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atitudes que considerava importantes para me ajudar a entender um pouco das ações e reações
de cada criança frente às situações de aprendizagem. Por exemplo, a atitude de proteção da
aluna Jc. em relação às bonecas, quando brincava de casinha, era a mesma que apresentava
em relação ao colega que mais precisava de ajuda para realizar as tarefas escolares, o I.. Ela
também demonstrava que tinha necessidade de se proteger, pois, quando se desenhava, fazia
um círculo em sua volta, como se fosse uma proteção. Posteriormente, descobri que, pelo fato
de a negligência da família influenciar negativamente no desempenho de Jc. na escola,
provocando sua infreqüência, tal situação fora encaminhada ao Conselho Tutelar.
O reflexo dessa situação na aprendizagem da escrita e da leitura foi muito forte, uma
vez que Jc. conhecia o nome, o som e a forma das letras e conseguia fazer as relações
necessárias para escrever de forma alfabética, mas nem sempre estava disposta a escrever
adequadamente. A alteração no humor da estudante comandava a forma como ela registraria
as palavras em cada dia. Nesse caso, conhecer toda a história da Jc., observar suas atitudes,
através de uma atividade lúdica, possibilitou que eu tivesse um pouco mais de clareza para
lidar com a situação. Segundo a psicopedagoga da Prefeitura Municipal de Porto Alegre, que
atende, semanalmente, a estudante, o fato de ela não querer mostrar que sabe escrever está
diretamente relacionado à situação de desamparo pela qual passa, pois aprender, para muitos
teóricos, significa crescer, e crescer implica ganhos e perdas. Essa criança não está em
condições de perder mais nada, por isso os processos de aprendizagem da leitura e da escrita
estariam tão comprometidos.
No início, as crianças brincavam muito sozinhas, como no caso do aluno Jn. (10
anos), que se isolava do grupo e ficava parte do tempo escutando a música proveniente de um
ursinho de pelúcia. Com o passar das semanas, começaram a brincar uns com os outros sem
agressões e, em agosto, foi possível inserir jogos de grupo, na hora do brinquedo, para que
pudessem interagir com os colegas, a partir de regras determinadas anteriormente.
Atualmente, na hora do brinquedo, as crianças preferem os jogos de leitura, escrita e
matemática, ou mesmo os materiais como lápis e folhas, aos brinquedos como carrinhos e
bonecas. Entendo essa atitude como um avanço na relação dessas crianças com o mundo das
letras. Os medos e os traumas não foram todos superados, mas há, nesse momento, uma
maior familiaridade com a escrita e com a leitura, o que faz com que procurem,
espontaneamente, o contato com materiais escritos diversificados, facilitando a organização