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Universidade Federal do Rio Grande do Sul
Gisele Maria Inchauspe Preussler
ESCUTANDO AS MÃES HIV+ SOBRE O GRUPO DE GESTANTES
SOROPOSITIVAS PARA O VIRUS DA IMUNODEFICIÊNCIA HUMANA
Porto Alegre
2005
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Gisele Maria Inchauspe Preussler
ESCUTANDO AS MÃES HIV+ SOBRE O GRUPO DE GESTANTES
SOROPOSITIVAS PARA O VIRUS DA IMUNODEFICIÊNCIA HUMANA
Dissertação apresentada ao Curso de
Mestrado em Enfermagem da Escola de
Enfermagem da Universidade Federal do Rio
Grande do Sul, como requisito parcial para a
obtenção do título de Mestre em Enfermagem.
Orientadora: Profa. Dra. Olga Rosária Eidt
Porto Alegre
2005
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A ficha catalográfica será
aqui
P943e Preussler, Gisele Maria Inchauspe
Escutando as mães HIV+ sobre o Grupo de Gestantes
Soropositivas para o vírus da imunodeficiência humana / Gisele
Maria Inchauspe ; orient. Olga Rosária Eidt. – Porto Alegre, 2005.
122 f. : il.
Dissertação (Mestrado em Enfermagem) – Universidade Federal
do Rio Grande do Sul. Escola de Enfermagem. Curso de Mestrado
em Enfermagem, 2005.
1. Mulheres grávidas. 2. Soropositividade para HIV : enfer-
magem. 3. Síndrome de Imunodeficiência Adquirida : congênito. 4.
Relações mãe-filho. 5. Comportamento materno. 6. Grupos
diagnósticos relacionados. 7. Educação em saúde. I. Eidt, Olga
Rosária. II. Título.
Limites para indexação: Humano.
Feminino. LHSN – 441
NLM
WP 100
4
5
Dedico esse trabalho:
- Ao meu marido Geraldo e meus filhos Thiago
e Gabriela
- A todas as mães soropositivas para o HIV em
especial as participantes deste estudo, que
além de enfrentarem o penoso cotidiano de
suas vidas, enfrentam a soropositividade para o
HIV, acompanhadas de preconceito,
descriminação, desafios, medos e mesmo
assim, buscam força para superar esses
momento e sobreviver a todas essas
dificuldades. A essas mulheres mães, minha
intensa admiração!
6
AGRADECIMENTOS
Aos meus pais Canepa Inchauspe (in memorian) e Alda Pereira Inchauspe
pela vida.
À Profa. Dra. Olga Rosária Eidt, a quem tive a oportunidade de conhecer
com a realização deste Mestrado e que neste percurso apoiou-me com toda sua
paciência, sabedoria e humanidade, respeitando meu tempo e nossas diferenças.
Minha imensa gratidão por este processo que juntas construímos e pela
oportunidade de conviver com uma pessoa tão especial.
Aos colegas e amigos do SAE, Enf. Maria da Glória Correa, Enf. Ingrid
Krilow e psicóloga Lisiane Winkler, por “segurarem” todas as barras nas minhas
ausências e suportarem meus “stress”; à fisioterapeuta Simone Ávila, pelas dicas,
desde a elaboração do projeto; ao Dr. Regis Kreitchmann, pelas referências
bibliográficas e a todos os demais colegas pela parceira. Às colegas do SAE e do
COAS (Centro de Orientação e Apoio Sorológico), representadas pela Enf. Neiva R.
Wacholtz e pela psicóloga Miriam Weber, que há alguns anos tiveram a
sensibilidade de perceber a necessidade de um espaço coletivo de apoio às
mulheres que se sabem soropositivas para o HIV, na gestação, e criaram o grupo de
gestantes, hoje objeto deste estudo.
Às minhas colegas e amigas: Enf. Ana Lúcia Dagord pelo imenso incentivo e
apoio para a realização deste curso de Mestrado, desde a elaboração do projeto; à
Enf. Débora Coelho, por todos os auxílios prestados sempre que a ela recorri; a
Cristine Müller por ter sido minha parceira nos primeiros passos na realização de
produções científicas e às colegas de Mestrado especialmente Luciana Dezort e
Adriana Luzardo, pela amizade e pelos momentos que compartilhamos.
7
Prevenção: Nosso Futuro
“Pior que perder uma criança com AIDS é
descobrir que isto poderia ter sido evitado”
Pediatric AIDS Foundation
8
RESUMO
A feminização é uma das características atuais da epidemia da Aids e atinge
principalmente mulheres em idade fértil, o que vem desencadeando um aumento de
gestantes portadoras de HIV/Aids. O Serviço de Assistência Especializada em
DST/Aids, que integro como enfermeira, vem desenvolvendo o Grupo de Gestantes
Soropositivas para o HIV. Conhecer a opinião das mães HIV+ egressas desses
grupos sobre esta atividade, tornou-se, então, o objetivo deste estudo. O interesse
pelo tema surgiu da experiência de ter cuidado mulheres que vivenciaram esta
trajetória no período gestacional e por entender que, ao escutá-las, têm-se subsídios
para qualificar o grupo de gestantes soropositivas para o HIV. Trata-se de um estudo
descritivo, com abordagem qualitativa. As participantes do estudo, utilizando o
critério de saturação, foram 10 mulheres HIV+ egressas do programa de pré-natal de
um Serviço de Assistência Especializada em DST/Aids do município de Porto
Alegre. A coleta de dados, realizada no terceiro trimestre de 2004, foi obtida por
meio de entrevista, após a leitura e assinatura, pelas entrevistadas, do termo de
consentimento livre e esclarecido com aprovação do Comitê de Ética em pesquisa
da Instituição. Para análise dos dados utilizou-se a Análise de Conteúdo
(MORAES,1999), A complexidade dos resultados aponta várias considerações
relacionadas a: perplexidade das mulheres ao conhecerem seu diagnóstico de HIV e
conseqüentes desinformações relativas ao processo gravídico puerperal
acompanhado de HIV, dilema quanto à clandestinidade do diagnóstico, desamparo
familiar e social, impossibilidade de amamentar somado ao despreparo de
profissionais de enfermagem na maternidade, à condução de outras alternativas
substitutivas do aleitamento materno e a preocupação pela responsabilidade de ser
ela a fonte transmissora do HIV para seu filho. Para este mundo singular vivido por
9
estas mulheres, pode-se afirmar ser o Grupo de Gestantes Sororpositivas para o
HIV, um espaço coletivo de cuidado especial e humanizado e que independente das
experiências de vida pessoal, gestacional e familiar e de diferenças de cada
participante, resulta num movimento capaz de imprimir grandes mudanças de
atitudes, tornando-se evidente para a autora a necessidade de se oportunizarem
cada vez mais, espaços de Educação para Saúde como disponibilizados neste
grupo. As mães como atoras sociais trouxeram ao aprimoramento do grupo valiosas
sugestões referentes à manutenção dos grupos, à ampliação dos participantes
oportunizando que outros membros da família participem e à continuação do grupo
após o parto. Entre as recomendações advindas desse estudo destaca-se a de
construção de trabalhos interdisciplinares em espaços institucionais, familiares e
sociais que contemplem o amplo conjunto de necessidades referido pelas mulheres
e as apóiem na busca da qualidade de vida para si e seus bebês.
Descritores: Mulheres grávidas. Soropositividade para HIV: enfermagem.
Síndrome de Imunodeficiência Adquirida: congênito. Relações mãe-
filho. Comportamento Materno. Educação em saúde. Grupo
diagnóstico relacionado.
Limites: Humano. Feminino.
10
RESUMEN
La feminización es una de las características actuales de la epidemia del
SIDA y alcanza principalmente a mujeres en edad fértil, lo que viene
desencadenando un aumento de gestantes portadoras de HIV/SIDA. El Servicio de
Asistencia Especializada en DST/SIDA, que integro como enfermera, viene
acompañando un Grupo de Gestantes Sueropositivas para el HIV. Conocer la
opinión de las madres HIV+ provenientes de esos grupos, sobre esta actividad, se
tornó, entonces, el objetivo de este estudio. El interés por el tema surgió de mí
experiencia de haber cuidado mujeres que vivieron este trayecto en el período de la
gestación y por entender que, al escucharlas, se obtuvieron ventajas para calificar el
grupo de gestantes sueropositivas para el HIV. Se trata de un estudio descriptivo,
con énfasis cualitativo. Las participantes del estudio, utilizando el criterio de
saturación, fueron 10 mujeres HIV+ que venían del programa de prenatal de un
Servicio de Asistencia Especializada en DST/SIDA de la municipalidad de Porto
Alegre. La colecta de datos, se realizó en el tercer trimestre de 2004, las
informaciones fueron obtenidas a través de entrevista personal, leída y firmada por
cada una de ellas, con lo cual ellas consentían para la utilización de las
informaciones en este estudio, estando todo de acuerdo con el Comité de Ética en
investigación de la Institución. Para el análisis de los datos se utilizó el Análisis de
Contenido. La complejidad de los resultados indicó varias consideraciones
relacionadas a: perplejidad de las mujeres al conocer su diagnóstico de HIV y en
consecuencia la falta de informaciones relacionadas al proceso de gravidez
puerperal acompañado de HIV, el dilema en cuanto a mantener el diagnóstico en
secreto, al desamparo familiar y social, y la imposibilidad de amamantar sumada a la
falta de preparación de profesionales de enfermería en la maternidad, la búsqueda
de otras alternativas que sustituyan el amamantamiento materno y la preocupación
11
por la responsabilidad de ser ella la fuente transmisora del HIV para su hijo. Se
puede afirmar que el grupo de gestantes sueropositivas para el HIV es un espacio
colectivo que requiere de cuidado especial y humanizado al servicio de estas
mujeres, cuya vida constituye un mundo singular, y que independientemente de la
experiencia de vida personal, de gestación y familiar, y de las diferencias entre cada
participante, resulta en un movimiento capaz de imprimir grandes mudanzas de
actitudes, resultando evidente para la autora, la necesidad de dar oportunidad en
mayor medida a los espacios de educación para la salud, tal como los espacios
disponibles para este grupo. Las madres, como protagonistas sociales, aportaron
valiosas sugestiones a la mantención de los grupos, a la ampliación de los
participantes en ellos, dando oportunidad para la participación de otros miembros de
la familia y a la mantención del grupo después del parto. Todo esto sirvió para el
mejor funcionamiento del grupo. Entre las recomendaciones surgidas de este
estudio se destaca el de la realización de trabajos interdisciplinarios en espacios
institucionales, familiares y sociales, que contemplen el amplio conjunto de
necesidades de estas mujeres y un constante apoyo en su búsqueda por una
calidad de vida mejor para ellas y sus hijos.
Descriptores: Mujeres embarazadas. Seropositividad para VIH: enfermería.
Síndrome de Inmunodeficiencia Adquirida: congénito. Relaciones
madre-hijo. Conducta materna. Educacion en Salud. Grupo
diagnóstico relacionados.
Límites: Humano. Femenino.
12
ABSTRACT
Feminization is one of the present characteristics of AIDS epidemic and it
mainly affects women in fertile age, which has increased the number of pregnant
HIV/AIDS carriers. The Service for Specialized Assistance for STD/AIDS, which as a
nurse I integrate, has developed the group for HIV positive mothers. Then, getting to
know these HIV-positive mothers’ opinion has became the central objective of this
study. The interest for the topic emerged from the experience of looking after women
who lived through this experience during their gestation period and also because of
the fact that, by listening to them, there are elements to qualify the group of HIV-
positive. It is a descriptive study, with qualitative approach. Using saturation criterion,
the subjects of the study have been 10 HIV-positive women from the prenatal Service
for Specialized Assistance for STD/AIDS in the city of Porto Alegre. Data were
collected in the third trimester of 2004 through interviews, after each interviewee read
and signed the free and clarified consent term with he approval of the Committee of
Ethic on Research of the institution. Content analyzes has been used for data
analysis. The results complexity points outs various considerations related to: the
perplexity of women in face of their HIV diagnostic and consequent misinformation in
relation to the pregnant puerperal process with HIV, dilemmas as to the clandestine
diagnostic, lack of familiar and social support, impossibility to breast-feed added to
the nurses professionals in maternity lack of preparedness, the decision as to
substitutive alternatives of feeding and preoccupation in relation to the possibility of
transmitting HIV to their children. These women lived through this singular moment,
and we can state that the Grupo de Gestantes Soropositivas (Group of HIV positive
Pregnant Women) is a collective and humanized space of special care and which
independently of their personal lives, pregnancy and familiar experiences and of the
13
differences between the participants, the group results in a movement capable to
grant important attitude changes. Thus, it turned out to be evident to the author that it
is necessary to provide opportunities to more spaces of Health Education as we did
in relation to this group. These mothers, as social performers, brought the group
valuable suggestions for the improvement of the group, as maintaining the group,
increasing the number of participants, so that other family members can participate
and maintaining the group after birth. Among the recommendations by this study we
stress the construction of interdisciplinary work in institutional, familiar and social
spheres, able to respond to the set of necessities referred by these women, so as to
support them in the search for life quality for themselves and for their babies.
.
Descriptors: Pregnant women. HIV seropositivity: nursing. Acquired
Immunodeficiency Syndrome: congenital. Mother-child relations.
Maternal behavior. Health education. Diagnoses-Related Groups
Limits: Human. Female.
14
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO 16
2 OBJETIVOS 20
3 REVISÃO DE LITERATURA 21
3.1 Contextualizando a Epidemia do HIV/AIDS: da descoberta a
feminização 21
3.2 Gestantes soropositivas para o HIV e suas vulnerabilidades 29
3.3 Atividade grupal como estratégia de convivência e educação para
a saúde 35
4 METODOLOGIA 44
4.1 Caracterização do estudo 44
4.2 Aspectos éticos 44
4.3 Campo de estudo 45
4.4 Participantes do estudo 48
4.5 Coleta e preparo das informações 51
4.6 Análise das informações 52
5 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS 54
5.1 Vivenciando as adversidades de ser mãe soropositiva para o HIV 55
5.1.1 Experenciando a concretude da vulnerabilidade Gestação X HIV 57
5.1.2 Possibilidade de estar gerando uma criança com HIV : o centro de
preocupação das mães 62
5.1.3 HIV & GESTAÇÃO; sofrimentos emocionais decorrentes 65
15
5.2 Ausência de possibilidade de amamentar como frustração na
completude de realizar-se como mãe
68
5.2.1 Situação ímpar de vulnerabilidade materna 70
5.2.2 Situações de vulnerabilidade institucional fortificam o preconceito e
discriminação, desencadeando auto-proteção 72
5.3
Grupo de Gestantes Soropositivas para o HIV (GGSPHIV): espaço
previlegiado ao processamento de novos conhecimentos e atitudes
76
5.3.1 Busca e encontro de espaço para convivência e desvelamento do “self”78
5.3.2 GGSPHIV: espaço de educação para saúde e estímulo á formação de
atitudes saudáveis 83
5.4 Mulheres HIV protagonistas na (re)construção do GGSPHIV 91
5.4.1 GGSPHIV: espaço de acolhimento reconhecido por seus atores sociais 92
5.4.2 Necessidades a serem contempladas nos grupos: o que sugerem as
mulheres 95
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS 103
7 RECOMENDAÇÕES DO ESTUDO 108
REFERÊNCIAS 110
APÊNDICE A - Termo de Consentimento Livre e Esclarecido 117
APÊNDICE B - Roteiro de entrevista com as mães com sorologia positiva
para o HIV
119
ANEXO A- Aprovação da pesquisa pela Instituição 122
ANEXO B - Planilha de Controle das gestantes no grupo 123
16
1 INTRODUÇÃO
O interesse em abordar o tema, grupo educativo para gestantes
soropositivas para o Vírus da Imunodeficiência Humana (HIV), emerge do encontro
desta temática com o trabalho que realizo no Serviço de Assistência Especializada
em Doenças Sexualmente Transmissíveis
1
e Síndrome da Imunodeficiência
Adquirida de Porto Alegre (SAE/DST/AIDS/POA), onde exerço minhas atividades
profissionais há quatro anos.
Nesta caminhada, como enfermeira, tenho desenvolvido diferentes
atividades como, assistenciais a nível hospitalar e em saúde pública, docência e
atividades gerenciais. Em nenhum momento dessa trajetória profissional tinha tido a
oportunidade de cuidar mulheres em uma etapa tão significativa de suas vidas que é
a maternidade, apesar de ser um desejo que me acompanha desde a formação.
Sempre vivi com a utopia de que a gestação, para a maioria das mulheres, é uma
etapa de imenso prazer e felicidade, pois se traduz em vida e saúde. Isto me levava
a imaginar que trabalhar com essa clientela causaria menos sofrimento como
profissional de saúde. No entanto, desde que venho exercendo minhas atividades
profissionais em um serviço especializado em DST/Aids conheci outra realidade,
onde a gestação não é vivenciada com tanta tranqüilidade e felicidade, pois agrega-
se às apreensões naturais dessa etapa, as causadas pela situação de uma sorologia
positiva para o HIV, em que o processo gestacional é acompanhado por inúmeras
inquietações, destacando-se o preconceito, a possibilidade de transmissão para o
bebê e a própria preocupação com a saúde da mulher- mãe.
1
Conforme divulgado no Boletim Epidemiológico, v. 5, n. 21, nov. 2003, as DST são atualmente
denominadas de Infecções de Transmissão Sexual (ITS), no entanto no SAE mantemos a sigla
DST.
17
Entre as atividades que desenvolvo neste setor cabe-me a de coordenar um
dos grupos de gestantes soropositivas para o HIV. Esta atividade vem sendo
desenvolvida há mais de cinco anos e até o momento não foi realizado nenhum
estudo que busque conhecer as opiniões das, mães egressas do grupo, sobre esta
atividade, considerando ser um espaço de cuidado, aprendizado em que as
temáticas desenvolvidas estão diretamente relacionadas ao momento que estão
vivenciando.
O SAE/POA é um dos serviços que compõem o Centro Municipal de
DST/Aids. Foi inaugurado em 1996 e destina-se a atender crianças, adolescentes e
adultos infectados pelo vírus HIV e portadores de DST, referenciados dos diferentes
serviços de POA, grande POA e interior do Estado. Para o atendimento as gestantes
HIV positivas, proporcionado por meio de consultas individuais e grupos, este
serviço dispõe de equipe interdisciplinar
2
.
Esse serviço está estruturado de maneira que se possa garantir, com
prioridade, o acesso e acolhimento das gestantes e que o acompanhamento pré-
natal, inicie o mais precocemente possível. Toda gestante encaminhada ao serviço
é, inicialmente, atendida pela enfermeira em consulta de enfermagem e, a partir de
suas necessidades e disponibilidade do serviço, é encaminhada para consulta
médica e inserida em grupo de gestantes, conforme sua situação individual. A partir
da sua inscrição no serviço, esse acompanhamento lhe é oferecido durante o ciclo
gravídico puerperal, incluindo seu filho para definição da sorologia para o HIV, tendo
o seguimento com infectologista, ao longo de sua vida.
Com o objetivo de facilitar e garantir a participação das gestantes, tanto nas
consultas médicas mensais, como no grupo, essas atividades acontecem de forma
2
Essa equipe interdisciplinar compõe-se de infectologista, dermatologista, pediatria, neurologista,
ginecologista, obstetra, enfermeiros, psicólogo, fisioterapeuta, assistentes sociais, auxiliares de
enfermagem e estagiários de diferentes áreas (administrativos, enfermagem e serviço social).
18
articulada, ou seja, as consultas médicas ocorrem no mesmo dia dos encontros de
grupo.
Com a mudança do perfil da epidemia atingindo mulheres, principalmente
em idade fértil e com o incentivo da realização do teste anti-HIV, na rotina de pré-
natal, há um aumento significativo de mulheres que, na gestação se descobrem
soropositvas para o HIV. Este fato vem acarretando um aumento de gestantes
soropositivas para o HIV no serviço.
Em decorrência, a equipe percebeu a necessidade de criação de um espaço
que possibilitasse acolhimento e que favorecesse, de maneira coletiva, às gestantes
receberem as orientações necessárias a uma gestação soropositiva para o HIV.
Criou-se, então, a partir de 1998 os grupos de gestantes soropositivas para o HIV,
na busca de oportunizar um espaço de acolhimento e aprendizagem, fortalecer
vinculo ao serviço, compartilhar experiências, estimular a adesão ao seu tratamento,
e o cuidado da mãe e do bebê (PORTO ALEGRE, 2000).
O estudo realizado, por uma psicóloga da Instituição, sobre Fantasias de
Gravidez e Características Psicossociais de Mulheres no Binômio Gestação/HIV+,
muito contribuiu para a criação desses grupos (WEBER, 1998).
No atual contexto da AIDS, a feminização da epidemia surge como uma
temática que merece atenção, pois envolve a saúde da mãe e da criança. A
gestação por si só, na vida de uma mulher é um momento gerador de inúmeras
inquietações. A experiência vivida no SAE como enfermeira e coordenadora de um
dos grupos, mostrou que ser soropositiva para o HIV e gestante é um fato que, para
a maioria das mulheres, gera inquietações redobradas, desencadeando inúmeros
conflitos, medos, questionamentos, tornando-as extremamente sensíveis,
principalmente aos riscos do bebê e para o enfrentamento do preconceito existente
em relação à soropositividade para o HIV. Isto exige da gestante aceitação,
19
envolvimento, conhecimento, dedicação e, sobretudo, estímulo para mudança de
comportamento a fim de preservar sua saúde e evitar a transmissão materno-infantil.
Percebo, então, que entre os profissionais que compõem a equipe
interdisciplinar do serviço, o enfermeiro por características da formação e de sua
história, é um profissional que se diferencia na equipe de saúde, por disponibilidade
de acesso, de escuta, de vínculo e porque as ações educativas são inerentes ao seu
cotidiano. Daí, sem dúvida, ser um membro fundamental na equipe interdisciplinar,
capaz de auxiliar as pessoas que vivem com HIV/Aids.
Como enfermeira e coordenadora de um dos grupos de gestantes
soropositvas para o HIV, tem me inquietado o fato de não conhecermos como os
principais sujeitos envolvidos neste processo, estão percebendo esta atividade, no
enfrentamento da gestação com HIV, como também, no processo de aprendizado e
incentivo para mudanças de comportamento, importantes ao auto-cuidado e à
interrupção da cadeia de transmissão ao seu filho recém-nascido (RN).
Sendo o processo grupal uma atividade ligada à educação em saúde e esta
uma prerrogativa da enfermagem, creio que o ato de escutar as mães egressas do
grupo de gestantes soropositivas para o HIV possa enriquecer a organização dessa
atividade, bem como contribuir para aprimorá-la, como espaço de acolhimento,
vínculo, aprendizado e aquisição de novas atitudes saudáveis.
Estes questionamentos me incentivaram a realizar esta investigação.
20
2 OBJETIVOS
Ao realizar esta investigação com mães egressas do Grupo de Gestantes
Soropositivas para o HIV têm-se como objetivos:
a) conhecer as suas opiniões a respeito dessa atividade:
- como recurso de enfrentamento da gestação soropositiva para o HIV, parto
e puerpério;
- como estratégia na prevenção da transmissão materno-infantil.
b) Identificar aspectos que possam contribuir para aprimorar a atenção prevista.
21
3 REVISÃO DA LITERATURA
Neste capítulo, inicialmente contextualiza-se a trajetória da epidemia do
HIV/Aids desde a sua descoberta a feminização. A seguir, apresentam-se questões
relacionadas a gestantes soropositivas para o HIV e suas vulnerabilidades e
finalizando aborda-se a atividade grupal como estratégia de convivência e Educação
para a Saúde.
3.1 Contextualizando a epidemia do HIV/Aids: da descoberta à feminização
Desde o início dos anos 80 o mundo vem vivendo e convivendo com o
surgimento e os desafios, tanto para o mundo científico como para o contexto social
de uma nova doença, atualmente chamada “AIDS”.
A AIDS, hoje sabidamente uma decorrência da infecção por um vírus
chamado HIV, tem como veículo de transmissão o sangue, fluídos sexuais e leite
materno. Os primeiros casos de Aids foram descritos nos Estados Unidos em 1981,
quando um elevado número de pacientes adultos, do sexo masculino, homossexuais
e moradores de São Francisco ou Nova Iorque, começaram a apresentar
diagnósticos semelhantes como, Sarcoma de Kaposi, pneumonia por Pneumocystis
Carinii e comprometimento do sistema imune, o que levou estudiosos a concluírem
que se tratava de uma nova doença, de etiologia provavelmente infecciosa e
transmissível (BRASIL, 2003a).
22
Guimarães afirma que “o surgimento da Aids em todos os continentes fez
com que, em 1987, a Organização Mundial de Saúde (OMS), reconhecesse a Aids
como um problema de saúde mundial, uma pandemia” (2001, p. 20).
Desde o início dessa epidemia, até os dias de hoje, ou seja, nestes 25 anos,
diferentes momentos têm marcado sua trajetória. Inicialmente, identificada como
“câncer gay” e vinculada a homossexuais, usuários de drogas, pacientes portadores
de hemofilia, e profissionais do sexo. A este segmento da população foi atribuída a
culpa pelo surgimento da epidemia, configurando os chamados grupos de risco.
Essa denominação, responsável pelo preconceito, discriminação e estigma das
pessoas que vivem com o vírus HIV, perdura até os dias de hoje (BRASIL, 2002b;
RIO GRANDE DO SUL, 1998).
No início, a epidemia estava vinculada à morte e havia uma ampla
divulgação, mostrando pessoas emagrecidas, debilitadas e gravemente doentes. De
1986 a 1990, a epidemia passa a ter grande impacto social, suscitado pela
mobilização da sociedade civil e concomitante criação das organizações não
governamentais (ONG's). Esta pressão social incentiva o surgimento de programas
de controle e atividades preventivas com um olhar direcionado aos grupos de risco,
obtendo-se bons resultados e mascarando o crescimento da epidemia no restante
da população, ficando as mulheres bastante vulneráveis, o que veio a desencadear
aumento da infecção nesse segmento da população (MANN; TARANTOLA;
NETTER, 1993).
Desde o surgimento da epidemia, até 1986, a concepção que a vinculava
aos grupos de risco manteve-se inalterada, quando, a partir dessa época, constata-
se um crescente aumento de casos em mulheres, demonstrados por meio dos
boletins epidemiológicos de Ministério da Saúde, indicando uma mudança no rumo
da epidemia (BRASIIL, 2002b).
23
O final da década de 80 e a década de 90 ficaram marcados por
significativos avanços da ciência, com a descoberta de medicamentos capazes de
controlar a epidemia, denominados anti-retrovirais (ARVs).Esses medicamentos,
disponíveis nos serviços de saúde especializados, atuam, impedindo a reprodução
do vírus do HIV no ser humano.
A partir de 1996, com o surgimento de ARVs mais potentes e complexos, a
AIDS passa a ser considerada uma doença de caráter evolutivo crônico e
potencialmente controlável, havendo uma redução importante do número de óbitos,
de infecções oportunistas e aumento na sobrevida das pessoas que possuem HIV e
que têm acesso ao tratamento (BRASIL, 2000a).
Ao estudar a trajetória da epidemia da AIDS percebem-se modificações
importantes desde seu início até os dias de hoje, sendo as tendências atuais:
feminização, heterosexualismo, pauperização e juvenização. (BRASIL, 2002b).
Nesse estudo destaca-se a feminização por estar diretamente relacionada ao tema.
Na segunda metade dos anos 80, já havia no Brasil, notificações de
mulheres portadoras de HIV, contabilizando os dados brasileiros (BRASIL, 2002a).
No entanto, apenas em 1991, após a divulgação mundial de que o jogador de
basquete americano Magic Johnson havia sido infectado por meio de relações
heterossexuais iniciaram-se movimentos de sensibilização para que homens e
mulheres tomassem medidas preventivas contra a infecção pelo HIV.
A feminização da epidemia começa a ter visibilidade a partir da década de
90, atingindo principalmente as mulheres em idade fértil, caracterizada por
transmissão heterossexual, em mulheres com relacionamento estáveis retirando o
foco das profissionais do sexo e atingindo uma parcela da população teoricamente
fora dos "grupos de risco" (BRASIL, 2002a).
24
Segundo Arros (2003), as estimativas do Programa de HIV/Aids das Nações
Unidas e Organização Mundial da Saúde
3
revelam, em 2002, um total de 42 milhões
de pessoas vivendo com HIV/Aids, das quais 50% são mulheres, estando este
percentual também caracterizado nas mortes por AIDS e nas novas infecções pelo
HIV.
No Brasil, conforme dados estatísticos divulgados pelo Ministério da Saúde,
o número acumulado de casos de AIDS, deste o início da década de 80 até 2004 é
de 362.364. Desse total, 251.050 foram verificados em homens e 111.314, em
mulheres, sendo a faixa etária compreendida entre os 25 e 34 anos, onde se
concentram o maior número de casos em mulheres (BRASIL, 2004a).
Fazendo um recorte das notificações ocorridas no Brasil, verifica-se que, em
2001 dos 27.136 casos notificados 16.915 correspondiam ao sexo masculino e
10.221 ao feminino. Em 2002, dos 31.074 casos notificados, 19.291 correspondiam
ao sexo masculino e 11.756 ao feminino e em 2003, dos 32.523 casos notificados,
19.828 eram do sexo masculino e 12.698 do feminino. Estes dados mostram uma
tendência à estabilidade nos homens e o crescimento do número de mulheres
infectadas a cada ano. A transmissão ocorre predominantemente, pela via sexual,
perfazendo 86,2% dos casos notificados (BRASIL, 2004a).
Cabe salientar que a epidemia pelo HIV/aids vem crescendo
consideravelmente entre heterossexuais, sendo, a principal modalidade de
exposição ao HIV, desde 1993, para o conjunto dos casos notificados, superando
“homo” e “bissexuais” (BRASIL, 2003b).
Segundo Chequer,
[....] a epidemia de Aids no Brasil está num processo de
estabilização, embora em patamares elevados, tendo atingido em
2003, 18,2 casos por 100 mil habitantes. Esta estabilização é
observada apenas entre os homens. Neste grupo populacional foi
3
The Joint United Nations Programe on HIV/AIDS e World Health Organization (UNAIDS/WHO)
25
registrada, em 2003, uma taxa de 22,6 casos por 100 mil homens
menor do que a observada em 1998, de 26,3 por 100 mil. Entretanto,
observa-se ainda o crescimento da epidemia em mulheres, já que a
maior taxa de incidência foi observada em 2003:14, 0 casos por 100
mil habitantes (2004, p. 4).
Focalizando a epidemia, no Rio Grande do Sul, o número de casos
notificados no período de 1980 a 2003 é de 23.933, sendo que deste total, 11.190
estão no município de Porto Alegre.
Em 2003 foram notificados 2.123 casos; destes, 72% dos casos de adultos
eram residentes no município de Porto Alegre. Em relação às crianças, 52% eram
residentes no município de Porto Alegre e as demais em outras regiões do Estado
(RIGATTI, 2004).
Continuando a autora refere que nos primeiros três anos deste novo século
observa-se uma estabilização dos casos de AIDS notificados em Porto Alegre,
sendo registrado no ano 2000 1.155 casos; em 2001 1.154 casos; em
20021226 casos; e em 2003 1016. Ressalta que o decréscimo ocorrido em
2003 pode ser devido ao atraso das notificações .
Em Porto Alegre observa-se uma alteração marcante em relação ao perfil da
epidemia e modo de exposição, nos últimos 15 anos. No que se refere ao perfil, no
ano de 1991, o sexo masculino representava 85% dos casos, passando para 60%
em 2003 e as mulheres que representavam 15 % dos casos em 1991 passaram, em
2003, a representar 40% dos casos notificados. Em relação ao modo de exposição,
dessas mulheres, 24% ocupavam a categoria heterossexual, em 1991, passando
para 67%, em 2003. No que se refere à faixa etária, 65% delas estavam entre os 20-
39 anos (RIGATTI, 2004).
Dos casos notificados, em 2003, em Porto Alegre, “confirma-se a tendência
já evidenciada em anos anteriores no que se refere ao perfil da população e do
modo de sua exposição ao vírus” (RIGATTI, 2004, p. 4).
26
O aumento do número de casos de HIV/Aids entre mulheres, na proporção
de 1,5 homens para 1 mulher (1,5/1), e atingindo principalmente mulheres em idade
fértil, traz, como conseqüência, o crescente número de gestantes soropositivas para
o HIV e o aumento a suscetibilidade na transmissão materna - infantil do HIV
(BRASIL, 2004a).
Frente a este panorama da feminização da epidemia, o Programa Nacional
em HIV/Aids vem utilizando como estratégia para detecção da sorologia dessas
mulheres, a disponibilização, desde 1997, do teste para o HIV como rotina, no pré-
natal, a todas as gestantes que têm acesso aos serviços de saúde, no âmbito
nacional (BRASIL, 1996). Isto fez com que inúmeras mulheres que jamais se
pensaram soropositivas descobrissem seu diagnóstico, durante a gestação.
No ano de 2003, ingressaram no programa de pré-natal do SAE 165
gestantes sendo que 1 teve duas gestações no mesmo ano. Deste total 144
(87,87%) eram procedentes de Porto Alegre, 9 (5,45%), da grande Porto Alegre e 12
(7,27%) do Interior do Estado (PORTO ALEGRE, 2004).
A maternidade é caracterizada como um momento de crise do
desenvolvimento na vida da mulher, que surge naturalmente à semelhança de
outras crises como a puberdade e o climatério
(CARNEIRO; CABRITA; MENAIA,
2003).
Segundo Maldonado
(1997), o processo gravídico tem ou deve ter uma
valorização particular na vida da mulher. A gravidez, como fase da reprodução, não
abrange apenas a mulher, mas a criança que vai nascer, o pai envolvido e, da
mesma forma, a família mais próxima.
Moreto refere que:
a gestação, quando desejada, é um momento impar na vida de uma
mulher e geralmente traz muita felicidade e emoção. Porém, nem
todas as gestações são cercadas desta felicidade. Existem aquelas
consideradas de alto risco, que muitas vezes geram apreensão e
27
medo nas mulheres, devido aos danos irreversíveis que podem
causar na mãe e ao bebê (2001, p. 12).
A experiência anterior se refere às gestantes portadoras de Diabetes
Mellitus, mas considera-se que situação semelhante ocorre na gestante com
infecção pelo HIV, pois ambas são consideradas crônicas e de alto risco na
gestação e podem causar danos à mãe e à criança. Desta forma entende-se que
esta citação reflete também os sentimentos das mulheres que vivenciam uma
gestação positiva para o HIV.
A contaminação pelo vírus HIV via transmissão materno-infantil, também
denominada transmissão vertical, pode ocorrer durante a gestação, trabalho de
parto, parto e amamentação. A prevenção do contágio exige das gestantes inúmeros
cuidados em diferentes momentos do ciclo gestacional, considerando ser a gestação
com HIV de alto risco.
Conforme Anderson
[...] há um certo foco na gestação da mulher HIV positiva, em função
do potencial de uma dupla tragédia. [...] a primeira tragédia seria a
transmissão perinatal [...] e a segunda tragédia potencial é a da
criança não estar infectada, mas cuja mãe morre de AIDS (2000, p.
1).
Acredita-se que esta afirmativa vem sendo minimizada a partir dos inúmeros
avanços no tratamento da AIDS desde o início da epidemia até os dias de hoje, o
que tem proporcionado uma melhor qualidade de vida para as pessoas que vivem
com HIV/Aids, que têm acesso e aderem corretamente ao tratamento.
Cabe destacar a grande vitória obtida no campo da prevenção da
transmissão materno infantil nesta última década, onde diminui consideravelmente o
número de crianças infectadas pelo HIV, a partir de ações preventivas concretas, no
período gravídico puerperal e neonatal. Salientam-se os resultados obtidos a partir
do Protocolo 076 do Aids Clinical Trial Group, PACTG 076 - administração de
medicamento anti-retroviral durante a gestação, parto e para o RN nas primeiras 6
28
semanas - que mostrou uma eficácia na redução da transmissão vertical de 25,5% a
8,3%
4
. No entanto este regime é complexo e de alto custo, não sendo
disponibilizado em muitos países (LAMBERT; NOGUEIRA, 2002).
O Brasil tem implantado uma política de distribuição universal e gratuita dos
ARV, o que assegura às gestantes soropositivas o tratamento medicamentoso
adequado.
Em 1985, foi notificado, no Brasil, o primeiro caso de transmissão materno
infantil e até agosto 1999, já somavam 4.630, sendo que desses 40% foram a óbito
(VERMELHO, SILVA, COSTA, 1999). Esse fato se deve principalmente aos recém
nascidos infectados anteriormente à implantação do protocolo citado ou ainda
ocorrendo devido a dificuldades oriundas do acesso, quando, ainda hoje muitas
gestantes soropositivas não tem acesso ao protocolo.
O número de crianças brasileiras infectadas por transmissão materno-
infantil, desde o início da epidemia até junho de 2004, é de 9.122 casos. Ao analisar
estes dados, segundo categorias de exposição à transmissão materno infantil
representa 83,6% dos casos com forma de exposição conhecida (BRASIL, 2004a).
Ressalta-se que no período de 1998 a agosto de 1999 este índice superou
os 90% (BRASIL, 2001b).
Frente a estas constatações divulgadas pelo Ministério da Saúde e ao
alcance dos profissionais que atuam nos serviços de saúde, resta a reflexão sobre o
papel que se desempenha e a responsabilidade para a redução da AIDS na mulher
e na infância. Agrega-se a esse alerta a condição social de vulnerabilidade na qual a
mulher está exposta numa sociedade solidificada pelo poder masculino e de
exclusão social que é o que se assiste no País.
4
Este protocolo é considerado “top de linha” na prevenção da transmissão materno-infantil, conforme
referido recentemente no 7º Encontro Nacional sobre AIDS Pediátrico e 5
o
Simpósio Internacional
Pediátrico, ocorrido em novembro de 2003 em São Paulo.
29
3.2 Gestantes soropositivas para o HIV e suas vulnerabilidades
Após quase três décadas, o perfil epidemiológico dos portadores de
HIV/Aids vem sofrendo importantes modificações, a partir dos atores sociais
envolvidos.
Nesse sentido, compartilha-se com Habermas
5
(Apud MINAYO, 1998, p. 36),
ao dizer que a construção da compreensão dessa epidemia do final do século XX
trouxe também a necessidade de articular o conhecimento científico às exigências
do mundo da vida, ponto sobre o qual muitas disciplinas das ciências sociais e
humanas têm muito a dizer, pois trabalham prioritariamente com o entendimento da
lógica dos atores sociais.
Assim, diferentes grupos de pessoas passam a contabilizar os números da
epidemia. Com isso, passou-se a estabelecer, em um primeiro período da epidemia,
a denominação de "grupos de risco" para a infecção pelo HIV. Seguindo nessa
perspectiva, percebeu-se que essa denominação ainda não contemplava
integralmente os infectados pelo HIV e passou-se a usar a expressão
"comportamentos de risco" que as pessoas assumem, a fim de serem classificadas
como suscetíveis à infecção.
Todavia, atualmente se sabe que as constantes variações do perfil
epidemiológico da epidemia denunciam que não existem “grupos, situações ou
comportamentos de risco” que separam pessoas na infecção pelo HIV, pois se
constata que basta ser humano para estar exposto ao risco da infecção (SPRINZ et
al., 1999).
5
Habermas H. La Acción Comunicativa. Barcelona(ES): Editora Allianza; 1988.
30
Sendo assim, passou-se a utilizar o conceito de vulnerabilidade para
entender e discutir a infecção pelo HIV/Aids em nosso dia-a-dia. Segundo Ayres,
França Júnior e Calazans, o conceito de vulnerabilidade possibilita a avaliação
objetiva, ética e política, das condições de vida que submetem cada um que está
exposto ao problema e “os elementos que favorecem a construção de alternativas
reais para nos protegermos” (AYRES; FRANÇA JÚNIOR; CALAZANS, 1997, p. 21-
22). Este termo origina-se na advocacia, no entanto, torna-se fortemente visível com
a epidemia da AIDS a partir da década de 90, numa tentativa de retirar “o caráter de
culpabilidade individual, grupo de risco, comportamento de risco e se pensar numa
possibilidade mais coletiva”, mais abrangente de possibilidade à infecção pelo HIV.
Desta forma, entende-se como vulnerabilidade um conjunto de fatores que
favorece aos indivíduos a exposição ou agravamento de uma determinada situação
(BRASIL, 2004b).
A partir do desenvolvimento do conceito de vulnerabilidade, Ayres, França
Júnior e Calazans estabelecem:
três planos interdependentes de determinação e conseqüentemente
de apreensão da maior ou menor vulnerabilidade de indivíduos e de
coletividades à infecção e adoecimento pelo HIV, são eles:
comportamento pessoal ou vulnerabilidade individual; contexto social
ou vulnerabilidade social e Programa Nacional de Combate à AIDS
ou vulnerabilidade programática (1997, p. 25).
A mulher ocupa, historicamente, na sociedade, um lugar de desigualdade
em relação ao homem e esta desigualdade desencadeia inúmeras situações que a
torna mais vulnerável ao risco de infecção, adoecimento e morte pelo HIV.
Sendo assim, houve uma cegueira de gênero, ficando as mulheres
vulneráveis à infecção sem que isto tenha sido percebido, pois se imaginava ser a
relação estável e a família, um fator de proteção.
31
De acordo com Knauth (1997),
as mulheres, mesmo infectadas, pensam a
AIDS como uma doença do outro. Por meio da via de infecção, buscam diferenciar-
se desse outro associado à AIDS. Consideram-se diferentes, visto que se infectam
na própria relação conjugal. Desse modo, torna-se decorrente da condição social,
que pode ser de mulher, esposa ou mãe. Estabelece-se para elas, uma diferença
entre os infectados: os que procuraram a doença, homossexuais, prostitutas,
usuários de drogas e os que se infectaram legitimamente, mulheres com
relacionamentos estáveis.
Salienta-se que a feminização da epidemia, vem trazendo à tona questões
fundamentais ligadas a este lugar que historicamente as mulheres vêm ocupando na
sociedade, principalmente as que vivem em países em desenvolvimento, onde estas
questões se tornam mais evidentes. Sendo assim, se associarmos outra
característica atual da epidemia, que é a pauperização, e as questões de gênero,
encontra-se a mulher em um lugar de extrema vulnerabilidade.
Segundo Herrera e Campero (2002)
as relações desiguais entre homens e
mulheres, definidas por relações de gênero, e a sexualidade são, em nossa
sociedade, determinadas culturalmente, ou seja, caracterizam-se como modos de
distinguir e hierarquizar as pessoas, além de sua anatomia e fisiologia, mas por
representações, valores e discursos socialmente construídos.
Para tanto, a publicação do Ministério da Saúde explicita bem a teia
envolvida nas relações de homens e mulheres que interferem e salientam a mulher
como protagonista nas discussões sobre a epidemia do HIV, pois, segundo ela,
... a diferenciação anatômica e suas representações simbólicas -
percepção da oposição direta entre as noções de atividade (pênis
que penetra) e passividade (vagina que é penetrada) forjaram, a
partir de esquemas de valores culturais construídos, a noção do que
significa masculinidade, feminilidade e suas interações sociais e
sexuais (BRASIL, 2002a, p. 40).
32
Desta forma pode-se entender a vulnerabilidade feminina pelo HIV como um
conjunto de fatores de natureza biológica, epidemiológica, social e cultural que
classificam as mulheres em graus maiores ou menores de vulnerabilidade à
infecção, adoecimento e morte pelo HIV/Aids. Portanto, apresenta-se brevemente, a
seguir, cada uma dessas dimensões de vulnerabilidades, seguindo as idéias de
Herrera e Campero (2002):
Biológica - por sua estrutura biológica a mulher torna-se duas a quatro
vezes mais vulneráveis à infecção pelo HIV que o homem. Este fato ocorre devido a
mulher possuir superfície de mucosa vaginal mais extensa. Outro fator relevante
atribui-se às DSTs, freqüentemente assintomáticas nas mulheres, e as
possibilidades dessas serem uma porta de entrada para o vírus HIV. Cabe destacar
também que no sêmen há mais vírus que nas secreções vaginais, aumentando os
riscos.
Epidemiologica - geralmente mulheres jovens costumam se relacionar com
homens mais velhos e, conseqüentemente, submeter-se a relações sexuais
desprotegidas, por todas as questões tradicionais de gênero, que muitos estudiosos
vêm discutindo, nos últimos anos. Constata-se, também, que mulheres fazem mais
transfusões sangüíneas que homens, ao longo da vida, devido a possíveis
problemas relacionados ao seu aparelho reprodutor.
Social - os dados sócio-demográficos demonstram que, principalmente as
mulheres dos países em desenvolvimento - a realidade em que se vive - têm menos
acesso à educação e ao trabalho assalariado; isto faz com que, na maioria das
vezes, dependam de seus companheiros, gerando e confirmando dependência
masculina e, conseqüentemente, subordinação aos seus desejos e prazeres. Isto
pode ser apontado como um dos motivos que fragilize a mulher e a impossibilite, por
33
exemplo, de negociar o uso do preservativo e, conseqüentemente, proteger-se da
infecção e/ou reinfecção.
Cultural - Há uma expectativa de comportamento diferente nas relações
entre homens e mulheres; a mulher sempre se manteve num papel de aceitação,
subordinação, desencadeando atitudes sexuais e sociais diferenciadas a serem
desempenhadas entre homens e mulheres. Além do gênero, outras desigualdades
como: cor, condições sociais, econômicas, culturais, sexualidade e geração
perpassam a diferença de papéis entre homens e mulheres e conseqüente grau de
vulnerabilidade feminina.
Outras vulnerabilidades - nesta categoria encaixam-se mulheres que
estabelecem vínculos em lugares ou com pessoas com grau de vulnerabilidade
elevado, são elas: trabalhadoras da saúde, companheiras sexuais de pessoas com
práticas de risco, companheiras de homens soropositivos, abuso sexual, violência,
migrantes, privadas de liberdade. Destaca-se que quando estes fatores se somam
podemos dizer vulnerabilidades acumuladas, como por exemplo, as mulheres
migrantes que perdem suas referências e têm que tolerar inúmeras vulnerabilidades.
Além das vulnerabilidades já citadas, a descoberta da sorologia positiva para
o HIV desencadeia na mulher inúmeros conflitos, destacando as relacionadas com o
parceiro, como uso de drogas, traição, bissexualidade, o que se poderia definir como
vulnerabilidades psicológicas. Quando esta descoberta ocorre durante a gestação,
que por si só já é um momento impar na vida de uma mulher, os conflitos podem
potencializar-se por fatores vinculados ao vírus, desencadeando o medo do
adoecimento e da morte e, conseqüentemente, a possibilidade de o bebê ficar órfão
e a preocupação com quem irá cuidá-lo, como também a preocupação com os riscos
de transmissão do vírus para o bebê.
34
Outro fator relevante que se soma ao rol de vulnerabilidades já citadas são
as situações nas quais a gestante não compartilha o diagnóstico, chegando ao
extremo de não dividi-lo nem com o companheiro. Nestas situações, as gestantes
convivem com um segredo e necessitam achar caminhos para poder “esconder”
esse diagnóstico até o momento de se permitirem a revelação, vivendo na
clandestinidade. Apesar de toda evolução tecnológica que se acompanha em
relação à epidemia, pouco tem se evoluído em relação a possibilitar-se às pessoas
que convivem com este diagnóstico, um viver mais livre, menos oprimida e com
menos descriminação.
Promover um cuidado de saúde efetivo para as mulheres grávidas
soropositivas para o HIV apresenta-se para os, trabalhadores em saúde, envolvidos
nesta temática e para os formuladores/gestores de políticas públicas, como um
grande desafio, a ser enfrentado na busca de soluções eficazes, que priorizem, cada
vez mais, uma qualidade de vida digna às gestantes portadoras do HIV/Aids.
Diante da falta de perspectiva de mudança desse cenário em curto prazo,
cabe a criação de espaços, nos quais se torne possível compartilhar esta situação
com quem a está vivenciando, a fim de reduzirem-se vulnerabilidades, com o intuito
de, cada vez mais, caminhar-se para uma possibilidade de mudança nas "marcas"
deixadas pela epidemia do HIV/Aids na vida de seus protagonistas.
Dentro desse cenário é que se realiza o Grupo de Gestante Soropositiva para
o HIV, pois se compartilha e concorda com Serrano Gonzáles(1998), quando diz que
as ações coletivas, desenvolvidas a partir de atividade de grupo, possibilitam aos
sujeitos uma participação mais ativa e oportuniza reflexão das situações que estão
enfrentando, sendo entendido como um método bidirecional, enquanto as ações de
saúde desenvolvidas de forma individual, como pelas consultas, são consideradas
35
um método unidirecional, e os sujeitos nessas situações ocupam um lugar de
passividade, o que possibilita pouco espaço para reflexão.
3.3 Atividade grupal como estratégia de convivência e educação para a saúde
O aumento crescente do número de gestantes soropositivas para o HIV que
procuram o serviço, aliado à necessidade de condutas específicas destinadas à
manutenção da saúde da mulher-mãe, a evitar a transmissão do vírus para o bebê,
a complexidade do tratamento, e a necessidade de apoio neste momento tão
especial na vida dessas mulheres, fizeram com que a equipe interdisciplinar, que
constitui o serviço, se mobilizasse e criasse uma atividade destinada a responder às
demandas dessa clientela.
Ingressaram no programa de pré-natal do SAE, em 2003, 165 gestantes,
sendo que uma teve 2 gestações no mesmo ano. Em relação à adesão aos grupos
32 ( 19,3%) gestantes não participaram de nenhum grupo, 18 (10,9%) participaram
uma vez e 91 (55,1), participaram mais de três vezes (PORTO ALEGRE, 2004). A
equipe responsável pelos grupos de gestantes soropositivas para o HIV, preconiza
que para ter aproveitamento da proposta de trabalho oferecida nos grupos o ideal é
que a gestante participe de, no mínimo três encontros grupais.
A partir da experiência, percebeu-se que as gestantes chegam ao serviço
apreensivas e com inúmeros questionamentos desencadeados pela especificidade
de uma gestação soropositiva para o HIV, encontrando-se, portanto num momento
de crise. Entende-se também que compete aos serviços de saúde a disponibilização
de espaços que lhes possibilite refletir acerca dos lugares que ocupam, suas
36
condutas e comportamentos perante a vida, a fim de auxiliá-las a enfrentar esses
desafios e ultrapassar as barreiras emergidas com a feminização da epidemia.
Partindo desta realidade, acredita-se que a melhor estratégia para responder
às necessidades das mulheres seria a criação de um espaço que possibilitasse
trocas, exposição de seus conflitos, questionamentos, inquietações entre seus
pares, oportunizando-lhes a conviver com outras mulheres que se encontrem em
situações semelhantes, a fim de que juntas encontrem caminhos para enfrentar
estes momentos. Surgem então os grupos de gestantes soropositivas para o HIV,
atividade que vem ocorrendo regularmente, desde 1998.
Os trabalhos desenvolvidos com grupos configuram-se como um tipo de
estratégia para a Educação para Saúde (EpS) conforme Pichón-Riviére:
Grupo é um conjunto restrito de pessoas que, ligadas por constante
de tempo e espaço, e articulado por sua mútua representação
interna, se propõe de forma explícita ou implícita uma tarefa, que
constitui sua finalidade (1998, p. 234).
Acredita-se que espaços de EpS, conforme preconizado por Costa e López
6
(Apud PEDRO; MOSQUERA; STOBAUS, 1999, p. 44), são ”um processo planejado
e sistemático de comunicação e ensino-aprendizagem orientado a facilitar a
aquisição, eleição e manutenção das práticas saudáveis e a abandonar as práticas
de risco”.
Assim, cabe aos profissionais de saúde envolvidos nessa temática, criar os
espaços, que como o Grupo de Gestantes Soropositivas para o HIV, podem ser
utilizados como uma ferramenta para desenvolver processos de Educação em
Saúde.
O referencial teórico e metodológico, a seguir descrito, referente ao método
educativo do trabalho em grupo ao qual se estará ancorando como forma de
6
COSTA, E. LOPEZ, M.Educacion para la Salud. Madrid: Pirâmide, 1996
37
proporcionar ambiente propício para estudar nesta investigação, tem, como
referência, Serrano Gonzáles (1998).
A autora cita que, ao desenvolver programas de Educação para Saúde,
temos que nos preocupar como realizar a atividade a fim de que esta influencie os
processos dos envolvidos, provocando o desenvolvimento de condutas compatíveis
com a saúde. Estes programas devem ter uma metodologia de programação, com
planejamento organizativo e formas de atuação e intervenções sistemáticas, que
contemplem as necessidades dos participantes e os objetivos que se pretendem
atingir, evitando apenas a realização de intervenções ocasionais.
Desta forma entende-se que a atividade Grupo de Gestante vem sendo
estruturada de maneira a contemplar essas características, incluindo os cinco
princípios que a autora considera como essenciais em um processo de Educação
para Saúde: o princípio do significado, o da motivação, o do aprofundamento e
concentração, o da interdisciplinaridade, e o da clareza.
No princípio do significado, Serrano Gonzáles descreve que:
A oferta educativa é significativa para as pessoas se estiver
conectada com suas vivências atuais de seus problemas de saúde,
com sua trajetória cultural, com suas experiências com a doença.
Temos que ter sempre como ponto de partida as experiências das
pessoas, seus pontos de referências , seus atos e a partir disto
oportunizar uma reflexão e a construção de um processo educativo
(1998, p. 66) .
A atividade Grupo de Gestante HIV positiva realizada no SAE está
estruturada para acontecer a partir das inquietações / expectativas das gestantes e a
partir delas são desencadeadas as temáticas inerentes às peculiaridades do
processo.
As mulheres gestantes, ao se saberem soropositivas para o HIV precisam
desconstruir vários saberes, valores, condutas, tradições crenças que foram sendo
construídos desde sua infância, pois o diagnóstico exige esta desconstrução. Como
38
uma ponta deste “iceberg” podemos destacar a amamentação que, em nossa
cultura, é extremamente incentivada e que nas mulheres com infecção pelo HIV é
contra-indicada, pois é uma das formas de transmitir o vírus para o bebê .Também
podemos destacar a indicação do uso do preservativo, que para a maioria das
mulheres é percebido unicamente como método contraceptivo e não como um
método de prevenção de outras DSTs, bem como para evitar a reinfecções.
Assim, a mulher-mãe soropositiva para o HIV, necessita reconstruir suas
verdades, compreendendo os benefícios que terá com esta conduta. Dentro deste
contexto, faz-se necessária uma reflexão, que é facilitada pelo espaço grupal, com o
auxílio de um profissional, mas, sobretudo pela troca de saberes com outras
mulheres que se encontram na mesma situação, oportunizando que os
educandos/educados sejam eles próprios.
Serrano Gonzáles (1998) refere que pretendendo-se incentivar o grupo a
novas propostas é necessário saber estimulá-los a repensar sobre suas
experiências de vida e o problema atual, tencionando crescimento e capacitação; daí
ser nominado de motivação
. Deve-se colocar em crise o que sabem, oferecendo
novos questionamentos que os inquietem e os interroguem.
No princípio do Aprofundamento
e concentração, a autora afirma que as
mudanças de atitudes não ocorrem de uma só vez. Os temas e os comportamentos
devem ser retomados várias vezes no decorrer de um processo educativo,
incentivando o desencadeamento de reflexões, experiências e emoções. Sendo
assim:
este processo se desenvolve em sentido de um espiral que se
enriquece com os pontos de vista e aprendizagem de cada dia sobre
o mesmo problema, possibilitando novos estímulos ao constatar as
possibilidades que têm de ver como se 'colorean' os fatos de
diferentes pontos de vista e como se enriquece o conhecimento
desde a perspectiva do grupo (SERRANO, 1998, p. 67).
39
A cada encontro grupal são retomados os temas, conforme as necessidades
das gestantes e também contemplando os objetivos da atividade grupal, pois não se
pode perder o propósito do encontro. Neste sentido, entende-se que em cada
retomada acrescida da possibilidade de escuta das experiências de outras
gestantes, possibilita-se um compartilhar coletivo das dificuldades e facilidades ao
enfrentamento da situação, e essa troca pode funcionar como uma alavanca na
busca de novas alternativas ao enfrentamento da realidade que estão vivenciando.
O princípio da interdisciplinaridade diz que:
a maioria dos problemas de saúde requerem uma abordagem a partir
de distintas perspectivas porque os fatores desencadeantes são
diversos e estão inter-relacionados [...] o que se pretende assegurar
neste princípio é a coordenação de todos os pontos de vista
(SERRANO GONZÁLES, 1998, p .68).
Quando se trata da temática HIV/Aids isto não é diferente e podemos afirmar
que de certa forma está potencializado. Entre as dificuldades enfrentadas numa
gestação soropositiva para o HIV pode-se destacar o estigma, o preconceito, uso de
medicação para gestante e para o recém nascido, a negociação com o companheiro
sobre a prática de sexo protegido, a não amamentação, a inconformidade com o
diagnóstico e a revelação do mesmo, entre outros assuntos. Esta diversidade de
temas e a necessidade de abordá-los pensando na integralidade do ser, exige a
participação de diferentes profissionais. Sendo assim, os grupos estão organizados
de maneira que a coordenação e o desenvolvimento das atividades permitam a
participação interdisciplinar de forma harmônica e organizada, objetivando
contemplar as necessidades das gestantes e da atividade grupal.
O último princípio, o da clareza, como prenuncia, exige clareza de idéias ao
educador. O programa a ser desenvolvido deve estar de acordo com o interesse dos
participantes, ter coerência e continuidade e proporcionar trocas. Cabe ao
coordenador do processo ter domínio e clareza dos assuntos a serem desenvolvidos
40
durante as atividades. Para contemplar este princípio, há uma rotina na equipe que
prevê um encontro quinzenal dos coordenadores dos grupos, onde se revisam as
temáticas abordadas, num processo de educação continuada desses profissionais.
Retomando a atividade do Grupo de Gestante Soropositiva para o HIV, cabe
destacar que este foi planejado e estruturado pensando em auxiliar a estabilização a
saúde da mãe portadora do vírus HIV, tornado-se um espaço para além da terapia
medicamentosa. Como foi referido, os grupos são coordenados por uma equipe
interdisciplinar.
Segundo Villela,
interdisciplinaridade é o esforço de construção de um campo de
conhecimento que, situado na fronteira entre outros campos de
conhecimento e de ação, busca com esses estabelecer conexões e
continuidades até conquistar autonomia como um novo campo do
conhecimento (2004, p. 10).
Continuando a autora considera a AIDS como objeto complexo e desafiador,
que exige a construção de um campo de saber interdisciplinar onde ocorra a
participação de distintos saberes e de diversas dimensões da experiência humana.
Concordando com a afirmação acima, as coordenações dos grupos são
compostas por diferentes profissionais, entre eles, enfermeiros, assistente social,
psicóloga, auxiliares de enfermagem, fisioterapeuta, técnica em nutrição.
O grupo tem como objetivo oportunizar um espaço de acolhimento e
aprendizagem, fortalecer vínculo ao serviço, compartilhar experiências, estimular a
adesão ao tratamento e o cuidado da mulher-mãe e do bebê (PORTO ALEGRE,
2000).
Segundo Serrano Gonzáles,
em todo processo educativo existe um itinerário, uma caminhada que
permite chegar com o grupo às metas educativas. Para desenvolver
um método de educação para a saúde (EPS), é chave o conceito que
temos do ser humano e que saúde queremos recuperar (1998, p. 9).
41
Nesta perspectiva, a autora propõe uma metodologia que vem utilizando em
processos de Educação para Saúde onde tem conseguido bons resultados. Esta
metodologia acontece em três momentos e é denominada “A espiral do VJA –Ver-
Julgar-Atuar” onde, no Ver, observa-se a realidade, no Julgar, ocorre uma reflexão
crítica com formulação de problemas e no Atuar, ocorrem as ações de mudanças.
Desta forma entende-se que a atividade Grupo de Gestantes Soropositivas
para o HIV se desenvolve com características semelhantes a essa metodologia e a
seguir descreve-se cada momento vinculando-o com os momentos da atividade
grupal.
No “VER” deve-se observar a realidade, conhecer como o indivíduo está
percebendo o problema que vivencia suas crenças, seus valores, suas realidades,
pois todo o indivíduo traz consigo uma bagagem e para que ocorram trocas, deve-se
estar em sintonia com suas motivações. Segundo Serrano Gonzáles (1998, p. 71),
“o mundo axiológico e as informações prévias que temos determinam a forma de ver
as coisas e funcionam como um filtro informativo e determinam nossa aprendizagem
e posterior conduta”
Nesta etapa do trabalho, o coordenador/educador/facilitador tem um papel
de extrema relevância, pois deve potencializar a perspectiva de todos, iniciar a tarefa
educativa, criar um grupo de trabalho harmônico e coeso, conhecer as necessidades
formativas no terreno cognitivo e afetivo.
Para isto, deve-se dispor de uma dinâmica adequada que incentive o grupo
para o trabalho e que as temáticas desenvolvidas tenham significado para os
participantes. Sendo assim, utiliza-se uma metodologia do tipo dinâmica de oficina
para estruturar os temas abordados. O termo oficina é definido por Bueno, “lugar
onde se exerce um ofício [...] lugar onde ocorrem grandes transformações”
(OFICINA, 1996, p.
465). Assim define-se oficina nessa atividade, como o lugar no
42
qual se pensa sobre a vida nessa situação, sentindo-a para a busca de pequenas e
grandes transformações.
Ao considerar oficina como metodologia, Rena
(2001) define-a como uma
articulação de técnicas e estratégias, em uma postura pedagógica crítico-
transformadora, que viabiliza a dinâmica de grupo, oferecendo condições para
construção de consciência coletiva. O sentimento de pertencer a um grupo é
primordial para o enfrentamento do desafio que significa rever valores, atitudes e
normas da cultura, até então aceitos e introjetados.
Compartilha-se a idéia de Freire
(2001), quando diz que a educação faz
parte do ser humano por ser este um ser inacabado, e que a educação, não
necessariamente, se dá nos bancos escolares, sendo também nos serviços de
saúde locais que se pode e deve desenvolver esta práxis.
Corrobora-se com este pensamento e acredita-se que a realização dos
Grupos de Gestantes Soropositivas para o HIV propicia um espaço de troca,
aprendizado, estímulo à mãe para o autocuidado e a prevenção da transmissão do
vírus para o bebê e, este conjunto, como ações educativas que podem e devem ser
exercida entre pares que vivenciam situações semelhantes.
Esta etapa do ver é muito experencial, participativa, vivencial e oportuniza
compreender o mundo, a partir da realidade dos participantes. Cabe, nessa etapa,
identificar as resistências, pois geralmente quem mais resiste é o que mais necessita
e dificulta o aprendizado.
Dentro desta proposta, o coordenador tem um papel de facilitador,
incentivando todos a participarem, pois se não houver participação, não há
problematização, não ocorrem trocas e a interação necessária nessa etapa.
Na segunda etapa do processo metodológico de EpS que Serrano Gonzáles
(1998) denomina “JULGAR”, é onde ocorre a reflexão crítica, a formulação de
43
problemas. O educador realiza intervenções, responde aos questionamentos,
esclarece terminologias. Cabe ao educador/facilitador incentivar para que os
participantes tenham conhecimento mais objetivo da realidade que estão
vivenciando e construam autonomia no manejo da manutenção de sua saúde. A
tarefa é contextualizar tudo que foi expresso na primeira etapa.
Ao finalizar as atividades de um processo educativo, espera-se a aplicação
do que se aprendeu. Esta etapa a autora denomina “ATUAR”, realizar ações de
mudança, de comportamento, de atitudes, compromissos pessoais, desenvolvimento
de alternativas ao problema de saúde.
Serrano Gonzáles (1998, p. 73), diz que: “se quisermos desenvolver um
processo educativo em que se produzam trocas, temos que saber trabalhar com o
afeto, porque a força está no terreno afetivo. Onde está teu tesouro, aí está teu
coração” e afirma que é de grande importância o trabalho educativo em grupo, visto
que, a construção do conhecimento e a troca de idéias e atitudes são um processo
de interação social que influencia enormemente o contato com companheiros e as
opiniões dos outros.
Essas premissas reforçam a crença de que o Grupo de Gestantes
Soropositivas para o HIV no SAE, é um espaço no qual as mulheres se sentem
libertadas, pois estão num grupo de iguais, com os mesmos conflitos, os mesmos
segredos, as mesmas preocupações, as mesmas necessidades e naquele espaço
podem encontrar novos rumos e alternativas para o enfrentamento da situação que
estão vivenciando. Assim, acredita-se que a dinâmica vivida nos grupos incentiva-as
á reflexão, conscientização e as estimula a um processo de mudança fundamental
para a manutenção da saúde da mãe e do bebê.
44
4 METODOLOGIA
4.1 Caracterização do estudo
O estudo seguiu um delineamento exploratório descritivo, caracterizado por
Polit (1995) como um estudo cuja finalidade é o de observar, descrever e comprovar
aspectos de uma situação.
A metodologia contempla uma abordagem qualitativa. O interesse em
trabalhar o tema, nesta abordagem, se justifica por ser a palavra, matéria prima
deste método, que expressa a fala cotidiana e que possibilita, por meio de um porta-
voz, a transmissão do pensamento de determinados grupos sociais (MINAYO;
SANCHES, 1993).
4.2 Aspectos éticos
Considerando os aspectos ligados à ética em pesquisa, o projeto foi
encaminhado para apreciação do Comitê de Ética e Pesquisa da Secretaria
Municipal da Saúde (SMS), pelo protocolo nº 001.030567.04.1 com cópia para a
Coordenação do Centro de Saúde Vila dos Comerciários, solicitando autorização
para a realização da pesquisa.
Após aprovação da Instituição (Anexo A), as participantes da pesquisa foram
convidadas, utilizando-se o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido [(TCLE)
45
(Apêndice A)], para informá-las a respeito do estudo e firmar seu aceite na
participação da pesquisa.
O TCLE foi redigido em duas (2) vias, seguindo as Normas de Pesquisa em
Saúde, conforme Resolução nº 196, de 10 de outubro de 1996, do Conselho
Nacional de Saúde (BRASIL, 1996a). Uma cópia foi entregue às participantes do
estudo e a outra ficou com a pesquisadora.
Foi garantindo o anonimato e o direito de desistir da participação em
qualquer etapa da pesquisa, bem como de solicitar novos esclarecimentos e resolver
dúvidas decorrentes do trabalho.
O material produzido nas entrevistas será guardado pelo pesquisador no
mínimo durante cinco anos, atendendo diretrizes autorais.
Pelo fato de se conhecer o nível de compreensão e escolaridade das
usuárias do SAE, teve-se o cuidado de adequar o vocabulário do instrumento
planejado, a uma abordagem já aplicada no cotidiano do programa, a fim de facilitar
o entendimento das questões.
4.3 Campo de estudo
A investigação foi realizada no Serviço de Assistência Especializado em
DST/Aids de Porto Alegre (SAE/POA), por ser um serviço que desenvolve
sistematicamente grupos educativos com gestantes soropositivas para o HIV. Está
localizado no Centro de Saúde Vila dos Comerciários e vinculado à Gerência
Distrital Glória-Cruzeiro-Cristal, seguindo as diretrizes da Política Municipal de
DST/Aids. É o único serviço da Secretaria Municipal da Saúde que atende esta
46
especialidade e atualmente conta com aproximadamente 7.800 prontuários abertos
e em torno de 5.000 pacientes que consultam regularmente. A média de ingresso de
gestantes soropositivas para o HIV ao serviço é de 16 gestantes/mês.
Pela necessidade que as gestantes soropositas para o HIV tem de iniciar o
acompanhamento pré-natal o mais precocemente possível para que sejam
alcançados os benefícios desejados para si e para seu filho, a disponibilidade de seu
atendimento é prioridade e inicia-se assim que a gestante procura o serviço.
O atendimento é disponibilizado de segunda a sexta-feira, ininterruptamente,
das 8 horas às 18 horas.
No SAE, a composição interdisciplinar inclui três enfermeiras, sendo uma a
coordenadora do serviço. Em relação à atenção dispensada às gestantes
soropositivas, cabe à enfermeira o acolhimento a todas que forem encaminhadas ao
serviço, a coordenação do fluxo de todos os grupos e a coordenação de dois dos
quatro grupos, realizados mensalmente.
São disponibilizados quatro grupos por mês. Eles acontecem nas terças-
feiras e são assim denominados: o grupo da primeira terça-feira do mês, grupo A, o
da segunda terça-feira, grupo B, o da terceira terça-feira, grupo C e o da quarta
terça-feira, grupo D. Cada grupo desenvolve-se com uma média de 12 gestantes e a
participação de cada gestante no grupo ocorre uma vez ao mês. Desta forma é
possível atender em torno de 48 gestantes/mês em atividade de grupo.
Estes grupos são coordenados por técnicos de nível superior do SAE,
enfermeiro, psicólogo e assistente social, auxiliado por um acadêmico de
enfermagem ou pelo auxiliar de enfermagem. A coordenação dos grupos é fixa, mas
os componentes vão se alterando, pois quando a gestante tem o bebê, é desligada
do grupo, abrindo vaga para a entrada de outra. Esta proposta propicia que as
47
gestantes que estão há mais tempo no grupo, juntamente com a equipe, sejam
multiplicadoras das informações.
Cada atividade de grupo está planejada para acontecer em três momentos
distintos, visando sempre a contemplar os interesses das gestantes e os objetivos
educativos de proteção da mãe e bebê. Em todos os momentos opta-se por
trabalhar com dinâmica de oficinas e baseando-se na metodologia do ver/julgar,
onde se prioriza escutar as gestantes -ver- e a partir de suas colocações, o
facilitador realiza as intervenções necessárias - julgar (SERRANO GONZÁLES,
1998).
No primeiro momento, os facilitadores abordam uma temática pré-definida,
direcionada aos aspectos relacionados à transmissão materno-infantil do HIV. Estes
temas incluem: informações sobre o processo gestacional, utilização da profilaxia
com anti-retrovirais (ARV) na gestação, trabalho de parto, parto, e também para o
bebê, contra-indicação do aleitamento materno, sexualidade, cuidados com o recém-
nascido.
O segundo momento é desenvolvido primeiramente pela fisioterapeuta,
orientando as gestantes nas condutas que auxiliem a minimizar as queixas
relacionadas às modificações fisiológicas, comuns deste período e auxiliar na
relação mãe/bebê. A seguir a técnica de nutrição aborda as questões relativas ao
Projeto ”Nascer”, o qual garante alimentação artificial para os bebês de mães com
sorologia positiva para o HIV até o 6º mês de vida, em substituição ao aleitamento
materno.
O terceiro momento é de responsabilidade da equipe do Serviço Social que
esclarece os direitos de assistência à saúde, despertando na mulher-mãe o
compromisso com a busca e a garantia desses direitos.
48
Em todas as três etapas da atividade grupal são disponibilizados às
gestantes, espaços para manifestação e elaboração dos medos, ansiedades,
questionamentos e suas interfaces relacionadas ao HIV/Aids.
4.4 Participantes do estudo
Este estudo foi realizado com dez (10) mães portadoras de HIV/Aids,
egressas do grupo de gestantes, que já conheciam seu diagnóstico ou que
conheceram por motivo da gestação e que realizaram acompanhamento pré-natal
no SAE no período 2003/2004.
O número de participantes não foi definido previamente. As entrevistas
foram interrompidas quando os dados oriundos das entrevistas começaram a se
tornar repetitivos utilizando-se o critério de saturação.
As mães com possibilidade de participar do estudo devido os critérios de
inclusão foram identificadas preliminarmente a partir da planilha de controle de
freqüência das gestantes no grupo. Esta planilha é um documento administrativo
(Anexo B), utilizado sistematicamente para todos os grupos e onde cada
responsável registra a presença ou ausência das gestantes. As informações
registradas nesta planilha servem como subsídio para os encaminhamentos
necessários como: busca das gestantes faltosas, seus afastamentos dos grupos por
diferentes motivos como parto e abandono do grupo, bem como inclusão de novas
participantes no grupo.
Como critérios de inclusão estipularam-se: ter participado, no mínimo, de
três encontros do Grupo de Gestantes Soropositivas para o HIV; ter seu filho sob
49
seus cuidados e a criança estar na faixa do 0 à 6 meses e; estarem de acordo em
participar da pesquisa.
A captação das participantes ocorreu na ocasião da presença das mães no
SAE para sua consulta bem como para a consulta do bebê. Foram realizados alguns
contatos por telefone, onde a pesquisadora solicitava a presença da mãe no SAE e
realizava o convite. Em todas as situações em que houve deslocamento das mães
exclusivamente para a realização da entrevista foi-lhes fornecido vale transporte,
conforme estava previsto no projeto.
As entrevistas foram realizadas no dia do convite ou em outro dia conforme
sugeriam, respeitando as particularidades das mães.
A coleta de dados foi realizada entre agosto e outubro de 2004.
Com o objetivo de manter o anonimato das participantes do estudo foi
solicitado pela pesquisadora, no início da entrevista, que as mesmas escolhessem
um nome para serem chamadas durante a entrevista e identificadas no estudo. Os
codinomes escolhidos foram: Preta (M.1); Elizabeth (M.2); Fernanda (M.3), Kátia
(M.4); Ana (M.5); Vanessa (M.6); Andréia (M.7); Maria (M.8); Sol (M.9), Monika
(M.10).
A fim de identificar os participantes, durante a análise, a pesquisadora
utilizou-se dos seguintes códigos: M que significa mãe, seguida de algarismo arábico
que significa a ordem seqüencial das entrevistas. Ex. M1- primeira mãe entrevistada.
Para a discussão utilizou-se os codinomes atribuídos pelas participantes do estudo.
No Quadro 1, a seguir, apresenta-se algumas características das mães
participantes do estudo, oriundas da primeira parte da entrevista da pesquisa, por
entender que são informações relevantes para uma melhor compreensão de suas
falas.
50
51
4.5 Coleta e preparo das informações
A coleta das informações iniciou após qualificação do projeto por comissão
examinadora do programa de Pós-Graduação da Escola de Enfermagem da
UFRGS, aprovação do mesmo pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Secretaria
Municipal de Porto Alegre e da Direção do Centro de Saúde Vila dos Comerciários.
O projeto foi apresentado à Equipe do SAE, para que conhecessem a
pesquisa a ser realizada e para esclarecimento de possíveis dúvidas.
Foi utilizado como instrumento de coleta de dados a entrevista, seguindo um
roteiro semi-estruturado (Apêndice B). Para Minayo, a entrevista é um instrumento
privilegiado para a coleta de informações, pois torna:
[...] a possibilidade da fala ser reveladora de condições estruturais,
de sistemas de valores, normas e símbolos (sendo ela mesma um
deles) e ao mesmo tempo ter a magia de transmitir, através de um
porta-voz, as representações de grupos determinados, em condições
históricas, sócio-econômicas e culturais específicas (1993, p. 109).
O roteiro utilizado para coleta de dados foi elaborado e estruturado pela
pesquisadora, contemplando respectivamente: a caracterização das mães
participantes do estudo, as opiniões em relação ao grupo de gestantes soropositivas
para o HIV do SAE e sugestões/idéias que pudessem aprimorar o desenvolvimento
desses grupos. Com essas questões pretendeu-se responder aos objetivos da
pesquisa.
Previamente foram realizadas duas entrevistas como estudo piloto a fim de
testar a compreensão das questões e do Termo de Consentimento Livre e
Esclarecido, sua adequação à proposta do estudo e obter uma estimativa média do
tempo de aplicação do instrumento.
52
As entrevistas foram realizadas nas dependências do Centro de Saúde Vila
dos Comerciários, utilizando-se a sala de reuniões do SAE ou a sala de reuniões da
Política Municipal de DST/Aids, conforme a disponibilidade dos serviços, respeitando
sempre a privacidade e conforto das participantes do estudo e da pesquisadora.
Antes de iniciar a entrevista a pesquisadora apresentava-se para a
entrevistada como enfermeira do SAE e aluna do curso de Mestrado. Dava
explicações sobre o curso, sobre a pesquisa e os procedimentos da entrevista.
Esclarecidas estas questões, realizava-se a leitura e esclarecimentos sobre o TCLE,
colocavam-se as assinaturas, tanto da pesquisadora como da entrevistada e a
pesquisadora fornecia uma cópia do TCLE para a entrevistada.
Após estes procedimentos iniciava-se a realização das entrevistas, que
foram gravadas, com consentimento prévio das participantes do estudo. As
entrevistas foram transcritas, e posteriormente, analisadas.
4.6 Análise das informações
Para analisar as informações coletadas, optou-se pela análise de conteúdo
proposta por Moraes:
A análise de conteúdo constitui uma metodologia de pesquisa
utilizada para descrever e interpretar o conteúdo de toda a classe de
documentos e textos. Esta análise, conduzindo a descrições
sistemáticas, qualitativas ou quantitativas, ajuda a reinterpretar as
mensagens e a atingir uma compreensão de seus significados num
nível que vai além de uma leitura comum (1999, p. 9).
Seguindo as idéias desse autor não é possível realizar uma leitura com
neutralidade, constituindo-se, de certa forma, a análise de conteúdo como “uma
53
interpretação pessoal por parte do pesquisador com relação à percepção que tem
dos dados”.
As entrevistas foram todas realizadas pela pesquisadora, o que possibilitou
uma aproximação com os conteúdos respondidos.
Para operacionalizar a análise das informações seguiram-se as seguintes
etapas:
 Preparo das informações – Após a transcrição das entrevistas, o material foi
organizado em “mapas”, contento a pergunta da entrevista seguida das respostas de
todas as participantes da pesquisa. Nesta etapa Iniciou-se a codificação do material
a ser analisado onde se utilizou a letra M (mãe) seguido de número arábico iniciando
pelo algarismo 1, correspondendo à ordem seqüencial das entrevistas. Realizada
esta primeira etapa passou-se para a;
 Transformação do conteúdo em unidades – O material foi lido exaustivamente,
separando-se as unidades de significado e ampliando-se o processo de codificação.
 Classificação das unidades em categorias – Realizou-se o procedimento de
agrupar as unidades com semelhança, utilizando critérios semânticos, originando as
categorias temáticas. As categorias foram criadas seguindo os critérios de validade,
exaustividade e homogeneidade.
 Descrição – Nesta etapa realizou-se o primeiro movimento de comunicar os
resultados, obtidos a partir da categorização.
 Interpretação - Realizados os procedimentos anteriores passou-se a interpretar
os resultados obtidos, quando se buscou conhecer, a partir das categorias, os
objetivos propostos no estudo. (MORAES ,1999, p. 14-23).
As categorias resultantes da análise foram interpretadas à luz de referenciais
teóricos e da experiência da pesquisadora. As categorias emergentes da análise e
interpretação estão descritas a seguir.
54
5 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS
Neste capítulo apresentam-se as categorias emergentes após análise e
interpretação do material obtido nas entrevistas.
CATEGORIAS TEMAS
Vivenciando as adversidades de ser
mãe soropositiva para o HIV
Experienciando a concretude da
vulnerabilidade gestação x HIV
A possibilidade de estar gerando uma
criança com HIV: o centro de
preocupação das mães
HIV & gestação: sofrimentos
emocionais decorrentes
Ausência de possibilidade de
amamentar, como frustração na
completude de realizar-se como mãe
Situação ímpar de vulnerabilidade
materna
Situações de vulnerabilidade
institucional fortificam o preconceito e a
descriminação desencadeando
autoproteção
Grupo de gestantes soropositivas para
o HIV(GGSPHIV): espaço previlegiado
ao processamento de novos
conhecimentos e atitudes
A
busca e o encontro de um espaço de
convivência e de desvelamento do
“self”.
GGSPHIV: espaço de educação para a
saúde e estímulo à formação de
atitudes saudáveis
Mulheres HIV protagonistas na
(re)construção do GGSPHIV
GGSPHIV: espaço de acolhimento
reconhecido por suas atoras sociais
Necessidades a serem contempladas
nos grupos: o que sugerem as
mulheres
Quadro 2 – Categorias e temas emergidos na pesquisa.
Fonte: Dados extraídos da própria pesquisa, abril, 2005.
55
5.1 Vivenciando as adversidades de ser mãe soropositiva para o HIV
Há 24 anos, o mundo vem vivendo e convivendo com o surgimento e os
desafios, tanto para o contexto científico como para o social de uma nova doença,
atualmente chamada “AIDS”. A AIDS, hoje sabidamente uma decorrência da
infecção por um vírus chamado HIV, e tem como veículo de transmissão o sangue,
fluídos sexuais e leite materno.
A trajetória da Aids vem se delineando de diferentes maneiras, desde seu
surgimento. A partir de 1986 a epidemia começa a ter um novo rumo no que se
refere ao seu perfil, caracterizando-se, entre outros aspectos, pelo crescente número
de mulheres infectadas pelo HIV (BRASIIL, 2002b).
As mulheres, principalmente as com relacionamento estáveis, acreditavam
estar livres do contágio pelo HIV, por não pertencerem aos até então denominados
“grupos de risco”, categoria muito utilizada naquela época. Este fato fez com que
inúmeras mulheres se descuidassem da prevenção, desencadeando um
crescimento no número de mulheres infectadas pelo HIV (SPINDOLA; BANIC,1998).
Agregam-se a isto a falta de informação e as inúmeras situações de vulnerabilidades
inerentes às mulheres destacando a biológica e a social.
Por ser a Aids algo muito distante para as mulheres, a realidade da infecção
pelo HIV nesta parcela da população começou a ser conhecida a partir da morte do
companheiro ou com o adoecimento de um filho (GUIMARÃES, 2001).
A feminização da epidemia começa a ter maior visibilidade a partir da
década de 1990 e atualmente, segundo Brasil (2004d. p.1), “quase metade das
pessoas que vivem com HIV no mundo são mulheres e no Brasil, essa tendência
mundial se confirma”,
56
A maioria das mulheres atingidas encontra-se em idade fértil e
conseqüentemente pode aumentar o risco de gestantes infectadas pelo HIV. Esta
situação coloca em risco a saúde da mãe e do bebê, sendo, então, considerada uma
gestação de risco e que requer acompanhamento em serviço assistencial
especializado.
Na tentativa de diagnosticar o HIV em mulheres gestantes, objetivando
interromper a cadeia de transmissão na gestação e controlar a doença na futura
mãe, foi implantado pelo Programa Nacional em HIV/Aids, desde 1997, o teste para
o HIV como exame de rotina no pré-natal (BRASIL, 1996b).
Esta intervenção tem contribuído para diminuir o número de crianças
infectadas pelo HIV, que anteriormente era alarmante. Porém para as mulheres que
se descobrem soropositivas para o HIV, na gestação, ou mesmo para as que
engravidam conhecendo seu diagnóstico, o enfrentamento desta condição tem se
colocado como um momento singular na vida dessas mulheres.
Segundo Anderson “as questões ligadas à gestação são algo que deveria
ser dirigido à mulher antes dela engravidar [...], a gestação é um momento terrível
para descobrir que está infectada pelo HIV” (2002, p. 1).
Concorda-se com as afirmações acima, pois essa situação aconteceu
também com mães participantes do estudo, porém o planejamento das gestações é
algo ainda distante de nossa realidade, principalmente nas camadas menos
favorecidas da sociedade em que se vive. Conforme Brasil (2002b) é nessa
população que ocorre o maior número de casos da infecção pelo HIV, o que tem
caracterizado a pauperização da epidemia.
Por outro lado pode-se dizer que a nossa experiência assistencial e
educativa no SAE e também a pesquisa realizada, tem demonstrado que a rotina de
57
realização do teste do HIV na gestação tem contribuído para minimizar o
adoecimento das mães e de seus bebês.
5.1 .1 Experenciando a concretude da vulnerabilidade gestação x HIV
Mesmo que os dados apontem para a evidencia da feminização da epidemia
e que não esteja recomendada a classificação de grupos de risco, a grande maioria
das mulheres, principalmente as que consideram ter um relacionamento estável, não
se percebem ainda como vulneráveis ao adoecimento pelo HIV e conseqüentemente
descuidaram-se da prevenção pois acreditavam, até o momento da revelação do
diagnóstico, que a estabilidade nas relações lhes confira a segurança de não se
contaminar (PAIVA et al., 1998).
Ao se depararem com a concretude do diagnóstico tornaram-se perplexas
frente à nova situação, como expressou Preta, referindo-se à sua situação conjugal
e Andréia, por sentir-se fora de grupo de riscos.
Ah, eu, a gente se sente burra, porque fica pensando assim, pô
confiei num casamento de 9 anos, achei que não podia ter
acontecido nada comigo, mas daí que a gente vê que podia ter
evitado, chorei bastante (Preta).
Ah, fiquei apavorada, tinha vontade não sei nem de quê, não
acreditei né, eu pensei não, mas comigo [...] foi nessa gravidez que
eu descobri [...] no início eu botei muito na minha cabeça (Andréia) .
Pode-se perceber no que foi referido que estas mulheres confirmaram sua
incredibilidade de adoecer pelo HIV, expressadas por ter um casamento estável e
por não se sentirem vulneráveis aos riscos.
58
Segundo Knauth,
a dificuldade em acreditar que são realmente portadoras do vírus tem
duas razões principais: a ausência de qualquer sintoma que possa
ser percebido como uma doença e a não identificação com o perfil da
AIDS corrente no senso comum, tanto no que se refere aos “grupos
de risco”- tais como os homossexuais, drogados e prostitutas, como
no que diz respeito às manifestações - especialmente o
emagrecimento excessivo (1995, p. 378).
A partir da concretude da soropositividade, desencadearam-se nas
participantes do estudo, diferentes sentimentos que transitam desde a culpa até a
satisfação de estarem novamente grávidas e resgatar a gestação anterior quando os
cuidados para evitar a transmissão materno-infantil não foram realizados e culminou
com o óbito do bebê. A partir destas realidades surgiram reações singulares que
acompanhavam as atitudes dessas mulheres.
As falas de Kátia, Ana e Monika, revelam a idéia que tiveram de interromper
a gestação.
Eu me senti muito culpada pelo fato de depois de quatro anos [data
da última gestação], jamais passou pela minha cabeça engravidar de
novo [...], foi um choque muito grande eu pensei em fazer bobagens,
pensei em tirar, tomei remédio, tomei chá (Kátia).
Ah, eu queria tirar, mas eu não tive coragem, não tenho coragem,
falar é fácil, fazer é difícil, eu um pouco ficava feliz, um pouco ficava
triste era horrível, passei essa gravidez chorando, chorando por
causa disso, por causa da família dele (Ana).
Eu fiquei desesperada, eu não queria nem ter o bebê [...] eu cheguei
até a procurar uma clínica pra fazer um aborto [...], mas eu não tive
coragem, no começo foi muito triste(Monika).
Percebe-se que a culpa pela possibilidade de ser transmissora do vírus para
o bebê, desencadeou nestas mães vontade de abortar, no entanto não tiveram
coragem, pois o desejo da maternidade foi maior.
59
Segundo Dolto,
uma mulher grávida que não pode suportar sua gravidez, que quer
interromper o processo vivo, cujo desenvolvimento natural resultaria
no nascimento de um bebê, há uma rejeição das leis biológicas
naturais, mas há também um sentimento profundo, inconsciente ou
consciente, de culpa, que acrescenta um sentimento de
responsabilidade confusa diante de sua impotência social (1996, p.
245).
Com os avanços científicos na área da transmissão materno-infantil, a visão
e os riscos de gestação em mulheres portadoras do vírus HIV vem passando por
modificações, desde o início da epidemia.
Conforme Rossi,
no início dos anos 90 [...] a gravidez parecia contra-indicada, prin-
cipalmente em função do risco de transmissão do vírus ao bebê,
estimado em 20-40%, já que as drogas para o tratamento da
infecção não haviam sido testadas, eram recentes, e não havia
conhecimento se estas diminuiriam os riscos de contaminação pelo
vírus do parceiro e do bebê (2003, p. 14).
Identifica-se nas falas anteriores, que a visão de contra-indicação atribuída
às inúmeras conseqüências acompanhou as mulheres, explicitando também a falha
em relação ao aconselhamento reprodutivo para mulheres portadoras de HIV, pois
com os avanços ocorridos na área de prevenção da transmissão materno-infantil, o
fato da mulher ser HIV+ não é impedimento para que ela possa experienciar a
satisfação da maternidade.
No entanto a recomendação é que a gestação aconteça após ter sido
oferecida à mulher soropositiva para o HIV, uma reflexão abrangente, onde seja
abordada sua condição clínica e de tratamento, os riscos da transmissão vertical, o
desejo da maternidade, bem como as condições psicológicas e socioeconômicas
dessas mulheres. Isto proporcionaria que a gestação ocorresse em um momento de
estabilidade da doença da mãe oferecendo-lhe maior tranqüilidade (ROSSI, 2003).
Este conjunto de ações se refletem num aconselhamento reprodutivo ideal
para as mulheres portadoras do HIV, podendo minimizar as conseqüências para a
60
mãe e para o bebê. A efetivação do que lhes é preconizado poderia ser uma
realidade, se as futuras mães planejassem suas gestações e soubessem da sua
soropositividade para o HIV antes da gestação; no entanto pela experiência
vivenciada no SAE esta não é uma realidade, pois a grande maioria das mães
conhece seu diagnóstico durante a realização do pré-natal ou no momento do parto.
No discurso de Maria a seguir, percebeu-se que a falta de informação
gerando desconhecimento de cuidados necessários à gestação quando se é
portadora do vírus foi referida por um sentimento vivenciado.
Me senti muito mal assim, porque em primeiro lugar eu não tinha
todo o esclarecimento que agora eu tive [...] achei que seria uma
coisa muito mais grave, uma coisa que em tempos eu já ia
morrer(Maria).
Durante os primeiros anos da epidemia da AIDS, esta era percebida tanto
pelo mundo científico como pela população como sinônimo de morte. Segundo
Seffner,
Qualquer um de nós sabe que a morte existe e que um dia vamos
morrer. Entretanto, a partir de um resultado positivo no exame anti-
HIV, o indivíduo passa a conviver com essa percepção muito mais
próxima e presente, e esta situação estamos designando de “morte
anunciada” (2001, p. 385).
No entanto a partir do advento das medicações ARVs, a AIDS passa ser
uma patologia crônica, controlável desde que as pessoas tenham acesso ao
tratamento. Percebe-se que para a grande maioria da população a idéia de morte
vinculada a Aids ainda está muito presente. Este fato pode ser atribuído à falta de
informação sobre os avanços tecnológicos e as atuais perspectivas de viver com
AIDS.
Uma outra visão de morte vinculada à AIDS é a desencadeada pelo
preconceito, descriminação, isolamento e definida por Seffner (2001) como “morte
civil”. Este tipo de morte tem sua origem no início da epidemia por ser esta uma
61
patologia vinculada “às questões relacionadas a estilos de vida desregrados e atos
não aceitos pela sociedade” (COELHO, 2004, p.82.). Mesmo com todos os avanços
tecnológicos e passados 24 anos em que se convive com a epidemia, os portadores
de HIV/Aids vivenciam, em seu cotidiano, este outro tipo de morte, denominada
morte civil.
Como foi relatada por Maria, a falta de conhecimento lhe trouxe muita
preocupação e vinculou a AIDS ao conceito de morte, como preconizado desde o
início da epidemia, ao contrário de Fernanda que já conhecia seu diagnóstico e que
anteriormente já viveu uma experiência sem informação sobre os cuidados
necessários e agora nesta gestação buscou com um profissional informações.
Bom, dessa segunda gravidez já foi mais tranqüilo, mas na primeira
gravidez eu fiquei louca, apavorada porque eu pensei assim, bah, to
grávida e de repente vem uma criança portadora, essas coisa assim.
Aí fiquei muito preocupada, aí tive uma consulta com o médico aqui e
ele me explicou tudo, né? Que eu podia se me tratar, ter a chance do
bebê vir sadio ou não. Aí na segunda eu já tava tranqüila, sem
problema (Maria).
Sol relacionou a gestação atual como um momento de resgatar a gestação
anterior onde não se tratou e a criança faleceu. Relatou chorando:
[...] eu fiquei contente com essa gravidez, ao contrário da primeira
[...] porque a primeira coisa que eu pensei nesta gravidez, eu vou
poder fazer tudo o que eu não fiz na outra, [...] minha filha faleceu, ia
fazer um aninho, e nessa última eu tirei como se [...] eu fosse me
redimi da última gravidez, onde não tive todos os cuidados que eu
tinha que ter com a minha filha (Sol).
Um plano adequado de cuidados para lidar com esses sofrimentos requer
qualidade do relacionamento mantido entre o paciente e o seu cuidador.
[....] A qualidade curadora da relação terapêutica pode facilmente ser
enfraquecida ou ameaçada quando reações emocionais (negação,
raiva, culpa e medo) sentidos pelos pacientes [...] não são
adequadamente trabalhados. É claro que está no coração da relação
terapêutica entre pacientes e cuidadores o cuidado das necessidades
de relação e sentido, bem como de uma comunicação honesta e
verdadeira (CARE, Apud PESSINI, 2003, p. 33).
62
Torna-se evidente a necessidade de uma atenção especial a ser dispensada
a estas mulheres frente aos inúmeros desafios desencadeados a partir da
concretude do resultado do HIV.
5.1.2 A possibilidade de estar gerando uma criança com HIV: o centro de
preocupação das mães
Toda a mulher ao estar gerando um bebê, carrega consigo uma série de
preocupações inerentes a esse período de suas vidas. Na mulher gestante HIV+
agrega-se a possibilidade de estar gerando uma criança com problemas, ou seja,
portadora do vírus HIV. Sente-se culpada e responsável pela possibilidade de ser
ela a transmissora de uma patologia grave, incurável e sobretudo não aceita pela
sociedade.
Conforme Barbosa,
Os impasses ocasionados pela crescente progressão da infecção
pelo HIV entre as mulheres são sem dúvida, de grande magnitude e
complexidade e colocam em cena o problema de milhares de
crianças que estão sendo infectadas através de suas mães, sendo
que muitas delas já vivem ou viverão em situação de orfandade
(2001, p. 31).
Ao vivenciarem a realidade do binômio gestação x HIV, fez com que a
possibilidade de transmissão do vírus do HIV para seu filho se tornasse uma das
maiores preocupações dessas mães, quando não a principal, como nos explicitaram
as falas de Preta, Kátia, Andréia, Ana e Maria.
A única coisa que eu queria [era] que ela não se infectasse, então eu
passei por cima de tudo aquilo e vim fazer o tratamento, fiz tudo
direitinho, mas eu fiquei muito mal [...] eu queria era imunizar ela, eu
já é outra coisa (Preta).
[...] até pelo risco que o nenê corre e não por mim e sim pelo nenê
(Kátia).
63
O meu maior medo era dele ter problemas, nascer com problemas
alguma coisa, porque eu já tava com o problema HIV, meu maior
medo é transmitir para ele [...] ter uma criança com Aids, vou ser
aidética tudo (Andréia).
Eu me senti assim que ia vim uma pessoa inocente ali e eu tinha
isso [HIV] ela ia ter também, pensava assim, bah, eu vou estragar a
vida da minha filha por causa disso (Ana).
Eu fiquei muito, muito preocupada pela gravidez, com ele, porque eu
achei que não teria possibilidade de dar negativo, seria ele também
infectado (Maria).
Para Preta, Kátia, Andréia, sua saúde tinha pouca importância naquele
momento sendo seu grande desejo evitar a contaminação para o filho que estava
sendo gerado.
A mulher que está em um contexto familiar onde desempenha o papel de
esposa e mãe, geralmente prioriza atender às necessidades destes - marido e filhos
– sendo que o cuidado a si própria fica num segundo plano (DINIZ &VILLELA;
7
Apud
BARBOSA, 2001).
Percebe-se que para essas mães surge a consciência de um novo ser, de
um ser que está gerando uma nova vida suscitando-lhes a responsabilidade de
protegê-la contra o HIV.
Quando a consciência do ser surge na pessoa humana, o sentido de
sua vida se transforma radicalmente [...]. A pessoa humana adquire
nova força para enfrentar a existência. E a vida está sob o signo de
um novo compromisso e de uma nova profundidade (RIBEIRO, 2003,
p. 60-61).
Para Andréia e Sol, os sentimentos desencadeados não foram diferentes;
também manifestaram grande preocupação em relação ao bebê e isto se refletiu
inclusive com a adesão aos medicamentos, sendo que durante a gravidez não
mediam esforços para seguir o regime medicamentoso; já fora da gravidez, nem
tanto.
7
DINIZ,S. & VILLELA,W. “Interfaces entre os Programas de DST/AIDS e Saúde Reprodutiva: o caso
brasileiro” In: Parker,R.Galvão,J. e Bessa.M.S. (orgs) . Saúde, Desenvolvimento e Política: respostas frente a
Aids no Brasil. Rio de Janeiro. ABIA; São Paulo: Ed 34,1999 (pp.123-176)
64
Tenho que tomar os medicamentos a risca. Claro, tem vez que eu
me atraso uma meia hora, dez minutos, mas na gravidez dele não,
era sempre ali atualizado, se eu estava no ônibus, eu tomava, não
queria nem saber se estavam olhando, tomava a seco às vezes, [ ...]
Mas agora não, espero descer do ônibus, [ ...] mas nunca deixei de
tomar um dia, meu medicamento (Andréia).
Eu admito que sou rebelde, em relação a adesão à medicação, mas
na gravidez, não [ ...]. Não é só eu que to com AIDS, é outra vida que
tá em minhas mãos, sou responsável por outra criaturinha. Então, ah,
na gestação tenho que seguir certinho o meu tratamento (Sol).
O Brasil tem uma política de atenção aos doentes de AIDS que inclui a
distribuição de Antiretrovirais (ARVs) em todas as situações em que há indicação.
Segundo Brasil,
a taxa de transmissão vertical do HIV, sem qualquer intervenção,
situa-se em torno de 20% No entanto, diversos estudos publicados na
literatura médica demonstram a redução da transmissão vertical do
HIV para níveis entre zero e 2%, se forem realizadas as intervenções
indicadas (2004b, p. 3).
Entre as intervenções necessárias para a diminuir os riscos de transmissão
materno-infantil está o uso de medicamentos durante a gestação, parto e para o
bebê. Os resultados nos índices dessa transmissão irão depender, em parte, da
adesão aos medicamentos.
No SAE, por ser um serviço destinado a atender a essa clientela seguem-se
as orientações padronizadas pelo Ministério da Saúde. A disponibilização dos ARVs
resolve parcialmente o problema, que é o de garantir acesso aos pacientes que tem
indicação de tratamento. Entretanto entre a disponibilização e a adesão existe uma
lacuna, colocando-se a adesão aos ARVs como um grande desafio a ser vencido,
atualmente. Este fato pôde ser percebido nas falas de Andréia e Sol. Cabe salientar
que a adesão é influenciada por inúmeros fatores em que se destacam, preconceito,
discriminação, efeitos colaterais, desconhecimento das normas terapêuticas, entre
outros.
65
5.1.3 HIV & gestação: sofrimentos emocionais decorrentes
A gestação na vida de uma mulher é geralmente caracterizada por uma fase
de extrema fragilidade emocional, cercada por expectativas, fantasias, medos e
quando acompanhadas pelo HIV, estas apreensões podem potencializar-se. Frente
a esta situação ímpar e particularmente sensível em suas vidas, faz-se necessário
que se sintam apoiadas por diferentes segmentos: serviços de saúde, sociedade, e
sobretudo a família. Conforme afirmam Spindola e Banic, “ser mãe portadora do HIV
é percebido pelas mulheres como um momento único, diferenciado, no qual
necessitam de apoio e compreensão de familiares e amigos para conseguirem
superar as dificuldades inerentes à situação vivenciada” (1998, p. 108).
Destacamos a família por concordar com Penna
8
Apud Silva quando diz que:
uma família saudável une-se pela afetividade, tem a liberdade
de expor sentimentos e dúvidas, debatendo e aceitando as
individualidades bem como enfrenta crises e conflitos, apoiando
não só seus membros, mas também pessoas significativas. A
família saudável atua em seu ambiente, interagindo
dinamicamente com outros cidadãos e famílias, trocando
experiências e construindo uma história familiar e social
(SILVA, 2003, p. 17).
Entretanto evidenciamos, neste estudo, diferentes sofrimentos emocionais
decorrentes a partir da confirmação do diagnostico do HIV. Apesar de ser
fundamental o apoio da família neste momento, não foi o que ocorreu na experiência
de Kátia, Elizabeth e Maria.
Kátia sofreu com a recriminação familiar conforme expressou em sua fala:
[ ..] minha família no começo ficou muito contra mim também. Todo
mundo ficou contra mim pelo fato de já ter um filho, ta vivendo uma
vida, trabalhando, tendo as minhas coisas, tendo tudo o que eu
quero e engravidar de novo. Porque um filho é um filho, não adianta,
[...] ainda mais na minha situação, mas agora está tudo bem (Kátia).
8
PENNA, C.M.M. Família saudável: uma análise consentual. Texto e Contexto Enfermagem, Florianópolis,
v.1, n.2, p.89-99, jul/dez.1992.
66
Elizabeth vivenciou a exclusão e o desamparo familiar:
[...] quando descobriram que eu estava grávida, elas me correram de
casa, elas não me quiseram, eu não tive apoio nesta parte [....] as
minhas irmãs, principalmente [....] , e como a minha mãe vai muito
pela opinião dos meus irmãos, eu não pude fazer nada. Eu tive que
alugar umas peças e morar sozinha, eu e o meu filho sem ser o mais
velho o de 19 anos (Elizabeth) .
E Maria enfrentou a gestação, o HIV e a falta de seu companheiro...
Logo que eu descobri a gravidez e que estava com HIV, eu já não
tava mais com ele (Maria) .
Percebe-se que os sofrimentos sentidos pelas mães nesta fase vão além da
dimensão física, comumente manifestadas no transcurso da Aids, pois interferem
nas esferas familiares e socias, cerceando a liberdade e autonomia da gestante e
requerendo que sejam criados novos caminhos possíveis de viver na
clandestinidade, guardando o segredo de ser soropositiva para o HIV.
O uso de medicamentos durante a gestação, parto e para o bebê nos
primeiros 45 dias de vida faz-se indispensável como conduta para minimizar os
riscos de transmissão do HIV para o bebê. No entanto para aquelas mães que não
compartilham o diagnóstico, o uso do medicamento pode ser um fato revelador
deste. Isto faz com que as mães que desejam encobrir sua condição sorológica
criem maneiras de manter-se na clandestinidade. É o que expressou Monika em sua
fala:
Os vidros dos medicamentos estão sempre bem escondidos, não
deixo em armário onde as pessoas possam ver. Às vezes eu vou a
algum lugar eu dou uma disfarçada uma coisa e não deixo nem
mesmo na casa da minha mãe, não deixo que ela veja (Monika).
Ana, que teve que conviver com o segredo em relação à família do marido,
utilizava-se do choro para se sentir mais aliviada:
Eu tinha medo que a família dele descobrisse. Até hoje eu tenho
medo que descubra, né, e não sei o que vai ser de mim [...] Eu tinha
que guardar tudo isso comigo. Assim é muita coisa, né? [...] Eu tinha
que chorar para passar um pouco (Ana).
67
A necessidade da realização do tratamento em um serviço especializado
também é uma realidade que gera ansiedade, pois sentem-se apreensivas pela
possibilidade de encontrar conhecidos e isto ser revelador do diagnóstico, conforme
disse Sol:
Às vezes no grupo uma conta: porque meu marido tá assim ou assado
em relação a minha gravidez, ou o meu não sabe que eu sou soro
positivo e eu tô grávida. E agora? Vários fatos assim, que apareceram,
da família não saber que é soropositiva e tá ali, fazendo tratamento de
gestante e o medo que algum conhecido apareça ali, enfim (Sol).
Os autores Ayres, França Júnior e Calazans referem-se ao termo
vulnerabilidade “como um modo de avaliar ética e politicamente as condições de
vida que tornam cada um de nós expostos ao problema e os elementos que
favorecem a construção de alternativas reais para nos protegermos” (1997, p. 21).
Os sofrimentos referidos por estas mulheres apontam o contexto social no qual
estão inseridas como desencadeador de inúmeras condições de vulnerabilidade,
prejudicando sua qualidade de vida, dificultando e interferindo na adesão ao
tratamento, no viver em sociedade entre outras questões.
Nossa prática profissional em assistir essas mulheres nos mostra que estas
dificuldades desencadeadas pelas circunstâncias de vulnerabilidade social por ser a
AIDS uma patologia “impregnada” de preconceito e discriminação se colocam como
um dos grandes desafios a ser vencido no atual contexto da epidemia. Embora
conhecidos os inúmeros avanços tecnológicos em relação ao tratamento da AIDS,
percebe-se que ainda estamos longe de ser esta uma patologia aceita socialmente e
que permita que as pessoas soropositivas revelem sua condição com tranqüilidade.
Estas situações de insegurança em relação à revelação do diagnóstico em
momentos em que as mães não se sentem preparadas, as acompanham também na
internação, como nos revelou Preta:
68
Eu estava muito insegura no hospital, morrendo de medo. Qualquer
doutor ou enfermeira que chegava perto de mim, eu ficava nervosa,
[....] tinha muito medo que alguém descobrisse (Preta) .
O tratamento oferecido por alguns profissionais também foi referido como
motivo de sofrimento durante a hospitalização como referiu Kátia:
Tem enfermeiras que chegam em ti, conversam, te tocam assim
como tu fosse uma pessoa normal como qualquer outra. Agora, tem
umas que já chegam te olhando com uma cara como se tu fosse
menos que outra pessoa, sabe? Então isso dói em quem tem HIV,
porque acho que só quem tem HIV sabe a dor que é (Kátia).
Nas perspectivas dessas mulheres há discriminação na comunicação visual,
o que demonstra o desrespeito de sua integridade como pessoas. O HIV enfraquece
a relação dos profissionais com as mulheres e intensifica o isolamento que já se
auto-infligem, diminuindo cada vez mais sua qualidade de vida e dignidade humana.
Ferreira, ao apontar e refletir sobre princípios da bioética e a vida humana,
cita que:
a bioética veio ajudar a enriquecer o verdadeiro mundo da saúde que
quer humanizar os seus profissionais, os ambientes de saúde e os
pacientes que tem direitos inalienáveis. Por isso, a participação dos
profissionais da área da saúde no universo da bioética é fundamental
(2003, p. 122).
5.2 Ausência de possibilidade de amamentar como frustração na completude
de realizar-se como mãe
A concepção da melhor forma das mães alimentarem seus filhos tem sido
influenciada e variou enormemente a partir de diferentes contextos históricos, sociais
e culturais, transitando entre ama de leite, incentivo ao aleitamento artificial,
aleitamento materno.
69
Nas últimas décadas o que vem sendo preconizado e valorizado é o
aleitamento materno exclusivo, fortemente divulgado por campanhas de incentivo a
esta modalidade, principalmente nos países em desenvolvimento, onde está incluído
o Brasil. O incentivo ao aleitamento materno ressurge após um período em que foi
amplamente valorizado o uso de mamadeira, o que resultou no aumento dos índices
de mortalidade infantil, atingindo principalmente as camadas menos favorecidas da
população (BARBOSA, 2001).
Entende-se e compartilha-se todos os benefícios do leite materno, tanto do
ponto de vista nutricional como afetivo, mas, por outro lado, cabe lembrar que a
mesma camada da população que sofreu com a mortalidade infantil a partir do
incentivo do uso da mamadeira é a mesma que esta sendo atingida pela
feminização da epidemia da AIDS, o que é caracterizado pela pauperização e onde
o aleitamento materno é terminantemente desaconselhado por ser fonte de
contaminação do vírus.
No entanto, o incentivo e a cobrança para o aleitamento materno,
independente da situação individual de cada gestante, são o que se mantém vigente
nas diferentes instâncias, onde podemos citar a família, os serviços de saúde sejam
eles unidades de saúde ou maternidades e a mídia. As mães são cobradas
intensamente para que amamentem seus filhos, inexistindo qualquer referência à
parcela da população que está impedida desse ato por colocar seu filho em risco.
Segundo Barbosa “a mulher que por qualquer razão não pode ou não consegue
amamentar, sente-se culpada e incapaz enquanto mãe” (2001, p. 157).
Frente à impossibilidade de amamentar e as cobranças socioculturais do
contexto no qual estão inseridas, desvela-se para as gestantes HIV+ mais uma
dificuldade entre as inúmeras que tem que enfrentar.
70
5.2.1 Situação ímpar de vulnerabilidade materna
A ausência de possibilidade de amamentar é um sentimento fortemente
expressado pelas mães como frustração na completude do vínculo materno.
Apesar de a cada dia a feminização da epidemia atingir mulheres em idade
fértil e conseqüentemente estar aumentando o número de gestantes portadoras do
HIV, e ser o leite materno um veículo de transmissão do vírus, a construção social, a
sociedade, a mídia, ainda “cobram” como indispensável a amamentação no seio
materno para desenvolvimento saudável da criança e como pré-requisito para ser
uma boa mãe. Isto faz com que o ato de não amamentar “possa representar uma
decisão extremamente difícil para a maioria das mulheres” (Barbosa, 2001. p. 34).
As falas de Elizabeth, Kátia, Ana e Vanessa, expressaram seus sofrimento
ao se confrontarem com a realidade da impossibilidade de amamentar seu filho no
peito pelo fato de ser mãe e portadora do HIV.
As companheiras de quarto na maternidade perguntavam, porque
que tu não está amamentando o teu nenê e eu disse eu não posso
amamentar. Aí teve uma que era bem novinha 20 anos perguntou,
insistiu, daí eu disse, olha eu sou soropositiva e eu não posso
amamentar (Elizabeth).
Ela já tava na hora de mama e não vinha a mamadeira e as outras
tudo dando de mama no peito, e ela chorando de fome, ah aí eu abri
o choro (Kátia).
[....] Eu enfaixava e a enfermeira disse para mim fazer compressa
com gelo [....], e foi aliviando mas encheu muito, escorria leite, então
é uma coisa que dói muito, saber que está ali ,que tu está cheia de
leite e tu não pode dar mama para o teu filho (Ana) .
Eu queria engravidar e saber que não podia dá mama, isso que foi
um susto, eu até chorava, dizia ah! quanto tempo querendo
engravidar [....], e não poder dar de mamar. É uma coisa triste para
mim, mas tem que fazer (Vanessa).
71
Perante esta impossibilidade, as mães criaram manobras para minimizar
esta frustração e conviver com outras mães que vivenciam outra realidade, ou seja,
que amamentam seus filhos no seio e também para seus familiares.
Vanessa, Andréia e Maria, durante a hospitalização compartilharam o quarto
com outras mães. As mães impossibilitadas de amamentar têm que suportar as
rotinas dos hospitais que nem sempre estão de acordo com as necessidades de
alimentação do seu bebê. Estes fatos fizeram com que elas criassem manobras para
enfrentar esta dura realidade conforme exemplifica Vanessa que resolveu esconder
as mamadeiras, para poder suprir as suas necessidades e de seu filho independente
da rotina do hospital, como relatou:
Na maternidade, às vezes trocava de parceira do lado, elas ficavam
perguntando, ah, coitadinha da tua filha fica chorando quer mama.
Porque às vezes a mamadeira demorava, daí às vezes eu até
escondia o que sobrava das mamadeiras porque eu não queria que
ela chorasse (Vanessa).
Maria apoiou-se na necessidade da internação de seu filho na UTI como
uma maneira de disfarçar a impossibilidade da amamentação e disse:
O bebê estava na UTI, não estava comigo, então as companheiras
de quarto achavam que eu estava com aquela faixa e que eu não
estava amamentando porque ele estava na UTI (Maria).
Andréia utilizou como artifício a justificativa de estar anêmica, por ser esta
uma patologia socialmente aceita.
Os familiares perguntaram, por que mamadeira? Ah, porque eu tive
anemia muito forte, não pude amamentar por causa disso (Andréia).
Monika teve seu parto em um hospital no Interior. Este tem como rotina
colocar as mães portadoras de HIV em quarto separado. No entanto percebe-se em
sua fala que o fato de não estar compartilhando o mesmo quarto com outras mães
não evitou que tivesse que criar artifícios para justificar a não amamentação,
conforme expressou:
Para as outras mães não me perguntarem porque eu não
amamentava eu fiquei num quarto sozinha. Não tinha como eu ficar
72
com outras mães ali e elas verem eu dando mamadeira. Para os
familiares eu disse que eu tinha problema de pressão, que eu tive
que tomar medicamento e que esse medicamento não deixou que eu
criasse leite [....].Coloquei uma camiseta grande para ficar tampando,
para que ninguém percebesse que o peito estava cheio, para não
perguntaram: tem leite e não dá para o nenê (Monika).
Percebe-se que em ambas as situações, tanto para as mães que
compartilharam quarto com outras mães, como para as que permaneceram num
quarto sozinha, a impossibilidade da amamentação gerou sentimento de angústia,
desconforto, discriminação e muito sofrimento.
5.2.2 Situações de vulnerabilidade institucional fortificam o preconceito e a
discriminação desencadeando auto-proteção
Os constrangimentos com a não amamentação, não são desencadeados
exclusivamente pela convivência com as companheiras de quarto e com os
familiares. O despreparo de alguns profissionais que ainda perseguem a questão do
leite materno como única fonte de alimento para os bebês, certamente
desencadeado por não estarem familiarizados com a epidemia e com os riscos da
amamentação nestes casos, geram condutas inadequadas que também são motivos
de sofrimento conforme nos falou Maria:
As enfermeiras me ataram, para facilita que eu não tivesse leite, me
deram remédio (Maria).
Enfaixar as mamas e o uso de medicação (BRASIL, 2004d), são condutas
preconizadas para diminuir a produção do leite materno e minimizar os desconfortos
causados às mães impossibilitadas de amamentarem seus filhos no seio.
73
No entanto, percebe-se pela fala de Maria que não são todos os profissionais que
estão apropriados destas condutas.
Só que tinha algumas enfermeiras, eu não sei se era um pouco de
má vontade ou o que que era [....]. Elas chegavam lá e perguntavam,
porque que eu tava amarrada. Daí as outras [as companheiras do
quarto] entravam no quarto e ficavam tudo de orelha em pé, e eu
disse: ah, eu não posso amamenta.
Entende-se que frente à mundialidade da AIDS e suas formas de
transmissão essa conduta deveria ser de conhecimento dos profissionais que
circulam nas maternidades; no entanto, continuando a fala de Maria, percebe-se a
falta de sensibilidade e de capacitação de alguns profissionais e a necessidade de
universalidade desta informação, a fim de que algumas condutas não sejam mais
um motivo de sofrimento para as mulheres.
Mas por que tu não pode amamenta? Daí eu tinha que dizer que era
HIV+ e não podia amamentar, daí cada troca de plantão era assim,
[....] eu acho que não liam o prontuário e me mandavam ir no banco
de leite estimular [a produção de leite materno] (Maria).
Percebe-se que mesmo tendo tido divergências nas orientações que
recebeu de diferentes profissionais, o fato de ter recebido, no grupo, a orientação da
contra-indicação do leite materno para a sua situação, tinha convicção da conduta a
ser tomada e conseguiu mantê-la.
E eu dizia: se não é para mim amamentar porque eu vou estimular
[....] eu sabia que não podia amamentar e como é que eu vou
estimular, mas era o que elas mandavam eu fazer(Maria).
Ao contrário de Maria, Sol viveu uma outra experiência. Sentiu-se protegida
pela conduta assumida por uma profissional que lhe prestou cuidados, conforme
disse:
Sempre vinha uma profissional e outra e disse assim: ah, tu sabe,
né? [....] com a tua pressão muito alta não é bom amamentar, e
vinham e enfaixavam coisa e tal. Então por isso não veio aquela
pergunta direta: ah, por que é que tu não está amamentando? Então
foi tranqüilo lá na maternidade (Sol).
74
Nesta situação os profissionais do hospital agiram protegendo a mãe para
que a não amamentação fosse reveladora do HIV. Realizavam comentários em
relação à pressão alta, pois em relação a esta patologia não existe preconceito,
ficando mais fácil a aceitação e evitando expor a paciente frente às demais pessoas
que circulavam no mesmo ambiente.
Fernanda viveu o stress da não amamentação com seu marido, pois ele
tinha a percepção do senso comum. Foi o que expressou em sua fala.
A função de não amamentar, meu marido ficou mais estressado, ele
achava que o leite do peito é fundamental, aí eu digo, no meu caso o
meu não é fundamental e para mim isso é muito importante no grupo
a função de “bater” sobre o leite porque é só no grupo que a gente vê
(Fernanda).
A partir do que foi expresso pelas mães constata-se que mesmo sendo essa
temática “trabalhada” em todos os encontros do grupo, a fim de prepará-las para
esse momento, ao confrontarem-se com a realidade da impossibilidade da
amamentação, este fato é vivido com muito sofrimento pelas mães, ficando evidente
“sentimentos de culpa, frustração e inadequação por não poderem corresponder,
neste sentido, ao estereótipo de boa mãe” (BARBOSA, 2001. p. 153).
Fernanda sugere a necessidade de este tema ser ainda mais explorado
durante os encontros dos grupos, destacando as mulheres que não revelam
diagnóstico. É o que referiu em seu depoimento.
Eu fui muito bem tratada e fui bem preparada também [....], mas eu vi
no grupo pessoas sofrendo porque não poderia amamentar e
determinadas pessoas viriam cobrar e como seria no quarto e tal.
Então eu acho que essa parte tem que se muito trabalhada. Pensa
bem, tu vai lá ganhar teu nenê que é o momento mais maravilhoso
da vida, de repente tu tem que te preocupar porque vai vim o parente
e vai perguntar: porque que tu não ta amamentando? Na hora tu não
vai dizer, ai eu não to amamentado porque [....] a gente não pensa,
não tenho leite, tive febre, qualquer coisa assim. A gente pensa no
nosso problema mesmo e infelizmente não pode falar então eu acho
que isso também é algo que poderia ser mais, batido (Fernanda).
Acrescentou também em sua fala, a necessidade de que este tema
extrapole o espaço do grupo, sendo oportuno lembrar nas campanhas de
75
aleitamento materno a feminização da epidemia da AIDS e o leite materno como
fonte de contaminação para o HIV.
Fazem campanha de aleitamento materno e não parece assim a
outra mulher, HIV+. Esta é excluída e além de se achar excluída
acha que seu filho está sendo menos cuidado e a realidade não é
essa. Então acho que é uma coisa que tinha que ser mais trabalhada
a função do aleitamento. Não só no grupo, mas eu acho que tinha
que ser uma coisa que se expandisse mais para a mídia, pra outras
pessoas (Fernanda).
No entanto parece-nos que a expectativa de Fernanda ainda está longe de
ser uma realidade, pois em recente reportagem veiculada em um dos jornais de
maiores circulação, (MELHOR..., 2004), bem como em todos as propagandas de
incentivo ao aleitamento materno, elas, são dirigidas exclusivamente às vantagens
do leite materno, trazendo mães que assumem esta conduta esquecendo dessa
outra parcela da população que ao se deparar com o que é expressado nessas
campanhas sentem-se mais culpadas por estarem impossibilitadas da
amamentação.
Como enfermeira que assiste a essas mulheres, fica-se inquieta com a falta
de qualquer recomendação dirigida a essas usuárias, percebendo-se como algo
bastante complexo. Será que a contra-indicação do aleitamento não é mencionada
como uma conduta de proteção a essas mães, no sentido de que possa ser uma
maneira de revelar seu diagnóstico? Por outro lado questiono-se: como se sente
uma mãe impossibilitada de amamentar e que depara-se com as propagandas de
incentivo ao aleitamento materno e não encontra nenhuma justificativa para a sua
situação?
Entende-se que estas questões devam ser ainda muito debatidas para que
se visualize algo que possa minimizar o sofrimento dessas mães.
Considerando a contra-indicação do aleitamento materno para as mães HIV+
e a pauperização da epidemia, a realidade de não poder amamentar torna-se mais
76
uma preocupação em relação ao orçamento familiar. À medida que receberam essa
informação no grupo, as mães se sentiram mais aliviadas conforme Kátia relatou:
Conseguir o leite também tu fica preocupada assim, meu Deus do
céu como é que eu vou dá leite para o meu filho que não pode
mamar Da primeira gravidez eu não sabia que tinha esse programa,
tive que ir ajeitando de um lado e do outro, dela não, como eu
participei do grupo eu sabia que saia do hospital já com leite (Kátia).
O MS preconiza, pelo ‘‘Projeto Nascer”, o fornecimento de fórmula Láctea
para os filhos de mulheres HIV+ até o 6º mês de vida do bebê. No entanto, para as
mães que não têm esta informação, a possibilidade de ter que adquirir leite para
alimentar seu bebê se torna mais um sofrimento.
5.3 Grupo de Gestantes Soropositivas para o HIV (GGSPHIV): espaço
previlegiado ao processamento de novos conhecimentos e atitudes
Como ficou desvelado nas categorias anteriores, uma diversidade de
sentimentos emergidos de suas experiências de ser gestante e HIV+ foram
expressos nas falas das mulheres. Esta realidade coincide com o que se presencia
no cotidiano. Desta forma afirma-se que viver uma gestação e concomitantemente o
HIV é algo extremamente complexo e que exige das mulheres coragem, habilidades,
aprendizagem e capacidade de superação, ao depararem-se com as diferentes
situações que se colocam em sua trajetória.
Diante disso é indispensável sentirem-se apoiadas, tanto pelos profissionais
de saúde como da sociedade para superar todos os desafios que vão se colocando
nesse período, principalmente quando a gestação não foi planejada e agrega-se o
fato de sua aceitação.
77
Frente a esta realidade cabe aos serviços de saúde que as atendem “tornar
viável uma estrutura que seja capaz de proporcionar o conjunto de ações
necessárias à prevenção da transmissão vertical” (BARBOSA, 2001. p. 33).
Nesse sentido entende-se que esta estrutura deva contemplar o acolhimento
dessas mulheres, responder às suas demandas, fortalecê-las, auxiliando-as a
processar esta nova realidade que terá que ser enfrentada nessa fase tão
importante em suas vidas e de seus bebês.
As “Recomendações do Ministério da Saúde para Profilaxia da Transmissão
Vertical do HIV e Terapia Anti-Retravirais em Gestantes”, preconizam que faça parte
dos cuidados disponibilizados no pré-natal das gestantes com sorologia positiva
para o HIV, informações sobre HIV/Aids, possibilidades de controle da doença da
mãe e da prevenção para a transmissão para o bebê, o uso de ARV`s durante a
gestação, parto e para o bebê, a não amamentação com leite materno, uso de
preservativo, testagem do companheiro, acompanhamento da criança e
continuidade de seu tratamento. Junto a este conjunto de orientações enfatiza a
necessidade de suporte emocional nesse momento tão delicado na vida dessas
mulheres (BRASIL, 2004b).
Desta forma, entende-se que a melhor maneira de contemplar este conjunto
de cuidados é por meio de trabalhos em grupos, pois se concorda com Serrano
Gonzáles que descreve a sua grande importância: “A construção do conhecimento e
a troca de idéias e atitudes são um processo de interação social no qual influi
enormemente o contato com companheiras e as opiniões dos demais” (1998, p. 76).
Com o propósito de responder a esta demanda o SAE vem oferecendo, há
sete anos, o “Grupo de Gestantes Soropositivas para o HIV”, a fim de proporcionar
um espaço de convivência e educação para a saúde com a finalidade de apoiá-las
78
no enfrentamento da gestação, parto, puerpério e prevenção da transmissão
materno-infantil.
O grupo constitui-se como uma das ações do programa de pré-natal no SAE
que oferece também: acolhimento prioritário para as gestantes que chegam ao
serviço, consulta médica, fornecimento das medicações necessárias incluindo os
ARV`s, e consulta de enfermagem direcionada à adesão ao tratamento.
5.3.1 Busca e encontro de espaço para convivência e desvelamento do “self
O ser humano, em sua trajetória existencial, vivência diferentes experiências
de grupo, é gregário por natureza e somente existe e subsiste em função de seus
relacionamentos intergrupais. Passa a maior parte do tempo de sua vida convivendo
e interagindo com distintos grupos como família, trabalho, sociedade, cursos, entre
outros (ZIMERMAN, 1997).
Os grupos nos quais os seres humanos se inserem podem constituir-se
como grupos espontâneos e como grupos organizados (PICHON-RIVIÈRE, 1998).
Reportando-nos às questões relacionadas a partir do diagnóstico do HIV
percebe-se que ainda para muitos pacientes o isolamento caracteriza-se como um
sofrimento vivido. Esta realidade foi expressada pelas participantes do estudo e
constatou-se na experiência no cuidado a pessoas portadoras de HIV/Aids.
Frente a esta realidade o GGSPHIV caracteriza-se como um espaço de
convivência que oportuniza encontro de sujeitos sociais, vivenciando carências
humanas semelhantes, o desvelar sentimentos singularidades e subjetividades e
79
sobretudo a possibilidade de encontrar maneiras para superar os desafios
decorrentes de uma gestação acompanhada do HIV.
Para Preta, Elizabeth, Ana, Andréia, Maria, Sol, o grupo foi sentido como o
espaço de apoio, conforme expressaram suas falas:
Logo que meu marido falou que o exame do HIV deu positivo eu já
desabei, chorei um monte, mas eu já tinha em mente que eu tinha
que fazer alguma coisa pelo bebê e eu sabia que tinha alguma coisa
a ser feita. Eu só não sabia com tantos detalhes. Depois que eu
descobri, quando eu vim para cá (Preta).
Depois que eu entrei no grupo que eu fiquei mais calma [...]. Ah,
entrava em depressão (Elizabeth).
O que me ajudou foi o grupo de gestante sabe, porque eu tava
apavorada (Ana).
Tu já tá fragilizada com a doença e tu não sabe o que fazer e daqui a
gente já sai preparado, sabe tudo o que tem que fazer, então te dá
uma força maior, é muito bom (Andréia).
Quando tu descobre que tu é soropositiva, e ele não é, daí tu fica
com aquele medo de passar pra ele ou às vezes, até aquela revolta,
quando tu descobre que ele era soropositivo e não diz. E nisso
também o grupo ajuda bastante esclarece, tira um pouco aquele
peso, culpa ou coisa parecida (Maria).
[....] os participantes do grupo dão muita força para a gente não
desanimar, não se entregar, levantar a cabeça, seguir em frente isso
aí é tudo muito importante no grupo, porque a gente vai ter apoio
daqui, apoio dali (Sol).
Transparece, em suas falas, o quanto foi positivo a essas mães a
participação no grupo, oportunizando-as a prepararem-se para o enfrentamento da
gestação. É a partir destas vivências coletivas que se abrem espaços para que
manifestem suas ansiedades seus medos e vislumbrem novos caminhos a serem
seguidos, aspectos estes que dificilmente serão abordados durante uma consulta
individual (BARBOSA 2001).
Preta e Andréia, são mães que não compartilham o diagnóstico do HIV,
sendo este um segredo seu e de seu marido. Suas gestações foram vividas com
muito sofrimento, colocando-se o grupo como um dos únicos momentos em que
podiam expressar-se livremente sobre o dilema que estavam vivenciando.
80
Eu melhorava quando eu vinha nas consultas, no grupo, quando eu
conversava com o meu marido, porque ele também não gosta de
conversar sobre isto, aí como eu não tenho outras pessoas para
conversar me restava o grupo, chorei a gravidez inteira (Preta).
[....] me deu força porque se não fosse o grupo eu não sei, não sei
mesmo... Ah, eu achei um desabafo, ainda mais que eu não contei
para ninguém, só o meu marido e a gente não conversa sobre isto,
daí então pra mim foi ótimo, desabafei pelo menos, né (Andréia).
Segundo Munari “para muitas pessoas, o grupo é o único espaço de que
dispõem para refletirem sobre si próprios e seus relacionamentos, bem como para
treinarem sua reinserção na família e comunidade” (1997, p. 21).
Elizabeth e Sol, não sofriam com o segredo do diagnóstico, mas também
sentiram o grupo como um lugar de desabafo, liberdade.
Às vezes a gente tem um problema e não consegue botar aquilo ali
para fora e no grupo a gente consegue coloca, cada um vai falando
dos seus problemas e a gente consegue. [....] é uma forma que a
gente tem de desabafar com as pessoas (Elizabeth).
Se entra ali, as pessoas se apresentam, enfim espontaneamente
começam a surgir os assuntos. Claro que vai lá a enfermeira e dá a
oficina de camisinha, mostra para gente como é que se coloca, quais
são os truques para não estourar, aquela história toda, mas vai
fluindo o assunto e a gente se sente a vontade para coloca os
problemas e tentar resolver (Sol).
Reportando-se ao depoimento acima, concorda-se com Munari, quando diz:
“a orientação contextualizada no momento adequado dentro do grupo possibilita
aflorar sentimentos tornando as participantes mais ativas à medida que podem
também expor suas experiências” (2001, p. 19).
Sol e Maria expressaram ter percebido o grupo também como um lugar de
proteção, privacidade, confiança, não só para si como também para demais
participantes do grupo onde buscavam a autonomia coletiva para trocar, falar.
Estando dentro daquela sala ali elas se sentem, nós gestantes, não
tanto eu, mas no caso das outras, a gente se sentia à vontade para
se abrir, conversar, mais protegida, tanto de enxergar coisas que tu
não quer ver, como o fato de se encontrar ali com pessoas que tão
vivendo a mesma situação e dividindo os problemas e tentar resolver
junto. Uma ajuda à outra ali dentro (Sol).
81
E eu acho que o grupo passa muita segurança, assim em relação ao
HIV, tu podes falar abertamente ali, porque tu sabe que não vai ter
ninguém com preconceito nenhum e que vai sair dali falando para
Deus e o mundo (Maria).
As mães participantes do estudo relataram também que o grupo propiciou o
encontro de sujeitos sociais que estão vivenciando carências humanas semelhantes,
o que lhes possibilitou sentirem-se mais confortadas.
Para muitas mães é no grupo que “descobrem” que existem outras mães
vivenciando a mesma situação o que as auxilia a sair do isolamento e propicia que
reorganizem suas vidas a partir desta nova situação (BARBOSA, 2001).
Isto foi expressado nas falas a seguir de Elizabeth, Monika, Maria, Vanessa,
Andréia, Ana.
Ah o grupo me ajudou muito sobre os depoimentos daí eu fui vendo,
[....] já não é um bicho de sete cabeças para a gente enfrentar esta
luta (Elizabeth).
Eu me senti que não sou só eu com esse problema, tem mais
pessoas. Antes eu me sentia triste por eu ter esse problema, mas
aqui junto com outras mães, milhares de mães por ai com o mesmo
problema que eu, aí eu estou aceitando. Fiquei mais tranqüila, que
era possível que meu bebe não saísse portador do HIV (Monika).
Tu vê que ali tá todo mundo igual, ninguém te olha com a cara
torcida, [....] (Maria).
O encontro com outras gestantes com a mesma coisa que eu, com o
mesmo problema e daí a gente ia criando forças para vencer isto,
uma dando apoio para a outra, uma falando para a outra para tomar
o remédio e tudo (Vanessa).
Eu fiquei mais tranqüila de vê pessoas que tem essa doença e estão
aí vivendo bem (Andréia).
As gestantes falavam os problemas delas e começava a chorar e daí
tinha sempre uma que acalmava, [....] ajuda muito a gente. A gente
fica bem insegura, o que vai ser do bebê, se a gente tem isso, Deus
me livre, agora não, depois de ter participado do grupo (Ana).
Ainda considerando os estudos de Barbosa (2001), percebe-se na fala de
Kátia e Fernanda que a participação no grupo lhes possibilitou conhecer outras
situações mais graves que a sua, o que de certa forma auxiliou-as a sentirem-se
mais fortalecidas:
82
A gente se sente mais igual porque a gente acha assim, no momento
que a gente descobre que é HIV+ que é só tu, não existe mais
ninguém, o problema é só teu, ninguém vai te entender, mas não ali
no meio de muita gente tu vê que não é só tu, tem outras pessoas as
vezes com problema pior do que tu, além daquele ali o HIV outros
ainda junto. [....] Daí, são tantas mulheres juntas tu te sente tão igual,
tu te sente a vontade, tu pode fala, tu não precisa ter medo de falar,
porque é todo mundo igual, ali não tem diferença nenhuma, ninguém
vai criticar, julgar (Kátia).
Porque a gente tava aqui no grupo era muito bom, de repente tu
chega em casa e tu tá meio para baixo até porque tá num período
muito especial, aí lembra alguma coisa do grupo, lembra um detalhe,
eu lembrava muito da .... [citou uma companheira de grupo], quando
a gente tava junto, a maneira como ela ficou sabendo, aquilo me
impressionou muito porque ela era muito jovem, então essas coisas
todas vão empurrando a gente pra frente, pra cima (Fernanda).
Kátia e Maria vivenciaram o grupo como um lugar de respeito e
compreensão para si e seu filho, sentiram-se à vontade para expressar-se e serem
tratadas sem julgamento pelos profissionais de saúde, conforme podemos
apreender em suas falas:
Tudo que tu fala é respeito sobre a criança é respeito sobre ti. Tu te
sente bem mais a vontade, tu é tratada de uma maneira que tu
merece ser tratada, não pelo fato de assim e por que tem HIV vai ser
doente alguma coisa assim, não, é tudo igual, então tu fica a vontade
para falar o que tu quiser, o que tu pensa o que não pensa, o que tu
sabe (Kátia).
Quando eu comecei a vir aqui a primeira vez, eu ficava pensando ah,
tu tá grávida e tá com o vírus e aqui elas passam uma segurança tão
grande pra nós, dizendo que tu tem o vírus, mas não é que tu
adquiriste o vírus tu não vai mais ter filhos. Claro é um risco, mas se
é uma pessoa que não tem e quer ter, pode ter claro, tomando todos
cuidados. Então elas te tratam assim [bem] e não como bah, tu
engravidou e tu tá com o vírus, não, elas te tratam assim de igual pra
igual, passam uma segurança muito boa e tu te sente bem, quando
chega no dia ‘ah, tem grupo’, tu vai bem. Não é aquela coisa, ai que
saco vou ter que ir lá, vou ter que passar pelo grupo. Não, é um lugar
que tu te sente bem (Maria).
Apesar de transcorridos 25 anos do início da epidemia da AIDS e esta ter
sido inicialmente caracterizada pelo preconceito e isolamento, muitas pessoas, ainda
hoje, que convivem com esse diagnóstico, sentem essas marcas.
Considerando a necessidade de viver em grupos inerente ao ser humano e o
isolamento imposto pelo diagnóstico, coloca-se como fundamental a necessidade de
83
solidariedade frente a uma situação como a de estar gestante e ser HIV+. Percebeu-
se pelos depoimentos das participantes do estudo que o grupo cumpre este papel
fundamental de suprir as necessidades desencadeadas por esse diagnóstico
5.3.2 GGSPHIV: espaço de educação para saúde e estímulo à formação de atitudes
saudáveis
As mulheres, ao se depararem com a gestação e a soropositividade para o
HIV necessitam adquirir conhecimentos e ter oportunidades de reflexão para que
possam instrumentalizar-se para o enfrentamento dessa nova realidade. Precisam
reconstruir uma série de crenças, valores, verdades válidas e vividas em outras
gestações, mas que a partir do HIV necessitam ser “reformuladas”.
Segundo Knauth et al. “as gestantes infectadas pelo vírus da Aids
defrontam-se com um conjunto de informações, prescrições e práticas que tornam
este período particular em relação a outras gestações e experiências” (2002, p. 1).
Inúmeras condutas são necessárias durante a gestação, parto, puerpério e
com o recém nascido, objetivando manter a saúde da mãe e evitar a transmissão do
vírus para o bebê.
Rabelo (2003, p.194), fundamenta-se nos princípios socioconstrutivistas de
Vygotsky que “o ser humano constitui-se histórica e socialmente: o conhecimento de
si, do mundo e da própria linguagem passa pelo outro”. O autor continua afirmando
que “os conceitos ganham seu significado em uma cultura específica, dentro de um
contexto sócio-histórico, no qual as interações dialógicas constituem um espaço
privilegiado em que se processa o conhecimento” Nessas interações por meio da
84
linguagem “transformam o mundo externo e se transformam reciprocamente. É o
constante entrelaçar da história social com a história individual”.
Segundo Serrano Gonzáles “a aprendizagem de formas de vida mais
saudáveis e a mudança de atitudes não podem ser resolvidas como uma série de
prescrições comportamentais” (1998, p. 70), fazem-se necessárias interações entre
os pares, estímulo à elevação da auto-estima, trocas de experiência e a
possibilidade de visualizar outras alternativas frente ao mesmo problema. Diante
disso acredita-se ser a atividade educativa grupal uma metodologia propicia para
que se alcancem estes objetivos, pois é uma maneira de sensibilizar as pessoas a
refletirem sobre suas atitudes, comportamentos, promovendo melhoria na qualidade
de vida principalmente para aqueles indivíduos que convivem com patologias de
caráter crônico.
Continuando, essa educadora que preconiza novas abordagem educativas
para o século XXl, refere que:
A educação para a saúde (EpS) é uma atividade intencional que
requer um programa com análise da realidade e definição do
problema, objetivos, atividades, evolução e definição de um método
de trabalho. Nesta intenção da EpS nos baseamos para que o
indivíduo possa adquirir conhecimento de tudo que o rodeia e de si
mesmo e possa modificar tudo isso, inclusive sua conduta
(SERRANO GONZÁLES, 1998, p. 26).
A dinâmica desenvolvida durante a realização do GGSPHIV propõe-se a
promover um espaço de EpS e estímulo à formação de atitudes saudáveis, que têm
como embasamento teórico a proposta da autora acima citada e onde, durante a
realização dos grupos, se desenvolvem as etapas do “V J A (ver, julgar, atuar)” e
contemplam os conteúdos programáticos preconizados pelo MS, que envolvem:
cuidados na gestação, no parto (hospitalização) e com o bebê.
Conforme expressado nas falas de Preta, Elizabeth, Kátia, Ana, Andréia e
Maria o grupo foi vivenciado como um espaço que possibilitou a construção de
85
conhecimentos necessários a esse momento e que contribui para satisfazer suas
necessidades.
[....] As profissionais esclarecem bastante coisinha que a gente não
sabe até mesmo para quem não tem o HIV, tinha muita coisa que eu
não sabia ali, eu achei bem bom mesmo, [....] para tudo tem uma
resposta (Preta).
Eu acho muito bom fazer um grupo assim, porque nesse grupo a
gente descobre muitas coisas que eu não sabia (Elizabeth).
Tudo eu apreendi na gravidez dela, durante o grupo [....] todas as
dúvidas que eu tinha eu tirei no grupo (Kátia).
A gente aprende bastante coisa que nem imagina que vai precisar,
[....] eu não sabia quase nada, mãe de primeira viagem. [....] quando
eu tinha alguma dúvida eu vinha daí eu perguntava ficava mais
aliviada e tinha sempre resposta (Ana).
Eu tive o grupo e o grupo me ajudou, porque daí disseram [....] que a
criança podia nascer normal se tomasse os medicamentos, tivessem
cuidados usar sempre a camisinha que aí não passava para o nenê e
todos os cuidados, daí o grupo que me orientou, porque eu não sabia
nada, eu estava completamente perdida (Andréia).
Ah! o grupo foi ótimo porque ali tu tira todas tuas dúvidas, tu sabe
tudo o que vai acontece (Maria).
Para Munari,
a aprendizagem é um fator muito presente por possibilitar a aquisição
de conhecimentos e informações essenciais para que alguns
comportamentos sejam adquiridos ou mudados, a partir do exercício
de novas tarefas ou de atos pré-pensados. É importante o que se
aprende com o próprio movimento do grupo, pois através dessa
vivência as pessoas podem aprender como são vistas por outras
pessoas, como elas se colocam frente a si próprias, frente aos
outros, e ainda porque agem de determinada forma nos seus
relacionamentos (1997, p. 23).
O uso do medicamento AZT, durante o trabalho de parto e no parto é de
suma importância como uma conduta a ser realizada a fim de diminuir os riscos de
transmissão para o bebê, pois este momento representa 65% das contaminações
(BRASIL, 2004b). Entretanto chegar ao hospital e confrontar-se com a necessidade
de revelar o diagnóstico é para as gestantes mais um momento de grande
apreensão.
86
Neste sentido cabe aos profissionais de saúde auxiliar as gestantes a
criarem estratégias que minimizem as apreensões destes momentos e que as
auxiliem a manter seu estado sorológico em sigilo, se assim o desejarem (BRASIL,
2004b). Frente a esta realidade esse assunto é trabalhado no grupo e as gestantes
são orientadas de que ao final da gestação receberão uma carta com as
informações, indispensáveis para este momento, o que possibilita que este
documento desempenhe a função de “passaporte” para a maternidade.
Esta rotina de cooparticipação na revelação do diagnóstico abre caminhos
para uma interação saudável na maternidade e parece estar auxiliando as
gestantes, conforme nos revelou a fala de Maria, Fernanda, Preta, Elizabeth,
Daí tu fica apreensiva. Porque eu estou grávida e quando eu for
ganhar o que eu vou ter que fazer, bom vou ter que falar. Ali no
grupo não, tu já é toda orientada, quando tu chegar ao oitavo mês o
doutor dá a carta [....] eles informam todo o processo desde quando
ainda tu tá grávida (Maria).
Em função do grupo qualquer hospital que eu chegasse não teria
problema ia ser igual [...] aquele medo, aquela desconfiança, que
gente tem em relação aos hospitais foi tirado nos encontros no grupo
(Fernanda).
Eu mostrava uma cartinha que o doutor me deu, mais a carteirinha,
então elas já olhavam e daí já mudavam o comportamento comigo, já
vinham, já conversavam mais discreta num canto, se tinha mais
gente junto já iam para uma sala reservada (Preta).
Eu sabia que não precisava a gente chegar a dizer que era [HIV],
porque pelos documentos eles iam ver que a gente é soropositivo
(Elizabeth).
O protocolo preconizado pelo Ministério da Saúde (MS) e utilizado em todo
território nacional prevê que os cuidados necessários a evitar a transmissão do vírus
para o bebê não se esgotam com o parto. Faz-se indispensável uma série de
cuidados com os bebês, não habituais em gestações nas quais eles não passam por
este risco.
As mães que vivem essa situação necessitam conhecer os cuidados, a fim de
realizá-los e minimizar os riscos.
87
Conforme expressaram Maria, Elizabeth, Fernanda, Monika, percebe-se que
o grupo auxiliou-as a conhecer estes cuidados.
[...] cuidados com a mamadeira, com a alimentação, massagem [....]
cuidados que tem que ter com o nenê. Em relação às vacinas, ao
AZT, que eu dei pra ele nos primeiros quarenta e cinco dias de vida.
Até se não fosse os esclarecimentos que eu tive aqui no grupo das
gestantes, eu não sei se o exame dele teria negativado (Maria).
Os cuidados para o bebe assim, o leite que é dado de 3 em 3 horas,
o remedinho o AZT xarope aquele com a seringuinha também é de 6
em 6 horas, isso aí foi falado no grupo, né, lavar mamadeira botar
para ferver e aquela coisa toda (Elizabeth).
A partir do sétimo mês eu estava preparadíssima para enfrentar tudo,
porque tu tem uma orientação dentro do grupo ali, que é passado para
gestantes (Fernanda).
Aprendi muita coisa que eu não sabia, eu não sabia que podia passar
pro bebê amamentando, que através de sangue passava o vírus,
nada disso eu sabia e ali tudo eu fiquei sabendo. Elas ensinaram os
cuidados com a criança, como fazer o tratamento para ele que fiz a
sério, [....] pois eu não sabia que tinha que fazer esse tratamento para
criança, fiz direitinho tanto que deu negativo (Monika).
Andréia também referiu que a participação no grupo lhe oportunizou conhecer
condutas que até então desconhecia, o que de certa forma diminuiu suas condições
de vulnerabilidades individuais. No entanto, vivenciou situações de vulnerabilidade
programática em relação à orientação que recebeu no grupo sobre a necessidade de
substituir a vacina Sabin pela vacina Salk. Conhecia a indicação dessa vacina para o
seu bebê, porém não havia conseguido realizá-la porque os serviços de saúde não a
estavam disponibilizando. É o que expressa em seu depoimento.
O grupo me tranqüilizou, falou sobre as vacinas, coisa que eu nem
imaginava, essa Salk nem sabia que existia, os cuidados para ter
com o nenê. Me ajudou bastante, se não fosse o grupo de repente
até nem sei se ele não seria HIV positivo, nem sei se ele tem o
problema, não sei ainda.....né? [....] ele tomou, o AZT, dei assim
rigorosamente no horário, as vacinas também está tomando, só a
Salk, que está em falta ainda (Andréia).
Nesse sentido Paulo Freire (2001) contextualiza que a educação faz parte
do ser humano por ser este um ser inacabado e que a educação não
necessariamente se dá nos bancos escolares. Percebe-se a partir depoimentos
88
acima descritos, que os serviços de saúde são locais privilegiados e onde se pode
desenvolver esta práxis.
Serrano Gonzáles afirma que “sem participação não tem problematização,
não tem perguntas e não construímos nossa autoconsciência, nosso próprio ser. O
educador deve dar oportunidade para que todos se expressem” (1998, p. 72).
Justificando essa necessidade refere também que “a educação para a saúde é antes
de tudo um processo de comunicação” (SERRANO GONZÁLES, 1998, p. 27).
As falas que se seguem evidenciam a opção de grupo como um método
bidirecional apontando as trocas ocorridas entre os participantes como facilitador
desse processo.
Sol relatou o fato de ter compartilhado uma experiência negativa vivida em
outra gestação, como uma possibilidade de ter contribuído com outras gestantes.
Eu poderia até passar alguma coisa de mim para aquelas que seriam
a primeira vez que estavam ali. Eu tive uma gestação anterior, que
eu fiz a coisa errada, não realizei o tratamento, e deu que a criança
faleceu. Mas hoje em dia eu estou aqui, quero fazer certo e espero
que isso que eu passei sirva para que aconteça o positivo. Eu acho
que isso eu consegui passar pra algumas, ao menos daquelas que
estavam ali no grupo e acho que já seria um monte (Sol).
Torna-se evidente em sua fala o reconhecimento de ter tido uma atitude
equivocada, no entanto revela a capacidade de tentar transformar esta atitude numa
ação preventiva frente a outras mulheres que vivenciam situações semelhantes à
sua, caracterizando esta atitude como parte de seu desenvolvimento pessoal
(SERRANO GONZÁLES, 1998 ).
Fernanda revelou que os esclarecimentos obtidos a partir das dúvidas das
outras mulheres no grupo a ajudaram muito. É o que expressou em sua fala:
O grupo me ajudou muito porque por mais que eu estava preparada
para ser mãe, estava sabendo do HIV, sempre tu tem aquela dúvida,
aquela pulguinha atrás da orelha e nisso o grupo sempre me tirava
[as dúvidas] porque eu chegava ali e via assim: poxa tem outras
mulheres que também tão na mesma situação e de repente tão
menos esclarecidas que eu, aí com o que eu ficava sabendo das
outras, eu podia no encontro lembrar alguma coisa que eu tinha
89
deixado para trás eu conseguia puxar e botar para fora ali
(Fernanda).
Os depoimentos de Fernanda e Ana convergem para a primeira e a segunda
etapa do processo educativo proposto por Serrano Gonzáles (1998), denominado
“VJ-ver/julgar” - onde, por meio das contribuições de cada participante, ocorrem
trocas, tornando possível retomar o assunto a partir de diferentes olhares e
incentivando-as a ter atitudes saudáveis e necessárias à sua condição.
Ah, eu achei bem útil, [....] sempre tinha uma nova companheira no
grupo, daí sempre tinha que repetir e em cada repetição tinha
alguma coisa diferente. Não é aquela coisa vai ser tudo igual, sempre
tinha uma coisa diferente (Fernanda).
Também a questão da gente se encontrar e toda vez ter que botar o
mesmo assunto em pauta porque sempre tinha uma moça nova, isso
foi como se fosse tonificando cada vez mais. Tu tem que toma o teu
remédio por mais que tu não goste, porque esta vindo um bebe aí e
tem que incentivar as outras e tal. Então essa parte tipo de puxar, eu
acho assim coisa de mãe mesmo que foi feito naquele grupo, né?
Isso ajudou muito (Ana).
A terceira fase da proposta metodológica de Serrano Gonzáles(1998),
denomina-se atuar, e prevê mudanças de condutas, a partir das contribuições do
processo educativo. As falas de Preta e Monika revelam que a participação no grupo
estimulou-as à formação de atitudes saudáveis onde se pode destacar o uso de
preservativo e a adesão ao tratamento.
[....] o uso da camisinha é constante, elas dizem [....] que é seguro
que a gente deve usar e agora eu só uso a camisinha feminina, era
uma coisa que para mim eu dizia que não ia usar. Mas não, agora eu
só uso a camisinha feminina por insistência delas e por elas ensinar
bem a gente como é que se fazia, como é que se colocava (Preta).
Eu achei assim, que ajudou muito, que foi bom, eu não estaria
fazendo tratamento, exames, essas coisas assim se não fosse o
grupo (Monika).
Para Serrano Gonzáles os processos de EpS “ objetivam oferecer
conhecimentos positivos relativos à saúde” (1998, p. 27), bem como “ aquisição de
atitudes preventivas e tomadas de decisões conscientes e coerentes quanto à defesa
e promoção da saúde” (SERRANO GONZÁLES, 1998, p. 27).
90
O grupo representou também para algumas mães, um espaço onde
passaram a sentir-se mais fortalecidas para enfrentar algumas situações
desencadeadas pelo HIV.
Segundo Coelho
à medida que vão recebendo informações sobre o que realmente têm
e quais serão os encaminhamentos a partir desse diagnóstico em
sua trajetória existencial, os pensamentos vão voltando ao lugar e
vai-se pensando na reorganização de suas vidas, a partir dessa
facticidade em sua existência (2004, p. 73).
Os depoimentos de Maria, Sol e Vanessa ilustram a citação acima:
Depois dos esclarecimentos no grupo a gente vai se animando mais,
e agora os exames dele referindo-se ao bebê deram negativo, ele já
fez o segundo, o primeiro já deu negativo então a gente vai se
animando mais (Maria).
Graças a Deus, ele[o bebê} vai fazer três meses depois de amanhã e
essa semana os exames já disse que ele é negativo e se Deus
quiser no outro ele vai confirma. Eu tirei essa gestação como se eu
fosse me redimir da minha outra gestação que eu perdi o bebe. Claro
que não deixa de ser uma coisa diferente, mas eu aprendi com o
grupo que tu podes ter esperança, se tu fizer todas as orientações
direitinho, como elas passavam ali, tem tudo para dar certo, tudo
(Sol).
É bem assim para esclarecer mais a cabeça. A gente tá em casa a
gente fica pensando ah, se fosse só busca o remédio e toma seria
mais difícil né, não ia ter explicação e com o grupo a gente tem mais
explicação, tem mais amizades (Vanessa).
Sol revelou também, a oportunidade que teve de ser orientada para o fato de
que ter HIV, não impede a maternidade e a possibilidade de ter um bebê saudável,
visto como uma certeza:
Não é que o grupo incentiva a engravidar, mas esclarece que eu
posso viver e posso ter uma gravidez normal, me cuidando, fazendo
o tratamento direitinho [...] sem prejudica o meu filho (Sol).
Outro aspecto referido é a constituição interdisciplinar na programação a ser
desenvolvida nos grupos, o que torna possível a abordagem de diferentes enfoques
no cuidado a ser prestado. Isto fica evidente nas falas de Maria e Vanessa:
Além da enfermeira que faz o grupo, teve a nutricionista, teve
assistente social que passa o que tu tem direito o que tu não tem. Foi
bem mais do que eu esperava (Maria).
91
Eu gostei de todas as partes, de todos que entraram, tem a assistente
social, depois tem a nutricionista, depois tem uma que ensinava a
fazer ginástica quando tivesse com dor (Vanessa).
Ao referir-se ao princípio da interdisciplinaridade, Serrano Gonzáles afirma
que “a maioria dos problemas de saúde requerem uma abordagem a partir de
distintas perspectivas, pois, os fatores que desencadeiam são diversos e estão inter-
relacionados” (1998, p. 68).
Ainda nesta perspectiva, Ana e Sol valorizavam a participação
interdisciplinar e dizeram:
A fisioterapeuta ensinava ginástica, o que fazer para amenizar a dor,
deitar de lado. A assistente social também ajudava a gente bastante,
quando tinha necessidade (Ana).
A fisioterapia que tu aprende a fazer, a massagem quando a criança
não vai aos pés
9
, tudo se aprende ali no grupo (Sol).
A partir dos depoimentos das participantes do estudo percebe-se que os
processos de EpS desenvolvidos em grupo oportunizam a “criação de micro
espaços de vida saudável” tanto no sentido da convivência como para fornecer
orientações de condutas saudáveis, favorecendo o “desenvolvimento de indivíduos
capazes de viver com saúde e contribuir para comunidades mais humanizadas”
(SERRANO GONZÁLES, 1998, p.25).
5.4 Mulheres HIV protagonistas na (re)construção do GGSPHIV
Desde o início da realização dos GGSPHIV no SAE em 1998, estes vem
9
A expressão “não vai aos pés” é referida quando há constipação intestinal.
92
sendo construídos e (re)construídos a partir da ótica dos coordenadores dos grupos,
ou seja, a partir da visão dos profissionais de saúde.
Segundo Merhy,
[...] é importante considerarmos que todo ator tem uma visão parcial
da realidade. Isto porque um ator em situação sempre está imerso em
uma cegueira situacional, ou seja, há ângulos da realidade que ele
desconhece, e portanto, não consegue inferir, não pode nem prever. E
uma maneira de manejar esta cegueira é incorporar a visão dos outros
nos seus cálculos, melhorando, assim, o resultado de sua ação (1994,
p.134).
Nesse prisma, buscou-se, neste trabalho, identificar, a partir da escuta das
mães egressas do grupo, sugestões que possam contribuir para aprimorar a atenção
ali proporcionada, incluindo em sua (re)programação a visão e experiência das
participantes, na tentativa de que cada vez mais o cuidado produzido no grupo nesta
fase tão especial de suas vidas, “gestação x HIV”, se aproxime de suas
necessidades.
5.4.1 GGSPHIV: espaço de acolhimento reconhecido por seus atores sociais
A maioria das participantes do estudo, quando interrogada sobre como foi o
grupo para elas, expressaram satisfação pela maneira como os grupos foram
realizados. Relataram que a sua participação propiciou entre outros aspectos,
informação, troca de experiência, incentivo a mudanças de atitudes, melhora da
qualidade da gestação, tranqüilidade, liberdade. Reconheceram também a
dedicação dos profissionais,
Para Munari
os resultados do trabalho do grupo são determinados com base nos
seus objetivos iniciais, nas necessidades de seus membros bem
como na avaliação constante do seu funcionamento. Porém os dados
93
mais relevantes são a própria satisfação dos clientes e o benefício
que foi conseguido (1997, p. 23).
Como está demonstrado no quadro de caracterização das mulheres
participantes do estudo, elas vivenciavam situações distintas. Umas experenciavam
pela primeira vez a gestação com HIV, outras já tinham passado por esta vivência.
Umas já compartilham o diagnostico do HIV; para outras, porém, isto era um
segredo, enfim, são inúmeras as situações que caracterizam as singularidades
destas mulheres.
No entanto constatou-se, a partir de seus depoimentos, que independente
da realidade de cada mulher, o grupo está em sintonia com seus objetivos iniciais e
contemplando suas necessidades.
Preta, Vanessa e Andréia descobriram serem portadoras do HIV nesta
gestação. Preta e Vanessa planejaram a gestação, estão com seus companheiros e
não aceitam sua condição sorológica. Andréia, não planejou, mas também está com
seu companheiro. Para Andréia e Preta o HIV é um segredo seu e de seu
companheiro.
Percebe-se, em seus depoimentos, satisfação com o grupo onde sentiram-
se esclarecidas sobre a nova realidade que terão que enfrentar a partir do
diagnóstico do HIV, conforme relataram Preta, Vanessa e Andréia:
Na minha opinião o grupo está ótimo, não precisa mudar nada. Elas
esclarecem bastante e daí toda vez que tem uma reunião elas
sempre tocam naquele mesmo tema, insistem bastante para que a
gente faça aquilo sabe [referindo-se as orientações compartilhadas
no grupo]. Olha elas me convenceram de muita coisa (Preta)
Eu acho que está bom o grupo (Vanessa).
Para mim, assim foi ótimo, todas as vezes que eu fui no grupo, foi
bom, foi perfeito, esclareceu minhas dúvidas, me tranqüilizou quanto
ao nenê e quanto a mim também (Andréia).
Para Serrano Gonzáles (1998), a força formadora, o auxílio para troca de
condutas, a possibilidade de conhecer as condutas de risco e saber manejá-las, são
94
motivos para que os trabalhos de Educação para Saúde sejam desenvolvidos em
grupos.
Fernanda e Sol conheciam o diagnóstico antes da gestação, não viviam o
“dilema” de esconder o diagnóstico do HIV e ambas estavam com seus
companheiros. Fernanda tinha muita vontade de ser mãe e planejou esta gestação,
diferentemente de Sol, que recebeu a notícia da gestação como uma grande
surpresa, pois em sua última gestação foi informada que havia sido realizada a
laqueadura tubária.
Fernanda referiu-se ao grupo dizendo:
Tudo para mim foi muito especial, eu tenho certeza que não é só
porque eu estava grávida e era meu primeiro filho, mas pela troca de
informações, eu imaginava [...] um encontro básico ali para falar
sobre os nove meses de gestação, mas não tão profundo, não tão
dedicado ao nosso momento como ele foi. Para mim o grupo foi
muito especial [...] eu só não vou ficar grávida agora e participar de
outro grupo porque é muito caro, [ risadas..] (Fernanda).
Percebe-se, na fala acima, as “possibilidades educativas e de
enriquecimento” gerados pelo trabalho de grupo que, por processos de
comunicação, possibilita uma ação reflexiva e que humaniza (SERRANO
GONZÁLES, 1998).
Fernanda acrescenta em sua fala “a dedicação do profissional, eu acho que
não tem igual”.
Sol expressou:
Espero que continue assim, que está maravilhoso, está ótimo [...].
Essa sala é tipo assim uma sala de terapia, porque às vezes nós as
gestantes HIV estamos tão sufocada lá fora, que ali em quatro
paredes nos sentimos livres para dizer o que pensamos, para falar o
que não se pode dizer lá fora. È só deixar mais à vontade para
falarmos o que temos vontade (Sol).
Kátia e Maria conheciam o diagnóstico e não planejaram a gestação. Ambas
viveram a gestação sem apoio do companheiro. Fica evidente em suas falas que
95
mesmo já sendo conhecedoras de seu diagnóstico, foi a partir da participação no
grupo que se sentiram informadas e apoiadas.
Para mim foi ótimo, melhorou assim 100% nessa gravidez melhorou
tudo, porque tu te informa, tu sabe de tudo, os teus exames, o que tu
pode fazer, o que tu não pode, tudo que tu precisa saber tu apreende
no grupo (Kátia).
É uma forma muito boa de passar e de informar, que tem tanta gente
ainda que não está informada sobre gestação com HIV. Em relação
ao grupo tá tudo perfeito. Bem legal (Maria).
Ana teve sua gestação planejada, estava com o companheiro, já conhecia o
diagnóstico do HIV, porém escondia o diagnóstico da família do companheiro, o que
lhe causava grande sofrimento. Para ela o grupo “está bom assim do jeito que ta”.
A partir das falas de Fernanda, Sol, Kátia, Maria e Ana é possível dizer que o
grupo representou para elas um espaço que lhes proporcionou acolhimento, vinculo
e resolutividade frente à situação vivenciada e que para isso não se fez necessário
grandes tecnologias, mas sim utilização de tecnologias leves, entendendo estas
como, o compromisso, as experiências, as atitudes, os saberes de cada profissional
(MERHY, 1994).
Pode-se entender com base nas situações e depoimentos acima descritos,
que embora para cada mulher sua situação seja ímpar, elas expressam sentirem-se
satisfeitas com a maneira como o grupo vem sendo desenvolvido; no entanto
referem valiosas sugestões, que serão abordadas a seguir.
5.4.2 Necessidades a serem contempladas nos grupos: o que sugerem as mulheres
Mesmo as mulheres expressando seu contentamento pela maneira como
96
foram realizados os grupos, foi apontado pelas participantes do estudo um conjunto
de sugestões que certamente irão contribuir para aprimorar esta atividade.
Emergiram entre outros aspectos a manutenção dos grupos, a ampliação do
tempo e dos participantes do grupo, expressados pela continuidade do grupo após o
parto e pela possibilidade de participação de maridos e familiares.
Sol reportou-se ao grupo, expressando em sua fala a necessidade de ter
esse espaço, essa atenção mais dirigida, apontando diferentes aspectos que
merecem ser “visualizados” nesse momento especial em suas vidas. Referiu-se às
transformações do corpo devido a gestação dizendo:
[...] A gestante muda. Por ser mulher a gente já é frágil, sensível e a
gestante fica mais sensível ainda. Eu acho que tem que ter também
essa atenção mais dirigida [...] tá ficando feia, tá ficando gorda...
(Sol).
O Ministério da Saúde (BRASIL, 2003c), orienta em uma de suas
publicações que a gestante seja apoiada em seu pré-natal pela equipe de saúde,
onde cita a participação do enfermeiro, do psicólogo e do serviço social. Reconhece
a atividade de grupo como uma maneira humanizada de prestar assistência e
recomenda que entre as orientações deve estar incluído o processo gestacional e as
mudanças corporais. A fala de Sol desperta a lacuna que se tem na programação
desenvolvida nos grupos, onde se foca todas as orientações para a questão do HIV
ficando para segundo plano as transformações corporais inerentes à gestação como
processo biofisiológico.
Sol prosseguiu, destacando a exclusão social:
.... e mais o fato de que tu é soro positiva, que tu é excluída do
mundo, e tu sabe que no grupo tu aprende bastante sobre isso assim
[...] (Sol).
Ressaltou em sua fala, um dos desafios que ainda precisam ser vencidos
nesta epidemia, o estigma e a discriminação que geram como conseqüência, a
exclusão social, ocasionando as mulheres amplitude à sensibilidade inerente a
97
gestação, desencadeando mais um sofrimento em suas vidas. Bonano, destacou
que há três epidemias em relação à doença: “o vírus HIV, a Aids e o estigma da
discriminação” (2004, p. 1).
Dentro deste contexto se coloca de extrema relevância para os profissionais
e sociedade civil envolvidos na temática e comprometidos em oferecer qualidade de
vida para as pessoas que têm com HIV/Aids, substituir espaços de preconceito, por
espaços de compreensão, apoio e que auxilie as pessoas a reorganizarem suas
vidas a partir do diagnóstico do HIV.
A ampliação do tempo de participação no grupo ficou evidente em suas
sugestões. Elizabeth, Fernanda e Sol expressaram o desejo de que o grupo não se
restringisse ao período da gestação e indicam a continuidade dos grupos para além
desta etapa.
Era bom que a gente continuasse com esse grupo assim tanto para
as gestantes como as não gestantes seria muito bom [...] porque
quanto mais a gente participar parece que é melhor, [...] porque cada
dia a gente tem uma coisa para descobrir que a gente não sabe
(Elizabeth).
Ele [o grupo] tem que continuar, se puderem fazer com o grupo,
darem uma seqüência assim pelo menos de mais uns três meses,
para as mães conhecerem os bebes [....] (Fernanda).
Ah, tinha que acontece sempre, sempre, sempre, não pode parar
(Sol).
Conforme Serrano Gonzáles (1996, p. 98) “as situações cooperativas que
surgem do trabalho de grupo produzem maiores índices de autoestima em todos os
níveis de idade e qualquer que seja seus meios de procedência”.
Fernanda prosseguiu dizendo:
a gente fica assim 4, 5 meses as mesmas pessoas, de repente fica
uma lacuna que a gente não fica sabendo como é que foi, se deu
certo tal e a gente, mulher fica curiosa. Então, que continue que está
ótimo (Fernanda).
Percebe-se no depoimento de Fernanda que as mães que participam do
grupo sentem-se apoiadas e vivem um processo gestacional coletivo. Ao serem
98
desligadas do grupo sentem que ocorre uma ruptura entre o processo gestacional e
o puerpério quando, em suas situações, sentem a necessidade da manutenção de
acompanhamento, pois para essas mães as apreensões vividas durante o processo
gestacional não se esgotam com o parto. A partir desse evento passaram a
experenciar um novo momento de expectativa que é o desvelar do diagnóstico do
bebê, período em que também necessitam ser apoiadas. Fernanda faz a sugestão
de se manterem agrupadas, evitando mais uma etapa de solidão vivida por estas
mães.
Está prevista a participação das gestantes no grupo, uma vez após o parto,
onde apresentam o bebê para as demais companheiras do grupo e relatam suas
experiências durante a internação. No entanto percebe-se que isto não está sendo
suficiente. Pode-se apontar como alternativa oriunda desse estudo, que a alta do
grupo seja definida pela mãe e não pelos profissionais.
Além da sugerida ampliação quanto ao tempo de permanência/convivência
fica evidente nos depoimentos a seguir a necessidade de compartilhar a vivência
propiciada pelo grupo com outras pessoas que compõem sua rede familiar e social,
onde citam maridos, familiares e amigos, pois acreditam que isso possa contribuir
para o tratamento e para a compreensão de sua trajetória e experiência de vida.
Elizabeth viveu a exclusão familiar quando soube da gestação e do HIV, o
que desencadeou inúmeras complicações sociais, restando-lhes apenas o filho de
19 anos para apoiar-se. Percebe-se em sua fala acreditar que a possibilidade de
familiares/amigos participarem do grupo poderia ser uma maneira de minimizar a
ocorrência dessas situações, pois atribui que situações de exclusão possam ser
desencadeadas pela desinformação. Sugeria então:
Eu não sei assim se tem como os filhos também participar destes
grupos assim, esses jovens ou a irmã ou a amiga, mesmo não tendo
a doença (Elizabeth).
99
Vanessa não teve dificuldades de convivência com familiares, porém não
conseguia repassar-lhes os conhecimentos sobre os cuidados que necessitaria ter e
compartilhados no grupo. Diferente de Elizabeth, optou em inserir no grupo por
iniciativa própria as pessoas com quem mais convivia, acreditando ser esta uma
atitude que facilitaria o processo. É o que nos revelou em sua fala:
Tinha muita mãe e pai das gestantes que estavam assustadas. Daí a
gente trazia para escutar melhor o grupo, né? Para entender mais o
que estava acontecendo com nós e com o bebê porque a pessoa
que não vem no grupo, não está entendendo e ali a gente está se
abrindo e contando o que está acontecendo e ouvindo coisas, né? A
respeito de como é que se cuida e tudo [...] daí esclarece melhor do
que a gente tenta explicar e não entenderem (Vanessa).
Serrano Gonzáles (1998) cita que o processo educativo se desenvolve por
meio da comunicação entre sujeitos, gerando uma sensação de segurança
ontológica que ajuda o indivíduo a caminhar por meio das trocas, das crises e das
circunstâncias de alto risco.
A participação dos maridos
10
como uma possibilidade de aproximar as
diferenças de gênero, visto que na maioria das gestações as responsabilidades são
relegadas as mulheres, também foi referida.
Segundo Anderson “o impacto freqüentemente invisível, da Aids em
mulheres e meninas destaca o modo pelo qual a discriminação, a pobreza e a
violência entre os gêneros ajudam a alimentar a epidemia” (2004, p. 7).
A fala de Kátia expressa a necessidade de ser este um momento de o casal
compartilhar as orientações, pois acredita que isto auxiliaria nas questões
relacionadas ao preconceito, aliviaria o peso que recai só sobre as mulheres e
facilitaria as negociações em relação ao uso do preservativo.
Acho que seria uma boa idéia, os maridos participarem até para eles
entender melhor a gente. Eles acham que a gente tem que fazer
tudo, e que até pelo uso assim da camisinha quem é casado. Tem
muitos maridos que não gostam e que não usam, a mulher tem que
10
A denominação maridos e companheiros são usadas indistintamente pelas participantes da pesquisa.
100
usar a camisinha. Daí, isso, a camisinha feminina claro que foi uma
boa, só que eu acho que tem que ser direitos iguais (Kátia).
Segundo Brito, Pizão e Souto “estarmos portadoras de HIV ou doentes de
AIDS faz parte das nossas vidas, assim como os nossos amores, trabalhos,
ativismos, necessitando, portanto de cuidados” (2003, p. 51).
Preta e Maria, também apontaram a participação dos maridos como positiva:
De vez em quando trazer os maridos junto para ver como é que eles
estão, o que que eles acham (Preta).
Eu acho que seria bom, porque, às vezes, os homens têm bem mais
preconceito do que as mulheres, muito mais vergonha. porque os
homens tem pouco tempo, com a criança também e isso esclarece
também (Maria).
Percebe-se nestas falas a necessidade de poder compartilhar com outras
pessoas seus sofrimentos e diminuir assim o isolamento que é desencadeado pela
patologia. Entende-se que estas colocações são extremamente justas, pois ao se
relacionar estas questões, com as características da epidemia, em que a maioria
das mulheres se contaminam por seus próprios maridos/companheiros, é
extremamente coerente que os sofrimentos, as trocas de experiências, as alegrias e
os desafios devam ser com eles compartilhados.
Kátia entendia que a oportunidade de cuidados que aprendera no grupo
deveria ser ampliada a todas as gestantes com HIV. Percebia o grupo como um
local onde com os conhecimentos que adquiriu, associados ao interesse para o
auto-cuidado, constitui-se uma garantia para a prevenção da transmissão materno-
infantil. Sugere a inserção no grupo de todas as gestantes, pois expressa ser uma
oportunidade de cuidado que deve ser oportunizado a todas as gestantes e para
tanto daria seu apoio.
Eu daria o maior apoio para a pessoa que tivesse grávida entrar no
grupo, participar das reuniões, saber mais, se interessar mais, toma
os remédios tudo direitinho, porque é 100% sabe, se tu fize tudo
direitinho não tem perigo, não tem problema (Kátia).
101
Ana compartilhou com a idéia de todas as gestantes com HIV participarem
do grupo e disse:
As que estão grávida e que tem HIV, e que não estão no grupo
ainda, que viessem para o grupo (Ana).
Preta soube-se HIV positiva nesta gestação, não aceitava esta condição e
sentia o grupo como um dos únicos lugares de apoio e conforto. Porém entendia que
se fazia necessário receber um apoio individual da Psicologia. Foi o que nos revelou
em seu depoimento.
Eu acho que podia ter era uma, eu não sei se no grupo tinha
acompanhamento de psicólogo, assim, individual de chamar cada
uma num canto, dizer como é que ela recebeu a doença, como agora
tu falou para mim (Preta).
O serviço disponibiliza atendimento individual quando se faz necessário.
Entretanto é necessário que os profissionais envolvidos nos grupos tenham a
sensibilidade de perceber estas demandas e realizar os encaminhamentos.
kátia sugeriu que sejam realizadas técnicas de descontração, como
facilitador para o entrosamento de novas participantes no grupo.
Alguma brincadeira, algum passeio, alguma coisa assim parecida
para deixar mais [descontraído], porque todo o mês entra uma
diferente, então sempre fica aquele clima sabe. Então, para deixar
mais descontraído para aquela pessoa que está chegando (Kátia).
Kátia referiu também, a dificuldade que teve na adesão aos seus
medicamentos quando vinha ao grupo, por não ter um lanche adequado que
favorecesse as tomadas das medicações e disse:
Sempre trazer um lanche [...] às vezes não tem leite, eu tomo meu
remédio com leite, [...] aí eu não tomava o remédio, [...] De repente
delas [as responsáveis pelo grupo] falarem de quem tem que toma
remédio poder trazer aqui que a gente arruma, porque isso não é dito
em momento algum (Kátia).
O uso de medicação antiretroviral a partir da 14ª semana de gestação está
indicado para todas as gestantes portadoras do vírus HIV ou doentes de Aids
(BRASIL, 2004b) A adesão a estes medicamentos é fundamental para evitar a
102
transmissão materno-infantil e este tema é um dos assuntos desenvolvido durante
os grupos. No entanto reconhecemos a falha de não aproveitar este momento para
incentivo e supervisão das tomadas das medicações.
Sol expressa a necessidade de serem realizadas as orientações, mas
enfatiza que devemos deixá-las falarem mais, Foi o que disse em seu depoimento:
A maioria delas não tem com quem desabafar lá fora e aproveitam
aquelas quatro paredes, aquele espaço ali, pra coloca o que elas
querem botar pra fora é , assim, deixa fala mais. Claro, passar as
orientações que é muito importante, que ajuda bastante, mas deixar
elas falarem também [....] as vezes, elas voltam nem tanto, assim,
pra escutar ali, pra ver oficina de camisinha, estas coisa assim, elas
vêm às vezes pra desabafar (Sol).
Torna-se evidente em sua fala a necessidade que as gestantes HIV tem, de
ter este espaço onde se sintam libertadas, já que o mundo fora daquela sala não
lhes permite sentirem-se livres, sugerindo então, que se deixe mais “as mulheres
com a palavra”.
103
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A realização do Curso de Mestrado em Enfermagem foi para mim um grande
desafio; no entanto, o conjunto de vivências que dele resultou, como aulas teóricas,
compartilhamento de experiências com colegas e professores, elaboração da
dissertação, buscas por novos conhecimentos, entre outros aspectos, me possibilitaram
um crescimento pessoal e profissional. Esta trajetória trará subsídios para a (re)
construção de embasamento teórico - metodológico para atividades que desenvolverei
na prática assistencial cotidiana de Educação para Saúde na perspectiva de sempre
proporcionar um cuidado humanizado às mulheres gestantes portadoras de HIV/Aids.
Passado um quarto de século em que o mundo vive e convive com a epidemia
da “AIDS”, e considerando que neste período houve uma mudança importante no perfil
da epidemia, atingindo mulheres em idade fértil, constatou-se neste estudo que
algumas não se perceberam vulneráveis ao HIV, ficando perplexas quando conheceram
seu diagnóstico. O fato de a epidemia estar atingindo mulheres em idade fértil vem
desencadeando um acréscimo do número de gestantes portadoras deste vírus e que
expõem seu bebe à contaminação.
Avanços científicos possibilitaram diminuir os riscos de transmissão, no entanto a
grande maioria das mulheres HIV+ engravidaram sem ter clareza destas informações,
como também foi comum não conhecerem seu diagnóstico, descobrindo-o na gestação.
Independente do momento em que conheceram seu diagnóstico percebeu-se
que a gestação em mulheres HIV positivas se colocou como um grande dilema para
104
estas mães representando um momento singular, pois essa gestação envolvia também
a possibilidade de contaminação do ser que nelas estava sendo gerado.
Após ter tido a oportunidade de escutar mulheres soropositivas para o HIV, que
vivenciaram esta situação, novos olhares emergiram, ampliando e aperfeiçoando a
minha compreensão dos seus sentimentos existenciais como mulher grávida.
Trouxeram a partir das entrevistas interativas, circunstâncias singulares de suas vidas,
onde vislumbrei um mundo de sentimentos, de empatias, solidariedade, esperança, fé
angústias, incertezas, conflitos, solidão e de sustos, que frequentemente não são
desveladas aos profissionais, nas abordagens cotidianas do trabalho.
Revelaram preocupações, inquietações, aflições, medos inerentes ao processo
gravídico puerperal normal, sendo que estes foram maximizados, pelo fato de
vivenciarem concomitantemente o diagnóstico do HIV. Acrescentaram-se então, a este
processo, os desafios pessoais e sociais próprios dessa doença onde se destacou o
preconceito e a discriminação, a necessidade de esconder o diagnóstico, o medo de
transmitir a doença para o filho que está sendo gerado, e a impossibilidade de praticar o
ato da amamentação. Aliás, este gesto, por ser considerado pelo senso comum
essencial na maternidade, foi motivo de grande sofrimento para as mães, que sentiram-
se extremamente “cobradas” pela sociedade. Soma-se a esta circunstância o
enfrentamento de dilemas maternos e o sofrimento solitário, vivido pelo fato de
profissionais da enfermagem orientarem na maternidade, a seguir as rotinas do
aleitamento materno. Por outro lado houve o reconhecimento também de profissionais
de enfermagem auxiliando solidariamente a ocultar o diagnóstico, mantendo a
privacidade desejada pela mãe.
105
Viver clandestinamente, sendo soropositiva para o HIV, representou para
algumas mulheres um paradoxo, pois ao mesmo tempo em que expressaram felicidade
por virem ao Serviço de Assistência Especializada (SAE), para participarem do Grupo
de Gestante HIV+ sentiram que suas presenças ali podiam servir de indícios à
revelação pública de seu diagnóstico em momentos que não desejavam desvelá-lo.
Situação semelhante ocorreu em relação ao uso dos medicamentos
antiretrovirais indicado para todas as gestantes portadoras de HIV, como uma das
medidas para evitar a transmissão do vírus para seu bebê. Ao mesmo tempo em que
tomavam esperançosas suas medicações, acreditando em seus resultados, precisaram
escondê-los de sua rede familiar e social para não revelarem sua condição sorológica.
A partir deste conjunto de constatações expressadas por mães que vivenciaram
a realidade do binômio “gestação & HIV” afirma-se que o Grupo de Gestantes
Soropositivas para o HIV disponibilizado pelo SAE, as auxiliou para o enfrentamento da
gestação, parto e puerpério bem como para prevenir a transmissão do vírus para o
bebe, minimizando os sofrimentos inerentes a estes momentos.
Constatou-se também que independente de terem sua condição sorológica
revelada a outras pessoas ou não, o grupo ofereceu-lhes apoio, espaço de liberdade,
desabafo, proteção, confiança, encontro de sujeitos com necessidades e carências
semelhantes. Percebeu-se que cada mulher tem sua singularidade ao experenciar o
fenômeno de ser mãe HIV positiva; entretanto, no encontro destas singularidades estes
sentimentos convergem para o coletivo, tornando-se luzes na vida das participantes do
grupo, auxiliando-as a se fortalecerem, refletirem, repensarem, redimensionarem,
reconstruírem suas vidas e recriarem novos caminhos a serem percorridos a partir das
experiências ímpares e próprias da maternidade “acompanhada” da soropositividade.
106
A participação no grupo trouxe-lhes também a oportunidade de conhecerem,
discutirem e refletirem sobre as condutas indicadas nesta fase, incentivando-as a
concretizá-las, minimizando, assim, os riscos da contaminação de seus bebês.
As depoentes do estudo revelaram e confirmaram o conjunto de necessidades e
desafios que enfrentaram com a gestação com HIV e trouxeram a necessidade de os
serviços de saúde incluírem nas programações de cuidados a serem prestados a essas
mulheres ações que contemplem ambas as especificidades: de ser gestante num
processo gravídico puerperal normal bem como de serem gestante com HIV.
Afirmamos, pois, neste contexto, serem os Grupos de Gestantes soropositivas
para o HIV, como um espaço coletivo de cuidado especial e humanizado e que
independente das experiências de vida pessoal, gestacional e familiar e de diferenças
de cada participante resulta num movimento capaz de motivá-las e imprimir grandes
mudanças de atitudes, tornado-se evidente para autora a necessidade de se
oportunizar cada vez mais espaços de Educação para Saúde como os disponibilizados
nestes grupos.
Percebe-se que apesar de serem pontuados pelas participantes do estudo
algumas situações que mereçam ser aperfeiçoadas no GGSPHIV, este representa um
espaço privilegiado e de extrema importância em suas vidas. Suas sugestões versaram
sobre a continuidade do grupo, onde solicitaram que este perdurasse por meses após o
parto, possibilitando que vivenciassem este processo coletivo também com seus filhos.
A inclusão dos maridos e familiares foi outra sugestão apontada e entendida
como uma contribuição à compreensão de seu processo gestacional propiciando
fortificarem os laços de apoio, fundamentais ao enfrentamento de uma gestação com
HIV.
107
Finalmente considero que ao ter proporcionado novas maneiras de educar para a
saúde coletivamente, em um ambiente compartilhado, agregado, isento de preconceito
e discriminação, enfim humanizado, resultou em novas atitudes de auto-cuidado das
mulheres gestantes HIV +, influenciando diretamente na proteção de seu filho, para
também não adoecer pelo HIV, vislumbrando, assim, a possibilidade de um mundo sem
AIDS para estas crianças, que potencialmente estavam expostas a tê-lo.
Considero também que a adoção de atitudes de auto-cuidado à manutenção da
saúde da mãe, advindas das orientações e compartilhamento de experiências vividas
nesses grupos, a fim de protegê-las, evitará um sofrimento emocional e social
incalculável que é a orfandade de seus filhos.
108
7 RECOMENDAÇÕES DO ESTUDO
São recomendações desse estudo:
- compartilhar com os coordenadores e demais membros da equipe que
participam dos Grupos de Gestantes Soropositivas para o HIV os
resultados oriundos deste estudo para que possamos incessantemente
cada vez mais, aproximar o nosso cuidado das necessidades vividas por
essas mães;
- criar grupo de mães egressas do GGSPHIV, oferencendo-lhes um
espaço coletivo e compartilhado até a definição da sorologia de seu
bebê;
- formalizar e incentivar a participação dos maridos e de outros membros
que compõem sua rede familiar e social para participarem dos grupos;
- incluir na programação a ser desenvolvida nos grupos conhecimentos da
Fisiologia e mudanças corporais inerentes ao processo de gestação;
- incentivar a criação de outros espaços familiares institucionais, que
auxiliem a vencer o estigma, o preconceito e a discriminação próprios ao
diagnóstico de HIV/Aids e valorizar parcerias com Organizações Não
Governamentais (ONG);
-propor seminário de integração junto às maternidades que assistiram
estas mães, todas procedentes do Sistema Único de Saúde (SUS),
utilizando dados da pesquisa, possibilitando que os profissionais se
109
apropriem dos sofrimentos por elas vivenciados vislumbrando atitudes
científicas e humanizadas que possam beneficiá-las;
- ampliar dinâmicas lúdicas, no decorrer das oficinas, favorecendo a
descontração e integração entre si e novas integrantes do grupo;
- sensibilizar as coordenações dos grupos para o fato de que em algumas
participantes perduram sofrimentos não revelados no ambiente coletivo,
necessitando aliarem a essa atividade o apoio individual.
- organizar, durante a realização dos grupos, momentos que favoreçam a
tomada das medicações incluindo o fornecimento de lanche adequado.
Essa recomendação, por trazer benefícios terapêuticos imediatos para a
mãe e o bebê, já foi operacionalizada.
110
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31.
117
APÊNDICE A - Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
Pesquisa: Escutando as mães HIV+ sobre o grupo de gestantes soropositivas para o
Vírus da Imunodeficiência Humana.
Pesquisadora: Gisele Maria Inchauspe Preussler
Prezada Senhora:
Desejo realizar uma pesquisa com o objetivo de conhecer as opiniões das mães
HIV+ que participaram do Grupo de Gestantes Soropositivas para o Vírus da
Imunodeficiência Humana – HIV nesse Serviço de Assistência Especializada.
Essa pesquisa tem como finalidade principal a obtenção do título de Mestre em
Enfermagem pela Escola de Enfermagem da Universidade Federal do Rio Grande do
Sul, sob a orientação da Profª. Dra. Olga Rosaria Eidt.
Os seus resultados contribuirão para melhorar o trabalho que desenvolvemos
aqui no grupo de gestantes soropositivas para o HIV e ao publicá-lo em trabalhos
científicos e acadêmicos poderemos contribuir com outros profissionais para auxiliar
outras mulheres com vivências semelhantes a sua.
Necessito de tua autorização, através de um Termo de Consentimento Livre e
Esclarecido - TCLE, para realizar contigo uma entrevista e obter as tuas opiniões que
serão gravadas e após transcritas. A tua identidade não será revelada.
Pelo presente Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, declaro que fui
esclarecido de forma clara e detalhada, dos objetivos, da finalidade e dos
procedimentos da entrevista para esta pesquisa que serei submetida.Fui igualmente
informado:
da garantia de receber respostas a qualquer pergunta ou esclarecimento a
qualquer dúvida acerca dos assuntos relacionados a pesquisa;
da liberdade de retirar-me do estudo a qualquer momento, sem que isso traga
prejuízo ao meu acesso e cuidado que recebo ou que venha a necessitar no SAE;
da segurança de que não serei identificada;
que não receberei nenhum tipo de benefício financeiro;
se eu necessitar mais esclarecimentos sobre esta pesquisa poderei contatar com
a pesquisadora pelos telefones: (051) 32303048/ 32303049/32303051
118
Declaro também que fui informada que este documento – TCLE foi escrito em
duas vias, sendo que uma cópia ficará comigo como participante da pesquisa e a outra
com a pesquisadora.
____________________________________________
Olga Rosária Eidt - Orientadora
___________________________________________
Gisele Maria Inchauspe Preussler –Pesquisadora
____________________________________________
Entrevistada
Data ____/____/___
119
APÊNDICE B - Roteiro de entrevista com as mães com sorologia positiva para o
HIV
1ª Parte: Caracterização das mães participantes do estudo:
DADOS DE IDENTIFICAÇÃO:
Nº prontuário: ____________ Idade:____________________________
Que nome tu gostaria que eu te chamasse?___________________________________
Trabalhas? ( ) Sim ( ) Não Em que?________________________________
Onde moras? (cidade) ___________________ Bairro
___________________________
Até que ano estudou? ____________________________________________________
Usa ou usaste drogas? No passado ( ) Sim ( ) Não ( ) cigarro ( ) alcool
( ) maconha ( ) loló ( ) cocaína: inalada ou injetável
No presente ( ) Sim ( ) Não ( ) cigarro ( ) alcool ( ) maconha ( ) loló
( ) cocaína: inalada ou injetável
Quantas vezes já ficaste grávida: _______________
Antes de saber do HIV+:______ Após saber do HIV+:__________
Gestação Planejada ( ) Sim ( ) Não
Sorologia do Companheiro: ( ) desconhecida ( ) HIV negativo ( ) não quer contar
( ) HIV positivo ( ) em investigação
Com quantos meses de gravidez iniciaste o pré-natal neste serviço:
___________________
Com quantos meses começastes a tomar remédio:_____________________________
Contas para outras pessoas que tens HIV?:
( )Sim
Para quem?____________________________________________________________
( ) Não Porque?________________________________________________
120
2ª PARTE: Opinião das mães em relação ao grupo de gestantes soropositivas
para o HIV:
a) Podes me dizer como te sentiste ao saber que estas grávida e que tens o vírus
do HIV?
b) Quando fostes encaminhada para realização do pré-natal neste serviço, sabias
que haveria a oportunidade de participares do grupo? ( ) Sim ( ) Não
c) O que imaginavas em relação ao grupo?
d) Me conta, fala de tua vivência, qual tua opinião, sobre o grupo de gestante?
(registrar o que a puérpera expressa
espontaneamente).______________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
Após a puérpera expressar-se, se as questões abaixo não foram contempladas
direciona-la aos seguintes aspectos:
aceitação do diagnóstico do HIV: _________________________________________
aceitação da gestação:__________________________________________________
apoio ao enfrentamento da gestação:______________________________________
cuidados na gestação:__________________________________________________
hospitalização:
- saber o que deverias fazer na hora que iniciasse o trabalho de parto:______________
- recebimento do soro:____________________________________________________
- informar o diagnóstico de HIV para os profissionais:___________________________
- informar o diagnóstico para as companheiras do quarto:________________________
em relação aos cuidados no puerpério:
- como o sangramento (loquos):____________________________________________
- com as mamas:________________________________________________________
em relação ao companheiro:
- revelação do diagnóstico:________________________________________________
- negociação do uso do preservativo:________________________________________
em relação aos cuidados com o bebê:
121
-a não amamentação:____________________________________________________
- conseguir o leite:_______________________________________________________
- cuidados com a mamadeira:______________________________________________
- uso da medicação:__________________________________________________
- realização das vacinas:_________________________________________________
- levar o bebê no pediatra:_______________________________________________
o que tu destacaria como algo que aprendeste com o
grupo?_______________________________________________________________
Após teres participado do grupo, achas que o grupo foi como tinhas imaginando?
( ) SIM Por que?___________________________________________
( ) NÃO Por que?___________________________________________
( ) Não sei
3ª PARTE: Sugestões / Idéias
a) È muito importante neste estudo, conhecer tuas opiniões sobre aspectos que
possam contribuir para melhorar o nosso trabalho. Que sugestões/idéias você daria
para nós
profissionais?___________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
Gostaria de falar mais alguma coisa em relação ao
grupo?________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
Muito Obrigado por tua participação na pesquisa.
122
ANEXO A
Aprovação da pesquisa pela instituição
ANEXO A Aprovação da pesquisa pela instituição
123
ANEXO B – Planilha de Controle das gestantes no grupo
Livros Grátis
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Milhares de Livros para Download:
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