jornalístico e biográfico, menos comprometida com teorizações, porém,
importante por ter descrito, com crônicas e narrativas, momentos cruciais da
música popular e preenchido uma lacuna entre “o significado social e a prática
estética” (Treece, 2004: 332); a segunda, de caráter historiográfico, preocupada
em estabelecer um tratamento sistemático da música popular, definindo
parâmetros ou períodos históricos; a terceira, englobando a história cultural e a
tradição literária, submetendo as características estéticas e textuais a uma
história da tradição lírica e, mais recentemente, associando-se às pesquisas da
Língüística e da Semiótica; por fim, a quarta e última, que abrange a sociologia
e a antropologia social da música, que vem observando o significado
sociológico e ideológico da prática e do gênero musical.
Na primeira inscrevem-se os trabalhos dos pioneiros, como Nestor de
Hollanda, Almirante, Francisco Guimarães (Vagalume), Orestes Barbosa, Jota
Efegê
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, entre outros, que, por terem sido testemunhas oculares de nossa
produção musical, construíram narrativas autênticas e pormenorizadas (ainda
que de forma não acadêmica) sendo, por esse motivo, considerados os
primeiros historiadores da música popular. Desta categoria, constam ainda os
trabalhos recentes e exaustivos de autores como João Máximo e Carlos Didier,
de Sérgio Cabral, reiteradamente citados ao longo deste trabalho, bem como as
contribuições de Rui Castro, sobretudo no campo da Bossa Nova
14
.
Na segunda abordagem, encontram-se alguns historiadores
independentes, principalmente Ary Vasconcelos e José Ramos Tinhorão, não
Travassos “Pontos de escuta da música popular no Brasil” (2005: 94-111). David Treece faz uma
introdução sobre a situação da canção enquanto objeto de estudo no Brasil e suas principais
linhas de pensamento, estabelecendo uma classificação que nos pareceu pertinente, embora
não totalmente completa. Travassos, por sua vez, discorre sobre a natureza dos debates atuais
e dos cruzamentos das diferentes abordagens: musicológica, etnomusicológica, antropológica,
sociológica (tendência atual), além de traçar uma genealogia dos estudos da música popular
brasileira, de Silvio Romero a José Jorge de Carvalho.
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Pela ordem descrita: HOLANDA, Nestor de. Memórias do Café Nice: subterrâneos da música
popular e da vida boêmia do Rio de Janeiro (1970); ALMIRANTE, No tempo de Noel Rosa
(1977); GUIMARÃES, Francisco. Na roda do samba (1978); BARBOSA, Orestes. Samba, sua
história, seus poetas, seus músicos e seus cantores (1978); EFEGÊ, Jota. Maxixe a dança
excomungada, RJ, (1984) e, ainda, Figuras e coisas da música popular brasileira (1978).
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MAXIMO, João; DIDIER, Carlos. Noel Rosa: uma biografia. Brasília. Linha Gráfica, 1990.
CABRAL, Sérgio. Pixinguinha, vida e obra. RJ, Funarte, 1978 e No tempo de Ari Barroso, RJ,
Lumiar, 1990. CASTRO, Rui. Chega de Saudade: a história e as histórias da Bossa Nova. São
Paulo, Companhia das Letras, 1990; A onda que se ergueu no mar. São Paulo, Companhia das
Letras, 2001.