Download PDF
ads:
SABRINA SACHET
A INTE
R
FACE TRADUÇÃO E JORNALISMO: MARCAS CULTURAIS
NO TEXTO DE REVISTA
Florianópolis, 2005.
ads:
Livros Grátis
http://www.livrosgratis.com.br
Milhares de livros grátis para download.
2
A INTERFACE TRADUÇÃO E JORNALISMO: MARCAS CULTURAIS
NO TEXTO DE REVISTA
Dissertação apresentada ao Curso de Pó
s
-
Graduação
em Estudos da Tradução da Universidade Federal de
Santa Catarina (UFSC), como requisito para obtenção
do grau de Mestre em Estudos da Tradução; linha de
pesquisa: História, teoria e crítica da tradução.
Orientadora: Prof.
a
Dr.
a
Meta Elisabeth
Zipser
Florianópolis, 2005.
ads:
3
À minha querida
mãe, IGNEZ
, pelo amor e dedicação
durante toda a minha vida. Pelo incentivo em todos os
momentos e pelo papel de pai e de mãe desempenhado
com tanto carinho.
4
Ao meu
futuro esposo
, JEFER,
pelo apoio
incondicional em todas as etapas deste trabalho. Pela
compreensão e incentivo para seguir sempre em frente.
5
AGRADECIMENTOS
Esta parte, que agora no final, parecia ser a mais fácil, torna
-
se, neste momento, a
mais difícil,
pois esta dissertação é o fruto de um árduo e produtivo trabalho, para o qual muitas
pessoas deram a sua contribuição. Muitos foram os que o enriqueceram com idéias e sugestões e
muitos foram os que me fortaleceram com paciência, amor e amizade. Quero agr
adecer a todos
que participaram da elaboração deste trabalho. E, especialmente:
À minha família, minha mãe Ignez, que é luz no meu caminho e minha referência de
vida, e
minha irmã, Letícia, que mesmo sendo criança conseguiu compreender minhas ausências
e s
uportar a saudade.
Ao Jefer, que neste ano torna
-
se meu esposo, por me
agüentar
e
m todas as horas,
naquelas de felicidade e também nas de desespero. Ele que é a minha mais nova família,
esperança de amor e confiança.
À minha orientadora,
Prof.
a
Dr.
a
Meta
E
lisabeth Zipser, por seu constante
encorajamento, pela orientação segura, pela dedicação, pela compreensão e por uma amizade que
nasceu aqui, e desejo que perdure para sempre.
A Deus por ter sido meu apoio espiritual na busca pela harmonia e paz interior.
Aos colegas
de curso Silvana e Hutan, que foram companheiros e ajudaram na
superação das barreiras encontradas pelo caminho, e à Sabrina
Gimenez pela ajuda técnica e
sentimental nesta reta final.
À Universidade Federal de Santa Catarina e ao Curso de Pós
-
Graduação em Estudos
da Tradução, pela oportunidade.
Aos professores componentes da banca, pela atenção.
6
SUMÁRIO
RESUMO
................................
................................
................................
................................
.............
10
ABSTRACT
................................
................................
................................
................................
........
11
INTRODUÇÃO
................................
................................
................................
................................
...
12
1 MÉTODO
................................
................................
................................
................................
.....
17
1.1 Pr
opósitos do estudo
................................
................................
................................
.............
18
1.2
Corpus
................................
................................
................................
.............................
18
1.3
Procedimentos Metodológicos
................................
................................
......................
20
1.3.1
O procedimento de análise
................................
................................
....................
21
2
MARCO TEÓRICO
................................
................................
................................
...............
24
2.1
Jornalismo: sob a perspectiva e o modelo de Frank Esser
................................
...........
27
2.2
Características do estilo revista e da reportagem
................................
.........................
33
2.3
Tradução: sob a perspectiva e o modelo de Christiane Nord
................................
......
35
2.3.1
Considerações Gerais
................................
................................
.............................
35
2.3.2
Funções do texto e da tradução
................................
................................
.............
37
2.3.
3. Fatores intratextuais e extratextuais no processo de tradução
................................
...
40
3
.
DISCUSSÃO
................................
................................
................................
..........................
46
3.1. Introdução
................................
................................
................................
............................
46
3.2. As revistas do
corpus:
descrição e perfil
................................
................................
...........
51
3.3. Os textos do
corpus:
apresentação e caracterização
................................
.........................
56
3.3.1. O texto
Saving Afghan Culture
,
National Geographic
Estados Unidos (T1)
.......
56
3.3.2. O texto
A Eterna Cultura Afegã
,
National Geographic
Brasil (T2)
......................
60
3.4. Análise contrastiva dos textos do
corpus
: a intersecção dos modelos de Frank Esser
(1998) e Christiane Nord
(1991).
................................
................................
...............................
64
3.4.1. O resultad
o do cruzamento dos textos
................................
................................
........
75
CONSIDERAÇÕES FINAIS
................................
................................
................................
.............
88
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
................................
................................
...............................
94
7
LISTA DE FI
GURAS
Fig 2.1. Modelo Pluriestratificado Integrado (ESSER, 1998)
“metáfora da cebola” (tradução de
Zipser, 2002:25)
................................
................................
................................
..........................
28
Fig. 2.2.
O Modelo de Christiane Nord (1991)
................................
................................
................
42
8
LISTA DE TABELAS
Tabela 3.1. Perfil Demográfico dos Leitores da
National Geographic
Americana
........................
53
Tabela 3.2. Perfil de Circulação da Revista
National Geographic
Americana
...............................
54
Tabela 3.3. Descrição do Perfil geral dos leitores (em %) da
National Geograp
hic
Brasil
...........
55
Tabela 3.4. Circulação Geral da
National Geographic
Brasil
................................
..........................
55
Tabela 3.5. Comparativo entre as escolhas lexicais d
o texto
-
fonte para o texto
-
alvo.
...................
69
Tabela 3.6. Comparativo entre as escolhas e traduções dos verbos do texto
-
fonte para o texto
-
alvo.
................................
................................
................................
................................
.............
74
Tabela 3.7. Comparativo entre as informações adicionais texto
-
fonte para o texto
-
alvo.
..............
78
Tabela 3.8. Comparativo entre a filtragem ou omissão das informações texto
-
fonte para o text
o
-
alvo.
................................
................................
................................
................................
.............
84
Tabela 3.9. Comparativo entre a omissão de advérbios do texto
-
fonte para o texto
-
alvo.
.............
86
Tabela 3.10. Comparativo da
s simplificações do texto
-
fonte para o texto
-
alvo.
............................
87
9
LISTA DE ANEXOS
Anexo
I
.
Saving Afghan Culture
Anexo
II
.
Eterna Cultura Afegã
Anexo
III
. Sumário das revistas
Anexo
IV
. Aplicação da Tabela de Christiane Nord
An
exo V
.
Os
questionários formulados
e a
realização das
entrevistas
10
RESUMO
A interface da tradução e do jornalismo apresenta
-
se como um rico objeto de análise que tende a
crescer no campo das pesquisas científicas, pois traz consigo as representações cul
turais de cada
país. Esta pesquisa
, pertencente aos Estudos da Tradução sob a perspectiva e o modelo de
Christiane Nord (1991), e aos estudos do jornalismo com Frank Esser (1998),
in
Zipser (2002),
apresenta a análise de uma reportagem da revista
National
Geographic
para o contexto americano
e sua versão traduzida,
National Geographic
Brasil, para o português. Objetiva analisar, por meio
dos dois modelos acima propostos, as marcas culturais presentes nesses textos levando
-
se em
conta seu público
-
alvo já pre
viamente estabelecido e a cultura em que cada texto está inserido. A
hipótese da existência de marcas culturais nos textos será mostrada pela escolha
lexical que
servirá de ferramenta para atingir os propósitos deste estudo.
Palavras
-
chave
: Tradução, jor
nalismo, marcas culturais.
11
ABSTRACT
The interface translation
-
journalism shows as a rich object of analysis that tends to grow in the
field of the scientific research
. And
this interface brings
in it
the cultural representations of each
country. This res
earch belong
s
to Translation Studies under the perspective and the model of
Christiane Nord (1991) and in the studies of the journalism with Frank Esser (1998) in Zipser
(2002)
. It
presents the study of a
n
article of the National Geographic
magazine
for th
e American
context and its translated version National Geographic Brazil for the Portuguese, aiming to
analyze through the two models above considered, the cultural marks in these texts taking in
account its target
-
public
previously established and the cul
ture
of
each text is inserted. The
existence of cultural marks hypothesis in the texts will be shown through the lexical choice that
will serve of tool to reach the purposes of this study.
12
INTRODUÇÃO
Jornalismo é a informação de fatos correntes, devida
mente interpretados e
transmitidos periodicamente à sociedade, com o objetivo de difundir
conhecimentos e orientar a opinião pública, no sentido de promover o bem
comum (Beltrão, 1992:67).
O estudo da tradução no ambiente jornalístico é algo relativamente
novo, apesar de ambas
as disciplinas estarem consolidadas há algum tempo. Existe, assim, a necessidade de se refletir
sobre essa interface. Essa reflexão proporciona descobertas interessantes, visto que o texto
jornalístico é algo real, que apresenta notí
cias e reportagens de fatos correntes, fornecendo
informação às pessoas dos acontecimentos de cada parte do mundo. E justamente pelo
jornalismo
ter essa abrangência é que me propus a trabalhar com a tradução, pois sem ela as notícias não
correriam o mundo.
Sabemos que os fatos internacionais chegam até
a
países
como o Brasil, por
exemplo, pelas agências de notícias que enviam as informações, e estas são traduzidas, seja por
um profissional em tradução, seja por um jornalista que, na maioria das vezes, tem d
e realizar a
tarefa de tradutor.
Em muitos casos, é realmente o jornalista que
m
faz as traduções, quer pela urgência em
noticiar o fato, quer por questões econômicas, pois contratar um tradutor, na visão de muitos
empresários, pode tornar
-
se oneroso ao ve
ículo de comunicação. Como alguns jornalistas têm
conhecimentos de línguas estrangeiras, passam por experiências no exterior e já estão inteirados
do assunto, fica assim, em tese, mais
prático
que eles mesmos traduzam o fato a ser noticiado. No
entanto, há
que se pensar na capacitação do profissional que realiza a tradução e sobre a
13
qualidade da informação que chega ao leitor, visto que o jornalismo preza pela precisão de
informação, buscando orientar a opinião do seu público.
Sob esse aspecto, é important
e
ressaltar que, em sua natureza, a reportagem jornalística
está emoldurada por fatores que influenciam sua produção. São questões políticas, sociais,
econômicas, entre outros. Esses fatores serão apresentados e identificados pelo
Modelo
Pluriestratificado
Integrado
,
de Frank Esser (1998),
in
Zipser (2002)
1
, por meio do qual é
possível reconhecer as instâncias que compõem o fazer jornalístico e fornece um panorama da
sua dinâmica de atuação. Esse modelo trabalha o conceito de
interculturalidade
, isto é, o e
spaço
de confronto entre duas culturas, identificando fatores que conferem ao jornalismo de cada país
uma identidade nacional e cultural próprias.
Além disso, é importante ressaltar as alterações que o jornalismo sofreu durante a
passagem do século XX para
o XXI, e sobre a mudança da informação provocada pela era
Pós
-
M
oderna. Esta deixa de significar representação simbólica dos fatos para se apresentar como um
produto híbrido que associa ora publicidade, ora entretenimento, ora persuasão, ora consumo.
(Mars
hall, 2003:36). Como podemos ver, a mídia
2
exerce influência na produção da informação e
há grande possibilidade de os enfoques dos temas abordados seguirem um critério sujeito a
índices de vendagem, cujo objetivo é a aceitação do público leitor.
A partir
disso
, surgiu a motivação para investigar quais os aspectos considerados para a
construção desses textos, bem como de sua tradução. Nesse sentido, as duas
versões da revista
1
As citações de Frank Esser doravante serão feitas diretamente, mas leia
-
se como inseridas no trabalho de Zipser
(2002).
2
O termo “m
ídia” é aqui entendido conforme definição presente no
Houaiss Dicionário da Língua Portuguesa
(2001:1919) “todo suporte de difusão da informação que constitui um meio intermediário de expressão capaz de
14
escolhida
National Geographic
são apropriadas ao que
me
predisp
us
a fazer, pois a
mbas estão
inseridas em culturas e línguas diferentes
, proporcionando, assim, a formulação
da hipótese de
que os textos trazem consigo as marcas culturais de cada país, e que em cada cultura o texto
apresenta
-
se de forma diferente.
As diferenças na aborda
gem do mesmo
assunto podem revelar as
adequações realizadas
pelo produtor da notícia, tanto ao perfil do leitor a quem se
destina, quanto às questões sociais,
políticas, econômicas, etc., do local ou país em que ela será apresentada. Sofrendo assim um
desl
ocamento na perspectiva do enfoque, que tende a ocorrer na passagem de uma notícia ou
reportagem de uma língua/cultura para outra. Esse eventual deslocamento de enfoque pode ser
percebido, de diversas maneiras, dentre elas citamos as escolhas em relação ao
título e subtítulo,
às figuras, e no texto propriamente dito, com as escolhas lexicais, sintáticas, entre outros
elementos que darão o direcionamento da leitura.
Esse direcionamento pode estar relacionado à filosofia do veículo de comunicação, bem
como a
intenção do produtor do texto naquele determinado contexto. Seria ingênuo ignorar o fato
de que cada matéria tem uma intenção, um propósito, pois há sempre algo implícito no texto, em
suas entrelinhas a fim de que o leitor identifique e tire suas próprias
conclusões com base em seu
background
sobre o assunto tratado.
Assim, já que trat
amos
aqui de tradução no ambiente jornalístico e
em contexto
internacional, devemos
considerar que, se o texto original produzido pelo jornalista tem uma
intenção, um propós
ito, da mesma forma a tradução também terá. Se considerarmos que os textos
(original e tradução) foram produzidos por pessoas diferentes, eles podem ter intenções ou
transmitir mensagens; meios de comunicação social de
massa não diretamente interpessoais
(como, p. ex., as
conversas, diálogos públicos e privados) abrangem esses meios o rádio, cinema, a televisão, a escrita impressa, etc.”.
15
propósitos diferentes, já que estão inseridos
em língua e cultura distintas. Nesse context
o,
é que
podemos mencionar novamente a ocorrência do deslocamento de enfoque, justamente por essas
diferenças apresentadas acima.
As idéias introdutórias possibilitam estabelecer a interdisciplinaridade deste trabalho,
envolvendo as áreas da tradução e do
jornalismo. Contudo, devido à amplitude de conceitos
existentes nessas duas
disciplinas, ressalt
o
a necessidade de fazer recortes
de idéias com base nas
especificidades deste estudo, a fim de delimitar o espaço de interação das duas áreas.
A seguir, aprese
nt
o
as partes constituintes desta pesquisa.
O Capítulo I, dedicado ao Método, apresenta os propósitos do Estudo, as informações
pertinentes ao
corpus
do trabalho e os procedimentos metodológicos, que descrevem todos os
passos adotados na pesquisa.
O Capítu
lo II, reservado ao Marco Teórico, expõe os pressupostos dos autores Frank
Esser (1998
),
com seu modelo
Pluriestratificado Integrado
para o jornalismo, através do trabalho
de Zipser (2002
),
as
características do estilo da revista
e da reportagem,
e Christi
ane Nord (1991)
para considerações sobre a perspectiva funcional da tradução
.
O Capítulo III, dedicado à Discussão, apresenta e caracteriza as revistas e os textos do
corpus
, com um breve relato histórico do surgimento das revistas e a descrição do perfil
de seus
leitores. E, principalmente, demonstra
, por meio
de exemplos, as análises realizadas nos textos
para as quais foram utilizad
o
s os dois
pressupostos teóricos
apresentados no Marco Teórico (Cap.
II), com o intuito de discutir e comprovar a hipótese d
a existência de marcas culturais nos textos.
16
O capítulo
Considerações Finais
dá o fechamento desta dissertação, apontando para as
constatações obtidas, trazendo as conclusões parciais alcançadas e também
a
comprovação da
hipótese.
Por fim, temos as Referên
cias Bibliográficas
;
os Anexos
:
(I) a reportagem em
inglês; (II)
a reportagem em português; (III) o sumário das revistas; (IV) a aplicação da Tabela de Christiane
Nord; e (V) os questionários formulad
os
e
a realização das entrevistas.
17
1
MÉTODO
O presente c
apítulo descreve os caminhos percorridos para chegar aos objetivos desta
pesquisa. Apresenta seus propósitos e procedimentos levando em consideração a interface da
tradução e do jornalismo. Enfoca seu direcionamento, descrevendo o material do
corpus
, sua
e
scolha e o tratamento dado a ele,
bem como a sistematização
dos resultados.
Esta pesquisa identifica e discute as diferenças culturais existentes nos textos
selecionados, quando as reportagens são transportadas de uma língua/cultura para outra.
Combinamo
s as análises práticas com o embasamento teórico proposto, a fim de sistematizar
uma reflexão sobre os diversos fatores que marcam essas diferenças culturais. Essa combinação
está fundamentada na comunicação intercultural que há entre tradução e texto orig
inal, pois, de
acordo com Nord (1991: 8),
“O iniciador começa um processo de comunicação intercultural
porque ele quer um instrumento de comunicação específico: o texto
-
alvo”. Isso sugere que a
tradução seja solicitada para um determinado propósito e com u
m determinado fim comunicativo.
O iniciador mencionado por Nord refere
-
se ao cliente que solicita uma tradução, ou em alguns
casos pode ser até o tradutor que inicia a comunicação intercultural.
Primeiramente, a análise dos dados é realizada nos textos ind
ividuais e
,
em seguida, no
confronto entre eles.
Está concentrada
, predominantemente, nas questões relacionadas às escolhas
lexicais.
18
1.1
Propósitos do estudo
Os principais objetivos deste estudo são:
1)
Comprovar a hipótese de que os textos trazem consigo as
marcas culturais de cada
país.
2)
Demonstrar sob quais aspectos essas marcas culturais se manifes
tam
nos textos
.
3)
Discutir se as escolhas realizadas pelo tradutor caracterizam um eventual
deslocamento de
enfoque.
4)
Cooperar para a difusão dos estudos da tradução
no ambiente jornalístico,
e,
mais do
que isso, apresentar uma contribuição para a tradução nessa modalidade textual.
1.2
Corpus
Este estudo tem como
corpus
uma reportagem jornalística voltada para a área da história e
cultura, extraída da revista
National
Ge
ographic
,
d
a
National Geographic Society
, com o título
Saving Afghan Culture
(Anexo I)
, para o contexto americano,
e da revista
National Geographic
Brasil
,
da Editora Abril, com o título
Eterna Cultura Afegã
(Anexo II), para o contexto brasileiro,
sendo in
glês
português o par de línguas estudado.
Ambas as reportagens são datadas de
dezembro de 2004.
Ao estabelecer o texto jornalístico como objeto
de minha análise, várias foram a
s
possibilidades que me ocorreram,
e, dentre os diversos gêneros do jornalismo,
o estilo
revista
chamou mais a minha atenção, pois de acordo com Vilas Boas: “... como não necessitam da
19
velocidade do jornalismo diário elas podem produzir textos mais criativos, utilizando recursos
estilísticos e exigindo de seus profissionais textos e
legantes e sedutores” (1996:9).
Assim, a seleção do
corpus
se deu por várias razões: i) por essas revistas
apresentarem
reportagens sobre questões histórico
-
culturais valorizando a cultura de determinada região; ii)
pela variedade de matérias apresentadas
, que aliam história, geografia, cultura e antropologia,
proporcionando ao leitor uma visão ampla sobre cada informação dada; iii) pela possibilidade do
trabalho com a tradução, pois de acordo com Zipser (2002:67), “é preciso considerar que, no
jornalismo,
os textos não representam, na grande maioria dos casos, uma tradução propriamente
dita, mas “traduções”, em sentido amplo, de um mesmo fato noticioso (grifos da autora)”.
Esse conceito apresentado por Zipser
(
ibid
.) de tradução no ambiente jornalístico e
m
sentido amplo, é denominado por ela de tradução como
representação cultural
, isso porque, no
jornalismo, uma determinada notícia parte de um fato ocorrido, e cada texto, ou notícia,
produzido a partir desse fato, vai mostrá
-
lo de forma diferente. Então,
esse conceito compreende
os textos que
traduzem
o mesmo fato, cada um a partir da cultura para a qual se destina. E, assim
,
esses textos da imprensa são o modo pelo qual as culturas representam, no nível do texto, sua
própria visão do fato.
Para esta seleç
ão foram estipulados alguns critérios com o intuito
de
que os textos
escolhidos compusessem um
corpus
comparável, a saber:
1. as reportagens deveriam tratar do mesmo assunto, tanto em inglês quanto em
português;
2. os textos deveriam ser autênticos e extr
aídos da imprensa escrita;
3. as datas de publicação das revistas deveriam ser cronologicamente correspondentes;
20
4. por fim, os textos deveriam pertencer ao mesmo veículo de comunicação em ambas as
línguas: revistas mensais.
Definidos esses critérios, pa
ss
ei
, então, para a escolha das revistas. E após a busca e
análise de várias publicações, a escolha foi pela
National Geographic
, que se constitui como um
desafio, pois as duas versões (americana e brasileira) aparentemente são muito semelhantes e
cabia a
mim, como pesquisadora, investigar e apresentar suas diferenças
.
1.3
Procedimentos Metodológicos
A idéia inicial era concentrar este estudo em todos os fatores intra e extratextuais do
modelo de Christiane Nord (1991) e de todas as esferas do modelo de Esser
(1998), contudo o
texto escolhido mostrou mais afinidade para alguns desses fatores.
No relato dos procedimentos
metodológicos, apresento
os passos adotados, que foram
sendo ajustados no decorrer do trabalho e estão orientados para atender aos propósitos
do estudo:
a.
revisão bibliográfica sobre tradução, jornalismo e cultura;
b.
seleção dos textos em português e em inglês para composição do
corpus
;
c.
trabalho com o material do
corpus
: utilizando como ferramenta de análise os pontos
mais relevantes dos modelos de
Esser e Nord;
d.
demonstração da hipótese de existência de marcas culturais no texto, pautadas nas
escolhas lexicais;
e.
apontamento dos eventuais deslocamentos de enfoque quando os textos são
transportados de uma cultura para outra;
f.
discussão e sistematização
dos resultados
obtidos por meio
das análises;
g.
redação das considerações finais e sugestões para trabalhos futuros.
21
1.3.1
O procedimento de análise
Antes de dar início às análises, entrei em contato com o Editor da Revista
National
Geographic
Brasil, a fim de o
bter algumas informações acerca dessa publicação e também das
reportagens. Fui informada que a Revista
National Geographic
tem suas
matérias produzidas pela
edição original americana, em inglês. Essa mesma edição é reeditada em 27 outros países com as
mesm
as
reportagens;
contudo, cada país acrescenta uma ou duas reportagens sobre temas locais,
produzidas regionalmente. O sumário das revistas está presente no Anexo
III
.
Após essas informações,
decidi começar as análises partindo primeiramente das partes
mais
externas ao texto. Inicialmente com as capas
,
já que são revistas publicadas no mesmo
período, mas cada edição busca enfatizar na capa o assunto que supostamente mais interessaria
a
seu leitor. Em seguida, parti para o sumário, no qual constatei que todas
as reportagens são
assinadas e, como disse o editor, cada versão acrescentou uma matéria de um tema local. Ainda
nos elementos externos, parti para as matérias escolhidas, sobre os tesouros e a cultura afegã.
Observei o número de páginas de ambas as repor
tagens, as ilustrações, as citações, quais os
pontos que estão em destaque, em cores e fontes diferenciadas.
Passadas essas observações, iniciei então com os elementos mais internos, isto é, para o
texto propriamente dito. Já
sabia que os textos partem de
uma única fonte, a reportagem
americana, e de acordo com o editor, após a tradução, ela tem que caber dentro da mesma
diagramação, limites de espaço, etc. Essa tradução é feita por uma equipe de colaboradores na
National Geographic
Brasil, aqui mesmo
no B
rasil. No primeiro momento, os textos (original e
tradução) parecem idênticos justamente por essas questões de edição e diagramação
;
contudo, ao
22
analisar minuciosamente cada linha do texto, pude constatar que eles têm muitas diferenças, as
quais serão apre
sentadas no Capítulo III destinado à discussão.
Parti em seguida para uma leitura aprofundada dos dois textos, a fim de observar se havia
alguma mudança na perspectiva de enfoque, e sob quais aspectos elas apareceriam. Assim, o
texto
original, em inglês,
parecia ter um caráter mais crítico, com um tom mais ríspido no
tratamento do assunto e até mesmo com uma vontade de acordar o leitor para a importância do
fato. No entanto, o texto traduzido em português tem um tom mais subjetivo e apresenta a
reportagem
com certo distanciamento
, enfocando a função informativa do texto jornalístico.
Antes de iniciar
a análise linha por linha, passei
para a aplicação do modelo de Christiane
Nord (1991) a fim de obter uma visão geral dos textos, desde a
macroestrutura, cham
ada de
elementos externos ao texto: emissor, intenção, receptor, meio, lugar, tempo, propósito e função
textual, até a microestrutura, chamada de elementos intern
os ao texto: tema, conteúdo,
pressuposições, estruturação, elementos não
-
verbais, léxico, sint
axe, elementos supra
-
segmentais
e efeito do texto. Contudo, não aprofund
ei
os estudos em todos esses itens, de
i
prioridade àquele
item que mais se sobressaiu, neste caso: o léxico.
E o modelo de Esser (1998), por sua vez, constitui a moldura geral dos tex
tos e pano de
fundo para fazer algumas demonstrações, através, principalmente, da esfera social que abrange a
moldura histórico
-
cultural, a mais externa do seu modelo.
Em seguida, na coleta dos dados, obedeceu
-
se à divisão por parágrafos. Os dados foram
e
ntão registrados em tabelas e posteriormente agrupados pelo critério de semelhança. A
sistematização das informações serviu de base para a discussão, proporcionando um
detalhamento das ocorrências encontradas nos textos.
23
Por fim, com o intuito de atingir o
propósito maior deste estudo, que é a apresentação das
marcas culturais presentes no texto, retirei trechos onde é possível perceber as adequações feitas
de acordo com cada cultura, e também algumas informações adicionais dadas ao leitor no texto
em portu
guês para familiarizá
-
lo com o assunto tratado.
Após essas três etapas, proced
i
à análise contrastiva dos textos, mostrando quais as
principais evidências observadas entre o original e a tradução.
24
2
Este capítulo, que constitui o embasamento
teórico, é composto por três partes, a saber: a
primeira destinada ao jornalismo com a apresentação do modelo de Frank Esser (1998); a
segunda, às características do estilo revista e da reportagem; e a terceira, à tradução com a
perspectiva funcionalista
de Christiane Nord (1991).
Trat
o
aqui de buscar pontos de intersecção entre o jornalismo e a tradução,
por meio do
trabalho de Zipser (2002), bem como aliar a isso as questões culturais que permeiam tanto o
jornalismo quanto a tradução.
E
ssas duas áreas tê
m a cultura como
um dos fatores determinantes
de sua produção: a tradução, por sua própria natureza, sempre trabalha, no mínimo, duas línguas
e culturas e o jornalismo, principalmente quando tratado em contexto internacional.
O estudo cultural no âmbito da
tradução dá
-
se pelo
fato de a língua estar atrelada à
cultura. Já Casagrande (1954) afirmou que “na verdade não se traduzem línguas e sim culturas”
(p. 338,
apud
Baker, 1999:22).
E esse aspecto
é levado em consideração também por Sapir (1921,
apud
Cuche,
1999:93)
quando ele diz que “Língua e cultura estão em uma relação estreita de interdependência: a língua
tem a função, entre outras, de transmitir a cultura, mas é, ela mesma, marcada pela cultura”. Se a
língua está atrelada à cultura, e a tradução se dá
na ligação desses dois elementos, então
buscamos um conceito de linguagem pautada nos pressupostos de Azenha (1999:28)
:
“a
linguagem deve ser vista aqui como elemento integrante de uma cultura, como uma de suas
25
formas de manifestação mais poderosas”, e “n
ão como um fenômeno isolado, suspenso num
vácuo” (Snell
-
Hornby 1988:
39,
apud
Azenha, 1999:28).
Seguindo esse pensamento, Reiss e Vermeer vêem a relação cultura
-
linguagem
-
texto
como “Uma língua [...] é elemento de uma cultura. A língua é o meio convencional
de
comunicação e de pensamento de uma cultura. Cultura é a norma social válida numa sociedade, e
é também sua expressão” (Reiss e Vermeer, 1984:26
apud
Azenha, 1999:34).
3
Nord (1997a) também leva esse aspecto em consideração quando diz que “a língua é
ent
ão considerada parte da cultura. E a comunicação está condicionada pelos limites da situação
na cultura
” (
ibid
.:1).
E ainda, se a perspectiva deste trabalho está direcionada às manifestações culturais nos
textos, apresent
o
a noção antropológica de cultura
de Mary
Snell
-
Hor
n
by, citada por Azenha, e
derivada do conceito do etnologista americano Ward H. Goodenough:
A meu ver, a cultura de uma sociedade consiste de tudo o que precisamos
saber ou em que precisamos acreditar a fim de agirmos de modo aceitável
pa
ra os membros de uma sociedade, e a fim de, assim procedendo,
desempenharmos um papel que eles aceitariam para qualquer um de si. A
cultura, sendo aquilo que as pessoas têm de aprender por oposição à sua
herança biológica, deve consistir do produto final d
a aprendizagem:
conhecimento no sentido mais geral, ainda que relativo, do termo. Por esta
definição, devemos observar que a cultura não é um fenômeno material;
ela não consiste de coisas, pessoas, comportamentos ou emoções. Cultura
é, antes, uma organizaç
ão dessas coisas. Cultura são as formas das coisas
que as pessoas têm na cabeça, os modelos que elas usam para perceber,
relacionar e também interpretar essas coisas. Assim, as coisas que as
pessoas dizem ou fazem, seus acordos sociais ou eventos, são prod
utos ou
subprodutos
de sua cultura, à medida que elas os aplicam com vistas a
3
As citações extraídas da obra de Azenha (1999) são traduções feitas por ele pró
prio.
26
perceber e a lidar com as circunstâncias. Para alguém que conhece a
cultura dessas pessoas, essas coisas e eventos são, portanto, sinais que
significam formas ou modelos de cultu
ra de que são a representação
material [...]
(Goodenough, 1964, citado em Azenha, 1999:28).
Nesse contexto
, são utilizados os pressupostos acima para a definição de cultura,
pois
é no
componente social
-
a linguagem
-
que as marcas culturais se fazem pre
sente
,
e é onde a história
de um povo se constitui e se manifesta. Continuando, o antropólogo Roberto DaMatta (1997)
segue e chega
à distinção entre sociedade e cultura. “O primeiro indicando conjunto de ações
padronizadas; o segundo expressando valores e
ideologias que fazem parte da outra ponta da
realidade social (a cultura)” (
ibid
.:51
). Ele diz que cada sociedade corresponde a uma tradição e
que uma “sociedade sem tradição são sistemas coletivos sem cultura”
(
ibid
.). Assim, os traços ou
mecanismos de um
a coletividade humana desenvolvem
-
se até transformar
-
se numa sociedade.
Trabalh
o
aqui com questões relacionadas à cultura. Assim, quando
falo de marcas
culturais, estou me
referindo aos costumes que são justificados dentro de uma moldura social,
mostrando
como cada papel é vivenciado, além de indicar as
escolhas
que revelam como um
grupo difere
-
se do outro. E Geertz (1989:27) alia cultura ao comportamento: “deve
-
se atentar
para o comportamento, e com exatidão, pois é através do fluxo do comportamento
ou,
mais
precisamente, da ação social
que as formas culturais encontram articulação”.
De fato, por meio das ações, atitudes e comportamentos de um povo, e também, como já
disse antes
, por meio da linguagem, seja escrita ou falada, é que se torna possível c
onhecer os
traços culturais de um indivíduo ou
de uma sociedade.
27
Agora que fal
ei
um pouco de cultura, podemos perceber o quanto ela tem relação com a
interface proposta. Apresento na seção seguinte os pressupostos teóricos de Esser (1998) para o
jornalismo
.
2.1
Jornalismo: sob a perspectiva e o modelo de Frank Esser
Frank Esser, jornalista alemão, que reúne o perfil do acadêmico e do profissional,
desenvolveu um modelo de estudo do jornalismo em ambiente internacional, comparando o
jornalismo inglês e
o
alemã
o. Esse modelo trabalha o conceito de
interculturalidade
, nas várias
instâncias que influenciam o fazer jornalístico, identificando fatores que conferem ao jornalismo
de cada país uma identidade nacional e cultural próprias.
Tal postura é explicitada no
Mo
delo Pluriestratificado Integrado
desenvolvido por Esser
(1998), através da “
metáfora da
cebola
” (Fig.
2.
1), no qual
ele apresenta as seguintes esferas com
os fatores de influência no jornalismo:
x
nível de esfera social, incluindo aspectos histórico
-
culturai
s e condições
determinantes na esfera político
-
social;
x
nível institucional e organizacional, que engloba aspectos práticos do fazer
jornalismo e o retrato da profissão;
x
nível de estrutura da mídia em si, com as normas ditadas pelos setores econômico
e jurí
dico com relevância para a ética profissional;
x
nível subjetivo, refere
-
se à atuação profissional do indivíduo, sua postura e
interação em seu grupo de atuação.
28
Fig 2.1. Modelo Pluriestratificado Integrado (ESS
ER, 1998)
“metáfora da cebola” (tradução
de Zipser, 2002:25)
Interação com e atuação
sobre outros sistemas
sociais
Esfera institucional
, nível
organizacional (de ordem
institucional):
x
Retrato da profissão e perfil
de atividades.
x
Estrutura organizacional e
de distribui
ção de
competência na redação e
editoração.
x
Procedimentos de trabalho
na redação, controle de
redação e mecanismos de
socialização.
x
Tecnologia de redação.
Esfera subjetiva
, níveis
individuais (esfera de
atuação):
x
Valores subjetivos e
postura político.
x
Tópi
cos profissionais e de
natureza dos papéis
desempenhados.
x
Profissionalização.
x
Posição demográfica.
Os fatores das
camadas externas
impedem que tópicos
e valores subjetivos
interfiram
sem
prévia filtragem
nos conteúdos da
mídia
Os fatores das camadas
externas determinam a
natureza
e atuação
jor
nalística no centro
Esfera de estrutura da
mídia
, níveis normativos
econômico e jurídico
(parâmetros de orientação
parcial do sistema).
x
Condições econômicas do
mercado e mídia
x
Direito da imprensa
x
Parâmetros éticos
profissionais e de
autocontrole da
imprensa.
x
Sindicatos, associações.
x
Sistema de formação do
jornalista.
Esfera social
Moldura histórico
-
cultural
x
Liberdade de
imprensa, história da
imprensa e
autoimagem da
im
prensa.
x
Tradição jornalística e
conceito de
objetividade.
x
Cultura esfera
política.
x
Condições
determinantes da
esfera político
-
social.
Os fatores dos
vários níveis
influenciam
-
se num
processo de
reciprocidade
29
Representado por essas esferas, os aspectos sociais, culturais, políticos e econômicos
emolduram e interagem dentro do âmbito do jornalismo, mostrando os níveis que podem ocorrer
influências e
interferências. Essas
influências, segundo Esser (
ibid.)
,
seriam particularmente
claras, quando da atuação jornalística em contexto situacional e cultural diferenciados.
E, contribuindo com o pressuposto de que as transformações sociais e culturais integ
ram o
jornalismo e vice
-
versa, Marshall (2003) relata, em suas considerações sobre as mudanças nos
paradigmas do jornalismo no século
XX,
que a dinâmica social também faz parte
dessa mutação
e o jornalismo teve sua importância:
O jornalismo assumiu um pape
l
-
chave na sociedade e tornou
-
se o código
universal que contribui para visualizar a profunda transformação
social,
econômica e política provocada pela irrupção dos paradigmas da
modernidade, que reformou radicalmente a
dinâmica social (Marshall
,
2003:156).
De acordo com o autor, durante cerca de quatro séculos, a linguagem jornalística foi uma
das ferramentas intelectuais que sustentaram a dinâmica e a lógica da modernidade, e acrescenta:
Sem o jornalismo, a sociedade da modernidade não conseguiria
estabel
ecer os princípios do nacionalismo, das identidades culturais, das
fronteiras estéticas, da massa crítica, da formação da chamada opinião
pública e dos signos da sociedade
da informação (Marshall, 2003
:157).
De fato, o jornalismo está atrelado a toda uma
estrutura social e é difícil separá
-
lo da
realidade, visto que suas manifestações influem
n
a produção de sentido na sociedade. E ainda, é
no meio social que o jornalismo realiza sua função maior que é informar. Vejamos o que diz
Lima a esse respeito:
30
Ess
a função informativa é, pois, o primeiro e precípuo fim do jornalismo.
É para isso que o jornalismo tem de estar a par das coisas, estar bem
informado para poder informar. É para isso que ele tem de viver no meio
dos acontecimentos, em pleno fluxo vital (L
ima, 1990:60).
Dessa forma, a função informativa
do jornalismo está ligada também ao conteúdo que é
focado de modo a estabelecer a comunicação com seus leitores de forma séria e comprometida
com a veracidade das informações. E a forma de como o conteúdo é
apresentado nas diferentes
línguas e culturas nos leva a considerar os aspectos que diferenciam as culturas e a aplicação
dessas diferenças na
tradução
desse conteúdo.
A comunicação jornalística é, por definição, referencial e fala de algo do
mundo, exter
ior ao emissor e ao receptor. Isto impõe o uso obrigatório de
terceira pessoa, e deve ser uma linguagem prática que permita ao leitor sua
compreensão. A linguagem jornalística é “basicamente constituída de
palavras, expressões e regras combinatórias que
o possíveis no registro
coloquial e aceitos no registro formal”
(Lage, 1998:
38;
grifos do autor).
Ainda de acordo com
Lage (
ibid.
), essa linguagem
deve se adaptar às mudanças que a
língua sofre, incorporando ao vocabulário de base uma série de palavras li
gadas ao contexto atual
da produção do texto. E as ações com a linguagem, dentre outras, podem ser: avaliar, persuadir,
informar, e as sobre a linguagem referem
-
se à criação de novos recursos expressivos a partir de
recursos disponibilizados (processos met
afóricos, paráfrases, de estruturação sintática e outros).
Nesse contexto, Melo apresenta um conceito de jornalismo que está ligado à sociedade,
seus valores culturais e ideológicos:
31
O jornalismo é concebido como um processo social que se articula a par
tir
da relação (periódica/oportuna) entre organizações formais
(editoras/emissoras) e coletividades (públicos receptores), através de
canais de difusão (jornal/rádio/revista/televisão/cinema) que asseguram a
transmissão de informações (atuais) em função de
interesses e
expectativas (universos culturais ou
ideológicos) (Melo 2003:17).
Essa transmissão das informações, descrita por Mello (
ibid.
)
,
em função de interesses
também está presente no modelo de Esser, pois nos leva a questionar a visão consensual d
o
compromisso com a neutralidade no meio jornalístico, noção similar à visão da tradução isenta
(literal) que desconsidera o dinamismo da linguagem e os fatores que influenciam o processo de
formação de sentido nas diferentes culturas.
Nesse sentido, vejam
os a opinião de Bucci:
O relato, qualquer que seja ele, é um discurso e, como tal, é
inevitavelmente ideológico: mesmo quando sincera e declaradamente não
opinativo, o relato jornalístico é encadeado segundo valores que
obrigatoriamente definem aquilo que
se descreve. A objetividade perfeita
nunca é mais que uma tentativa bem intencionada (Bucci, 2000:51).
Assim, no pressuposto de Bucci
(
ibid.
) existe
uma aceitação de que o jornalista deixa suas
marcas em seu trabalho, pois ele tem em suas mãos a decisão d
e como determinada notícia ou
reportagem chegará à sociedade.
Nesse sentido, as esferas do modelo de Esser (1998) são as diretrizes dessa escritura por
parte do jornalista. E os parâmetros por ele discutidos condicionam a avaliação e a interpretação
dos fa
tos pelos profissionais do jornalismo.
Dessa maneira
, o trabalho de Esser apresenta os elementos que nos permite caracterizar
questões explícitas da escritura e da tradução jornalística. E não só explica como também justifica
32
os diferentes enfoques e abor
dagens dados à notícia, apresentando parâmetros que condicionam
tanto a avaliação como a interpretação dos fatos que norteiam o trabalho dos jornalistas. Em seu
trabalho, ele postula que somente em estudos comparativos internacionais podem ser
identificado
s efetivamente os fatores de influência que permitem que o jornalismo de cada país
possa ter sua identidade nacional e cultural.
Partindo do trabalho de Esser (1998), Zipser (2002) estabelece uma ponte entre os estudos
jornalísticos e os da tradução, possi
bilitando uma reflexão sobre a prática tradutória nas redações,
estudando
-
se eventuais deslocamentos de enfoque do fato noticioso, assumidamente traduzido ou
retextualizado pelas agências
de notícia internacionais. A pesquisadora fundamenta reflexões
sobre
o conceito de tradução no meio jornalístico transpondo a noção consensual de tradução
como transcodificação para a noção de tradução como representação cultural, ou seja, a tradução
voltada à letra e a sua noção mais ampla como matéria a ser retrabalhada
até se transformar em
notícia.
Sendo assim, a aproximação de Esser com os
Estudos da Tradução acontece
, em
abordagem funcionalista, a saber: i) no fato de o jornalismo e a tradução estarem intimamente
ligados às esferas social e cultural; ii) na sua assoc
iação com o modelo de tradução proposto por
Christiane Nord (1991) que igualmente apresenta fatores de influência na tradução externos e
internos ao texto, resultando em uma dinâmica comparável nos dois modelos propostos.
33
2.2
Características do estilo revist
a e da reportagem
O texto jornalístico carrega em si especificidades. Por esta razão, torna
-
se necessário
estabelecer técnicas que vão determinar um estilo próprio, uma ou várias características que, ao
primeiro contato, darão ao leitor o entendimento de q
ue à sua frente está um texto jornalístico.
(Vilas Boas, 1996:7).
Nesse
sentido, abord
o
aqui as características dos textos publicados em revistas, que
exigem de seus profissionais uma escrita elegante e sedutora, pois como não há a urgência do
jornal diári
o,
eles têm, em tese,
um pouco mais de tempo para produzi
-
lo. Da mesma forma, isso
acontece com o leitor que dispõe de mais tempo para ler a reportagem de revista
e
quer
ser
seduzido por ela.
A linguagem utilizada na revista, de acordo
com
Vilas Boas (1996
:15), segue critérios de
clareza, isto é, deve
-
se descobrir a melhor forma de apresentar a matéria, e ainda passar a
informação e, porque não dizer, entretenimento, de um modo sedutor.
Por isso, ao construir o texto, o jornalista leva em consideração o re
ceptor ideal da
mensagem, ou seja, o público para o qual aquela mensagem está sendo produzida. Por meio das
palavras utilizadas, é possível despertar no receptor o que lhe faltava ou o que ele buscava.
A revista
National Geographic
tem seu foco na valoriz
ação da natureza, da história e das
variedades culturais. É uma revista de alto nível, tanto intelectual quanto cient
í
fico, utiliza
-
se de
um vocabulário elaborado, e tem também um leitor específico, com um perfil previamente
determinado. Esta é uma revista
especializada e, de acordo com Boas (1996:71),
“a
34
especialização de uma revista pode ser temática ou segundo a segmentação dos leitores” e
continua “Roberto Civita, presidente do grupo Abril, acha que para uma revista sobreviver é
preciso saber definir be
m o seu público”. Assim, podemos fazer uma ponte com a teoria
funcionalista de Christiane Nord (1991) já que é preciso conhecer o perfil
principalmente
cultural
-
do leitor em questão para que o texto cumpra sua função, seja informar ou persuadir,
quando
, finalmente, chega às suas mãos.
Outro ponto importante a ressaltar é que a reportagem pode nascer de uma notícia. Assim,
“a reportagem amplia uma simples notícia de poucas linhas, aprofundando o fato no espaço e no
tempo [...]” (Medina,1978,
apud
Coimbra
, 1993:9).
Desse modo
, o jornalista também aprofunda seu conhecimento sobre o assunto e reúne
todas as informações possíveis, contudo faz uma triagem das informações, visto que uma
reportagem pode verter para tantos
assuntos, que
é importante uma delimita
ção do tema.
Além disso, o produtor da matéria busca informações sobre alguns elementos que estão à
volta do assunto tratado como, por exemplo, as questões culturais e históricas. Principalmente
quando se trata de reportagens internacionais, este é o press
uposto de Kotscho:
Nas coberturas no exterior, não basta relatar o que aconteceu: é preciso
ajudar o leitor a entender
por que
tais fatos estão ocorrendo, situando
-
os
dentro de um contexto histórico e lembrando as características de cada
país
(
Kotscho
,
199
5:29).
E por meio da reportagem é possível mostrar p
orque uma determinada notícia entra para a
história, pois se desdobra e dá amplo relato aos fatos principais e também aos fatos subjacentes
35
da notícia. “Quando uma notícia salta de uma simples nota para
uma reportagem, é preciso ir
além, detalhar, questionar causas e efeitos, interpretar, causar impacto” (Boas, 1996:43).
2.3
Tradução: sob a perspectiva e o modelo de Christiane Nord
2.3.1
Considerações Gerais
O tradutor não é o emissor da mensagem do texto
-
fonte,
mas um produtor
textual na cultura
-
alvo, que adota a intenção de alguém a fim de produzir
um instrumento comunicativo para a cultura
-
alvo [...]
(Nord, 1991:11).
Christiane Nord, de nacionalidade
alemã,
é professora e pesquisadora da área de tradução,
e a
tualmente desenvolve seus trabalhos na área de teoria, metodologia e didática da tradução.
Utiliz
o
como embasamento teórico seu livro
Text Analysis in
Translation
,
publicado
originalmente em alemão, em 1988, e traduzido pela própria autora, para o inglês,
em 1991.
Nesse livro, Nord apresenta
um modelo de tradução orientada para análise textual que
serve como base teórica para
os Estudos da Tradução
, para
a
instrução de tradutores e a prática de
tradução, que é também utilizado para justificar as escolhas d
e tradução, para sistematizar
problemas de tradução e para entender as normas de tradução mais claramente.
Esse modelo de análise textual pode ser aplicado a textos traduzidos ou não, desde que
tenham sido extraídos do mesmo meio (revista, jornal, etc.), q
ue tratem do mesmo assunto e que
sejam em línguas diferentes. Segundo a autora, o modelo preocupa
-
se com os universos da
cultura, incluindo linguagem
, comunicação e tradução.
36
Para o conceito de
tradução,
a autora utiliza a base funcional, isto é, com seu
foco na
função ou nas funções dos textos e das traduções. De acordo com Nord (1997a:9), a abordagem
funcional para a tradução foi primeiramente sugerida por Reiss (1971), embora ainda dentro da
teoria da equivalência. Ela desenvolveu um modelo de tradução
crítica baseada nas relações
funcionais
entre o texto
-
fonte e o texto
-
alvo. De
acordo com Reiss, a tradução ideal seria aquela
“na qual o propósito na língua
-
alvo é equivalente ao conteúdo,
à
forma lingüística e
à
função
comunicativa do texto da língua
-
fon
te” (1977, tradução em 1989:
112,
apud
Nord, 1998:9).
E em
1978, Vermeer
postula que, como regra geral, é o propósito do texto traduzido que
vai determinar os métodos e as estratégias de tradução, formulada como a
skopos rule
(1978/1983:
54,
apud
Nord, 1991
:4), a qual posteriormente tornou
-
se o componente principal de
sua teoria geral da tradução chamada de S
kopostheorie
(cf. Reiss e Vermeer, 1984), que foi uma
combinação da teoria geral do
Skopos
,
de 1978, de Vermeer, com
a teoria especifica da tradução
de
senvolvida por Reiss. A palavra
skopos
é de origem grega que significa “propósito, objetivo”
(Nord, 1997a:
27; grifos da autora). Além disso, de acordo com Nord (
ibid.
: 12),
a combinação da
teoria geral do
skopos
com a teoria de tradução de Reiss foi possí
vel porque a
Skoposteorie
foi
desenvolvida como a origem de uma teoria geral da tradução capaz de envolver teorias
relacionadas a línguas e culturas específicas. Assim, o ponto principal sobre a abordagem
funcional adotada por Nord é a função prospectiva o
u
skopos
do texto
-
alvo.
Ademais, Nord entende a tradução como “comunicação intercultural” (1991
: 4; grifos da
autora), que é marcada culturalmente e tem seus propósitos baseados no leitor em prospecção. A
comunicação ocorre entre as duas culturas que estão
envolvidas na transmissão da mensagem, e o
texto só poderá ser entendido e analisado dentro e em relação ao contexto
dessa comunicação.
Dessa forma, vejamos qual o conceito de cultura para a autora:
37
Entendo por “cultura” uma comunidade ou grupo que se di
ferencia de
outras comunidades ou grupos por formas comuns de comportamento e
ação. Os espaços culturais, portanto, não coincidem necessariamente com
unidades geográficas, lingüísticas ou mesmo políticas (Nord, 1993:20
;
grifos da
autora;
apud
Zipser, 2002:
38)
4
.
Assim, em seu outro
trabalho,
Nord (1997:34) diz que “traduzir significa comparar
culturas”.
Os
tradutores interpretam a cultura
-
fonte de acordo com seus próprios conhecimentos
daquela cultura, dependendo do propósito da tradução
. De acordo com Witt
e (1987:119;
apud
Nord, 1997:34), “uma cultura estrangeira só pode ser observada em comparação com a nossa
própria cultura”, e Nord (
ibid.
) explica que tudo o que nós observamos
ser diferente de nossa
cultura, para nós, é especifico de outra cultura.
2.3.2
Fu
nções do texto e da tradução
A perspectiva interativa (teoria e prática) de Nord faz da tradução um processo que se
realiza no interior da linguagem e através dela, sendo a função do texto o pressuposto para uma
situação comunicativa.
Como vimos na seção
anterior, a tradução é vista como uma comunicação intercultural,
que tem um propósito, uma função (
skopos)
que não é somente uma característica constitutiva
fundamental dos textos, mas também determina as estratégias de sua produção. Nesse
contexto,
“um t
exto é uma ação comunicativa que pode ser realizada através da combinação de recursos
4
Unter “Kultur” verstehe ich eine Gemeinschaft oder Gruppe, die sich durch gemeinsame Formen des Verhaltens
und Handelns von anderen Gemeischaften oder Gruppen unterscheidet. Kulturräume fallen daher nicht zwangsläufig
mit geographischen.
Sprachlich
en, oder gar staatlichen Einheiten zusamunen.
(grifos da autora) e (tradução de
Zipser
, 2002
).
38
verbais e não
-
verbais” (Nord, 1991:15). E ela completa dizendo que no processo de tradução,
dependendo da função e das estratégias de produção é que o tradutor pode optar
por mudar
elementos não
-
verbais para elementos verbais e vice
-
versa
. A tradução
deve conter o máximo de
informações sobre os fatores situacionais da recepção prospectiva do texto traduzido, tais como:
o público idealizado (
adressee)
ou os possíveis recept
ores, tempo e lugar da recepção, meio, etc.
A tradução é sempre realizada para uma situação alvo com seus fatores
determinantes (receptor, momento e lugar da
recepção, etc.), na qual o
texto
-
alvo está possibilitado a cumprir certa função que pode e, de f
ato,
deve ser especificada durante seu desenvolvimento (Nord, 1991:28; minha
tradução)
5
E a autora continua aliando a função à comunicação intercultural:
A função de um texto
-
alvo não é obtida automaticamente a partir de uma
análise do texto
-
fonte, mas é
pragmaticamente definida pelo propósito da
comunicação
intercultural (
ibid.
: 9; minha tradução)
6
.
Assim, a função só pode ser apontada no texto pelo receptor na ação da recepção. Isso nos
leva a concluir que um texto pode ter várias funções tanto quanto
tem vários receptores, pois cada
pessoa lê o texto de um modo diferente.
Dessa forma, o papel do destinatário é essencial, pois o emissor no processo de produção
do texto baseia
-
se no conhecimento que (supostamente) tem do receptor. Nesse
processo, a autor
a
5
Translation is always realized for a target situation with its determining factors (recipient, time and place of
reception, etc.), in which the target text is
supposed to fulfil a certain function which can and, indeed, must be
specified in advance.
39
distingue a lealdade ao receptor (
Loyalität
), da fidelidade ao texto
-
fonte (
Treue
), que depende da
tipologia textual. E tanto para Nord quanto para Esser
,
o processo de produção textual,
preponderantemente, não se volta para trás, isto é, para o texto
-
fo
nte, mas para frente, para o
leitor em prospecção. A partir disso, Zipser
(2002) traça um paralelo com o texto jornalístico, no
qual o emissor
-
jornalista apresenta uma dete
rminada informação para seu leitor, e como o texto
jornalístico constitui um produto
vendável, ele precisa adequá
-
la ao seu receptor. “Assim,
podemos definir o trabalho da escritura do texto jornalístico como sendo uma “tradução”
prospectiva do fato noticioso, por excelência” (Zipser, 2002:
40; grifos
da autora).
Desse modo
, com o intuito
de facilitar a análise das funções por parte do tradutor, Nord
(1997b: 46) utiliza um modelo das funções da linguagem baseado no modelo desenvolvido por
Bühler (1934) e Jakobson (1960), e consiste de quatro funções básicas com algumas
subfunções
em cada u
ma delas.
x
Função referencial: (objetiva) refere
-
se a objetos e fenômenos do mundo.
Subfunções: informativa, instrutiva, didática, etc.
x
Função expressiva: expressão da atitude (subjetiva) do emissor ou emoções
frente às coisas ou os fenômenos do mundo. Su
bfunções: emotiva, irônica, etc.
x
Função apelativa: apela diretamente à experiência e aos conhecimentos prévios
do receptor movendo
-
o para reagir de alguma maneira. Subfunções: ilustrativa,
persuasiva, imperativa, publicitária, etc.
6
The function of the target text is not arrived at automatically from an analysis of the source text, but is
pragmatically defined by the purpose of the intercultur
al communication.
40
x
Função fática: estabel
ece, mantém e finaliza o contato (social) entre o emissor e
o receptor.
Subfunções: saudação/despedida, estabelecimento de uma relação
social entre os comunicantes, etc.
Nord (
ibid
.: 40
-
42) completa dizendo que a função
referencial
é expressa por meio de
valores indicativos dos itens lexicais presentes no texto e depende da compreensibilidade do
texto. A função
expressiva
pode ser verbalizada explicitamente pelos adjetivos emotivos, mas
que depende dos valores e das conotações que esses adjetivos têm de ca
da
cultura. A função
apelativa
usa indicadores diretos como imperativos ou questões retóricas. A função
fática
depende de itens lingüí
sticos para estabelecer contato.
C
ontudo o problema é que uma forma que
é convencional em uma cultura pode não ser em outr
a.
Como vimos, o esquema
apresentado corresponde às situações comunicativas nas quais as
funções são utilizadas, e as diferentes funções requerem diferentes estratégias de tradução.
2.
3
.3. Fatores intratextuais e extratextuais no processo de tradução
O mod
elo de análise textual de Nord (1991) apresenta os fatores internos e externos ao
texto, e a análise desses fatores possibilita a identificação dos elementos do texto 1 e do texto 2
com base na comunicação intercultural.
Essa é a proposta de Nord (1991:12)
: mostrar, pelas
experiências, o texto como uma ação interativa que acontece numa situação de comunicação, em
especial quando envolve duas culturas, e, ainda, que
os textos trazem consigo as experiências e as
expectativas de outros textos, sempre marcados
culturalmente.
41
Partindo dos conceitos acima citados, o modelo de Nord (1991), traduzido para o
português na Figura 2.2., sugere uma estrutura sistemática para análise dos fatores que envolvem
e compõem o texto. Tais fatores são chamados de
extratextuais
e
intratextuais
, ou simplesmente
externos e internos.
Os extratextuais, segundo Nord (1991:36), são analisados por meio
de perguntas feitas
sobre o autor ou o emissor do texto (quem?), a intenção do emissor (para quê?), o destinatário ou
receptor do texto
(para quem?), o meio ou canal pelo qual o texto é comunicado (qual meio?), o
lugar (onde?), o tempo (quando?), e qual o
motivo (por quê?) da comunicação. Depois de
respondidas estas perguntas será possível responder a última questão que se refere à função
do
texto (com qual função?).
Os fatores intratextuais são analisados pelas perguntas
sobre o assunto do texto (sobre
qual tema?), informação ou conteúdo presente no texto (o quê?), as pressuposições feitas pelo
autor (o que não?), a composição ou construç
ão do texto (em qual ordem?), os elementos não
-
lingüísticos do texto (usando quais elementos não
-
verbais?), as características lexicais (em quais
palavras?), e estrutura sintática (qual tipo de oração?), e qual o tom em que tais informações são
veiculadas
(marcas suprasegmentais). A última questão, (qual o efeito do texto?), refere
-
se à
interdependência ou a interação dos fatores intra e extratextuais.
42
TEXTO 1
-
TEXTO 2
-
TEXTO
FONTE:
PORTUGUÊS
QUESTÕES DE
TRADUÇÃO
TEXTO
META:
INGLÊS
FATORES EXTE
RNOS AO TEXTO
Emissor
Intenção
Receptor
Meio
Lugar
Tempo
Propósito (motivo)
Função textual
FATORES INTERNOS AO TEXTO
Tema
Conteúdo
Pressuposições
Estruturação
Elementos não
-
verbais
Léxico
Sintaxe
Elementos supra
-
segmentais
Efeito do texto
Fig. 2.2. O Modelo de Christiane Nord (1991)
Tradução de Zipser (2002:50)
.
Assim, a interação desses fatores pode ser expressa pelo conjunto de perguntas
identificadas em inglês como
WH
-
questions
. E
ssa proposta é, inicialmente, do meio jornalístico,
por meio do trabalho de Lasswell, segundo o qual um texto, logo nas primeiras linhas, deverá
responder estas perguntas que englobam
os pronomes interrogativos de tempo, modo e lugar
entre outros, e foram
apresentadas por Nord (1991:36):
43
Quem transmite
Para quem?
Para quê?
Por qual meio?
Onde?
Quando?
Por quê?
Um texto
Com qual função?
Sobre qual assunto
Ele/Ela diz
O quê?
(o que não?)
Em qual ordem?
Usando quais elementos não
-
verbais?
Em quais palav
ras?
Em qual tipo de frases?
Em qual tom?
Para qual efeito?
Vale lembrar que a ordem dessas perguntas não é
aleatória. Segundo Nord elas remontam
aos princípios da Lei de Lasswell citados acima.
Essa linha de trabalho da autora é didática e desenvolvida p
ara trabalho em sala de
aula de
tradução, e pretende estabelecer os limites reais entre a função textual, efeito do texto e a
intenção do emissor. A interação apresentada pela a
utora fecha o circulo das perguntas, que
podem ser designadas para análise de a
mbos os fatores, dependendo de sua relação com a
situação de comunicação.
O trabalho com os textos jornalísticos nos levou a priorizar alguns elementos do modelo
apresentado acima: o léxico e as pressuposições que serão tratadas a seguir.
44
Conforme apontad
o por Nord (1991:111), “as características do léxico usado em um texto
representa uma parte importante em todas as abordagens da tradução orientada para a análise de
textos”. Ela ainda diz que “a escolha lexical em um é determinada
por ambos os fatores
ext
ratextuais e intratextuais” (
ibid.:
112).
Assim, quanto aos fatores intratextuais que têm sua marcação no léxico, Nord (
ibid.
)
menciona dois principais: o assunto e o conteúdo da matéria. Isso parece meio evidente, pois
dependendo
do assunto a ser tratado,
determinadas palavras terão necessariamente que ser
usadas. Quando se fala, por exemplo, de futebol, o vocabulário será direcionado àquele tema.
Quanto aos extratextuais, a influência de cada um deles sob o léxico é tão forte que Nord
(
ibid
.:112
-
117) exp
lica cada
um separadamente a fim de mostrar seu impacto sobre a escolha dos
itens lexicais, conforme segue:
1.
Emissor
se o texto contém alguma informação externa ou algum indício
sobre o emissor (tempo, origem social e geográfica, educação, etc.).
2.
Intençã
o
se a intenção do emissor está refletida no
texto; se
estiver, de que
forma; e se não houver informação externa, qual intenção pode ser
pressuposta a partir do uso das palavras.
3.
Receptor
se o receptor foi mencionado no texto com o uso da 2ª pessoa
(e
.g., você), se o direcionamento ao receptor está refletido no léxico, pelo
uso de determinadas palavras.
4.
Meio
se o meio influencia o estilo do léxico (coloquial ou formal), ou a
formação das palavras.
5.
Lugar
se o texto contém itens que se referem ao
b
ackground
cultural,
como nomes próprios, termos institucionais ou culturais.
6.
Tempo
este aspecto é muito relevante para as marcas temporais em certos
itens lexicais, e para a tradução, pois em texto antigos
os
modernismos
não
serão encontrados e vice
-
ver
sa.
45
7.
Motivo (propósito)
se o motivo ou a ocasião da comunicação influencia a
escolha lexical e se isso requer um estilo particular de escrita.
8.
Função textual (em
relação à tipologia textual)
como ela é refletida na
escolha lexical e se há itens lexica
is que caracterizam certos tipos de texto.
Quanto às pressuposições, elas “incluem todas as informações que o emissor espera (=
pressupõe) que seja parte do “horizonte” do receptor” (Nord, 1991
: 96
;
grifos da autora). Desde
que o emissor objetive que sua
elocução seja entendida, parece lógico que ele só irá pressupor
informações que o receptor consiga reconstruir. Há algumas maneiras de perceber as
pressuposições em um texto. Bastian (1979:
93,
apud
Nord, 1991:99) sustenta que um texto
contém certos “elemen
tos de cristalização” que podem indicar pressuposição. E Helbig (
1980,
apud
Nord, 1991:100) aponta que esses elementos podem estar vinculados
a determinadas
estruturas sintáticas e lexicais. Outra forma de identificação é por meio dos elementos
não
-
verbais
, como as figuras e fotos que podem indicar pressuposição.
Assim, quando se produz um texto, o autor deve levar em conta o que ele considera ser o
background
do receptor.
46
3.
DISCUSSÃO
3.1. Introdução
O presente capítulo, destinado à discussão dos resultados
mostra, de um modo prático, as
constatações obtidas com base nos procedimentos metodológicos adotados neste trabalho. O
corpus
concentra
-
se em textos jornalísticos de revista. Esses textos apresentaram
-
se como um
desafio, pois no primeiro momento eles pare
ciam tão idênticos, as mesmas figuras, o mesmo
número de páginas, que não se sabia,
a priori,
o que encontraria neles. Contudo, no estudo
detalhado not
ei
que há muitas diferenças, principalmente no campo lexical. E são essas
diferenças que apresent
o
nesta
seção, com o intuito de comprovar a hipótese da existência de
marcas culturais presente nos textos, levando
-
se em consideração a cultura, a língua em que eles
estão inseridos e também o receptor
desses textos, pois tanto
a tradução quanto o jornalismo
cons
troem seus textos com foco no seu leitor.
E o leitor realmente desempenha um papel de grande importância, pois de nada serviria
elaborar, pesquisar e produzir um texto se ninguém o lesse, seria quase o mesmo que um
professor que prepara sua aula, busca o
material, pesquisa sobre
o assunto e acaba
não dando essa
aula. Houve toda uma
preparação, quando sua função maior se cumpriria, quando as informações
chegariam até seus alunos, isso não acontece;
logo, todo o trabalho teria sido em vão. É o mesmo
que acon
tece com a tradução e com o texto jornalístico, há uma preparação e uma produção
47
baseada em determinados propósitos, visando atingir seu leitor. Se os textos não chegarem aos
leitores, não terão cumprido sua função.
Sob o enfoque da tradução, devemos cons
iderar que há uma tradução propriamente dita
do texto jornalístico em estudo, isto é, a passagem da reportagem da língua
-
fonte (inglês) para a
língua
-
alvo (português). Para o conceito de tradução u
tiliz
o os princípios funcionais de Christiane
Nord (1991),
conforme já apresentado no marco teórico (Cap. II), e o conceito de “tradução” em
um sentido mais amplo, como “representação cultural” (Zipser, 2002), mostrando que em cada
cultura o assunto ou o fato podem ser representados de forma diferente, dependendo
do propósito
e da intenção do texto. Neste estudo, essas
diferenças
são apresentadas
por meio das escolhas
lexicais.
Vale lembrar que Nord (
ibid.
) usa o termo tradução como comunicação in
tercultural, pois
a tradução é de fato uma comunicação, uma relação
entre duas línguas que ocorre entre culturas.
E sob esse aspecto, a autora diz que o tradutor ocupa uma posição central, visto que é um
intermediador cultural e um receptor do texto
-
fonte e um produtor do texto
-
alvo, participando de
ambas as situações: fon
te e alvo. E ela complementa:
O tradutor é um tipo de receptor muito especial, não apenas do ponto de
vista do emissor, mas também porque ele recebe o texto em uma situação
muito peculiar. Ele não lê o texto por seus próprios
propósitos. [...] Ele lê
o te
xto
-
fonte no lugar do iniciador, ou outro receptor que pertença à
cultura
-
alvo, a qual pode ser muito diferente da cultura
-
fonte
7
(Nord,
1991:10; minha tradução).
7
The translator is a very special kind of recipient not only from the sender’s point of view but also because he
receives the text in a very peculiar situation. (…). He reads the ST instead of the initiator, or some other recipient
who
belongs to a target culture which may be quite different from a source culture.
48
Esse aspecto também é levado em consideração por Wolf (1995:127), quando diz que “o
tradutor
é praticamente o “primeiro leitor” da outra cultura quando presente em um texto de
língua/cultura estrangeiras
(
grifos da autora
).
Contudo, Nord (1991:10) complementa dizendo que ele é um “receptor crítico”, uma
pessoa que visa, no mínimo, alcançar uma co
mpreensão objetiva, cuidadosa e confiável do texto
-
fonte. Além disso, o tradutor
,
em muitos casos, não é o leitor esperado pelo autor do texto, não é
o leitor previsto, e desempenha o papel não apenas de um simples leitor, mas
o de
um leitor que
segue prin
cípios e critérios de leitura.
É nesse momento, com o papel do tradutor, que retom
o
um dos propósitos deste estudo,
pois a cultura é representada no texto pelas escolhas feitas por ele. O mesmo ocorre quando se
fala em expansão e filtragem da informação no
texto traduzido.
F
al
o
das aproximações culturais
que o tradutor faz para chegar ao leitor. Esse tradutor figura
como leitor
-
produtor, pois é ele que
produz um novo texto com base em seu original.
Um exemplo bem claro dessa aproximação ou distanciamento d
o leitor aparece nas
reportagens sobre a Cultura Afegã quando se menciona sobre a chegada do inverno naquele país,
onde as temperaturas chegam próximas de congelamento. Já na tradução só se fala que o inverno
chegou, sem maiores detalhes. Seria então uma a
proximação cultural, pois o brasileiro não tem
familiaridade com temperaturas congelantes, logo não seria necessário descrevê
-
las. Ressalto
aqui, a importância de o tradutor ter pleno conhecimento da língua e cultura para a qual traduz,
claro que neste cas
o são tradutores brasileiros, mas e se não fossem? Ele talvez não se ativesse a
esse detalhe
que pode, certamente, fazer diferença
em uma tradução, pois marca a aproximação
cultural realizada.
49
Outro ponto importante a ser destacado é a quantidade de inform
ação requisitada aos
leitores dessa reportagem. Os textos trazem informações sobre os conflitos existentes no
Afeganistão, faz um resgate histórico sobre os tesouros e a cultura, bem como sobre a
organização política do regime t
alibã. Assim, o jornalista e
stá pressupondo que o receptor do
texto tenha conhecimento sobre
esses assuntos e o leva a fazer seu próprio resgate da história.
Vejamos alguns exemplos:
Long a hub of trade flowing from east to west and north to south,
Afghanistan is where caravans of
bundled Chinese silk passed camels
loaded with glass from ancient Rome. It’s where classical Greek art fused
with the sinuous sculpture of India. The storied city of Balkh at the foot of
the central highlands is the legendary home of the great prophet Zoro
aster,
who lived here centuries before Alexander the Great arrived. And it was in
this region that Buddhism was transformed into a vibrant world religion
(T1, p.32, linha 48).
[Durante muito tempo o centro do comércio circulava de leste a oeste de
norte a
sul, e o Afeganistão era o local onde as caravanas de seda chinesa
passavam com camelos carregados de objetos de vidro da Roma antiga.
Era o local onde a arte Grega clássica juntava
-
se com sinuosas esculturas
da Índia. A histórica cidade de Balkh no sopé
do planalto central é o local
legendário do grande profeta Zoroastro, que viveu ali séculos antes do
Alexandre Magno chegar. E foi nesta região que o Budismo foi
transformado em uma forte religião mundial
8
.]
Outro exemplo de pressuposição
9
inferida no tex
to quando se faz referência ao comércio
de seda chinesa, aos objetos da Roma Antiga, à arte grega, esculturas da Índia, além de
mencionar sobre Alexandre Magno e sobre o Budismo. Todos esses assuntos estão ligados à
8
Todas as traduções dos trechos do texto em inglês são de minha autoria.
9
A definição detalhada de pressuposição está presente no Cap. II
, p.
45
destinado ao Marco Teórico.
50
história e à cultura mundial, talvez pel
o
fato dessa revista
já ter o perfil de seu leitor previamente
conhecido.
Vejamos mais um exemplo:
Most of the farmers in this impoverish province are ethnic Hazara, a Shite
Muslin people long at the bottom of the Afghan tribal hierarchy. In 1999
the Tali
ban
largely ethic Pashtun who practice Sunni Islam
damage or
destroyed a third of all the houses in Bamian (T1, p. 34, linha 112).
[Muitos dos agricultures des
s
a provincia são de etnia hazara, um grupo de
muçulmanos xiitas que por muito tempo estiveram
no mais baixo escalão
da hierarquia tribal afegã. Em 1999, o Talibã
basicamente de etnia
pashtun de pessoas que praticam o islamismo sunita
danificou ou
destruiu um terço de todas as casas em Bamian.]
Nesse trecho, menciona
-
se as etnias dos agricult
ores
da província, e quais etnias integram
o Talibã, também sobre os muçulmanos e o islamismo. Ao fazer es
s
as menções, há novamente
uma pressuposição, por parte do autor da reportagem, que seu leitor tenha familiaridade com
e
s
ses assuntos.
No decorrer da
discussão, volt
o
sempre a atenção aos objetivos deste trabalho, ou seja,
validar a hipótese da existência de marcas culturais presentes nos textos, às escolhas lexicais que
permeiam as mudanças de enfoque e as influências dessa marcação para a tradução e p
ara o
jornalismo.
As escolhas mencionadas acima também estão presentes no trabalho do jornalista, pois
elas são feitas por ele, de acordo com seu próprio conhecimento e com o perfil da revista ou
jornal para o qual escreve. Assim, no texto jornalístico, o
profissional busca a melhor maneira de
abordar o tema proposto considerando os traços culturais de cada país para realizar suas escolhas
lexicais, já que falamos aqui de jornalismo em contexto internacional. De acordo com Esser
51
(1998), a cultura é vista co
mo um fio condutor que liga três momentos: passado, presente e
futuro, dentro
dos quais os
países são entendidos como culturas, cada qual construída de uma
maneira ao longo da história.
Após a realização das primeiras análises, havia algumas dúvidas em rel
ação aos enfoques
dados às matérias nas diferentes
línguas. Surgiu, então, à idéia de realizar uma entrevista com
duas pessoas: uma, de origem americana, que lesse a versão estrangeira; a outra, brasileira, para
a
versão em português. O intuito era o de ve
rificar qual leitura cada um dos entrevistados faria do
texto, baseado em sua formação, seus valores sociais e culturais e seu conhecimento de mundo,
bem como, constatar
se, ao
final de ambas as leituras, a visão do leitor seria a mesma. O
detalhamento das
entrevistas está presente no Anexo V deste trabalho.
A comprovação da hipótese e o agrupamento dos resultados serão apresentados no
capítulo dedicado às
Considerações Finais.
3.2. As revistas do
corpus:
descrição e perfil
O
corpus
deste trabalho, como j
á
dissemos anteriormente, é composto pelas revistas
National Geographic,
em sua versão original em inglês, e sua tradução para o português.
Apresentamos abaixo a descrição das duas revistas, com um relato histórico e o perfil tanto da
revista quanto de seu
s leitores.
Contudo, antes de iniciar a exposição sobre a
National Geographic
em sua versão original
é preciso falar um pouco da
National Geographic Society
, entidade na
qual a revista teve seu
início.
52
A
National Geographic Society
10
foi fundada nos Estado
s Unidos em 27 de janeiro de
1888, por 33 homens interessados em “organizar a sociedade para o aumento e difusão do
conhecimento geográfico”. Seu primeiro presidente foi Gardiner Greene Hubbard e seu genro,
Alexander Graham Bell, conseqüentemente seu suces
sor. Seu propósito é elevar o conhecimento
geral de geografia e de mundo ao público em geral. Para tanto, eles investigam e publicam uma
revista mensal, a
National Geographic
.
A revista
National Geographic
publicou sua primeira edição ainda no mesmo ano d
a
fundação da Sociedade. Tornou
-
se uma das revistas mais conhecidas do mundo, e é
imediatamente identificável pela característica de ter as bordas amarelas.
A revista tem doze edições por ano (uma por mês
), com alguma edição especial no
decorrer do ano. Al
ém de ser conhecida pelos artigos sobre os cenários, a história e as mais
distantes extremidades do mundo, a revista é reconhecida também pela qualidade de seu material
e por seu alto padrão de fotografia. Esse padrão faz dela a moradia para alguns dos che
fes do
fotojornalismo do mundo, já que em 1960 a revista começou a publicação de fotografias em suas
capas, que antes continha apenas texto. Ela é também conhecida por proporcionar mapas
detalhados das regiões que são visitadas. A coleção de mapas da Socie
dade vem sendo usada pelo
governo dos Estados Unidos em ocasiões
em que seus próprios recursos cartográficos são
limitados.
Desde 1888 até os dias atuais, a
National Geographic
é a revista mais importante da
National Geographic Society
, destacando a diver
sidade das nações
mundiais e sua habitação
através de fotografia espetacular, história pessoal e mapas ilustrativos.
10
Todas as informações sobre a
Revista
National Geographic
e
National Geographic Society
foram adquiridas no
53
A revista ganhou em 1999 o prêmio mais prestigiado na indústria de revista. O desejado
Ellie
, premiada pela Sociedade Americana de Editore
s de Revista, que reconhece os talentosos
editores, jornalistas e fotógrafos. Ela foi reconhecida pela excelência editorial em geral e pela
circulação superior a um milhão de exemplares.
A
National Geographic
é uma revista lida por representantes de negóci
os de todo o
mundo, que vê
em
essa publicação como uma fonte de informação segura e confiável. Tanto é que
a
National Geographic
é a revista
mais lida entre eles. Vejamos abaixo o perfil de seus leitores:
Categoria
Perfil
População em %
Feminimo
44%
Gênero
Masculino
56%
Idade
45.6 anos
Educação
Ensino Superior
66%
Ocupação
Profissionais/Administradores
e Diretores
27%
Fonte: 2003 Fall MRI
Tabela 3.1. Perfil Demográfico dos Leitores da
National Geographic
Americana
Ano após ano, os índices de re
novação das assinaturas da
National Geographic
estão
entre os mais altos da indústria de revistas. A média de leitores tem sido de um membro da
National Geographic Society
numa duração de doze anos. Os leitores passam quase uma hora
com cada assunto da
Nat
ional Geographic
. Seus
assinantes geralmente mantêm as edições
antigas (muitas outras revistas são descartadas depois de serem lidas), assim, eles podem obter
reportagens de assuntos que lhes interesse
m
e incluir nos volumes publicados anualmente.
Vejamos
a tabela abaixo:
site
www.nationalgeographic.com
e traduzidas por mim.
54
Categoria
Números
Circulação mundial
6.685.684
Circulação nos Estados Unidos
5.200.055
Assinaturas, preço básico
U.S. $ 34
Fonte
: ABC Publisher's Statement
06/30/03
Tabela 3.2. Perfil de Circulação da Revista
National Geographic
Am
ericana
Em 1995, a
National Geographic
começou publicações em outros idiomas. O japonês foi
o primeiro deles, e atualmente a revista é publicada em várias línguas em todo o mundo,
incluindo:
espanhol, hebraico, grego, francês, alemão, polonês, coreano,
português, russo, etc
.
Quanto à edição brasileira, obtive algumas informações com a editora da revista; contudo,
quanto ao perfil dos leitores,
foi pela da aná
lise das reportagens, do tratamento dos dados e das
entrevistas realizadas, que consegui descrevê
-
lo.
A
National Geographic
Brasil traz o conhecimento
e a beleza de uma revista reconhecida
mundialmente aos leitores brasileiros. Os leitores encontrarão a m
esma diversidade de assuntos
da edição americana: explorações, civilizações, natureza, imagens surpreendentes e visão global.
Só uma revista reconhecida mundialmente pode transferir para a sua marca uma imagem
globalizada.
O
s leitores dessa revista são pes
soas com bom nível cultural, com bagagem de
conhecimentos
das áreas de história, cultura, sociologia, antropologia e arqueologia, tendo em
vista que o vocabulário utilizado é bem elaborado.
Apresent
o
abaixo uma tabela com uma breve descrição do perfil dos
leitores da
National
Geographic
Brasil. Essa amostragem tem sua importância, pois a produção de textos, tanto
de
55
jornalismo quanto de tradução tem seu foco voltado ao leitor, e é este que vai exercer influência
no direcionamento que o jornalista e/ou tradu
tor dará a seu trabalho.
Sexo
Classe Social
Idade (em anos)
M F
A B C
10 a 19 20 a 24 25 a 39 40 a 49 + de 50
60 40
36 48 14
22 12 31 19
19
Fonte
:
site
da publiabril
www.publiabril.com.br
Tabela 3.3. Descrição do Perfil geral dos leitores (em %) da
National Geographic
Brasil
A tabela acima mostrou que os leitores, em sua maioria, são homens, de classe social B
média, e a i
dade que apresenta mais leitores varia de 25 a 39 anos. Assim, pela idade com maior
porcentagem, pode
-
se notar que seus leitores são pessoas que estão em plena atividade
profissional, e possivelmente tenham interesses tanto relacionados ao seu trabalho, qu
anto em
interesses pessoais, para conhecimento e enriquecimento histórico
-
cultural.
Mostramos abaixo outra tabela com a circulação da revista no Brasil.
Assinaturas
Avulsas
Total
Exterior
Mês
IVC
41.000
13.000
54.000
11
Novembro/2004
Fonte:
site
da pu
bliabril
www.publiabril.com.br
em 24/05/2005.
Tabela 3.4. Circulação Geral da
National Geographic
Brasil
Como observamos, o número de revistas
vendidas por meio de assinaturas
é quase quatro
vezes maior que
os
exemplares avulsos. Isso mostra que a revista possui um público fiel, com
características peculiares e interesses bem
determinados, pois ninguém assinaria uma revista com
esse perfil se não tivesse uma identificação com ela, seja com a própria ideologi
a da revista, seja
pelos assuntos nela apresentados.
56
A fidelidade
do leitor reflete a qualidade do material produzido, pois o alto número de
assinantes de ambas as edições mostra sua aceitação perante um público mais
selecionado, isto é,
um público que po
de manter a assinatura de uma revista especializada.
3.3. Os textos do
corpus:
apresentação e caracterização
3.3.1. O texto
Saving Afghan Culture, National Geographic
Estados Unidos (T1)
Esse primeiro texto é a versão original da reportagem, produzida p
ela edição americana da
revista
National Geographic
.
A matéria escolhida
é assinada por Andrew Lawler, e seu tema está mencionado no título
Saving Afghan Culture
(Resgate da Cultura Afegã), que grafado em letras grandes, marcando os
elementos supra
-
segmen
tais, e a palavra
Saving
em vermelho para chamar a atenção. Contudo,
não explicita qual aspecto da cultura se quer resgatar. Esse aspecto poderá ser notado quando se
observa a imagem que compõe a primeira página: são fotos de objetos históricos
e de um cin
turão
de ouro
. Outro aspecto é o assunto principal: o resgate da cultura afegã, mas há vário
s outros
assuntos compondo o conteúdo como o reaparecimento dos tesouros, e principalmente a
preocupação dos chefes de governo em preservar o patrimônio histórico
-
c
ultural e seu descaso
com a população, como se apenas os objetos históricos fizessem parte da cultura, apontando
também para a política interna daquele país. É preciso lembrar que o assunto tratado está inserido
em um determinado
contexto cultural (o resga
te
dos tesouros do Afeganistão) o qual não é
universal. Assim, o tradutor precisa ter cuidado em relação às possíveis pressuposições existentes
57
no original, e se essas serão relevantes e entendidas pelos receptores do texto de
chegada. Isso
porque muitas v
ezes as pressuposições mudam de uma cultura para outra.
Já no subtítulo inserido na primeira página da reportagem, pode
-
se observar o resgate
histórico que será apresentado, no qual o leitor é conduzido a reativar sua memória para os fatos
que ocorreram n
o Afeganistão em tempos passados:
Against all odds, a country shattered by more than two decades of
upheaval begins to rescue its ancient treasures.
(T1, p. 29)
[Em oposição a todas as desigualdades, um país destruído por mais de
duas décadas de conflitos
começa a resgatar seus antigos tesouros.]
As palavras iniciais “em oposição a todas as desigualdades” dão o direcionamento do
texto, e marcam uma pressuposição, pois remete a acontecimentos passados. Contudo, pode ser
que nem todos os receptores têm con
hecimentos desses fatos, no entanto, sabe
-
se que foi um país
marcado por conflitos, invasões e disputas. E no subtítulo diz que apesar de tudo isso, o país está
tentando resgatar seus tesouros e vai nos mostrar ao longo do texto como se pretende fazer isso
.
Revelando, também, a intenção do autor convidando o leitor a buscar mais informações sobre o
país e sua história.
A reportagem é composta por quatro parágrafos longos, aproximadamente de duas
páginas, todos eles têm seu início com a primeira letra em um
a fonte grande para enfatizar o
início de um
novo tópico.
58
Algumas das citações em destaque trazem palavras na cor vermelha para enfatizar que
está dizendo e marcar o tom
11
do
texto. E em relação a essas citações, observamos que, no
decorrer da matéria, ela
s podem ter um
tom
de ironia, e, de acordo com Nord (1991), algumas
aspas que marcam as citações podem denotar um sentido irônico. Este sentido está relacionado
também à função textual, que, além de referencial, tem marcas da
função expressiva que denota
j
ustamente essa ironia:
The question facing Afghanistan is this:
Can a country in such turmoil really afford to save its heritage
or must it
choose between feeding and housing its people and preserving its history?
(T1, p. 36
-
subtítulo).
[Esta é a ques
tão que o Afeganistão enfrenta: pode um país em tal
desordem dar
-
se ao luxo de salvar seu patrimônio
ou ele deve escolher
entre sustentar e abrigar seu povo e preservar sua história?]
Nesse trecho, é mostrada uma questão que atormenta e preocupa talvez
muito mais a
população do que os próprios governantes. E o sentido irônico é percebido pelo fato de ser um
questionamento, e também por estar colocando os dois lados da questão: será que é possível
escolher entre preservar seu patrimônio e cuidar de seu po
vo? Pelo que vimos esse
questionamento faz o leitor refletir sobre a possibilidade de escolha, isto é, se houver como
escolher entre um e outro.
A presente reportagem tem o intuito de despertar alguns sentimentos no leitor. Vimos
acima o tom de ironia, ma
is abaixo veremos o dramático e
também um ar de esperança, que as
coisas podem melhorar. Esse tom dramático tem o intuito de realmente despertar um sentimento
de justiça, como se ao tocar o leitor, este pudesse ajudar de algum modo.
11
Tom
é entendido, aqui segundo o dicionár
io Houssais (2001:2731), como “inflexão de voz; maneira de se
expressar, falando ou escrevendo; entoação, modo de encarar um assunto; ponto de vista; estilo [...]”.
59
But still at risk are
thousands of Works of art and archaeological artifacts
evidence of the area’s rich complex history (T1, p.32, linha 45).
[Mas ainda milhares de obras de arte e artefatos históricos estão correndo
perigo
indício de uma área rica e de um complexo histór
ico.]
As páginas seguintes do texto mostram um tom de esperança, que apesar de todos os
conflitos e das destruições das estátuas dos Budas, ainda há uma chance de recuperar o que foi
perdido, e Zaliq pensa até em transformar Bamian em um destino turístico
, mas, segundo os
arqueólogos e conservacionistas, é algo improvável.
“We want to see the statues rebuilt,” says Abdul Halek Zaliq, deputy
governor of the region, eyeing the battered niches hopefully. “We’re
confident Bamian will become a tourist center
(T1, p. 32, linha 73).
[Nós queremos ver as estátuas reconstruídas, diz Abdul Halek Zaliq,
membro do governo da região, olhando esperançoso para os nichos
destruídos.]
Nas últimas páginas da reportagem, observamos uma citação do Mohamed Ahmadi,
aquele q
ue encontrou o tesouro, fazendo um desabafo, mostrando sinceridade e sua realidade e
sensibilizando ainda mais o leitor.
“I’m confused”, Ahmadi said, as we stopped to let him out of the car
following our interview. “Everyone knows my story, but I don’t k
now
what to do. These objects are for all afghans. Right now they’re under the
control of the people with guns” (T1, p. 41, linha 350).
[
Eu estou confuso
, disse Ahmadi, enquanto paramos e o deixamos para
fora do carro para dar continuidade a entrevista.
“Todos conhecem minha
história, mas eu não sei o que fazer. Estes objetos são para todos os
afegãos. Justamente agora eles estão sob o controle de pessoas armadas”].
60
Trata
-
se de um texto que
resgata a história cultural, política
e econômica de um país, a
recuperação de um tesouro e todos os conflitos por ele
gerados, pois, em vários momentos, dá
-
se
ênfase ao resgate do patrimônio histórico em detrimento da população, e a revolta do povo que
foi expulso de seu lar para preservação do patrimônio.
3.3.2. O t
exto
A Eterna Cultura Afegã
,
National Geographic
Brasil (T2)
Este segundo texto é a versão traduzida da reportagem, feita por uma equipe de tradutores
colaboradores
da
National Geographic
Brasil.
A matéria é
assinada por Andrew Lawler; contudo,
em lugar
algum da reportagem, menciona
-
se que o texto é uma tradução. Apenas na
ficha
editorial aparece o nome de três pessoas compondo uma equipe de colaboradores (tradutores). No
entanto, há indícios de que a reportagem é estrangeira pelo nome do jornalista e do
fotógrafo,
mesmo assim seria importante que cada reportagem apresentasse o nome das pessoas que a
traduziram, para mostrar que o texto é de Andrew Lawler, mas passou pela mão de outras pessoas
até chegar ao leitor brasileiro.
Essa falta de informação sobr
e
os tradutores mostra as relações de poder existentes no
âmbito da tradução. Esse assunto vem sendo estudado por alguns teóricos, dentre eles, citamos
Venuti (2002:66) quando aborda a domesticação
dos textos traduzidos, isto é, o texto traduzido
como se f
osse o original.
61
Na prática, o fato da tradução é apagado pela supressão das diferenças
culturais e lingüísticas do texto estrangeiro, assimilando
-
as a valores
dominantes na cultura da língua
-
alvo, tornando
-
a reconhecível e, portanto,
aparentemente não
-
t
raduzida (Venuti, 2002:66).
Essa omissão de que o texto é uma tradução às vezes pode passar despercebida pelo leitor,
que lê achando que o texto foi originalmente escrito naquela língua. Sabemos que muitos
escritores e jornalistas estrangeiros dominam out
ros idiomas e até escrevem em outras línguas.
Contudo, ainda é grande o número de textos que passam pela tradução para serem publicados em
outros idiomas.
Adotando uma linha de reflexão que remonta, no que tange à tradução,
a Schleiermacher
(1813), Venuti
(1995) defende, na relação tradutória que se estabelece entre culturas periféricas e
culturas centrais, uma opção deliberadamente
estrangeirizadora
(
foreignizing
), com vistas a
evitar o apagamento da alteridade, tida como conveniente para a cultura centra
l, dominante, mas,
na essência, desvantajosa
posto que empobrecedora
para ambas as partes.
Ainda sob o aspecto da identidade dos tradutores, Baker (1999), em seu trabalho
sobre os
estudos culturais e sua dimensão política
, menciona que a discussão sobr
e esses assuntos pode
ampliar os horizontes dos tradutores. “Há uma grande conscientização do lugar dos tradutores na
sociedade [...] essa conscientização consiste em ajudar a desenvolver o senso de identidade dos
profissionais da área”. (
ibid.
:29).
Abri e
sse breve parêntese sobre a identidade do tradutor apenas para mostrar a hierarquia
existente entre texto traduzido e texto original,
já que, no caso dos textos deste trabalho, não
mencionam que é uma tradução e passam ao leitor por original, demonstrando,
assim, o domínio
62
de uma língua sobre a outra. Fech
o
o parêntese com a informação dada pelo editor da revista
National Geographic
Brasil, quando ele afirma que “a maioria dos leitores sabe que as matérias
são traduzidas”, e “não é padrão, na
National
, expl
icitar o nome do
tradutor de cada trabalho”.
Volta
ndo
à forma da reportagem que
está
disposta em um total de 14 páginas. Apresenta
as mesmas gravuras da versão em inglês: ilustrações do tesouro, foto da abertura do cofre, foto do
Museu Nacional do Afeganis
tão
com os objetos históricos, foto dos rapazes que trabalham para
restaurar esses objetos e um mapa mostrando as rotas comerciais que por ali passaram.
Analisando superficialmente essas figuras, claro que não é o foco aqui, mas é preciso
destacar sua pre
sença, pois fazem
parte dos elementos do texto, ilustram o conteúdo tratado e
circundam a reportagem em si. Observ
ei
que a revista se utiliza desses elementos para chamar e
prender a atenção dos leitores. Desse modo, é possível constatar
que a abertura da
reportagem e
as figuras não foram escolhidas por acaso
;
elas foram bem pensadas e colocadas em lugares
estratégicos para que o leitor as perceba, sendo uma maneira de entusiasmar
-
se pelo assunto. “A
revista não precisa de um
lead
, qualquer que seja o tipo.
A revista precisa de uma
abertura
envolvente
” (Vilas Boas, 1996: 45, grifos do autor).
O título
Eterna Cultura Afegã e o
subtítulo
Um país dilacerado por mais de duas décadas
de conflitos começa a resgatar seus antigos
tesouros
já trazem por si só uma car
ga de
significados muito grande. Na escolha das palavras e
terna
e
dilacerado
, parece haver uma
espécie de analogia, pois o país está dilacerado, destruído pelos conflitos, enquanto sua cultura,
apesar de tudo, é eterna, imortal. Essa analogia realmente se
confirma no decorrer do texto,
quando se enfatiza que algo está acontecendo em detrimento do outro:
63
Pode um país tão convulsionado como o Afeganistão dar
-
se ao luxo de
cuidar de seu patrimônio? Ou terá de escolher entre alimentar e abrigar a
população em
detrimento da preservação de sua história? (T2, p. 72
-
subtítulo).
Lembr
o
que a cultura referida no título é o patrimônio histórico cultural do Afeganistão e
não a cultura do povo em si. Isso é
deixado bem claro na fala do vice
-
governador da província:
“É melhor pôr em perigo 85 famílias do que destruir algo de valor histórico para a humanidade”
(T2, p. 72, linha 161). As ações desses políticos provocaram protestos por parte das organizações
humanitárias e da Unesco, e um funcionário deste Organismo come
nta
: “A cultura não se limita a
monumentos. É algo vivo. Sem as pessoas, as cavernas estão mortas” (T2, p. 72, linha 172).
O texto apresenta um resgate histórico de toda a
região do Afeganistão, no qual se
identifica a perspectiva do enfoque religioso, pol
ítico, geográfico e, é claro, dos
fatos que
marcaram a história, pois como se trata de um texto histórico
-
cultural de revista, esse resgate é
indispensável.
Por muito tempo uma encruzilhada de rotas mercantis entre Ocidente e
Oriente, o Afeganistão era o l
ocal em que as caravanas de seda chinesa
cruzavam, com camelos carregados de objetos de vidro da antiga Roma.
Foi ali que a arte clássica da Grécia mesclou
-
se com as sinuosas esculturas
da Índia. A lendária cidade de Balkh, no sopé do planalto central, é
c
onsiderada o local de origem do profeta Zoroastro, que ali viveu antes da
chegada de Alexandre Magno. E foi ali que o budismo transformou
-
se em
uma das mais vigorosas religiões mundiais. Em nenhuma outra região
afegã, o passado é tão evidente quanto no val
e do Bamian, a noroeste de
Cabul e perto da cordilheira do Hindu Kush (T2, p. 68, linha 54).
Assim, observei
que algumas das pressuposições contidas no texto original foram
mantidas na tradução. Isso
porque, de acordo com Nord (1991:97), “o tradutor,
ao i
dentificar as
64
pressuposições, verifica em qual cultura ou “mundo” o texto se refere” e a autora menciona ainda
que o nível de explicitação varia de acordo com o tipo de texto e a função do texto.
3.4. Análise contrastiva dos textos do
corpus
: a intersecção
dos modelos de
Frank Esser
(1998) e Christiane Nord
(1991).
Nesta seção, como dito anteriormente, destac
o
os pontos mais relevantes do modelo de
Nord (1991).
E
nfa
tizando
os fatores internos ao texto principalmente ao léxico, pelo
fato de os
textos escolhi
dos terem evidenciado essa questão. Informamos que a tabela completamente
aplicada pode ser vista no anexo
do presente trabalho. E destac
o as esferas que integram o
modelo de Esser (1998) e sua aplicabilidade ao material do
corpus
.
As escolhas lexicais são
utilizadas aqui como uma ferramenta que auxilia nos propósitos
deste trabalho
.
Estão baseadas no pressuposto apresentado por Nord (1991:112), “a seleção dos
itens lexicais é basicamente determinada pelas dimensões do assunto e do conteúdo”
12
[minha
traduçã
o]. Dentre esses itens
lexicais, a mudança de tempo verbal e a tradução dos verbos nos
chamaram mais a
atenção e serão
apresentadas abaixo.
i)
as escolhas lexicais
-
a seleção do léxico não é feita por acaso, pois se pressupõe que
elas têm uma função, a
inda que sejam escolhas feitas inconscientemente pelo jornalista ou pelo
tradutor. O que mostr
o
a seguir é uma série de exemplos,
em que se
evidenciou o forte sentido
12
The selection of lexical items is largely determined by the dimensions of subject matter
and content.
65
que as palavras trazem consigo.
Essas diferenças aparecem já no título, em inglês,
Saving
Afghan
Culture
, e em português,
Eterna Cultura Afegã
. Assim, no título se percebe um deslocamento de
enfoque. Enquanto uma versão usa a palavra
Saving
que, segundo o
Dicionário Collins Inglês
-
Português
,
tem um sentido de
salvar, resgatar
, remetendo a algo
que já está perdido ou
destruído, na outra, em português, temos a tradução por
Eterna
, que remete a algo que permanece
intacto, que se autopreserva e não foi destruído. A escolha por
Saving
sugere
que seja para
relembrar os estrangeiros dos conflitos no A
feganistão. Enquanto que aos brasileiros, que
não
têm ligação direta com os fatos ocorridos
na cultura afegã, é dado outro enfoque como se ela
estivesse intacta, sem necessidade de resgatá
-
la.
Assim o texto
segue. A versão americana fala da perda dos artef
atos
:
With untold numbers
of Afghan artifacts
lost forever
, each new recovery is a triumph
, explicando que os artefatos estão
perdidos para sempre (um tanto dramático ou realista talvez), como se nunca mais fosse possível
encontrá
-
los. Em contrapartida, a
tradução “Diante da incontável
perda
de objetos históricos,
cada redescoberta é um triunfo” minimiza o problema, quando n
ão menciona que os artefatos
estão perdidos para sempre, só fala da perda. Observamos a esfera subjetiva do modelo
de Esser
atuando, po
is “incontável perda” refere
-
se a valores subjetivos que não estão especificados,
parece que aos brasileiros é uma perda superficial.
Em outro trecho temos:
One of us
died from the cold. Now our kids are sick, we are
hungry,
and the government has given u
s nothing yet
.
We may all die from the cold
,
e a tradução
para “
Uma pessoa
já morreu de frio, nossas crianças estão doentes e estamos passando fome”. Os
termos
one of us
e “uma
pessoa” são bem diferentes, pois em inglês a pessoa se inclui naqueles
que morr
eram de frio, retratando proximidade, ao passo que em português parece algo bem
66
distante que não inclui quem está falando. Observamos novamente a esfera subjetiva de Esser
(1998) atuando, pois o uso de “uma pessoa” em vez de “um de nós” deixa implícito que
m é essa
pessoa, e de qual grupo de pessoas ela fazia parte. Além disso, a parte final onde cita a falta de
ajuda do governo, dando uma conotação de revolta, foi completamente omitida em português,
marcando, justamente,
esse distanciamento dos leitores em
relação aos fatos, bem como a postura
política presente através dos tempos que aqui se configura.
Na esfera social apresentada por Esser (1998), inclui
-
se a esfera política, seja em questões
ligadas à cultura ou à sociedade. No exemplo abaixo, pode ser per
cebida
a atuação dessa esfera,
pois temos uma mesma palavra em inglês usada na tradução de duas maneiras diferentes, cada
uma sob um aspecto diferente. Os exemplos referem
-
se à
expressão
cave dwellers
: o primeiro
deles
[...] the government sent troops to e
vict another set of
cave dwellers
foi traduzido por “O
governo enviou tropas para desalojar esse novo contingente de
refugiados
”; e o segundo
UNESCO scientists working to save what’s left of the site got along well with the
cave dwellers
traduzido por “Os
técnicos empenhados em salvar o que sobrou do sítio tinham um bom
relacionamento com os
moradores das cavernas
”. Observa
-
se que a expressão mencionada é
traduzida ora por refugiados, que traz uma carga semântica de fuga, de perseguição, e ora por
moradores
das cavernas, que remete a algo que permanece sem valor conflitivo
.
Sendo que a
tradução
de
cave dwellers
, de acordo com o dicionário
Collins
(2001)
,
seria “morador de
caverna”. Nota
-
se que a tradução por refugiados está sob a ótica do governo que os vê c
omo
refugiados; quando mostra o tratamento
da Unesco, eles são moradores das cavernas. Assim, esse
tratamento diferenciado sofre a influência da esfera de Esser mencionada acima, pois realmente
há um tratamento diferenciado
com base em questões políticas e
culturais relacionadas à
hierarquia social, mostrando as relações de poder. Contudo, no original, não se fez essa distinção.
67
Neste exemplo, evidenciou
-
se o conhecimento bilíngüe do tradutor e sua habilidade para
fazer as equivalências de expressões:
[...]
the vibrant paintings that once decorated the huge
circular halls,
balconies
, and
stairways that honeycomb the cliffs
,
e sua tradução “[…] pinturas
em cores vivas que antes decoravam os imensos saguões circulares,
alpendres
e
escadarias que os
monges con
struíram nas escarpas”
. Po
sso
tecer alguns comentários: o primeiro relacionado à
palavra “balconies” que tem significado, segundo o dicionário
Collins
(2001), de “varanda ou
galeria”. O tradutor usou a palavra “alpendre” que significa “pátio coberto”; a eq
uivalência de
sentido estaria mais relacionada à galeria, por ser um lugar
fechado, mas o sentido foi mantido
utilizando no português uma palavra não muito usual; o segundo comentário em relação à
staiways that
honeycomb the cliffs
, o autor usa uma metáfor
a, pois
honeycomb
é um favo de mel,
ou algo em forma de favo e
cliff
é um despenhadeiro, a idéia então seria uma escadaria que tem
seu penhasco em forma de um favo de mel, e como seria dito isso
em português? O tradutor não
manteve a metáfora, e acrescento
u “os monges” e o verbo “construir”
-
“escadarias que os
monges construíram nas escarpas”
a palavra “escarpas” significa corte oblíquo, declive de um
terreno. Ter mantido a metáfora adequando
-
a para o português teria sido
uma saída possível;
contudo, de
acordo com Nord (1991:11), o controle que o tradutor tem da cultura
-
fonte deve
capacitá
-
lo a ponto de reconstruir as possíveis reações de um receptor dessa cultura, isto é, o
tradutor possui conhecimento para fazer as aproximações culturais que forem perti
nentes.
Devemos destacar que neste trecho, especificamente,
a leitura é facilitada, pois há uma fotografia
ilustrando o lugar mencionado.
Finaliz
o
com uma equivalência do tradutor que enfatiza a eterna cultura afegã
For
the
moment, the guns and the gre
ed seemed far away, and Afghan culture
seemed very much
alive
, e
a tradução “Naquele momento, as armas e a ganância sumiram na distância, e a cultura afegã
68
parecia desabrochar em toda a sua glória”.
No original a “cultura que parecia muito viva”,
remete a
algo que está acabado, finalizado, e a tradução por “desabrochar em toda sua glória”
com um sentido de manifestação, algo que está em processo, ainda não está acabado, a cultura
está iniciando sua glória e exaltação, pois com o regime Talibã tudo era proi
bido e a partir de sua
queda, um menino pode tocar e outro dançar.
Entendo que, apesar das proibições, eles
conseguiram mesmo às escondidas preservar seus costumes e, quando tiveram oportunidade,
puderam demonstrar isso e resgatar a cultura.
Todos os exemp
los acima estão sistematizados abaixo:
Versão Americana
Versão Brasileira
Saving
Afghan Culture
(p.29
título)
Eterna
Cultura Afegã (p.65
-
título)
With untold numbers of Afghan artifacts
lost
forever
, each new recovery is a triumph
(p.28,
linha 8)
Dia
nte da incontável
perda
de objetos
históricos, cada redescoberta é um triunfo.
(p.64, linha 9)
One of us
died from the cold. Now our kids
are sick, we are hungry, and the government
has given us nothing yet. We may all die from
the cold
(p.36, linha 144)
.
Uma pessoa
já morreu de frio, nossas crianças
estão doentes e estamos passando fome (p.72,
linha 151).
....the government sent troops to evict another
set of
cave dwellers
(p.36, linha 132).
o governo enviou tropas para desalojar esse
novo contingente
de
refugiados
(p.72, linha
141).
[…] got along well with the
cave dwellers
(p.36, linha 171).
[...] tinham um bom relacionamento com os
moradores das cavernas
(p.72, linha 176).
[...] the vibrant paintings that once decorated
the huge circular halls,
b
alconies
, and
stairways that honeycomb the cliffs
(p.36, linha
[...] pinturas em cores vivas que antes
decoravam os imensos sagüões circulares,
alpendres
e
escadarias que os monges
69
175).
construíram nas escarpas
(p.72, linha 182).
For the moment, the guns
and the greed
seemed far away, and Afghan culture
seemed
very much alive
(p.41, linha 375).
Naquele momento, as armas e a ganância
sumiram na distância, e cultura afegã
parecia
desabrochar em toda a sua glória
(p.77, linha
373).
Tabela 3.5. Comparativo e
ntre as escolhas lexicais do texto
-
fonte para o texto
-
alvo.
ii)
mudança de tempo verbal
: neste item serão consideradas também as traduções dos
verbos para o português, como meio de comprovar as hipóteses da mudança de enfoque. Sabe
-
se
que nem todos os te
mpos verbais em inglês têm seu correspondente em português, e alguns têm
estruturas semelhantes, mas nomes diferentes. Iniciamos com um exemplo do
past participle
:
Mohammed Ahmadi
had challenged
a warlord’s demand [...]
, a tradução seria “tinha desafiado”
ou “desafiou”, mas a escolha do tradutor foi direcionada a minimizar a situação “Mohammed
Ahmadi
preferiu desafiar
as ordens do chefe guerreiro [...]”. Esta escolha mo
stra a opção por uma
locução verbal, e, além disso, o uso do “preferiu” tira toda a carg
a de significados que a palavra
“desafiar” carrega, como se a escolha em desafiar fosse uma escolha qualquer como ir ou não a
algum lugar, sendo que “desafiar” é uma palavra muito forte que instiga provocação, chamar
alguém para uma afronta. Entra, nesse c
aso, a esfera subjetiva de Esser (1998) quando, na
tradução, se apresenta não apenas uma sutileza, mas, sim, uma subjetividade, talvez para que na
leitura não seja apresentada a real história que mostra a inferência cultural do tradutor, já que,
de
acordo
com Nord (1991:11), “a recepção do texto por parte do tradutor será, inevitavelmente,
influenciada pelo seu conhecimento”, e a autora continua dizendo que “o profissional de tradução
nunca lerá o texto a ser traduzido de uma maneira ingênua, mas sim de um
modo crítico”. Assim,
esse aspecto crítico do tradutor não será isento, vai trazer consigo algumas referências,
70
principalmente de ordem política, já que se refere a questões políticas
e, nessa área, ninguém
“prefere” fazer algo, não existe escolhas livres
, mas, sim, escolhas ba
seadas em interesses.
Nota
-
se que o uso de locução verbal, diminui a ênfase do que se quer
dizer
He
was hiding
out in Kabul
, na tradução poderia ter sido preservado o tempo verbal
past continuous
já que
temos correspondente em portug
uês “estava escondido”; contudo, a opção do tradutor foi por
Buscou refúgio
em Cabul”, mostrando que essa escolha está pautada na esfera da cultura
político
-
social, pois, quando alguém se esconde, é porque tem algo a temer,
seja à sociedade ou
aos polític
os e o fato de “buscar refúgio” é buscar abrigo, proteção ou amparo momentâneo sem
que a pessoa tenha, necessariamente, culpa de fato. Isso também acontece no trecho seguinte
Ahmadi’s trials
began
in 1995 [...],
verbo no passado simples, temos corresponde
em português,
contudo a opção foi outra: “As atribulações de Ahmadi
tiveram início
em 1995 [...]”. Atribuo a
esse fato a intenção do autor, nesse caso autor
-
tradutor, que está refletida no texto, deixando claro
que quer dar as informações ao leitor, mas di
stanciando
-
o dos fatos, já que isso não vai mudar a
vida dos leitores brasileiros, enquanto que a dos americanos pode sim ser influenciada pela forma
como a reportagem é apresentada.
O texto ilustra, cada vez com mais clareza,
que, enquanto o texto estran
geiro está voltado
à abordagem dos fatos com a dura realidade que ele acontece, o texto brasileiro confere um clima
de relato histórico mesmo. Nos dois exemplos acima, evidenciou
-
se
a influência da esfera de
atuação do jornalista, a natureza de seu papel e
também a postura política por ele adotada.
Deste
modo, o modelo proposto por Nord (1991) auxilia na percepção dessas diferenças, pois através
dos elementos externos e internos é possível visualizar a moldura geral dos textos.
71
Percebemos as esferas de infl
uência do modelo de Esser (1998) atuando
a todo momento.
Vejamos esse exemplo:
Ahmadi only
relented
when they
agreed
to give him a receipt
, cuja
tradução é “Ahmadi só concordou quando eles se dispuseram a dar
-
lhe um recibo”. Aqui há uma
mudança de sentido,
pois o significado de
relented
é apresentado no
Collins Dicionário
Prático
como “abrandar
-
se, ceder”, significado muito diferente de “concordar”, pois ceder sobre uma
determinada decisão não
significa que se concordou com ela, apenas facilitou as coisas.
Além
disso, outra mudança ocorreu com o verbo
agreed
que, esse sim, tem o significado de “concordar,
estar de acordo” e em português aparece como “se dispuseram”. Nesse caso, eles não se
dispuseram, pois quem solicitou o recibo foi Ahmadi, e eles apenas co
ncordaram com isso, sendo
a iniciativa não partiu deles. São sentidos
bem diferentes, mostrando a influência da esfera social
relacionada aos valores políticos, pois deixa evidente quem tem a escolha, qual dos dois lados
tem influência sobre o outro.
A se
guir, mais um
exemplo do passado
simples:
Khalili
delivered
the stone to the
National
Museum
, e, em português, o tradutor fez uso
da locução verbal “Khalili
acabou
entregando
a inscrição para o Museu Nacional”. Esse exemplo se pauta pela influência da esfe
ra
subjetiva por parte do tradutor, pois ele poderia ter colocado “entregou” já que o passado simples
está claro em inglês
delivered.
Contudo, a opção dele deixa implícito que foi algo forçado, uma
ação realizada sob algum tipo de pressão, seja política ou
social.
No decorrer do texto são notadas algumas analogias que se
exprimem por meio dos
verbos. Uma delas é quando se menciona na reportagem que o ópio é hoje o principal produto de
exportação do país
,
e os funcionários da Unesco dizem que as antiguidade
s saqueadas
e enviadas
ilegalmente para fora do país podem estar nessa lista de exportação, mostrando que esses objetos
não precisam nem ser cultivados, nem replantados como a papoula
:
And unlike poppies
,
72
antiquities
are harvested
in all seasons, and
canno
t be
replanted
, em português
“E, ao contrário
da papoula, esses objetos
podem ser “colhidos
em qualquer época do ano e
não precisam ser
cultivados
”. Nesse exemplo, as palavras que estão entre aspas têm referência ao aspecto teórico
apontado por Nord (1991
:111) quando ela menciona os elementos não
-
verbais presentes no texto
e diz: “as aspas, por exemplo, podem direcionar para um significado irônico (...) uma certa
entoação do texto”. Outro fator importante a destacar é a dimensão política influenciando a
p
rodução, tanto do original quanto da tradução, pois o assunto sobre exportações mostra a postura
política por trás dessas ações, sejam elas legais ou ilegais. Além disso, a esfera subjetiva mostra a
atuação individual do jornalista e seu conhecimento sobre
o
fato, aliás, fato esse que foi
preservado na tradução inclusive com mais destaque devido às aspas.
Em
outro exemplo:
Crops were burned, livestock stolen, and four out of five people
fled
, o
verbo
to flee
é usado no passado simples “fugiram”; na traduçã
o está no infinitivo “fugir”: “As
plantações foram incendiadas; o gado, roubado, e quatro de cada cinco pessoas
viram
-
se forçadas
a fugir
”. Bem, nesse exemplo, atua a esfera subjetiva
de Esser, pois à subjetividade na tradução
apontada pela opção do tradut
or deixa implícito que algo aconteceu, denotando sua inferência
cultural ao
mostrar a natureza
dos papéis desempenhados, indicando que essas pessoas não
tiveram escolha, foram pressionados a tomar
uma decisão, por
que
se acrescentou uma locução
verbal “vir
am
-
se forçadas”.
Em mais um exemplo em inglês:
We
gave
them warning’, he says
, verbo
to give
conjugado no passado simples; em português: “Eles
foram avisados
com antecedência, diz.”.
Nota
m
-
se as esferas de influência no original e na tradução
. C
omo dissem
os anteriormente no
embasamento de Nord (1991:11) “que a leitura do tradutor não será ingênua, mas terá um
propósito crítico”, suas escolhas
apresentam
o sentido subjetivo dado aos fatos, de forma a
73
mostrar que o Brasil não tem envolvimento emocional com o
s acontecimentos do Afeganistão,
em contrapartida os Estados
Unidos têm. Há também o fato d
e se
utiliza
r de
uma locução verbal
“foram avisados” numa tentativa de explicar essas expulsões.
Para finalizar esta etapa, o último exemplo, assim como o anterior,
aponta para a
subjetividade da tradução, devido à inferência cultural do tradutor
:
Ahmadi
has since fallen
ill
and
fled
the country with his family
; na tradução: “Mais tarde, Ahmadi e sua família
tiveram de
sair
do país”. No original diz que ele ficou doen
te e então fugiu do país, usando o verbo
to flee
no
passado simples; na tradução optou por uma locução verbal “tiveram de sair” e não menciona
que
ele ficou doente e então fugiu do país, fala que eles tiveram de sair, também como se eles
tivessem optado po
r sair, e não foi isso que aconteceu, na verdade eles tiveram que fugir do país.
Todos os exemplos acima estão sistematizados abaixo:
National Geographic
Americana
National Geographic
Brasileira
Mohammed Ahmadi
had challenged
a
warlord´s demand […]
(p.30
, linha 2).
Mohammed Ahmadi
preferiu desafiar
as
ordens do chefe guerreiro [...]
(p.66, linha 3).
He
was hiding
out in Kabul, afraid to return
to his home in the central highland of
Afghanistan
(p.30, linha 3).
Buscou refúgio
em Cabul (p.66, linha 4).
Ah
madi’s trials
began
is 1995 [...]
(p.30,
linha 7).
As atribulações de Ahmadi
tiveram início
em 1995...
(p.66, linha 9).
Ahmadi only relented when they
agreed
to
give him a receipt […]
(p.30, linha 18 ).
Ahmadi só concordou quando eles
se
dispuseram
a da
r
-
lhe um recibo (p.66, linha
25).
Khalili
delivered
the stone to the Nacional
Museum
(p.32, linha 25).
Khalili
acabou entregando
a inscrição para o
Museu Nacional (p.68, linha 32).
And unlike poppies, antiquities
are harvested
E, ao contrário da papoula, esses objetos
74
in all seasons, and cannot
be replanted
(p.34,
linha 106).
podem ser “colhidos
em qualquer época do
ano e não precisam ser cultivados (p.70,
linha 115).
Crops were burned, livestock stolen, and four
out of five people
fled
(p.34, linha 118
).
As plantações foram incendiadas; o gado,
roubado; e quatro de cada cinco pessoas
viram
-
se forçadas a fugir
(p.72, linha 129).
We gave them warning
, he says
(p.36, linha
153).
Eles foram avisados com antecedência
, diz
(p.72, linha 160).
With $ 100, oh
we are
very happy!
(p. 38,
linha 243).
Com 100 dólares,
será a
felicidade total!
(p.74, linha 246).
My interpreter turned to me. “He’s dead
man”, he said. Ahmadi has since fallen ill and
fled
the country with his family.)
(p.41, linha
357).
Meu intérpret
e volta
-
se pra mim e comenta:
“Ele é um homem morto. (Mais tarde,
Ahmadi e sua família
tiveram de sair
do
país) p. 77, linha 354).
Tabela 3.6. Comparativo entre as escolhas e traduções dos verbos do texto
-
fonte para o texto
-
alvo.
Sabemos que nem todos os
tempos verbais entre português e inglês são correspondentes;
contudo, sempre há que se fazerem algumas adequações, preservando o sentido, é claro. Muda
-
se
o sentido quando se tem alguma intenção por trás disso, quando se quer enfatizar algo diferente
do q
ue o verbo realmente significa.
Diante dessa análise dos verbos, not
ei
que as maiores implicações de suas escolhas estão
relacionadas ao tom e a intenção do texto, mostrando o texto em português mais subjetivo, com
certo distanciamento, enquanto que a vers
ão americana mostra seu tom dramático.
75
3.4.1. O resultado do cruzamento dos textos
Como observamos nas análises, os textos,
que à primeira
vista parecem tão iguais,
diferem um do outro. Assim, o cruzamento de T1 e T2 nos levam a tecer as observações que
seguem.
A forma de apresentação dos textos é basicamente igual, com o mesmo número de
páginas, as mesmas figuras, e praticamente a mesma estruturação
de parágrafos. Saliento que a
tradução fica um pouco mais longa, mas essas diferenças são ajustadas de ta
l forma que à
primeira vista nem se percebe diferenças.
O texto estrangeiro, pertencente ao contexto cultural norte
-
americano, aproxima o leitor
dos acontecimentos, como se ele fosse parte integrante dos problemas que ocorrem no
Afeganistão. Já a tradução,
voltada ao contexto cultural brasileiro, distancia o leitor, relata os
fatos como se eles estivessem muito longe da realidade do Brasil. Dessa forma, temos tanto na
atividade do jornalista quanto na do tradutor as esferas que interferem na sua produção. D
e
acordo com Esser (1998),
in
Zipser (2002:28), “são as esferas que
darão ao jornalismo os
elementos que determinarão sua identificação com o contexto específico no qual ele está inserido:
assim o jornalismo de cada país apresentará traços próprios, result
ado da interação entre as várias
esferas de fatores”.
Além disso, o texto estrangeiro é mais direto e mostra a realidade dos
fatos, sem intenção
de minimizar o problema, deixando bem claro quem manda lá. Isso se deveu pelo fato de os
Estados Unidos realmen
te terem participado de tudo o que aconteceu, pois, em grande parte dos
conflitos, eles estiveram presentes, como se a intenção fosse mostrar que os acontecimentos do
passado se refletem nos do presente. Enquanto que o texto traduzido se apresenta
um pouco
mais
76
subjetivo, mostrando que o problema é grave, mas parece ser algo que está muito longe do Brasil,
por isso não precisa de tanta ênfase. Ressalt
o
novamente que essas diferenças só foram notadas
com a análise minuciosa do texto, pois aparentemente eles
parecem idênticos.
Outro fator importante é a adequação cultural existente na versão brasileira, isto é, a
escolha lexical
para a aproximação cultural. Temos em inglês uma frase iniciada com
Rain and
snow
[chuva e neve], e
a tradução para o português fico
u como “intempéries”, isso pelo simples
fato de no Brasil não existir neve na mesma proporção que no exterior. Logo, essa substituição
por intempéries seria uma forma de não distanciar o leitor dos fenômenos existentes.
Outras diferenças são evidenciadas e
apresentam
-
se na forma de expansão e na omissão/
filtragem de informações, realizando com isso as adequações necessárias ao melhor entendimento
do texto por parte do leitor.
A adição ou expansão de informações pode ocorrer no texto
-
alvo para adequação cul
tural
de um determinado termo ou trecho do texto, bem como para a localização do leitor e melhor
compreensão na leitura da reportagem. As adições mostradas a seguir marcam principalmente a
localização do leitor no âmbito geográfico e político.
Então, temos
:
He feared for his life, all
because he found an inscribed slab of stone near his village
, e sua tradução: “Ele temia por sua
vida
e o motivo é que havia encontrado nos arredores de seu vilarejo,
no planalto central do
Afeganistão, uma laje de pedra com
inscrições antigas
”. Percebemos que a localização do vilarejo
foi o acréscimo, pelo distanciamento existente entre o leitor brasileiro e a geografia da região
afegã. No texto em inglês é mencionada a localização do vilarejo, mas, no
decorrer do texto, não
com a prioridade mostrada em português.
77
A seguir temos:
By
2002
Khalili had become a vice
president of the post
-
Taliban
Afghanistan, and his private militia returned to demand the stone
, e sua tradução: “Em
1992
,
o
chefe
Khalili tornou
-
se um dos vice
-
pre
sidentes do
regime
afegão pós
-
Talibã, e seus milicianos
retornaram
ao vilarejo
para recuperar a laje”. Dois comentários podem
ser feitos: o primeiro
refere
-
se ao erro de data na tradução, o correto é mesmo 2002; e o segundo em relação ao
acréscimo de três
palavras “o chefe”, “regime” e “ao vilarejo”, atribuímos a isso o fato de situar o
leitor sobre quem é Khalili, o que é o pós
-
Talibã e mostrar onde os milicianos retornaram. Essas
informações importantes para o leitor brasileiro e já conhecidas, aparenteme
nte
sem importância
para o estrangeiro pelo fato de ele ter conhecimento disso, não precisa reforçar. Em outro
exemplo que se inicia por
Nowhere is the past so evident
, e traduzido por “Em
nenhuma outra
região Afegã”, da mesma forma é preciso localizar o l
eitor.
O que
vimos acima é o que Nord chama de
knowledge pressuposition
por parte do leitor
estrangeiro, ou seja, informações que o leitor
já conhece. Está subentendido aos americanos que o
Talibã é um regime, e que Khalili é o chefe. Como visto anteriorm
ente, Nord falou sobre isso em
um seminário realizado na Universidade Federal de Santa Catarina, em 2001
. S
egundo
a autora,
os procedimentos de adicionar ou não informação são questionamentos que sugerem a existência
de estratégias de tradução, as
quais se
referem
à seleção das informações feitas pelo tradutor,
considerando o grupo de destinatários ao qual a produção textual se destina, bem como as suas
expectativas e interesses. Essa seleção contribui para que a tradução seja adequada ao grupo
e
realize o
seu propósito comunicativo, de acordo com o conceito de tradução como ação
comunicativa. Segundo Nord, “
it’s very difficult just to find the right amount of additional
information
” [É muito difícil encontrar a quantidade certa
de informação adicional.], po
is
isso
depende de todos os fatores mencionados anteriormente.
78
Todos os exemplos acima estão sistematizados abaixo:
Versão Americana
Versão Brasileira
He feared for his life, all because he found an
inscribed slab of stone near his village
(p.30, linha
1).
Ele temia por sua vida
e o motivo é que havia
encontrado nos arredores de seu vilarejo,
no
planalto central do Afeganistão
, uma laje de
pedra com inscrições antigas
(p.66, linha 1).
By
2002
Khalili had become a vice president
of the post
-
Taliban
Afghanistan, and his
private militia returned to demand the stone
(p.30, linha 16).
Em
1992
,
o chefe
Khalili tornou
-
se um dos vice
-
presidentes do
regime
afegão pós
-
Talibã, e seus
milicianos retornaram ao vilarejo para recuperar
a laje (p.66, linha 21).
N
owhere is the past so evident […]
(p.32,
linha 59).
Em nenhuma
outra região Afegã
[...] (p.68,
linha 66).
Tabela 3.7. Comparativo entre as informações adicionais texto
-
fonte para o texto
-
alvo.
De forma semelhante ocorre à filtragem ou à omissão de info
rmações
, seja por motivos de
espaço, pois como já dissemos os textos t
ê
m uma diagramação previamente estabelecida, seja
para deixar o texto mais claro e direto, ou ainda para realmente selecionar as informações que
seriam desnecessárias ao leitor. Como o n
úmero de ocorrências de omissão ou filtragem de
informações teve um índice relativamente alto, separamos por nível de semelhança: a) omissão
de trecho; b) omissão de advérbio e c) simplificação do texto.
i)
omissão de trecho
: no primeiro trecho em letras
menores antes do título da reportagem
já se percebe uma omissão:
Reasons to rejoice
: A famed trove of 2000
-
year
-
old Bactrian gold
[...]
, e em português ficou “A coleção de objetos de ouro de Bactria, com 2 mil anos [...]”. A
79
omissão da primeira parte do t
recho em inglês “Razões para exaltar ou alegrar” mostra a
aproximação do leitor americano como se ele tivesse realmente vivendo aquilo tudo, e
o
brasileiro parece que não tem essa razão para exaltar.
No subtítulo também se percebe essa
omissão:
Against all
odds,
a country shattered by more than two decades of upheaval begins to
rescue its ancient treasures
.
No português, houve uma completa omissão da primeira parte do
texto: “Em oposição
a todas as desigualdades”, inicia o trecho a partir da
vírgula “Um paí
s
dilacerado por mais de duas décadas de conflitos começa a resgatar seus antigos tesouros”, e
percebe
-
se a ênfase que se dá ao problema no texto estrangeiro.
Not
ei
também que várias citações
foram omitidas. No excerto
a seguir não aparece no
texto em
port
uguês:
Ahmadi was right to fear for his life.
And Afghans are right to fear for their
country’s treasure
.
Nas citações que aparecem em português há aquele distanciamento do leitor;
em inglês temos:
We’re confident
Bamian will become a tourist center
, e a t
radução: “Bamian vai
se tornar um destino turístico”. Houve a omissão de “nós estamos confiantes”, mostrando o
afastamento do leitor brasileiro. O distanciamento e a aproximação do leitor que mencionamos
estão relacionados, como já dissemos anteriormente,
ao fato de os Estados
Unidos ter
em
um
envolvimento mais direto com os acontecimentos no Afeganistão, ao passo que o Brasil não tem
esse envolvimento.
Vejamos uma ilustração disso no exemplo abaixo:
Three years after the
Taliban were
ousted
by U.S.
-
led for
ces,
e em português: “Três anos após a derrubada do Talibã”. Em primeiro
lugar, na tradução não é mencionado por quem o Talibã foi derrubado
, sendo que é uma
informação que ajudaria a localizar o leitor brasileiro nas questões políticas do Afeganistão. Mas
,
por outro lado, essa omissão
talvez seja para não mostrar a interferência dos Estados Unidos nos
acontecimentos afegãos.
Em outra parte temos:
Many sites have yet to be registred.
We need
to
80
explore and survey
these,
e sua tradução: “Muitos têm de ser
ca
talogados” houve omissão do
restante da citação onde fala da exploração e da inspeção também devido ao mesmo fato citado
anteriormente, envolvimento dos Estados Unidos
e não do Brasil.
A seguir, uma omissão de informação que seria importante aos brasileiro
s:
In the
meantime another batch of 85 families
most of them from provinces outside Bamian
had
moved into the caves,
e a tradução: “Enquanto isso, outro grupo de 85 famílias ocupara as
cavernas”. Nesse caso, nota
-
se a atuação da esfera institucional de
Esser em relação à
diagramação do texto, pois como a tradução tende a ficar maior que o original ela precisa entrar
nos padrões
de leiaute do original. Optou
-
se, então, por
omitir.
Um exemplo da aproximação dos fatos do leitor
estrangeiro:
No one has th
e right to stay
in such historic places
. It’s better to endanger 85 families than destroy something of historical
value for the whole world,
e em português: “É melhor pôr em perigo 85 famílias do que destruir
algo de valor histórico para a humanidade”. Not
amos mais uma vez que, nessa frase, o primeiro
trecho no texto em inglês “ninguém tem o direito de ficar em tais lugares históricos”, mostra a
realidade dos fatos. Essa omissão na tradução relaciona
-
se aos fatores sociais e à sua m
oldura
histórico
-
social,
pois a informação inicial refere
-
se a uma situação vivida naquele país
. A atuação
do jornalista mostra que no Brasil não tem relação com o que acontece lá.
A seguir, há várias informações omitidas:
Most of the paintings have been looted in the
chaos of the
past decade:
Robber’s knives and chisels were found by Japanese archaeologists
working to restore the few remaining. The archaeologists also stumbled on broken bits of images
scattered on the floors
; no português “A maioria das pinturas foi saqueada em me
io ao caos de
81
última década”.
Es
s
a é uma informação desnecessária, realmente não faria diferença ter ou não
colocado.
Apresent
o
mais três excertos com omissão de
informações: “
But this is difficult rock to
anchor”, he says,
rubbing the plebby conglomerate
inside the stairwell
; na tradução: “Mas esse é
um tipo de rocha de difícil ancoragem, explica ele”. Houve omissão de trecho “Diz ele, raspando
o conglomerado de fragmento mineral dentro do poço de escada”.
O segundo
[…] a boxy
building that conceals three
domes, the outer one mostly bare of tiles.
Only a few flashes of blue
and white hint at its original beauty
.
Em português: “[...] um edifício de três abóbodas, das quais
a mais externa já perdeu a maioria dos azulejos”, a informação omitida trata de detalh
es sobre os
azulejos, algo realmente desnecessário. O terceiro exemplo:
On this morning the apprentices are
busy shaping individual tiles into complex patterns
in a cavernous workroom, sunlight filtering in
to illuminate the glazed tiles fired in an adjace
nt courtyard
; e em português: “Nessa manhã, os
aprendizes estão ocupados em montar os azulejos segundo complexos padrões”. Houve omissão
da parte “em uma sala de trabalho na caverna, filtrando a luz solar na iluminação dos tijolos
lustrosos pelo calor em
um jardim adjacente”. Essa descrição não teria muita importância ao
leitor brasileiro, pois são detalhes que não influenciariam na leitura.
Temos mais uma aproximação dos fatos ao leitor estrangeiro:
British Cannon, Soviet
tanks, and centuries of decay hav
e taken their toll on these magnificent buildings.
Now the more
mundane ravages of commerce threaten to destroy even these remnants
.
E a tradução: “Canhões
britânicos, tanques soviéticos e séculos de decadência já haviam deixado sua marca nos
edifícios”. H
ouve a omissão do trecho: “Agora a destruição mais mundana do comércio ameaça
destruir até esses restos”. Os Estados Unidos têm mais familiaridade com esses assuntos, pois
82
todo esse relato histórico faz parte da realidade deles, por tratar
-
se de assuntos r
elacionados à
guerra e aos conflitos nos quais eles tiveram
envolvidos.
No último trecho desta seção, é possível perceber
-
se parte integrante do texto: “
I’m
confused
”, Ahmadi said, as we stopped to let him out of the car following our interview.
Everyo
ne knows my story, but I don’t know what to do
. These objects are for all afghans.
Right
now they’re under the control of the people with gun.,”,
e na tradução: “
Esses objetos históricos
pertencem a todos os afegãos”, fala enquanto paramos o carro. “Agora,
porém, estão sob o
controle dos grupos armados”.
Todos os exemplos mencionados acima estão sistematizados na tabela abaixo.
Versão Americana
Versão Brasileira
Reasons to rejoice
: A famed trove of 2000
-
year
-
old Bactrian gold […]
(p.28, linha 1).
A coleç
ão de objetos de ouro de Bactria, com 2
mil anos (p.64, linha 1).
Against all odds,
a country shattered by
more than two decades of upheaval begins
to
rescue its ancient treasures
. (p. 29)
Um país dilacerado por mais de duas décadas de
conflitos começa a
resgatar seus antigos tesouros
(p. 65).
Ahmadi was right to fear for his life. And
Afghans are right to fear for their country’s
treasure
(p. 32, linha 38).
Omissão
Three years after the
Taliban were ousted
by U.S.
-
led forces
(p.34, linha 82).
Três anos
após a derrubada do Talibã
(p. 70, linha
90).
We’re confident
Bamian will become a
tourist center
(p.34, linha 76).
Bamian vai se tornar um destino turístico (p.70,
linha 84).
Many sites have yet to be registred.
We
need to explore and survey these
(p.34
,
linha 95).
Muitos têm de ser catalogados (p.70, linha 103).
In the meantime another batch of 85
Enquanto isso, outro grupo de 85 famílias
83
families
most of them from provinces
outside Bamian
had moved into the caves
(p.36, linha 129).
ocupara as cave
rnas (p.72, linha 139).
No one has the right to stay in such
historic places
. It’s better to endanger 85
families than destroy something of
historical value for the whole world
(p.36,
linha 154).
É melhor pôr em perigo 85 famílias do que
destruir algo de
valor histórico para a humanidade
(p.72, linha 161).
Most of the paintings have been looted in
the chaos of the past decade:
Robber’s
knives and chisels were found by Japanese
archaeologists working to restore the few
remaining. The archaeologists also
s
tumbled on broken bits of images
scattered on the floors
(p.36, linha 182).
A maioria das pinturas foi saqueada em meio ao
caos de última década (p.73, linha 190).
“But this is difficult rock to anchor”, he
says,
rubbing the plebby conglomerate
inside the
stairwell
(p.37, linha 205).
Mas esse é um tipo de rocha de difícil ancoragem,
explica ele (p.73, linha 210).
[…] a boxy building that conceals three
domes, the outer one mostly bare of tiles.
Only a few flashes of blue and white hint at
its original bea
uty
(p.37, linha 228).
[…] um edifício de com três abóbodas, das quais
a mais externa já perdeu a maioria dos azulejos
(p.73, linha 235).
On this morning the apprentices are busy
shaping individual tiles into complex
patterns
in a cavernous workroom, sunl
ight
filtering in to illuminate the glazed tiles
fired in an adjacent courtyard
(p.37, linha
231).
Nessa manhã, os aprendizes estão ocupados em
montar os azulejos segundo complexos padrões
(p.74, linha 237).
British Cannon, Soviet tanks, and centuries
of
decay have taken their toll on these
magnificent buildings.
Now the more
Canhões britânicos, tanques soviéticos e séculos
de decadência já haviam deixado sua marca nos
e
difícios (p.74, linha 269).
84
mundane ravages of commerce threaten to
destroy even these remnants
(p.38, linha
261).
I’m confused
”, Ahmadi said, as we
stopped to let him out of the car following
our interview. “
Everyone knows my story,
but I don’t know what to do
. These objects
are for all afghans. Right now they’re
under the control of the
people with guns,”
(p.41, linha 350).
”Esses objetos históricos pertencem a todos os
afegãos”, fala enquanto paramos o carro. “Agora,
porém, estão sob o controle dos grupos armados”
(p.77, linha 349).
Tabela 3.8. Comparativo entre
a filtragem ou omissão
das informações texto
-
fonte para o texto
-
alvo.
ii)
omissão de advérbio
:
Recently
surfaced in a Kabul vault, and clay faces from an
ancient Buddhist temple were retrieved
from looters
, e sua tradução: “Reapareceu em Cabul, e
rostos de argila de um antigo t
emplo budista foram recuperados”. Nessa tradução cabe tecer dois
comentários: o primeiro em relação à omissão do advérbio
recently
, já que, de acordo com a
Gramática da Língua Portuguesa
de Cegalla (1994)
,
os advérbios são palavras que modificam ou
acresce
ntam significado aos verbos. Há, assim, uma marcação do verbo que no português se
omitiu; e o segundo, foi a omissão de que os rostos de argila de um antigo templo Budista foram
recuperados de saqueadores. A seguir, mais uma omissão de advérbio:
he
inittia
ly
denied
knowing about either the box or the stone;
em português: “Khalili negou que soubesse algo sobre
a caixa ou a inscrição”, que muda o sentido, pois em inglês “ele inicialmente negou”, e em
português apenas “ele negou”. O trecho em
inglês dá a idéia
de que ele primeiramente negou,
mas depois contou a verdade.
O uso de advérbios está relacionado à escolha
lexical, e Nord (1991:114) afirma “que o
tradutor deve descobrir qual interesse e propósito teve o autor com a escolha de determinadas
85
palavras, exp
ressões”, nesse caso, advérbios. Assim, no exemplo abaixo, o uso do advérbio em
inglês
nearly
marca o tempo das invasões e é omitido na tradução:
Nearly
a quarter century of
invasion and civil war have transformed archaelogical sites into barren wastes of
looters’ pits
;
em
português: “Invasões
e conflitos transformaram os sítios arqueológicos em desolados campos
com buracos abertos por saqueadores”.
O uso do advérbio tem sua importância no texto não apenas para marcar o tempo, mas
também para enfatizar det
erminados assuntos
, e é assim definido por Cegalla (1994:243),
“advérbio é uma palavra que modifica o sentido do verbo, do adjetivo e do próprio advérbio”.
Assim temos
: After a scramble by international aid
organizations, the homes
finally
were
finished
last year
, e sua tradução: “Após um esforço por parte de organizações humanitárias
internacionais, as casas foram concluídas no ano passado”. Notamos que o uso do advérbio
finally
tem o objetivo de
que as casas finalmente foram terminadas.
Todos os exempl
os mencionados acima estão sistematizados na tabela abaixo.
Versão Americana
Versão Brasileira
Recently
surfaced in a Kabul vault, and
clay faces from an ancient Buddhist temple
were retrieved
from looters
(p.28, linha 4).
Reapareceu em Cabul, e rostos d
e argila de um
antigo templo budista foram recuperados (p.64,
linha 5).
he
inittialy
denied knowing about either the
box or the stone
(p.30, linha 22).
Khalili negou que soubesse algo sobre a caixa ou
a inscrição (p. 68, linha 28).
Nearly
a quarter cent
ury of invasion and
civil war have transformed archaelogical
sites into barren wastes of looters’ pits
(p.34, linha 85).
Invasões e conflitos transformaram os sítios
arqueológicos em desolados campos com buracos
abertos por saqueadores (p.70, linha 92).
A
fter a scramble by international aid
Após um esforço por parte de organizações
86
organizations, the homes
finally
were
finished last year
(p.34, linha 127).
humanitárias internacionais, as casas foram
concluídas no ano passado (p.72, linha 137).
Tabela 3.9.
Comparativo entre a omissão de advérbios do texto
-
fonte para o texto
-
alvo.
iii)
simplificação de informação
: a simplificação ocorre, muitas vezes, para facilitar a
leitura e a interpretação do texto.
Vejamos então os exemplos retirados do texto:
Long a
hub of trade flowing from
east to
west and north to south
[…]
, em português: “Por mu
ito tempo uma encruzilhada de rotas
mercantis entre
Ocidente e Oriente
”, houve a simplificação para “ocidente e oriente”, talvez até
para facilitar a explicação do fluxo da
s rotas comerciais. Na
passagem seguinte:
Saving
antiquities can appear an irrelevant luxury amid the hardship of daily life in Bamian,
which one
U.S. State Department official calls “the Appalachia of Afghanistan
, e sua tradução: “
O Resgate
das antiguidad
es pode parecer um luxo despropositado em meio às dificuldades da vida cotidiana
em Bamian,
uma das regiões mais pobres do país”
.
Notamos que em português não há menção a
comparação que o oficial faz a “Apalachia do
Afeganistão”; o jornalista
buscou uma re
ferência
relacionada à cultura americana, e o tradutor optou por não fazer uma comparação da mesma
natureza, apontando para a esfera subjetiva em relação à sua atuação individual e suas inferências
culturais e sociais, pois aos brasileiros basta dizer que
é uma região pobre e já é possível fazer a
leitura do lugar, não precisa mencionar uma determinada região.
Todos os exemplos mencionados acima estão sistematizados na tabela abaixo.
Versão Americana
Versão Brasileira
Long a hub of trade flowing from
ea
st to
Por muito tempo uma encruzilhada de rotas
87
west and north to south
[…]
(p.32, linha
48).
mercantis entre
Ocidente e Oriente
(p. 68, linha
54).
Three years after the Taliban were ousted
by U.S.
-
led forces
(p. 34, linha 82).
Três anos após a derrubada
do Talibã (p.70, linha
90).
Saving antiquities can appear na irrelevant
luxury amid the hardship of daily life in
Bamian,
which one U.S. State Department
official calls “the Appalachia of
Afghanistan
(p.34, linha 108).
O Resgate das antiguidades pode pare
cer um luxo
despropositado em meio às dificuldades da vida
cotidiana em Bamian,
uma das regiões mais
pobres do país
(p.70, linha 118).
Tabela 3.10. Comparativo das simplificações do texto
-
fonte para o texto
-
alvo.
Assim, quanto ao conteúdo, nota
-
se que a
tradução mantém
-
se muito próxima do texto
-
fonte, porém com enfoques diferentes. Salientamos também que algumas das diferenças
apontadas anteriormente, principalmente em relação à omissão de advérbios podem referir
-
se às
particularidades de cada língua. Not
amos que o uso do advérbio na língua inglesa é mais
freqüente que no
português, pois se trata de um recurso técnico, mas não isento em seu uso
cultural na respectiva língua.
Vencidas essas etapas, já podemos partir para algumas considerações finais.
88
CON
SIDERAÇÕES FINAIS
A escolha do tema desta dissertação e o seu desenvolvimento constituíram para mim,
desde
o início
, um desafio pelo elemento inovador que o caracteriza, primeiramente por ser uma
análise da tradução do texto jornalístico histórico
-
cultural
de revista, e pelo ineditismo, até onde
se sabe, de algum trabalho semelhante no Brasil com a
revista
National Geographic
.
Esse desafio teve um enriquecimento, tanto de meus conhecimentos sobre tradução, que é
a grande área em que trabalho, quanto sobre m
inha própria jornada no campo de pesquisa,
despertando em mim a vontade de seguir e difundir essa interface tão fascinante que é a
tradução
do texto jornalístico, agora de revista.
As duas principais teorias utilizadas, em primeiro o modelo e os posicionam
entos teóricos
de Christiane Nord (1991)
provaram ser muito
eficazes
, fornecendo um panorama tanto do texto
original quanto da tradução
. P
anorama este, não apenas crítico, como também geral de todos os
componentes que moldam o texto.
E
em segundo
o model
o e os posicionamentos
teóricos de Frank Esser (1998)
mostraram
como as esferas atuam e interagem de forma diferente em cada cultura, pois o jornalista
como
produtor também atua diferente de acordo com a cultura
. I
sso também acontece com a tradução
que ter
á padrões voltados à cultura de chegada, apontando assim as semelhanças entre o tradutor
e o jornalista.
A aplicação des
s
es modelos ajuda a reconhecer a natureza das duas grandes áreas que
compõem esta interface, bem como estabelecer possíveis comparações
entre tradução e
89
jornalismo, a saber: i) a produção textual em função de um leitor final em prospecção, pois como
vimos ambos os textos cumprem sua função quando chega às mãos do receptor; ii) as escolhas
direcionam o texto ao seu propósito, pois como Nord
(1991)
diz
que os textos estão voltados ao
seu
skopos
, e as escolhas direcionam a leitura;
iii) os fatores sociais e culturais que interagem
nessas duas áreas, isso porque não há como desconsiderar a cultura e a os fatores sociais que
influenciam a produç
ão tanto do texto jornalístico quanto da tradução.
Dess
e modo, a análise lexical, utilizada aqui como ferramenta para atingir os objetivos
traçados, mostrou
-
se muito enriquecedora, pois possibilitou não apenas a visualização dos
enfoques dados ao texto, co
mo também para demonstrar a importância da atuação do profissional
de tradução, que
pela
sua formação e seu conhecimento bilíngüe tem a possibilidade de fazer as
aproximações culturais. Já sabemos que o tradutor é peça
-
chave no processo de comunicação
inte
rcultural e dos conhecimentos que ele precisa ter para realizar es
s
a tarefa.
Assim, os tradutores deste texto deixaram sua intenção no texto, e eles mostraram um
vasto vocabulário em ambas as línguas, pois em nenhum momento notou
-
se falta dele na língua
-
a
lvo. Not
ei
também que o conhecimento faz diferença em casos como o que segue, em que na
língua
-
fonte temos essas expressões prontas chamadas de “expressões idiomáticas”
-
Yes, in a
stunning piece of good news last April
e o tradutor pela sua experiência
ad
otou
uma
posição
muito adequada “Em um episódio reconfortador, foi anunciado em abril
[
...
]
”, pois geralmente
essas expressões não têm equivalente em português.
Um relato importante de mencionar,
pelos
contatos com o editor da revista
National
Geographic
brasileira, foi meu questionamento sobre as escolhas lexicais, que como vimos,
permeiam o enfoque dado ao texto. A dúvida era se havia algum padrão de vocabulário que
os
90
tradutores devessem seguir. E
le informou que não há um padrão exato na escolha do voca
bulário,
“manda o bom português, apenas”. E completa dizendo que cada tradutor tem um estilo, e isso
interfere um pouco no resultado final, a mesma matéria pode sair mais rebuscada ou mais
pop
ular
, de acordo com o tradutor. Tudo depende do contexto editori
al, da matéria em si. O estilo
do tradutor mencionado acima se refere à esfera subjetiva
citada no trabalho de Esser (1998), pois
diz respeito a sua profissionalização e sua postura política diante do texto.
Quanto às entrevistas realizadas, ao final, prop
orcionaram um enriquecimento do texto,
das hipóteses e da idéia de partida deste trabalho, pois o contato com pessoas alheias à pesquisa
enriqueceu meu próprio conhecimento sobre o assunto tratado nas reportagens
. P
ude comprovar
pelas
conversas e
pelas
res
postas dadas no questionário que realmente existe
m
marcas culturais
de acordo com a
língua/cultura em que cada matéria está inserida.
Este foi um trabalho de muita reflexão pautada nos objetivos traçados inicialmente
, que
neste momento s
ão retomados.
O p
rimeiro
objetivo
:
comprovar a hipótese de que os textos trazem consigo as marcas
culturais de cada país.
No início,
as reportagens pareciam idênticas, principalmente
pelo
fato de
ter
em
as mesmas figuras, a mesma paragrafação e o mesmo número de páginas. No
entanto,
devido a essas semelhanças, não sab
i
a se a hipótese formulada se comprovaria. Agora, após todas
as análises e reflexões realizadas, te
nho
subsídios que evidenciam a presença de marcas culturais
nos textos. Logo, cada texto traz consigo as represe
ntações culturais de seu país.
A
tradução,
inevitavelmente, também buscará as manifestações da cultura e da língua para a qual se traduz.
O segundo
objetivo
:
demonstrar sob quais aspectos essas marcas culturais se manifestam
nos textos.
Antes do in
í
cio da
s análises
,
es
s
e objetivo foi colocado pelo anseio em saber quais
91
aspectos a cultura se faria representar
. F
oi um fator incentivador para chegar ao resultado final,
como meio de refletir e revelar essas fascinantes descobertas.
E
sse aspecto foi o léxico, m
ais
precisamente as escolhas lexicais realizadas, tanto pelo jornalista quanto pelo tradutor
, que
mostram
as aproximações culturais realizadas, bem como as marcas em cada texto.
Assim,
por meio do
léxico
,
pude chegar a outros pontos importantes, como, por
exemplo,
a ocorrência de filtragem ou expansão de informações,
vi
sto
que
o que em um determinado texto
pode ser acrescentado, por estar coerente com seu propósito naquela cultura, já em outro pode ser
omitido por não fazer parte daquela realidade.
A
omis
são e
a
expansão da informação não têm a função apenas de tornar o texto mais
sintético e direto, mas
,
sim
,
uma função cultural, isto é
,
uma marcação cultural, que está voltada
ao leitor
. Os
procedimentos de adicionar ou não informação são questionamentos
propostos por
Nord na palestra proferida n
a
Universidade
Federal de Santa Catarina,
em 2001
, sugerindo
a
existência de estratégias de tradução, as quais
se
referem à seleção das informações feitas pelo
tradutor, considerando o grupo de destinatários ao qua
l a produção textual se destina, bem como,
as suas expectativas e interesses.
Assim, as reportagens analisadas a
pesar de passar por uma
seleção para que caiba em uma diagramação já pré
-
existente,
o texto
omite, claro, muit
a
s
informações
que não fariam dife
rença, mas
algumas delas
bem culturais
com o intuito de
localiza
r
ou afasta
r
o leitor
d
o texto. Além disso, podemos destacar que o uso de locuções verbais
minimiza a força do significado de alguns verbos, deixando
-
os mais subjetivos. Também a
omissão dos a
dvérbios pode ter o propósito de chegar à precisão e fluência do texto jornalístico.
O terceiro
objetivo
:
discutir se as escolhas realizadas pelo tradutor caracterizam um
eventual deslocamento de enfoque
.
A
s “escolhas” são responsáveis por fatores determin
antes em
92
um texto. Ne
s
se caso, algumas das escolhas do tradutor serviram para caracterizar um
deslocamento de enfoque principalmente quanto à realidade dos fatos. O texto estrangeiro
,
que se
apresenta de forma mais direta, mostra os fatos sem, aparentement
e,
encobri
-
los
, e na verdade,
conduz o texto para o enfoque que se julga importante.
A
revolta da população e dos
representantes humanitários contra o domínio dos poderosos do Afeganistão
se mostra através da
reprodução de algumas citações
. Agora sua tradu
ção apresenta
-
se distanciada dos
acontecimentos, e os apresenta de uma forma subjetiva como se o problema dos tesouros e da
política do Afeganistão não fosse tão grave quanto é. Sob esse aspecto o deslocamento de
enfoque, que tende a ocorrer na passagem de
uma notícia ou reportagem de uma língua/cultura
para outra, acontece devido
à
s diferentes relações, tanto sociais, políticas e econômicas que cada
país tem com o Afeganistão. Os Estados Unidos t
ê
m estreitamento dessas relações, por terem
conflitos constan
tes com aquele país e serem responsáveis por muitas das destruições lá
ocorridas. Enquanto que o Brasil não tem esse envolvimento, está como observador dos fatos,
apenas.
Quanto ao quarto e último
objetivo
:
cooperar para a difusão dos estudos da tradução
no
ambiente jornalístico, e
,
mais do q
ue isso,
apresentar uma contribuição para a tradução nessa
modalidade textual
. Espero, por fim, ter contribuído para a difusão dos estudos da tradução no
ambiente jornalístico, seguindo os pressupostos do trabalho de Z
ipser (2002) que possibilitou a
identificação dos pontos de convergência do jornalismo e da tradução, e despertar nos
pesquisadores o interesse para a continuidade dos estudos nessa interface.
A
prática com o
modelo e a teoria de Christiane Nord contribui
para estimular nos futuros tradutores uma
conscientização de semelhanças e diferenças entre um determinado par cultural. Pode
-
se com isso
reforçar a teoria funcionalista de que a função do texto está voltada ao leitor em prospecção
,
bem
93
como a comprovação
de que a tradução por mais próxima que esteja do original em relação à
diagramação, tamanho, difere
-
se dele.
Nem
a
National Geographic
, onde os textos são
aparentemente tão semelhantes, consegue anular as diferenças existentes. Ademais, a pesquisa
com
corp
us
de textos jornalísticos traduzidos seria uma das possíveis abordagens que poderia
trazer dados relevantes para a teoria da tradução
, v
isto que neste
corpus
podem ser contemplados
outros recortes teóricos, deixando aqui a base para sua continuidade.
94
REF
ERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Textos do
corpus
1
. Revista
National Geographic
, volume 206, nº 6 (dezembro de 2004).
National Geographic
Society
. Washington, D.C, 2004.
2. Revista
National Geographic
Brasil
, nº 56 (dezembro de 2004). Editora Abril: São Paulo,
2
004.
Referências de apoio teórico
AZENHA JUNIOR, João.
Tradução técnica e condicionantes culturais: primeiros passos para
um estudo integrado
. São Paulo: Humanitas / FFLCH/ USP, 1999.
BAKER, Mona.
Lingüística e Estudos Culturais: Paradigmas Complementar
es ou Antagônicos
nos Estudos da Tradução?
In Mendes, M. (org.)
Tradução e
Multidisciplinaridade. Rio de
Janeiro, Editora Lucerna, 1999.
BELTRÃO, Luiz.
Iniciação à Filosofia do Jornalismo
. 2ª ed. São Paulo: Editora da Universidade
de São Paulo, 1992.
BUCC
I, Eugênio.
Sobre Ética e Imprensa
. São Paulo: Companhia de Letras. 2000.
CEGALLA, Domingos Paschoal.
Novíssima Gramática da Língua Portuguesa.
São Paulo:
Editora Nacional, 1994.
COIMBRA, Oswaldo.
O texto da reportagem impressa: um curso sobre sua estrut
ura
. São
Paulo: Ática, 1993.
Collins Dicionário Prático: Inglês
-
Português/Português
-
Inglês.
U.S: HarperCollins Publishers,
2001, 2ª edição.
CUCHE, Denys.
A noção de cultura nas ciências sociais.
Tradução de Viviane Ribeiro. Bauru:
EDUSC, 1999.
95
DAMATTA.
Roberto.
Relativizando; uma introdução à antropologia social.
Rio de Janeiro:
Rocco, 1987.
GEERTZ, Clifford.
A Interpretação das Culturas
. Rio de Janeiro: LTC
Livros Técnicos e
Científicos Editora, 1989.
HOUAISS, Antônio e Villar, Mauro de Salles.
Dici
onário Houaiss da Língua Portuguesa
.
Elaborado no Instituto Antônio Houaiss de Lexicografia e Banco de Dados da Língua Portuguesa
S/C Ltda. Rio de Janeiro: Objetiva, 2001.
KOTSCHO, Ricardo.
A prática da reportagem.
São Paulo: Ática, 1995.
LAGE,
Nilson.
A
estrutura da notícia.
São Paulo: Ática, 199
8
.
LIMA, Alceu Amoroso.
O Jornalismo como gênero literário
. São Paulo: EDUSP, 1990.
MARSHALL, Leandro.
O jornalismo na era da publicidade
. São Paulo: Summus, 2003.
MELO, José Marques de.
Jornalismo Opinativo: gê
neros opinativos no jornalismo brasileiro
. 3º
ed. Campos do Jordão: Mantiqueira, 2003.
NORD, Christiane.
La unidad de traducción desde un enfoque funcional, in Cuaderns.
Revista de
traducción 1:1998, 65
-
77.
____________.
Translating as a Purposeful
Activi
ty
:
Functionalist Approaches Explained
.
Manchester. St Jerome, 1997a.
____________.Defining translation functions: the translation brief as a guideline for the trainee
translator.
In
Ilha do Desterro,
33:39
-
53. Florianópolis: Editora da UFSC, 1997b.
____
________.
Text Analysis in translation.
Amsterdam; Atlanta: Rodopi, 1991
VENUTI, Lawrence.
A invisibilidade do tradutor
, tradução de Carolina Alfaro. Rio de Janeiro:
Grypho, 1995.
_____________.
Escândalos da Tradução: por uma ética da diferença
, traduçã
o de Laurenao
Pelegrin, Lucinéia Marcelino Villela, Marileide Dias Esqueda e Valéria Biondo. Bauru, SP:
EDUSC, 2002.
VILAS BOAS, Sérgio.
O estilo magazine: o texto em revista
. São Paulo: Summus Editorial,
1996. (Coleção novas buscas em comunicação; v.52).
ZIPSER, Meta Elisabeth.
Do fato à reportagem: as diferenças de enfoque e a tradução como
representação cultural
. São Paulo: USP, 2002 (Tese de doutoramento, disponível na BU
-
UFSC).
96
WOLF, Michaela.
Translation as a process of power: Aspects of cultural a
nthropology in
translation.
In Translation as Intercultural Communication. Amsterdam/ Philadelphia: John
Benjamin, 1995.
Livros Grátis
( http://www.livrosgratis.com.br )
Milhares de Livros para Download:
Baixar livros de Administração
Baixar livros de Agronomia
Baixar livros de Arquitetura
Baixar livros de Artes
Baixar livros de Astronomia
Baixar livros de Biologia Geral
Baixar livros de Ciência da Computação
Baixar livros de Ciência da Informação
Baixar livros de Ciência Política
Baixar livros de Ciências da Saúde
Baixar livros de Comunicação
Baixar livros do Conselho Nacional de Educação - CNE
Baixar livros de Defesa civil
Baixar livros de Direito
Baixar livros de Direitos humanos
Baixar livros de Economia
Baixar livros de Economia Doméstica
Baixar livros de Educação
Baixar livros de Educação - Trânsito
Baixar livros de Educação Física
Baixar livros de Engenharia Aeroespacial
Baixar livros de Farmácia
Baixar livros de Filosofia
Baixar livros de Física
Baixar livros de Geociências
Baixar livros de Geografia
Baixar livros de História
Baixar livros de Línguas
Baixar livros de Literatura
Baixar livros de Literatura de Cordel
Baixar livros de Literatura Infantil
Baixar livros de Matemática
Baixar livros de Medicina
Baixar livros de Medicina Veterinária
Baixar livros de Meio Ambiente
Baixar livros de Meteorologia
Baixar Monografias e TCC
Baixar livros Multidisciplinar
Baixar livros de Música
Baixar livros de Psicologia
Baixar livros de Química
Baixar livros de Saúde Coletiva
Baixar livros de Serviço Social
Baixar livros de Sociologia
Baixar livros de Teologia
Baixar livros de Trabalho
Baixar livros de Turismo