas instituições bancárias, especialmente, sobre os depósitos à vista.
258
Portanto, os resultados demonstram estar em sintonia com as predições teóricas, ou
seja, a política monetária exerce influência sobre as variáveis do passivo bancário,
conforme sugere a visão tradicional (“visão da moeda”), confirmando a existência do
tradicional canal da moeda como um canal relevante para a transmissão da política
monetária.
- O comportamento das variáveis relacionadas às operações de crédito e
com títulos, valores mobiliários e instrumentos financeiros derivativos sinalizam que
a política monetária também exerce efeito significativo sobre o lado do ativo dos
balanços bancários. Como é possível observar, os bancos reagem aos choques de
política monetária reestruturando seu portfolio, onde passam a priorizar um aumento
no volume de títulos em detrimento de uma redução na carteira de operações de
crédito. Esse comportamento sugere que os bancos optam por uma estratégia de
alocação de recursos mais conservadora, ou seja, eles alteram a composição de sua
carteira de investimentos em benefício de ativos mais líquidos (títulos) e, em
detrimento dos ativos ilíquidos (crédito). Esse comportamento é previsível, em vista
do aumento no grau de incerteza no mercado financeiro, altamente contaminado por
assimetria de informações.
- As dificuldades na recuperação de créditos, determinadas pelas
incertezas jurídicas, aprofundam os problemas de assimetria de informação no
mercado de crédito, levando os bancos a restringir a oferta de recursos na
economia. Observa-se que, setores supostamente mais contaminados por
assimetria de informações, que são aqueles que estão mais diretamente
relacionados as reais condições de mercado, como é o caso do segmento de
mercado de crédito livre, em particular, o crédito para pessoas físicas, respondem
mais rápido e mais intensamente aos choques de política, o que reforça as
evidências em favor do canal do empréstimo bancário.
- As variáveis de preços (spreads) respondem rapidamente e intensamente
aos choques de política, demonstrando que o efeito da política monetária não se
restringe apenas as quantidades, nas operações de crédito. Além disso, observa-se
o efeito diferenciado promovido pelo choque de política em distintos segmentos de
mercado, corroborando com a suposição de que setores mais contaminados por
assimetria de informação são mais intensamente acometidos pelos choques de
política. Como já verificamos, em análise desenvolvida em capítulos anteriores, a
inadimplência e a deficiência de um sistema de garantias nas operações de crédito
259
contribuem para explicar a discrepância tanto nos spreads quanto nas taxas de juros
incorridos por distintos segmentos de mercado, dado que contribuem para
pressionar o prêmio de risco embutido nos spreads. Observa-se que o risco de
crédito não está associado somente à eventualidade de o devedor entrar em
inadimplência, mas também e, sobretudo, à eficiência no processo de recuperação
das garantias. Portanto, o risco de crédito embutido nos spreads é também afetado
pelo tratamento dado aos credores pela legislação falimentar vigente, bem como,
pela maior ou menor agilidade do processo judicial em promover a recuperação do
crédito. Uma vez que nenhum desses aspectos é favorável ao país, aumenta
enormemente o risco de crédito das instituições bancárias e, em particular, o prêmio
de risco embutido no preço do crédito. O que contribui para dar consistência a este
argumento é que, em alguns setores, onde foram encaminhadas medidas eficientes
para dirimir eventuais problemas que geram incerteza (como é o caso do segmento
de crédito para aquisição de veículos, e de crédito consignado), observou-se tanto
um aumento mais significativo na oferta de crédito como uma redução mais
expressiva nas taxas de juros e nos spread cobrados.
- Em termos gerais, existem discussões com relação à questão de se o
comportamento observado nas variáveis de crédito deve-se as decisões dos bancos
com relação à oferta de crédito ou se refletem simplesmente uma resposta passiva à
queda na demanda por crédito. Conforme observa Bernanke e Blinder (1992), se
esta última interpretação estivesse correta não haveria nenhuma razão para que os
bancos alterassem de modo tão significativo sua composição de portfolio, uma vez
que, de acordo com a visão tradicional, os empréstimos e os títulos são tidos como
substitutos perfeitos. Porém, mostrou-se que a composição de portfolio dos bancos
responde sistematicamente aos choques de política o que reforça os argumentos
favoráveis ao canal do crédito.
- Além do mais, conforme sugerem Kashyap e Stein (1993, 1994), se o
efeito sobre as variáveis de crédito fossem determinados pelo lado da demanda, não
haveria razão para o excessivo aumento observado nos spreads cobrados nas
operações de crédito. Na verdade, dever-se-ia observar o contrário, ou seja, os
spreads deveriam se reduzir por efeito de uma queda de demanda. Portanto, os
elevados spreads cobrados nas operações de crédito constituem indicativo favorável
ao argumento de que o comportamento do crédito é determinado do lado da oferta.
260
Em geral, todos os resultados obtidos nos testes estatísticos, que analisam
dados do balanço patrimonial dos bancos brasileiros, demonstram estar em sintonia
com os argumentos teóricos abordados pela “visão do crédito”, o que corrobora para
reforçar a concepção favorável a existência do canal de transmissão da política
monetária via empréstimos bancários.
6.4 EFEITO DA POLÍTICA MONETÁRIA SOBRE DIFERENTES AGREGADOS
ECONÔMICOS E SOBRE DISTINTOS SETORES DE PRODUÇÃO
Dadas as características do ambiente institucional no Brasil, e as
conseqüências por elas geradas, é razoável supor que a política monetária, ao
afetar as decisões de empréstimos dos bancos, também promovam efeitos sobre a
atividade produtiva, sendo que, estes efeitos tendem a mostrar-se mais significativos
em setores de produção que demonstram maior grau de dependência de crédito e,
onde os problemas de fricções informacionais tendem ser mais intensos.
Em virtude do baixo grau de desenvolvimento do mercado de capitais e, por
conseguinte, pelo baixo grau de substitutibilidade entre fontes alternativas de
financiamentos, espera-se que, a maior dependência dos empréstimos bancários,
assuma um papel relevante para explicar a diferença de desempenho nos distintos
setores produtivos.
Para testar a relevância empírica dessas suposições passaremos a analisar
como reagem distintos segmentos produtivos mediante um choque na política
monetária, procurando identificar qual a contribuição do empréstimo bancário para
explicar as diferenças no desempenho setorial, caso tais diferenças se confirmem.
6.4.1 Teste de Causalidade de Granger Considerando Diferentes Agregados
Econômicos e Distintos Setores de Produção
Nessa seção, procuramos testar as relações de causalidade que se
estabelecem entre algumas variáveis selecionadas [taxa Selic, taxa de juros e
spread médio cobradas nas operações de crédito, crédito total, crédito livre (pré-
fixado), crédito livre pessoa física, crédito livre pessoa jurídica e moeda (M1)] e o
nível de atividade produtiva, tomando em conta o nível do produto total, bem como,
o produto em níveis mais desagregados [bens de capital, bens intermediários e bens
261
de consumo (duráveis e não duráveis)]. O propósito da desagregação é de
identificar algumas especificidades setoriais.
Inicialmente, foram realizados testes de causalidade de Granger com base
em equações bivariadas em nível, utilizando-se, no máximo, nove defasagens
(Tabela 32). Especificações menos parcimoniosas foram descartadas porque
poderiam comprometer os graus de liberdade do teste e, porque se observa que os
efeitos mais significativos da política monetária sobre o produto real, no Brasil,
tendem a ocorrer entre seis e nove meses.
4
Para cada uma das variáveis indicativas
de atividade produtiva, a Tabela 32 mostra os resultados considerando a hipótese
nula de que o instrumento de política não-Granger causa o produto, além disso,
inverte-se a ordem de causalidade da hipótese nula, visando acessar o grau de
endogeneidade das variáveis de interesse.
No que se refere ao nível de atividade agregada, observa-se que a hipótese
nula de que as variáveis de interesse não Granger causam o produto não é rejeitada
para o agregado monetário e, em menor grau, para o spread médio cobrado nas
operações de crédito. Por outro lado, com um alto grau de significância, observa-se
que o indicador de política monetária (Selic), as taxas médias cobradas nas
operações de empréstimos e, as variáveis que representam o segmento de crédito
livre (pré-fixado), em especial, as operações de crédito com pessoas físicas,
demonstram conter informações relevantes para prever o nível do produto com até
nove meses de antecedência. No que se refere ao problema de endogeneidade,
observa-se que ele parece estar mais presente no agregado monetário, uma vez
que a hipótese nula de que o produto não Granger causa variável é rejeitado com
alto grau de significância.
O mesmo padrão de comportamento que se verifica a nível agregado é
observado nos setores produtores de bens de capital, e bens de consumo duráveis,
com a exceção de que, no setor produtor de bens de capital, o spread médio
cobrado nas operações de crédito também adquire um maior poder preditivo para o
produto futuro.
Com relação aos bens intermediários o que chama a atenção é a perda
significativa do poder preditivo tanto da Selic quanto do crédito com recursos livres, e
um aumento no problema de endogeneidade relacionada a essas mesmas variáveis.
4
A escolha da ordem de defasagem foi feita com base em Werlangm, Bogdanski e Tombini (2000) e
Souza Sobrinho (2003).
262
Para os bens de consumo não duráveis verifica-se uma perda no poder
preditivo da Selic, porém, uma permanência do poder preditivo do crédito embora
com menor grau de significância.
Tabela 32 - Teste de Causalidade de Granger Bivariado para Variáveis em
Nível – Atividade Produtiva
(Continua)
Produção Industrial Total
H0: Variável não Granger Causa PIB
Lag Selic Spread Médio Taxa Média Crédito Total Crédito Livre CLPF CLPJ M1 Obs
2 0.004*** 0,131 0,004*** 0,025** 0,006*** 0,002*** 0,041** 0,494 115
3 0.011** 0,232 0,010** 0,039** 0,020** 0,006*** 0,096* 0,596 114
6 0.009*** 0,090* 0,007*** 0,484 0,164 0,084* 0,390 0,798 111
9 0.040** 0,089* 0,009*** 0,277 0,117 0,032** 0,428 0,862 108
H0: PIB não Granger Causa Variável
Lag Selic Spread Médio Taxa Média Crédito Total Crédito Livre CLPF CLPJ M1 Obs
2 0.091* 0,267 0,268 0,118 0,245 0,034** 0,259 0,001*** 115
3 0.134 0,378 0,400 0,225 0,490 0,819 0,399 0,001*** 114
6 0.212 0,064* 0,206 0,267 0,667 0,920 0,668 0,022** 111
9 0.240 0,088* 0,108 0,054* 0,726 0,968 0,560 0,028** 108
Produção de Bens de Capital
H0: Variável não Granger Causa BK
Lag Selic Spread Médio Taxa Média Crédito Total Crédito Livre CLPF CLPJ M1 Obs
2 0,004*** 0,029** 0,006*** 0,056* 0,006*** 0,001*** 0,041** 0,706 115
3 0,003*** 0,063** 0,011** 0,114 0,018** 0,005*** 0,099* 0,653 114
6 0,008*** 0,133 0,016** 0,485 0,117 0,032** 0,445 0,254 111
9 0,019** 0,161 0,006*** 0,384 0,348 0,016** 0,461 0,996 108
H0: BK não Granger Causa Variável
Lag Selic Spread Médio Taxa Média Crédito Total Crédito Livre CLPF CLPJ M1 Obs
2 0,134 0,414 0,321 0,843 0,646 0,829 0,214 0,0002*** 115
3 0,178 0,125 0,206 0,934 0,798 0,280 0,344 0,0001*** 114
6 0,129 0,122 0,166 0,959 0,315 0,537 0,145 0,076 111
9 0,281 0,117 0,316 0,371 0,471 0,457 0,215 0,049** 108
Produção de Bens Intermediários
H0: Variável não Granger Causa BI
Lag Selic Spread Médio Taxa Média Crédito Total Crédito Livre CLPF CLPJ M1 Obs
2 0,157 0,265 0,039** 0,197 0,192 0,043** 0,372 0,855 115
3 0,165 0,569 0,159 0,118 0,136 0,062* 0,229 0,902 114
6 0,062* 0,762 0,351 0,285 0,576 0,254 0,626 0,994 111
9 0,246 0,686 0,389 0,235 0,350 0,034** 0,729 0,789 108
H0: BI não Granger Causa Variável
Lag Selic Spread Médio Taxa Média Crédito Total Crédito Livre CLPF CLPJ M1 Obs
2 0,036** 0,076* 0,020** 0,103 0,011** 0,004*** 0,048** 0,0004*** 115
3 0,089* 0,157 0,036** 0,199 0,039** 0,045** 0,115 0,0007*** 114
6 0,282 0,105 0,188 0,174 0,042** 0,131 0,147 0,292 111
9 0,418 0,134 0,293 0,061** 0,123 0,393 0,222 0,042** 108
Produção de Bens de Consumo
H0: Variável não Granger Causa BC
Lag Selic Spread Médio Taxa Média Crédito Total Crédito Livre CLPF CLPJ M1 Obs
2 0,025** 0,134 0,017** 0,068* 0,009*** 0,011** 0,019** 0,971 115
3 0,064* 0,305 0,052* 0,025** 0,029** 0,018** 0,060* 0,971 114
6 0,012** 0,268 0,040** 0,076* 0,014** 0,028** 0,032** 0,981 111
9 0,021** 0,061* 0,013** 0,050** 0,013** 0,016** 0,061* 0,999 108
H0: BC não Granger Causa Variável
Lag Selic Spread Médio Taxa Média Crédito Total Crédito Livre CLPF CLPJ M1 Obs
2 0,566 0,437 0,137 0,568 0,985 0,835 0,787 0,885 115
3 0,713 0,702 0,253 0,683 0,647 0,924 0,559 0,799 114
6 0,240 0,044** 0,059* 0,112 0,590 0,755 0,673 0,775 111
9 0,306 0,003*** 0,013** 0,005*** 0,563 0,854 0,699 0,871 108
Produção de Bens de Consumo Duráveis
H0: Variável não Granger Causa BCD
Lag Selic Spread Médio Taxa Média Crédito Total Crédito Livre CLPF CLPJ M1 Obs
2 0,0001*** 0,051* 0,00009*** 0,019** 0,015** 0,0028*** 0,048** 0,194 115
3 0,0003*** 0,156 0,00006*** 0,084* 0,044** 0,0062*** 0,146 0,602 114
6 0,0006*** 0,164 0,00007*** 0,086* 0,022** 0,0113 0,077* 0,154 111
9 0,0018*** 0,185 0,00012*** 0,089* 0,008*** 0,0009*** 0,096* 0,184 108
H0: BCD não Granger Causa Variável
Lag Selic Spread Médio Taxa Média Crédito Total Crédito Livre CLPF CLPJ M1 Obs
263
Tabela 32 - Teste de Causalidade de Granger Bivariado para Variáveis em
Nível – Atividade Produtiva
(Conclusão)
2 0,8320 0,752 0,7949 0,846 0,728 0,8491 0,433 0,0007*** 115
3 0,8956 0,383 0,5383 0,899 0,421 0,9771 0,239 0,0003*** 114
6 0,4970 0,150 0,1203 0,015 0,607 0,8065 0,515 0,2192 111
9 0,6284 0,09* 0,0563* 0,008*** 0,571 0,9473 0,541 0,1960 108
Produção de Bens de Consumo Não Duráveis
H0: Variável não Granger Causa BCND
Lag Selic Spread Médio Taxa Média Crédito Total Crédito Livre CLPF CLPJ M1 Obs
2 0,519 0,248 0,312 0,017** 0,049** 0,067* 0,057* 0,957 115
3 0,683 0,398 0,472 0,032** 0,137 0,179 0,158 0,977 114
6 0,412 0,352 0,519 0,130 0,185 0,452 0,198 0,736 111
9 0,278 0,109 0,207 0,122 0,302 0,254 0,427 0,642 108
H0: BCND não Granger Causa Variável
Lag Selic Spread Médio Taxa Média Crédito Total Crédito Livre CLPF CLPJ M1 Obs
2 0,526 0,459 0,047** 0,845 0,886 0,841 0,835 0,977 115
3 0,725 0,663 0,097* 0,827 0,816 0,886 0,843 0,967 114
6 0,553 0,301 0,117 0,723 0,804 0,924 0,842 0,989 111
9 0,644 0,121 0,122 0,130 0,840 0,964 0,900 0,473 108
Fonte: Elaborada pelo autor.
(*) Rejeição a 10%; (**) Rejeição a 5%; (***) Rejeição a 1%
Nota.: P-valores relativos ao teste F de exclusão dos parâmetros.
Também, foram realizados testes de causalidade de Granger utilizando-se
de modelos multivariados. Novamente, a variável dependente é representada por
diferentes indicadores de produção industrial e, para cada um desses indicadores,
os regressores variam de acordo com cada um dos três modelos considerados.
Cada modelo incorpora uma constante e o produto defasado, sendo considerado,
ainda - no primeiro modelo: a taxa de juros Selic e o crédito livre (pré-fixado); no
segundo modelo: a taxa de juros média cobrada nas operações de crédito, o crédito
livre (pré-fixado) e a moeda (M1); e, no terceiro modelo: o spread médio, o crédito
livre (pré-fixado) e a moeda (M1).
5
Como principais indicadores de ajuste para os modelos, foram calculados: o
coeficiente de determinação (
2
); o critério de Akaike (AIC); o p-value do teste de
normalidade de Jarque-Bera; o p-value associado à estatística Q de Ljung-Box para
a autocorrelação; testes para identificar a presença de heteroscedasticidade
condicional auto-regressiva (ARCH), com base na ordem de defasagem considerada
em cada modelo. Em geral, as regressões apresentaram um ajuste bastante
significativo, exceto em alguns casos em que a hipótese de normalidade dos
resíduos foi rejeitada.
Com relação aos modelos que incorporam a taxa Selic e o crédito livre (pré-
fixado), demonstrados na Tabela 33, observa-se que a taxa Selic mostra-se um bom
previsor do produto industrial agregado, sendo estatisticamente significante em três
das quatro especificações. De modo equivalente, embora com menor grau de
5
Esta metodologia foi desenvolvida com base no trabalho realizado por Bernanke e Blinder (1992).
264
significância, o crédito livre também se mostra um bom previsor do produto
agregado, em duas das quatro especificações. No entanto, sabe-se que o índice
geral de produção industrial reflete apenas o comportamento médio da indústria,
sendo que diferentes setores podem mostrar desempenho diferenciado no que se
refere à significância da taxa de juros e do crédito como previsores do produto.
Tabela 33 - Teste de Causalidade de Granger Multivariado para Variáveis em
Nível - Selic, Crédito Livre (Pré-Fixado) – (H0: Variável não
Granger Causa Produto)
Produção Industrial
Lag Selic CRÉDITO LIVRE R
2
AIC Normalidade Autocorrelação ARCH
2 0.0075*** 0.0124** 0.9646 -7.090 0.6329 0.9277 0.8639
3 0.0215** 0.0405** 0.9645 -7.035 0.6024 0.4715 0.8147
6 0.0158** 0.2685 0.9685 -6.983 0.9527 0.6524 0.8417
9 0.1257 0.3135 0.9715 -6.909 0.9089 0.1290 0.5535
Produção Industrial (Bens de Capital)
Lag Selic CRÉDITO LIVRE R
2
AIC Normalidade Autocorrelação ARCH
2 0.0171** 0.0254** 0.9355 -5.2471 0.8298 0.2671 0.1376
3 0.0105** 0.0690* 0.9374 -5.2191 0.5608 0.8867 0.4963
6 0.0203** 0.2612 0.9443 -5.1658 0.8188 0.5347 0.6463
9 0.0552* 0.6481 0.9511 -5.1149 0.7658 0.4512 0.2274
Produção Industrial (Bens Intermediários)
Lag Selic CRÉDITO LIVRE R
2
AIC Normalidade Autocorrelação ARCH
2 0.1898 0.1715 0.9762 -7.3602 0.0071*** 0.2509 0.8074
3 0.1381 0.0891* 0.9775 -7.3652 0.0259** 0.1209 0.6586
6 0.0548* 0.4806 0.9792 -7.2884 0.0923* 0.9794 0.7262
9 0.2619 0.3133 0.9801 -7.1742 0.5233 0.1783 0.4101
Produção Industrial (Bens de Consumo)
Lag Selic CRÉDITO LIVRE R
2
AIC Normalidade Autocorrelação ARCH
2 0.0941* 0.0322** 0.8763 -6.4472 0,4660 0.8446 0.7538
3 0.1240 0.0519* 0.8787 -6.4047 0.4392 0.1385 0.1607
6 0.0146** 0.0145** 0.9053 -6.4644 0.2816 0.5286 0.5958
9 0.1950 0.1284 0.9165 -6.3926 0.2046 0.1224 0.3172
Produção Industrial (Bens de Consumo Duráveis)
Lag Selic CRÉDITO LIVRE R
2
AIC Normalidade Autocorrelação ARCH
2 0.0003*** 0.0614* 0.9250 -4.590 0.4509 0.7239 0.3983
3 0.0002*** 0.0472** 0.9288 -4.579 0.3484 0.1032 0.3206
6 0.0003*** 0.0144** 0.9412 -4.584 0.9702 0.5001 0.1433
9 0.0032*** 0.0152** 0.9502 -4.553 0.8045 0.3564 0.3820
Produção Industrial (Bens de Consumo Não Duráveis)
Lag Selic CRÉDITO LIVRE R
2
AIC Normalidade Autocorrelação ARCH
2 0.8720 0.0810* 0.7065 -6.743 0.6618 0.7304 0.3080
3 0.9621 0.2331 0.7079 -6.686 0.6890 0.1567 0.1066
6 0.3905 0.1740 0.7522 -6.658 0.2839 0.5724 0.2350
9 0.6043 0.6466 0.7782 -6.571 0.1468 0.2002 0.2793
Fonte: Elaborada pelo autor.
(*) Rejeição a 10%; (**) Rejeição a 5%; (***) Rejeição a 1%
Nota.: P-valores relativos ao teste F de exclusão dos parâmetros.
As evidências confirmam esta expectativa, uma vez que a taxa Selic mostra-
se significativa para prever a produção no setor de bens de capital em todas as
especificações consideradas. De modo equivalente, no que se refere ao setor de
bens de consumo, a Selic se destaca com um alto grau de significância para prever
a produção no setor de bens de consumo duráveis. Entretanto, a Selic não é
significante na previsão da produção de bens intermediários e de bens de consumo
não duráveis. O crédito livre, embora com um menor grau de significância, mostra a
265
mesma tendência da taxa Selic no que se refere à previsão do produto, sendo que,
para a previsão da produção no setor de bens de capital mostra-se significativo em
duas das quatro especificações consideradas, e para o setor de bens de consumo
duráveis mostra-se significativa nos quatro modelos especificados.
Na Tabela 34, estão demonstrados os modelos que incorporam o crédito
livre, a moeda (M1), e a taxa de juros média cobrada nas operações de crédito com
recursos livres, a qual supõe-se carregar as mesmas informações contidas na taxa
Selic, além das informações relativas ao mercado de crédito. Observa-se que a taxa
média mostra-se um previsor do produto bastante significativo para o índice de
produção agregado e, particularmente, para o setor que produz bens de consumo
duráveis.
Tabela 34 - Teste de Causalidade de Granger Multivariado para Variáveis
em Nível – Taxa Média, Crédito Livre (Pré-Fixado) e Moeda (M1)
– (H0: Variável não Granger Causa Produto)
Produção Industrial
TAXA MÉDIA CRÉDITO LIVRE M1 R
2
AIC Normalidade Autocorrelação ARCH
2 0.0022*** 0.0567* 0.1441 0.9663 -7.1062 0.9959 0.7899 0.9677
3 0.0064*** 0.1080 0.2561 0.9665 -7.0419 0.9931 0.8012 0.8411
6 0.0149** 0.4301 0.3767 0.9709 -6.9555 0.8770 0.4523 0.3601
9 0.0315** 0.5167 0.5030 0.9753 -6.8859 0.4578 0.1611 0.6142
Produção Industrial (Bens de Capital)
TAXA MÉDIA CRÉDITO LIVRE M1 R
2
AIC Normalidade Autocorrelação ARCH
2 0.0400** 0.1140 0.7189 0.9348 -5.2018 0.5489 0.5269 0.4117
3 0.0652* 0.2009 0.5728 0.9365 -5.1523 0.7489 0.9582 0.5920
6 0.1345 0.7101 0.1346 0.9477 -5.1200 0.9189 0.3587 0.2374
9 0.0355** 0.8954 0.8971 0.9546 -5.0227 0.8373 0.1169 0.5848
Produção Industrial (Bens Intermediários)
TAXA MÉDIA CRÉDITO LIVRE M1 R
2
AIC Normalidade Autocorrelação ARCH
2 0.0183** 0.3253 0.3502 0.9777 -7.3901 0.0010*** 0.3568 0.7102
3 0.1085 0.3662 0.1920 0.9788 -7.3724 0.0042*** 0.1687 0.9429
6 0.2886 0.6606 0.2977 0.9802 -7.2287 0.0000*** 0.5005 0.4377
9 0.4391 0.4777 0.3599 0.9820 -7.1084 0.0368** 0.1552 0.0838
Produção Industrial (Bens de Consumo)
TAXA MÉDIA CRÉDITO LIVRE M1 R
2
AIC Normalidade Autocorrelação ARCH
2 0.0056*** 0.0351** 0.0863* 0.8852 -6.4869 0.0790* 0.7593 0.9606
3 0.0102** 0.0406** 0.2090 0.8873 -6.4254 0.1337 0.1426 0.0831
6 0.0172** 0.0622* 0.1232 0.9138 -6.4505 0.0577* 0.3210 0.7804
9 0.0205** 0.0815* 0.1494 0.9346 -6.4702 0.6491 0.7578 0.6882
Produção Industrial (Bens de Consumo Duráveis)
TAXA MÉDIA CRÉDITO LIVRE M1 R
2
AIC Normalidade Autocorrelação ARCH
2 0.0000*** 0.1642 0.0932* 0.9320 -4.6542 0.0438** 0.6533 0.4145
3 0.0000*** 0.1015 0.2643 0.9342 -4.6061 0.1602 0.2303 0.0277
6 0.0000*** 0.2087 0.1500 0.9506 -4.6508 0.2235 0.2475 0.1052
9 0.0001*** 0.0773* 0.1309 0.9625 -4.6705 0.3976 0.7112 0.4344
Produção Industrial (Bens de Consumo Não Duráveis)
TAXA MÉDIA CRÉDITO LIVRE M1 R
2
AIC Normalidade Autocorrelação ARCH
2 0.0804* 0.0862* 0.3775 0.7211 -6.7601 0.4148 0.8820 0.1172
3 0.1560 0.1592 0.5817 0.7232 -6.6874 0.4199 0.2525 0.1614
6 0.1100 0.1266 0.4877 0.7394 -6.5180 0.1828 0.4177 0.4757
9 0.0760* 0.1986 0.3928 0.8138 -6.5792 0.0039*** 0.1790 0.7652
Fonte: Elaborada pelo autor.
(*) Rejeição a 10%; (**) Rejeição a 5%; (***) Rejeição a 1%
Nota: P-valores relativos ao teste F de exclusão dos parâmetros.
266
Ao combinar duas variáveis que carregam informações relativas ao mercado
de crédito, ou seja, a variável de crédito livre juntamente com uma variável de preços
(taxa média), observa-se uma significativa redução no poder preditivo da variável de
crédito sobre o produto em praticamente todos os setores. A moeda, por sua vez,
mostra-se completamente insignificante para a previsão do produto em todos as
especificações consideradas.
Por fim, consideramos um modelo que leva em conta o spread médio
cobrado nas operações de crédito com recursos livres, juntamente com a variável
crédito livre (pré-fixado) e com a moeda (M1), onde procura-se isolar e testar apenas
o efeito que as variáveis que estão mais diretamente vinculadas ao mercado de
crédito exercem sobre o produto (Tabela 35). Como se pode observar, os resultados
para o spread bancário parecem adquirir um maior poder preditivo sobre o produto
agregado quando considerado em conjunto com as demais variáveis. E, a
semelhança do que ocorre com os demais modelos, parece exercer bastante
influência, juntamente com a variável de crédito, sobre a produção no setor de bens
de consumo duráveis. Com relação aos demais setores, o efeito que o spread
exerce sobre o produto obedece ao mesmo padrão observado nos modelos
bivariados, ou seja, é de pouca significância.
Tabela 35 - Teste de Causalidade de Granger Multivariado para Variáveis em
Nível – Spread, Crédito Livre (Pré-Fixado) e Moeda (M1) – (H0:
Variável não Granger Causa Produto)
(Continua)
Produção Industrial
SPREAD CRÉDITO LIVRE M1 R
2
AIC Normalidade Autocorrelação ARCH
2 0.0944* 0.0721* 0.2726 0.9640 -7.0402 0.7706 0.7728 0.4865
3 0.1120 0.0970* 0.4698 0.9646 -6.9846 0.6937 0.1401 0.6778
6 0.0134** 0.1415 0.4716 0.9710 -6.9580 0.7518 0.6275 0.1350
9 0.0069*** 0.1023 0.2173 0.9765 -6.9334 0.3772 0.1083 0.5416
Produção Industrial (Bens de Capital)
SPREAD CRÉDITO LIVRE M1 R
2
AIC Normalidade Autocorrelação ARCH
2 0.0848* 0.1214 0.8418 0.9339 -5.1883 0.5605 0.6539 0.4442
3 0.1574 0.2187 0.5983 0.9353 -5.1335 0.7916 0.8313 0.5369
6 0.1173 0.5388 0.0551 0.9479 -5.1243 0.9827 0.3765 0.5311
9 0.2208 0.7957 0.8186 0.9512 -4.9516 0.5340 0.1330 0.5551
Produção Industrial (Bens Intermediários)
SPREAD CRÉDITO LIVRE M1 R
2
AIC Normalidade Autocorrelação ARCH
2 0.0981* 0.2868 0.4223 0.9771 -7.3602 0.0132** 0.0919* 0.9661
3 0.1411 0.2311 0.2766 0.9787 -7.3667 0.0356** 0.0840* 0.9711
6 0.2854 0.4147 0.2463 0.9802 -7.2291 0.0000*** 0.3184 0.4349
9 0.1634 0.1305 0.1880 0.9828 -7.1573 0.4417 0.1309 0.1775
Produção Industrial (Bens de Consumo)
SPREAD CRÉDITO LIVRE M1 R
2
AIC Normalidade Autocorrelação ARCH
2 0.1807 0.0904* 0.2167 0.8779 -6.4254 0.1977 0.8871 0.6064
3 0.1638 0.0758* 0.4521 0.8808 -6.3688 0.2777 0.2004 0.0020
6 0.1450 0.0614* 0.1852 0.9085 -6.3908 0.2253 0.1616 0.4324
9 0.1100 0.1365 0.1306 0.9360 -6.4927 0.7530 0.3883 0.4740
Produção Industrial (Bens de Consumo Duráveis)
SPREAD CRÉDITO LIVRE M1 R
2
AIC Normalidade Autocorrelação ARCH
2 0.0450** 0.0245** 0.2286 0.9206 -4.4983 0.0744* 0.9253 0.6567
267
Tabela 35 - Teste de Causalidade de Granger Multivariado para Variáveis em
Nível – Spread, Crédito Livre (Pré-Fixado) e Moeda (M1) – (H0:
Variável não Granger Causa Produto)
(Conclusão)
3 0.0396** 0.0578** 0.4916 0.9233 -4.4526 0.0708* 0.1688 0.1600
6 0.1323 0.1402 0.1734 0.9389 -4.4373 0.1518 0.1534 0.3038
9 0.0734* 0.1664 0.1594 0.9508 -4.4170 0.5525 0.1227 0.7110
Produção Industrial (Bens de Consumo Não Duráveis)
SPREAD CRÉDITO LIVRE M1 R
2
AIC Normalidade Autocorrelação ARCH
2 0.5461 0.3751 0.6340 0.7111 -6.7250 0.4399 0.8420 0.2819
3 0.4399 0.4399 0.4399 0.7399 -6.6609 0.5057 0.0988* 0.1851
6 0.1715 0.3533 0.5158 0.7680 -6.6163 0.7224 0.1402 0.1394
9 0.0433* 0.3291 0.3922 0.8175 -6.5995 0.2109 0.1386 0.5834
Fonte: Elaborada pelo autor.
(*) Rejeição a 10%; (**) Rejeição a 5%; (***) Rejeição a 1%
Nota.: P-valores relativos ao teste F de exclusão dos parâmetros.
Procurou-se ainda inverter a ordem de causalidade da hipótese nula para
acessar o grau de endogeneidade das variáveis que compõem o modelo
multivariado. Como é possível averiguar na Tabela 36, o mesmo padrão de
comportamento observado nos modelos bivariados é identificado nos modelos
multivariados, ou seja, a taxa Selic e o crédito livre, mesmo quando considerados em
conjunto, não demonstram sinais de serem afetados pelo produto.
A taxa de juros média e os spreads cobrados nas operações de crédito, por
sua vez, demonstram algum grau de endogeneidade, porém com menor significância
que nos modelos bivariados. Os resultados para a moeda confirmam os problemas
de endogeneidade encontrados nos modelos bivariados, uma vez que, praticamente
todos os modelos multivariados que incorporam a moeda apresentam sinais
significativos de rejeição da hipótese nula de que produto não granger causa a
variável.
Tabela 36 - Teste de Causalidade de Granger Multivariado para Variáveis em
Nível (H0: Produto Não Granger Causa Variável)
(Continua)
Modelo 1 – (Selic e Crédito Livre)
Lag 2 3 6 9
Produção Industrial
Selic 0.1742 0.3927 0.3787 0.1721
Crédito Livre 0.7238 0.8226 0.8566 0.7654
Produção Industrial (Bens de Capital)
Selic 0.2798 0.4634 0.2532 0.3234
Crédito Livre 0.8020 0.9101 0.2469 0.3775
Produção Industrial (Bens Intermediários)
Selic 0.1556 0.4012 0.5720 0.3400
Crédito Livre 0.1705 0.1960 0.1415 0.1782
Produção Industrial (Bens de Consumo)
Selic 0.4389 0.6627 0.2773 0.2745
Crédito Livre 0.6463 0.7873 0.8576 0.7423
Produção Industrial (Bens de Consumo Duráveis)
Selic 0.8409 0.8611 0.4763 0.5181
Crédito Livre 0.3320 0.4642 0.6560 0.5182
Produção Industrial (Bens de Consumo Não Duráveis)
268
Tabela 36 - Teste de Causalidade de Granger Multivariado para Variáveis em
Nível (H0: Produto Não Granger Causa Variável)
(Conclusão)
Selic 0.3133 0.5921 0.5402 0.5953
Crédito Livre 0.6650 0.8565 0.9291 0.9495
Modelo 2 – (Taxa Média, Crédito Livre e M1)
Produção Industrial
Lag 2 3 6 9
Taxa Média 0.3095 0.5088 0.3655 0.1310
Crédito Livre 0.5901 0.6926 0.5333 0.8198
Moeda (M1) 0.0569* 0.0222** 0.3963 0.0109**
Produção Industrial (Bens de Capital)
Taxa Média 0.2980 0.1664 0.1306 0.0645*
Crédito Livre 0.3693 0.5163 0.2033 0.6098
Moeda (M1) 0.0730* 0.0320** 0.2072 0.0672*
Produção Industrial (Bens Intermediários)
Taxa Média 0.0218** 0.0353** 0.1839 0.2836
Crédito Livre 0.6184 0.6698 0.4072 0.7375
Moeda (M1) 0.0573* 0.0414** 0.2260 0.0122**
Produção Industrial (Bens de Consumo)
Taxa Média 0.0564 0.1299 0.0612* 0.1580
Crédito Livre 0.3249 0.4040 0.7712 0.6583
Moeda (M1) 0.1259 0.0270** 0.7006 0.0815*
Produção Industrial (Bens de Consumo Duráveis)
Taxa Média 0.6406 0.4238 0.0851* 0.0873*
Crédito Livre 0.1407 0.2322 0.6593 0.3830
Moeda (M1) 0.1277 0.0589* 0.4243 0.0685*
Produção Industrial (Bens de Consumo Não Duráveis)
Taxa Média 0.0107** 0.0313** 0.0784* 0.2227
Crédito Livre 0.4539 0.5237 0.8160 0.6372
Moeda (M1) 0.1201 0.0181** 0.8671 0.3583
Modelo 3 – (Spread Médio, Crédito Livre e M1)
Lag 2 3 6 9
Produção Industrial
Spread Médio 0.3590 0.6110 0.1399 0.0658*
Crédito Livre 0.5581 0.6426 0.5081 0.4837
Moeda (M1) 0.0749* 0.0505* 0.4171 0.0053***
Produção Industrial (Bens de Capital)
Spread Médio 0.5132 0.1433 0.1154 0.0637*
Crédito Livre 0.2874 0.3989 0.1425 0.3019
Moeda (M1) 0.0889* 0.0640* 0.3459 0.1833
Produção Industrial (Bens Intermediários)
Spread Médio 0.0687* 0.1460 0.0910* 0.1069
Crédito Livre 0.5083 0.6006 0.3385 0.4323
Moeda (M1) 0.0822* 0.1024 0.1901 0.0132**
Produção Industrial (Bens de Consumo)
Spread Médio 0.4046 0.6780 0.4950 0.1000
Crédito Livre 0.3251 0.3260 0.5798 0.3251
Moeda (M1) 0.1316 0.0338** 0.7945 0.0582*
Produção Industrial (Bens de Consumo Duráveis)
Spread Médio 0.8165 0.4756 0.0630* 0.0136**
Crédito Livre 0.1926 0.2716 0.5975 0.3086
Moeda (M1) 0.1424 0.0708* 0.5334 0.1844
Produção Industrial (Bens de Consumo Não Duráveis)
Spread Médio 0.3394 0.5294 0.2646 0.0461**
Crédito Livre 0.3956 0.4361 0.6587 0.5505
Moeda (M1) 0.1313 0.0242** 0.9862 0.3964
Fonte: Elaborada pelo autor.
(*) Rejeição a 10%; (**) Rejeição a 5%; (***) Rejeição a 1%
Nota.: P-valores relativos ao teste F de exclusão dos parâmetros.
Através dos testes de causalidade de Granger podemos extrair algumas
regularidades interessantes que se estabelecem entre as variáveis de interesse e a
atividade produtiva no Brasil, conforme veremos na seqüência:
269
- A taxa Selic, demonstra ser um previsor eficiente para o produto agregado,
no entanto, quando consideramos a atividade produtiva em níveis mais
desagregado, a Selic demonstra ser um bom previsor para a produção de bens de
capital e de bens de consumo duráveis, porém, reduz significativamente seu poder
preditivo nos setores produtores de bens intermediários e de bens de consumo não
duráveis.
- A variável crédito demonstra carregar informações relevantes para prever
o movimento futuro do produto e, essa disposição parece ficar mais evidente quando
consideramos a parcela de crédito que está mais proximamente relacionada às reais
condições de mercado, ou seja, o crédito com recursos livres (pré-fixados), em
especial, o crédito para pessoas físicas e jurídicas. Observa-se também um maior
poder preditivo das variáveis de crédito sobre o setor produtor de bens de capital e
de consumo, em particular, sobre o setor de bens de consumo duráveis.
- O agregado monetário demonstra não exercer nenhum efeito sobre o
produto tanto nos modelos bivariados como nos modelos multivariados, além disso,
trata-se da variável mais fortemente afetada pelo problema de endogeneidade. Isso
demonstra que a moeda, ao contrário da taxa Selic, não representa um bom
indicador de política monetária, uma vez que não se mostra um previsor eficiente
para as variáveis de interesse.
- A taxa de juro média e os spreads médios cobrada nas operações de
crédito com recursos livres demonstram exercer um relevante poder preditivo sobre
o produto, sendo este, diferenciado sobre distintos setores de atividade. Embora
demonstre um certo grau de endogeneidade, este se apresenta de pouca
significância, de modo que as evidências não são conclusivas.
- Observa-se que tanto o efeito da taxa Selic quanto o do crédito livre sobre
os diferentes segmentos produtivos mostram comportamentos distintos, e estas
diferenças parecem estar relacionadas aos diversos graus de dependência de
crédito como fonte de financiamento, apresentados pelos distintos setores
produtivos. As mudanças na taxa de juros e na oferta de empréstimos parecem
produzir efeitos mais significativos justamente em segmentos onde se supõe existir
um maior grau de dependência de crédito para o financiamento da atividade
produtiva, como é o caso do setor produtor de bens de capital e bens de consumo
duráveis.
270
- Dada a natureza de curto prazo das operações de crédito no Brasil,
observa-se que o efeito do crédito livre sobre o produto tende a ser mais significativo
em modelos mais parcimoniosos onde as variáveis de crédito conseguem exercer
um significativo poder preditivo sobre o produto com até seis meses de
antecedência.
- Uma vez que tanto a taxa de juros quanto o crédito livre mostram-se bons
previsores do produto em modelos mais parcimoniosos, isso se constitui em indício
de que a economia brasileira reage rapidamente aos choques de política monetária,
ou seja, mostra que a política monetária é relevante e que pode ser rapidamente
transmitida na medida em que ambos os canais demonstram contribuir para a sua
propagação. (SOUZA SOBRINHO, 2003).
6.4.2 Análise das Funções de Respostas a Impulso e de Decomposição da
Variância Considerando Diferentes Agregados Econômicos e Distintos Setores
de Produção
Nessa subseção seguiremos o mesmo padrão de análise utilizado para
identificar o efeito da política monetária sobre o balanço patrimonial dos bancos,
porém, com a atenção voltada para o impacto da política monetária sobre diversos
agregados econômicos, particularmente, sobre agregados relacionados à atividade
produtiva. O principal propósito aqui é compreender como diferentes setores da
economia respondem aos choques de política monetária, bem como, identificar a
relevância da contribuição do canal do empréstimo bancário para explicar as
diferenças de comportamento setorial.
Para cumprir este propósito, os modelos que analisaremos na seqüência,
utilizarão as seguintes variáveis de interesse - indicadores de produção [o índice de
produção industrial (geral); índice de produção por categoria de uso (produção de
bens de capital, bens intermediários e bens de consumo, sendo estes subdivididos
em bens de consumo duráveis e não duráveis); índice de produção por setores de
atividades (maquinas e equipamentos, equipamentos eletrônicos, veículos,
construção civil, vestuário, calçados e alimentos)]; um índice de preços (IGP-DI); a
taxa de câmbio nominal; moeda (M1); títulos públicos federais (indexados à taxa
Selic); a taxa de juros Selic; indicadores do mercado de crédito [crédito livre total,
crédito livre para pessoa física (crédito pessoal) e crédito livre para pessoa jurídica
271
(capital de giro)]; e, indicadores de preços para o crédito (spread médio geral, e
spread médio para pessoas físicas e jurídicas).
Na literatura macroeconômica, os modelos econométricos tem,
tradicionalmente, se concentrado em quatro variáveis básicas – atividade, preços,
taxa de juros de curto prazo, e moeda. Porém, para que uma equação possa ser
interpretada como uma função de reação da autoridade monetária deve abranger o
maior conjunto possível de informações, daí a razão do maior número de variáveis
que consideramos no sistema.
As principais variáveis macroeconômicas que geralmente refletem o efeito
da política monetária e que, de regra, são levadas em consideração pela autoridade
monetária, são os indicadores de produção, índices preços, taxas de câmbio, preços
dos ativos (índice de preços de ações, do mercado de títulos, e do mercado
imobiliário), moeda e crédito.
Comparando o lado real e monetário, a função de reação da autoridade
monetária, e a equação de inflação e atividade, podem também depender do
comportamento dos preços dos ativos. Assim, a taxa de câmbio e variáveis do
mercado de capitais (preços das ações e títulos), mostram-se importantes para a
constituição do sistema. Além disso, representam importantes canais de transmissão
da política monetária, como vimos anteriormente.
Para o caso do Brasil, em especial, onde os mecanismos de governança
corporativa são muito incipientes, e o mercado de capitais é muito pouco
desenvolvido, a variável de preços dos ativos mostrou-se de pouca significância no
modelo, portanto, foi desconsiderada. A taxa de câmbio, por sua vez, ao refletir
importante fonte de pressões inflacionarias na economia, constitui um importante
canal de transmissão da política monetária, portanto, foi considerada juntamente
com a moeda e o crédito para tornar possível dimensionar a importância relativa
destes distintos canais de transmissão da política monetária.
Dado que as variáveis de crédito que estamos considerando englobam
apenas as variáveis de crédito com recursos livres e a taxas pré-fixadas que,
conforme já verificamos, são aquelas que estão mais proximamente relacionadas as
reais condições do mercado, o período considerado pelas séries utilizadas nesse
segundo estágio da pesquisa inicia em outubro de 1996, momento a partir do qual
estas informações passaram a ser disponibilizadas pelo Banco Central, e vai até
julho de 2006.
272
As variáveis de interesse foram alocadas em distintos modelos de Vetor
Auto-Regressivos, sendo utilizados os valores em nível, respeitando o seguinte
ordenamento: índice de produção industrial, índice de preços, taxa de câmbio,
moeda (M1), títulos públicos, taxa Selic, crédito e spread. O ordenamento das
variáveis é baseado na decomposição de Cholesky para identificar os distúrbios
ortogonais
t
v . Para acessar o impacto exercido pela política monetária sobre
distintos setores de produção e a relevância de indicadores do mercado de crédito
para explicar essas disparidades, os diferentes modelos alternam, basicamente, os
indicadores de produção (índices de atividade produtiva) e de crédito (crédito livre e
spread), conforme é possível conferir na Tabela 37.
Sob o ordenamento que utilizaremos, a variável que representa o produto
não responde contemporaneamente aos choques nas demais variáveis, já que as
decisões de produção são implementadas com alguma defasagem de tempo. Os
índices de preços respondem aos choques no produto real, mas não aos choques
nas demais variáveis. A taxa de câmbio responde contemporaneamente aos
choques no produto e aos preços, mas não aos choques nas demais variáveis. A
taxa de juros, por sua vez, ajusta-se rapidamente aos choques de produção, de
preços, de câmbio, e do mercado monetário e do mercado de títulos. Por fim, supõe-
se que variáveis relacionadas ao mercado de crédito são afetadas pelas inovações
em todas as demais variáveis, mas os choques nesse mercado não se transmitem
instantaneamente para elas.
Sabe-se que, tanto a análise das funções de resposta a impulso como a
análise de decomposição da variância podem ser sensíveis ao ordenamento das
variáveis. Porém, os resultados encontrados mostram-se amplamente robustos aos
diferentes ordenamentos, ou seja, o padrão qualitativo do comportamento das
variáveis ao longo do tempo não demonstra sinais de alteração.
Dado o número de variáveis consideradas no sistema, aumenta o grau de
dificuldade em determinar o exato número e a forma das equações de co-integração.
Além disso, como já observamos, para o propósito da pesquisa, que é identificar
como diferentes variáveis reagem a um choque de política monetária, torna-se
irrelevante preocupar-se com a estrutura da co-integração que se estabelece entre
273
elas.
6
Os resultados para os testes de co-integração de Johansen são apresentados
na Tabela 43 do Apêndice C.
Em vista do comportamento singular de algumas séries, onde é possível
observar alguns out lines, os modelos estimados incorporam algumas variáveis
dummy com vistas a representar tais episódios. Assim, consideram-se três variáveis
dummy para representar os out lines na série de juros, uma para a série crédito livre,
uma para a série M1, e uma para capturar a mudança do regime cambial ocorrida
em janeiro de 1999, todas as quais, mostraram-se estatisticamente significativas.
Para a escolha da ordem de defasagem a ser utilizada na estimação dos
modelos, levou-se em conta a indicação de diferentes critérios estatísticos de
seleção. Porém, em alguns casos, foi necessário utilizar uma ordem de defasagem
mais elevada do que a indicada pelos testes, com vistas a eliminar eventuais
problemas de correlação serial nos resíduos, mantendo-se a preocupação em
preservar os graus de liberdade. A Tabela 37 mostra as defasagens selecionadas
pelos diferentes critérios estatísticos, bem como, aquelas efetivamente utilizadas na
estimação dos modelos.
Tabela 37 - Seleção da Ordem de Defasagem dos Modelos VAR para a Análise
do Produto
LR FPE AIC SC HQ DEFASAGEM
UTILIZADA
Produção Industrial - Credito Livre e Spread Médio 3 2 3 1 1 4
Produção Industrial - Crédito Livre e Spread (Pessoa Física) 2 2 2 1 2 4
Produção Industrial - Crédito Pessoal e Spread Pessoa Física 3 2 2 1 1 4
Produção Industrial - Crédito Livre e Spread (Pessoa Jurídica) 3 2 3 1 1 3
Produção Industrial - Capital de Giro e Spread Pessoa Jurídica 3 2 2 1 2 3
Bens de Capital - Credito Livre e Spread Médio 3 3 3 1 1 3
Bens Intermediários - Credito Livre e Spread Médio 3 3 2 1 1 3
Bens de Consumo - Credito Livre e Spread Médio 3 2 3 1 1 3
Bens de Consumo Duráveis - Credito Livre e Spread Médio 3 2 3 1 1 4
Bens de Consumo Não Duráveis - Credito Livre e Spread Médio 3 3 3 1 2 4
Maquinas e Equipamentos - Credito Livre e Spread Médio 3 2 3 1 2 4
Equipamentos Eletrônicos - Credito Livre e Spread Médio 3 2 3 1 2 4
Veículos - Credito Livre e Spread Médio 3 2 2 1 3 3
Construção Civil - Credito Livre e Spread Médio 3 3 3 1 1 3
Vestuário - Credito Livre e Spread Médio 3 2 2 1 1 4
Calçados - Credito Livre e Spread Médio 3 2 2 1 1 4
Alimentos - Credito Livre e Spread Médio 3 2 3 1 1 4
Fonte: Elaborada pelo autor.
(Cada teste foi realizado considerando o nível de significância de 5%) - LR: teste de razão de verossimilhança seqüencial para significância
da maior defasagem (Sequential Modified LR Test Statistic); FPE: erro de predição final (Final Prediction Error); AIC: critério de informação
de Akaike (Akaike Information Criterion); SC: critério de informação se Schuarz (Schwarz Information Criterion); HQ: critério de informação
de Hannan-Quinn (Hannan-Quinn Information Criterion).
6
Um VAR que inclui as variáveis de interesse em nível [integradas de ordem um I(1)] mostra-se
adequado, uma vez que a estimação é consistente, ou seja, cumpre o propósito da pesquisa e, ao
mesmo tempo, captura a relação de co-integração que existem no sistema (SIMS; STOCK;
WATSON, 1990; WATSON, 1994).
274
Os principais resultados estatísticos dos modelos estimados são
apresentados na Tabela 44 do Apêndice C. Os modelos demonstram um excelente
grau de ajustamento, e mostram-se satisfatórios no que se refere à ausência de auto
correlação e heteroscedasticidade condicional, dado que os testes LM e ARCH, para
cada equação individual, não rejeitam as hipóteses nulas em um grau
estatisticamente considerável. Entretanto, os resultados são pobres no que se refere
à hipótese de normalidade dos resíduos. Uma vez que os coeficientes estimados
nos diferentes modelos não são diretamente interpretados, e são de pouca
relevância para a presente análise, não serão apresentados.
6.4.2.1 Analise das Funções de Resposta a Impulso
Com base nos resultados obtidos pelos diferentes modelos de Vetor Auto-
Regressivos estimados, passaremos a analisar as funções de resposta a impulso
obtidas.
A Figura 13 apresenta as funções de resposta a impulso das principais
variáveis de interesse (índice de produção industrial, índice de preços, taxa de
câmbio, moeda (M1), títulos públicos, taxa Selic, crédito e spread) de um Vetor Auto-
Regressivo em nível, mediante um choque de um desvio padrão na taxa Selic, o
qual leva em conta, como variáveis de produto e de crédito, o índice de produção
industrial geral bem como o crédito livre total e spread médio (pré-fixado).
7
Em termos gerais, observa-se que o comportamento qualitativo das
variáveis - sucedendo a um choque de política monetária - está em sintonia com as
predições teóricas. Ou seja, como decorrência de um aumento na taxa de juros
observa-se uma redução na atividade produtiva, no nível de preços, na oferta de
moeda e do crédito, embora estatisticamente não significativa, verifica-se uma
tendência de valorização da taxa de câmbio (após um breve período de estabilidade
ou suave desvalorização), bem como, um significativo aumento no volume de títulos
e nos spreads médios cobrados nas operações de crédito (Cf. Tabela 45, Apêndice
C).
7
Com exceção da taxa de juros e do spread que são expressas em percentagem, e podem ser
interpretadas como variação em pontos percentuais relativos à base, as funções de resposta a
impulso das demais variáveis que estão expressas em logaritmo são interpretadas como taxa de
crescimento acumulado relativo a base.
275
-.010
-.008
-.006
-.004
-.002
.000
.002
.004
5 10 15 20 25 30 35 40 45 50
RESPOSTA DO PRODUTO TOTAL
-.012
-.008
-.004
.000
.004
.008
5 10 15 20 25 30 35 40 45 50
RESPOSTA DO IGP-DI
-.06
-.04
-.02
.00
.02
.04
.06
5 10 15 20 25 30 35 40 45 50
RESPOSTA DO CÂMBIO
-.012
-.008
-.004
.000
.004
.008
5 10 15 20 25 30 35 40 45 50
RESPOSTA DA MOEDA (M1)
-.02
-.01
.00
.01
.02
.03
5 10 15 20 25 30 35 40 45 50
RESPOSTA DOS TÍTULOS
-.04
.00
.04
.08
.12
.16
.20
5 10 15 20 25 30 35 40 45 50
RESPOSTA DA SELIC
-.03
-.02
-.01
.00
.01
.02
5 10 15 20 25 30 35 40 45 50
RESPOSTA DO CRÉDITO LIVRE
-.04
-.02
.00
.02
.04
.06
.08
.10
5 10 15 20 25 30 35 40 45 50
RESPOSTA DO SPREAD MÉDIO
Figura 13 - Funções de Resposta a Impulso - Índice de Produção Industrial
Geral, Crédito Livre Total e Spread Médio (Pré-Fixado)
Fonte: Elaborada pelo autor.
Como é possível constatar, o comportamento da economia mostra alguma
consistência com a análise convencional do mecanismo de transmissão da política
monetária, uma vez que, de acordo com concepção padrão (visão da moeda), o
Banco Central exerce influência sobre a taxa de juros de curto prazo a qual, devido à
rigidez de preços, acaba por exercer um certo efeito sobre o nível de produto. A
lenta resposta dos preços, após a contração monetária, e a rápida resposta do
produto são consistentes com este cenário. O efeito de choques na política
monetária sobre os preços não é sentido até que seu efeito sobre o nível do produto
tenha sido maximizado.
A função de resposta a impulso do produto mostra que a atividade se reduz
em aproximadamente 0,53% em relação à base logo após o choque, começa a
recuperar-se após o quinto mês e retorna ao nível original depois de transcorridos
aproximadamente dois anos. É possível notar que a resposta do produto ao
aumento da taxa Selic é bastante rápida, uma vez que, a redução máxima ocorre
entre dois e seis meses após o choque.
O nível de preços também se reduz, passando a mostrar uma queda mais
consistente em torno do oitavo mês. Como se pode observar, a redução dos preços
adquire uma certa persistência, porém, mostram-se estatisticamente insignificantes.
276
Uma possível explicação para essa resistência inicialmente apresentada para a
queda nos preços é que estes são determinados com alguma regra de mark-up
sobre uma estrutura de custos. Assim, um aumento na taxa de juros, ao aumentar os
custos – indiretamente via salários ou diretamente através de custos de serviços de
dívidas – impõe uma certa rigidez para a queda dos preços no curto prazo. Este
comportamento ocorre até o momento em que a atividade econômica (demanda) se
retrai o suficiente para justificar uma queda mais pronunciada nos preços. Essa
seqüência na resposta da atividade produtiva e dos preços sugere que a política
monetária opera pelo movimento da economia em torno (acima ou abaixo) do
equilíbrio de curto prazo (não vertical) na curva de Phillips.
Não obstante as respostas a impulso apresentem alguma consistência com
a analise convencional do mecanismo de transmissão da política monetária, o
comportamento destoante entre algumas variáveis introduz algumas incertezas em
relação à visão convencional. Como é possível observar, a função de resposta a
impulso da taxa Selic sugere que o instrumento de política monetária segue um
rápido e significativo processo de reversão, de modo que, o aumento associado com
uma inesperada restrição monetária é amplamente transitório, ou seja, a taxa de
juros retorna ao seu nível inicial em um espaço de tempo muito curto (em torno do
décimo mês após o choque). Em contrapartida, o efeito observado sobre produto
agregado se estende entre o quinto e o vigésimo mês. Este efeito tende a ser mais
extenso e mais significativo para alguns setores de produção específicos, conforme
veremos na seqüência.
A fraca correspondência no movimento entre a taxa Selic e o produto, que
se observa ao longo do tempo, ajuda a explicar a dificuldade de se encontrar uma
significativa robustez no efeito da taxa de juros sobre o produto, em trabalhos
empíricos. Devido à política monetária implementada pelo Banco Central exercer
seu efeito mais diretamente sobre as taxas de juros de curto prazo, parece muito
estranho o fato de exercer um efeito mais significativo e prolongado sobre setores
que, de regra, tendem a ser muito mais sensíveis às taxas de juros de longo prazo
(setor de bens de capital e bens de consumo duráveis).
Por conseguinte, tem se argumentado que é difícil explicar a magnitude, o
timing, e a composição da resposta da economia aos choques de política monetária
somente em termos do convencional efeito da taxa de juros. Deste modo, supõe-se
277
que o mecanismo conhecido como canal do crédito ajuda a ocupar o espaço não
preenchido pela visão tradicional.
Assim, sempre que fricções no mercado de crédito, associados a problemas
informacionais ou à um custoso processo de execução de contratos relacionados a
aspectos institucionais (deficiências no sistema de regras legais e ineficiência na
execução de regras), interferem na eficiência do funcionamento do mercado
financeiro, é comum observar um aumento significativo na cunha entre o custo dos
fundos obtidos externamente e o custo de oportunidade dos fundos internos, e uma
redução na oferta de crédito. Portanto, de acordo com a visão do crédito, a política
monetária afeta não apenas o nível geral da taxa de juros, mas também o tamanho
do prêmio de financiamento externo (spreads), e o volume de crédito disponível.
Este movimento complementar no prêmio de financiamento externo, por sua vez,
ajuda a explicar a força, o timing, e a composição da política monetária melhor que a
Selic por si só.
O aumento no prêmio de financiamento externo está associado às decisões
dos bancos em reduzir a oferta de crédito bancário (empréstimos e financiamentos).
Conforme já constatamos, as operações de mercado aberto, implementadas pelo
Banco Central, ao promover uma redução nas reservas e, conseqüentemente, nos
depósitos do sistema bancário acaba limitando a habilidade dos bancos em oferecer
crédito por reduzir seu acesso a fontes de recursos emprestáveis. Este efeito acaba
afetando o nível e a composição dos ativos bancários de forma mais pronunciada do
que o sugerido pelo tradicional efeito da taxa de juros e da moeda, os quais tem se
concentrado basicamente no efeito que a política monetária exerce no lado das
obrigações dos bancos.
É importante destacar que, a existência do canal do empréstimo bancário
não exige que os bancos sejam totalmente incapazes de substituir as perdas de
depósitos. Como observam Kashyap e Stein (1994), basta que os bancos não
enfrentem uma demanda perfeitamente elástica para os títulos (obrigações) que
tentam emitir no mercado aberto, para que as vendas de mercado aberto realizadas
pelo Banco Central também contribuam para aumentar o custo dos fundos captados
pelos bancos.
8
Assim sendo, um aumento nos custos dos fundos dos bancos
8
É razoável supor que a demanda por obrigações de bancos não são perfeitamente elásticas, uma
vez que os certificados de depósitos CDs são incompletamente protegidos por seguros de depósitos,
os quais ampliam as necessidades de avaliação e monitoramento por parte dos investidores. Assim,
278
aumenta o prêmio de financiamento, muda a oferta de crédito, e restringe o aceso
ao crédito de tomadores de empréstimos banco dependentes.
Para o caso do Brasil, em especial, verificou-se que aspectos institucionais
que garantem baixa proteção aos direitos de propriedade e a execução de contratos
contribuem de modo significativo para impedir com que os bancos substituam com
facilidade as perdas de depósitos por fontes alternativas de financiamento, uma vez
que, o mercado de capitais é muito pouco desenvolvido.
Portanto, é possível observar na Figura 13, que o spread médio cobrado
nas operações de crédito aumenta de forma significativa em relação à base (7,2%),
e tende a demorar mais que a taxa Selic para retornar ao seu nível pré-choque (em
torno de 20 meses). Os títulos aumentam significativamente nos primeiros meses
após o choque (cerca de 1,5%), atingem o pico após o quinto mês e depois caem
nos meses subseqüentes. Mesmo com a redução nos títulos, verifica-se uma
permanente retração na oferta de crédito livre, cuja redução atinge cerca de 1,28%,
após quatorze meses, iniciando, a partir de então, um processo de recuperação o
qual permite restaurar o nível inicial somente depois de transcorrido trinta meses
(dois anos e meio).
As funções de resposta do spread e do crédito a um choque de política
monetária mostram-se estatisticamente significativas e corroboram com os
argumentos em favor do canal do empréstimo bancário como um canal adicional
para a transmissão da política monetária.
Observa-se ainda que um choque de política exerce um efeito negativo
sobre o agregado monetário (M1), como era de se esperar, uma vez que reduz o
volume de depósitos mantidos pelas instituições depositárias. O efeito sobre o
agregado monetário inicia-se imediatamente, sendo que atinge sua queda máxima
em relação à base (0,46%) após nove meses, iniciando um processo de
recuperação e retornando ao seu nível inicial após trinta meses. Embora perceba-se
um movimento sincronizado entre as funções de resposta a impulso da moeda e do
crédito, a magnitude da resposta da moeda é menos intensa que a do crédito,
quando se considera os dados a nível agregado.
torna-se muito difícil para bancos pequenos e pobremente capitalizados fazer emissões significativas
de CDs. Além do mais, se o mercado de CDs não apresenta um grau de desenvolvimento ou de
liquidez satisfatório (onde muitos CDs são não negociados ou dificilmente comercializados no
mercado secundário) torna-se difícil atrair investidores a menos mediante o pagamento de elevadas
taxas de juros (BERNANKE; BLINDER, 1992; KASHYAP; STEIN, 1994).
279
Se considerarmos uma economia aberta, dado que a política monetária
pode responder não somente ao estado da economia doméstica, mas também, às
condições externas, incluímos a taxa de câmbio no modelo como uma variável que
carrega informações relevantes e que também constitui um importante canal de
transmissão de política, cuja dinâmica de comportamento já analisamos. A resposta
da taxa de câmbio, embora se apresente estatisticamente insignificante, se comporta
de acordo com o que prediz a teoria. Ou seja, após registrar uma certa resistência
inicial (primeiros cinco meses), embarca num processo de persistente valorização
chegando a atingir cerca de 2,32% em relação à base, dois anos após o choque. A
resistência inicialmente apresentada pela taxa de câmbio em valorizar-se,
imediatamente após o choque na taxa de juros, pode estar relacionada às incertezas
quanto às razões que incitaram o choque de política e quanto aos efeitos que tais
mudanças tendem a produzir na economia.
9
Até aqui, concentramos nossa atenção na analise do efeito de choques de
política monetária sobre algumas variáveis econômicas de interesse utilizando-se,
fundamentalmente, de dados agregados. Conforme observam Dale and Haldane
(1995), a utilização de dados setoriais proporcionaria alguns benefícios de ordem
econômica e econométrica. Do ponto de vista econômico, como já discutimos, o
trabalho de Bernanke e Blinder (1988) e de Kashyap e Stein (1994), sugerem que o
canal de transmissão monetária pode depender decisivamente do grau de
substituição entre fontes de financiamentos bancários ou não bancários. O grau de
substituição é provável para variar entre os setores, e estas diferenças setoriais são
ocultadas quando fizemos uso de dados agregados. A vantagem econométrica é
que, o uso de dados agregados referente ao crédito bancário e a alta colinearidade
que este impõe no movimento entre a moeda e o crédito devido à restrição no
balanço patrimonial dos bancos promovido pelo choque na política monetária,
dificulta qualquer análise da relativa contribuição da moeda e do crédito na
propagação do impulso monetário. Uma vez que a moeda e o crédito são restritos
para se moverem juntos, o uso de dados setoriais contribui ao remover parcialmente
esta restrição.
9
Conferir Christiano, Eichenbaum e Evans (1998), que fazem um survey das principais pesquisas já
realizadas, as quais procuram identificar o efeito de choques de política monetária sobre diferentes
agregados econômicos, e sob o ponto de vista de diferentes metodologias.
280
Para verificar se existem diferenças de comportamento setoriais, e
identificar a relevância do canal do crédito para explicar tais diferenças, inicialmente,
concentraremos a atenção no comportamento das variáveis de interesse quando
consideramos distintos modelos que incorporam o crédito livre e spread médio
cobrado nas operações de crédito com o setor pessoal (pessoa física – crédito
pessoal), bem como, o crédito livre e spread médio cobrado nas operações de
crédito com o setor corporativo (pessoa jurídica – capital de giro).
Assim, utilizando as principais variáveis de interesse (índice de produção
industrial, índice de preços, taxa de câmbio, moeda (M1), títulos públicos, taxa Selic,
crédito e spread) analisaremos as funções de resposta a impulso dos modelos de
Vetor Auto-Regressivo em nível, mediante um choque de um desvio padrão na taxa
Selic, o qual leva em conta, como variáveis de produto e de crédito, o índice de
produção industrial geral bem como o crédito livre e spread médio (pré-fixado) para
pessoas físicas e para pessoas jurídicas.
Confrontando as funções de resposta a impulso da Figura 14 (onde são
considerados o crédito livre e o spread médio nas operações com pessoas físicas)
com as da Figura 15 (onde são considerados o crédito livre e o spread médio nas
operações com pessoas jurídicas), são observadas significativas diferenças setoriais
(Cf. Tabelas 46 e 47, Apêndice C).
O efeito do choque na taxa de juros sobre a atividade produtiva e sobre o
nível de preços é maior, mais rápido e mais significativo, no modelo que incorpora as
operações de crédito com pessoas físicas do que no modelo que leva em conta as
operações de crédito com o setor corporativo. No modelo que considera os
empréstimos pessoais o produto atinge sua redução máxima logo no quarto mês,
registrando 0,6% de queda e, embora ensaie uma recuperação, não demonstra
sinais de retornar aos níveis pré-choque. Já no modelo que leva em conta variáveis
do setor corporativo, o produto registra seu menor valor 0,45% no quinto mês, inicia
uma recuperação, e retorna ao seu nível pré-choque em torno do vigésimo mês. A
resposta do produto, em ambos os setores, mostra-se altamente significativa. O
nível de preços, também, responde de forma mais rápida, mais intensa e mostra-se
mais significativa quando se considera o crédito para pessoas físicas, onde verifica-
se uma queda de 0,2%, logo nos primeiros meses. Quando considerado o crédito
para pessoa jurídica, o nível de preços passa a registrar queda após transcorrido um
ano, e mostra-se de pouca significância.
281
Estes resultados estão em sintonia com aqueles encontrados na literatura,
uma vez que confirmam uma resposta mais intensa do produto mediante um choque
de política monetária, quando associado ao setor pessoal (famílias) do que quando
associado ao setor corporativo (firmas). Conforme já discutimos, esse movimento é
justificável, uma vez que, o setor pessoal é contaminado por uma maior grau de
assimetria de informações no mercado de crédito e, portanto, sujeito a maiores
imperfeições e aos problemas por ela gerados. Além disso, representa um setor
onde há um maior grau de dificuldade para a substitutibilidade entre fontes de
financiamento alternativas, uma vez que, os clientes acabam por estabelecer um
grau de confiança com um particular intermediário com o qual mantêm relações, isto
é, estabelecem um grau de lock-in que cria uma certa resistência (custos) para
eventuais mudanças de intermediários.
10
Assim sendo, observa-se um efeito
amplificado de um choque na política monetária sobre as variáveis de interesse
(crédito, spread, preços e produto) quando consideramos o crédito para o setor
pessoal.
-.010
-.008
-.006
-.004
-.002
.000
.002
.004
5 10 15 20 25 30 35 40 45 50
RESPOSTA DO PRODUTO TOTAL
-.016
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.004
5 10 15 20 25 30 35 40 45 50
RESPOSTA DO IGP-DI
-.08
-.06
-.04
-.02
.00
.02
.04
5 10 15 20 25 30 35 40 45 50
RESPOSTA DO CÂMBIO
-.008
-.006
-.004
-.002
.000
.002
.004
.006
5 10 15 20 25 30 35 40 45 50
RESPOSTA DA MOEDA (M1)
-.02
-.01
.00
.01
.02
.03
.04
5 10 15 20 25 30 35 40 45 50
RESPOSTA DOS TÍTULOS
-.04
.00
.04
.08
.12
.16
.20
5 10 15 20 25 30 35 40 45 50
RESPOSTA DA SELIC
-.04
-.03
-.02
-.01
.00
.01
5 10 15 20 25 30 35 40 45 50
RESPOSTA DO CRÉDITO LÍVRE PESSOA FÍSICA
-.04
.00
.04
.08
.12
.16
5 10 15 20 25 30 35 40 45 50
RESPOSTA DO SPREAD MÉDIO PESSOASICA
Figura 14 - Funções de Resposta a Impulso - Índice de Produção Industrial
Geral, Crédito Livre Pessoa Física e Spread Médio Pessoa Física
(Pré-Fixado)
Fonte: Elaborada pelo autor.
10
Constituem exemplos de modalidades que implicam em um alto grau de relacionamento bancário
para as pessoas físicas os planos de seguro, de previdência, cheque especial, crédito pessoal, conta
salário, débito em conta, dentre outros.
282
-.008
-.006
-.004
-.002
.000
.002
.004
5 10 15 20 25 30 35 40 45 50
RESPOSTA DO PRODUTO TOTAL
-.016
-.012
-.008
-.004
.000
.004
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5 10 15 20 25 30 35 40 45 50
RESPOSTA DO IGP-DI
-.08
-.06
-.04
-.02
.00
.02
.04
.06
5 10 15 20 25 30 35 40 45 50
RESPOSTA DO CÂMBIO
-.012
-.008
-.004
.000
.004
.008
.012
5 10 15 20 25 30 35 40 45 50
RESPOSTA DA MOEDA (M1)
-.03
-.02
-.01
.00
.01
.02
.03
5 10 15 20 25 30 35 40 45 50
RESPOSTA DOS TÍTULOS
-.04
.00
.04
.08
.12
.16
.20
5 10 15 20 25 30 35 40 45 50
RESPOSTA DA SELIC
-.03
-.02
-.01
.00
.01
.02
5 10 15 20 25 30 35 40 45 50
RESPOSTA DO CRÉDITO LIVRE PESSOA JURÍDICA
-.04
-.02
.00
.02
.04
.06
.08
.10
5 10 15 20 25 30 35 40 45 50
RESPOSTA DO SPREAD MÉDIO PESSOA JURÍDICA
Figura 15 - Funções de Resposta a Impulso - Índice de Produção Industrial
Geral, Crédito Livre Pessoa Jurídica e Spread Médio Pessoa
Jurídica (Pré-Fixado)
Fonte: Elaborada pelo autor.
Como é possível constatar, as diferenças mais marcantes nas respostas
setoriais são aquelas relacionadas às variáveis do mercado de crédito (crédito livre e
spread médio). Quando se considera a oferta de crédito para diferentes segmentos,
observa-se uma queda mais expressiva na oferta de crédito para pessoas físicas
(1,6% em torno do décimo quarto mês) a qual, tende a ser persistente ao longo do
tempo, não mostrando sinais de retorno aos níveis pré-crise, e que é acompanhada
por uma elevação mais significativa nos spreads médios (8,3% em torno do cesto
mês) cobrados nesse segmento de mercado. Os efeitos dos choques sobre o
segmento de crédito para pessoas jurídicas, embora bastante significativo, é menos
intenso do que no segmento para pessoas físicas, uma vez que, a oferta de crédito
atinge seu menor nível (1,48%) em torno do décimo quarto mês, inicia um processo
de recuperação, e volta a ser positiva a partir do trigésimo mês, e o spread médio
atinge o máximo (6,2%) em torno do cesto mês, passando a reduzir-se a partir de
então, retornando aos níveis pré-choque.
Se considerarmos as linhas de crédito em nível ainda mais desagregado, ou
seja, tomarmos em conta, na categoria empréstimos para as pessoas físicas, o
crédito pessoal (para famílias) e, na categoria empréstimos para pessoas jurídicas, o
capital de giro (para as empresas) - as quais representam importantes linhas de
283
crédito no segmento de mercado livre - observamos diferenças setoriais ainda mais
significativas, conforme podemos averiguar pelas funções de resposta a impulso
demonstradas nas Figuras 16 e 17 (Cf. Tabelas 48 e 49, Apêndice C).
-.010
-.008
-.006
-.004
-.002
.000
.002
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5 10 15 20 25 30 35 40 45 50
RESPOSTA DO PRODUTO TOTAL
-.012
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5 10 15 20 25 30 35 40 45 50
RESPOSTA DO IGP-DI
-.06
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.02
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.06
5 10 15 20 25 30 35 40 45 50
-.008
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5 10 15 20 25 30 35 40 45 50
RESPOSTA DA MOEDA
-.02
-.01
.00
.01
.02
.03
.04
5 10 15 20 25 30 35 40 45 50
RESPOSTA DOS TÍTULOS
-.08
-.04
.00
.04
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.16
.20
5 10 15 20 25 30 35 40 45 50
RESPOSTA DA SELIC
-.04
-.03
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-.01
.00
.01
.02
5 10 15 20 25 30 35 40 45 50
RESOISTA DO CRÉDITO PESSOAL
-.04
.00
.04
.08
.12
5 10 15 20 25 30 35 40 45 50
RESPOSTA DO SPREAD MÉDIO PESSOASICA
RESPOSTA DO CÂMBIO
Figura 16 - Funções de Resposta a Impulso - Índice de Produção Industrial
Geral, Crédito Livre Pessoa Física (Crédito Pessoal) e Spread
Médio Pessoa Física (Pré-Fixado)
Fonte: Elaborada pelo autor.
-.008
-.006
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-.002
.000
.002
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5 10 15 20 25 30 35 40 45 50
RESPOSTA DO PRODUTO TOTAL
-.012
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5 10 15 20 25 30 35 40 45 50
RESPOSTA DO IGP-DI
-.08
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-.02
.00
.02
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5 10 15 20 25 30 35 40 45 50
RESPOSTA DO CÂMBIO
-.012
-.008
-.004
.000
.004
.008
5 10 15 20 25 30 35 40 45 50
RESPOSTA DA MOEDA
-.03
-.02
-.01
.00
.01
.02
.03
5 10 15 20 25 30 35 40 45 50
RESPOSTA DOS TÍTULOS
-.04
.00
.04
.08
.12
.16
5 10 15 20 25 30 35 40 45 50
RESPOSTA DA SELIC
-.016
-.012
-.008
-.004
.000
.004
.008
.012
.016
5 10 15 20 25 30 35 40 45 50
RESPOSTA DO CAPITAL DE GIRO
-.04
-.02
.00
.02
.04
.06
.08
.10
5 10 15 20 25 30 35 40 45 50
RESPOSTA DO SPREAD MÉDIO PESSOA JURÍDICA
Figura 17 - Funções de Resposta a Impulso - Índice de Produção Industrial
Geral, Crédito Livre Pessoa Jurídica (Capital de Giro) e Spread
Médio Pessoa Jurídica (Pré-Fixado)
Fonte: Elaborada pelo autor.
284
Do mesmo modo, percebe-se que, quando consideramos as respostas
setoriais em nível mais desagregado, a diferença mais notável nas funções de
resposta a impulso continua sendo sobre as variáveis de crédito (crédito pessoal,
capital de giro e spreads), o que sugere significativas especificidades setoriais para a
transmissão da política monetária através do canal do empréstimo bancário. Isso
ocorre devido ao fato de diferentes setores serem caracterizados pela dependência
de distintas modalidades de crédito, por serem marcados por distintos graus de
assimetria de informação e, por conseguinte, por distintos graus de substitutibilidade
entre fontes de financiamento alternativas.
No que se refere as linhas de crédito para as unidades familiares, como
resultado de um choque na taxa Selic, observa-se uma redução imediata e mais
expressiva na oferta de crédito pessoal que, nos primeiros meses, registra uma
queda de aproximadamente meio ponto percentual, o qual supera -1,5% em torno do
15º mês (Figura 16). Em contrapartida, para o setor corporativo (firmas), observa-se
inicialmente um aumento nos empréstimos para capital de giro, os quais registram
um acréscimo de aproximadamente 0,5%, durante os primeiros meses após o
choque (Figura 17). Ambos os movimentos mostra-se altamente significativos.
Este padrão qualitativo do comportamento setorial do crédito é consistente
com o que foi reportado por Gertler e Gilchrist (1993), e por Bernanke, Gertler e
Gilchrist (1994), o qual foi identificado como um vôo para a qualidade (“flight to
quality”), condição em que se busca alterar a composição de portfolio com vistas a
aumentar a parcela de ativos seguros, em detrimento dos ativos de maior risco. Ao
analisarmos o comportamento setorial da resposta das funções de impulso do
capital de giro e do crédito pessoal, estamos considerando uma distinção entre o
setor corporativo e o setor pessoal, equivalente a diferença entre tomadores de
empréstimos de maior qualidade (firmas) e de menor qualidade (unidades
familiares). Este padrão de comportamento parece consistente com o fato de que a
assimetria de informação entre os bancos e o setor pessoal parece ser
significativamente maior do que entre os bancos e as firmas ou, alternativamente,
que as famílias se assemelham às firmas de pequeno porte com relação a baixa
qualidade e o maior grau de risco que representam.
Sob a hipótese de “flight to quality”, duas condições são fundamentais: i) a
existência de uma significativa heterogeneidade entre os tomadores de
empréstimos; e, ii) uma crescente demanda para crédito de curto prazo seguindo
285
uma restrição monetária, para compensar um declínio no fluxo de caixa das
empresas. No curto prazo as firmas procuram satisfazer qualquer restrição de fluxo
de caixa resultante de uma restrição monetária aumentando suas obrigações
(tomando empréstimos), ou liquidando seus ativos (reduzindo depósitos). De tal
modo, o crédito para o setor corporativo aumenta, e os depósitos caem.
Conforme já observamos, a oferta total de crédito na economia é
significativamente reduzida por conta de um choque na taxa de juros, uma vez que
os bancos alteram sua composição de portfolio em favor de ativos mais líquidos e de
menor risco (títulos públicos) durante períodos em que problemas informacionais
tornam-se mais intensos e as fricções no mercado de crédito mais agudas. Desde
que, num ambiente contaminado por elevada assimetria de informações, apenas os
tomadores de empréstimos de alta qualidade estarão aptos a obter créditos
adicionais, enquanto a oferta de empréstimos para tomadores de baixa qualidade é
reduzida, observa-se, também, uma mudança qualitativa na composição (mix) dos
empréstimos bancários, ou seja, a parcela de recursos destinada para as operações
de crédito, embora sejam reduzidas, ganham maior qualidade.
Conforme sugere Bernanke e Blinder (1988), é provável que as
oportunidades de obtenção de empréstimos sejam amplamente restritas para as
pequenas firmas e para as famílias, as quais tipicamente enfrentam um maior grau
de fricção no mercado de crédito e um menor grau de substitutibilidade entre fontes
de financiamento alternativas, para as quais, os empréstimos bancários são
especiais, uma vez que representam a principal fonte de financiamento externo.
Assim, os empréstimos para estes setores caem seguindo um aumento na taxa de
juros.
11
A estimação das respostas setoriais, e as diferenças observadas nessas
respostas, oferecem novas evidências no debate entre a importância relativa do
crédito e da moeda para a transmissão da política monetária.
Comparando as Figuras 16 e 17, com a Figura 13 constata-se que as
diferenças de comportamento mais significativas são, efetivamente, das variáveis de
crédito. Observa-se que existe uma correlação muito próxima entre a resposta dos
empréstimos e da moeda no VAR que leva em conta as variáveis em nível agregado
11
Isto é consistente com os resultados obtidos por Gertler e Gilchrist (1993), que consideram as
respostas dos empréstimos para diferentes tipos de firmas, bem como, para as famílias nos EUA, e
concluem que a resposta dos empréstimos bancários para as famílias e para as pequenas firmas,
seguindo uma contração monetária, são muito similares.
286
(Figura 13), refletindo a imposição da restrição no balanço patrimonial dos bancos.
Isto tem o inconveniente, porem previsível, efeito de tornar impossível determinar a
relativa contribuição da moeda e do crédito na transmissão da política monetária
para a atividade produtiva. A titulo de exemplo, temos a pesquisa desenvolvida por
Bernanke e Blinder (1992) para os EUA, onde observa-se uma significativa
correlação entre a resposta do crédito agregado e a resposta do produto, o que
levou os autores a interpretarem isso como uma forte evidências em favor do canal
do empréstimo bancário como um importante canal para a transmissão da política
monetária.
Porém, estas evidências mascaram o fato de que o crédito, quando avaliado
a nível setorial, exibe comportamento distinto em função do grau de assimetria de
informação e de fricções apresentada pelos distintos setores, de modo que, os
setores que são mais duramente contaminado por problemas informacionais (de
maior risco) são prejudicados pela queda na oferta de crédito, enquanto setores
onde a assimetria de informação é menor (de baixo risco) se beneficiam com o
aumento da oferta de crédito.
Observa-se que a colinearidade que existe entre a moeda e o crédito a nível
agregado não se mantém quando levamos em conta diferentes modalidades de
crédito a nível setorial (Figuras 16 e 17). Diferentes modalidades de crédito
comportam-se de forma bastante distintas, e produzem efeitos diferenciados sobre a
atividade produtiva e sobre o nível de preços, o que sugere que o crédito carrega
importantes informações para a determinação do produto e dos preços na economia.
É provável que estas diferenças tendem a ser ainda mais intensas quando
consideramos diferentes setores de atividade produtiva. Isso revela que o
comportamento do crédito não faz refletir exclusivamente a imposição de restrição
do balanço de pagamento dos bancos, determinada pela política monetária restritiva.
Assim, a análise setorial ajuda a reforçar os argumentos em favor do canal
do crédito, uma vez que, o padrão de comportamento é consistente com o
pressuposto de que o crédito mostra-se um importante canal através do qual a
política monetária pode ser propagada para os setores que apresentam um menor
grau de substitutibilidade entre fontes alternativas de financiamento.
Em termos gerais, observa-se que existe uma diferença significativa no que
diz respeito à intensidade e ao timing das respostas das variáveis aos choques de
política nos diferentes segmentos de mercado, sendo que as diferenças observadas
287
na resposta do produto e nos preços parecem estar parcialmente relacionadas às
diferenças observadas no comportamento das variáveis de crédito. Isso constitui
evidência de que o canal do crédito representa um canal alternativo através do qual
a política monetária pode ser transmitida para a economia, ou seja, funciona como
um acelerador da política monetária contribuindo para intensificar o efeito do choque
na taxa de juros sobre o setor produtivo, e este comportamento tente a ser mais
intenso em setores onde o grau de assimetria de informações é mais significativo.
Assim sendo, podemos esperar que o choque de política monetária
promova efeitos bastante distintos sobre os diferentes setores de produção, e que o
crédito pode assumir, parcialmente, a responsabilidade por estas diferenças, uma
vez que, diferentes segmentos produtivos conservam distintos graus de
dependência do crédito como fonte de financiamento externo e, dentro de cada
segmento, existem distintas condições de acesso ao crédito. Deste modo, espera-se
que setores de produção que são mais dependentes de crédito tendem a responder
de forma mais intensa e mais rápida aos choques de política monetária, enquanto
setores cuja dependência é menor tendem a responder de forma mais lenta, sofrer
um impacto muito pequeno e se recuperar mais rapidamente aos choques de
política.
Portanto, o próximo passo consiste em analisar o impacto que a política
monetária exerce em diferentes setores produtivos da economia, procurando
destacar a responsabilidade do crédito na diferença de comportamento setorial.
A Figura 18 apresenta as funções de resposta a impulso de indicadores de
atividade produtiva a um choque de um desvio padrão na Selic, associadas a
diferentes VARs cujas especificações respeitam o mesmo ordenamento considerado
até então - produção industrial, índice de inflação, taxa de câmbio, M1, títulos
públicos, Selic, crédito livre total e spread médio – porém, com a diferença de que o
indicador de atividade varia de acordo com o setor produtivo considerado, e as
variáveis de crédito compreendem o crédito livre total e o spread médio.
Confirmando as expectativas, observa-se uma expressiva diferença com
relação à intensidade e ao timing da resposta do produto a um choque de política
monetária, nos diferentes segmentos produtivos considerados, os quais mostram-se
relevantes e estatisticamente significativos (Cf. Tabela 50, Apêndice C).
Sabe-se que a resposta do índice de produção industrial agregado reflete
apenas o comportamento médio da indústria, pois como se pode observar, os
288
diferentes setores de produção registram diferenças significativas no timing e na
intensidade da resposta aos choques de política.
Figura 18 - Funções de Respostas a Impulso do Produto em Diferentes
Segmentos da Atividade Produtiva
Fonte: Elaborada pelo Autor.
-.020
-.015
-.010
-.005
.000
.005
.010
5 10 15 20 25 30
RESPOSTA DO SETOR DE BENS DE CAPITAL
-.008
-.006
-.004
-.002
.000
.002
.004
5 10 15 20 25 30
RESPOSTA DO SETOR DE BENS INTERMEDIÁRIOS
-.010
-.008
-.006
-.004
-.002
.000
.002
.004
5 10 15 20 25 30
RESPOSTA DO SETOR DE BENS DE CONSUMO
-.03
-.02
-.01
.00
.01
5 10 15 20 25 30
RESPOSTA DO SETOR DE BENS DE CONSUMO DURÁVEI
S
-.006
-.004
-.002
.000
.002
.004
5 10 15 20 25 30
RESPOSTA DO SETOR DE BENS DE CONSUMO NÃO DURÁVEI
S
-.016
-.012
-.008
-.004
.000
.004
5 10 15 20 25 30
RESPOSTA DO SETOR DE MÁQUINAS E EQUIPAMENTO
S
-.05
-.04
-.03
-.02
-.01
.00
.01
.02
5 10 15 20 25 30
RESPOSTA DO SETOR DE ELETRONICOS
-.04
-.03
-.02
-.01
.00
.01
.02
5 10 15 20 25 30
RESPOSTA DO SETOR DE VEÍCULOS
-.010
-.008
-.006
-.004
-.002
.000
.002
.004
.006
5 10 15 20 25 30
RESPOSTA DO SETOR DE CONSTRUÇÃO CIVIL
-.020
-.015
-.010
-.005
.000
.005
.010
5 10 15 20 25 30
RESPOSTA DO SETOR DE VESTUÁRIOS
-.012
-.008
-.004
.000
.004
.008
5 10 15 20 25 30
RESPOSTA DO SETOR DE CALÇADOS
-.008
-.006
-.004
-.002
.000
.002
.004
.006
5 10 15 20 25 30
RESPOSTA DO SETOR DE ALIMENTOS
289
A produção, no segmento de bens de capital, onde a dependência do
crédito é bastante expressiva, e onde a produção está amarrada a setores altamente
dependentes de crédito, responde de forma muito rápida e mais intensa do que a
industria agregada aos choques de política, sendo que, logo no terceiro mês registra
uma queda que supera 1% em relação a base. Além disso, os efeitos dos choques
tendem a persistir por um horizonte de tempo mais longo (vinte seis meses), antes
de retornar aos níveis pré-choque.
A produção de bens intermediários, por sua vez, reage muito pouco nos
primeiros três meses após o choque, sendo que o efeito máximo da política é
sentido em torno do sexto mês quando é registrada uma queda de 0,5% em relação
à base, então, se inicia um processo de recuperação bastante rápido, uma vez que,
em torno do décimo quinto mês retoma seus níveis iniciais.
A produção de bens de consumo, por conseguinte, responde imediatamente
ao choque de política, sendo que, logo no segundo mês registra sua queda máxima
0,48% e, também, mostra um processo de recuperação bastante rápida. A resposta
do índice de produção de bens de consumo reflete apenas o comportamento médio
nesse segmento de mercado, de modo que, se considerarmos níveis inferiores de
desagregação, ou seja, analisarmos separadamente o setor de bens de consumo
duráveis e de bens de consumo não duráveis, constatamos diferenças setoriais
ainda mais expressivas, as quais pesam em favor do canal do crédito como
mecanismo de transmissão de política monetária.
O setor de produção de bens de consumo duráveis, como é de tradição,
opera com elevada dependência de crédito. Como é possível observar, esse setor
responde com bastante intensidade aos choques de política monetária, registrando
cerca de 2% de queda logo nos primeiros meses após o choque. A queda tende a
persistir por um intervalo de tempo equivalente a média da indústria (em torno de
vinte e um meses).
Por outro lado, a resposta do setor de bens de consumo não duráveis, onde
a dependência do crédito é sabidamente menor, demonstra uma pequena
sensibilidade aos choques de política, sendo que o efeito do choque além de
insignificante é dissipado em menos de dez meses. Embora reaja rapidamente ao
choque de política, o efeito é cerca da metade daquele verificado sobre a produção
agregada.
290
Se analisarmos a um nível mais desagregado, as diferenças de
comportamento mostram-se ainda mais acentuadas. Como é possível observar na
Figura 18, a produção de máquinas e equipamentos responde imediatamente, e
intensivamente aos choques de política, além disso, mostra sinais de queda
persistente, uma vez que, não se observa um retorno da produção aos níveis pré-
choque. Também, significativas e imediatas são as respostas da produção de
equipamentos eletrônicos e veículos as quais apresentam queda de 2,7% e 2%,
respectivamente, entre o terceiro e o quinto mês após o choque.
De forma menos intensa, porém, bastante significativa é a resposta do
produto no setor de insumos para a construção civil, nos setores de calçados,
vestuário e alimentos. Uma vez que representam setores menos intensivos em
crédito, acabam reproduzindo o comportamento do setor de bens de consumo não
duráveis. Estes representam setores que são muito mais dependentes da massa
salarial do que da oferta de crédito propriamente dito.
Dadas estas diferenças de comportamento, constata-se que, a resposta dos
setores que tradicionalmente operam com elevada dependência de crédito tende a
ser muito mais rápida e muito mais intensa aos choques de política. Essas
evidências tendem a se confirmar quando analisamos os diferentes setores
produtivos em níveis ainda mais desagregados.
6.4.2.1 Análise de Decomposição da Variância dos Erros de Previsão
Passaremos a analisar a decomposição da variância para os erros de
previsão dos indicadores de atividade produtiva, visando acessar a importância
relativa das variáveis de crédito e da moeda sobre indicadores de produto em
diferentes segmentos de atividade. Na Tabela 38, são apresentados os resultados
da decomposição percentual da variância do erro de previsão para os indicadores de
atividade produtiva após 24 meses, para cada um dos modelos VAR estimados.
Como se pode conferir, o efeito do instrumento de política monetária (taxa
de juros Selic) sobre os diversos segmentos produtivos mostra-se bastante
diferenciado, uma vez que, apresenta um maior poder preditivo sobre a variância do
erro de previsão no setor de produção de bens de capital e de bens de consumo
duráveis (maquinas e equipamentos, eletrônicos e veículos), porém, um reduzido
291
poder preditivo sobre os setores produtores de bens intermediários e de bens de
consumo não duráveis (vestuário, calçados e alimentos).
O crédito livre, embora apresente um menor poder preditivo, também
demonstra uma significativa alteração na explicação da variância do erro de previsão
sobre os diferentes segmentos da atividade produtiva. Observa-se que, na maioria
dos setores considerados, o poder preditivo do crédito é superior ao da moeda,
sendo que a moeda supera o crédito em setores onde o grau de dependência de
crédito é menor, ou seja, justamente em segmentos que dependem mais da massa
salarial do que do crédito propriamente dito, como é o caso do setor produtor de
vestuário, calçados e alimentos.
Tabela 38 - Decomposição da Variância para Indicadores de Atividade
Produtiva após 24 meses.
PRODUTO IGP-DI CÂMBIO MOEDA TÍTULO SELIC CRÉDITO
LIVRE
SPREAD
PORUTO TOTAL 37.92 19.67 12.93 1.92 7.39 16.38 2.54 1.25
PRODUTO TOTAL (P. Físicas)
1
35.52 20.69 10.27 1.10 6.13 17.51 5.38 3.40
PRODUTO TOTAL (P. Jurídicas)
2
38.38 25.39 13.10 0.50 5.09 14.71 1.47 1.36
PRODUTO TOTAL (Cred. Pessoal) 32.59 18.50 12.18 3.99 6.47 16.42 5.15 4.71
PRODUTO TOTAL (Cap. de Giro) 41.59 16.35 16.02 1.44 4.24 17.29 1.55 1.52
BENS DE CAPITAL 52.06 17.19 9.45 1.10 5.51 12.33 1.37 0.98
BENS INTERMEDIARIOS 43.76 31.25 9.12 0.13 2.74 9.58 2.92 0.50
BENS DE CONSUMO 57.60 15.39 10.19 2.70 4.23 5.75 3.12 1.00
BENS DE CONSUMO DURÁVEIS 34.53 17.79 10.51 2.22 12.77 15.38 5.16 1.65
BENS CONSUMO NÃO DURÁVEIS 64.99 4.46 17.64 1.21 3.15 3.53 1.79 3.24
MAQUINAS E EQUIPAMENTOS 48.27 18.44 4.31 3.88 7.24 14.58 1.04 2.24
ELETRÔNICOS 28.65 16.29 22.41 2.43 4.77 16.80 3.74 4.90
VEÍCULOS 36.78 24.09 3.88 9.04 12.46 8.55 3.49 1.71
CONSTRUÇÃO CIVIL 34.27 9.13 30.59 3.87 10.77 5.81 4.55 1.03
VESTUÁRIO 76.55 3.88 3.29 1.21 5.13 5.70 1.16 3.06
CALÇADOS 66.35 2.09 6.74 6.69 10.29 6.27 0.44 1.13
ALIMENTOS 74.94 3.95 4.96 4.21 5.94 3.28 0.92 1.80
Fonte: Elaborada pelo autor.
Nota: Os valores representam o percentual (%) explicado por cada variável (produto, IGP-DI, Câmbio, Moeda, Títulos, Selic, Crédito e
Spread) na variância do erro de previsão do produto.
(1)Para a análise do produto foram utilizadas no modelo as seguintes variáveis de crédito: o crédito livre e o spread médio para pessoa
física.
(2) Para a análise do produto foram utilizadas no modelo as seguintes variáveis de crédito: o crédito livre e o spread médio para pessoa
jurídica.
Quando avaliamos o poder preditivo das diferentes variáveis sobre o índice
de produto industrial total, alterando os indicadores de crédito, ou seja, utilizando
crédito livre total e o spread médio, bem como, o crédito livre e spread médio para
pessoas físicas (crédito pessoal) e jurídicas (capital de giro), constatamos mudanças
significativas relacionadas ao poder preditivo das variáveis de crédito.
Observa-se que, no modelo que considera o índice de produção industrial
geral juntamente com o crédito e o spread para pessoas físicas, tanto o crédito como
o spread aumentam seu poder preditivo sobre a variância no erro de previsão,
explicando, respectivamente, 5,38% e 3,4% da variância no erro. Em contrapartida,
292
quando se considera o crédito e o spread para pessoas jurídicas a explicação da
variância no erro de previsão reduz-se, respectivamente, para 1,47% e 1,36%. Esse
comportamento é confirmado quando consideramos as variáveis em nível ainda
mais desagregado onde o crédito pessoal e o spread para pessoas físicas
respondem, respectivamente, por 5,17% 4,71%, enquanto, o capital de giro e o
spread para pessoa jurídica respondem, respectivamente, por 1,55% 1,52% da
variância no erro de previsão.
Observa-se ainda que as variáveis de crédito tendem a aumentar seu poder
preditivo, ou seja, aumentar o percentual de explicação da variância no erro de
previsão sobre os setores cujas atividades são mais intensivas em crédito, como é o
caso do setor de bens de consumo duráveis onde o crédito explica 5,16% da
variância no erro de previsão, com destaque para os setores que produzem
aparelhos eletrônicos e veículos onde o crédito responde, respectivamente, por
3,74% e 3,49% da variância no erro. De modo equivalente, no setor que produz
insumos para a construção civil observa-se que o crédito livre e o spread médio
explicam, respectivamente, 4,55% e 1,03% da variância no erro de previsão.
Na medida em que o grau de dependência do crédito é reduzida, observa-
se uma significativa redução na importância do crédito como variável explicativa,
como é o caso do que se observa no setor de bens de consumo não duráveis onde
o crédito responde por 1,79% da variância no erro de previsão, com destaque para
os setores que produzem vestuário, calçados e alimentos, onde o crédito responde,
respectivamente, por 1,16%; 0,44% e por 0,92% da variância no erro de previsão.
Como se pode constatar, os resultados obtidos com a análise da
decomposição da variância para os erros de previsão dos indicadores de atividade
produtiva convergem com os resultados observados na análise das funções de
resposta a impulso, bem como, com os resultados obtidos através do teste de
causalidade de Granger. Esses resultados ajudam a reforçar as evidências em favor
do canal do crédito como um canal de transmissão de política adicional, o qual tende
a contribuir para intensificar a transmissão de choques de política monetária para a
atividade produtiva, em especial, para setores de produção que são mais
intensivamente dependentes de crédito.
293
6.4.3 Considerações Finais
Os testes utilizados para analisar o efeito da política monetária sobre a
atividade produtiva sugerem algumas conclusões relevantes:
- Quando analisamos os dados em nível agregado observamos um aumento
significativo na cunha entre o custo dos fundos obtidos externamente e o custo de
oportunidade dos fundos internos, e uma significativa redução na oferta de crédito.
Isso sugere que os resultados encontram-se em sintonia com as predições teóricas
da visão do crédito, segundo a qual, a política monetária afeta não apenas o nível
geral da taxa de juros, mas também, o tamanho do prêmio de financiamento externo
(spreads), e o volume de crédito disponível.
- Ao analisarmos distintos modelos em nível mais desagregado que
procuraram levar em conta diferentes modalidades de crédito - crédito para pessoas
físicas (crédito pessoal) ou crédito para pessoas jurídicas (capital de giro) -
juntamente com o índice de produção industrial agregado, constatamos que, o
produto e os preços respondem de forma distinta aos choques de política monetária,
e estas diferenças nas respostas mostram-se parcialmente relacionadas às
mudanças observadas nas variáveis de crédito (crédito livre e spread). Estas
evidências são confirmadas tanto através das funções de resposta a impulso como
pela análise da decomposição da variância no erro de previsão.
- Em conformidade com os prognósticos sugeridos por Bernanke e Blinder
(1988) e de Kashyap e Stein (1994), o canal de transmissão monetária mostra-se
depender do grau de substituição entre fontes de financiamentos para os distintos
segmentos da economia, dado que pode atingir os agentes de forma assimétrica,
dependendo do grau de relevância das imperfeições no mercado financeiro e do
grau e heterogeneidade por eles apresentado. Observa-se que setores onde
supostamente a assimetria de informação e os problemas por ela gerados sejam
mais intensos, enfrentam maiores fricções no mercado de crédito, quando
comparados com setores onde o problema de assimetria de informação é reduzido.
Isso é confirmado quando analisamos o comportamento distinto apontado pelas
variáveis de crédito para as famílias (crédito pessoal) e para as corporações (capital
de giro), em que, devido aos problemas de assimetria de informações oferecidos
pelos distintos segmentos, constatam-se diferenças no grau de substitutibilidade
294
entre fontes de financiamentos alternativas. Tais diferenças setoriais são ocultadas
quando fizemos uso de dados em nível agregado.
- Uma vez que o uso de dados referentes ao crédito bancário a nível
agregado dificulta qualquer análise da relativa contribuição da moeda e do crédito na
propagação do impulso monetário, devido à restrição no balanço patrimonial dos
bancos impor uma alta colinearidade no movimento entre a moeda e o crédito, uma
análise que leva em conta o uso de dados setoriais mostrou-se bastante eficiente
para remover parcialmente esta restrição.
- Ao variarmos o indicador de atividade produtiva, mantendo as variáveis de
crédito em nível agregado (crédito livre total e spread médio), os resultados sugerem
que, se o movimento do crédito ou do spread bancário fossem determinados
estritamente pelas condições da economia real, ou seja, pelo lado da demanda, o
comportamento da função de resposta a impulso das variáveis de crédito deveriam
reagir de forma distinta diante dos diferentes indicadores de atividade econômica,
porém, o que se verifica são mudanças significativas no comportamento dos
indicadores de atividade e não dos indicadores de crédito. E, é importante destacar
que estes resultados mostram-se robustos mesmo quando alteramos a ordem das
variáveis no modelo.
- O impacto do choque de política monetária sobre a atividade econômica
real, através do canal do crédito, mostra-se bastante assimétrica, uma vez que afeta
de forma mais intensa os setores de atividade que são mais intensivamente
dependentes de crédito, ou seja, onde a necessidade de empréstimos bancários de
curtíssimo prazo é mais significativa. Essa assimetria pode ser observada através
das funções de resposta a impulso dos diferentes setores de atividade produtiva
mediante um choque de política. E também, através da participação relativa das
variáveis de crédito (crédito livre e spread médio) quando se analisa a decomposição
da variância do erro de previsão, onde se constata que o crédito e o spread afetam
com maior intensidade os setores mais intensivos em crédito, onde, em geral, a
dependência dos empréstimos bancários mostra-se mais significativa.
- Confirmando as expectativas, observa-se uma expressiva diferença com
relação à intensidade e ao timing da resposta do produto a um choque de política
monetária nos diferentes segmentos produtivos considerados, os quais mostram-se
estatisticamente significantes, sendo que, as diferenças observadas na resposta do
produto parecem estar bastante relacionadas ao comportamento das variáveis de
295
crédito (crédito livre e spread). Dadas estas diferenças de comportamento, observa-
se que setores de produção que são mais dependentes de crédito respondem de
forma imediata e mais intensa aos choques de política, enquanto setores cuja
dependência é menor tendem a responder de forma mais lenta e sofrer um impacto
muito pequeno. Assim, pode-se dizer que o canal do crédito apresenta-se como um
canal adicional que contribui para acelerar o efeito da política monetária, ou seja,
para intensificar o efeito do choque na taxa de juros sobre a atividade produtiva.
- Sabe-se que cerca de 39% do crédito livre (pré-fixado) é destinado para
financiar operações de crédito com pessoas físicas e 61% para financiar as
operações de crédito com pessoas jurídicas, ambos com prazo médio de maturação
muito curto, cerca de 10,5 e 6,3 meses, respectivamente. O crédito para pessoas
físicas, em sua maioria, está direcionado para operações com cheque especial
(4,3%), crédito pessoal (13,7%) e aquisição de veículos (12,6%), os quais
constituem os principais instrumentos para o financiamento do consumo. Enquanto o
crédito para pessoa jurídica destina-se principalmente para financiar o capital de giro
(8,9%), conta garantida (9,6%) e o Adiantamento sobre Contratos de Câmbio (ACC)
(10,70%), que constituem os principais instrumentos para financiar a atividade
produtiva (vendas a prazo e acumulação de estoques). Dada estas características, é
justificável a rápida reação observada no comportamento tanto do crédito como do
produto nos distintos setores de atividade econômica, uma vez que, devido ao
curtíssimo prazo de maturação dos contratos de empréstimos, e da elevada
dependência por parte das empresas de empréstimos bancários, ambas as variáveis
tendem a responder de forma intensa e imediata a um choque de política monetária.
296
7 CONCLUSÃO
Conforme consideramos inicialmente, o principal objetivo proposto pela tese
foi de investigar se os bancos, em geral, e se os empréstimos bancários, em
particular, desempenham alguma função especial na economia brasileira, além de
atuarem como um canal passivo de intermediação financeira entre os poupadores e
os tomadores de empréstimos. O principal propósito consistiu em averiguar as
evidências teóricas e empíricas que visam desvendar a relevância do canal do
crédito, em especial, do canal do empréstimo bancário, como um canal adicional que
contribui para intensificar a transmissão dos efeitos da política monetária para o
produto e para o nível de preços.
O estudo levou em conta o ambiente institucional em que a economia
brasileira está inserida, cujo caráter específico, supôs-se de grande relevância para
o melhor entendimento das reais condições apresentadas pelo mercado financeiro e,
em especial, pelo mercado de crédito. A pesquisa teve como principal propósito
contribuir de forma original para o melhor entendimento da dinâmica de
funcionamento do mecanismo de transmissão da política monetária, no Brasil.
O renovado interesse em identificar o efetivo papel que o sistema bancário
assume na economia, em especial, para a transmissão da política monetária tem
resultado em uma profusão de trabalhos teóricos e empíricos, os quais tem
procurado desvendar a importância relativa que o “canal da moeda” (que atua via
passivo bancário) e o “canal do crédito” (que atua via ativo bancário) assumem
nesse processo. Estes estudos têm estabelecido que, sob certas circunstâncias, em
especial, na presença de assimetria de informação no mercado financeiro, o efeito
promovido pelo tradicional canal de transmissão da política monetária baseada na
“visão da moeda” pode ser potencializado por mudanças na oferta de empréstimos
dos bancos, conforme sugere a moderna teoria baseada na “visão do crédito”. Trata-
se de uma circunstância em que os bancos assumem um papel especial na
economia, o qual vai além da atuação passiva na intermediação dos recursos
financeiros sugerida pela visão tradicional.
Conforme constatamos pela revisão da literatura que abordam o referido
tema, um significativo número de trabalhos teóricos e empíricos tem sido realizados,
utilizado se de diferentes métodos de investigação. Embora o resultado da maioria
dos estudos sejam favoráveis a existência de um canal de transmissão de política
297
monetária via crédito, não existem resultados conclusivos e hermeticamente
fechados em seu favor. Isso se confirma, especialmente para o Brasil, onde as
pesquisas que abordam o tema, além de apresentarem-se em número reduzido,
demonstram resultados conflitantes.
Um fato importante a considerar é que as análises teóricas e empíricas que
se concentraram em identificar a relevância do canal do crédito não têm levado em
conta o ambiente institucional em que economias estão inseridas, cujo caráter
específico, podem oferecer significativos subsídios para o melhor entendimento do
referido problema, bem como, para explicar os diferentes resultados obtidos para
distintos países.
Em virtude de ambos – o canal da moeda e o canal do empréstimo -
operarem via sistema bancário, os aspectos institucionais que caracterizam o
mercado financeiro, em geral, e o setor bancário, em especial, na medida em que
interferem na estrutura e no comportamento do sistema, tendem a afetar as
condições no mercado de crédito e, por conseguinte, constituem elemento
importante a serem considerados para o melhor entendimento dos canais através
dos quais a política monetária pode se propagar.
A capacidade de instituições em proteger os direitos de propriedade e
executar a garantia desses direitos demonstram contribuir para explicar a magnitude
da assimetria de informação e dos problemas por ela gerados (seleção adversa,
risco moral e problemas de agência), o grau de desenvolvimento da estrutura de
intermediação financeira, em especial, o grau de desenvolvimento do mercado de
crédito, bem como, a forma com que se estabelece a alocação do crédito entre
diferentes setores produtivos da economia, e a forma ou intensidade com que o
montante do crédito responde aos choques de política econômica. Ao interferir no
comportamento dos bancos frente às mudanças na política monetária, os aspectos
institucionais demonstram conferir particular relevância ao canal do empréstimo
bancário, enquanto um canal de transmissão de política.
Para o caso do Brasil, em especial, a assimetria de informações no mercado
financeiro e os problemas por ela gerados - decorrentes das deficiências
apresentadas pelas instituições em garantir a devida proteção aos direitos de
propriedade privada dos investidores - tem sido apontada como uma das causas das
elevadas taxas de juros reais e dos spreads cobrados nas operações de crédito
bancário; pelo curto prazo de maturação das operações de crédito com recursos
298
livres; e, pela predominância de um elevado grau de segmentação do mercado de
crédito, particularmente, nas operações de crédito para o segmento de mercado
livre. As deficiências institucionais, caracterizadas pela baixa proteção assegurada
pelo sistema de regras legais e pela ineficiência com que tais regras são
executadas, tem sido responsabilizadas pela introdução de incertezas nas relações
contratuais estabelecidas entre credores e tomadores de empréstimos, bem como,
pela imposição de significativas fragilidades nas relações de empréstimos de curto
prazo e pela atrofia do mercado de crédito de longo prazo, sob a orientação de um
mercado livre.
Ao analisarmos as características do Brasil com base nos aspectos
institucionais considerados pela literatura de law and finance, algumas evidências
relevantes se destacam, a saber: uma fraca proteção assegurada aos direitos de
propriedade dos acionistas minoritários; uma baixa proteção concedida aos direitos
dos credores; uma elevada deficiência na execução das regras legais,
materializadas na ineficiência do judiciário, na morosidade nas decisões, no elevado
custo de uso e acesso à justiça, e no alto risco embutido na falta de imparcialidade e
previsibilidade das decisões judiciais; um alto grau de incerteza com relação ao
comportamento do Estado, consolidado no elevado risco de expropriação e de
repúdio aos contratos por parte do governo, agravadas por um intenso processo de
corrupção; e, uma elevada deficiência na estrutura informacional, refletida na falta de
transparência e qualidade nos padrões de demonstrações financeiras das empresas.
Estas características também podem ser apontadas como responsáveis
pelo baixo desenvolvimento do mercado financeiro brasileiro, o qual apresenta: um
mercado de capitais incipiente que, por ser contaminado por um elevado grau de
assimetria de informação, não representa um substituto perfeito para a obtenção de
recursos, tanto para as firmas bancárias como para as firmas não bancárias; e, por
um mercado de crédito muito pouco desenvolvido, o qual tem representado a
principal fonte externa de financiamento para as empresas, especialmente para as
de pequeno e médio porte.
Tomando em conta a hipótese de que a estrutura legal de um país, a
estrutura financeira e o mecanismo de transmissão de política monetária estão
interligados, supomos ainda que o efeito de um choque na taxa de juros sobre o
mercado de crédito e, conseqüentemente, sobre o produto e sobre os preços tende
299
a ser potencializado, num ambiente caracterizado por aspectos institucionais
adversos e contaminado por problemas informacionais.
A análise empírica que se propôs investigar a relevância desses
argumentos fundamentou-se em testes econométricos, compreendendo os testes de
causalidade de Granger, e na análise de Vetores Auto-Regressivo, especificamente,
das funções de respostas a impulso e da decomposição da variância dos erros de
previsão.
Primeiramente, procurou-se examinar a forma com que o balanço
patrimonial do sistema bancário reage aos choques de política monetária, buscando
identificar se esses choques afetam o balanço dos bancos através de seus passivos,
de seus ativos ou de ambos.
Ao analisarmos o lado do passivo do sistema, constatou-se que a política
monetária exerce efeito significativo sobre o volume de depósitos mantidos pelas
instituições bancárias, em especial, sobre os depósitos à vista. Isso sugere que os
resultados observados estão em sintonia com as predições teóricas tradicionais
(“visão da moeda”), segundo a qual a política monetária exerce influência sobre as
variáveis do passivo bancário, confirmando a existência do clássico canal da moeda
ou da taxa de juros, como um canal relevante para a transmissão da política
monetária.
No que se refere ao efeito da política monetária sobre o lado do ativo do
balanço dos bancos, o comportamento das variáveis relacionadas às operações de
crédito e com títulos, valores mobiliários e instrumentos financeiros derivativos
indicam que a política monetária também exerce efeitos significativos sobre os ativos
bancários. Constata-se que os bancos reagem aos choques de política monetária
reestruturando seu portfolio, onde passam a priorizar um aumento no volume de
títulos em detrimento de uma redução na carteira de operações de crédito. Esse
comportamento sugere que os bancos optam por uma estratégia de alocação de
recursos mais conservadora, ou seja, eles alteram a composição de sua carteira de
investimentos em benefício de ativos mais líquidos (títulos) e, em detrimento dos
ativos ilíquidos (crédito). Esse comportamento é previsível, em vista do aumento no
grau de incerteza no mercado financeiro, altamente contaminado por assimetria de
informações e por problemas de seleção adversa e risco moral que dela derivam.
As variáveis de preços (taxas e spreads cobrados nas operações de
empréstimos) também respondem rapidamente e intensamente aos choques de
300
política, demonstrando que o efeito da política monetária não se restringe apenas às
quantidades nas operações de crédito.
Observa-se ainda, o efeito diferenciado promovido pelo choque de política
em distintos segmentos de mercado (créditos e spreads para pessoas físicas e
jurídicas), confirmando a proposição de que setores supostamente mais
contaminados por assimetria de informações tendem a reagir mais rápido e, a ser
mais intensamente acometidos pelos choques de política. De modo geral, constata-
se que setores mais diretamente relacionados as reais condições de mercado, como
é o caso do segmento de mercado de crédito livre, em especial, aqueles
relacionados aos empréstimos e financiamentos para pessoas físicas, supostamente
mais contaminados por assimetria de informações, respondem mais rápido e mais
intensamente aos choques de política.
Como as evidências empíricas demonstram, a política monetária, além de
afetar o lado do passivo do balanço patrimonial dos bancos, exerce influência sobre
o comportamento dos bancos ao afetar, também, e de modo bastante significativo,
suas operações ativas. Esse comportamento está em sintonia com a teoria do “canal
do crédito” a qual sugere que fricções informacionais no mercado de crédito são
agravadas em períodos de restrição monetária, resultando em queda na oferta de
crédito e aumento no prêmio de financiamento externo.
A literatura do canal do crédito ainda sugere que, ao afetar as decisões dos
bancos em realizar empréstimos, a política monetária contribui para potencializar o
efeito dos choques sobre o produto e sobre os preços. Num segundo momento,
buscando testar a relevância empírica desses argumentos, procuramos identificar o
impacto que a política monetária exerce sobre diferentes segmentos do mercado de
crédito, bem como, sobre diferentes setores da atividade produtiva, visando acessar
a importância do canal do empréstimo bancário para explicar a intensidade e o
timing no comportamento do produto e dos preços, e identificar as diferenças no
desempenho setorial.
Ao analisarmos os dados em nível agregado, observou-se, como
decorrência de um aumento na taxa de juros, uma intensa e imediata redução no
produto, uma queda no nível de preços, na oferta de moeda, um aumento no volume
de títulos, um aumento significativo na cunha entre o custo dos fundos obtidos
externamente e o custo de oportunidade dos fundos internos (spreads), e uma
significativa redução na oferta de crédito. A política monetária demonstra afetar não
301
apenas o nível geral da taxa de juros, mas também, o tamanho do prêmio de
financiamento externo (spreads), e o volume de crédito disponível. Isso sugere que o
movimento complementar no prêmio de financiamento externo, juntamente com a
retração na oferta de crédito, ajudam a explicar a força, o timing, e a composição da
política monetária melhor que a Selic por si só.
Uma vez que o uso de dados referentes ao crédito bancário a nível
agregado dificulta a identificação da relativa contribuição da moeda e do crédito na
propagação do impulso monetário, pelo fato de o choque de política monetária
impor uma alta colinearidade no movimento entre a moeda e o crédito (ao restringir o
balanço patrimonial dos bancos), propomos uma análise que procurou leva em conta
o uso de dados setoriais, o qual mostrou-se bastante eficiente para remover
parcialmente esta restrição.
Uma análise em nível desagregado que procurou levar em conta diferentes
modalidades de crédito [crédito para pessoas físicas (crédito pessoal) ou crédito
para pessoas jurídicas (capital de giro)] demonstra que, o produto e os preços
respondem de forma distinta aos choques de política monetária, quando
considerados distintos segmentos do mercado de crédito, e estas diferenças nas
respostas mostram estar bastante relacionadas às mudanças observadas nas
variáveis de crédito.
As especificidades setoriais do comportamento das variáveis de crédito
sugerem que o canal de transmissão da política monetária via empréstimos
bancários dependem do grau de substituição entre fontes de financiamentos para os
distintos segmentos da economia, uma vez que, a política monetária afeta os
agentes de forma assimétrica, dependendo do grau de relevância das imperfeições
no mercado financeiro e do grau e heterogeneidade por eles apresentado. Em
setores onde a assimetria de informação e os problemas por ela gerados mostram-
se mais intensos, observa-se uma maior fricções no mercado de crédito, quando
comparados com setores onde a assimetria de informação é reduzida. Isso é
confirmado ao analisamos o comportamento das variáveis de crédito para as
famílias (crédito pessoal) e para as corporações (capital de giro), em que, devido à
assimetria de informações acometer de forma distinta os diferentes segmentos,
constatam-se diferenças no grau de substitutibilidade entre fontes de financiamentos
alternativas, e portanto, diferenças no comportamento das variáveis de crédito. Tais
diferenças setoriais são ocultadas quando fizemos uso de dados em nível agregado.
302
Ao analisarmos o comportamento de diferentes setores de atividade
produtiva mediante um choque de política monetária, observamos que o impacto do
choque mostra-se bastante assimétrico, uma vez que, demonstra afetar de forma
mais intensa os setores de atividade que são, supostamente, mais dependentes de
crédito, ou seja, onde a necessidade de empréstimos bancários de curtíssimo prazo
mostra-se mais significativa [ex.: setor de bens de capital (máquinas e equipamento)
e bens de consumo duráveis (aparelhos eletrônicos e veículos)], e menos
intensamente, os setores cuja dependência de empréstimos bancários é menor [ex.:
bens de consumo não duráveis (vestuário, calçados e alimentos)].
Essa assimetria pode ser observada através da forma distinta com que cada
setor de atividade responde ao choque de política e, também, através da
participação relativa das variáveis de crédito (crédito livre e spread médio) na analise
da decomposição da variância do erro de previsão, onde constata-se que o crédito e
o spread alteram sua importância relativa para diferentes setores de atividade,
afetando com maior intensidade os setores cuja dependência dos empréstimos
bancários demonstram-se mais expressiva.
Não obstante o mercado de crédito no Brasil mostrar-se bastante reduzido,
quando comparado aos padrões internacionais, a política monetária demonstra
contribuir para afetar o custo (spreads) e as decisões de empréstimos dos bancos, o
que acaba produzindo efeitos sobre o produto e sobre os preços. Esse
comportamento está relacionado a presença de fricções no mercado financeiro,
associadas ao aumento no grau de incerteza e do risco envolvido nas relações
contratuais estabelecidas entre credores e tomadores de empréstimos, sendo este
parcialmente explicado por deficiência institucionais. Este efeito mostra-se mais
expressivo em setores de produção onde o grau de dependência do crédito é mais
elevado e, onde os problemas de fricções informacionais, gerados por baixa
proteção dos direitos de propriedade e ineficiência na execução de contratos,
demonstram ser mais intensos.
Em um país onde as firmas mostram-se mais banco dependentes, onde o
sistema bancário apresenta-se mais vulnerável, e onde os mercados de capitais
apresentam-se muito pouco desenvolvidos, como é o caso do Brasil – é comum
observar-se uma maior sensibilidade das variáveis reais aos choques de política
monetária. Dadas as características apresentadas pelo Brasil (que, em geral, são
características comuns apresentadas pelos países cujo sistema legal derivam da
303
“civil law francesa”), a sensibilidade aos choques de política monetária tendem a
mostrar-se mais elevada do que em países com sistemas bancários e mercados de
capitais bem estruturados e consolidados, onde o direito de propriedade de
investidores, em geral, são mais bem protegidos por sistemas institucionais mais
eficientes (que são, na maior parte, países com origem na “common law” inglesa).
(CECCHETTI, 1999).
Constata-se, portanto, que a importância dos bancos não se restringe
apenas a de promover a intermediação financeira, uma vez que, demonstram
desempenhar uma função especial na economia brasileira. Ao realizarem
empréstimos, estabelecem um canal adicional através do qual a política monetária
pode ser transmitida contribuindo para explicar a performance da atividade
produtiva. O ambiente institucional em que a economia brasileira está inserida,
demonstra assumir um papel relevante nesse processo, na medida em que contribui
para explicar a magnitude da assimetria de informação e dos problemas por ela
gerados, o grau de desenvolvimento da estrutura de intermediação financeira, em
especial, o grau de desenvolvimento do mercado de crédito, a forma com que se
estabelece a alocação do crédito entre diferentes setores produtivos da economia, e
a forma ou intensidade com que o montante do crédito pode responder a choques
de política econômica, oferecendo subsídios em favor da suposta inter-relação entre
a estrutura legal, a estrutura financeira e o mecanismo de transmissão da política
monetária.
Em geral, as evidências demonstram estar em sintonia com a teoria do
“canal do crédito” a qual sugere que fricções informacionais no mercado financeiro
são agravadas em períodos de restrição monetária, resultando em queda na oferta
de crédito e aumento no prêmio de financiamento externo, o que contribui para
potencializar os efeitos de ações de política monetária sobre o produto e sobre os
preços. Além disso, corroboram com os argumentos levantados pela literatura de
“law and finance” segundo a qual aspectos institucionais, relacionados a baixa
proteção do direito dos investidores (associados às deficiências nas regras legais e à
ineficiência na execução dessas regras), contribuem para intensificar os problemas
informacionais, bem como, as fricções por eles geradas no mercado de crédito e de
capitais.
Algumas implicações importantes derivam desses resultados as quais
podem contribuir para enriquecer o conjunto de informações a disposição da
304
autoridade monetária, e melhorar sua atuação de modo a permitir uma maior
eficiência na condução da política monetária:
- Dada a relevância do canal do empréstimo bancário para economia
brasileira, constata-se que a política monetária pode ter importantes efeitos sobre a
atividade produtiva e sobre o nível de preços, mesmo que não promovam grandes
alterações na taxa de juros (Selic), uma vez que, pode afetar o prêmio de
financiamento externo (spread) e a oferta de crédito do sistema bancário. Deste
modo, estas variáveis mostram-se relevantes para a definição do padrão de política
a ser conduzida.
- Dadas as diferenças setoriais observadas no comportamento das variáveis
de crédito e do produto, o efeito global da política monetária sobre os gastos
agregados não podem ser completamente caracterizado por um vetor de preços,
uma vez que, mostram-se depender também de fatores adicionais, tais como, a
propensão à oferta de fundos, o grau médio de substituição entre diferentes fontes
de recursos, e da disparidade dessa taxa de substituição entre diferentes agentes
econômicos. Estas especificidades devem ser levadas em conta pela autoridade
monetária com vistas a aumentar a eficiência e a eficácia na condução da política
monetária.
- Uma vez que o canal do crédito implica que o processo de transmissão da
política monetária demonstra depender de características institucionais do sistema
financeiro, isto significa que mudanças estruturais na área financeira podem afetar a
transmissão da política monetária [ex.: o desenvolvimento e o aumento na eficiência
do mercado público de títulos (mercado de capitais), aumento de instituições
financeiras não bancárias, liberalização do mercado financeiro, aumento na
concorrência, imposição de requerimento de capital ajustado ao risco, dentre outras].
Assim, entender o canal do empréstimo bancário é um pré-requisito para entender
como inovações nas instituições financeiras podem influenciar a potência da política
monetária, e sua habilidade em compensar eventuais tipos de choques adversos.
- A política monetária, ao operar via canal do crédito, demonstrou ter
conseqüências distributivas que surgem não apenas pelo canal monetário, uma vez
que, podem afetar os agentes econômicos de forma assimétrica, dependendo do
grau de relevância das imperfeições no mercado financeiro e do grau de
heterogeneidade dos agentes. O canal do empréstimo bancário sugere que o custo
de um choque monetário pode afetar desproporcionalmente pequenas firmas que,
305
em geral, são incapazes de acessar o mercado público de capitais, e são geralmente
banco-dependente. De forma equivalente, pode afetar distintamente os bancos
responsáveis pela oferta de crédito, em virtude de apresentarem diferentes
características (tamanho, liquidez e capitalização). Tais desproporções devem ser
levadas em consideração para a formulação de políticas monetárias alternativas, em
diferentes arranjos institucionais e com alternativas hierarquias de financiamento.
- Uma vez que o canal do crédito mostra-se constituir uma parte importante
do mecanismo de transmissão da política monetária, então, os itens que compões os
ativos dos balanços bancários (em especial, variáveis de preços e quantidades nas
operações de crédito), deveriam ser o foco de maior atenção por parte das
autoridades responsáveis pela gestão da política monetária, principalmente, se
considerarmos o efeito diferenciado promovido pelo choque de política sobre
distintas modalidades de crédito, e pelo efeito diferenciado promovido sobre distintos
setores da atividade produtiva.
Em gerais, os resultados sugerem a importância de se levar em conta o
canal do crédito para aumentar a eficiência na condução da política monetária, uma
vez que ele constitui, juntamente com o canal monetário, um canal adicional pelo
qual a política monetária pode ser transmitida. É importante destacar que regras
simples de política podem produzir resultados bastante satisfatórios, porém, regras
mais complexas que levam em conta os diferentes canais pelos quais a política
monetária pode ser transmitida, bem como, a estrutura institucional subjacente,
podem produzir implicações bastante diferentes na economia e, provavelmente, com
resultados mais eficazes e, por conseguinte, muito mais satisfatórias.
Tem-se observado que o Brasil vem aprendendo, sob duras penas, a
importância de se ter uma política macroeconômica que ofereça certeza,
previsibilidade e calculabilidade às relações econômicas. Por conta dos resultados
obtidos na pesquisa, é importante destacar que contar com instrumentos
institucionais que ofereçam transparência nas regras legais e um eficiente
mecanismos para a sua execução, que tornem as regras do jogo econômico
transparentes e estáveis, dando clareza e previsibilidade às transações econômicas,
é tão ou mais importante quanto a estabilidade macroeconômica para dinamizar a
eficiência e a transparência dos mercados financeiros, a alocação de recursos, e
para recuperar a capacidade de crescimento econômico sustentável.
306
Medidas voltadas para a redução das incertezas macroeconômicas, que
tiveram como propósito viabilizar o planejamento de médio e longo prazo dos
agentes econômicos, foram fundamentais para criar um ambiente favorável à
realização de operações no mercado financeiro. A estabilidade da moeda e do
sistema financeiro, complementadas com um ambiente institucional adequado que
privilegie o cumprimento de contratos e que conceda a devida proteção aos direitos
de propriedade de investidores representam pilares básicos de uma economia de
mercado, pois permitem um maior grau de previsibilidade para a consolidação das
relações financeiras de curto e de longo prazo na economia (poupança, empréstimo
e investimentos).
Experiências recentes, para o Brasil, tem demonstrado que a alocação do
crédito tem aumentado significativamente e os custos tem sido reduzidos nos
setores onde a assimetria de informação é menor (ou onde foram implementados
esforços concentrados para reduzi-la), ou seja, onde os aspectos institucionais tem
se mostrado mais favoráveis ao ambiente de negócios (ex.: crédito consignado,
crédito para aquisição de veículos). Essa mesma regularidade tem sido observada
em nível internacional, onde países que oferecem um ambiente institucional
adequado, tem apresentado mercados financeiros (de crédito e de capital) mais bem
desenvolvidos onde, em geral, são registrados uma elevada relação entre o crédito
e o produto, bem como, um elevado valor comercializado no mercado de ações
como proporção do produto.
307
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325
APÊNDICE A – Análise Estatística das Séries de Interesse Envolvidas nas
Estimações
0.5
1.0
1.5
2.0
2.5
3.0
3.5
4.0
4.5
96 97 98 99 00 01 02 03 04 05 06
TAXA DE JUROS SELIC
-1.5
-1.0
-0.5
0.0
0.5
1.0
1.5
96 97 98 99 00 01 02 03 04 05 06
DIF TAXA DE JUROS SELIC
2
3
4
5
6
7
8
96 97 98 99 00 01 02 03 04 05 06
SPREAD MÉDIO
-1.2
-0.8
-0.4
0.0
0.4
0.8
96 97 98 99 00 01 02 03 04 05 06
DIF SPREAD MÉDIO
2
3
4
5
6
7
8
9
96 97 98 99 00 01 02 03 04 05 06
SPREAD PESSOA FÍSICA
-.8
-.6
-.4
-.2
.0
.2
.4
.6
.8
96 97 98 99 00 01 02 03 04 05 06
DIF SPREAD PESSOA FÍSICA
1
2
3
4
5
6
7
96 97 98 99 00 01 02 03 04 05 06
SPREAD PESSOA JURÍDICA
-1.6
-1.2
-0.8
-0.4
0.0
0.4
0.8
96 97 98 99 00 01 02 03 04 05 06
DIF SPREAD PESSOA JURÍDICA
Figura 19 - Evolução em Nível e em Primeira Diferença das Séries de Interesse
Envolvidas na Estimação
326
4.6
4.8
5.0
5.2
5.4
5.6
5.8
6.0
1996 1998 2000 2002 2004 2006
ÍNDICE GERAL DE PREÇOS (IGP-DI)
-.02
-.01
.00
.01
.02
.03
.04
.05
.06
1996 1998 2000 2002 2004 2006
DIF ÍNDICE GERAL DE PREÇOS (IGP-DI)
9.0
9.2
9.4
9.6
9.8
10.0
10.2
1996 1998 2000 2002 2004 2006
MOEDA (M1)
-.1
.0
.1
.2
.3
.4
1996 1998 2000 2002 2004 2006
DIF MOEDA (M1)
0.8
1.2
1.6
2.0
2.4
2.8
3.2
3.6
4.0
1996 1998 2000 2002 2004 2006
TAXA DE CÂMBIO
-.4
-.3
-.2
-.1
.0
.1
.2
.3
.4
.5
1996 1998 2000 2002 2004 2006
DIF TAXA DE CÂMBIO
16.6
16.8
17.0
17.2
17.4
17.6
17.8
18.0
18.2
1996 1998 2000 2002 2004 2006
TÍTULOS PÚBLICOS INDEXADOS À SELIC
-.3
-.2
-.1
.0
.1
.2
1996 1998 2000 2002 2004 2006
DIF TÍTULOS PÚBLICOS INDEXADOS À SELIC
Figura 19 - Evolução em Nível e em Primeira Diferença das Séries de Interesse
Envolvidas na Estimação
327
4.3
4.4
4.5
4.6
4.7
4.8
1996 1998 2000 2002 2004 2006
PRODUÇÃO INDUSTRIAL GERAL
-.16
-.12
-.08
-.04
.00
.04
.08
1996 1998 2000 2002 2004 2006
DIF PRODUÇÃO INDUSTRIAL GERAL
4.3
4.4
4.5
4.6
4.7
4.8
4.9
5.0
1996 1998 2000 2002 2004 2006
BENS DE CAPITAL
-.15
-.10
-.05
.00
.05
.10
.15
1996 1998 2000 2002 2004 2006
DIF BENS DE CAPITAL
4.3
4.4
4.5
4.6
4.7
4.8
1996 1998 2000 2002 2004 2006
BENS INTERMEDIÁRIOS
-.15
-.10
-.05
.00
.05
.10
1996 1998 2000 2002 2004 2006
DIF BENS INTERMEDIÁRIOS
4.48
4.52
4.56
4.60
4.64
4.68
4.72
4.76
1996 1998 2000 2002 2004 2006
BENS DE CONSUMO
-.08
-.06
-.04
-.02
.00
.02
.04
.06
.08
1996 1998 2000 2002 2004 2006
DIF BENS DE CONSUMO
Figura 19 - Evolução em Nível e em Primeira Diferença das Séries de Interesse
Envolvidas na Estimação
328
4.2
4.3
4.4
4.5
4.6
4.7
4.8
4.9
5.0
5.1
97 98 99 00 01 02 03 04 05
BENS DE CONSUMO DURÁVEIS
-.3
-.2
-.1
.0
.1
.2
97 98 99 00 01 02 03 04 05
DIF BENS DE CONSUMO DURÁVEIS
4.52
4.56
4.60
4.64
4.68
4.72
97 98 99 00 01 02 03 04 05
BENS DE CONSUMO NÃO DURÁVEIS
-.06
-.04
-.02
.00
.02
.04
.06
97 98 99 00 01 02 03 04 05
DIF BENS DE CONSUMO NÃO DURÁVEIS
4.2
4.4
4.6
4.8
5.0
5.2
5.4
5.6
97 98 99 00 01 02 03 04 05
EQUIPAMENTOS ELETRÔNICOS
-.4
-.3
-.2
-.1
.0
.1
.2
.3
97 98 99 00 01 02 03 04 05
DIF EQUIPAMENTOS ELETRÔNICOS
4.0
4.2
4.4
4.6
4.8
5.0
5.2
97 98 99 00 01 02 03 04 05
VEÍCULOS
-.3
-.2
-.1
.0
.1
.2
.3
.4
97 98 99 00 01 02 03 04 05
DIF VEÍCULOS
Figura 19 - Evolução em Nível e em Primeira Diferença das Séries de Interesse
Envolvidas na Estimação
329
4.40
4.45
4.50
4.55
4.60
4.65
4.70
4.75
1996 1998 2000 2002 2004 2006
CONSTRUÇÃO CIVIL (INSUMOS)
-.12
-.08
-.04
.00
.04
.08
.12
1996 1998 2000 2002 2004 2006
DIF CONSTRUÇÃO CIVIL (INSUMOS)
4.3
4.4
4.5
4.6
4.7
4.8
4.9
5.0
1996 1998 2000 2002 2004 2006
VESTUÁRIO
-.20
-.16
-.12
-.08
-.04
.00
.04
.08
.12
1996 1998 2000 2002 2004 2006
DIF VESTUÁRIO
4.4
4.5
4.6
4.7
4.8
4.9
5.0
5.1
1996 1998 2000 2002 2004 2006
CALÇADOS
-.3
-.2
-.1
.0
.1
.2
.3
1996 1998 2000 2002 2004 2006
DIF CALÇADOS
4.35
4.40
4.45
4.50
4.55
4.60
4.65
4.70
1996 1998 2000 2002 2004 2006
ALIMENTOS
-.16
-.12
-.08
-.04
.00
.04
.08
.12
1996 1998 2000 2002 2004 2006
DIF ALIMENTOS
Figura 19 - Evolução em Nível e em Primeira Diferença das Séries de Interesse
Envolvidas na Estimação
330
25.7
25.8
25.9
26.0
26.1
26.2
26.3
96 97 98 99 00 01 02 03 04 05 06
DEPÓSITOS
-.06
-.04
-.02
.00
.02
.04
.06
96 97 98 99 00 01 02 03 04 05 06
DIF DEPÓSITOS
24.8
24.9
25.0
25.1
25.2
25.3
25.4
96 97 98 99 00 01 02 03 04 05 06
DEPÓSITOS A PRAZO
-.12
-.08
-.04
.00
.04
.08
96 97 98 99 00 01 02 03 04 05 06
DIF DEPÓSITOS A PRAZO
22.8
23.0
23.2
23.4
23.6
23.8
24.0
24.2
96 97 98 99 00 01 02 03 04 05 06
DEPÓSITOS À VISTA
-.2
-.1
.0
.1
.2
.3
96 97 98 99 00 01 02 03 04 05 06
DIF DEPÓSITOS À VISTA
25.2
25.3
25.4
25.5
25.6
25.7
25.8
96 97 98 99 00 01 02 03 04 05 06
CDITO TOTAL
-.20
-.15
-.10
-.05
.00
.05
.10
96 97 98 99 00 01 02 03 04 05 06
DIF CRÉDITO TOTAL
Figura 19 - Evolução em Nível e em Primeira Diferença das Séries de Interesse
Envolvidas na Estimação
331
23.2
23.6
24.0
24.4
24.8
25.2
96 97 98 99 00 01 02 03 04 05 06
CRÉDITOS DIRECIONADOS
-1.0
-0.8
-0.6
-0.4
-0.2
0.0
0.2
96 97 98 99 00 01 02 03 04 05 06
DIF CRÉDITOS DIRECIONADOS
24.8
24.9
25.0
25.1
25.2
25.3
25.4
25.5
96 97 98 99 00 01 02 03 04 05 06
CRÉDITOS LIVRES
-.3
-.2
-.1
.0
.1
.2
96 97 98 99 00 01 02 03 04 05 06
DIF CRÉDITOS LIVRES
24.2
24.3
24.4
24.5
24.6
24.7
24.8
24.9
25.0
25.1
96 97 98 99 00 01 02 03 04 05 06
EMPRÉSTIMOS
-.4
-.3
-.2
-.1
.0
.1
96 97 98 99 00 01 02 03 04 05 06
DIF DEMPRÉSTIMOS
23.6
23.8
24.0
24.2
24.4
24.6
96 97 98 99 00 01 02 03 04 05 06
FINANCIAMENTOS
-.15
-.10
-.05
.00
.05
.10
.15
.20
.25
96 97 98 99 00 01 02 03 04 05 06
DIF FINANCIAMENTOS
24.6
24.8
25.0
25.2
25.4
25.6
25.8
96 97 98 99 00 01 02 03 04 05 06
TULOS E VALORES MOBILIÁRIOS
-.2
-.1
.0
.1
.2
.3
.4
96 97 98 99 00 01 02 03 04 05 06
DIF TÍTULOS E VALORES MOBILIÁRIOS
Figura 19 - Evolução em Nível e em Primeira Diferença das Séries de Interesse
Envolvidas na Estimação
332
17.7
17.8
17.9
18.0
18.1
18.2
18.3
18.4
18.5
18.6
97 98 99 00 01 02 03 04 05
CRÉDITOS LIVRES (PRÉ-FIXADAS)
-.10
-.05
.00
.05
.10
.15
.20
97 98 99 00 01 02 03 04 05
DIF CRÉDITOS LIVRES (PRÉ-FIXADAS)
16.0
16.4
16.8
17.2
17.6
18.0
97 98 99 00 01 02 03 04 05
CRÉDITOS LIVRES PESSOA FÍSICA (PRÉ-FIXADAS)
-.08
-.04
.00
.04
.08
.12
.16
.20
.24
.28
97 98 99 00 01 02 03 04 05
DIF CRÉDITOS LIVRES PESSOA FÍSICA (PRÉ-FIXADA)
17.4
17.5
17.6
17.7
17.8
17.9
18.0
97 98 99 00 01 02 03 04 05
CRÉDITOS LIVRES PESSOA JURÍDICA (PRÉ-FIXADAS)
-.08
-.04
.00
.04
.08
.12
.16
97 98 99 00 01 02 03 04 05
DIF CRÉDITOS LIVRES PESSOA JURÍDICA (PRÉ-FIXADAS)
14.8
15.2
15.6
16.0
16.4
16.8
17.2
97 98 99 00 01 02 03 04 05
CREDITO PESSOAL (PRÉ-FIXADA)
-.06
-.04
-.02
.00
.02
.04
.06
.08
97 98 99 00 01 02 03 04 05
DIF CREDITO PESSOAL (PRÉ-FIXADA)
15.6
15.8
16.0
16.2
16.4
16.6
16.8
97 98 99 00 01 02 03 04 05
CAPITAL DE GIRO (PRÉ-FIXADA)
-.20
-.15
-.10
-.05
.00
.05
.10
97 98 99 00 01 02 03 04 05
DIF CAPITAL DE GIOR (PRÉ-FIXADA)
Figura 19 - Evolução em Nível e em Primeira Diferença das Séries de Interesse
Envolvidas na Estimação
Fonte: Elaborada pelo autor.
333
Tabela 39 - Testes de Raiz Unitária - Dickey-Fuller Aumentado (ADF) e de
Philips-Perron (PP)
(Continua)
Critérios Constante Tendência Defasagens Estatística t Valores Críticos DW Obs OI
PRODUÇÃO INDUSTRIAL 1% 5% 10%
ADF SIM SIM 0 -3.205* -4.028 -3.444 -3.147 2.04 134 I(?)
PP SIM SIM 1 -3.170* -4.028 -3.444 -3.1468 2.04 134 I(?)
1ª Difer. NÃO NÃO 0 -13.585*** -2.582 -1.943 -1.615 1.94 133 I(0)
BENS DE CAPITAL 1% 5% 10%
ADF SIM SIM 0 -3.868** -4.025 -3.442 -3.146 2.28 134 I(?)
PP SIM SIM 5 -3.710** -4.028 -3.443 -3.146 2.23 133 I(?)
1ª Difer. NÃO NÃO 0 -13.488*** -2.582 -1.943 -1.615 2.00 133 I(0)
BENS INTERMEDIÁRIOS 1% 5% 10%
ADF SIM SIM 0 -3.528** -4.028 -3.443 -3.146 2.06 133 I(?)
PP SIM SIM 2 -3.608** -4.028 -3.443 -3.146 2.06 133 I(?)
1ª Difer. NÃO NÃO 0 -15.511*** -2.582 -1.943 -1.615 1.86 133 I(0)
BENS DE CONSUMO 1% 5% 10%
ADF SIM SIM 0 -2.577 -4.028 -3.443 -3.146 2.18 133 I(1)
PP SIM SIM 2 -2.422 -4.028 -3.443 -3.146 2.18 133 I(1)
1ª Difer. NÃO NÃO 0 -13.449*** -2.582 -1.943 -1.615 2.00 133 I(0)
BENS DE CONSUMO DURÁVEIS 1% 5% 10%
ADF SIM SIM 0 -2.277 -4.028 -3.443 -3.146 2.33 133 I(1)
PP SIM SIM 1 -2.072 -4.028 -3.443 -3.146 2.33 133 I(1)
1ª Difer. NÃO NÃO 0 -14.265*** -2.582 -1.943 -1.615 1.98 133 I(0)
BENS DE CONSUMO NÃO DURÁVEIS 1% 5% 10%
ADF SIM SIM 0 -3.862** -4.028 -3.443 -3.146 2.05 133 I(?)
PP SIM SIM 2 -3.746** -4.028 -3.443 -3.146 2.05 133 I(?)
1ª Difer. NÃO NÃO 0 -13.191*** -2.582 -1.943 -1.615 2.03 133 I(0)
TAXA DE JUROS SELIC 1% 5% 10%
ADF SIM SIM 0 -3.171* -4.025 -3.442 -3.146 2.03 134 I(1)
PP SIM SIM 2 -3.147* -4.025 -3.442 -3.146 2.03 134 I(1)
1ª Difer. NÃO NÃO 0 -12.575*** -2.582 -1.943 -1.615 1.88 133 I(0)
SPREAD MÉDIO 1% 5% 10%
ADF SIM SIM 0 -2.204 -4.025 -3.442 -3.146 2.11 134 I(1)
PP SIM SIM 0 -2.215 -4.025 -3.442 -3.146 2.11 134 I(1)
1ª Difer. NÃO NÃO 0 -6.487*** -2.582 -1.943 -1.615 2.00 133 I(0)
SPREAD MÉDIO PESSOA FÍSICA 1% 5% 10%
ADF SIM SIM 0 -3.023 -4.027 -3.443 -3.146 1.75 134 I(1)
PP SIM SIM 1 -3.011 -4.027 -3.443 -3.146 1.76 134 I(1)
1ª Difer. NÃO NÃO 0 -9.613*** -2.582 -1.943 -1.615 2.05 134 I(0)
SPREAD MÉDIO PESSOA JURÍDICA 1% 5% 10%
ADF SIM SIM 0 -2.697 -4.027 -3.443 -3.146 2.25 134 I(1)
PP SIM SIM 4 -2.716 -4.027 -3.443 -3.146 2.26 134 I(1)
1ª Difer. NÃO NÃO 1 -6.292*** -2.582 -1.943 -1.615 2.12 133 I(0)
MOEDA (M1) 1% 5% 10%
ADF SIM SIM 1 -2.638 -4.027 -3.442 -3.146 1.94 134 I(1)
PP SIM SIM 3 -2.447 -4.027 -3.443 -3.146 1.41 134 I(1)
1ª Difer. NÃO NÃO 0 -8.279*** -2.582 -1.943 -1.615 1.93 134 I(1)
ÍNDICE DE PREÇOS IGP-DI 1% 5% 10%
ADF SIM SIM 1 -1.958 -4.026 -3.443 -3.146 1.95 133 I(1)
PP SIM SIM 7 -1.530 -4.025 -3.442 -3.146 2.04 134 I(1)
1ª Difer. NÃO NÃO 0 -4.064*** -2.582 -1.943 -1.615 2.03 133 I(0)
TAXA DE CÂMBIO 1% 5% 10%
ADF SIM NÃO 1 -1.492 -3.479 -2.883 -2.578 1.99 134 I(1)
PP SIM NÃO 5 -1.473 -3.479 -2.883 -2.578 1.81 134 I(1)
1ª Difer. NÃO NÃO 0 -8.329*** -2.582 -1.943 -1.615 1.99 134 I(0)
TÍTULOS PÚBLICOS INDEXADOS À SELIC 1% 5% 10%
ADF SIM SIM 1 -2.695 -4.027 -3.443 -3.146 1.97 134 I(1)
PP SIM SIM 0 -2.702 -4.027 -3.443 -3.146 1.94 134 I(1)
1ª Difer. NÃO NÃO 0 -11.202 -2.582 -1.943 -1.615 1.97 134 I(0)
DEPÓSITOS 1% 5% 10%
ADF SIM NÃO 3 -0.834 -3.479 -2.883 -2.578 1,98 131 I(1)
PP SIM SIM 3 -0.292 -4.027 -3.443 -3.146 1,49 134 I(1)
1ª Difer. NÃO NÃO 2 -4.066*** -2.582 -1.943 -1.615 1,97 131 I(1)
DEPÓSITOS À PRAZO 1% 5% 10%
ADF SIM NÃO 1 -0.679 -3.479 -2.883 -2.578 2.08 133 I(1)
PP SIM NÃO 7 -0.7483 -3.479 -2.883 -2.578 1.22 134 I(1)
1ª Difer. NÃO NÃO 0 -7.652*** -2.582 -1.943 -1.615 2,07 133 I(0)
DEPÓSITO À VISTA 1% 5% 10%
ADF SIM SIM 0 -3.030 -4.027 -3.443 -3.146 2,19 134 I(1)
PP SIM SIM 7 -2.896 -4.027 -3.443 -3.146 2,18 134 I(1)
1ª Difer. NÃO NÃO 0 -13.02*** -2.582 -1.943 -1.615 2,00 133 I(0)
CRÉDITO TOTAL 1% 5% 10%
ADF SIM NÃO 1 -1.531 -3.479 -2.883 -2.578 1,93 133 I(1)
PP SIM NÃO 2 -1.403 -3.479 -2.883 -2.578 1,59 134 I(1)
334
Tabela 39 - Testes de Raiz Unitária - Dickey-Fuller Aumentado (ADF) e de
Philips-Perron (PP)
(Conclusão)
Critérios Constante Tendência Defasagens Estatística t Valores Críticos DW Obs OI
1ª Difer. NÃO NÃO 0 -9.356*** -2.582 -1.943 -1.615 1,93 133 I(0)
CRÉDITO DIRECIONADO 1% 5% 10%
ADF NÃO NÃO 0 -1.139 -2.582 -1.943 -1.615 1.96 134 I(1)
PP NÃO NÃO 2 -1.118 -2.582 -1.943 -1.615 1.96 134 I(1)
1ª Difer. NÃO NÃO 0 -11.176*** -2.582 -1.943 -1.615 2.00 133 I(0)
CRÉDITO LIVRE 1% 5% 10%
ADF SIM SIM 0 -1.347 -4.027 -3.443 -3.146 1,67 134 I(1)
PP SIM SIM 4 -1.634 -4.027 -3.443 -3.146 1,67 134 I(1)
1ª Difer. NÃO NÃO 0 -9.788*** -2.582 -1.943 -1.615 2,00 133 I(0)
EMPRESTIMOS 1% 5% 10%
ADF SIM SIM 0 -1.177 -4.027 -3.443 -3.146 1,79 134 I(1)
PP SIM SIM 0 -1.177 -4.027 -3.443 -3.146 1,79 134 I(1)
1ª Difer. NÃO NÃO 0 -10.326*** -2.582 -1.943 -1.615 1,99 133 I(0)
FINANCIAMENTOS 1% 5% 10%
ADF SIM SIM 1 -2.327 -4.027 -3.443 -3.146 2,02 133 I(1)
PP SIM SIM 5 -2.206 -4.027 -3.443 -3.146 1,42 134 I(1)
1ª Difer. NÃO NÃO 0 -8.713*** -2.582 -1.943 -1.615 2,02 133 I(0)
TULOS E VALORES MOBILIÁRIOS 1% 5% 10%
ADF SIM NÃO 2 -1.931 -4.027 -3.443 -3.146 1.87 134 I(1)
PP SIM NÃO 1 -2.066 -4.027 -3.443 -3.146 1.60 134 I(1)
1ª Difer. NÃO NÃO 0 -8.804*** -2.582 -2.582 -1.615 1,88 133 I(0)
CRÉDITO LIVRE (PRÉ-FIXADAS) 1% 5% 10%
ADF SIM SIM 1 -1.567 -4.039 -3.449 -3.149 2.02 115 I(1)
PP SIM SIM 7 -1.643 -4.039 -3.449 -3.149 1.92 115 I(1)
1ª Difer. NÃO NÃO 0 -6.957 -2.585 -1.943 -1.614 2.02 115 I(0)
CRÉDITO LIVRE PESSOA FÍSICA (PRÉ-FIXADAS) 1% 5% 10%
ADF SIM SIM 4 -3.115 -4.042 -3.450 -3.150 1.97 112 I(1)
PP SIM SIM 8 -1.856 -4.039 -3.449 -3.149 1.46 116 I(1)
1ª Difer. NÃO NÃO 2 -3.506*** -2.585 -1.943 -1.614 2.07 113 I(0)
CRÉDITO LIVRE PESSOA JURIDICA (PRÉ-FIXADAS) 1% 5% 10%
ADF SIM SIM 1 -1.607 -4.039 -3.449 -3.149 1.97 115 I(1)
PP SIM SIM 4 -1.508 -4.039 -3.449 -3.149 1.50 116 I(1)
1ª Difer. NÃO NÃO 0 -8.375*** -2.585 -1.943 -1.614 1.96 115 I(0)
CRÉDITO PESSOAL (PRÉ-FIXADAS) 1% 5% 10%
ADF SIM SIM 2 -3.028 -4.040 -3.449 -3.150 1.81 114 I(1)
PP SIM SIM 8 -1.933 -4.039 -3.449 -3.149 1,5 116 I(1)
1ª Difer. NÃO NÃO 1 -4.686*** -2.585 -1.943 -1.614 1.78 114 I(0)
CAPITAL DE GIRO (PRÉ-FIXADAS) 1% 5% 10%
ADF SIM SIM 0 -1.663 -4.039 -3.449 -3.149 2.20 116 I(1)
PP SIM SIM 5 -1.597 -4.039 -3.449 -3.149 2.20 116 I(1)
1ª Difer. NÃO NÃO 0 -12.136*** -2.585 -1.943 -1.614 1.65 115 I(0)
Fonte: Elaborada pelo autor.
(*) Rejeição a 10% (**) Rejeição a 5% (***) Rejeição a 1%
Nota: O teste Augmented Dickey-Fuller Test (ADF) foi implementado empregando-se o critério de seleção automático para as
defazagens com base no critério de escolha de Schwarz Information Criterion (SIC) com no máximo 12 defasagens. O teste Phillips-
Perron Test (PP), por sua vez, utilizou-se do método automatic bandwidth selection methods Bartlett kernel - (Newey-West).
335
APÊNDICE B – Análise dos Modelos que Alternam os Indicadores do Balanço
Patrimonial dos Bancos
Tabela 40 - Testes de Cointegração de Johansen para Modelos que Alternam
os Indicadores do Balanço Patrimonial dos Bancos
Tendência Deterministica nos Dados Nenhuma Nenhuma Linear Linear Quadrática
Rank ou Equações de Cointegração
(CEs)
No Intercept
No Trend
Intercept
No Trend
Intercept
No Trend
Intercept
No Trend
Intercept
No Trend
Modelo que inclui Depósitos
Trace 3 3 1 1 1
Max-Eigenvalue 3 3 2 1 1
Modelo que inclui Depósitos a Prazo
Trace 3 2 1 1 1
Max-Eigenvalue 3 2 1 1 1
Modelo que inclui Depósitos a Vista
Trace 3 3 1 1 1
Max-Eigenvalue 1 1 1 1 1
Modelo que inclui Crédito Total
Trace 3 2 2 1 1
Max-Eigenvalue 3 3 2 2 1
Modelo que inclui Crédito Direcionado
Trace 3 1 1 1 1
Max-Eigenvalue 1 1 1 1 1
Modelo que inclui Crédito Livre
Trace 3 1 1 1 1
Max-Eigenvalue 1 1 1 1 1
Modelo que inclui Emprestimos
Trace 3 1 1 1 1
Max-Eigenvalue 1 1 1 1 1
Modelo que inclui Financiamentos
Trace 3 3 1 1 1
Max-Eigenvalue 1 1 1 1 1
Modelo que inclui Títulos e Valores Mobiliários
Trace 3 3 3 2 2
Max-Eigenvalue 3 2 1 2 2
Modelo que inclui Spread Médio
Trace 3 3 2 1 2
Max-Eigenvalue 3 3 2 1 1
Modelo que inclui Spread Pessoa Física
Trace 3 3 2 1 1
Max-Eigenvalue 2 3 2 1 1
Modelo que inclui Spread Pessoa Jurídica
Trace 3 3 2 1 2
Max-Eigenvalue 3 3 2 1 1
Fonte: Elaborada pelo autor.
Nota: Para cada modelo foram incluídas as seguintes variáveis: Índice de produção industrial, índice de preços (IGP-DI), Indicador de
política monetária (Selic), e, um indicador do balanço bancário (depósitos, depósitos a prazo, depósitos à vista, crédito total, crédito
direcionado, crédito livre, empréstimos, financiamentos, títulos e valores mobiliários, spread médio geral, spread para pessoas físicas e
spread para pessoas jurídicas).
O número de relações de cointegração foi selecionado considerando um nível de significância de 5%.
336
Tabela 41 - Testes Estatísticos para os Modelos VARs Tomando em Conta
Variáveis do Balanço Patrimonial dos Bancos
(Continua)
VETOR AUTO-REGRESSIVO PARA DEPÓSITOS (4 LAGS)
PRODUTO IGP-DI SELIC DEPÓSITOS
LM (1) 0.8377 0.4841 0.2522 0.6552
LM (4) 0.3636 0.7629 0.8154 0.7006
ARCH (4) 0.5472 0.9179 0.8986 0.2619
NORMALIDADE 0,1229 0,5179 0,9676 0,0341
R-SQUARED 0.9759 0.9997 0.9449 0.9838
ADJ. R-SQUARED 0.9713 0.9997 0.9345 0.9807
AKAIKE AIC -5.4212 -7.3201 -0.9003 -5.6100
1 2 3 4 LM PARA O SISTEMA (1-4)
0.0895 0.1321 0.3373 0.2921
VETOR AUTO-REGRESSIVO PARA DEPÓSITOS A PRAZO (3 LAGS)
PRODUTO IGP-DI SELIC DEPÓSITOS À PRAZO
LM (1) 0.5683 0.6361 0.0951 0.4497
LM (4) 0.3708 0.6742 0.2102 0.9505
ARCH (4) 0.4176 0.8577 0.1824 0.1399
NORMALIDADE 0,1591 0,6683 0,7337 0,0000
R-SQUARED 0.9747 0.9997 0.9427 0.9775
ADJ. R-SQUARED 0.9710 0.9997 0.9342 0.9741
AKAIKE AIC -5.4358 -7.3676 -0.9208 -4.9577
1 2 3 4 LM PARA O SISTEMA (1-4)
0.1336 0.2589 0.2416 0.3135
VETOR AUTO-REGRESSIVO PARA DEPÓSITOS À VISTA (3 LAGS)
PRODUTO IGP-DI SELIC DEPÓSITOS À VISTA
LM (1) 0.3737 0.8200 0.4265 0.5945
LM (4) 0.1326 0.8016 0.8188 0.2656
ARCH (4) 0.3986 0.4842 0.1426 0.2681
NORMALIDADE 0,3329 0,8222 0,5127 0,3481
R-SQUARED 0.9744 0.9997 0.9530 0.9427
ADJ. R-SQUARED 0.9706 0.9997 0.9461 0.9343
AKAIKE AIC -5.4229 -7.4104 -1.1196 -2.4869
1 2 3 4 LM PARA O SISTEMA (1-4)
0.0991 0.5918 0.4789 0.2203
VETOR AUTO-REGRESSIVO PARA CRÉDITO TOTAL (3 LAGS)
PRODUTO IGP-DI SELIC CRÉDITO TOTAL
LM (1) 0.2099 0.3394 0.2933 0.1104
LM (4) 0.0811 0.1448 0.3071 0.1510
ARCH (4) 0.5977 0.3419 0.6141 0.9663
NORMALIDADE 0,0927 0,6837 0,8457 0,0000
R-SQUARED 0.9771 0.9997 0.9460 0.9895
ADJ. R-SQUARED 0.9733 0.9997 0.9369 0.9877
AKAIKE AIC -5.5049 -7.4529 -0.9494 -5.2494
1 2 3 4 LM PARA O SISTEMA (1-4)
0.4177 0.6801 0.3289 0.2519
VETOR AUTO-REGRESSIVO PARA CRÉDITO DIRECIONADO (3 LAGS)
PRODUTO IGP-DI SELIC CRÉDITO DIRECIONADO
LM (1) 0.5453 0.8366 0.12586 0.9010
LM (4) 0.0999 0.6122 0.16726 0.9751
ARCH (4) 0.4080 0.5711 0.3286 0.6714
NORMALIDADE 0.0938 0.8583 0.7207 0.0000
R-SQUARED 0.9752 0.9997 0.9407 0.9988
ADJ. R-SQUARED 0.9713 0.9997 0.9313 0.9986
AKAIKE AIC -5.4384 -7.4009 -0.8706 -4.6302
1 2 3 4 LM PARA O SISTEMA (1-4)
0.0945 0.7616 0.7108 0.1642
VETOR AUTO-REGRESSIVO PARA CRÉDITO LIVRE (3 LAGS)
PRODUTO IGP-DI SELIC CRÉDITO LIVRE
LM (1) 0.2090 0.5531 0.2308 0.59882
LM (4) 0.3109 0.3778 0.3836 0.2018
ARCH (4) 0.5063 0.2961 0,6037 0.9342
NORMALIDADE 0,1137 0,0720 0,6037 0,0000
R-SQUARED 0.9750 0.9997 0.9509 0.9739
ADJ. R-SQUARED 0.9710 0.9997 0.9431 0.9697
AKAIKE AIC -5.4297 -7.4121 -1.0600 -4.4519
1 2 3 4 LM PARA O SISTEMA (1-4)
0.4978 0.4392 0.2786 0.1414
VETOR AUTO-REGRESSIVO PARA EMPRÉSTIMOS (3 LAGS)
PRODUTO IGP-DI SELIC EMPRÉSTIMOS
LM (1) 0.1020 0.3086 0.0661 0.5322
LM (4) 0.1262 0.1804 0.1247 0.2225
ARCH (4) 0.7757 0.7937 0.3876 0.9447
NORMALIDADE 0,0697 0,0059 0,5393 0,0000
337
Tabela 41 - Testes Estatísticos para os Modelos VARs Tomando em Conta
Variáveis do Balanço Patrimonial dos Bancos
(Conclusão)
R-SQUARED 0.9746 0.9997 0.9473 0.9533
ADJ. R-SQUARED 0.9709 0.9997 0.9395 0.9464
AKAIKE AIC -5.4302 -7.3989 -1.0045 -3.6158
1 2 3 4 LM PARA O SISTEMA (1-4)
0.3496 0.2313 0.5407 0.8899
VETOR AUTO-REGRESSIVO PARA FINANCIAMENTOS (3 LAGS)
PRODUTO IGP-DI SELIC FINANCIAMENTOS
LM (1) 0.8778 0.3005 0.6357 0.1421
LM (4) 0.1175 0.5071 0.2576 0.4011
ARCH (4) 0.4463 0.1718 0,0983 0.3535
NORMALIDADE 0,2945 0,5578 0,7421 0,5325
R-SQUARED 0.9746 0.9997 0.9434 0.9897
ADJ. R-SQUARED 0.9704 0.9997 0.9339 0.9880
AKAIKE AIC -5.4016 -7.3759 -0.9028 -4.7082
1 2 3 4 LM PARA O SISTEMA (1-4)
0.0340 0.5087 0.2992 0.1781
VETOR AUTO-REGRESSIVO PARA TITULOS E VALORES MOBILIÁRIOS
(3 LAGS)
PRODUTO IGP-DI SELIC TÍTULOS E VALORES MOB.
LM (1) 0.5998 0.4026 0.1191 0.9158
LM (4) 0.7819 0.6175 0.2096 0.8775
ARCH (4) 0.7508 0.1130 0.8828 0.6235
NORMALIDADE 0,2633 0,0000 0,5380 0,0442
R-SQUARED 0.9788 0.9997 0.9520 0.9878
ADJ. R-SQUARED 0.9737 0.9997 0.9402 0.9848
AKAIKE AIC -5.4774 -7.3562 -0.9617 -3.8608
1 2 3 4 LM PARA O SISTEMA (1-4)
0.5230 0.0658 0.1948 0.5360
VETOR AUTO-REGRESSIVO PARA SPREAD MÉDIO (2 LAGS)
PRODUTO IGP-DI SELIC SPREAD MÉDIO
LM (1) 0.4581 0.1330 0.2784 0.5116
LM (4) 0.2056 0.2458 0.3549 0.2853
ARCH (4) 0.3580 0.4288 0.6396 0.9288
NORMALIDADE 0.4077 0.8703 0.9930 0.0026
R-SQUARED 0.9740 0.9997 0.9416 0.9874
ADJ. R-SQUARED 0.9711 0.9997 0.9352 0.9861
AKAIKE AIC -5.4654 -7.3845 -0.9608 -1.0656
1 2 3 4 LM PARA O SISTEMA (1-4)
0.0326 0.9579 0.2157 0.4727
VETOR AUTO-REGRESSIVO PARA SPREAD MÉDIO PESSOA FÍSICA (2 LAGS)
PRODUTO IGP-DI SELIC SPREAD MÉDIO P. FÍSICA
LM (1) 0.5508 0.1382 0.4509 0.4436
LM (4) 0.2536 0.2952 0.4499 0.5549
ARCH (4) 0.3606 0.4253 0.1346 0.0960
NORMALIDADE 0.3648 0.8573 0.9707 0.0039
R-SQUARED 0.9736 0.9997 0.9407 0.9922
ADJ. R-SQUARED 0.9711 0.9997 0.9342 0.9914
AKAIKE AIC -5.4632 -7.3837 -0.9466 -1.0624
1 2 3 4 LM PARA O SISTEMA (1-4)
0.1590 0.8584 0.0792 0.3585
VETOR AUTO-REGRESSIVO PARA SPREAD MÉDIO PESSOA JURÍDICA
(2 LAGS)
PRODUTO IGP-DI SELIC SPREAD MÉDIO P. JURÍDICA
LM (1) 0.5056 0.1449 0.3022 0.1775
LM (4) 0.2432 0.2716 0.3564 0.3919
ARCH (4) 0.4492 0.1282 0.1526 0.5169
NORMALIDADE 0.3518 0.8366 0.9904 0.0027
R-SQUARED 0.9741 0.9997 0.9415 0.9820
ADJ. R-SQUARED 0.9712 0.9997 0.9352 0.9800
AKAIKE AIC -5.4688 -7.3861 -0.9608 -0.9770
1 2 3 4 LM PARA O SISTEMA (1-4)
0.1040 0.9524 0.0774 0.4946
Fonte: Elaborada pelo autor.
Nota: os valores correspondem aos p-values
338
Tabela 42 - Funções de Resposta a Impulso para Indicadores do Balanço Patrimonial dos Bancos
(Continua)
PERÍODO DEPÓSITOS DEPOSITOS
A PRAZO
DEPOSITOS
À VISTA
CRÉDITO
TOTAL
CRÉDITO
DIRECIONADO
CRÉDITO
LIVRE
CL
(PRÉ-
FIXADO)
CLPF
(PRÉ-
FIXADO)
CLPJ
(PRÉ-
FIXADO)
EMRÉSTIMOS FINANCIAM. TÍTULOS SPREAD
MÉDIO
SPREAD MÉDIO
PESSOA FISICA
SPREAD MÉDIO
PESSOA
JURÍDICA
1
-0.000843 0.003784 -0.008353 -0.005171 -0.001778 -0.006191 -0.001786 -0.003709 -0.001507 -0.005983 -0.004446 -0.003987 0.007391 0.007219 0.009577
(0.00099) (0.00148) (0.00566) (0.00132) (0.00172) (0.00195) (0.00101) (0.00139) (0.00124) (0.00200) (0.00170) (0.00334) (0.00922) (0.01150) (0.00824)
2
0.000160 0.005417 -0.010505 -0.005026 -0.000582 -0.006910 -0.002176 -0.004309 -0.001931 -0.005774 -0.006372 0.005851 0.040820 0.041642 0.042246
(0.00133) (0.00203) (0.00576) (0.00181) (0.00219) (0.00253) (0.00121) (0.00173) (0.00135) (0.00266) (0.00218) (0.00510) (0.00951) (0.01177) (0.00913)
3
0.002138 0.006338 -0.007495 -0.003716 0.002512 -0.006928 -0.002392 -0.004524 -0.002074 -0.005257 -0.007685 0.017008 0.050102 0.053688 0.048627
(0.00151) (0.00243) (0.00598) (0.00202) (0.00238) (0.00281) (0.00142) (0.00219) (0.00143) (0.00309) (0.00253) (0.00598) (0.01025) (0.01320) (0.00988)
4
0.001987 0.007606 -0.011961 -0.002476 0.003023 -0.005129 -0.003311 -0.005878 -0.002912 -0.003736 -0.009790 0.019474 0.058476 0.064132 0.056197
(0.00166) (0.00257) (0.00654) (0.00217) (0.00239) (0.00293) (0.00181) (0.00282) (0.00167) (0.00325) (0.00261) (0.00669) (0.01141) (0.01461) (0.01126)
5
0.002069 0.006963 -0.012411 -0.002058 0.003978 -0.004918 -0.004303 -0.007984 -0.003447 -0.003670 -0.010733 0.015437 0.060483 0.068395 0.058479
(0.00182) (0.00270) (0.00594) (0.00242) (0.00254) (0.00316) (0.00225) (0.00345) (0.00195) (0.00357) (0.00283) (0.00675) (0.01258) (0.01598) (0.01255)
6
0.001842 0.006335 -0.010813 -0.002185 0.004218 -0.005213 -0.005432 -0.010074 -0.004210 -0.004185 -0.011763 0.013144 0.060055 0.069776 0.059043
(0.00194) (0.00277) (0.00600) (0.00267) (0.00265) (0.00341) (0.00272) (0.00407) (0.00230) (0.00386) (0.00301) (0.00705) (0.01351) (0.01705) (0.01357)
7
0.001450 0.005365 -0.012840 -0.002551 0.004364 -0.005874 -0.006440 -0.012106 -0.004807 -0.005063 -0.012433 0.011784 0.057412 0.068769 0.057477
(0.00206) (0.00282) (0.00605) (0.00291) (0.00279) (0.00366) (0.00318) (0.00464) (0.00269) (0.00415) (0.00321) (0.00731) (0.01421) (0.01788) (0.01432)
8
0.001083 0.004418 -0.011234 -0.003047 0.004430 -0.006693 -0.007389 -0.013875 -0.005416 -0.005957 -0.012944 0.009823 0.053621 0.066385 0.054640
(0.00215) (0.00285) (0.00586) (0.00314) (0.00292) (0.00387) (0.00364) (0.00516) (0.00309) (0.00442) (0.00340) (0.00750) (0.01471) (0.01851) (0.01484)
9
0.000649 0.003491 -0.010896 -0.003527 0.004378 -0.007403 -0.008281 -0.015379 -0.006045 -0.006863 -0.013259 0.007911 0.049132 0.063112 0.050907
(0.00225) (0.00290) (0.00588) (0.00335) (0.00306) (0.00407) (0.00406) (0.00563) (0.00348) (0.00470) (0.00357) (0.00766) (0.01503) (0.01893) (0.01516)
10
0.000186 0.002491 -0.010255 -0.004012 0.004268 -0.008094 -0.009098 -0.016594 -0.006675 -0.007718 -0.013432 0.006499 0.044337 0.059312 0.046692
(0.00236) (0.00299) (0.00580) (0.00356) (0.00321) (0.00426) (0.00444) (0.00604) (0.00384) (0.00498) (0.00371) (0.00771) (0.01520) (0.01915) (0.01533)
11
-0.000314 0.001447 -0.009628 -0.004486 0.004077 -0.008720 -0.009824 -0.017515 -0.007290 -0.008566 -0.013474 0.005288 0.039462 0.055192 0.042263
(0.00248) (0.00313) (0.00573) (0.00375) (0.00337) (0.00443) (0.00476) (0.00638) (0.00416) (0.00527) (0.00384) (0.00766) (0.01524) (0.01920) (0.01537)
12
-0.000849 0.000330 -0.009308 -0.004953 0.003822 -0.009304 -0.010431 -0.018155 -0.007846 -0.009397 -0.013411 0.004177 0.034662 0.050890 0.037816
(0.00262) (0.00331) (0.00563) (0.00394) (0.00354) (0.00460) (0.00503) (0.00666) (0.00443) (0.00556) (0.00394) (0.00754) (0.01515) (0.01908) (0.01529)
13
-0.001411 -0.000837 -0.008772 -0.005410 0.003514 -0.009844 -0.010904 -0.018532 -0.008320 -0.010213 -0.013261 0.003219 0.030034 0.046502 0.033480
(0.00277) (0.00352) (0.00549) (0.00412) (0.00372) (0.00475) (0.00525) (0.00686) (0.00466) (0.00586) (0.00403) (0.00737) (0.01495) (0.01882) (0.01511)
14
-0.001994 -0.002036 -0.008216 -0.005852 0.003161 -0.010331 -0.011234 -0.018673 -0.008687 -0.011004 -0.013039 0.002415 0.025642 0.042099 0.029340
(0.00293) (0.00375) (0.00536) (0.00430) (0.00390) (0.00490) (0.00541) (0.00701) (0.00483) (0.00617) (0.00410) (0.00714) (0.01463) (0.01842) (0.01485)
15
-0.002589 -0.003248 -0.007799 -0.006274 0.002776 -0.010765 -0.011421 -0.018604 -0.008939 -0.011761 -0.012761 0.001744 0.021524 0.037740 0.025449
(0.00310) (0.00400) (0.00520) (0.00448) (0.00409) (0.00504) (0.00551) (0.00709) (0.00495) (0.00649) (0.00415) (0.00689) (0.01422) (0.01792) (0.01451)
16
-0.003187 -0.004450 -0.007282 -0.006671 0.002368 -0.011140 -0.011468 -0.018354 -0.009071 -0.012479 -0.012437 0.001198 0.017701 0.033473 0.021834
(0.00327) (0.00426) (0.00504) (0.00465) (0.00428) (0.00518) (0.00557) (0.00713) (0.00502) (0.00681) (0.00419) (0.00661) (0.01373) (0.01734) (0.01411)
17
-0.003780 -0.005627 -0.006852 -0.007037 0.001944 -0.011453 -0.011386 -0.017949 -0.009087 -0.013150 -0.012079 0.000762 0.014186 0.029340 0.018509
(0.00345) (0.00452) (0.00488) (0.00483) (0.00448) (0.00533) (0.00558) (0.00711) (0.00505) (0.00714) (0.00423) (0.00630) (0.01319) (0.01670) (0.01367)
18
-0.004361 -0.006762 -0.006405 -0.007370 0.001512 -0.011704 -0.011186 -0.017413 -0.008993 -0.013770 -0.011695 0.000420 0.010981 0.025376 0.015478
(0.00362) (0.00478) (0.00472) (0.00500) (0.00469) (0.00547) (0.00555) (0.00705) (0.00504) (0.00747) (0.00425) (0.00599) (0.01261) (0.01602) (0.01319)
19
-0.004925 -0.007843 -0.005978 -0.007665 0.001079 -0.011892 -0.010883 -0.016770 -0.008801 -0.014338 -0.011293 0.000158 0.008083 0.021610 0.012735
(0.00380) (0.00505) (0.00456) (0.00517) (0.00490) (0.00561) (0.00548) (0.00696) (0.00500) (0.00780) (0.00427) (0.00567) (0.01202) (0.01535) (0.01271)
20
-0.005466 -0.008861 -0.005579 -0.007922 0.000649 -0.012019 -0.010490 -0.016039 -0.008523 -0.014851 -0.010879 -3.61E-05 0.005486 0.018068 0.010270
(0.00397) (0.00531) (0.00440) (0.00535) (0.00511) (0.00575) (0.00539) (0.00684) (0.00493) (0.00813) (0.00428) (0.00534) (0.01146) (0.01470) (0.01224)
21
-0.005980 -0.009806 -0.005191 -0.008139 0.000228 -0.012084 -0.010024 -0.015241 -0.008172 -0.015307 -0.010459 -0.000175 0.003179 0.014770 0.008069
(0.00415) (0.00557) (0.00425) (0.00552) (0.00533) (0.00589) (0.00527) (0.00670) (0.00483) (0.00847) (0.00429) (0.00502) (0.01094) (0.01411) (0.01179)
22
-0.006463 -0.010673 -0.004825 -0.008314 -0.000181 -0.012092 -0.009497 -0.014391 -0.007760 -0.015707 -0.010037 -0.000268 0.001152 0.011730 0.006119
(0.00432) (0.00583) (0.00411) (0.00569) (0.00555) (0.00602) (0.00513) (0.00654) (0.00472) (0.00880) (0.00430) (0.00470) (0.01049) (0.01360) (0.01139)
23
-0.006912 -0.011456 -0.004482 -0.008448 -0.000572 -0.012045 -0.008925 -0.013506 -0.007301 -0.016050 -0.009617 -0.000324 -0.000610 0.008958 0.004402
(0.00449) (0.00609) (0.00398) (0.00586) (0.00578) (0.00616) (0.00498) (0.00638) (0.00458) (0.00914) (0.00430) (0.00439) (0.01012) (0.01320) (0.01103)
24
-0.007325 -0.012152 -0.004156 -0.008542 -0.000944 -0.011946 -0.008319 -0.012600 -0.006805 -0.016337 -0.009201 -0.000352 -0.002122 0.006461 0.002902
(0.00466) (0.00635) (0.00385) (0.00603) (0.00601) (0.00630) (0.00483) (0.00622) (0.00444) (0.00947) (0.00431) (0.00410) (0.00985) (0.01292) (0.01072)
25
-0.007700 -0.012758 -0.003853 -0.008596 -0.001293 -0.011798 -0.007691 -0.011686 -0.006284 -0.016568 -0.008793 -0.000357 -0.003399 0.004241 0.001601
(0.00483) (0.00661) (0.00373) (0.00619) (0.00625) (0.00644) (0.00467) (0.00607) (0.00429) (0.00981) (0.00430) (0.00381) (0.00967) (0.01275) (0.01046)
339
Tabela 42 - Funções de Resposta a Impulso para Indicadores do Balanço Patrimonial dos Bancos
(Conclusão)
PERÍODO DEPÓSITOS DEPOSITOS
A PRAZO
DEPOSITOS
À VISTA
CRÉDITO
TOTAL
CRÉDITO
DIRECIONADO
CRÉDITO
LIVRE
CL
(PRÉ-
FIXADO)
CLPF
(PRÉ-
FIXADO)
CLPJ
(PRÉ-
FIXADO)
EMRÉSTIMOS FINANCIAM. TÍTULOS SPREAD
MÉDIO
SPREAD MÉDIO
PESSOA FISICA
SPREAD MÉDIO
PESSOA
JURÍDICA
26
-0.008036 -0.013273 -0.003569 -0.008611 -0.001618 -0.011606 -0.007051 -0.010774 -0.005746 -0.016743 -0.008394 -0.000347 -0.004457 0.002296 0.000483
(0.00499) (0.00686) (0.00362) (0.00636) (0.00649) (0.00657) (0.00453) (0.00593) (0.00414) (0.01014) (0.00430) (0.00354) (0.00956) (0.01269) (0.01025)
27
-0.008332 -0.013696 -0.003304 -0.008588 -0.001915 -0.011373 -0.006410 -0.009877 -0.005202 -0.016863 -0.008006 -0.000325 -0.005314 0.000622 -0.000469
(0.00516) (0.00711) (0.00352) (0.00653) (0.00673) (0.00671) (0.00439) (0.00582) (0.00399) (0.01048) (0.00429) (0.00328) (0.00953) (0.01273) (0.01007)
28
-0.008588 -0.014028 -0.003059 -0.008530 -0.002185 -0.011103 -0.005775 -0.009003 -0.004658 -0.016930 -0.007630 -0.000295 -0.005985 -0.000790 -0.001271
(0.00532) (0.00736) (0.00343) (0.00669) (0.00698) (0.00685) (0.00427) (0.00573) (0.00386) (0.01082) (0.00428) (0.00304) (0.00953) (0.01283) (0.00993)
29
-0.008803 -0.014271 -0.002831 -0.008437 -0.002425 -0.010800 -0.005155 -0.008160 -0.004122 -0.016944 -0.007267 -0.000261 -0.006488 -0.001949 -0.001937
(0.00548) (0.00761) (0.00334) (0.00686) (0.00723) (0.00699) (0.00417) (0.00567) (0.00373) (0.01116) (0.00427) (0.00281) (0.00957) (0.01297) (0.00980)
30
-0.008978 -0.014426 -0.002621 -0.008311 -0.002634 -0.010467 -0.004555 -0.007356 -0.003600 -0.016906 -0.006917 -0.000226 -0.006837 -0.002868 -0.002483
(0.00564) (0.00786) (0.00325) (0.00702) (0.00749) (0.00713) (0.00410) (0.00564) (0.00363) (0.01150) (0.00426) (0.00260) (0.00962) (0.01313) (0.00968)
31
-0.009113 -0.014496 -0.002427 -0.008156 -0.002812 -0.010107 -0.003981 -0.006596 -0.003097 -0.016818 -0.006581 -0.000190 -0.007050 -0.003561 -0.002921
(0.00580) (0.00810) (0.00318) (0.00719) (0.00775) (0.00727) (0.00405) (0.00564) (0.00354) (0.01184) (0.00424) (0.00240) (0.00966) (0.01328) (0.00956)
32
-0.009208 -0.014485 -0.002249 -0.007971 -0.002959 -0.009725 -0.003439 -0.005884 -0.002618 -0.016681 -0.006259 -0.000156 -0.007141 -0.004043 -0.003265
(0.00596) (0.00834) (0.00310) (0.00735) (0.00801) (0.00741) (0.00403) (0.00565) (0.00348) (0.01219) (0.00421) (0.00222) (0.00968) (0.01340) (0.00943)
33
-0.009265 -0.014397 -0.002085 -0.007760 -0.003074 -0.009323 -0.002931 -0.005225 -0.002166 -0.016497 -0.005951 -0.000125 -0.007126 -0.004332 -0.003525
(0.00612) (0.00857) (0.00303) (0.00752) (0.00828) (0.00756) (0.00402) (0.00568) (0.00343) (0.01254) (0.00418) (0.00206) (0.00967) (0.01348) (0.00929)
34
-0.009285 -0.014237 -0.001936 -0.007525 -0.003157 -0.008905 -0.002462 -0.004622 -0.001744 -0.016266 -0.005657 -9.65E-05 -0.007017 -0.004445 -0.003713
(0.00628) (0.00880) (0.00297) (0.00768) (0.00854) (0.00770) (0.00403) (0.00572) (0.00341) (0.01289) (0.00415) (0.00190) (0.00962) (0.01350) (0.00912)
35
-0.009269 -0.014009 -0.001798 -0.007267 -0.003209 -0.008474 -0.002033 -0.004074 -0.001355 -0.015990 -0.005377 -7.19E-05 -0.006829 -0.004400 -0.003838
(0.00644) (0.00903) (0.00290) (0.00785) (0.00881) (0.00785) (0.00406) (0.00577) (0.00339) (0.01325) (0.00412) (0.00176) (0.00954) (0.01346) (0.00894)
36
-0.009219 -0.013718 -0.001673 -0.006988 -0.003229 -0.008032 -0.001645 -0.003585 -0.001001 -0.015672 -0.005110 -5.10E-05 -0.006573 -0.004216 -0.003910
(0.00660) (0.00925) (0.00284) (0.00802) (0.00908) (0.00799) (0.00409) (0.00581) (0.00339) (0.01362) (0.00407) (0.00164) (0.00943) (0.01335) (0.00874)
37
-0.009136 -0.013370 -0.001559 -0.006692 -0.003218 -0.007581 -0.001300 -0.003153 -0.000683 -0.015312 -0.004856 -3.38E-05 -0.006262 -0.003912 -0.003937
(0.00675) (0.00947) (0.00278) (0.00818) (0.00935) (0.00814) (0.00412) (0.00585) (0.00340) (0.01399) (0.00403) (0.00152) (0.00927) (0.01318) (0.00852)
38
-0.009022 -0.012970 -0.001455 -0.006379 -0.003177 -0.007126 -0.000998 -0.002777 -0.000401 -0.014912 -0.004616 -2.02E-05 -0.005907 -0.003505 -0.003925
(0.00691) (0.00968) (0.00273) (0.00835) (0.00963) (0.00829) (0.00415) (0.00588) (0.00341) (0.01437) (0.00398) (0.00142) (0.00908) (0.01295) (0.00829)
39
-0.008879 -0.012525 -0.001361 -0.006051 -0.003107 -0.006667 -0.000738 -0.002456 -0.000155 -0.014474 -0.004387 -9.88E-06 -0.005517 -0.003015 -0.003882
(0.00707) (0.00989) (0.00267) (0.00851) (0.00990) (0.00844) (0.00418) (0.00590) (0.00342) (0.01476) (0.00393) (0.00133) (0.00886) (0.01266) (0.00804)
40
-0.008708 -0.012038 -0.001275 -0.005711 -0.003008 -0.006207 -0.000519 -0.002189 5.58E-05 -0.014000 -0.004171 -2.64E-06 -0.005101 -0.002458 -0.003814
(0.00722) (0.01009) (0.00262) (0.00868) (0.01017) (0.00858) (0.00419) (0.00589) (0.00343) (0.01515) (0.00387) (0.00124) (0.00862) (0.01232) (0.00778)
41
-0.008511 -0.011518 -0.001197 -0.005360 -0.002882 -0.005747 -0.000339 -0.001971 0.000231 -0.013492 -0.003965 1.90E-06 -0.004669 -0.001851 -0.003725
(0.00738) (0.01029) (0.00256) (0.00884) (0.01044) (0.00873) (0.00419) (0.00587) (0.00342) (0.01555) (0.00381) (0.00117) (0.00835) (0.01194) (0.00751)
42
-0.008291 -0.010968 -0.001127 -0.005000 -0.002729 -0.005290 -0.000198 -0.001802 0.000374 -0.012952 -0.003771 4.09E-06 -0.004226 -0.001209 -0.003620
(0.00753) (0.01049) (0.00251) (0.00900) (0.01071) (0.00887) (0.00418) (0.00583) (0.00341) (0.01596) (0.00375) (0.00110) (0.00807) (0.01153) (0.00724)
43
-0.008049 -0.010394 -0.001064 -0.004633 -0.002550 -0.004838 -9.30E-05 -0.001676 0.000484 -0.012381 -0.003588 4.27E-06 -0.003781 -0.000548 -0.003503
(0.00768) (0.01068) (0.00246) (0.00916) (0.01098) (0.00901) (0.00415) (0.00577) (0.00338) (0.01637) (0.00368) (0.00104) (0.00779) (0.01110) (0.00697)
44
-0.007786 -0.009802 -0.001007 -0.004260 -0.002347 -0.004391 -2.10E-05 -0.001590 0.000564 -0.011782 -0.003414 2.78E-06 -0.003339 0.000119 -0.003378
(0.00784) (0.01087) (0.00241) (0.00932) (0.01124) (0.00915) (0.00410) (0.00569) (0.00335) (0.01680) (0.00361) (0.00098) (0.00750) (0.01066) (0.00670)
45
-0.007506 -0.009198 -0.000955 -0.003884 -0.002121 -0.003950 2.01E-05 -0.001542 0.000617 -0.011156 -0.003250 -5.85E-08 -0.002905 0.000781 -0.003247
(0.00799) (0.01106) (0.00236) (0.00947) (0.01151) (0.00928) (0.00404) (0.00560) (0.00329) (0.01723) (0.00354) (0.00094) (0.00721) (0.01023) (0.00645)
46
-0.007209 -0.008585 -0.000909 -0.003504 -0.001873 -0.003518 3.33E-05 -0.001526 0.000644 -0.010507 -0.003095 -3.95E-06 -0.002483 0.001425 -0.003112
(0.00814) (0.01125) (0.00231) (0.00962) (0.01176) (0.00941) (0.00396) (0.00548) (0.00323) (0.01766) (0.00346) (0.00089) (0.00693) (0.00981) (0.00620)
47
-0.006898 -0.007968 -0.000868 -0.003124 -0.001605 -0.003095 2.15E-05 -0.001539 0.000648 -0.009835 -0.002948 -8.63E-06 -0.002077 0.002043 -0.002977
(0.00828) (0.01143) (0.00226) (0.00977) (0.01202) (0.00953) (0.00387) (0.00535) (0.00315) (0.01811) (0.00338) (0.00086) (0.00666) (0.00942) (0.00597)
48
-0.006575 -0.007353 -0.000831 -0.002743 -0.001318 -0.002682 -1.24E-05 -0.001578 0.000631 -0.009143 -0.002810 -1.39E-05 -0.001691 0.002625 -0.002842
(0.00843) (0.01161) (0.00222) (0.00991) (0.01227) (0.00964) (0.00377) (0.00521) (0.00306) (0.01856) (0.00331) (0.00082) (0.00640) (0.00906) (0.00576)
49
-0.006240 -0.006743 -0.000799 -0.002364 -0.001012 -0.002279 -6.55E-05 -0.001637 0.000596 -0.008433 -0.002679 -1.95E-05 -0.001326 0.003165 -0.002709
(0.00857) (0.01179) (0.00217) (0.01004) (0.01251) (0.00975) (0.00366) (0.00506) (0.00297) (0.01901) (0.00323) (0.00079) (0.00616) (0.00873) (0.00557)
Fonte: Elaborada pelo autor.
Nota: Impulso de um Desvio Padrão da Taxa Selic.
340
APÊNDICE C – Análise dos Modelos que Alternam os Indicadores de Crédito e
de Produto
Tabela 43 - Testes de Cointegração de Johansen para Modelos que
Alternam os Indicadores de Crédito e de Produto
Tendência Deterministica nos Dados Nenhuma Nenhuma Linear Linear Quadrática
Rank ou Equações de Cointegração (CEs) No Intercept
No Trend
Intercept
No Trend
Intercept
No Trend
Intercept
No Trend
Intercept
No Trend
Modelo que inclui Produção Industrial Total
Trace 7 7 7 6 6
Max-Eigenvalue 3 6 4 4 4
Modelo que inclui Produção Industrial Total (CL Pessoa Física)
Trace 7 8 7 7 6
Max-Eigenvalue 4 6 5 5 5
Modelo que inclui Produção Industrial Total (CL Pessoa Jurídica)
Trace 7 7 5 6 6
Max-Eigenvalue 3 3 4 4 4
Modelo que inclui Produção Industrial – Bens de Capital
Trace 6 5 4 5 5
Max-Eigenvalue 2 3 3 4 4
Modelo que inclui Produção Industrial – Bens Intermediários
Trace 4 5 4 4 4
Max-Eigenvalue 3 3 3 4 4
Modelo que inclui Produção Industrial – Bens de Consumo
Trace 8 6 4 5 5
Max-Eigenvalue 3 4 4 4 4
Modelo que inclui Produção Industrial – Bens de Consumo Duráveis
Trace 7 8 6 6 5
Max-Eigenvalue 7 5 4 4 4
Modelo que inclui Produção Industrial – Bens de Consumo Não Duráveis
Trace 8 8 5 6 5
Max-Eigenvalue 3 4 4 2 4
Modelo que inclui Produção Industrial – Maquinas e Equipamentos
Trace 6 5 5 5 5
Max-Eigenvalue 4 5 3 3 3
Modelo que inclui Produção Industrial – Equipamentos Eletrônicos
Trace 6 6 5 5 5
Max-Eigenvalue 4 5 4 4 4
Modelo que inclui Produção Industrial – Veículos
Trace 6 6 4 4 4
Max-Eigenvalue 2 3 3 4 4
Modelo que inclui Produção Industrial – Construção Civil
Trace 8 7 5 5 5
Max-Eigenvalue 4 5 4 4 4
Modelo que inclui Produção Industrial – Vestuário
Trace 5 6 5 6 6
Max-Eigenvalue 5 3 3 3 3
Modelo que inclui Produção Industrial – Calçados
Trace 7 7 5 5 5
Max-Eigenvalue 2 2 2 2 2
Modelo que inclui Produção Industrial – Alimentos
Trace 7 6 4 4 4
Max-Eigenvalue 4 2 4 4 4
Fonte: Elaborada pelo autor.
Nota: O número de relações de cointegração foi selecionado considerando um de significância de 5%.
341
Tabela 44 - Testes Estatísticos para os Modelos VARs Tomando em Conta
Variáveis de Produção
(Continua)
MODELO EM NÍVEL PRODUÇÃO INDUSTRIAL TOTAL (4 lags)
PRODUTO IGP-DI CÂMBIO MOEDA TÍTULO SELIC CRÉDITO
LIVRE
SPREAD
LM (1) 0.7563 0.0677 0.2127 0.0683 0.0447 0.6205 0.6581 0.3386
LM (4) 0.9354 0.4272 0.3409 0.3119 0.1309 0.5287 0.6474 0.5739
ARCH (4) 0.5798 0.0743 0.0916 0.1245 0.1873 0.2351 0.0852 0.1761
NORMALIDADE 0,7059 0,0037 0,0147 0,0069 0,0000 0,8995 0,1385 0,0685
R-SQUARED 0.9795 0.9998 0.9857 0.9929 0.9504 0.9193 0.9975 0.9780
ADJ. R-SQUARED 0.9689 0.9997 0.9784 0.9892 0.9249 0.8778 0.9962 0.9667
AKAIKE AIC -5.4014 -7.3800 -1.3802 -5.9104 -2.9796 -0.6801 -5.4554 -1.5322
1 2 3 4 LM SISTTEMA (1-4)
0.1157 0.4902 0.3208 0.1905
MODELO EM NÍVEL PRODUÇÃO INDUSTRIAL TOTAL (CRÉDITO LIVRE E SPREAD
PESSOA FÍSICA) (4 lags)
PRODUTO IGP-DI CÂMBIO MOEDA TÍTULO SELIC CRÉDITO
LIVRE PF
SPREAD
MÉDIO PF
LM (1) 0.3965 0.1257 0.7638 0.3304 0.0486 0.6805 0.4727 0.2886
LM (4) 0.8741 0.1295 0.6036 0.4771 0.1758 0.4283 0.5050 0.5534
ARCH (4) 0.8064 0.0879 0.0846 0.1541 0.3731 0.1330 0.9867 0.1865
NORMALIDADE 0.6584 0.0000 0.0000 0.0351 0.0000 0.8812 0.1131 0.5333
R-SQUARED 0.9794 0.9998 0.9856 0.9928 0.9567 0.9218 0.9990 0.9893
ADJ. R-SQUARED 0.9689 0.9997 0.9783 0.9892 0.9345 0.8817 0.9985 0.9838
AKAIKE AIC -5.3985 -7.4129 -1.3752 -5.9086 -3.1161 -0.7124 -5.0617 -1.0662
1 2 3 4 LM SISTTEMA (1-4)
0.0754 0.2624 0.3428 0.3180
MODELO EM NÍVEL PRODUÇÃO INDUSTRIAL TOTAL (CRÉDITO PESSOAL E
SPREAD PESSOA FÍSICA) (4 lags)
PRODUTO IGP-DI CÂMBIO MOEDA TÍTULO SELIC CRÉDITO
PESSOAL
SPREAD
MÉDIO PF
LM (1) 0.1806 0.1625 0.6973 0.1455 0.1349 0.3320 0.1612 0.7825
LM (4) 0.4093 0.5828 0.3279 0.1403 0.1731 0.1261 0.4338 0.3476
ARCH (4) 0.3517 0.2334 0.1074 0.0601 0.7637 0.3747 0.9351 0.579
NORMALIDADE 0.5993 0.2801 0.0000 0.2720 0.0000 0.3618 0.2445 0.2107
R-SQUARED 0.9783 0.9998 0.9854 0.9927 0.9499 0.9203 0.9992 0.9900
ADJ. R-SQUARED 0.9676 0.9997 0.9783 0.9892 0.9252 0.8810 0.9989 0.9851
AKAIKE AIC -5.3626 -7.5530 -1.3793 -5.9089 -2.9876 -0.7105 -5.2972 -1.1587
1 2 3 4 LM SISTTEMA (1-4)
0.6838 0.1477 0.0925 0.3111
MODELO EM NÍVEL PRODUÇÃO INDUSTRIAL TOTAL (CRÉDITO LIVRE E SPREAD
PESSOA JURÍDICA) (3 lags)
PRODUTO IGP-DI CÂMBIO MOEDA TÍTULO SELIC CRÉDITO
LIVRE PJ
SPREAD
MÉDIO PJ
LM (1) 0.1848 0.3531 0.6008 0.8484 0.3335 0.6625 0.6614 0.3045
LM (4) 0.3576 0.7168 0.2866 0.9869 0.3863 0.7213 0.1657 0.4851
ARCH (4) 0.5142 0.1054 0.1208 0.2283 0.2526 0.1830 0.8857 0.5827
NORMALIDADE 0.8418 0.0000 0.0723 0.0854 0.1838 0.8812 0.1267 0.0108
R-SQUARED 0.9778 0.9997 0.9852 0.9929 0.9369 0.9088 0.9864 0.9765
ADJ. R-SQUARED 0.9698 0.9997 0.9798 0.9903 0.9141 0.8759 0.9815 0.9681
AKAIKE AIC -5.4695 -7.3942 -1.4764 -5.9169 -2.8130 -0.7129 -4.9869 -1.7424
1 2 3 4 LM SISTTEMA (1-4)
0.1692 0.0857 0.3958 0.2308
MODELO EM NÍVEL PRODUÇÃO INDUSTRIAL TOTAL (CAPITAL DE GIRO E
SPREAD PESSOA JURÍDICA) (3 lags)
PRODUTO IGP-DI CÂMBIO MOEDA TÍTULO SELIC CAPITAL
DE GIRO
SPREAD
MÉDIO PJ
LM (1) 0.0636 0.9526 0.9148 0.9782 0.4680 0.0864 0.1594 0.4745
LM (4) 0.1530 0.7185 0.6228 0.9571 0.4108 0.0702 0.1165 0.1198
ARCH (4) 0.5636 0.1151 0.0996 0.1653 0.3742 0.6204 0.3578 0.7381
NORMALIDADE 0.3750 0.0000 0.0000 0.1109 0.0034 0.0340 0.0000 0.0078
R-SQUARED 0.9764 0.9997 0.9839 0.9925 0.9420 0.9101 0.9608 0.9745
ADJ. R-SQUARED 0.9683 0.9997 0.9784 0.9900 0.9221 0.8791 0.9472 0.9657
AKAIKE AIC -5.4256 -7.4322 -1.4135 -5.8902 -2.9156 -0.7446 -3.9237 -1.6768
1 2 3 4 LM SISTTEMA (1-4)
0.1720 0.3235 0.3297 0.2567
MODELO EM NÍVEL PRODUÇÃO INDUSTRIAL - BENS DE CAPITAL (3 lags)
PRODUTO IGP-DI CÂMBIO MOEDA TÍTULO SELIC CRÉDITO
LIVRE
SPREAD
LM (1) 0.1757 0.0488 0.9459 0.4167 0.7524 0.0545 0.7010 0.1782
LM (4) 0.1726 0.1406 0.4675 0.7692 0.1030 0.1299 0.1325 0.1265
ARCH (4) 0.6177 0.0733 0.0986 0.0486 0.7503 0.4495 0.1338 0.1327
NORMALIDADE 0.2367 0.0000 0.0000 0.1403 0.0065 0.9531 0.2107 0.2254
R-SQUARED 0.9505 0.9997 0.9844 0.9925 0.9466 0.9024 0.9973 0.9757
342
Tabela 44 - Testes Estatísticos para os Modelos VARs Tomando em Conta
Variáveis de Produção
(Continuação)
ADJ. R-SQUARED 0.9326 0.9997 0.9787 0.9899 0.9273 0.8671 0.9963 0.9669
AKAIKE AIC -3.4194 -7.3621 -1.4253 -5.8733 -2.9801 -0.6448 -5.5290 -1.5800
1 2 3 4 LM SISTTEMA (1-4)
0.0551 0.4708 0.3878 0.6314
MODELO EM NÍVEL PRODUÇÃO INDUSTRIAL - BENS INTERMEDIÁRIOS (3 lags)
PRODUTO IGP-DI CÂMBIO MOEDA TÍTULO SELIC CRÉDITO
LIVRE
SPREAD
LM (1) 0.6865 0.2613 0.8354 0.9345 0.1438 0.5936 0.6864 0.4772
LM (4) 0.5750 0.4509 0.5547 0.7693 0.2463 0.4700 0.2043 0.6458
ARCH (4) 0.9774 0.0820 0.1465 0.5184 0.4079 0.1270 0.5088 0.0543
NORMALIDADE 0.0178 0.0000 0.0000 0.5312 0.1029 0.7849 0.1684 0.0096
R-SQUARED 0.9861 0.9997 0.9849 0.9930 0.9468 0.9044 0.9973 0.9760
ADJ. R-SQUARED 0.9812 0.9997 0.9795 0.9904 0.9276 0.8698 0.9963 0.9673
AKAIKE AIC -5.8133 -7.3904 -1.4618 -5.9327 -2.9839 -0.6650 -5.5211 -1.5907
1 2 3 4 LM SISTTEMA (1-4)
0.2181 0.0747 0.7345 0.0897
MODELO EM NÍVEL PRODUÇÃO INDUSTRIAL - BENS DE CONSUMO (3 lags)
PRODUTO IGP-DI CÂMBIO MOEDA TÍTULO SELIC CRÉDITO
LIVRE
SPREAD
LM (1) 0.4178 0.2009 0.2774 0.5829 0.2179 0.5191 0.9288 0.9092
LM (4) 0.1118 0.2705 0.1660 0.9072 0.2164 0.6248 0.1788 0.2635
ARCH (4) 0.6233 0.2578 0.1272 0.0804 0.3634 0.6107 0.1786 0.9237
NORMALIDADE 0.1899 0.0000 0.0024 0.2461 0.0014 0.8930 0.1035 0.0459
R-SQUARED 0.9123 0.9997 0.9850 0.9925 0.9445 0.9051 0.9973 0.9755
ADJ. R-SQUARED 0.8806 0.9997 0.9796 0.9898 0.9245 0.8708 0.9963 0.9667
AKAIKE AIC -4.6996 -7.4191 -1.4683 -5.8687 -2.9422 -0.6726 -5.5300 -1.5733
1 2 3 4 LM SISTTEMA (1-4)
0.1665 0.0626 0.2900 0.2016
MODELO EM NÍVEL BENS DE CONSUMO DURÁVEIS – BCD (4 lags)
PRODUTO IGP-DI CÂMBIO MOEDA TÍTULO SELIC CRÉDITO
LIVRE
SPREAD
LM (1) 0.1955 0.0503 0.2366 0.0826 0.4272 0.5914 0.9597 0.4413
LM (4) 0.1149 0.4094 0.1841 0.3142 0.3945 0.2158 0.6307 0.6424
ARCH (4) 0.7776 0.0824 0.0957 0.1282 0.1388 0.7688 0.0502 0.2798
NORMALIDADE 0,0466 0,0000 0,0210 0,0197 0,0000 0,5080 0,2686 0,2422
R-SQUARED 0.9586 0.9998 0.9858 0.9925 0.9507 0.9199 0.9975 0.9773
ADJ. R-SQUARED 0.9374 0.9997 0.9786 0.9887 0.9253 0.8788 0.9963 0.9657
AKAIKE AIC -2.9343 -7.3563 -1.3913 -5.8677 -2.9857 -0.6883 -5.4765 -1.5027
1 2 3 4 LM SISTTEMA (1-4)
0.1538 0.6309 0.5199 0.0770
MODELO EM NÍVEL BENS DE CONSUMO NÃO DURÁVEIS – BCND (4 lags)
PRODUTO IGP-DI CÂMBIO MOEDA TÍTULO SELIC CRÉDITO
LIVRE
SPREAD
LM (1) 0.3562 0.0768 0.1082 0.0803 0.2343 0.6916 0.9565 0.8219
LM (4) 0.7794 0.1416 0.1928 0.4068 0.1610 0.5989 0.3679 0.1044
ARCH (4) 0.1223 0.3160 0.2409 0.0653 0.2348 0.4324 0.0660 0.1274
NORMALIDADE 0,0176 0,0000 0,0178 0,0117 0,0000 0,9860 0,0708 0,0647
R-SQUARED 0.7882 0.9998 0.9877 0.9923 0.9502 0.9173 0.9975 0.9798
ADJ. R-SQUARED 0.6794 0.9997 0.9814 0.9884 0.9247 0.8748 0.9963 0.9694
AKAIKE AIC -4.8159 -7.3899 -1.5327 -5.8364 -2.9773 -0.6561 -5.4870 -1.6178
1 2 3 4 LM SISTEMA (1-4)
0.1961 0.3350 0.2626 0.1062
MODELO EM NÍVEL PRODUÇÃO INDUSTRIAL – MAQUINAS E EQUIPAMENTOS
(4 lags)
PRODUTO IGP-DI CÂMBIO MOEDA TÍTULO SELIC CRÉDITO
LIVRE
SPREAD
LM (1) 0.2161 0.1178 0.6209 0.3046 0.2462 0.5112 0.3044 0.3607
LM (4) 0.1096 0.4857 0.4562 0.1768 0.1799 0.4231 0.4093 0.4037
ARCH (4) 0.7923 0.2500 0.1039 0.3548 0.3393 0.4514 0.0745 0.4752
NORMALIDADE 0.0207 0.0000 0.0146 0.0639 0.0000 0.5420 0.3477 0.1458
R-SQUARED 0.9629 0.9998 0.9862 0.9928 0.9506 0.9335 0.9976 0.9782
ADJ. R-SQUARED 0.9438 0.9997 0.9791 0.9891 0.9252 0.8995 0.9964 0.9671
AKAIKE AIC -3.4358 -7.3581 -1.4123 -5.8995 -2.9838 -0.8751 -5.5149 -1.5452
1 2 3 4 LM SISTEMA (1-4)
0.1804 0.5990 0.1413 0.1798
MODELO EM NÍVEL PRODUÇÃO INDUSTRIAL - EQUIPAMENTOS ELETRÔNICOS
(4 lags)
PRODUTO IGP-DI CÂMBIO MOEDA TÍTULO SELIC CRÉDITO
LIVRE
SPREAD
LM (1) 0.8836 0.0423 0.2199 0.0747 0.0755 0.7387 0.6269 0.7369
LM (4) 0.3710 0.1670 0.4829 0.1234 0.1220 0.1124 0.897 0.6643
ARCH (4) 0.9243 0.1441 0.4697 0.1343 0.2793 0.9329 0.1488 0.4549
NORMALIDADE 0,5261 0,0000 0,0000 0,0304 0,0000 0,8908 0,2918 0,1526
343
Tabela 44 - Testes Estatísticos para os Modelos VARs Tomando em Conta
Variáveis de Produção
(Conclusão)
R-SQUARED 0.9085 0.9998 0.9858 0.9925 0.9512 0.9230 0.9975 0.9778
ADJ. R-SQUARED 0.8616 0.9997 0.9786 0.9886 0.9262 0.8835 0.9963 0.9664
AKAIKE AIC -2.0442 -7.3315 -1.3890 -5.8553 -2.9966 -0.7279 -5.4805 -1.5253
1 2 3 4 LM SISTEMA (1-4)
0.0733 0.3802 0.6962 0.1757
MODELO EM NÍVEL PRODUÇÃO INDUSTRIAL – VEÍCULOS (3 lags)
PRODUTO IGP-DI CÂMBIO MOEDA TÍTULO SELIC CRÉDITO
LIVRE
SPREAD
LM (1) 0.6276 0.2409 0.4058 0.4678 0.5216 0.2847 0.4872 0.3931
LM (4) 0.6801 0.3418 0.1669 0.8056 0.5710 0.2877 0.1398 0.4555
ARCH (4) 0.5451 0.0408 0.0461 0.0937 0.5693 0.5023 0.1229 0.1097
NORMALIDADE 0,0749 0,0434 0,0236 0,1317 0,0474 0,8379 0,2807 0,2749
R-SQUARED 0.9260 0.9997 0.9851 0.9925 0.9432 0.9094 0.9974 0.9751
ADJ. R-SQUARED 0.8980 0.9997 0.9794 0.9897 0.9217 0.8751 0.9964 0.9657
AKAIKE AIC -2.3697 -7.3968 -1.4522 -5.8500 -2.8998 -0.7012 -5.5615 -1.5382
1 2 3 4 LM SISTEMA (1-4)
0.1587 0.2145 0.5432 0.7805
MODELO EM NÍVEL PRODUÇÃO INDUSTRIAL - CONSTRUÇÃO CIVIL (3 lags)
PRODUTO IGP-DI CÂMBIO MOEDA TÍTULO SELIC CRÉDITO
LIVRE
SPREAD
LM (1) 0.7332 0.1736 0.9274 0.5507 0.6163 0.4747 0.4857 0.4762
LM (4) 0.3871 0.2332 0.2659 0.8454 0.3911 0.2698 0.0775 0.7106
ARCH (4) 0.2639 0.1385 0.0827 0.0459 0.6008 0.3086 0.1322 0.9004
NORMALIDADE 0,3782 0,0000 0,0329 0,2143 0,0102 0,4477 0,1190 0,0756
R-SQUARED 0.8287 0.9997 0.9846 0.9925 0.9423 0.9179 0.9973 0.9753
ADJ. R-SQUARED 0.7668 0.9996 0.9790 0.9899 0.9214 0.8882 0.9963 0.9664
AKAIKE AIC -4.4334 -7.3269 -1.4385 -5.8742 -2.9017 -0.8176 -5.5364 -1.5650
1 2 3 4 LM SISTEMA (1-4)
0.0939 0.5721 0.3215 0.3527
MODELO EM NÍVEL PRODUÇÃO INDUSTRIAL – VESTUÁRIO (3 lags)
PRODUTO IGP-DI CÂMBIO MOEDA TÍTULO SELIC CRÉDITO
LIVRE
SPREAD
LM (1) 0.7341 0.1011 0.2421 0.0703 0.1374 0.6659 0.4204 0.6404
LM (4) 0.8780 0.0599 0.3835 0.1632 0.1153 0.3945 0.5789 0.5805
ARCH (4) 0.1216 0.1849 0.0550 0.0824 0.5782 0.1054 0.0392 0.2370
NORMALIDADE 0,1025 0,0000 0,0116 0,2438 0,0000 0,9728 0,1645 0,0665
R-SQUARED 0.7536 0.9998 0.9857 0.9937 0.9553 0.9184 0.9975 0.9778
ADJ. R-SQUARED 0.6272 0.9997 0.9784 0.9905 0.9323 0.8766 0.9963 0.9665
AKAIKE AIC -2.9044 -7.3505 -1.3837 -6.0342 -3.0839 -0.6700 -5.4817 -1.5266
1 2 3 4 LM SISTEMA (1-4)
0.0948 0.6213 0.7909 0.4899
MODELO EM NÍVEL PRODUÇÃO INDUSTRIAL - CALÇADOS (4 lags)
PRODUTO IGP-DI CÂMBIO MOEDA TÍTULO SELIC CRÉDITO
LIVRE
SPREAD
LM (1) 0.7237 0.0370 0.3653 0.0928 0.1158 0.9949 0.7231 0.5363
LM (4) 0.5457 0.1328 0.5188 0.4269 0.1814 0.7627 0.4460 0.8226
ARCH (4) 0.1427 0.2595 0.1455 0.0904 0.7165 0.5123 0.6155 0.4435
NORMALIDADE 0,4806 0,0000 0,0471 0,0468 0,0000 0,9663 0,2194 0,0677
R-SQUARED 0.8710 0.9998 0.9871 0.9923 0.9506 0.9290 0.9977 0.9782
ADJ. R-SQUARED 0.8047 0.9997 0.9805 0.9884 0.9252 0.8926 0.9966 0.9670
AKAIKE AIC -3.1287 -7.3511 -1.4853 -5.8385 -2.9839 -0.8092 -5.5610 -1.5438
1 2 3 4 LM SISTEMA (1-4)
0.0627 0.6706 0.8446 0.6811
MODELO EM NÍVEL PRODUÇÃO INDUSTRIAL - ALIMENTOS (4 lags)
PRODUTO IGP-DI CÂMBIO MOEDA TÍTULO SELIC CRÉDITO
LIVRE
SPREAD
LM (1) 0.6386 0.1380 0.4304 0.0743 0.1168 0.9080 0.5015 0.7765
LM (4) 0.6534 0.1649 0.3474 0.1821 0.1189 0.4617 0.7722 0.9166
ARCH (4) 0.3251 0.2918 0.0954 0.0939 0.1636 0.7183 0.1296 0.4206
NORMALIDADE 0,7528 0,0000 0,0012 0,0995 0,0000 0,9205 0,0248 0,1481
R-SQUARED 0.8433 0.9998 0.9856 0.9928 0.9510 0.9262 0.9975 0.9778
ADJ. R-SQUARED 0.7628 0.9997 0.9783 0.9891 0.9259 0.8883 0.9963 0.9665
AKAIKE AIC -4.0656 -7.3332 -1.3762 -5.8973 -2.9930 -0.7696 -5.4869 -1.5268
1 2 3 4 LM SISTEMA (1-4)
0.1254 0.6484 0.6401 0.4237
Fonte: Elaborada pelo autor.
Nota: os valores correspondem aos p-values
344
Tabela 45 - Funções de Resposta a Impulso para Indicadores de Atividade
Produtiva - Produção Industrial Total, Crédito Livre Total e
Spread Médio
(Continua)
PERÍODO PRODUTO TOTAL IGP-DI CÂMBIO MOEDA TÍTULOS SELIC CRÉDITO LÍVRE TOTAL SPREAD MÉDIO
1
0.000000 0.000000 0.000000 0.000000 0.000000 0.146726 -0.002614 0.011969
(0.00000) (0.00000) (0.00000) (0.00000) (0.00000) (0.00976) (0.00101) (0.00870)
2
-0.004622 -0.000522 -0.004928 -0.002364 -0.002723 0.099734 -0.003700 0.045735
(0.00112) (0.00040) (0.00797) (0.00084) (0.00374) (0.01359) (0.00140) (0.00918)
3
-0.004181 -0.001270 -0.000381 -0.002652 0.003037 0.086115 -0.004611 0.046885
(0.00127) (0.00094) (0.01237) (0.00121) (0.00436) (0.01530) (0.00173) (0.00982)
4
-0.005247 -0.001028 0.003384 -0.003553 0.010157 0.065459 -0.006086 0.064334
(0.00142) (0.00140) (0.01549) (0.00139) (0.00518) (0.01680) (0.00219) (0.01116)
5
-0.004181 -0.000839 0.001836 -0.003871 0.014561 0.044264 -0.006410 0.071770
(0.00142) (0.00175) (0.01694) (0.00150) (0.00561) (0.01656) (0.00256) (0.01306)
6
-0.004099 -0.000715 0.002392 -0.003688 0.014041 0.043872 -0.007156 0.069418
(0.00141) (0.00205) (0.01865) (0.00162) (0.00613) (0.01681) (0.00298) (0.01405)
7
-0.003458 -0.000836 -0.002720 -0.004096 0.010845 0.035754 -0.008477 0.066913
(0.00140) (0.00235) (0.01977) (0.00169) (0.00634) (0.01660) (0.00338) (0.01479)
8
-0.003205 -0.001231 -0.007507 -0.004393 0.007518 0.032641 -0.010114 0.056072
(0.00137) (0.00262) (0.02040) (0.00177) (0.00645) (0.01624) (0.00378) (0.01546)
9
-0.002552 -0.001716 -0.011065 -0.004586 0.004972 0.023411 -0.011301 0.049622
(0.00136) (0.00287) (0.02065) (0.00190) (0.00645) (0.01584) (0.00419) (0.01577)
10
-0.001948 -0.002156 -0.012491 -0.004322 0.003362 0.016799 -0.012020 0.040005
(0.00135) (0.00309) (0.02071) (0.00209) (0.00650) (0.01556) (0.00459) (0.01590)
11
-0.001356 -0.002461 -0.012935 -0.003911 0.001466 0.011050 -0.012363 0.032803
(0.00132) (0.00327) (0.02055) (0.00229) (0.00655) (0.01524) (0.00494) (0.01591)
12
-0.000950 -0.002646 -0.013152 -0.003420 7.25E-06 0.007336 -0.012600 0.025195
(0.00126) (0.00341) (0.02025) (0.00247) (0.00661) (0.01474) (0.00525) (0.01583)
13
-0.000745 -0.002718 -0.013299 -0.003076 -0.001529 0.004717 -0.012761 0.019513
(0.00120) (0.00350) (0.01983) (0.00260) (0.00664) (0.01406) (0.00551) (0.01564)
14
-0.000628 -0.002732 -0.013592 -0.002814 -0.002505 0.002259 -0.012806 0.014904
(0.00115) (0.00357) (0.01930) (0.00269) (0.00662) (0.01325) (0.00573) (0.01526)
15
-0.000553 -0.002708 -0.014099 -0.002626 -0.003343 0.000800 -0.012699 0.011479
(0.00110) (0.00361) (0.01863) (0.00274) (0.00653) (0.01237) (0.00589) (0.01472)
16
-0.000459 -0.002692 -0.015027 -0.002479 -0.003932 -0.000708 -0.012430 0.008742
(0.00106) (0.00362) (0.01782) (0.00278) (0.00642) (0.01144) (0.00599) (0.01405)
17
-0.000380 -0.002700 -0.016273 -0.002348 -0.004461 -0.001508 -0.012049 0.006211
(0.00101) (0.00360) (0.01691) (0.00280) (0.00630) (0.01053) (0.00604) (0.01329)
18
-0.000311 -0.002744 -0.017684 -0.002227 -0.004835 -0.002447 -0.011565 0.003974
(0.00097) (0.00354) (0.01602) (0.00280) (0.00618) (0.00973) (0.00604) (0.01245)
19
-0.000251 -0.002815 -0.019011 -0.002088 -0.005047 -0.003108 -0.011001 0.001836
(0.00095) (0.00345) (0.01527) (0.00278) (0.00608) (0.00910) (0.00597) (0.01161)
20
-0.000187 -0.002904 -0.020144 -0.001930 -0.005089 -0.003825 -0.010357 5.39E-05
(0.00093) (0.00334) (0.01476) (0.00275) (0.00599) (0.00867) (0.00586) (0.01080)
21
-0.000113 -0.003001 -0.021062 -0.001744 -0.004983 -0.004395 -0.009649 -0.001482
(0.00093) (0.00321) (0.01453) (0.00268) (0.00590) (0.00844) (0.00571) (0.01012)
22
-3.87E-05 -0.003102 -0.021801 -0.001537 -0.004774 -0.004894 -0.008896 -0.002717
(0.00095) (0.00308) (0.01458) (0.00260) (0.00581) (0.00839) (0.00552) (0.00960)
23
3.01E-05 -0.003205 -0.022396 -0.001313 -0.004472 -0.005314 -0.008115 -0.003752
(0.00097) (0.00294) (0.01485) (0.00250) (0.00572) (0.00850) (0.00531) (0.00929)
24
8.51E-05 -0.003309 -0.022838 -0.001079 -0.004100 -0.005663 -0.007319 -0.004604
(0.00100) (0.00281) (0.01529) (0.00240) (0.00561) (0.00871) (0.00508) (0.00918)
25
0.000128 -0.003412 -0.023113 -0.000839 -0.003661 -0.005965 -0.006520 -0.005296
(0.00103) (0.00269) (0.01584) (0.00229) (0.00549) (0.00898) (0.00487) (0.00924)
26
0.000162 -0.003510 -0.023208 -0.000598 -0.003176 -0.006181 -0.005728 -0.005845
(0.00107) (0.00259) (0.01641) (0.00220) (0.00536) (0.00925) (0.00467) (0.00945)
27
0.000188 -0.003600 -0.023130 -0.000361 -0.002660 -0.006321 -0.004952 -0.006257
(0.00110) (0.00251) (0.01695) (0.00213) (0.00521) (0.00950) (0.00450) (0.00974)
28
0.000208 -0.003683 -0.022887 -0.000130 -0.002131 -0.006364 -0.004202 -0.006556
(0.00113) (0.00245) (0.01743) (0.00208) (0.00506) (0.00970) (0.00439) (0.01006)
29
0.000221 -0.003756 -0.022491 9.12E-05 -0.001600 -0.006329 -0.003485 -0.006747
(0.00116) (0.00240) (0.01781) (0.00207) (0.00491) (0.00983) (0.00432) (0.01038)
30
0.000224 -0.003818 -0.021944 0.000300 -0.001074 -0.006219 -0.002807 -0.006848
(0.00119) (0.00238) (0.01806) (0.00209) (0.00477) (0.00987) (0.00432) (0.01066)
31
0.000219 -0.003869 -0.021250 0.000493 -0.000557 -0.006046 -0.002172 -0.006857
(0.00120) (0.00236) (0.01819) (0.00214) (0.00465) (0.00984) (0.00437) (0.01087)
32
0.000205 -0.003907 -0.020414 0.000669 -5.50E-05 -0.005811 -0.001585 -0.006781
(0.00122) (0.00236) (0.01818) (0.00222) (0.00454) (0.00973) (0.00447) (0.01101)
33
0.000182 -0.003931 -0.019449 0.000825 0.000426 -0.005516 -0.001049 -0.006620
(0.00122) (0.00236) (0.01804) (0.00230) (0.00447) (0.00954) (0.00461) (0.01105)
34
0.000152 -0.003940 -0.018372 0.000960 0.000880 -0.005163 -0.000567 -0.006378
(0.00122) (0.00236) (0.01777) (0.00240) (0.00443) (0.00929) (0.00477) (0.01101)
35
0.000115 -0.003934 -0.017202 0.001071 0.001301 -0.004759 -0.000141 -0.006062
(0.00122) (0.00237) (0.01739) (0.00249) (0.00441) (0.00897) (0.00494) (0.01088)
36
7.14E-05 -0.003913 -0.015956 0.001157 0.001687 -0.004314 0.000227 -0.005679
(0.00120) (0.00237) (0.01690) (0.00258) (0.00443) (0.00861) (0.00511) (0.01066)
37
2.16E-05 -0.003879 -0.014653 0.001219 0.002033 -0.003837 0.000537 -0.005239
(0.00119) (0.00236) (0.01634) (0.00266) (0.00447) (0.00821) (0.00526) (0.01037)
38
-3.32E-05 -0.003831 -0.013308 0.001257 0.002339 -0.003335 0.000791 -0.004751
(0.00116) (0.00234) (0.01570) (0.00272) (0.00452) (0.00779) (0.00540) (0.01002)
39
-9.19E-05 -0.003771 -0.011937 0.001270 0.002601 -0.002818 0.000989 -0.004224
(0.00113) (0.00232) (0.01503) (0.00278) (0.00458) (0.00735) (0.00551) (0.00961)
40
-0.000154 -0.003700 -0.010555 0.001261 0.002821 -0.002292 0.001133 -0.003668
345
Tabela 45 - Funções de Resposta a Impulso para Indicadores de Atividade
Produtiva - Produção Industrial Total, Crédito Livre Total e
Spread Médio
(Conclusão)
PERÍODO PRODUTO TOTAL IGP-DI CÂMBIO MOEDA TÍTULOS SELIC CRÉDITO LÍVRE TOTAL SPREAD MÉDIO
(0.00110) (0.00229) (0.01433) (0.00281) (0.00465) (0.00691) (0.00560) (0.00916)
41
-0.000217 -0.003619 -0.009179 0.001229 0.002996 -0.001764 0.001226 -0.003089
(0.00107) (0.00225) (0.01363) (0.00283) (0.00471) (0.00649) (0.00565) (0.00868)
42
-0.000282 -0.003529 -0.007822 0.001176 0.003128 -0.001243 0.001269 -0.002498
(0.00104) (0.00221) (0.01296) (0.00282) (0.00475) (0.00608) (0.00566) (0.00819)
43
-0.000347 -0.003430 -0.006498 0.001105 0.003218 -0.000734 0.001266 -0.001903
(0.00101) (0.00216) (0.01234) (0.00280) (0.00478) (0.00572) (0.00564) (0.00770)
44
-0.000412 -0.003326 -0.005218 0.001016 0.003266 -0.000245 0.001221 -0.001311
(0.00097) (0.00210) (0.01179) (0.00277) (0.00479) (0.00540) (0.00559) (0.00723)
45
-0.000475 -0.003216 -0.003995 0.000912 0.003274 0.000220 0.001138 -0.000730
(0.00094) (0.00204) (0.01132) (0.00272) (0.00478) (0.00514) (0.00550) (0.00679)
46
-0.000537 -0.003102 -0.002837 0.000795 0.003246 0.000656 0.001021 -0.000167
(0.00091) (0.00197) (0.01095) (0.00266) (0.00474) (0.00493) (0.00538) (0.00639)
47
-0.000595 -0.002986 -0.001753 0.000667 0.003182 0.001059 0.000873 0.000372
(0.00089) (0.00191) (0.01068) (0.00258) (0.00468) (0.00479) (0.00524) (0.00605)
48
-0.000651 -0.002869 -0.000750 0.000529 0.003087 0.001426 0.000699 0.000882
(0.00086) (0.00184) (0.01050) (0.00250) (0.00460) (0.00470) (0.00508) (0.00577)
49
-0.000702 -0.002751 0.000166 0.000385 0.002963 0.001754 0.000504 0.001357
(0.00084) (0.00178) (0.01042) (0.00241) (0.00449) (0.00467) (0.00489) (0.00555)
50
-0.000750 -0.002634 0.000991 0.000237 0.002813 0.002041 0.000292 0.001794
(0.00083) (0.00172) (0.01040) (0.00231) (0.00436) (0.00467) (0.00470) (0.00541)
Fonte: Elaborada pelo autor.
Nota: Impulso de um Desvio Padrão da Taxa Selic.
346
Tabela 46 - Funções de Resposta a Impulso para Indicadores de Atividade
Produtiva - Produção Industrial Total, Crédito Livre Pessoa
Física e Spread Médio Pessoa Física
(Continua)
PERÍODO PRODUTO TOTAL IGP-DI CÂMBIO MOEDA TÍTULOS SELIC CRÉDITO LÍVRE
PESSOA FÍSICA
SPREAD MÉDIO
PESSOA FÍSICA
1
0.000000 0.000000 0.000000 0.000000 0.000000 0.143301 -0.003035 0.020261
(0.00000) (0.00000) (0.00000) (0.00000) (0.00000) (0.00953) (0.00129) (0.01074)
2
-0.004690 -0.000385 -0.008888 -0.002357 -0.002110 0.105575 -0.004453 0.050370
(0.00109) (0.00038) (0.00785) (0.00082) (0.00348) (0.01306) (0.00170) (0.01136)
3
-0.004628 -0.001380 -0.012234 -0.003123 0.002764 0.088313 -0.004499 0.052504
(0.00126) (0.00091) (0.01215) (0.00120) (0.00413) (0.01498) (0.00234) (0.01231)
4
-0.005570 -0.001741 -0.011166 -0.003852 0.010919 0.070001 -0.005511 0.071870
(0.00141) (0.00139) (0.01543) (0.00139) (0.00489) (0.01637) (0.00313) (0.01416)
5
-0.004619 -0.002016 -0.010876 -0.003977 0.016653 0.045201 -0.006751 0.084536
(0.00144) (0.00177) (0.01724) (0.00151) (0.00546) (0.01679) (0.00380) (0.01610)
6
-0.004345 -0.002246 -0.012346 -0.003603 0.018382 0.039342 -0.008383 0.083667
(0.00145) (0.00212) (0.01926) (0.00165) (0.00618) (0.01737) (0.00447) (0.01790)
7
-0.003546 -0.002671 -0.014890 -0.003385 0.016291 0.032476 -0.010157 0.082096
(0.00146) (0.00249) (0.02069) (0.00172) (0.00662) (0.01754) (0.00512) (0.01927)
8
-0.003048 -0.003189 -0.018266 -0.003022 0.013271 0.027151 -0.011699 0.073329
(0.00145) (0.00284) (0.02157) (0.00181) (0.00691) (0.01737) (0.00575) (0.02060)
9
-0.002365 -0.003714 -0.020350 -0.002723 0.009894 0.020409 -0.013066 0.064406
(0.00143) (0.00316) (0.02182) (0.00194) (0.00703) (0.01688) (0.00630) (0.02143)
10
-0.001770 -0.004130 -0.021349 -0.002244 0.007477 0.014066 -0.014167 0.053949
(0.00142) (0.00343) (0.02176) (0.00214) (0.00719) (0.01663) (0.00677) (0.02201)
11
-0.001285 -0.004404 -0.020739 -0.001780 0.005267 0.008987 -0.015009 0.045338
(0.00139) (0.00364) (0.02146) (0.00240) (0.00734) (0.01636) (0.00716) (0.02236)
12
-0.000933 -0.004539 -0.019482 -0.001348 0.003682 0.005401 -0.015612 0.037675
(0.00134) (0.00379) (0.02098) (0.00264) (0.00744) (0.01589) (0.00747) (0.02241)
13
-0.000729 -0.004556 -0.017903 -0.001039 0.002221 0.003439 -0.015989 0.031879
(0.00127) (0.00388) (0.02032) (0.00283) (0.00746) (0.01509) (0.00770) (0.02215)
14
-0.000593 -0.004497 -0.016704 -0.000855 0.001179 0.001732 -0.016168 0.027409
(0.00120) (0.00393) (0.01951) (0.00295) (0.00740) (0.01404) (0.00785) (0.02156)
15
-0.000542 -0.004397 -0.015821 -0.000775 0.000323 0.000887 -0.016142 0.023924
(0.00113) (0.00393) (0.01856) (0.00302) (0.00727) (0.01284) (0.00791) (0.02071)
16
-0.000531 -0.004290 -0.015406 -0.000765 -0.000267 -4.25E-05 -0.015936 0.021308
(0.00107) (0.00390) (0.01750) (0.00304) (0.00708) (0.01163) (0.00788) (0.01964)
17
-0.000555 -0.004195 -0.015246 -0.000788 -0.000716 -0.000503 -0.015568 0.019014
(0.00101) (0.00382) (0.01640) (0.00303) (0.00684) (0.01047) (0.00777) (0.01840)
18
-0.000581 -0.004117 -0.015311 -0.000832 -0.001024 -0.000984 -0.015075 0.017083
(0.00097) (0.00370) (0.01538) (0.00299) (0.00659) (0.00945) (0.00758) (0.01705)
19
-0.000597 -0.004060 -0.015475 -0.000876 -0.001241 -0.001270 -0.014488 0.015255
(0.00094) (0.00355) (0.01455) (0.00292) (0.00632) (0.00861) (0.00733) (0.01563)
20
-0.000597 -0.004023 -0.015697 -0.000912 -0.001371 -0.001564 -0.013835 0.013607
(0.00093) (0.00337) (0.01401) (0.00283) (0.00604) (0.00801) (0.00702) (0.01423)
21
-0.000583 -0.004005 -0.015911 -0.000926 -0.001430 -0.001811 -0.013132 0.012037
(0.00093) (0.00317) (0.01379) (0.00271) (0.00575) (0.00763) (0.00669) (0.01295)
22
-0.000562 -0.004004 -0.016080 -0.000915 -0.001423 -0.002081 -0.012397 0.010585
(0.00095) (0.00297) (0.01386) (0.00257) (0.00546) (0.00749) (0.00633) (0.01186)
23
-0.000537 -0.004014 -0.016168 -0.000878 -0.001351 -0.002358 -0.011645 0.009227
(0.00097) (0.00278) (0.01413) (0.00241) (0.00517) (0.00753) (0.00599) (0.01105)
24
-0.000513 -0.004031 -0.016155 -0.000819 -0.001220 -0.002633 -0.010891 0.007986
(0.00101) (0.00259) (0.01450) (0.00225) (0.00489) (0.00771) (0.00566) (0.01058)
25
-0.000492 -0.004049 -0.016036 -0.000742 -0.001037 -0.002886 -0.010146 0.006873
(0.00104) (0.00243) (0.01490) (0.00211) (0.00461) (0.00797) (0.00538) (0.01042)
26
-0.000474 -0.004065 -0.015815 -0.000654 -0.000816 -0.003094 -0.009420 0.005895
(0.00108) (0.00229) (0.01524) (0.00199) (0.00436) (0.00824) (0.00516) (0.01053)
27
-0.000461 -0.004079 -0.015504 -0.000559 -0.000573 -0.003253 -0.008719 0.005050
(0.00111) (0.00218) (0.01551) (0.00192) (0.00412) (0.00850) (0.00501) (0.01083)
28
-0.000451 -0.004089 -0.015113 -0.000461 -0.000319 -0.003360 -0.008049 0.004324
(0.00114) (0.00210) (0.01567) (0.00189) (0.00391) (0.00870) (0.00494) (0.01121)
29
-0.000446 -0.004094 -0.014649 -0.000365 -6.30E-05 -0.003419 -0.007414 0.003706
(0.00116) (0.00204) (0.01571) (0.00191) (0.00374) (0.00882) (0.00495) (0.01161)
30
-0.000446 -0.004093 -0.014116 -0.000273 0.000188 -0.003429 -0.006817 0.003184
(0.00118) (0.00200) (0.01563) (0.00197) (0.00361) (0.00887) (0.00502) (0.01198)
31
-0.000449 -0.004086 -0.013519 -0.000186 0.000430 -0.003392 -0.006262 0.002751
(0.00118) (0.00198) (0.01542) (0.00205) (0.00352) (0.00882) (0.00515) (0.01226)
32
-0.000456 -0.004072 -0.012864 -0.000109 0.000659 -0.003308 -0.005750 0.002404
(0.00118) (0.00198) (0.01510) (0.00215) (0.00348) (0.00869) (0.00532) (0.01245)
33
-0.000468 -0.004050 -0.012156 -4.20E-05 0.000872 -0.003178 -0.005283 0.002138
(0.00118) (0.00198) (0.01467) (0.00224) (0.00346) (0.00848) (0.00550) (0.01254)
34
-0.000483 -0.004021 -0.011404 1.32E-05 0.001067 -0.003009 -0.004861 0.001951
(0.00116) (0.00198) (0.01415) (0.00234) (0.00348) (0.00819) (0.00568) (0.01251)
35
-0.000501 -0.003985 -0.010619 5.56E-05 0.001242 -0.002805 -0.004485 0.001839
(0.00114) (0.00198) (0.01355) (0.00242) (0.00351) (0.00785) (0.00586) (0.01237)
36
-0.000522 -0.003941 -0.009810 8.48E-05 0.001397 -0.002572 -0.004154 0.001794
(0.00112) (0.00198) (0.01289) (0.00248) (0.00355) (0.00745) (0.00601) (0.01213)
37
-0.000546 -0.003890 -0.008986 0.000101 0.001530 -0.002316 -0.003867 0.001811
(0.00109) (0.00197) (0.01218) (0.00253) (0.00360) (0.00702) (0.00613) (0.01179)
38
-0.000573 -0.003834 -0.008157 0.000103 0.001643 -0.002043 -0.003622 0.001883
(0.00106) (0.00196) (0.01145) (0.00256) (0.00365) (0.00656) (0.00621) (0.01137)
39
-0.000602 -0.003772 -0.007331 9.26E-05 0.001734 -0.001757 -0.003418 0.002003
(0.00103) (0.00194) (0.01071) (0.00257) (0.00368) (0.00608) (0.00626) (0.01088)
347
Tabela 46 - Funções de Resposta a Impulso para Indicadores de Atividade
Produtiva - Produção Industrial Total, Crédito Livre Pessoa
Física e Spread Médio Pessoa Física
(Conclusão)
PERÍODO PRODUTO TOTAL IGP-DI CÂMBIO MOEDA TÍTULOS SELIC CRÉDITO LÍVRE
PESSOA FÍSICA
SPREAD MÉDIO
PESSOA FÍSICA
40
-0.000632 -0.003704 -0.006517 7.01E-05 0.001804 -0.001464 -0.003252 0.002161
(0.00099) (0.00192) (0.00999) (0.00255) (0.00370) (0.00559) (0.00627) (0.01033)
41
-0.000663 -0.003633 -0.005722 3.64E-05 0.001854 -0.001169 -0.003123 0.002351
(0.00095) (0.00189) (0.00929) (0.00252) (0.00371) (0.00512) (0.00624) (0.00974)
42
-0.000694 -0.003559 -0.004952 -7.47E-06 0.001883 -0.000878 -0.003027 0.002565
(0.00092) (0.00186) (0.00865) (0.00248) (0.00369) (0.00466) (0.00617) (0.00912)
43
-0.000725 -0.003482 -0.004213 -6.02E-05 0.001894 -0.000595 -0.002961 0.002794
(0.00088) (0.00182) (0.00807) (0.00241) (0.00365) (0.00424) (0.00606) (0.00850)
44
-0.000755 -0.003403 -0.003510 -0.000121 0.001886 -0.000323 -0.002923 0.003032
(0.00085) (0.00178) (0.00757) (0.00234) (0.00360) (0.00387) (0.00592) (0.00788)
45
-0.000784 -0.003324 -0.002846 -0.000187 0.001863 -6.54E-05 -0.002910 0.003273
(0.00082) (0.00174) (0.00715) (0.00225) (0.00352) (0.00354) (0.00575) (0.00728)
46
-0.000813 -0.003244 -0.002224 -0.000259 0.001824 0.000175 -0.002918 0.003511
(0.00079) (0.00170) (0.00683) (0.00215) (0.00342) (0.00329) (0.00555) (0.00671)
47
-0.000839 -0.003164 -0.001647 -0.000335 0.001772 0.000396 -0.002945 0.003740
(0.00077) (0.00165) (0.00660) (0.00205) (0.00330) (0.00309) (0.00534) (0.00619)
48
-0.000863 -0.003085 -0.001117 -0.000413 0.001708 0.000596 -0.002987 0.003958
(0.00075) (0.00161) (0.00644) (0.00194) (0.00317) (0.00297) (0.00510) (0.00573)
49
-0.000886 -0.003008 -0.000633 -0.000492 0.001634 0.000774 -0.003042 0.004160
(0.00073) (0.00158) (0.00635) (0.00183) (0.00302) (0.00290) (0.00486) (0.00534)
50
-0.000906 -0.002932 -0.000197 -0.000572 0.001551 0.000930 -0.003107 0.004344
(0.00072) (0.00154) (0.00631) (0.00172) (0.00286) (0.00289) (0.00462) (0.00502)
Fonte: Elaborada pelo autor.
Nota: Impulso de um Desvio Padrão da Taxa Selic.
348
Tabela 47 - Funções de Resposta a Impulso para Indicadores de Atividade
Produtiva - Produção Industrial Total, Crédito Livre Pessoa
Jurídica e Spread Médio Pessoa Jurídica
(Continua)
PERÍODO PRODUTO TOTAL IGP-DI CÂMBIO MOEDA TÍTULOS SELIC CRÉDITO LÍVRE
PESSOA JURÍDICA
SPREAD MÉDIO
PESSOA JURÍDICA
1
0.000000 0.000000 0.000000 0.000000 0.000000 0.148645 -0.003405 0.006834
(0.00000) (0.00000) (0.00000) (0.00000) (0.00000) (0.00984) (0.00138) (0.00778)
2
-0.004473 -0.000640 -0.003194 -0.001930 -0.001877 0.103577 -0.004501 0.042920
(0.00114) (0.00042) (0.00814) (0.00088) (0.00418) (0.01391) (0.00176) (0.00899)
3
-0.003909 -0.001415 0.003570 -0.002293 0.003831 0.085472 -0.004887 0.049207
(0.00136) (0.00101) (0.01328) (0.00133) (0.00521) (0.01595) (0.00214) (0.01019)
4
-0.004859 -0.001021 0.006927 -0.002971 0.008901 0.069075 -0.006341 0.056229
(0.00142) (0.00150) (0.01539) (0.00141) (0.00581) (0.01599) (0.00239) (0.01090)
5
-0.004351 -0.000761 0.009540 -0.004054 0.011296 0.058354 -0.007489 0.059632
(0.00136) (0.00187) (0.01665) (0.00154) (0.00637) (0.01616) (0.00275) (0.01213)
6
-0.004127 -0.000733 0.007951 -0.004828 0.010374 0.049442 -0.008716 0.062316
(0.00131) (0.00216) (0.01741) (0.00165) (0.00671) (0.01602) (0.00310) (0.01322)
7
-0.003587 -0.000940 0.004170 -0.005131 0.008251 0.041453 -0.009856 0.061260
(0.00123) (0.00243) (0.01775) (0.00177) (0.00672) (0.01557) (0.00343) (0.01397)
8
-0.003272 -0.001154 0.000557 -0.005214 0.005582 0.033614 -0.011056 0.057333
(0.00119) (0.00267) (0.01806) (0.00195) (0.00666) (0.01509) (0.00376) (0.01447)
9
-0.002915 -0.001295 -0.001954 -0.005231 0.003041 0.026780 -0.012177 0.052335
(0.00118) (0.00290) (0.01838) (0.00216) (0.00658) (0.01468) (0.00409) (0.01481)
10
-0.002544 -0.001339 -0.003656 -0.005242 0.000656 0.021893 -0.013160 0.047545
(0.00117) (0.00310) (0.01858) (0.00238) (0.00659) (0.01439) (0.00441) (0.01505)
11
-0.002136 -0.001340 -0.005467 -0.005242 -0.001603 0.018248 -0.013919 0.043220
(0.00117) (0.00325) (0.01859) (0.00257) (0.00670) (0.01410) (0.00471) (0.01521)
12
-0.001752 -0.001354 -0.007773 -0.005216 -0.003702 0.015176 -0.014450 0.039088
(0.00115) (0.00338) (0.01847) (0.00273) (0.00688) (0.01373) (0.00499) (0.01527)
13
-0.001434 -0.001404 -0.010531 -0.005161 -0.005507 0.012181 -0.014770 0.034889
(0.00112) (0.00347) (0.01829) (0.00285) (0.00708) (0.01329) (0.00524) (0.01524)
14
-0.001181 -0.001489 -0.013409 -0.005079 -0.006915 0.009255 -0.014890 0.030605
(0.00110) (0.00355) (0.01810) (0.00295) (0.00728) (0.01284) (0.00546) (0.01514)
15
-0.000968 -0.001600 -0.016184 -0.004968 -0.007928 0.006497 -0.014813 0.026408
(0.00109) (0.00362) (0.01790) (0.00302) (0.00750) (0.01240) (0.00564) (0.01497)
16
-0.000765 -0.001735 -0.018818 -0.004819 -0.008618 0.003969 -0.014544 0.022458
(0.00109) (0.00367) (0.01769) (0.00308) (0.00772) (0.01201) (0.00579) (0.01474)
17
-0.000560 -0.001900 -0.021378 -0.004623 -0.009068 0.001624 -0.014094 0.018806
(0.00110) (0.00371) (0.01749) (0.00312) (0.00795) (0.01167) (0.00590) (0.01448)
18
-0.000356 -0.002098 -0.023897 -0.004370 -0.009323 -0.000607 -0.013484 0.015411
(0.00112) (0.00373) (0.01734) (0.00315) (0.00817) (0.01140) (0.00597) (0.01420)
19
-0.000161 -0.002328 -0.026328 -0.004060 -0.009396 -0.002749 -0.012735 0.012217
(0.00115) (0.00374) (0.01728) (0.00316) (0.00836) (0.01122) (0.00601) (0.01390)
20
2.04E-05 -0.002583 -0.028577 -0.003697 -0.009290 -0.004770 -0.011867 0.009199
(0.00118) (0.00375) (0.01733) (0.00315) (0.00853) (0.01112) (0.00601) (0.01363)
21
0.000188 -0.002854 -0.030559 -0.003288 -0.009012 -0.006613 -0.010897 0.006371
(0.00121) (0.00375) (0.01748) (0.00314) (0.00866) (0.01111) (0.00599) (0.01338)
22
0.000341 -0.003133 -0.032230 -0.002842 -0.008580 -0.008232 -0.009845 0.003760
(0.00125) (0.00374) (0.01773) (0.00312) (0.00877) (0.01116) (0.00594) (0.01317)
23
0.000480 -0.003413 -0.033573 -0.002368 -0.008014 -0.009605 -0.008729 0.001383
(0.00129) (0.00373) (0.01806) (0.00309) (0.00883) (0.01126) (0.00588) (0.01301)
24
0.000601 -0.003689 -0.034583 -0.001874 -0.007333 -0.010727 -0.007569 -0.000756
(0.00133) (0.00373) (0.01844) (0.00305) (0.00887) (0.01140) (0.00580) (0.01290)
25
0.000701 -0.003957 -0.035252 -0.001370 -0.006548 -0.011601 -0.006383 -0.002661
(0.00137) (0.00372) (0.01886) (0.00302) (0.00887) (0.01155) (0.00573) (0.01284)
26
0.000778 -0.004212 -0.035568 -0.000865 -0.005672 -0.012228 -0.005190 -0.004333
(0.00140) (0.00371) (0.01927) (0.00300) (0.00885) (0.01169) (0.00565) (0.01281)
27
0.000830 -0.004450 -0.035528 -0.000367 -0.004716 -0.012611 -0.004005 -0.005769
(0.00144) (0.00370) (0.01965) (0.00298) (0.00880) (0.01181) (0.00558) (0.01280)
28
0.000858 -0.004667 -0.035138 0.000115 -0.003698 -0.012757 -0.002845 -0.006968
(0.00147) (0.00369) (0.01999) (0.00297) (0.00873) (0.01189) (0.00553) (0.01281)
29
0.000862 -0.004860 -0.034412 0.000575 -0.002636 -0.012678 -0.001725 -0.007932
(0.00150) (0.00368) (0.02025) (0.00298) (0.00865) (0.01194) (0.00550) (0.01283)
30
0.000843 -0.005027 -0.033373 0.001006 -0.001545 -0.012394 -0.000657 -0.008666
(0.00153) (0.00367) (0.02044) (0.00300) (0.00856) (0.01193) (0.00548) (0.01283)
31
0.000802 -0.005168 -0.032043 0.001403 -0.000445 -0.011924 0.000347 -0.009182
(0.00155) (0.00366) (0.02054) (0.00302) (0.00846) (0.01187) (0.00549) (0.01280)
32
0.000740 -0.005280 -0.030451 0.001761 0.000650 -0.011290 0.001275 -0.009490
(0.00157) (0.00364) (0.02056) (0.00306) (0.00836) (0.01176) (0.00552) (0.01275)
33
0.000659 -0.005364 -0.028624 0.002076 0.001723 -0.010515 0.002120 -0.009606
(0.00158) (0.00362) (0.02048) (0.00311) (0.00827) (0.01159) (0.00557) (0.01266)
34
0.000561 -0.005419 -0.026594 0.002347 0.002760 -0.009619 0.002875 -0.009544
(0.00158) (0.00359) (0.02032) (0.00317) (0.00819) (0.01139) (0.00562) (0.01252)
35
0.000448 -0.005446 -0.024393 0.002570 0.003746 -0.008625 0.003534 -0.009321
(0.00159) (0.00355) (0.02008) (0.00322) (0.00812) (0.01114) (0.00569) (0.01235)
36
0.000322 -0.005446 -0.022058 0.002745 0.004670 -0.007555 0.004093 -0.008955
(0.00158) (0.00351) (0.01979) (0.00328) (0.00806) (0.01087) (0.00575) (0.01213)
37
0.000186 -0.005419 -0.019622 0.002870 0.005520 -0.006432 0.004551 -0.008463
(0.00157) (0.00346) (0.01944) (0.00333) (0.00802) (0.01059) (0.00582) (0.01188)
38
4.22E-05 -0.005368 -0.017121 0.002947 0.006287 -0.005276 0.004906 -0.007866
(0.00156) (0.00341) (0.01906) (0.00337) (0.00798) (0.01029) (0.00587) (0.01159)
39
-0.000107 -0.005293 -0.014587 0.002977 0.006963 -0.004109 0.005161 -0.007183
(0.00155) (0.00335) (0.01867) (0.00341) (0.00796) (0.01001) (0.00592) (0.01128)
349
Tabela 47 - Funções de Resposta a Impulso para Indicadores de Atividade
Produtiva - Produção Industrial Total, Crédito Livre Pessoa
Jurídica e Spread Médio Pessoa Jurídica
(Conclusão)
PERÍODO PRODUTO TOTAL IGP-DI CÂMBIO MOEDA TÍTULOS SELIC CRÉDITO LÍVRE
PESSOA JURÍDICA
SPREAD MÉDIO
PESSOA JURÍDICA
40
-0.000260 -0.005197 -0.012054 0.002960 0.007543 -0.002948 0.005317 -0.006432
(0.00153) (0.00328) (0.01827) (0.00344) (0.00794) (0.00974) (0.00595) (0.01095)
41
-0.000414 -0.005083 -0.009553 0.002899 0.008023 -0.001812 0.005378 -0.005632
(0.00151) (0.00321) (0.01789) (0.00346) (0.00792) (0.00950) (0.00596) (0.01061)
42
-0.000566 -0.004951 -0.007113 0.002797 0.008399 -0.000717 0.005348 -0.004800
(0.00149) (0.00313) (0.01754) (0.00347) (0.00790) (0.00929) (0.00596) (0.01027)
43
-0.000716 -0.004805 -0.004761 0.002657 0.008670 0.000324 0.005234 -0.003954
(0.00147) (0.00305) (0.01722) (0.00348) (0.00788) (0.00912) (0.00593) (0.00995)
44
-0.000860 -0.004648 -0.002522 0.002482 0.008839 0.001296 0.005043 -0.003109
(0.00145) (0.00297) (0.01695) (0.00347) (0.00785) (0.00900) (0.00589) (0.00964)
45
-0.000998 -0.004481 -0.000417 0.002277 0.008906 0.002190 0.004782 -0.002280
(0.00144) (0.00289) (0.01673) (0.00345) (0.00782) (0.00891) (0.00583) (0.00936)
46
-0.001127 -0.004308 0.001535 0.002045 0.008875 0.002996 0.004458 -0.001480
(0.00142) (0.00280) (0.01655) (0.00343) (0.00777) (0.00885) (0.00576) (0.00911)
47
-0.001246 -0.004130 0.003317 0.001790 0.008751 0.003706 0.004080 -0.000722
(0.00140) (0.00272) (0.01640) (0.00339) (0.00771) (0.00882) (0.00568) (0.00889)
48
-0.001355 -0.003950 0.004919 0.001517 0.008539 0.004316 0.003658 -1.49E-05
(0.00139) (0.00265) (0.01629) (0.00336) (0.00764) (0.00881) (0.00559) (0.00872)
49
-0.001452 -0.003771 0.006330 0.001230 0.008247 0.004822 0.003199 0.000631
(0.00137) (0.00257) (0.01620) (0.00332) (0.00756) (0.00881) (0.00549) (0.00858)
50
-0.001537 -0.003594 0.007543 0.000934 0.007881 0.005222 0.002713 0.001210
(0.00136) (0.00251) (0.01612) (0.00328) (0.00746) (0.00881) (0.00539) (0.00847)
Fonte: Elaborada pelo autor.
Nota: Impulso de um Desvio Padrão da Taxa Selic.
350
Tabela 48 - Funções de Resposta a Impulso para Indicadores de Atividade
Produtiva - Produção Industrial Total, Crédito Pessoal e Spread
Médio Pessoa Física
(Continua)
PERÍODO PRODUTO
TOTAL
IGP-DI CÂMBIO MOEDA TÍTULOS SELIC CRÉDITO PESSOAL SPREAD MÉDIO
PESSOA FÍSICA
1
0.000000 0.000000 0.000000 0.000000 0.000000 0.146555 -0.000905 0.001360
(0.00000) (0.00000) (0.00000) (0.00000) (0.00000) (0.00975) (0.00121) (0.01063)
2
-0.004731 -0.000540 -0.004625 -0.002180 -0.003579 0.097006 -0.002634 0.039518
(0.00120) (0.00040) (0.00843) (0.00089) (0.00398) (0.01355) (0.00174) (0.01060)
3
-0.004314 -0.001600 -0.005226 -0.002761 0.001744 0.089544 -0.003060 0.040269
(0.00135) (0.00090) (0.01256) (0.00125) (0.00460) (0.01519) (0.00269) (0.01111)
4
-0.005103 -0.001982 -0.004259 -0.003718 0.008726 0.072016 -0.004788 0.063434
(0.00148) (0.00136) (0.01579) (0.00140) (0.00550) (0.01703) (0.00360) (0.01261)
5
-0.003554 -0.002346 -0.005456 -0.003900 0.014944 0.051426 -0.004638 0.076544
(0.00149) (0.00176) (0.01765) (0.00151) (0.00599) (0.01733) (0.00452) (0.01483)
6
-0.004170 -0.002507 -0.006278 -0.003707 0.016882 0.048782 -0.006452 0.073722
(0.00142) (0.00213) (0.01960) (0.00161) (0.00652) (0.01783) (0.00541) (0.01623)
7
-0.003823 -0.003014 -0.008093 -0.003467 0.015221 0.039169 -0.007452 0.075059
(0.00143) (0.00251) (0.02102) (0.00165) (0.00688) (0.01829) (0.00628) (0.01775)
8
-0.003811 -0.003301 -0.007548 -0.002762 0.013024 0.030728 -0.008957 0.064563
(0.00146) (0.00289) (0.02212) (0.00174) (0.00719) (0.01849) (0.00710) (0.01922)
9
-0.003035 -0.003379 -0.004147 -0.002359 0.011142 0.014079 -0.010397 0.061877
(0.00144) (0.00323) (0.02228) (0.00187) (0.00720) (0.01787) (0.00780) (0.02020)
10
-0.002253 -0.003156 -0.001425 -0.001749 0.009842 0.007091 -0.011641 0.052440
(0.00143) (0.00350) (0.02181) (0.00211) (0.00727) (0.01749) (0.00835) (0.02106)
11
-0.001615 -0.002851 0.001239 -0.001382 0.007380 -0.000736 -0.012880 0.047804
(0.00143) (0.00368) (0.02093) (0.00241) (0.00731) (0.01725) (0.00874) (0.02178)
12
-0.001109 -0.002538 0.002816 -0.001058 0.004965 -0.002767 -0.013731 0.039582
(0.00142) (0.00378) (0.01983) (0.00270) (0.00732) (0.01705) (0.00895) (0.02205)
13
-0.000905 -0.002194 0.004375 -0.000989 0.001887 -0.005167 -0.014532 0.033147
(0.00141) (0.00380) (0.01877) (0.00294) (0.00727) (0.01681) (0.00902) (0.02198)
14
-0.000638 -0.001842 0.005196 -0.001031 -0.000347 -0.006353 -0.014955 0.027004
(0.00138) (0.00377) (0.01785) (0.00313) (0.00716) (0.01637) (0.00896) (0.02155)
15
-0.000541 -0.001463 0.005586 -0.001245 -0.002407 -0.005745 -0.015219 0.021945
(0.00133) (0.00369) (0.01719) (0.00325) (0.00701) (0.01578) (0.00881) (0.02083)
16
-0.000428 -0.001154 0.004915 -0.001574 -0.003913 -0.004674 -0.015136 0.018632
(0.00128) (0.00357) (0.01675) (0.00329) (0.00682) (0.01503) (0.00857) (0.01991)
17
-0.000444 -0.000935 0.003405 -0.001945 -0.005247 -0.001905 -0.014794 0.015575
(0.00122) (0.00342) (0.01647) (0.00325) (0.00658) (0.01410) (0.00827) (0.01883)
18
-0.000478 -0.000836 0.001198 -0.002344 -0.006195 -2.92E-05 -0.014188 0.013691
(0.00116) (0.00325) (0.01629) (0.00316) (0.00632) (0.01317) (0.00793) (0.01772)
19
-0.000546 -0.000835 -0.001437 -0.002693 -0.006762 0.002211 -0.013356 0.011671
(0.00112) (0.00308) (0.01614) (0.00303) (0.00606) (0.01226) (0.00756) (0.01660)
20
-0.000612 -0.000921 -0.004240 -0.002990 -0.006941 0.003468 -0.012378 0.010417
(0.00110) (0.00289) (0.01602) (0.00286) (0.00582) (0.01157) (0.00717) (0.01553)
21
-0.000653 -0.001083 -0.007097 -0.003189 -0.006764 0.004640 -0.011261 0.009233
(0.00111) (0.00271) (0.01590) (0.00270) (0.00558) (0.01106) (0.00678) (0.01457)
22
-0.000681 -0.001306 -0.009825 -0.003289 -0.006359 0.005094 -0.010090 0.008367
(0.00114) (0.00254) (0.01577) (0.00255) (0.00535) (0.01075) (0.00642) (0.01374)
23
-0.000667 -0.001577 -0.012329 -0.003275 -0.005747 0.005037 -0.008872 0.007511
(0.00117) (0.00237) (0.01561) (0.00242) (0.00512) (0.01058) (0.00609) (0.01309)
24
-0.000634 -0.001872 -0.014463 -0.003151 -0.005013 0.004410 -0.007671 0.006589
(0.00121) (0.00221) (0.01542) (0.00232) (0.00489) (0.01046) (0.00580) (0.01258)
25
-0.000568 -0.002175 -0.016164 -0.002927 -0.004181 0.003281 -0.006503 0.005642
(0.00125) (0.00208) (0.01520) (0.00226) (0.00466) (0.01032) (0.00556) (0.01221)
26
-0.000488 -0.002465 -0.017385 -0.002617 -0.003315 0.001917 -0.005400 0.004560
(0.00128) (0.00196) (0.01493) (0.00223) (0.00442) (0.01010) (0.00537) (0.01192)
27
-0.000394 -0.002734 -0.018128 -0.002247 -0.002456 0.000338 -0.004377 0.003482
(0.00130) (0.00187) (0.01463) (0.00222) (0.00418) (0.00979) (0.00523) (0.01169)
28
-0.000295 -0.002969 -0.018428 -0.001834 -0.001639 -0.001207 -0.003444 0.002321
(0.00130) (0.00180) (0.01429) (0.00222) (0.00395) (0.00940) (0.00513) (0.01148)
29
-0.000199 -0.003167 -0.018327 -0.001405 -0.000895 -0.002704 -0.002607 0.001199
(0.00129) (0.00174) (0.01392) (0.00223) (0.00373) (0.00894) (0.00506) (0.01125)
30
-0.000111 -0.003323 -0.017891 -0.000977 -0.000231 -0.003986 -0.001863 9.40E-05
(0.00127) (0.00170) (0.01354) (0.00224) (0.00352) (0.00845) (0.00503) (0.01100)
31
-3.86E-05 -0.003440 -0.017182 -0.000571 0.000341 -0.005023 -0.001213 -0.000913
(0.00124) (0.00168) (0.01315) (0.00225) (0.00335) (0.00797) (0.00502) (0.01073)
32
1.64E-05 -0.003518 -0.016272 -0.000199 0.000826 -0.005750 -0.000647 -0.001803
(0.00121) (0.00165) (0.01278) (0.00225) (0.00320) (0.00751) (0.00503) (0.01042)
33
4.94E-05 -0.003562 -0.015217 0.000128 0.001226 -0.006155 -0.000162 -0.002539
(0.00116) (0.00164) (0.01241) (0.00225) (0.00308) (0.00709) (0.00505) (0.01009)
34
6.13E-05 -0.003578 -0.014074 0.000402 0.001555 -0.006255 0.000251 -0.003094
(0.00111) (0.00162) (0.01207) (0.00224) (0.00300) (0.00672) (0.00508) (0.00975)
35
5.17E-05 -0.003570 -0.012887 0.000620 0.001822 -0.006067 0.000597 -0.003462
(0.00106) (0.00161) (0.01173) (0.00223) (0.00294) (0.00640) (0.00512) (0.00940)
36
2.31E-05 -0.003543 -0.011691 0.000783 0.002040 -0.005649 0.000880 -0.003630
(0.00102) (0.00159) (0.01141) (0.00222) (0.00291) (0.00612) (0.00515) (0.00907)
37
-2.21E-05 -0.003502 -0.010510 0.000894 0.002219 -0.005040 0.001106 -0.003614
(0.00097) (0.00157) (0.01107) (0.00220) (0.00290) (0.00587) (0.00518) (0.00874)
38
-8.08E-05 -0.003452 -0.009359 0.000956 0.002368 -0.004309 0.001276 -0.003420
(0.00092) (0.00156) (0.01074) (0.00219) (0.00291) (0.00565) (0.00520) (0.00843)
39
-0.000149 -0.003395 -0.008245 0.000977 0.002496 -0.003503 0.001395 -0.003075
351
Tabela 48 - Funções de Resposta a Impulso para Indicadores de Atividade
Produtiva - Produção Industrial Total, Crédito Pessoal e Spread
Médio Pessoa Física
(Conclusão)
PERÍODO PRODUTO
TOTAL
IGP-DI CÂMBIO MOEDA TÍTULOS SELIC CRÉDITO PESSOAL SPREAD MÉDIO
PESSOA FÍSICA
(0.00088) (0.00154) (0.01038) (0.00217) (0.00293) (0.00544) (0.00520) (0.00813)
40
-0.000224 -0.003333 -0.007169 0.000962 0.002605 -0.002677 0.001463 -0.002602
(0.00083) (0.00152) (0.01001) (0.00215) (0.00295) (0.00525) (0.00519) (0.00784)
41
-0.000303 -0.003267 -0.006129 0.000919 0.002699 -0.001873 0.001481 -0.002031
(0.00080) (0.00150) (0.00963) (0.00213) (0.00297) (0.00506) (0.00516) (0.00757)
42
-0.000381 -0.003199 -0.005121 0.000853 0.002777 -0.001124 0.001451 -0.001389
(0.00076) (0.00148) (0.00924) (0.00210) (0.00298) (0.00488) (0.00510) (0.00731)
43
-0.000457 -0.003127 -0.004141 0.000769 0.002838 -0.000453 0.001374 -0.000705
(0.00073) (0.00146) (0.00884) (0.00208) (0.00299) (0.00470) (0.00503) (0.00705)
44
-0.000530 -0.003053 -0.003187 0.000673 0.002878 0.000126 0.001254 -4.87E-06
(0.00070) (0.00144) (0.00845) (0.00205) (0.00298) (0.00452) (0.00493) (0.00681)
45
-0.000597 -0.002975 -0.002257 0.000568 0.002896 0.000608 0.001091 0.000690
(0.00067) (0.00142) (0.00807) (0.00201) (0.00295) (0.00435) (0.00481) (0.00657)
46
-0.000658 -0.002894 -0.001353 0.000456 0.002887 0.000996 0.000892 0.001359
(0.00064) (0.00140) (0.00773) (0.00197) (0.00292) (0.00418) (0.00468) (0.00634)
47
-0.000712 -0.002809 -0.000480 0.000340 0.002850 0.001297 0.000658 0.001990
(0.00062) (0.00139) (0.00742) (0.00192) (0.00286) (0.00402) (0.00453) (0.00611)
48
-0.000760 -0.002719 0.000358 0.000221 0.002783 0.001523 0.000397 0.002570
(0.00060) (0.00137) (0.00715) (0.00187) (0.00280) (0.00387) (0.00437) (0.00590)
49
-0.000802 -0.002626 0.001152 0.000100 0.002686 0.001689 0.000113 0.003095
(0.00057) (0.00136) (0.00693) (0.00181) (0.00273) (0.00374) (0.00420) (0.00571)
50
-0.000837 -0.002530 0.001894 -2.21E-05 0.002559 0.001806 -0.000187 0.003559
(0.00056) (0.00135) (0.00676) (0.00174) (0.00265) (0.00363) (0.00402) (0.00552)
Fonte: Elaborada pelo autor.
Nota: Impulso de um Desvio Padrão da Taxa Selic.
352
Tabela 49 - Funções de Resposta a Impulso para Indicadores de Atividade
Produtiva - Produção Industrial Total, Capital de Giro e Spread
Médio Pessoa Jurídica
(Continua)
PERÍODO PRODUTO
TOTAL
IGP-DI CÂMBIO MOEDA TÍTULOS SELIC CAPITAL DE GIRO SPREAD MÉDIO
PESSOA JURÍDICA
1
0.000000 0.000000 0.000000 0.000000 0.000000 0.143469 0.004988 0.011280
(0.00000) (0.00000) (0.00000) (0.00000) (0.00000) (0.00950) (0.00267) (0.00807)
2
-0.004352 -0.000519 -0.005795 -0.001851 0.000331 0.107008 0.005591 0.041980
(0.00110) (0.00039) (0.00798) (0.00085) (0.00402) (0.01380) (0.00326) (0.00902)
3
-0.003974 -0.001335 -0.001140 -0.002641 0.002692 0.083774 0.004138 0.048017
(0.00130) (0.00092) (0.01259) (0.00129) (0.00503) (0.01557) (0.00380) (0.01017)
4
-0.004413 -0.001159 0.002760 -0.003118 0.009067 0.066139 0.002551 0.055675
(0.00131) (0.00133) (0.01432) (0.00138) (0.00542) (0.01529) (0.00390) (0.01060)
5
-0.004023 -0.000948 0.006270 -0.003857 0.011848 0.058631 0.003074 0.059618
(0.00125) (0.00160) (0.01585) (0.00156) (0.00586) (0.01548) (0.00413) (0.01174)
6
-0.003957 -0.000985 0.004443 -0.004397 0.012113 0.049052 0.002875 0.062622
(0.00123) (0.00184) (0.01709) (0.00170) (0.00612) (0.01540) (0.00437) (0.01273)
7
-0.003655 -0.001332 0.000769 -0.004679 0.009859 0.039458 0.002367 0.061674
(0.00118) (0.00207) (0.01800) (0.00184) (0.00608) (0.01504) (0.00452) (0.01347)
8
-0.003449 -0.001694 -0.003246 -0.004722 0.007611 0.030286 0.001247 0.056998
(0.00116) (0.00229) (0.01875) (0.00199) (0.00593) (0.01461) (0.00461) (0.01397)
9
-0.003114 -0.001955 -0.006165 -0.004749 0.004996 0.023238 1.65E-05 0.050620
(0.00117) (0.00249) (0.01935) (0.00216) (0.00575) (0.01418) (0.00465) (0.01423)
10
-0.002713 -0.002105 -0.008542 -0.004782 0.002570 0.018004 -0.001177 0.044445
(0.00118) (0.00266) (0.01979) (0.00234) (0.00563) (0.01386) (0.00464) (0.01435)
11
-0.002224 -0.002218 -0.011014 -0.004797 0.000107 0.014493 -0.002202 0.039075
(0.00118) (0.00279) (0.02006) (0.00249) (0.00558) (0.01359) (0.00463) (0.01437)
12
-0.001762 -0.002348 -0.013892 -0.004746 -0.002072 0.011547 -0.003076 0.034357
(0.00117) (0.00289) (0.02023) (0.00262) (0.00558) (0.01329) (0.00461) (0.01430)
13
-0.001361 -0.002514 -0.016858 -0.004619 -0.003866 0.008910 -0.003830 0.029944
(0.00114) (0.00297) (0.02034) (0.00272) (0.00559) (0.01293) (0.00459) (0.01417)
14
-0.001044 -0.002699 -0.019533 -0.004428 -0.005128 0.006446 -0.004469 0.025741
(0.00111) (0.00304) (0.02040) (0.00280) (0.00559) (0.01251) (0.00456) (0.01398)
15
-0.000785 -0.002883 -0.021709 -0.004193 -0.005907 0.004373 -0.004968 0.021833
(0.00108) (0.00310) (0.02037) (0.00285) (0.00559) (0.01202) (0.00450) (0.01375)
16
-0.000566 -0.003058 -0.023437 -0.003928 -0.006295 0.002699 -0.005311 0.018373
(0.00106) (0.00315) (0.02025) (0.00289) (0.00561) (0.01150) (0.00443) (0.01346)
17
-0.000376 -0.003233 -0.024846 -0.003635 -0.006407 0.001357 -0.005505 0.015406
(0.00104) (0.00318) (0.02005) (0.00291) (0.00564) (0.01095) (0.00434) (0.01312)
18
-0.000216 -0.003414 -0.026021 -0.003314 -0.006309 0.000211 -0.005576 0.012866
(0.00102) (0.00320) (0.01978) (0.00292) (0.00569) (0.01042) (0.00423) (0.01273)
19
-8.75E-05 -0.003601 -0.026960 -0.002966 -0.006038 -0.000812 -0.005550 0.010642
(0.00101) (0.00321) (0.01948) (0.00291) (0.00574) (0.00992) (0.00412) (0.01232)
20
1.03E-05 -0.003789 -0.027623 -0.002600 -0.005619 -0.001724 -0.005449 0.008660
(0.00100) (0.00320) (0.01915) (0.00290) (0.00578) (0.00946) (0.00400) (0.01188)
21
8.25E-05 -0.003971 -0.027983 -0.002225 -0.005083 -0.002498 -0.005284 0.006893
(0.00100) (0.00320) (0.01882) (0.00287) (0.00582) (0.00906) (0.00388) (0.01144)
22
0.000134 -0.004142 -0.028049 -0.001850 -0.004463 -0.003115 -0.005067 0.005341
(0.00099) (0.00318) (0.01848) (0.00284) (0.00585) (0.00871) (0.00376) (0.01100)
23
0.000168 -0.004298 -0.027852 -0.001482 -0.003792 -0.003578 -0.004806 0.004000
(0.00099) (0.00316) (0.01816) (0.00279) (0.00587) (0.00841) (0.00364) (0.01057)
24
0.000185 -0.004439 -0.027423 -0.001126 -0.003091 -0.003903 -0.004514 0.002854
(0.00099) (0.00314) (0.01786) (0.00274) (0.00587) (0.00816) (0.00352) (0.01016)
25
0.000186 -0.004563 -0.026784 -0.000787 -0.002377 -0.004111 -0.004201 0.001879
(0.00099) (0.00312) (0.01757) (0.00269) (0.00586) (0.00795) (0.00341) (0.00978)
26
0.000172 -0.004669 -0.025948 -0.000469 -0.001660 -0.004211 -0.003877 0.001052
(0.00099) (0.00309) (0.01729) (0.00263) (0.00584) (0.00776) (0.00331) (0.00942)
27
0.000143 -0.004756 -0.024932 -0.000177 -0.000949 -0.004211 -0.003548 0.000361
(0.00100) (0.00306) (0.01703) (0.00258) (0.00580) (0.00759) (0.00321) (0.00909)
28
0.000102 -0.004822 -0.023757 8.73E-05 -0.000256 -0.004118 -0.003220 -0.000205
(0.00100) (0.00303) (0.01676) (0.00252) (0.00575) (0.00742) (0.00312) (0.00878)
29
5.11E-05 -0.004868 -0.022447 0.000320 0.000410 -0.003944 -0.002898 -0.000655
(0.00101) (0.00300) (0.01649) (0.00247) (0.00569) (0.00726) (0.00303) (0.00849)
30
-9.44E-06 -0.004895 -0.021029 0.000521 0.001040 -0.003701 -0.002587 -0.000999
(0.00101) (0.00297) (0.01622) (0.00243) (0.00562) (0.00708) (0.00295) (0.00821)
31
-7.77E-05 -0.004903 -0.019529 0.000689 0.001629 -0.003405 -0.002290 -0.001251
(0.00102) (0.00293) (0.01594) (0.00238) (0.00554) (0.00690) (0.00287) (0.00794)
32
-0.000152 -0.004893 -0.017968 0.000824 0.002171 -0.003068 -0.002010 -0.001424
(0.00103) (0.00289) (0.01565) (0.00235) (0.00546) (0.00671) (0.00280) (0.00768)
33
-0.000232 -0.004868 -0.016367 0.000926 0.002663 -0.002701 -0.001751 -0.001528
(0.00103) (0.00285) (0.01535) (0.00231) (0.00537) (0.00652) (0.00273) (0.00742)
34
-0.000314 -0.004828 -0.014748 0.000997 0.003100 -0.002315 -0.001514 -0.001574
(0.00103) (0.00280) (0.01503) (0.00228) (0.00528) (0.00631) (0.00266) (0.00716)
35
-0.000399 -0.004774 -0.013130 0.001037 0.003480 -0.001918 -0.001301 -0.001573
(0.00103) (0.00276) (0.01470) (0.00226) (0.00518) (0.00611) (0.00259) (0.00690)
36
-0.000484 -0.004708 -0.011531 0.001048 0.003803 -0.001519 -0.001111 -0.001532
(0.00103) (0.00271) (0.01437) (0.00224) (0.00508) (0.00590) (0.00253) (0.00665)
37
-0.000569 -0.004633 -0.009968 0.001033 0.004067 -0.001125 -0.000946 -0.001461
(0.00103) (0.00266) (0.01403) (0.00221) (0.00499) (0.00569) (0.00246) (0.00639)
38
-0.000651 -0.004549 -0.008455 0.000993 0.004274 -0.000744 -0.000806 -0.001368
(0.00103) (0.00261) (0.01368) (0.00220) (0.00489) (0.00548) (0.00240) (0.00614)
39
-0.000731 -0.004458 -0.007005 0.000931 0.004424 -0.000381 -0.000689 -0.001259
353
Tabela 49 - Funções de Resposta a Impulso para Indicadores de Atividade
Produtiva - Produção Industrial Total, Capital de Giro e Spread
Médio Pessoa Jurídica
(Conclusão)
PERÍODO PRODUTO
TOTAL
IGP-DI CÂMBIO MOEDA TÍTULOS SELIC CAPITAL DE GIRO SPREAD MÉDIO
PESSOA JURÍDICA
(0.00102) (0.00255) (0.01333) (0.00218) (0.00479) (0.00528) (0.00234) (0.00589)
40
-0.000808 -0.004361 -0.005627 0.000850 0.004520 -3.92E-05 -0.000597 -0.001142
(0.00102) (0.00250) (0.01298) (0.00216) (0.00469) (0.00509) (0.00228) (0.00565)
41
-0.000880 -0.004261 -0.004332 0.000751 0.004564 0.000277 -0.000526 -0.001020
(0.00101) (0.00244) (0.01263) (0.00214) (0.00460) (0.00491) (0.00223) (0.00541)
42
-0.000947 -0.004157 -0.003125 0.000637 0.004559 0.000565 -0.000478 -0.000898
(0.00100) (0.00239) (0.01229) (0.00213) (0.00450) (0.00473) (0.00217) (0.00518)
43
-0.001009 -0.004053 -0.002011 0.000512 0.004509 0.000823 -0.000448 -0.000780
(0.00099) (0.00233) (0.01196) (0.00211) (0.00441) (0.00457) (0.00212) (0.00497)
44
-0.001065 -0.003948 -0.000996 0.000376 0.004418 0.001051 -0.000438 -0.000669
(0.00098) (0.00228) (0.01163) (0.00209) (0.00431) (0.00443) (0.00208) (0.00476)
45
-0.001116 -0.003843 -7.97E-05 0.000233 0.004290 0.001247 -0.000444 -0.000568
(0.00097) (0.00223) (0.01131) (0.00207) (0.00422) (0.00429) (0.00203) (0.00456)
46
-0.001160 -0.003741 0.000736 8.53E-05 0.004130 0.001411 -0.000464 -0.000478
(0.00096) (0.00218) (0.01100) (0.00205) (0.00413) (0.00417) (0.00199) (0.00438)
47
-0.001199 -0.003641 0.001452 -6.57E-05 0.003941 0.001545 -0.000499 -0.000400
(0.00095) (0.00213) (0.01070) (0.00203) (0.00404) (0.00406) (0.00195) (0.00421)
48
-0.001231 -0.003544 0.002071 -0.000218 0.003728 0.001649 -0.000544 -0.000336
(0.00094) (0.00208) (0.01042) (0.00201) (0.00395) (0.00396) (0.00192) (0.00405)
49
-0.001257 -0.003451 0.002594 -0.000369 0.003495 0.001725 -0.000599 -0.000285
(0.00092) (0.00203) (0.01014) (0.00199) (0.00387) (0.00387) (0.00189) (0.00391)
50
-0.001278 -0.003363 0.003025 -0.000517 0.003246 0.001774 -0.000662 -0.000247
(0.00091) (0.00199) (0.00988) (0.00197) (0.00378) (0.00379) (0.00187) (0.00378)
Fonte: Elaborada pelo autor.
Nota: Impulso de um Desvio Padrão da Taxa Selic.
354
Tabela 50 – Funções de Resposta a Impulso para Diferentes Indicadores de Atividade Produtiva
(Continua)
PERÍODO
BENS DE
CAPITAL
BENS
INTERMEDIÁRIOS
BENS DE
CONSUMO
BENS DE CONSUMO
DURÁVEIS
BENS DE CONSUMO
NÃO DURÁVEIS
MAQUINAS E
EQUIPAMENTOS
APARELHOS
ELETRÔNICOS
VEÍCULOS CONSTRUÇÃO
CIVIL
VESTUÁRIO CALÇADOS ALIMENTOS
1
0.000000 0.000000 0.000000 0.000000 0.000000 0.000000 0.000000 0.000000 0.000000 0.000000 0.000000 0.000000
(0.00000) (0.00000) (0.00000) (0.00000) (0.00000) (0.00000) (0.00000) (0.00000) (0.00000) (0.00000) (0.00000) (0.00000)
2
-0.008825 -0.002396 -0.004719 -0.018655 -0.001253 -0.007839 -0.014067 -0.014882 -0.004625 0.001288 -0.001480 -0.001305
(0.00299) (0.00091) (0.00156) (0.00382) (0.00142) (0.00277) (0.00598) (0.00482) (0.00170) (0.00370) (0.00304) (0.00193)
3
-0.010369 -0.001510 -0.004341 -0.016808 -0.001886 -0.006854 -0.027008 -0.019528 -0.004839 -0.006773 -0.005395 0.000286
(0.00343) (0.00112) (0.00182) (0.00419) (0.00155) (0.00275) (0.00648) (0.00503) (0.00165) (0.00400) (0.00278) (0.00179)
4
-0.006259 -0.004281 -0.004357 -0.019150 -0.002568 -0.007537 -0.026016 -0.018632 -0.003213 -0.006249 -0.005135 -0.001022
(0.00356) (0.00133) (0.00193) (0.00456) (0.00160) (0.00304) (0.00665) (0.00561) (0.00169) (0.00406) (0.00291) (0.00183)
5
-0.005685 -0.003931 -0.003520 -0.014549 -0.002005 -0.005494 -0.026783 -0.019798 -0.003537 -0.007247 -0.005673 -0.003891
(0.00352) (0.00139) (0.00190) (0.00465) (0.00157) (0.00311) (0.00701) (0.00579) (0.00151) (0.00399) (0.00275) (0.00175)
6
-0.005942 -0.004686 -0.002573 -0.010481 -0.002254 -0.008366 -0.020903 -0.018015 -0.002852 -0.008041 -0.007271 -0.002834
(0.00341) (0.00140) (0.00180) (0.00453) (0.00152) (0.00291) (0.00695) (0.00603) (0.00142) (0.00384) (0.00222) (0.00152)
7
-0.006612 -0.003506 -0.001470 -0.007259 -0.001258 -0.007706 -0.013582 -0.014801 -0.002828 -0.005620 -0.004716 -0.000541
(0.00319) (0.00130) (0.00169) (0.00449) (0.00144) (0.00284) (0.00690) (0.00626) (0.00138) (0.00361) (0.00205) (0.00133)
8
-0.006914 -0.003050 -0.000964 -0.006142 -0.000371 -0.007264 -0.010156 -0.012663 -0.002454 -0.003795 -0.003577 0.000739
(0.00301) (0.00124) (0.00165) (0.00454) (0.00140) (0.00278) (0.00713) (0.00641) (0.00145) (0.00325) (0.00187) (0.00130)
9
-0.006832 -0.002024 -0.000739 -0.005468 0.000535 -0.007675 -0.008145 -0.009847 -0.002192 -0.002317 -0.003124 0.001505
(0.00293) (0.00117) (0.00164) (0.00439) (0.00138) (0.00267) (0.00742) (0.00655) (0.00156) (0.00308) (0.00181) (0.00130)
10
-0.006658 -0.001582 -0.000705 -0.005269 0.000858 -0.006122 -0.007661 -0.007505 -0.001856 -0.001272 -0.001593 0.001207
(0.00290) (0.00114) (0.00164) (0.00426) (0.00136) (0.00258) (0.00742) (0.00671) (0.00170) (0.00304) (0.00172) (0.00115)
11
-0.006282 -0.001023 -0.000668 -0.004330 0.000700 -0.005695 -0.007862 -0.005519 -0.001491 -0.000768 -0.001070 0.000690
(0.00288) (0.00112) (0.00163) (0.00408) (0.00130) (0.00253) (0.00720) (0.00686) (0.00178) (0.00299) (0.00161) (0.00100)
12
-0.005801 -0.000766 -0.000624 -0.003653 0.000399 -0.005002 -0.006798 -0.003857 -0.001122 -0.000395 -0.000633 0.000353
(0.00284) (0.00110) (0.00158) (0.00390) (0.00122) (0.00250) (0.00684) (0.00697) (0.00180) (0.00277) (0.00153) (0.00089)
13
-0.005351 -0.000465 -0.000578 -0.002936 5.65E-05 -0.004008 -0.005276 -0.002590 -0.000835 -0.000144 -5.71E-05 4.33E-05
(0.00278) (0.00110) (0.00152) (0.00374) (0.00115) (0.00244) (0.00648) (0.00706) (0.00178) (0.00253) (0.00151) (0.00082)
14
-0.004885 -0.000306 -0.000562 -0.002459 -0.000116 -0.003172 -0.003311 -0.001542 -0.000573 0.000107 0.000259 -0.000101
(0.00269) (0.00110) (0.00146) (0.00360) (0.00112) (0.00234) (0.00614) (0.00713) (0.00175) (0.00228) (0.00150) (0.00073)
15
-0.004406 -0.000148 -0.000562 -0.001995 -0.000226 -0.002424 -0.001296 -0.000665 -0.000361 0.000298 0.000394 -0.000179
(0.00259) (0.00109) (0.00142) (0.00345) (0.00110) (0.00223) (0.00587) (0.00719) (0.00171) (0.00210) (0.00149) (0.00064)
16
-0.003921 -7.53E-05 -0.000552 -0.001618 -0.000256 -0.001819 0.000112 8.67E-05 -0.000167 0.000547 0.000718 -0.000294
(0.00251) (0.00110) (0.00139) (0.00330) (0.00109) (0.00210) (0.00565) (0.00725) (0.00169) (0.00196) (0.00145) (0.00057)
17
-0.003452 -1.33E-05 -0.000508 -0.001243 -0.000288 -0.001355 0.001009 0.000758 1.84E-05 0.000749 0.000832 -0.000439
(0.00244) (0.00111) (0.00138) (0.00316) (0.00108) (0.00199) (0.00542) (0.00731) (0.00167) (0.00185) (0.00141) (0.00053)
18
-0.003003 1.35E-05 -0.000425 -0.000924 -0.000316 -0.001088 0.001563 0.001359 0.000211 0.000931 0.000873 -0.000604
(0.00240) (0.00112) (0.00137) (0.00305) (0.00107) (0.00189) (0.00520) (0.00737) (0.00165) (0.00178) (0.00135) (0.00049)
19
-0.002571 4.71E-05 -0.000313 -0.000600 -0.000334 -0.000843 0.001947 0.001897 0.000411 0.001064 0.000974 -0.000735
(0.00239) (0.00114) (0.00137) (0.00299) (0.00105) (0.00182) (0.00503) (0.00742) (0.00162) (0.00173) (0.00131) (0.00047)
20
-0.002154 7.89E-05 -0.000185 -0.000320 -0.000333 -0.000682 0.002388 0.002376 0.000616 0.001145 0.000990 -0.000798
(0.00241) (0.00116) (0.00137) (0.00298) (0.00103) (0.00177) (0.00494) (0.00747) (0.00159) (0.00170) (0.00128) (0.00046)
21
-0.001751 0.000124 -5.28E-05 -6.13E-05 -0.000304 -0.000634 0.002911 0.002793 0.000821 0.001196 0.001018 -0.000819
(0.00244) (0.00119) (0.00137) (0.00302) (0.00100) (0.00174) (0.00493) (0.00752) (0.00156) (0.00169) (0.00125) (0.00045)
22
-0.001363 0.000174 7.65E-05 0.000156 -0.000261 -0.000565 0.003467 0.003147 0.001021 0.001231 0.001073 -0.000820
(0.00249) (0.00121) (0.00137) (0.00309) (0.00097) (0.00173) (0.00500) (0.00757) (0.00152) (0.00168) (0.00123) (0.00044)
23
-0.000993 0.000228 0.000198 0.000352 -0.000207 -0.000544 0.003992 0.003435 0.001209 0.001260 0.001102 -0.000813
(0.00255) (0.00123) (0.00138) (0.00320) (0.00094) (0.00172) (0.00513) (0.00762) (0.00150) (0.00168) (0.00120) (0.00044)
24
-0.000644 0.000277 0.000309 0.000523 -0.000156 -0.000531 0.004399 0.003657 0.001382 0.001288 0.001132 -0.000804
(0.00261) (0.00125) (0.00139) (0.00332) (0.00091) (0.00172) (0.00531) (0.00766) (0.00148) (0.00168) (0.00116) (0.00044)
25
-0.000322 0.000321 0.000406 0.000674 -0.000108 -0.000515 0.004655 0.003811 0.001538 0.001313 0.001179 -0.000787
(0.00268) (0.00127) (0.00141) (0.00345) (0.00089) (0.00173) (0.00551) (0.00771) (0.00146) (0.00167) (0.00112) (0.00043)
26
-2.93E-05 0.000353 0.000487 0.000796 -6.54E-05 -0.000512 0.004780 0.003899 0.001677 0.001334 0.001216 -0.000761
355
Tabela 50 – Funções de Resposta a Impulso para Diferentes Indicadores de Atividade Produtiva
(Conclusão)
PERÍODO
BENS DE
CAPITAL
BENS
INTERMEDIÁRIOS
BENS DE
CONSUMO
BENS DE CONSUMO
DURÁVEIS
BENS DE CONSUMO
NÃO DURÁVEIS
MAQUINAS E
EQUIPAMENTOS
APARELHOS
ELETRÔNICOS
VEÍCULOS CONSTRUÇÃO
CIVIL
VESTUÁRIO CALÇADOS ALIMENTOS
(0.00276) (0.00129) (0.00143) (0.00358) (0.00087) (0.00174) (0.00573) (0.00774) (0.00145) (0.00165) (0.00106) (0.00043)
27
0.000229 0.000372 0.000552 0.000888 -2.62E-05 -0.000506 0.004805 0.003922 0.001797 0.001350 0.001256 -0.000726
(0.00284) (0.00130) (0.00145) (0.00370) (0.00086) (0.00175) (0.00595) (0.00778) (0.00145) (0.00162) (0.00100) (0.00042)
28
0.000451 0.000377 0.000600 0.000944 1.09E-05 -0.000498 0.004764 0.003884 0.001898 0.001363 0.001302 -0.000685
(0.00291) (0.00131) (0.00148) (0.00381) (0.00085) (0.00175) (0.00616) (0.00780) (0.00146) (0.00159) (0.00095) (0.00042)
29
0.000634 0.000367 0.000631 0.000967 4.46E-05 -0.000490 0.004678 0.003786 0.001979 0.001371 0.001339 -0.000643
(0.00298) (0.00131) (0.00150) (0.00391) (0.00084) (0.00175) (0.00633) (0.00782) (0.00146) (0.00155) (0.00089) (0.00041)
30
0.000775 0.000342 0.000648 0.000955 7.43E-05 -0.000488 0.004548 0.003632 0.002042 0.001374 0.001375 -0.000604
(0.00304) (0.00132) (0.00152) (0.00398) (0.00085) (0.00175) (0.00647) (0.00782) (0.00148) (0.00151) (0.00085) (0.00041)
Fonte: Elaborada pelo autor.
Nota: Impulso de um Desvio Padrão da Taxa Selic.
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