constituem-se como novos direitos o inaudito, o que nunca foi pensado ou imaginado e que
pode ser reivindicado e, submetido ao debate, ao julgamento e à deliberação coletiva, para
constituir-se em um novo direito.
Ora, se a criação de novos direitos e a instituição da autonomia implicam a
transformação das instituições sociais e a capacidade dos indivíduos de instituir outras formas
de relações sociais, é importante explicitar o sentido da criação do social-histórico. A
investigação sobre a criação do social-histórico será feita com base na abordagem de
Castoriadis
3
, sobre o imaginário social como fonte das significações sociais e criação
indeterminada e instituinte da realidade.
A esse respeito, Castoriadis (2000) esclarece:
O imaginário de que falo não é imagem de. É criação incessante e essencialmente
indeterminada (social-histórica e psíquica) de figuras/formas/imagens, a partir das
quais somente é possível falar-se de “alguma coisa”. Aquilo que denominamos
“realidade” e “racionalidade” são seus produtos (p. 13).
3
Cornelius Castoriadis (1922-1997) foi filósofo, compositor e pianista, pensador e militante político, crítico
social e psicanalista. Nasceu em Atenas em 1922 onde cursou Direito, Economia e Filosofia, aos 15 anos aderiu
ao comunismo para, rapidamente, opor-se a ele e incorporar-se ao trotskismo ao qual posteriormente, também
passou a se opor. Perseguido tanto pelos fascistas como pelos comunistas, foi para a França em 1945 e fundou
com Claude Lefort, a revista e grupo revolucionários Socialismo ou Barbárie (1948-1967) que dirigiu até sua
dissolução. Para escapar da deportação, pois viveu ilegalmente em Paris até o ano de 1970, escreveu sob
pseudônimos diversos, como Pierre Chalieu e Paul Cardan. Na revista Socialismo ou Barbárie, desenvolveu uma
critica radical ao stalinismo, ao dogmatismo e a todo pensamento totalitário, baseado na idéia da autogestão
operária ou autogoverno dos trabalhadores e exerceu grande influencia sobre movimento estudantil de Paris que
culminou com a rebelião estudantil de maio de 1968. Apesar da formação marxista, foi um crítico implacável das
teorias de Karl Marx e do stalinismo burocrático da antiga União Soviética. Distanciou-se do marxismo e se
voltou, em meados dos anos 1960, para o estudo da filosofia tradicional e para a psicanálise, interessando-se pela
obra de Freud, que resultou na publicação de A instituição imaginária da sociedade (2000) em que expõe o
essencial de seu pensamento sobre a sociedade, a psique e as análises da impossibilidade da continuidade do
marxismo como uma teoria revolucionária. Para dar consistência ao projeto de transformação das relações de
dominação e exploração econômica e social Castoriadis retomou o pensamento político e filosófico clássico e
incorporou ao seu pensamento a psicanálise e a imaginação. “É antes a anulação de toda distância que a ruptura
com o discurso da obra supõe” afirma Lefort (apud Vidal-Naquet, 2002, p. 55), e se a continuidade da
perspectiva revolucionária resultou na ruptura com o marxismo, pressupõe, por isso mesmo, a aproximação do
projeto de Marx de superação das formas opressoras de instituição da sociedade. Até sua morte que ocorreu
recente (1997), aos 75 anos, Castoriadis escreveu sobre sociedade, política e psicanálise, e a imaginação foi sua
perspectiva que inspirou seu projeto de autonomia. Seus livros foram traduzidos para diversas línguas e dentre os
de maior destaque traduzidos para o português estão: A instituição imaginária da sociedade, Os destinos do
totalitarismo, As encruzilhadas do labirinto, dividida em seis volumes: As encruzilhadas do labirinto v. 1, Os
domínios do homem v. 2, O mundo fragmentado v. 3, A ascensão da insignificância v. 4, Feito e a ser feito v. 5 e
Figuras do pensável v. 6, Sobre o político de Platão, Diante da Guerra, e A criação histórica, e Experiência do
movimento operário. Há obras em espanhol, em que Castoriadis utiliza o pseudônimo de Paul Cardan:
Capitalismo moderno e revolución, Los consejos obreros y la economiía en una sociedad autogestionaria. Como
Cornelius Castoriadis há as traduções: La soiedad burocrática vol. I e II, La experiência del movimento obrero
vol. I e II, Reflexiones sobre el desarrollo y la racionalidad, De la ecología, La exigência revolucionária, La
insignificancia y la imaginção. Há ainda um livro sobre Cornelius Castoriadis, Castoriadis (1922-1997), escrito
por Juan Manuel Vera. Castoriadis foi economista da Organização para Cooperação e Desenvolvimento
econômico (OCDE de 1948-1970) e psicanalista (1973-1997). (AGORA Internacional Websit, MAGMA).