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MÁRCIO ANDRADE COSTA
A TELEFONIA MÓVEL NO BRASIL:
OS EFEITOS DA SUA REGULAÇÃO SOBRE AS
ESTRATÉGIAS DAS OPERADORAS.
Dissertação submetida ao Núcleo de Pós-Graduação em
Administração da Universidade Federal da Bahia, como
requisito parcial para a obtenção do grau de Mestre em
Administração.
Orientador: Prof. Dr. Rogério Quintella
Salvador
2007
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TERMO DE APROVAÇÃO
MÁRCIO ANDRADE COSTA
A TELEFONIA MÓVEL NO BRASIL:
OS EFEITOS DA SUA REGULAÇÃO SOBRE AS ESTRATÉGIAS DAS
OPERADORAS.
Dissertação aprovada como requisito parcial para obtenção do grau de Mestre em
Administração, Universidade Federal da Bahia, pela seguinte banca examinadora:
Rogério Hermida Quintella – Orientador __________________________________________
Doutor em Gerenciamento Estratégico, Brighton University, UK
Universidade Federal da Bahia
Tomás de Aquino Guimarães ___________________________________________________
Doutor em Sociologia, Universidade de São Paulo (USP)
Universidade de Brasília
Oswaldo Ferreira Guerra _______________________________________________________
Doutor em Ciência Econômica, Universidade Estadual de Campinas (Unicamp)
Universidade Federal da Bahia
Salvador, 03 de setembro de 2007.
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AGRADECIMENTOS
A Deus, pela força e inspiração nos momentos das provações e por me fazer acreditar, mais
uma vez, na concretização dos desafios que se apresentam durante a minha existência. Que a
Sua vontade seja sempre soberana e que eu tenha humildade em acolhê-la.
A meus pais, Luís e Auxiliadora, pelo carinho, amizade e suporte aos quais, costumeiramente,
recorro.
A minhas irmãs, Lara e Flávia, com a presença ou ausência que me ensinam a conviver.
A minhas avós, cujas orações são a melhor expressão do carinho e apoio.
Ao Professor e Orientador Rogério que, ainda antes de nos conhecermos, apostou neste
projeto. Professor, aprendi a admirá-lo durante esse período. Espero ter contribuído à altura.
Esta foi a minha forma de gratidão.
Ao NPGA, pela estrutura, atenção e carinho dos seus colaboradores, principalmente, à Dacy e
Anaelia que sempre me receberam com a melhor expressão da Bahia - o sorriso.
Ao CNPQ, por ter me proporcionado esta conquista e por me fazer reafirmar sua importância
para a comunidade científica do nosso país.
Ao BNDES, pela pronta disponibilização dos livros e artigos que me foram encaminhados.
Aos senhores Sizuo Arakawa, Fernando Ornelas, Marcelo Almeida, Rafles Pereira, Roberto
Guenzburger e Márcio Laest que muito contribuíram com a realização deste trabalho.
Aos amigos e amigas, pela motivação nos momentos difíceis, vocês fazem a diferença !
Ao final, percebo que agradecer não é o bastante para demonstrar que reconheço a
participação de todos vocês nesta conquista.
A sabedoria é dom de Deus toda sabedoria
vem do Senhor e está com ele para sempre.
Quem poderá contar a areia das praias, as
gotas da chuva e os dias do mundo ?
Eclo 1,1-2
RESUMO
O presente trabalho tem por objetivo analisar como a regulação do Serviço Móvel Pessoal
(SMP), implementada pela Anatel em 2001, alterou a estrutura do mercado e as estratégias
das operadoras do setor de telefonia móvel no Brasil, entre 2002 e 2007. Para tanto, foi
realizada uma pesquisa qualitativa em torno do tema com a construção de um estudo de caso
múltiplo (YIN, 2003) acerca das maiores operadoras que atuam no setor Vivo, Tim, Claro e
Oi considerando a participação histórica dessas operadoras na base de clientes móveis em
operação no Brasil. O referencial teórico utilizado foi a análise estrutural da indústria
(PORTER, 1980). As técnicas de coleta dos dados seguiram as recomendações de Patton
(2002) na realização da pesquisa documental, entrevistas e observações não-participantes. A
conclusão da pesquisa é que o Serviço Móvel Pessoal representa as mudanças ocorridas no
arcabouço regulatório do setor de telefonia móvel, alterando deliberadamente a estrutura
desse mercado, reduzindo as barreiras de entrada no setor, elevando a intensidade da
concorrência entre as operadoras que nele se encontram e estabelecendo integrações verticais
entre estas e as operadoras de telefonia fixa. A conclusão a respeito das estratégias
implementadas pelas operadoras, diante da estrutura do mercado, após o SMP, é que as
operadoras analisadas Vivo, Tim, Claro e Oi - adotaram uma estratégia de liderança em
custos, competindo em um mercado típico de commodities até o lançamento de serviços que
caracterizam a convergência fixa-móvel (CURWEN, 2006) pela Oi, mudando seu
posicionamento estratégico no setor, adotando uma estratégia de diferenciação. Em
decorrência, a competição no setor de telefonia móvel foi alterada, dividindo o setor em dois
grupos estratégicos: o primeiro grupo formado pelas operadoras que mantiveram uma
estratégia de custos Vivo, Tim e Claro, e o segundo grupo formado por uma operadora que
adotou uma estratégia de diferenciação – a Oi.
Palavras-chave: Estratégia competitiva; Regulação; Convergência fixa-móvel; Telefonia
móvel.
ABSTRACT
This work analysis how the regulation named Serviço Móvel Pessoal (SMP), edited by
Anatel, in 2001, modified the mobile cellular market structure and the Brazilian mobile
companies strategies during the 2002-2007 period. In order to answer this question, a
qualitative research and a multi-case study (YIN, 2003) were developed on the biggest
Brazilian mobile companies Vivo, Tim, Claro and Oi based on their market share
historical indexes. The theoretical framework used was the structural analysis of industry
attractiveness (PORTER, 1980). The data collecting techniques followed Patton’s (2002)
recommendations on doing documental research, interviewing and non-participant
observations. This research concludes that the ‘Serviço Móvel Pessoal’ means the changes in
the mobile cellular market regulation, modifying its market structure in a deliberated process,
reducing entry barriers, increasing mobile cellular companies’ rivalry and introducing vertical
integration between them and fixed-wired companies. The conclusion around the strategies
implemented by mobile cellular companies, based on this market structure, after SMP, is that
all the operators analyzed by this research - Vivo, Tim, Claro and Oi implemented a cost
leadership strategy, competing in a commodities typical market until the introducing of fixed-
mobile convergence services (CURWEN, 2006) by Oi company, changing its strategic
position, adopting a differentiation strategy. As a consequence, the competition in the mobile
cellular market structure was modified, separating this sector into two strategic groups: the
first one, composed by the companies who maintained a cost leadership strategy - Vivo, Tim
and Claro, and the second one, composed by a company which adopted a differentiation
strategy – Oi.
Keywords: Competitive strategy; Regulation; Fixed-mobile convergence; Mobile
communications.
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 - Modelo Estrutura-Conduta-Desempenho ............................................................. 31
Figura 2 - Forças que atuam em uma indústria ..................................................................... 33
Figura 3 - Visão dos recursos da firma como uma vantagem sustentável .............................. 36
Figura 4 - Objetivos estratégicos da Anatel .......................................................................... 53
Figura 5 – Número de usuários por tipo de tecnologia móvel no Brasil ................................ 59
Figura 6 - Caminhos para migração da 2G para 3G .............................................................. 61
Figura 7 - Linha do tempo da regulação móvel no Brasil ...................................................... 65
Figura 8 - Representação gráfica da pesquisa e suas fontes de dados. ................................... 73
Figura 9 – Percentual de clientes móveis e o número de operadoras a serviço ...................... 86
Figura 10 - Evolução da base de clientes móveis celulares no Brasil (1990-Abr/2007) ......... 98
Figura 11 - Mapa estratégico das operadoras móveis antes da convergência fixa-móvel ..... 113
Figura 12 - Mapa estratégico das operadoras móveis após a convergência fixa-móvel ........ 113
Figura 13 - Índices percentuais de participação do mercado das operadoras móveis ........... 115
Figura 14 - Participação na receita líquida do mercado móvel celular ................................. 115
LISTA DE QUADROS
Quadro 1 - Operadoras móveis das Bandas A e B. ................................................................ 15
Quadro 2 - Tecnologias móveis disponíveis e suas características ........................................ 60
Quadro 3 - Correspondência entre as regiões licitadas e as Áreas geográficas do Brasil........ 74
Quadro 4 - Resultado das vendas das licenças do SMP ......................................................... 75
Quadro 5 – A Resolução 254/01 e as decisões das operadoras móveis. ................................. 76
Quadro 6 - Resoluções publicadas pela Anatel sobre o SMP ................................................ 77
Quadro 7 - Comparativo das alterações promovidas pelo SMP perante o SMC..................... 80
Quadro 8 - Indicadores de alteração estrutural da indústria ................................................... 90
Quadro 9 - Comparativo dos serviços ofertados pelas operadoras ......................................... 99
Quadro 10 - Nível de integração vertical e de convergência fixa-móvel das operadoras ...... 108
Quadro 11 - Comparativo entre planos e serviços das operadoras Vivo, Tim, Claro e Oi .... 165
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 - Linhas de pensamento sobre a estratégia empresarial ........................................... 23
Tabela 2 - Dimensões estratégicas analisadas ..................................................................... 111
Tabela 3 - Dimensões estratégicas das operadoras antes da convergência fixa-móvel ......... 111
Tabela 4 - Dimensões estratégicas das operadoras após a convergência fixa-móvel ............ 111
LISTA DE ABREVIATURAS
AMPS Advanced Mobile Phone Service
ANATEL
Agência Nacional de Telecomunicações
BCG Boston Consulting Group
CDMA Code Division Multiple Access
CSP
Código de Seleção de Prestadora
ERB Estação radio-base
FMC Fixe-mobile convergence
GSM
Global System
ICT Information and Communication Technology
IP Internet Protocol
ITU
International Telecommunication Union
NMT Nordic Mobile Telephone
ONU Organização das Nações Unidas
OECD
Organization for Economic Co
-
operation and Development
SMC Serviço Móvel Celular
SMP Serviço Móvel Pessoal
STFC
Sistema de Telefonia F
ixa Comutado
TACS Total Access Communications Systems
TDMA Time Division Multiple Access
TELEBRÁS
Telecomunicações Brasileiras S.A.
VoIP Voice over IP
WSIS
World Summit on the Information Society
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 14
1.1 CARACTERIZAÇÃO DO TEMA E PROBLEMA DE PESQUISA .......................................... 15
1.2 JUSTIFICATIVAS ..................................................................................................... 16
1.3 OBJETIVOS DA PESQUISA ........................................................................................ 19
1.3.1 Objetivo Geral ................................................................................................. 19
1.3.2 Objetivos Específicos ...................................................................................... 19
1.4 ESTRUTURA DO TRABALHO .................................................................................... 19
2 ESTRATÉGIA ........................................................................................................... 21
2.1 A ESTRATÉGIA DE NEGÓCIOS SOB UMA PERSPECTIVA HISTÓRICA .............................. 21
2.2 ESTRATÉGIA EMPRESARIAL: IDENTIFICANDO LINHAS DE PENSAMENTO ..................... 22
2.2.1 A Visão Externa da Formação da Estratégia e o Modelo SCP .......................... 29
2.2.2 A Visão Interna da Formação da Estratégia e o Modelo RBV .......................... 35
2.3 A ESTRATÉGIA EMPRESARIAL E A REGULAÇÃO DE MERCADOS .................................. 38
3 AS TELECOMUNICAÇÕES .................................................................................... 41
3.1 A DIMENSÃO HISTÓRICA ......................................................................................... 42
3.2 A DIMENSÃO ESTRUTURAL: CARACTERÍSTICAS DA INDÚSTRIA ................................. 43
3.3 A DIMENSÃO GEOGRÁFICA: AS TELECOMUNICAÇÕES NO BRASIL .............................. 46
3.3.1 Uma Perspectiva Histórica: do Telégrafo ao Período Pós-privatização ............. 47
3.3.2 Os Serviços de Telecomunicações no País ....................................................... 50
3.3.3 A Regulação do Setor: a Anatel enquanto Agência Regulatória ....................... 52
3.3.4 A Telefonia Móvel .......................................................................................... 56
3.3.4.1 O aspecto tecnológico ................................................................................. 57
3.3.4.2 A regulação na telefonia móvel: um processo em construção ...................... 62
4 METODOLOGIA ...................................................................................................... 66
4.1 ESTRATÉGIA E METODOLOGIA DE PESQUISA ............................................................ 66
4.2 TÉCNICAS DE COLETA DE DADOS ............................................................................ 67
5 ANÁLISE DOS DADOS ............................................................................................ 71
5.1 O SERVIÇO MÓVEL PESSOAL (SMP) .......................................................................... 73
5.2 A ESTRUTURA DO MERCADO PÓS-SMP ..................................................................... 84
5.2.1 O Processo Evolutivo do Setor de Telefonia Móvel do Brasil .......................... 84
5.2.1.1 A redução das barreiras de entrada no setor ................................................. 85
5.2.1.2 A intensidade da concorrência ..................................................................... 86
5.2.1.3 Os níveis de integração vertical entre operadoras de telefonia fixa e móvel . 87
5.2.1.4 Efeitos do processo evolutivo do setor nas operadoras analisadas ................ 90
5.2.2 O Processo Evolutivo do Setor e a Experiência Internacional .......................... 91
5.3 ESTRATÉGIAS COMPETITIVAS DAS OPERADORAS PÓS-SMP ........................................ 92
5.3.1 Análise Estrutural do Setor de Telefonia Móvel no Brasil ................................ 94
5.3.1.1 A ameaça de novos entrantes ...................................................................... 94
5.3.1.2 Intensidade da rivalidade entre os concorrentes ........................................... 97
5.3.1.3 A ameaça de produtos substitutos ................................................................ 99
5.3.1.4 O poder de negociação dos compradores ................................................... 102
5.3.1.5 O poder de negociação dos fornecedores ................................................... 103
5.3.1.6 Síntese da análise estrutural do setor de telefonia móvel do Brasil ............. 105
5.3.2 A Convergência Fixa-móvel enquanto Estratégia de Diferenciação ............... 107
5.4 A COMPETIÇÃO NO SETOR MÓVEL APÓS A CONVERGÊNCIA FIXA-MÓVEL ................. 109
6 CONCLUSÕES ........................................................................................................ 117
6.1 CONSIDERAÇÕES FINAIS ....................................................................................... 123
REFERÊNCIAS ............................................................................................................... 125
APÊNDICE A – ENTREVISTA EXPLORATÓRIA ..................................................... 139
APÊNDICE B - NEXT GENERATION REGULATION .............................................. 141
APÊNDICE C - BUILDING AN INCLUSIVE INFORMATION SOCIETY ............... 145
APÊNDICE D – ENTREVISTA COM A OPERADORA OI ........................................ 147
APÊNDICE E – ENTREVISTA COM A OPERADORA CLARO ............................... 149
APÊNDICE F – ENTREVISTA COM A OPERADORA TIM ..................................... 151
APÊNDICE G – ENTREVISTA COM A OPERADORA VIVO .................................. 152
APÊNDICE H – ENTREVISTA COM A ANATEL ...................................................... 156
APÊNDICE I – PLANOS E SERVIÇOS DAS OPERADORAS ANALISADAS .......... 165
14
1 INTRODUÇÃO
O setor de telefonia móvel no Brasil testemunhou profundas reestruturações ao final da
década de 90, quando da sua privatização. Seguindo uma tendência internacional, observada
em países como EUA, Inglaterra, França, Japão, Alemanha e em países da América Latina
como México, Chile, Argentina, Peru e Bolívia, o processo de privatização da telefonia móvel
no Brasil, iniciado em 1995, estendeu-se até 1998. Este processo só foi possível por mudanças
realizadas no aparato regulatório sobre a prestação dos serviços de comunicação do país pelo
Governo Federal (PIRES, 1999; NOVAES, 2000; NEVES, 2002), uma vez que o contexto
institucional vigente havia se estabelecido há vinte anos sem qualquer alteração significativa.
Tal reestruturação do setor pode ser considerada, dentre outros fatores, pela quebra do
monopólio estatal, a privatização das empresas de telefonia, o programa de ampliação e
recuperação do sistema de telecomunicações, com investimentos em torno de U$ 90 bilhões
de dólares e a substituição do Código Brasileiro de Telecomunicações pela Lei Geral de
Telecomunicações (SBRAGIA e outros, 2004), que estabelecia as condições legais de
operação do setor e a criação de uma agência reguladora para tanto, a Agência Nacional de
Telecomunicações (Anatel). Como resultados, o Brasil encerrou o ano de 2006 com um total
de 99,9 milhões de celulares em uso (ANATEL, 2007a), representando uma linha de telefonia
móvel ativa a cada dois brasileiros.
O presente trabalho visa analisar os impactos na estrutura do setor de telefonia móvel do
Brasil e as estratégias, diante de tal estrutura, das maiores operadoras que atuam nesse setor–
Vivo, Tim, Claro e Oi, decorrentes do arcabouço regulatório que se fez presente após a
privatização do setor, especificamente, a partir de 2002, quando teve início o regime
institucional denominado, pela Anatel, de Serviço Móvel Pessoal. Por conseguinte, os efeitos
dessas estratégias sobre a competição entre estas operadoras são analisados, utilizando-se uma
estratégia de pesquisa do tipo estudo de caso múltiplo (YIN, 2003). Para tanto, este capítulo
15
caracteriza o tema a ser analisado, apresenta as justificativas para a realização da pesquisa,
seus objetivos gerais e específicos e a maneira pela qual o trabalho foi conduzido.
1.1 CARACTERIZAÇÃO DO TEMA E PROBLEMA DE PESQUISA
Em 1997, em conseqüência do processo de privatização, o setor de telefonia móvel do Brasil
apresenta características distintas do monopólio estatal anterior a esse período. Inicialmente,
nove empresas privadas, denominadas empresas da Banda B da telefonia celular, começaram
a ofertar seus serviços, iniciando a competição do setor no país. Posteriormente, como
resultado da privatização das oito estatais que controlavam a exploração do serviço móvel no
Brasil, denominadas empresas da Banda A da telefonia celular, tem-se um mercado formado
por 20 grupos de operadoras de telefonia móvel, atuando nas regiões que definiam o território
nacional, conforme o quadro a seguir.
Região Estados da Federação
Operadora
Banda A (Tecnologia) Banda B (Tecnologia)
1 SP Capital Telesp Celular (CDMA) BCP (TDMA)
2 SP Interior
Telesp Celular (CDMA) e
CTBC (TDMA)
TESS (TDMA)
3 RJ e ES
Tele Sudeste Celular
(CDMA)
ATL (TDMA)
4 MG Telemig Celular (TDMA) Maxitel (TDMA)
5 PR e SC
Tele Celular Sul (TDMA)
e Sercomtel Celular
(TDMA)
Global Telecom (CDMA)
6 RS
Celular CRT (TDMA e
CDMA) e Tele Celular
Sul (TDMA)
Telet (TDMA)
7
AC, RO, MT, MS, TO,
GO e DF
Tele Centro Oeste Celular
(TDMA e CDMA) e
CTBC (TDMA)
Americel (TDMA)
8 AM, RR, PA, AP e MA
Tele Norte Celular
(TDMA)
Norte Brasil Telecom
(TDMA e CDMA)
9 BA e SE
Tele Leste Celular
(CDMA)
Maxitel (TDMA)
10 PI, CE, RN,PB, PE e AL
Tele Nordeste Celular
(TDMA)
BSE (TDMA)
Quadro 1 - Operadoras móveis das Bandas A e B.
Fonte: Adaptado de Anatel (2007d, 2007e).
Em 2001, a Anatel realizou, enquanto agência reguladora do setor, a venda de novas áreas
para a exploração da telefonia móvel no país, agora divididas em Bandas C, D e E, em um
16
processo de licitação que foi caracterizado pela implementação de novas regras para o setor,
denominado Serviço Móvel Pessoal (SMP).
Sob o contexto regulatório do SMP, alguns fatos puderam ser observados: introdução de uma
nova tecnologia no setor denominada GSM; aumento do número de operadoras móveis,
competindo por um mesmo mercado; planos de serviços que incluíam benefícios para
chamadas de longa distância nacional ou que integravam serviços de telefonia fixa, móvel e
acesso à Internet em um único pacote e, por fim, a participação de capital dos grupos
controladores das operadoras móveis do país em operadoras da telefonia fixa, a exemplos da
Oi, Claro, Brasil Telecom, CTBC e Vivo.
É diante desse cenário
1
- novas regras de operação, nova tecnologia, novas operadoras no
mercado e ofertas de serviços mais abrangentes à sociedade - que emerge a questão de partida
desta pesquisa: como a regulação do Serviço Móvel Pessoal, implementada pela Anatel em
2001, alterou a estrutura do mercado e as estratégias das operadoras do setor de telefonia
móvel no Brasil, entre 2002 e 2007 ?
1.2 JUSTIFICATIVAS
As justificativas de realização deste trabalho podem ser agrupadas em três categorias: a
primeira delas emerge da revisão da literatura existente sobre o tema. A segunda justificativa
emerge de observações do comportamento das operadoras no mercado nacional e a terceira
delas emerge da importância social do tema.
Inicialmente, a literatura que aborda o setor de telefonia móvel tradicionalmente o faz a partir
do conceito das telecomunicações, de modo abrangente e com diferentes propósitos. Nesse
sentido, é possível identificar uma abordagem histórica das telecomunicações no Brasil
(CAVALCANTE, 1999; NOVAES, 2000; BNDES, 2001; DIAS, 2002) que retratam a
evolução cronológica do setor, associando eventos a períodos específicos da história do país.
Há, ainda, trabalhos sobre a estratégia em telecomunicações que tratam, em sua maioria, da
perspectiva das empresas de telefonia fixa ou móvel perante seus clientes e os produtos que
1
Livera e Moraes (2002, p.1) apresentam o mesmo cenário após o SMP.
17
lhes são ofertados (SANTA RITA e SBRAGIA, 2004; GUILHOTO e RUBAL, 2004) ou
analisando as características dessa indústria no Brasil (FILHO e CORREIA, 1999; SBRAGIA
e outros, 2004) ou nos países desenvolvidos como referência para o tema (ARMSTRONG,
1997; GAFFARD e KRAFFT, 2000; FRANSMAN, 2001a, 2001b). Tais publicações, no
entanto, não abordam características atuais de prestação do serviço, como a convergência
fixa-móvel, definida como a integração de serviços de telefonia fixa e móvel disponibilizados
por uma mesma operadora (PASSMORE, 2005; CURWEN, 2006; BUCKLEY, 2007). Sob a
vertente tecnológica, as publicações apresentam um viés técnico nas análises comparativas
entre as tecnologias disponíveis para o setor, bem como os serviços que são possíveis de
serem ofertados em sua decorrência (BLOCH-MORANGE e FONTELA, 2003; PEREIRA e
GUEDES, 2004). A abordagem econômica da regulação é outro tema comum entre as teses e
dissertações sobre as telecomunicações no país, porém enfatizando o período da privatização
(PIRES, 1999; FREITAS, 2000), não se estendendo ao período pós SMP, sendo possível
identificar, sob essa ótica, algumas publicações de instituições públicas que analisam a
regulação de diversos setores no Brasil, dentre os quais as telecomunicações (BNDES, 2001;
SALGADO e MOTA, 2005).
Diante da pesquisa exploratória da literatura, percebeu-se que os trabalhos não apresentam
abordagens que centralizem, em uma mesma esfera, a regulação, a estratégia das operadoras e
a competição do setor de telefonia móvel, no Brasil, a partir do SMP, incluindo-se as
características dos serviços convergentes.
A segunda justifica se com relação ao mercado. A concentração das operadoras móveis,
após o SMP, despertou uma questão sobre o nível de concorrência que havia se estabelecido
entre estas, perante o surgimento de um oligopólio
2
no mercado nacional, constituído pelas
operadoras Vivo, Tim, Claro, Oi, Brasil Telecom, Telemig e Amazônica Celular, CTBC e
Sercomtel. Uma vez que os prestadores desse serviço deveriam guiar seus comportamentos
em consonância com o aspecto regulatório, então o SMP deve ter previsto a criação de um
mercado oligopolizado e, nesse contexto, a Anatel, enquanto responsável por definir as regras
do setor, supostamente, previu uma transformação no vel da concorrência que se
estabeleceria no mercado, cujo mérito não poderia ser desprezado. Ainda, uma outra
2
Um oligopólio é um estado entre um monopólio, onde existe apenas uma empresa no mercado, e a indústria em
concorrência perfeita, onde existem muitas empresas atuando no mercado e a entrada destas é tão fácil que as
empresas não afetam umas às outras, mas são afetadas pelas condições gerais do mercado (PORTER, 1980,
p.97).
18
justificativa que pode ser apresentada, a partir das observações no mercado, é o fato de que a
oferta dos serviços de telefonia móvel, a partir de 2006, assumiu uma forma até então não
observada. Com a consolidação do setor em torno dessas operadoras, empresas de telefonia
fixa e móvel passaram a ter os mesmos controladores e iniciaram a oferta de planos de
telefonia móvel que incorporavam serviços de telefonia fixa e de Internet sob um único
pacote. Em seguida, as demais operadoras iniciaram ofertas de pacotes com minutos gratuitos
ou com valores diferenciados para clientes que utilizassem, em ligações de longa distância, a
prestadora fixa do mesmo grupo da prestadora móvel. A questão que surgiu foi averiguar se a
estrutura organizacional dessas empresas fixas e móveis, pertencentes a um mesmo grupo,
como a Oi e a antiga Telemar, a Tim e a Tim Celular 41, a Claro e a Embratel, a Vivo e a
Telefônica, apresentava alguma relação com a oferta de serviços convergentes e até que ponto
esse comportamento das operadoras móveis constitui uma vantagem competitiva, como
definida por Porter (1980, 1996).
A terceira justificativa para a realização deste trabalho está pautada na importância social das
comunicações móveis para o Brasil e para o mundo. A realização do World Summit on the
Information Society, em Genebra, Suíça, no mês de dezembro de 2003, pela Organização das
Nações Unidas (ONU), almejando a construção, a 2015, de uma sociedade global da
informação, promovendo a difusão do conhecimento e do desenvolvimento a todas as nações,
provocou a atenção das lideranças políticas mundiais acerca da telefonia móvel. Isto se deu
pelo fato de que alguns objetivos e compromissos comuns e de interesse e escala mundiais
foram traçados e assumidos pelas nações participantes da ONU, dentre elas o Brasil, visando
a “garantir que mais da metade dos habitantes do mundo tenham acesso a alguma tecnologia
de informação ou comunicação” (WSIS, 2004, p.12). Logo, visto que a telefonia móvel tem
sido a tecnologia de comunicação que mais se expandiu mundialmente, ao final da década de
90 (FRANSMAN, 2001a; ITU, 2005) e, considerando-se que, no Brasil, ela supera em 100%
o número de usuários da telefonia fixa, ela torna-se o principal meio para a construção dessa
sociedade global, como confirmado no encontro da União Internacional das
Telecomunicações (APÊNDICE C) em Salvador, Bahia, que contava com a presença dos
dirigentes dos países da América Latina e Caribe, dentre os quais o Brasil é o líder de acessos
móveis.
Uma vez caracterizado o tema da pesquisa e apresentadas as justificativas para sua realização,
é possível delinear seus objetivos gerais e específicos, conforme seguem.
19
1.3 OBJETIVOS DA PESQUISA
1.3.1 Objetivo Geral
Analisar como a regulação do Serviço Móvel Pessoal, implementada pela Anatel em 2001,
alterou a estrutura do mercado e as estratégias das operadoras do setor de telefonia móvel no
Brasil, entre 2002 e 2007.
1.3.2 Objetivos Específicos
A fim de alcançar o objetivo principal desta pesquisa, os seguintes objetivos específicos são
apresentados:
a) Identificar as alterações regulatórias promovidas pelo SMP;
b) Analisar a estrutura do mercado decorrente de tais alterações;
c) Identificar as estratégias implementadas pelas operadoras diante da estrutura do mercado;
d) Analisar os efeitos dessas estratégias sobre a competição no mercado.
1.4 ESTRUTURA DO TRABALHO
Esta dissertação está estruturada em seis capítulos que apresentam, respectivamente, o tema, o
problema e os objetivos de pesquisa (Capítulo 1), uma revisão da literatura em torno dos
conceitos de estratégia de negócios (Capítulo 2) e das telecomunicações (Capítulo 3), a
metodologia de pesquisa utilizada (Capítulo 4), a análise dos dados (Capítulo 5) e a conclusão
da pesquisa (Capítulo 6).
20
Este primeiro capítulo caracterizou o tema, a justificativa e a problemática da pesquisa,
tornando conhecidos os objetivos geral e específicos, bem como a estrutura deste trabalho.
O segundo capítulo diz respeito à estratégia enquanto campo da Ciência da Administração.
São apresentadas uma breve visão histórica sobre o conceito da estratégia e algumas linhas de
pesquisa acerca da formação da estratégia nas organizações, subsidiando o debate que existe
na literatura entre a origem interna e externa da formação da estratégia. Como referencial
teórico, este capítulo ressalta a influência externa sobre a formação da estratégia competitiva
(PORTER, 1980), apresentando, ainda, a relação entre a estratégia e a regulação de mercados,
este último como um dos fatores externos determinantes na formação da primeira.
O terceiro capítulo revisa o tema das telecomunicações em torno de suas dimensões históricas
e das características estruturais de sua indústria. Em seguida, são apresentados o surgimento
do setor no Brasil, os serviços de telecomunicações aqui existentes, a definição da telefonia
móvel enquanto parte da indústria de telecomunicações, seus aspectos tecnológicos e o
aspecto regulatório do setor.
O quarto capítulo apresenta a metodologia de pesquisa utilizada, os fundamentos e processos
metodológicos inerentes à coleta e análise de dados qualitativos aqui explorados,
contextualizando a teoria com os procedimentos de pesquisa.
O quinto capítulo realiza a análise dos dados coletados durante a pesquisa e está organizado
em itens que visam atender, por meio da análise dos dados, os objetivos específicos da
pesquisa.
O sexto capítulo conclui o trabalho apresentando o resultado dessas análises. Este capítulo
possui, ao seu final, considerações a respeito de possibilidades futuras de pesquisa em torno
do tema estudado.
21
2 ESTRATÉGIA
2.1 A ESTRATÉGIA DE NEGÓCIOS SOB UMA PERSPECTIVA HISTÓRICA
O conceito de estratégia surgiu no contexto militar tal qual a capacidade dos generais em
antever e planejar ações durante conflitos militares. É comum citar Sun Tzu, general chinês
do século IV a.C, como autor que primeiro ilustra a definição da estratégia na literatura.
Outrossim, segundo Ghemawat (2002), os primeiros conceitos da estratégia, no âmbito dos
negócios, referem-se às decisões tomadas pelos executivos das grandes firmas industriais
americanas, ao final do século XIX e início do século XX, motivados pelas possibilidades de
investimentos na produção de bens em larga escala. Tais decisões tinham por objetivo alterar
as condições do ambiente em que atuavam as grandes corporações, para a aquisição de
vantagens que se traduzissem em melhores desempenhos da organização perante seus
concorrentes. A necessidade de uma orientação formal para essas decisões é o que impulsiona
algumas publicações na década de 1960, nos Estados Unidos, através das obras de Sloan
(1963), Chandler (1963) e Ansoff (1965) em torno da política de negócios
3
e do planejamento
estratégico voltado às grandes corporações industriais.
Durante a década de 70 o desenvolvimento teórico do campo ganha impulso e novas
propostas sobre a formação da estratégia ou sobre ferramentas de planejamento estratégico
para as organizações são encontrados em autores como Andrews (1971) e Christensen (1976).
O tema despertou, ainda, o interesse de grupos de consultorias como, por exemplo, o Boston
Consulting Group (BCG), representado por seu fundador Bruce Henderson, que auxiliaram no
3
Estratégia e política de negócios eram utilizados muitas vezes como sinônimos nessa época. Ver Quintella
(1993, p.15) para uma distinção clara a esse respeito.
22
enriquecimento do campo, propondo ferramentas de análise estratégica em que a estratégia
concebida racional e analiticamente era tida como condição sine qua non para a sobrevivência
e crescimento das organizações, cujo ambiente econômico apresentasse algum nível de
concorrência.
Nos anos 80, a publicação de Porter (1980), chamada Estratégia Competitiva, consolidou a
visão econômica no campo da estratégia e a busca pela vantagem competitiva tornou-se a
grande discussão dos debates na literatura
4
. A essa altura, o campo da estratégia havia se
consolidado na academia, surgindo diversas propostas a respeito de sua formação,
proporcionando novos desafios às pesquisas no campo. É nesse contexto que o próximo item
apresenta uma proposta de classificação a respeito da formação da estratégia.
2.2 ESTRATÉGIA EMPRESARIAL: IDENTIFICANDO LINHAS DE
PENSAMENTO
É comum identificar na literatura sobre estratégia (MINTZBERG, AHLSTRAND e
LAMPEL, 2000; WHITTINGTON, 2002) a categorização de autores e suas concepções sobre
o tema, observando-se as peculiaridades entre as diferentes visões de um mesmo campo
teórico, permitindo situar as teorias ou linhas de pesquisa que estão sendo desenvolvidas na
área. Buscando explorar e conhecer as diferentes visões sobre a formação da estratégia, a fim
de se estruturar o referencial teórico deste trabalho, é apresentada uma classificação sobre tal
tema consolidada em onze grupos conforme sintetiza a TABELA 1, na página seguinte.
4
Mintzberg, Ahlstrand e Lampel (2000) apontam um grande impulso nas publicações ocasionado pelos debates
em torno da publicação de Porter (1980).
23
Tabela 1 - Linhas de pensamento sobre a estratégia empresarial
Grupos Visão sobre a formação da estratégia Locus de formação da estratégia
Grupo 1 - Processo formal;
- Dicotomia entre o planejamento e a
implementação da estratégia;
- Concepção econômica, tendo em vista a
maximização de resultados;
- Externo;
Grupo 2 - Origina-se na liderança organizacional;
- Pode ser pretendida ou emergente;
- Influencia o comportamento dos demais
participantes da organização;
- Interno;
Grupo 3 - Origem descentralizada;
- Foco no processo de formação da estratégia
pelos tomadores de decisão;
- Interno;
Grupo 4 - A formação da estratégia sofre influência dos
valores que permeiam a ação individual e
coletiva dos membros da organização;
- Interno;
Grupo 5 - A estratégia deve considerar os recursos
tangíveis e intangíveis da organização que lhe
permitam uma vantagem competitiva
dificilmente imitável;
- Interno;
Grupo 6 - A estratégia emerge da interação entre as
competências essenciais de uma organização em
gerir seus recursos ou ativos;
- Interno;
Grupo 7 - A estratégia emerge do aprendizado coletivo da
firma;
- Interno;
Grupo 8 - A estratégia deve considerar aspectos
tecnológicos e organizacionais
concomitantemente;
- Interno e externo;
Grupo 9 - A estratégia emerge da configuração
organizacional;
- Interno ou externo;
Grupo 10 - As estratégias mais adequadas a um ambiente
emergem como processos competitivos entre as
organizações;
- Externo;
Grupo 11 - Busca descrever a formação da estratégia
enquanto um processo que sofre influências
internas (sociais e tecnológicas) e externas
(sistêmicas ou do ambiente) paralelamente;
- Interno e externo;
Fonte: Adaptado de Mintzberg, Ahlstrand e Lampel (2000) e Whittington (2002).
O primeiro grupo apresenta as concepções mais clássicas ou ortodoxas sobre a estratégia. Os
autores visualizam a estratégia de maneira dicotômica, distinguindo planejamento e
implementação, entendendo-a sob a forma de planos ou decisões orientadas por objetivos e
políticas corporativas pré-estabelecidas. Dentro dessa perspectiva, a ação estratégica
acompanha o que foi previamente definido pelos estrategistas da organização e a estratégia
torna-se o resultado da análise comparativa entre lado interno e externo da firma para os
autores desse grupo (ANSOFF, 1965; ANDREWS, 1971; CHRISTENSEN, 1976; PORTER,
1979, 1980), buscando oportunidades proporcionadas pelo mercado. A organização é tida em
um contexto de mercado analisado de maneira relativamente estática e a estratégia, uma vez
24
definida, está voltada ao aumento das taxas de retorno dos investimentos realizados pelas
organizações, ou seja, a concepção econômica da estratégia (RUMELT, SCHENDEL e
TEECE, 1991) é o resultado da aquisição de vantagens competitivas, objetivo único do
pensamento estratégico das empresas em que “o planejamento racional é o meio de obtê-las”
(WHITTINGTON, 2002, p.13).
Como exemplo do trabalho desse grupo de autores, a análise estrutural da indústria de Porter
(1980) defende um posicionamento estratégico da empresa dentro de uma indústria como
forma de defender-se das forças que nela atuam ou influenciá-las a seu favor. As estratégias
genéricas de custo, diferenciação de produtos ou enfoque (PORTER, 1980, 1981) são o meio
para se adquirir tais vantagens competitivas perante a concorrência.
As teorias desse grupo visam a formulação de estratégias em torno de produtos e mercados da
firma, utilizando, em muitos casos, o conceito de sinergia
5
(ANSOFF, 1965, 1990) como
forma de dirimir dúvidas dentre as opções estratégicas da ação. As matrizes SWOT
6
(ANDREWS, 1971), BCG
7
e a análise estrutural da indústria (PORTER, 1980) são os
principais legados desse primeiro grupo de autores sobre a formação da estratégia.
O segundo grupo da classificação propõe uma visão de estratégia enquanto uma perspectiva
na qual a estratégia é criada a partir de concepções do líder organizacional (WESTLEY e
MINTZBERG, 1989; COLLINS e PORRAS, 1991) sobre novas oportunidades de negócio.
Motivadas e associadas à visão do líder, a estratégia pretendida e, ao mesmo tempo
emergente, transfere-se do topo para todos os níveis organizacionais, proporcionando
vantagens competitivas quando implementadas, podendo ser concebida sob diferentes formas.
A liderança organizacional assim transfere aos demais componentes da organização suas
experiências e visões acerca da estratégia, de tal modo que os comportamentos individuais
tornam-se função de um objetivo estratégico que se origina no topo da hierarquia
organizacional.
Diferentemente do grupo anterior, cuja origem da estratégia era centralizada na estrutura da
organização, o terceiro grupo entende a formação da estratégia a partir da construção ou
5
Ansoff (1965) atribui um capítulo para definir o conceito de sinergia (Capítulo 5) e repete o mesmo conceito
posteriormente (ANSOFF, 1990).
6
Acrônimo de Strengths, Weaknesses, Opportunities and Threats, cuja tradução é Forças, Fraquezas,
Oportunidades e Ameaças respectivamente.
7
Acrônimo de Boston Consulting Group.
25
interpretação da realidade pelos tomadores de decisão nas organizações, em que suas
características individuais influenciam a estratégia concebida pela organização. Simon (1965),
por exemplo, analisando os aspectos psicológicos das decisões administrativas, propõe a
racionalidade limitada do indivíduo peculiar às decisões organizacionais. Os autores desse
grupo buscam entender como a estratégia é processada e quais os aspectos cognitivos que
suportam as decisões estratégicas tomadas por aqueles que lidam diretamente com ela.
Autores como Eisenhardt e Zbaracki (1992) ou Schoemaker (1993) abordam essa questão.
Para o quarto grupo, a estratégia organizacional reflete valores, tradições e culturas da ação
individual ou coletiva (STAW, 1991), uma vez que a organização é tida como uma sociedade
em que sua cultura e a cultura dos indivíduos que dela fazem parte interferem e condicionam
o comportamento organizacional. Tal influência concretiza-se no estilo de tomada de
decisões, na resistência a mudanças estratégicas, nos valores dominantes da organização, em
seus produtos, enfim, na maneira pela qual a estratégia é concebida, deliberada e
emergentemente, contextualizada nas atividades da empresa.
O quinto grupo diz respeito à valorização dos recursos tangíveis e intangíveis da organização
recursos humanos, recursos materiais e organizacionais na formação de uma estratégia
baseada em recursos ou Resource-Based-View (RBV) (WERNERFELT, 1984; BARNEY,
2001; BARNEY, WRIGHT e KETCHEN, 2001) ou uma estratégia formada,
primordialmente, a partir de características internas das firmas.
A firma é vista como um conjunto de recursos que devem ser explorados, proporcionando
diferenças não facilmente imitáveis pelas firmas concorrentes, ou seja, a vantagem
competitiva de uma firma é obtida a partir de seus recursos. O desenvolvimento de tais
recursos deve ser promovido pela organização e à medida que ocorram alterações em torno
desses recursos, novos recursos devem ser identificados, melhorados ou disponibilizados de
modo a se obter uma nova vantagem competitiva cuja imitação pelos concorrentes seja
custosa a ponto de desmotivar o esforço organizacional nesse sentido.
O sexto grupo não necessariamente se opõe à visão baseada em recursos, mas apresenta uma
outra forma de visualizar a origem interna das vantagens competitivas, agora representadas
por processos idiossincráticos de coordenação dos ativos da firma diante de mercados que
apresentam altos níveis de incerteza, que tornam o planejamento estratégico formal das firmas
rapidamente obsoletos (BETTIS e HITT, 1995; TEECE, PISANO e SHUEN, 1997).
26
Mesmo compartilhando similaridades com a RBV, tais como uma formação interna da
estratégia e a utilização de recursos intangíveis de difícil imitação, as capacidades dinâmicas
da firma associam o conceito de competências à vantagem competitiva. A firma é tida como
um conjunto de capacidades ou competências essenciais
8
habilidades - cuja interação
encerra produtos a ela peculiares ou a torna competitiva. Tal habilidade ou competência
essencial não significa algum tipo de eficiência per se. Ela necessita satisfazer duas
condições: aquilo que “cria uma contribuição desproporcional em termos de valor para o
cliente e/ou permite à companhia entregar esse valor ao cliente de maneira apreciadamente
mais eficiente” (HAMEL e PRAHALAD, 1992, p.169-170), servindo de base para o mercado
atual da firma ou para a entrada em novos mercados. Tendo como alvo novos mercados, a
organização deve criar uma nova interação ou combinação entre suas capacidades, originando
novos produtos, cabendo ao líder organizacional reconhecer as competências da organização,
promovendo o desenvolvimento e interação entre elas, a fim de promover uma vantagem
competitiva.
O sétimo grupo de pesquisa (GOSHAL, BARTLETT e MORAN, 1999; BARTLETT e
GOSHAL, 2002) entende que a vantagem competitiva das firmas também se origina do lado
interno destas, oriunda do processo de aprendizado coletivo da organização, podendo até
originar-se do aprendizado de um só indivíduo. Assim, a curva de experiência adquirida sobre
a construção dos processos e produtos da firma (SENGE, 1991, 1992) no sentido do path
dependence, como defendem Teece, Pisano e Shuen (1997), é um caminho para se adquirir
uma vantagem competitiva. As pesquisas estão voltadas à identificação de modelos e de
mapas cognitivos do aprendizado individual e organizacional, em torno da formação das
estratégias das firmas.
Compondo um oitavo grupo, autores como Hambrick (1980), Meyer (1991) ou Schoemaker
(1993) apresentam uma visão mais complexa do processo de formação da estratégia. Esta
perspectiva considera que a organização está atualmente situada em um contexto social e
econômico mais complexo do que aquele originado pela Revolução Industrial - uma
sociedade pós-industrial - com tecnologias, estilos de gestão e de organização demandando
arcabouços teóricos mais elaborados para se entender a formação da estratégia. A estratégia,
para esse grupo, é tida como um campo suficientemente vasto com interfaces entre a visão
econômica, a gestão organizacional e a teoria organizacional. Para Lowendahl e
8
Do original Core competences (HAMEL e PRAHALAD, 1990).
27
Oivind(1998), por exemplo, o campo da estratégia está reivindicando um embasamento
teórico que possa responder, ao mesmo tempo, às pressões internas e externas sobre a
organização, extrapolando a tendência dos teóricos em optar, de maneira exclusiva, por um ou
outro paradigma em torno da formação da estratégia, visto que tal decisão é insuficiente para
captar a complexidade do ambiente externo (incertezas e inovações) e interno (utilização em
massa da tecnologia, rápida difusão do conhecimento) aos quais as organizações encontram-
se submetidas.
Um nono grupo tem a formação da estratégia como um processo denominado abordagem
configuracional (MINTZBERG, 1978, 1987; MILLER, 1986, 1987) que surge nos anos 80 e
engloba as relações entre o ambiente, a estrutura e a estratégia como analisados por Bourgeois
(1980), Ginsberg e Venkatraman (1985) e anteriormente citadas por Chandler (1963). A
combinação desses três elementos organizacionais determina uma configuração da
organização em um determinado período, definida pelo contexto externo (mercado), interno
(estrutura organizacional) e por seu comportamento estratégico. Uma vez ocorrendo
alterações em algum desses três contextos, engendram-se novos comportamentos estratégicos
e uma nova configuração é identificada. Tais alterações demandam, portanto, mudanças de
uma configuração a outra, recebendo o nome de transformação segundo Mintzberg, Ahlstrand
e Lampel (2000). As estratégias emergem na organização de maneira incremental durante
uma configuração e de maneira transformadora ou criadora em uma fase de transição de
configurações, podendo caracterizar-se sob qualquer uma das perspectivas teóricas da
formação da estratégia
9
, mas cada uma conforme sua configuração específica.
A relevância dessa proposta teórica é que, partindo da premissa de configuração
organizacional enquanto um conjunto que inter-relaciona o ambiente, a estratégia e a estrutura
de maneira adequada, todo o tipo de configuração passa a ser aceitável, desde que seja eficaz,
ou seja, toda definição de estratégia passa a ser plausível, desde que tenha sido eficaz em dado
momento e, mesmo quando essa configuração tenha se mostrado ineficaz, transformações
ocorrem para promover a adequação do conjunto. Logo, todo tipo de configuração passa a ser
aceita e, portanto, a formação da estratégia pode ser lida sob diferentes visões teóricas, ou
diferentes padrões de comportamento, ao longo da existência organizacional.
Um décimo grupo de autores (HANNAN e FREEMAN, 1977; HENDERSON, 1998;
9
Mintzberg, Ahlstrand e Lampel (2000) apresentam dez escolas de pensamento sobre a estratégia.
28
HANNAN, 2005) entendem que as organizações atuam passivamente diante das condições
ambientais que lhe são impostas, pois o ambiente é o responsável por determinar quais delas
sobreviverão quando estas se deparam com as alterações nas condições externas que as
envolvem. As organizações, sob tal perspectiva, delegam ao mercado o poder de seleção
competitiva sobre si mesmas, ou seja, é o ambiente quem decide quais as organizações que
sobreviverão. “Os mais aptos sobrevivem e prosperam até que tenham expulsado seus
competidores ou crescido além do que seus recursos permitiam” (HENDERSON, 1998, p.4).
O último grupo ou décimo primeiro grupo entende a formação da estratégia enquanto um
processo que emerge da prática organizacional - decisões e comportamentos estratégicos que
se concretizam nas atividades de uma organização, prática essa vinculada ao contexto social,
interno (visão micro da análise) e externo (visão macro da análise), no qual se encontra a
organização. A visão micro situa-se sobre os profissionais da estratégia de uma organização,
cujo foco pode ser representado por Wittington (2003), buscando entender quem são esses
atores, em quais níveis organizacionais se encontram, como participam da formação da
estratégia, quais são as tecnologias, rotinas e procedimentos que utilizam para agir
estrategicamente, bem como o tipo de interação social necessário para tanto, além das
competências, habilidades e aprendizado que são necessários ou que resultam desse processo.
A visão macro ou influência sistêmica na formação da estratégia (WHITTINGTON, 2002) é
responsável por determinar a ação do agente organizacional, justificando, por exemplo, as
diferenças entre organizações francesas, alemãs, japonesas, inglesas e americanas na execução
de um plano formal da estratégia. A proposta da estratégia enquanto prática é a construção de
uma teoria integrativa que revele as relações, padrões de influência ou de reciprocidade, entre
essas duas visões, macro e micro (WHITTINGTON, 2003; WILSON e JARZABKOWSKI,
2004), por meio de uma metodologia predominantemente qualitativa.
Diante do que foi exposto nesses onze grupos, é possível perceber que o locus da formação da
estratégia é um critério que pode ser utilizado como forma de categorizar essas diversidades
teóricas em duas abordagens: a origem da estratégia predominantemente externa (visão mais
ortodoxa representada pelo primeiro grupo) e a origem da estratégia predominantemente
interna (a estratégia a partir das visões da RBV, das capacidades dinâmicas, dos processos
cognitivo, cultural, de aprendizado ou a construção visionária da estratégia). Mais além, as
teorias a respeito da formação da estratégia podem ser classificadas segundo seu propósito, ou
seja, aqueles autores mais prescritivos (ANSOFF, 1965; PORTER, 1980) e autores que
apresentam teorias de cunho explicativo (HANNAN e FREEMAN, 1977; WERNERFELT,
29
1984; HAMEL e PRAHALAD, 1990; BARNEY, 2001; HENDERSON, 1998) sobre a
estratégia desenvolvida pelas organizações.
Dentre estas possíveis reflexões, duas delas têm proporcionado debates representativos na
literatura sobre qual a melhor proposta em torno da estratégia: a estratégia formada a partir da
visão externa, utilizando o modelo Structure-Conduct-Performance (SCP) e a estratégia
formada sob a concepção organizacional do modelo baseado em recursos ou Resource-Based-
View (RBV), detalhadas a seguir.
2.2.1 A Visão Externa da Formação da Estratégia e o Modelo SCP
O modelo Structure-Conduct-Performance (SCP) ou Estrutura-Conduta-Desempenho tem sua
origem na área da Economia denominada Organização Industrial (O.I.) que, segundo
Schmalensee (1988), busca entender o comportamento e o desempenho econômico das firmas
a partir da estrutura do mercado.
O mainstream econômico anterior à O.I., a teoria Neoclássica, limitava-se ao modelo de
competição perfeita entre as firmas, onde fatores ambientais do mercado eram considerados
disponíveis de igual modo entre as firmas que atuavam nesse ambiente, bem como o eram
considerados pelas análises econômicas das firmas. A firma era tida como uma função de
transformações de insumos em produtos, incapaz de responder aos estímulos externos do
ambiente e qualquer desempenho superior ao desempenho econômico de seus concorrentes
era atribuído a imperfeições de mercado que pudessem ser teoricamente explicadas.
Com o surgimento da Organização Industrial, na segunda metade do século passado, as ões
das firmas são vistas em um mercado oligopolizado no qual ocorrem interações estratégicas
entre firmas concorrentes (SCHMALENSEE, 1988; SHAPIRO, 1989), o que significa afirmar
que a ação individual de uma firma, na determinação de seus preços, repercute sobre as
demais.
É a partir da Teoria do Oligopólio, na Organização Industrial, que surge o modelo SCP
(MASON, 1939), consolidado por Scherer (1970) na cada de 70, representado pela
FIGURA 1, e que consiste na identificação da estrutura do mercado em que se encontram as
firmas, as quais adotam condutas (estratégias), engendrando um desempenho econômico,
30
técnico ou social em decorrência de seus comportamentos. O modelo SCP, enquanto modelo
de análise, permite captar as estratégias individuais das firmas a partir da estrutura do
mercado em que estas atuam.
O mercado é o local em que ocorrem a oferta e a demanda de produtos pelas firmas por meio
da concorrência entre elas por parcelas desse mercado, motivadas pela busca individual do
equilíbrio econômico que é alcançado quando a firma produz a quantidade que maximiza seu
lucro. A estrutura do mercado consiste nos níveis de concentração da oferta ou demanda de
um produto, nas possibilidades de substituição deste por produtos semelhantes, nas condições
das barreiras à entrada no mercado, na presença de integração vertical entre as firmas, em suas
estruturas de custo e na diversificação de atividades das mesmas.
31
Figura 1 - Modelo Estrutura-Conduta-Desempenho
Fonte: Traduzido de Scherer (1970).
A conduta ou estratégia da firma pode ser analisada em decorrência da estrutura do mercado
em que esta se encontra, traduzindo-se na adoção de políticas de preços, de estratégia de
produtos, de investimentos em pesquisa ou em coalizões tácitas ou formais entre elas, visando
alguma vantagem perante a concorrência.
Estrutura de Mercado
Número de
v
endedores e
c
ompradores
Grau de diferenciação do produto
Barreiras à entrada
Estrutura de custos
Grau de integração vertical
Grau de diversificação
Condições básicas
Oferta
Matérias Primas
Tecnologia
Sindicalização
Durabilidade do produto
Valor / Peso
Atitudes de negócio
Marco Legal
Demanda
Elasticidade-preço
Substitutos
Taxa de Crescimento
Sazonalidade
Métodos de aquisição
Características do produto
Conduta
Política de preços
Estratégia de produto e marketing
Política de pesquisa e desenvolvimento
Política de Investimentos
Táticas legais
Desempenho
Eficiência
p
rodutiva e
a
locativa
Progresso
Pleno emprego
Equidade
Políticas Públicas
Taxas e Subsídios
Regras de comércio
internacional
Regulação
Controle de Preços
Antitruste
Provisão de informações
32
O desempenho, por sua vez, significa a eficiência na utilização de recursos (insumos) escassos
no processo produtivo, a eficiência alocativa em adequar a produção ao consumo demandado
pela sociedade, a utilização da tecnologia disponível para o incremento da produtividade e da
qualidade dos produtos, o pleno emprego de recursos, incluindo-se os recursos humanos, e a
eficiência econômica na utilização de recursos financeiros necessários ao processo produtivo.
Segundo a O.I., esse desempenho tende a não ser alcançado quando ocorre alta concentração
de firmas em um dado mercado, engendrando a prática de preços monopolistas, desempenhos
superiores à média da indústria ou ineficiências do tipo alocativa, produtiva ou dinâmica
(SCHMALENSEE, 1988; SCHERER, 1970). A ineficiência alocativa refere-se à prática de
preços pela firma acima do custo marginal de seu produto ou serviço, engendrando um nível
de consumo inferior ao que poderia ser realizado pela sociedade. A ineficiência produtiva
refere-se ao pequeno esforço da firma em buscar níveis de gerenciamento eficientes, dado a
presença de grande lucro com o exercício do monopólio. Finalmente, a ineficiência dinâmica
significa poucos investimentos pela firma em capacitação tecnológica que contribuam com
algum tipo de inovação de produtos ou processos.
A importação do modelo econômico do SCP para a Administração ocorreu na cada de 80,
sendo Porter (1980) o principal responsável por tal adaptação. Para a estratégia de negócios, o
modelo SCP auxilia em formular condutas que maximizem o resultado econômico da firma
por meio de estratégias individuais que melhor se adequem à estrutura da indústria na qual a
firma está inserida.
Porter (1980) propôs às firmas a formulação de estratégias a partir da identificação da
estrutura da indústria, buscando construir vantagens competitivas traduzidas em um
desempenho superior à performance dos demais concorrentes, ou seja, um retorno acima do
desempenho médio da indústria analisada. Tal indústria, enquanto unidade de análise, é
definida como “um grupo de empresas fabricantes de produtos que são substitutos bastante
aproximados entre si” (PORTER, 1980, p.24), cujas características estruturais ou forças que
nela atuam – entrantes potenciais, rivalidade entre as empresas existentes, existência de
produtos substitutos, poder de negociação dos compradores e poder de negociação dos
fornecedores - determinam a lucratividade média do setor como pode ser verificado na
FIGURA 2, a seguir.
33
Figura 2 - Forças que atuam em uma indústria
Fonte: Porter (1980).
Para Porter (1979, 1980), a estratégia da firma é deliberada, constituindo-se em uma das
seguintes opções: estratégia de custos, que significa a prática de custos operacionais inferiores
aos custos da concorrência, estratégia de diferenciação de produtos ou estratégia de foco em
determinado grupo comprador, produto ou um mercado geográfico. Qualquer que seja a
opção estratégica da firma, a estratégia selecionada deve ter por objetivo posicioná-la diante
das forças da indústria, defendendo-a ou influenciando tais forças em seu favor.
Do ponto de vista empírico, diversos são os trabalhos que relacionam a estrutura do mercado,
a adequação da estratégia e o desempenho das firmas em análises intra e inter-indústrias.
Nos trabalhos intra-indústria o tema que tem predominado dentre os pesquisadores (DESS e
DAVIS, 1984; MCGEE e THOMAS, 1986; COOL e SCHENDEL, 1988; AAKER, 1989) está
voltado à análise dos desempenhos dos grupos estratégicos
10
(PORTER, 1980) de uma
indústria, tal qual um conjunto de firmas que apresentam diferentes taxas de retorno das
demais firmas da mesma indústria.
Assim como as barreiras de entrada, os grupos estratégicos possuem barreiras de mobilidade
que dificultam a entrada de outras firmas, intra ou extra-indústria, nesse grupo, isolando-o de
10
Porter (1980) atribui um capítulo de seu livro (Capítulo 7) para a análise estrutural dentro das indústrias,
apresentando o conceito de grupos estratégicos.
CONCORRENTES
NA INDÚSTRIA
Rivalidade entre as
Empresas
Existentes
ENTRANTES
POTENCIAIS
FORNECEDORES
COMPRADORES
SUBSTITUTOS
CONCORRENTES
NA INDÚSTRIA
Rivalidade entre as
Empresas
Existentes
ENTRANTES
POTENCIAIS
FORNECEDORES
COMPRADORES
SUBSTITUTOS
CONCORRENTES
NA INDÚSTRIA
Rivalidade entre as
Empresas
Existentes
ENTRANTES
POTENCIAIS
FORNECEDORES
COMPRADORES
SUBSTITUTOS
CONCORRENTES
NA INDÚSTRIA
Rivalidade entre as
Empresas
Existentes
ENTRANTES
POTENCIAIS
FORNECEDORES
COMPRADORES
SUBSTITUTOS
CONCORRENTES
NA INDÚSTRIA
Rivalidade entre as
Empresas
Existentes
ENTRANTES
POTENCIAIS
FORNECEDORES
COMPRADORES
SUBSTITUTOS
34
potenciais concorrentes e promovendo diferentes desempenhos econômicos entre este e os
demais grupos estratégicos da mesma indústria como pode ser identificado na literatura
(HATTEN e HATTEN, 1987; MASCARENHAS e AAKER, 1989; DRANOVE, PETERAF e
SHANLEY, 1998).
Por outro lado, os trabalhos empíricos inter-indústrias (SCHMALENSEE, 1985; MILLER,
1988; VENKATRAMAN e PRESCOTT, 1990a, 1990b) relacionam o desempenho das firmas
com as características estruturais da indústria a que pertencem, concluindo que existem, de
igual modo, estratégias competitivas mais adequadas para cada tipo de mercado.
Ainda dentro da perspectiva que defende a influência do mercado na formação da estratégia, é
possível identificar que os autores dessa linha (ANSOFF, 1977, 1990; PORTER, 1980, 1987)
abordam o tema em prol de um contexto corporativo, voltado para a grande empresa, sempre
em torno de decisões a respeito de produtos ou mercados.
A afirmação de que “é a indústria que determina as regras competitivas do jogo, assim como
das estratégias potencialmente disponíveis para a empresa” (PORTER, 1980, p.22) corrobora
a influência da indústria na formação da estratégia, no entanto, denota uma visão quase
estática dessa última. Isto se deve ao fato de que, a construção da estratégia é genérica e
condicionada por dados que traduzem uma percepção momentânea do contexto dinâmico do
mercado. Ainda, segundo a análise estrutural da indústria, as fases de implementação e de
elaboração do planejamento estratégico da firma encontram-se separadas uma da outra, não
permitindo atualizar o planejamento estratégico com as mudanças estruturais decorridas
durante sua implementação.
As críticas, nesse sentido, originam-se de autores (PERRY, 1993; D’AVENI, 1995) que
consideram a visão de Porter (1980) insuficiente para lidar com a verdadeira dinâmica do
mercado, ou pelo fato de a análise estrutural da indústria desconsiderar as competências
internas da firma como apontam Hill e Deeds (1996). Nesse contexto, decorridos cinco anos
após a publicação de Estratégia Competitiva, Porter (1989, 1996) parece reconhecer a
importância da análise das atividades internas da empresa, buscando identificar, por meio da
interação entre as atividades de uma firma, fontes de vantagens competitivas sustentáveis. No
entanto, a atenção aos recursos internos da firma na valorização da heterogeneidade e
inimitabilidade dos mesmos encontra respaldo na proposta de Wernerfelt (1984) e Barney
(1991), que apresentam os recursos valiosos, raros, inimitáveis e de substituição imperfeita de
35
uma firma tal qual uma resposta ao determinismo da indústria na definição de estratégias
competitivas genéricas. Tal proposta está representada na literatura pela Visão Baseada em
Recursos ou RBV, como apresentada a seguir.
2.2.2 A Visão Interna da Formação da Estratégia e o Modelo RBV
Considerando que, nos anos 80, o modelo do SCP liderou as publicações no campo da
estratégia de negócios, a visão baseada em recursos ou Resource-Based-View (RBV),
apresentada inicialmente por Wernerfelt (1984), constituiu uma alternativa teórica para
construir e manter vantagens competitivas a partir do lado interno firma, diferenciando-se das
abordagens baseadas em produtos e mercados.
Formalmente, “os recursos da firma em um dado período podem ser definidos como seus
ativos (tangíveis e intangíveis) a ela atrelados de maneira semi-permanente”
(WERNERFELT, 1984, p.172) e a firma é vista como uma organização administrativa ou
como um conjunto de recursos produtivos idiossincráticos, que podem ser buscados no
mercado pela aquisição de outras firmas (PENROSE, 1960), mas nunca copiados.
A estratégia competitiva para a RBV consiste na maneira pela qual uma firma é capaz de
administrar seus recursos, melhorando-os ou desenvolvendo-os, de tal modo que lhe
proporcionem uma vantagem competitiva sustentável por um período máximo de tempo. O
modelo da visão baseada em recursos provê a integração entre perspectivas gerenciais e
econômicas, pautadas na gestão desses recursos, justificando melhores retornos entre firmas
ou uma melhor satisfação de seus clientes.
A vantagem competitiva é a capacidade da firma em criar valor econômico a partir de seus
produtos ou serviços, valor este obtido pela diferença entre o quanto o cliente está disposto a
pagar, conforme sua percepção, e o custo de produção do bem ou serviço
11
(PETERAF e
BARNEY, 2003). A única maneira de extinguir tais vantagens, segundo Barney (1991), dar-
se-á em conseqüência de mudanças estruturais da indústria, por meio de inovações
tecnológicas, que determinem a extinção de antigos recursos e a criação de novas fontes de
vantagem competitiva para as firmas. Os recursos que originam tal vantagem devem
36
apresentar características como heterogeneidade e imobilidade como condições necessárias,
porém não suficientes, de tal modo que a ação imitativa das demais firmas, ou potenciais
concorrentes, não seja hábil o bastante para extinguir essa vantagem, fato plausível no modelo
SCP, que suas estratégias são genéricas (PORTER, 1980, 1996). A fim de que sejam
identificados tais recursos, para Barney (1991), três outras características devem ser
encontradas: um valor significativo, uma raridade e nenhuma possibilidade de substituição.
O sentido de valor está relacionado a recursos aptos à exploração de oportunidades externas
ou à neutralização de fraquezas da firma, isto é, à utilidade do produto dele originado. Um
recurso raro ou escasso, em termos de sua funcionalidade e não somente do seu tipo
(PETERAF e BERGEN, 2003), implicam uma vantagem inicial à firma no desenvolvimento
de uma estratégia associada a tal recurso. Dentre os fatores que determinam a inimitabilidade
e a substitutibilidade de um recurso estão a curva de aprendizado
12
(GHEMAWAT, 1985,
1986; TEECE, PISANO e SHUEN, 1997), os conhecimentos específicos de uma firma sobre
um recurso (DIERICKX e COOL, 1989) e a cultura organizacional (BARNEY, 1986;
ROUSE e DAELLENBACH, 1999). A FIGURA 3 ilustra a relação entre recursos e a
vantagem sustentável pela firma:
Figura 3 - Visão dos recursos da firma como uma vantagem sustentável
Fonte: Traduzido de Barney (1991).
11
Porter (1989) provê uma definição semelhante quando trata das atividades que criam valor à empresa.
12
O conceito de path dependence (TEECE, PISANO e SHUEN, 1997) é apontado por Barney (1991) como
recurso inimitável e por Peteraf (1993) como um tipo de limite competitivo ex ante.
Heterogeneidade
dos recursos da
firma
Imobilidade dos
recursos da firma
Valor
Raridade
Imitabilidade imperfeita
- Dependência histórica
- Ambigüidade causal
- Complexidade social
Substitutibilidade
Vantagem competi-
tiva sustentável
37
Uma vez que a firma domine um recurso raro e inimitável, deve criar uma barreira de entrada
em torno desse recurso ou barreira de posição de recursos (WERNERFELT, 1984),
sinalizando que as firmas entrantes precisam realizar um esforço maior para se estabelecer no
mercado, já que este possui uma firma dominante de um determinado recurso a ele
imprescindível. Nesse caso, a diferença entre a RBV e a proposta do SCP é que somente a
existência de barreiras de entrada, sem uma barreira de posição de recursos, deixa a firma
vulnerável a novas firmas que possuam uma vantagem em algum recurso específico.
Tal qual o modelo da estratégia baseado na estrutura da indústria, a visão baseada em recursos
está voltada a uma análise estática da concepção do mercado, cujas características estruturais
são premissas num dado momento. O mercado é o locus da oferta dos produtos originados dos
recursos internos das firmas de sorte que esta busca oferecer o que é demandado naquele
momento pela indústria (TEECE, PISANO e SHUEN, 1997; FOSS e KNUDSEN, 2003).
Com essa visão, a RBV sugere um aprofundamento da proposta de Andrews (1971) sobre as
forças e fraquezas de uma firma para a formação de sua estratégia, uma vez que tem por base
os recursos que preencham, concomitantemente, requisitos de valor, raridade, inimitabilidade
e ausência de substitutos próximos. Em verdade, a Visão Baseada em Recursos vem
contribuir diante do modelo Estrutura-Condura-Desempenho quando retornos acima da média
são identificados por um período significativo de tempo e as condições estruturais da indústria
são insuficientes para explicá-los, sugerindo os recursos como uma possível explicação.
Algumas análises empíricas comprovam a correlação entre fatores internos da firma e o
retorno médio da indústria (RUMELT, 1991; HANSEN e WERNERFELT, 1989; ROUSE e
DAELLENBACH, 1999), ainda que as análises necessitem ser expandidas, sobretudo na
avaliação de recursos intangíveis de difícil mensuração.
No entanto, a RBV não pode ser considerada uma abordagaem que substitua os modelos
tradicionais da análise do mercado ou, ainda, ser usada para análise entre indústrias
(PETERAF e BARNEY, 2003), mas é tida como uma visão complementar porque es
baseada na análise no nível da firma, de seus recursos e de uma abordagem intra-indústria,
inserindo uma outra concepção da firma no arcabouço teórico da Organização Industrial
(FOSS, 1996).
Embora diante dessa consideração, Peteraf e Bergen (2003) avançam nas possibilidades
proporcionadas pelo modelo da Visão Baseada em Recursos, pois consideram a competição
38
no nível dos recursos uma análise mais dinâmica do mercado na identificação de
competidores potenciais, que podem vir a ser competidores reais, desde que adquiram os
recursos em questão. Outrossim, esses autores consideram possível uma ação conjunta entre a
Visão Baseada em Recursos e ões da firma no condicionamento da demanda dos clientes, a
fim de criar oportunidades para os produtos que se originam dos recursos insubstituíveis da
empresa.
Em síntese, o que se constata é que a visão baseada em recursos busca descrever a estratégia
das firmas por meio de vantagens competitivas sustentáveis que se originam de seus recursos
internos, sem desprezar e reconhecer a dependência da firma em relação a seu ambiente - o
mercado.
Seja através do modelo SCP (PORTER, 1980) ou da Visão Baseada em Recursos
(WERNERFELT, 1984), pode-se afirmar que a estratégia das firmas, em um determinado
mercado, certamente buscará estabelecer uma diferença ou vantagem competitiva entre esta e
suas concorrentes, traduzindo-se em um melhor desempenho econômico perante as demais.
Em decorrência, o impacto causado pelo comportamento estratégico da firma na oferta de
bens ou serviços ao consumidor a um determinado preço, maximizador de lucro, vem
justificar a importância de políticas públicas voltadas a administrar as imperfeições do
mercado em que tais firmas se encontram, caracterizando a regulação de mercados.
2.3 A ESTRATÉGIA EMPRESARIAL E A REGULAÇÃO DE MERCADOS
O campo da estratégia empresarial e o campo da regulação de mercados originam-se,
similarmente, na Organização Industrial. Todavia, a diferença entre ambos reside no fim
último a que se destinam: um comportamento maximizador de resultados (campo da
estratégia) versus o estímulo à competição entre as firmas que se traduza em ganhos de
eficiência para a sociedade (campo da regulação de mercados).
Para a Organização Industrial, dentre as possíveis ações de uma firma, está a possibilidade
desta em determinar o preço de seu produto no mercado em que atua. Faz-se necessário,
porém, considerar o poder de mercado da firma em situações de competição imperfeita -
monopólio ou oligopólio em que a determinação de preços é condição imprescindível e
39
suficiente para engendrar ineficiências, contrárias ao que sugere o conceito de performance do
modelo SCP (SCHERER, 1970; PELTZMAN, 1989; VISCUSI, VERNON e
HARRIGNTON, 1998).
Diante de tal possibilidade, surge a teoria da regulação nos anos 60, que defende a criação de
políticas públicas para controlar ou regular a conduta das firmas com relação à oferta de bens
ou serviços em um mercado específico, visando atender às demandas da sociedade. Segundo
essa teoria, a regulação vigora quando a competição do mercado per se não é suficiente para
garantir a convergência entre o comportamento da firma e o bem coletivo daqueles que se
beneficiam de suas ofertas, buscando diminuir ou eliminar as ineficiências geradas pelas
falhas de mercado.
Nesse caso, a regulação estabelece as normas para se promover uma utilidade pública a partir
de firmas privadas, preterindo-se o interesse social aos interesses da firma, seja através da
regulação de preços, do estabelecimento ou redução de barreiras à entrada ou saída da
indústria regulada, do controle de fusões entre firmas dessa indústria, do controle da qualidade
do serviço por elas prestado, dentre outras formas de controle.
A institucionalização desse processo se por meio de agências regulatórias ou reguladoras,
responsáveis por exercer o poder público no controle dos comportamentos das firmas, como
cita Anuatti Neto (1998, p.227): “a regulamentação é o conjunto de regras particulares ou de
ações específicas implementadas por agências administrativas para interferir diretamente no
mecanismo de alocação de mercado, ou indiretamente, alterando as decisões de oferta e
procura de consumidores e produtores”.
A condição que justifica criar uma agência reguladora para atuação efetiva em um mercado
está, em grande parte, associada aos mercados prestadores de serviços que sejam de interesse
público como, por exemplo, os serviços de educação, transportes, fontes de energia, serviços
de comunicação, dentre outros, considerados essenciais à sociedade. Tais serviços tendem a se
apresentar sob a condição de monopólios ou oligopólios naturais em função de fortes
economias de escala, estabelecendo-se grande concentração de firmas e possível poder de
mercado ou sendo necessária a elevação de barreiras para que o mercado produza um
equilíbrio econômico e o investimento possa retornar à firma.
A respeito da teoria da regulação, a defesa do interesse público consiste em apenas uma de
suas correntes. Há autores, ainda, (STIGLER, 1971; POSNER, 1974; PELTZMAN, 1989) que
40
analisam a teoria da regulação sob a perspectiva da firma, considerando a existência da
regulação com fins outros que não o bem social, preservando-se a maximização dos retornos
da indústria regulada em favor de suas firmas, visão esta denominada de captura da agência.
A importância da regulação para esta pesquisa se quando, uma vez instituída no mercado,
seja em prol do bem coletivo ou dos agentes econômicos, o comportamento ou a estratégia
das firmas é diretamente influenciado pela regulação. O modelo Estrutura-Conduta-
Desempenho (SCHERER, 1970), na FIGURA 1, anterior, demonstra essa possibilidade uma
vez que a ação do Estado, por meio de suas agências, é responsável por impor barreiras à
entrada e saída em um mercado, restringindo ou aumentando a competição, bem como, é
capaz de promover a prática de tarifas protecionistas, subsídios diretos ou a fixação dos
preços das firmas reguladas, como também afirma Posner (1974). Beardsley, Bugrov e
Enriquez (2005), similarmente, reconhecem a importância da regulação sobre o mercado e
defendem a gestão do aspecto regulatório como uma função estratégica da firma, a fim de se
aproveitar as oportunidades que tal regulação estabeleceu no mercado regulado. De maneira
geral, a relevância da regulação para o comportamento estratégico da firma tem sido bastante
debatida na literatura (ULLMANN, 1985; RAMASWAMY, THOMAS, e LITSCHERT,
1994; OLIVER, 1997; RUGMAN e VERBEKE, 1998) considerando tanto os fatores
determinantes à estratégia das firmas, quanto as ações corporativas estrategicamente
concebidas para influenciar politicamente a regulação.
A teoria da regulação reclamou uma atenção significativa a partir da década de 90. Alegando
incapacidade financeira de investimentos em setores estratégicos ou de infra-estrutura, alguns
países desenvolvidos e em desenvolvimento, resolveram aderir ao processo de privatizações
de setores essenciais de suas sociedades, geralmente os setores de energia, transportes e de
telecomunicações, antes sob o monopólio estatal. Nesse intuito, a exploração desses serviços
foi repassada a agentes econômicos privados em troca de recursos financeiros, engendrando a
necessidade da regulação de tais mercados por meio das agências estatais. Países como
Inglaterra, Estados Unidos, França, Alemanha, Japão, México, Argentina, Chile e o Brasil são
exemplos nesse sentido.
Com relação ao Brasil, a regulação desempenhou um importante papel na transferência da
responsabilidade do Governo Federal sobre o monopólio estatal, antes vigente, para os atuais
agentes privados, prestadores de vários serviços públicos, dentre estes, os serviços de
telecomunicações como será apresentado no próximo capítulo.
41
3 AS TELECOMUNICAÇÕES
Os meios de comunicação, como Internet e telefonia móvel, disseminaram-se de tal modo na
sociedade, a partir dos anos 90, que Castells (1999) descreveu uma sociedade em rede, com
relações econômicas, políticas e sociais transformadas a partir de uma rede global de
informações amparada pelo desenvolvimento das telecomunicações, ao final do século
passado.
As telecomunicações são a ciência e a tecnologia de transmitir informação eletronicamente
(NOAM, 1987), ou seja, a informação é transmitida por meio de sinais elétricos ou
eletromagnéticos, utilizando-se de equipamentos tais como dispositivos de rádios, telefones,
televisores, fax, dentre outros. Sua importância reside na integração das pessoas e
organizações, de modo que possam comunicar-se social ou comercialmente. Para O’Brien
(2004) a telecomunicação é capaz de superar barreiras geográficas, de tempo, de custo e
barreiras estruturais, proporcionando vantagens competitivas às empresas.
Seguindo a proposta de Quivy e Campenhoudt (1998), detalhando em dimensões e
componentes os conceitos utilizados em uma pesquisa, este capítulo expande as
telecomunicações em três dimensões, quais sejam a dimensão histórica, que possibilite uma
visão geral do surgimento das telecomunicações, a dimensão estrutural, que analisa a estrutura
de sua indústria e a dimensão geográfica, que trata das telecomunicações no Brasil. Esta
última será detalhada em quatro componentes: visão histórica das telecomunicações no Brasil,
os tipos de serviços aqui existentes, sua regulação e a telefonia móvel, enquanto um dos
serviços por ela regulados, constituindo o objeto de estudo desta pesquisa.
42
3.1 A DIMENSÃO HISTÓRICA
Um dos caminhos para compreender a história das telecomunicações é recorrer à
International Telecommunication Union (ITU), agência vinculada à Organização das Nações
Unidas (ONU) que representa 189 países e mais de 630 participantes da indústria de
telecomunicações no mundo. A ITU é aqui considerada por ser a instituição responsável por
consolidar as regras de utilização das telecomunicações no mundo, definindo padrões
tecnológicos e de serviços e estimulando a expansão das telecomunicações entre os países, a
fim de integrá-los na construção de uma sociedade e economia de informação global (WSIS,
2004), permitindo a todos os povos o direito a comunicar-se.
Historicamente, as telecomunicações têm início nos Estados Unidos com o surgimento do
telégrafo em 1844, que se caracterizava, dez anos após a sua criação, como um serviço
comercialmente disponível naquele país.
Em 1876, a telefonia é patenteada demandando, em função da incompatibilidade de padrões
do telégrafo, uma intervenção da ITU, como órgão coordenador das comunicações, visando a
estabelecer um padrão único de telefonia entre os países que a utilizavam, favorecendo a
interligação de suas redes e usuários.
Em 1896 surge o telégrafo sem fio, dando início às comunicações via transmissão de sinal,
através de faixas de freqüência - rádio comunicação - sem a exigência de fios metálicos como
meios de transmissão. Tal tecnologia de transmissão do sinal expande-se até a década de 30,
no século passado, atendendo aos mais diferentes tipos de serviços, como a comunicação
marítima e aeronáutica, a rádio-difusão, dentre outras.
Em 1934 surge o termo telecomunicações, cujo objetivo era representar a abrangência e o
escopo das atividades de coordenação da ITU, englobando todo e qualquer tipo de
comunicação qual fosse sua finalidade, comercial ou o, qual fosse o meio de transmissão
com ou sem fio.
A partir da cada de 50, novas tecnologias de transmissão de voz são desenvolvidas e, em
conjunto com a tecnologia da informação, na década de 70, computadores e micro-chips,
engendram uma reavaliação sobre o que o termo telecomunicações representava a partir
daquele momento.
43
Diante deste cenário, a ITU passou a considerar as telecomunicações tal qual um conceito
mais abrangente, denominado Information and Communication Technology (ICT), que é
“uma combinação das indústrias de produtos e serviços que capturam, transmitem e mostram
dados e informações eletronicamente” na definição da OECD (2004, p.1).
O termo ICT é utilizado na literatura para representar a integração entre tecnologias de
computação e comunicação no intuito de atender a um determinado objetivo ou de “prover
acesso a conhecimento, informação e comunicação” (OECD, 2004, p. 4). As
telecomunicações, com o surgimento do termo ICT, constituem um conjunto de serviços
dentre aqueles que o termo engloba, representando, por sua vez, a telefonia móvel, a telefonia
fixa, os serviços de comunicação de massa, rádio e televisão, dentre outros.
Diante do abrangente conceito das telecomunicações, é mister analisar como a literatura
apresenta as características estruturais de tal indústria, a fim de que se possam avaliar as
implicações dela decorrentes na determinação do comportamento das firmas, bem como no
entendimento das ações governamentais no exercício de sua regulação.
3.2 A DIMENSÃO ESTRUTURAL: CARACTERÍSTICAS DA INDÚSTRIA
A caracterização de uma indústria, segundo Porter (1979, 1980), consiste em identificar quais
seus produtos e quais os fabricantes de tais produtos, como um grupo de firmas que fabricam
produtos semelhantes entre si. No entanto, definir a indústria de telecomunicações em função
de seu produto requer detalhamento, pois, como afirmado anteriormente, as telecomunicações
estão convergindo com as tecnologias da informação (FRANSMAN, 2001a; FREEMAN e
SOETE, 1997), integrando o mundo em redes globais de comunicação, alterando relações
econômicas e sociais.
Tal convergência entre computação e telecomunicações - voz, dados, imagens e informações
multimídia em um mesmo meio de transmissão foi observada entre os anos 80 e 90 com o
advento da telefonia móvel e da Internet, engendrando uma definição mais detalhada da
indústria das telecomunicações após esse período.
Uma vez que a finalidade inicial das telecomunicações era, no século XX, prover a
44
transmissão eletrônica de voz e dados através de redes telefônicas monopolizadas
tradicionalmente pelo Estado, sua indústria poderia ser caracterizada por fornecedores e
prestadores de tais serviços, cujas redes seriam utilizadas pela sociedade para tal fim.
Essa concepção da indústria é aceita por autores (NOAM, 1987; FRANSMAN, 2001a, 2001b)
que a consideram como a “antiga” indústria das telecomunicações, que auxiliou o
desenvolvimento mundial, principalmente no século XX e no período pós-guerra, observada
em países como Estados Unidos, Inglaterra, Alemanha, Japão e França, ressaltando que a
universalização do serviço, nenhuma customização, foco em produtos de transmissão de voz e
altos preços caracterizam a indústria desse período. Nesse contexto, tanto as portadoras do
serviço da rede de comunicação (prestadoras de serviço de telecomunicações de voz), quanto
os fabricantes de equipamentos que as forneciam, delimitavam, de maneira nítida, as
fronteiras da indústria, geralmente estruturada em poucos níveis de relacionamento entre
cliente e fornecedor.
A primeira estrutura da indústria de telecomunicações é apresentada por Fransman (2001a)
em três níveis distintos, diferenciados por suas atividades econômicas: os fornecedores de
equipamentos, os proprietários das redes e os fornecedores de serviços.
A segunda estrutura da indústria de telecomunicações é apresentada por Noam (1987) que a
define em quatro veis, não mais sob a ótica econômica, mas sob a perspectiva tecnológica:
fornecedores, transmissão sica (redes privadas de comunicação), transmissão de pacotes de
dados (transmissão interativa de dados), serviços genéricos e de pacotes de aplicações.
Ambas as estruturas são aceitas na literatura (GAFFARD e KRAFFT, 2000), apesar de
apresentarem critérios distintos de associação das firmas a seus respectivos níveis, na cadeia
produtiva do setor.
A partir dos anos 90, esses modelos de identificação da indústria tornam-se insuficientes e a
tarefa de analisar a indústria mais complexa, uma vez que a evolução tecnológica faz-se
presente através da Internet.
Isto se deve ao fato de que, com a tecnologia de transmissão de pacotes em que se baseia a
Internet, tudo o que possa ser encapsulado em uma rede de protocolo IP (Internet Protocol) -
voz, dados e imagens - possa ser trafegado pela rede, permitindo que os usuários possam se
comunicar por outros modos além do padrão tradicional de texto.
45
Essa característica inclui, na estrutura da indústria de telecomunicações, os provedores de
acesso à rede, como fornecedores da indústria de telecomunicações, caracterizando o que
Fransman (2001b) identifica como uma indústria de difícil delimitação de fronteiras.
Outra característica apontada pelo autor é que as tecnologias inerentes aos equipamentos de
transmissão deixaram de ser uma característica idiossincrática das operadoras, estando
disponíveis a qualquer uma destas que se disponibilize a pagar seu preço, reduzindo, no nível
das operações, as barreiras de entrada tecnológicas no setor. O aspecto tecnológico é
fundamental para a indústria, engendrando características que, na visão de Fransman (2001a),
tornam limitada a utilização do modelo Porter (1980), que propõe uma análise
predominantemente no nível da indústria, tendo por base o serviço nela oferecido, sendo que a
tecnologia, pela constante inovação, e por determinar relações quase-verticais, torna a
identificação das fronteiras da indústria uma tarefa complexa.
Como justificativas a tal complexidade, Fransman (2001a) cita (a) a alta especialização dos
fornecedores de equipamentos que determinam a especificidade das soluções adquiridas pelas
operadoras, definindo, por conseqüência, as características de seus produtos; (b) o surgimento
constante de demandas por produtos diferenciados dentro da própria indústria (NOAM, 1987;
FRANSMAN, 2001a); (c) a fusão de tecnologias típicas do setor que determinam uma
competição integrada no nível das firmas, no nível tecnológico, de redes de comunicação e de
serviços; (d) a força do mercado financeiro que impulsiona o surgimento de novas empresas
de telecomunicações, como forma de investimentos de capital e (e) a existência de fronteiras
permeáveis da indústria que permitem a participação de agentes de indústrias próximas como
a de softwares e computação, por exemplo.
Uma outra alteração estrutural que ocorreu na indústria, à parte do aspecto tecnológico, é a
liberalização dos mercados nos Estados Unidos, Europa e Japão, a partir dos anos 80,
encerrando o período monopolista, reduzindo barreiras de entrada e os preços dos serviços
disponíveis (GAFFARD e KRAFFT, 2000), modificando o cenário das telecomunicações nos
países supracitados. Esse modelo expandiu-se para outros países desenvolvidos e em
desenvolvimento, iniciando uma época de liberalização de alguns mercados, incluindo-se o
Brasil.
Em síntese, inovações tecnológicas, como o advento da Internet, e alterações institucionais na
regulação do mercado foram identificados a partir da última década na indústria das
46
telecomunicações em nível global e podem ser considerados fatores relevantes na análise
estrutural dessa indústria (FRANSMAN, 2001a, 2001b; GAFFARD e KRAFFT, 2000;
NOAM, 1987), ainda que existam outras características também aceitas a respeito do tema
tais como sunk costs
13
e os efeitos em rede (KATZ e SHAPIRO, 1994; ARMSTRONG, 1997;
MAJUMDAR e VENKATRAMAN, 1998), envolvendo decisões sobre tecnologia,
compatibilidade de produtos e a necessidade de coordenação.
Uma vez identificadas algumas características dessa indústria e visando atender aos objetivos
deste trabalho, é necessário explorar o conceito das telecomunicações na dimensão do Brasil,
identificando sua história, tipos de serviços e a regulação do mercado no país.
3.3 A DIMENSÃO GEOGRÁFICA: AS TELECOMUNICAÇÕES NO BRASIL
Esta seção do capítulo apresenta uma visão histórica do setor de telecomunicações no país,
considerando o período compreendido desde a implantação do primeiro telégrafo, ainda no
período do Império, até o contexto atual.
Em seguida, são abordados os tipos de serviços de telecomunicações aqui disponibilizados,
incluindo-se as comunicações móveis como um grupo de serviços no qual se encontra a
telefonia móvel.
O aspecto regulatório do setor de telecomunicações é considerado posteriormente,
apresentando a Anatel, enquanto órgão responsável por regular os serviços de
telecomunicações no país, seus objetivos e algumas considerações a seu respeito.
Finalmente, o capítulo é encerrado com as seções que tratam da telefonia móvel, definindo o
objeto que está sendo analisado, apresentando suas características operacionais, tecnológicas,
regulatórias e de mercado.
13
Sunk costs são investimentos que podem produzir um fluxo de receitas ao longo do tempo, mas que não o
totalmente reutilizáveis.
47
3.3.1 Uma Perspectiva Histórica: do Telégrafo ao Período Pós-privatização
Para uma perspectiva histórica das telecomunicações no Brasil, a instalação do primeiro
telégrafo, no país, ocorreu após oito anos de sua invenção, em 1852, e o primeiro telefone foi
instalado apenas três anos após sua invenção. Segundo Cavalcante (1999, p.1), “as primeiras
linhas telegráficas no Brasil surgiram em 1852 no Rio de Janeiro ... e a telefonia é instalada
em 1876, também no Rio de Janeiro”.
Recentemente, com a privatização das empresas de telefonia, as redes de comunicações fixas
e móveis que foram aqui instaladas, em substituição às redes anteriores, se utilizaram da
tecnologia digital disponível nos países desenvolvidos, o que significa afirmar que, desde as
primeiras linhas telegráficas, o Brasil tem importado o padrão tecnológico de comunicação
disponível internacionalmente.
A exploração dos serviços de telecomunicações no Brasil foi coordenada, à época, pelo
Estado, primeiramente Império e posteriormente República, que proporcionou a difusão do
serviço de telefonia no Rio de Janeiro e São Paulo através da disponibilização de concessões
para a prestação da telegrafia e da telefonia em nível regional. Segundo Cavalcante (1999),
em 1922, Rio de Janeiro e São Paulo tinham, respectivamente, 30 mil e 22 mil telefones
instalados
14
.
A partir desse período, é possível considerar a análise histórica de Neves (2002) sobre o setor
de telecomunicações no Brasil, divido em três fases históricas: (a) 1952-1971, (b) 1972-1996
e (c) 1997-2001.
Na primeira fase, continuando o processo de distribuição de concessões a partir do poder
Executivo, ocorre uma evolução do número de companhias telefônicas no país, culminando
em mais de mil pequenas empresas atuantes no setor, com um nível de integração mínimo
entre elas, incapaz de permitir a interconexão de seus usuários.
Em resposta a tal situação, é sancionada a Lei 4.117/62, criando o Código Brasileiro de
Telecomunicações e instituindo o Conselho Nacional de Telecomunicações (Contel),
responsável por controlar a prestação do serviço no país, subordinado ao Presidente da
14
Cavalcante (1999) relata, em detalhes, estatísticas, documentos e fatos que registram esse processo no Brasil.
48
República.
Nesse período, são criadas a Embratel, em 1965, para prestação de serviço de longa distância
nacional e internacional, e o Fundo Nacional de Telecomunicações (FNT) voltado a financiá-
la (GORDINHO, 1997 apud NEVES, 2002; NOVAES, 2000).
Em 1967, é criado o Ministério das Comunicações que se torna responsável pelo Contel e
Embratel, bem como pela fiscalização e liberação das licenças de autorização ou concessão
para prestadoras, encerrando a primeira fase histórica do setor.
A segunda fase tem início em 1972 com a criação de uma sociedade de economia mista
Telecomunicações Brasileiras S/A (Telebrás), criada pelo Ministério das Comunicações (Lei
5.792/72), que se tornou responsável por explorar o serviço de telecomunicações em cada
Estado do país, a partir da incorporação das empresas operadoras a então existentes e
dispersas geograficamente. A Telebrás é responsável por interligar o país, alterando a
estrutura do mercado a partir de uma holding responsável por 27 operadoras estaduais de
telefonia fixa, considerando-se a Embratel na prestação do serviço de longa distância como
antes mencionado.
No início dos anos 80, o modelo estatal começa a apresentar indícios de estagnação e de
demanda reprimida, em função da ausência de investimentos e das alterações nas políticas
governamentais de financiamento do sistema (NOVAES, 2000; SBRAGIA e outros, 2004),
com “reajustes tarifários abaixo da inflação, subsídios cruzados nos produtos, politização dos
cargos das estatais e restrições ao uso do FNT e do próprio lucro operacional da Telebrás
(NEVES, 2002, p.303). Como exemplo,
A receita por serviço da Telebrás em 1994 refletia claramente o elevado nível de
subsídio cruzado prevalecente: as elevadas tarifas de longa distância subsidiavam os
serviços locais. Esse balanceamento não era condizente com padrões internacionais:
no Brasil a receita com serviço local atingia apenas 21% da receita total em
comparação com 45% na Telmex [México], 63% na CTC Chilena e 34% na Nova
Zelândia. (NOVAES, 2000)
Estendendo-se até meados da década de 90, o cenário das telecomunicações, nesse período, é
de um setor dividido entre os serviços de telefonia fixa e móvel com demanda reprimida, altos
custos de aquisição de linhas e de aparelhos, associadas a uma qualidade questionável do
serviço prestado à população. Tal situação tornou-se insustentável, determinando a falência da
estrutura estatal das telecomunicações e demandando uma nova solução para o setor.
49
Isto posto, obedecendo uma tendência de países como Estados Unidos, Inglaterra, França,
Alemanha e Japão
15
que extinguiram o monopólio estatal da telefonia ao final da década de 80
e início da década de 90, a privatização do setor de telecomunicações no Brasil, mais
precisamente os serviços de telefonia, é tida, pelo governo de Fernando Henrique Cardoso em
1995, como a solução mais viável, e de curto prazo, para a retomada dos investimentos e a
recuperação desse setor.
Tem-se início, então, a terceira fase histórica com o marco da privatização das
telecomunicações no país, permitida pela Lei 9.472 de 16 de julho de 1997, Lei Geral de
Telecomunicações Brasileiras, que cria a Anatel e a designa como responsável pela realização
dos leilões de privatização do Sistema Telebrás. Vale ressaltar que o Brasil não foi o primeiro
país latino americano a promover a privatização do seu setor de telecomunicações. Países
como Argentina, Chile, México e Peru, por exemplo, já haviam testemunhado um processo
semelhante.
A reestruturação do setor envolve, em linhas gerais, a criação de uma agência independente
para regular o setor no país, a Anatel; a elaboração do Plano Geral de Outorgas, que divide o
país em regiões geográficas para exploração dos serviços de telefonia; do Plano Geral de
Metas de Universalização, que a todo cidadão o direito de acesso ao serviço; do Plano de
Metas de Qualidade, que define a forma de prestação do serviço; e a reestruturação do
Sistema Telebrás por meio da privatização de suas operadoras de telefonia fixa e móvel
(BRASIL, 1997).
Com as privatizações, os investimentos internacionais e a formação de grupos para a
exploração dos serviços de telefonia no país são observados, concretizando, posteriormente, a
retomada do crescimento, a extinção dos subsídios cruzados e o surgimento da competição no
setor, a partir da presença de mais prestadoras de serviços ofertados à sociedade.
Os efeitos da privatização foram benéficos, na visão de Valente (2000), em função (a) da
qualidade obtida nos serviços, a partir das tecnologias implantadas, (b) dos índices de
universalização dos serviços, tornando maciça à população o acesso à telefonia fixa e móvel e
(c) da competição entre as empresas prestadoras desses serviços, cobrando tarifas de
utilização inferiores àquelas identificadas no período pré-privatização.
15
(FRANSMAN, 2001a, p.13-15) apresenta o fim dos monopólios estatais do setor nesses países.
50
A evolução do setor em termos de crescimento de usuários após a privatização continua até
que, em 2002, um fato relevante sugere uma quarta fase na história das telecomunicações
brasileiras.
Tal fato situa-se no serviço de telefonia móvel que inicia, naquele ano, as operações do
chamado Serviço Móvel Pessoal (SMP) que se estendem até o presente. O SMP encerra novas
regras perante o arcabouço regulatório até então vigente e tem sido responsável por alterar a
estrutura do setor, como será analisado mais adiante. Tal foi seu impacto, que novas licitações
para a exploração do serviço móvel e uma tecnologia de comunicação móvel, não disponível
no país até esse período, podem ser citados como exemplos da relevância do SMP.
Uma vez que a regulação do SMP e a telefonia móvel são temas desta pesquisa, faz-se
necessário apresentar como se o a regulação do setor e a atividade da Anatel enquanto
agência responsável por tal regulação.
3.3.2 Os Serviços de Telecomunicações no País
Antes de abordar as características da telefonia móvel, é importante apresentar quais são os
serviços de telecomunicações disponíveis no Brasil, no intuito de contextualizar o setor como
um todo.
Segundo a Anatel (2006a), o setor de telecomunicações no país abrange os serviços de
telefonia fixa, de comunicação móvel, de comunicação multimídia, rádio difusão, TV por
assinatura, rádio do cidadão, rádio amador, serviços do tipo limitado e serviços de satélites.
A telefonia móvel é um dentre os serviços de comunicações móveis definidos pela Anatel
(2006a) que engloba, por sua vez, outros tipos de serviços como:
O Serviço Móvel Celular (SMC): é o serviço de telecomunicações móvel terrestre, que
utiliza sistema de radiocomunicações com técnica celular, interconectado à rede pública de
telecomunicações, e acessado por meio de terminais portáteis, transportáveis ou veiculares,
de uso individual;
51
O Serviço Móvel Pessoal (SMP)
16
: é o serviço de telecomunicações móvel terrestre de
interesse coletivo, que possibilita a comunicação entre estações móveis e de estações
móveis para outras estações. O SMP, assim como o SMC também garante o acesso a redes
de telecomunicações de interesse coletivo;
O Serviço Móvel Especializado (SME): é o serviço de telecomunicações móvel terrestre de
interesse coletivo que utiliza sistema de radiocomunicação, basicamente, para a realização
de operações tipo despacho e outras formas de telecomunicações. Caracteriza-se pela
mobilidade do usuário. O SME é prestado em regime privado, mediante autorização e é
destinado a pessoas jurídicas ou grupos de pessoas, naturais ou jurídicas, caracterizados
pela realização de atividade específica. Este serviço também é conhecido como trunking;
O Serviço Especial de Rádio-Chamada (SER): é um serviço de telecomunicações
destinado a transmitir, por qualquer forma de telecomunicação, informações unidirecionais
originadas em uma estação de base e endereçadas a receptores móveis;
O Serviço Móvel Global por Satélite: é o serviço móvel por satélite que tem como
principais características utilizar sistemas de satélites com área de cobertura, abrangendo
todo ou grande parte do globo terrestre, oferecendo diversas aplicações de
telecomunicações;
O Serviço Móvel Aeronáutico: Categoria de serviço móvel em que as estações móveis
deslocam-se por via aérea e se comunicam com estações terrestres do serviço móvel
aeronáutico, denominadas Estações Aeronáuticas;
O Serviço Móvel Marítimo: É o serviço destinado às comunicações entre estações costeiras
e estações de navio, entre estações de navio ou entre estações de comunicações a bordo
associadas;
Com base nas definições dos serviços acima, a telefonia móvel engloba tanto o Serviço Móvel
Celular quanto o Serviço Móvel Pessoal. Tais nomenclaturas distintas representam as
diferenças em termos de regras de prestação do serviço e das tecnologias de operação do setor
que foram estabelecidas pela Anatel e que serão abordados nos próximos itens.
16
O Serviço Móvel Pessoal substituiu o Serviço Móvel Celular em virtude de novas regras de prestação do
serviço móvel, conforme determinação da Anatel, a partir de 2002. O detalhamento do SMP será apresentado no
Capítulo 5, na seção 5.1 o serviço móvel pessoal .
52
3.3.3 A Regulação do Setor: a Anatel enquanto Agência Regulatória
A regulação do setor de telecomunicações no Brasil, em seu contexto atual, pode ser
entendida como o resultado da evolução de suas instituições que culminam na privatização
ocorrida em 1997 (PIRES, 1999; NOVAES, 2000; NEVES, 2002; SBRAGIA e outros, 2004),
responsável pela reestruturação do setor, uma vez que, desde a Lei 4.117/62, o Estado era o
único provedor desses serviços no país.
Tal evolução institucional pode ser caracterizada a partir da aprovação das seguintes normas:
Emenda Constitucional n.º 8, de 15.08.95, que permite a exploração dos serviços de
telecomunicações por empresas privadas;
Lei Mínima das Telecomunicações, Lei 9.295, de 19 de julho de 1996, que estabeleceu os
critérios para concessões de serviços de telecomunicações, incluindo o serviço móvel;
Lei Geral das Telecomunicações (LGT), Lei 9.472, de 16 de julho de 1997, que
estabeleceu os princípios do modelo regulatório atual do setor, criou e definiu o papel da
Anatel, estabeleceu um novo modelo tarifário, uma nova classificação para os serviços,
dentre outras inovações institucionais.
Em se tratando desta última, a Lei Geral das Telecomunicações determina, em seu Livro II,
art.8, a criação da Anatel, suas atribuições, composição e responsabilidades na reestruturação
do setor no país, encerrando o monopólio estatal nas telefonias fixa e móvel.
A relevância da Anatel, uma autarquia ligada ao Ministério das Comunicações a partir desse
momento, pode ser identificada na declaração de um ex-conselheiro da agência: “ela es
encarregada de construir todo o arcabouço regulatório decorrente da Lei Geral das
Telecomunicações, [...] utilizado intensamente no processo de privatização do Sistema
Telebrás” (VALENTE, 2000, p. 358). Sua missão é promover o desenvolvimento das
telecomunicações do País de modo a dotá-lo de uma moderna e eficiente infra-estrutura de
telecomunicações, capaz de oferecer à sociedade serviços adequados, diversificados e a
preços justos, em todo o território nacional” (ANATEL, 2007b). Dentre suas atribuições
destacam-se:
Implementar a política nacional de telecomunicações;
53
Propor a instituição ou eliminação da prestação de modalidade de serviço no regime
público;
Propor o Plano Geral de Outorgas;
Propor o Plano Geral de Metas para universalização dos serviços de telecomunicações;
Administrar o espectro de radiofreqüências e o uso de órbitas;
Compor administrativamente conflitos de interesses entre prestadoras de serviços de
telecomunicações;
Atuar na defesa e proteção dos direitos dos usuários;
Atuar no controle, prevenção e repressão das infrações de ordem econômica, no âmbito das
telecomunicações, ressalvadas as competências legais do Conselho Administrativo de
Defesa Econômica (Cade);
Estabelecer restrições, limites ou condições a grupos empresariais para obtenção e
transferência de concessões, permissões e autorizações, de forma a garantir a competição e
impedir a concentração econômica no mercado;
Estabelecer a estrutura tarifária de cada modalidade de serviços prestados em regime
público.
A partir destas atribuições, a Anatel (2006b) sintetiza seus objetivos estratégicos na FIGURA
4, quais sejam: (a) a disponibilização de serviços considerados de interesse coletivo ou não,
conforme as tecnologias disponíveis no mercado; (b) a universalização dos serviços públicos
de telecomunicações, isto é, promover o acesso da população aos serviços de interesse
coletivo; (c) promover a competição entre as empresas prestadoras desses serviços e (d) um
padrão de qualidade a ser perseguido por essas empresas.
Figura 4 - Objetivos estratégicos da Anatel
Fonte: Anatel (2006b).
OBJETIVOS ESTRATÉGICOS
SERVIÇOS
UNIVERSALIZAÇÃO
COMPETIÇÃO
QUALIDADE
54
Desses quatro objetivos, dois deles são pertinentes ao escopo desta pesquisa: a regulação dos
serviços de telefonia móvel enquanto serviço de interesse coletivo e a função da Anatel em
promover a competição nesse setor.
Sobre a regulação dos serviços móveis, a Anatel utiliza-se de um arcabouço especificamente
construído para tanto, inicialmente denominado Serviço Móvel Celular, substituído em 2002,
pelo atual contexto regulatório, o Serviço Móvel Pessoal.
Com relação à competição no setor, é possível perceber a importância atribuída pela Anatel a
esse ponto, fundamentada nos artigos 6º e da Lei Geral das Telecomunicações, que
determina a promoção de serviços em um ambiente de concorrência justa e com a
possibilidade de correção dos efeitos de competição imperfeita, quando identificados. A
condução, pela Anatel, de processos de fusão ou incorporação que envolvem prestadoras de
serviços de telecomunicações pode ser considerada um exemplo nesse sentido.
Retomando a análise das funções regulatórias atribuídas à Anatel pela Lei Geral das
Telecomunicações, “a regulação assume papel preponderante dadas as assimetrias no poder
de mercado das empresas que se originariam do legado estatal... [bem como] para dar uma
dinâmica favorável ao estabelecimento da concorrência” (NEVES, 2002, p.305), sendo
objetivo da agência atuar de forma preventiva na avaliação dos atos que possam originar ou
ocasionar uma concentração de mercado conforme o disposto na Lei de Defesa da
Concorrência, considerando-se os benefícios sociais e de desempenho que possam ser
identificados em tais atos, o que, segundo a literatura (VISCUSI, VERNON e
HARRIGNTON, 1998), corrobora um notório alinhamento da Anatel com o objetivo
econômico da regulação.
Além do caráter preventivo, a agência tem um papel ativo na definição das condições de
entrada de novas firmas no setor de telecomunicações, contribuindo para a redução ou
elevação das barreiras de entrada dessa indústria (PORTER, 1980).
Observando o que determina um outro artigo da Lei Geral das Telecomunicações, o art.19, a
Anatel tem plenos poderes em estabelecer e determinar as normas de prestação de um serviço
de telecomunicações e as condições que devem ser atendidas pelas empresas ou grupos que
visem a participar da prestação desse serviço. A privatização do setor, coordenada pela
Anatel, é um fato que se aplica ao exercício desse poder atribuído à agência, em que esta
definiu os critérios de participação dos grupos interessados nos leilões das telefonias fixa e
55
móvel, bem como determinou o número de prestadores que atuariam por região geográfica
licitada nesse mesmo processo.
Os objetivos estratégicos de universalização e da qualidade dos serviços prestados à
sociedade, conforme manda a Lei Geral das Telecomunicações, também constituem objetos
de regulação da agência.
A Anatel (2006b) considera estar desempenhando tais funções e cita, como exemplos
positivos de suas ações desde a privatização, não o incremento do número de clientes das
telefonias fixa e móvel, hoje com 39 e 100 milhões de acessos, respectivamente, como
também os altos índices de qualidade estabelecidos no Plano Geral de Metas que contempla a
possibilidade de a agência aplicar sanções econômicas sobre as prestadoras de serviço que,
porventura, não estão se mostrando aptas a alcançar os níveis qualitativos pré-estabelecidos.
Como exemplos, tempos de respostas às reclamações de usuários, tempos gastos pelos
usuários na espera pelo atendimento em centrais telefônicas (call centers) das operadoras,
qualidade da rede, índices de reclamações de serviços, dentre outros que são acompanhados
mensalmente pela Anatel, exercendo sua função de fiscal da qualidade das operações nos
serviços.
Concluindo, a Anatel, enquanto órgão legitimado para exercer a função reguladora pelo que
determina a Lei Geral das Telecomunicações, pode ser considerada responsável pela
transformação da estrutura do mercado de telefonia fixa e móvel, antes monopolista, em uma
estrutura de duopólio ou noutra estrutura mais ou menos competitiva, definindo as regras para
a entrada de novos prestadores e para a prestação dos serviços de telecomunicações no Brasil.
Esse tipo de comportamento da agência em relação ao mercado existe em outros países como
nos Estados Unidos, com sua agência reguladora de telecomunicações, a Federal
Communications Comission (FCC), na Alemanha, com a RbTP, e na Itália, com a AGC.
Países como Reino Unido que tem a Oftel como órgão regulador e a França com a ART
apresentam agências com um poder mais limitado comparativamente aos primeiros (PIRES,
1999).
Após abordar a regulação do setor e a Anatel, enquanto agência reguladora, faz-se necessário
detalhar o serviço de telefonia móvel.
56
3.3.4 A Telefonia Móvel
A telefonia móvel compreende os serviços de telefonia móvel celular e móvel pessoal pelo
que determina a Anatel. Ela se utiliza de uma tecnologia de transmissão de sinal, via
freqüência de rádio, conectando os terminais móveis (aparelhos celulares), permitindo uma
comunicação de voz simultânea nos dois sentidos, entre emissor e receptor, além da
possibilidade de transmissão de dados.
Cada terminal móvel que participa dessa comunicação possui um código único de
identificação dentro de uma mesma área de registro, mais comumente chamada de área com
mesmo código DDD, definida no Plano Geral de Outorgas. A determinação dos códigos
(DDD) dessas áreas de registro é exercida única e exclusivamente pela Anatel, de tal modo
que é possível haver números de telefones móveis idênticos se estes se encontrarem em
diferentes áreas de registros, ou seja, os números telefônicos diferenciam-se pelo código
DDD, tornando-os únicos em território nacional.
Operacionalmente, a comunicação na telefonia móvel ocorre da seguinte forma: existem
antenas de transmissão denominadas estação rádio-base (ERB) que transmitem e recebem o
sinal de um dispositivo móvel dentro de uma determinada faixa de freqüência, estando tais
antenas interligadas por meio de uma central de comutação e controle (CCC) da rede. Quando
ocorre uma chamada, a central identifica qual a antena que está cobrindo a região na qual se
encontra o dispositivo móvel de destino, notificando-o que uma chamada a ser
estabelecida. Uma vez estabelecida tal chamada, tem-se um canal único de comunicação entre
os dispositivos móveis de origem e destino que engloba tanto os telefones móveis, as antenas
de transmissão e a central de comutação e controle.
As prestadoras do serviço de telefonia móvel são denominadas operadoras de telefonia móvel,
empresas que venceram as licitações promovidas pela Anatel para prestar tal serviço em uma
determinada área geográfica por meio de uma tecnologia de rede de comunicação móvel.
Importante ressaltar que, obedecendo às definições do serviço móvel celular e móvel pessoal,
as operadoras devem prover a integração de sua rede de comunicação móvel com as redes de
interesse coletivo, sejam elas redes de comunicação do tipo móveis e pertencentes a outras
operadoras, sejam elas redes do Serviço Telefônico Fixo Comutado, comumente chamado de
57
telefonia fixa. Tal serviço está destinado ao uso do público em geral categorizado em três
tipos: o serviço de chamada local, quando realizado dentro de uma mesma área de registro; o
serviço de chamada de longa distância nacional, quando estabelece a comunicação entre
telefones fixos situados em diferentes áreas de registro e, o terceiro tipo, o serviço de chamada
de longa distância internacional (DDI), interligando os países. Analogamente ao sistema
móvel, os terminais fixos devem ser identificados de maneira única, obedecendo à mesma
regra dos códigos de áreas de registro.
Em resumo, tanto o serviço de telefonia móvel quanto o serviço de telefonia fixa, devem
permitir aos seus usuários a interconexão de suas redes, ou seja, é obrigatório que as
operadoras móveis e fixas possibilitem uma comunicação entre seus usuários, conforme
determinam as normas estabelecidas pela Anatel.
3.3.4.1 O aspecto tecnológico
Visando ao entendimento do aspecto tecnológico da telefonia móvel é necessário apresentar o
que significa um padrão tecnológico ou simplesmente qual o tipo de tecnologia utilizada por
este serviço.
Um padrão tecnológico deve ser entendido como o tipo de tecnologia utilizado pelas centrais
e estações rádio-base (antenas) para transmitir voz ou dados por meio de sinais de rádio entre
as antenas e entre estas e os terminais móveis, sendo que cada tecnologia ou padrão possui
uma faixa de freqüência específica para transmissão desse sinal. Assim, cada terminal
funciona como um rádio que emite e recebe sinais em uma determinada freqüência que, em
conjunto com as antenas e as centrais, constituem todo um sistema de telefonia dentro de um
único padrão.
A tecnologia móvel, segundo Bloch-Morange e Fontela (2003), foi desenvolvida nos Estados
Unidos pelos laboratórios da Bell em 1949, porém os primeiros padrões tecnológicos de
cunho comercial foram disponibilizados somente trinta anos após, em 1981, na Suécia, e em
1983, em Chicago, nos Estados Unidos.
58
No Brasil, o primeiro padrão tecnológico adotado na telefonia móvel foi o AMPS
17
, Advanced
Mobile Phone Service, disponibilizado comercialmente em 1990, no Rio de Janeiro e em São
Paulo, pelas prestadoras de telefonia fixa de cada Estado.
Segundo Dias (2002), a decisão por este padrão de telefonia estava fundamentada no fato de
ser o AMPS a tecnologia analógica utilizada em 60% dos países do mundo, principalmente
nos Estados Unidos, possibilitando ganhos de escala na aquisição dos dispositivos móveis de
comunicação. A Europa, a essa época, trabalhava com dois outros tipos de sistemas
denominados NMT ou Nordic Mobile Telephone e o TACS ou Total Access Communications
System, sem a predominância de uma padrão único.
O padrão AMPS estabeleceu-se no Brasil e sendo comercializado até o período da
privatização do setor. Porém, pouco antes da privatização, as operadoras de telefonia móvel,
ainda estatais, iniciaram a substituição de suas redes por uma tecnologia de transmissão
digital, denominada de segunda geração ou 2G, que podia ser encontrada tanto nos Estados
Unidos quanto na Europa com os padrões CDMA ou Code Division Multiple Access, TDMA
ou Time Division Multiple Access e a tecnologia GSM ou Global System Mobile
Communications. O que estimula a transição de uma tecnologia de primeira geração para uma
tecnologia de segunda geração, como ocorreu no Brasil, é uma maior eficiência na utilização
da faixa de freqüência em que a prestadora opera e a possibilidade de transmissão de dados e
voz (PEREIRA e GUEDES, 2004), ainda que em pequenas taxas de transmissão. A eficiência
na utilização da faixa de freqüência, atendendo mais usuários em uma mesma região, e a
transmissão de dados entre os usuários possibilitam incrementar os níveis de utilização da
rede de comunicação móvel e o surgimento de novos serviços paralelamente.
Considerando que, no momento da transição das gerações de tecnologias, a Anatel não
disponibilizou novas freqüências que pudessem servir ao padrão GSM, as operadoras ficaram
limitadas aos outros dois padrões CDMA e TDMA então os únicos a operar na mesma
faixa de freqüência que o padrão AMPS em operação (800MHz). No período da privatização,
a partir de 1997, a Anatel determinava, implicitamente pela ausência de freqüência, que
estes seriam os padrões a serem utilizados não só pelas operadoras estatais que seriam
privatizadas em seguida, mas também pelas novas operadoras que atuariam no país.
17
Na literatura pesquisada, os nomes das tecnologias são comumente apresentados como acrônimos de suas
descrições e escritos antes de seus significados, costume aqui mantido.
59
O terceiro padrão da 2G, o GSM, chega ao Brasil somente em 2002, fruto de um processo
licitatório realizado pela Anatel, denominado Serviço Móvel Pessoal, que determinava uma
nova freqüência de operação celular na faixa de 1800MHz. A esta freqüência somente o
padrão GSM europeu poderia ser utilizado em detrimento das opções CDMA e GSM
utilizadas nos Estados Unidos, que atuavam na freqüência de 1900MHz.
As novas operadoras do mercado, fruto da licitação das faixas de freqüência pela Anatel,
adotaram assim o padrão GSM europeu que se tornou, rapidamente, o padrão tecnológico
dominante no país. A figura a seguir permite identificar qual o tipo de tecnologia utilizada
pelos mais de 100 milhões de usuários móveis ao término do mês de janeiro de 2007.
Número de Usuários por Tecnologias - Jan/2007
CDMA - 2G
25.853.004
25,67%
TDMA - 2G
10.236.885
10,16%
GSM - 2G
64.567.422
64,11%
AMPS - 1G
59.830
0,06%
Figura 5 – Número de usuários por tipo de tecnologia móvel no Brasil
Fonte: Anatel (2007c).
Como se pode verificar pelo gráfico acima, não no Brasil, segundo a Anatel (2007c), a
presença de tecnologias de terceira geração ou 3G. Tais tecnologias apresentam taxas de
transmissão de dados ainda maiores que as tecnologias das gerações anteriores e necessitam
de equipamentos de redes e terminais móveis específicos para sua utilização. É possível
identificar tecnologias de terceira geração em países como o Japão, em que a operadora NTT
DoCoMo lançou comercialmente suas operações em 2001, Coréia do Sul, China e Finlândia e
Estados Unidos.
Visando detalhar as especificações cnicas dos padrões tecnológicos apresentados e algumas
de suas evoluções possíveis, o QUADRO 2, na página seguinte, categoriza as tecnologias
móveis segundo suas gerações, faixas de freqüência de transmissão do sinal, capacidade
60
nominal de transmissão de dados, dentre outras características.
Nome da
tecnologia
Tipo de
tecnologia
Geração Disponível no
Brasil para
comercialização
em
Freqüência
de
operação
no Brasil
Capacidade
Máxima de
transmissão
de dados
Tipos de
serviços
disponibilizados
AMPS/TACS Analógica 1G Segundo
semestre de
1990
800 MHz - Voz
NMT Analógica 1G - 450 ou
900MHz
- Voz
TDMA Digital 2G 1995 800MHz 14,4Kbps Voz e dados
CDMA Digital 2G 1995 800MHz 14,4Kbps Voz e dados
GSM Digital 2G 2002 900, 1800
ou
1900GHz
14,4Kbps Voz e dados
GPRS Digital 2,5G 2002 900, 1800
ou
1900GHz
64-144
Kbps
Voz, dados,
serviços Internet
EDGE Digital 2,5G 2002 900, 1800
ou
1900GHz
384bps Voz, dados,
serviços Internet
CDMA2000 /
1xEvDO
Digital 3G 2004
18
800MHz e
1900GHz
Até 10Mbps Voz, dados,
serviços Internet
UMTS / W-
CDMA
Digital 3G Não disponível 1900GHz Até 10Mbps Voz, dados,
serviços Internet
Quadro 2 - Tecnologias móveis disponíveis e suas características
Fonte: Adaptado de (DIAS, 2002; BLOCH-MORANGE e FONTELA, 2003; PEREIRA e GUEDES, 2004;
TELECO, 2007b).
Diante das tecnologias móveis apresentadas no QUADRO 2 e levando-se em consideração o
que a literatura (FRANSMAN, 2001a, 2001b; GAFFARD e KRAFFT, 2000; NOAM, 1987)
discorre sobre a convergência entre tecnologia da informação e indústria de
telecomunicações, conforme exposto no item 3.2, a opção de uma operadora por um padrão
tecnológico torna-se uma decisão estratégica em função de dois aspectos: a quase-
verticalização da indústria e os sunk costs.
Em primeiro lugar, uma vez selecionada a tecnologia a ser adotada por uma operadora
determinam-se, por conseguinte, os fornecedores dos equipamentos de rede e de terminais
associados àquela tecnologia, característica conhecida por quase-verticalização da indústria
de telecomunicações (FRANSMAN, 2001b), determinando suas opções de escolha no
fornecimento de serviços técnicos, equipamentos de transmissão e aparelhos móveis,
18
A Vivo é a única operadora que disponibiliza serviço para acesso a Internet, denominado ZAP 3G (ANEXO I),
com taxas de transmissão de dados em um padrão de terceira geração, restrito a algumas cidades do país,
61
aumentando ou reduzindo o poder de barganha dos fornecedores (PORTER, 1980) em relação
à operadora.
Em segundo lugar, o meio para se alcançar taxas mais elevadas de transmissão de dados,
possibilitando a inovação
19
dos serviços prestados aos usuários da telefonia móvel, é adotar
tecnologias mais avançadas em sentido à terceira geração, como aponta o QUADRO 2. O
caminho tecnológico de evolução das redes até a 3G é um processo em que a tecnologia
anterior determina ou não a possibilidade de migração para uma tecnologia mais avançada
sem que haja, necessariamente, a inutilização da rede anterior ou sua pouca utilização, a fim
de não se tornarem sunk costs
20
. Isto se torna plausível visto que cada uma das três
tecnologias de segunda geração utilizados no Brasil - TDMA, CDMA e GSM - apresentam
caminhos distintos para se alcançar a terceira geração, conforme disposto na FIGURA 6.
Figura 6 - Caminhos para migração da 2G para 3G
Fonte: Adaptado de Pereira e Guedes (2004).
A tecnologia CDMA não possui, no Brasil, um caminho alternativo que lhe permita alcançar a
3G, ainda que esta opção alternativa exista em outros países, segundo Pereira e Guedes
(2004). A Vivo, maior operadora em base de clientes do país, opera com a tecnologia CDMA
operando na mesma faixa de freqüência de sua tecnologia CDMA (800MHz), já que a Anatel reservou a
freqüência de 1900MHz para licitações da 3G, ainda não realizadas.
19
Inovação enquanto conhecimento que possa ser traduzido em riqueza” (BLOCH-MORANGE e FONTELA,
2003, p.24) a partir dos serviços disponibilizados na telefonia móvel.
20
Para Pires (1999, p.225) a telefonia móvel, diferentemente da fixa, não apresenta sunk costs.
Evolução tecnológica
Caminho alternativo
TDMA
2G
GSM
2G
GPRS
2,5 G
EDGE
2,5G
UMTS / W-CDMA
3G
CDMA
2G
CDMA2000 / EvDO
3G
62
de segunda geração e oferta, de maneira restrita
21
, a terceira geração CDMA2000.
Atualmente, esta operadora também disponibiliza a tecnologia GSM, paralelamente à
tecnologia CDMA, permitindo-a alcançar a 3G por meio de um caminho alternativo.
A tecnologia TDMA, não possui uma evolução tecnológica para alcançar a 3G. Isto significa
que, uma vez escolhida a opção 3G, esta rede terá que ser implementada pela operadora à
parte da rede TDMA existente, caracterizando um overlay de redes, nome atribuído ao
processo de sobreposição de tecnologias, implicando em sunk costs. Esta situação ocorrerá
mesmo que um caminho alternativo tenha sido tomado, como por exemplo, a migração do
TDMA para GPRS, que esta última implica uma rede operando previamente a tecnologia
GSM.
Por outro lado, com a tecnologia GSM, a evolução tecnológica é possível, passando pelas
tecnologias GPRS e EDGE até alcançar a tecnologia W-CDMA. Considerando que esta
tecnologia atua em um espectro de freqüência de 1900MHz e que a tecnologia GSM pode
operar em 900MHz, 1800MHz ou 1900MHz, é possível perceber que as prestadoras de
serviço móvel que escolherem 1900MHz, como freqüência de operação, não precisarão
adquirir novas faixas de freqüências da Anatel, visando a tecnologia 3G.
No Brasil, alguns exemplos de overlay de redes que operavam com a tecnologia TDMA
podem ser identificados: as prestadoras Maxitel, Tim Nordeste e Tim Sul o exemplos de
operadoras móveis oriundas da privatização, pertencentes ao grupo Tim, que fizeram o
overlay de suas redes para a tecnologia GSM, assim como a BCP, operadora hoje pertencente
ao grupo Claro.
De posse das definições acerca dos aspectos operacionais e tecnológicos da telefonia móvel, é
possível abordar a regulação específica a esse setor.
3.3.4.2 A regulação na telefonia móvel: um processo em construção
O contexto regulatório das telecomunicações no país se traduzia, até a aprovação da Lei Geral
das Telecomunicações (LGT), em um conjunto de normas que outrora denotavam a
21
O serviço está limitado a alguns municípios dentro da área de cobertura da operadora e para os clientes que
63
inexistência de uma política nacional que orientasse o setor. Com a LGT, aprovada em 16 de
julho de 1997, designa-se, em nível nacional, um responsável pelo processo de criação da
Política Nacional de Telecomunicações, a Anatel. Como apresentado anteriormente, são de
sua responsabilidade a discussão e aprovação de normas referentes à prestação dos serviços de
comunicação no país, segundo critérios tecnológicos, de integração e de interesse coletivo.
Tal qual um serviço de comunicação móvel, dentre os demais tipos de serviços móveis
definidos pela Anatel, pode-se dizer que a primeira regulação específica do setor de telefonia
móvel se deu com a aprovação da Lei Mínima das Telecomunicações, Lei n.º 9.295, de 19 de
julho de 1996, que determinava:
A criação e a definição do Serviço Móvel Celular (SMC) como um serviço de telefonia do
tipo móvel (art. 2º), explorado mediante concessão outorgada por licitação (art. ) pelo
prazo de 15 anos, renovável por igual período;
A cisão das antigas prestadoras públicas, que operavam a telefonia fixa e móvel
conjuntamente em duas empresas distintas, uma de telefonia fixa e outra móvel (art. e
art. 5º), em que esta última atuaria como concessionária do SMC. Como exemplos de
empresas públicas resultantes dessa cisão, têm-se a Telerj Celular, Telesp Celular,
Telebahia Celular e outras “tele-celulares”;
A Lei Mínima das Telecomunicações almejava estabelecer as condições gerais para realizar a
licitação do Serviço Móvel Celular nas Bandas A e B, incluindo-se os limites de participação
do capital estrangeiro (art. 11) e a promoção da competição no setor (art. 12). A licitação do
SMC significava, no primeiro momento, a entrada de novos agentes privados no setor, que
comporiam a chamada “Banda B” da telefonia móvel no país, no intuito de promover a
competição com as operadoras da Banda A, a serem privatizadas em um segundo momento.
Com o aparato legal da Lei Mínima e a aprovação do Regulamento do SMC pelo Decreto n.º
2.056, em 4 de novembro de 1996, o Ministério das Comunicações realizou a venda das
primeiras licenças de exploração da Banda B, no s de junho de 1997, processo que se
estendeu até o mês de abril de 1998, resultando em R$ 8,3 bilhões arrecadados pelo Governo
Federal. Segundo Novaes (2000), o Governo atentou para algumas condições a serem
cumpridas na realização desse processo, exigindo que houvesse a participação de empresas
estrangeiras na composição dos grupos interessados nas concessões do SMC que
apresentassem comprovada experiência na administração de operadoras de telefonia móvel,
possuam aparelhos de terceira geração (VIVO, 2006).
64
limitando sua participação a 49% do capital votante do grupo, bem como permitindo aos
grupos interessados somente uma oferta de compra por região licitada.
Após a licitação da Banda B, a Lei Geral das Telecomunicações (LGT) foi aprovada, e a
Anatel encarregou-se de representar os interesses do Governo, publicando o edital de licitação
da Banda A, realizado em um único dia, em 29 de julho de 1998, e arrecadando um total de
R$ 8,1 bilhões para os cofres públicos. Ambas as licitações das Bandas A e B arrecadaram, ao
seu final, R$ 16,4 bilhões, resultando em um conjunto de operações apresentado no
QUADRO 1 - Operadoras móveis das Bandas A e B.
O SMC, como dito anteriormente, foi o primeiro conjunto de normas, de cunho regulatório,
explícito do setor móvel. Após a criação da Anatel pela LGT e a publicação do Decreto n.º
3.896/01, que dispõe sobre a regência dos serviços de telecomunicações no país por esta
agência, ela assumiu a coordenação e continuação do SMC, acompanhando o comportamento
das empresas vencedoras da privatização, bem como a qualidade de seus serviços prestados.
No mês de junho de 1999, a Anatel iniciou o processo de discussão em torno da freqüência a
ser utilizada em um novo tipo de serviço, denominado Serviço Móvel Pessoal (SMP). Um ano
após o início das discussões, a faixa de freqüência destinada ao serviço foi definida e, no mês
de dezembro, a Anatel publicou o regulamento do SMP e as normas para a licitação do
mesmo. As licitações do SMP iniciaram-se no s de fevereiro de 2001 e arrecadaram,
inicialmente, R$1,84 bilhão, permitindo a entrada de mais agentes privados no mercado de
telefonia móvel brasileiro
22
. Dentre esses agentes, a Oi foi a primeira operadora a
disponibilizar comercialmente seus serviços, em 2002, utilizando-se da tecnologia GSM.
A fim de sintetizar as principais evoluções no aspecto regulatório da telefonia móvel, a
FIGURA 7, à página seguinte, associa os fatos ao período em que estes ocorreram.
22
A própria agência publicou uma nota na imprensa, em 24 de janeiro de 2002, em que esperava o aumento da
competição no setor móvel com a entrada de novos agentes no mercado – TIM e Oi.
65
Figura 7 - Linha do tempo da regulação móvel no Brasil
Fonte: Adaptado de Dias (2002).
O SMP permitiu não a participação das novas operadoras que venceram a licitação das
Bandas D e E, bem como garantiu a continuidade dos serviços prestados pelas operadoras das
Bandas A e B. A análise do SMP, enquanto aspecto regulatório, e a sua influência na estrutura
do setor e nas estratégias das operadoras de telefonia móvel é o objetivo geral desta pesquisa.
A fim de se alcançar tal objetivo, o próximo capítulo apresenta a metodologia de pesquisa
utilizada neste trabalho.
Jul./1996 Nov./1996 Jun./1997 Jul./1997 Jul./1998 Dez./1999 Fev./2001 Ago./2001 Jun./2002
Regulamen-
to do Serviço
Móvel Celular
(SMC);
Venda das
primeiras
licenças da
Banda B que
se estendem
até Jun./1998;
Lei Geral das
Telecomunica-
ções;
Lei Mínima
das Telecomu-
nicações - cisão
das operadoras
estatais e
surgimento das
tele-celulares
Banda A;
Privatização
das operado-
ras da Banda
A;
Regulamen-
to do Serviço
Móvel Pesso-
al (SMP);
Início da
licitação do
SMP - Ban-
das C,D e E;
Decreto
n.°3.896/01- a
Anatel é res-
ponsável por
reger os servi-
ços de teleco-
municações no
país;
A primeira
operadora do
SMP disponi-
biliza seus
serviços no
mercado;
66
4 METODOLOGIA
A metodologia e a estratégia de pesquisa utilizadas basearam-se no todo de Yin (2003)
para a construção de uma pesquisa qualitativa em que um estudo de caso múltiplo
demonstrou-se a estratégia mais adequada para alcançar os objetivos geral e específicos aqui
propostos.
4.1 ESTRATÉGIA E METODOLOGIA DE PESQUISA
Tendo em vista que o objetivo desta pesquisa é analisar como a regulação do Serviço Móvel
Pessoal, implementada pela Anatel em 2001, alterou a estrutura do mercado e as estratégias
das operadoras do setor de telefonia móvel no Brasil, entre 2002 e 2007, ela caracteriza-se
como um estudo de caso, almejando responder como ou por que tal “fenômeno
contemporâneo pode ser entendido dentro do contexto da vida real”, abordando “condições
contextuais que julgam ser pertinentes ao fenômeno estudado” (YIN, 2003, p.13), por meio de
“observações diretas aos eventos que estão sendo estudados e entrevistas com pessoas
envolvidas em tais eventos” (YIN, 2003, p.8). Ainda, segundo Martins (2006, p.9), a
estratégia de pesquisa do tipo estudo de caso é própria para a construção de uma investigação
que pesquisa fenômenos dentro do seu contexto real, em que se “busca apreender uma
totalidade de uma situação identificar e analisar a multiplicidade de dimensões que
envolvem o caso – e, de maneira engenhosa, [...] analisar a complexidade de um caso
concreto, construindo uma teoria que possa explicá-lo e prevê-lo”.
A unidade de análise considerada foi a indústria ou o setor de telefonia móvel no Brasil que
compreende, segundo a definição de Porter (1980), as operadoras ou prestadoras do serviço de
telefonia móvel que atuam ou atuaram no país no período observado.
67
No entanto, como apresentado anteriormente, existem oito operadoras que compõem esse
mercado, sendo que quatro delas correspondem, historicamente, por mais de 90% do total de
clientes móveis nesse período (ANATEL, 2007a), permitindo limitar o universo da pesquisa
em torno das quatro operadoras mais representativas - Vivo, Tim, Claro e Oi -
respectivamente.
A análise em torno das operadoras móveis - Vivo, Tim, Claro e Oi - torna o estudo de caso
múltiplo. Para Yin (2003), um estudo de caso ltiplo deve considerar, em sua investigação,
os casos que permitam uma replicação literal - resultados idênticos entre os casos analisados –
daquilo que é previsível pelo referencial teórico utilizado, considerando ainda a possibilidade
da utilização de replicações teóricas resultados contrários aos esperados, mas explicados
pelo mesmo referencial – que corroboram o poder de generalização da pesquisa.
Uma vez definida a estratégia de pesquisa, a metodologia qualitativa é a sugerida pela
literatura (LAKATOS e MARCONI, 1991; RICHARDSON 1999; MARTINS, 2006) no
desenvolvimento de estudos de caso, uma vez que permite captar comportamentos acerca do
fenômeno observado que possivelmente não seriam percebidos em profundidade por meio de
uma metodologia quantitativa, em que predominam os métodos estatísticos. Outrossim, a
necessidade de identificar os aspectos regulatórios promovidos pelo SMP e os impactos deles
decorrentes nos comportamentos (estratégia) das operadoras móveis justificam a utilização de
técnicas qualitativas para a análise dos dados.
4.2 TÉCNICAS DE COLETA DE DADOS
Em uma pesquisa qualitativa, as seguintes técnicas de coleta de dados são consideradas pela
literatura (PATTON, 2002; VERGARA, 2005): pesquisa documental, entrevistas, análise de
conteúdos, questionários, focus groups, historiografia, pesquisa-ação, observações, dentre
outras, sendo que, quatro destas - pesquisa documental, entrevistas, análise de conteúdos e
observações - foram utilizadas nesta pesquisa, conforme seguem suas descrições.
A primeira técnica de coleta de dados utilizada foi a pesquisa documental, que tem como
origem documentos acadêmicos, registros ou documentos das organizações observadas,
publicações governamentais, entrevistas, dentre outras fontes de dados denominadas
68
primárias, paralelamente às fontes secundárias que incluem a imprensa em geral e as obras
literárias, como sugerido por Lakatos e Marconi (1991, p.159).
Como fontes primárias de dados foram utilizados os arquivos públicos para a obtenção das
leis, decretos e normas que possibilitassem identificar o arcabouço regulatório do setor de
telecomunicações e da telefonia móvel; os dados apresentados pelas instituições públicas,
como a Anatel e o BNDES; os documentos de instituições privadas, tais como a ITU e a
OECD; as informações institucionais das operadoras móveis, bem como as informações
oriundas de consultorias especializadas no setor de telecomunicações.
A segunda técnica de coleta de dados utilizada foram as entrevistas, que se caracterizaram
como entrevistas guiadas (RICHARDSON, 1999) e entrevistas focalizadas (LAKATOS e
MARCONI, 1991).
Nas entrevistas guiadas, segundo Richardson (1999), o pesquisador utiliza-se apenas de uma
noção de idéias para a obtenção das respostas dos entrevistados em torno de um determinado
tema, sem que haja uma elaboração prévia das questões a serem aplicadas. Tal tipo de
entrevista demonstrou-se útil quando na fase exploratória (APÊNDICE A) desta pesquisa em
que alguns entrevistados esclareceram alguns pontos gerais sobre a telefonia móvel, desde o
período anterior à privatização do setor no Brasil.
Por outro lado, nas entrevistas focalizadas, a construção prévia de um roteiro relativo ao
tema em questão e o entrevistador tem liberdade para desenvolver cada situação que
considere adequada”, uma vez iniciada a entrevista (LAKATOS e MARCONI, 1991, p.197).
As entrevistas focalizadas almejam, a partir da posição do entrevistado, os detalhes em
profundidade daquilo que está sendo pesquisado, seguindo o roteiro definido, porém dentro da
liberdade de alterar, por exemplo, a ordem das perguntas no intuito de aprofundar o
entendimento da questão em pauta. Considerando-se tal técnica, cinco entrevistas focalizadas
foram realizadas, sendo quatro delas realizadas com executivos das operadoras móveis em
análise (APÊNDICE D; APÊNDICE E; APÊNDICE F; APÊNDICE G) e uma entrevista
realizada com um executivo da Anatel (APÊNDICE H).
Buscando a coerência entre ao que se propõe a pesquisa, enquanto uma análise setorial da
telefonia móvel em nível Brasil e a representatividade dos dados para esse fim, os executivos
entrevistados que atuam nas operadoras móveis foram selecionados de forma a representar a
amplitude do comportamento de suas operadoras, apresentando, portanto, um perfil de
69
diretores nacionais cujas áreas de atuação marketing ou vendas - estão relacionadas com os
serviços disponibilizados pelas operadoras. Assim, foram entrevistados quatro diretores
durante a pesquisa, dois diretores da área de marketing e dois diretores da área de vendas,
sendo um diretor por operadora, todos selecionados conforme indicações de colaboradores
pertencentes às próprias operadoras, durante a fase exploratória desta pesquisa.
A terceira técnica de coleta de dados utilizada foi a análise de conteúdo (VERGARA, 2005)
das entrevistas citadas no parágrafo anterior. Segundo Vergara (2005, p.15), a análise de
conteúdo “visa identificar o que está sendo dito sobre determinado tema” e pode ser suportada
por procedimentos de cunho quantitativo, qualitativo ou ambos, sendo o procedimento
qualitativo, aqui utilizado, responsável por identificar, no conteúdo dos textos analisados,
elementos representativos aos pressupostos da pesquisa em pauta, “permitindo a construção
interativa de uma explicação” (LAVILLE e DIONNE, 1999 apud VERGARA, 2005), sem
que haja um tratamento estatístico dos dados coletados.
A quarta técnica de coleta de dados utilizada foram as observações, que têm por objetivo
gerar dados suficientemente descritivos a ponto de ser possível perceber, em profundidade e
detalhe, uma situação ocorrida (RICHARDSON, 1999; PATTON, 2002). As observações,
enquanto técnica de coleta de dados, podem ser do tipo sistemática ou assistemática,
participante ou não-participante, individual ou em equipe (LAKATOS e MARCONI, 1991),
sendo que nesta pesquisa somente as observações do tipo não-participantes foram realizadas.
A observação não-participante permite que o pesquisador presencie o fato, mas não se integre
ao que está sendo observado, ou seja, sua participação limita-se a um expectador daquilo que
observa. Tal definição limita o pesquisador a atuar de forma atenta, sem interferir no evento
observado. Esta técnica de coleta de dados foi utilizada quando da participação do autor da
pesquisa no ITU TELECOM AMERICAS, 2005, um congresso internacional organizado pela
International Telecommunications Union (ITU) em que foram discutidas as diretrizes e rumos
das telecomunicações e seus aspectos regulatórios para América Latina e Caribe, cujas
palestras foram assistidas e encontram-se transcritas ao final do trabalho (APÊNDICE B;
APÊNDICE C).
Uma vez consideradas as técnicas de coleta de dados, o período de tempo compreendido por
esta pesquisa, entre os anos 2002 e 2007, justificou-se no intuito de buscar maiores evidências
para o enriquecimento da análise dos fatos observados acerca dos comportamentos das
70
operadoras móveis em questão. Ainda que o período inicial da pesquisa compreendesse o
setor de telefonia móvel a partir do SMP até 2004, imaginando-se que ocorreria uma
maturidade do setor à época, diversos eventos foram observados após tal período, estendendo
a análise dos dados até o mês de maio de 2007, como pode ser identificado no próximo
capítulo.
Por fim, foram utilizados dados quantitativos em algumas análises dos dados qualitativos,
para auxiliar na obtenção da objetividade na interpretação qualitativa dos fenômenos
observados, como aceito pela literatura (PATTON, 2002; YIN, 2003), quando o objetivo final
é suportar ou corroborar as conclusões das análises qualitativas, “sujeitas a interpretações
pessoais” (VERGARA, 2005, p.257).
Isto posto, é possível associar os métodos de coleta de dados, os dados coletados e suas fontes
ao processo de análise, desenvolvido no próximo capítulo.
71
5 ANÁLISE DOS DADOS
Buscando responder à pergunta de partida desta pesquisa, como a regulação do Serviço Móvel
Pessoal, implementada pela Anatel em 2001, alterou a estrutura do mercado e as estratégias
das operadoras do setor de telefonia móvel no Brasil, entre 2002 e 2007, este capítulo realiza
a análise dos dados coletados, visando a atender, respectivamente, os objetivos específicos da
pesquisa:
a) Identificar as alterações regulatórias promovidas pelo SMP;
b) Analisar a estrutura do mercado decorrente de tais alterações;
c) Identificar as estratégias implementadas pelas operadoras diante da estrutura do mercado;
d) Analisar os efeitos dessas estratégias sobre a competição no mercado.
O referencial teórico utilizado foi a análise estrutural da indústria, segundo Porter (1980). A
opção pelo modelo de Porter (1980) se deu em virtude de este realizar uma análise dos fatores
determinantes da estratégia da firma externamente a ela, ou seja, originando-se no ambiente
em que esta se encontra que é a sua indústria, enquanto “unidade sica de análise”
(PORTER, 1991, p.99), “determinando as regras competitivas do jogo, assim como das
estratégias potencialmente disponíveis para a empresa” (PORTER, 1980, p.22). Esta visão de
Porter (1980) sobre a formação da estratégia apresenta-se em linha com os objetivos desta
pesquisa, uma vez que esta visa analisar a estrutura do mercado e as estratégias
implementadas pelas operadoras móveis em decorrência de tal estrutura, tomando-se como
ponto de partida as alterações no contexto regulatório do setor. Ainda, conforme apontado no
Capítulo 2, na perspectiva que defende a influência do mercado na formação da estratégia das
firmas, é possível identificar que os autores desta linha, dentre eles Porter (1980), abordam o
tema em prol de um contexto voltado para a grande empresa, em torno de decisões a respeito
de produtos ou mercados, características estas encontradas no setor de telefonia móvel do
72
Brasil, durante o período analisado.
Diante desta opção, o modelo de Porter (1980) torna a visão externa da formação das
estratégias das firmas um referencial teórico preterido a aquele que busca, nos recursos
internos das mesmas, visão da RBV (WERNERFELT, 1984), suas fontes de vantagens
competitivas.
Para a realização da análise dos dados foram utilizados os dados coletados segundo as
técnicas apresentadas no Capítulo 4: pesquisa documental, entrevistas, análise de conteúdo e
observações, ressaltando-se a recomendação de Yin (2003) em considerar mais de uma
técnica de coleta de dados na análise dos pressupostos associados aos objetivos da pesquisa,
processo denominado triangulação dos dados. A FIGURA 8, à página seguinte, sugere uma
representação gráfica das fases da análise dos dados coletados durante a pesquisa, os métodos
utilizados para tanto e suas fontes de dados, analogamente, aos quatro objetivos específicos
supracitados.
73
Figura 8 - Representação gráfica da pesquisa e suas fontes de dados.
Fonte: Elaboração própria.
5.1 O SERVIÇO MÓVEL PESSOAL (SMP)
O Serviço Móvel Pessoal (SMP), mencionado anteriormente, significa o arcabouço
regulatório implementado pela Anatel que substituiu o Serviço Móvel Celular (SMC),
conjunto de normas que regulava o setor de telefonia móvel no Brasil, desde a sua
privatização até 2001. Este item do capítulo detalha o processo de licitação do SMP, visando a
identificar quais as alterações na regulação foram por ele determinadas.
Em 21 de setembro de 2000, as primeiras diretrizes sobre a implementação do Serviço Móvel
Pessoal são aprovadas pela Anatel, sendo disponibilizado, em seguida, o Edital de Licitação
SMP
(Aspecto
Regulatório)
Mercado
(Estrutura)
Comportamento
(Estratégia) das
Operadoras
FASES DA ANÁLISE
DOS DADOS
FONTE
DOS DADOS
MÉTODO DE COLETA
DOS DADOS
Mercado
(Competição)
Documental;
Observação;
Entrevista;
Análise de conteúdo;
Documental;
Observação;
Entrevista;
Análise de conteúdo;
Documental;
Observação;
Entrevista;
Análise de conteúdo;
Documental;
Observação;
Entrevista;
Análise de conteúdo;
Leis e Decretos Federais;
Editais da Anatel;
Congresso Iternacional – ITU
Telecom Americas 2005;
Análises setoriais – BNDES;
Entrevista com o gerente regional
da An
a
tel;
Sites institucionais das operadoras;
Relatórios setoriais - Anatel;
Revistas e periódicos – especiali-
zados;
Entrevista com o gerente regional
da Anatel;
Sites institucionais das operado-
ras;
Mídia;
Entrevistas com os diretores
nacionais das operadoras;
Relatórios setoriais - Anatel;
Revistas e periódicos – especiali-
zados;
Entrevista com o gerente regional
da Anatel;
74
do SMP, aprovado pelo Ato 13.140 de 24 de novembro de 2000. O Edital previa,
inicialmente, a licitação de nove licenças de exploração do serviço distribuídas em três faixas
de freqüências denominadas Bandas C, D e E, contendo, cada uma, três regiões geográficas
Região I, II e III - conforme seguem:
REGIÃOÁREAS GEOGRÁFICAS CORRESPONDENTES AOS TERRITÓRIOS
I dos Estados do Rio de Janeiro, Espírito Santo, Minas G
erais, Amazonas, Roraima, Amapá, Pará,
Maranhão, Bahia, Sergipe, Piauí, Ceará, R. G. do Norte, Paraíba, Pernambuco e Alagoas
II dos Estados do Paraná, Santa Catarina, R. G. do Sul, Goiás, Tocantins, Mato Grosso do Sul, Ma-
to Grosso, Rondônia, Acre e Distrito Federal
III do Estado de São Paulo
Quadro 3 - Correspondência entre as regiões licitadas e as Áreas geográficas do Brasil
Fonte: Resolução Anatel n.º 235/2000.
O processo de licitação do SMP teve início no s de janeiro de 2001, porém as primeiras
licenças foram vendidas no s subseqüente, estendendo-se até 19 de novembro de 2002,
quando se deram as vendas das últimas licenças das Bandas D e E. Importante ressaltar que
não houve interessados nas licenças da Banda C que não se deu, segundo o representante da
Anatel, em função das faixas de freqüência ofertadas para tal banda
23
. Isto posto, o resultado
da licitação do SMP, ao final desse período, pode ser conferido no QUADRO 4, à página
seguinte.
23
Questões de n.º 28, 29 e 30 da entrevista com a Anatel (APÊNDICE H). Ainda com relação à licitação da
Banda C, é importante ressaltar que os Art. 21, §4º e Art. 23, §2º da Resolução n.º 235/2000 da Anatel
determinam, respectivamente, que as operadoras vencedoras da Banda C iniciem suas operações até 30/06/2001
ou seis meses após a assinatura do termo de autorização para exploração do serviço, antecipando-se às
operadoras vencedoras das Bandas D e E, bem como não fossem controladora, controlada ou coligada de
operadora do Serviço de Telefonia Fixo Comutado - STFC.
75
Banda
Região
24
Estados Empresa Grupo Controlador
Banda D
1
RJ, MG, ES, BA, SE, AL, PE,
RN, MA, PI, AM, AP, PB, CE,
PA, RR
Oi Celular
TNL Participações
(Telemar)
2
RS, DF, GO, TO, MT, MS, AC
e RO
TIM Centro Sul TIM
2* PR e SC
Claro (Telecom
Américas)
América Móviles
3 SP Capital e Interior TIM São Paulo TIM
Banda E
1* BA e SE
Claro (Telecom
Américas)
América Móviles
1* MG, AL, CE, PB, PE, PI e RN Vésper Qualcomm
1 RJ, ES, MA, PA, AP, AM e RO TIM Rio Norte TIM
2* PR, SC, RS e GO Brasil Telecom
Opportunity e
fundos de pensão
3* SP Capital Vésper Qualcomm
3* SP Interior
Claro (Telecom
Américas)
América Móviles
Quadro 4 - Resultado das vendas das licenças do SMP
Fonte: Dias (2002, p.25).
A primeira dessas operadoras a ofertar comercialmente os serviços SMP foi a Oi, no s de
junho de 2002, seguida pela TIM que disponibilizou seus serviços SMP em abrangência
nacional no s de outubro do mesmo ano, integrando as operações das Bandas D e E -TIM
Centro-SUL, Tim Rio-Norte, Tim São Paulo - com suas operadoras das Bandas A e B - Tim
Sul, Tim Nordeste e Tim Maxitel. A Américas Móviles adquiriu três licenças do SMP, porém
a oferta de seus serviços só se inicia em 2003, por meio de sua operadora denominada Claro.
É mister analisar o escopo do SMP não somente sobre as novas operadoras das Bandas D e E,
mas também sobre as operadoras das Bandas A e B que já operavam no mercado desde a
privatização do setor, outrora regido pelo SMC. A questão que deve ser apresentada a esse
respeito é como se deu a superposição dos dois arcabouços regulatórios sobre o mesmo
mercado.
Nesse intuito, a Anatel aprovou, por meio da Resolução n.º 254/01, as normas que regeriam a
adaptação do Serviço Móvel Celular para o Serviço Móvel Pessoal da seguinte maneira: para
as operadoras que já atuavam no SMC, a Resolução n.º 254/01 não exigia a migração
imediata de seus contratos de exploração da telefonia móvel para o termo de autorização
exigido no SMP, no entanto, tais operadoras deveriam adequar-se às alterações promovidas
24
As regiões que apresentam um símbolo ao lado (*) são licenças vendidas no leilão do SMP realizado em 19 de
novembro de 2002.
76
pelo novo contexto regulatório, a partir de 2002. Para as outras operadoras que também
atuavam no SMC e resolveram migrar sua operação para as novas regras de prestação do
serviço, a Anatel disponibilizava um prazo para efeito de adequação de suas operações às
novas normas e exigia a assinatura de um novo contrato, a título oneroso. O quadro a seguir
consolida as opções estabelecidas pela Resolução n.º 254/01, bem como a escolha realizada
pelas quatro operadoras que estão sendo analisadas.
Tipo de Operadora
Opção dada pela Resolução
254/01
Conseqüência Operadoras Analisadas que
escolheram a opção
Operadoras do SMC
das Bandas A e B
Manter-se no SMC;
Submeter-se às
determinações do
SMP, após
31.12.2001;
-
Migrar para o SMP,
substituindo os contratos de
concessão ou autorização
pelo termo de autorização do
SMP, a título oneroso;
Submeter-se às
determinações do
SMP, após
31.12.2001;
- Vivo;
- Tim Nordeste, Maxitel e Tim
Sul (TIM);
- ATL, TESS e Americel
(Claro).
Operadoras resultantes
da licitação do SMP
-
Submeter-se de
imediato às
determinações do
SMP;
- Oi
- TIM Centro-SUL, Tim Rio-
Norte, Tim São Paulo (TIM);
- Claro BA e SE.
Quadro 5 – A Resolução 254/01 e as decisões das operadoras móveis.
Fonte: Elaboração própria.
Note-se que tal resolução foi aprovada pela Anatel anteriormente à realização dos leilões do
SMP, igualando as opções de escolha pelo SMP entre as operadoras que atuavam no
mercado e os possíveis novos entrantes, eliminando assimetrias regulatórias
25
.
Uma vez detalhado o processo de licitação do SMP, é preciso identificar, a partir das
Resoluções da Anatel, as alterações regulatórias definidas para o setor. Para tanto, foi
realizada uma pesquisa documental junto à biblioteca da Anatel, catalogando-se 34
Resoluções que se referem às normas e regulamentos publicados por esta agência. A
utilização de tais Resoluções publicadas pela Anatel, enquanto fonte documental de pesquisa,
em detrimento a outros tipos de documentos publicados pela mesma agência, teve como
critério o que consta no Art. do Decreto 3.896/2001 da Presidência da República: “Os
serviços de telecomunicações, qualquer que seja o regime jurídico ou o interesse, regem-se
exclusivamente pelos regulamentos e pelas normas editadas pela Agência Nacional de
25
As assimetrias regulatórias podem ser definidas como a existência de um conjunto de direitos e deveres que
diferem de um prestador de serviço para outro, mesmo quando ambos fornecem serviços equivalentes e atuam
em um mesmo mercado geográfico (HERRERA, 1998 apud PIRES, 1999, p.47).
77
Telecomunicações Anatel, o se lhes aplicando a regulamentação anteriormente vigente
[...]” (BRASIL, 2001, p.1). Neste sentido, foram selecionadas as Resoluções que tratam
especificamente sobre o Serviço Móvel Pessoal, publicadas até o mês de maio deste ano,
período final da pesquisa, como sumarizadas no QUADRO 6, seguinte.
Quadro 6 - Resoluções publicadas pela Anatel sobre o SMP
Resolução N.º Data Objeto
Revogada pela
Resolução N.º
Alterada pela
Resolução N.º
235 21.09.2000
Aprova as Diretrizes para Implementação
do Serviço Móvel Pessoal - SMP.
340
245
08.12.2000
Aprova o Regulamento do Serviço Móvel
Pessoal – SMP.
316
248 19.12.2000
Aprova o Plano Geral de Autorizações do
Serviço Móvel Pessoal.
268
249 19.12.2000
Aprova o Plano Geral de Metas da
Qualidade do Serviço Móvel Pessoal.
250 19.12.2000
Aprova os Critérios de Remuneração pelo
uso de redes de prestadoras do Serviço
Móvel Pessoal.
254 11.01.2001
Aprova a Norma Adaptação dos
Instrumentos de Concessão e Autorização
do Serviço Móvel Celular para o Serviço
Móvel Pessoal.
256 12.04.2001
Aprova o estabelecimento de Requisitos
Adicionais para Certificação de
Equipamento Terminal do Serviço Móvel
Especializado, do Serviço Móvel Celular e
do Serviço Móvel Pessoal.
303
260 25.04.2001
Aprova as Diretrizes para Uso de
Radiofreqüências na Faixa de 900 MHz
para prestação do Serviço Móvel Pessoal
(SMP).
340
261 24.05.2001
Aprova o Regulamento sobre critérios
tarifários para a prestação do Serviço
Telefônico Fixo Comutado nas chamadas
envolvendo usuário do Serviço Móvel
Pessoal.
268 29.06.2001
Republica, com alterações, o Plano Geral de
Autorizações do Serviço Móvel Pessoal,
aprovado pela Resolução n.º 248, de 19 de
dezembro de 2000.
321
297 10.05.2002
Aprova a Norma do Processo de Aferição
do Grau de Satisfação dos Usuários do
Serviço Telefônico Fixo Comutado (STFC),
do Serviço Móvel Celular (SMC) e do
Serviço Móvel Pessoal (SMP).
443
298 29.05.2002
Aprova o Regulamento de Numeração para
a Identificação de Acessos, Interfaces e
Elementos de Redes do Serviço Móvel
Pessoal – SMP.
301 20.06.2002
Aprova o Regulamento de Numeração do
Serviço Móvel Pessoal .
312 19/09/2002
Destina as faixas de radiofreqüências de
454
(continua na página seguinte)
78
Resolução N.º Data Objeto
Revogada pela
Resolução N.º
Alterada pela
Resolução N.º
1.710 a 1.755 MHz, 1.775 a 1.785 MHz,
1.805 a 1.850 MHz e 1.870 a 1.880 MHz,
para o Serviço Móvel Pessoal (SMP), e as
faixas de radiofreqüências de 1.885 a 1.895
MHz, 1.920 a 1.975 MHz e 2.110 a 2.165
MHz, para a implantação de sistemas de
telecomunicações móveis que sigam as
especificações IMT-2000 da UIT.
315 19.09.2002
Aprova o Regulamento sobre Condições de
Uso das Faixas de Radiofreqüências de 824
MHz a 849 MHz, de 869 MHz a 894 MHz,
e de 1.710 MHz a 1.755 MHz e de 1.805
MHz a 1.850 MHz.
340
316 27.09.2002
Aprova o Regulamento do Serviço Móvel
Pessoal.
317 27.09.2002
Plano Geral de Metas da Qualidade do
Serviço Móvel Pessoal.
318 27.09.2002
Norma Adaptação dos Instrumentos de
Concessão e de Autorização do Serviço
Móvel Celular SMC para o Serviço Móvel
Pessoal – SMP.
319 27.09.2002
Norma Critérios de Remuneração pelo Uso
de Redes de Prestadoras do Serviço Móvel
Pessoal - SMP.
438 408
320 27.09.2002
Regulamento sobre critérios tarifários para
a prestação do Serviço Telefônico Fixo
Comutado nas chamadas envolvendo
usuário do Serviço Móvel Pessoal.
321 27.09.2002
Plano Geral de Autorizações do Serviço
Móvel Pessoal – PGA-SMP.
466
326 27.09.2002
Altera a Norma de Adaptação dos
Instrumentos de Concessão e Autorização
do Serviço Móvel Celular para o Serviço
Móvel Pessoal.
335 17.04.2003
Aprova o Regulamento de Indicadores de
Qualidade do Serviço Móvel Pessoal.
339 22.05.2003
Dispõe sobre os aspectos técnico-
operacionais da implementação do Código
de Seleção de Prestadora - CSP no Serviço
Móvel Pessoal – SMP.
340 18.06.2003
Aprova o Regulamento sobre Condições de
Uso de Radiofreqüências nas Faixas de 800
MHz, 900 MHz e 1.800 MHz para
prestação do Serviço Móvel Pessoal.
376
354 18.12.2003
Dispõe sobre a oferta de chamadas a cobrar
terminadas no SMP para os Planos Pré-
pagos de Serviço – SMP
376 02.09.2004
Aprova a alteração do Regulamento sobre
Condições de Uso de Radiofreqüências nas
Faixas de 800 MHz, 900 MHz e 1.800 MHz
para prestação do Serviço Móvel Pessoal.
454
408
30.06.2005
Mantém o atual critério de remuneração de
uso de rede entre prestadoras de Serviço
Móvel Pessoal, em uma mesma Área de
Registro, previsto no item 3.3.1 da Norma
438
Quadro 6 - Resoluções publicadas pela Anatel sobre o SMP (continuação)
(continua na página seguinte)
79
Resolução N.º Data Objeto
Revogada pela
Resolução N.º
Alterada pela
Resolução N.º
Critérios de Remuneração pelo Uso de
Redes de Prestadoras do Serviço Móvel
Pessoal SMP.
413 30.08.2005
Aprova Norma para Certificação e
Homologação de Transmissores e
Transceptores de Estações Rádio Base e de
Estações Repetidoras do Serviço Móvel
Pessoal (SMP) e Serviço Móvel
Especializado (SME)
436 07.06.2006
Aprova a Norma de Informações sobre a
Prestação do Serviço Móvel Pessoal .
438 10.07.2006
Resolução que aprova o Regulamento de
Remuneração pelo Uso de Redes de
Prestadoras do Serviço Móvel Pessoal -
SMP.
443 08.08.2006
Norma do Processo de Aferição do Grau de
Satisfação da Sociedade com Relação ao
Serviço Telefônico Fixo Comutado (STFC),
ao Serviço Móvel Pessoal (SMP) e aos
serviços de televisão por assinatura.
454
11.12.2006
Aprova o Regulamento sobre Condições de
Uso de Radiofreqüências nas Faixas de 800
MHz, 900 MHz, 1.800 MHz, 1.900 MHz e
2.100 MHz.
466
16.05.2007
Aprova Alterações no Plano Geral de
Autorizações do Serviço Móvel Pessoal –
PGA SMP
Fonte: Adaptado de Anatel (2007f).
Uma vez catalogadas as Resoluções do SMP, incluindo-se as revogações e alterações que se
procederam no período em análise, as alterações que emergem do Serviço Móvel Pessoal
comparativamente às normas vigentes desde a privatização do setor, por meio do arcabouço
regulatório anterior (SMC), podem ser identificadas em dois tipos de documentos: aqueles
que m por objeto o Regulamento do SMP (Resoluções de n.º 245/2000 e 316/2002) ou que
têm por objeto o Plano Geral de Autorizações (Resoluções de n.º 248/2000, 268/2001,
321/2002 e 466/2007). Um terceiro tipo de documento, O Plano Geral de Metas de Qualidade,
similarmente contém alterações perante o SMC, mas seu conteúdo refere-se aos indicadores
de qualidade para a prestação do serviço móvel. Tendo em vista o objetivo desta pesquisa, tais
indicadores não foram considerados nesta análise, voltando-se a atenção ao Regulamento e ao
Plano Geral de Autorizações do SMP, resultando nas seguintes alterações identificadas no
QUADRO 7, à página seguinte.
Quadro 6 - Resoluções publicadas pela Anatel sobre o SMP
80
Objeto da norma Fonte documental Alteração promovida pelo SMP O que estabelecia o SMC
Formalização da
licença para exploração
do serviço
- Item III. Art 1º e
Art. 30 da Resolução
n.º 235/2000.
- Art. 5º da
Resolução n.º
245/2000.
- Art. 4º da
Resolução n.º
248/2000.
- Art. 4º da
Resolução n.º
321/2002.
Serviço só pode ser explorado via
Termo de Autorização válido por
15 anos e prorrogável por igual
período;
Contratos do tipo
Concessão ou Autorização;
Faixas de Freqüência
- Art. 11 da
Resolução n.º
235/2000;
- Art. 5º da
Resolução n.º
248/2000;
- Incorpora e expande as sub-
faixas das Bandas A e B do SMC
para as operadoras que migrarem
os contratos de concessão;
- Estabelece novas sub-faixas: C,
D e E;
- Estabeleceu as sub-faixas
das Bandas A e B;
Participantes
- Art. 16 da
Resolução n.º
248/2000;
- Art. 17 da
Resolução n.º
248/2000;
- Art. 16 da
Resolução n.º
321/2002;
- Art. 17 da
Resolução n.º
321/2002;
- Permitiu que uma empresa
concessionária da telefonia móvel
participasse da licitação do SMP,
enquanto controladora, controlada
ou coligada em área
complementar à sua;
- Permitiu que empresas
concessionárias da telefonia fixa
participassem da licitação do
SMP, enquanto controladora,
controlada ou coligada;
- Não permitiu a
participação de empresas
concessionárias da telefonia
fixa na licitação do serviço
móvel;
Áreas geográficas de
cobertura do território
nacional licitadas
- Art. 7º da
Resolução n.º
248/2000;
- Art. 7º da
Resolução n.º
321/2002;
- Art. 15 da
Resolução n.º
321/2002.
- 3 áreas de registro: Região I, II e
III;
- 10 áreas de registro: Áreas
1 a 10;
Código de Seleção de
Prestadora (CSP)
- Art. 5º da
Resolução n.º
235/2000 ;
- Art. 75, 76 e 78 da
Resolução n.º
245/2000;
- Resolução n.º
339/2003
- O usuário tem a possibilidade de
selecionar qual a operadora de
longa distância nacional ou
internacional de sua preferência.
- O usuário não dispunha da
seleção da prestadora de
Longa distância nacional ou
internacional. A operadora
de telefonia móvel celular
negociava acordos
individuais com essas
operadoras.
Serviços de chamada de
longa distância
- Art. 21 da
Resolução n.º
235/2000;
- Art. 16 Resolução
n.º 248/2000;
- Direito a uma licença de
Telefonia Fixa de Longa
Distância Nacional e uma licença
de Telefonia Fixa de Longa
Distância Internacional;
A operadora de telefonia
móvel só tinha direito a
uma licença para
exploração desse serviço na
área licitada.
Quadro 7 - Comparativo das alterações promovidas pelo SMP perante o SMC
Fonte: Elaboração própria
81
A primeira alteração promovida pelo SMP é o tipo de formalização da licença para a
exploração do serviço. A relevância dessa alteração é que a relação contratual entre as
operadoras e a Anatel, estabelecida pelo SMP, constitui uma autorização para a exploração de
serviço público, extinguindo a característica da reversibilidade dos bens das operadoras
móveis respaldadas no contexto regulatório anterior por uma relação contratual de concessão.
Diante da regulação anterior, a concessão permitia que todo e qualquer ativo de uma
operadora poderia ser retornado para o Governo, quando este entendesse a necessidade de
prestação do serviço em favor da sociedade. Com o SMP, as operadoras móveis têm seus bens
liberados para comercialização, conforme ressaltado pelo representante da Anatel na Bahia
26
(APÊNDICE H).
A segunda alteração promovida pelo SMP refere-se às faixas de freqüência de transmissão
pelas operadoras, implicando na introdução da tecnologia GSM no mercado. de se
ressaltar que a função da Anatel não é determinar, de maneira direta, a tecnologia a ser
adotada pelas operadoras móveis, mas sim, enquanto órgão que regula o espectro de
freqüência dos sinais de transmissão das comunicações via rádio, sugerir, em função da
freqüência escolhida, quais as possibilidades tecnológicas das operadoras móveis que prestam
esse serviço. Outrossim, esse comportamento da Anatel pode ser identificado em dois
momentos da história das telecomunicações no país: o primeiro deles durante a privatização
do setor e, posteriormente, na licitação do Serviço Móvel Pessoal. No primeiro momento, a
Anatel determinou os espectros de freqüência que suportavam a operação das tecnologias
TDMA e CDMA e cada operadora móvel fez sua opção por um padrão dentre eles, resultando
na tecnologia TDMA pela maioria das operadoras celulares estatais, à exceção da Telesp
Celular e da Telerj Celular. Dentre as operadoras privatizadas, a Global Telecom foi a única
destas que optou pela tecnologia CDMA, enquanto as demais operadoras fizeram escolha pelo
padrão TDMA, conforme relata Dias (2002). No segundo momento, durante o processo de
licitação do SMP, a Anatel determinou as faixas de freqüência de 1.800MHz a serem
utilizadas pelas operadoras das Bandas C, D e E, determinando o padrão GSM europeu a ser
adotado, que este era o único padrão que operava na freqüência determinada. Tal decisão
disponibilizou a freqüência de 1.900MHz para a terceira geração da tecnologia móvel,
seguindo o que sugeria a União Internacional de Telecomunicações - ITU (DIAS, 2002).
Como citado no Capítulo 3, a opção tecnológica de uma rede pode ser decisiva no critério de
evolução da mesma, possibilitando que esta se transforme em sunk cost ou ainda que, devido
26
Questões n.º20 e 21 da entrevista com a Anatel, transcrita no APÊNDICE H.
82
à característica de quase-verticalização dessa indústria, obtenham-se ganhos em escala e
melhores condições de negociação com os fornecedores (PORTER, 1980). A relevância das
faixas de freqüência é significativa a ponto de não haver interessados na Banda C, à época da
licitação do SMP, em função das freqüências inicialmente designadas pela Anatel, conforme
entrevista
27
realizada (APÊNDICE H).
A terceira alteração promovida pelo SMP foi permitir a participação de grupos que já
controlavam operadoras de telefonia fixa no processo de licitação do serviço móvel,
possibilitando uma redefinição do mercado móvel brasileiro. Dentre as quatro operadoras aqui
analisadas, os controladores da Vivo e da Oi já exploravam o serviço de telefonia fixa,
controlando as operadoras Telefônica e antiga Telemar, respectivamente. O SMP também
permitiu que grupos que exploravam a telefonia móvel nas Bandas A e B adquirissem
novas licenças no processo de licitação das Bandas C, D e E, complementando sua área de
atuação no país, como ocorreu com a Tim que criou uma operação em nível nacional.
A quarta alteração promovida pelo SMP se deu na redefinição das áreas geográficas de
exploração do serviço no território nacional, não mais em dez regiões como definido
anteriormente no SMC, mas em três regiões Regiões I, II e III, distribuídas similarmente às
mesmas Regiões I, II e III da telefonia fixa, conforme consta no art. 4º do Decreto . 2.534
de 02 de abril de 1998, que aprova o “Plano Geral de Outorgas” do Serviço de Telefonia Fixo
Comutado. A relevância deste fato está na coincidência entre as áreas de operação da telefonia
fixa com as áreas de operação da telefonia móvel e tanto a Vivo quanto a Oi são exemplos de
operadoras que ofertam seus serviços móveis nas mesmas regiões em que as empresas de
telefonia fixa pertencentes aos seus grupos controladores Telefônica, Portugal Telecom e
antiga Telemar - disponibilizam o serviço telefônico fixo comutado.
A quinta alteração promovida pelo SMP é denominada pela Anatel de Código de Seleção de
Prestadora (CSP). O CSP provocou impacto tanto para os usuários do serviço móvel celular,
quanto para as operadoras que lhes prestavam tal serviço. O impacto para os usuários ocorreu
porque, com o CSP, o cliente pode selecionar qual a operadora de longa distância nacional ou
internacional de sua preferência para a realização de chamadas desse tipo. O impacto para as
operadoras ocorreu porque, uma vez que o CSP possibilita a escolha da operadora de longa
distância pelo cliente final, tal escolha se dará por opções de preço ou qualidade do serviço
27
Questões de n.º 28, 29, 30 e 31 da entrevista com a Anatel, transcrita no APÊNDICE H.
83
por ele identificadas, diferentemente do contexto regulatório anterior, em que a operadora de
longa distância era pré-determinada pela prestadora do serviço móvel celular.
A sexta alteração promovida pelo SMP determina que as empresas que adquiriram uma
licença para exploração do Serviço Móvel Pessoal têm, concomitantemente, o direito a uma
licença de exploração do serviço de telefonia fixa de longa distância nacional e internacional,
em todo território brasileiro. Isso significa que uma operadora vencendo a licitação relativa a
qualquer área do SMP, automaticamente, recebe o direito de prestadora dos serviços de DDD
e DDI em nível nacional, podendo construir sua própria rede de comunicação para tal fim.
Diante da possibilidade de escolha do CSP pelo cliente, mencionado no parágrafo anterior,
esse direito de exploração poderia ser utilizado pela operadora móvel do SMP, estendendo seu
escopo de serviços em direção às chamadas de longa distância nacional ou internacional.
Segundo a entrevista
28
com o representante da Anatel, na Bahia, o objetivo da agência, em
promover o CSP e dar o direito à licença de serviços de longa distância nacional e
internacional às operadoras móveis, era estimular a concorrência com as operadoras da
telefonia fixa por meio das primeiras, quando estas disponibilizassem a oferta de serviços de
longa distância. Dentre as quatro operadoras aqui analisadas, os exemplos que podem ser
identificados, nesse contexto, são a Tim e a Claro que criaram suas operadoras de longa
distância com os códigos 41 e 36
29
, respectivamente.
Uma vez identificadas as alterações regulatórias do SMP, é possível analisar a estrutura do
setor de telefonia móvel no Brasil decorrente dessas alterações.
28
Questões de n.º 22 e 23 da entrevista com a Anatel, transcrita no APÊNDICE H.
29
O grupo controlador da operadora Claro, como será analisado mais adiante, adquiriu a Embratel em 2005,
operadora que prestava o serviço de longa distância no mercado, obrigando o grupo a abandonar a oferta do
código 36 da Claro em favor do código 21 da Embratel, conforme exposto na entrevista com seu diretor
(APÊNDICE E).
84
5.2 A ESTRUTURA DO MERCADO PÓS-SMP
5.2.1 O Processo Evolutivo do Setor de Telefonia Móvel do Brasil
A análise estrutural de uma indústria é o meio para se compreender as forças que dirigem a
concorrência nessa indústria - entrantes potenciais, rivalidade entre as empresas existentes,
existência de produtos substitutos, poder de negociação dos compradores e poder de
negociação dos fornecedores - e que são decisivas para o desenvolvimento das estratégias
competitivas das firmas que nela se encontram (PORTER, 1980). Mudanças que afetem as
fontes dessas forças competitivas representam uma evolução na estrutura da indústria,
denominadas processos evolutivos (PORTER, 1980, p.162).
Os processos evolutivos apresentados por Porter (1980) são, dentre outros: (a) a inovação em
produtos que pode ampliar o mercado, gerar economias em escala
30
ou promover a
diferenciação, elevando, nestes casos, as barreiras de mobilidade ou de entrada em uma
indústria; (b) a inovação no marketing através de novos canais de venda que podem ampliar o
mercado ou promover a diferenciação do produto, também elevando barreiras de mobilidade
ou de entrada na indústria; (c) a inovação no processo de fabricação do produto ou
disponibilização do serviço, que pode tornar o processo mais ou menos intenso em capital,
aumentar ou diminuir as economias de escala, aumentar ou diminuir o nível de integração
vertical
31
, alterando, em todos esses casos, as fontes das forças que atuam na indústria; (d) as
mudanças na política governamental que se caracterizam por normas da regulação exercida
pelo governo sobre uma indústria, podendo aumentar ou reduzir as barreiras de entrada,
regular as práticas competitivas e a rentabilidade das firmas ou exigir melhores níveis de
qualidade do produto; (e) a entrada de novas firmas na indústria, por desenvolvimento ou
aquisição, alterando sua estrutura através do aumento da concorrência ou da rivalidade entre
as firmas existentes; (f) a saída de empresas de uma indústria que, contrariamente à entrada,
30
Para Porter (1980, p.25) as economias de escala referem-se aos declínios nos custos unitários de um produto, à
medida que o volume absoluto por período aumenta.
31
Para Porter (1980, p.278) a integração vertical é a combinação de processos de produção, distribuição, vendas
e/ou outros processos econômicos, tecnologicamente distintos, dentro das fronteiras de uma mesma empresa. A
85
reduz o número de empresas e aumenta o domínio das lideranças da indústria.
Isto posto, é possível analisar como as mudanças na política governamental do setor de
telefonia móvel, caracterizadas pelo Serviço Móvel Pessoal, provocaram um processo
evolutivo na indústria, reduzindo as barreiras de entrada no setor, elevando a intensidade da
concorrência entre as operadoras de telefonia móvel e estabelecendo níveis de integração
vertical entre estas e as operadoras de telefonia fixa.
5.2.1.1 A redução das barreiras de entrada no setor
Segundo a análise das alterações regulatórias provocadas pelo SMP, realizadas no item
anterior, a terceira alteração identificada menciona que o SMP, por meio das Resoluções de
n.º 248/2000 e de n.º 321/2002, aprovadas pela Anatel, em seus artigos 16 e 17 como
detalhado no QUADRO 7, permitiu a participação de grupos que controlavam operadoras de
telefonia fixa ou grupos que controlavam operadoras de telefonia móvel no processo de
licitação do Serviço Móvel Pessoal, reduzindo as barreiras de entrada no setor de telefonia
móvel para as operadoras fixas, ou de mobilidade
32
para as operadoras móveis que atuavam
nas Bandas A e B.
Uma vez reduzidas as barreiras de entrada ou de mobilidade no setor, novas operadoras
adentraram no mercado de telefonia móvel, tendo como controladores grupos que
controlavam operadoras de telefonia fixa ou grupos que controlavam operadoras de telefonia
móvel. Analisando as quatro operadoras em questão, o grupo controlador da Oi controlava
uma operadora de telefonia fixa, a Telemar. A Tim e a Vivo situam-se entre as operadoras
cujos grupos controladores já controlavam alguma operadora de telefonia fixa e móvel,
concomitantemente. A Claro, por sua vez, é a única operadora cujo grupo controlador não
controlava operadoras de telefonia fixa ou móvel.
integração vertical representa uma decisão da empresa no sentido de utilizar transações internas ou
administrativas em vez da utilização de transações de mercado.
32
As barreiras de mobilidade caracterizam barreiras de entrada aos grupos estratégicos de firmas de uma mesma
indústria, como definido por Porter (1980).
86
5.2.1.2 A intensidade da concorrência
Tendo em vista a entrada de novas operadoras no setor de telefonia móvel, compondo as
Bandas D e E do Serviço Móvel Pessoal, pode-se identificar, a partir desse período, até quatro
operadoras móveis (Bandas A, B, D e E) competindo em um mesmo Estado da Federação.
Uma evidência a esse respeito é o fato de que 92,5% dos 91,8 milhões de assinantes do SMP,
ao final do primeiro semestre de 2006, eram assistidos por mais de três operadoras de
telefonia móvel, como pode ser visto na FIGURA 9.
Assinantes
servidos por 3
operadoras;
39,64%
Assinantes
servidos por 4
operadoras;
52,86%
Assinantes
servidos por 1
operadora;
3,47%
Assinantes
servidos por 2
operadoras;
4,03%
Figura 9 – Percentual de clientes móveis e o número de operadoras a serviço
Fonte: Adaptado de Teleco (2006).
Considerando-se que, durante o regime regulatório anterior, somente as operadoras das
Bandas A e B competiam por um mesmo mercado ou Estado da Federação, a entrada das
operadoras das Bandas D e E, resultantes do SMP, intensifica a concorrência nos mercados
regionais. Corroborando a função da Anatel nesse sentido, Valente (2000, p.361), então
conselheiro da agência à época da privatização, afirmava que o que considerava “obsessão na
Anatel é a questão da introdução da competição em todos os serviços”.
Apesar de intensificar a concorrência em nível regional, o setor de telefonia móvel apresentou
movimentos de consolidação das operadoras em nível nacional, uma vez que grupos
controladores de operadoras das Bandas A e B adquiriram licenças do Serviço Móvel Pessoal,
controlando operadoras das Bandas D e E. A Tim e a Claro são operadoras que representam
tal situação. A Tim atuava controlando operadoras das Bandas A e B Tim Maxitel, Tim
Sul e Tim Nordeste – e adquiriu licenças das Bandas D e E, criando e controlando as
87
operadoras TIM Centro-SUL, Tim Rio-Norte e Tim São Paulo. A Claro (Telecom Américas)
adquiriu licenças das Bandas D e E, criando e controlando sua própria operadora nos Estados
do Paraná, Santa Catarina, Bahia, Sergipe e interior de São Paulo, adquirindo, em seguida, as
operadoras das Bandas A e B: BCP, ATL, BSE, Telet, Tess e Americel
33
. A Vivo migrou sua
licença para o SMP, adquirindo, em seguida, uma operadora da Banda A, a operadora TCO. A
Oi não apresenta movimentos de aquisição de operadoras nesse sentido. Com esses
movimentos dos grupos controladores da Tim e da Claro, seis operadoras ficaram sob o
controle direto do grupo Tim e nove outras operadoras ficaram sob o controle direto do grupo
controlador da Claro, consolidando as atividades de tais operadoras em nível nacional.
Os movimentos de consolidação de operadoras móveis no território nacional, originados pelos
grupos controladores das operadoras móveis Tim e Claro, não são os únicos processos
evolutivos do setor. O fato de os grupos controladores dessas operadoras e dos grupos
controladores da Oi e da Vivo possuírem algum controle sobre operadoras de telefonia fixa
justifica uma outra evolução estrutural no setor de telefonia móvel do país: os níveis de
integração vertical entre operadoras de telefonia fixa e móvel.
5.2.1.3 Os níveis de integração vertical entre operadoras de telefonia fixa e móvel
A integração vertical consiste na “combinação de processos de produção, distribuição, vendas
ou outros processos econômicos tecnologicamente distintos dentro das fronteiras de uma
mesma empresa.” (PORTER, 1980, p.278). Todavia, a integração total das atividades de uma
empresa não é o único caminho plausível para se atingir alguns benefícios da integração
vertical de seus processos, tais como a economia de produção ou de operação, melhor
coordenação das atividades, garantia do fornecimento de insumos ou do consumo de
produtos, maior habilidade para diversificação de produtos ou elevação das barreiras de
entrada, dentre outros. Enquanto alternativas, Porter (1980) apresenta uma integração parcial
das atividades da firma, em que esta adquire parte de seus insumos internamente e o restante é
buscado no mercado, ou, ainda, uma quase-integração das atividades da firma, que é o
estabelecimento de uma relação entre negócios verticalmente situados na indústria,
33
Como referência ou consulta, o QUADRO 1 apresenta as operadoras das Bandas A e B e o QUADRO 4
apresenta as operadoras das Bandas D e E e seus respectivos grupos controladores.
88
caracterizando-se entre contratos de longo prazo e a propriedade integral das atividades da
firma controladora. Dentre as formas mais comuns de quase-integração estão os investimentos
em ações, acordos de exclusividade, atividades cooperadas de pesquisa e desenvolvimento e
arranjos especiais entre as firmas.
Retomando as alterações regulatórias promovidas pelo Serviço Móvel Pessoal, conforme
detalhado no QUADRO 7, quatro dessas alterações possivelmente favoreceriam ao
estabelecimento de níveis de integração vertical entre as operadoras de telefonia móvel e as
operadoras de telefonia fixa, segundo as definições de Porter (1980): a primeira delas diz
respeito aos participantes do SMP, permitindo que empresas concessionárias (operadoras) da
telefonia fixa concorressem na licitação desse serviço, enquanto controladora, controlada ou
coligada; a segunda delas refere-se às áreas geográficas licitadas pelo SMP, que coincidem
com as áreas de atuação das empresas concessionárias (operadoras) da telefonia fixa; a
terceira alteração é a que estabelece o Código de Seleção de Prestadora, que permite ao
cliente selecionar a operadora de longa distância nacional ou internacional de sua preferência
para a realização de chamadas desse tipo; e, finalmente, a quarta alteração atribui o direito à
licença de exploração dos serviços de chamada de longa distância para as operadoras que,
vencendo a licitação relativa a qualquer área do SMP, automaticamente, recebem o direito de
prestadora dos serviços de chamada de longa distância nacional ou internacional, podendo
construir sua própria rede de comunicação para tal fim.
Diante dessas alterações promovidas pelo Serviço Móvel Pessoal, é possível inferir que, uma
vez controlando operadoras de telefonia fixa que disponibilizavam os serviços de longa
distância nacional e internacional, qualquer grupo controlador que adquirisse uma licença do
Serviço Móvel Pessoal beneficiar-se-ia da exploração de três tipos de serviços em uma mesma
região: o serviço fixo local, o serviço de telefonia fixa de longa distância e o serviço de
telefonia móvel. O Código de Seleção de Prestadora reforça tal inferência, uma vez que este
serviço constitui uma característica econômica do setor móvel, definida por Armstrong (1997)
como acesso equiparado entre operadoras de longa distância. O acesso equiparado entre
operadoras é identificado quando não “tendências de favorecimento sistemático a uma
operadora de longa distância” (ARMSTRONG, 1997, p.68), tendo em vista a possibilidade de
escolha dessa prestadora, conforme a preferência do cliente por preço ou qualidade do
serviço.
Analisando as operadoras Vivo, Tim, Claro e Oi, sob a perspectiva do parágrafo anterior, a
89
TNL Participações, grupo que controlava a Telemar (operadora de telefonia fixa local e de
longa distância) adentrou no mercado de telefonia móvel adquirindo licenças do SMP e
criando uma operadora de telefonia móvel (Oi) que atua coincidentemente nas regiões em que
a Telemar atuava, ofertando a telefonia móvel na mesma região em que a Telemar ofertava a
telefonia fixa local e de longa distância. Em decorrência, a Oi e Telemar formalizaram o
lançamento da marca única da operadora, em março de 2007, tornando-se uma mesma
operadora que oferta serviços de telefonia fixa e móvel (Oi Fixo e Oi Móvel) e os demais
serviços de comunicação de dados que eram disponibilizados pela Telemar (OI, 2007),
caracterizando um processo de integração vertical. Importante ressaltar que tal movimento
pôde ser previsto, analisando as informações obtidas na entrevista com o diretor da Oi, em
2006, em que ambas as empresas haviam integrado suas estruturas administrativas
(APÊNDICE D)
34
, alegando ganhos de sinergia operacional.
As demais operadoras analisadas, Claro, Tim e Vivo, por apresentarem controladores que
controlam concomitantemente operadoras de telefonia fixa, porém com atividades o
integradas operacionalmente entre estas e as primeiras, segundo as informações obtidas
através das entrevistas realizadas com seus diretores (APÊNDICE E; APÊNDICE F;
APÊNDICE G), caracterizam quase-integrações verticais entre operadoras móveis e de
telefonia fixa controladas pelos mesmos grupos. Analisando os documentos institucionais
dessas operadoras, a participação de seus grupos controladores nos setores de telefonia móvel
e fixo tornou-se evidente.
Uma vez apresentadas as três alterações na estrutura do setor de telefonia móvel do Brasil, em
função das mudanças na política governamental pela Anatel, bem como seus impactos nas
operadoras Tim, Vivo, Claro e Oi, enquanto objeto de estudo desta pesquisa, é possível
consolidar os efeitos do processo evolutivo do setor nessas operadoras, sintetizando a análise
dos dados coletados durante a pesquisa.
34
Segundo as questões de n.º 1 e 3.
90
5.2.1.4 Efeitos do processo evolutivo do setor nas operadoras analisadas
O QUADRO 8, seguinte, apresenta as três alterações na estrutura do setor de telefonia móvel
do Brasil em decorrência das mudanças na política governamental promovida pelo Serviço
Móvel Pessoal.
É preciso antes considerar que tais alterações estruturais do setor não se dão de maneira
isolada, expressando-se de maneira interligada entre elas, pois “provocam uma reação em
série, conduzindo a muitas outras modificações estruturais” (PORTER, 1980, p.163),
alterando as fontes das forças que determinam a competição na indústria e sugerindo
reavaliações do posicionamento estratégico das firmas. É nesse contexto que Campanario,
Silva e Rovai (2004) atribuíram à estrutura do mercado de telecomunicações no Brasil um
modelo, ainda em maturação, que apresenta novos padrões de concorrência entre operadoras e
fornecedores, novos nichos de mercado, novos serviços, novas barreiras à entrada e saída que
romperam com a estrutura anterior à privatização.
Indicadores de alterações na estrutura da indústria
Redução das barreiras de entrada
Intensidade da
concorrência
Integração
vertical
Operadoras
analisadas
Grupo
controlador
Grupo
controlador
atuava na
telefonia fixa ?
Grupo
controlador
atuava na
telefonia móvel ?
Como se deu a
entrada ?
Nível de
integração
vertical com a
operadora fixa
Vivo
Telefônica e
Portugal
Telecom
SIM (Telefonica
SP)
SIM (própria
Vivo)
- Migração da
licença do SMC
para o SMP;
- QUASE-
INTEGRAÇÃO
Tim
Telecom
Itália
SIM (Brasil
Telecom)
35
e TIM
Celular (operadora
de longa distância)
SIM (Tim
Nordeste, Tim Sul
e Maxitel)
- Novo entrante
nas áreas em que
ainda não atuava
como Banda A e
B;
- QUASE-
INTEGRAÇÃO
Claro
América
Móvil
NÃO,
posteriormente
adquiriu a
Embratel
NÃO,
posteriormente
adquiriu
operadoras das
Bandas A e B
- Adquiriu
empresas das
Bandas A e B;
- Novo entrante
nas áreas em que
ainda não atuava;
- QUASE-
INTEGRAÇÃO
Oi
TNL
Participações
SIM (Telemar) NÃO - Novo entrante;
- INTEGRAÇAO
TOTAL;
Quadro 8 - Indicadores de alteração estrutural da indústria
Fonte: Elaboração própria.
35
A Tim detinha participação nas ações da Brasil Telecom até o SMP.
91
5.2.2 O Processo Evolutivo do Setor e a Experiência Internacional
As evoluções estruturais no setor de telefonia móvel brasileiro, tais como a redução das
barreiras de entrada no setor, a intensificação da concorrência entre as operadoras que nele
atuam, controladas por poucos grupos controladores, bem como a existência de veis de
integração vertical entre as operadoras de telefonia fixa e as operadoras de telefonia móvel
controladas por um mesmo grupo são também características evolutivas identificadas nos
Estados Unidos, no Japão, na França, na Itália e na Inglaterra, em decorrência do interesse das
agências reguladoras desses países em promover uma competição com benefícios diretos aos
usuários e às operadoras. Tal afirmação é possível em função do que apresenta Fransman
(2001b) e do que identificou Pires (1999) quando de sua pesquisa sobre a reestruturação do
mercado de telecomunicações nos Estados Unidos, na União Européia e no Brasil, à época da
privatização. Analisando o processo evolutivo dos setores, Pires (1999, p.166) cita:
Em especial, a permissão de um processo de fusões e aquisições demonstra a
mudança de enfoque da política regulatória, anteriormente preocupada em manter as
barreiras institucionais por segmento [leia-se telefonia fixa e vel]. Esse processo,
além de viabilizar a constituição de redes nacionais, semi-nacionais ou supra-
regionais estimulando maior competição e eficiência das operadoras, com ganhos
de escala, redução dos custos e maior benefício para os usuários, com a superação
dos problemas de roaming –, é visto como uma forma de estimular a
contestabilidade dos mercados de telefonia fixa [promovendo a competição no
setor].
Em entrevista com o representante regional da Anatel
36
na Bahia (APÊNDICE H), é notório
que a existência de grupos controladores atuando em nível nacional por meio de suas
operadoras de telefonia móvel e fixa controladas, bem como a existência de integrações
verticais entre estas, é fruto de uma estratégia deliberada da agência em promover a
concorrência nesse mercado em torno de poucos grupos controladores, reduzindo as barreiras
institucionais por segmento, contanto que essa estrutura do mercado favoreça a competição.
Pode-se identificar, assim, uma congruência entre a forma de atuação da Anatel, no mercado
nacional, e as experiências internacionais identificadas por Fransman (2001b)
37
e Pires
(1999), nos Estados Unidos e na Europa.
36
Segundo as perguntas de n.º 7, 9, 12, 13 e 15.
37
Nos EUA, a operadora AT&T foi desmembrada em outras empresas e seu serviço de longa distância passou a
competir com as operadoras Sprint e MCI, no Japão, a antiga estatal NTT passou a competir com três outras
operadoras, a DDI, a Japan Telecom e a Teleway Japan (FRANSMAN, 2001b).
92
Diante da identificação de processos evolutivos em uma indústria, Porter (1980) sugere uma
reavaliação do posicionamento estratégico das firmas que concorrem nessa indústria, a fim de
que estas possam defender-se da nova configuração das forças ou influenciá-las a seu favor. O
próximo item visa a identificar, por conseguinte, como se deram as estratégias das operadoras
móveis em função da nova estrutura de mercado definida pelo SMP.
5.3 ESTRATÉGIAS COMPETITIVAS DAS OPERADORAS PÓS-SMP
Uma estratégia competitiva pode ser entendida tal qual ações, ofensivas ou defensivas, para
criar uma posição defensável da firma em sua indústria, possibilitando enfrentar as cinco
forças que sobre ela atuam (PORTER, 1980). Três estratégias competitivas genéricas são
definidas por Porter (1980) como estratégias competitivas de uma firma, a fim de que esta
obtenha retornos acima da média de sua indústria: a estratégia de liderança em custos, que
implica na busca constante da firma pela liderança em seus custos operacionais perante seus
concorrentes, exigindo o aumento de controles administrativos e uma estrutura produtiva
eficiente, estando geralmente associada à aquisição de grandes parcelas de mercado; a
estratégia de diferenciação, que consiste em diferenciar o serviço oferecido pela empresa,
criando algo que seja considerado único no âmbito de toda a indústria, por exemplo, a
imagem da marca (lealdade e menor sensibilidade a preço), diferenciação por tecnologia,
serviços sob encomenda, rede de fornecedores ou outras dimensões, preferencialmente
combinadas; a estratégia do enfoque, que consiste em uma opção da empresa em focar um
determinado grupo comprador, um segmento da linha de produtos ou um mercado geográfico,
buscando obter uma liderança em custos ou uma diferenciação de seu produto em uma parcela
de mercado menor que toda a indústria.
A escolha de uma estratégia competitiva genérica pela firma não significa uma posição
sustentável definitiva, uma vez que a evolução da indústria é capaz de desgastar a vantagem
competitiva das firmas. É em linha com esse argumento que a análise estrutural da indústria
considera uma boa estratégia aquela que é capaz de sustentar uma vantagem competitiva pelo
maior tempo possível (PORTER, 1980, 1989).
Utilizando-se do referencial teórico de Porter (1980), diante da evolução estrutural do setor de
93
telefonia móvel no Brasil, em função do processo evolutivo do Serviço Móvel Pessoal (SMP),
as operadoras móveis analisadas – Vivo, Tim, Claro e Oi - adotaram uma estratégia de
liderança em custos à exceção da Oi, que adotou uma estratégia de diferenciação. Para
justificar tal conclusão, é preciso identificar a estrutura do setor de telefonia móvel no Brasil,
após as mudanças na política governamental promovidas pelo SMP.
Antes de iniciar a análise estrutural, no entanto, é preciso esclarecer que, em um setor de
telefonia móvel, “o cliente tem acesso aos serviços através de prestadoras de serviços que se
utilizam da rede de comunicação de uma operadora de rede, podendo, no entanto, ambas as
funções, de prestadora de serviço quanto de operadora da rede de comunicação, encontrar-se
integradas em uma mesma firma” (ARMSTRONG, 1997, p.65). O setor de telefonia móvel no
Brasil é formado por firmas que desempenham ambas as funções de prestadora do serviço
móvel, quanto de operadora da rede de comunicação, comumente denominadas operadoras.
As operadoras de telefonia móvel prestam a seus usuários os serviços de comunicação de voz
ou dados a um determinado custo por minuto, caracterizando um plano de serviço. Tais
planos o classificados em dois tipos: pós-pago e pré-pago. O plano do tipo pós-pago é
ofertado sob a forma de um pacote de minutos bundle - cujo valor é cobrado após a
utilização do serviço, por meio de uma fatura mensal ou conta telefônica. O plano do tipo pré-
pago oferece o serviço de comunicação ao cliente que é cobrado antes da utilização do
mesmo, por meio de um cartão telefônico em troca de créditos (minutos) para utilizar os
serviços de sua operadora. Os planos pós e pré-pago apresentam variações no custo do minuto
cobrado ao cliente, caracterizando valores menores no primeiro caso. O valor cobrado por
minuto nos planos pós e pré-pago também sofre variações entre as operadoras, de tal modo
que a Anatel disponibiliza, em sua página institucional (ANATEL, 2007h), uma ferramenta de
busca para localizar os planos ofertados pelas operadoras, almejando esclarecer aos usuários
as características que compõem cada um destes planos.
De posse desses conceitos gerais sobre a prestação do serviço de telefonia móvel no Brasil, é
possível efetuar a análise estrutural desse setor.
94
5.3.1 Análise Estrutural do Setor de Telefonia Móvel no Brasil
Conforme apresentado no Capítulo 2, segundo Porter (1980), a formulação de uma estratégia
competitiva por uma firma ocorre a partir da análise estrutural de sua indústria, identificando
as características básicas de uma indústria por meio das cinco forças competitivas que nela
atuam entrada, rivalidade entre os atuais concorrentes, ameaça de substituição, poder de
negociação dos compradores e poder de negociação dos fornecedores - enraizadas em sua
economia e tecnologia, e que modelam a arena na qual a estratégia competitiva deve ser
estabelecida.
5.3.1.1 A ameaça de novos entrantes
A primeira das forças competitivas que atuam sobre uma indústria é a ameaça de novos
entrantes, que depende das barreiras de entrada existentes, em conjunto com a reação que o
novo concorrente pode esperar dos concorrentes já existentes” (PORTER, 1980, p.25).
Dentre as fontes das barreiras de entrada citadas pelo autor - economias de escala,
diferenciação, necessidade de capital, custos de mudança, acesso aos canais de distribuição,
desvantagens de custo independente de escala e política governamental – três destas são
observadas no setor de telefonia móvel no Brasil: economias de escala, necessidade de capital
e a política governamental.
As economias de escala, “enquanto declínio nos custos unitários em função do aumento de
produção” (PORTER, 1980, p.26-27), são identificadas na telefonia móvel por Armstrong
(1997, p.66) que retrata a necessidade de economias de escala em função do que ele denomina
de economia de densidade que representa um menor custo per capita da instalação da
tecnologia de rede para interligar uma região de alta densidade demográfica à rede de
comunicação móvel. Nesse sentido, a instalação de uma antena de comunicação móvel (ERB)
em uma região, pode ser definida em função da densidade demográfica dessa área, tornando-
se uma explicação plausível para o fato de que nem todos os municípios, que pertencem aos
Estados da Federação, possuem hoje cobertura de sinal da tecnologia móvel, muitas vezes
observada somente nas cidades de maior densidade populacional. Tanto na entrevista com o
95
representante da Anatel (APÊNDICE H)
38
, quanto no plenário que se realizou durante o
Congresso Internacional da ITU (APÊNDICE H)
39
, comentários a esse respeito, em que a
agência busca estimular o aumento da penetração do serviço de telefonia móvel, beneficiando
as operadoras na construção de novas antenas de algum modo.
A necessidade de capital pelas operadoras móveis faz-se presente, forçando os novos
entrantes a investirem em estrutura organizacional e tecnológica para competir. Os principais
custos exigidos a um novo entrante do setor referem-se à aquisição da licença para a
exploração do serviço móvel, à implantação de infra-estrutura da rede de comunicação e à
aquisição de clientes consumidores. Os custos referentes à aquisição da licença para a
exploração do serviço móvel podem ser representados pelos valores arrecadados pela Anatel
nas licitações do SMC e SMP que, segundo Dias (2002), ultrapassaram os R$20 bilhões de
reais desde o período da privatização, denotando um valor médio de R$ 749,5 milhões de
reais por licença adquirida. A implantação da infra-estrutura da rede de comunicação é
impactada pela extensão das áreas geográficas a serem exploradas pelas operadoras entrantes,
extensão essa ampliada pelo SMP que consolidou as regiões geográficas do país em apenas
três regiões, como mencionado anteriormente. A aquisição de clientes pelas operadoras torna-
se onerosa em virtude do número, cada vez menor, de clientes “intocados no mercado”, à
medida que a taxa de penetração do serviço móvel tem-se elevado - 53,61% da população,
segundo a Anatel (2007c) - engendrando uma concorrência em torno dos clientes que
pertencem a alguma operadora, assim como ocorrem nos Estados Unidos, Japão e Inglaterra
(CURWEN, 2006). Um reflexo direto da concorrência entre as operadoras por novos clientes,
demandando o capital das operadoras nesse intuito, são os valores subsidiados dos aparelhos
celulares como estímulo à adesão dos primeiros à operadora (ANUÁRIO TELECOM, 2006).
A política governamental, exercida pela Anatel, é a principal fonte a ser considerada nessa
análise em função do contexto regulatório do SMP que, como apresentado anteriormente,
reduziu as barreiras de entrada através das licitações das Bandas C, D e E, intensificou a
concorrência no setor, possibilitando identificar regiões no cenário nacional que apresentam
até quatro operadoras móveis, competindo em um mesmo mercado e provocou a integração
38
Na entrevista com o representante da Anatel, a resposta à Questão 11 cita a existência de alguns benefícios
cedidos às operadoras de telefonia móvel para estimular a taxa de penetração desse serviço no mercado.
39
No plenário Next Generation Regulation, o representante do Peru apresenta uma situação que sugere subsídios
do governo para estimular a penetração do serviço móvel em seu país, que apresenta fatores geográficos
desfavoráveis à expansão desse serviço.
96
vertical entre operadoras de telefonia fixa e móvel. Importante frisar, ainda, que o SMP prevê
a aquisição de operadoras de telefonia móvel que já atuam no mercado, desde que a operação
de venda seja autorizada pela Anatel, segundo a Lei Geral das Telecomunicações, também
caracterizando um novo entrante, como afirma Porter (1980). Um exemplo recente, foi o
anúncio de uma possível venda da Tim, ao final de 2006 (TIM, 2006), quando se conjeturou
no mercado uma oferta de outra operadora móvel, a Claro, para aquisição da primeira,
recusada pelo Conselho de Administração da Telecom Itália (grupo controlador da Tim), em
16 de fevereiro de 2007 (TELECO, 2007c). No entanto, a redução das barreiras de entrada
(SMP) não permite afirmar que o acesso das firmas ao setor esteja liberado por dois motivos:
em primeiro lugar, a competição es limitada ao número de firmas que foi definido pela
Anatel, ou seja, até cinco firmas por região, seguindo o que define as normas do SMP, em
segundo lugar, é preciso que haja novas licitações para que seja possível a entrada de novas
firmas no setor.
As demais fontes de barreiras à entrada compreendem o acesso aos canais de distribuição dos
produtos, às desvantagens de custo independentemente da escala e aos custos de mudança
para o cliente. O acesso aos canais de distribuição teve sua importância reduzida em função
de ofertas multi-marcas pelas revendas que distribuem os produtos das operadoras móveis,
principalmente, nas redes de varejo que representam o canal de vendas do produto pré-pago
que corresponde, segundo a Anatel (2007g, p.1), a 80,35% da base de clientes móveis do país.
As desvantagens de custo independentemente da escala, segundo Porter (1980), não seriam
identificadas no setor móvel porque não há acessos exclusivos a matérias-primas, localizações
favoráveis, subsídios oficiais ou curva de aprendizado na fabricação do produto que estimule
a redução dos custos unitários. Os custos de mudança também tiveram sua importância
reduzida em função de os produtos ofertados pelas operadoras apresentarem características
semelhantes entre si, como será analisado no próximo item.
A reação que um novo concorrente pode esperar dos concorrentes existentes no setor de
telefonia móvel no Brasil é provável. Dentre as situações apontadas por Porter (1980), as
empresas estabelecidas nesse setor apresentam recursos substanciais para a disputa, uma vez
que, considerando-se os valores investidos nas licitações, é possível inferir que haja uma
capacidade de recursos considerável e disponível para financiar as operações dessas empresas.
Ainda, o investimento em ativos altamente o-líquidos, considerando-se a infra-estrutura da
rede de comunicação como principal ativo, engendra um maior comprometimento das
operadoras existentes na indústria, aumentando, possivelmente, as chances de retaliação.
97
5.3.1.2 Intensidade da rivalidade entre os concorrentes
A intensidade da rivalidade entre os concorrentes consiste, segundo Porter (1980, p.34), no
uso de táticas como concorrência de preços, batalhas de publicidade, introdução de produtos e
aumento dos serviços ou das garantias ao cliente” pelas quais os concorrentes buscam
melhores posições para competir. As fontes da intensidade da rivalidade entre as firmas que
podem ser consideradas relevantes na telefonia móvel são a presença de altos custos fixos que
a atividade demanda, a presença de concorrentes equilibrados ou concentrados,
associadamente à pouca diferenciação entre os serviços.
Os altos custos fixos demandados para as atividades das operadoras ocorrem considerando-se
que a infra-estrutura da rede de comunicação deve estar disponível independentemente do
número de acessos que dela fazem uso (FILHO e CORREIA, 1999). Nesse caso, ocorrem
“fortes pressões no sentido de que todas as empresas satisfaçam a capacidade, o que muitas
vezes conduz rapidamente a uma escalada nas reduções de preços quando existe excesso de
capacidade” (PORTER, 1980, p.35). A redução dos preços dos serviços, em decorrência, pode
ser identificada, uma vez que o serviço de telefonia móvel evoluiu de um tipo de serviço
restrito a poucos clientes, para um serviço de massa, observado pela redução dos preços da
habilitação de um plano pós-pago (a habilitação custava U$ 20 mil no início das operações,
como mencionado anteriormente, e desde a privatização do setor são ofertadas aos clientes a
custo zero) e pelas reduções dos valores médios cobrados pelo minuto de utilização do serviço
(DIAS, 2002, p.61). As pressões por capacidade e as reduções no preço da habilitação são
uma justificativa plausível para a curva de crescimento da base de clientes no país, como pode
ser observado na FIGURA 10, na página seguinte.
98
Evolução Anual do Número de Celulares em Serviço
667
6.700
31.726
191.402
755.224
1.416.500
2.744.549
4.550.175
7.368.218
15.032.698
23.188.171
28.745.769
34.880.967
46.373.266
65.605.577
86.210.336
99.918.621
102.875.236
0
20.000.000
40.000.000
60.000.000
80.000.000
100.000.000
120.000.000
1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007
SMP
Figura 10 - Evolução da base de clientes móveis celulares no Brasil (1990-Abr/2007)
Fonte: Anatel (2007a).
A presença de concorrentes concentrados ou o equilíbrio dos concorrentes em termos de
tamanho e recursos aparentes é outra fonte da intensidade da concorrência no setor de
telefonia móvel. Porter (1980, p.35) considera como concentração “o número de concorrentes
que atuam em uma indústria”. Como apresentado, o setor de telefonia móvel abriga,
atualmente, oito grupos que controlam as operadoras móveis nas três regiões geográficas,
licitadas pelas Anatel. Historicamente, é possível identificar que quatro dessas operadoras
respondem por 90% da base de clientes móveis (ANATEL, 2007a), indicando uma
concentração no setor.
A pouca diferenciação entre os serviços intensifica a rivalidade entre os concorrentes do setor
de telefonia móvel por este caracterizar-se como um mercado de commodities tanto
anteriormente (FILHO e CORREIA, 1999) quanto após o SMP (CURWEN, 2006). A
literatura a respeito dos serviços móveis (BLOCH-MORANGE e FONTELA, 2003; OECD,
2005) tem sugerido uma mesma direção: a evolução das taxas de transmissão de voz e dados
que possam ser acessados a qualquer lugar e a qualquer tempo, proporcionando serviços
móveis mais evoluídos tecnologicamente como transações financeiras, jogos pela Internet,
download de músicas, dentre outros. Essa situação tem se mostrado presente no mercado
99
nacional, uma vez que todas as operadoras analisadas ofertam produtos de transmissão de
dados do tipo mensagens instantâneas (SMS), acesso à Internet via celular, transferência de
sons, imagens, jogos, dentre outros serviços. Nesse sentido, as ofertas institucionais das
operadoras (APÊNDICE I) têm se apresentado semelhantes, caracterizadas por pacotes que
incluem voz e dados, simultaneamente. Em se tratando da transmissão de voz, a introdução do
Código de Seleção de Prestadora, como mencionado anteriormente, alterou os pacotes de
serviços ofertados pelas operadoras, uma vez que estes agora incluem ligações de longa
distância nacional a preços locais. O QUADRO 9 compara os serviços disponibilizados pelas
operadoras analisadas, sugerindo pouca diferenciação entre as características de seus
produtos. A implicação dessas características, segundo Porter (1980, p.42), é que, “os
consumidores tendem a ser mais sensíveis aos preços se estiverem comprando produtos o
diferenciados”.
Operadoras
analisadas
Serviços
para
clientes do
tipo pessoa
física
Serviços
para
clientes do
tipo
corporativo
Pacote de
minutos
Serviços
de dados
Desconto
em
aparelhos
conforme
o plano
Operadora de
CSP que
recomenda
Código do CSP
Vivo SIM SIM SIM SIM SIM Telefônica 15
Tim SIM SIM SIM SIM SIM Tim Celular 41
Claro SIM SIM SIM SIM SIM Embratel
40
21
Oi SIM SIM SIM SIM SIM
Oi Fixa (antiga
Telemar)
31
Quadro 9 - Comparativo dos serviços ofertados pelas operadoras
Fonte: APÊNDICE I e Teleco (2005).
5.3.1.3 A ameaça de produtos substitutos
A ameaça de produtos substitutos é uma característica da telefonia móvel celular, como para
qualquer outra indústria, fortemente vinculada à evolução tecnológica, tendo em vista que a
competição ocorre entre as firmas, mas também no nível das tecnologias por estas utilizadas
(FRANSMAN, 2001b, p. 125), capaz de gerar produtos substitutos, alterando o processo de
competição entre as empresas. Como apresentado no Capítulo 3, o aspecto tecnológico da
telefonia móvel baseia-se nos diferentes padrões tecnológicos que evoluem da primeira até a
40
A oferta do CSP 21 da Embratel ocorre em função da aquisição desta operadora pelo grupo controlador da
Claro, em 2005, obrigando o grupo a abandonar a oferta do código 36, em favor do código 21 (APÊNDICE E).
100
terceira geração da telefonia móvel, oferecendo maiores velocidades de transmissão de dados
ou a possibilidade de atender um maior número de clientes em uma mesma região. O
surgimento de produtos como WiMax
41
, por exemplo, capaz de transmitir, similarmente à
tecnologia móvel, voz e dados em uma mesma rede sem fio, como se observam nas
experiências internacionais da Inglaterra, Estados Unidos, Japão e Coréia (CURWEN, 2006) é
uma evidência de possível substituição para a telefonia móvel. O WiMax, regulado pela
Anatel desde a Resolução n.º 365 de 10 de maio de 2004, está sendo ofertado por três
operadoras de telecomunicações no país, dentre elas, a Embratel e a Brasil Telecom, sendo
que a primeira atua na telefonia fixa controlada pelo mesmo grupo controlador da operadora
móvel Claro, e a Brasil Telecom atua nas telefonias fixa e móvel em regiões pontuais do país.
Um outro exemplo de produto substituto à telefonia celular a ser considerado é o serviço de
trunking, caracterizado como Serviço Móvel Especializado, segundo a Anatel (2006a). O
trunking, que tem como principal operadora a Nextel, regulado a partir da Resolução da
Anatel n.º 275 de 16 de setembro de 2001, pode substituir perfeitamente a telefonia móvel,
exceto por haver uma restrição regulatória que limita a prestação desse serviço aos clientes
corporativos, não podendo ser oferecido a clientes do tipo pessoa física como ocorre com a
telefonia móvel. A cobertura do serviço de trunking, no Brasil, encontra-se limitada e o
número total de clientes por ela atendidos supera os 600 mil clientes (TELECO, 2006).
Mesmo diante de produtos substitutos e da evolução tecnológica iminente, é possível
questionar o que mantém a telefonia móvel em crescimento, atingindo os atuais 103 milhões
de clientes. O que ameniza a possibilidade de substituição da telefonia móvel celular por
tecnologias substitutas são dois aspectos que precisam ser ultrapassados: o contexto
regulatório e a aceitação da tecnologia pelo mercado. No contexto regulatório, o que se deve
observar são as faixas de freqüência a serem utilizadas pelos novos serviços que, por serem
consideradas um recurso limitado, devem operar somente com a autorização das agências
regulatórias, orientadas pela agência internacional das telecomunicações ITU, a fim de se
construir padrões tecnológicos que possam ser utilizados em nível global. Discutindo a
evolução dos padrões tecnológicos e da regulação a esse respeito, o dirigente da agência
reguladora do Peru, um dos países que participaram do Congresso Internacional ITU Telecom
Américas (APÊNDICE B), afirmou a necessidade de uma regulação de serviços do tipo
41
WiMax é uma tecnologia sem fio, desenvolvida para oferecer acesso banda larga a distâncias típicas de 6 a 9
Km. A exemplo do que ocorre no celular o WIMAX é implantado em células. Da estação base é possível a
transmissão para uma estação terminal que fornece acesso a uma rede local (WiFi por exemplo) ou diretamente
até os dispositivos dos usuários. (TELECO, 2007e)
101
reativa, em que pese primeiro o desenvolvimento tecnológico do novo serviço para que se
tenha, em decorrência, uma demanda no mercado, seguida de adaptações ou inovações no
arcabouço regulatório. A Anatel compartilha dessa proposta, como declarado pelo seu
representante durante o mesmo evento, ressaltando a preocupação da agência com o resultado
econômico das operadoras, anteriormente à introdução de qualquer nova tecnologia no
mercado, compensando os investimentos realizados para exploração da tecnologia vigente.
Ainda com relação ao aspecto regulatório, conforme entrevista realizada (APÊNDICE H), as
licenças para a exploração de novos produtos como, por exemplo, o VoIP
42
para transmissão
de voz e dados no padrão Internet, somente ocorre mediante uma autorização da Anatel,
denominada Serviços de Comunicação Multimídia (SCM) outorgada para prestadoras dos
serviços de telecomunicações. Caso a prestadora do serviço ofereça uma conexão VoIP para a
rede pública, a Anatel exige que esta possua uma licença para Serviço Telefônico Fixo
Comutado. É possível encontrar exemplos desses serviços no Brasil, nas operadoras fixas e
em uma operadora móvel, a Oi, que, por estar integrada com a antiga Telemar, é a única que
oferece tais serviços para os clientes da telefonia fixa. Mesmo diante do aspecto regulatório,
ressalta-se o aspecto determinante do mercado. É imprescindível que haja esforços
simultâneos entre os fabricantes dos padrões de redes de comunicação, os fabricantes de
aparelhos e, principalmente, que ocorra a aceitação dos usuários (OECD, 2005, p.60) para que
se concretize o surgimento de tecnologias substitutas. Assim, a criação de uma tecnologia de
comunicação móvel per si é condição necessária, mas o suficiente, para que a mesma seja
disponibilizada em escalas industriais, pois é preciso que ocorra a decisão dos fabricantes em
investir no novo produto que demanda consideráveis recursos financeiros, sob um alto risco.
Em ntese, a possibilidade da substituição da telefonia móvel existe, sendo o WiMax e o
trunking exemplos a serem considerados, porém sua ameaça enquanto força competitiva ao
setor móvel encontra-se limitada à aceitação das novas tecnologias pelo mercado, uma vez
que já existem a regulação desses serviços, enquanto substitutos.
42
VoIP é o acrônimo para “Voice over IP” que em português significa voz sobre IP, termo utilizado para
caracterizar sistemas em que a transmissão de voz digitalizada é feita através de pacotes, utilizando-se o
protocolo IP (TELECO, 2007g), o mesmo protocolo de comunicação da Internet.
102
5.3.1.4 O poder de negociação dos compradores
Os compradores de uma indústria, na definição de Porter (1980), devem aqui ser entendidos
como os usuários do serviço de telefonia móvel no Brasil. Das fontes que determinam a
intensidade do poder de negociação dos compradores duas delas merecem destaque: os
custos de mudança do comprador e seu nível de informação sobre o produto.
O custo de mudança do comprador pode ser determinado em função de algumas
características do serviço de telefonia móvel, definidas por (ARMSTRONG, 1997) como (a) o
custo de conexão, que se pela necessidade de um aparelho celular para a prestação do
serviço e que seja específico ao padrão tecnológico da operadora (por exemplo, aparelhos do
tipo TDMA não funcionam em uma rede CDMA ou GSM, reciprocamente, incluindo-se as
diferenças nas faixas de freqüência de transmissão do sinal de cada rede); (b) a portabilidade
numérica definida como a possibilidade de o cliente mudar de operadora, mantendo o mesmo
número que utilizava e (c) as externalidades em rede, característica na qual um usuário
beneficia-se com a adesão de mais usuários à rede móvel. O custo de conexão do usuário e a
portabilidade numérica engendram um alto custo de mudança para o cliente e, em
conseqüência, uma redução do poder de negociação do mesmo, criando uma inércia do cliente
com relação à operadora a qual se encontra vinculado. Essa inércia do cliente pode ser
rompida, de maneira restrita, quando se observa que o custo de conexão do aparelho é, hoje, o
principal caminho utilizado pelas operadoras, buscando clientes que se encontram nas
operadoras a ela concorrentes de tal modo que “para uma operadora atraí-lo terá que oferecer
algum desconto como compensação” (ARMSTRONG, 1997, p.68), caracterizando um
subsídio nos preços dos aparelhos
43
. Com relação à portabilidade numérica, esta ainda
representa um custo considerável a ser avaliado pelo cliente quando da mudança de
operadoras, beneficiando principalmente as primeiras operadoras do mercado, uma vez que o
fator tempo de utilização do número do celular é o principal fator de avaliação da mudança
pelo cliente
44
. A observação a esse respeito é que, recentemente, a Anatel por meio da
Resolução n.º 460 de 10 de março de 2007, instaurou a portabilidade numérica na telefonia
móvel e fixa, separadamente, exigindo uma adequação das operadoras até a plena ativação do
43
Esse subsídio, utilizado para atrair os clientes da concorrência, é identificado principalmente nos clientes do
tipo pós-pago. Daí, tal ação ser considerada capaz de romper a inércia do cliente de modo restrito.
44
Armstrong (1997, p.67): “Se os usuários tiverem que mudar seus números, tipicamente enfrentarão custos
financeiros como [...] possíveis perdas de clientes potenciais que não têm seu novo número”.
103
serviço, a partir de meados do próximo ano. As externalidades em rede, que também
favoreceriam à inércia do cliente, são compensadas pela exigência de interoperabilidade das
redes móveis de comunicação, condição imposta pela Anatel para qualquer entrante da
indústria, tornando possível ao cliente acessar outro destino, fixo ou móvel, de qualquer
operadora, no território nacional. Diante da análise dessas três características da telefonia
móvel custo de conexão, portabilidade numérica e externalidades em rede - pode-se inferir
que os custos de mudança para o cliente existem tanto pelos seus custos de conexão, ainda
que a atuação das operadoras, através do subsídio nos preços dos aparelhos celulares, tente
minimizá-los, quanto pela portabilidade numérica, mesmo diante da atuação da agência
reguladora, promovendo a interoperabilidade das redes móveis de comunicação.
O nível de informação do comprador é outra fonte do poder de negociação do cliente do setor
de telefonia móvel, que demonstra ser elevado. Comparando as ofertas institucionais das
operadoras analisadas, Vivo, Tim, Claro e Oi (APÊNDICE I), foi possível perceber que as
mesmas disponibilizam ao público informações completas sobre seus produtos, sobre a
composição dos seus pacotes de serviços, bem como seus preços, seja através de suas lojas ou
através dos sites institucionais, na Internet
45
.
Analisando as origens do poder de negociação dos clientes, é possível identificar custos de
mudança entre operadoras, paralelamente, à disponibilidade de informações aos usuários
sobre os pacotes de serviços ofertados que, ratificado pela pouca diferenciação entre estes,
mencionada no item anterior, sugerem um relativo poder de negociação dos mesmos perante
as prestadoras do Serviço Móvel Pessoal.
5.3.1.5 O poder de negociação dos fornecedores
O poder de negociação dos fornecedores, no setor de telefonia móvel, está
predominantemente relacionado aos fornecedores de aparelhos e aos fornecedores de infra-
estrutura da rede de comunicação, neste caso, especificamente os fornecedores de
equipamentos que compõem as antenas de transmissão e as centrais de comutação e controle.
Segundo a análise dos dados (ANUÁRIO TELECOM, 2003, 2004, 2005, 2006), após o
45
Obviamente, tais informações, mesmo estando disponíveis na Internet, somente serão utilizadas pelos clientes
que dispõem de acesso à rede ou que se façam dirigir a alguma loja de atendimento a clientes das operadoras.
104
Serviço Móvel Pessoal, ambos demonstram uma forte influência na análise estrutural do setor,
ainda que os fornecedores de aparelhos tenham sofrido uma redução de seu poder de
negociação, comparativamente à estrutura de mercado anterior, durante o Serviço Móvel
Celular. Para justificar essa conclusão, segue a análise dos dados acerca dos fornecedores
desse setor.
O poder de negociação dos fornecedores de aparelhos celulares é elevado devido à
importância do aparelho celular, enquanto portador do serviço móvel disponibilizado pelas
operadoras, representando um “insumo importante para o negócio do comprador” (PORTER,
1980, p.43) tanto para atrair o cliente de outra operadora, quanto para fidelizá-lo (ANUÁRIO
TELECOM, 2006). O processo de aquisição do aparelho celular pelo cliente se por meio
do canal de distribuição das operadoras de telefonia móvel, sendo estas as responsáveis por
adquirir os aparelhos celulares diretamente do fornecedor e repassá-los à rede de distribuição.
Esta relação entre fornecedores e clientes, intermediada pelas operadoras, engendra custos de
aquisição e de venda dos aparelhos para estas últimas o subsídio. A realização do subsídio
no preço dos aparelhos ocorre, principalmente, nos momentos de aquisição ou fidelização do
cliente, em que os aparelhos podem até ser ofertados gratuitamente. No entanto, com o SMP,
o poder de negociação dos fornecedores de aparelhos tem se mostrado menor que
anteriormente em função da introdução da tecnologia GSM. Durante o contexto regulatório
anterior, as operadoras de telefonia móvel não se encontravam consolidadas em torno de
grupos controladores de suas operações em nível nacional e suas redes de comunicação
operavam sobre dois padrões tecnológicos, o CDMA e o TDMA, reforçando o poder de
negociação dos fornecedores, já que o setor não apresentava uma concentração das operadoras
móveis e os aparelhos por estas adquiridos não eram perfeitamente substituíveis, em função
do aspecto tecnológico. Nesse contexto, as opções de fornecimento estavam restritas aos
fabricantes Motorola, Nokia, Ericsson e Gradiente. Com a introdução da tecnologia GSM no
país, à exceção da operadora Vivo
46
, que manteve seu padrão CDMA, o Brasil passou a
utilizar-se de um padrão tecnológico adotado por 80% da base de usuários no mundo
(TELECO, 2007d), atraindo fornecedores de aparelhos, que atuavam no mercado
internacional, para o mercado brasileiro (ANUÁRIO TELECOM, 2004), reduzindo a
concentração no setor e o poder de negociação dos fornecedores que aqui se encontravam,
46
A Vivo continuou disponibilizando o padrão CDMA, mas adotou em 2005 o padrão GSM como alternativa
tecnológica para os seus clientes (ANUÁRIO TELECOM, 2006). Porém seu padrão GSM opera em uma faixa
de freqüência distinta das demais operadoras, inibindo o poder de substituição entre seu portifólio de aparelhos e
o portifólio das demais operadoras.
105
criando, inclusive, a possibilidade de importação de aparelhos pelas operadoras. Como
exemplos da expansão do número de fornecedores no mercado nacional, Motorola, Nokia,
Siemens, Samsung, Sony, LG, HP, Pantech, Sendo, são citados nos relatórios anuais do setor
(ANUÁRIO TELECOM, 2003, 2004, 2005, 2006).
O poder de negociação dos fornecedores de infra-estrutura da rede de comunicação denota
ter-se mantido após o SMP. A principal característica presente na relação entre fornecedores
de equipamentos e operadoras de telefonia móvel é definida por Fransman (2001b) como
relações tecnológicas quase-verticais entre ambos, o que significa afirmar que a tecnologia
adotada pela operadora determinará, por conseguinte, quem são os seus fornecedores,
atribuindo-lhes, intrinsecamente, um poder de negociação sobre esta. Tal poder é fortalecido
quando estes fornecedores, por exemplo, Motorola, Siemens e Ericsson, também constituem
fornecedores de aparelhos das operadoras móveis. Contudo, o que se esperava, a partir da
tecnologia GSM, no país, era um incremento do poder de barganha desses fornecedores,
seguido de uma redução do mesmo, tendo em vista a necessidade das operadoras na
construção de suas redes GSM, como assim o fizeram a Tim e a Claro. Contrariamente à
conclusão do processo expansivo da cobertura geográfica, oriunda do SMP, o que se percebeu
na análise setorial, entre 2002 e 2004, foi a continuidade dos índices crescentes de
faturamento dos fornecedores de infra-estrutura em seus negócios, justificados pela ampliação
e evolução da rede CDMA, sob a gestão operacional da Vivo, paralelamente, à sobreposição
das redes TDMA pelas redes GSM da Tim e da Claro. Em acréscimo, com a decisão da Vivo
em construir sua própria rede GSM, mantendo-se sua rede CDMA, os fornecedores de
equipamentos receberam mais um estímulo para manter seus índices crescentes de
faturamento (ANUÁRIO TELECOM, 2003, 2004, 2005, 2006). Em síntese, não se pode
afirmar que o poder de negociação dos fornecedores de infra-estrutura da rede de
comunicação seja menor que o poder de negociação dos fornecedores de equipamentos, uma
vez que o diagnóstico da situação sugere, ao menos, um mesmo nível do poder de negociação
de ambos sobre as operadoras de telefonia móvel do Brasil.
5.3.1.6 Síntese da análise estrutural do setor de telefonia móvel do Brasil
A análise estrutural do setor de telefonia móvel no Brasil, identificada pelas origens das cinco
106
forças competitivas apresenta, após o SMP, portanto, reduzida ameaça de novos entrantes,
uma intensidade da rivalidade entre os concorrentes (operadoras móveis), uma ameaça de
produtos substitutos, um relativo poder de negociação dos compradores (usuários do serviço
de telefonia móvel) e um intenso poder de negociação dos fornecedores. Tais características
indicam um mercado típico de commodities tanto anteriormente (FILHO e CORREIA, 1999)
quanto após o SMP (CURWEN, 2006) e permitem inferir que há uma pressão maior da
indústria sobre as margens das operadoras de telefonia móvel após as normas do Serviço
Móvel Pessoal, sugerindo, diante do equilíbrio de ofertas e preços, a opção das mesmas por
uma estratégia de liderança em custos. Deve-se ressaltar que, perante as evoluções nas ofertas
das operadoras móveis em planos de serviços segmentados, como identificado por Santa Rita
e Sbragia (2004), todas as operadoras analisadas ofertaram, após o SMP, planos que incluem
benefícios (redução) nos valores das tarifas para ligações de longa distância que se utilizem
do Código de Seleção de Prestadora (CSP) da operadora de telefonia fixa controlada pelo
mesmo grupo controlador da operadora de telefonia móvel observada.
No entanto, dentre tais serviços ofertados (APÊNDICE I), o “Oi Conta Total”, conforme
noticiado pela operadora Oi, em 27 de março de 2006 (OI, 2006), diferencia-se dos demais
serviços por disponibilizar, em um mesmo pacote, além do benefício do CSP, opções de
assinatura da Internet de banda larga (Oi Velox) e ligações locais gratuitas, originadas pelo
telefone fixo da própria Oi (antiga Telemar), extrapolando as características do CSP das
demais operadoras Vivo, Tim e Claro (ainda que, a Tim, tenha lançado, seis meses após o Oi
Conta Total, um plano denominado Tim Casa
47
, que inclui minutos para a realização de
chamadas originadas do celular para telefones fixos a preços similares às tarifas cobradas pela
telefonia fixa local, tradicionalmente mais barata que as tarifas cobradas pela telefonia
móvel). Outrossim a Oi lançou, recentemente, em 12 de abril de 2007, um serviço
denominado Oi Flex, no qual um único aparelho, que apresente a funcionalidade bluetooth de
transmissão de dados sem fio entre dois dispositivos de comunicação, torna possível a
convergência da rede de telefonia fixa e móvel dessa operadora, permitindo ao usuário, por
meio de seu aparelho celular, originar ou receber ligações da telefonia fixa ou móvel (OI,
2007).
Todos esses serviços identificados nas ofertas das operadoras analisadas, como aqueles que
47
Com o Tim Casa o cliente sente-se estimulado a não utilizar o telefone fixo para ligações locais em sua
residência, por equiparar o preço do minuto entre a telefonia fixa e a telefonia móvel, desde que a ligação tenha
sido originada na área em que o telefone celular foi registrado inicialmente (TIM, 2007b).
107
compartilham minutos entre a telefonia fixa e móvel, quanto aqueles que se utilizam de um
único dispositivo (aparelho) para a convergência das redes fixa e móvel encontram respaldo
na literatura (PASSMORE, 2005; CURWEN, 2006; BUCKLEY, 2007) sob a denominação
convergência fixa-móvel (FMC), discutida em detalhes na próxima seção.
5.3.2 A Convergência Fixa-móvel enquanto Estratégia de Diferenciação
A convergência fixa-móvel constitui uma integração transparente de redes e serviços entre a
telefonia fixa e móvel” (CURWEN, 2006, p.2) tal qual um fenômeno das telecomunicações
categorizado em três níveis: (a) o compartilhamento de atividades de back-office, considerada
a forma mais simples de convergência e que significa uma mesma companhia de
telecomunicações disponibilizando serviços fixos e móveis, ainda que vendidos por setores
diferentes de sua estrutura; (b) o bundling quando os clientes podem adquirir pacotes de
minutos fixos e móveis de uma mesma operadora, que é a maneira mais comum e (c) o nível
mais representativo de convergência que é aquele em que um cliente, independentemente de
sua localização, tanto origina quanto recebe chamadas fixas e móveis por meio de um único
dispositivo (aparelho), desde que a alternância entre os modos de comunicação fixa ou móvel
ocorra de maneira transparente, exigindo a integração das redes e dos serviços, superando
barreiras tecnológicas não encontradas nos níveis anteriores.
Dentre os fatores econômicos que estimularam a discussão do tema, ao final dos anos 90,
ambas as operadoras de telefonia fixa e móvel perceberam ganhos em traçar caminhos
convergentes. Para as operadoras fixas, a convergência significava a redução da capacidade
ociosa de sua rede com o aumento do tráfego de voz e de dados, que a base de clientes
móveis é maior que o total de clientes da rede de comunicação fixa e, em segundo lugar, a
rede de comunicação fixa é um meio pelo qual as redes de telefonia móvel poderiam estar
interligadas, reduzindo os custos de investimento na construção de redes próprias pelas
operadoras móveis e possibilitando-lhes fazer frente à ameaça de produtos substitutos como o
WiMax e o VoIP ofertados pelas operadoras fixas. É diante desta situação que Curwen (2006,
p.6) apresenta a convergência “como um meio para se superar a comoditização dos serviços
de voz, reduzir os custos pelo compartilhamento de excessos de clientes ou de capacidade
ociosa, melhorar a qualidade dos serviços e diferenciar-se dos demais competidores”.
108
Como analisado no item anterior, as operadoras móveis Vivo, Tim Claro e Oi apresentam, a
partir de 2006, a convergência fixa-móvel de nível intermediário (bundling). No entanto, o
nível de convergência apresentado pela operadora Oi é superior às demais operadoras, visto
que apresenta as seguintes características: (a) apresenta a convergência de back-office, por
meio da integração da sua estrutura organizacional com a antiga operadora fixa Telemar, a
operadora de telefonia fixa e de dados do mesmo grupo, cujo processo concretizou-se ao final
de 2006, culminando na oferta de produtos segmentados em fixos, móveis e de transmissão de
dados; (b) oferece bundling de serviços fixos, móveis, de Internet e de telefonia fixa
48
e (c)
lançou no mercado a convergência fixa-móvel de último nível, com o serviço “Oi Flex”. O
QUADRO 10, a seguir, compara o vel de integração vertical e o nível de convergência fixa-
móvel entre as operadoras analisadas.
Operadoras analisadas
Nível de integração vertical com a operadora
de telefonia fixa
Nível de convergência
Vivo - QUASE-INTEGRAÇÃO; - Bundle;
Tim - QUASE-INTEGRAÇÃO; - Bundle;
Claro - QUASE-INTEGRAÇÃO; - Bundle;
Oi - TOTAL;
- Back-office;
- Bundle;
- Único dispositivo;
Quadro 10 - Nível de integração vertical e de convergência fixa-móvel das operadoras
Fonte: Elaboração própria.
A diferenciação do nível de convergência da operadora Oi encontra respaldo na entrevista
realizada com seu diretor, assumindo explicitamente adotar uma posição estratégica
sustentada em serviços diferenciados (APÊNDICE D)
49
. Mas o que melhor caracteriza essa
estratégia competitiva é o fato de que, para Porter (1980, p.51), tal estratégia consiste em
“diferenciar o produto ou o serviço oferecido pela empresa, criando algo que seja considerado
único no âmbito de toda a indústria”. Ressalte-se, ainda, que a entrevista foi realizada após o
lançamento do serviço “Oi Conta Total” e anteriormente ao lançamento do serviço “Oi Flex”,
confirmando uma estratégia de diferenciação deliberada
50
. Considerando a complexidade
tecnológica da convergência (CURWEN, 2006; BUCKLEY, 2007), o nível de convergência
fixa-móvel dos serviços ofertados por esta operadora sugere, ainda, que a integração de sua
estrutura organizacional (Oi e Telemar) foi um passo necessário para a busca de sinergias em
48
Plano Oi Conta Total;
49
Questão n.º 2.
50
Questões n.º 1, 2 e 6.
109
diversos níveis, como também atesta o representante da operadora
51
durante a entrevista.
Segundo Ansoff (1977, p.67), é possível considerar que esta operadora apresenta uma sinergia
comercial, em que “os produtos compartilham dos mesmos canais de distribuição”, sinergia
operacional, pois apresenta uma “utilização mais intensa de instalações e recursos humanos”,
sinergia de investimento, com a transferência de tecnologia de um produto para o outro”, e a
sinergia de administração em que “novos problemas o semelhantes aos que [a empresa]
havia encontrado no passado”, isto é, a administração da empresa defronta-se com problemas
enfrentados anteriormente, fato plausível em uma indústria como a de telecomunicações que
tem fronteiras tênues e em constante alteração (FRANSMAN, 2001b), englobando indústrias
vizinhas diretamente relacionadas com a prestação do serviço. Com relação ao mercado, a
inovação do produto, segundo Porter (1980), pode acentuar a diferenciação do mesmo e
alterar as demais fontes das forças competitivas da indústria. A estratégia da operadora Oi,
portanto, demonstra estar em linha com essa afirmativa, uma vez que provê novos tipos de
serviços, seja pela aquisição de tecnologias disponíveis no mercado, como o VoIP, ou pela
aquisição de empresas cujos serviços possibilitem agregar valor aos serviços de telefonia
móvel, como, por exemplo, empresas de TV a cabo
52
.
Uma vez analisadas a estrutura do mercado após o SMP e as estratégias das operadoras diante
da convergência fixa-móvel, observada a partir de 2006, resta analisar o impacto desses
elementos na competição do setor de telefonia móvel no Brasil.
5.4 A COMPETIÇÃO NO SETOR MÓVEL APÓS A CONVERGÊNCIA FIXA-
MÓVEL
Como identificado anteriormente, com o Serviço Móvel Pessoal, o setor de telefonia móvel no
Brasil transformou-se de um estágio transitório dualista (SANTA RITA e SBRAGIA, 2004),
evoluindo para uma estrutura de mercado oligopolista, no qual as operadoras aqui analisadas,
Vivo, Tim, Claro e Oi correspondem por mais de 90% da base de clientes móveis do país
(ANATEL, 2007a). Porém, mesmo diante desta concentração, a competição é uma realidade
no setor.
51
Questões 3, 4 e 5.
110
Segundo a análise estrutural do setor de telefonia móvel no Brasil, o comportamento das
operadoras Vivo, Tim e Claro têm sugerido que estas adotaram uma estratégia de liderança
em custos, enquanto que o comportamento da operadora Oi tem sugerido uma estratégia de
diferenciação. A análise estrutural fornece um contexto no qual as empresas competem em
uma indústria, mas é preciso observar como as forças atuam sobre as empresas dessa
indústria, relacionando-as com o posicionamento estratégico dessas empresas, justificando
diferentes taxas de retorno das firmas. Para Porter (1980, p.133), tais diferenças podem ser
explicadas pela presença de diferentes grupos estratégicos na indústria - “um conjunto de
firmas de uma indústria que estão seguindo uma estratégia idêntica ou semelhante, ao longo
das dimensões de suas estratégias competitivas”. Tais dimensões diferenciam ou assemelham
as opções estratégicas das firmas de um mesmo grupo e podem ser representadas pela
especialização de clientes, especialização de mercados, identificação de marcas, política de
canal de vendas, nível de integração vertical, dentre outras. No entanto, apenas algumas
dimensões devem ser consideradas na identificação dos grupos estratégicos de uma indústria,
devendo-se selecionar aquelas que melhor diferenciam seus grupos. Os grupos estratégicos
apresentam, por sua vez, barreiras de mobilidade tais como barreiras de entrada em uma
indústria, que os separam dos demais grupos estratégicos dessa indústria. Em decorrência, o
conjunto dos grupos estratégicos de uma indústria representa um mapa dos posicionamentos
estratégicos de suas firmas, demonstrando a intensidade e o processo de evolução da
concorrência na indústria, resultante dos movimentos competitivos das firmas.
Diante do conceito de grupos estratégicos, o pressuposto deste item é que, na estrutura do
setor de telefonia móvel, após o Serviço Móvel Pessoal e com a inovação dos serviços em
torno da convergência fixa-móvel (FMC), um outro nível de competição entre as operadoras
se estabeleceu, podendo ser representado pelo mapa dos grupos estratégicos das operadoras
móveis analisadas.
Recorrendo à construção de uma escala ordinal de medidas qualitativas, seguindo as
orientações de Pereira (2001), a TABELA 2, na página seguinte, relaciona dimensões
estratégicas do setor de telefonia móvel com os valores representativos de suas intensidades.
O objetivo, segundo Pereira (2001), é o estabelecimento de premissas de relação entre
atributos de um objeto, à luz de um referencial teórico, e uma representação simbólica desses
atributos. Nesse intuito, as seguintes dimensões estratégicas foram consideradas, em função
52
Questão 7.
111
da análise realizada no item anterior: (a) o nível de integração vertical (PORTER, 1980) da
operadora móvel com a operadora fixa controlada pelo mesmo grupo controlador da primeira;
(b) o nível de convergência fixa-móvel (CURWEN, 2006) apresentado pelas operadoras
analisadas e (c) a especialização geográfica das operadoras, representando a distribuição de
áreas do SMP – Região I, Região II e Região III, definidas pela Anatel Resolução nº235/2000.
Tabela 2 - Dimensões estratégicas analisadas
Dimensões Escala
estratégicas
1 2 3 4
Nível de integração vertical com
a operadora fixa
SEM
INTEGRAÇÃO
QUASE-
INTEGRAÇÃO
INTEGRAÇÃO
TOTAL
-
Nível de convergência (FMC)
SEM
CONVERGÊNCIA
BACK-OFFICE BUNDLE
ÚNICO
DISPOSITIVO
Especialização geográfica
53
Atua apenas em
uma Região do
SMP
Atua em duas
Regiões do SMP
Atua em três
Regiões do SMP
-
Fonte: Elaboração própria.
Tendo por base as dimensões estratégicas e os valores representativos de suas intensidades,
definidas na TABELA 2, é possível construir uma outra tabela (TABELA 3), identificando a
intensidade das dimensões estratégicas das operadoras de telefonia móvel, durante o Serviço
Móvel Pessoal (SMP) até a oferta de serviços que caracterizam a convergência fixa-móvel
como ofertados por estas. Analogamente, a TABELA 4 representa as dimensões estratégicas
das operadoras de telefonia móvel após esse período.
Tabela 3 - Dimensões estratégicas das operadoras antes da convergência fixa-móvel
Dimensões estratégicas Vivo Tim Claro Oi
Nível de integração vertical com a operadora fixa 2 2 2 2
Nível de convergência (FMC) 1 1 1 1
Especialização geográfica 2 3 2 1
Fonte: Elaboração própria.
Tabela 4 - Dimensões estratégicas das operadoras após a convergência fixa-móvel
Dimensões estratégicas Vivo Tim Claro Oi
Nível de integração vertical com a operadora fixa 2 2 2 3
Nível de convergência (FMC) 3 3 3 4
Especialização geográfica 2 3 2 1
Fonte: Elaboração própria.
53
Esta dimensão representa a região geográfica atendida pela operadora móvel, ressaltando-se que, com o SMP,
o território nacional foi dividido em três regiões: Região I, Região II e Região III.
112
Seguindo o modelo gráfico apresentado por Porter (1980, p.134) dos mapas estratégicos de
uma indústria, é possível construir dois mapas estratégicos do setor de telefonia móvel -
FIGURA 11 e FIGURA 12 - que representam, respectivamente, as dimensões identificadas na
TABELA 3 e na TABELA 4, atentando-se ao fato de que a terceira dimensão estratégica
(especialização geográfica) é representada pelo tamanho das circunferências que caracterizam
as operadoras móveis em análise. Visando a uma melhor visualização das figuras, estas estão
localizadas na página seguinte.
113
MAPA ESTRATÉGICO DO SETOR DE TELEFONIA MÓVEL
ANTES DA CONVERGÊNCIA FIXO-MÓVEL
Vivo
Tim
Claro
Oi
0
1
2
3
4
5
0 1 2 3 4 5
Vivo
Tim
Claro
Oi
Nível de Integração
Nível de Convergência
Figura 11 - Mapa estratégico das operadoras móveis antes da convergência fixa-móvel
Fonte: Elaboração própria.
MAPA ESTRATÉGICO DO SETOR DE TELEFONIA MÓVEL
APÓS A CONVERNCIA FIXO-MÓVEL
Vivo
Tim
Claro
Oi
0
1
2
3
4
5
0 1 2 3 4 5
Vivo
Tim
Claro
Oi
Nível de Integração
Nível de Convergência
Figura 12 - Mapa estratégico das operadoras móveis após a convergência fixa-móvel
Fonte: Elaboração própria.
ANTES DA CONVERGÊNCIA FIXA-MÓVEL
APÓS A CONVERGÊNCIA FIXA-MÓVEL
114
Diante desses mapas estratégicos, é nítida a competição do setor móvel, após o SMP, em dois
momentos: antes e após a inovação dos produtos/estratégias, por meio da convergência fixa-
móvel.
No primeiro momento, após o SMP, todas as quatro operadoras móveis analisadas
apresentavam um posicionamento competitivo semelhante, diferenciando-se em torno da
dimensão estratégica da especialização geográfica (área de cobertura), em que a Tim adota
uma posição de cobertura nacional, a Vivo e a Claro encontram-se na mesma posição de
cobertura e a Oi optou por uma região de cobertura menor, idêntica à mesma área em que
operava a Telemar, empresa controlada pelo grupo controlador da Oi. Importante ressaltar que
as operadoras móveis já tinham uma relação quase-integrada com as operadoras fixas, durante
esse período, como identificado anteriormente, sem que isso se traduzisse, explicitamente, em
serviços convergentes.
No segundo momento, a partir de 2006, o posicionamento das empresas alterou-se em torno
das dimensões da convergência e da integração, mantendo-se a estratégia de cobertura. A
Tim, Vivo e a Claro posicionaram-se em um nível de convergência baseado em bundle de
minutos compartilhados entre as operadoras de telefonia fixa e móvel, mantendo-se o nível de
quase-integração, enquanto a Oi optou por uma estrutura integrada com a operadora fixa
(antiga Telemar), fundindo-se em uma única empresa, ofertando produtos convergentes como
o bundle de minutos compartilhados e o último nível de convergência com a utilização de um
único dispositivo para operar sua rede de telefonia fixa e móvel.
Em síntese, após a convergência, surgem dois grupos estratégicos no setor de telefonia móvel:
um primeiro grupo formado pelas operadoras Tim, Vivo e Claro e um segundo grupo formado
pela Oi, ressaltando-se que as empresas de um mesmo grupo estratégico tendem a ter parcelas
de mercado e rentabilidades semelhantes (PORTER, 1980).
Neste sentido, a FIGURA 13, na página seguinte, apresenta as parcelas de mercado anuais das
operadoras pertencentes aos dois grupos estratégicos identificados após a convergência fixa-
móvel. Corroborando a hipótese de Porter (1980), segundo a FIGURA 13, o primeiro grupo
Vivo, Tim e Claro - mantém índices percentuais de participação do mercado (Market Share)
semelhantes a partir de 2006, ano de lançamento do primeiro produto convergente, enquanto
que a Oi apresenta índices percentuais da participação de mercado também semelhantes no
mesmo período, porém nitidamente menor se comparado com os índices do primeiro grupo.
115
Market Share das Operadoras
9,34%
8,14% 8,41% 8,63%
4,02%
10,36%
11,99%
13,09%
13,08%
22,48%
20,43%
20,75%
21,64%
23,90%
24,24%
15,29%
17,92%
20,73%
23,42%
25,45%
25,71%
48,87%
45,15%
40,46%
34,54%
29,08%
28,34%
8,48%
7,70%
8,36%
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
70%
80%
90%
100%
2002 2003 2004 2005 2006 abr/2007
Vivo
TIM
Claro
Oi
Demais
Figura 13 - Índices percentuais de participação do mercado das operadoras móveis
Fonte: Anatel (2007a).
A FIGURA 14, por sua vez, apresenta a participação das operadoras móveis na receita líquida
trimestral do setor, corroborando, de igual modo, a hipótese de Porter (1980), visto que as
operadoras do primeiro grupo estratégico - Vivo, Tim e Claro - apresentam participações
semelhantes, a partir do segundo trimestre de 2006, com o lançamento do primeiro produto
convergente e a Oi mantém sua participação nesse período.
Participação na Receita quida (Revenue Share) de Celular
7,2% 6,8%
7,7% 7,6%
8,4%
8,7%
8,5%
8,1%
9,0%
9,9%
20,1%
21,2%
19,7%
22,4%
19,8%
22,3%
22,4%
23,2%
22,3%
27,5%
26,9%
29,5%
23,6%
28,2%
28,4%
29,0%
28,9%
29,4%
37,1%
36,5%
34,8%
35,8%
34,1%
31,8%
29,9%
29,1% 29,5%
7,0%
8,0%
10,6%
9,9%
10,3%
10,1%
10,3%
8,6%
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
70%
80%
90%
100%
1T05 2T05 3T05 4T05 1T06 2T06 3T06 4T06 1T07
Vivo
TIM
Claro
Oi
Demais
Figura 14 - Participação na receita líquida do mercado móvel celular
Fonte: Teleco (2007f)
116
Uma vez identificados os grupos estratégicos do setor de telefonia móvel antes e após a oferta
de serviços que caracterizam a convergência fixa-móvel, é possível concluir a pesquisa acerca
dos quatro objetivos específicos analisados neste capítulo.
117
6 CONCLUSÕES
As conclusões representam os resultados da pesquisa em torno das hipóteses ou pressupostos
que a orientaram, baseando-se nas evidências que emanam das conexões entre os dados
coletados e o referencial teórico adotado pelo pesquisador. Tendo em vista o referencial de
Porter (1980) e a questão de partida da pesquisa: como a regulação do Serviço Móvel Pessoal,
implementada pela Anatel em 2001, alterou a estrutura do mercado e as estratégias das
operadoras do setor de telefonia móvel no Brasil, entre 2002 e 2007, as conclusões são aqui
apresentadas seguindo a estrutura da análise dos dados, percorrendo os objetivos específicos
analisados.
O primeiro objetivo específico da pesquisa foi identificar as alterações regulatórias
promovidas pelo SMP. A conclusão é que, por meio do Regulamento do Serviço Móvel
Pessoal e do Plano Geral de Autorizações desse serviço, o SMP promoveu a alteração do
arcabouço regulatório do setor de telefonia móvel no Brasil em seis principais pontos: (a) o
tipo de formalização da licença para a exploração do serviço, que passou a ser uma
autorização, extinguindo a reversibilidade dos bens das operadoras móveis, tornando
disponível a comercialização de seus ativos; (b) a determinação de novas faixas de freqüência
de transmissão do sinal de comunicação, introduzindo a tecnologia GSM no Brasil; (c) a
permissão para que grupos que controlavam operadoras de telefonia fixa ou grupos que
controlavam operadoras de telefonia móvel participassem no processo de licitação do Serviço
Móvel Pessoal; (d) a redefinição das áreas geográficas de exploração do serviço móvel no
território nacional em três Regiões I, II e III, distribuídas similarmente às regiões
geográficas do serviço de telefonia fixa; (e) o Código de Seleção de Prestadora (CSP) que
permitiu aos usuários selecionar qual a operadora de longa distância de sua preferência e (f) o
direito a uma licença para exploração do serviço de telefonia fixa de longa distância para as
operadoras que adquiriram uma licença do Serviço Móvel Pessoal. Deve-se ressaltar que foi
identificada a atenção da agência em não promover assimetrias regulatórias entre as novas
118
operadoras do mercado, oriundas do SMP, e aquelas que se encontravam em operação
nesse setor. O que se pode concluir a esse respeito é que o Serviço Móvel Pessoal constitui,
assim, uma representação explícita da função reguladora da Anatel, enquanto órgão
legitimado para exercê-la no setor de telefonia móvel no país.
O segundo objetivo específico foi analisar a estrutura do mercado decorrente de tais
alterações. Nesse intuito, considerando o SMP como uma mudança na política
governamental, é possível concluir que tal processo evolutivo alterou as fontes das forças
competitivas que atuam sobre o setor de telefonia móvel no Brasil, reduzindo as barreiras de
entrada no setor, elevando a intensidade da concorrência entre as operadoras que nele se
encontram e estabelecendo integrações verticais entre estas e as operadoras de telefonia fixa.
As barreiras de entrada foram reduzidas em virtude de o SMP permitir a participação de
grupos que controlavam operadoras de telefonia fixa ou grupos que controlavam operadoras
de telefonia móvel em seu processo de licitação. A intensidade da concorrência foi elevada
em função da entrada, no setor, das novas operadoras oriundas do SMP, compondo as Bandas
D e E da telefonia móvel no Brasil. Como conseqüências, identificaram-se o aumento da
concorrência nos mercados regionais (nos Estados) e o movimento de consolidação das
operadoras móveis em nível nacional, uma vez que grupos controladores de operadoras das
Bandas A e B, adquiriram licenças do Serviço Móvel Pessoal, controlando também
operadoras das Bandas D e E. Dentre as operadoras analisadas, a consolidação de operações
em nível nacional foi identificada na Tim e na Claro. A Vivo migrou sua licença para o SMP,
adquirindo, em seguida, uma operadora da Banda A e a Oi não consolidou suas operações em
nível nacional por constituir-se uma nova empresa. As integrações verticais entre operadoras
de telefonia fixa e móvel, por sua vez, foram possivelmente favorecidas pelas seguintes
alterações regulatórias do SMP: permissão para que operadoras de telefonia fixa
participassem da licitação desse serviço; semelhança entre as áreas geográficas licitadas pelo
SMP e as áreas geográficas exploradas pelas operadoras de telefonia fixa; o Código de
Seleção de Prestadora de longa distância; e o direito à licença para exploração dos serviços de
chamada de longa distância, atribuído às operadoras que adquiriram uma licença do SMP. As
integrações verticais, decorrentes de tais alterações, foram identificadas na operadora Oi, que
se mostrou totalmente integrada com a antiga Telemar, e nas operadoras Vivo, Tim e Claro
que apresentaram quase-integrações com as operadoras de telefonia fixa controladas por seus
respectivos grupos controladores. Importante ressaltar que as alterações identificadas no setor
de telefonia móvel no Brasil, decorrentes das mudanças em sua política governamental,
119
resultam de uma estratégia deliberada da Anatel em promover a concorrência no setor de
telefonia fixa através das operadoras de telefonia móvel e em promover a concorrência no
setor de telefonia móvel em torno de poucos grupos controladores, considerando que tal
estrutura de mercado favoreceria aos usuários e às próprias operadoras. Como identificado,
existem experiências internacionais nesse sentido, nos Estados Unidos, no Japão, na França,
na Itália e na Inglaterra, com as quais se assemelham a experiência do setor de telefonia
móvel no Brasil.
O terceiro objetivo específico foi identificar as estratégias implementadas pelas operadoras
diante da estrutura do mercado. Nesse sentido, duas conclusões devem ser aqui apresentadas:
a primeira conclusão refere-se à análise estrutural do setor de telefonia móvel no Brasil, após
o SMP, e a segunda conclusão refere-se às estratégias das operadoras diante de tal estrutura.
A conclusão a respeito da estrutura do setor de telefonia móvel, após o SMP, é que tal setor
apresenta reduzida ameaça de novos entrantes, uma intensidade da rivalidade entre os
concorrentes (operadoras móveis), uma ameaça de produtos substitutos, um relativo poder de
negociação dos compradores (usuários do serviço de telefonia móvel) e um intenso poder de
negociação dos fornecedores.
A ameaça de novos entrantes demonstrou-se reduzida em função da necessidade de
economias de escala, da necessidade de capital e, principalmente, da política governamental
exercida pela Anatel. As economias de escala da telefonia móvel são representadas por uma
característica econômica denominada economias de densidade, que, em alguns casos,
justificam o auxílio governamental para a implantação e expansão do serviço à sociedade. A
necessidade de capital é representada (a) pelos custos exigidos para a aquisição da licença
para a exploração do serviço móvel, que se demonstraram elevados, considerando-se o valor
médio pago por uma licença durante as licitações realizadas no setor; (b) pelos custos
exigidos para a implantação de infra-estrutura da rede de comunicação, para promover a
cobertura de extensas áreas geográficas, definidas pelo SMP; e (c) pelos custos exigidos para
a aquisição de clientes consumidores, em função do crescimento das taxas de penetração do
serviço móvel na sociedade, reduzindo o número de clientes “intocados” e engendrando
subsídios nos valores dos aparelhos celulares como estímulo à adesão de novos clientes às
operadoras. A política governamental, ou o Serviço Móvel Pessoal, enquanto processo
evolutivo do setor, mesmo tendo inicialmente reduzido as barreiras de entrada no setor, como
concluído pela análise dos dados referentes ao segundo objetivo específico da pesquisa, reduz
120
a ameaça de novos entrantes porque limita, atualmente, a entrada no setor de duas formas:
pela aquisição de uma operadora que nele já se encontra, mediante aprovação da agência, ou
pela realização de novas licitações de faixas de freqüência pela Anatel.
A intensidade da rivalidade entre os concorrentes decorre dos altos custos fixos demandados
para as atividades das operadoras, da concentração dos concorrentes (operadoras móveis) no
setor e da pouca diferenciação dos serviços disponibilizados pelas mesmas. Segundo a análise
dos dados, os altos custos fixos demandados para as atividades das operadoras decorrem da
implantação da infra-estrutura da rede de comunicação, engendrando uma busca da satisfação
das capacidades de oferta do serviço pelas operadoras, reduzindo os preços dos serviços
disponibilizados. Nesse sentido, é plausível, que tal fator justifique a curva de crescimento da
base de clientes móveis no país, a partir de 2002, quando do início do SMP. A concentração
das operadoras no setor é um fato constatado pela pesquisa, de tal modo que as bases de
clientes das operadoras aqui analisadas, Vivo, Tim, Claro e Oi, representam, quando somadas,
mais de 90% de toda a base de clientes do setor. A pouca diferenciação dos serviços pôde ser
constatada a partir da comparação entre os planos e serviços disponibilizados pelas
operadoras, permitindo concluir que os serviços apresentam-se categorizados em função do
tipo de cliente a que se destinam (clientes do tipo pessoa física ou clientes corporativos),
oferecendo pacotes de minutos para os serviços de voz e de transmissão de dados, descontos
em aparelhos e para a utilização do Código de Seleção de Prestadora de longa distância
controlada pelo mesmo grupo controlador da operadora de telefonia móvel.
A ameaça de produtos substitutos está presente no setor de telefonia móvel, sendo o WiMax e
o trunking, exemplos a serem considerados. Porém, a conclusão da pesquisa diante dos dados
coletados é que a substituição do serviço de telefonia móvel no Brasil encontra-se limitada à
aceitação das novas tecnologias pelo mercado, uma vez que já existem a regulação e a
comercialização dos serviços WiMax e trunking por algumas empresas que atuam no setor.
O poder de negociação dos compradores (usuários do serviço de telefonia móvel) pode ser
considerado relativamente alto, contudo, menos intenso do que a última força competitiva que
atua sobre o setor poder dos fornecedores. O poder de negociação dos compradores decorre
dos custos de mudança para os usuários do serviço de telefonia móvel entre as operadoras e
do nível de informação dos usuários sobre os serviços por elas disponibilizados. Os custos de
mudança para os usuários do serviço de telefonia móvel o influenciados (a) pelo custo de
conexão, que se refere ao custo do aparelho celular em si, incluindo-se a compatibilidade dos
121
aparelhos com os padrões tecnológicos pelas operadoras; (b) pela portabilidade numérica e (c)
pelas externalidades em rede dos serviços de comunicação. A conclusão, diante da análise dos
dados a respeito dos custos de mudança para os usuários do serviço de telefonia móvel, é que
estes existem tanto pelos seus custos de conexão, ainda que a atuação das operadoras, através
do subsídio nos preços dos aparelhos celulares, tente minimizá-los, quanto pela portabilidade
numérica, mesmo diante da atuação da agência reguladora, promovendo a interoperabilidade
das redes móveis de comunicação. O vel de informação dos usuários sobre os serviços
disponibilizados pelas operadoras demonstrou ser um fator relevante no poder de negociação
dos compradores, em virtude da gama de informações acessíveis ao público sobre os serviços
das operadoras analisadas, corroborado pela pouca diferenciação entre esses serviços.
O poder de negociação dos fornecedores é intenso no setor de telefonia móvel tanto para
fornecedores de aparelhos, quanto para fornecedores de infra-estrutura da rede de
comunicação, especificamente os fornecedores de equipamentos que compõem as antenas de
transmissão e as centrais de comutação e controle. O poder dos fornecedores de aparelhos
deve-se, principalmente, à importância deste último para a prestação do serviço de telefonia
móvel na aquisição ou fidelização dos clientes pelas operadoras, reforçado pelo fato de que
são as operadoras as responsáveis por adquirir os aparelhos dos fornecedores, arcando com o
subsídio nos preços dos aparelhos, posteriormente, repassados aos clientes ou aos canais de
distribuição. No entanto, como identificado, tal poder é minimizado com o SMP e a
introdução da tecnologia GSM no setor, reduzindo a concentração de fornecedores de
aparelhos no mercado nacional e possibilitando importações pelas operadoras, enquanto fonte
alternativa de fornecimento. O poder dos fornecedores de infra-estrutura da rede de
comunicação intensificou-se com o SMP, face à implantação da tecnologia GSM no setor e a
construção das redes GSM da Tim, Claro e Oi. Contrariamente ao esperado, com a
implantação da rede GSM da operadora Vivo e a expansão das redes GSM das outras
operadoras analisadas, o poder de negociação dos fornecedores de infra-estrutura da rede de
comunicação tem-se mantido, fortalecendo-se quando se identificam, no setor, fornecedores
de infra-estrutura que também constituem fornecedores de aparelhos.
A conclusão a respeito das estratégias implementadas pelas operadoras, diante da estrutura do
mercado após o SMP, é que as operadoras analisadas – Vivo, Tim, Claro e Oi - adotaram uma
estratégia de liderança em custos (PORTER, 1980), competindo em um mercado típico de
commodities. Todavia, diante da observação das características dos serviços identificados
durante o período da análise, verificou-se, a partir de 2006, a oferta, pela operadora Oi, de
122
produtos que integram serviços da telefonia fixa e móvel em um mesmo pacote,
caracterizando a convergência fixa-móvel no setor e sugerindo uma mudança no
posicionamento estratégico dessa empresa pela adoção de uma estratégia competitiva de
diferenciação. De fato, segundo as características únicas do produto e a entrevista com o
diretor da empresa, a análise desses dados permite concluir que tal operadora adotou uma
estratégia deliberada de diferenciação. Ainda, como meio para se concretizar tal estratégia, o
nível de integração total entre a Oi e a antiga Telemar, operadora de telefonia fixa do mesmo
grupo, demonstrou ser relevante para o alcance de sinergia entre tais operadoras, uma vez que
a convergência de último nível (único dispositivo) somente foi identificada após a
concretização do processo de integração vertical entre as duas operações. Nesse contexto, a
integração vertical da Oi provavelmente lhe permitirá o lançamento de novos produtos que
integrem outros serviços à telefonia móvel, como por exemplo, serviços de Internet, TV a
cabo, dentre outros, disponibilizados pelas companhias controladas pelo mesmo grupo
controlador da operadora, aumentando a diferenciação de suas ofertas comparativamente às
demais operadoras analisadas.
O quarto objetivo específico foi analisar os efeitos dessas estratégias sobre a competição no
mercado. Segundo a análise dos mapas estratégicos do setor de telefonia móvel em torno das
quatro operadoras observadas, a introdução da convergência fixa-móvel divide a história da
competição no setor em dois momentos: no primeiro momento a competição se dá, como
sugere a análise dos dados, por meio da adoção da estratégia de custos pelas operadoras Vivo,
Tim, Claro e Oi, sendo a extensão das áreas de cobertura dessas operadoras a única
peculiaridade observada entre elas. No segundo momento, a competição se entre dois
grupos estratégicos de operadoras, estando o primeiro grupo formado pelas operadoras Vivo,
Tim e Claro que mantiveram uma estratégia de custos, ofertando serviços convergentes de
segundo vel e o segundo grupo formado pela operadora Oi, que adotou uma estratégia de
diferenciação, ofertando serviços convergentes de último nível.
Em síntese, a conclusão da pesquisa é que o Serviço Móvel Pessoal representa as mudanças
ocorridas no arcabouço regulatório do setor de telefonia móvel no Brasil, alterando
deliberadamente a estrutura desse mercado, as estratégias das quatro maiores operadoras que
atuam no setor – Vivo, Tim, Claro e Oi – bem como, a competição que nele se identificava.
123
6.1 CONSIDERAÇÕES FINAIS
É preciso considerar algumas limitações com relação à pesquisa aqui desenvolvida.
Inicialmente, o dinamismo típico de setores que se fundamentam na tecnologia da informação
e comunicação (ICT), como as telecomunicações, torna-se uma dificuldade a ser enfrentada
na realização de qualquer pesquisa sobre o tema, fazendo com que o pesquisador decida o
recorte temporal da análise de forma a não tornar os resultados de sua pesquisa desatualizados
em função da velocidade das transformações que permeiam o objeto em estudo.
Assim, o recorte inicial desta pesquisa compreendia, inicialmente, a análise do período entre
os anos de 2002 e 2004, porém, como observado, no início de 2006, a suposta relevância da
convergência fixa-móvel para o setor, posteriormente comprovada pela pesquisa, era um fato
a ser considerado, sugerindo um recorte cronologicamente mais abrangente, a fim de se
compreender tal fato, culminando no primeiro quadrimestre deste ano como o período final a
ser coberto pela pesquisa. Ainda assim, acontecimentos recentes, que estão fora do período
analisado, estimulam análises futuras a respeito do tema, engendrando possíveis mudanças no
posicionamento estratégico das firmas que atuam no setor.
Outra limitação a ser considerada foi o critério utilizado para se selecionar os casos estudados
pela pesquisa. Como mencionado, as operadoras Vivo, Tim, Claro e Oi foram selecionadas
em função de suas participações de mercado representar, quando somadas, mais de 90% da
base de clientes móveis do país. No entanto, tendo em vista que a convergência fixa-móvel
demonstrou ser um divisor da história da competição no setor, poder-se-ia ter considerado a
Brasil Telecom dentre os casos estudados, uma vez que esta operadora também apresenta
características de convergência e de produtos semelhantes à Oi, mesmo correspondendo por
uma pequena parcela de mercado.
Uma terceira limitação diz respeito às entrevistas realizadas com os diretores das operadoras
analisadas. O processo de realização das entrevistas com os diretores das operadoras
estendeu-se desde o mês de maio de 2006 até o mês de abril de 2007 em função das agendas
dos executivos, em postos adequados ao propósito da pesquisa. Outrossim, em virtude do
tema estratégia, é possível que algumas informações “estratégicas” não tenham sido
veiculadas pelos mesmos por questões de sigilo, fazendo com que esta pesquisa buscasse
fundamentar seus argumentos por meio da identificação dos comportamentos das operadoras,
124
que fossem de conhecimento público.
Por fim, uma última limitação a ser considerada é a especificidade do tema convergência entre
as telefonias fixa e móvel, cuja literatura encontra-se, predominantemente, fora do Brasil, de
difícil acesso.
Como questões de pesquisas futuras, sugerem-se a observação do setor com relação aos
retornos sobre os investimentos das operadoras vis a vis as estratégias adotadas durante o
período analisado, o acompanhamento da evolução do WiMax, enquanto um serviço
substituto da telefonia móvel, paralelamente, à introdução dos serviços de terceira geração da
telefonia móvel no país e a pesquisa sobre a relevância da integração vertical e a convergência
fixa-móvel, entre operadoras de telefonia fixa e operadoras de telefonia móvel, como fator de
sucesso à implementação de estratégias competitivas por estas operadoras.
125
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139
APÊNDICE A – ENTREVISTA EXPLORATÓRIA
54
Principais pontos da entrevista exploratória:
O processo de privatização é debatido desde a época antes do Presidente Fernando Henrique e
tem uma parte de sua origem no modelo de privatização da Inglaterra.
Antes das privatizações brasileiras, no ano de 1997, o próprio governo promoveu a divisão do
seu sistema Telebrás em empresas fixas e móveis, afim de que, quando da execução dos
leilões, as licenças assim obtidas fixas e móveis - correspondessem à estrutura de mercado
existente.
Nessa separação, o entrevistado assumiu a presidência das operações fixas, permanecendo no
cargo, mesmo após a privatização, até o ano de 2001 quando se aposenta.
Uma das dificuldades apontadas por ele, na época pré-privatização, era o fato de se encarar
diversas restrições orçamentárias que impediam a expansão dos meios de acesso e de estrutura
tecnológica que promovessem não a expansão, como o barateamento dos custos para o
setor de telefonia, fato só alcançado com a privatização do setor.
Segundo ele, diversos estudos foram realizados pela Anatel e pelo BNDES no período pré-
privatização para concluir o modelo de negócios que seria estabelecido no Brasil. Em sua
opinião, o modelo implementado foi muito bem projetado, sobretudo pelos resultados obtidos
na telefonia móvel e fixa em termos de números de terminais fixos, tanto quanto na densidade
de linhas móveis por habitantes.
Outro ponto importante que ele considera é que esse modelo de negócios é parte de um plano
maior chamado PINUDI da ONU em prol do desenvolvimento da região.
A realidade de crescimento do setor de telefonia móvel, segundo ele, era prevista pelos
acionistas da Telemar S.A., antes mesmo da aquisição das bandas C, D e E pela mesma,
iniciando sua atuação na telefonia móvel com a Oi. Isto pode ser explicado, responde ele, por
se exigirem investimentos muito menores nesse ramo do que na telefonia fixa, além do
próprio fato de ser esta uma estrutura móvel o que promove uma grande capilaridade de
54
Entrevista realizada por Márcio Andrade Costa, em 30 de setembro de 2005, Salvador, Bahia.
140
acesso e ganhos de escala, contrariamente ao caso da telefonia fixa.
Perguntado se essa superação da telefonia móvel, com 80 milhões de acesso sobre os 40
milhões de acessos da telefonia fixa, na atualidade, era prevista, de tal forma que para garantir
uma competitividade no setor a então Telemar buscasse uma nova opção de investimentos,
nesse caso a telefonia móvel, ele respondeu que sim, ainda que, para ele, haja um nicho de
mercado popular de telefonia fixa da ordem de 13 milhões de usuários.
Outro ponto importante que lhe questionei foi a respeito da tecnologia utilizada quando da
implantação da rede móvel ainda antes da privatização, sobretudo pelo fato de esta ser uma
decisão estratégica que, mais na frente permitiria ou não uma evolução da tecnologia
permitindo que a operadora disponibilizasse serviços de terceira geração (3G).
O que me motivou essa pergunta foi o fato de a Vivo, hoje primeiro player de telefonia
móvel, operar com tecnologia CDMA que pode evoluir naturalmente até a 3G, diferentemente
de algumas operadoras de banda B como a TIM nas regiões Nordeste, Sudeste e Sul, que
iniciaram com o TDMA e tiveram posteriormente que migrar sua tecnologia para GSM, caso
contrário não alcançariam a 3G e seus serviços.
Para minha surpresa, a sua resposta sobre a decisão específica da Telemar na utilização da
tecnologia CDMA não foi, à época, voltada aos serviços 3G, mas simplesmente fruto da
licitação entre os fornecedores da estrutura de rede TDMA e CDMA, em que esta última, por
apresentar melhores condições, venceu a licitação e assim promoveu a implantação de sua
tecnologia.
Ele ressaltou ainda que, sobre essa escolha, não uma correlação do tipo empresas pré-
privatização terem seguido obrigatoriamente o caminho da tecnologia CDMA. A Vivo é
CDMA, mas a TIM, banda A no Nordeste, Sul e Sudeste e a Telemig Celular, banda A em
Minas Gerais optaram por tecnologias TDMA.
141
APÊNDICE B - NEXT GENERATION REGULATION
55
Participantes:
Mr. Matthias Kurth, President, Federal Network Agency, Germany.
Mr. Edwin San Roman, President of REGULATEL and Chairman of the Board, OSIPTEL,
Peru.
Mr. Jorge Arredondo Martinez, Presidente, Comisión Federal de Telecomunicaciones
COFETEL, Mexico.
Mr. Jose Leite Pereira Filho, Member of the Board of Directors, Agência Nacional de
Telecomunicações − ANATEL, Brazil.
Mr Ceferino Alberto Namuncura, Interventor, Comisión Nacional de Comunicaciones (CNC),
Argentina.
Contribuições:
a) Jorge Arredondo – México
O tema central do debate na atualidade é a convergência – voz, dados e imagem.
A tecnologia (redes, convergência IP, inteligência distribuída) cria o mercado (operadoras
regionais e globais, multi-serviços) que demanda a regulação (qual o papel da agência
reguladora).
Agências devem prover melhorias: intervenções para corrigir as falhas de mercado;
coordenação entre política e regulação; promoção de benefícios ao consumidor; busca de uma
neutralidade tecnológica – IP.
Agências devem acompanhar inovações: serviços antes separados agora apresentam-se
convergentes; transição das redes tradicionais para as NGN’s (New Networks Generations);
encontrar caminhos para o futuro e o para o passado; estratégias de regulação
55
5
th
Regional ITU Telecom Américas Telecommunication Forum and Exhibition Salvador, Bahia, Brazil, 3
rd
– 6
th
October 2005. Participante: Márcio Andrade Costa, mestrando NPGA - UFBA.
142
multinacional.
As operadoras tendem a aumentar sua atuação global (Ex: 80% da receita da Vodafone tem
origem fora da sua matriz), o que implica que o agente regulador deve também atuar
globalmente, o que já acontece com a ERG – Agência de Regulação Européia.
O VoIP é mais uma opção de tecnologia oferecida ao mercado, é como aconteceu com a
telefonia fixa e a comunicação via satélite que veio posteriormente, por exemplo. O mercado
em si é a junção do todo. Assim, o VoIP não irá necessariamente concorrer com a voz atual.
Por outro lado, a telefonia celular modificou todo o sistema tradicional de telefonia. A VoIP
será um complemento e não uma concorrência a telefonia móvel. Para a telefonia móvel
houve um impulso muito grande com o fim do “recebe-paga”.
A globalização alterou as estruturas tradicionais de mercado, exigindo uma regulação mais
abrangente que o escopo local.
b) Matthias Kurth – Alemanha
Propõe tão pouca regulação quanto necessária, sem com isso limitar a criatividade, e tanto
quanta necessária para garantir a interoperabilidade do serviço mundialmente. Daí haver uma
proposta de ajuda mútua entre a Europa e o Brasil.
A Alemanha apresenta uma telefonia móvel mais competitiva que a fixa, por causa de sua
regulação. O desafio de promover a competitividade na telefonia fixa é maior que na telefonia
móvel, a telefonia fixa ainda não alcançou o mesmo nível de competição que a móvel nos
países europeus e na maioria dos países do mundo tem-se mais competidores móveis que
fixos.
Na Europa diferentes opções de mercado. Alguns, com a presença de TV a cabo, outros
não, o que faz com que haja regiões em que o aspecto regulatório seja mais presente que
outras. Ainda mercado separado entre fixo e móvel, e alguns mercados em que não a
presença do móvel. O que deve acontecer é primeiro se identificar o mercado que é definido
por uma tecnologia para depois regular.
Desafios para o aspecto regulatório: Internet e PSTN - como ajustar os 2 sistemas até se
chegar nas NGNs e manter a qualidade dos serviços antigos na nova tecnologia IP.
143
c) José Leite – Brazil
Foco de atenção: transição da rede de comunicação tradicional para a convergência de rede
IP. Com isso, há um impacto nas regulações: substituição das licenças tradicionais por
licenças do tipo “convergentes” (quer dizer sobre tecnologias convergentes).
A proposta de uma “autorização geral” (única, independente do tipo de tecnologia) colocada
pela Europa encontra um grande impacto no Brasil: os investimentos realizados para a
situação atual foram da ordem de R$20 bilhões desde o início das privatizações, a
necessidade de não abalar a confiança dos investidores e o spectrum de freqüência é um
recurso escasso. Assim, a solução, do ponto de vista regulatório, seria então um regime
híbrido de licenciamento para alguns países, uma espécie de autorização geral” a dio
prazo.
O Brasil está estudando uma maneira de se gerenciar o espectro de freqüência como forma de
ajudar a competição, mas ainda não tem um modelo definido. Um modelo considerado
interessante é o da Austrália que, em áreas pequenas, pré-definidas pelo regulador, faz-se a
liberação do spectrum.
Concluindo, deve haver adaptação do arcabouço regulatório, a transição de um regime
tradicional para um regime convergente pode não ser viável a curto prazo e a necessidade
de eficiência na utilização dos recursos de spectrum e de numeração,
d) Alberto Namuncura – Argentina
Atraso dentro do órgão regulador, que se apresenta em fase de transição (necessidade de
maior função técnica e econômica) e que possui ainda um papel eminentemente político. A
política industrial do momento está impactando o órgão na geração de empregos e na
participação da indústria nacional nos debates em torno do tema ou na produção de elementos
a ele relacionado. Um exemplo dessa nova realidade é a implantação do trunking.
e) Edwin San Roman – Peru
Desafios das telecomunicações na América Latina: o Banco Mundial e a CEPAL estão
tentando identificar qual o tamanho da população não atingida pelos serviços na América
Latina: aproximadamente 300 Milhões de pessoas.
144
Os trabalhos realizados no Peru: telefonia fixa pré-paga dificuldades de acesso; participação
do governo através de subsídios e de indução da demanda para áreas de pouca rentabilidade;
alianças estratégicas com operadoras locais e através relação “ganha-ganha” (governo e
iniciativa privada); desenvolvimento de áreas não-servidas ou alcançadas por esses serviços
de telecomunicações e certeza de que em regiões atrativas para cobertura deve haver um
subsídio do governo.
145
APÊNDICE C - BUILDING AN INCLUSIVE INFORMATION SOCIETY
56
Participantes:
Mr. Felipe Goes, Associate Principal, McKinsey &Company, Inc., Brazil.
His Excellency Mr. Phillip Paulwell, Minister, Ministry of Commerce, Science and
Technology, Jamaica.
His Excellency Mr. Anthony P. Wood, Minister, Ministry of Energy and Public Utilities,
Barbados.
Her Excellency Mrs. Martha Elena Pinto de De Hart, Ministra, Secretaría General, Ministerio
de Comunicaciones, Colômbia.
Mr. João Henrique Barradas Carneiro, Prefeito da cidade do Salvador, Prefeitura Municipal
de Salvador, Brazil.
Mr. João Carlos Ferraz, Chief, Division of Production, Productivity and Management,
ECLAC −Economic Commission for Latin America and the Caribbean, Chile.
Contribuições:
a) Felipe Goes
A forma pela qual se terá mais da metade da população mundial coberta por um dispositivo de
Information and Communication Technology (ICT) será através da telefonia móvel, tendo em
vista atingir o World Summit on Information Society (WSIS) 2003 goal: conectar todas as
comunidades do mundo até 2015.
b) João Ferraz
Para a CEPAL a oportunidade de desenvolvimento para atingir o objetivo de 2015 existe, o
tempo é adequado, e a Tecnologia da Informação é vista como instrumento para o
desenvolvimento regional. Tendo em vista sempre que a América Latina é difusora, mas não
56
5
th
Regional ITU Telecom Américas Telecommunication Forum and Exhibition Salvador, Bahia, Brazil, 3
rd
– 6
th
October 2005. Participante: Márcio Andrade Costa, mestrando NPGA - UFBA.
146
geradora, de inovação tecnológica.
Ainda assim, buscando-se toda a inclusão digital possível através da Sociedade da
Informação, uma tendência de manutenção das desigualdades entre as classes sociais por
conta da restrição de renda que existe nos países em desenvolvimento. Isto acontece porque a
estrutura de renda da sociedade define o teto de valor a ser utilizado na aquisição da
tecnologia e não contrariamente.
Fatores favoráveis vistos pela CEPAL: as atuações das multinacionais das operadoras de
telecomunicações; independência política na difusão da tecnologia, diferentemente das
políticas industriais; a convergência tecnológica é uma oportunidade histórica para o
desenvolvimento das economias da região e a possibilidade de cooperação tecnológica
intra-regional, por exemplo, o Chile.
Alguns problemas: as New Network Generations (NGNs) e a regulação são um problema e
devem ser vistas cooperativamente entre os países.
Alertas: será que isso tudo garantirá eqüidade, democracia, transparência ? Como os menos
favorecidos estão se beneficiando com a difusão das operações móveis de telecomunicações ?
Entre eles ou entre eles e aqueles aos quais prestam serviços ?
147
APÊNDICE D – ENTREVISTA COM A OPERADORA OI
57
1)Qual foi o principal motivador da constituição da Oi pela Telemar: percepção de uma nova
oportunidade de negócios em virtude de um mercado de maior poder de escala e menores
investimentos ou a proposta de oferecer uma oportunidade de serviços diferenciados por
conta da integração entre móvel, fixo e longa distância disponibilizada ?
Resposta: Para o mercado de Telecom, a telefonia fixa, isoladamente, não apresenta um futuro
muito promissor, as comunicações tradicionais de voz devem migrar para outra tecnologia
que não a fixa, como, por exemplo, a móvel e as telecomunicações fixas tendem a ser
utilizadas para a transmissão de dados. Em linhas gerais, o que se percebe é que, para a
perpetuação do retorno econômico, em vel mundial, o mercado de telefonia móvel é o
futuro, ocorrendo uma migração de fixo para móvel.
2)Percebe-se que os planos integrados (telefonia fixa, móvel e longa distância) da Oi, como o
Oi Conta Total, foram uma inovação. Esse tipo de produto integrado é uma tendência do
mercado ou um diferencial competitivo que beneficia especificamente o caso Oi da Telemar ?
Resposta: Diferenciação, perante as demais operadoras. Cobertura não é mais diferencial,
qualidade de serviço, idem: qualidade de sinal, serviços de pós-venda, conta. Qualidade não é
mais diferencial, mas um pré-requisito. Qual o diferencial então ? Aparelhos mais baratos ?
não, tarifas ? não. A nossa estratégia é uma diferenciação além do preço. As ofertas de
integração em bundle (assim são chamados) são um diferencial competitivo para diversos
segmentos de clientes. Na época, dois anos e meio atrás, fomos no mercado internacional
buscando algum modelo desse tipo e praticamente não existiam muitos casos. Eram muito
incipientes, pequenas iniciativas que não permitiam a avaliação do resultado. A nossa
iniciativa nesse sentido foi pioneira em nível internacional. Agora com a inclusão, em breve,
de mais um tipo de tecnologia além da Internet, que será a TV por assinatura, no futuro será
mais um produto.
3)Enquanto operações, a estrutura organizacional da Oi é conjunta com a Telemar, ou seja, os
diretores das operações são os mesmos ? É uma operação única (colaboradores, estrutura,
departamentos) para ambas as empresas?
57
Entrevista realizada por Márcio Andrade Costa em 11/08/2006.
148
Resposta: A integração ocorreu de forma total entre Oi e Telemar a respeito de convergência.
A fusão ocorreu de forma total: mesma empresa, mesmo corpo gerencial, mesma estrutura. As
ofertas sinérgicas visam economia para o cliente. É mais conveniente do ponto de vista de
relacionamento com o cliente: um mesmo ponto de contato com a empresa através do qual ele
pode tratar qualquer tipo de produto dentro do bundle.
4)Diante desta afirmação, é possível afirmar também que, em termos de resultado, esses
produtos integrados ou convergentes responderam conforme as expectativas da empresa, quer
dizer, ganhando uma participação significativa em seu portifólio ?
Resposta: Sim, podemos perceber que esse tipo de produto responde hoje com uma boa
participação do negócio.
5)A Oi é mais beneficiada por existir a Telemar ou a Telemar apresentaria mais vantagens
nesse sentido ?
Resposta: A relação é de simbiose, trazem benefícios muito fortes e vice-versa, benefícios
de ambos os lados. É difícil avaliar quantitativamente qual o grau de participação em que uma
operadora beneficia a outra, mas a simbiose é total.
6)Você entende que as demais operadoras não têm conseguido explorar as operações de longa
distância como a Oi tem feito ?
Resposta: As demais operadoras não conseguem utilizar suas participações nas operações de
longa distância como um diferencial de produto semelhante ao da Oi.
7)Você acha que uma intenção da Anatel em promover cada vez mais modificações na
estrutura do mercado, proporcionando todas as possibilidades de convergência tecnológica
como, por exemplo, o VoIP, em uma única empresa ?
Resposta: Não, a Anatel deve permitir que cada player siga seu caminho naturalmente. A
estrutura de cada empresa é única. Com relação à convergência tecnológica, já existem
produtos desse VoiP na companhia, falta a TV por assinatura que compramos recentemente
uma empresa em Minas Gerais, a Way TV, cujo nome ainda será decidido.
149
APÊNDICE E – ENTREVISTA COM A OPERADORA CLARO
58
1)Qual o tipo de relação existente entre a Claro e a Embratel, existe algum tipo de relação
além dessa relação contratual, em termos de oferta de produtos ?
Resposta: Parceria na oferta do 21 para longa distância, e agora estamos ofertando para
clientes corporativos na grande São Paulo em conjunto com a Embratel produto de voz e a
Embratel, voz e dados.
2)Para os clientes que não são da Claro existe algum tipo de diferenciação quer seja em preço
ou em pacote de minutos para utilização do 21 da Embratel ?
Resposta: Não sei você teria que perguntar para eles.
3)Mas para Clientes da Claro existe esse tipo ?
Resposta: Clientes Claro recebem tarifas promocionais.
4)Com relação ao tipo de estrutura, estrutura física, corpo diretivo Claro-Embratel ?
Resposta: Totalmente separado, acionistas, composição jurídica, são totalmente distintos.
5)Sobre operação, a Claro está abrangendo não a Região Norte do Brasil e o tipo de oferta
Claro-Embratel percorre também todas essas regiões, é a mesma com esse benefício preço ou
existe alguma distinção ?
Resposta: No caso do 21 a cobertura é a mesma, sendo diferente para o publico corporativo
dessas áreas.
6)Sobre novas tecnologias existe algum tipo de produto que não somente o móvel ofertado,
estamos vendo algumas operadoras adquirindo empresas de TV por assinatura etc, a Claro
oferece algum tipo de serviço nesse sentido ?
Resposta: Não, a Claro está trabalho somente no setor móvel.
7)Existe algum serviço de valor agregado que esteja relacionado com a Embratel que não seja
58
Entrevista realizada por Márcio Andrade Costa em 07/12/2006.
150
somente voz ?
Resposta: Não.
8)Pelo que estamos percebendo, além de uma estrutura dissociada vocês têm relação de
parceria na oferta do 21 ?
Resposta: Isso.
9)Serviços de VoiP, WiMax, etc, existem algum tipo de oferta nesse sentido ou que seja
colocado a curto prazo ?
Resposta: Não, não há perspectiva
10) Em Julho de 2005, a Claro deixa de ofertar o 36 e passa a ofertar o 21 da Embratel. A
Claro colocou uma estrutura própria para ofertar o DDD 36 à época ou não ? O Sr saberia
informar como isso aconteceu ?
Resposta: Sim, tinha uma estrutura própria para essa oferta.
11) E a partir dessa data de Julho a Claro compra a Embratel e desfaz a estrutura ?
Resposta: Não, a Claro não é a dona da Embratel, a Telmex que é controladora da Embratel
tem um controlador no México que é o mesmo controlador da América Móvil, que é
controladora da Claro. O que ocorreu é que a Anatel entendeu que a Claro e a Embratel
tinham um controlador único de suas respectivas controladoras e definiu que a Claro teria que
devolver a licença do 36 e ofertar o 21, desenvolver uma parceria para essa oferta.
12) Então não foi uma decisão de vocês, mas uma decisão da Anatel ?
Resposta: Isso, foi a Anatel quem decidiu que o 21 fosse ofertado pela Claro e ai
desenvolveu-se essa parceria.
151
APÊNDICE F – ENTREVISTA COM A OPERADORA TIM
59
1) Qual o tipo de relação existente entre a Tim e a TIM 41, contratual, física, de prestação de
servicos, etc ?
Resposta: A TIM Celular tem 3 licenças: uma de SMP (Serviço Móvel Pessoal), e 2 de STFC
(Serviço Telefônico Fixo Comutado), uma de DDD e outra de DDI. Agora a TIM Celular e a
TIM 41 tem uma relação de parceria.
2) Quais os serviços ofertados pela TIM aos clientes que possuem relação com a longa
distância ou telefonia fixa ?
Resposta: A TIM Celular não oferece nenhum tipo de serviço LD para seus clientes. Cada
operadora CSP é responsável de ofertar seu portifólio de produto ao mercado Fixo ou Móvel,
aplicando diferentes estratégias de preço e produto. A TIM Longa Distancia 41 convidou a
todas as operadoras SMP a participar das ofertas do 41, de forma a poder viabilizar a
implementação de promoções e serviços DDD e DDI através do CSP 41, sendo que a TIM
aceitou.
3) Dentre as ofertas de serviços integrados nesse sentido (fixo e móvel), algum tipo que
possa justificar uma oferta específica para clientes da concorrência ?
Resposta: O foco do 41 até agora tem sido os clientes móveis com ligações de longa
distancia. Para isto a Longa Distância 41 convidou a todas as operadoras moveis a participar
das ofertas e promoções do 41 na base de clientes de cada prestadora. A TIM Celular foi a
única operadora móvel que aceitou esta proposta. A TIM 41 não tem hoje ofertas integradas
Fixo Móvel, e criação deste tipo de ofertas dependem da rentabilidade desta e da estratégia
da empresa.
4) Existem serviços de valor agregado que são disponibilizados em conjunto com a Tim 41 ?
Resposta: Os serviços ou ofertas disponibilizados pelo 41 são ações que não dependem das
ações ou ofertas locais da TIM Celular, ou seja são ações independentes.
59
Entrevista realizada por Márcio Andrade Costa em 21/12/2006.
152
APÊNDICE G – ENTREVISTA COM A OPERADORA VIVO
60
1)Qual o tipo de relação existente entre a Vivo e a Telefônica ? (mesma empresa, relação
contratual de serviços, etc )
Resposta: São empresas independentes. Porém, a Telefônica é acionista da Vivo. As duas
empresas realizam ações de sinergia e, para essas ações, são feitos contratos específicos.
2) Qual o tipo de produto ofertado ao cliente móvel que decorre dessa relação (ex: DDD
grátis)?
Resposta: No pós-pago, o novo plano Vivo Escolha e Vivo Completo oferecem, dentre outras
vantagens, a Vantagem "DDD e Roaming Grátis". Com esta vantagem, o cliente ganha de 5 a
30 minutos para fazer ligações interurbanas através do código 15 da Telefonica (além de
minutos para receber ligações em Roaming – deslocamento). Outra oferta sinérgica é a
promoção DDD = Local, disponível desde o final de 2006 para os clientes pré-pagos e
lançada em 19/04/07 para os clientes pós. Com ela, os clientes da Vivo podem fazer ligações
DDD, pagando tarifa de local, através do CSP 15. As características dessa promoção o as
seguintes:
Pré-pago:
- Válida de Vivo para Vivo e de Vivo para Fixo
- Sem necessidade de cadastro
- Todos os clientes participam automaticamente, basta usar o CSP15
- Tarifa local de Vivo para outras operadoras do plano Vivo Toda Hora
- Até 45% de desconto
Pós-pago:
- Válido de Vivo para Vivo
60
Entrevista realizada por Márcio Andrade Costa em 23/04/2007.
153
- Apenas para clientes cadastrados dos planos Vivo Escolha e Vivo Completo
- Necessário cadastro gratuito no *9000
- Tarifa excedente do plano contratado
- Até 70% de desconto
Clientes Vivo Pós podem adquirir pacotes de minutos de Longa distância pelo CSP 15,
ligando para a central de relacionamento da Vivo. 4 opções de Pacotes: 15 Minutos, 30
Minutos, 45 Minutos e 60 Minutos que permitem até 40% de desconto em cima do preço
normal (fora do pacote). Estes minutos valem para ligações DDD feitas com o código 15 de
Vivo para Vivo; de Vivo para outros celulares e de Vivo para telefone fixo. Além destas,
através de uma parceria entre a Vivo e a Telefonica surgiu a campanha Vivo mais Telefonica,
através da qual clientes Vivo Pós e Speedy falam gratuitamente nos finais de semana. Esta
promoção é válida até o final de 2007, de Vivo para fixo da Telefonica e de fixo para Vivo.
Mais informações: http://www.vivomaistelefonica.com.br.
3)Quando ocorreu a migração da Vivo para o Serviço Móvel Pessoal, houve algum interesse
em se ingressar nos serviços de telefonia fixa local ou de longa distância por parte da Vivo ?
Resposta: Não.
4)Para os clientes que não são da Vivo existe algum tipo de diferenciação quer seja em preço
ou em pacote de minutos para utilização do 15 da Telefônica ?
Resposta: Nenhum benefício adicional ao preço da tarifa praticada. Obs: Clientes Vivo que
usam o 15 da TLF possuem uma tarifa especial (menor) do que as de qualquer outro usuário
de celular que use o 15 da Telefônica.
5)Com relação ao tipo de estrutura, estrutura física, corpo diretivo Vivo-Telefônica são os
mesmos ou distintos, digo outra estrutura organizacional ?
Resposta: A Vivo e a Telefonica são empresas completamente independentes no que tange à
atuação no mercado brasileiro. A relação entre elas existe apenas nas ações de sinergia.
Entretanto, a Telefônica (matriz na Espanha) tem influência nas decisões estratégicas da Vivo
por ser sua acionista.
154
6)Sobre operação, a Vivo está abrangendo não Minas Gerais e alguns estados da Região
Nordeste do Brasil, o tipo de oferta Vivo-Telefônica percorre também todas essas regiões, é a
mesma com esse benefício de gratuidade ou preço em todos os estados ou existe alguma
distinção ?
Resposta: Em toda área de cobertura da Vivo, os benefícios são os mesmos. A diferença está,
apenas, na tarifa cobrada em cada Estado e/ou em cada plano. Ela varia de acordo com os
impostos cobrados e particularidades do mercado. MG e alguns estados do Nordeste não
fazem parte da área de cobertura da Vivo, portanto não participam das promoções.
7)Existe algum tipo de oferta ao cliente móvel que integre a telefonia fixa ? (cito relação com
Telefônica São Paulo ou pacote de minutos para ligações com fixos, etc ) ?
Resposta: As ofertas mencionadas na questão 2 respondem esta questão. Os exemplos são:
desconto em ligações para fixo (DDD = Local para pré-pagos, Promoção vivo mais
Telefonica, pacotes de minutos, etc).
8)Sobre novas tecnologias, VoIP, Serviços Multimídia, existe algum tipo de produto que o
somente o móvel ofertado ? Estamos vendo algumas operadoras adquirindo empresas de TV
por assinatura etc, quais os produtos Vivo nesse sentido ?
Resposta: A Vivo oferece outros serviços além do tráfego de voz. Além dos mais conhecidos,
como SMS, MMS e Wap (que permite acesso à alguns canais de TV ao vivo, ex:
Bandeirantes), a Vivo possui:
-Vivo Play 3G: Serviço que permite acessar conteúdos multimídia (som e vídeo), como TV ao
vivo, vídeo clips, trailers de cinema, vídeos de documentários, gols da rodada, desenhos
animados e até baixar MP3 nos celulares compatíveis.
- Vivo Localiza: permite que os telefones celulares Vivo localizem e sejam localizados por
outras pessoas. Permite também visualizar um mapa da região escolhida na tela do seu
celular. O monitoramento da localização de cada indivíduo também pode ser feito pela
Internet, em tempo real, com localização precisa.
-Placa Zap: serviço que permite acesso em alta velocidade (3G) à internet.
-Downloads: jogos, músicas, conteúdo para o celular.
155
9)Existe algum serviço de valor agregado que esteja relacionado com a Telefônica longa
distancia, que não seja somente voz ?
Resposta: Não.
156
APÊNDICE H – ENTREVISTA COM A ANATEL
61
1) Qual o objetivo do CSP, o cliente selecionar a prestadora que vai colocar o serviço de
longa distância ?
Resposta: Estimular a competição. Você não está amarrando seu terminal com aquela
prestadora lhe oferecendo um serviço de longa distância nacional e longa distância
internacional.
2) Antes eram as próprias operadoras que negociavam?
Resposta: É. Hoje tem o pacote, eles oferecem o pacote, você pode escolher livremente a
operadora que você quiser para fazer a sua ligação.
3) O modelo do SMP veio de algum país específico ?
Resposta: Não, o modelo do SMP foi criado pela própria Anatel.
4) No inicio da privatização como surgiu esse modelo ?
Resposta: A Anatel quando foi criada teve como uma trilha a FCC, algumas coisas nós
copiamos da FCC, mas que evoluímos muito mais, tanto é que o pessoal da FCC aparece
por aqui.
5) FCC dos Estados Unidos?
Resposta: Isso, a Agência Reguladora dos Estados Unidos. Eles vêm aqui no Brasil, fazendo
visita, vendo como é que a Anatel está evoluindo, inclusive nós temos um sistema chamado
“Radar”, que eles estão importando para se utilizar lá nos Estados Unidos. Todas as atividades
de fiscalização são registradas neste sistema. Então você tem todas as informações ali dentro.
O que você precisa você tem ali. Quando foi fechada uma operadora, se esteve lacrado uma
época, coisas desse tipo. Todas as informações lá. Agora, o modelo do SMP foi desenvolvido
aqui no próprio Brasil e não teve essas questões, ou seja, tentar importar. Inclusive, nós
tentamos importar, mas as experiências aí fora não foram convincentes. Os Estados Unidos
para fazer o teste do CSP na telefonia fixa gastaram um ano e nós aqui, fizemos isso em um
61
Entrevista realizada por Márcio Andrade Costa em 11/12/2006.
157
dia praticamente.
6) Os Estados Unidos tem um número de operadora móveis muito grande?
Resposta: Tem, muito grande. Tinham duas, ai veio nos jornais os resultados, a convergência,
aí, abriram... continuaram se espalhando as beneficiárias aparecendo e hoje nós temos um
número muito grande de operadoras, mas isso o quer dizer que tenha competição. Eu acho
que no modelo regulatório, a única coisa que não deu certo no modelo foi a questão das
espelhos e espelhinhos da fixa, se nós tivéssemos espelhos nós estaríamos muito bem hoje
com a telefonia fixa. O modelo SMP foi criado dentro da Anatel.
7) Quer dizer que houve uma tendência a criação de blocos ? O que era esperado pela própria
Anatel e ela entende estes blocos como estímulo a competição ?
Resposta: Isso.
8) E com relação a novas tecnologias existe alguma tendência de um “novo SMP” para a
inclusão dessas tecnologias nas operadoras ?
Resposta: Nós sabemos que a briga judicial esmuito grande, as operadoras da fixa STFC,
querendo ingressar, está certo entre aspas, estão através da SMP, as banda larga, nas faixas
3,5 e 10 giga. Então existe uma batalha judicial muito grande, onde a Anatel entende que as
operadoras não devem participar para não criar um monopólio. Você criaria um monopólio
não uma competição, mas um monopólio e as operadoras forçando a barra para que elas
possam também participar do leilão dessas duas faixas. Então é uma briga muito grande.
Agora tem determinado serviço que você tem que ter critérios para não cair no monopólio. No
local não ter um monopólio privado.
9) Que é a grande preocupação ?
Resposta: Essa é a grande preocupação, justamente esta é a grande preocupação. Nada impede
que se faça, que se criem os blocos. Porém tem determinados serviços que é bom você olhar,
para saber se realmente vale a pena ou não agregar aquele serviço a aquele determinado
bloco. Eu particularmente acho que não vale a pena. Eu acho que tem que criar competição.
10) A gente percebe com o SMP que houve uma redistribuição das áreas geográficas similar
àquela que havia sido feita para o serviço de prestação fixa e de longa distancia, já tinha essa
158
intenção ?
Resposta: Isso. E continua evoluindo. Com as definições de áreas locais. Nós evoluímos
muito talvez isso o faça parte do seu escopo. Mas é interessante, por que nós tínhamos
ligações dentro das localidades, dentro do mesmo município fazendo longa distância regional.
Humildes é um Distrito de Feira de Santana. Se você ligar de Humildes para Feira de Santana
para a sede do Municio de Feira de Santana você pagava uma longa distância nacional, o
faz sentido. Hoje o assinante, dentro da área da sede constante do município pode utilizar uma
ligação local. Isso foi uma evolução tremenda para Anatel e para o assinante também. o
fato de você acompanhar, ver a migração, ver como é que está distribuindo as áreas locais, o
que é que está evoluído, e hoje com a questão da universalização, hoje nós temos telefones
espalhados em tudo que é lugar do Brasil afora.
11) Tanto fixo como móvel não é?
Resposta: Mas a penetração do fixo ainda é maior pela questão da maior universalização. Faz
parte do contrato de universalização. Mas a móvel tem os interesses comerciais, que ai fica
muito complicado. Mas a Anatel estimula que as operadoras procurem os servidores
municipais. Para que elas façam, digamos assim um acordo, que a prefeitura doe terrenos, a
operadora constrói e instala sua ERB e lá tem isenção de impostos de tributos essas coisas.
Anatel estimula para que haja uma penetração maior. E hoje a gente que a penetração é
muito pequena dentro da área em nível de Brasil.
12) Então voltando, confirmando a primeira pergunta, o SMP consegue alterar esta
estrutura de mercado, a partir dessa possibilidade da participação de grupos que a gente tem
tipo a EMBRATEL com a Claro, a TIM com Tim 41 a Telemar e Oi, etc ?
Resposta: É, bom, temos a OI com a Telemar, temos Claro-EMBRATEL, temos a Telefônica
com a VIVO, que é muito forte, agora temos a Brasiltelecom com a Brasiltelecom Celular.
13) Existe algum caso que o senhor tenha conhecimento, no mundo, que exista esse nível de
integração tão grande, assim, meio que uma oferta vertical do produto, como a gente
claramente aqui no Brasil?
Resposta: Que eu tenha lido o, mas informações eu soube que no Japão é assim. Tem já eu
acho duas operadoras ou três, que fornecem todo tipo de serviço inclusive a banda larga
também.
159
14) De repente, o Brasil está despontando... com certeza.
Resposta: Mas se a gente for olhar o Japão é desse tamanho o Brasil são dimensões
continentais. Para você fazer isso aqui é muito complicado. A questão de fazer conglomerado
você tem que oferecer todos os serviços a toda a população. Você tem que olhar que isso tem
algumas limitações, por exemplo, hoje a penetração nossa de TV por assinatura é muito
pequena. A Anatel tinha previsto para 2005, 10 milhões de assinantes e não passamos de 4
milhões hoje. Certo, então a penetração é muito complicada. É bom, é interessante, agora o
Brasil não tem demanda, a população não tem o poder aquisitivo que o Japão tem.
Resposta: Você veja o seguinte, você veja que, depois do código da seleção da prestadora, a
competição tornou-se acirrada realmente, tornou-se acirrada trazendo hoje esse pacote da TIM
um pacote oferecendo 7 centavos o minuto por ligação.
15) No telefone fixo não é isso?
Resposta: o, no celular normal. Você veja que realmente a competição do celular era tudo
que nós queríamos. E para que isso acontecesse, eu acho que o código de seleção de
prestadora foi um marco assim muito importante, es certo, porque depois do código de
seleção da prestadora a coisa ficou aberta. Então a competição aumentou, óbvio, e aumentou
sensivelmente.
16) A questão é a seguinte: para esses casos que tem esses tipos de integração, como os quatro
que o senhor já comentou, inclusive a Brasil telecom etc., a gente percebe que eles fazem uma
oferta casada, tipo assim se você usa o meu CSP, ou seja, o meu produto, e se você já é meu
cliente móvel, então você vai pagar muito mais barato do que se você utilizar o CSP da
concorrência ou, então, você não paga. Tem um plano da TIM que você o paga a ligação
DDD nacional, se você está ligando para um outro numero da TIM também. Então quer dizer,
isso ainda é considerado uma forma de manter a competição ou existem casos em que isso
está crescendo ? Por que a Anatel tem também o papel do CADE. Eu lembro que a lei 9.472
atribui esse poder. Existiu já alguma situação com relação a isso ?
Resposta: Não.
17) Então a coisa está fluindo tranqüilamente ?
Resposta: Está e a Anatel não está considerando isso uma venda casada não, mas um plano
160
alternativo que a operadora pode oferecer ao assinante. Não sei se você tem conhecimento,
mas e entrou e saiu da consulta pública o regulamento do SMP. Regulamento do SMP
que proíbe tudo isso, cerca tudo isso a questão da venda casada, por exemplo. Hoje se você
for comprar um terminal fixo ou físico e hoje ainda é amarrado, com a sua linha, está certo,
doravante não, você tem que fazer dois contratos, a partir da entrada do regulamento da SMP,
você tem que fazer dois contratos, um contrato que a Anatel não tem nada a ver, que é o da
aquisição do aparelho, e o outro contrato é o da linha. O seu terminal de assinante da
operadora. Então não vai mais existir essa venda casada. Então tem uma serie de evoluções
que teve nisso aí.
18) Voltando a nossa última pergunta, a gente tem um quadro com relação a essa oferta de
serviços, a Anatel entende que a competição está integrada ou ela está localizada em
determinado setor ?
Resposta: o, a Anatel entende que está integrada. Você veja que a evolução das últimas
operadoras que entraram no caso, a instalada na Bahia e Sergipe, foi a Claro e a Oi. A Claro já
está se aproximando da quantidade de terminais da TIM, está certo, e a Oi está vindo também,
mas a Anatel entende que está integrada e eu acho que o que prova isso é a questão da
competição crescente, crescimento assim exponencial do SMP. Hoje, a previsão da Anatel é
chegar a uma situação de cem milhões de aparelhos, em novembro, 97 milhões de aparelhos,
noventa e oito milhões, então está se imaginando vender até dois milhões de aparelhos até o
final do ano. Se você for olhar nessas grandes lojas e magazines e estas lojas que vendem
eletrodomésticos, você que os maiores clientes são os clientes que querem adquirir celular.
Hoje existe um apelo muito forte principalmente em cima das crianças, você crianças de
sete e oito anos ganhando celular, em cima dos idosos também que tinham uma certa
resistência a usar o celular e hoje você senhoras e senhores aí querendo celulares para
serem monitorados pelos familiares, essas coisas.
19) Mas isso não leva a gente a acreditar de alguma forma que mesmo sendo integrada a briga
está ocorrendo no setor móvel e não necessariamente nestes outros serviços que estão
integrados. Quer dizer, está ocorrendo uma integração inclusive uma oferta de pacotes
integrados etc. e essa conjectura de grandes grupos brigando, porém a sensação que a gente vê
até pelo número de acessos é que esta briga é no setor móvel e não integrada.
Resposta: Esta briga é no setor móvel, não existe briga no setor fixo, não existe briga no setor
161
por assinatura, isso não existe briga nos provedores de internet, SCM, que hoje em dia estão
por ai. Isso não existe, é setorial. É na integração, digamos diversos serviços, não existe isso.
Mas só no setor de SMP perfeitamente aceitável mesmo. A gente vai conseguir isso
quando tivermos uma competição pelo menos entre 5 segmentos que eu falei aqui que é o
VoIP, Wimax , Telefonia Fixa, Tv por Assinatura e o SMP. E sim, é o setor móvel é o que
a Anatel costuma chamar de SMP. É para acabar com aquele estigma de SMC, Serviço Móvel
de Celular. Até acabar isso que é um acesso para dentro da área de serviço privado.
20) Porque com o SMP passou a ser autorização e não mais a concessão?
Resposta: Bom, na concessão existe a reversibilidade de bens. O que é que é isso. Por
exemplo, o contrato que foi firmado entre a Anatel e a EMBRATEL para longa distância
nacional e internacional e a Telemar na área dela e a Brasiltelecom na área dela, e a Telesp na
área dela, existem a reversibilidade de bens, o que é que é: se, por acaso, a Telemar der para
trás, enfim não quiser mais explorar o serviço, a União é responsável pela continuidade do
serviço. Então, é por isso que a Telemar o pode se desfazer de qualquer estrutura, quando
eu falo de estrutura, eu estou falando de equipamento, de antena, de prédios, certo, qualquer
desses equipamentos que seja utilizado para prestação dos serviços. Do prédio administrativo
ela pode até se desfazer, mas extinguir esses equipamentos de jeito nenhum. Inclusive a
planta da rede ela tem que dar continuidade a melhorias constantes, por que tudo isso faz parte
da União, não é patrimônio da Telemar, é patrimônio da União, então é por isso que tem que
ser mantida, para que não sofra ação de descontinuidade. É por isso que na concessão tem
metas de universalização e na autorização não tem, metas de qualidade. Tem
compromissos de abrangência. Por exemplo, a Vésper é uma autorização. Então a Vésper
quando assinou o contrato de autorização mexeu com os compromissos de abrangência no
primeiro ano, atender localidades acima de 500 mil habitantes, no segundo ano acima de 200
mil habitantes e no terceiro ano acima de 100 mil habitantes, então essa é que é a grande
diferença.
21) E no SMP, é autorização ? Quem era SMC era concessão: Banda A e Banda B. Então para
quem era Banda A ou Banda B, que comprou uma licença do SMP, C, D ou E ?
Resposta: Teve que passar para autorização. Porque a autorização se caracteriza para venda.
22) Tem uma das resoluções do SMP, em que ele fala que a empresa móvel que adquirir uma
licença de exploração, ela automaticamente tem direito de adquirir também uma licença de
162
longa distancia nacional e internacional. Isso está atrelado a disponibilização também de
código de seleção de prestadora, como uma forma de não se perder receita ?
Resposta: Não, não. Isso é para estimular a competição mesmo. Isso é para estimular a
competição. Quer dizer, o que é que acontecia: no caso da fixa, nós não tivemos competição,
então esta questão do SMP, já tinha sido prevista pela Anatel para que houvesse competição.
Então não foi uma coisa isoladamente.
23) Estimula por que aquela operadora móvel que adquiriu uma licença de SMP consiga
também uma licença na longa distância para que, de alguma forma, ela possa competir nestes
dois setores ?
Resposta: E o que não aconteceu com a fixa na STFC, porque elas tinham um prazo, por
exemplo, se não houvesse uma antecipação das metas pela Telemar, Embratel, que venceriam
agora, estas operadoras estariam entrando, 31 de abril de 2005. Elas só estariam entrando
em 2005, a OI só teria entrado no plano de universalização nacional em 01 de janeiro de 2006.
Por isso que a Telemar investiu uma barbaridade para poder se antecipar as metas, então, por
exemplo, eles no final de 2003 estavam concorrendo com a Embratel. Anteciparam as
metas, isso também foi um estímulo para que se pudesse fazer uma universalização mais
rápida.
24) Estas novas alterações que estão sendo colocadas com relação a novas tecnologias que o
senhor estava comentando dentro da prestação de uma operadora móvel de uma operadora
fixa, ela está entrado como um anexo ao contrato que foi feito na época do SMP?
Resposta: Não, eles têm uma autorização também.
25) Autorização também ? Vai a leilão também ?
Resposta: Vai a leilão, vai tudo direitinho. É, no caso é leilão. a questão da Anatel o modo
de contratação é mais pregão.
26) Vai a leilão também essa licença ?
Resposta: O VoIP normalmente roda em cima de uma plataforma. O VoIP existe
controvérsias. Nós temos VoIP aqui não é de agora, desde 2002, está certo. Os regionais estão
ligados com a sede. Daqui para Aracaju infelizmente eu não tenho. Mas daqui para Brasília,
163
daqui para Rio, São Paulo, para Brasília eu tenho que digitar sete números, para São Paulo eu
tenho que digitar 12, mais vai direto, pela plataforma nossa. O VoIP eu não sei, agora você
me acertou. Para SCM você precisa comprar uma licença de exploração de internet, certo. O
VoIP eu acho que precisa de uma licença também, não entra em leilão não. Acho que precisa
de uma licença.
27) Deve ser uma licença específica...
Resposta: Você tem uma licença, por exemplo, de rede transporte, você tem que migrar para
licença de SCM, Serviço de Comunicação Multimídia, e muita gente estava se amarrando
para o migrar. Nós começamos a lacrar uns provedores aí, e começou uma corrida enorme
para cá.
28) Com relação à Banda C a gente não teve comprador para ela, na época do SMP, isso ainda
se mantém?
Resposta: A Anatel não fechou as portas ainda para as comercializações, mas eu acredito
pessoalmente que de outra forma não vai sair não.
29) Mas falta de oferta?
Resposta: Falta de interesse.
30) E o que fez com que houvesse para Banda D e Banda E, qual foi a diferença?
Resposta: A faixa de freqüências.
31) Então na verdade havia uma indecisão por conta disso. A faixa de freqüências da Banda C
é que não houve interesse. Tanto quanto a Banda D quanto a E elas podem ser utilizados pelos
modelinhos que a gente tem de GSM por ai?
Resposta: Sim a GSM.
32) E a Vivo não entrou, então resolveu entrar agora ?
Resposta: A Vivo mudou a tecnologia deles, agora deram uma mudança e estão colocando
duas plataformas, GSM e CDMA, e aos poucos estão migrando.
33) Mas na época da SMP ela não entrou na licitação, não é?
164
Resposta: Ela já tinha autorização.
34) Ela já tinha autorização, mas ela não era SMP, não era concessão?
Resposta: Sim, mas o SMC automaticamente desapareceria, automaticamente se transformaria
em 2002 em autorização, então ela já tinha a linha de autorização e enquanto autorização ela
podia ficar do jeito que estava como prestadora, desde que não mudasse sua tecnologia.
35) Quer dizer, o SMP trouxe as freqüências do GSM para gente.
Resposta: A falta de interesse na Banda C foi a questão freqüência.
165
APÊNDICE I – PLANOS E SERVIÇOS DAS OPERADORAS ANALISADAS
Quadro 11 - Comparativo entre planos e serviços das operadoras Vivo, Tim, Claro e Oi
Operadora
Planos Pós-Pago
(características do pacote)
Planos Pré-
pago
Plano corporativo
Serviços de
transmissão de
dados
Bundle
Ofertas incluindo
DDD ?
Vivo
- Vivo Escolha (inclui pacote de
minutos, transferência de dados
e mensagens instantâneas);
- Vivo Completo (inclui pacote
de minutos, transferência de
dados e mensagens instantâ-
neas);
- Vivo econômico (pacote de
minutos)
- Vivo Escolha;
- Vivo Boa Ho-
ra;
- Vivo e Você;
- Empresa Equipe;
- Empresa Tempo;
- Empresa Zero;
- Novo profissional;
- Torpedo;
- WAP;
- ZAP 3G;
- Sons e ima-
gens;
- Jogos;
- para ligações
locais (variando
conforme o plano);
- para ligações DDD
(variando conforme
o plano)
- SIM, para
ligações utilizando
a Telefônica
(código 15) no
pós-pago e no pré-
pago, paga-se
tarifa local;
Tim
-
TIM Brasil (inclui p
a
cote de
minutos, transferência de dados
e mensagens instantâneas);
- TIM Família (inclui pacote de
minutos, transferência de dados
e mensagens instantâneas);
- TIM Conta fixa;
- TIM Light 40;
-
Meu Jeito;
- TIM +25;
- TIM +5;
-
Nosso Modo;
- Nosso Grupo
- Tarifa Zero;
- Tim Empresa Con-
trole;
- Tim Empresa Na-
cional;
- Tim Empresa Mais;
-
SMS;
- TIM WAP
FEST;
- TIM CON-
NECT FAST;
- TIM Blackber-
ry;
- Foto mensa-
gem;
- Vídeo mensa-
gem;
-
para ligações
locais (variando
conforme o plano);
- para ligações DDD
(variando conforme
o plano);
-
SIM, para
ligações utilizando
a TIM Celular
(código 41) no
pós-pago e no pré-
pago, paga-se
tarifa local;
(continua na página seguinte)
166
Operadora
Planos Pós-Pago
(características do pacote)
Planos Pré-
pago
Plano corporativo
Serviços de
transmissão de
dados
Bundle
Ofertas incluindo
DDD ?
-
Sons e i
m-
agens;
- Jogos;
Claro
- Plano Estilo (inclui pacote de
minutos, transferência de dados
e mensagens instantâneas);
- Plano Família (inclui pacote
de minutos, transferência de
dados e mensagens instantâ-
neas);
- Super Controle (inclui pacote
de minutos, transferência de
dados e mensagens instantâ-
neas);
- Toda Hora;
- Toda Noite;
- Plano Sob Medida;
- Plano Pronto;
- Plano de Dados
- Claro Torpedo;
-Claro Fotos;
- Claro Sons,
- Claro Imagens;
- Claro Notícias;
- Claro Dados;
- Claro Vídeo;
- para ligações lo-
cais (variando con-
forme o plano);
- para ligações DDD
(variando conforme
o plano);
Oi
-
Oi Conta (inclui pacote de
minutos);
- Oi Controle (inclui pacote de
minutos entre fixo e móvel);
- Oi Pra Mim (inclui pacote de
minutos);
- Oi Família (inclui pacote de
minutos);
- Oi Conta Total (inclui internet
fixa, telefone fixo-fixo ilimita-
do, pacote de minutos no móvel
e fixo incluindo ligação fixa e
móvel);
- Oi Premium;
- Oi Flex
-
Oi Cartão (i
n-
clui pacote de
minutos entre
fixo e móvel);
-
Oi Empresa
-
Planos separ
a-
dos dos planos
de voz;
- Oi Torpedo;
- Oi Sons;
- Oi imagens;
- Oi Jogos;
- Oi WAP;
-
para ligações l
o-
cais (variando con-
forme o plano);
- para ligações DDD
(variando conforme
o plano);
-
SIM, para lig
a-
ções utilizando a
OI Fixa (código
31, antiga Tele-
mar) no pós-pago
e no pré-pago,
paga-se tarifa
local;
Fonte: Oi (2006); Vivo (2007); Tim (2007b); Claro (2007).
Quadro 11 - Comparativo entre planos e serviços das operadoras Vivo, Tim, Claro e Oi
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