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que os alunos dão aos estudos; pode ser, em parte, isso, mas certamente essa é uma das peças
de uma problemática muito maior.
Com certeza, vejo que minha fala, solta, desconexa, solitária, não faria com que eles
conseguissem ter a noção dos fatos ou leituras críticas; na verdade, eu falava mais pela minha
necessidade, indignação, susto... Era preciso dizer! Libertar meu pensamento!
Não conseguia admitir, não conseguia conviver com este conformismo! Ao mesmo
tempo, refletia e questionava-me sobre a minha fala.
Mas será que não exigi demais daqueles alunos? Será que falei sobre a
minha ótica e não respeitei seu contexto de vida? Não, mas que contexto é
este em que as pessoas parecem perder a vivacidade, contexto de tristeza e
fracasso é preciso reverter e não aceitar!! Pode ser o que for, mas não posso
admitir que convivam comigo no exercício de minha profissão pessoas que
eu admita e comungue com a idéia de não terem potencialidade, de ser assim
mesmo, fazer o que... jamais! (Diário de Campo- 25/04/06)
Foi um grande desabafo, um intenso repensar da minha profissão. Afinal, estava
conseguindo cumprir com minha função e com o que acredito ser educadora? Estava satisfeita
com meu trabalho? Não tinha formação para atuar com adolescentes, minhas experiências
eram com crianças e adultos, no contexto de educação formal. Como lidar com essa situação?
Foi uma junção de diferentes e importantes fatores, como os que explicitei, que fui
repensando meus limites, o que acredito e até onde conseguiria fazer algo. Com certeza, a
profissão docente foi repensada por mim!
Não é possível dormir à noite sabendo que vidas que passam pela minha vida e pela
responsabilidade de minha profissão podem ter a oportunidade de uma mudança de vida... “O
que terá acontecido a essas criaturas? O que terá acontecido aos professores? A escola? É
hora de acordar, é preciso fazer alguma coisa....” (Diário de Campo-25/04/06)
Quando olho para essa situação percebo o quanto, em muitos momentos, é difícil ao
educador exercer a “coerência entre o pensar, o falar, o sentir e o fazer.” (PRONEA, 2005, p.
37) um dos princípios previstos para a Educação Ambiental, que, nas palavras de Freire, seria
o pensar certo,“uma postura exigente, difícil, às vezes penosa, que temos de assumir diante
dos outros e com os outros, em face do mundo e dos fatos, ante nós mesmos.(1996, p. 54)
Esse sentimento de impotência, de vivenciar uma realidade conhecida por tantos, mas
experienciada nessa intensidade por poucos, mexe com meu olhar, com tudo o que vejo, o que
penso, o que sinto. Passa pela minha vivência humana, por minhas crenças, pelo que sou!
O que nos parece indiscutível é que, se pretendemos a libertação dos
homens não podemos começar por aliená-los ou mantê-los alienados. A
libertação autêntica, que é a humanização em processo, não é uma coisa que
se deposita nos homens. Não é uma palavra a mais, oca, mitificante. É