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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE 00 SUL
. ESCOLA DE ENFERMAGEM
CURSO DE MESTRADO EM ENFERMAGEM
A COMUNICAÇÃO DOS CUIDADORES
DE ENFERMAGEM COM O RECÉM-
NASCIDO
ELIANE NORMA WAGNER MENDES
Porto Alegre, maio de 2000
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Eliane Norma Wagner Mendes
A COMUNICAÇÃO DOS
CUIDADORES DE ENFERMAGEM
COM O RECÉM-NASCIDO
Dissertação apresentada ao Curso de Mestrado
da Escola de Enfermagem da Universidade
Federal do Rio Grande do Sul, como requisito
parcial à obtenção do título de Mestre em
Enfermagem.
Porto Alegre, maio de 2000
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Ao Gerdano"
que assume como seus" os meus objetivos.
À Norma"
que incentiva o meu desejo de aprender.
Ao Luiz Artur e ao André Luiz"
pois com eles vivendo a maternidade.
Aos recém-nascidos"
por me inspirarem com suas presenças.
Agradecimentos
Concluir este estudo significa para mim ter ultrapassado
mais uma etapa de vida e representa a adição de uma nova
perspectiva ao conhecimento já adquirido.
Durante esta jornada de quase dois anos recebi a ajuda de
várias pessoas que, por conviverem comigo, me auxiliaram de
alguma maneira a enfrentar as dúvidas, os prazos, e a desfrutar das
alegrias.
Agradeço a todas estas pessoas que acreditaram no meu
potencial humano e na minha busca por informações para
promover o desenvolvimento do cuidado de enfermagem ao recém-
nascido.
Espero que ao lerem estas linhas, elas se identifiquem nas
minhas palavras e espero que entendam ser impossível enumerá-
las, sem ocupar páginas e mais páginas deste texto.
Dedico, especialmente, este estudo à minha orientadora,
Dra. Ana Lúcia de Lourenzi Bonilha, cujos ensinamentos,
coleguismo, entusiasmo e amizade nortearam minha trajetória.
Foram “conversas inesquecíveis!
Agradeço especialmente aos sujeitos do estudo”, amigas
e amigos do recém-nascido. Foram eles que me forneceram o
conteúdo mais importante do estudo, as suas percepções. Sem a
disponibilidade deles eu certamente não teria conseguido.
Agradeço também aos que estão lendo esta obra. Foi
pensando nos leitores que este exemplar foi elaborado e é através
da sua leitura que penso estar ajudando na produção de
conhecimento.
Desde os primeiros dias de vida,
Não muito tempo depois daquela primeira vez
Em que, ainda bebê, na interação do toque,
Mantinha silenciosos diálogos com o coração de minha mãe,
Tentei mostrar os meios
Pelos quais esta sensibilidade infantil,
lnalienável direito de nascimento de nosso ser,
Em mim era
Magnificada e mantida.”
William Wordsworth
(Montagu, 1988, p. 103)
SUMÁRIO
RESUMO
1 INTRODUÇÃO
1.1 Sobre o meu relacionamento com o recém-nascido 1.2
Sobre como percebo a evolução do envolvimento da
enfermagem com o recém-nascido
1.3 Sobre o cenário do estudo
1.4 Sobre as motivações para o estudo
1.5 Sobre a escolha do tema
1.6 Sobre a fundamentação teórica do tema
2 ASPECTOS METODOLÓGICOS
2.1 Sobre a escolha do método de estudo 2.2
Sobre o local onde se realizou o estudo 2.3
Sobre os cuidadores de enfermagem 2.4
Sobre a entrada no local de estudo
2.5 Sobre os sujeitos do estudo
2.6 Sobre a coleta de informações
2.7 Sobre o respeito ao sigilo
2.8 Sobre a análise das informações
3 INTERPRETAÇÃO DAS INFORMAÇÕES
3.1 O significado da comunicação para o cuidador
3.2 A relação entre a comunicação e o cuidado ao recém-nascido
3.3 O procedimento como uma dimensão da comunicação
3.4 A percepção da comunicação frente à presença dos pais 3.5 As
dificuldades para que ocorra a comunicação
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
ABSTRACT
RESUMEN
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ANEXOS
8
9
9
11
15
16
17
24
37
37
40
42
44
45
47
49
49
54
55
65
86
95
101
122
136
137
138
143
RESUMO
O presente estudo tem por objetivo conhecer a percepção do
cuidador de enfermagem sobre a comunicação com o recém-nascido. Para
atingir o objetivo proposto utilizo o método de pesquisa qualitativa,
realizando um estudo descritivo e exploratório de acordo com Parse, Coyne
e Smith (1985). Os sujeitos do estudo foram as enfermeiras, os técnicos de
enfermagem e as auxiliares de enfermagem que atuam numa unidade de
intemação neonatal de um hospital universitário. As informações foram
coletadas através de uma entrevista semi-estruturada de acordo com
Trivinos (1987) e com Barros e Lehfeld (1997) e foram submetidas à análise
de conteúdo temática segundo a orientação de Bardin (1977). Os temas
encontrados são os seguintes: O significado da comunicação para o
cuidador; A relação entre a comunicação e o cuidado ao recém-nascido; O
procedimento como uma dimensão da comunicação; A percepção da
comunicação frente a presença dos pais e As dificuldades para a
comunicação. Percebo, através do estudo, que os cuidadores acreditam no
valor da comunicação com o recém-nascido e identificam a presença da
comunicação no seu cotidiano de cuidado. Os cuidadores encaram o
procedimento como uma aproximação, um tipo de comunicação, que pode
possuir um caráter positivo ou negativo. Entretanto, os cuidadores ficam
ambivalentes quanto à presença da comunicação quando provocam dor,
quando o recém-nascido está muito doente ou quando outros profissionais e
colegas os contradizem nas suas crenças sobre ela.
1 INTRODUÇÃO
1.1 Sobre o meu relacionamento com o recém-nascido
A decisão de me envolver com o cuidado de crianças foi tomada
no penúltimo semestre do curso de enfermagem durante a disciplina de
Enfermagem Pediátrica. Procurei então, atuando como estagiária fora do
período acadêmico, conhecer melhor o ambiente de cuidado de um hospital
pediátrico. Foram três meses decisivos, que confirmaram o quanto estava
certa a minha escolha.
No final do último ano do curso já estava decidida que era de
crianças hospitalizadas que eu gostava de cuidar. Coincidência ou não,
naquele período uma universidade particular passou a divulgar a abertura
de vagas para enfermeiros no hospital universitário que estava inaugurando.
Assim que soube disto, me inscrevi como candidata na área de enfermagem
pediátrica e fui selecionada.
Como enfermeira da "Pediatria" muitas vezes precisava prestar
cuidados a um ou outro recém-nascido que lá internava. Pouco sabia sobre
as doenças dos recém-nascidos e muito menos sobre como me relacionar
10
com eles. Cuidar deles foi um desafio profissional, ao qual me lancei sem
hesitar.
O "cuidar" do recém-nascido, ao qual me refiro, baseia-se nos
postulados de Waldow (1995, p. 8-9) a respeito do cuidado humano e sobre
o cuidar/cuidado. Para esta autora o cuidado humano é "uma característica
única e essencial da prática de enfermagem" na qual são priorizados
valores tais como a paz, a liberdade, o respeito e o amor, entre outros; bem
como o cuidar/cuidado é "a razão existencial da enfermagem".
Aquelas criancinhas quietinhas e de olhos atentos me deixavam
intrigada. Não sabia como fazer para me relacionar com elas. Sabia que
elas precisavam de cuidados diferenciados; que eram mais frágeis do que
as outras e gostavam de carinho. Ouvia das colegas e das enfermeiras mais
experientes que era fácil cuidar daqueles bebês. Eram freqüentes as
afirmações sobre a relação entre o instinto materno das mulheres e a
facilidade no manejo do recém-nascido.
Meu único problema, então, parecia reduzir-se ao fato de não ser
mãe e também não possuir irmãos menores!
Um ano mais tarde decidi que precisava estudar mais sobre a
Assistência* à criança e decidi entrar para o curso de especialização em
Enfermagem Pediátrica. Neste ano foi criada, no mesmo hospital, uma
unidade de internação exclusiva para o tratamento intensivo neonatal, e fui
aceita como enfermeira.
* Nota da autora: este era o termo utilizado, na época, para designar a prática da
enfermagem.
11
Em 1980 uma nova unidade de internação neonatal foi
inaugurada na cidade, no hospital onde se desenvolveu o estudo, e por
convite passei a atuar como enfermeira nela.
Apesar de algumas experiências prévias como palestrante nas
aulas de um curso de graduação universitária em Enfermagem, foi somente
em 1986 que comecei a atuar efetivamente como professora universitária.
Durante sete anos, no período compreendido entre 1986 e 1993, acumulei
as duas atividades, vinculadas ao recém-nascido, a de enfermeira e a de
professora da área de conhecimento.
A partir de novembro de 1993 desliguei-me do cargo de
enfermeira do hospital universitário para assumir a função de enfermeira
assistente do Grupo de Enfermagem daquele hospital.
São praticamente vinte anos em que tenho estado envolvida no
cuidado ao recém-nascido* no ambiente hospitalar.
1.2 Sobre como percebo a evolução do envolvimento da enfermagem
com o recém-nascido
Avalio, baseada na minha observação pessoal, que nós da
equipe de enfermagem somos as pessoas que permanecem mais tempo ao
lado dos bebês, no ambiente hospitalar.
. Recém-nascido: (...) que ou aquele que nasceu pouco(..;), criança recém-nascida(...)
Ferreira (1986, p.1461); a criança cuja idade está no período neonatal que vai do nascimento
até 28 dias de vida; neonato, a criança recém-nascida, Ferreira (1986,p.1189).
12
Lembro que quando iniciei a trabalhar, éramos orientadas a
reproduzir os cuidados maternos, dos quais eles estavam privados pela
imposição de não se permitir a permanência dos pais junto ao recém
nascido por períodos superiores aos que o horário de visitas concedia, além
de prestar nosso serviço profissional.
Reforçando esta idéia de substituição dos cuidados maternos,
recordo que as pessoas consideradas mais habilidosas eram aquelas que já
haviam cuidado dos filhos ou de irmãos menores.
As outras pessoas como eu, já que me incluo no grupo que não
tinha experienciado a maternidade nem o cuidado a bebês recém-nascidos
no ambiente familiar, "sofriam" para replicar um modo desconhecido de
cuidar. Avalio, agora, que certamente no nosso modo de agir nem sempre
estávamos dispostas a reproduzir a maneira de cuidar da mãe ou do pai.
Sobre o recém-nascido, muitos profissionais mais experientes
diziam que ele era um paciente do tipo "come, bebe e dorme". Proporcionar
condições para que o bebê dormisse era uma recomendação adotada e
enfatizada ao orientar nossos colaboradores sobre o cuidado durante as
práticas profissionais. Chegava-se ao extremo de restringir as visitas dos
pais usando como justificativa a intenção de assim permitir ao bebê o
repouso necessário.
Com o afastamento dos pais não se tinha a oportunidade de
conhecê-Ios mais profundamente e compartilhar conhecimentos sobre o
bebê com eles. De qualquer forma, entre a década de 70 e 80, pouco se
tinha para falar com os pais; as orientações sobre o cuidado e o tratamento
13
do bebê eram exclusivas do médico a nós, como éramos meros
coadjuvantes no planejamento terapêutico, somente observávamos.
Tentava-se dialogar com os pais para informá-Ios sobre a oferta
da alimentação e sobre as eliminações, mas como não podíamos falar
sobre o estado de saúde do bebê, não era a nós que os pais procuravam
para conversar. Lembro que, quando alguns pais faziam questão de nos
perguntar sobre o seu filho, o faziam para questionar se este dormia bem.
Nós prontamente respondíamos que sim para tranqüilizá-Ios, afinal um bebê
"calminho" tinha o significado de bebê satisfeito com o atendimento.
Além desta pergunta, os pais costumavam fazer duas outras.
Eram indagações que aparentemente seriam muito simples de responder,
mas que me intrigavam profundamente:
- "Ele tem chorado muito? e Como meu filho tem passado?"
Estranhava que a pergunta não questionava o porquê do choro, o
que facilitava de certa forma a resposta, já que eu também teria dificuldade
de responder outra coisa sem ser:
Ele chora porque está molhado ou porque está com fome!
Entretanto,
responder sobre como o recém-nascido tem
passado, já era um pouco mais complexo, pois a resposta envolvia dizer
"Bem!", "Estável!" ou caso o bebê não estivesse nem bem, nem regular, "O
médico já irá falar com o Sr(a). daqui a pouco!". Estas respostas eram
elaboradas de acordo com critérios padronizados e condicionados ao
estado de saúde do bebê, bem como para padronizar nosso modo de
envolvimento com os pais.
14
Inúmeras foram as vezes em que eu senti vontade de responder
de maneira diferente, e explicar
- Olha, o bebê tem chorado porque sente falta de carinho, ou de
companhia, ou porque a fralda não foi trocada, ou porque está com dor ...
Por tantos outros motivos que eu imaginava serem causadores do choro.
Tentar acalmá-Ios dizendo:
- Olha, o seu filho está passando bem, preste atenção na expressão do
rosto dele, ou como ele está tranqüilo e relaxado no berço...
Não o fazia por puro desconhecimento, por não ter aprendido
com alguém como interpretar o comportamento do recém-nascido e por
receio de estar dizendo uma grande bobagem e receber críticas severas
dos outros profissionais por fugir ao modelo vigente.
Por diversas ocasiões também me senti confusa frente ao recém
nascido que me olhava atentamente. Um olhar indagador, visivelmente
\querendo perguntar algo que eu não conseguia "cientificamente" entender,
e que caso me atrevesse a fazê-Io sentiria uma incerteza muito grande
I
sobre como e o que responder. Pensava:
- O que "dizer" a um bebê que afirmam, incisivamente, que mal nos
enxerga e ouve?
A motivação para.aprender sobre qual seria o envolvimento ideal
entre um recém-nascido e seu cuidador iniciou com a descoberta da minha
dificuldade para responder à dúvida acima citada.
Ao longo dos dezoito anos que antecederam a escolha do tema
proposto para o estudo, notei significativos avanços na maneira como os
15
profissionais passaram a encarar o seu relacionamento, tanto profissional
quanto pessoal, com o bebê.
Ficaria muito difícil descrevê-Ias sem ocupar exaustivamente o
leitor e assim desviar sua atenção do objetivo principal do estudo. Porém
reforço que, apesar do número de anos de "experiência" que alguém
poderia julgar que adquiri, eu ainda sentia dúvidas quanto à maneira como
os cuidadores encaram a comunicação com o recém-nascido.
1.3 Sobre o cenário do estudo
No meu entender, a unidade de internação neonatal, dentro do
contexto hospitalar, é o local onde ocorrem o maior número de interações
entre o cuidador de enfermagem e o recém-nascido. Estas interações
variam em intensidade frente aos diferentes níveis de complexidade de
atenção que cada recém-nascido exige do cuidador. Por isto considerei a
unidade de internação neonatal como o "Iocus" preferencial para o meu
estudo.
Entendi que o cuidador de enfermagem do ambiente hospitalar,
era o profissional que contribuiria significativamente com seu conhecimento
para o estudo da comunicação com o recém-nascido; uma vez que este
cuidador é o profissional da área da saúde que mais tempo permanece
junto ao recém-nascido. Acredito que o contexto onde desenvolve suas
16
ações de cuidado, possa influenciar nas suas atitudes com os recém
nascidos.
Na Unidade de Internação Neonatal (UIN), local onde desenvolvo
minhas atividades docentes, existem cuidadoras e cuidadores de
enfermagem de diversas categorias funcionais; são as enfermeiras, as
técnicas de enfermagem e as auxiliares de enfermagem. Em função disto,
entendo ser possível existirem diversas formas de perceber e efetivar a
comunicação com os recém-nascidos. O local do estudo está inserido em
um hospital-escola de referência no País. Esta unidade de internação
neonatal recebe recém-nascidos com diferentes condições de risco à
saúde, exigindo por isto diferentes níveis de atenção quanto à complexidade
por parte dos cuidadores.
1.4 Sobre as motivações para o estudo
Entendo que o cuidador de enfermagem transmite ao bebê
mensagens verbais ou não verbais durante as atividades de cuidado. Estes
momentos de interação humana entre o cuidador e o bebê certamente
estão repletos de "comunicação" pois, segundo Silva M. J.(1991, p.129)
mostramos nossos sentimentos através de movimentos e posições
corporais.
Para que ocorra comunicação entre dois seres humanos, precisa
existir uma mensagem; a mensagem é um dos componentes da
17
comunicação de acordo com Vieira (1978, p.13). Penso que a mensagem
do cuidador para o recém-nascido seguramente está contida naquilo que
ele pretende comunicar enquanto cuida. Porém a mensagem que o recém
nascido emite para o cuidador consiste de uma leitura que ele cuidador faz
das manifestações não verbais do bebê.
Enquanto professora, senti a necessidade de aprofundar meus
conhecimentos teóricos sobre o cuidado ao recém-nascido, associando a
teoria ao conhecimento prático. À medida que me aprofundava nos estudos
sentia aumentarem as inquietações a respeito da comunicação com o
bebê.
Sabendo que as áreas de conhecimento do ser cuidador e do ser
cuidado influenciam no processo de comunicação, foi do meu interesse
conhecer a percepção* do cuidador de .enfermagem sobre a
comunicação com o recém-nascido.
1.5 Sobre a escolha do tema
A habilidade para a comunicação com o bebê que se possuía há
um tempo atrás, senão ainda hoje, era de pouca relevância para o
reconhecimento da competência dos cuidadores e esta temática, como
* Percepção Ferreira (1986), é o ato, efeito ou faculdade de perceber e perceber tem o
significado de compreenderj conhecer e entender, entre outros. .
18
componente do cuidado de enfermagem, era pouco discutida quando se
tratava do cuidado ao recém-nascido.
Ao iniciar minha carreira como enfermeira de recém-nascidos,
possuía poucos conhecimentos sobre eles como pacientes. Sendo assim
procurei, investigando e questionando a realidade que me cercava, construir
um modelo próprio de cuidados, baseado na observação dos outros
cuidadores e no estudo da literatura acessível na época.
Lembro que os primeiros autores com quem tive contato foram
Klaus e Fanaroff (1977). Estes autores faziam a seguinte referência aos
cuidados maternos e de enfermagem ao recém-nascido:
"Los estudios realizados con animales y con
seres humanos indicam que 105 tipos de estimulación que Ia
mayória de Ias madres y Ias enfermeras sensibles orerecen
en forma espontánea como respuesta ai comportamiento dei
recién nacido, podrían servir de base para ampliar Ias
experiências de estas ninas y fomentar su desarollo en el
crucial período inicial." (p.122)
As crenças que ainda vigoravam sobre a falta de potencial dos
recém-nascidos inibiam manifestações contrárias ao saber vigente e
criavam barreiras para possíveis tentativas de comunicação com eles.
Quando se iniciava a argumentar sobre a observação de alguma evidência
que mostrasse que o bebê estava emitindo sinais de entendimento, ouvia
se a afirmação de que isto não poderia estar acontecendo porque os recém
nascidos possuem uma capacidade cerebral e de relação reduzidas.
Sendo considerados imaturos, do ponto de vista neurológico, os
recém-nascidos não nos entendiam, era esta a idéia. Eles apenas choravam.
para chamar nossa atenção, ou quando estavam com fome ou quando
tinham sujado as fraldas. Inclusive a sensação de dor Ihes era negada,
19
afinal não tinham maturidade neurológica e o seu choro era apenas um
"reflexo"
Ficava muito difícil afirmar que o neonato estava esboçando um
sentimento através da sua expressão facial. Certamente alguém contestaria
esta afirmação e diria que a manifestação ocorria
"apenas por uma
contratura muscular involuntária dos músculos da face". As enfermeiras
naquela época ainda não transitavam tão bem pelo conhecimento do
cuidado ao recém-nascido, para contestarem este conceito. O
conhecimento empírico de colegas mais sábias perdia seu valor se
comparado à sabedoria dos estudiosos e dos pesquisadores.
Certos profissionais, aleatoriamente, teciam comparações entre o
cuidado aos recém-nascidos e a pacientes adultos comatosos. Afirmavam
que, assim como aqueles pacientes, eles necessitavam dos cuidados
especializados e carinhosos da equipe de enfermagem; bastava que a
equipe cumprisse todas as orientações terapêuticas prescritas.
Os cuidados técnicos eram muito mais relevantes para o sucesso
da terapêutica que o comportamento carinhoso dos cuidadores. O
comportamento científico aparecia como uma qualidade inata, alguns a
tinham em abundância e outros menos, mas ele era sempre exigido dos
profissionais que se envolviam com o cuidado ao recém-nascido. Eram
valores de uma época, que têm seu mérito e devem ser mantidos, Porque
particularmente levaram à produção da investigação científica, e com o
estudo, ao desenvolvimento e reconhecimento da nossa profissão.
20
Pergunto-me: o que é adequado ao recém-nascido?
- Será que o cuidador tem a preocupação em adquirir o conhecimento sobre
Percebo que atualmente existe um grande número de estudiosos
e de profissionais tentando adequar à sua prática os valores humanos que
foram esquecidos, em prol da ciência pura, para inseri-los no contexto do
conhecimento sobre o cuidado ao recém-nascido. Assim como noto que as
crenças sobre o potencial, hoje repudiadas por desrespeitarem o caráter
humano do bebê, continuam a aparecer através do comportamento de
alguns dos profissionais. Estes ainda relutam em ver o recém-nascido sob
essa nova ótica, a de um ser humano completo e com características
próprias de sua idade.
Recordo que da metade da década de 80 em diante começamos
a receber informações sobre a necessidade dos bebês de conviverem com
a mãe, sobre a importância do aleitamento materno como elemento
formador do vínculo afetivo entre a mãe e o seu filho. Começou a se
estruturar uma nova maneira de cuidar, com a presença dos pais,
principalmente a da mãe.
A referência à sensibilidade das mães, comparada à das
enfermeiras encontrada na obra de Klaus e Fanaroff (1977), anteriormente
citados, me levou a ponderar sobre a relevância de ficar atenta à maneira
de abordar um recém-nascido, de observar o seu comportamento e ao difícil
papel de "mãe substituta", como eventualmente dizia uma pessoa da
comunidade ao se referir a alguém da enfermagem.
.
21
Enquanto cuidadora de enfermagem sempre me pareceu de
relevante importância a relação de comunicação com os pais e com a
família, porém me inquietava a qualidade da minha comunicação com os
recém-nascidos. Comecei a prestar atenção em como os recém-nascidos
se comportavam frente aos diferentes cuidados recebidos e a observar o
modo de cuidar dos outros profissionais.
Após algumas observações, mais tarde, passei a fazer outro
questionamento:
- Teriam todos os cuidadores de enfermagem o mesmo
entendimento sobre o potencial de um recém-nascido como ser humano e
todos dispunham de sensibilidade para entender suas necessidades e para
responder aos seus apelos?
Talvez nossa sensibilidade pudesse ser comparada à materna.
Porém não deveríamos cuidar do recém-nascido com a intenção de
substituí -Ia.
Em 1978, quando comecei a atuar no cuidado ao recém-nascido,
eu não tinha experimentado ainda a vivência cotidiana com crianças ou
bebês. Aquilo que já sabia sobre o comportamento dos cuidadores com os
bebês, e como são os bebês no seu dia-a-dia eu havia aprendido com as
professoras da faculdade. Foi necessário observar como as outras
enfermeiras, médicos e outros profissionais da enfermagem se
comportavam com o recém-nascido. Afinal eu não sabia como distinguir o
motivo do choro e o que habitualmente se diz a um bebê quando ele chora.
22
Após alguns meses senti que a minha capacidade de observação
estava se aperfeiçoando e eu começava a entender o que realmente
parecia agradar aos bebês, quando eram cuidados. Foi observando e
experimentando que cheguei a atingir um modo próprio de cuidar, naquilo
que chamam de "maternagem" *
1
.
Passaram-se vinte e quatro anos entre a época da escolha pela
atividade profissional e o momento atual, dos quais quatorze têm sido
dedicados também à docência. Ainda me considero uma aprendiz,
descobrindo constantemente novas facetas do cuidado ao bebê.
Quando optei por ser docente do curso universitário responsável
por minha formação, passei a ensinar aquilo de que sempre gostei, cuidar
de recém-nascidos. Assumi desta forma a grande responsabilidade de
educar pessoas, de transmitir os conhecimentos adquiridos para ajudá-Ias a
construírem o seu perfil profissional.
Iniciou um novo desafio. Passei a me preocupar com o ensino de
uma habilidade que considero essencial no cuidado ao recém-nascido,
nossa comunicação com ele.
A comunicação bem-sucedida entre o cuidador de enfermagem*
2
e o seu paciente era uma recomendação recebida por diversas vezes das
minhas professoras. Davam a entender que da habilidade do profissional de
*
1
Este termo é utilizado no texto para representar aquilo que Montagu (1988, p.106) define
como "um regime rotineiro de atendimento do tipo maternal".
*
2
O termo cuidador de enfermagem é utilizado, no texto, para designar as categorias de
profissionais de enfermagem, os enfermeiros, técnicos e auxiliares de enfermagem, que
atuam na unidade de intemação neonatal, e está baseado nas afirmações de Waldow (1995,
p.7-30)
23
enfermagem na comunicação com seu paciente dependia a satisfação de
uma necessidade humana básica, assim como desta habilidade dependia o
sucesso da coleta de informações necessária para identificar os problemas
do paciente.
A mensagem aprendida sobre a comunicação e sua importância
para o paciente e para a enfermeira me acompanhava. Havia aprendido que
os recém-nascidos eram cem por cento dependentes de nós e que a sua
sobrevivência dependia de atendermos às suas necessidades de
alimentação, hidratação, medicação, higiene, conforto, gregária e de afeto.
Providenciar o atendimento à necessidade de convívio humano
do recém-nascido fazia-me sentir envolvida numa situação complexa e às
vezes contraditória Considerando de um lado a crença na importância
maior do convívio do bebê com seus pais e na obrigação de preservar esta
relação a qualquer custo e de outro lado a preocupação em melhorar a
qualidade da nossa relação com eles.
Como enfermeira, professora e como cuidadora de recém
nascidos sinto a necessidade de fazer com que o bebê perceba a minha
presença e o faço procurando me comunicar com ele.
A comunicação a que me refiro contém um elenco de atitudes
dirigidas a captar a atenção do bebê para lhe transmitir as minhas
mensagens. Usando a observação e projetando conhecimentos obtidos
procuro identificar as mensagens a mim dirigidas pelo bebê. Em atividade
prática com alunos busco orientá-Ios sobre estes aspectos e informá-Ios
que, através do cuidado, estamos nos comunicando com o ser cuidado.
24
Senti a necessidade de desenvolver meus conhecimentos na
área da comunicação entre o cuidador de enfermagem e o recém-nascido,
no contexto do cuidado.
À medida que ia aprofundando meus conhecimentos, fui
encontrando algumas respostas úteis para elucidar problemas relacionados
ao potencial do bebê para se relacionar com o cuidador, seja com seus pais
ou com os profissionais que o cuidam.
Porém não encontrei, na literatura consultada, informações
detalhadas sobre o ponto de vista do cuidador de enfermagem a respeito da
sua comunicação com o recém-nascido, ou seja, da sua percepção do
desenrolar desse processo. É por este motivo que decidi desenvolver este
estudo.
1.6 Sobre a fundamentação teórica do tema
Entendo que a comunicação é um meio utilizado pelas pessoas
para se relacionarem. Acredito também que estamos constantemente nos
comunicando. Apenas com a nossa presença já estamos "passando" algo a
alguém, mesmo que esta não seja nossa intenção.
Penso que o recém-nascido, assim como nós adultos, busca
estabelecer alguns relacionamentos interpessoais assim que nasce. Parece
inevitável que ele continuidade à relação com sua mãe, que começou
dentro do útero. É evidente que o bebê é inexperiente para estabelecer
25
outros relacionamentos mas, apesar da sua falta de habilidade, o recém
nascido também é exposto ao contato com outras pessoas assim que
nasce, sendo então estimulado a utilizar sua capacidade de comunicação
para efetivar outros relacionamentos. Mesmo que o bebê não use da
intencionalidade para provocar contatos, a sua aparência corporal e a sua
presença já são suficientes para provocar reações no adulto que o fazem
lembrar de cenas ternas e carinhosas.
Sobre o conceito de comunicação Stefanelli (1993, p.30) a define
como um processo de compreender e compartilhar mensagens enviadas e
recebidas, em que as próprias mensagens e o modo como se dá o
intercâmbio influencia o comportamento das pessoas envolvidas. Para ela,
a comunicação pode afetar as pessoas mesmo estando elas isoladas ou
afastadas do contexto onde a comunicação ocorre, e as pessoas sempre
estão envolvidas num campo internacional.
Para Bordenave (1997, p. 41) a comunicação é um "processo
multifacético" que ocorre ao mesmo tempo nos níveis consciente,
subconsciente e inconsciente. Para este autor é impossível apontar onde
começa ou termina o processo de comunicação.
Bordenave menciona oito fases que compõem o processo de
Comunicação, podendo elas ocorrerem em qualquer ordem ou
simultaneamente. São elas a pulsação vital, a interação, a seleção, a
percepção, a decodificação, a interpretação, a incorporação e a reação.
(Bordenave, 1997, p. 42-45) Destas oito fases considero pertinente ao tema,
citar o conceito de Bordenave para duas, a interação e a interpretação:
L
26
- A interação corresponde à fase onde a pessoa, porque necessita entrar
em interação com o meio ambiente, "emite e recebe mensagens por todos
os canais disponíveis: olhos, pele, mãos, língua, ouvido".
- A interpretação é a fase que exige da pessoa que ela coloque a
mensagem em um contexto para compará-Ia a outros elementos do seu
repertório e com o conhecimento que tem das intenções do seu interlocutor.
A comunicação, na concepção de Rector e Trinta (1999, p. 8), é
uma atividade que todos conhecem e praticam e que poucos conseguem
definir satisfatoriamente. Dizem, estes autores, ~_e os atos de comunicação
parecem “tão naturais" no cotidiano das pessoas, que elas dispensam
maiores explicações.
A introdução do tema da comunicação na literatura de
enfermagem é relativamente recente no Brasil. Na década de 80 Stefanelli
(1981, p.239) ressalta a importância da comunicação para a assistência de
enfermagem. Sugere em seu artigo que tanto professores, como
enfermeiros e alunos pensem sobre a importância da comunicação verbal e
não verbal que se desenvolve entre eles e o paciente.
Silva M. (1990, p. 411-412) realiza um estudo com o objetivo de
verificar a percepção das enfermeiras a respeito da comunicação. No seu
trabalho os resultados demonstram que a percepção das enfermeiras, a
respeito da comunicação na interação com o paciente, é voltada para a
comunicação verbal e que a percepção da comunicação não verbal está
deficiente em nível consciente.
27
Silva e Stefanelli (1994, p.270) referem que na década de 90 foi
introduzida uma nova sistematização no ensino da comunicação
enfermeira-paciente abordando aspectos da comunicação não verbal.
Radünz (1998, p. 15) conceitua o "cuidar da enfermagem" como
"[.... ] olhar enxergando o outro, ouvir escutando o outro, observar
percebendo o outro e sentir empatizando com o outro [ ..... ]". Nas palavras de
Radünz, para caracterizar o cuidado de enfermagem, encontro indícios da
presença dos elementos do processo de comunicação citados por Stefanelli
(1993, p.32-33) que são três:
- " o emissor ou remetente, o receptor ou destinatário e a mensagem."
Sobre a comunicação entre o cuidador e o recém-nascido
considero que, ao se comunicarem com o recém-nascido, os cuidadores o
façam de uma maneira diferente. Acredito ser essencial, para o sucesso da
comunicação com o recém-nascido, que os cuidadores estejam conscientes
das diferenças existentes entre compartilhar mensagens com uma pessoa
inexperiente nas relações humanas e compartilhar mensagens com
crianças maiores, adolescentes e adultos.
Julgo que o conteúdo do "diálogo" dos cuidadores com o recém
nascido deva ser
uma "conversa" carinhosa, para lhe transmitir
tranqüilidade e despertar sua confiança nas futuras relações interpessoais.
Uma explicação minuciosa do cuidado em si parece-me mais uma maneira
do cuidador verbalizar o que sente do que uma mensagem inteligível para o
bebê.
28
Lembro dos momentos passados com o recém-nascido e recordo
que ao estar com ele ocorrem algumas modificações espontâneas no meu
comportamento. Sinto que modifico a entonação da voz e o conteúdo da
minha fala, bem como procuro exercer um toque suave e ao mesmo tempo
seguro, controlando a pressão das mãos sobre a pele do bebê.
Atribuo estas modificações a um comportamento aprendido;
praticamente todas as pessoas que conheço agem desta maneira com o
bebê, com a intenção de lhe proporcionar conforto. Quando acolho o recém
nascido da maneira antes descrita estou procurando fazê-Io sentir que o
novo ambiente (extra-uterino), onde começa a viver, pode ser acolhedor e
que as pessoas que eu, de certa forma represento, têm por ele
consideração. Ao pensar sobre esta atitude com o bebê, faço a seguinte
indagação:
Será que todos os cuidadores de enfermagem se preocupam com o que
estão comunicando ao recém-nascido durante a ação de cuidar?
Refletindo sobre a necessidade de perceber o outro para chegar
ao cuidado descrito por Radünz (1998, p.15) penso que, além de valorizar
no recém-nascido a sua fragilidade e dependência do adulto, parece
necessário entender como ele se comporta como ser humano; assim como
para entendê-Io é necessário reconhecer e aprender o que ele, bebê,
consegue apreender do convívio com o cuidador.
Ao revisar a literatura, encontrei referência às capacidades
sensoriais, ao comportamento do recém-nascido e ao seu potencial para se
comunicar, assim como a importância e o uso da comunicação como
29
elemento do cuidado;
porém não encontrei referências que me
esclarecessem sobre como se dá, especificamente,' a comunicação do
cuidador de enfermagem com o recém-nascido, que é o tema deste estudo.
A comunicação com o "paciente" estava citada com destaque nos
textos que lia; era descrita como um importante meio para contribuir com o
sucesso da terapêutica e dos cuidados de enfermagem. Tendo desta forma
um duplo sentido, o de uma maneira de interagir (dialogando) com o
paciente e o de uma terapêutica, conforme Vieira (1978, p. 23).
Para esta autora, o apoio é oferecido ao paciente/doente através
da comunicação, no momento do encontro entre ele e a enfermeira. Neste
encontro a enfermeira se coloca disponível para dialogar, ouvir e responder
às angústias e aos questionamentos dos pacientes.
Observando como o cuidado, em nível profissional, se
manifestava, percebi a existência de modos peculiares que distinguiam o
modo de cuidar dos recém-nascidos entre os profissionais da enfermagem.
Não estou discorrendo sobre as habilidades técnicas e sim sobre as
atitudes observadas, que demonstravam ou não a preocupação dos
membros da equipe de enfermagem em relação à comunicação com o
bebê.
Percebi que alguns, ao executarem uma determinada técnica, o
faziam conversando, acarinhando e acalmando o recém-nascido como se o
conhecessem bem; outros ao executar a técnica o faziam de forma rápida e
impessoal, isto é, entravam e saíam de cena mudos e impessoais e outros
mesmo acarinhando e acalmando os bebês o faziam mecanicamente.
30
Observei também que os bebês manifestavam seus sentimentos
através de movimentos corporais quando expostos às atividades de
enfermagem e haviam cuidadores que pareciam perceber e se preocupar
com isto e outros não. Questionava então se caberia à enfermeira, no papel
de orientadora da equipe, a responsabilidade de orientar sobre a
importância de ser sensível aos apelos do recém-nascido?
Procurei encontrar a resposta a esta indagação realizando
diversas leituras que me orientassem sobre o comportamento dos recém
nascidos
Montagu (1988, p. 63) descreve o "bebê humano" como um ser
pouco desenvolvido, dependente e imaturo ao nascer, quando comparado
aos filhotes de outras espécies. Vários anos são necessários, nas palavras
do autor, para que ele alcance a plena maturidade física e neurológica,
essenciais para subsistir sozinho. Para este autor, dentro das capacidades
sensoriais do bebê, a mais desenvolvida em maturidade é a "percepção
)
sensorial do tato". A afirmação deste autor demonstra o quanto o recém
nascido é dependente do adulto para se desenvolver e
quantas
informações nós, cuidadores, passamos porque o tocamos constantemente
para cuidá-lo.
Klaus e Klaus (1989,p. 18) referem que, apenas em meados de
1960, os médicos e psicólogos começaram a acreditar Que o recém-nascido
era desenvolvido além de um nível primitivo. Até então, o recém-nascido,
era considerado um tanto limitado, capaz de realizar as funções de comer,
mover-se, dormir e chorar, existindo num mundo que segundo os autores
31
era retratado como uma “confusão de burburinho e brilhos. No prefácio de
seu livro, Klaus e Klaus escrevem:
"Quando nossos próprios filhos nasceram, não tínhamos
consciência de todos os seus surpreendentes talentos e
capacidades. Naquele tempo, quase todos - incluindo os médicos -
acreditavam que os bebês não apenas não eram capazes de ver ou
focalizar os olhos, como também que eles certamente não
responderiam ou reconheceriam a voz de suas mães. Ninguém
falava sobre a possibilidade de que um bebê pudesse imitar
expressões faciais, responder a ritmos de linguagem, alcançar
objetos e começar a aprender em tão tenra idade." (1989, p. 10)
Desconheço a idade dos filhos de Klaus e Klaus, mas encontro
na sua mensagem, acima transcrita, uma informação preciosa sobre o
quanto aprendemos com nossos próprios filhos. Naquele primeiro ano em
que comecei a cuidar de recém-nascidos hospitalizados, engravidei do meu
filho mais velho. Certamente, para mim, esta coincidência aguçou o meu
interesse sobre a comunicação com o recém-nascido e apurou meu sentido
~
de observação.
Com a chegada do Luiz Artur passei a experimentar, vinte e
quatro horas por dia estes momentos fascinantes de interação, da
descoberta e construção de um modo de viver. Oito anos depois, meu
segundo filho, o André Luiz, aproveitou os ensinamentos adquiridos (pela
mãe) e acrescentou outras experiências à minha vida.
Sobre as capacidades sensoriais e internacionais, Lebovici (1987,
-
p. 88-92) afirma que o recém-nascido é capaz de explorar visualmente o
ambiente e de organizar sua percepção sobre este; sendo também capaz
-
de ouvir e discriminar nitidamente os sons, demonstrando preferência pela
~
voz humana.
32
Segundo afirma Lebovici (1987, p. 93-101), durante os seis
estados de vigilância do recém-nascido (estado de sono profundo; estado
de sono leve; estado de sonolência; estado de alerta quieto; estado de
atividade motriz generalizada e estado de atividade motriz difusa), o bebê
apresenta em cada um deles, do ponto de vista interacional, um conjunto
específico de comportamentos. Estes comportamentos parecem representar
um meio utilizado pelo bebê para se comunicar, proporcionando à mãe uma
maneira de avaliar o efeito da atenção por ela prestada.
Reconhecendo, pelas palavras do autor, a existência desta
maneira do bebê se comunicar, fica mais fácil interagir com ele.
Da mesma forma que Lebovici (1987), Klaus e Klaus (1989, p.13
32) também descrevem os "seis estados de vigilância" denominando-os de
"estados de consciência". Para os autores acima citados, quando o recém
nascido se encontra no estado de inatividade alerta (p. 17), ele está no
momento ideal para interagir conosco, nos escuta, olha com atenção e
raramente se move.
Os recém-nascidos, para Lebovici (1987, p.102), intervêm de
diferentes maneiras na interação com a mãe; isto é, são capazes de agir
com personalidade própria, exigindo da mãe uma leitura adequada
do significado das suas respostas. O autor chama nossa atenção para as
diferenças individuais entre os recém-nascidos em relação à "irritabilidade",
à "consolabilidade", à "capacidade de apaziguar por si mesmo", aos
"estados de vigilância", à "reatividade aos estímulos", à "sucção", à "clareza
de sinais" e às "capacidades sensoriais".
33
As diferenças individuais existentes entre os recém-nascidos são,
na opinião de Lebovici (1987, p.102), argumentos que deveriam nos liberar
- e às mães - de criar as fórmulas "estandartizadas" de cuidados maternos.
Para nós, cuidadores de enfermagem, esta afirmação certamente serviria
como uma crítica severa à nossa tendência em criar rotinas generalistas de
cuidado, colocando em segundo plano a individualidade do ser cuidado.
Whaley e Wong (1989, p. 123), ao salientarem a importância das
enfermeiras possuírem um conhecimento profundo da tecnologia e
reconhecerem em cada recém-nascido sua individualidade, sua
singularidade e sua capacidade de moldar ou alterar o ambiente, afirmam
que:
A assistência tecnológica e psicológica qualificada de enfermagem durante o
pós-parto imediato constitui um forte alicerce para o desenvolvimento
- --
saudável da criança e seus pais."
Baseada no conhecimento das capacidades do recém-nascido
para se comunicar e na presença inevitável da comunicação nas relações
interpessoais, posso afirmar que, sempre que o cuidador de enfermagem
realiza qualquer espécie de cuidado, há alguma forma de comunicação.
Neste momento algo é "dito", seja através de palavras ou de ações.
Silva, R. (1995, p.39) faz uma reflexão sobre o uso do corpo na
relação "enfermeira/cliente". Para a autora a relação da enfermeira com o
"cliente" se dá via voz, gesto, palavra, pausa, respiração, olhar, toque,
silêncio, olfato, lágrima, que são elementos do próprio corpo da enfermeira.
O corpo é o veículo, a forma, que a enfermeira possui para "entrar e sair do
34
mundo", da sua relação com o cliente. Da mesma maneira todo cuidador de
enfermagem, intencionalmente ou não, utiliza o corpo para emitir
mensagens durante o cuidado ao recém-nascido.
Acredito que o recém-nascido é capaz de fazer uma leitura
destas mensagens e pode elaborar um "conceito" daquilo que lhe foi "dito",
atribuindo um caráter positivo ou negativo à mensagem. Embora não possa
se expressar de maneira verbal, é capaz de emitir mensagens corporais,
acompanhadas de sons ou não, que revelem seus sentimentos para o
cuidador. Creio também ser possível que esta mensagem não receba a
mesma atribuição de valor entre os cuidadores, podendo passar
desapercebida na relação de cuidado.
Quando falo em comunicação com outra pessoa penso que, na
maioria das vezes, ela mentaliza uma conversa, um diálogo entre dois ou
mais seres humanos que estão interagindo através da linguagem. Parece
difícil explicar para estas pessoas, que acreditam ser a linguagem a única
forma de comunicação, que é possível se comunicar com os recém
nascidos. Certa vez uma aluna disse: "Professora como vou saber se ele
(ela se referia ao recém-nascido) me entendeu, ele não sabe responder?".
A minha resposta foi imediata:
- Certamente vais saber através da expressão de satisfação que o rostinho
dele te mostrar!
Ao dar esta resposta,
acreditei que a aluna fosse capaz de
reconhecer no neonato os sinais faciais que indicavam satisfação. Hoje eu
35
seria mais prudente ao responder este tipo de pergunta. Avaliaria, primeiro,
a capacidade do aluno para entender e "conversar" com o recém-nascido.
Silva, M. J. (1991, p.128) atribui às enfermeiras .a
responsabilidade de conhecerem e estarem atentas às formas de
-
comunicação, verbal e não verbal, emitidas pelo paciente ou por elas
mesmas, tendo como tarefa decodificar, decifrar e perceber o significado da
mensagem que o cliente envia para poderem estabelecer um plano de
cuidados adequado e coerente com as necessidades dele. Será então que,
conhecendo como é a comunicação não verbal dos recém-nascidos, já
teríamos informações e recursos suficientemente eficazes para nos
comunicarmos com eles e realizarmos um bom cuidado?
Silva M. J. (1991, p.128-129) explica a importância da
comunicação não verbal* na expressão e reconhecimento de sentimentos
humanos e afirma que "o não verbal é o aspecto central da comunicação
humana." A mesma autora cita as seis "dimensões de relacionamento"
existentes na comunicação não verbal, sendo elas:
- a cinésica, a linguagem do corpo;
- a proxêmica, o uso humano do espaço para fins de
comunicação;
- a paralinguagem, o uso dos sons produzidos pelo aparelho
fonador e usado no processo comunicatório, sem fazer parte do
sistema sonoro da língua usada;
- a tacesica, o uso do toque em situações de saudação, de
despedida; as características físicas, a aparência e os fatores do
meio ambiente, que influem no comportamento;
- as características físicas, o uso de atrativos físicos que podem
ser manipulados pelo indivíduo e servir como comunicadores;
- os fatores do meio ambiente, o estilo de decoração, cores,
condições de luz, sons que influem na comunicação interpessoal.
.. A comunicação não verbal diz respeito à todas as formas de comunicação que o envolvem as
palavras. (Silva, 1991, p.128)
36
Certamente o recém-nascido ainda não domina a comunicação,
seja ela verbal ou não verbal. O conhecimento das dimensões da
comunicação podem ser informações úteis para os cuidadores, quando
reconhecem a comunicação como parte do cuidado.
Montagu (1988, p. 21-22) descreve a pele como o mais
extenso órgão sensorial do corpo e o sistema tátil como o nosso primeiro
sistema sensorial a tornar-se funcional. Durante a vida intra-uterina os
estímulos externos já proporcionaram ao feto algumas experiências de
comunicação. Os sentidos do tato e da audição permitiram que o feto
percebesse e registrasse na memória o calor e o aconchego das paredes
uterinas, do líquido amniótico e da voz materna. O recém-nascido é capaz
então, de receber mensagens do seu cuidador, através da percepção tátil,
ao ser cuidado.
O nascimento marca para o recém-nascido o começo de um novo
aprendizado. As pessoas que cuidam dele logo ao nascer, no caso os
cuidadores de enfermagem, além da mãe, do pai ou de outros familiares
-
mais próximos, introduzem o bebê no mundo das relações humanas.
2 ASPECTOS METODOLÓGICOS
2.1 Sobre a escolha do método de estudo
Entendo que a explicação sobre como se deu a escolha da
abordagem metodológica seja especialmente relevante para o entendimento
do desenrolar e do desfecho do estudo. Ao incluir este capítulo; pretendo
explicar como o estudo se estruturou, do ponto de vista do conjunto de
método e de técnica de investigação utilizados, para chegar às
considerações que serão apresentadas mais adiante.
Em Santos e Cios
(1998, p. 11) encontra-se a seguinte
afirmação:
"[...] a metodologia inclui as concepções teóricas de abordagem e o
conjunto de técnicas destinadas à construção da realidade e à
potencialização da criatividade do pesquisador".
Ao planejar este estudo, baseei-me na concepção de Minayo
(1997, p. 16) sobre a metodologia enquanto conjunto de técnicas; ela diz
38
que é preciso "dispor de um instrumental claro, coerente, elaborado e capaz
de encaminhar os impasses teóricos para o desafio da prática".
A abordagem qualitativa foi a escolhida para desenvolver o
estudo da comunicação entre o cuidador de enfermagem e o recém
nascido. A escolha se deu porque a minha intenção com o estudo foi a de
investigar como um grupo de pessoas, os sujeitos do estudo, entendia um
aspecto do seu cotidiano, a comunicação, no contexto de suas atividades.
A opção pela abordagem qualitativa, bem como a constatação da
sua adequação para orientar a execução do estudo, norteou-se através das
cinco características que identificam uma pesquisa do tipo qualitativo,
descritas por Lüdke e André (1986, p. 11-13). São elas:
- "a pesquisa qualitativa tem o ambiente natural como sua fonte
direta de dados e o pesquisador como seu principal instrumento; -
os dados coletados são predominantemente descritivos;
- a preocupação é muito maior com o processo do que com o
produto;
- o significado que as pessoas dão às coisas e à sua vida são o
foco de atenção especial pelo pesquisador;
- a análise dos dados tende a seguir um processo indutivo."
Cabral e Tyrrel (1998, p. 19), citadas por Gauthier, dão relevância
ao uso da abordagem qualitativa na pesquisa de enfermagem porque ela
oferece uma variedade de métodos e técnicas compatíveis com a
investigação de problemas da sua prática.
Minayo (1997, p. 21) afirma que a pesquisa qualitativa se
constitui em uma abordagem com vistas a se aprofundar no "mundo dos
significados das ações e relações humanas, um lado não perceptível e não
captável em equações, médias e estatísticas".
39
Como dizem Polit e Hungler (1995, p. 270), "pesquisadores
qualitativos coletam e analisam materiais pouco estruturados e narrativos"
oriundos da percepção e da subjetividade das pessoas e as "inquisições
qualitativas", dão ênfase à realidade dos sujeitos.
Polit e Hungler (1995, p. 124-15) definem o Estudo de Campo
como um tipo de pesquisa qualitativa que "busca a descrição e a
exploração de fenômenos, em cenários naturais". Como dizem estas
autoras, estes estudos são investigações realizadas em campo e em locais
de convívio social, adequadas para ambientes do tipo hospital e também
para examinar "profundamente, as práticas, comportamentos, crenças e
atitudes das pessoas ou grupos, enquanto em ação, na vida real".
O método descritivo para Parse, Coyne a Smith (1985, p. 91)* é,
dentro da abordagem qualitativa, um modo de investigação oriundo das
ciências sociais, cujos achados são produzidos através de conversas
informais e de observação. Um dos tipos de método descritivo é o estudo
exploratório que, de acordo com as autoras, é uma investigação da
compreensão de um evento na vida compartilhado por um grupo de
sujeitos.
Baseada no conceito de Polit e Hungler e no conceito de Parse,
Coyne e Smith, afirmo que este é um estudo qualitativo que se
desenvolveu com uma abordagem descritiva e exploratória.
* Tradução livre.
40
2.2 Sobre o local onde se realizou o estudo
O estudo realizou-se na Unidade de Internação Neonatal ( UIN )
de um hospital universitário. Este é um hospital considerado uma empresa
pública de direito privado, vinculado à Universidade Federal do Rio Grande do
Sul. Sua área total é de 92.132 m
2
sendo que possui 751 leitos de
capacidade instalada e 725 leitos de capacidade operacional.
Considero interessante destacar o contingente humano que atua
nesta instituição. São cerca de 3.763 pessoas contratadas. pela instituição
e que constam do seu quadro de pessoal no relatório anual de 1998.
No relatório anual do HCPA (1998) consultado encontro que
1.580 funcionários compõem o Grupo de Enfermagem. Isto signifIca que,
em tomo de 43% do quadro de todo o pessoal da instituição são cuidadores
de enfermagem.
A UIN ou a " Neo" ou o "Berçário", como a chamam,
carinhosamente, os profissionais que lá atuam, está localizada no 110 andar
da ala norte e presta serviços à comunidade há dezenove anos.
Comparando-se a capacidade operacional da UIN constata-se que ela
possui um número de leitos que corresponde a cerca de 7,3% da
capacidade operacional do hospital. E analisando-se o número de pessoas
que lá atuam vê-se que em torno de 6,8% do pessoal de enfermagem do
* Não fazem parte deste número os professores e alunos vinculados ao
hospital
41
hospital encontra-se na UIN, atuando no cuidado ao recém-nascido
hospitalizado.
Cabe aqui esclarecer que a UJN atende a todos os recém
nascidos que nascem no hospital e a todos os recém-nascidos ou lactentes
com até 60 dias, provenientes da Emergência Pediátrica ou das Unidades
de Internação Pediátricas do hospital.
A área física da UIN tem capacidade operacional para atender 53
bebês. Os 53 leitos estão distribuídos em 7 salas distintas. Estas se
diferenciam, entre si, devido à severidade das patologias específicas dos
bebês, por causa da complexidade do atendimento dispensado pelas
equipes aos bebês, tanto de enfermagem como médica, assim como por
sua capacidade de leitos.
As salas são denominadas como*:
UTI * 1 (cuidados intensivos, com 6 leitos),
UTI2 (cuidados intensivos e semi-intensivos, com 8 leitos),
UTIISOLAMENTO (cuidados intensivos e semi-intensivos, com 6 leitos),
UTI 3 (cuidados intermediários, com 6 leitos),
UTI4 (cuidados intermediários e com 5 leitos),
INT.1 (cuidados mínimos, com 11 leitos),
INT 2 (cuidados mínimos, com 5 leitos) e
Sala de Admissão (sala para observação da adaptação ao nascimento e
para a realização de procedimentos de admissão, com 6 leitos).
As oito salas são mais ou menos idênticas quanto ao mobiliário,
isto é, possuem incubadoras, ou berços de calor radiante, ou berços
. Informações fornecidas pela enfermeira-chefe da Unidade de Internão Neonatal.
. UTI = Unidade de Tratamento Intensivo; denomina as salas de cuidados
intensivos. . INT = Intermediário; denomina as salas de cuidados intermediários
~=
42
comuns ou algumas vezes, combinações destes equipamentos. Todas
possuem uma pia de localização acessível e com material para higienização
das mãos e antebraços. Possuem locais pré-determinados para a
disposição dos materiais utilizados e para o preparo das medicações, para
que o cuidador permaneça na sala na execução destas atividades. Todas
as salas possuem ar-condicionado central e visores de vidro transparente
para proporcionar uma ampla visão do seu interior e também visores nas
paredes divisórias.
Dentro da sua área física a UIN possui, ainda, um posto de
enfermagem com secretaria, uma rouparia, dois vestiários com instalações
sanitárias ( masculino e feminino), dois vestiários menores sem sanitários,
uma sala de amamentação (dentro da INT 1), uma sala de limpeza de
material esterilizável, uma sala de estacionamento para o aparelho
portátil de raio X, uma sala de estar para os médicos contratados, uma sala
de estar para os médicos residentes, uma sala de expurgo, uma sala para
lanches dos funcionários e uma sala para recepção de mamadeiras.
2.3 Sobre os cuidadores de enfermagem
Na UIN trabalham 108 profissionais de enfermagem contratados
pelo regime regido pela Consolidação das leis do Trabalho (Cl T). Este
grupo de pessoas se distribui em 5 sub-grupos, organizados da seguinte
43
forma; 24 trabalham pela manhã, 24 à tarde e 60 à noite (20 em cada uma
das três noites).
O pessoal que trabalha durante a manhã e a tarde fazem uma
jornada diária que varia entre 6: 15 hs e 6:30 hs, folgando pelo menos uma
vez por semana; e o pessoal que trabalha à noite faz uma jornada 12:30 hs,
sendo que os três grupos da noite (denominados N1, N2 e N3) dividem a
jornada noturna intercalando uma noite de trabalho com duas de folga.
Quanto à distribuição dos cuidadores por sala, considero
relevante esclarecer que a equipe de enfermagem* optou por desenvolver
uma escala de trabalho que proporcionasse a todos o rodízio pelas
diferentes salas. Segundo a enfermeira-chefe esta escolha se deu por
consenso e por acreditar que, devido às diferenças na complexidade
dos cuidados de enfermagem das salas, esta é uma medida que
proporciona a todos os membros da equipe a oportunidade de adquirirem as
mesmas experiências do cotidiano do cuidado de enfermagem ao recém
nascido.
Apesar de que o tempo de experiência do cuidador com recém
nascidos, sadios ou doentes, não tenha sido um critério adotado na seleção
dos sujeitos, considerou-se favorável para o estudo saber que todos tinham
tido a mesma oportunidade para vivenciar o aspecto do cuidado chamado
de comunicação com o recém-nascido.
* Composta por enfermeiros, técnicos e auxiliares de enfermagem
44
2.4 Sobre a entrada no local do estudo
Para realizar a coleta de dados, primeiramente fiz contato com a
enfermeira- chefe da unidade, a fim de informar que o projeto do estudo
estava aprovado pelo órgão responsável dentro da instituição e que a partir
daquele momento gostaria de iniciar a coleta de dados, junto à equipe de
enfermagem da UIN.
Expus qual era a minha intenção quanto ao contato com os
profissionais de enfermagem e a necessidade de comparecer à UIN com a
maior freqüência possível, nos diversos turnos. Forneci a ela um exemplar
do projeto.
Combinamos que o contato se daria sem agendar previamente com
os profissionais de enfermagem do setor e que antes de fazer o convite a
algum membro da equipe, conversaria com uma das enfermeiras
responsáveis pelo turno. Junto com ela avaliaria a disponibilidade dos
profissionais naquele momento em relação à lotação da unidade,
respeitando sempre os recém-nascidos e suas necessidades de atenção.
A partir desse acerto com a enfermeira-chefe adotei uma
estratégia para convidar um dos membros da equipe a cada visita. Utilizei
os seguintes critérios, sem ordem de importância, para fazer o convite:
- estar cuidando de recém-nascidos com menor complexidade de atenção e
estar disposto a participar do estudo.
45
2.5 Sobre os sujeitos do estudo
As dezenove pessoas que participaram são membros da equipe
de enfermagem da UIN. São os cuidadores, maneira como passo a
denominar, indiscriminadamente, as enfermeiras, os técnicos e a auxiliar de
enfermagem que participaram como sujeitos do estudo.
Adotei um critério de inclusão, antes de fazer o convite ao
membro da equipe de enfermagem. A pessoa a quem iria pedir a
colaboração, além de estar disposta a ajudar com seu depoimento, deveria
"
estar escalada para uma das salas de menor risco e a equipe (na opinião da
enfermeira do turno) deveria dispor, naquela hora, de uma( um) substituta( o)
para que a entrevista não fosse interrompida. Sendo assim, os dezenove
cuidadores foram convidados de maneira aleatória a participarem do
estudo.
Um outro critério adotado foi o de convidar um número simétrico
de cuidadores por categoria profissional e por turno de trabalho. Somente
em relação ao turno de trabalho foi considerada a possibilidade de existirem
diferenças na dinâmica de trabalho dos diferentes turnos que pudessem
afetar a percepção do cuidador sobre a comunicação com o recém-nascido.
Os sujeitos do estudo representam uma parcela do grupo de
profissionais de enfermagem que atuam nos três turnos de trabalho (manhã,
tarde e noite) e nas três diferentes categorias de profissionais de
enfermagem que cuidam dos recém-nascidos da UIN. Eles são:
- quanto a sua categoria funcional, 7 enfermeiros, 11 técnicos e 1
auxilia de enfermagem;
46
quanto ao turno de trabalho, 6 do turno da manhã, 5 do turno da tarde e
8 do turno da noite; quanto ao sexo: 17 do sexo feminino e 2 do
masculino; quanto à idade: o mais jovem tem 25 anos e o mais velho tem
49 anos;
quanto ao tempo de atuação profissional em unidades de internação
neonatal este varia de 1 ano e 6 meses até 19 anos e
quanto ao grau de escolaridade, 7 possuem o segundo grau completo, 3
possuem o segundo grau e estão cursando o terceiro, 4 possuem curso
superior, 1 possui curso superior e licenciatura e 4 possuem curso
superior e especialização.
A quantidade de sujeitos que foi convidado a participar do estudo
foi determinada, seguindo a orientação de Sandelowski (1995, p. 179-83)
para o número de sujeitos e para o encerramento da coleta. Esta autora
afirma que uma amostra adequada, num estudo qualitativo, é aquela que
permite uma análise profunda dos dados e resulta em nova e rica
compreensão do fenômeno a ser estudado e o término da coleta obedece a
um critério de redundância, isto é, acontece quando as informações
começam a se tornar repetitivas.
Optei por chamar os dezenove sujeitos por nomes retirados da
mitologia grega e romana, para garantir o seu anonimato. Escolhi os nomes
de algumas das divindades citadas na obra de Schmidt (1985).
As divindades gregas, como pode ser do conhecimento de
alguns, possuem traços da personalidade humana, portanto considero
importante esclarecer que procurei não relacionar o significado de qualquer
um dos nomes às características de personalidade por mim identificadas
nos sujeitos. Relacionei-os sim, quanto ao gênero.
47
Os seguintes nomes são do gênero feminino:
Atena, Dafne, Ceres, Artemis, Circe, íris, Harmonia, Hera, Selene, Métis,
Éris, Felicidade, Hebe, Amizade, Dione, Climene e Afrodite.
São do gênero masculino:
Hermes e Prometeu.
2.6 Sobre a coleta de informações
As informações foram coletadas através de entrevistas. Esta
técnica de coleta de informações para Barros e Lehfeld (1997, p. 57)
permite o relacionamento entre o entrevistado e o entrevistador, o que, na
minha opinião, foi inevitável e essencial para o estudo qualitativo que
realizei.
Escolhi a entrevista semi-estruturada, pois esta, de acordo com
Barros e Lehfeld (1997, p. 58), permite ao pesquisador estabelecer uma
conversação amigável com seu entrevistado na busca de aspectos
relevantes para seu problema de pesquisa e porque, como afirma Triviríos
(1987, p. 152):
- "mantém a presença consciente e atuante do pesquisador e, ao mesmo
tempo, permite a relevância da situação do ator".
Na entrevista semi-estruturada (Anexo 1) fazia duas perguntas
abertas ao sujeito, indagava:
48
- O que o cuidador pensava sobre a comunicação com o recém-nascido e
- Em que momentos do seu cotidiano ele achava que estava ocorrendo a
comunicação com o recém-nascido.
Iniciei a etapa da coleta de informações através das entrevistas
em 6 de outubro de 1999 e encerrei em 10 de novembro de 1999.
Com a finalidade de facilitar o andamento do estudo, por diversas
vezes, realizei a entrevista na própria sala onde o cuidador estava atuando,
desde que ele concordasse em ser entrevistado naquele local e que
estivessem presentes apenas eu, ele e os recém-nascidos sob sua
responsabilidade. Isto aconteceu, principalmente, na UTIN 4 e na INT 2,
onde apenas um cuidador assume no máximo cinco recém-nascidos de
baixo risco e no turno da noite, porque o número de pessoas circulando
reduz significativamente. As demais entrevistas realizaram-se na "sala das
enfermeiras", como é chamada a sala da chefia de enfermagem da unidade,
ou na sala 1122 (ao lado da UIN).
Perguntei aos sujeitos convidados sobre seu interesse em
participar de um estudo cujo tema envolvia o recém-nascido e o cuidador.
Evitei entrar diretamente no tema antes de receber o aceite do convite.
Durante a explanação dada ao sujeito sobre qual seria o objetivo do estudo,
lhe solicitei, verbalmente, que mantivesse sigilo sobre nossa conversa
alertando sobre o quanto era importante que todos que participassem do
estudo não estivessem preparados e com respostas estudadas para a
entrevista. Notei, ao longo da coleta, que todos os sujeitos responderam
positivamente ao meu pedido.
49
2.7 Sobre o respeito ao sigilo
Entreguei aos sujeitos do estudo um formulário denominado
'1
"Consentimento Informado" (Anexo 2), em que é firmado o compromisso de
não divulgar a identidade dos sujeitos que participaram do estudo. Informei
que as gravações contidas nas fitas seriam apagadas imediatamente após a
defesa da dissertação. Acertei também, que os nomes utilizados para
denominar cada um dos sujeitos do estudo seriam fictícios.
Inicialmente os sujeitos foram identificados por um número
arábico, em ordem crescente, correspondente ao número da entrevista, por
exemplo, entrevista 1 = sujeito 1, entrevista 2 = sujeito 2, e assim por diante.
Na época da análise é que escolhi os nomes dos sujeitos, como já foi
explicado anteriormente.
2.8 Sobre a análise das informações
O todo escolhido para a análise dos dados coletados foi a
análise de conteúdo proposta por Bardin.
Bardin (1977, p. 29-31) descreve o método de análise de
conteúdo como um conjunto de técnicas para a análise de comunicações.
Diz que o método é um recurso útil à compreensão das comunicações além
dos seus significados imediatos.
50
As técnicas da anáiise de conteúdo, segundo Bardin (1977, p.
42), são procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo
das mensagens que visam obter indicadores que permitam ao pesquisador
elaborar inferências sobre o conhecimento relativo às condições de
produção/recepção destas mensagens.
Gomes (1997, p. 74), assim como Bardin, utiliza a designação de
"conjunto de técnicas" para definir a análise de conteúdo. Este autor
destaca duas funções para a aplicação da análise de conteúdo; uma delas é
a de. servir para a "verificação de hipóteses e/ou questões" a fim de
encontrar respostas às questões formuladas, confirmar ou não afirmações
previamente estabelecidas(as hipóteses) e a outra é de servir para a
"descoberta do que está por trás dos conteúdos manifestos", daquilo que
está além das aparências.
Dentre as diversas propostas de análise de conteúdo
encontradas na obra da autora, optei pela Análise de Conteúdo Temática. A
análise de conteúdo temática é definida em Bardin (1977, p. 34), como um
tipo de análise de conteúdo que busca a análise dos significados das
mensagens contidas nas comunicações.
Rodrigues e Leopardi (1999, p. 65) dizem que com uma análise
temática procura-se descobrir os núcleos de sentida que compõem uma
comunicação, cuja presença ou freqüência significam alguma coisa para o
objetivo analítico visado.
A escolha da Anáiise Temática se deu porque, ao me familiarizar
com seu método, passei a acreditar firmemente que desta forma
51
conseguiria desvelar os significados das mensagens obtidas através das
entrevistas; e desta forma eu conseguiria alcançar os objetivos propostos no
estudo.
Para operacionalizar a análise orientei-me seguindo aquilo que
Bardin (1977, p.95) recomenda, isto é, observando as suas três fases
cronologicamente distintas, que são:
"a pré-análise; a exploração do material e o tratamento dos resultados
com inferências e a interpretação."
Rodrigues e Leopardi (1999, p. 65) utilizam este mesmo tipo de
classificação para descrever a operacionalização da análise temática.
A pré-análise é a fase da organização propriamente dita para
Bardin (1977, p. 95); ela equivale a um período de intuições e tem como
objetivo
tornar operacionais e sistematizar as idéias iniciais, para as
conduzir a um esquema preciso de desenvolvimento de operações
sucessivas, num plano de análise. Foi durante a pré-análise que:
- as entrevistas, já gravadas em fita cassete, foram organizadas e
catalogadas em ordem crescente, de um a dezenove, transcritas, digitadas
e reproduzidas, as páginas e as linhas que compunham o texto de cada
entrevista foram numeradas em ordem crescente;
- ocorreu a leitura flutuante, recomendada pela autora, simultaneamente
com a transcrição e a digitação, uma vez que a digitação das entrevistas
foram realizadas por mim, o que contribuiu para a absorção do seu
conteúdo e evitou desperdício de tempo nesta etapa;
52
- ocorreu a seleção dos documentos utilizando as regras da
exaustividade, da representatividade, da homogeneidade e da pertinência
recomendadas pela autora, sendo que todas entrevistas foram
aproveitadas.
O trabalho preparatório para a análise propriamente dita, que é a
pré-análise, requer que se referenciem índices e de que se elaborem
indicadores. Como índices escolhi como palavras norteadoras algumas já
existentes na entrevista semi-estruturada, que foram: comunicação,
recém-nascido e cuidado e qualquer outra frase que denotasse afinidade
com o tema estudado. Para indicador utilizei o critério de ser(em) a(s)
afirmação(ões) que melhor representasse(em) o tema desenvolvido. Por fim
a preparação do material constou também da organização das falas em
unidades de registro e das unidades de registro em unidades de contexto,
para então delas emergirem os temas que serão apresentados no capítulo
seguinte, conforme Bardin (1977, p.95-1 02). As unidades de registro foram
catalogadas com o número da entrevista e o( s) número( s) da linha onde se
encontravam no texto, por exemplo: (8. 10, p. 2, 10-6).
A fase de exploração do material, que consiste da fase de análise
propriamente dita e da administração sistemática das decisões tomadas, é
uma fase longa e demorada, composta de operações de codificação,
desconto ou enumeração, em função de regras já formuladas (Bardin, 1977,
p.1 01). A quantidade enorme de informações obtidas exigiu um trabalho
exaustivo para codificar e enumerar as unidades de registro. Obtida esta
codificação e enumeração foi possível começar a visualizar uma maneira de
53
agrupá-Ias por significado. Com a leitura flutuante surgiram dezenove
unidades de contexto que tornaram possível agrupar por afinidade as
unidades de registro.
O tema, para Bardin (1977, p. 105), é a unidade de significação
que se liberta naturalmente de um texto analisado segundo certos critérios
relativos à teoria que serve de guia à leitura. Com o tratamento dos
resultados, inferências e interpretação dos dados brutos emergiram cinco
temas, propriamente ditos. Eles destacam os significados encontrados
acerca do tema estudado, nos depoimentos dos sujeitos do estudo. Tornam
possível para o leitor visualizar rapidamente o que será abordado com maior
ênfase na descrição dos resultados.
Os temas que surgiram foram os seguintes:
1
O significado da comunicação para o cuidador;
2
A relação entre a comunicação e o cuidado ao recém-nascido;
3
O procedimento como uma dimensão da comunicação;
4
A percepção da comunicação frente à presença dos pais e
5
As dificuldades para que ocorra a comunicação.
3
INTERPRETAÇÃO DAS INFORMAÇÕES
A maneira como a comunicação com o recém-nascido se
desenvolve, volto a afirmar, tem sido uma das minhas preocupações
enquanto cuidadora. Ao longo da minha carreira tenho observado que, tanto
eu quanto outros cuidadores, desenvolvemos diversas formas de nos
comunicar com os bebês. Alguns mais, outros menos, alguns parecendo
melhor sucedidos, outros mais retraídos no seu interagir. E foi pensando
nisto que estruturei o estudo, cujos resultados estou iniciando a relatar.
Contribuíram
para
o
desenvolvimento
deste
estudo
os
conhecimentos que obtive ao longo da minha vida acadêmica, profissional e
docente, isto é, o que aprendi sobre os recém-nascidos e sua forma de se
relacionarem com o mundo e a maneira como aprendi a cuidar deles.
Também estão inseridos no estudo as associações que teci entre a teoria e
a prática enquanto me relacionava com os bebês, bem como o referencial
bibliográfico consultado para estruturá-Io.
Acho interessante destacar que durante a coleta de informações
e durante a transcrição das mesmas encontrei, nas respostas dos sujeitos
que participaram do estudo, algumas afirmações que se assemelham às
55
minhas idéias sobre a comunicação com recém-nascidos, enquanto outras
destoam daquilo em que acredito. Algumas dessas afirmações reforçaram o
valor que atribuo ao tema, outras me levaram a refletir sobre as minhas
intenções com o estudo e sobre o rumo ao que ele estava me levando.
Passo, agora, a descrever os cinco temas que encontrei no
estudo; destacando neles as falas dos sujeitos, bem como minhas reflexões
e o compartilhar com autores e a dialogar com estes; já que as respostas
me levaram a buscá-Ios, lê-Ios e revê-Ios, para poder refletir sobre as
informações.
3.1 O significado da comunicação para o cuidador
A manifestação de reconhecimento da existência de
comunicação entre o cuidador e o recém-nascido aparece em todos os
depoimentos coletados. Aproximadamente todos os sujeitos do estudo, de
uma ou de outra maneira, afirmaram que valorizam o significado da
comunicação na sua relação interpessoal com o bebê.
Algumas vezes, ao se expressarem usando o termo "importante",
os sujeitos o fizeram para introduzir positivamente seu posicionamento
quanto ao assunto explorado, ao responderem a primeira pergunta da
entrevista (Anexo A); e outras vezes usaram a mesma palavra para
expressar o que acreditam ser uma expectativa do recém-nascido quanto
ao momento de interação com o cuidador.
l
56
Através das palavras dos sujeitos descubro, ainda, que o
cuidador procura explicar, de diferentes maneiras, o porquê de atribuir
importância à comunicação, na relação de cuidado que mantém com o
recém-nascido.
De acordo com Bordenave (1997, p. 19) a consciência da
comunicação se compara à mesma consciência que possuímos de respirar
ou andar. No seu entendimento a comunicação confunde-se com a própria
vida.
As palavras de Bordenave me propõe uma reflexão. Deduzo que,
eventualmente no nosso cotidiano, nos comunicamos mesmo sem ter a
intenção clara de fazê-Io. Penso que esta comunicação ocorra como uma
ação involuntária, que acontece sem que percebamos. Concluo que,
mesmo sem desejar, estamos transmitindo a quem nos observa, com nosso
corpo e presença, alguma informação.
Com a leitura sobre o estudo dos movimentos corporais, a
Cinética, citada em Davis (1979, p. 38), passo a entender que grande parte
da "verdadeira comunicação humana" se passa num nível abaixo da
consciência, onde a relevância das palavras é indireta; já que segundo este
autor, apenas cerca de 35% do significado social de qualquer conversa está
no significado das palavras.
Desta forma entendo que, numa relação interpessoal, onde a
comunicação está ocorrendo, o entendimento do significado da mensagem
recebida depende de uma associação entre aquilo que é percebido através
57
da "leitura" das expressões corporais e aquilo que é dito através das
palavras.
Ao imaginar uma cena de cuidado, com o cuidador interagindo
com o recém-nascido, relembro imagens recheadas de alguns sons e
muitos gestos, usuais ao contato do adulto com o bebê. Este é outro ponto
importante a ser considerado; existe um adulto e um bebê recém-nascido
nesta cena, e o segundo depende do primeiro.
Segundo Castro Neto (1995, p. 838), a maneira como os pais
costumam corresponder aos anseios do filho, quanto à sua necessidade de
companhia e de cuidados, influencia na formação da personalidade da
criança. Acredito -que, da mesma forma, o modo como o cuidador se
relaciona com o bebê, respondendo ou não aos seus anseios, também
influencia no seu desenvolvimento emocional.
Outrossim, para Edelstein (1998, p. 857), "o bebê humano, para
sobreviver no seu início de vida, depende totalmente do indivíduo adulto da
espécie". A autora destaca a condição humana do bebê e afirma ser ele, o
bebê, uma "unidade psicossomática". Esclarece que durante a primeira
infância o psiquismo do bebê está em desenvolvimento e os seus
conteúdos emocionais ainda não estão metabolizados pelo
aparelho
psíquico sendo, assim, a via de descarga emocional do bebê, a corporal. De
acordo com essa autora, a maioria dos distúrbios emocionais do bebê se
enquadram nos distúrbios de relação. Relação esta que se dá entre o bebê
e o adulto que cuida dele, geralmente sua mãe
58
O cuidador está ciente da relação de dependência que o recém
nascido tem para com ele quanto ao aspecto das suas necessidades
somáticas. Atena mostra acreditar que a dependência não está relacionada
apenas aos seus serviços profissionais, quando afirma:
[ ... ] ele precisa da gente, não só da parte da medicação [uu].
Edelstein (1998, p. 858) fala também da comunicação dos
conteúdos psíquicos da mãe para o bebê através da linguagem não verbal,
expressa por suas condutas. É através da maneira como a mãe amamenta
que o bebê aprende "o valor simbólico dos alimentos"; bem como aprende
sobre os sentimentos que provoca na mãe sentindo a maneira como ela o
sustenta ao colo e como ela o coloca no berço.
Observo que o cuidador reconhece a importância da interação
humana para o recém-nascido como aparece na afirmação de Ceres:
Eu acho que a comunicação entre a gente e eles é super importante, [...].
Para o cuidador, seu papel nesta relação de cuidado com o
-
recém-nascido é mais complexo, pois exige dele um apurado discernimento.
O cuidado r se preocupa com o pouco conhecimento do bebê sobre tudo
- ---
que o cerca, após o nascimento e com o que ele pode lhe ensinar enquanto
- - - - -
--
cuida, segundo o que é dito por Circe:
Eu acho que é super importante, porque tudo é novidade para ele, [.u.].
O cuidador, quando demonstra disposição e preocupação em se
comunicar com o bebê, manifesta a sua consciência profissional, sem a
qual ele considera seu trabalho incompleto.
59
Para o cuidador os recém-nascidos, principalmente os doentes,
são dependentes dele; da consideração e do respeito que ele possa Ihes
dedicar e demonstrar no tratamento a eles dispensado.
O cuidador se preocupa com o tratamento, aqui entendido como
acolhimento dispensado ao recém-nascido doente. Sinto que existe a
valorização do papel do cuidador em suprir todas as necessidades do bebê.
São valores éticos e morais que Selene lembra com seu depoimento:
[....] mas é fundamental eu acho, esse tratamento que as
pessoas da enfermagem, no caso dos nossos que são
doentes, eles só tem a nós, a maior parte do tempo e se o
profissional não tiver essa consciência do trabalho dele,
ele deixa uma lacuna [....] muito necessária até, eu acho.
Ao se manifestar sobre o valor dado à comunicação, percebo
com o depoimento de Selene, que o cuidador demonstra ter feito uma
escolha profissional consciente, à qual se dedica incondicionalmente.
Se Iene menciona a presença desta consciência profissional no
seu cotidiano. A sua dedicação ao relacionamento com o recém-nascido
ultrapassa os limites da sua vida pessoal e a noção das condições de saúde
adversas que o próprio bebê possa apresentar:
[....] acima de ser um profissional tu tens que
fazer com amor,
com dedicação e com desprendimento.
Esquecer os problemas da tua vida, no momento que tu entra
aqui e assumir a tua condição de um profissional consciente,
no chão. e não desistir da relação com o bebê mesmo em
situações adversas, quando parece não ter mais sentido: E
jamais em um momento pensar ou desistir, ou olhar a criança
como se ela: "Não tem mais ... não tem mais! Então não
vamos investir."
60
Nas palavras de Felicidade, encontro um reforço para a idéia da
importância do bebê, assim que nasce, se comunicar com alguém e da
importância deste alguém para a introdução do recém-nascido no mundo.
[ ... ], primeira impressão que o bebê, está vindo ao mundo, é com a gente.
O cuidador entende que o modo dele se comunicar com o recém
nascido é diferente da maneira como se comunica com outros pacientes.
Para os recém-nascidos ele procura dar palavras de conforto. Ceres
descreve isso ao afirmar:
, Por isso que eu acho importante quando a gente faz
alguma coisa, quando tu não trabalha com recém-nascidos tu não
te liga muito nisso, mas quando tu faz alguma coisa (com o
recém-nascido). Tu sempre, tu dizes assim: Ah! passou, não
vai doer sabe, não vai doer mais, [....].
Identifico com Hermes que o cuidador, de recém-nascidos, sente
mais facilidade para descobrir quais são as necessidades do bebê do que
as do adulto. Uma vez que para tanto, não depende da informação verbal
dele. Para a tomada de decisão dependa da sua habilidade em perceber o
que está ocorrendo.
Para Hermes, é mais gratificante a relação profissional com o
recém-nascido do que com outros pacientes. Ele acha que o fato do bebê
ser incapaz de se comunicar verbalmente, faz com que o cuidador aumente
o seu sentido de percepção. O que torna a comunicação mais fácil:
[ .. ] eu me sinto melhor trabalhando com criança por
causa disso, e consigo distinguir mais facilmente. Apesar de que
o adulto, ele vai falar o que está sentindo ou não, mas na criança
tu aumentas o nível de, de tua percepção.
" Nota da autora
61
Quando o cuidador expressa verbalmente a importância da
comunicação para o bebê e que este tem necessidade de se comunicar,
sinto que, de certa forma, ele está demonstrando reconhecer a capacidade do
recém-nascido para interagir com ele. É o que afirma Métis:
Eu acho que ele precisa muito de comunicação, [....].
Brazelton e Cramer (1992, p. 117) falam de uma base essencial
ao bebê, para que ele comece o aprendizado da comunicação. Para os
autores, trata-se da possibilidade da mãe ser "capaz de criar uma
expectativa ou uma previsibilidade dentro da qual o bebê possa formular um
padrão de relevância ou não relevância de sinais".
A comunicação não verbal, segundo Brazelton e Cramer (1992,
p. 117-8), requer do bebê algum controle sobre o seu sistema neuromotor e
psicofisiológico. Ele deve ser capaz de permanecer, por um longo período,
alerta e atento aos sinais cognitivos e afetivos vindos do exterior e ao
mesmo tempo conhecer o bastante sobre si mesmo para não se
sobrecarregar com os estímulos externos.
Para os autores acima citados, à medida em que aprende a
conviver com alguns dos estímulos externos, o bebê vai entrando em
"homeostase" com o meio, por sua vez o sistema nervoso central
gradativamente se desenvolve sempre que o equilíbrio interno é quebrado
por um novo desequilíbrio, decorrente da própria maturação do sistema
nervoso. Os autores citam um sistema de retroalimentação, existente entre
os pais e o bebê, que predispõem à formação de um "ambiente propício" ao
62
desenvolvimento, onde os pais ao responderem às mensagens do bebê
estimulam emissão de novas mensagens.
A falta de interação, para o cuidador, provoca sentimentos
negativos no recém-nascido. Métis identifica que o bebê chora quando
sozinho, sente solidão e clama por companhia:
Porque se ele fica sozinho, sem ninguém, eu acho que ele começa a
chorar, ele se sente assim numa solidão.
A respeito do efeito, sobre o bebê, da ausência de resposta aos
seus chamados, Brazelton e Cramer (1992, p. 129) descrevem a
observação dos sinais de frustração do bebê frente à falta de resposta
materna aos seus apelos. Inicialmente o bebê protesta e depois cai num
"estado de autoproteção", caracterizado por sua tentativa de vencer a
necessidade de olhar para a mãe, de desligar-se completamente do
ambiente e por fim usar suas próprias habilidades para a autoconsolação.
É apoiado na crença da necessidade de comunicação do recém
nascido que o cuidador procura, durante os momentos em que está junto a
ele, suprir essa necessidade de relacionamento, como diz Métis ao afirmar:
Eu acho que é importante [...] o recém-nascido sente que tem alguém
Perto dele. Que ele não está sozinho.
A comunicação serve ao cuidador como um instrumento para se
relacionar com o bebê, como um recurso para se aproximar dele, como
afirma Artemis:
63
[....] sempre que eu tenho uma oportunidade de me aproximar deles, eu procuro
estar conversando, estar me comunicando, [....].
Serve também para colher informações sobre o bebê, que serão
transmitidas aos membros da equipe, responsáveis pela prescrição de
cuidados, como dizem Atena e Hermes, respectivamente:
[....], a gente está passando [nu] O que ele sente para
os médicos [....].
Então vários cuidados, várias reações que eles
(os
recém-nascidos) vão apresentar: que tu ao observares, tu podes
falar para a enfermeira, médico ou residente. Isso é importante
para o diagnóstico inclusive também. Então esse ponto
realmente é importante porque estimula em ti a percepção [.....].
O canal de comunicação com o recém-nascido, este estar com
ele, confere ao cuidador os meios para antecipar e assegurar o bem-estar
daquele que está sendo cuidado, como sugere Atena:
[ ... ] significa uma coisa boa porque eu assim, ter essa visão
dessa coisa assim, de não acontecer nada, de eu me passar. Eu
podia ter, se eu tivesse visto antes não iria acontecer uma coisa
pior? Isso, eu ter conhecimento desses pontos para que eu possa
cuidar desse recém-nascido. Bem, ter segurança ali e estar ali e
acreditar que ele vai melhorar, que eu vou ajudar para isso
[....].
o depoimento de um sujeito do estudo mostrou uma visão
singular, e por isto relevante, a respeito da postura do cuidador durante a
interação com o recém-nascido. Com este depoimento fica comprovada
uma outra influência sobre o modo de agir do cuidador na sua relação de
Cuidado e na comunicação com o recém-nascido, que é a crença do
cuidador a respeito da espiritualidade do bebê.
64
Para Harmonia o recém-nascido tem um espírito desenvolvido, lá
ao nascer. Este espírito possibilita que se torne atento aos cuidados que
recebe do cuidador e o capacita a entender tudo que acontece através
destes cuidados. Harmonia reconhece que a sua crença sobre a
percepção. do recém-nascido é pessoal e se diferencia das outras, como
diz:
[....] eu acredito [....] que o nenê não é só aquele nenê que
a gente está enxergando. É um ser. [....] fisicamente ele não está
desenvolvido. Mas por trás disso ele tem um espírito desenvolvido e
ele prestando atenção ali [....]. Eu acredito nessas coisas, é um
negócio meio diferente, [....]. A gente pode não enxergar, mas ele
está ali e, nisso eu acredito muito. [....]. Diz que ele não está sozinho
para ver como ele se acalma. Eu acredito nos pequenininhos,
acredito em qualquer um. Os prematurinhos que a gente acha que
estão menos desenvolvidos, é tudo igual, só que eles são menores.
Miranda (1999, p. 24), um escritor espírita, diz que na criança que
nasce habita um espírito. Na criança o espírito tem que fazer reaprender a
vida, nas condições em que renasceu. Segundo ele, a "lembrança
consciente do seu passado vai se apagando, para ela, a partir do momento
--
- -- -
em que começa a despertar no corpo físico".
A comunicação é desta forma considerada, pelo cuidador, como
um elemento importante para o cuidado em si, como um algo que o
cuidador valoriza como pessoa, como algo que ele percebe como uma
. Miranda (1999, p. 61) afirma que os recém-nascidos captam pensamentos que não
chegam a ser convertidos em palavras, ou mesmo que convertidos não correspondem à
verdade íntima de quem o expressou.
65
necessidade do recém-nascido e como um elemento das ações de
enfermagem.
3.2 A relação entre a comunicação e o cuidado ao recém-nascido
Existe, nos depoimentos dos sujeitos do estudo, uma forte e clara
associação entre a comunicação e a ação de cuidar, como se a primeira
estivesse contida na segunda.
A comunicação para Bordenave (1997, p. 45) é o produto de uma
necessidade humana de expressão e de relacionamento. Entre outras
funções, ela serve para indicar a qualidade da nossa participação no ato da
comunicação.
Por outro lado, o cuidar na enfermagem, na visão de Radünz
(1998, p. 15) recebe o seguinte conceito:
- [ .. ] é olhar enxergando o outro, é ouvir escutando o outro;
observar,
percebendo o outro, sentir, empatizando'" com o outro, estando
disponível para fazer com ou para o outro aqueles
procedimentos técnicos que ele não aprendeu a executar ou não
consegue executar, procurando compartilhar o saber com o
cliente
elou
familiares a respeito, sempre que houver interesse
elou
condições para tal.
Cuidar e comunicar estão de certa forma presentes nos conceitos
de comunicação e cuidado de Bordenave e Radünz, antes citados. Ambos
demonstram uma característica e uma necessidade do ser humano, dentro
de uma relação intersubjetiva.
. Empatia, para Radünz (1998, p. 8), é a "habilidade para entender o que a outra pessoa
experiencia e porque ela reage de maneira peculiar. [ .....] estar próximo a outra pessoa;
estar presente e ser capaz de compartilhar os sentimentos da outra pessoa."
66
Através dos depoimentos coletados percebo que o cuidador
demonstra a preocupação em se comunicar com o recém-nascido,
enquanto cuida, e isto pode aparecer aos outros como uma qualidade que o
diferencia entre os demais. Ao demonstrar que acredita na humanidade do
recém-nascido ele deixa evidente a sua preocupação com o cuidar bem do
bebê.
A abordagem humanizada do cuidado, no seu ambiente de
trabalho, é uma expectativa e um exercício que aparece nas seguintes
falas:
Cuidar de bebê recém-nascido, principalmente
doente não é simplesmente o teu cuidado técnico,
profissional. Tu tem que botar sentimento em cima disso,
tem que botar amor. (Selene);
[....] eu me refiro ao cuidado dele [....], o que eu vou fazer
assim no sentido de cuidar, de procedimento, as coisas
assim, ter bastante assim habilidade para isso, no manuseio,
no tocar, no falar
com eles, mesmo assim, é a isso [ ]. (Atena);
[...] eu acho que isso faz parte do bom
atendimento, tu
teres um diálogo com ele, mesmo que ele não te responda
assim [ ........................................................... ].
(Circe);
o carinho, não esquecer mais aquela parte de, de
mais,
de bem estar do bebê, [ .. ], do cuidado mais delicado, mais
humanizado! Junto com o cuidado que deve ser feito.
(Harmonia);
[....] mas ao mesmo tempo a gente, a gente está
trabalhando um pouco mais com humanização, acredito que
um dia esse tipo de coisa vai fazer parte da assistência a
mesma assim. [m.] Fizesse parte de nossa assistência esse
tentar, essa comunicação com o paciente. (Afrodite);
[...] ele espassando por esse momento difícil no
começo da vida dele, mas também tem o lado de
afetividade, o lado de carinho, tem o lado de comunicação.
E tu pode demonstrar para amenizar, esse quadro de dor e
angústia, com certeza, que eles
67
devem sentir de sair da barriga da mãe deles e às vezes, não ter o
afeto da mãe e o pai por perto [...]. (Hermes)
O momento da comunicação entre o cuidador e o recém-nascido
aparece com destaque no relato dos sujeitos do estudo. O momento ao qual
eles se referem, diz respeito tanto à dimensão temporal, quanto às pessoas
envolvidas, ao local e aos motivos que desencadeiam a necessidade de
comunicação.
Uma grande parte dos sujeitos refere que a comunicação ocorre
sempre e de maneira simultânea, entre o cuidador e o recém-nascido.
Como afirmam Circe, Hermes, Atena, Dafne e Selene respectivamente:
Eu acho que ocorre, teria que ocorrer sempre, a
comunicação entre a gente, [...].
A comunicação acontece a todo o momento [...].
Eu acho que, como eu falei antes, em todos os
momentos assim, em todos os sentidos tu te comunica, [...].
Eu acho que em primeiro lugar ela acontece
constantemente, [...].
[ . .] acho que em todos os momentos que tu, que tu
lida com um bebê tu estás dando um estímulo.
Para Bordemave (1999, p 38-9) um dos elementos da
comunicação são os interlocutores. Eles são as pessoas que desejam
partilhar conhecimentos, emoções, informações ou seja, alguma coisa. Num
dado momento cada um dos interlocutores pode ser a fonte da
comunicação e noutro pode ser o receptor.
O cuidador se reconhece para tal e também identifica o recém
nascido como sendo eles, os interlocutores no processo da comunicação.
68
Harmonia e Éris acreditam que o cuidador é quem se comunica a
todo e qualquer momento com o bebê. Como descrevem:
[...] eu acho que é em qualquer momento que a
gente pode ter essa comunicação, [...].
A toda hora tu estás te comunicando com o bebê.
Pelo que diz Felicidade, é o recém-nascido quem se comunica a
todo o momento com o cuidador.
Na verdade eles se comunicam sempre com a gente.
A simples proximidade é um motivo para o cuidador iniciar a
interagir com o recém-nascido. A proximidade pode ser espontânea, ou
para se envolver como diz Hera; ou provocada por alguma atividade que faz
parte do dia-a-dia do cuidador, como descreve Hebe:
Vários momentos. Acho que quando se está próximo ao
recém-nascido ou até se envolve com ele, digamos assim! E
existe a comunicação!
[...] eu comunico com eles desde que eu pego eles em
cima assim, sabe.
As atividades desempenhadas pelo cuidador também são citadas
como estímulos e associadas à comunicação. São momentos do cotidiano
do cuidado que proporcionam a oportunidade do cuidador interagir com o
recém-nascido. Cada cuidador lembra de uma ou mais situações que
evidenciam a ocorrência da comunicação e falam:
[...] no momento que tu vai trocar uma fralda, no
momento que tu vai dar uma mamadeira, [...]. (Atena);
[...], acho que tudo isso é comunicação, um procedimento
tipo punção, ou até mesmo a do banho, [...]. (Dofne);
[...], nem que seja para colocar um bico na boca,
[...]}.(Artemis);
69
[...] a gente está puncionando também [...]. (Prometeu);
E o outro estímulo que eu acho é na hora do banho, se
tem um contato mais direto com ele. [...] é na hora da
amamentação, que tu alimentando. Que além de tu estar
saciando a ele uma necessidade, emergente, [...], tu estás
olhando, tu tem mais tempo para [...] parar, observar,
olhar. (Selene);
[...]' tu trocas a fralda, eles choram, mas o
momento que eles mais se comunicam é no alimento e as
vezes pelo colo também. Tem bebê que chora muito pelo
colo, ele busca muito o colo. (Felicidade);
[...] eu acho que mais afetividade que a gente tem
com eles é na mamadeira, na hora do banho. (Dione);
Mais que eu, mais que eu vejo assim que eles,
eles respondem melhor é na hora do banho. [...]. Não sei
porque, talvez que, que se agrupe assim rios cuidados
juntos. [...] Mas outros que estão por exemplo no berço
ali, tu pega no colo, [...], eu aproveito no momento em
que eu vou até a outra sala e vou conversando [...].
[...]é uma parte mais afetiva [...]. Eles sentem mais
próximo, bem mais ... (Climene);
Para mim faz parte assim, por exemplo a gente
faz muitos exames físicos, [...]. (Afrodite).
Como a comunicação, na concepção de alguns sujeitos do
estudo, acontece em diversos momentos e condicionada às características
do cuidador que o habitam para o Processo de se comunicar; percebo que,
diversos são os motivos que mobilizam o cuidador para interagir se
comunicando com o recém-nascido.
Muitas vezes a vontade de se comunicar com o recém-nascido,
na opinião dos sujeitos do estudo, acontece quando o cuidador procura
fazer contato com o bebê. Este contato pode ser para fazer um carinho,
acalmar o choro ou o desconforto, para explicar algo, para se revelar ao
70
--,
bebê, enfim, para cuidar dele. Sobre estes momentos de comunicação
relatam o seguinte:
[...], fazer um carinho, tenta acalmar, [...]. (Atena);
[...], faz um carinho nas costas, alguma coisa, até que
eu veja que ele mais tranqüilo, [...] é como se fosse dar um
estímulo assim, por exemplo, é a maneira que eu encontro para
dizer para ele que eu não estou ali só, para machucar, dar
uma recompensa [...] não vejo outra forma de te comunicar com a
criança e de se mostrar para ela que aquilo ali que tu fazendo
é uma coisa necessária, [...]. (Artemis);
[...] é nesse momento que tu pega ele e começa a
conversar ou estabelecer um contato assim, ele sente e já, tu
percebe a reação. [...] Por exemplo, no momento em que eu pego
ele no colo e ele estava chorando [...] e começo a conversar ou dá
um aconchego e ele para de chorar, se acalma. (Prometeu);
[...], porque no momento que a gente esassistindo um
nenê, a gente está se comunicando com ele, [...]. [...] Tem que
também ajudar nesse momento em que a mãe às vezes não
entendendo bem o que é que o nenê querendo ou ela eso
nervosa que ela não consegue nem tocar no seu filho. Eu acho que
nesse momento agente tem o papel de mediador, não de
proprietária do nenê mas de, assim, tentar fazer com que eles se
entendam. [...]. [...] que aquilo ali vai ser para o bem dele, eu
pelo menos eu quero passar isso para o bebê, para a mãe, para
o pai, enfim para o familiar que estiver ali com ele, [...].
(Dafne);
Era isso, é na hora de, de prestar oS cuidados que tem
mais comunicação com os recém-nascidos. (Dione);
[...] prestando cuidado , ao toque com ele tu tem como
te comunicar. É uma maneira de tu te comunicares. (Hermes)
[uu] é em todo cuidado que tu pode te comunicar com ele,
[...] a todo momento, todo cuidado [...]. (Harmonia).
O cuidador é um profissional que sente a necessidade de
manifestar-se como pessoa, dentro do contexto do cuidado e acha que o faz
através da comunicação com o recém-nascido. Considera esta
71
possibilidade como uma tendência do momento atual e uma característica
do ambiente onde se situa.
A necessidade de comunicação com o recém-nascido é descrita,
pelo cuidador, como um sentimento coletivo, do seu grupo. O estímulo à
comunicação com o recém-nascido é alimentado pela criatividade do
próprio cuidador que, sentindo-se incentivado a adotar esta forma de agir
no cuidado ao bebê reconhece nisto a chave para ter seu trabalho
valorizado.
Felicidade, ao se comunicar com o recém-nascido, sente que
acrescenta qualidade ao cuidado prestado ao bebê, como diz em seu
depoimento:
Eu acho que todo mundo sentindo, no geral, essa coisa de se
comunicar mais com o bebê [...] Eu acho que está mudando
bastante nesse sentido [...] Eu acho que aqui dentro a gente está
tendo bastante espaço, [...] bastante abertura para as idéias.
Para conseguir botar em prática o que tu sentes. Para.dizer,
chegar para as pessoas e dizer: "Eu acho, a gente poderia fazer
isso!"; "Ah! Vamos tentar, acho tua idéia ótima." Está
incentivando o progresso, [...] e a gente tem mais espaço. [...]
porque às vezes tu não tem espaço para mudanças, para as coisas
melhores.
A preocupação com a comunicação reflete o reconhecimento do
cuidador acerca do potencial humano do recém-nascido e demonstra a
preocupação com o tratamento "coisificado" que o recém-nascido receberia
se quem o cuidasse não estivesse atento a sua humanidade.
O fato de ser sensível, tanto confere ao cuidador condições para
que ele passe a perceber e entender o que o bebê está manifestando
através do comportamento observado, como demonstra que ele gosta do
recém-nascido, como dizem:
Para que a comunicação ocorra num padrão ideal. no sentido de
Assim eu acho que é observar, por isso que eu
acho a gente que trabalha em "Neo, trabalha com recém-
nascido, a gente tem que ter um senso de observação[...].
(Ceres);
Então tu estás sempre observando, as reações
dele e ele está sempre se comunicando. (Hera).
72
[...] quando a gente trabalha com recém-nascido a
gente tem que ter bastante sensibilidade. [...] O bebê pode
expressar tudo para gente, eu acredito nisso, [...]. (Ceres);
Eu acho que se o profissional tem uma
sensibilidade e gosta do que ele faz [...]. (Selene);
Tem que ter um nível de percepção bem grande.
(Hermes).
Quando o cuidador observa o recém-nascido, na opinião de
alguns sujeitos da pesquisa, ele o faz porque está procurando se
comunicar. Olhando o bebê, sua expressão facial, principalmente, o
cuidador passa a perceber as mensagens que ele emite, porque o recém
nascido está sempre se comunicando.
[...], um jeito da gente se comunicar é olhar para
ele, é a expressão do rosto dele. (Atena);
interação , é necessário que o cuidador capte os sinais que mostram que o
recém-nascido notou a sua presença. Para o cuidador é importante sentir o
olhar do bebê, saber que ele está acordado; consciente, atento e ouvindo
tudo que ele lhe diz.
Hera, Hermes. Felicidade e Afrodite, respectivamente
argumentam sobre a necessidade de obter a atenção do recém-nascido
para se comunicarem com ele:
[...] se ele está conseguindo captar aquilo que eu vou
fazer, daí eu estou me comunicando.
73
[ .. ] eu acho que enquanto o bebê está acordado,
dependendo do estado claro dele, [...].
A comunicação mais, importante que eu acho, é o
olhar deles. Quando tu pega eles, principalmente no colo para
amamentar, dar o alimento, eles te olham bastante. E eu acho
que até tem uma comunicação muito forte, [...], visual assim.
[ .. ] é através de olhar, de olhares assim no caso. Que
eu percebo que o bebezinho está prestando atenção naquilo que
eu estou falando. É essa a sensação que eu tenho, pelos olhinhos
dele. Que eles ficam olhando para a gente. A gente sai da frente
e ele acompanha pelo olhar assim, até onde tu estás indo [...].
A respeito do valor atribuido ao olhar, encontra-se em Davis
(1979, p. 73-75) a seguinte afirmação:
- "O comportamento ocular é talvez a forma mais sutil da linguagem
física."
A autora aborda a influência do olhar do ouvinte sobre o interlocutor e diz
que esta foi uma descoberta muito importante sobre o comportamento das
pessoas.
O olhar firme e demorado de uma pessoa sobre outra demonstra
o seu agrado. A outra pessoa, por sua vez interpretará este comportamento
como um sinal de cortesia, de que o interlocutor não está apenas
interessado na conversa, mas também se interessa por ela como pessoa.
Para entrar em sintonia com o recém-nascido o cuidador precisa
acreditar na capacidade que o bebê possui para entendê-Io e interagir com
as pessoas. Precisa gostar do que faz e do recém-nascido. Precisa encarar
o bebê como uma pessoa e respeitá-Io como tal.
[...] tu canalizas aquilo ali, aquele teu amor, aquela tua
energia para cima. Na torcida que aquele bebê vai sair, que vai dar
74
certo. É incrível como esses bebê fluem, mas aí tu tem que botar
o teu sentimento ali. Para começa eu adoro a vida, porque tu
bem o início de tudo. É que nem uma plantinha, que vai nascendo.
Então eu acho que tu tem que investir tudo nele, porque ele foi,
porque tu optou .por ter, no caso mãe e pai e nós aqui optamos
para cuidar desses bebês. Então tu tem que dar o melhor de ti,
bem consciente.
E eu adoro o que eu faço e adoro esses bebês [...]. (Atena);
[ .. ] sempre que eu [...] chego perto de um bebê, eu
normalmente me dirijo a ele como pessoa. Eu tenho hábito de
fazer isso. Porque eu acho que é importante assim. Eu procuro
saber o nome do nenê, [...], que eu vou examinar [...]. [...]. [...] se
acredita cada vez mais que, que o recém nascido sente e percebe
as coisas que acontecem e eu acho que o nosso futuro é
trabalhar cada vez mais com isso. (Afrodite).
O cuidador identifica que o bebê lhe envia mensagens para obter
o respeito ao seu espaço e a sua vulnerabilidade. Artemis menciona o seu
respeito ao bebê. quando afirma:
Onde eu tiver essa percepção de que ele está
reagindo ao que eu estou fazendo. Eu acho que é uma questão
até de respeito por aquele ser que está ali e que eu estou, sem
perguntar para ele se quer ou se não quer. Às vezes ele não está
com a mãe dele ali para consolar ,não está com ninguém e eu
estou simplesmente invadindo um espaço dele que não está
agradável, que ele está cheio de drenas, ele escom tubo e eu
estou causando mais alguma coisa.
O cuidador se preocupa com o caráter positivo ou negativo da
mensagem passada para o recém-nascido, enquanto cuida dele. Como
explica Dafne:
[...] a gente pode estar passando mensagens positivas ou mensagens
negativas, dependendo da forma que agente está trabalhando com ele
[...]
75
O cuidador considera que o sucesso da comunicação com o
recém-nascido depende da maneira como ele se apresenta ao bebê, calmo
ou agitado. Para Ceres, o cuidador pode identificar, observando a reação do
recém-nascido a ele, quando o bebê aceitou ou não a sua presença e a sua
intervenção; ela diz o seguinte:
[...] tu assim notas que tem pessoas que ficam com três
ou quatro bebês, são bebês agitados e elas conseguem deixar
aqueles bebês tranqüilos, [ ... ] e outras pessoas, eu acho que os
bebês choram do início ao fim, eu acho que é uma maneira do bebê
dizer: "Eu não quero que tu cuides de mim, eu não gosto de ti!
Sobre o comportamento demonstrado pelas pessoas quando em
público, Davis (1979, p. 170-171) fala que existem "pressupostos
conscientes ou inconscientes, nos quais todos nós baseamos nossa vida
diária", são as "regras de comportamento" adotadas pelas pessoas.
Sobre o comportamento comunicativo das pessoas em
sociedade, num agrupamento social, Rector e Trinta (1999, p. 25) citam a
"comunicação de conduta". A comunicação de conduta é identificada,
segundo eles, empiricamente, através da observação dos modos de
comportamento socialmente aceitos e validados num determinado grupo
social. A maneira como as pessoas trocam informações, em um grupo
social, são regidas por padrões de conduta, individual ou coletiva.
Enfim, quando o cuidador está a sós com o recém-nascido, ele
se sente mais à vontade para interagir, conversando com o bebê. Como
afirma Amizade, quando ela está sozinha, ela consegue dialogar com o
bebê:
76
[...], se você está sozinha na sala. Eu as vezes me sinto
mais assim, até aberta, mais tranqüila, para manter [...] uma
harmonia assim entre eu e os bebês. [...]. Eu noto que quando
sozinha eu falo bastante, [...].
Prometeu e Ceres acham que o recém-nascido precisa que
alguém converse com ele. A comunicação verbal, por ser uma necessidade
do bebê, serve para o cuidador proporcionar conforto ao recém-nascido. O
bebê ao ouvir a voz do cuidador entra num estado de tranqüilidade. É a isto
que se referem ao afirmar:
A partir do momento que, pegam ele, começam a
conversar com ele, ou começa a fazer aquilo lá, suprir a
necessidade dele naquele momento. Aí ele pára!
E às vezes a gente até a gente .fala quando vai fazer
alguma coisa: Ah! É para o teu bem, não é!
A atenção e o cuidado que podem ser oferecidos pelo cuidador são
essenciais para o recém-nascido, como diz Éris:
O bebê depende do teu cuidado, depende, dos teus cuidados
para te, para te, para se sentir seguro [...].
E existem evidências, para o cuidador, que demonstram que o
bebê possui condições de entender as mensagens emitidas por ele durante
o cuidado. O recém-nascido parece diferente aos olhos do cuidador;
atualmente, para o cuidador, o recém-nascido tem se mostrado mais atento,
mais sensível e mais receptivo.
Hebe, Hermes e Dione acham que o bebê é capaz de entendê
Ias. Aprenderam e constataram no seu cotidiano, que o bebê tem este
potencial e por isto o consideram mais predisposto à comunicação.
E hoje a gente sabe que não é assim, que eles
escutam, que eles, que eles sabem. (Hebe);
77
[ ... ] porque tenho notado que os bebês cada, quando
nascem, agora parece que eles estão mais comunicativos, mais
espertos. Bem mais perceptíveis assim. Sentem acho que muito
mais, são mais sensíveis. (Hermes);
E mesmo não tendo dois meses as crianças estão
muito espertas, eles riem. Ainda outro plantão tinha um aí, a
coisa mais querida, ficava prestando atenção que a gente falava
[....]. (Dione).
Os sujeitos acham que o recém-nascido é capaz de distinguir
cada uma das pessoas que o cuida. Bem como acham que o bebê sente,
nas diferentes maneiras como é tocado, como e quando é realmente
cuidado.
[....], eu acho melhor, para criança, o próprio jeito de
tocar, falando do pai e da mãe dele, embora ele não saber que
ele, de repente eu o sei, ele saber que se tratando do pai, das
pessoas que cuidam dele [m.]. (Atena);
Que a gente assim, quando tu vai fazer um cuidado tu
conversa, tu pega, até a maneira como a gente fala assim. Tanto
é que às vezes eles tão chorando tu diz alguma coisa eles ficam
te
olhando, como a gente já falou anteriormente, [....]. (Ceres);
Então eles são muito sensíveis e eles sentem essa
presença. Ainda mais nós que cuidamos quinze, vinte dias, às
vezes trinta dias daquele bebê e ele, ele percebe a pessoa
quando chega, até pelo toque, a maneira como tu chegas nele.
(Selene);
Eles sabem que tu vais tocar neles, [ ].
(Felicidade);
A maneira como tu pega, como tu, como tu lidas. É
impressionante como eles são sensíveis. Se tu pegar o RN, dar a
mamadeira e largar ele de sopetão na, na cama, porque de
repente tu estás com outros nenês chorando querendo também
mamar. Eles sentem, podem estar satisfeitos, mas eles sentem a
maneira como tu ages. Se tu agiu e, e é com rapidez assim, não
foi [ ] mais calmo, mais tranqüilo eles reagem, impressionante!
(Hermes).
78
o recém-nascido se sente mais seguro quando ouve a voz de
quem cuida dele. Verbalizar os sentimentos durante o cuidado é uma
prática adotada pelo cuidador. A maternagem., como dizem no cotidiano
alguns profissionais, está relacionada ao conversar com o bebê, a exemplo
do tipo de maternagem que é observada no comportamento da mãe. Atena,
Dafne, Ceres, Harmonia e Selene crêem que o recém-nascido dirige sua
atenção a elas quando ouve suas vozes e entende quando elas se
comunicam verbalmente com ele; que ele entende a conversa do cuidador. É
esse o motivo que as levam a contar algumas coisas ao bebê, enquanto
cuidam:
Agora mesmo eu estava com um lá, fazendo carinho,
dizendo que a mãe deles não veio, ele precisa da gente, [....].
(Atena);
Eu acho assim [....], é claro que existe a comunicação
verbal, da gente ficar conversando com eles enquanto a gente
fazendo um procedimento ou mesmo, quando a gente vai fazer
uma maternagem [....] começa com, com a comunicação verbal,
[....].
(Carne);
[....] eles até não fixam o olhar mas eles sabem que tem
alguém falando com ele, e ele está se sentindo protegido, assim. (p.
5; 111-5); É uma coisa que assim, a gente sabe que eles ouvem, então
assim, eu sempre assim, falo no procedimento [....]. (Ceres);
[....] eu, para mim, o recém nascido [....] ele entende o que
a gente fala. (p. 1; 6-7) [] é assim que eles vão um dia aprender a
falar. [ ... ]. [ ... ] eles entendem, eles prestam atenção, a gente tá
falando e de repente eles abrem o olho e ficam prestando
atenção. (Harmonia);
[ ..... ], mas ele ouve o ruído da tua voz, embora ele não
entenda, e aquilo para ele é um som, e não deixa de ser um
estímulo auditivo para ele [.....]. [....]. Ele não coordena o olhar
mas ele sente o
. Termo que Stoléru (1987, p. 86) utiliza para designar o comportamento matemo.
-
79
som, ele procura, ele vira, então não deixa de ser um exercício.
(Selene ).
Brazelton e Cramer (1992, p. 106) falam do bebê como um dos
"agentes" na relação pais e filhos; que o bebê possivelmente tem
participação ativa no relacionamento com os pais, demonstrando possuir
alguma autonomia, "um certo grau de independência" como eles dizem.
Na opinião de Circe, Prometeu, Harmonia e Ceres, apesar de
não conseguir se comunicar verbalmente, o recém-nascido consegue entrar
em sintonia com o cuidador. Para eles, o recém-nascido sabe como
demonstrar ao cuidador quando está procurando se comunicar com ele. Na
opinião deles, as palavras são desnecessárias, para o bebê se fazer
entender e mostrar que está atento:
[ ... ], como qualquer outro paciente ele é um ser
humano, e ele pode não me responder através de palavras mas,
com certeza ele está entendendo. (Circe);
É bem, perceptível, a maneira como eles percebem. A
gente consegue perceber logo que se estabeleceu uma
comunicação com eles. (Prometeu);
A partir do momento que o bebê esboçar qualquer
movimento em relação ao que eu estou fazendo, eu entendo que
ele sente o que eu estou fazendo. [....]. Eles sentem, eles podem
estar sedados, mas acho que de alguma forma eles devem sentir.
(Harmonia);
[....], uma coisa que é super interessante, é que ele
sabe o momento de chorar, ele ficam com medo da gente, é
aquilo que a gente estava falando, claro que eles acompanham,
eles não fixam o olhar, mas eles acompanham, eles sabem, [....].
(Ceres).
Para Artemis, Prometeu, Ceres, Harmonia, Hebe e Dione, o
recém-nascido prefere um determinado tom de voz. Eles acreditam que,
estar consciente disto, ajuda na sua comunicação com o bebê. Quando,
80
intencionalmente, eles modulam a voz tornando-a mais agradável para o
recém-nascido, notam que o bebê percebe essa mudança e gosta dela.
Acham inclusive que o bebê identifica as alterações no humor do cuidador e
sabe interpretar, através da audição e na modulação da voz do cuidador, o
quão amistosa ou não é a aproximação:
[..] eu procuro usar um tom de voz mais baixo, [....],
quando se fala com criança que a gente uma, uma mudada no
timbre da voz tornando mais suave, [....]. (Artemis);
[....], eu acho que o tom de voz influencia isso aí. O
recém-nascido acho que percebe um tom de voz calmo, tranqüilo
assim,
ajuda a acalmar eles. Não importa o que [ ] o importante é o
tom da
voz assim, acalma. (Prometeu);
[....] até as coisas que a gente diz. [....] Como tu és
feinho, claro que feinho porque a gente acha bonitinho. [....], ele
não sabe que é, que é a palavra feio, sabe! Óbvio! Mas como é
que ele sabe que tu não estás dizendo alguma coisa agradável.
Ah! Eu acredito que ele sabe, às vezes ele fica olhando com uma
cara para a gente! (Ceres);
[....] eu acredito que eles entendam. Eles podem não
entender as palavras em si ,assim, mas eles entendem através
do som, através das próprias palavras, a forma como ela é
falada, da expressão da palavra [....]. (Harmonia);
Mas eu acho que eles conseguem definir assim o
timbre de voz que tu fala. Se tu fala mais macio ou se tu fala
mais agressivo. Se tu se dirigindo a eles. Eu acho que tu
consegue, eles conseguem saber que tu estás ali, conversando
com eles. (Hebe);
[... .] porque mesmo que tu não tenhas respostas, [....],
acho que eles entendem da maneira como tu falas, tom de voz, o
jeito. Aí, se é mais agressiva, mesmo que tu estejas falando
sem, sem intenção, eles entendem. Tem que prestar muita
atenção no jeito que vai falar, porque é por que eles
entendem, pelo tom de voz, pela maneira de falar. (Dione).
Assim, o recém-nascido é um ser sensível, para o cuidador;
inclusive mais sensível do que o adulto. Selene e Éris entendem que o bebê
81
sofre a influência do estado emocional de quem o cuida, bem como o seu
comportamento se altera de acordo com o que o comportamento do
cuidador "passa" para ele:
[....]
o
ser, ele é pequeno ali, mas ele tem acho que uma
grande sensibilidade. (Selene);
[....], Se tu não estás tranqüilo, se tu estás agitado,
os
bebês costumam sentir isso. As vezes tu entra numa sala é uma
pessoa mais agitada
os
bebês, estão todos chorando, [....]. As
vezes a pessoa es mais tranqüila,
os
bebês tendem a ficar
mais tranqüilos, mais calmos. [....]. [....]
os
bebês, acho que eles
são mais sensíveis a isso, eles são mais suscetíveis as nossas
emoções, aos nossos atos. O adultos
são
mais dispersos, tem
outras preocupações, [....]. (Éris).
Pa..a Artemis a sua experiência mostra que o recém-nascido
identifica claramente os estados de humor do cuidador:
Eu tenho certeza pela, pela experiência que a gente tem
aqui que
os
bebês sabem diferenciar muito bem quando tu estás
deixando ele com pressa, quando tu estás com raiva de estar
fazendo o
que tu estás
fazendo,
quando tu não gostarias de
estar ali, quando tu estás
fazendo
simplesmente porque tu tens
que fazer
ou
quando tu estás interessada de alguma forma.
Porque às vezes eles não entendem da mesma forma, mas eles
sabem diferenciar
o
teu toque, a tua maneira de falar,
o
teu
timbre de voz, se tu estás mais nervosa
ou
menos, porque tu
vais estar com a voz mais trêmula
ou
com a voz mais fria, mais
suave.
o recém-nascido, para o cuidador, precisa mais do que o seu
cuidado técnico, profissional. Na opinião dele, o bebê necessita de um
cuidado especial, que é o que envolve a interação, a comunicação. O bebê
precisa da sua presença, como afirma Atena, não apenas para a execução
de tarefas, mas também para proporcionar a ele um tipo diferenciado de
cuidado:
Biblioteca
Esc. de Enfermagem da
LlFRG5
82
[....] ele precisa da gente, não só da parte de medicação, que é uma coisa
automática, [ ..... ] ser mais assim
um cuidado assim uma coisa mais
especial com ele, [....].
As pessoas estão constantemente envolvidas por um campo
interacional, essencial para sua existência, onde se comunicam segundo
Stefanelli (1993, p. 30).
Sobre isto manifesta-se Selene quando associa a necessidade
de comunicação com os elementos da natureza, essenciais para a vida
humana, tipo ar, luz, ... Ela julga que é imprescindível para o
desenvolvimento do bebê, dentro do ambiente do cuidado, que o cuidador
interaja com ele, e expõe seu pensamento da seguinte maneira:
[....] o bebê parece assim que é uma plantinha. Ele
precisa de todos aqueles elementos. Do ar para respirar, do sol
que aqui não é possível. Mas o sol representa o teu olhar, o teu
carinho, a tua força, a tua energia que tu está emitindo para ele.
Tudo isso é tipo um adubo que ele vai fazer ele crescer.
A comunicação é um atributo essencial, que qualifica o cuidador no
seu ofício de cuidar. É uma importante habilidade associada ao cuidado
como diz Atena, ao afirmar:
Eu como cuidadora acho muito importante [....], assim em termos de
comunicação, [m.] , o que eu vou fazer no sentido de cuidar, de procedimentos,
as coisas assim, ter bastante [....] habilidade para isso, [....] Stefanelli (1993, p.
82) faz referência à habilidade do profissional
para utilizar com conhecimento a comunicação, durante o cuidado:
"A habilidade do profissional em utilizar seu conhecimento sobre
comunicação para ajudar a pessoa a enfrentar seus problemas, a conviver
83
com as demais, a ajustar-se ao que não pode ser mudado e a enfrentar os
bloqueios, a auto-realização."
A satisfação em estar com os recém-nascidos, de perceber que
obtêm sucesso na relação com 03 bebês e de constatar que as mensagens
enviadas foram recebidas e retribuídas, permeia o dia-a-dia do cuidador na
fala de Hermes:
[....] me relaciono com eles bem, bem mesmo. [....], o
bebê está muito, muito ansioso, muito choroso. Tu conseguir
acalmar, deixar ele tranqüilo é gratificante. Pelo menos para
mim. Eu me sinto gratificado. [....] E gosto, gosto do que estou
fazendo, gosto de fazer isso.
Watslawick, Beavin e Jackson (1999, p. 47) afirmam que a
comunicação,
além
de
transmitir
uma
informação,
impõe
um
comportamento. A atribuição de sucesso na relação está fundamentada,
segundo o cuidador, na sua capacidade para acalmar o bebê quando este
está manifestando alguma coisa através do choro. O bebê ao interromper o
choro está respondendo à informação emitida pelo cuidador. O gostar de
cuidar de recém-nascidos implica em gostar de se comunicar com eles, de
se relacionar com eles.
O dom de cuidar de bebês não é apenas um atributo feminino. O
cuidador do gênero masculino, observa que os outros homens, no caso, os
pais, ~stranham a presença de um homem cuidando do filho e apenas com
o tempo conseguem se habituar a este novo modelo masculino, como diz
Hermes:
[ ... ] às vezes as pessoas estranham, muitos pais estranham,
principalmente os do sexo masculino. Do homem estar lidando com o bebê,
o filho deles. Eles acham que o homem é mais, à primeira
84
impressão mais seco assim. Mas, depois no decorrer assim do
tempo eles gostam e, e vêem que é bem diferente. Que não são
só a, as mulheres que tem o dom.
As afirmações de Selene e de Amizade mostram a necessidade
do cuidador em humanizar o cuidado prestado:
Porque tu estás lidando com um ser humano, não é
como uma coisa igual objeto.
Que ele sinta que o é um boneco, uma coisa assim
que tu vira para lá e para cá, simplesmente, [ ].
Respeitando o bebê como um ser humano, o cuidador demonstra
entender e reconhecer as necessidades de cuidado do recém-nascido,
como diz Prometeu:
[.00.] suprir a necessidade do teu nenê. Até com essa idade [0000] até a
gente consegue a comunicação [.m] logo consegue entender o que está
acontecendo e j,á supre aquela necessidade que ele está precisando.
Tocar, levar ao colo, acariciar, aninhar, falar carinhosamente,
para Montagu (1988, p. 106), são ações que ajudam a criança a se
desenvolver bem.
No depoimento de Selene, surge a preocupação com a privação
dos cuidados carinhosos que um recém-nascido pode experimentar, num
ambiente hospitalar, e como o cuidador pode sentir satisfação ao vivenciar a
melhora de um recém-nascido, ao qual demonstrou afeto:
[....] quando a gente fica na UTI, que a gente fica mais tempo
com o nenê grave. Tu ficas 15 dias lá, tu pegas um bebê recém-nascido
[0000], a cada dia ele vai regredindo e todas as tentativas que tu faz ele
não, não corresponde. [....]. [....] tudo que tu não faz com amor, a coisa não,
não vinga como poderia vingar. (p. 3; 55-56); [....] principalmente esses
bebês doentes, tu vê eles
85
definhando dia a dia. Daí tu começa a cuidar deles, cada dia que
tu chega tu te preocupa: "Como é que passou a noite, como é que
tá, ganhou peso, perdeu peso?" [....] E aquilo te gratifica tanto,
quando tu vês que o bebê comatoso, aquele, às vezes por um
momento não tinha mais chance, tu estás fazendo tudo paliativo
ali. E a coisa começa como uma flor, desabrocha! Aí tu vês, que o
adubo, todo mundo colocou ali, a equipe colocou e mais o amor
teu, [....].
A comunicação durante o cuidado aparece como uma
demonstração de sentimentos afetuosos. É a humanização do cuidador,
que se reflete no seu modo de agir e no seu cotidiano profissional.
Nos depoimentos de Ceres, Dafne e Hermes o momento do
cuidado aparece como um momento que oportuniza ao cuidador a
possibilidade de se comunicar com o recém-nascido. É enquanto realiza o
cuidado que o cuidador entra em comunicação com o bebê, como dizem,
respectivamente:
Eu acho que no momento que tu cuidas, tu estás te
comunicando, [.....]. [....]. Que a gente assim, quando tu vai fazer
um cuidado tu conversa, tu pega, até a maneira como a gente
fala assim.
[....] de eu me comunicar com ele é, eu acho que é
quando eu começo a fazer alguma ação em prol desse, desse
benefício, que eu vou, ou através de toque mesmo, físico ou
através de uma conversa com ele, [....].
Cuidar [.....] os procedimentos principalmente assim,
observação. Eu acho que só o fato de tu estares observando, de
repente tu ser mais cuidadoso, ao verificar se uma veia, se a VP
está, está extravasando, é uma maneira também de tu
indiretamente comunicar.
Enfim, os sujeitos do estudo entendem que, ao se comunicarem
com o bebê, enquanto cuidam, demonstram possuir habilidade para cuidar.
Com a comunicação no cuidado, surge a manifestação de afeto e
preocupação com o bem-estar e com o estado de saúde do recém-nascido.
86
3.3 O procedimento, como uma dimensão da comunicação
O procedimento, como aqui é entendido o procedimento técnico,
faz parte do cuidar da enfermagem como diz Radünz (1998, p. 15).
o procedimento, por si só, é uma forma de comunicação, no
entendimento do cuidador. Ao fazer o procedimento, o cuidador identifica
que existe uma aproximação, e que a aproximação ocorre através do ato de
tocar para cuidar.
Cresti e Lapi (1997, p. 152) lançam uma hipótese na qual
afirmam que a estrutura do hospital, em função de sua peculiariedade,
consegue se inserir na relação da mãe com o filho, "como o terceiro
elemento em um jogo de comunicação em tríade". Para elas, a influência
pode ser direta ou indireta, favorecendo ou perturbando a relação entre mãe
e bebê, até mesmo entravando o desenvolvimento das suas capacidades
de interação.
A hipótese de Cresti e Lapi faz lembrar das inúmeras vezes que
as mães de recém-nascidos hospitalizados são afastadas dos filhos e o
cuidador assume o cuidado do bebê, principalmente quando algum
procedimento é executado.
No ambiente de cuidado hospitalar, o recém-nascido está
exposto a várias intervenções. A maioria delas são executadas pelo
cuidador de enfermagem. Determinados bebês recém-nascidos, por causa
87
do seu estado de saúde, são mais manipulados do que outros, pois
requerem uma atenção maior da enfermagem, dos seus cuidados técnicos.
Boschi (1995, p. 21) confirma a observação anterior. Esta autora
mediu a duração do período de repouso de um grupo de recém-nascidos
prematuros e internados. Constatou que estes bebês repousavam em
média 19 horas por dia, tempo superior ao recomendado na literatura por
ela citada. No entanto, na sua observação, ela identificou que os bebês
avaliados foram manipulados até 5,6 vezes por hora e a duração da
manipulação foi em média de 12,5 minutos. Com estas informações, fica
demonstrado que os bebês internados têm a qualidade do seu repouso
bastante afetada, durante o período de hospitalização.
A pele é o nosso primeiro meio de comunicação. Na evolução
dos sentidos, o tato foi o primeiro a surgir e na "qualidade de órgão do
sentido mais antigo", proporciona ao organismo o aprendizado sobre o
ambiente, como disse Montagu (1988, p. 21-23). Sendo assim todo e
qualquer contato com a pele do recém-nascido, o que inevitavelmente
ocorre no procedimento, será por ele percebida e aproveitada como
informação.
o efeito da experiência tátil sobre o desenvolvimento do
comportamento humano para Montagu (1988, p. 35-36), é um aspecto do
desenvolvimento humano que tem sido pouco investigado. Ele faz um
questionamento, em sua obra:
"Será imperioso aos membros da espécie homo-sapiens
submeterem-se, no transcurso das primeiras etapas de seu
desenvolvimento, a determinados tipos de experiências táteis, a fim de
se desenvolverem como seres humanos saudáveis?"
88
Diversas foram as referências ao procedimento, como fator que
aproxima o cuidador do bebê e o motiva para a comunicação, como se
observa nas respectivas afirmações:
E quando a gente está fazendo algum procedimento no
recém-nascido eu considero que, várias vezes tenho um meio de
comunicação com eles [...]. (Atena);
A partir do momento que eu vou ali, mexer na criança
propriamente dito, fazer qualquer procedimento, [...]. (Artemis);
Sempre quando eu estou, acho que fazendo um
procedimento, eu estou me comunicando [....]. (Hera).
o toque, tocar e ser tocado, é uma necessidade comportamental
básica dos seres humanos e o bebê para crescer e se desenvolver
socialmente precisa manter contato com outras pessoas para Montagu
(1988, p. 60).
Para executar o procedimento é preciso tocar na pele do bebê.
Nem sempre a mensagem transmitida por este toque será prazerosa. O
cuidador, com o procedimento, faz com que o recém-nascido experimente
uma sensação desagradável que, terá maior ou menor intensidade,
dependendo da preocupação do cuidador em atenuar o efeito negativo do
procedimento.
Para o cuidador existe uma indagação relacionada ao que ele
ensina ao
recém-nascido quando toca nele para a execução dos
procedimentos técnicos. Ele sente que há a possibilidade do bebê manter
na memória o registro negativo e ter a saúde emocional prejudicada. Ceres
menciona o seguinte:
A minha preocupação é assim. Esses bebês que ficam
um tempão assim, internados, eles sofrem vários procedimentos,
todo
89
mundo lida, todo mundo mexe neles, o que fica assim, gravado?
Certamente alguma coisa fica, não acredito que eles esqueçam
tudo.
o recém-nascido tem desvantagem na sua relação com o
cuidador. O bebê pode não gostar daquilo que o cuidador está passando
para ele, mas não consegue fazer nada para afastá-Io ou escapar dele.
Ceres faz menção ao poder do cuidador sobre o recém-nascido:
Com eles não, tu fica assim, a gente fica exercendo
um poder, que tu tens sobre eles, que tu não tens sobre a
criança maior e que tu não tens sobre o adulto. Então as vezes
até é meio covardia, [.... ].
O cuidador experimenta um sentimento de ambivalência sobre o
que está transmitindo com o procedimento. Ele reconhece que todo
procedimento contribui para o bem-estar do recém-nascido, mas acredita
que o recém-nascido não tenha noção deste fato. Ceres é muito enfática
sobre isto ao afirmar:
[....] é na hora que tu faz um procedimento doloroso
assim, é bem difícil até a gente [....] lógico é necessário, a gente
fica com pena, às vezes dá vontade de dizer: Eu não queria fazer
isso contigo, eu não estou te machucando!
Mesmo que o procedimento provoque dor ou desconforto no
recém-nascido, para o cuidador, este é um momento de comunicação tanto
quanto os outros. Como afirmam, respectivamente, Dafne, Hermes e
Amizade:
[....], eu acho que o toque, o afago, mesmo as coisas
dolorosas, acho que tudo isso é comunicação [....].
As vezes procedimentos de punção principalmente,
que eles ficam bem agitados, então é procurar um pouquinho
mais de atenção, de alento, de conforto para eles.
90
E durante as medicações, [....], tu pegar um bebezinho
que está meio que dormindo, alguma coisa assim. Os horários das
medicações da madrugada.
Dentre as tarefas que executa, o cuidador dá destaque aos
procedimentos dolorosos que se repetem, ao longo da permanência do
recém-nascido internado na Unidade. Estes procedimentos, para ele,
sabidamente geram sofrimento e têm efeitos nocivos sobre o bebê.
Magdaleno (1997, p. 129-130) relata que os recém-nascidos
gravemente enfermos sofrem com a realização de 50 a 130 procedimentos
em 24 horas, muitos destes invasivos e possivelmente dolorosos. Esta
autora afirma que, apenas nas últimas duas décadas, os efeitos
"iatrogênicos" dos cuidados intensivos têm sido considerados. Sobre a
percepção da dor, ela fala que um grande número de pesquisas mostra que
o recém-nascido sente dor e estresse assim como a criança maior e o
adulto e que as respostas à estimulação dolorosa podem comprometer o
seu bem-estar.
A sensação dolorosa experimentada pelo recém-nascido durante
um procedimento é considerada como um momento de comunicação. A dor,
sentida pelo bebê, quando o cuidador o toca, é identificada como uma
sensação negativa transmitida ao bebê e que de certa forma deve ser
compensada, como diz Hera:
Aqui a gente vê muita coisa com dor,[....]. A gente tem,
tem que estar fazendo em muitos momentos coisas que
provocam dor então, [....]. E é uma comunicação que a gente tem,
é uma comunicação dolorosa, mas ao mesmo tempo eu acho que a
gente tem que compensar [....].
91
Na afirmação de Dafne tem-se um exemplo de como o cuidador
percebe o significado do ato de tocar para realizar o procedimento,. e de
como ele tenta contornar o efeito negativo da mensagem, transformando-a
em uma mensagem positiva:
[ .. .] no momento que eu estou fazendo um procedimento,
que eu estou tocando na pele dele, que eu estou causando algum
tipo de desconforto, ou mesmo que eu saiba que aquilo seja para
o bem dele, eu também estou me comunicando. Eu tento que
aquilo seja uma mensagem boa para ele, [....].
Para não parecer indiferente aos efeitos do procedimento, nem
se mostrar apressado em cumprir suas obrigações, o cuidador tenta
recompensar o recém-nascido com atenção, carinho e manifestações de
conforto e assim amenizar os efeitos negativos daquela aproximação.
Artemis menciona o seguinte:
[....], por isso que eu procuro dentro do possível, às vezes
a gente até não consegue fazer da melhor forma [....] nunca
chegar e executar um procedimento doloroso, [....] e fazer aquilo
só, assim por exemplo puncionar a veia da criança e ele está ali
naquele desespero, chorando com dor. eu fixo aquela veia,
viro as minhas costas, lavo minhas mãos e saio dali para fazer
outra coisa. Isso eu procuro não fazer, procuro acalmar o nenê,
procuro conversar um pouquinho com ele depois desse
procedimento, ficar por ali segurando a mão dele, [....].
O cuidador, ao se comunicar positivamente após o procedimento
doloroso, encarado por este como uma comunicação negativa, experimenta
uma sensação de alívio. Sente-se aliviado quanto ao sentimento de culpa
gerado pela imposição de um procedimento; algo que ele imagina que o
recém-nascido possa considerar ruim e do qual o bebê, mesmo que queira,
não consiga se livrar. Ceres demonstra isto ao dizer:
92
[ .. ] no momento que eu estou falando eu também estou
aliviando aquela, é uma coisa ruim assim quando tu vais fazer
alguma coisa que dói, tu sabes que i, tu sabes que eles o
indefesinhos. De repente é uma maneira da gente, de tu mesmo
te eximires daquilo ali. Olha eu estou fazendo, que realmente tu
te sintas: Olha eu não estou judiando de ti!
O cuidador entende que, durante os procedimentos dolorosos, o
bebê é incapaz de verbalizar a intensidade da dor que sente e de pedir-lhe
que interrompa o que está fazendo. Somente assumindo a posição do
recém-nascido é que o cuidador consegue
compreender isso, como
expressa Ceres:
[....] quando a gente faz um procedimento doloroso
assim, tu te colocas no lugar, quando é feita alguma coisa em ti,
tu consegues dizer: Ai! Tá me doendo muito! Pára! Pára um
pouquinho agora, espera um pouquinho. um tempo! E para eles
não tem essa chance, [....].
Do ponto de vista anatômico, segundo Magdaleno (1997, p. 130),
o recém-nascido "não só apresenta a estrutura anatômica necessária para a
recepção, transmissão e integração do estímulo doloroso, mas que estas
estruturas estão em atividade".
o cérebro, na explicação de Montagu (1988, p. 34-35) sobre a
importância da estimulação tátil para manter o tônus sensorial e motor,
necessita ser realimentado pelas informações oriundas da pele, para efetuar
os ajustamentos necessários em resposta aos dados captados. Aquilo que
ele chama de "feedback" da pele para o cérebro ocorre continuamente,
mesmo enquanto se dorme.
Na opinião do cuidador, o recém-nascido aprende, com a
repetição dos procedimentos dolorosos, a antecipar o que irá lhe acontecer
93
e a se manifestar no momento exato através do choro. Para Ceres o bebê
consegue dizer o que sente e como sabe o que está acontecendo:
[...] uma coisa que é super interessante é que ele sabe
o momento exato de chorar. Eles ficam com medo da gente, [....]
, claro que
eles acompanham com o olhar, eles não fixam o olhar,
mas eles acompanham, eles sabem, [....].
Para o cuidador, o recém-nascido ainda não possui a vivência
necessária para diferenciar o que é bom do que é ruim, não consegue
dimensionar o que está
acontecendo com ele; o que faz com que o
cuidador se sinta responsável por solucionar, como expressa Artemis:
[....] nesse momento eu entendo que
ele não tenha
esse conhecimento todo, então eu me sinto na obrigação de
alguma forma confortar essa criança, [....].
Usar a comunicação como um recurso para "explicar" o que vai
ser feito uma vez que a execução das tarefas, dos procedimentos é algo
inevitável, para o cuidador. Como não pode deixar de fazê-Ias, se apoia na
idéia do caráter positivo das atividades que tem sob sua responsabilidade,
para superar o sentimento de compaixão.
A compaixão precisa ser afastada para que o cuidador execute o
procedimento, isto significa que, uma das competências do cuidador é a de
confortar o recém-nascido explicando-lhe que está sendo feito algo que
parece "ruim" mas é "bom" porque é parte da cura.
Eu vou fazer alguma coisa que ele não vai gostar, [....], mas ele tem que
saber que aquilo é bom para ele, ele vai chorar, mas eu não vou ter pena
de fazer aquilo [....]. (Ceres),
O cuidador demonstra preocupação com a exposição dos recém
[ ... ] é o nenê que eu sei que é super manipulado, [....].
94
O cuidador acredita que, de alguma forma, o recém-nascido sabe
que ele está ali para ajudá-Io e que, apesar de dolorosos, os procedimentos
que o cuidador está executando vão ser benéficos, como afirma Dafne:
É, eu acho assim que muitas vezes eles sabem que a
gente está ali, do lado, sabe! Que a gente está prestando um
cuidado, por mais doloroso que seja, que aquilo vai ser para o
bem dele. Eu, pelo menos, eu quero passar isso para o bebê,
[....].
nascidos à manipulação excessiva e seu efeito sobre o bebê. Como se nota
nas palavras de Artemis:
Finalizando, entre os motivos que inclinam o cuidador a tentar se
comunicar com o recém-nascido está a necessidade dele desenvolver a sua
habilidade para a comunicação.
Nas palavras de Felicidade o cuidador ainda carece de
conhecimentos sobre a comunicação e do exercício dela no convívio com o
bebê:
Muito importante! [ .... ] uma das coisas que mais falta em cada
um de nós [ .... ]. No geral, é muito pobre a comunicação que a gente tem
com o recém-nascido.
....
95
3.4 A percepção da comunicação frente à presença dos pais
Os pais são importantes aliados no cuidado ao recém-nascido,
essa é uma constatação do cuidador. Precisam compartilhar da atenção
oferecida ao bebê e devem possuir o mesmo entendimento no cuidado ao
recém-nascido, quando se trata de entender as necessidades dele.
Sobre a habilidade do recém-nascido para conviver socialmente,
Brazelton e Cramer (1992,p. 105) escreveram o seguinte:
"A ênfase de Bowlby na competência inata do recém-nascido
para entrar em comunicação social com a pessoa que cuida dele e a
concepção de Winnicott da mãe e do filho como uma unidade
influenciaram profundamente os estudos de interação, incluindo o nosso,
até os dias de hoje."
Para Dafne o papel de cuidador de recém-nascidos abrange o
cuidado da relação entre o bebê e seus pais e o respeito a ele:
[....], através de uma explicação para a mãe. De algum
aspecto do nenê que ela tenha dúvida ou, algum esclarecimento,
alguma coisa [....]. Porque eu acho assim que, o nosso papel tem a
ver
também com os pais. [....], às vezes a necessidade do nenê passa
por
um entendimento com os pais. Então é tudo, eu acho que um
conjunto.
Klaus e KIaus (1989, p. 98) falam dos incríveis atributos que
habilitam e preparam o recém-nascido para a interação com a família e
para a vida no mundo. No entendimento dos autores o recém-nascido vem
ao mundo pronto para se relacionar com outras pessoas.
Na opinião do cuidador, a importância da sua comunicação com
o recém-nascido, deve-se ao fato do bebê sair do convívio com a mãe, logo
ao nascer, para os seus cuidados. Métis traduz essa mensagem ao afirmar:
Que geralmente ele sai da mãe, ele vem para os braços da, da gente.
96
A mãe e o pai, na opinião do cuidador, são as pessoas com as
quais o recém-nascido precisa se comunicar e cuja presença é muito
importante para seu bem-estar. Para o cuidador, os pais conviveram
intensamente com o filho na época da gestação. No seu entendimento é
esta convivência prolongada, no período gestacional, que os capacita para
se relacionarem melhor com o filho após o nascimento. Portanto o bebê os
reconhece através da voz e se sentirá melhor em sua presença. Como
afirma Harmonia, ao dizer:
[....] e principalmente quando ele é feito pela mãe ou
pelo pai. Que são as pessoas que ficaram mais junto dele
durante a gestação. [....] por isso eu acho muito importante a
presença dos pais,
porque eles vão acalmar esse bebê durante a internação [ . ..] em
casa ou em qualquer lugar. Porque no período em que ele, ele
estava em segurança eram essas as vozes que ele, ele mais
escutava. Então ele, ele vai ter que se sentir mais seguro,
enquanto ele escutar essas vozes. Que para ele é familiar, para
ele é aquilo ali, é durante o período bom da vida dele, quando ele
estava crescendo ele recebia bastante amor.
o ato de cuidar, no ofício do cuidador, envolve a preocupação em
promover o contato entre pais e bebês. O bebê é capaz de entender e de
reconhecer a voz da mãe e a voz do pai, assim como é capaz de distinguir
suas vozes das demais.
[ ... ] quando a gente fala com as mães, e as mães vem [....].
Elas são mais, eu acho que o mais sensíveis, então elas dizem: "
Ah, hoje ele chora quando eu chego perto, parece que ele que
reclama, não é?" Então está tendo uma comunicação boa, [u..] aquilo
de ele abrir o olho e ficar olhando para a mãe e reconhecer, isso
também é uma comunicação. Ali está tendo uma comunicação
qualquer. (Harmonia);
Esses dias chegou um pai ali, [....] e o nenê chorando, [....].
E o pai quis entrar e eu deixei entrar. E ele começou a conversa com
o nenê, e ele começou a ficar quietinho, fazer aquela carinha que o
97
pai fazia, igualzinho como está escrito no livro. Então foi a coisa
mais bonitinha, começou a conversar, conversar com o nenê. Na
hora ele ficou tranqüilo, o pai parou de falar e ele começou a
chorar de novo. Então, ele reconheceu a voz, com certeza do pai.
(Hera).
Standleye Moore (1995, p. 509f" citam uma pesquisa em que é
demonstrado que os recém-nascidos preferem a voz da mãe, a qualquer
outro estímulo auditivo, nos primeiros dias de vida.
Klaus e Klaus (1989, p. 52) dizem o seguinte sobre o
comportamento vocal dos pais quando se deparam com o filho
imediatamente após o nascimento:
"Bebês recém-nascidos preferem vozes agudas e as mães e os pais
parecem instintivamente usar vozes agudas quando falam pela primeira vez
com seus bebês após o parto."
Pensando nas constatações dos autores acima citados, não fica
difícil concordar com Harmonia, que o bebê reconhece a sua mãe através
da voz; e como Hera, acreditar que aquele bebê gostou da voz de seu pai
e por isto se acalmou.
Na ausência dos pais, seja qual for o motivo que a provoque, o
cuidador se considera responsável por atender ao bebê, na sua
necessidade de interação humana. No depoimento de Selene encontramos
a afirmação de que o cuidador, afora os pais, é a pessoa que o recém
nascido consegue identificar. Para ela, então, é importante que o cuidador
substitua os pais quando estes não estão presentes:
.. Tradução livre.
98
Porque se o pai e a mãe não estão presentes as 24 horas como
seria o ideal, [....] , nós somos as pessoas que ele reconhece, o som, o
movimento, o cheiro até da gente, daquela pessoa que está cuidando dele.
Para o cuidador existem aspectos no sEm modo de se comunicar
que o recém-nascido identifica, e que estes o diferenciam da maneira como
a mãe se comunica com seu filho. Ceres atribui peculiaridades, percebidas
pelo bebê, quanto ao modo de falar e Circe quanto ao modo de tocar, que
distinguem o cuidador da mãe:
[....] eu a<:redito que eles sabem
quando
é tu que fala,
quando é a mãe que fala [....].
[....], até aquelas crianças que são muito puncionadas,
quando
tu vai to-las, que não é o toque da mãe deles, elas
acham que tu vais judiá-las [....].
Para Hermes, uma das atividades do cuidador é a de substituir os
pais, quando o bebê não os possui, para suprir a necessidade de
comunicação. Para ela o bebê sente falta da mãe, principalmente à noite,
porque geralmente ela não comparece, e o cuidador deve procurar reduzir
essa deficiência:
Tem bebês que, por exemplo, não têm pais. No tempo
que estão internados a gente tem
que
estimular bastante, isso é
parte da comunicação. [....]. [....] ele está sentindo a falta da mãe;
que durante o dia, às vezes, elas estão presentes. À noite não,
como é meu caso. Trabalho à noite, então eles sentem essa falta,
então eu procuro suprir, suprir na medida do possível. Carência!
o cuidador sente que o recém-nascido precisa dessa relação de
comunicação, que se estabelece entre eles. Ele acredita que ao se
comunicar com o recém-nascido ele consegue servir de intermediário na
99
construção da relação entre ele e seus pais. Atena conta para a mãe do
bebê, evitando magoá-Ia, quais as mensagens que recebeu do bebê, no
período em que cuidava dele. Faz isso a fim de auxiliá-Ia na interação entre
mãe e filho:
[... ], a mãe estava meio ausente. Eu tenho a mania de
dizer assim: Ah! Mãe ele mama assim. Sabe comigo ele mama,
mas tem que ter um jeitinho assim, assado, tal. coisa e tal... Daí
eu tento assim passar a mensagem em que ele passou, com a mãe
dele, de uma forma que não agrida ela [....].
Quando a ausência dos pais acontece, o cuidador se sente
motivado a reforçar as suas demonstrações de afeto para com o bebê; até
mesmo procura substituí-los na sua incumbência de oferecer carinho ao
filho. Sobre como percebem isto, Atena e Prometeu, dizem:
[....] pegar no colo, [.m], da ausência da mãe dele, [.....].
[....] pegar no colo e dar um, botar no colo e dar uns
tapinhas nele. Eles acham que é o aconchego dos pais, eles
sentem assim que tu estás, protegendo [....] acham que é
aconchego. [....]. Sim, houve comunicação, [....] o nenê até pode
notar, sente que não são os pais mas a presença de alguém que
está dando o conforto que eles estão precisando, que eles
estavam querendo.
o cuidador acaba por substituir os pais assíduos, na sua
competência de dar colo e de acalmar, quando estes se afastam do filho.
Atualmente o cuidador, por uma opção em restringir o uso da chupeta para
não interferir no sucesso da amamentação. , precisa do recurso da
comunicação para tranqüilizar o bebê, como relata Prometeu:
Ahl Eu considero importante, principalmente porque a
gente substitui um pouco a ausência dos pais que vêm, têm presença
. "Não dar bicos artificiais ou chupetas a laclentes amamentados ao seio." É o passo dos
"Dez passos para o sucesso do Aleitamento Matemo. (Valdés, Sánchez e Labbok, 1996, p.
43)
100
constante. [ ... ], principalmente para acalmar o recém-nascido.
Muitas vezes conversa pega no colo, tudo, até substitui um
pouco a ausência do pai. Daí, já ajuda a acólmar, já que agora não
pode dar bico.
Assim como o cuidador e o recém-nascido necessitam de
comunicação, entre si, o recém-nascido necessita da comunicação com os
pais. Porque os pais desempenham um papel importante na vida do recém
nascido, afirma Hermes:
[ ...] importantíssimo. Tanto nós quanto os pais, com os bebês.
Principalmente a comunicação com a mãe, como diz Hebe,
estabelecendo uma relação de equivalência consigo no papel de mãe:
Então independente de enfermeiro ou e, eu acho
assim, essencial assim. Eu acho que o enfermeiro tem que ter a
comunicação com o recém-nascido e a mãe também. E, eu penso
que é essencial assim, tanto para, para o tipo de trabalho que a
gente faz e para, para o filho também.
Ao experimentar a maternidade, Felicidade sentiu o quanto a sua
filha estava despreparada para este mundo, para interagir com tantas
pessoas desconhecidas:
[....], eu senti mais isso bem presente quando eu tive a minha, a minha
neném. O quanto é diferente para um bebê. [....]. Quantas pessoas
eles vêem diferentes ao mesmo tempo. É um mundo,[....]. Mas assim
é tão correndo pobrezinho, que ele não tá preparado para tudo
isso , [....]
Enfim, o cuidador fala da presença e da ausência dos pais junto
. ao filho; descrevendo como ele acredita que deva se comportar com os pais
e com o bebê, do ponto de vista da comunicação, frente a estas duas
situações distintas.
101
3.5 As dificuldades para que ocorra a comunicação
A presença deste capítulo pode ser justificada pela referência de
alguns dos sujeitos do estudo sobre a existência de dificuldades no contato
comunicativo com o recém-nascido. Percebi, nos seus depoimentos, o
quanto as dúvidas que sentiam eram significativas para seu relacionamento
com o recém-nascido e que suas indagações diziam respeito à capacidade
do bebê e à própria capacidade para se comunicar. Alguns chegaram a
mencionar a ausência de comunicação na sua relação com o recém
nascido, em determinadas situações.
Para Ferraz, Alves e Peixoto (1995, p. 21) a comunicação,
mesmo sendo uma palavra usada com freqüência na enfermagem, é pouco
conhecida pelas enfermeiras. Estas autoras referem que o valor dado ao
conhecimento da comunicação, na esfera profissional da enfermagem,
depende de atitudes, crenças, experiências anteriores e expectativas
individuais; assim como a interpretação da mensagem depende do tipo de
relacionamento existente entre as pessoas que se comunicam.
Ao pensar sobre a comunicação como um instrumento acessível
a todos e que tem sua utilidade no contexto do estudo, encontro na obra de
Bordenave (1997, p. 9) a seguinte indagação sobre a comunicação no
contexto social:
"Será que o modo de nossa sociedade usar sua comunicação
social responde às necessidades das pessoas reais?"
Para o autor acima citado, aquele que procura o conhecimento
sobre o processo da comunicação busca desfrutar das inúmeras
102
possibilidades, gratuitas e abertas, deste dom, que é a comunicação
interpessoal, conforme Bordernave (1997, p.10).
Para quem quer atingir a comunicação de maneira plena,
segundo Rector e Trinta (1999, p.32), é essencial possuir a percepção do
que está ocorrendo, da situação, do contexto, do interlocutor e do espaço
em que ela se desenvolve. Para os autores, ter percepção requer esforço,
espontâneo,
instantâneo e
autogerativo para
perceber;
portanto,
escolhemos o que queremos perceber assim como comandamos nossa
percepção.
Os cinco sentidos ( visão, audição, tato, paladar e olfato) aliados
aos fatores espaço e tempo,
para os autores acima citados, são os
instrumentos privilegiados que o ser humano dispõe para a apreensão,
compreensão e desvelamento intelectual do universo no qual está inserido,
destacam Rector e Trinta (1999, p. 35)
Sobre a importância do conhecimento da comunicação e sua
dimensão não verbal, encontro em Davis (1979, p. 22) que as palavras,
dentro do processo, são parte da etapa inicial do processo; a comunicação
não verbal é o solo firme sobre o qual se constróem as relações humanas.
Dentre os depoimentos, encontrei afirmações sugerindo a
diminuição da atenção ao relacionamento e a ausência da comunicação
com o recém-nascido.
Dizem Rector e Trinta (1999, p. 33), sobre a percepção das
pessoas acerca do seu ambiente:
104
atenção para a conduta comunicativa, como se esta precisasse ser indicada
como terapia específica e apenas determinados bebês dela sentissem
necessidade. Afrodite relata assim suas observações:
[....] essa coisa de falar com o bebê é uma coisa mais
afetiva assim sabe, talvez são pessoas que não tenham tanta afetividade
assim, [....]. [....]. [....] as pessoas não se dirigem ao bebê
pelo nome, é sempre recém nascido de alguém. [....] já não valoriza
que aquela pessoa já tem um nome e isso acho que faz parte de achar
que, não é importante. Porque é recém nascido, que não fala, que não,
que não está trocando com a gente alguma coisa, eu acho
que deve ser assim, o pensamento geral, [.....]. [....]. [....] é preciso a
enfermeira colocar na, na prescrição ali, para a pessoa se dar conta de
que o bebê é grandinho, que entende melhor as coisas. Que é para ti
conversar com ele, [....].
Quando a aproximação se dá para o cumprimento de tarefas, que
precisam ser Ct:mpridas e que são realizadas de forma mecânica, o
cuidador admite que mantém uma postura mais distante do recém-nascido.
Que fica afetivamente mais rígido e mais profissional. Sobre este
comportamento Atena e Selene dizem:
[....] tu faz aquele teu serviço automático, tu chega
e (ou), eu vou fazer a medicação, fazer aquelas coisas assim
automáticas, [....].
[....] mas assim, sentimento, sentimento assim eu acho
que nós da enfermagem não temos [....] [....] não preencheria o
estímulo sentimento que o pai e uma mãe preencheriam [ ].
Então é um estímulo vamos dizer mais profissional, mais
distanciado do que seria o ideal.
O comportamento tarefeiro do cuidador está relacionado com a
dificuldade do bebê para expressar suas queixas. Como os recém-nascidos
não falam, como não se comunicam verbalmente, o cuidador não se
preocupa em avaliar se o seu paciente está ou não satisfeito. Desconsidera
105
o bebê como ser humano e o trata como um objeto. Hera indica este
comportamento observado em outro cuidador:
E, e acho que muitas pessoas não dão importância E que a gente
deveria dar porque, porque ele não se queixa, não fala. Muitas pessoas
fazem trabalho muito automatizado, em relação ao
bebê [....]. Então tem que puncionar uma veia, não se preocupa com
nada, vai lá e puncionam, como se o bebê fosse um bonequinho, [....]
[....]. [ .... ], são bem automatizados. Fazem o trabalho, [....] se o nenê
está chorando lá, está pedindo ajuda, não olham para o lado, estão dando
a mamadeira no copinho para um, e não querem nem ver o que
está acontecendo com o bebê. Estas pessoas são as pessoas que [....],
não estão entendendo a comunicação do bebê. [....] [....]é a mesma
comunicação que eu estou tendo quando eu fui pegar a veia e não fazer
nada, não conversar, não observar nada, nem olhar para ele, é o que
acontece.
A dificuldade de se comunicar com o recém-nascido, pode ser
uma característica inata do próprio cuidador. Muitas vezes quando o
cuidador tem dificuldade para se relacionar com o bebê, através da
comunicação, esta dificuldade também se manifesta quando ele convive
com outras pessoas. Como diz Ceres:
Uma coisa que eu pensei é que, se tu não consegues te comunicar bem, no
geral com as outras pessoas, tu vais ter mais dificuldade, eu acho, de te
relacionares com o recém-nascido.
Sobre a falta de sensibilidade do cuidador, encontra-se esta
observação na fala de Circe. Para ela, quando o pensamento dominante do
cuidador, sobre seu trabalho, está voltado para um ofício que proporciona
apenas aquisição material, em detrimento da satisfação pessoal, ele se
distancia do bebê.
106
[.....] eu sei que tem muita gente que está aqui dentro, e
dentro da área da saúde pelo dinheiro. Que pouco tempo era uma
área fácil de conseguir emprego, o salário não é dos mais baixos,
então tu não está ali porque tu ama o que tu fazendo. Tu estás ali
porque tu sabes que o teu salário é garantido no final do mês; então
acho que quem trabalha por isso, não vai ter a mesma dedicação que
quem gosta do que está fazendo. Acho que é essa a diferença. E eu
tenho certeza que muitas pessoas são assim. Eu vejo no meu dia-a-dia
isso. Pela própria qualidade do trabalho deles.
o cuidador pode escolher uma maneira impessoal de cuidar.
Quando age desta maneira ele explica que o faz porque, na sua opinião, o
cuidar bem envolve o apego, que ele evita por acreditar que seu esforço
será inútil em determinadas situações. Dione diz ser este o motivo que a faz
refrear o impulso de se relacionar, da mesma maneira que as colegas
fazem; uma vez que os bebês não vão ser tão bem cuidados pelo pai ou
pela mãe, mesmo pelas instituições, no caso de bebês abandonados.
[....] ao menos com os pais que a gente, não sabe, que
não vão ser muito cuidados [.....]. A gente fica preocupando,
se, se perguntando como é que estão. Por isso que eu prefiro não
conhecer. Eu até, não levo muito para esse lado de me apegar
nas crianças, por causa disso. As gurias falam: Ah Fulano não sei
o que! Eu digo assim: Ah, não me lembro! Não me lembro porque
eu prefiro não saber. Se a gente tivesse como, [....], continuar,
acompanhando eles. Certas crianças claro. Tem mães que a gente
sabe que eles vão ficar bem em casa. Mas os que vão para
FEBEM, os que a gente sabe que os pais não são, "flor que se
cheire", a gente fica preocupada [....] (Dione ).
A profissão de cuidador de recém-nascidos possui uma
interpretação distorcida por alguns destes profissionais. Para estes ela
parece ser mais tranqüila, menos trabalhosa; segundo eles o recém-nascido
. Nota da autora: Fundação Estadual para o Bem-Estar do Menor.
107
não necessita de outro tipo de contato além dos essenciais para a execução
de tarefas.
[....] porque as pessoas quando trabalham com recém-nascido, elas dizem:
"É só tu chegares, tu trocas, faz isso, faz aquilo [ .... ].
A sensibilidade já foi citada, por alguns sujeitos do estudo, como
uma qualidade que predispõe o cuidador para a comunicação com o recém
nascido. A falta de sensibilidade do cuidador, na opinião de outros sujeitos,
impede que ele perceba a maneira peculiar e distinta essencial para
transmitir o que gostaria seu interlocutor, o bebê, entendesse. Novamente a
dificuldade para se relacionar e o profissionalismo, que aparecem no
cotidiano do cuidador, surgem como motivos que interferem na
comunicação, como dizem Ceres e Selene:
Se tu tens uma dificuldade assim, por exemplo, nos
teus relacionamentos normais assim, com pessoas, não só no
trabalho assim fora, com o recém-nascido também isso se
reflete, acho que tu também tens essas dificuldades, [....]. [....].
[....] eu não consigo aceitar certas coisas em ti, tu consegues me
argumentar, revi dar algumas coisas. O recém-nascido não, então
tu tens que ter a sensibilidade suficiente [....].
[ ... ], o adulto, por ser um profissional ele é meio
distante e não desenvolve isso.
Determinadas
características
físicas
do
recém-nascido,
esteticamente falando, também influenciam a disponibilidade do cuidador
para se aproximar do recém-nascido. Assim como as características de
humor, se apaziguar ou não com facilidade, aproxima ou afasta o cuidador
do bebê. A manifestação de satisfação com a proximidade do cuidador, com
108
o contato físico, o reforça na busca pela comunicação, assim como o
contrário o repele. Para Ceres e Circe isto ocorre da seguinte maneira:
Mas isso existe também, existem os bebês feios,
existem os bonitos. Existem os que são bem tranqüilos, os que
são agitados Existem os bebês que se acalmam quando tu pega
no colo, outros não, tudo isso.
Muitas crianças não reagem bem ao carinho,
principalmente aqueles prematurinhos da "um". Porque eles
acham que tu vais puncionar eles, que tu vais picar eles. Isso
tudo são
estímulos dolorosos [....].
O atendimento ao recém-nascido com risco iminente é citado,
pelo cuidador, como um momento de ausência de comunicação. Numa
situação de crise ele tem dúvidas se o bebê está ou não em condições de
perceber o que está acontecendo. Considera que a comunicação, quando o
bebê está em risco de vida, pode perturbar o sucesso da intervenção.
Naquele momento o cuidador não pensa na
comunicação, precisa se
concentrar no atendimento. Sabe também que algumas patologias
requerem repouso absoluto do recém-nascido e a comunicação, segundo
seus conhecimentos, pode ser nociva. Artemis e Climene afirmam em seus
depoimentos que em determinadas situações a comunicação, o contato,
não trariam benefícios e deveriam ser evitados:
A situação que eu acho que não ocorre é, nas
urgências
mesmo, [....]. [ .. ] primeiro é que o nenê não está, [.....] escutando
alguma coisa. Para começar em uma parada por exemplo, eu não
vou ficar ali realmente conversando com ele; não adianta eu
mentir que eu faço isso, que ninguém faz. Mas salvo as situações
de urgência mesmo, convulsões, paradas cárdio-respiratórias;
nenê que está, por exemplo, uma hipertensão pulmonar, que o
nenê esteja dormindo, esteja tranqüilo, que não tenha barulho
em volta porque a própria
patologia não permite que essa estimulação, [....].[.....].[....] nessas
coisas extremas mesmo, até porque eu acho que o nenê não iria
109
interagir, mesmo. [....] às vezes até o nenê esbem acordado
mas; que não traz benefício para ele naquele momento.
Porque em outras situações a gente evita até de
manusear muito, mais para, para proporcionar assim, conforto
deles.
As características do recém-nascido da sala de tratamento
intensivo, medicados para sedação, sonolentos ou dormindo, também
inibem o cuidador. Ele considera que este bebê não se relaciona com ele.
Bebê que não está de olhos abertos não percebe as pessoas e o ambiente,
como diz Harmonia:
[ .. .], principalmente na UTI, a gente se esquece
assim, porque eles estão ali, sedados, parados. Então, as vezes eles
são tratados assim, como uma coisa porque eles não estão
acordados, não estão atentos e eu acredito que eles percebem [....].
O cuidador considera que ao se aproximar do recém-nascido
apenas para executar um procedimento, sente inibido o desejo de se
comunicar. No seu entendimento a única comunicação que aconteceu diz
respeito ao próprio procedimento. Sobre isto falam, respectivamente, Dione,
Hera e Climene:
[....] não é visto pelo lado deles. Até tem pelo lado da
gente, mas pelo lado deles não, porque é uma agressão, [....]. [....].
[....] é meio difícil, ter uma relação [....].
[....] punciono a veia, saio de perto, não faço nada. Até
houve uma certa comunicação, mas muito falha. Na verdade, não
houve. A única coisa que Se consegue transmitir é o fincar a
agulha ali e mais nada.
Porque na medicação a gente faz tão assim, [uu]
automático, corre e faz uma coisa e outra [m.] até nem tem
tempo de acariciar.
A repetição de procedimentos dolorosos ao longo da internação
afeta a disposição do recém-nascido, na percepção do cuidador. O bebê
110
passa a apresentar um comportamento diferente, começa a rejeitar o
contato com o cuidador. Não aceita da mesma forma a presença e os
estímulos do cuidador.. É o que diz Circe:
[....] um prematuro que está todo puncionado já,
semanas sendo entubado, extubado, passado cateter, feito
flebo, é bem diferente. [....]. E o bebezinho da "um", ele está
muito machucadinho já. Ele está muito judiadinho já, coitado. E
eu acho que ele não consegue te responder muito bem.
O cuidador sente desânimo para se relacionar com o recém
nascido, ao enfrentar o dia-a-dia rotineiro do cuidado. Tocar no bebê de
maneira impessoal, com pressa e sem tempo para lhe dedicar atenção inibe
os contatos. O cuidador passa, então, a avaliar as condições de interação,
para selecionar com qual bebê irá se comunicar. Os sujeitos se preocupam
com a falta de singularidade no cuidado ao recém-nascido, imposta pela
rotina e com a falta de reconhecimento do próprio bebê sobre sua pessoa,
dizem:
E a gente passa correndo por cima porque a gente tem
muitas coisas para fazer ao mesmo tempo e esquece do
principal, a maioria das vezes. Eu falo não por mim. [....]. [....]
e a gente não pode conversando com o bebê. Acaba fazendo
aquela primeira parte. (Felicidade);
[....] não tenho nem coragem de chegar lá, mexer no
nenê como se ele fosse mais um ali e sair não dar aquela atenção
para ele, então eu procuro fazer isso sempre que possível,
sempre que eu acho que a criança tenha condições de, de
interagir naquele momento, [....]. (Artemis);
[....] ele não vai conseguir me identificar amanhã,
porque eu vou fazer as mesmas coisas que os outros fizeram!
Vou puncionar, vou dar medicação, vou aspirar, vou fazer coisas
dolorosas. (Circe).
111
o cuidador percebe que a qualidade do seu trabalho é medida
pela atenção que ele dispensa ao recém-nascido. Se sente questionado e
cobrado quanto a isto. Sente, por outro lado, que quando o número de
recém-nascidos que atende, ultrapassa o limite da sua capacidade funcional
fica muito difícil conseguir dar a atenção adequada ao bebê. Ao ser
pressionado o seu estado emocional passa a prejudicar o relacionamento
com o recém-nascido. Este é o desabafo de Circe e de Éris ao relatarem:
[....] "a gente não pode dizer quando está, muito
serviço. Ah! Eu vou fazer tudo
que
eu posso". Porque daí tu
com o pressuposto que tu não queres fazer as coisas. E eu não
penso assim, porque eu sei que a minha qualidade de trabalho não
vai ser a mesma, se eu tiver quatro, cinco bebês no
intermediário 1, se eu tiver seis ou oito [....]. Então, não é uma
questão de má vontade. É de tu teres consciência que tu não vais
conseguir dar tanto colo, tanto carinho para aquela criança do
que quanto tu terias, se tu tivesses menos pacientes. Isso eu
fiquei até bem chateada até o dia que ela falou, eu não penso
assim.
Às vezes quando tu irritada, quando tu não
consegues fazer alguma coisa, fica mais difícil ainda para tocar.
Com aquele bebê.
A quantidade de pessoas que se aproximam do recém-nascido
no ambiente hospitalar é mais um fator que inibe a aproximação do
cuidador, que faz com que ele evite a aproximação para a comunicação.
Circe cita a presença dos alunos estagiários de um modo geral e diz que
não adianta ela tentar uma aproximação:
[....] , não como hoje que está, milhões de estagiários ali, que daí não
adianta [....].
Existe uma outra perspectiva para a dificuldade na comunicação
entre o cuidador e o recém-nascido. Para o cuidador, o recém-nascido se
112
confunde quando está no ambiente de cuidado hospitalar. Carinho e
procedimentos dolorosos acontecem simultaneamente. O bebê passa a
chorar quando é exposto a procedimentos repetitivos e começa a associar a
presença do cuidador a eventos ruins. A manifestação de desagravo do
bebê magoa o cuidador. Ele sabe que nem sempre ele se aproxima dele para
procedimentos, mas o bebê parece não distinguir isto. É o que
Felicidade pretende afirmar ao dizer:
Eu senti muito quando eu cuidei dum bebê que toda a
vez que tu abria a incubadora ele chorava [....] eu me sentia
agredi da por ele. Por que esse bebê está chorando toda vez que
a gente abre a incubadora? O que, que ele está sentindo?
A disponibilidade de tempo do cuidador para a comunicação com
o recém-nascido, isto é, a distribuição do tempo disponível para as tarefas a
serem executadas, interfere na sua relação com o bebê e provoca um
distanciamento. Na argumentação de Circe aparece a preocupação com a
falta de atenção provocada pelo número excessivo de pacientes que faz
com que esqueça do ser humano recém-nascido. Hermes diz dar mais
atenção ao que chora mais alto e Felicidade admite que percebe a
necessidade do bebê de interagir mas não pára suas atividades para lhe dar
atenção.
É claro que na correria, às vezes quando tu tem
milhões de pacientes, às vezes tu preocupada com mil outras
coisas e tu tens que fazer,[....]. Então tu te dispersa e o
consegue dar toda essa atenção para ele, isso que eu acho ruim
no nosso trabalho, [....]. [....]. [....], o pessoal se volta muito para o
cuidado que tem que ser feito naquele momento e esquece que
ali embaixo tem um recém, tem um Ser humano! E não é feito
por mal. que não tem intenção nisso aí. [...], tem trinta nenês
para cuidar e a coisa tem que ser rápida. Eu acho que aí a
comunicação é um pouquinho esquecida sim. (Circe );
que a gente às vezes não pára, para enxergar, não
pára, para corresponder a essa comunicação. (Felicidade).
113
[ .. ] numa sala com muitos bebês, dar a mesma
atenção
para todos. De repe."1te tu dá mais atenção para aquele que está
mais, precisando no momento, está mais irritado, choroso.
(Hermes);
Ao executar suas tarefas, o cuidador prioriza a execução da
própria tarefa e esquece do recém-nascido. Esquece de se relacionar com
ele, citando a falta de tempo, que precisa valorizar o seu lado técnico em
prejuízo das relações humanas. O número reduzido de profissionais e a
quantidade excessiva de tarefas são os argumentos citados e que fazem
com que aconteça o distanciamento.
[....] a gente chega e faz o que precisa fazer mas esquece
um pouquinho de dar uma atenção para eles, até, às vezes tem uma
sala que tem mais crianças, menos funcionários, vais fazer aquelas
coisas que são mais prioritárias e depois se sobrar tempo [....].
(Artemis);
[....] , mas é como eu te disse, em dias de correria é
impossível, tu mal consegue lembrar que tu tens que preparar
tantos e tantos soros, tantas e tantas medicações. Ah, tu
lembrares que tu precisas conversar com eles. Dizeres para ele o
que tu estás fazendo com ele. Atrapalha, sim o teu bom trabalho
com o paciente, com certeza! (Circe);
Quando ele chega para nós o que, que busca do bebê?
Identificar sinais importantes que dizem que o bebê ou ele
bem ou ele mal e que tu esquece muitas vezes de toda aquela
parte emocional do bebê. (Felicidade).
O curto tempo de permanência do cuidador junto a cada bebê
torna a relação frágil, na opinião do cuidador. Leva ao distanciamento e a se
proteger de um vínculo mais forte, que seria frustrante. Dione argumenta
que tanto para ela como para o bebê assim é melhor, mesmo porque não
há como se aproximar dos bebês por causa da escala de trabalho:
114
[....], por isso a relação é curta e, e eles não pegam
vínculo e nem a gente com eles e aí já se torna mais uma coisa de
profissional, mais uma coisa profissional. Se as crianças
que
ficassem, ficassem mais, mais tempo sim [.....]. [....]. Mesmo
que
eles fiquem até dois meses a gente tem rodízio de sala não,
não pega sempre as mesmas crianças.
Para o cuidador, algumas pessoas demonstram não acreditar na
capacidade do recém-nascido em participar do processo de comunicação.
Consideram que o bebê é incapaz de entender a comunicação humana e
então não dão importância a ela, dando uma conotação de perda de tempo.
Outros dão pouca importância porque demonstram desconhecimento ou
não tiveram a oportunidade de aprender ou porque não são educados ou
estimulados pela enfermeira. Para alguns há, ainda, a crença antiga de que
o bebê não possui esta habilidade.
[....] dos outros, acham que os bebês não entendem
nada e desconsideram muito, acho, essa parte de, de
comunicação. [....]. Da forma também como a gente aprendeu, da
forma como a enfermeira isso e passa para os funcionários,
[....]. (Harmonia);
[....] às vezes a gente que estão começando, que
acham que o bebê [....] é um objetinho que não tem, que não vai
interagir, [....]. (Éris);
Muitas pessoas acham que é incorreto tu ficares
conversando com o bebê, [....]. (Selene);
Muitas pessoas não se dão conta que esta
comunicação
existe [....]. (Hera);
Eles não entendem, não porque precisam. E mesmo
eles, não adianta tu explicar, explicar, explicar, que tu nunca vai
saber se eles entenderam ou não. (Dione);
Porque antigamente diziam que eles não entendiam,
que não adiantava tu conversares porque recém-nascido e nada
era a mesma coisa. (Hebe);
115
[....] mas eu acho que do modo geral acho que o
pessoal ainda não acredita que haja, que possa haver uma
relação, possa haver uma comunicação' do bebê com o adulto.
(Afrodite).
Para o cuidador a sua observação de despreocupação e de falta
de comunicação com o recém-nascido ocorre mais sobre a equipe de
enfermagem. A equipe médica é observada, mas é vista sob outro ângulo.
Ele acha que o contato do médico com o bebê é muito rápido, o médico
examina, é diferente. Para Hera este descuido ocorre, na equipe de
enfermagem, porque não entendem a comunicação com o bebê e na equipe
médica porque parece não haver tempo para ela. Já para Afrodite, as
colegas parecem mais predispostas a se comunicarem entre si.
[....] não estão entendendo a comunicação do bebê.
Alguma coisa está acontecendo, nem que seja um carinho, que
ele queira. [....]. Eu observo mais na enfermagem [....], porque o
pessoal médico é muito rápido, ele vai, vai examina ligeirinho.
Até eu vejo que conversam, tem uns que conversam, outros não;
mas é a enfermagem que a gente observa mais [....], eu acho que
é este descuido. (Hera);
[ .... ] eu acho que infelizmente as pessoas não pensam
assim de um modo geral, [ ..... ], as pessoas que trabalham comigo
independente da, da formação dessa pessoa, eles não conversam
com o bebê, sabe! Eles vão fazendo, prestando, fazendo aquele
cuidado tem que fazer, independente o que for o cuidado e vão
falando com outra que esna sala e não se dirige a, ao bebê,
isso eu fico chateada com isso, [ ....]. (Afrodite).
A comunicação entre o cuidador e o recém-nascido, na opinião
dos sujeitos do estudo, está limitada.
[ .. ] mas de um modo geral acho que isso a, ainda não
acontece eSSa comunicação. (Afrodite);
[ .. ] a comunicação mais verbal eu me refiro, que está,
está bem pobre. (Felicidade).
116
Desconhecimento, incerteza, interrogação, ambivalência, são
termos que qualificam aquilo que emerge das leituras dos depoimentos dos
sujeitos do estudo. São sentimentos do cuidador sobre o processo de
comunicação com o recém-nascido que retratam um cotidiano.
O cuidador tem dúvidas sobre a capacidade do recém-nascido
em perceber que ele tem a intenção de se comunicar. Também, não tem
certeza se o que observa no bebê, são ou não momentos de interação ou
compreensão da presença dele, cuidador. Argumentam:
[. . ] eu não saberia te dizer como é que ele, ele, ele
sabe que tu tá querendo te comunicar, [....]. (Ceres);
Artigo I. Até onde é que o bebê está realmente
interagindo em todas as coisas e está entendendo, e quando ele
não está mais, [....]. [....]. [....], não exatamente como eu vejo aS
vezes acontecer as outras pessoas que tão numa linha de
tentar explicar o que vai ser feito; que eu até ainda não me
convenci de que ele entenda desta forma, [....]. (Artemis);
Eles não entendem, não porque precisam. E mesmo
eles, não adianta tu explicar, explicar, explicar, que tu nunca vai
saber se eles entenderam ou não. (Dione).
Muitas são as vezes em que o cuidador se encontra numa
situação paradoxal, se comunica acreditando que não será entendido pelo
bebê. Questiona a capacidade do recém-nascido para entender a sua
mensagem e de respondê-Ia. Sobre o assunto dizem:
[....] eu acho que isso faz parte do bom atendimento,
tu teres um diálogo com ele, mesmo que ele não te responda [....].
(Circe );
E hoje a gente sabe que não é assim, que eles
escutam, que eles, que eles sabem. Não sei se eles conseguem
definir o que, que é. (Hebe);
117
[....], se ele está entendendo exatamente o que é que
eu estou fazendo eu não sei. (Artemis);
De repente eu acho que ele não está entendendo, mas
eu acho que a maneira como tu diz, de repente como é que ele
vai armazenar no inconsciente dele. Tu estás fazendo alguma
coisa, mas não é por maldade, eu acho que é a diferença de tu
estar fazendo com mal trato. (Ceres).
A absorção da mensagem negativa, que acompanha o
procedimento doloroso, afeta o comportamento do recém-nascido e é uma
preocupação do cuidador. Ele tem dúvidas se ela ocorre ou não e com a
mesma intensidade. Sobre isto argumentam:
Será que eles, realmente bloqueiam esse tipo de
coisas assim. Dizem que as pessoas realmente bloqueiam para
esquecer tudo que fica armazenado ali. (Ceres);
Eu acho que talvez a gente, não devesse fazer assim,
porque aquela coisa dolorosa no fim é uma dor, tu estás fazendo,
não é uma coisa gostosa. Essa preocupação eu tenho com eles e
eu nunca procurei muito bem, não sei se é certo ou se é errado,
mas a gente faz. (Hera);
[....] se é com essa idéia pensada que nós, que eu teria
como ser adulto de puxar para não me, não me fincarem mesmo.
Não sei se é exatamente dessa forma, ou se é uma coisa também
reflexa, ou que partilha duma parte de consciência, da parte
mais reflexa, que eu acho até que fique nesse meio termo, [....].
(Artemis);
Eu tento avisar, olha eu vou fazer uma
medicaçãozinha,
[ ... .]. (Amizade).
Apesar do acesso ao conhecimento escrito sobre o potencial
interativo do recém-nascido, o cuidador se sente inseguro sobre o uso
destas informações. Ele não tem certeza de estar identificando o que lê,
nas situações práticas. Como diz Artemis:
o nenê está atento, ele não está? Inatividade alerta, ele
está interagindo contigo, ele não está? Eu tenho ainda muita, apesar
118
das coisas escritas e lidas em bibliografia, eu ainda tenho muito
uma coisa comigo assim de ter, de ter dúvida exatamente nisso que
tu estás falando.
Para o cuidador o tema da comunicação com o recém-nascido é
pouco comentado no seu meio, tampouco é discutido. As ações voltadas
para uma comunicação como elemento do cuidado não chegaram a ser
inseridas como um padrão de atendimento e também não são incentivadas.
Estão no nível de decisão pessoal. Como disseram Dafne e Afrodite:
[....] o que eu penso sobre comunicação? Até é um
assunto que é pouco, realmente é pouco falado. [....]. Eu acho que
o teu trabalho vai ser bem interessante nesse sentido, que a
gente também não é incentivada, [....].
[....]' nós como enfermeiros, no grupo de modo geral, a
gente nunca chegou a discutir sobre este assunto, na verdade,
sabe! Entre nós mesmos fica muito pessoal, fica muito, tal
profissional faz, tal profissional não faz, tal pessoa faz. E só que
a gente não determinou isso como, como regra de atendimento
vamos dizer.
As informações sobre esta maneira de ver e abordar o recém
nascido, como um ser capaz de sentir e se relacionar, apareceram
recentemente. Para o cuidador há a necessidade de esquecer outros
valores e começar a aprender sobre aquilo que ele denomina de sutilezas
da comunicação. Hera lembra que por muito tempo agiu de uma
determinada maneira, considerada correta, e Selene dá a entender que a
comunicação com o recém-nascido não se dá de maneira usual:
É uma coisa que muito tempo não se preocupou e
agora está se preocupando com isso, as reações dos bebês [....]
Antes se enrolava, deixava todo enroladinho, que nem múmia,
agora não, a gente deixa ele mais à vontade. É outra forma de,
de também eles Se manifestarem, o que tão sentindo e a gente
perceber melhor. (Hera);
119
[. .. ], com
o
recém-nascido tu MO pode te comunicar,
vamos dizer, ela é mais sutil, ([....] (Se Iene).
O cuidador que acredita na importância da comunicação e o
demonstra, sofre a pressão dos colegas e de outros cuidadores, mesmo dos
pais, que se surpreendem com o seu modo de agir e procuram desacreditá
10. Cria-se um clima de desconforto ao perceber que algumas pessoas
estranham quando ele se comunica com o recém-nascido. Afirmam:
De repente as pessoas que não trabalham com recémnascido
acham estranho, como é que tu fala, mas eles entendem, claro que eles
entendem. Eu acho a situação deles mais difícil porque
o
bebê maior
ou o
adulto ele vai conseguir te dizer, e ele não vai conseguir te dizer, [....].
[....]. [....]. algumas pessoas, até os
pais eles acham estranho_assim, eu já vi
assim. (Ceres);
[....], então muitas vezes eu venho com um bebezinho no
elevador, no elevador do CO
,
e ele está ali,
os
médicos dizem que ele
não enxerga, [....]. [....]. [....], mesmo que as pessoas acham, que não
entendam, que olham para ti e digam: O que é que essa louca tá
falando com esse ser aí que não pensa nada [....]. [ .... ]. E eu acho
que eles respondem, pode ser uma coisa meio fantasiosa, mas funciona. Mas
para mim funciona e é gostoso, é muito gostoso ter a resposta deles. [....].
Muitas vezes os
médicos dizem: Não tem dor nenhuma. [....] como a gente
não tem a noção de dor, [....], os
médicos acham, muitos dizem que não tem
dor, por muitas coisas, [....]. [....]. [....], nós temos
o
professor (?) aqui que
não aceita. A gente diz: professor ele está tendo dor. Tu vês assim, é
drástico aquilo, mas ele não aceita, ele acha que não é. Daí tu fica assim, tu
te põe na dúvida às vezes até, porque eles são médicos, eles entendem mais
do que a gente. (Circe)
Comunicação é uma coisa importantíssima [....]. [....] e ao
mesmo tempo muitas pessoas não sabem fazer adequadamente e aí
às vezes isso prejudica até
o,
até
o
curso das coisas para melhor [....]
(Selene );
Até assim dos pais também. É uma coisa assim que é bom a
gente. E às vezes eles vêem até a gente conversando com o
nenê, eles
acham assim que de repente não é uma coisa assim que, que
o
120
nenê esteja escutando, que ele esteja aproveitando aquele
momento ali. (Climene).
Quando o cuidador compartilha o ambiente do cuidado com um
colega que não parece pactuar com suas idéias sobre o relacionamento
com o recém-nascido ele se sente inibido para "dialogar". Muitos colegas
gostam do silêncio e começam a criticar porque o ruído os atrapalha, como
diz Amizade.
o silêncio ao trabalhar com bebês parece, na opinião de
Ceres, ser um tipo de hábito que nunca questionou.
[ ... ], se tu estás dividindo a sala com outra colega.
Dependendo da pessoa até, às vezes, meio que não interpreta
muito legal, ou não gosta, quer estar em silêncio, fica achando que
não dá, fala demais e coisa e tal, sei lá! E, e eu noto que inclusive
eu procuro
ficar mais quieta, mais na minha, fazendo os procedimentos, mais em
silêncio, quando eu divido a sala, com alguém. Por notar até de
repente que aquela pessoa não, não ache muito adequado, ou não
goste, não sei. Especificamente cada um tem uma maneira.
(Amizade);
Até pessoas que trabalham com bebês, elas não falam
quase com os nenezinhos. Não, eu nunca perguntei assim, eu acho
que
nunca me passou pela cabeça, [ ]. (Ceres);
Por fim, a comunicação, na dimensão interpessoal, requer do
cuidador o envolvimento com o recém-nascido. Ele passa a ser mais
conhecido e a conhecer melhor o bebê. Com isto, surge uma intimidade
maior entre o cuidador e o recém-nascido, que para o primeiro ameaça a
sua relação de cuidado profissional. Isto é, ele acha que a intimidade com o
bebê prejudica o seu lado profissional e até o pessoal, pelo apego ao bebê. É
o que mencionam Selene e Djone:
[ ... ] acho que tu tem que fazer com sentimento,
embora não te envolvendo, te mantendo. Porque cada caso é um
caso e às vezes se tu tentar, te envolver, tu não vais
conseguir ser o profissional adequado.
121
É que eu disse, com o recém-nascido não tem muito o
que falar porque, ela, eles passam não é! [....] passam poucos dias,
vão embora e a gente não tem muito convívio com eles. Ainda
bem não é, que não ficam. [....]. [....] eu ainda prefiro que não
tenha muito vínculo porque depois vão embora. [....] claro que
eram crianças para adotar, e daí fica mais tempo e, a gente fica
depois se perguntando como é que tão, onde é que tão? fica,
eu prefiro assim, não tenha, a gente pega daí, se apega com eles
[.....].
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A princípio gostaria de expressar algumas convicções que
norteiam a minha trajetória como enfermeira e cuidadora de recém
nascidos, e que também guiaram o rumo desta investigação.
Destaco que a preocupação em transmitir, às pessoas que
cuidam do recém-nascido, uma noção sobre como é importante a atenção
destinada à comunicação com o bebê na relação "cuidador I recém
nascido", sempre esteve presente nas minhas expectativas como
enfermeira e educadora.
Foi esta preocupação que me despertou para a vontade de
investigar a percepção do cuidador a respeito da comunicação com o
recém-nascido.
Acredito na relevância da comunicação para o sucesso da
interação entre o cuidador e o bebê; assim como acredito na possibilidade
dessa comunicação ser entendida pelo recém-nascido, desde que o
cuidador considere a peculiaridade desta relação interpessoal.
-
123
Ferraz, Alves e Peixoto (1995, p.21) consideram a comunicação
"um instrumento básico, uma habilidade indispensável ao desempenha
profissional [ ... ]”.
Assim como estes autores, acredito na necessidade do cuidador
em empenhar seu esforço profissional e humano para desenvolver a
habilidade de entender e se fazer entender pelo recém-nascido; desta
forma, os conhecimentos aprendidos sobre a comunicação e o potencial do
recém-nascido, tomam-se os instrumentos da relação de oferta de ajuda
profissional, à qual o cuidador se propõe.
Acredito na existência da comunicação sempre que há o
encontro entre o cuidador e o recém-nascido, não importa se foi ou não
percebida por um ou outro.
Desta forma, não há um oposto de comunicação, como também
afirmam Watzlawick, Beavin e Jackson (1999, p. 44-45). Sendo assim,
acredito que as pessoas estão se comunicando a todo momento, porque a
comunicação é um comportamento e porque ela independe da sua vontade.
Ao analisar as informações obtidas, sob a ótica da análise
temática, identifiquei que o cuidador atribui significado à comunicação; que
estabelece uma relação muito forte entre o ato de cuidar e o ato de se
comunicar com o bebê; que
reconhece o procedimento como uma
dimensão da comunicação; que percebe a influência dos pais na
comunicação com o bebê e que sente algumas dificuldades no ato de se
comunicar.
124
o estudo mostra que para o cuidador a comunicação com o
recém-nascido existe, e tem significado. O significado da comunicação com
o recém-nascido está associado ao julgamento do próprio cuidador sobre
aquilo que o bebê entende por comunicação.
A comunicação é uma interação humana, segundo o cuidador, e
para ele o bebê precisa de algo mais do que o seu cuidado profissional e
impessoal. Entendo, a partir desta constatação, que o cuidador, ao procurar
se comunicar com o bebê, espera estar atendendo à necessidade de
relacionamento humano do recém-nascido.
Para ele, cuidador, o bebê procura estabelecer relacionamentos
e depende dele para tê-Ios; assim como precisa dele para ter atendidas as
suas necessidades físicas. O cuidador se preocupa com o sentimento de
solidão que o bebê possa estar experimentando no ambiente hospitalar.
Entendo que o cuidador, ao afirmar que "tudo é novidade" (Circe)
para o bebê, quer dizer que se preocupa com a inexperiência do recém
nascido e se dispõe a ajudá-Io no seu aprendizado. A comunicação do
cuidador com o bebê adquire um caráter educativo, se pensada por este
ângulo.
A preocupação com a comunicação é vista como um atributo do
cuidador. Este é um atributo que o qualifica na sua profissão e o diferencia
dos demais profissionais, no mesmo ambiente de trabalho.
A procura pela comunicação com o recém-nascido e o sucesso
ao atingi-Ia são metas às quais o cuidador atribui valores semelhantes aos
125
que atribui à sua procura por habilidade técnica para realizar
procedimentos, dentro do cuidado.
Entendo que o cuidador diferencia a sua maneira de se
comunicar com o recém-nascido da maneira como o faz com o adulto.
Parece que o cuidador compreende melhor a "linguagem" do bebê do que a
do adulto, apesar do segundo expressar verbalmente o que sente, o que na
sua opinião facilita o relacionamento entre ele e o bebê.
Percebo que o cuidador acha o bebê mais autêntico nas
mensagens que emite e no seu relacionamento com quem cuida dele. O
cuidador procura aguçar seu sentido de observação e de interpretação ao
se relacionar com o recém-nascido para compensar a falta da comunicação
verbal. No entanto, notei que ele pouco diz da sua preocupação com a
leitura do recém-nascido quanto às mensagens recebidas, a não ser
quando a mensagem é emitida através de um procedimento, seja ele
doloroso ou não.
Mesmo assim, identifico que o cuidador demonstra a consciência
de que a comunicação está inserida no contexto das suas ações de cuidado
e a usa para desenvolvê-Ias.
Cuidado e comunicação, na opinião de alguns sujeitos, ocorrem
de maneira interligada e simultânea. Ao cuidar, se comunica, e ao
comunicar, se cuida; um não ocorre sem o outro. E a comunicação, neste
caso, é percebida como um momento a dois, ambos são receptores e
emissores de mensagens.
126
o profissional de enfermagem tem como função principal a de
cuidar; então inevitavelmente, para a maioria dos sujeitos do estudo, com a
aproximação em função do cuidado, ocorre comunicação com o recém
nascido.
o cotidiano do cuidado favorece a comunicação e proporciona o
desenvolvimento desta habilidade; portanto a busca da comunicação tem
sido valorizada e estimulada no meio onde atuam os sujeitos.
Para alguns é o cuidador que passa, com maior freqüência,
mensagens para o bebê enquanto cuida; ao passo que para outros é o
recém-nascido que se comunica constantemente com o cuidador durante o
cuidado.
Ao explicar por que é o recém-nascido quem procura emitir
mensagens durante o cuidado, o cuidador cita a necessidade de possuir
empatia e apego ao bebê para entendê-Io. Considero que esta explicação
nada mais é do que a expressão do valor atribuído à sensibilidade, como
um atributo que proporciona ao cuidador condições para reconhecer a
maneira não verbal do recém-nascido se comunicar.
A comunicação com o recém-nascido, quando associada ao
cuidado, é entendida pelo cuidador como uma abordagem humanizada, a
um cuidar com afeto, com manifestações de sentimento. Também
demonstra que o cuidador identifica no bebê estas características e
potenciais humanos.
Atena, Ceres e Hera dizem que através da observação do bebê
conseguem captar o que ele quer comunicar. Hera, Hermes, Felicidade e
128
o cuidador admite que o bebê sente necessidade de se
comunicar, assim como os outros pacientes que conhece. Distingue a
comunicação com o bebê da comunicação com os outros pacientes quando
faz uma associação entre a comunicação e os cuidados afetuosos, isto é,
com aquilo que aprendeu sobre os cuidados maternos, a maternagem,
como já foi comentado.
Para o cuidador, o choro do bebê mostra a sua necessidade de
cuidado, que precisa de algo e está tentando dizer o que. Penso na
relevância da sensibilidade do cuidador para atender ao choro do recém
nascido. Segundo Lebovici (1987, p. 141) o bebê com seus "gritos" estimula
a proximidade da mãe e com isto desenvolve a fixação do binômio
mãe/bebê. Comparando a importância deste comportamento materno ao
comportamento do cuidador ao atender os chamamentos do recém-nascido,
é igualmente bom para o bebê que o cuidador esteja presente quando a
mãe está ausente.
Parece que há o sentimento de satisfação do cuidador ao entrar
em sintonia com o recém-nascido através da comunicação, durante o
cuidado.
Identifico que o cuidador sente necessidade de se manifestar
como pessoa dentro do contexto do cuidado e parece que consegue isto ao
se comunicar com o bebê. É neste momento de comunicação que ele
consegue expressar sua individualidade no cuidado.
o relato do cuidador, sobre sua experiência no cuidado ao
recém-nascido, mostra que ele reconhece o sentimento de solidão
129
demonstrado pelo bebê, quando o contato com o cuidador é puramente
técnico. Para o cuidador, apesar dos cuidados terapêuticos, a fa'lta de um
cuidado afetuoso afeta o bebê e ele não responde bem ao cuidado. A partir
desta conclusão observa-se novamente
a presença da relação,
estabeleci da pelo cuidador, entre a presença de afeto para descrever e
"medir" a "boa" comunicação.
Aproximar-se
fisicamente,
realizar
procedimentos,
tocar,
examinar, manipular, limpar, trocar roupas, banhar, alimentar, falar, cuidar,
acalmar, são as ações relacionadas ao momento temporal da comunicação
entre o cuidador e o recém-nascido.
o procedimento aproxima o cuidador do recém-nascido e parece
que esta aproximação prevalece sobre as outras no cotidiano do cuidado,
uma vez que os procedimentos ocorrem ao longo das 24 horas do dia. Com
o procedimento, o cuidador mexe no bebê como disseram Atena, Artemis e
Hera.
Constato que o momento do procedimento é considerado, pelo
cuidador, como um momento de comunicação, já que o procedimento
envolve uma experiência tátil à qual o bebê é exposto. Esta experiência tátil
chega a ser comparada ao afago e ao carinho como comunicação.
No procedimento aparece a ambivalência do cuidador quanto ao
comunicar algo com o estímulo doloroso. O provocar a dor, que segundo
Hera ocorre com muita freqüência, perturba a tranqüilidade do cuidador por
que ele acredita que o bebê não consegue entender por que aquilo está
sendo feito.
130
o cuidador identifica que a presença dos pais influi na sua
interação com o recém-nascido. De maneira geral existe um sentimento de
aceitação e valorização do papel dos pais para o bem-estar do bebê. A mãe
parece ter mais destaque de importância na vida do filho do que o pai, na
opinião de alguns sujeitos.
o recém-nascido conhece a voz da mãe e a do pai, e a presença
de uma voz conhecida acalma o bebê, segundo Harmonia. Vejo o quanto é
significativa esta colocação, uma vez que ao reconhecer este envolvimento
e dependência do recém-nascido com os pais o cuidador sentirá que deve
estimular esta relação.
o cuidador demonstra que pode atuar como intermediário nesta
relação, pais/recém-nascido; já que ele, em determinados momentos, está
ao lado do bebê e eventualmente os pais não. O cuidador então procura
revelar coisas aconteci das e que foram vistas apenas por ele ao bebê e aos
pais, mostrando assim seu interesse em participar desta relação entre pais
e filho.
O cuidador se ressente com a ausência dos pais ao lado do filho
e procura imitar o seu comportamento quando isto acontece. Prometeu
parece dizer que sente dificuldade em aceitar a ausência dos pais quando
afirma que protege e conforta o bebê na ausência deles.
O excesso de tarefas a serem cumpridas, a falta de sensibilidade,
a impessoal idade no trato ao bebê, a dificuldade para se relacionar, o
comportamento tarefeiro, o trabalhar apenas por causa do salário, o encarar
o recém-nascido como um ser que não precisa se relacionar são fatores
131
relatados pelos sujeitos do estudo que nos levam a observar no cuidador o
comportamento distanciado na relação com o recém-nascido.
Percebi que apenas o excesso de tarefas foi identificado como
um fator que predispõe o cuidador que o cita, a dizer que sente dificuldades
para se comunicar. Ao passo que os outros fatores foram observados como
determinantes das falhas de comunicação nos outros membros da equipe
de enfermagem ou em algum membro da equipe médica.
Identifico no cuidador, ao mencionar a ausência de comunicação
com o recém-nascido, que ele faz uma associação entre o seu desconforto
ao realizar o cuidado doloroso e sua vontade de negar a existência da
comunicação através do estímulo doloroso. É como se o cuidador
afirmasse:
"Eu não gosto de provocar dor, portanto nada se comunica com a
dor!"
Quando o cuidador verbaliza que não existe comunicação com o
bebê em determinadas situações, como nas emergências e reanimações,
recordo das palavras de Watslawick, Beavin e Jackson (1999, p. 45)
referindo-se à impossibilidade de não se comunicar. Estes autores afirmam
que "Atividade ou inatividade, palavras ou silêncio, tudo possui valor de
mensagem; influenciam outros, [ .... ]."
Assim, em determinados momentos do cuidado, me refiro
especialmente ao procedimento doloroso, percebo que o cuidador tenta
negar a existência da comunicação com o recém-nascido; como se fosse
possível desta forma ele se isentar da responsabilidade por algo que ele
considera agressivo e desagradável para o bebê.
132
Segundo Magdaleno (1997, p. 129), a dor é definida pela
Associação Internacional para o Estudo da Dor como "uma experiência
sensorial e emocional desagradável e complexa, que associamos à
ocorrência de dano tecidual ou como talo descrevemos". De acordo com
esta autora, até mesmo organismos mais primitivos possuem informações,
sobre as forças existentes no meio ambiente, que os ajudam a diferenciar o
que é "um meio agressivo, um indiferente e um receptivo".
Pondero que o cuidador, ao expor o recém-nascido a uma
sensação
dolorosa, está lhe proporcionando, talvez, a sua primeira
experiência de aprendizado acerca da ocorrência de um dano pessoal e sua
repercussão sobre o seu bem-estar emocional.
o fato do cuidador desconsiderar a existência de comunicação
através do estímulo doloroso, apesar do alívio emocional que ele
experimenta ao pensar assim, coloca em risco o resultado da experiência
vivida pelo bebê. Falo da possibilidade do recém-nascido interpretar esta
conduta do cuidador como a existência de um meio agressivo e indiferente,
no qual ele está inserido.
Acredito que o recém-nascido, assim como nós, se sinta mais
protegido quando recebe mensagens auditivas e táteis de conforto e
aconchego, após uma sensação dolorosa. Penso também, que é da
competência do cuidador auxiliar o recém-nascido no enfrentamento destas
situações de crise.
o estudo me mostrou um cuidador consciente da importância da
sua comunicação na relação de cuidado com o recém-nascido, mas ao
133
mesmo tempo
mostrou a
insegurança do cuidador sobre seus
Conhecimentos a respeito da maneira como é possível se comunicar com
um recém-nascido.
Reafirmo
que,
com
o
estudo,
encontrei
um
cuidador
demonstrando ter consciência de que a comunicação está inserida no
contexto de suas ações. Ao afirmar que utiliza a comunicação na sua
relação com o recém-nascido, ele entende que o faz, não só para atender a
uma necessidade dele, como pessoa, como também para suprir a uma
necessidade atribuída por ele ao recém-nascido; porém, também manifesta
sua insegurança quanto ao resultado da sua interação com o bebê.
Para isto, o cuidador precisa estar preparado para entender a sua
responsabilidade sobre a execução do procedimento doloroso. Precisa, com
o reforço positivo de colegas ou de superiores ou mesmo com a ajuda de
outros profissionais, adquirir uma postura tranqüila e consciente do seu
papel nos momentos em que o cuidado parece deixar de ser cuidadoso. O
cuidador precisa evitar o "sofrimento" resultante deste conflito entre o "ser
bom" e o "ser mau" durante suas atividades de cuidado.
Além de enfrentar suas próprias dúvidas quanto à comunicação
com o recém-nascido, o cuidador enfrenta as dúvidas dos colegas e de
outros profissionais.
Um dos sujeitos chega a firmar que conversa com o bebê apenas
quando está sozinho para evitar perturbar alguns colegas que reclamam do
134
ruído. Outro diz ter sido alertado para não valorizar a percepção dolorosa do
bebê quando relata no round. que o choro foi uma manifestação de dor.
O cuidador parece sentir a necessidade de reforço positivo e
também um respaldo científico para confirmar as observações empíricas
que tece sobre a comunicação com o recém-nascido no seu dia-a-dia.
Acredito que ao lerem este estudo, os cuidadores encontrem
algumas respostas às dúvidas que possuem; tanto com relação ao seu
comportamento com o bebê e quanto ao potencial, ainda não totalmente
desvelado, do recém-nascido, para interagir após o nascimento.
Como citei que os cuidadores precisam de maiores informações a
respeito do tema analisado no estudo, para se sentirem mais seguros na
sua observação, proponho que este tema saia da dimensão escrita e seja
discutido amplamente com a comunidade de cuidadores onde o estudo se
realizou. Senti, durante e após as entrevistas, que o estudo mobilizou os
sujeitos a se questionarem sobre o tema.
Como o estudo é do tipo descritivo e exploratório, senti, à medida
que o ia desenvolvendo, existirem vários assuntos que poderiam ser
analisados com maior ênfase. São eles o efeito do procedimento sobre a
comunicação, o efeito da dor sobre a comunicação, o efeito da
comunicação entre o cuidador e os pais para o recém-nascido e o efeito das
crenças do cuidador sobre o potencial do recém-nascido para a
comunicação.
. Nota da autora: round é um termo utilizado por profissionais da área médica
para designar as reuniões ao redor do bebê, para discussão sobre a patologia
e a terapêutica.
I
1
I
135
Desejo que este estudo desperte nos cuidadores, assim como
despertou em mim, o desejo de apurar o seu senso crítico, isto é, de olhar
para dentro de si e avaliar como estão se comunicando com o recém
nascido e o que podem fazer para melhorar.
ABSTRACT.
The purpose of this study is to know the nursing caregiver
perception about the comunication with the newbom. In order to rich the goal
purposed, I use the qualitative method, making a descriptive and exploratory
study according to Parse, Coyne and Smith (1985). The subjects of the
study were nurses, nursing technicians and nursing assistants who work in a
neonatal service unit of a university hospital. The information was colected
by means of a semi-structured interview according to Trivilios (1987), Barros
and Lehfeld (1997) and was submited to the topic content analysis according
to orientation by Bardin (1977). The topics found are the following: The
meaning of communication for the caregiver; The relation between the
communication and the care given to the newbom; The procedure as an
aspect of the communication; The perception Df the communication in the
presence of the parents and The difficulties for the communication. Through
this study I am able to observe that the caretakers believe in the importance
of the communication in their daily caring pratice. The caretakers consider
the procedure as an approach, a kind of communication taht may have a
positive or a negative character. However, their caretakers may become
ambivalent as to the presence of communication when they cause pain,
when the newbom is very sick or when the other professionals or fellows
contradict them in their beliefs about the communication.
. Traduzido por Suzana
Kanter.
RESUMEN
EI presente estudio tiene como objeto conocer Ia percepción dei
cuidador deenfermería respecto a Ia comunicación con el recién nacido.
Para alcanzar el objetivo propuesto utilizo el método de investigación
calitativa. Para tal, realizo un estudio descriptivo y exploratorio de acuerdo
con Parse, Coyne y Smith (1985). Los sujetos de estudio fueron Ias
enfermeras, los técnicos de enfermería y Ias auxiliares de enfermería que
actúan en una unidad de intemación neonatal de un hospital universitario.
Las informaciones se colectaron a través de una entrevista semiestructurada,
conforme Trivirios (1977), Barros y Lehfeld (1997) y luego se sometieron ai
análisis de contenido temático, según Ia orientación de Bardin (1977). Los
temas encontrados son los siguientes: EI significado de Ia comunicación para
el cuidador; La relación entre Ia comunicación y el cuidado ai recién nacido;
EI procedimiento como una dimensión de Ia comunicación; La percepción de
Ia comunicación frente a Ia presencia de los padres y Las dificultades para Ia
comunicación. Percibo, mediante el estudio, que los cuidadores creen en el
valor de Ia comunicación con el recién nacido e identifican Ia presencia de Ia
comunicación en sus quehaceres de cuidado. Los cuidadores consideran esa
forma de proceder como una aproximación, un tipo de comunicación, que
puede tener un carácter positivo o negativo. Sin embargo, los cuidadores se
quedan ambivalentes cuanto a Ia presencia de Ia comunicación, cuando
provocan dolor, cuando el recién nacido está muy enfermo o cuando otros
profesionales y colegas los contradicen en sus creencias sobre ella.
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47 WHALEY, Lucille F.; WONG, Donna L. Enfermagem pediátrica:
elementos essenciais à intervenção efetiva. Rio de Janeiro: Editora
> Guanabara Koogan, 1989. Unidade 3, Capo 6, p. 122-147: O recém
nascido normal.
48 WORDSWORTH, William. The prelude. In: MONTAGU, Ashley. Tocar. o
significado humano da pele. São Paulo: Summus, 1988. Capo 4, p. 103:
Cuidado temo e amoroso.
49 ZAVASCHI, Maria L. S.; COSTA, Flávia; BRUNSTEIN, Carla; FILHO, Alceu
et aI. Ambulatório pais-bebês: experiência de um hospital escola.
Revista do HCPA: Porto Alegre, v. 19, n 1, p. 108-116, abril de 1999.
ANEXO 1
Formulário para entrevista
Dados de identificação:
Nome: .............................................................................. Sexo: .......... Idade: ......
Profissão: O Enfermeira O Téc. de enf. O Aux. de enf.
Escolaridade: O I grau O 11 grau
O superior: ............................. ".. ., .................... .. ............. .. . ...
O pós-graduação ................................................ . .. ................
Há quanto tempo cuida de recém-nascidos: ........................................ ,.......................
O que você pensa sobre a comunicação com o recém-nascido,
enquanto cuidadora de enfermagem?
________________________________________________________
______________________________________________________________
______________________________________________________________
______________________________________________________________
______________________________________________________________
Em que momentos do cuidado de enfermagem você considera
que ocorre comunicação com o bebê? Você pode descrevê-Ios?
___________________________________________________
______________________________________________________________
______________________________________________________________
______________________________________________________________
______________________________________________________________
i'Sfulioteca
~~t. de Enfermagêm da d~i~~
ANEXO 2
Consentimento Informado *
A presente pesquisa é uma atividade do curso de Mestrado em
Enfermagem da Universidade Federal do Rio Grande do Sul e tem como objetivo
conhecer como acontece a comunicação do cuidador de enfermagem com o recém-
nascido numa unidade de internação neonatal.
A sua participação, profissional de enfermagem, se dará através de uma
entrevista. Esta será preferencialmente gravada, se houver seu consentimento, e
transcrita num formulário.
Pelo presente Consentimento Informado, declaro que fui esclarecido,
de forma clara e detalhada, livre de constrangimento e coerção, dos objetivos, da
justificativa, do procedimento a que serei submetido e dos benefícios do presente
Projeto de Pesquisa.
Fui igualmente informado:
Da garantia de receber resposta e esclarecimentos sempre que tiver dúvidas
relacionadas à pesquisa.
- Da liberdade de retirar meu consentimento e deixar de participar do estudo, sem
que isto traga prejuízo a minha pessoa.
- Da segurança de que não serei identificado e que será mantido o caráter
confidencial das informações relacionadas com a minha privacidade.
- Da garantia de que não haverá nenhuma forma de coação decorrente das
minhas respostas.
o pesquisador responsável por este Projeto de Pesquisa é a Prof. Enf.
Eliane Norma Wagner Mendes (Fone (051) 233 6533), tendo este documento sido
revisado e aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa desta instituição de atenção
em saúde em 30/09/1999.
Porto Alegre, ........ de ................................ de 1999.
Nome do participante
Assinatura do participante
* Goldim, 1997, p.191.
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