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TÉRCIA MILLNITZ DEMAT
A REPRESENTAÇÃO SOCIAL SOBRE A INFÂNCIA: Um
estudo com as professoras de educação infantil do município de
Corupá
ITAJAÍ (SC)
2007
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UNIVALI
UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ
Curso de Pós - Graduação Stricto Sensu
Programa de Mestrado Acadêmico em Educação – PMAE
TÉRCIA MILLNITZ DEMAT
A REPRESENTAÇÃO SOCIAL SOBRE A INFÂNCIA: Um
estudo com as professoras de educação infantil do município de
Corupá
ITAJAÍ (SC)
2007
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ii
iii
AGRADECIMENTOS
Agradecer significa lembrar com carinho de todas as pessoas que contribuíram de
alguma forma para se alcançar algum objetivo.
O caminho da conquista do Mestrado é trilhado pela companhia, compreensão e auxílio
de muitas pessoas:
A família, companheira presente e paciente em todas as pequenas e grandes conquistas
desta caminhada, bem como pelos momentos de insatisfação, de frustração, da falta de
tempo.
A minha mãe, a mãe mais companheira que uma mestranda pode ter, que se não em
todas as viagens a Itajaí, em pelo menos na maioria delas, foi minha zelosa
acompanhante.
A Prefeitura Municipal de Corupá e a Secretaria Municipal de Educação, Cultura,
Esportes e Lazer por abrir as portas do município para o desenvolvimento de pesquisas
e, em especial à Diana, pela compreensão em todos os momentos e em relação a alguns
“nãoS” que tive que dizer.
Todos os meus colegas de trabalho na supracitada secretaria e mais as diretoras,
professores e professoras que já devem estar cansados de tanto ouvir falar em
dissertação, pesquisa e UNIVALI.
As Professoras da Educação Infantil, Diretoras e Coordenadoras Pedagógicas que foram
sujeitos de pesquisa de forma muito comprometida.
As minhas colegas de Mestrado, que conheci nesta caminhada, colegas de grupo de
pesquisa que foram incentivadoras nos momentos de cansaço e companheiras vibrantes
nos momentos de conquista.
A minha orientadora Maria Helena, por ter acreditado na minha capacidade e ter
propiciado oportunidades que mesmo que eu as tivesse sonhado antes, não teriam sido
tão maravilhosas.
As Professoras da Comissão Examinadora, pela leitura e avaliação minuciosa da
dissertação.
A Deus, por ter possibilitado tudo isso: encontrar todas estas pessoas maravilhosas e a
inspiração necessária para a conquista do título de Mestra em Educação.
v
Cora Maria
A lua participava da brincadeira da criançada.
E a cadelinha sorridente abanava a cauda
feliz pela algazarra da meninada.
Eram noites enluaradas!
O pessegueiro florido, a flor de maracujá,
esbarravam entre as roupas no varal,
lá no fundo do quintal.
O galo cantava alto anunciando o novo dia.
Era alegria!
Fogueira em noite fria.
Fagulhas que pipocavam,
eram como fogos coloridos a brilhar no ar.
A pipa ao vento subia longe,
meus olhos acompanhavam
a rabiola em festa a dançar
O café, o pão fresquinho com manteiga.
Família, reunida na mesa.
Que beleza!
Pé de moleque na boca, e no chão!
Bolinhas de gude encontravam-se em várias
direções.
Figurinhas colecionadas, coladas.
Cocadas!
A noite estrelada
participava da brincadeira
da amarelinha desenhada com giz ao chão.
Dos meninos com a bola na mão.
Do pula corda, das nossas invenções!
Hora de dormir.
O beijo esperado de minha mãe
com o lençol a me cobrir
A pequena oração
que me ensinou a repetir.
Que saudades...
Saudades de tudo,
de andar com o besouro
escondido na mão.
Do pé no chão,
Do saco de pipocas,
Das minhocas,
Do vestido desbotado,
Do porquinho que andava ao meu lado.
De pintar o sete,
De mascar chicletes.
Que saudades de mim,
criança...
Doce e linda lembrança!
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
LISTA DE QUADROS
Quadro 1. Comparação entre o conceito de representação coletiva e o conceito de
representação social.............................................................................................................15
Quadro 2. Características do núcleo central e do sistema periférico das representações sociais
............................................................................................................................................20
Quadro 3 Imagens metafóricas relativas à infância enquanto etapa de desenvolvimento.......63
Quadro 4 Imagens metafóricas que se referem ao futuro da criança......................................64
Quadro 5 Imagens metafóricas referentes às necessidades da criança (cuidado, proteção,
orientação)...........................................................................................................................64
Quadro 6 Imagens metafóricas que revelam uma criança conquistadora do mundo...............65
Quadro 7 Imagens metafóricas relacionadas a uma criança idealizada..................................65
LISTA DE FIGURAS
Figura 1. Distribuição dos participantes, por turma, em cada instituição...............................55
Figura 2. Situação profissional das participantes ..................................................................55
Figura 3. Formação acadêmica das participantes..................................................................56
vii
LISTA DE TABELAS
Tabela 1. Número de crianças atendidas na educação infantil por ano e faixa etária..............44
Tabela 2 Modalidades de atendimento da educação infantil e quantidade de crianças atendidas
............................................................................................................................................44
Tabela 3 Quadro de vagas dos Centros de Educão Infantil de Corupá...............................45
Tabela 4 “Quadro das quatro casas” mostrando a freqüência e ordem das evocações induzidas
pela evocação “infância”......................................................................................................59
Tabela 5. Número de desenhos de acordo com os elementos representados..........................62
Tabela 6 “Quadro das quatro casas” mostrando a freqüência das categorias de evocações
induzidas pela palavra “infância”. ........................................................................................66
viii
A REPRESENTAÇÃO SOCIAL SOBRE INFÂNCIA: Um estudo com as
professoras de educação infantil de Corupá
RESUMO
Esta pesquisa tem como objetivo caracterizar as representações sociais sobre infância das
professoras de Educação Infantil do município de Corupá, SC. Adotou- se uma abordagem
plurimetodológica com base na Teoria das Representações Sociais (MOSCOVICI
1961/1978). A geração e análise de dados aconteceram em três etapas. Na primeira, foram
identificados os elementos constituintes da representação, utilizando-se a técnica de
associação livre, tendo “infância” como palavra indutora das evocações. A análise revelou
elementos referentes a brincadeiras, afetividade, movimento, criatividade, curiosidade,
cuidado, etapa de vida, escola, família, recordações, valores, atividades, interações e
sensações. Utilizando na análise o quadro das quatro casas de Vergès, observou-se que o
provável núcleo central conm evocações relacionadas a “ser criança”, ou seja, à infância
enquanto período de desenvolvimento. Os elementos intermediários referem-se aos contextos
(escola e família) e às reminisncias e marcas da infância. Evocações relacionadas às
vivências pessoais das professoras Foram destacadas no sistema periférico, que protege o
núcleo central. Na segunda etapa, para conhecer como esses elementos se articulam e
confirmar o núcleo central, solicitou-se que cada professora fizesse um desenho expressando
numa imagem o que para ela representa a infância e, logo após, produzisse um texto sobre o
mesmo. Observou-se que a representação de infância se objetiva na imagem de crianças
brincando ao ar livre, fundindo os significados de brincadeira com os de “ser criança”. Esta é
uma imagem muito próxima à de criança idealizada, de Rousseau. Na terceira etapa,
buscando-se compreender a dinâmica da representação, foram realizados dois grupos focais.
A análise revelou a existência de oposições definindo dois eixos, em torno dos quais são
tecidos os diferentes significados que circulam nas representações das professoras: a infância
de ontem (ancorado nas infâncias das professoras) X a infância de hoje (ancorado nas
experiências atuais e nas informações das mídias); e a família X a instituição de educação
infantil, (ancorado nas comunicações e trocas diárias entre pais e professoras). Na discussão
sobre quem é responsável pela preservação das culturas da infância, as professoras constroem
a representação de si mesmas como as salvadoras da infância diante do que consideram uma
ameaça à preservação da mesma (enquanto cultura), em virtude das mudanças que percebem
na organização familiar. O significado infância-a criança, que predomina no núcleo central
da representação e vem impregnando as práticas de EI desde os seus primórdios, começa a ser
mesclado com o significado de infância-as crianças, adquirindo uma conotação mais
antropológica, de “preservação das culturas infantis”.
Palavras-chave: Infância. Educação Infantil. Representação Social.
ix
THE SOCIAL REPRESENTATION OF CHILDHOOD: A study among
children’s teachers in the municipal district of Corupá
ABSTRACT
This study aims to characterize the social representations about childhood of ECE teachers in
the town of Corupá (SC, Brazil). It adopts a plurimethodological approach, based on Social
Representations Theory (MOSCOVICI, 1961/1978). The data generation and analysis were
carried out in three phases: In the first, the elements that make up the representation were
identified using the Free Association technique, with “childhood” as the key word. The
analysis revealed elements related to play, affectivity, movement, creativity, curiosity, care,
phase of life, school, family, memories, values, activities interactions and sensations. The four
cell table (VERGÉS, ) used in the analysis showed that the probable central nucleus contains
evocations related to “being a child”, i.e., to childhood as a developmental period. The
intermediary elements are the contexts (school and family), and the memories and marks of
childhood. Evocations related to the teacherspersonal experiences are emphasized in the
peripheral system, which protects the central nucleus. In order to determine how these
elements are articulated, and to confirm the central nucleus, the teachers were asked, in the
second phase, to draw a picture expressing in the form of an image, what childhood meant for
them. Next, they were asked to produce a text about the drawing. It was observed that the
representation of childhood is objectified in the image of children playing outdoors, merging
the meanings of play with those of “being a child”. This image is very similar to that of
Rousseau’s idealized child. In the third phase, with the aim of understanding the dynamics of
this representation, two focal groups were carried out. The analysis revealed the existence of
oppositions defining two axes, around which the different meanings that circulate in the
teachers’ social representations were woven: yesterday’s childhood (anchored on the teachers
childhoods) vs childhood today (anchored on daily experiences and media information); and
the family vs ECE institution (anchored on daily communications and exchanges between
teachers and parents). During the discussion about who is responsible for the preservation of
childhood cultures, the teachers build a representation of themselves as the rescuers of
childhood, from what they consider as a menace to its preservation (as a culture), caused by
the changes that they perceive in the organization of the family. The meaning childhood - the
child, which prevails in the central nucleus of the representation, and has permeated ECE
practices since its origins, is beginning to be merged with the meaning childhood - the
children, acquiring an anthropologic connotation of “preserving childhood cultures”.
Key-words: Childhood; ECE (Early Childhood Education); Social Representation.
x
SURIO
AGRADECIMENTOS..........................................................................................................iv
LISTA DE ILUSTRAÇÕES .................................................................................................vi
LISTA DE TABELAS.........................................................................................................vii
RESUMO ...........................................................................................................................viii
ABSTRACT.........................................................................................................................ix
SUMÁRIO............................................................................................................................. x
1 INTRODUÇÃO...........................................................................................................11
2 A TEORIA DAS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS.......................................................15
2.1 A dinâmica das representações sociais..................................................................17
2.2 A estrutura das representações sociais...................................................................19
2.3 As representações sociais na educação..................................................................20
3 ALGUNS ELEMENTOS TEÓRICOS PARA A COMPREENSÃO DA DINÂMICA DA
REPRESENTAÇÃO SOCIAL SOBRE INFÂNCIA............................................................23
3.1 O surgimento da infância......................................................................................25
3.2 O desaparecimento da infância .............................................................................28
3.3 Pedagogias para a Infância....................................................................................32
4 CONTEXTUALIZAÇÃO DA PESQUISA: TRAJETÓRIA DA EDUCAÇÃO
INFANTIL NO MUNICÍPIO DE CORU ........................................................................40
4.1 Aspectos Estruturais:............................................................................................40
4.2 Aspectos Pedagógicos: .........................................................................................46
5 ENCAMINHAMENTOS METODOLÓGICOS ...........................................................54
5.1 Caracterização dos sujeitos de pesquisa: ...............................................................54
5.2 Primeira Etapa da pesquisa...................................................................................57
2.5.1 Geração de dados..........................................................................................57
2.5.2 Análise de dados...........................................................................................57
5.3 Segunda etapa da pesquisa....................................................................................61
3.5.1 Geração de dados..........................................................................................61
3.5.2 Análise de dados...........................................................................................61
5.4 Cruzamento dos resultados das duas primeiras etapas...........................................66
4.5.1 Infância, período de desenvolvimento – ser criança.......................................66
4.5.2 Os contextos da infância: escola e família.....................................................69
4.5.3 Reminiscências: as marcas da infância..........................................................70
4.5.4 Vivências pessoais........................................................................................72
5.5 Terceira etapa da pesquisa – .................................................................................73
5.5.1 Geração de dados..........................................................................................75
5.5.2 Análise de dados...........................................................................................77
6 CONCLUSÃO.............................................................................................................88
7 REFERÊNCIAS...........................................................................................................92
8 ANEXOS.....................................................................................................................97
1 INTRODUÇÃO
Durante oito anos, atuei como professora, sendo seis destes anos com turmas de
Educação Infantil (pré-escolar) e dois anos com turmas de primeira série. Há sete anos atuo
como Coordenadora Pedagógica da Educação Infantil na Secretaria Municipal de Educão
do município de Corupá
1
, coordenando o trabalho das professoras que atuam com crianças de
zero a seis anos em três centros de educação infantil e as que atuam nas turmas de Jardim de
Infância e Pré-Escolar que funcionam nas escolas de ensino fundamental. Nesta trajetória, foi
possível observar diferentes práticas e diferentes resultados, o que me motivou a aprofundar o
estudo de diversas questões relacionadas com as práticas educativas desenvolvidas pelas
professoras que atendem as crianças de zero a seis anos.
Ao discutir no Grupo de Pesquisa Desenvolvimento e Educação da Inncia do
Programa de Mestrado Acadêmico em Educação meu envolvimento profissional com a
Educação Infantil de Corupá e as características peculiares da rede de educação desse
município
2
, surgiu a idéia de integrarmos rios estudos do grupo neste município. Assim,
poderemos posteriormente reunir todo o material em um estudo de caso, longitudinal, que me
permiti acompanhar o desenvolvimento das professoras à medida em que elas vão
participando das diferentes pesquisas. Esta, portanto, é a primeira de uma série de pesquisas
que subsidiarão as reflexões das professoras de educação infantil de Corupá sobre as pprias
práticas educativas, com vistas ao aprimoramento destas práticas.
No acompanhamento do trabalho destas professoras, constatei que algumas delas
realmente reconhecem o potencial das crianças, percebendo-as como pessoas que sempre
superam as expectativas por sua capacidade de agir, tornando mais instigante o ambiente em
que vivem e, por isso, as professoras procuram apoiar em suas explorações e construções; mas
há também as que percebem as crianças apenas como seres incompletos e indefesos,
preocupando-se basicamente em prover os cuidados de higiene e alimentação adequados,
salvaguardando-as do perigo de machucarem-se, algumas vezes exageradamente, correndo o
risco de prejudicar o desenvolvimento de sua autonomia. professoras que parecem atuar
como se estivessem fazendo um favor aos pais de suas crianças, como alguém que está ali
somente para ocupar o tempo delas com atividades recreativas porque os pais estão
trabalhando e não podem lhes dar a devida atenção; por outro lado, há aquelas professoras que
1
Eu sou concursada e efetiva nesta função, que no concurso recebeu o nome de Assistente Pedagógica.
2
Que são descritas nos encaminhamentos metodológicos desta pesquisa.
12
se preocupam excessivamente com uma aprendizagem escolarizada na educação infantil, até
talvez fosse possível dizer, uma antecipação da aprendizagem escolar. Por fim, ainda as
que esperam que os horários e as rotinas sejam organizados conforme suas necessidades e
disponibilidade, sem considerar as peculiaridades de cada grupo e de cada criança.
Esta diversidade nos modos como as professoras percebem as crianças e as suas
representações sobre a infância, a educação infantil e o seu pprio trabalho são de se esperar
mesmo em professoras
3
que trabalham no mesmo local e têm formação semelhante, pois, ao
longo de suas próprias histórias, sobretudo em suas formações como educadoras e no
exercício de seu trabalho, as professoras também constroem as suas próprias idéias de como
devem ser educadas as crianças. Os valores, conhecimentos e crenças que foram construídos
com base nas suas vivências e na sua história pessoal e aqueles constituídos de sua reflexão
atual como mulher, mãe e trabalhadora, impregnam e orientam suas atitudes e práticas
educativas e suas interações com as crianças e com as colegas de trabalho.
Tanto na orientação das práticas de cada professora como na definição das políticas
públicas que regulamentam o atendimento à criança, incluindo a definição do papel da
educação infantil, as representações sobre a infância são de fundamental importância.
Essa idéia é desenvolvida por Haddad (1997, p. 61) ao mostrar como a visão de
infância de uma sociedade, refletida nas políticas públicas, determina o modo como são
organizados os programas de atendimento à infância:
[...] acreditamos que a ênfase sobre o desenvolvimento ou escolarização está
fortemente relacionada à maneira como políticas públicas relativas à infância
são definidas em cada sociedade, em face da responsabilidade perante a
socialização das crianças pequenas. Se a responsabilidade recai sobre a
família, isso implica em desobrigar o Estado a intervir nessa esfera.
Conseentemente, a probabilidade do sistema público priorizar o aspecto
ensino-aprendizagem e o atendimento à idade mais próxima da idade escolar
é maior. Se os assuntos relacionados à infância são vistos como um
investimento social, para os quais toda a sociedade tem o compromisso de
contribuir, a probabilidade do sistema pré-escolar abranger maior extensão
de idade e focalizar o desenvolvimento integral da criança é maior, dado que
é concebido explicitamente como um importante contexto de socialização
infantil.
O conjunto de idéias relativas à infância que circulam e são compartilhadas em uma
sociedade determinam não o modo como esta sociedade se mobiliza para organizar o
atendimento às crianças pequenas, mas também o que os adultos esperam destas crianças.
Como afirma Nunes (1994) o conceito de infância varia entre diferentes classes e culturas, o
que gera expectativas e demandas diversas quanto ao processo de desenvolvimento das
3
Já referindo-se ao contexto do município em que somente professoras atuam com crianças de 0 a 6 anos.
13
crianças, ou seja, determina a construção de diferentes imagens de criança. Estas, por sua vez,
o determinantes das práticas educativas nos contextos mais específicos em que as crianças
o atendidas.
Como exemplo, destaca-se o trabalho em Reggio Emilia (Itália), sobre o qual Rinaldi
ressalta que a imagem da criança:
...é uma imagem cultural e social que determina se você as leva em
consideração, dependendo da qualidade dos serviços sociais e das escolhas
que voelabora. A imagem da criança é, portanto, um fator determinante
na definição da identidade social e ética do sujeito. É o fator determinante
na definição do contexto educacional como direito das crianças e das
famílias. (GANDINI & OUTROS, 2002, p.76)
Desta forma, o estudo das práticas educativas desenvolvidas pelas professoras de
Educação Infantil de Corupá não pode prescindir do conhecimento das idéias, crenças e
valores destas professoras sobre a infância. Acredita-se que grande parte destas idéias, crenças
e valores que são compartilhados pelas professoras e circulam no grupo social ao qual elas
pertencem sofrem a influência das informações que chegam a esse grupo através da mídia,
seja essas informações de caráter científico ou não. Desta forma, para conhecer estas crenças,
idéias e valores, adotou-se como referencial teórico-metodológico deste trabalho a Teoria das
Representações Sociais, fundada por Moscovici (1961), o que levou à formulação do seguinte
problema de pesquisa:
Qual a representação social das professoras de educação infantil de Corupá sobre
infância?
Conforme Gilly (1989 apud ANADON e MACHADO, 2001) a representação social
orienta o papel dos conjuntos organizados de significações sociais no processo educativo, o
que permite compreender e explicar como os fatores sociais agem na educação e provocam
determinados resultados. Ainda segundo este autor, o estudo das representações sociais na
educação permite identificar, em determinado grupo social, as suas atitudes, seus
comportamentos e a maneira como são concebidos numa escola.
Por isso, este trabalho tem como objetivo geral caracterizar as representações
sociais sobre infância das professoras de Educação Infantil do município de Corupá.
Para viabilizar a investigação visando esse objetivo, foram formulados os seguintes
objetivos específicos:
- Identificar os elementos constituintes do campo das representações de forma a
conhecer o seu conteúdo.
- Verificar como estes elementos se organizam, de forma a conhecer a estrutura
destas representações.
14
- Explicitar os significados atribuídos ao contdo das representações enfatizando
os processos de negociação que permitem compreender a dinâmica das mesmas.
A dissertação está organizada de forma que auxilie a compreensão tanto teórica quanto
metodológica do desenvolvimento desta pesquisa. Para tanto, no segundo capítulo, estará
sendo abordada a teoria das representações sociais no que se refere ao seu surgimento e os
fundamentos acerca dos procedimentos nos encaminhamentos metodológicos da pesquisa.
O terceiro capítulo tratará dos elementos teóricos para a compreensão da dinâmica da
representação social sobre infância, iniciando com a conceituação dos campos semânticos que
abrangem esta pesquisa. Posteriormente trará uma breve involução sobre o possível
surgimento da infância e na seqüência alguns argumentos utilizados para declarar o
desaparecimento desta infância. Para encerrar o capítulo, traz-se-a uma retrospectiva histórica
sobre as pedagogias que, de alguma forma, se preocuparam com a infância ao longo da
história.
Com a intenção de contextualizar o campo da pesquisa de forma mais abrangente, o
quarto capítulo busca uma retrospectiva histórica da educão infantil no município de
Corupá, construído com base em uma breve pesquisa documental, sendo dividida em duas
categorias: aspectos estruturais e aspectos pedagógicos. Nos aspectos estruturais são
abordadas as decisões e estruturas administrativas que foram sendo desenvolvidas em relação
à educação infantil no município e, nos aspectos pedagógicos, a forma como foram
conduzidas as ações pedagógicas no trabalho com as crianças.
O quinto capítulo trata dos encaminhamentos metodológicos da pesquisa que
compreende a caracterização dos sujeitos de pesquisa e as etapas de geração de dados, sendo
que a cada etapa são apresentadas as suas respectivas análises de dados, para que se possa
acompanhar passo a passo como foi realizada a leitura dos dados.
O sexto capítulo compreende a conclusão deste estudo e anseia-se pela discussão sobre
a importância que é atribuída à infância no município de Corupá e às práticas de atendimento
à criança desenvolvida nas instituições em que estas professoras trabalham e que possa
contribuir, também, na reflexão dos leitores interessados sobre o tema.
2 A TEORIA DAS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS
Representações Sociais designam tanto um conjunto de fenômenos, os conceitos que
os englobam e a teoria que foi construída para explicá-los, referindo-se a um vasto campo de
estudos psicossociológicos (SÁ, 1995).
Foi Serge Moscovici quem delineou formalmente o conceito e a teoria das
Representações Sociais no trabalho intitulado La psychanalyse, son image et son public
(1961/1978), no qual partiu da tradição sociológica do conhecimento e começou a
desenvolver uma psicossociologia do conhecimento.
Buscou uma primeira interlocução conceitual em uma tradição sociológica, mais
precisamente, no conceito de representações coletivas de Émile Durkheim (1912, 1978) que
procurava dar conta de fenômenos como a religião, mitos, ciência, categorias de espo e tempo,
etc. em termos de conhecimentos inerentes à sociedade (ANADON e MACHADO, 2001).
Conforme explicam Anadon e Machado (2001), foi Durkheim quem utilizou pela
primeira vez o termo “representações coletivasdefendendo sua posição na época, de que
essas leis de ideação coletiva eram quase que totalmente ignoradas. A psicologia social, que
teria como tarefa estudá-las, tratava-as genericamente com imprecisão e sem objeto definido.
Comparar temas míticos, lendas, tradições populares e línguas para perceber de que forma as
representações coletivas se juntam e se excluem, fundem-se ou se distinguem não era tema
relevante para a curiosidade dos pesquisadores.
Para compreender as principais diferenças entre o conceito de representações coletivas
de Durkheim e o conceito de representações sociais de Moscovici, foi elaborado o seguinte
quadro:
Representações Coletivas de Durkheim Representações Sociais de Moscovici
- Abrangia repletas e homogêneas formas de
conhecimento, supondo estar nelas concentrada
uma grande parte da história intelectual da
humanidade (SÁ, 1995).
- As representações sociais deveriam reduzir-se a
uma modalidade específica de conhecimento com
a função de elaborar comportamentos e a
comunicação entre indivíduos no quadro do
cotidiano. (SÁ, 1995)
- Concepção bastante estática, que poderia
corresponder à estabilidade dos fenômenos para a
qual havia sido proposta e não à plasticidade,
mobilidade e circulação das representações
contemporâneas emergentes. (SÁ 1995).
- Considerada de uma maneira dinâmica, de
natureza móvel e circulante, como um modo
específico de conhecer e de comunicar aquilo que
se conhece. (ANADON e MACHADO, 2001)
- Eram vistas na sociologia como dados e entidades
explicativas absolutas, estáveis diante de qualquer
análise posterior e não como fenômenos. (SÁ,
1995).
- Para Moscovici, a psicologia social deveria
penetrar nas representações para poder descobrir a
sua estrutura e os seus mecanismos internos. (SÁ,
1995).
Quadro 1. Comparação entre o conceito de representação coletiva e o conceito de
representação social
16
Moscovici buscou na sociologia durkheimiana seu primeiro abrigo conceitual
referente às suas objeções em relação ao excessivo individualismo da psicologia social
americana. Porém, isso não era suficiente ou adequado para os seus propósitos de renovar a
disciplina, considerando que seu maior desafio era situar a psicologia social entre a psicologia
e as ciências sociais (SÁ, 1995). Assim, Durkheim foi o principal ancestral de Serge
Moscovici, mas outros autores como Freud, Piaget e até mesmo a Escola de Frankfurt
serviram de bases epistemológicas para a constituição da teoria das representações sociais.
Moscovici vai am de Durkheim, apoiando-se nele e debruçando-se sobre uma forma
de conhecimento que é adequada ao mundo contemporâneo, em que as mudanças são
constantes, bem como considerando o pluralismo de doutrinas, de idéias tanto políticas,
quanto religiosas, filosóficas e morais.
O autor, no trabalho que deu início à teoria das representações sociais (TRS), estudou
como a psicanálise, que é uma teoria científica, se modifica e penetra na sociedade, sendo
apropriada por diferentes grupos sociais conforme a sua posição social, suas visões religiosas,
políticas e o seu nível sociocultural, ou seja, mostra que um saber científico é transformado
em uma dimensão do senso comum.
Assim, ele propôs um modelo interacionista em que se institui uma relação ternária
entre o sujeito (ego), o sujeito social (alter) e o objeto. Conforme Anadon e Machado (2001,
p. 11) “A relação de sujeito a sujeito em sua relação com o objeto corresponde a uma
interação, isto é, a uma ligação recíproca que une indissoluvelmente o homem e a sociedade”,
sendo que esta relação ternária determina o objeto. Portanto, este objeto é criado dentro de um
quadro social específico e constituído de uma herança social comum, o que coloca o indivíduo
ao mesmo tempo como produto e produtor da sociedade. Desta forma, as representações
sociais acontecem nas interfaces do psicológico e do social, do individual e do coletivo, sendo
geradas e reproduzidas nas interações sociais e pertencem à vida coletiva. Elas são, ao mesmo
tempo, um produto e um processo. Como produto, elas se constituem como um fenômeno
social, um universo de opines, crenças, conhecimentos etc., sobre um objeto, organizados
em torno de uma significação central. Como processo, correspondem à atividade mental que
esimplícita na elaboração da representação-produto e que se expressa em interpretações
individuais que são marcadas pela cultura em que se está inserido (idem)
Neste sentido, o conceito de representações sociais designa uma forma de
conhecimento bem particular, o conhecido saber do senso comum e conforme Moscovici e
Hewtone (1984, apud ANADON e MACHADO, 2001, p. 13), este significado de comum tem
17
um duplo sentido: por um lado é nascido das tradições que são partilhadas e alimentadas pela
experiência e de outro lado é atravessado pelas imagens mentais e pelos fragmentos das
teorias científicas que o transformadas para servir à vida cotidiana. Com estes elementos,
Anadon e Machado (ibidem, p. 14) propõem a seguinte definição:
A Representação Social é a construção social de um saber ordinário (de
senso comum) elaborado por e dentro das interações sociais, através de
valores, crenças, estereótipos etc., partilhada por um grupo social no que
concerne a diferentes objetos (pessoas, acontecimentos, categorias, objetos
do mundo etc.), dando lugar a uma visão comum das coisas.
Algumas ciências como a sociologia, a antropologia e a psicologia (tanto a clínica
como a social) estiveram preocupadas em compreender o pensamento e a conduta irracional
dos indivíduos e as suas transformações no tempo e, embora tivessem contribuído, elas
apresentam resultados fragmentados, por se manterem fechadas em suas áreas específicas,
sem possibilitar a comunicação, o que dificultou a convergência de explicações sobre como o
individual se torna social e vice-versa. A novidade da teoria de Moscovici está justamente no
reconhecimento da interação entre o indivíduo e o meio. Interessava conhecer a interface
dessa relação, já que a representação é uma construção do indivíduo, mas sua origem é social
e seu destino também é social (Costa e Almeida 1999)
Moscovici estava convencido da possibilidade de se estudar os processos de
compreensão da realidade que está na consciência dos indivíduos e dos grupos. Neste caso, a
comunicação assume um papel muito mais importante que a simples transmissão de uma
mensagem, porque pode deformar, diferenciar, traduzir da mesma forma que os grupos
também criam, deformam ou traduzem os objetos sociais ou as imagens dos outros grupos.
(ANADON e MACHADO, 2001). Portanto, devido à agilidade e abrangência dos processos
de comunicação, as representações sociais são constantemente geradas e transformadas, pelo
que, conhecer uma representação implica compreender sua dinâmica.
2.1 A dinâmica das representações sociais
Moscovici (1978) explica que a geração de uma representação social, ou a passagem
de um objeto do universo científico à visão de senso comum acontece através de dois
processos que são a objetivação e a ancoragem, indispensáveis para se compreender como se
produzem as representações sociais.
A objetivação é o processo de naturalização, de concretização dos elementos
figurativos que se transformam em elementos mais evidentes e simples. Por meio dela, as
18
noções e os conceitos abstratos de uma realidade se concretizam. A concretização de uma
nova informação torna-a real e natural em um grupo social. A objetivação transforma em
imagens as noções que são abstratas através da materialização das idéias e das significações
em correspondência entre as coisas e as palavras. Guimarães (2005), considerando o emprego
generalizável do processo de objetivação, considera que estes se transformam em “supostos
reflexos do real” (p. 39).
Conforme Alves-Mazzotti (2000, p. 60), neste processo de objetivação:
[...] as informações que circulam sobre o objeto sofrem uma triagem em
função de condicionantes culturais (acesso diferenciado às informações em
decorrência da inserção social do sujeito) e, sobretudo, de critérios
normativos (guiados pelo sistema de valores do grupo) de modo a
proporcionar uma imagem coerente e facilmente exprimível do objeto da
representação.
Guimarães (2005) destaca que o processo de objetivação implica três fases: construção
seletiva; esquematização estruturante e naturalização. A construção seletiva corresponde ao
processo em que se selecionam e se excluem algumas informações e conhecimentos sobre
determinado objeto, realizando uma triagem sobre essas informações conforme os
condicionantes culturais e os critérios normativos do grupo ao qual o indivíduo pertence. A
esquematização estruturante ou formação de um núcleo figurativo consiste na construção de
uma imagem estilizada do objeto que, absorvendo as significações, consegue sintetizar,
concretizar e coordenar os elementos que constituem o objeto da representação. Quanto à
naturalização, são figuras e elementos do pensamento que se convertem em certos elementos
da realidade que adquirem status de destaque. Devido à resistência, à estabilidade e ainda à
materialidade, o núcleo figurativo é o instrumento que orienta a percepção da realidade, a qual
é marcada por uma distorção significativa. Como um pensamento que serve às necessidades,
aos valores e interesses tanto do sujeito quanto do grupo, o núcleo figurativo é a parte sólida e
esvel da representação.
A ancoragem é o processo pelo qual são incorporados os elementos de saber que não
o familiares, criando problemas no interior da rede de conhecimentos do indivíduo. É o
enraizamento social da representação e opera em referência às crenças, aos valores e aos
saberes que preexistem e dominam o mesmo grupo. Conforme Moscovici, ancoragem é como
a invenção ou incorporação de novos elementos do saber em uma hierarquia de preferências e
de papéis já existentes, havendo uma preocupação com a significação e a utilidade que lhe são
conferidas, ou seja, é um processo pelo qual se integram novos elementos a um sistema
existente.
19
Conforme assinala Alves-Mazzotti (2000, p. 61),
[...] na objetivação a intervenção dos processos sociais se no
agenciamento e na forma dos conhecimentos relativos ao objeto da
representação, na ancoragem essa intervenção se traduz na significação e na
utilidade que lhe são conferidos.
A autora (2005, p. 61) acrescenta que a interação dialética entre ancoragem e
objetivação permite compreender:
(a) como a significação é conferida ao objeto representado; (b) como a
representação é utilizada como sistema de interpretação do mundo social e
instrumentaliza a conduta; e (c) como se dá sua integração em um sistema de
recepção, influenciando e sendo influenciada pelos elementos que se
encontram.
Portanto, é possível distinguir duas faces nas representações sociais: a de imagem e a
de significação, reciprocamente a cada imagem corresponde uma significão e a cada
significação uma imagem, constituindo-se numa forma particular de pensamento simbólico
(ANADON e MACHADO, 2001).
2.2 A estrutura das representações sociais
Os estudos sobre as representações sociais proporcionaram o desdobramento da teoria
inaugurada por Moscovici. Uma das abordagens mais divulgadas é a chamada abordagem
estrutural das representações, proposta por Jean Claude Abric, que vem sendo coletivamente
desenvolvida pelo chamado Grupo do Midi”, composto por pesquisadores do sul da França e
um grande número de pesquisadores em todo mundo.
Para Abric (1987), assim como para Moscovici (1961), a representação social é mais
do que uma soma de saberes e de representações individuais. A representação é constituída
num universo de opiniões e crenças que estão organizadas em torno de uma significação
central relacionada a um objeto determinado. Desta forma, para Abric, a principal
característica da estrutura interna de uma representação social é que ela está organizada em
torno de um núcleo central (ANADON e MACHADO, 2001). O núcleo central é o elemento
ou o conjunto de elementos que possibilitam visualizar a significação e a coerência da
representação social, desempenhando uma função importante porque gera, organiza e
estabiliza a representação social. Assim, os elementos que constituem uma representação
social não possuem o mesmo estatuto, porque alguns elementos são definidores ou
necessários e outros são contingentes e acessórios, caracterizando assim o sistema ou núcleo
20
central e o sistema periférico respectivamente. (Abric, 1987, apud ANADON e MACHADO,
2001).
Identificar a centralidade o significa encontrar consenso em relação ao objeto. Trata-
se de considerar os resultados da interação e da comunicação estabelecidos por um grupo
socialmente constituído, com respeito à lógica no conjunto estruturado e nos elementos
identificados (idem).
O núcleo central se refere às crenças coletivamente geradas e historicamente
determinadas e que são inegociáveis, que não podem ser postas em questão, porque
constituem o fundamento do modo de vida e o sistema de valores do grupo. Essa base comum
que é coletivamente compartilhada na representação e sua identificação é um aspecto
importante para que se possa avaliar a homogeneidade de um determinado grupo. Portanto, o
núcleo central tem por fuão garantir a identidade e continuidade do grupo social. Assim,
é possível afirmar que dois ou mais grupos têm a mesma representação sobre um objeto se
eles partilharem do mesmo núcleo central. (ALVES-MAZZOTTI, 2005). Para exprimir bem
as diferenças existentes entre o núcleo central e o sistema periférico da representação social, a
autora reproduz o seguinte quadro primeiramente apresentado por Abric4 em 1994.
Núcleo central Sistema periférico
Ligado à memória coletiva e à história do grupo Permite a integração das experiências e histórias
individuais
Consensual: define a homogeneidade do grupo Suporta a heterogeneidade do grupo
Estável, coerente e rígido Flexível, suporta contradições
Resiste à mudança Transforma-se
Pouco sensível ao contexto imediato Sensível ao contexto imediato
Funções: gera a significação da representação e
determina sua organização
Funções: permite a adaptação à realidade concreta e a
diferenciação de conteúdo; protege o sistema central.
Quadro 2. Características do núcleo central e do sistema periférico das
representações sociais
2.3 As representações sociais na educação
As representações sociais podem ajudar a compreender e explicar como os fatores
sociais agem na educação e quais os resultados que provocam. Concordamos com Gilly
(2001) que os estudos das representações sociais na esfera educativa possibilitam identificar,
em um grupo social específico, por meio de suas atitudes e seus comportamentos, a maneira
como um determinado papel é concebido em uma escola.
4
1994, apud. ALVES-MAZZOTTI, 2005, P.65.
21
Desta forma, conhecer o que os professores pensam sobre determinado tema,
promovendo a reflexão sobre o mesmo, pode ser uma das formas para se transformar as
práticas educativas, ou tomar consciência sobre as ações que desempenham e os significados
atribuídos a estas ações.
Como colocado acima, as RS são elaboradas e compartilhadas socialmente e
influenciam a maneira como os grupos sociais e os indivíduos percebem a realidade, se
comunicam e agem. Conforme Guimarães (2005, p. 35-36),
O conhecimento apreendido do objeto passa a fazer parte das conversas e
aparece na forma de frases, visões, jargões, ditados, preconceitos,
estereótipos, soluções, etc., tendo um efeito de realidade para o indivíduo.
Geralmente o grupo usa termos para representar um objeto que fazem
concluir seu emprego no contexto social.
Assim, identificar a visão de mundo dos grupos ou dos indivíduos subjacente a suas
ações e tomadas de posição permite compreender a dinâmica de suas interações sociais e
conhecer o que determina e condiciona as escolhas das práticas e ações que são
desempenhadas.
É justamente devido a esse papel que as RS desempenham nas condutas e nas práticas
sociais, que o seu estudo se torna tão importante para a compreensão dos mecanismos que
intervém na eficiência do processo educativo. Concordando com Moscovici (1961 apud
GUIMARÃES, 2005) que a RS é uma preparação para a ação, exercendo ação modificadora
dos comportamentos e das relações, acredita-se que os objetos da representação podem ser
aprofundados ou discutidos em momentos de formação continuada, visando provocar
transformações e mudanças nas RS dos indivíduos. Acredita-se que conhecer e valorizar o
conhecimento prático dos profissionais, introduzindo novas informações em situações
interativas que fomentem transformações nas RS, pode contribuir para transformar as práticas.
Moys (1995 apud GUIMARÃES, 2005) em estudo recente destacou que o professor
forma suas representações sociais no exercício do magistério, valendo-se da importância da
sua experiência pessoal e daqueles conhecimentos socialmente elaborados juntamente com as
interações entre ambos. Neste âmbito, o conhecimento científico passa a integrar as
representações sociais do sujeito, deixando de ter a precisão e a coerência que são
características da ciência.
Neste sentido, a autora defende que não basta somente o diagnóstico do conhecimento
dos indivíduos e o reconhecimento da influência que suas concepções têm nas práticas que
eles desenvolvem. É importante conhecer as RS que circulam nos participantes dos processos
de formação (inicial ou continuada). Na educação infantil, identificar essas visões” ou
22
sistemas de referência utilizados pelos profissionais é ferramenta importante quando se
considera a pretensão de transformar práticas educativas de forma que proporcionem
conhecimentos e experiências que crianças de 0 a 6 anos têm direito de receber. Nesse
sentido, considera-se que as representações sobre a infância são um dos principais
condicionantes das práticas destas professoras. Para compreender a nese desta
representação, é necessário retomar a evolução hisrica do conceito de infância e das práticas
de atendimento à infância, o que será realizado no próximo capítulo.
3 ALGUNS ELEMENTOS TEÓRICOS PARA A COMPREENSÃO DA
DIMICA DA REPRESENTAÇÃO SOCIAL SOBRE INFÂNCIA
Para iniciar qualquer reflexão sobre a infância, é necessário compreender o que
significa a infância e o que está a ela associado. Segundo o dicionário Larousse (2001, p.
255), criança significa “Ser humano de pouca idade, que está na infância, infante. Pessoa
infantil, ingênua.” Infância, no mesmo dicionário, quer dizer “Período da vida humana
compreendido entre o nascimento e a puberdade. As crianças. Começo, origem. Simplicidade,
ingenuidade” (LAROUSSE, 2001, p. 547). Criança é, então, quem esvivendo a infância,
infância é o período de desenvolvimento e a criança é o ser que esem desenvolvimento
durante a infância. Infância é o período da vida que se recorda depois de adulto, época da
ingenuidade, das brincadeiras, da aprendizagem, dos amigos e tantas outras coisas que podem
aflorar das memórias quando se pára para pensar.
Apesar de serem distintamente referenciados no dicionário, infância e criança são
termos que se confundem a tal ponto que pode parecer tratar-se de sinônimos, pois, quando se
fala de infância, não há como não lembrar-se de crianças, do período particular de ser criança
e de viver a infância. Na área da educação infantil, particularmente, que lida e atua com a
infância, com as crianças e com cada criança, pode-se perder as fronteiras de cada termo.
Neste sentido, o que o crianças? Criança? E infância?
Javeau (2005) propõe o desbravamento de campos semânticos que, mesmo sendo
concorrentes, são objetos de distinções pertinentes que não escapam do jogo de controvérsias
situadas no âmago de qualquer processo com pretensão científica.
O termo criança é o primeiro a ser proposto e tem conotação de ordem psicológica,
“[...] construiu-se um objeto abstrato, a criança’, destinado a passar por níveis diversos e
sucessivos na aquisição de competências, cada um deles constituindo uma etapa na fabricação
da personalidade dos indivíduos.” (JAVEAU, 2005, p. 382).
A infância, para Javeau (2005), se constitui no segundo campo semântico e tem como
ponto de partida a perspectiva demográfica, ou seja, a infância é considerada improdutiva;
salvam-se as obrigações escolares, que, em certos países, são ampliadas às idades inferiores
como as creches e jardins de infância, respeitando-se os limites fixados pela lei. A demografia
escolar, que se aplica às gerações sucessivas de alunos, estuda os fluxos de entrada e saída das
crianças na escola, utilizando o critério do êxito. As faixas de idade que constituem a infância
24
o sucedidas pelas da adolescência, da idade adulta, da terceira e da quarta idade,
sucessivamente.
Crianças seria, então, o terceiro campo semântico desenvolvido por Javeau (2005, p.
385), com um sentido antropológico ou socioantropológico.
Segundo esse paradigma, as crianças devem ser consideradas uma populão
ou um conjunto de populações com pleno direito (cienfico), com seus
traços culturais, seus ritos, suas linguagens, suas ‘imagens-ações’ ou, menos
preciso no tempo e no espaço, com suas estruturas e seus ‘modelos de ações’
etc.
Sarmento (2005, p. 371) também esclarece a distinção entre os termos infância e
criança:
[...] a sociologia da infância costuma fazer, contra a orientação aglutinante
do senso comum, uma distinção semântica e conceptual entre infância, para
significar a categoria social do tipo geracional, e criança, referente ao sujeito
concreto que integra essa categoria geracional e que, na sua existência, para
além da pertença a um grupo etário próprio, é sempre um actor social que
pertence a uma classe social, a um género etc.
Sarmento (idem, p. 370) ainda explica que
As crianças são indivíduos com a sua especificidade biopsicológica: ao
longo da sua infância percorrem diversos subgrupos etários e varia a sua
capacidade de locomoção, de expressão, de autonomia de movimento e de
acção etc. Mas as crianças também o seres sociais e, como tais,
distribuem-se pelos diversos modos de estratificação social: a classe social, a
etnia a que pertencem, a raça, o nero, a região do globo onde vivem. Os
diferentes espaços estruturais diferenciam profundamente as crianças.
Diante do exposto, pode-se concluir que a infância é o grupo geracional das crianças,
sobre o qual atuam e se preocupam as políticas públicas, o que exige uma análise
macrossociológica, e as crianças são os seres sociais que produzem suas pprias culturas da
infância e para conhecê-las, pode-se recorrer à análise microssociológica, através da
etnografia, instrumento utilizado pela sociologia da infância. E, conforme Kramer “[...]
também a antropologia favorece conhecer a diversidade das populações infantis, as práticas
culturais entre crianças e com adultos, bem como brincadeiras, atividades, músicas, histórias,
valores, significados.” (2006, p. 14)
Neste sentido, as criaas não devem ser vistas como um universo que preconfigura o
dos adultos, nem tampouco como uma cópia imperfeita do mundo do adulto.
A educação infantil é o segmento da educação que mais diretamente age sobre esses
diferentes campos semânticos abordados por Javeau (2005): trabalha com as crianças (no
sentido antropológico), com a criança em si (no sentido psicológico) e com a infância (no
25
sentido demográfico, que orienta a definição das políticas públicas dirigidas a esse grupo,
tendo por base a concepção de crianças – no sentido antropológico).
3.1 O surgimento da infância
As crianças, historicamente, não foram consideradas e encaradas como as concebemos
hoje, o que pode ser revelado pela origem da palavra infância (diferente daquela citada
pouco) oriunda do francês “[...] enfant (criança), quer dizer não falante, pois nessa idade a
pessoa não pode falar bem nem formar perfeitamente suas palavras, pois ainda o tem seus
dentes bem ordenados nem firmes [...]” (ARIÈS, 1981, p. 36). Da mesma forma, sugere-se
que não havia preocupação com a infância porque, se uma criança morresse, logo outra viria
para substituí-la. Constata-se, assim, que, embora a existência da criança tenha sido percebida
pelo adulto como diferente dele, em termos biológicos e psicológicos, não existia ainda o
conceito de crianças, em termos antropológicos e, portanto, a infância não era uma categoria
demográfica a ser considerada.
Sobre a constituição da idéia de infância moderna, Kramer destaca que “[...] foi
universalizada com base em um padrão de crianças das classes médias, a partir de critérios de
idade e de dependência do adulto, característicos de sua inserção no interior dessas classes.”
(2006, p. 15). Porém, este projeto da modernidade ainda não é realidade para muitas
populações infantis, como acontece no Brasil e em países onde não se asseguram às crianças o
direito de brincar e de não trabalhar (KRAMER, 2006).
Ressalta-se, também, uma negatividade constituinte da infância, abordada por
Sarmento (2005, p. 368), o que colaborou para um processo de distião, separação e
exclusão do mundo social:
A própria etimologia encarrega-se de estabelecer essa negatividade: infancia
é a idade do não-falante, o que transporta simbolicamente o lugar do
detentor do discurso inarticulado, desarranjado ou ilegítimo; o aluno é o
sem-luz; a criança é quem está em processo de criação, de dependência, de
trânsito para um outro. Como conseqüência, as crianças têm sido sobretudo
lingüística e juridicamente sinalizadas pelo prefixo de negação (são
ininputáveis; juridicamente incompetentes) e pelas interdições sociais (não
votar, não eleger nem ser eleitos, não se casar nem constituir família, o
trabalhar nem exercer uma actividade econômica, o conduzir, o
consumir bebidas alcoólicas etc.).
Segundo o autor, todas estas interdições em relação à infância estão baseadas em
práticas de proteção e servem para enfatizar que a representação sócio-jurídica da infância
esteve sempre determinada pelos fatores de exclusão e não pelas características distintivas ou
26
pelos direitos participativos, ou seja, a criança sempre foi o que não pode e sem condições de
defender-se, porque não pensa adequadamente, necessitando de alguém que a instruísse,
que também não possui valores morais. Ele acrescenta ainda que estas características de
exclusão da inncia das práticas culturais e sociais aconteceram principalmente no Ocidente,
no Oriente, no Hemisfério Sul e em alguns grupos étnicos minoritários da Europa, porém é
possível encontrar representações de infância que não se caracterizaram pela exclusão das
crianças da vida coletiva, elas são incluídas e praticamente consideradas adultas no que se diz
respeito ao trabalho, ao casamento e às participações cívicas.
O efeito da exclusão das crianças do mundo adulto pela negatividade permitiu a
criação de medidas de proteção para garantir a defesa e a segurança das crianças através do
estabelecimento de condições de dependência que favoreceram uma efetiva menorização das
crianças. Estas medidas de proteção, porém, não foram capazes de serem competentes para
salvaguardar os direitos das crianças e conseqüentemente, a relação de dependência reforça a
sua vulnerabilidade, como pode ser constatado nos cenários de guerra, em calamidades como
a fome e a doença, na exploração sexual, na escravatura, no trabalho infantil. (idem)
Referindo-se ao trabalho de Ariès (1981), Sarmento (ibidem) explica que a gênese do
sentimento da infância desenvolveu-se através da consciência de alteridade das crianças em
relação aos adultos e que esta conscncia de alteridade foi decisiva para a construção
histórica, num processo contínuo, dinâmico e distinto do que fora da Antiguidade até a
modernidade. Desta forma, a construção moderna de infância significa um processo de
separação do mundo dos adultos e de institucionalização das crianças. Nesse contexto, a
criação de creches e da própria escola blica exerceu papel importante, como primeiras
instituições da modernidade que estiveram diretamente orientadas para um grupo geracional.
A generalização e a transformação da escola como escola de massas colaborou para a
instituição da infância e da escola pública, movimento que continua em expansão até hoje.
Outro aspecto da infância da atualidade é considerar as crianças como cidadãs,
conforme explica Kramer
Reconhecemos o que é específico da infância: seu poder de imaginação, a
fantasia, a criação, a brincadeira entendida como experiência de cultura.
Crianças são cidadãs, pessoas detentoras de direitos, que produzem cultura e
são nela produzidas. Esse modo de ver as crianças favorece entendê-las e
também ver o mundo a partir do seu ponto de vista. A infância, mais que
estágio, é categoria da história: existe uma história humana porque o homem
tem infância (2006, p. 15).
Destaca-se que este discurso da criança como sujeito de direitos e da infância como
construção social é muitas vezes mal interpretado, porque nas classes médias este discurso
27
acaba por reforçar a idéia de que a criança precisa ser atendida a qualquer custo no que diz
respeito ao consumo e nas classes populares as crianças assumem responsabilidades além do
que podem. Desta forma, a autora alerta que tanto uma como outra estão expostas aos efeitos
nocivos da mídia, à violência e à exploração. Além disso, a interpretação equivocada deste
discurso de valorização e reconhecimento dos direitos da criança leva muitos adultos a não
exercerem plenamente seu papel, utilizando-o como desculpa para não estabelecerem regras e
posicionamentos. Desta forma, O lugar do adulto fica desocupado, como se para a criança
ocupar um lugar, o adulto precisasse desocupar o seu, o que revela uma distorção profunda
do sentido da autoridade” (idem, p. 18). Neste ato de desocupar o seu lugar, os adultos
demonstram uma indefinição quanto à forma de tratar a criança, pois em uma hora ela é a
companheira em situações que não teria condição de ser e noutra hora não assumem o seu
papel de adultos em situações em que as crianças precisariam aprender condutas e valores que
deveriam ser iniciadas pelo adulto. Assim, os adultos não sabem como agir ou responder em
situações que nunca enfrentaram antes, porque não foram constituídos nesta experiência e,
quando cobrados a responder, sentem-se na obrigação de responder questões para as quais
nunca obtiveram respostas antes. As crianças, neste contexto de fuga do adulto diante de suas
responsabilidades, ficam também perdidas e confusas (ibidem).
Este é um contexto muito comum na atualidade, principalmente para quem atua ou
trabalha na educação infantil, muito próximo da realidade das famílias devido ao contato
diário. Tem-se a noção destes extremos: de um lado, pais que presenteiam diariamente a
criança para que tenham reconhecido seu afeto, que não é demonstrado fisicamente e com
isso, perdem sua autoridade e não sabem como estabelecer limites e ensinar valores às
crianças, porque as infâncias de hoje, são diferentes daquelas vividas por eles; de outro, pais
que, no intuito de preparar os filhos para a idade adulta, colocam as crianças em diversas
atividades (línguas, os mais variados esportes, dança, teatro, etc.), aparentemente
desconsiderando que seu filho(a) é uma criança (com suas especificidades biopsicológicas),
que está vivendo a infância (categoria geracional) juntamente com muitas outras crianças,
sujeitos sociais e de direitos. Direito de viver a infância, de constituir suas culturas
caracteristicamente diferentes do adulto, mas que ao mesmo tempo propiciarão à criança um
desenvolvimento integral.
Diante da permanência cada vez maior das crianças nas escolas (infantil ou
fundamental), da expansão da dia e das novas configurações da família e da sociedade, a
linha que separa a infância de outros grupos geracionais vai se tornando cada vez mais tênue,
levando alguns a questionar se a infância não está em processo de extinção. Nesse contexto,
28
há autores que defendem que a infância esdesaparecendo, da qual destacam-se a seguir os
principais argumentos.
3.2 O desaparecimento da infância
Conforme Postmann (1999) a criação do Código Morse, depois o telégrafo, passando
pela televisão e, atualmente, a acessibilidade tecnológica foram gradativamente contribuindo
para que a infância se tornasse obsoleta. A escola não é mais a detentora da informação, todos
têm acesso a tudo a qualquer hora, perde-se os limites, o sentimento de vergonha, os segredos.
Para assistir à televisão, por exemplo, não é necessária nenhuma habilidade, assim
como não se vai aprimorar nenhuma. Também não existe mais uma programação infantil,
tudo o que ali aparece é para todos. Conforme explica o autor (1999, p. 94):
[...] a televisão desti a linha divisória entre infância e idade adulta de três
maneiras, todas relacionadas com sua acessibilidade indiferenciada:
primeiro, porque não requer treinamento para apreender sua forma; segundo,
porque não faz exigências complexas nem à mente nem ao comportamento;
e terceiro porque não segrega seu público.
Segundo este autor, para manter a audiência, a televisão precisa usar todos os tabus da
cultura, propagar a informação, criar nos telespectadores a necessidade de ver sempre
novidades. Para isso, ela ultrapassa a linguagem oral. Da mesma forma que acontecia na Idade
Média, em que não se considerava a infância como na atualidade, porque tudo era permitido
às crianças, na era da televisão isso ocorre novamente. Postmann (idem, p. 102) explica que:
Com o gradual decnio da vergonha ocorre, sem dúvida, uma
correspondente diminuição na importância das maneiras. Como a vergonha é
o mecanismo psicogico que subjuga o impulso, as maneiras o a
expressão social exterior da mesma conquista. Tudo, desde as maneiras à
mesa à maneira de falar e à maneira de vestir, deve revelar a extensão do
aprendizado do autocontrole; e é ao mesmo tempo um meio de ensinar o
auto-controle.
algum tempo, certas palavras e expressões não eram usadas pelos adultos na
presença de crianças, da mesma forma, estas não as utilizavam na frente de adultos. Como as
crianças conheciam estas palavras ou expressões era uma questão irrelevante. Hoje, esse
costume está desgastado, não se pratica mais por parecer algo antiquado, como se retornasse o
tempo do século XIV em que nada era impróprio aos ouvidos de crianças. Conseqüentemente,
as crianças confiam mais nas notícias e informações do que nos adultos que as educam e isto,
segundo Postmann, prova que não restam mais crianças, nem infância; não que no passado
29
(Idade Média) as crianças ignorassem por completo os assuntos adultos, porém, nunca
souberam tanto como na atualidade. (ibidem, p. 111)
Outro argumento utilizado pelo autor para declarar o fim da infância seria a nova
configuração das etapas da vida, em que, num extremo, estariam os recém-nascidos e no outro
extremo os senis; neste entremeio, está o adulto-criança, assim definido por Postmann (1999,
p. 113): “O adulto-criança pode ser definido como um adulto cujas potencialidades
intelectuais e emocionais não se realizaram e, sobretudo, não o significativamente diferentes
daquelas associadas às crianças.” Exemplifica esse quadro alegando que, atualmente, a mãe
não quer parecer mais velha que sua filha, ou que a filha não pareça o mais jovem que a
mãe. Se não está bem claro o que é ser adulto, não há definição exata do que é ser criança.
Na Idade dia, a menina tinha a sua menarca
5
por volta dos quatorze anos, período
que vem diminuindo em torno de quatro meses a cada década nos últimos cento e trinta anos,
o que, para o autor, indicaria que a diminuição da infância, está ocorrendo até mesmo no
plano fisiológico. O fato de a atividade sexual entre crianças ter aumentado e,
consequentemente, mais adolescentes serem acometidos de doenças venéreas, pode estar
também relacionado ao fato de a puberdade estar biologicamente mais precoce e ser reforçada
pela mídia, mas não se poderia responsabilizá-la totalmente por isso.
Na mídia, argumenta ainda Postmann (1999), as crianças praticamente desapareceram
e quando são mostradas aparecem como adultos em miniatura, também como acontecia nas
pinturas dos séculos treze e quatorze. Mesmo nas lojas, a roupa infantil praticamente
desapareceu, cedendo lugar a roupas que simulam ou preconizam uma sensualidade na
criança que possivelmente ainda o deveria ocorrer. “À medida que o conceito de infância
diminuiu, os indicadores simbólicos da infância diminuem com ele.” (idem, p. 142).
A alimentação seria outro indicativo, porque a alimentação que antes somente
agradava aos jovens, agora é preferência de alimentação bem comum entre os adultos. Já não
se vive mais o tempo em que os adultos tinham padrões mais conceituados de alimentação, do
que era próprio de um adulto comer. (idem).
Os jogos infantis também estariam desaparecendo, afirma Postmann (ibidem), porque
estes, principalmente os americanos, se tornaram oficiais ou pseudoprofissionais e, acima de
tudo, sérios. o o mais aqueles jogos com regras inventadas ao sabor do momento, sem
que houvesse julgamento de expectadores. O jogo infantil é praticamente uma preocupação
dos adultos e não é mais separado do mundo dos adultos. (POSTMANN, 1999, p. 143-144).
5
Primeira menstruação da menina.
30
Na mesma obra, o autor ainda argumenta que o alcoolismo e o consumo de drogas,
que era exclusivo dos adultos, emergem como uma realidade entre jovens e crianças. Da
mesma forma, nota-se que a infância não é preservada nem de fatos mais violentos.
A rápida diminuição da diferença entre as taxas de criminalidade do adulto e
da criança é quase totalmente explicada por assombroso aumento da
criminalidade infantil. [...] O crime, como todo o resto, não é mais uma
atividade exclusiva dos adultos [...] (idem, p. 149)
A contribuição para um quadro como este talvez seja muito mais a condição de vida
de muitas famílias do que o desaparecimento da infância, mas o autor considera que este é
também um sintoma da gradual indistinção entre os diferentes grupos geracionais, que em
parte pode também ser atribuído à dissolução do núcleo familiar, “[...] os pais se divorciam
duas vezes mais do que o faziam vinte anos, e mais crianças do que nunca são envolvidas
na dissolução matrimonial. [...] isso indica uma brusca redução no compromisso dos adultos
com a criação de filhos.”. (idem, p. 152-153).
Como último argumento, o autor explica que o conhecimento acerca da história, da
literatura e da arte, que era uma marca do adulto bem educado não tem mais a mesma
importância, da mesma forma que a escolarização não é mais significado de promissor futuro
aquisitivo de uma pessoa, o que conduz à diminuição do prestígio da escola enquanto espo
da infância.
Todos os argumentos de Postmann demonstram o quanto as suas concepções
individuais norteiam o que para ele é ideal, ou não, para a infância. O que se vive, o que para
cada um foi mais importante é o que se gostaria que passasse a outras gerações. Seria então
uma tendência humana julgar que a sua infância foi a ideal, porque ela foi feliz, e, por isso,
desejar ou acreditar, depois de adulto, que a infância das gerações posteriores deveria ser
igual ou idêntica à sua?
Tal como Postmann, outras pessoas preconizam o desaparecimento da infância, mas,
Sarmento e Cerisara (2004, p. 19) afirmam: “A infância está em processo de mudaa, mas
mantém-se como categoria social, com características próprias”.
Pode-se argumentar que como a infância está mudando, mudam também os interesses.
Por exemplo, os jogos de hoje são outros. Diminuíram os espos para brincar, então é
necessário adequar-se aos novos padrões de vida e, consequentemente, os jogos que exigem
espaços amplos são preteridos por outros que não exijam tal requisito. Mesmo as famílias,
também não são mais o numerosas quanto era alguns anos - o se tem mais sobre o
mesmo teto rias faixas etárias brincando juntas, aprendendo umas com as outras. Além
31
disso, a violência do dia-a-dia não permite mais que a rua seja o espaço comum das
brincadeiras. Assim, os jogos passam a ser controlados pelos adultos para que se garanta o
bem-estar da própria infância, mas ela não desaparece por isso, porque crianças sempre
encontram uma forma de se divertir, fantasiar, jogar e brincar de alguma maneira.
Assim, paradigmas estão sendo quebrados e novos conceitos estão surgindo, mas o
adulto sempre vai ter presente como base a sua infância vivida, para construí-la diferente ou
reproduzi-la. Desta forma, acredita-se que vão prevalecer produções e ões sobre, para e com
as crianças (no sentido antropológico) que garantirão a existência da inncia no sentido
demográfico, aporque o conhecimento biológico e psicológico que a humanidade detém
hoje sobre a criança possibilita que sejam afirmadas as diferenças entre crianças e adultos no
sentido de garantir os direitos das primeiras.
Sarmento (2005) explica que a introdução dos jogos, vídeos e informáticos alterou de
alguma forma os tipos de brinquedos e o uso que as crianças fazem do espaço-tempo lúdico.
Assim sendo, gerou também novas linguagens e desenvolveu a disposição pelo consumo que
não podem deixar de ser considerados atualmente na análise das culturas e relações entre
pares de crianças, aumentando a assimetria do poder de compra, das desigualdades sociais e,
desta forma, compondo uma “infância global” que consome os mesmos produtos originados
de uma indústria cultural para a infância, mas que perpetua uma heterogeneidade interna.
Mollo-Bouvier (2005) destaca quatro fatores, entre outros, de transformação dos
modos de socialização das crianças considerando a abordagem sociológica:
[...] a segmentação social das idades e as incertezas quanto ao período da
infância; a tendência a favorecer a socialização em estruturas coletivas fora
da família, com a multiplicação dos modos de atendimento e de instituições
para a infância; a transformação e as contradições das concepções de
infância; e o interesse generalizado por uma educação precoce. (2005, p.392)
Quanto às etapas do desenvolvimento da criança, estas estão baseadas em formas de
saber psicológico padronizado para garantir a normalidade social desse desenvolvimento. Este
recorte da infância em etapas, faixas de idade que regulamentam a vida social das crianças,
também acontece através dos ministérios, das prefeituras, em cada instituição e atividades
administrativas. Mollo-Bouvier ainda enfatiza que “[...] hoje em dia, o tempo social
concedido à inncia segmenta-se, encurta e, às vezes, cai no esquecimento” (2005, p. 394).
Em decorrência à diminuição do recorte das idades nas instituições que atendem a
infância, no que tange a vida coletiva e a tão valorizada socialização das crianças tende para
uma homogeneidade que acaba por delimitar a esfera de competência dos profissionais
(MOLLO-BOUVIER, 2005). o sempre crianças das mesmas idades nas mesmas turmas e,
32
quando uma distancia-se muito no desenvolvimento em relação às demais, precisa galgar
outro nível, outra turma de crianças.
Outra conseqüência da segmentação cada vez mais rigorosa das idades infantis é o
rápido crescimento de rede de instituições que atendem a infância, repartindo sutilmente as
crianças de acordo com as delimitações sociais referentes às faixas etárias, pois cada idade,
cada tempo, cada lugar e cada atividade das crianças agem como mercados para ação de
agentes de socialização qualificados conforme a faixa etária em que irão atuar. (MOLLO-
BOUVIER, 2005).
3.3 Pedagogias para a Infância
A história vem mostrando que o tratamento e o atendimento à criança pequena
evoluíram conforme a representação de infância e, consequentemente, com a imagem de
criança que foi sendo moldada pela sociedade, de acordo com suas necessidades e
disponibilidades em dedicar-se a ela, pela economia e evolução da ciência. Desta forma,
importa fazer o resgate histórico sobre a epistemologia acerca do desenvolvimento do ser
humano, para que se possam entender as bases do pensamento sobre a noção de infância e de
que forma influenciaram a forma como a educação se organizou para atender a infância.
Aurélio Agostinho, também conhecido como Santo Agostinho nasceu em 13 de
novembro do ano de 354 e com suas reflexões harmonizadas com o platonismo cristão
afirmava que o corpo não é mau por natureza, por isso a matéria não pode ser essencialmente
considerando que foi criada por Deus que fez boas todas as coisas. Superou o ceticismo
acadêmico e conquistou uma certeza: a da própria existência espiritual.
6
Oito séculos depois, com a filosofia ainda marcada pela resignação, pela intuição e
pela revelação divina, a Idade Média chega ao ponto da tensão ideológica que praticamente
inverteu estes princípios. Tomás de Aquino (1224-1274), um dos principais pensadores da
escolástica, formulou um amplo sistema filosófico que conciliava a cristã com o
pensamento de Aristeles, que foi considerado herético pela maioria dos teólogos da época
porque defendia princípios que eram opostos aos dos agostinianos. Por exemplo, não concebia
um Deus criador nem a vida após a morte. Tomás de Aquino afirmou também que, no ser
humano, uma alma única, que está intrinsecamente unida ao corpo, idéia revolucionária
para a época, marcada pelo espiritualismo de Santo Agostinho que, inspirado no idealismo de
Platão, continha certo desprezo pela matéria. (FERRARI, 2005).
6
Dispovel em www.mundodosfilosofos.com.br, acesso em 27/09/06.
33
Para Tomás de Aquino, há dois tipos de conhecimento: o sensível que é captado pelos
sentidos, porque só se pode conhecer a realidade com a qual se tem contato direto. E o
intelectivo que se alcança pela razão e com a qual se pode abstrair, agrupar, fazer relações e
alcançar finalmente a essência das coisas, que é o objeto das ciências. Para que se possa
extrair das coisas a sua essência, é necessário transformar em ato algo que elas têm em
potência, o que Tomás de Aquino chama de inteligência ativa e que complementa a
inteligência passiva, com a qual cada um pode formar os seus próprios conceitos. Com isso,
Tomás de Aquino introduz um princípio pedagico moderno e revolucionário, de que o
conhecimento é construído pelo aluno e não somente transmitido pelo professor, legando uma
filosofia que caracterizou a abertura para o conhecimento e para o aluno. Este aluno,
entretanto, raramente era uma criança, ou, mesmo que o fosse, não era visto como
pertencendo a uma categoria diferente do adulto, já que essa categorização ainda não existia.
De acordo com Postmann (1999), a infância nasceu a partir de 1450, na Alemanha,
quando um ourives, de uma prensa velha utilizada para fabricar o vinho, criou a imprensa.
Argumentando que a instalação de uma nova idéia de infância implica uma mudança no
mundo adulto a tal ponto considerável que gere uma nova definição de adulto, ele defende
que foi a imprensa tipográfica, que possibilitou essa nova concepção de idade adulta, por criar
um mundo simbólico que excluiu as crianças. Excluídas desse mundo adulto, foi necessário
conceituar um mundo onde elas pudessem se estabelecer: a infância. Nas palavras de
Postmann (1999, p. 35):
“A tipografia liga o presente com o sempre.” Porque quem escreveu, para
quê e por quê, tornou-se importante, a posteridade passa a ser algo possível.
Além disso, uma nova tecnologia pode alterar os interesses da sociedade,
então a imprensa tipográfica [...] nos deu nossos eus, como indivíduos
únicos, para pensar e falar deles. E este senso exacerbado do eu foi a
semente que levou por fim ao florescimento da infância.
pensando na infância enquanto peodo geracional, Jan Comenius (1592 1670)
também conhecido como o criador da Didática Moderna, concebeu uma teoria humanista e
espiritualista da formação do homem. Entre suas principais idéias estavam: o respeito ao
esgio de desenvolvimento da criança no processo de aprendizagem; a construção do
conhecimento através da experiência, da observação e da ação e uma educação sem punão,
mas com diálogo, exemplo e ambiente adequado. Pregou ainda a necessidade da afetividade,
do educador e de um ambiente escolar arejado, bonito, com espaço livre e ecológico. 7
7
Dispovel no site www.centrefeducacional.com.br/comenius.htm , acesso em 27/09/2006.
34
Comenius também salientava a importância da educação formal de crianças pequenas
e preconizou a criação de escolas maternais, pois assim as crianças teriam, desde muito cedo,
a oportunidade de adquirir as noções elementares do que deveriam aprender mais tarde, com
profundidade. Defendia que a educação deve começar pelos sentidos, pois as experiências
sensoriais obtidas através dos objetos seriam internalizadas e, mais tarde, interpretadas pela
razão. Defendeu a educação para todos, incluindo as meninas e os portadores de deficiência
mental que eram então excluídos.
Mesmo assim, de acordo com Priore (2004, p. 141), um sentimento pela infância, pela
sua existência, ainda não existia. Para a mentalidade oitocentista, a definição de infância era
pouco clara, pois envolvia uma distinção entre capacidades física e intelectual. A infância era
a primeira idade da vida e delimitava-se pela ausência de fala ou pela fala imperfeita,
envolvendo o período de vida que vai do nascimento aos três anos. Era seguida pela puerícia,
fase da vida que ia dos três ou quatro anos de idade até os dez ou doze anos. No entanto, tanto
infância quanto puerícia estavam relacionadas estritamente aos atributos físicos, fala,
dentição, caracteres secundários femininos e masculinos, tamanho, entre outros.
Foi Jean-Jacques Rousseau (1712-1778) quem, segundo Cerisara (1990), alertou para
o tratamento dado à infância, ou melhor, para a falta de tratamento específico, indiferente às
concepções vigentes na educação de sua época, alegando que escrevia sobre suas idéias e não
sobre a dos outros.
Os seus escritos sobre a infância despertaram curiosidades que persistem até hoje,
conforme Postmann (1999, p. 72) A primeira foi persistir na afirmativa de que a criança é
importante em si mesma, e não meramente como um meio para um fim.” Outra idéia foi sobre
a importância da vida intelectual e emocional da criança, porque este seria o estágio da vida
que mais se aproxima do estado de natureza. Esta obsessão pela natureza era um desprezo aos
valores civilizados e “[...] levaram à atenção do mundo, como ninguém tinha feito antes dele,
às virtudes infantis de espontaneidade, pureza, vigor e alegria, todas as quais vieram a ser
consideradas como características a serem cultivadas e cultuadas.” (idem, p. 73).
Sobre o valor da infância nos séculos XVII e XVIII, Rousseau percebeu que os bebês,
principalmente nas classes mais abastadas, não eram amamentados por suas mães, porque
estas eram influenciadas pelos divertimentos e prazeres da vida social e abandonavam as
atribuições da maternidade. Contundentemente, ele defendeu que o problema da
amamentação não está restrito ao aspecto físico, porque mais importante que o dever de
amamentar é a vontade de fazê-lo, sendo este apenas um dos pontos de discórdia entre o
filósofo e a sua sociedade contemporânea.
35
Outro ponto está no fato de as crianças se tornarem objeto de atenção dos adultos
depois de terem passado pelo período crítico do nascimento até mais ou menos oito anos de
idade. que se considerar o alto índice de mortalidade infantil da época, pois as famílias
costumavam entregar seus recém-nascidos aos cuidados de amas-de-leite para serem criados,
ou seja, só tinham importância quando tinham sobrevivido à infância e só passavam ao
convívio familiar para viver a nova etapa: a maioridade. Não havia qualquer distinção entre
infância, adolescência e maturidade e quando a criança retornava, assumia seu status de
membro do grupo. (CERISARA, 1990).
Rousseau não desconhecia os riscos que envolvem as crianças nesta fase, mas
insinuava que a morte era derivada do abandono de um dever que a natureza impõe às
mulheres, a maternidade, e esta distorção inicial era, a seu ver, a causa do divórcio entre os
homens e a natureza. Cerisara (idem) destaca que as atitudes do autor em relação à
responsabilidade materna o são isoladas, mas integram as posturas de determinada
sociedade e revelam a concepção de infância que era vigente. A autora lembra ainda que,
apesar de fazer apologia à mãe, Rousseau não se refere a qualquer mãe, não se trata daquela
que abandona os filhos nem daquela que os superprotege, porque as duas espécies de mãe
afastam as crianças da natureza: uma porque negligencia seus deveres e a outra porque os leva
ao exagero dando-lhes tudo o que querem sem esforço, à superproteção, debilita os filhos e
não os prepara para a vida. Para ele, é intenção da natureza que as crianças se exponham às
provões e experiências, pois é com elas que aprendem a suportar a própria vida, isto é, as
crianças devem ser autônomas.
Conforme Ferrari (2004, p. 33), Rousseau via o jovem como um ser integral e não uma
pessoa incompleta, intuindo na infância várias fases de desenvolvimento, sobretudo com
relação aos aspectos cognitivos:
A criança devia ser educada sobretudo em liberdade e viver cada fase da
infância na plenitude de seus sentidos mesmo porque, segundo seu
entendimento, até os 12 anos, o ser humano é praticamente só sentidos,
emoções e corpo físico, enquanto a razão ainda se forma.
Com relação à família, Cerisara (1990) afirma que, para Rousseau, sociedade natural é
aquela em que pai e mãe têm funções claramente estabelecidas: ao pai cabe o poder
legitimado pelas suas conquistas no trabalho e prover a base material, afetiva e moral, ou seja,
que a autoridade paterna o seja um poder, mas um dever. A autora acrescenta que, em sua
época, Rousseau observou que, quando uma criança nascia, ela gritava e passava sua primeira
infância chorando. Os adultos a sacodiam, acariciavam para acalmá-la, depois a ameaçavam,
36
batiam nela para ficar calada; fazia-se de tudo para agradá-la ou exigia-se que ela os
agradasse, não havia meio termo: ou ela dava ordens ou as recebia e, desta forma, suas
primeiras idéias eram de império e de servidão. Assim, as crianças eram tratadas pelas
mulheres até os sete anos e depois entregues ao preceptor, que acabava desenvolvendo os
germes artificiais que estavam formados e ensinava tudo à criança, menos a se conhecer, a
tirar proveito de si mesma, para saber viver e ser feliz
Segundo Rousseau, a personalidade da criança é resultante das inter-relações
estabelecidas por ela com o seu meio, é uma personalidade a ser praticamente construída,
porque mesmo não intervir é uma forma de gerenciar a construção da personalidade infantil.
A tarefa do preceptor seria, então, orientar a criança rumo ao que lhe é natural, revelando a
importância que o autor à orientação e direção pelo adulto. Rousseau admitia que o ideal
seria o pai assumir a função, mas que, na realidade, os pais contratavam outros para que o
fizessem e passou a utilizar a expressão “governante”. Para a função de governante, ele
observou que são necessários atributos tanto intelectuais quanto morais e discorreu sobre a
dificuldade desses pré-requisitos serem encontrados em um único homem. Além disso,
defendeu o estabelecimento de um pacto entre o discípulo e o seu governante, que
considerava indispensável para que o projeto educacional acontecesse, o qual previa que o
aluno acatasse a condução do governante. Para ele, aceitar incondicionalmente é elemento que
poderia ser caracterizado como ato de submissão, mas é, na verdade, um ato de liberdade, já
que, uma pessoa é livre quando se submete a uma lei que ela própria elaborou. Desta forma,
aluno e governante se colocam em posição de igualdade, dando e retribuindo um ao outro.
(idem).
Rousseau pode ser considerado um marco na concepção de infância mundial. Apesar
de ter elaborado uma teoria idealizada, influenciou profundamente muitos teóricos que vieram
depois dele, deixando sua marca principal na prática inspirada na natureza.
A industrialização, no século XVIII, conforme Postmann (1999) exerceu grande
influência no sentido de permitir que aquilo que havia sido construído com relação à idéia de
infância ficasse adormecido. Com o crescimento das cidades industriais e a necessidade de
mão-de-obra tanto nas fábricas como nas minas, as crianças pobres obrigavam-se a trabalhar
para auxiliar no sustento de suas famílias. Por outro lado, a industrialização pode ter afetado
positivamente as crianças de famílias bem abastadas, por se beneficiarem dos produtos que
passaram a ser produzidos na instria.
Em 1814, foi aprovada na Inglaterra uma lei “[...] que tornou o ato de roubar uma
criança em um delito passível de indiciação.” (POSTMANN, 1999, p. 67). Porém, não havia a
37
mesma relutância quando algum crime era cometido por crianças, sendo que até 1870 podiam
ser condenadas por qualquer dos crimes cuja pena era o enforcamento. Deve-se acrescentar a
este fato a diferença entre a infância na pobreza e a infância das famílias mais abastadas, que
não compartilhavam da mesma realidade social.
Em toda a Europa, a concepção mais humanitária de infância se desenvolveu quando
aumentou o senso de responsabilidade governamental visando o bem-estar das crianças.
Conforme Ferrari (2004), quem deu mais importância ao amor, especialmente ao amor
materno foi o suíço Johann Heinrich Pestalozzi (1746-1827). Na visão de Pestalozzi opôs-se a
concepção de que a função do ensino é preencher o aluno de informação e que um dos
principais cuidados do professor deveria ser respeitar os estágios de desenvolvimento que a
criança passa. Essa defesa de uma volta à natureza e a construção de novos conceitos de
criança, de família e de instrução deve-se à influência dos escritos de Rousseau. Porém,
Rousseau apresentava uma teoria idealizada e Pestalozzi experimentava e retirava sua teoria
de suas observações nas várias escolas que criou. Para Pestalozzi, a principal função do
ensino é conduzir as crianças a desenvolverem suas habilidades naturais e inatas, tanto que a
escola idealizada por Pestalozzi não deveria ser só uma extensão do lar, mas também inspirar-
se no ambiente familiar para oferecer uma atmosfera de segurança e afeto (idem).
Friedrich Froebel (1782 a 1852), que foi discípulo de Pestalozzi, lecionou em uma das
escolas de seu mestre, onde pôde observar os procedimentos de ensino e, a partir da crítica,
construir suas próprias bases. Ele interessou-se principalmente por dois tipos de atividades
desenvolvidas com as crianças em Yverdon e que eram realizados por Pestalozzi: os passeios
que colocavam as crianças em contato com a natureza e os jogos ao ar livre. Também ampliou
as propostas para a educação das crianças menores. O eixo do pensamento pedagógico de
Froebel era a unidade entre o homem, a natureza e Deus, delineando a Lei da Conexão Interna
(KISHIMOTO e PINAZZA, 2007).
Este educador teve especial preocupação com a formação daqueles que cuidariam das
crianças: as es e jovens educadoras e, em sua escola de Treinamento para Cuidadoras e
Educadoras de Criança (Keilhau, em 1847)
[...] tinha como objetivo preparar mulheres jovens para uma ptica
educativa baseada no desenvolvimento, na compreensão, na criatividade e na
formação da personalidade da criança, tanto no plano individual quanto no
coletivo (KISCHIMOTO e PINAZZA, op. cit., p. 41).
Froebel defendia que existe uma força interna natural que impulsiona o processo de
desenvolvimento e, assim, a evolução humana decorre gradual e continuamente com
38
interligação entre as diferentes etapas da vida. Com isto “[...] todas as manifestações adultas
mantém estreito vínculo com os acontecimentos desde a mais tenra infância” (idem, p.42).
As autoras explicam que, para este educador, a criança é um ser ativo e criativo que
faz conexões internas e tem capacidade de aprender, sendo que o conhecimento se processa
quando a criança relaciona opostos como amor e ódio, quente e frio, etc., adquirindo
experiência através da auto-atividade e, com a reflexão, torna-se autoconsciente com o auxílio
do adulto. Foi através da observação da criança que Froebel elaborou sua pedagogia.
Diferentemente de Froebel, John Dewey (1859-952) não se preocupou
especificamente com a criança pequena e com a educação infantil, mas, no conjunto de sua
obra, preocupou-se com processos educativos, referindo-se à criança como indivíduo e ser
social antes de tratá-la como um aluno. Para Dewey, numa educação progressiva os
professores devem “[...]reconhecer nas crianças os interesses e as experiências pessoais e
considerá-las como ponto de partida para atividades inteligentes e experiências ampliadas
dentro de um programa organizado de estudos” (PINAZZA, 2007, p. 77). Experiência, nesse
sentido, não é somente ocupar as crianças nem tampouco uma organização progressiva de
informações e idéias: A experiência será significativa na medida em que resultar em uma
mudança com significação, dada pelas relações entre os atos e o resultado deles, ou seja, o
valor de uma experiência está em ter um elemento intelectual (idem).
Dewey desenvolveu uma das mais fortes expressões da proposta de educação através
da experimentação e investigação, conhecida como trabalho de projetos, que foi aprimorada
por um de seus seguidores, William Kilpratick. De acordo com Pinazza (op. cit., p.86), o
autor defendia que
[...]as regulações das atividades não podem vir em forma de ordens, modelos
ou soluções propostas pelo adulto (professor/ professora), pois podem tirar
da criança a possibilidade de realizar suas próprias observações, que a levem
à elaboração de hipóteses e planos de ação/ investigação
Tal proposta através do trabalho com projetos é bastante divulgada e conhecida até os
dias de hoje na educação infantil. Tanto nos projetos como nas ocupações construtivas
(experiências), a criança é a investigadora.
Outro nome bastante associado à educação infantil e por conseqüência à infância é o
da italiana Maria Montessori (1870-1952), que foi pioneira no campo pedagógico por dar
mais ênfase à auto-educação da criança do que ao papel do professor como fonte de
conhecimento. A individualidade, a atividade e a liberdade da criança são os aspectos
principais da teoria montessoriana, dando ênfase ao conceito de indivíduo que era
39
simultaneamente sujeito e objeto do ensino. Para além do acúmulo de informações, o objetivo
da escola é a formação integral do jovem numa educação para a vida. Propôs um método
fundamentalmente biológico, em que a prática é inspirada na natureza e os fundamentos
teóricos são um corpo de informações cienficas sobre o desenvolvimento infantil.
(FERRARI, 2003)
Maria Montessori defendia que, para se chegar ao intelecto, precisa-se passar pelas
mãos, porque, por meio delas, do movimento e do toque, os pequenos exploram e
decodificam o mundo ao seu redor. Desta forma, seu método parte do concreto rumo ao
abstrato, baseando-se na observação de que as crianças aprendem melhor pela experiência
direta, pela procura e pela descoberta. Montessori desenvolveu materiais didáticos que são os
aspectos mais conhecidos de seu trabalho, materiais atraentes que foram projetados para
provocar o raciocínio (ibidem).
Defendendo que, quando interessada, a criança consegue identificar-se com o que está
fazendo e, conseqüentemente, aprende, Celéstin Freinet (1896-1966) organizou seus
pressupostos teóricos na proposta do método natural de aprendizagem. Lutou por uma escola
do povo, criticando as pedagogias que defendiam a utilização de materiais, brinquedos e jogos
específicos e caros que não podiam ser utilizados em todas as escolas. Elias e Sanches (2007,
p. 157) afirmam que
A escola, para Freinet, é o lugar onde a criança deve aprender os fatos
importantes para a vida em sociedade, os elementos essenciais da verdade,
da justiça, da personalidade livre, da responsabilidade, da iniciativa, das
relações causais, não só estudando-as, mas praticando-as. [...] De acordo
com a idéia fundamental da unidade, é uma instituição onde a criança
descobre a sua própria identidade, realizando sua personalidade e
desenvolvendo o seu poder com iniciativa e criatividade.
Para ele, a brincadeira, a atividade lúdica, não é gratuita para a criança, constituindo,
na verdade, um trabalho dos mais sérios, juntamente com o jogo que é valorizado como
atividade educativa. Desta forma,
A criança é vista, por ele, como um ser histórico-social, um ser afetivo, um ser
inteligente e criador de cultura como o adulto, artífice de seu próprio
desenvolvimento e saber.o adota a imagem de uma criança idealizada, mas
concreta. Não uma criança que aprende por abstração, mas que adquire os
conhecimentos como alguém que está imerso na realidade e que participa
intensamente do cotidiano. (Idem, p. 157).
Os autores ou pedagogos citados acima influenciaram substancialmente a
educação infantil e suas concepções pode ser que ainda influenciam a forma como a
criança é concebida nas instituições de educação infantil da atualidade.
4 CONTEXTUALIZÃO DA PESQUISA: TRAJETÓRIA DA
EDUCAÇÃO INFANTIL NO MUNICÍPIO DE CORUPÁ
A exemplo do que foi desenvolvido nos capítulos anteriores, sobre o surgimento da
infância e as pedagogias que possam ter influenciado as concepções de infância, este capítulo
trata da trajetória da educação infantil no município de Corupá. Banchs (2005) ressalta que a
contextualização não se restringe a mera descrição do cenário da pesquisa, mas também de
contextos estruturais mais amplos como histórico, sócio-econômico, potico, cultural e outros
que possibilitarão compreender as teias de significados daquela cultura.
Este capítulo foi construído com base em alguns documentos da Secretaria Municipal
de Educação, Cultura e Esportes de Corupá
8
que se encontravam dispersos em várias caixas
sem nenhum tipo de organização e que foram recolhidos e reunidos pela pesquisadora, com o
auxílio de uma bolsista do programa PIPG
9
. O primeiro critério para a organização destes
documentos foi cronológico. Posteriormente, dividiu-se o texto em duas categorias: aspectos
estruturais e aspectos pedagógicos.
4.1 Aspectos Estruturais:
O município de Corupá está localizado na região Norte do Estado de Santa Catarina,
na Serra do Mar, com uma área de 477 quilômetros quadrados e com altitude de 62 metros
possuindo elevações de até 1.176 metros. Oficialmente, segundo a Projeção do IBGE de 2005,
a população de Corupá é de 12.760 habitantes
10
.
Sobre a Educação Infantil neste município, verificou-se que em 13 de novembro de
1989 um termo de compromisso firmado entre a Prefeitura Municipal de Corupá e o
Governo do Estado de Santa Catarina através da Secretaria do Trabalho e do
Desenvolvimento Comunitário, cujo objeto é a assistência cnica e financeira no sentido de
melhorar e expandir o atendimento indispensável às crianças na faixa etária de zero a seis
anos. O compromisso da Prefeitura Municipal era manter durante a vigência do termo 72
crianças em creche nas modalidades Domiciliar; Institucional; Nossa Aldeia; Nossa Terra,
sendo que a Secretaria transferiria recursos para a manutenção dos mesmos. Este termo entrou
8
Anexos 1 à 24.
9
Programa Integrado com a Pós Graduação.
10
Informações fornecidas pela Secretaria Municipal de Planejamento e Desenvolvimento de Corupá em maio de
2006.
41
em vigor a partir da data da sua assinatura com vigência até 31 de dezembro de 1989. Desta
forma, pode-se considerar este documento como o registro mais antigo referente à
preocupação com um atendimento municipal institucionalizado à Educação Infantil, nos
arquivos da Secretaria Municipal de Educação de Corupá (8.1 Anexo 1. Cópia do Termo de
compromisso2274).
Em 07 de fevereiro de 1990, através de solicitação do Departamento de Saúde e Bem
Estar Social à Câmara de Vereadores para que autorizem a locação de uma casa e o convênio
com o SESI, inicia-se o processo para que se instale uma creche institucional no município,
justificando a solicitação diante das inúmeras e justas reivindicações da comunidade (8.2
Anexo 2. Cópia do Ofício DEBES Nº 05/90).
Através de Decreto Municipal no dia 22 de fevereiro de 1990, fica institucionalizada a
desapropriação por via amigável ou judicial do imóvel que será destinado à implantação de
uma creche institucional (8.4 Anexo 4. Cópia do Decreto Municipal Nº005/90).
A Creche Municipal Dona Nina, em convênio com o Serviço Social da Indústria
(SESI) de Jaraguá do Sul, iniciou seu funcionamento no dia 19 de março de 1990, com 23
crianças em seu primeiro endereço e foi oficialmente inaugurada no dia 07 de julho de 1990
(8.5 Anexo 5 Cópia do convite para inauguração da Creche Municipal Dona Nina; 8.6 Anexo
6 Cópia do Histórico da Creche Municipal Dona Nina). Esta creche tinha o objetivo de
atender criaas de 0 a 6 anos e substituir o atendimento que era oferecido em creches
domiciliares, transferindo as crianças deste serviço para o novo local. Depois da inauguração,
a creche contava com um quadro de seis funcionárias da Prefeitura Municipal e mais três
funcionárias do SESI que cuidavam em dois turnos de sessenta crianças.
No Convênio firmado com a Prefeitura Municipal, o SESI tinha as seguintes
obrigações:
- Material e Recursos Humanos pedagógicos.
- Fornecimento de Merenda com cardápio variado elaborado por:
nutricionistas, merendeiras, enfermeira, supervisoras.
- Supervisões mensais para acompanhamento do trabalho pedagógico.
- Cozinha equipada (fogão, geladeira, mesa, cadeira, armários, loas,...).
- Merendeira.
- Assistência do médico.
- Assistência de psicóloga.
- Assistência odontológica.
- Assistência do Serviço Social (8.4 Anexo 4. Cópia dos Principais itens do
convênio a ser firmado entre o SESI Serviço Social da Indústria e a
Prefeitura de Corupá).
E a Prefeitura Municipal tinha como obrigações:
- Ceder o espaço físico : 02 salas, cozinha, 02 banheiros.
42
- Adequação para o seu funcionamento (8.4 Anexo 4. Cópia dos Principais
itens do convênio a ser firmado entre o SESI Serviço Social da
Indústria e a Prefeitura de Corupá).
Em 1992, é realizado connio com a Legião Brasileira de Assistência, o que
beneficiava os pais, pois os isentava da contribuição mensal para a Creche Municipal Dona
Nina.
Além da Creche Municipal Institucional Dona Nina inaugurada em 1990, existiam
turmas de Pré-Escolar nas Escolas de Ensino Fundamental, quais sejam: o Pré-Escolar
Abelinha Feliz, o Pré-Escolar Pequeno Polegar, o Pré-Escolar Ignácio Beiger, o Pré-Escolar
Franz Dorn e o Pré-Escolar Aluísio Carvalho de Oliveira em classes de pré escola, totalizando
um atendimento a 206 crianças. Apesar da denominão de Pré-Escolar essas turmas
atendiam crianças de idades mistas entre 4 a 6 anos de idade, em horário escolar.
No ano de 1993, é renovado o connio entre a LBA (Fundação Legião Brasileira de
Assistência) e a Creche Municipal Dona Nina, cujo contrato classifica os serviços da creche
como guarda, alimentação, saúde e educação. A justificativa para o convênio está novamente
no fato de que a maioria das famílias é de baixa renda e as mães se obrigam a trabalhar para
aumentar a fonte de renda dos lares e para isso deixam seus filhos na creche, onde terão
guarda, controle nutricional, boa alimentação e educação, além de acompanhamento dentário
e médico (8.11 Anexo 11.pia do Ofício Nº275/93).
A estrutura da creche no ano de 1993 era de treze funcionários: uma coordenadora ou
supervisora com Ensino Médio; duas educadoras com Ensino Médio e quatro educadoras com
Ensino Fundamental e os demais funcionários de limpeza e cozinha.
É novamente renovado o convênio com a LBA e a creche conta, em 1994, com 60
crianças de 0 a 5 anos e nenhuma desnutrida”
11
. O número de profissionais que trabalham na
creche cresce para dezenove (8.13 Anexo 13. Cópia de Formulário do Projeto de Manutenção
da Creche Dona Nina à 8.21 Anexo 21)) No entanto, apenas um pedagogo e dez
educadores cuja formação não é descrita. No contrato, a identificação dos serviços continua a
mesma do ano anterior e a justificativa pouca se altera:
Os pais se obrigam a trabalhar para poder dar sustento aos filhos. Daí a
necessidade da Creche para a boa assistência às crianças. Além disso, a
creche oferece atividades alternativas como: palestras, cursos, reuniões para
orientação dos professores.
11
Expressão que consta no documento.
43
A partir de 1995 a Prefeitura Municipal não renovou contrato com a LBA, pois não
consta nenhum documento referente a essa renovação. Foi nomeada nova Coordenadora para
a creche.
Muitas possíveis mudanças se delinearam a partir do ano de 1998, com a Nova
Constituição e a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional Nº9.394/96 que incorporou a
Educação Infantil à Educação Básica do cidadão brasileiro, trazendo as creches que estavam
no setor da Assistência Social para a Educação.
O primeiro impacto da LDB/96 foi quando a Creche Municipal Dona Nina tem sua
localização alterada e sua denominação oficial passa a ser Centro de Educação Infantil Dona
Nina.
No final de 1999, a pesquisadora foi convidada a assumir a Coordenação Pedagógica
da Educação Infantil do município e a partir do ano seguinte, com a sala montada no Centro
de Educação Infantil Dona Nina, dali se deslocava para atender às demais professoras de
educação infantil da rede municipal.
Inicia, a partir do ano 2000, com a Coordenadora Pedagógica uma maior preocupação
com o trabalho pedagógico realizado na educação infantil. Embora de uma forma ou de outra
ele sempre tivesse acontecido, não era oficial e não possuía acompanhamento específico.
Outro reflexo da LDB/96 reflete-xe em 27 de junho de 2001, quando foram extintos
através de Decreto Municipal Nº035/01, três cargos de Atendente de Berçário e em 13 de
março de 2002, também através do Decreto Municipal Nº011/02 foram extintos mais dois
destes cargos e quase todas passaram a ser Professoras acessando ao Plano de Carreira
conforme o grau de estudo. As jornadas de trabalho que antes eram de 30h/a passaram para
40h/a, beneficiando a remuneração dessas professoras que ainda recebem o adicional de Hora
Atividade, sendo mais bem remuneradas que os Professores do Ensino Fundamental. Esses
decretos aconteceram em função dessas Professoras terem concluído sua formação mínima
em Magistério a vel Médio, serviu também para que as outras professoras se interessassem
por buscar uma maior formação e, a partir de então, paulatinamente o próprio trabalho
pedagógico fosse melhorando, com a melhor formação das professoras.
Em 2002, eram 21 professoras de educação infantil atuando no município. Para que a
Secretaria tivesse um controle e um melhor conhecimento da quantidade de crianças que eram
atendidas no CEI, a pesquisadora na função de Assistente Pedagógica (cargo assim
denominado para a Coordenação Pedagógica dentro da Secretaria de Educação) juntamente
com a diretora do CEI Dona Nina elaboraram uma ficha de movimento mensal, com os
44
números de crianças atendidas nas diferentes turmas e horários, que também é uma
modalidade de educação cujas matrículas oscilam bastante.
Também no ano de 2002, a Secretaria Municipal de Educação iniciou um
levantamento sobre a demanda e oferta de vagas para a educação infantil, tendo por base o
número de nascimentos registrados no cartório do município. Os dados estatísticos no quadro
abaixo demonstram a evolução da quantidade de atendimento na educação infantil em
Corupá:
Tabela 1. Número de crianças atendidas na educação infantil por ano e faixa etária
0 a 3 anos atendidas 4 a 6 anos atendidas
Ano % %
2002 94 16,90 369 60,80
2003 109 19,03 345 53,38
2004 124 21,53 367 45,43
2005 161 29,66 398 65,79
2006 124 23,10 404 72,67
Fonte: Secretaria Municipal de Educação de Corupá
Foi feito também um levantamento das características e modalidades de atendimento
considerando o período de permanência da criança na escola ou creche:
Tabela 2 Modalidades de atendimento da educação infantil e quantidade de crianças
atendidas
Modalidade
2003 2004 2005 2006
Período de 4 horas diárias: em Jardins de Infância e Pré-Escolas
das Escolas de Ensino Fundamental (municipais, particulares e
estaduais).
320 323 331 404
Período de 5 horas diárias: Centros Municipais de Educação
Infantil
24 32 47 25
Período de 6 horas diárias: Centros Municipais de Educação
Infantil
07 10 22 20
Período de 8 horas diárias: Centros Municipais de Educação
Infantil
31 30 41 15
Período integral de 12 horas diárias: Centros Municipais de
Educação Infantil
72 96 106 64
Fonte: Secretaria Municipal de Educação de Corupá
Em 2003, para atender as crianças da educão infantil no município, contava-se com
23 professoras na educação infantil, sendo seis contratadas como ACTs
12
e as demais
efetivadas por concurso público municipal. Para poder atender mais crianças foi criado o
Centro de Educação Infantil Pequeno Polegar, inicialmente como uma extensão do Centro de
12
Forma como são chamadas as professoras Admitidas em Caráter Temporário.
45
Educação Infantil Dona Nina. O Centro de Educação Infantil Pequeno Polegar atendia
crianças de idades mistas de 4 a 6 anos e possuía três professoras cujos horários foram
organizados de forma que sempre duas estivessem presentes para atender as crianças. No
levantamento dos Dados Estatísticos da Educação Infantil de 2004 o CEI Pequeno Polegar
atendia também crianças menores de três anos (desde que não usassem mais fraldas) até os
seis anos.
Foi inaugurado em 2004 o Centro de Educação Infantil Franz Dorn, antiga escola de
ensino fundamental que foi reformada e adaptada para atender a educação infantil, devido ao
fato de somente o CEI Dona Nina atender crianças de berçário, o que também colaborou para
se aumentar as vagas disponíveis neste segmento da educação. O CEI Franz Dorn passou a
fazer parte das estatísticas a partir do 2º semestre de 2004, sendo mais efetiva sua colaboração
a partir de 2005.
No ano de 2006, para oferecer mais vagas às crianças menores de 3 anos e para entrar
em consonância com a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional N. 9.394/96 que
especifica que a educação de 0 a 3 anos é em creches e de 4 a 6 em pré-escolas, o município
determinou que somente teriam vaga na creche as crianças que completassem 4 anos no
segundo semestre do corrente ano, as que completam 4 anos antes de julho passariam a
freqüentar as turmas de jardim de inncia dentro das escolas de ensino fundamental, porém
somente na modalidade de 4 horas diárias de atendimento. Foi também delimitada a
quantidade de crianças por turma em toda educação infantil para garantir um atendimento de
maior qualidade em detrimento da quantidade de crianças, por isso na Tabela 1 pode-se notar
uma pequena diminuição no número de vagas, porém na Tabela 3, pode-se observar um
aumento no número de atendimentos conforme a modalidade de atendimento, comprovando
que atender primando pela qualidade em detrimento da quantidade de crianças traz benefícios.
O quadro de vagas abaixo consta do Regimento Interno dos Centros de Educação
Infantil.
Tabela 3 Quadro de vagas dos Centros de Educação Infantil de Corupá
Idade das Crianças Turma Número de Crianças Professoras
0 a 1 ano Berçário I 08 02
1 a 2 anos Berçário II 10 02
2 anos Maternal I 10 02
2 e meio a 3 anos Maternal II 12 02
3 anos Maternal III 15 02
Fonte: Secretaria Municipal de Educação de Corupá
46
Este número o significa que em determinada turma, por exemplo, não possa
matricular mais do que esse número de crianças, o que impera é a quantidade de crianças por
turno, porque pode acontecer da criança freqüentar somente a partir da tarde, então de manhã
esta vaga pode ser preenchida por outra criança. Nos momentos de entrada e saída de
crianças, muitas vezes, mais do que a quantidade limite de crianças, mas é questão de
instantes até todos irem embora.
O Centro de Educação Infantil Dona Nina é o único que atende em um horário
diferenciado devido ao convênio com uma empresa, o CEI inicia seu funcionamento às 4h
30min e encerra suas atividades às 23h 45min. Os demais CEIs atendem no horário das 6h
30min às 18h 30min.
4.2 Aspectos Pedagógicos:
No connio firmado com o SESI em 1990, em relação aos aspectos sociais do
atendimento, aconteciam reuniões bimestrais com os pais, visitas às famílias e horta
comunitária para benefício da ppria creche. Na área da saúde, havia orientação de primeiros
socorros com uma enfermeira uma vez por semana e o atendimento às crianças acontecia
mensalmente. Era realizada avaliação de peso e altura das crianças.
Em uma observação anexa ao Relatório Estatístico Mensal, referente ao mês de agosto
de 1990, a coordenadora escreveu que “as tias” (como denominavam as professoras) tinham
participado do I Encontro de Educadores em Joinville e que sentiram o quanto fora proveitoso
para elas o que puderam aprender, solicitando que em breve houvesse mais cursos ou
encontros para troca de experiências.
Em 1992 foi realizado um projeto que tinha como objetivo mudar a localização da
creche ampliando suas instalações, para comportar maior número de crianças, inclusive
menores de um ano e, consequentemente, aumentar o número de funcionários. No projeto está
descrito que “A maioria das famílias é de baixa renda e as mães se obrigam a trabalhar para
aumentar a fonte de renda em seus lares e para isto procuram deixar seus filhos na creche”
(8.11 Anexo 11. pia do Projeto de Manutenção da Creche Municipal Dona Nina; 8.12
Anexo 12. Cópia da Proposta de Manutenção da Creche Municipal Dona Nina – continuação).
A solicitação do convênio é para dar atendimento às crianças de 0 a 6 anos com o uso
de didática específica para cada faixa etária e orientar os pais quanto ao convívio de seus
filhos na creche no período de 8 horas.
47
No item operacionalização do contrato de convênio, está descrito:
A creche, além do caráter assistencialista, deve ter uma prática pedagógica
que leve em conta a realidade da criança e favorecer o desenvolvimento
infantil, a construção do conhecimento através de atividades significativas,
concretas, reais, que têm um para quê para o adulto e fundamentalmente para
a criança. Isso pode ser operacionalizado através de temas geradores ou de
projetos construídos em conjunto com a criança.
Em 1997, atuando como professora de Pré-Escolar na Escola Municipal de Ensino
Fundamental Aluísio Carvalho de Oliveira, participei juntamente com as demais professoras
de Pré-Escolar, Jardim de Infância e Creche da elaboração da Cartilha de Planejamento do
Pré-Escolar, organizada pela Secretaria Municipal de Educação, ao mesmo tempo em que as
professoras da creche participaram da elaboração de uma cartilha para o berçário. A proposta
era a elaboração de uma cartilha com temas geradores para o trabalho pedagógico com as
crianças. Para tanto, nos foi oferecido uma série de materiais como livros, textos e apostilas
que nos serviram de modelos.
Este foi um momento muito especial para nós professoras da educação infantil, porque
foi a primeira vez que estivemos reunidas especificamente para tratar do nosso trabalho
pedagógico. Nunca havíamos participado de uma capacitação voltada exclusivamente para
nós, nem havia alguém na Secretaria Municipal de Educação com experiência e
conhecimentos específicos na área da educação infantil, que nos representasse diretamente.
Todas as professoras, que atuavam na educação infantil naquele ano comprometeram-se na
elaboração da cartilha neste momento histórico.
As professoras dividiram-se em duas grandes equipes: uma formada pelas professoras
que atuavam na creche (que atendiam crianças tanto em horário integral quanto parcial) e
outra pelas professoras que atuavam nas turmas de educação infantil dentro das escolas,
jardim de inncia e pré-escola em período de quatro horas diárias.
Desta forma, originaram-se também duas apostilas com características diferenciadas
conforme a modalidade de atendimento à criança que se propunha fundamentar, porém o
objetivo geral da Educação Infantil de 0 a 6 anos ficou assim elaborado:
Desenvolver um trabalho educacional voltado para o meio em que vivem,
possibilitando-lhes o desenvolvimento em seus diferentes aspectos
(cognitivo, lingüístico, social e cultural) e ampliando os conhecimentos que
trazem consigo, para que se constituam socialmente, formando sua
cidadania e desenvolvam sua auto-estima e personalidade com criticidade,
criatividade e responsabilidade.
48
Na apostila destinada às crianças de 4 a 6 anos, a pré-escola traçou os seguintes
objetivos:
Objetivos do Pré-Escolar:
Estimular o desenvolvimento cognitivo, afetivo e psicomotor da criança de
forma interdisciplinar e num contexto sócio-potico e cultural, fazendo a
construção do conhecimento.
Propiciar a criança ambiente favovel a contatos e trocas para sua
socialização, desenvolvimento de sua inteligência, iniciativa, autonomia e
criatividade.
Entender a realidade da criança, (cultura e vivências) para o trabalho
pedagógico, permitindo o desenvolvimento de suas potencialidades,
respeitando suas diversidades, na busca do pensamento crítico-criativo.
Foi elaborada também a rotina que deveria ser seguida diariamente, que era
constituída por: boas vindas, oração, chamada, hora da novidade, canto, parque/pátio,
lanche/almoço, hábitos de higiene e boas maneiras, descanso e saída. Cada um desses itens da
rotina diária teve seus objetivos descritos, com uma série de atividades a serem realizadas
dentro daquele horário. Havia também uma lista de atividades esperadas para o ano, que
continha 356 itens.
Foram elaborados temas geradores para cada semana letiva de trabalho, tendo por base
o calendário escolar, cada tema gerador possuía seus objetivos, atividades e recursos
(instrumentos pedagógicos que seriam utilizados para realizar as atividades). As atividades
foram divididas em: conhecimento lingüístico (que envolvia português, educação física e
educação artística), conhecimento gico-matemático (matemática), conhecimento social
(estudos sociais), conhecimento natural (ciências e educação religiosa).
As professoras da creche, que formaram outra equipe descreveram no item Objetivos
da Creche o seguinte:
Atender e desenvolver crianças de 0 a 3 anos nos aspectos (cognitivo,
lingüístico, social, afetivo, psicomotor), dentro de seu contexto social, em
constante transformação, possibilitando a formação de um cidadão crítico,
criativo e responsável, para que possa constituir-se como um ser humano
individual e social.
Neste documento, as professoras da creche elaboraram também um texto sobre o
processo de desenvolvimento, descrevendo áreas motora, cognitiva, sensório-perceptiva,
comunicação e pessoal-social e destacaram a importância da participação da família. Em
forma de tópicos, descreveram as características da criança de 1 a 12 meses; de 1 a 2 anos; 2 a
49
3 anos, de 3 a 4 anos; de 4 a 5 anos e de 5 a 6 anos e na seqüência um roteiro de atividades
para serem feitas diariamente:
- Desenho (rabiscos, garatujas após 1 ano)
- Canto
- Dança
- Brincar no pátio: 1hora 30min atividades livre 30min atividade
dirigida
- Arrumar a sala
- Guardar os brinquedos, cada qual no seu lugar
- Hábitos de higiene e boas maneiras
- Troca
- Jogos de montar
A partir do ano de 1997, as atividades no Jardim de Infância e na Pré-Escola estiveram
pautadas nesta cartilha. O que foi mais importante foi o momento de encontro entre todas as
professoras, a troca de experiências que serviu para renovar e fortalecer a luta para o
reconhecimento de que somos professoras e não estamos lá somente para “pintar e brincar
com as crianças”.
No ano de 1999 fui convidada pela Secretaria Municipal de Educação a participar de
uma capacitação representando as professoras de Jardim de Infância e Pré-Escola juntamente
com a então Diretora do já denominado Centro de Educação Infantil Dona Nina. Era uma
capacitação para divulgação e conhecimento dos Referenciais Curriculares Nacionais para a
Educação Infantil (RCNEI), ministrada por especialistas do MEC – Ministério da Educação e
Cultura que aconteciam no município vizinho de Jaraguá do Sul durante dois dias
consecutivos por mês. Nessa capacitação participavam os Coordenadores Pedagógicos da
Educação Infantil representando as Secretarias Municipais de Educação. O município de
Jaraguá do Sul, vizinho de Corupá, constituiu um lo que integrou 10 municípios nessa
capacitação: Corupá, Jaraguá do Sul, Rio Negrinho, Pomerode, Guaramirim, Schroeder, o
João do Itaperiú, Barra Velha, São Bento do Sul e Joinville.
Esta capacitação teve início em 1999, terminou somente em 2000, tornando os
participantes do curso, multiplicadores dos RCNEIs e responsáveis pelas capacitações em
nossos municípios. Iniciamos então, em primeiro de outubro de 1999 as primeiras
capacitações sobre os RCNEI para as professoras da educação infantil, conforme os módulos
constantes deste documento, os módulos trabalhados foram: Linguagem Oral e Escrita;
Alfabetização e Identidade e Autonomia.
no início do ano de 2000, antes de as professoras iniciarem seu trabalho nas creches
e pré-escolas, mais precisamente no s de fevereiro, foi realizada uma capacitação docente
de quatro dias, coordenadas pela pesquisadora e foi dada continuação ao Módulo Identidade e
50
Autonomia. Em seguida, foram discutidas e elencadas metas e orientação para o ano que se
iniciava com a intenção de que as professoras elaborassem o primeiro projeto educativo para
ser realizado com as criaas. Para tal, as professoras se agruparam conforme a faixa etária
em que atuavam e receberam textos para fazerem uma leitura informativa e discuti-la nos
grupos. Fizeram também a leitura de alguns projetos educativos realizados por estagiárias em
Pedagogia da Fundação Educacional Regional Jaraguaense, que serviram de subsídios na
elaboração do projeto das professoras. Em decorrência, surgiram várias idéias e temas
importantes a serem trabalhados com as crianças.
Nesta capacitação, houve também momentos de socialização de músicas que poderiam
ser usadas para serem cantadas com as crianças.
Os projetos elaborados foram socializados por cada turma no grande grupo, que pôde
também contribuir, dando sugeses. Ao final, fizeram uma avaliação do que foram os dias de
capacitação. Nesta avaliação, conforme Livro Ata da Secretaria Municipal de Educação
ficaram registradas as contribuições das professoras sobre os dias de trabalho.
Foram tecidos alguns elogios quanto à iniciativa de se reunir somente as
professoras da área de educação infantil e que foi muito válido e importante
a troca de experiências, pois cada uma traz consigo algum conhecimento rico
para ser socializado. Comentaram também que esta troca de experiências
proporcionou o conhecimento do grupo como um todo: a mida falou, a
falante ouviu e todas puderam se conhecer. Algumas mencionaram que se
afligiram a princípio, quanto à elaboração do projeto, mas que ao final
perceberam que sua preocupação era em vão. Somente uma relatou que
esperava algo mais destes dias de curso, que deveriam ter se esclarecido
melhor algumas atividades para o dia-a-dia em sala de aula e que o
planejamento em si deveria ter sido mais explorado.
13
(8.48 Anexo 48. Cópia
da Ata de 18 de fevereiro de 2000)
Esta capacitação docente marcou o início de um trabalho pedagógico, um “olhar” para
a educação infantil e para as professoras da educação infantil que eram em torno de 20.
Nas capacitações docentes para as professoras da educação infantil que continuaram
acontecendo nos anos de 2001 e 2002, buscou-se discutir textos dos Referenciais Curriculares
para a Educação Infantil, refletindo o que era comum ao cotidiano da educação infantil e o
que não e o que poderia contribuir para o crescimento das professoras. Em nenhum momento
teve-se a intenção de utilizar os RCNEIs como uma cartilha ou manual da professora.
13
Tais relatos foram retirados do livro ata da Secretaria Municipal de Educação de Corupá, que serviu para
registrar as reuniões pedagógicas, os debates e reflexões sobre temas específicos da educação infantil de Corupá,
com data início de 01/10/1999 e término em 08/12/2003, cuja cópia consta do Anexo 24.
51
Foi instituído um trabalho denominado Reunião Pedagógica que acontecia com uma
periodicidade quase que bimestral. Nesses encontros foram discutidos temas como: a rotina
escolar, o planejamento e o registro.
No início de 2002, a Reunião Pedagógica de abertura tratou do tema “Planejar é
Preciso” e foram discutidas as “Funções do Professor em praticamente todos os segmentos
da educação (educação infantil e ensino fundamental).
No ano de 2002 os momentos de Reunião Pedagógica passaram a ter uma divisão pela
faixa etária que as professoras atendiam, sendo reunidas em momentos diferentes com a
intenção de discutir problemas mais específicos, ficando assim organizado: as professoras de
berçário e maternal; as professoras de jardim de infância e as professoras de pré-escolar que
atuam nas escolas, constituindo grupos de quatro, seis e oito professoras.
A partir do ano de 2003, as Reuniões Pedagógicas foram organizadas da seguinte
maneira, o qual permanece até a atualidade: as professoras de Jardim de Infância e Pré-
Escolar que atuam nas escolas de ensino fundamental se reúnem bimestralmente conforme
calendário escolar, sendo que cada encontro acontece numa escola diferente com o objetivo
de conhecerem o espaço e a realidade de trabalho das colegas. Outro ponto destas reuniões é
que as professoras trazem os seus planejamentos para serem socializados com as colegas. Em
determinado momento da reunião, elas trocam informações sobre atividades realizadas com as
crianças e as formas que cada uma encontra para se organizar em relação ao planejamento e a
avaliação. Previamente à reunião, as professoras preenchem uma ficha relatando as
características da sua turma, da qual fazem a leitura na reunião e destacam situações ou
problemas que precisam ser discutidos no grupo. Também o discutidos temas pertinentes ao
trabalho pedagógico, organizando-se a pauta conforme a necessidade maior apontada pelas
professoras.
Nos Centros de Educação Infantil são realizados os Encontros Pedagógicos para
discussão de assuntos pertinentes ao trabalho pedagógico com as crianças, porém acontecem
mensalmente, sendo interrompidos somente durante o mês de julho, período em que as
professoras se dedicam à escrita das avaliações descritivas das crianças.
Uma característica do setor pedagógico da Secretaria Municipal de Educação, foi
sempre repassar às professoras leituras interessantes pertinentes a temas que poderiam
interessar ao trabalho pedagógico, independente de serem ou não trabalhados nos encontros
ou reuniões pedagógicas, ficando assim do interesse de cada professor (a) inteirar-se do
material.
52
Outro marco na história da educação infantil do município de Corupá foram as
Mostras de Trabalhos em Educação Infantil. As mostras foram a primeira oportunidade de a
educação infantil mostrar à comunidade em geral o seu trabalho, e conscientizar a respeito do
que seria um trabalho pedagógico com turmas de crianças pequenas.
A primeira mostra aconteceu de 21 a 26 de setembro de 2001, como culminância da
formação de professores que atuavam na educação infantil e primeiras séries do Ensino
Fundamental, desenvolvida em parceria entre a Secretaria Municipal de Educação e Cultura, o
Centro Universitário de Jaraguá do Sul (UNERJ) e o Ministério de Educação e Cultura
(MEC).
Essa capacitação, que culminou com a mostra aconteceu com o apoio de recursos
vindos do Ministério de Educação e Cultura especificamente para a capacitação de
professores da educação infantil e iniciou no mês de novembro de 2000 com uma palestra de
abertura proferida pela Dra. Gisela Wasjkop (consultora do Ministério de Educação e Cultura)
que falou sobre as Instituições Educativas e o Projeto Educativo. No ano de 2001, foi dada
continuidade à capacitação a partir do mês de fevereiro, estendendo-se até o mês de junho
com os demais temas. Cada Módulo foi desenvolvido em dois encontros mensais, perfazendo
um total de 16 horas, em que foram discutidos e estudados coletivamente os temas e
problemas deste segmento da educação. Foram formadoras deste processo a professora Dra.
Rosane Welk do Centro Universitário de Jaraguá do Sul (UNERJ) e a pesquisadora em
questão, orientadas pela representante do MEC em Santa Catarina Iracema Schuster
Grüetzmacher.
Neste programa foram incluídas as professoras da 1ª série do Ensino Fundamental, em
função de ser considerado o momento de transição da criança da Educação Infantil para o
Ensino Fundamental e muitas vezes significar uma ruptura muito grande para as crianças.
Conforme folder da I Mostra de Trabalhos em Educação Infantil de Corupá, os
objetivos do evento estavam assim descritos:
- Socializar as atividades elaboradas pelas professoras e desenvolvidas com
as crianças da Educação Infantil e Primeiras Séries , referentes aos
dulos: Educar e Cuidar; Brincar e o Movimento; Aprendizagem e
Linguagem Oral e Escrita; Alfabetização e Matemática.
- Oportunizar aos pais e a comunidade em geral a discussão a respeito da
Educação Infantil, como primeira etapa da Educação Básica do Cidadão.
- Sensibilizar a comunidade em geral a respeito da importância do trabalho
pedagógico realizado na Educação Infantil. (8.21 – Anexo 21)
No ano de 2002 resolveu-se delimitar um tema para os projetos desenvolvidos na
Educação Infantil, sendo que a apresentação no folder está assim descrita:
53
Devido a preocupação crescente por todos sobre a questão da preservação
ambiental e considerando que as crianças são mais susceveis às
aprendizagens que qualquer adulto, acreditamos na importância de trabalhar
o tema com as crianças. Desta forma, estaremos influenciando indiretamente
seus familiares, acreditando num futuro melhor e mais harmonioso com o
meio ambiente. Sabemos que não iremos atingir uma conscientização plena,
mas estaremos semeando uma planta que no futuro poderá resultar em bons
frutos.(8.22 – Anexo 22).
O período de exposição da mostra reduziu para dois dias, por perceber-se que não
havia necessidade de ficarmos tantos dias.
Em 2003 a III Mostra de Trabalhos em Educação Infantil teve como tema “A literatura
infantil desenvolvendo a criança”, que foi também culminância de outra capacitação docente
acontecida no início daquele ano, novamente com recursos do MEC e realizada no Centro
Universitário de Jaraguá do Sul.
No ano de 2004 aconteceu a última mostra com esse tipo de estrutura, promovida pela
Secretaria Municipal de Educação e com a montagem de estandes (um por turma da educação
infantil) em um salão da cidade porque com o aumento das turmas não haveria mais um local
que pudesse atender a contento.o foi delimitado nenhum tema específico para os projetos a
serem realizados com as crianças, sendo que estes poderiam surgir das crianças ou da
observação da professora quanto a necessidade de se trabalhar determinado tema. Os
objetivos dessa mostra de trabalhos foram:
- Socializar as atividades elaboradas e desenvolvidas com as crianças da
Educação Infantil de 0 a 6 anos que freqüentam os Centros de Educação
Infantil, Jardins de Infância e Pré-Escolas das escolas municipais.
- Oportunizar à comunidade em geral, o conhecimento do trabalho que é
realizado neste âmbito da educação.
- Sensibilizar quanto à importância do trabalho pedagógico realizado na
Educação Infantil (8.23 – Anexo 23).
A partir de 2005, as mostras passaram a ser realizadas em cada escola ou creche para
atingir mais diretamente os pais de cada comunidade em específico. As Mostras de Trabalhos
em Educação Infantil tem se constituído em eventos que propiciam a troca entre as
professoras, porque possibilitam que se conheçam mutuamente os trabalhos realizados nas
diferentes unidades e que a comunidade em geral, conheça melhor o que é trabalhado com as
crianças pequenas.
Conhecer a trajetória da educação infantil do município de Corupá, ainda que breve e
pautada na descrição cronológica de aspectos relevantes na trajeria da educação infantil no
município de Corupá, foi importante instrumento para mais adiante analisar a representação
social sobre infância dessas professoras.
5 ENCAMINHAMENTOS METODOGICOS
Os encaminhamentos metodológicos foram definidos para se responder às seguintes
questões de pesquisa:
- Quais os elementos constituintes das representações sociais das professoras de
Educação Infantil de Corupá sobre infância?
- Como se organizam esses elementos?
- Quais os significados atribuídos a estes elementos e como são negociados estes
significados de forma a assegurar tanto a permanência como a transformação das
representações?
5.1 Caracterização dos sujeitos de pesquisa:
A pesquisa foi realizada com as Professoras, Diretoras e Coordenadoras Pedagógicas
que atuam na Educação Infantil do município de Corupá (SC), efetivas e contratadas, que
estavam atuando durante a coleta de dados da pesquisa. A opção por incluir as diretoras e
coordenadoras deve-se ao fato de que, com exceção de uma diretora, todas são efetivas na
Rede Municipal como Professoras, exercendo tais cargos temporariamente. Das 42
professoras de Educação Infantil que atuavam no município de Corupá em 2006, apenas uma
se recusou a participar da pesquisa. As análises a seguir, portanto, se referem a 41 professoras.
Como pode ser observado na figura 1, em 2006, o município possuía três creches que
atendiam crianças de zero a três anos e seis meses, num atendimento que variava de quatro
(educação infantil dentro das escolas de ensino fundamental) a doze horas por dia (crianças
atendidas em centros de educação infantil. vide Anexos 29 à 41), perfazendo um total de 9
turmas de berçário e maternal sob a responsabilidade de 25 professoras. Além disso, tinha 18
turmas de Jardim de Infância e Pré-Escolar que funcionavam dentro das Escolas de Ensino
Fundamental e atendiam as crianças durante quatro horas por dia, sob a responsabilidade de
10 professoras. Havia ainda um Jardim de Infância privado, única instituição deste caráter no
município, com 2 turmas, cuja professora participava das reuniões e capacitações docentes da
rede pública do município e também recebia acompanhamento pedagógico pela Secretaria
Municipal de Educação.
55
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D
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N
i
n
a
N
20
15
10
5
0
TURMA
Coordenação
Direção
Pré
Jardim
Maternal
Berçário
2
222
5
8
3
7
Figura 1. Distribuição dos participantes, por turma, em cada instituição
Das 41 profissionais da educação infantil que participaram da pesquisa, a grande
maioria era efetiva (30 professoras) e apenas 10 eram ACTs. Somente uma era atendente
efetiva na instituição privada, que na rede municipal não existe essa função, todas as
profissionais que atendem diretamente as crianças são professoras (vide figura 2).
CEI
E
M
E
F
F
r
a
n
c
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s
c
o
M
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M
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N
i
n
a
N
20
15
10
5
0
situação profis.
Atendente efetiva
Prof.contratada
Professora Efetiva
4
5
3
44
2
5
11
Figura 2. Situação profissional das participantes
56
Quanto à formação, cabe ressaltar que sete professoras já possuíam especialização; 13
eram formadas em nível superior (pedagogia ou normal superior) e 12 estavam freqüentando
um desses cursos; uma tinha outra graduão completa e uma cursava outra graduação; quatro
possuíam formação em nível médio Magistério e três possuíam apenas nível médio geral
(sendo uma delas a atendente da instituição privada), não havendo nenhum caso de formação
inferior às citadas. (figura 3)
CEI
E
M
E
F
F
r
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n
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M
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N
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N
20
15
10
5
0
FORMAÇÃO
Especialização
Outra Graduação comp
outra grad incomp
Ped. / norm sup comp
ped. ou norm sup inc
Magistério
Ensino Médio
2
2
2
2
5
2
5
5
2
2
Figura 3. Formação acadêmica das participantes
Outro item que merece destaque é o motivo que levou as professoras a optarem por
atuar neste segmento da educação: a grande maioria, ou seja, 31 delas, respondeu que
escolheu trabalhar com crianças desta faixa etária.
Outras informações sobre as professoras que participaram da pesquisa podem ser
obtidas nas tabelas incluídas no Anexo 25. Vale destacar aqui que, das 41 professoras, apenas
8 o eram mães na época em que a pesquisa foi realizada. Das 33 professoras que eram
mães, a maioria (19) tinha filhos menores de seis anos, ou seja, na mesma faixa etária das
crianças que elas atendiam nas instituições de educação infantil. Aliás, alguns freqüentavam
estas mesmas instituições, o que sugere que as representações investigadas nesta pesquisa
estão sendo geradas e transformadas nas experiências destas professoras não apenas como
professoras, mas também como es de crianças que são atendidas na Educação Infantil do
município.
57
5.2 Primeira Etapa da pesquisa
Na primeira etapa da pesquisa participaram os 41 sujeitos acima mencionados: duas
coordenadoras pedagógicas, três diretoras de creche e 36 professoras.
2.5.1 Geração de dados
Para responder à primeira pergunta desta pesquisa, que busca identificar os elementos
constituintes da representação social de infância, os sujeitos de pesquisa foram entrevistados
individualmente nas unidades (creches e escolas), momento no qual preencheram também um
questionário demográfico. As entrevistas eram iniciadas aplicando-se a técnica da associação
livre, que, conforme Alves-Mazzotti (2005), consiste em pedir aos sujeitos que escrevam
todas as palavras (ou expressões) que lhes venham à cabeça, a partir de uma (ou mais)
palavras indutoras. A palavra indutora, neste caso, foi “infância”.
Optou-se pela associação livre para iniciar a coleta de dados, porque conforme
Oliveira et al., aplicações desse tipo em pesquisas são motivadas por duas razões:
[...] a primeira, por possibilitar a apreensão das projeções mentais de maneira
descontraída e espontânea, revelando inclusive os conteúdos impcitos ou
latentes que podem ser mascarados nas produções discursivas; a segunda,
pelo fato de se obter o conteúdo semântico de forma rápida e objetiva,
reduzindo as dificuldades e os limites das expressões discursivas
convencionais (2005, p. 574-575).
Como metodologia, segundo Bardin
14
, a técnica da associação ou evocação livre tem
como objetivo
[...] apreender a percepção da realidade de um grupo social a partir de uma
composição semântica preexistente. Esta composição é, geralmente, muito
concreta e imagética, organizada ao redor de alguns elementos simbólicos
simples, que substitui ou orienta a informação objetiva ou a percepção real
do objeto de estudo.
O método das associações livres é importante porque permite a redução das
dificuldades e dos limites que as expressões discursivas geralmente utilizados nas pesquisas
de representações sociais.
2.5.2 Análise de dados
Na técnica de associação livre realizada, foi coletado um total de 472 evocações
(palavras), isto porque não se limitou o número de evocações que poderiam ser escritas pelos
14
BARDIN (1977, apud Oliveira et al. 2005, p. 575)
58
sujeitos. Obteve-se a freqüência dia de evocações por sujeito dividindo o número total de
palavras evocadas pelo número de sujeitos, o que gerou uma dia de 11,51 palavras por
sujeito. Porém, como o número de evocações por sujeito variou de cinco a vinte e quatro,
optou-se pelo corte nas cinco primeiras evocações totalizando 205 para serem analisadas.
Oliveira et al (2005) sugere que o número de palavras ou expressões evocadas deva ser
estabelecido pelo pesquisador e que este número o exceda a seis palavras porque se tem
constatado que depois de sete palavras evocadas, estas não são evocadas com tanta rapidez
e evidenciam um trabalho mental lógico para as produções seguintes que descaracterizam a
espontaneidade e a naturalidade das evocações.
Foi obtida, assim, uma lista dos elementos que provavelmente constituem o conteúdo
do campo da representação. Porém, para o conhecimento deste campo, era necessário
investigar como este conteúdo se organiza.
O próximo passo foi tentar hierarquizar estes elementos e, para isso, procurou-se
aproximar as palavras conforme a significação idêntica (correr, dançar, movimento). Essa
primeira redução dos dados não se constituiu propriamente na formação de categorias, mas
numa tentativa de diminuir o número de evocações juntando em um mesmo grupo as palavras
da mesma família, sinônimos e outras que, embora não fossem sinônimos, tivessem um
significado muito próximo (fantasia faz-de-conta), ou fossem casos particulares de um
conceito. Isso foi necessário para tornar os dados mais “manejáveis”, que não foi utilizado
nenhum software para auxiliar na execução desta análise. Para evitar vieses nestes
agrupamentos, eles foram organizados pela pesquisadora, depois submetidos à aprovação da
orientadora e finalmente do grupo de pesquisa. Adotou-se o consenso como critério para
incluo das palavras em um mesmo grupo.
Para responder à segunda questão da pesquisa, que visa conhecer a estrutura da
representação, calculou-se a freqüência e a ordem média de evocação dos grupos de palavras
obtidos. Esta corresponde à soma das ordens em que a palavra apareceu nas listas das
professoras (se foi escrita em primeiro lugar, segundo ou décimo) dividida pelo número de
evocações do respectivo grupo de palavras.
Foi calculada também a dia das ordens médias (a soma das ordens médias dividida
pelo número de grupos) que corresponde a 3,39, após excluídas as evocações com freqüência
= 1. Considerando que as evocações que provavelmente constituem o núcleo central estão
entre as que possuem uma ordem dia inferior a 3,5 e uma freência igual ou superior a 5,
decidimos por adotar estes valores para manter a coerência das categorizações dos
agrupamentos. Os grupos de evocações que atendem a essas condições são:
59
Tabela 4 “Quadro das quatro casas” mostrando a freqüência e ordem das evocações
induzidas pela evocação “infância”.
Dar aula Ordem dia < 3,5 Ordem dia >= 3,5
Primeiro
quadrante
OM
F
Segundo quadrante
O
F
Brincadeira; Brincar 1,84 25 Educação; Estudar;
Professora; Leitura;
Letras; Números
4,1 10
Afeição; Afetividade ; Amor
2,23
17
Familia; Mãe; Pai; Vô
4
6
Alegria; Prazer; Felicidade
2,5
14
Crescimento; Criança;
Desenvolvimento; Etapa-de-
conflitos-aprendizagens;
Infância; Responsável-pelo-
bom-desenvolvimento-do-
sujeito-durante-a-sua-vida-
inteira
2,53 13
Corpo; Correr; Dança;
3,45
11
Atenção; Cuidado; Colo;
3,1
10
Carinho; Doçura; Ternura
2,55
9
Criatividade; Fantasia faz-de-
conta; Imaginar
3,33 9
Conhecimento; Descoberta;
Possibilidades; Aprendizado
3,1 8
Freqüência
>= 5
Risada; Choro; Sorriso
3,4
5
Terceiro quadrante
OM
F
Quarto qua
drante
O
F
Lembrança; Saudade;
Memória
2,75 4 Diversão; Passear;
Assistir-tv
4,2
5
4
Cantar; Música
3
4
Liberdade
4,5
4
Gato; Goiaba; Rosa; Tomar-
banho-no-rio
3,25 4 Respeito 4 3
Brinquedos 2,33 3 Diálogo; Palavras-
carinhosas
5 3
Humanidade; Igualdade;
Inocencia
3,33 3 Medo 3,5 2
Esperança
1,5
2
Coleguinhas
4
2
Doce; Pirulito
3,5
2
Broncas; Repressão
4
2
Desafio; Dificuldade
4
2
Energia; Vibração
4,5
2
Freqüência
<5
Desenhar
5
2
No primeiro quadrante estão as palavras que constituem o núcleo central, embora
possa haver palavras nesse quadrante que não fazem parte do núcleo (OLIVEIRA et al 2005).
O núcleo central, conforme Alves-Mazzotti (2005) é a base comum, resultado da memória
coletiva e do sistema de normas do grupo; é responsável pelo significado e pela organização
interna da representação. Por ter estabilidade, resiste às mudanças e por isso garante a
permanência da representação. É interessante verificar que, neste caso, este núcleo contém as
palavras relacionadas com as características psicológicas e necessidades da criança, revelando
uma imagem de criança feliz, criativa, curiosa, ativa e carregada de afetividade. Podemos
60
então sugerir que o núcleo central se refere à infância enquanto período de desenvolvimento,
ao que é ser criança, conforme abordado por Javeau (2005) relacionado ao campo semântico
“criança”.
Os demais grupos de evocações que alcançaram ordens médias superiores e/ou
freqüências inferiores, provavelmente fazem parte do sistema periférico da representação, ou
seja, são dotados de grande flexibilidade, permitindo que esta seja formulada em termos
concretos e compreensíveis. São estes elementos que permitem a ancoragem na realidade
imediata, ajustando a representação às mudanças no contexto e às experiências individuais,
protegendo o núcleo central, na medida em que absorvem e reinterpretam as mudanças nas
situações reais. (ALVES-MAZZOTTI, 2005)
No segundo quadrante estão alguns dos grupos de palavras que alcançaram ordem
média superior, mas que foram bastante evocados e que possivelmente fazem parte do
primeiro nível do sistema periférico da representação. Esses elementos são compartilhados
por muitas pessoas do grupo, mas não são muito acessíveis, ou seja, não estão presentes na
memória imediata dos sujeitos, porque o foram evocadas primeiramente, sugerindo que,
embora eles provavelmente não façam parte do núcleo central da representação,
desempenham um papel importante nas ancoragens que protegem esta representação. É
importante verificar que estes dois grupos de palavras ancoram-se nas vivências das
professoras, com as crianças e quando eram crianças, remetendo aos espaços da infância na
sociedade atual e que estão reduzidos a estes dois contextos de desenvolvimento: a família e a
escola (instituição de educação infantil).
No terceiro quadrante está o conjunto de evocações que, embora pouco freqüentes,
foram evocadas mais imediatamente. Como pode ser observado, os grupos de palavras estão
principalmente relacionados às reminiscências carregadas de emoção e remetem àquilo que
ficou marcado nas lembranças de infância dos sujeitos. As evocações com baixa freqüência e
ordem média baixa são menos compartilhadas pelo grupo, mas são prontamente evocadas por
algumas pessoas, mostrando que são bastante significativas para estas pessoas e, portanto, os
significados que elas veiculam são carregados de afetividade e desempenham um papel
importante na determinação das atitudes em relação à representação que está sendo
investigada.
Por último, no quarto quadrante, estão os grupos de evocações menos freqüentes e
também menos salientes, que constituem o sistema mais periférico, que permite compreender
algumas das elaborações pessoais em relação à representação.
61
A organização das evocações apresentada acima permite conhecer a estrutura da
representação. A constituição dos quadrantes é baseada em freqüência e ordem e não
necessariamente haverá uma associação significativa entre as palavras do mesmo quadrante.
Portanto, para compreender como estes elementos são incorporados ao campo da
representação e se articulam, ou seja, a sua dinâmica, é necessário conhecer os significados
que lhes são atribuídos, buscando perceber como eles se complementam e conflitam, são
gerados e alterados.
Para conhecer e compreender os possíveis significados desses elementos, realizou-se a
segunda etapa da pesquisa.
5.3 Segunda etapa da pesquisa
Nesta etapa da coleta de dados, participaram as mesmas professoras da etapa anterior,
buscando confirmar o que foi observado na associação livre sobre a estrutura da representação
social e avançar no conhecimento da sua dinâmica, conhecendo um pouco dos significados
atribuídos aos elementos da representação.
3.5.1 Geração de dados
Logo após cada professora ter escrito a lista de palavras para a associação livre,
pedimos que fizesse um desenho que expressasse numa imagem o que para ela representava a
infância. Esta estratégia foi utilizada como uma forma de evitar que as professoras
respondessem de forma acadêmica, sem revelar verbalmente seus sentimentos sobre o tema
proposto, considerando que a pesquisadora é a Coordenadora Pedagógica da Secretaria
Municipal de Educação, o que poderia modificar as respostas em torno de um discurso que as
professoras pudessem supor que a pesquisadora gostaria de ouvir.
Imediatamente após desenharem, solicitou-se que, no verso da folha, escrevessem
sobre o que tinham feito.
3.5.2 Análise de dados
Para analisar os desenhos e a escrita sobre eles elaboramos a Tabela 5 (com base em
8.26 Anexo 26 Dados Gerados na Primeira e Segunda Etapa da Pesquisa) procurando
perceber quais seriam as categorias possíveis, se as palavras utilizadas eram as mesmas ou
remetiam àquelas listadas na associação livre.
62
Em relação aos desenhos, listamos todos os elementos que apareceram e, embora na
associação livre as palavras relacionadas à brincadeira tivessem sido mais evocadas, nos
desenhos, o que mais apareceu foram elementos da natureza como árvores, flores, sol, nuvens,
retratando cenários idílicos de crianças em situações de brincadeira envolvendo a interão
entre crianças ou entre adultos e crianças. Há que se considerar que elementos da natureza são
também representações comuns nos desenhos de muitas pessoas que não usam essa
linguagem com muita freqüência, vindas de uma educação em que todos eram ensinados a
desenhar da mesma forma.
Tabela 5. Número de desenhos de acordo com os elementos representados
Própria infância (16)
Brincadeira Sim (13) Não(3)
Natureza Sim(11) Não(2) Sim(2) Não(1)
Interação sim não sim não sim não sim não
9 2 2 0 1 1 1 0
Direitos e necessidades da criança (15)
Brincadeira Sim(12) Não(3)
Natureza Sim(8) Não(4) Sim(3) Não
Interação sim não sim não sim não sim não
6 2 4 0 0 3 0 0
Uma categorização possível dos desenhos (sempre relacionando-os com a escrita das
professoras) é baseada na ênfase nas lembranças da própria infância ou nos direitos e
necessidades importantes para a infância. Neste aspecto, quinze professoras enfatizaram
aspectos que são direitos da infância e o que consideram necessidades essenciais da criança e
dezesseis professoras reportaram-se a sua própria infância.
Foi observado que 25 professoras destacaram a brincadeira de alguma forma e, destas,
19 professoras explicitaram a brincadeira ao ar livre, incluindo elementos da natureza,
citando-os e justificando-os na sua escrita. Apenas seis professoras não mencionaram a
brincadeira nos textos nem nos desenhos e algumas usaram símbolos ou metáforas para
explicitar seus pensamentos sobre a infância
Outra característica predominante nos desenhos é a representação de interações
criança-criança e adulto-criança.
63
Desta forma, a imagem de crianças brincando juntas, criança-criança, ao ar livre é a
mais predominantemente utilizada pelas professoras para representar a infância e, por isso, ela
pode ser considerada uma imagem protopica, da mesma forma como fora defendido por
Rousseau, na qual a ênfase na natureza era uma forma de desprezar os valores da civilização.
Assim, é provável que as infâncias que o se aproximarem desse protótipo, demonstrado
pelas professoras, sejam consideradas “anormais” ou “não-infâncias”.
Algumas professoras preferiram utilizar os desenhos como imagens simbólicas
(metafóricas) e não como cenas prototípicas, como pode ser observado nos quadros abaixo,
tornando concretos alguns significados abstratos, ou seja, objetivando-os. Optamos por
agrupar as imagens metafóricas em 5 grupos, conforme o que nos ficou mais relevante.
As metáforas apresentadas no quadro 3 acima ressaltam a infância como uma
importante fase da vida que vai subsidiar a constituição da pessoa. O significado desta fase da
vida é complementado por outras metáforas:
Quadro 3 Imagens metafóricas relativas à infância enquanto etapa de
desenvolvimento
Elementos dos
desenhos
Justificativa
Coração Assim como o coração/ É uma das partes principais/ Do nosso corpo./
A infância é entre todas as fases,/ A mais significativa./ Nela podemos
construir/ Um ser completamente feliz e realizado /Ou uma pessoa
totalmente /Frustrada e infeliz.
Uma caixa em que
brinquedos como
ursinhos, bola e
caminhão parecem
saltar para fora.
Criança, uma verdadeira caixinha de surpresa, infância algo gico,
fase que marca toda vida. Infância boa e saudável para mim, é aquela
em que a criança tem a oportunidade de viver bem, de brincar,
cantar, se divertir, se desenvolver em um ambiente adequado para sua
idade, de ter suas necessidades supridas adequadamente, de ser
respeitada, enfim, infância é uma grande caixa que contém um mundo
mágico.
64
Quadro 4 Imagens metafóricas que se referem ao futuro da criança
Elementos dos desenhos Justificativa
Elefante de costas. O elefante de costas, é a consideração do que tenho que
alcançar lá na frente no futuro. A visão do elefante é o
olhar longe, alto o que serei quando crescer. Um elefante de
pelúcia é o confidente o amigo, o doutor. Leva inúmeras
histórias e vivencia muitas cenas, algumas alegres outras
tristes.
Uma criança engatinhando em
direção ao globo terrestre.
A criança [dirigindo-se] para um mundo de possibilidades,
desafios e ao mesmo tempo parte deste mundo.
Três bonecos, cores diferentes,
sem expressão facial, globo
terrestre ao longe sobre as
cabeças.
Todos unidos por um mundo melhor. Com dedicação, amor
e esperança conseguiremos fazer com que as nossas
crianças tenham um futuro digno.
Flores Representei a liberdade, o amplo universo diante do qual a
criança está para conquistar o que desejar. As flores
representam que ela jamais estará só.
Colinas As colinas e depressões, que ela terá fracassos e vitórias em
sua vida, mesmo quando criança.
Estas imagens concretizam a idéia de vir-a-ser, expressando a visão da criança como
um projeto, aberto a todas as possibilidades, tanto de sucessos quanto de fracassos. São
complementadas por outras imagens que traduzem as idéias implícitas sobre a socialização da
criança que deve ser guiada pelos adultos para que as suas possibilidades sejam de sucesso e
não de fracasso, tal concepção revelada através das metáforas assemelha-se ao que Rousseau
também preconizou, da qual o preceptor (quem cuidava da educação em sua época) tinha
como função orientar e dirigir a criança àquilo que lhe é natural.
Quadro 5 Imagens metafóricas referentes às necessidades da criança (cuidado,
proteção, orientação)
Elementos dos desenhos Justificativa
Pássaros voando no céu Os ssaros representam os Anjos que a guardam.
Sol O sol o calor humano, o calor de Deus e a sua proteção.
Criança empinando pipa A pipa representa a criança sendo guiada pelos seus pais e
educadores, para que possa alcançar o alto que representa,
por sua vez, o conhecimento e seu desenvolvimento como um
todo.
Portanto, a criança-projeto deve ser guiada pelos adultos - pais e professores – para se
desenvolver e adquirir conhecimento. É importante ressaltar que esta imagem foi produzida
por apenas uma professora.
65
Em contraste com esta visão de socialização, outras imagens apresentam uma criança
conquistadora do mundo e, portanto uma idéia de socialização como participação na produção
cultural do grupo.
Quadro 6 Imagens metafóricas que revelam uma criança conquistadora do mundo
Elementos dos
desenhos
Justificativa
Caminhão Desenhei o caminhão... é uma forma de inda e vinda e alegrias,
sucessos, leva e traz sonhos, afeto e um mundo de imaginações
[...]
Bola A bola rola: harmonia, desafios, correr atrás do que eu preciso eu
quero. Abraçar a bola é como agarrar um mundo inteiro um todo,
cheio, algo que ocupe todo meu ser.
Boneca com ponto de
interrogação e outro de
exclamação sobre a
cabeça.
A boneca representa o brincar, que é a peça chave para o
desenvolvimento da criança. Os pontos de interrogação e
exclamação simbolizam avida e a descoberta, que faz parte de
toda a infância.
Uma bicicleta na estrada A bicicleta é um brinquedo adorado pelas crianças. Na verdade,
não foi algo que tive muito contato, pois tinha tanto medo e cada
vez que tentava era um desafio. Percebo que é um momento que
possibilita vencer medos, superar obstáculos. É algo, ou melhor
uma brincadeira, que ajuda na auto-estima das crianças. É o
simples, mas precioso, contato com o vento que sopra no rosto; é
o sentir o chão quando precisa parar.
A imagem expressa nestas metáforas, é de uma criança poderosa, ousada, que pode
conquistar o mundo, criar seu próprio espo.
Conjuntamente com estes, circulam também alguns significados que revelam uma
imagem idealizada da criança.
Quadro 7 Imagens metafóricas relacionadas a uma criança idealizada
Elementos dos desenhos Justificativa
Bonequinhos de os
dadas em uma roda
As crianças não em as diferenças: uma nas outras. Não
possuem malícias, são inocentes, por isso sempre brincam
juntas. Não distinguem cor, raça, origem. São apenas crianças.
Um rosto de criança Este desenho representa a alegria, a vivacidade e
espontaneidade que a infância traz. Os olhos bem abertos
representam o fascínio e a luminosidade que a criança traz em
si.
Esta criança idealizada, naturalmente boa, perpetua significados que emergiram a
partir das idéias de Rousseau, que considerava que era a sociedade que corrompia a criança.
66
A seguir será realizado um cruzamento dos resultados obtidos a partir da alise das
evocações e da análise dos desenhos e respectivos textos.
5.4 Cruzamento dos resultados das duas primeiras etapas
Na primeira etapa da geração de dados realizada através do procedimento de
associação livre foi possível conhecer a estrutura da representação social sobre infância das
professoras da educação infantil do município de Corupá, identificando-se os elementos que
possivelmente constituem o núcleo central e os que se organizam no sistema peririco. Esses
elementos podem ser organizados em categorias, distribuídas nos quatro quadrantes (quadro
das quatro casas) como mostrado na tabela 6:
Tabela 6 Quadro das quatro casas” mostrando a freqüência das categorias de
evocações induzidas pela palavra “infância”.
Núcleo central
F
Primeira periferia
F
Brincadeira
25
escola
10
afetividade
45
família
6
movimento
11
criati
vidade
9
curiosidade
8
cuidado
10
etapa de vida
13
Segunda periferia
F
Terceira periferia
F
Recordações:
4
atividades
6
sabores
2
interações
7
imagens
7
Sensações
13
sons
4
Valores
5
Essa categorização, foi realizada para facilitar a discussão sobre os significados que
predominam em cada quadrante. Esses significados podem ser paralelos e até mesmo
conflituosos, considerando que a representação é polissêmica. Desta forma, procurou-se
destacar os significados mais partilhados e mais salientes relativos aos quadrantes, que podem
ser vários e não apenas um.
4.5.1 Infância, período de desenvolvimento – ser criança
Nos desenhos e nas escritas sobre eles, as professoras reiteram e justificam a
importância das evocações localizadas no primeiro quadrante, ao revelarem sua preocupação
em relação aos direitos e necessidades da criança, enfatizando o seu desenvolvimento
psicológico, associado à garantia de cuidados e afetos:
67
Toda criança tem direito ao lazer, a brincar, se divertir junto das
pessoas que os amam (Anexo 26, P.1).
[...] uma criança precisa de muita atenção, precisa se sentir bem no
ambiente em que está, brincar muito e que o adulto seja bem participativo tanto
nos cuidados como nas brincadeiras (Anexo 26, P.2).
O desenho representa tudo o que a criança é, ou seja, alegria, vida. E
também aquilo que ela espera de s adultos, muito amor, carinho,
compreensão (Anexo 26, P.13).
Cuidar, trocar, alimentar e respeitar os limites procurando mudá-las e
educá-las para a vida, usando criatividade nas brincadeiras, participando
(Anexo 26 P.24).
A necessidade de garantir cuidados e afetos é justificada pelo reconhecimento da
importância da infância enquanto etapa fundamental e decisiva na vida da pessoa. Este
reconhecimento é expresso em metáforas como “caixa de surpresas” e coração, esta última
apresentada como uma analogia que a legitima:
Infância boa e saudável é aquela em que a criança tem a oportunidade
de viver bem, de brincar, cantar, se divertir, se desenvolver em um ambiente
adequado para sua idade, de ter suas necessidades supridas adequadamente,
de ser respeitada, enfim, infância é uma grande caixa que contém um mundo
mágico (Anexo 26, P.37).
Criança, uma verdadeira caixinha de surpresa, inncia algo mágico,
fase que marca toda a vida (Anexo 26, P.37).
Assim como o coração É uma das partes principais do nosso corpo, a
infância é entre todas as fases, a mais significativa. Nela podemos construir um
ser completamente feliz e realizado Ou uma pessoa totalmente frustrada e
infeliz (Anexo 26, P.21).
Essas metáforas condensam em duas imagens dois significados que, embora distintos,
estão relacionados: caixa de surpresas traz o sentido de imprevisibilidade, de abertura a uma
variedade de possibilidades, por isso é considerada como “algogico”. Mas este significado
contém também o seu próprio limite, traduzido pela idéia de que “marca toda a vida.
Portanto, dependendo do “mágico que abrir, a caixa de surpresas pode, eventualmente,
tornar-se uma caixa de Pandora. É essa idéia que sugere a comparação com o coração: como o
bom funcionamento deste é fundamental para a sobrevivência do corpo, uma infância boa e
saudável” é fundamental para que a pessoa seja “um ser completamente feliz e realizado.
A importância atribuída à infância, enquanto etapa do desenvolvimento (a infância-
coração) é assim explicada:
[...] acredito que a infância é a fase mais importante que o ser humano
passa, pois é nesta fase da vida que inicia-se todo o seu processo de formação
pessoal, social e cultural, de acordo com o meio em que vive... (Anexo 26, P.9)
68
Isto pode ainda ser ressaltado pelo fascínio da infância, representado por um rosto de
criança justificado desta maneira:
Este desenho representa a alegria, a vivavidade e espontaneidade que a
infância traz. Os olhos bem abertos representam o fascínio e a luminosidade
que a criança traz em si (Anexo 26, P.39).
Nesse sentido, a importância da infância está sobretudo no fato de ela ser vista como
uma promessa de futuro:
Todos unidos por um mundo melhor. Com dedicação, amor e esperança
conseguiremos fazer com que as nossas crianças tenham um futuro digno
(Anexo 26, P.28).
A infância, no desenho vejo a preocupação com as crianças o futuro
que elas vão ter ou seguir, será que vão para um caminho com objetivos.
Quando criança, brincamos de papai, mamãe, com a inocência que temos sem
saber que um dia isso a brincadeira pode ser tornar realidade (Anexo 26, P.8).
A criança para um mundo de possibilidades, desafios e ao mesmo tempo
parte deste mundo (Anexo 26, P.10).
Esta idéia de futuro, de preocupação com o vir a ser e com as possibilidades que
poderão ser oferecidas à criança está também presente na metáfora representada pelo desenho
do “elefante de costas:
O elefante de costas; é a consideração do que tenho que alcançar lá na
frente no futuro. A visão do elefante é o olhar longe, alto o que serei quando
crescer (anexo 26,P.4).
A brincadeira, conforme algumas professoras, seria a “peça chave para o
desenvolvimento da criança”, ou seja, a brincadeira é vista como a chave certa para abrir a
caixa de surpresas:
...Deste modo é importante oferecer/ oportunizar brincadeiras de faz-
de-conta, histórias, diferentes brinquedos para que a criança sinta-se
estimulada a desenvolver suas potencialidades e habilidades (Anexo 26, P.9).
Infância nada mais é do que se descobrir brincando. A boneca
representa o brincar, que é pa chave para o desenvolvimento da criança. Os
pontos de interrogação e exclamação simbolizam a vida e a descoberta que
faz parte de toda a infância (Anexo 26, P.7).
Criança adora brincar. Ela expressa seus sentimentos brincando. O seu
desenvolvimento vai mais longe a cada dia que ela cresce (Anexo 26, P.17).
[...] infância é brincadeira, descoberta, alegria, prazer é vida (Anexo
26, P.5).
69
Este desenho representa a criança em sua infância em pleno
desenvolvimento físico, mental e também o social, brincando livremente (Anexo
26, P.15).
Infância é tempo de brincar, de pular amarelinha, jogar bola, pular
corda e trepar em árvores. As crianças dessa idade fantasiam, onde sonham e
representam papeis do seu cotidiano ou o que almejam alcançar algum dia
(Anexo 26, P.29).
Desta forma, a defesa da brincadeira é aqui colocada de um ponto de vista
desenvolvimental, como essencial para o desenvolvimento da criança.
4.5.2 Os contextos da infância: escola e família
No grupo de palavras do segundo quadrante, considerado como primeiro nível
periférico, estão palavras relacionadas à escola (instituição de educação infantil) e à falia, e
as professoras revelam a necessidade de parceria entre estas duas instituições sociais:
Todo esse processo de formação da criança precisa ser uma parceria
entre família e instituição, respeitando-se assim, cada uma das partes
envolvidas, bem como a criança que é singular, com vontades, desejos próprios
(Anexo 26, P.9).
A importância do convio familiar é ressaltada, como base para o futuro, também
revelando uma imagem de família universal e idealizada:
Uma família é o que a casa representa, onde possamos sentir que o
valor é levar para a vida a nossa alegria de brincar e se divertir. Porque com
tudo isso [que] a gente tiver na infância com certeza teremos ou seremos uma
boa pessoa no futuro (Anexo 26, P.16).
A pipa representa a criança sendo guiada pelos seus pais e educadores,
para que possa alcançar o alto que representa por sua vez o conhecimento e
seu desenvolvimento como um todo (Anexo 26, P.40).
A família também se basta por ela mesma, porque o amor supera tudo:
Uma família feliz e unida, sem discriminações de religião ou respeito as
diferenças de opiniões, vivendo o dia a dia superando tudo com o amor (Anexo
26, P.18).
Infância é uma idade sem tempo, onde os minutos não contam e as
horas passam repletas de felicidade. Ou pelo menos deveria ser: a criança
sempre envolvida com a família, muito feliz, aproveitando todos os momentos,
como as refeições, o dormir, o acordar, o brincar/ lazer...( Anexo 26, P.32).
O contexto da escola, ou CEI, com ênfase no papel da professora, também foi
mencionado por algumas professoras:
70
Neste desenho quero demonstrar que para se trabalhar na Ed. Infantil
precisa-se primeiro gostar de crianças, ama-las de forma que preencham as
lacunas do seu desenvolvimento (Anexo 26,P.24).
A necessidade de parceria com as famílias requer um novo paradigma que não se
compatibiliza com a inncia e família idealizada. Bem como a necessidade de afirmar o papel
de professora sugere-se articulado com a caracterização da infancia cidadã que, conforme
Kramer (2006) um discurso que pode ser mal interpretado leva muitos adultos a não saberem
exatamente qual é o seu papel em relação à criança. Assim, educação infantil e famílias
conflituam suas relações na busca por estabelecer seus campos de ação.
4.5.3 Reminiscências: as marcas da infância
No segundo nível periférico da representação eso grupos de evocações referentes
ao que ficou da infância para as professoras, as marcas, carregadas de saudosismo:
Escrever sobre infância é sempre um prazer pra mim, sempre me
reporto a minha que foi muito significativa para mim, como também procuro
fazer um trabalho com minhas crianças nesse sentido. É preciso brincar, se
envolver nas brincadeiras, dar vida a elas (Anexo 26, P.5).
Quando criança morei no interior, onde minha infância era muito
pobre, mas eu era feliz. Brinquei muito no rio, tomei banho, andava nos matos.
Sempre adorei plantar flores elas perfumam nossa vida. Minha casa era como
a do desenho, por esta rao a simplicidade é minha aliada, amo o que é
simples e verdadeiro como a natureza (Anexo 26, P.6).
Pretendo com este desenho lembrar da minha infância, que brincava
com meu irmão e amigos em casa depois que chegava da escola, brincava de
pular corda, de pega-pega, de fazer cabana com bambu, subir em árvores e
colher goiaba, jabuticaba e outras frutas, era bem divertido. Mas hoje vejo que
as crianças não brincam mais destas coisas saudáveis, querem computador,
jogos eletrônicos (Anexo 26, P.11).
A imagem marcante da minha infância é eu e meu pai juntos. Todos os
momentos com o meu pai foram de exploração e aquisição de conhecimentos.
Sempre de mão dada, no colo ou simplesmente ele brincando comigo. As
histórias contadas por ele na mesa após o jantar. A segurança que ele
transmitia, para que eu ousasse ir um pouco mais além. Sempre mostrando que
com coisas simples e elementos da natureza se podia crescer, desenvolver e
aprender prazerosamente (Anexo 26, P.19).
Através do meu desenho estou representando uma das brincadeiras
mais prazerosas que vivi na minha infância. Meus avós maternos faziam uma
roça para cultivar arroz todos os anos e quando chegava a época da colheita a
família reunia-se para realizá-la. Todos ajudavam até nós crianças (eu e meus
primos). Depois de cortado o arroz era batido num caixote e a palha era
jogada toda num lugar formando uma verdadeira montanha de palha seca,
então vinha a melhor parte embalar, correr e pular em cima, se jogar sobre ela
71
a abaixar a montanha. Que delícia belos tempos, tempos que ficam
eternamente na lembrança de uma infância maravilhosa (Anexo 26, P.20).
Subir em árvores, taí uma referência de infância para mim, ainda não vi
uma criança que não goste! Brincadeiras de bola e de esconder, também
lembram a infância, assim como joelho roxo ou esfolado. Na infância tudo
parece mais colorido e divertido e os problemas são do tamanho da nossa
estatura. Infância é brincadeira (Anexo 26, P.22).
Minha infância me traz muitas lembranças, mas qual me faz lembrar
com alegria é do tempo em que brincava de Escolinha com minhas amigas
(Anexo 26, P.23).
Infância lembra uma casa no campo, fogão a lenha repleto de
gostosuras, muitos amigos e brincadeiras, banhos de rio, natureza, histórias
contadas pelos pais, tios e avós (até histórias de terror), cantigas de roda e
muitos objetos (diversos) utilizados para o faz-de-conta imitando os adultos e
outras crianças (Anexo 26, P.25).
No desenho eu recordo do primeiro lugar onde morei com meus pais.
Minha casa era pequena e na frente dela ficava a árvore onde meu pai fez meu
balanço, com um pedaço de corda que ele não usava mais. É deste tempo que
mais sinto falta e saudade, morávamos em um sítio, eu tinha muito espaço e
liberdade para brincar (Anexo 26, P.30).
O circo na minha infância foi muito significativo, pois lembro de
momentos alegres com palhaços e acrobacias. O rio, árvores, frutas, peixes
estavam muito presentes na minha vida, pois convivia com este cenário
diariamente que era a minha casa (Anexo 26, P.31).
Quando foi pedido para desenhar sobre a infância (uma imagem que
representasse), logo veio na mente a minha inncia que vale ser lembrada:
uma infância cheia de alegrias, pois sempre estava toda a família unida, meus
pais querendo o melhor para os filhos; quando era bebê todos queriam me
pegar no colo, mimar, acariciar e eu sentia uma felicidade enorme, sempre
sorridente, batia palmas para as fotos, todos me achavam muito fofinha e
bonita e dessa infância que eu lembro com muito carinho, claro que tinha medo
de enfrentar os desafios do dia-a-dia, descobrir coisas novas, mas sempre
encontrava apoio, protão da família que eu amo muito!!! (Anexo 26, P.35).
O que mais me remete a infância é a recordação das férias. Nas rias
sempre ficávamos na praia (na casa de praia). O sol, o mar os castelos de
areia; divero do amanhecer ao entardecer. Quanto ao barquinho, é uma
doce lembrança, nos dias de chuva o meu pai ensinava a dobrar barquinhos, os
quais nos jogávamos da janela, para ver as águas levarem (Anexo 26, P.38).
A saudade está guardada nitidamente em minha memória. O gosto da
jabuticaba está na minha boca. As brincadeiras no pé de jabuticaba eram
intermináveis. A árvore na nossa o virava um avião uma cabana, ou até uma
casa cheio de dependências. Cada galho era um quarto, uma sala. A
imaginação e a fantasia era o eixo das nossas brincadeiras. O que era legal os
piqueniques que fazíamos em baixo da árvore. Que saudades! Que bom que
ficou na lembrança (Anexo 26, P.41)
Além das boas lembranças, há marcas mais dolorosas, mas que talvez tenham sido
necessárias para mudar as vidas, como relatam algumas professoras:
72
Era uma vez na cidade ondes morávamos chamada Ireneópolis o pai
e mãe sempre lutando para dar o melhor para s. Eu (P.36), Maria Sandra,
Andréia tinham uma boa mais ainda estavam a trabalhar na época papai
plantava fumo ou tabaco tudo estava indo bem quando derrepente tudo
começou dar errado pai estava desanimado o meu tio estava abrigar por
que nada certo por você e um pé frio e não adianta você nunca vai ser ninguém
na vida, quando um belo dia de verão da uma forte chuva de pedra e caba com
tudo a casa as plantas ete com nossa vida foi então que viemos aCorue
estamos até hoje (Anexo 26, P.36).
Neste desenho eu expressei minhas vontades como criança... Atrás da
árvore ali, bem pequenina, sou eu com um caderno na o. Eu estou só. Do
outro lado da árvore sou eu também, além da minha imaginação, com meu pai
jogando bola. Por que a bola? Porque meu pai queria ter um filho homem! Eu
como criança, queria um pouco de carinho, atenção, compreensão!
Infelizmente ou felizmente hoje eu sou a (P.3), uma criança grande. Hoje tenho
um filho e estou educando ele como uma criança que tem uma infância muito
feliz, uma família unida e que o ama muito. Procuro não passar para ele todas
as minhas frustrações para não sobrecarregá-lo de “brincadeiras e carinhos”.
Como professora aprendi muito com as crianças e ainda tenho muito à
aprender. Hoje eu saí de traz da árvore! (Anexo 26, P.3).
A partir destes relatos das professoras, retornamos ao que foi abordado por Demartini
(2002), que os relatos sobre a infância, fazem referência com os periodos vividos na infância
de cada um, sobre um tempo particular que ficou para trás, mas que foi bastante significativo
e por isso podem imergir.
4.5.4 Vivências pessoais
Quanto ao terceiro nível periférico da representação, encontramos palavras que
parecem relacionadas com as imagens individuais, ou seja, algumas elaborações pessoais das
professoras em relação à representação.
Brincar sozinho às vezes pode ser bom, mas em grupo é muito melhor,
se aprende mais, se experimenta mais nem que seja pela imitação (Anexo 26,
P.5).
O amor, o carinho faz parte de uma educação saudável, nunca estar
sozinho pois a solidão machuca, precisamos ter vários amigos, onde com
certeza ajudaram em nossas vidas. Amizade é algo que deveremos ter no
ontem, hoje e sempre (Anexo 26, P.12).
[...] retrata também 2 meninas brincando, onde a amizade, ter com
quem partilhar os momentos que temos na infância também é muito importante
(Anexo 26, P.16).
Ela está no ar livre. Está livre para brincar, tem um dia ensolarado,
cheio de pássaros no ar. [...] Crianças estão na maioria das vezes brincando
unidas. São amigos de todos. Feliz é a criança que brinca (Anexo 26, P.17)
Quando criança tudo é magia, é colorido irreal. O sol pode ser azul,
que é lindo, a amiga pode ter o cabelo laranja mas continua sendo linda e a
73
melhor amiga. As árvores azuis e as flores verdes, por que não? Isto depende
de como eu estou hoje, feliz tudo colorido; triste, então vou pintar tudo negro,
preto. Os adultos seguem uma rotina, são como zumbis, fazem tudo direitinho,
como quinas. Como criança, pintar a cor que eu gosto isto é que importa,
fazer pelo coração e não pela razão (Anexo 26, P.33).
Este desenho representa a alegria, a vivacidade e espontaneidade que a
infância traz. Os olhos bem abertos representam o fascínio e a luminosidade
que a criança traz em si (Anexo 26, P.39).
Representei a liberdade, o amplo universo diante do qual a criança está
para conquistar o que desejar (Anexo 26, P.40).
Tais relatos permitem compreender que ao longo da história de cada professora, na sua
formação como educadora e no exercício do seu trabalho, ela vai construindo suas idéias a
cerca de como devem ser educadas as crianças. Esta construção acontece baseada nos valores,
nos conhecimentos e nas crenças que são construídas pelas vivências e pelas reflexões de cada
professora.
Os desenhos e a escrita sobre os desenhos possibilitaram que se começasse a
compreender alguns dos significados das evocações que apareceram na associação livre.
A articulão entre os significados de todos os quadrantes foi assim colocada por uma
professora:
Neste desenho retratei sobre o que a inncia significa para mim
enquanto pessoa... e, principalmente enquanto educadora! Acredito na infância
realizadora, cheia de sonhos, medos e que só precisam ser explorados de
maneira que faça a criança crescer. A inncia é o período pelo qual as
crianças precisam de subdios e apoio, pois, as mesmas o muito curiosas e
adoram vivenciar tudo aquilo que sua imaginação permitir. Infância é: brincar,
é cantar, é montar, é desmontar, é ter curiosidade... é explorar tudo a sua
volta, cabendo ao adulto (educador, pai, mãe...) permitir que isso tudo de fato
realmente aconteça de maneira prazerosa e significativa. Infância é sentir-se
livre para crescer!!! (Anexo 26, P.34).
Para compreender como estes significados são gerados e transformados e de que forma
o compartilhados pelos sujeitos foi necessária a terceira etapa da pesquisa.
5.5 Terceira etapa da pesquisa –
Nesta terceira etapa da coleta de dados, busca-se explicitar os significados atribuídos
aos elementos que constituem a representação sobre infância. Para isso, optou-se pela
constituição de grupos focais.
Diferente de uma entrevista semi-estruturada em que um único respondente, no
grupo focal tem-se um grupo de respondentes. Neste caso, o objetivo principal não é contar
74
opiniões ou pessoas, mas sim explorar as várias opiniões, as diferentes representações sobre o
assunto em questão. Ou seja, o interesse está na variedade de pontos de vista sobre o mesmo
assunto. (BAUER & GASKEL, 2002)
Conforme registra Banchs (2005, p. 407)
El espacio público es el lugar de desenvolvimiento de esa inagotable y
exquisita actividad que es conversar. Encontrarse y conversar es un placer
que, quizás por formar parte de la cotidianidad, no valoremos lo suficiente.
Entonces podamos decir que las representaciones se construyen desde un
lugar de placer, de descarga emocional, de encuentro, de afectos que, no
obstante, puede tambn se un espacio de tensiones y ambigüedades.
Neste sentido, completa afirmando que
Si las conversaciones (llaménse intercambios de habla, prácticas discursivas,
comunicacn) son el vehículo a través del cual damos sentido a nuestro
mundo cotidiano, de las técnicas cualitativas de recoleccn de datos, los
grupos focales son lo mas cercano a una conversacn espontánea. (idem,
p.410)
Conforme Gatti (2005), em um grupo focal:
É possível observar o processo do grupo, a dinâmica da atitude e da
mudança de opinião e a liderança de opinião;
o ambiente mais natural e holístico, porque os participantes levam em
consideração os pontos de vista dos outros na formulação das respostas;
o debate aberto e acessível a todos, com assuntos de interesse comum;
na troca de pontos de vista, idéias e experiências;
as diferenças de status entre os participantes não são levadas em
consideração;
tradicionalmente compreende de 6 a 8 pessoas desconhecidas
anteriormente, mas às vezes a familiaridade entre os participantes pode
ser uma vantagem;
o moderador tem um tópico guia que sintetiza as questões e assuntos da
discussão;
o moderador encoraja todos os participantes a falar e responder aos
comentários e observações dos outros membros do grupo.
Geralmente, os grupos são compostos por pessoas que não se conhecem entre si e a
conversa se realiza em lugar equipado de forma devida, destinado para este fim. Porém, os
fins a que este trabalho se propõe, ou seja, significar as representações, o desejável é reunir
um grupo de pessoas que se conhecem (Banchs, op. cit., p. 411). Considerando que o grupo
de professoras costuma reunir-se em suas unidades (escolas/creches) ou ainda em
capacitações docentes, que algumas trabalham no mesmo local e são as mesmas que já
75
participaram das etapas anteriores da pesquisa, sendo que apresentaram-se voluntariamente
para participar do grupo focal.
É necessário também considerar, conforme registra Banchs (2005) que,
independentemente do fato de os participantes do grupo focal se conhecerem ou não,
dependendo da interação com o dia, a hora, o tema, etc. produzem dinâmicas diferentes, nas
quais os processos gicos de pensamento, os conteúdos, a mobilização de emoções e afetos,
os processos de interação, a presea do facilitador, a relação que pode ter com os
participantes, a forma de apresentação do facilitador, o assunto sobre o tema a ser discutido e
até mesmo a presença de gravadores ou o uso de filmagens, são aspectos que influenciam para
que se criem atmosferas particulares em cada caso.
As emoções e afetos também se fazem presentes em todo encontro humano e, quando
uma das pessoas em interação permite-se expressá-las verbalmente, um enriquecimento
considerável à discussão, aparecem pontos de vista diferentes, conflitos, ou até uma catarse
coletiva, conforme aparecem as revelações de uma e outras em relação a um mesmo tema
(idem). Banchs (op. cit, p. 414-415) descreve:
[...] en el proceso se mezclan contenidos de vivencias personales y de
conocimientos, lecturas, informaciones mediáticas sobre el tema. Algunas se
inhiben de hablar por completo ni de si mismas ni de opinar sobre la
situación de las demás. Otras al contrario, por mimetismo, comienzan a
evocar experiencias personales. Es el caso que en este tipo de situaciones se
construye un nuevo sentido, es decir, se movilizan y cambian las
representaciones en la medida en que el intercambio permite a)tomar
contacto y tener conciencia de emociones a veces reprimidas y b) darse
cuenta de la existencia de problemas comunes.
O aspecto destacado acima por Banchs foi fundamental no contexto das professoras
que participaram dos grupos focais, pois pelo fato de serem companheiras de trabalho, e assim
já terem estabelecida uma relação afetiva, sentiram-se bem à vontade para compartilhar suas
experiências e suas lembranças de infância. Nesse clima de familiaridade, até professoras que
geralmente são mais tímidas, falaram e expuseram suas vivências e opiniões, fortalecendo a
discussão do grupo e a construção da representação social.
5.5.1 Geração de dados
Foram então constituídos dois grupos focais, cujos participantes foram decididos entre
as próprias professoras. A pesquisadora delimitou de uma a duas participantes por escola
(conforme a quantidade de professoras da unidade) e nas creches seria uma professora
76
representando cada turma de crianças. Os grupos focais foram realizados no dia 14 de
dezembro de 2006.
Um grupo foi realizado com cinco das professoras que atuam nas turmas de Jardim de
Infância e Pré-Escola dentro das escolas de ensino fundamental e aconteceu no período da
tarde às catorze horas, considerando que duas professoras que haviam confirmado a sua
participação não compareceram. O outro grupo foi constituído por nove professoras que
atuam nas creches e aconteceu às dezenove horas.
As participantes chegaram tensas ao local do encontro, porque haviam sido informadas
sobre a possibilidade de o grupo focal ser gravado e videografado. Em vista disso, optamos
somente pela gravação.
Sobre como iniciar uma discussão em um grupo focal Gaskel (2002, p. 80) sugere
Os moderadores podem usar recursos de livre associação, figuras, desenhos,
fotografias e mesmo dramatizações como materiais de estímulo para
provocar idéias e discussão, como uma estratégia de fazer com que as
pessoas usem sua imaginação e desenvolvam idéias e assuntos.
Com o desejo de que a discussão fomentasse uma conversa espontânea sobre infância,
porém produtiva, adotou-se como estratégia a exibição de um filme de aproximadamente seis
minutos e cinenta segundos, intitulado “Como voera”
15
. O filme mostra crianças em
atividade de brincadeira e criação, destacando sua curiosidade, iniciativa, inventividade e
auto-confiança e incentivando os espectadores a lembrarem de como eram quando crianças.
No grupo focal realizado com as professoras da pré-escola, iniciamos a discussão com
a pergunta: “O que este filme, que vocês viram, tem a ver com os desenhos que vocês
fizeram?”. Por julgarmos que a conversa demorou muito a focar no tema infância que
gostaríamos, no grupo focal realizado com as professoras das creches, logo após a exibição do
filme, solicitou-se se alguém queria comentá-lo.
O tema em discussão, a infância, é geralmente uma produção de quem passou por
esta etapa da vida, especialmente neste caso em que a discussão foi realizada por professoras
que trabalham com crianças e que atuam na infância. Conforme Demartini
[...] são relatos sobre o período da infância, que fazem referências aos
períodos da infância vivenciados por cada um. São, portanto, relatos sobre
um período da vida que ficou para trás, sobre o tempo da infância que ficou
para trás” (2002, p. 5).
15
Título original: The way you were, produzido e distribuído por Cally Curtis Company, 1987.
77
Desta forma, através destes relatos é possível obter-se imagens de crianças além das
memórias do período da infância.
5.5.2 Análise de dados
As gravações dos grupos focais foram transcritas e recorreu-se à análise de conteúdo
para desvelar o que as falas estariam revelando
16
.
No início da atividade dos grupos focais, as professoras revelaram suas tensões nas
falas por meio da constante repetição de “né” e “assim”. A freqüência desses vícios de
linguagem diminuiu conforme o grupo foi se soltando mais na conversa.
A análise dos grupos focais foi organizada em torno de dois eixos, definidos a partir
dos pontos de teno identificados nas falas das professoras:
Eixo 1, Infância de ontem ou relacionado à infância das próprias professoras, às suas
lembranças X inncia de hoje, ou inexisncia de infância nos dias de hoje.
Eixo 2, família X escola (ou CEI) quando a fala estava relacionada com quem assume
a responsabilidade pela infância, ou pela preservação dela.
Observamos que quando as professoras falaram sobre a infância de hoje, esta foi
considerada praticamente inexistente por ser diferente daquela presente em suas recordações.
As falas evidenciaram esse contraste entre a infância de ontem e a infância de hoje em
diversos temas.
5.5.2.1 Infância de ontem X infância de hoje
As professoras de Educação Infantil são adultas que já passaram pela infância, e
trazem consigo os significados daquilo que viveram neste período da vida, as experiências e
os estímulos que recebem e que marcam as habilidades motoras, cognitivas e emocionais. As
vivências de sua infância marcam profundamente a imagem que constroem sobre as crianças e
suas famílias, influenciando as suas práticas educativas.
As tensões e os contrastes entre a infância vivida pelas próprias professoras e infância
vivida pelas crianças que elas atendem estão presentes nos discursos destas professoras sobre
a infância. Nestes discursos emergem diversos temas: as brincadeiras (incluindo os cenários
da brincadeira; os tempos de brincar; os brinquedos e o saber brincar); os rituais; as
vestimentas e comportamentos; e as conversas.
16
As transcrições dos grupos focais encontram-se nos Anexos 27 e 28.
78
1. As brincadeiras
Como foi discutido na segunda etapa, o brincar é um dos elementos mais importantes,
senão o mais importante, do núcleo central, de tal forma que o brincar se torna a significação
da imagem de criança. Ao mesmo tempo, os brinquedos e brincadeiras, contextualizados
social e culturalmente, constituem as marcas da infância que definem a identidade das
professoras enquanto adultas e impregnam suas práticas educativas.
Desta forma, os discursos em torno do tema brincadeiras revelam uma permanente
tensão entre o que foi a infância das professoras e o que é a infância das crianças que elas
atendem. Isso pode ser observado quando são abordados diferentes aspectos deste tema.
a). Os cenários da brincadeira
[...] a infância do meu tempo e de hoje é diferente né. No meu tempo
brincava mais assim, a gente subia em árvore, fazia um monte de é... era bem
peralta e coisa. Hoje em dia, os pais como trabalham fora, eles estão muito
acomodados, deixam os filhos na frente da televisão [...] (Anexo 27, Nº16,
P.26)
17
.
Descrevendo uma atividade que havia proposto aos seus alunos, em que construiu
listas sobre suas atividades favoritas, ficou claro para a Professora que as crianças preferem
brincar dentro de casa:
[...] ia falar que assim através dessas listas que a gente faz assim
através dos favoritos, o que vocês fazem em casa, através disso ali fica bem
evidente assim né? Que é mais o assistir, é tudo mais o dentro de casa, percebo
que falta espaço fora, assim pra eles correr mesmo, brincar, isso é tão
importante (Anexo 28, 37, P.23).
Conseqüentemente, as crianças não conhecem mais as frutas no pé, o têm o prazer
de colhê-las porque hoje tudo é encarado como perigoso ou sujo e assim, os pais preferem as
crianças em atividades dentro de casa como uma forma de protegê-las
Este aspecto relatado pela professora é interessante porque se trata de um município
interiorano que ainda possui grande influência rural, praticamente não possui edifícios e, de
certa forma, as crianças ainda possuem espaços para brincar nas próprias casas. Isto pode ser
uma influência da mídia que constantemente retrata a violência das grandes cidades e informa
sobre os perigos de acidentes domésticos, e desta forma, influencia as atitudes em cidades
menores. Porém, esta representação veiculada pela mídia, pode não corresponder à realidade
do município e, ainda assim, provocar uma percepção deturpada dessa realidade.
17
Sobre este aspecto é possível observar também as falas no Anexo 6,Nº 21.
79
b). Os tempos de brincar
De acordo com as professoras, os pais de hoje não permitem momentos ociosos para
os filhos:
Ah é a televisão, a internet, às vezes os pais enfiam em aula de inglês,
aula de história, aula aquilo ora aquele outro pra ocupar o tempo da criança,
pra não deixar sozinha em casa... pra não...(Anexo 28, 117, p.22).
Essa super-ocupação das crianças é outro dos argumentos levantados pelas professoras
em defesa de sua idéia de que hoje não existe mais espaço nem tempo para a infância. Este
aspecto é também um dos argumentos de Postmann (1999) pelo o desaparecimento da
infância, de que as criaas estão envolvidas em atividades que passaram a ser rias, e não
brincam mais.
c). Os brinquedos
Os brinquedos utilizados na brincadeira ontem e hoje são diferentes.
Quando perguntadas pela moderadora se computador, televisão e vídeo-game não
combinam com infância, responderam categoricamente que não (Anexo 27, Nº152 a 155).
Porém, P.23 ressaltou que na sua infância a e também trabalhava fora e ela assistia TV,
brincava e assistia e dava certo e não entende porque hoje isso não é possível (Anexo 27,
Nº166).
Entretanto, o aspecto mais enfatizado refere-se à oposição entre brinquedos
industrializados e brinquedos construídos pelas pprias crianças:
Muitas coisas do que s fazíamos é... hoje em dia vovai comprar
uma peteca ela tá pronta ali, a gente fazia a da gente , e... então a gente
criava muita coisa (Anexo 28, Nº21, P.5).
Pra criança é pior, é pior porque a gente passou assim por experiências
assim que eles não passam mais hoje, situações assim que quando eu era
criança eu gostava de brincar, modelar loucinhas com barro. Hoje em dia as
crianças não fazem nem idéia mais né de que pra pegar um barro e que dá
pra modelar e fazer uma panelinha ou coisa assim... (Anexo 27, Nº 29, P.33).
A produção de brinquedos é uma produção cultural das crianças, da criança que pensa
que é capaz de conquistar o mundo (Quadro 6 Imagens metafóricas que revelam uma criança
conquistadora do mundo). Na compreensão das professoras essa construção cultural não
acontece com os brinquedos industrializados e eletrônicos, portanto trata-se de defender as
construções culturais da infância.
80
d). Saber brincar
De acordo com as professoras, as crianças também não sabem mais brincar, elas
percebem que é preciso ensiná-las:
E auma brincadeira assim de casinha, de carrinho tem que pega
balançá a boneca pra mostra que “Nana nenê, nana nenê” e aquando pega
uma loucinha às vezes é “Pá, pá” no outro. Não!... a loucinha, vamo fazê
que é chá, é comidinha, o arroz e o feijão... que se não eles não sabem nem
fa... não tem assim, tudo eles tem que ter... sei lá, antigamente parece que a
criança pegava um brinquedo e sabia como fazê, hoje em dia a gente tem
que mostrar como é feito aquilo (Anexo 28, Nº58, P.14).
As crianças, até mesmo aquelas que moram no interior, conforme afirma a P.27 agora
estão assistindo TV, jogando vídeo game e agora a professora tem que participar nas
brincadeiras de correr e de casinha para que elas aprendam a brincar (Anexo 27, Nº146, 150).
Sobre com quem se aprendeu a brincar quando se era criança, as professoras
reconhecem o papel de um adulto da família ou de um grupo de amigos:
Eu lembro que eu aprendi sozinha, com a minha mãe, às vezes eu
sozinha porque eu subia, subia, mas não conseguia descer e ela ficava embaixo
falando como é que eu tinha que fazer [...] (Anexo 27, Nº164, P.23).
É eu não lembro assim que alguém tenha me ensinado, acho que a gente
era bastante ousado assim, que eu tinha mais o meu irmão e mais dois primos
quando a gente se reunia assim daí fazia a festa, né (Anexo 27, Nº169, P.26).
Pra ousar pra... imaginar coisas em cima daquela árvore, ter uma fruta
pra colher, acho que uma pessoa sozinha não vai simplesmente lá, uma criança
sozinha acho que não vai e sobe simplesmente uma árvore e pronto né! Precisa
pelos menos um, pelo menos estar em dois pra subir, pra brincar pra... trepar
na árvore pra! Sei ! Precisa ter um grupinho né. Pra pensar... pra criar...
(Anexo 27, Nº174, P.33).
A gente imitava muito também, que nem a gente fazia comidinha,
imitava muito. A mãe fazia, a gente mesmo fazia fogão de tijolo e fazia comida
mesmo, mas imitando a mãe, tudo que a mãe fazia (Anexo 28, Nº130, P.14).
A importância da interação entre as crianças e os adultos ou entre crianças, também
demonstrado pelas professoras através dos desenhos (Tabela 4) agora abordado através das
lembranças delas reforçam a importância do coletivo para a construção e perpetuação das
culturas da inncia. Mostra também a imporncia atribuída às produções delas mesmas
quando crianças, produções essas que têm por base a imitação do trabalho realizado pelos
adultos que é recriado pelas crianças.
81
2. Os rituais
As professoras acreditam que na infância de hoje tem-se perdido um pouco da magia
em torno de datas importantes que, na infância de ontem eram muito esperadas e
compreendiam certos rituais:
É essa magia, esse espírito... esse... aquero colocar pra vocês, hoje,
tem chocolate o ano inteiro! Tem bolacha de natal o ano inteiro, panetone o
ano inteiro e nós tínhamos essas coisas exatamente naquele período natalino,
ou da páscoa, enfim! E hoje não! Hoje voencontra isso o ano inteirinho,
claro que chocolate em forma de papai noel ou de coelhinho, mas o chocolate
existe o ano inteirinho e nós não, nós só tínhamos nessa época, então na
realidade, claro que os enfeites que existem hoje, essa decoração não existia na
época, mas era diferente, tinha um toque especial, um toque de magia e isso
não se vê! Não é... não tem aquele espírito natalino, reduziu-se muito [...]
(Anexo 28, Nº139,P.31)
Eu sei eu a cuca por exemplo, nossa! Era feito nessas ocasiões, não
tinha no dia-a-dia, hoje no final de semana tem um doce diferente, ou... no dia-
a-dia mesmo né! E naquela época não, então se dava mais valor a isso [...]
(Anexo 28, Nº141, P.31).
Ainda neste mesmo aspecto, P.22 ressalta sobre os presentes:
A o fato de ganhar presente já banalizou bastante, um e noventa e
nove, não dão mais valor, todo final de semana ou todo... né, vamo compra
um presentinho! Quando eu era criança ganhava presente no aniversário, no
natal e no dia das crianças, só! o tinha essa de... ganhar presente se
passasse de ano também ganhava presente (Anexo 28, Nº142, P.22).
Os rituais em torno de datas e presentes são elementos constituintes da identidade das
professoras, que revelam e consolidam o sentimento de pertinência ao grupo, são as marcas
prazerosas que ficaram na lembrança das Professoras e que sentem a necessidade de recriar na
infância das suas crianças.
3. Vestimentas e comportamentos
O surgimento de vestimentas para as crianças diferenciadas das vestimentas dos
adultos, confome Ariès (1981) marcou o início de um sentimento de infância. Postmann
(1999) afirma que a inteão da mãe em parecer-se com a filha (e vice-versa) usando ambas
os mesmos tipos de roupas seriam indícios de que a infância estaria desaparecendo. Desta
forma, percebe-se a importância dos distintivos que caracterizam as categorias geracionais.
Na visão das Professoras uma adultização precoce também estaria ocorrendo, conforme P.31
(Anexo 5, Nº60) seriam “mini-adultos” algumas crianças que tem esta caracterização:
82
Acho que eu penso que as crianças eram mais infantis assim sabe...
mais é... davam valor pra infância, hoje elas já são... os pais querem que
sejam...(Anexo 28, Nº59, P.21).
Adultos né assim... a gente vê crianças, meninas já andando que nem
mocinhas, com batom, então assim a brincadeiras deles é mais assim, as
meninas querem se maquiar, querem usar sapato de salto, não querem boneca
sabe, brincar de casinha [...] (Anexo 28, Nº61, P.21).
tem que se comportar como uma mocinha, um mocinho! E não pode
fazer isso porque isso não é mais coisa de criança, mas a faixa etária ainda ta
dentro da... né... do que é considerado criança e tal. `o hoje em dia... A gente
brincava com catorze, quinze anos de boneca essas coisas, hoje em dia uma
menina de catorze anos brinca de boneca, louca! Brincam com a boneca de
verdade, já! (Anexo 28, Nº64, P.5).
4. As conversas
O cil acesso ao mundo adulto é ressaltado como mais uma das diferenças entre a
infância de ontem e a de hoje:
Ah e as crianças tinham menos acesso também a vida de adulto, tinha
conversas que os adultos podiam ouvir. As crianças “Oh essa conversa
criança não pode ouvir, vai pro teu quarto, vai brincar pra lá que agora tu
não pode ouvir” e hoje em dia eles participam de tudo, o tempo todo tão em
torno dos adultos. Tem criança que nem brinca com criança (Anexo 28, Nº62,
P.22).
A Professora relata um aspecto que observou a partir de sua experiência, que
Postmann (1999) aborda como o declínio da vergonha, em que tudo é permitido às crianças e
seria mais um dos argumentos do autor em defesa da tese do desaparecimento da infância. O
fato de o mundo adulto estar totalmente à disposição das crianças pode inibir a construção das
culturas infantis.
5. As mudanças na família
As professoras explicam que o contexto familiar vem sofrendo mudanças
consideráveis.
Uma também porque o modelo de família mudou né. Antigamente, os
pais tinham responsabilidade pela casa e sustentar a família e as mães que
trabalhavam, trabalhavam simplesmente em casa, ou na roça ou isso aqui
deveria ter bastante, mas, hoje em dia, as mães não ficam mais em casa,
trabalham tanto quanto os homens e às vezes a mais (Anexo 28, nº119, P.22).
Assim como a família mudou, o convívio familiar também é outro.
É que hoje, muitas mães são as chefes de família e com isso eu acho que
acontece muitas vezes pouco contato com os filhos. Digamos uma criança
83
chega as sete da manna creche, às vezes ta saindo as dezenove e trinta, as
vezes vinte horas, então... ela praticamente acordou, veio pra... pra creche e ta
saindo dormindo da creche pra casa, então eu pergunto qual é o contato, o
convívio que esse pai e essa mãe tem com a criança? Eles têm mesmo os
professores da escola (Anexo 28, Nº120, P.31).
Mas, apesar disso, P.31 defende que a família ainda é a base de tudo, porque, mesmo
os pais trabalhando fora o dia todo e a criança permanecendo na creche o dia todo, quando
chega em casa, se ela receber atenção, sua conduta já será diferente (Anexo 28,209).
5.5.2.2. A responsabilidade pela infância
A tensão entre a família e a escola
18
, aguçada pelas mudanças nas organizações
familiares, foi abordado pelas Professoras:
Hoje em dia, os pais como trabalham fora, eles estão muito
acomodados, deixam os filhos na frente da televisão e... na escola é o momento
assim que eles podem brincar, podem é... criar, podem construir então eles
aproveitam o máximo assim eu vejo isso na escola, porque em casa eles não
tão tendo essa oportunidade de `tar criando, de `tar descobrindo né, na escola
a gente `tá proporcionando bastante isso pra eles (Anexo 27, 16, P.26).
Olha eu percebo assim que... os pais, a maioria dos pais trabalha fora,
as crianças eles ficam em creches, escolas ou babás né, as crianças são mais
assim... ficam mais presas... em situações mais... sei lá (Anexo 27, Nº19, P.33).
As professoras percebem que os pais poderiam valorizar um pouco mais a infância, no
sentido de perceberem que os filhos estão crescendo, porque os colegas de trabalho (outros
professores) já estão reconhecendo o trabalho delas:
Os pais acham ah a criança fica só pros professores cuidar, não
vêem que a criança tá crescendo dentro da escola sabe, vejo isso faltando
um pouquinho assim a valorização dos pais, porque dentro do ambiente escolar
a gente que ta crescendo, assim se valorizando (Anexo 27, 119,
P.23).
Em contradição a polarização família X escola abordada, uma das professoras relata
sobre um excesso de cuidado por parte dos pais:
Acho que é o cuidado excessivo dos pais, ah não faz isso porque vai se
machucar, não faz isso porque vai ficar doente... vejo assim (Anexo 27, 30,
P.26).
Os pais colocam muitos pudores assim né... eles... reclamam se as
crianças tomaram banho de calcinha, as meninas junto com os meninos, as
crianças não tem essa maldade né! E daí os pais ficam tudo preocupado “Ai,
18
O termo “escola” utilizado neste estudo refere-se de forma genérica à instituição de educação infantil que
atende à criança, tanto creche como escola de ensino fundamental que possui turmas de educação infantil.
84
mas as meninas junto com os meninos?” e daí se aparece um arranhão “Ai!
Mas aonde que ele fez?” “Como que você deixou meu filho aparecer com um
arranhão na perna?, às vezes não tem como evitar né! (Anexo 28, Nº82,
P.22).
Em contraposição, estão aquelas crianças que tem mais liberdade e possuem outro
comportamento:
Mas a gente vê lá no CEI as crianças que tem mais liberdade assim elas
se viram melhor do que as crianças que são muito protegida assim... [...] eles...
eles não se machucam, sobem na árvore, trepam em tudo ... pá... e tão o
tempo todo se mexendo e é difícil eles se machucarem! Agora, aquelas crianças
que ficam muito ... em casa, com os pais, com mães... isso... [...]Cuidando é,
“Não e isso na boca filhinho, porque faz mal!” aí não sabem se defender...
(Anexo 28, Nº44, 46, 48, P.22).
Essas atitudes dos pais têm conseqüências na escola quando da realização de alguma
atividade, conforme relato:
Na escola a gente encontra muito isso daí. A gente faz uma atividade
diferente que vai se sujar, lógico que vai se sujar e eles ficam meio assim,
tem uns que já... a gente tem que conversar que não faz mal, depois vai se
limpar, eu sempre falo assim (Anexo 27, Nº33, P.27)19.
Neste aspecto descrito das crianças preferirem brincar dentro de casa e os pais não
gostarem ou não permitirem que as crianças se sujem, as professoras ressaltam o seu papel de
possibilitar que as crianças brinquem, se movimentem, experimentem e se sujem na escola:
Por isso que eu vejo assim que enquanto professora a gente não pode e
nem faço e nem deve ficar assim bitolada na sala de aula às cadeiras, a gente
deve procurar levar o aluno pra fora, fazer experiências, visitar lugares
diferente e foi um trabalho assim que eu tenho consciência que este ano, foi
assim que eu fiz bastante experiência sabe... e que nossa! Eu fiquei assim... em
bons...(Anexo 27, 37, P.23).
Bem, eu faço assim, eu gosto muito de sair com eles, ir assim na casa
dos amigos né, a maioria ali assim um mora assim, digamos, mora mais longe,
mais perto mas procurei ir nas casas que moram mais perto assim, a gente vai.
Meu eles ficam muito feliz meu! (Anexo 27, Nº57, P.27).
Eu geralmente no início da aula deixo eles brincando a vontade né, eu
tenho o cantinho da fantasia que tem cabideiro, as roupas, sapatos, chapéus,
espelho é, eu também trabalho muito os jogos com eles, construo jogos com
eles dominó, quebra-cabeças e tenho os bichinhos de pelúcia, tem bonecas, tem
o quadro também pra eles desenharem, então ali naquele momento assim eu
deixava eles livres. Geralmente aos meninos e as meninas brincavam de
casinha, então eles usavam aqueles acessórios do cantinho da fantasia e...
e... era assim, cada um brincava do que queria de momento assim, uma hora
brincavam de escolinha, outra hora brincavam de casinha, é o momento assim,
19
A fala da P.33 no Nº34, ainda complementa este relato.
85
que eu deixava eles livres escolhendo as brincadeiras deles (Anexo 27, Nº66,
P.26).
E uma vez eu fiz assim de a Prô trazer os brinquedos (ri sozinha). Para
os meninos eu tive que trazer... eu trouxe uns brinquedos lá mas... de carrinhos,
de jogos, mas eles não queriam nem saber, porque eu trouxe umas barbies pras
meninas da minha filha com um monte de roupinhas e os meninos queriam
brincar com as barbies e... com as roupinhas também! Eles ficaram
fascinados! Né! Eles esqueceram os carrinhos, os joguinhos lá, foi um
momento de todos eles brincarem com as barbies e... e as roupinhas! (fala com
um sorriso nos lábios)(Anexo 27, Nº78, P.33).
As crianças estão... passando por experiências ou brinquedos... ou...
(fala baixinho), como é que eu vou explicar... coisas assim que a gente fazia...
eles estão fazendo o que nós fazíamos ! Nós estamos permitindo isso às
crianças! (Anexo 27, Nº111, P.33).
[...] talvez assim a seria bom assim né, se ter o resgate das
brincadeiras, eles mesmo aprenderem a construir seus brinquedos, que nem
professor mostrar né, como eram as brincadeiras de antigamente, que hoje é
tudo comprado na loja, é tudo... se vofor dar um brinquedo que nem uma
peteca pra eles, muitos nem vão saber como brincar, nãoo nem gostar talvez
que.... achar inferior. Então eu penso assim que esse resgate é legal de ser feito
também nas escolas né, estarem trabalhando, que muitos não têm oportunidade
de terem muitos brinquedos (Anexo 28, Nº23, P.21).
A gente procura trabalhando melhor, estar sempre melhorando né,
sempre fazendo coisas novas pra estar dando uma boa educação pra criança e
querendo colocar também pra afetividade , trabalhando também no brincar
a socialização das crianças (Anexo 28, Nº87, P.35).
O resgate das cantigas de roda é destacado por P.31, que afirma que não percebe mais
a utilização e a exploração destas com seus respectivos movimentos nas escolas em geral
(Anexo 4,25). E sobre o espírito natalino que julgam não ser mais como era, P.22 destacou
o trabalho realizado pela Professora companheira de turma:
Mas esse trabalho a Professora fez, a minha companheira de sala, ela
colocou um monte de pacotinho, fez de TNT, fez uns saquinhos assim e colocou
penduradinho na parede né, e daí todo dia, como ela chegava bem cedo
antes das crianças, ela ia lá e colocava uma balinha dentro de cada saquinho
daí as crianças chegavam “O Papai Noel deixou bala! Deixou bala! e daí
todo dia eles ganhavam uma balinha. Mas aquela história da balinha também
rendia o dia inteiro (risos). (Anexo 28, Nº195, P.22).
As falas das professoras revelam que elas ainda compartilham uma representação de
Educação Infantil como um serviço salvador da criança cuja família está, de alguma forma,
incapacitada de lhe proporcionar os cuidados necessários:
[...] eu ainda acredito que o Estado vai ter que assumir esse papel que a
família fazia antes, porque se o Estado não assumir, se Estado não mas se a
86
sociedade não... não... assumir essa coisa da educação, não só de... de cuidar
da educação formal, mas de educação moral e essa coisa toda, eu acho que a
sociedade só tende a perder porque alguém tem que fazer esse papel que antes
a mãe fazia e quem é que vai ter que fazer vai ser a escola (Anexo 28, Nº200,
P.22).
Esta significação, ancorada na própria história da Educação Infantil quando das suas
origens em receber e proteger a criança de uma morte certa, começa a ser mesclada com
outra, em que os CEIs são vistos como espaços de preservação, não mais (ou não apenas) da
criança, mas também da infância.
Este último, aliás, parece ser o aspecto mais destacado e mais interessante: a Educação
Infantil como o espaço da infância (das crianças, no sentido antropológico) na sociedade
atual. As professoras como “guardiãs ou salvadoras” desta inncia (em termos
antropológicos e não psicológicos), expressado nos relatos:
Essa pessoa marcante acaba sendo s agora li fazendo esse papel
nessa infância, dessas crianças ali acaba sendo a gente, o ponto de referência
delas acaba sendo nós. E s imitávamos a mamãe e papai e eles com certeza
imitam a gente em casa! [...] como antes s nhamos pai e e em casa ali,
fui criada em casa a referência era... temos que resgatar a família? Temos!
que a referência nossa, a nossa base foi a família e essas crianças vem desde
meses conosco, nós sabemos mais coisa delas do que o próprio pai e a mãe.
Então esse... nós temos que ter esse cuidado assim, dessa infância que s
temos a responsabilidade de estar junto ali, proporcionando isso pra eles e...
[...] (Anexo 27, Nº242, P.5).
E essa infância dentro do CEI acontece a partir do momento que s
professoras participamos das brincadeiras, envolvemos com os alunos que
antes nós tínhamos a família o pai e a mãe em casa e agora eles passam muitas
horas conosco, s fizemos esse papel, a gente acaba contando pros pais,
relata o que aconteceu o que fez e tal né, a gente vai divulgando assim, “Mas
ele faz?” “Faz!porque como pai e a mãe sempre tão distante a gente ta ali
dentro, dando, proporcionando isso ali pra ele quando você senta no chão,
quando você brinca junto com ele, você ta fazendo esse papel que a gente tinha
é... alguém fazia com a gente antes né. A mãe fazia isso porque a gente não foi
criado na creche, fomos criados em casa, com uma mãe ali, na roça nós tava
ali (Anexo 28, Nº240, P.5).
A gente se sente criança naquela hora (ri sozinha). Lembra quando a
gente foi criança, com certeza! Maravilhoso!(Anexo 27, Nº82, P.33).
Eu colocaria assim: que a creche é um mundo de possibilidades
diferente do de casa. É porque acontece “ene” situações que... s vivemos
com eles ali que... coisa única, que nunca mais vai saber que tinha né, então é
um mundo de possibilidades bem diferente do de casa (Anexo 27, Nº284, P.5).
Deste modo, no grupo das professoras de EI de Corupá, começa a ser gerada uma nova
significação de infância, ancorada nas experiências das professoras enquanto crianças: para as
87
professoras, se na sua infância o lar, o seio da família era o espaço da criança, da brincadeira e
a escola era o espaço da responsabilidade, do deixar de ser criança, atualmente acontece o
inverso: a escola (mais especificamente a instituição de Educação Infantil) é o único ambiente
em que se pode brincar, ser criança, cabendo às professoras e não mais às famílias o apoio às
brincadeiras infantis.
6 CONCLUSÃO
Esta pesquisa procurou responder às seguintes questões:
- Quais os elementos constituintes das representações sociais das professoras de
Educação Infantil de Corupá sobre infância? (conteúdo da representação)
- Como se organizam estes elementos? (estrutura da representação)
- Quais os significados atribuídos a estes elementos e como são negociados estes
significados de forma a assegurar tanto a permanência como a transformação das
representações? (dinâmica da representação)
Optou-se pela organização da pesquisa em três etapas, adotando-se uma abordagem
plurimetodológica com diversas técnicas de geração e coleta de dados. Procuraremos, agora,
responder às questões acima colocadas, com base na síntese e no cruzamento dos resultados
obtidos nas três etapas.
1. Conteúdo das representações
Pressupõe-se que as evocações induzidas pela utilização da técnica de associação livre
o os elementos que constituem o conteúdo do campo da representação. A análise das
evocações revelou que estes elementos se referem a brincadeiras, afetividade, movimento,
criatividade, curiosidade, cuidado, etapa de vida, escola, família, recordões (sabores,
imagens, sons), valores, atividades, interações e sensações. No entanto, para conhecer uma
representação social, não basta identificar o seu conteúdo. É necessário também conhecer
como ele se organiza e qual a sua dinâmica, o que se procurou contemplar nas questões
seguintes.
2. Estrutura das representações
Verificou-se que, no grupo de evocações do núcleo central da representação, a
categoria que emerge das evocações é a infância enquanto período de desenvolvimento do ser
criança, em que o brincar e os cuidados (proteção e afetos) são os principais aspectos para que
o desenvolvimento aconteça, revelando uma imagem de criança no sentido psicológico.
No sistema periférico que tem a função de proteger o núcleo central foi possível
identificar três níveis periféricos. No primeiro nível periférico, destacaram-se os contextos da
infância na escola e na família. No segundo nível periférico estão as evocações que remetem
às reminiscências e marcas da infância. No terceiro vel periférico foram encontradas
evocações relacionadas às vivências pessoais das professoras.
89
Para compreender as negociações entre os diferentes significados que impregnam os
conteúdos da representação social, foram realizados dois grupos focais, um realizado com
professoras de turmas de Jardim de Infância e Pré-Escola que funcionam dentro das escolas
de ensino fundamental
20
e outro com professoras que trabalham nas creches
21
. A utilização
dos grupos focais revelou-se um instrumento fundamental para esta pesquisa, porque permitiu
que se observasse a dinâmica da representação social, como veremos a seguir
3. Dinâmica das representações
O núcleo central revela que a representação de infância se objetiva em uma imagem de
crianças brincando ao ar livre, no qual os significados de brincadeira se fundem com o
significado de ser criança, o que sugere que, esta imagem ainda é dominada pela criança
idealizada, preconizada por Rousseau. É também uma imagem criada com base nos
conhecimentos das professoras sobre desenvolvimento infantil, adquiridos em suas formações
profissionais. Assim, o significado de infância se materializa nesta imagem de criança, no
sentido psicológico. Os conteúdos que constituem os sistemas periféricos, entretanto, revelam
que outras significações começam a emergir, significações estas que estão ancoradas nas
experiências das professoras nas IEIs e nas recordações de suas próprias infâncias. Algumas
dessas experiências geram constatações que ameaçam a representação de infância traduzida
na imagem protopica de criança que constitui o núcleo central. Assim, é provável que as
infâncias que não se aproximarem deste protótipo sejam consideradas “anormais” ou não-
infâncias”. Isso é o que parece estar acontecendo quando as professoras comparam a infância
delas com a infância de hoje.
A constatação de que o contexto social mudou e que as crianças de hoje já não
realizam as mesmas atividades (brincadeiras), nem têm um espaço previamente delimitado
nas relações sociais, leva-as a concluir que a infância está ameaçada de extinção, conforme
defendido por Postmann (1999). A imagem de criança é a imagem do eu-criança, que não
comporta o enclausuramento das crianças em espaços reduzidos e a substituição dos grupos
de amigos por aparelhos eletrônicos.
O que é intrigante nesta representação é o fato de ela ser compartilhada por
professoras que vivem e atuam em um município predominantemente rural, com um número
reduzidíssimo de prédios com apartamentos. Reproduzir esta representação neste contexto
20
A transcrição literal do Grupo Focal com as professoras da Pré-Escola podem ser observadas em 8.27 Anexo
27.
21
A transcrição literal do Grupo Focal com as professoras dos CEIs podem ser observadas em 8.28 Anexo 28.
90
requer a ancoragem na representação da sociedade atual que é vista como violenta: a violência
hoje não se restringe mais a cidades grandes, por isso as crianças não podem brincar em
espaços abertos mesmo nas pequenas cidades.
Desta forma, os diferentes significados que são tecidos nas representações das
professoras são negociados em torno de dois eixos principais: a infância de ontem relativo às
infâncias das professoras X a infância de hoje que consideram praticamente inexistente. O
segundo eixo está nas tensões entre a falia X a escola (instituição de educação infantil),
balizado pela discussão sobre as responsabilidades a respeito da inncia.
Assim, as professoras constróem uma representação de si mesmas e da educação
infantil com esta representação de inncia ameaçada de extinção pela própria família.
Tornam-se, assim, as salvadoras da infância e a educação infantil constitui-se como um
mundo a parte, onde pode tudo (em termos de inventividade), tudo vale (brincar, se sujar,
fantasiar...).
Desta forma, recuperam o valor de “ser professora de educação infantil”, o que as
fortalece enquanto profissionais em uma sociedade em que a profiso de professora é cada
vez mais desprestigiada.
São professoras preocupadas com as “marcas” que vão deixar nesta infância com a
qual convivem e trabalham, não serão professoras lembradas por seus alunos por serem ainda
muito pequenos, mas estão comprometidas em proporcionar uma infância feliz agora para
suas crianças da educação infantil, para que se tornem adultos mais felizes.
Estas representações são fortalecidas nas formações acadêmicas e docentes voltadas
para a educação infantil, que enfatizam a importância da brincadeira para a criança e, ao
mesmo tempo, contribuem para que as professoras construam e assumam suas identidades
profissionais.
A observação das atividades desenvolvidas por estas professoras com as criaas, o
prazer e a satisfação com que se envolvem nas brincadeiras infantis nos CEIs e nas escolas
revelam que as práticas educativas são efetivamente determinadas por suas representações
sobre a inncia e sobre os contextos da educação infantil. Por outro lado, as expressões e
produções das crianças nos momentos de brincadeira que elas proporcionam fortalecem a
imagem da Educação Infantil como um ambiente de preservação de algumas culturas infantis
cristalizadas no município mesmo que estas culturas infantis ainda sejam definidas sob o
ponto de vista delas, alicerçado na imagem delas mesmas quando crianças.
Portanto, a representação de infância das professoras que estava baseada numa
imagem de criança num sentido psicológico, com uma preocupação voltada para o
91
desenvolvimento, através da discussão nos grupos focais em que aprofundaram suas reflexões
a partir das suas próprias infâncias, com as marcas que estas deixaram e, em comparação com
as infâncias que observam hoje nas suas experiências de trabalho ampliou para uma
discussão, cuja tônica está na preocupação com as culturas infantis que julgam estar se
perdendo. Isto denota uma evolução de uma “infância-criança” num sentido psicológico para
umainfância-crianças” no sentido sociológico-antropológico, importando para as professoras
um resgate da infância com base nas suas experiências de infância.
92
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97
8 ANEXOS
98
Anexo 25. Informações Sobre as Professoras Participantes da Pesquisa
TEMPO DE TRABALHO NA INSTITUIÇÃO
IEI
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a
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c
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N
i
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a
N
20
10
0
tempo d trab na inst
mais de 15 anos
11 a 15 anos
6 a 10 anos
1 a 5 anos
até 1 ano
2
3
2
3
2
2
5
7
3
44
EXPERIÊNCIA PROFISSIONAL ANTERIOR DAS PROFESSORAS
RELACIONADA À EDUCAÇÃO
FrequencIia Percentual Percentual
acumulado
sem resposta 1 2,4 2,4
não tem 6 14,6 17,1
educação infantil 13 31,7 48,8
séries iniciais 14 34,1 82,9
ed inf e séries iniciais
6 14,6 97,6
outras ativ educac 1 2,4 100,0
Total 41 100,0
EXPERIÊNCIA PROFISSIONAL ANTERIOR DAS PROFESSORAS NÃO
RELACIONADA À EDUCAÇÃO
FrequencIia Percentual Percentual
acumulado
sem resposta 1 2,4 2,4
não tem 24 58,5 61,0
serviços 4 9,8 70,7
comércio 4 9,8 80,5
serviços e comércio 3 7,3 87,8
outra 5 12,2 100,0
Total 41 100,0
99
DIFICULDADES DE ADAPTAÇÃO DAS PROFESSORAS AO AMBIENTE DE
TRABALHO
FrequencIia Percentual Percentual
acumulado
nenhuma 33 80,5 80,5
algumas 7 17,1 97,6
muitas 1 2,4 100,0
Total 41 100,0
NÚMERO DE PROFESSORAS QUE FIZERAM CURSOS DE ATUALIZAÇÃO
FrequencIia Percentual Percentual
acumulado
sim 36 87,8 87,8
não 5 12,2 100,0
Total 41 100,0
ESTADO CIVIL
FrequencIia Percentual Percentual
acumulado
Solteira 8 19,5 19,5
Casada ou em união estável
29 70,7 90,2
outro 4 9,8 100,0
Total 41 100,0
NÚMERO DE FILHOS DAS PROFESSORAS
Número de filhos FrequencIia Percentual Percentual
acumulado
0 8 19,5 19,5
1 15 36,6 56,1
2 13 31,7 87,8
3 3 7,3 95,1
4 2 4,9 100,0
Total 41 100,0
NÚMERO DE FILHOS POR FAIXA ETÁRIA
0 a 6 anos 7 a 14 anos 15 a 18 anos > 18 anos
Nº de
filhos
N % N % N % N %
0
22 53,7
34 82,9 36 87,8
1
17 41,5
6 14,6 4 9,8
2
1 2,4
1 2,4 1 2,4
3
1 2,4
Total
41 100,0
41 100,0 41 100,0
Obs: percentual calculado dentro de cada faixa etária
100
Anexo 26 Dados Gerados na Primeira e Segunda Etapa da Pesquisa
PALAVRAS EVOCADAS, DESENHO E TEXTO
P.1
1. brincar
2. carinho
3. amor
4. atenção
5. dialogo
6. compreensão
7. cuidados
8. alimentação
9. higiene
10. limites
11. desenvolvimento
Toda criança tem direito ao lazer, a
brincar, se divertir junto das pessoas que os amam.
P.2
1. amor
2. prazer
3. carinho
4. dificuldade
5. alegria
6. atenção
7. compreensão
Infância. O que pra muitos pode ser apenas
cuidar e não deixar que falte nada a uma criança,
ela vai muito além disso. O desenho mostra que
uma criança precisa de muita atenção, precisa
se sentir bem no ambiente em que está, brincar
muito e que adulto seja bem participativo tanto
nos cuidados como nas brincadeiras.
P.3
1. brincadeira
2. música
3. números
4. letras
5. atenção
6. carinho
7. compreensão
Meu desenho sobre a
infância.
101
Neste desenho eu expressei minhas vontades como criança...
Atrás da árvore ali, bem pequenina, sou eu com um caderno na mão. Eu estou só.
Do outro lado da árvore sou eu também, além da minha imaginação, com meu pai
jogando bola. Por que a bola? Porque meu pai queria ter um filho homem! Eu como
criança, só queria um pouco de carinho, atenção, compreensão!
Infelizmente ou felizmente hoje eu sou a Ana, uma criança grande.
Hoje tenho um filho e estou educando ele como uma criança que tem uma infância
muito feliz, uma família unida e que o ama muito. Procuro não passar para ele todas
as minhas frustrações para não sobrecarrega-lo de “brincadeiras e carinhos”. Como
professora aprendi muito com as crianças e ainda tenho muito à aprender.
Hoje eu saí de traz da árvore!
P.4
1. amor
2. alegria
3. dedicação
4. ternura
5. afeto
6. inocência
7. carinho
8. beijo
9. abraço
10. sorriso
11. consideração
12. ajuda
13. sonhos
Desenhei o caminhão... é uma forma de inda e vinda e alegrias, sucessos, leva e
traz sonhos, afeto e um mundo de imaginações como eu sou um motorista quando
crescer, um dirige uma carreta, outro um trator, isso normalmente se distingue
dentre a linguagem de uma criança, principalmente um ou os meninos.
A bola rola harmonia, desafios correr atrás do que eu preciso eu quero. Abraçar a
bola é como agarrar um mundo inteiro um todo, cheio, algo que ocupe todo meu ser.
O elefante de costas, é a consideração do que tenho que alcançar lá na frente no
futuro. A visão do elefante é o olhar longe, alto o que serei quando crescer. Um
elefante de pelúcia é o confidente o amigo, o doutor. Leva imeras histórias e
vivencias muitas cenas algumas alegres outras tristes.
P.5
1. brincadeira
2. vida
3. alegria
4. descoberta
5. prazer
Escrever sobre infância é sempre um prazer
pra mim, sempre me reporto a minha que foi
muito significativa para mim, como também
procuro fazer um trabalho com minhas
crianças nesse sentido. É preciso brincar, se
102
envolver nas brincadeiras, dar vida à elas. Brincar sozinho as vezes pode ser bom,
mas em grupo é muito melhor, se aprende mais, se experimenta mais nem que seja
pela imitação. Hoje o adulto que trabalha com crianças precisa ter um espírito jovem
e audacioso para superar os desafios que a vida lhe apresenta, trabalhar com
alegria e ter prazer no que está fazendo, porque a infância é brincadeira,
descoberta, alegria, prazer é vida.
P.6
1. correr
2. pular
3. tomar banho no rio
4. trabalhar
5. passear
6. subir em arvores
7. brincar
8. fazer o próprio brinquedo
9. boneca
10. flores
11. animais
12. pai
13. mãe
14. irmãos
15. estudar?
16. sonhar
17. curiosidade
18. descoberta
19. medo
20. choro
21. ansiedade
Sou uma amante da natureza desde que me conheço como pessoa.
Quando criança morei no interior, onde minha infância muito pobre, mas eu era feliz.
Brinquei muito no rio, tomei banho, andava nos matos. Sempre adorei plantar flores
elas perfumam nossa vida.
Minha casa era como a do desenho, por esta razão a simplicidade é minha aliada,
amo o que é simples e verdadeiro como a natureza.
P.7
1. brincadeira
2. medo
3. descoberta
4. faz-de-conta
5. desenvolvimento
6. saudade
7. boneca
8. choro
9. alegria
Infância nada mais é do que se descobrir
brincando. A boneca representa o brincar, que é
peça chave para o desenvolvimento da criança. Os
103
pontos de interrogação e exclamação simbolizam a dúvida e a descoberta que faz
parte de toda a infância.
P.8
1. criança
2. dedicação
3. amor
4. cuidado
5. desenvolvimento
6. preocupação
7. aprendizagem
8. inocência
A infância, no desenho
vejo a preocupação com
as crianças o futuro que
elas vão ter ou seguir,
será que vão para um
caminho com objetivos.
Quando criança, brincamos de papai, mamãe, com a inocência que temos sem
saber que um dia isso a brincadeira pode se tornar realidade.
As vezes também o caminho pode ser interrompido por algumas desilusões.
Gostaria que todas as crianças crescessem com aquela inocência vivenciando cada
passo dado e aprendendo a cada dia e fazendo o bem deixando o que lhe faz mal
mais um aprendizado em suas vidas.
P.9
1. criança
2. brincar
3. rotina
4. instituição
5. profissional da
educação
infantil
6. faz-de-conta
7. hisrias
8. amor
9. cuidar
10. educar
Através do desenho
acredito que a infância
é a fase mais
importante que o ser
humano passa, pois é nesta fase da vida que inicia-se todo o seu processo de
formação pessoal, social, cultural de acordo com o meio em que vive.
Deste modo é importante oferecer/ oportunizar brincadeiras de faz-de-conta,
histórias, diferentes brinquedos para que a criança sinta-se estimulada a
desenvolver suas potencialidades e habilidades.
104
Todo este processo de formação da criança precisa ser uma parceria entre família e
instituição, respeitando-se assim, cada uma das partes envolvidas, bem como a
criança que é singular, com vontades, desejos próprios.
P.10
1. brincar
2. descoberta
3. possibilidades
4. ludicidade
5. corpo
6. movimento
7. expressão
8. choro
9. estímulo
10. faz-de-conta
11. aprendizagem
12. desafios
13. crescimento
14. chupetas
15. mamadeira
16. riso
A criança para um mundo de possibilidades, desafios e ao mesmo tempo parte
deste mundo.
P.11
1. brincar com os
amigos
2. pular
3. correr
4. estudar
5. ser livre
6. alimentar-se bem
7. brincar de cabana
8. pega-pega
Pretendo com este
desenho lembrar da
minha infância, que
brincava com meu irmão
e amigos em casa depois que chegava da escola, brincava de pular corda, de pega-
pega, de fazer cabana com bambu, subir em árvore e colher goiaba, jabuticaba e
outras frutas, era bem divertido.
Mas hoje vejo que as crianças não brincam mas destas coisas saudáveis,
querem computador, jogos eletrônicos.
105
P.12
1. brincar
2. esperança
3. brinquedos
4. estudo
5. leitura
6. coragem
7. amor
8. carinho
Toda criança precisa
brincar, ao meio a
natureza nada melhor pois
elas obtém a energia da
natureza, os livros abaixo
o para estudar, pois o
conhecimento, é um ato
muito importante para seu
futuro.
O amor, o carinho faz
parte de uma educação
saudável, nunca estar
sozinho pois a solidão machuca, precisamos ter vários amigos, onde com certeza
ajudaram em nossas vidas. Amizade é algo que deveremos ter no ontem, hoje e
sempre.
P.13
1. amor
2. carinho
3. afeão
4. choro
5. afetividade
6. compromisso
O desenho representa tudo o que a criança é,
ou seja, alegria, vida. E também aquilo que
ela espera de nós adultos, muito amor,
carinho, compreensão.
106
P.14
1. alegria
2. inocência
3. brincadeiras
4. sonho
5. lembranças
6. passagem
7. futuro
8. esperança
9. harmonia
10. limite
11. colorido
Viver a infância um
mundo diferente, onde
todos nós passamos, um
com muita alegria e
outros com menos colorido.
Este desenho, quero passar, que todas as crianças deve viver esse universo de
sonhos e alegria, onde as crianças brincam e espalha cores. Onde o sol entre as
nuvens representa alegria.
A árvore representa vida.
As crianças Deus, o universo e esperança.
A caixa de brinquedos, a fantasia, alegria, colorido e a flor a natureza.
P.15
1. esperança
2. emoção
3. criatividade
4. descobrir
5. imaginar
6. pensar
7. desenvolver
8. independente
9. sentimentos
Este desenho representa a
criança em sua infância em
pleno desenvolvimento
físico, mental e também o
social, brincando livremente.
107
P.16
1. brincar
2. alegria
3. ficar a vontade
4. pensar o que quiser
5. ter minha família junto
6. correr
7. pular
8. conversar
9. ter uma boa
alimentação
10. ter onde morar
11. poder realizar “sonhos
12. ter qualidade de vida
13. ser feliz
14. ter saúde
15. ser perfeita
O meu desenho está retratando de como deveria ser a infância de uma criança onde
teria casa p/a morar; ou seja um lugar bonito com bastante verde p/a que uma
criança tenha lugar p/a realmente realizar sua infância, com brincadeiras, no ar livro,
retrata também 2 meninas brincando, onde a amizade, ter com quem partilhar os
momentos que temos na infância também é muito importante. Uma familia é o que a
casa representa, onde possamos sentir o valor é levar p/a a vida a nossa alegria de
brincar e se divertir. Porque contudo isso a gente tiver na infância com certeza
teremos ou seremos uma boa pessoa no futuro.
P.17
1. brincar
2. correr
3. assistir TV
4. ouvir música
5. dançar
6. cantar
7. pular
8. pintar
9. bagunçar
Criaa. Na
infância.
Ela brinca, corre
anda de bicicleta,
solta pipa, balança
no balanço.
Ela está no ar livre. Esta esta livre para brincar, tem um dia ensolarado, cheio de
pássaros no ar.
108
Criaa adora brincar. Ela expressa seus sentimentos brincando. O seu
desenvolvimento vai mais longe a cada dia que ela cresce.
Criaas eso na maioria das vezes brincando unidas. São amigos de todos.
Feliz é a criaa que brinca.
P.18
1. brincadeiras
2. amor
3. carinho
4. repressão
5. movimento
6. alegrias
7. tristezas
8. harmonia
9. diálogo falta do mesmo em
algumas situações
Uma família feliz e unida, sem
discriminações de religião ou respeito
as diferenças de opiniões, vivendo o dia
a dia superando tudo com o amor.
P.19
1. brincar
2. amor
3. coleguinhas
4. colo
5. palavras carinhosas
6. bem-estar
7. família
8. hisrias
9. exploração–
experimentos
10. segurança
11. viagens
A imagem marcante da minha
infância é eu e meu pai juntos.
Todos os momentos com o
meu pai foram de exploração e
aquisição de conhecimentos. Sempre de mão dada, no colo ou simplesmente ele
brincando comigo. As histórias contadas por ele na mesa após o jantar.
A segurança que ele transmitia, para que eu ousasse ir um pouco mais além.
Sempre mostrando que com coisas simples e elementos da natureza se podia
crescer, desenvolver e aprender prazerosamente.
109
P.20
1. brinquedos
2. alegria
3. travessuras
4. broncas
5. liberdade
6. sorriso
7. imaginação (faz-de-
conta)
8. lugares
9. despreocupação
10. brincadeiras
11. amigos
12. passeios
13. descoberta
14. experiência
15. invenções
16. medos
17. criação (criar seus
próprios brinquedos e
brincadeiras)
18. jogos
19. sonhos
20. ausência
21. aniversário
22. doces
23. músicas
24. sabor
Através do meu desenho estou representando uma das brincadeiras mais
prazerosas que vivi na minha infância. Meus avós maternos faziam uma ra para
cultivar arroz todos os anos e quando chegava a época da colheita a familia reunia-
se para realiza-la. Todos ajudavam, até nós crianças (eu e meus primos). Depois de
cortado o arroz era batido num caixote e a palha era jogada toda num lugar
formando uma verdadeira montanha de palha seca, então vinha a melhor parte
embalar, correr e pular em cima, se jogar sobre ela até abaixar a montanha. Que
delicia, belos tempos, tempos que ficam eternamente na lembrança de uma infância
maravilhosa.
110
P.21
1. amor
2. descobertas
3. frustrações
4. lembrança
5. aprendizado
6. marcas
7. sentimento
8. início
9. esperança
10. liberdade
11. alegria
Assim como o coração
É uma das partes principais
Do nosso corpo.
A infância é entre todas as fases,
A mais significativa.
Nela podemos construir
Um ser completamente feliz e realizado
Ou uma pessoa totalmente
Frustrada e infeliz.
P.22
1. brincadeira
2. bicicleta
3. goiaba
4. professora
5. amigos
6. pintura
7. areia
Subir em árvores, taí uma
referência de infância para
mim, ainda não vi uma
crianca que não goste!
Brincadeiras de bola e de
esconder, também
lembram a infância, assim
como joelho roxo ou
esfolado.
Na infância tudo parece mais colorido e divertido e os problemas são do tamanho da
nossa estatura. Infância é brincadeira.
111
P.23
1. saudade
2. carinho
3. proteção
4. amor
5. respeito
6. afeto
7. medo
8. amigos
9. brincadeiras
10. brinquedo
11. escola
12. parque
Minha infância me
traz muitas
lembranças, mas qual me faz relembrar com alegria é do tempo em que brincava de
Escolinha com minhas amigas.
P.24
1. amor
2. carinho
3. gostar de
criança
4. respeitar os
limites da
criança
5. brincar
6. amamentar
Neste desenho quero
demonstrar que para
se trabalhar na Ed.
Infantil precisa-se
primeiro gostar de
crianças, amá-las de
forma que preencha lacunas do seu desenvolvimento.
Cuidar, trocar, alimentar e respeitar os limites procurando muda-las e educa-las para
a vida, usando criatividade nas brincadeiras, participando.
112
P.25
1. amor
2. carinho
3. brinquedos
4. brincadeiras
5. hisrias
6. guloseimas
7. passeios
8. natureza
9. animais
10. lar
11. sol
12. chuva
13. cantigas
14. desenhos
15. sonhos
16. sonho
Infância lembra uma casa no
campo, fogão à lenha repleto
de gostosuras, muitos amigos e
brincadeiras, banhos de rio, natureza, histórias contadas pelos pais, tios e avós (até
histórias de terror), cantigas de roda e muitos objetos (diversos) utilizados para o faz-
de-conta imitando os adultos e outras crianças.
P.26
1. brincar
2. cantar
3. imaginar
4. sorrir
5. chorar
6. correr
7. pular
As crianças não vêem as diferenças: uma nas
outras. Não possuem malicias, são inocentes,
por isso sempre brincam juntas. Não distinguem
cor, raça, origem. São apenas crianças.
113
P.27
1. período de grande importância na vida do sujeito
2. etapa de conflitos, aprendizagens
3. construção e reconstrução de valores
4. responsável pelo bom desenvolvimento do sujeito durante sua vida inteira
5. interações contínuas, com tudo e com todos, que estão em sua volta
6. brincadeiras e mais brincadeiras
7. imaginação
8. curiosidade
9. espontaneidade
10. amor para dar a
todos
11. maravilhoso
período ou
frustrante
período
A bicicleta é um brinquedo adorado pelas crianças. Na verdade, não foi algo que tive
muito contato, pois tinha tanto medo e cada vez que tentava era um desafio.
Percebo que é um momento que possibilita vencer medos, superar obstáculos. É
algo, ou melhor uma brincadeira, que ajuda na auto-estima das crianças.
É o simples, mas precioso, contato com o vento que sopra no rosto; é o sentir o
chão quando precisa parar.
P.28
1. amor
2. dedicação
3. igualdade
4. felicidade
5. humanidade
6. ser
7. criança
8. brincar
9. esperança
Todos unidos por um
mundo melhor. Com
dedicação, amor e
esperança
conseguiremos faz com
que as nossa crianças
tenham um futuro digno.
114
P.29
1. criança
2. brincar
3. faz-de-conta
4. cantar
5. desenhar
6. gritar
7. sonhar
8. bola
9. boneca
Infância é tempo de
brincar, de pular
amarelinha, jogar
bola, pular corda e trepar em árvores. As crianças dessa idade fantasiam, onde
sonham e representam papeis do seu cotidiano ou o que almejam alcançar algum
dia.
P.30
1. amor
2. atenção
3. carrinhos
4. bonecas
5. pirulito
6. balanço
7. arvore
8. carinho
9. chulé
10. bala
11. pai
12. mãe
13. vó
14. tio
15. irmão
16. Xuxa
No desenho eu recordo do primeiro lugar onde morei com meus pais.
Minha casa era pequena e na frente dela ficava a árvore onde meu pai fez meu
balanço, com um pedaço de corda que ele não usava mais.
É deste tempo que mais sinto falta e saudade, morávamos em um sitio, eu tinha
muito espaço e liberdade para brincar.
115
P.31
1. parque
2. circo
3. bola
4. criança
5. gato
6. cachorro
7. bicicleta
8. arvore
9. frutas
10. rio
11. banho
O circo na minha infância foi
muito significativo, pois
lembro de momentos alegres
com palhaços, animais,
acrobacias.
O rio, árvores, frutas, peixes estavam muito presentes na minha vida, pois convivia
com este cenário diariamente que era a minha casa.
P.32
1. infância
2. brincar
3. jogos
4. família
5. papai
6. mamãe
7. carinho
8. abraços
9. colo
10. alegria
11. machucado
12. rolar no chão
13. parquinho
14. passear
15. jogar bola
16. bonecas
17. circo
18. cuidar
19. educar
20. personalidade
21. o jardim de infância
22. brinquedo
Infância é uma idade sem tempo, onde os minutos não contam e as horas passam
repletas de felicidade. Ou pelo menos deveria ser: a criança sempre envolvida com a
família, muito feliz, aproveitando todos os momentos, como as refeições, o dormir, o
acordar, o brincar/ lazer...
116
P.33
1. brincar
2. criar
3. fantasia
4. energia
5. vibração
6. imaginação
7. carinho
8. magia
Quando criança tudo é magia, é colorido irreal.
O sol pode ser azul, que é lindo, a amiga pode
ter o cabelo laranja mas continua sendo linda e
a melhor amiga. As árvores azuis e as flores
verdes, por que não? Isto depende de como eu
estou hoje, feliz tudo colorido; triste, então vou
pintar tudo negro, preto.
Os adultos seguem uma rotina, o como
zumbis, fazem tudo direitinho, como máquinas.
Como criança, pintar a cor que eu gosto isto é
que importa, fazer pelo coração e não pela
razão.
P.34-
1. crescimento
2. conhecimento
3. desenvolvimento
4. desafio
5. educação
6. exploração
7. imaginação
8. fantasia
9. faz-de-conta
10. lúdico
11. brincadeira
12. música
13. hisria
14. desenhos
Neste desenho retratei
sobre o que a infância
significa para mim enquanto pessoa... e, principalmente enquanto educadora!
Acredito na infância realizadora, cheia de sonhos, medos e que só precisam ser
explorados de maneira que faca a criaa crescer.
A infância é o período pelo qual as crianças precisam de subsídios e apoio, pois, as
mesmas o muito curiosas e adoram vivenciar tudo aquilo que sua imaginação
permitir.
Infância é: brincar, é cantar, é montar, é desmontar, é ter curiosidade... é explorar
tudo a sua volta, cabendo ao adulto (educador, pai, mãe...) permitir que isso tudo de
fato realmente aconteça de maneira prazerosa e significativa.
Infância é sentir-se livre para crescer!!!
117
P.35-
1. alegria
2. prazer
3. doçura
4. diversão
5. medo do
desconhecido
6. conforto
7. descobertas
8. tristezas
Quando foi pedido
para desenhar sobre
a infância (uma
imagem que
representasse), logo
veio na mente a
minha infância que vale ser lembrada: Uma infância cheia de alegrias, pois sempre
estava toda a família unida, meus pais querendo o melhor para os filhos; quando era
bebê todos queriam me pegar no colo, mimar, acariciar e eu sentia uma felicidade
enorme, sempre sorridente, batia palmas para as fotos, todos me achavam muito
fofinha e bonita e dessa infância que eu lembro com muito carinho, claro que tinha
medo de enfrentar os desafios do dia-a-dia, descobrir coisas novas, mas sempre
encontrava apoio, proteção da família que eu amo muito!!!
P.36-
1. vô
2. rosa
3. casa
4. pai
5. mãe
6. cavalo
7. tabaco
8. pedras
9. tio
10. carro
11. irmãos
12. enchente
13. brigas
14. brincadeiras
15. trabalho
16. escola
17. almo
Era uma vez na cidade onde nos morava chamada Irineopolis o pai e mãe sempre
lutando para dar o melhor para nós. Eu Rosenilda, Maria Sandra, Andréia tinham
uma boa mais ainda estavam a trabalhar na época papai plantava fumo ou tabaco
tudo estava indo bem quando derrepente(sic) tudo começou dar errado pai estava
desanimado o meu tio estava só abrigar por que nada certo por você e um frio
118
e não adianta você nunca vai ser ninguém na vida, quando um belo dia de verão da
uma forte chuva de pedra e caba com tudo a casa as plantas ete com nossa vida foi
então que viemos ate Corupá e estamos ate hoje.
P.37-
1. brincar
2. cuidados
3. amor
4. ter infância
5. diversão
6. familia
7. escola
8. carinho
9. atenção
10. limites
11. segurança
12. proteção
13. saúde
14. lazer
Criaa, uma verdadeira caixinha de surpresa,
infância algo mágico, fase que marca toda a vida. Infância boa e saudável para mim,
é aquela em que a criança tem a oportunidade de viver bem, de brincar, cantar, se
divertir, se desenvolver em um ambiente adequado para sua idade, de ter suas
necessidades supridas adequadamente, de ser respeitada, enfim, infância é uma
grande caixa e dentro dela contém um mundo mágico.
P.38-
1. risada
2. doce
3. brincadeiras
4. dança
5. desenho
6. carinho
7. liberdade
8. amizade
9. esperança
10. colo
11. pular
12. correr
13. festa
14. férias
15. bichos
16. fantasia
17. praia
18. mar
19. rio
20. verão
119
O que mais me remete a infância é a recordação das férias. Nas férias sempre
ficávamos na praia (na casa da praia). O sol, o mar os castelos de areia; diversão do
amanhecer ao entardecer.
Quanto ao barquinho, é uma doce lembrança, nos dias de chuva o meu pai ensinava
a dobrar barquinhos, os quais nos jogávamos da janela, para ver as águas levarem.
P.39-
1. brincadeira
2. faz-de-conta
3. alegria
4. corpo
5. movimento
6. ludicidade
7. fascínio
8. imaginação
9. vivacidade
10. inocência
11. espontaneidade
12. amabilidade
13. força
Este desenho representa a
alegria, a vivacidade e espontaneidade que a infância traz. Os olhos bem abertos
representam o fascínio e a luminosidade que a criaa traz em si.
P.40-
1. despreocupação
2. alegria
3. sorriso
4. perdão
5. liberdade
6. amizade
7. carinho
8. dependência
9. solidariedade
Representei a liberdade, o amplo
universo diante do qual a criança
está para conquistar o que desejar.
As flores representam, que ela
jamais esta . As colinas e
depressões, que ela tefracassos
e vitórias em sua vida mesmo
quando criança.
Os pássaros representam os Anjos
que a aguardam. O sol o calor
humano, o calor de Deus e a sua
proteção.
120
A pipa representa a criaa sendo guiada pelos seus pais e educadores, para que
possa alcançar o alto que representa por sua vez o conhecimento e seu
desenvolvimento como um todo.
P.41-
1. memória
2. alegria
3. fantasia
4. criatividade
5. brincadeiras
6. imaginação
7. medos
8. saudades
9. amor
10. carinho
11. colo
12. afeão
13. simplicidade
14. coragem
15. curiosidade
A saudade está guarda nitidamente em
minha memória.
O gosto da jabuticaba está na minha boca.
As brincadeiras no pé de jabuticaba eram
intermináveis.
A árvore na nossa mão virava um avião
uma cabana, ou até uma casa cheio de dependências.
Cada galho era um quarto, uma sala.
A imaginação e a fantasia era o eixo da nossas brincadeiras.
O que era legal os piqueniques que fazíamos em baixo da árvore.
Que saudades! Que bom que ficou na lembrança.
121
Anexo 27. Transcrição Grupo Focal com as Professoras da Pré-Escola
GRUPO FOCAL COM PROFESSORAS DA PRÉ-ESCOLA
REALIZADO NO DIA 14/12/2006
5 PROFESSORAS PARTICIPANTES
Para iniciar a discussão no grupo focal, foi exibido um filme de aproximadamente 6min e 50 s,
com crianças em atividade de brincadeira e criação, para atingir nosso objetivo o filme foi
interrompido antes do final.
A seguir, a transcrição das falas deste grupo focal.
Nº
Partici
pante
Transcrição (lado A)
1 M1 Com essa pesquisa, a gente gostaria de perguntar, o que esse filme, que vocês
viram, tem a ver com os desenhos que vocês fizeram?
2 M1 Quem gostaria de falar? Você?
3 (P.26) Eu lembro que eu desenhei uma roda né, com as crianças, uma roda. E aí eu quis
representar assim que as crianças elas sempre trabalham em grupo, elas sempre
estão aprendendo umas com as outras, elas têm a troca, né! É... dificilmente uma
criança quanto ta em grupo fica sozinha né... e, tipo assim... ela não diferencia se
criança tem alguma deficiência ou mesmo o que eu coloquei o caso das raças, ela
não distingue essa diferença entre as crianças, ela trata igual a todas.
4 M2ena E você viu isso no filme também?
5 (P.26) Sim. Né! É bem claro no filme também que todos tavam trabalhando assim e
brincando em grupo, é... não tinha aquela criança que ficava assim sozinha,
todas tavam brincando juntas e isso eu representei no meu desenho tamm e que
eu queria representar.
6 M1 E isso você também encontrou no filme?
7 (P.34) Bom... no desenho que eu fiz, eu coloquei ali na folha mesmo mais assim que eu
passei quando eu era criança e que hoje eu vejo também nas crianças nas
escolas, assim... é... como também mostrou no filme, brincar livremente, ter a
imaginação assim bem aflorada, criando várias coisas com o que elas quiserem
né? e inventando várias coisas sem ter aquele brinquedo que é comprado, sem
ter aquele carrinho que vai lá e anda sozinho, aquela boneca que fala sozinha, mas
aquela coisa de brincar de mamãe e papai, de subir e descer, de ficar vários
minutos ali pendurado e a preocupação da professora de que aquela criança vai
cair né... sem ter a... sem podar essa criança do que ela ta querendo fazer.
8 (P.33) Sem se preocupar com as coisas certas, corretas, a cor que ela acha que é bonita
vai ficar bonita na árvore ou na flor, ou na amiga e se ela pinta ela usa essas cores,
não sendo... usando as cores que alguém disse pra ela ah essa é correta ou
aquela é correta né... ela usa aquela que ela gosta de cores que ela gosta; a
maneira como ela acha que é o certo pra ela.
9 (P.27) Bem... eu desenhei... a minha bicicleta né... pensei nas tentativas que eu fazia na
minha brincadeira eram as tentativas pra eu vencer o meu medo assim... né! As
curiosidades, o tinha vergonha de alguém ficar olhando pra mim e eu cair, eu
não tinha nada eu... não to preocupada... acho que eu não tinha essa
preocupação de alguém olhando e eu caindo, não... a tentativa é pra que eu
acertasse, quem nem ali eu não ligava pra o que os outros tavam pensando
então... acho que você fez aquilo né?
122
10 (P.23) Eu também em relação assim ao que eu fiz com o que eu vi no vídeo, foi do que eu
lembro bem que eu fiz uma árvore né... e também as experiências assim de subir
de brincar, as amizades que eu tive né! E principalmente as experiências assim
que eu tive assim na minha infância, de experimentar mesmo, de fazer, de testar e
hoje em sala de aula assim eu vejo que é muito importante você fazer essa relação
assim como com aquela experiência que passou ali na tartaruga né? Você levar
pro aluno ver e de realizar experiência mesmo que eu perceba assim que o
aprendizado é muito maior do que como eu iniciei a minha carreira assim mais
falando e hoje eu trago o concreto e percebo que... que há uma grande diferença e
quem sai ganhando realmente são os alunos e até o próprio professor.
11 M1 E... dentro do que vocês já falaram né, eu vou lançar uma outra perguntinha: o que
este filme tem a ver com a infância que as crianças estão vivendo na nossa
educação infantil? Vocês retrataram nos desenhos é... muitas assim sobre a sua
infância né? Expuseram a questão da liberdade, do brincar livremente, como a
Rosangela colocou né, a liberdade de escolher tal. E, o que que esse filme aqui
tem a ver com a infância que as nossas crianças estão vivendo?
12 (P.34) Que eu vi ali que chamou bem a ateão que a gente vivencia no dia-a-dia no
trabalho da gente, as crianças sem a distinção assim do menino e da menina. Tu
vai lá coloca um monte de roupa no chão, o menino coloca salto alto, vai colocar
a blusinha da mulher, vai... sem aquela malícia né... de que ah não menino não
pode colocar isso, menina não pode, sem ter aquela separação, não! Eles brincam
juntos e... é bem legal assim sabe?! Criança mesmo sem...
13 (P.23) Até porque muitos vêm de casa assim percebo, que nem... até esse ano aconteceu
um caso assim de que nem ela falou ali, as meninas brincam com as bonecas, a
minha sala nem nunca tinha isso né... e os meninos brincam com os carrinhos, daí
até contei que quando a gente viu uma coisa, uma vez fiz um curso que a pessoa
até falou né, que não que a gente tem que, meninos também podem brincar com
bonecas porque um dia vão ter filhos, sempre levar uma questão assim pra eles
pensar, refletir, ver que tem sentido, que a mulher também anda de carro, ela
também pode trocar pneu então, através disso eu resgatei, que eu lembrei assim e
daí realmente os meninos brincavam, ou pegavam, trocam, não tem mais aquele
grupo que, comigo aconteceu assim (não entendi) mais meninos e mais meninas
né, ela é jardim eu sou pré, então trabalhando tudo isso também você consegue
fazer com que eles, que mude essa idéia assim que isso eu percebo que isso tem
um pouco de casa assim não são todos, mas muitos ainda tem.
14 M1 Muito forte isso de que menino...
15 (P.23) É... isso ainda é um pouco... pelo menos eu percebo que é não é forte assim, mas
ainda existe sabe? Tem né...
16 (P.26) Eu percebo também que a infância do meu tempo e de hoje é diferente né. No meu
tempo brincava mais assim, a gente subia em árvore, fazia um monte de é... era
bem peralta e coisa. Hoje em dia, os pais como trabalham fora, eles estão muito
acomodados, deixam os filhos na frente da televisão e... na escola é o momento
assim que eles podem brincar, podem é... criar, podem construir então eles
aproveitam o máximo assim eu vejo isso na escola, porque em casa eles não tão
tendo essa oportunidade de tar criando, de tar descobrindo né, na escola a gente
ta proporcionando bastante isso pra eles.
17 (P.27) De eles falar, de eles ter o tempo deles falar, dar essa abertura pra eles falar,
curiosidade deles, digo assim, que eles querem saber o que eles querem saber e
não o que a gente falar, liberdade de expressão.
18 M1 Alguém quer falar?
19 (P.33) Olha eu percebo assim que... os pais, a maioria dos pais trabalha fora, as crianças
eles ficam em creches, escolas ou babás né, as crianças são mais assim... ficam
mais presas... em situações mais... sei lá
20 M1 Do cotidiano
21 (P.33) Do cotidiano, exatamente, por exemplo que nem ali no filme, as crianças ficam...
fica... de cabeça pra baixo, penduradas, de tudo que é tipo, de todas as maneiras e
brincam assim livremente... aaah tinha experiências assim completamente
123
diferentes assim da nossa época, quando a gente era criança e hoje em dia as
crianças não passam por essas situações. Tanto é assim que a gente percebe tem
frutinhas do lado, coisas do lado assim que a gente passa lá, no CEI lá também,
coisas que a gente comia quando era criança.
22 (P.27) Eles nem conhecem
23 (P.33) Eles o conhecem, eles o sabem, aah isso é veneno, isso... não pode comer
ou... ou... ficar pendurado de ponta cabeça lá, pendurado de cabeça pra baixo é
perigoso não pode eeeh. Mas é maravilhoso quando a gente é criança, passar
por isso!
24 M1 Testar, brincar.
25 (P.33) Exatamente!
26 M2 Então vocês sentem lá que, as crianças que vocês pegam hoje são crianças
diferentes daquelas que vocês foram?
27 (P.33) Completamente!
28 M2 Eee isso assim, em termos de, vocês acham isso melhor ou pior pra criança?
29 (P.33) Pra criança é pior, é pior porque a gente passou assim por experiências assim que
eles não passam mais hoje, situações assim que quando eu era criança eu gostava
de brincar, modelar loucinhas com barro. Hoje em dia as crianças não fazem nem
idéia mais de que pra pegar um barro e que pra modelar e fazer uma
panelinha ou coisa assim...
30 (P.26) Acho que é o cuidado excessivo dos pais, ah não faz isso porque vai se machucar,
não faz isso porque vai ficar doente... vejo assim.
31 (P.33) Não faz aquilo porque vai se sujar, é!
32 (P.26) Tem todo cuidado assim né, não sujar a roupa pra não...
33 (P.27) Na escola a gente encontra muito isso daí. A gente faz uma atividade diferente
que vai se sujar, lógico que vai se sujar e eles ficam meio assim, tem uns que
já... a gente tem que conversar que não faz mal, depois vai se limpar, eu sempre
falo assim
34 (P.33) Tanto é que tem crianças na escola, na escola eles dizem mas Prô, pode se
sujar?”, eu digo “pode, que a mamãe lava”(risos), se não é a mamãe é a máquina
que lava (riso novamente)
35 M1 Você ia dizer alguma coisa?
36 (mais pessoas falam ao mesmo tempo)
37 (P.23) Não, ia falar que assim através dessas listas que a gente faz assim através dos
favoritos, o que vocês fazem em casa, através disso ali fica bem evidente assim
né? Que é mais o assistir, é tudo mais o dentro de casa, percebo que falta espaço
fora, assim pra eles correr mesmo, brincar, isso é tão importante. Por isso que eu
vejo assim que enquanto professora a gente não pode e nem faço e nem deve ficar
assim bitolada na sala de aula às cadeiras, a gente deve procurar levar o aluno pra
fora, fazer experiências, visitar lugares diferente e foi um trabalho assim que eu
tenho consciência que esse ano, foi assim que eu fiz bastante experiência sabe... e
que nossa! Eu fiquei assim... em bons...
38 M2 Fala mais sobre isso, essa experiência e como você viu a criança ali? Que criança
é essa que você ta...
39 (P.23) Por exemplo assim, quando eu trabalhei os animais eu levei eles pra Pomerode,
então eu o fiquei em sala de aula falando sobre animal isso, animal aquilo,
porque muitos nem viram, nem sabem, então não adiantava nada eu levar um
vídeo, umas revistas, eu levei eles até o zoológico. Quando eu trabalhei as flores,
as plantas eu não levei o vaso de flor pra sala de aula e disse isso aqui é uma
flor e se planta assim não! Nós fomos no pátio, fizemos um canteiro desde o
início, plantamos, eles trouxeram, todo aquele trabalho sabe. Eu vejo que é isso
que tem que fazer, o... Talvez até porque quando eu iniciei, eu sempre falo, a
Tércia me conhece, eu tinha uma outra visão, hoje eu vejo que precisa buscar, ser
criativo e... pra cada vez eles aprendem mais, vem os resultados, eu tenho certeza
124
que foram bons!
40 M2 Agora como que é que voviu a criança aí fazendo isso? Porque, assim você
planejou...
41 (P.23) Ahá! (concordando)
42 M2 Em princípio achando que isso ia ser importante
43 (P.23) Sim! E foi!
44 M2 O que saiu das crianças?
45 (P.23) O resultado? Ah o conhecimento
46 M2 Não só o resultado
47 (P.23) Aham
48 M2 O processo mesmo delas?
49 (P.23) De todo processo? Maravilhoso assim! Eles participaram, se envolveram individual,
em grupo, eles tinham preocupação com os cuidados, também ali por exemplo né!
Até no zoológico assim, os cuidados eles perguntavam lá pro veterinário, como é
que fazia o que fazia. Eles lançavam perguntas assim, até o professor também
fez esse trabalho assim, que em sala de aula a gente fez e chegou eles
lembraram de tudo aquilo, eles não ficaram assim só observando olhando eu vi que
teve esse aprendizado assim sabe? A mesma coisa com as plantas, os pais
vinham, perguntavam Nossa o meu filho já sabe o nome dessa flor, sabe isso,
sabe quanto tempo que vai é... durar”, tudo isso sabe? Então eles tiveram assim,
um envolvimento. Com o (...) também foi assim, eles se envolviam e aprendiam.
50 M2 Mais alguém tem alguma experiência assim de ver as crianças?
51 (P.26) É! Eu também com um pintinho. Cada turma tinha um pintinho e..., a gente foi na
agropecuária, a gente comprou o pintinho, a gaiolinha né, a ração e cada dia uma
criança levava esse pintinho pra casa. Foi bem cômico assim, porque os pais
tinham que registrar o que eles faziam em casa com o pintinho, porque eles tinham
que ter todo o cuidado, toda a responsabilidade de cuidar, de tratar de aquecer né,
porque o pintinho ele gosta, senão passa frio também, falaram que aos pais
se empenharam também a família em si envolveu também com esse trabalho e foi
bem significativo.
52 M2 Que tipo de reações as crianças tinham?
53 (P.26) Elas ficavam todas eufóricas, assim alegres, ah hoje é meu dia de levar pra casa e
cada dia um levou pra casa e no final até eu sortiei né pra alguém uma das
crianças ficar com o pintinho em casa e ta até hoje. Daí até agora no final eu
perguntei assim pros pais né como é que ta o pintinhoAh ele ta grande!” tem uma
mãe que até falou “Ah até hoje eu levo ele junto na roça lá pra carpinar o pintinho
vai junto”
54 (P.33) É mais já virou um frango!
55 M1 Pelo menos não era um pintinho novo a cada dia né? (risos) Porque eu vi uma vez
uma experiência de que cada dia era um pintinho novo que aparecia né!
56 (P.23) Esse cuidado que ela falou ali é importante, as vezes você faz, de repente cria
toda aquela expectativa e fica naquilo né, que nem ela falou, todo cuidado que eles
tem com o pintinho lá. Mesma coisa na escola assim todos os cuidados que eles
têm com as plantas, tanto é que as vezes acabava assim você com o dia-a-dia
você tem outras coisas, você vai passando e eles falam “Ô Prô, a gente não vai
hoje, você esqueceu? Mas tem que ir lá regar, tem sol e o pode agora, será que
vai chover?” Então esse cuidado eles também tinham né, tem!
57 (P.27) Bem, eu faço assim, eu gosto muito de sair com eles, ir assim na casa dos amigos
né, a maioria ali assim um mora assim, digamos, mora mais longe, mais perto mas
procurei ir nas casas que moram mais perto assim, a gente vai. Meu eles ficam
muito feliz meu! O Edson assim tem um amigo meu, ele tava assim meu! Ele
pulava, ele gritava deixa de ter (fala cochichando) como chama aquele? Um trator
assim né! Meu por mais que, com certeza todos eles já andaram, mas naquele
momento em grupo né em conjunto assim eles tavam assim...
125
58 M2 Vocês duas?
59 (P.33) sei dizer que outro dia nós demos ingá pros pequeninos comerem (ri). Eles
comeram, colhemos no mato isso. Tinha uns que tinham medo de colocar aquela
sementinha na boca, mas aaah os outros pediam mais e mais e mais, tinha
situações que eles contavam em casa que comeram uma coisa diferente, mas não
sabiam explicar pros pais o que que era, daí foi interessante. Os pequenos eles
nos contam tudo em casa o que acontece.
60 M1 Qual era a frutinha que você deu?
61 (P.33) Ingá!
62 M1 In! (repete)
63 (P.33) (ri e fala) E é época agora isso dá...
64 (P.34) Na minha turminha assim é bem perceptível assim a falta de afeto, eles vinham
muito assim pra mim, mais pra aquele lado do carinho, do toque. E, eu tinha um
cantinho na sala que era o cantinho da cabeleireira né, onde eu sentava lá, as
meninas vinham arrumavam as unhas delas, os cabelos, elas ficavam em frente ao
espelho; os meninos pediam também pra serem arrumados o cabelinho tudo,
ficavam muito, assim bem faceirinhos assim sabe e daí chegava a hora do recreio
eles iam com aquele cuidado, assim tudo, pra não estragar nada né, porque a Prô
fez. Depois no outro dia vinham as es assim e agradeciam assim pelo que tu
tinha feito porque, “Ah nossa como ele gostou”, e vinham até com o topete que a
mãe mesmo fazia, porque eles pediam pra mãe fazer, foi bem legal. A parte de
carência afetiva é bem presente assim neles.
65 M1 Todas essas atividades né, que que elas relataram assim acho que o atividades
importantes, interessantes né, mas elas são sempre o grupo todo desenvolvendo
uma atividade né? Em que momento lá, no dia-a-dia de vocês, as crianças são
poderosas, como diz a Maria Helena, elas tem a liberdade de escolher como usar
um determinado brinquedo? Eles têm que fazer todos juntos a mesma coisa?
Como é que funciona? Tem algum momento que elas têm liberdade de escolha?
66 (P.26) Eu geralmente no início da aula deixo eles brincando a vontade né, eu tenho o
cantinho da fantasia que tem cabideiro, as roupas, sapatos, chapéus, espelho é, eu
também trabalho muito os jogos com eles, construo jogos com eles dominó,
quebra-cabeças e tenho os bichinhos de pelúcia, tem bonecas, tem o quadro
também pra eles desenharem, então ali naquele momento assim eu deixava eles
livres. Geralmente aos meninos e as meninas brincavam de casinha, então eles
usavam aqueles acessórios la do cantinho da fantasia e... e... era assim, cada um
brincava do que queria de momento assim, uma hora brincavam de escolinha,
outra hora brincavam de casinha, é o momento assim, que eu deixava eles livres
escolhendo as brincadeiras deles.
67 M2 E não fazem mais?
68 (P.26) É que agora são as férias né! (risos)
69 M2 (rindo fala) Eu pensei o que que aconteceu! Mas é bom esse momento? Ou havia
alguma bagunça?
70 (P.26) Não, é bom porque todos participavam, dificilmente assim dava briga ou alguma
coisa assim, todos compartilhavam os brinquedos é... se envolviam mesmo, daí...
tipo... e... quando brincavam de escolinha era engraçado assim que eles refletiam a
minha pessoa e faziam igualzinho como eu fazia né, até uma hora assim eu
observei assim e dava risada, meu! É assim que eu faço mesmo? As vezes a gente
consegue se refletir neles mesmos né com atitudes que eles fazem.
71 (P.27) Eu assim as atividades de colagem, nas atividades de colagem eles escolherem,
eles escolhiam o que eles queriam colar , eu colocava umas coisas assim sobre
a mesa, daí cada um ia lá e escolhia ou as vezes aquilo que tava em cima da mesa
não era o que eles queriam, daí eles iam fora procurar outra coisa que eles
queriam colar. Ou até assim os joquinhos quando a gente faz, a gente deixa em
cima das... das cadeiras de praia, cada um vai lá e escolhe com qual quer jogar,
que quer fazer né! Qual que mais interessa.
72 (P.33) Assim o que eu fazia lá com os meus aah, é pra atividade, primeiro uma atividade
126
primeiro e dsempre tem uns mais rápidos e “Prô! Já posso ir brincar?”, aquela
hora do... do momento livre de... né, que cada um podia escolher o que brincar é
esperada assim com tanta ansiedade que eles não tinham paciência pra todos
terminarem a atividade, mas daí colocava eles nesse momento pra olhá, lê um livro
entre aspas né, pra até esperar todos terminar a atividade, que tinha uns ali que
estavam ainda fazendo a atividade. Por exemplo as meninas, tinha três meninas
que sempre escolhiam brincar de casinha, casinha, boneca, roupinhas; dois eram
peças de montar; tinha outros dois lá que gostavam sempre de jogos, dominó ou
quebra-cabeças e daí era assim um momento deles que eu não interferia, não fazia
nada, ficava apenas observando. Mas as meninas elas diziam “Prô! Você vem
fazer uma visita hoje pra nossa casa?”, “Eu venho! Mas vai ter bolo?” eu
perguntava, “Ah sim! Vai ter bolo e café!”. Aí eu ia lá e fazia de conta que batia na
porta, a Tércia sabe o espaço reduzido da nossa sala, mas olha lá eles criavam de
tudo e tinha um espaço bem reduzido onde dois jogavam bola ali dentro, mas e a
paixão deles era a bola. Num cantinho bem pequeno, o outro cantinho das
bonecas, da casinha, do quebra-cabeça, das peças de montar, mas cada um tinha
seu amiguinho, seu momento ali, era fantástico! Mas eu tinha que fazer uma
visitinha pra cada um, participar até jogar bola naquele cantinho com os dois eu
tinha que jogar um pouquinho, mas era muito dez! Eles esperavam assim com
muita ansiedade esse momento.
73 (P.34) Tudo o que acontece na sala delas acontece na minha também! (ri sozinha) Mas
no momento assim, deles trazer os brinquedos de casa, é... as vezes vem algum lá
com patinete, outro com videogamezinho e eles acabam deixando esses
brinquedos de lado pra brincar com a boneca, que a outra trouxe uma bolsinha
cheia de roupas né, com fraldinhas e vão juntos lá trocar, os meninos também,
trocam de carrinho, já trocam com o brinquedo do outro porque o seu não é
interessante.
74 M1 O dia de trazer brinquedo é uma vez por semana? Como é que vocês tão fazendo?
75 (P.34) Não... eles traziam assim... acho que era assim... segunda, quarta e sexta, depois
daí quando ta tudo certo, daí só na sexta assim... porque os pais não tavam
mandando...
76 (P.33) É nós tínhamos uma vez por semana terça-feira e...
77 (P.34) Eu tinha três vezes por semana e depois troquei pela sexta.
78 (P.33) E uma vez eu fiz assim de a Prô trazer os brinquedos (ri sozinha). Para os meninos
eu tive que trazer... eu trouxe uns brinquedos lá mas... de carrinhos, de jogos, mas
eles o queriam nem saber, porque eu trouxe umas barbies pras meninas da
minha filha com um monte de roupinhas e os meninos queriam brincar lá com as
barbies e... com as roupinhas também! Eles ficaram fascinados! ! Eles
esqueceram os carrinhos, os joguinhos lá, foi um momento de todos eles brincarem
com as barbies e... e as roupinhas! (fala com um sorriso nos lábios)
79 (P.23) Bem! Comigo esse tempo livre acontece assim, eu também tenho esses cantinhos
que nem ela falou né, eu faço com... da pintura, da música espalhado assim pela
sala, então eles vão fazendo esse rodízio sozinho né conforme o gosto, na hora, no
momento, aquilo que sentir, eles vão fazendo isso. É... também não há conflitos,
não briga, cada um sabe aonde ta com vontade de ficar. Quando ela falou do
brinquedo, os meus traziam na sexta-feira os brinquedos, e no início eles traziam
os brinquedos, cada um ia brincar com o seu, havia troca, mas assim eu percebia
que aquele brinquedo era tão significativo pra eles, pra criança no caso, que não
era o trazer né, pra brincar, então a gente fazia uma roda, bem legal assim, a
gente sentava, eu também trazia, daí a gente trazia o brinquedo e falava sobre
aquele brinquedo, apresentava o brinquedo, esse brinquedo eu ganhei de quem e
por que que eu ganhei, por que que eu escolhi. Então usava, adorava trazer, além
de poder brincar com o brinquedo eles adoravam trazer pra falar, daí depois eles
mudavam, trocavam, achava bem interessante essa parte. E a outra ali de deixar
livre que eu fazia, por exemplo, chegava sexta-feira, depois desse tempo de brincar
ali, se a gente não fazia atividade assim em folhas ou em caderno, a gente
sentava e conversava “O que que vocês gostaram de fazer essa semana?”, “O que
que vocês acharam mais importante?”, “Teve alguma atividade que vocês o...
127
não gostaram, não foi legal?”, fazia tipo... uma... uma assim uma análise da
semana né, e a Prô ta pensando na próxima, daí eu me preparava assim, a Prô
ta pensando na próxima semana trabalhar... daí eu já falava os assuntos lá... “Tem
alguém que tem vontade...” eu deixava que eles também escolhessem sabe? Os
temas a serem trabalhados assim, os assuntos né? Daí eles escolhiam, daí a Prô
vai ver se vai conseguir então a gente vai fazer isso. E durante a semana se de
repente acontecesse alguma outra transa, a gente sabe disso que na sala de aula
isso acontece, mudava também, procurava assim ir ao encontro do que eles
também queriam saber sabe? Não levava muito o que eu quero trabalhar isso e
isso, buscava deles pra saber qual era o interesse deles. E foi assim também que
eu fiz esse trabalho, quem nem os insetos a gente fez um trabalho bem legal, mas
partiu deles, porque tinha inseto na sala, e eles queriam saber o nome e eu não
sabia, daí a gente foi pesquisar, foi ver, daí foi um trabalho bem legal assim, os
cuidados que eles tiveram com os insetos assim bem interessante, então deixar
que eles as vezes tem temas mais legal que nossos né, percebo assim que é bem
importante trabalhar com isso e é o interesse deles, não só o teu, esse espaço livre
eu também faço na escola.
80 M2 Quando vocês tão falando que as crianças escolhem, que faz-de-contas de não
sei o que ali elas tão bem ligadinhas (ri sozinha). É... se aproxima mais da infância
que vocês tiveram? Que vocês colocaram antes e mais do filme do que do resto do
tempo?
81 (P.34) Eu acredito que sim!
82 (P.33) A gente se sente criança naquela hora (ri sozinha). Lembra quando a gente foi
criança, com certeza! Maravilhoso!
83 M2 E isso é a maior parte do tempo ou a menor parte do tempo dentro do... na rotina
da educão infantil?
84 (P.33) Acho que é a maior parte do tempo! Eu acho que sim, porque com isso eles
aprendem, eles... criam, eles... eles passam experiência... que hã... que a gente
já passou.
85 M2 Quer dizer... vocês conseguem ocupar isto na manhã inteira, quer dizer alguns?
86 (Vários murmuros)
87 M2 Ah os prés também? Vocês conseguem ocupar a maior parte do tempo com esse
tipo de brincadeira? Ou o trabalho que tem que ser feito toma mais tempo que essa
sessão?
88 (Um instante de silêncio)
89 M2 Porque o que eu to em dúvida aqui é... assim, tem uma certa contradição, ta certo
que vocês falaram em relação às famílias mas, assim, por um lado vocês colocam
que as crianças de hoje já não tem as possibilidades que a gente tinha de
liberdade e tal. Mas as criaas de hoje, tudo bem que em casa elas podem não
ter, mas se elas passam a maior parte do tempo com a gente, nos CEIs, então
essa liberdade que a gente tinha elas não tem lá? Pelo que vocês tão colocando
até tem, porque assim, é equivalente esse tipo de coisa né? Então hã... por isso
que eu to perguntando, mas isso é pouco tempo a rotina que a gente tem que
fazer, acaba tomando quase todo tempo e sobra pouco pra esse, pra esse tipo de
atividade? Ou... essa é a atividade que se realiza lá?
90 (P.26) Bom eu trabalho de forma equilibrada assim, eles estão brincando, eu chamo
eles pra fazer uma atividade, mas conforme eles forem terminando eles voltam
pras brincadeiras assim.
91 M1 É na verdade a Maria Helena quer perguntar se eles passam mais tempo em
atividades de livre escolha ou mais tempo em atividades mais dirigidas por vocês?
92 M2 Incluindo as atividades da rotina, porque a gente sabe que comer, dormir etc, toma
bastante tempo. (ri) Se bem que eles já não dormem?
93 M1 Não! Eles ficam quatro horas
94 M2 Comem lanche só... (não é possível entender – fala em tom baixo)
95 (P.33) Olha... como a... meu trabalho era com o jardim, eu acho que é mais tempo eles...
128
é... brincando. E nas atividades... e brincando eles estão aprendendo ao mesmo
tempo! Tem as atividades dirigidas também né, as atividades diferentes, mas a
maior parte do tempo (fala bem baixinho) é brincando. Que... que eles tem aquele
momento, claro! A Prô acompanhando o tempo todo, atividades assim que... tem o
momento livre e tem o momento da brincadeira dirigida, mas ah... é um momento
assim que eles se sentem livres. Tem uma criança por exemplo, que... que eu ouvi
falar... que é... um aluno meu, que em casa ele é o tempo todo assim Não pode
fazer isso, não pode fazer aquilo”, creio que o pode nem sorrir! Pelo que eu ouvi
falar né, que a Cris me falou. E... ele extrapola, a Pdeixa ele livre pra brincar,
tanto é que foi ele que me perguntou Prô! Pode se sujar?”, eu digo “Pode!,
“Porque a minha mãe o deixa”, “Em casa a mamãe não deixa, mas aqui a Prô
deixa”. Porque a criança precisa desse momento, pra fazer o que ela tem vontade
de fazer. Se ela não sabe, ela aprende, tanto é que não sabia nem brincar na areia.
96 M2 Então, pra ser criança... vamos tentar resumir aqui algumas coisas que vocês
colocaram, me ajudem né! Ah... do jeito que é... ah... o que é a infância, ou falem
mais do que vocês tem das crianças que vocês tem lá, né. Quais são? O que é
estar na infância, o que é aproveitar a infância?
Nº Partici
pante
Transcrição (lado B)
97 (P.27) Tem umas que não sabem ainda brincar, não tem essa... e tu vai lá brinca junto
com elas e elas o aprendendo, quando tão montando as pecinha, vão
trocando de lugar, ali qué troca né, autonomia assim, gera autonomia. Eles são
muito bitolados em casa “Faz isso”, “Vai faze isso”, “Vai assisti televisão”.
98 M2 Então uma das características da criança assim é brincar? Saber brincar, ter
autonomia pra saber o que quer fazer, brincar? Ser criativo. Que mais?
99 (P.26) Imaginativo. Imaginar, ser curioso.
100 M2 Vocês falaram também aqui...
101 (P.23) Passar por experiências
102 M2 Experimentar coisas novas. Vocês falaram... não... não ter estereótipos, vocês
falaram em relação por exemplo as coisas de menino e de menina e em relação as
diferenças, vo... vocês colocaram né... né... não ter medo, não ter vergonha.
Enfrentar desafios. Eu anotei aqui o que vocês falaram (ri). Bom vocês colocaram
aqui não fazer exigências, brincar livremente, não ter, sem estereótipos, vencer o
medo, sem vergonha, enfrentar desafios, vocês tavam falando de vocês né?
Experiências, experimentar, testar, botar a mão na massa né? (ri). Como vocês
colocaram trazer o concreto, botar a mão na massa pra experimentar. Foi isso que
vocês falaram da infância de vocês, né? E é essa infância que vocês proporcionam
nas creches pras crianças?
103 (P.34) Nas escolas.
104 M2 Nas escolas, é! Estamos com as escolas, ta certo! Mas... é... é... vocês acham que
as escolas estão proporcionando isso suficientemente, tão proporcionando isso
mesmo? Ou... ou ta acabando ou ta aumentando, como é que ta?
105 (P.33) Pelo que eu percebo está aumentando.
106 M2 Essa liberdade?
107 (P.33) Essa liberdade. Ainda bem! Já estava pior! Mas eu percebo que está aumentando.
108 M2 Ta tendo mais possibilidades pra criança.
109 (P.33) É...é...
110 M2 Eu digo dentro da escola.
111 (P.33) As crianças já estão... passando por experiências ou brinquedos... ou... (fala
baixinho) como é que eu vou explicar... coisas assim que a gente fazia... eles estão
fazendo o que nós fazíamos já! Nós estamos permitindo isso às crianças!
112 (P.27) Assim eles escolhem o local onde eles comem, deixar se expressar, fazer o que
quer, né?!
129
113 (P.33) Sim!
114 (P.27) Assim, não é só horário ? Colocar opções pra eles né?
115 (P.23) E a minha maior preocupação assim é com a educação infantil, que quando eu
iniciei assim, era bem diferente sabe? Se falava muito de primeira a oitava e
educação infantil parece que ficava, e agora não, agora a impressão que dá assim
é que a educação infantil é... é o começo, né? E a gente sempre falava sobre isso,
que um dia isso ia acontecer, e eu to vendo assim que ta acontecendo. A nossa
diretora de escola assim, as nossas coordenadoras Rosangela? A gente teve
muita sorte assim, elas perguntam o que ta faltando e o que pode tar comprando,
melhorando, inovando sabe? Têm assim essa visão assim que é ali o começo, que
tudo tem que ser diferente, pra que depois esse processo continue, que não é
melhorando na terceira, quarta série. A gente teve assim esse ano né? Uma
abertura bem grande assim, elas vinham, conversava e perguntava eu me senti
assim bem segura e... bem feliz.
116 (P.26) É eu vejo que ta caminhando assim não ta assim totalmente, falta muito ainda pra
fica ainda... bom!
117 M2 Por exemplo?
118 (P.26) Não assim, até mesmo pela valorização dos pais sabe? Os pais acham ah a
criança fica pros professores cuidar, não vêem que a criança ta crescendo
dentro da escola sabe, vejo isso ta faltando um pouquinho assim a valorização dos
pais, porque dentro do ambiente escolar a gente já que ta crescendo, já ta
assim se valorizando.
119 (P.23) Na nossa comunidade essa visão mudou também! é bem diferente assim... eles
valorizam, eles vem perguntar, né?
120 (P.34) Pede qualquer coisa assim que seja assim pro desenvolvimento da criança...
alguma coisa
121 (P.23) (fala praticamente ao mesmo tempo) É... assim... eles tratam... perguntam...
122 (P.34) As plantinhas que ela fez, o jardim na frente da escola, nós fizemos perto da sala
também e a gente pediu assim pras criança e as crianças cobraram assim em
parte porque a Prô pediu. No outro dia todos vieram, não faltou número de flor ali
pra gente plantar e aqueles pais né? Todos os dias ali te agradecendo e no final do
ano foi bem emocionante assim, os pais que chegavam na porta !“Nossa! Como
ele cresceu”, “Como era assim quando entrou pra ti, lembra?”, “Como ta saindo
agora!” que o respeito até mesmo em casa a conduta muda.
123 (P.23) A gente ouviu bastante isso no encerramento, a gente sempre tava pertinho, daí a
gente ficava assim sabe? Até surpreso porque, se passaram tantos anos assim... e
agora
124 (P.34) Aquela criança que veio assim... eu tive uma menina que veio e no início do ano
ela malmente ela se locomovia assim...
125 (P.23) É! Nossa!
126 (P.34) Depois... estávamos assim até com muitas crianças né? E depois foi feito um
trabalho mais individual e com ela que eu consegui fazer, aquele negócio de subir
a escadinha do escorregador que eu ajudava ela, descia o escorregador, na
balança e isso foi gradativamente, agora ela já vai na balança sozinha, sobe
sozinha, já corre sozinha, fala sobre tudo, ela é reservadinha!
127 (P.23) Até poema ela decorou!
128 (P.34) Decorou do Camões!
129 (P.23) E na balança ela ficava, a Rosangela com todo aquele cuidado, eu dizia assim
“Rosangela ela ta sozinha!”, assim sabe ela avançou assim que!
130 (P.34) Que quando ela percebeu... a menina já tava andando!
131 (P.23) Já tava! Eu
132 (P.34) E ela “Rosangela!?”, “Deixa, deixa que ela já consegue!”
133 (P.23) E que bom isso! Meu! O resultado assim...
134 (P.34) (fala olhando para Tércia) Lembra do medo que eu tinha por ser a minha primeira
130
experiência com essa idade. Tinha muito medo assim, eu era muito de “Meu Deus!
Vai cair!”, Meu Deus isso... Meu Deus aquilo” né! Agora o, eu já to bem mais
tranqüila, eu sei que isso faz parte, que eles tem que experimentar mesmo e se
cair vai levantar vai, vai tentar de novo.
135 M1 Porque a Rosangela trabalhava com Berçário...
136 (P.34) (Interrompe) Com bebês!
137 M1 Com bebês né? Quanto tempo você ficou?
138 (P.34) Quatro anos!
139 M1 Quatro anos no Berçário e esse ano ela foi pra... pro Jardim de Infância.
140 (P.26) Até pra justificar tá, é que a nossa escola é bem no interior, então a nossa
comunidade, nossas localidades são ah bem distantes das escolas, então a gente
não tem esse contato com os pais, as crianças vem simplesmente de ônibus
então..
141 (P.27) Até porque assim, em muitos assim até fiquei triste, acabam a quarta série ali e
acabou, sabe? Parou. Os pais não valorizam o estudo, acham isso uma enrolação,
chegam na oitava série e pronto parou né! Talvez seja essa a visão deles né, não
ficam empatando com a criança.
142 (P.33) É mesma coisa pra mim, foi uma experiência nova né. Trabalhar com crianças
dessa idade tanto com jardim como na creche ali também, mas ah... acho que eu
coloquei o meu lado criança pra eles e... (ri) ajudou bastante.
143 M2 Mas... me diz uma coisa, vocês são bem do interior né? E... eles também são, o
presos em casa quanto os meninos assim mais da cidade? É que a imagem de
criança que vocês tavam colocando de em casa, não pode, não pode se sujar e tal,
vocês também lá no interior não pode e tal...
144 (P.26) Por incrível que pareça sim!
145 M2 Que eu imaginava que criança da roça só vivia subindo em árvore (ri), correndo.
146 (P.27) Eles tão agora é assistindo TV, jogando vídeo game sabe? Eles tão
147 M1 Eles tão começando agora...
148 (P.26) É...
149 (P.33) Esse que é o problema!
150 (P.27) Pois é! Daí assim brincadeiras assim de correr tudo, tem que participar assim pra
eles aprender né, subir, fazer casinha, tudo isso.
151 (P.33) Eu moro no sítio, os meus, as minhas crianças eles ah... eles não sabem subir em
árvore, por mais que eu diga que eles subam em árvores, vão... se pendurem nas
cordas, apesar de... estão pensando com a barriga, eles enrolam a corda e então
eles penduram né... ficam sei lá... se largando lá no precipício la, eu digo precipício
e eu morro de medo porque eu não me lembro dessa época de me pendurar nas
cordas né, mas eles o fazem isso, é mais computador, é... vídeo game é...
televisão.
152 M1 Vocês acham que essas coisas de hoje que é o computador, a televisão, vídeo
game, isso não combina com a infância?
153 (P.33) Com certeza que não!
154 M1 Não tem a ver com a infância?
155 (P.33) De forma alguma
156 (P.34) Criança precisa conhecer, precisa ter esse contato, mas assim até... quando sai da
casa da gente, tu senta lá, todo mundo ta conversando , ta contando um monte de
histórias, coisas que né? Que a gente vai acabar descobrindo com os nossos pais,
que os nossos avós faziam e que se tem isso... tu não pára pra conversar acaba
que se... fica escutando a televisão. As crianças param pra assistir, os pais o
tão mais conversando com os filhos em casa. Se acontece é raro! Com certeza
acontece, mas muito raro!
157 M1 Katia queria falar?
158 (P.23) Não! Eu ia dizer assim, que nem ela falou ali que atrapalha assim a televisão,
131
computador, mas assim atrapalha que tem um lado assim que também pode
ajudar né, as informações, só que os pais precisam estar assim conversar,
preparar, o deixar a criança livre na frente da televisão, livre no computador. Ela
pode utilizar, eu vejo que também ajuda não é que não pra tudo, não precisa,
deixo! Mas assim não que nem se a gente levar uma fita de vídeo assistir. Assistir
por assistir não! Tem que assistir com objetivo, então assim os pais deveriam ter
um pouco assim essa preocupação, não que agora não... assim... não deva mais...
159 (P.34) Até... os desenhos que passavam quando a gente era criança,hoje não passa
mais. Os desenhos são mais violentos, hoje... e a gente assistia tanto desenho
bonitinho.
160 (P.27) E isso reflete na atitude deles né, nas ações deles!
161 (P.34) Com certeza!
162 (P.23) Fazia de tudo um pouco... brincar, correr, sonhar.
163 M1 Me ocorreu uma coisa por causa daquilo que ela falou (ri). Com quem é que a
gente aprendia essas brincadeiras aí de subir em árvores? Porque vocês tão
dizendo que as crianças hoje têm medo, não querem mais, o que é uma coisa
estranha porque... eu me lembro quando eu era pequena também assim... hoje eu
dizer que o queria subir em árvore, minhas filhas também ainda... assim... um
lado parecia que a árvore dizia subam estou aqui (ri e fala rindo) mas por outro
lado podia se estropiar. Mas assim, eu não me lembro como... com quem eu
aprendi a subir em árvore!
164 (P.23) Eu lembro que eu aprendi sozinha, com a minha e, as vezes eu sozinha porque
eu subia, subia, mas o conseguia descer e ela ficava embaixo falando como é
que eu tinha que fazer e assim eu to quatro anos com a minha filha, que ela tem
três aninhos e ela também ta nessa fase, lá em casa tem assim uma área verde
assim com grama e árvore e de vez em quando ela ta tentando e eu deixo ela
tentar, de repente até dou uma ajudinha assim... acho que tem que ter ali
também...
165 (P.27) Se tava chovendo tamm eu lembro, a mãe mandava entrar pega o lençol faz
um... pendura lá na porta... faz umas cabanas né, daí a gente fazia... ela não
brincava junto, mas ela orientava né, dava iias, daí daquela idéia inicial surgiam
outras né
166 (P.23) E dava certo porque que nem computador naquela época eu não lembro, mas tinha
televisão, eu brincava, assistia e tudo dava certo, porque que parece que hoje... é
diferente!
167 (P.34) Até nesses desenhos que a gente assistia...
168 (P.23) Minha mãe também trabalhava o dia todo!
169 (P.26) É eu não lembro assim que alguém tenha me ensinado, acho que a gente era
bastante ousado assim, que eu tinha mais o meu irmão e mais dois primos quando
a gente se reunia assim daí fazia a festa né.
170 M2 Mas eles eram mais velhos?
171 (P.26) Não, da mesma idade assim.
172 (P.33) É... na realidade, precisa ter um grupinho pra isso, sabe?
173 (P.26) Uhum!
174 (P.33) Pra ousar pra... imaginar coisas em cima daquela árvore, ter uma fruta pra colher,
acho que uma pessoa sozinha não vai simplesmente lá, uma criança sozinha acho
que não vai e sobe simplesmente uma árvore e pronto né! Precisa pelo menos um,
pelo menos estar em dois pra subir, pra brincar pra...trepar na árvore pra! Sei lá!
Precisa ter um grupinho né. Pra pensar... pra criar...
175 M2 Você ta falando eu to... eu to lembrando também... que eu assim... eu também
quando fazia essas estripulias, essas coisas maravilhosas era na turma né, era
com meu irmão
176 (P.33) É primos né?
177 M2 Meu irmão era um ano mais velho só né, mas a gente inventava muita coisa doida,
132
as vezes era eu que dava idéia, as vezes era ele, as vezes eram as mais novas
davam idéia e a gente arriscava, que era mais velha (ri) arriscava testar!(ri)
178 M1 Mas acho que uma coisa que eu acho que era bem importante assim era a gente
ter disponibilidade das coisas que a gente podia usar dentro da casa, porque um
lençol, duas cadeiras dava uma boa cabana. Mas, o bastava ter a cabana né?
Você quer construir toda uma coisa dentro daquela cabana, então você podia
buscar a colher da mãe, o prato de plástico e, então ter essas coisas a disposição
ou ter um adulto que se dispusesse a nos deixar essas coisas pra gente né?
Experimentar, brincar, escolher o que podia ser usado.
179 (P.26) Até mesmo as panelas né!
180 M1 As panelas! A gente catava tudo da casa.
181 (P.33) Catava! Mas isso depende da mãe de cada um de deixar né, porque eu lembro que
a minha mãe deixava. A gente não fazia cabana dentro de casa, mas a gente
morava assim onde tinha um mato perto e nós pegávamos levávamos... levávamos
uma vassoura junto varríamos ali, tirava e arrancava os matinhos e ali nós
fazíamos nossa cabana. Levava daí umas comidinhas, pedia pra mamãe algumas
comidinhas, pipoca ou... sei lá! s fazíamos nossa casinha, mas depende da
mãe de cada criança deixar pegar essas coisas. E hoje a gente escuta muito isso
das crianças “Ai não pode isso, não pode aquilo”, “A minha mãe não deixa, né”,
“Isso agora não pode”.
182 M2 Assim... considerando o que vocês colocaram que tem mais... de certa forma... a...
a escola, no caso vocês ou as creches no caso dos menores, ta ocupando esse
espaço de... de... permitir as crianças serem, viverem a infância delas ? O que
que a gente podia fazer, ou o que que ta faltando, ou se isso ta acontecendo
totalmente, essa mesma possibilidade. Que possibilidades tem de ser criança,
acho que na escola e que possibilidades não tem?
183 (P.27) Acho que assim primeiro os professores deveriam essa necessidade deles parti pra
fazer essa diferença na escola, isso que ta acontecendo isso né, quer dizer é
chegar é tudo atividade dirigida, dirigida, dirigida até ir embora. Acho que os
professores têm que pensar e tão tendo né, essa modificação.
184 (P.33) E deveriam olhar pros pais também, eles também já foram crianças um dia.
185 M2 Mas depende também do ambiente da escola em termos das possibilidades, em
termos do ambiente e tudo, o que pode e o que não pode. Pode-se... pode-se viver
infância totalmente hoje? O que que possibilita e o que não? E o que que pode
dentro de uma escola? O que que barra essa infância e o que promove? Vocês
colocaram assim, as professoras tão buscando promover a infância, né, mas ainda
tem alguns limites ou não tem?
186 (Por alguns minutos, ninguém fala, silêncio)
187 (P.26) Acho que sim! Um pouco de limites tem né! A precisa ter, porque até o cuidado
assim ah vai que a criança se machuque, então a responsabilidade é do professor
e os pais com certeza vão querer tirar satisfação né.
188 M2 Sim! Então tem um limite que é a fragilidade das próprias crianças que você tem
que... claro, não vai colocar as crianças em risco né? (ri)
189 (P.26) Mas tem que ter um cuidado assim com elas!
190 M2 Mas assim do próprio funcionamento ou do próprio espaço, tudo que tem de como
funciona uma escola, ela já possibilita essa infância ser infância, ou ela também
ainda poda a infância?
191 (P.27) Olha eu não sei a nossa escola assim, agora tem parquinho né que ajudou
bastante assim, tem areia tudo né, mas que nem no caso assim dela quando fui
visitar aquela sala fiquei desesperada, que que é aquilo é um né... a minha eu
acho pequena que é grande assim, eu acho que espaço, em muitas salas ainda é...
assim a criança precisa se movimentar, ela não vai ficar batendo nos amigos,
andando pra lá e pra cá e o espaço, as vezes.
192 M1 Você fala do espaço dela (falam ao mesmo tempo, nem tudo é compreensível)
193 (P.26) É... o meu é normal
133
194 (P.33) É pras crianças é pequeno, tanto é que a minha única aflição naquela sala é de
alguém se machucar e... a gente tem que ter olhos em todos os lados, mas
mesmo assim já aconteceu de dois pequenos se machucarem... eles precisam de
espaço né.
195 M1 Mas a escola possibilita que você use outros espaços né?
196 (P.33) É tem o galpão daí né!
197 M1 Ou fora?
198 (P.33) Ou fora! Só daí fora.
199 (P.34) As nossas crianças lá têm o parque, o parque tem árvores, tem os brinquedos, tem
terra onde eles brincam também, tem casinha, fora tem outros espaços também e
o que a gente quiser proporcionar a gente sempre tem todo apoio de quem ta na
escola, coordenação, diretora.
200 (P.23) Eu vejo assim que a infância acontece na nossa escola que nem em outras
também, mas assim, eu vejo muito que por que que a criança tem que parar as
vezes assim quando a criança faz seis anos e passa pra série seguinte, por que
que isso não pode continuar, além de que ela continua sendo criança, até os nove,
dez, né? Eu vejo assim que as vezes falta um pouco, depois do pré assim
continuar com isso, brincadeiras de roda assim...
201 (P.34) Com as brincadeiras...
202 (P.23) Porque eu lembro assim quando eu entrei na escola, brincava assim na segunda
série, na terceira, agora assim parece que eles vão prum lado pro outro assim né...
precisa ...
203 (P.33) Brincar, é isso eu percebi já também!
204 (P.23) Mas é só sala de aula!
205 (P.33) Que até quando a gente ta no jardim no... no... no parquinho quem os da primeira
série que estão ah... na aula de educação física e tem uns que “Nós podemos
brincar aí no parquinho também?”, “Deixa nós brincar Prô?”.
206 M2 Quer falar?
207 (P.34) Lá pode!
208 (P.33) Que eu saiba não pode!
209 (P.23) Lá pode!
210 (P.34) Até na terceira série...
211 (P.23) É! Lá pode! Só que mais assim...
212 M2 Nos horários assim só de recreio, uns dez minutos (ri).
213 (P.33) Daí tem só os horários de recreio que eles brincam né!
214 (P.27) Acho um tempo muito curto, esse espaço que eles dão pras séries seguintes, que
nem a primeira série lá que eram os meus alunos de pré e foram pra primeira e
o comportamento deles ficou totalmente diferente, eles ficaram diferentes,talvez
seria esse tempo deles brincar que estariam sentindo falta né, tudo muito na sala,
tudo muito trocado pelas vigílias.
215 (P.33) Ele precisam brincar também, acho que é um corte muito...
216 (P.27) (fala no meio de Marlise) Acho que isso...
217 M2 Vocês saem a hora que querem da sala entram a hora que querem? Se vocês
resolverem fazer uma... se as crianças de vocês resolverem fazer um monte de
babado de lençol na sala pode?
218 (P.33)
e
(P.27)
(falam ao mesmo tempo) Pode!
219 (P.27) Ah os meus saem com bonecas, achei um sarro! Essas crianças, meninos né saem
dados pra dar uma voltinha “Espera Prô, vamo dá uma voltinha na escola”, daí eles
vão, porque acho importante isso porque eles têm... tem que saber o limite
deles, vai anda... daí fico olhando porque tem portão aberto né, mas eles sabem,
134
vão dar uma voltinha ali depois eles voltam.
220 M2 Se... mas... o que... que materiais vocês têm? Tem que bolar qualquer coisa
dentro de sala ou quando... ou quando daí tem que trazer, como é que é?
221 (P.26) Então eu trabalho muito com sucata assim, construção de brinquedos também...
222 (P.27) Eu repito daí, a gente faz tudo junto.
223 M2 Por exemplo, isso que a gente tava falando, inventou de fazer uma barraca, o que
que tem na sala que possa fazer uma barraca?
224 (P.34) Eu tenho TNT! (ri)
225 (P.27) Eu tenho lençol que eles trouxeram de faze assim né, mas daí assim né, fui usar o
lençol daí alguém vira Prô mas vai rasgar, sujar!” , mas dqualquer coisa a Prô
compra outro, por causa que é da mãe né!
226 (P.33) Ah lá eles fazem... fazem com... caixa de papelão, abriam caixa de papelão e...
(um instante de silêncio) tem vários materiais até
227 (P.23) Até a tampa da lancheira vai! (todos riem) Cata tudo que tiver, procura dentro dos
armários!
228 M2 E o que tem pra colocar dentro da barraca?
229 (P.33) As loucinhas, os ursinhos, os bichinhos,eles hã... eles enchem! As roupinhas...
230 (várias
falam
ao
mesm
o
tempo
em
tom de
desco
ntraçã
o)
Caixas! Areia! Pega busca folha!
231 (P.23) Montam com o lego lá, inventam! Buscam coisas.
232 (P.27) Uhum! (concordando)
233 (P.23) Ih! Tanta coisa!
234 (P.27) A criatividade deles vai longe!
235 (P.23) Vai! Vai! (fala descontraidamente)
236 M2 O que é que as crianças gostam mais de brincar? Que pergunta de cobrança ela ta
fazendo agora?(fala em tom baixo) (todas riem) Parece entrevista né?
237 (P.33) Olha primeiro... falar... assim... especifi... assim de e um por um porque... cada
criança é diferente!
238 M2 Mas quando eles brincam assim em grupo, quais são as brincadeiras preferidas?
Quais... ou melhor! Quais foram desse grupo que, acabou agora, cada ano que são
outras crianças.
239 (P.26) Na minha turma assim o que mais refletiu é a casinha, assim mamãe, papai,
filhinho.
240 (P.23) Comigo lá na minha turma assim foi o baú com as roupas. Quando eu falava assim
“Ah vocês podem guardando os material”, Prô o baú também?”, eles
perguntavam “Não! O baú também!”, daí tava cheio de roupa dentro e o negócio
deles era colocar aquela roupa e é bem interessante assim, todo mundo já sabe
mas assim, quer que o professor ta ali olhando ali, a criança mais reservada ela
coloca aquilo ali ela muda, ela brinca ela já né! Daí as vezes uma simples
roupa já faz com que ela fique diferente!
241 (P.33) Olha eu percebi nos meus que todos ele brincavam num brinquedo só, num tipo de
brinquedo que eles gostavam mesmo era quando eles pegavam um
caminhãozinho, iam lá fora no tio, carregavam com barro, mexiam com barro,
faziam de conta que estavam plantando, levando as folhagens, plantinhas, que
135
nem aqui tem muitas... ah...
242 (P.27) Aqueles baguinhos... aquelas coisas
243 (P.33) É! Plantas ornamentais né! Eles levavam no caminhãozinho, puxavam todos eles
pra e pra cá, plantavam um jardim, faziam o jardinzinho deles. Isso eu percebi
assim, faziam fila todos eles puxando seu caminhãozinho, tombavam, derramavam
e tornavam a encher novamente. Faziam a festa!
244 (P.34) Eu... como a Luciane falou também eles brincam mais de casinha,mais aquela
parte de papai, mamãe , quem faz a comida, só que todos eles sentam juntos, o
homem lava louça também.
245 M2 Vocês acham que as crianças de vocês são bem poderosas?
246 (P.34) Eu acredito!
247 M2 Elas se sentem poderosas? Elas acham que podem fazer as coisas igual ta no
filme? Tudo elas acham que são capazes, aquilo que elas tentam fazer, elas
acreditam que são capazes de fazer?
248 (P.33) Olha, pelo menos no momento que eles estavam na escola ali... sim! Agora, fora
do ambiente escolar...
249 (P.23) Ah meio que surgiu, as vezes eles de repente não é que todos não são capazes e
não dão conta de fazer, a gente percebe que bate insegurança, é como na gente
também, bate uma certa insegurança, se vai indo, vai indo, vai conversando,
dizendo que voconsegue e nisso eles vão e tentam e experimentam, se não
conseguiu não faz mal, a gente vai fazer de novo, a Prô também nem sempre a
gente consegue da primeira vez, pra ir encorajando eles devagarinho, porque as
vezes o resultado não é ali que você vai conseguir... tem que ir devagarinho...
250 (P.33) E ajuda?
251 (P.23) Ajuda! Poucos desistem, os que desistem você têm que insistir de novo né, ir atrás.
252 M1 É... acho que fechamos!
253 M2 Vocês querem falar mais alguma coisa sobre a infância? Importância? Pra botar
assim na...
254 (P.23) Tava bom!
255 M1 Tava bom? (ri)
256 M2 Oh se foi bom! Se quiserem continuar conversando.
257 (P.26) Ah uma experiência assim que foi bem legal né, com as duas turmas a gente
trabalhou culinária com eles, isso foi muito assim
258 (P.27) Nossa! Foi! Os pais assim falar pra gente daí , meu! Ta fazendo bolo, daí tava
fazendo receita do caderno, daí eles gostaram muito. Que será que eles vêem isso
os pais fazer ou a mãe não sei né, eles tinham vontade de se fantasiar de...
259 (P.33) Eu acho que precisa ter na escola algumas árvores de goiabeira! (ri) Pra subir nos
pés de goiaba, pra eles aprender a subir em árvores.
260 M2 Comer fruta do ! (ri) Ganhar uma dorzinha de barriga (todas riem) Mais alguma
coisa gente? Vamos ver se a Tércia faz uma dissertação boa né!
261 M1 Não! Acho que o que nós tínhamos... acho que... a gente encerra.
262 (P.33) Se precisar é só chamar! (fala baixinho )
263 M2 Vai ter mais de outras coisas! Pode deixar!(todas riem)
264 (P.23) Foi tão bom!
136
Anexo 28. Transcrição Grupo Focal com as Professoras dos CEIs
GRUPO FOCAL COM PROFESSORAS DOS CENTROS DE EDUCAÇÃO INFANTIL
REALIZADO NO DIA 14/12/2006
9 PROFESSORAS PARTICIPANTES
Para iniciar a discussão no grupo focal, foi exibido um filme de aproximadamente 6min e 50 s,
com crianças em atividade de brincadeira e criação, para atingir nosso objetivo o filme foi
interrompido antes do final.
A seguir, a transcrição das falas realizadas neste grupo focal.
Nº
Partici
pante
Transcrição (fita 1lado A)
1.
M1 Alguém quer fazer algum comentário do filme?
2.
(P.35) Pode?
3.
M1 Pode!
4.
(P.35) Eu vou me apresentar primeiro eu sou a Rosangela Quost Furtuoso, trabalho no
Centro de Educação Infantil Dona Nina, com o Maternal, quatro anos que eu
trabalho lá na creche Dona Nina. E... estudando sobre isso da infância tem aquele
Ariès que coloca né que antes ali mostrou uma infância idealizada, porque muito
tempo atrás, anos atrás a infância não era vista como algo importante, a criança
era deixada de lado, pros pais era como um estorvo e pra sociedade também era
como um estorvo, então a criança não podia participar das reuniões em família ou
nas brincadeiras com os pais, os pais não brincavam com as crianças, eram
deixadas de lado né. E com o passar do tempo foi demorando isso né e daí com os
estudos, vários estudiosos foram percebendo que a criança tem que ser vista como
um ser importante, daí ela foi, se tornou sujeito importante na sociedade e a partir
desse momento que ela começou a ser inserida na sociedade e esse trabalho vem
sendo desenvolvido através dos profissionais da educação através dos professores
e a criança agora é vista como um ser importante ela brinca, ela participa com o
adulto, o adulto brinca com ela. E nosso dia-a-dia enquanto professora a gente ta
buscando sempre aprimorar isso, dar valor a essa criança ao que ela traz pra gente
que, por exemplo quando eu era criança eu não podia, se eu quisesse pintar um
desenho com determinada cor que eu quisesse escolher não poderia, porque o
professor me colocava, “Você tem que pintar dessa forma”, “Vo tem que
desenhar tal... essa casinha, mas a casinha ele desenhava no quadro e você
tinha que copiar o que tava ali. Então a criança era bitolada, ela não podia escolher
aquilo que ela sabia que ela... com... com... que você ia... e também agora tenho a
chance de colocar a criatividade que ela tem né, colocar pra fora aquilo que ela
sabe e o adulto, professor ele dá essa chance, a criança que ta passando isso né...
e antes... antes não era assim... era bem diferente!
5.
M1 Alguém mais quer colocar?
6.
(P.5) Olha eu.. eu quando vi o filme ali eu lembrei da minha infância eu brinquei muito e
a gente inventava muita coisa! Hoje em dia eu vejo tudo industrializado, tudo os
brinquedos. A gente brincava muito com pau, com água, essas coisas. Hoje em dia
ah não vai porque sujar, porque faz mal e tal. Nós brincamos muito disso e isso pra
mim assim e... lembrar da minha infância é maravilhoso e eu procuro proporcionar
pros meus filhos esses momentos assim, pegamos chuva, brincar na lama, essas
coisas assim eu acho que tem que acontecer! E...
7.
(P.31) Foram coisas marcantes!
8.
(P.5) Foi! Foi! A gente trepava em árvore, essas coisas ahoje, eu faço farra com as
minhas crianças lá na minha casa, mas isso era uma coisa que a gente tinha muita
liberdade de brincar disso né, a gente brincava sábado e domingo assim... ah...
uma coisa que me lembra muito, não é muito comum hoje em dia é... os primos
se visitarem muito, então era a reunião de família assim né! Muito gostoso! Aquilo
137
pra mim foi. Como as crianças tavam brincando ali isso é bem assim mesmo, ta
nem ai com a vida, tem que fazer isso mesmo.
9.
M1 Mais alguém quer comentar?
10.
(P.6) Acho que a criança quando a gente dá oportunidade pra criança brincar fora,
aproveitar tudo que a natureza oferece, é se sujar, subir em árvore e... inventar
seus... alguns dos seus brinquedos não tudo tão desprezado, quando... com o
passar do tempo quando ela chega na adolescência ela é uma criança mais,
também é mais calma. E parece que ela experimentou aquelas novidades da
infância e quando chega na adolescência é diferente. Então a gente precisa
oportunizar isso, deixar, eu aconse... eu não tive na minha infância eu brinquei
muito, muito mesmo e brinquei não com brinquedos de lojas, tudo feito pelo meu
pai que fazia em casa e um pouquinho eu consegui fazer eu mesma fiz pros meus
filhos pra eles pelo menos saber com o que a mãe brincava quando era criança. E
uma das coisas que eu não encontrei foi o carretel, porque hoje na... na... não tem
mais né, acho que é tudo diferente, lá era de madeira e isso hoje não...
11.
M1 Pra fazer tripa de mico?
12.
(P.6) Não... eu cortava a madeira pra fazer caminhão porque eu só tinha irmãos, só tinha
rapazes meus irmãos, eu era a única menina, eno eu tinha que brincar com o
que eles brincavam e... em casa era mais oportunizado os meninos que eu era só
eu e os quatro era pra eles, então eu fiz com os meninos com os meus dois filhos,
cortei e preparei, mas só que não encontrei o carretel que fazia as rodas.
13.
M2 As rodas...
14.
(P.6) É as rodas... do carrinho... eu não encontrei mais aquilo, mas eles sabiam que foi
assim que a gente nós brincamos e eles também muita coisa.
15.
(P.31) E o carretel tinha vários tamanhos também
16.
(P.6) Sim! Aham! Isso mesmo!
17.
(P.31) Tinha o pequenininho e os maiores que eram de madeira.
18.
(P.6) Sim!
19.
(P.31) E hoje realmente não se encontra.
20.
(P.6) Hoje não se encontra!
21.
(P.5) Muitas coisas do que nós fazíamos é... hoje em dia você vai comprar uma peteca
ela ta pronta ali, a gente fazia a da gente né, e... então a gente criava muita coisa.
22.
(P.14) Igual a boneca, a gente brincava com a boneca de milho né, tinha as loiras, as
morenas (ri) conforme vinha a espiga de milho e hoje em dia...
23.
(P.21) Eu vejo que as crianças de hoje até elas não tem oportunidade mais de terem
essas brincadeiras que nem a gente tinha antigamente, que hoje a mídia coloca
tudo muito mais né? É... que nem informática, então eles não tão tendo
oportunidade, talvez assim até seria bom assim né, se ter o resgate das
brincadeiras, eles mesmo aprenderem a construir seus brinquedos, que nem
professor mostrar né, como eram as brincadeiras de antigamente, que hoje é tudo
comprado na loja, é tudo... se você for dar um brinquedinho que nem uma peteca,
pra eles, muitos nem vão saber como brincar, não vão nem gostar talvez que...
achar inferior. Então eu penso assim que esse resgate é legal de ser feito também
nas escolas né, estarem trabalhando, que muitos não têm oportunidade de terem
muitos brinquedos.
24.
M1 Quem mais gostaria de falar?
25.
(P.31) Eu queria colocar agora colocando das brincadeiras, dos brinquedos, do
resgate, brincadeiras de roda, cantigas de roda, não se vê mais fazerem isso! Nem
nas escolas eu... eu... percebo isso porque trabalhei muitos anos e isso... isso se
perdeu. Acanta-se mas o faz-se os movimentos, as rodas enfim, até o dito
cujo “Ovo Choco né? Ta perdido! Se a gente não começar a fazer uma
retrospectiva, não... não se faz mais. Eu até queria sugerir pros nossos professores
mesmo os que vão pro parque, façam um momento de ... de roda, sei lá! É uma
sugestão colocada aqui porque realmente não se vê. Não sei se concordam
comigo mas...
138
26.
(P.6) Mesmo com os brinquedos, mas nós brincamos na sala, mas a dificuldade está em
“A Linda Rosa Juvenil”, todos querem ser a fada, mas ninguém quer ser a bruxa,
ninguém... eles se recusam! Ai o que acontece, sempre a professora tem que ser a
bruxa, o Príncipe sim, tudo bem, ai vai mas aquele que ta (todas riem e não é
possível entender o que falam) não tem jeito! Tem que trabalhar muito pra...
(muitas rindo ao fundo).
27.
(P.31) (canta) “Passa, passa gavião...”Aqueles negócio todos que a gente brincava não se
vê mais!
28.
(P.2) Não se ouve, não se vê! E... no ano passado eu trabalhei com educação física na
educação infantil e eu brincava muito com eles de... Ovo Choco, brincadeira de
pega e eles tavam acostumados com os outros professores de educação física que
iam levar eles pro parquinho. Então aquando eu tava na hora do recreio na
sala dos professores eles vinham pra mim brincar com eles.
29.
(P.21) É como eu coloquei, eles tão perdendo, porque se a gente for ver as brincadeiras
de antigamente eram muito mais prazerosas do que as de hoje.
30.
(P.2) Até, aquelas “bulica”. Eu tinha um professor que brincava, daí era eu e ele, e
eles iam lá na sala lá eu e o outro professor pra brincar com eles. Eles não sabiam,
aí a gente começou a ensinar eles .
31.
(P.31) Não sei se a Carmen trabalhava lá na outra escola quando teve um professor de
educação física que dava aula pro prezinho e foi fazer o “Ovo Choco com eles e
então eles diziam “Ovo Choco, “Co-ló-có-có!” (todas riem) “Co-ló-có-có!” e essas
coisas marcam pra gente!
32.
(P.39) Quando eu assisti o vídeo, fiquei pensando na minha infância, que eu não tive
como a maioria aqui, que acredito que teve que elas falaram de brincar fora assim,
no gramado, no barro, eu não tive. Minha infância eu passei na cidade grande,
então é... o quintal da minha casa era cimento, eu brincava mesmo com um
pouco de água que a minha mãe deixava brincar e umas folhinhas, umas
graminhas que cresciam assim no muro pra fazer as minhas comidinhas. Única...
única lembrança que eu tenho da inncia que eu brincava assim no quintal...
brincadeiras com a minha ire... isso que marcou bastante, mas assim quando
eu vim de... de São Paulo pra cá nas férias, de julho ou de final de ano eu podia
brincar mais fora assim no rio com os girinos, a gente gostava muito de pegar os
girinos e ficar observando, então isso que me marcou, eu fiquei pensando na
minha infância. (pausa) E eu penso assim que agora... agora eu tenho a minha
menina né, agora... é... brincadeiras que eu não pude brincar eu vou tar
proporcionando a ela né, e como a Carmen falou né, mostrar os brinquedos que se
fazia antigamente né, deixar ela brincar na areia, na grama, eu não tive então
vou proporcionar esses momentos pra ela.
33.
(P.31) E prender os vaga-lumes (continua falando, mas não é possível entender o que
fala, porque todas riem alto). Isso se fazia muito!
34.
(P.22) Colocar a formiga em cima da folha e ver se ela nadava numa bacia até na
beirada.
35.
(P.31) As experiências né?!
36.
M1 Você lembrou disso Karol quando você viu o filme? Você fazia isso?
37.
(P.22) Ah eu era tão cruel com os bichinhos! (riem)
38.
(P.6) Fazia tudo que era arte (fala baixinho)
39.
(P.21) Uhum!(concordando) Que deixam marcas até hoje!
40.
(P.5) Não é pra falar, mas essas cicatrizes não saem!
41.
(
P
.
1
4
)
É! Eu... eu com seis anos minha mãe falava que eu era um moleque , não uma
menina né! Que eu tenho essa perna eu enfiei num prego aqui, me queimei toda,
que eu tenho toda marca na perna de queimadura, pisei num prego, cortei o dedo
num caco de vidro o dedo foi levado sete pontos, então assim, era bem moleque
mesmo assim, bem terrível!
42.
(P.31) Peralta mesmo!
139
(ou
algué
m)
43.
(P.14) É!
44.
(P.22) Mas a gente até no CEI as crianças que tem mais liberdade assim elas se
viram melhor do que as crianças que são muito protegida assim...
45.
(P.31) É!
46.
(P.22) E o Michel e o Gabriel lá da creche, como... eles... eles não se machucam, sobem
na árvore, trepam em tudo pá... pá... e tão o tempo todo se mexendo e é dificil eles
se machucarem! Agora, aquelas crianças que ficam muito... em casa, com os pais,
com mães... isso...
47.
(P.5) Aquela proteção né? Aquela coisa!
48.
(P.22) Cuidando é, “Não põe isso na boca filhinho, porque faz mal!” o sabem se
defender...
49.
M2 Vocês acham que as crianças antes dessa infância de vocês eram mais poderosas
que as crianças de hoje? Tinham assim mais poder assim... de dominar o mundo?
50.
(P.6) Eu acho...
51.
(P.22) Eu acho que eram menos tolhidas assim... (faz uma pausa, depois continua) e
mais livres mesmo.
52.
(P.39) (algumas falam ao mesmo tempo, mas essa voz se sobressai) E mais
independentes também, eu acho! Mais independentes!
53.
(P.14) E aprendiam muito mais do que hoje em dia você... parece que eles demoram pra
pegar ou... compreender alguma coisa assim... se vai ensinar alguma coisa...
parece que...
54.
(P.6) Muita coisa muita coisa muito pronta...
55.
(P.14) É!
56.
(P.21) Quando é tudo muito pronto e acabado assim...
57.
(P.5) É o que precisa fazer com isso agora né, quando tem que ensinar uma coisa ou
inventar alguma coisa, não sabe o que fazer, eles sempre ganham tudo prontinho
e...
58.
(P.14) E até uma brincadeira assim de casinha, de carrinho tem que pegá balançá a
boneca pra mostrá que “Nana nenê, nana nenê” e até quando pega uma loucinha
as vezes é “Pá, pá” no outro, não a loucinha vamo faze que é chá, é comidinha,
o arroz e o feijão, que se não eles não sabem nem faze ... não tem assim, tudo
eles tem que ter... sei lá, antigamente parece que a criança pegava um brinquedo
e já sabia como faze, hoje em dia a gente tem que mostrar como é feito aquilo.
59.
(P.21) Acho que eu penso que as crianças eram mais infantis assim sabe... mais é...
davam valor pra infância, hoje elas já são.. os pais querem que sejam...
60.
(P.31) Mini-adultos!
61.
(P.21) Adultos assim... a gente crianças, meninas andando que nem
mocinhas, com batom, então assim a brincadeira deles é mais assim, as
meninas querem se maquiar, querem usar sapato de salto, o querem boneca
sabe, brincar de casinha que nem colocou assim...
62.
(P.22) Ah e as crianças tinham menos acesso também a vida de adulto, tinha conversas
que os adultos podiam ouvir. As crianças “Oh essa conversa criança não pode
ouvir, vai pro teu quarto, vai brincar pra lá que agora tu o pode ouvir” e hoje
em dia eles participam de tudo, o tempo todo tão em torno dos adultos. Tem
criança que nem brinca com criança.
63.
(P.31) Tudo muito precoce né!
64.
(P.5) tem que se comportar como uma mocinha, um mocinho! E não pode fazer isso
porque isso o é mais coisa de criança, mas a faixa etária ainda ta dentro da né,
do que é considerado criança e tal. Tão hoje em dia, a gente brincava com catorze,
quinze anos de boneca essas coisas, hoje em dia uma menina de catorze anos
140
brinca de boneca ta louca! Brincam com a boneca de verdade já!
65.
(P.39) Já! Os pais já quando tão com dois anos “Ô menino! Ta chorando por que? Menino
é... homem não chora!” né?
66.
(P.5) É!
67.
(P.39) E começam já né...
68.
(P.21) Talvez seja já culpa dos adultos digamos assim que... pra... que... né! Acho que se
ta dando muita... é... não é liberdade, muita responsabilidade pras crianças
desde cedo, tirando um pouco da infância deles assim. Muitas crianças tão
cuidando de crianças já, dos irmãos então não tão tendo aquela liberdade pra
brincar, tão sendo responsáveis pela casa né, pelo... pelo que deveria ser dos pais,
a obrigação dos pais ta sendo passada pra eles, um pouco acho que!
69.
(P.31) Joice eu até nesse ponto eu discordo um pouco, eu discordo um pouco...
70.
(P.6) Eu também!
71.
(P.31) E... hoje por exemplo... um jovem de dezesseis, dezessete, dos seus dezesseis
anos não pode trabalhar, mas nós na nossa época nós tínhamos essa
responsabilidade é... e eu vejo que isso é... fazia com que o ser humano fosse um
pouco melhor, hoje a... eles tão Conselho Tutelar, ta dando assim muita ênfase pra
isso e o jovem no fim ta se tornando o que? Voltando, não querendo, cada um tem
sua opinião, eu na minha eu to achando assim, porque nós trabalhávamos, nós
nhamos os afazeres de casa e tudo, nhamos hora de brincar, tinha hora de
atividade, de deveres, mas tinha a sua responsabilidade.
72.
(P.21) Mas eu vejo Dona Marlene que era dividido, tinha o tempo de brincar e hoje em
dia muitas, claro que não né, não generalizando, mas muitas crianças não têm,
digamos assim né, o tempo de brincar
73.
(P.31) Não sei...
74.
(P.6) Eu ah... eu vejo... assim eu tinha cinco, seis ou sete anos e eu cuidava dos
quatro... dos meus irmãos, o outro veio quanto eu tinha treze mas, cuidei de
todos os quatro, então eu cuidava, brincava e trabalhava era tudo junto porque a
minha mãe deixava e saía. Então essa responsabilidade ficou, eu tava mãe, pois
eu tinha o que... uns nove anos, eu tava mãe, no... no... num deles, minha e
passou os quarenta dias ela... passou os quarenta dias saía! Ela ia trabalhar, ela ia
pra roça e eu ficava! Então tinha que tratar, não tinha mamadeira, dava de colher
na boca, tinha que tratar, tinha que da banho, depois do banho tinha que da chá e
depois tinha que da a comida e fazia dormir e depois brincava com os outros,
fazia os afazeres da casa e a vida ia então cuidava, brincava e sei lá e... foi uma
vida... era... era boa, eu lembro, que eu tenho assim eu o tenho mágoa, tenho
assim uma saudade daquele tempo porque... eu vejo, olhando pro mundo de hoje é
tão triste certas coisas que está... que acontecendo. E a gente assim, a gente
se criou e foi... e deu certo.
75.
(P.5) E eu também é... pegando o gancho da Carmen a mesma coisa. Com onze anos
eu cuidava da minha sobrinha de quatro meses, terminava o almoço, limpava a
casa, estudava, quando eu vinha eu ia brincar. E... a gente.... aquele negocio,
como a Marlene disse é... a gente tinha a nossa responsabilidade, tinha que da
conta do serviço, a minha mãe também trabalhava na roça, meu pai trabalhava
fora, tinha que da conta daquilo. E a gente dava e olha! Sinceramente! Como a
Carmen sabe, tenho muita saudade, a gente tinha mais responsabilidade e... é....
eu comecei a trabalhar fora na indústria com catorze anos e aqui e ajudar em casa
e ainda final de semana ia... ia...
76.
(P.31) Brincá... brincá...
77.
M1 Vocês falaram bastante da infância de vocês e colocaram ela assim como melhor
do que ela é hoje né? E como é a infância então das crianças de vocês, nas
creches?
78.
(P.5) Mas é...
79.
M1 Elas têm infância então? Se a de vocês era... era assim tão melhor? Elas têm
infância na creche?
141
80.
(P.31) Acho que dentro da creche sim!
81.
(P.5) A gente procura proporcionar pra elas, mas daí é... é... como eu disse antes né, a
gente não se importava se sujar, a gente não se importava em se manchar e... “Ah!
Por que isso?” “Ah! Por que fez um arranhão”, mexeu lá né... é... e daí bate numa
coisa chamada pai e mãe, Mas ele foi todo sujo assim”, “Sim mas ele brincou!”
mas, por que né, como se sujar. Então eu volto naquela coisa, quando você
consegue, que nem ali apareceu nossa foto ali da do banho, foi maravilha ali dentro
daquela bacia, no meio da grama, sabe aquela coisa gostosa assim de fazer e
quando você conta prum pai ele fica “Ah! “Pois é!” Mas daí né!”, então eu acho
que a gente pode proporcionar isso lá dentro, na medida a gente pode, que a gente
bate nessa...
82.
(P.22) Os pais colocam muitos pudores assim né... eles... reclamam se as crianças
tomaram banho de calcinha, as meninas junto com os meninos, as crianças o
tem essa maldade né! E daí os pais já ficam tudo preocupado “Ai, mas as meninas
junto com os meninos?” e dse aparece um arranhão lá “Ai! Mas aonde que ele
fez?” “Como que você deixou meu filho aparecer com um arranhão na perna?”, as
vezes não tem como evitar né!
83.
(P.2) Quer saber que criança que foi, daí já ficam olhando diferente pra aquela criança
que fez aquilo tudo.
84.
(P.22) E as vezes nem foi outra criança.
85.
(P.35) Da pra perceber enquanto professora que... muitas crianças ali com a gente elas
tão tendo contato com quatro professoras, nossa turma ali tem quatro professoras
e rios colegas, porque tem crianças não têm colegas em casa, o tem também
um gramado, não tem... uma brita, não tem vários ambientes, tem criança que
tem assim a casa e depois outra casa e sai pra rua, e fica trancada, não tem
aquele espaço pra tar brincando se quer e ali não, tem vários ambientes então
elas tão brincando, a gente ta dando oportunidade delas vivenciarem várias
experiências diferentes então, o trabalho a gente ta fazendo um bom trabalho ,
se o pai e a mãe depois por fora quiserem fazer diferente mas, ali a gente garante
que tem uma boa educão.
86.
(P.31) A gente procura...
87.
(P.35) A gente procura trabalhando melhor, estar sempre melhorando né, sempre fazendo
coisas novas pra estar dando uma boa educação pra criança e querendo colocar
também pra afetividade né, trabalhando também no brincar a socialização das
crianças. Quando uma criança brinca com a outra “Vamo um abraço, vamo ser
amiguinho” esse é o nosso papel.
88.
(P.6) A gente não... a gente precisa muito, no meu, é o que eu penso né, mudar um
pouco, sair mais com as crianças mesmo no CEI, eu teria... é perigoso é... mas a
gente não deve pensar que vai acontecer. Tem que sair pra lugares diferentes,
proporcionar momentos diferentes, brincadeiras mais (passa um carro e não
para ouvir), ir para outros lugares...
89.
(P.31) Assim como nós fizemos aquele passeio pro sítio da Lílian lá!
90.
(P.6) Sim!
91.
(P.31) Foi bom, assim a gente tinha planejado ir ao Seminário, mas não deu certo né.
92.
(P.6) Por causa da chuva!
93.
(P.5) É! Esse ano a chuva atrapalhou um pouco nossos...
94.
(P.6) Mais assim... mais assim pra sair né, daí prejudicou bastante.
95.
(P.5) Nós fizemos esse ano passeio, Carmen, muito bom no Seminário ali... eles
extravasaram mesmo assim... o que podia.
96.
(P.31) Os piquenique né!
97.
(P.5) É! Os piqueniques no meio do mato.
98.
(P.35) Eu posso citar um exemplo de um menino que agora não está mais lá no CEI e ele
estuda, agora está lá na Francisco Mees, o Leonardo Latzke. Esse menino ele
tinha medo, medo de sair de ônibus, , as professoras podem contar também,
1
42
que sempre colocava “Não precisa ter medo, você vai voltar pra nossa escola, vai
tranqüilo, não vai acontecer nada pra vo, é só o pavor de entrar no ônibus e sair
do ônibus, pode ver, brincar, o que a gente ia fazer lá ele aproveitava o momento,
quanto entrava, chorava e eu fiquei sabendo agora dos próprios pais que ele não
tem mais medo, ele pede pra ir de ônibus, com o trabalho que a gente fez né,
sempre conversando com ele, eu colocava pros pais que é bom sempre estar
saindo com ele, ficava muito dentro de casa e agora ele perdeu o medo.
99.
(P.31) Ele é tão corajoso! Tão corajoso! Que ele vai lá na casa do Opa dele... não sei se a
Tércia sabe dessa experiência?
100.
M1 Não sei!
101.
(P.31) Ele cismou com o lobo né, das histórias contadas e ele queria caçar o lobo e daí o
Gilberto
22
teve que botá a bota e ir com ele... e foram um pedaço!
102.
(P.35) Até na Margaret!
103.
(P.31) Foram na Margaret
23
pro mato lá, mas ele não... o Gilberto teve que voltar mas
ele não quis, ele queria ir adiante porque eles não tinham achado o lobo , então
daí até que o Gilberto convenceu de que o lobo tinha ido pro outro lado da floresta
e não sei o que, pra poder voltar, mas vocês tinham que ver a caça do lobo!
104.
(P.35) Foi bom tocar no assunto porque, mas ele matou a curiosidade de ir até lá!
105.
(P.31) De ir até lá!
106.
(P.35) De saber onde era a floresta e que se ele não pegou o lobo, ele sabia que ele
queria ir até lá e levou!
107.
(P.31) (falando ao mesmo tempo) Mas levou!
108.
(P.5) Pro Gilberto que experiência heim! (ri)
109.
(P.35) A gente envolve bastante, os outros profissionais também, desde o zelador,
cozinheiro, todo mundo é envolvido ali, tem alguma coisa né, tem a Dona Irma que
faz parte do horário da cozinha, ela até vem brincar na nossa sala, eles até foram
convidar
110.
(P.5) Há! Eu preciso contar pra vocês! (ri) Ela trouxe o lanche, depois veio ela trazer a
água e nós temos umas cadeirinha pra eles sentar e tinha fruta, daí ela pediu pras
crianças se eles davam um pedaço de banana, ah! Pequenininhos de um e dois
anos, pois é, mas eu tenho que sentar, foi lá e sentou numa cadeirinha meu! (ri) se
espremeu que ela é bem magrinha, pra sair ela não caiu? (fala entre risos) Foi
levantar e a cadeirinha ficou grudada! Com as crianças ela teve que comer um
pedaço de banana na frente deles, eles não queriam nem saber, Tchau!” eles
tiveram que dizer depois pra ela, mas a cena foi muito linda!
111.
(P.31) A Irma.
112.
(P.5) A Irma é “Popa!”, “popa” chegou a sopa eles ficam loucos! daí ontem nós fomos
buscar bolachas, então vamos. Daí eles tinham que pedir e aquela bolacha não
saía “Acha!” e não sei o qacha!” daí a Monique disse “bolacha!”, daí a Irma
disse “Sim, mas vocês tem dinheiro?da professora disse baixinho “Marca na
conta!” (e as crianças repetiram) “Conta!” (todas riem). Daí eu disse pra ela
“Salgada e doce Gada e doce!” (as crianças repetiram novamente) daí cada uma
foi com um pacote “Vamo embora!”, olharam pra trás “Tchau Ima! (ri), foi um sarro!
113.
M1 É a Irma é a merendeira né e o Gilberto é o servente né!
114.
(P.31) Jardineiro!
115.
M1 Jardineiro é! Você queria falar alguma coisa? (silêncio) Mais alguém quer?
116.
M2
É... tem uma discussão que eu acho a gente podia voltar a ela é... é... duas coisas
que vocês levantaram, essa discussão que ta e que é assim: primeiro vocês
têm... ... viram o quanto se perdeu da infância... , por outro lado, essa infância
que... que foi perdida não era só brincadeira, era muito trabalho né. Hoje até talvez
22
Gilberto é contratado como Serviços Gerais na creche.
23
Margaret é a pessoa que tem uma casa próxima à creche, cujo acesso a sua casa tem mato ao
redor.
143
a maior parte das crianças nem trabalhe tanto, tem aquelas que continua tendo
trabalho e tal, é... e parece que tem menos infância, com mais tempo pra brincar
digamos, ou com menos responsabilidade, digamos, de ocupações de adultos.
Então o que que ta acontecendo aí?
117.
(P.22) Ah é a televisão, a internet, as vezes os pais enfiam em aula de inglês, aula de
história, aula aquilo ora aquele outro pra ocupar o tempo da criança, pra não deixar
sozinha em casa... pra não...
118.
(P.35) E quanto mais eles criam, comparados com os pais daí... ouvir uma história,
porque é difícil um pai e uma mãe hoje em dia sentar com uma criança pra contar
uma história, ta brincando ta com o rabo do olho olhando, olho no olho da
criança ali e a criança contar pros pais o que teve na creche, porque tem criança
que acontece, tem criança que não, pai chega pega ali, coloca na cama e no
outro dia leva pro CEI Dona Nina, acontece assim. Então é o fato de estar ali
também não é só ateão.
119.
(P.22) Uma também porque o modelo de família mudou né. Antigamente os pais tinham
responsabilidade pela casa e sustentar a família e as mães que trabalhavam,
trabalhavam simplesmente em casa, ou na roça ou isso aqui deveria ter bastante
mas, hoje em dia as es não ficam mais em casa, trabalham tanto quanto os
homens e as vezes até mais. Eu sou mãe solteira e eu sei o quanto eu ralo.
120.
(P.31) É que hoje, muitas mães são as chefes de família e com isso eu acho que
acontece muitas vezes pouco contato com os filhos. Digamos uma criança chega
as sete da manhã na creche, as vezes ta saindo as dezenove e trinta, as vezes
vinte horas, então... ela praticamente acordou, veio pra... pra creche e ta saindo
dormindo da creche pra casa, então eu pergunto qual é o contato, convívio que
esse pai e essa mãe tem com a criança? Eles tem mesmo com os professores
da escola.
121.
(P.35) É muitos chamam a gente de mãe né!
122.
(P.31) É!
123.
(P.35) É mãe, vem cá mãe!
124.
M2 E aquelas brincadeiras que vocês falaram, elas se acaba... como é que é... eu
tambem brincava... como é que a gente aprendia essas brincadeiras...
125.
(P.22) (interrompendo exclama) A gente inventava!
126.
M2 Com quem a gente aprendia? Ou... se a gente brincava sozinha...
127.
(P.39) (algumas falam ao mesmo tempo, esta é a voz que se sobressai) Ah com os
primos né...
128.
(P.31) Irmãos, pais, passavam isso pra gente!
129.
(P.35)
Rosan
gela
O que eles aprenderam né, daí os irmãos, os primos eles vinham e na escola
também a gente inventava várias brincadeiras.
130.
(P.14) A gente imitava muito também, que nem a gente fazia comidinha, imitava muito a
mãe fazia, a gente mesmo fazia fogão de tijolo e fazia comida mesmo, mas
imitando a mãe, tudo que a mãe fazia.
131.
(P.31) Por que? Porque a mãe tava em casa, o pai presente né, e hoje eu acho que não
tem. Eu por exemplo eu estudei numa... até a quarta série numa... escola
multisseriada, eu tive o privilégio de ser aluna da minha mãe né, mas a minha mãe
brincava junto com as crianças né, porque era no interior, então essas brincadeiras
de roda que eu coloco a gente aprendia... com a professora!
Nº
Partici
pante
Transcrição (fita 1 - lado B)
132.
(P.14) (contando sobre as peripécias que aprontava, juntamente com seus irmãos na
infância) Em cima das árvores, pra nós aquilo era uma festa ter que achar os
frangos em cima da árvore! (todas riem)
133.
(P.5) Pra ela era trabalho árduo!
144
134.
(P.14) Ta loco! E daí a gente espantava os frango, daí sim ela ficava loca! (todas riem)
Mas pra nós era a maior festa! Daí quando ela falava assim que ia, as vezes ela
falava até baixinho pega os frango!”. (algumas continuam rindo). Outra coisa
também que eu lembro muito da minha infância, foi que... é... nós tinha muito
cachorro, muito bicho, muito animal a gente tinha em casa e... e a gente assim,
quando morria um cachorrinho, eu lembro muito de um cachorro que morreu, o
meu irmão mais velho colocou em cima de um caminhãozinho de... de... como
fala? De madeira! Esses caminhãozinho de madeira, colocou o cachorrinho lá em
cima, pegou duas tabuinha fez uma cruz e daí falava pra mim reza pelo cachorro,
daí eu rezava, daí falava “Agora ce chora” , daí eu chorava (gargalhadas!), aí... daí
fomo enterra debaixo de um pé de limão, isso eu nunca esqueço né! E daí fazendo,
os amiguinho dele com os carrinho na frente...
135.
(P.5) (interrompe exclamando) Funeral!
136.
(P.14) É funeral e deu começava a ri ele fala Chora, chora!” (risadas) daí eu chorava
“Ai a Bolinha morreu!” e assim enterramo o cachorrinho. Aquilo pra nós era uma
festa, aquilo...
É igual ela falou , é muito assim a mãe em casa né! Tudo... na festa junina a
minha mãe fazia um monte de comida e chamava tudo as criança da rua, daí a
gente fazia, colocava a mesa em frente de casa assim, daí era aquela festa! Outra
coisa também, que também no caso, era o trabalho dos meus pais era vende as
coisas, nós arrancava um monte de limãozinho verde, fazia uma mesinha em
frente de casa e vendia os liozinho, todo mundo que passava a gente vendia e
vendia mesmo! Ainda colocava num pacotinho e conseguia vende ainda!
137.
(P.31) (inicia falando baixinho e vai aumentando o volume da voz) Outra coisa que eu
tava lembrando e até comentando esses dias, que voltando até, é... esses dias
comentando, o Natal ta parecendo que não tem mais essa...
138.
(várias respondem em coro) Magia!
139.
(P.31) É essa magia, esse espírito... esse... até quero colocar pra vocês, hoje, tem
chocolate o ano inteiro! Tem bolacha de natal o ano inteiro, panetone o ano inteiro
e nós tínhamos essas coisas exatamente naquele período natalino, ou da páscoa,
enfim! E hoje não! Hoje você encontra isso o ano inteirinho, claro que chocolate em
forma de papai noel ou de coelhinho, mas o chocolate existe o ano inteirinho e s
não, nós tínhamos nessa época, então na realidade, claro que os enfeites que
existem hoje, essa decoração não existia na época, mas era diferente, tinha um
toque especial, um toque de magia e isso não se vê! Não é... não tem aquele
espírito natalino, reduziu-se muito, mas eu deduzo essa... as coisas que hoje...
140.
(P.2) Era mais valorizado antigamente!
141.
(P.31) Eu sei lá eu a cuca por exemplo, nossa! Era feito nessas ocasiões, não tinha no
dia-a-dia, hoje no final de semana tem um doce diferente, ou... no dia-a-dia mesmo
né! E naquela época não, então se dava mais valor a isso e a criança hoje, nossa!
É computador é... isso é aquilo, é tudo informatizado, só senta na frente digita, e
a gente não, coisa até escrita se vocês forem analisar, até os alunos bota pra
escrever não sei nem se sabem porque não necessitam mais dessa prática, porque
tudo é digitado né, claro que óbvio mais fácil, tudo mais prático mas, olhando
pelo... pelo aprender na realidade, sei lá!
142.
(P.22) Até o fato de ganhar presente já banalizou bastante, um e noventa e nove, não dão
mais valor, todo final de semana ou todo... né, vamo compra um presentinho!
Quando eu era criança ganhava presente no aniversário, no natal e no dia das
crianças, só! Não tinha essa de... ganhar presente se passasse de ano também
ganhava presente.
143.
(algum
as
falam
ao
mesm
o
tempo
(expressão que soou mais alto) Ficava aguardando essa data!
145
)
144.
(P.22) É!
145.
(P.2) Ficava aguardando essa data, sabia que ia receber!
146.
M1 Você esperava... A gente esperava né! A gente esperava chegar aquela data pra...
pra acontecer e...
147.
(P.22) Agora dão presente pra uma criança...
148.
(P.6) Criava-se uma expectativa né, que hoje não se vê!
149.
(P.22) Eles abrem ainda e ficam....
150.
(P.6) Que pouco né!
151.
(P.22) Só isso?
152.
(P.35) É a gente o pedia o que ia ganha, ficava aquela expectativa: o que vou ganhar
de natal? Eu e meus irmãos assim, hoje em dia a criança pede o que ela quer
ganhar.
153.
Muitas
falam
ao
mesm
o
tempo
(não é possível distinguir nem entender).
154.
M1 De que forma... de que forma então é... lembrando tudo isso, de que forma que na
creche a gente ta resgatando, essa infância? A gente ta proporcionando às
crianças um pouquinho dessa infância, que vocês colocam como tão importante?
De que forma? Vocês o querem contar de repente alguma situação ou alguma
atividade?
155.
(P.22) Ah esse ano na nossa sala a gente procurou fazer um trabalho com sucata né.
Que eles pedem lata, aquelas coisas que a gente brincava quando era criança de
faze carrinho de lata de azeite, de caixinha de pasta de dente, a gente procurou
trabalha um pouco com isso assim, pra se despertava neles a criatividade. A
gente pegava as coisa: “O que... o que a gente pode fazer com isso daqui né?”
levantava hipóteses, tal, muita coisa a gente ainda tinha que direciona bastante
mas... eu achei bem interessante assim que... só que daí banalizou também
porque, daí eles viam que aquilo ia pro lixo né eles não cuidavam dos
brinquedos, destruíam, já na primeira brincadeira eles tavam destruindo.
156.
(P.35) Outra experiência seria fazê bolacha né, que nem a gente ia que no outro dia
fizeram com eles, daí tava mostrando os ingredientes que vai na bolacha, todo
aquele processo eles tar pegando e fazendo a bolacha do jeito deles, uns
amassavam, outros faziam de conta que era um coração, outro... cada um deu
uma forma diferente, depois “Vamo coloca na forma agora e onde que vai se
colocado isso?” abre, daí esperava e ficava na cozinha olhando o que mais tem
onde que é assada a bolacha e depois tem a parte melhor que é a parte de come
né. Então pra mostra assim que as vezes os pais não tem tempo, coloca aqui e a
gente ta aproveitando esse momento pra ta mostrando outras experiências pra eles
né. E tambem nessa turma que eu to trabalhando agora, não tava trabalhando mas
entrei né, essas professoras fizeram com as embalagens recicláveis assim de
maisena, omo, tudo e fizeram um mini-mercado na sala, pegaram sacolas plásticas
e colocaram pras criaas né, pra elas tar indo lá comprar a mercadoria, vendo que
em casa a mãe também faz isso e até elas colocaram pra gente assim as crianças
né, elas colocam daí vão brincar e que a mamãe em casa, que também em casa
quando a gente vai fazer compra com a mamãe, a mãe também compra isso, a
mãe também usa omo, minha mamãe tamm usa hellmans compra “hellmans”
em casa, então da oportunidades em muitos momentos na creche.
157.
(P.21) E tambem durante as brincadeiras, é... que nem lá, a gente falo ta valorizando
brincando junto com eles né, estar envolvido junto. Eu esse ano trabalhei com os
bebês, mas sempre quando eu tava fora, tava brincando junto com os outros
maiores das outras salas, adoro ir pras outras salas. Então eu to brincando com
eles e daí eu falei que era a bruxa e eles saíram correndo atrás de mim, ai eu
146
deixei eles me pegar, eles me jogaram no chão, me derrubaram, pra eles foi um
barato! Eles até hoje eles não esquecem, eles toda vez que eles me falam
“Vamo brinca de bruxa Prô? Vamo Prô?”. Então tem que a gente envolvê eles
assim pra faze coisa pra marca eles.
158.
(P.22) Mas ai eu lembro que a campeã de “mico” oficial
159.
(P.14) De micagem! (fala e ri)
160.
(P.22) A pagadora de “mico” oficial (algumas riem) não vai falar nada? (riem)
161.
(P.14) Não, nem carece não! (Karolina e mais algumas riem)
162.
M1 Alguém mais quer descrever alguma situação?
163.
(P.39) Eu acho que assim Tércia, a gente tava falando da época do natal, as crianças
estão tão acostumadas ao Papai Noel, que nem foi falado, ah nem ligam mais
né, coisa tão corriqueira, mas a gente resgata esse espírito do natal, com as
crianças ali , a gente fez hoje o Papai Noel, então a gente produziu nelas uma
expectativa, ontem... ontem a gente andou tocando a sineta ao redor da creche, na
janela né, pra ver como ia ser a reação delas né, elas tavam tudo na expectativa,
tudo olhando o que será que vai acontecer, será que o Papai Noel vai aparecer
hoje? Hoje ou agora né? Ou mais depois? Então a gente foi falando o Papai Noel
vai vir hoje né, amanhã, no caso ontem, então o Papai Noel chegou, então foi uma
expectativa né pra eles né, pouco, mas foi uma expectativa né. Então a gente criou
esse clima, então a gente também tem que fazer isso, tanto na Páscoa quanto nas
outras datas assim né, pra gente tar resgatando esse espírito né, pra voltar como
era antigamente né, esse espírito já se perdeu.
164.
(P.22) Sabe que nessa coisa de criar expectativa esse ano eu tive uma decepção tão
grande. Nós fomos visitar o Instituto Rã Bugio né, nós ficamos uma semana
falando pras crianças “Ah porque nós vamos ver os sapinhos” e não sei o quê,
falando dos sapinhos, do sapinho e mostrando como eram os sapinhos, o girino e
não sei o que e dá-rá-ram e chegamo no destino do Bugio, não vimo um sapo!
Vimo passarinho, cutia mas sapo! Não tinha um! Ai as crianças ainda cobraram
depois “Sim, mas a gente não ia vê sapo?” eu não sabia o que dizer!
165.
(P.14) Mostrava os passarinhos e eles falavam “E cadê o sapo?
166.
(P.22) “E cadê o sapo?” (risos)
167.
M2 Mas o que aconteceu? Não era época?
168.
(P.22) Não! Era época tudo mas tava tudo escondido porque eles ficam soltos né e...
169.
(P.31) Meu Deus! Mas ela não conseguiu capturar um?
170.
(P.5) Nem uma pererequinha?
171.
(P.22) (outras falam no meio) Nem girino nada... era uma estagiária!
172.
M1 Ah então é porque a Elza!
173.
(P.5) Ah é! Porque ela não ia deixar na mão.
174.
M1 Não! Claro!
175.
(P.31) Foi tanta expectativa pra
176.
(P.22) Uhum e voltamo pra creche sem vê sapo!
177.
(P.31) Pois é, voltando ao espírito natalino, não sei se minhas companheiras de trabalho
vão me ajudar é... mas a gente como você colocou a gente fez isso também
praticamente uma semana, sinetinha tocava, o Papai Noel apareceu distribuindo
uma balinha, isso a gente fez até na sexta-feira passada que realmente a gente fez
a celebração com eles né, com todas as turmas. Uma das coisas que marcou, eu
pelo menos achei, não sei se elas vão concordar comigo, é... das crianças
entregarem os bicos... as chupetas pro Papai Noel. Isso se fazia muito
antigamente, você vai ganhar presente do Papai Noel se você entregar a chupeta,
sei como cada um quiser pro Papai Noel e daí de repente, principalmente do
Maternal III eles chegavam a correr, sair da mesa pra ir lá sala nas mochilas e tirar
e trazer e trazer dois né! (risos) invés de um, alguns três chupetas pra entregar pro
Papai Noel, não sei se os pais aproveitaram a oportunidade pra que essas crianças
deixasse o bico
147
178.
(P.6) (fala baixo) É verdade!
179.
(P.31) (continuando) mas enfim! O Papai Noel levou algumas chupetas (risos) dentro do
saco! foi assim muito... incrível isso, realmente foi assim uma coisa que eu
observei mas não comentei, enfim achei a oportunidade agora era especial pra
colocar. Realmente acho que não sei quantas crianças que entregaram, mas
naquele dia acho que foram uma porção.
180.
(P.6) Acho que no Maternal III... quatro... quatro entregaram.
181.
(P.31) Mas tinha do Maternal II e no Maternal I né, seis entregaram.
182.
(P.6) Sim! E daí um não chupou mais! E os outros três no dia seguinte apareceram
183.
(P.31) Colocaram a chupeta dentro...
184.
(P.6) Organizado na mochila (risos) cheio de dengos. A gente embalou, colocou num
papel né, num papel toalha o bico, escondeu e deu pra mãe assim, a mochila e
tudo, mas a mãe... a gente comentou com ela o que tinha acontecido e a gente
entregou pra mãe né... pra ela né, tentar em casa então convencer que entregou
pro Papai Noel não tem mais! Mas só o Gabriel... (ri sozinha) ele não pegou mais o
bico, então ele realmente levou a sério, entregou, entregou os outros três não, no
dia seguinte voltaram: o Rubens, o Mateus... o Mateus, não o Carlos não chupou
mais!
185.
(P.31) Eu já tentei, eu já aproveitei conversar com o pai, eu não sei se vocês viram
186.
(P.21) Ah tem que ser com o pai!
187.
(P.31) É tem que ali na hora! Quando ele voltou...
188.
(P.6) Aham!
189.
(P.31) Mas aí é que eu coloco, mais uma vez, é a oportunidade dos pais estarem
cobrando, voltaram atrás novamente, então isso pra mim a criança marca.
190.
(P.5) Ah sim!
191.
(P.31) Ela marcou e assim o é com isso como com outras coisas, tão o pai é... é
mais cômodo, não se incomodaram, então eu vou dar né, sei lá!
192.
(P.35) Nós também trabalhamos o projeto do natal e uma coisa que marcou a gente
assim, que nem a gente sempre canta, aquele “Botei meu Sapatinhoa música e
nós falamos pra eles que hoje eles iam ter uma surpresa, eles iam dormir e daí
quando eles acordassem eles iam ter uma surpresa na janela, colocamos todos os
calçados deles na janela, quando eles acordaram foi aquela expectativa né, aquela
alegria, todos eles sorriam assim e daí quando a gente foi colocando o papel... eles
mesmo foram pegando lá cada um o seu e daí sentaram, comeram, já era um
“Bis”... (chocolate)
193.
(P.31) Tinha um chocolatinho pra cada um.
194.
(P.35) Foi a maior alegria porque eles falavam “Olha Prô! O que o Papai Noel deixou pra
nós no sapatinho!”.
195.
(P.22) Mas esse trabalho a Fernanda fez, a minha companheira de sala, ela colocou um
monte de pacotinho, fez de TNT, fez uns saquinhos assim e colocou
penduradinho na parede , e daí todo dia, como ela chegava bem cedo antes das
crianças, ela ia lá e colocava uma balinha dentro de cada saquinho daí as crianças
chegavam “O Papai Noel deixou bala! Deixou bala!” e daí todo dia eles ganhavam
uma balinha. Mas aquela história da balinha também rendia o dia inteiro (risos).
196.
(P.39) Também agora falando de balinha também lembrei de uma que diz assim, a
importância das pequenas coisas né, a importância das pequenas coisas que a
gente prende as crianças
197.
(P.22) É, porque eles ganhavam uma balinha por dia, eles ficavam esperando o dia
inteiro por causa de uma balinha
198.
(P.39) E ficavam felizes né!
199.
M2 Bem... isso me da... assim... vontade de pensa mais no seguinte, vocês
começaram com a... é... a gente começou a falar de infância... e... do quanto a
família é importante nessa constituição da infância, que no momento que a família
muda, , e que a mulher assume outros compromissos e tal, não ta mais, parece
148
assim... de certa forma a mãe era o baluarte de manter essa infância. No momento
que essa e assume outro papel também, será que a infância desaparece? Ou
existe outras possibilidades de constituir essa infância, diante dessa mudança da
família?
200.
(P.22) Olha, pode aser que eu esteja errada e já vi muita gente contrária assim a essa
minha opinião, mas eu ainda acredito que o Estado vai ter que assumir esse papel
que a família fazia antes, porque se o Estado não assumir, se Estado não mas se a
sociedade não... não... assumir essa coisa da educação, não de... de cuidar da
educação formal, mas de educação moral e essa coisa toda, eu acho que a
sociedade só tende a perder porque alguém tem que fazer esse papel que antes a
mãe fazia e quem é que vai ter que fazer vai ser a escola. De que jeito que vai
201.
(P.31) Mas é que a...
202.
(P.22) Não tem como mudar isso...
203.
(P.31) está sendo colocada muita responsabilidade pra escola, toda... a... vopode
ver que tudo tem que ser resolvido através da escola. Então...
204.
(P.22) Não, mas que nem assim
205.
(P.31) A gente tem que procurar resgatar alguma coisa pela família, a família tem que
mostrar exemplos, tem que...
206.
(P.22) Não mas no sentido que você...
207.
(P.31) Eu sei que você ta colocando isso porque vo acha que a família ta... é... ta
deixando a desejar é isso?
208.
(P.22) É a família não tem mais como assumir esse papel, de a mãe estar presente, as
crianças passam muito tempo sozinhas
209.
(P.31) Eu até concordo contigo mas, eu acho que a família ainda é a base de tudo,
porque se não for a falia também! Mesmo a mãe estando fora porque aqui nós
todas somos é... trabalhadoras e temos a responsabilidade eu acho que a gente...
210.
(P.6) Cabe... a partir do momento que você é mãe, você tem um filho, que você botou
um filho no mundo, você, cabe à você e unicamente você, separada ou não
separada ou mãe solteira, seja lá qual for respeitando qualquer situação, cabe
àquela pessoa ter responsabilidade de eu preciso trabalhar, eu preciso, eu preciso
cuidar de uma casa, eu preciso mas eu preciso em primeiro lugar acolher uma
criança uma criança no colo
211.
(P.31) Com certeza! Tu tens essa experiência contigo mesmo, você tem essa
responsabilidade, você vai deixar essa responsabilidade só pra escola?
212.
(P.22) Não mas eu digo durante... quanto ao tempo na escola assim, eu acho que é... a
maioria das mães trabalha umas oito horas por dia e a escola atende as crianças
quatro horas por dia essa...
213.
(P.31) Você acha então que seria a criança deveria estar em tempo integral na escola?
214.
(P.22) Ou então reduzir o horário de trabalho das mães
215.
(P.31) Eu acho que...
216.
(P.22) Seria uma solução entende? !
217.
(P.31) Eu entendo a tua posição, só que eu acho que ai que tem que fazer uma colocação
pra você mesma, você que tem que ver o que voacha que em oito horas da
conta da tua filha ou você precisa trabalhar só quatro, porque a criança não ta... a...
e eu vejo a criança assim o dia inteiro na escola e sem... sei lá!
218.
(algué
m fala)
Eu vejo isso...
219.
(P.31) Nós colocamos muito isso mesmo, s vemos... nós vemos a criança que tem o
acompanhamento familiar é... mesmo ela tando o dia inteiro na escola é uma coisa
e aquela que não tem praticamente é ali e a escola vai fazer tudo e eu não tenho
responsabilidade
220.
(P.22) Não!
221.
(P.31) Só pego e ponho pra dormir
149
222.
(P.22) Isso é discutível!
223.
(P.31) É diferente!
224.
(P.22) Isso eu também concordo que os pais têm que acompanhar as crianças em casa
tudo, mas eu digo esse tempo ócio entende, das crianças. O que... qual é a
solução pra isso, pra esse... pra essa lacuna que ficou entre a família, o papel da
família e o papel da escola, ficou um vão, entende? Que não tem...
225.
M1 O que vocês acham, concordam, discordam?
226.
M2 Que vocês cuidam de criança bem pequena né? Eu acho que isso que ela ta
colocando é importante, porque assim, que vocês duas tão colocando é... será que
é assumir, ser uma mãe substituta ou tem um outro papel mas que preserve a
infância? Existe outra forma? Porque assim... é verdade que a infância ta se
perdendo, mas vocês foram colocando coisas que caracterizam a infância, alguma
dessas coisas talvez sejam até mais da sociedade até do que da família, alguma
dessas coisas parecem que são da família e... eu acho que talvez tenha se
discutido pouco... é... em geral, eu acho que a sociedade não tem discutido pouco
ou muito, qual é a função da sociedade nisso, porque né... é.... porque a gente ta
falando a e, a mãe, a e bom, a mãe assim é... a gente enquanto mulheres
trabalhadoras, todas s! (risos) bom, a gente poderia ser aquela mãe que cuida
da... da... cuida... só... das crianças, fica em casa, depende tudo do marido, etc
227.
(P.22) Então, é essa questão que eu quis colocar, que não tem como isso voltar, esse
papel da... da mãe na família não volta mais. Qual? E se foi se...
228.
(P.31) A sociedade obriga a mãe a trabalhar porque não consegue mais sobreviver com o
que o marido ganha!
229.
(P.22) Sim!
230.
(P.35) Eu acho que nós enquanto professoras podemo tar mostrando pra essas mães e
pros pais, né, em geral, o quanto é importante esse pouco momento que eles tem
com os filhos em casa, nessa reunião que nem que a Tércia fez, a gente percebeu
ali na nossa turma, quanto eles ficaram vidrados ali olhando com olhos arregalados
os pais
231.
(P.31) Emoção...
232.
(P.35) A emoção! A emoção! Essa era a palavra que eu queria! Os pais olhando o que os
filhos fazem, com certeza foi plantada uma semente, isso vai brotar, não é amanhã,
depois de amanhã, mas a gente percebe, porque eles vem eles pedem, que
semana passada quando eu trabalhei, até uma mãe veio pedir uma musiquinha,
porque o filho cantou um trecho e ela queria cantar o resto. Então, quer dizer, a
mãe escutou a gente cantando também cantando na roda da música e ela veio ao
nosso encontro, eu poderia pegar, virar as costas e dizer não, uma música que a
gente canta o vou passar não, eu cedi pra ela, eu passo num papel, eu entrego
pra você hoje, você leva pra casa, então é esse trabalho que a gente pode estar
fazendo, é tar envolvendo mais os pais e eles tar percebendo como é importante
tar dando esse pequeno tempo pra tar trabalhando com a criança ta... ta dando
atenção pra criança.
233.
M1 Eu sempre penso que não é a quantidade de tempo de o pai ou a mãe tar com a
criança que importa mas a qualidade, é não compensar esse tempo com presente
né, mas compensar com alguma forma de atenção porque... eu falava com a Diana
esses dias, com a Secretária que nós ainda temos o hábito de valorizar com os
nossos filhos de sentar e assistir um filme no final de semana, um filme com pipoca
né, então criar essa coisa, esse clima, esse momento, mas hoje muitos
adolescentes podem achar besteira você passar um tempo com a tua mãe, com
teu pai assistindo filme com pipoca, mas se é uma coisa que se criou o hábito que
tem até hoje, então ele pergunta “Você ta de folga mãe? Podemo assisti um
filme?”, então são esses momentos de vínculo simples, que de repente podem não
estar acontecendo.
234.
(P.6) Os meus meninos as vezes falam “Vamos pescar hoje?”, então isso as vezes é tão
difícil mas, vai vai pesca com eles depois esse tempo vai passar, vão crescer e
daí não tem mais pesca
150
235.
(P.31) Não sei se foi essa resposta que ela na realidade ta querendo (risos de todas)
236.
M2 Não eu não to querendo resposta nenhuma! (risos) Isso é o que ta vindo à cabeça
porque eu também nunca pensei nisso, mas tem coisas aqui que vocês falaram
que... que eu nunca tinha pensado antes e que ta me marcando muito assim, que é
assim, marcos simbólicos da infância, que vocês levantaram uma série de coisas
que de certa forma são símbolos, são marcos simbólicos que vocês disseram
“marcou”, marcava a expectativa de Papai Noel, marcava a expectativa de
aniversario, marcava o poder imitar o adulto, marcava o momento em que tinha
acesso a coisas que não tinha... né... que.... até marcos de desenvolvimento, agora
eu posso de repente participar de uma conversa que antes eu não podia né, então
esses marcos simbólicos que eram muito demarcados na vida social e na vida
familiar e que as vezes, as vezes não, que a gente percebe que tão se perdendo. E
eu fico pensando, poxa as crianças ficam oito horas muitas vezes dentro das
creches né, que marcos a gente ta tendo de caracterização dessa infância pra eles
poderem lembrar, não precisa ser uma infância igual a nossa, porque é outro
tempo é outro momento, mas quando a Tércia perguntou, eles tão tendo infância, o
que ta caracterizando, que que a gente ta criando ou o espaço, os materiais, a
rotina, o nosso dia-a-dia, a gente ta preocupado em fazer essas demarcações ou a
gente nunca parou para pensar nisso porque, eu to pensando nisso agora, eu
também nunca pensei nisso antes! (ri)
237.
(P.31) Mas eu acho que sim!
238.
(P.22) Eu acho que existe essa...
239.
(P.31) Eu acho que sim, existe muito essa preocupação sim! Ah... eu acho assim até pelo
fato de limites, que a gente assim que a gente sempre teve limites, horário e a
gente percebe que muitas crianças não tem, inclusive me lembro que a... a Diana
como Secretária no início do ano até... colocou, Tércia deve muito bem lembrar
sobre os limites que realmente os pais largam muito, e eu acho que todas essas
coisas, eu vejo como uma coisa que os professores se preocupam muito com a
infância, com poder dar essa oportunidade pra criança, com limite eu acho.
240.
(P.5) E essa infância dentro do CEI acontece a partir do momento que nós professoras
participamos das brincadeiras, envolvemos com os alunos que antes s tínhamos
a família o pai e a mãe em casa e agora eles passam muitas horas conosco, nós
fizemos esse papel, a gente acaba contando pros pais, relata o que aconteceu o
que fez e tal né, a gente vai divulgando assim, “Mas ele faz?“Faz!”, porque como
pai e a mãe sempre tão distante a gente ta ali dentro, dando, proporcionando isso
ali pra ele quando você senta no chão, quando você brinca junto com ele, você ta
fazendo esse papel que a gente tinha é... alguém fazia com a gente antes né. A
mãe fazia isso porque a gente não foi criado em creche, fomos criados em casa,
com uma mãe ali, na roça nós tava ali
241.
M2 Ou irmão mais velho pode ser, não sei se tinha irmãos!
242.
(P.5) É claro! Ou irmão mais velho! Essa pessoa marcante acaba sendo s agora ali
fazendo esse papel nessa infância, dessas crianças ali acaba sendo a gente, o
ponto de referência delas acaba sendo nós. E s imitávamos a mamãe e papai e
eles com certeza imitam a gente em casa! Né! E é... a gente vê assim ó... quando...
que nem a... você ensina, muito interessante porque eu vejo de fora e leio,
independente da idade, porque se você... fui ensinar a minha filha esses dias faze
um negócio ela disse “Não a Prô disse que é assim!”. Eu também sou professora,
mas a professora dela disse que é assim o que que eu vou fazer? A professora é a
referência dela ali, assim como nós também estamos sendo para os nossos
pequeninhos ali. É... é... é... como antes nós nhamos pai e mãe em casa ali, fui
criada em casa a referência era... temos que resgata a falia? Temos! que a
referência nossa, a nossa base foi a família e essas crianças vem desde meses
conosco, nós sabemos mais coisa deles do que o próprio pai e a mãe. Então
esse... nós temos que ter esse cuidado assim, dessa infância que s temos, a
responsabilidade de estar junto ali, proporcionando isso pra eles e... juntamente
com a família, procurar tar sempre conversando e eu vejo que na educação infantil
isso acontece muito porque pai e a mãe tão ali entregando a criança na creche né,
lá na escola não, você fica cada vez mais distante né, mas... é... por esse caminho!
151
243.
(P.31) Acho que até a creche por exemplo, a gente fica sabendo assim, até sem querer
do que acontece em casa quando percebe que o comportamento da criança ta
mudando
244.
Algué
m diz
Uhum!
245.
(P.31) No comportamento da criança, as vezes a gente até pergunta o que ta
acontecendo, muitas vezes a gente até descobre sem querer de que o casal
discutiu, de que o casal brigou e isso interfere na criança, até isso interfere na
creche.
246.
(P.22) E acontece muito!
247.
(P.31) Muito! Muito...
248.
(P.31) E até nós brincamos de pular corda e a menina, a felicidade da menina quando ela
conseguiu pular corda, é uma, duas, três, quando a Prô disser “Pula!”, você
pula!, então até ela, foi várias vezes “Pula! Pula! Pula!, “Agora!” e ela pulava
e... a corda batia na perna, e batia na perna, porque ela ainda o conseguia é...
prestar bem atenção na minha fala com o momento de pular e quando ela
conseguiu, aí não parou mais porque não precisei mais dizer, ela só chegava ali na
corda e era pular, os outros batiam palmas e ela conseguiu! (toca um telefone
celular)E ela conseguiu, tinha uns e outros que não queriam ir lá, tinham vergonha,
mas assim que ela conseguiu pular corda, os outros também foram tentar, mas não
conseguiam né, que pulavam pra um lado, pulavam pro outro que ainda não
conseguem pula... não conseguiam ainda
249.
Algué
m que
não foi
possív
el
identifi
car
excla
ma
É não conseguiam ainda a hora de entrar!
250.
(P.6) Mas todos participaram, todos, não ficou ninguém envergonhado, com vergonha,
todos eles foram e ela assim... (termina a fita 1)
OBS.: Enquanto trocava-se a fita, houve muita descontração, como que aliviadas pelo fato do
gravador não estar ligado e todas questionavam a grande quantidade de mosquitos no ambiente e
deram muita risada quando a pesquisadora disse que isso nunca acontecia, pois a gravação estava
sendo realizada na garagem da casa da pesquisadora.
Nº
Partici
pante
Transcrição (fita 2 – lado A)
251.
- (interferência do microfone num primeiro momento, dificultando o entendimento
do que estava sendo falado)
252.
(P.35) - Tem um caso que aconteceu na creche ela falou da imitação , tudo que você
ensina pelo exemplo tamm, uma criança, uma menina da minha sala ela
pediu disse que é pra mim embora, que é pra mim embora, que ela queria que
eu fosse embora, eu disse “Então ta bom se você quer que eu saia da sala?” e
fiquei escondidinha ali fazendo de conta que tinha ido embora fiquei pelo
banheiro que dá acesso à nossa sala e ela disse que não era só eu que era pra
ir embora a outra professora também era pra sair e daí a outra professora
também foi saiu pela porta e ficamos ali quietinhas espiando pra ver o que ela ia
fazer, ela disse Agora eu vou ser a professora, vocês vão ficar quietos que eu
preciso falar e eu vou ensinar pra vocês agora, eu vou ensinar uma brincadeira”
ela começou a falar, ddaqui a pouco ela disse assim que ela não ia mais
falar, que ela queria as professoras de volta, dnós duas voltamos né, mas os
152
alunos é “Vocês não querem me obedecer?” “Ninguém quer me obedecer!” ela
falou, e ninguém deu bola pra ela, mas o fato dela estar ali falando, ela queria
fazer o papel da professora naquele dia, e a gente fez, pegou e saiu da sala e a
gente queria ver o que ia acontecer né.
253.
(P.14) - É igual meu...
254.
(P.35) - Depois quando o pai dela chegou ela contou, toda feliz que ela era a professora!
255.
(P.14) - O meu menino quando ia até ca Carmen ele ia, daí ele... um dia ele chegou em
casa e... a... eu falei assim com o meu marido “Ó Luis Carlos! Chacoalha a
toalha da mesa lá fora!” e ele nem deu bola o meu marido, daí ele falou assim
Mãe ele não ta obedecendo né! Não vai ganhar estrelinha!” (muitos risos), “Ele
não ta obedecendo”, falei não ele não vai ganhar estrelinha. E daí assim, um
negócio assim é igual assim que a Carin falou de imitar muito os professores
assim... é... outra coisa assim que eu também achei muito interessante, quando
ele ia com a Carmen daí ele falava assim, um dia ele chegou em casa e falou
assim “A Prô falou que me ama! Ela falou assim ‘te amo!’”, daí eu até comentei
com a Carmen e com a Lisandra que ele falava muito isso, aquilo acho que
ficou muito marcado aquilo da professora falar pra ele “Eu te amo!” e daí ele
vivia falando isso. Outra vez também que eu disse pra ele, “Fica aí que eu só
vou ali no mercadinho!” ele falou assim “Não! A Prô falou que não pode, a Prô
disse que criança não pode ficar sozinho!” (risos) “Você tem que me levar!”.
256.
M1 Será que daria? Né, não sei se é possível, mas daria pra gente criar uma imagem
do que seria a infância nas creches? Daria pra gente é... criar uma imagem do
que é infância na creche, sintetizar, fechar! (um instante de silêncio)Alguém
conseguiria? (mais um instante de silêncio) Porque com tantas coisas que vocês
descreveram, tem infância.
257.
Algué
m fala
baixin
ho
Tem!
258.
M1 Tem infância boa!
259.
Mais
algué
m fala
baixo
Tem! Tem!
260.
M1 O que caracterizaria essa infância? Ela é diferente da que nós tivemos né... muito
diferente, mas ela não... não é ruim, pelo que vocês colocaram e quais, quais são
as características dessa infância que as crianças vivem hoje?
261.
(P.22) Eu acho que é um período de aprendizado sem aquele peso da escola, do sentar,
ler, copiar, é o momento deles estarem descobrindo o mundo mesmo ali. Que cada
vez mais a gente procura... da essa oportunidade pras crianças, de tar descobrindo
o mundo, nas pequenas coisas assim.
262.
(P.39) Fazer experimentações né?
263.
(P.22) É! Construir as hipóteses né?
264.
(P.39) É! As hipóteses!
265.
(P.5) O prazer em descobrir isso né? De realização... porque... se você proporciona é...
esse momento pra criança, essa oportunidade então ela também ta tendo prazer,
uma realização em participar daquilo né.
266.
(P.39) É as possibilidades né! Que eles em casa, certas coisas eu o posso fazer, mas
lá no CEI, lá na creche posso!
267.
(P.14) É mas também lá na creche é um mundo bem diferente de casa, igual tem uma
menina, nossa também, que... na... até a Tércia tava lá né um dia que nós fizemos
pão, outro dia fizemo uma... uma... torta salgada ! E, no dia que fizemo o daí
foi colocado a farinha na massa assim daí eles mexiam tudo, ela chegou em casa
assim, a mãe dela tava fazendo um bolo ela virou o pacote de farinha, da mãe
dela achou ruim! Então aquilo, como que na creche pode, então o mundo ali na
153
creche é diferente pra ela, que em casa é tudo arrumadinho
268.
(P.22) Podia brincar na lama né tudo!
269.
(P.14) É!
270.
M1 Conta essa história da lama aí que ninguém sabe!
271.
(P.22) Ah isso aí é coisa da Elaine!
272.
(P.14) Não! Da lama foi assim é... a gente tem um galpão ali perto da creche, ali no
Tamanini e daí tinha uma poça pequena assim que eles passavam em volta e
olhavam, passavam em volta e olhavam, aí tinha uma menina que chegava perto e
colocava o , daí ela chegava perto e colocava o pé, daí falei “Você quer sentar?”
e ela não falou nada (ri), eu peguei passei com ela assim e sentei, falei “Hãa!
Caiu!” ah daí foi a festa né! (risos)
273.
(P.5) Todo mundo caiu! (risos)
274.
(P.14) Daí todo mundo caiu.
275.
(P.2) Até os pequenininhos!
276.
(P.14) É até os pequenininhos, daí foi a festa né!
277.
(P.2) Eles ficavam dando volta ali, volta ali, volta ali assim...
278.
(P.14) Aí eles lavaram a cabeça ali naquela lama (ri). Foi a maior festa!
279.
M1 Se você vê as fotos, você fica bobo! De o estado!
280.
M2 Então! É... uma infância que experimenta, que tem prazer em experimentar, né que
tem, como você colocou o prazer da realização do... conseguir dar conta do desafio
que é experimentação, que mais?
281.
(P.39) Possibilidades!
282.
M2 Possibilidades.
283.
M1 A creche como um mundo diferente né, um mundo próprio né!
284.
(P.5) Eu colocaria assim que a creche é um mundo de possibilidades diferente do de
casa. É porque acontece ene situações que... nós vivemos com eles ali que... coisa
única, que nunca mais vai saber que tinha né, então é um mundo de possibilidades
bem diferente do de casa.
285.
(P.6) Até pode falar da alimentação, as mães as vezes se surpreendem que a criança lá
ela, ela come uma salada né e é... em casa ela não come, ela não aceita, então.
286.
(P.31) É um conjunto né, de aprendizado, de experiências e tudo isso ah... ela... ta se
realizando com tudo, aprendendo, brincando é um todo na realidade, eu acho
muito surpreendente! Eu que to... sou velha, macaca velha na educação, mas a
educação infantil pra mim ta sendo assim uma experiência fantástica, eu deito, eu
rolo (risos )
287.
(P.5) Apanha! Meu!
288.
(P.31) Levo soco!
289.
(P.6) (fala ao mesmo tempo) Com a varinha, ali com a varinha! (muitas riem e falam ao
mesmo tempo)
290.
(P.31) Tudo! Tudo eles fazem comigo!
291.
(P.5) Na realidade é uma grande família né!
292.
(P.31) Ah com certeza! É uma grande família.
293.
(P.5) Cada sala é uma família é... diferente e... um todo é uma família!
294.
(P.31) É, por causa disso que a gente sempre coloca “Falia Dona Nina”, porque
realmente é! Eu pelo menos considero, porque a gente tem assim... né, liberdade
pra tudo
295.
(P.6) (exclama enquanto Marlene fala) Sim!
296.
(P.31) Acho que cada um tem liberdade de pedir, de... de... falar de... opinar, enfim, acho
que existe uma abertura muito grande tanto de criança como pais, como
professores, enfim, o...
297.
(P.5) Vejo mesmo nós como professoras também tem bastante troca né: “Ah! Olha isso
154
aconteceu assim, deu certo!”, assim... e a gente não fala só do ruim e... comenta,
mas o que acontece de bom também né! “Ah olha só como ta aqui né!” e assim.
Então eu acho que por ali começa né? Não adianta ver o ruim, tem que ver o
bom também porque alguma coisa sempre traz de bom né, cada situação e... a
gente tenta da melhor forma possível considerar isso dentro da sala no conjunto
todo né.
298.
(P.35) As crianças chegam pra nós de uma forma e saem também diferentes porque tem
criança que nem falava e agora tão contando tudo pros pais, tem criança que
usava fralda e agora não usa mais
299.
(P.22) (interrompendo) Tem criança que não gostava de se sujar...
300.
(P.5) Adora agora né! (risos)
301.
(P.31) Crianças que não comiam fruta nenhuma é, tinham pavor de se sujar, de se
lambuzar...
302.
(P.5) O Caio fazia assim oh! (gesticula mostrando como a criança limpava a mão no
rosto, cabelos e roupa)Menino com dois anos ele pegava a mão e...
303.
(P.31) É, não outro que nunca tinha tocado o pezinho numa grama, num... num... uma
areia e...
304.
(P.35) Direto com calçado né
305.
(P.31) É! Calçado, calçado, toque num... né! São experiências que...
306.
M2 Disso tudo que vocês falaram, quais são assim as palavras digamos, palavra
representando alguns elementos sem os quais a gente não pode dizer que tem
infância dentro do CEI, que que tem que ter pra poder dizer... que tem... que eles
tão vivendo uma infância lá?
307.
(P.35) Fantasia. Emoção.
308.
(P.14) Contato.
309.
(P.6) Alegria. (um instante de silêncio)Muito amor, muita dedicação, isso tudo tem que
dar.
310.
(P.35) Envolvimento. (mais um instante de silêncio)
311.
(P.22) Tipo intencionalidade também, tudo que a gente faz com intenção.
312.
(P.35) Carinho. (mais um instante de silêncio)
313.
M1 Essas palavrinhas caracterizam a infância então?
314.
(P.31) E coloco uma que acho bem importante também: limite. (instante de silêncio)
315.
M1 Fechou?
316.
(P.6) Oportunidade. A oportunidade.
317.
M2 A oportunidade?
318.
(P.6) A oportunidade de estarem aprendendo.
319.
M2 Essas coisas que vocês estavam falando antes de possibilidades.
320.
(P.31) É possibilidades, oportunidades, essas coisas! (segue um instante de silêncio)
321.
M1 Vocês querem fazer mais um fechamento?
322.
M2 Vocês querem falar alguma coisa?
323.
M1 É! Mais algum comentário?(silêncio) Que eu acho que fechou né.
324.
M2 A pesquisa é tua! (risos)
325.
M1 Eu acho que a experiência foi muito boa!
326.
M2 Eu gostei bastante. Vocês gostaram?
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