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quanto este projeto é considerado irrealizável, seja no contexto hospitalar ou das
casas de parto:
Tem gente com interesse, mas, no final, a gente não se mobiliza,
porque são tantas atribuições, tantas coisas, que a gente [...] acaba
até não se movimentando. [...] Mas não sei se hoje [...] a gente
conseguiria [...] (Marisa).
Eu acho que a gente tem um potencial para fazer muito mais, mas
isso tem que ser uma conquista que depende de um aval legal para
tu fazeres e de uma aceitação médica. E não vai haver. [...] Nós
temos obstetras aí [...], eles não vão abrir o campo para nós [...].
Quem vai assinar o parto, quem vai receber pelo parto? Poderia o
hospital receber e dar uma gratificação. Não, isso não existe! Eu
acho que só em São Paulo [...], porque, para nós [...], só se
conseguisse fazer uma casa de parto. [...] Não almejo outra coisa
maior. Não nessa estrutura nossa aqui. Às vezes, eu me pergunto:
não sei por que essa ânsia que o enfermeiro tem ou está tendo de
querer fazer o parto! (Carla).
No momento, eu não estou conseguindo ver qual a ação que a
gente poderia fazer para conquistar esse espaço. Acho que
competência, a gente tem [...], além da competência de já estar
aqui, já ter o espaço. Faltaria abertura deles (Cláudia).
Eu acho que a gente poderia tentar ter uma fatiazinha, talvez, né?
(Júlia).
Marisa duvida: acha que as enfermeiras possuem muitas atribuições, não
dispõem de tempo suficiente para mobilizar-se. Carla não acredita no parto realizado
por enfermeiras no contexto hospitalar. Embora reflita sobre o assunto e mesmo
sobre como torná-lo viável, acrescenta, por fim: “não, isso não existe!" –
mencionando as casas de parto, talvez como uma utopia pessoal. Cláudia, por sua
vez, diz que depende da classe médica a possibilidade de as enfermeiras realizarem
o parto, pois elas cumpriram sua parte – são competentes. A nota de maior
esperança talvez tenha sido a de Júlia, que parece crer na possibilidade da
conquista de uma “fatiazinha”.
Rios, ao abordar os componentes da competência, menciona que,
na ação competente, na articulação mesma de suas dimensões,
haverá sempre um componente utópico [...]. A competência não está
estabelecida de uma vez por todas. [...] Ela é construída