Não é de estranhar que haja “um conúbio de titulações honoríficas”
57
, pois, “por
força de máquina, colada a todos os poros do organismo político, os fazendeiros não
eram senão os cortesãos dos ministérios, decorados com baronias, comendas e patentes.
Atrás do real poder, urbano por sua natureza, estava a imensa camada das influências,
enraizadas no estamento político, vizinhas à intermediação que alimentava os
comerciantes, comissários e banqueiros”.
58
A história nos ensina que no vale do Paraíba “são os fazendeiros que constituem
a alta sociedade rural. Pertencem a famílias que remontam ao século XVIII. Vieram de
Portugal, das Ilhas, de Minas, como negociantes, pequenos proprietários ou militares:
sua ascensão é, pois recente. Alguns ostentam títulos de barões, não hereditários,
concedidos por Dom Pedro II. Calculou-se que cerca de 14% dos por ele conferidos
foram-nos a fazendeiros de café”.
59
“Assim, o Segundo Reinado não se compreenderia sem os barões, coronéis,
comendadores e conselheiros. A imensa rede de títulos, comendas e patentes doura a
sociedade, revelando, debaixo dos embelecos, rigoroso mecanismo de coesão de força.
Cobria o Império, com os títulos nobiliárquicos, as camadas sociais existentes,
domesticando-as, atrelando-as ao seu carro. Não se cunhava uma realidade existente,
com os dourados de uma nobreza de ficção. Não bastava ser rico, fazendeiro ou
comerciante, para obter a baronia, nem esta era a conseqüência daquele estado.
Incorporava, transformando; abraçava, assimilando. Do fazendeiro, fazia um fazendeiro
do Império; do comerciante, fazia um comerciante do Império. Aceitava as classes
como fundamento, mas só as localizava, legitimando-os socialmente, para integrá-lo na
ordem política. As fornadas de barões sucediam-se; ao fim do Império, em 1889,
existiam 7 marqueses, 10 condes, 54 viscondes e 316 barões”.
60
Este fato é tratado com ironia no romance. Enriquecido “A riqueza e a
importância de Freitas criaram-lhe invejosos e inimigos”, Freitas decide pedir ao
Ministro do Império que lhe seja dado o título de Barão do Socorro. Para isso, oferece
doze contos para as obras do Hospício: “Não foram porém sua reputação e filantropia
57
BOSI, Alfredo. Raymundo Faoro: leitor de Machado de Assis. In: Estudos Avançados, São Paulo, v.
18, n. 51, p. 356, mai/ago. 2004.
58
FAORO, Raymundo. A pirâmide e o trapézio. 2. ed. São Paulo: Ed. nacional, Secr. Cult. Ciência e
Tecnol. Est. S. P., 1976, p. 29.
59
MAURO, Frédéric. História do Brasil; trad. de Rolando Roque da Silva. São Paulo: DIFEL, 1974, p.
76.
60
FAORO, Raymundo. A pirâmide e o trapézio. 2. ed. São Paulo: Ed. nacional, Secr. Cult. Ciência e
Tecnol. Est. S. P., 1976, p. 29.
77