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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL
ESCOLA DE ENFERMAGEM
CURSO DE MESTRADO EM ENFERMAGEM
REGINA WEISSHEIMER
CARACTERIZAÇÃO SOCIOCULTURAL DE PARTURIENTES
ADOLESCENTES
PORTO ALEGRE
2003
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2
REGINA WEISSHEIMER
CARACTERIZAÇÃO SOCIOCULTURAL DE PARTURIENTES
ADOLESCENTES
Dissertação apresentada ao Curso de Mestrado
em Enfermagem da Escola de Enfermagem da
Universidade Federal do Rio Grande do Sul,
como requisito parcial para a obtenção do título
de Mestre em Enfermagem.
Orientador: Profª Drª Ana Lúcia de Lourenzi Bonilha
PORTO ALEGRE
2003
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3
W432c Weissheimer, Regina
Caracterização sociocultural de parturientes adolescentes /
Regina Weissheimer ; orient. Ana Lúcia de Lourenzi Bonilha. –
Porto Alegre, 2004.
58 f. : il.
Dissertação (Mestrado em Enfermagem) – Universidade
Federal do Rio Grande do Sul. Escola de Enfermagem. Curso
de Mestrado em Enfermagem, 2003.
1. Gravidez na adolescência. 2. Puerpério. 3. Enfermagem
materno-infantil. 4. Adolescente. 5. Gravidez não desejada. I.
Bonilha, Ana Lúcia de Lourenzi. II. Título.
CDD: 612.63055
CDU: 612.63-053.6
HLSN: 441.3
NLM: WS 462
Catalogação por Celina Leite Miranda (CRB-10/837)
22
Folha de aprovação
3
Dedicatória
Em memória de meus pais Plínio e
Erothides.
4
AGRADECIMENTOS
À minha orientadora, Profª Drª Ana Lúcia Lourenzi Bonilha, pela
disponibilidade, paciência, compreensão e apoio neste trabalho.
À minha irmã, Rejane, que esteve presente em vários momentos desta
jornada, bem como às colegas Heloísa e Kátia pelo carinho, incentivo e idéias
compartilhadas.
À equipe de enfermagem da Unidade de Internação Obstétrica do HCPA, pelo
carinho, incentivo e colaboração na escala de trabalho, possibilitando-me maior
dedicação para este estudo.
Às acadêmicas Cecília Drebs e Alessandra Abreu, pelo auxílio na realização
deste trabalho.
À Vânia, do Grupo de Estudos de Pós Graduação do HCPA, pela orientação
estatística.
À Anne Marie Weissheimer pelo auxílio em momentos de desesperança e
pela tradução.
Aos funcionários do Serviço de Arquivo Médico e Estatística do HCPA, pela
busca dos prontuários. À Escola de Enfermagem da UFRGS, em especial a
Comissão de Pós Graduação que se empenhou pela concretização deste sonho.
5
“Quero olhar hoje o mundo com
olhos cheios de amor, ser paciente,
compreensiva, mansa e prudente, ver além
das aparências tuas filhas...”.
6
RESUMO
Estudo quantitativo, do tipo transversal retrospectivo, que teve como objetivo
caracterizar social e culturalmente as parturientes adolescentes atendidas em um
hospital universitário da cidade de Porto Alegre, de referência para atendimento a
pacientes de alto risco. Os dados foram coletados nos prontuários das adolescentes
que realizaram partos entre julho e dezembro de 2001 e recuperados através dos
registros de enfermagem e complementados pelos do boletim de atendimento da
emergência obstétrica e da declaração de nascidos vivos. Para descrever as
características sociais e culturais das adolescentes, estão apresentados nesta
pesquisa, dados de identificação, aspectos sociais e culturais, aspectos relativos à
maternidade, aspectos relacionados a atual gestação e hábitos sociais com
repercussão na gestação. Os resultados desta pesquisa permitem conhecer as
características das adolescentes e proporcionar subsídios para a equipe de saúde
que atende mulheres adolescentes.
Palavras-chave: Gravidez na adolescência; Puerpério; Enfermagem materno-
infantil; Gravidez não desejada.
7
ABSTRACT
This is a qualitative study, with a retrospective cross-sectional design, that
intends to characterize social and culturally childbearing adolescents that gave birth
at a University Hospital, which is reference for patients with high risk pregnancies, in
the city of Porto Alegre. The data were collected from the files of adolescents that
gave birth between July and December of 2001 and were retrieved from nursing
notes. The information was completed searching the bulletins of the obstetric
emergency unit and copies of birth certificates. In order to describe the social and
cultural characteristics of those adolescents, we present identidy data, social and
cultural aspects, maternity related aspects, present pregnancy related aspects, and
social habits that have repercussion on the pregnancy. The results of this research
allow us to know the characteristics of the adolescents and contribute with the health
team that cares for adolescent women.
Keywords: pregnancy in adolescence; puerperium; maternal-child nursing;
adolescent; pregnancy, unwanted.
Título: Caracterização socio-cultural de parturientes adolescentes.
Tradução: Anne Marie Weissheimer
RESUMEN
Estudio cuantitativo, de tipo transversal retrospectivo, que tuvo como objetivo
caracterizar social y culturalmente las parturientas adolescentes atendidas en un
hospital universitario de la ciudad de Porto Alegre, de referencia para atendimento a
pacientes de alto riesgo. Los datos fueron recolectados de los prontuarios de las
adolescentes que realizaron partos entre julio y diciembre de 2001 y recuperados a
través de registros de enfermería y complementados por los del boletín de
atendimientos de emergencia obstétrica y de la declaración de los nacidos vivos.
Para describir las características sociales y culturales de las adolescentes son
presentados en esta pesquisa datos de identificación, aspectos sociales y culturales,
aspectos relativos a la maternidad, aspectos relacionados a la actual gestación y
hábitos sociales con repercusión en la gestación. Los resultados de esta pesquisa,
permiten conocer las características de las adolescentes y proporcionar
informaciones para el equipo de salud que atiende las mujeres adolescentes.
Descriptores: embarazo en adolescencia; puerperio; enfermería maternoinfantil;
adolescente; embarazo no deseado.
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 - Distribuição da idade das adolescentes. Porto Alegre – 2003 .................31
Tabela 2 - Distribuição da procedência das adolescentes. Porto Alegre – 2003.......32
Tabela 3 - Distribuição da cor/raça da adolescente. Porto Alegre – 2003.................33
Tabela 3.1 - Distribuição da cor/raça da adolescente segundo boletim de
atendimento.Porto Alegre – 2003..............................................................................33
Tabela 4 - Distribuição da escolaridade da adolescente. Porto Alegre – 2003 ........34
Tabela 4.1 – Distribuição da escolaridade da adolescente segundo a declaração de
nascimento. Porto Alegre – 2003 ..............................................................................35
Tabela 5 - Distribuição da presença de acompanhante com a adolescente. Porto
Alegre – 2003............................................................................................................36
Tabela 6 - Distribuição do grau de parentesco do acompanhante da adolescente.
Porto Alegre – 2003 ..................................................................................................
36
Tabela 7 - Distribuição da crença e/ou religião da adolescente. Porto Alegre –
2003 ..........................................................................................................................37
Tabela 8 - Distribuição das referências a práticas e tabus das adolescentes. Porto
Alegre – 2003............................................................................................................
37
Tabela 9 - Distribuição do número de gestações, partos vaginais, cesáreas e abortos
anteriores das parturientes adolescentes. Porto Alegre – 2003................................38
Tabela 10 - Distribuição do intervalo de tempo do último parto ao atual das
adolescentes. Porto Alegre – 2003 ...........................................................................
39
Tabela 11 - Distribuição da ocorrência de experiência de amamentação prévia das
adolescentes. Porto Alegre – 2003 ...........................................................................
40
Tabela 12 - Distribuição das alterações do estilo de vida e trabalho devido a gravidez
da adolescente. Porto Alegre – 2003 ........................................................................
41
Tabela 13 - Distribuição da aceitação da gravidez da adolescente. Porto Alegre –
2003 ..........................................................................................................................
42
Tabela 14 - Distribuição do número de consultas de pré-natal realizadas pelas
adolescentes. Porto Alegre – 2003 ...........................................................................
43
Tabela 15 - Distribuição da realização de orientação educacional na gestação atual
das adolescentes. Porto Alegre – 2003.....................................................................
44
Tabela 16 - Distribuição do tabagismo entre as adolescentes. Porto Alegre –
2003 ..........................................................................................................................45
Tabela 17 - Distribuição do uso do álcool entre as adolescentes. Porto Alegre –
2003 ..........................................................................................................................
45
Tabela 18 - Distribuição da drogadição das adolescentes. Porto Alegre –
2003 ..........................................................................................................................46
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO .......................................................................................................11
2 OBJETIVO .............................................................................................................15
3 REVISÃO DA LITERATURA .................................................................................16
4 MATERIAL E MÉTODO.........................................................................................24
4.1 TIPO DE ESTUDO ..............................................................................................24
4.2 LOCAL DA PESQUISA .......................................................................................24
4.3 AMOSTRA...........................................................................................................25
4.4 COLETA DOS DADOS........................................................................................27
4.5 INSTRUMENTO DE COLETA DE DADOS .........................................................28
4.6 PRÉ-TESTE ........................................................................................................28
4.7 PROCEDIMENTOS ÉTICOS ..............................................................................29
4.8 ANÁLISE ESTATÍSTICA .....................................................................................30
5 RESULTADOS E DISCUSSÃO .............................................................................31
5.1 ASPECTOS RELACIONADOS À IDENTIFICAÇÃO ...........................................31
5.2 ASPECTOS SOCIAL E CULTURAL ...................................................................34
5.3 ASPECTOS RELATIVOS A MATERNIDADE: ....................................................38
5.4 ASPECTOS RELACIONADOS À GESTAÇÃO ATUAL:......................................41
5.5 HÁBITOS SOCIAIS COM REPERCUSSÃO NA GESTAÇÃO.............................44
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS...................................................................................47
REFERÊNCIAS.........................................................................................................49
APÊNDICE A - FORMULÁRIO DE PESQUISA .......................................................52
APÊNDICE B -TERMO DE COMPROMISSO DO PESQUISADOR.........................57
ANEXO A – APROVAÇÃO DO PROJETO PELO GRUPO DE PESQUISA E PÓS-
GRADUAÇÃO DO HCPA ....................................................................58
1 INTRODUÇÃO
Ao concluir a graduação acadêmica a autora trabalha em saúde comunitária,
onde realiza visitas domiciliares, onde verifica que cada núcleo, cada comunidade
mantém características próprias, uma realidade peculiar, necessitando
acompanhamento adequado da área da saúde, realizado por profissionais
preparados para abordar as variadas situações. Posteriormente, ao atuar na área
hospitalar, observa que no cotidiano do atendimento da saúde existe uma
generalização da condição social dos pacientes, levando o profissional, que muitas
vezes mantém suas atitudes centradas em tarefas e em burocracias, a
desconsiderar as características próprias do indivíduo ou família.
Durante os últimos dez anos, trabalha em uma unidade de internação
obstétrica do Hospital de Clínicas de Porto Alegre, onde a atuação da equipe de
enfermagem, desde a inauguração em maio de 1980, procura prestar uma
assistência à mãe, pai e recém-nascido. A instituição mantém, para isso, o sistema
de alojamento conjunto, que dispõe de enfermeiras para auxiliar e orientar sobre a
saúde das mães e de seus filhos.
As enfermeiras das Unidades de Internação e do Centro Obstétrico do
Hospital de Clínicas de Porto Alegre utilizam o Processo de Enfermagem como
12
instrumento de trabalho e coletam informações, realizam diagnósticos de
enfermagem e planejam um atendimento centrado nas necessidades de cada
paciente. Este método foi aprimorado após estudos e discussões do Comitê do
Processo de Enfermagem e o Grupo de Trabalhos Sobre Diagnóstico de
Enfermagem do Hospital de Clínicas de Porto Alegre em Junho de 2000, quando foi
criado o instrumento de Anamnese e Exame físico da paciente obstétrica por
Crossetti (2000), sendo efetivamente aplicado em janeiro de 2001.
Na utilização diária do Processo de enfermagem, torna-se preocupante o fato
de não existir neste hospital, até a presente data, nenhum indicador que possa ser
utilizado para referenciar a clientela atendida, no caso específico da adolescente
internada no momento do parto.
Os dados que servem de referência são as publicações efetuadas pela
Secretaria Municipal de Saúde de Porto Alegre (1999), obtidos do Sistema de
Informação sobre Nascidos Vivos, documento básico de declaração de nascido vivo
e que informa, retrospectivamente partindo de 1992, tanto o número de puérperas
adolescentes atendidas neste hospital e de outros de Porto Alegre, como o tipo de
parto e até a distribuição das mesmas, segundo o local de residência. Através desse
informativo é que, ao comparar-se a evolução dos dados nos anos de 1995 até
1999, observa-se que o total dos nascidos vivos residentes no município vem
diminuído significativamente. Mesmo considerando as pequenas oscilações que
ocorrem de um ano para outro, essas informações causam maior impacto ao
constatar-se que o percentual das adolescentes que se tornaram mães, neste
mesmo período, cresceu uma média de 0,2% ao ano, determinando assim uma
mudança no perfil das mulheres que estão tendo filhos (PORTO ALEGRE,1999).
13
Na prática profissional, apesar do Hospital de Clínicas de Porto Alegre ser
referência para o atendimento ambulatorial de gestantes adolescentes, chama
atenção à quantidade cada vez maior de clientes com idade cronológica
compreendida entre os dez anos completos e os vinte anos incompletos, que
internam neste hospital para terem seus bebês, assim como a precocidade que as
adolescentes estão tendo filhos, decorrendo uma situação inquietante e ligada a
intervenções de Enfermagem.
Numa unidade de internação obstétrica, apesar do pouco tempo de
convivência com a adolescente, a equipe de enfermagem deve prestar um
atendimento humanizado, baseado numa relação de ajuda eficiente, que estimule a
competência da adolescente. Pode-se perceber que muitas vezes, as adolescentes
demonstram sentimentos confusos, instabilidade de humor, inibição, hostilidade,
ansiedade e incertezas características da idade somada aos sentimentos
relacionados ao novo papel a desempenhar.
Neste caso, a adolescente, por estar em um estado de instabilidade
emocional e buscando novas soluções, fica vulnerável e aceita ajuda, tanto que,
qualquer intervenção eficiente, seja profissional ou não, é muito proveitosa. Para
Kaplan e Masson (falta o ano?? citado por MALDONADO,1997, p.24), “as crises
geradas nos períodos de transição, como a adolescência e o puerpério, implicam em
enfraquecimento temporário da estrutura básica dos indivíduos, pois não conseguem
utilizar seus modelos habituais de solução de problemas”.
Paralelamente a isso, pode-se considerar vários fatores que influenciam neste
momento da vida da adolescente e de seu bebê, tais como: a história pessoal e
familiar desta adolescente; nível cultural; a aceitação desta gestação; a estabilidade
14
do vínculo com o pai da criança; se essa gravidez foi normal ou de risco; suas
condições de higiene, de autocuidado e para criar seu filho; condições financeiras e
apoios assistenciais adequados de equipes multiprofissionais e muitos outros.
Portanto, percebe-se que se as características gerais e as individualidades
das adolescentes forem respeitadas, é possível para a equipe de enfermagem
apoiar e tornar-se facilitadora nesse momento propício a transformação, o que nos
remete a justificativa da realização desta pesquisa de realizar um estudo
caracterizando as adolescentes atendidas nesta instituição, nos aspectos sociais e
culturais, baseados nos registros das enfermeiras nos instrumentos de Anamnese e
Exame Físicos da Paciente Obstétrica.
2 OBJETIVO
Caracterizar social e culturalmente a parturiente adolescente atendida em um
hospital público de Porto Alegre.
3 REVISÃO DA LITERATURA
Estabelecer o cuidado da parturiente e da puérpera tem sido um desafio para
muitos profissionais da enfermagem, principalmente enfermeiras obstetras, que têm
na ação educadora, um de seus objetivos. Porém, especificamente para a
adolescente existem poucas publicações sobre o assunto. Em decorrência desta
situação, este estudo bibliográfico desenvolve-se através da subdivisão dos
assuntos, tais como a adolescência, direcionamentos a aspectos sociais e culturais.
Como diz Maldonado (1997 p.22):
No ciclo vital da mulher, há três períodos críticos de transição que
constituem verdadeiras fases do desenvolvimento da personalidade e que
possuem vários pontos em comum: a adolescência, a gravidez e o
climatério. São três períodos de transição biologicamente determinados,
caracterizados por mudanças metabólicas complexas, estado temporário de
equilíbrio instável devido às grandes perspectivas de mudanças envolvidas
nos aspectos de papel social, necessidade de novas adaptações,
reajustamentos interpessoais e intrapsíquicos e mudança de identidade.
A adolescência apresenta-se como um momento muito importante na vida do
indivíduo, caracterizando-se num decisivo processo de transição, etapa que o ser
humano procura seu lugar no espaço social. Por ser uma fase socialmente
estabelecida, é difícil defini-la cronologicamente, pois é identificada através de
particularidades e costumes de um grupo social. Zagonel (1999, p.51) define a
17
adolescência como “um fenômeno do desenvolvimento humano que se expressa de
acordo com circunstâncias de ordem geográfica, temporal e sociocultural. Tais
aspectos influem na manifestação da adolescência unidos aos elementos
biopsicológicos”.
Cada adolescente, diante da crise de identidade, tem maneiras próprias de
estar e se posicionar no mundo, buscando novas identificações, entre as quais
pertencer a um grupo. Inicialmente é no grupo familiar que o adolescente aprende a
conviver e onde estabelece as bases de sua formação. Posteriormente é no grupo
de amigos, que provavelmente estão passando por situações semelhantes e que
mais facilmente o entendem, que aprendem como conviver com as constantes
mudanças sociais que predominam nos dias de hoje, que geram incertezas e
ambigüidades. O grupo funciona como facilitador na formação da personalidade do
adolescente, pois além da identificação com outros adolescentes e do confronto de
experiências, serve de amparo para as angustias semelhantes, necessidades,
sentimentos, idéias e hábitos. Nesta etapa, lidando com seus conflitos interiores e
várias mudanças corporais e influenciadas pela sociedade capitalista, onde um dos
grandes objetos de consumo é o corpo, os adolescentes, iniciam-se nos
relacionamentos sexuais, que podem ser marcados por preconceitos culturais.
Enquanto que para a mulher adolescente, o exercício da sexualidade quando não
associado a reprodução é muitas vezes quase proibido e cercado de culpa, para o
homem adolescente são destinados estímulos, favorecimentos e encorajamentos
pois a sexualidade masculina está freqüentemente associada ao prazer e é
considerado lícito.
Ao referir-se sobre saúde na adolescência, Mandú (2001, p.64), salienta que:
18
Valores incorporados em torno do masculino e feminino, bem como sua
hierarquização, resultam em riscos e problemas para homens e mulheres,
sobretudo a partir da adolescência, com o início das atividades sexuais. O
modo cultural das adolescentes lidarem com o próprio corpo, com o de
outros, com afetos, com o sexo, com desejos, frustrações, fantasias e
idealizações; como vêem e enfrentam o mundo e o que nele acontece; o
que identificam ou não como risco à sua saúde, leva-os a se exporem ou
não a problemas variados no âmbito da sexualidade e reprodução.
A decisão de ter um filho é resultante da integração de vários motivos,
conscientes e inconscientes:
aprofundar e dar expressão criativa a uma relação homem-mulher
importante; concretizar o desejo de transcendência e continuidade,
elaborando a angústia da morte e a esperança da imortalidade; manter um
vínculo muitas vezes já realmente desfeito; competir com irmãos; dar um
filho para a própria mãe, quando a mulher passa comportar-se em frente ao
filho como uma irmã mais velha, renunciando ao exercício da função
materna, quando esta não conseguiu ter todos os filhos que desejava ou
quando perdeu algum; preencher o vazio de um companheiro, garantindo
que não vai permanecer sozinha, motivação comum em mulheres solteiras;
buscar uma extensão de si própria – o filho com a missão de preencher um
vazio interno (MALDONADO, 1997, p.30).
Deve-se ainda considerar que existem dúvidas em relação à fertilidade, pois
parece que entre as adolescentes, há receio de ser estéril, levando-as a não utilizar
corretamente os métodos contraceptivos a que têm acesso, levando muitas meninas
a “inconscientemente” tentar prová-la e assim se auto-afirmar, pois no que se refere
a feminilidade parece não existir afirmação maior que a maternidade.
Vivendo num mundo quase que dominado pela informática, com todo o
progresso científico existente, a comercialização de anticoncepcionais, a liberação
existente na imprensa ou veículos de comunicação, observa-se que estão mudando
os costumes e hábitos sexuais, de forma rápida, exercendo influência sobre os
adolescentes. Direcionando esta análise às adolescentes do sexo feminino, veremos
que, mesmo que estas, após a menarca, estejam capacitadas fisicamente para
relações sexuais, emocionalmente muitas delas não conseguem assumir as
19
responsabilidades implícitas desta atividade, reagindo de maneira peculiar durante
as vivências da maternidade.
Muitas apresentam submissão, subserviência e resignação devido a sua
“condição feminina”, pois tiveram sua educação pautada em modelos tradicional
onde o trabalho e o estudo não são opções valorizadas, o que, segundo Climent
(1996) faz que estas adolescentes considerem a maternidade e o casamento e/ou
união estável, como projeto de vida dos mais significativos. Outras se manifestam
através de mecanismos de resistências à hegemonia doméstica, ou transgressões,
tentando assim espaços no mundo adulto por meios próprios. É nesse sentido que,
muitas vezes, as relações sexuais são manifestações do desejo de afirmação, de
contradição à família e se em conseqüência deste ato resultar uma gravidez, esta
representaria o desejo de viver com a pessoa amada, e até a possibilidade imediata
de emancipação dos pais, a passagem para a vida adulta. Fatos estes, que implicam
num projeto de vida mais amplo: condições materiais de vida e alimentação
adequada, acesso a serviços de saúde, educação e muitos outros direitos. Conforme
Patrício (2000, p.126),
dentro da nossa cultura, é no período da adolescência que se sobressai o
movimento de repensar representações, até então restritas, em especial, a
valores e crenças oriundas de padrões do seio familiar, da escola e, em
nossa sociedade, da mídia.
Representações culturais que abrangem desde os direitos com o próprio
corpo e os deveres com o corpo do outro, até aquelas ligadas às dificuldades
individuais ou do grupo no acesso a qualidade de vida. Patrício (2000, p.126) cita
que:
O processo de viver saudável do adolescente – mesmo na presença de
conflitos – irá depender de como a família e os demais adultos envolvidos,
20
reagem a esse ser que questiona, que critica, que começa a participar
ativamente do mundo; dos recursos disponíveis pela família e comunidade
para atender esse ser humano em suas particularidades individuais e
coletivas.
A magnitude da questão da gravidez na adolescência é evidenciada, do ponto
de vista social, através das implicações como abandono da escola, maior dificuldade
de inserção no mercado de trabalho, diminuição no padrão de vida, desestruturação
familiar e conseqüentemente circularidade da pobreza (OMS, 1997). No que se
refere à escolaridade das adolescentes grávidas em áreas urbanas, Hamel, Asun e
Andrade (1981}, divulgam que há neste grupo um grande percentual (95,12%) de
deserção escolar, indicando ser este um fator de risco para a gravidez. Além de
perder opções e oportunidades para o desenvolvimento técnico profissional e
econômico, a adolescente que já é mãe, com baixa escolaridade e muitas vezes
acumulando desinformação e inconseqüência, tem maior probabilidade de reincidir
numa gravidez não planejada. Dados de pesquisa da Universidade Federal de São
Paulo reforçam esta afirmativa, pois para cada 100 adolescentes que têm mais de
um filho, 70 pararam de estudar (SEKEFF, 2001).
A adequação da reprodução a uma determinada idade varia em cada grupo
social, mas geralmente convenciona-se maternidade na adolescência aquela que
ocorre abaixo de 20 anos, pois
adolescência,
faixa etária entre dez e vinte anos, é o período em que aparecem as
características sexuais secundárias para a maturidade sexual, manifestam-
se processos psicológicos e padrões de identificação que evoluem da fase
infantil para a adulta, ocorrendo a transição de um estado de dependência
para outro, de relativa independência (OMS, 1997).
21
Também outras importantes instituições de referências como a UNICEF e o
Ministério da Saúde utilizam esta definição cronológica. Cabe salientar que este
recorte é muito abrangente o que exige cautela do profissional ao lidar com dados
das adolescentes e desejar fragmentar este período, tendo assim melhor condições
de estudá-lo. Souza (1995, p.93), ao analisar a maternidade nas mulheres de 15 a
19 anos, destaca que “a maternidade abaixo dos 15 anos pode ser qualitativamente
muito diferente da maternidade de outras idades”. Que as causas da gravidez, entre
muitos motivos, podem estar relacionadas à prostituição infantil e violência sexual.
Nas mulheres extremamente jovens, o início da vida reprodutiva pode implicar
conseqüências patológicas, resultando em maior prevalência de complicações pós-
parto, mortalidade materna e efeitos psicológicos negativos, enquanto que o
aumento da fecundidade entre as jovens de 15 a 19 anos pode simplesmente indicar
uma mudança nos padrões de reprodução resultante do desejo das mulheres e suas
famílias de iniciarem mais cedo sua vida reprodutiva.
Muitos profissionais consideram a gestação um período crítico e de maior
vulnerabilidade; de impacto e evolução lenta, permitindo assim que as diversas
mudanças ocorram aos poucos. Em contradição a isso, o parto é um processo
abrupto que rapidamente introduz mudanças como a separação física de dois seres,
antes unidos e que têm de se adaptar. A mãe, a partir daí, deve sentir o filho como
indivíduo singular, diferenciado, com características particulares e não como uma
extensão de si mesma. Vários estudos, na área de cuidados do recém-nascido e de
sua família, realizados por Klaus e Kennel (1992), indicaram que as primeiras horas
após o parto seriam o momento mais propício e de maior sensibilidade para
interação mãe/bebê, iniciando uma relação afetiva, singular e duradoura entre as
duas pessoas. Devido às conseqüências indesejáveis da separação entre mãe e
22
bebê, alguns hospitais adotaram o sistema de alojamento conjunto, auxiliando assim
na consolidação do vínculo materno filial, permitindo uma aprendizagem eficiente e
supervisionada do manejo do recém-nascido. As adolescentes, que muitas vezes
são nulíparas e raramente têm experiência de cuidar ou de ver alguém cuidando de
um bebê, necessitam de um atendimento que satisfaça as necessidades físicas e
emocionais de proximidade e contato entre mãe e filho. Sabe-se que os sintomas de
depressão diante da nova responsabilidade de cuidar de um bebê são bastante
comuns, pois mãe e filho se conhecem muito pouco, ainda não se estabeleceu um
padrão de comunicação e com freqüência a mãe não sabe distinguir as
necessidades do bebê que permanecem insatisfeitas.
Curry, citado por Caplan (1960), afirma que
a mulher é confrontada com as imensas tarefas desenvolvimentais de se
tornar mãe. Também é um período de grande labilidade emocional. Assim
sendo, existe o potencial para notáveis alterações pessoais. Aqueles que
têm a oportunidade de compartilhar deste período singular devem estar
intensamente conscientes de seu potencial, não apenas para proporcionar
alterações favoráveis, como também mudanças desfavoráveis.
Ao ter um filho, a mulher estará vivenciando uma experiência crítica, que no
caso da adolescente haverá a soma de duas experiências geradoras de crise:
enquanto busca sua identidade pessoal tem de assumir novos papeis sociais, como
o de mãe e muitas vezes desassistida, sem companheiro e desinformada.
A concomitância de gravidez e adolescência exige do cuidado de
enfermagem uma visão holística, abordando toda a família. (...) A adaptação
ao papel materno pode ser difícil a muitas mulheres pela carência de
clareza às especificidades do papel materno. O papel de mãe é um produto
da cultura e refere-se a ações que se espera que a mãe desempenhe em
relação ao seu filho (ZAGONEL, 1999, p.74).
23
Os profissionais da equipe de enfermagem quando conscientes deste efeito e
do que ocorre durante o breve período da permanência hospitalar, podem ajudar no
desenvolvimento do vínculo entre mãe e filho. Tornam-se facilitadores desta
transição, pois à medida que a adolescente vai adquirindo novos conhecimentos,
apresenta uma nova postura. Oportunizar à adolescente a possibilidade de
integração e desenvolvimento da personalidade auxiliará no seu enfrentamento da
realidade de forma a estabelecer ou resgatar sua cidadania de forma participativa.
4 MATERIAL E MÉTODO
Este capítulo abordará: tipo de estudo, local da pesquisa, amostra, coleta dos
dados instrumento de coleta de dados, pré-teste, procedimentos éticos e análise
estatística.
4.1 TIPO DE ESTUDO
Para caracterizar a parturiente adolescente internada num hospital público de
Porto Alegre foi realizado um estudo quantitativo, do tipo transversal retrospectivo
(PEREIRA, 1995).
4.2 LOCAL DA PESQUISA
Escolheu-se como local de pesquisa o Hospital de Clínicas de Porto Alegre,
por ser este um hospital escola, vinculado a Universidade Federal do Rio Grande do
25
Sul (UFRGS), que é um hospital de referência no sistema de Saúde e tem uma
equipe de Enfermagem que desenvolve o Processo de Enfermagem.
Entre as áreas em que o hospital é conhecido como centro de excelência,
encontra-se o Centro de Referência em Programas de Assistência à Saúde da
Mulher, no qual está inserido o Programa de Assistência a Adolescente.
A gestante é admitida no Centro Obstétrico do Hospital de Clínicas de Porto
Alegre após ser avaliada e receber atendimento na emergência obstétrica. Além de
receber cuidados e assistência ao parto, neste momento é argüida tanto pela equipe
médica como pela enfermagem sobre sua situação no que se refere à saúde própria
como de seus familiares. No caso da enfermagem, a investigação é realizada
seguindo-se o roteiro da anamnese e exame físico da paciente obstétrica. Quando
recuperada do parto, a paciente e seu bebê são transferidos para a unidade de
internação obstétrica, também chamada de alojamento conjunto, onde baseados nas
informações já obtidas e ali também complementadas, recebe auxílio e orientações
puerperais até que tenha alta hospitalar.
4.3 AMOSTRA
O estudo foi constituído por dados contidos nos prontuários das adolescentes
internadas no Hospital de Clinicas de Porto Alegre que tiveram seus bebês, no
período de julho a dezembro de 2001.
26
A opção pela coleta de dados no segundo semestre de 2001 deveu-se ao
fato deste período constituir-se o segundo semestre de implantação e adaptação do
instrumento que serviu de principal fonte de dados para a pesquisa - Anamnese e
Exame Físico da paciente obstétrica pela enfermeira. Apesar de já estar com seu
manual de orientação para preenchimento desde junho de 2000, a equipe de
enfermagem deste serviço, iniciou sua aplicação efetiva em janeiro de 2001, sendo
necessário, a partir daí, um período de adaptação para o seu uso efetivo. Para
algumas variáveis, os dados foram complementados com dados coletados no
boletim de atendimento da emergência obstétrica e da declaração de nascidos vivos.
A seleção dos sujeitos ocorreu através de sorteio, constituindo uma amostra
de 174 prontuários de adolescentes, equivalendo a cinqüenta por cento das
adolescentes atendidas para a parturição da gestação no segundo semestre de
2001. Esta amostra corresponde à estimativa que o Serviço Materno Infantil do
Hospital de Clínicas de Porto Alegre tinha no período da elaboração do projeto desta
pesquisa e que equivalia a aproximadamente 700 atendimentos para partos de
pacientes adolescentes no ano de 2001.
Esta mãe adolescente é classificada pela idade cronológica proposta pelo
Ministério da Saúde (1999) que define a adolescência como período da vida
compreendido entre os dez anos completos e os vinte anos incompletos. Também a
OMS (1997) e a UNICEF consideram mãe adolescente, toda a puérpera com menos
de 20 anos.
27
4.4 COLETA DOS DADOS
Na intenção de relacionar dados e torná-los representativos do todo, foi
necessário à obtenção das informações em 174 prontuários das parturientes
adolescentes que tiveram seus filhos no período de julho a dezembro de 2001, na
instituição pesquisada, através de uma investigação realizada pela própria
pesquisadora. Esta coleta foi realizada do seguinte modo:
1. pesquisa na planilha de ocorrências do Centro Obstétrico do HCPA: nesta,
foram identificadas as pacientes que ali realizaram o parto e que têm a idade
classificada como adequada para a investigação, o que facilitou a obtenção
do número do prontuário. Após foi realizado o sorteio que definiu a amostra;
2. pesquisa direta ao instrumento de Anamnese e Exame Físico da Paciente
Obstétrica, que por ser elaborado pelo Comitê do Processo de Enfermagem
e pelo Grupo de Trabalhos Sobre Diagnóstico de Enfermagem (GTDE), foi
aprovado pela Comissão de Prontuários do HCPA para permanecer no
prontuário da paciente e arquivados no Serviço de Arquivo Médico e de
Informação em Saúde (SAMIS) da instituição. Como instrumento para coleta
e registro dos dados foi utilizado um formulário (Apêndice A), onde os
registros foram feitos manualmente, para posterior transcrição e análise
estatística.
28
4.5 INSTRUMENTO DE COLETA DE DADOS
O formulário de coleta de dados utilizado nesta investigação (Apêndice A) foi
elaborado tomando-se por base o instrumento de Anamnese e exame físico da
paciente obstétrica adotado no Hospital de Clínicas de Porto Alegre contemplando
aspectos representativos para a caracterização social e cultural da adolescente
(CROSSETTI, 2000),
De acordo com os objetivos definidos e da revisão da literatura, as variáveis
deste estudo foram selecionadas e agrupadas em variáveis de Identificação (idade,
raça e procedência); de aspectos social e cultural (escolaridade, presença de
acompanhante, parentesco do acompanhante, crença/religião e práticas e tabus);
relativas à maternidade (número de gestações, partos, cesarianas e abortos
anteriores, tempo do último parto ao atual e amamentação prévia); aspectos
relacionados a atual gestação (alterações do estilo de vida e trabalho devido a
gravidez, aceitação da gravidez, número de consultas de pré-natal e orientação
educacional na gestação) e hábitos sociais com repercussão na gestação
(tabagismo, alcoolismo e drogadição).
4.6 PRÉ-TESTE
Foi realizado um pré-teste coletando-se dados de dez prontuários de
adolescentes, quando se constatou a validade do instrumento de coleta de dados
29
para o alcance do objetivo proposto, apesar da necessidade de se adaptar o
instrumento nos itens de raça e escolaridade. A fim de atender os objetivos do
estudo duplicaram as fontes para obtenção dos dados de raça e de escolaridade,
obtendo-se os dados destes itens no boletim de atendimento obstétrico e na
declaração de nascidos vivos, respectivamente.
4.7 PROCEDIMENTOS ÉTICOS
O projeto foi submetido à apreciação da Comissão Científica e Comissão de
Pesquisa e Ética em Saúde do HCPA, que é reconhecida pela Comissão Nacional
de Ética em Pesquisa (CONEP)/MS como Comitê de Ética em Pesquisa do HCPA e
pelo Office For Human Research Protections (OHRP)/USDHHS, como Institucional
Review Board (IRB0000921), sendo aprovado em seus aspectos éticos e
metodológicos (Anexo A), de acordo com as Diretrizes e Normas Internacionais e
Nacionais, especialmente as resoluções 196/96 e complementares do Conselho
Nacional de Saúde. Somente após aprovação nesta comissão é que se iniciou a
coleta de dados.
Conforme Termo de Compromisso do Pesquisador (Apêndice B), a
pesquisadora comprometeu-se a manter o anonimato com relação à identidade dos
sujeitos pesquisados, bem como dos profissionais responsáveis pelos registros.
30
4.8 ANÁLISE ESTATÍSTICA
Os dados, lançados em planilha do programa estatístico EPI Info, foram
analisados através de análise estatística descritiva e apresentados em forma de
tabelas, com distribuição em freqüência absoluta e relativa.
5 RESULTADOS E DISCUSSÃO
Foram analisados os registros de enfermagem nas fichas de anamnese e
exame físico das adolescentes que tiveram seus partos no Hospital de Clínicas de
Porto Alegre, de Julho a Dezembro de 2001, totalizando 174 prontuários,
possibilitando assim caracterizar as adolescentes e aqui são apresentados conforme
foram selecionadas e agrupadas as variáveis relativas ao estudo.
5.1 ASPECTOS RELACIONADOS À IDENTIFICAÇÃO
Tabela 1 - Distribuição da idade das adolescentes. Porto Alegre – 2003
Idade n %
13 2 1,1
14 10 5,7
15 21 12,1
16 39 22,4
17 38 21,8
18 34 19,5
19 30 17,2
Total 174 100
Fonte: Pesquisa direta a prontuários do HCPA. Porto Alegre, out/dez. 2002.
32
O registro da idade das pacientes ocorreu em 100% das anotações da
enfermagem. Nas idades de 10 a 12 anos não foi encontrada nenhuma paciente. Ao
analisarmos as idades distintamente, temos no período dos 16 anos o maior
percentual (22.4%), seguido pelo período de 17 anos (21.8%).
Tabela 2 - Distribuição da procedência das adolescentes. Porto Alegre – 2003
Procedência n
%
Porto Alegre 116 66,7
Interior do Estado 53 30,5
Outro Estado 1 0,6
Sem registro 4 2,3
Total 174 100
Fonte: Pesquisa direta a prontuários do HCPA. Porto Alegre, out/dez. 2002.
Na tabela 2, são apresentados os dados relativos a procedência da paciente.
Chama atenção a diferença dos percentuais: 66.7% relacionado às adolescentes
moradoras de Porto Alegre e que tiveram seus filhos em um hospital de referência
para o Estado num percentual muito maior que o esperado, pois apenas 30.5% são
moradoras do interior. Nos dados do Sistema de Informação sobre Nascidos Vivos
para o ano de 1998 (Porto Alegre, 1999), que apresenta uma freqüência relativa de
32% para pacientes residentes no interior e que utilizam o Hospital de Clínicas de
Porto Alegre, notamos a semelhança aos dados encontrados no estudo.
33
Tabela 3 - Distribuição da cor/raça da adolescente. Porto Alegre – 2003
Raça/cor n
%
Branca 14 8,0
Preta 5 2,9
Sem registro 156 89,1
Total 174 100
Fonte: Pesquisa direta a prontuários do HCPA. Porto Alegre, out/dez. 2002.
Em apenas 10.9% dos registros na ficha de anamnese e exame físico da
paciente obstétrica havia a informação da raça e/ou cor da paciente. O alto
percentual de ausência de registros quanto à cor/raça da parturiente, determinou
questionamentos a respeito da causa dos não registros. Havia a dúvida se a
ausência de informações era devida somente a evitar-se repetição de informações
no prontuário da paciente ou se estava ligado a precauções com as questões de
discriminação racial. Devido à relevância deste dado, apresentamos na tabela 3.1 a
informação obtida do Boletim de Atendimento da Emergência Obstétrica quanto a
raça/cor.
Tabela 3.1 - Distribuição da cor/raça da adolescente segundo boletim de
atendimento.Porto Alegre – 2003
Raça/cor n %
Outra 16 9.3
Branca 98 56.3
Preta 19 10.9
Não se aplica 19 10.9
Sem registro 22 12.6
Total 174 100
Fonte: Pesquisa direta a prontuários do HCPA. Porto Alegre, out/dez. 2002.
34
Observando os dados das duas tabelas relativas a raça/cor, temos um
número significativo de adolescentes brancas, representando 56.3% da amostra,
seguidas pelas de cor preta: 10.9%. Também há um percentual de 9.3% da amostra
em que não foi possível categorizar a cor/raça da paciente, sendo agrupadas na
categoria “outra”, pois eram designadas no boletim de internação apenas como
mestiças,sem definir as raças em questão.
Na variável escolaridade também foi necessário buscar a informação em
outro formulário (declaração de nascimento), pois os prontuários que continham
registros totalizavam apenas 18.4%, como é apresentado na tabela 4.
5.2 ASPECTOS SOCIAL E CULTURAL
Tabela 4 - Distribuição da escolaridade da adolescente. Porto Alegre – 2003
Escolaridade n %
Nenhuma 0 0
1 a 3 anos 3 1,7
4 a 7 anos 9 5,2
8 a 11 anos 11 6,3
12 ou mais 0 0
Ignorado 9 5,2
Sem registro 142 81,6
Total 174 100
Fonte: Pesquisa direta a prontuários do HCPA. Porto Alegre, out/dez. 2002.
35
Na tabela 4.1 são apresentados os dados da variável escolaridade, obtidos da
declaração de nascimento, tendo o item “não se aplica” relativo ao número e
porcentagem dos registros já obtidos e descritos na tabela 4.
Tabela 4.1 – Distribuição da escolaridade da adolescente segundo a
declaração de nascimento. Porto Alegre – 2003
Escolaridade n %
Nenhuma 2 1,1
1 a 3 anos 4 2,3
4 a 7 anos 64 36,8
8 a 11 anos 44 25,3
12 ou mais 0 0
Ignorado 3 1,7
Sem registro 25 14,4
Não se aplica 32 18,4
Total 174 100
Fonte: Pesquisa direta a prontuários do HCPA. Porto Alegre, out/dez. 2002.
Observamos nesta tabela, que o nível de escolaridade com maior percentual
é o compreendido entre quatro a sete anos de estudo (36.8%). Somando-se este
dado aos relacionados à escolaridade entre um a três anos e aos de nenhuma
escolaridade encontramos 40.2% das adolescentes que estão tendo filhos no HCPA
não concluíram o ensino fundamental, índice que se aproxima de 50% quando se
associa o dado das duas tabelas relativas a escolaridade. Apenas 25.3%
conseguiram concluir o ensino fundamental. Não há registro de adolescente que
tenha concluído o ensino médio. Este dado torna-se mais preocupante quando
associamos a informação de que muitas destas mães adolescentes terão que se
manter economicamente, muitas vezes sem auxílio de companheiro ou outros
36
familiares e que disputarão vagas no mercado de trabalho em condições
desfavoráveis, pois não têm a escolaridade exigida e adequada à maioria dos
empregos com remuneração satisfatória.
Tabela 5 - Distribuição da presença de acompanhante com a adolescente.
Porto Alegre – 2003
Presença de acompanhante N %
Sim 136 78,2
Não 1 0,6
Sem registro 37 21,3
Total 174 100
Fonte: Pesquisa direta a prontuários do HCPA. Porto Alegre, out/dez. 2002.
Como pode ser visto na tabela 5, apesar de ter ocorrido ausência de registro
em 21.3% da amostra, a maioria das parturientes adolescentes, 78.2% estão
acompanhadas. Apenas uma adolescente, 0.6%, estava desacompanhada.
Tabela 6 - Distribuição do grau de parentesco do acompanhante da
adolescente. Porto Alegre – 2003
Parentesco do acompanhante n %
Esposo/companheiro 70 40,2
Mãe 43 24,7
Irmã 5 2,9
Tia 3 1,7
Amiga 2 1,1
Sogra 2 1,1
Pai 2 1,1
Outro 9 5,2
Sem registro 38 21,8
Total 174 100
Fonte: Pesquisa direta a prontuários do HCPA. Porto Alegre, out/dez. 2002.
37
Nesta tabela, observa-se que das pacientes acompanhadas, 40% estavam
com seus maridos ou companheiros, 24.7% com suas mães e 8.1% outros familiares
(irmã, tia, amiga, sogra e pai) e 5.2% por outros tipos de relações. Pode-se
considerar positivo o fato da maioria das adolescentes estarem acompanhadas pelo
esposo/companheiro, pois muitas vezes os parceiros ao participarem deste
acontecimento aumentam o vínculo e o comprometimento com a parceira e o bebê.
Tabela 7 - Distribuição da crença e/ou religião da adolescente. Porto Alegre –
2003
Crença/religião n %
Não tem 34 19,5
Católica 61 35,1
Espírita 2 1,1
Adventista 2 1,1
Sem registro 66 37,9
Total 174 100
Fonte: Pesquisa direta a prontuários do HCPA. Porto Alegre, out/dez. 2002.
Diferenciado por ser maioria, aparece o grupo que se denomina católico
(35.1%), sucedido pelo grupo que refere não ter crenças ou religião (19.5%). Espírita
e luterana apareceram em igual percentagem (1.1 %).
Tabela 8 - Distribuição das referências a práticas e tabus das adolescentes.
Porto Alegre – 2003
Práticas e tabus n %
Não refere 85 48,9
Não tomar banho 2 1,1
Não lavar cabelos 2 1,1
Outras 6 3,4
Sem registro 79 45,4
Total 174 100
Fonte: Pesquisa direta a prontuários do HCPA. Porto Alegre, out/dez. 2002.
38
Destaca-se o grupo que relata não ter referências a práticas ou tabus
(48.9%). Na segunda posição estão dois grupos com o mesmo percentual de
registros: os que referem não tomar banho na quarentena (1.1%) e os que referem
não lavar os cabelos na quarentena (1.1%). Apareceram ainda, na categoria
“outros”, alguns registros de medo de cuidar do bebê, desejo que a futura madrinha
do bebê corte as unhas deste e que o primeiro banho deve ser dado pela avó.
5.3 ASPECTOS RELATIVOS A MATERNIDADE:
A tabela 9 está relacionada às variáveis do número de gestações anteriores,
número de partos anteriores, número de cesáreas anteriores, número de abortos
anteriores, que foram agrupadas em apenas uma tabela para melhor visualização do
histórico obstétrico da parturiente adolescente.
Tabela 9 - Distribuição do número de gestações, partos vaginais, cesáreas e
abortos anteriores das parturientes adolescentes. Porto Alegre –
2003
Nº de eventos Gestações
anteriores
Parto vaginal Cesáreas Abortos
n % n % n % n %
Nenhum 142 81.6 0 0 0 0 0 0
Um 19 10.9 10 5.7 5 2.9 10 5.7
Dois 12 6.9 5 2.9 0 0 1 0.6
Não se aplica 0 0 158 90.8 168 96.5 162 93.1
Sem registro 1 0.6 1 0.6 1 0.6 1 0.6
Total 174 100 174 100 174 100 174 100
Fonte: Pesquisa direta a prontuários do HCPA. Porto Alegre, out/dez. 2002.
39
Em relação ao número de gestações, das 174 adolescentes que compuseram
a amostra desta pesquisa, 142 (81.6%) estavam em sua primeira gestação, 19
(10.9%) na segunda gestação e 12 adolescentes (6.9%) na terceira gestação.
Das trinta e uma adolescentes que já tiveram gestações anteriores, dez
(5.7%) tiveram um parto vaginal anterior e cinco (2.9%) tiveram dois partos vaginais.
Quanto ao número de cesáreas realizadas anteriormente a esta gestação, cinco
adolescentes (2.9%) tiveram uma cesárea. Nenhuma adolescente teve mais do que
uma cesárea anteriormente. Doze adolescentes nos prontuários constaram como
tendo abortos, sendo que dez (5.7%) apresentaram somente um evento anterior e
uma adolescente (0.6%) apresentou dois eventos anteriores à gestação atual. Estes
dados chamam a atenção e causam apreensão porque além de estarem tendo filhos
em idade precoce e se colocando em situação de risco, por mais de uma vez, estas
adolescentes aumentam as possibilidades do seu bebê ter complicações, pois
segundo Aumann e Baird (1996), a idade materna ótima para ter filhos está entre
vinte e trinta e cinco anos de idade, pois os filhos de mulheres com menos de
dezenove anos têm maior risco de nascerem prematuramente.
Tabela 10 - Distribuição do intervalo de tempo do último parto ao atual das
adolescentes. Porto Alegre - 2003
Tempo do último parto n %
Menos de 1 ano 4 2,3
Mais de 1/menos de 2 anos 7 4,0
Mais de 2/menos de 3 anos 7 4,0
Mais de 3/menos de 4 anos 2 1,1
Não se aplica 143 82,2
Sem registro 11 6,3
Total 174 100
Fonte: Pesquisa direta a prontuários do HCPA. Porto Alegre, out/dez. 2002.
40
Como podem ser observados na tabela 10, os intervalos de tempo com maior
representatividade, foram “mais de um ano e menos de dois” e “mais de dois e
menos de três”, com 4% cada um. Esta informação confirma a tendência da
adolescente de repetir a gravidez num período de um a dois anos após o último
parto e conseqüentemente ter outro filho ainda em período de adolescência (Sekeff,
2001).
Tabela 11 - Distribuição da ocorrência de experiência de amamentação prévia
das adolescentes. Porto Alegre – 2003
Amamentação prévia n %
Sim 15 8.6
Não 5 11.5
Não se aplica 150 86.2
Sem registro 4 2.3
Total 174 100
Fonte: Pesquisa direta a prontuários do HCPA. Porto Alegre, out/dez. 2002.
Considerando-se, especificamente, os registros de amamentação prévia
relacionada as adolescentes com histórico obstétrico, observa-se que os das que
amamentaram foram significativamente maior que o das que não amamentaram.
Apesar de não temos como avaliar o tempo da amamentação e se esta era exclusiva
ou não, podemos dizer que nestes casos foi facilitado o aumento do vínculo desta
mãe adolescente com seu filho.
41
5.4 ASPECTOS RELACIONADOS À GESTAÇÃO ATUAL:
Tabela 12 - Distribuição das alterações do estilo de vida e trabalho devido a
gravidez da adolescente. Porto Alegre – 2003
Alterações no estilo de vida devido à gestação n %
Parou de estudar 32 18.4
Parou de trabalhar 6 3.4
Foi morar com esposo/companheiro 6 3.4
Sem alterações 64 36.8
Outras 30 17.2
Sem registro 36 20.7
Total 174 100
Fonte: Pesquisa direta a prontuários do HCPA. Porto Alegre, out/dez. 2002.
Verificamos que, na tabela relativa a alterações do estilo de vida e trabalho
devido à gravidez, 36,8% não relataram alterações e que em 20.7% dos prontuários
não havia registro. Das que referiram alterações o item “parou de estudar” foi o de
maior abrangência, seguidos com 3.4% de freqüência respectivamente pelos itens
“parou de trabalhar” e “foi morar com o companheiro/esposo”. Dentre as que citaram
alterações que constava no instrumento como “outras”, as que mais se repetiram foi
tentar deixar de fumar, evitar bebidas alcoólicas, alimentar-se melhor, não conseguir
se alimentar, dormir mais, não sair a noite, ir morar em albergue para “mãe solteira”,
separação dos pais e mais carinho da família durante a gestação.
42
Tabela 13- Distribuição da aceitação da gravidez da adolescente. Porto Alegre
–2003
Aceitação da gravidez n %
Gravidez planejada 38 21.8
Gravidez não planejada/bem aceita 81 46.6
Gravidez não aceita/fica com o bebê 9 5.2
Gravidez não aceita/bebê para adoção 0 0
Outras 12 6.9
Sem registro 34 19.5
Total 174 100
Fonte: Pesquisa direta a prontuários do HCPA. Porto Alegre, out/dez. 2002.
A gravidez planejada entre as adolescentes que engravidam ainda é minoria,
21.8%, em contrapartida aos 58.7% que não planejaram a gestação. Dentre estas,
46.6% aceitaram bem a gestação, 5.2% das adolescentes não aceitaram, mas
ficaram com o bebê. O item “outra” e que corresponde a 6.9%, refere-se aos
registros de que o pai do bebê não aceitou a gravidez, mas sem referência a
aceitação da adolescente.
O elevado número de gravidez não planejada pode estar ligado à ausência ou
desconhecimento no uso de métodos anticoncepcionais. Como foi visto na revisão
bibliográfica, com a liberação sexual cada vez mais precoce e a falta de orientação
adequada aos jovens, a conseqüência deste ato muitas vezes é uma gestação não
planejada.
43
Tabela 14 - Distribuição do número de consultas de pré-natal realizadas pelas
adolescentes. Porto Alegre – 2003
Nº de consultas/pré-natal N %
Nenhuma 3 1.7
Uma 1 0.6
Duas 10 5.7
Três 12 6.9
Quatro 25 14.4
Cinco 15 8.6
Seis 25 14.4
Sete 20 11.5
Oito 17 9.8
Nove 10 5.7
Dez 9 5
Onze 5 2.9
Doze 1 0.6
Dezesseis 1 0.6
Sem registro 20 11.5
Total 174 100
Fonte: Pesquisa direta a prontuários do HCPA. Porto Alegre, out/dez. 2002.
Sabe-se que o número mínimo de consultas preconizado pelo Ministério da
Saúde (1995) para o pré-natal é seis, mas observamos na tabela 14, que 38% das
adolescentes não realizaram a quantidade mínima de consultas recomendadas. O
intervalo de maior realização de consultas foi de seis a oito (35%) e isoladamente
temos uma igualdade de freqüência, 14.4%, para as adolescentes que realizaram
quatro consultas e seis consultas.
44
Tabela 15 - Distribuição da realização de orientação educacional na gestação
atual das adolescentes. Porto Alegre – 2003
Orientação educacional na gestação atual n %
Não 87 50.0
Curso de gestante 12 6.9
Palestras 16 9.2
Sem registro 59 33.9
Total 174 100
Fonte: Pesquisa direta a prontuários do HCPA. Porto Alegre, out/dez. 2002.
Na tabela 15 verifica-se que a maioria das adolescentes não realizou
orientação educacional na gestação e quando realizaram tiveram preferência por
palestras.
O número expressivo das consultas de pré-natal abaixo do recomendado e da
não realização de orientação educacional, como curso de gestante e palestras com
enfoque na gestação e puerpério, constitui um alerta para as autoridades de saúde
do Estado, pois o número mínimo deve ser observado para que sejam evitadas
complicações.
5.5 HÁBITOS SOCIAIS COM REPERCUSSÃO NA GESTAÇÃO
Nas variáveis relacionadas aos hábitos sociais com repercussão na gestação
temos um grande número de prontuários sem registro, determinando
45
questionamentos sobre a importância dada a informações que vão influenciar na
saúde do bebê e da parturiente.
Tabela 16 - Distribuição do tabagismo entre as adolescentes. Porto Alegre –
2003
Tabagismo n %
Não 104 59.8
Sim-até 20 cigarros/dia 38 21.8
Sem registro 32 18.4
Total 174 100
Fonte: Pesquisa direta a prontuários do HCPA. Porto Alegre, out/dez. 2002.
Verificou-se que 59.8% das adolescentes não fumam, mas que 21.8%
mantém o habito de fumar até 20 cigarros ao dia mesmo durante a gestação. Em
18.4% dos prontuários das parturientes adolescentes não havia registro sobre
tabagismo.
Tabela 17 - Distribuição do uso do álcool entre as adolescentes. Porto Alegre –
2003
Alcoolismo n %
Não 51 29.3
Sim 90 51.7
Sem registro 33 19.0
Total 174 100
Fonte: Pesquisa direta a prontuários do HCPA. Porto Alegre, out/dez. 2002.
A tabela 17 evidencia que 29.3% das adolescentes não utilizaram bebidas
alcoólicas durante a gestação e que 51.7% o fizeram. Cabe salientar que durante a
pesquisa nos registros da enfermagem, observou-se que apenas em dois
prontuários das adolescentes, não havia a complementação “sem dependência”
46
para este hábito, fazendo-nos pensar que a maioria das adolescentes tinha
consciência dos malefícios que provêem da ingestão de bebidas alcoólicas
consideravam que se o fizessem somente nos finais de semana ou
esporadicamente, não haveria danos ao bebê.
Tabela 18 - Distribuição da drogadição das adolescentes. Porto Alegre – 2003
Drogadição n %
Não 138 79.3
Sim 1 0.6
Sem registro 35 20.1
Total 174 100
Fonte: Pesquisa direta a prontuários do HCPA. Porto Alegre, out/dez. 2002.
Pode-se observar que somente uma (0.6%) das adolescentes declarou que
era usuária de drogas e cento e trinta e oito adolescentes (79.3%) declararam que
não utilizavam drogas. Este resultado pode estar ligado ao fato das pacientes
temerem declarar este hábito por este ser ilegal. Estes dados contradizem os
encontrados por Cunha e colaboradores (1999), pois sabe-se que através da técnica
de imunoensaio para detecção de cocaína em mecônio de recém-nascidos,
realizada no Hospital de Clínicas de Porto Alegre, com a participação desta
pesquisadora, o índice dessas dosagens é bastante elevado. Também em 20.1%
dos prontuários não havia este dado, o que novamente indica a pouca valorização
para esta informação tão relevante para o atendimento da mãe bem como do recém-
nascido.
47
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os achados desta pesquisa permitem afirmar que o objetivo proposto foi
contemplado, pois agora se conhecem as características sócio-culturais das
adolescentes atendidas para parturição e que o conhecimento deste fato tem
repercussões para a organização do serviço de enfermagem na prestação do
cuidado.
Verificou-se que entre as adolescentes a maior representação, estava com
as de idade de 16 e 17 anos, de cor branca e com escolaridade compreendida entre
os oito e os 11 anos de estudo e o que chama atenção é que são procedentes de
Porto Alegre.
As adolescentes procuravam o atendimento, acompanhadas pelo
esposo/companheiro, o que decorre em orientações não apenas para a adolescente,
mas também para o acompanhante, de forma a facilitar sua participação no evento e
promover a interação. Diziam-se católicas e negavam práticas e tabus relacionados
ao momento vivido, mas das que relataram alterações no estilo de vida a maioria
interrompeu os estudos devido à gestação. O grupo caracteriza-se por estar na
primeira gestação, mas as que já tiveram filhos anteriormente mantiveram um
intervalo de um a dois anos após o último parto e amamentaram seus filhos.
48
Quanto aos aspectos relacionados a atual gestação, as adolescentes não
planejaram a gravidez, mas a aceitaram bem apesar de não realizarem o pré-natal
como recomendado, nem a orientação direcionada a gestação/parto/puerpério.
Também declararam que ingeriram bebidas alcoólicas durante a gestação, mas que
não fumaram e não usaram drogas.
O que surpreende nesta pesquisa é o grande número de formulários de
Anamnese e Exame Físico da Paciente Obstétrica sem preenchimento dos itens
relacionados aos aspectos sócio-culturais. Desta forma, fica evidenciada, a pouca
valorização a informações que são importantes para o atendimento humanizado,
com orientações eficientes e direcionado à realidade da parturiente adolescente.
Vale ressaltar, ainda, a necessidade de maior integração nos serviços de
assistência hospitalar e rede pública para a continuidade do apoio e de orientações,
de maneira a evitar a repetição do risco ao qual estão se submetendo, mas
principalmente, que auxilie e estimule a competência e transformação da parturiente
adolescente.
REFERÊNCIAS
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Medicina) - Escola de Medicina, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, 2000.
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Alegre: Artes Medicas, 1996. p. 13-96.
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enfermagem. Pelotas: Ed. Universitária/UFPel; Florianópolis: UFSC, 1999. 191 p.
APÊNDICE A - FORMULÁRIO DE PESQUISA
Numero______
ASPECTOS RELACIONADOS À IDENTIFICAÇÃO
Idade: ______ anos (99) sem registro
Procedência da paciente
(1) Porto Alegre (3) outro estado
(2) Interior do estado (4) outro país
(9) sem registro
Cor/raça da paciente
(1) branca (2) preta
(3) amarela (4) parda
(5) indígena (0) outra
(9) sem registro
ASPECTOS SOCIAL E CULTURAL
Escolaridade (em anos de estudos concluídos)
(1) nenhuma (2) 1 a 3 (9) sem registro
(3) 4 a 7 (5) 8 a 11
(6) 12 e mais (7) ignorado
53
Presença de acompanhante
(1) sim (9) sem registro
(2) não
Parentesco do acompanhante
(1) esposo/companheiro (6) sogra
(2) mãe (7) pai
(3) irmã (0) outro:
(4) tia (9) sem registro
(5) amiga
Crença e/ou religião
(1) não tem (5) adventista
(2) católica (0) outra:
(3) luterana (9) sem registro
(4) espirita
Referências a práticas e tabus
(1) não refere (5) usar faixa umbilical.
(2) não tomar banho na quarentena (0) outro:
(3) não lavar cabelos na quarentena (9) sem registro
54
(4) restrição de movimentos no puerpério
ASPECTOS RELATIVOS A MATERNIDADE
Número de gestações anteriores: (9) sem registro
Numero de partos anteriores: (9) sem registro
Numero de cesáreas anteriores: (9)sem registro
Número de abortos anteriores: (9)sem registro
Tempo do último parto ao atual
(1) menos de um ano
(2) mais de um e menos de dois anos
(3) mais de dois e menos de três anos
(4) mais de três e menos de quatro
(5) mais de quatro e menos de cinco
(6) acima de cinco anos
(0) outra:
(9) sem registro
Amamentação prévia
(1) sim (2) não
(8) não se aplica (9) sem registro
55
ASPECTOS RELACIONADOS A ATUAL GESTAÇÃO
Alterações do estilo de vida e trabalho devido à gravidez
(1) parou de estudar (0) outra:
(2) parou de trabalhar (9) sem registro
(3) foi morar com companheiro/esposo
Aceitação da gravidez
(1) gravidez planejada
(2) gravidez não planejada - bem aceita
(3) gravidez não aceita – fica com o bebê
(4) gravidez não aceita – bebê para adoção
(0) outra:
(9) sem registro
Número de consultas de pré-natal _______ (9) sem registro
Realização de orientação educacional na gestação atual
(1) não
(2) curso de gestantes
(3) palestras
(9) sem registro
56
HÁBITOS SOCIAIS COM REPERCUSSÃO NA GESTAÇÃO
Tabagismo
(1) não
(2) sim – até vinte cigarros/dia
(3) sim - mais de vinte cigarros/dia
(9) sem registro
Alcoolismo
(1) não
(2) sim – freqüência: _________
(9) sem registro
Drogadição
(1) não (2) sim – freqüência: ________
(9) sem registro
APÊNDICE B -TERMO DE COMPROMISSO DO PESQUISADOR
Eu, Regina Weissheimer, aluna regularmente matriculada no curso de
Mestrado em Enfermagem, da Escola de Enfermagem da Universidade Federal do
Rio Grande do Sul, pretendo desenvolver a dissertação para o mestrado
“Caracterização social e cultural da puérpera adolescente internada em um hospital
público de Porto Alegre”, sob orientação da Prof. Dra. Ana Lúcia de Lourenzi
Bonilha, vinculada ao Departamento de Enfermagem Materno Infantil da Escola de
Enfermagem da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, tratando de um estudo
retrospectivo, cujo objetivo é caracterizar social e culturalmente a puérpera
adolescente internada no HCPA. A obtenção dos dados está prevista para ser
realizada por meio de consulta ao instrumento de “anamnese e exame físico da
paciente obstétrica”, preenchido pelas enfermeiras das unidades obstétricas, no
período de julho a dezembro de 2001 e que permanece vinculado ao prontuário da
paciente.
Por se tratar de estudo cujos dados serão obtidos de registros contidos
nos prontuários das pacientes internadas no Hospital de Clinicas de Porto Alegre,
assumo o compromisso junto à Comissão de Ética e Pesquisa desta instituição de
coletar informações especificamente relacionadas aos objetivos apresentados no
projeto, relatar fielmente as informações obtidas nesta pesquisa bem como na
divulgação dos mesmos, garantindo o anonimato da identidade dos sujeitos
pesquisados e dos profissionais responsáveis pelos registros.
Porto Alegre, 06 de maio de 2002.
Regina Weissheimer – aluna / pesquisadora – Tel.: 99665215
Ana Lúcia de L. Bonilha – Orientadora – Tel.: 33165428
58
ANEXO A – Aprovação do Projeto pelo Grupo de Pesquisa e Pós-Graduação do
HCPA
Livros Grátis
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