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Uma certa concepção dessas tarefas está implícita no jogo das relações
acadêmicas, ou seja, espera-se que a professora e alunos assumam suas
condições e executem suas tarefas de acordo com as representações sociais.
Isto parece claro e transparente, ou seja, não se questiona, porque faz parte
das “formações imaginárias”.
Nesta relação, é importante também analisar o que a professora diz, sendo um
indicador importantíssimo à medida que revela sua relação com os alunos e sua relação com a
escrita. Ao falar sobre parte da estrutura das palavras (da - ta) revela, especificamente na
linguagem escrita, uma concepção de linguagem e uma concepção de aprendizagem que vão
influir diretamente no seu modo de ensinar. A professora apresenta a escrita como uma mera
transcrição da fala, relacionando as sílabas com palavras chaves utilizadas no alfabeto
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.
A professora faz o que sabe
21
. Ao relacionar as letras do alfabeto a palavras-chaves,
não há um esclarecimento por parte da professora sobre esta construção da escrita, supondo
assim que a criança é capaz de ler e aprender fazendo relação somente com o modelo exposto,
sem necessariamente trabalhar as diversas formas de linguagens, textos e principalmente a
função social da escrita. Nas atividades propostas em sala de aula, geralmente são realizadas
cópias de modelos e exercícios que priorizam a memorização das sílabas, além de idéias
elaboradas pela professora que dificilmente oportunizam que os alunos exponham suas idéias
e construam seu conhecimento.
Assim, pode-se inferir que é evidente o desconhecimento do processo de produção e
apropriação da língua por parte da professora entre processo de desenvolvimento e
aprendizagem com relação à sua ação didática. A professora, na ação pedagógica promove
muitas situações em que envolve o processo de desenvolvimento, quando propõe exercícios
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Na sala de alfabetização pesquisada, as letras que compõem o alfabeto estão fixadas na parede ao lado
esquerdo da lousa, cada letra do alfabeto possui também as famílias silábicas correspondentes.
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Os limites identificados na prática pedagógica da professora podem estar relacionados à sua formação inicial
no curso de graduação. Estas lacunas provenientes da formação são decorrentes da própria organização
curricular da maior parte dos cursos de ensino superior, neste caso, dos cursos de licenciatura. Cunha (2003), ao
discutir a formação de professores e o currículo no ensino superior argumenta que neste nível de ensino o
conhecimento é organizado de forma linear, de modo que o estudante precisa primeiro aprender a teoria para
depois compreender a prática, concentrada quase sempre no fim dos cursos, na forma de estágios. Deste modo, a
prática é concebida como comprovação da teoria e não como fonte geradora de teorias, o que induz à idéia de
que o profissional deve sair da universidade com todos os conhecimentos necessários para enfrentar as incertezas
da profissão. Tal organização não favorece a compreensão de que a prática é o ponto de partida da teoria; ao
contrário, estabelece que a prática deva reproduzi-la nas situações concretas. Ademais, de acordo com Flores
(2003), a formação de professores tem sido caracterizada pela fragmentação e pela ausência de articulação entre
escola e universidade, formação inicial e formação continuada. “Nesta lógica, aos alunos - futuros professores
compete, por si próprios, integrar a teoria e a prática de ensino, bem como a componente disciplinar e a
componente pedagógica. O processo de tornar-se professor encontra-se, assim, marcado, em muitos casos, por
descontinuidades e fragmentação” (FLORES, 2003, p. 144). Há de se considerar, também, que a formação inicial
integra um extenso e permanente processo formativo, uma vez que prepara apenas para o ingresso na profissão.