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FACULDADE DE LETRAS
UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ESTUDOS LINGÜÍSTICOS
POSLIN
Ana Elisa Ribeiro
Navegar lendo, ler navegando
ASPECTOS DO LETRAMENTO DIGITAL E DA LEITURA DE JORNAIS
Belo Horizonte
2008
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ii
FACULDADE DE LETRAS
UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ESTUDOS LINGÜÍSTICOS
POSLIN
Ana Elisa Ribeiro
Navegar lendo, ler navegando
ASPECTOS DO LETRAMENTO DIGITAL E DA LEITURA DE JORNAIS
Tese apresentada ao Programa de Pós-Graduação em
Estudos Lingüísticos da Faculdade de Letras da
Universidade Federal de Minas Gerais, como requisito
parcial para a obtenção do título de doutor em
Lingüística.
Área de concentração: Lingüística
Linha de pesquisa: Linguagem e Tecnologia
Orientadora: Profa. Dra. Carla Viana Coscarelli
Belo Horizonte
2008
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iii
FACULDADE DE LETRAS
UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ESTUDOS LINGÜÍSTICOS
POSLIN
Tese intitulada “Navegar lendo, ler navegando Aspectos do letramento digital e da
leitura de jornais”, de autoria de Ana Elisa Ferreira Ribeiro, aprovada pela banca examinadora
constituída pelos seguintes professores:
_______________________________________
Profa. Dra. Carla Viana Coscarelli
FALE/UFMG
Orientadora
_______________________________________
Profa. Dra. Magda Becker Soares
FaE/UFMG
_______________________________________
Profa. Dra. Vera Menezes de Oliveira e Paiva
FALE/UFMG
_______________________________________
Prof. Dr. Júlio César Rosa Araújo
UFC
_______________________________________
Prof. Dr. Vicente Aguimar Parreiras
CEFET MG
________________________________________
Prof. Dr. L
UIZ
F
RANCISCO
D
IAS
Coordenador do Programa de Pós-Graduação em Estudos Lingüísticos
Poslin
FALE/UFMG
Belo Horizonte, 14 de março de 2008
Avenida Antônio Carlos, 6627 – Belo Horizonte, MG – 31 270 901 – tel. (31) 3409 5492
iv
Para meu
filho
, Eduardo,
a quem prometo mais tempo
para montar quebra-cabeças.
Querido, esta é sua irmãzinha.
Para minha
orientadora
, Carla,
interlocutora e referência bibliográfica viva.
v
A
GRADECIMENTOS A
Profa. Dra. Carla Viana Coscarelli, parceira, crooner, backing vocal e cúmplice. Entre várias
opções, preferi escrever esta tese na primeira pessoa do plural, e não foi por acaso.
Prof. Dr. Fábio Alves, pela pesquisa defendida em 2003 e pelo zelo de ex-orientador.
Profa. Rebeca Rosa, diretora da Faculdade de Ciências Biológicas e da Saúde, e profa. Rozilene
Lima, coordenadora de curso do Centro Universitário UNA, pela autorização para fazer os testes
com os alunos de Enfermagem.
Prof. Rogério Rocha, coordenador da UNA Virtual, e os estagiários Thiago, Célia Ramos e
Alexandre, que cederam a sala para testes e nos fizeram divertida companhia.
Prof. Maria José Agostini, por colaborar na aplicação dos questionários.
Professores Glauco Grossi, diretor da Faculdade de Comunicação e Artes, Carlos Frederico
d’Andrea, coordenador do curso de Jornalismo, e Samantha Capideville, coordenadora do curso
de Cinema e Vídeo, pelo apoio ao projeto de pesquisa e pelo aparato cnico e tecnológico
gentilmente cedido.
Alunos do curso de Enfermagem da UNA, lindamente solícitos.
Natália Lanza, orientanda de Iniciação Científica.
Profa. Vera Menezes e Profa. Magda Soares, pelo exame de qualificação colaborativo e perspicaz.
Profa. Áurea Thomazi, pelo apoio, pela amizade e pelo resumé.
CEFET-MG (prof. Flávio Antônio dos Santos e profa. Inês Gariglio, diretores), pela imediata
redução de encargos didáticos e pelas perspectivas de utilidade desta tese.
Prof. Rogério Barbosa, coordenador de Língua Portuguesa, profa. Ana Maria Nápoles Villela e
prof. Jerônimo Coura, pelo apoio irrestrito e pela torcida.
José Afonso Furtado, diretor da biblioteca da Fundação Calouste Gulbenkian e profundo
conhecedor de impressos e digitais. Meu personal traficante de livros.
Ana Elisa Novais, a Outra, que foi minha parceira de estudos da interface e nas aventuras para
entrevistar e fotografar o prof. Roger Chartier, em Ouro Preto.
Mãe e irmãos, sempre colaborativos; pai, por ajudar a construir a casa de tijolos enquanto eu
construía esta casa de palavras; Ana Cristina Ribeiro, minha digitadora oficial.
Jorge Rocha, pelos livros, leituras e traduções compartilhados; Eduardo Ribeiro Rocha, por achar
que tudo o que saía da minha impressora viraria livro.
Ricardo Rabelo, amigo e cientista da computação, pelo suporte técnico desta tese; Ana Paula
Ribeiro Atayde, pela iniciação à usabilidade.
Eliane Mourão, pela parceria, pelo apoio, pela compreensão e pela amizade.
Sérgio Ribeiro, Carol e Rayane, pela hospedagem providencial.
Ilza Gualberto, pela amizade e pelas trocas hipertextuais.Maria Aparecida Araújo, a Mary, pela
inestimável colaboração.
Carla, Áurea, Jerônimo e Inês, pelos resumos, abstracts e résumés.
vi
R
ESUMO
Com base nos conceitos de letramento, letramento digital, mídias mosaiquicas, apoiado em
uma concepção de hipertexto afiliada a conceitos de Roger Chartier e em uma teoria
hipertextual de processamento da leitura (COSCARELLI, 1999), este trabalho mostra a
relação de leitores pouco letrados com a leitura de jornais impressos e digitais. Este estudo de
caso foi desenvolvido, em uma primeira etapa, com 144 alunos do primeiro período do curso
de Enfermagem de uma instituição privada de ensino, em Belo Horizonte. A partir do perfil
de leitores gerado por questionários, um grupo de 23 alunos foi selecionado para fazer testes
de navegação e leitura nos jornais Estado de Minas e O Tempo, nas plataformas impressa e
digital. Estes alunos foram divididos em três grupos: leitores de jornais impressos, de jornais
digitais e não-leitores de jornais. O Estado de Minas e O Tempo foram analisados quanto à
sua usabilidade e os leitores foram submetidos a testes em que deveriam cumprir uma tarefa
simples de navegação. As habilidades de leitura foram medidas a partir de testes de leitura de
notícias. Os alunos deveriam responder a questões propostas com base em descritores da
matriz de Língua Portuguesa do Saeb. Os dados gerados pela pesquisa mostram grande
variação nos comportamentos dos leitores de mídias mosaiquicas. Essa variação de letramento
independe de a plataforma em que lêem notícias ser impressa ou digital. Bons navegadores
podem se mostrar leitores fracos, assim como bons leitores podem se mostrar maus
navegadores. A relação entre saber gerenciar o objeto de ler e as habilidades leitoras não se
mostrou direta e proporcional. Conclui-se que a leitura se constrói a partir de uma
sobreposição complexa de habilidades, grande parte delas sem atenção adequada da
Lingüística e da matriz de Língua Portuguesa do Saeb. Embora seja importante que o leitor
desenvolva letramentos vários, é possível apresentar habilidades assimétricas em relação a
diferentes aspectos da leitura, sendo um deles os procedimentos ajustados ao objeto de ler. Os
leitores mais competentes dos testes são aqueles que têm experiência na leitura freqüente de
livros, jornais e outros objetos. A leitura de jornais depende do desenvolvimento de uma gama
de habilidades, independentemente da plataforma de leitura. Talvez esta pesquisa possa
contribuir para uma discussão séria sobre a importância de ler e ensinar a ler, atribuição a
cada dia mais complexa para os professores.
P
ALAVRAS
-
CHAVE
Leitura; Letramento; Legibilidade; Usabilidade; Jornalismo digital.
vii
A
BSTRACT
Based upon the concepts of literacy, digital literacy and mosaic media, supported by
Chartier's concept of hypertext and by Coscarelli's hypertextual theory of reading, this work
discusses the relationship established by low level literacy readers with the reading of printed
and digital newspapers. At first, this case study was carried out with 144 first semester
undergraduates of a nursing course at a private school of Belo Horizonte . From
questionnaire-generated reading profiles, a group of 23 students was selected to make tests on
navigation and on reading. Printed and digital platforms of Estado de Minas and O tempo
newspapers were selected. The subjects were divided into three groups: printed platform
readers, digital platform readers and newspaper non-readers. The selected newspapers were
analyzed concerning their usability. Readers were given navigation tasks to perform. Subjects
had to answer questions, which were proposed in accordance with Saeb exam reading abilities
matrix. The generated data show great variation in readers' behavior when dealing with
mosaic media. And this was not dependent on whether printed or digital the platform was.
Thus, good navigators may be poor readers and good readers may be poor navigators. It
seems that the relationship between knowing how to manage the reading object and reading
abilities is indirect and non-proportional. So, it was possible to conclude that reading
newspapers depends upon the development of many other abilities, independently of the
reading platform; that reading is built up from a complex superposition of abilities, and that
most of them do not receive adequate attention from Linguistics and are not contemplated in
the SAEB exam reading abilities matrix. Might this research contribute to a serious discussion
on the relevance of reading and of teaching how to read, a teaches' attribution that gets more
complex each day.
K
EYWORDS
Reading; Literacy; Readability; Usability; Digital Journalism.
R
ESUMÉ
Fondé sur les concepts de littéracie, littéracie digilale, médias mosaïques, appuié en même
temps sur une conception de l'hypertexte de Chartier et la théorie de la lécture hypertextuelle
de Coscarelli, ce travail montre le rapport de lecteurs peu lettrés avec la lecture de journaux
imprimés et digitaux. D’abord, cette étude de cas a été développée auprès de 144 étudiants du
premier cicle du Cours d´Infirmiers, dans une institution d´enseignement supérieure privée à
Belo Horizonte, parmis lequelles un groupe de 23 étudiants a été sélectionné pour faire des
tests de navigation et de lecture selon leurs profils dégagés d´un questionnaire. Des
plateformes imprimés et électroniques des journaux Estado de Minas et O Tempo ont été
sélectionnées. Les informants ont formé trois groupes: lecteurs de journaux imprimés, de
journaux éléctroniques et non-lecteurs de journaux. Les journaux sélectionnés ont été analisés
par rapport à leur usabilité et les lecteurs soumis à des tests dont ils devraient accomplir la
tâche de surfage. Aussi devrait-ils répondre à de questions préparées selon la grille de
l’examen de lecture Saeb de la langue portugaise. Les donnés de la recherche montrent une
grande variation de comportement des lecteurs de médias mosaïques. Cette variation de la
littéracie ne présente pas de rapport avec le support éléctronique ou papier. Ça veut dire que
de bons surfeurs peuvent se révéler de faibles lecteurs, ainsi que de bons lecteurs peuvent se
révéler de mauvais surfeurs. Savoir gérer l'objet de lire et les habilités lectrices n´ont pas de
rapport ni sont proportionnels. On conclut que la lecture de journaux est dépendente du
dévelopement de compétences multiples, pas du support qu´il soit éléctronique ou imprimé.
En outre, ces habilités ne sont toujours pas considerées par la lingüistique ni par la grille de
l´examen de lécture Saeb. On espère que cette recherche contribuera pour une discussion sur
l'importance de lire et d'aprendre à lire, attribution à chaque jour plus complexe.
M
OTS
-
CLÉS
:
Lecture; Literacie; Readability; Usability; Journalisme Digital.
ix
L
ISTA DE
F
IGURAS
FIGURA 1: Modelo seriado de leitura, 79
FIGURA 2: Diagrama do modelo de leitura reestruturado de Coscarelli, 84
FIGURA 3. Homepage do Estado de Minas, 2007, 95
FIGURA 4. Homepage do jornal O Tempo, em 2007, 96
FIGURA 5. Primeira página do jornal Estado de Minas, 108
FIGURA 6. Página interna do jornal Estado de Minas., 109
FIGURA 7. Página interna do jornal Estado de Minas, 110
FIGURA 8. Primeira página do jornal O Tempo, 111
FIGURA 9. Página interna do jornal O Tempo, 112
FIGURA 10. Página interna do jornal O Tempo, 113
FIGURA 11. Homepage do Estado de Minas, 117
FIGURA 12. Homepage do Estado de Minas, 118
FIGURA 13. Página interna do Estado de Minas, 118
FIGURA 14. Página interna do Estado de Minas, 118
FIGURA 15. Homepage do jornal O Tempo, 119
FIGURA 16. Página interna do jornal O Tempo, 120
FIGURA 17. Página interna do jornal O Tempo, 120
FIGURA 18. Página interna do jornal O Tempo, 121
GRÁFICO 1. Distribuição dos estudantes segundo declarações sobre hábito de ler, 126
GRÁFICO 2. Distribuição dos estudantes segundo sejam leitores efetivos, correntes e não-leitores, 130
GRÁFICO 3. Distribuição dos estudantes segundo delcaração sobre a leitura de jornais (impressos e on-line),
131
QUADRO 1. Questões do Descritor 1 para o jornal Estado de Minas, 151
QUADRO 2. Questões do Descritor 1 para o jornal O Tempo, 151
QUADRO 3. Acertos e erros dos estudantes em relação ao Descritor 1 em notícias impressas e digitais, 153
QUADRO 4. Acertos e erros dos estudantes em relação ao Descritor 1 em notícias impressas e digitais, 153
QUADRO 5. Acertos e erros dos estudantes em relação ao Descritor 1 em notícias impressas e digitais, 153
QUADRO 6. Acertos e erros dos estudantes em relação ao Descritor 1 em notícias impressas e digitais, 153
QUADRO 7. Questões do Descritor 2 para o jornal Estado de Minas, 153
QUADRO 8. Questões do Descritor 2 para o jornal O Tempo, 154
QUADRO 9. Acertos e erros dos estudantes em relação ao Descritor 2 em notícias impressas e digitais, 156
QUADRO 10. Acertos e erros dos estudantes em relação ao Descritor 2 em notícias impressas e digitais, 156
x
QUADRO 11. Acertos e erros dos estudantes em relação ao Descritor 2 em notícias impressas e digitais, 156
QUADRO 12. Acertos e erros dos estudantes em relação ao Descritor 2 em notícias impressas e digitais, 156
QUADRO 13 Questões do Descritor 11 para o jornal Estado de Minas, 156
QUADRO 14 Questões do Descritor 11 para o jornal O Tempo, 156
QUADRO 15. Acertos e erros dos estudantes em relação ao Descritor 11 em notícias impressas e digitais, 157
QUADRO 16. Acertos e erros dos estudantes em relação ao Descritor 11 em notícias impressas e digitais, 157
QUADRO 17. Acertos e erros dos estudantes em relação ao Descritor 11 em notícias impressas e digitais, 158
QUADRO 18. Acertos e erros dos estudantes em relação ao Descritor 11 em notícias impressas e digitais, 158
QUADRO 19 Questões do Descritor 17 para o jornal Estado de Minas, 158
QUADRO 20 Questões do Descritor 17 para o jornal O Tempo, 158
QUADRO 21. Acertos e erros dos estudantes em relação ao Descritor 17 em notícias impressas e digitais, 161
QUADRO 22. Acertos e erros dos estudantes em relação ao Descritor 17 em notícias impressas e digitais, 161
QUADRO 23. Acertos e erros dos estudantes em relação ao Descritor 17 em notícias impressas e digitais, 161
QUADRO 24. Acertos e erros dos estudantes em relação ao Descritor 17 em notícias impressas e digitais, 161
QUADRO 25 Questões que exigiam sumarização para o jornal Estado de Minas, 162
QUADRO 26 Questões que exigiam sumarização para o jornal O Tempo, 162
QUADRO 27. Avaliação do Resumo de notícias impressas e digitais, 165
QUADRO 28. Avaliação do Resumo de notícias impressas e digitais, 165
QUADRO 29. Avaliação do Resumo de em notícias impressas e digitais, 165
QUADRO 30. Avaliação do Resumo de em notícias impressas e digitais, 165
QUADRO 31. Quadro geral para visualização do cruzamento entre perfil de leitor, trajeto de navegação e
habilidades de leitura, 166
QUADRO 32. Quadro geral para visualização do cruzamento entre perfil de leitor, trajeto de navegação e
habilidades de leitura, 167
11
SUMÁRIO
1
CONSIDERAÇÕES INICIAIS
, 13
1.1 Tecnologia da escrita, 14
1.2 Modos de ler, modos de usar, 17
1.3 Perguntas e hipóteses, 19
2 L
ETRAMENTOS
, 22
2.1 Origens e contextos, 22
2.2 Sistemas de mídias, 23
2.3 Letramento, alfabetização e outras palavras, 26
2.4 Agências e graus de letramento, 28
2.5 Letramento no Brasil, 29
2.6 Letramento digital, 33
2.7 O que há de novo nas novas mídias? O que torna alguém um letrado digital?, 35
2.8 Agências de letramento digital, 38
2.9 Manuscritos de computador, 40
2.10 Letramento e leitura de jornais, 41
3 H
IPERTEXTOS
,
TEXTOS E MÍDIAS MOSAIQUICAS
, 43
3.1 Linearidade, não-linearidade: discussão fundamental sobre o hipertexto, 43
3.2 Origens do hipertexto, 45
3.3 Os precursores, 46
3.4 Outros estudos, outras idéias, 49
3.5 Bolter, Landow e os pesquisadores do “Grupo Eastgate”, 56
3.6 Hipertexto no Brasil, 59
3.7 E pode um hipertexto não ser digital?, 65
3.8 Hipertextos e jornais, 65
3.9 Por que o jornal é um hipertexto, 67
3.10 Jornalismo e novas práticas, 69
4 L
EITURA
:
O QUE É E COMO SE FAZ
, 73
4.1 O que é ler?, 74
4.2 Processamento de leitura, 77
4.3 Legibilidades, 80
4.4 O que é inferência, 84
4.5 Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb), 86
5 M
ÉTODOS E INSTRUMENTOS DE PESQUISA
, 89
5.1 Tipo de pesquisa, 89
5.2 Leitores participantes, 91
5.3 Construção e aplicação de questionários, 92
5.4 Materiais, 93
5.4.1 Histórico dos jornais, 94
5.5 Seleção dos textos jornalísticos, 97
5.6 Tarefas de navegação e ambiente de pesquisa, 98
5.7 Protocolo verbal, 99
5.8 Os testes de leitura, 101
5.9 Procedimentos de análise, 102
12
6 A
NÁLISE DE INTERFACES DE JORNAIS
, 103
6.1 O leitor e o objeto impresso e digital de ler, 103
6.2 O que é design gráfico, 104
6.3 Estado de Minas impresso, 106
6.4 O Tempo impresso, 111
6.5 Resumo de características de jornais impressos, 114
6.6 Usabilidade, 114
6.7 Estado de Minas digital, 117
6.8 O Tempo digital, 119
7 R
ESULTADOS E DISCUSSÃO
, 123
7.1 Perfis de leitores, 123
7.1.1 Hábito de ler, 126
7.1.2 Leitores correntes e efetivos, 129
7.1.3 Leitura de jornais, 131
7.1.4 Acesso à Rede, 132
7.2 Navegação e leitura, 133
7.2.1 Protocolo de leitura de jornais impressos, 134
7.2.2 Protocolo de leitura de jornais digitais, 136
7.3 Os 23 leitores participantes, 137
7.3.1 Grupo 1 – Leitores de jornais impressos, 138
7.3.2 Grupo 2 – Leitores de jornais digitais, 144
7.3.3 Grupo 3 – Não-leitores de jornais, 147
7.4 Leitura e compreensão de textos, 150
7.4.1 Descritor 1 – Localização de informações explícitas, 151
7.4.2 Descritor 2 – Estabelecer relações em um texto, 153
7.4.3 Descritor 11 – Relação causa/conseqüência entre partes do texto, 156
7.4.4 Descritor 17 – Reconhecer notações, 158
7.4.5 Sumarização: habilidade de compreensão global, 161
7.4.6 O caso Vinícius, 168
7.4.7 Os casos Maria e Regina, 168
7.4.8 Os casos Eduardo, Viviane e Patrícia, 169
7.4.9 Os casos Fabrício e Graziela, 170
7.4.10 O caso Simone, 171
7.5 Os protocolos de leitura e os descritores do Saeb, 171
7.6 Estes leitores e “os outros” leitores, 175
8 C
ONSIDERAÇÕES FINAIS
, 178
9 R
EFERÊNCIAS
, 183
Apêndice 1 – Questionário de perfil de leitor, 192
Apêndice 2 – Tarefas de navegação, 195
Apêndice 3 – Avaliação do design de jornais, 197
Apêndice 4 – Avaliação da usabilidade de jornais, 198
Apêndice 5 – Íntegra dos protocolos verbais de navegação, 206
Apêndice 6 – Respostas dos testes de leitura e compreensão, 226
Anexo 1 – Notícias do jornal Estado de Minas, 240
Anexo 2 – Notícias do jornal O Tempo, 242
13
1 Considerações iniciais
Agora que me ocorre que tanto o Eça como o Balzac se sentiriam
os mais felizes dos homens, nos tempos de hoje, diante de um
computador, interpolando, transpondo, recorrendo linhas,
trocando capítulos, E nós, leitores, nunca saberíamos por que
caminhos eles andaram e se perderam antes de alcançarem a
definitiva forma, se existe tal coisa,
José Saramago
História do Cerco de Lisboa
Muito embora o uso da palavra tecnologia leve grande parte das pessoas a pensar
em algo relacionado a plugues
1
e fios, basta imergir em alguns livros de história cultural
para verificar que o desenvolvimento de dispositivos técnicos, baseados em vários tipos de
tecnologia, sempre existiu, especialmente os voltados para as comunicações. Em
decorrência disso, habilidades para lidar com novos modos de agir e comunicar vão se
reconfigurando à medida que o tempo passa e as pessoas se apropriam de novos
instrumentos e modos de fazer. No entanto, um problema em espiral emerge daí: as
invenções tecnológicas surgem das necessidades ou constroem essas necessidades?
100 anos, quem precisava de um telefone móvel? Quanto esse objeto altera o
leque de habilidades de quem o utiliza? Que ações são executadas com este dispositivo? O
mesmo pode ser perguntado em relação aos usos do computador e da Internet. Johnson
(2001, p. 102) tem um palpite: “Não sabíamos o que nos faltava. As pessoas sempre
reclamaram da lentidão do correio, mas a demora se torna intolerável depois que se
experimenta o e-mail”.
Mais recentemente, pelo menos desde a Segunda Guerra Mundial, alguns países
dedicaram-se ao desenvolvimento de novas técnicas e tecnologias para executar tarefas tais
como falar e escrever à distância, armazenar informações importantes com segurança,
descentralizar “repositórios de conhecimento”
2
(SOUZA, 2007), distribuir informação e
mesmo desenvolver modos de comunicação muitos-muitos
3
. Nem sempre, no entanto, a
apropriação que se faz, socialmente, do objeto acontece como foi originalmente planejado.
Alguns dispositivos foram inventados para servirem a uma tarefa e, à medida que vão
1
Neste trabalho, optaremos sempre por grafar palavras de origem estrangeira conforme a proposta registrada
em português, em dicionários como o Aurélio (HOLANDA, 2003) e o Houaiss (HOUAISS, 2001). No caso
de palavras sem aportuguesamento, optaremos por não destacá-las com itálico, uma vez que toda a tese fará
uso freqüente desses termos e o grifo se repetiria inconvenientemente, gerando trabalho dispensável de
formatação e comprometendo a estética da página.
2
“Conhecimento explícito estruturado na forma de documentos” (SOUZA, 2007, p. 39).
3
Tavares (2002) menciona alguns modos de comunicação tais como “um-muitos” e “um-um”, por exemplo,
tal como operamos, respectivamente, o rádio ou a televisão e o telefone fixo.
14
sendo usados, passaram a servir para outros fins. Foi assim com o telefone, com o rádio e é
assim com o computador (e com a Internet) (BRIGGS; BURKE, 2004; JOHNSON, 2001).
1.1 Tecnologia da escrita
As técnicas da escrita são várias e fizeram (a ainda fazem) uso de várias
tecnologias, especialmente as analógicas e as digitais. A origem da tecnologia de registro
em suporte perene parece ter origem na necessidade de fazer contas. Ela remonta aos
fenícios e sumérios, passa pelos gregos e romanos, sofre o impacto da invenção de
materiais e ferramentas (argila, espátulas, pergaminho, papiro, papel, tintas, penas, lápis,
canetas de vários tipos, máquinas, fitas, teclas, raios catódicos, cristal líquido, teclados) e
de formatos (rolo, códex, telas escaneáveis e roláveis ao comando do mouse), até chegar
aos dias atuais, quando a humanidade, em média, dispõe de um complexo sistema de meios
de ler e escrever, às vezes ler ou escrever, tantas vezes ambos (CAMPOS, 1994;
CAVALLO;CHARTIER, 1998; CAVALLO; CHARTIER, 1999; BRIGGS; BURKE, 2004;
HORCADES, 2004). O domínio da tecnologia da escrita, na atualidade, está relacionado ao
domínio de várias técnicas de escrita. Tanto é possível escrever uma carta usando lápis e
papel, quanto é possível fazer a mesma coisa empregando um notebook de última geração.
E é provável que muitas pessoas prefiram, por várias razões, redigir um e-mail, que só pode
ser feito em um computador conectado à Internet.
Assim como fazer contas, reduzir o esforço de memorização de narrativas também
foi um motivador da invenção de escritas. Se pudermos considerar o livro como um dos
dispositivos mais antigos para extensão de memória, arquivamento e registro de culturas e
idéias, é bastante fácil encontrar bibliografia que narre a história material e cultural desse
artefato (CAMPOS, 1994; CAVALLO;CHARTIER, 1998; CAVALLO; CHARTIER,
1999; BRIGGS; BURKE, 2004; entre outros). Dos rolos fabricados com couro animal até
os códices modernos
4
, encapados com papel flexível, é possível verificar a longa história
deste objeto de ler (nem sempre de escrever). A relação assimétrica entre leitores e autores
5
,
que perdura no impresso, parece se apagar um tanto em dispositivos mais recentes
6
, o que
4
Rolos são os livros cilíndricos que muitos chamam de “pergaminho”. Na verdade, pergaminho era o material
de que o rolo poderia ser feito. Códice é o livro estruturado por folhas empilhadas e costuradas em uma das
extremidades. O códice é a forma de livro utilizada ainda hoje.
5
É interessante frisar que entendemos a relação autor/texto/leitor como uma simplificação. As mediações e os
leitores intermediários (editores, designers e revisores, por exemplo), que muitas vezes são autorizados a
fazer intervenções importantes ao longo do tratamento do texto asua transformação em objeto de ler, são
essenciais para nosso trabalho.
6
A possibilidade de interferir, de fato, na apuração, na produção e na publicação do texto é o tema de muitas
pesquisas atuais, especialmente entre os profissionais de comunicação social. Em Brambilla (2006) e Rocha
15
obriga à reconfiguração das relações entre as pontas do processo (autor e leitor) de ler e
enseja teses como esta.
Para vários historiadores das práticas da leitura e do livro, o leitor pode ser
retratado em diversas posturas ao longo da história de sua relação com o dispositivo de ler.
Primeiro de pé, com o rolo nas mãos, desfiando o texto em direção horizontal; depois, ainda
de pé, em recinto fechado, folheando um códice pesado e grande; mais tarde, sentado ou de
pé, ao ar livre ou em um gabinete, absorvido por um livro pequeno, portátil, mídia móvel
7
,
completamente conhecedor das técnicas de ler aquele objeto. Atualmente, é possível ler
sentado, com as pernas encolhidas sob um teclado e olhos vidrados na luz do monitor.
Em mais uma viagem ao passado, é possível ver leitores na lida com manuscritos
iluminados, discriminando letras góticas de cursivas, discutindo a origem dos impressos
nesta ou naquela oficina tipográfica, descansando os olhos em papel bege manchado de
fontes serifadas. Não apenas por isso, é possível afirmar que, claramente, não existe um
leitor. Existem leitores que aprendem gestos e habilidades ao longo dos tempos (tempos
que podem ser de longa duração), em contato com suas culturas e com práticas
configuradas pela conjunção de técnicas, materiais, métodos e dispositivos dos quais o
leitor usufrui. Esse usufruto, no entanto, é aprendido. Cada objeto de ler, associado à
arquitetura dos textos e imagens que comporta, é apropriado pelo leitor, que aprende uma
espécie de “protocolo”
8
. As seqüências, mais ou menos rígidas, de leitura de textos (em
objetos) são aprendidas na experiência e na experimentação. Nos dias de hoje, o leitor
dispõe, ao menos potencialmente, de mais dispositivos para ler e de mais modos de fazê-lo
do que jamais antes na história da humanidade, incluindo-se modos híbridos,
genealogicamente ligados a outros (BOLTER; GRUSIN, 2000; até mesmo SNYDER,
2001).
Diante do rolo de couro animal, ainda que quisesse, leitor algum poderia folhear.
Certamente, na mudança deste modo de ler para outro, o do códice, algum leitor reclamou
saudades do gesto de abrir um rolo até o máximo da envergadura. Com a aceitação das
folhas empilhadas e costuradas, foi possível folhear. Mais tarde, em decorrência mesmo
(2006; 2007, com Celle e Torres) é possível conhecer aspectos da Web 2.0 e do jornalismo colaborativo,
em que a audiência constrói a notícia e o jornalista cumpre um novo papel em relação ao jornalista
“tradicional”.
7
Mídia móvel tem sido o nome dado aos aparelhos de telefonia celular. No entanto, o livro parece ter sido a
primeira mídia móvel, especialmente depois que Aldo Manuzio, na Itália, publicou sua famosa coleção de
livros de bolso (cf. SATUÉ, 2004).
8
Soares (2002) menciona os “protocolos de leitura” como uma possibilidade criada pela progressiva
organização dos textos, ao longo da história do livro, em partes, capítulos, páginas, etc.
16
disso, foi possível numerar páginas, escrever dos dois lados do papel (ou do couro) e
navegar por índices e sumários. Certamente existiram leitores que lamentaram essas
possibilidades ou houve quem pusesse nelas defeito.
Mais adiante, não bastassem esses gestos novos, o códice deixou de ser manuscrito
para ser impresso mecanicamente. Se para alguns isso parecia uma maravilha, nova técnica
vantajosa e barateadora, para outros tantos pareceu falso, frio e mundano
9
. Livros feitos em
monastérios e ilustrados por artistas passaram a ter versões entintadas por máquinas,
replicadas ao infinito (era o que podia parecer) por ourives e negociantes.
Embora o rolo tenha praticamente sido extinto (ressalve-se alguma relíquia ou a
representação de certos diplomas universitários), o códice não o foi. A tecnologia
decorrente da aprendizagem dos usos desse dispositivo estabeleceu-se e ainda move grande
parte do conhecimento e da informação no mundo. Apesar da existência de formatos
diversos, o gesto de folhear parece hoje uma espécie de “fato social”
10
para grande parte da
humanidade. A habilidade envolvida em ler sumários, investigar índices ou encontrar
páginas é, atualmente, uma tecnologia de base, podendo ser considerada fundamental para
operar em ambientes (impressos ou digitais) na busca e na seleção de informação
11
.
E após alguns milênios de escrita, tecnologia sobreposta a outras que a suportam,
tais como livros, jornais e outros dispositivos, a tecnologia para ler e escrever está em pleno
desenvolvimento. Após aproximadamente oito séculos de códice, quatro de impressão e um
de alfabetização em massa
12
, a invenção do computador, da Internet e de vários novos
dispositivos para fazer uso do texto parece novamente abalar as configurações da
tecnologia de ler e escrever.
9
Em Cavallo e Chartier (1999) e em Febvre e Jean-Martin (1992), é possível encontrar exemplos de críticas
feitas ao novo modo de fazer livros na virada do século XVI. Satué (2004), ao fazer uma história detalhada
da vida do tipógrafo italiano Aldo Manuzio, mostra que a elite intelectual não foi simpatizante, por
exemplo, da idéia de se publicar clássicos literários em formato “de bolso”.
10
Segundo o sociólogo Émile Durkheim, fato social toda maneira de fazer, fixada ou não, suscetível de
exercer sobre o indivíduo uma imposição exterior; ou ainda, que é geral na extensão de uma sóciedade
dada, tendo ainda uma existência própria, independente de suas manifestações individuais". (Les Règles de
la Méthode Sociologique. Paris: PUF, 1973. p. 14).
11
Muito ao contrário do que, curiosamente, afirmam Mantoan e Baranauskas (2002. p. 83; 85). Segundo as
autoras, “O ato de ler evoluiu com o surgimento de novas tecnologias” e “Trabalhar na Internet exige
rapidez na leitura e uma outra habilidade muito importante, que é saber selecionar o que se vai ler, porque
não se pode ler tudo o que está na tela, nem tudo o que está escrito é de nosso interesse. De fato, os leitores
não são os mesmos de antigamente... A capacidade de selecionar não era algo que se exigia, anos, na
formação do leitor, especialmente na escola”. Os grifos são nossos. Para nós, é claro que o bom leitor
sempre teve de cumprir muitas e variadas exigências.
12
Considerando-se a história dos usos da escrita no mundo. No Brasil, a apropriação da escrita foi tardia e
essa contagem é bastante diferente: são, para nós, dois séculos de impressão, com a chegada de códices
importados um tanto antes. A alfabetização em massa ocorreu em meados do século XX.
17
1.2 Modos de ler, modos de usar
Os novos usos de objetos de ler (e escrever) trazem muitas angústias, vidas e
questões. É comum que os angustiados vejam na nova máquina certa ameaça, mais
especificamente acusem de deslumbramento quem faz uso dela em detrimento do papel. As
dúvidas podem ser mais produtivas. Parecem revelar um período de transição, em que
muitos se perguntam se isto é melhor do que aquilo, se assim faz tais efeitos mais eficazes
do que quais outros. E as questões emergem daí. Quando formuladas, podem fazer surgir
apontamentos úteis, usos consistentes, experimentações responsáveis. E uma das questões
que mais parece inquietar os estudiosos é o fato de se querer saber em que medida a nova
prática de ler e escrever afeta/altera/influencia a cognição do novo leitor/escritor
13
.
Leitores de tela lêem melhor do que leitores de impressos? Estes compreendem
textos com mais profundidade e propriedade do que aqueles? Por que razão isso
aconteceria? Que habilidades o leitor de telas desenvolve além ou diferentemente do leitor
que impressos? Que ações de uns e outros propiciam melhor aproveitamento do que se
lê? Quais são as rupturas ocorridas nas práticas leitoras? E, o que mais nos inquieta: quais
são as continuidades?
14
Essas questões nos levaram a executar a pesquisa que resultou na
dissertação de mestrado defendida no Programa de Pós-Graduação em Lingüística da
Faculdade de Letras da UFMG, em 2003, cujo título foi Ler na tela novos suportes para
velhas tecnologias (RIBEIRO, 2003a).
Um teste de leitura e navegação proposto a leitores experientes de jornais
impressos e digitais mostrou a forma como faziam seus trajetos pelos ambientes de leitura,
que nível de compreensão tinham dos textos selecionados e como se pautavam em
experiências pregressas para abordar o novo ambiente. Isso porque partimos, desde aquela
época, do pressuposto de que o leitor não inventa experiências inéditas, e a leitura precisa
ser precedida de experiência e familiaridade com a tarefa. Nossas ações e nosso
aprendizado dependem, em larga medida, da ancoragem do novo no dado, da
experimentação na experiência.
Nossas conclusões, naquela época, apontavam na direção que ainda sustentamos: leitores
habilidosos compreendem textos, estejam eles no papel ou na tela, muito embora seus
gestos de leitura possam passar por mudanças, leves ou incisivas. Para ler jornais, que era
nosso caso, os informantes trafegaram pelos ambientes impresso e digital de forma muito
13
Para citar apenas alguns inquietos: Coscarelli (1999) e Rouet et al. (1996).
14
Questões semelhantes a essas são o tema de vários trabalhos publicados. Alguns exemplos que estiveram ao
nosso alcance são: RÖSING, 1999; VILLAÇA, 2002; SILVA, 2003; SANTAELLA, 2004; GATTI, 2005;
FURTADO, 2006.
18
semelhante, nitidamente ancorando as leituras “na tela” na experiência de ler “no papel”. Se
dominavam fortemente a tecnologia necessária para ler jornais impressos, podiam executar
bem suas tarefas em qualquer dispositivo oferecido. Isso não ocorria, no entanto, apenas
porque o leitor era competente, mas também, em grande medida, porque o objeto de leitura
parecia configurado de maneira a atender às expectativas e às necessidades do leitor
15
. Bons
jornais, bons sites, bons leitores, bons textos e uma boa condição de produção de leitura
pareciam ser a conjunção ideal para que o sentido se construísse sem maiores tropeços. Que
razões levam o leitor a fazer esse percurso tão “intuitivo”? Para nós, começou a se
configurar um problema: meios novos parecem ser construídos sobre antigos pilares. Em se
tratando de jornais, é de se esperar que sejam construídos “centrados no usuário”, e não
planejados para a experiência novidadeira. Não deve ser à-toa que algumas empresas
jornalísticas ainda lançam versões de seus jornais que imitam o folhear das páginas, em
2006!
16
Respondidas as questões daquela época, que se fundamentavam em uma
bibliografia multidisciplinar (História Cultural, Lingüística e Ciência da Computação),
passamos a formular questões para uma nova investigação. Daí surgiu nossa proposta de
doutoramento.
O leitor informante daquela primeira pesquisa apresentava o perfil “ideal”. Eram
todos sujeitos habilidosos na leitura de muitos gêneros textuais, produtores de textos,
conhecedores dos ambientes impressos, digitais e das tecnologias de leitura, adaptáveis a
eventuais mudanças de trajeto, altamente letrados, com formação superior, acesso à Internet
e que haviam se apropriado da metalinguagem para falar dos ambientes que liam. A dúvida
que se colocava era, então: o que aconteceria se tarefas muito parecidas fossem propostas a
leitores com perfil menos privilegiado, menor história de leitura, menos acesso a bens
culturais, menos habilidosos em ler e escrever, informantes que mostrassem ancoragem
mais fraca da nova experiência de ler na tela, já que não apresentavam histórico consistente
de leitura de impressos? Como reagiria este leitor ao ambiente de leitura? Como detectar se
ele domina pouco a técnica de ler jornais e a tecnologia da escrita? Como verificar se telas
e impressos podem ser dispositivos cujas recepções são muito diferenciadas? E se não são,
quais habilidades desenvolver neste leitor para que ele seja capaz de ler melhor (com tudo o
que implica saber ler, para muito além da decodificação do texto)? A esta última questão
vários pesquisadores e obras tentam responder, seja pensando sobre modos de fazer com
15
Alguns designers defendem isso veementemente. Por exemplo, Norman (2006).
16
O jornal Estado de Minas, por exemplo, em www.estaminas.com.br.
19
que a escola se aproprie da informática, seja construindo matrizes e tentando discernir
habilidades importantes para o letramento, inclusive o digital.
1.3 Perguntas e hipóteses
A dissertação Ler na tela novos suportes para velhas tecnologias (RIBEIRO,
2003a) mostrou que o leitor letrado emprega estratégias para ler jornais digitais e, para
construí-las, ele se vale, principalmente, da ancoragem de suas ações na experiência de
leitura de jornais impressos. Nesta pesquisa de doutoramento, nosso intento é responder a
questões relativas às estratégias (e táticas) de leitores pouco letrados, especialmente na
leitura de jornais, que consideramos um objeto particularmente complexo. Nossos
informantes serão estudantes de primeiro período de curso da área de saúde de uma
instituição de ensino superior privada de Belo Horizonte, recém-chegados à faculdade,
declarantes de pouco acesso à leitura de jornais em ambientes impressos e/ou digitais.
São questões que norteiam esta pesquisa:
1. Leitores de jornais impressos (apenas) têm dificuldade de navegar em jornais
digitais ou ancoram suas ações na experiência prévia com impressos?
2. Leitores de jornais digitais (apenas) têm dificuldade de navegar em jornais
impressos? Estes leitores ancoram a leitura de impressos nas leituras de Internet?
3. Não-leitores de jornais (em qualquer ambiente) têm dificuldade de navegar em
jornais impressos e digitais ou algum deles lhes parece mais fácil? Estes leitores
se ancoram na experiência em algum/a leitura/suporte?
A todas as questões sobrevêm os porquês. A partir das respostas conseguidas nos
testes, passamos a outras questões, agora relativas à leitura de textos, após as tarefas de
navegação.
A. Leitores de notícias digitais percebidos como pouco letrados em ambientes
impressos apresentam bons resultados no teste de leitura?
B. Leitores de jornais impressos percebidos como pouco letrados em ambientes
digitais apresentam bons resultados no teste de leitura?
C. Qual é o resultado dos testes de leitura para não-leitores de quaisquer jornais?
D. Que relação pode haver entre resultados fracos nos testes de navegação e os
resultados dos testes de leitura?
20
Para que tais questões pudessem ser respondidas, precisávamos planejar um
percurso de investigações em etapas distintas: uma para a seleção dos leitores; outra para
obtenção dos resultados de navegação em jornais impressos e digitais; uma terceira para
aferir a maneira como esses leitores leriam textos jornalísticos; e, por fim, a relação
percebida entre texto e programação no suporte.
Para tentar obter respostas a tantas questões, passamos a construir um aparato que
pudesse capturar melhor os sinais dessas respostas. Esta tese é, portanto, um construto que
imaginamos capaz de oferecer respostas ou, no mínimo, levantar debates sobre gestos de ler
inseridos no sistema de mídias contemporâneo e sobre o desenvolvimento de habilidades do
leitor do século XXI.
Os pilares deste trabalho são a História Cultural, a Lingüística, aspectos dos
estudos do jornalismo e do design gráfico, além da Ciência da Computação, áreas que, se
estão separadas, deve-se isso a um método científico cartesiano que mais parece ter tirado
retratos e construído um álbum do que feito o filme que gostaríamos de mostrar.
Trabalhamos aqui alicerçados nos conceitos de letramento, explicitado no segundo
capítulo, de mídia mosaiquica e de hipertexto, sobre os quais discorremos no terceiro
capítulo. Também assumimos a leitura como uma tarefa cognitiva complexa e hipertextual
por definição, conforme se verá no capítulo 4. Nossa metodologia está amparada pelos
estudos experimentais da Computação, mais especificamente na subárea conhecida como
Usabilidade. Na seção sobre os métodos empregados para a obtenção de nossos resultados,
explicitamos a intenção de dar tratamento quantitativo/qualitativo aos dados colhidos via
questionário (obtenção do perfil de leitor) e tratamento qualitativo aos dados colhidos via
protocolo verbal, nos testes de navegação/leitura.
Fundamental para este trabalho, nossa teoria de leitura, descrita no quarto capítulo, origina-
se nas formulações modulares de Fodor (1983) e se assume no modelo reestruturado
proposto por Coscarelli (1999). Nossa proposta de reconhecimento de leitores cujas
habilidades de leitura de jornais on e off-line são ainda inconsistentes ergue-se sobre dois
conceitos de Michel de Certeau: a estratégia e a tática. Nossas formulações caminham no
sentido de mostrar como agem leitores táticos e leitores estrategistas na lida com objetos
de ler, neste caso, os jornais, considerados objetos construídos sob uma arquitetura
complexa. Nossa intenção é, mais do que descrever, ampliar as possibilidades de
compreensão do que ocorre hoje em relação às tecnologias de leitura e escrita, lançando
mão da história de longa duração da formação do leitor, algo que pensamos ser
21
imprescindível para melhor iluminar nossos passos. Ao longo deste trabalho, acreditamos
ter feito uma caminhada agradável para nós e uma trilha convidativa para nosso leitor.
22
2 Letramentos
Se há um conceito do qual é imprescindível tratar neste trabalho é o de letramento.
Juntamente com ele, o de agência de letramento, assim como a compreensão inequívoca de
que existem práticas de leitura, no plural, em um sistema de mídias cada vez mais
complexo. Este capítulo, sempre por se atualizar, trata de oferecer um panorama desses
conceitos. É necessário iluminar o restante das trilhas desta tese com os feixes teóricos aqui
organizados.
2.1 Origens e contextos
Alguns pesquisadores estrangeiros, em sua maioria ingleses ou norte-americanos,
ficaram mundialmente conhecidos pelo debate que propunham sobre o letramento, desde o
final da década de 1970. A maior preocupação com o tema tem relações íntimas com a
sociedade e com o momento histórico por que passavam os países desses pesquisadores,
contexto bem diferente do de países em desenvolvimento, como o Brasil.
No final da década de 1970 e nos anos 80, estudos de Shirley Brice Heath, Sylvia
Scribner & Michael Cole, Brian V. Street e Harvey J. Graff, entre outros, analisavam e
rastreavam o que era, então, um problema em suas sociedades: aumentar o letramento
(literacy) de uma população que havia alcançado alfabetização quase irrestrita (para não
dizer total, em países muito desenvolvidos). Nos contextos em que a questão se colocava,
as nações haviam alcançado estágio posterior às campanhas de alfabetização, além de
terem trajetórias históricas privilegiadas em relação à cultura escrita. Países da Europa
viram nascer o comércio do livro, a imprensa de Gutenberg, as universidades e o acesso à
escola para grande parte da população, assim como viram emergir os primeiros públicos-
leitores “de massa” (CARPENTER;MCLUHAN, 1971).
Até o século XIX, os leitores tinham a possibilidade de lidar com algumas mídias,
nenhuma delas, no entanto, considerada “de massas”
17
, ou seja, nenhuma delas com o
alcance que o cinema ou o rádio viriam a ter um pouco adiante. Essas mídias
desequilibraram o sistema existente até então e passaram a exigir novos comportamentos do
17
Zaid (2004) e Lindoso (2004) explicam por que razões os livros nunca foram exatamente uma mídia de
massas. Segundo os autores, a produção livreira não alcança parcelas amplas da população em razão de as
tiragens serem pequenas, principalmente se comparadas às tiragens de CDs e aos públicos de cinema e
televisão. A tiragem média de livros num país como o Brasil é de 3000 livros, o que é de pequeníssimo
alcance perto da quantidade de alfabetizados. Essa seria, portanto, uma mídia que não trabalha em escala. É
importante lembrar que Zaid e Lindoso fazem uma análise sincrônica dos fatos. Na época de Gutenberg, o
livro era a única mídia capaz de reproduzir um original em cópias idênticas em uma velocidade nunca antes
vista.
23
leitor/usuário/ouvinte, assim como novas práticas dos produtores de textos para ambientes
recém-criados.
Se foram necessários vários séculos para que o desequilíbrio do sistema
acontecesse, foram necessárias poucas décadas para que ele voltasse a se abalar, desta vez
com a chegada da televisão. Daí em diante, outros dispositivos reestruturariam o sistema de
mídias disponível e o leitor/usuário estaria sempre no centro das questões sobre o quê e
como fazer para ter acesso a todas as possibilidades de canais de informação, conhecimento
e entretenimento.
Se até a Primeira Guerra Mundial apenas algumas mídias eram conhecidas, depois
da Segunda Guerra Mundial, os Estados Unidos da América reconfiguraram o sistema de
mídias (BRIGGS e BURKE, 2004) com a invenção do computador e da Internet, além de
todos os aplicativos empregados para ler, escrever, fazer cálculos, desenhar e navegar por
mares de informação.
2.2 Sistemas de mídias
Já cuidamos de explicitar a relação íntima entre aspectos sócio-históricos e o
desenvolvimento de tecnologias e técnicas, tais como a escrita e os suportes e formatos para
ela. Tudo isso está interligado e as mídias, modernas ou tradicionais, se tocam umas às
outras, ou seja, não são estanques ou indiferentes umas em relação à existência das outras e
a seus efeitos. Outro ponto é que as dias nem sempre competem entre si. É comum que
comecem até a se “imitar” ou que, para sobreviver, uma mídia mais tradicional se
reconfigure para se manter entre as opções do usuário (BOLTER; GRUSIN, 2000).
Os historiadores Briggs e Burke (2004) definem essa relação entre as mídias como
um sistema de mídias. “A mídia precisa ser vista como um sistema, um sistema em
contínua mudança, no qual elementos diversos desempenham papéis de maior ou menor
destaque” (2004, p. 17). Segundo os historiadores, criticando a pesquisadora da cultura
escrita Elizabeth Eisenstein, “para estimar as conseqüências sociais e culturais da nova
técnica, é necessário ver a mídia como um todo, avaliar todos os diferentes meios de
comunicação como interdependentes, tratando-os qual um pacote, um repertório, um
sistema, ou o que os franceses chamam de ‘regime’” (BRIGGS; BURKE, 2004, p. 33).
Briggs e Burke (2004) assumem, contra as propostas de outros investigadores, o
sistema de mídias como um regime em que o leitor/usuário se apropria muito lentamente
das técnicas recém-chegadas, nem sempre para substituir outras, mas para complementar,
ou mesmo que seja para fazer uma troca definitiva.
24
Pensar em termos de um sistema de mídia significa enfatizar a divisão de trabalho entre os
diferentes meios de comunicação disponíveis em um certo lugar e em um determinado
tempo, sem esquecer que a velha e a nova mídia podem e realmente coexistem, e que
diferentes meios de comunicação podem competir entre si ou imitar um ao outro, bem como
se complementar. (BRIGGS; BURKE, 2004, p. 33)
Bolter e Grusin (2000) explicam o conceito de midiação e remidiação de forma
bastante semelhante à descrita por Briggs e Burke (2004). As afiliações genealógicas entre
as mídias, mais uma vez, não podem (e não devem) ser tratadas de forma isolada ou a partir
apenas de rupturas.
(…) toda mediação é remidiação. Não estamos afirmando que esta seja uma verdade a
priori, mas apenas discutindo que neste período histórico, todas as mídias que existem
funcionam como remidiadoras e essa remidiação nos fornece meios de interpretar o
funcionamento das mídias anteriores. Nossa cultura conceitua cada mídia ou constelação de
mídias a partir do modo como estas respondem, reorganizam, competem e reconfiguram
outras mídias. Em um primeiro momento, podemos pensar em algo como uma progressão
histórica, novas mídias remidiando as antigas e, em particular, mídias digitais remidiando
suas predecessoras. Mas trata-se de uma genealogia de afiliações, não de uma história
linear, e nessa genealogia, mídias antigas também remidiam as novas. A televisão pode
fazer e faz uma remodelagem de si mesma para alcançar a Rede Mundial de Computadores
e os filmes a cabo, incorporando e atentando para gráficos computacionais da maneira mais
apropriada à sua forma linear. Nenhum meio, parece, pode agora funcionar
independentemente e estabelecer seu distinto e puro espaço de significação cultural.
(BOLTER; GRUSIN, 2000. p. 55. Tradução nossa)
O que defendemos, junto com Briggs e Burke (2004), é que nosso sistema de
mídias sofreu uma reconfiguração, que será, muito lentamente, apropriada pelos
leitores/usuários. Não se trata, portanto, de uma “revolução”, movimento abrupto, mas de
uma continuidade cheia de parentescos e reconfigurações.
18
O feedback do espectador ou do leitor ajuda a reconfigurar os processos e os
produtos, seja no livro, no cinema ou nos jornais. Também é assim com os programas de
computador e com os ambientes de Internet. Para Steffen (2003), a Internet é um ambiente
em que o feedback do usuário pode ser rastreado o tempo todo e rapidamente. Com
determinados programas, é possível saber, por exemplo, por quanto tempo um leitor
permaneceu em um jornal, a que páginas ele foi, quanto tempo ficou em cada uma, onde
desistiu de ler, veio de onde e partiu para onde, etc.
18
Crystal (2005, p. 15) tem uma posição interessante: “Não creio que ‘revolução’ seja uma palavra muito
forte para o que vem acontecendo. ‘Revolução’ é qualquer combinação de acontecimentos que produza
mudanças radicais de consciência ou comportamento em que um período de tempo relativamente curto, e
foi isso que ocorreu. sempre continuidades com o passado, mas estas são compensadas pelo surgimento
de uma perspectiva genuinamente nova”. Preferimos, no entanto, evitar o termo “revolução”, já que, para
nós, as continuidades são prevalentes.
25
O computador das décadas de 1960 e 70 não se parece com a máquina de hoje em
dia. As interfaces gráficas
19
só apareceram na década de 1990, sob muita controvérsia
(JOHNSON, 2001). O que seria uma linguagem gráfica do computador? Vale a pena imitar
o impresso? Esta é a pergunta de vários pesquisadores. O sistema de mídias é esse
emaranhado delas em que vivemos, mídias que se influenciam reciprocamente, a ponto de
muitas características da Internet se parecerem com o impresso, outras serem imitações da
televisão, etc.
O objeto impresso também não fica de fora disso porque é um dos mais antigos
do mundo. Revistas, jornais e livros “brincam” de se parecer com a televisão, o videoclipe,
a Internet. Não apenas na linguagem que utilizam, mas também na aparência. Revistas que
trazem fios que imitam links, cores e sublinhados, ícones e caixas. Sites que imitam páginas
de livros, programas de tevê que “rodam” na rede.
20
O contrário também acontece e, aliás, a
rede foi prioritariamente feita de transposições e imitações até recentemente.
No início da Idade Média, o sistema de mídias contava com as opções da época:
livros em formatos de rolo, de códice, escritos à mão ou, mais tarde, com a opção pela
imprensa tipográfica. O público-leitor era, então, muito menor do que hoje. Com relação às
práticas, ainda viviam o conflito entre a leitura em voz alta e a silenciosa. Também
conviviam com a proibição de obras, preços altíssimos, dificuldade de circulação,
bibliotecas em que os livros ficavam acorrentados. Enfim, um sistema bem diferente do
nosso (FEBVRE e JEAN-MARTIN, 1992; CAMPOS, 1994). No entanto, os impressores
viviam o conflito de remidiar tipografia e manuscrito
21
(GILMONT, 1999; MANDEL,
2006).
Até aqui, temos um letramento muito relacionado ao objeto impresso: livro, jornal,
revista, todos nos formatos tradicionais, mais antigos e mais conhecidos no mundo, até
hoje, mas e o computador? Onde fica esse objeto entre as práticas de leitura e escrita das
pessoas? Será que essa máquina entrou no rol das possibilidades mais próximas? Para
isso, é preciso pensar em outro conceito, tão controverso quanto o de letramento, que é o de
19
Interface é a máscara que media a interação entre o sistema e o usuário. A interface gráfica é construída de
maneira a tentar facilitar essa interação, por meio de um design intuitivo ou familiar.
20
Nesse ponto, a História Cultural pode ser particularmente esclarecedora. Muitos pesquisadores parecem
entusiasmados com as novas tecnologias e fazem análises um tanto eufóricas sobre os novos usos de textos
e suportes. A História auxilia na compreensão do assunto de maneira mais ponderada, ajudando a observar
o que é novo e o que não é, o que chegou agora e o que sempre esteve aí, sob outros disfarces.
21
Os produtores de sites e sistemas digitais remidiam objetos impressos na tentativa de fazer com que o leitor
sinta menos dificuldade em interagir com os ambientes. No entanto, uma crítica a esse modo de fazer
sistemas, já que ele subaproveita o novo meio. Na Idade Média, impressores imitaram tipos de letras e
páginas manuscritas para evitar o estranhamento do leitor.
26
letramento digital. Será que este é mesmo um outro conceito? Qual é sua abrangência? Se
ele existe, partimos do pressuposto de que emergiu a necessidade de que fosse cunhado. E
que relação isso tem com o sistema de mídias que conhecemos hoje?
O leitor da atualidade dispõe de mais formatos de texto, em suportes ainda mais
diversos do que o leitor medieval. Além do livro, o cinema, a televisão, a Internet, os
telefones celulares, entre outras possibilidades. Se alguns conflitos desapareceram, outros
surgiram: ler no papel é mais fácil do que ler na tela? Copiar e colar à mão ou nos editores
de texto? Aceitar ou não o computador na sala de aula? (Talvez isso nem caiba mais
perguntar...) Fazer dele uma máquina produtiva? Imitar ou não objetos impressos? Do
ponto de vista das pessoas que produzem aplicativos ou trabalham no ambiente digital, tais
como os webjornalistas, o computador alterou muito a rotina de trabalho. Do ponto de vista
do leitor, as práticas também se alteraram. E para aqueles que isso ainda não aconteceu, ao
menos podem saber que os horizontes certamente se alargaram.
2.3 Letramento
22
, alfabetização e outras palavras
A palavra letramento não está no dicionário Aurélio. Entre os verbetes aparentados
está letrado, que quer dizer um indivíduo “versado em letras; erudito”. Trata-se da acepção
mais difundida e popular do termo, para o senso comum. Para os estudos da educação, no
entanto, letramento não trata apenas desse tipo de indivíduo. Para alguns pesquisadores
(RATTO, 1995 ou TFOUNI, 2004, por exemplo), até mesmo uma pessoa analfabeta pode
ser letrada, se conviver em uma sociedade grafocêntrica. Enquanto o alfabetizado é o
indivíduo que domina uma tecnologia, o letrado pode até não dominá-la individualmente,
mas convive com práticas letradas em sociedade.
Tfouni (2004) afirma que “não existe, nas sociedades modernas, o letramento
‘grau zero’, que equivaleria ao ‘iletramento’. Do ponto de vista do processo sócio-histórico,
o que existe de fato nas sociedades industriais modernas são ‘graus de letramento’”. Para
corroborar essa afirmação, Ribeiro (2003b, p. 15), bem-ancorada em dados de pesquisa,
afirma que “saber ler e escrever não é uma questão de tudo ou nada, mas uma competência
que pode ser desenvolvida em diversos níveis”. Esses níveis podem ser os mais intuitivos e
22
Aos termos alfabetismo, literacia e letramento, preferiremos o último, respeitando obras que prefiram os
outros. Na defesa de alfabetismo está Ribeiro (2003b), para quem é vantagem o termo não causar confusões
com sentidos do senso comum. Soares (2004) também aponta a questão da nomenclatura, mas afirma que a
opção por letramento deve-se à freqüência do termo em estudos e debates acadêmicos (embora tenha
utilizado alfabetismo em trabalhos mais antigos).
27
ligados à vida cotidiana, ou aqueles ligados ao trabalho e aos estudos, por exemplo, ou
mesmo níveis mais complexos.
Analfabeto, para Soares (2004. p. 20), é “aquele que não pode exercer em toda a
sua plenitude os seus direitos de cidadão” ou ainda “é aquele que não tem acesso aos bens
culturais de sociedades letradas e, mais que isso, grafocêntricas”. Nessa definição
aspectos de suma importância, mas destacamos a idéia de que o analfabeto também é
cidadão, mas não exerce plenamente seus direitos. Para a mesma autora, em obra de 2003,
alfabetização é o “(...) processo de aquisição da ‘tecnologia da escrita’, isto é, do conjunto
de técnicas – procedimentos, habilidades – necessárias para a prática da leitura e da
escrita”. Com mais detalhes, ela descreve, ascendentemente:
as habilidades de codificação de fonemas em grafemas e de decodificação de grafemas em
fonemas, isto é, o domínio do sistema de escrita (alfabético, ortográfico); as habilidades
motoras de manipulação de instrumentos e equipamentos para que codificação e
decodificação se realizem, isto é, a aquisição de modos de escrever e de modos de ler
aprendizagem de uma certa postura corporal adequada para escrever ou para ler, habilidades
de uso de instrumentos de escrita (lápis, caneta, borracha, corretivo, régua, de equipamentos
como máquina de escrever, computador...), habilidades de escrever ou ler seguindo a
direção correta da escrita na página (de cima para baixo, da esquerda para direita),
habilidades de organização espacial do texto na página, habilidades de manipulação correta
e adequada dos suportes em que se escreve e nos quais se livro, revista, jornal, papel
sob diferentes apresentações e tamanhos (folha de bloco, de almaço, caderno, cartaz, tela do
computador...). (SOARES, 2003. p. 91)
A definição de Soares (2003) menciona as habilidades motoras que devemos
aprender para segurar um lápis, utilizar uma caneta e usar um equipamento como um
computador. Este último recurso entrou no rol das possibilidades de escrita e leitura
recentemente. pouco mais de 40 anos o computador foi inventado e pouco mais de
15 entrou nas casas das pessoas, nas escolas e passou a fazer parte do cotidiano (ao menos
de uma classe mais privilegiada). É muito recente, portanto, o emprego do computador
como ferramenta de leitura e escrita, assim como a Internet como ambiente de comunicação
e de publicação (também de leitura e escrita). Isso torna, por conseguinte, as pesquisas
sobre o letramento implicado nos usos dessas novas tecnologias muito recentes, às vezes
preliminares, de caráter apenas descritivo ou ainda pessimistas ou otimistas demais
23
.
23
pesquisas consistentes nas áreas de Educação, Computação, Comunicação Social, Letras, Ciência da
Informação, História, Sociologia, Psicologia, entre outras. Em cada uma delas, privilegiam-se estes ou
aqueles aspectos do problema. Todas querem compreender o que as novas tecnologias significam para a
comunicação e a linguagem; as mais aplicadas querem sistematizar ou propor formas de ajustar os novos
meios às sociedades (ou o contrário). São particularmente interessantes os estudos históricos e sociológicos
sobre as tecnologias intelectuais. Isso foi percebido por outras áreas e historiadores têm sido
sistematicamente citados.
28
E qual é a relação entre alfabetização e letramento? Trata-se de uma relação
íntima, embora este não dependa daquela para acontecer. O letramento é um conceito mais
plástico e mais amplo do que o de alfabetização, que está ligado à sociedade, com toda a
sua complexidade, e não está restrito ou tão intimamente relacionado à instituição escolar.
O letramento não tem limites, o que também torna o tema complexo. Para Britto (2003, p.
53), trata-se de
um movimento mais geral, que se relaciona com a percepção da ordem da escrita, de seus
usos e objetos, bem como de ações que uma pessoa ou um grupo de pessoas faz com base
em conhecimentos e artefatos da cultura escrita. Sendo assim, se a noção de alfabetizado
implica uma condição do tipo tudo ou nada, a de letramento (ou de alfabetismo) sugere uma
multiplicidade de níveis e graus, em função do quanto o indivíduo realiza com seus
conhecimentos de escrita. (BRITTO, 2003, p. 53)
24
Soares (2003) explicita:
Embora correndo o risco de uma excessiva simplificação, pode-se dizer que a inserção no
mundo da escrita se dá por meio da aquisição de uma tecnologia – a isso se chama
alfabetização, e por meio do desenvolvimento de competências (habilidades,
conhecimentos, atitudes) de uso efetivo dessa tecnologia em práticas sociais que envolvem
a língua escrita – a isso se chama letramento. (SOARES, 2003, p. 90)
25
Fica claro, então, que o letramento está relacionado aos usos efetivos que as
pessoas fazem da alfabetização que tiveram. Ou, ainda, no caso de quem não foi
alfabetizado, é possível verificar, em sociedades muito letradas, que essas pessoas lidam
com a escrita de outras formas, mesmo não sabendo ler e escrever.
2.4 Agências e graus de letramento
Os diversos espaços que orientam as práticas de indivíduos e comunidades para
letramentos diversos são chamados de agências de letramento. A escola não é, portanto, a
única delas. Ela é, sim, uma agência de um certo letramento, certamente importante, mas
nem por isso exclusiva na vida das comunidades. Pessoas e grupos podem ser letrados em
espaços diversos e por meio de práticas as mais distintas, e igualmente necessárias para os
usos daquela sociedade, conforme explicita Kleiman (1995):
Pode-se afirmar que a escola, a mais importante das agências de letramento, preocupa-se,
não com o letramento, prática social, mas com apenas um tipo de prática de letramento, a
24
Os grifos são nossos, para mostrar expressões que abrem o conceito ou o restringem, conforme a orientação
de cada autor.
25
Exceto pelas palavras alfabetização e letramento, os demais grifos são nossos.
29
alfabetização, o processo de aquisição de códigos (alfabético, numérico), processo
geralmente concebido em termos de uma competência individual necessária para o sucesso
e promoção na escola. Já outras agências de letramento, como a família, a igreja, a rua como
lugar de trabalho, mostram orientações de letramento muito diferentes. (KLEIMAN, 1995,
p. 20)
A partir de agências as mais diversas, um leitor pode se tornar letrado em vários
níveis, que são o que Kleiman (1995) e Tfouni (2004) chamam de graus de letramento. A
relação em preto-e-branco entre analfabeto e alfabetizado não mostra em que medida este
se apropria do que sabe. Empregados de forma dicotômica, os termos dão a noção falsa de
que possa existir uma divisão abrupta entre quem domina e quem não domina a cultura
escrita. O conceito de letramento embaça essa divisão e, no lugar dela, propõe um
continuum em que faz sentido falar em graus.
Não um limite para o letramento uma vez que a humanidade sempre inventará
formas novas de escrever, novos gêneros de texto, suportes de leitura, etc., de acordo com
as infinitas necessidades que temos e teremos, fazendo com que nosso horizonte de
letramento esteja sempre em expansão. A Internet e as máquinas digitais estão entre nossas
opções mais recentes. Roger Chartier, pesquisador das práticas da leitura, afirma, em
entrevista inédita
26
, que, se existe uma “nova legibilidade”, por conta dos novos suportes do
texto, também será necessário pensar e executar o que ele chama de “nova alfabetização”.
Se antes convivíamos com a separação entre alfabetizados e analfabetos, minorada
pelo surgimento das preocupações com o letramento, agora novas questões são postas. Uma
delas é aquela relacionada aos analfabytes, pessoas que, embora saibam ler e escrever, e
por vezes dominem os suportes tradicionais de escrita, não dominam novas mídias, mais
especificamente o computador e a Internet. Mais uma vez, podemos afastar a dicotomia
entre analfabytes e alfabytizados para que emerja uma nova discussão: a do letramento
digital.
2.5 Letramento no Brasil
Em países de história colonial como a dos Estados Unidos, o tipo de ocupação
promovido pela metrópole tinha caráter diferente do exploratório. Na América do Norte, foi
possível imprimir livros e jornais, além de fundar universidades, o que ocorreu mesmo em
países da América do Sul colonizados pela Espanha. No Brasil, o atraso de 300 anos para a
instalação da primeira tipografia e a fundação muito tardia das primeiras escolas e
26
Entrevista concedida a mim durante o Fórum das Letras 2006, Edição e Memória, da Universidade Federal
de Ouro Preto, em novembro de 2006. Agradeço a colaboração divertida de Ana Elisa Novais.
30
universidades laicas tornou o acesso ao impresso algo difícil até mesmo para as elites que
aqui residiam. O ensino jesuíta, única opção por mais de dois séculos, desde a chegada dos
portugueses, tinha o objetivo de catequizar as comunidades, não o de torná-las letradas no
sentido mais amplo (SODRÉ, 2003; BRAGANÇA, 2002).
O contato com material escrito acontecia, até 1808, por contrabando e, mesmo
que alcançasse alguma parcela da população, em geral a burguesia detentora de alguns
privilégios, não gozava de grande valor. Isso até o século XIX, considerado por Sodré
(2003) como o momento em que algumas cidades começam a desenvolver um estilo de
vida urbano, mesmo que à imitação das cidades européias, em que o trabalho intelectual
dava status a quem tinha estudo, lia, escrevia e contava. Mesmo assim, numa colônia como
o Brasil, as tecnologias intelectuais não significavam muita coisa.
No século XIX, a primeira tipografia chegou ao Rio de Janeiro, embora se
pudesse publicar impressos oficiais. Com a proliferação dos jornais, também proliferaram
os romances, publicados em capítulos. O leitor, antes uma parcela masculina mínima da
sociedade, revelou outros perfis. Daí se o quanto demorou, no Brasil, a preocupação
com a alfabetização das massas. Essa luta foi travada, com o envolvimento dos poderes
públicos, somente no século XX. O interesse pela alfabetização, portanto, veio primeiro. A
importância dada ao tema do letramento aconteceu no final do século XX. Em obra de
1995, Ângela Kleiman afirma que
Os estudos sobre o letramento no Brasil estão numa etapa ao mesmo tempo incipiente e
extremamente vigorosa, configurando-se hoje como uma das vertentes de pesquisa que
melhor concretiza a união do interesse teórico, a busca de descrições e explicações sobre
um fenômeno, com o interesse social, ou aplicado, a formulação de perguntas cuja resposta
possa vir a promover uma transformação de uma realidade tão preocupante como o é a
crescente marginalização de grupos sociais que não conhecem a escrita. (KLEIMAN, 1995,
p.15)
A situação da Europa e dos Estados Unidos é, obviamente, muito diversa da
brasileira. Aqui (e em outros países em desenvolvimento), ainda foi preciso estudar
questões basais. Nos anos 1980, isso era ainda mais patente. Neste início de século XXI,
somamos a este leque o interesse pelas implicações entre letramento e novas tecnologias.
Os critérios que definem o limite entre o analfabeto e o alfabetizado, ou que
tentam estabelecer os graus de letramento, mudam de tempos em tempos e alteram,
significativamente, os dados e as estatísticas que existem sobre o estágio em que se
encontra uma sociedade em relação à leitura e à escrita. Diante de um conceito amplo,
31
nuançado e complexo, uma questão pode ser posta: como medir o grau de letramento de um
indivíduo? Como saber em que nível de letramento se encontra uma comunidade? Como
saber o perfil de uma sociedade quanto aos usos da escrita?
Várias pesquisas têm tentado dar conta dessa tarefa. E algumas entidades tentaram
estabelecer um limiar para definir quem é analfabeto e quem pode ser considerado
alfabetizado. Mais recentemente, tem-se tentado distinguir os muito letrados, os pouco
letrados e os letrados médios. Soares (2003), referindo-se às pesquisas censitárias
brasileiras, explica que, até 1940, o critério do IBGE para avaliar alfabetizados era “saber
ou não saber assinar o próprio nome”. Logo se põe em questão que a assinatura pode não
ser seguida de mais nenhuma outra habilidade. No entanto, sob esse critério, eram
consideradas alfabetizadas e reforçavam bons resultados estatísticos.
A partir de 1950, o limiar entre analfabetos e alfabetizados passou a ser o fato de
um indivíduo “saber ou não saber ler e escrever um bilhete simples”. Com relação às
estatísticas, fica claro que esse liminar produz números bem menos generosos, uma vez que
o indivíduo que apenas assina o nome passou para o lado “menos iluminado” dos gráficos e
tabelas. De qualquer forma, Soares (2003) avalia que essa mudança de critério “representou
um avanço em direção a medidas de letramento, avanço incentivado pela Unesco que, no
final dos anos 1970, passou a sugerir, para as estatísticas educacionais, a avaliação da
alfabetização funcional (SOARES, 2003, p. 95-96).
Ribeiro (2003b) apresenta os resultados de uma pesquisa sobre letramento no
Brasil. Considerando “esferas do letramento”, ou “esferas da vivência cotidiana em que
práticas de leitura e escrita podem estar presentes” (a casa, o trabalho, o lazer, a
participação cidadã, a escola e a religião). O Indicador Nacional de Alfabetismo Funcional
(INAF) mostrou um país de muitos letramentos. O Brasil chegou a um ponto em que não é
mais suficiente, dadas as condições da vida em sociedade, apenas assinar o nome. Se em
1940 isso bastava para que se vivesse nas cidades, atualmente é prática insuficiente frente
às demandas sociais. Além do amplo espectro de práticas, ainda é preciso considerar um
amplo e crescente leque de práticas, suportes e mídias.
O INAF distinguiu três níveis de letramento: nível 1, pessoas que localizavam
informações explícitas em textos muito curtos; nível 2, pessoas que sabiam ler e
compreender textos um pouco maiores, além de relacioná-los, por exemplo, aos títulos;
nível 3, leitores que compreendiam textos longos, inclusive fazendo associações
importantes. Os resultados apontaram que a maior parte da população (aproximadamente
70%) se classifica nos níveis 1 e 2. Isso significa que mais da metade dos brasileiros não
32
consegue ler um texto mais longo e compreendê-lo, em suportes como jornais e revistas, o
que nos levava a crer, portanto, que não seria difícil encontrar leitores com o perfil
adequado para esta pesquisa.
O perfil desses grupos mostra pessoas com, no máximo, 7 anos de escolaridade
(por exemplo, não concluíram a 8
a
série), pertencentes às classes sociais C, D e E e
concentradas nas regiões Sudeste e Nordeste. Os jovens são maioria e grande parte das
pessoas destes grupos não precisa ler e escrever no trabalho ou, no caso do grupo de nível
2, tem demandas pequenas, de apenas um tipo de texto.
Estão no nível 3 de alfabetismo as pessoas que têm mais escolaridade (nível
médio, às vezes cursam ensino superior), a maioria pertencente às classes sociais A, B e C,
embora pessoas maiores de 35 anos tenham presença maciça. Quanto ao ambiente de
trabalho como agência de letramento, 78% das pessoas deste nível de alfabetismo
declararam ler mais de um tipo de material nesse contexto.
Para Ribeiro (2003b), o INAF 2001 constatou “que habilidades básicas de leitura e
escrita estão muito desigualmente distribuídas entre a população brasileira, e que tal
desigualdade está associada a outras formas de desigualdade e exclusão social”. Pelo
aspecto positivo, afirma a autora que “a cultura letrada está amplamente disseminada no
país e que, mesmo as pessoas analfabetas relacionam-se com o mundo letrado de diversas
formas”. Ou seja: grandes diferenças de letramento entre um brasileiro e outro, uma
comunidade e outra, e essas diferenças estão intimamente relacionadas a desigualdades
várias, de diversas naturezas. De qualquer forma, temos amplo contato com a cultura
escrita, mesmo que não saibamos o que ela quer dizer.
Também foram analisados casos de pessoas que escapam das estatísticas:
indivíduos pouco escolarizados, das classes D e E, que, no entanto, mostraram
desempenhos muito bons nos testes de leitura e escrita ou, o contrário, indivíduos que
cursam faculdade e enquadram-se no nível 1 de alfabetismo. Nesses casos, fica evidente a
importância de agências de letramento diferentes da escola.
Segundo o INAF, materiais escritos são presentes na vida dos brasileiros: 98% das
pessoas declararam ter em suas casas livros, bíblias, dicionários, romances, agendas
telefônicas ou álbuns de família. Por razões bastante imagináveis, as classes A e B estão
mais abastecidas. Em 34% das casas de pessoas consideradas analfabetas material para
se ler, embora eles ali pareçam míticos ou ornamentais. Se é assim com relação aos objetos
impressos, é de se esperar que o acesso aos sistemas digitais não seja universal, que nem
o acesso aos livros o é.
33
Segundo o IBGE (2007), 21% das pessoas maiores de 10 anos acessaram a
Internet de algum ponto, por meio de microcomputador, neste país, nos últimos três meses
de 2005. A julgar pela rapidez com que o acesso aumenta, estes dados devem ter se
alterado. O perfil dos usuários brasileiros da rede aponta para uma maioria de jovens (idade
média de 28 anos, fatia maior do grupo entre 15 e 17 anos), assim como para proporções
tais que: quanto mais escolarizado e financeiramente privilegiado, mais conectado o jovem
está. Estudantes e pessoas empregadas têm mais facilidade de acesso. Pessoas envolvidas
em áreas como as ciências e as artes são as que mais acessam a Internet, em oposição a
áreas como a dos trabalhadores agrícolas. A metade da população respondente acessou a
rede de casa e 39,7%, do trabalho. O acesso à WWW em estabelecimentos de ensino foi de
25,7%. As tarefas executadas na Internet variam muito conforme a idade e o sexo dos
informantes do IBGE, mas giram mais em torno de educação e entretenimento do que de
outras coisas. Mais adiante, será possível ver como esse perfil se enquadra nos leitores
testados nesta pesquisa.
2.6 Letramento digital
Se letramento é um conceito tão amplo e controverso quanto o que pudemos
expor, o conceito de letramento digital não deve passar desapercebido. Para Soares (2004,
p. 78), não é possível que exista um “conceito único de letramento adequado a todas as
pessoas, em todos os lugares, em qualquer tempo, em qualquer contexto cultural ou
político”. E no novo contexto cultural, certa tendência a se formarem conceitos de
letramento “desagregados”, ou para especificar um domínio ou para mostrar uma função
com que leitura e escrita podem ser utilizadas.
Soares (2004) dá exemplos tais como “letramento básico e letramento crítico,
letramento adequado e inadequado, letramento funcional e integral, letramento geral e
especializado, letramento domesticador e libertador, letramento descritivo e avaliativo,
etc.”. A autora cita o conceito de letramento funcional proposto por Gray, em 1956, e
reforçado por Scribner (1982) com o nome de letramento de sobrevivência. Diante de
tantos domínios em que a execução de ações acontece por meio de textos em uma gama
imensa de funções, formatos e suportes, é natural que a teoria sobre tudo isso também fique
mais complexa. Daí, com a chegada do computador como máquina de ler e escrever (entre
outras funções), o surgimento de mais uma subcategoria do letramento.
Mesmo no tema letramento digital um amplo leque de possibilidades. O
pesquisador ainda precisa fazer um recorte e chegar ao ambiente que deseja observar. O
34
ambiente digital oferece tantas possibilidades quanto o mundo fora do virtual
27
. Daí que
seja necessário escolher, ainda, um ambiente sobre o qual trabalhar: sites disso ou daquilo
(um jornal on-line não é o mesmo que uma loja virtual, mas são sites), blogs (que também
suportam desde diários adolescentes até coberturas de guerra seriíssimas), chats (em que se
pode bater papo, paquerar e entrevistar personalidades
28
), etc. Como se vê, não é simples
tratar dos letramentos que alguém domina quando se move na Internet ou no computador
desconectado (uma boa apresentação de PowerPoint não é um gênero emergente?).
Emília Ferreiro, em obra de 2002, menciona a expressão computer literacy. Em
trabalhos das áreas de educação, comunicação ou lingüística
29
, é possível encontrar outros
nomes para o que nos parece ser o mesmo problema: informational literacy, digital literacy
ou multimedia literacy. Em Portugal, menciona-se a literacia mediática. Nos Estados
Unidos, mais recentemente, muitos pesquisadores têm feito menção às new literacies,
expressão inteligente para tratar de novas possibilidades sem desagregá-las. No Brasil,
vários pesquisadores parecem ter optado pela tradução de letramento digital (por exemplo,
COSCARELLI; RIBEIRO, 2005). Afinal, o que essas palavras e expressões querem
nomear? Os níveis de domínio dos gestos e das técnicas de ler e escrever em ambientes que
empregam tecnologia digital.
Quais seriam as impropriedades da adjetivação do conceito de letramento? Se os
letramentos são vários, o termo não abarcaria todos os letramentos existentes e os ainda por
inventar? Ao que nos parece, quanto mais amplo o sistema de mídias, maiores serão as
possibilidades de ler, escrever e atuar por meio da escrita. Assim, nosso espectro de
domínios de uso, com funções as mais diversas e suportes diferentes, também se ampliará.
Num sistema de mídias composto por livros, televisões, computadores e seus
aplicativos, tratar do letramento digital distingue um domínio do letramento. “É o nome que
damos, então, à ampliação do leque de possibilidades de contato com a escrita também em
ambiente digital (tanto para ler quanto para escrever)” (COSCARELLI; RIBEIRO, 2005, p.
9). Por que digital? Por que não empregamos a tradução de computer ou de multimedia
literacy? A opção parece, mais uma vez, depender do escopo do problema a ser tratado.
27
Manuel Castells afirma que “É uma extensão da vida como ela é, em todas as suas dimensões e sob todas as
suas modalidades” (CASTELLS, 2003. p.100).
28
Sobre isso, o prof. Júlio Araújo, da UFC, propõe, em tese de doutoramento, o conceito de constelação de
gêneros para os chats. Ver, além de Araújo (2006), as obras Araújo e Biasi-Rodrigues (2005) e Araújo
(2007).
29
“Letramento informacional” é tema do artigo de Campello (2003). Damásio (2000) e Correia (2002) são
apenas mais algumas ocorrências dos termos na discussão mais ampla dos letramentos.
35
Letramento em multimídia ou no computador é um conceito que poderia
considerar apenas computadores e suportes que admitissem linguagens diversas (som e
imagem, por exemplo) em apenas um dispositivo. Não seria de todo inadequado, mas o
adjetivo digital admite, com facilidade, qualquer dispositivo que empregue tecnologia
digital, bits e bytes, zeros e uns
30
.
Mas por que tratar apenas de gestos de leitura e escrita executados em
computadores? Mesmo dentro desse domínio, as funções não podem ser diferentes? O que
é de sobrevivência nos usos do computador (desconectado)? E nos usos da Internet? O que
se usa na rede que está diretamente relacionado ao mundo do trabalho? Desta forma, parece
que letramento digital é um conceito amplo demais e que necessitaria de mais
subcategorias, como, por exemplo: o letramento de indivíduos que usam a Internet no
domínio do trabalho
31
. Recortes dentro de recortes, à maneira de um hipertexto. Neste
trabalho, propomos a reflexão sobre o letramento na leitura de jornais em ambiente digital e
fora dele. A idéia não é traçar uma comparação em preto-e-branco, mas avaliar as afiliações
genéticas de um com relação aos outro.
2.7 O que há de novo nas novas mídias? O que torna alguém um letrado digital?
Pessoas letradas “analógicas” puderam tornar-se, recentemente, letradas digitais
em vários domínios. Na vida afetiva e social, quem tem acesso ao computador e à Internet
(que às vezes são tratados como se fossem a mesma coisa) emprega aplicativos para
conversar à distância, namorar, flertar, trocar e-mails, convites, publicar diários, fotos de
família, memórias de viagem, fazer comentários em outros sites e em blogs, fazer compras
e visitar museus (entre uma infinidade de possibilidades).
Essas são ações em ambientes digitais, mas os domínios em que elas podem
ocorrer são vários também. No domínio do trabalho, os e-mails e o envio de arquivos à
distância pode ser fundamental. Assim como no da escola a Internet pode servir para a
30
Embora o acesso aos computadores ainda não seja universal, segundo o IBGE (2007), o acesso aos
aparelhos de telefonia celular é, e esta é uma mídia digital móvel, inclusive com interface gráfica para
navegação.
31
Castells (2003, p. 32) admite a Internet como “acima de tudo, uma criação cultural” e afirma que seus usos
são esmagadoramente instrumentais, e estreitamente ligados ao trabalho, à família e à vida cotidiana. O e-
mail representa mais de 85% do uso da Internet, e a maior parte desse volume relaciona-se a objetivos de
trabalho, a tarefas específicas e a manutenção de contato com a família e os amigos em tempo real
(Anderson e Tracey, 2001; Howard, Rainie e Jones, 2001; Tracey e Anderson, 2001)”. Em um interessante
texto chamado “Stop saying ‘computer literacy’”, Brian Harvey (2005) se questiona quais seriam as
habilidades realmente necessárias para as pessoas, se é que essa necessidade de letramento digital existe
mesmo.
36
pesquisa, o acesso a documentos e a entidades oficiais que estão fisicamente distantes do
usuário, a leitura de jornais e de revistas, etc. As pessoas fazem do letramento digital os
usos que querem, dão à rede um sentido que depende de suas necessidades e vontades,
assim como fizeram com outros objetos, sendo o livro um deles.
O uso do computador e da Internet é tão sócio-histórico quanto os usos que foram
feitos do livro, do jornal, da revista ou da televisão. A diferença parece estar na natureza do
meio, que permite ações antes não facilitadas pelo papel ou pela inacessibilidade dos
custos, por exemplo. Os textos “blocados” planejados de maneira que cada fragmento seja
ligado por articuladores chamados links são potencializados na Internet, mas já existiam em
suportes impressos que não permitiam a navegação como ela se no ambiente digital. O
que se quer mostrar é que, embora o princípio de ação existisse, a natureza do suporte
permite novos gestos e novas velocidades ao leitor.
No entanto, não é assim tão fácil falar em multidões que usam computadores e a
rede mundial que os conecta. Segundo dados do Indicador Nacional de Alfabetismo
Funcional, INAF, pesquisa mencionada aqui, “dois terços da população brasileira maior
de quinze anos não têm o nível mínimo de escolarização que a Constituição garante como
direito a todos: as oito séries do Ensino Fundamental” (RIBEIRO, 2003b, p. 10). Isso quer
dizer que o letramento digital soa como luxo para muitos cidadãos e mesmo para
pesquisadores mais ligados à educação ou à Lingüística Aplicada.
Os dados do INAF diretamente relacionados ao uso e ao acesso ao computador são
enfáticos: das classes D e E, apenas 4% utilizam computador, eventualmente. As classes B
e C ficam pelos 15% e a classe A, esta sim, usa computador, “ao menos eventualmente”,
em 41% dos casos. É patente que o fato de pertencer a uma ou a outra classe social define o
acesso à máquina e à rede. Letrados digitais, portanto, são mais raros nas classes menos
favorecidas. Por que razão deveríamos, então, tratar o letramento digital como algo de
alcance irrestrito? Para alguns pesquisadores, a preocupação com os usos do computador é
precipitada em uma sociedade que mal conseguiu formar “leitores de papel”. Se não
pudemos alcançar bons níveis de letramento em mídias tradicionais, como o livro e o
jornal, por que gastar esforços com mídias que não chegam à massa?
32
Para outros, no
entanto, a velocidade com que o computador e a Internet estão se tornando acessíveis aos
32
Outro dado, citado por Steffen (2003), mostra que apenas 8,6% dos lares brasileiros possuíam computador
com Internet. A fonte é o IBGE, a partir de pesquisa divulgada em 2001. Em pesquisa divulgada em 2007,
o IBGE constata que 21% dos brasileiros com 10 anos ou mais de idade acessaram a Internet de algum
local. Desse universo, metade acessou a rede a partir de casa (outros 39,7, do trabalho). É interessante notar,
então, que o acesso à WWW cresce rapidamente e que não ter computador em casa não é fator
determinante.
37
usuários, mesmo os menos privilegiados, é argumento suficiente para a existência de
estudos sobre o assunto.
Mas outras formas de pensar. Os países em desenvolvimento não conseguem
percorrer sem tropeço a trilha do desenvolvimento das mídias. No Brasil, então, temos uma
situação ainda mais complexa. Somos um país que foi, durante muito tempo, proibido de
ler e escrever, que teve sua primeira tipografia em 1808, quando a indústria editorial
européia andava a largas passadas, e não pudemos constituir público-leitor nem mesmo
para livros. O romance foi nossa primeira “febre” editorial, no século XIX. A questão
que se coloca para o letramento digital também poderia ser posta para o livro em meados de
1800. No entanto, é preciso questionar: quando é que estaremos, finalmente, prontos para a
utilização do computador?
33
Schapochnik (2005) afirma que, sobre certa resistência às novas mídias, nos dias
atuais,
reverberam reações similares àquelas despertadas no contexto do advento da imprensa.
Decerto, porque as mudanças no padrão tecnológico de comunicação alteram as práticas e
representações culturais. Contudo, os investigadores insistem que uma perspectiva evolutiva
e progressiva acaba por obscurecer o fato de que as normas, as funções e os usos da cultura
letrada não são compartilhados de maneira igual, como também não anulam as formas
precedentes. (SCHAPOCHNIK, 2005, p. 10)
Na Idade Média, após a invenção da prensa pelo ourives alemão Gutenberg, alguns
editores e leitores chegaram a achar indigno ter um livro impresso por uma máquina
mecânica. Até ali, todos os livros eram escritos à mão, muitas vezes em materiais luxuosos,
como couro tratado e ouro. O glamour desse objeto ainda seduzia aqueles que viram no
livro impresso um objeto insosso, padronizado e, dali em diante, industrial.
Os temores de hoje, em relação ao computador e à Internet, lembram certa
nostalgia do papel e do lápis, mas a convivência entre as mídias num sistema de mídias é
que torna o conceito de letramento pertinente. As pessoas, em sociedade, devem ampliar
seus gestos de ler e escrever, isso não quer dizer que devam trocar uns pelos outros, embora
isso possa ocorrer diante de certas técnicas facilitadoras. O ideal é que alarguemos nossos
horizontes, nos apropriemos das possibilidades que existem e sejamos competentes para
atuar por meio da maior parte delas.
33
O Brasil é considerado a 8
a
economia editorial do mundo. Embora haja um discurso, exaustivamente
reproduzido, especialmente pela imprensa, de que o brasileiro não e nosso mercado de livros sofre, as
editoras de literatura técnica, livros didáticos e literatura infantil parecem ter entendido, faz tempo, que um
país como o nosso tem milhões de leitores em formação. Trata-se de uma questão como a de enxergar a
metade do copo vazia ou cheia.
38
não basta aprender a ler e escrever, é necessário mais que isso para ir além da
alfabetização. No caso do letramento digital não é diferente. É preciso ir muito além do
aprender a digitar em um computador. Quando pessoas em situação de exclusão social
passam a ter acesso ao computador e a seus recursos, pode-se falar em popularização ou
mesmo em democratização da informática, mas não necessariamente em inclusão digital.
(...) a inclusão é um processo em que uma pessoa ou grupo de pessoas passa a participar dos
usos e costumes de outro grupo, passando a ter os mesmo direitos e os mesmos deveres dos
já participantes daquele grupo em que está se incluindo. (PEREIRA, 2005, p. 15)
Se quem pense que é preciso ler e escrever primeiro no papel para depois
chegar às telas, também quem pense que nada disso tem regras rígidas. Se o mundo
oferece as possibilidades de papel e de cristal líquido, então é bom que o leitor saiba que
pode ter o domínio de todas.
Como fazer o leitor de papel aderir à leitura na tela? Como projetar a informação
na tela de forma que o leitor não tenha dificuldades em encontrá-la? Como transferir
gêneros e textos do impresso para a tela, resguardando as peculiaridades do novo meio?
Como compreender a emergência de novas formas de leitura e apropriação da cultura
escrita? O que e como são os gêneros de texto que surgem na Internet? Quais são suas
“heranças genéticas”? Como fazer com que as pessoas leiam e tenham acesso à informação
na tela, mesmo se não tiverem computador em casa? São questões que permeiam as
pesquisas sobre letramento digital, em várias áreas do conhecimento.
Esperamos ter conseguido explicitar que nos parece pertinente “desagregrar”
34
,
pelo menos para fins de pesquisa, o letramento digital do espectro bem mais amplo do
letramento (ou dos letramentos). Letramento digital é a porção do letramento que se
constitui das habilidades necessárias e desejáveis desenvolvidas em indivíduos ou grupos
em direção à ação e à comunicação eficientes em ambientes digitais, sejam eles suportados
pelo computador ou por outras tecnologias de mesma natureza.
2.8 Agências de letramento digital
A escola e o professor têm sido entendidos como potenciais multiplicadores do
letramento digital. Caso não fosse assim, não haveria tantas discussões em torno do tema
“informática na escola”. Mesmo que a tarefa não seja escolar, o uso do computador para
fins de sobrevivência no trabalho ou nas relações sociais é de suma importância para
algumas comunidades. Isso sem falar nas possibilidades de atuação cidadã na rede: sites de
34
Utilizamos este termo para empregar palavra usada pela professora Magda Soares, no entanto, pensamos
que ele pode ser mal-interpretado. “Desagregar” não quer dizer, necessariamente, separar o letramento
digital de outros letramentos. O importante é ficar alerta para a complexidade do tema e para a necessidade
de recortes na pesquisa dos letramentos.
39
busca a desaparecidos, entidades de classe, discussões sobre temas da sociedade, produção
de notícias em jornais (em sistemas que lidam com o conceito de Web 2.0)
35
, escolha de
prioridades nas listas dos orçamentos participativos de Prefeituras
36
, etc.
Mesmo sabendo que a maior parte da população brasileira não tem acesso ao
computador ou não utiliza a Internet (muito menos com acesso de banda larga), um
perfil de usuário e estudante que age ao contrário do “leitor analógico”. É possível
encontrar crianças e adolescentes que dominam várias possibilidades da utilização de
computadores e da Internet. Entre esses garotos, é comum também que não saibam
pesquisar em enciclopédias de papel e nem consigam encontrar notícias nas páginas do
jornal. Do outro lado, estão meninos e meninas que não têm contas de e-mail e nem
conseguem sair da primeira página do buscador. Não dominam os gestos motores para
travar contato com a máquina: mouse, duplo clique, arrastar e soltar, barra de rolagem,
pressão no “enviar” ou “enter”, etc. Todas essas operações precisam ser aprendidas, mesmo
que a agência de letramento responsável por isso não seja a escola. E normalmente não é. O
letramento deve ser estendido a todos os ambientes onde o texto seja importante. Não é
porque a tecnologia é nova que as técnicas mais tradicionais se tornam dispensáveis. É
preciso ampliar as possibilidades de letramentos, horizontalmente.
O letramento digital pode acontecer por meio de agências as mais diversas,
independentemente da escola. Mas também ela pode ser uma das agências fundamentais.
Soares (2003) menciona a “pedagogização” de certos conteúdos ou de certas técnicas que
acontecem, primeiro, fora da escola. Os usos do computador parecem ser uma delas.
“Pedagogizar” seria tornar parte do discurso e das práticas escolares algo que acontece na
sociedade. Isso pode ser ruim, quando a escola “força” práticas e conteúdos a entrarem num
enquadramento entediante e sistematizado como “regraou “proposta didática”; mas pode
ser bom quando a escola admite que é necessário levar para dentro de seus muros as
práticas da sociedade, desenvolver nos alunos o senso crítico, trabalhar com textos de
circulação social, assim como lê-los em suportes que estão nas casas e no trabalho das
35
Para se ter melhor idéia de como isso funciona, sugerimos pesquisar sobre a Web 2.0, o jornalismo
participativo, jornalismo open source ou participatory journalism. O texto “Cidadania, comunicação e
literacia mediática”, de João Carlos Correia, uma boa idéia sobre o assunto. Está disponível no endereço
registrado em nossas referências bibliográficas e digitais. A Biblioteca On-Line de Ciências da
Comunicação (BOCC), que funciona em www.bocc.ubi.pt, é um bom banco de textos disponível na rede.
36
Algumas prefeituras têm mantido sistemas de votação na rede. Neles, o cidadão vota como gostaria que o
dinheiro público fosse gasto em obras, escolas, etc. Exemplo disso, que funciona, é o do site da Prefeitura
de Belo Horizonte, em www.opdigital.pbh.gov.br, onde fica o Orçamento Participativo Digital.
40
pessoas. De certa forma, os “muros” da escola, que a isolam do “mundo lá fora”, podem ser
mais frágeis e leves.
Foi Soares (2003) que elencou o computador (e a Internet, quem sabe?) entre as
possibilidades da alfabetização e isso parece se estender ao letramento, que o uso da
máquina para práticas variadas de leitura e escrita se tornou parte das atividades das
pessoas, em sociedade, no trabalho, em casa, na rua e na escola. Se o conceito de
letramento é amplo a ponto de tratar das práticas que envolvem a cultura escrita, então
pode-se dizer que ele é suficiente para abarcar também os usos mais recentes de novas
tecnologias e também as técnicas de leitura e escrita que ainda virão. A necessidade de
adjetivar os letramentos surge da necessidade dos pesquisadores de fazer “recortes”,
discernir habilidades específicas relacionadas a este ou àquele ambiente.
Para alcançar algum grau de letramento digital, as pessoas precisam aprender
ações que vão desde gestos e o uso de periféricos da máquina até a leitura dos neros de
texto que são publicados em ambientes on-line e expostos pelo monitor. Por exemplo: sites
podem conter crônicas, anúncios de emprego, anúncios publicitários, notícias, reportagens,
ensaios, resumos de artigos científicos, os próprios artigos, etc. Em muitos casos, a
diferença entre as novas mídias e os livros, por exemplo, é que impressos são mídias
unplugged, off-line.
No computador, o acesso aos textos depende do comando do usuário. Leitores de
tela que acessam apenas chats têm letramento digital limitado, assim como leitores de
jornais impressos que vão até os textos do horóscopo. Para se chegar aos textos mais
complexos, é preciso uma caminhada maior, independentemente dos ambientes. Pessoas
que ainda não têm letramento digital têm dificuldade de lidar com os equipamentos. É
preciso saber como usar o teclado, o mouse, dar dois cliques para abrir programas, um
clique para acessar links, usar logins e senhas, etc. Depois que ultrapassam essa fase mais
“motora”, começam a conhecer a navegação em ambientes, a participação, a leitura, a
publicação
37
.
2.9 Manuscritos de computador
vimos que o sistema de mídias e a sociedade em que vivemos não permitem
mais que fiquemos isolados em meia dúzia de usos da leitura e da escrita. É necessário que
dominemos alguns modos de ler e escrever mais tradicionais e outros bem recentes. Isso
37
D’Andrea (2007) aborda o tema, discutindo habilidades que fazem falta ao leitor da Web 2.0.
41
inclui máquinas, como aparelhos de telefone celular, computadores e redes que se conectam
por meio deles. O letramento mais geral inclui todas essas possibilidades.
Do ponto de vista do produtor de textos, muitas operações foram alteradas com a
chegada das novas mídias. A sociedade também faz apropriações inesperadas de alguns
suportes. Foi assim na história de vários dispositivos. O mais recente deles talvez seja o
telefone celular, que de aparelho para obter ligações telefônicas passou a mídia móvel, ou
seja, um dispositivo que recebe e envia textos de vários gêneros: recados, avisos, alertas,
propaganda, notícias, newsletters, etc., além de tirar fotografias e filmar.
Do ponto de vista do receptor/usuário dos meios, é preciso transitar por várias
possibilidades, ampliar o letramento, fazer uso de vários dispositivos. Na pesquisa,
pensamos que seja importante “desagregar” os letramentos e, dessa forma, usar lentes de
aumento. Nossa intenção é estudar o que é novidade e o que é reconfiguração neste novo
sistema de mídias, distinguir a fase da “transposição” de aspectos do impresso para o meio
digital e, só mais adiante, observar a navegação plena do leitor.
... o leitor, cada vez mais letrado, deve ganhar a versatilidade de lidar com todos os gêneros,
de maneira que não tenha a sensação de completo estranhamento quando tiver contato com
novas possibilidades de texto ou suporte. O letramento, além de significar a experiência
com objetos de leitura, também deve possibilitar que o leitor deduza e explore o que pode
haver de híbrido e reconhecível em cada gênero ou em cada suporte, e, assim, manipulá-lo
como quem conquista, e não como quem tem medo. (RIBEIROa, 2005, p. 135-136)
O letramento digital está dentro do continuum do letramento mais amplo, não
linearmente, mas numa rede de possibilidades que se entrecruzam. Ele pode começar no
impresso e partir para os meios digitais, uma vez que muitas ações são semelhantes nesses
ambientes. Ou fazer o trajeto no sentido contrário. O importante é compreender que a
relação entre os dispositivos para a comunicação foi recentemente reconfigurada.
Conseqüentemente, as possibilidades e as exigências do letramento, também.
2.10 Letramento e leitura de jornais
As agências de letramento responsáveis pelo desenvolvimento, em um leitor, de
habilidades de leitura especificamente de jornais não podem ser delimitadas com clareza.
quem aprenda os gestos da leitura de jornais em casa, com a família; quem o faça na
escola, nas aulas de uma ou outra disciplina, às vezes História, outras vezes Geografia ou
Português. Outros jeitos de aprender a manipular e a ler cadernos e sumários também são
cabíveis e autorizados. Não é, portanto, simples apreender uma realidade tão heterogênea.
42
Se é comum que as pessoas sejam alfabetizadas na escola e narrem essa
experiência de modo a mencionar, sempre, aquela agência, no caso de alguns objetos de ler
isso não ocorre. Da mesma forma, o desenvolvimento da relação entre o leitor e o jornal
não acontece de modo igual para todos. A ordem da leitura sempre foi personalizada, de
acordo com os interesses (que vão se configurando e mudam sempre) e as influências de
cada leitor. Alguns lêem o jornal “de trás para frente”, outros saltam cadernos, ainda outros
têm seus espaços prediletos, escolhem seções e ignoram outras, às vezes cadernos inteiros.
E o que é ler bem um jornal? Se não há padrão, como refletir sobre as apropriações que são
feitas dele pelos leitores múltiplos que ele pode ter? Só mesmo à luz do conceito de
letramento é possível fazer isso. mesmo tendo em mente que os comportamentos de
leitura e as “fases” dos leitores são várias e que existem, então, graus de letramento,
também no uso de uma interface. O leitor jamais sairá da “fase transpositiva”, já que
sempre acionará conhecimentos da tecnologia da escrita para aprender novas técnicas.
Procurar notícias pode ser flanar e pode ser ir diretamente aos pontos de interesse. E qual
deles é o certo? Não resposta para esta questão. O que pensamos ser possível é tentar
desenhar os jogos que os leitores fazem quando têm diante de si a aventura de um objeto de
ler.
43
3 Hipertextos, textos e mídias mosaiquicas
A memória dos
lances antigos
é essencial a toda partida de xadrez.
Michel de Certeau, 1994.
A invenção do cotidiano
O objetivo desta seção é oferecer ao leitor uma breve linha histórica, na qual
localizar os estudos atuais sobre as novas tecnologias. Não se trata de um mapeamento
exaustivo e completo, até porque soaria paradoxal querê-lo de algo que se transforma tanto
quanto o computador, a Internet e suas redes. Este retrato pobre dos estudos das novas
tecnologias acontece nos primeiros anos do século XXI e corre o risco de envelhecer
precocemente.
Sob as lentes panorâmicas da história, é possível ver que as pequenas e as grandes
reconfigurações da cultura escrita aconteceram no hemisfério norte. Também foi que, no
século XV, um alemão inventou a prensa a partir da qual os livros passaram a ser impressos
em série. Para alguns, a primeira dia de massas (CARPENTER; McLUHAN, 1971).
Foram os franceses os maiores produtores de impressos durante alguns séculos. Foi
também na França e na Itália que ocorreram as mais conhecidas políticas de produção e
mercado de livros de bolso. Não surpreende que da França dos iluministas tenham vindo os
debates de Pierre Lévy e Roger Chartier, respectivamente o filósofo das “tecnologias da
inteligência” e o historiador das práticas da leitura.
Daqui em diante, este percurso sem fronteiras nítidas e cheio de senões
contingentes será apresentado na forma de uma resposta à pergunta que me tem guiado e a
muitos especialistas: o que é um hipertexto?
3.1 Linearidade, não-linearidade: discussão fundamental sobre o hipertexto
Uma das características mais importantes e mais debatidas do hipertexto é a não-
linearidade de sua arquitetura, que enseja a ação não-linear de leitura pelo “usuário”. No
lugar do texto apresentado em larga coluna (a mancha tipográfica) na página (de papel) ou
mesmo em colunas paralelas (como nos jornais e nas revistas), o texto apareceria em blocos
menores, em colunas largas ou estreitas, mas apenas parcialmente aparentes. Cada bloco
seria o começo (ou o fim) de outro e entre eles haveria um acesso possível (ou vários), o
44
link, em geral discriminado das restantes palavras e frases do texto por uma cor ou uma
sublinha
38
, no caso da interface da WWW.
Esse modo de produzir textos, em que o leitor uma face da obra, mas não tem
acesso direto às outras, desencadeia uma discussão que data de décadas. É possível
encontrar quem defina o hipertexto por essa característica e quem diga que isso existia
muito antes de os computadores serem inventados. A não-linearidade é, já, para alguns,
uma premissa: se é não-linear, é hipertexto
39
. Para outros, isso não basta. É preciso ser não-
linear, mas também é necessário ter outras características, como, por exemplo, estar em
ambiente digital (Para citar alguns, Ilana Snyder, 2001 e em vários trabalhos, e, no Brasil,
Xavier, 2004 e Soares, 2002).
Na defesa de um critério que não considere obrigatório o ambiente digital para
admitir o hipertexto estão Roger Chartier (especialmente 1998b e 2002) e Pierre Lévy
(especialmente 1993 e 1996). Suas obras, no entanto, surgem muito mais recentemente do
que as discussões sobre linearidade (e seu oposto) vindas à luz num livro de 1971,
organizado por Edmund Carpenter e Marshall McLuhan. Na obra em questão, Dorothy Lee
afirma que “em nossa cultura, a linha é fundamental”. A defesa da linha é feita com
exemplos e citações sobre a importância absoluta dessa lógica. “Vemo-la na natureza
visível, entre pontos materiais, e também a vemos entre pontos metafóricos, como dias ou
atos. Está subentendida não em nosso pensamento, mas também em nossa apreensão
estética do que nos é dado” (LEE, 1971, p. 173).
Em outro trecho, Lee refina a percepção de que a linha nos guia e orienta,
inclusive na pesquisa acadêmica.
Está presente na indução e dedução da ciência e da lógica. Está presente na fraseologia de
meios e fins do filósofo, linearmente combinados. Os nossos fatos estatísticos são
linearmente apresentados como gráfico ou reduzidos a uma curva normal. E todos nós,
creio eu, estaríamos perdidos sem os nossos diagramas. Traçamos uma evolução histórica;
seguimos o curso da história e da evolução até o presente e partindo do macaco. (LEE,
1971, p. 174)
Robert Graves, em outro capítulo da mesma obra, faz o contraponto e traça uma
história concisa da desimportância da linearidade para nos conduzir.
38
Convencionou-se discriminar o item que funciona como link pela cor azul e um sublinhado, que pode
aparecer apenas quando o cursor passa em cima da palavra.
39
Roger Chartier e Pierre Lévy, os mais conhecidos teóricos das novas tecnologias de informação, parecem
assumir que proto-hipertextos já existiam no papel. Ambos citam as enciclopédias e as notas de rodapé
como hipertextos no papel, trilhas não-lineares que tiram os olhos do leitor da mancha principal de texto.
45
A tirania da linha orientadora não pode ser muito antiga, a julgar pelas palavras que
comunicam a noção de linearidade. Linha (line, em inglês) é o latim linea, que
originalmente significava o fio esticado de linho pendente do fuso de fiar, e era inocente de
direção lateral. (GRAVES, 1971. p. 192)
O mesmo autor desabona a linha com argumentos históricos tão convincentes
quanto os de Lee.
Reconhecidamente, a lavra em sulcos retos demonstrou depois ser uma maldição para a
agricultura, em virtude de criar regiões sujeitas a secas prolongadas e à acumulação de pó; e
o pensamento linear militar demonstrou ser um fracasso quando defrontado pelas táticas
não-lineares de infiltração. (GRAVES, 1971, p. 192)
Como se observa, linearidade e não-linearidade são tópicos de discussão 20 anos
antes da obra de Pierre Lévy ser traduzida no Brasil. Para uns, a linha ajuda, por exemplo, o
leitor a perceber coerência no texto; para outros, a não-linearidade promete maior
interatividade e mais opções de busca consciente para um leitor mais ativo e comprometido
(por exemplo, neste caso, Landow, 1997). Neste trabalho, preferimos considerar a não-
linearidade um critério importante para o reconhecimento do hipertexto, esteja ele em
ambiente digital ou impresso.
3.2 Origens do hipertexto
Atribui-se o início da história do hipertexto a dois personagens vastamente citados
nos textos que tratam das Novas Tecnologias de Informação e Comunicação: Vannevar
Bush e Theodore Nelson. O primeiro teria sido o responsável pela concepção do hipertexto,
a idéia de uma máquina em que os dados não fossem dispostos e acessados linearmente.
Ainda não com esse nome e nem com todas as propriedades descritas pelos pesquisadores
que se seguiram, mas algo com a característica de fazer ligações entre informações por
meio de “encruzilhadas” virtuais e informacionais, por meio de uma máquina, à época já os
sistemas informáticos e computacionais, embora em formatos bem menos compactos que
os atuais.
Nelson é apontado como o cientista que deu nome ao objeto descrito por Bush.
Hipertexto teria sido a palavra cunhada para batizar um sistema em que as informações se
ligassem por meio de links navegáveis. Dessa maneira, o leitor/usuário poderia acessar
partes do sistema em qualquer ordem, ou melhor, em uma ordem que refletisse
organização mais “pessoal” do que em outros ambientes. De certa maneira, Nelson
46
idealizava um modo “customizado”
40
de ler e escrever. Pensar o hipertexto como um
sistema baseado em texto no/do qual se pode entrar ou sair quando e onde se desejar é, no
entanto, desconsiderar certa continuidade e certa organização que dependem, sim, do leitor,
mas sempre também estiveram indiciadas pela formulação ou pela construção do texto.
Do ponto de vista da Lingüística, vários pesquisadores têm tentado compor um
quadro dos processamentos cognitivos da leitura e, especificamente, a de hipertextos. Às
vezes tratando o hipertexto como novidade, outras vezes mais atentos à história das práticas
da leitura no mundo ocidental, trata-se de tentar verificar quanto ou como o hipertexto em
ambientes digitais pode ter mudado as maneiras de ler do homem contemporâneo. Não
raro, os estudos lingüísticos se esquecem de que o homem/leitor é histórico e social. Por
isso mesmo, aprendiz de gestos, de ferramentas, de procedimentos. Muitas vezes, esquece-
se de que formatos e suportes do texto implicam leituras e, com um McLuhan relido (e
arrefecido), que o meio e a mensagem estão em relação íntima
41
.
3.3 Os precursores
A maior parte dos textos sobre a história do hipertexto menciona o insight do
físico e matemático Vannevar Bush sobre o hipertexto (ainda sem esse nome) como uma
espécie de simulação de nossa maneira de pensar, ou seja, a realização física e visível de
nossa operação mental, um modelo de como funcionaria nossa mente.
Na década de 1940, Bush era diretor de uma agência civil conhecida como Office
of Scientific Research and Development (OSDR)
42
, cuja missão era firmar contratos de
pesquisa e inovação com empresas privadas e universidades (MOWERY & ROSENBERG,
2005). Não apenas por isso, ele era autoridade importante na política científica dos EUA,
país que, no pós-guerra, viu florescerem novas indústrias, inclusive a de computadores.
Durante a Segunda Guerra, houve incentivo para desenvolver calculadoras de alta
velocidade e resolver problemas militares.
nos anos 1950 e 60, as primeiras grandes compras de máquinas computadoras
eram feitas por agências federais de defesa e espionagem. O IBM 701 foi desenvolvido em
1953, pela International Business Machines, para o Departamento de Defesa. Os
microprocessadores foram inventados em 1971 (pela Intel) e ajudaram a melhorar os
40
De custom (inglês). Diz-se de algo customizado quando é adaptado aos interesses e às necessidades do
usuário, personalizado.
41
McLuhan defendia a lebre idéia de que “o meio é a mensagem”. Para nós, meio e mensagem estão em
íntima relação, às vezes com mais e às vezes com menos intensidade.
42
Escritório de Pesquisa e Desenvolvimento Científico.
47
computadores de mesa, que ganharam o mundo na década de 1980. Mas, à moda do
hipertexto, em que nós são ligados a outros nós ou a outras redes por meio de links e em
que não eixo ou centro, mas relevâncias e movimento, também as tecnologias
precisaram se integrar para que surgissem novas máquinas e programas. Fluxos inter-
setoriais de tecnologia, como a fusão de invenções da eletrônica, da química e da
engenharia, foram de suma importância para que se pudesse chegar aos computadores que
existem hoje.
Vannevar Bush é considerado o “pai” da idéia de hipertexto pela publicação do
artigo “As we may think”
43
, na revista The Atlantic Monthly, em julho de 1945, em que faz
um apanhado das invenções científicas originadas no esforço de guerra dos Estados Unidos
e das invenções que poderiam ajudar o homem do pós-guerra a viver melhor. A máquina de
arquivar memória descrita no texto, na verdade, era uma espécie de microfilme extensor de
memória (Memex) que não serviria apenas para registrar, mas que teria uma maneira
inteligente de indexar e buscar, em caso de necessidade, a informação solicitada.
Preocupado com máquinas de calcular e modos de gravação de voz, Bush passou a criticar
o modo como as indexações de informação eram feitas. Segundo ele:
Quando dados de qualquer espécie são arquivados, eles são estocados por ordem alfabética
ou numérica, e a informação é encontrada (quando o é) pela busca de subclasse por
subclasse. (...) A mente humana não funciona assim. Ela opera por associação. Quando um
item é acionado, ele busca instantaneamente o próximo que é sugerido pela associação de
pensamentos; de acordo com uma rede intrincada de trilhas formadas pelas células do
cérebro. Isso tem outras características, claro. Trilhas que não são usadas com freqüência
tendem a se apagar, os itens não são permanentes, a memória é transitória. (BUSH, 1945.
Tradução nossa)
O matemático explica como seria a Memex, assim como chega a profetizar que
“novas formas mais completas de enciclopédia aparecerão, prontas para terem trilhas
associativas correndo dentro delas”. Embora Vannevar Bush tenha ficado especialmente
conhecido pela concepção do que seria, mais tarde, denominado hipertexto, ele teve, para
os Estados Unidos, muito mais funções do que a de autor de um artigo visionário.
Em 1965, o estudante de graduação em Harvard, Theodore Nelson, apresentou, em
uma conferência nacional da Association for Computing Machinery, um projeto chamado
43
Uma tradução deste artigo foi feita por alunos da Faculdade de Letras da UFMG, coordenados por mim e
pela profa. Carla Viana Coscarelli, e circula nos cadernos Viva Voz, pré-publicação cujo objetivo é formar
editores e revisores de texto no âmbito da faculdade. O volume tem o nome O hipertexto em tradução (Belo
Horizonte: Faculdade de Letras, 2007).
48
Xanadu. Para o estudante, trava-se de uma visão do que poderia vir a ser o “hipertexto”,
termo cunhado por ele para descrever algo muito parecido com a idéia de Vannevar Bush.
Segundo Nelson, em entrevista concedida a Jim Whitehead (1996), a inspiração
que o levou a desenvolver o hipertexto partiu da necessidade que ele mesmo sentia de
trabalhar, lendo e escrevendo, em uma máquina capaz de apresentar os blocos de texto
produzidos de forma não-linear, também de maneira que o autor pudesse mover as partes
do texto e editá-las sem tanto trabalho quanto na escrita linear impressa ou manuscrita.
Nelson volta aos tempos de criança, quando
tinha idéias e formulava sentenças e tentava rearranjá-las em estruturas coerentes de
pensamento. Isso me parecia uma tarefa particularmente complexa e eu pensava de maneira
não-sequencial e, de alguma maneira, colocava tudo a perder porque a impressão, como
aparecia no papel, e a escrita cursiva são seqüenciais. (WHITEHEAD, 1996)
Para ele, algo estava errado em todo o processo de idealizar, formular, escrever e
ler. Se os pensamentos eram estruturados de maneira não-seqüencial, não haveria motivos
para fixá-los de maneira que parecessem lineares. Nelson diz, sobre a inspiração para
Xanadu, que “o leitor tem que tomar essa estrutura linear e fazer a recomposição,
colocando-a, de novo, na estrutura não-seqüencial”. E mais:
Você tem duas tarefas adicionais: desconstruir os pensamentos e torná-los uma seqüência
linear, de depois reconstruí-los. Por que isso não poderia ser feito tendo uma estrutura não-
seqüencial de pensamento apresentada diretamente? Essa era a hipótese do hipertexto, que
poderia economizar tempo e esforço tanto do escritor quanto do leitor”. (WHITEHEAD,
1996)
Nelson tinha em mente um certo modelo de como escrita e leitura se davam e
Xanadu mostrava-se uma maneira de realizar tais processos, ou uma forma de simular o
que nos ocorre na mente enquanto formulamos textos, seja lendo seja escrevendo. É
importante frisar, no entanto, que Nelson trazia entre as premissas de seu trabalho de
engenharia de computadores que os textos não realizam o que a mente de fato faz; que os
textos, de alguma maneira, sob a arquitetura do hipertexto, poderiam ser uma espécie de
simulação do que se passa na mente humana ao escrever e ler; que essa “animação” dos
processos mentais encontraria meios de se tornar um mecanismo externo e, portanto,
extensor das capacidades mentais humanas, como queria Vannevar Bush.
49
3.4 Outros estudos, outras idéias
O computador foi inventado durante a Segunda Guerra Mundial, no entanto, as
discussões mais densas sobre ele emergiram muitos anos depois, quando as máquinas
saíram das salas secretas de órgãos militares e mudaram o cenário do compartilhamento de
informações, das comunicações, assim como passaram a ser um novo aspecto das relações
profissionais e sociais.
Na década de 1990, com a difusão de navegadores com interfaces gráficas, ou seja,
desenhados para o uso de pessoas pouco ou nada especializadas, as máquinas entraram na
vida de cidadãos comuns e a discussão de sua aplicação em instâncias como a escola, por
exemplo, tornou-se ampla. Fazendo previsões otimistas ou retecendo fios da história,
pesquisadores surgiram com força, entre eles, o francês Pierre Lévy.
No final dos anos 80 e início dos anos 90 do século XX, a Europa, berço da
escrita, do livro e da imprensa, reagiu à invenção das novas formas de ler e escrever. A
França, por muito tempo guardiã da cultura impressa e propulsora (junto com a Itália) dos
modos populares de ler (livros de baixo custo e ampla difusão), produziu grande parte dos
pensadores do hipertexto e de suas inspirações.
Em 1990, Lévy apresentava a teoria que chamou de “ecologia cognitiva”. Para o
filósofo, o hipertexto era a metáfora de um mundo sem barreiras. Os textos e as pessoas
estavam ligados de maneira complexa e não havia motivos para pensar o hipertexto apenas
como a realização de um texto em que pequenos blocos de informação se ligavam por links.
O conceito de hipertexto foge ao domínio informático e traduz-se em domínios como o das
cidades e o das bibliotecas de verdade.
Em 1993, Lévy publicou sua obra mais conhecida, As tecnologias da inteligência,
em que salienta a participação de Bush na história do computador e, principalmente, na
história da criação do que ele chama de “tecnologias da inteligência”, referindo-se às
máquinas, programas e interfaces “inteligentes”. Citado à exaustão, Lévy é chamado a
reforçar quase todos os trabalhos da contemporaneidade sobre hipertexto. Não seria aqui o
lugar de faltar a citação mais famosa do filósofo francês, qual seja, aquela em que ele
define, de maneira concisa, um hipertexto:
Tecnicamente, um hipertexto é um conjunto de nós ligados por conexões. Os nós podem ser
palavras, páginas, imagens, gráficos ou partes de gráficos, seqüências sonoras, documentos
complexos que podem eles mesmos ser hipertextos. Os itens de informação não são ligados
linearmente, como em uma corda com nós, mas cada um deles, ou a maioria, estende suas
conexões em estrela, de modo reticular. Navegar em um hipertexto significa portanto
50
desenhar um percurso em uma rede que pode ser tão complicada quanto possível. Porque
cada nó pode, por sua vez, conter uma rede inteira. (LÉVY, 1993, p. 33)
Menos famosa do que essa, a citação a seguir, do mesmo livro, na mesma página,
tem caráter bastante mais mecânico, não passando muito de uma descrição de máquinas e
programas que vinham sendo pesquisados na década de 1990: “Funcionalmente, um
hipertexto é um tipo de programa para a organização de conhecimentos ou dados, a
aquisição de informações e a comunicação” (LÉVY, 1993, p. 33).
Na obra O que é o virtual?, publicada no Brasil três anos depois do livro mais
conhecido, a primeira preocupação de Lévy é estabelecer um conceito de virtual. Embora
tenha desenhado uma obra para uma discussão específica, o autor passeia pelos conceitos
de leitura, pelas ações do leitor ao ler e por conceitos mais arranjados de hipertexto. Para
ele, um texto possui certas características que acusam um conceito de leitura hipertextual
por definição e por natureza.
Ao mesmo tempo que o rasgamos pela leitura ou pela escuta, amarrotamos o texto.
Dobramo-lo sobre si mesmo. Relacionamos uma à outra as passagens que se correspondem.
Os membros esparsos, expostos, dispersos na superfície das páginas ou na linearidade do
discurso, costuramo-los juntos: ler um texto é reencontrar os gestos têxteis que lhe deram
seu nome. (Lévy, 1996, p. 35-36)
Não é difícil encontrar algo de barthesiano na urdidura natural de algo que se
deseja chamar de “texto”. Depois de longas páginas de navegação por uma idéia sem nome,
vy assume:
Desde o início deste capítulo, você ainda não leu a palavra “hipertexto”. No entanto, não se
tratou de outra coisa a não ser disto. Com efeito, hierarquizar e selecionar áreas de sentido,
tecer ligações entre essas zonas, conectar o texto a outros documentos, arrimá-lo a toda uma
memória que forma como que o fundo sobre o qual ele se destaca e ao qual remete, são
outras tantas funções do hipertexto informático. (LÉVY, 1996, p. 37)
Não fosse o adjetivo “informático”, ao final da citação, e Lévy teria definido o
texto onde quer que ele esteja, muito especialmente no sentido de Nelson, quando afirma
que o leitor trabalha com arquiteturas hipertextuais quando se o trabalho de ler, e o
escritor faz o contrário quando tira um retrato, em duas dimensões, do texto que havia
ideado. vy também revela um conceito que lhe é caro, o de “tecnologia intelectual”,
papel cumprido por todos esses mecanismos de realizar modos de trabalho da mente de
quem escreve e lê:
51
Uma tecnologia intelectual, quase sempre, exterioriza, objetiviza, virtualiza uma função
cognitiva, uma atividade mental. Assim fazendo, reorganiza a economia ou a ecologia
intelectual em seu conjunto e modifica em troca a função cognitiva que ela supostamente
deveria apenas auxiliar ou reforçar. As relações entre a escrita (tecnologia intelectual) e a
memória (função cognitiva) estão aí para testemunhá-lo. (LÉVY, 1996, p. 38)
Para vy, o hipertexto é “uma matriz de textos potenciais” (LÉVY, 1996, p. 40)
realizados na interação com o usuário. Visto sob esse prisma, o hipertexto é o produto da
leitura de qualquer texto e o “ato de leitura é uma atualização das significações de um texto,
atualização e não realização” (LÉVY, 1996, p. 41-42). A realização, provavelmente, se
enquadraria mais no que seria a ação de escrever o que a mente projetou. Hoje em dia,
escrever em artefatos que possam simular, de maneira mais ou menos fiel, o que de fato
ocorre na mente. Para confirmar isso, cita-se o trecho:
O hipertexto, hipermídia ou multimídia interativo levam adiante, portanto, um processo
antigo de artificialização da leitura. Se ler consiste em selecionar, em esquematizar, em
construir uma rede de remissões internas ao texto, em associar outros dados, em integrar as
palavras e as imagens a uma memória pessoal em reconstrução permanente, então os
dispositivos hipertextuais constituem de fato uma espécie de objetivação, de exteriorização,
de virtualização dos processos de leitura. Aqui, não consideramos mais apenas os
processos técnicos de digitalização e de apresentação do texto, mas a atividade humana de
leitura e de interpretação que integra as novas ferramentas. (LÉVY, 1996, p. 43-44)
A despeito das discussões atuais, especialmente nas ciências da Comunicação,
sobre as conceituações de hipermídia e multimídia, Lévy funde todas as possibilidades do
que chama de “artificialização da leitura”. Ainda aqui a metáfora da simulação da mente e a
idéia de exteriorização 3D de processos mentais. Mais do que multimídia ou hipertexto, a
interatividade ganha o status de critério para essa artificialização. Conforme nova
formulação de Lévy, a seguir, o texto passa a ser “digitalizado”, palavra que surte um
sentido de que algo se constrói fora do digital e migra para lá. O hipertexto, em fusão com
hipermídia e multimídia, então, é, necessariamente, multimodal e serve para um usuário
intuitivo: “a digitalização permite associar na mesma mídia e mixar finamente os sons, as
imagens animadas e os textos. Segundo essa primeira abordagem, o hipertexto digital seria
portanto definido como uma coleção de informações multimodais disposta em rede para a
navegação rápida e ‘intuitiva’”. (LÉVY, 1996, p. 44)
A “intuição” da navegação é assunto para ser tratado em outra parte deste trabalho,
onde não será suficiente mencionar ações intuitivas, mas será imprescindível tratar das
interfaces “amigáveis”, assim como da ancoragem das ações do usuário em ambientes que
lhe pareçam familiares. Ao contrário do que queria Ted Nelson, a navegação intuitiva
aproxima o leitor leigo, diga-se, não especialista em máquinas e softwares, do computador
52
e da WWW. Algo que, para o autor do termo “hipertexto”, deveria ser repensado. Para
algumas hipóteses sobre o que seja ler, questão que se coloca sempre na pauta de quem
pesquisa o hipertexto, Lévy tem alguma sugestão: “Se ler consiste em hierarquizar,
selecionar, esquematizar, construir uma rede semântica e integrar idéias adquiridas a uma
memória, então as técnicas digitais de hipertextualização e de navegação constituem de fato
uma espécie de virtualização técnica ou de exteriorização dos processos e leitura”. (LÉVY,
1996, p. 49-50)
Com esta última citação, é possível entrever, apesar da longa discussão do autor
em tantas obras, a idéia mais bem-formulada de que o hipertexto seja uma “tecnologia da
inteligência”, um modo de exteriorizar o que se passa na mente enquanto ela opera com
textos. Nessa mesma trilha, textos são, obrigatoriamente, objetos de escrita e de leitura
intersemióticos, relacionados, sem muita distinção, a imagens, sons, cores, palavras,
animação e, claro, aos lugares onde estão realizados, o “suporte”.
Também da França vêm as reflexões do historiador Roger Chartier, que não toma
como foco especificamente o hipertexto e nem os aspectos cognitivos e psicolingüísticos da
leitura, mas preocupa-se com a história da leitura e do leitor, dos gestos e dos hábitos da
gente comum.
Sem negar a importância da macro-história, aquela dos grandes eventos e
personalidades, a História Cultural prefere observar o micro-acontecimento, assim como
descobrir, nas ações do cotidiano, detalhes importantes da vida em determinadas épocas
(PESAVENTO, 2005). A História Cultural, em seu recorte da história do leitor, prefere, ao
grande evento, narrar a história “vinda de baixo”, na expressão de Hunt (2001). Por esse
viés, Chartier é um dos mais conhecidos pesquisadores do livro, objeto que foi re-
significado ao longo dos séculos, assim como do leitor e suas práticas de leitura. Para ele,
“entre as lamentações nostálgicas e os entusiasmos ingênuos suscitados pelas novas
tecnologias, a perspectiva histórica pode traçar um caminho mais sensato, por ser mais bem
informado” (CHARTIER, 2002, p. 9). É sob essa luz que o autor aborda o hipertexto. Não
como sua preocupação principal, mas como um dos artefatos de ler e de escrever, sempre
considerado dentro de uma longa história de idas e vindas, extinções e inovações, assim
como, principalmente, de concomitâncias e continuidades.
Alguns conceitos são caros ao historiador francês. Ao menos três deles podem ser
citados aqui: leitura intensiva, leitura extensiva
44
e a idéia de que nenhum texto pode ser
44
Segundo Chartier (2001b), essa terminologia é tomada de empréstimo da obra de R. Engelsing.
53
abstraído do lugar onde está publicado ou realizado, sob pena de não se poder considerar,
com justeza, os sentidos que meio e mensagem fazem emergir, juntos. Por essas razões,
assumimos postura semelhante à de Chartier em relação à necessidade de ler objetos
integrais, considerando texto, suporte e condições de leitura.
Com relação à leitura intensiva, explica Chartier (1998a, p. 23) que era aquela feita
por um leitor que se debruçava sobre poucos livros, “apoiada na escuta e na memória,
reverencial e respeitosa”. É interessante pensar que livros não foram sempre objetos
acessíveis ou baratos. Ler intensivamente era ler os livros possíveis, poucos, mas objetos de
estima. Já a leitura extensiva, surgida no século XVIII, era feita por um leitor de muitos
textos, “passando com desenvoltura de um ao outro, sem conferir qualquer sacralidade à
coisa lida”.
O leitor “extensivo”, aquele pertence à Lesewut, da fúria de ler que invade a Alemanha nos
tempos de Goethe, é um outro leitor bem diferente: ele consome impressos numerosos e
diversos; ele os com avidez e velocidade; ele exerce em seu lugar uma atividade crítica
que não se omite frente a qualquer domínio ou dúvida metodológica. (CHARTIER, 1998a.
p. 99-100)
O leitor de hipertextos, ao menos o dos hipertextos em ambiente digital, nasceu em
um mundo de leituras extensivas, portanto não se aproxima do leitor de parcas
possibilidades de tempos anteriores. Textos em profusão, em todos os lugares e suportes,
são marca dos povos que estão sob a cultura escrita. Considerando o mundo ocidental e as
grandes cidades, é quase impossível viver sem ter contato com a escrita e com o texto. Mas
é a noção de que textos e suportes são inseparáveis que guia os estudos e as certezas de
Chartier. O leitor jamais apenas com os olhos. O corpo também interage com os objetos
de ler, sejam eles tábuas de cera ou computadores. Chartier, assim como nós, certamente
rebateria afirmações segundo as quais o leitor de textos em ambiente digital é mais ativo do
que leitores de tela, conforme chega a formular LÉVY (1996, p. 40) e afirma
veementemente LANDOW (1997).
Com relação ao leitor, Chartier afirma que agem produzindo algo que é “da ordem
do efêmero” (1998a, p. 11),
Bem longe de serem escritores, fundadores de um lugar próprio, herdeiros dos lavradores de
antanho mas, sobre o solo de linguagem, cavadores de poços e construtores de casas –, os
leitores são viajantes: eles circulam sobre as terras de outrem, caçam, furtivamente, como
nômades através de campos que não escreveram, arrebatam os bens do Egito para com eles
se regalar. (CHARTIER, 1998a. p. 11)
45
45
Aqui, Chartier remete o leitor à idéia de Michel de Certeau sobre o que seja a leitura: uma espécie de
caçada em campo alheio.
54
Com relação a isso, os escritores ou autores são capazes de tecer “apenas” o texto,
objeto diverso do livro, tarefa de equipes editoriais que se obrigarão a dar mais significados
à peça. Em Chartier,
a atenção está voltada para a maneira pela qual as formas físicas por meio das quais os
textos são transmitidos aos seus leitores (ou ouvintes) afetam o processo de construção do
sentido. Compreender as razões e os efeitos dessas materialidades (por exemplo, em relação
ao livro impresso o formato: as disposições da paginação, o modo de dividir o texto, as
convenções que regem a sua apresentação tipográfica, etc.) remete necessariamente ao
controle que editores ou autores exercem sobre essas formas encarregadas de exprimir uma
intenção, de governar a recepção, de reprimir a interpretação. (CHARTIER, 1998a, p. 35)
É nesse sentido que o autor manifesta sua curiosidade e sua preocupação com
relação aos novos dispositivos de leitura e escrita. É na medida em que eles mudam gestos,
hábitos e maneiras de compreender textos. Para Chartier, “a transformação das formas e
dos dispositivos através dos quais um texto é proposto pode criar novos públicos e novos
usos”, ou, “passando do códex à tela, o ‘mesmo’ texto não é mais o mesmo, e isso porque
os novos dispositivos formais que o propõe a seu leitor modificam as suas condições de
recepção e compreensão” (CHARTIER, 1998a, p. 92).
É impossível não perceber certo incômodo de Chartier com relação a uma
improvável aventada hipótese de extinção do livro. Para ele, “apenas preservando a
inteligência da cultura do códex poderemos gozar a ‘felicidade extravagante’ prometida
pela tela” (CHARTIER, 1998a, p. 107). No entanto, em alguns pontos de suas obras, o
autor deixa se insinuar certa visão “linear” de artefatos que se substituem, suplantam e
superpõem. É assim que afirma que a tela seria “substituta do códex”, o que causa uma
transformação radical nos “modos de organização, de estruturação, de consulta ao suporte
do escrito que se modificam” (CHARTIER, 1998a, p. 98). Se essa troca de dispositivos,
há revolução na leitura. Para ele, os objetos impressos apresentavam relações contíguas e os
tempos do computador são evidentemente uma era de leituras mais fragmentadas. Navegar
o que ele chama de “arquipélagos textuais sem margens nem limites” se contrapõe à
captação da obra completa, sensação que o impresso dava ao leitor, idéia de que estava tudo
ali, entre os dedos. Para nós, neste trabalho, este é um ponto fraco de Chartier. Os sentidos
do texto jamais estiveram contidos em algum ambiente, fosse ele divisável entre capas ou
não. Todo texto é um produto “sem margens nem limites”, toda leitura é um processo em
eterno reloading.
55
Em compensação, concordamos com Chartier em outro ponto: as mudanças
materiais “comandam, inevitavelmente, imperativamente, novas maneiras de ler, novas
relações com a escrita, novas técnicas intelectuais”. Se outras épocas testemunharam
mudanças leves ou nenhuma mudança nas “estruturas fundamentais do livro”, nosso tempo
assiste a uma “revolução dos suportes e formas que transmitem o escrito”. Para Chartier
(1998a, p. 101), a mutação atual encontra precedente na “substituição do volumen pelo
códex – do livro em forma de rolo pelo livro composto por cadernos reunidos –, nos
primeiros séculos da era cristã”. E embora o autor não focalize, de maneira veemente, as
mudanças cognitivas pensadas pelos cientistas de sua época, não deixa de indicar as
possibilidades de mudança nos processos mentais do novo leitor ou do leitor da era da
“textualidade eletrônica”. “O universo de textos eletrônicos significará, necessariamente,
um distanciamento em relação às representações mentais e às operações intelectuais
especificamente ligadas às formas que teve o livro no Ocidente dezessete ou dezoito
séculos” (Chartier, 1998a, p. 106). De qualquer forma, é arriscado fazer previsões. O que se
tem é que certamente mudanças, tanto cognitivas quando sociais, acontecem e continuarão
acontecendo. Em relação ao corpo, diz Chartier que
Ainda não sabemos, contudo, muito bem como essa nova modalidade de leitura transforma
a relação dos leitores com o escrito. Sabemos que a leitura do rolo da Antigüidade era uma
leitura contínua, que mobilizava o corpo inteiro, que não permitia ao leitor escrever
enquanto lia. Sabemos que o códex, manuscrito ou impresso, permitiu gestos inéditos
(folhear o livro, citar trechos com precisão, estabelecer índices) e favoreceu uma leitura
fragmentada mas que sempre percebia a totalidade da obra, identificada por sua própria
materialidade. (CHARTIER, 2002, p. 30)
Em suas várias obras, Chartier raramente toca no nome “hipertexto”, embora cite
inúmeras vezes a “textualidade eletrônica”. Em um dos poucos momentos em que adentra
por aquele conceito, em obra mais recente, arrisca que
O hipertexto e a hiperleitura que ele permite e produz transformam as relações possíveis
entre as imagens, os sons e os textos associados de maneira não-linear, mediante conexões
eletrônicas, assim como as ligações realizadas entre os textos fluidos em seus contornos e
em número virtualmente ilimitado. Nesse mundo textual sem fronteiras, a noção essencial
torna-se a do elo pensado como a operação que relaciona as unidades textuais recortadas
para a leitura. (CHARTIER, 2002, p. 108-109)
Hipertexto, hiperleitura e ambientes telemáticos estão intimamente relacionados
aqui, embora Chartier seja um dos teóricos das origens do hipertexto na invenção dos
índices, sumários e enciclopédias. Imagens, sons e textos voltam a lembrar uma maneira
56
intersemiótica de compreender a leitura, assim como a não-linearidade e as conexões
eletrônicas (links) são citadas como critérios centrais de um texto infinito. A intuição,
citada por Lévy, volta em outro trecho de Chartier, quando ele afirma que “a comunicação
eletrônica dos textos não transmite por si mesma o saber necessário à sua compreensão e
utilização. Pelo contrário, o leitor-navegador do digital corre o grande risco de perder-se
totalmente em arquipélagos textuais (cf. BERRING, 1995)” (CHARTIER, 2002, p. 120-
121). Dessa forma, o leitor-navegador, acostumado, filogeneticamente, à “ordem dos
livros” e aos gestos do códice, terá de reconfigurar sua ação para ler na tela, algo que não
acontece, segundo o historiador, de maneira auto-explicativa, o que põe relatividade à idéia
de que a navegação é intuitiva e familiar.
Para Chartier,
Os gestos mudam segundo os tempos e lugares, os objetos lidos e as razões de ler. Novas
atitudes são inventadas, outras se extinguem. Do rolo antigo ao códex medieval, do livro
impresso ao texto eletrônico, várias rupturas maiores dividem a longa história das maneiras
de ler. Elas colocam em jogo a relação entre o corpo e o livro, os possíveis usos da escrita e
as categorias intelectuais que asseguram sua compreensão. (CHARTIER, 1998b, p. 77)
Nessa relação entre corpo e objeto de ler, não se discute devidamente, porém, as
proximidades e distâncias entre hiperleituras em textos impressos e digitais, mimetismos,
remidiações. Chartier menciona a mudança, mas não especifica práticas que se diferenciam
de acordo com o suporte e o gênero textuais ou mesmo não menciona os gestos do leitor
quando ele na tela objetos ancorados na cultura impressa, como é com os jornais, em
grande parte dos casos.
3.5 Bolter, Landow e os pesquisadores do “grupo Eastgate”
Os Estados Unidos foram o berço da indústria de computadores e, logicamente, os
norte-americanos são pesquisadores otimistas das mudanças causadas pela chegada das
máquinas à cultura escrita. Um grupo de pesquisadores da Internet e do hipertexto se
destaca, especialmente no Massachusets Institute of Technology (MIT): George P. Landow,
Michael Joyce, J. David Bolter e Stuart Moulthrop, entre outros. Segundo Cunha (2004),
esses pesquisadores têm defendido, principalmente, certa polaridade entre leitores de
material impresso e leitores de material digital, de maneira que aqueles seriam mais
passivos do que estes na lida com os textos.
A publicação eletrônica teria trazido a possibilidade de superação dos sistemas conceituais
típicos da comunicação de base impressa, como as idéias de hierarquia, linearidade, centro e
57
margem. E também a superação da unidirecionalidade e da “imposição” típicas da
comunicação de massa. O novo paradigma, possibilitado pelas novas tecnologias,
envolveria características como a multilinearidade
46
, a abertura, a descentralização, a maior
inclusão de informações não verbais e uma reconfiguração das noções de autoria, direitos
autorais e das relações de status entre autor e leitor. Para Landow (1994, p.1), esse
paradigma resulta diretamente da “insatisfação com dois fenômenos interligados: o livro
impresso e o pensamento hierárquico”. (CUNHA, 2004)
Se é assim, o leitor está mais “livre” do autor do que o estava no impresso, assim
como o hipertexto propiciaria uma leitura mais ativa. Diz Landow (1992), citado por Cunha
(2004): “Contando que qualquer leitor tenha o poder de entrar no sistema e deixar sua
marca, nem a tirania do centro nem aquela da maioria podem se impor” (Landow, 1992, p.
178 citado por CUNHA, 2004, p, 61-62).
Para os pesquisadores americanos, o hipertexto envolve principalmente elementos
como a não-linearidade e a maior interligação entre textos. Além disso, a possibilidade de
caminhos e sentidos múltiplos, construídos pelo usuário à medida que opta por
determinados links e não por outros, e a possibilidade de o usuário participar da edição do
texto são aspectos que ajustam a nova textualidade ao que se quer considerar como uma
revolução (mais próxima, nestes casos, do sentido de ruptura).
Mesmo diante de tanto otimismo, Cunha (2004) se propõe uma questão que parece
não passar desapercebida entre os que se interessam pelos estudos do hipertexto: “terá sido
alguma vez passivo este cidadão que, em cinqüenta anos, não cessou de assistir, filtrar e
hierarquizar um número crescente de mensagens?” (Wolton, 1999, p. 37 citado por
CUNHA, 2004, p. 64). Se essa resposta não pode ser dada pelos pesquisadores da
Comunicação Social ou da Inteligência Artificial tem, ao menos, abalado a Lingüística e a
Filosofia desde que se pretendeu saber o que se passa na mente do leitor enquanto ele lê.
Segundo Mielniczuk e Palácios (2002), Landow (1995, p. 15) também recorre a
Theodore Nelson quando define o hipertexto:
uma escrita não-seqüencial, num texto que se bifurca, que permite que o leitor escolha e que
se leia melhor numa tela interativa. De acordo com a noção popular, trata-se de uma série de
blocos de texto conectados entre si por nexos, que formam diferentes itinerários para o
usuário (Nelson citado por Landow, 1995, p. 15, citado por MIELNICZUK; PALÁCIOS,
2002, p. 132-133).
46
É interessante observar que o termo “multilinearidade” se ajusta à realidade do hipertexto na WWW. Não é
que exista “alinearidade” ou “não-linearidade”, na verdade, os produtores oferecem múltiplas linhas de
leitura, às vezes bem menos linhas do que crêem aqueles que mencionam a infinitude da leitura
hipertextual.
58
Ficam evidentes, então, como configuração do que se quer reconhecer como
hipertexto, ao menos três características: 1. os blocos de textos 2. ligados por links 3. em
meio digital. Essa fórmula sustentaria uma “dinâmica particular de funcionamento do
hipertexto no que diz respeito à organização das informações (escrita) e ao acesso a elas
(leitura)” (MIELNICZUK; PALÁCIOS, 2002, p. 133). E se assim é, parece ficar
estabelecido, tanto para os americanos quanto para Mielniczuk e Palácios, que o hipertexto
também esteja definido pelo meio digital, o que supõe certa negligência do que dizem os
historiadores da cultura sobre proto-hipertextos. De qualquer forma, trata-se de uma
respeitável escolha teórica, da qual não compartilhamos, embora a idéia de que
reconfigurações nos objetos e nas leituras nos seja cara.
De certa forma, cada vertente de pensadores parece pleitear a invenção do aparato
hipertextual, seja ele um sumário ou um link, assim como da navegação como movimento
do leitor para a leitura. Segundo Mielniczuk e Palácios (2002), Landow (1997) considera
que um hipertexto tenha, como características fundantes e fundamentais, 1.
intertextualidade, 2. descentralização e 3. intratextualidade.
Em relação a 1, um hipertexto potencializa o que, nos livros, fica limitado ao
espaço de papel que o leitor tem em mãos. Em meio digital, é possível acessar e acionar a
intertextualidade ao infinito, pela navegação em um grande banco de dados. O item 2
refere-se à possibilidade de movimentação do leitor pela “malha de blocos de textos
interconectados”. Não haveria mais centro fixo, mas um fluxo de recentramentos
produzidos pelos movimentos do leitor. a intratextualidade (3) diz respeito às ligações
dentro do mesmo texto.
Outros cientistas das novas tecnologias são Jay David Bolter e Richard Grusin. Na
década de 1990, Bolter desenvolveu o conceito de “espaços de escrita” (writing spaces),
que caracterizaria o hipertexto como um “lugar” de escrita em ambiente digital. Em 2000,
Bolter e Grusin lançaram um conceito que leva em consideração não apenas um “espaço”
digital, mas propõem a reflexão sobre as mídias de maneira geral, fazendo um percurso que
vai da pintura às telas de computador. Nessa obra, Bolter e Grusin tratam não da “origem”
das novas tecnologias, mas de sua “genealogia” ou de suas “afiliações históricas”.
Dessa maneira, os autores, partindo para uma metáfora emprestada do campo das
ciências biológicas, evitam que as tecnologias sejam tratadas de maneira isolada e passem a
ser vistas e revisitadas como seções de um processo histórico em que umas mídias herdam
características de suas predecessoras, que passam a se constituir, também, das novas
tecnologias, de certa forma, à maneira da genética.
59
Para Bolter e Grusin (2000), a discussão sobre a linearidade (também reconhecida
em Landow) tem, necessariamente, sua fundação no sonho humano de simular a realidade e
fazer com que o meio se apague
47
ao “transmitir” a mensagem. Ou ainda: que o leitor tenha
a sensação de viver uma experiência real, mesmo que diante de uma tela pintada a óleo.
Essa idéia teria guiado a “invenção”, pelos pintores e desenhistas, da perspectiva ou da
linha de fuga. Os pesquisadores norte-americanos tratam a linearidade como um modo
ocidental de ver, perceber, experimentar e descrever o mundo. Daí certa preferência por
metáforas também lineares.
3.6 Hipertexto no Brasil
Como exposto, há muitas formas de enxergar o problema da leitura de hipertextos,
assim como preocupações mais ou menos centrais com os suportes de leitura e escrita, a
produção de textos para o ambiente digital e, no domínio pedagógico, a preocupação com o
letramento e a exclusão digitais. Também é possível afirmar que forte preocupação com
as novas tecnologias na sala de aula, o que implica abordar o letramento digital.
Marcuschi (2004) associou o hipertexto aos estudos sobre gêneros textuais,
cuidando de refletir sobre os gêneros surgidos a partir das novas tecnologias. Para o autor,
“Os gêneros emergentes nessa nova tecnologia são relativamente variados, mas a maioria
deles tem similares em outros ambientes, tanto na oralidade como na escrita” (2004, p. 13).
Também o leitor e a leitura precisam ser repensados:
Para alguns, muda a própria noção do texto ao se considerar a questão do hipertexto. Em
conseqüência, mudaria a noção de autor, leitor e até mesmo de processos de construção de
sentido. Não se trata de aspectos triviais como a maior facilidade de lidar como texto e de
montá-lo e remontá-lo, pois isso é óbvio, embora do ponto de vista da produção empírica
represente uma mudança interessante nas nossas vidas. (MARCUSCHI, 2004, p. 64)
Coscarelli (principalmente 2003a e 2005, com RIBEIRO) tem se esforçado por
trabalhar uma concepção de hipertexto que o torne palpável para o professor, aquele que,
para ela, pode e deve mudar a sala de aula. Afora a preocupação com a face pedagógica da
leitura de hipertextos, Coscarelli lugar de destaque a uma outra preocupação: mostrar
que toda leitura é hipertextual, independentemente de a realização do texto ser “linear” ou
não. A autora parece sugerir um conceito de hipertexto como arquitetura, montagem, já que
47
No design gráfico, correntes funcionalistas defendem o projeto “transparente”, que dê visibilidade ao texto
e permita ao leitor uma experiência de legibilidade máxima. Mais sobre isso em Gruszynski (2007).
Beiguelman (2003) reflete justamente sobre a experiência de ler o ilegível, experimentar.
60
pode ser apenas a exteriorização de um “jeito de pensar”
48
. Para ela, não pode haver
novidade no hipertexto que o torne tão diverso do que já se conhece sobre a leitura.
Se pensarmos que hipertextos são um conjunto de textos interligados, por meio de links,
não por que acreditar que eles seriam tão diferentes assim dos textos que conhecemos.
(...) Acredito que não há nada de novo no hipertexto, a não ser os mecanismos de navegação
que tornam mais rápidos os acessos a outros textos. (COSCARELLI, 2003a. p. 1)
Para o reforço da idéia de que o hipertexto deve ser entendido como a simulação
de algo que nossas mentes já produzem, escreve a autora que:
Dizer que um texto é composto de elementos que são dispostos um após o outro, numa
seqüência linear, não significa que o texto seja linear. Uma notícia vem “logo após” uma
manchete, mas elas não formam uma seqüência linear. uma hierarquia marcada aqui. A
diferença do tamanho da fonte usada nesses dois segmentos do texto indica para o leitor que
ele precisa diferenciar esses dois elementos. O mesmo acontece com os títulos e os
subtítulos, presentes em vários gêneros textuais.(COSCARELLI, 2003a. p. 2)
Se dedicarmos mais atenção ao trecho citado, é possível entrever a idéia defendida
aqui de que um texto não pode ser abstraído do meio. Se o leitor também “lê” as letras
(fontes e corpo de fonte), não se pode dizer que leia o texto como um ente separado dos
formatos que lhe são dados pelo manuscrito, pela máquina ou pelo computador.
Sobre a hipertextualidade inerente à leitura, Coscarelli (2003a) explica: “Não uso,
portanto, o termo linear em oposição a hipertextual por acreditar que a linguagem é, por
princípio, hipertextual, lidando sempre com vários espaços, tempos, sujeitos, referências,
vozes, entre outros elementos que são processados na leitura de um texto”. E a mesma
autora esclarece que
Ligamos uma palavra ou expressão a outras, relacionamos com nossos conhecimentos e
experiências anteriores, conectamos com outras idéias e sensações, avaliamos, julgamos,
reanalisamos sob outros prismas, consideramos elementos não-verbais, situacionais ou
extra-lingüísticos e assim por diante, estabelecendo uma rede pludirimensional de relações,
a que podemos chamar também de hipertexto (lembrando da diferença que apontei acima de
texto - e por conseguinte, hipertexto - como produto físico e como processo cognitivo. Aqui
estou falando do processo cognitivo). (COSCARELLI, 2003a. p. 3)
Fica claro que o hipertexto que tem movido as pesquisas da autora é o
processamento mental de quem lê, não se preocupando ela tanto em definir formatos ou
48
Insistimos: as idéias de Bush e de Nelson sobre a máquina de hipertextos foram concebidas a partir do que
os cientistas achavam que fosse nosso modo de pensar. O leitor tem, então, um banco de dados
entrecruzados na cabeça e os modelos foram construídos a partir dele, e não o contrário.
61
conceitos para o que ela chama de “produto físico” hipertextual ou a realização do texto em
forma diversa dos textos que conhecemos impressos em papel. Não cabe diferenciar texto
de hipertexto, portanto, deste ponto de vista.
Para os professores e pesquisadores da Comunicação Social, no entanto, não é
difícil pensar o texto inerente aos suportes e aos efeitos do que a Lingüística poderia
considerar extratextual. Como seria de esperar, a Comunicação Social se ocupada em
compreender o consumidor de informação, assim como em atingir o novo leitor de telas.
Grande parte dos trabalhos se concentra na pesquisa sobre as novas formas de produzir
textos e ambientes informacionais, assim como sobre um novo perfil profissional para o
comunicador que trabalha com mídias, especialmente em configurações convergentes.
Marcos Palácios e Luciana Mielniczuk (2002) têm se concentrado nos estudos dos
jornais e da notícia em meio digital, sem se esquecerem dos comportamentos peculiares do
leitor de telas. Para eles, há uma “teoria do hipertexto” onde buscar concepções que ajudem
nas novas formulações do jornalismo. Essa teoria lhes chega por meio das obras de Landow
e Bolter.
Ao contrário dos historiadores, que reconhecem gestos antigos de leitura no
hipertexto de telas, Mielniczuk e Palácios (2002) tratam de pensar uma produção
jornalística fundamentalmente diferente da que existia até então, salvando apenas o que não
se renova, mas se potencializa. “Características que podem ser identificadas em outros
suportes (impresso, rádio, tevê) são estendidas e potencializadas na prática do jornalismo
on-line”.
Utilizando o hipertexto e funcionando no ambiente das redes telemáticas, o jornalismo on-
line passa a apresentar características diferenciadoras em relação aos formatos precedentes
do texto jornalístico. Para Bardoel e Deuze (2000) são quatro as características do
jornalismo on-line: hipertextualidade, multimidialidade, interatividade e personalização.
(MIELNICZUK; PALÁCIOS, 2002. p. 130)
Tocar na interatividade também parece tarefa que ocupa muitos pensadores da
Comunicação Social. Afora os artigos que se produzem para pensar o que seja a
interatividade, vários tratam dela como uma das características principais do hipertexto na
Web. Para ser hipertexto, o texto, necessariamente, apresenta multimidialidade,
interatividade e personalização, segundo Mielniczuk e Palácios, características
“constitutivas da hipertextualidade, pois essa última vai implicar a existência de textos
escritos, sonoros e visuais, que estão organizados em blocos de informações
interconectadas. E a leitura será feita por meio da navegação interativa por esses caminhos”
62
(MIELNICZUK; PALÁCIOS, 2002. p. 131-132). É importante salientar, no entanto, que o
potencial de características interativas do hipertexto na Internet nem sempre é aproveitado,
muitas vezes por falta de tecnologia, outras porque as interfaces são pautadas pela ordem
do impresso, outras tantas por falta de público com letramento digital compatível.
É importante notar a idéia obrigatória do hipertexto como um híbrido de várias
linguagens, algo que os pensadores da Lingüística preferem não citar. Mesmo pensando o
hipertexto como potencializador de características que existiam em outros meios,
Mielniczuk e Palácios arriscam falar em novidade no hipertexto, sempre do ponto de vista
da produção e do profissional que trabalha no novo ambiente:
pelo menos um aspecto que efetivamente é uma absoluta novidade a partir do uso do
hipertexto para a prática do jornalismo nas redes telemáticas: pela primeira vez na história
confrontamo-nos com um processo de produção jornalística que, para efeitos práticos, não
está sujeito às limitações de espaço (como no caso do jornalismo impresso) ou tempo (como
nos casos do rádio e telejornalismo). A junção da hipertextualidade com a memória rompe
os limites espaciais e temporais que foram, desde sempre, uma “marca essencial” da prática
jornalística em todos os seus suportes pré-telemáticos. (MIELNICZUK; PALÁCIOS, 2002.
p. 132)
Entre as mudanças no ambiente onde o jornalista escreve e as maneiras de escrever
destaca-se a da maior fragmentação do texto. Para Mielniczuk e Palácios, essa
fragmentação tem longa história e é apontada por Landow (1995), Mouillaud (1997) e
Gauzé (1999) (MIELNICZUK; PALÁCIOS, 2002. p. 135). Importante pensar que o
esforço de encontrar as melhores apresentações e configurações textuais tem sido feito para
atender às demandas do leitor/usuário. Com certo exagero em relação ao processamento de
texto pelos leitores da época de Platão (é preciso lembrar que eram poucos), Landow diz:
Eles tinham acesso a textos tão diferentes dos nossos que a mera sugestão de que
pudéssemos compartilhar a mesma experiência de “leitura” é equivocada. Os leitores da
época de Platão, Virgilio ou Santo Agostinho processavam textos sem espaço entre as
palavras, sem letras maiúsculas nem pontuação. Se estas frases tivessem sido lidas mil e
quinhentos anos antes, teriam este aspecto:
Elestinhamacessoatextostãodiferentesdosnossosqueamerasugestãodequepudéssemoscompart
ilharamesmaexperiênciadeleituraéequivocadaosleitoresdaépocadeplatãovirgílioousantoagost
inhoprocessavamtextossemespaçoentreaspalavrassemletrasmaiúsculasnempontuaçãoseestasf
rasestivessemsidolidasmilequinhentosanosantesteriamesteaspecto (Landow, 1995, p. 75
citado por MIELNICZUK; PALÁCIOS, 2002. p. 135-136)
Ainda atentos à história do texto, Mielniczuk e Palácios trazem Mouillaud (1997),
que observa que “no final no século XIX, quando, mesmo no jornalismo impresso,
predominavam a escrita literária e política, os textos longos faziam os jornais terem um
63
aspecto pesado e cinzento”. Segundo os pesquisadores, a necessidade de narrar fatos do
cotidiano fragmentou a escrita na imprensa
49
(MIELNICZUK; PALÁCIOS, 2002. p. 136).
Em decorrência de necessidades muito semelhantes a essas, “a escrita hipertextual oferece
possibilidades que acabam por acentuar a fragmentação textual” (MIELNICZUK;
PALÁCIOS, 2002. p. 136).
É interessante observar esse movimento de fragmentação pelo qual o texto passa ao longo
da história. Se formos pensar que a Biblioteca de Alexandria era constituída de volumes
cujas páginas eram tabuinhas, pode-se pensar em textos fragmentados, organizados em
grupos e conectados (presos) por cordas. Depois vieram os pergaminhos, permitindo o
armazenamento de blocos maiores. Estes, mais tarde, foram retalhados para formar páginas
que eram agrupadas em códices. Mesmo assim, uma obra mantinha uma certa unicidade,
estabelecida pelo suporte livro.
Pois bem, de certa maneira, voltamos aos blocos de textos fragmentados como eram na
época das tabuinhas de madeira ou de argila. que agora a moldura é a tela do
computador; no lugar de o texto ser manuscrito, ele é digitalizado; e as ligações entre os
blocos de textos é feita por links. (MIELNICZUK; PALÁCIOS, 2002. p. 136-137)
Outro problema para os pesquisadores da comunicação é o link. São discutidos
desde a natureza deles até o aparato técnico necessário para fixá-los e dar ao leitor certa
sensação de liberdade de escolha. “Acredita-se que o link é o elemento realmente inovador
apresentado pelo hipertexto em suporte digital” (MIELNICZUK; PALÁCIOS, 2002. p.
137). “A novidade do hipertexto digital, então, não está na não-linearidade ou na
intertextualidade em si mesmas, mas no link, o recurso técnico que vai potencializar a
utilização de tais características” (MIELNICZUK; PALÁCIOS, 2002. p. 137). Do que se
pode depreender que não seja exatamente o link a fração inédita do hipertexto, premissa
contida na afirmação de que o recurso potencializa algo. Se potencializa, então o princípio
existia. Ao tomar o link como ponto crucial do hipertexto, os autores retomam Gérard
Genette, que aponta o conceito de paratexto.
[um texto] é raramente apresentado sem estar adornado, reforçado e acompanhado de um
certo número de outras produções, verbais ou não, tais como o nome do autor, um título, um
prefacio, ilustrações. E apesar de nem sempre sabermos se essas produções devem ou não
ser vistas como pertencendo ao texto, em todo o caso, elas rodeiam o texto e o estendem,
precisamente para apresentá-lo, no sentido usual desse verbo, e num sentido mais forte:
49
Entre os jornalistas, a expressão “pirâmide invertida” refere-se ao texto em que as informações mais
importantes são dadas logo no primeiro parágrafo. O restante do texto é desenvolvido com detalhamento e
esclarecimentos. Segundo Mielniczuk (2002, p. 8), citando Fontcuberta (1999), isso se deveu à necessidade
dos repórteres, durante a Guerra de Secessão norte-americana, de transmitir notícias via telégrafo para
outras partes do mundo. O congestionamento nas redes e a necessidade de rapidez forçaram a
reconfiguração do texto jornalístico para que ele tivesse esse formato.Caso a notícia não pudesse ser toda
enviada, o primeiro parágrafo daria conta do essencial. Ainda hoje, investigadores do texto para Internet
defendem a “pirâmide invertida”, desta vez com o argumento de que o hiperleitor é mais impaciente e
escorregadio. A “leitura extensiva” parece ser um comportamento incontornável, especialmente para
jornais.
64
fazer presente, garantir a presença do texto no mundo, sua “recepção” e consumo sob a
forma (atualmente, pelo menos) de um livro. Esse tipo de produção, que varia em extensão
e aparência, constitui o que eu chamei [...] de paratexto [...]. O paratexto é aquilo que
permite que o texto se torne um livro e seja oferecido como tal para seus leitores e para o
público de modo geral [...] (Genette, 1997. p. 1, grifos do autor). (MIELNICZUK;
PALÁCIOS, 2002. p.138)
Também Roger Chartier menciona a dificuldade de se estabelecer, nas telas, o que
seja um objeto e seu paratexto. Segundo o historiador, o suporte promove um certo
apagamento dos gêneros nele contidos, que podem não ser identificados, pelo menos não
com a clareza que outros objetos têm de mostrar, no papel, se são livros ou jornais, por
exemplo. Em grande medida, essas delimitações são dadas pelo paratexto.
Os paratextos seriam os textos que acompanham, envolvem, delimitam o texto principal.
Corresponderiam a uma zona de transição e de transação entre o texto (para o autor,
especificamente o livro) e o leitor. Para exemplificar, o autor pergunta como identificar um
livro? Como vamos ler Ulisses, de Joyce, se não volume ou título? Como vamos saber
que aquele volume corresponde a tal obra? Ele compara, ainda, o paratexto à sala de espera
de um cinema antigo: seria a região de transição entre um ambiente escuro, a sala de
projeção, e o burburinho da rua. (MIELNICZUK; PALÁCIOS, 2002. p. 138)
Maria Augusta Babo esclarece que “Ao conjunto de elementos que se encontram
no limite do texto estabelecendo-lhe a fronteira e instaurando o livro como configuração
comunicacional da textualidade chama-se paratexto [...] (1998, p. 417)” (MIELNICZUK;
PALÁCIOS, 2002. p. 139). Para o computador e a Internet, paratextos vêm sendo
formulados por produtores e leitores/usuários, justamente por conta de seus tropeços e
acertos. Para eles, o paratexto vem crescendo ao longo da história e delimitando melhor os
objetos de ler. E o hipertexto tem relação com isso, desde que surgiu nas telas. Mielniczuk
e Palácios afirmam: “a) que os elementos paratextuais são passiveis de sofrer modificações
ao longo do tempo, de acordo com o contexto; b) que o hipertexto é um fator que
desencadeia alterações no paratexto; c) que o suporte altera a relação entre texto e
paratexto” (MIELNICZUK; PALÁCIOS, 2002. p. 139-140).
Em síntese, o paratexto seria um elemento que exerce as funções de apresentar o
texto principal, facilitar a negociação entre leitor e texto, realizar a transição entre “o
mundo do leitor e o mundo do texto” e marcar as fronteiras do texto (MIELNICZUK;
PALÁCIOS, 2002. p. 140), algo que está a se desenvolver na nova plataforma e que, nesta
pesquisa, é de suma importância para a compreensão de como os leitores participantes
lidaram com jornais
50
.
50
Como a experiência de ler na tela exige gestos diferentes da manipulação de papel, várias maneiras de dar
feedback da leitura ao leitor têm sido estudados e adotados. A barra de rolagem, por exemplo, dá ao leitor o
65
3.7 E pode um hipertexto não ser digital?
Muitos pesquisadores defendem diferenças fundamentais entre texto e hipertexto
(p. ex. BOLTER;GRUSIN, 2000; LANDOW, 1997; no Brasil, XAVIER, no livro de
MARCUSCHI; XAVIER, 2004). E essa diferença também é dada pelo meio em que esses
blocos de texto interligados existem. Ao contrário do texto em papel, o hipertexto não é
guardado de forma física, a não ser que seja impresso. Enquanto é documento digital
(suponha-se um texto publicado em um site de notícias), está onde o leitor estiver, diante da
tela, dado ao acesso, em certo momento (mais do que em certo lugar), atualizado por um
endereço (na metáfora dos lugares físicos). Lá, independente e indiferentemente da tela que
seja e onde quer que ela esteja de fato, o texto poderá se carregar diante dos olhos do leitor.
Outros tantos pesquisadores preferem considerar, genealogicamente, como Bolter
e Grusin (2000), que hipertextos, considerados dentro de uma definição mais funcional e
menos formal, existem quase um milênio, mesmo bem antes da invenção dos
computadores. Para estes, sumários e notas de rodapé levam o leitor à navegação e podem
ser a realização primária dos links, que, funcionalmente, acionam não-linearidades num
texto, mesmo estando ele em papel (p. ex. LÉVY, 1993; CHARTIER, 2001a e 2001b).
Considerar o ambiente ou desconsiderá-lo em favor do modo de funcionar parece
ser o que conduz a uma ou a outra maneira de pensar o hipertexto. Neste trabalho,
assume-se a perspectiva daqueles que entendem que os hipertextos existiam em meios
anteriores aos digitais. Para confirmar esta afiliação teórica, os dados deste trabalho
mostram que o hipertexto em papel ao leitor chances de operar não-linearmente, assim
como de realizar operações de leitura em meio digital herdadas do papel. O novo leitor de
tela traz, necessariamente, para sua nova atividade os trajetos que experimentava em velhos
meios de ler e escrever.
3.8 Hipertextos e jornais
Neste trabalho, nosso objeto de estudo é o trajeto da leitura de leitores pouco
hábeis (ou pouco letrados) na plataforma digital de jornais. Mas também observaremos o
leitor na lida com o jornal impresso. Em quê essa comparação pode esclarecer as mudanças
que ocorrem na cultura escrita atualmente? Pensamos que seja interessante observar se as
trilhas do leitor (pouco letrado em leitura no computador) passam e se ancoram nas trilhas
posicionamento em relação ao texto inteiro, assim como indica se o texto é grande ou não. O número de
páginas do documento, quando se trata de um arquivo, está indicado no rodapé do navegador, uma forma de
fornecer feedback ao leitor. Tudo isso orienta o usuário e, em alguns casos, pode funcionar como paratexto.
66
do que ele conhece sobre a leitura no impresso. Para isso, é preciso verificar o quanto o
jornal on-line se parece com sua versão impressa.
No universo da Internet dezenas de ambientes por onde o leitor pode circular.
Poderíamos nos ater ao e-mail, aos chats, aos fóruns de discussão, ao Orkut, aos blogs; e
ainda, off-line, aos CD-Roms com cursos virtuais, jogos, programas. No entanto, elegemos
o jornal on-line como nosso ambiente de leitura, objeto de estudo especial justo porque,
segundo a mais remota história, foi sempre se caracterizando, autenticamente, como um
proto-hipertexto impresso dos mais relevantes e circulantes.
Social e historicamente construído, melhorado, reconfigurado e razoavelmente
popular, do ponto de vista do formato, foi o jornal impresso um dos suportes, juntamente
com o livro e a revista, que mais sofreu mudanças a partir dos feedbacks do leitor.
Trabalhar com o jornal impresso, considerando que ele seja um hipertexto off-line, evita
também que caiamos na tentação de forjar objetos de estudo hipertextuais para fins
acadêmicos.
Silva (2002) responde afirmativamente à pergunta que intitula seu artigo: O jornal
é hipertexto? Citando Marcuschi, a autora defende a hipertextualidade como uma
“estratégia de organização textual, que muitos gêneros podem aparecer num formato
hipertextual”. A primeira página do jornal impresso é exemplo de texto descontínuo, índice
de páginas internas, “segmentos textuais conectados”. Considerando as chamadas de
primeira página como links (embora de natureza não-digital), é possível considerar que “o
leitor de jornal, à semelhança do ‘navegador’, pode definir o fluxo de sua leitura, sem se
prender a uma seqüência típica” (SILVA, 2002).
“O texto jornalístico também se apresenta de forma fragmentária, se levarmos em
consideração que a própria diagramação do jornal é uma espécie de ‘colcha de retalhos’,
constituída por estruturas temáticas bem diversificadas” (SILVA, 2002). Embora
Marcuschi afirme que veículos impressos vêm imitando formatos digitais (por meio de fios,
cores e diagramações que lembram a web), é necessário partir do contrário, se quisermos
recuperar a cronologia dos fatos. Produtos do ambiente digital é que, ao longo de alguns
anos, inspiraram-se na ordem do impresso, tanto para que o leitor não sentisse
estranhamento paralisante diante das telas quanto porque não se havia ainda desenvolvido
uma linguagem completamente digital. Além disso, conceitos como o de remidiação
51
,
51
Em inglês, remediation.
67
proposto por Bolter e Grusin (2000), dão conta da mímica que uns meios fazem de outros
enquanto não encontram configurações mais estáveis
52
.
3.9 Por que o jornal é um hipertexto
Os jornais são o suporte de vasta gama de gêneros textuais (notícia, reportagem,
crônica, cartum, tirinha, etc.). Além disso, são um ambiente que sofreu transformações ao
longo de sua existência e que tem a forma de um mosaico, em que o leitor seleciona o que
quer ler e concebe uma ordem de leitura a partir de necessidades e preferências. Para
Santaella (2004a), citando Holtzman (1997),
o movimento para a expressão alinear, que caracteriza a hipermídia, não emergiu do nada.
Seus primeiros sinais se deram em 1844, quando da invenção do telégrafo, que catalisou
o desenvolvimento das mídias mosaiquicas (expressão cunhada por McLuhan), de que o
jornal foi um dos primeiros exemplares
53
. A descontinuidade do telégrafo ajudou a dar
forma ao jornal moderno. Relatos de eventos do outro lado do planeta eram transmitidos por
todo o mundo em segundos. A primeira página do jornal é um ícone das notícias feitas de
muitos momentos e eventos do dia anterior em todo um país e mesmo no mundo.
(SANTAELLA, 2004a. p. 30-31)
assumimos que o hipertexto não se define, neste trabalho, apenas por estar on-
line. Para nós, o aspecto eliminatório de classificação de hipertextos é a não-linearidade.
Se, para alguns, hipertexto é o texto descontínuo e on-line, para outros basta a primeira
característica. Ler um jornal pressupõe a aprendizagem de gestos descontínuos e seletivos.
Com a prática, o leitor ganha habilidades que outros suportes dispensam: escanear a
primeira página, observar numeração, saber o que é principal e o que é secundário na
diagramação da notícia, relacionar o texto lido hoje a uma memória que o jornal tenta
preservar.
A experiência de leitura do jornal também é descontínua. Varremos visualmente a primeira
página para ter um sentido do que está acontecendo no mundo. Absorvemos as imagens,
manchetes, leads e algum outro texto de uma olhada. Abrimos o jornal e vamos lendo o que
nos prende a atenção, saltando de uma coisa para outra, não necessariamente completando
qualquer leitura. Não começo nem fim fixos. Selecionamos um começo quando saltamos
direto para negócios ou esportes e terminamos quando deixamos o jornal de lado.
Escaneamos uma notícia, procuramos mais informações em outras páginas e retornamos
com a maior facilidade para o começo. Saltamos para o parágrafo que sintetiza a conclusão.
Assim como num mosaico, montamos uma imagem dos acontecimentos cotidianos a partir
de vários pedaços de informação. O jornal moderno, enformado pelo telégrafo, pressagiou
as qualidades da era digital (Holtzman, 1997, p. 171 citado por SANTAELLA, 2004a. p.
31)
52
É interessante lembrar, aqui, que os livros impressos mecanicamente “remidiaram”, por alguns séculos, os
livros manuscritos.
53
Grifos nossos.
68
O conceito de mídia mosaiquica é, portanto, fundamental neste trabalho. Esse tipo
de objeto que promove, desde seu planejamento, uma leitura alinear e personalizada, seria
genealogicamente relacionado à leitura feita em determinados ambientes da Internet. É bom
lembrar que nem tudo na web é alinear. Grande parte dos ambientes on-line não se
configura na não-linearidade, talvez porque o novo meio ainda se paute muito pela ordem
do impresso. Os jornais, especialmente, têm tentado se apropriar do ambiente on-line, e
foram alguns dos primeiros a perceber na rede um mercado e um novo modo de trabalhar,
mas passam pelo conflito de atender e atrair o leitor/usuário
54
e, ao mesmo tempo,
aproveitar o que o novo meio tem de diverso e libertador em relação à plataforma impressa.
Segundo Santaella (2004b), a “imersão compreensiva”, ou seja, a leitura dedicada
em que o leitor on-line de fato se apercebe do texto, não prescinde da criação de roteiros
pelos produtores de textos e jornais, por exemplo. “Programas capazes de guiar o receptor
no seu processo de navegação. (...) a necessidade de mapeamento, a necessidade da
engenhosidade de um roteiro que possa ir sinalizando as rotas de navegação do usuário”
(SANTAELLA, 2004b, p. 30).
O funcionamento da máquina hipertextual coloca em ação, por meio das conexões, um
contexto dinâmico de leitura comutável entre vários níveis midiáticos. Cria-se, com isso,
um novo modo de ler. A leitura orientada hipermidiaticamente é uma atividade nômade de
perambulação de um lado para o outro, juntando fragmentos que vão se unindo mediante
uma lógica associativa e de mapas cognitivos personalizados e intransferíveis. É, pois, uma
leitura topográfica que se torna literalmente escritura, pois, na hipermídia, a leitura é tudo e
a mensagem vai se escrevendo na medida em que os nexos são acionados pelo leitor-
produtor. (SANTAELLA, 2004b. p.175)
Se Santaella (2004b) descreve a leitura on-line como uma leitura “emoldurada”
por uma tela mais comumente de 15 ou 17 polegadas, pode-se pensar que o leitor off-line
também lia uma moldura com outras dimensões, ainda assim em um ambiente em que
fazer escolhas sempre foi necessário, especialmente se estivermos tratando dos jornais e das
revistas, ambos mídias mosaiquicas.
54
Alex Primo (2004) problematiza o conceito de usuário. Segundo ele, o termo, “tão utilizado nos estudos da
‘interatividade’, deixa subentendido que tal figura está à mercê de alguém hierarquicamente superior, que
coloca um pacote a sua disposição para uso (segundo regras impostas)”. Primo advoga o abandono da
expressão e propõe o termo interagente. Eugênio Trivinho (1996), segundo Primo, propõe indivíduo
teleinteragente cyberspatial. Ellen Lupton (2006, p. 73) considera o usuário “uma figura concebida com um
conjunto de necessidades e limitações cognitivas, físicas e emocionais. Assim como um paciente ou uma
criança, o usuário é alguém a se proteger e cuidar, mas também a escrutinizar e controlar por meio de
pesquisas e testes”. Acreditamos simplificar sobremaneira se chamarmos nosso “usuário” de leitor.
69
3.10 Jornalismo e novas práticas
De forma semelhante ao que ocorre com a “desagregação” do termo mais genérico
letramento, uma delas sendo o letramento digital, a palavra jornalismo vem se juntando a
outras que lhe fecham o escopo, à medida que novas práticas e novos modos de produção
surgem na área. Dos anos 1990 para cá, jornalismo digital e jornalismo on-line são
expressões empregadas, às vezes referindo-se à mesma coisa, outras vezes apontando para
práticas e produtos diversos. Veio somar-se a elas o termo webjornalismo, para designar
uma prática (e seu produto, o webjornal) diferenciada das mais tradicionais, pretensamente
a que melhor e mais se apropria das potencialidades da Internet, tais como a velocidade de
atualização, a customização de informação e a não-linearidade por meio de links e memória
(arquivos à disposição sobre algum assunto).
Para Canavilhas (2001), “O chamado ‘jornalismo online’ não é mais do que uma
simples transposição dos velhos jornalismos escrito, radiofónico e televisivo para um novo
meio”. Segundo o autor, o jornalismo na Internet pode ser mais do que isso. “Com base na
convergência entre texto, som e imagem em movimento, o webjornalismo pode explorar
todas as potencialidades que a internet oferece”. O produto dessa nova prática pode ser o
que ele chama de webnotícia.
Naturalmente, se mudança radical no modo de produzir notícia, também no
modo de ler. Trata-se de um efeito que afeta jornalistas e leitores, especialmente quando se
trata, de fato, de webjornalismo. A defesa que Canavilhas (2001) faz dessa proposta parece
nos levar a deduzir que outros jornalismos, mais tradicionais e suas transposições para a
web, não causam tanto efeito no leitor, que mantém a maior parte de seus antigos gestos.
Sob que critérios se poderia considerar determinado produto como webjornal e
outros, não? Para Canavilhas (2001), “a possibilidade de interacção directa com o produtor
de notícias ou opiniões é um forte trunfo a explorar pelo webjornalismo”. A comparação
com o jornal impresso é fácil: o leitor lê, mas custa muito a ter acesso ao jornalista ou ao
editor. Na Internet, em webjornais, é possível fazer intervenções imediatas, inclusive
interagindo com outros leitores. Em alguns casos, a cotação do veículo e da notícia cresce à
partir da apreciação dos leitores, quanto mais acessos e discussões pertinentes, mais
credibilidade.
Também Canavilhas aponta o fato de webjornais utilizarem hipermídia (som,
vídeo, etc.) como aspecto facilitador. Segundo dados de pesquisa do Media Effects
Research Laboratory, “o recurso à interactividade e a elementos adicionais (vídeo, som,
70
fóruns, etc.) alteram para melhor a percepção do utilizador acerca do conteúdo”
(CANAVILHAS, 2001).
No webjornalismo, não seria necessário empregar a “pirâmide invertida”
55
na
feitura das notícias. Canavilhas afirma, citando pesquisa de Jacob Nielsen e John Morkes,
que o leitor de Internet prefere ler textos facilmente esquadrinháveis. Seriam, segundo os
autores, parâmetros melhores de produção de texto para web:
a) Destacar palavras-chave através de hiperligações ou cores, por exemplo;
b) Utilização de subtítulos;
c) Exprimir uma ideia por parágrafo;
d) Ser conciso;
e) Usar listas sempre que a notícia o permita. (Nielsen; Morkes, 1997 citado por CANAVILHAS, 2001)
Se essa nova forma de produzir notícia e de expô-la altera os modos de produção,
a ponto de inaugurar um novo jornalismo e um jornalista diferente daquele que trabalhava
para o impresso, surge também o novo leitor, rebatizado, por Canavilhas, de webleitor.
Pressupõe-se, então, que ele também tenha novas habilidades de leitura, diversas das do
impresso. Quais são elas, então? Essa é a questão sobre a qual muitos pesquisadores se
debruçam. Em outras palavras: Que letramento é esse?
Mielniczuk (2001), discutindo as práticas do jornalismo na web, menciona o
ciberjornalismo, o jornalismo eletrônico e o jornalismo hipertextual. Concordando com
Canavilhas, a autora assume o termo webjornalismo, por analogia à existência de
nomenclaturas relacionadas ao suporte técnico: “para designar o jornalismo desenvolvido
para a televisão, utilizamos telejornalismo; o jornalismo desenvolvido para o rádio,
chamamos de radiojornalismo; e chamamos de jornalismo impresso àquele que é feito para
os jornais impressos em papel” (MIELNICZUK, 2001).
Para ela, três fases
56
, desde a década de 1990, pelas quais passaram (e ainda
passam) os jornais em suas versões de Internet. Na primeira, chamada “transpositiva”, “os
produtos oferecidos, em sua maioria, eram reproduções de partes dos grandes jornais
55
Técnica de escrita jornalística, defendida por uns e não por outros profissionais e estudiosos, segundo a qual
o jornalista redige a informação mais importante primeiro e detalha a narrativa nos parágrafos seguintes. O
lead é o parágrafo líder da notícia. A “pirâmide invertida” tem defensores quando o assunto é técnicas de
escrever para a Internet.
56
Alguns estudos mencionam “gerações” de jornalismo na Internet, mas elas não são cronológicas,
“evolutivas”. As práticas do jornalismo na web são várias. Ainda hoje jornais transpositivos, outros
ficarão eternamente na fase metafórica e outros são, de fato, webjornais. Por vezes, os mesmos jornais têm
áreas que funcionam de maneiras diferentes, em “gerações” diversas. Silva Júnior (2001) aponta, para as
mesmas “fases”, os nomes “transpositivo”, “perceptivo” e “hipermidiático”.
71
impressos”. “O que era chamado então de jornal on-line não passava da transposição de
uma ou duas das principais matérias de algumas editorias” (MIELNICZUK, 2001).
Uma segunda fase, que a autora chama de “metáfora”, se caracteriza pela tentativa
dos jornais impressos de fazer experiências mais profundas de exploração do novo meio.
Nessa fase,
começam a surgir links com chamadas para notícias de fatos que acontecem no período
entre as edições; o e-mail passa a ser utilizado como uma possibilidade de comunicação
entre jornalista e leitor ou entre os leitores, através de fóruns de debates; a elaboração das
notícias passa a explorar os recursos oferecidos pelo hipertexto. (MIELNICZUK, 2001. p.
2)
Ainda assim, os jornais mantinham certos “vícios” do impresso, não apenas com
relação à maneira de produzir e expor notícias e outros produtos no display, mas também
em relação ao modelo de negócio atrelado às empresas físicas de jornalismo impresso.
A terceira fase do jornalismo após a chegada da Internet, segundo Mielniczuk,
agora sim denominada webjornalismo, configura-se com o “surgimento de iniciativas tanto
empresariais quanto editoriais destinadas exclusivamente para a Internet. São sites
jornalísticos que extrapolam a idéia de uma simples versão para a web de um jornal
impresso e passam a explorar de forma melhor as potencialidades oferecidas pela rede”.
(MIELNICZUK, 2001. p. 2)
Fortemente pautada pela descrição de Canavilhas (2001), pesquisador português,
Mielniczuk (2001) aquiesce em relação ao desenvolvimento dos jornais na Internet por
aqui. Citando Bardoel e Deuze (2000), Mielniczuk as características primordiais do
webjornalismo: “interatividade, customização de conteúdo, hipertextualidade e
multimidialidade”. A essas, segundo Palácios (1999), citado pela autora, soma-se a
memória (o arquivamento acessável de informações pelo leitor).
Note-se que a interatividade e a hipertextualidade, segundo a teoria de hipertexto à
qual nos afiliamos, são características presentes no impresso, embora possam ter sido
menos salientes. Personalização de conteúdos é, de fato, algo muito mais caro e complexo
de levar a cabo no papel. Assim como a multimidialidade é tornada impossível de acordo
com a natureza do suporte. Mielniczuk (2001) lembra da pertinência de se questionar se
cada um desses critérios é, de fato, novo, mas aponta para uma questão: “independente do
fato de serem aspectos novos ou não – tais características somadas ao suporte digital
configuram uma determinada situação específica e esta, sim, é uma situação inédita”.
72
Outro aspecto importante a se salientar aqui é que a hipertextualidade é tomada
como uma característica diferente da multimidialidade, o que muito nos interessa para a
sustentação deste trabalho de investigação. Para Mielniczuk (2001), entre muitos outros, a
hipertextualidade é o “formato de organização e apresentação da informação”,
independendo, portanto, do fato de haver recurso de áudio ou vídeo unidos ao texto.
Santaella (2004a) também discute a definição de hipermídia dentro dessa
composição. Ser hipertextual não significa, necessariamente, ser multimidiático.
diversos exemplos, na Internet, de hipertextos formados por texto sobre texto, dispostos em
faces parcialmente visíveis, conforme a navegação. Também a multimídia construída
com organização não-hipertextual. Som, imagem e texto dispostos linearmente, por
exemplo. Para o jornal impresso, portanto, se não se aplica o critério da multimidialidade,
ao menos em relação a som e vídeo (já que a imagem é, desde o século XIX, possível),
dentro do quadro de Mielniczuk (2001) pode-se aplicar o da hipertextualidade, dentro do
quadro das mídias mosaiquicas desenhado por Santaella (2004a). Para sustentar nossa idéia
de que as formas de jornalismo, em diversos meios, se contaminam, inclusive em relação às
reações do leitor, Palácios (2004) explica:
Entendido o movimento de constituição de novos formatos mediáticos não como um
processo evolucionário linear de superação de suportes anteriores por suportes novos, mas
como uma articulação complexa e dinâmica de diversos formatos jornalísticos, em diversos
suportes, “em convivência” (e complementação) no espaço mediático, as características do
jornalismo na Web aparecem, majoritariamente, como continuidades e potencializações e
não necessariamente como rupturas em relação ao jornalismo praticado em suportes
anteriores. (...) Para se tomar um exemplo extremo de continuidade, a hipertextualidade
pode ser encontrada, avant la lettre, num artefato tão antigo quanto uma enciclopédia.
Obviamente, na Internet e no jornalismo on-line uma potencialização dessa
característica. (PALÁCIOS, 2004 In: BRASIL et al., 2004, p. 87-88).
Diante disso, é possível enquadrar os jornais utilizados neste estudo em alguma
das categorias propostas, por exemplo, por Mielniczuk (2001). Se não são mais jornais
meramente transpositivos, também não chegam a ser webjornais, mas são, de qualquer
modo, construídos como hipertextos. Consideramos, nesta pesquisa, que o Estado de Minas
e O Tempo, em suas versões de Internet, não chegassem a transpor conteúdos e formato
para a tela, mas não são, de forma alguma, ousados em sua apresentação digital. Utilizam
links, têm máquina de busca, oferecem matérias relacionadas à que o leitor está lendo, mas
não chegam a propor uma experiência de velocidade, atualização e navegação
completamente nova ao leitor, assim como não se utilizam de multimídia (som e vídeo) ou
de grande interatividade.
73
4 Leitura: o que é e como se faz
Ele reencontrou o mistério da Trindade: ele, o texto e nós (na
ordem que se quiser porque toda felicidade vem justamente de o
se poder pôr em ordem os elementos desta
fusão
!
Daniel Pennac
Como um romance
A epígrafe desta seção é, de fato, essência deste trabalho. O que Pennac (1993)
chama de “fusão” nos parece apropriado quando se vai tratar do encontro entre leitor, texto
e autor, encontro esse assíncrono, na maior parte das vezes, mas atualizado no ato de ler,
que nos parece hipertextual por natureza, não fosse isso e os modelos de hipertexto
propostos por Vannevar Bush e Ted Nelson não existiriam.
Para sustentarmos nossa tese, utilizaremos principalmente Coscarelli (1999), que
oferece um panorama bastante amplo dos estudos sobre leitura. Segundo a autora, as
abordagens sobre o tema, ao longo de décadas de estudos na Lingüística e na Psicologia,
variaram entre focalizar o autor, o leitor e o texto, cada qual, em um momento, considerado
determinador (e determinante) dos efeitos de sentido que se poderia obter da atividade de
leitura.
No vaivém das teorias sobre como se a leitura, ora o autor foi tomado como o
“dono” e operador máximo do sentido, ensejando até mesmo a questão definidora “o que o
autor quis dizer?”; ora o leitor foi o detentor dos sentidos e das interpretações, até mesmo
em detrimento das intenções do autor e das pistas do texto; e, mais à frente, o texto se
adianta em relação a autor e a leitor, numa espécie de existência independente. A
abordagem sociointeracionista, no entanto, considera a “fusão” dessa “trindade” como o
operador, aí sim, da emergência dos sentidos. Dessa forma, nenhum dos três rege sozinho a
leitura e os três o fazem, ao mesmo tempo.
O tempo, neste caso, não é sincrônico. A escrita, de acordo com Bazerman (2006,
p. 126), faz com que possamos “escapar da co-presença física”. Ler pode ser, justamente,
atualizar sentidos sem a presença do autor. Obrigatoriamente, no entanto, devem estar ali o
texto e quem o leia. O autor está virtualmente presente. E, para tornar o fazer-sentido
possível, é necessário haver certo “alinhamento das compreensões do texto”
(BAZERMAN, 2006. p. 127). Uma vez que nossa pesquisa é construída a partir da leitura
de textos informativos do domínio jornalístico, partimos do pressuposto de que esse
alinhamento seja possível e desejável.
74
Possenti (1999) não apenas admite, mas sustenta o que chama de “leitura errada”,
quando o leitor “pode ter manobrado mal” ao ler um texto. Para o autor, é válido explicar
por que um leitor leu como leu, mas é necessário considerar que existam leituras mais
alinhadas do que outras. Coscarelli (1999) também considera possível estabelecer
parâmetros para leituras mais autorizadas de textos. Juntamo-nos a eles ao defender a idéia
de que existe, sim, na maioria das vezes, uma proposta de protocolo de leitura dada pelo
autor e programada no texto. Leitores mais letrados lançam mão, em grande medida, do que
sabem sobre textos e suportes para aceitar e executar essas propostas. Outras vezes, quando
não são letrados o suficiente, traçam seus trajetos de maneira desviante, imprevista ou
improvisada.
Este trabalho considera que à “trindade” mencionada por Pennac (1993) somamos
o planejamento gráfico como balizador dos efeitos de sentido, o objeto em si, da forma
como foi feito, da maneira como distribuiu o conteúdo, o texto, os prováveis sentidos.
Papel, textura, cor, visibilidade, fonte, corpo, dispersão, distribuição, agrupamentos são
todos parte da proposta de protocolo de leitura. leitores capazes de ler apenas o texto,
não o objeto planejado, e quando isso ocorre, também se movem os efeitos de sentido, para
mais próximo ou para mais longe do núcleo ao redor do qual orbitam sentidos mais, menos
ou nada adequados. Além disso, sustentamos que o leitor pouco letrado não deixa de operar
na cultura escrita quando não percebe uma proposta de leitura a partir do planejamento do
texto e do objeto. Apenas, no lugar de agir dentro das balizas propostas, ele ensaia táticas,
faz e refaz, cumprindo um percurso menos estável e, talvez, menos certeiro em relação aos
sentidos mais ajustados ao texto e à proposta. Letrar, portanto, não pode ser apenas mostrar
a um aprendiz como se texto, como se detectam pontuação e sinais gráficos, como se
regulariza a crase. Isso o leitor pode até saber, mas age de improviso quando não conhece
as trajetórias propostas pela programação do material onde o texto está. Para Bazerman
(2006), leitores operam uma interação mediada pelos textos. Somamos a isso a idéia de que
estejam mediados também pela programação visual que lhes [os textos] organiza e compõe.
4.1 O que é ler?
Certeau (1994) é um dos autores mais citados quando o assunto é leitura. Assim
como os pesquisadores elegeram o conceito de hipertexto de Lévy (1993) uma espécie de
top of mind das definições (embora nem sempre bem-aplicada), elegeu-se a definição de
leitor de Certeau como uma das mais densas. Para o historiador, que assim descreve o leitor
75
antes dos computadores ou da Internet se tornarem objeto de pesquisa, a leitura não parece
passiva ou pouco exploratória:
Longe de serem escritores, fundadores de um lugar próprio, herdeiros dos servos de
antigamente mas agora trabalhando no solo da linguagem, cavadores de poços e
construtores de casas, os leitores são viajantes; circulam nas terras alheias, nômades
caçando por conta própria através dos campos que não escreveram, arrebatando os bens do
Egito para usufruí-los. (CERTEAU, 1994, p. 269-270)
É desse leitor que tratamos quando observamos as práticas do leitor pouco hábil,
leitor que nos mostra o momento quase exato em que funda “um lugar próprio”, trabalha no
“solo da linguagem”, leitor viajante que circula, certamente, em terra que considera (ele
mesmo) alheia, na qual hesita, em que caça “por conta própria”, mas que usufrui do que lê,
mesmo que não seja bem-avaliado pelo professor.
No caso da leitura de jornais, não se pode dizer que o texto propriamente seja o
maior obstáculo. Segundo critérios de legibilidade (lisibilidade, inteligibilidade)
sistematizados por Liberato e Fulgêncio (2004; 2007), os textos de caráter informativo ou
didático devem ser construídos para serem lidos. Dessa forma, operações de edição
57
devem ocorrer no sentido de facilitar a leitura, assim como, dizemos nós, o projeto gráfico
do material deveria facilitar a compreensão do texto
58
.
Como se pôde ler nos capítulos precedentes, Santaella (2004a) recupera a idéia das
“mídias mosaiquicas”; Lévy (1993) reconhece o movimento rápido e fragmentário da
leitura de jornais e revistas; Chartier (1998; 2001a, 2001b) menciona a passagem do modo
intensivo de ler ao modo extensivo, em que uma profusão de textos é oferecida ao leitor.
Certeau (1994) é uma nota forte desse acorde. Para ele, a leitura é uma “combinatória de
operações” e o texto é “habitável”. Segundo sua metáfora, um apartamento alugado, uma
vez que “transforma a propriedade do outro em lugar tomado de empréstimo, por alguns
instantes, por um passante”. A atividade leitora, para o autor, apresenta “todos os traços de
57
Tais como: empregar orações em ordem direta, evitar a voz passiva, utilizar vocabulário conhecido do
leitor, empregar orações mais curtas e evitar intercaladas, empregar palavras compostas pelo padrão vogal-
consoante, enfim, redigir orientado pela clareza e pela simplicidade. Técnicas desse tipo são conhecidas de
redatores profissionais e jornalistas. Liberato e Fulgêncio (2007) sistematizam essas operações e mostram
como elas funcionam nos textos de caráter informativo.
58
Aqui, assumimos uma posição funcionalista, cuja essência é pensar o projeto gráfico de maneira a facilitar
as operações do leitor e tornar a compreensão do texto mais fácil. Neste sentido, a obra de Tschichold
(2007) é esclarecedora. É preciso saber, no entanto, que outras posições existem, especialmente quando o
gênero de texto não tem a legibilidade como seu critério determinante. As experimentações poéticas, por
exemplo, sempre prescindiram de projetos legíveis, especialmente se pensarmos em movimentos como o
concretismo e as tecnopoéticas, cuja experimentação gráfica não tem exatamente preocupação com a
legibilidade e cuja idéia não é propriamente facilitar a operação do leitor, mas, sim, oferecer a ele um
desafio. Para mais informações, ler Beiguelman (2003) e Gruszynski (2007).
76
uma produção silenciosa: flutuação através da página, metamorfose do texto pelo olho que
viaja, improvisação e expectação de significados induzidos de certas palavras, intersecções
de espaços escritos, dança efêmera” (CERTEAU, 1994, p. 49).
Se é assim e ao leitor é oferecido o papel principal em relação à atividade de ler, é
coerente que Certeau (1994) entenda a leitura como algo um tanto distante da proposta de
legibilidade apresentada pelo autor ou pelo somatório das propostas de autor, editor e
projeto gráfico, sendo texto, suporte e expressão gráfica aspectos de alta permeabilidade
entre si. “O consumidor não poderia ser identificado ou qualificado conforme os produtos
jornalísticos ou comerciais que assimila: entre ele (que deles se serve) e esses produtos
(indícios da “ordem” que lhe é imposta), existe o distanciamento mais ou menos grande do
uso que faz deles.” (CERTEAU, 1994, p. 95)
Em relação à “ordem” (que Certeau considera imposta), Chartier (1998a) vinha
discorrendo. A “ordem” proposta pelo livro e transferida à leitura de outros objetos
(inclusive às telas mais recentes) é parte do “problema” da transição entre antigos e novos
modos de ler. O distanciamento de que se trata é aquele entre o que autor, editor e projeto
gráfico propõem como protocolo de leitura e o que o leitor, de fato, em sua prática típica,
faz dele.
Mesmo que esta investigação se baseie em um pequeno e localizado grupo de
leitores, trata-se de compreender a pesquisa como o que Certeau (1994, p. 133) chama de
“metonímia”. “Uma parte (observável por ter sido circunscrita) é considerada como
representativa da totalidade (in-definível) das práticas”.
E se o leitor faz usos indefiníveis dos objetos e textos que lê, então pode-se
considerar que ele possa ser mais ou menos próximo, conforme condições dificilmente
elencáveis, dos protocolos propostos. O conceito de letramentos serve bem ao propósito de
apresentar o continuum das práticas e das leituras dentro de uma escala degradé. Certeau
(1994) configura, então, alguns conceitos: trajetória, estratégia e tática. Todos eles darão
conta das práticas do leitor em atividade.
Trajetória define bem a movimentação do leitor que percorre o objeto. Não o
mapa, que fornece um retrato, estático, fixo, mas o trajeto, o andamento. Os
“consumidores” “traçam ‘trajetórias indeterminadas’, aparentemente desprovidas de sentido
porque não são coerentes com o espaço construído, escrito e pré-fabricado onde se
movimentam. São frases imprevisíveis num lugar ordenado pelas técnicas organizadoras de
sistemas” (CERTEAU, 1994, p. 97). Tem-se, então, como objeto de reflexão e estudo
77
compreender as trajetórias imprevisíveis de leitores em espaços “pré-fabricados” que não
lhes são plenamente conhecidos, por isso não são reconhecíveis.
Estratégia e tática são conceitos essenciais para este trabalho. É a partir deles que
passamos a considerar nossos leitores informantes. É, portanto, de suma importância
reconhecer os sentidos desses termos nesta pesquisa. E, mais uma vez, é Certeau (1994)
que os delineia. Estratégia e tática são modos diferentes de lidar com a percepção do outro,
do externo, do ambiente às vezes. Ser estrategista é alcançar o cálculo de relações de força,
ser tático, não, mas é mover-se conforme outro aparato. “Chamo de tática a ação calculada
que é determinada pela ausência de um próprio. Então nenhuma delimitação de fora lhe
fornece a condição de autonomia” (CERTEAU, 1994, p. 100). O leitor tático é autor de
uma trajetória improvisada; o leitor estrategista é mais gestor de seu projeto de leitura
porque, mais letrado, sabe reconhecer sinais e desenhos de mapas
59
.
4.2 Processamento de leitura
Uma das questões mais intrincadas para a Lingüística (e para outras áreas do
conhecimento) é compreender o que é e como se processa a leitura. O que e como o leitor
faz quando lê? Ainda que optemos por desenvolver esta investigação a partir das definições
da Lingüística, não abrimos mão de considerar a leitura do ponto de vista de sua história e
sociologia, compreender o leitor como ser histórico e suas práticas como gestos aprendidos,
desaprendidos, reaprendidos, reconfigurados e mesmo “aprendíveis”, gestos que se herdam
de práticas outras, na lida com objetos de pequena ou grande tradição, ampla ou
estreitamente conhecidos. Leitores e leitura se explicam, neste trabalho, do ângulo das
práticas sociais e do ângulo do construto teórico psicolingüístico.
Para Coscarelli (1999, p. 32),
a leitura é um processo complexo que envolve desde a percepção dos sinais gráficos e sua
tradução em som ou imagem mental até a transformão dessa percepção em idéias,
provocando a geração de inferências, de reflexões, de analogias, de questionamentos, de
generalizações, etc. Essa definição permite postular que leitura não é um todo sem
subdivisões, pelo contrário, é possível apontar vários domínios que estão envolvidos nela.
Essa definição que “fatia” a leitura em domínios distintos, do ponto de vista dos
processos mentais executados pelo leitor, é compartilhada por Liberato e Fulgêncio (2004;
59
Teberosky (2003), em estudo em que mostra como crianças pequenas já conhecem “a gramática das
formas”, apontava que os resultados de suas pesquisas com pequenos alfabetizandos eram alterados
conforme o conhecimento que as crianças tinham de objetos de leitura integrais, ou seja, conhecer um
jornal impresso faz diferença na forma como o aprendiz concebe a notícia.
78
2007). Ler é uma atividade que aciona conhecimentos de vários tipos e, embora as
pesquisadoras mencionem uma série de pistas textuais e, mais amplamente, sígnicas para o
leitor “colher” enquanto (e quando) lê, raramente lembram-se da avaliação muito mais sutil
que o leitor faz dos trajetos propostos (e percebidos ou não) pelo projeto gráfico, pela forma
que tem o objeto de ler.
Inferências e generalizações são parte fundamental do processo de ler e
compreender. Junto disso, no entanto, o leitor precisa realizar os processamentos lexical e
sintático, assim como a construção de coesão e coerência (COSCARELLI, 1999). No
entanto, não basta passar por essas fases do “jogo da leitura”. É preciso integrar todas elas.
No Modelo Reestruturado de Leitura, Coscarelli (1999) explicita a motivação
didática do trabalho:
Essas subdivisões são teóricas, ou seja, na prática ainda não é possível saber com certeza
como elas acontecem. Pode-se optar por outras maneiras de traçar essas subdivisões por elas
fazerem parte de uma proposta teórica que busca viabilizar o estudo da leitura. Sabe-se que
as operações de cada subdivisão são realizadas durante o processamento dos textos, mas
ainda não se sabe exatamente como, nem quando isso acontece. Alguns teóricos defendem
que elas ocorrem em uma seqüência linear predeterminada e outros defendem que o
processamento é paralelo, ou seja, que os domínios co-ocorrem.
Coscarelli (1999) faz parte do grupo de estudiosos que considera o processamento
da leitura de maneira paralela, obrigatoriamente não-linear, ao menos em grande parte das
fases em que ocorre. Fundamentada, inicialmente, pela teoria da modularidade da mente
(FODOR, 1983), e depois pelas teorias de base conexionista, Coscarelli (1999) empreende
o estudo das operações mentais responsáveis pela tarefa da leitura de textos com e sem
imagens, em ambiente multimídia. No entanto, em vez de considerar dulos mentais que
operariam isoladamente e processadores cognitivos que seriam “caixas-pretas”, a autora
parte para o estudo das inferências produzidas por leitores e percebe, aí, a possibilidade de
compreender melhor como se a leitura. Segundo a lingüista, a vantagem de explicar o
processamento de leitura por meio de domínios e subdivisões é também conseguir
explicitar melhor que problemas um texto pode oferecer ao leitor, que características ele
pode ter que impeçam ou gerem obstáculos para a leitura, embora ela sempre trate disso
sem exatamente mencionar aspectos visuais e “arquitetônicos” do texto. É também por essa
via que trafegam Liberato e Fulgêncio (2004; 2007). As autoras publicaram duas obras em
que mostram, com exemplos, como aumentar (ou reduzir) a legibilidade de um texto.
Em relação ao processamento de leitura, Coscarelli (1999) constrói um esquema
que ajuda a visualizar o modelo seriado. Segundo a autora, os módulos lineares de
processamento de textos funcionariam da seguinte maneira:
79
FIGURA 1: Modelo seriado de leitura
Fonte: COSCARELLI, 1999. p. 35
As críticas que a lingüista tece a esse modelo dizem respeito à transmissão linear
das informações entre os módulos, o que geraria problemas de leitura impeditivos ao leitor,
caso ele não tivesse modos outros de contornar o travamento de algum processamento
nessa cadeia.
No modelo seriado, os módulos de processamento são considerados
independentes, mas se isso fosse de fato assim, informações necessárias para a solução de
problemas pelo leitor não seriam acessadas de um para outro módulo. Coscarelli (1999) cita
uma gama de pesquisas feitas por lingüistas e psicólogos tanto para comprovar a
independência de módulos de processamento quanto para comprovar o contrário. Apesar da
controvérsia e de assumir que os estudos nessa área ainda têm muito o que avançar, a
autora se posiciona como uma crítica do modelo seriado de módulos independentes.
Coscarelli (1999) admite que o estágio em que se encontra a psicolingüística não admite
rigidez de posicionamento, e é nesse ponto que a lingüista insere o estudo das inferências
como uma via possível e fértil para o estudo da leitura.
Conhecer o modelo reestruturado de leitura proposto por Coscarelli (1999) ajuda a
compreender por que razões a autora defende, mais recentemente (COSCARELLI, 2002,
2005, 2007), que todo texto seja processado hipertextualmente. Para ela, as porções do
texto não podem ser acionadas de forma linear pela mente, ainda que o texto pareça um
objeto fisicamente composto com letras e palavras (e frases, etc.) umas diante das outras.
Coscarelli (1999) descreve a atividade leitora como uma ação mental em cinco domínios:
1. processamentos lexical;
2. processamento sintático;
3. construções das coerências (ou significados) local e;
Acesso
Lexical
Parsing
Sintático
Parsing
Semântico
Construção
de
esquemas
Integração
Representa-
ção mental
Texto
Modelo Seriado
Módulo Lingüístico
Processador Cognitivo
80
4. temática;
5. construção da coerência externa ou processamento integrativo.
Tal desenho pode parecer muito semelhante a modelos seriados anteriores, mas a
reestruturação está justamente na maneira como esses domínios se relacionam. O ponto
mais importante para a compreensão da leitura dentro deste modelo é considerar que os
módulos de processamento podem operar paralelamente, até mesmo todos juntos, em uma
espécie de orquestração que é regida pela pragmática, ou seja, por informações
extratextuais que ajudam a orientar quais efeitos de sentido emergirão de um texto em seu
suporte. O ponto que enfatizamos, no entanto, é que entre as “informações extratextuais”
está a expressão gráfica do texto e sua relação com o suporte em que foi inscrito.
4.3 Legibilidades
É de suma importância compreender o que seja legibilidade para os lingüistas,
conceito diferente daquele operado pelos designers gráficos. Ambos deveriam, no entanto,
ser inseparáveis na programação de objetos de ler. Além de aspectos como paragrafação,
topicalização ajustada de tema, seleção lexical adequada, estruturação canônica de frases e
orações, Perini (2007) menciona o conhecimento dos gêneros textuais como um facilitador
do alinhamento entre propostas e sentidos lidos. Conhecer os gêneros, além de todos os
outros itens necessários para se ler, também depende de conhecer suportes e formas. Isso
tudo, por sua vez, depende do grau de letramento do leitor.
Coscarelli (1999, p. 48) afirma que a compreensão do texto depende de alguns
fatores, entre eles a certeza de que ele foi produzido por alguém com intenção de se
comunicar. Para ela, “o sentido construído pelo leitor é também uma questão de
convenção” e “todo enunciado contém instruções” procedimentais e conceituas (conforme
modelo de Sperber e Wilson, 1986/1995 e Britton, 1994, citados pela autora). Se possui
essas “instruções”, então é possível considerar que o leitor as “recolha” e as integre a outros
conhecimentos, resultando daí leituras menos ou mais aproximadas da órbita “correta”.
Em consonância com nossa pesquisa, Coscarelli (1999, p. 48) afirma que “não se
pode falar de significado sem forma, nem negar a influência dessa na construção daquele”.
O texto ou material lingüístico possui muitas marcas ou instruções procedimentais e
conceituais, que resultam em restrições na construção do significado, ou seja, que dirigem a
compreensão, limitando as possibilidades de sentido que o leitor pode construir a partir
dele. Essas marcas lingüísticas codificam “restrições na gama de interpretações possíveis, e
podem ser consideradas como uma gramaticalização da interpretação” (Escandell-Vidal,
81
1998. p. 57). Isso faz com que o texto tenha um número finito e limitado de possibilidades
de interpretação e, conseqüentemente, restringe tamm a produção de inferências.
Mais adiante, Coscarelli (1999) menciona a percepção esperada pelos produtores
de textos (considerando aqui não apenas autor, mas todos os que trabalham para a
configuração do aparato textual, inclusive do paratexto):
o leitor construir a estrutura correta ou não depende das instruções que o autor colocou no
texto e também do que o leitor faz com aquelas instruções. Se o autor colocou no texto as
informações de que o leitor precisa, e se o leitor faz o que normalmente se espera que ele
faça com essas instruções, então ele vai conseguir construir a estrutura de idéias pretendida
pelo autor. Por outro lado, se o autor deixa de colocar no texto instruções de que o leitor
precisa, então o leitor pode obter idéias erradas, incompletas ou não obter idéia nenhuma do
texto (Britton, 1994). (COSCARELLI, 1999, p. 48)
O que queremos enfatizar é justamente que as “instruções” que o autor insere no
texto não podem ser consideradas apenas do ponto de vista do “material lingüístico”.
Exceto em situações muito específicas, grande parte dos textos que lemos no dia-a-dia é
produto de um processo editorial ou de planejamento visual, além da produção do texto
propriamente dito. Jornais e revistas são produto de planejamento, inclusive a partir de
feedbacks de leitores. Queremos mostrar que não é, em grande parte das vezes, o autor
quem as pistas ao leitor, mas uma verdadeira equipe de produtores de objetos de ler. Na
Internet isso fica ainda mais evidente. A mediação da interação por textos é um processo
complexo, mas rastreável. E o que se pesquisa, na maioria das vezes, nesse ambiente, é a
nevegação como o que ela tem de novo, e não propriamente o processamento leitor.
O material lingüístico, portanto, é uma parte importante (mas nem sempre a única
ou a determinante) do input para a leitura. Não pode ser a única e nem a determinante
justamente porque um texto bem-escrito (dentro dos parâmetros da legibilidade oferecidos
por Liberato e Fulgêncio (2007), por exemplo), mas composto com fonte, corpo e suporte
inadequados produzirá efeitos de sentido desajustados em relação à intenção do autor (se
produzir).
Possenti (1999) oferece os curiosos exemplos da leitura de placas de trânsito por
motoristas. A primeira placa tem os dizeres Não pare na pista. A segunda, Respeite a
sinalização. Para o lingüista, é pertinente dizer que um motorista que pára o carro
imediatamente ao ler a primeira placa não fez uma leitura correta do texto. Explicar as
razões pelas quais o leitor leu o que leu é plausível e legítimo, mas não autorizaria a pensar
que o leitor do jeito que quiser e está livre para “voar”. O fato de os textos das placas
estarem impressos em placas, na estrada e serem lidos por motoristas que conhecem
82
aspectos dos textos de placas de trânsito (gêneros textuais mesmo) explica uma série de
balizas que deveriam ser levadas em consideração pelo leitor e fazerem-no integrar
aspectos lexicais, sintáticos, semânticos, contextuais e outros para que pudesse agir de
forma correta depois de lidas as placas.
Para Coscarelli (1999, p. 49), “só a forma não é capaz de explicar e restringir todas
as possibilidades de leitura. Na compreensão de um texto, o leitor não conta só com
informações lingüísticas”, ou seja “ao material lingüístico somam-se informações
extralingüísticas”. Se essas informações são consideradas entre as não-verbais, mais adiante
menciona-se o “conhecimento prévio” do leitor como responsável também pela produção
de inferências. “O total das informações conscientes e potencialmente conscientes de que
dispõe um determinado indivíduo pode ser chamado de conhecimento prévio”. Trata-se, no
entanto, de uma noção tão ampla quanto tudo o que um leitor (ou uma pessoa) pode saber e
conhecer por meio de experiências com a linguagem. Para Coscarelli (1999, p. 49), é uma
noção “dinâmica e variável, pois é constantemente modificada de acordo com as alterações
dos contextos lingüísticos, situacional e cultural”. E por que não mencionar que o leitor
carrega para a experiência de leitura atual as outras, já tidas, relacionadas a ela. E se não as
teve em objeto de ler semelhante aos displays de hoje, procurará acionar protocolos
parecidos para obter bons resultados do texto que tem em mãos (ou diante de si). Para
Bazerman (2006. p. 23), “Quando viajamos para novos domínios comunicativos, nós
construímos nossa percepção sobre eles com base nas formas que conhecemos. Até mesmo
os nossos propósitos e desejos de participar daquilo que a nova paisagem parece nos
oferecer originam-se dos propósitos e desejos moldados em paisagens anteriores”.
O “conhecimento mútuo ou partilhado” também passa por uma revisão em
Coscarelli (1999). O que um produtor de textos sabe sobre o leitor de textos? É, como se
sabe, tarefa que alcança um ponto mediano, uma espécie de faixa de acerto para as
possibilidades entre leitor e autor (e programadores de objetos legíveis).
Com base na idéia de que o processamento de leitura seja não-linear, Coscarelli
(1999) dá exemplos de dificuldades de leitura baseadas em cada aspecto considerado:
lexical, sintático, semântico e integrativo. Se a autora, por um lado, apresenta dificuldades e
desvios de leitura, ela também sugere aspectos do texto que podem ser trabalhos, na
produção, de modo a torná-lo mais legível.
O processamento lexical dos textos diz respeito à ativação, pelo leitor, de
“informações fonológicas, fonéticas, morfológicas, sintáticas e semânticas das palavras”
(COSCARELLI, 1999. p. 52). A complexidade silábica, o comprimento da palavra, a
83
freqüência com que ela ocorre na língua (falada ou escrita para aquele determinado leitor),
a familiaridade do leitor e a probabilidade de ela aparecer em dado contexto, além da
ambigüidade, são aspectos que interferem na leitura, podendo distanciá-la da órbita dos
sentidos mais adequados.
O processamento sintático depende, no texto, da articulação de frases, orações e
períodos. Coscarelli (1999) cita as dificuldades oferecidas ao leitor quando orações fogem
às formas mais canônicas de estruturação de frases, a mais canônica, em português, sendo a
construção na ordem chamada SVO, sujeito-verbo-objeto. Mais uma vez, aspectos
subjetivos condicionam a leitura: familiaridade do leitor com as estruturas frasais e
ambigüidades percebidas e difíceis de solucionar.
A construção da coerência (significado local) também tem importância capital para
a leitura. A habilidade de dar sentido a articulações de frases e trechos ajuda a formar o
sentido do texto globalmente. O conhecimento que o leitor tem sobre o assunto tratado é
fundamental para essa parte do processamento de leitura. É importante que o texto tenha
sido construído de forma a manter o tópico (assunto) abordado, para que o leitor tenha uma
espécie de guia por onde caminhar. Ambigüidades, metáforas e sentidos figurados também
interferem, sendo que os dois últimos podem ajudar ou atrapalhar a leitura, a depender do
caso e da familiaridade do leitor com os temas. Elemento de suma importância para o
processamento da coerência é a coesão, ou seja, “o bom uso dos elementos coesivos”
(COSCARELLI, 1999. p. 62).
A coerência temática refere-se a “uma representação semântica de partes maiores
do texto ou do texto inteiro” (COSCARELLI, 1999. p. 63). Aqui interferem o
conhecimento, pelo leitor, do gênero textual (organização segundo a qual o texto está
construído) e a habilidade para identificar as idéias mais importantes do texto (conforme o
seu objetivo de leitura).
Todos esses processamentos podem ser fatiados, mas não ocorrem de forma linear,
um após o outro. Para que todo o processo aconteça com sucesso, é preciso haver o que
Coscarelli (1999, p. 65) chama de “processamento integrativo” ou “coerência externa”.
Nesta parte da leitura, o leitor vai usar seu conhecimento prévio, ou seja, as informações
conscientes e potencialmente conscientes de que dispõe, para fazer a sua interpretação das
informações do texto e para avaliar a pertinência dessas informações para os seus propósitos
de leitura.
É neste domínio que as informações recuperadas pelo leitor através do texto vão modificar
ou não as informações que ele tem na memória
84
O modelo reestruturado de Coscarelli (1999) pode ser representado da seguinte
forma:
FIGURA 2: Diagrama do modelo de leitura reestruturado de Coscarelli.
Fonte: COSCARELLI, 1999. p. 66.
A ativação de um domínio sofre a influência e interfere em outros, não havendo
dúvida de que a leitura seja uma atividade complexa e relativamente controlada pelo leitor,
com aspectos importantes ocorrendo sem o seu controle.
4.4 O que é inferência
De maneira simplificada, Coscarelli (1999. p. 74) explica as inferências como
sendo “informações que o leitor adiciona ao texto”. “Elas podem ser de muitos tipos,
podem ser feitas em diferentes momentos da leitura e são feitas levando-se em
consideração elementos do texto e do contexto, além dos conhecimentos prévios do leitor”
(COSCARELLI, 1999. p. 74). Talvez seja neste domínio que o leitor possa ser considerado
o caçador em campos alheios mencionado por Certeau (1994).
Estão em jogo, na construção de inferências, além da manipulação que o autor faz
do material lingüístico, o conhecimento partilhado entre ele e o leitor e o conhecimento
prévio deste. Para Coscarelli (1999. p. 86), “o discurso é um processo colaborativo em que
os participantes co-operam para que haja comunicação” e elementos do texto que
orientam a compreensão.
Para fazer inferências, o leitor tem de contar com informações do texto e adicionar a ele,
quando necessário, informações do seu conhecimento prévio. Essa adição de informações
85
tem de ser feita com critérios e considerando-se os elementos explícitos no texto para que
não se façam leituras erradas ou não-autorizadas pelo texto. (COSCARELLI, 1999. p. 92)
Consideradas um processo fundamental para a leitura, a geração de inferencias
ocorre amiúde e é complexa. Para Coscarelli (1999. p. 104), “o bom leitor é aquele capaz
de construir uma representação mental do significado do texto, estabelecendo as relações
entre as partes deste, e de relacioná-lo com conhecimentos previamente adquiridos. Isto é, o
bom leitor é capaz de fazer inferências de diversos tipos e graus de complexidade”.
A lingüista apresenta uma série de categorias de inferências, com base nos estudos
de vários autores. Entre as inferências citadas estão as conectivas e as elaborativas.
Respectivamente, elas podem ser descritas como “as que ligam informações de diferentes
partes do texto” e as que não são necessárias, mas podem adiantar o que vai acontecer no
texto. outras classificações, mais detalhadas inclusive, mas que escapam aos objetivos
deste trabalho.
Para Coscarelli (1999. p. 108), existem ainda processos inferenciais “como análise,
síntese, indução, dedução, analogia, solução de problemas, generalização, entre outras”,
com variados graus de complexidade. Resumir textos é, para a autora, uma tarefa
complexa, mas válida para mostrar a eficiência da leitura. Para ampliar as chances de uma
leitura bem-sucedida, considera-se a interferência do objetivo com que a leitura é feita.
Um dos fatores que têm muita influência na construção do sentido do texto é o objetivo da
leitura. Ele influencia a seleção das estratégias que o leitor vai usar, as atividades
relacionadas à memória, à ativação dos esquemas, à velocidade da leitura, à construção do
significado, entre outras atividades. Em suma, pode-se dizer que o objetivo da leitura
determina as operações cognitivas que o leitor tem de fazer, incluindo-se aqui a produção de
inferências. (COSCARELLI, 1999. p. 125)
No caso desta investigação, o objetivo do leitor era dado pelas pesquisadoras, o
que, obviamente não constitui o quadro ideal de leitura do leitor em condições normais.
Nossos informantes não buscavam, efetivamente, notícias sobre inflação ou obras viárias,
mas precisavam cumprir uma tarefa que não lhes era voluntária. Pensamos, no entanto, que
essa condição (necessária) não os desviasse completamente de nos apresentar uma leitura
autêntica dos textos a eles apresentados.
Coscarelli (1999. p. 130) propõe uma categorização das inferências que
utilizaremos para nossas explicações sobre as questões construídas em aqui. As inferências
conectivas e elaborativas, locais e globais, além das intratextuais e extratextuais serão
nossas etiquetas para os processos mostrados pelos leitores em suas respostas aos textos
86
propostos na pesquisa. Além disso, o fato de os leitores precisarem encontrar dadas notícias
podia definir estratégias relativamente protocolares, e isso nos interessava.
Inferências conectivas e elaborativas ajudam a articular partes do texto, embora
tenham importâncias diferenciadas, as primeiras mais do que as segundas. Intratextuais são
“as que contam com informações do texto” e as extratextuais “são as que contam com
informações que estão fora do texto, como o contexto situacional, o contexto cultural e os
conhecimentos prévios do leitor” (COSCARELLI, 1999, p. 132). Inferências locais
ocorrem para integrar partes menores do texto. As globais, como o nome indica, ajudam a
compreender o texto como um todo.
A seguir, explicitaremos um aspecto importante de nossa fundamentação e do
instrumental empregado para a coleta de dados desta pesquisa: a matriz de língua
portuguesa do Saeb.
4.5 Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb)
O Saeb (como é mais conhecido) compõe-se de duas avaliações: a Avaliação
Nacional da Educação Básica (Aneb) e a Avaliação Nacional do Rendimento Escolar
(Anresc). A primeira focaliza a gestão dos sistemas educacionais e é, na verdade, o que se
chama Saeb; a segunda é mais detalhada e extensa e tem foco nas unidades escolares. Essas
avaliações
produzem informações a respeito da realidade educacional brasileira e, especificamente, por
regiões, redes de ensino pública e privada nos estados e no Distrito Federal, por meio de
exame bienal de proficiência, em Matemática e em Língua Portuguesa (leitura), aplicado em
amostra de alunos de e séries do ensino fundamental e da série do ensino médio.
(BRASIL, 2007)
O Saeb é desenvolvido pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas
Educacionais Anísio Teixeira (Inep), autarquia do Ministério da Educação (MEC), e os
levantamentos feitos a partir dele “permitem acompanhar a evolução da qualidade da
Educação ao longo dos anos” (BRASIL, 2007).
A Matriz de Referência de Língua Portuguesa, a partir da qual construímos nosso
teste de leitura nesta pesquisa, tem como foco “voltar-se para a função social da língua” e
privilegia as habilidades de leitura. Para isso, busca aferir o conhecimento dos leitores em
“diferentes níveis de compreensão, análise e interpretação”. Em relação ao teste de Língua
Portuguesa, “os descritores têm como referência algumas das competências discursivas dos
sujeitos, tidas como essenciais na situação de leitura” (BRASIL, 2007). Procedimentos de
leitura, implicações do suporte, do gênero e /ou do enunciador na compreensão do texto,
87
relação entre textos, coerência e coesão no processamento do texto, relações entre recursos
expressivos e efeitos de sentido e variação lingüística são focos da matriz e alguns desses
aspectos foram focalizados nesta pesquisa, especialmente as implicações do suporte e do
gênero para a leitura.
São estes os tópicos focalizados pelo Saeb:
Tópico I. Procedimentos de leitura
D1 – Localizar informações explícitas em um texto.
D3 – Inferir o sentido de uma palavra ou expressão.
D4 – Inferir uma informação implícita em um texto.
D6 – Identificar o tema de um texto.
D14 – Distinguir um fato da opinião relativa a esse fato.
Tópico II. Implicações do Suporte, do Gênero e /ou do Enunciador na Compreensão do Texto
D5 – Interpretar texto com auxílio de material gráfico diverso (propagandas, quadrinhos, foto, etc.).
D12 – Identificar a finalidade de textos de diferentes gêneros.
Tópico III. Relação entre Textos
D20 Reconhecer diferentes formas de tratar uma informação na comparação de textos que tratam do
mesmo tema, em função das condições em que ele foi produzido e daquelas em que será recebido.
D21 Reconhecer posições distintas entre duas ou mais opiniões relativas ao mesmo fato ou ao
mesmo tema.
Tópico IV. Coerência e Coesão no Processamento do Texto
D2 Estabelecer relações entre partes de um texto, identificando repetições ou substituições que
contribuem para a continuidade de um texto.
D7 – Identificar a tese de um texto.
D8 – Estabelecer relação entre a tese e os argumentos oferecidos para sustentá-la.
D9 – Diferenciar as partes principais das secundárias em um texto.
D10 – Identificar o conflito gerador do enredo e os elementos que constroem a narrativa.
D11 – Estabelecer relação causa/conseqüência entre partes e elementos do texto.
D15 – Estabelecer relações lógico-discursivas presentes no texto, marcadas por conjunções, advérbios,
etc.
Tópico V. Relações entre Recursos Expressivos e Efeitos de Sentido
D16 – Identificar efeitos de ironia ou humor em textos variados.
D17 – Reconhecer o efeito de sentido decorrente do uso da pontuação e de outras notações.
D18 Reconhecer o efeito de sentido decorrente da escolha de uma determinada palavra ou
expressão.
D19 Reconhecer o efeito de sentido decorrente da exploração de recursos ortográficos e/ou
morfossintáticos.
Disponível em:
http://www.inep.gov.br/basica/saeb/caracteristicas.htm> acesso em 7.6.2007. (Grifos nossos)
Entre esses tópicos, investigamos os descritores D1, D2, D11, D17, conforme se
explicita nas questões do teste (Apêndice 6). Em virtude de o Saeb não cobrir todas as
habilidades de leitura que consideramos importantes, nosso teste de navegação (ou a
observação de como o leitor se apropria do aparato na prática da leitura) parece ainda mais
justificado. É importante verificar que, ainda que a matriz tente “cercar” habilidades de
leitura importantes, apenas com as que estão elencadas um leitor não se torna, de fato,
88
competente para ler. Os descritores que apresentavam habilidades que guiaram nossas
perguntas não “funcionam” sozinhos. É importante, por exemplo, mencionar que, ao
solicitar um resumo da notícia lida, o leitor acaba relacionando D5, D6, D7, D8 e D9,
respectivamente as habilidades de interpretar textos com o auxílio de material gráfico
(fotos, quadrinhos, etc.), perceber o tema e a tese de um texto, além de relacioná-la aos
argumentos que a sustentam ou diferenciar partes secundárias de partes principais. Este
último aspecto foi importante para nosso trabalho.
A questão relacionada à habilidade de D17, que parecia simples (identificar a
função do uso de aspas na notícia), mostrou-se relacionada a outros descritores, tais como
D14 e D21, respectivamente, as habilidades de distinguir fato de opinião e reconhecer
posições distintas entre duas ou mais opiniões relativas ao mesmo fato.
Somamos às habilidades verificadas pela matriz do Saeb aquela que diz respeito à
capacidade do leitor de resumir um texto. Com fundamento em Coscarelli (1999. p. 113),
consideramos que
Para resumir um texto, é preciso primeiramente entendê-lo (o que inclui diversas
operações inferenciais que vão desde a ligação de elementos anafóricos a seus antecedentes
até a depreensão das macroproposições do texto, que é a identificação das informações mais
importantes dele para os objetivos do leitor), depois construir a estrutura
macroproposicional do texto, definindo, para isso, a organização hierárquica dessas
macroproposições. E, quanto melhor se conhece o assunto, quanto mais claro e organizado
for o texto, e quanto mais tempo houver, mais fácil será a tarefa de fazer um resumo. Tudo
isso, sem falar na intimidade do leitor com a produção dessa tarefa e com o tipo de texto
que está sendo resumido.
Ao final de todos os testes e a partir da construção de quadros que permitam a
comparação dos dados coletados, pensamos, ainda, estabelecer uma relação entre o
processo de leitura, a compreensão que os leitores fizeram do texto e a relação entre ela e a
navegação pelos suportes de leitura.
89
5 Métodos e instrumentos de pesquisa
Neste capítulo, passaremos a expor os materiais, métodos e instrumentos que
utilizamos para conduzir nosso trabalho e obter dados analisáveis sobre: 1. o perfil dos
leitores participantes da pesquisa; 2. a navegação
60
deles por jornais impressos e digitais; 3.
a leitura que eles fazem dos textos noticiosos selecionados nos jornais.
Esta investigação nos fez percorrer algumas etapas, sendo a primeira delas a
revisão bibliográfica. A partir da consulta à bibliografia disponível, construímos um mapa
conceitual que, pensamos, nos ajudou a conceber testes de leitura e a compreender nosso
objeto de estudo. Letramento, letramento digital, hipertexto, mídias mosaiquicas, leitura e
história dos objetos de ler foram os temas explorados.
A segunda etapa da pesquisa foi a construção de um questionário que pudesse nos
ajudar a delinear o perfil de leitores de nosso “público-alvo”. Por meio dele é que
poderíamos selecionar estudantes para etapas posteriores do estudo.
Após a aplicação do questionário, passamos à construção do teste de navegação e
leitura em ambientes impresso e digital de jornais, o que nos forneceria dados para uma
análise da forma como os leitores lêem esses objetos. Esses testes foram construídos com
base nos descritores de Língua Portuguesa do Saeb, que nos parecem um instrumento
importante de “medição” de habilidades leitoras, embora não o consideremos suficiente
para o estudo da leitura integral, conforme a compreendemos aqui.
Por fim, nossa análise dos dados seriam feita com base em nosso referencial
teórico e nas evidências dos resultados dos testes.
5.1 Tipo de pesquisa
A tese que ora apresentamos contou com uma fase quantitativa, em que os dados
coletados por meio de questionário foram tabulados e transformados em números e
gráficos. Após o desenho de um perfil de leitores específico, passamos a trabalhar com um
grupo menor de estudantes, o que nos permitiu a coleta de outros dados e o tratamento
qualitativo dos resultados referentes à leitura dos textos escolhidos para o estudo.
Conhecer o perfil dos estudantes antes de submetê-los aos testes tinha, além da
função de triar aqueles de mais baixo letramento em leitura de jornais, o intento de saber
um pouco mais sobre o contexto em que esses leitores praticavam (ou não) a leitura. Isso
60
Beiguelman (2003, p. 64,65) lembra que o termo navegação é diferente do sentido de to browse, como se
fala em inglês quando se quer nomear o ato de perambular pela Rede. Para a pesquisadora, navegar tem
muito mais relação com percorrer uma trajetória orientada e precisa, estudada e estruturada, do que a idéia
de simplesmente “andar” a esmo, que seria to browse.
90
nos parece de suma importância para a discussão da inserção do leitor no mundo da leitura
seja por meio de que agência de letramento for. O leitor participante deste estudo está, por
sua vez, inserido em um contexto mais amplo, qual seja, o dos leitores de determinada
época, que convivem com determinado sistema de mídias e que vivem em um país cheio de
características peculiares em relação à formação do leitor e às práticas da leitura
(FONSECA, 1999). Por isso é importante trazer para a discussão os dados do IBGE sobre o
acesso do brasileiro à Internet ou os resultados do Indicador Nacional de Alfabetismo
Funcional.
A investigação que se descreverá a seguir pode ser considerada um estudo de caso,
que focaliza um grupo de alunos de uma instituição privada, universo não-representativo
da população brasileira total. No entanto, pensamos ser possível, a partir das discussões
geradas por esta pesquisa, construir uma investigação que Stake (2000), citado por Alves-
Mazzotti (2006), chama de “caso instrumental”, ou seja, aquele cujo interesse “deve-se à
crença de que ele poderá facilitar a compreensão de algo mais amplo, uma vez que pode
servir para fornecer insights sobre um assunto ou para contestar uma generalização
amplamente aceita” (ALVES-MAZZOTTI, 2006, p. 641-642).
A partir das perguntas formuladas na introdução do trabalho, construímos uma
trajetória que acreditamos poder levar ao estudo mais organizado e sistematizado de dados
obtidos junto a um grupo de leitores. Não se trata de comprovar hipóteses ou de sustentar
uma teoria apenas, mas de obter dados sobre os quais refletir e mesmo a partir dos quais
repensar questões relacionadas às comunicações na sociedade contemporânea e às relações
entre elas e o letramento de pessoas e comunidades.
Iluminamos nosso problema com as luzes dos estudos do letramento (DAVIS,
1995), considerando que estudaríamos um grupo de alunos cujas práticas de leitura não os
tornavam leitores extremamente competentes; assumimos um conceito de hipertexto que
prioriza o critério da não-linearidade, mesmo em meio impresso; consideramos o jornal um
aparato complexo e mosaiquico de leitura, mesmo quando impresso, um objeto não-linear;
e a leitura como um processo hipertextual por excelência, tão intrigante que mereceu a
formulação de modelos de leitura e de processamento por vários cientistas, entre os quais
Coscarelli (1999), baseado em modelos conexionistas, e os propostos por engenheiros, tais
como as realizações hipertextuais de Bush e Nelson.
Esta pesquisa precisou de um cenário que nos permitisse captar dados a partir de
um teste montado com roteiros de várias naturezas. Nossos dados numéricos, basicamente
obtidos por meio de questionários, foram convertidos em gráficos, para melhor visualização
91
(BROWN; RODGERS, 2002), mas se relacionam ao perfil dos informantes em relação à
história escolar e de leitura. Com relação aos grupos configurados, todos os estudantes
foram observados na execução de tarefas de navegação e leitura. Não houve, portanto,
intervenção diferenciada entre grupos, o que não configura pesquisas com grupo-controle e
grupo de estudo.
Após a coleta de dados e a proposta de discussão, esperamos ter chegado a um
“relato atraente” do caso, sobre o qual pensamos ser possível gerar “proposições teóricas
que seriam aplicáveis a outros contextos” (ALVES-MAZZOTTI, 2006). Lazaraton (1995),
em consonância com Davis (1995), explicita a importância de se ter clareza da
investigação, mais do que a importância de enquadrá-la como quantitiva ou qualitativa.
Mas é Peshkin (2001) que trata do olhar do pesquisador, quase como quem descreve a
atuação do cronista. A sensibilidade em riste deve, para Peshkin, funcionar como uma
espécie de “antena” do estudioso. Ele deve estar atento para a leitura e a percepção dos
dados que consegue a partir da investigação. É preciso olhar e enxergar, que é o que
tentaremos fazer aqui.
Brown & Rodgers (2002), citando Best & Kahn (1989), mencionam críticas aos
estudos de caso por seus resultados não serem generalizáveis. No entanto, pensamos que
esta pesquisa possa trabalhar a tipicidade dos casos aqui descritos: grupos com
comportamentos típicos, mesmo que não sejam gerais em uma população, podem ajudar na
ampliação das reflexões sobre um tema. Vamos considerar, com base nisso, que os grupos
de leitores deste trabalho possam dar uma idéia de tipicidade no comportamento de leitores
pouco hábeis de jornais em ambientes impressos e digitais, para isso importando desenhar-
lhes bem o perfil ou, ao menos, seu histórico como leitores.
O objetivo desta pesquisa é a compreensão de alguns aspectos das práticas da
leitura de hipertextos impressos e digitais, assim como suas semelhanças e diferenças e,
mais ainda, suas continuidades, numa tentativa de aprofundamento das reflexões sobre o
tema, especialmente no que diz respeito à navegação e à compreensão de textos noticiosos.
5.2 Leitores participantes
Os leitores consultados para esta pesquisa eram alunos dos primeiros meses do
primeiro período letivo do curso de Enfermagem de um centro universitário privado de
Belo Horizonte. A escolha desse público deveu-se a alguns fatores, entre eles, o de que as
condições socioculturais do graduando nos daria a oportunidade de encontrar mais alunos
ainda pouco letrados, especialmente em relação às possibilidades digitais recentes. Por se
92
tratar de um curso que atravessava um momento de grande procura, os alunos do primeiro
período eram muitos, um universo que favoreceria nossa escolha, a maioria dos estudantes,
no entanto, vinha de camadas desfavorecidas da sociedade. Grande parte já atuava no
mercado de trabalho, na área de Saúde. Além disso, um fator importante para nós era que
apresentassem baixo grau de letramento, mais especificamente de letramento digital.
A facilidade de acesso aos estudantes de Enfermagem também foi ponto positivo
para a coleta de dados, uma vez que a pesquisadora trabalhava na instituição e poderia obter
apoio de professores e coordenadores. A maioria dos leitores pesquisados, no entanto, não
era de alunos da pesquisadora.
A Faculdade de Saúde da instituição apoiou a pesquisa, incentivando a
participação dos alunos e oferecendo certificados de atividade complementar, algo que era
de extrema importância para a complementação de carga horária do curso.
5.3 Construção e aplicação de questionários
A partir de questões inspiradas na pesquisa Retrato da Leitura no Brasil
(ANGIOLOLLO, 2001; CBL, 2000), um questionário (Apêndice 2), composto de questões
de múltipla escolha e abertas, foi aplicado a todas as turmas de alunos de Enfermagem do
primeiro período, dos três turnos de curso no centro universitário. Ao todo, foram 200
questionários, 144 deles respondidos pelos alunos e devolvidos à equipe de pesquisa
61
.
Deste universo de respostas, 30 alunos foram selecionados para participar dos testes de
navegação/leitura, de acordo com os seguintes perfis:
GRUPO 1: Leitores de jornais impressos, mas não de digitais.
GRUPO 2: Leitores de jornais digitais, mas não de impressos.
GRUPO 3: Não-leitores de jornais.
Os grupos 2 e 3 tinham, respectivamente, 7 e 5 representantes. O grupo 1 tinha 11
estudantes, segundo os seguintes critérios:
a. Declararam que acessavam a Internet por até 6h semanais.
b. Declararam que executavam na Internet tarefas diferentes de ler jornais.
61
A equipe a que me refiro era formada por mim e pela colaboradora, profa. Maria José Agostini Saksida. A
bolsista de Iniciação Científica Natália Lanza e Silva ajudaria na tabulação dos dados coletados com os
questionários e na aplicação dos testes de usabilidade nos jornais digitais e impressos.
93
A marcação dos testes de navegação/leitura foi feita por contato telefônico. Nem
todos os estudantes foram receptivos e não conseguimos contato com alguns. O resultado
foi que, de fato, 23 executaram os testes no laboratório de informática.
5.4 Materiais
Considera-se que o jornal seja uma mídia com características “mosaiquicas”
(SANTAELLA, 2004a), ou seja, que seja produzido de forma descontínua e interconectada,
dando ao leitor a possibilidade de selecionar entre textos que lhe interessam, numa postura
notadamente extensiva de leitura. Esse tipo de suporte foi escolhido para compor esta
pesquisa já que o considerávamos veículo de ampla circulação na sociedade.
Se não se pode afirmar que amplas camadas da sociedade tenham acesso a grandes
jornais, ao menos é possível verificar que lhes cheguem às mãos jornais sensacionalistas ou
revistas de fofoca. Seja porque os compram, seja porque os lêem no ônibus ou emprestados
por amigos. O que nos interessa, assim, não é tanto a qualidade gráfica ou do conteúdo do
veículo, mas o princípio mosaiquico sob o qual ele foi construído. É a ação de fazer um
trajeto proposto pelo jornal que nos interessa, ou ao menos, neste caso, a perambulação do
leitor por um trajeto tático, já que não haveria domínio das indicações projetadas no
suporte/texto (trajeto estratégico).
Foi de suma importância o trabalho sobre material autêntico, evitando “montar”
tarefas que pudessem trair ou orientar os resultados. Não desconsideramos, no entanto, que
mesmo tomando todos esses cuidados, ainda sobreviria o “efeito Hawthorne”, apontado
como risco natural deste tipo de pesquisa por McKnight et al. (1991), que o pesquisador
e seu aparato alteram a disposição dos informantes em pesquisas.
Os jornais escolhidos para os testes, a princípio, foram o Estado de Minas e Hoje
em Dia, sendo aquele o maior jornal circulante entre os mineiros e o segundo, bastante
conhecido. No entanto, tivemos problemas técnicos ao capturar o Hoje em dia digital e
desistimos de sua utilização. Partimos, então, para a captura do jornal O Tempo, que
também dispõe de versão na Internet.
Os jornais, ao longo de sua história, foram desenvolvidos para serem hipertextos
(SCOLARI, 2004), em papel e em tela. Estado de Minas e O Tempo têm grandes tiragens
impressas e suas versões digitais existem desde a década de 1990. A partir dos parâmetros
da Usabilidade para sites e sistemas de informática, pensamos ter obtido um resultado
positivo em relação à programação dos sites de ambos os jornais, embora nenhum deles
obedecesse à risca e em todos os quesitos as heurísticas propostas pela ciência da
94
computação, como se verá em nossas análises e discussões. Para as versões impressas,
empregamos o aporte do design gráfico. Pela classificação de Mielniczuk (2001), no
entanto, nenhum dos jornais pode ser considerado webjornal. Isso se deve ao fato de que,
embora ambos sejam mais do que simples transposições
62
, encontram-se em um estágio em
que empregam links e certa interatividade, mas não chegam a ser ambientes completamente
divorciados de seus projetos impressos. Para Alzamora (2004), os sites de jornais impressos
“primam por apresentarem tímidas propostas hipermidiáticas”, no entanto, ainda assim, “a
Internet propicia experiências de interação social e de circulação de informações
jornalísticas razoavelmente distintas das experiências comunicativas assentadas no
paradigma massivo” (ALZAMORA, 2004, p. 107). O caso dos jornais citados é bastante
representativo da situação de “sites de jornais impressos” e o que gostaríamos de discutir é,
justamente, até que ponto se pode concordar com a afirmação de Alzamora, segundo quem
a “experiência comunicativa” do leitor é “razoavelmente distinta” daquela vivida pelo leitor
de jornais impressos. Gostaríamos de enfatizar o “razoavelmente”, importante para nosso
trabalho e teste de leitura para o leitor desta tese (um advérbio que estabelece uma relação
de sentido importante aqui).
5.4.1 Histórico dos jornais
O jornal Estado de Minas é um dos mais antigos da capital, circulando desde a
década de 1920 em versão impressa (CASTRO et al., 1997). Na Internet, foi o pioneiro no
estado e um dos primeiros do Brasil. Sua versão on-line entrou no ar em 1996, ano que
ainda pode ser considerado o início da “popularização da rede” e o começo da utilização
das interfaces gráficas para leigos. Fica disponível aos assinantes no endereço
www.estaminas.com.br, que também pode ser acessado por meio de link no portal UAI
(www.uai.com.br). O portal contém os veículos dos Associados, empresa detentora de
vários jornais no país.
Embora não apresente, em 2007, proposta de fato webjornalística, o Estado de
Minas na Internet possui, hoje, características bem diferentes das que tinha uma década
atrás (FIG. 3). Trata-se de um jornal digital com utilização ampla de links e chamadas
“clicáveis”, interatividade tímida (via e-mails e enquetes), sem multimidialidade e sem
62
Apenas para retomar a discussão, Mielniczuk (2001) e outros autores propõem uma espécie de
categorização para os modos de fazer jornalismo surgidos na Internet, a partir de experiências com o novo
ambiente. Jornais “transpositivos” seriam aqueles que apenas migram suas notícias do impresso para o
meio digital, sem se apropriar de qualquer possibilidade que o novo meio ofereça (interatividade,
customização, memória, etc.). Jornais “metafóricos” se apropriam um pouco mais do novo ambiente, mas
continuam a se planejar sob a metáfora do impresso. Os webjornais, sim, são feitos para a Internet.
95
atualizações constantes. No entanto, não se trata de simples transposição de sua versão
impressa. Embora os textos sejam idênticos, em tamanho e em conteúdo, são acessáveis por
links, inclusive com cruzamento para matérias de cunho semelhante, favorecendo a
intertextualidade e a recuperação de memória.
FIGURA 3. Homepage do Estado de Minas, 2007.
Fonte: Site Estado de Minas, 2007.
O jornal O Tempo foi fundado em novembro de 1996, na cidade de Contagem
(Região Metropolitana de Belo Horizonte), e tem circulação de pouco mais de 35 mil
exemplares em dias úteis e aproximadamente 38 mil aos domingos. Pertence ao grupo
Sempre Editora, do Deputado Federal Vittorio Medioli, e circula em 320 municípios de
Minas Gerais, além das capitais Belo Horizonte, Rio de Janeiro, São Paulo e Brasília.
Surgido ao mesmo tempo em que as primeiras iniciativas brasileiras de jornalismo na
Internet, O Tempo também tem um site.
Da mesma forma que o Estado de Minas, O Tempo na Internet não pode ser
classificado como um webjornal, mas também não é apenas uma versão transpositiva do
impresso (FIG. 4). Embora não aplique multimidialidade, é hipertextual, favorece a
memória por meio de links, tem interatividade (embora baixa) e é formatado de maneira
hipertextual. Atualmente, O Tempo tem a seguinte interface:
96
FIGURA 4. Homepage do jornal O Tempo, em 2007.
Fonte: Site de O Tempo, 2007.
Nesta pesquisa, trabalhamos com jornais impressos tradicionais e suas versões de
Internet consideradas “metafóricas” ou “perceptivas”, uma vez que não dispõem de
características webjornalísticas e nem propriamente sejam transposições simples de jornais
impressos. A escolha destes jornais, e não de webjornais, por exemplo, deveu-se ao que
consideramos ser o melhor enquadramento destes ambientes digitais à proposta de verificar
se o leitor ancora sua experiência de leitura de jornais na Internet em suas vivências de
leitor de impressos. Webjornais, projetados para oferecerem uma experiência bastante
diversa daquela que conhecemos (ao menos supõe-se isso, eis um problema para mais
pesquisas), seriam uma variável complicadora no teste com leitores de baixo letramento.
O fato de a interface leitor/conteúdo guardar muito da ordem do impresso ou fazer
o que alguns pesquisadores chamam de “metáfora do impresso” (MIELNICZUK, 2001;
FURTADO, 2006; para citar dois) nos parecia positivo em relação ao que poderíamos
observar do comportamento leitor dos estudantes. Uma interface transpositiva não nos
interessaria. De outro lado, uma interface completamente nova não nos daria pistas
melhores sobre a ancoragem dos gestos de leitura novos nos antigos.
Em 5 de agosto de 2006, compramos a versão impressa de cada um dos jornais e
fizemos a captura de suas versões digitais em CD. Estas gravações poderiam “rodar” off-
line como se estivéssemos on-line. Os leitores poderiam manipular os jornais em papel e
em tela da mesma forma, em ambientes autênticos. De posse desse material, planejamos as
tarefas de navegação de cada um e os textos para leitura.
97
5.5 Seleção de textos jornalísticos
Selecionamos o gênero notícia por ser um formato curto, objetivo e de maior
chance de compreensão pelos leitores (RIBEIRO, 2003b; PRESSLEY; HILDEN, 2004),
legíveis e concisas (LIBERATO; FULGÊNCIO, 2007). A notícia possui formato bastante
estabilizado (LAGE, 2003), deveria, segundo alguns teóricos, sofrer mudanças quando
publicada na rede em webjornais (SCOLARI, 2004; FERRARI, 2003). Essa premissa não
se confirmou nas versões digitais dos jornais utilizados nesta pesquisa. A diferença entre
jornais on-line, digitais e webjornais parece repousar, também, nesse ponto. Trabalhávamos
com versões digitais de jornais, portanto as notícias que utilizamos na pesquisa eram
sistematicamente idênticas às publicadas em versões impressas. No entanto, os meios
distintos em que elas se encontravam lhes conferiam algumas características peculiares: o
link em lugar da referência simples, o clique em lugar do folhear.
Escolhemos duas notícias de cada jornal (ANEXO 1), ambas relacionadas a fatos
do cotidiano da cidade de Belo Horizonte, onde todos os estudantes residiam, trabalhavam
ou estudavam. Dessa forma pensamos minimizar problemas gerados pela falta de
conhecimento prévio ou informações compartilhadas entre jornalista e leitor. Os critérios de
seleção dos textos foram:
1. Tamanhos semelhantes em ambos os jornais, para que não houvesse demora
excessiva nos testes e nem discrepância entre as tarefas.
2. Notícias das páginas internas sempre com chamadas na primeira página, para
que os leitores pudessem navegar.
3. Na primeira página, as chamadas deveriam estar posicionadas em zonas de
diferentes importâncias e graus de legibilidade (visibilidade).
4. Temas do cotidiano da cidade.
5. Notícias com fotos e legendas.
6. Matérias bem-escritas
63
, dentro dos padrões jornalísticos estabelecidos.
Heurísticas da Usabilidade foram menos ou mais atendidas nos textos que
selecionamos para a investigação. Dessa forma, pudemos analisar, para cada perfil de leitor,
se o resultado melhor ou pior da leitura nos dois ambientes tinha relação direta com o
63
Conforme pesquisa de Liberato e Fulgêncio (2007), procuramos selecionar textos com vocabulário simples,
estruturas sintáticas diretas e compostas por frases curtas, entre outros parâmetros de legibilidade apontados
pelas autoras.
98
projeto de interface. Coletadas as versões dos jornais e selecionados os textos, partimos
para a formulação dos testes de navegação e leitura.
5.6 Tarefas de navegação e ambiente de pesquisa
Os estudantes de Enfermagem foram convidados a participar dos testes nos turnos
da manhã e da tarde. Podiam escolher horários e obedeceram a uma escala com intervalos
de 30 minutos entre um e outro. Os testes foram feitos na sala de Ensino à Distância da
instituição, onde estavam quatro computadores conectados à Internet. Utilizamos apenas
uma máquina para os testes, na qual o CD “rodava” com os jornais em suas versões
digitais. As versões impressas estavam à disposição dos leitores em cima de uma mesa.
O ambiente era relativamente tranqüilo e mantivemos as portas fechadas enquanto
fazíamos os testes. Dispúnhamos de microcomputador, plataforma Windows, utilizando o
navegador Explorer. Uma estrutura para gravação em áudio e vídeo foi montada. Éramos
três pesquisadores (doutoranda, orientadora e aluna de Iniciação Científica), dois monitores
que operavam as câmeras, três funcionários do Ensino à Distância. O aparato técnico
envolvia um computador diante do qual o informante se sentava para responder aos testes;
uma câmera de deo parada, em tripé, que registrava uma imagem aberta do leitor e do
computador, inclusive com sua movimentação no site do jornal; uma segunda câmera de
mão, operada por um estudante do laboratório de Cinema e Vídeo, que nos forneceria
imagens do leitor em detalhes, tais como expressão do rosto, movimentos das mãos, olhar,
boca, zoom de reações ao que lia na tela e no papel; um gravador de áudio em cima da mesa
e um microfone ligado a uma câmera, ambos para captação da voz do leitor enquanto
executava os testes.
Todo esse aparato certamente inibia o estudante, mas consideramos esse efeito
inevitável na pesquisa (“efeito Hawthorne”, segundo McKnight et al., 1991). Também
notamos que, à medida que o leitor se envolvia com a tarefa solicitada pelos pesquisadores,
essa inibição ou certo nervosismo iniciais se dissipavam.
As tarefas de navegação eram as seguintes:
T1a. No jornal Estado de Minas, versões impressa e digital, encontrar e ler uma notícia sobre inflação em
Belo Horizonte;
T1b. No jornal Estado de Minas, versões impressa e digital, encontrar e ler uma matéria sobre problemas no
setor de zoonoses da prefeitura da cidade.
99
T2a. No jornal O Tempo, versões impressa e digital, encontrar e ler uma notícia sobre trabalho escravo em
Minas Gerais.
T2b. No jornal O Tempo, versões impressa e digital, encontrar e ler uma notícia sobre obras viárias na
avenida Antônio Carlos.
Cada estudante recebia duas tarefas, solicitadas de forma a não fornecer
orientações que pudessem conduzi-lo além do necessário
64
: procurar e ler um texto no
jornal impresso e outro no digital. O leitor seguinte recebia as mesmas tarefas, com textos e
ambientes trocados, de maneira que pudéssemos avaliar as navegações de todos os textos
em ambientes diferentes por todos os participantes (Apêndice 3). A exigência da tarefa
proposta aos leitores não é alta: apenas encontrar, na primeira página do jornal, impresso ou
digital, uma chamada e adentrar o suporte em busca da matéria completa. De fato, parece
pouco e muito elementar, especialmente do ponto de vista do leitor experiente. As análises
desta pesquisa refletirão sobre isso mais adiante.
Cada leitor cumpriu, de alguma maneira, a tarefa proposta e, quando encontrou o
texto solicitado, pôde sair da sala do Ensino à Distância para responder à folha de questões
de leitura, embora seja possível saber quanto tempo cada leitor levou para cumprir a
navegação, não nos dispusemos a tratar a performance de cada um como ponto-chave deste
trabalho. Essa informação nos serve apenas de dado complementar, que a velocidade de
solução da tarefa não nos parece importante no estudo de leitores pouco letrados digitais. O
aspecto que queremos tratar diz mais respeito à maneira como estes leitores em formação
navegam do que à rapidez com que solucionam os problemas propostos, embora essa
relação possa existir. Em condições normais, provavelmente estes leitores teriam desistido
de navegar em sites com as características dos que apresentamos aqui.
5.7 Protocolo verbal
O jornal impresso completo, fechado e dobrado foi fornecido aos leitores (Estado
de Minas ou O Tempo). Cada leitor tinha a tarefa de encontrar uma notícia previamente
escolhida. Enquanto o leitor navegava pelo jornal impresso (considerando o percurso feito
em busca de uma notícia, da capa à página interna), solicitamos que ele narrasse as ações
que executava, descrevendo o percurso que fazia. Esse protocolo verbal foi gravado em
64
Segundo Pressley e Hilden (2004), é importante que as tarefas sejam solicitadas ao informante sem muita
intervenção do pesquisador, a fim de evitar resultados tendenciosos ou induzidos.
100
áudio e vídeo e, posteriormente, transcrito. As imagens foram cotejadas com as transcrições
de fala e os textos puderam ser complementados com a descrição de gestos e reações.
Para o texto digital (Estado de Minas ou O Tempo) também foi solicitada tarefa
semelhante: encontrar e ler notícia. As informações sobre a navegação foram registradas
em vídeo e áudio, a partir dos protocolos verbais dos leitores/usuários (think-aloud).
Pensávamos ser o protocolo verbal a forma mais eficiente de conseguir
informações sobre os percursos de navegação e as escolhas de cada participante na lida com
a leitura em tela. À medida que navegassem, falariam suas escolhas, seus raciocínios, seus
trajetos e dificuldades, como se “pensassem alto”. Bastos (2002) oferece uma série de
referências sobre o método e cita, por exemplo, estudos de Færch e Kasper (1987). Brown e
Rodgers (2002) chamam esse tipo de método de introspectivo, que tentam obter dos
informantes seus modos de raciocínio ou operação por meio do relato oral
65
. Pressley e
Hilden (2004) consideram o método de coleta de dados bastante útil e confiável, desde que
alguns cuidados sejam tomados pelo pesquisador: explicação simples da tarefa, sem muita
orientação; evitar a interrupção do processo para que o leitor não modifique o fluxo normal
de leitura; adequação do texto lido à competência leitora do informante, para que problemas
com textos difíceis sejam evitados. Tudo isso, claro, depende do objetivo da pesquisa. Em
nosso caso, trata-se de observar como o leitor com baixo letramento lida com interfaces
complexas como o jornal. Leitura e navegação são aspectos que pretendemos considerar tão
permeáveis entre si quanto ver e ler. A “medição” das habilidades de compreensão dos
textos noticiosos será feita por meio de outro instrumento, qual seja, um questionário com
perguntas formuladas com base nos descritores do Saeb.
A modalidade de protocolo verbal utilizada neste trabalho
66
a oportunidade de
os leitores falarem sobre o que estão fazendo no instante da atividade, sem atraso, hesitação
ou necessidade de memorização. A validação do protocolo verbal como metodologia de
pesquisa foi discutida com propriedade por Ericsson & Simon (1983), citados e discutidos
por Bastos (2002). No entanto, a gravação em vídeo nos proporcionou a maior parte dos
dados para análise. Notamos que os informantes tinham grande dificuldade de manter o
protocolo verbal à medida que manipulavam os textos, tanto no material impresso quanto
65
Tais métodos aparecem, na obra de Brown & Rodgers (2002), com os nomes think-aloud, talk-aloud e
estudo retrospectivo, mais ou menos como sinônimos.
66
Pressley e Hilden (2004) mencionam o protocolo verbal em que o leitor reporta o que foi feito após a
leitura. Nesse caso, os autores apontam a interferência da interpretação que o leitor aos processos que
executa. O protocolo verbal feito durante a leitura depende de memória de trabalho e, portanto, parece ser
mais direto.
10
1
no digital, devido ao fato de, à medida que encontravam dificuldades, passarem a dispensar
atenção a apenas uma das ações.
No vídeo, pudemos registrar o modo como os leitores lidavam com operações
motoras (mouse, cliques, teclado, tela, etc.) e como olhavam a tela, optavam por este ou
aquele caminho, subvocalizavam, além de suas expressões e gestos. Todas essas
informações forneceram dados analisáveis para a investigação. Dessa maneira, cada
leitor/usuário forneceu à pesquisa:
um protocolo verbal de navegação para jornal impresso;
um protocolo verbal de navegação para jornal digital.
A gravação dos protocolos de cada leitor/usuário foi transcrita e analisada em
etapa posterior do trabalho.
5.8 Os testes de leitura
Após a navegação, cada leitor respondeu a perguntas, num teste de compreensão
de teor lingüístico que tinha como referência as matrizes do Sistema de Avaliação da
Educação Básica (Saeb). A Matriz de Referência de Língua Portuguesa, a partir da qual
construímos o teste, tem como foco “voltar-se para a função social da ngua” e privilegia
as habilidades de leitura. Para isso, busca aferir o conhecimento dos leitores em “diferentes
níveis de compreensão, análise e interpretação”. Em relação ao teste de Língua Portuguesa,
“os descritores têm como referência algumas das competências discursivas dos sujeitos,
tidas como essenciais na situação de leitura” (BRASIL, 2007).
Procedimentos de leitura, implicações do suporte, do gênero e /ou do enunciador
na compreensão do texto, relação entre textos, coerência e coesão no processamento do
texto, relações entre recursos expressivos e efeitos de sentido e variação lingüística são
focos da matriz. Os tópicos do Saeb focalizados nesta pesquisa foram:
Tópico I. Procedimentos de Leitura
D1 – Localizar informações explícitas em um texto.
Tópico IV. Coerência e Coesão no Processamento do Texto
D2 Estabelecer relações entre partes de um texto, identificando repetições ou substituições que
contribuem para a continuidade de um texto.
D11 – Estabelecer relação causa/conseqüência entre partes e elementos do texto.
Tópico V. Relações entre Recursos Expressivos e Efeitos de Sentido
D17 – Reconhecer o efeito de sentido decorrente do uso da pontuação e de outras notações.
<http://www.inep.gov.br/basica/saeb/caracteristicas.htm> acesso em 7.6.2007
102
Somamos às tarefas de nossa pesquisa a produção de um resumo (pelos motivos
explicitados no capítulo sobre Leitura) e verificamos, na navegação, a influência da
trajetória de navegação na leitura dos textos, além da percepção de pistas do projeto gráfico
dos jornais. Enfatizamos a relação íntima entre as habilidades, o que explicitamos em
nossas análises.
O leitor/usuário não teve tempo determinado para fazer as leituras e os protocolos
verbais foram feitos livremente. As respostas às questões de leitura sobre os textos foram
dadas por escrito, em silêncio, com consulta, se o leitor o desejasse. Cada um deles, após
cumprir a navegação necessária para chegar ao texto solicitado, recebia uma folha com
perguntas formuladas a partir de alguns descritores do Saeb que consideramos mais
pertinentes ao gênero notícia (Apêndice 6).
De posse dos dados, foi feita a análise detalhada do comportamento dos leitores na
lida com cada ambiente de leitura. Foi possível discutir as dificuldades encontradas pelos
leitores, assim como os comportamentos que os levam a se adaptar ou não à leitura em tela,
incluindo uma discussão sobre em que medida sites que simulam operações em
ambientes impressos ajudam o leitor a construir um trajeto de leitura facilitador, assim
como até que ponto eles são táticos e como agem quando são estrategistas.
Parece-nos necessário tratar as habilidades de leitura desde muito antes da leitura
propriamente do texto. Por isso, os descritores do Saeb devem ser entendidos como uma
parte do ato de ler não mais importante do que a abordagem inicial do material a ser lido (o
contato com o objeto de ler). Nesse sentido, a familiaridade provocada pela simulação do
impresso, empregada para dar sensação de reconhecimento de um ambiente velho em um
novo (remidiação, de BOLTER; GRUSIN, 2000), pode se justificar. O leitor, como se pode
verificar, compreende textos quando estes estão ancorados em conhecimento prévio, mas
não apenas do ponto de vista dos assuntos e conteúdos.
5.9 Procedimentos de análise
A análise e a discussão dos resultados serão feitas a partir dos dados sobre a
relação entre o indivíduo e a interface: como cada um leu cada texto e percorreu o ambiente
papel ou tela, tendo lido os mesmos jornais, nos mesmos suportes. Também analisaremos a
influência do perfil de leitor capturado pelos questionários de perfil da pesquisa no
desempenho de cada estudante ao longo dos testes. Mais adiante, perfil, capacidade de
percorrer o suporte e compreensão do texto serão alinhados.
103
6 Análise de interfaces de jornais impressos e digitais
Neste capítulo, ofereceremos uma análise das interfaces dos jornais selecionados
como material para esta investigação, com o intuito de mostrar que se trata de jornais que
não oferecem dificuldades de leitura decorrentes de mau planejamento. Para isso, foi
necessário levantar critérios de legibilidade
67
e de formulação de bons projetos de interface
para jornais impressos e digitais, considerando-se uma perspectiva funcionalista de padrão
gráfico. O Design e a Ciência da Computação foram áreas do conhecimento que nos
forneceram parâmetros e categorias. A Usabilidade, especialidade da engenharia de
software, utiliza uma metodologia para aferir as reações dos leitores aos sistemas, que
podem ser sites, jogos ou aplicativos.
Não são apenas os sistemas de Internet que estão preocupados com a legibilidade e
a boa navegação. Jornais e outros objetos de papel, tais como livros e revistas, muito
mais tempo vêm sendo objeto de estudo do design gráfico. A partir de conceitos-base do
design e da Usabilidade, mostraremos, nos jornais selecionados, características que os
tornam interfaces “amigáveis” (ou pouco “amigáveis”).
6.1 O leitor e o objeto impresso e digital de ler
“Tanto quanto nós, os leitores são também responsáveis pelo bom ou mau
jornalismo que fazemos. Porque eles têm o poder, e todo o poder. Podem comprar um
jornal se quiserem. E se quiserem, podem deixar de comprá-lo”. É assim a relação que
Noblat (2003) estabelece entre produtores de notícia e seus “consumidores”. De forma
alguma se pode divisar aqui algo de passivo no leitor de jornais, mesmo os de impressos. E
é essa idéia que gostaríamos de sustentar, juntamente com Pressley e Hilden (2004), que
mencionam uma série de pesquisas que mostram o quanto o leitor é ativo, seja qual for o
ambiente em que está lendo.
Embora Noblat (2003) esteja se referindo muito mais ao conteúdo e à forma como
as notícias são dadas, também é possível mostrar como o leitor jamais deixou de ser
“ouvido” e sempre, de alguma maneira, ditou os parâmetros segundo os quais o jornal seria
feito. Noblat (2003) mostra as mudanças gráficas sofridas pelo jornal Correio Braziliense
(do grupo Associados, assim como o Estado de Minas), um dos mais importantes do país,
produzido em Brasília e considerado, até essa transformação, um jornal “tradicional” ao
67
Gruszynski (2007, p. 152) lembra, com base em livro de Priscila Farias sobre tipografia digital (1998), que
a língua inglesa mantém nomes diferentes para o que abordamos aqui: readability e legibility. Em
português, não se faz essa distinção. Designers e lingüistas usam a mesma palavra para se referirem a
objetos diferentes. O que queremos fazer é reunir ambos, já que, para o leitor, jamais estiveram separados.
104
extremo, “viciado” em dar notícias “institucionais” em linguagem visual pobre e
enquadrada. Com a emergência da Internet e a explosão de versões digitais de jornais, o
Correio impresso optou por uma reforma gráfica e editorial completa, que o tornaria um
dos mais modernos periódicos do Brasil. Tudo isso com alguns objetivos claros: agradar e
seduzir o leitor, além de evitar que ele migrasse definitivamente para a WWW, esta,
certamente, uma questão comercial, mais do que cognitiva.
Embora em velocidade certamente mais lenta do que na Internet e dependendo de
meios assíncronos, o leitor conseguia, de alguma maneira, interferir na forma e no conteúdo
de jornais, revistas e livros. Não fosse isso e teríamos, ainda hoje, incunábulos
pesadíssimos, jornais sem imagens e revistas com colunas largas e difíceis de ler. No caso
dos livros, é possível rastrear, em sua história, o momento em que, por exemplo, o formato
das folhas empilhadas e costuradas surge
68
, assim como o aparecimento da numeração das
páginas
69
, conseqüentemente do sumário e do índice. Segundo Febvre e Jean-Martin
(1992), essas invenções (ou reconfigurações, como preferimos) foram estudadas e
implementadas para, primeiramente, facilitar o trabalho dos encadernadores, mas, em
seguida, passaram pela “aprovação” do público. Para planejar objetos impressos e dar-lhes
formas mais agradáveis é que trabalham os designers gráficos, engenheiros de Usabilidade
e webdesigners.
6.2 O que é design gráfico
Villas-Boas (2003, p. 7), ao discutir o conceito de design gráfico, chega à seguinte
formulação:
a atividade profissional e a conseqüente área de conhecimento cujo objeto é a elaboração de
projetos para reprodução por meio gráfico de peças expressamente comunicacionais. Estas
peças cartazes, páginas de revistas, capas de livros e de produtos fonográficos, folhetos,
etc. têm como suporte geralmente o papel e como processo de produção a impressão.
(VILLAS-BOAS, 2003. p. 11).
O autor defende o campo do design fora da esfera artística, como o trabalho
industrial de “ordenação projetual de elementos estético-visuais textuais e não-textuais com
fins expressivos” (p. 12) ou o desenvolvimento de “projetos gráficos que têm como fim
comunicar através de elementos visuais (textuais ou não) uma dada mensagem para
68
Séculos II ou III depois de Cristo, segundo Febvre e Jean-Martin (1992).
69
Invenção medieval, segundo Febvre e Jean-Martin (1992).
105
persuadir o observador, guiar sua leitura ou vender um produto” (p. 13). No Brasil, trata-se
de uma subárea do Desenho Industrial, afeta ao campo mais vasto da Programação Visual.
Uma área de conhecimento foi desenvolvida, ao longo da história dos objetos de
ler, especialmente depois da Idade Média, com a função de projetar objetos legíveis. O
conceito de legibilidade, para os designers, é fundado não em como o conteúdo de um texto
é expresso (ortografia, sintaxe, texto), mas na forma como esse texto é disposto,
apresentado e organizado no papel.
Collaro (2000) cita os princípios clássicos segundo os quais projetos são
desenvolvidos para o impresso: equilíbrio, harmonia, proporção e funcionalidade
70
. Para
que cada um deles alcance bom resultado (medido pela reação do leitor), é necessário que o
profissional da área conheça as composições possíveis para um projeto. Trata-se de uma
espécie de “arquitetura” ou “engenharia” do texto na página
71
. Sempre com tendência à
simplificação, em direção à legibilidade,
qualidade que algumas famílias de letras têm de serem lidas com maior facilidade que
outras. Associada à visibilidade, que é a propriedade de serem vistas com maior facilidade,
associadas ao relacionamento formato-texto, formato-papel, largura da coluna, disposição
da mancha de texto no formato, tipo de suporte e processo de impressão a ser utilizado
compõem o rol de atributos que uma publicação, uma embalagem ou um outdoor devem ter
para conseguir o objetivo de sensibilizar o público-alvo e mudar seu comportamento”.
(COLLARO, 2000, p. 111)
Segundo o mesmo autor, alguns parâmetros são relativamente estáveis no design
gráfico, entre eles, pode-se citar o cuidado com a largura ideal de uma coluna de texto,
especialmente no caso dos jornais. Também são importantes tamanho da linha de texto,
corpo ideal de letra (que depende do público-alvo, nos jornais fica entre 10 e 13, exceto nos
títulos), atenção à quantidade de branco na página, margens, entrelinhamento, etc. Para
fazer todo esse “cálculo”, é necessário conhecer o “centro óptico” da página, ou seja, um
ponto reconhecido por meio de traços geométricos e a partir do qual se disporão os
elementos da página, de forma que fiquem equilibrados, harmônicos, proporcionais e
funcionais.
70
Williams (1995) menciona outros princípios válidos para qualquer projeto: contraste, repetição,
alinhamento e proximidade. De qualquer forma, o objetivo de se trabalhar sob esses parâmetros é obter uma
página mais legível.
71
A dissertação de mestrado de Rigolin (2006) trata como “saliências visuais” aspectos muito próximos dos
que vamos tratar aqui. No caso dela, que está fundamentada pela obra de Kress e Van Leeuwen (1996), a
pesquisa focaliza os pontos que são mais salientes na página e as trilhas preferenciais para um grupo de
quatro leitores.
106
“A preocupação da diagramação clássica é, basicamente, com o leitor”
(COLLARO, 2000. p. 139)
72
. Assim voltamos à idéia de que os impressos não são feitos a
esmo, por simples questão de gosto do editor. Segundo Collaro (2000), os jornais modernos
dedicam atenção especial à diagramação, embora mantenham os custos baixos ao
utilizarem papel de pior qualidade. No entanto, valorização do texto e sensibilidade
plástica. E que se trata de uma mídia mosaiquica (SANTAELLA, 2004a), a justaposição
de elementos deve oferecer “design atraente e incitar à leitura” (COLLARO, 2000). “Como
a página deve ser um conjunto harmônico de valores, tanto na zona terminal, como nas
zonas mortas, precisa reunir matéria do maior interesse, a fim de manter viva na página a
atenção do leitor” (COLLARO, 2000. p. 163).
A importância da capa
73
do jornal é indiscutível. Pelos motivos apresentados por
Noblat (2003) e pela formatação que lhe foi sendo dada, a primeira página funciona como
um sumário das notícias mais importantes ou que mais poderiam interessar o leitor. Afora
isso, sua programação visual é de suma importância para que o olhar do “consumidor” seja
capturado em meio a tantos outros apelos. Segundo Mira e Silva (2006), até mesmo os
corpos das fontes utilizados na capa são selecionados para facilitar a leitura à distância.
6.3 Estado de Minas impresso
O jornal Estado de Minas sofreu algumas mudanças gráficas em sua história. Isso
ocorreu com a maioria dos jornais que têm vida longa. Para se adequar às necessidades de
seu tempo, de seu leitor e mesmo às condições econômicas vigentes (ou para se remidiar),
as “folhas” têm que se ajustar, e o design é um ponto importante.
Na atualidade, com a concorrência de meios mais rápidos e eficientes, os jornais
reduziram a mancha tipográfica de textos verbais e deram mais ênfase às fotos e aos
infográficos. Também o espaço da publicidade foi ampliado, por questões econômicas que
se explicam pela diminuição do número de assinaturas. De fato, em qualquer época, quando
uma mídia surge em um sistema de mídias, as preexistentes precisam se ajustar.
72
Lupton (2006, p. 63) afirma que “uma das funções mais refinadas do design é de fato ajudar os leitores a
não precisar ler”. Esta idéia faz emergir os conceitos de Bolter e Grusin (2000) sobre o efeito de
transparência que as mídias vêm tentando obter. De certa forma, trata-se de um esforço para dar a ilusão de
que não mediação. Afirmando a mesma coisa sobre a facilitação da leitura, Ferreira Júnior (2003, p. 15)
menciona a importante “noção de que o suporte da linguagem não é neutro e pode ser um elemento do
alfabeto visual da página impressa”. Na obra em questão, o autor mostra as mudanças gráficas do Jornal da
Tarde, de São Paulo, que alteraram profundamente a recepção do jornal pelos leitores. A década de 1950 é
indicada como a era das mudanças gráficas nos jornais brasileiros, sendo seu marco o projeto do artista
plástico mineiro Amílcar de Castro para o Jornal do Brasil, no Rio de Janeiro.
73
Chamaremos de capa ou primeira página à “embalagem” do jornal.
107
O jornal Estado de Minas, do grupo Associados, é o maior e o recordista de vendas
em Minas Gerais. Sofreu várias reformas gráficas ao longo dos seus quase 80 anos de vida,
mas a última ocorreu em 2004. Para fazer as alterações, o jornal teve vários cuidados, um
deles foi lançar um suplemento especial explicando as mudanças ao leitor, alguns dias antes
de a primeira edição redesenhada vir a público
74
.
As alterações no projeto gráfico do Estado de Minas (EM) não foram feitas
levando em consideração apenas questões financeiras e a concorrência da televisão ou da
Internet. O jornal compôs um conselho formado por 40 leitores, que experimentaram as
mudanças e deram sugestões relacionadas às propostas de melhoria. Após seis meses de
leitura, ajustes e diálogo, o EM alterou o jornal nos seguintes pontos: 1. valorização das
fotos; 2. troca de fontes por novas fontes mais legíveis; 3. apenas três notícias por página;
4. para matérias especiais e mais importantes, criou-se uma equipe de analistas
especializados.
O novo projeto gráfico dependeu da compra de tipos de letras produzidos para dar
maior legibilidade ao jornal. Um tipo de fonte teve aplicação em textos curtos e outro foi
considerado mais eficaz para maiores extensões de texto. Segundo o Estado de Minas, a
fonte Antiqua B3 “dá a impressão de estar em um tamanho maior, tal a facilidade de leitura.
Isso sem ocupar muito espaço, o que permite a oferta de mais informação na página”
(ESTADO DE MINAS, 2004)
75
.
A capa do jornal que empregamos nesta pesquisa, do dia 3 de agosto de 2006, era
a que segue, com projeto gráfico atualizado. Note-se que afora os espaços dedicados ao
nome do jornal e ao cabeçalho, é possível identificar aspectos da nova sintaxe visual
proposta.
74
O suplemento especial saiu na quinta-feira, dia 18 de março de 2004. O jornal reformado foi publicado no
domingo seguinte.
75
Horcades (2004) aponta as mesmas características na fonte desenhada pelo inglês Stanley Morison para o
jornal The Times, a conhecida Times New Roman. Outras fontes desenhadas para terem alta legibilidade
foram Gill Sans, para ser legível à distância (desenhada pelo inglês Edward Johnston), Helvetica (do suíço
Max Miedinger) e fontes para catálogos, de alta legibilidade em corpo minúsculo (desenhadas pelo inglês
Mathew Carter).
108
FIGURA 5. Primeira página do jornal Estado de Minas.
Fonte: Estado de Minas, download de PDF disponível no site.
Considerando a leitura diagonal do EM, não é difícil identificar qual das notícias é
mais importante. A partir da diagramação e de um golpe de olhos, o leitor fica entre o
tópico sobre Fidel Castro, o apoio de Lula à constituinte e a notícia sobre inflação em BH.
As letras grandes fazem supor a manchete, que embora não esteja no topo da página, chama
a atenção e fica acima da dobra do jornal. relação bastante evidente entre textos e
imagens (proximidade e agrupamento), sendo improvável que o leitor se confunda. A
matéria que mais chamaria a atenção à distância é, certamente, “Inflação de BH é 10 vezes
maior”, cuja fonte, conforme explicita o projeto gráfico, difere daquela empregada nos
blocos de texto maiores.
Todas as chamadas funcionam como sumário, ou seja, informam sobre a página
interna em que estão os textos integrais relacionados. Não se trata, como se vê, de uma
capa-pôster, conforme expressão de Ferreira Júnior (2003), mas parece bastante limpa e
funcional. A monotonia da diagramação da capa do EM é quebrada pela diferenciação nas
larguras das colunas de texto, assim como pelo uso de boxes e diferenciação na cor das
fontes, em escala de cinza.
Notícia 1
Notícia 2
Zona morta
compensada por
cor e foto
109
Nesta pesquisa, pedimos aos informantes que procurassem (e lessem) as notícias
sobre inflação em BH e sobre problemas no setor de zoonoses da Prefeitura Municipal.
Note-se que elas estavam posicionadas em pontos ópticos bastante diferentes do jornal, de
acordo com a importância que tinham na hierarquia das notícias. “Inflação de BH é 10
vezes maior” era a manchete do jornal, visível à distância, em letras maiores. “Zoonoses em
más condições” era uma notícia menos importante, com chamada posicionada em zona
morta da primeira página, ou seja, em um local por onde os olhos do leitor demoram a
passar. Trata-se do canto direito inferior. A dificuldade de leitura nesse lugar foi
compensada por um box de fundo alaranjado, na versão original. A foto de um agente do
setor de zoonoses ajudava a chamar a atenção do leitor. Internamente, as notícias se
apresentavam conforme se segue.
FIGURA 6. Página interna do jornal Estado de Minas.
Fonte: Estado de Minas, download de PDF disponível no site.
São três notícias ou textos por página. A matéria sobre inflação em Belo Horizonte
era a principal, posicionada no topo, com título de fonte maior do que as demais. No
entanto, o jornal emprega o recurso de não manter chamada e título idênticos. Aqui, o texto
Notícia
correspondente à
manchete
110
se chama “BH tem a inflação mais alta de novo”. O EM tem páginas internas um tanto mais
monótonas, com colunas estreitas de tamanhos iguais. No entanto, tenta quebrar essa
característica dando ênfase às fotos e posicionando “olhos” em alguns textos. O “olho” é
um trecho em destaque entre grandes aspas
76
. Serve para “fisgar” o leitor por meio de uma
declaração de interesse provável, um tanto descontextualizada.
O texto “Zoonoses em más condições” tinha outro nome nas páginas internas:
“Saúde de agentes sob ameaça”. É interessante notar que fazer a conversão da chamada de
capa para este título é uma operação um tanto mais complexa, do ponto de vista do
processamento de leitura, do que aquela que deveria ser feita para a manchete do jornal.
FIGURA 7. Página interna do jornal Estado de Minas.
Fonte: Estado de Minas, download de PDF disponível no site.
Embora a notícia sobre o setor de zoonoses tivesse menor importância em relação
a outras, na diagramação da capa do EM, aqui, nas páginas internas, ela era a principal,
posicionada no topo, com foto e com título grande. A monotonia da diagramação é maior
76
Chama-se de “olho” a altura do corpo principal da letra, sem linhas ascendentes ou descendentes
(LUPTON, 2006). Este “olho” do design de tipos é diferente do “olho” a que os jornalistas se referem
quando falam em partes destacadas de um texto.
Texto da
notícia 2
111
nesta página, que quase todos os textos obedecem à mesma largura de coluna.
Novamente, apenas três notícias por página.
Além de poderem contar com os títulos, o leitor pode escanear a notícia e ler o
resumo dos fatos no texto em cinza logo acima do título. Em mídias mosaiquicas, é de
suma importância que o leitor possa fazer uma varredura do texto com os olhos, numa
espécie de pré-seleção. A isso dá-se o nome de escaneamento da página.
O Estado de Minas tem páginas numeradas e os cadernos podem ser diferenciados,
também, pelas cores da logomarca de cada editoria. A notícia sobre inflação encontrava-se
no primeiro caderno, na parte de Economia; o texto sobre zoonoses podia ser encontrado no
caderno Gerais, outra editoria.
6.4 O Tempo impresso
Em tamanho um pouco menor do que o Estado de Minas, não é tão fácil encontrar
dados sobre o projeto gráfico de O Tempo. Mesmo no site do periódico, as informações são
poucas e, quando as há, são superficiais. O Tempo impresso tinha a seguinte capa no dia 3
de agosto de 2006:
FIGURA 8. Primeira página do jornal O Tempo.
Fonte: O Tempo, PDF disponível no departamento de arquivo do jornal.
Notícia 1
com foto
Notícia 2
112
Afora os espaços de marca e cabeçalho, a folha apresentava manchete evidente.
No entanto, não ficam claras as relações entre blocos de texto e fotos. Embora também
pareça dar ênfase às fotos, o jornal dispõe os blocos de texto de forma menos organizada,
com menos boxes na capa e menos variação entre cores de fontes. A largura das colunas é
diferenciada, o que quebra a monotonia da diagramação da página.
FIGURA 9. Página interna do jornal O Tempo.
Fonte: O Tempo, PDF disponível no departamento de arquivo do jornal.
Nesta pesquisa, pedimos aos leitores que localizassem (e lessem) matérias sobre
obras na Avenida Antônio Carlos e a denúncia da Delegacia Regional do Trabalho sobre
existência de trabalho escravo em Minas Gerais. A primeira notícia estava disposta na capa,
em chamada ao lado direito da foto da placa de “pedestres”. Não era óbvia a relação entre a
foto e algum dos textos, que os blocos tinham tamanhos semelhantes e se posicionavam
todos próximos à imagem. A chamada era “Pedestres se arriscam em obra na Antônio
Carlos”.
A segunda notícia tinha a chamada “DRT encontra 24 homens em regime de
escravidão”, não havia foto relacionada a ela e sua posição era, também, a diagonal direita
Notícia 1 com
fotos
Texto
principal
Texto
secundário
Direção
preferencial de
leitura
113
de baixo da página. Ambas as chamadas estavam na zona morta da capa do jornal, embora
a matéria sobre obras viárias se destacasse por ter uma foto em posição um pouco mais
centralizada.
Para localizar as notícias nas páginas internas, nosso informante deveria, após
localizar as chamadas, procurar a editoria e a numeração indicadas. Mais uma vez, a função
de sumário era patente. O Tempo tem indicação alfanumérica associada à mudança de cor
das editorias. Nas páginas internas, as matérias apareciam com destaque, como se pode
observar.
“Pedestre sofre com obra na Antônio Carlos” era o nome da notícia na página
interna do jornal. Tratava-se de matéria principal, no topo, com fonte maior no título,
destacada por fotos e imagens da obra viária, com setas e explicações associadas. Neste
jornal, a página interna também se compunha de apenas três notícias, no entanto, os blocos
de texto parecem mais densos.
A coluna da esquerda, em ponto privilegiado da página, primeira posição onde
pousam os olhos de quem lê, era dedicado ao box de texto secundário da matéria, uma
espécie de retranca em que apareciam depoimentos de pedestres. O texto principal estava
posicionado à direita, após as fotos da obra, em posição secundária. Tal diagramação
encontrou seus ecos nos testes de leitura, como se poderá ver mais adiante.
FIGURA 10. Página interna do jornal O Tempo.
Fonte: O Tempo, PDF disponível no departamento de arquivo do jornal.
Notícia 2
114
Ambas as notícias de O Tempo estavam no caderno Cidades, correspondente ao
Gerais do EM. A notícia “DRT flagra 24 homens em regime escravo” estava na última
página do caderno, em posição de destaque: topo, título em corpo grande, duas retrancas
(que não precisavam ser lidas em nosso teste), foto. Nos quadrantes de baixo do jornal, uma
mistura de fotos, blocos de texto, boxes e publicidade mostrava uma seção de colunista. A
notícia sobre trabalho escravo era diagramada em colunas de larguras diferentes, com
intertítulos e retrancas com títulos menores.
6.5 Resumo de características dos jornais impressos
Os dois jornais aqui descritos têm projetos gráficos com pontos em comum. As
fotos grandes e as colunas de texto com larguras diferentes são características que parecem
comuns em muitos jornais contemporâneos, uma espécie de tendência do design de folhas.
A diagramação das matérias é que nos pareceu mais cuidada e refletida no Estado de
Minas, percepção que logo se confirmou quando os leitores iniciaram suas trajetórias na
leitura dos jornais.
Os jornais selecionados se mostram planejados dentro de parâmetros tradicionais
para o design, sendo que em relação a critérios como alinhamento, equilíbrio, harmonia,
proporção, funcionalidade, contraste e repetição, ambos tentam atender ao necessário para
que possam ser lidos sem oferecer obstáculos. Apenas em relação à proximidade visual
entre grupos de informação o jornal O Tempo mostra falhas, especialmente na capa.
Ambos os jornais têm tamanho padrão, fotos, cabeçalhos com as informações
adequadas, manchete distinguível, indicações de páginas, distribuição hierarquizada de
notícias importantes, médias e pouco importantes. Primeiras páginas densas, com distinção
visual dos textos mais importantes.
Cada jornal, no entanto, tem um sistema de numeração, sendo O Tempo de
paginação alfanumérica. Ambos os jornais utilizam fontes serifadas para a maior massa de
textos e fontes sem serifa em textos mais específicos. Em relação à forma como as notícias
selecionadas são escritas, tanto O Tempo quanto o Estado de Minas fazem uso de estruturas
jornalísticas com uso de lead e pirâmide invertida. A análise dos itens de design se
encontram no Apêndice 3.
6.6 Usabilidade
Para avaliar a eficiência dos jornais Estado de Minas e O Tempo em ambiente
digital, foi necessário encontrar parâmetros de planejamento para esse tipo de ambiente.
115
Tais parâmetros existem e dão boas indicações de como uma interface gráfica, planejada
para atender o leitor, deve ser construída. Embora as guidelines que ajudam a arquitetar
sites sejam gerais, a maioria delas se aplica aos jornais e pode constituir uma boa grade de
critérios (Apêndice 4).
A Computação tem sido a ciência que mais se esforça em produzir novas
tecnologias digitais e discutir a acessibilidade de sistemas e ambientes para o leitor, seja ele
um especialista ou um leigo. A área da Computação dedicada aos estudos das interfaces e
às reações do leitor chama-se Usabilidade (vertido do inglês Usability). A Comunicação
Social também tem se apropriado dos ambientes digitais desde os seus primórdios e pode
obter vantagens dos dados da usabilidade.
Para avaliar a usabilidade de um site, por exemplo, a Computação utiliza um
aparato que inclui a observação de usuários em laboratórios de informática, monitoração de
navegação em ambientes digitais por meio de câmeras e programas que registram os
trajetos dos usuários, medem tempos, etc. Nesta pesquisa, replicamos testes de usabilidade.
O governo norte-americano é um dos mais eminentes impulsionadores dos estudos
de usabilidade. O site www.usability.gov disponibiliza vasto material, atualizado, sobre
heurísticas e pesquisas no assunto. Foi nele que nos baseamos para compor a lista de
critérios que ajudaram na análise dos jornais. Segundo o site, quase 100 milhões de norte-
americanos fazem uso de sites e portais oficiais, isso justifica os estudos de interfaces
“centradas no usuário”, que garantam acesso mais fácil, rápido e eficaz. Para eles, a
usabilidade “mede a qualidade da experiência do usuário quando ele interage com um
produto ou sistema um website, um software, uma tecnologia móvel ou qualquer outro
dispositivo operacional”
77
. Para saber a qualidade dessa experiência, é necessário observar
a navegação e as reações de muitos usuários, detidamente. “Em geral, a usabilidade refere-
se a quão bem os usuários aprendem e usam um produto para atingir seus objetivos e quão
satisfeitos eles ficam com o processo”. Sites que irritam, confundem ou distraem precisam
de estudos de usabilidade. O usuário que acessa um site precisa fazer isso fácil e
77
Continuando a citação, para mais esclarecimentos, com tradução nossa: “Em geral, a usabilidade diz
respeito a quão bem os usuários podem aprender e usar um produto para alcançar seus objetivos e quão
satisfeitos eles ficam com o processo. A usabilidade, como definida por Joseph Dumas e Janice (Ginny)
Redish, significa que as pessoas que utilizam o produto podem fazê-lo rápida e facilmente para completar
suas tarefas. A usabilidade também pode considerar fatores como custo/benefício e facilidade de uso. Uma
metodologia chave utilizada para lidar com a usabilidade é chamada Design Centrado no Usuário”.
(LEAVITT; SHNEIDERMAN, 2006).
116
rapidamente para cumprir suas tarefas. À metodologia utilizada para obter essas
informações os norte-americanos dão o nome de user-centered design.
Embora a usabilidade pareça novidade no cenário das tecnologias e das interfaces
entre leitor e objeto de ler, o design gráfico sempre, especialmente na produção pós-
Gutenberg, se preocupou com a disposição do texto e da imagem no objeto livro, assim
como com seus materiais, cores, texturas, tamanhos, portabilidade, fontes, corpos, serifas e
outros fatores que podem tornar um livro ou um jornal menos ou mais legíveis.
A Computação tem a vantagem de obter esses dados por observação direta ou
ainda porque as novas tecnologias podem registrar, com muita facilidade, os trajetos e os
rastros do leitor/usuário. Ações políticas e de marketing empregam técnicas de obter as
preferências do usuário-consumidor, jornais feitos para a web conseguem saber o que o
leitor prefere ler e até mesmo enviar, por e-mail, jornais personalizados. O ambiente digital
permite que o feedback do usuário em relação ao produto ou à interface seja quase
imediato, algo que era difícil de acontecer com livros e jornais. Mesmo assim, esse
feedback acontecia e o design gráfico traduzia preferências e problemas em novos projetos.
Os parâmetros que tornam um sistema melhor ou pior para navegar e ler devem ser
integrados. A combinação deles é que afeta a interação homem/máquina. São eles:
Facilidade de aprendizado quão rápido o usuário aprende a trabalhar com as ferramentas do
sistema;
Eficiência de uso – depois que aprendeu a usar as ferramentas, quão rápido o usuário conclui as
tarefas;
Memorização o usuário deve aprender a usar o sistema e, quando for utilizá-lo novamente,
deve ter facilidade em se lembrar de como interagir com ferramentas e tarefas;
Freqüência e gravidade dos erros quão freqüentes e graves são os erros cometidos pelo
usuário e como ele faz para recuperar a tarefa.
78
Este trabalho ateve-se aos critérios da usabilidade relacionados à leitura em tela,
na web. Outros aspectos analisados são atinentes à diagramação do texto e à facilidade de
leitura. Por exemplo: os dados da usabilidade apontam que a leitura se torna mais fácil e
fluida, em telas, quando a fonte utilizada na diagramação do texto é serifada, com corpo
entre 9 e 12 (14 para pessoas acima de 65 anos). A leitura em tela é 25% mais lenta do que
78
(<www.sun.com/980713/webwriting>, <www.usability.gov>, <www.usability.gov/guidelines>). Acessado
em nov. 2006.
117
em papel (considerando fundo branco) e o leitor/usuário preferencialmente listas com
bullets ou numeração, que fornecem informação concisa e freiam o escaneamento da
leitura, permitindo uma leitura diagonal mais rápida.
Quanto à navegabilidade, é preciso evitar que o leitor/usuário tenha que fazer
muitos pagedown para ler a página inteira. Cada uma delas deve ter informação concisa e
evitar muita variação de cores e banners. Dados de análises da usabilidade mostram que
79% dos usuários escaneiam em vez de ler e afirmam que o texto deve ser 50% menor na
web (em relação ao mesmo conteúdo impresso), o que não ocorre nas duas versões de texto
testadas nesta pesquisa.
6.7 Estado de Minas digital
O EM digital, mostrado nas imagens a seguir, pode ser analisado por meio dos
critérios de usabilidade oferecidos pelas guidelines da obra de Leavitt e Shneiderman
(2006). Comparada à versão impressa, a página inicial do EM expõe melhor a hierarquia
das notícias. De fato, a manchete sobre inflação é a notícia do topo, com título maior,
localização privilegiada do site.
FIGURA 11. Homepage do Estado de Minas.
Fonte: Site do jornal, 2006.
A versão digital conta com colunas diferenciadas, menu em disposição
facilitadora, fontes em tamanhos adequados. Equilíbrio e simetria são facilmente
observáveis. A matéria sobre zoonoses continua em ponto desfavorecido. Para acessá-la, o
leitor precisa fazer alguns pagedown.
Notícia 1
118
FIGURA 12. Homepage do Estado de Minas.
Fonte: Site do jornal, 2006.
FIGURA 13. Página interna do Estado de Minas.
Fonte: Site do jornal, 2006.
FIGURA 14. Página interna do Estado de Minas.
Fonte: Site do jornal, 2006.
As páginas internas do EM hierarquizam as notícias por seu grau de importância
da mesma forma que o jornal impresso. A inflação de BH continua no topo, com foto. O
Notícia 2
119
texto sobre zoonoses também é o primeiro que se vê quando se chega à página. Com foto e
sem pagedown.
Em relação a aspectos mais gerais considerados positivos, o jornal não habilita pop
ups, oferece boa orientação de navegação, tem seqüências estáveis de páginas e links para
que o usuário siga, oferecem feedbacks do tipo carregamento/falha, se for o caso, no
entanto, são interfaces “leves”, mesmo para conexões discadas. O Estado de Minas oferece
menus de navegação em posição visível e estável, não orienta o leitor a páginas de onde ele
não possa voltar, preferência a textos curtos, evitando o uso do scroll e destaca tópicos
com marcação e bullets, o que facilita o escaneamento do texto pelo leitor.
Os pontos negativos são o fato de o jornal não oferecer página de esclarecimento
de dúvidas (tipo FAQ Frequent Asked Questions) e não sinalizar, com cor, os links já
visitados pelo leitor. Tal marcação tem papel importante para uma navegação mais precisa.
6.8 O Tempo digital
As páginas digitais de O Tempo têm características um tanto diferentes das do
Estado de Minas. O Tempo tem aspecto mais “limpo”, mas, apesar disso, tem
funcionalidades e menus bem menos diferenciáveis. O menu tem posição privilegiada. As
notícias, no entanto, teriam o mesmo peso, não fosse a posição vertical que elas ocupam ser
um sinal de hierarquização.
FIGURA 15. Homepage do jornal O Tempo.
Fonte: Site do jornal, 2006.
No topo está a manchete “Reeleição no executivo pode chegar ao fim”,
correspondente à manchete também do impresso. Das notícias do teste de leitura, se
encontra aquela sobre o sofrimento dos pedestres com as obras da avenida Antônio Carlos,
em zona morta (direita, embaixo), ainda sem necessidade de pagedown, mas na divisa da
Notícia 1
na divisa
do browser
120
janela do navegador). Não título na chamada, apenas uma foto (a mesma do impresso),
com a chamada em posição de legenda. De maneira geral, a página é assimétrica e
desalinhada.
FIGURA 16. Página interna do jornal O Tempo.
Fonte: Site do jornal, 2006.
Depois de um clique, o leitor de O Tempo chega à notícia sobre obras viárias. A
página da matéria se configura de maneira que não haja dúvida sobre a importância da
notícia. O bloco de texto é curto, sem pagedown, sem fotos ou quaisquer aprofundamentos.
FIGURA 17. Página interna do jornal O Tempo.
Fonte: Site do jornal, 2006.
A notícia sobre trabalho escravo, que no impresso aparece na capa, não está na
página inicial de O Tempo digital. Isso dificulta a navegação do leitor e cria um problema
que ele precisa solucionar. Tal dificuldade nos pareceu uma oportunidade de conhecer as
táticas que cada informante empregaria em busca da notícia. Seria preciso ir até a editoria
Não há
chamada para a
notícia 2
121
correta, a partir de conhecimento prévio sobre jornais, ou clicar em botões que pudessem
levar ao texto solicitado. De qualquer forma, tratava-se da notícia de topo, com chamada
clicável.
FIGURA 18. Página interna do jornal O Tempo.
Fonte: Site do jornal, 2006.
O Tempo cuida dos mesmos aspectos que o Estado de Minas, com a vantagem de
oferecer opções de impressão em mais páginas e empregar fios para diferenciar notícias e
espaços em branco. Por outro lado, o jornal também não marca links visitados e
apresenta notícias em página inicial que não correspondem ao jornal impresso do mesmo
dia, o que pode tanto ser um problema quanto pode ser justificado pelas possibilidades mais
ágeis de atualização do jornal na Internet.O jornal Estado de Minas permite a busca por
edições passadas e disponibiliza arquivos PDF dos jornais anteriores. O Tempo também
oferece esse tipo de busca, mas disponibiliza apenas os PDFs da edição do dia, sendo
necessário entrar em contato com departamento específico para ter acesso ao jornal
79
. Por
outro lado, O Tempo oferece, embaixo da notícia, o link “Comente este texto”, que
incentiva o leitor a participar e a escrever para o jornal, publicando sua opinião ou seu
comentário sobre os acontecimentos noticiados.
Como se pode verificar, os jornais atendem a vários quesitos que as heurísticas da
Usabilidade sugerem ser pontos positivos, a favor do leitor e da melhor legibilidade. O
planejamento visual do jornal Estado de Minas parece mais satisfatório do que o do jornal
79
O setor responsável pelos PDFs informou que o leitor interessado deveria ir até a sede do jornal, em
Contagem, para fazer a consulta e receber os arquivos, o que consideramos despropositado, especialmente
para um jornal de acesso livre na Internet. Conseguimos os PDFs com a ajuda de profissionais mais
dispostos a colaborar com a pesquisa.
122
O Tempo, mesmo na versão impressa. A consistência entre as telas e mesmo entre as
versões de papel e de tela também se mostrou maior no site dos Associados.
Com essa análise, esperamos mostrar que os sites escolhidos podem ser
considerados bons para leitura e navegação. Nosso intento é verificar se o leitor pouco
letrado digital poderá compreender o protocolo proposto por cada jornal.
123
7 Resultados e discussão
Nesta seção, apresentaremos os resultados obtidos a partir dos três instrumentos de
coleta de dados utilizados nesta pesquisa: questionários para obtenção do perfil dos
informantes, testes de navegação e testes de leitura. Optamos por entrelaçar nossos dados à
discussão que eles suscitam. Aqui, propomos uma leitura dos nossos achados vestidos
com nossa perspectiva teórica e ensaiando conclusões. O fato de termos optado por
agrupar os estudantes conforme seus perfis declarados de leitores nos ofereceu um padrão
sobre o qual trabalhar. Após a coleta de outros dados, novos agrupamentos se tornaram
possíveis. À medida que essas questões surgirem, explicitaremos nossas opções
metodológicas.
7.1 Perfis de leitores
Hábito de leitura, leitura corrente e leitura efetiva
80
são três itens abertos existentes
no questionário aplicado aos leitores participantes deste estudo. Além destes tópicos,
propusemos questões sobre a leitura de jornais impressos e digitais, hábitos na Internet,
formas de acesso à Rede, onde aprenderam a usar o computador, domínio de outros
aparelhos digitais, tais como celulares e caixas eletrônicos de agências bancárias (Apêndice
1). Embora supuséssemos que o estudante universitário tinha acesso a jornais ao menos
algumas vezes por semana, nossos resultados mostraram que isso não é verdade. Os dados
apenas parecem confirmar o que havia sido mostrado por estatísticas mais gerais (no
INAF, por exemplo).
Sodré (2003) aborda o tema do desenvolvimento dos jornais (e de seu público-
leitor) no Brasil e, segundo o autor, o país sofreu embargos (de Portugal) que atrasaram
nosso desenvolvimento cultural. O único tipo de escola possível até quase o século XX era
aquela de caráter religioso, que permaneceu vigorosa por 250 anos. Somente no século
XIX, as primeiras faculdades se fundaram e, ainda assim, acessíveis a uma parcela mínima
da população. O difícil acesso a livros e jornais também esteve relacionado ao
analfabetismo que atingia a quase totalidade da população. Quando a primeira prensa
tipográfica chegou ao Brasil, em 1808, iniciou-se a publicação do primeiro jornal permitido
no país e foi disparada uma nova dinâmica da leitura e do leitor. Mesmo assim, com a
efervescência de jornais e obras literárias (mais especificamente o romance), não foi a
80
Segundo a pesquisa Retrato da Leitura no Brasil, leitor corrente era quem havia lido algum livro nos
últimos três meses anteriores à pesquisa; leitor efetivo era quem estava lendo no dia em que os testes foram
aplicados. As questões se referiam apenas a livros. Outros itens abordavam a Internet e os jornais.
124
massa da população que teve acesso aos periódicos. A leitura de jornais era um gesto ligado
ao mundo burguês e, preferencialmente, aos homens, exceto pelos periódicos segmentados
ou especificamente dirigidos às mulheres. O leitor de diários noticiosos tinha, portanto,
algum privilégio em assinar ou comprar jornais.
Esse histórico de pouca acessibilidade ao leitor “popular” se confirma nos dados
do Indicador Nacional de Alfabetismo Funcional (INAF 2001), que oferece o seguinte
retrato da leitura de jornais no Brasil de hoje: enquanto as classes A e B fazem a leitura
freqüente dos diários (66%), apenas 24% dos leitores das classes D e E afirmam ler jornais
pelo menos uma vez por semana, ficando a classe C mais próxima da média de D e E do
que das classes mais privilegiadas (BRITTO, 2003).
Para Britto, “Deve-se lembrar que a leitura do jornal implica investimento
financeiro ou freqüência a lugares em que o jornal esteja disponível”, algo que parece não
ocorrer com os alunos em foco nesta pesquisa ou porque, em sua maioria, eles não
pertençam às classes mais privilegiadas ou porque não se socorram dos jornais nem mesmo
onde podem estar disponíveis, como na biblioteca da instituição de ensino
81
. Outro aspecto
do contexto sociocultural que pode influenciar na menor procura pela leitura dos jornais
impressos é a concorrência da Internet como fonte de atualização e obtenção de notícias.
No “sistema de dia” atual, as pessoas dispõem de meios diversos para saber dos
acontecimentos, o que inclui a televisão, por exemplo, embora isso também signifique certa
superficialidade das informações obtidas.
Embora mencionem a busca incessante por atualização e informação, os
estudantes pesquisados aqui não se declararam leitores contumazes de jornais como o
Estado de Minas ou O Tempo, nem em suas versões impressas nem nas digitais. Para Britto
(2003, p. 60-61), “as pessoas pertencentes às classes A e B apresentam números
significativamente superiores para uso do jornal (49%) e da Internet (13%), as duas formas
mais elaboradas de busca de informação, em comparação com a classe C (respectivamente
31% e 2%) e com as classes D e E (respectivamente 20% e 0%)”.
Como se pode observar, classes mais altas lêem jornais e utilizam a Internet com
freqüência muito superior às classes C, D e E. Destaque-se que as classes menos
81
Um resultado importante obtido a partir dos dados dos questionários foi a escola de origem dos estudantes.
83% deles vinham de escolas públicas. Destes, 78% de escolas da rede estadual. Embora a curiosidade
sobre esse dado sempre aflore, não pretendemos dividir os estudantes entre oriundos de uma ou de outra
escola. Esse tipo de análise leva a dicotomias estéreis e a generalizações muitas vezes equivocadas e
preconceituosas.
125
privilegiadas apresentam uso da Internet quase nulo, o que torna os jornais digitais menos
acessíveis ainda do que os impressos.
Serra (2003, p. 69), ao tratar de políticas de promoção da leitura, afirma serem os
jornais o principal modo de obter notícias “sobre as políticas que afetam diretamente” as
vidas dos cidadãos. “A maioria não tem acesso aos outros meios mais sofisticados de
disseminação da informação e do conhecimento, como a leitura diária de jornais, bem como
o acesso à Internet. De acordo com os resultados do INAF 2001, somente 11% da
população lêem jornal todos os dias e 34% não costumam ler jornal”.
Para Martins (2005), a revista está muito adiante do jornal quando a questão é o
que as pessoas gostam de ler quando querem se entreter. Isso também afeta um público
muito mais plural do que o jornal foi capaz de alcançar. Cheida (2002) defende, com
veemência, que a leitura de jornais precisa ser ensinada aos cidadãos, mas isso não basta. É
preciso, para o autor, utilizar o jornal como ferramenta para aprender a construir leitura
crítica.
Abreu (2001) afirma e defende o interesse do brasileiro pela leitura. Segundo a
autora, o problema seria minimizado “se deixássemos de tomar como referência aqueles
objetos e modalidades de leitura” mitificados por uma cultura elitizada. Ao descrever uma
fotografia de Caio Guatelli em que um mendigo lê um jornal conhecido, a autora analisa:
A leitura mítica nos cega para as práticas de leitura cotidianas como a retratada na foto de
Caio Guatelli. Nela vemos um homem negro, pobre, que um jornal, negando ponto a
ponto os elementos que compõem a imagem ideal de leitura. Ele não em casas
confortáveis, mas na rua, recostado em parede áspera. Não estuda tampouco se diverte, mas
um pedaço de um jornal. Não parece orgulhoso de sua posição ou distraidamente
envolvido com situações ficcionais, mas tem o semblante carregado seja pela preocupação
com as notícias ali apresentadas, seja pela própria dificuldade de leitura. Com uma faixa
amarrada às costas, dois sacos e alguns embrulhos, talvez transporte consigo todas as suas
propriedades. Se imaginássemos alguém como ele lendo jornal, pensaríamos logo em
tablóides sensacionalistas. Ao contrário, esse homem excluído da economia formal lê a
sessão “Economia” de um grande jornal. (ABREU, 2001. p. 152)
Segundo ela, os números da produção editorial não mentem: a média da venda dos
principais jornais brasileiros aos domingos é de 4.460.296 exemplares (dados de janeiro de
1999, Instituto Verificador de Circulação, a partir das Informações Juradas dos Editores).
No entanto, ao contrastar essas informações com os dados do INAF 2001, o caso do
mendigo leitor parece se enquadrar mais entre as exceções tratadas por Oliveira e Vóvio
(2003) do que na massa de não-leitores de jornais indicada pelos números de várias
pesquisas, inclusive desta (salve-se a proporção do estudo).
126
7.1.1 Hábito de ler
As respostas dos leitores participantes deste estudo à questão sobre hábitos de
leitura passaram por uma análise qualitativa, além da quantitativa. Dos informantes que
responderam ao questionário (144 indivíduos), 45,2% afirmaram ter o hábito de ler. Ao
explicar e justificar suas respostas, foi imensa a ocorrência de associações entre o ato de ler
e a busca por atualização, aperfeiçoamento, aprimoramento, estudo e informação. Em geral,
esses leitores citam os jornais como objeto de suas leituras, embora sem especificar em que
meio acessam esses periódicos.
Hábito de ler (geral)
45,2%
54,8%
Têm hábito de ler
Não têm hábito de ler
GRÁFICO 1. Distribuição dos estudantes segundo declarações sobre hábito de ler.
As respostas que analisaremos, no entanto, mostram o quanto a avaliação sobre
hábito de leitura é subjetiva e pode variar conforme o conceito do que sejam, para os
leitores, os materiais legíveis. Além disso, a quantidade de objetos impressos (ou digitais)
necessária para transformar alguém em leitor contumaz também depende do que cada um
pensa. Optaremos sempre por chamar os estudantes por nomes fictícios, seguidos de suas
idades reais.
Cristina, 26, declara que é leitora habitual, assim como, Natália, 19, Renata, 25,
Deise, 26, e Flávia, 19. No entanto, cada uma delas (leitoras) justifica a auto-avaliação
sobre freqüência e qualidade da leitura. A primeira diz que “o que me interessa, tipo
revista, história em quadrinhos”, o mesmo argumento de Natália, que declara: “sempre leio
alguma coisa diariamente, nem que seja revista em quadrinhos, desde criança gosto de ler.
Meus pais sempre me incentivaram”. É interessante notar, no depoimento de Natália, o
valor atribuído às histórias em quadrinhos, que lhe parecem, pelo discurso, “leitura menor”
em relação a outros objetos. A influência dos pais parece ser decisiva na formação do leitor,
o que, de certa forma, se confirma nos dados no INAF.
127
Rúbia, 19, se considera leitora e acha que a leitura “é fundamental no nosso
cotidiano. Gosto de literatura, romances, e quase sempre leio revistas e jornais”,
demonstrando uma equalização entre livros e outros objetos de ler. Alguns leitores também
colocaram os jornais e as revistas entre os objetos de leitura merecedores de nota. Foi assim
com Leo, 23, e Fábio, 19, que disseram, respectivamente, que “procuro sempre me
informar por meio de revistas e Internet” e “leio diariamente jornais”.
A leitura declarada de jornais e outros informativos também pode ser inferida de
depoimentos como os de Márcia, 31 (“Gosto de ficar por dentro dos acontecimentos no dia-
a-dia”), ou de Kátia, 20, “quero saber o que acontece no mundo, ficando, de uma certa
forma, atualizada e obtendo informações que podem contribuir para mim”. A atualização e
a informação parecem estar relacionadas a objetos como as mídias noticiosas.
Isa, 19, assume os livros como objetos de leitura preferenciais, juntamente com
jornais e revistas, e declara não ser leitora deles. No entanto, inclui a Internet numa
categoria de objetos capaz de tornar alguém leitor. Ela diz: “Não leio muitos livros nem
muitos jornais e revistas, mas na Internet leio de tudo”. Os livros vêm em primeiro lugar
para Kátia, 21, Laís, 19, Alba, 20, Getúlio, 21, e Rui, 23, variando as quantidades e a
avaliação do que seja o “hábito de ler” para uns e outros.
Kátia diz que adora ler livros, “principalmente que contenham histórias que
elevam a minha mente”; Laís declara que “freqüentemente, em torno de 7 a 5 livros por
ano”, média interessante para ela, acima da de Getúlio (“Costumo ler pelo menos 1 a 2
livros por ano e muitas revistas”) e de Rui (“leio, em média, 2 a 3 livros por ano”). No
entanto, é Alba que bate os recordes de hábito de leitura dos estudantes que se declaram
leitores contumazes: “cerca de 3 livros por mês”.
Menos precisos e mais efusivos são os informantes Délio, 26, que diz que gosta de
ler “o que aparece na frente”, Fátima, 19, que gosta de se manter informada “sobre diversos
assuntos” e acha que ler muito “facilita a escrita”. Camila, 24, relaciona a leitura ao ócio
dizendo que “sempre que tenho um tempo ocioso, eu prefiro ler ao invés de ficar sem fazer
nada ou outras coisas”, e Paula, 19, faz a relação da leitura com os estudos (“geralmente
leio muito ao estudar para provas”, ou Denise, que diz que se considera leitora habitual
“pelo simples fato de sempre ir atrás de algo para me manter informada, materiais além dos
exigidos pelo curso acadêmico”), semelhante à relação entre leitura e prazer, feita por
Pablo, 19, quando diz que “ler, para mim, é prazeroso e não um tipo de obrigação. É uma
forma de diversão e de adquirir conhecimento”.
128
Do universo total estudado, 12,5% dos estudantes associam o “hábito de ler” aos
livros. Essa relação gerou respostas negativas para o hábito de leitura, que os estudantes
não consideram jornais e revistas como leitura. Mesmo assim, a maioria dos leitores faz o
julgamento mais amplo do que seja ter o “hábito de ler” e admite os periódicos entre os
materiais que transformam alguém em leitor habitual.
A resposta negativa ao hábito de ler dependeu de uma avaliação subjetiva
interessante. Pelos mesmos motivos que alguns informantes se assumiram como bons
leitores, outros negaram a habitualidade com que liam. Das pessoas que não se consideram
leitores habituais, grande parte alega a falta de tempo, outra parte não menos considerável
alega a falta de gosto. Grande parte dos não-leitores considera a entrada no ensino superior
um grande incentivo para ler mais.
O argumento de que lêem o necessário (não esclarecem que tipo de
necessidade, mas presumimos que seja relacionada a atividades escolares ou profissionais)
foi citado por muitos informantes. Para se afirmarem como não-leitores, os estudantes
deram depoimentos como “Pelo fato de ler somente o necessário e quando é necessário”
(Leo, 19), “Não posso me considerar uma pessoa com um grande hábito porque leio
somente aquilo que me interessa” (Cris, 29), “Me considero uma pessoa que não tem hábito
de ler, pois leio livros quando necessário, nunca compro jornal” (Cao, 25), “só o que me
interessa” (Plínio, 25), “leio quando tenho vontade ou quando necessário” (Sérgio, 18),
“geralmente é uma raridade eu pegar algo para ler, a não ser que seja um assunto que me
interesse muito” (Tânia, 19) ou “leio somente o essencial. Não tenho hábito de ler livros
nem jornais” (Priscila, 19).
São proeminentes, nos discursos destes estudantes, a vontade e a necessidade. Ou
se tem necessidade de ler, presumimos que essa leitura esteja relacionada à faculdade ou
a alguma espécie de obrigação, ou se tem interesse espontâneo pelo que se vai ler. No caso
de alguns, isso acontece raramente. Para outros, tudo está a depender da obrigação, de força
maior. A leitura do “essencial” também parece relacionada à necessidade, mas não está
nem em livros nem em jornais.
Alguns não-leitores dão depoimentos contrários ao de leitores que se disseram
mais ligados aos livros e aos objetos de ler após a entrada no ensino superior. Leila, 31,
acha-se pouco leitora, portanto se classifica como não-leitora, mas admite que “estou me
aprimorando depois de ter entrado na faculdade. Estou sentindo muito bem”. Amanda, 19,
diz que “Antes de começar a faculdade eu lia mais, agora ando sem ‘tempo’”, o que nos
parece o contrário do que dizem leitores declarados anteriormente. A faculdade parece lhe
129
ter dificultado as leituras, do que se pode inferir que o conceito de objeto de leitura de
Amanda é que é diferente do de outros leitores. Se ela precisa ler os mesmos livros técnicos
que os colegas, provavelmente não os considera itens de leitura notáveis.
Kênia, 19, oferece um argumento quase clínico. Não se considera leitora habitual
por “falta de concentração e hiperatividade, não consigo me fixar”. O discurso médico
atravessa sua justificativa de não-leitora. Euler, 26, admite cumprir apenas as obrigações,
“leio apenas os livros do curso”, com concepção semelhante à de Amanda.
A idéia de que ler é ler livros, a “leitura mitificada” mencionada por Abreu (2001),
surge nos discursos de vários não-leitores declarados. “Não, leio jornais e não tenho o
hábito de ler livros” (Walace, 25), “leio jornais ou revistas duas vezes por semana, e livros
a cada dois meses” (Juliana, 28), “leio uns três ou quatro livros por ano, eu acho muito
pouco” (Milton, 29), “Às vezes gosto de ler Camilo Castelo Branco, mas outras coisas não
tenho muita paciência” (Adriana, 20), “Quando pequena nunca despertei interesse por
contos, por este motivo, hoje tenho dificuldades em português” (Petra, 21) ou “não sou
muito de ler livros, textos, etc.” (Júlio, 20).
E não apenas o objeto livro surge aqui como objeto de leitura por excelência,
considerável e notável, mas também o livro de literatura, canônica, representado por
Camilo Castelo Branco, escritor português, ou pelo gênero mesmo, o conto. A “culpa”
pelas dificuldades em português é uma espécie de “castigo” por não gostar de ler, até
mesmo o diagnóstico dado e irreversível a esta altura da vida escolar e de leitor. E os
jornais aparecem enquadrados em espaços iguais ou muito próximos daqueles dedicados ao
livro como objeto de ler. Presumimos que o valor atribuído à leitura de jornais esteja
mesmo no patamar mais alto, por vezes inalcançável, por este público.
Dois casos curiosos nos parecem dignos de nota. Dilma, 28, que declara não ter o
hábito de ler “Depois que tive minha filha” e Wilson, 26, que diz ser leitor “Só quando tem
um jornal na minha frente”. A inferir pelos hábitos da mãe, se os dados do INAF 2001
indicarem na direção mais provável, a filha de Dilma provavelmente não “herdará” hábitos
de leitura que a mãe não tem e atribui ao nascimento da criança. Já Wilson parece depender
do acaso para ler um jornal. De qualquer forma, é o único objeto de leitura que menciona.
7.1.2 Leitores correntes e efetivos
Leituras em curso no momento da pesquisa ou nos últimos três meses anteriores a
ela eram os itens seguintes do questionário. Essas perguntas foram inspiradas na pesquisa
Retratos da Leitura no Brasil, empreendida em 2000-2001, sob encomenda da Câmara
130
Brasileira do Livro (CBL), do Sindicato Nacional dos Editores de Livros (Snel), da
Associação Brasileira de Celulose e Papel (Bracelpa) e da Associação Brasileira dos
Editores de Livros (Abre-livros). Entre as categorizações da pesquisa, foram considerados
leitores correntes aqueles indivíduos que declaravam estar lendo no dia da aplicação dos
testes e leitores efetivos aqueles que leram um livro nos três meses anteriores à aplicação
(ANGIOLILLO, 2001).
A resposta à leitura corrente foi afirmativa em 11,1% dos casos, percentual que
consideramos baixo para estudantes universitários. Afora os livros didáticos e técnicos de
leitura obrigatória no curso, que não foram considerados sequer pelos respondentes,
detectamos também o que os jovens estavam lendo. Foram citados best-sellers como obras
de autoria de Dráuzio Varella, Içami Tiba e Dan Brown (autor de O código da Vinci), além
do conhecido O monge e o executivo e vários títulos da auto-ajuda. Houve apenas uma
citação de Capitães da Areia, de Jorge Amado.
Tipos de leitor
11,1%
31,3%
57,6%
Corrente
Efetivo
Não-leitor
GRÁFICO 2. Distribuição dos estudantes segundo sejam leitores efetivos, correntes e não-leitores.
Nos últimos três meses a que os leitores se referiam, isto é, entre agosto e
novembro de 2006, 31,3% dos informantes declararam alguma leitura de livros. Foram
citados, além dos já mencionados, o best-seller Paulo Coelho (em várias obras), Falcão,
meninos do tráfico, livros de crônicas de Luís Fernando Verissimo e um número
surpreendente de obras como Dom Casmurro (Machado de Assis), O cortiço (Aluísio de
Azevedo) e Amor de perdição (Camilo Castelo Branco). Foi fácil concluir que essas
leituras deveram-se à época de vários vestibulares ocorridos na capital mineira no meio do
ano de 2006.
Houve leitores que declararam ler nos três meses anteriores à pesquisa e estavam
lendo no dia da aplicação dos testes. Esses formaram um percentual de 26,4% do total de
131
estudantes. Não houve novidade na lista de títulos citada por cada um. Mesmo os leitores
mais assíduos citaram as mesmas obras, com acréscimo dos mais vendidos Quem mexeu no
meu queijo e uma obra de autoria da prostituta Bruna Surfistinha. 57,6% dos estudantes
declararam não ter lido nos últimos três meses anteriores à pesquisa e nem estar lendo no
dia da sua aplicação.
7.1.3 Leitura de jornais
Declararam ser leitores de jornais, no papel ou na tela, 24,3% dos estudantes.
Entre os jornais impressos, foram citados Estado de Minas, Super, Diário da Tarde, Folha
Dirigida, MG Concursos, O Globo, Jornal da Pampulha. Como se pode notar, grandes
jornais são misturados a tablóides e a jornais locais, além de jornais de bairro e veículos
dirigidos a públicos segmentados. Entre os jornais digitais, foram mencionados Folha de
S.Paulo, UOL, Estado de Minas, Terra, IG, O Globo, Hoje em dia, Estado de S.Paulo, Oi,
Yahoo, Último Segundo. Uma variedade maior do que a dos jornais impressos, como de
fato é no mundo virtual.
Leitores de jornais
24,3%
75,7%
Leitores de jornais
impressos e on-line
Não-leitores de jornais
GRÁFICO 3. Distribuição dos estudantes segundo declaração sobre a leitura de jornais (impressos e digitais).
O leitor de jornais digitais não distingue entre os portais de conteúdo e os sites dos
jornais. Note-se que a leitura do UOL, do Último Segundo (webjornal ligado à IG), Oi,
Terra e Yahoo são considerados jornais tanto quanto O Estado de S.Paulo e O Globo,
primeiros jornais brasileiros a publicar versões digitais na Internet. O que o leitor parece
132
distinguir aqui é a existência de notícias, não o ambiente de jornal ou de portal de
conteúdo
82
.
Grande parte dos leitores de jornais declarados menciona a leitura dominical dos
periódicos. O hábito de ler jornais aos domingos é tradicional, mesmo porque a edição
desse dia da semana é maior, traz cadernos como o de TV ou suplementos especiais
(revistas, fôlderes, empregos), embora custe mais caro. Quanto ao ambiente de leitura,
grande parte dos estudantes (49,3%) declarou que, quando lê jornais, o faz em papel, não na
Internet, e 24,3% declaram que lêem jornais em qualquer suporte.
7.1.4 Acesso à rede
Dos 144 informantes, 67,3% declararam que o fato de estarem na faculdade dava-
lhes acesso a computadores e à Internet. Isso era esperado, uma vez que a instituição de
ensino onde estudavam contava com uma ótima estrutura de laboratórios de informática.
Mesmo as salas de aula contavam com equipamentos que incluíam computadores e
datashows. O aluno que não entrasse no mundo dos e-mails e das máquinas de busca logo
teria que aprender a lidar com o sistema virtual em que monitoraria notas, freqüência às
aulas e mesmo o material didático dos professores, que podia ser disponibilizado na rede,
num sistema chamado “Sala virtual”, acessível com login e senha específicos.
A maior parte dos estudantes declarou ter acesso ao computador em casa (70,1%).
22,2% deles disseram ter esse acesso no trabalho (também ou isoladamente), o que se
alinha aos dados do IBGE (2007). Isso parece previsível uma vez que o trabalho de
enfermeiro não condiz com tarefas de Internet por muito tempo. Apenas 3,5% dos
informantes citaram as lan houses como opção de acesso à rede.
A forma como se iniciaram na informática também foi reveladora. Em alguns
casos, os informantes citaram mais de um ambiente de aprendizagem, mas o que mais nos
interessa aqui é verificar que a escola (ensino médio, especialmente) não tem colaborado
para o letramento digital dos estudantes. Ela ficou em último lugar entre as agências de
letramento que iniciam as pessoas na navegação e mesmo na produção de trabalhos
escolares com o uso de aplicativos off-line. A iniciação à informática foi mencionada como
tendo sido em casa 70 vezes, 22 vezes no trabalho, o surpreendente número de 66 vezes em
82
Esse fato parece corroborar a tese de Roger Chartier segundo a qual a tela do monitor esmaece as
diferenciações entre gêneros de texto ou objetos de ler. Soares (2002) também menciona essa característica
dos ambientes digitais de leitura.
133
cursos livres e apenas 19 vezes em colégios e escolas de ensinos fundamental e médio
83
. Os
cursos livres parecem ainda ser grandes responsáveis pela entrada dos indivíduos no mundo
da informática, mesmo para uma geração que teve acesso às interfaces gráficas,
supostamente facilitadoras da interação com a máquina.
7.2 Navegação e leitura
Fazer os testes de navegação e leitura dos jornais impressos e digitais com 144
informantes seria uma empreitada provavelmente inexeqüível, dadas as condições e os
prazos desta pesquisa. Além disso, um estudo de caso do porte do que fizemos levanta
questões e esboça respostas. Portanto, a partir da análise dos 144 questionários e do
desenho de um perfil de leitores, selecionamos 30 estudantes para os testes de
navegação/leitura.
tínhamos um perfil de leitor razoavelmente homogêneo pelo fato de todos os
alunos cursarem Enfermagem, no primeiro período, portanto recém-chegados à faculdade.
Reforçamos a nitidez do perfil ao selecionar estudantes que declararam comportamentos,
hábitos e preferências de leitura parecidos. A faixa etária dos leitores compreendia dos 18
aos 42 anos, sendo que apenas duas alunas tinham idade acima dos 31 anos. Nossa seleção
considerou como critério mais importante a declaração sobre a leitura de jornais e foi essa
informação que selecionamos para fundar as categorias de leitores que nos ajudariam a
separá-los em grupos.
Dos 144 informantes dos questionários, excluímos aqueles que se declararam
leitores contumazes de jornais impressos e na Internet, pessoas que dominavam os
protocolos de leitura do jornal em ambos os ambientes. Esse perfil de leitor havia sido
estudado em nosso trabalho de mestrado em Estudos Lingüísticos. Interessava-nos, agora,
lidar com leitores menos habilidosos com os ambientes impresso e digital, até mesmo
pouco íntimos do protocolo de leitura dos jornais. Os 30 leitores participantes apresentavam
os seguintes perfis: leitores de jornal impresso e não-leitores de jornais digitais; leitores de
jornais digitais e não-leitores de jornais impressos; não-leitores de jornais.
Em razão de encontrarmos dificuldades técnicas e incompatibilidade de agendas,
alguns informantes foram substituídos por outros, mais disponíveis, com mesmo perfil.
Também houve estudantes que alegaram falta de tempo para participar da pesquisa, mesmo
ela sendo incentivada pela instituição. Finalmente, obtivemos o seguinte quadro para a
83
Estes números somam mais do que os 144 leitores pesquisados porque vários deles citaram mais de um
meio de se iniciar na informática ao longo do ensino básico.
134
pesquisa: 23 informantes, dos quais 11 eram leitores apenas de jornais impressos, 5 leitores
de jornais digitais e 7 não-leitores de jornais.
Nossa análise parte dos trechos mais relevantes das transcrições dos protocolos
verbais dos leitores. Os dados estão disponíveis, na íntegra, no Apêndice 5. Os leitores
serão agrupados conforme os perfis e o cruzamento que queremos apresentar. Neste
momento, analisaremos a efetiva navegação dos informantes em relação às suas
declarações de serem leitores de JI (jornal impresso), leitores de JD (jornal digital) ou não-
leitores de jornal (NLJ). Mais adiante, faremos a análise do cruzamento destes dados com
os resultados dos testes de leitura feitos a partir das notícias e das respostas às questões
planejadas conforme alguns descritores das matrizes do Saeb.
7.2.1 Protocolo de leitura de jornais impressos
Os jornais que utilizamos na pesquisa, em tamanho standard, são constituídos por
vários cadernos que correspondem às editorias. Ambos apresentam primeira página em
mosaico, com chamadas para matérias internas eleitas pelos critérios de importância da
notícia para aquele dia. Esses critérios também determinam a posição da chamada, uma vez
que a manchete ocupa o lugar mais evidente na página e as demais notícias se compõem em
laterais, embaixo, em pontos mais ou menos visíveis pelo leitor.
Estado de Minas e O Tempo apresentam primeira página com função de sumário,
que as chamadas contêm indicação de página. Os jornais são numerados e impressos em
cores, com textos e fotos. O Estado de Minas do dia 3 de agosto de 2006, uma quinta-feira,
era formado por 7 cadernos: Primeiro, Gerais, Informática, Cultura, Classificados, Esportes
e Imóveis. As páginas são marcadas com números, sendo que os cadernos Primeiro, Gerais
e Esportes têm numeração contínua. Os demais têm numeração independente. Os textos que
utilizamos para os testes de navegação e leitura se encontravam nos primeiros cadernos do
jornal.
O texto “Inflação de BH é a maior de novo” encontrava-se na página 14 do
Primeiro Caderno do Estado de Minas, página par
84
. Na capa do jornal, a notícia era a
manchete, com o título “Inflação de BH é 10 vezes maior” em posição de destaque. A
notícia “Saúde de agentes sob ameaça” se encontrava na página 23 do Gerais, segundo
caderno do jornal, página ímpar, em posição de destaque (topo), com foto e legenda. Na
capa, era a chamada “Zoonoses em más condições”, posicionada à direita embaixo, uma
84
Em jornais e livros, as páginas ímpares são vistas antes das pares. Essa diferença pode determinar, no caso
de jornais e revistas, o valor do espaço para anunciantes.
135
“zona morta” do jornal, mas compensada por um box com fundo colorido e uma foto. Para
que o leitor chegasse até a notícia solicitada, consideramos estratégico:
1. Escanear a primeira página;
2. Encontrar a chamada e a indicação de numeração de página interna;
3. Manipular o jornal até chegar à página indicada na capa;
4. Encontrar e ler a notícia.
Para fazer esse percurso, é necessário conhecer o protocolo de navegação do jornal
diário, saber a função de mosaico
85
da capa, fazer associação do tipo de notícia à editoria
mais pertinente, buscar a numeração (função hipertextual) e manipular o jornal, observando
cadernos e numeração. Para encontrar a notícia exata, ainda é necessário fazer a conversão
do título que ela tem na capa do jornal para o título que ela terá internamente. Essa
mudança é muito comum e dinamismo ao jornal. A compreensão desse trajeto é o que
considerarmos a leitura estratégica, e o leitor, o estrategista que identifica e admite as pistas
dadas pela programação do jornal.
No caso da notícia “Inflação de BH é a maior de novo”, a mudança não modifica a
palavra-chave “inflação”, que é utilizada na solicitação das pesquisadoras. Já no título do
jornal O Tempo, mudança que torna a navegação um pouco mais difícil. Embora a
primeira página mostre a palavra “zoonoses”, o título da notícia nas páginas internas é
“Saúde de agentes sob ameaça”, o que demanda uma conversão um tanto mais complexa. É
preciso associar zoonoses ao campo semântico da saúde para obter “agentes” e “saúde”,
além da “ameaça”, que substitui a idéia de “más condições”. Antes disso, é preciso saber o
que significa “zoonoses”, algo que alguns estudantes não sabiam. Trata-se, portanto, de
conversão bem mais complexa do que no caso da primeira notícia. De toda forma, o leitor
precisa concluir toda sorte de fatias do processamento leitor (lexical, sintático, semântico,
etc.) e integrá-los para conseguir uma leitura pertinente e realmente compreensiva. Isso
deve se dar não apenas entre os títulos de capa e internos, mas ao longo de todo o percurso
de leitura do jornal e nos textos propriamente ditos.
O jornal O Tempo é bem menos volumoso do que o Estado de Minas,
constituindo-se, no mesmo dia 3 de agosto de 2006, de apenas três cadernos: Primeiro,
85
É bom lembrar que estamos considerando o jornal impresso como “mídia mosaiquica” (SANTAELLA,
2004a) e, com Bolter e Grusin (2000), a genealogia entre as mídias. Para nós, o mosaico é o parente em
linha reta do hipertexto.
136
Cidades e Magazine. Na primeira página, era possível encontrar a chamada para a notícia
“Pedestre se arrisca em obra na Antônio Carlos”, em posição de pouco destaque, na zona
morta à direita, embaixo. O que compensava essa desvantagem era a foto grande em que se
lia a placa “pedestres” e se podia ver a avenida em obras.
Nas páginas internas, a notícia sobre a avenida se encontrava na página B5, no
caderno de Cidades. Cobria mais da metade da página ímpar e a dificuldade em encontrá-la
talvez se devesse ao fato de O Tempo contar com marcação de páginas alfanumérica. A
diagramação da matéria oferecia uma dificuldade que talvez mostrasse seus efeitos nos
testes de leitura: o texto principal estava diagramado à direita e o box do texto secundário, à
esquerda. O leitor, portanto, tinha acesso, primeiro, ao texto secundário, que alguns, de
fato, julgaram o principal. Apesar disso, a matéria contava com fotos e desenhos
explicativos.
Se a chamada de capa era “Pedestre se arrisca em obra na Antônio Carlos”,
internamente a notícia tinha o título “Pedestre sofre com obra na Antônio Carlos”, em que a
conversão não era difícil. A segunda notícia de O Tempo, “DRT encontra 24 homens em
regime de escravidão”, ficava logo abaixo da primeira, sem foto, com texto completo
indicado na página interna B6. Ao manipular o jornal, o leitor encontraria a notícia integral
na última página do caderno Cidades, com o título “DRT flagra 24 homens em regime
escravo”, quase igual à chamada de capa.
7.2.2 Protocolo de leitura de jornais digitais
O Estado de Minas digital apresenta a mesma hierarquização de notícias do EM
impresso. A manchete “Inflação de BH é a maior de novo” se encontra no topo da página
inicial, com link direto para a matéria. A notícia sobre zoonoses tem o mesmo título da
notícia impressa, em posição correspondente (direita, embaixo), também zona morta, já que
o leitor precisa mover a página para cima para chegar à chamada.
A navegação do jornal dependeria de o leitor escanear a página inicial (home) em
busca das chamadas pertinentes. Isso implica mover a barra de rolagem do site com o
mouse. Daí em diante, ao identificar a chamada da notícia, era necessário clicar no link para
ter acesso à notícia na íntegra.
As notícias on-line sofreram as mesmas mudanças de título que as do jornal
impresso, com a vantagem de que os links levam diretamente ao texto integral solicitado na
pesquisa. As notícias do EM em páginas internas são idênticas a suas versões impressas,
distribuídas na página virtual inteira. Essas ações, que parecem simples, são uma
137
experiência nova para indivíduos de baixo letramento. Consideramos que os estrategistas
partiriam do escaneamento da página inicial para encontrar o link direto da matéria.
No jornal O Tempo, havia diferenças maiores entre as versões impressa e digital.
A notícia sobre as obras na avenida Antônio Carlos mantinha posição semelhante à do
impresso, com a mesma foto. a notícia sobre o trabalho escravo em Minas Gerais não
existia na página inicial, provavelmente em razão de o jornal ser dinâmico e poder ter
retirado essa matéria para pôr outra mais importante ao longo do dia. De qualquer forma,
isso poderia representar um embaraço para o leitor, que deveria ir à editoria mais
pertinente, no menu à esquerda, e procurar por chamadas internas.
7.3 Os 23 leitores participantes
De agora em diante, passaremos à análise dos resultados gerados pelos testes de
navegação/leitura (Apêndice 2) feitos pelo grupo de 23 leitores que selecionamos para a
pesquisa. Todos os leitores terão contrastados seus dados sobre o perfil que desenhamos a
partir dos questionários da pesquisa, os dados sobre a navegação nos jornais (impressos e
digitais) e os resultados gerados nos testes de habilidades de leitura baseados no Saeb.
Desse contraste esperamos tirar boas reflexões sobre quais variáveis realmente têm
relação com o letramento destes estudantes, especialmente aquele relacionado às
habilidades de leitura de textos informativos, mais ainda, de objetos de ler construídos a
partir de uma arquitetura hipertextual. Para ampliar a discussão, apresentaremos, em seção
posterior, dados da dissertação de mestrado defendida em 2003 (RIBEIRO, 2003a), com o
intuito de contrastar os comportamentos de leitores letrados e o comportamento de
estudantes pouco experientes na leitura de hipertextos.
Os estudantes serão identificados por nomes fictícios seguidos de suas idades.
Descreveremos as ações dos leitores em contato com os jornais, em contraste com o
protocolo de leitura que consideramos desejável. No entanto, as estratégias e as táticas são
igualmente importantes para nossos resultados. É nosso objetivo observar o comportamento
do leitor em contato com o objeto hipertextual, impresso e digital, e compreender um pouco
melhor como pessoas pouco letradas se apropriam de materiais pouco conhecidos, em
direção a novas experiências de letramento.
138
Pela categorização de Santaella (2004a), não é possível dizer que tenhamos aqui
leitores “novatos” em ambientes digitais
86
. Todos eles demonstram algum conhecimento
desses ambientes, como MSN e contas de e-mail. Nosso foco, neste caso, é a leitura de
jornais, impressos ou digitais, com seus protocolos complexos. Consideramos também que
os jornais pesquisados não sejam webjornais (MIELNICZUK, 2001), pois ainda são
planejados à semelhança dos jornais impressos, suas versões originais. É de se esperar,
portanto, que leitores do impresso consigam perceber alguma familiaridade quando
navegarem em ambientes on-line.
7.3.1 Grupo 1 – leitores de jornais impressos
Os 11 estudantes da área de Saúde agrupados nesta seção declararam ser leitores
apenas de jornais impressos, com freqüência ao menos semanal. Disseram não ter o hábito
de ler jornais na Internet, o que nos levou a considerar que tivessem perfil semelhante. Este
grupo apresentou ao menos três padrões de procedimento, com comportamentos, ainda
assim, pouco estáveis. Breno, Débora, Eduardo, Elizangela, Fabrício, Graziela, Keila,
Patrícia, Raiane, Vinícius e Viviane cumpriram as mesmas tarefas nos jornais Estado de
Minas e O Tempo, em suas versões impressas e digitais. A comparação entre as operações
desses estudantes nas interfaces, com o objetivo de encontrar determinada notícia e lê-la,
nos leva a algumas conclusões preliminares. A transcrição integral dos protocolos verbais
dos leitores está no Apêndice 3.
Os leitores mais eficientes nos parecem aqueles que demonstram mais
familiaridade com os jornais impressos e digitais, assim como parece ter havido um
alinhamento entre suas ações mais eficazes e seus perfis de leitores declarados de livros e
jornais. À medida que os perfis vão se tornando o de não-leitores de livros e de outros
objetos de ler, o embaraço na lida com as interfaces hipertextuais dos jornais (impressos e
digitais) vai se tornando mais evidente. Dificuldades com numeração, percepção do projeto
gráfico (cores de cadernos, posicionamento de editorias nos sites, etc.) e nomenclaturas
parecem aumentar à medida que o conhecimento sobre leitura diminui.
Os leitores de jornais impressos aqui mostrados não apresentam comportamentos
radicalmente discrepantes quando mudam de um ambiente de leitura para o outro. Em sua
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Santaella (2004) distingue três tipos de leitor: o contemplativo, o movente e o imersivo. Em sua pesquisa,
descreve leitores novatos, leigos e expertos. A pesquisadora intenta traçar um perfil, hoje, do que ocorre
com o leitor também de hoje. Para saber mais, conferir a obra de 2004, Navegar no ciberespaço.
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maioria, mostraram-se safos quando lidavam com jornais digitais, exceto quando
dependiam de máquinas de busca, que não sabem utilizar.
Débora, Eduardo e Vinícius foram os estudantes que nos pareceram mais
familiarizados com a interface dos jornais impressos. Além de cumprirem as tarefas
solicitadas pelas pesquisadoras mais rapidamente (em relação aos demais estudantes),
agiram de forma estratégica em relação ao reconhecimento de sinais das interfaces. Outro
indício de que conheciam o objeto de leitura com que lidavam era o relativo conhecimento
da nomenclatura utilizada para as partes do jornal. Ribeiro (2003a) havia mostrado a
relação de intimidade entre leitores letrados e os objetos de ler. Dessa relação também fazia
parte o conhecimento da nomenclatura utilizada para seções e partes de jornais e sites.
Débora declara ter o hábito de ler e que “sempre estou lendo um livro, nem que
seja uma vez por ano”. No dia da pesquisa, lia As mentiras que os homens contam (do
cronista Luis Fernando Verissimo) e, nos três meses anteriores, havia lido Eu vi o inferno.
Declara ler os jornais impressos Folha Dirigida e Super (respectivamente, às quartas-feiras
e “de vez em quando”). Na Internet, faz pesquisas e utiliza messenger e e-mail. Lida com
telefone celular e aprendeu a usar o computador em curso livre.
A estudante gastou apenas 52 segundos para encontrar notícia sobre trabalho
escravo no jornal O Tempo impresso, dirigindo-se diretamente ao caderno mais pertinente.
Essa estratégia parece importante para a maioria dos leitores deste grupo. Ir diretamente à
editoria depende do conhecimento prévio que o leitor tem sobre a arquitetura dos jornais.
Na versão digital, Débora gastou 1 minuto e 13 segundos e agiu a partir da página inicial
(PI): escaneia, chamada, clica e encontra a notícia. A estudante chama títulos e
manchetes de “tópicos” e “tópicos maiores”, o que não nos parece demonstração de intensa
familiaridade com o “jargão” do leitor contumaz de jornais.
Eduardo, ao contrário, menciona os termos “capa” e “reportagem” em seu
protocolo verbal. No site, fala em “tela”, “visualização” e em “clicar”. O estudante
aprendeu a usar computador em casa e se declara leitor da Folha de S.Paulo e do Estado de
Minas, “todo final de semana”. Havia lido livros nos três meses anteriores à pesquisa e lia
no dia da aplicação dos testes. Eduardo cumpriu as tarefas de ler os jornais Estado de Minas
de papel e digital. Embora não tivéssemos condições técnicas de medir o tempo gasto pelo
estudante, afirmamos que foi pouco. Eduardo escaneou a PP, encontrou a chamada e foi até
a notícia. Sabia que a chamada não era a notícia completa, mas apenas uma “isca” para que
o leitor vá até o texto integral, onde saberá mais detalhes sobre os fatos. No jornal digital, o
estudante escaneou a página inicial, encontrou a chamada com link e clicou para ter acesso
140
ao texto. Dos leitores deste grupo, foi o único que optou pela estratégia em que o protocolo
de leitura do suporte poderia ser considerado mais completo.
Vinícius diz que “adora ler”. Segundo suas declarações, aprende muito com a
leitura e conhece “vários assuntos”. Para ele, é possível “conhecer todos os cantos do
mundo” e aumentar a capacidade de “argüição” pela prática da leitura. O estudante
declarou que lia Concerto para a alma, de Rubem Alves, no dia da entrevista, e havia lido
Chico Xavier, Rubem Alves e Paulo Coelho, nos três meses anteriores. Declara ler jornais
impressos “4 ou 5 vezes por semana”, mas não jornais on-line (“prefiro a forma
tradicional”). Na Internet, e-mails e procura informações sobre sua área de atuação. Lida
com vários sistemas digitais e aprendeu a usar computador no trabalho e em casa.
Ao executar a tarefa de procurar uma notícia sobre trabalho escravo em Minas
Gerais, no jornal O Tempo, o estudante gastou 1 minuto e 15 segundos. Ele começa lendo
diagonalmente a PP, encontra o que chama de “uma prévia da notícia”, verifica caderno e
número da página. Percorre a editoria conveniente e encontra o texto. No jornal digital,
gasta 2 minutos e 16 segundos no percurso entre a página inicial e a notícia sobre uma obra
viária. O que ele chama de “procurar pelo mouse” é a utilização do scroll, rolamento central
do mouse que ajuda a mover o texto no display do computador. Vinícius faz isso para
escanear a PP. Este é o estudante que fornece o protocolo verbal mais detalhado.
Elizangela, Keila e Patrícia cumprem as tarefas da pesquisa com mais embaraço
do que os primeiros estudantes analisados. Elizangela, que diz que gosta de ler, não havia
lido livros nem no dia da pesquisa e nem nos três meses anteriores, mas se dizia leitora de
jornais impressos (O Globo, Estado de Minas, “aos fins de semana”). Na Internet, declarava
fazer pesquisas e mandar mensagens. Lidava com vários sistemas digitais e havia aprendido
a usar computador em casa e em curso livre. A leitora menciona, durante os testes,
“tópicos” (referindo-se às manchetes) e “reportagens”. Na leitura em tela, se por
satisfeita ao encontrar a chamada para a notícia.
Elizangela levou 2 minutos e 51 segundos para encontrar notícia sobre o setor de
zoonoses da Prefeitura de Belo Horizonte, no Estado de Minas impresso. A demora deveu-
se a uma leitura apressada e desatenta da PP. Embora a estudante parecesse conhecer o
protocolo de leitura do jornal, não observou a notícia na “zona morta” direita, embaixo)
da página. A partir disso, iniciou o manuseio das folhas, tópico por tópico, até encontrar a
notícia.
Em compensação, Elizangela gastou apenas 25 segundos para sair da página
inicial do Estado de Minas digital e chegar à notícia sobre inflação em Belo Horizonte.
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Nem precisou escanear a home do jornal para perceber que a manchete sobre a economia
belo-horizontina estava no topo da tela, antes disso, no entanto, teve o impulso de utilizar o
Google, buscador preferido dos leitores. Não tomou sequer a decisão de mover a página
para baixo a fim de ver outras notícias. Não clicou na chamada para ir até o texto integral e
afirmou que, para ela, a notícia era o que se apresentava ali: apenas a chamada.
Keila se declara leitora do jornal impresso Estado de Minas (“3 vezes por
semana”). Na Internet, e-mails. Lida com vários sistemas digitais e aprendeu a usar
computador no ensino médio. O protocolo verbal da informante demonstra que sua
estratégia de navegação desconsidera a PP como sumário hipertextual para chegar à notícia
solicitada, embora a procura pela editoria Economia demonstre algum domínio do
protocolo de leitura do jornal.
Ao executar a tarefa de procurar uma notícia do Estado de Minas impresso, Keila
gastou 1 minuto e 17 segundos. O título estava posicionado no topo da página, com letras
muito grandes, em negrito, com indicação de caderno e página interna, mas a estudante
preferiu ir diretamente ao caderno de Economia. A estratégia deu certo, especialmente
porque a notícia se encontrava no primeiro caderno do jornal.
No jornal digital, Keila fez o trajeto da página inicial até a notícia sobre o setor de
zoonoses da Prefeitura Municipal em 22 segundos. Também empregou a estratégia de ir
diretamente à editoria Gerais, que costuma publicar assuntos sobre a cidade. O modo como
agiu foi eficiente e rápido, mas ela não considerou a possibilidade de escanear a página
inicial do site.
Patrícia gastou 1 minuto e 25 segundos para cumprir o protocolo de leitura e
encontrar uma notícia no jornal O Tempo impresso. Ela declarou ter o hábito de ler
revistas, jornais e livros para se informar. Declarou ser leitora do jornal impresso Estado de
Minas (“alguns dias da semana”). Na Internet, usa máquinas de busca, que “não domina
com facilidade”. Lida com vários sistemas digitais e aprendeu a usar computador na casa
dos amigos e na faculdade (“por necessidades”). Ao ler o jornal impresso, viu logo o que
chamou de “matéria de capa”. Verificou a numeração de página, mas não atentou para a
marcação alfanumérica de O Tempo. Essa característica da interface deste jornal foi
embaraçosa para vários estudantes. O efeito causado por ela é que os leitores erram os
cadernos e se perdem entre as páginas.
Patrícia gastou 2 minutos para encontrar notícia sobre trabalho escravo no jornal O
Tempo digital. O procedimento dela foi clicar em editorias que considerou pertinentes, uma
a uma, até encontrar o texto solicitado pelas pesquisadoras, estratégia que deu certo.
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Breno, Fabrício, Graziela, Raiane e Viviane foram os leitores mais lentos no grupo
com perfil de leitores de jornais impressos. Breno, que se declarou não-leitor e assumiu que
lia o Super “de vez em quando”, fez o trajeto entre a capa e a notícia do jornal impresso
Estado de Minas em 3 minutos e 9 segundos. O estudante escaneou a primeira página, foi
até a editoria pertinente e encontrou a matéria. Demorou na última etapa quando se
embaraçou com a busca do número de página, mesmo o EM não sendo alfanumérico.
No jornal digital, Breno não leu a página inicial, preferindo abrir as abas das
editorias. Essa operação abria novos menus na tela, o que o deixou confuso e o fez gastar 2
minutos e 16 segundos entre a PI e a notícia. Depois de se mostrar impaciente com a
procura, Breno retornou à página inicial e leu as chamadas com mais atenção, estratégia
que deu certo. Breno chama a PP do jornal impresso de “índice” e, no jornal digital,
menciona “reportagem” e “clicar”, mas demonstra não saber o que seja “home”.
Fabrício declara não ter o hábito de ler livros, mas ser leitor de jornais impressos
(Opinião, “jornal da minha cidade”, e jornais estaduais “semanalmente”). Na Internet, faz
pesquisas, utiliza Orkut e e-mail. Lida com vários sistemas digitais e aprendeu a usar
computador em curso livre. Foram 5 minutos e 29 segundos para chegar ao texto solicitado
no jornal impresso O Tempo. O estudante mal olhou a PP, embora tenha feito o gesto de
escaneá-la. Passou a folhear o jornal como se procurasse as editorias, perdeu tempo com
cadernos improváveis e depois assumiu que leu apenas as palavras iniciais dos títulos da
primeira página. Como a notícia na chamada começava com a sigla DRT (Delegacia
Regional do Trabalho), que ele não conhecia, o aluno saltou a notícia e foi adiante,
perdendo-se no trajeto. Ele procurava a palavra “escravidão” ou algo tão direto quanto isso,
como os leitores costumam fazer em máquinas de busca.
Os 6 minutos e 8 segundos gastos no jornal digital deveram-se ao mesmo tipo de
desatenção. O aluno perdeu tempo lendo notícias que não estavam relacionadas à solicitada
pelas pesquisadoras e partiu para o uso da máquina de busca do jornal. A pesquisa pela
palavra “obras”, muito vaga, resultou em mais problemas. De volta à home, depois de
orientado pelas pesquisadoras, o leitor escaneou com atenção a página inicial e percebeu
que a chamada para a notícia dependia da movimentação do scroll.
Graziela mal se senta na cadeira diante da tela e abre a página do Google. A
aluna gasta 4 minutos e 15 segundos para chegar à notícia do EM digital. A pesquisa que
ela faria, se permitíssemos, seria a partir da palavra “escravidão”, o que resultaria em
problemas. Tem dúvidas quanto ao que seja home, não escaneia a página inicial, entra em
uma editoria, em outra, em uma terceira, todas pertinentes, mas não encontra a notícia.
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Mostramos a ela onde estava a chamada e ela se surpreende. O tempo todo, Graziela insiste
na eficiência dos buscadores, mesmo a máquina de busca do próprio jornal. A estudante
declara ter o hábito de ler “mais ou menos” e não lia livros nem no dia da pesquisa e, nos
três meses anteriores, havia lido Violetas na janela. Declara ser leitora de jornais impressos
(Estado de Minas e Pampulha) e diz que utiliza e-mail. Lida com vários sistemas digitais e
aprendeu a usar computador em casa. No jornal impresso, se confunde com a marcação
alfanumérica de O Tempo e procura no caderno errado. No entanto, escaneia a PP, logo
a chamada (manchete) e manipula o jornal.
Raiane se declara habituada a ler e diz que, “a todo instante”, está “sujeita a ler”.
Não lia livros nem no dia da pesquisa e nem nos três meses anteriores. Declara ser leitora
dos jornais impressos Estado de Minas e Super. Na Internet, faz pesquisas e utiliza chats,
Orkut, e-mail e “sites legais”. Lida com vários sistemas digitais e aprendeu a usar
computador em casa e no trabalho. Em O Tempo impresso, chegou rapidamente ao texto
solicitado, pela busca na editoria pertinente, embora ignorasse a utilidade da PP. A aluna só
via razão de ler primeiras páginas se a notícia redundasse em relação a outras dias,
especialmente a televisão e a Internet. Esse depoimento diz muito sobre a concorrência
entre os meios de comunicação em relação ao conteúdo noticiado e corrobora um
comportamento do leitor de jornais impressos: o desejo de se aprofundar, não o de obter a
notícia em primeira mão. Essa discussão vem sendo ampliada por pesquisadores que
estudam as mudanças de função da imprensa, a depender dos meios em que as notícias se
propaguem. A reconfiguração do jornalismo impresso tem sido estudada justamente para
que melhor se pense sobre que diferencial os impressos poderiam ter em relação a outros
meios. O comportamento de vários dos leitores participantes deste estudo parece indicar
que a página inicial dos jornais exerce um papel menos importante do que exerceu antes
dos modos de busca disponíveis hoje. O papel do jornal impresso também parece não estar
mais tão vinculado à notícia em primeira mão, que outros meios de comunicação fazem
isso mais rapidamente, embora nem sempre de maneira aprofundada.
Raiane menciona as máquinas de busca como primeira solução para encontrar a
notícias digitais e faz uma tentativa ineficaz. Em seguida, procura duas editorias que
poderiam estar relacionadas com o assunto escravidão. Na última delas, encontra o texto
integral solicitado.
Viviane declara não gostar de ler e o fazer apenas quando é necessário. Diz-se
leitora do Estado de Minas, “todos os cadernos”, e lida com diversos sistemas digitais.
Aprendeu a usar computador na escola e no trabalho. Levou 3 minutos e 35 segundos para
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sair da PP e chegar à notícia de O Tempo impresso. Não encontrou o texto porque, embora
tivesse escaneado a capa, não deu atenção aos itens em “zonas mortas”. Passou bastante
tempo lendo cada título interno nos cadernos dos jornais.
Os 3 minutos e 35 segundos que levou para ler o jornal digital foram gastos indo
até a editoria pertinente. No entanto, a estudante subvocalizou a leitura de títulos e pedaços
de textos o tempo todo, além de tecer considerações sobre as diferenças entre jornais de
papel e digitais. Viviane teve que ser conduzida à home para reiniciar a tarefa. Ainda assim,
diante do link da notícia, não clicou, anunciando que “a notícia” era apenas a chamada.
Os três padrões que os estudantes parecem aplicar vão do leitor que escaneia
primeiras páginas (no papel ou na tela), passando pelo que procura cadernos e editorias
diretamente, até aqueles que preferem folhear (ou navegar a esmo) até encontrar a notícia.
Não se pode dizer, no entanto, que haja alinhamento entre as ações do mesmo leitor no
papel e na tela, uma espécie de ancoragem. quem escaneie papel e prefira selecionar
abas no jornal digital e há quem faça o contrário.
7.3.2 Grupo 2 – leitores de jornais digitais
O grupo tratado nesta seção é formado por estudantes que se declararam leitores
apenas de jornais digitais, ou seja, diziam ter pouca experiência na leitura de impressos.
São cinco, Daniele, Danília, Maurício, Rafael e Romena, dos quais Romena e Rafael
mostram muito desembaraço com os objetos de ler, tanto impressos quanto digitais. Os
estudantes que haviam se declarado leitores de jornais digitais e pouco experientes na
leitura de impressos nos pareceram mais afoitos em relação às máquinas de busca, menos
refinados em suas pesquisas e menos íntimos dos mecanismos hipertextuais nos dois
ambientes.
As operações dos leitores do primeiro grupo (leitores de impressos) e as dos
estudantes deste grupo (leitores de jornais digitais) não parecem muito diferentes entre si. O
ambiente de leitura em que os estudantes atuam parece fazer pouca diferença em relação às
opções que eles selecionam. No entanto, é possível divisar um “vício” maior dos leitores do
grupo 2 em relação às máquinas de busca, assim como um embaraço maior do que os
estudantes do grupo 1 com relação ao conhecimento da interface mosaiquica. No grupo 2,
foi mais comum que os estudantes optassem por folhear o jornal quando se davam conta de
que não conheciam o mecanismo de procura mosaiquica dos impressos.
Romena, que se declara bastante constante na leitura de livros e revistas, dizia não
ler jornais impressos. No entanto, como era assinante de um provedor de Internet, tinha o
145
hábito de ler as notícias do portal. Isso não configura exatamente um jornal, já que esse tipo
de portal costuma oferecer conteúdo comprado de outros sites ou agências e configurá-los
de um modo um tanto diferente
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, mas significa que a leitora tinha contato com
procedimentos de leitura na Internet. Romena declarou que utilizava a Rede para mais
ações: movimentar conta bancária e fazer compras são algumas delas. Segundo dados do
IBGE (2007), o perfil de usuário que executa essas tarefas na Rede é bastante diverso do da
estudante participante desta pesquisa. Romena tinha a tarefa de ler a notícia sobre zoonoses
do Estado de Minas impresso. Conhecedora da função mosaiquica da primeira página, a
aluna escaneou a folha e encontrou, em 57 segundos, a notícia. No jornal digital, a notícia
sobre inflação em BH foi lida depois que a estudante gastou apenas 37 segundos
escaneando a página inicial e clicando no link do texto. Dos estudantes participantes dos
testes, Romena é a única que menciona “barra de rolagem” e chama a PP do jornal
impresso de “folha principal”.
Rafael declarou ser leitor da Folha de S.Paulo e de O Tempo digitais, segundo ele,
diariamente. Aprendeu a usar computador no trabalho, havia aproximadamente 4 anos, e
dizia estar sempre à procura de informações na Internet. Gastou pouco mais de 2 minutos
para encontrar a notícia do jornal O Tempo impresso sobre trabalho escravo em Minas
Gerais. No percurso feito, escaneou a PP e achou o link para o texto. Confundiu-se um
pouco com a tarefa do jornal digital, mas não pensamos que isso tenha comprometido a
expressão do que ele realmente sabia sobre a leitura de hipertextos.
No jornal digital, em que deveria encontrar notícia sobre uma obra viária, Rafael
preferiu ir direto às editorias, disponíveis no menu à esquerda da tela. Assim, encontrou o
que procurava. Foi o trajeto que Maurício optou por fazer, porém, no jornal O Tempo
impresso.
Maurício se dizia usuário de chats e de máquinas de busca, além de ser contumaz
leitor das manchetes de jornais on-line. Havia aprendido a usar o computador em casa e, em
nossa pesquisa, deveria encontrar uma notícia sobre trabalho escravo no jornal impresso,
que ele não tinha o hábito de ler. O estudante preferiu manipular o jornal em busca das
editorias (cadernos), antes de partir para a PP. Demorou mais de 4 minutos para encontrar o
87
A respeito dessas diferenças, consulte-se o trabalho de Geane Alzamora, especialmente “Da semiose
midiática à semiose hipermidiática: jornalismos emergentes”, apresentado no VI Encontro dos Núcleos de
Pesquisa da Intercom e disponível em http://www.intercom.org.br/premios/geane_alzamora.pdf. Outro
trabalho é o de Suzana Barbosa, “Jornalismo online: dos sites noticiosos aos portais locais”, apresentado no
XXIV Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação (Intercom), em 2001, e disponível na Biblioteca
Online de Ciências da Comunicação (BOCC), em http://www.bocc.ubi.pt.
146
texto solicitado e acabou trocando os jornais e confundindo O Tempo com o Estado de
Minas, que estavam sobre a mesa.
No jornal O Tempo digital, o estudante gastou mais de 4 minutos para encontrar a
notícia sobre obras na avenida Antônio Carlos. Sua primeira medida foi recorrer à máquina
de busca do jornal, de forma muito imprecisa. Digitou palavras como “obras” e não
conseguiu refinar a pesquisa pela matéria do jornal. Optou então pelas editorias e foi
clicando em links nas abas correspondentes aos cadernos. Assim é que encontrou o texto
correto.
Daniele diz ler, uma vez por dia, o jornal digital O Globo. Usa a Internet, além
disso, para procurar músicas e fazer trabalhos escolares. Aprendeu a usar o computador em
cursos livres. Embora tivesse declarado esse perfil, demorou 2 minutos e 18 segundos para
encontrar uma notícia sobre obras na avenida Antônio Carlos, no jornal digital. Manifestou
a vontade de começar a procura pela máquina de busca do jornal, também sem saber refinar
pesquisa nesse tipo de ferramenta. Escaneou, enfim, a página inicial e percebeu a chamada
para a matéria.
No jornal impresso, Daniele fez o escaneamento desatento da PP e optou por
folhear o objeto. Leu muitos títulos de notícias, teceu considerações sobre cada uma delas
até encontrar, enfim, o texto solicitado pelas pesquisadoras. No percurso do jornal
impresso, a estudante demonstrou conhecer a função hipertextual da primeira página: “Vou
abrir a página principal aqui, vou dar uma olhada, normalmente aqui você tem um resumo
de tudo que tem no jornal”. Ela também confessou certo nervosismo e se envolveu na
leitura de outros textos, desviando-se do objetivo proposto por nós. No final do trajeto,
ainda nos acusou de termos escolhido, de propósito, uma notícia que estava na última
página do jornal. Somente depois que explicamos sobre a PP é que ela assumiu sua falta de
atenção.
Daniele também explicou sua preferência pelo Google: “É porque tudo eu tenho
costume no Google, Cadê”. Esse tipo de procedimento emergiu muito mais em leitores que
faziam parte do grupo leitor de jornais digitais do que do primeiro grupo. No entanto, os
estudantes parecem não saber como refinar pesquisas em máquinas de busca e acabam se
relacionando mal também com os jornais impressos.
Danília se considerava não-leitora de livros e passou a lê-los depois que entrou
na faculdade. Segundo ela, “para entender melhor as matérias, é necessário”. Dizia ler
jornais digitais às vezes, especialmente O Globo, utilizar e-mail, Orkut e messenger. Havia
aprendido a usar computador em casa.
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Embora dissesse não conhecer bem jornais impressos, Danília foi direto à primeira
página do Estado de Minas para procurar uma notícia sobre inflação em Belo Horizonte.
Escaneou, encontrou a indicação de página e foi até o texto integral, no caderno pertinente.
Levou pouco mais de 1 minuto para fazer o percurso. No jornal digital, onde deveria ler
notícia sobre o setor de zoonoses da Prefeitura, optou por usar o Google, mas não sabia
sequer o que procurar. Admitiu que não conhecia a palavra zoonoses e fez várias tentativas
de busca equivocadas. Não cumpriu a tarefa e ficou surpresa ao conhecer, por nossa
explicação, o mecanismo do jornal para encontrar a notícia.
Mais uma vez, os leitores optam por escanear PPs ou vão diretamente às editorias
ou, ainda, optam por folhear jornais. Nenhuma procura em máquinas de busca deu certo
nos casos narrados até agora. Os estudantes conhecem trajetos possíveis para ler jornais,
mas nem sempre optam pelos mais rápidos. De qualquer forma, vão fazendo tentativas que
terminam por, em sua maioria, levá-los à notícia solicitada. É importante notar que o grupo
1 e o grupo 2, embora tenham se declarado leitores de impressos ou de digitais, não
apresentam diferenças de comportamento discrepantes.
7.3.3 Grupo 3 – Não-leitores de jornais
Este grupo de leitores é formado por estudantes que declararam não ler quaisquer
jornais, em ambiente algum. Nossa hipótese, de acordo com esse perfil, era a de que os
alunos de Enfermagem deste grupo não demonstrariam intimidade com a interface
hipertextual e se embaraçariam mais do que os leitores dos grupos 1 e 2 na procura pelas
notícias. Cláudia, Daiane, Jaqueline, Lúcia, Maria, Regina e Simone, mais uma vez, se
subdividem em graus diversos de letramento. O grupo 3 comporta desde estudantes que
cumpriram a tarefa de buscar a notícia precisa solicitada e apresentaram alguma noção da
leitura em composições mosaiquicas, até estudantes que se mostraram bastante distanciados
do processo de ler hipertextos, tanto faz se em papel ou em tela.
Jaqueline e Regina são as leitoras menos embaraçadas nos procedimentos da
leitura das mídias de arquitetura mosaiquica. A primeira, que disse ler quando o material
está relacionado ao curso que fazia na faculdade, gastou 2 minutos e 23 segundos para
encontrar notícia sobre zoonoses no Estado de Minas impresso. A aluna escaneou a capa do
jornal, não encontrou a chamada e partiu para os cadernos (editorias). Folheou vários deles,
subvocalizou textos, voltou e encontrou a matéria. Em compensação, a notícia do jornal
digital surgiu em menos de 1 minuto. A leitora optou pelo menu e pela editoria de
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Economia (que ela chamou, impropriamente, de “ícone”) e encontrou o texto sobre
inflação.
Regina também optou por procurar os textos solicitados nas editorias. No jornal
impresso, ela foi direto ao caderno de Economia, que sabia ser o primeiro. Afirmou,
enquanto procurava, que “realmente, eu não tenho muita habilidade com jornal não, tá?e
se desculpou pela bagunça que fez com as páginas em cima da mesa.
No jornal digital, Regina escaneou a página inicial, subvocalizou textos, disse que
“subiu e desceu a tela”, mas não fez menção de clicar na chamada. A estudante declarava
não usar Internet (“não gosto”) e havia aprendido a usar computador em casa.
Para duas não-leitoras declaradas, as estudantes mostraram um conhecimento da
composição dos jornais que não pode ter surgido abruptamente. Embora os tempos de
execução das tarefas tendam a aumentar à medida que os grupos 1, 2 e 3 são narrados, não
se pode afirmar que estes participantes da pesquisa tenham letramento muito baixo em
relação a jornais. Têm, sim, alguma noção, ao menos, dos protocolos projetados, mas não
chegam a se mostrar completamente alheios à maneira como se procede na busca por uma
notícia, ao menos até agora, se não são estratégicos, também não são passivos. São o que
queremos denominar, com base em Certeau (1994), táticos.
De fato, o grupo 3 foi o que mais apresentou leitores com dificuldades de cumprir
a tarefa solicitada, mas também foi o único em que os estudantes sentiam muita
necessidade de se explicar, de “pedir desculpas” pela pouca habilidade com as interfaces.
Cláudia, que deveria lidar com o jornal O Tempo, diante da interface impressa,
optou por excluir os cadernos que considerava impertinentes em relação ao tema do
trabalho escravo. Resolveu abrir o caderno de notícias Gerais e passou a ler todos os títulos
das matérias, até encontrar o texto solicitado pelas pesquisadoras. Para isso, folheou o
jornal várias vezes e gastou 3 minutos. No jornal digital, também gastou 3 minutos e meio
porque fez as mesmas opções: editorias no menu, em seguida foi à máquina de busca e
cumpriu a tarefa porque ficou nervosa e foi ajudada pelas pesquisadoras. Na lida com a
máquina de busca, perdeu-se porque não tinha nenhuma noção de como refinar a pesquisa:
digitou “obras”, “serviços públicos” e “obras públicas”.
Daiane era um caso curioso, que se declarava uma leitura “muito tranqüila para
ler qualquer tipo de texto”, mas não estava lendo nada nem efetiva e nem correntemente.
Havia aprendido a usar computador em casa e em curso livre. Tinha, nesta pesquisa, a
tarefa de encontrar notícias do jornal Estado de Minas. No EM impresso, a estudante
escaneou a primeira página, mas passou a folhear o caderno do jornal que tinha em mãos
149
até encontrar a matéria. No jornal digital, procurou primeiramente nas editorias, leu muitos
títulos e não encontrou o texto sobre zoonoses. Daiane gastou mais de 4 minutos para fazer
o trajeto hipertextual impresso e 7 minutos e meio para fazer o percurso digital.
Maria aprendeu a usar o computador em casa e na faculdade. Quando iniciou o
percurso para encontrar notícia impressa sobre inflação (EM), a estudante escaneou a
primeira página e foi direto ao link. Indicou imediatamente que o texto estava no caderno
de Economia. Já na interface digital, Maria varreu a tela com os olhos, mas não encontrou o
que queria. Foi até o menu à direita, procurou por links tais como “saúde”, no que fez a
correlação adequada, embora o link não existisse. Em seguida, optou pela máquina de
busca e não conseguiu mais retornar ao Estado de Minas. Quando retornou, com nossa
ajuda, ela recomeçou o trajeto pelas editorias e encontrou o texto no caderno Gerais.
Lúcia e Simone são casos ainda mais interessantes. Além de serem as alunas mais
velhas envolvidas na pesquisa, foram as que se mostraram menos íntimas dos materiais
escritos à disposição para os testes. Simone tinha 31 anos e se declarava pouco habituada a
ler. “Justifico sempre pela falta de tempo, mas é sempre uma desculpa”, dizia no
questionário de perfil. Havia aprendido a usar computador no trabalho.
A estudante gastou mais de 8 minutos para encontrar a notícia impressa do Estado
de Minas sobre zoonoses. Folheou o jornal, procurou títulos grandes, tirou conclusões
interessantes sobre a provável disposição das matérias nas páginas: “Jornal fala muito de
política, então deve ser uma coisinha bem pequenininha”, no que estava certa. Em
determinado momento, confessou: “Você acredita que eu nunca parei para ler um jornal?” e
ainda “Vou ficar aqui o dia inteiro e não vou achar nada, viu?”. Após algum tempo, Simone
deparou com a chamada da notícia, na PP. Leu para nós e concluiu: “Então aqui, página 23,
ah, isto aqui é um resumo, né?”. Acreditou que era procurar, mas se frustrou quando
descobriu que o caderno que tinha em mãos terminava na página 19. “Vou procurar em
outro”, e retornou à PP para se certificar de que tomara as decisões mais adequadas. Um
pouco depois, Simone perguntou: “São vários jornais misturados?” e se surpreendeu com a
existência de cadernos no mesmo jornal.
No EM digital, Simone foi mais rápida, mas gastou mais de 3 minutos para
percorrer os caminhos da notícia sobre inflação em Belo Horizonte. Notou que a matéria
era destaque na página inicial do site, disse que iria “clicar” e passou a ler a matéria.
Lúcia, 42 anos, se dizia leitora de, quando muito, um livro por ano. Lidava com
poucos sistemas digitais e aprendera a usar o computador na faculdade, muito recentemente
em relação à época da pesquisa. A notícia sobre zoonoses foi logo encontrada no EM
150
impresso. A estudante escaneou a PP, verificou o número de página, folheou e encontrou o
texto. Esse percurso não se parece em nada com o de alguém que não conhece a estrutura
de um jornal.
No EM digital, Lúcia teve mais dificuldades, sendo que muito mais delas
operatórias (motoras mesmo) do que outras. A estudante viu a matéria em destaque na
página inicial, mas não tomou qualquer atitude e demonstrou constrangimento em relação
ao mouse. Leu a chamada da notícia, não moveu o scroll e perguntou “Onde posso saber
mais sobre isso aqui neste jornal?e “Sinceramente, eu não sei onde procurar”. Depois de
clicar no link da PI, não soube como proceder para ler a matéria, que só aparecia
parcialmente na tela. “Pois é, como é que eu vou conseguir chegar, abrir essa matéria toda
aqui?”. Depois de arriscar um clique, Lúcia leu o texto na íntegra.
Como se pode notar, neste grupo, os tempos de navegação aumentam por conta
dos embaraços que os leitores encontram para chegar às notícias. De fato, a correlação entre
declarados não-leitores e as dificuldades de ler um jornal aconteceu de maneira mais ou
menos direta, ainda assim, não se pode dizer que os indivíduos desconheçam jornais,
estejam elas no papel ou na Internet.
Eduardo e Vinícius, no grupo 1, são os extremos de Simone e Lúcia, no grupo 3. O
que os torna diferentes? Que contato eles tiveram com interfaces hipertextuais? Como
relacionam as operações na interface mosaiquica impressa à ação no hipertexto digital? O
trajeto proposto pela pesquisa, que parecia tão curto e pouco exigente, agora mostra que as
nuances entre os leitores, mesmo na tarefa de cumprir algo tão simples, são muitas, e todas
elas dependem de experiências de leitura e de letramento das quais nem mesmo os próprios
leitores têm consciência.
Vejamos agora os resultados dos estudantes em seus testes de habilidades de
leitura e façamos, então, um cruzamento entre esses dados, os perfis de leitores e a
navegação que cada um foi capaz de executar.
7.4 Leitura e compreensão dos textos
Os 23 estudantes de Enfermagem que participaram dos testes de navegação nos
jornais impressos e digitais descritos anteriormente também se submeteram ao teste de
habilidades de leitura de notícias, cujos resultados serão narrados a seguir.
Cada grupo de leitores, ainda divididos segundo o perfil (leitor de jornal impresso,
digital ou não-leitor), será analisado com base nos dados gerados pelas respostas às
questões propostas pelas pesquisadoras (Apêndice 4). Como foi mencionado, os itens
151
foram formulados com base nos descritores da matriz de Língua Portuguesa do Saeb. As
habilidades em foco eram aquelas que considerávamos importantes para a leitura de
matérias de jornal e deveriam ser desenvolvidas pelos jovens nos ensinos fundamental e
médio.
Dos 21 descritores da matriz de LP, selecionamos 5. O Saeb não contempla as
habilidades de leitura desde a navegação do suporte, mas apenas a partir do contato com o
texto propriamente dito. Faremos essa conjugação a partir dos dados desta investigação.
Para analisar os dados obtidos nos testes, optamos por começar do Descritor (D1),
que trata da localização de informações explícitas em um texto. Faremos a análise numa
ascendente de letramento, considerando que as habilidades mais complexas, tais como
estabelecer relações e inferências, serão analisadas por último. Os quadros a seguir
oferecem visualização mais ágil das ocorrências em relação à leitura (por habilidades
descritas no Saeb) de cada leitor, em cada texto e jornal, nas plataformas impressa e digital.
7.4.1 Descritor 1: Localização de informações explícitas
Todos os testes de leitura, referentes aos 4 textos de jornais nos dois ambientes
(impressos e digitais), continham questões que intentavam verificar se os estudantes haviam
desenvolvido a habilidade de localizar informações explícitas em um texto. Vejamos as
questões e as respostas que consideramos paramétricas, em relação a seus respectivos
textos:
Estado de Minas Questão Resposta sugerida como parâmetro
Inflação em BH é 10
vezes maior)
Qual é o significado das
siglas IPCS e IPCA?
Índice de Preços ao Consumidor Semanal;
Índice de Preços ao Consumidor Amplo.
Zoonoses em más
condições
O que é flebótomo? Mosquito transmissor da doença
(Leishmaniose).
QUADRO 1. Questões do Descritor 1 para o jornal Estado de Minas.
O Tempo Questão Resposta sugerida como parâmetro
Obras na Antônio
Carlos
Qual é o significado da
sigla BHTrans?
Empresa de Transportes e Trânsito de Belo
Horizonte.
Trabalho escravo em
Minas Gerais
Qual é o significado da
sigla DRT?
Delegacia Regional do Trabalho.
QUADRO 2. Questões do Descritor 1 para o jornal O Tempo.
Nosso critério era observar que todas as respostas estavam nos textos, de modo
que o leitor participante teria apenas que encontrá-las e transcrevê-las. Não eram
necessárias generalizações e nem inferências. Dos 23 estudantes, apenas 20 responderam
aos testes completos, dos quais 11 o fizeram após a leitura das duas notícias do jornal
Estado de Minas e os demais, a partir do jornal O Tempo.
152
Todos os estudantes respondentes, de alguma maneira, responderam às questões
do Descritor 1 adequadamente. O caso um pouco desviante foi o da leitora Danília (Grupo
2), que não explicou de forma completa a sigla IPCA. Os demais estudantes tiveram
resultados satisfatórios às questões de D1. No texto “Zoonoses em más condições”, os
leitores do Estado de Minas deram sempre respostas consideradas adequadas, fossem eles
leitores de papel ou de tela. Às vezes, apresentavam detalhes, como Daiane (Grupo 3) faz
em: “Flebótomo, segundo o texto, significa Transmissor da doença”. Ou como Breno
(Grupo 2), que declara “o mosquito transmissor da leishmaniose”. A maioria dos
informantes não esclarece o referente mencionado pela pergunta, contentando-se em
apontar o flebótomo como “transmissor da doença”.
São dignos de nota ainda os seguintes casos: Danília (Grupo 2), que não responde
à questão; Maria (Grupo 3), que responde “inseto”; Simone (Grupo 3), que escreve “inseto
(hematófago) que transmite a doença pela picada”; e Eduardo (Grupo 1), que responde “é
um agente causador da doença”, resposta inadequada, já que o flebótomo é o mosquito que
pica o hospedeiro e transmite a leishmania, este, sim, causador da doença. Este caso, no
entanto, não nos parece uma “leitura errada”, mas uma impropriedade que passaria
desapercebida por não-especialistas em Biologia, de maneira geral.
No jornal O Tempo, em duas versões, o índice de acerto à questão baseada no
Descritor 1 do Saeb também foi alto. Sobre o texto “Pedestre se arrisca em obras na
Antônio Carlos”, colocamos a questão sobre o significado da sigla BHTrans. Todos os
leitores responderam adequadamente, exceto pela inexatidão dos termos da sigla, que,
corretamente, quer dizer Empresa de Transportes e Trânsito de Belo Horizonte, sendo que
alguns informantes escreveram Empresa de Transportes, no plural, o que não consideramos
inválido.
Com relação ao texto “DRT encontra 24 homens em regime de escravidão”, os
estudantes responderam corretamente, sendo que destes, 2 se preocuparam em especificar
que a Delegacia Regional do Trabalho pertence à seção de Minas Gerais. Em relação à
habilidade de encontrar uma informação explícita em um texto, portanto, nossos leitores se
mostram eficientes, qualquer que seja o ambiente de leitura. Os quadros a seguir, não mais
divididos por grupos de leitores de jornais, mas por notícia lida, mostram o desempenho de
cada estudante em dois ambientes.
153
D1 Danília Daiane Eduardo Keila Maria Regina
impresso -
-
+ +
+
+
digital N + - + - +
QUADRO 3. Acertos e erros dos estudantes em relação ao Descritor 1 em notícias impressas e digitais.
D1 Breno Elizang Jaqueline Lúcia Romena Simone
impresso +
N
+ +
+
+
digital + N + + + +
QUADRO 4. Acertos e erros dos estudantes em relação ao Descritor 1 em notícias impressas e digitais.
D1 Cláudia Daniele Débora Fabrício Maurício Vinícius Viviane
impresso +
+
+ +
+
+
+
digital + + + + + + +
QUADRO 5. Acertos e erros dos estudantes em relação ao Descritor 1 em notícias impressas e digitais.
D1 Graziela Patrícia Rafael Raiane
impresso +
-
+ N
digital + + + N
QUADRO 6. Acertos e erros dos estudantes em relação ao Descritor 1 em notícias impressas e digitais.
Os quadros ajudam a visualizar o desempenho de cada estudante na questão
formulada a partir do Descritor 1 do Saeb. A distribuição dos leitores, anteriormente feita
por grupos de perfil ou por jornal lido, agora se organiza por notícia lida, ou seja, o grupo
do Quadro 1 leu N1 impressa e N2 digital. O grupo do segundo quadro leu N2 impressa e
N1 digital. Sendo dois jornais e quatro notícias, temos quatro cruzamentos possíveis.
7.4.2 Descritor 2: Estabelecer relações em um texto
O Descritor 2 do Saeb propõe a verificação da habilidade de estabelecer relações
entre partes de um texto. Trata-se, neste caso, da geração de uma inferência de tipo
conectivo, ou seja, necessária para a compreensão do texto (COSCARELLI, 1999). Nos
textos do Estado de Minas, as questões foram:
Estado de Minas Questão Resposta sugerida como parâmetro
Inflação em BH é 10
vezes maior)
No 5
o
parágrafo, o jornalista
refere-se ao IPCA como “outro
indicador”. Qual é o primeiro
indicador citado na notícia?
O “outro indicador” é o IPCS.
Zoonoses em más
condições
No 2
o
parágrafo, o jornalista
refere-se ao “descaso com a saúde
do trabalhador”. Qual é esse
descaso?
“Descaso” é a situação precária em que
vivem os trabalhadores em serviço: falta de
equipamentos de segurança, suspensão de
exames médicos periódicos, etc.
QUADRO 7. Questões do Descritor 2 para o jornal Estado de Minas.
No jornal O Tempo, propusemos as questões:
154
O Tempo Questão Resposta sugerida como parâmetro
Obras na Antônio
Carlos
No parágrafo 3, a que “situação” a
ser avaliada o texto se refere?
Situação de falta de sinalização da obra.
Trabalho escravo em
Minas Gerais
No parágrafo 3, a que se refere a
expressão “outras irregularidades”?
Trabalhadores em regime escravo e
proprietários de terras que se recusam a
regularizar o modo de trabalho.
QUADRO 8. Questões do Descritor 2 para o jornal O Tempo.
Entre os 11 leitores do Estado de Minas, 10 responderam corretamente à questão
sobre o “outro índice”, o IPCS. Os estilos de resposta variaram, dos mais detalhados aos
mais objetivos, mas todos chegaram à resposta adequada, com exceção de Daiane (Grupo
3), que escreveu “A pesquisadora”, resposta que não era pertinente.
Com relação ao texto “Zoonoses em más condições”, embora nem sempre tenham
se expressado da maneira mais eficiente, 9 informantes foram considerados hábeis em
relação ao D2. Deram respostas satisfatórias, tais como as de Lúcia (Grupo 3) e Romena
(Grupo 2), respectivamente: “O agente denuncia as condições precárias de trabalho na
prefeitura e pede para não ser identificado, para não sofrer represalha (sic) até mesmo ser
demitido da empresa” e “A falta de equipamentos para manusear inseticidas do combate ao
mosquito transmissor da leishmaniose. Falta (sic) luvas, máscaras, roupas adequadas,
fazendo com que os agentes corram risco de adoecer devido às más condições de trabalho”.
Note-se que ambas as respostas demonstram a produção de inferências (não querer se
identificar para não ser demitido, risco de adoecer, etc.), não sendo apenas questões de
localização de informação ou de cópia. Danília (Grupo 2) e Daiane (Grupo 3),
respectivamente, não respondeu e ofereceu resposta considerada inadequada: “Descaso
quer lhe dizer caso ou algo mais” (Daiane).
A habilidade de estabelecer relações entre partes do texto, ou seja, produzir sentido
a partir de inferências conectivas, não obteve os mesmos bons resultados conseguidos em
relação ao D1. Nossos informantes encontram mais dificuldade para cumprir essa exigência
do processo para chegar a uma “boa leitura”, “alinhada” com a compreensão mais adequada
do texto informativo.
Dos 9 leitores do jornal O Tempo, 8 responderam satisfatoriamente à questão
proposta para o texto “Pedestre se arrisca em obra na Antônio Carlos”. Todos
mencionaram, de alguma forma, o problema da sinalização mal-feita no trecho de obra em
foco, mesmo que alguns fossem mais diretos em suas respostas. Apenas Maurício (Grupo
2) não recuperou corretamente a referência à sinalização, oferecendo a resposta: “A
155
situação a ser avaliada é para o motorista prestar atenção nos desvios que mudam com
freqüência levando em conta a limitação do veículo e a segurança dos pedestres”. A notícia
dava ênfase ao problema para os pedestres, embora citasse, de passagem, o problema
causado aos motoristas pelas obras e pela sinalização. O informante parece ter se atido
ao último aspecto, supervalorizando-o. Isso parece se dever à diagramação do jornal, que
apresentou, nessa matéria, uma inversão que causa efeitos nas leituras, como se verá
também nos resultados da habilidade de sumarizar o texto. Essa ocorrência nos ajuda a
mostrar a altíssima permeabilidade entre a legibilidade dos lingüistas e a dos designers,
especialmente para leitores pouco letrados.
Em relação ao texto “DRT encontra 24 homens em regime de escravidão”, dos 9
leitores de O Tempo, apenas 4 recuperaram a referência da expressão “outras
irregularidades”, que seria a falta de condições de trabalho regulares, tais como exames
médicos periódicos, falta de registro em carteira, etc. Os demais estudantes apresentaram
respostas evasivas ou não recuperaram o referente.
Assim foi com Débora (Grupo 2), que escreveu “outras coisas que estão irregular
(sic)”, não esclarecendo a questão. Cláudia (Grupo 3) redigiu que “outras irregularidades”
“se refere ao fato de que, além de estarem sendo submetidos ao trabalho escravo, também
estavam irregulares com todas as outras leis trabalhistas”, mas não explicita quais eram, de
fato, os problemas (citados no texto).
Vinícius (Grupo 1) escreve que “Após analisar outras quatro fazendas, notaram
irregularidades como não depósito de FGTS, contribuição ao INSS e nenhum direito
trabalhista”. Todas essas “irregularidades” são pertinentes à situação, mas não foram
citadas no texto. O estudante fez uma inferência autorizada (elaborativa, além das
conectivas), inserindo em sua resposta Fundo de Garantia por Tempo de Serviço e
contribuição ao INSS, aspectos não mencionados na notícia. Este é um caso interessante,
uma vez que o informante parece ter explicitado seu conhecimento prévio ao responder à
questão para além do que dizia o texto, algo que nem todos os leitores são hábeis para
fazer ou expressar.
Viviane (Grupo 1) escreve que “outras irregularidades quer dizer que, além dos
trabalhadores está (sic) sendo mantidos como escravos, havia outras coisas fora da lei que
caracteriza crime (sic)”, resposta que não explica ou explicita nada. E Maurício (Grupo 2)
explica que “a expressão se refere a falta de procedimentos que um trabalhador precisa para
um melhor desempenho no seu trabalho”. O aluno até “acertou” a resposta, mas não
156
recuperou qualquer referente do texto. Em relação à habilidade em foco, os leitores
parecem mostrar os primeiros sinais de dificuldade.
D2 Danília Daiane Eduardo Keila Maria Regina
impresso +
-
+ +
+
+
digital N - - - + +
QUADRO 9. Acertos e erros dos estudantes em relação ao Descritor 2 em notícias impressas e digitais.
D2 Breno Elizang Jaqueline Lúcia Romena Simone
impresso +
N
+ -
+
+
digital + N + + + +
QUADRO 10. Acertos e erros dos estudantes em relação ao Descritor 2 em notícias impressas e digitais.
D2 Cláudia Daniele Débora Fabrício Maurício Vinícius Viviane
impresso +
+
+ +
+
+
+
digital + + + + + + +
QUADRO 11. Acertos e erros dos estudantes em relação ao Descritor 2 em notícias impressas e digitais.
D2 Graziela Patrícia Rafael Raiane
impresso +
+
+ N
digital + + + N
QUADRO 12. Acertos e erros dos estudantes em relação ao Descritor 2 em notícias impressas e digitais.
7.4.3 Descritor 11: Relação causa/conseqüência entre partes do texto
As questões relativas ao Descritor 11 verificam se o leitor é capaz de relacionar
partes do texto e construir relações de causa e conseqüência. Os estudantes, aqui,
demonstraram um pouco mais de embaraço.
Estado de Minas Questão Resposta sugerida como parâmetro
Inflação em BH é 10
vezes maior
Qual é a relação entre o aumento
do custo de vida em BH e as
férias?
Os gastos com férias concorre, com
outros fatores, para o aumento da
inflação porque passagens, oficinas, etc.
são serviços (e produtos) mais
consumidos..
Zoonoses em más
condições
No parágrafo 4, um agente de
saúde pede para não ser
identificado. Qual é a relação entre
essa atitude e o assunto tratado no
texto?
O agente que o depoimento na
matéria e denuncia as más condições de
trabalho não quer ser identificado para
que não sofra ameaças ou perca o
emprego.
QUADRO 13 Questões do Descritor 11 para o jornal Estado de Minas.
O Tempo Questão Resposta sugerida como parâmetro
Obras na Antônio
Carlos
De acordo com o texto, esta é a
segunda matéria de uma série. De
que outras obras viárias na cidade
esta série poderia tratar?
Obras da Linha Verde, por exemplo.
Trabalho escravo em
Minas Gerais
Qual é a relação entre a Lei Áurea
e assunto do texto?
A Lei Áurea, que aboliu a escravidão no
Brasil, deveria ser cumprida e, até hoje,
é possível encontrar situações de
trabalho escravo no país.
QUADRO 14 Questões do Descritor 11 para o jornal O Tempo.
157
Daiane e Elizangela não responderam à questão sobre inflação em BH. Danília fez
o mesmo em relação à pergunta sobre as más condições do setor de zoonoses (assim como
Elizangela, de novo). Graziela não respondeu à questão sobre a obra viária e Débora não
entendeu a mesma pergunta.
Eduardo (Grupo 1) e Jaqueline (Grupo 3) não deram respostas satisfatórias à
questão sobre a inflação em BH, optando por oferecer explicações vagas: “Maior inflação”
(Eduardo), “Porque a alta no indicador de BH é resultado do que foi citado” (Jaqueline).
Cláudia (Grupo 3) não resposta satisfatória à questão sobre a avenida: “Todas aquelas
que são feitas em vias de tráfego intenso”. Os demais leitores se aproximaram muito ou
citaram nominalmente as avenidas em que obras estavam em andamento, em série
semelhante às da Antônio Carlos.
Quanto às perguntas sobre o agente de zoonoses que não quis ser identificado e a
relação entre o texto do EM e a Lei Áurea, no primeiro caso, todos os estudantes chegaram
à explicação adequada. Keila (Grupo 1) vai além, mencionando, além do medo do agente
de ser demitido, o palpite de que ele deve ser funcionário contratado, e não concursado. No
caso da Lei Áurea, Cláudia (Grupo 3) não chega à principal questão da resposta, dando uma
resposta evasiva; Daniele (Grupo 2) faz o mesmo. Os demais estudantes dão boas respostas,
com destaque para Vinícius (Grupo 1), que complementa (a pontuação é do aluno): “A
relação é que, mesmo após a assinatura da lei Áurea que deu fim ao período de escravidão
no Brasil temos focos de exploração da mão de obra. Escravidão diferente do que
enfrentaram os negros. O empregado fica preso ao seu patrão que não oferece seus direitos
adquiridos pela constituição. Legalmente, juridicamente a escravidão não existe, mas na
realidade em muitos ‘cantos’ de nossa terra querida ela não chegou”.
O Descritor 11 parece oferecer mais dificuldades, que mais alunos deixam de
dar respostas consideradas adequadas às questões, que dependem de mais background do
que as anteriores. É justamente Vinícius (Grupo 1), leitor contumaz e bom “navegador”,
que alcança a melhor explicação.
D11 Danília Daiane Eduardo Keila Maria Regina
impresso +
N
+ +
+
+
digital N - - + - -
QUADRO 15. Acertos e erros dos estudantes em relação ao Descritor 11 em notícias impressas e digitais.
D11 Breno Elizang Jaqueline Lúcia Romena Simone
impresso +
N
+ +
+
+
digital + N + + + +
QUADRO 16. Acertos e erros dos estudantes em relação ao Descritor 11 em notícias impressas e digitais.
1
58
D11 Cláudia Daniele Débora Fabrício Maurício Vinícius Viviane
impresso -
-
- -
-
+
+
digital - - - + + - -
QUADRO 17. Acertos e erros dos estudantes em relação ao Descritor 11 em notícias impressas e digitais.
D11 Graziela Patrícia Rafael Raiane
impresso +
-
+ N
digital + + + N
QUADRO 18. Acertos e erros dos estudantes em relação ao Descritor 11 em notícias impressas e digitais.
7.4.4 Descritor 17: Reconhecer notações
O Descritor 17 do Saeb trata do reconhecimento de efeitos de sentido construídos
a partir de usos da pontuação e do emprego de notações, tais como negrito, itálico,
parênteses e aspas. No caso das notícias de jornal, decidimos pela questão do uso das aspas
como marcação de vozes diferenciadas no texto, especialmente diferenciadas da voz do
narrador do texto, o repórter. Em geral, o emprego das aspas em notícias marca os
depoimentos das fontes, tais como pessoas envolvidas no caso, autoridades, especialistas. É
importante mencionar que, à medida que os testes são feitos, percebe-se que uma
habilidade está vinculada à outra, numa espécie de hipertexto que auxilia muito o leitor na
produção de sentido e na compreensão do texto. A habilidade verificada aqui está
intimamente relacionada, especialmente no caso de notícias, a outras, tais como aquelas
descritas na matriz do Saeb pelos D14 e D21, que são, respectivamente, distinguir fatos de
opiniões e perceber opiniões diferentes no texto.
É o que ocorre nos textos do Estado de Minas e do O Tempo. As respostas
consideradas adequadas eram, para todos os casos, a marcação de depoimentos de fontes ou
a diferenciação da voz do narrador e de outras pessoas, depoimentos, etc.
Estado de Minas Questão Resposta sugerida como parâmetro
Inflação em BH é
10 vezes maior
Nos parágrafos 3, 4 e 6, qual é a
função do uso das aspas?
Marcação de depoimentos de especialistas ou
pessoas envolvidas no problema.
Zoonoses em más
condições
Nos parágrafos 3, 4, 5 e 7, qual é
a função do uso das aspas?
Marcação de depoimentos de especialistas ou
pessoas envolvidas no problema.
QUADRO 19 Questões do Descritor 17 para o jornal Estado de Minas.
O Tempo Questão Resposta sugerida como parâmetro
Obras na Antônio
Carlos
No parágrafo 2, qual é a função
do uso das aspas?
Marcação de depoimentos de especialistas ou
pessoas envolvidas no problema.
Trabalho escravo
em Minas Gerais
Nos parágrafos 3 e 5, qual é a
função do uso das aspas?
Marcação de depoimentos de especialistas ou
pessoas envolvidas no problema.
QUADRO 20 Questões do Descritor 17 para o jornal O Tempo.
159
Dos 11 leitores do Estado de Minas, para o texto sobre a inflação em Belo
Horizonte, 6 responderam corretamente à questão. Regina (Grupo 3) escreveu que “as aspas
são usadas nestes parágrafos para indicar as falas dos pesquisadores França M. de Araújo e
Wanderley Ramalho”, numa demonstração de que sabe exatamente quem fala em que
momento no texto. A estudante fez questão de explicitar até mesmo quem eram os
pesquisadores questionados pelo jornalista. Outros leitores foram menos detalhistas, mas
ofereceram respostas pertinentes, tais como a de Lúcia (Grupo 3), que escreve: “é uma fala
que não é própria do jornalista e sim de outra pessoa”. Tal foi a resposta de grande parte
dos informantes.
Os 5 leitores que não deram respostas satisfatórias incorreram no engano de não
focalizar o ponto correto do uso das aspas, embora pudessem indicar outros usos dessa
notação. Eduardo, por exemplo, sabe que as aspas podem servir para “diferenciar ou
facilitar mais a visualização, e para colocar as coisas em respaldo”, mas não consegue
atingir o objetivo da questão. O que os jornalistas querem, às vezes, é mesmo o respaldo de
um cientista, mas Eduardo (Grupo 1) oferece resposta generalista à questão.
Assim também fazem Breno (Grupo 2) e Keila (Grupo 1). Para o primeiro, as
aspas “são informações, comentários retirados de jornais e revistas”. Para a última, essa
notação é “uma forma de chamar a atenção, algumas vezes são citações diretas, e um modo
de dizer que aquilo não deve ser levado ao da letra, ao extremo”. Ambos os informantes
demonstram algum conhecimento de usos de aspas, mas não citam o emprego pertinente
nos textos em questão.
Danília (Grupo 2) e Simone (Grupo 3) tomam uma outra direção: limitam-se a
explicar os sentidos que podem ter as expressões colocadas entre aspas nos textos. A
primeira registra que “saiu na frente” quer dizer “teve um índice maior”, enquanto a
segunda explica que “inflação não anda”, “mamão não tem sentimentos” e “preços não são
objetos que caem de algum lugar”, numa demonstração de leitura literal das metáforas
empregadas pelo autor da notícia.
Note-se que, mesmo não sendo considerados leitores hábeis em relação a certos
descritores, alguma coincidência entre as estratégias de leitura usadas. Neste último
caso, 2 leitoras partem para explicações literais de expressões entre aspas, enquanto 3
outros leitores preferem explicações generalistas, sem aplicação direta ao texto, mas os
leitores pertencem a vários grupos, de todos os perfis.
Sobre a notícia “Zoonoses em más condições”, 7 leitores do Estado de Minas
identificaram função correta para o emprego das aspas, enquanto outros 4 leitores foram
160
considerados pouco hábeis. Entre estes, Eduardo (Grupo 1) escreve que as aspas servem
para “colocar alguma coisa em observação”, tocando em ponto semelhante ao que havia
respondido quanto ao texto “Inflação de BH é 10 vezes maior”. O estudante confirma, desta
forma, sua dificuldade em relação às aspas.
Keila (Grupo 1) responde que as aspas são “uma citação direta, e textos
importantes para chamar a atenção”, em resposta também semelhante à que oferecia ao
texto anterior do Estado de Minas. A estudante parece manifestar dificuldade no trato com
a notação em foco. Danília (Grupo 2) e Simone (Grupo 3) também demonstram pouca
habilidade na construção de sentido a partir do emprego de aspas em textos jornalísticos.
Ou ao menos não conseguem expressar, nas respostas às questões, sua compreensão dos
usos da notação. A primeira deixa a questão em branco e a segunda apenas diz se tratar de
uma “citação textual”, sem mais explicações.
Os textos do jornal O Tempo, em relação a D17, foram os que mais apresentaram
problemas. Não apenas porque os leitores (ao menos alguns deles) se mostrassem pouco
habilidosos com o reconhecimento de funções das aspas em notícias, mas também porque a
diagramação do texto no jornal impresso promoveu uma confusão justificada para o leitor
pouco letrado, até mesmo no que se poderia chamar de “letramento visual”, absolutamente
necessário para o reconhecimento de hierarquias.
Com relação ao texto sobre as obras na avenida Antônio Carlos, dos 9 leitores de
O Tempo, apenas 2 deram respostas consideradas satisfatórias, apontando o uso de aspas
para marcar depoimentos e vozes diferenciadas da do jornalista. Os demais participantes
ofereceram respostas incorretas, por vários motivos. Uma das estratégias dos leitores foi
considerar que as aspas serviam para resumir a idéia central do texto. Cláudia (Grupo 3),
Débora (Grupo 1), Patrícia (Grupo 1), Viviane (Grupo 1) e Maurício (Grupo 2)
mencionaram resumos e paráfrases como função das aspas.
Os leitores Graziela (Grupo 1) e Fabrício (Grupo 2) foram nitidamente
prejudicados pela inversão da diagramação, que posicionou o texto principal à direita da
folha e o texto secundário, à esquerda, em box, portanto, onde o leitor leria primeiro. Essa
troca de lugar fez com que Graziela e Fabrício lessem o texto secundário como se fosse o
principal e respondessem que “não aspas no parágrafo”. Tal fato, interessantíssimo,
comprova a falta de letramento visual dos informantes, uma vez que a hierarquização da
notícia em relação a suas partes pode ser feita, antes da leitura, a partir da percepção de
fios, fundos, proximidades e outras marcas, mais sutis do que o próprio texto, para indicar o
que deve ser lido e em que ordem. A proposta da diagramação (e jamais apenas do texto e
161
de sua articulação interna) não é obedecida pelo leitor, muito menos quando ele não tem
suas habilidades de leitura desenvolvidas.
Em relação ao texto sobre os trabalhadores em regime de escravidão, dos 9 leitores
de O Tempo, a confusão se desfaz para 6. Apenas 3 confirmam alguma dificuldade em
perceber com clareza o uso de aspas no texto. Débora (Grupo 1) confirma sua pouca
habilidade ao oferecer resposta, mais uma vez, generalista (“porque é uma citação direta”);
Viviane (Grupo 1) explica que as aspas servem para “chamar a atenção para os crimes e
irregularidades que estavam acontecendo naqueles lugares”, confirmando sua percepção
insatisfatória de que as aspas são empregadas para “chamar a atenção”; e Maurício (Grupo
2) escreve que “as aspas servem para enfatizar que é o autor o que está falando”,
demonstrando seu equívoco em relação às marcações de gerenciamento de vozes em textos
de notícia.
D17 Danília Daiane Eduardo Keila Maria Regina
impresso -
-
- -
+
+
digital N + - + + +
QUADRO 21. Acertos e erros dos estudantes em relação ao Descritor 17 em notícias impressas e digitais.
D17 Breno Elizang Jaqueline Lúcia Romena Simone
impresso +
N
+ +
+
-
digital - N + + + -
QUADRO 22. Acertos e erros dos estudantes em relação ao Descritor 17 em notícias impressas e digitais.
D17 Cláudia Daniele Débora Fabrício Maurício Vinícius Viviane
impresso +
+
+ +
-
+
-
digital - + - - - + -
QUADRO 23. Acertos e erros dos estudantes em relação ao Descritor 17 em notícias impressas e digitais.
D17 Graziela Patrícia Rafael Raiane
impresso -
-
+ N
digital + + + N
QUADRO 24. Acertos e erros dos estudantes em relação ao Descritor 17 em notícias impressas e digitais.
7.4.5 Sumarização: habilidade de compreensão global
Analisando a matriz de Língua Portuguesa do Saeb, consideramos problemática a
ausência de um descritor que verificasse a habilidade de compreensão mais global do texto,
qual seja, a sumarização. Em se tratando de uma notícia que continha uma narrativa
jornalística, com fatos e personagens, era, para nós, necessário acessar a habilidade que os
estudantes apresentariam da forma como recuperariam o “fio” do texto. Foi por essa razão
que propusemos, fora das matrizes, a solicitação de um resumo da notícia aos leitores. A
habilidade que queríamos verificar, no entanto, está intimamente relacionada a alguns
162
descritores mais específicos, quais sejam: D5, D6, D7, D8 e D9. Estes descritores tratam de
habilidades tais como identificar o tema e a tese de um texto, sendo capaz de distinguir
argumentos e/ou perceber partes secundárias e partes principais. Outra habilidade
importante era a de interpretar o texto com o auxílio de material gráfico como fotos,
quadros, etc. Embora não se mencione, por “material gráfico” deveríamos entender,
também, a disposição escolhida para apresentar os textos, ou seja, o projeto gráfico segundo
o qual o texto é apresentado. Um dos aspectos que dificultaram o bom desempenho de
alguns alunos foi justamente o fato de eles saberem ler “só texto”.
Estado de Minas Questão Resposta sugerida como parâmetro
Inflação em BH é
10 vezes maior)
Faça um resumo
desta notícia.
A inflação de Belo Horizonte é considerada alta no segundo
semestre. As razões disso são várias, entre elas o período de
férias, em que os consumidores consomem viagens e passeios.
Alimentos também aumentam a inflação, especialmente a alta
de preço do mamão papaya. Especialistas dizem que a inflação
em BH apenas adiantou algo que ocorrerá em várias capitais..
Zoonoses em más
condições
Faça um resumo
desta notícia.
O setor de zoonoses de algumas regionais da Prefeitura de Belo
Horizonte passa por momento difícil, oferecendo más condições
de trabalho aos funcionários, que são, em grande parte,
contratados. Haveria licitações para a concorrência entre
empresas que poderiam resolver o problema.
QUADRO 25 Questões que exigiam sumarização para o jornal Estado de Minas.
O Tempo Questão Resposta sugerida como parâmetro
Obras na Antônio
Carlos
Faça um resumo
desta notícia.
Os pedestres sofrem com as obras da avenida Antônio Carlos.
Um dos principais problemas é a falta de segurança para quem
anda a pela via, próximo às obras. No texto secundário,
informações sobre o histórico do projeto de ampliação da
avenida.
Trabalho escravo
em Minas Gerais
Faça um resumo
desta notícia.
A Delegacia Regional do Trabalho, após denúncia, encontrou,
no norte de Minas, trabalhadores vivendo como escravos.
Embora haja fiscalização, o problema persiste.
QUADRO 26 Questões que exigiam sumarização para o jornal O Tempo.
A maioria dos estudantes mostrou-se hábil para produzir resumos das notícias, no
entanto, foi notável a diferença entre sumarizações em que o leitor reformulava a macro-
estrutura textual, mostrando-se capaz de fazer inferências e, de fato, compreender o texto,
desde os domínios mais baixos até os mais altos, até aquelas sumarizações em que o leitor
não conseguia se descolar de repetições literais (ou quase) do texto original.
Provavelmente, a cópia do texto e sua simples edição foram estratégias utilizadas pelos
estudantes, conforme prática comum entre eles.
Novamente, Danília e Elizangela não deram resposta às questões sobre os textos
do Estado de Minas. Todos os leitores de O Tempo, impresso e digital, deram respostas.
163
Eduardo (Grupo 1) fez um resumo exageradamente conciso, que não nos pareceu
satisfatório: “Inflação em Belo Horizonte está maior de novo”. Trata-se, quase, da
manchete da notícia. Romena (Grupo 2), que oferece uma das melhores sumarizações,
ainda assim parece se distanciar do texto e partir para uma formulação própria apenas no
final: “Através de pesquisas realizadas pela IPC-S e pela IPCA chegou-se a conclusão que
Belo Horizonte se tem o custo de vida mais alto do país. E isso se deve principalmente aos
alimentos in natura como mamão, por exemplo. É feito (sic) vários observações por parte
da direção e supervisão das fundações”. Tanto na interface impressa quanto na digital, o
desempenho dos leitores se mostrou semelhante.
A notícia do EM sobre o setor de zoonoses da Prefeitura de BH gerou bons
resumos. Eduardo (Grupo 2), mais uma vez, ofereceu uma espécie de manchete: “Saúde
dos agentes em ameaça por más condições de trabalho”. Lúcia (Grupo 3) e Keila (Grupo 2)
propõem bons resumos, bastante reformulados e concisos, ao contrário dos demais
estudantes, que copiam trechos, os colam a outros e utilizam palavras que provavelmente
não empregariam em textos de fato autorais. Romena (Grupo 2) apresenta bom resumo,
finalizado com inferências mostradas em questões anteriores: “Os agentes aceitam dar a
entrevista mas pedem para não serem identificados com medo de serem demitidos. Foi
repassado o problema para a secretaria Municipal onde o mesmo ficou de solucionar o
problema”. Afinal, o que é o resumo para estes jovens oriundos do ensino médio? O
resumo é um nero que vem sendo estudado pela lingüística textual, mas, foge ao escopo
deste trabalho, razão pela qual não focalizaremos o assunto.
Os textos do jornal O Tempo têm bons resumos produzidos, principalmente, por
Cláudia (Grupo 3) e Fabrício (Grupo 2). Os estudantes Daniele (Grupo 2), Maurício (Grupo
2), Patrícia (Grupo 1) e Viviane (Grupo 1) apresentaram sumarizações invertidas, conforme
indução da diagramação do jornal. Informações dadas no box secundário em relação ao
texto da notícia foram priorizadas no resumo. Isso nos parece um problema de duas faces:
os leitores não têm letramento suficiente para perceber, por meio de indícios da expressão
gráfica da página, o que é principal e o que é secundário no texto. Já o jornal não oferece
uma interface amigável ao leitor. Tal ocorrência teve lugar para aqueles que tiveram
contato com o jornal impresso, em algum momento. Leitores da mesma notícia digital não
teriam dificuldade de hierarquizá-la, uma vez que o texto secundário viria no da página,
visualizado pelo rolamento da barra lateral do navegador, e não em outra disposição.
Leitores em contato com a notícia sobre trabalho escravo apresentaram boas
propostas de resumo. Aqui, é possível notar alguma correlação entre o grupo (leitores de
164
jornal impresso) e o desempenho na sumarização, conforme exemplos: Graziela (Grupo 1)
foi a estudante mais concisa, propondo o seguinte: “Esta reportagem conta a história de um
grupo de trabalhadores que estavam sendo mantidos como escravos por fazendeiro”. Muito
diferente de Patrícia (Grupo 1), que começa sua resposta pela abolição da escravatura.
A maioria dos estudantes deu como tópico mais importante a existência de
homens trabalhando em regime escravo, numa espécie de “pirâmide invertida”. Outros
preferiram considerar tópico a prisão do fazendeiro criminoso. Essas mudanças passam pela
compreensão do texto e pela intervenção que o leitor faz no que leu. A exemplo de Graziela
(Grupo 1), Viviane (Grupo 1) também mescla às informações suas impressões sobre o caso:
“Depois da assinatura da lei Áurea, ainda temos casos de escravidão no Brasil. Mesmo
sendo considerado crime, muitos fazendeiros opitam (sic) por tentar burlar a fiscalização e
continua (sic) tratando empregados como escravos”. Quanto mais números e detalhes os
leitores fornecem em seus resumos, mais próximos ficam da cópia. Grande parte das vezes,
no entanto, fazem boas propostas de sumarização, que podem ser percebidas por meio da
seleção de palavras que substituem trechos do texto (e às vezes qualificam a informação),
por opiniões, por mudanças de foco, etc.
O caso dos resumos do texto sobre escravidão é bastante diverso do caso do texto
sobre a obra viária, ambos descritos anteriormente. O primeiro mostra a ênfase que o leitor
dá a algum aspecto da notícia, mantendo, no entanto, a hierarquia adequada às informações.
O segundo caso mostra como a permeabilidade entre diagramação e texto pode atrapalhar a
leitura, de maneira que o leitor passe a dar a fatos secundários valor de informação
primeira, embora ela continue não sendo a principal. O leitor que não consegue ler
desconsiderando pistas erradas da diagramação parece também o mais colado ao texto
original.
Os resumos produzidos pelos alunos foram considerados, neste trabalho, um meio
de avaliarmos a compreensão global que cada leitor tinha do texto de notícia lido. Nossa
avaliação utilizou critérios como: a) se as linhas principais da narrativa do texto original
apareciam no resumo; b) se o estudante distinguia elementos principais de secundários; c)
se a hierarquia das informações do resumo vinha “colada” ao texto original ou se havia
melhor elaboração; d) se havia pertinência entre o lido e o texto (ausência de “achismos”,
opinião pessoal, tendência à digressão).
165
Resumo Danília Daiane Eduardo Keila Maria Regina
impresso N
F
F MB
MB
B
digital N B F MB MB MB
QUADRO 27. Avaliação do Resumo de notícias impressas e digitais.
Resumo Breno Elizang Jaqueline Lúcia Romena Simone
impresso B
N
MB F
MB
B
digital F N B F F F
QUADRO 28. Avaliação do Resumo de notícias impressas e digitais.
Resumo Cláudia Daniele Débora Fabrício Maurício Vinícius Viviane
impresso MB
B
F B
F
MB
F
digital B B B B F MB F
QUADRO 29. Avaliação do Resumo de em notícias impressas e digitais.
Resumo Graziela Patrícia Rafael Raiane
impresso B
F
B N
digital F B F N
QUADRO 30. Avaliação do Resumo de em notícias impressas e digitais.
Os quadros oferecem melhor visualização do desempenho dos estudantes para
todos os descritores do Saeb, em jornais impressos e digitais, ou os mesmos estudantes nos
dois ambientes, em textos diferentes, por grupos separados de acordo com a leitura de uma
ou de outra notícia. Como se vê, os grupos não apresentam, nem internamente nem quando
comparados a outros, desempenhos estáveis ou padronizados de acordo com o ambiente de
leitura ou com o fato de terem declarado um ou outro perfil. O que parece, efetivamente,
estar em jogo é a dificuldade de ler o texto, ou seja, as habilidades para ler textos noticiosos
foram menos ou mais desenvolvidas, conforme o leitor e o texto, numa correlação mais
forte do que outras, tais como leitor x ambiente ou leitor x perfil declarado de leitura. O
quadro a seguir mostra o desempenho de todos os leitores nas duas notícias, em ambiente
impresso e digital.
166
Leitor(a)
D1 D2 D11 D1
7
Res
Breno + + + - F
Breno + + + + B
Débora + + - - B
Débora + + - + F
Eduardo - - - - F
Eduardo + + + - F
Elizângela N N N N N
Elizângela N N N N N
Fabrício + + + - B
Fabrício + + - + B
Graziela + + + + F
Graziela + + + - B
Keila + - + + MB
Keila + + + - MB
Patrícia + + + + B
Patrícia - + - - F
Raiane N N N N N
Raiane N N N N N
Vinícius + + - + MB
Vinícius + + + + MB
Viviane + + - - F
Viviane + + + - F
QUADRO 31: Desempenho do leitor por descritor em notícia impressa e digital.
167
Leitor(a)
D1 D2 D11 D17 Res
Daniele + + - + B
Daniele + + - + B
Danília - + + - N
Danília N N N N N
Maurício + + - - F
Maurício + + + - F
Rafael + + + + B
Rafael + + + + F
Romena + + + + MB
Romena + + + + F
Leitor(a)
D1 D2 D11 D17 Res
Cláudia + + - + MB
Cláudia + + - - B
Daiane - - N - F
Daiane + - - + B
Jaqueline + + + + MB
Jaqueline + + + + B
Lúcia + + - - F
Lúcia + + + + F
Maria + + + + MB
Maria - + - + MB
Regina + + + + B
Regina + + - + MB
Simone + + + + F
Simone + + + - F
QUADRO 33: Desempenho do leitor por descritor em notícia impressa e digital.
Os dados gerados pelas leituras dos estudantes parecem sugerir que a diferença de
desempenho de leitura não está relacionada ao contato com os textos em ambiente impresso
ou digital. O fator que parece preponderante é a dificuldade oferecida pelo texto, pelo
reconhecimento de aspectos lingüísticos e pela composição das notícias, pela composição
dos textos nas páginas, especialmente dos impressos, e pelo letramento maior ou menor dos
estudantes, algo muito anterior à experiência recente deles em leituras hipertextuais
digitais. Leitores que declaravam uma experiência de letramento mais densa, mais próxima,
apresentaram desempenho melhor na navegação dos objetos de ler e se mostraram mais
168
hábeis na leitura, conforme os descritores do Saeb. Os leitores com melhor desempenho no
alinhamento dos testes se encontram mais entre aqueles que declararam já acumular certa
experiência com interfaces impressas do que os outros. O quadro a seguir oferece melhor
visualização do desempenho de cada estudante em relação à leitura dos textos. Não parece
haver consistência entre o que eles dizem em relação aos próprios hábitos de leitura e o que
demonstram em relação às habilidades de ler textos noticiosos. Os hábitos de leitura e os
trajetos de navegação que escolhem percorrer também não estão diretamente relacionados.
É possível, no entanto, divisar certa consistência se compararmos as habilidades de leitura e
de resumo que estes estudantes demonstram nos testes.
Essas comparações trazem à tona casos interessantes. Vamos, então, a alguns
deles, que nos pareceram merecedores de nota.
7.4.6 O caso Vinícius
O trajeto de leitura percorrido pelo estudante Vinícius permite que se visualize um
alinhamento entre o que ele declara em seu perfil de leitor: 25 anos, adora ler, diz que
aprende muito com a leitura e acredita que seja possível “conhecer todos os cantos do
mundo” por meio da prática leitora freqüente. Lia livros no dia da pesquisa e nos meses
anteriores à aplicação dos testes. Levou pouco mais de 1 minuto para fazer a trajetória
mosaiquica proposta pelo jornal impresso e pouco mais de 2 minutos para ler a notícia
digital. Embora não fosse um expert em nomenclatura de equipamentos informáticos,
mostrou-se capaz de um protocolo verbal detalhado e consciente de suas ações. As questões
de leitura baseadas nos descritores do Saeb mostraram, mais uma vez, que Vinícius apenas
completava sua trajetória de leitor habilidoso. Apenas para o Descritor 2 Vinícius parece ter
apresentado alguma dificuldade. Mesmo trabalhando contra a diagramação do jornal O
Tempo, na notícia impressa que induzia à hierarquização equivocada das informações,
Vinícius mostrou a compreensão pertinente do texto. O trajeto que percorreu entre páginas
iniciais e texto foi estratégico em relação aos indícios projetados pelos jornais.
7.4.7 Os casos Maria e Regina
Os trajetos de leitura percorridos por Maria e Regina são menos esclarecedores em
relação às variáveis que fazem um leitor ter bom desempenho na leitura integral de um
objeto. Maria, 27 anos, estava no grupo considerado de não-leitores de jornal. Em suas
declarações, diz não ler jornais, mas se considera leitora de outros objetos. Gastou
169
aproximadamente 2 minutos para cumprir suas tarefas impressa e digital e teve seu
desempenho considerado satisfatório.
Assim também é com Regina, 30 anos, do terceiro grupo, que propôs boas
respostas nos testes de leitura das notícias impressa e digital do jornal Estado de Minas. A
estudante disse não ter o hábito de ler, mas levou menos de 1 minuto para cumprir sua
tarefa de ler notícia impressa e também menos de 1 minuto para chegar à notícia digital do
EM.
Tanto Regina quanto Maria fizeram um protocolo razoavelmente estratégico. A
primeira conhecia, afinal, a composição do jornal impresso em editorias. No digital,
escaneou a página e logo encontrou o link solicitado. Maria também utilizou a estratégia de
escanear página no impresso e, no digital, embora tenha se perdido ao usar a máquina de
busca, logo resolveu o problema retornando à home, escaneando editorias e clicando
naquela que considerou mais pertinente.
7.4.8 Os casos Eduardo, Viviane e Patrícia
Os itens de leitura sobre os textos de jornal apontaram que Eduardo, Viviane e
Patrícia mostravam poucas habilidades leitoras, especialmente em relação aos descritores
11, 17 e à sumarização.
Eduardo, 25 anos, estava no grupo 1, de leitores de impressos, e se dizia leitor de
bons jornais e de livros. Percorreu um protocolo de leitura paramétrico, com escaneamento
de PP, verificação de numeração e leitura. No jornal digital, mostrou-se também
conhecedor de uma seqüência eficiente. Na leitura propriamente do texto, no entanto, não
conseguiu bons resultados. O estudante navega bem, mas não com o mesmo
desempenho.
Patrícia, 25 anos, também do grupo 1, se dizia leitora freqüente de jornais, revistas
e livros. Gastou pouco tempo para cumprir os trajetos e encontrar as notícias que
solicitamos. Em ambos os casos, a leitora partiu do escaneamento da página e da procura
por editorias. Apesar dessa bem-sucedida busca pelas notícias, Patrícia apresentou
problemas com várias habilidades de leitura, com reincidência em algumas delas e a
demonstração de que pode operar a interface, mas não completa um circuito de leitora
habilidosa.
Viviane, 25 anos, grupo 1, faz diferente. Não encontra a notícia impressa solicitada
pelas pesquisadoras e entra no jornal digital pelas editorias. Compara o jornal em que
navega com um outro de papel, onde pensa ter mais sucesso nas buscas. Seu insucesso nos
170
protocolos de leitura parece se alinhar aos problemas para ler os textos propriamente ditos.
Neste caso, a relação entre operação de interface e leitura (compreensão do texto) parece
muito permeável.
Os três estudantes, embora se declarassem leitores de jornais e outros objetos de
ler, pareciam não ser leitores habilidosos dos textos, embora pudessem se mostrar bons
navegadores, inclusive rápidos e eficazes em suas buscas pelas notícias. Quando se
deparavam com elas, no entanto, não mostravam leitura compreensiva do texto.
7.4.10 Os casos Fabrício e Graziela
Os estudantes Fabrício e Graziela demonstraram uma relação de alta
permeabilidade entre o que viam (a diagramação do jornal impresso) e o que liam
(entendiam), ou seja, a permeabilidade entre as legibilidades (dos designers e dos
lingüistas, digamos assim). Os dois leitores acusam, na questão sobre D17 (uso de
notações) que não existem aspas no texto, claramente indicando que haviam lido o texto
secundário antes ou de forma mais atenciosa do que o texto principal. Isso ocorreu,
certamente, porque a diagramação do jornal posicionava um box (texto secundário) à
esquerda da página impressa, primeira posição de leitura (no ocidente). Fabrício e Graziela
“colaram-se” à posição dada pelo projeto gráfico e não observaram as aspas no texto
principal, que sequer perceberam como tal.
A confirmação dessa leitura foi dada na questão de sumarização, em que Fabrício
propôs um resumo do texto sobre obras na Antônio Carlos em que a ordem das informações
apareceu invertida, ou seja, o que era secundário na notícia vinha primeiro no resumo do
aluno. Diferentemente, Graziela, que também não identificara as aspas, integrou melhor a
notícia e foi capaz de propor um resumo reorganizado.
O que nos interessa aqui é a percepção de que o leitor pouco experiente (perfil de
ambos os alunos) pode não solucionar problemas de leitura do texto, não apenas em seu
“estrato lingüístico”, mas também na camada visual da notícia. Isso também está
relacionado ao letramento. A ação de detectar e ler a apresentação problemática de um
texto, superando o problema encontrado, pode passar quase desapercebida pelo leitor
experiente. No caso de Fabrício, a compreensão foi afetada pela forma do que ele lia, neste
caso, de forma apenas invertida, em outros casos, quiçá, de maneira inadequada. Leitores
mais letrados talvez atuem melhor no jogo entre forma e conteúdo.
171
7.4.11 O caso Simone
Simone, 31 anos, cumpriu os protocolos de navegação sem qualquer intimidade
com os objetos que lia. A certa altura, confessou jamais ter lido um jornal impresso na vida.
Chegou a perguntar o que eram os cadernos, que, para ela, pareciam vários jornais juntos.
Desconhecendo a composição mosaiquica do jornal e da capa, conseguiu encontrar a
notícia solicitada pelas pesquisadoras porque obteve nossa ajuda. Folheou o material até
encontrar um texto sobre zoonoses. Não sabia que os jornais têm indicação de página e
disse: “É complicado olhar jornal, né?”.
Na lida com o jornal digital Estado de Minas, considerado, segundo nossos dados,
de mais fácil manipulação do que o jornal O Tempo, Simone demonstra menos dificuldade.
Sabe escanear, clicar e ler o texto. A despeito de toda a dificuldade para operar com o
material hipertextual que tinha diante de si, a estudante teve bom desempenho nas questões
baseadas na matriz do Saeb. Apesar da sumarização das notícias considerada fraca, Simone
não apresenta baixo aproveitamento nas habilidades verificadas.
Parece-nos que, neste caso, haja certo divórcio entre o texto e a materialidade em
que ele está inscrito. Mesmo que Simone não conheça um jornal, pode ler um texto isolado
satisfatoriamente.
7.5 Os protocolos de leitura e os descritores do Saeb
Assim como é preciso considerar uma faixa possível de respostas a questões de
leitura para que possamos enquadrar os leitores e suas respostas, é necessário propor
parâmetros de utilização melhor do objeto de leitura. Como se viu, a expressão gráfica
deles interfere na leitura e altera a compreensão dos textos. No entanto, onde se ensina
alguém a ver os textos, além de lê-los? Quem desenvolve no leitor essa habilidade?
Os descritores do Saeb têm como alvos determinadas habilidades de leitura. Os
leitores se mostram menos ou mais amadurecidos quanto a elas. Assim também é em
relação aos trajetos de leitura propostos pelas interfaces. A organização dada pelos jornais
às páginas não é fortuita. E o leitor precisa saber lidar com isso. No entanto, modos de
fazer diferenciados. Aqui, é possível observar comportamentos variáveis: escanear a
primeira página ou a página inicial é um deles. O leitor, no entanto, parece considerar as
editorias um atalho por onde encontrar mais rapidamente as notícias. Especialmente se tem
um objetivo bem discriminado. Se o leitor estivesse lendo a esmo, provavelmente preferiria
folhear e deixar-se levar pelo sabor dos assuntos que lê ou que não deseja ler.
172
O objetivo da leitura pode alterar o protocolo que o leitor se propõe.
Provavelmente, alterará também o modo como compreende o texto, que dará ênfase a
informações diferentes, de acordo com o que deseja. Em nosso caso, o objetivo estava
posto, o leitor tinha diante de si um jornal, duas plataformas, e precisava cumprir uma
tarefa. Precisávamos de parâmetros, e eles foram dados.
Era preciso conhecer um trajeto de leitura de jornais. Mesmo que declarassem que
não, a maior parte dos nossos estudantes conhecia interfaces mosaiquicas. A maioria
também sabia ler notícias e as compreendia razoavelmente, com algumas habilidades mais
desenvolvidas do que outras. Por que razão o descritor 17 e a sumarização pareceram mais
difíceis de cumprir? Ao que tudo indica, estamos diante de problemas de letramento tanto
em relação ao desenvolvimento de habilidades específicas, quanto à operação com os
objetos de ler. Isso ocorre particularmente em alguns casos, mas não é verdade que alunos
que se declaram leitores tenham conseguido alinhar completamente o que dizem e o que
fazem. Assim como alunos declarados pouco leitores puderam ir bem nos testes de
navegação e leitura.
O que o leitor diz é válido? Por que um leitor se declararia contumaz consumidor
de livros? Por razões discutidas na sociologia da leitura e razoavelmente conhecidas. Ser
leitor é louvável. No fundo, o que o estudante sente é que precisa parecer leitor, mesmo que
ele não seja. Em nossos testes, pudemos perceber certo desalinhamento entre os discursos
sobre a leitura e o que, de fato, ela mostra. Testes de navegação podem mostrar um bom
caçador de trilhas, mas não necessariamente apresenta ao pesquisador o leitor habilidoso na
compreensão do que lê. Se os dados do INAF são confiáveis, e parece que são, o Brasil
conta 2/3 de população alfabetizada, mas não letrada. Esses mesmos 2/3 não são capazes de
entender textos curtos. Se é assim, parece que estamos diante de pessoas que aprendem a
operar máquinas e sistemas, do ponto de vista da navegação, mas que não se apropriam
devidamente do que lêem lá. Ou o contrário, também embaraçoso: pessoas que lêem bem,
mas não sabem como acessar textos. Dois problemas que se parecem um.
Os quadros a seguir ajudam a visualizar os trajetos de leitura de todos os
participantes, desde o perfil declarado de leitor até a compreensão resumida das notícias de
jornal. Por intermédio dele, é possível acompanhar trajetórias de estudantes que apresentam
desalinhamentos entre o que declaram em relação a seus hábitos de leitura e o que
demonstram em testes de navegação e de leitura, como é o caso de Débora. Felizmente, tal
desalinhamento parece ocorrer mais entre estudantes que se declararam pouco leitores, mas
mostraram algum conhecimento de navegação e leitura.
173
É possível também, por meio dos quadros, perceber desalinhamentos entre
navegação e leitura. Alguns alunos se declaram leitores, encontram meios razoavelmente
eficientes de navegar por interfaces de jornais, mas não se mostram leitores com muitas
habilidades desenvolvidas, ao menos em relação a alguns descritores do Saeb. Outros
estudantes se declaram leitores e se mostram habilidosos quanto à leitura do texto, sem
saber muito bem como navegar de forma mais eficaz. Ao que os dados indicam, estes
estudantes têm lidado com objetos de ler sem completar circuitos importantes para um
letramento mais completo. Lêem sem navegar, navegam ser ler, dizem-se leitores ou
declaram-se maus leitores, agem de forma diferente do que declaram. Para Chartier (1998,
por exemplo), a forma material do objeto de ler interfere na maneira como se lê. O caso de
nossos estudantes parece ser típico: leitores que não percorrem protocolos completos,
portanto, podem apresentar leituras frágeis, afetadas pela trajetória mal compreendida.
Leituras consideradas fracas, no entanto, não mostraram relação direta com o fato de não
saber navegar. O fato de saber navegar, de outro lado, não se correlaciona diretamente com
o fato de não se poder ler corretamente um texto, embora essas relações pareçam não
autorizar fórmulas ou categorias rígidas de comportamento leitor.
174
Nome Perfil de leitor Trajeto de navegação Leitura
Breno Não gosta de ler,
leitor de jornais
às vezes.
Bom, com escaneamento no
impresso e editorias no digital.
Sumarização razoável e falha
em D17.
Danília Não tem hábito
de ler.
Escaneamento no impresso; busca
e, diante de problemas e desiste.
Não respondeu às questões.
Daiane Tem hábito de
ler.
Escaneamento e folhear no
impresso; editorias no digital.
Sumarização razoável e
problemas com D2 e D17.
Eduardo Jornais
impressos, livros.
Bom, com escaneamento, no
impresso; Bom, com escaneamento,
no digital.
Sumarização fraca, com
problemas em D17.
Elizângela Leitora de jornais
impressos talvez.
Não gosta de ler.
Bom, com escaneamento nos dois
ambientes.
Não respondeu aos testes.
Jaqueline Não tem hábito
de ler.
Escaneamento e editorias, no
impresso; editorias no digital.
Boa sumarização e bom
desempenho em todos os D.
Keila Jornais
impressos com
freqüência.
Bom, por editorias, no impresso;
Bom, por editoriais, no digital.
Boa sumarização, bons
resultados, com problema em
D15 e D17.
Lúcia Não tem hábito
de ler.
Escaneamento no impresso;
escaneamento no digital.
Sumarização fraca, bons
resultados, menos em D2.
Maria Não jornais,
mas outros
objetos.
Escaneamento no impresso;
Editorias no digital.
Boa sumarização e problemas
com D1.
Regina Não tem hábito
de ler.
Editorias nos dois ambientes. Boa sumarização e bons
resultados em todos os D.
Romena Tem hábito de
ler.
Escaneamento nos dois ambientes. Sumarização fraca, bons
resultados nos D.
Simone Não tem hábito
de ler.
Folhear no impresso; Escaneamento
no digital.
Sumarização fraca e bons
resultados D.
QUADRO 31. Quadro geral para visualização do cruzamento entre perfil de leitor, trajeto de navegação e
habilidades de leitura..
175
Nome Perfil de leitor Trajeto de navegação Leitura
Cláudia o tem hábito de
ler.
Editorias no impresso e no digital. Boa sumarização, problemas
com D15 e D17.
Daniele Lê pouco. Escaneamento no impresso, sob
dificuldade; busca e, depois de
encontrar problemas,
escaneamento.
Sumarização razoável e
problemas com D15.
Débora Leitora de livros e
jornais impressos.
Folhear. Sumarização fraca, problemas
em D2.
Fabrício Leitor de jornais
impressos, mas não
hábito de ler livros.
Demorado. Escaneamento
desatento e editorias no impresso.
Escaneamento e editorias no
digital.
Sumarização fraca. Problemas
em D17.
Graziela Lê pouco. Escaneamento no impresso; Busca
e editorias no digital.
Sumarização razoável,
problemas em D17.
Maurício Lê pouco. Editorias no impresso;
escaneamento no digital.
Sumarização fraca, problemas
em D17.
Patrícia Leitora de livros,
revistas e jornais.
Folhear no impresso; Editorias no
digital.
Sumarização fraca. Problemas
em D15 e D17.
Rafael Gosta de ler e procura
se informar.
Escaneamento no impresso;
Editorias no digital.
Sumarização razoável. Bons
resultados nos D.
Raiane Leitora de jornais
impressos e diz que
gosta de ler.
Folhear no impresso; busca e
editorias no digital.
Não respondeu às questões.
Vinícius Leitor de jornal
impresso, adora ler.
Bom, com escaneamento nos dois
ambientes.
Boa sumarização e boas
respostas.
Viviane Não gosta de ler.
Leitora de jornais
impressos.
Folhear no impresso; Editorias no
digital.
Sumarização fraca e problemas
em D15 e D17.
QUADRO 32. Quadro geral para visualização do cruzamento entre perfil de leitor, trajeto de navegação e
habilidades de leitura..
7.6 Estes leitores e “os outros” leitores
Na dissertação defendida em 2003 (RIBEIRO, 2003a), não mostrávamos tantas
etapas de pesquisa quanto agora e os dados foram gerados a partir de testes com um grupo
de 4 leitores. O perfil daqueles indivíduos era bastante diverso do perfil dos 23 estudantes
que temos aqui (ou mesmo dos 144 pré-selecionados). Contávamos com a participação,
naquela época, de leitores contumazes, cujas profissões estavam, de alguma forma,
relacionadas aos atos de ler e escrever, todos com formação superior e alguns em cursos
pós-graduação.
Os leitores C, S, L e J também responderam a breves questionários para apreensão
de seus perfis, navegaram em jornais impressos e digitais (Hoje em Dia e Folha de S.Paulo,
também avaliados em relação à usabilidade), forneceram protocolos verbais (apenas em
áudio) e responderam a questões sobre os textos lidos (notícias, na época, sobre política e
eleições). Tais questões não estavam baseadas em matrizes de habilidades e a teoria que as
sustentava era a Teoria da Relevância, de Sperber e Wilson (1986). Os critérios de
176
usabilidade eram em menor quantidade e os jornais eram bastante parecidos com os de
hoje. Todos eram leitores contumazes, consumidores de livros, leitores de jornais, usuários
da Internet, que acessavam em casa e no trabalho. Papel e tela eram ambientes com os quais
tinham muita intimidade.
Estes leitores geraram navegações rápidas e eficazes, além de testes de leitura em
que todas as questões tinham respostas satisfatórias. Mesmo quando, na navegação de
mídias mosaiquicas impressas, mostravam-se inseguros, tinham consciência em relação às
ancoragens que deveriam fazer. Suas experiências de letramento (inclusive digital)
emergiam também em novas experiências, que eram logo incorporadas, como se percebe no
relato a seguir:
Bom, primeiro então eu vou abrir aqui o jornal para ver a primeira folha todinha. eu
vou ler todas as manchetes aqui da... vou passar o olho nas manchetes da primeira folha
para tentar ver se eu já acho aqui. // Aí eu achei. Aí eu vejo em que página que está falando
dessa notícia... escrito “página esp. 1”. Eu não conheço essa numeração aqui da Folha
então eu não sei o que que é essa “página esp.”, mas pela minha experiência de leitura no
Estado de Minas, imagino que seja neste primeiro caderno mesmo. // Mas só que... abrindo
aqui o jornal, achei outro caderno que é especial de eleições, então vou olhar nele
primeiro. eu achei aqui na primeira folha desse caderno a notícia. (S, no jornal
impresso Folha de S.Paulo)
J, assim como outros leitores, conhece o jargão dos jornais e gera um protocolo
cheio de palavras especializadas.
Tá. Já achei aqui este lead na capa, na primeira página, página esp 1. O que que isso? Não
sei o que que é esp 1. Vamos atrás do esp 1. Deve ser no caderno de eleições. Especial, sei
lá. Tá. aqui na primeira página do caderno Eleições: “Candidato do PPS cita Jesus
para atacar Serra”, é isso? (J, no jornal impresso Folha de S.Paulo)
C, S, L e J não se sentem intimidados com jornais, demonstram conhecer sua
arquitetura hipertextual, inferem posicionamentos de matérias e tecem críticas às formas de
ler no papel e na tela, inclusive mencionando tipos e corpos de fontes, serifas,
entrelinhamentos e a relação entre a mancha e o branco da página.
O que de diferente entre os 4 leitores de 2003 e os 23 leitores de agora? Em
relação aos perfis, diferenças na escolaridade, nas áreas de atuação, que certamente
influenciam no grau de intimidade que demonstram em relação à leitura e à escrita.
Também diferenças de hábito, tais como o fato de uns lerem todos os dias, vários
objetos, e outros, não. O mesmo em relação ao contato com textos em tela de computador.
No entanto, não se pode dizer que uns sejam melhores do que outros. Pode-se
dizer que tenham letramentos muito diferentes, inclusive o digital. Mais do que isso, que
177
sejam diferentes na relação que estabelecem com os objetos de ler e que seus históricos de
leitores sejam bastante diversos, inclusive em relação à experiência acumulada e às
oportunidades de contato. Leitores que percorrem todo o trajeto complexo da leitura, desde
o contato inicial com o objeto de ler, até a percepção de seus protocolos e a efetiva leitura
do texto (com ativação de todas as habilidades sobrepostas), são nossos leitores ideais.
Embora reconheçamos que leitores que podem ler bem sem mostrar os melhores
desempenhos na manipulação do objeto (mesmo mediada por um dispositivo), defendemos
que seja necessário o desenvolvimento de habilidades relacionadas, embora distintas, em
“domínios” diferentes de ação para ler, confluentes, no entanto. É essa convergência de
“ações para ler” que compõe um leitor ideal. E não “ideal” no sentido de idealizado, mas
um leitor plausível, viável mesmo para a formação letrada escolar.
Entre os 23 leitores que participaram dos testes desta tese, ainda subdivisões
conforme o grau de letramento, as agências em que foram letrados para um ou outro tipo de
texto, considerando gêneros textuais e suportes com os quais tiveram contato. Nossa
divisão em grupos partiu das declarações de cada leitor a respeito de seus hábitos em
relação à leitura de jornais, mas poderia ter partido de outros itens do perfil dos estudantes.
Parecia-nos, todavia, interessante distinguir aqueles que se disseram leitores e percorrer, a
partir daí, uma trilha em que observássemos os desempenhos desses grupos (leitores de
jornais impressos, de digitais e não-leitores) quanto à navegação dos jornais e quanto às
habilidades de leitura propriamente ditas, em contato com o texto da notícia. Essa trilha
poderia ser seguida às avessas, se partíssemos das habilidades até o uso, mas
provavelmente isso dispensaria as declarações de cada leitor a respeito de hábitos que eles,
provavelmente, não poderiam mais declarar depois dos testes.
Leitores e interfaces precisam ter uma relação suficientemente estável para que a
leitura seja possível, mas suficientemente flexível para que novas experiências possam ser
incorporadas. Em nosso “sistema de mídias” (como mostra a história, aberto), o equilíbrio
entre essas características é imprescindível. Enquanto uma corrente do design (inclusive do
webdesign) prioriza a funcionalidade, intentando construir objetos de ler cada vez mais
legíveis, outras correntes (inclusive os poetas) querem oferecer novos desafios ao leitor,
seja no papel seja na tela. Poemas virtuais cinéticos, multimídias que confundem,
experiências que não dependem de leituras fáceis. No entanto, os jornais precisam ser
funcionalistas. Segundo dados do INAF, a maior parte dos leitores brasileiros não tem o
perfil daqueles 4 profissionais apresentados em Ribeiro (2003a). É preciso oferecer
experiências de leitura aos outros e, mais adiante, quem sabe, propor-lhes desafios.
178
8 Considerações finais
Quanta permeabilidade entre as operações com os objetos de ler e a leitura
propriamente dos textos escritos e inscritos? Ter facilidade de navegar os objetos, percorrê-
los com os olhos e as mãos, tem relação com habilidades de leitura menos ou mais
desenvolvidas? Ao contrário, mostrar dificuldades no contato com interfaces de leitura
significa poucas chances de compreensão? Interfaces hipertextuais impressas oferecem
menos dificuldades do que as digitais? Leitores experientes com objetos impressos
mostram-se mais desenvoltos com as telas? O que nossos dados mostram é que a maior
parte dessas relações não acontece exatamente nos cruzamentos entre leitura de objetos
impressos ou digitais. O problema a ser solucionado por um leitor que não sabe refinar uma
busca (na utilização do Google, por exemplo) não parece estar na máquina, nem na
interface, mas na falta de uma habilidade leitora que poderia ter sido desenvolvida em
qualquer suporte, a qualquer tempo entre as séries escolares iniciais e o começo da vida
universitária. Senão, como lidar com palavras-chave? Como lidar com resumos
acadêmicos?
O letramento (inclusive o digital) é, muitas vezes, desenvolvido em agências que
dão visibilidade aos conteúdos e às formas de fazer. Outras vezes, no entanto, o letramento
acontece sem que as pessoas o possam notar. Nossos leitores parecem, por exemplo, sequer
saber o quanto conhecem de jornais. Os grupos divididos por perfis (leitores de impressos,
de digitais e não-leitores) não apresentaram comportamentos homogêneos por “categoria”.
Tanto aqueles que declararam ler muito e demonstraram pouca habilidade com
interfaces e textos, quanto houve quem se dissesse inexperiente e até incapaz de ler jornais,
mas, na realidade, apresentasse boas e eficientes soluções para navegar e ler Estado de
Minas e O Tempo, no papel e na tela.
É de suma importância esclarecer que conhecemos os limites desta pesquisa:
tratamos, o tempo todo, da leitura de notícias, gênero conhecido dos leitores, em jornais.
Era esperado, portanto, que os estudantes fizessem ancoragens de novas experiências em
vivências anteriores. Mesmo que haja estudos sobre supostas diferenças atuais nos modos
de fazer jornalismo (interação com o leitor, produção de texto, formatos, dispositivos,
etc.)
88
, os jornais que utilizamos não ousam muito e se pautam no impresso. Assim, não são
exatamente webjornalismo, mas não deixam de ser hipertextos, algo que, para nós, o jornal
sempre, de alguma maneira, foi.
88
São exemplos os textos de Nunes (2005) e Wilson (2006).
179
Se focalizássemos outras possibilidades de gêneros textuais que emergiram a partir
do computador e da Internet, o e-mail e o chat, por exemplo, talvez nossos resultados de
pesquisa fossem outros. No entanto, as questões ainda fazem sentido: Mas o e-mail não tem
suas ancoragens? E o chat? De qualquer forma, pode ser que o leitor tenha mesmo de
desenvolver habilidades antes impensáveis, tais como ler “internetês”, acompanhar falas
que se sobrepõem rapidamente, etc., no entanto, certamente essas habilidades não surgiriam
“do nada”. Mesmo em relação a ambientes digitais, o “grau zero” de letramento é
improvável.
Não parece haver um padrão de comportamento para a leitura de jornais, por
exemplo, nosso objeto hipertextual de leitura. Leitores que se declaram habituados a ler
livros e jornais optam por procurar notícias de várias maneiras: escaneando a primeira
página (ou a página inicial), selecionando editorias e cadernos que consideram mais
pertinentes ou, em último caso, partindo para a caça errante, o flaneur que passeia pelo
bosque, mas sabe o que procura: uma tática, portanto, que a ação estratégica levaria ao
texto procurado de modo mais direto e rápido, a não ser que o leitor não veja problema em
passear pelo ambiente em que está.
Nossos 23 leitores parecem conhecer o texto noticioso, mas não parecem tão
íntimos das interfaces hipertextuais em que as notícias estão inscritas. O letramento que
alguns estudantes apresentam está mais ligado às habilidades propriamente de ler, em
alguns casos, do que às operações com o objeto, tal é a situação, principalmente, daqueles
que não conseguiram solucionar os problemas de diagramação do jornal impresso O
Tempo. Ou daqueles que mal olharam as telas de jornais digitais e partiram logo para as
máquinas de busca, sem, no entanto, saber utilizá-las. Conduzidos pelas interfaces e pela
falta de letramento em relação a elas, não foram bem-sucedidos na compreensão dos textos,
especificamente em relação a habilidades que comprovaram ter em outros textos, sem
problemas de diagramação. Caso estes leitores fossem letrados “completos”, unindo o
letramento “visual” ao “textual”, construiriam sentido para suas leituras de maneira menos
instável e imprecisa.
Ao que tudo indica, leitores habituados aos jornais impressos não demonstram
dificuldade de navegar em jornais digitais, mas, sim, parecem ancorar suas ações na
experiência prévia com impressos. De outro modo, leitores de jornais digitais parecem ter
demonstrado alguma dificuldade de navegar em jornais impressos, o que sugere, afinal, que
as experiências sejam, de fato, como queria Alzamora (2004), “razoavelmente distintas”,
mas não se pode afirmar que isso se deva a características inerentes aos novos ambientes de
180
ler. Ao que parece, isso se deve mais ao fato de o leitor lançar-se a uma experiência de
leitura sem qualquer ancoragem, portanto à “coragem” dele para experimentar um texto e
aprender os modos possíveis de lê-lo (que, hoje, são muitos). Afinal, onde ancorariam suas
experiências em interfaces semidesconhecidas? Assim como leitores de jornais em tela se
habituam aos serviços de busca rápida e não dão atenção à página inicial, parecem operar
em impressos segundo um padrão “digital”: vão diretamente aos cadernos e preferem
folhear.
E quanto àqueles que se declararam não-leitores de jornais? Os testes mostram
que não dificuldades de leitura peculiares a um ou a outro perfil de leitor. Também não
características negativas ou positivas mais associadas a quem em papel ou em tela.
Não-leitores, de modo geral, parecem explorar as interfaces que têm diante de si, mesmo
não demonstrando intimidade com elas. O que se pode colocar em dúvida é até que ponto
esses leitores têm consciência de seus graus de letramento, inclusive o digital. Simone, por
exemplo, se afirmava não-leitora (perfil), declarava, ao longo do protocolo verbal, nunca ter
lido um jornal impresso, se surpreendia com a estrutura complexa da interface, mas pareceu
algo conhecedora dos procedimentos para encontrar uma notícia no site do jornal. Ela não
sabia, mas é letrada digital, embora não em grau alto, na leitura de jornais ou de hipertextos
deste tipo. Sabe clicar, sabe o que é link, sabe abrir uma nova página, embora tenha feito
isso sem muita segurança. O que pode ser isso senão letramento digital? Arriscamo-nos
ainda: ela parece ter mais letramento digital do que o letramento necessário para ler um
jornal impresso.
As habilidades para lidar com a interface, portanto, são diferentes? Parece que
sim. Clicar e rolar páginas virtuais parece mais intuitivo do que folhear e procurar
chamadas de capa. No entanto, disso depende encontrar a notícia para ler. Quando se a
chega a ela, porém, as habilidades propriamente de leitura (lingüísticas) devem estar lá.
Quando não estão, parecem não ser necessariamente relacionadas ao conhecimento das
operações com a interface. Estamos falando, então, de tipos de letramento sobrepostos ou
interpolados. As pessoas podem desenvolver mais uns do que outros. Se desenvolverem e
integrarem todos, à maneira do modelo reestruturado de Coscarelli (1999), porém,
considerando muito mais aspectos, especialmente aqueles que a Lingüística insiste em
chamar de “extralingüísticos” ou “extratextuais”, provavelmente terão mais chances de
fazer leituras bem-sucedidas. Caso as agências de letramento, especialmente a escola,
compreendam a permeabilidade relativa entre textos e dispositivos de ler, o que se poderá
ter será um leitor hábil e apto a qualquer experiência de leitura.
181
Leitores de notícias digitais (percebidos como pouco letrados em ambientes
impressos), assim como leitores de jornais impressos (percebidos como pouco letrados em
ambientes digitais), apresentam bons resultados no teste de leitura. Não-leitores de
quaisquer jornais parecem experimentar contratempos menores do que eles mesmos
pensam quando lidam com mídias mosaiquicas. Nos testes de habilidades leitoras, no
entanto, são tão capazes quanto os leitores de outros perfis. Resultados fracos nos testes de
navegação não demonstram resultados fracos nas habilidades de leitura. E vice-versa.
Curiosamente, essa permeabilidade é menor do que o que se esperava, talvez porque a
agência de letramento representada pela escola tenha sempre trabalhado a compreensão do
texto fora de seu suporte ou em suportes que reconfiguram expressões originais e
transformam os textos em outra “coisa”, outra experiência, portanto. Santaella (2004)
afirma: “Ora, o efeito que o texto é capaz de produzir em seus receptores não é
independente das formas materiais que o texto suporta. Essas formas materiais e o contexto
em que se inserem contribuem para modelar o tipo de legibilidade do texto”. Se não
podemos concordar completamente com a autora, é porque esta pesquisa parece ter afetado
nossas certezas a ponto de levantar dúvidas em relação a pontos caros das teorias, por
exemplo, de Roger Chartier sobre os efeitos do suporte na leitura (e Santaella é tributária do
historiador francês). Dizemos que, sim, as formas materiais dos textos exigem gestos
diferentes e afetam a compreensão do texto pelo leitor, mas isso não acontece de forma
simples e direta. As combinações de letramentos (considerando as “desagregações”
possíveis) são muitas e surtem efeitos também combinatórios.
A pergunta de vários pesquisadores sobre as pretensas diferenças entre ler na tela
e ler em papel parecem comportar uma resposta positiva (sim, é diferente) apenas em
relação às operações com a interface, não com relação às habilidades necessárias para que
se compreenda, de fato, um texto. Grande parte dos leitores sequer deu importância à
primeira página dos jornais, especialmente na Internet. O fato de uma notícia sobre trabalho
escravo sequer aparecer na página inicial do jornal O Tempo não causou qualquer espécie
aos leitores. Para alguns leitores, chegar ao texto é resultado de um processo cheio de
circuitos possíveis, nem sempre, no entanto, igualmente eficientes e estáveis.
Neste trabalho, optamos por sequer chegar a perguntas sobre ponto de vista e
capacidade crítica (como gostaria Cheida, 2002). Isso nos parece um letramento mais alto
ainda. Respostas negativas (do tipo, não, ler na tela e ler em papel não é diferente) devem
separar o que é operacional do que é habilidade específica. Ler e navegar, se considerados
competências separadas, não parecem ações fortemente vinculadas; navegar e ler,
182
considerados competências permeáveis, tornariam um leitor mais letrado do que quando ele
é capaz apenas de uma fase da ação de ler objetos de arquitetura hipertextual, mesmo
quando esses objetos parecem, aos olhos de um letrado alfa, muito simples de operar. O
que queremos dizer com isso? Que todo objeto de ler é complexo e é composto por uma
série de interpolações tecnológicas às quais o leitor também responde (ou não) com outras
interpolações. Em algum ponto das propostas de formação das agências de letramento
(especialmente a escola), não se tem mostrado ao leitor em formação como operar
interfaces, com honrosas exceções. Embora o texto, de preferência o bom texto, venha
sendo assunto escolar, os objetos de ler nem sempre são. Os “modos de usar” ficam sempre
de fora da “receita”. O texto retinto ou reticulado, surrupiado de sua circunstância socio-
histórica, não é mais original. Que tal devolvê-lo ao seu espaço? Ou será possível que
teremos que tratar os textos da Internet como se nunca tivessem sido produzidos naquele
“espaço”? Não é de hoje que as pessoas estudam textos fora das plataformas em que eles
foram publicados: poemas sem livros, crônicas sem colunas, editoriais sem o restante do
jornal. Notícias sem papel, blogs sem tela, chats sem seus aplicativos são como a pintura
sem o quadro.
Coscarelli (2003a, p. 1) não acredita que “um conjunto de textos interligados por
meio de links” poderia ter tantos motivos para ser tão diferente dos textos “comuns” em
relação aos processos da leitura. Segundo a autora, “não nada de novo no hipertexto, a
não ser os mecanismos de navegação que tornam mais rápidos os acessos a outros textos”.
Provocados por esse tipo de questão, conduzimos esta pesquisa. Talvez, agora, possamos
remodular nossa percepção em torno do tema: não parece haver nada de tão novo na leitura
do hipertexto, ao menos em relação à ativação de habilidades de leitura. Embora o projeto
das interfaces tenha mudado, o leitor não parece acompanhar, sempre, tais alterações.
Mostra-se capaz de aprender a leitura em telas antes mesmo de se familiarizar com suportes
de papel, assim como parece poder navegar sobre um mar de sentidos que ele não conhece;
ou, ao contrário, chegar aos sentidos mesmo sem utilizar a bússola. Em um “sistema de
mídias” aberto como o nosso, não faltará tarefa para o professor atento às configurações do
letramento.
183
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Paulo: Summus, 2004.
192
APÊNDICE 1
Questionário para perfil SOCIAL E ESCOLAR
Qual é seu nome completo? (ATENÇÃO: seus dados serão mantidos em segredo nesta pesquisa.
Sua identificação servirá apenas ao controle da pesquisadora)
___________________________________________________________________________________
Quantos anos você tem?
Coloque aqui os seus contatos:
Telefone fixo:
Telefone celular:
E-mail:
Endereço para correspondência:
___________________________________________________________________________________
Qual é seu nível de escolaridade?
( ) Fundamental ( ) Médio ( ) Superior incompleto ( ) Superior completo
Você estudou em escolas públicas ou particulares? Quais?
___________________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________________
Se você estuda, que curso faz?
___________________________________________________________________________________
Em que período ou ano você está no seu curso?
__________________________________________________________________
Questionário para perfil de LEITOR
Você se considera uma pessoa que tem o “hábito de ler”? Explique sua resposta.
________________________________________________________________________________________
________________________________________________________________________________________
Com que tipos de material escrito você lida no seu dia-a-dia?
________________________________________________________________________________________
________________________________________________________________________________________
Você está lendo algum livro HOJE? Se estiver, qual?
________________________________________________________________________________________
________________________________________________________________________________________
Você leu um livro nos últimos três meses? Se sim, qual?
________________________________________________________________________________________
________________________________________________________________________________________
Marque entre as opções aqueles tipos de material que você lê com freqüência.
( ) Revistas
(Que tipo?_______________________________________________________________________)
( ) Jornais
(Que tipo? _______________________________________________________________________)
Você costuma ler jornais de papel? Se sim, quais e com que freqüência?
________________________________________________________________________________________
________________________________________________________________________________________
Você tem acesso ao computador e à Internet? Onde?
________________________________________________________________________________________
________________________________________________________________________________________
193
Com relação ao nível de dificuldade para lidar com computadores e Internet, você
considera que sente:
( ) Dificuldade nenhuma
( ) Pouca dificuldade
( ) Muita dificuldade
( ) Não sabe mexer
Que atividades você gosta de executar na Internet?
_____________________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
Você costuma ler jornais na Internet? Se sim, quais e com que freqüência?
_____________________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
__________________________________________________________________________
O que você procura nos jornais? Que cadernos ou seções você prefere ler?
_____________________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
__________________________________________________________________________
Fora o computador, com que outras máquinas eletrônicas você lida no seu dia-a-dia?
( ) Caixas eletrônicos de banco
( ) Fliperamas
( ) Telefone celular
( ) Catracas e sistemas de controle
( ) Máquinas que vendem salgadinhos e refrigerantes
( ) Aparelhos de microondas
( ) Aparelhos de som, CD player, MP3
( ) Outras
(Quais? ___________________________)
Você tem conta bancária? Sabe lidar com caixas eletrônicos de bancos e lojas?
_____________________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
Para que tipo de tarefa você acha os computadores úteis?
_____________________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
__________________________________________________________________________
Quanto tempo você fica na Internet por semana?
( ) de meia hora a 1h30
( ) de 1h a 3h
( ) de 3h a 6h
( ) acima de 6h
Se você usa o computador, quando e onde aprendeu a usá-lo?
_____________________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
Da primeira vez que você teve contato com o computador, precisou de alguém para te
ajudar?
_____________________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
Você teve algum tipo de medo ou receio ao usar a máquina?
_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________
___________________________________________________________________
194
Marque V ou F nas afirmações a seguir.
( ) Na Internet, uma palavra ou frase em azul significa que posso clicar. É um link.
( ) Na Internet, uma palavra ou frase em roxo significa que já naveguei por ali.
( ) Quando baixo um documento da Internet é porque fiz um download.
( ) Para ler um texto longo na Internet, preciso usar o mouse para clicar na barra de rolagem
que fica à direita.
( ) Para continuar lendo um texto longo, sem link, também posso utilizar o scroll do mouse.
( ) Para ler um texto longo na tela, sem link, também posso usar as teclas pagedown ou a seta
para baixo do teclado.
( ) Quando a página da Internet me pede um login e uma senha, basta preenchê-los. Não é preciso
apertar o Enter.
( ) Os itens à esquerda na tela, em caso de jornais digitais, são o menu.
( ) Para entrar nas páginas das notícias que desejo ler, é preciso clicar nos menus ou nos links.
Você considera a leitura importante para a sua fomação? Por quê?
_____________________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
195
APÊNDICE 2
NAVEGAÇÃO EM JORNAIS IMPRESSOS E DIGITAIS
relações entre leitores e interfaces
OBRIGADA POR PARTICIPAR DA NOSSA PESQUISA
Este é um projeto de pesquisa de Iniciação Científica apoiado pelo Centro Universitário
UNA (Faculdade de Comunicação e Artes). Tal projeto está vinculado ao
desenvolvimento de tese de doutoramento do Programa de Pós-Graduação em Estudos
Lingüísticos da UFMG.
ESTADO DE MINAS
Inflação em BH Zoonoses
IMPRESSO DIGITAL IMPRESSO DIGITAL
1. DAIANE X X
2. ROMENA X X
3. KEILA X X
4. JAQUELINE X X
5. DANÍLIA X X
6. SIMONE X X
7. REGINA X X
8. ELIZANGELA X X
9. MARIA X X
10. BRENO X X
11. EDUARDO X X
12. LÚCIA X X
O TEMPO
TAREFA 1
Encontre no jornal uma notícia sobre a inflação em BH.
Leia a notícia para responder a algumas questões.
TAREFA 2
Encontre no jornal uma notícia sobre problemas no setor de zoonoses da cidade.
Leia a notícia para responder a algumas questões.
196
NAVEGAÇÃO EM JORNAIS IMPRESSOS E DIGITAIS
relações entre leitores e interfaces
OBRIGADA POR PARTICIPAR DA NOSSA PESQUISA
Este é um projeto de pesquisa de Iniciação Científica apoiado pelo Centro Universitário
UNA (Faculdade de Comunicação e Artes). Tal projeto está vinculado ao
desenvolvimento de tese de doutoramento do Programa de Pós-Graduação em Estudos
Lingüísticos da UFMG.
O TEMPO 16/11/2006
Trabalho escravo Obras na Antônio Carlos
IMPRESSO DIGITAL IMPRESSO DIGITAL
1. MAURÍCIO X X
2. RAFAEL X X
3. VINÍCIUS X X
4. VIVIANE X X
5. PATRÍCIA X X
6. CLÁUDIA X X
7. DANIELE X X
8. FABRÍCIO X X
9. GRAZIELA X X
10. DÉBORA X X
11. RAIANE J X X
O TEMPO
TAREFA 1
Encontre no jornal uma notícia sobre trabalho escravo.
Leia a notícia para responder a algumas questões.
TAREFA 2
Encontre no jornal uma notícia sobre obras na Antônio Carlos.
Leia a notícia para responder a algumas questões.
197
APÊNDICE 3
Avaliação de itens de design nos jornais impressos.
Projeto de jornais impressos – posição e manipulação
Características Estado de Minas O Tempo
Gerais Alinhamento, proximidade,
equilíbrio, harmonia, proporção,
funcionalidade, contraste, repetição.
As páginas são planejadas
dentro dos preceitos do design
clássico
As páginas são menos programadas
em relação à proximidade: o leitor
não identifica com certeza a relação
entre fotos e textos, por exemplo
Manipulação da primeira página Página em tamanho padrão
para jornais; contém
cabeçalho, fotos, manchete,
demais notícias colocadas de
maneira periférica pela página
Página em tamanho padrão para
jornais; contém cabeçalho, fotos,
manchete, demais notícias
colocadas de maneira periférica
pela página
Remissão ao texto pesquisado Todos constam na primeira
página
Todos constam na primeira página
Paginação do jornal Numérica e por cor Alfanumérica e por cor
Caderno a ser acessado Noticia 1 Primeiro (Economia) Cidades (Antônio Carlos)
Caderno a ser acessado Notícia 2 Gerais (Zoonoses) Cidades (Trabalho escravo)
Posicionamento do texto a ser lido Todos são topo de gina
interna, com pesos diferentes
na capa
Todos são topo de página interna,
com pesos semelhantes na capa
Forma do texto Dois quadrantes de cima Dois quadrantes de cima
Uso de fontes serifadas, sem mistura
com não-serifadas.
Todas serifadas, com alturas de
“olho” diferentes, de famílias
diferentes
Todas serifadas
Imagens e fotos Fotos grandes Fotos grandes
Texto – inteligibilidade, pirâmide Texto jornalístico do gênero
notícia, com uso de lead
Texto jornalístico do gênero notícia,
com uso de lead
Papel e tinta, percepções táteis Comuns, deixam tinta nas
mãos
Comuns, deixam tinta nas mãos
Navegabilidade
Página principal densa. Sim Sim
Informação mais importante no topo Sim Sim
Informação detalhada em localizações
secundárias (hierarquização)
Sim Sim
Opção de começar a ler por qualquer
página, de maneira independente das
páginas anteriores.
Potencialmente Potencialmente
Disposição das informações
padronizada, para que o leitor sinta
familiaridade ao navegar em todas as
páginas.
Sim Sim
Preferência por linguagem objetiva. Sim Sim
Títulos das matérias na primeira página
em relação aos títulos internos
Mudança parafrástica em
todos, com maior dificuldade
na notícia sobre Zoonoses
Mudança parafrástica em todas
Deslocamento de atenção
Imagens, gráficos e publicidade Páginas com fotos ilustrativas
grandes, sem gráficos ou
publicidade que distraia o
leitor
Páginas com fotos ilustrativas
grandes, sem gráficos. Na página da
notícia sobre trabalho escravo
anúncio publicitário. Na notícia
sobre obras viárias, a foto é
complementada por setas e textos
explicativos.
198
APÊNDICE 4
Avaliação de itens de usabilidade nos jornais digitais.
Usabilidade dos jornais on-line – PÁGINA INICIAL
Parâmetros EM O T Comentários
Não habilitar janelas pop up
O usuário fica irritado quando janelas não-
solicitadas se abrem e mais ainda se forem
propaganda.
Oferecer boa orientação de
navegação
A lógica da diagramação dos jornais parece
consistente.
Permitir que o usuário
execute as tarefas em
seqüências estáveis de ação
Trata-se de item importante para a navegação
e é contemplado pelos jornais em estudo.
Minimizar tempo requerido
para carregamento de página
Ambos os jornais são “leves”.
Diagramar a página de forma
a permitir impressão (ou ler
na tela)
Não
Não
As páginas iniciais de jornais não oferecem
opção de impressão. As notícias, sim.
Oferecer feedback a respeito
de carregamento página e/ou
arquivos
O feedback é oferecido pelo navegador:
aguardando, concluído, etc.
Otimização da experiência
do usuário
Oferecer assistência adicional
ao usuário
Não
Não
Os jornais não oferecem mapas ou FAQs
(Frequent asked questions).
Evitar “poluição visual”
Embora sejam densos, com leve
superioridade para o EM, não consideramos
que sejam “poluídos” visualmente.
Posicionar itens clicáveis
importantes nos mesmos
lugares próximos ao topo, em
páginas diferentes
Os frames possibilitam isso, o que facilita a
navegação e deixa o usuário seguro.
Posicionar a informação de
acordo com níveis de
importância (do maior para o
menor) e aplicar às páginas
do site
Os jornais distribuem manchetes e demais
notícias por ordem de importância na página,
levando-se em consideração parâmetros
observados também no impresso. Isso é
válido para a distribuição das informações no
texto (“pirâmide invertida”), quando é o caso
de notícias escritas de forma tradicional.
Separar informação com
tópicos ou bullets
Isso ajuda o leitor a selecionar itens.
Alinhar os elementos da
página vertical ou
horizontalmente
Ambos os jornais fazem isso, o que também
era planejado em jornais impressos. O
Tempo apresenta 4 colunas verticais,
separadas por fios, de larguras diferentes,
sendo a primeira um menu de navegação do
tipo “apontar-e-clicar”, a segunda em a
terceira para texto jornalístico e a quarta,
mais à direita, para propagada, além dos
banners no topo. O Estado de Minas faz algo
semelhante, mas reserva apenas os banners do
topo para propaganda e serviços do jornal.
Leiaute
de página
Planejar leiaute que possa ser
automaticamente ajustado à
resolução do monitor
Isso evita desconfigurações que
comprometam o acesso e a legibilidade do
site.
199
Evitar diagramação que a
ilusão de se ter alcançado o
final da página (quando ainda
há página a ser visualizada)
-
Diagramar páginas com
quantidade apropriada de
texto: homepages menores e
páginas internas mais
extensas, de forma que a
home não precise de
utilização da barra de
rolagem.
Não
Não
Nos jornais, isso nem sempre é possível.
Embora as páginas iniciais sejam “de
navegação”, elas condensam matérias
importantes do jornal e dificilmente serão de
um tamanho que não precise de rolamento da
barra vertical.
Delimitar áreas em branco
Não
O Tempo faz isso com fios e sombras.
Utilizar cumprimento de
linhas de texto adequado, de
acordo com a prioridade. Se
for a leitura rápida, linhas
maiores. Se for a seleção da
informação, linhas menores.
As páginas iniciais costumam apresentar
blocos de texto referentes a notícias
diferentes. Essa fragmentação é refletida
também nas colunas com linhas menores de
texto. A intenção é que o leitor escaneie
facilmente a página e acesse links.
Utilizar frames quando parte
da página precisa permanecer
visível
-
Não direcionar o usuário a
páginas sem opções de
navegação
De todas as páginas internas é possível voltar.
Diferenciar claramente os
itens de navegação entre si,
posicionando-os em lugares
fáceis e estáveis
-
Oferecer lista de picos
(links) em páginas longas, de
maneira que o usuário possa
ir diretamente o que interessa
-
Permitir ao usuários saber
onde ele está em relação ao
mapa do site (feedback)
Não
Não
-
Posicionar o menu de
navegação primária na coluna
da esquerda (e menus
secundários juntos em outras
colunas)
A ordem de leitura ocidental (diagonal, da
esquerda para a direita e de cima para baixo)
observa primeiro as posições de topo e
esquera.
Evitar o uso do scroll em
páginas de navegação
Não
Não
-
Evitar uso de back em
páginas muito “profundas”,
optando por menus
seqüenciais
Não se
aplica
Não se
aplica
-
Oferecer mapa quando site
tiver muitas páginas
Não
Não
Os jornais têm muitas páginas, mas são
“rasos”.
Navegação
Oferecer explicações em
gloss para links que ofereçam
dificuldade de compreensão
Não
Não
-
Barr
a de
rolag
Evitar páginas em que seja
necessário o uso do scroll
horizontal
-
200
Destacar tópicos (negrito,
etc,)
-
Utilizar páginas com scroll
para textos que o leitor
deverá ler com mais
dedicação
Pesquisas apontam para melhor compreensão
global do texto se ele for contínuo.
Utilizar páginas com links se
o leitor for navegar e ler com
mais rapidez
As páginas iniciais são assim.
Diagramar a informação em
blocos para o leitor que
deseja informações
específicas (no máximo 4
toques na barra de rolagem)
Não
Não
-
Utilizar tópicos com nomes
compreensíveis, objetivos e
claros
Os títulos de notícias, em sua maioria, são
planejados para resumirem a idéia
principal”.
Nomear cada página do site
com títulos descritivos,
únicos e concisos
-
Destacar itens que requerem
atenção do usuário
-
Cabeçalhos, títulos e
tópicos
Oferecer opções (links)
facilmente selecionáveis
-
Utilizar links significativos e
fáceis de entender
-
Oferecer links que
direcionem realmente às
páginas relacionadas
-
Nomear links e páginas
internas consistentemente
Não
Não
Os jornais apresentam notícias (as mesmas)
com títulos levemente diferenciados na
página inicial e na página interna. Faz-se uma
espécie de paráfrase do título da página
inicial, às vezes com o intento de que, na
capa, o enunciado chame mais a atenção do
leitor, que precisa fazer conversões que
demandam inferências de vários níveis.
Evitar que haja textos
marcados como se fossem
links se não o forem
-
Permitir que conteúdo
importante seja acessado por
mais de um link
No jornal, é o caso das editorias.
Usar links-texto tanto quanto
links-imagem.
-
Utilizar cores diferentes para
links já visitados
Não
Não
Os jornais não marcam as visitas aos links.
Oferecer indicações claras de
que um item seja clicável
Ambos os jornais mostram, além do cursor
em forma de mãozinha (com dedo em riste),
títulos e lides sublinhados no mouseover.
Utilizar modo “apontar-e-
clicar” em menus e evitar
mouseover
-
Links
Utilizar links-texto de
maneira a evitar quebra de
linha
Não
Não
As quebras de linha em nomes de notícias ou
lides são inevitáveis. Nem sempre é possível
redigir textos de uma linha.
201
Diferenciar links internos de
links externos
-
Oferecer links de glossário Não Não -
Utilizar contraste de cor
entre texto e fundo (quando o
texto demandar leitura
dedicada)
Os jornais têm fundo claro e fonte escura.
Utilizar caixa-baixa em
textos mais longos em prosa.
Os textos são escritos em caixa-baixa com
maiúsculas apenas em localizações-padrão.
Apresentar consistência no
leiaute das páginas do site
-
Utilizar negrito apenas
quando houver texto
importante
-
Utilizar atratores de atenção
com cautela (movimento,
imagem grandes, gráficos,
etc.)
Não
Não
Ambos os jornais apresentam muitas fotos,
propagandas e banners que imagens em
movimento, o que distrai um tanto o usuário.
Na diagramação do Estado de Minas, as fotos
são delimitadas por fios ou tarjas que a
restringem a sua relação com determinado
texto. No jornal O Tempo, essa relação texto-
imagem nem sempre é clara, podendo o
usuário clicar em fotos que são relativas a
algum texto que não era de seu interesse.
Utilizar fontes-padrão que
facilitem a leitura
O Tempo utiliza fontes sem serifa para o
corpo do texto e com serifa para títulos (tipo
Arial e Times New Roman). O Estado de
Minas utiliza fontes não-serifadas, com
diferenciações de cor e tamanho.
Utilizar, preferencialmente,
fontes corpo 12, nunca
menores do que corpo 9
Títulos são maiores do que 12 e textos de
rodapé têm fontes muito pequenas. Isso é o
esperado para essas funções. Palavras que
chamam o leitor para dentro do jornal (Leia
mais, etc.) são diferenciadas por cor ou pela
fonte.
Utilizar fonte diferente para
enfatizar palavra ou frase
-
Apresentação do texto
Padronizar e dar consistência
a maneiras de destacar
informação importante na
página
-
Análise de usabilidade das páginas inicial e internas do jornal Estado de Minas de acordo com parâmetros de
Leavitt e Shneiderman (2006). Também disponível em www.usability.gov.
202
Usabilidade dos jornais digitaisPÁGINA INTERNA
Parâmetros EM O T Comentários
Não habilitar janelas pop up
-
Oferecer boa orientação de
navegação
-
Permitir que o usuário
execute as tarefas em
seqüências estáveis de ação
-
Minimizar tempo requerido
para carregamento de página
-
Diagramar a página de
forma a permitir impressão
(ou ler na tela)
Além de permitir impressão, os jornais
dão opção de o usuário enviar a notícia
por e-mail ou comentá-la. Também
links de notícias relacionadas à matéria,
além de memória (outras notícias, de
edições anteriores, sobre o mesmo
assunto).
Oferecer feedback a respeito
de carregamento página e/ou
arquivos
-
Otimização da experiência
do usuário
Oferecer assistência
adicional ao usuário
Não
Não
-
Evitar “poluição visual”
As páginas internas são quase
exclusivamente o lugar das notícias
apontadas pela página inicial.
Posicionar itens clicáveis
importantes nos mesmos
lugares próximos ao topo,
em páginas diferentes
-
Posicionar a informação de
acordo com níveis de
importância (do maior para
o menor) e aplicar às
páginas do site
-
Separar informação com
tópicos ou bullets
-
Alinhar os elementos da
página vertical ou
horizontalmente
O Tempo mantém 3 colunas, sendo a
mais larga reservada à notícia. No Estado
de Minas são 2 colunas.
Planejar leiaute que possa
ser automaticamente
ajustado à resolução do
monitor
-
Evitar diagramação que a
ilusão de se ter alcançado o
final da página (quando
ainda página a ser
visualizada)
-
Diagramar páginas com
quantidade apropriada de
texto: homepages menores e
páginas internas mais
extensas, de forma que a
home não precise de
utilização da barra de
rolagem.
Não
Não
4 e 2
Leiaute
de página
Delimitar áreas em branco Não
O Tempo utiliza fios.
203
Utilizar cumprimento de
linhas de texto adequado, de
acordo com a prioridade. Se
for a leitura rápida, linhas
maiores. Se for a seleção da
informação, linhas menores.
Nas notícias, as linhas são maiores do que
na página inicial.
Utilizar frames quando parte
da página precisa
permanecer visível
-
Não direcionar o usuário a
páginas sem opções de
navegação
-
Diferenciar claramente os
itens de navegação entre si,
posicionando-os em lugares
fáceis e estáveis
-
Oferecer lista de tópicos
(links) em páginas longas,
de maneira que o usuário
possa ir diretamente o que
interessa
-
Permitir ao usuários saber
onde ele está em relação ao
mapa do site (feedback)
Não
Não
-
Posicionar o menu de
navegação primária na
coluna da esquerda (e menus
secundários juntos em outras
colunas)
-
Evitar o uso do scroll em
páginas de navegação
Não se
aplica
Não se
aplica
-
Evitar uso de back em
páginas muito “profundas”,
optando por menus
seqüenciais
-
Oferecer mapa quando site
tiver muitas páginas
Não
Não
-
Navegação
Oferecer explicações em
gloss para links que
ofereçam dificuldade de
compreensão
Não
Não
-
Evitar páginas em que seja
necessário o uso do scroll
horizontal
-
Destacar tópicos (negrito,
etc,)
-
Utilizar páginas com scroll
para textos que o leitor
deverá ler com mais
dedicação
Ambos os jornais fazem isso. No final do
texto, links para notícias
complementares.
Barra de rolagem
e paginação
Utilizar páginas com links se
o leitor for navegar e ler
com mais rapidez
Não
Não
-
204
Diagramar a informação em
blocos para o leitor que
deseja informações
específicas (no máximo 4
toques na barra de rolagem)
Não
Não
-
Utilizar tópicos com nomes
compreensíveis, objetivos e
claros
As notícias têm nomes diferentes de suas
chamadas de página inicial.
Nomear cada página do site
com títulos descritivos,
únicos e concisos
-
Destacar itens que requerem
atenção do usuário
-
Cabeçalhos, títulos e
tópicos
Oferecer opções (links)
facilmente selecionáveis
-
Utilizar links significativos e
fáceis de entender
-
Oferecer links que
direcionem realmente às
páginas relacionadas
-
Nomear links e páginas
internas consistentemente
Não
Não
As notícias têm nomes diferentes de suas
chamadas de página inicial.
Evitar que haja textos
marcados como se fossem
links se não o forem
-
Permitir que conteúdo
importante seja acessado por
mais de um link
-
Usar links-texto tanto quanto
links-imagem.
Não
Não
-
Utilizar cores diferentes para
links já visitados
Não
Não
-
Oferecer indicações claras
de que um item seja clicável
-
Utilizar modo “apontar-e-
clicar” em menus e evitar
mouseover
-
Utilizar links-texto de
maneira a evitar quebra de
linha
-
Diferenciar links internos de
links externos
-
Links
Oferecer links de glossário Não Não -
Utilizar contraste de cor
entre texto e fundo (quando
o texto demandar leitura
dedicada)
Os jornais usam fundo claro e letras
escuras.
Utilizar caixa-baixa em
textos mais longos em prosa.
-
Apresentar consistência no
leiaute das páginas do site
-
Utilizar negrito apenas
quando houver texto
importante
-
Apresentação do texto
Utilizar atratores de atenção
com cautela (movimento,
imagem grandes, gráficos,
etc.)
Nas páginas internas menos
distratores.
205
Utilizar fontes-padrão que
facilitem a leitura
-
Utilizar, preferencialmente,
fontes corpo 12, nunca
menores do que corpo 9
-
Utilizar fonte diferente para
enfatizar palavra ou frase
-
Padronizar e dar
consistência a maneiras de
destacar informação
importante na página
-
Análise de Usabilidade das páginas inicial e internas do jornal O Tempo de acordo com parâmetros de Leavitt
e Shneiderman (2006). Também disponível em www.usability.gov.
.
206
APÊNDICE 5
Íntegra dos protocolos verbais de navegação em jornais impressos e digitais.
PROTOCOLOS VERBAIS E OBSERVAÇÃO DO VÍDEO
Keila, 20
Impresso Digital Análise
Sobre inflação está em
Economia, né, eu acho.
(Folheia). Cadê a
página? (Folheia). Tá em
Economia. (Folheia).
Prontinho. (Mostra).
(Procura uma editoria).
Gerais, eu acho.
(Escaneia). Estou
procurando. Achei um
link aqui ó, do lado,
“Zoonoses”. Eu vou
aqui em cima do nome
que apareceu e vou...
comé que chama isso?
Não sei o nome disso
não (aponta para o scroll
do mouse). Vou
arrastando aqui e vai
dando para ler, uai.
Keila, 20, declarou que é leitora do jornal impresso
Estado de Minas (“3 vezes por semana”), mas não
jornais on-line Na Internet, e-mails. Lida com vários
sistemas digitais e aprendeu a usar computador na
escola do ensino médio. O tempo que gastou até
encontrar a notícia é compatível com suas declarações.
O protocolo verbal da informante demonstra que sua
estratégia de navegação desconsidera a PP como
sumário hipertextual para chegar à notícia solicitada,
embora a procura pela editoria Economia demonstre
algum domínio do protocolo de leitura do jornal.
Ao executar a tarefa de procurar uma notícia do Estado
de Minas impresso, Keila, gastou 1’17”. A estudante
precisava procurar uma notícia sobre inflação em Belo
Horizonte, que era manchete na PP do jornal, portanto,
o título estava posicionado no topo da página, com
letras muito grandes, negrito, com indicação de caderno
e página interna.
Note-se que a notícia estava nas páginas internas do
primeiro caderno, o que levou a informante a encontrar
rapidamente o que procurava. Provavelmente isso não
ocorreria se ela tivesse utilizado a mesma estratégia com
notícias em cadernos posteriores do jornal.
No jornal digital, Keila faz o trajeto da página inicial até
a notícia sobre o setor de zoonoses da Prefeitura
Municipal em 22”. A informante também emprega a
estratégia de ir diretamente à editoria Gerais, que
costuma publicar assuntos sobre a cidade. O modo
como agiu foi eficiente e rápido, mas ela não considerou
a possibilidade de escanear a página inicial.
207
Eduardo, 25
Impresso Digital Análise
Inflação em BH. Bom,
eu vou pegar o jornal,
vou abrir. Na própria
capa do jornal já vem
falando que a inflação
em BH é 10 vezes maior,
né. (Procura). Ela está na
capa do jornal. Não a
reportagem, né. Agora eu
abro o jornal e confiro a
página em que ela se
encontra aqui dentro.
Aqui está falando que é a
página 14. (Folheia). E a
reportagem está aqui.
(Mostra para nós).
Coisa de zoonoses?
Estou abaixando a tela
para ver, para ficar mais
fácil a visualização da
notícia. E já achei aqui.
“Zoonoses em más
condições”. Agora eu
venho aqui (clica) eu
clico em cima da
matéria.
EAC, 25, declara ter o hábito de ler. No dia da pesquisa,
declarou estar lendo Tratado básico de magia e, nos três
meses anteriores à pesquisa, Anjos e Demônios e O
código da Vinci (Dan Brown). Diz ser leitor dos jornais
impressos Folha de S.Paulo e Estado de Minas (“todo
final de semana”), mas não jornais digitais. Na
Internet, faz pesquisas “ocultistas e científicas”. Lida
com vários sistemas digitais e aprendeu a usar
computador em casa.
Ao tentar cumprir a tarefa de procurar notícia sobre
inflação em BH, o informante gasta pouco tempo (não
tivemos condições técnicas de medir) e demonstra
domínio do protocolo. Ele escaneia a PP, encontra a
chamada e vai até a notícia. Sabe que a chamada não é a
notícia completa, mas apenas uma “isca” para que o
leitor até o texto integral, onde saberá mais detalhes
sobre os fatos.
Eduardo foi incumbido de procurar também a notícia
sobre a zoonoses. Empregou a estratégia de escanear a
página inicial, encontrou a chamada com link e clicou
para ter acesso ao texto integral. Dos declarados leitores
de jornais impressos e não-leitores de jornais on-line,
foi o único que optou pela estratégia em que o protocolo
de leitura do suporte poderia ser considerado mais
completo e menos passível de desvio.
Breno, 20
Impresso Digital Análise
(Escaneia a PP). Vou
pegar o jornal e vou aqui
no índice ver se tem
alguma reportagem
falando sobre zoonoses.
(Lê). Achei. Agora eu
olho o número da
página... (Folheia e
procura,
demoradamente). Estou
procurando a página.
(Folheia). Acha.
Eu vou clicar aqui em
Economia e procurar.
Vou ler alguma
reportagem interessante
na primeira página. Vou
procurar alguma coisa
sobre inflação (Lê).
Inflação, não, só
Economia. (Lê). Não
achei nada. Não achei.
Inflação. (Pedimos que
ele voltasse para a
home). Home? (Lê).
Tem uma reportagem
sobre inflação em BH,
que está 10 vezes maior.
(Como ele ficou parado,
perguntamos se aquilo
era a notícia). Vou
clicar nela. Entrou.
Breno, 20, declara não gostar de ler, mas ser leitor de
jornais impressos (“às vezes o Super”) e não ler jornais
on-line. Na Internet, utiliza o Orkut. Lida com vários
sistemas digitais e aprendeu a usar computador em casa.
Ao procurar pela notícia sobre zoonoses, faz o trajeto
em 2’69”. Sua estratégia é escanear a PP, ir à editoria
indicada e encontrar a matéria. A demora do informante
se quando ele chega ao caderno e demora a encontrar
a página do texto solicitado.
Breno, com um tempo de 2’16”, vai direto às editorias
(no menu em cima na página) para procurar a notícia
sobre inflação. Não escaneia a página inicial e passa o
cursor pelos links, que abrem menus. Ele clica em
Economia e não encontra a matéria. mesmo depois
do auxílio das pesquisadoras é que resolve ler a página
inicial e verifica que se tratava da manchete da página
inicial, no topo, em letras grandes.
208
Elizangela, 29
Impresso Digital Análise
(Escaneia a PP, folheia).
Estou lendo os tópicos
para eu estar lendo a
respeito da reportagem.
(Folheia e lê). A parte
que fala sobre zoonoses,
doenças, alergia, alguma
coisa assim. (Lê). Sobre
Leishmaniose, a parte de
Zoonoses tem uma
reportagem sobre “Saúde
de agentes sob
ameaça”... (Dizemos que
é isso mesmo).
Eu vou pesquisar neste
jornal que está aqui ou
em qualquer lugar que
eu quiser? (Dizemos
que é no jornal que está
aberto diante dela).
Inflação em BH? Mas
não é a notícia que está
aqui na frente, não? (Ela
encontra a chamada da
notícia e fica quieta.
Perguntamos se ela não
vai procurar mais e ela
diz:) Para mim, a notícia
é esta. (Não clica).
Elizangela, 29, declara ter o hábito de ler “por gostar e
por necessidade”. Não lia livros nem no dia da pesquisa
e nem nos três meses anteriores, mas se dizia leitora de
jornais impressos (O Globo, Estado de Minas, “aos fins
de semana”) e não ser leitora de jornais digitais. Na
Internet, faz pesquisas e manda mensagens. Lida com
vários sistemas digitais e aprendeu a usar computador
em casa e em curso livre. A tarefa de procurar pela
notícia sobre um problema no setor de zoonoses da
Prefeitura de Belo Horizonte foi cumprida em 2’51”.
A demora da estudante deve-se a algumas razões:
apesar de ela escanear a PP, mostrando conhecimento
do protocolo de leitura do jornal, não observa que a
chamada da notícia sobre zoonoses estava na “zona
cega” direita, embaixo) da página e passa
desapercebida, iniciando, então, o manuseio das páginas
tópico por tópico, até encontrar a notícia. EM consegue
encontrar porque trata-se de um texto grande, com foto,
localizado no caderno que está em suas mãos.
Elizangela precisou de apenas 25” para sair da gina
inicial do jornal Estado de Minas e chegar à notícia
sobre inflação em Belo Horizonte. Ela havia se
declarado não-leitora de jornais digitais e, de fato, pelo
protocolo verbal registrado em nosso teste de
navegação, a estudante nem precisou escanear a home
do jornal para perceber que a manchete sobre a
economia belo-horizontina já estava ali, no topo da
página. Não tomou qualquer decisão, nem mesmo a de
mover a gina para baixo a fim de ver outras notícias.
Não clicou na chamada para ir até o texto integral e
afirmou que, para ela, a notícia era o que se apresentava
ali: a chamada. A informante também menciona a ida a
um motor de busca antes mesmo de verificar que o
jornal já estava aberto diante dela.
209
Vinícius, 25
Impresso Digital Análise
Primeiramente eu vou
abrir o jornal e procurar
se tem algum assunto na
página principal do
jornal. Estou procurando
aqui alguma coisa.
(Escaneia e lê). Na
página principal do
jornal nós temos uma
prévia da notícia “DRT
encontra 24 homens em
regime de escravidão”.
Está na página B6. Vou
estar procurando aqui.
(Folheia) No caderno
Cidades. (Mexe nos
cadernos). Estou na
página B6, como o jornal
indicou na página
principal. Achei.
Primeiramente vou
procurar pelo mouse,
vou deslizar na página
principal. Vou deslizar
com o botão de
rolamento. Tem uma
foto que fala, tem um
link embaixo. Vou
clicar com o lado direito
do mouse em cima.
escrito “pedestre” (na
foto), “Leia também”,
um link, vou estar
clicando com o lado
direito do mouse uma
vez. Aqui nós temos
algumas informações,
com a barra de
rolamento eu vou
deslizar pela página
principal tentando
encontrar algum assunto
relacionado. (Lê). Não
tem nada nesta página.
Vou estar retornando no
botão “voltar, lá em
cima na margem
superior esquerda...
direita... Novamente
estou na página
principal, deslizando
com o mouse, com o
botão de rolamento,
procurando alguma
coisa. Aqui está
constando a notícia, né,
uma prévia da notícia,
“Passagem reservada
para pedestres na obra
da Avenida Antônio
Carlos é interrompida
para a construção de
uma tubulação”.
“Pedestres se arriscam
em obras da Antônio
Carlos”. (Lê a chamada
inteira). Vou estar
clicando no link abaixo,
com o lado direito do
mouse. Aqui nós temos
a íntegra da notícia
completa na página
principal. Achei.
Os leitores do jornal O Tempo impresso mostraram
domínio do protocolo de leitura. VLAS, 25, declara
“adorar” ler, que aprende muito com a leitura e conhece
“vários assuntos”. Para ele, é possível “conhecer todos
os cantos do mundo” e aumentar a capacidade de
“argüição” pela prática da leitura. O estudante declarou
que lia Concerto para a alma, de Rubem Alves, no dia
da entrevista, e havia lido Chico Xavier, Rubem Alves e
Paulo Coelho, nos três meses anteriores. Declara ser ler
jornais impressos “4 ou 5 vezes por semana”, mas não
lê jornais on-line (“prefiro a forma tradicional”). Na
Internet, e-mails e procura informações sobre sua
área de atuação. Lida com vários sistemas digitais e
aprendeu a usar computador no trabalho e em casa.
Ao executar a tarefa de procurar uma notícia sobre
trabalho escravo em Minas Gerais, o estudante faz o
percurso em 1’15”.
No jornal O Tempo, Vinícius gastou 2’16” para fazer o
percurso entre a página inicial do site e a notícia sobre
uma obra na avenida Antônio Carlos. O que ele chama
de “procurar pelo mouse” é justamente “rolar” a página
fazendo o escaneamento das informações. Ele emprega
essa estratégia e confere se a notícia encontrada é a
solicitada pelas pesquisadoras. Fornece um protocolo
verbal completo sobre o percurso, com indicações
detalhadas.
210
Débora, 23
Impresso Digital Análise
Vou pegar o jornal, vou
abrir. (Folheia). Vou
lendo os tópicos. (Lê).
Abro ele. Vou lendo os
tópicos maiores. (Lê).
(Folheia). Achei.
Trabalho escravo.
Obras na Antônio
Carlos. Tô lendo os
tópicos. (Lê). Achei,
quer que eu fale o que
é? Achei. Está aqui.
(Ri). Achei.
Débora declara ter o hábito de ler e que “sempre estou
lendo um livro, nem que seja uma vez por ano”. No dia
da pesquisa, lia As mentiras que os homens contam
(Luís Fernando Verissimo) e, nos três meses anteriores,
havia lido Eu vi o inferno. Declara ler os jornais
impressos Folha Dirigida e Super (respectivamente, às
“quartas-feiras” e “de vez em quando”). Na Internet, faz
pesquisas e utiliza messenger e e-mail. Lida com
aparelho de telefone celular e aprendeu a usar
computador em curso livre.
A informante gastou “52 para encontrar a notícia sobre
trabalho escravo. Embora não tivesse escaneado a PP,
procurou a editoria correta.
Débora também tem que pesquisar notícia sobre obra na
Antônio Carlos no jornal digital. Leva 1’13 para
escanear a página inicial, ver a chamada, clicar e
encontrar a notícia.
Patrícia, 20
Impresso Digital Análise
(Folheia). Matéria de
capa, procurar a página.
(Lê e folheia, procura a
página). Aqui diz
“Pedestre arrisca em
obras na Antônio
Carlos”. Página B5.
(Folheia, procura página,
insistia na página A5
porque não notara que
cada caderno era
indicado por uma letra.
Acha). Está aqui.
Hum... Geral (Clica, lê e
volta). Cidade (clica, lê
e volta). Poderia estar
no Cidades, mas não
estou achando. (Lê).
Você pediu... No
Brasil? (Respondo que
sim). Vou na Procura.
(Ri). Achei. Geral.
A informante gasta 1’25” para cumprir o protocolo de
leitura e encontrar uma notícia sobre uma obra na
avenida Presidente Antônio Carlos, em Belo Horizonte.
Ela declara ter o hábito de ler revistas, jornais, livros
para se informar. Lia Jane Eyre, de Charlote Brant, no
dia da pesquisa e havia lido Dan Brown (Código da
Vinci) e Histórias para aquecer os corações dos
adolescentes, nos três meses anteriores à entrevista.
Declara ser leitora do jornal impresso Estado de Minas
(“alguns dias da semana”), mas não ser leitora de jornais
on-line. Na Internet, usa motores de busca que “não
domina com facilidade”. Lida com vários sistemas
digitais e aprendeu a usar computador na casa dos
amigos e na faculdade (“por necessidades”).
Durante do teste de navegação, mesmo não escaneando
a PP e com a demora em encontrar a página B5, por não
ter atentado para a marcação alfanumérica do jornal,
Patrícia é eficaz em seu trajeto.
Leva pouco mais de 2 minutos para encontrar a notícia
sobre trabalho escravo no jornal digital O Tempo. A
informante, que se declara leitora apenas de jornais
impressos, faz um percurso eficiente na navegação em
ambiente digital. No entanto, não utiliza a página inicial
como hipertexto, não escaneia, e prefere procurar a
clicar na editoria Geral. Em seguida, procura em
Cidade. Volta na editoria Geral e encontra a notícia.
211
Fabrício, 24
Impresso Digital Análise
(Escaneia PP, títulos)
Vou abrir o jornal (ri).
Lendo os títulos aqui
para ver se eu acho
alguma coisa. Lendo
ainda. (Lê PI e folheia).
Vou procurar em outra
página. (Lê). Também
não. (Lê, subvocaliza).
(Lê demoradamente).
(Folheia). Aqui está
falando de agricultura,
mas não é ainda.
(Folheia). Provavelmente
neste não vai ser, é
Magazine. (Repassa os
cadernos e avalia se a
notícia pode estar em
algum deles). Isso aqui?
Flagra de 24 homens em
regime escravo? isso.
Não tinha que folhear
nada. O jornal está aqui.
(Dizemos a ele que não
tinha que folhear o jornal
todo). Eu olhei pela sigla
(DRT) direto, não
entendi o que era a sigla
e pulei. Olhei o
começo das frases. Não
entendi o que era isso...
(referindo-se à sigla
DRT, Delegacia
Regional do Trabalho).
Mas alguma coisa me
levava a crer que era a
última página, não sei o
quê. (Rimos).
(Escaneia a página
inicial) Primeiro eu tô
buscando para ver se eu
consigo achar um tópico
aqui que fala dessa
notícia (escaneia).
Cidades. (Clica).
(Começa a ler notícias
que não têm a ver). Não.
(Outras notícias).
Também não. (Mais
notícias). (lê). Vou em
obras (Digita na Busca).
(Lê todo o menu).
“Público volta a ter
acesso a obras raras”.
Não é. (Fica na dúvida).
Eu estou vendo aqui,
mas não parece ser não:
“O acervo de livros
raros da Biblioteca
Pública Estadual...” (Lê
mais e vai abaixando a
voz, pedimos que ele
volte à home). Home.
(Lê). Estou olhando a
home, mas parece que
não tem. Se tem, pelo
menos, não estou
conseguindo achar.
Brasil perdendo o jogo.
(Aponta para a tela).
(Digita “obras” na
Busca). Humm. Na
busca de novo eu
coloquei “obras na
Antônio Carlos”. Deixa
eu olhar Cidades.
(Escaneia). Também
não. Deixa eu procurar
aqui, Geral. Procurando
no tópico e até agora
nada. (Pedimos que ele
volte à home). Hum.
(Não acha). Estava de
todo tamanho, né?
“Pedestre se arrisca em
obra na Antônio
Carlos”. (Ele não clica,
então perguntamos o
que fará). Imprimir a
notícia? (Ele clica e
entra).
Fabrício declara não ter o hábito de ler, mas é leitor de
jornais impressos (Opinião, “jornal da minha cidade”, e
jornais estaduais “semanalmente”). On-line, não
jornais. Na Internet, faz pesquisas e utiliza Orkut e e-
mail. Lida com vários sistemas digitais e aprendeu a
usar computador em curso livre. O aluno devia procurar
a notícia sobre trabalho escravo no O Tempo. Foram
5’29” para chegar ao texto solicitado.
FVC mal olha para a PP, embora faça o gesto de
escaneá-la. Passa a folhear o jornal como se procurasse
as editorias, perde tempo com cadernos improváveis e
depois assume que leu apenas as palavras iniciais dos
títulos da PP. Como a notícia na chamada começava
com a sigla DRT (Delegacia Regional do Trabalho), que
ele não conhecia, o aluno saltou isso e foi adiante,
perdendo-se no trajeto. Ele procurava a palavra
“escravidão” ou algo tão direto quanto isso, como os
leitores costumam fazer em motores de busca.
Fabrício faz o percurso em 6’08”, um dos maiores
tempos. A tarefa era encontrar matéria sobre obra na
Antônio Carlos no O Tempo on-line. Ele escaneia a
página inicial, mas sem atenção. Perde muito tempo
lendo notícias que não estão relacionadas à solicitada
pelas pesquisadoras, parte para uso do motor de busca
do jornal. A pesquisa por “obras” resulta em mais
problemas. deixa a busca de lado quando pedimos
que ele retorne à home. Lá, ele escaneia com atenção a
página e percebe que a chamada para a notícia estava
embaixo, dependendo de movimentar o scroll.
212
Viviane, 25
Impresso Digital Análise
(Já chega no ambiente de
pesquisa perguntando se
pode sair da tela do O
Tempo para procurar em
sites de busca. Dizemos
que não será necessário.
Escaneia a PP). Vou
abrir o jornal, vou ler,
geralmente... a gente vai
folheando, olho o que
me interessa... (Folheia).
No caso, como é que é?
(Repito o tema da
notícia). (Folheia e lê.
Demora mais de 1 min.
E não acha).
(Subvocaliza). Vou
clicar no Cidades.
(Subvocaliza). Estou
lendo só. Não está aqui.
Vou voltar. (Clica na
seta). (Lê e
subvocaliza). Ah, tá,
estou procurando na
barra aqui. (Lê).
(Subvocaliza). Cliquei
em Cidades para ver se
eu acho alguma coisa
falando sobre as obras
da Antônio Carlos, né?
(Subvocaliza). Cliquei
em Geral. (Lê). Não
consigo ler e falar. Não
achei. Geralmente eu
olho em jornais de
papel. Vamos supor: no
Diário da Tarde você
vai lá na parte policial,
já vai na Cidade, e aqui
não deu. Aqui eu não
achei. (Peço que ela
volte para a home).
Onde? (Volto para ela).
Obra na Antônio Carlos.
(Subvocaliza). (Acha e
fica surpresa). E é onde
que eu moro! Eu moro
perto. (Ri). Tá. Achei.
(Pergunto: e agora?). E
agora o quê? (Pergunto:
vai ficar aí?). Não.
(Como você vai ler a
matéria?). Vou clicar
em cima. Achei.
Viviane, 25, leva 2’95” para fazer o trajeto da PP até a
notícia sobre trabalho escravo. Ela declara não gostar de
ler ler apenas o necessário. Assume sentir falta de “ter o
hábito de ler”. Declara ser leitora do jornal impresso
Estado de Minas (“todos os cadernos”), mas não ser
leitora de jornais on-line. Lida com vários sistemas
digitais e aprendeu a usar computador na escola e no
trabalho.
Viviane não encontra a notícia solicitada porque,
embora escaneie a PP, não com atenção e não
encontra a chamada. Passa muito tempo tentando ler os
títulos dos cadernos e se perde na leitura.
Leva 3’35 para chegar à notícia sobre as obras. Ela
utiliza a estratégia de ir até a editoria Cidades e tenta
encontrar o texto solicitado. Faz isso com bastante
dificuldade, que subvocaliza muito ao executar a
tarefa e tece considerações sobre os jornais de papel
enquanto navega no jornal on-line. Consideramos que
perceba as semelhanças e tente fazer trajeto parecido
com o que costuma fazer em papel. Viviane encontra
a notícia depois que indicamos a home como pista e ela
consegue escaneá-la e ler a chamada. Mesmo assim, a
estudante não clica, considerando que a notícia é apenas
o lide.
213
Raiane, 19
Impresso Digital Análise
Primeiramente vou abrir
o jornal (Ri). (Folheia).
Primeiro vou ler todos os
temas maiores aqui. (Lê).
(Folheia). É isso aqui?
“Pedestres...”. (Dizemos
que sim e perguntamos o
que ela faz com a
primeira página do
jornal, que nem sequer
a leu). Quase nunca olho,
se tiver alguma coisa
assim, por exemplo,
alguma coisa que passou
no jornal, na televisão,
eu olho. Se for estas
coisas assim (referindo-
se à notícia sobre a obra
na Antônio Carlos), não.
Escravidão? Primeiro eu
colocaria em Busca.
(Digita). Estou
digitando “escravidão”
aqui em Busca. (Lê).
Abriu uma página aqui,
não tem nada a ver.
(Lê). Vou voltar, vou
clicar em Gerais. (Lê e
subvocaliza). Em Gerais
não tem nada então vou
clicar em Cidades. Aí
achei “Fazenda em
Minas mantinha 24 no
trabalho escravo”. Vou
clicar aqui.
Raiane, 19, declara ter o hábito de ler e que “a todo
instante, no trabalho, em casa e na escola, estou sujeita a
ler”. Não lia livros nem no dia da pesquisa e nem nos
três meses anteriores. Declara ser leitora dos jornais
impressos Estado de Minas e Super. Não jornais on-
line. Na Internet, faz pesquisas e utiliza chats, Orkut, e-
mail e “sites legais”. Lida com vários sistemas digitais e
aprendeu a usar computador em casa e no trabalho.
No O Tempo impresso, ela procurava notícia sobre obra
na Antônio Carlos (não tivemos condições técnicas de
medir o tempo gasto). Ela chega rapidamente ao texto
solicitado que tem em mãos a editoria correta, entanto
demonstra ignorar a utilidade da PP e fornece o
argumento de que primeiras páginas se a notícia
que lá estiver for redundante com relação a outros meios
de obter notícias: televisão, Internet. Esse depoimento
diz muito sobre a concorrência entre os meios de
comunicação em relação ao conteúdo noticiado e
corrobora um comportamento do leitor de jornais
impressos: o desejo de se aprofundar, não o de obter a
notícia em primeira mão. Essa discussão vem sendo
ampliada por pesquisadores que estudam as mudanças
de função da imprensa, a depender dos meios em que as
notícias se propaguem.
A informante menciona os motores de busca como
primeira solução para encontrar a notícia e faz uma
tentativa ineficaz. Em seguida, procura duas editorias
que poderiam estar relacionadas com o assunto
escravidão, na última delas, encontra o texto integral
solicitado.
214
Graziela, 20
Impresso Digital Análise
Estou lendo, né,
professora. (Escaneia).
Aqui estou vendo uma
obra na Antônio Carlos
já. (Lê a chamada para
nós). Mais? (Folheia).
Primeiro eu vi lá, né, a
foto. E vi a página.
Agora eu tenho que
achar. (Folheia). Tá na
página 15, mas não tem
nada aqui. (Folheia mais
e avalia a página errada).
Hã? (Folheia).
procurando B5 (mas
estava no caderno A).
(Perguntamos por que
ela não encontrava e ela
resume a notícia para
nós). Eu estava
procurando B5, eu li
errado. Eu vi aqui a
notícia ao lado. Fui
direto na foto e vi do
lado, mas era outra
notícia.
Tá, eu vou no Google.
Vou buscar no Google.
(Dizemos a ela que o
jornal está aberto). Ah,
tá? Então vou em
Busca, “escravidão”.
(Começa a ler uns
trechos de notícias). É,
como é professora?
Vivendo em regime de
escravidão?
Trabalhando em algum
lugar assim? No caso
aqui seria condenar...
(Lê outra notícia). Quer
que entra? Porque eu fui
no Buscar para entrar lá
no jornal. (Pedimos que
ela volte à home).
Home? Primeira
página?. (Dizemos que
sim). (Escaneia e lê). Na
primeira página eu não
estou achando. Eu acho
que poderia ir na Busca
e ia me dar a página.
(Perguntamos por outra
estratégia). Procurar
Geral. (Lê). Acho
melhor parar porque eu
não achei não. Só fala
de juiz, de outra coisa.
(Avalia). Vou em
Cidades. (Clica e lê).
Também não. Nossa,
está difícil procurar.
Economia. (Lê notícias).
Professora, não estou
achando. (Pedimos que
ela volte à home).
Home? (Volta). Jornal.
(Lê). Em Cidades não
achei. (Mostramos a ela
onde estava).
Graziela, 20, precisa encontrar a notícia sobre obras na
Antônio Carlos e, para isso, gasta 2’38”. A informante
declara ter o hábito de ler “mais ou menos”, e que “leio
mais coisas que me interessam e quando tenho que ler
mesmo”. Não lia livros nem no dia da pesquisa e, nos
três meses anteriores, havia lido Violetas na janela.
Declara ser leitora de jornais impressos (Estado de
Minas e Pampulha) e não ler jornais on-line. Na
Internet, utiliza e-mail. Lida com vários sistemas
digitais e aprendeu a usar computador em casa.
Também ela se confunde com a marcação alfanumérica
do Tempo e perde tempo procurando no caderno errado.
No entanto, escaneia a PP, logo a chamada
(manchete) e manipula o jornal.
Graziela leva 4’15” para chegar à notícia sobre trabalho
escravo. Ela tem o impulso iniciar de fazer pesquisa no
motor de busca mais conhecido atualmente. Não
permitimos, mas ela faria uma pesquisa ineficiente,
digitando a palavra “escravidão”, o que resultaria em
mais problemas. Tem dúvidas quanto ao que seja home,
não escaneia a página inicial, entra em uma editoria, em
outra, em uma terceira, todas pertinentes, não encontra a
notícia. Mostramos a ela onde estava a chamada e ela se
surpreende.
215
Maurício, 18
Impresso Digital Análise
Sobre inflação..?
(folheia) estou
procurando em
Economia ou em
Política, mas eu acho que
está em Economia.
Inflação, não é? Vou na
página A12 A16 de
Economia. (pega o jornal
Estado de Minas). Ó!
Pensei que era um só.
(Folheia) Estou
procurando o caderno de
Economia, que eu acho
que está aqui dentro.
Vamos lá, a página A12.
(Folheia). Vou na parte
Geral para ver se está.
(Folheia). Página 17,
página A6. Trabalho
escravo, trabalho
escravo... (Folheia) Aqui
não vai estar. Cidades,
pode ser. 19. (Folheia e
lê). Achei. O título é
“Lista suja tem dois
empregadores de Minas
Gerais”, hum... Achei?
“Fazendeiros...”
O Tempo... problemas
de? Obras? Antônio
Carlos. Passar pelo link.
Não, não. (Lê a página
inicial e subvocaliza).
Estou procurando o
título da matéria. Como
que é? Mulheres?
Problemas com
pedestres na Antônio
Carlos. Vou tentar aqui
para ver se eu encontro.
(Vai na Busca do
jornal). Mais fácil.
Vamos ver se ele vai me
dar... (subvocaliza).
Difícil, viu. Vou no link
Cidades para ver se eu
encontro. (Lê). Ainda
não está. Estou
procurando o link
problemas com
pedestres na Antônio
Carlos. Já coloquei. Vou
ver em Geral agora. Eu
acho... (Espera e lê).
Ainda não. (Lê). Ainda
não. (Digita). Estou
digitando agora Antônio
Carlos para ver se ele
me dá algum link. (Na
Busca). Ainda nada,
aqui. (Subvocaliza os
títulos das notícias e eu
peço para voltar para a
home). (Dificuldades
com o navegador).
Vamos voltar. Pronto.
Tem algum link digital?
Achei agora uma
matéria que está
relacionada com o que
você falou: “Pedestres
se arriscamem obra na
Antônio Carlos”. Achei.
Maurício, 18, declara não ser leitor de jornais
impressos, mas ser usuário de chats e motores de busca,
além de ler “as manchetes” dos jornais digitais todos os
dias. Lida com vários sistemas digitais e aprendeu a
usar computador em casa. Quando pedimos que ele
encontrasse uma notícia sobre trabalho escravo, no
jornal O Tempo digital, registramos que ele opta por
procurar nas editorias, manipulando o jornal antes de
escanear a primeira página. Com isso, demora mais de 4
minutos para encontrar o texto solicitado. Nesse
percurso, troca os jornais e não encontra o texto correto.
O informante, no Tempo on-line, procura matéria sobre
obra na avenida Antônio Carlos. Gasta mais de 4
minutos para recorrer ao motor de busca do jornal e
encontrar resultados que não respondem ao que ele
precisa. Em seguida, quando consegue retornar à página
inicial, passa a procurar nas editorias relacionadas ao
tema. Depois de muitas idas e vindas, encontra.
216
Rafael, 22
Impresso Digital
Jornal. Vou olhar na
página, na primeira
página, manchete em
destaque aqui. Obra na
Antônio Carlos. Como
título “Pedestres se
arriscam em obra na
Antônio Carlos”.
(Folheia). Página 5.
(Folheia). (Interfiro
porque ele se desviou do
tema e passou a procurar
o tema da Antônio
Carlos). Ah, é trabalho
escravo. Estou
procurando relacionado a
obra... trabalho escravo.
Encontrei na primeira
página. (Folheia).
Trabalho escravo.
(Folheia). Professora,
não estou encontrando.
Não estou achando.
(Peço para ele ter calma).
Ah, tá, está aqui
embaixo. “DRT encontra
24 homens em regime de
escravidão”, página B6.
(Folheia, desdobra). B6.
Letra B maiúscula na
capa do caderno.
Encontrei. (Lê o título).
Obra na Antônio Carlos
está relacionado com
Cidade, cidade de Belo
Horizonte. Belo
Horizonte, 3 de agosto
de 2006, obra na
Antônio Carlos (Lê a
página). Trânsito.
“BH...” (Lê títulos).
Não acho. (Volta para a
home). Não estou
encontrando. “Passagem
reservada...”, “Pedestres
se arriscam em obra na
Antônio Carlos”. Achei.
Rafael, 22, declara gostar de ler e procura se informar
sobre os acontecimentos. Declara não ser leitor de
jornais impressos, mas ser leitor dos jornais digitais
Folha de S.Paulo e O Tempo, diariamente. Na Internet,
“busca informações”. Lida com vários sistemas digitais
e aprendeu a usar computador no trabalho, 3 ou 4
anos. No jornal O Tempo, procura por uma notícia
sobre trabalho escravo e gasta pouco mais de 2 minutos
para cumprir a tarefa. No percurso, escaneia a primeira
página, perde-se na procura porque confunde a primeira
e a segunda tarefas, mas acha a notícia.
Rafael procura notícia sobre obra na Antônio Carlos, no
jornal O Tempo. o tivemos condições de medir seu
tempo, mas ele não demora a encontrar o que procura
pelo trajeto das editorias, disponíveis no menu à
esquerda da tela.
217
Romena, 21
Impresso Digital
(Folheia). Estou
procurando aqui na folha
principal, se tem alguma
coisa. “Zoonoses em más
condições”. Página 23.
Procurando a página.
(Folheia). “Saúde sob
ameaça”, zoonoses
(aponta a foto).
Vou procurar, vou ver
se a barra de rolagem
aqui. Qual é a pergunta?
(Respondo). Inflação
em BH? Estou
procurando. (Escaneia).
Achei. “Inflação em BH
é 10 vezes maior”.
Romena, 21, declara que tem o hábito de ler “toda
semana, pelo menos uma revista e estou sempre lendo
um livro, assim, um após o outro”. Declara não ser
leitora de jornais impressos, mas declara ler o site da
prestadora (provedor de acesso) de que é assinante e as
notícias que procura. Na Internet, faz pesquisas, utiliza a
conta bancária e faz compras. Lida com vários sistemas
digitais e aprendeu a usar computador em casa.
Pedimos que a informante procurasse pela notícia do
jornal Estado de Minas que tratava de problemas no
setor de zoonoses da Prefeitura. O percurso dela
demonstra conhecimento da função de sumário da
primeira página, que ela escaneia a encontrar,
rapidamente (57”) a notícia.
Nos jornais digitais, de que se declararam leitores mais
freqüentes, os informantes mostraram domínio
relativamente bom do protocolo de leitura.
Romena foi investida da tarefa de procurar, no jornal
Estado de Minas, uma notícia sobre inflação em BH.
Para isso, gastou 37 segundos. Escaneia a página inicial
e encontra o link para a notícia.
Daniele, 27
Impresso Digital
Vou abrir a página
principal aqui, vou dar
uma olhada,
normalmente aqui você
tem um resumo de tudo
que tem no jornal. É... (lê
as chamadas em voz alta
e começa a
subvocalizar). Bom,
trabalho escravo?
(Subvocaliza). Isso aqui
pra mim... tá. (Lê em voz
alta várias chamadas que
não estão relacionadas).
Aqui também tem... (Lê
chamadas e títulos em
voz alta, resolve ler todos
os títulos do jornal).
Trabalho escravo? Bom,
não sei se passou
despercebido... Vou dar
uma folheada aqui. (Lê
mais títulos, folheia
mais). Estou um pouco
nervosa, não sei se
passou, vou continuar
procurando. Que
Vou procurar “obra” no
Cadê. Éh... que é o site
que eu acho melhor.
Não... primeiro eu vou
na Globo.com.
(Interferência da aluna
de Iniciação Científica,
que pede que Danielle
procure dentro do
jornal, que estava
aberto na tela). Tá. É
porque tudo eu tenho
costume no Google,
Cadê, Radics (?) (Ri).
Eu estava procurando se
por acaso estava em
aberto aqui, alguma
coisa falando da
Antônio Carlos, e estou
vendo “Pedestres se
arriscam em obra na
Antônio Carlos”. Achei
aqui alguma coisa. (Lê a
chamada inteira). Eu
procurei assim ver a
página inteira para ver
se tinha alguma coisa
Daniele, 27, declara não ser leitora de jornais impressos
(lia “há muito tempo, o jornal O Hoje”), mas lê, uma
vez por dia, o jornal O Globo on-line. Na Internet, faz
pesquisas sobre trabalhos e música. Lida com vários
sistemas digitais e aprendeu a usar computador em um
curso livre. No Tempo impresso, sobre trabalho
escravo.
Embora a informante demonstre conhecer a função da
primeira página do jornal, não tem atenção suficiente ao
escaneá-la e passa a folhear, no que perde muito tempo
lendo títulos e tecendo considerações sobre as notícias
que lê. Com a falha no protocolo da PP, ela gasta pouco
tempo (não tivemos condições de medir). Daí em
diante, ela passa a procurar em todas as páginas do
jornal o texto integral da notícia.
Daniele procura sobre obra na Antônio Carlos em 2’18,
ainda assim, manifesta vontade de ir direto a um motor
de busca, antes mesmo de observar o site do jornal,
aberto em sua frente. Quando escaneia a página inicial,
percebe a chamada da matéria logo na entrada e clica,
encontrando o texto solicitado.
218
vergonha. (Lê mais
títulos e folheia). Hum...
(Lê mais títulos e começa
a comentar as notícias.
Demora vários minutos
fazendo isso). Tem muita
coisa interessante.
(Continua lendo títulos).
Esse “Minas tem
plantação proibida” é
uma forma de trabalho,
mas... não é.
(Lembramos a ela que se
trata de uma notícia
sobre trabalhadores em
regime de escravidão).
É... é um trabalho de
plantio, mas do jeito que
está... deve ter menores
trabalhando aqui. Vou ter
que ler a reportagem
inteira. Mas você já
adiantou aí, deve ser isso
mesmo. (Interferimos
para dizer que não era).
(Subvocaliza). Ah, isto
aqui é. (Lê alto mais uma
chamada). Aí ó. (Lê mais
e tenta relacionar as
notícias que lê ao tema
pedido, comenta as
notícias, folheia, aprecia
as notícias, ri, comenta
que não gosta de notícias
tristes, demora mais de 5
min. ) “DRT... mais de
24 homens em regime de
trabalho escravo”, eba!
“Vindos do Ceará,
trabalhadores...”, logo na
última página! (Todos
rimos). Vocês me
fizeram ler tudo! “Colher
Café...”, aí, achei, vocês
fizeram de propósito!
(Interfiro para mostrar a
ela onde estava a
chamada de capa sobre a
notícia). Aiiiiii!
Hummmm, eu não vi!
(Ri). Justo aqui.
falando da Antônio
Carlos, né. Eu não tenho
costume de acessar o
jornal O Tempo, eu
gosto mais do
Globo.com, acho mais
completo. Mas já que
este aqui está aberto e
você não deu outra
opção, eu vou abrir aqui
esta parte que fala de
uma obra, vou dar uma
lida. (Clica). Achei.
219
Danília, 20
Impresso Digital
Inflação em Belo
Horizonte? Nossa. Eu
odeio esse negócio de
inflação! pra começar.
(Ri e escaneia). lendo
para ver se tem a ver
com o assunto, mas
parece que tem. É, tem.
Página 14. ir lá,
página 14. (Folheia).
Tcharam! Achei. Já?
De quem? (Explicamos
de novo que é
zoonoses). Ah, tá!
Ãham, legal. (Escaneia).
Primeiro vou buscar
para depois começar a
procurar uma coisa que
eu não sei. (No menu de
notícias). Uma notícia
sobre zoonoses. Isso
tem alguma coisa a ver
com zoológico? Estou
procurando por notícias.
Ai, meu Deus (Ri e
subvocaliza). Não estou
achando. Não pode ser
pelo Google ou pelo
Cadê não? (Dizemos
que o jornal está diante
dela). (Escaneia e
subvocaliza).
Gastronomia. Não sei
por onde procurar aqui.
Como é que chama?
(Zoonoses). Vou
pesquisar pela palavra.
(Busca). Tem algumas
notícias. (Lê). Nossa,
2002! Coloquei
“zoonó”. Aí agora vou
procurar o resto.
(Pedimos que ela volte
para o jornal porque ela
havia derivado). Hã.
(Volta). O que você
falou que era mesmo?
Esqueci. (Explicamos
novamente). Tá mais
você me falou o que
significa “zoonoses” e
eu esqueci. (Não
havíamos explicado o
que era e então
explicamos, “doenças
relacionadas a
animais”). Ahhhh! Sim.
Hum Hum. (Lê
novamente a tela). Não
é isto não? Notícia sobre
doença em laranjas?
Não. (Mostra uma
notícia e dizemos que
não é). (Ela se mostra
frustrada, não tem mais
o que fazer, pedimos
que ela retorne à home
Danília, 20, declara não ter o hábito de ler e que “antes
de entrar na faculdade, não tinha esse hábito. Hoje, para
entender melhor as matérias, é necessário”. Não lia
livros nem no da pesquisa e nem nos três meses
anteriores. Declara não ser leitora de jornais impressos,
mas ler on-line “às vezes”, O Globo. Na Internet, utiliza
e-mail, Orkut e messenger. Lida com vários sistemas
digitais e aprendeu a usar computador em casa.
Também no Estado de Minas, procura pela notícia sobre
inflação em BH.
A informante faz o percurso a partir da leitura da
primeira página e encontra a notícia no EM com rapidez
e eficiência (1’12”).
Danília gasta 5’19” para fazer a procura da notícia sobre
zoonoses no EM digital. O principal fator que causa
embaraço para a informante é o fato de não saber o
significado da palavra zoonoses e ter vergonha de
perguntar às pesquisadoras. Ela manifesta vontade de
pesquisar em motor de busca, como se eles oferecessem
saída para o leitor que sequer sabe o que procura. Não
cumpre a tarefa, mas se surpreende quando mostramos o
mecanismo a ela a partir da home.
220
do jornal e ela não sabe
o que é. Mostramos
onde a notícia estava na
página inicial e ela
demora a encontrar).
Ah, ué. Achei (ri
muito)! Estava aqui o
tempo todo! Pois é.
Cláudia, 21
Impresso Digital Comentários
Primeiro eu vou procurar
uma página que tenha
esse tipo de notícia, né.
Vou excluir página de
esporte, esse tipo de
coisa. (Folheia). Vou
procurar mais na parte de
notícias gerais. (Folheia
e lê por mais de 1min.).
É trabalho escravo, né?
(Folheia). Agora eu vou
olhar pelos títulos porque
eu não tenho muito
hábito de ler jornal,
então... (Folheia e lê
título por título). Tenho a
sensação de que passei
pela notícia várias vezes
porque está todo mundo
olhando para mim, aí eu
fico nervosa (referindo-
se a mim, à orientanda
de Iniciação Científica e
ao cameraman). (risos).
Mas é porque eu nunca
leio jornal, então...
(folheia, vai e volta nas
páginas, ri). Procurei em
todo o jornal, menos nas
... (Acha e ri)
Primeiro vou nas
notícias Geral. (Clica e
lê). Eu vou em busca
aqui que é mais fácil.
Vou em “obras”.
Alguma notícia sobre as
obras que estão tendo.
(Digita na Busca do
jornal). (Lê e demora).
Estou procurando“obras
públicas” ou “serviços
públicos” porque digitei
anteriormente “obras”,
mas apareceu outro
esquema que estão
totalmente relacionados
com o que a gente está
procurando. (Lê).
Apareceu várias obras e
eu estou procurando a
minha. Também não foi
uma boa estratégia
porque não apareceu
de BH, apareceu muito
mais. (Como ela havia
saído da página do
jornal, pedi que ela
retornasse à home do O
Tempo). No jornal?
(Volta e a home).
(Interfiro para que ela
volte ao jornal
corretamente). Achei!
(Ela a home pela
primeira vez). Está bem
na primeira página do
jornal com uma foto.
(Ri).
Cláudia, 21 anos, declara não ter hábito de ler “porque
leio quando necessário e quando é um assunto de
interesse próprio”. Não estava lendo no dia da pesquisa
e nem nos três meses anteriores. Declara não ser leitora
de jornais impressos e nem on-line. Na Internet, faz
pesquisas. Lida com vários sistemas digitais e aprendeu
a usar computador em casa. Trabalho escravo era o
tema de sua pesquisa no jornal O Tempo. Ela optou por
ir até a editoria mais pertinente, por exclusão. Leu todos
os títulos de matérias internas, mostrou-se nervosa,
folheou o jornal e encontrou o texto, tudo em pouco
mais de 3 minutos.
Cláudia levou 3 minutos e meio no jornal O TEMPO
procurando notícia sobre a avenida Antônio Carlos. Ela
opta por procurar diretamente na editoria que julga
relacionada ao assunto, vai até o motor de busca do
jornal, retorna ao jornal com a ajuda das
pesquisadoras e encontra a matéria sob orientação
nossa.
221
Daiane, 20
Impresso Digital
Vou pegar na primeira
página. (Lê e folheia).
Humm. Procurando,
procurando. Qual é o
tema? (Inflação em BH).
Outra página, estou
procurando. (Folheia).
Não achei. Aqui não tem
nada. Vamos para outra.
(Folheia e lê, começa a
ler títulos, considera que
encontrou a notícia e nós
dizemos que não). Não?
(Folheia mais). Aqui,
aqui!
Olho aqui. Fui no
caderno Política e estou
procurando. Até agora,
nada. Procurar... Nada,
nada. No caderno, não.
Nada. (Lê).
Internacional. Vamos no
Gerais. (Lê). Também
não. Nacional.
(Subvocaliza). De novo,
parece que não. É o que
mesmo? (Problema na
Prefeitura no setor de
Zoonoses). Ah, tá. (Lê
mais). Estou lendo,
procurando. (Demora
alguns minutos). É isso
aqui? Difícil, hein? Não
está aqui não. (Pedimos
que ela volte para a
home). Vou olhar um a
um aqui. Deve ser
Política. (Lê). Nada.
(Sai da home e pedimos
que ela retorne).
(Escaneia). O quê?
(Lembramos do
problema com o setor de
Zoonoses). (Lê).
(Mostramos a ela onde
estava e ela, ainda
assim, não enxerga).
Ah, é! Nossa! Que
triste! (Rimos)
Não-leitores de jornais, em ambientes de qualquer
natureza, nos pareceram, desde o início, os informantes
com chances de serem menos letrados e, portanto, mais
propensos a encontrar obstáculos na leitura de jornais
on-line e impressos. Daiane, 20 anos, é incoerente em
suas declarações. Nas respostas ao questionário de
perfil, diz que tem o hábito de ler e que é “muito
tranqüila para ler qualquer tipo de texto”. Em seguida,
vemos que não lia no dia da pesquisa e nem nos três
meses anteriores, além de se afirmar não-leitora de
jornais impressos ou digitais. Na Internet, faz pesquisas
e utiliza messenger e Orkut. Lida com vários sistemas
digitais e aprendeu a usar computador em casa e em um
curso livre.
Ao procurar notícia sobre inflação em BH, no Estado de
Minas impresso, ela escaneia a primeira página, folheia
o jornal e demora a encontrar a notícia. Cumpre sua
tarefa em 4’21”, muito tempo em relação a outros
leitores.
Em ambientes digitais, os mesmos informantes tiveram
comportamentos semelhantes ao que demonstraram nos
jornais impressos. Daiane levou 7 minutos e meio para
encontrar a notícia sobre o setor de zoonoses de BH no
Estado de Minas. Ela faz a opção de ir até a editoria
Geral e se perde em links que não a levarão ao texto
solicitado. Mostra mais dificuldade em navegar neste
ambiente do que no impresso. Não encontra a notícia
sozinha, mesmo ao indicarmos a página inicial do site
como sumário.
222
Jaqueline, 21
Impresso Digital
Na primeira página eu
vou procurar mais ou
menos onde que está
falando alguma coisa
nesse sentido. (Escaneia).
(Lê e folheia). Caderno.
Estou procurando neste
caderno para ver se tem.
(Primeiro caderno).
Zoonoses, né? (Folheia).
Estou no caderno de
Política. (Ri). (Folheia e
subvocaliza). Deve estar
no Gerais. Classificados,
não. Esportes também
não. Tinha que estar
aqui, ó (mostra o
primeiro caderno).
Achei, é este mesmo?
Ué, foi o primeiro que eu
achei. Eu li aqui sobre
Leishmaniose, e é uma...
(cara de óbvio).
Inflação em BH? Estou
entrando no ícone de
Economia (escaneia).
Economia
(subvocaliza).
“Inflação...”. você
clica no mouse, você
entra e aí está falando,
você acha a matéria.
Jaqueline, 21 anos, declara não ter o hábito de ler “só
leio porque são matérias relacionadas ao meu curso” e
não jornais impressos nem digitais. Na Internet, faz
pesquisas e utiliza e-mail. Lida com vários sistemas
digitais e aprendeu a usar computador em casa. A
procura pela notícia sobre o setor de zoonoses da
Prefeitura de Belo Horizonte levou 2’23 e seguiu um
trajeto pertinente: escaneou a primeira página, procurou
na editoria relacionada e não cumpriu a tarefa antes
porque não foi atenta o suficiente para encontrar a
chamada de capa.
Jaqueline precisa encontrar, no Estado de Minas, um
texto sobre inflação em BH. Faz isso em pouco mais de
1 minuto, mas opta por procurar nas editorias, sem
escanear a página inicial do site.
Regina, 30
Impresso Digital
Inflação em Belo
Horizonte? Deve ser na
página de Economia, né?
Então vou procurar as
páginas de Economia.
(Folheia). Realmente eu
não tenho muita
habilidade com jornal
não, tá? Inflação em
Belo Horizonte... eu
sempre espalho as folhas
todas, é uma loucura.
Está aqui.
Uma notícia sobre um
problema na Zoonoses.
Tá. Vou procurar aqui
para ver se eu encontro
algum tema relacionado
a saúde. (Escaneia e
subvocaliza). Política.
Não. (Subvocaliza).
“Zoonoses em más
condições”, está aqui.
Eu subi a tela, baixei
a tela, né? Está aqui.
“Zoonoses em más
condições”, achei.
“Agentes...” (Lê a
chamada para nós, mas
não pensa que deve
clicar para encontrar a
matéria. Depois disso,
ela clica).
Regina, 30 anos, declara não ter o hábito de ler e não ser
leitora de jornais impressos nem on-line. Não usa
Internet (“Não gosto de Internet”). Lida com vários
sistemas digitais e aprendeu a usar computador em casa.
Ao procurar notícia sobre inflação em Belo Horizonte
no jornal Estado de Minas, ela leva apenas 48 segundos.
Vai até a editoria pertinente sem percorrer a primeira
página e depara com a matéria já no caderno 1.
Em pouco mais de 1 minuto, Regina chega à notícia
sobre zoonoses no EM. Ela escaneia a página inicial,
encontra a chamada, mas toma a iniciativa de clicar no
link apenas depois que solicitamos que ela encontre o
texto integral.
223
Simone, 31
Impresso Digital Análise
Zoonoses? (Folheia).
Vou olhar aqui o jornal
todo. Zoonoses. Deixe-
me ver, vou folheando
ele aqui. (Folheia). Bom,
segunda página, ainda
não tem nada não. Vou
procurar um título bem
grande, deve ser alguma
coisa assim. (Folheia).
Não, não. (Folheia).
Aqui a gina da
inflação. (Folheia e lê).
Jornal fala muito de
política, então deve ser
uma coisinha bem
pequenininha.
(Subvocaliza). Vo
acredita que eu nunca
parei para ler um jornal?
Não sei nem procurar um
jornal. (Folheia). Aqui
não deve ser. (Folheia).
Aqui não tem zoonoses
não. Deve estar aqui.
Vou ficar aqui o dia
inteiro e não vou achar
nada, viu? (Pedimos que
ela retorne à primeira
página). (Lê e
subvocaliza). Ah,
“Zoonoses em más
condições” (Lê a
chamada para nós).
Então, aqui. gina 23,
ah, isto aqui é um
resumo, né? Então eu
vou na página 23, agora
é achar. (Folheia). O
caderno acaba na página
19. Vou procurar em
outro. (Folheia). Vou ter
que voltar para ver.
Não olhei o número
correto. É ele mesmo.
Olhei. São vários jornais
misturados? (Explicamos
que é um jornal e vários
cadernos). Ah, tá? Vou
procurar o texto.
(Folheia). 18... 19...
também não. Página 23,
achei. Está aqui. “Saúde
de agentes sob ameaça”,
Inflação em Belo
Horizonte? Bom, aqui já
está numa matéria. Vou
voltar. Aqui é a página
principal. Vou ler, né?
Onde tem em BH, vou
clicar em Minas, deve
ter alguma coisa.
(Subvocaliza). Cai na
mesma matéria de capa,
vou voltar para ver.
Talvez pode ser ela.
(Subvocaliza). “Inflação
de BH é 10 vezes
maior”. Bom, será que
tem alguma coisa mais
dessa matéria? Inflação
de BH. Mas aqui fala da
inflação de Belo
Horizonte, então pode
ser ela mesmo?
(Dizemos que sim e ela
lê a matéria para nós).
Simone, 31 anos, demorou 8’20” para cumprir a tarefa
de encontrar uma notícia sobre zoonoses no EM
impresso. A informante havia se declarado pouco
habituada a ler e disse que “justifico sempre a falta de
tempo, mas é sempre uma desculpa”. Declarava-se não-
leitora de jornais impressos ou on-line. Na Internet,
sabia fazer pesquisas. Lida com vários sistemas digitais
e aprendeu a usar computador no trabalho.
A informante levanta hipóteses sobre a diagramação da
notícia, hipóteses que poderiam estar corretas, não fosse
o fato de que notícias sobre saúde não estariam entre as
notícias de política. Quando ela escaneia a primeira
página e encontra a chamada, demonstra estar satisfeita
com o lide e pensa em procurar o texto integral
quando interferimos no processo. Além disso, ela
mostra desconhecer a estrutura do jornal em cadernos.
Simone gasta 3 minutos e meio para fazer o percurso da
página inicial até a notícia integral. A dificuldade que
demonstrara no jornal impresso parece minorada no
site. Ela logo a manchete na página inicial e sabe que
deve clicar para ter acesso ao texto.
224
quer que a matéria?
(Dizemos que ainda
não). Achei, página 23,
Zoonoses. É complicado
olhar jornal, né? Eu
nunca tinha parado para
pensar nisso. Eu também
não sabia que tinha
indicação de página não.
Acabou?
Maria, 22
Impresso Digital
Pode? (Escaneia). Aqui,
“Inflação de BH é 10
vezes maior”. (Pedimos
que ela encontre a
notícia). Eu olhei a
página e estava escrito
que estava na página 14.
(Folheia). Estou indo na
página 14 do jornal,
achei. “Inflação de
Belo...”. Achei, no
caderno de Economia.
Zoonoses? (Escaneia).
Estou olhando aqui do
ladinho, aqui no
caderno, estou
procurando a palavra
“zoonoses”. Não achei.
(Procura do menu à
direita). Não achei. Vou
aqui nas notícias, em
cima, e vou procurar a
palavra “saúde”, porque
zoonoses tem a ver com
a Saúde. (Digita). Não,
saí totalmente do
negócio. Voltei para o
caderno, para o jornal
Estado de Minas, estou
olhando do lado, no
jornal, estou procurando
alguma palavra que está
relacionada com
zoonoses e não estou
achando. Vou colocar
Gerais para ver se eu
acho alguma coisa.
(Escaneia). Nada
(Subvocaliza). “Agentes
sob ameaça...”,
“zoonoses”, achei.
Em 27 segundos Maria, 22 anos, chega ao texto
solicitado sobre inflação em BH. Apesar de declarar não
ser leitora de jornais impressos nem digitais, ela se julga
leitora de outros objetos. Na Internet, faz pesquisas.
Lida com vários sistemas digitais e aprendeu a usar
computador em casa (“com meu namorado e meu
cunhado”) e na faculdade (“com os amigos”). A
informante escaneia a primeira gina do Estado de
Minas, encontra a manchete com facilidade, vai até a
página interna indicada e encontra a notícia na íntegra.
Maria gasta pouco mais de 2 minutos para chegar ao
texto sobre zoonoses no jornal Estado de Minas. O
percurso feito pela informante é escanear, procurar no
menu à direita, até chegar à editoria correta. Mostra
desatenção ao escanear a página inicial e é isso que a
atrasa no cumprimento da tarefa.
225
Lúcia, 42
Impresso Digital
Então aqui na primeira
página. Eu acho que vou
encontrar essa notícia.
Está na gina 23.
(Folheia). (Lê a página).
Achei.
Inflação em Belo
Horizonte. Olha tem
uma coisa aqui que
“Inflação em BH é 10
vezes maior”. até
achei. (Não clica, fica
lendo apenas o topo da
página, parece não ter
intimidade com o
mouse). No início aqui
tem uma reportagem
que fala que a “Inflação
em BH é 10 vezes
maior”. Onde posso
saber mais sobre isso
aqui neste jornal?
Economia, né? Na parte
de Economia? ( o
topo da notícia, mas não
clica). Sinceramente, eu
não sei onde procurar.
Era aqui mesmo, será?
Eu cliquei em Economia
e apareceu a Inflação
em BH é a maior de
novo. E ele está falando
sobre sacolão.
(Perguntamos como ela
faria para ler o resto da
matéria). Pois é, como é
que eu vou conseguir
chegar, abrir essa
matéria toda aqui?
(Perguntamos como ela
fez). Não sei ao certo,
mas cliquei aqui e achei.
(Dizemos que está certo
e ela fica surpresa). Só
isso? É mesmo?
Lúcia, 42 anos, declara não ter o hábito de ler e que
“apenas um livro ao ano”. Não lia livros nem no dia da
pesquisa e nem nos três meses anteriores. Declara não
ser leitora de jornais impressos nem on-line. Na
Internet, faz pesquisas. Lida com poucos sistemas
digitais (aparelhos de som e caixas de banco) e
aprendeu a usar computador na faculdade. A notícia
sobre zoonoses foi buscada por meio de um protocolo
bastante eficiente: escanear, ler, ir até a página interna
indicada e encontrar a notícia.
Lúcia navega no jornal Estado de Minas e procura
notícia sobre inflação. Não tem intimidade com o
computador e hesita em utilizar o mouse. Mesmo assim,
ela intui os caminhos pelos quais deve passar para
cumprir a tarefa solicitada pelas pesquisadoras. Ela
observa a página inicial e encontra a chamada, lê, mas
não tem idéia de como manipular a tela, como ter acesso
ao resto do texto. Busca uma editoria, mas não tem
segurança do que está fazendo. Fica surpresa ao
encontrar o texto.
226
APÊNDICE 6
Respostas ao teste de leitura baseado no Saeb.
Estado de Minas
Informante
Resposta D1
Inflação em BH Zoonoses em más condições
Breno IPCS: Índice de preços ao consumidor
semanal; IPCA: Índice de preços ao
consumidor amplo
O mosquito transmissor da leishmaniose
Danília Preços ao consumidor final (IPCS); Preços
ao consumidor amplo (IPCA)
Não respondeu
Daiane IPCS: Índice de preços ao consumidor
semanal; IPCA:
Flebótomo segundo o texto significa
Transmissor da doença
Eduardo IPCS: Índice de preços ao consumidor
semanal; IPCA: Índice de preços ao
consumidor amplo
É um agente causador da doença
Elizângela Não respondeu Não respondeu
Jaqueline IPCS: Índice de preços ao consumidor
semanal; IPCA: Índice de preços ao
consumidor amplo
É o transmissor da doença
Keila IPCS: Índice de Preços ao Consumidor
Semanal; IPCA: Índice de Preços ao
Consumidor Amplo
Transmissor da doença - leishmaniose
Lúcia IPCS: Índice de preços ao consumidor
semanal; IPCA: Índice de preços ao
consumidor amplo
Transmissor da doença
Maria IPCS: Índice de preços ao consumidor
semanal; IPCA: Índice de preços ao
consumidor amplo
Inseto
Regina IPCS: Índice de preços ao consumidor
semanal; IPCA: Índice de preços ao
consumidor amplo
Transmissor de doenças
Romena IPCS: Índice de preços ao consumidor
semanal; IPCA: Índice de preços ao
consumidor amplo
Transmissor da doença
Simone IPCS: Índice de preços ao consumidor
semanal ; IPCA: Índice de preços ao
consumidor amplo 2º
Inseto (nematófago) que transmite a
doença pela picada
227
O Tempo
Informante
Resposta D1
Obra na Antônio Carlos Trabalho escravo em Minas
Cláudia
Empresa de Transportes e Trânsito de Belo
Horizonte
Delegacia Regional do Trabalho
Daniele
Empresa de Transportes e Trânsito de Belo
Horizonte
Delegacia Regional do Trabalho
Débora
Empresa de Transportes e Trânsito de Belo
Horizonte
Delegacia Regional do Trabalho
Fabrício
Empresa de Transportes e Trânsito de Belo
Horizonte
Delegacia Regional do Trabalho de Minas
Gerais.
Graziela
Empresa de Transportes e Trânsito de Belo
Horizonte
Delegacia Regional do Trabalho
Maurício
(BHTrans) Empresa de Transporte e
Trânsito de Belo Horizonte
Significado de DRT Delegacia Regional
do Trabalho
Patrícia
transportes e trânsito de Belo Horizonte
(BHTRANS)
Delegacia Regional do Trabalho (DRT)
Rafael
Empresa de Transporte e Trânsito de Belo
Horizonte
Delegacia Regional do Trabalho
Vinícius
Empresa de Transporte e Trânsito de Belo
Horizonte
Delegacia Regional do Trabalho de Minas
Gerais.
Viviane
Bhtrans - Empresa de Transporte e Trânsito
de Belo Horizonte
Delegacia Regional do Trabalho de Minas
Gerais.
228
Estado de Minas
Informante
Resposta D2
Inflação em BH Zoonoses em más condições
Breno
IPCS Ele diz que desde outubro os agentes não são
submetidos a avaliação médica, também sobre
ameaça de demissão aceitão as más condições
os exames de sangue tamm forão cortados.
Danília
O primeiro indicador é o IPCS Não respondeu
Daiane
A pesquisadora Descaso que lhe dizer caso ou algo mais.
Eduardo
IPCS
Descaso em relação a saúde do trabalhador em
relação a Leishmaniose.
Elizângela
Não respondeu Não respondeu
Jaqueline
O primeiro indicador é o IPCS Falta os equipamentos e exames preventivos,
necessários para trabalhar em segurança.
Keila
O IPCS A falta de atenção aos equipamentos
necessários para a execusão do trabalho, e o
bom estado desses equipamentos.
Lúcia
IPCS Por falta de equipamento adequados e
condições de trabalho, agentes de saúde está
adoecendo (toxidade do produto) e até mesmo
chegando a óbito.
Maria
IPCS Trabalhadores que trabalham sem proteção
adequada.
Regina
O primeiro indicador foi o IPCS O descaso não é fornecimento de
equipamentos de segurança e a suspensão de
exames periódicos.
Romena
IPCS A falta de equipamentos para manusear
inseticidas do combate ao mosquito
transmissor da leishmaniose. Falta luvas
máscaras, roupas adequadas, fazendo com que
os agentes corram risco de adoecer devido as
más condições de trabalho.
Simone
IPCS – Índice de preços ao
consumidor semanal
As más condições e falta de equipamentos de
segurança para os trabalhadores, não se
importando com a saúde deles. Trabalham em
função da prevenção de doenças sem recursos
para sua própria saúde.
229
O Tempo
Informante
Resposta D2
Obra na Antônio Carlos Trabalho escravo em Minas
Cláudia
As pessimas condições em que a
sinalização se encontra.
Se refere ao fato de que alem de estarem sedo
submetidos ao trabalho escravo também estavam
irregulares com todas as outras leis trabalhistas.
Daniele
Situação dos moradores terem
passagens melhores e para ver a
melhoria das obras.
Que no parágrafo anterior, fala da grande
judiação que fizeram com os homens: dormiam
sob folhas de bananeiras, amontoados em um
cômodo de 10m quadrados e sem instalações
sanitárias. N/ recebiam água potável e eram
obrigados a comprar alimento do proprietário.
Débora
A situação do pedestre. Outras coisas que estão irregular.
Fabrício
Que mesmo com a instalação de placas
para os veículos os motoristas devem
ficar atentos, mas os mais prejudicados
são os pedestres.
Que além do trabalho escravo os funcionario da
fazenda não possuiam nem mesmo condições de
trabalho.
Graziela
Que mesmo com a sinalização, os
motoristas devem ficar atentos e os
pedestres ainda são os mais
prejudicados.
Refere-se a falta de registro de trabalho e exames
médicos para admissão.
Maurício
A situação é a ser avaliada é para o
motorista prestar atenção nos desvios
que mudam com freqüência levando
em conta a limitação do veículo e a
segurança dos pedestres.
A expressão se refere a falta de procedimentos
que um trabalhador precisa para um melhor
desempenho no seu trabalho.
Patrícia
A que “situação”, é encontrado no
parágrafo, se refere a mal sinalização
no decorrer das obras, colocando em
risco a vida dos pedestres.
“Outras irregularidades”, além de escravizarem
os trabalhadores, os proprietários se encontravam
fugindo das leis trabalhistas dentre elas foram
constatadas como: a falta de registros de
trabalho, exame médico para admissão etc.
Rafael
O termo situação”, refere-se à
verificação da sinalização e
preservação de área livre destinada aos
pedestres, que segundo a reportagem
são os mais prejudicados com a obra
da Av. Antônio Carlos.
A expressão se refere a falta de procedimentos
que um trabalhador precisa para no parágrafo 03,
“outras irregularidade” refere-se à “falta de
registro de trabalho e exames médicos para a
admissão, dívidas dos catadores de café e falta de
equipamentos de segurança”.
Vinícius
A BHTrans irá fazer uma vistoria no
trecho de duplicação da AV. Antônio
Carlos averiguando a questão da
passagem dos pedestres.
Após analisar outras quatro fazendas notaram
irregularidades como não deposito de FGTS,
contribuição INSS e nenhum direito trabalhista.
Viviane
As placas anucião “Obra na pista”.
Mas as indicações aos motoristas e
pedestres não estão sendo vistas
devido as constantes mudanças.
Outras irregularidades que dizer que alem dos
trabalhadores está sendo mantidos com escravos
avia outras coisas fora da Lei que caracteriza
crime.
230
Estado de Minas
Informante
Resposta
D11
Inflação em BH Zoonoses em más condições
Breno
Porque com o aumento da inflação
subiu os preços das passagens de aviao
e de ônibus.
Devido as ameaças ficão com medo de perder
o emprego por isso não querem ser
identificados.
Danília
Porque com o aumento da inflação
subiu os preços das passagens de aviao
e de ônibus.
Não respondeu
Daiane
Não respondeu. Primeiro ele pode ser identificado, mas como
a noticia esta sendo um caso grave, preferiu
não se identificar, se não podia acontecer algo
no seu serviço e ser demitido.
Eduardo
Maior inflação Ele reclama por condições melhores, mas tem
medo de sem mandado embora. (eu acho).
Elizângela
Não respondeu Não respondeu
Jaqueline
Porque a alta no indicador de BH é
resultado do que foi citado.
Porque ele é um funcionário que tem medo de
ser demitido, pelas suas revelações.
Keila
Existe uma relação de maior demanda
para a utilização de meios como
aviões, ônibus intermunicipais.
Pois pode correr os risco de está perdendo o
emprego, deve ser um funcionário contratado,
não efetivo.
Lúcia
Com a chegada das férias tudo se
tornou-se mas caro; Pois é o período
em que as crianças estão de férias e
necessitam lazer.
O agente denúncia as condições precárias de
trabalho (na prefeitura e pede para não ser
identificado, para não sofrer repressalha até
mesmo ser demitido da empresa.
Maria
Na férias gastos com passagem de
avião, ônibus intermunicipais, oficinas
mecânicas e autopeças.
Medo de perder o emprego.
Regina
A chegada das férias inflacionou as
passagens de avião, ônibus
intermunicipais, oficinas mecânicas e
das autopeças, contribuindo assim com
o aumento do custo de vida em BH.
O agente pede para não ser identificado por
medo de perder o trabalho ao denunciar as
péssimas condições de trabalho as quais eles
tem que se sujeitar.
Romena
Com a chegada das férias os preços
sobem fazendo com que o custo de
vida se eleve. Exemplo disso são as
passagens de avião, os ônibus
intermunicipais, etc.
Ele pede para não ser identificado com medo
de ameaças de ser demitido.
Simone
Nas férias o gasto é maior com viagens
incluindo passagens de avião, ônibus
intermunicipais e oficinas mecânicas.
Prefere trabalhar mesmo sem boas condições e
não perder o emprego.
231
O Tempo
Informante
Resposta
D11
Obra na Antônio Carlos Trabalho escravo em Minas
Cláudia
Todas aquelas que são feitas em vias
de trafego intenso.
A lei Áurea foi estabelecida para que mais
nenhum homem foi submetido a nenhum tipo de
trabalho escravo.
Daniele
Das obras da Cristiano Machado. Tudo. A escravidão as 2 coisas. A lei Áurea , ou
seja, digo a escravidão, foi um dos mais tristes
acontecimentos da nossa história com a
assinatura da Lei Áurea os pobres coitados foram
libertos.
Débora
Não entendeu a pergunta Não entendeu a pergunta.
Fabrício
Obras na avenida do Contorno e
Cristiano Machado que estão dentro
das obras da linha verde.
Que mesmo depois de cento e dezoito anos da
abolição da escravatura e em pleno séc XXI,
encontramos no interior do país ou nosso
próprios estados e cidades, pessoas que são
submetidos ao regime escravista.
Graziela
Não respondeu. A relação que se tem é que a lei áurea aboliu a
escravidão no Brasil a muito tempo e agora vem
surgindo casos de trabalho escravo.
Maurício
Pode estar relacionada com as obras na
AV. Cristiano Machado.
A relação entre ambos se trata do fato de que a
Lei Áurea surgiu com o intuito de acabar com
todo ou qualquer tipo de trabalho escravo, no
texto percebemos que essa lei não é cumprida.
Patrícia
Poderia se tratar de outras series de
obra, ex: calçamento de ruas,
demolições de predios, alerta por risco
de desmoronamento de muros dentre
outros.
A Lei áurea se refere a abolição da escravatura,
onde apartir d e crime escravizar as pessoas,
mas a realidade que se encontra no brasil são
pessoas que até então são escravizadas.
Rafael
Outras obras que poderiam estar
relacionadas: Obras da Linha Verde,
ampliação da Av. Cristiano Machado e
recapeamento do Anel Rodoviário.
O texto relata assunto que aborda a questão da
escravidão na atualidade, e a Lei Áurea foi
estabelecida com intuito do término da utilização
da mão-de-obra escrava no Brasil.
Vinícius
Construção Bolevar Arrudas, linha
verde.
A relação é que, mesmo após a assinatura da lei
Áurea que deu fim ao período de escravidão no
Brasil temos focos de exploração da mão de obra.
Escravidão diferente do que enfrentaram os
negros. O empregado fica preso ao seu patrão
que não oferece seus direitos adquiridos pela
constituição. Legalmente, juridicamente a
escravidão não existe, mas na realidade em
muitos “cantos” de nossa terra querida ela não
chegou.
Viviane
Série sobre obras em corredores de
trafego.
A lei Áurea acaba c/ a escravidão no Brasil,
estituido que quem mantece um trabalhador em
Regime de escravidão seria punido pela Justiça
do trabalho.
232
Estado de Minas
Informante
Resposta
D17
Inflação em BH Zoonoses em más condições
Breno
São informações, comentários
retirados de jornais e revistas.
Ao uso de aspas pois a fala de alguém (algum
depoimento).
Danília
- “Saiu na frente” Teve um
índice maior
-“A partir de agora, os preços tendem a
se acomodar em BH e iniciar trajetória
ascendente nas outras cinco cidades”.
A partir disto os preços não subiriam
mais e ficariam compatíveis com as
outra cidades.
4º O inverno
Não respondeu
Daiane
Significa que a supervisora França
Maria diz.
A função e que é a fala da pessoa, por isso
colocamo aspas, para o leitor não confundir
com o texto.
Eduardo
Diferenciar ou facilitar mais a
visualização, e para colocar as coisas
em respalto.
Colocar alguma coisa em observação.
Elizângela
Não respondeu Não respondeu
Jaqueline
Mostrar que aquilo foi dito ou escrito
por outra pessoa, é uma citação direta.
Citação direta.
Keila
Uma forma de chamar a atenção,
algumas vezes são citações diretas, e
um modo de dizer que aquilo não deve
ser levado ao pé da letra, ao extremo.
Uma citação direta, e textos importantes para
chamar a atenção.
Lúcia
É uma fala que não é própria do
jornalista e sim de outra pessoa.
Uma fala que não é própria do jornalista.
Maria
Representa fala de alguém. Fala de alguém.
Regina
As aspas são usadas nestes parágrafos,
para indicar as falas dos pesquisadores,
França M de Araújo e Wanderley
Ramalho.
As aspas foram usadas por se tratar de frases
ditas pelos agentes de zoonoses.
Romena
Se refere as falas das pessoas
entrevistadas.
Para identificar as falas dos entrevistados.
Simone
parágrafo = forma da colocação
(inflação não anda)
parágrafo = (mamão não tem
sentimentos)
parágrafo = (preços não são objetos
que caem de algum lugar)
Citação textual.
233
O Tempo
Informante
Resposta
D17
Obra na Antônio Carlos Trabalho escravo em Minas
Cláudia
Resume a ideia central da reportagem. Porque cita algo que o coordenador da operação
Carlos Paixão disse.
Daniele
Quer dizer: a primeira: que a D.
Conceição está falando. O segundo: o
Felipe também está dando seu
depoimento. Ou seja, alguém está
falando o que acha.
É o depoimento do fiscal do trabalho Sr. Carlos
Paixão, falando da grande revolta que todos nós
seres humanos temos da covardia do regime
escravo.
Débora
Porque é uma paráfrase. Porque é uma citação direta.
Fabrício
Não há aspas no parágrafo 2. Para destacar que foi usada a fala de outra
pessoa, no caso o fiscal da DRT.
Graziela
O parágrafo 2 não contém aspas. Para identificar as falas dos entrevistados.
Maurício
Serve para enfatizar, como se estivesse
falando que realmente têm “obras na
pista”.
As aspas servem para enfatizar que é o autor que
está falando.
Patrícia
As aspas são encontradas no terceiro
parágrafo vem a destacar e chamar a
atenção do leitor por se tratar de uma
frase que resume o artigo.
É usado aspas para abrir uma conexão entre a
fala, do coordenador da operação Carlos Paixão,
do texto. Dando assim, complementação dos
fatos ocorridos.
Rafael
As aspas tem a função de demarcar a
fala da moradora e usuária, Conceição
Aparecida da Silva, 62, dona de casa.
Nos parágrafos 3 e 5, as aspas são utilizadas para
marcar a fala de outra pessoa.
Vinícius
As aspas no texto reproduzem
fielmente o depoimento dos moradores
entrevistados na integra seus pontos de
vistas. Seria o que o autor falou no
caso o morador.
É a fala do fiscal do trabalho Carlos Paixão.
Viviane
Chamar atenção p/ “Obra na Pista”. Chamar a atenção para os crimes e
irregularidades que estavam acontecendo
naqueles lugares.
234
Estado de Minas
Informante
Resposta
Resumo
Inflação em BH Zoonoses em más condições
Breno
A inflação em BH é a mais alta assim
o custo de vida e o mais alto, a média
nacional está 10 vezes abaixo.
A pesquisa foi feita por (FGV), o que
mais subiu foi o mamão papaia.
Especialistas dizem que a elevação da
inflação não chega a assustar, dizem
também que os preços não sobem
não diminuem.
A reportagem sobre zoonoses mostra o
descaso da prefeitura com os agentes de
zoonoses. Disaparelhados sem proteção
manuseião inseticidas, não fazem mais os
exames que devem ser feitos a cada três
meses, em fim colocam sua vida em risco. A
maioria destes agentes são contratados
facilitando assim a sua contratação e a sua
dispença. A prefeitura já está fazendo
licitações para melhorar as condições de
trabalho.
Danília Não respondeu.
Não respondeu.
Daiane
O custo de vida em BH é o mais alto
do país, atingindo 0,60% em Julho, 10
vezes acima da média nacional e
calculada em 0,06% pelo índice de
preços ao consumidor semanal da
fundação Getulio Vargas que mede a
variação semanal dos preços. A
pesquisa da Fundação Getulio Vargas
mostra que a inflação em BH ficou
0,16 ponto percentual acima de
Brasília, segunda colocada no ranking
com 0,44%.
Wanderley Ramalho direto da
fundação IPEAD considera que a
elevação da inflação em BH não chega
a preocupar, que o índice apresentou
queda de 0,36% em Junho e 0,18%
mais com isso no ano passado a
previsão é de que a inflação em BH
atinja 4,27% em 2006 ficando abaixo
da média que é 4,5% estabelecida pelo
Banco Central.
Zoonoses em más condições
Os agentes de controle de zoonoses que
exercem ações fundamentais para reservar a
saúde da população de BH os funcionários da
prefeitura, não tem equipamento próprios para
a proteção de trabalhar com a burrifação
contra o mosquito transmissor da
Leishmaniose. Com isso é arriscado o
Trabalhador dedetizar as casas dos moradores
com o Veneno.
Eduardo
Inflação em Belo Horizonte está maior
de novo
Saúde dos agentes em ameaça por más
condições de trabalho.
Elizângela
Não respondeu. Não respondeu.
235
Jaqueline
Inflação é BH a maior de novo
Belo Horizonte é a capital brasileira
que foi considerada, pela sexta semana
consecutiva a que tem o custo de vida
mais alto do país, como conseqüência
da inflação, visível principalmente em
produtos in natura, por exemplo, o
mamão papaia que está em escassez
em qualidade e quantidade.
Segunda a pesquisa realizada pela
Fundação Getúlio Vargas a cidade
mineira anda em contramão,
comparada a cidades cuja inflação está
negativa, mas enfatiza que isso ocorre
porque em BH foi o local que os
preços começaram a subir na frente.
Contudo, o Ipead afirma que mesmo
com esse índice, Belo Horizonte vai
fechar o ano de 2006 abaixo da meta
de 4,5% de inflação, estabelecida pelo
Banco Central.
Os agentes que controlam as zoonoses não
têm boas condições de segurança do trabalho
por não terem equipamentos de proteção e
nem exames preventivos para constatar o
contagio de doença.
Esse quadro tem contribuído para o aumento
do risco da população em contrair
leishmaniose.
O número de funcionários efetivos da
prefeitura para trabalhar nesse controle é
deficiente, mas a Secretaria Municipal de
Saúde informou ter solicitado a 7 meses uma
licitação para receber agora os equipamentos
de proteção necessários e que vai iniciar o
processo de licitação para conseguir, não se
sabe quando, os equipamentos para exames.
As mudanças precisam ocorrer rapidamente
para evitar surtos de doenças.
Keila
O custo de vida em BH é o mais alto
em todo o país, uma diferença
significativamente maior na
comparação com São Paulo e Porto
Alegre, resultado de muita pesquisa.
Se continuar assim com esse indicador
a inflação em BH, ficará superior ao
estipulado pelo Banco Central.
Os agentes de saúde de BH estão correndo um
grande risco de contrair doenças devido as
péssimas condições de trabalho, sem
disponibilidade de materiais para maior
segurança, com essas condições aumentar o
risco de está contraindo uma leishmaniose...,
mas a secretaria de saúde disse já está
tomando as medidas cabíveis para resolver o
problema.
Lúcia
Inflação em BH é maior de novo.
Como a chegada das férias e o inverno
a inflão aumenta abusivamente,
alimentação, transporte terrestre e
aerio, manutenção dos veículos
(oficina mecânica) e outros.
Saúde de agentes sob ameaça.
Agentes de saúde denunciam as condições
precárias de trabalho, principalmente a falta
de equipamentos de seguranças individual a
falta de exames periódico para verificar se
sofreram alguma contaminação.
Maria
Inflação de BH é 10 vezes maior.
O custo de vida dos moradores da
cidade de Belo Horizonte está entre os
maiores no Brasil devido ao alto valor
econômico dos alimentos in natura e
da chegada das férias.
O preço do mamão papaia, por
exemplo, subiu no mês de julho
(comparando ao mês anterior) devido
ao clima no período do ano. Porém não
se pode dizer que a inflação na cidade
subiu e sim que os custos não
decaíram.
Zoonoses em más condições.
Os agentes de saúde e controle de zoonoses
trabalham c/ más condições de trabalho o que
favorece acontecimentos na saúde dos
mesmos. Estão em contato direto c/ inseticidas
por não receberem equipamentos de proteção
individual adequados, além de não possuírem
um acompanhamento médico. Isso favorece
na diminuição do trabalho dos agentes,
aumentando os riscos de epidemias nas
cidades, como BH. Os funcionários aceitam
trabalhar nestas condições pois não sendo
funcionários públicos e sim contratados não
possuem estabilidade no emprego.
A Secretaria Municipal de Saúde estuda
melhoria nas condições de trabalho dos
agentes.
236
Regina
Inflação de BH é a maior de novo.
Pesquisa realizada pela FGV, mostra
que a inflação em BH é uma das mais
altas do país. Ficando acima de São
Paulo e Porto Alegre.
A Pesquisadora França de Araújo,
supervisora da FGV em Minas, atribui
a alta dos preços na capital aos
alimentos in natura. “A partir de agora
os preços tendem a acalmar em BH...”.
Wanderley ramalho diretor da
Fundação Ipead, considera que a
inflação em BH não chega a
preocupar, segundo estudos feito pela
fundação, a previsão é que a inflação
atinja a media estabilidade pelo BC.
Saúde de agentes sob ameaça.
Agentes de controle de zoonoses de BH
correm risco de vida. Eles estão manuseando
produtos tóxicos sem equipamentos de
segurança.
Por medo de demissão agentes de saúde se
submetem aos riscos no trabalho. A PBH
insiste em manter esses trabalhadores, que
prestão um serviço fundamental para a
população, trabalhando como contratados
temporários. Em casos de eventuais problemas
de saúde, eles seram peças de fácil reposição.
Romena
Através de pesquisas realizadas pela
IPC-S e pela IPCA chegou-se a
conclusão que Belo Horizonte se tem o
custo de vida mais alto do país. E isso
se deve principalmente aos alimentos
in natura como mamão, por exemplo.
É feito vários observações por parte da
direção e supervisão das fundações.
É feita uma denúncia contra a Prefeitura de
Belo Horizonte, pela más condições de
trabalho dos Agentes de zoonoses da cidade.
Sem nenhum equipamento de proteção
individual (máscaras, luvas, etc) os operadores
do serviço se submetem aos produtos tóxicos ,
químicos e nocivos à saúde.
Os agentes aceitam dar a entrevista mas
pedem para não serem identificados com
medo de serem demitidos. Foi repassado o
problema para a secretaria Municipal onde o
mesmo ficou de solucionar o problema.
Simone
“Custo de vida em Belo Horizonte é o
mais alto do país, atingindo 0,60% em
Julho”. A chegada das férias contribui
para esse aumento, em comparação
com outros estados observou “que a
inflação da capital mineira “saiu na
frente”.
A pesquisadora França Maria de
Araújo supervisora da FGV em Minas
atribuiu a alta na capital mineira aos
alimentos em natura com destaque em
alguns alimentos (mamão papaia)
devido a problemas com a seca no sul,
regiões que abastecem os sacolões e
supermercados em BH e outros
alimentos industrializados.
Zoonoses em más condições.
Agentes do controle de zoonoses correm risco
de doenças devido as más condições de
trabalho. Faltam equipamentos de proteção
como: luvas, máscaras e macacões adequados
pois os que usam estão rasgados.
São funcionários terceirizados que trabalham
nestas condições para não enfrentarem o
desemprego. Um funcionário do centro de
saúde do Jardim Leblon relata o sofrimento
causado pela falta de equipamentos (rosto
queimado pela inseticida). Em um outro
centro de saúde Regina Barreiro
conquistaram o espaço para se alimentaram
não se alimentam mais onde guarda as
inseticidas. A secretária informa que foi
solicitada a renovação dos equipamentos a
promessa é entregar o mais rápido possível e
irá iniciar processo de licitação para escolha
de uma empresa que será responsável por
acompanhar a saúde dos funcionários.
237
O Tempo
Informante
Resposta
Resumo
Obra na Antônio Carlos Trabalho escravo em Minas
Cláudia
As obras na avenida Antônio Carlos
tem sendo um transtorno na vida dos
pedestres que transitam nessa região
por que o fluxo de carros esta bem
proximo dos pedestres e isso causa
risco de atropelamentos.
Vinte e quatro homens forma resgatados de uma
fazendas onde eram submetidos ao trabalho
escravo e os empregados foram obrigados a
pagar todos os benefícios de direito. Dentre esses
fazendeiros estava Joaquim Cândido Alves que
foi preso e teve seu pedido de habeas-corpus
negado, ele é um homem conhecido e ocupava o
gargo de chefe de gabinete da prefeitura. Com
tantos casos de trabalho escravo o ministerio do
trabalho fez uma lista com cerca de 178
empregadores e entre eles estão dois mineiros.
Daniele
“Pedestre sofre com obra na Antônio
Carlos”
Término das obras prevista para final
de 2006.
Placas na avenida anunciam “obras na
pista”, mas apesar da atenção
redobrada do motorista, o pedestre que
é o maior prejudicado.
Dois moradores da região, reclamam
que é preciso melhorar a travessia, o
risco de atropelamento é grande.
O gerente de ação da Empresa de
Transporte, Wesley Rodrigues, diz que
será realizada uma vistoria e o
Engenheiro Civil, Silvestre Andrade,
diz que está sendo construída uma
trincheira e os desvios criados são
bons. Fala também que no local
uma placa indicativa de passagem de
pessoas.
DRT encontra 24 homens em regime de
escravidão.
Flagrante: 03/08/06
Ontem, 24 trabalhadores foram encontrados em
uma fazenda em Campos Altos, no Alto
Paranaíba, vivendo em regime de escravidão.
Eles estariam no local desde o início de maio/06.
Dormiam sob folhas de bananeira, amontoados
em um modo de 10m quadrado e sem
instalações sanitárias e várias outras
irregularidades.
Conforme fiscal, os trabalhadores seriam
retirados ainda ontem da fazenda. Hoje pela
manhã a DRT teria uma audiência no fórum para
exigir FGTS e INSS.
Débora
A obra que esta sendo feita na Antônio
Carlos vem trazendo alguns
transtornos para os pedestres,
principalmente para os que moram
bem próximo à avenida. Mas de
qualquer forma a obra esta bem
adiantada, ou seja até o final de 2006
eles pretendem estar com tudo pronto.
Embora não pareça mas ainda tem muito trabalho
escravo, principalmente nessas fazenda, onde o
povo do anterior vêm em busca do trabalho e
acaba aceitando (ou até mesmo na inosencia)
esse tipo de trabalho escravo.
Fabrício
Estão sendo realizadas obras para
reestruturação da Avenida Antonio
Carlos, que com o passar dos anos e
constante aumento do fluxo de
veículos, não suportava mais esse
aumento.
As obras prejudicam veículos e
pedestres, mas para os veículos foram
feitos vários veículos, agora os
pedestres tem que se arriscarem em
meio a automóveis e máquinas.
Vinte e quatro trabalhadores rurais vindos do
Ceará, trabalhavam em regime de escravidão em
uma fazenda no Alto Paranaíba. A DRT (MG)
divulgou a noticia após um dia de operações no
município. Entre as varias irregularidade
encontradas, os trabalhadores eram obrigados a
dormir em folhas de bananeiras, sem água
potável e deviam comprar alimentos do
proprietário da fazenda.
Outras fazendas na região também estão sendo
investigadas.
238
Graziela
Moradores que habitam próximo á
avenida Antônio Carlos, sofrem com
as obras, pois eles estão tendo que
atravessar perto das máquinas,
colocando em risco suas vidas.
Esta reportagem conta a história de um grupo de
trabalhadores que estavam sendo mantidos como
escravos por fazendeiro.
Maurício
A previsão para que a primeira etapa
das obras de duplicação da AV.
Antônio Carlos é que seja concluída
até o final de 2006.
O valor total da obra está orçado em
R$120 milhões de reais.
Essa reconstrução e ampliação ocorreu
em decorrência do crescimento
populacional, que não suportava o
fluxo de veículos diários na avenida.
Para os veículos, foram criados
desvios no próprio trecho, mas quem
está a tem de se arriscar entre
tratores e automóveis.
De acordo com Wesley Rodrigues,
gerente de ação da Empresa de
Transportes e Trânsito de BH
(BHTrans), uma vistoria será realizada
hoje para que a situação seja avaliada e
as mudanças implantadas nos pontos
necessários.
É preso na cidade de Santa Fé, um fazendeiro
que mantinha 24 homens em regime de
escravidão. Joaquim Gameleira, como é
conhecido entrou com pedido de habeas-corpus,
mas a liminar foi negada.
Joaquim Cândido Alves Moreira, é filho do atual
prefeito de Buritizeiro, ao ser preso ocupava o
cargo de chefe de gabinete da prefeitura.
Patrícia
A avenida Antônio Carlos encontra-se
em obras onde encontra com obras e
do viaduto São Francisco à rua Aporé,
para que acontece a duplicação dessa
avenida está sendo necessário as
desapropriações e remoções.
Este projeto de duplicação teve de
inicio em 2002, e o valor total é de R$
120 milhões garantidos pelos governos
federais, municipal e estadual.
A via não suportava mais o aumento
do tráfego que ocorreu em decorrência
do crescimento populacional.
No decorrer da obra encontra-se placas
sinalizando, para os desvios
necessários, os motoristas e pedestres
devem ficar atentos. Mesmo com as
sinalizações, encontra-se perdidos em
meios as obras pedestres que
reclamam daa falta de sinalização, ou
sinalizações mal colocada no decorrer
dessa obra.
A BH Trans informou que realizará
vistoria nos locais, e irá avaliá a
gravidade da situação e fará mudanças
nescessárias: Em sua avaliação os
desvios são bons para os motoristas,
mas resaltou as dificuldades para a
travessia de pedestres.
Após anos da abolição da escravatura no brasil,
ainda são encontrados sob esse regime
brasileiros, aliciados por um encarregado, das
fazendas para fazerem a colheita do café.
Vivendo de condições subhumanas, esses
trabalhadores, não recebiam alimentos e nem
água potável de seus proprietários.
Segundo os fiscais da delegacia Regional do
Trabalho de Minas Gerais (DRT/MG), nenhum
dos responsáveis foram apreendidos.
A suspeita era que outras fazendas da região
mantinham trabalhadores na mesma situação.
Conforme os fiscais, os trabalhadores seriam
retirados das fazendas e instalados no hotel, onde
aguarda uma audiência para exigir seus direitos,
em seguida retornaram para casa.
No entanto, foi a chacina de Unaí a tragédia que
mais marcou as operações realizadas pela (DRT),
onde quatro auditores foram assassinados.
De acordo com a comissão Pastoral da Terra
(CPT) existem hoje no brasil 25 mil pessoas
submetidas às condições análogas ao trabalho
escravo.
239
Rafael
Devido a alteração na Av. Antônio
Carlos, para a realização da obra de
duplicação, foi priorizado o fluxo de
veículos no local, com desvios
específicos. Porém, os usuários
pedestres ficaram prejudicados e
expostos à risco de acidentes no local,
uma vez que as passagens para
pedestres são poucas e mal sinalizadas.
A noticia refere-se à trabalhadores que eram
submetidos ao trabalho escravo em uma fazenda
no município de Campos Altos em Minas Gerais.
Vinícius
A noticia cita as obras de duplicação
da AV. Presidente Antônio Carlos
trecho compreendido entre viaduto são
Francisco até à rua Aporé. Cita: os
desvios, o fluxo de trânsito no local a
cada dia, demonstra todo o projeto
estrutural, relata os impactos causados
na vida dos moradores das areas
desapropriadas, os perigos enfrentados
pelos pedestres que transitam no local.
A delegacia Regional do Trabalho de Minas
Gerais (DRT/MG), em dois de agosto de 2006
encontrou 24 trabalhadores nordestinos em
condições de trabalho escravo em uma fazenda
localizada em Campos Altos, no Alto Paranaíba,
vivendo em condições subhumanas, sem carteira
assinada.
Mesmo com a assinatura da Lei Áurea muitas
fazendas conservam o antigo regime de
exploração da mão de obra, principalmente os
povos menos esclarecidos das regiões pobres do
nosso país.
Viviane
A 1ª etapa da Obra sera concluída até o
final de 2006. Foram feitas varias
remoções e desapropriações.
Os estudos da obra começaram nos
anos 80, mas em 2002 o projeto foi
execultado. Com o termino da obra
esperace uma melhora no fluxo de
automoveis e coletivos, melhorando os
acessos aos bairos.
Depois da assinatura da lei Áurea, ainda temos
casos de escravidão no Brasil.
Mesmo sendo considerado crime, muitos
fazendeiros opitam por tentar burlar a
fiscalização e continua tratado empregados como
escravos.
Os fiscais do DRT fizeram uma fiscalização nas
fazendas do Alto paranaíba e campos Altos, onde
encontraram muitos trabalhadores ilegais.
Os fazendeiros foram atuados em fragrante, por
não está obedecendo as leis trabalhistas.
240
ANEXO 1
Notícias utilizadas nos testes de leitura com o Estado de Minas.
241
242
ANEXO 2
Notícias utilizadas nos testes de leitura com O Tempo.
243
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