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A gente se sente mais igual porque a gente acha assim, no momento
que a gente descobre que é HIV+ que é só tu, não existe mais
ninguém, o problema é só teu, ninguém vai te entender, mas não ali
no meio de muita gente tu vê que não é só tu, tem outras pessoas as
vezes com problema pior do que tu, além daquele ali o HIV outros
ainda junto. [....] Daí, são tantas mulheres juntas tu te sente tão igual,
tu te sente a vontade, tu pode fala, tu não precisa ter medo de falar,
porque é todo mundo igual, ali não tem diferença nenhuma, ninguém
vai criticar, julgar (Kátia).
Porque a gente tava aqui no grupo era muito bom, de repente tu
chega em casa e tu tá meio para baixo até porque tá num período
muito especial, aí lembra alguma coisa do grupo, lembra um detalhe,
eu lembrava muito da .... [citou uma companheira de grupo], quando
a gente tava junto, a maneira como ela ficou sabendo, aquilo me
impressionou muito porque ela era muito jovem, então essas coisas
todas vão empurrando a gente pra frente, pra cima (Fernanda).
Kátia e Maria vivenciaram o grupo como um lugar de respeito e
compreensão para si e seu filho, sentiram-se à vontade para expressar-se e serem
tratadas sem julgamento pelos profissionais de saúde, conforme podemos
apreender em suas falas:
Tudo que tu fala é respeito sobre a criança é respeito sobre ti. Tu te
sente bem mais a vontade, tu é tratada de uma maneira que tu
merece ser tratada, não pelo fato de assim e por que tem HIV vai ser
doente alguma coisa assim, não, é tudo igual, então tu fica a vontade
para falar o que tu quiser, o que tu pensa o que não pensa, o que tu
sabe (Kátia).
Quando eu comecei a vir aqui a primeira vez, eu ficava pensando ah,
tu tá grávida e tá com o vírus e aqui elas passam uma segurança tão
grande pra nós, dizendo que tu tem o vírus, mas não é que tu
adquiriste o vírus tu não vai mais ter filhos. Claro é um risco, mas se
é uma pessoa que não tem e quer ter, pode ter claro, tomando todos
cuidados. Então elas te tratam assim [bem] e não como bah, tu
engravidou e tu tá com o vírus, não, elas te tratam assim de igual pra
igual, passam uma segurança muito boa e tu te sente bem, quando
chega no dia ‘ah, tem grupo’, tu vai bem. Não é aquela coisa, ai que
saco vou ter que ir lá, vou ter que passar pelo grupo. Não, é um lugar
que tu te sente bem (Maria).
Apesar de transcorridos 25 anos do início da epidemia da AIDS e esta ter
sido inicialmente caracterizada pelo preconceito e isolamento, muitas pessoas, ainda
hoje, que convivem com esse diagnóstico, sentem essas marcas.
Considerando a necessidade de viver em grupos inerente ao ser humano e o
isolamento imposto pelo diagnóstico, coloca-se como fundamental a necessidade de