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Alguns dos depoimentos das professoras também seguem o mesmo sentido.
Exemplo disso é a seguinte afirmação:
Do meu trabalho com a minha colega eu não vejo diferença, porque nós dividimos
tudo, ela me ajuda nas atividades, eu ajudo a dá banho, ela ajuda dá alimentação, eu
ajudo dá alimentação, essa divisão que elas falam que é pra tê comigo com a minha
colega, não tem essa divisão, nós fazemos todas atividades, todo trabalho em
conjunto. (Michele).
Quando admitem a divisão do trabalho, as trabalhadoras o fazem remetendo à
esfera da subjetividade, isto é, que as relações de hierarquia e a divisão do trabalho nos
Cmei’s dependem da forma como a dupla conduz essa relação. A professora Cecília se
expressa da seguinte forma sobre o assunto: “não há diferença de trabalho mesmo, comigo
não, na minha sala não.”. Outra representação que vela os conflitos e contradições produzidas
pela divisão do trabalho no interior dos Cmei’s é a atribuição dessa hieraquização nas
“outras” unidades e não na própria onde trabalham. Tanto professoras como as agentes
educativas reproduzem esse discurso de que em outras instituições essas relações existem,
mas no seu próprio trabalho não por causa do “profissionalismo”, da “ética” ou da forma
como cada uma conduz as relações de trabalho. Pode-se perceber essa representação na
seguinte fala:
Eu tenho assim, que aqui na nossa realidade, aqui acho que depende muito do
individual, depende muito da pessoa que você tá trabalhando, eu graças a Deus,
assim, num tenho esse tipo de problema não, sabe, eu me sinto até professora,
assim como a professora se sente agente, parece que a gente tá sempre assim, unida
uma com a outra, a gente veste a camisa, cada uma veste a camisa, então não tem
esse problema, porque eu acho que existe... vários cursos que eu fui, eu vejo esse
problema, assim, da agente educativa, não sei se você tá sabendo disso, que tem
esse problema da agente com o professor, que existe essa coisa, então tem professor
que num qué sabê de assumí, vamos supô, o banho , não quer ajudar, fala: isso não
é serviço meu ou as vezes vai fazer outra coisa e diz, isso aqui não vou fazer porque
isso aqui não é meu, as vezes arrumar o colchonete pra crianças deitarem, então
fala: eu não vou fazer, isso não me cabe a mim fazer, só que eu acho que isso aí é
problema que tem que ser sanado, superado, porque tanto o agente faz o serviço do
professor ou até mais, porque o agente fica... no meu caso que eu trabalho a tarde,
eu entro, meio dia e meia e a professora entra, uma e quinze, então quer dizer, nesse
período aí, eu é que fico com a criança, né? e então tem vários outros momentos
assim em que eu fico mais, tal, então eu acho que isso aí tem ser de consciência de
cada um, né? pensar que só porque eu sou professora fui formada pra isso, não sei
o quê,,, não sei o quê... eu não vou fazer isso? porque aqui a realidade é muito
diferente de uma escola, né? a pessoa tem que ter uma consciência disso, tem que
vê que eu tenho que trabalhar de um jeito e na escola de outro, né? aqui eu tenho
que assumi vários papeis, ao mesmo tempo eu não posso querer ser só... é o que as
vezes emperra um pouco é isso, porque isso não cabe a mim fazer, mas eu acho se o
agente tá ali, tá auxiliando, tá fazendo até o que o professor faz, então porque o
professor não pode tamém assumir as mesmas funções, não assumir, mas ajudar,
né? porque ali a gente tá junto, na sala todo mundo tem que fazê, tem que ajudá