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UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA "JULIO DE MESQUITA FILHO"
FACULDADE DE HISTÓRIA, DIREITO E SERVIÇO SOCIAL
FABIANA ALEXANDRE FERREIRA NICOLINI
ESTRATÉGIAS DE SOBREVIVÊNCIA E RENDA DOS CORTADORES
DE CANA DE BARRINHA / SP DIANTE DO CRESCENTE
PROCESSO DE MECANIZAÇÃO DO CORTE
FRANCA
2007
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FABIANA ALEXANDRE FERREIRA NICOLINI
ESTRATÉGIAS DE SOBREVIVÊNCIA E RENDA DOS CORTADORES
DE CANA DE BARRINHA / SP DIANTE DO CRESCENTE
PROCESSO DE MECANIZAÇÃO DO CORTE
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-
Graduação em Serviço Social da Faculdade de
História, Direito e Serviço Social, da Universidade
Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, para
obtenção de título de Mestre em Serviço Social. Área
de Concentração: Trabalho e Sociedade.
Orientador: PROF. DR. UBALDO SILVEIRA.
FRANCA
2007
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Nicolini, Fabiana Alexandre Ferreira
Estratégias de sobrevivência e renda dos cortadores de cana
de Barrinha/SP diante do crescente processo de mecanização do
corte / Fabiana Alexandre Ferreira Nicolini. –Franca: UNESP.
2007.
Dissertação – Mestrado – Serviço Social – Faculdade de
História, Direito e Serviço Social – UNESP.
1.Agricultura – Aspectos sociais. 2.Agricultura – Moder-
nização – Brasil. 3.Desemprego. 4.Trabalhadores rurais.
CDD – 333.00981
FABIANA ALEXANDRE FERREIRA NICOLINI
ESTRATÉGIAS DE SOBREVIVÊNCIA E RENDA DOS CORTADORES
DE CANA DE BARRINHA / SP DIANTE DO CRESCENTE
PROCESSO DE MECANIZAÇÃO DO CORTE
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Serviço Social da
Faculdade de História, Direito e Serviço Social, da Universidade Estadual
Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, para obtenção de título de Mestre em
Serviço Social. Área de Concentração: Trabalho e Sociedade.
BANCA EXAMINADORA
Presidente: _________________________________________________________
Prof. Dr. Ubaldo Silveira – FHDSS/UNESP
1º Examinador(a):____________________________________________________
Profa. Dra. Helen Barbosa Raiz Engler
2º Examinador(a):____________________________________________________
Prof. Dr. Sebastião Geraldo
Franca, ______ de ___________________ de 2007.
Aos meus pais, às minhas filhas, ao meu esposo e
demais familiares, ao meu orientador e outros
educadores, aos amigos, conhecidos, profissionais,
enfim, todos aqueles que em algum momento
colaboraram com o conteúdo do meu trabalho, me
ajudaram em outras tarefas para que eu pudesse
me dedicar à pesquisa, me ouviram e apoiaram nos
momentos de dúvidas e angústias, perdoaram os
meus atrasos e a minha ausência.
AGRADECIMENTOS
Eu não poderia citar nomes.
Se por um lado, citando nomes poderia omitir alguém, por outro, esta página
não caberia o nome de todos aqueles que me apoiaram e por quem eu sinto
profunda gratidão, talvez nem duas páginas, nem três...
São os mesmos indivíduos a quem eu dedico este trabalho e então, limito-me
a repetir, agora agradecendo:
Eu agradeço aos meus pais, às minhas filhas, ao meu esposo e demais
familiares, ao meu orientador e outros educadores, aos amigos, conhecidos,
profissionais, enfim, todos aqueles que em algum momento colaboraram com o
conteúdo do meu trabalho, me ajudaram em outras tarefas para que eu pudesse me
dedicar à pesquisa, me ouviram e apoiaram nos momentos de dúvidas e angústias,
perdoaram os meus atrasos e a minha ausência.
“Queria que você visse ontem a porta da prefeitura.
Tinha mais de trezentas pessoas querendo falar
com o prefeito, a maioria queria remédio, queria
emprego, queria comida. Tinha uma pessoa
chorando por causa de um botijão de gás”.
Pedro
RESUMO
Este trabalho apresenta algumas constatações sobre a vida e as perspectivas dos
trabalhadores rurais ligados ao corte da cana e moradores da cidade de Barrinha, na
região de Ribeirão Preto / SP, que nas últimas décadas vivenciam todo o processo
de mecanização das lavouras na região, principalmente a recente e crescente
mecanização do corte da cana que vem substituindo a mão-de-obra de milhares
destes profissionais. O trabalho enfoca as estratégias de sobrevivência e renda dos
cortadores de cana do município, compreendidos como exemplo de atores sociais
dessa nova postura do setor sucroalcooleiro e que personificam os aspectos
históricos e estruturais da questão agrária que remetem ao período da colonização,
permitindo que esta discussão seja apreciada sob diversas perspectivas
relacionadas entre si, seja a questão agrária, a relação entre rural e urbano, a
relação entre a tecnologia e o desemprego, entre outras. A pesquisa também aponta
os aspectos econômicos, ambientais e políticos que incentivam este processo de
modernização do setor sucroalcooleiro e a aparente ausência de preocupação com
a categoria e ações que possibilitem a superação dessa questão social. Além da
possibilidade de ampliar a compreensão da realidade social desta categoria de
trabalhadores e de uma maior sensibilização acerca da questão da substituição da
mão-de-obra pela tecnologia nas lavouras de cana, este estudo oferece subsídios
teórico-metodológicos e técnicos que possam viabilizar intervenções na problemática
das condições precárias de vida e trabalho identificadas, além do intercâmbio e
difusão de informações úteis sobre esta temática que pode abranger outras
localidades em nosso país.
Palavras-chave: serviço social – desemprego; cortador de cana; mecanização do
corte da cana; Barrinha (SP).
ABSTRACCIÓN
Este trabajo presenta algunas constataciones sobre la vida de las perspectivas de
los trabajadores rurales unidos al corte de caña-de-azúcar de la ciudad de Barrinha,
en la región de Ribeirao Preto/SP, que en las últimas décadas vivencian todo el
proceso de mecanización de las labras en la región, principalmente al reciente y
creciente mecanización del corte de la caña que ven sustituyendo la mano-de-obra
de millares de estos profesionales. El trabajo enfoca las estrategias de sobre
vivencia y la renda de los cortadores de caña de municipio, comprendido como por
ejemplo de atores sociales de esa nueva postura del sector sucro alcoholero y que
personifican los aspectos históricos y estructurales de la cuestión agraria que remite
al período de colonización, permitiendo que esta discusión sea apreciada bajo las
diversas perspectivas relacionadas entre si, sea la cuestión agraria, la relación entre
rurales y urbanos, la relación entre la tecnología y el desempleo, entre otras. La
pesquisa también apunta los aspectos económicos, ambientales y políticos que
incentivan este proceso de modernización del sector sucro alcoholero y la aparente
ausencia de preocupación con la categoría y acciones que posibiliten la superación
de esa cuestión social. Además de la posibilidad de ampliar la comprensión de la
realidad social de esta categoría de trabajadores y de una mayor sensibilización
acerca de la sustitución de la mano-de-obra por la tecnología en las labras de caña,
este estudio ofrece subsidios teórico-metodológicos y cnicos que puedan viabilizar
intervenciones en la problemática de las condiciones precarias de la vida y trabajo
identificadas, además del intercambio y difusión de informaciones útiles sobre esta
temática que puede abarcar otras localidades en nuestro país.
Palabras llaves: Servicio Social – Desempleo; Cortador de Caña; Mecanización del
Corte de la Caña; Barrinha (SP).
LISTA DE SIGLAS
BNDES – Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social
CLT – Consolidação das Leis do Trabalho
CONTAG – Confederação dos Trabalhadores da Agricultura
DIRA – Divisão Regional Agrícola
EPTV – Emissoras Pioneiras de Televisão
ESALQ – Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”
EUA – Estados Unidos da América
FERAESP – Federação dos Assalariados Rurais do Estado de São Paulo
IAA – Instituto do Açúcar e do Álcool
IBRA – Instituto Brasileiro da Reforma
IEA – Instituto de Economia Agrícola
IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
INCRA – Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária
OIT – Organização Internacional do Trabalho
PIB – Produto Interno Bruto
PNAD – Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios
PROÁLCOOL – Programa Brasileiro de Álcool
SENAC – Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial
SENAI – Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial
SENAR – Serviço Nacional de Aprendizagem Rural
SUPRA – Superintendência da Reforma Agrária
T / HA – Toneladas por hectare
TRF – Tribunal Regional Federal
UNICA – União da Indústria de Cana-de-Açúcar
USP – Universidade de São Paulo
LISTA DE GRÁFICOS
GRÁFICO 1 – Imóveis Rurais no Brasil em 1992..................................................23
GRÁFICO 2 – Empregados na Cultura da Cana-de-Açúcar no Brasil em 2004..37
GRÁFICO 3 – Trabalhadores Rurais no Setor Sucroalcooleiro entre
1981 e 2004........................................................................................44
GRÁFICO 4 – Cana Colhida por Máquina em 2007...............................................46
GRÁFICO 5 – Trabalhadores Volantes ..................................................................51
LISTA DE TABELAS
TABELA 1 – Quantificação das atividades necessárias para o corte manual
de 12 toneladas de cana....................................................................29
TABELA 2 – Empregados na Cultura da Cana-de-Açúcar no Brasil em 2004....36
TABELA 3 – Índices Reais de Preços de Salários, Cana, Açúcar e Álcool
no Estado de São Paulo, 1976-97 ....................................................47
TABELA 4 – Representatividade Econômica do Setor Sucroalcooleiro ............58
LISTA DE MAPAS
MAPA 1 – Mapa de ocupação do solo paulista com cana-de-açúcar e a
textura da camada arável.....................................................................34
MAPA 2 – Qualificação do ambiente de produção para áreas de expansão
da cultura da cana-de-açúcar no Estado de São Paulo ....................35
MAPA 3 – A cidade de Barrinha na região de Ribeirão Preto ............................52
LISTA DE PINTURAS
PINTURA 1 – Engenho de açúcar - nordeste (século XVII)..................................38
PINTURA 2 – Transporte da cana para a casa da moenda de um engenho.......40
PINTURA 3 – Carregamento manual de cana .......................................................41
PINTURA 4 – Corte manual de cana......................................................................42
LISTA DE FOTOS
FOTO 1 – Caminhão para transporte de cana.......................................................40
FOTO 2 – Carregadeira de cana.............................................................................41
FOTO 3 – Colheitadeira de cana-de-açúcar ..........................................................42
FOTO 4 – Lei estabelece fim das queimadas de cana .........................................45
FOTO 5 – Vista aérea da cidade de Barrinha........................................................56
FOTO 6 – Trabalhadores da construção civil realizam mobilização por falta de
pagamento por serviços de reforma no hospital de Barrinha...........65
FOTO 7– Depósito de lixo em Barrinha ao lado da vicinal Said Ahmed Saleh..70
LISTA DE DESENHO
DESENHO 1 – Brasão de Armas do Município de Barrinha..................................54
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO..........................................................................................................17
CAPÍTULO 1
A QUESTÃO AGRÁRIA A PARTIR DO PROCESSO DE MODERNIZAÇÃO
DA AGRICULTURA EM MEADOS DO SÉCULO PASSADO..................................21
1.1 Trabalhadores rurais ligados ao cultivo e corte da cana...............................27
1.1.1 Características residuais e contemporâneas da profissão...............................28
CAPÍTULO 2
AMBIENTE MACRO E MICRO ECONÔMICO .........................................................33
2.1 O setor sucroalcooleiro e a mecanização nas lavouras de cana..................36
2.1.1 A cultura da cana-de-açúcar no Brasil .............................................................37
2.1.2 A modernização das lavouras de cana-de-açúcar ...........................................39
2.2 A região de Ribeirão Preto e a cidade de Barrinha – SP................................49
2.2.1 A região de Ribeirão Preto ...............................................................................49
2.2.2 A cidade de Barrinha........................................................................................51
CAPÍTULO 3
DISCURSOS E HISTÓRIAS DE VIDA......................................................................60
3.1 Práticas cotidianas............................................................................................61
3.2 Estratégias de sobrevivência e renda .............................................................64
3.3 Conseqüências..................................................................................................75
3.4 Percepções........................................................................................................80
3.4.1 Sentimento de ser ignorado .............................................................................80
3.4.2 Sentimento de ser humilhado...........................................................................80
3.4.3 Sentimento de ser preterido.............................................................................81
CONSIDERAÇÕES FINAIS......................................................................................82
REFERÊNCIAS.........................................................................................................88
APÊNDICES
APÊNDICE A - SUJEITOS ENTREVISTADOS........................................................96
APÊNDICE B - TERMO DE CONSENTIMENTO......................................................97
ANEXOS
ANEXO A - A CIDADE DE BARRINHA SP..............................................................99
ANEXO B - LEI ESTADUAL Nº 11.241, DE 19 DE SETEMBRO DE 2002............108
O tema deste trabalho pode ser apreciado sob diversas perspectivas que
estão relacionadas entre si, seja a questão agrária, a relação entre o rural e o
urbano, a relação entre os avanços da tecnologia e o desemprego, as
conseqüências de medidas de proteção ao meio ambiente, entre outras.
Todas essas perspectivas inserem-se na discussão em torno das
conseqüências do desenvolvimento econômico e tecnológico, aliadas aos incentivos
e leis de preservação ambiental, cuja concretização nas lavouras de cana tem
resultado na progressiva substituição da mão-de-obra do trabalhador rural pela
máquina em todo o Brasil e, inclusive, na região de Ribeirão Preto / SP, onde o
processo de mecanização nos canaviais está mais avançado.
A constatação desta realidade aliada ao convívio e a preocupação com os
indivíduos ligados à profissão foram os motivos que nos levaram a pesquisar as
estratégias de sobrevivência e renda dos trabalhadores rurais da cidade de Barrinha
40 km de Ribeirão Preto. Entendemos que estes indivíduos podem ser
compreendidos como atores sociais dessa nova postura econômica e ambiental do
setor sucroalcooleiro, além de personificarem os aspectos históricos e estruturais da
questão agrária que remetem ao período da colonização.
Com o principal objetivo descrito acima e que tornamos a mencionar, que é
identificar as estragias de sobrevincia e renda utilizadas pelos trabalhadores
rurais da cidade de Barrinha, bem como investigar suas aspirações, perspectivas
e reais necessidades, relacionando as estragias utilizadas e propondo outras,
privilegiando àquelas que envolvem uma participação responsável de toda a
sociedade é que este trabalho baseia-se no método de estudo de caso de cater
explorario, já que temos a intenção de conceberidéias que sejam úteis, críticas
e norteadoras de novas atitudes em relão ao mundo(DINIZ, 1999, p. 50).
Apoiados em referências teóricas
1
e no conhecimento do processo histórico
da categoria, este estudo de caso envolveu a realização de uma análise da trajetória
pessoal de alguns cortadores de cana de Barrinha e de outros atores sociais
envolvidos no processo, conscientes de que este método de pesquisa é utilizado
“quando se deseja analisar situações concretas, nas suas particularidades” sendo
seu uso “adequado para investigar tanto a vida de uma pessoa quanto a existência
1
Para a realização deste estudo, além da pesquisa bibliográfica com livros e artigos de autores
clássicos, também tomamos como referência textos publicados em jornais, revistas e na Internet,
dada a nossa intenção de compilar dados, os mais atualizados possíveis.
de uma entidade de ação coletiva, nos seus aspectos sociais e culturais” (DINIZ,
1999, p. 46).
Com relação à amostragem, considerando que a cidade de Barrinha chega a
acolher concomitantemente milhares de trabalhadores rurais para o corte da cana
para usinas da região e que seria difícil obter informações de todos os membros,
adotamos a concepção de sujeito coletivo, citada por MARTINELLI (1999, p. 24),
realizando um número finito de entrevistas
2
, onde os indivíduos abordados tinham
uma referência grupal e expressaram de forma típica o conjunto de vivências de seu
grupo, acreditando que “o importante, nesse contexto, não é o número de pessoas
que vai prestar a informação, mas o significado que esses sujeitos têm, em função
do que estamos buscando com a pesquisa” (MARTINELLI, 1999, p. 24).
Como recurso instrumental, utilizamos um gravador digital que nos permitiu
registrar os depoimentos na íntegra para depois transcrevê-los, sendo que para uma
melhor interpretação da fala, excluímos vícios de repetição
3
e transcrevemos
corretamente ampliadas as palavras pronunciadas de forma abreviada
4
, mas sem
alterar o conteúdo dos depoimentos.
Para estabelecer os eixos de análise, trabalhamos três pontos que julgamos
essenciais para a construção do conhecimento proposto: a questão agrária, o
ambiente macro e micro econômico e os discursos e histórias de vida.
No primeiro eixo fizemos um breve relato da questão agrária no país,
enfatizando o processo de modernização da agricultura ocorrido em meados do
século passado. Neste capítulo relatamos a mobilidade forçada do trabalhador rural
do campo para as cidades e questionamos a modernidade do trabalho assalariado.
Também tratamos sobre a predominância do setor sucroalcooleiro na agricultura do
estado de São Paulo e, principalmente na região de Ribeirão Preto, bem como sua
importância econômica para estas regiões onde pudemos abordar o trabalho manual
nas lavouras de cana-de-açúcar uma atividade em extinção que, por um lado
revela-se um modo de trabalho arcaico e por outro, uma atividade que emprega
milhares de pessoas em todo o país.
2
A relação dos sujeitos entrevistados com o apontamento de algumas características de seus perfis
encontra-se na sessão de Apêndices. Para preservar a identidade dos sujeitos e seus respectivos
empregadores, o nome real destes indivíduos e das empresas foi substituído por nomes fictícios em
todo o trabalho. Também se encontra nesta sessão, o modelo do “Termo de Consentimento” onde o
entrevistado confirma ciência quantos aos objetivos do depoimento e nosso compromisso de
preservação de identidade.
3
“Né”, então, entre outras.
4
Substituímos “tô” por estou, “tá” por está, entre outras.
No segundo eixo, analisamos o ambiente macro e micro econômico em que
se efetiva nossa preocupação de pesquisa: as estratégias de sobrevivência e renda
dos cortadores de cana da cidade de Barrinha, na região de Ribeirão Preto SP.
Neste capítulo fazemos um breve relato histórico do setor sucroalcooleiro no país,
seus principais momentos e a repercussão que cada fase provocou nos atores
sociais direta e indiretamente envolvidos. Foi a oportunidade de explicarmos como
vem ocorrendo todo o processo de modernização nas lavouras de cana, bem como
seus motivos e implicações legais, econômicos e sociais. Apresentamos alguns
dados sobre a região de Ribeirão Preto que comprovam sua evidência e importância
dentro do setor sucroalcooleiro e tecemos alguns comentários sobre a popular
expressão “Califórnia Brasileira” atribuída à região e que envolve controvérsias.
Por fim, retratamos a cidade de Barrinha, alvo de nossa pesquisa,
relacionando suas principais características e também a de seus habitantes,
apresentando situações e contradições que juntas formam uma espécie de
referencial histórico da realidade vivenciada por seus moradores.
No terceiro eixo analisamos discursos e histórias de vida obtidos nas
entrevistas realizadas com os cortadores de cana e outros atores sociais da questão
em estudo. Nesta parte buscamos não nos limitar à leitura das transcrições, mas
também interpretar as palavras não ditas, os gestos, os olhares, as condições e as
práticas cotidianas durante as conversas e a convivência com os cortadores de cana
da cidade. À luz da bibliografia estudada, esta interpretação permitiu identificar
aspectos de suas representações sociais, de seu cotidiano, perspectivas,
esperanças e frustrações, estratégias de sobrevivência e renda, dados relevantes
para as finalidades e as questões desta pesquisa.
Finalmente, após analisarmos todos os eixos, elaboramos um relatório
conclusivo do trabalho. Aqui, fatos, deduções e propostas não tiveram a pretensão
de concluir a discussão sobre a questão, mas sim, apontar possíveis caminhos,
proporcionando reflexões que provoquem o interesse de toda a sociedade nessa
mesma busca por soluções.
CAPÍTULO 1
A QUESTÃO AGRÁRIA A PARTIR DO PROCESSO DE MODERNIZAÇÃO
DA AGRICULTURA EM MEADOS DO SÉCULO PASSADO
Dois temas pendentes da história brasileira continuam fortemente presentes
em nossas preocupações sociais e políticas: “O tema da escravidão e seu residual, o
da posse da terra. São temas inter-relacionados, relativos às duas grandes questões
nacionais”: a questão do trabalho livre e a questão agrária. (MARTINS, J. S., 2004,
p. 11). Ainda, segundo o autor, o camponês não é uma figura do passado, mas uma
figura do presente da história capitalista do país (MARTINS, J. S., 1981).
Assalariado e também urbano, o trabalhador rural geralmente é ou descende
de antigos agricultores, expulsos de suas pequenas propriedades rurais pelo
processo de modernização da agricultura que, segundo Oliveira (2001, p. 186) não
agiu no sentido de transformar os latifundiários em empresários capitalistas, mas, ao
contrário, “transformou os capitalistas industriais e urbanos [...] em proprietários de
terra, em latifundiários”. O autor menciona que a política de incentivos fiscais foram
os instrumentos de política econômica que viabilizaram esta fusão, transformando os
capitalistas urbanos nos maiores proprietários de terra do país “possuindo áreas com
dimensões nunca registradas na história da humanidade” e aponta dados divulgados
pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA), referentes a
1992, que mostram a existência de que 3.114.898 imóveis rurais no Brasil sendo
que 43.956 (2,4%) deles, com área acima de mil hectares, ocupando 165.756.665
hectares. Enquanto isso, outros 2.628.819 imóveis (84,4%) apresentavam área
inferior a 100 hectares, ocupando apenas 59.283.651 hectares (17,9%), dados
representados no GRÁFICO 1.
Oliveira (2001) afirma que alguns estudos realizados revelam que se o INCRA
aplicasse na totalidade os preceitos da Lei 8.624, que define o que é terra produtiva
e improdutiva no país, teríamos algo em torno de 115.054.000 hectares (20% da
área total) como propriedades improdutivas, dados que revelam a contradição
representada pela propriedade privada da terra no Brasil, retida para fins não-
produtivos.
Mas os conflitos sociais no campo brasileiro começaram bem antes, eles
estiveram presentes nos períodos de desenvolvimento e no processo de ocupação
do país. De acordo com Oliveira (2001, p. 190) “os povos indígenas foram os
primeiros a conhecer este processo”, sendo que mais de 500 anos, convivem
com conquistas e destruições de seus territórios.
Depois foram os escravos contra os senhores fazendeiros seguidos pelos
posseiros, outra parcela dos camponeses, que historicamente lutam pela terra e pela
liberdade no campo brasileiro, sendo responsáveis por grandes movimentos sociais
como Canudos, Contestado, Revoltas de Trombas e Formoso.
GRÁFICO 1 – Imóveis Rurais no Brasil em 1992
Fonte: OLIVEIRA, 2001, p. 186.
nas décadas de 50 e 60 do século passado vimos as Ligas Camponesas
agitarem o campo nordestino e ganharem projeção nacional. Constituíram um
movimento político organizado por trabalhadores rurais, entre 1955 e 1964, iniciado
no estado de Pernambuco, mas especificamente, no engenho Galiléia, em Vitória de
Santo Antão, uma propriedade de quinhentos hectares que congregava cerca de
140 famílias em regime de foro (pagavam ao proprietário da terra uma quantidade
fixa, em espécie, em troca do direito de cultivá-la). Setores conservadores, imprensa
e Assembléia denominaram o movimento de "liga", temerosos de que fosse uma
reedição de outras ligas ocorridas recentemente por influência do Partido Comunista
Brasileiro, então Partido Comunista do Brasil (PCB).
Foi nesta época que o governo de João Goulart criou a Confederação dos
Trabalhadores da Agricultura (CONTAG) e a Superintendência da Reforma Agrária
(SUPRA) que, segundo Oliveira (2001, p. 190), foram extintas pelo governo militar
instituído logo em seguida, cedendo lugar ao Instituto Brasileiro da Reforma Agrária
(IBRA), sendo que “Reforma Agrária, nunca fizeram, mesmo depois de promulgarem
o Estatuto da Terra, em novembro de 1964”.
Foi também então neste período, na segunda metade do século passado, que
o espaço agrário nacional vivenciou novas e profundas modificações
desencadeadas pelo processo de industrialização ou modernização da agricultura.
O ano de 1963 passou a ser um marco fundamental da penetração
sistemática das formas de produção capitalista na agricultura sob o amparo
estatal [...]. Mas o que houve foi a manutenção do sistema latifundiário e
sua modernização dolorosa, sem modernidade. Sem dúvida, não melhorou
a qualidade de vida do trabalhador rural, ao contrário, piorou. (SILVEIRA,
2003, p.14).
Esta modernização da agricultura brasileira se manifestou em diferente ordem
e intensidade em todo o território brasileiro. Foi um processo diferenciado e
excludente que, ao invés de homogeneizar o espaço econômico, aprofundou as
desigualdades existentes. A dinâmica agrária modernizadora na medida em que
contribuiu para acentuar os desníveis tecnológicos existentes entre os grandes e
pequenos estabelecimentos, agiu no sentido de deteriorar ainda mais a distribuição
de renda no setor agropecuário. Foi uma modernização que privilegiou mais às elites
que ao povo.
As medidas de política econômica adotadas após a instalação do governo
militar favoreceram a subordinação da atividade agrícola às exigências da
reprodução e acumulação do capital, destacando-se aquelas voltadas para a
consolidação do complexo agro-industrial e a criação de um sistema nacional de
crédito rural. Neste período, a intensificação do processo de urbanização ampliou
significativamente a demanda pelos produtos agrícolas.
Contudo, se de um lado essa modernização levada a efeito foi responsável
por uma grande expansão da produção de determinadas culturas industriais e de
exportação, tais como a pecuária, a soja e a cana-de-açúcar, por outro, ela trouxe
em seu bojo uma série de complicadores de ordem sócio-econômica como a
desapropriação dos pequenos produtores e sua transformação em assalariados; a
contração da área cultivada com culturas alimentares; a aceleração do processo de
concentração da propriedade da terra; a acentuação de diferenças na distribuição da
renda no setor agropecuário; a inconsciente utilização de fertilizantes e defensivos
agrícolas, que comprometeu a fertilidade dos solos e provocou desequilíbrio nos
ecossistemas existentes, efeitos nocivos à saúde dos trabalhadores e consumidores,
além da intensificação da sazonalidade da demanda de trabalho na atividade
agrícola.
A conjunção de fatores como a necessidade de terras para o cultivo, a
redução da demanda de mão-de-obra nas fases do plantio e dos tratos culturais e a
regulamentação das relações de trabalho pelos Estatutos da Terra e do Trabalhador
Rural
5
também contribuíram para a extinção progressiva do sistema de morada e a
sua substituição pelo trabalho assalariado, sobretudo, pelo temporário.
As metas estabelecidas pelo Estatuto da Terra compreendiam basicamente a
execução de uma reforma agrária e o desenvolvimento da agricultura. Ao longo dos
anos, pudemos constatar que, por inúmeros motivos, a primeira meta não foi
desenvolvida. a segunda, referente ao desenvolvimento da agricultura acabou
propiciando a expropriação do pequeno agricultor quando sua pequena propriedade
rural era incorporada pelas médias e grandes, uma trajetória que se deu de forma
violenta. À expropriação seguiu-se da expulsão do trabalhador das propriedades
rurais.
Além da dissimulação da violência, da legitimação do processo de
expropriação, essas leis produziram uma outra forma de coerção, interna,
atuante contra a vontade subjetiva, por intermédio da introjeção da situação
imposta. (SILVA, M. A. M., 1999, p. 59).
Tem-se, assim, uma mobilidade forçada da força-de-trabalho que se deslocou
para as periferias urbanas. Expulsos do campo, tais trabalhadores continuaram
atrelados à atividade agrícola na condição de assalariados temporários. Aos dias
atuais, as casas em que residem, não correspondem às suas necessidades
individuais ou coletivas, não oferecem um espaço de sociabilidade e conforto e em
muitos casos, a inexistência de saneamento básico favorece as doenças de
5
Aprovado em março de 1963, o Estatuto do Trabalhador Rural regulava as relações de trabalho no
campo, que até então ficavam às margens da legislação trabalhista. Já o Estatuto da Terra foi criado
em 1964, período em que acabava de ser instalado no país o regime militar. O texto deste estatuto
constituiu-se na primeira proposta articulada de reforma agrária, feita por um governo brasileiro,
sendo que sua criação teve ligação com o clima de insatisfação predominante no meio rural
brasileiro e ao temor do novo governo e da elite conservadora de uma revolução camponesa. Foi
uma estratégia utilizada para apaziguar os camponeses e tranqüilizar os grandes proprietários de
terra.
transmissão hídrica
6
, suas casas têm poucos quartos, os parentes costumam morar
junto e há muitas crianças. José, no depoimento a seguir, relata esta vivência:
Moro em casa própria. Tem quatro cômodos. Moramos em sete pessoas.
Minha esposa, dois filhos meus e três dela. Só eu trabalho (José).
Mas as pessoas continuam vindo para e às vezes elas alugam uma
casa e colocam tios, primos, todo mundo que vem junto com eles e
acaba virando um alojamento (Marcos).
Ao extinguir o acesso a terra e em conseqüência a produção de subsistência,
a sobrevivência do trabalhador e de sua família passou a depender exclusivamente
do salário ganho e aí se tem uma idéia de quanto difícil é garantir o sustento familiar.
Os salários percebidos, além de baixos são também irregulares, isto é, para a
grande maioria, não há um contrato de trabalho permanente, como relata João:
Todo mundo é contrato. Quando acaba a safra, pelo dia 15 ou 20 de
novembro, nós somos dispensados e pra fevereiro que começa a aparecer
serviço, que a gente vai conseguir trabalhar no plantio de cana (João).
A maioria tem pouco estudo e não aprendeu a fazer outra coisa além de
trabalhar na lavoura. Diante das novas condições, o trabalhador rural rompe com o
tempo natural e passa a ser regido pelo tempo do capital ou, pelo tempo que é valor.
Maria Aparecida Silva (1999) esclarece alguns aspectos dessa mudança para os
trabalhadores que encontraram na migração e corte da cana no estado de São
Paulo, um meio de sobrevivência:
O tempo cíclico marcado pelos momentos de plantar e colher e definidor do
tempo de trabalho foi substituído pelo tempo linear, capitalista das usinas e
fazendas do Estado de São Paulo. O tempo, agora, é compreendido pelo
tempo de migração forçada, especialmente a temporária, mediante a
permanência nas fazendas e usinas durante quase 9 meses ao ano. A vida
passa a existir em dois espaços-tempos, definida pela presença-ausência
(MARTINS, 1988a; FERREIRA, 1995; SILVA, 1991b apud SILVA, M. A. M.,
1999, p. 58).
6
Doenças transmitidas direta ou indiretamente pela água de qualidade, comuns em áreas onde
inexiste saneamento básico. A quantidade insuficiente de água também pode causar problemas.
Ao analisar a agroindústria açucareira, Ianni (1984 apud ALESSI; NAVARRO,
1997, p. 113), afirma que, na agricultura, processa-se a exploração combinada de
mais-valia absoluta com mais-valia relativa. Assim, Alessi e Navarro (1997)
concluem que sob o amparo das relações capitalistas de produção, o trabalho no
campo passa a ser marcado pela extensão da jornada de trabalho, pela
intensificação do seu ritmo, pelo pagamento por produção, pelo decréscimo real do
valor dos salários e também pelo descumprimento de direitos trabalhistas. Para eles,
a expansão do capitalismo na agricultura que provocou migrações expressivas do
campo para a cidade, alterou os padrões de morbi-mortalidade
7
da população do
país e as repercussões dessas transformações nas condições de existência social
dos trabalhadores rurais, particularmente nas condições de saúde, foram
extremamente graves.
Às suas condições de saúde já debilitadas acrescem-se novos padrões de
desgaste que se traduzem em envelhecimento precoce, morte prematura,
doenças cardiovasculares, degenerativas, mentais, entre outras (POSSAS,
1989; BARRETO; CARMO, 1994 apud ALESSI; NAVARRO, 1997, p. 114).
Representando a face moderna da luta pela terra, vemos no início da década
de 1980 o surgimento do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, o MST,
representando um aumento da pressão social pelos camponeses em sua luta pela
terra através da ocupação de terras consideradas improdutivas.
1.1 Trabalhadores rurais ligados ao cultivo e corte da cana
três décadas, Ianni (1976, p. 48) deduzia que o ia-fria era,
provavelmente, “o trabalhador mais característico das relações de produção
imperantes na agroindústria açucareira”. Pela representatividade da categoria na
época, concordamos com o autor. Porém, ao fazer a mesma análise na atualidade,
podemos afirmar que esse panorama mudou. Ao contrário daquele momento, hoje,
segundo -frias pelo fato de que, apesar representantes do setor sucroalcooleiro, as
novas usinas já nem contam com a mão-de-obra desse trabalhador.
7
Impacto das doenças e dos óbitos que incidem em uma população.
1.1.1 Características residuais e contemporâneas da profissão
Os trabalhadores rurais ligados ao cultivo e corte da cana também são
conhecidos como bóias-frias pelo fato de que, apesar de algumas usinas
fornecerem marmitas térmicas, o alimento que consomem em suas refeições no
trabalho estar frio, que foi preparado e trazido de casa, horas antes de iniciar
suas atividades na lavoura. Outras denominações para estes profissionais são
temporários, volantes, safristas, baianos e proletários rurais, sendo que eles m
de se esforçar cada vez mais para manter seus empregos e não ser devorados
pela tecnologia (TOLEDO, 2005, p. 1).
Toledo (2005) está se referindo aos cortadores de cana da região de Ribeirão
Preto, estimados em 40 mil trabalhadores que assistem aos aumentos anuais de
área plantada junto com a crescente mecanização, justificando que, por esse motivo,
os canavieiros
8
se sentem pressionados a trabalhar cada vez mais para manter seus
empregos, enquanto vivem em condições de alimentação insuficientes: uma
situação que se estende por todo o país.
Ianni, em 1976, dava indicações dessa realidade, sendo que hoje, o
cortador de cana também convive com a mecanização do corte, que não existia na
época:
A lavoura da cana vem tempos dispensando o trabalho do homem,
antes exigido em todas as suas etapas. Hoje, o preparo do solo já é
totalmente mecanizado; o plantio, parcialmente mecanizado, o mesmo
acontecendo com a adubação; a carpa do terreno, que era manual,
praticamente não existe, com a aplicação mecanizada de herbicidas logo
após o plantio (IANNI, 1976, p. 49).
Toledo (2005) aponta que na década de 90, essa região produzia 65 milhões
de toneladas de cana, chegando a 90 milhões na safra de 2004, chamando a
atenção para o fato de que, no mesmo período, os cortadores de cana passaram a
cortar, em média, 12 toneladas diárias de cana, contra oito toneladas colhidas na
década de 80. Esta quantidade também foi apontada por Francisco Alves (2006,
8
De acordo com a classificação de ocupações do Ministério do Trabalho e do Emprego, “canavieiro”
é uma das denominações para a ocupação de “agricultor na produção da cana-de-açúcar”. Entre
outras atividades, a ocupação envolve plantar e colher cana-de-açúcar, condicionar e fertilizar o
solo, manejar plantas invasoras, pragas e doenças. Aqui, usamos esta denominação para nos referir
ao trabalhador rural assalariado, que atua no corte da cana.
p. 96) quando afirmou que, para manter seu emprego e garantir o sustento, que o
ganho geralmente se por tarefa realizada, o trabalhador precisa cortar
diariamente cerca de 12 toneladas de cana e relaciona o esforço físico necessário
para atingir esta meta, demonstrado na TABELA 1.
TABELA 1 Quantificação das atividades necessárias para o corte manual de
12 toneladas de cana.
ATIVIDADE QUANTIDADE
Caminhar 8.800 metros
Despender 366.300 golpes de podão
9
Carregar 12 toneladas de cana em montes de 15 k em média cada
10
Fazer 36.630 flexões de perna para golpear a cana
Perder 8 litros de água por dia
Fonte: ALVES, 2006, p. 96.
Alessi e Navarro (1997) apontam outras peculiaridades da atividade:
O corte na base da cana, que consiste na retirada da cana das touceiras,
exige do trabalhador uma seqüência ritmada de movimentos corporais. Em
geral, com um dos braços, o trabalhador abraça o maior número possível
de colmos de cana. Em seguida, curva-se para frente e, com o podão
seguro por uma de suas mãos, golpeia, com um ou mais movimentos a
base dos colmos, o mais próximo possível do solo. Em seguida, faz um
movimento de rotação e, ao mesmo tempo, levanta o feixe de cana
cortada, depositando-o em montes atrás de si (denominados “bandeiras”).
O espaço entre uma “bandeira” e outra é de 2 metros. (ALESSI;
NAVARRO, 1997, p. 117, destaque das autoras).
Os autores acrescentam ainda que o trabalho envolve a exposição do
trabalhador a todo tipo de intempéries, como a poeira e à fuligem da cana queimada
que impregnam seu rosto, suas mãos e suas roupas, o risco de acidentes com
animais peçonhentos, intoxicações por agrotóxicos, entre outros. Relatam que o
9
Instrumento usado para o corte manual da cana
10
Para alcançar o total de 12 toneladas, em montes de 15 kg, o trabalhador precisa fazer 800 trajetos
que variam 1,5 a 3 metros, carregando estes montes (ALVES, Francisco, 2006, p. 96).
trabalhador pode encontrar temperaturas elevadas ao chegar ainda cedo no
canavial, pois a queima da cana geralmente ocorre antes do corte, aquecendo a
terra e, algumas vezes, conservando esse calor até o início da jornada, um calor que
se intensifica no decorrer do dia pela ação solar, lembrando que, no caso da região
de Ribeirão Preto, a temperatura em épocas de safra pode atingir os 40ºC.
Considerando aspectos da saúde desse trabalhador, Alessi e Navarro (1997,
p. 117) concluíram em sua pesquisa que ao longo de sua jornada, o cortador de
cana preocupa-se em repor as energias ao seu organismo com água, café e também
chupando cana. “A prática de chupar cana se, por um lado, repõe a água e sais
minerais perdidos pelo organismo, por outro, costuma provocar diarréias, devido ao
seu alto teor de sacarose”.
Com referência às relações contratuais, na região de Ribeirão Preto ocorrem
basicamente dois tipos de contrato, o estabelecido diretamente entre o trabalhador e
a usina ou destilaria e o intermediado por empreiteiros de mão-de-obra os
antigos “gatos”, que hoje se estabeleceram juridicamente, na forma de empresas
prestadoras de serviços de trabalhos temporários.
Uma outra característica marcante da atividade é a sazonalidade. Ianni em
1976 relatava uma realidade vivenciada até os dias atuais: “devido às condições
sazonais em que se desenvolve o processo produtivo na agroindústria açucareira, a
força-de-trabalho não é empregada de forma permanente nas usinas e canaviais”,
explicando que nesse setor, “a demanda de força de trabalho é razoavelmente
elástica” (IANNI, 1976, p. 48) e concluindo que:
Quanto mais se desenvolvem essas relações de produção, em termos de
tecnologia, divisão social do trabalho, formalização das condições de oferta
e demanda de trabalhadores, extensão da legislação trabalhista e
previdenciária no campo etc., quanto mais se desenvolvem essas relações,
mais se exige que a oferta e a demanda de força de trabalho seja elástica
(IANNI, 1976, p. 48).
O autor também descreve as atividades no canavial, nos períodos de
entressafra e de safra:
Preparo da terra para plantio, plantio, carpa, conservação dos caminhos,
abertura ou limpeza de valas, córregos, riachos, rios, limpeza e
conservação de pátios e quintais. Na safra, no entanto, todos são
chamados para as fainas da queima das folhagens dos canaviais, o corte
da cana, carregamento da cana cortada e seu transporte para as esteiras
da usina. Nesta época, na safra, aumenta bastante a demanda de força de
trabalho no canavial (IANNI, 1976, p. 48).
Acrescentando informações, Balsadi (2007), compara trabalhadores rurais e
urbanos, temporários e permanentes em seu estudo sobre o mercado de trabalho
assalariado na cultura da cana-de-açúcar no Brasil entre 1992 e 2004. O autor
constatou que para os empregados permanentes urbanos, o progresso foi muito
influenciado pelo desempenho dos indicadores de formalidade e de rendimento. Na
questão da formalidade, chama a atenção o elevadíssimo percentual de
empregados com carteira assinada e com contribuição previdenciária: 93,0% e
93,4%, respectivamente, em 2004.
Para ele, a cultura da cana-de-açúcar é uma das atividades da agricultura
brasileira com maior nível de formalidade do emprego, seja empregado permanente
ou temporário, urbano ou rural. Quanto aos empregados que recebiam mais de um
salário mínimo, houve um aumento de 57,6% em 1992, para 69,6% em 2004, sendo
que o rendimento médio mensal também aumentou 14,8%.
O autor também destaca os auxílios recebidos. Ele observou um aumento de
participação nos auxílios alimentação, transporte e saúde e, mesmo com um
progresso menor, pode-se notar que melhorou o nível educacional dos empregados,
principalmente dos alfabetizados e dos com oito anos ou mais de estudo.
Balsadi (2007) conclui que os avanços observados para os temporários rurais
foram muito influenciados pelo progresso verificado no grau de formalidade do
emprego, que reduziu a utilização do trabalho infantil, aumentou o número de
empregados com carteira assinada e o número de contribuintes para a Previdência
Social.
Para encerrar este capítulo transcrevemos as palavras de Alessi e Navarro
(1997 p. 116): “É impossível negar o quanto o trabalho do cortador de cana é árduo”,
sendo que aqui, entendemos o adjetivo “árduo” como algo que transcende a
referência ao esforço físico que a atividade exige. A palavra representa também
todas as agruras desta categoria que convive com pouca remuneração pelos seus
serviços, com a insegurança diante da ameaça do desemprego, com a peculiaridade
de demanda sazonal, com a situação de marginalidade.
No capítulo a seguir, analisamos o ambiente macro e micro econômico em
que se efetiva esta pesquisa, apresentamos alguns dados sobre a região de
Ribeirão Preto e a cidade de Barrinha, fazemos um breve relato histórico do setor
sucroalcooleiro no país, seus principais momentos e a repercussão que cada fase
provocou na categoria de cortadores de cana, além de relatar a forma como vem
ocorrendo todo o processo de modernização nas lavouras de cana, seus motivos,
implicações legais, econômicos e sociais.
CAPÍTULO 2
AMBIENTE MACRO E MICRO ECONÔMICO
O Brasil é o maior produtor mundial de cana-de-açúcar e esta cultura é uma
das que mais gera riqueza no País. O setor sucroalcooleiro é responsável pela
movimentação de aproximadamente “R$ 40 bilhões por ano, o equivalente a 2,35%
do Produto Interno Bruto (PIB) nacional” (AZEVEDO, 2006, apud RAMÃO;
SCHNEIDER; SHIKIDA, 2007, p. 110).
Veiga Filho ([2007], on-line) confirma esta representatividade do setor,
justificando sua importância para a economia agrícola brasileira, principalmente para
o estado de São Paulo, onde seus movimentos causam impactos de significância na
geração de renda bruta, no emprego rural e no nível tecnológico:
O Brasil é o maior produtor mundial de cana-de-açúcar com 27% da
produção e 25% da área colhida, sendo também o maior produtor de
açúcar centrifugado, produzindo 13,0 milhões de toneladas em 1995/96,
cerca de 11% da produção mundial, além de ser o maior exportador,
colocando no mercado externo 5,0 milhões de toneladas de açúcar
(SUGAR AND SWEETENER, 1996 apud VEIGA FILHO, [2007], on-line).
MAPA 1 – Mapa de ocupação do solo paulista com cana-de-açúcar e a
textura da camada arável.
Fonte: PRADO, 2007, on-line.
Neste estado, a cana-de-açúcar é a atividade mais importante na demanda
pela força de trabalho da agricultura, sendo que em 1993 ocupava 40,6% do total e
em 1996, quase 50% (MAPAS 1 e 2).
MAPA 2 – Qualificação do ambiente de produção para áreas de expansão
da cultura da cana-de-açúcar no Estado de São Paulo.
Fonte: BRUNINI, 2007, on-line.
De acordo com Veiga Filho ([2007], on-line), da área colhida no Brasil no
início da década passada – cerca de 4,4 milhões de hectares, metade estava
localizada no Estado de São Paulo que produziu 59% da cana-de-açúcar, uma
produtividade física de 80t/ha a mais alta do país. Assim, o autor chama a atenção
para a grande dependência na geração de emprego focada nas condições de
desenvolvimento de praticamente uma atividade que:
Além das influências das condições gerais da economia derivadas do
processo de desregulamentação a que está submetida e do mercado
externo, passa por um aprofundamento em seu processo de transformação
tecnológica, com reflexos reducionistas na utilização de mão-de-obra
(VEIGA FILHO, [2007], on-line).
A cana-de-açúcar é cultivada em todo o estado de São Paulo, contudo, ocorre
uma preponderância na Divisão Regional Agrícola (DIRA) de Campinas e de Ribeirão
Preto, que juntas são responsáveis por 60% da área total e da produção total.
2.1 O setor sucroalcooleiro e a mecanização nas lavouras de cana
Segundo Balsadi (2007), a cultura da cana-de-úcar é a terceira mais
importante na agricultura brasileira em termos de área colhida, ficando atrás somente
da soja e do milho. Ramão, Schneider e Shikida (2007, p. 111) afirmam que:
De acordo com a Avaliação da Safra Agrícola de Cana-de-Açúcar
2006/2007 (MAPA, 2006), a produção brasileira de cana na safra
2006/2007 deverá ser de 471,17 milhões de toneladas, superando em
9,2% a safra anterior. Esse aumento será decorrente de um acréscimo de
5,5% na área plantada e de 3,5% na produtividade média, resultantes de
investimentos em tecnologias e da implantação de novas usinas, atraídas
pelos bons preços dos produtos derivados da cana no mercado.
em termos de valor bruto da produção agrícola, essa cultura salta para o
segundo lugar. Balsadi (2007) aponta dados da Pesquisa Nacional por Amostra de
Domicílios (PNAD), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE),
realizada em 2004, que captou um contingente de 251.480 empregados
permanentes e de 241.682 empregados temporários ocupados na cultura da cana-
de-açúcar no Brasil, totalizando 493.162 trabalhadores no mercado de trabalho
assalariado nessa atividade (TABELA 2 GRÁFICO 2). Ele ainda acrescenta que,
quando se observam diferenças regionais, o sudeste é a maior região produtora, em
termos de participação na área total colhida.
TABELA 2 – Empregados na Cultura da Cana-de-Açúcar no Brasil em 2004
EMPREGADOS NA CULTURA DA CANA-DE-AÇÚCAR QUANTIDADE
Empregados Permanentes 251.480
Empregados Temporários 241.682
Total 493.162
Fonte: BALSADI, 2007, p. 80.
GRÁFICO 2 – Empregados na cultura de cana-de-açúcar no Brasil em 2004
Fonte: BALSADI, 2007, p. 80.
Os autores (RAMÃO; SCHNEIDER; SHIKIDA, 2007), definem a agroindústria
canavieira como o conjunto composto pelo segmento agrícola produtor de cana-de-
açúcar e pelo segmento industrial processador dessa matéria-prima.
Mas antes de continuar, acreditamos ser importante fazer um breve relato da
história desta agroindústria no país.
2.1.1 A cultura da cana-de-açúcar no Brasil
A cultura da cana-de-açúcar era importante durante o período de
colonização no Brasil. Nas primeiras décadas após o seu descobrimento,
referências de que se cultivava a cana e produzia açúcar no sudeste e nordeste
brasileiro.
Assim, dois centros se destacaram como pioneiros na produção de açúcar no
Brasil Colonial. Um deles, a região de São Vicente SP e o outro, a Capitania de
Pernambuco, motivada pela situação geográfica de localização mais próxima da
Europa (PINTURA 1).
A história registra progressos desta indústria em todos os períodos, sendo
que no final do século XIX, época da abolição da escravatura, os recursos
financeiros que antes eram destinados à compra e manutenção de escravos
passaram a ser utilizados pelos engenhos para a incorporação das mais importantes
inovações da indústria do açúcar existentes na época. Foi nesse período que
surgiram os chamados "Engenhos Centrais", caracterizando uma nova etapa da
indústria açucareira brasileira e que foram precursores das atuais usinas.
PINTURA 1 – Engenho de açúcar - nordeste (século XVII).
Fonte: MUNDO ..., 2007, on-line.
Shikida (1998 apud RAMÃO; SCHNEIDER; SHIKIDA, 2007) acrescenta que o
setor enfrentou fases de desempenho definidas pelo Programa Nacional do Álcool, o
PROÁLCOOL.
Criado em 1975 pelo decreto 76.593, o PROÁLCOOL tinha como objetivo
estimular a produção do álcool, visando o atendimento das necessidades do
mercado interno e externo e da política de combustíveis automotivos. De acordo
com o decreto, a produção do álcool oriundo da cana-de-açúcar, da mandioca ou de
qualquer outro insumo deveria ser incentivada por meio da expansão da oferta de
matérias-primas, com especial ênfase no aumento da produção agrícola, na
modernização e ampliação das destilarias existentes, na instalação de novas
unidades produtoras, anexas a usinas ou autônomas e de unidades armazenadoras.
A decisão foi tomada quando o governo federal decidiu encorajar a produção
do álcool em substituição à gasolina pura, com o objetivo de reduzir as importações
de petróleo, então com um grande peso na balança comercial externa. Nessa época,
o preço do açúcar no mercado internacional vinha decaindo rapidamente, o que
tornou conveniente a mudança de produção de açúcar para álcool.
No início da cada de 1980 o preço do petróleo praticamente triplicou e o
governo resolveu adotar medidas para plena implementação do programa, criando
organismos para agilizá-lo. Geraldo (1999) aponta que a região de Ribeirão Preto foi
o “centro preferencial do programa, tendo recebido o maior volume de investimentos”
e absorvido “maior grau de transformação no seu espaço econômico.” (Nogueira,
1996: 44-45 apud GERALDO, 1999, p. 86).
Contudo, no final dessa cada, ocorreu o chamado “contra-choque do
petróleo”, quando seu preço caiu relativamente coincidindo com um período de
escassez de recursos públicos para subsidiar os programas de estímulo aos
energéticos alternativos.
Os preços pagos aos produtores de álcool acabaram caindo abruptamente e
uma combinação de desestímulo à produção do álcool com desestímulo à demanda
gerou uma crise de abastecimento na entressafra 1989-90 que afetou a credibilidade
do programa.
Assim, durante a década de 1990, o setor sucroalcooleiro deixou de receber
subsídios do Governo Brasileiro, configurando o fim do PROÁLCOOL, o que
provocou uma nova e grande transformação.
O setor sucroalcooleiro, visando sobreviver competitivamente no mercado
nacional e internacional, iniciou um processo de efetiva profissionalização e
modernização. Neste sentido, além dos aspectos ambientais e legais, a troca do
corte de cana manual pela máquina colhedora reflete também um esforço do setor
para sua modernização e sobrevivência. Guedes e (2001) afirmam que a
desregulamentação setorial pelo governo federal foi a principal razão das principais
modificações empreendidas pela agroindústria canavieira paulista.
2.1.2 A modernização das lavouras de cana-de-açúcar
Independente dos incentivos do PROÁLCOOL, o processo de modernização
das lavouras de cana-de-açúcar no Brasil começou bem antes. Segundo Guedes e
(2001) a mecanização nos canaviais que vem ocorrendo nos últimos sessenta
anos e substituindo a o-de-obra de milhares de trabalhadores rurais pode ser
dividida em três etapas, na seguinte seqüência:
1) transporte até a usina, que ocorreu com a introdução dos caminhões
(PINTURA 2) em substituição aos animais de tração na década de 50 do século
passado (FOTO 1);
PINTURA 2 – Transporte da cana para a casa da moenda de um engenho.
Fonte: MARQUES, 1999, on-line.
FOTO 1 – Caminhão para transporte de cana.
Fonte: SCANIA ..., 2007, on-line.
2) carregamento, que deixou de ser feito manualmente (PINTURA 3) pelos
trabalhadores e passou a ser realizado por carregadeiras mecânicas (FOTO 2), por
volta de 1960.
PINTURA 3 – Carregamento manual de cana.
Fonte: SOUSA, 2007, on-line.
FOTO 2 – Carregadeira de cana.
Fonte: MWM INTERNATIONAL MOTORES, 2007, on-line.
3) colheita ou mecanização do corte (PINTURA 4) a etapa mais
contemporânea que substitui o corte manual (FOTO 3) e que tem exigido
modificações cnicas e logísticas que incluem desde o plantio até o recebimento da
cana na usina.
PINTURA 4 – Corte manual de cana.
Fonte: PINHO, 2007, on-line.
FOTO 3 – Colheitadeira de Cana-de-açúcar.
Fonte: BERCOSUL, 2007, on-line.
Scopinho et al. (1999 apud RAMÃO; SCHNEIDER; SHIKIDA, 2007) descreve
as vantagens econômicas da mecanização e as novas formas de realizar a atividade
pelos indivíduos envolvidos: “O uso de colhedeiras aumenta a produtividade e
qualidade da matéria-prima, além de reduzir os custos entre 50% e 60% em relação
ao custo total da produção agrícola” (SCOPINHO et al., 1999, RAMÃO;
SCHNEIDER; SHIKIDA, 2007, p. 113).
Do ponto de vista do processo de trabalho, o corte mecânico apresenta
alterações substanciais com relação ao corte manual da cana-de-açúcar. No
modo de organização do corte manual, geralmente a contratação do operário é
temporária, a jornada de trabalho é diurna, de segunda a sábado, com oito
horas diárias e a remuneração é com base na produção de cada trabalhador.
A utilização de colhedeiras aumenta a contratação direta e permanente de
trabalhadores na lavoura canavieira, sistema no qual o trabalho é organizado
em turnos alternados. Nessa modalidade de corte, os trabalhadores fazem
rodízio para garantir a ininterrupção do processamento da cana pela
agroindústria, inclusive no período noturno, em domingos e feriados. Os
operadores das colhedeiras submetem-se a horários irregulares e a uma
escala de plantões, mas possuem um rendimento fixo. A atividade de corte
mecanizado é sempre realizada em dupla, envolvendo o operador de máquina
e o motorista do caminhão que traciona o transbordo e recebe a cana colhida
(SCOPINHO et al., 1999, RAMÃO; SCHNEIDER; SHIKIDA, 2007, p. 114).
Scopinho et al. (1999 apud RAMÃO; SCHNEIDER; SHIKIDA, 2007, p. 114)
também destaca que a nova forma envolve um trabalho em equipe, ao contrário do
corte manual: “Diferentemente do corte manual, a colheita mecânica depende de
trabalho conjunto e articulado”.
Já Vian et al (1999, p. 148) levanta outras hipóteses que podem ter motivado essa
mecanizão: quem justifique que a mecanizão da colheita da cana, além de trazer
imeras vantagens econômicas e ambientais, é tamm uma forma de eliminar a
insalubridade, a periculosidade e a penosidade existentes nas frentes de trabalho rural.”
Geraldo (1999), por outro lado, questiona a forma como a mecanização vem
sendo introduzida no setor, sem considerar o desemprego destes mesmos
trabalhadores, ligados ao corte manual da cana:
A maneira em que a mecanização está sendo introduzida no setor pela
ótica do capital visualizando o aumento da produção e a produtividade,
sem levar em conta o aprofundamento das desigualdades sociais,
constituem-se em fatores agravantes da situação dos trabalhadores rurais,
principalmente daqueles que dependem do corte da cana-de-açúcar para
sua sobrevivência. (GERALDO, 1999, p. 84)
Na mesma direção, Coissi (2007), diante de um estudo da Escola Superior de
Agricultura Luiz de Queiroz da Universidade de São Paulo (ESALQ / USP) sobre os
efeitos da mecanização das lavouras afirmou que “a profissão do bóia-fria da cana-
de-açúcar está com os dias contados no Brasil” (COISSI, 2007, on-line).
Ela destaca a afirmação de Sérgio Prado, diretor da União da Indústria de
Cana-de-Açúcar (UNICA), dizendo que as novas usinas nem contam com a figura
do cortador de cana (grifo nosso). O estudo mostra que “houve queda de 20,9% no
número total de trabalhadores rurais no setor entre 1981 e 2004, que passou de 625
mil para 494 mil” (COISSI, 2007, on-line) e aponta ainda que contrastando com essa
queda, houve aumento de 166,3% na produção de cana no período, que passou de
156 para 415 milhões de toneladas (GRÁFICO 3).
A autora também afirma que a mecanização é motivada por razões econômicas,
legais e sociais. Uma colheitadeira
11
custa cerca de R$ 800 mil e o uso da máquina
otimiza a produção, além de substituir o trabalho de cem cortadores de cana
12
. Ainda
para aumentar o incentivo pelo uso dessa tecnologia, foram criadas leis para extinguir a
colheita manual, pois as queimadas o necessárias para viabilizar o corte manual e:
Nos últimos anos aumentou a cobrança pelo cumprimento das normas trabalhistas no
campo, principalmente após a morte de 21 ias-frias, desde 2004, supostamente por
excesso de esforço no trabalho (COISSI, 2007, on-line).
GRÁFICO 3Trabalhadores Rurais no Setor Sucroalcooleiro entre 1981 e 2004
Fonte: COISSI, 2007, on-line.
11
Entre os autores estudados, encontramos as denominações colheitadeira, colhedora e colhedeira
para designar a máquina que corta a cana. Estas diferentes denominações podem, inclusive, ser
conferidas nas transcrições no decorrer deste trabalho. Neste sentido, o Glossário de Termos
Usados em Atividades Agropecuárias, Florestais e Ciências Ambientais, compilado em 2004 por
José Geraldo Pacheco Ormond, técnico do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e
Social BNDES, aponta igualmente as três denominações como sendo “máquina agrícola
destinada a retirar os produtos do local onde foram plantados”.
12
Não um consenso sobre o real número de substituições. Alguns autores pesquisados apontam
quantidade maior e outros, menor – geralmente um número entre 50 e 200 substituições.
Marcos, em momentos de seu depoimento, confirma esta realidade:
Não tem trabalhador rural trabalhando sem registro em carteira em
Barrinha (Marcos).
Hoje não tem mais aquela coisa de mandou buscar e depois joga em
qualquer lugar, não tem mais isso. Eles vêm por conta própria. As
empresas não estão mais fazendo isso porque elas sabem, elas levaram
multa sobre essa questão de aliciamento de pessoas, às vezes colocando
em barraco sem nenhuma estrutura. (Marcos).
Assim, 2017 é o prazo final para as queimadas de cana no Estado de São Paulo,
segundo acordo firmado entre a UNICA, o governador do estado - Jo Serra e as
secretarias estaduais do Meio Ambiente e de Agricultura e Abastecimento (FOTO 4).
FOTO 4 – Lei estabelece fim das queimadas de cana.
Fonte: SOCIEDADE PAULISTA DE PNEUMOLOGIA E TISIOLOGIA, 2007, on-line.
O protocolo, assinado em maio de 2007 e denominado Protocolo de Cooperão
Agroambiental, antecipa o limite de 2031 que havia sido imposto pela lei estadual
11.241
13
, criada para eliminar gradativamente as queimadas de cana (GRÁFICO 4).
O texto aponta que cerca de 45% da produção de cana no Estado deo Paulo já
é colhida por máquinas um índice acima do nacional, que fica entre 35% e 37%.
13
A transcrição desta lei pode ser conferida na sessão de Anexos.
O setor concordou em eliminar as queimadas nas chamadas 'áreas
mecaniveis' até 2014, sete anos antes do prazo previsto para isso
na Lei 11.241, que era 2021. Nas 'áreas não-mecanizáveis', o novo
prazo passou de 2031 para 2017, um ganho de 14 anos (MEDIDA ...,
2007, on-line, destaques do autor).
GRÁFICO 4 – Cana Colhida por Máquina em 2007
Fonte: COISSI, 2007, on-line.
Marcos, em seu depoimento, ao se referir à redução da mão-de-obra ligada
ao corte da cana na cidade de Barrinha, 40 km de Ribeirão Preto, afirma que a
meta será atingida antes ainda do prazo estabelecido pelo protocolo:
Não vai vinte anos pra isso acontecer não! Eu vou ser bem claro com você:
A partir do ano que vem, a partir de 2008, 50% dessa mão-de-obra já vai
desaparecer por conta dessa mecanização. (Marcos).
Ao também analisar fatores indutores do processo, Veiga Filho (2007, on-line)
levantou dados sobre ries de salários de cortadores de cana, pros recebidos pelos
produtores de cana e pelos produtores deúcar e de álcool, analisando suas evolões
em termos reais e nos seus relativos e pressupôs, no que se refere à evolão relativa,
que a relação entre salário e preços é um indicador ora da escassez e ora da abundância
do fator trabalho e que sua tendência histórica sinaliza um processo de substituição do
fator mais escasso. Ele demonstra estes dados na TABELA 3 e analisa:
O que se verificou, inicialmente, é que todos os preços, deflacionados e
atualizados para dezembro de 1997, têm um comportamento de queda
real, em média abaixo de 50% quando comparados com os preços
vigentes em 1976. Nos anos finais da década de 1970 até meados da
década de 1980, houve maior sustentação dos preços dos produtos com
quedas inferiores à dos salários reais, refletindo a proteção ao sub-setor
concretizadas nas políticas governamentais de preços, no estímulo do
mercado externo e na expansão da economia brasileira, que começou a
perder fôlego nos anos iniciais de 1980.
A queda desses preços acelerou-se a partir de 1986-87, em parte determinada
pelo comportamento da economia e em parte pela perda de dinamismo do
mercado externo de açúcar, de 1985 em diante, começando uma recuperação
a partir da estabilização ecomica proporcionada pelo fim do aceleramento
do processo inflacionário, com a reforma monetária de 1994.
Por sua vez, o comportamento evolutivo dos salários acompanhou, de
1986-97 em diante, o mesmo padrão de decréscimo dos demais preços,
apesar do movimento sindical ter-se solidificado nesse período, e cujas
conquistas não estão contabilizadas nos salários monetários, tais como as
melhorias no transporte e acesso a previdência e seguridade social, por
exemplo. (VEIGA FILHO, 2007, on-line).
TABELA 3 - Índices Reais de Preços de Salários, Cana, Açúcar e Álcool
no Estado de São Paulo, 1976-97.
Índices Relações
Ano Salário
Cana
Açúcar
Álcool 1/2 1/3 1/4
(1) (2)
(3) (4)
1976
100
100
100
100
100
100
100
77
94
100
100
102
94
94
92
78
117
95
93
95
123
126
123
79
-
-
-
-
-
-
-
80
83
93
85
95
89
98
87
81
93
89
85
98
104
109
95
82
79
72
68
79
110
116
100
83
70
84
77
90
83
91
78
84
73
83
76
87
88
96
84
85
70
81
80
92
86
88
76
86
56
53
52
60
106
108
93
87
-
-
-
-
-
-
-
88
45
51
52
61
88
87
74
89
72
38
36
42
189
200
171
90
35
36
34
40
97
103
88
92
31
44
40
48
70
78
65
93
30
37
34
41
81
88
73
94
30
39
35
43
77
86
70
95
40
39
33
43
103
121
93
96
38
47
44
49
81
86
78
97
39
47
34
49
83
115
80
Fonte: IEA e UNICA apud (VEIGA FILHO, 2007, on-line).
Ao compararem os custos da colheita manual com os custos da colheita
mecânica Rípoli; Mialhe (1982 apud VEIGA FILHO, 2007, on-line), entre outras
conclusões, deduziram que o retorno para o investimento na mudança de processo
e compra da máquina se daria em menos de dois anos. Veiga Filho (2007, on-line)
não encontrou estudos recentes sobre estes custos, entretanto deduziu uma
sedimentação e generalização da vantagem econômica do corte mecânico. O autor
ainda acrescenta que um outro fator indutor dessa mudança tecnológica podem ser
as dificuldades de controle sobre a mão-de-obra, decorrentes de incertezas sobre
sua disponibilidade causada por absenteísmo ou greve.
Com relação aos reflexos para as usinas da mudança do corte manual para o
mecânico, Veiga Filho (2007, on-line) afirma que não se trata de mera substituição de
uma cnica por outra. A mudança implica em combinar e otimizar aspectos como o
preparo do solo na lavoura, o dimensionamento dos equipamentos no campo, a
implantação de equipe de manutenção e apoio, o treinamento do pessoal envolvido, as
alterações no transporte e na recepção da cana na indústria entre outros.
A primeira tarefa é redimensionar o comprimento dos talhões de cana, a
fim de evitar perda de tempo com manobras; em seguida, é necessário
nivelar os terrenos que possuem declividade elevada; depois, é preciso
limpar com bastante eficiência o terreno sobre o qual as colheitadeiras
irão operar, para evitar que tocos, árvores e buracos venham a danificar
a máquina; por fim, é necessário rever o espaçamento adequado entre
as fileiras de cana, de maneira a garantir que as máquinas trafeguem
com as rodas entre as linhas de cana e o danifiquem as soqueiras
(RICCI, 1994, p.109 apud GUEDES; RÉ, 2001, p. 3).
Sobre os aspectos técnicos, ele também explica que o sistema de colheita é
composto por três sub-sistemas, sendo que o primeiro é o de corte e carregamento,
seguido pelo de transporte e finalizado pelo sub-sistema de recepção:
Cada sub-sistema tem interfaces que incluem aspectos comuns, os quais
estabelecem um fluxo da matéria-prima do campo à indústria e que
precisam ser alterados para compor-se ao novo arranjo técnico (RÍPOLI;
PARANHOS, 1987 apud VEIGA FILHO, 2007, on-line).
Desta forma, para as usinas que não estão totalmente preparadas para a
implantação da nova tecnologia, a mecanização do corte pode não ser tão
conveniente. Ramão; Schneider, Shikida (2007) transcrevem o depoimento de um
gerente agrícola de uma usina no estado do Paraná:
A palha que fica na lavoura propicia o surgimento de uma praga chamada
cigarrinha das raízes, que acaba destruindo o canavial; também o fato de
que, nos meses mais frios do ano, a soqueira o consegue brotar no colco
formado pelas palhas, por causa da temperatura, o que também prejudica o
canavial. Sendo assim, no momento o é conveniente a realização do corte
mecanizado da cana crua. (RAMÃO; SCHNEIDER; SHIKIDA, 2007, p. 116)
Mesmo concluindo que as vantagens da tecnologia são maiores que as
desvantagens para as usinas, Veiga Filho (2007, on-line) considera o processo de
mecanização do corte de cana no Brasil, e em particular no Estado de São Paulo,
lento e pouco difundido. Ele apurou um índice de 17% de mecanização entre 69
usinas do estado de o Paulo que representavam, na época, 46% da área
colhida e de 29% na região canavieira de Ribeirão Preto que, para o autor, são
índices baixos quando comparados com os 100% de mecanização do corte na
Austrália e no estado de Louisiana, Estado Unidos da América (EUA).
Em contrapartida, ele ainda nota que, com exceção do corte, houve uma evolução
sistetica do processo produtivo agrícola canavieiro no sentido da mecanização que
ocorreu agregando novas práticas culturais e equipamentos mais eficientes, que reduziu
o uso da o-de-obra comum ou não qualificada, por uma o-de-obra em número
menor, porém mais capacitada a operar as máquinas e seus implementos.
2.2 A região de Ribeirão Preto e a cidade de Barrinha - SP
2.2.1 A região de Ribeirão Preto
Uma reportagem da Rede Globo em 1990 fez com que a cidade e a região de
Ribeirão Preto se popularizassem na expressão “Califórnia Brasileira” numa alusão
ao mais rico estado norte-americano. De acordo com a reportagem, a região onde
prosperava o setor sucroalcooleiro
seria moderna e rica.
Contudo, ao analisar melhor o cotidiano dos habitantes dessa região é
possível concluir que os indicadores econômicos de riqueza obtidos na época e
representativos ainda nos dias atuais eram possibilitados pela intensificação das
desigualdades sociais, expressadas na iniqüidade existente entre os grandes
empresários e os empregados, subempregados e desempregados do lugar.
Passadas quase duas décadas, a região ainda ostenta essa riqueza,
apresentando expressivos índices de crescimento econômico quando comparada
com outras regiões do interior do Estado de São Paulo. Pode-se dizer neste sentido,
que setor sucroalcooleiro, atividade agrícola predominante, é o maior responsável
por esse desenvolvimento: “Na região de Ribeirão Preto, são queimados,
aproximadamente, 650.000 hectares de cana por ano” (VIAN et al, 1999, p. 148).
Contudo, mesmo com os avanços do setor na região, em território ocupado e
produtividade decorrente de investimentos em tecnologia, ainda há uma grande
concentração de cortadores de cana, atividade arcaica, que envolve baixa
remuneração e períodos de desemprego, simbolizando uma das contradições dos
indicadores apresentados.
Segundo Alessi e Navarro (1997), a Associação Brasileira de Reforma Agrária
estimou que em 1975 havia 287.513 trabalhadores volantes no Estado, sendo que
87.254 encontravam-se somente na região de Ribeirão Preto. Em 1986 esta
quantidade saltou para 370.943 no estado e 95.000 na região de Ribeirão Preto
(GRÁFICO 5), sendo que o auge da colheita manual de cana ocorreu entre 1985 e
1990. Geraldo (1999), analisando dados da Secretaria Estadual de Agricultura e
Abastecimento constatou que em 1985, quando apenas três por cento dos 384.608
habitantes do município de Ribeirão Preto viviam no setor rural, “o bóia-fria passava
a ser a força de trabalho mais característica nas relações de produção imperantes
na agroindústria do setor açucareiro” (GERALDO, 1999, p. 87).
Atualmente, apesar da forma arcaica de trabalho, que: “O ato de cortar
cana resume-se à seqüência de gestos, curvatura do corpo, manejo do podão,
destreza, rapidez, dispêndio de força” (SILVA, M. A. M., 1999, p. 201) e das
demissões motivadas pelo processo de mecanização do corte, esta categoria de
trabalhadores ainda é bastante representativa dentro do setor e no índice de
empregabilidade de algumas cidades. Neste sentido, na região de Ribeirão Preto
quando o assunto é “bóia-fria” como é conhecido o cortador de cana, a cidade de
Barrinha pode ser considerada referência, pois a grande fonte de economia da
população da cidade ainda continua ligada à atividade. Marcos confirma esta
realidade em seu depoimento:
Nós temos ainda cerca de 70% da mão-de-obra rural. Entre os demais,
uma grande parcela na construção civil e temos muitas mulheres que vão
trabalhar em Ribeirão Preto como empregadas domésticas (Marcos).
E quantifica o contingente desta categoria de trabalhadores no município:
Está em torno de sete e oito mil trabalhadores [no corte da cana], sem
incluir os que vêm de fora (Marcos).
GRÁFICO 5 – Trabalhadores Volantes
Fonte: Alessi e Navarro (1997, p. 116).
2.2.2. A cidade de Barrinha
Barrinha surgiu em 1930, a partir de um pequeno povoado formado em torno da
estação de trem que ficava dentro da Fazenda o Martinho, inaugurada em 1903.
MAPA 3 – A cidade de Barrinha na região de Ribeirão Preto.
Fonte: MUNICÍPIO ..., 2007, on-line.
“Antigamente, Barrinha era reduzida a uma simples estação da Companhia
Paulista de Estrada de Ferro” (UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO, 2006b, on-line).
Com área de 144 km
2
e altitude de 492.903 metros, a cidade se desenvolveu no
trajeto da Fepasa S.A. a antiga Companhia Paulista de Estrada de Ferro. Hoje, o
município se limita com Sertãozinho, Dumont, Pradópolis e Jaboticabal (MAPA 3).
De acordo com o Histórico da Cidade (UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO,
2006b, on-line), no início do culo XX, devido às várias crises do café, a
Companhia Agrícola o Martinho atual Usina São Martinho, decidiu lotear suas
terras reservando, por iniciativa de Paulo da Silva Prado, um loteamento para uma
futura vila ou cidade nas proximidades da estação, local onde foram surgindo
construções que deram origem ao pequeno povoado. O histórico menciona como
primeiros habitantes do local:
- a família de Domingos Gonçalves – que deu início a uma lavoura;
- a família de Dionizia Goalves que levantou uma capela em louvor a São Jo;
- a família Biancardi – que fundou a primeira indústria;
- a família de Eugênio Thomazini;
- a família de João Marcari;
- a família de Motoki Kotó;
- a família de Antônio Rodrigues Santini;
- uma colônia japonesa composta por algumas famílias destes imigrantes.
A estação da Companhia Paulista de Estrada de Ferro era chamada de “Porto
Barrinha” em virtude de no local haver uma balsa
14
para a travessia de uma antiga
barragem entre o “Rio Mogi Guaçu e o “Rio da Onça” para transporte de
passageiros que chegavam com destino às cidades de Ribeirão Preto, Sertãozinho e
Jaboticabal. O povoado acabou adotando a mesma denominação, sendo que os rios
“Mogi Guaçu” e “da Onça” até hoje representam os limites do município.
Além da estação de trem e da linha de ônibus, foi identificada no distrito uma
grande reserva de argila. Assim, em 1953 instalava-se no local, a Cerâmica Barrinha
“dotada de maquinaria especial, fabricando tijolos de todos os tipos [...] alimentando
14
Em 1927, a balsa foi substituída por uma ponte construída sob o Rio Mogi Guaçu, sendo inaugurada pelo
eno Presidente da República Washington Ls. A ponte chamada pelos habitantes da cidade dePonte
Velhadesabou e continua nesta condição há mais de uma década.
esperanças de uma Barrinha industrial” (UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO, 2006b,
on-line).
Com terras rteis, indústrias, meios de transporte entre outros indicativos de
progresso
15
, em pouco tempo Barrinha de requerer mais autonomia. Assim, “pela Lei
2.456 de 30 de dezembro de 1953 criava-se o munipio de Barrinha, sendo
instalado em de janeiro de 1955” (UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO, 2006b, on-line).
A estação, com grande número de passageiros e trens de carga era a força
motriz da cidade. Cerca de doze trens cruzavam a estação nos dois sentidos. Mas a
década de 1970 transformou Barrinha.
A cidade, que a então era considerada a capital ferroviária da região
começou a perder importância. Com o advento de melhores e maiores caminhões,
além de melhorias das rodovias, o transporte ferroviário foi sendo substituído pelo
rodoviário. Barrinha que havia crescido em torno da estação e era voltada para a
movimentação ferroviária, viu sua economia declinar, sendo que várias empresas
que ali haviam se instalado, desaparecerem.
Esse período marcou também a passagem na lavoura, da cultura do café
para a da cana-de-açúcar, que influenciaria profundamente Barrinha e toda a região.
Foi nesta época que o setor sucroalcooleiro começou a ganhar destaque e a
empregar milhares de trabalhadores da cidade, principalmente para atividades
manuais na lavoura, tanto que, em 1962 foi criada a Casa da Lavoura, com a
finalidade de dar condições e assistência aos trabalhadores rurais e no ano
seguinte, foi fundado o Sindicato dos Trabalhadores Rurais
16
.
O brasão de armas do município criado em novembro de 1960 (DESENHO 1)
aponta, entre outras características, que “os ramos entrelaçados simbolizam as
principais culturas do município, café e cana-de-açúcar”.
O início da cada de 1980 foi marcado pela inaugurão do primeiro conjunto
habitacional e também por duas grandes greves de trabalhadores rurais que
15
Paralelo a estes indicativos de progresso, de acordo com o histórico, alguns antigos moradores da
cidade relatam que na década de 1950 houve uma epidemia de Febre Amarela que causou a morte
de muitos habitantes.
16
Em 1963, quando o Sindicato dos Trabalhadores Rurais foi fundado, ele funcionava como órgão de
assistência ao pequeno arrendatário. Em 1989, diante da expansão das lavouras de cana na região e
redução do mero de pequenos arrendatários, o sindicato passou a atender somente os empregados
nesta atividade, adotando a denominação de Sindicato dos Empregados Rurais de Barrinha.
modificaram o aspecto da cidade
17
. Foi tamm nesta época que Barrinha ganhou seu
primeiro hospital, o Fleming - Hospital e Maternidade Ltda., com cerca de 36 leitos para
internação, nove médicos e 35 funcionários, “fruto do investimento dos iros Dr.
Nasser e Dr. Said em sociedade com os iros Dr. Gianet e Dr. Gilberto”
(UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO, 2006b, on-line). O hospital foi constrdo em
terreno doado aos proprietários pela prefeitura mediante o compromisso de oferecer, no
nimo, 100 leitos num prazo de dez anos. Com o passar do tempo, o hospital chegou
a ser ampliado, passando a oferecer mais leitos para internão, ala particular,dicos
em várias especialidades e diversos outros servos. Dados apontam que, em 1998, o
hospital realizava uma média de 40 partos por s. Contudo, por dificuldades
financeiras, o hospital foi fechado em 1999
18
.
DESENHO 1 – Brasão de Armas do Município de Barrinha.
Fonte: CÂMARA MUNICIPAL DE BARRINHA, 2007, on-line.
17
Estas paralisações, principalmente a “Greve de Guariba” ou “Levante nos Canaviais”
denominações atribuídas ao movimento que começou em 1984 refletiram a pressão exercida
pelos trabalhadores do corte da cana que estavam mais cientes de seu poder de barganha em
virtude do fortalecimento dos sindicatos e vitórias em dissídios coletivos. Segundo ALVES (1991
apud VEIGA FILHO, 2007, on-line) o movimento que resultou nessa greve consolidou
definitivamente um papel ativo aos trabalhadores agrícolas da cana, que passaram a atuar como
um coletivo comprometido com a sobrevivência futura.
18
Após o fechamento, o prefeito da época, constatando que os proprietários o haviam cumprido o
acordo pré-estabelecido – oferecer 100 leitos em dez anos – solicitou sua desapropriação. É
importante ressaltar que todo o processo que levou ao fechamento e pedido de desapropriação do
hospital foi permeado por discordâncias políticas, que o prefeito da época Marcos Aparecido
Marcari era opositor político de um dos proprietários do hospital, o Dr. Said. Em 2006, a Câmara de
Vereadores aprovou e o prefeito Dr. Said sancionou a desapropriação do hospital, reavendo o
terreno e adquirindo o prédio desativado sete anos pela quantia de R$ 1,8 milhão de reais,
dando início a reformas com a promessa de breve reabertura. Até outubro de 2007, observamos
que a reforma está em adiantado processo, mas a reabertura ainda não aconteceu, fazendo com
que a população barrinhense continue a buscar recursos em hospitais das cidades vizinhas
(NICOLINI, 2006).
B
S
A
A
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I
R
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U
M
P
R
F
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C
A
Até meados da década de 1970, um vereador na cidade não recebia
nenhuma remuneração para exercer o cargo, depois começou a receber salários,
sendo que na gestão 1989 - 1992, o quadro de vereadores da cidade aumentou de
nove para treze vereadores. A Lei Orgânica
19
foi promulgada em 1990, pelo então
presidente da câmara João Carlos Fossalussa.
Diante deste breve relato histórico, pudemos observar que desde o declínio
do setor de transportes ferroviários e do advento do setor sucroalcooleiro na região,
Barrinha não vivenciou grandes mudanças em sua realidade, sendo que atualmente,
de acordo com o Histórico da Cidade:
A maioria da população de ambos os sexos, na faixa etária de 17 a 50
anos, exerce função remunerada, no trabalho da zona rural, na lavoura da
cana-de-açúcar, obtendo nível salarial de 03 salários mínimos durante a
safra que vai de abril a outubro. 20% das mulheres prestam serviços como
empregadas domésticas em Ribeirão Preto, por estar próximo a Barrinha.
(UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO, 2006b, on-line).
Referindo-se às culturas agrícolas, Marcos confirma o monopólio da cana:
Barrinha não tem outras culturas, só cana (Marcos).
E com o passar dos anos, a cidade foi recebendo milhares de pessoas para o
trabalho nesta cultura, sendo que algumas delas retornavam para seus locais de
origem e muitas, permaneciam:
Aqui em Barrinha, na década de 80, cerca de 90% da população era bóia-
fria. Com o decorrer da mecanização, muitos desses trabalhadores foram
perdendo seus empregos. Existia muita mão-de-obra naquela época,
migrante de mineiro e do Vale do Jequitinhonha. Existia também aquela
população flutuante, que vinha e voltava, vinha e voltava. Era uma parcela
grande desses trabalhadores (Marcos).
vinte anos havia entre 10 e 20 mil cortadores de cana em Barrinha,
incluindo a população flutuante. (Marcos).
19
A Lei Orgânica do Município de Barrinha pode ser consultada através do endereço virtual.
(CÂMARA MUNICIPAL DE BARRINHA, on-line).
É uma prática utilizada até os dias atuais:
A população flutuante ainda existe, mas em menor número que nos anos
80. Nós não podemos impedir o direito de ir e vir das pessoas, por que são
brasileiras, elas pagam impostos e tem o direito de ir e vir. Mas nós temos
que arrumar uma solução, uma alternativa, tanto o nosso governo estadual
e municipal, quanto o governo de do município de onde eles vêm, onde
eles moram, para que eles tenham alternativas lá também (Marcos).
Com aproximadamente 27 mil habitantes, Barrinha possui atualmente cerca
de oito mil trabalhadores rurais e estima-se que outros cinco mil venham apenas nos
períodos de safra das usinas (FOTO 5).
FOTO 5 – Vista aérea da cidade de Barrinha.
Fonte: MUNICÍPIO, 2007, on-line.
Como o corte de cana dura cerca de seis meses, no resto do ano, parte
destes trabalhadores retorna para seus locais de origem, alguns já se estabeleceram
em Barrinha e esperam a cana brotar de novo e outros desenvolvem dezenas de
estratégias de sobrevivência, estratégias que envolvem desde trabalhos informais
até a busca de ajuda financeira de diversas proveniências.
Com este perfil econômico da população, apesar de o número de habitantes
seguir crescendo, o comércio e os serviços o tímidos, pois dependem do poder
aquisitivo dos moradores do local. Nenhuma instituição pública ou privada oferece
curso de nível superior ou cnico e a maior parte das habitações é humilde e
inacabada. Além disso, o aterro da cidade está condenado, o esgoto é lançado sem
tratamento no rrego que corta a área urbana e a captação de água necessita de
mais investimentos (RIBEIRO, 2004).
Em contrapartida, Barrinha está a 40 quilômetros de Ribeirão Preto e a 15
quilômetros de Sertãozinho, duas das mais progressistas e desenvolvidas cidades
da região.
Segundo representantes da administração do município, os migrantes que
chegam sem estrutura para se estabelecerem na cidade acabam recorrendo a ajuda
da prefeitura que possui poucos recursos e acaba destinando-os à ações de
assistencialismo. Eles também reclamam o fato de não haver ajuda por parte das
usinas da região para suprir as necessidades de subsistência destes trabalhadores
que vêm em busca de trabalho, que elas utilizam a mão-de-obra da população
quando precisam:
Eles vêm pra cá sem nenhuma estrutura [...] e então vira um problema para
o poder público, problema de saúde pública, problema de assistência
social, porque essas pessoas acabam vindo e ficando na porta da
prefeitura até arrumarem serviço ou até elas se estruturarem. Acaba o
poder público tendo que manter essas pessoas e o nosso pessoal que
reside aqui, que tem residência fixa aqui fica prejudicado. Eles moram aqui
há muitos anos e não vão ter emprego porque o emprego que podiam ter, o
pessoal de fora acaba tirando, porque também precisa sobreviver (Marcos).
Hoje nós temos uma parcela boa de pessoas que vem do nordeste, temos
os maranhenses que estão vindo para em grande número, gente de
Alagoas, pessoas da Bahia. Eu discuti isso com o prefeito porque está
ficando complicado e vai ficar mais complicado ainda a partir do ano
vindouro (Marcos).
E atribuem a falta de recursos à inexistência de indústrias sucroalcooleiras no
município:
O problema de Barrinha é grande. Um imposto pertence à Jaboticabal,
outro à Sertãozinho e Barrinha nada, nenhum bagaço sobra pra nós. É
uma cidade dormitório. Para administrar uma cidade como Barrinha tem
que ter peito, porque não tem recurso. A prefeitura está dando remédio,
cesta básica e não é pra fazer política, é pra suprir necessidade. Pra você
ter uma idéia, tem uma pesquisa aqui em Barrinha que aponta 16% da
nossa população reclamando de fome, numa região chamada de Califórnia
Brasileira, o berço dos usineiros, o berço do setor sucroalcooleiro (Pedro).
Como tratado anteriormente, a maioria dos moradores de Barrinha trabalha
no campo, no corte da cana ou em cidades próximas como Sertãozinho e Ribeirão
Preto maiores e economicamente mais ativas, ou seja, é uma cidade de caráter
residencial fazendo com que seja conhecida na região como uma cidade dormitório.
Barrinha é uma cidade dormitório, não tem uma indústria, não tem uma
usina, depende única e exclusivamente do acordo de participação do
município. Barrinha é onde os usineiros pegam os funcionários (Marcos).
Ao finalizar este capítulo podemos afirmar que o agronegócio canavieiro é
muito para a economia agrícola brasileira e muito representativa para a região em
que realizamos esta pesquisa. Os dados a seguir, demonstram isso (TABELA 4):
TABELA 4 – Representatividade Econômica do Setor Sucroalcooleiro
LOCAL CARACTERÍSTICA
Brasil A atividade é responsável pela movimentação de
aproximadamente R$ 40 bilhões por ano
Estado de São Paulo A cana-de-açúcar é a atividade mais importante na
demanda pela força de trabalho da agricultura
Região de Ribeirão Preto Predomina a cultura de cana-de-açúcar
Cidade de Barrinha A atividade de corte manual de cana é a que mais
emprega os moradores
Fonte: Baseado na coleta de dados.
Apesar de economicamente importante para o país, para o estado de São
Paulo, para a região de Ribeirão Preto e para a cidade de Barrinha, o setor não
garante a distribuição de riquezas em todo local onde atua, sendo a cidade de
Barrinha um exemplo de lugar onde esta cultura não trouxe prosperidade.
Nesta cidade, as perspectivas ainda o mais preocupantes: a redução
gradativa das queimadas que vem ocorrendo nos últimos anos (com fim previsto
para 2017) e o crescente processo de mecanização das lavouras de cana, o
trabalho manual é uma atividade em extinção fazendo com que os trabalhadores de
Barrinha ligados à profissão convivam com essa crescente ameaça de desemprego
estrutural.
No capítulo a seguir, analisamos discursos e histórias de vida obtidos nas
entrevistas realizadas com os cortadores de cana de Barrinha e outros atores sociais
desta questão. Através dos depoimentos, pudemos identificar peculiaridades do
cotidiano dos trabalhadores desta cidade referentes às suas estratégias de renda e
sobrevivência, sonhos, perspectivas e frustrações.
CAPÍTULO 3
DISCURSOS E HISTÓRIAS DE VIDA
Durante a análise dos discursos e histórias de vida obtidos nas entrevistas
realizadas com os cortadores de cana e outros atores sociais da questão em estudo,
buscamos não nos limitar à leitura das transcrições, mas também interpretar as
palavras não ditas. Esta interpretação permitiu identificar aspectos de suas
representações sociais, de seu cotidiano, perspectivas, esperanças e frustrações,
estratégias de sobrevivência e renda, dados relevantes para as finalidades e as
questões desta pesquisa.
3.1 Práticas cotidianas
Silva; Wensko (2003) relatam que diversos autores apontam para o fato de
que as mudanças em curso no mundo do trabalho devem ser analisadas no contexto
da atual crise do capitalismo, a crise da superprodução que desencadeia o
“processo de superexploração - caracterizado pelos baixos salários e pela
intensidade do trabalho” (SILVA; WENSKO, 2003, p. 25). Para os autores, é através
deste quadro que poderemos entender o desemprego, a exclusão social e a
precarização das relações de trabalho, que os capitais, para superar a
concorrência, começam por reduzir os custos de produção que envolve a diminuição
do número de trabalhadores, maior emprego de máquinas, redução de salários e até
negação de direitos trabalhistas.
Os autores ainda relatam que a mecanização do corte da cana nos últimos
anos provocou a eliminação de dezenas de milhares de trabalhadores, além da
precarização das relações de trabalho. No entanto, eles identificaram um
crescimento dos processos de resistência, sob novas roupagens na região Ribeirão
Preto.
Se as greves, as manifestações coletivas, predominaram até os finais de
1980, a década seguinte foi marcada pelas milhares de ações trabalhistas
movidas contra empresas, cooperativas e fazendeiros, além do
recrudescimento da luta pela terra, por meio do MST e, principalmente da
FERAESP (Federação dos assalariados rurais do estado de S. Paulo). Um
grande número de acampamentos e assentamentos tem sido responsável
pela alteração da paisagem do rural nesta região, até então dominada
pelas imensidões de áreas ocupadas com cana e laranja (SILVA;
WENSKO, 2003, p. 25).
No discurso abaixo, João relata o atendimento às leis e normas do Ministério
do Trabalho, conquistas que beneficiam o trabalhador:
Eu armo barraca porque todos os ônibus agora têm barraca. Armo o
banheiro dos homens e das mulheres o Ministério do Trabalho exigiu.
Tem mesinha, cadeira, o banheiro tem papel higiênico e sabonete, mesmo
estando perto da cana ou do mato. O banheiro é uma barraca que a
pessoa arma sobre um buraco feito com uma cavadeira, mais ou menos ½
metro. Eles dão água, todos os ônibus têm geladeira. Eles fornecem todos
os equipamentos de segurança. Tem um monitor que olha duas vezes por
semana o que falta e passa para o técnico de segurança vir entregar de
perua o sapatão, os óculos, a luva, a caneleira (João).
Por outro lado, João sente-se prejudicado pelas mesmas leis e normas:
Hoje, no corte da cana, ninguém ganha mais pra sobreviver como era antes
das máquinas porque, na usina que a gente trabalha, tem vez que
começamos às 8h porque é longe. Às 8h15 temos que parar para
descansar um pouquinho ordem da usina, depois vai a 11 horas e
paramos uma hora pra almoçar. A comida a gente traz de casa. Depois,
quando são 14h, paramos outra vez, mais 15 minutos, para descansar. E o
horário de parar é às 15h20 (Saturno, 48 anos, amasiado, cortador de
cana, duas uniões, dois filhos da segunda união).
Em contrapartida, mesmo consciente dos prejuízos financeiros da categoria,
Marcos justifica o necessário controle das atividades da categoria, tanto com relação
à liberdade de representação sindical, quanto com relação ao excesso de trabalho:
Hoje a organização sindical é livre. O trabalhador sabe o direito dele, o que
deve e não deve fazer, como proceder, apesar do fiscal
20
de turma ainda
fazer aquela pressão psicológica na cabeça do trabalhador, do tipo: “- o fim
da safra está chegando, cuidado com o corte” (Marcos).
21 anos o sindicato tinha 2.500 associados e hoje continua o mesmo,
pois o quadro associativo não tem baixa. Mas pagante, hoje, está em torno
de 350 a 400 trabalhadores. O trabalhador atualmente está tendo mais
20
De acordo com a classificação de ocupações do Ministério do Trabalho e do Emprego, o Fiscal de
Lavoura é uma das denominações para a ocupação de Supervisor de Exploração Agrícola. Entre
outras atividades, a ocupação envolve a supervisão direta de uma equipe de trabalhadores
agropecuários em sua lida no campo, administração da mão-de-obra, treinamento da equipe de
trabalho, planejamento de atividades, além do controle de qualidade e produtividade agropecuária.
possibilidade com o sindicato porque até então, quando ele trabalhava
dentro de usina, ele era até impedido de falar o nome do sindicato. Se
falasse era demitido, punido. Com a abertura da conversação, da
discussão sobre o desemprego com representantes do trabalhador e dos
usineiros começou a melhorar essa situação. A entrada da OIT
21
foi o
começo dessa integração entre empresários e trabalhadores (Marcos).
Houve uma morte no ano passado e os médicos falaram que foi problema
de Chagas, mas nós estamos averiguando isso. Agora, nós combatemos a
questão da exaustão, a questão do feitor ter comissão sobre a produção do
cortador, pra não forçar o trabalhador a trabalhar muito, às vezes, até o
motorista tem comissão. Quando isso ocorre, ele não deixa o cortador
descansar direito, não deixa almoçar direito. Houve época em que
trabalhador ia de gancho porque parava pra comer. Eles não respeitam
horários de entrada e saída, de chegada do serviço. Teve caso do
trabalhador parar quase sete horas da noite. Nós não queremos nem
discutir essa possibilidade. O agenciador e o motorista devem ganhar da
empresa, pra olhar o serviço e o pra forçar o trabalhador a trabalhar
mais, acima do limite (Marcos).
Em se tratando do papel do agenciador, Silva, M. A. M. (1999) esclarece que ele é
também registrado pela usina e possui os mesmos direitos que os trabalhadores. A
autora tamm descreve e distingue este e outros supervisores da atividade:
a) o “gato”, elemento em extinção, mas que continua atuando nos
interstícios, nas brechas do descumprimento da lei, agencia e controla o
processo de trabalho;
b) o agenciador ou empreiteiro independente, agencia a mão-de-obra e
acumula funções de motorista e feitor. É mais comumente chamado de
empreiteiro, aquele que “arruma a turma e olha a turma”.
c) o agenciador, contratado por firmas agenciadoras ou pelas empresas,
não acumula as funções do controle da força de trabalho, sendo estas
exercidas por feitores (SILVA, M. A. M., 1999, p. 124).
Quanto à efetividade, alguns trabalhadores conseguem trabalhar durante os
doze meses do ano, mas a maioria ainda trabalha apenas nos períodos de safra:
Eu trabalho fixo [...] há quatro anos (José).
Todo mundo é contrato. Quando acaba a safra, pelo dia 15 ou 20 de
novembro, nós somos dispensados e pra fevereiro que começa a aparecer
serviço, que a gente vai conseguir trabalhar no plantio de cana (João).
21
Organização Internacional do Trabalho (OIT).
Os salários recebidos equivalem a dois ou três salários mínimos:
Quem corta cana tira R$ 30, R$ 35 por dia, em torno de setecentos,
oitocentos reais brutos por mês. Eu ganho menos, porque ganho só a
diária (João).
Eu agora não estou cortando cana, ganho uma diária de R$ 18 por causa
de um problema no braço. Uns quarenta dias depois que comecei a cortar
cana cortava entre sete e oito toneladas por dia deu aquele problema
no nervo e então eu não pude mais trabalhar no corte. Eu preciso
conversar antes de acabar a safra pra saber como vai ser, porque vai
acabar a safra, eu trabalho por contrato [...] e vou ficar com o problema no
braço (Marcos).
Tem mês que eu tiro [o salário que recebe] setecentos, oitocentos reais,
nessa faixa (José).
Outra importante constatação diz respeito à migração que, mesmo com a
demanda de mão-de-obra diminuindo consideravelmente na região a cada ano,
ainda é expressiva em Barrinha, sendo que a vinda desses trabalhadores, de acordo
com os entrevistados, prejudica a administração do município e a população da
cidade:
Aquelas pessoas que vem de fora, até conseguir ser contratada e receber,
vêm pedir ajuda na prefeitura para sobreviver (Marcos).
Eu nasci em Alagoas, São José da Laje, vim pra Barrinha com um ano e
oito meses de idade, mas naquelas viagens de vai e volta, vai e volta, eu
sei que a cidade que mais a gente conheceu foi Barrinha (João).
3.2 Estratégias de sobrevivência e renda
De acordo com Lapini (2002), nos últimos anos, além da mecanização das
lavouras de cana-de-açúcar na região contribuir para que uma grande parcela desta
mão-de-obra buscasse uma alternativa de sobrevivência, houve também a busca por
melhores condições de remuneração e de trabalho, já que “a situação do trabalhador
rural assalariado, do pequeno produtor e do ‘sem terra’ é muito difícil”, (SILVEIRA,
1998, p. 122).
FOTO 6 Trabalhadores da construção civil realizam mobilização por falta
de pagamento por serviços de reforma no hospital de Barrinha.
Fonte: NICOLINI, 2006.
Nessa busca podemos a constatar resultados positivos, que inúmeros
trabalhadores desenvolveram estratégias de re-inserção no mercado de trabalho e
têm conseguido sobreviver nesse cenário capitalista, como relata Graziano da Silva
(1997). O autor relaciona novas ocupações que proliferam no meio rural brasileiro,
destacando a criação de um conjunto de ocupações tipicamente urbanas como
motorista de ônibus para transporte de trabalhadores, mecânicos, contadores,
secretárias, digitadores, trabalhadores domésticos, facilitadas pela igualdade
trabalhista assegurada na Constituição de 1988.
Hoje nós temos ainda cerca de 70% da mão-de-obra rural. Entre os
demais, uma grande parcela na construção civil e temos muitas
mulheres que vão trabalhar em Ribeirão Preto como empregadas
domésticas (Marcos).
Contudo, conquistar uma nova ocupação, bem como uma forma de
sobrevivência digna, ainda é um desafio para grande parte dos trabalhadores rurais,
tanto aquela parte “empregada” quanto àquela que perdeu seu emprego (FOTO 6).
Ao analisar dados do IBGE sobre o crescimento das atividades não agrícolas
no meio rural brasileiro e especialmente no estado de São Paulo, Graziano da Silva
(1997) concluiu que de cada cinco pessoas residentes no meio rural paulista, em
1990, apenas duas estavam ocupadas em atividades agropecuárias. As outras três
tinham um emprego em atividades não agrícolas, principalmente agroindústrias,
prestação de serviços, construção civil, comércio e prestação de serviços sociais. Se
o tema é meio rural, precisamos considerar ainda a observação de Gomes da Silva
(1998) quanto à conceituação de "situação urbana" e da "situação rural" pelo IBGE.
De acordo com o autor, o instituto considera como "população economicamente
ativa urbana "muitos trabalhadores rurais que tem moradia na periferia das cidades,
mas que tem a atividade agrícola como principal atividade produtiva. Esses
trabalhadores precisam ser considerados para a análise da questão rural.
Marcos, em seu depoimento, relata a exigência de produtividade, qualidade e
qualificação por parte das empresas, sendo que além dos significados dos termos
em si, as palavras também são, na maioria das vezes, desconhecidas para os
trabalhadores rurais:
As pessoas com mais idade estão com dificuldade para arrumar serviço.
Eu já tenho uma certa idade e o que acontece é que as empresas,
ninguém, quer pegar. As empresas querem produtividade e principalmente
qualidade, qualificação. Isso é complicado, essas máquinas que estão
entrando no setor, todas controladas por botões de computador. Se esse
jovem não estiver preparado para operar essas máquinas, vai faltar até
mão-de-obra para as usinas e acaba tendo desemprego onde falta mão-de-
obra (Marcos).
Neste sentido, outra questão para ser viabilizada é o destino dos jovens, filhos
desses trabalhadores, que ainda nem sequer ingressaram no mercado de trabalho.
De acordo com Kanashiro e Reynol (2007, on-line), a UNICA prevê um investimento
de cerca de US$ 15 bilhões para a criação de 89 novas usinas a 2012,
principalmente em regiões do interior do Mato Grosso do Sul, no Triângulo Mineiro,
sul de Goiás e norte do Paraná, sendo que os autores chamam a atenção para a
mudança no perfil de trabalho neste setor, onde o aumento de vagas está
relacionado aos postos que exigem maior formação, como a área industrial, cnica,
administrativa, de pesquisa e de desenvolvimento.
Segundo os autores, as propostas de aumento da produção de álcool
combustível derivado da cana-de-açúcar têm gerado expectativas de muitos
negócios e mais empregos. Eles mencionam a participação da imprensa que divulga
o aumento do mercado de trabalho quando é informada sobre a chegada de novas
usinas em determinadas localidades, mas salientam a preocupação de especialistas
com as desigualdades que marcam esse mercado de trabalho que sinaliza um aumento
de empregos direcionado especialmente aos profissionais com maior formação e melhor
remunerão. Geraldo (1999, p. 89) também analisa esta situação e conclui:
Se de um lado comemoração, do outro a falta de uma política capaz
absorver o crescente contingente de homens e mulheres sem trabalho, em
um processo gradativo de exclusão social resultam, como conseqüência
imediata, na resistência dos trabalhadores contra o aprofundamento das
desigualdades e o aumento do desemprego no campo.
Marcos, ao mencionar em seu depoimento projetos em discussão,
demonstra boa vontade, mas confirma que, de fato, nenhuma ação em prol da
empregabilidade dos cortadores de cana de Barrinha já foi implementada:
O sindicato [dos Cortadores de Cana] de Barrinha elaborou um projeto que
se chama Construindo Valores e Preparando Jovens para o Futuro. Esse
projeto está em discussão com a sociedade, com o Banco do Brasil, o
Ministério do Trabalho, as empresas, a prefeitura. O prefeito, inclusive, deu
total apoio ao projeto, o gerente do Banco do Brasil, o delegado regional do
trabalho e, obviamente, a igreja
22
, quer dizer, toda a sociedade. Nós
tivemos uma primeira reunião e vamos ter uma outra no próximo mês pra
gente tentar junto arrumar uma forma, uma saída para preparar esses
jovens, principalmente para o setor sucroalcooleiro que é o que predomina
na nossa região. Temos que fazer com que esses jovens tenham um curso
profissionalizante, de operador de máquina, motorista, químico para
trabalhar no setor de destilaria, para que eles não estejam desempregados
amanhã
23
(Marcos).
22
Não foi possível, nesse momento, apurar o tipo de apoio dado pela igreja Católica Apostólica
Romana de Barrinha aos cortadores de cana e ao projeto mencionado. Segundo representante da
instituição, ela não atua junto à Pastoral da Terra.
23
Apesar da menção de existência do projeto e do relato das discussões sobre alternativas para sua
implantação, através de observações sistemáticas concluímos que até o mês de outubro de 2007 a
proposta não havia sido efetivada.
Os representantes de classe ainda estão procurando alternativas e não têm
muita segurança sobre com quais instituições e pessoas poderão contar:
Nós [...] estamos procurando alternativas. Hoje nós temos o Telecentro
24
com o apoio da Casa da Cidadania e do prefeito. Nós temos curso de corte
e costura, curso de artesanato, curso de cabeleireiro para mulheres e para
jovens e estamos preocupados em ampliar isso para poder preparar essas
pessoas também para o setor sucroalcooleiro, fazer um projeto junto com o
Senac, Senai, Senar, sindicato, sociedade e poder público (Marcos).
Mais que sobrevivência, os cortadores de cana de Barrinha buscam
sobreviver com dignidade, com base na não-dispersão da família e na esperança de
assegurar um futuro para os filhos, acreditando inclusive, que a educação seja uma
forma de superar sua atual condição:
O que ele ganha pra sustentar nós todos. Não pra passar assim...
muito bem... mas dá (Ana).
Eu espero que os meus filhos estudem bastante. Que arrumem um bom
emprego pra eles (Ana).
O meu maior sonho é ter toda a minha família reunida (Ana).
Eu espero que meus filhos e enteados consigam um serviço sem ser cana.
Outro serviço melhor, como mercado, uma coisa diferente (José).
Eu gostaria que os meus filhos tivessem o que eu não tive. Queria que eles
estudassem pra ter um futuro, porque a cada tempo as coisas estão
ficando mais difíceis e se a pessoa estuda, tem esperança na vida (João).
24
Por meio de contatos informais, soubemos que o Telecentro trata-se de um programa que oferece
periodicamente cursos profissionalizantes gratuitos para a população. A sede da Casa da
Cidadania, onde o programa se efetiva, é uma residência cedida por uma usina da região, parte de
um conjunto de casas pertencentes à empresa e ocupadas por funcionários que trabalham em sua
área industrial.
José, em princípio, afirma conformar-se com sua condição de cortador de
cana:
Eu gosto do meu trabalho (José).
Mas acaba deixando transparecer seu descontentamento, ao falar de suas
frustrações e de seus sonhos:
Eu não tenho intenção de mudar de profissão porque eu não tenho estudo.
Sempre precisa de estudo e como eu não tenho, não tenho esperança de
melhorar de serviço, não tem jeito (José).
Se pudesse, queria ser policial, mas meu maior sonho era ficar rico para
poder parar de trabalhar (José).
De acordo com os depoimentos e também através de observações
sistemáticas, constatamos que a separação de materiais recicláveis é a alternativa
de renda total ou complementar mais utilizada pelas famílias barrinhenses em
situação de vulnerabilidade.
Temos que arrumar uma saída para esse problema, alternativas, pois se o
pai e a mãe estão separando material reciclável, amanhã o filho vai estar
também, pois do jeito que está a mecanização, ele também vai ser um
desempregado. Ele vai fazer o que? Vai roubar? Vai matar? Tem que ter
alternativa pra isso (Marcos).
Se hoje nós temos uma parcela da nossa população – homens, mulheres e
jovens que estão no lixão, que estão separando o lixo para tentar
sobreviver – não que isso seja vergonha, pelo contrário, o trabalho dignifica
a pessoa, mas a gente quer uma coisa mais organizada, através de uma
cooperativa, que o pessoal tenha um barracão, para que recolha esse
material e possa vender por um preço justo, para que não seja explorado
como está sendo hoje. Eles fazem a separação do lixão, às vezes sem
nenhuma proteção, sem nenhuma luva, sem segurança no trabalho
(Marcos).
Porém em Barrinha, essa atividade de separação de recicláveis não acontece
de forma sistematizada onde as famílias consumidoras separam os materiais e
dispõem para que sejam recolhidos nas lixeiras de suas casas. Na maior parte das
vezes, o recolhimento desses materiais ocorre diretamente no lixão da cidade,
apontado em matéria jornalística veiculada pela emissora de televisão EPTV de
Ribeirão Preto em 2006 como um dos piores do estado de São Paulo.
O problema do lixo em Barrinha foi constatado e citado e é citado vários anos
(FOTO 7). O município, inclusive, foi alvo de uma série de multas. A situação piorou ainda
mais quando há alguns meses o chorume
25
começou a transbordar sobre a vicinal Said
Ahmed Saleh, onde es situado. Para conter o excesso de lixo ao lado da vicinal,
improvisou-se outro desito, desta vez na área urbana, atrás de um Gisio de Esportes
desativado. Este segundo desito chegou a ser envolvido em suspeitas de descarte de
lixo hospitalar proveniente das unidades básicas de saúde da cidade.
Fato é que ambos não atendem normas da Vigilância Sanitária ou a
legislação ambiental. As valas acumulam lixo durante dias, a céu aberto e são
remexidas por animais - cães, urubus, ratos e outros e pelos catadores de
materiais recicláveis, grupo que por vezes inclui crianças. O atual Secretário do Meio
Ambiente do município disse estar priorizando esta questão, mas uma solução ainda
não foi constatada.
FOTO 7 – Depósito de lixo em Barrinha ao lado da vicinal Said Ahmed Saleh
Fonte: NICOLINI, 2006.
25
Resíduo líquido do lixo e que pode ser 80 vezes mais poluente que o esgoto doméstico
O depoimento de Marcos, a seguir, ainda revela a incidência de outra questão
preocupante: a gravidez na adolescência, quando afirma que jovens de 16 e 17 anos
são pais de família, sendo que, em concordância com João, critica os artigos da
Consolidação das Leis do Trabalho (CLT)
26
que proíbem o trabalho de menores:
Outro problema é a mulher e o filho separando material reciclável porque
não têm emprego, não têm condições de trabalhar, porque as empresas
não pegam mulher e nem jovem a lei proíbe o jovem, o adolescente de
trabalhar, mas essa é uma outra discussão. Eu não sou contra, eu acho
que o jovem tem que estudar, mas tem muito jovem hoje que é arrimo de
família, que é pai de família. Você pega um jovem aí, muitas vezes com 16
ou 17 anos, que é pai de família, que já tem filhos e a lei o proíbe de
trabalhar. Como é que fica esta situação? O pai desse jovem vai ter de
sustentar o filho e a família do filho, sendo que às vezes também está
desempregado (Marcos).
os meninos [os filhos de 14 e 16 anos], não têm trabalho pra eles
porque hoje, se um moleque está trabalhando, vem a autoridade falando
que é proibido, que é menor. Mesmo que eles conseguissem um trabalho,
correriam o risco da proibição (João).
A necessidade de renda para sobreviver faz com que muitos pais e outros
cidadãos se esqueçam dos motivos que levaram à proibição do trabalho infantil,
como demonstra o depoimento abaixo:
No meu tempo, com 12 anos trabalhava com o meu pai na roça. Com 14
anos eu registrei. A questão é que a gente pulou muito [ficou sem trabalhar
registrado]. Agora, eu gostaria que voltasse aquela lei que, com 14 anos,
podia registrar [ele tem um filho de 14 e outro de 16], acabar com as
máquinas porque, antigamente não tinha máquina pra nenhum serviço, era
tudo manual e então tinha muito serviço (João).
Este depoimento também retrata a desesperança em si:
Então, mesmo que eu estude, se surgir um emprego, eles não vão me dar
prioridade porque eu tenho 48 anos, uma pessoa mais nova tem mais
futuro (João).
26
A CLT considera menor o trabalhador que tenha entre 14 e 18 anos de idade, sendo que por
determinação da Lei nº 10.097 de 2000, é proibido o trabalho de menores de 16 anos, salvo na
condição de aprendiz, a partir dos 14 anos.
As famílias, para sobreviver, se reúnem numa mesma casa e chegam a
depender de parentes aposentados, às vezes, a única alternativa de renda fixa:
Tem gente aposentada que ajuda o pai, a mãe e o neto. Muita gente
depende do avô, da avó, da mãe aposentada. Aqui na promoção social
vem muita gente atrás da bolsa família, bolsa escola, porque realmente
precisa. Quando verificam o que as pessoas estão fazendo com o dinheiro,
confirmam que estão comprando comida, leite para os filhos (Marcos).
Tem ele [filho da amásia, com deficiência que o entrevistado não soube
especificar no momento da entrevista aparente deficiência psíquica] que
recebe uma pensão. Ele é doente, recebe um salário mínimo e ajuda
(José).
Quanto às mulheres, elas estão alijadas do corte da cana sob o pretexto de
não atenderem os níveis de produtividade exigidos. Nestas condições, ou buscam
outras atividades, algumas vezes mais penosas, ou ficam sem trabalhar. Os
depoimentos a seguir retratam esta experiência:
Eu não vejo perspectiva de melhora a partir do ano que vem. A salvação é
Ribeirão Preto, onde as mulheres vão trabalhar como domésticas e os
homens ficam parados (Marcos).
A discriminação com relação à mulher existe muito no setor. o pegam
mulher pra trabalhar. Numa turma de cinqüenta pessoas, se você achar
cinco mulheres, é muito. Tem muita mulher que trabalha até mais do que
nós, homens. Mas, pela questão da maternidade, dos dias dela no mês,
tem problemas. Hoje, muitas mulheres são arrimo de família, o marido
faleceu, são mães solteiras, separadas. Como é que fica? (Marcos).
Eu gostaria de voltar a trabalhar, eu até gosto de trabalhar na roça, mas é
difícil achar vaga para mulher trabalhar (Ana).
Minha mulher não conseguiu registrar esse ano. Então, ela ajuda uma
senhora e ganha um pouco pra comprar roupa para os meninos, um
calçado. Serviço pra mulher está cada vez mais difícil (João).
Segundo Silva, M. A. M. (2001, p. 293) as mulheres que conseguem ingressar
em outras atividades acabam se submetendo às piores tarefas, como a de
bituqueiras
27
[...], aplicadora de veneno no controle das pragas da cana ou ainda
trabalhando nos viveiros onde se preparam as gemas para a plantação da cana,
que, igualmente, demandam o manuseio de agrotóxicos. Ela encontrou várias
mulheres com alergias, coceiras, queimaduras, câncer de pele, de garganta e muitas
doenças que afetam os aparelhos respiratórios em razão da utilização de
agrotóxicos, sendo que “duas delas morreram alguns meses depois de terem
concedido os depoimentos em razão de câncer na garganta e nos pulmões”. Quanto
às bituqueiras, elas padecem de sérios problemas de coluna devido “à postura
corporal curvada, obrigatória durante todo o desempenho da tarefa” (Silva, 1999:
cap. “As meninas do descarte” apud SILVA, M. A. M., 2001, p. 293).
A autora ainda menciona a prática ilegal de se exigir um atestado de
esterilidade que é ilegal, mas continua existindo. Não foi o que aconteceu com Ana,
ex-cortadora de cana que, em 10 anos na atividade, vivenciou cinco gestações. O
fato de ter apenas 28 anos e ter abandonado a atividade algum tempo nos leva a
concluir que ela começou a trabalhar antes dos 18. Quando, em seu depoimento, ela
termina a frase com a palavra “só”, cremos que ela sente que trabalhou pouco diante
de conhecidos na mesma atividade, além do desejo de retomá-la:
Cortei cana durante dez anos, só. E resolvi parar (Ana).
Com relação às atividades de lazer, foi interessante observar o desvio de
conceito que os entrevistados apresentaram. Diferente da definição de Bueno (1996)
onde lazer é um momento de descanso, ócio ou passatempo, para os entrevistados,
lazer é o momento em que não estão trabalhando em suas ocupações formais.
Assim, eles aproveitam estes momentos para outras ocupações que vão
desde compromissos domésticos até atividades alternativas de renda não ligadas ao
corte da cana.
A maioria apresentou uma ausência desse elemento cultural ligado ao prazer:
Nas horas de lazer eu gosto de cuidar da casa (Ana).
27
Bituqueira é a mulher que recolhe as bitucas, ou seja, os pedaços de cana que não são recolhidos
pelas máquinas após o corte.
Nas horas de lazer, quando eu tenho tempo, eu não paro. Tem terreno pra
cuidar, tem encomenda pra entregar. Eu não gosto de bola. Em questão
divertimento, a gente não tem. Eu fui criado assim (João).
Ou agem de acordo com o que concluiu Souza (2002, p. 161): “As opções de
lazer para as classes populares são muito restritas. Estão caracterizadas pela
abrangência de contato com programas televisivos considerados como popular.”
Modo de agir confirmado por José:
Nos momentos de lazer eu não faço nada. Quer dizer... é mais escutando
um sonzinho, assistindo TV, jornal, só isso (José).
Com relação à escolaridade desses trabalhadores, constatamos que os mais
velhos realmente estudaram pouco, muitos não sabem ler e nem escrever.
Interessante e preocupante é o fato constatado de que, diante do desemprego
estrutural, pessoas com maior grau de escolaridade também precisam recorrer à
atividade – que não exige nenhuma qualificação prévia – para sobreviver.
Agora, pra trabalhar, estão exigindo estudo e dão preferência pra quem é
mais jovem porque, inclusive, tem gente estudada que está cortando cana
(João).
Eu estudei o primeiro ano. Entrei na escola e saí. o sei ler e nem
escrever. Sei o nome, só. [...] A usina nunca me ofereceu outra
oportunidade de trabalho. Ela sempre oferece pra turma lá, mas pra quem
tem estudo, bastante estudo. [...] Eu sempre cortei cana. Fui guarda num
supermercado durante seis meses, mas parei. Parei porque não tinha
leitura. Precisava a leitura para trabalhar lá. Eles foram exigindo essas
coisas (José).
Eu estudei até o 2º ano de escola, sei ler e escrever. Tenho carteira de
motorista C e agora quero mudar de letra, para carteira profissional e tentar
trabalhar de motorista, se conseguir passar no teste. São três parcelas de
R$ 220 e eu estou juntando o dinheiro ainda. [...] Eu já trabalhei dentro de
usina. Só que a gente não parou a cabeça no lugar pra ficar só num
serviço. O que eu estou tentando agora é tirar uma carta de motorista, mas
até hoje não dei andamento nela e então eu continuo no serviço da lavoura
(João).
3.3 Conseqüências
Nos trechos do depoimento a seguir, Marcos relaciona os jovens sem
oportunidades, às drogas.
Se hoje existe uma população marginalizada, eu acho que o poder público,
a sociedade civil organizada tem que resolver esse problema, porque é um
problema da sociedade. Eles não têm que crucificar esses jovens que
estão entrando nas drogas, por estarem nessa marginalidade, porque às
vezes, isso é falta de opção, falta de serviço, falta de educação. Às vezes,
acabamos cruzando os braços e falando assim: “- deixa ele ir preso, deixa
a polícia levar”. Não é isso. Eu acho que a primeira coisa que temos que
discutir é a educação desses jovens, discutir a família desses jovens
(Marcos).
Já Pedro proclama a penúria do povo de Barrinha e as dificuldades da
administração em tentar suprir sozinha, as necessidades de seus habitantes:
Ontem o prefeito começou atender o povo às duas horas e quando era oito
horas da noite ainda estava atendendo. Eu acho que as usinas deviam
ajudar mais o povo de Barrinha, com remédios por exemplos, tirar um
pouco da carga da prefeitura (Pedro).
Aquela greve não resolveu nada. Barrinha é diferente das outras cidades
da região, o social de Barrinha é demais, o povo aqui é pobre, eu acho que
a região devia dar uma força pra cidade (Pedro).
Oriundos do campo e obrigados a viver nas cidades, a maioria destes
trabalhadores ainda manifesta sua tradição agrícola com uma vocação para a
lavoura. Em seu discurso, João deixa transparecer sua crença de que a
oportunidade de voltar às origens rurais o libertaria das privações alimentares que
vivencia.
que não tive um estudo melhor, uma oportunidade de ter um serviço pra
ganhar bem, meu sonho é ser independente, poder plantar e criar o que
vou comer. Eu cresci plantando e criando animais, eu tenho essa vocação.
Aqui na cidade, nós dependemos do supermercado e se não temos
dinheiro, não podemos comprar uma verdura (João).
Silva, M. A. M. em seu artigo intitulado “Reestruturação produtiva e os
impactos sobre os migrantes” (2001, p. 301) fala da existência de dois los
opostos: exclusão e inclusão, numa zona de possíveis alternativas para os
trabalhadores rurais, "caracterizadas sobretudo pela mobilidade precária, pela
vulnerabilidade, que se definem como momentos de luta para evitar a queda no
fosso da exclusão" e continua:
Vagando de um canto a outro neste imenso país, suportando as tarefas as
mais pesadas, discriminadas, muitas vezes, suportando até mesmo a
escravidão, desprovidas dos mínimos direitos, inclusive do direito de ir e
vir, posto que muita cidades constróem barreiras para evitar sua entrada, a
única esperança que possuem é o se tornarem mendigos, seres
desgarrados, condenados por uma verdadeira morte social. Mesmo
distantes, prendem a utopia de rever a família, de voltar um dia à terra de
origem, de encontrar trabalho para remeter aos que ficaram. É este
sentimento de pertencimento à família, a um determinado lugar, à condição
de trabalhador, de provedor, que lhes identifica, que lhes define. Esta é sua
identidade, ainda que em trânsito, transitória, provisória (SILVA, M. A. M.,
2001, p. 301).
Esta realidade pode ser verificada a seguir, quando João falar de seu maior
sonho:
Meu sonho era ter uma terra pra plantar de tudo e não precisar comprar no
mercado porque eu gosto muito de lavoura, eu sempre fui apaixonado por
plantar, criar, de tudo, um pouquinho (João).
E dá indicações de suas estratégias de subsistência:
Na minha idade está ficando difícil conseguir emprego, então, quando não
estou cortando cana, eu faço bico, várias coisas, de tudo, um pouco.
Conserto aparelhos domésticos, bicicletas, cato e vendo sucata, faço e
vendo produtos de limpeza. que, como eu estou empregado agora, não
estou fazendo. Eu também cuido de três terrenos, planto verdura. Mas
quando dá uma goteirinha, na época da chuva, eu consigo colher e vender.
Tudo é pro gasto. A ajuda, primeiro vem de Deus, depois recebo ajuda da
minha família, meu filho caçula recebe bolsa escola e vou teimando com a
vida (João).
Kanashiro; Reynol (2007, on-line) concluíram que não existem na atualidade
programas governamentais de readequação dessa mão-de-obra. Contudo, os
autores evidenciam a necessidade de participação da sociedade civil nesse
momento singular do setor sucroalcooleiro. Eles transcrevem a opinião do
economista Francisco José da Costa Alves, do Departamento de Engenharia da
Produção da Universidade Federal de São Carlos: “Se a sociedade não se organizar
agora para reivindicar soluções, os problemas ambientais e sociais desse setor vão
se aprofundar” (KANASHIRO; REYNOL, 2007, on-line).
Seguindo a linha da observação de Alves, verificamos que as autoridades
políticas e os empresários se atentaram às questões do meio ambiente e tem
tomado inúmeras providências a respeito. Porém, por meio de observações
sistemáticas, constatamos que as usinas, especificamente as usinas da região de
Ribeirão Preto, não se organizaram para discutir e, principalmente, para apresentar
soluções para os problemas sociais decorrentes das ações em prol das questões
ambientais nos referimos ao desemprego estrutural causado pelo processo de
mecanização.
Barrinha exporta funcionários para todas as usinas da região, então as
usinas tinham que ter responsabilidade social. Mesmo que a cidade tenha
um projeto para ajudar essas pessoas, eu acho que as usinas têm que
participar, pois os responsáveis por essa situação são os usineiros (Pedro).
Contudo, acreditamos ser importante transcrever a seguir o que o 10º artigo
da Lei Estadual 11.241, de 19 de Setembro de 2002 que dispõe sobre a
eliminação gradativa da queima da palha da cana-de-açúcar no Estado de São
Paulo e providências correlatas. O artigo trata da criação de alternativas para a
empregabilidade e sobrevivência dos trabalhadores rurais que perderem seus
empregos por conta da mecanização. Segundo a lei, essa responsabilidade se
restringe ao Poder Executivo [entendemos como sendo o Presidente, o Governador
e o Prefeito], com a participação e colaboração dos Municípios onde se localizam as
agroindústrias canavieiras e dos sindicatos rurais, excluindo os empresários do setor
sucroalcooleiro:
Artigo 10 - O Poder Executivo, com a participação e colaboração dos
Municípios onde se localizam as agroindústrias canavieiras e dos
sindicatos rurais criará programas visando:
I - à requalificação profissional dos trabalhadores, desenvolvida de forma
conjunta com os respectivos sindicatos das categorias envolvidas, em
estreita parceria de metas e custos;
II - à apresentação de alternativas aos impactos sócio-político-econômicos
e culturais decorrentes da eliminação da queima da palha da cana-de-
açúcar;
III - ao desenvolvimento de novos equipamentos que não impliquem
dispensa de elevado número de trabalhadores para a colheita da cana-de-
açúcar;
Com aparente ignorância em relação à lei – ou sabedoria em virtude da
experiência pessoal, Marcos atribui às usinas a culpa pela situação e a
responsabilidade pelo desenvolvimento de alternativas para a empregabilidade e
sobrevivência dos trabalhadores rurais em questão:
Quando isso acontecer [alto índice de desemprego] eles que não queiram
culpar os trabalhadores, o sindicato, porque os únicos responsáveis por
isso serão eles, aqueles que tem terra, que empregam e que
desempregam. Então, amanhã ou depois, esses trabalhadores vão estar
na rua, no mundo das drogas, é um problema social (Marcos).
As usinas também fazem parte dessa discussão, para que ajudem a
bancar esse projeto [Construindo Valores e Preparando Jovens para o
Futuro]. [...] Nós temos problemas, temos sim, mas estamos tentando
resolver. E isso se resolve junto, fazendo uma discussão junto à
sociedade civil organizada, o poder público e as empresas privadas [...]
mas parece que as usinas não estão se preocupando muito com isso, essa
é a verdade. Portanto, o sabemos ainda como que isso vai acontecer
(Marcos).
Marcos a reforma agrária como única solução, além de uma alternativa de
atuação para a instituição que representa:
Quando não existir mais cortador de cana, nós vamos trabalhar pela
sobrevivência das famílias que não têm emprego, com a reforma agrária,
com os assentamentos (Marcos).
Por isso, nossos representantes estaduais e federais devem ver isso com
muita cautela, pois hoje o usineiro não planta alimento, ele planta dinheiro
e esquece o social. Isso é muito grave e amanhã, quando a reforma agrária
estiver nascendo forte na porta das usinas, não podem reclamar da
situação, porque o pessoal não tem aonde ir, aonde trabalhar, não sabe ler,
nem escrever, não foi preparado, não teve apoio (Marcos).
Eu fico preocupado com relação a isso, de a coisa descambar de uma
maneira social e fugir do controle, sendo que eles todos [usineiros e donos
de terras] têm uma parcela grande de responsabilidade nisso (Marcos).
No trecho a seguir, Marcos demonstra a crença dos trabalhadores rurais com
relação aos resultados obtidos com o PROÁLCOOL:
Quando lançaram o PROÁLCOOL, foi com o objetivo de aumentar o uso de
mão-de-obra. Hoje s estamos vendo um setor avançado
tecnologicamente, que melhorou muito seu retorno. O setor tem como
repassar melhor isso para o trabalhador, oferecer um curso
profissionalizante (Marcos).
Por outro lado, Geraldo (1999) aponta uma imagem negativa do programa
perante a categoria que se manifestou desfavorável à sua retomada:
Em meados de 1997, momento de intensas discussões sobre a retomada
do PROÁLCOOL, a CONTAG (Confederação Nacional dos Trabalhadores
na Agricultura) representando 24 Federações de Trabalhadores na
Agricultura (FETAGS) e cerca de 3.200 Sindicatos de Trabalhadores Rurais
(STRS), divulgou um documento no qual manifestava grande preocupação
com as declarações do Governo Federal e dos empresários do setor
sucroalcooleiro sobre a reativação do PROÁLCOOL. As razões dessas
preocupações “residem nas experiências perversas pelas quais já
passaram os trabalhadores rurais em razão dos incentivos concedidos no
passado ao PROÁLCOOL”. [...] O documento relembra as conseqüências
danosas para os trabalhadores rurais do PROÁLCOOL criado em 1975.
“Foram carreados elevados recursos para usineiros e fornecedores de
cana-de-açúcar, gerando, de um lado, um significativo aumento de
produção e, de outro, um agravamento das desigualdades sociais. Ocorreu
uma grande concentração de terras, inclusive com destruição de sítios dos
trabalhadores; a monocultura de cana-de-açúcar se expandiu com seus
efeitos sociais, ecológicos e econômicos, concorrendo com a produção
alimentar dos agricultores familiares; postos de trabalho temporários foram
gerados, mas dada a monocultura não proporcionaram outra alternativa de
ocupação na entressafra para a maioria dos trabalhadores; e houve
crescimento do trabalho precário, com utilização de mão-de-obra escrava e
infantil, desrespeitando generalizadamente a legislação trabalhista gerando
legiões de bóia-frias" (GERALDO, 1999, p. 89).
Já Antônio, em seu depoimento, lembra a Lei nº 4.870, de Dezembro de 1965,
sobre a produção açucareira, a receita do Instituto do Açúcar e do Álcool – IAA e sua
aplicação, lei que deixou de vigorar, por iniciativa do setor, em 1999:
Essa lei não foi derrubada porque esna constituição, foi camuflada, está
sendo deixada para trás (Antônio).
A lei incluía um capítulo estabelecendo “Assistência aos Trabalhadores” em
que produtores de cana, açúcar e álcool eram obrigados a aplicar a importância
correspondente no mínimo, às percentagens de 1% sobre o comércio da cana, de
1% sobre o comércio do açúcar e 2% sobre o comércio do álcool, em serviços de
assistência médica, hospitalar, farmacêutica e social, em benefício dos
trabalhadores industriais e agrícolas das usinas, destilarias e fornecedores.
A receita foi aplicada de 1965 a 1999, quando os produtores de cana se
reuniram e decidiram sustar o pagamento sob a alegação de que o tabelamento do
preço do produto estabelecido aentão pelo IAA, havia acabado. Trabalhadores e
entidades de classe reclamam o direito ao benefício, alegando, inclusive, direito ao
valor que deixou de ser pago desde o final da década passada.
3.4 Percepções
Silva (1999) fala sobre o sentimento de exclusão, de negação do cortador de
cana perante outras classes da sociedade. Os depoimentos a seguir, reafirmam a
conclusão da autora:
3.4.1 Sentimento de ser ignorado:
É preciso fazer com que essas pessoas sejam enxergadas, visualizadas
como seres humanos (Marcos).
Nós não somos contra a mecanização, não somos contra o avanço
tecnológico, nós somos contra a forma como o processo essendo feito,
sem nenhuma discussão com uma entidade representativa desses
trabalhadores para que não haja um desemprego amanhã, para que não
haja um caos social como estamos prevendo que vai acontecer (Marcos).
3.5.2 Sentimento de ser humilhado:
Barrinha é humilhada perto de Sertãozinho. Eu não quero mais ser prefeito
porque não vou ser o salvador da pátria, o vou conseguir resolver os
problemas (Pedro).
3.4.3 Sentimento de ser preterido:
Aqui, preterido pelo Estado, que trabalhava para os usineiros:
20 anos a gente se reunia escondido, no fundo da casa de alguém. A
polícia procurava saber se tinha algum tipo de reunião. A situação era
muito complicada. O Estado estava a serviço dos usineiros (Marcos).
Entre os cortadores de cana entrevistados, observamos a incidência de
uniões conjugais instáveis, não formalizadas, sendo que a maioria encontrava-se na
segunda união. Todos tiveram filhos em pelo menos uma das uniões e quando se
unem pela segunda vez, trazem os filhos das uniões anteriores para conviverem na
mesma residência. Todos os trabalhadores rurais que entrevistamos viviam em
casas próprias, todas inacabadas paredes sem reboque, sem piso, sem muro etc.
e com menos de quatro cômodos. Alguns depoimentos a seguir retratam esta
realidade:
Vai fazer um ano que eu conheço meu amásio. Três filhos estão comigo e
dois moram com o pai (Ana).
Moro em casa própria. Tem quatro cômodos. Moramos em sete pessoas.
Minha esposa, dois filhos meus e três dela. Só eu trabalho (José).
Durante a análise do material apresentado neste terceiro eixo, dúvidas e
possibilidades dificultaram e limitaram nossa interpretação. Tivemos dúvidas sobre o
que fazer com tantos fragmentos e tantas informações e, entre outras constatações,
verificamos que as falas dos sujeitos permitiriam inúmeras outras interpretações,
outras hipóteses e novos de caminhos de pesquisa. Assim, cientes das relações
entre a memória individual e a coletiva, bem como de outros aspectos contemplados
pelos discursos e histórias de vida optamos por entender os relatos de forma a
apresenta-los num quadro coerente com os objetivos e com contexto desta
pesquisa.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
No início deste trabalho, nos propusemos a analisar e relacionar as
estratégias de sobrevivência e renda dos cortadores de cana da cidade de Barrinha
SP, investigar suas aspirações, perspectivas e reais necessidades, relacionando
as estratégias utilizadas e propondo outras, privilegiando àquelas que envolvam uma
participação responsável de toda a sociedade.
Embora tenham permanecido dúvidas, diante de tantas reflexões acabamos
por encontrar algumas respostas e concordar com algumas propostas de soluções
para a questão, ousando criar outras, cuja validade poderá ser confirmada caso
sejam utilizadas e expostas às sucessivas transformações que atingem a tudo e a
todos nós.
Dada a relevância econômica e social da atividade de corte manual da cana
para a cidade de Barrinha, bem como a relevância do setor sucroalcooleiro no
cenário nacional na atualidade, é importante fazer, neste momento, uma reflexão em
torno das tendências que esse setor vem assimilando, principalmente no que se
refere à mecanização de suas lavouras. Primeiro, porque esta análise permite
colocar e pensar os motivos, as possibilidades e as limitações dessa nova postura,
que apesar da indiscutível necessidade de adequação tecnológica, é sabido que
milhares de famílias ainda dependem da renda proporcionada pelo emprego nas
atividades manuais na lavoura. Segundo, porque, por meio de várias fontes
pesquisadas, pudemos constatar uma quase inexistente preocupação da sociedade
com a questão, o que acarreta a falta de reflexões e ações que poderiam sinalizar
caminhos e soluções.
Começamos por Veiga Filho (2007, on-line) afirmando que:
[...] em termos genéricos, estes são problemas comuns a outras atividades
econômicas, apesar de suas especificidades (que todas têm em função de
características que as condicionam), e sua existência não impediu que em
outros países o fenômeno da mecanização do corte tenha se consolidado
completamente.
O autor relata as indiscutíveis vantagens econômicas do processo:
Considerando que a matéria-prima da agroindústria canavieira é produzida
no campo e que sua participação na formação dos custos de açúcar e do
álcool gira em torno de 60%, sendo, portanto, bastante elevada, a evolução
técnica é fundamental para a competitividade nesse ramo, tanto pela
redução dos custos no processo de produção do açúcar e do álcool, bem
como dos preços dos sub-produtos e co-produtos no mercado (VEIGA
FILHO, 1999 apud RAMÃO; SCHNEIDER; SHIKIDA, 2007, p. 112).
E se refletirmos sobre a questão ambiental, fica mais difícil ainda não
concordar com Veiga Filho (2007, on-line), que defende a mecanização,
argumentando que embora os estudos sobre queimadas e seus efeitos no meio
ambiente e na saúde humana provoquem polêmicas, é cada vez mais difícil não
atentar para o agravamento da poluição atmosférica pela emissão de gases
poluentes e sua concentração nociva na camada denominada de troposfera
localizada a 15 km de altura ou na possibilidade de contribuir para as doenças
respiratórias. O autor ainda complementa mencionando as razões econômicas,
como o desperdício energético quando não se aproveita o material remanescente da
colheita, representado pelos ponteiros, folhas verdes e palhas.
Em busca por respostas, acabamos por encontrar outros motivos para a
intensificação da mecanização do corte que, desta vez, não estão relacionados aos
aspectos econômicos e legais, mas sim, a uma forma de manter o status quo.
que, segundo Alves (1991 apud VEIGA FILHO, 2007, on-line) as greves,
principalmente a de Guariba, em 1984, consolidou definitivamente um papel ativo
aos trabalhadores agrícolas da cana, que passaram a atuar como um coletivo
comprometido com a sobrevivência futura; a intensificação da mecanização do corte
veio como forma de repressão e de quebra da resistência a estes movimentos
organizados (grifo nosso).
Segundo Kanashiro e Reynol (2007, on-line), a UNICA confirma o fato de que
está havendo uma mudança na demanda de trabalho para este setor, sendo que
está ocorrendo um aumento da oferta de empregos para trabalhadores com maior
formação e melhor remuneração – geralmente no setor industrial, em áreas técnicas,
administrativas, de pesquisa e desenvolvimento e uma diminuição dos empregos
oferecidos no corte manual de cana em função da mecanização.
Desta forma, vivenciando estas condições, resta aos cortadores de cana
desenvolverem por si, estratégias de sobrevivência e renda. Conferimos durante a
leitura deste trabalho algumas especificidades das estratégias adotadas em Barrinha
- SP diante do desemprego ou da renda insuficiente para subsistência da família.
Neste momento, porém, limito-me a relacioná-las:
- retornar ao local de origem – no caso dos migrantes;
- esperar, sem trabalho e sem renda, a cana brotar outra vez;
- selecionar e comercializar material reciclável;
- buscar ajuda na prefeitura;
- buscar ajuda de parentes;
- usar renda proveniente da aposentadoria de algum familiar;
- buscar ajuda de programas governamentais como Bolsa Escola e Bolsa Falia;
- cultivar alimento em terrenos baldios, sendo que parte é destinada para
consumo próprio e parte para comercialização;
- manipular e vender produtos de limpeza;
- consertar bicicletas e eletrodomésticos;
- trabalhar como doméstica em cidades vizinhas – no caso das mulheres;
- trabalhar na construção civil – no caso dos homens;
- tentar ingressar em outra atividade não ligada ao meio rural, seja nas
indústrias das usinas, em outras indústrias ou no meio urbano.
Uma estratégia que pode ser incluída às relacionadas acima é a apontada por
Maria Aparecida Silva (2001), quando afirma que na região de Ribeirão Preto
existem nos acampamentos de sem terra muitos migrantes que não conseguiram
emprego nas usinas ou fazendas.
A participação dos migrantes neste Movimento, que no momento é o mais
expressivo do país, é um indicador importante das possibilidades de
mudanças e buscas de alternativas por parte daqueles que estão
vivenciando o processo de exclusão-inclusão precária (SILVA, M. A. M.,
2001, p. 300).
E confirmada por Geraldo (1999, p. 90, destaque do autor):
Excluídos da possibilidade de continuar vendendo sua força de trabalho
aos fazendeiros e aos usineiros da região, desprovidos de capacidade
técnica para acompanhar as inovações tecnológicas que os colocariam em
condições de concorrer a um lugar no restrito mercado de trabalho, muitos
desses trabalhadores uniram-se em torno de uma luta, de um ideal, de um
movimento, de uma esperança: “a aquisição de um pedaço de terra para
viver”.
Diante da ordem social estabelecida que se mostra insustentável, buscamos
dados sobre ações que poderiam reverter esta condição. Contudo, infelizmente, o
que constatamos por partes de alguns organismos sindicato e poder executivo
municipal foram apenas projetos o concretizados e assistencialismo, do tipo de
ação social definido por Ariovaldo Oliveira (2004) como:
Executada geralmente por Estados ou grupos particulares, que o
assistência aos mais carentes, aos excluídos, aos quais atendem de forma
temporária e imediata sem se preocupar em resolver definitivamente seus
problemas sociais e ecomicos ou em ajudá-los a construir instrumentos para
sair da situação em que se encontram. Em muitos casos, o assistencialismo
pode ser também uma forma de controle social e potico do Estado sobre os
setores excldos da sociedade. (OLIVEIRA, A. U., 2004, p. 240).
Observamos que as usinas também não dispõem de projetos ou ações neste
sentido. O que costumam fazer é transferir alguns cortadores de cana os que
estudaram por mais tempo e apresentam comportamento mais adequado para a
empresa para outras funções na lavoura ou nas indústrias. Elas também
costumam manter projetos de bolsas de estudos e qualificação através de
treinamentos in loco estritamente para seus funcionários permanentes, não
considerando a massa de trabalhadores que deixou de ser contratada no período de
safra.
Assim, concordamos com Paulillo, Mello e Vian (2006, apud RAMÃO;
SCHNEIDER; SHIKIDA, 2007) quando defendem que as ações de políticas públicas
devem contemplar o desemprego desses milhares de trabalhadores rurais em
função da mecanização das atividades de plantio, corte e carregamento de cana e
da implantação de outras tecnologias poupadoras de mão-de-obra no setor
sucroalcooleiro nos últimos anos. Os autores colocam que, constatada a
irreversibilidade da mecanização pela busca por maior produtividade e
competitividade pelo setor: “Cabe ao Governo criar mecanismos como cursos de
reciclagem e qualificação desses trabalhadores que facilite sua inserção em outras
atividades, seja no meio rural ou no meio urbano” (PAULILLO; MELLO; VIAN, 2006,
p. 110-111 apud RAMÃO; SCHNEIDER, 2007, p. 114).
Entendo Governo como Poder Executivo (Presidente, Governador e Prefeito)
ousamos ainda ampliar a responsabilidade por esses mecanismos que devem ser
adotados também pelos sindicatos e demais entidades representativas, além de
enfatizar a necessidade de ações de responsabilidade social por parte do setor
sucroalcooleiro voltadas para esta categoria de trabalhadores na tentativa de mudar
a paisagem que Ianni (1976, p.24) visualizava: “para uns, a cana é doce, para
outros, a maioria, ela é áspera”.
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2003.
APÊNDICES
APÊNDICE A - SUJEITOS ENTREVISTADOS
JOÃO - 48 anos, amasiado, cortador de cana, duas uniões, dois filhos da segunda
união. Reside em casa própria inacabada, de três cômodos, num terreno em que
foram construídas mais quatro pequenas residências onde moram: 1. Seu pai. 2.
Sua mãe (separada do pai) e um irmão solteiro. 3. Um irmão solteiro. 4. Um irmão
casado, a esposa e quatro filhos do casal. O bairro onde se localiza sua residência é
asfaltado.
ANA - 28 anos, amasiada com cortador de cana, dona-de-casa, ex-cortadora de
cana, duas uniões, cinco filhos da primeira união. O bairro onde reside fica
praticamente às margens do Rio Mogi Guacu e ainda não foi asfaltado.
JOSÉ - 37 anos, amasiado, cortador de cana, duas uniões, quatro filhos da primeira
união. O bairro onde reside fica praticamente às margens do Rio Mogi Guaçu e
ainda não foi asfaltado.
MARCOS - ex-trabalhador rural, ex-vereador, representante de classe,
representante da administração do município.
ANTÔNIO - trabalhador rural aposentado por invalidez, representante de classe.
PEDRO - ex-prefeito e representante da administração do município.
APÊNDICE B - TERMO DE CONSENTIMENTO
__________________, ___ de _______________ 2007.
Eu, __________________________________________________________,
RG ________________________________ autorizo a gravação de minha
entrevista com a finalidade de colaborar com a pesquisa de campo intitulada OS
CORTADORES DE CANA DE BARRINHA / SP: ESTRATÉGIAS DE
SOBREVIVÊNCIA, RENDA E ASCENSÃO SOCIALde Fabiana Alexandre Ferreira
Nicolini, RG 24490809-6, aluna regularmente matriculada no curso de mestrado
SERVIÇO SOCIAL pela Faculdade de História, Direito e Serviço Social da
Universidade Estadual Paulista (UNESP), Campus de Franca, sob orientação do
Prof. Dr. Ubaldo Silveira.
Estou ciente de que este material será ouvido pela referida aluna e seu
orientador, que serão utilizados trechos de minha entrevista no trabalho mencionado
acima, mas que será mantido sigilo sobre a minha identificação.
_________________________________________________
ANEXOS
ANEXO A - A CIDADE DE BARRINHA SP
1. ASPECTOS FÍSICOS
ÁREA: 144 Km
2
LOCALIZAÇÃO: Nordeste do Estado de São Paulo
LIMITES: Norte – Sertãozinho
Sul – Pradópolis
Leste – Dumont
Oeste – Jaboticabal
DISTÂNCIA DA CAPITAL: 360 km
ALTITUDE: 492 m
CLIMA: Quente e seco
LATITUDE: 21º, 11', 37"
LONGITUDE: 48º, 9', 50"
TEMPERATURA: 25º a 27º
HIDROGRAFIA: Rio Mogi-Guaçu
POPULAÇÃO: 21.905 habitantes
DATA DE FUNDAÇÃO: 30/12/53
2. SISTEMA ECONÔMICO E ATIVIDADES PRODUTIVAS
ECONOMIA PREDOMINATE: Lavoura canavieira e pequeno comércio.
AGRICULTURA: Principais culturas: cana-de-açúcar, amendoim, e
algodão (estas últimas sazonais)
RIQUEZAS NATURAIS: Areia e barro para cerâmica.
COMÉRICO E ESTABELECIMENTOS (números aproximados):
Restaurantes 04 Bares 50
Hotéis 01 Quitandas 08
Açougues 12 Sorveterias 05
Armazéns 22 Supermercados 07
Empórios 15 Panificadoras 05
Lanchonetes 08 Lojas 15
Postos de Gasolina 03 Porto de Areia 01
2.1 REPARTIÇÕES PÚBLICAS:
Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos - ETC
Companhia Paulista de Força e Luz
2.2 ORGANIZAÇÕES
Associação Comercial e Industrial de Barrinha - ACIB
2.3 OUTROS ESTABELECIMENTOS:
Bradesco S/A
Banespa S/A
Nossa Caixa - Nosso Banco S/S
2.4 TRABALHO
A maioria da população de ambos os sexos, na faixa etária de 17 a 50 anos, exerce
função remunerada, no trabalho da zona rural, na lavoura da cana-de-açúcar
obtendo nível salarial de 03 salários mínimos durante a safra que vai de abril a
outubro. 20% das mulheres prestam serviços como empregadas domésticas em
Ribeirão Preto, por estar próximo a Barrinha.
3. SISTEMA DE EDUCAÇÃO
3.1 ESCOLAS ESTADUAIS
EEPSG "Prof. José Luiz de Siqueira" EEPG "Dr. Paulo da Silva Prado"
EEPG "Prof. Darvy Mascaro" EEPG "Luiz Marcari"
3.2 ESCOLAS MUNICIPAIS
EMEF. "Armínio Giraldi"
3.3 EDUCAÇÃO DOS PORTADORES DE DEFICIÊNCIA
CAEME - Centro de Atendimento Educacional Para Menor Especial - desenvolve
atividades psico-pedagógicas com 60 (sessenta) crianças, na faixa etária de 03 a 33
anos, permanecendo na entidade meio período. O transporte é de responsabilidade
da entidade. Os pais foram orientados para solicitarem o benefício de prestação
continuada, os quais 50% foram beneficiados.
3.4 SISTEMA DE CULTURA
01 Biblioteca Pública Municipal (Amaral Furlan)
Festas comemorativas:
Carnaval e Páscoa
Maio - Dia do Trabalho e Dia das Mães
Junho – Festas Juninas e Dia do Padroeiro da Cidade (24 – São João)
Agosto – Festa do Peão de Rodeio
Setembro – Baile da Primavera da 3ª idade e independência do Brasil
Outubro – Dia da Criança – Festa das Nações / Expo-Barrinha
Novembro – Dia da Bandeira
Dezembro – Aniversário da cidade (30) e Confraternização de Natal
3.5 SISTEMA DE LAZER
01 campo de futebol oficial – Estádio Municipal "Atílio Balbo Filho"
01 área de lazer coberta para jogos de vôlei, futebol de salão e jogos de malha
01 Praça Pública
Jardim Japonês (típico)
Praça da Bíblia
Parque Infantil "Josana Carla"
3.6 MEIOS DE COMUNICAÇÃO
Telégrafo – Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos - ECT
Veículo da Municipalidade para divulgação sonora de anúncios considerados de
utilidade pública
Rede de telefonia celular e convencional – TELESP
4. SISTEMA DE SAÚDE
4.1 NÚMERO DE UNIDADES
MUNICIPAL
02 Centros de saúde 01 Pronto-Socorro Municipal
01 Farmácia 01 Centro Odontológico
MUNICIPAL
01 Consultório de Fisioterapia 01 Laboratório de Análises Clínicas
01 Equipamento de Raio X
PARTICULAR
08 Farmácias 06 Consultórios Dentários
04 Consultórios Médicos 02 Laboratórios de Análises Clinicas
01 Hospital (Fleming) 01 Filial da UNIMED
4.2 Pronto-Socorro MUNICIPAL
Funciona com atendimento de emergência primárias, tendo como referência
secundária e terciária a cidade de Ribeirão Preto.
ATIVIDADES DESENVOLVIDAS
01 ônibus para transporte de pacientes 02 ambulâncias
Transporte de pacientes para os postos
de referências em Ribeirão Preto
Atendimento básico (suturas, aplicações
medicamentosas, aerossol e curativos).
Consultas médicas de urgência
4.3 NO CENTRO DE SAÚDE MUNICIPAL
ATIVIDADES DESENVOLVIDAS
Consultas médicas Atendimento de enfermagem
Aplicações de tratamentos Curativos
Imunização Coleta Municipal para Exame (I.A.L.).
Trabalho educativo com grupo de gestantes
Saneamento
4.4 UNIDADE DE SAÚDE MENTAL
A unidade conta com 372 pessoas matriculadas, as quais realizam tratamento com
Psiquiatra, Psiquiatra infantil. Psicólogos, recebendo orientações e
acompanhamento da Assistente Social.
4.5 CENTRO ODONTOLÓGICO
Consultas odontológicas.
Prevenção, tratamento e extrações.
Trailers nos bairros para orientação e prevenção.
5. SISTEMA DE TRANPORTE
5.1 RODOVIAS QUE SERVEM O MUNICIPIO:
SP-333 - Rodovia "Carlos Tonanni": liga Barrinha aos municípios de Jaboticabal,
Sertãozinho e Ribeirão Preto.
Estrada Vicinal "Said Ahmed Saleh": liga Barrinha ao município de Pradópolis.
5.2 MEIOS DE TRANPORTE
Rodoviários: Viações São Bento, Rápido D'Oeste e Expresso Itamarati
Ferroviário: Ferrovia Paulista S/A - FEPASA
6. SISTEMA DE SANEAMENTO E HABITAÇÕES
6.1 O MUNICÍPIO É DIVIDIDO PELOS SEGUINTES BAIRROS:
Centro Jardim Paulista
Vila Recreio Vila São José
Vila Nova Barrinha Jardim Higienópolis
Parque Mogi Conjunto Habitacional "Jardim José Bombonato I e II"
C.D.H.U. Jardim Vera Lúcia (em fase de Implantação).
6.2 CONDIÇÕES DAS HABITAÇÕES
70% da população possui casa própria e o restante da população paga aluguel.
Existem muitas moradias coletivas devido ao fluxo de migrantes para o trabalho na
lavoura de cana-de-açúcar na época da safra.
7. SISTEMA SOCIAL
7.1 ATENDIMENTO OFERECIDO PELA PREFEITURA MUNICIPAL
Departamento de Promoção e Assistência Social.
7.2 ENTIDADES FILANTRÓPICAS:
Asilo São Vicente de Paulo – Casa do Menor – Albergue Noturno "Dr. Plínio Baia".
7.3 ATIVIDADES RECREATIVAS APROVEITADAS PELA POPULAÇÃO.
Pescarias: no Rio Mogi-Guaçu, em Pesque-Pagues e na Lagoa Artificial do Conjunto
Habitacional "Jose Bombonato".
Futebol.
Jogos de baralho e malhas.
7.4 OUTROS:
Loja Maçônica Rotary Club
Albergue Noturno "Dr. Plínio Baia" Despensa e Artesanato Vivcentino
8. SISTEMA DE SEGURANÇA PÚBLICA.
8.1 POLÍCIA MILITAR
RECURSOS HUMANOS
01 Tenente 02 Cabos
13 Policiais
RECURSOS MATERIAIS
02 Viaturas 01 Rádio de Comunicação
8.2 POLÍCIA CIVIL
RECURSOS HUMANOS
01 Delegado de Polícia 02 Investigadores
03 Escrivães 02 Escriturários
01 Auxiliar de Serviços
RECURSOS MATERIAIS
02 Viaturas
I – INTRODUÇÃO
O objetivo do Departamento de Assistência Social em parceria com o Fundo Social
de Solidariedade, é atuar com crianças, adolescentes, famílias, idosos e portadores
de deficiências, garantindo-lhes programas sócio-educativos e ações comunitárias,
oferecendo atendimento globalizado às famílias, desenvolvendo projetos que visam
integração do grupo familiar ao meio social, através de ações participativas e
transformadora fortalecendo as condições voltadas ao auto-desenvolvimento
econômico e social.
A consecução deste trabalho se efetivará após análise do Município e
conseqüentemente a sensibilização, motivação e organização da comunidade,
assegurando um trabalho em nível promocional.
II - OBJETIVO
2.1 GERAL
Estabelecer diretrizes cuja política globalizada correspondam as ações que
signifiquem respostas às necessidades dos diversos segmentos da população.
2.2 ESPECÍFICO
Promover relações familiares e comunitárias, bem como melhoria da qualidade de
vida.
Promover palestras, lazer e esporte.
Articular com equipe multi-profissional, estudos e intercâmbio de experiências,
visando integração de recursos.
Desenvolver e implementar a Política Social no Município
Desenvolver cursos profissionalizantes e de iniciação ao trabalho, visando geração
de renda.
III - PROGRAMA
3.1 PLANTÃO SOCIAL:
De acordo com a necessidade dos usuários que procuram o plantão, são oferecidos
os seguintes recursos:
Triagem social e parecer técnico Cesta básica
Medicamento Transporte (passe, condução e outros)
Vestuário Providências para documentos
Solicitação de prótese Contatos telefônicos
Migrantes, itinerantes Leite para crianças até 02 anos
Visita domiciliar Estudo e acompanhamento de caso
Óculos Cadeiras de rodas
Colchão d'água
3.2 PREVENÇÃO AO USO DE DROGAS
O Grupo "Amor Exigente" e reúne às 3ª e 5ª feiras com usuários e familiares,
objetivando prevenir o uso indevido de drogas. Contamos com fazenda no Município
de Sertãozinho, mantida pelo Grupo "Amor Exigente", o qual oferece tratamento aos
dependentes, quando encaminhados por nossa equipe de Saúde Mental, após
participarem 04 reuniões do grupo.
3.3 I.A.F.A.M.
Instituto de Assunto da Família, repasse de verba em parceria com a Prefeitura
Municipal, beneficiando 15 famílias, as quais selecionadas pelo Serviço Social,
através de estudo sócio-econômico.
São realizadas reuniões mensais com as famílias, visando acompanhamento técnico
para que as famílias transformem o recurso em geração de renda.
3.4 GRUPO DA TERCEIRA IDADE
Contamos com o grupo formado por 130 pessoas com idade acima de 55 anos, as
quais se reúnem 03 vezes por semana:
4ª feiras - para conversar assuntos de interesse comum.
6ª feiras - palestra com bióloga de SESI, para falar sobre saúde.
Sábado: dançam no Centro Comunitário, viajam para outras cidades da região, e
também recebem grupos de outras cidades.
Participam de todos eventos que são promovidos na cidade.
3.5 ASSESSORIA E APOIO ÀS ESCOLAS
No caso da criança apresentar problemas escolares em relação a baixo rendimento
e de indisciplina, o Diretor solicita atuação da Assistente Social a qual realiza estudo
social através de:
Visita domiciliar Estudo e análise de casos
Orientações à família Encaminhamento a outros profissionais
Parecer técnico
3.6 CRIAÇÃO DE CONSELHOS
Articulações e coordenação dos mesmos. Já foram criados:
Conselho Municipal de Assistência Social
Conselho Municipal do Fundo de Assistência Social
Conselho Municipal do Idoso
Conselho Municipal da Educação
Conselho Municipal da Saúde
Conselho da Assistência Social (LOAS)
3.7 CURSOS DE INICIAÇÃO AO TRABALHO E CAPACITAÇÃO PROFISSIONAL,
JÁ EXISTENTES:
Corte e costura (SESI) Arte e culinária (SESI)
Pintura em tecido (SESI) Vagonite
Confecção de boneca de lã Pintura em papel vegetal
Pintura em tecido (agente multiplicador) Manicure e pedicure
Fonte: adaptado de: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO. Centro de Divulgação
Científica e Cultural. Programa Educ@r: Barrinha. Disponível em:
<http://educar.sc.usp.br/biologia/cp/Barrinha/pagina1.htm>.
ANEXO B - LEI ESTADUAL Nº 11.241, DE 19 DE SETEMBRO DE 2002
Dispõe sobre a eliminação gradativa da queima da palha da cana-de-açúcar e
providências correlatas.
O GOVERNADOR DO ESTADO DE SÃO PAULO:
Faço saber que a Assembléia Legislativa decreta e eu promulgo a seguinte lei:
Artigo - Esta lei dispõe sobre a eliminação do uso do fogo como método
despalhador e facilitador do corte da cana-de-açúcar.
Artigo - Os plantadores de cana-de-açúcar que utilizem como método de
précolheita a queima da palha são obrigados a tomar as providências necessárias
para reduzir a prática, observadas as seguintes tabelas:
ANO
ÁREA MECANIZÁVEL ONDE NÃO SE
PODE EFETUAR A QUEIMA
PERCENTAGEM DE ELIMINAÇÃO
DA QUEIMA
1º ano 20% da área cortada 20% da queima eliminada (2002)
5º ano 30% da área cortada 30% da queima eliminada (2006)
10º ano 50% da área cortada 50% da queima eliminada (2011)
15º ano 80% da área cortada 80% da queima eliminada (2016)
20º ano 100% da área cortada Eliminação total da queima (2021)
ANO ÁREA NÃO MECANIZÁVEL COM DECLIVIDADE SUPERIOR A
12% E / OU DA QUEIMA MENOR DE 150h
(cento e cinqüenta hectares)
PERCENTAGEM DE ELIMINAÇÃO
ONDE NÃO SE PODE EFETUAR
A QUEIMA
10º ano 10% da área cortada 10% da queima eliminada (2011)
15º ano 20% da área cortada 20% da queima eliminada (2016)
20º ano 30% da área cortada 30% da queima eliminada (2021)
25º ano 50% da área cortada 50% da queima eliminada (2026)
30º ano 100% da área cortada 100% da queima eliminada (2031)
§ 1º - Para os efeitos desta lei consideram-se:
1 - áreas mecanizáveis: as plantações em terrenos acima de 150 ha (cento e
cinqüenta hectares), com declividade igual ou inferior a 12% (doze por cento), em
solos com estruturas que permitam a adoção de técnicas usuais de mecanização da
atividade de corte de cana;
2 - áreas não mecanizáveis: as plantações em terrenos com declividade superior a
12% (doze por cento), em demais áreas com estrutura de solo que inviabilizem a
adoção de técnicas usuais de mecanização da atividade de corte de cana.
§ - Aplica-se o disposto neste artigo às áreas de cada imóvel rural,
independentemente de estar vinculado a unidade agroindustrial.
§ 3º - As áreas cultivadas em que se deixar de empregar o fogo poderão ser substituídas
por outras áreas cultivadas pelo mesmo fornecedor ou pela mesma unidade
agroindustrial, desde que respeitado o percentual estabelecido no "caput" deste artigo.
Artigo 3º - Os canaviais plantados a partir da data da publicão desta lei, ainda que
decorrentes da expansão dos eno existentes, ficarão sujeitos ao disposto no artigo .
Parágrafo único - Não se considera expansão a reforma de canaviais existentes
anteriormente à publicação desta lei.
Artigo 4º - Não se fará a queima da palha da cana-de-açúcar a menos de:
I - 1 (um) quilômetro do perímetro da área urbana definida por lei municipal e das
reservas e áreas tradicionalmente ocupadas por indígenas;
II - 100 (cem) metros do limite das áreas de domínio de subestões de energia etrica;
III - 50 (cinqüenta) metros contados ao redor do limite de estação ecológica, de
reserva biológica, de parques e demais unidades de conservação estabelecidos em
atos do poder federal, estadual ou municipal e de refúgio da vida silvestre, conforme
as definições da Lei federal nº 9.985, de 18 de julho de 2000;
IV - 25 (vinte e cinco) metros ao redor do limite das áreas de domínio das estações
de telecomunicações;
V - 15 (quinze) metros ao longo dos limites das faixas de segurança das linhas de
transmissão e de distribuição de energia elétrica;
VI - 15 (quinze) metros ao longo do limite das áreas de domínio de ferrovias e
rodovias federais e estaduais.
Parágrafo único - A partir dos limites previstos nos incisos anteriores, deverão ser
preparados, ao redor da área a ser submetida ao fogo, aceiros de, no mínimo, 3
(três) metros, mantidos limpos e não cultivados, devendo a largura ser ampliada,
quando as condições ambientais, incluídas as climáticas, e as condições
topográficas exigirem tal ampliação.
Artigo 5º - O responsável pela queima deverá:
I - realizar a queima preferencialmente no período noturno, compreendido entre or e o
nascer do sol, evitando-se os períodos de temperatura mais elevada e respeitando-se as
condições dos ventos predominantes no momento da operação de forma a facilitar a
dispersão da fumaça e minimizar eventuais incômodos à populão;
II - dar ciência formal e ineqvoca aos confrontantes, por si ou por seus prepostos, da
intenção de realizar a queima controlada, com o esclarecimento de que, oportunamente,
a operão será confirmada com indicão de data, hora de icio e local;
III - dar ciência formal, com antecedência mínima de 96 (noventa e seis) horas, da
data, horário e local da queima aos lindeiros e às unidades locais da autoridade do
Departamento Estadual de Proteção de Recursos Naturais - DEPRN;
IV - quando for o caso, sinalizar adequadamente as estradas municipais e vicinais,
conforme determinação do órgão responsável pela estrada;
V - manter equipes de vigilância adequadamente treinadas e equipadas para o controle
da propagão do fogo, com todos os petrechos de segurança pessoal necesrios;
VI - providenciar o acompanhamento de toda a operação de queima, até sua
extinção, com vistas à adoção de medidas adequadas de contenção do fogo na área
definida para o emprego do fogo.
Parágrafo único - É vedado o emprego do fogo, numa única operação de queima,
em área contígua superior a 500 ha (quinhentos hectares), independentemente de o
requerimento ter sido feito de forma individual, coletiva ou por agroindústria.
Artigo - O requerimento de autorização, para cada imóvel, independentemente de
estar vinculado a agroindústria, deve ser instruído nos termos do regulamento.
§ 1º - Sendo contíguos os imóveis, o requerimento de autorizão pode ser instrdo com
uma única planta, observadas as exigências fixadas, sendo que cada imóvel deverá ser
referido à respectiva matrícula ou ao documento imobiliário a que corresponder.
§ - Considera-se comunicação de queima controlada de palha de cana-de-açúcar
o documento subscrito pelo interessado no emprego do fogo para despalhamento da
cana-de-açúcar, mediante o qual ciência à autoridade ambiental, ou ao órgão
regional que esta determinar competente, de que cumpriu os requisitos e as
exigências do artigo 4º da Lei nº 10.547, de 2 de maio de 2000, e desta lei.
§ - O requerimento para a queima pode ser apresentado individualmente pelo
titular do imóvel, por grupo de titulares ou por agroindústria que mantenha com o
mesmo titular, ou diversos titulares, contrato de arrendamento, parceria ou outro
instrumento hábil a garantir o fornecimento de cana-de-açúcar para suas atividades.
§4º - No caso de grupo de titulares, o documento poderá ser subscrito pela
associação de fornecedores de cana-de-açúcar da região onde se insere a área
objeto da queima, ficando os associados responsáveis pelo cumprimento das
exigências legais e a entidade apenas pela apresentação dos documentos
necessários à instrução do requerimento.
§ - Excepcionado o disposto no parágrafo anterior, caso o requerimento seja feito
por grupo de titulares ou por agroindústria, cabe ao interessado subscrever a
comunicação de queima controlada.
§ - O requerimento será instruído com procuração específica, quando efetuado
por terceiro, pessoa física ou jurídica.
Artigo 7º - A autoridade ambiental determinará a suspensão da queima quando:
I - constatados e comprovados risco de vida humana, danos ambientais ou
condições meteorológicas desfavoráveis;
II - a qualidade do ar atingir comprovadamente índices prejudiciais à saúde humana,
constatados segundo o fixado no ordenamento legal vigente;
III - os níveis de fumaça originados da queima, comprovadamente, comprometam ou
coloquem em risco as operações aeronáuticas, rodoviárias e de outros meios de
transporte.
Artigo - Os requerimentos para a queima devem ser protocolados até o dia 2 de
abril de cada ano, na unidade do Departamento Estadual de Proteção de Recursos
Naturais - DEPRN que atender a respectiva região.
§ 1º - A autorização será expedida:
1 - no prazo de 15 (quinze) dias úteis, a contar da data em que for protocolado o
requerimento, salvo se houver exigência a ser cumprida, que deverá ser comunicada ao
interessado por escrito, no prazo de 10 (dez) dias úteis, a contar da data do protocolo;
2 - no prazo de 15 (quinze) dias úteis, a contar da data do cumprimento da exigência
a que se refere o item anterior;
3 - expirados os prazos constantes neste parágrafo, considera-se automaticamente
concedida a respectiva autorização, independentemente de sua comunicação ou de
qualquer outra manifestação da autoridade ao requerente.
§ - O requerimento de que trata o "caput" deste artigo podeser enviado por
meios de comunicação eletrônicos.
Artigo - A Secretaria de Agricultura e Abastecimento manterá cadastro das
colheitadeiras disponíveis, por tipo, capacidade, idade e outros elementos essenciais,
bem como de todas as novas colheitadeiras ou equipamentos ligados à operão.
Artigo 10 - O Poder Executivo, com a participação e colaboração dos Municípios
onde se localizam as agroindústrias canavieiras e dos sindicatos rurais criará
programas visando:
I - à requalificação profissional dos trabalhadores, desenvolvida de forma conjunta
com os respectivos sindicatos das categorias envolvidas, em estreita parceria de
metas e custos;
II - à apresentação de alternativas aos impactos sócio-político-econômicos e
culturais decorrentes da eliminação da queima da palha da cana-de-açúcar;
III - ao desenvolvimento de novos equipamentos que não impliquem dispensa de
elevado número de trabalhadores para a colheita da cana-de-açúcar;
IV -ao aproveitamento energético da queima da palha da cana-de-açúcar, de modo a
possibilitar a venda do excedente ao sistema de distribuição de energia elétrica.
Artigo 11 - A Secretaria de Agricultura e Abastecimento, através dos órgãos e dos
Conselhos Municipais e maras Setoriais da Cana-de-Açúcar, com a participação
das demais Secretarias envolvidas, acompanhará a modernização das atividades e
a avaliação dos impactos da queima sobre a competitividade e ocorrências na
cadeia produtiva.
Artigo 12 - A Secretaria de Agricultura e Abastecimento, ouvida a Secretaria do Meio
Ambiente, deverá autorizar, excepcionalmente, a queima da palha da cana-de-
açúcar, com base em estudos técnico-científicos, como instrumento fitossanitário.
Artigo 13 - O não cumprimento do disposto nesta lei sujeita o infrator, pessoa física
ou jurídica, às sanções e penalidades previstas na legislação.
Artigo 14 - O inciso IV e o § do artigo da Lei 10.547, de 2 de maio de 2000,
passam a ter a seguinte redação:
"IV - no limite da linha que simultaneamente corresponda:
a) à área definida pela circunferência de raio igual a 6.000 (seis mil) metros, tendo
como ponto de referência o centro geométrico da pista de pouso e decolagem do
aeroporto público; (NR)
b) à área cuja linha perimetral é definida a partir da linha que delimita a área
patrimonial do aeroporto público, dela distanciando no mínimo 2.000 (dois mil)
metros, externamente, em qualquer de seus pontos. (NR)
§ - Quando se tratar de aeroporto público que opere somente nas condições
visuais diurnas (VFR) e a queima se realizar no período noturno compreendido entre
o pôr do sol e o nascer do sol, será observado apenas o limite de que trata a alínea
"b" do inciso IV." (NR)
Artigo 15 - Esta lei será regulamentada no prazo de 60 (sessenta) dias.
Artigo 16 - Esta lei e suas disposições transitórias entram em vigor na data de sua
publicação, ficando revogados o § do artigo e os artigos 16 e 17 da Lei
10.547, de 2 de maio de 2000.
DISPOSIÇÕES TRANSITÓRIAS
Artigo - Os plantadores de cana-de-açúcar que não atingirem, até 31 de
dezembro de 2006, o percentual estabelecido de 30% (trinta por cento) de redução
da queima na área mecanizável deverão apresentar à Secretaria do Meio Ambiente,
no prazo de 90 (noventa) dias daquela data, plano de adequação para elaboração
do Compromisso de Ajustamento de Conduta, de modo a atender a meta
estabelecida no artigo desta lei, resguardados os impactos sócio-político-
econômicos e ambientais.
Artigo - O cumprimento dos prazos para eliminação da queima em áreas não
mecanizáveis, estabelecidos no artigo desta lei, fica condicionado à
disponibilidade de máquinas e equipamentos convencionais que permitam o corte
mecânico em condições econômicas nas áreas cultivadas com cana-de-açúcar, sem
restrições de declividade superior a 12% (doze por cento) ou de estruturas de solos.
Artigo 3º - A partir de 2006, quinquenalmente, deverão os prazos constantes do
artigo desta lei, referentes às áreas não mecanizáveis, serem reavaliados de
acordo com o desenvolvimento tecnológico que viabilize novas quinas, para a
colheita mecânica, sem descurar do aspecto social econômico, preservando-se a
competitividade da agroindústria da cana-de-açúcar paulista frente a dos demais
Estados produtores.
Parágrafo único - As áreas que passarem a ser consideradas mecanizáveis em
função da revisão do conceito de que trata o "caput" deste artigo deverão submeter-
se ao cronograma previsto em tabela constante do artigo 2º desta lei.
Palácio dos Bandeirantes, 19 de setembro de 2002.
GERALDO ALCKMIN
Lourival Carmo Mônaco
Respondendo pelo expediente da Secretaria de Agricultura e Abastecimento
José Goldemberg
Secretário do Meio Ambiente
Rubens Lara
Secretário-Chefe da Casa Civil
Dalmo Nogueira Filho
Secretário do Governo e Gestão Estratégica
Publicada na Assessoria Técnico-Legislativa, aos 19 de setembro de 2002.
FONTE D.O.E. DATA PUB. 20/09/02
SEÇÃO I VOLUME 112
PÁGINA 02 NÚMERO 180
Fonte: SECRETARIA DE ESTADO DO MEIO AMBIENTE. Companhia de
Tecnologia de Saneamento Ambiental. Disponível em:
<http://www.cetesb.sp.gov.br/licenciamentoo/legislacao/estadual/leis/2002_L
ei_Est_11241.pdf >. Acesso em: 21 out. 2007.
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