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JOÃO OSVALDO SCHIAVON MATTA
ESTRATÉGIAS MIDIÁTICAS DE UMA POPSTAR NA INTERNET:
Avril Lavigne no Orkut
Dissertação apresentada ao programa de
Mestrado em Comunicação e Práticas
de Consumo da Escola Superior de
Propaganda e Marketing (ESPM), Linha
de Pesquisa Estratégias de
Comunicação e Produção de Mensagens
Midiáticas voltadas às Práticas de
Consumo, como requisito parcial para a
obtenção de título de Mestre em
Comunicação.
Orientadora: Profa. Dr. Gisela G. S.
Castro
São Paulo
2008
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Ficha Catalográfica – SBE – Biblioteca Central – SP
Campus I “Francisco Gracioso”
Matta, João Osvaldo Schiavon
Estratégias midiáticas de uma popstar na internet : Avril Lavigne no
orkut. / João Osvaldo Schiavon Matta. – São Paulo: ESPM, 2008.
175 f. : il., color.
Orientador: Profa. Dra. Gisela Castro
Dissertação (Mestrado em Comunicação e Práticas de Consumo)
Escola Superior de Propaganda e Marketing, São Paulo, SP, 2008.
1. Cibercultura. 2. Celebridades. 3. Estratégias midiáticas. 4. Fã. 5.
Orkut. I. Título. II. Matta, João Osvaldo Schiavon. III. Castro, Gisela. IV.
Escola Superior de Propaganda e Marketing.
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João Osvaldo Schiavon Matta
Estratégias midiáticas de uma popstar na internet:
Avril Lavigne no Orkut
Dissertação apresentada como requisito parcial para obtenção do
título de Mestre em Comunicação pelo Programa de Mestrado
em Comunicação e Práticas de Consumo da Escola Superior de
Propaganda e Marketing. Aprovada pela Comissão Examinadora
abaixo assinada.
Gisela G. S. Castro
Orientadora
ESPM
Rose de Melo Rocha
ESPM
Marcelo Oliveira Coutinho de Lima
Casper Líbero
Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM)
São Paulo, ____ de _____________ de 2008
À minha mãe, por me apresentar ao mundo da
língua portuguesa e por permitir o despertar da
paixão por nossa cultura. Minha primeira
orientadora. Ao meu pai, pela dedicação
incondicional. Será sempre meu ponto de
referência e de inspiração.
AGRADECIMENTOS
À minha orientadora, Profa. Dra. Gisela Castro, pela dedicação, flexibilidade e por
permitir que o processo de aprendizado acontecesse comigo.
Aos meus pais, pelos investimentos de diversas naturezas.
Aos meus irmãos, pela tolerância em ter um irmão ausente e, quando presente,
questionador e reflexivo.
Aos meus amigos, pela paciência em me ter em constante desaparecimento.
À Profa. Dra. Maria Aparecida Baccega, que fez de alguns minutos em que
conversamos antes de minha entrada no mestrado os mais importantes para a decisão de meu
caminho.
Aos demais professores do Programa de Mestrado em Comunicação e Práticas de
Consumo da ESPM, pelo apaixonante processo de inserção ao campo da comunicação.
Aos meus colegas de mestrado, pela rica convivência e pelos momentos no café
Andaluza.
Aos meus alunos, por ouvirem nos intervalos de aula, com alguma estranheza, meus
ensaios verbais sobre meu objeto de estudo. Especialmente àqueles que se fascinaram pelo
tema e colaboraram com idéias, depoimentos e indicações.
E à ESPM, por viabilizar este meu sonho: tornar-me mestre.
[...] o seu sol é sempre cor de rosa
despontando em montanhas verdes. Sorriso
feliz, olhar travesso, ele mira a longa
caminhada que apenas inicia. Menino
querido: - Bom dia!
Oswaldo Schiavon
RESUMO
A cultura da mídia tem se apresentado de forma dominante no cotidiano de diversos
públicos, entre eles os jovens. O culto a celebridades é uma prática social que está presente
nas teias da internet e se entrelaça com um sistema midiático que é ocupado por diferentes
lógicas, entre elas a da indústria cultural. No contemporâneo, uma cultura industrial do
entretenimento utiliza a mídia como aliada para atingir seus objetivos comerciais. Ao mesmo
tempo, jovens se apropriam de espaços da mesma cultura midiática para estabelecer um culto
grupal a astros e estrelas.
Parte deste sistema da mídia, a internet tem sido um locus privilegiado para se
constatar construções simbólicas e apropriações sociais realizadas pelo público jovem. Neste
espaço, é possível se construir diferentes tipos de identidades, formas diversas de se constituir
o eu neste ciberespaço. Entre as possíveis construções identitárias a partir do que é veiculado
pela internet, está a adoração e a rejeição de ídolos efêmeros da música. Como produtos
midiáticos, estes podem servir de matriz identitária para jovens que se estabeleceram
comunitariamente no ciberespaço da internet.
Diante disto, esta dissertação estuda as estratégias midiáticas que constroem
celebridades na internet. Pretende-se, para isto, debruçar-se sobre a admiração de fãs e antifãs
da cantora Avril Lavigne. Trata-se de uma estrela do universo musical que afeta de forma
intensa o público jovem em todo o mundo, inclusive no Brasil.
Os objetivos deste trabalho são estudar a produção midiática na internet da popstar
Avril Lavigne, assim como as diferentes mediações que estão presentes neste território.
PALAVRAS-CHAVE: cibercultura; celebridades; estratégias midiáticas; fãs; Orkut.
ABSTRACT
Media culture has been dominant in the daily life of various types of public, including
young people. The cult of celebrities is a social practice that is present in the internet and it is
interwoven in a media system that is occupied by different types of logic, including that of the
cultural industry. Nowadays, an industrial culture of entertainment uses media as an ally in
order to achieve its business targets. At the same time, young people appropriate spaces of
this same media culture in order to establish group cults to superstars.
As part of the media system, the internet has been a privileged locus to focus on
symbolic constructions and social appropriations by young audiences. In this area, it is
possible to make up different types of identities. There are several ways to build the self
within cyberspace. Among the identity constructions which are made possible by the content
produced in the internet, we can emphasize the veneration and rejection of ephemeral musical
idols. Taken as media products, these idols can function as identity matrixes for young people
who take part in communities in cyberspace.
In view of all this, the present dissertation studies the media strategies that produce
celebrities in the internet. We intend to study the admiration processes of pop singer Avril
Lavigne´s fans and antifans. She is a star from the musical universe that intensily affects
young people around the world, including Brazillian youths.
Our objectives are to study the media production concerning Avril Lavigne in the
internet as well as the several types of mediation present in this territory.
KEY-WORDS: cyberculture; celebrities; media strategies; fans; Orkut.
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 – Página inicial da comunidade Avril Lavigne................................................. 8
Figura 2 - Página inicial da comunidade Manhê! Compra a Avril pra mim? ................ 9
Figura 3 - Página inicial da comunidade Eu ODEIO Abril Lavigne!!!........................... 10
Figura 4 - Página de perfil do pesquisador...................................................................... 20
Figura 5 – Fórum da comunidade Odeio versão podre de música.................................. 31
Figura 6 – Camiseta com ilustração da cantora Avril Lavigne....................................... 50
Figura 7 – Fichário com a foto da cantora Avril Lavigne............................................... 50
Figura 8 – Imagem do Flog de uma fã de Avril Lavigne................................................ 60
Figura 9 – Imagem do site Alavigne.com.br.................................................................... 61
Figura 10 – Imagem de Avril Lavigne usando gesto característico ................................ 62
Figura 11 – Imagem da página inicial do fã-clube de Avril Lavigne
no Alavigne.com.br........................................................................................................... 68
Figura 12 – Imagem da página de entrada da loja virtual do fã-clube de
Avril Lavigne no Alavigne.com.br................................................................................... 69
Figura 13 – Imagem da página criada por antifã de Avril Lavigne
no Blogger.com.br........................................................................................................... 70
Figura 14 – Fotos de Avril Lavigne vestindo mini-saia................................................. 71
Figura 15 – Fotografia de Avril Lavigne disponibilizada em página de antifã.............. 72
Figura 16 – Fotografia com Avril Lavigne disponibilizada em página de antifã........... 73
Figura 17 – Capa da revista Rolling Stone, número 918: 2003...................................... 79
Figura 18 - Página de perfil do pesquisador................................................................... 86
Figura 19 - Página inicial de comunidade que o pesquisador é integrante..................... 87
Figura 20 - Página de perfil de fã de Avril Lavigne....................................................... 95
Figura 21 – Página de perfil de fã de Avril Lavigne...................................................... 106
Figura 12 – Página inicial da comunidade Too Much To Ask – Avril............................ 107
Figura 23 – Página inicial da comunidade Qria ver a Foto do RG da Avril.................. 108
Figura 24 – Página inicial da comunidade Avril N.U.N.C.A. ........................................ 109
Figura 25 – Página inicial da comunidade Avril Lavigne Brasil.................................... 110
Figura 26 - Página web de enquete da revista Capricho................................................ 117
Figura 27 – Página inicial da comunidade O casamento de Avrillavigne...................... 118
Figura 28 – Página de um fórum da comunidade Avril Lavigne (Brasil) ...................... 119
Figura 29 – Página de entrada do site oficial de Avril Lavigne...................................... 125
Figura 30 – Capa do último álbum de Avril Lavigne: The best damn thing................... 126
Figura 31 – Imagem disponibilizada para a enquete ...................................................... 127
Figura 32 – Página de entrada do site AvrilRevolution................................................... 136
Figura 33 – Página de entrada do site Avrilmidia Hope ................................................. 137
Figura 34 – Imagens oficiais de Avril Lavigne – fase inicial ......................................... 161
Figura 35 – Imagens oficiais de Avril Lavigne – fase atual ............................................ 162
Figura 36 – “Flagrantes” da “vida privada” de Avril Lavigne ........................................ 164
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ..................................................................................................... . 1
OBJETO DE ESTUDO ............................................................................................ 2
JUSTIFICATIVAS ................................................................................................... 11
PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS ............................................................. 15
ESTRUTURA DESTA DISSERTAÇÃO................................................................. 21
1 MÚSICA, ÍDOLOS E FÃS: PRODUTOS DA INDÚSTRIA CULTURAL ... 23
1.1 DIFERENTES INTERPRETAÇÕES, DIFERENTES MEDIAÇÕES .............. 24
1.2 CELEBRIDADES MUSICAIS .......................................................................... 39
1.3 CULTURA INDUSTRIAL: FÁBRICA DE CELEBRIDADES ....................... 45
1.4 FÃS e CONSUMIDORES ................................................................................. 51
1.5 FÃS DE AVRIL LAVIGNE .............................................................................. 54
1.6 LOJA VIRTUAL DO FÃ-CLUBE DE AVRIL LAVIGNE .............................. 62
1.7 ANTIFÃS DE AVRIL LAVIGNE ..................................................................... 64
1.8 A CELEBRIDADE AVRIL LAVIGNE ............................................................. 74
2 COMUNIDADES: MÍDIA E RELAÇÕES SOCIAIS NO ORKUT .............. 80
2.1 MARCADORES IDENTITÁRIOS ................................................................... 82
2.2 O COMPARTILHAR EM COMUNIDADE ..................................................... 88
2.3 O ORKUT COMO CORPO-REDE RIZOMÁTICO ......................................... 96
2.4 CIBORGUIZAÇÃO IDENTITÁRIA A PARTIR DE
AVRIL LAVIGNE ................................................................................................... 98
3 ESTRATÉGIAS ON-LINE QUE APÓIAM A CONSTRUÇÃO
MERCADOLÓGICA DE AVRIL LAVIGNE...................................................... 111
3.1 MINI-CELEBRIDADES .................................................................................... 112
3.2 O PAPEL DOS AGENTES ............................................................................... 120
3.3 ESTRATÉGIAS EM TERRITÓRIO OFICIAL DE AVRIL LAVIGNE
NO CIBERESPAÇO ................................................................................................ 123
3.4 OUTRO SITE: MESMAS ESTRATÉGIAS ...................................................... 132
3.5 ESTRATÉGIAS MERCADOLÓGICAS NO ORKUT .................................... 138
CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................ 140
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................... 148
DISCOGRAFIA .................................................................................................... 154
FILMOGRAFIA ................................................................................................... 155
WEBSITES CONSULTADOS ............................................................................ 156
APÊNDICES
APÊNDICE A .......................................................................................................... 159
APÊNDICE B .......................................................................................................... 160
APÊNDICE C .......................................................................................................... 163
INTRODUÇÃO
Dentre as práticas que ocupam hoje o mundo dos jovens, o ouvir música tem lugar de
destaque. Segundo Gisela Castro (2006, p. 1), “o ouvir música tornou-se prática emblemática
das culturas urbanas atuais.” Esta prática tem um importante papel no cotidiano dos jovens,
chegando a influenciar seu comportamento. Tal prática envolve o consumo desse bem cultural
propriamente dito e também de seus emissores – cantores, cantoras e grupos, que muitas
vezes ocupam papel de matrizes identitárias. A mídia veicula as canções e a imagem dos
artistas. O jovem pode tomar como modelo certo modo de se vestir, de se comportar, de falar
etc. A mídia também assume a função de mediadora de uma outra prática social: o culto a
ídolos musicais.
Não é recente o fato de jovens se identificarem com os ídolos que admiram. Não são
poucos os exemplos de bandas, cantores, cantoras e instrumentistas que têm enfeitiçado fãs
em várias partes do mundo. Shows ao vivo e também os que são transmitidos pelos meios de
comunicação como a televisão, o rádio e o cinema, veiculam espetáculos que potencializam
estes afetos. Mas não só. Como parte de um sistema midiático que facilita a difusão das
estrelas, a internet é também palco para músicos se apresentarem a seu público. Este meio de
comunicação que está presente maciçamente entre os jovens, viabiliza dois tipos de diálogos:
um entre fãs e ídolos e outro entre os próprios fãs. Nosso estudo se serve desses diálogos para
compreender a construção midiática de uma celebridade do meio musical.
A internet é parte de uma revolução tecnológica que, segundo Castells (2005),
disponibiliza uma geração de conhecimentos e de dispositivos de comunicação, com a
possibilidade de inovação através da realimentação cumulativa, onde os usuários podem
tornar-se produtores da tecnologia e “artífices de toda a rede” (CASTELLS, 2005, p. 28).
Uma revolução que implica não só em novos aparatos técnicos, mas também em suas
aplicações sociais. O impacto desta mudança não estaria só no desenvolvimento material das
máquinas, mas no fato de indivíduos poderem se apropriar das tecnologias e a partir daí
redefinirem-nas, num processo social de inovação a partir da experiência de uso. Esses
indivíduos podem atuar como co-criadores e não apenas como usuários passivos. Essa
revolução tecnológica a que se refere Manuel Castells é a da informação. Entendemos uma
revolução deste tipo à maneira de Thomas Kuhn (2006): trata-se de algo que muda um
paradigma e, assim, certas formas de se ver o mundo.
Sabemos que não é a partir desta matriz tecnológica que teve início a utilização de
celebridades como fonte de produção de sentido. Esta prática vem de antes. Entretanto, a
internet possibilita que os processos em torno do culto a ídolos sejam facilitados e até
redefinidos a partir da apropriação que jovens podem realizar no ciberespaço
1
.
Nossa pesquisa debruçou-se sobre a apropriação social que jovens realizam no espaço
da internet para cultuar uma celebridade musical, no caso, a popstar Avril Lavigne.
Verificamos que esta prática juvenil é absorvida pela indústria fonográfica, que busca assim
utilizar a internet como plataforma para suas estratégias comerciais.
OBJETO DE ESTUDO
Nosso objeto de estudo se baseia na utilização do Orkut por adolescentes para admirar
a cantora Avril Lavigne. Estes jovens utilizam a estrela como uma matriz que apóia a
construção de suas próprias identidades on-line. Estabelecem, assim, um diálogo e produzem
uma narrativa, que é nosso objeto de análise. O Orkut tende a ser um meio bastante
aproveitado pelas fãs de Avril Lavigne. Por esta razão ele se apresenta como espaço
privilegiado para se captar a dinâmica desse processo de culto grupal.
Sabemos que a definição de um campo científico é apoiada pelos objetos que se
propõe estudar. Os objetos do campo da comunicação correm o risco, em nosso ponto de
vista, de serem percebidos como facilmente encontrados em nossas vivências diárias, já que a
comunicação se propõe a estudar, entre outros temas, muitos aspectos que fazem parte do
cotidiano. Este é o nosso caso. Focamos o culto de fãs em torno de uma celebridade. Esta
prática faz parte do dia-a-dia de muitos indivíduos e é comumente percebida como atraente
passatempo. Entretanto, nosso estudo buscou delimitar seu objeto para além do olhar comum
sobre esta prática. Além de nossas experiências anteriores, nossas inquietações e nosso papel
como pesquisador deste campo, consideramos diferentes olhares que podem ser fugidios de
um ponto de vista que considera apenas sua vivência (senso comum) como fonte de saber
(FRANÇA, 2001). Assim, para recortar nosso objeto de estudo incluímos os seguintes vetores
de apoio: o papel dos meios de comunicação na construção através da mídia de celebridades,
o desenvolvimento tecnológico que possibilitaria um significativo impacto na velocidade das
práticas sociais de culto, as produções discursivas de fãs dentro dos novos meios tecnológicos,
as características de circulação de sentidos atribuídos como produto dentro do ciberespaço a
1
Ciberespaço é o nome dado a um espaço cibernético. A expressão cibernética, no sentido que utilizamos neste
trabalho, foi proposta por Norbert Wiener (1954) e engloba a comunicação entre pessoas, entre pessoas e
máquinas, e entre máquinas para a transmissão de mensagens.
partir de figuras notórias, hábitos e interpretações de seus fãs, a relação da internet com outros
meios de comunicação sob a perspectiva da construção de ídolos e a integração de duas
culturas que se apresentam de forma integrada: a cultura da mídia e a cultura do consumo.
O Orkut é o site de relacionamento mais popular entre os latino-americanos (O
GLOBO ONLINE, 2007a) e, no Brasil, é o mais representativo em termos de número de
participantes. Hoje
2
cerca de 54% dos 69 milhões de usuários do Orkut cadastram-se como
brasileiros, segundo a comunidade Orkut Statistics que informa esse tipo de dados. Ainda
segundo esta mesma fonte, entre seus usuários, 13% tem até 18 anos de idade.
Esse aparente fascínio do jovem internauta brasileiro pelo Orkut fez com que
escolhêssemos este site de relacionamento para nossos estudos, mesmo sabendo que existem
outros que são também bastante freqüentados: Friendster (http://www.friedster.com),
MySpace (http://www.myspace.com), Beltrano (http://www.beltrano.com.br) e Facebook
(http://www.facebook.com), por exemplo. Este último tem sido considerado entre os
brasileiros como uma alternativa ao Orkut. Uma de nossas entrevistadas mencionou que
deixou o Orkut para utilizar apenas o Facebook. Segundo esta jovem, “saí do Orkut porque
rolava muita fofoca por lá. No Facebook é diferente”
3
.
É importante ressaltar que os sites de relacionamento da internet são previamente
parametrizados para serem preenchidos pelos seus usuários. Fazem parte do que vem sendo
chamado de Web 2.0, que tem seu conteúdo produzido pelos próprios internautas a partir de
grids pré-estabelecidos. Estes podem ser pensados de forma estratégica e a partir daí
delimitados pelos parâmetros do desenvolvedor. No caso do Orkut, o desenvolvedor é a
empresa norte-americana Google
4
(http://www.google.com). Portanto, é importante destacar
que estes territórios trazem para seus usuários uma liberdade de produção limitada à
parametrização que é dimensionada a partir da tecnologia utilizada pelo desenvolvedor do
site.
O que descrevemos anteriormente não parece ser o que tem sido veiculado de forma
majoritária pela mídia e entendido pelos usuários. Estes acreditam produzir o que consomem
dentro do Orkut de forma livre e espontânea. Nossa hipótese é que esta liberdade total de
produção não pode ser comprovada nas práticas do Orkut. Além da prévia parametrização,
existe uma influência, esta mais transparente ao usuário, de outros veículos de mídia on-line e
2
Acesso em: 8 de fevereiro de 2008.
3
Entrevista realizada em: 31 de julho de 2007.
4
Empresa proprietária dos direitos de uso do site Orkut.
off-line que podem ajudar a direcionar o que se produz dentro deste site de relacionamento.
Esta influência também será objeto de nossa análise (ver parte 3.5).
O Orkut funciona como um tipo de clube, do qual se deve ser sócio para participar. A
associação é feita através de convite feito por alguém já associado ou pela iniciativa do
próprio usuário em se cadastrar. O convite acontece através de um e-mail enviado pelo
sistema do próprio site, quando o então sócio escolhe, dentro de uma página www específica,
quem deseja convidar. Não existe limite para o número de convites a serem enviados por um
sócio. O cadastro é feito em uma página padrão que pode ser acessada publicamente.
Uma vez associado ao Orkut, um indivíduo tem, à sua disposição, vários recursos para
interagir com outros associados que estejam ou não on-line no momento de seu acesso. Trata-
se de uma interação mediada por computador que, segundo Primo (2007), não só deve ser
olhada como dependente da infra-estrutura informática, mas também estudada na sua
complexidade além da máquina. Ao propor um olhar criterioso para os diversos tipos de
interações mediadas por computador, o autor preocupa-se com o caráter complexo das trocas
que se dão para além do maquínico, já que falamos de relações entre indivíduos. Alex Primo
(2007, p. 72) argumenta que “estudar a interação humana é reconhecer os integrantes como
seres vivos pensantes e criativos na relação. Ainda que isso soe como obviedade, grande parte
dos estudos de ‘interatividade’ não conseguem diferenciar humanos de zumbis”. O autor nos
apóia no olhar que pretendemos ter sobre o Orkut que não se preocupa com os softwares e os
algoritmos que o fazem disponibilizar suas funções. Preocupam-nos com o que seus usuários
realizam a partir delas. É o caso dos recursos apresentados pelo site na página de perfil de um
orkutiano.
O site permite que se construa e que se armazene uma lista de amigos, que é exibida
juntamente com o perfil do associado, através do qual este se apresenta a quem visitar sua
página inicial. Tal perfil pode ser composto por diversos tipos de fotos, por dados como
preferências pessoais, hobbies, formação profissional e acadêmica, orientação sexual,
interesses na rede etc. Também faz parte do perfil do associado sua lista de amigos e de
comunidades.
Avril Lavigne é uma jovem cantora que tem, majoritariamente, fãs adolescentes do
gênero feminino que assumem gostar não só de ouvir suas músicas, mas também de entender
suas mensagens e de copiar seu estilo. A cantora foi escolhida para este estudo por ser
admirada de forma representativa em nosso país por um tipo de público que nos interessa
particularmente. O álbum Let Go (LAVIGNE, 2002), seu primeiro lançamento, vendeu mais
de novecentas mil cópias no Brasil entre as oito milhões vendidas em todo mundo naquele
ano. Seu público, formado por indivíduos de faixa etária entre 10 e 13 anos, tem sido
agrupados em um segmento construído para fins mercadológicos chamado de tween. Nesta
faixa eles estão entre (between) a infância e a adolescência (teen), por isso o termo tween, que
é resultado da combinação das palavras em inglês: between e teen. Esta segmentação será
analisada mais adiante nesse trabalho (vide item 3.3).
No Orkut podemos constatar uma forte presença de Avril. A cantora tem mais de mil
5
comunidades ostentando seu nome completo como parte do título. A comunidade com maior
número de participantes possui acima de quinhentos mil membros
6
. Vemos na Figura 1, a
página de entrada dessa comunidade, na qual seus proprietários a declaram como sendo sua
Oficial Community” na internet e, além disso, descrevem os motivos pelos quais os usuários
deveriam se filiar a ela. Em seguida, disponibilizam regras de conduta para serem cumpridas
por aqueles que optarem por fazer parte desse grupo. A comunidade oferece a possibilidade
de contato direto com outros fãs, além de enquetes, fóruns e informações diversas sobre a
cantora.
Além dessa representativa comunidade, encontramos
7
também quatro outras que
apresentam o número de associados acima de cem mil e que se declaram pertencentes aos fãs
de Avril Lavigne.
[Ver Figura 1]
Dentre estas comunidades, várias se propõem a tratar temas específicos em relação à
cantora. Por exemplo, a comunidade Manhê! Compra a Avril pra mim?
8
, cuja home page é
mostrada na Figura 2. Trata de uma brincadeira: uma solicitação específica para as mães dos
associados. Curiosamente, este não é um espaço em que se propõe discutir qualquer assunto
em torno de Avril Lavigne. Como é declarado na página inicial, trata-se de uma situação
imaginária de ter a cantora exclusivamente na casa de um dos associados. Daí o pedido para
que as mães comprem um produto que é a própria estrela. Duas situações são flagrantes aqui:
a solicitação para a mãe, típica da idade em que se encontram esses fãs e também a proposta
de um tema que envolve um desejo impossível, uma fantasia para ser alimentada em grupo.
Uma característica comum a essas comunidades com propostas de temas específicos é que os
5
Número máximo mostrado pelo Orkut em uma busca por comunidades, o que significa que Avril tem mais de
mil comunidades com seu nome como tema em janeiro de 2008, mas não é possível definirmos exatamente
quantas.
6
Comunidade Avril Lavigne com 507.010 participantes. Acesso em: 28 de janeiro de 2008.
7
Acesso em: 28 de janeiro de 2008.
8
Comunidade com 5.417 associados. Acesso em: 28 de janeiro de 2008.
diálogos e as trocas simbólicas são feitos de forma mais aprofundada que naquelas que não
apresentam uma proposta de discussão única em relação à cantora. Por abordarem estes temas
específicos com mais profundidade, são terrenos férteis para nossa investigação. Além disso,
o número de seus participantes em relação às comunidades genéricas é significativamente
menor. Este fato chega a influenciar sua dinâmica de funcionamento, já que percebemos uma
menor dispersão dos integrantes em relação ao assunto tratado. Os diálogos fora do tema
proposto são pouco freqüentes.
[Ver Figura 2]
Um outro tipo de comunidade detectado em nossa pesquisa são aquelas criadas e
compostas pelos antifãs de Avril Lavigne. No nosso entender, antifãs são indivíduos que
declaram não gostar ou até odiar um dado astro ou estrela. Esse tipo nos interessa por nos
permitir confrontar as idéias de fãs e de antifãs, comparações que podem nos conduzir a
conclusões diferentes daquelas obtidas somente através de análises feitas sobre as narrativas
dos fãs. Além disso, durante pesquisa de caráter exploratório no Orkut, constatamos entre os
antifãs diálogos mais detalhados a respeito da cantora. A Figura 3 traz a página de entrada da
comunidade Eu ODEIO Avril Lavigne!!!
9
, a mais representativa em termos de número de
associados. Existem mais de 200 comunidades que incluem em seus nomes as palavras Avril,
Lavigne e odeio. Estas comunidades de antifãs apresentam fotografias adulteradas da cantora
através de editores gráficos, como é o caso mostrado na Figura 3. Podemos também observar
nessa figura a letra da música Malandragem gravada por Cássia Eller (CAZUZA; FREJAT;
MANGA, 2003), que foi alterada para ofender Avril Lavigne. Aqui esses fãs às avessas
agridem discursivamente a cantora com o intuito de atingir seus fãs. A rivalidade é clara entre
os que admiram a cantora e os que não gostam dela e, por esta razão, procuram ridicularizá-la.
[Ver Figura 3]
Finalmente, também incluímos em nossa pesquisa páginas de perfil de fãs e de antifãs
de Avril, as quais nos trazem indicadores que chamaremos neste trabalho de marcadores
identitários. Esses são compostos por materiais textuais e imagéticos produzidos pelo próprio
usuário do Orkut para expressar sua identidade cibernética. Os marcadores identitários são
9
Comunidade com 7.214 associados. Acesso em: 28 de janeiro de 2008.
importantes âncoras que estes jovens utilizam para tentar legitimar e delimitar sua presença no
ciberespaço.
Citamos três tipos de comunidades orkutianas – duas de fãs (com tema específico
proposto e as mais genéricas) e as de antifãs. Somadas às páginas pessoais dos fãs e dos
antifãs, configuramos o local majoritário onde realizamos nossa pesquisa. Nosso objetivo foi
acompanhar a dinâmica das interações nesses espaços.
Outros territórios do ciberespaço pesquisados foram os websites oficiais e extra-
oficiais que tratam Avril Lavigne como celebridade. Estes últimos são criados por fãs e
antifãs. Focamos nas estratégias de construção de Avril Lavigne no ciberespaço do Orkut,
mas é de nosso conhecimento a impossibilidade de se estudar os processos de culto à cantora
no Orkut de forma isolada. A construção que se dá em seus limites acontece a partir de
materiais disponibilizados também em diferentes partes do sistema midiático. Este sistema
contribui, influencia e também pode direcionar o que circula dentro do Orkut. Sendo assim,
também precisamos levar em consideração as interfaces entre diferentes tipos de fonte.
Figura 1 – Página inicial da comunidade Avril Lavigne.
Fonte: http://www.orkut.com – gravado em: 02 de agosto de 2007.
Figura 2 - Página inicial da comunidade Manhê! Compra a Avril pra mim?
Fonte: http://www.orkut.com - gravado em: 02 de agosto de 2007.
Figura 3 - Página inicial da comunidade Eu ODEIO Abril Lavigne!!!
Fonte: http://www.orkut.com - gravado em: 02 de agosto de 2007.
JUSTIFICATIVAS
Castells (2005) afirma que vivenciamos hoje uma revolução tecnológica que diz
respeito não só aos aparatos técnicos, mas também a suas aplicações sociais. Importa-nos,
pois, estudar as TICs (Tecnologias da Informação e da Comunicação) como apropriações
sociais e não apenas dispositivos técnicos baseados em performance de hardware e software.
Nos anos 1990, tínhamos em nosso país a utilização dos BBS
10
como uma das formas
de comunicação em rede. Micro-computadores pessoais eram conectados a um servidor
remoto através de um modem e de uma conexão discada. A partir daí formava-se uma rede
centralizada em um único local e se podia trocar mensagens e programas entre os diversos
usuários, fazer compras etc. Porém, este tipo de acesso era restrito a indivíduos conhecidos na
época como nerds
11
. Era preciso um conhecimento técnico mais específico para se navegar
nessas redes centralizadas, os BBS. Mas, como apropriadamente afirma Lemos (2004, p.
106), “a micro-informática, base da cibercultura, é fruto de uma apropriação social”.
Entendemos cibercultura nesta dissertação no sentido proposto pelo próprio autor. A cultura
contemporânea associada às tecnologias digitais cria uma nova relação entre técnica e vida
social que é chamada pelo autor de cibercultura.
André Lemos se refere a uma apropriação para além dos interesses técnico-
econômicos. O que é destacado é a aplicação das tecnologias da informação e da comunicação
às práticas sociais cotidianas. Depois dos BBS do início da década de 1990, tivemos, no
Brasil o início do uso comercial da internet.
Em nosso país, essa utilização da internet para fins comerciais aconteceu notadamente
a partir de 1995. Antes disto, apenas links internacionais eram mantidos por aqui. Mas seu uso
era restrito a envios e troca de mensagens em formatos diferentes dos atuais e-mails e também
a consultas a bases de dados internacionais. A world wide web (ou simplesmente www), no
formato em que a usamos hoje, foi introduzida no Brasil também em 1995. A partir desta
data, a www passou a ser uma opção para interações sociais que foram sendo incorporadas ao
cotidiano de diferentes indivíduos, dentre eles os jovens, que a têm utilizado intensamente,
assim como o e-mail ou correio eletrônico e outras formas de interações disponíveis na rede,
como parte do modo de ser contemporâneo.
10
Bulletin Board System.
11
Indivíduos que possuíam alto conhecimento técnico que os permitia, no caso de nosso exemplo, entender e
utilizar máquinas sofisticadas. Os nerds constituíam um modo de vida peculiar, voltado apenas aos estudos e
suas experimentações com as máquinas e sistemas informáticos.
A world wide web é um tipo de aplicação da internet com uma interface gráfica que
facilita o compartilhamento das informações. A www foi desenvolvida em Genebra no início
de 1990 pelo programador inglês Tim Berners-Lee. Segundo Castells (2003), Berners-Lee
desenvolveu, em agosto de 1991, o primeiro navegador de hipertexto
12
da web, que permitiu
que se navegasse através de uma interface diferente da linha de comando que era comum na
época. Antes, um cursor esperava na tela do computador por uma ordem que vinha do usuário
através de uma linguagem específica que era conhecida apenas pelos iniciados. Os
navegadores desenvolvidos a partir de 1991 passaram a oferecer uma interface gráfica mais
amigável e direta. Muitos outros navegadores foram desenvolvidos a partir do primeiro de
Berners-Lee e possibilitaram um rápido desenvolvimento da www, o que ajudou a internet a
tornar-se o fenômeno social que é hoje. Essa interface gráfica permite uma simples navegação
por diversos tipos de informações que são disponibilizados em tempo real aos seus usuários.
A navegação é facilitada pela apresentação dos conteúdos de forma gráfica e pelas inúmeras
possibilidades de escolha colocadas à disposição do usuário. A expressão tempo real tem sido
largamente utilizada quando nos referimos à cibercultura. Nesse contexto, é como se as
atividades realizadas na internet acontecessem apenas na dimensão do espaço físico e o tempo
não existisse. Sabemos que há um tempo de circulação das informações nos computadores e
nas redes, mas este tem se tornado imperceptível devido aos aparatos tecnológicos
desenvolvidos para se buscar maior velocidade de transmissão. O espaço é percebido ainda.
Daí vem a idéia de um tempo real. A informação parece circular de modo instantâneo por
grandes distâncias.
Desde 1995, a www vem sendo largamente aplicada em sua dimensão social e, por
isso, rapidamente desenvolvida em seus aparatos técnicos. A world wide web é funcional para
empresas, indivíduos, órgãos de governo, escolas e, também, por grupos de jovens reunidos
por uma razão qualquer. Sua utilização é variada: inúmeros sites demonstram objetivos
diferentes, como vender produtos e serviços, compartilhar idéias, divulgar notícias,
manifestar-se a favor ou contra uma determinada causa etc.
Site ou website é o nome dado a um conjunto de páginas pertencentes à world wide
web, que é disponibilizado como um grupo de informação com formas e conteúdos ligados
entre si. Conforme citado, determinados sites da www são desenvolvidos com o objetivo de se
tornarem um tipo de território de relacionamentos no ciberespaço que utiliza o que tem sido
chamado de Web 2.0 para se formar. Nestes espaços os usuários se tornam responsáveis pelo
12
Utilizaremos, neste texto, hipertexto em um dos sentidos propostos por Parente (1999, p. 80): “um método
intuitivo de estruturação e acesso à base de dados multimídia”.
desenvolvimento do conteúdo a ser compartilhado. O Orkut, por exemplo, não foi lançado
com um conteúdo prévio, apenas foi (e continua sendo) parametrizado e disponibilizado como
um grid à espera de usuários interessados em compartilhar conteúdos através de suas páginas.
Nesse site os usuários podem ser produtores do próprio conteúdo que consomem, a partir da
interação que estabelecem mediados pelo Orkut. Entre as interações trabalhadas por Primo
(2007), está a interação mútua que possibilita a invenção conjunta da relação. Parece-nos ser
este o caso da produção cooperativa do conteúdo materializado no Orkut pelos seus usuários.
Mutuamente, através da interação mediada pelo computador, os usuários constroem, destroem
e interagem com o conteúdo disponível no Orkut.
As motivações que levam jovens usuários a compartilhar conteúdos através desses
sites de relacionamento e os processos que envolvem suas construções são fontes de
inquietação no campo da Comunicação e, portanto, importante tema de análise.
Bauman (2005) explica que uma identidade só se completa quando compartilhada. É
primordial para nós, seres sociais, o fato de pertencer, fazer parte de algo. O pertencimento
traz significado, ajuda a construir um sentido para a vida. Pertencer implica ter capacidade de
compartilhar, idéia ligada à possibilidade de identificação entre os que compartilham.
Mediados pelo computador, um grupo de jovens pode se reunir para compartilhar
idéias, opiniões etc. É o caso das comunidades do Orkut, que se constituem como
possibilidades para construções identitárias dos jovens que as freqüentam. Agrupados pelas
semelhanças, buscam dentro da comunidade um diferencial que os individualize, uma marca
que os aproxime, mas ao mesmo tempo os distinga uns dos outros.
É sabido que os jovens tendem a realizar suas experiências e construir suas identidades
através de materiais comuns ao seu grupo. Eles buscam marcadores identitários que
funcionem como códigos de pertencimento a uma dada tribo. Para Maffesoli (2006), as tribos
de nossos tempos tendem a privilegiar e acentuar uma dimensão afetiva e sensível, em
detrimento de associações contratuais ou mais racionais. O autor afirma que “há momentos
em que o indivíduo significa menos do que a comunidade na qual ele se inscreve” (2006, p.
198). Uma tribo potencializa um intercâmbio durante a construção identitária de seus
membros a partir de múltiplos elementos do cotidiano: pequenas histórias em torno de um
ídolo, registros fotográficos de shows, linguagens codificadas que poucos conseguem decifrar,
experiências urbanas, entre outros. Além disso, é possível pertencer a diferentes agregados em
função de temáticas.
Não é incomum encontrarmos um jovem que pertence a grupos distintos que somados
poderiam significar um paradoxo. Entre os associados do Orkut vemos pessoas que se
apresentam como religiosas, admiradoras de axé, punks e surfistas ao mesmo tempo. O Orkut,
nesse caso, seria uma rede de jovens em processo de construção identitária que resultaria em
diferentes experiências pessoais e formações de subjetividades – ou cibersubjetividades
13
,
conforme Gisela Castro.
O programa de Mestrado em Comunicação e Práticas de Consumo da ESPM, segundo
seu site institucional (ESPM, 2007), dedica-se aos “estudos de comunicação e de mídia nas
suas interfaces com as práticas de consumo”.
Nosso objeto de estudo traz em suas delimitações elementos que se coadunam com os
interesses deste Programa. A construção identitária dos jovens são processos que se dão
através de trocas comunicacionais tendo, muitas vezes, a mediação da TV, do rádio, do
cinema e, em nosso caso, da internet. A internet se configura como um importante meio onde
se pode estabelecer um contato interativo entre fãs e ídolo. Videoclipes na TV, músicas
tocadas nas diversas rádios, Avril Lavigne como dubladora de desenhos animados do cinema
e reportagens fotográficas sobre sua vida pessoal e seu dia-a-dia são formatos usados pela
popstar para comunicar-se com os fãs.
Kellner (2001) trabalha a idéia da cultura da mídia como dominante entre os diversos
públicos, entre eles os jovens. O autor ressalta o papel da mídia que atendem e estimulam a
cultura do consumo. Entendemos que o estudo da cultura da mídia pode nos proporcionar um
maior entendimento das dinâmicas relações entre mídia e consumo.
Silverstone (1999) argumenta que a mídia deve ser pensada como um processo de
mediação e não apenas a partir de um olhar sobre os seus componentes. Trata-se de uma
cadeia que engloba também os produtores das mensagens com suas estratégias direcionadas e
intencionais, assim como os receptores que, como consumidores dos meios, dão significado
ao que recebem. Estudar a mídia pode ser compreendido, então, como pertencente à dimensão
do entendimento das estratégias, dos meios que conduzem estas estratégias, dos conteúdos das
mensagens, da multiplicidade dos discursos que as mensagens trazem e do processo de
recepção delas.
O objeto deste estudo pressupõe o olhar direcionado às estratégias midiáticas e a um
meio que as conduz: o Orkut. Sendo assim, este estudo se insere na linha de pesquisa
Estratégias de Comunicação e Produção de Mensagens Midiáticas Voltadas às Práticas de
Consumo, cuja proposta é a seguinte:
13
Subjetividade construída e expressa a partir de experiências na cibercultura.
esta linha centra seu foco na elucidação da lógica de produção de mensagens voltadas
às práticas de consumo e na estruturação de seus modos de leitura. Analisa-se a
dinâmica do discurso publicitário e de outras práticas discursivas orientadas para o
mercado, considerando as mutações de suas estratégias e de seus padrões criativos.
Destacam-se ainda os estudos das modificações nos processos de codificação das
mensagens através de novas sensorialidades, novos processos de interação e de
mediação. (ESPM, 2007)
Nosso objeto de pesquisa se liga aos principais interesses dessa linha do Programa de
Mestrado da ESPM, pois pretendemos estudar as estratégias de produção e consumo da
popstar Avril Lavigne. Assim, centramo-nos na lógica de produção de mensagens que estão
voltadas ao consumo dessa celebridade, que é um produto cultural. Com este foco, podemos
estudar a dinâmica do discurso em torno desta estrela, inclusive de suas mutações estratégicas
e criativas. Nosso objeto se justifica também como parte desta linha de pesquisa por
contemplar um olhar sobre os processos de codificação de mensagens através de novas formas
de interação e de mediação que se dão no Orkut.
A Profa. Dra. Gisela Castro, orientadora desta pesquisa, desenvolve estudos sobre o
consumo de música na internet. Seu projeto atual de pesquisa na ESPM-SP visa a
compreender estratégias no consumo de música surgidas a partir da apropriação social de
novas tecnologias de informação e comunicação, como o caso do formato MP3 de
compactação de arquivos de áudio e dos sites de compartilhamento gratuito de conteúdo que
proliferam na internet.
Finalizando nossas justificativas, observamos que nosso estudo se centra na internet e
também nas estratégias que têm como público-alvo os jovens consumidores de música, o que
o enquadra perfeitamente no campo de pesquisa da professora-orientadora.
PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
Definimos nosso objeto para nos servir como um modelo de apreensão que permitiria
se revelasse e se deixasse analisar. Desta forma, conduzimos nossa pesquisa no ciberespaço
através de procedimentos metodológicos definidos em função da busca pela coleta de
evidências, informações e dados brutos para subsidiar nossas posteriores análises e
interpretações. Como argumenta Lopes (2005),
a realidade não é suscetível de apreensão imediata, e sua reprodução exige atividades
intelectuais complexas; o importante não é o que se vê, mas o que se vê com método,
pois o investigador pode ver muito e identificar pouco e pode ver apenas o que
confirma suas concepções. (LOPES, 2005, p.143)
Neste sentido se torna, então, importante a definição das técnicas de coleta dos dados e
das informações pertinentes ao objeto para compor o método de pesquisa. Estas técnicas,
normalmente, variam de acordo com a natureza da pesquisa e também pela forma que se
integram às estratégias de investigação. Segundo Lopes (2005, p. 146), “as técnicas conferem
um significado epistemológico ao tratamento do objeto e um significado teórico aos
problemas que se apresentam ao objeto”.
Considerando estes diversos aspectos, dividimos nossos procedimentos metodológicos
em três partes distintas e igualmente relevantes: pesquisa bibliográfica, pesquisa documental e
pesquisa empírica.
Para Lakatos e Marconi
a pesquisa bibliográfica [...] abrange toda a bibliografia já tornada pública em relação
ao tema de estudo, desde publicações avulsas, boletins, jornais, revistas, livros,
pesquisas, monografias, teses, material cartográfico, etc., até meios de comunicação
orais: rádio, gravações em fita magnética e audiovisual. Sua finalidade é colocar o
pesquisador em contato direto com tudo que foi escrito, dito ou filmado sobre
determinado assunto. (LAKATOS E MARCONI, 1995, p. 183)
Diante da diversidade de nossas preocupações em torno do objeto que pesquisamos,
nossas referências bibliográficas foram definidas como um roteiro a ser percorrido por nós.
Este nos levou a conhecer parte do estado atual do conhecimento acerca do tema de nossa
pesquisa. Um itinerário bibliográfico pode se servir de muitas opções de caminhos. Portanto,
as escolhas bibliográficas são também um recorte feito pelo pesquisador apoiado pelo seu
orientador e demais professores. Em nosso caso, escolhemos pensadores legitimados no
campo da comunicação e das ciências sociais para nos apoiar na compreensão dos fenômenos
que envolvem nosso objeto de estudo.
A pesquisa documental traz uma variação em relação à bibliográfica: a natureza de
suas fontes. Estas podem ser documentos emitidos por órgãos públicos e privados, relatórios
divulgados publicamente por institutos de pesquisas, entre outros. Em nossa dissertação,
utilizamos dados publicados a respeito da internet, do Orkut e de Avril Lavigne. As
informações que trabalhamos foram coletadas, em sua maioria, nos sites das gravadoras, das
empresas envolvidas nas análises e no próprio Orkut.
Nossa pesquisa empírica foi realizada em duas fases. Estas foram compostas por dois
tipos de estudos: exploratório e netnográfico.
Inicialmente, escolhemos como procedimento para esta pesquisa um estudo
exploratório envolvendo um grupo de fãs de Avril Lavigne. O objetivo era descobrirmos,
através de entrevistas não estruturadas, as motivações do entusiasmo por esta popstar, quais
suas características mais admiradas e quais as práticas sociais de culto em grupo utilizadas.
Após entrevistas iniciais realizadas com adolescentes do gênero feminino com idade entre 10
e 15 anos, percebemos que parte destes objetivos seria comprometida pelo perfil deste
público. Dos três objetivos citados para o estudo exploratório, obtemos determinado resultado
apenas em relação às práticas de culto em grupo. Partimos da hipótese de que os sites de
relacionamento na internet seriam utilizados para esse fim, o que se confirmou com essas
entrevistas iniciais. Mas, quando perguntamos a essas jovens sobre suas motivações em
relação à admiração por Avril Lavigne e quais as características principais da cantora,
obtivemos respostas vagas e pouco esclarecedoras, que podem ser resumidas em duas falas de
uma fã: “tudo nela é lindo” e “ela é tudo de bom”. Apesar de termos conhecimento da
existência de técnicas de pesquisa que poderiam amenizar este tipo de restrição, optamos por
entrevistar jovens do sexo feminino entre 18 e 20 anos, que se declaravam ex-fãs de Avril
Lavigne, segmento mais maduro e mais distanciado do culto à popstar. Esta opção mostrou
ser capaz de atender nossos objetivos iniciais para este estudo exploratório e, por esta razão, o
padrão escolhido para este momento da pesquisa.
Foram também entrevistados adolescentes do sexo masculino com idades entre 10 e
15 anos. Verificamos que esses fãs de Avril Lavigne a admiram de forma diferente, pois
centram sua admiração em outras características, como a beleza e a sensualidade da popstar.
Descartamos igualmente esse tipo de público, por considerarmos que seria mais interessante
para nossa pesquisa recortar o público-alvo no gênero feminino, apenas.
Escolhemos então para compor nossa amostra para o estudo exploratório inicial,
jovens do gênero feminino, com idades entre 18 e 20 anos, que se declararam ex-fãs da
cantora. Todas entrevistas referiram-se à admiração à Avril Lavigne como um evento ligado à
sua adolescência que, segundo a sua percepção, já teria acabado. Entrevistamos 11 jovens,
que, como havíamos suposto, mostraram-se bem articuladas na declaração das razões de sua
admiração por Avril Lavigne na época de sua adolescência e nos apontaram várias
características que as levavam à admiração. Entre os motivos mais comuns apontados pelas
entrevistadas, merecem destaque as letras da cantora. Segundo a maioria dessas ex-fãs, as
letras das músicas de Avril lhes traziam conforto em momentos de angústia de adolescente.
Parte das entrevistadas chegou a afirmar que não encontravam nem nas amigas e nem
tampouco em suas mães uma cumplicidade afetiva capaz de acalentá-las quando do
desapontamento com um menino ou com um ex-namorado, por exemplo. Afirmaram que
nesses momentos ouviam atentamente cada palavra de certas músicas de Avril Lavigne, que
traduziam angústias parecidas com as sentidas por elas. Essa cumplicidade, a sensação de que
eram compreendidas, fazia com que se sentissem melhor. Sabemos que esse tipo identificação
não é exclusividade desta cantora em especial. Entretanto, consideramos que esta
identificação pode ser entendida, no caso de Avril Lavigne, como umas estratégias de
fidelização de seu público.
O material colhido nesta pesquisa exploratória nos serviu para uma imersão inicial no
mundo das fãs e também para um direcionamento metodológico mais preciso. Determinamos
que para aprofundar o contato seria necessário proceder a um estudo netnográfico, pois, com
pouco acesso aos shows da cantora, que acontecem majoritariamente no exterior, suas fãs
brasileiras utilizam a mídia para obter informações sobre a estrela, incluindo a internet onde
têm a opção de também estabelecer laços entre si.
Kozinets propõe como metodologia para estas situações de pesquisa a netnografia ou
etnografia digital, que ele define
(...) como um método de pesquisa derivado da técnica etnográfica desenvolvida no
campo da antropologia (...) a netnografia tem conhecido um crescimento considerado
devido à complexidade das experiências da sociedade digital. (KOZINETS apud
ROCHA E MONTARDO, 2005, p. 13).
Diante disto, decidimos proceder com um monitoramento netnográfico de
comunidades do Orkut que têm como tema Avril Lavigne e das páginas pessoais de parte de
suas fãs e antifãs. Foram ainda monitorados sites oficiais e extra-oficiais da cantora, para
efeito de comparação de conteúdos. Nosso trabalho se pauta no Orkut, mas não o analisamos
de forma isolada, o que nos levou a pesquisar também esses outros websites na internet.
Para Rocha e Montardo (2005, p. 12), o Orkut é um dos espaços para se observar
novas práticas de sociabilidade na cibercultura: “o sucesso de sites de relacionamento, Orkut e
derivados, são provas desta potencialização de sentimentos (provocada pela cibercultura)”.
Segundo as autoras, a cibercultura é uma importante matriz de sentido de nossos tempos. Por
esta razão, acreditam que o método netnográfico, com técnicas de observação adaptadas da
antropologia, seja um caminho metodológico para o entendimento do imaginário que tece a
vida cotidiana dos habitantes da internet.
Optamos por atuar na condição de observador não participante para a realização desta
pesquisa no Orkut. Utilizamos, para isto, nossa associação pessoal a este site de
relacionamento. Também nos cadastramos em outros websites para obter acesso às
informações que buscávamos. Através do monitoramento regular nas diversas áreas do site,
objetivamos encontrar, entre os marcadores identitários de fãs e antifãs, informações
relevantes para nossa análise,
Para realizar esse estudo, criamos nossa própria página de perfil, com informações
reais, conforme ilustra a Figura 4. Trata-se de um procedimento metodológico que propicia ao
pesquisador um acesso diário ao seu locus de pesquisa, permitindo um acompanhamento
atento de seu objeto de estudo.
Os cadastros em outros websites também foram realizados com informações reais.
Acreditamos que criar um perfil com informações verdadeiras a respeito do pesquisador seja o
procedimento eticamente mais adequado para essa linha de pesquisa. Foram alvos de nossa
constante preocupação os acessos às páginas de fãs e antifãs do Orkut. Embora saibamos
serem áreas públicas, acessíveis a qualquer associado do Orkut, nestes espaços são
disponibilizadas informações e imagens pessoais de seus usuários. As fotografias e
informações coletadas em nossa pesquisa empírica foram usadas para ilustrar nossas
apreensões e interpretações a respeito das práticas no Orkut. Procuramos não fazer juízo de
valor das opiniões e nem tampouco das participações de qualquer indivíduo nas comunidades
dentro do Orkut.
Figura 4 - Página de perfil do pesquisador.
Fonte: http://www.orkut.com - gravado em: 02 de agosto de 2007.
ESTRUTURA DESTA DISSERTAÇÃO
Essa dissertação é composta, além de sua introdução, de três capítulos e de uma última
parte que intitulamos Considerações Finais.
O Capítulo 1 traz a discussão sobre os principais conceitos que utilizamos em nossa
pesquisa. Delimitamos o que são fãs, antifãs e celebridades neste trabalho. Preocupam-nos os
diversos usos que se fazem destes termos, que são expressões utilizadas para designar certos
agentes sociais do cotidiano. Nem sempre há um consenso no sentido dado quando se utilizam
estes três significantes. Por esta razão, construímos fronteiras claras entre o que chamamos de
fãs de astros e de estrelas musicais, e outros indivíduos que apenas os admiram ou
simplesmente ouvem suas músicas. No contemporâneo, a exemplo de outros tempos, ídolos
da música são cultuados por uma legião de fãs. Estes mesmos ídolos também podem ser
rejeitados por grupos de indivíduos que chamamos neste trabalho de antifãs. Estes últimos
também tomam parte no processo de culto às celebridades, só que às avessas. A cultura
midiática participa ativamente da construção destas estrelas veiculando materiais a seu
respeito que são consumidos pelos fãs e antifãs.
Neste Capítulo 1, tratamos também da relevante participação da mídia como potencial
influenciadora de comportamentos em torno das celebridades. Esta cultura está presente de
forma estratégica para se construir diversos tipos de ídolos, entre eles os musicais que nos
interessam. Essas questões são discutidas ao longo deste capítulo inicial, dando foco à estrela
Avril Lavigne.
O segundo capítulo busca refletir acerca dos diferentes usos que jovens fãs e antifãs da
cantora Avril Lavigne fazem do território do Orkut quando o ocupam para admirá-la ou
rejeitá-la. Partimos de um processo de observação nos marcadores identitários deste site de
relacionamento que são utilizados como forma de se construir e de se expressar as
cibersubjetividades dos orkutianos. Os limites do ciberespaço permitem que se estabeleça um
processo de interação entre os fãs e também entre os antifãs, além do convencional que
acontece entre ídolos e seus fãs. Assim, as diversas áreas do Orkut são locus privilegiados
para nossa pesquisa já que, através dos marcadores identitários disponíveis, acontece um
processo de compartilhamento e circulação de materiais que usam Avril Lavigne como tema.
Estes materiais trazem em seu conteúdo indícios que refletem um tipo de influência na
construção desta estrela, que é uma questão de nosso interesse. A seguir, analisamos o Orkut
como um corpo-rede rizomático
14
que possibilita que jovens se acoplem como nós de uma
rede para admirarem ou rejeitarem Avril. Finalizamos o segundo capítulo com uma proposta
para reflexão. A partir do conceito de ciborgues interpretativos tratado por André Lemos
(2005), pensamos o culto e a aversão à Avril Lavigne como elementos identitários que podem
afetar a construção de modos de ser. Chamamos este processo de ciborguização identitária
15
.
Para finalizar este capítulo, analisamos exemplos de ciborgues identitários.
No Capítulo 3, tratamos das estratégias on-line que apóiam a construção de Avril
Lavigne. Após entendermos as dinâmicas em torno do culto e da rejeição à cantora nas teias
do Orkut, buscamos em outros espaços da internet materiais complementares disponibilizados
a fãs e antifãs. Nossa busca é pela comprovação de nossa hipótese de que há uma construção
de Avril Lavigne na internet de que o Orkut faz parte. Assim, visitamos diversos websites que
têm como proposta temática a celebridade Avril Lavigne. Entre os espaços analisados estão o
LastFM, que é um site que se propõe a ser um tipo de rádio na web onde, a partir de um astro
musical, é sugerida uma seqüência de músicas estatisticamente compatíveis entre si.
Discutimos a presença de softwares na internet que fazem o papel de agentes, neste contexto
sugerindo aos usuários o que ouvir. Além disso, visitamos outras páginas web para analisar a
presença de estratégias mercadológicas em torno da estrela. É o caso do site oficial da cantora
que, além de divulgar uma extensa variedade de informações, também comercializa produtos
com a imagem de Avril. Fechamos este capítulo com um comparativo entre o que observamos
nestes espaços e no Orkut.
Nas Considerações Finais apresentamos reflexões resultantes das experiências que
tivemos durante nossa pesquisa. Sem pretensões de sermos conclusivos, procuramos trazer
contribuições para as análises em torno do processo de construção de celebridades facilitada
pelos recursos presentes no ciberespaço. Independentemente da perpetuidade ou
desaparecimento de Avril Lavigne e do Orkut, acreditamos haver contribuído para possíveis
futuros estudos no campo da comunicação.
Finalizamos nossa dissertação com três apêndices que buscam complementar com
imagens os pontos que abordamos em nosso estudo.
14
Este conceito é trabalhado na seção 2.3.
15
Este conceito é trabalhado na seção 2.4.
1 MÚSICA, ÍDOLOS E FÃS: PRODUTOS DA INDÚSTRIA CULTURAL
Sem a música a vida seria um erro.
Friedrich Nietzsche
Este capítulo tem por objetivo descrever e analisar conceitos que são utilizados nesta
dissertação como base para seu desenvolvimento. O objeto deste trabalho é composto por
elementos que demandam delimitações conceituais. Suas fronteiras são caras para os estudos
acadêmicos no campo da comunicação. Trata-se de conceitos como celebridades, fãs, antifãs,
indústria cultural e cultura midiática. Não é raro encontrarmos esses termos em contextos
variados e de senso comum. Portanto, nossa preocupação em alicerçá-los conceitualmente é
pertinente e justificável para atingirmos nossos objetivos. Iniciemos este capítulo delimitando
os diversos agentes que participam do processo social da escuta da música. Em seguida
construiremos um pensamento em torno dos conceitos de celebridades, de seus fãs e do
consumo que orbita ao redor de uma cultura industrial fonográfica.
Ouvir música é prática social há tempos entre nós. O valor simbólico que atribuímos a
esta prática pode servir, entre outras coisas, para se traçar uma cartografia social e histórica.
Diferentes épocas podem caracterizar inúmeras formas de se ouvir e se dar significado ao que
se escuta. Segundo Schafer (1997, p. 151), “a música forma o melhor registro permanente de
sons do passado”. Em seu livro A afinação do mundo (SCHAFER, 1997), o autor realiza uma
viagem social através dos tempos fazendo uma arqueologia da música tratando-a como uma
teia de significados.
Cada momento tem sua respectiva paisagem sonora, como mostra o autor. Vivaldi,
Haendel e Haydn, compositores do século XVIII, espelhavam a natureza em suas
composições. Uma era romântica permite que compositores façam isso. Já em tempos de
armas de fogo em evidência, efeitos de canhões foram introduzidos nas obras musicais e até,
como no caso da Sinfonia da Batalha de Beethoven, a imitação chegou a ser substituída pelo
som real do objeto executado durante o concerto (SCHAFER, 1997).
Castro (2003) traz, em seus estudos sobre a música e a escuta, uma idéia que aponta
para a constituição de modalidades de escuta, diferenciado-a do simples ouvir. A escuta de
uma obra musical traz com ela uma postura acompanhada de um lado ativo do ouvinte que a
decodifica conferindo assim sentido ao que ouve. Nessa dissertação, utilizaremos a escuta no
sentido atribuído pela autora. Durante o processo de construção de seu pensamento, Gisela
Castro também recorre à história da música, incluindo a brasileira. Este trânsito pela história
musical que é realizado pela pesquisadora é de cunho sociológico e antropológico, e nos
suporta neste trabalho trazendo a idéia da importância deste bem cultural como registro social
dos tempos.
Na contemporaneidade, como também observa a autora, a música continua sendo
importante instrumento para uma cartografia de certas práticas sociais. Ela funciona, neste
sentido, não só como registro permanente de sons do passado, mas também do presente.
Trata-se de um potencial guia para uma navegação investigatória e analítica do
contemporâneo.
Junto com a prática da escuta musical, convive-se com uma outra que pode lhe ser
complementar: a admiração dos ouvintes por um ou por vários agentes mediadores desta
prática. Homem ou mulher, dupla, trio ou grupo de músicos; esta mediação confere às obras
musicais interpretações próprias, que as transformam. Parece-nos que, socialmente, uma
música deixa de existir sem a figura deste agente mediador que é o intérprete. É comum
ouvirmos a mesma canção executada por diferentes mediadores e, por diferentes razões,
preferirmos essa ou aquela versão. Esta mediação nos afeta a ponto de permitir que
modulemos nosso gosto por uma ou por outra interpretação. A mediação nada mais é que uma
interpretação realizada por um agente ativo que modifica o que é escutado. Às vezes, versões
bem variadas nos agradam. Em outros casos, apenas aquela cantada por uma única figura nos
parece interessante. As possibilidades não são poucas. A transformação do gostar de uma
canção transita também pelos significados que se atribui a ela a partir de quem a interpreta e
de como se dá essa interpretação.
1.1 DIFERENTES INTERPRETAÇÕES, DIFERENTES MEDIAÇÕES
É notório que uma única música pode afetar diferentemente diversos indivíduos, como
também diferentes obras musicais podem afetar de modo idêntico o mesmo indivíduo. Isto
pode ser claramente percebido quando uma mesma canção é executada por diversos
intérpretes. Ter vários mediadores de uma mesma composição nos parece multiplicar as
possibilidades de afetos em seu público. Este ponto é de nosso interesse, já que nosso objeto
de estudo diz respeito à diversidade de afetos a partir da participação de um agente mediador
entre a música e seus ouvintes – no caso as fãs e antifãs da cantora Avril Lavigne.
Apenas como ilustração, analisemos certos comentários postados por usuários em um
fórum de uma comunidade do Orkut que tem como título odeio versão
16
podre de música. Um
espaço como este é criado por um participante que sugere um tema a ser discutido pelo grupo.
No caso desta comunidade que analisamos, a primeira internauta a se manifestar é a criadora
do fórum. Sua sugestão é a discussão em torno da versão em português da música I´ll be
there
17
(JACKSON 5, 1970) que é cantada pela brasileira Sandy com o título Com você
(SANDY; JÚNIOR, 1994). A discussão que vemos na Figura 5 se dá entre quatro orkutianas.
A frase que sugere o tema é a seguinte:
outra classica e eterna que a PORCA DA SANDY PROFANOU, a musica SACRA
do meu ETERNO IDOLO NUMERO 1, Maikinho! Meu consolo e que eu nao fui a
unica lesada, Sandy tentou cantar (como sempre alias) "Uninvited" da Alanis e
conseguiu piorar uma serie de outras musicas incluindo a ja nao tao boa Celine Dion.
Sem comentarios... (http://www.orkut.com. Acesso em: 10 de dezembro de 2007)
[Ver Figura 5]
Tal frase pode ser dividida em quatro fragmentos, para efeitos de nossa análise:
1.1.1 Primeiro fragmento: “outra clássica e eterna que a PORCA DA SANDY PROFANOU
[...]”
Antes de analisarmos este fragmento da citada narrativa, acreditamos ser pertinente
observar a falta de acentuação de sua escrita. Isto é típico de um escrever em sites como o
Orkut. Trata-se de uma prática comum entre os jovens. Outra característica desta forma
juvenil de escrever no ciberespaço, que não verificamos neste caso, é a abreviação das
palavras para simplificá-las.
Sandy é uma celebridade musical brasileira que interpreta, entre outras obras, versões
de músicas cantadas por ícones da música pop mundial, traduzidas para o português. É o caso
da música I´ll be there (JACKSON 5, 1970) da banda Jackson 5. O significado dado à palavra
“outra” pela internauta deixa claro seu reconhecimento de Sandy como intérprete deste tipo de
canções.
16
A palavra versão está sendo utilizada neste título para especificar um tipo de música, a que é traduzida para
outro idioma e interpretada por outro cantor, diferente do que a tornou popular.
17
Michael Jackson cantava I´ll be there (JACKSON 5, 1970) quando participava do grupo Jackson 5 com seus
irmãos e tinha apenas dez anos de idade.
Esta cantora apresenta grande quantidade de fãs
18
que, sem dúvida, discordariam, caso
tivessem acesso, da crítica citada acima e principalmente das ofensas que completam o
fragmento 1.1.1 da frase analisada. Entretanto, nosso foco não são os fãs de Sandy e nem
tampouco esta cantora. O que nos interessa é a materialidade discursiva da internauta quando
critica Sandy em seu papel de intérprete de uma versão musical. Parece-nos nítido que
estamos testemunhando a presença de uma rejeição prévia e específica a versões de músicas
percebidas como mal executadas (vide título da comunidade). Mas também é perceptível que
há uma aversão ao agente mediador da música: a cantora Sandy. Não notamos neste discurso
uma preocupação direta com a qualidade da interpretação ou com outros aspectos que
apoiariam a rejeição à cantora Sandy. O que constatamos é a presença de um julgamento de
que a cantora teria prestado um desserviço aos admiradores da versão “clássica” (como já
teria feito com outras obras). Esta declaração nos permite levantar a hipótese de que qualquer
que seja a versão de música interpretada pela cantora, mesmo sem uma prévia escuta, esta
internauta a avaliaria de forma negativa.
Quando a orkutiana utiliza as palavras “clássica” e “eterna” isto nos parece ser uma
tentativa de dizer que se trata de uma música proibida de ser cantada por qualquer outro
intérprete diferente do original: Michael Jackson, chamado no fragmento 1.1.2 de
“Maikinho”. Sandy, portanto, parece que jamais deveria ter tido tamanha ousadia. Isto nos
leva a concluir, entre outras possibilidades, que se trata de um afeto positivo em relação a
Michael Jackson e negativo na direção de Sandy. No ponto de vista exposto, Sandy não seria
bem-vinda por ser ruim, ela seria ruim por ser mal-vinda. O contrário parece acontecer com
Michael Jackson. Portanto, os afetos que um intérprete despertam em um ouvinte parecem
também determinar seu julgamento em relação a este, não se considerando, neste caso, apenas
qualidade técnica ou outros aspectos propriamente musicais apenas. O que nos foge e não é
foco desse trabalho são as razões, nesse caso, pelas quais Sandy seria mal-vinda e Michael
Jackson bem-vindo. Para o desdobramento desta questão, seria necessária uma análise mais
aprofundada do discurso de fãs e antifãs de Sandy, assim como de Michael, para entendermos
as especificidades destes afetos. Também seria imprescindível contar com o apoio de um
referencial teórico ligado ao campo da psicologia para podermos investigar as naturezas
individuais destas motivações. Entretanto, como foi dito, tais considerações não fazem parte
de nossos objetivos.
18
A comunidade Sandy Leah Lima apresenta 22.838 membros. Acesso em: 10 de dezembro de 2007. E esta é
uma das comunidades de fãs no Orkut que têm a cantora como tema, o que mostra que ela tem um contingente
significativo de admiradores e fãs.
Retomando nossa análise da narrativa da orkutiana, é importante observarmos outra
expressão utilizada no fragmento 1.1.1 apresentado: “profanou”. Parece, para a internauta,
que a cantora Sandy tem a capacidade de tornar profana uma canção que teria sido
“eternizada” na voz do então cantor mirim Michael Jackson, sendo apenas esta primeira
interpretação considerada válida. É interessante observarmos que mesmo se a cantora
brasileira realmente tivesse a capacidade de profanar uma canção, seria preciso que a versão
original, chamada de “clássica” pela fã de Michael, fosse propriamente sagrada. Parece-nos
que, dentro deste ponto de vista, ela realmente é considerada como tal.
1.1.2 Segundo fragmento: “[...] a musica SACRA do meu ETERNO IDOLO NUMERO 1,
Maikinho! [...]”
Música sacra é uma expressão de uso livre que normalmente designa obras musicais
relacionadas ao culto do sagrado. Ou seja, são composições ligadas a Deus e à religião. Na
parte 1.1.1 foi citada a profanação que teria sido realizada pela intérprete Sandy e na 1.1.2 a
característica sagrada da interpretação de Michael Jackson. Esta distinção bipartida presente
no discurso desta orkutiana nos leva ao ensinamento de Durkheim acerca do sagrado e do
profano.
Segundo Aron (2003, p. 502), “para Durkheim, a essência da religião é a divisão do
mundo em fenômenos sagrados e profanos [...]”. Portanto, a escrita, materialização do
discurso em análise, traz a idéia de uma lógica da religião que pressupõe o sagrado e a
organização de crenças relativas a ele. Não pretendemos pesar sobre as palavras dos
fragmentos 1.1.1 e 1.1.2 a interpretação de que se trata de um discurso de cunho religioso,
mas as alusões ao sagrado e ao profano remetem-nos a pensar na existência de uma divisão
clara e bipolarizada na fala aqui apresentada. De um lado, temos o sagrado que seria intocável
e seguido de crenças previamente determinadas. De outro, o profano, o mundano que pode
corromper ou mesmo destruir a doutrina do sagrado.
A lógica religiosa apresentada nesse discurso induz a pensar no cantor Michael
Jackson como sagrado e na cantora Sandy como profana. Nessa linha de pensamento as
versões interpretadas por Sandy parecem não serem boas, enquanto as canções interpretadas
por Michael Jackson agradam porque ele é o ídolo – sagrado e eterno – desta orkutiana. Aqui,
o cantor norte-americano não é percebido como sagrado por ser bom. Ele é percebido como
bom por ser sagrado. O mesmo ocorre com Sandy, que é percebida como má cantora por ser
profana.
Outro aspecto a ser considerado é a nacionalidade dos cantores. O norte-americano
canta de um lugar e com um idioma que tem um valor simbólico bem diferente do que é
apresentado por Sandy, inclusive no Brasil, país de origem da propositora do fórum do Orkut
e da cantora em questão. O grupo de rock brasileiro Titãs canta, em sua música A melhor
banda de todos os tempos da última semana (BRITTO; MELLO, 2003), os seguintes versos:
“[...] um idiota em inglês, se é idiota é bem menos que nós, um idiota em inglês é bem melhor
do que eu e vocês [...]”.
Esta parte da letra reflete uma percepção sobre o valor simbólico dado às músicas
cantadas em inglês em países periféricos como o Brasil. Trata-se de uma manifestação
genuína de quem compete pela atenção dos ouvintes com músicas compostas por estrangeiros
e cantadas em inglês. Podemos, assim, pensar que o afeto positivo na direção de Michael
Jackson é também reforçado pela sua nacionalidade norte-americana. Uma das questões, neste
caso, é a força simbólica conferida aos bens e produtos culturais provenientes dos EUA, entre
eles a música. A esmagadora predominância de produções culturais norte-americanas no
mercado globalizado, principalmente nos países periféricos, reforça a concepção de que haja
uma suposta qualidade superior que seria inerente a tudo o que é made in USA. Isto inclui
filmes, programas de televisão, revistas, jornais, etc. – e também músicas e seus intérpretes.
Hardt e Negri (2005) tratam do fenômeno norte-americano de dominância que, após o
fim de um tipo de imperialismo de modelo europeu, estaria em ação e expansão. Segundo os
autores, trata-se de uma nova ordem política da globalização que se vê refletida nas
transformações econômicas, culturais e políticas da contemporaneidade. Um império baseado
em fronteiras flexíveis, onde os domínios concebidos como dentro e fora seriam configurados
de forma diferente. Esta nova ordem política impactaria inclusive as formas de produção de
bens culturais, como é o caso da música. Assim, o modo norte-americano de escuta musical
seria pulverizado e ecoado em países como o Brasil. O cinema norte-americano é um exemplo
de um meio propagador do que tratamos nesse ponto de nossa dissertação. Ele traz scripts
comportamentais que podem influenciar o modo de ouvir, admirar e entender a música. Eles
podem até mesmo influir no surgimento de formas de resistência às práticas convencionais.
Da mesma forma, videoclipes estrangeiros também influenciariam os jovens brasileiros. Tudo
isso pode estar presente nas razões pelas quais o cantor Michael Jackson aparece em um
patamar sagrado para a internauta. Apesar de se apresentar com o nome americanizado – com
a letra “y” em seu final – o fato de Sandy cantar versões em português de clássicos do
repertório pop norte-americano pode reforçar a posição de Sandy como profanadora do que é
sagrado.
Cantar versões de músicas em um idioma diferente do de sua composição original tem
sido prática não tão incomum entre os cantores da contemporaneidade. Nomes reconhecidos
da MPB, entre eles Gilberto Gil e Djavan, gravaram versões em português de consagrados
sucessos internacionais (GIL, 2002; DJAVAN, 1996). Por outro lado, o cantor Roberto Carlos
tem, em sua obra, inúmeros discos gravados em espanhol (CARLOS, 2000). Chico Buarque
de Holanda (BUARQUE DE HOLANDA, 1970) também já optou em gravar canções em
italiano, assim como o violonista e cantor Toquinho (TOQUINHO, 2005). Para estes artistas
cantar seus sucessos em outros idiomas pode ser uma forma de alcançar outros mercados
musicais. Garota de Ipanema de Vinicius de Moraes, cantada em inglês por Astrud Gilberto
acompanhada por seu então marido João Gilberto e pelo saxofonista tenor Stan Getz, obteve
espaço no mercado norte-americano que é pouco receptivo para outras línguas e outros
sotaques (MORAES, 1997). Esta versão intitulada The Girl from Ipanema foi também
gravada por renomados cantores norte-americanos, como Frank Sinatra (MORAES, 2007).
Diversos sucessos da bossa-nova tiveram suas versões cantadas por astros da música
internacional. Parte dessas versões estão presentes entre as canções que ouvimos no cotidiano.
É importante observarmos que, no caso desta análise, não se pretendeu fazer quaisquer
considerações acerca de diferenças de capacidade ou de competência técnica que podem
existir entre Michael Jackson e Sandy. Apenas nos preocupamos, como já mencionado, com
certos afetos da orkutiana que justificariam parte de sua preferência prévia por determinada
gravação de uma música. Constatamos que esta fã não realiza seu julgamento somente
alicerçado no talento ou na competência técnica deste ou daquele intérprete. Esta pode até
basear parte de sua escolha em aspectos como estes e em outros, já que sabemos que não é
apenas este mecanismo afetivo que determina a preferência por esta ou por aquela versão.
Mas não é sobre outros aspectos que a internauta se expressa discursivamente no Orkut. Os
tipos de afetos que vemos refletidos em sua narrativa, para nós, são caminhos de construção
para uma base de um dos focos temáticos de nosso trabalho: a admiração de uma jovem por
uma determinada celebridade.
Ainda neste fragmento (1.1.2), vemos expressa uma tentativa de proximidade entre fã
e ídolo. Tratar Michael Jackson como “Maikinho” dá-nos a impressão desta fã querer
demonstrar possuir uma intimidade com seu ídolo. Trata-se de uma intimidade de tipo
maternal, de quem protege seu objeto idolatrado de profanadores, como seria o caso de Sandy.
Esta sensação de proximidade que pode gerar esta pseudo-intimidade é um tema que também
dialoga com nosso objeto de estudo. Por esta razão será foco de análise mais aprofundada em
parte posterior deste trabalho (vide seção 3.1).
Figura 5 – Fórum da comunidade Odeio versão podre de música.
Fonte: http://www.orkut.com - gravado em: 19 de dezembro de 2007.
1.1.3 Terceiro fragmento: “[...] Meu consolo e que eu nao fui a unica lesada, Sandy tentou
cantar (como sempre alias) ‘Uninvited’ da Alanis [...]”
A internauta sugere que outros fãs como ela também teriam sido “lesados” pelo fato
de Sandy ter “tentado cantar” em outra ocasião uma música de Alanis Morissette
(MORISSETE, 2005). Isto nos parece servir de consolo para ela, embora esta fã ainda reforce
sua indignação afirmando que Sandy “sempre” faz isto, demonstrando o quanto a incomoda o
fato de existirem versões em português para essas outras músicas, cantadas pela celebridade
brasileira.
Diante desse relato da fã de Michael Jackson, constatamos a existência de uma
percepção de que versões traduzidas do inglês para o português podem trazer com elas uma
perda. Em suas palavras percebemos uma indignação pelo fato de ouvir uma música que ela
conhece no original sendo cantada por alguém em português. A versão de Sandy é uma
tradução adaptada da letra da música original dos Jackson 5. A melodia, a harmonia e o
acompanhamento são executados de forma a se buscar a máxima fidelidade com a gravação
original, como se fosse um cover
19
.
Estas versões traduzidas podem também trazer um tipo de estranhamento por parte do
ouvinte mais habitual da gravação original, independentemente do idioma da tradução. Um fã
de Michael Jackson, que tem como hábito ouvir suas canções repetidamente, tem maior
probabilidade de se sentir incomodado diante de uma versão traduzida de uma música que é
originalmente cantada por este intérprete, em inglês. Ao escutar várias vezes a mesma canção,
um fã pode acostumar seus ouvidos à forma de cantar de seu ídolo, à velocidade com que a
melodia é tocada e aos outros detalhes que compõem uma obra musical. Sem desconsiderar
outras razões, acreditamos que a escuta repetida – característica imanente a um indivíduo que
admira e idolatra determinada estrela musical confere a este indivíduo um quase automático
estranhamento ao ouvir a canção cantada por outro intérprete, em idioma diferente daquele no
qual está habituado a ouvir. O hábito da escuta de determinada música em seu original pode
ser uma das razões do imediato não-gostar de uma versão traduzida – qualquer que seja o
intérprete em questão.
Sendo assim, um ouvinte habituado com Alanis Morissette cantando a música
Uninvited (MORISSETE, 2005) no original em inglês tem chance de estranhar uma versão
19
Cover é um tipo de música cantada por um artista que tenta simular, com o maior grau possível de fidelidade,
a versão originalmente cantada. Esta simulação se dá o só na voz, na melodia, no andamento e no ritmo da
música, mas também nos gestos, na performance, no estilo e no modo de cantar do original.
traduzida, qualquer que seja o idioma e o cantor que a interprete. O mesmo podemos supor ter
ocorrido a fã de Michael Jackson. Por estar acostumada com a escuta da gravação dos Jackson
5 da canção I’ll be there (JACKSON 5, 1970), ela pode ter estranhado imediatamente a versão
brasileira Com você (SANDY; JÚNIOR, 1994), antes mesmo de ter tido tempo de relevar o
peso de quem a interpretava para sua percepção. Tendo ou não acontecido desta forma,
importa-nos considerar a possibilidade deste tipo de estranhamento também ocorrer e
colaborar com as sensações em torno de versões traduzidas.
Gostaríamos de ponderar ainda mais um aspecto que vemos presente nos fragmentos
1.1.2 e 1.1.3. Há uma clara identificação da fã com Michael Jackson e, em um menor grau,
com Alanis Morissette. Ainda constatamos uma falta de identificação em relação à Sandy.
Um homem norte-americano de etnia negra e uma mulher canadense nos parecem portar
características que oferecem a esta orkutiana mais razões de afinidade do que Sandy, que é
uma mulher brasileira. Nesse caso, nacionalidade, etnia e gênero demonstram não ser
alicerces fortes o suficiente para aproximar esta internauta de Sandy. Outros fatores mostram-
se mais relevantes em uma construção identitária da internauta. Assim, consideramos que não
só a música seja responsável por esta busca de proximidade. Seus intérpretes como agentes
sociais também são relevantes para esta orkutiana e podem desempenhar para ela um papel de
matriz identitária que funciona como uma base através da qual se pode consumir modos de
ser, estilos de vida, linguagem e outras características. Nesse caso, trata-se de uma fonte com
potencial para fornecer material suficiente para apoiar a construção de um eu no ciberespaço
da internet.
Estudos contemporâneos têm apontado uma certa desintegração dos tipos tradicionais
de identidade baseados em nacionalidade, gênero, classe social e etnia. Gradativamente
vemos surgir também outros modos de se construir identidades. Stuart Hall (2006, p. 69)
argumenta que “as identidades nacionais estão se desintegrando, como resultado do
crescimento da homogeneização cultural [...]”. O autor também fala da erosão de uma
“identidade mestra” (HALL, 2006, p. 21) da classe sócio-econômica da qual o indivíduo faz
parte. Segundo esse ponto de vista, haveria uma falência da identidade baseada em sistemas
de representações sociais com alicerces na etnia, no gênero e na nacionalidade. Todas
estariam em declínio, enquanto novas identidades híbridas estariam tomando seus lugares.
Estas tendem a se basear em sistemas de representações diversos, alguns dos quais seriam
impactados pelo tempo e pelo espaço – como é o caso, por exemplo, da discussão em torno da
versão traduzida da música de Michael Jackson mencionado anteriormente. No caso do fórum
em questão, o jogo identitário se dá em função de representações simbólicas que giram em
torno de aspectos como o compartilhamento de idéias, de pontos de vista em relação a um
tema: versão traduzida de uma música. As distâncias físicas entre os pontos de onde se
manifestam os participantes do debate são irrelevantes para sua manutenção. A discussão se
dá em tempo real, apenas se considera o tempo que cada um dos participantes leva para
conceber, digitar e postar seu ponto de vista no site. Os impactos dos conteúdos
compartilhados no fórum são imediatos sobre os indivíduos que tomam parte dele. Esta
velocidade acelerada tem sido uma característica do contemporâneo que também tem se
apresentado de forma globalizada. Hall argumenta que,
a aceleração dos processos globais, de forma que se sente que o mundo é menor e as
distâncias mais curtas, que os eventos em um determinado lugar têm um impacto
imediato sobre pessoas e lugares situados a uma grande distância. (HALL, 2006, p.
69)
A internet está subordinada a esta aceleração, que é o aumento da velocidade ao longo
do tempo. E em seu território, as distâncias encurtadas permitem que os impactos de variados
eventos tenham repercussão sobre pessoas e lugares situados a grandes distâncias. Esta idéia
de globalização, que encurta distâncias e acelera processos, está incorporada também aos
sistemas de representação social como, por exemplo, a música e tudo o que a envolve. Os
ouvintes que habitam o Orkut participam também desta dinâmica globalizada e podem
construir suas identidades híbridas a partir das representações construídas no site pelos
próprios participantes.
Este parece ser o caso da orkutiana em questão. Embora esteja cadastrada no Orkut
como brasileira, não vemos presentes em sua narrativa traços discursivos que expressem sua
identidade nacional. Despreza uma cantora brasileira por considerá-la profanadora da música
de um norte-americano. Embora se apresente como uma mulher, não apóia Sandy baseada na
questão do gênero. Sua etnia é desconhecida. Identifica-se com um homem norte-americano e
afro-descendente. Por outro lado, também apóia os fãs de Alanis Morissette na luta contra a
profanação musical provocada pelas versões traduzidas de Sandy. Alanis é canadense, branca
e mulher, entretanto o apoio não parece acontecer baseado no gênero, na nacionalidade ou na
etnia. Também não é simplesmente uma questão destes dois cantores serem celebridades e
isto servir de base para a orkutiana julgá-los sagrados. Sandy também é. Parece-nos que se
trata de um jogo identitário mais complexo formado por um hibridismo de representações
sociais que não são mais facilmente explicadas pelos alicerces da nacionalidade, da etnia e do
gênero. Aspectos como o idioma original da música, a idade dos cantores, o local onde suas
músicas são tocadas, o estilo dos ouvintes e, principalmente, o imaginário em torno deles nos
parecem ser caminhos mais seguros para entendermos os afetos da internauta.
O que percebemos é que parece existir uma prévia e proporcional associação entre o
gostar ou não de uma música e de seu mediador ou intérprete. Constatamos que o fluxo entre
ouvir e gostar seja mais dinâmico do que pensam os indivíduos que afirmam gostar de uma
música simplesmente “porque ela é boa”. As perguntas são: “por que ela é boa? Quais as
razões que a definem como tal?” Afirmamos aqui que o mediador afeta de forma significativa
o julgamento acerca de uma canção. A partir de então tem início um processo que apóia o
gostar e o preferir certas músicas. Na experiência de escuta musical a mediação do intérprete
parece ter um peso maior na construção do gosto do que geralmente podemos considerar sem
uma reflexão como esta.
1.1.4 Quarto fragmento: “[...] e conseguiu piorar uma serie de outras musicas incluindo a ja
nao tao boa Celine Dion. Sem comentarios...”.
Este caminho nos leva a pensar que qualquer que seja a música interpretada por
Michael Jackson e por Alanis Morissette parece agradar a orkutiana. O gostar dependeria
menos da música e mais de quem é o intérprete em questão. A cantora Celine Dion, que
também é canadense, não está livre deste tipo de julgamento prévio, conforme podemos
constatar no fragmento 1.1.4. Esta, segundo a internauta, também teria sofrido o ataque das
versões de Sandy, mas seu aval de qualidade mostra-se mais frágil nas palavras colhidas do
fórum. Celine Dion parece não agradar tanto a esta fã e, por esta razão, estaria situada em um
nível abaixo do sagrado, mas ainda longe do profano. Talvez freqüente uma terceira categoria
entre as duas anteriores, se isto fosse possível: um eventual purgatório para ídolos musicais. A
orkutiana não deixa de esclarecer o que pensa sobre Celine Dion, “[...] a ja nao tao boa Celine
Dion [...]”. Em proporção é pior que Michael e melhor que Sandy. Entretanto, não passa
despercebida ao julgamento da ouvinte, afetando-a de uma certa forma.
No final deste fragmento 1.1.4, a expressão “sem comentários” nos remete a pensar
em uma estratégia discursiva; uma tentativa de busca por cumplicidade e por legitimação de
sua indignação. A internauta provoca, assim, os outros membros deste fórum a corroborarem
sua idéia inicial com outros comentários. É isto o que fazem outras três participantes da
comunidade ODEIO versão podre de música!. Elas reforçam o julgamento da proponente
inicial acusando Sandy de assassinar a “obra de arte” dos Jackson 5, de não ter imaginação
por cantar versões e, ainda, por “estragar” qualquer música. Isto reforça nossos argumentos
em torno do jogo identitário na admiração ou reprovação de mediadores musicais presente em
nossa análise.
Uma breve pesquisa pelo Orkut nos levou a perceber que o assunto versões de músicas
não se limita a esta comunidade que teve este fórum analisado. Com um objetivo qualitativo,
pesquisamos e encontramos dez exemplos que têm a expressão versão de música em seu
título, catorze com versões de música no título e mais seis comunidades com versão em
português no título. Longe de serem uma grande representação quantitativa dentro do site,
estas comunidades são indicadores de que este assunto é relevante para os jovens ouvintes de
música que habitam o Orkut.
O tema versões que escolhemos para analisar serviu-nos como um balizador da
importância do agente mediador de uma música (ora chamado de intérprete) na construção do
gosto por uma determinada canção. As versões traduzidas, que podem ser cantadas por
intérpretes diferentes de seus compositores, apresentam razões de serem utilizadas: busca de
novos mercados musicais, homenagens aos seus compositores, tentativa de repetir o sucesso
do idioma original etc. Independentemente destes motivos de origem, com esta discussão
podemos avançar na construção de nosso raciocínio em torno do ouvir música. A partir do
que foi colocado, entendemos que o gostar ou desgostar por parte dos ouvintes seria, muitas
vezes, também balizado por prévias determinações que poderiam depender do mediador que a
apresenta. Antes de ouvir determinada composição já estariam presentes elementos que iriam
perfazer o gostar ou o desgostar. Em certos casos, é quase como se a escuta propriamente dita
fosse o menos importante para se elaborar um juízo acerca daquela música.
Estamos diante de uma lógica onde o gostar de uma música não é somente produto da
escuta, mas também resultado do que se pode aferir previamente apenas por se saber quem irá
interpretá-la. Trata-se de uma construção simbólica elabora pelo ouvinte antes mesmo dele
escutar determinada composição musical. Esta prévia construção também pode ser dada a
partir de um processo dinâmico de circulação de significados alimentado pelo contexto no
qual se encontra o ouvinte. No contemporâneo devemos considerar, entre outros aspectos, a
mídia como importante contextualizadora do dia-a-dia. Como argumenta Kellner (2001), a
mídia se apresenta de forma dominante na construção simbólica dos significados em
circulação na atualidade. Portanto, a construção prévia do gostar, do preferir ou do desgostar
uma música pode também ser formatada a partir de processos presentes na cultura da mídia.
Este autor nos traz a idéia de que a mídia veicula uma determinada cultura com imagens, sons
e espetáculos que afetam a vida cotidiana, que sabemos influenciar também o juízo acerca de
músicas e intérpretes. Esta cultura da mídia, que media as construções simbólicas de que
falamos, é uma cultura
[...] industrial; organiza-se com base no modelo de produção de massa e é produzida
para a massa de acordo com tipos (gêneros), segundo fórmulas, códigos e normas
convencionais. É, portanto, uma forma de cultura comercial e seus produtos são
mercadorias [...] (KELLNER, 2001, p. 9)
A mídia, então, configura-se como um importante processo a ser estudado como
mediadora de significados e mensagens dominantes que podem ajudar a criar posturas nos
ouvintes antes mesmo deles escutarem as músicas. A cultura da mídia traz recursos para os
indivíduos acatarem ou rejeitarem padrões identitários que ela própria veicula. Sendo assim,
pode tanto levar os ouvintes a uma conformidade como também a uma oposição aos modelos
dominantes vigentes, o que possibilita formas diversas de resistência. O que sabemos é que,
no contemporâneo, a cultura da mídia impacta fortemente a preferência dos ouvintes pelas
músicas, também a construção dos significados em torno dos agentes mediadores destas
obras. A escolha do intérprete de uma composição, assim como de seu repertório, contribui de
forma decisiva para direcionar preferências que determinam o processo de consumo em torno
da escuta musical. Vemos que a cultura da mídia está de mãos dadas com o consumo cultural
– no caso o consumo de música – pois, ajuda-o na determinação das direções, das proporções
e dos sentidos daquilo que se vai consumir.
Temos ouvido interpretações dos próprios compositores, assim como de diferentes
cantores que dão sua interpretação a uma obra composta por outros. Também escutamos
músicas apenas instrumentais, nas quais a voz do cantor está ausente. E, ultimamente, temos
acesso a mais e mais músicas tocadas pelos DJ que utilizam diversos recursos tecnológicos
para garantirem a animação das pistas de dança nas diversas cidades do mundo. Estes
intérpretes/compositores apresentam diferentes seqüências musicais nas quais as composições
são mixadas com efeitos inusitados, muitas vezes inovadores (CASTRO, 2005). Certos
indivíduos apenas ouvem, a maior parte também dança, ambos dão significado ao que
escutam. O processo da escuta pode acontecer em locais abertos ou fechados, em trânsito ou
parado, acompanhando alguma atividade, por diversão ou profissionalmente. Faz parte de um
dia-a-dia cada vez mais musical. A escuta móvel através de celulares e players portáteis de
música digital tem expandido o ouvir para territórios antes não musicados, o que confere uma
nova dimensão à experiência local e cotidiana, em determinados casos.
A escuta musical esteve também presente entre as preocupações de Theodor
Wiesengrund Adorno. Este expoente da Escola de Frankfurt inquietou-se, entre outras
questões, com o início do processo de reprodução mecânica das composições eruditas.
Segundo o comentarista Puterman (1994, p. 1), Adorno acreditava que “[...] no domínio da
música, o interesse pela execução viva dos artistas passava para segundo plano, uma vez que
podia ser substituída pela execução mecânica”. Em uma época em que a produção em escala
também se aplicava às artes com a introdução do fonógrafo e do cinematógrafo, Adorno e
Horkheimer, seu parceiro e colaborador, buscaram compreender o que acontecia através da
problematização em torno do que chamaram de “indústria cultural”.
Esta idéia se tornou um conceito presente e de interesse legítimo para os pesquisadores
do campo da comunicação. Os estudiosos pioneiros da Escola de Frankfurt integraram neste
conceito a noção da proliferação de uma lógica industrial no domínio das artes e da
criatividade imanente a elas. A indústria cultural trazia consigo a idéia de uma destruição da
cara emoção de se ouvir a música sendo executada ao vivo em um teatro ou uma sala de
concerto. A escuta também poderia acontecer através de uma simples reprodução mecânica
em um local qualquer. Longe do teatro, onde Adorno e Horkheimer preferiam ouvir suas
músicas, inaugurava-se um novo processo social: a escuta remota à origem da execução.
Tornou-se possível ouvir várias vezes a mesma música, agora reproduzida mecanicamente.
Iniciava-se, assim, uma série de novas práticas sociais em torno da escuta.
Nesse contexto, a busca por lucro parecia surgir como força que distanciaria os artistas
que produziam do puro e simples prazer de criar e de executar suas obras. Segundo o olhar
dos problematizadores da indústria cultural, surgia um nexo econômico dominante e
fulminante sobre a arte. Esta, desde então, consolida-se ao transformar apreciadores de bens
culturais em potenciais consumidores de produtos culturais. Hábitos de consumo, preferências
e gostos são monitorados atentamente e podem ser transformados em material estatístico. O
início de estratégias de segmentação, utilizadas nos dias de hoje pelo marketing, parece
direcionar esta cultura industrial. Sob esta ótica, por exemplo, aspectos econômicos se
tornaram preponderantes na indústria fonográfica majoritária e, conseqüentemente, afetam
compositores e intérpretes. A mídia é importante parceira e mediadora desta lógica que tem
como principal motivação a lucratividade dos grandes conglomerados gestores do
entretenimento, hoje um dos braços dominantes da indústria cultural.
1.2 CELEBRIDADES MUSICAIS
Por gozar de sua posição dominante, a cultura da mídia apropria-se estrategicamente
do processo prévio de julgamento dos ouvintes de música. Assim, produz e divulga intérpretes
e bandas de acordo com tendências criteriosamente programadas, de modo a constituí-los
como celebridades. A lógica do marketing na indústria fonográfica atual transforma músicas e
intérpretes em produtos de consumo. Assim, planeja e executa estratégias que procuram
moldar o gosto e influenciar o sucesso de determinadas obras e intérpretes. Não foi a mídia
quem inventou a possibilidade de construção de significado em torno de quem media uma
música, interpretando-a. Como dissemos, este tipo de processo existe há tempos, antes mesmo
da cultura da mídia fazer parte de nosso cotidiano de forma tão predominante. Sabemos que
admirar um cantor ou um músico é uma prática social já presente em outros tempos. O que é
típico do contemporâneo é o uso sistemático e quantificado que a cultura midiática faz desta
prática, industrializando-a em busca de resultados interessados e específicos.
Aliado ao pensamento da indústria cultural, Walter Benjamin (2000), em seu célebre
artigo A obra de arte na época de sua reprodutibilidade técnica, atenua as críticas de Adorno
e Horkheimer à reprodução técnica de todo tipo de obra de arte. Segundo este pensador
alemão, “a obra de arte foi sempre suscetível de reprodução” (BENJAMIN, 2000, p. 222).
Quadros eram copiados por discípulos dos grandes pintores como exercício, assim como
falsários sempre reproduziram obras de arte para obter ganhos materiais. Benjamin realiza
uma arqueologia da reprodução técnica das obras de arte e sugere pensarmos nas que podem
dar um novo sentido à experiência do admirador. É o caso do cinema, por exemplo. Através
de recursos como movimentos de câmera, close ups e mudanças na velocidade de exibição, o
cinema oferece ao espectador uma singular forma de experimentar cenas que não lhe estão
disponíveis fora da tela. Sem estes recursos as sensações ali vividas não seriam possíveis.
Esta atenuação proposta por Benjamin às críticas feitas por Adorno e Horkheimer nos
permite compreender melhor o conceito de indústria cultural trabalhado inicialmente pela
Escola de Frankfurt. Walter Benjamin não deixa de criticar esta cultural industrial. O que faz
é aprofundar a discussão em torno da reprodutibilidade técnica como nova possibilidade de se
experimentar uma obra de arte. Para ele, a indústria cultural envolve a idéia de massa como
fonte geradora de diferentes atitudes em relação às obras de arte. Nas palavras do autor,
a massa é uma matriz de onde brota, atualmente, todo um conjunto de novas atitudes
em face da obra de arte. A quantidade tornou-se qualidade. O crescimento maciço do
número de participantes transformou seu modo de participação. (BENJAMIN, 2000,
p. 250)
Percebemos na citação anterior uma preocupação com um diferente aspecto: a
quantidade. As idéias de Benjamin parecem assim atualizarem-se diante do que discutimos. A
indústria fonográfica, na busca por suas margens de lucro, contribui para a construção da
massa de onde brotam as atitudes em torno do ouvir música. Estas atitudes parecem apoiar a
construção de posturas dos ouvintes que podem emergir dos scripts do como ouvir trazidos
pela mídia. As audiências tornam-se, desse modo, balizadores de qualidade. Uma música,
quando ouvida por muitos, pode ser entendida, nesta lógica, como sendo de boa qualidade. A
crença de que existe uma relação direta e proporcional entre qualidade e quantidade que a
indústria fonográfica traz em suas bases é o álibi para a construção de celebridades. Os
ouvintes das obras destas celebridades, ao assumirem as posturas prescritas pelos circuitos
comerciais, podem também ser vistos por nós como produtos desta indústria. Com isso em
mente, consideramos em nosso estudo a possibilidade da construção de celebridades e
também de seus públicos consumidores.
Tratamos, neste momento, de um tipo de consumo onde os meios de comunicação
também parecem trabalhar em função de um modo de ouvir programado. Desta forma seriam
direcionadas certas possibilidades do gosto musical de quem faz uso da cultura da mídia. Não
advogamos um determinismo da mídia no gosto do ouvinte. Trata-se de uma disponibilização
em massa de obras de celebridades que são construídas pela indústria e em seu favor.
Sabemos que os ouvintes têm, através de seus contextos de vida, papel fundamental e ativo na
escolha do que ouvir. Entretanto, para se ter acesso a uma canção que não seja parte do gosto
musical que interessa a essa indústria, um indivíduo poderá ter dificuldades. Circuitos
alternativos, cada vez mais enredados aos circuitos da mídia majoritários, aparecem como
opção.
As novas tecnologias têm ajudado neste tipo de ações de ruptura com a indústria
fonográfica majoritária, trazendo alternativas para resistência à sua produção massificada, por
vezes tida como excessivamente diluída de modo a tornar-se mais palatável, como argumenta
Gisela Castro (2005a). A internet, por exemplo, é potencial meio para propagação destas
cenas alternativas. Cada vez mais tais atitudes têm impactado o negócio da música em todo o
mundo e, assim, preocupado os industriais por colocar em risco modelos de negócios já
consagrados. A necessidade de estudos em torno da pirataria e da reprodução digital de
música tem ocupado a atenção de pesquisadores no campo da comunicação social.
Ao analisarmos a cultura da mídia como dominante no contemporâneo, podemos
entender que não há uma veiculação desinteressada. A mídia traz suas ideologias através de
sons, imagens e personagens simbolicamente construídos em favor de seus interesses, muitas
vezes, financeiros. Optamos, assim, por olhar esta cultura como um sistema que pode veicular
interesses da indústria do entretenimento – da qual a indústria fonográfica faz parte – que
busca atingir seus objetivos comerciais. Por mais que os ensinamentos dos teóricos
frankfurtianos nos pareçam importantes, não acreditamos que para se analisar o papel
dominante desempenhado pela cultura da mídia no contemporâneo seja suficiente o modelo
de cultura de massa proposto pela Escola de Frankfurt.
Entretanto, seria um erro considerarmos toda esta cultura como mera circuladora de
produtos culturais em forma de mercadoria. Como dissemos, a mídia também possibilita
resistências. Kellner (2001, p. 252) afirma que “há muitas formas de expressão cultural
contestadora que resistem a códigos, práticas e ideologias da cultura predominante”. Para o
teórico norte-americano, estas formas contestadoras podem ser encontradas nos circuitos mais
comerciais como o cinema de origem hollywoodiana, os programas da MTV veiculados em
boa parte do planeta e os programas de rádios comerciais; mas são mais freqüentes nas cenas
alternativas fora destes circuitos.
O mesmo autor dedica em seu livro A Cultura da Mídia (KELLNER, 2001) um
capítulo para uma crítica diagnóstica da situação dos negros norte-americanos através de um
estudo cultural dos filmes do diretor Spike Lee e da música rap
20
. Para Douglas Kellner, estes
dois exemplos de produção cultural podem ser entendidos como saídas que utilizam a própria
cultura da mídia para expressar uma visão alternativa sobre a sociedade norte-americana
contemporânea. Estes modelos identitários alternativos mostram-se resistentes à opressão
racial existente nos Estados Unidos, externando suas próprias formas de expressão e de
identidade contestadora.
O cinema de Lee e o estilo rap, com suas estratégias estéticas, apresentam-se como
formas múltiplas de linguagem, modos de ser e relações sociais. Principalmente o rap, estilo
musical que pode ser interpretado como resistência cultural contra a supremacia da etnia
branca e a opressão dos afros-descendentes naquele país. Nesta mesma linha de análise,
20
Rap: rhythm and poetry. Em português poderia ser traduzido livremente por ritmo e poesia. Trata-se de um
tipo de música urbana de origem negra. A expressão rhythm and poetry faz alusão ao já consagrado rhythm and
blues.
Kellner afirma que “os filmes de Spike Lee constituem uma intervenção significativa no
sistema cinematográfico de Hollywood” (KELLNER, 2001, p. 204). Esses bens culturais
representam importantes formas de resistência e também interferem no dia-a-dia norte-
americano e mundial através da popularização de novos modos de expressão e atitude que se
tornaram marcas de grupos sociais que lutam contra a segregação. Entretanto, o que se mostra
curioso neste estudo de Kellner é que as produções mais radicais do rap negro são as que mais
vendem e, ainda, estima-se que a maior parte desta venda tenha como consumidores
adolescentes brancos do sexo masculino. Este fato aparentemente paradoxal faz com que o
autor proponha como possibilidade a cooptação do rap pela cultura do consumo. Parece que,
a partir daí, cria-se um novo ciclo. Esta cooptação não aconteceria somente com o rap, mas
também com os filmes de Spike Lee, pois boa parte deles foram grandes sucessos de
bilheteria em todo o mundo e trouxeram resultados financeiros bastante significativos e
satisfatórios.
Neste ponto de nosso trabalho, entendemos que pode haver um comportamento cíclico
com as formas de resistência à cultura midiática e à indústria cultural. É provável a existência
de oposição nas teias dos circuitos comerciais. Entretanto, esta possibilidade pode trazer com
ela uma transformação de bens culturais de resistência em mercadorias-fetiche
disponibilizadas aos consumidores na forma de produtos culturais. Inicialmente produzidos
como meios de resistência, quando transformados em mercadorias, estes bens podem
funcionar apenas como uma amenidade e um entretenimento, já que se tornam cooptados para
finalidades mais conservadoras. A partir daí, outras formas de resistência podem aparecer e
criar novas possibilidades e continuar o ciclo ou rompendo-o através de propostas de oposição
que por sua vez se tornem dominantes.
Sem desconsiderar a importância e a possibilidade da resistência no ouvir música,
prossigamos nossa análise da indústria fonográfica através de um exemplo da lógica de
construção de celebridades, agora com o direcionamento de nosso foco para o âmbito do
rádio. Este se apresenta como um dos meios de comunicação de massa mais populares no
Brasil e é também onde se encontra presente de modo bastante evidente a lógica da indústria
cultural que temos abordado até agora, notadamente através do fenômeno conhecido como
jabá.
Em entrevista concedida à revista Playboy, o empresário conhecido como Tutinha,
proprietário da rádio paulista Jovem Pan, reforça a idéia da existência de estratégias para
produzir celebridades e músicas, atendendo aos interesses da indústria cultural. O entrevistado
afirma que,
[...] se não tocar na minha rádio, a Jovem Pan, o artista não estoura. E não sou
bonzinho. Se a música é ruim, digo para o artista: Não vou tocar, seu disco é uma
porcaria. Tchau e não me amola. (PLAYBOY, 2007)
Este empresário parece ter o poder de julgar o que é bom e o que não é antes mesmo
da avaliação final através das taxas de audiência. Sua fala é de alguém que, supostamente,
teria este poder de determinar o sucesso ou o insucesso na carreira de cantores e cantoras. É
importante observarmos que a rádio Jovem Pan é líder em audiência em diversos horários em
várias cidades do país, pois seu sinal é reproduzido em muitos estados brasileiros. A
relevância social das palavras do proprietário da emissora nos parece indiscutível.
Trabalharemos com a idéia de que existiriam determinações prévias por partes
comercialmente interessadas no sucesso de um produto (seja ele um intérprete como potencial
celebridade; seja a própria canção do repertório deste ou daquele intérprete) que será
veiculado por um importante meio de comunicação que é o rádio no Brasil. No trecho da
entrevista transcrito acima, temos que o produto final deverá ser filtrado e modelado
previamente. O empresário descreve, em sua entrevista, casos que ratificam esta sua prática.
O que será disponibilizado aos ouvintes da empresa Jovem Pan é primeiro
normatizado para assim ser veiculado em um formato padrão. Este formato parece ser
determinado a partir de pesquisas mercadológicas que empresas do setor de comunicação
realizam para esculpir seus produtos ao gosto dos nichos de consumo que pretendem atender.
Entretanto, este gosto, como vimos, está impregnado com a lógica da própria mídia que se
auto-alimenta do que produz. Assim, o que será tocado nas rádios irá satisfazer um
consumidor que, por hipótese, já tem razões prévias para gostar da música antes mesmo de
ouvi-la. Gosta-se da música porque ela é formatada segundo padrões já consagrados ou
porque ela é cantada por uma celebridade com significados construídos pela própria indústria
que a produz e comercializa.
Construída através da integração de diversas técnicas de marketing, uma celebridade é
um produto feito sob medida para quem ouve. Nesse sentido, podemos entender “estoura” –
expressão utilizada na citada entrevista – como referência às altas taxas de audiência que
seriam assim garantidas, percebendo aí uma clara quantificação do ouvir musical. Para fazer
sucesso (alcançar altos índices de vendagem) é necessário tocar na rádio e, para isto
acontecer, o candidato à posição de celebridade precisa corresponder a um determinado perfil
para ser veiculado como produto cultural. O que estamos chamando de “perfil” nesse caso
atende mais a quesitos comerciais, tendo pouca ligação com o suposto talento musical do dito
candidato. Num campo onde falhas técnicas podem ser corrigidas ou eliminadas com certa
facilidade, atributos como imagem, estilo e atitude – aliados à disponibilidade para atender às
múltiplas exigências da indústria fonográfica – tornam-se mais relevantes para um candidato a
popstar do que atributos propriamente musicais.
Estilo de vida, linguagem e modos de ser são atributos deste produto que são
trabalhados pelo marketing para a construção de uma imagem favorável do artista na
percepção do consumidor. A celebridade tem sua construção simbólica planejada para ocupar
o imaginário dos consumidores e isto é feito seguindo a lógica da mercadoria. Sabemos que o
marketing, apoiado pelo discurso publicitário, utiliza-se de estratégias e ferramentas que
criam uma percepção da possibilidade de uma dada mercadoria fornecer benefícios além de
sua função de destino. É assim com as marcas de automóveis, que há algum tempo não apenas
prometem entregar o meio de transporte. Vão além em suas promessas. Estas marcas dizem
que, além de transportar, apóiam os indivíduos em sua performance social. É cada vez mais
comum a abordagem de aspectos distantes da função transporte em um anúncio publicitário
de uma marca de carro. Estes anúncios procuram criar na mente do consumidor uma imagem
de marca que propicia ao seu comprador o sentir-se bem por ocupar um veículo socialmente
legitimado, mesmo que mais da metade de suas capacidades tecnológicas deste sejam pouco
úteis para o dia-a-dia do comprador.
Outro exemplo são as marcas de roupas. Grandes marcas deixaram de dizer que seus
produtos servem apenas para vestir. É comum vermos filmes publicitários onde são exibidas
atitudes, modos de ser e performances sociais. A idéia é associar às marcas estes sonhos do
cotidiano, reforçando que poderiam ser atingidos através do uso da “roupa certa”. Assim, usar
uma marca ao invés de outra teria um significado social de pertencimento. Tenta-se agregar à
marca uma outra idéia de qualidade: o que é bom não é o que dura mais, mas o que dá
potência social. Portanto, uma marca de automóvel ou de roupas que tenha qualidade não é a
que cumpre sua função destino e dura mais, é a que melhor legitima o pertencimento social.
Como veremos a seguir, esta lógica também apóia a construção de celebridades e,
conseqüentemente, de seus fãs.
1.3 CULTURA INDUSTRIAL: FÁBRICA DE CELEBRIDADES
Admirar um indivíduo célebre e tê-lo como ídolo não é uma novidade do
contemporâneo. Entre nós esta prática social já existe há tempos. Tem história e, por esta
razão, não é uma exclusividade daquilo que certos teóricos denominam a condição pós-
moderna.
As celebridades destes nossos tempos não nos parecem se ocupar, na maioria dos
casos, com a possibilidade de serem eternas e imortais. Não que o longo prazo não faça parte,
de seus planos de carreira. Mas tem sido gradativo o aumento do grau de dificuldade em se
atingir a longevidade como ídolo. As atuais estrelas têm encontrado como opção o foco de
seus esforços em uma glória efêmera que cultua o gozo pelo sucesso presente. A idéia parece
ser trabalhar como se este presente fosse contínuo e ininterrupto. Um tipo de pensamento que
encontra eco no estilo de produção da moda, um negócio que funciona bem próximo a esta
lógica e que também habita os circuitos midiáticos.
A realização de obras imortais não está impedida de acontecer, mas a tendência global
de hoje seria outra. O caminho das celebridades é ter como principal critério as receitas
financeiras e grandes audiências. Para isto se estudam os potenciais consumidores como
segmentos a fim de se definir suas expectativas e seus desejos. Espera-se encontrar
informações sobre os hábitos destes consumidores que são agrupados estrategicamente.
Busca-se o agrupamento de compradores que tenham os mesmos desejos e as mesmas
expectativas semelhantes para, assim, desenhar-se segmentos de mercado sob medida, faixas
que agreguem o maior número de indivíduos. A partir destas segmentações, infere-se a
existência de necessidades homogêneas em cada perfil. Produtos sob medida podem ser
desenvolvidos de forma direcionada a estes segmentos pré-estabelecidos de consumidores.
Esta é uma das formas de se produzir mercadorias fast-food. Estas são desenhadas para
atender grupos de consumidores com, supostamente, as mesmas expectativas e os mesmos
desejos. A regra é não os perturbar com algo complexo e de difícil identificação, fazendo com
que utilizem seu tempo para reflexões e questionamentos em torno do que irão consumir.
Produtos de rápida identificação, pouca complexidade e de consumo imediato servem para
esta finalidade.
A produção e o consumo de celebridades como mercadoria são práticas sociais que
parecem seguir esta mesma lógica. Cantores, compositores e bandas são tratados como
marcas e suas músicas como produtos de consumo.
Um consumidor pode optar pela compra de um produto para seu dia-a-dia baseado em
uma grande diversidade de fatores tangíveis. Entre eles, a função que aquele produto
desempenhará em sua vida, sua qualidade, seu preço, experiências anteriores, entre outros
aspectos. Assim, pode escolher, em meio a opções de marcas que comercializam aquilo que
pretende comprar, aquela que melhor se encaixa às suas necessidades. Entretanto, sabemos
que o processo de compra também é afetado por fatores intangíveis. Estes estão mais ligados
a atributos pertencentes ao mundo das marcas do que aos produtos com suas características
funcionais e físicas, apesar de sabermos que produtos e marcas, comercialmente, andam de
mãos dadas.
O processo de compra de um refrigerante por um consumidor pode considerar, por
exemplo, seu sabor, seu aspecto, seu preço e também sua função de saciar a sede. Todos os
refrigerantes que encontramos nos supermercados apresentam estas características. Como
produtos comerciais, oferecem benefícios para seus compradores. É assim que se tornam
atraentes para serem consumidos. Entretanto, se um processo de compra e venda de
refrigerantes fosse composto apenas por estes atrativos meramente tangíveis, o consumidor
simplesmente escolheria o produto que tivesse o menor preço, a maior quantidade, o melhor
sabor e o melhor aspecto.
Sem desconsiderar estes atrativos, sabemos que as escolhas podem ser também
baseadas em outras questões de caráter emocional e intangível. Entre um refrigerante de
100ml da marca Coca-cola e um outro de 150ml da marca Brahma, um consumidor pode
escolher a primeira opção mesmo se o preço e o aspecto dos dois produtos for idêntico.
Outros fatores dos produtos, diferentes dos físicos e funcionais, entram em ação quando
comparamos diferentes marcas. A publicidade é uma das principais responsáveis pela
construção deste reconhecimento de marcas. Apresenta-se ao público através de um discurso
publicitário como faz uma marca de refrigerantes e se associam a ela diversos atributos que
podem lhe conferir significados na percepção dos consumidores. Serve-se, assim, aos
interesses da indústria que produz e comercializa o dito produto.
Ao dizer que uma celebridade é tratada pela indústria cultural atual como uma marca é
afirmar-se que há um planejamento da construção de seus significados. Busca-se, em função
de objetivos comerciais, a associação à celebridade de atributos positivos para serem
lembrados por indivíduos quando consumirem música e os outros produtos culturais que se
encontram à sua volta: shows, CD, DVD etc. Como dissemos, hoje em dia certas celebridades
tratadas como marcas apresenta características típicas de produtos do contemporâneo como:
efemeridade e perecibilidade, entre outras, talvez por padecerem de superexposição.
Celebridades chegam mesmo a serem planejadas para durar pouco. Seus atributos, por
exemplo, podem ser sua juventude, sua forma de agir, sua voz adolescente. Este foi o caso do
grupo porto-riquenho Menudo. Este grupo, formado nos anos 1980, era composto por
meninos na fase da adolescência. Rapidamente chegaram a patamares de audiência em seus
shows e a números na venda de discos bastante significativos. Lançaram inúmeros trabalhos,
incluindo um em português, e depois de vários anos de sucesso, chegaram ao final de seu
ciclo e o grupo foi desfeito. Alguns de seus integrantes são reconhecidos até hoje como ex-
menudos. Fãs-clubes foram formados para admirar Ricky Martin, um ex-menudo que obtém
sucesso em carreira solo como cantor latino. Na época, além de discos e shows, vendiam-se
outros produtos que traziam o grupo como tema: camisetas, bolsas, mochilas. A mídia chegou
a consagrar como expressão o título de seu primeiro disco de 1984, Menudo Mania
(MENUDO, 1984). Os integrantes adolescentes cresciam e se desligavam da banda, sendo
substituídos por outros integrantes mais jovens que garantiam a continuidade do grupo. A
posição que a marca Menudo ocupou no imaginário de seus fãs era de uma banda composta
por integrantes adolescentes com suas características juvenis. Por isso a necessidade de se
substituir regularmente os integrantes que estejam em vias de perder essas características
adolescentes que davam o tom da identidade do grupo musical. Esta estratégia, no entanto,
não pôde ser indefinidamente usada e, um dia, a banda chegou ao fim.
Atualmente, é comum vermos celebridades endossarem produtos de consumo em
anúncios publicitários. Como marcas, artistas de cinema, cantores, jogadores de futebol,
modelos fotográficos, músicos e outras celebridades são cada vez mais utilizados para
conferir credibilidade e status a diversas marcas e produtos. A escolha acertada da celebridade
endossante pode gerar resultados altamente significativos para as empresas contratantes. Por
outro lado, embora a renda obtida com patrocínios e/ou participação em campanhas
publicitárias possa significar ganhos indiretos bastante sedutores para as celebridades em
questão, associar sua imagem a uma marca ou a um produto oferece riscos que precisam ser
devidamente aquilatados.
Vemos, então, que a lógica mercadológica em torno das celebridades do campo da
música está presente para além das fronteiras de sua arte. Não somente sua obra, mas também
sua imagem, seu modo de ser, seus rituais sociais, sua linguagem e suas atitudes: tudo pode
tornar-se produto e pode ser aproveitado como tal. Não se comercializa apenas a reprodução
das músicas e dos shows destas popstars em CD, DVD ou em formato digital. Também são
colocados à venda inúmeros produtos como roupas, acessórios, materiais escolares,
brinquedos etc. que trazem ilustrações, fotos e grafismos que lembram aquela celebridade.
Tudo para admiradores e fãs experimentarem o sonho de participar ativamente do mundo da
celebridade que admira.
Esta forma de cultuar um ídolo parece atrair especialmente os jovens. Estes vivem a
celebridade que admiram. Através de uma homogeneização cultural, os jovens podem se
diferenciar entre eles. Compram camisetas, CD e artigos temáticos do mesmo ídolo, assim
participam de comunidades afetivas que garantem sua inclusão ao mesmo tempo em que
podem se diferenciar dos outros expondo o que consomem. Trata-se, neste caso, de uma
diferenciação entre iguais. (HALL, 2006; KELLNER, 2001).
[Ver Figura 6]
A Figura 6 traz a ilustração de uma camiseta que estampa uma imagem da cantora
Avril Lavigne. A loja on-line Almerch.com
21
(http://www.almerch.com) vende, além de CD e
DVD; camisetas, revistas, blusas, gravatas, fotos e fichários (vide exemplo na Figura 7) que
trazem a cantora como tema.
[Ver Figura 7]
Os fãs de Avril Lavigne podem ouvir suas músicas, vestir-se de forma identificável
com uma camiseta e uma blusa, usar na escola os fichários com sua foto e manter-se
atualizados a respeito de sua vida de celebridade através das revistas que esta loja virtual
comercializa. Em forma de produtos complementares, a cultura industrial busca faturar
consideravelmente em torno da prática social da admiração conjunta de uma celebridade.
Apropria-se de forma estratégica do jogo de identidades híbridas que citamos. Disponibiliza
uma larga gama de opções para os jovens se expressarem a partir de seus ídolos. Assim, a
indústria do entretenimento investe, cada vez mais, em novos produtos em busca do
crescimento de sua curva de faturamento.
A venda de direitos de uso da imagem de celebridades na forma de royalties é uma
realidade mercadológica consagrada. Roupas, materiais, acessórios escolares,
eletrodomésticos, aparelhos eletrônicos, bolas e até ovos de Páscoa trazem impressas em suas
embalagens as imagens de celebridades. Intermediários negociam com empresas a utilização
do endosso destas estrelas para intensificar a venda de diversos produtos. A idéia é simples:
produtos com associações diretas a um célebre ídolo têm mais potencial de venda, já que fãs e
21
Acesso em: 19 de dezembro de 2007.
admiradores consomem sua imagem quando compram estes produtos. Acreditam adquirir
mais que uma funcionalidade, levam um sonho simbolizado na forma de endosso.
Na venda destas imagens simbólicas, apenas uma parcela do lucro dos royalties chega
às contas bancárias dos indivíduos-celebridades. Um número significativo de pessoas e
empresas lucra diretamente com a venda da imagem destas estrelas. Podemos, assim dizer,
que uma celebridade tornou-se uma entidade corporativa, uma empresa em torno da qual
trabalha uma estrutura de marketing e de vendas que garante a lucratividade de cada ação de
sua marca. Trata-se de uma corporação que tem um funcionamento industrial. A crítica a esta
forma de atuar já estava presente nas preocupações da Escola de Frankfurt. Nas palavras de
Theodor Adorno,
a Indústria Cultural se transforma em public relations, a saber, a fabricação de um
simples good-will, sem relação com os produtores e objetos de venda particulares.
Vai-se procurar o cliente para lhe vender um consentimento total e não crítico, faz-se
reclame para o mundo, assim como cada produto da Indústria Cultural é seu próprio
reclame. (ADORNO, 1971, p. 289).
Adorno trata da questão da imagem fabricada através de um “good-will”, ou seja, uma
boa impressão a ser trabalhada na relação indústria e consumidor, sem um contato direto deste
último com a produção. Está aí presente uma preocupação com a interferência levada às
últimas conseqüências do lucro por parte dos intermediários da indústria de celebridades. A
venda da imagem se dá através de um “reclame” (publicidade) e a boa qualidade do produto
pode já estar determinada antes de sua experimentação. Evidentemente, a busca do lucro vai
além desta fabricação de ídolos.
Figura 6 – Camiseta com ilustração da cantora Avril Lavigne.
Fonte: http://www.almerch.com/loja – gravado em: 19 de dezembro de 2007.
Figura 7 – Fichário com a foto da cantora Avril Lavigne.
Fonte: http://www.almerch.com/loja – gravado em: 19 de dezembro de 2007.
1.4 FÃS E CONSUMIDORES
Outra parte importante desta engrenagem lucrativa é a participação ativa dos
consumidores. Estes são ativos auto-alimentadores do ciclo que constrói, reconstrói e dá
significado às celebridades.
Para estudarmos estes consumidores da imagem de celebridades musicais optamos por
dividi-los em três categorias diferentes: ouvintes, admiradores e fãs. Trabalharemos como
parte de nosso recorte apenas com os consumidores que se incluem neste processo de
construção de celebridades através do apoio na formação de mapas de significados em torno
destas. Mais especificamente, os fãs. Os outros dois - ouvintes e admiradores - têm também
importância neste processo social, entretanto as características de parcialidade e de
incondicionalidade na admiração de um fã são de nosso interesse mais direto.
Nossa preocupação gira em torno das fronteiras que delimitarão o conceito de fã que
pretendemos utilizar nesta dissertação, já que nos interessam os indivíduos que apresentam
determinados comportamentos em relação ao seu ídolo. Não se trata de considerar qualquer
indivíduo que se diga ser fã deste ou daquele outro popstar apenas como um impulso
momentâneo. Por isso a preocupação em definir o que seria um fã.
Uma simples autodeclaração de ser fã por parte de indivíduos não os torna
componente de nosso objeto. Por exemplo, em um fã-clube, espaço físico (ou virtual) e
imaginário de admiração, podemos encontrar diversos indivíduos que se autodenominam fãs,
mas suas motivações, ora passageiras, e, muitas vezes, impulsivas, levam-nos a um abandono
da prática da idolatria logo após o registro inicial no clube. Nesse caso, sua participação é
meramente figurativa e serve apenas por um instante, seja lá qual for a razão. Este tipo de fã
fugidio não nos interessa neste estudo.
Diferente deste que logo muda de opinião, um fã cultua, celebra, funciona como lugar
de memória do objeto idolatrado, conhece os detalhes daquele que admira, estuda a vida e a
carreira da sua celebridade. Sua participação em torno do objeto admirado é ativa, mesmo que
seja por um período curto de sua vida. Sabemos que o dinamismo e o caráter efêmero trazidos
pela globalização também têm afetado os fãs. É comum para as jovens fãs de uma
determinada cantora, como é o caso de Avril Lavigne, expressarem paixões agudas em seu
favor durante determinado período e, momentos depois, negarem esta paixão. No entanto,
enquanto são fãs – durante a adolescência, por exemplo – essas jovens praticam a idolatria de
forma ativa. Enxergam seu ídolo transformando-o quase em um ente sagrado e intocável,
como faz a orkutiana analisada na seção (1.1) que se mostra fã incondicional de Michael
Jackson. Portanto, um fã não é definido pelo tempo de seu fanatismo, mas pela intensidade da
prática de seu entusiasmo na direção da celebridade que admira, que é o tipo de ídolo com o
qual trabalhamos aqui.
O comentário do recém-lançado filme Império dos Sonhos (INLAND EMPIRE, 2006)
do diretor David Lynch publicado pelo site do jornal O Globo
22
traz o seguinte comentário
que pode ajudar-nos a explicitar melhor o que tratamos quando falamos de ser um fã,
(...) no entanto, é possível que apenas os fãs do diretor americano consigam apreciar
sua última obra. Para aqueles que não correspondem à essa denominação, o filme
pode passar a impressão de ter dez horas de duração. Neste caso, seria um exercício
de paciência e tanto para o espectador. (O GLOBO ONLINE, 2007b)
Um fã do diretor David Lynch seria, então, nesta visão, aquele que “suportaria”
assistir a todo o filme. Um espectador comum, que está fora desta categoria de fã, poderia não
ter condições de acompanhar a nova obra por inteiro e agüentar sua longa duração e sua não-
linearidade, marca registrada do diretor. Para isto, precisaria desempenhar “um exercício de
paciência”. Neste caso, portanto, um fã seria aquele que está preparado para assistir a um
filme de três horas de duração que, devido à sua densidade narrativa, parece ser ainda mais
longo. O artigo sugere que haveria uma pré-disposição do fã de David Lynch para admirar
qualquer obra sua. Mais do que suportar no sentido de agüentar, o fã do diretor seria capaz de
apreciar sua não-linearidade, sua longa duração e até os repentinos sustos que certas
passagens deste seu filme podem causar nos espectadores.
O que nos interessa mais diretamente nesta matéria do jornal O Globo é sua
argumentação de que um fã estaria predisposto a gostar de uma determinada obra antes
mesmo de assisti-la. Fã, neste caso, é aquele que é parcial e por isso irá suportar por quanto
tempo for, chegando mesmo a apreciar a longa e hermética linguagem estética proposta por
seu ídolo. O longa-metragem Império dos Sonhos (INLAND EMPIRE, 2006) traz mensagens
simbólicas e de forma metafórica trata da história de uma atriz que é estrela de uma
refilmagem de uma obra polonesa que não teve fim devido à trágica morte dos protagonistas.
Esta narrativa é composta por enigmas e colagens atemporais que confundem o espectador a
todo o momento e podem levá-lo à angústia de não conseguir colar de forma coerente os
vários pedaços da história. Esse tipo de recurso estético é recorrente na obra de David Lynch e
seus fãs parecem decodificar mais facilmente estas suas provocações estéticas que outros
22
Utilizamos a citação a uma matéria jornalística apenas com o objetivo de ilustrar nossa construção do conceito
de fã. Não se trata de uma reportagem que traga uma produção de verdade. Apenas retrata um pensar popular
sobre ser fã que, em parte, corrobora com nossa construção conceitual.
indivíduos. Como se já entendessem seu idioma um tanto confuso para o espectador não
habitual. Um fã, portanto, é aquele que está familiarizado com a linguagem de seu ídolo e
aceita de bom grado sua proposta estética. Além de sentir-se à vontade com o estilo do artista
em questão, o fã sente prazer em decodificar seus enigmas. Ele cultua o seu ídolo, estuda suas
formas de se expressar e sente que o compreende.
No caso do filme de Lynch, aqueles que não correspondem a esta característica seriam
meros espectadores, a quem talvez falte paciência para tolerar assistir à fita até o fim. Este
espectador teria um comportamento semelhante ao de um simples ouvinte de uma música
cantada ou tocada por uma celebridade qualquer. Na qualidade de simples ouvinte, teria o
papel de utilizar parte do seu tempo para escutar determinada música sem previamente ter
qualquer julgamento sobre ela; sem qualquer definição qualitativa do que irá ouvir e sobre
quem irá cantar ou tocar. É o caso daqueles que ligam o som de um automóvel apenas para a
música realizar a função de preencher o ambiente. São também aqueles que, sentados na sala
de espera de um consultório médico, apenas ouvem de forma desatenta enquanto lêem uma
revista qualquer. Estes meros ouvintes chegam a escutar uma música sem que esta escuta os
leve a construções simbólicas em torno de quem a interpreta. O intérprete é apenas alguém
que canta e media a boa sensação de ouvir. Se a sensação não é boa, apenas se desliga a fonte
emissora da canção ou se muda para outra estação ou faixa musical.
Por outro lado, para um admirador, o mediador de uma canção é alguém que o
interessa. Além da música que toca, seu jeito de ser, sua linguagem, seu comportamento e o
que pode construir simbolicamente a partir da celebridade cantante é de seu interesse.
Admirar é enxergar certas qualidades no outro que nos fazem sentir bem, sejam elas
diferentes das nossas ou projeções daquelas que julgamos ter. O processo de admiração de
uma celebridade musical se dá além da escuta. Um admirador é também um ouvinte, mas sua
fruição vai além da escuta. Não se admira apenas a música, mas também o que está em volta
do objeto admirado. Tem-se noção simbólica da existência da celebridade. O sujeito da
admiração constrói sua experiência a partir do que é disponibilizado a ele. Como tratamos de
celebridades, a admiração se dá a partir das construções simbólicas que um indivíduo realiza
ao ter acesso ao conteúdo trazido pela mídia.
No caso do filme de David Lynch, um simples espectador talvez se levantasse no meio
do filme e fosse embora da sala do cinema sem qualquer culpa. Eventualmente cansado, ou
por qualquer outra razão, ele poderia simplesmente abandonar o filme. Seu vínculo com este é
apenas de espectador. Sua participação tem menor compromisso. Está ali em busca de uma
diversão ou disposto a ter contato com um bem cultural contemporâneo. Já o admirador teria
mais dificuldade para sair da sala, assim como teria menos razões para tal. Quem admira já
tem prévia definição a respeito do diretor. Por mais que o filme possa ser longo e complexo,
seu vínculo com aquela obra é maior. Ele é capaz de dar mais crédito ao que assiste mesmo
que o filme não o agrade totalmente. De certa forma, sua admiração prévia pelo autor daquela
obra dá-lhe razões para continuar ali, pois um admirador é um espectador mais atento e mais
tolerante.
Entretanto, por mais que se admire um diretor de cinema autoral, às vezes, a tolerância
desse tipo de espectador apresenta um limite. Mesmo no papel de admirador do diretor, o
indivíduo pode chegar ao ponto de não querer mais continuar a assistir àquele filme. As
razões que levam um admirador a suportar uma obra polêmica ou complexa são mais frágeis
de que aquelas de um fã. Este, como dissemos, suporta, cultua, celebra, sente prazer em ser
considerado um grande conhecedor da obra de seu ídolo. Sua participação é também de
admiração, mas vai além. Ele sente que tem que estar ali enquanto seu ídolo atua. Se este é
um diretor de cinema, o fã tende a assistir ao filme, ler os letreiros, escutar a trilha sonora e,
caso esteja disponível, comprar o catálogo. As produtoras de filmes sabem disto e
disponibilizam rapidamente vários produtos complementares aos filmes para os fãs e
admiradores dos diretores, dos atores, das atrizes e de outros participantes. O cinema também
participa da lógica comercial da indústria cultural, assim como o faz a indústria fonográfica
que se aproveita da idolatria incondicional e parcial dos fãs para lucrar.
1.5 FÃS DE AVRIL LAVIGNE
De volta à nossa conceituação de fã das celebridades musicais, podemos definir então
que um fã é, sem dúvida, um ouvinte e também um admirador. Mas é capaz de atos em torno
de seu ídolo que participantes destas outras categorias não seriam.
[Ver Figura 8]
Uma fã, por exemplo, faz campanha pelo fã-clube que criou de sua admirada cantora,
como vemos na Figura 8. Com 13 anos de idade, esta fã de Avril Lavigne criou em um espaço
do site Flogão
23
(http://www.flogao.com.br) um fã-clube da estrela. Com recursos de
23
Acesso em: 19 de dezembro de 2007.
postagens de mensagens e disponibilização de fotos, esta jovem abre espaço para a
contemplação de uma celebridade. A proprietária deste fã-clube apresenta-se da seguinte
forma: “Sobre mim: ah... como vcs virão gosto mto mto mto da Avril e tamem gosto d entra
na net e meche no orkut e no msn” (http://www.flogao.com.br). A fã claramente convida
outros para uma contemplação grupal de Avril Lavigne. A idéia da criação de uma
comunidade afetiva parece visível. As práticas em um fã-clube, que existem desde antes do
ciberespaço, são de compartilhamento simbólico.
Um fã-clube pode ou não ocupar um território físico, mas, sem dúvida, ocupará um
espaço no imaginário conjunto de quem ali compartilha a mesma linguagem, as mesmas
práticas e as mesmas fronteiras. Acontecem em seu interior jogos identitários compartilháveis
e, a partir deles, constrói-se simbolicamente uma memória do ídolo celebrado. A dona deste
fã-clube de Avril Lavigne deixa claro que lá será espaço para a construção de, pelo menos,
um tipo de identidade. Ser fã da cantora é premissa básica e para lá estar é preciso se ter
disposição para postar fotos, relatos entre outras informações a respeito do objeto cultuado.
Este espaço é para fãs e não para simples ouvintes das músicas de Avril que podem querer
realizar uma admiração estéril, que apenas utilizariam as músicas da cantora como
entretenimento sem compromisso com seu culto.
A cantora tem muitos fãs-clubes na internet, tanto brasileiros como de origens
diversas. Encontramos sites de fãs-clubes de Avril Lavigne em vários idiomas diferentes.
Entre os brasileiros, um que apresenta mais informações e recursos que o espaço da fã de 13
anos do Flogão é o Alavigne.com.br, mostrado na Figura 9. Este traz a biografia da cantora,
sua discografia, sua videografia, sua filmografia (segundo o site, a cantora já participou de
quatro longas-metragens) e informações sobre suas turnês. Também existe uma área exclusiva
para fãs. Neste espaço, o fã tem acesso a uma galeria de fotos da cantora, a um fórum, a um
espaço chamado de fã-clube e a uma loja virtual que direciona os fãs para um site específico
de venda de produtos que trazem a cantora como tema.
Sabemos que os fãs-clubes são práticas que têm história e, por esta razão, não tiveram
sua lógica criada em um pensar pós-moderno e a partir de um mundo globalizado. Para
compartilhar o acesso a um novo LP de um determinado artista, fãs se juntavam em torno de
um toca-discos e ouviam as músicas de seu ídolo por um longo período de tempo. Associados
de um fã-clube sempre trocaram informações, afetos, emoções e experiências sobre uma
celebridade.
Entretanto, o fã-clube Alavigne.com.br tem mais recursos tecnológicos que aquele
criado pela fã de 13 anos e junto com estes vende-se a imagem da cantora. A tecnologia
envolvida neste processo de admiração é cobrada na forma de camisetas (vide Figura 6), CD,
DVD, fichários (vide Figura 7) e outros produtos.
Ao entrar no site, acreditamos que o alto volume de uma música da cantora – tocada
sem a prévia permissão do internauta
24
– mostra que ali é espaço exclusivo para a admiração
de um fã. Um outro indivíduo poderia se sentir incomodado com o alto volume que a música
é tocada e deixar de visitar o restante das páginas deste website. Mas, parece-nos que seus
proprietários não se preocuparam ao produzir as páginas com os que não são fãs da cantora e
que, supostamente, adorariam entrar em uma página com as boas-vindas sendo uma música
em alto volume cantada pela estrela. Ao entrar, o visitante é diretamente apresentado à música
da popstar e à sua identidade através dos aspectos visuais da página inicial. Vemos a foto de
Avril Lavigne compondo um visual natalino, de acordo com a época do ano em que foi feita a
pesquisa, e quatro ilustrações iguais (com tamanhos diferentes que dão o efeito de movimento
de dentro para fora da tela) de um coração cor-de-rosa junto com uma caveira de pirata que é
marca da cantora, conforme vemos na Figura 9. Este símbolo gráfico é encontrado nas peças
publicitárias que divulgam a estrela. Trata-se de uma interessante mistura de um símbolo de
meiguice feminina, que é o coração cor-de-rosa, e outro que simboliza o mal e a rebeldia.
[Ver Figura 9]
A imagem de Avril Lavigne apresenta-se de forma propositalmente ambígua. A estrela
se mostra com um estilo que é em parte bem comportado e em parte um tanto rebelde. Este
meio-termo poderia ser percebido por seus fãs como uma crise de identidade. Ao contrário,
sua marca identitária se tornou esta convivência com estes dois lados que, em princípio,
poderiam ser percebidos como conflitantes. Meninas com idades entre 10 e 13 anos mostram-
se identificadas com esta postura ambígua de Avril. Elas estão em uma fase da vida com
conflitos internos, identificam-se com estes dois lados mostrados pela superstar. Ora podem
querer perceber Avril como bem comportada, educada, bem vestida e bonita. E ora podem
preferir o lado rebelde da caveira do mal e dos gestos agressivos da cantora. Os modos de ser,
o estilo de se vestir e as atitudes reforçam a ambigüidade e parecem se mostrar adequados às
expectativas deste público-alvo conhecido como tween.
O segmento tween tem-se tornado especialmente atraente para diversos lançamentos
que são direcionados para esse público. Há, portanto, uma estratégia mercadológica que
constrói a imagem ambígua desta estrela que se mostra adequada ao seu público-alvo. Mas, há
24
Este website está programado para tocar uma música de Avril Lavigne de forma automática no computador de
todos visitante.
também uma construção da própria categoria tween. No caso de Avril Lavigne, estas meninas
são estudadas como público de interesse e sua imagem é construída sob medida para suprir as
expectativas de suas fãs.
A galeria de fotos deste site mostra Avril em diferentes momentos de sua carreira e
traz esta mistura de que falamos. A cantora se apropria, sem censura, de gestos, de desenhos e
de formas de agir de diferentes origens identitárias. Utiliza, como já citamos, um símbolo que
mistura um coração cor-de-rosa e uma caveira com ossos. Mostra o dedo, como na foto da
Figura 10, muitas vezes em que é fotografada ou filmada. Este gesto é reconhecido por suas
fãs como típico de seu comportamento rebelde. Avril Lavigne se auto-define como a Sid
Vicius dos nossos tempos. Este era vocalista da banda punk inglesa Sex Pistols, e
demonstrava com suas atitudes e com a forma que se vestia uma agressividade típica do
movimento punk.
Este movimento teve início nos anos 1970 na Inglaterra e foi formado, inicialmente,
por jovens desempregados com menor poder aquisitivo que se sentiam marginalizados pela
sociedade. Assim, criaram um movimento de contestação à desigualdade social, ao
consumismo e ao sistema capitalista. Tudo isto no auge da guerra fria. Este movimento ficou
conhecido mundialmente e durante as décadas de 1980 e 1990 houve filiações em todo o
planeta. Há críticas a esta expansão do movimento por uma possível banalização de suas
propostas originais. Interessa-nos constatar que nos anos 2000 atitudes como o dedo levantado
de Avril Lavigne, visto na Figura 10, são relacionadas a uma imagem punk por alguns.
Banalizada ou não, esta estrela faz questão de incluir este gesto como parte de sua estratégia
imagética. Certamente isso é intencional na construção da sua imagem. Estrategicamente a
cantora utiliza o gesto como forma regular de reforçar sua imagem de punk contemporânea.
Ela faz o mesmo ao pinçar para si certas atitudes de tribos urbanas como a dos skatistas, a dos
roqueiros e de outras que são admiradas pelas jovens fãs.
[Ver Figura 10]
Na lógica do marketing uma marca também possui uma identidade formada por
características como sua logomarca, os benefícios que vende, as associações que se faz a
partir desta marca, os grafismos que a representam, as cores de sua embalagem, seu país de
origem, o tipo de produtos aos quais está associada comercialmente, entre outras. São muitas
as fronteiras que a definam. Assim, pode ser reconhecida e consumida pelos seus públicos-
alvos. Como celebridade, Avril Lavigne tem uma imagem criada a partir de diversos
elementos cuidadosamente selecionados.
Sua logomarca, que foi analisada anteriormente e que pode ser vista ao centro da
Figura 9, é formada pelas ilustrações de um coração e de uma caveira com ossos, símbolo dos
piratas das histórias que se contam sobre os saqueadores dos mares em outros tempos. Essa
logomarca foi criada com o objetivo de expressar graficamente as idéias ambíguas de rebeldia
e de bom comportamento. Suas cores, preto e rosa, são fielmente aplicadas também pela
cantora. Em seus shows ela costuma vestir peças de roupa que tenham estas cores e que
tragam uma coerência visual com sua logomarca. Avril Lavigne está associada ao rock como
gênero musical, mesmo que isto aborreça seus críticos. Sua nacionalidade canadense muitas
vezes é esquecida em função do país que a consagrou: os Estados Unidos. Canta em um inglês
com sotaque e se esforça para ter um estilo mais próximo ao estilo dominante norte-
americano.
Percebemos em sua publicidade uma fidelidade a estes atributos identitários. É clara a
existência de um trilho identitário para a carreira da cantora. Suas aparições públicas e suas
declarações são preparadas e moldadas de acordo com a conveniência estratégica. Os que a
rejeitam chegam a acusá-la de haver simulado um estado de embriaguez alcoólica na saída de
uma festa em Los Angeles
25
. Verdade ou não, o fato é que é nítido o planejamento estratégico
que há em torno desta celebridade para construir sua identidade midiática.
A imagem de Avril Lavigne é também utilizada para além da música. Como
celebridade ela parece reforçar outros tipos de produção cultural. Mesmo não sendo atriz, já
participou de quatro filmes. Na comédia adolescente canadense Com o pé na estrada (GOING
THE DISTANCE, 2004), Avril apareceu como ela mesma, canta Losing Grip, faixa de seu
álbum Let Go (LAVIGNE, 2002). Em Nação Fast Food - uma Rede de Corrupção (FAST
FOOD NATION, 2006) a cantora fez o papel de Alice, uma importante personagem da trama.
No mesmo ano, Avril dublou a personagem Heather na animação Os Sem Florestas (OVER
THE HEDGE, 2006). Finalmente, em Justiça a Qualquer Preço (THE FLOCK, 2007),
estrelado por Richard Gere, Avril teve participação discreta, mas seu nome aparece com
destaque na publicidade do filme.
Ter uma celebridade no elenco é uma das fórmulas estratégicas apresentadas
recentemente por Hollywood para garantir sucesso de bilheteria. Como vimos, Avril Lavigne
participado deste tipo de estratégia mercadológica. Em todos estes casos a imagem da cantora
25
As cenas citadas são exibidas no videoclipe do Apêndice A.
parece conferir um upgrade comercial a um produto cultural fora de sua linha habitual de
atuação. No entanto, é importante notar que esse tipo de atuação também traz benefícios para
a cantora, reforça seu status de celebridade e diversifica seus canais de relacionamento com os
fãs.
Vemos que a indústria do entretenimento atua de forma integrada. Esse é um
comportamento estratégico que potencialmente beneficiaria os diversos agentes desta
complexa cadeia de negócios, que se retro-alimenta constantemente. No caso dessa nossa
análise, fãs da cantora podem tornar-se fãs dos filmes dos quais ela participa. O gostar do
filme pode assim ser determinado previamente. Admiradores e fãs são espectadores com
características diversas. Esses últimos seguem a lógica que exemplificamos com o filme
Império dos Sonhos. Neste caso, não é o diretor que é o objeto idolatrado, mas um membro do
elenco com maior ou menor destaque na trama. Detalhes como esse parecem não ter
importância na lógica quantificada do sucesso de audiência. O que parece importar são as
longas filas para comprar ingresso que se formam nos cinemas de todo o mundo. A
parcialidade e a incondicionalidade da admiração dos fãs de Avril Lavigne podem apoiar de
forma intensiva o sucesso destes empreendimentos cinematográficos. Esta estratégia de
vendas destes produtos cinematográficos (os filmes) tem também envolvido outras
celebridades do mundo da música, como é o caso de: Madonna, Daniel, Xuxa, Sandy e Júnior,
entre outros.
Figura 8 – Imagem do Flog de uma fã de Avril Lavigne.
Fonte: http://www.flogao.com.br/avrillavigneforevergravado em: 19 de dezembro de 2007.
Figura 9 – Imagem do site Alavigne.com.br.
Fonte: http://www.alavigne.com.br – gravado em: 19 de dezembro de 2007.
Figura 10 – Imagem de Avril Lavigne usando gesto característico.
Fonte: http://www.alavigne.com.br – gravado em: 19 de dezembro de 2007.
1.6 LOJA VIRTUAL DO FÃ-CLUBE DE AVRIL LAVIGNE
Em outro espaço do mesmo Alavigne.com.br que analisamos (Figura 11), vê-se a
página de entrada do território do fã-clube de Avril Lavigne. Para se filiar a este clube o fã
paga uma taxa única de R$ 23,00 e recebe uma carteirinha que o identifica como sendo
membro. Esta é enviada pelo correio para a casa do novo associado. Além disso, quem se
associar tem acesso às promoções que têm tempo limitado. Como exemplo, no site está sendo
divulgada uma ação promocional onde quem se associar neste momento
26
ganha uma revista
de mangá
27
de Avril Lavigne.
[Ver Figura 11]
O Alavigne.com.br é também porta de entrada para uma loja virtual temática de
produtos que trazem fotos, ilustrações e grafismos da estrela. Um visitante deste fã-clube on-
line pode clicar no link Loja Virtual na seção de fãs e entrar em um ambiente de compras. Seu
navegador web abre uma outra página que traz Avril Lavigne performaticamente erotizada,
conforme mostra a Figura 12. Acreditamos que o fundo vermelho e a posição em que Avril é
mostrada erotizam de forma proposital sua imagem.
Durante nossa pesquisa esta página foi mostrada a uma universitária paulistana com
20 anos de idade. Trata-se de um indivíduo com o perfil de ex-fã de Avril Lavigne que
consideramos neste trabalho para entrevistas de caráter exploratório. Após ser mostrada a
página web à entrevistada, foi feita uma única pergunta: “do se que trata?” A resposta não foi
imediata. Após observar e pensar por instantes, a entrevistada respondeu: “é uma loja virtual”.
A segunda pergunta do entrevistador foi: “como chegou a esta conclusão?”. A resposta, desta
vez, foi imediata: fiquei na dúvida e como não sabia o que era li na aba
28
do Internet
Explorer que era uma loja virtual. Parece tudo, menos loja. Parece mais uma boate de
mulheres ou um site de prostitutas”.
[Ver Figura 12]
A percepção da jovem entrevistada ecoa em nossa hipótese a respeito da erotização da
porta de entrada da loja virtual de produtos com a imagem de Avril Lavigne. Antes de
experimentar o shopping center virtual que vende produtos temáticos, o internauta é
apresentado ao tom do que ali será vendido a ele: um prazer simbólico. Um prazer erotizado
para ser compartilhado entre fãs. Consome-se este prazer quando se compra e se utilizam os
produtos com Avril como tema. Ao colocar uma camiseta estampada com uma foto da
cantora, um fã, neste momento, confunde-se com a figura de consumidor da própria estrela.
Queremos aqui apenas salientar o sentido simbólico deste consumo, por isso utilizamos a
26
Acesso em: 19 de dezembro de 2007.
27
Estilo de desenho para quadrinhos japonês.
28
Aba do Internet Explorer é uma parte do web browser em formato retangular que, normalmente, traz o nome
da página que se está visitando. No caso desta página, a aba traz a descrição: loja virtual.
expressar “consumidor da própria estrela”. Esse tipo de consumo pode ser entendido não só
como a aquisição de um produto, mas como um processo que envolve a produção de sentido e
a circulação dos significados socialmente produzidos.
Para concluir esta parte, entendemos fãs de Avril Lavigne como aqueles indivíduos
que são consumidores de sua imagem e que a cultuam de forma incondicional. Estes a
admiram, celebram-na, imitam-na e ativamente fazem circular os significados produzidos pela
cultura dominante em torno desta estrela musical.
1.7 ANTIFÃS DE AVRIL LAVIGNE
Com uma proporcional potência àquela demonstrada pelos fãs, diversos indivíduos, de
forma intencional, expressam-se contra uma determinada celebridade. Seriam como
(des)afetos desta figura pública que os desagrada. Demonstram uma parcialidade e uma
incondicionalidade invertidas em relação àquela celebridade, se comparados aos fãs. Por esta
razão, são aqui denominados antifãs. Naturalmente, não incluímos nessa categoria aqueles
que são indiferentes a uma determinada estrela. Chamam nossa atenção os indivíduos que
fazem questão de serem identificados como alguém que não admira, não gosta ou mesmo
detesta aquele astro ou estrela. Estes, muitas vezes, expressam seus afetos ativamente de
forma bastante semelhante ao fã, só que em sentido contrário. Da mesma forma, como vimos,
o fã participa da construção identitária de certos indivíduos, declarar-se antifã também pode
funcionar como marcador de identidade.
Voltemos ao caso da orkutiana que analisamos na seção 1.1. Apoiada por outras, essa
internauta expressa claramente seu desafeto em relação à cantora brasileira Sandy. Ao mesmo
tempo em que se mostrava fã de Michael Jackson, a jovem também deixava claro ser antifã de
Sandy. Essa cantora não passa despercebida aos olhos desta fã de Michael. Não é uma questão
de não se importar com Sandy, o que a definiria apenas como não-fã da cantora. Não é este o
caso. Ela é antifã pela sua parcialidade e incondicionalidade em torno da cantora brasileira
Sandy.
Um antifã, portanto, seria aquele que não é fã, não gosta nem admira, mas também não
é indiferente à determinada celebridade. Um antifã é ativo em sua posição de não gostar,
detestar ou mesmo odiar. Ele faz questão de expressar sua opinião. Em muitos casos, ele
estuda a celebridade em busca do que criticar. É irônico em relação a ela e encontra prazer em
desferir ataques contra sua imagem. Muitos reforçam essa sua posição identitária através da
participação em fóruns temáticos onde compartilham imagens e impressões. Podem até
mesmo editar, construir e compartilhar fotos e outras imagens distorcidas, negativas da
celebridade que rejeitam, muitas vezes de forma fanática.
Através do buscador Google
29
(htpp://www.google.com.br) da internet, encontramos
aproximadamente 237.000 endereços de páginas web que trazem a expressão anti Avril
Lavigne em seu conteúdo. Entre eles, as páginas do weblog antiavrillavigne
(http://antiavrillavigne.blogger.com.br). Como parte do site blogger.com.br, uma antifã criou
um espaço de contestação. Trata-se de uma área onde ela manifesta sua rejeição à cantora. A
Figura 13 mostra o topo da página web onde esta antifã se manifesta e proporciona espaço
para outros aderirem à sua condição de desafeto em relação à estrela juvenil.
[Ver Figura 13]
Avril Lavigne é ilustrada nesta página de forma sutilmente caricata. Cuidadosamente
sua criadora elabora um aspecto visual que lembra a publicidade da cantora. Traz o cor-de-
rosa combinado com a cor preta, como é utilizado por Avril, além de uma foto da cantora
vestindo uma mini-saia. Como vemos na Figura 14, este é um dos trajes que Avril tem vestido
ultimamente nas fotografias oficiais distribuídas por sua assessoria de imprensa através da
internet.
[Ver Figura 14]
Nesta ilustração a estrela é facilmente identificada, assim como não é trabalhoso
percebermos que se trata de um site que a critica. Sobre o rosto da cantora foi desenhado um
círculo cortado ao meio que sabemos significar proibido, como nas placas de trânsito. Além
disso, foi colocada uma máscara sobre os olhos da celebridade. Estes dois detalhes conferem à
imagem da cantora a percepção do desafeto. Esta antifã preocupou-se ainda em dar o nome de
antiavrillavigne ao espaço, o que deixa clara sua intenção de tornar pública sua condição de
antifã de Avril.
Este território da internet foi criado em janeiro de 2004 e é alimentado regularmente
por esta e por outros antifãs desde então. Estes trazem novas imagens, novas informações e
mensagens que expressam e estimulam o fanatismo invertido por Avril Lavigne. Os primeiros
conteúdos incluídos em 2004 já traziam fotos criticando as posturas da cantora, mostram
29
Acesso em: 21 de dezembro de 2007.
detalhes de seu corpo com defeitos físicos, ironizam determinadas atitudes que aparecem em
fotografias e até desenhos em quadrinhos que denigrem a imagem da estrela. Nessa nossa
pesquisa, não nos importa se as imagens são ou não modificadas através de recursos
tecnológicos pelos antifãs para provarem suas hipóteses negativas em torno da cantora. O que
nos interessa é a intensidade desses (des)afetos em relação à Avril. Essa intensidade lhes
confere potência suficiente para utilizar seu tempo e outros recursos, como seus computadores
e espaços da web, com o objetivo de criticar e infamar a imagem da cantora.
[Ver Figura 15]
A Figura 15 mostra uma fotografia disponibilizada por uma antifã que faz questão de
criticar a cantora ao dirigir um automóvel como um indivíduo comum, usando óculos e sem
sua produção visual padrão. Segundo a crítica da antifã, esta imagem está longe de mostrar a
identidade rebelde que Avril Lavigne faz questão de comunicar como parte de sua imagem
pública. Vimos na seção 1.5 que Avril adotou o dedo levantado como atitude que
demonstraria um traço agressivo de sua identidade. Na Figura 15, Avril não parece com uma
punk e isto incomoda a antifã. Ela demonstra não se conformar com o que percebe como
sendo uma farsa da cantora. Esta mesma internauta fornece ao antiavrillavigne outras imagens
com várias críticas, seguindo a mesma linda de raciocínio. Uma delas, mostrada na Figura 16.
Mais uma vez, Avril Lavigne posando com o dedo punk.
[Ver Figura 16]
Vemos na Figura 16 comentários irônicos da antifã ao pedir, por favor, que as
participantes da fotografia mudem de pose. De acordo com sua percepção trata-se de uma
atitude cooptada de Avril para alimentar sua imagem pública de punk. Se analisarmos de
forma conjunta a Figura 15 e a Figura 16, entenderemos o contexto da indignação da
internauta que, através de outras fotografias também comentadas, cobra de forma detalhada
uma coerência entre o que é exibido pela cantora em imagens oficiais e o que seria,
supostamente, revelado em fotografias que a flagram em seu dia-a-dia como um indivíduo
comum.
Em agosto de 2007, última disponibilização de novo conteúdo deste site durante a
execução de nossa pesquisa, foi incluída uma interessante frase que se aproxima de uma
campanha anti-avril. A antifã disponibiliza um link para comentários sobre a cantora
afirmando o seguinte: “se 500 pessoas comentarem aqui a Avril morre, 94 já fizeram sua
parte” (http://antiavrillavigne.blogger.com.br).
30
Ao clicar sobre esta frase se tem acesso a 94
comentários já realizados que criticam a cantora. Estas críticas referem-se principalmente aos
aspectos físicos da estrela, às atitudes que acontecem apenas na frente das câmeras e à suposta
baixa qualidade de suas músicas.
Do lado direito da página inicial do antiavrillavigne, encontram-se 35 links diferentes
que levam a outros sites de antifãs da cantora. Todos demonstram a mesma intenção de atacar
a imagem da estrela. O sucesso de Avril Lavigne incomoda estes internautas e os faz
denunciar ativamente suas falhas. Além de criar áreas para compartilhar seu (des)afeto por
Avril, esses antifãs observam atentamente seus comportamentos e pesquisam minúcias de sua
vida. Como foi dito, trata-se de um tipo diferente de fã que apresenta um fanatismo com a
mesma direção dos tradicionais: a celebridade. A diferença está em seu sentido. Ambos
apresentam atitudes que movimentam o planeta da celebridade que é admirada ou é rejeitada.
Importa-nos a análise neste trabalho das diferentes formas como a indústria cultural se
apropria desta lógica ao produzir celebridades em série para serem consumidas por fãs e
antifãs. Os dois tipos são tratados como público-alvo em campanhas publicitárias e assim
tornam-se ávidos consumidores da imagem de celebridades projetadas industrialmente.
Diferentemente desses dois tipos antagônicos, os não-fãs são estéreis para esta indústria. Eles
não entram no jogo, não consomem a celebridade em questão, portanto não interessam.
30
Acesso em: 21 de dezembro de 2007.
Figura 11 – Imagem da página inicial do fã-clube de Avril Lavigne no Alavigne.com.br.
Fonte: http://www.alavigne.com.br – gravado em: 19 de dezembro de 2007.
Figura 12 – Imagem da página de entrada da loja virtual do fã-clube de Avril Lavigne no Alavigne.com.br.
Fonte: http://www.almerch.com.br – gravado em: 19 de dezembro de 2007.
Figura 13 – Imagem da página criada por antifã de Avril Lavigne no Blogger.com.br.
Fonte: http://antiavrillavigne.blogger.com.br – gravado em: 19 de dezembro de 2007.
Figura 14 – Fotos de Avril Lavigne vestindo mini-saia.
Fonte: http://www.alavigne.com.br - gravado em: 19 de janeiro de 2008.
Figura 15 – Fotografia de Avril Lavigne disponibilizada em página de antifã.
Fonte: http://antiavrillavigne.blogger.com.br/2004_01_01_archive.html – gravado em: 19 de dezembro de 2007.
Figura 16 – Fotografia com Avril Lavigne disponibilizada em página de antifã.
Fonte: http://antiavrillavigne.blogger.com.br/2004_01_01_archive.html – gravado em: 19 de dezembro de 2007.
1.8 A CELEBRIDADE AVRIL LAVIGNE
Vemos que em torno de uma celebridade musical orbitam diversos tipos de
possibilidades de consumo. Não só a música se torna um produto, mas também a própria
imagem da estrela tal como é veiculada pela mídia. Música e imagem mais e mais se
combinam e se complementam nesse universo. Como dissemos, produtos diversos como
toalhas, cadernos e camisetas são hoje parte de uma engrenagem que se movimenta em torno
do ídolo, transformado em fetiche.
Entendemos que Avril Lavigne demonstra possuir características para ser considerada
exemplo deste tipo de celebridade. Segundo biografia publicada no fã-clube
Alavigne.com.br
31
(http://www.alavigne.com.br), a jovem cantora foi encontrada aos 14 anos
de idade
32
por um empresário da indústria fonográfica durante uma apresentação musical que
fazia em uma livraria de sua cidade natal. Este empresário afirmara em entrevistas que dois
aspectos chamaram sua atenção naquela adolescente: sua voz e, “é claro”
(http://www.alavigne.com.br)
33
, sua aparência. Parece que sob uma visão comercial, Avril se
encaixava em um determinado perfil com potencial sucesso.
As 16 anos Avril mudou-se para os Estados Unidos para se dedicar à carreira de
cantora. Morou inicialmente em Nova Iorque e depois em Los Angeles. Neste início, cantou,
entre outros estilos, música country, mas, segundo seu fã-clube, sendo o rock seu estilo
preferido, foi este o que escolheu para sua carreira. A faixa Complicated de seu primeiro
álbum Let Go (LAVIGNE, 2002) lançado em 2002, ocupou por 5 semanas a primeira posição
dos videoclipes mais exibidos pela MTV norte-americana. Este seu álbum de estréia no show
bizz deu a Avril Lavigne seu primeiro prêmio com repercussão internacional: um disco de
platina
34
. Neste mesmo ano, Complicated chegou ao primeiro lugar na Billboard
35
. Este
sucesso, que foi lançado através de um videoclipe na MTV, em parceria com Sk8er Boi
36
,
outra música de Let Go que premiou ainda mais a cantora, levaram-na a ser convidada para
abrir a premiação do Billboard Awards 2002 cantando esses seus dois sucessos.
31
Acesso em: 28 de dezembro de 2007.
32
Avril Lavigne nasceu em setembro de 1984 na cidade de Napanee em Ontário, Canadá.
33
Expressão divulgada como tendo sido falada pelo próprio empresário.
34
Prêmio que é dado a um músico que atinge a marca de um milhão de cópias vendidas de um determinado
álbum.
35
Billboard é uma revista norte-americana especializada em informações a respeito da indústria musical. Esta
revista publica alguns tipos de rankings com músicas e álbuns de celebridades musicais de todo mundo. O
ranking mais conhecido é o Billboard Hot 100 que mostra as 100 músicas mais vendidas e tocadas. É a esta
listagem que estamos nos referindo neste trabalho. Fonte: http://www.billboard.com . Acesso em: 19 de janeiro
de 2008.
36
Forma adaptada de Skater Boy. Este estilo de escrita é utilizado majoritariamente por jovens na internet.
O videoclipe Complicated, líder entre os mais exibidos na MTV norte-americana por
cinco semanas na ocasião de seu lançamento no primeiro semestre de 2002, merece nossa
atenção nessa dissertação. Em seus mais de quatro minutos de exibição, este vídeo mostra
uma jovem cantora estreante com um modo de ser que seria mais tarde reconhecido como
típico de Avril em seu início de carreira. Os primeiros segundos trazem uma cena com um
diálogo entre a cantora e os demais integrantes de sua banda. Após chegar com seu skate pela
rua a popstar inicia a conversa com os garotos, também skatistas, perguntando o que estes
pretendiam fazer. Os garotos devolvem a pergunta a Avril, que faz o papel de líder do grupo
nesta encenação. A cantora-atriz responde através de uma sugestão: ir “aprontar”
37
em um
shopping center. De imediato, os garotos aceitam e a seguem em direção ao destino, e a
música tem início com uma variação entre cenas do grupo tocando Complicated e do grupo
encenando no shopping.
Avril veste uma longa bermuda preta e uma camiseta regata também preta. Seguindo
seu exemplo, seus companheiros vestem roupas que são uma espécie de uniforme para os
adeptos do skate. As cenas mostram os garotos e a cantora em uma verdadeira aventura
juvenil em um local que é ícone do consumo na contemporaneidade. Com atitudes que
demonstram rebeldia, os protagonistas deste videoclipe se divertem vestindo roupas de
adultos em diversas lojas e dando pequenos sustos em senhoras que encontram pelo caminho,
aprontam derrubando um personagem vestido de sanduíche que está trabalhando na promoção
de uma lanchonete e fugindo dos guardas do shopping. A aventura de aprontar no shopping
center se traduz em tentativas de quebrar determinadas regras do local. No entanto, as cenas
mostram o caráter nada revolucionário destas atitudes. Os adolescentes não trazem uma
grande ruptura com o status quo do local, apenas atormentam o sossego de transeuntes por
certos instantes, numa alegre demonstração de rebeldia lúdica.
Com este tipo de comportamento mostrado em seu primeiro videoclipe – e que é
ecoado ao longo de sua carreira – fica evidente a fragilidade da identificação de Avril Lavigne
com a radical proposta inicial de ruptura pregada pelo movimento punk inglês. Ainda assim,
sua imagem pública é constantemente associada a este movimento. Ao explorar essa aparente
discrepância, antifãs cobram de Avril uma maior coerência entre sua imagem e suas atitudes.
A nosso ver, a discrepância seria intencional, fazendo parte da estratégia promocional da
cantora.
37
Nossa tradução livre.
O vídeo oferece ainda certas cenas performáticas de skates e bicicletas em manobras
arrojadas no palco enquanto o grupo toca. Trata-se de um espetáculo de imagens que serve
como moldura para o conteúdo exibido. Este videoclipe elenca de forma clara os diversos
elementos que compõem a imagem pública de Avril Lavigne. Como foi dito, essa imagem nos
parece ter sido cuidadosamente construída desde o início de sua vida como celebridade.
Dentre os elementos selecionados, destacam-se, nesta etapa inicial de sua carreira, as roupas
largas e longas de skatistas, o comportamento rebelde típico da adolescência e uma beleza
dentro de um padrão estético ocidental que é camuflada entre suas roupas e atitudes de garoto
skatista, mas que se revela em alguns momentos. Vemos no vídeo instantes que exploram a
cor dos olhos da cantora e seus longos cabelos loiros lisos, elementos de um padrão estético
presente de forma majoritária na mídia atual. Avril Lavigne segue o conhecido estilo Barbie:
magra, cabelos loiros e lisos acompanhados de olhos bem claros. Uma bela rebelde, se
considerarmos o olhar dominante. Os últimos trabalhos da cantora exploram um pouco mais
sua beleza através de imagens estilo top model com minissaias que não são típicos uniformes
de uma rebelde.
Um elemento deste filme que nos leva a uma reflexão sobre o processo de consumo
que orbita em torno da estrela é a escolha de onde “aprontar”. O grupo se dirige a um
shopping center – e não a uma escola, uma igreja ou mesmo a um supermercado. A escolha
nos parece cirúrgica. Por razões de segurança nos grandes centros urbanos, ou por concentrar
diversas opções atraentes de lazer em cidades menores, o shopping é um território hoje
dominado pelos adolescentes. Poucos sabem de seus pormenores como eles. Sentem-se com
trânsito livre em seu interior e nele praticam sua desordem controlada. Segundo a estudiosa
argentina Beatriz Sarlo (2006) um shopping center é um simulacro de cidade. Um local onde
o dia e a noite se confundem, pois é anulado o conflito entre o claro e o escuro. Estar em um
shopping é um estar atemporal em um território sem definição de início e de fim. Para a
autora,
o shopping é um artefato perfeitamente adequado à hipótese do nomadismo
contemporâneo: qualquer pessoa que tenha usado um shopping uma vez pode usar
qualquer outro, em outra cidade, mesmo estrangeira, da qual não conheça sequer a
língua e os costumes. (SARLO, 2006, p. 190)
Com efeito, a estratégia do videoclipe Complicated contempla uma linguagem visual
globalizada ao escolher um espaço extraterritorial e de rápida identificação por parte dos
públicos que interessa atingir. Em um shopping tem-se a sensação de se encontrar todos os
produtos sonhados. Um local que tem potencial de satisfazer por inteiro os desejos da maioria
dos consumidores. Jovens adolescentes de qualquer parte do planeta têm capacidade cognitiva
para compreender as mensagens da cantora em seu videoclipe. Ele exibe cenas de rebeldia
controlada em um espaço que é símbolo de uma indústria da qual esta estrela faz parte: a do
consumo.
De certa forma, o clipe nos dá a idéia de que Avril Lavigne, estrategicamente, auto-
alimenta-se do próprio espaço onde ela é uma das estrelas. Se pensarmos que no mesmo
shopping center onde apronta com seus amigos, pode-se encontrar camisetas, cadernos e
toalhas com sua imagem impressa, podemos pensar que a desordem controlada do vídeo seria
uma performance publicitária para construir um determinado tipo de boa vontade, um good-
will com um público específico, ao estilo do que se referiu Adorno (1971) em seu artigo
citado anteriormente.
A adequação estética e de linguagem utilizada neste videoclipe foi comum a outros
trabalhos da cantora. Sk8er Boi, faixa do álbum Let Go (LAVIGNE, 2002), também teve seu
videoclipe na primeira posição da MTV por semanas no segundo semestre de 2002. Este vídeo
traz a cantora em outra encenação como skatista. O cenário escolhido são as ruas de uma
cidade e as escadas de um edifício um pouco desgastado onde os garotos e Avril descem de
skate e bicicleta em outra utilização espetacular dos efeitos das manobras.
Outro ponto a ser destacado no trabalho de Avril e que é notório em Sk8er Boi é sua
capacidade de escrever letras de músicas em uma linguagem que provoca identificações quase
que imediatas com o público adolescente. Sk8er Boi conta a história de um skatista punk e
uma garota que dança balé. O skatista estava apaixonado pela garota, a qual não demonstrava,
mas guardava um sentimento recíproco. Os amigos desta garota não aceitavam a forma de ser
do garoto punk e, por isso, ela o rejeitou. A letra dá então um grande salto para cinco anos
depois quando surge a garota alimentando seu bebê solitariamente enquanto vê o garoto punk
tocando guitarra na MTV. Ela liga para seus amigos e todos já sabem da novidade, inclusive já
estavam com ingressos para o show do skatista em mãos. Ela o procura, mas este está com
outra garota que diz que a bailarina não soube enxergar o homem que aquele menino poderia
se tornar. Esta letra encontra ecos em vários adolescentes espalhados pelo mundo. Em uma
idade de difíceis definições e muitas dúvidas, jovens identificam-se com a história.
Depois de Let Go, que vendeu 18 milhões de cópias (http://www.alavigne.com.br)
38
,
Avril Lavigne, lançou mais dois álbuns de sucesso: em 2004, Under my Skin (LAVIGNE,
38
Acesso em: 28 de dezembro de 2007.
2004) com 14 milhões de cópias vendidas até o momento
39
e em 2007, The Best Damn Thing
(LAVIGNE, 2007) que vendeu mais de um milhão de reservas de cópias antes mesmo de seu
lançamento.
Desde seu primeiro disco, a cantora tem sido capa de revistas de grande circulação em
todo o mundo, atriz de filmes de cinemas (como vimos) e tema de interesse da mídia. Sua
primeira capa em uma revista de grande circulação foi a da revista Rolling Stone, Figura 17. É
inegável o sucesso de Avril Lavigne que, como vimos, teve início na visão comercial do
empresário que a viu cantar aos quatorze anos e entendeu que sua voz e aparência poderiam
se tornar um grande sucesso. Lembremos que tratamos de uma lógica de sucesso, esta
quantificada em níveis de vendagem e audiência engendrados pela indústria cultural.
[Ver Figura 17]
No próximo capítulo iremos examinar com mais detalhe as relações sociais de fãs e
antifãs em torno de Avril Lavigne no Orkut. Nossa intenção é verificar de que forma os
interesses da indústria cultural estão presentes neste espaço.
39
Janeiro de 2008.
Figura 17 – Capa da revista Rolling Stone, número 918: 2003.
Fonte: http://artfiles.art.com – gravado em: 12 de janeiro de 2008.
2 COMUNIDADES: MÍDIA E RELAÇÕES SOCIAIS NO ORKUT
Antes de existir computador existia tevê. Antes
de existir tevê existia luz elétrica. Antes de
existir luz elétrica existia bicicleta. Antes de
existir bicicleta existia enciclopédia. Antes de
existir enciclopédia existia alfabeto. Antes de
existir alfabeto existia a voz. Antes de existir a
voz existia o silêncio. O silêncio. Foi a
primeira coisa que existiu. Um silêncio que
ninguém ouviu [....]
Arnaldo Antunes
Este capítulo tem por objetivo descrever e analisar diversas práticas sociais que se
encontram presentes no Orkut. Procuramos compreender as intersecções entre os processos de
consumo de celebridades e de construção identitária, a partir de uma análise centrada nas
dinâmicas do Orkut. Para isto partiremos das relações sociais entre fãs, antifãs e a estrela
Avril Lavigne que, neste caso, são mediadas por este site de relacionamento. Assim,
encontrarmos uma compreensão das estratégias presentes neste ciberespaço. É importante
ressaltarmos que nosso estudo debruçou-se sobre as estratégias de construção de celebridades
no ciberespaço, sem desconsiderar que este processo se dá através de constante interação com
os espaços fora da internet. Assim, direcionamos nosso foco para as estratégias. Entretanto é
necessário verificarmos também certos impactos que estas têm sobre os receptores. Neste
caso, os fãs e antifãs de Avril Lavigne. No Capítulo 1, além da indústria cultural e da cultura
da mídia que são potenciais estrategistas de nossos tempos, também nos preocupamos em
direcionar nossas análises aos receptores dos materiais resultantes das estratégias.
Conforme já afirmamos na introdução deste trabalho, o Orkut tem contribuído para a
construção da identidade de diferentes públicos, inclusive as jovens fãs de Avril. Isto se dá
através do que é dito, modificado e experimentado por eles próprios no site. O conteúdo das
interações é formado por manifestações de afetos, de emoções (possivelmente contidas até
então) e por revelações de intimidades, tudo facilitado pelo caráter de quase-anonimato do
meio.
Um usuário do Orkut pode se valer de vários níveis de anonimato. Escolhe desde se
mostrar apenas através de um simples apelido, que pode ou não identificá-lo diretamente, até
revelar muitos dados sobre si e usar fotos pessoais. São várias as possibilidades de se
construir um perfil identitário nesse tipo de site.
A psicóloga carioca Fernanda Bruno (2005) investiga os novos dispositivos de
visibilidade trazidos pelas tecnologias da informação e da comunicação, que, segundo a
autora, têm colaborado para as mudanças nas fronteiras entre o público e o privado na
contemporaneidade. A autora revela certa inquietação sobre o que antes se restringia à esfera
privada e era distante do olhar público e neste caminho analisa fotologs pessoais, weblogs e
reality shows como possibilidades tecnológicas para a exposição pública da vida íntima e do
cotidiano de indivíduos comuns. Sem desconsiderar as diferenças técnicas entre o Orkut e os
espaços analisados por Fernanda Bruno, consideramos que aquele também se configura como
um território de exibição da vida privada. Através dos diversos marcadores identitários
disponíveis para os usuários deste site – fórum, comunidades, fotos, galeria de amigos,
descrição de personalidade, perfil profissional e pessoal - as fronteiras entre o público e o
privado tornam-se nebulosas. Cabe ao usuário modular o grau de nebulosidade delas. Os
marcadores identitários presentes nas páginas deste portal comunitário permitem esta
modulação na medida em que os internautas preenchem ou não os espaços disponíveis para
sua exibição.
Nestes marcadores identitários está presente um constante fluxo na disponibilização de
informações que constroem, destroem ou reconstroem os conteúdos compartilhados no Orkut.
Trata-se de um trabalho cooperativo e negociado entre os usuários para a construção do que é
veiculado. Esta construção, então, é conseqüência de um processo que é social. E este se dá a
partir de informações de fontes também externas ao Orkut, que não é entendido por nós como
um fenômeno isolado. É alimentado e alimenta outros meios, participando assim de um
sistema midiático mais complexo.
No Orkut, o compartilhamento de conteúdo é também matizado pela sensação de ser
visto e observado, de se ter as próprias informações visitadas por outros, tornando público o
que é íntimo e privado. Entendemos que o fato do material disponibilizado estar sempre ao
alcance de todos funciona como um legitimador do eu, o qual pode se sentir como uma mini-
celebridade, vista por todos. A partir de marcadores identitários disponíveis no site, os
associados do Orkut podem produzir o material que estará disponível para o consumo dos
outros.
2.1 MARCADORES IDENTITÁRIOS
Chamamos de marcadores identitários os recursos disponibilizados pelo Orkut para
seus associados construírem e escolherem o grau de visibilidade que desejam exibir. Os
marcadores colaboraram para a definição do perfil identitário do internauta. Estes são
sistemas simbólicos por meio dos quais significados podem ser produzidos e, com isso,
posicionar os internautas como sujeitos neste site de relacionamento. Significados dão sentido
às nossas experiências, àquilo que somos e também àquilo no qual podemos nos tornar. Este
nos parece também ser o caso dos internautas que utilizam os marcadores do Orkut como
práticas de representação naquele território. Segundo a professora inglesa Kathryn
Woodward,
a representação, compreendida, como processo cultural estabelece processos de
identidades individuais e coletivas e os sistemas simbólicos nos quais ela se baseia
fornecem possíveis respostas às questões: Quem eu sou? O que eu poderia ser? Quem
eu quero ser? Os discursos e os sistemas de representação constroem lugares a partir
dos quais os indivíduos podem se posicionar e a partir dos quais podem falar.
(WOODWARD, 2000, p. 17)
Estas questões mencionadas pela pesquisadora e que estão relacionadas ao eu presente
no Orkut, trazem-nos uma pista da busca simbólica que um internauta faz quando se cadastra
no site e fornece informações que serão disponibilizadas para o outro na forma de imagens e
textos. Os marcadores identitários são, então, representações de lugares construídos a partir
dos quais os orkutianos podem se posicionar e a partir dos quais podem falar.
Para melhor compreensão do funcionamento dos marcadores identitários do Orkut,
utilizaremos como exemplo as páginas referentes à nossa associação a este site. A Figura 18
traz a imagem de nossa página de perfil. Nela vemos os diversos elementos que compõem os
espaços disponíveis para a identificação do associado. O item A no alto à esquerda mostra a
foto do associado com seu nome e, logo abaixo, seus dados pessoais. À direita desta foto,
encontramos, mais uma vez, o nome do associado, além de outras informações. Esses itens
podem ser declarados ou não. As informações estão divididas pelo próprio Orkut em
categorias como sociais, profissionais e pessoais (ver Figura 18). Somadas à foto essas
informações retiram o usuário da sua posição de quase-anonimato. Além disto, também
podemos observar no item A da Figura 18, logo acima, à direita, informações adicionais que
são alimentadas automaticamente e que revelam quantos recados (ou scraps) estão
armazenados na área específica para isso, quantos são os amigos do associado que se
declaram seus fãs, e quantas fotos e vídeos ele disponibilizou para visualização. Os desenhos
de coração, de sorriso e de cubo de gelo representam possibilidades de escolha dos outros
usuários para opinarem, respectivamente, sobre ele ser ou não sexy
40
, sua confiabilidade e sua
simpatia.
O item B da Figura 18 nos mostra as fotos e os apelidos de oito diferentes amigos do
associado participantes de sua lista, ordenados cronologicamente: o primeiro à esquerda e
acima é o que acessou por último o Orkut. Há um rodízio entre os amigos do associado
mostrados em seu perfil; e logo abaixo das fotos, através de um clique, pode ser visualizada a
lista completa desses amigos.
[Ver Figura 18]
Ainda na Figura 18, vemos no item C um exemplo de depoimento, denominação para
a declaração pública que determinado amigo do associado pode fazer em relação a este. Estes
são, em sua maioria, depoimentos de amizade, declarações de amor e/ou de admiração. Um
depoimento deste tipo só é disponibilizado para todos após receber a autorização do dono do
perfil: além da disponibilização do perfil e da lista de amigos de um usuário, e da troca de
mensagens (scraps) entre associados, o ingresso no Orkut permite também a participação em
uma ou em mais comunidades. No item D vemos as imagens e os nomes de nove
comunidades
41
das quais o associado faz parte. As comunidades são mostradas de forma
aleatória; portanto, cada vez que se entra em uma página de perfil, nove diferentes
comunidades são mostradas. O usuário poderá ver um perfil diferente do associado a cada
visita à página. Quanto mais amigos o associado tiver e a quanto mais comunidades pertencer,
maior a possibilidade de variação.
Quem optar em participar destas pode se manifestar, tem a chance de criar fóruns de
discussão e enviar mensagens com informações e opiniões a qualquer usuário, conforme
vemos no item G da Figura 19. O item G também mostra a existência de um espaço para a
criação de enquetes sobre qualquer assunto, assim como uma área para a divulgação de
eventos. Cada participante tem, ainda, um lugar próprio com a miniatura de sua foto, com seu
nome, mostrada ao lado das de todos os outros e que permite o acesso à sua página pessoal,
conforme ilustra o item F da Figura 19. Trata-se da lista de associados pertencentes a este
40
Reprodução exata da expressão utilizada pelo Orkut.
41
Utilizamos aqui a expressão comunidade por ser exatamente esta a utilizada pelo Orkut. Entretanto,
trabalharemos a seguir o conceito de comunidade associado ao de redes sociais que dá a esta expressão maior
amplitude conceitual que está sendo utilizada nesta parte do texto.
grupo, disponível para qualquer um que queira consultá-la. É também uma lista ordenada
cronologicamente: o primeiro da lista é o último a ter acessado o site.
Ainda na Figura 19, podemos ver mais três características da página de uma
comunidade. O item I mostra a imagem que será divulgada na página de perfil do
participante; o item D traz várias ilustrações de outras comunidades. Estas podem ser
mudadas a gosto do proprietário
42
ou serem suprimidas, o que não é comum no Orkut. O item
E mostra o nome da comunidade, sua descrição, o idioma em que os membros
majoritariamente se manifestam, a categoria à qual pertencem, o nome ou apelido de seu
proprietário e criador, o nome dos mediadores, data e local da sua criação. Por fim, o item H,
opcional, pode sugerir outras comunidades a ela ligadas.
[Ver Figura 19]
Quanto mais membros pertencerem a uma comunidade, maior o seu reconhecimento.
Poderíamos até nos arriscar a dizer que se trata de um tipo de capital simbólico que está em
jogo no Orkut. Se traçarmos um paralelo, para uma melhor compreensão desse pensamento,
com o que Bourdieu (2004) chamou de rituais de consagração de um determinado campo
43
,
podemos dizer que a valorização quantitativa teria o sentido de uma busca por processos
sociais de perpetuação. Mesmo não estando livre das imposições externas, o Orkut teria seus
próprios troféus. Acreditamos que um deles seria a consagração das comunidades, e de seus
donos que se rejubilam com seus altos índices de inscritos. A comunidade Eu danço
44
, por
exemplo, lista as datas, seguidas dos horários em que a comunidade atingiu altas marcas,
quando o número de filiados ultrapassou dez mil, vinte mil, cinqüenta mil e cem mil. Também
observamos inúmeros exemplos cujo nome é precedido da expressão maior comunidade,
como: A maior comunidade do mundo
45
, A maior comunidade do Orkut
46
, A maior
comunidade
47
, A maior comunidade Evangélica
48
e também Maior comunidade do Orkut
49
. O
interessante é que, apesar dos títulos, possuem um número pequeno de participantes, a maior
42
Toda comunidade do Orkut tem um proprietário que é chamado pelo site de dono. Este tem privilégios de
parametrização da comunidade tais como: expulsar um participante “indesejado”, mudar as características da
comunidade, transferir esta comunidade para outro dono, entre outras coisas.
43
A intenção desta citação não é dar ao Orkut o entendimento de campo. Nossa idéia é somente traçar um
paralelo com o pensamento de rituais de consagração e de troféus que Bourdieu (2004) conceitua em sua obra
para melhor esclarecer nosso pensamento.
44
Comunidade Eu danço com 195.277 participantes. Acesso em: 10 de fevereiro de 2008.
45
Comunidade A maior comunidade do mundo com 3.035 participantes. Acesso em: 10 de fevereiro de 2008.
46
Comunidade A maior comunidade do Orkut com 1.463 participantes. Acesso em: 10 de fevereiro de 2008.
47
Comunidade A maior comunidade com 694 participantes. Acesso em: 10 de fevereiro de 2008.
48
Comunidade A maior comunidade Evangélica com 694 participantes. Acesso em: 10 de fevereiro de 2008.
49
Comunidade Maior comunidade do Orkut com 398 participantes. Acesso em: 10 de fevereiro de 2008.
delas não contabiliza mais de três mil e duzentos membros. Entretanto, há um visível esforço
para transformarem essas ainda pequenas comunidades em um disputado marcador identitário
para seus usuários.
Figura 18 - Página de perfil do pesquisador.
Fonte: http://www.orkut.com - gravado em: 02 de agosto de 2007.
Figura 19 - Página inicial de comunidade que o pesquisador é integrante.
Fonte: http://www.orkut.com - gravado em: 30 de junho de 2007.
2.2 O COMPARTILHAR EM COMUNIDADE
Um marcador identitário é, portanto, um caminho para se produzir o material que será
compartilhado entre os habitantes do Orkut.
Segundo afirma Gisela Castro (2005a), ao trabalhar o conceito de tribos de
ciberouvintes que compartilham música através da internet, o compartilhar no ciberespaço
pode ser entendido como “sintoma dos novos modos de produção de subjetividades”. Trata-se
de uma cibersubjetividade produzida e compartilhada “através de laços afinitários em torno
do lúdico, do imaginário, dos pequenos acontecimentos cotidianos [...]” (CASTRO, 2005a, p.
50). Os espaços compartilhados pelos usuários do Orkut, como locais para pequenos e
importantes acontecimentos cotidianos, permitem que esses laços sejam potencializados e
mantidos. Os marcadores identitários como sistemas simbólicos podem ser os responsáveis
pelo estabelecimento de elementos do lúdico e do imaginário aos quais se refere a autora.
Entre intersecções e diferenças nas características do conteúdo compartilhado por diversos
internautas, podem-se encontrar razões para o estar junto. Além disso, a pesquisadora cita os
novos modos de produção de subjetividades. Entendemos os marcadores identitários do Orkut
como potenciais modos para este tipo de produção entre os jovens freqüentadores daquele
ciberespaço. Portanto, não se produz apenas materiais a serem compartilhados entre os
orkutianos, este também pode ser um espaço para novas experiências e subjetividades serem
produzidas.
Nesse contexto, vemos que os marcadores identitários funcionam como
posicionamentos para serem assumidos pelos orkutianos. São posições que estes podem
adotar e com as quais podem se identificar, apoiando, assim, a constituição de suas
identidades. Com isto, os termos identidade e subjetividade mostram-se intercambiáveis e
com uma considerável sobreposição entre eles. Trabalhamos os conceitos subjetividade e
identidade como menciona Woodward. Para esta autora,
(...) nós vivemos nossa subjetividade em um contexto social no qual a linguagem e a
cultura dão significado à experiência que temos de nós mesmos e no qual nós
adotamos uma identidade. Quaisquer que sejam os conjuntos de significados
construídos pelos discursos, eles só podem ser eficazes se eles nos recrutam como
sujeitos. (WOODWARD, 2000, p. 55)
Subjetividade nos leva à compreensão que podemos ter de nós mesmos, enquanto a
identidade nos leva às posições que assumimos e com as quais nos identificamos. Um
processo de produção de identidade envolve sentimentos que podem ser abarcados se
explorarmos nossa subjetividade. Esta é capaz de nos explicar certas razões pelas quais nós
nos vinculamos a identidades específicas. Há tipos de identidades que nos levam a expor
nossas próprias vidas a riscos para defendê-las. Identidades nacionais, folclóricas e étnicas são
exemplos. Temos acompanhado através da mídia conflitos étnicos que acontecem em regiões
como a antiga Iugoslávia, onde “sérvios, croatas e bósnios tentam reafirmar suas identidades,
supostamente perdidas, buscando-as no passado [...]”. (WOODWARD, 2000, p. 11). O estudo
da luta identitária neste fragmentado território é relatado pela autora como ilustração do
conceito de identidade. Este nos vale aqui para dar ênfase ao grande investimento que somos
capazes de fazer para defender nossas identidades, mesmo que nesta luta construamos novas.
No Orkut, por exemplo, constatamos a existência de processos de produção de
identidade que são fonte para a construção das cibersubjetividades que citamos. Ao mesmo
tempo em que são fontes, são também alimentados pelos reflexos dos sentimentos
provenientes das experiências subjetivas dos orkutianos.
Ainda segundo Woodward (2000, p. 14), “a identidade é, na verdade, relacional, e a
diferença é estabelecida por uma marcação simbólica relativamente a outras identidades”.
Portanto, este processo de produção da identidade de um orkutiano também é afetado pelo
respectivo processo dos outros. O resultado se dá a partir do estabelecimento de fronteiras
simbólicas relativas entre as identidades produzidas. Este processo é ininterrupto e relacional.
Dá-se a partir da convivência entre os internautas que habitam o Orkut.
Bauman (2005) nos fala sobre uma necessária convivência entre os conceitos de
identidade e de comunidade. Segundo o pensador polonês, uma identidade se estabelece e
pode ser expressa caso tenhamos um outro para reconhecê-la, que a legitime da forma como a
construímos. Uma comunidade, então, seria um espaço de compartilhamento de identidades a
serem assumidas e expressas. O autor narra a dificuldade que teve quando, ao ser informado
de que seria homenageado em uma cerimônia na Universidade Charles de Praga, deveria
indicar qual o hino nacional a ser tocado em tal evento. Morava na Inglaterra, onde atuava
como professor titular em uma universidade, mas nascera na Polônia. Era visto como um
estrangeiro pelos ingleses, inclusive pelos seus alunos. Por outro lado, o governo de sua
Polônia natal o havia proibido de trabalhar como professor, retirado sua cidadania e
promovido sua expulsão. Diante disto, resolveu acatar a sugestão de sua mulher: seria
homenageado ouvindo o hino do continente europeu. Acabou por entender que faria sentido a
ele retirar a nacionalidade da sua definição de identidade, nacionalidade tornada inacessível a
ele.
Segundo este pensador, identidade é tema de preocupações e controvérsias, é um
processo e não um alvo fixo. As comunidades virtuais são também moduladas, variáveis
segundo as identidades de seus membros. De acordo com o raciocínio que trabalhamos até
então, estas podem ser vistas como um conjunto das subjetividades dos seus participantes que
vivem um fluxo contínuo de construção identitária.
A origem da internet está enraizada, entre outras coisas, em seu uso social e nos
hábitos interativos desenvolvidos pelos seus usuários. Segundo Castells (2003), as
comunidades virtuais são uma das quatro camadas em que foi estruturada a cultura da
internet. As outras três seriam a cultura tecnomeritocrática, a cultura hacker e a cultura
empresarial. A cultura tecnomeritocrática está enraizada na ciência e na academia; a hacker é
responsável pela maioria das inovações tecnológicas na internet; e a empresarial explora a
rede como um território comercial.
Neste momento de nosso texto, direcionamo-nos para a análise da camada formada
pelas comunidades virtuais, sendo estas trabalhadas em um sentido mais amplo que o citado
anteriormente como parte dos marcadores identitários do Orkut.
O sociólogo canadense Barry Wellman (1999) traça uma arqueologia das pesquisas
sociológicas que tratam da questão das comunidades em geral até chegar à sua forma de
problematizar as virtuais. A obra parte da visão de comunidades consideradas como suporte
de solidariedade para seus membros. Assim, resgata estudos de pesquisadores que consideram
questões como vizinhanças solidárias, fronteiras físicas e atividades comuns como premissas
para o estabelecimento comunitário. O autor sugere que questões como a globalização, as
grandes dimensões das cidades com suas populações com diferentes interesses, as constantes
migrações de indivíduos em busca de novas oportunidades de trabalho, e a facilidade de
transporte e de comunicação entre longas distâncias tenham impactado também nas
motivações em torno da construção de comunidades. Isto trouxe a possibilidade também de
entendê-las através de uma ótica diferente da utilizada até então que contemplava idéias como
vizinhanças solidárias, fronteiras físicas e atividades comuns como sua cola de constituição.
Apesar do desgaste que a expressão comunidade virtual sofreu nos últimos anos com
sua utilização desenfreada pela mídia de massa e também por executivos da área de marketing
que a empregam para ilustrar deliberadamente suas falas sobre o ciberespaço, faz sentido, em
nosso entendimento, utilizarmos a visão criteriosa de Wellman (1999) sobre as questões que
envolvem um olhar diferenciado sobre as comunidades virtuais. O autor sugere olharmos uma
comunidade como uma rede social. Esta pode ser uma forma de se entender comunidades,
organizações ou sistemas políticos mundiais. Uma rede social torna-se então uma forma de se
analisar uma comunidade que, em nosso caso, estamos tratando como virtual
50
.
Nas palavras do autor,
social network analysis has freed the community question from its traditional
preoccupation with solidarity and neighborhood. It provides a new way to study
community that is based on the community relationships that people actually have
rather than on the places where they live or the solidary sentiments they have
51
.
(WELLMAN, 1999, p. 17)
Olhar uma comunidade como uma rede social evita termos que assumir que indivíduos
participantes precisem interagir apenas motivados por vizinhanças fronteiriças, por graus de
parentesco e também por divisões de atividades. Esta visão não é contrária a estas formas de
constituição comunitária, apenas tira sua condição de pré-requisito para uma comunidade se
estabelecer. São também formas de constituição, mas não as únicas. As redes sociais
suportadas por computador, como argumenta Barry Wellman e Gulia em um capítulo do livro
Networks in the global village: life in contemporary communities organizado por Barry
Wellman (1999), são apenas um dos caminhos pelos quais indivíduos estabelecem suas
interações. Isto não se dá separado de uma realidade off-line. As comunidades virtuais, como
um tipo de rede social, formam-se a partir de um processo onde os participantes também
trazem consigo suas bagagens identitárias de gênero, suas posições de classe, seus
posicionamentos em outros tipos de redes sociais e suas conexões off-line com outros
indivíduos. Para esses autores, a questão gravita em torno do impacto da arquitetura
(des)hierarquizada da internet nas relações entre os nós da rede. Sendo assim, é preciso
investigar sobre quais os tipos de suporte e de intimidade que se estabelece a partir destas
redes sociais e sobre qual o nível de envolvimento que se constitui no mundo off-line a partir
da participação nestas comunidades suportadas por computador. Estas questões, entre outras,
norteiam nossa investigação sobre as fãs e antifãs de Avril Lavigne no Orkut.
Zygmunt Bauman (2005) analisa dois tipos de comunidades: as de vida e destino, e as
de idéias e princípios. O primeiro tipo liga a identidade ao local de nascimento. Recebe-se ao
50
Poderíamos também utilizar a expressão comunidade cibernética por estarmos estudando as comunidades
presentes no ciberespaço. Entretanto, optamos por tratar as comunidades como virtuais respeitando a expressão
de Castells (2003), como dissemos, considera as comunidades virtuais como uma das camadas que constituem a
internet.
51
“A análise da rede social livrou a problemática da comunidade de sua tradicional preocupação com a
solidariedade e com a vizinhança. Ela oferece uma nova forma de se estudar comunidade que é baseada nas
relações comunitárias que as pessoas de fato têm, ao invés dos locais onde vivem ou nos sentimentos solidários
que têm” (Tradução livre nossa).
nascer e é transferida de pai para filho. Consideram-se aspectos de vizinhança e de
parentesco. O segundo tipo, uma identidade estabelecida em torno de idéias e de princípios,
está próximo da forma como Barry Wellman (1999) vê as comunidades virtuais como redes
sociais. Seus nós (membros) estabelecem um compartilhamento comunitário em torno de
diferentes aspectos, como por exemplo, o culto de fãs a uma celebridade como Avril Lavigne.
No Orkut, onde se pode construir e expressar identidades atreladas a um mundo de
diversidade cultural, esta contemplação comunitária pode ser estudada. Maffesoli (2006)
entende este tipo de espaço comunitário, como é o Orkut, como parte de um processo de
neotribalização. Segundo este autor, a vida contemporânea apresenta traços de uma busca por
um sentimento de pertencer, e as novas tribos seriam os espaços que pontuam esse
pertencimento. A tribalização de nossos tempos difere de outras épocas pelas características
sociais do momento atual como, por exemplo, a tecnologia, que pode permitir a um indivíduo
viver sozinho sem estar isolado através de uma filiação a uma rede social.
Como citado, Maffesoli (2006) trabalha com o conceito de tribos que, segundo ele,
estabelecem e mantêm vínculos afetivos entre seus membros e cuja proximidade é
estabelecida a partir de dimensões emocionais. São vínculos criados a partir do
compartilhamento de idéias, de sonhos, de desejos e de princípios. Em conferência ministrada
na ECA/USP (informação verbal)
52
, ao mencionar o caráter complementar que as
comunidades exercem no processo de construção identitária, o professor Muniz Sodré
afirmou que “ser é estar socialmente junto”. As comunidades virtuais da internet, presentes de
forma significativa na world wide web, podem ser vistas como novas formas de ser e de estar
junto no espaço e no tempo. É uma das formas que muitos jovens têm encontrado para
construir sua identidade a partir do vínculo com outros. As comunidades virtuais são espaços
de compartilhamento do que esses usuários são, do que gostariam de ser, do que acreditam
que sejam e de como imaginam ser percebidos. A visão destas comunidades virtuais como
redes sociais nos conduzem a este tipo entendimento.
Supomos que os jovens presentes nas comunidades do Orkut encontrem caminhos
para construir suas identidades: podem participar de uma ou mais tribos representando
diferentes papéis que, em conjunto, montam e desmontam suas identidades, ao mesmo tempo
em que as expressam. Conseqüentemente, podem surgir várias personas como resultado de
um nomadismo identitário, que esses jovens podem considerar como forma de expressão e
pertencimento comunitário. Um único usuário pode participar de tribos esportivas, sexuais,
52
Conferência realizada em 29 de março de 2007 na abertura do semestre do Programa de Pós-graduação em
Ciências da Comunicação da ECA/USP.
religiosas e de música ao mesmo tempo: na tribo esportiva, sua persona atlética entra em
ação; na religiosa, toma a frente a persona religiosa. E assim estabelece identidades nômades
e fragmentárias, experimentando diferentes modos de ser.
A Figura 20 traz a página de perfil de uma outra fã de Avril Lavigne. Vemos nessa
imagem diversos marcadores identitários que o site disponibiliza utilizados por esta orkutiana.
Foto, nome, descrição, parte da galeria de seus 167 amigos, fragmentos do rol de 72
comunidades de que participa, suas preferências e também comandos à esquerda que ela
escolheu deixar disponíveis para os visitantes do seu perfil. Essa lista de comandos tem uma
peculiaridade que dá à tecnologia uma função de “cupido”. O site se encarrega de enviar
automaticamente um e-mail informando o interesse mútuo aos dois usuários que tenham
incluído o nome do outro em sua lista de “paqueras”. Esses comandos são opcionais para o
internauta.
A fã se denominou “$AMARA $OUZA S2 100%AVRIL LAVIGNE!!!***”. Em seu
complexo apelido acreditamos poder encontrar significados identitários e outros recursos
meramente estéticos. Por exemplo, a substituição dos dois “S” que são as iniciais de seu nome
e sobrenome por “$”, signo que nos remete ao financeiro, parece ter motivação
essencialmente estética. Temos observado várias páginas de perfil de usuários do Orkut e
temos notado como recorrente a utilização de certos recursos para diferenciar os nomes e
sobrenomes que são obrigatórios nas páginas, mas que também são marcadores identitários.
Diante da pouca variedade de recursos gráficos para se diferenciar um nome de outro,
utilizam-se recursos como caracteres e fontes diferentes para evitar o excesso de
padronização. Acreditamos que esta fã tenha usado os dois “$” tentando ser única ao menos
em relação à estética do seu nome. Nossa suspeita em relação a essa escolha da usuária se
fortalece quando entendemos o que vem logo em seguida de seu nome e de seu sobrenome:
S2. Entendemos S2 como uma forma de simbolizar o fato de seu nome e sobrenome serem
iniciados pela letra “S”. Além disso, é também importante o fato de ela declarar diretamente
ser “100% Avril Lavigne”, o que entendemos como uma manifestação de forte afeto em
relação à cantora canadense. Os três pontos de exclamação e os três asteriscos que se seguem
parecem-nos ser recursos estéticos, reforçando a tentativa de evitar uma padronização.
[Ver Figura 20]
A internauta coloca como primeira frase de sua descrição, que na Figura 20 vemos
como “quem sou eu”, a seguinte frase: “UMA PESSOA QUE COLOCA DEUS EM
PRIMEIRO LUGAR E A AVRIL LAVIGNE EM SEGUNDO ...”. Em um pensamento mais
tradicional, esse tipo de seqüência de prioridades poderia ser visto como paradoxal, como uma
profanação, uma mistura não bem-vinda. Entretanto, a fã não demonstra qualquer
constrangimento com isso. Após observarmos as comunidades nas quais essa usuária está
inserida, não nos pareceria estranho mesmo se a ordem da frase fosse invertida, colocando a
cantora em primeiro lugar. De suas 72 comunidades, 28 têm como tema principal a cantora e
apenas seis são relacionadas a temas religiosos, números que apenas representam um
indicativo da convivência entre profano e divino nos marcadores identitários desta usuária.
Além disso, vemos na continuação da descrição mostrada na Figura 8, logo abaixo da
frase analisada, a tradução de uma letra de música de Avril Lavigne. Esse espaço de descrição
da página de perfil tem sido um dos marcadores usados pelos internautas para se apresentarem
em linguagem verbal a seus visitantes. Trata-se de um espaço importante onde se pode
declarar quem são. Samara utiliza uma letra de música que fala sobre frustração amorosa,
sensação de solidão. No caso, é delegado à música Losing Grip (faixa de Let Go – LAVIGNE,
2002) o papel de explicitador dos sentimentos da internauta naquele momento.
Outro ponto interessante a ser destacado como marcador identitário nesta página de
perfil da Figura 20 é o conjunto de comunidades do Orkut das quais sua dona participa. Das
nove mostradas, seis cultuam Avril Lavigne, duas o jogador de futebol Kaka
53
e apenas uma
trata de outro tema. Acreditamos que esta última comunidade pertença a alguém mais
próximo da convivência de Samara. Finalmente, no lugar da foto da internauta, vemos uma
fotografia de Avril Lavigne, substituição bastante significativa quanto à valoração da popstar
pela fã.
53
Kaka é um jogador brasileiro de futebol que joga no time do Milan da cidade italiana de Milão. Este jogador
deixa claro em todas as suas entrevistas que sua religião é a evangélica.
Figura 20 - Página de perfil de fã de Avril Lavigne.
Fonte: http://www.orkut.com - gravado em: 02 de agosto de 2007.
2.3 O ORKUT COMO CORPO-REDE RIZOMÁTICO
Notamos um jogo identitário na representação desta fã de Avril Lavigne que acabamos
de analisar. Ela disponibiliza não só marcadores que buscam responder às questões “quem sou
eu?” ou “quem eu gostaria de ser?”, mas também outros que respondem “quem eu não sou?” e
“quem eu não gostaria de ser?”. Vemos a fã estabelecendo suas dinâmicas fronteiras
identitárias a partir também de sua admiração pela cantora. Além de contemplar sua
celebridade admirada, esta orkutiana colabora para a construção do conteúdo do Orkut
formatando sua própria identidade online. Apesar do processo identitário ser, segundo
Castells (2006), construído de forma internalizada, no Orkut ele passa por elementos externos.
O processo de construção identitário, como citamos, contribui para a formação de sujeitos.
Estes não são propriamente indivíduos. São formados a partir de indivíduos. “São o ator
social coletivo pelo qual indivíduos atingem o significado holístico em sua experiência.”
(CASTELLS 2006, p. 26) Portanto, a fã de Avril ao se propor à dinâmica identitária do site,
pode se tornar um sujeito colaborador com o preenchimento dos conteúdos do Orkut.
Sob esse ponto de vista, este exemplo de rede social que é o Orkut pode ser visto
também como um “corpo-rede” (LEMOS, 2004, p. 173) comunitário, em processo contínuo
de construção e reconstrução de seu conteúdo; um espaço simbiótico entre a rede social e os
corpos dos usuários pertencentes a ela, um grande território de compartilhamento.
O Orkut é um espaço simbiótico entre a rede de tribos do site e os corpos dos usuários
pertencentes a ela. O corpo-rede do Orkut pode ser analisado, portanto, como um grande
território neotribalizado onde se formam, modificam-se e se expressam as práticas
comunicacionais cibersubjetivadas por elementos desse próprio corpo. Um corpo-rede não
hierárquico e não compartimentalizado. Trata-se então de um corpo-rede que pode ser
entendido como um rizoma, no sentido sugerido por Deleuze e Guattari (1995a).
Rizoma é uma expressão botânica utilizada por esses autores para apoiar o
entendimento de estruturas que não têm um pivô que as sustente. Uma orquídea é um rizoma,
uma trepadeira é um rizoma, uma erva-daninha é rizomática e certos tipos de gramíneas são
também rizomas. Não têm um pivô sobre o qual germinam, não têm uma estrutura arbórea
clara e não apresentar órgãos claramente divididos. É importante frizar que um rizoma não se
desfaz com a perda de uma de suas partes, ele continua existindo quando parte de sua
estrutura dele se desprende. Pequenas partes de um rizoma podem ser responsáveis por nova
germinação e crescimento.
Estas são estruturas que apresentam características de heterogeneidade, multiplicidade
e rupturas em seu corpo-rede, como pode ser também compreendido o Orkut. Nesse site, as
partes que germinam seriam os usuários e os processos sociais que emergem a partir das
interações e que podem transformar ou reconstruir o rizoma. André Lemos argumenta que,
as conexões do ciberespaço, assim como aquelas dos rizomas, modificam suas
estruturas, caracterizando-as como sistemas complexos e auto-organizantes. [...] Aí
está a força do ciberespaço como ambiente de compartilhamento estético-
comunitário. (LEMOS, 2004, p. 136)
Este autor resume parte de nossas argumentações em torno do Orkut, parte do
ciberespaço. Este corpo-rede rizomático pode ser visto como auto-organizante na medida em
que seus próprios nós (orkutianos) também produzem o conteúdo que consomem de forma
contínua.
Esta idéia de corpo-rede nos remete a pensar em um contexto onde corpos podem,
gradualmente, fundir-se com as novas tecnologias. Um corpo pode tornar-se híbrido com
intervenções artificiais. É o caso da engenharia genética, de certos tipos de cirurgia plástica,
das técnicas de body modification
54
, do uso de marcapasso e também das nano tecnologias
que parecem estar a caminho. A partir destas opções de hibridizações, um corpo torna-se
colonizado por aparatos tecnológicos. Trata-se de uma relação íntima entre o que é orgânico e
o que é artificial.
Esta questão entre orgânico e artificial está presente há tempos entre nós. Não é
novidade do período pós-industrial. Vivemos um contínuo de hibridização que tem nos levado
a uma cultura emergente que engloba a possibilidade de uma ciborguização como processo de
construção de identidades.
A teórica feminista Donna Haraway, em seu A Cyborg Manifesto (HARAWAY,
2007), reflete sobre o fato de fronteiras na contemporaneidade terem perdido sua clareza e
função. O que antes pareciam ser oposições dualistas, facilmente associadas a um pensar
moderno, hoje aparece como falta de clareza na distinção entre gêneros e também entre
máquina e homem. Desse modo, as claras fronteiras entre o que é humano e o que é máquina
parecem estar se dissolvendo progressivamente. Os aparatos tecnológicos têm,
constantemente, deixado de atuar de forma apenas periférica e instrumental. A pele não nos
parece ser mais uma barreira para intervenção do maquínico no homem. Acoplagens
54
Técnicas, às vezes cirúrgicas, que modificam a constituição natural dos corpos criando, por exemplo, línguas
com corte no meio para parecer de um lagarto e implantes de chifres sobre a cabeça.
protéticas, como as que citamos, já são realidade, assim como as acoplagens interpretativas,
como é o caso de próteses identitárias que iremos analisar a seguir.
2.4 CIBORGUIZAÇÃO IDENTITÁRIA A PARTIR DE AVRIL LAVIGNE
Segundo Lemos (2004, p. 167), “o corpo pós-moderno é uma superfície de escritas de
vários textos [...]”. Entre as diversas dimensões destes textos o autor destaca: uma escrita
ideológica manifestada pelo fluxo das modas, outra epistemológica com um corpo travestido e
outra ainda tecnológica com as nano próteses. Complementando este pensamento, André
Lemos cita os textos econômicos escritos em corpos consumidos como produtos e os textos
políticos com a formação do corpo das massas. O autor trabalha a idéia de uma
hiperexteriorização e de uma hiperinteriorização textual dos corpos. A pertinência desta idéia
para nosso estudo nos leva a incluir aqui uma descrição mais detalhada para que possamos
estabelecer correlações com o nosso objeto mais adiante.
A hiperexteriorização seria conduzida pela idéia das próteses, da utilização de lentes
de contato, de marcapassos como auxílio às funções fisiológicas. Por exemplo, seria o corpo
ajudado por um aparato físico para uma melhoria ou apenas para uma mudança de seu
funcionamento fisiológico original.
A hiperinteriorização é pensada através de uma subjetividade construída a partir da
mídia e da sociedade do espetáculo no sentido trabalhado por Debord (1997). Uma
subjetividade que, sob uma visão totalitária da mídia levada ao seu extremo, poderia ser
manipulada por esta. Entretanto, Lemos aponta que o ciberespaço permite uma incompletude
constante da subjetividade. Aqui esta seria formada como uma construção híbrida, não pronta,
não centralizada e deshierarquizada. Nossa idéia neste momento é propor a análise de uma
possível ciborguização identitária que pode ocorrer a partir daqueles elementos que
denominamos marcadores identitários do Orkut.
Nesta direção, André Lemos nos propõe pensarmos em dois tipos ideais
55
de
ciborgues: os protéticos e os interpretativos. Os ciborgues protéticos “simbolizam a simbiose
entre o orgânico e o inorgânico”. (LEMOS, 2004, p. 171) Estão em linha com a idéia da
hiperexteriorização que potencializa a possibilidade de uma mistura entre prótese e carne,
usando uma forma cyberpunk de se expressar, tal qual a criada por William Gibson em sua
55
Remetendo-se a Max Weber.
emblemática obra Neuromancer. Ao contrário da totalidade determinista do robô, que é uma
alteridade em relação ao humano, o ciborgue protético seria a literal hibridização entre
homem e máquina.
Por outro lado, os ciborgues interpretativos alinham-se com a idéia da
hiperinteriorização de uma subjetividade construída ou em um processo contínuo de
construção. Por exemplo, vimos que através do Orkut podem se formar cibersubjetividades a
partir das acoplagens de perfis produzidos pelos seus próprios usuários. Nesta órbita gravita
nossa idéia-base, que traz a ciborguização identitária como possibilidade para os
freqüentadores deste espaço cibernético experimentarem diferentes identidades, muitas vezes
prêt-à-porter, como denomina Rolnik (1997). Tratando do que denomina “toxicômanos de
identidade”, a autora nos fala da presença de um novo tipo de vício em identidade como
reação das minorias ao que a autora percebe como padrões de globalização identitária.
Observamos um eco deste processo descrito por Suely Rolnik entre os usuários do Orkut que
analisamos. Apresentando um aparente deslumbramento com o extenso cardápio identitário
materializado pelos marcadores, estes internautas parecem contagiados com a idéia da
circulação que suas acoplagens e desacoplagens permitem.
Ainda em diálogo com a autora, vemos que esta situação não implica em um forçado
abandono das referências identitárias mais tradicionais. Implica sim em uma conquista da
flexibilidade para se conseguir uma adaptação a um mercado cuja lógica traduz tudo em
novidade: novos produtos, novas tecnologias, novos hábitos e novas celebridades. Rolnik
afirma que esta abertura para o novo não significa uma abertura para o estranho, o que se
encaixa no que temos percebido entre as jovens fãs de Avril Lavigne. Atentas, estes absorvem
as novidades em torno da estrela, mas isto não é sinônimo de inovação. A própria cantora,
inclusive, corre um constante risco de deixar de ser o novo, o que pode pressioná-la a renovar
sua imagem utilizando estratégias de inovação e mudanças de público-alvo. Ao longo desta
pesquisa estamos constatando sinais de mutações estratégicas na imagem da cantora. Estas
estratégias nos interessam. Discutiremos este assunto na seção 3.5 e em nossas Considerações
Finais.
Como dissemos, o Orkut é um espaço privilegiado para se observar os tipos de
construções e expressões simbólicas que fazem parte desta nossa pesquisa no ciberespaço. Os
materiais disponibilizados e circulantes neste espaço podem ser usados para se construir perfis
identitários cuja dinâmica nos inquieta, pois flagramos um abalo nas bases da estabilidade
identitária. Neste ponto, continuamos nossa pesquisa empírica através de observações não
participantes nas páginas de perfil de uma fã de Avril Lavigne e, também, em comunidades
das quais participa e que têm como tema principal a cantora. Nossa idéia-base é investigar a
ciborguização identitária desta fã realizada a partir dos marcadores identitários que utiliza
para construir seu perfil no Orkut.
Na Figura 21, vemos uma fã de Avril Lavigne e que se identifica como *Mah in the
sky with diamonds*VOLTEEEEIIIIII nesta sua página de perfil do Orkut. Das nove
comunidades das quais faz parte e que são mostradas na Figura 21, três são referentes à Avril
Lavigne. São elas: Too much to ask – Avril com 733 participantes, Qria ver a foto do RG da
Avril com 2.201 participantes e Avril N.U.N.C.A... com 10 integrantes.
Vemos na Figura 21 vários marcadores identitários desta fã da cantora. Seu nome
*Mah in the sky with diamonds*VOLTEEEEIIIIII, traz sentidos que a internauta pretende que
sejam entendidos pelos visitantes de sua página. O mesmo acontece com sua descrição em
“quem sou” e na resposta que dá a cada item de sua apresentação. Além destes marcadores
descritivos, onde Marina pode apresentar-se textualmente aos seus visitantes, são
disponibilizados também marcadores imagéticos: sua foto, a foto de seus amigos do lado
direito e, logo abaixo, as ilustrações das comunidades das quais faz parte. Vemos seus
interesses na internet descritos e colocados ao lado das fotos de amigos de ambos os gêneros,
que aparecem de forma aleatória na página de Marina redecorando seu perfil a cada entrada
que fazemos em sua página. Esta usuária do Orkut nos parece demonstrar sintomas de um
toxicômano de identidade: ocupa praticamente a totalidade dos grids dos marcadores
identitários disponíveis e participa de mais de 400 comunidades que dão uma extensa gama de
possibilidades a cada refresh
56
de um visitante, além de mostrar sua “profusão cambiante de
universos” (ROLNIK, 1997, p. 1) com variedade entre os temas das comunidades às quais se
associou. Entretanto, dentre estes temas, o mais recorrente é a cantora Avril Lavigne.
[Ver Figura 21]
A página inicial da comunidade Too much to ask – Avril é mostrada na Figura 22.
Vemos, à esquerda, a foto de Avril Lavigne que é a mesma que aparece em miniatura na
página de perfil da fã da Figura 21. Ao centro e abaixo do nome da comunidade temos a
descrição desta, onde a proprietária declara em duas linhas as razões pelas quais criou este
espaço. Esta informação deve servir de premissa para se participar deste grupo. Nesta
descrição a dona cita a música de Avril que deu título à comunidade e explicita uma espécie
56
Refresh é o mesmo que atualização de uma página web. Trata-se de um comando disponível a qualquer
usuário.
de regra de inclusão: “Se você ama [...], se emociona [...] se identifica [....] junte-se a essa
comunidade!!!”. A participação nos parece estar condicionada aos afetos favoráveis, nestes
casos, a uma música específica da cantora. Para participar é preciso “amar a musik”,
conforme texto que aparece na Figura 21, emocionar-se e identificar-se com ela.
[Ver Figura 22]
A Figura 23 nos traz a imagem da entrada da comunidade Qria ver a foto do RG da
Avril. Antes de analisarmos determinados pontos desta imagem, acreditamos ser importante
tentarmos pensar no que poderia significar este título. O que levaria um fã a querer ver a foto
do RG
57
de uma celebridade? Apenas curiosidade ou também acúmulo de informações sobre
o seu ídolo?
[Ver Figura 23]
Acreditamos que tanto ter curiosidade como conhecer cada vez mais detalhes da vida
da celebridade que se admira seja mesmo parte do ritual de um fã. Este cultua de forma
intensa: querendo saber cada vez mais acerca do seu objeto cultuado. Por outro lado, o RG é
um documento que sabemos ser único e privado, não disponível publicamente.
Provavelmente, então, um outro aspecto também cause este desejo: o acesso ao que é restrito.
Entretanto, a cantora é canadense e vive, atualmente, nos Estados Unidos. Isto não dá a ela a
possibilidade de portar uma carteira de identidade do tipo RG, que vemos na foto que ilustra a
comunidade e que, certamente, foi montada pela proprietária ou por outro fã que a apoiou.
Mas verificamos que parece pouco importar aos fãs a viabilidade do que desejam. O que é
almejado é ver a foto de Avril em seu documento de identidade, seja ele brasileiro, canadense
ou norte-americano.
É do conhecimento de todos nós que a foto de nossos documentos, como é o caso de
nossas carteiras de identidade, são flagrantes de momentos não tão produzidos e editados
como é o caso da foto de uma celebridade para uma revista. Neste caso, existe um preparo,
uma produção para que a foto seja feita em um bom ângulo, com luzes adequadas e se possa
tirar muitas para se escolher apenas uma a ser usada. Conta também com um profissional da
fotografia para direcionar a celebridade a uma melhor posição e a uma melhor postura que
expressem pontos esteticamente favoráveis. Além disso, tiramos nossos documentos quando
57
RG = Registro Geral, também conhecido no Brasil como Carteira de Identidade.
temos idades menos avançadas. Em muitos casos, ainda adolescentes, já que é uma
necessidade para se participar da sociedade. É preciso que tenhamos este tipo de documento
para sermos identificados em locais públicos e privados. Portanto, esses fãs nutrem em seu
imaginário uma curiosidade acerca de como estaria Avril Lavigne na foto original de seu
documento de identidade, qualquer que seja o formato e o nome dado a este.
Na Figura 23 vemos, logo abaixo da seção chamada fórum, uma enquete realizada
pelos participantes da comunidade. Através dela querem saber como estaria, no imaginário de
cada um, a foto de Avril em seu documento de identidade. A opção “Lindaa como sempre”
liderava no momento desta pesquisa
58
com 53% dos votos. Em último lugar, estava “Uma
foto dela com óculos”, com 8%. Independentemente dos percentuais, além do fato desta ser
uma tentativa de se medir o que todos imaginam através de quatro alternativas, o que nos
chama a atenção é o conteúdo de cada uma destas. As quatro opções são: “de óculos”,
“novinha e estranha”, “Lindaa como sempre” e “Ela depois que começou a cantar”. Existe,
provavelmente, no imaginário de quem elaborou esta enquete, a possibilidade da cantora não
ter sido sempre “Lindaa”, pois coloca a opção “novinha e estranha”. Esta última em conjunto
com “Ela depois que começou a cantar” nos dão uma percepção de que o produtor da enquete
talvez queira saber se os fãs da comunidade acham que ela teve seus momentos “de estranha”
quando “novinha” e ficou como é só depois de começar a cantar. As outras duas opções nos
parecem bem distintas. Usar óculos na foto pode significar, entre outras coisas, a idéia de não
produção, de uma foto tirada no dia-a-dia da cantora, antes desta vir a saber que sua imagem
seria alvo de tanta atenção e julgamento. Finalmente, ser “Lindaa como sempre” dá a idéia de
que Avril sempre foi do jeito que é e que, portanto não teria tido momentos em sua vida
associados a uma não produção.
Lipovetsky (2006) traça um paralelo entre as celebridades atuais e a moda. A partir
daí, menciona que “a moda é encenação sofisticada do corpo” e “a estrela é encenação
midiática de uma personalidade” (LIPOVETSKY, 2006, p. 215). De fato, o trabalho que se
faz de encenação no mundo da moda não nos parece ser estranho ao mundo das estrelas. Esta
encenação colabora com a construção de estrelas que nos parecem ter tanto mais sucesso
quanto mais parecidas forem com seus admiradores. Neste sentido, Lipovetsky traz o conceito
de mini-ídolos. Diferentemente dos ídolos modernos que se distanciavam de seus fãs para
serem contemplados, estes são ídolos que se aproximam do seu público. Esta proximidade e
seu paralelo com a moda dão a estes superstars um caráter efêmero. Daí a idéia de mini-
58
Acesso em: 13 de julho de 2007.
ídolos, de ídolos instantâneos. Sendo assim, eles podem até ter RG com fotos portando óculos
ou mostrando a celebridade ainda “novinha e estranha”. Na Figura 23 vemos a proprietária
convidando a todos para entrar na comunidade e trocar opiniões a respeito da foto do RG de
Avril Lavigne que passou a ter, no imaginário destes jovens, um documento brasileiro com
uma foto não produzida, não dirigida, não editada e, portanto, mais próxima da foto do
documento de cada um dos fãs.
A Figura 24 mostra a comunidade Avril N.U.N.C.A..., criada em 5 de junto de 2007.
De acordo com a descrição desta comunidade presente em sua página inicial, quem dela
participa promete “nunca” deixar de amar, deixar de ser fã, esquecer, substituir, enjoar das
músicas, ouvir as músicas e cansar de Avril Lavigne. Neste coletivo os fãs pedem para que a
cantora “nunca deixe de cantar”. Trata-se de uma declaração que promete eternidade na
direção dos afetos de quem dali participa; um compromisso com estes afetos. Estas
declarações da proprietária desta comunidade funcionam como premissas para a participação.
Para ser incluído neste coletivo é preciso prometer uma série de nuncas, ou melhor, é preciso
estabelecer um compromisso eterno diante da musa Avril.
[Ver Figura 24]
Vemos na Figura 24 a foto em miniatura, acima e à direita, que ilustra a página de
perfil de Marina. Esta fã participa desta comunidade e, portanto, do compromisso afetivo dos
nuncas em relação à Avril Lavigne. Além disso, Marina parece trocar opiniões a respeito de
como seria a foto da cantora em seu RG e também parece amar, se emocionar e se identificar
com a música Too much to ask, pois é integrante das comunidades Qria ver a foto do RG da
Avril e Too much to ask – Avril, respectivamente. Observando sua página de perfil, podemos
dizer que esta admiradora de Avril consome dentro do corpo-rede Orkut o que é
autoproduzido ali. Assim, ela é afetada pelo que consome, mas, a partir disto, afeta outros
orkutianos também. Como integrante deste grande corpo-rede, esta fã produz materiais a
partir do que consome, de suas experiências e, conseqüentemente, do que circula em seu
imaginário. Podemos assim dizer que Marina é um nó do corpo-rede do Orkut. Um nó que
consome e produz material que pode ser agregado à sua identidade e a de outros nós-
participantes.
A Figura 25 mostra um dos temas do fórum de discussão da comunidade Avril
Lavigne Brasil que mostrava ter mais de 112 mil participantes na ocasião de nossa última
consulta
59
. Neste fórum vemos a fã da Figura 21 como proponente de um tema: Avril liga
para blog do Perez Hilton. Perez Hilton é o autor de um weblog na internet
(http://perezhilton.com) onde disponibiliza informações e, principalmente, opiniões polêmicas
a respeito de celebridades. Neste fórum, a orkutiana traz um material que foi traduzido pelo
site oficial da cantora no Brasil que teria sido veiculado no blog de Perez Hilton. Como
dissemos, independentemente do conteúdo deste material, a fã, participante afetada pelas
comunidades já analisadas neste texto, aqui é produtora de um conteúdo que irá afetar outros
nós do corpo-rede Orkut. Algo que, mediado pelo seu próprio imaginário, poderá afetar o
imaginário de outros fãs. Na Figura 25, CREUZA A SANTA e *Bianca* já o fizeram a partir
do que consumiram do que foi disponibilizado pela fã da Figura 21.
Esta fã de Avril Lavigne é consumidora, ao mesmo tempo em que é produtora do
material que auto-alimenta seus marcadores identitários. A partir deles, a internauta constrói
sua identidade que, hibridizada pelas tecnologias digitais presentes no Orkut, é expressa ao
mesmo tempo em que está em processo contínuo de construção. Marina, a seu gosto e
vontade, acopla e desacopla estes marcadores que, a partir da lógica de seu imaginário,
modulam sua instável identidade on-line.
A ciborguização identitária nos parece ser uma busca estratégica de indivíduos por
opções que melhor expressariam suas instáveis cibersubjetividades. Ao menos no Orkut, estas
jovens fãs nos parecem viver tempos pós-orgânicos, como denomina a pesquisadora Paula
Sibilia (2002). Seus corpos parecem insuficientes para servir de reflexo de suas
subjetividades, que se mostram em movimento constante. Buscam, como alternativa, a
ciborguização, ora protética, ora interpretativa. Esta última encontra no ciberespaço, como é o
caso do território do Orkut, terreno fértil para se desenvolver. Parece-nos que a cibercultura
pode ser povoada por afetos da profusão dinâmica dos diferentes universos que ela mesma,
tecnologicamente, aproxima.
Sibilia argumenta que,
corpos permanentemente ameaçados pela sombra da obsolescência – tanto a do seu
software mental como a do seu hardware corporal – e lançados, por isso, no turbilhão
do upgrade constante, intimados a maximizarem a sua flexibilidade e a sua
capacidade de reciclagem. (SIBILIA, 2002, p. 207)
A autora trata da idéia de uma tirania do upgrade que teria invadido nossos desejos e
afetado nossos comportamentos. E esta tirania nos parece também presente nas buscas
59
Acesso em: 9 de fevereiro de 2008.
identitárias das fãs de Avril Lavigne que analisamos. A ciborguização identitária pode ser
vista, neste caso, como um processo contínuo de fuga da ameaça da obsolescência dos dois
tipos citados por Paula Sibilia.
[Ver Figura 25]
Ao mesmo tempo em que as fãs reciclam sua identidade on-line, também podem
modificar por conseqüência sua imagem off-line “vestindo-se” de Avril Lavigne ou
utilizando-se de Avril como matriz estética. Assim, modificar parte de seus corpos como
cabelos, nariz, boca e outros para se aproximar esteticamente da estrela.
Figura 21 – Página de perfil de fã de Avril Lavigne.
Fonte: http://www.orkut.com - gravado em: 27 de abril de 2007.
Figura 22 – Página inicial da comunidade Too Much To Ask – Avril.
Fonte: http://www.orkut.com - gravado em: 27 de abril de 1007.
Figura 23 – Página inicial da comunidade Qria ver a Foto do RG da Avril.
Fonte: http://www.orkut.com - gravado em: 27 de abril de 2007.
Figura 24 – Página inicial da comunidade Avril N.U.N.C.A.
Fonte: http://www.orkut.com - gravado em: 27 de abril de 2007.
Figura 25 – Página inicial da comunidade Avril Lavigne Brasil.
Fonte: http://www.orkut.com - gravado
em: 27 de abril de 2007.
122
3 ESTRATÉGIAS ON-LINE QUE APÓIAM A CONSTRUÇÃO MERCADOLÓGICA
DE AVRIL LAVIGNE
Neste capítulo será analisada a utilização estratégica de territórios da internet,
incluindo o Orkut, como mediadores no processo de culto a Avril Lavigne. Além de seu papel
de espaço apropriado para admiração ou rejeição à cantora, estes locais também apresentam
evidências da utilização de estratégias mercadológicas que se servem das práticas de
admiração em torno desta celebridade. Nossa intenção neste capítulo é analisar estratégias e
táticas presentes em diálogos entre diferentes espaços da internet. Diferentes lugares com
configurações diversas apresentam intersecções entre as mensagens apresentadas. Por
exemplo, a circulação de certos conteúdos nos fóruns do Orkut tem relação direta com o que é
veiculado pelo website oficial da cantora.
Iniciamos com a verificação da possibilidade do surgimento de um diferente tipo de
sujeito que chamamos neste trabalho de mini-celebridades. São fãs e antifãs que projetam
uma auto-admiração através de Avril Lavigne. Esta seria uma possibilidade presente no culto
às celebridades em um espaço como o Orkut, que permite a produção de conteúdo. Este tipo
de comportamento, que nos parece comum entre jovens orkutianos, pode estar também
integrado às estratégias em torno da construção mercadológica desta cantora.
Não é uma novidade este tipo de projeção. Esta prática não faz parte apenas dos rituais
presentes na cibercultura. Já na década de 1960, fãs celebravam mundialmente os Beatles.
Esse grupo inglês tornou-se um fenômeno e cada um de seus shows foram vistos ao vivo por
milhares de fãs vindos de diversos países. Sem dúvida, estes fãs também praticavam um tipo
de projeção através desta banda que os tornava o que denominamos mini-celebridades em
suas respectivas redes sociais. Muitos se expressavam (e ainda se expressam através de
bandas cover e imitações caseiras) em suas comunidades imitando os integrantes dos Beatles,
vestindo-se de forma análoga e usando seus estilos de ser. Isto os tornava (e de certa forma
ainda os tornam) celebridades instantâneas entre seus pares, o que chamamos de mini-
celebridades. Assim tem sido com diversas estrelas que servem também de degrau para seus
fãs se exibirem como se fossem estrelas em seu cotidiano. Nosso olhar neste momento se
volta para o ciberespaço do Orkut. Este site apresenta ferramentas que podem colaborar com a
viabilização desta prática de auto-celebração que estamos indicando.
Prosseguindo em nossa análise, traçamos um paralelo entre o que é produzido por
importantes veículos on-line (sites oficiais e de fãs, weblogs, sites de música etc.) e o que é
circulado nas interações dos fãs e antifãs associados ao Orkut. Tratamos neste comparativo da
123
hipótese de existir uma construção estratégica que tentaria pautar as trocas e articulações entre
fãs e antifãs da estrela que estudamos.
3.1 MINI-CELEBRIDADES
Segundo observa Douglas Kellner (2001, p. 27), a mídia tem submetido os indivíduos
a um “fluxo sem precedentes de imagens e sons” dentro de suas próprias casas. Nesse
contexto, um novo mundo de entretenimento, ora virtual, tem reordenado percepções de
espaço e de tempo, o que pode produzir novos modos de experiência e de subjetividade que
anulam marcantes distinções entre realidade e imagem. Sons e imagens são as formas
majoritárias de materialização dessa cultura veiculada pela mídia para a construção e
veiculação de superstars. Imagens em formas de videoclipes
60
mostram cantores em
performances espetaculares. Os sons são produzidos e editados profissionalmente para
compor com as imagens um espetáculo de entretenimento que hoje aparece em destaque como
produto da indústria fonográfica.
Como dissemos, o Orkut é um espaço que potencializa, entre outros processos, a
construção de ídolos no imaginário juvenil. Esta construção também é mediada por imagens.
Ainda que discutido e modificado por diversos autores, o conceito situacionista de espetáculo
serve de suporte para nossa reflexão. Segundo Debord (1997, p. 14), “o espetáculo não é um
conjunto de imagens, mas uma relação social entre pessoas, mediada por imagens”. Este autor
propôs nos anos 1960 uma idéia que sugere pensarmos nossas relações sociais também a
partir do consumo de imagens. Estas ocupariam um espaço dominante na interação entre os
indivíduos do contemporâneo como mediadoras de uma comunicação que permite a
espetacularização do real. Esta citação de Guy Debord (1997) dialoga com nossa pesquisa, já
que tratamos de celebridades que são sujeitos com imagens veiculadas pela mídia após serem
editadas para se tornarem parte de um espetáculo cotidiano.
O professor Juremir Machado da Silva (2007, p. 1) afirma que “o espetáculo acabou”.
Para este autor gaúcho, estamos em tempos de um hiper-espetáculo. Nesses nossos tempos
não se delega mais aos ídolos a “vivência de emoções e de sentimentos”. Essa tarefa estaria
agora a cargo dos que antes apenas os admiravam e os contemplavam. Os jovens fazem uso
da mediação das imagens de celebridades, por exemplo, a de Avril Lavigne no Orkut, para
60
Videoclipes são produções de vídeos realizadas em função de uma música. As imagens são produzidas para
ilustrar uma música já existente. Um videoclipe é um tipo de vídeo muito assistido pelo público jovem.
124
estabelecer suas relações sociais. Eles também podem se utilizar delas para promover uma
auto-contemplação. Este é um tipo de contemplação que se daria, segundo Juremir, através de
um interessante processo no qual essas célebres figuras são tão mais adoradas quanto mais
parecidas forem com seus fãs, numa curiosa inversão de papéis.
Este autor continua suas argumentações através de sua percepção de que, hoje, os
indivíduos têm buscado um direito ao sucesso. Antes reservada apenas aos ídolos, a fama, por
mais instantânea que seja, parece estar ao alcance de todos. Esta linha de pensamento
colabora com a formulação de uma de nossas hipóteses. Supomos que entre as diversas
motivações que podem levar um fã e um antifã a produzir conteúdos publicáveis no Orkut a
respeito de uma celebridade esteja a sensação de se tornar estrela de um espetáculo.
Independentemente do tamanho de sua audiência. Juremir Machado da Silva (2007) afirma
que estamos em um verdadeiro apogeu do Big Brother como um divertimento de massa.
Entendemos que o pesquisador remete-se à expressão Big Brother de forma ambígua. Ao
mesmo tempo em que lembra a obra de ficção 1984 de George Orwell (2003) que traz, pela
primeira vez, esta expressão como um sistema de câmeras que seria capaz de monitorar todo
tempo todas as pessoas, também se remete ao programa de televisão da rede Globo. Neste
somos induzidos a pensar que assistimos pessoas comuns vivendo em uma casa em situações
do dia-a-dia. O relacionamento entre estes indivíduos é monitorado durante todo o tempo e
pode ser assistido pela televisão e pela internet. Assim, tornam-se celebridades que, após o
término do programa, estampam capas de revistas e também estrelam em novelas da mesma
emissora de televisão. A sensação de poder ser visto por muitos, mesmo que rapidamente, é a
mola propulsora das mini-celebridades que trabalhamos.
O conceito de mini-celebridades está de mãos dadas com a idéia de mini-ídolos de
Gilles Lipovetsky discutida no Capítulo 2. Estes mini-ídolos são celebridades efêmeras como
é o caso de Avril Lavigne e dos integrantes do Menudo, citados na seção 1.3. Sua
proximidade com o mundo da moda é que chama atenção deste autor que estuda o sistema de
moda como importante processo social do contemporâneo. A velocidade com que os ídolos
são construídos pela mídia e a quantidade de celebridades que os jovens têm para escolher
como objeto de admiração favorecem a efemeridade destes mini-ídolos. Caso a imagem de
um astro ou de uma estrela deixe de agradar a um fã, ele simplesmente pode ser trocado ou
substituído como se faz com um produto. Entretanto, qualquer que seja o mini-ídolo a ser
contemplado este fã pode continuar utilizando este processo como um degrau para sua
expressão como mini-celebridade.
125
Constatamos que o casamento de Avril Lavigne teve uma grande repercussão junto
aos fãs e também entre os antifãs. Em 2006 o volume de matérias jornalísticas tratando deste
assunto era maior, entretanto, um ano depois, ele continuou sendo notícia e ainda merecida
atenção na internet. Os fãs parecem se interessar pela vida de casada de sua admirada popstar.
Há um ano e meio a festa era a notícia; atualmente, as notícias giram em torno do dia-a-dia do
casal e de sua circulação pelas cidades e países do mundo
61
. Este interesse pelo cotidiano de
Avril Lavigne pode ser explicado pelo fato dela poder se enquadrar na categoria de mini-
ídolo. De acordo com esta idéia, a proximidade dos fãs em relação à cantora torna os detalhes
de seu dia-a-dia objeto de interesse.
[Ver Figura 26]
Na Figura 26 vemos uma enquete proposta pela revista Capricho em sua versão na
internet. O objetivo da enquete era colher opiniões dos leitores sobre o casamento de Avril
Lavigne. As respostas seriam selecionadas a partir de uma lista fechada, oferecidas em
múltipla escolha. Caracteristicamente, as alternativas de respostas refletem idéias
convencionais, já consagradas, sobre o casamento. A primeira opção traz a idade como tema.
Segundo a revista, existiria uma idade adequada para se casar, embora também se afirme que
o casamento é algo complicado, ou complicated (que é o título de uma música da cantora). A
segunda alternativa afirma que uma celebridade deve se casar com alguém que seja tão ou
mais famoso que ela. Além disso, traz a idéia de que o nome do marido de Avril é de difícil
pronúncia por aqui, o que nos parece ser visto pela revista como uma desvantagem. Como
terceira opção, o site especula se a canadense estaria seguindo os mesmos passos da cantora
Britney Spears que, segundo a revista, teria se casado “apenas porque Madonna se casou”.
Esta opção é finalizada com a especulação sobre uma possível separação de Madonna e a
insinuação de que Avril e Britney seguiriam o mesmo caminho. Finalmente, na quarta opção
aparece a idéia de que, mesmo se casando com alguém pouco conhecido e com nome de
difícil pronúncia, Avril estaria aproveitando a vida.
Nesse caso, a revista funciona como mediadora de uma quase-interação, conceito
trazido por J. B. Thompson para se referir às relações sociais que podem se estabelecer a
partir dos meios de comunicação. Diferentemente de uma interação direta como a
conversação, uma quase-interação mediada se estabelece não entre indivíduos, mas entre um
61
Vide na Figura 34 do Apêndice B a colagem de fotos que inclui o fato citado.
126
indivíduo e o conteúdo disponibilizado pelo mediador. Segundo o autor, “este [...] tipo de
interação implica uma extensa disponibilidade de informação e conteúdo simbólico no espaço
e no tempo” (THOMPSON 1998, p. 79). Esse conteúdo permite uma construção também
simbólica de identidades, baseadas nas matrizes fornecidas pelos astros.
A quase-interação mediada pelo computador traz a sensação de que se está interagindo
diretamente com o ídolo. Esta máquina facilita por permitir que este processo se dê de forma
mais rápida que as cartas que são até hoje utilizadas como meios de quase-interação entre
astros e estrelas, e seus fãs. Os e-mails e os websites têm sido preferido entre os jovens como
meio de quase-interagir com as celebridades. É o caso que analisamos do site da revista
Capricho.
O casamento de Avril Lavigne foi um evento que reforçou a característica de
proximidade que marca as relações entre esta cantora e seus fãs. Gastou-se, celebrou-se,
bebeu-se e comeu-se muito, segundo o que foi veiculado pela mídia. Avril se casou, segundo
a mídia, como se casaria qualquer menina de uma classe social mais privilegiada. Ela até teria
saído embriagada de sua festa, segundo afirmam vários fãs. Estes acreditam que este ato seja
típico da cantora, dentro do que consideram usual nas atitudes dela. Entre os antifãs, esta
aparente embriaguez é considerada uma farsa: parte de seu jogo de cena (Ver cena no Anexo
A).
[Ver Figura 27]
Passado mais de um ano do casamento, certas comunidades de fãs de Avril Lavigne no
Orkut ainda tratavam do assunto. Determinados materiais flagram discursos elaborados por
fãs a partir do que foi disponibilizado pela mídia a respeito do casamento. Avril saindo
bêbada da festa foi visto como o ápice do evento, segundo seus fãs. O discurso deste e de
outros fãs nos parece mostrar que eles se sentem como se fossem amigos próximos de Avril e,
de forma fantasiosa, sentiam-se convidados para a festa.
Conforme mostra a Figura 27, foi aberta uma comunidade específica no Orkut, tendo
como tema o casamento da cantora. Aqui, pouco se falou, pouco se registrou a respeito da
festa propriamente dita. A comunidade referente ao casamento teve menos sucesso que outras.
Parece que o casamento de Avril seja um assunto cuja discussão isolada não faria sentido.
Na Figura 28, vemos um fórum criado por uma internauta com a proposta de alimentar
um imaginário em torno da suposta ida de um fã ao casamento da cantora. Ir, mesmo que
hipoteticamente, ao casamento de Avril, pode ser uma forma de auto-admiração por parte dos
127
fãs que compartilham esse imaginário, já que a proximidade com o ídolo está estabelecida.
Entendemos que estes contempladores de Avril se tornam mini-celebridades no momento em
que usam o fórum como plataforma da veiculação de sua própria imagem.
Por fim, o discurso dos fãs sobre o casamento da estrela nessas comunidades pode nos
ajudar a constatar que, apesar de não haver um sentido único no discurso, é perceptível a
existência de uma linha dominante. Entretanto, sabemos, através dos estudos sobre recepção,
que cabe ao receptor atribuir sentido ao que é veiculado pela mídia. Apesar da presença do
discurso dominante, essa atribuição é mediada pela cultura, pelo lugar social e pelo contexto
em que se encontra o receptor.
[Ver Figura 28]
128
Figura 26 - Página web de enquete da revista Capricho.
Fonte: http://www.capricho.com.br - gravado em: 06 de agosto de 2007.
129
Figura 27 – Página inicial da comunidade O casamento de Avril lavigne.
Fonte: http://www.orkut.com - gravado em: 02 de agosto de 2007.
130
Figura 28 – Página de um fórum da comunidade Avril Lavigne (Brasil).
Fonte: http://www.orkut.com - gravado em: 02 de agosto de 2007.
131
3.2 O PAPEL DOS AGENTES
Nesta seção focamos nosso olhar a um outro tipo de território importante da internet
que disponibiliza conteúdos para os fãs de Avril Lavigne: alguns portais onde se pode ouvir
música.
Websites oficiais de um astro ou de uma estrela costumam ser utilizados pelos fãs
como opção para fonte de informações a respeito de seu ídolo. Não só este tipo de páginas
web são opções para se ter notícias sobre estas celebridades. Outras alternativas de conteúdos
têm sido utilizadas por quem é fã de um astro ou estrela musical. Um exemplo são os portais
de música onde um internauta apenas precisa sugerir o nome do astro que pretende ouvir seja
executada uma de suas canções. Após a primeira música, o site se encarrega de selecionar
para o internauta o que será ouvido em seguida. Todas as músicas subseqüentes são tocadas
de acordo com sugestões feitas pelo próprio site. Através de modelos estatísticos são
construídas linhas de coerência entre a primeira escolha e as sugestões que virão a seguir. Este
é o caso, por exemplo, dos websites Pandora (http://www.pandora.com) e LastFM
(http://www.lastfm.com.br).
Esta opção para ouvir música na internet realiza um tipo de mediação que nos
interessa examinar mais atentamente. Ao selecionar o que será tocado na seqüência da
primeira escolha feita pelo usuário, o portal tenta antecipar um desejo do internauta, partindo
da idéia de que este pretendia continuar ouvindo uma música que tivesse relação com a
primeira escolhida. Há em jogo um saber que antecipa um comportamento do internauta.
Trata-se de um tipo de software que Johnson (2001) chama de agente.
A presença de agentes que nos representam em diversas situações do cotidiano é algo
que já vivenciamos. Indivíduos que pretendem viajar ou comprar um seguro de vida têm a
opção de contar com profissionais que realizam, entre outros serviços, atividades burocráticas
para se conseguir viajar ou adquirir o seguro desejado. São eles o agente de viagens e o agente
de seguros.
Um agente pode ser mais que um simples intermediário. Ele é capaz de atuar como um
delegado pessoal; alguém que se torna responsável por nos representar diante de uma dada
situação. Entretanto, isto pode ter um preço. Ao mesmo tempo em que delegar
responsabilidade a um agente pode ser aliviador, ao introduzi-lo em nosso caminho estamos
dando lugar a um tipo de filtro. Autorizamos alguém a executar tarefas em nosso nome e a
tomar decisões em fazê-las, interpretando nossos desejos e vontades. Entretanto, existe a
132
possibilidade de um agente tomar decisões que não estão exatamente em linha com nossos
interesses. Isso nos remete a questionar o papel mediador dos agentes do cotidiano.
Steven Johnson (2001) aplica a idéia de agente ao ambiente cibernético. Ao contrário
do que é preconizado por certo tipo de determinismo tecnológico que vislumbra a
possibilidade de um ciberespaço totalmente sem intermediações, a presença de agentes é
notória. Este autor utiliza esta expressão para designar programas de computadores que
realizam as mais variadas funções mediadoras. Estes programas fazem coisas por nós no
ciberespaço. “[...] Podem muito bem assumir a forma de navegador da web, ou de uma caixa
de diálogo, ou de um documento de texto”. (Johnson, 2001, p. 130). Alguns agem apenas de
forma turística, vagando pela internet em busca de informações e voltando ao seu local
original apenas quando encontra novidades. Outros se alojam no disco rígido de nossos
computadores e vasculham por informações sobre nossos comportamentos on-line e off-line.
Certos agentes têm capacidade de dialogar com outros trocando informações sobre os
usuários que visitaram durante sua aventura pelo ciberespaço.
Existe uma longa discussão acerca de se este tipo de agente seria benéfico ou
maléfico. Este não é foco neste momento de nosso trabalho. O que nos interessa é a existência
de agentes no ciberespaço e o papel de mediador que realizam. Entusiastas destes
ciberagentes acreditam que seu nirvana será atingido quando eles conseguirem antecipar
nossos desejos, nossos comportamentos e nossas atitudes. Imaginemos um agente fazendo
compras por nós em um supermercado on-line e reservando passagens para uma viagem sem
que tenhamos dado estas ordens. Após cruzar dados referentes aos nossos comportamentos,
eles chegariam à conclusão de que estaria na hora de abastecer nossas geladeiras e armários
com novos mantimentos. Ou que seja o momento para realizarmos uma viagem a um local
que ainda não conhecemos.
Steve Johnson mostra-se preocupado com este tipo de autonomia. Voltando sua
análise para a construção mercadológica do gosto, o autor argumenta que,
os agentes podem vir a ter um impacto profundo no modo como os gostos populares
se formam, tal como os grandes campeões de bilheteria mudaram nossa relação com o
cinema e o romance seriado mudou nosso hábitos de leitura. (JOHNSON, 2001, p.
130).
A preocupação deste estudioso se centra no fato de que a atuação destes agentes não
estará sob nosso controle, nem necessariamente em defesa de nossos interesses. Como
133
mediadores de práticas no ciberespaço, eles teriam condições de nos direcionar a atitudes e
comportamentos que atenderiam também aos interesses (nem sempre explícitos) de terceiros.
De volta ao nosso estudo, como exemplo, analisemos o resultado da utilização do site
LastFM
62
através da escolha da opção da cantora Avril Lavigne como ponto de partida da
escuta. Para isto, após acessarmos a página inicial do site, inserimos o nome de Avril Lavigne
na caixa de diálogos localizada na parte superior e à esquerda desta página.
Após termos escrito o nome da celebridade, clicamos na opção “tocar”. Passados
vários segundos, à direita de onde inserimos a informação, são mostradas duas mensagens
simultâneas: “Conectando à rádio” e “Procurando artistas parecidos com avril lavigne”.
(http://www.lastfm.com.br)
63
Estes dois avisos do que está sendo realizado pelo site nos conduzem a entender que
um ou mais agentes de software entrou em ação. Os resultados destas duas ações explicam
claramente o que foi realizado nestes segundos que as precederam.
Quando finalizada a conexão à rádio teve como conseqüência a execução de uma
música de Avril Lavigne, conforme solicitamos. Logo abaixo, a procura por “artistas
parecidos com avril lavigne” resulta em uma lista de nomes iniciada com a seguinte frase: “Se
você gosta de Avril Lavigne, talvez goste também de:” E a lista foi apresentada na seguinte
seqüência: Kelly Clarkson, Hilary Duff, Ashlee Simpson, Pink, Michelle Branch e Simple
Pan.
Portanto, no entendimento do LastFM, os admiradores e fãs de Avril Lavigne têm
grande chance de gostar das músicas destas outras celebridades. Baseado em cálculos
estatísticos, um agente do site conclui que existem proximidades entre os perfis destes artistas.
Após clicarmos na opção “(ver mais ...)” que vem logo em seguida desta lista acessamos um
ranking
64
de afinidades entre uma série de artistas e Avril Lavigne. Encabeçando a lista,
exibindo 100% de compatibilidade com a cantora, está Kelly Clarkson. Em segundo, Hillary
Duff com 81%, seguida de Ashlee Simpson com 80%, Pink com 72%, Michelle Branche com
69%, Simple Pan com 69% e mais 94 nomes de artistas. Bif Naked é o último da lista, com
9% de compatibilidade com Avril Lavigne.
62
Escolhemos este site de música para analisar ao invés do Pandora.com por duas diferentes razões: 1) este site
norte-americano não está aberto para a utilização de brasileiros segundo um aviso em sua home page. 2) A
maioria dos usuários do site LastFM.com.bro brasileiros. E como as fãs e antifãs de Avril Lavigne que
estamos analisando são brasileiras, optamos pela pesquisa neste website.
63
Acesso em: 24 de janeiro de 2008.
64
Este ranking é chamado pelo site de “artistas parecidos”. O site também traz, ao lado da lista, as fotos das
celebridades listadas.
134
Podemos supor que estes números indicam a probabilidade destes artistas serem
tocados na rádio após solicitarmos as músicas de Avril Lavigne para iniciar uma nova
seqüência. Assim, Kelly Clarkson deve tocar mais vezes quando escolhemos Avril Lavigne
que Bif Naked. Fizemos duas tentativas diferentes com o nome de Avril Lavigne como
iniciante para cada seqüência musical. Na primeira vez, a música que iniciou a seqüência foi
Girlfriend, faixa do álbum The best damn thing (LAVIGNE, 2007). Em seguida foram
tocadas canções de artistas pertencentes à lista de afinidades. É o caso da música Hole, faixa
do álbum My December de Kelly Clarkson (CLARKSON, 2007), que foi tocada após seis
outras, incluindo a de Avril. Em nossa segunda tentativa, obtivemos como resultado uma
seqüência de artistas diferentes destas duas cantoras. Não relatamos esta seqüência porque
focaremos esta nossa análise no fato das duas celebridades serem representadas pela mesma
gravadora: a Sony BMG. Dos seis artistas mostrados no topo da lista de afinidades, duas são
da mesma gravadora que Avril Lavigne: Kelly Clarkson e Pink, primeiro e quarto lugares na
lista do site. Esse fato nos parece indicar que possam estar presentes estratégias
mercadológicas que perfazem nosso objeto de estudo.
É de nosso interesse nesta pesquisa encontrar fios que ligam um espaço cibernético a
outro e que possam nos dar indícios de ações estratégicas que colaborem com a construção de
Avril Lavigne como celebridade. Evidentemente, não acreditamos ser possível afirmarmos
que as escolhas baseadas em afinidades probabilísticas do LastFM estejam a serviço direto de
uma gravadora. Entretanto, sabemos que três artistas da mesma gravadora serem percebidas
como afins pode se configurar como resultado de uma estratégia comercial. Sabemos que as
percepções e gostos dos fãs podem ser alimentados e até sofrerem pequenos desvios
resultantes de mensagens interessadas que são veiculadas pela mídia. Como dissemos, estas
mensagens trazem, constantemente, as celebridades como produtos e suas respectivas
imagens são construídas baseadas em criteriosos planejamentos estratégicos.
3.3 ESTRATÉGIAS EM TERRITÓRIO OFICIAL DE AVRIL LAVIGNE NO
CIBERESPAÇO
O endereço http://www.avrillavigne.com nos leva ao website oficial da cantora. Sua
página de entrada (mostrada na Figura 29), traz uma fotografia de Avril Lavigne ao lado de
sua logomarca composta por um coração cor-de-rosa e dois ossos dispostos em forma de “X”.
Nesta versão, a logomarca não é composta também pela caveira que vimos no interior da
135
página inicial do fã-clube brasileiro Alavigne.com.br, mostrada na Figura 9. O coração é
vazado e não utiliza o cor-de-rosa estampado com preto conforme este outro uso gráfico desta
marca. Nosso acesso a este site
65
flagra uma falha na estratégia de comunicação que envolve a
cantora no Alavigne.com.br. Este espaço foi analisado por nós na seção 1.5 desta dissertação.
A versão da logomarca que vemos na Figura 29 é a mesma utilizada no último álbum de
Avril: The best damn thing (LAVIGNE, 2007), conforme a Figura 30 que mostra a ilustração
de sua capa. Isto comprova que houve uma atualização visual da logomarca, cuja versão mais
recente é a mostrada na Figura 29.
65
Acesso em: 22 de janeiro de 2008.
136
Figura 29 – Página de entrada do site oficial de Avril Lavigne.
Fonte: http://www.avrillavigne.com - gravado em: 23 de janeiro de 2008.
137
Figura 30 – Capa do último álbum de Avril Lavigne: The best damn thing.
Fonte: http://www.cdnow.com - gravado em: 22 de janeiro de 2008.
Esta incoerência entre as logomarcas da Figura 9 e da Figura 29 pode ser entendida
como uma falha estratégica na comercialização da marca Avril Lavigne no Brasil. A Figura
7
66
traz um produto que é vendido pela loja virtual do fã-clube Alavigne.com.br com a
logomarca antiga. Este tipo de falha pode ter diferentes razões técnicas, como sobra de
estoque do produto, demora na chegada ao Brasil de novos produtos importados, entre outras
razões operacionais que podemos supor. Entretanto, o que nos inquieta é a falha na integração
da comunicação da cantora. Sabemos que uma empresa como a Coca-cola, que já utilizamos
como exemplo neste texto, dificilmente deixaria isto acontecer. Talvez a gravidade estratégica
66
Acesso em: 22 de janeiro de 2008.
138
desta falha seja atenuada por ser uma loja dentro de um fã-clube, espaço no qual a precisão na
publicidade não seja prioritária.
Esta questão nos leva um pouco além nesta análise. Relacionamos a falha estratégica
com a ambivalência que percebemos na identidade de Avril Lavigne. Como vimos, a imagem
da cantora é construída sobre um tênue trânsito entre rebeldia e bom comportamento. Estas
duas características que convivem na identidade da estrela nos parecem agradar e se adequar
às suas fãs. Entretanto, por outro lado, percebemos uma cobrança dos antifãs por uma maior
coerência nessa sua imagem. Estes a criticam por sua ambivalência identitária dar-lhe uma
idéia de superficialidade e “jogo de cena”. Além disso, ultimamente Avril Lavigne tem optado
por vestir roupas em um estilo diferente do utilizado em seu início de carreira. Esta mudança
visual (que pode ser conferida no Apêndice C que contêm fotos que exemplificam os dois
momentos desta popstar) por mais gradativa e planejada que tenha sido, provoca comentários
em direção a uma perda identitária de Avril. Não há uma crítica apenas em relação à mudança
de vestuário. Percebemos uma potencialização na cobrança pela coerência na identidade da
popstar, como vemos na enquete de uma comunidade do Orkut enfocada a seguir.
A comunidade de antifãs Sou compulsivo(a) anti Avril!!
67
traz a seguinte proposta de
enquete em sua primeira página:
oq q vc achou? mais olha q ridiculo esta foto a avril lavigne q se dissia tao gotica tao
rokeira oa lado de paris hilton uma das maiores patty olha no visual dela q ridicula de
rosa me poupe!!. (http://www.orkut.com)
68
Figura 31 – Imagem disponibilizada para a enquete.
Fonte: http://www.orkut.com - gravado em: 22 de janeiro de 2008.
As respostas a esta enquete seriam: “eu nao acho” ou “sim eu acho isso ridiculo!”. Seu
resultado no momento de nossa consulta mostrava a liderança da opção “eu nao acho” com
60% dos votos. Este saldo nos leva a inferir que fãs de Avril Lavigne podem ter invadido este
espaço de contemplação invertida dos antifãs para mudar uma possibilidade de resultado
desfavorável à sua estrela. Mas, estes números não são tão relevantes para nosso argumento
como o conteúdo do texto da mesma enquete. Neste a antifã que propõe a enquete traça, a
partir de foto claramente coletada de um veículo de mídia que traz como pauta as
67
Comunidade Sou compulsivo(a) anti Avril!! com 1.443 participantes. Acesso em: 22 de janeiro de 2008.
68
Acesso em: 22 de janeiro de 2008
139
celebridades, um paralelo entre Avril Lavigne e Paris Hilton. Esta última é uma celebridade
com constante presença nas colunas sociais da mídia norte-americana e mundial. Trata-se de
uma das herdeiras da rede de hotéis Hilton que tem uma imagem polêmica pela constante
divulgação através da mídia de fotografias onde aparece nua. Também é citada pelos veículos
de comunicação como uma “socialite patricinha”, que são duas expressões do senso comum.
Ser “socialite” significa ser uma pessoa de destaque nas colunas sociais veiculadas pela
mídia. “Patricinha” é uma que designa pessoas do gênero feminino que se vestem com esmero
e apresentam um comportamento consumista.
A antifã mostra-se indignada com a incoerência de Avril, citada por ela como alguém
que “se dissia gotica”
69
. Esta percepção de uma ambigüidade identitária em Avril Lavigne nos
parece reforçada pela falha na integração das logomarcas que flagramos na comparação do
norte-americano Avrillavigne.com com o brasileiro Alavigne.com.br. Vemos que as
estratégias que constroem esta celebridade podem também ser ocupadas por desvios que
ratificam argumentos a respeito da ambiguidade imagética da cantora. Estes podem alimentar
as teses a respeito de uma suposta falta de identidade de Avril Lavigne que são propostas
pelos antifãs.
Seguindo com nossa apreciação ao Avrillavigne.com, vemos na Figura 29 que logo
abaixo da fotografia de Avril Lavigne localizam-se links que dão acesso a diferentes áreas
deste espaço.
Este território oficial da nossa estrela disponibiliza aos seus visitantes, através do link
News”, notícias que envolvem seus futuros shows assim como suas aparições,
principalmente on-line. Constatamos que estas notícias, apresentadas em poucas linhas e de
forma resumida, servem também de sugestão temática para uma discussão que pode ser
realizada através de postagens com comentários dos visitantes. Postagens são controladas pelo
site através da obrigatoriedade do poster
70
estar cadastrado. Isto acontece na maioria das
notícias. Assim, quando for necessário, um visitante pode postar quantos comentários
pretender após realizar seu login
71
no Avrillavigne.com.
Realizamos nosso cadastro para termos acesso a estas postagens exclusivas aos
usuários que acessam o fórum através de seu login. Nosso objetivo era enriquecer nossa
análise em torno das elaborações que fãs e antifãs podem fazer a partir de diferentes notícias
69
Rótulo dado a partir dos anos 1980 às pessoas que se vestem totalmente com roupas escuras, principalmente o
preto, e se agrupam em tribos com determinados comportamentos em comum, bem distantes do comportamento
esperado de uma “socialite patricinha”.
70
Poster é o nome dado ao indivíduo que envia mensagens para os fóruns on-line.
71
Login é a identificação de um usuário através de um nome e de uma senha. Este processo permite o acesso
identificado a um software, a um site ou a outros ambientes do ciberespaço.
140
sobre Avril Lavigne. Entretanto, surpreendeu-nos o fato de nosso registro no site ter sido
recusado. Após analisarmos o cadastro para registro, verificamos que uma das informações
solicitadas é a data de aniversário do usuário, que inclui seu ano de nascimento. Além disso,
também existe a opção para o gênero: masculino ou feminino. Como hipótese para explicar o
acontecido, acreditamos que um homem em idade adulta pode ter sido recusado
automaticamente pelo site. Assim, supomos a existência de um filtro para indivíduos com
estas características que poderiam sinalizar possíveis pedófilos, que mostra uma importante
preocupação do portal.
Conforme já citamos anteriormente, preocupamo-nos neste trabalho com a veracidade
de todas as informações pessoais e profissionais do pesquisador que precisam ser utilizadas
para registro em quaisquer espaços da internet durante esta pesquisa. Não foi diferente com o
website em questão. Nossa idade e nosso gênero foram declarados tal e qual. Então, para
verificarmos nossa hipótese em relação à recusa, solicitamos o apoio a uma jovem
universitária paulistana. Esta realizou seu cadastro e este foi aceito normalmente. Seu login
foi liberado para uso imediatamente após a confirmação do cadastro feita pela estudante
através da resposta a um e-mail enviado pelo site.
Como nosso registro não foi permitido, restringimos nosso acesso ao que é
disponibilizado a todos visitantes deste website oficial. É o caso de várias notícias do link
News” que apresentam postagens públicas. Na ocasião do acesso, contabilizamos cento e
sessenta diferentes notícias, quinze com postagens abertas ao público visitante. Entre os
assuntos apresentados vale destacar a venda antecipada de ingressos para os diversos shows
da cantora no segundo semestre do ano, a inclusão de uma comunidade oficial no site de
relacionamentos Facebook
72
(http://www.facebook.com), enquetes para a escolha do melhor
design para produtos como camisetas que estampam a imagem da cantora e a premiação que
Avril Lavigne recebeu na MTV da Rússia. Havia catorze comentários públicos relacionados a
este último assunto que podemos agrupar em dois tipos de mensagens: 1) Parabenizações de
usuários à cantora pelo prêmio e 2) Declarações de seus afetos positivos. Várias traziam os
dois tipos combinados. É o caso da frase postada por uma internauta que se identificou por
becky: “hi avril Congratulataions avril .love becky”
73
. Estes comentários não ficaram sem
resposta da cantora. Logo em seguida, foi postado um agradecimento do próprio website em
nome de Avril Lavigne: “many thanks!”
74
. Como esta postagem foi realizada através do site
72
Acesso em: 24 de janeiro de 2008.
73
Olá Avril. Parabéns Avril. Com amor. Becky (Tradução livre nossa).
74
Muito obrigado (Tradução livre nossa).
141
oficial da cantora, ela é percebida como um agradecimento pessoal aos fãs. Este tipo de ação
que simula um contato direto entre a cantora e seus admiradores pode ser entendido como um
caso de quase-interação mediada. Evidentemente, não se trata de uma interação direta com
Avril, mas a sensação é de proximidade. Os usuários, que postaram as congratulações ou
declarações do que sentem, receberam uma resposta oficial da estrela, mesmo que não tenha
sido digitada por ela pessoalmente. Reforçamos, com esta constatação, nossa idéia de que
quanto mais acessível esta estrela se mostra, maior seu potencial em fidelizar seus fãs.
Um aspecto interessante é que, entre as postagens acessíveis a todos no momento de
nosso acesso, não encontramos nenhuma com um conteúdo compatível com o que pensam os
antifãs. Percebemos que neste espaço oficial as postagens, mesmo as públicas, são filtradas.
Fato que acreditamos ser esperado de um espaço oficial como este.
Além do link para as notícias, o menu de opções abaixo da fotografia de Avril Lavigne
traz a possibilidade do acesso a diversos conteúdos como a agenda de seus shows e a lista de
seus álbuns seguida das respectivas músicas e clipes que podem ser adquiridos em formato
MP3. Parece-nos que este site procura aproveitar comercialmente o momento de admiração de
fãs. Os álbuns de Avril Lavigne podem também ser adquiridos através de links que
direcionam o usuário para outros sites que os comercializam.
De forma complementar às possibilidades pertencentes ao menu abaixo da fotografia
de Avril na home page de seu site oficial, encontramos as seguintes opções: “mobile”,
movies”, “Fanclub”, “About”, “Forum” e “Store”.
About” conduz o internauta a uma página com o histórico da carreira da cantora.
Já, a opção “mobile” disponibiliza uma lista dos nomes das músicas e respectivos
códigos para que os internautas possam adquirir para seus celulares os toques musicais com as
canções da cantora. Estes códigos são para aparelhos celulares que funcionam em território
norte-americano, portanto não é possível se comprar estes toques através destes códigos no
Brasil. Em nosso país as operadoras de celular Claro (http://www.claroideias.com.br), Vivo
(http://www.tonsmusicais.com.br/portalvivo) e Tim (http://www.timmusicstore.com.br)
disponibilizam tons com diversas músicas de Avril Lavigne para seus clientes que possuam
aparelhos compatíveis com esta tecnologia.
Como mercadoria, as músicas e a imagem de Avril Lavigne são comercializadas em
formato de marcas estendidas. Estas são marcas que, inicialmente, foram construídas em torno
de um único produto. Assim, por exemplo, formou-se a marca Ferrari. Sobrenome de uma
família italiana de fabricantes de veículos, esta marca tornou-se sinônimo de carros
sofisticados, velozes e esteticamente destacáveis. As corridas de Fórmula 1, nas quais a
142
Ferrari é representada por uma equipe de mecânicos, pilotos e dirigentes, apóiam, atualmente,
estas associações desta marca. Entretanto, sabemos que não são apenas carros que são
vendidos com a logomarca que inclui um cavalo com o nome Ferrari logo abaixo. São
inúmeros os exemplos de produtos desta marca que encontramos para comprar no Brasil e em
todo o mundo: desde óculos de sol até desodorantes. Estes produtos, diferentes do original
que trouxe a imagem de destaque da Ferrari, são extensões que buscam amplificar as receitas
financeiras arrecadadas pelos proprietários da Ferrari.
Percebemos que em torno de celebridades musicais também orbitam estratégias
próximas a esta apresentada pela Ferrari. Os tons de aparelhos celulares com músicas de Avril
Lavigne servem como produtos que se aproveitam da reputação da cantora. Sua música e sua
imagem são seus produtos originais, e os tons de celulares, assim como as camisetas e os
fichários que trazem ilustrações da cantora, são produtos de sua estratégia de extensão de
marca. Lucrar ao máximo, de forma direta ou indireta, aproveitando todas as oportunidades
comerciais parece ser um objetivo da indústria cultural contemporânea. Lucrar de forma direta
quando se vende produtos com o tema Avril Lavigne e lucrar indiretamente quando estas
estratégias comerciais provocam a circulação da estrela como conteúdo de fóruns, de
comunidades do Orkut etc. Fãs e mesmo antifãs ao utilizarem Avril Lavigne como tema
alimentam sua notoriedade e estimulam sua audiência.
Este raciocínio de estender a marca Avril Lavigne para amplificar lucros pode também
ser percebido claramente através do linkStore” no Avrillavigne.com. O site oficial da
cantora, além de vender seus álbuns em CD e em formato digital, também comercializa
camisetas, calendários, pôsteres, adesivos, buttons, mochilas entre outros produtos com Avril
como tema. Em formato de marca estendida, a indústria em torno de Avril lucra no dia-a-dia
dos fãs da cantora enquanto constrói e fixa sua imagem.
Os linksForum” e “Fanclub” não foram acessados por nós, pois é exigido o login
para se acessar seu conteúdo.
O website oficial de Avril ainda traz, logo abaixo deste menu que destacamos, um
outro. Este é composto por dez opções de idiomas. Japoneses, chineses, árabes, coreanos,
brasileiros e também angolanos que não dominam o inglês não deixarão de contemplar a
cantora Avril Lavigne neste espaço. Sabemos que o inglês é o idioma presente em larga escala
na internet. Sem maiores preocupações com a gramática, jovens de todo o mundo têm se
comunicado de forma compreensível e rápida através do inglês no ciberespaço. Na internet, os
portais, os weblogs e as redes sociais mais visitados são apresentados em inglês. Isto não tem
sido empecilho para seu sucesso e para sua ocupação. A preocupação em disponibilizar os
143
textos do espaço oficial de admiração àquela cantora em onze diferentes idiomas nos parece
uma técnica que pode ser comparada à utilizada por companhias aéreas quando, ao dar
instruções instantes antes da decolagem, utilizam dois ou até três idiomas diferentes. Neste
caso, independentemente das normas internacionais de aviação determinarem que se use o
inglês caso o vôo seja internacional, não é incomum escutarmos também os avisos em
espanhol, francês a alemão, mesmo que a companhia aérea não seja originária de países que
falam oficialmente uma destas línguas. Em nosso ponto de vista, estamos diante, da lógica do
atendimento ao cliente. Segundo esta lógica, serviços são prestados aos consumidores em
troca de prestígio e de lucro. Ao traduzir o site oficial para dez idiomas diferentes, os
responsáveis pelo espaço expandem suas possibilidades lucrativas e passam a poder atender
mais clientes. Esta transformação de fãs em clientes parece ser uma das forças motoras da
indústria que constrói e mantém midiaticamente a estrela Avril Lavigne.
3.4 OUTRO SITE: MESMAS ESTRATÉGIAS
Os direitos autorais de Avril Lavigne são representados no Brasil pela gravadora Sony
BMG. Segundo seu website
75
(http://www.sonybmg.com.br), não há um site oficial dedicado
exclusivamente à Avril Lavigne no Brasil. Há um link direto para o Avrillavigne.com
(analisado na seção 4.4) que, como dissemos, apresenta seu conteúdo também em português.
Entretanto, o Avrilmidia.com traz em sua home page a seguinte afirmação:
“o melhor fan site da cantora do Brasil! Eleito pela revista Capricho”.
A veracidade desta afirmação é irrelevante para nossa análise. O que é relevante é a
estratégia presente neste espaço. Nossa hipótese é de que há uma ligação entre este website
que afirma ser um site de fãs e a gravadora Sony BMG. Logo ao lado da afirmação que cita a
revista Capricho, há um link para o website da gravadora. Isso nos leva a supor que há um
caráter oficioso neste “fan site”, articulado a partir de fontes oficiais da cantora. Vemos na
home page, que em parte é mostrada na Figura 32, uma menção, logo abaixo da frase
“VERSÃO TEMPORÁRIA”
76
, ao domínio
77
www.avrillavigne.com.br. Este parece fazer
75
Acesso em: 24 de janeiro de 2008.
76
Exatamente da forma como está citado no site http://www.avrilmidia.com/pt. Acesso em: 24 de janeiro de
2008.
144
parte do conjunto que pertence ao Avril Revolution
78
no Brasil. Lembramos que
http://www.avrillavigne.com é o domínio do site oficial norte-americano que discutimos na
seção (4.4). Portanto, espera-se que os dois sites que apresentam apenas a diferença do .br no
final, pertençam ao mesmo proprietário.
[Ver Figura 32]
Segundo o Registro.br
79
(https://registro.br/cgi-bin/whois/#lresp), o domínio
avrillavigne.com.br pertence a uma empresa do estado do Paraná que presta serviços de
hospedagens de websites para corporações brasileiras. Esta informação não é suficiente para
afirmarmos quem realmente é o proprietário deste domínio. Entretanto, podemos analisar a
similaridade entre as estratégias comerciais do website oficial norte-americano e deste portal
denominado Avril Revolution, um site que mais parece ser uma página oficial para fãs. Há
uma diferença entre ser um espaço produzido por fãs e um espaço produzido para os fãs. O
território do Avrillavigne.com traz com ele a possibilidade de se tornar espaço para clientes,
não só para fãs. Em nosso ponto de vista, apesar de se dizer um “fan site”,
Avrillavigne.com.br também segue a lógica de um espaço para clientes destinado à venda de
mercadorias temáticas tendo Avril Lavigne como protagonista.
Da mesma forma que o oficial, este website brasileiro traz um menu com opções que
envolvem produtos para celular, fórum, fotos e vídeos da cantora e uma lista de “aliados” que
são outros sites que divulgam o Avril Revolution.
Dois produtos para celular são comercializados aqui:
Mídia wap: trata-se da divulgação de um serviço que pode ser acessado via aparelhos
celulares digitais de qualquer operadora brasileira. O Avrilmidiawap, nome do portal para
celulares, traz frases, curiosidades, papéis de parede e tons musicais para diversos aparelhos.
Sabemos que o acesso via celular a um serviço deste tipo é pago e, portanto, trata-se da
publicidade de um produto envolvendo a cantora.
Toques para celular: esta opção é mostrada no final da página de entrada do Avril
Revolution. Trata-se de um link para uma loja virtual de tons para celulares.
77
Segundo a Fapesp, órgão regulador da internet no Brasil, domínio “é um nome que serve para localizar e
identificar conjuntos de computadores na Internet. O nome de domínio foi concebido com o objetivo de facilitar
a memorização dos endereços de computadores na Internet. Sem ele, teríamos que memorizar uma seqüência
grande de números. Acesso em: 24 de janeiro de 2008.
78
Tanto Avril Revolution como Avrilmidia são nomes citados como os referentes a este portal de Avril Lavigne.
79
Este site fornece informações a respeito dos proprietários de domínios no Brasil. Acesso em: 24 de janeiro de
2008.
145
Apesar deste espaço trazer opções para contemplação grupal da celebridade canadense
como acessos a fóruns, a outras comunidades que trocam informações sobre Avril, a fotos e a
vídeos que se pode colecionar, este também é um market place, um território comercial.
Vende-se produtos como extensão da marca Avril Lavigne, uma estratégia comercial que
detectamos no website oficial.
Na Figura 32, ao centro e abaixo do citado menu, vemos a divulgação de duas outras
áreas do portal Avril Revolution que merecem nossa atenção: Avrilmidia Hope e AMC (Avril
Mídia Center).
O AMC dá acesso a uma página web com brindes digitais
80
que podem ser baixados e
instalados no computador do usuário. Estes brindes temáticos são materiais publicitários que
divulgam a popstar Avril Lavigne. Calendários que promovem lojas, ímãs de geladeiras com
o número do telefone de restaurantes ou pizzarias são exemplos de brindes que empresas
distribuem gratuitamente ao público com a aparente intenção de premiá-lo, mas também com
o objetivo de divulgar suas marcas em função de seus interesses comerciais. O mesmo
acontece com Avril Lavigne no AMC. Entre os brindes distribuídos digitalmente destacamos,
além de vídeos, músicas e papéis de parede para desktop
81
, brindes digitais menos comuns na
internet como blends e fontes. Os primeiros são imagens desenvolvidas em softwares gráficos
que combinam fotografias da cantora com recursos visuais típicos do ambiente digital. Tem
sido comum encontrarmos estas imagens nos sites de fãs-clubes. As fontes distribuídas são os
tipos de letras utilizadas nos títulos e textos das capas dos discos de Avril Lavigne.
Acreditamos que, com este recurso, além de haver a aparente satisfação do fã em escrever de
forma identificável como parte do grupo dos admiradores da estrela, os diversos álbuns serão
lembrados e identificados quando estas fontes aparecerem nos diversos textos que usuários da
internet podem utilizar em suas escritas no ciberespaço.
[Ver Figura 33]
O Avrilmidia Hope, mostrado na Figura 33, é apresentado a seus visitantes como um
projeto beneficente. Segundo sua própria descrição,
80
Chamamos brindes digitais aqueles que são desenvolvidos por software de computadores para serem usados
em computadores.
81
Área de fundo da tela do computador onde ficam os ícones que dão acesso aos recursos do computador.
Desktop, neste caso, também é conhecido como área de trabalho do computador.
146
[...]o Mídia Hope é um projeto beneficente que visa conscientizar os fãs de estrelas da
música sobre os problemas enfrentados pelo mundo. Enquanto alguns sites lucram em
cima do nome de ‘Avril Lavigne’ nós do AVRILREVOLUTION fazemos o inverso.
A partir do nome ‘Avril Lavigne’ procuramos encontrar maneiras de ajudar a
população através de doações dos fãs.
82
(http://www.avrilmidia.com/hope/)
Vemos que as estratégias em torno de Avril Lavigne agregam pensamentos táticos
utilizados na construção de marcas de produtos e serviços. Bancos, redes de supermercados,
indústrias de cosméticos, montadoras de veículos entre outros têm buscado associar suas
marcas às chamadas causas sociais. Iniciativas publicitárias diversas têm-se apropriado de
modelos de pensamentos que se encontram em ebulição em nosso meio para fortalecer a
vinculação da marca às bandeiras do “consumo consciente” e da “responsabilidade social”.
Esta vinculação tem servido de ponte de acesso de marcas a um lugar de destaque que pode
diferenciá-las em relação às concorrentes na percepção do consumidor.
Sem desconsiderar a possibilidade de que certas ações empresariais podem funcionar
como ruptura na lógica de interesses convencionais, entendemos que o Avrilmidia Hope é
uma iniciativa que apresenta características que nos levam a acreditar que está presente neste
caso um tipo de oportunismo publicitário.
Além dos nomes dos colaboradores e apoiadores da iniciativa, a página principal do
Avrilmidia Hope divulga também a comunidade chamada de oficial do Mídia Hope no site de
relacionamentos Orkut. Vemos, neste caso, que existe claramente uma busca de integração
entre os espaços com publicidades assinadas e aqueles percebidos pelos internautas como
autênticos e livres de mensagens publicitárias, como é o caso do Orkut.
82
Acesso em: 25 de janeiro de 2008.
147
Figura 32 – Página de entrada do site AvrilRevolution.
Fonte: http://www.avrilmidia.com/pt/ - gravado em: 23 de janeiro de 2008.
148
Figura 33 – Página de entrada do site Avrilmidia Hope.
Fonte: http://www.avrilmidia.com/hope/ - gravado em: 25 de janeiro de 2008.
149
3.5 ESTRATÉGAIS MERCADOLÓGICAS NO ORKUT
A comunidade Mídia Hope
83
no Orkut tem cento e oito participantes. Analisando sua
página inicial, percebemos que sua “dona” é uma fã de Avril Lavigne que utiliza os
marcadores identitários de forma típica de uma orkutiana adolescente. Ela participa de
comunidades de fãs de Avril, além de outras celebridades. Parece que esta internauta criou
esta comunidade como iniciativa de apoio ao “projeto beneficente” da Avrilmidia Hope.
Confirmado este fato ou não, o que vemos representada nesta comunidade é a existência de
um diálogo entre as estratégias de construção da cantora utilizadas nos sites oficias (e
oficiosos) e parte do que é circulado como produto da rede social do Orkut. Parece-nos que as
estratégias em volta da cantora trazem também como resultado sugestões de pauta de assuntos
a serem abordados pelos fãs. É o caso desta comunidade que, sendo ou não criada por
iniciativa pessoal de uma fã, faz circular no ambiente do Orkut mensagens semeadas na mídia
pela indústria cultural.
Outro exemplo é a divulgação na página inicial da comunidade Avril Lavigne Brasil
84
do endereço http://www.avrillavigne.com.br. Sabemos que este domínio leva ao acesso do
Avril Revolution que analisamos como espaço com interesses comerciais. Nesta relevante
comunidade de fãs da popstar, em meio a curiosos assuntos propostos em seu fórum como
uma suposta gravidez que ela estaria escondendo e qual seu melhor corte de cabelo,
encontramos temas diretamente ligados aos conteúdos veiculados pelos sites que analisamos.
As datas dos shows da cantora em vários países do mundo, inclusive no Brasil é um dos temas
discutidos. Há inclusive a citação do site oficial Avrillavigne.com como fonte em várias
postagens. Outro exemplo é a polêmica gerada em torno do melhor espaço para se realizar
downloads de fotos, músicas e papéis de parede para o computador que trazem a cantora
como tema. Mais uma vez, os territórios oficiais são citados e recomendados. É interessante
percebermos que as áreas utilizadas de forma estratégica para construir Avril servem de fonte
de informação para fãs e antifãs produzirem os conteúdos que circulam entre os marcadores
identitários do Orkut.
Percebemos uma mutação na imagem veiculada de Avril Lavigne. Esta tem, aos
poucos, compatibilizado seus contornos e modos de ser à sua idade. A cantora com 22 anos já
não apresenta seu jeito de adolescente skatista e suas músicas começam a tratar de outras
temáticas, mais compatíveis com jovens adultas que têm outras formas de ser e de estar no
83
Acesso em: 25 de janeiro de 2008.
84
Comunidade com 112.234 participantes. Acesso em: 25 de janeiro de 2008.
150
mundo. Desta mesma forma, suas fãs, ora adolescentes, também crescem. Acreditamos que
estamos diante de uma tentativa estratégica de manter uma sintonia entre Avril Lavigne e os
desejos e projeções de suas fãs. Quando adolescentes, encontravam na estrela uma
cumplicidade que as levavam a uma forte identificação com a cantora. O discurso das ex-fãs é
que a popstar e suas letras mostravam aliviar suas angústias em um momento que parecia que
ninguém ajudaria. Algo semelhante talvez esteja sendo buscado pela estratégia atual em torno
de Avril. Esta popstar está crescendo e não faz mais parte do universo tween. Portanto,
precisa buscar novo público-alvo. As tweens seriam “servidas” por novas celebridades com as
quais poderiam se identificar, como foi com Avril quando era mais nova e solteira, e fazia um
estilo de menina punk skatista roqueira, mas comportada e sensível. Hoje precisa buscar outro
público, daí a mudança estratégica em sua imagem oficial.
Avril Lavigne mostra-se amadurecendo ao mesmo tempo em que amadurecem suas
fãs. No Apêndice B, vemos algumas fotos que ilustram o que estamos tratando. A Figura 34
deste apêndice mostra a cantora em sua fase de rebelde com roupas e atitudes reveladoras de
uma imagem que fazia sentido na sua etapa inicial. Já a Figura 35 traz Avril em seu estágio
atual. Roupas, atitudes e, principalmente, uma produção para as fotos bem diferentes. Trata-se
de um outro momento na carreira de Avril Lavigne. Uma nova fase que se inicia na trajetória
dessa celebridade.
151
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Partimos de nossas inquietações acerca do público jovem para iniciarmos esta
pesquisa. Nossas atuações profissional e acadêmica direcionaram-se, nos últimos tempos, para
questões que envolvem o consumo juvenil no ciberespaço. A partir destas bases, delimitamos
nosso objeto de estudo desta dissertação de forma a contemplar estas questões. Consideramos
para este recorte, não só o locus de pesquisa e o público que seria envolvido, mas também a
existência de um referencial teórico que nos alicerçasse em nossos caminhos analíticos e
reflexivos. Assim, inserimos nossa pesquisa no campo da comunicação, o que possibilitou o
olhar que pretendíamos sobre nosso objeto. Entendemos que trabalho marca o início de nossa
trajetória como pesquisador deste campo e percebemos que interessantes questões aqui
levantadas devem ser desdobradas em nossas futuras pesquisas, o que aponta para um projeto
de doutorado a ser desenvolvido em seguida.
Ao longo destas considerações finais, não pretendemos ser conclusivos. Remetemos a
pontos que despertaram nosso interesse e que podem ser temas de futuros novos estudos.
Devido à ambigüidade presente nas questões sociais que pesquisamos, temos convicção de
que qualquer caráter conclusivo em relação aos processos analisados pode nos levar a
fecharmos portas para diferentes e relevantes pontos de vista. Acreditamos que as reflexões
aqui apresentadas podem colaborar na construção de um conhecimento em torno do
entrelaçamento que sabemos existir entre a comunicação e as práticas de consumo.
Como sabemos, o objeto que focamos é dinâmico. O culto juvenil às celebridades
esteve (e continua) em ato quando de nosso estudo. Um corpus em movimento é desafio para
todo pesquisador e não foi diferente conosco. Tomamos a regularidade das observações no
ciberespaço como condição básica para que as análises em torno dos processos examinados
sejam consistentes. Os dinâmicos comportamentos dos jovens na internet e a rápida circulação
de conteúdos podem nos levar à armadilha de datar considerações e análises. Este fato poderia
nos ter conduzido a perder de vista nossos objetivos iniciais, que eram traçar um panorama
sobre as estratégias que constroem celebridades no ciberespaço. Uma observação pontual de
apenas um momento no locus de nossa pesquisa poderia nos trazer resultados que não
refletissem exatamente o que está envolvido nesse processo. Seria provável que sem nosso
constante olhar sobre o objeto, não seria possível esboçar a visão panorâmica do que
estudamos.
152
De forma bastante evidenciada, há a possibilidade do desaparecimento de Avril
Lavigne como celebridade nos próximos tempos. Esta cantora é uma estrela que,
eventualmente, se aproximará do final de seu ciclo de sucesso na mídia. Não temos condições
de inferir exatamente quando e de que forma isso irá ocorrer, mas acreditamos ser bastante
provável. A escolha desta cantora como parte de nosso recorte foi pautada por nossa
percepção de que ela estaria deixando o topo de sucesso entre as adolescentes e iniciando um
processo de mudança de imagem que supomos visar adequá-la a outro perfil de público.
Algo semelhante nos parece ocorrer com o Orkut. Diferentes sites de relacionamento
com novas propostas têm surgido e tendem a ocupar sua posição privilegiada na preferência
dos jovens. Entretanto, mesmo que isto venha a ocorrer em um futuro próximo, temos a
convicção de que nossas reflexões acerca da construção midiática de celebridades no
ciberespaço continuarão a fazer sentido, já que este estudo utiliza Avril Lavigne e o Orkut
apenas como exemplos deste processo mercadológico e social.
A efemeridade das estrelas contemporâneas é flagrante em nossos tempos. É um
sintoma da existência de um sistema de celebridades que funciona em ciclos, semelhante ao
sistema da moda estudado por Lipovetsky (1989). Este estudioso francês esboça um panorama
sobre a efemeridade do mundo da moda que dialoga de forma consistente com o que
chamamos de sistema de celebridades. Ambos encontram na mídia facilidade de circulação.
Velocidade de troca baseada em fórmulas já experimentadas parece ser a bandeira destas
lógicas. A moda traz uma constante renovação baseada em uma repetição de conteúdos e de
estruturas já existentes. A ordem é não trazer novidades complexas que façam com que os
consumidores precisem ter trabalho para compreendê-las. Conteúdos e estruturas já
conhecidos e com uma nova roupagem é característica deste sistema de moda que se
apresenta, segundo o autor, como uma aventura sem risco. O mundo da moda é composto por
produtos com características individuais, mas enquadrados em esquemas típicos. Vemos
acontecer enquadramento semelhante no sistema de celebridades. Sua efemeridade não está
nas estruturas e nos conteúdos das estrelas. Estes não são trocados constantemente, apesar de
alguns casos conseguirem sair do trilho e inovar. Mas a regra nos parece ser o oferecimento
de uma aventura com poucos riscos e com o mínimo de variação em uma ordem já conhecida.
A troca se dá nos nomes e nas figuras, e não propriamente nos estilos. Vimos que Avril
Lavigne pode vir a ser substituída por Kelly Clarkson, cujo estilo pouco parece ser diferente
desta em termos estruturais e de conteúdo. Esta nova estrela tem suas marcantes
individualidades, mas estas não dificultam sua compreensão como celebridade e assim pode
facilmente ocupar o lugar de Avril Lavigne na preferência de suas fãs. Neste ponto, a mídia se
153
torna importante aliada para que este processo aconteça de forma eficiente. Neste sistema, a
novidade é a lei.
Ainda em diálogo com os estudos sobre a moda de Lipovetsky, percebemos uma
curiosa intersecção entre estes dois sistemas (moda e celebridades) quando este autor se refere
a uma paixão de moda para ídolos do contemporâneo. Uma idolatria “que não se apega senão
a uma imagem, um êxtase da aparência” (LIPOVETSKY, 1989, p. 218). Através de nossos
estudos, as fãs e antifãs de Avril Lavigne mostraram-se afetados fortemente pela sua imagem,
pelo charme gerado por uma estética cuidadosamente editada. Queremos dizer com isso que é
característica deste tipo celebridade o foco na sua aparência. Talvez entre os jovens, maioria
entre o público-alvo de Avril, a estética tenha uma função primordial na afirmação de suas
personalidades. Estes vivem períodos de experimentações emocionais e mudanças corporais
que podem direcioná-los a uma supervalorização da aparência. Isto faz com que encontrem
eco destas suas questões nas celebridades que priorizam, entre os vários aspectos, a imagem
em sua veiculação como estrelas.
Kellner (2001) analisa o fenômeno Madonna sob diversas óticas, entre elas o quanto
este ícone da cultura pop foi e ainda é responsável por uma legião de imitadores de sua
imagem de moda e, principalmente, de sua identidade. Madonna tem passado por diversas
fases e, em cada uma delas, constrói uma nova possibilidade, sem desconstruir sua identidade
anterior. A estratégia de Madonna foi e parece continuar sendo manter uma imagem mutável,
por mais paradoxal que possa parecer. O que pode ser esperado de Madonna é uma constante
mutação identitária. Esta estratégia utilizada pela cantora é baseada em imagens efêmeras e
isto traz, segundo o autor, uma compreensão importante do caráter de construto social de sua
identidade. Este caráter mutável, mas não destruidor da identidade anterior já construída, dá à
Madonna a possibilidade de ter uma identidade sempre em mutação. Um nomadismo
identitário que parece ser sua marca.
Avril Lavigne também é um construto social que, como afirmamos, está em mutação.
Busca notadamente encontrar novas direções para sua imagem. Esta cantora é fonte de
controvérsias e afeta diferentes públicos de diversas formas. Alguns a imitam e outras a
rejeitam. Os discursos sobre Avril, principalmente em sua fase atual, são múltiplos, talvez
pelo público poder perceber esta sua mutação identitária. O que para Madonna parece ser
regra, para Avril ainda é experimento que pode estar nos indicando uma busca por um
caminho semelhante. Gostaríamos de registrar nossa hipótese de que a estrela juvenil Avril
Lavigne esteja traçando um esboço de carreira na direção de Madonna. Assim, como
desdobramento a partir desta nossa hipótese, um mais aprofundado diálogo com Douglas
154
Kellner (2001) que utilizou Madonna como parte de objeto em seus estudos culturais da
mídia, parece-nos convidativo. Este autor defende sua escolha por Madonna dizendo que a
cantora
[...] desperta o interesse dos estudos culturais porque sua obra, sua popularidade e sua
influência revelam importantes características da natureza e da função da moda e da
identidade no mundo contemporâneo. (KELLNER, 2001, p. 336)
Entendemos pelas palavras deste professor da Universidade da Califórnia que sua
principal motivação para estudar Madonna foi o fato esta ser um tipo de termômetro de certos
fenômenos sociais contemporâneos. As identidades híbridas que apontamos nesta dissertação
aparecem claramente em Madonna, que pode ser entendida como uma matriz estratégica para
Avril Lavigne, já que apresentou diferentes fases em sua longa carreira de sucesso. Na
primeira, como argumenta Kellner (2001, p. 341), “Madonna sancionava a rebeldia, o
inconformismo, a individualidade e a experimentação com um jeito de vestir e de viver”. Em
outras fases, a cantora deixou este seu lado rebelde para encarar outras faces, inclusive uma
que foi inspirada em Marylin Monroe. Supomos que a longa trajetória de sucesso de
Madonna, que em breve irá estrear como diretora de cinema, pode ser fonte de inspiração para
as estratégias de marketing em torno de Avril Lavigne.
A popstar canadense parece potencializar a parte “bem comportada” de sua ambígua
personalidade, enquanto que seu lado de “adolescente rebelde” começa a ser deixado em
segundo plano. Isso é notório em suas imagens oficiais (Vide Figura 35 do Apêndice B). Em
seus mais recentes videoclipes, vemos que as cores que tem utilizado em seus trajes e seu
novo corte de cabelo
85
nos parecem dar o tom desta mudança de imagem que não está
acontecendo apenas em sua forma de se vestir, mas também em suas músicas e em seu
comportamento nos palcos.
Diferentes razões explicam esta evidente alteração que constatamos. Entre elas, a
compatibilização da imagem da estrela à sua idade. Avril está com 22 anos e pode começar a
ser percebida por suas fãs como uma jovem adulta que, pouco a pouco, distancia-se de sua
realidade adolescente. Lembremos que um dos pontos fortes que levantamos junto às ex-fãs
da cantora é a cumplicidade que sentiam ao escutar suas músicas. Talvez a atual estratégia da
popstar Avril Lavigne esteja em busca de novos perfis de fãs, mais adequados à sua realidade,
assim como Madonna faz em sua carreira. Adapta-se ao seu momento e aos de seus potenciais
fãs através de novos estilos e novas linguagens.
85
Janeiro de 2008.
155
Como dissemos, o Orkut também nos parece estar pautado por um nexo de
efemeridade. Não queremos dizer com isso que este site de relacionamento faça parte de um
sistema como o de moda e o de celebridades. Este território pertence a um tipo de cultura que
pode englobar estes, assim como outros sistemas. Como matriz de sentido da
contemporaneidade, a cibercultura tem potencial para fazer circular diferentes lógicas. Pensá-
la apenas sob um olhar da efemeridade seria um erro de nossa parte. Em nosso trabalho
procuramos descrever e analisar a cibercultura a partir de diversas óticas. Entretanto, a vasta
dimensão de seus limites não elimina a possibilidade da idéia de reciclagem de novidades. É
este olhar que gostaríamos de ter sobre o Orkut. Surgido como uma grande novidade, este
portal de relacionamentos nos parece estar envolvido em um processo de substituição. Outros
sites de relacionamento, principalmente os que tratam de temas específicos, parecem estar
gradualmente desbancando o Orkut na preferência dos jovens.
Seria precipitado de nossa parte pretender deslindar as motivações que poderiam
alicerçar esta situação, já que é um processo que percebemos ainda em estado embrionário.
Nossa idéia é trazer como questão a substituição de sites de relacionamento como o Orkut por
outros. Voltados, por exemplo, exclusivamente ao entretenimento e com recursos adaptados à
sua proposta, este é o caso do LastFM. Esta nossa menção tem por propósito deixar em
suspenso uma pulverização nas chamadas redes sociais na internet. O Orkut, assim como
outros sites de relacionamento genéricos, parece-nos um espaço que se habituou a centralizar
milhões de usuários. Vemos uma tendência de mudança destes patamares para milhares
quando falamos em redes sociais temáticas. Talvez o número de associados de um site como o
Orkut não caia, já que não há barreiras para se continuar registrado sem participar.
Constatamos em nosso estudo uma migração da utilização regular de sites de relacionamento
genéricos para outros sites temáticos. Apesar de não encontrarmos índices estatísticos que
comprovem ou descartem nossa hipótese, o que percebemos é um número cada vez menor de
usuários simultaneamente on-line no Orkut. Os internautas parecem se encontrar de forma
pulverizada em outras redes sociais com propostas específicas, como é o exemplo do LastFM
que permite mesmo seu uso de forma simultânea a outras atividades on-line.
Mesmo diante desta mudança, acreditamos que nossa forma de entender as práticas
sociais presentes no Orkut pode ser aplicada para se estudar os comportamentos dos usuários
nestes outros sites de relacionamento que estão surgindo. O LastFM, por exemplo, é um
espaço que possibilita que o sistema de celebridades que estudamos faça sentido. A mesma
estrutura de construção identitária que percebemos no Orkut nos parece estar presente nestes
156
outros espaços de relacionamento, o que valida a colaboração de nosso estudo para o
entendimento de certos processos sociais da cibercultura.
Como vimos, a cibercultura faz parte de um sistema midiático e pode ser utilizada
como trilho para que a indústria cultural ofereça celebridades como matrizes de sentido.
Diferentes formas de ser, linguagens e estilos de vida de astros simbolicamente construídos
são mediados por uma cultura dominante entre os jovens. Assim, estratégias mercadológicas
surgem para construir e manter superstars efêmeras como Avril Lavigne. Paralelamente a
isto, também o seu público é constituído dentro de fronteiras estatisticamente determinadas.
Como construto, as tweens formam um segmento baseado em aspectos mais mercadológicos
do que propriamente etários. Trata-se de um padrão identitário que envolve certos modos de
ser e perfis de consumo. Diante do dinamismo social deste perfil, não se pode afirmar que esta
ou aquela padronização comportamental, fruto de um script, seja mais ou menos bem
sucedido. O que constatamos é que há importantes intersecções entre as atitudes e as formas
de ser veiculadas de forma majoritária pela mídia e as apresentadas pelas jovens internautas
no ciberespaço que incorporam o perfil tween. Percebemos ecos comportamentais e
atitudinais entre este segmento mercadologicamente construído e o que é disponibilizado
pelos veículos de comunicação. Este fato nos inquieta, e será fonte para desdobramentos desta
pesquisa na forma de outros recortes futuros.
Neil Postman (1999), analisa nossa concepção de infância. Esse teórico traça uma
curiosa e instigante reflexão a partir da história social da criança desde séculos anteriores,
quando estes pequenos indivíduos ocupavam outros papéis na sociedade. Suas idéias se
remetem ao contemporâneo diante da preocupação com uma crescente dificuldade em
estabelecer limites bem demarcados entre crianças e adultos. Temas do universo adulto,
considerados pelo autor como segredos culturais, têm sido cada vez mais acessados pelas
crianças. Segundo Postman (1999), principalmente a televisão e da internet, por trazerem
imagens que são de mais fácil compreensão, ajudam a desmoronar fronteiras antes caras para
a demarcação das diferenças entre adultos e crianças. Os hábitos de consumo de uma jovem
em torno de uma celebridade são impactados pelas estratégias comerciais veiculadas pela
mídia. Ao cultuar uma superstar como Avril Lavigne, uma menina tem possibilidade de
experimentar modos de ser que seriam, até outros tempos, tipicamente mais adultos. Os
produtos e os modelos que são disponibilizados trazem esta possibilidade. Neste ponto, as
idéias de Postman (1999) encontram espaço para serem ratificadas. Por esta razão, desperta-
nos interesse o encontro de elementos das idéias deste autor nos fenômenos que estudamos
nesta pesquisa.
157
Sherry Turkle (1997), professora do MIT, entre outros aspectos da internet como
fenômeno social de nossos dias, preocupa-se com o estudo de seus impactos na percepção de
mundo dos internautas, entre eles os jovens. Segundo a pesquisadora, as compreensões do que
somos e do que não somos são modificadas a partir de nossas experiências on-line. As
experimentações que fazemos em nossas vidas no ciberespaço podem mudar nossas formas de
ver o mundo. Turkle (1997) discute os aspectos do self que são envolvidos quando
estabelecemos relacionamentos diários com outros internautas. Ao constituirmos certas
identidades on-line experimentamos novas formas de ser e estar no mundo, que podem
modificar nossas concepções tanto fora como dentro do ciberespaço. Assim, parece-nos
acontecer com as fãs que experimentam no Orkut um relacionamento com seus pares e
também com suas antagonistas. Trata-se de experimentações que podem ocasionar efeitos no
seu processo de amadurecimento.
Um outro ponto que gostaríamos de observar diz respeito aos múltiplos fluxos que se
conjugam na internet. Sabemos que jovens internautas podem ser vítimas de abordagens mais
maliciosas. Casos de pedofilia são relatados com uma certa freqüência. Esta é uma questão
que também nos inquieta na medida em que a cibercultura também pode ser palco de práticas
condenáveis. Como vimos na seção 3.3, o site AvrilLavigne.com restringiu nosso acesso às
áreas específicas para fãs. Creditamos este fato à ação de filtros anti-pedofilia que julgamos
serem necessários em sites dirigidos aos jovens internautas. Este tipo de filtro pode não ser
suficiente para coibir este tipo crime, mas sua utilização demonstra uma preocupação por
parte dos veículos de mídia com o público jovem.
Assim como se procura discutir questões sobre a publicidade focada ao público
infantil na televisão, também acreditamos ser pertinente que se estendam tais preocupações
para os domínios do ciberespaço. Os veículos presentes na internet que lucram direta ou
indiretamente com as celebridades também devem, em nosso ponto de vista, mostrar
responsabilidade sobre o material que é circulado dentro de suas fronteiras.
Por fim, gostaríamos de salientar que aprendemos no decorrer desta investigação, que
a cultura da mídia pode ser trilho para a atuação de diferentes atores sociais. A indústria
cultural tem encontrado bom trânsito para suas estratégias mercadológicas. Por outro lado,
junto com o conhecido processo de culto a um ídolo, jovem podem experimentar no
ciberespaço a construção de identidades híbridas. Estes dois processos ocorrem de forma
simultânea e não isolada. As experiências identitárias dos fãs são apreendidas pela indústria
cultural como oportunidades para que seus objetivos sejam alcançados, ao mesmo tempo em
158
que a apropriação social dos espaços e dos conteúdos que a cultura midiática disponibiliza
pode trazer benefícios para a indústria cultural ou não. Este ciclo é tema de nosso interesse.
Reafirmamos, para concluir, que nossa proposta foi contribuir para a discussão de um
tema que é de nosso interesse como pesquisador e que acreditamos ser relevante ao campo da
comunicação, por entrelaçar questões que envolvem a cibercultura, o sistema midiático, a
indústria cultural e a cultura do consumo.
159
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YOUTUBE. Fonte: <http://www.youtube.com>. Acesso em: janeiro de 2008.
170
APÊNDICE A – AVRIL LAVIGNE EM VIDEOCLIPE
Este Apêndice é fruto de um trabalho minucioso de investigação, observação, coleta e
registro de cenas em movimento que realizamos ao longo de nossa pesquisa na internet. Sua
finalidade é mixar diferentes momentos midiáticos de Avril Lavigne, assim como de seus fãs
e antifãs, cobrindo parte de sua trajetória como celebridade e suas afecções junto a seus
públicos.
Este videoclipe é uma montagem realizada pessoalmente, através do software
Windows Movie Maker, que é parte do sistema operacional Windows Vista. As imagens
foram coletadas na internet a partir de gravações realizadas por fãs e antifãs, além de
videoclipes veiculados em televisão.
Acreditamos que este Apêndice A ilustra parte de nossa experiência visual como
pesquisador da popstar Avril Lavigne. Esta experiência nos apoiou na compreensão de nosso
objeto, na produção de nossas descrições, reflexões, análises e interpretações. Assim,
disponibilizamos este videoclipe como uma amostra do conteúdo fílmico que coletamos e
pesquisamos.
O arquivo está em formato .wmv e pode ser visto através do software Windows Media
Player, que acompanha os sistemas operacionais Windows 98, XP e Vista.
Tempo de duração: 4 minutos.
171
APÊNDICE B – IMAGENS OFICIAIS DE AVRIL LAVIGNE: FASE INICIAL E
ATUAL
O objetivo deste apêndice é ilustrar a evidente mutação em curso na imagem oficial de
Avril Lavigne. Percebemos em nossa pesquisa que a cantora se encontra em uma fase de
mudança estratégica de sua veiculação como estrela. No início de carreira, vestia-se com um
estilo de skatista rebelde e mostrava em suas aparições oficiais uma atitude mais agressiva
com seu gesto de dedo levantado e um cigarro na boca. Alguns exemplos disto são mostrados
na Figura 34 deste apêndice.
Atualmente, a imagem predominante de Avril Lavigne que freqüenta a mídia traz a
cantora em uma fase mais madura. Fotos mais explicitamente sensuais que buscam explorar
sua feminilidade ilustram a capa de seus discos e fotos de revistas. As bermudas de skatista e
as camisetas típicas da fase inicial foram trocadas por minissaias e miniblusas que mostram
partes de seu corpo e assim transparecem uma Avril Lavigne diferente da menina rebelde de
antes. Parece que, agora casada, Avril quer se mostrar mais adulta e sensual. Algumas
imagens da fase atual da cantora podem ser vistas a seguir na Figura 35.
172
Figura 34 – Imagens oficiais de Avril Lavigne – fase inicial.
Fonte: colagem elaborada pelo autor.
173
Figura 35 – Imagens oficiais de Avril Lavigne – fase atual.
Fonte: colagem elaborada pelo autor.
174
APÊNDICE C – “FLAGRANTES” DA “VIDA PRIVADA” DE AVRIL LAVIGNE
A Figura 36 mostrada a seguir é resultado de uma colagem de imagens coletadas em
diversas fontes na internet, entre elas os sites oficiais e extra-oficiais que pesquisamos. O
intuito deste apêndice é trazer uma amostra de situações que costumam ser fotografadas por
um tipo de indivíduo reconhecido como paparazzo. Suas fotografias e/ou filmagens registram
momentos flagrados da vida privada de celebridades. Esses registros não autorizados costuma
ser vendidos para tablóides e revistas de fofocas, principalmente. Flagrantes da vida privada
contrastam com registros oficiais planejados com o objetivo de produzir material para ser
divulgado através dos meios de comunicação: cinema, televisão, revistas, internet, jornais etc.
Entendemos que as fronteiras entre registros oficiais e extra-oficiais estão cada vez
mais tênues. É possível que ambas categories de imagens façam parte do mesmo plano de
construção imagética da estrela. Nossa hipótese é que estes “flagrantes” sejam
complementares às aparições oficiais da cantora. A soma de diferentes tipos de registros
formariam a imagem planejada da celebridade Avril Lavigne.
A Figura 36 traz “flagrantes” de Avril nas ruas com seu marido e também com suposta
amiga, em uma viagem de turismo e na praia. Estas imagens teriam sido registradas por
paparazzi sem prévia autorização da popstar.
Para a edição destas imagens utilizamos o software Power Point versão 2003.
175
Fonte 36 – “Flagrantes” da “vida privada” de Avril Lavigne.
Fonte: colagem elaborada pelo autor.
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