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realidade”, não é a “representação da realidade”, mas não significa que só há um caminho de relacionamento
com essa nova situação que se apresenta.
A idéia de signo sem significante, de simulacro, pode estar a serviço de “um passo adiante do teatro”,
vamos chamar assim, pra ele se comunicar mais com um público que já vive de um outro jeito, do que com um
público de trinta anos atrás. Trinta anos é muito pouco na história, mas foram trinta anos muito significativos. Eu
cito uma frase do Heiner Müller no programa que é “o teatro perdeu sua vitalidade porque ele não sabe mais qual
é a sua função e com qual sociedade ele dialoga”. Isso não significa que ele precisa assinar em baixo do que está
acontecendo nessa sociedade, e um dos aspectos é esse aí que você está chamando de “mundo virtual”. Mas ao
mesmo tempo ele tem que dialogar com essa sociedade, isso aí não tem como escapar, a não ser que ele coloque
uma campânula de vidro em sua volta. Aí sim seria absolutamente anacrônico e sem vitalidade.
Você acredita que a plagiocombinação indica um diálogo com a dimensão científica da sociedade, do
ponto de vista formal da arte? Ou seja, a plagiocombinação pode apontar para a invenção de um tipo de teatro
próprio da nossa época?
Eu não diria isso. Não afirmaria isso. Mas também não afirmaria o contrário. Ou não negaria. Não diria
“você está ‘pesando a mão’, está dizendo isso porque é o seu tema”. Se eu sou um pouco fiel a isso que eu
chamei de teatro explodido, significa que o teatro tem muitas possibilidades. Então falar que um teatro típico da
nossa época seria marcado pela plagiocombinação seria negar a pluralidade do próprio teatro. Até porque é só
olhar em volta. A gente vê o quanto tem de teatro muito longe dessas preocupações que a gente está discutindo
aqui, que é muito mais convencional, que obedece algumas convenções da história do teatro e isso pode ter
muito valor artístico.
A gente trabalha com a idéia de rede. Essa idéia não dá conta de tudo, porque continua existindo muito
verticalismo no mundo (a invasão do Iraque acabou de provar isso). Fala-se muito em relacionamentos
horizontais, inclusive em relações entre as pessoas, por outro lado, a idéia de estado-nação tem uma
verticalidade, tem um governo, tem uma autoridade que pode eventualmente subjugar um outro numa relação
vertical de imposição, de dominação. Isso continua existindo com muita força. Eu fui ver o Baudrillard falando
aqui em São Paulo no ano passado, na feira do livro. E era um negócio acintoso. Parecia que ele estava falando
de um mundo que eu não sei qual que era. Era só ele sair e olhar em volta que o mundo real negava o que ele
estava dizendo. Toda uma crítica a vários aspectos do marxismo, do conceito de conflito, de luta de classes, me
parecia sem sustentação no mundo real. Acho que tem que pensar nessas coisas também. Falar em rede, ou em
relações horizontais, ou de combinação, não mais de imposição, isso não explica todo o mundo. Mas é, de fato,
uma idéia contemporânea. E o teatro, pelo menos uma parte investigativa do teatro, vai exercitar esse tipo de
relação, esse tipo de atitude, esse novo tipo de pensar as coisas, de pensar o mundo. Acho que é uma
possibilidade, mas não sei se tem algo que possa resumir.
Eu dou aulas de Análise da Imagem. Eu mostro um clip do começo dos anos noventa da MTV, por
exemplo, cheio de sobreposições, sujeirada, muitas camadas de imagem, com textos, trechos de documentários,
imagens de show, coisas gravadas em estúdio, e isso era uma tendência. Aí passam dez anos e refluiu muito esse
tipo de linguagem. Foi pra um caminho muito mais sóbrio, como reação. Quer dizer, aquilo que você achava que
podia ser típico e que expressava uma tendência da época, que era a quantidade de informação, porque era
justamente quando a internet estava se massificando, em que se tinha necessariamente um fluxo de imagens,
textos e idéias muito grande, refluiu pelo próprio esgotamento da linguagem. Então a gente não sabe o que vai
acontecer com o teatro. O teatro pode ir e voltar, pode recusar alguns caminhos. O teatro é muito plural. Mas a
plagiocombinação é uma idéia rica, eu acho. Assim como eu acho que foi rica a teoria da relatividade, já no final
do século XIX, passando pelo Einstein, chegando na física quântica, no Heisenberg e no Bohr, e na física mais
atual, teoria das cordas, etc. Tudo isso alimenta o teatro. Pelo menos uma parte do teatro. Um teatro
investigativo, inquieto. A plagiocombinação é uma das idéias seminais, uma das idéias que podem dar frutos. O
que você acha?
Não acho que a plagiocombinação seja “a” idéia. Também prefiro a pluralidade ou o
multifacetamento.Mas acho que a idéia de plagiocombinação funciona de uma maneira legítima hoje se
considerarmos questões como o deslocamento do papel da autoria, a concepção de criação em rede.
Em relação ao “R”, muitas idéias atravessavam o texto. Uma coisa que me ocorre, porque eu estava
relendo algumas notas, era pensar que existem várias formas de se descobrir o mundo, ou de se viver. Jeitos que
a humanidade foi organizando pra viver. A religião, a ciência e a arte. Esses são grandes grupos que não são só
estruturas porque são procedimentos também, então por isso é difícil encontrar palavras. Não são instituições, a
não ser que a gente use o termo num sentido muito vago. São formas de atitude, de pensamento, que foram
construídas socialmente. A aproximação que eu tentei fazer foi entre dois desses grandes grupos, que foi o grupo