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fecharem-se em uma redoma de vidro para que não sejam ameaçados pelo
grupo, enquanto outros agem de forma oposta, impondo seu ego aos demais,
reivindicando as atenções.
O desejo das crianças de atuarem como adultos também foi observado
ao longo de todas as reuniões, assim como no trabalho de Oliveira (1993),
desejo este demonstrado em diversos níveis, através das identificações com
cantores ou personagens adultos, do desejo de terem relações sexuais, de
terem posses, dinheiro, de usarem ornamentos de adultos, etc...
O grupo mostrou uma tendência a ocupar-se mais da tarefa musical ao
longo das reuniões. Essa tendência ocorreu de forma oscilante: ora o grupo
regredindo, ora evoluindo na realização da tarefa. Nos momentos em que a
tarefa musical pareceu esquecida, em que o grupo se portou conforme o
princípio do prazer, o espaço grupal permitiu que realizassem seus desejos,
que exteriorizassem seus monstros, fantasias, imaginações, angústias e
conflitos em relação à sexualidade. Desta forma, tiveram, neste espaço, a
oportunidade de ampliar sua consciência sobre esses conteúdos, fortalecendo
o ego de seus integrantes.
Nos momentos em que realizavam a tarefa musical, principalmente nos
últimos encontros, evidenciou-se que a música, o canto e a poesia são
imagens, sensações, transcrições sensoriais de uma impressão mental,
construídas pelas crianças através de suas representações de mundo, a partir
de seus esquemas, seus referenciais.
A música manifestada através dos instrumentos e da voz é um modo
natural de expressão, assim como os jogos ou os contos narrados. As crianças
demonstraram prazer em suas execuções. Suas imaginações puderam ser