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CARLOS ANDRÉ BEZERRA ALVES
FATORES INTERFERENTES NA OCORRÊNCIA DAS VIBRIOSES EM
CAMARÃO MARINHO CULTIVADO (Litopenaeus vannamei, Boone
1931) NO LITORAL NORTE DE PERNAMBUCO.
RECIFE
MARÇO, 2007
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CARLOS ANDRÉ BEZERRA ALVES
FATORES INTERFERENTES NA OCORRÊNCIA DAS VIBRIOSES EM
CAMARÃO MARINHO CULTIVADO (Litopenaeus vannamei, Boone
1931) NO LITORAL NORTE DE PERNAMBUCO.
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-
Graduação em Ciência Veterinária da
Universidade Federal Rural de Pernambuco, como
parte dos requisitos necessários para a obtenção do
grau de Mestre em Ciência Veterinária.
Orientadora: Prof
a
Dr
a
. Emiko Shinozaki
Mendes, Depto. de Medicina Veterinária, da
UFRPE. Co-orientador: Prof. Dr. Paulo de Paula
Mendes. Depto. de Aqüicultura e Pesca da
UFRPE.
RECIFE
MARÇO, 2007
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UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DE PERNAMBUCO
Programa de Pós-Graduação em Ciência Veterinária
Parecer da comissão examinadora da defesa de dissertação de mestrado de
CARLOS ANDRÉ BEZERRA ALVES
Fatores interferentes na ocorrência das vibrioses em camarão marinho cultivado
(litopenaeus vannamei, boone 1931) no litoral do estado de Pernambuco.
A comissão examinadora, composta pelos professores abaixo, sob a presidência do primeiro,
considera o candidato CARLOS ANDRÉ BEZERRA ALVES como aprovado.
Recife, 22 de março de 2007.
________________________________________________
Profa. Dra. Emiko Shinozaki Mendes (UFRPE)
Orientadora
________________________________________________
Prof. Dr. Paulo de Paula Mendes (UFRPE)
1° Examinador
_______________________________________________
Prof. Dr. Fernando Leandro dos Santos (UFRPE)
2° Examinador
_______________________________________________
Prof. Dr. Eudes de Souza Correia (Membro externo – DEPAQ, UFRPE)
3° Examinador
“Se os fatos não combinarem com a teoria, mude os fatos”.
Albert Einstein.
DEDICATÓRIA
Dedico esse trabalho a minha mãe Suely
Bezerra Alves, a minha companheira Egly
Marinheiro, as minhas irmãs Andreza e
Lara e a minha afilhada Isadora - mulheres
de minha vida.
OFERECIMENTO ESPECIAL
A meu pai Carlos Roberto Bezerra e
à minha avó Lita Curvêlo “in memorian”.
OFERECIMENTOS
A minha orientadora, professora, amiga e mãe adotiva Emiko
Shinozaki Mendes, por toda sua paciência, ensinamento e
confiança, meu muito obrigado, carinho, respeito e admiração.
A minha amiga e mais nova irmã Suely Bezerra Santos, por
toda sua dedicação e empenho em “nosso trabalho” e ao longo
de nossa amizade, simplesmente obrigado por tudo.
A Lilian Nery de Barros Góes, pela sua
inestimável contribuição para construção deste
trabalho e por toda sua amizade, companheirismo e apoio
durante todos esses anos em que trabalhamos juntos.
AGRADECIMENTOS
À Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE) pela oportunidade de
participar do Programa de Pós-graduação em Ciência Veterinária (PPGCV).
Ao CNPq pela bolsa de pós-graduação.
A todos do Laboratório de Inspeção de Carne e Leite: Simone Lira, Joanna Dourado,
Dulcilene Lacerda, João Guimarães, Bruno Cerqueira, Andréa Barretto, Beatriz Brito, Nikon
Jefferson, Roseli Pimentel, Cleide e D. Márcia e aos integrantes da Área de Patologia
Veterinária Verônica, Arns da Silva, Virgínia Pedrosa e Clécio Florêncio de Queiroz, do
Departamento de Medicina Veterinária da UFRPE.
Ao Sr. Pedro Leal proprietário da fazenda onde foi realizado o experimento e ao Sr.
Nino técnico responsável, obrigado por todo apoio e atenção.
A todos os professores e colegas do Mestrado, por terem contribuído com minha nova
formação.
Aos professores Dr
a
Emiko S. Mendes, Dr. Fernando Leandro dos Santos e Dr. Paulo
de Paula Mendes, pelas sugestões fundamentais para o bom desenvolvimento desta
dissertação.
A funcionária da PPGCV, Edna Cherrias, a quem devo tantas gentilezas.
A Paula Shinozaki Mendes, pela realização das análises estatísticas e por sua amizade,
disponibilidade e paciência.
LISTA DE FIGURAS
FIGURA 1 – Colônias de Vibrio spp. sacarose positivas (colônias amarelas) em ágar TCBS
FIGURA 2 – Colônias de Vibrio spp. sacarose negativas (colônias verdes) em ágar TCBS....
FIGURA 3 – Colônias de Vibrio spp. com fermentação “parcial” da sacarose em ágar TCBS
(colônias verdes e amarelas)..................................................................................
24
24
24
LISTA DE TABELAS
TABELA 1 - Contagem de Vibrio spp. identificados em amostras de água e camarão
coletadas nos viveiros 1 e 2 no período do verão........................................................................
TABELA 2 - Contagem de Vibrio spp. identificados em amostras de água e camarão
coletadas nos viveiros 1 e 2 no período do inverno.....................................................................
31
31
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO.................................................................................... 15
2. REVISÃO DE LITERATURA 17
2.1.
Morfologia e ciclo de vida do Litopenaeus vannamei.......................... 17
2.2.
Produção de camarões.......................................................................... 17
2.3.
Parâmetros de cultivo de camarão marinho.......................................... 19
2.4.
Qualidade da água na carcinicultura..................................................... 21
2.5.
Bactérias versus camarões.................................................................... 22
2.6.
Sanidade dos camarões......................................................................... 25
3. OBJETIVOS ....................................................................................... 27
3.1.
Objetivo geral........................................................................................ 27
3.2 Objetivos específicos............................................................................. 27
4. MATERIAL E MÉTODOS................................................................ 28
4.1.
Coleta e locais de análise...................................................................... 28
4.2.
Levantamento de dados........................................................................ 28
4.3.
Análises físicas e químicas da água e do solo...................................... 29
4.4.
Exame a fresco.......................................................................................
29
4.5.
Contagem, isolamento e identificação de vibrios.................................. 29
4.6.
Análise histopatológicas........................................................................ 29
4.7.
Análise de dados.................................................................................... 30
5. RESULTADOS E DISCUSSÃO......................................................... 31
6. CONCLUSÕES.................................................................................... 36
7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.............................................. 37
RESUMO
Enfermidade significa qualquer alteração adversa na saúde ou desempenho na
produtividade dos animais. Em camarões, as moléstias podem ser desencadeadas quando
ocorre um desequilíbrio entre as condições ambientais de viveiros, o estado de saúde dos
camarões cultivados e os agentes potencialmente patogênicos, associado com o manejo
empregado. Desta forma, objetivou-se avaliar as condições sanitárias e determinar quais os
fatores relevantes no acometimento das vibrioses em camarões Litopenaeus vannamei
cultivados. No período de dezembro de 2005 a novembro de 2006, foram coletadas e
analisadas amostras de camarão, água e solo de viveiro, assim como informações técnicas
sobre o manejo adotado em uma carcinicultura comercial situada no litoral norte de
Pernambuco. Os parâmetros de manejo foram correlacionados através de modelos
matemáticos (P < 0,05) com os demais dados da pesquisa. No tocante a bacteriologia, os
camarões e a água foram examinados quanto à carga de vibrios. Concomitantemente,
realizaram-se exames a fresco nos camarões para verificação de lesões macro e microscópicas
outrora presente e exames histopatológicos, visando a confirmação da presença ou ausência
de necrose. Todas as análises foram realizadas em laboratórios da Universidade Federal Rural
de Pernambuco (UFRPE). Constatou-se no exame a fresco que quanto maior o nível de
alterações patológicas detectadas e quanto maior o número de vibrios na água, menor o
número de vibrio nos camarões. Com relação à necrose muscular, pesquisada no exame
histopatológico, observou-se que quanto maior o número de lesões maior o número de
vibrios. Em relação as variáveis limnológicas da água, quanto maiores às concentrações de
fosfato e os níveis de salinidade da água, maior e menor, respectivamente, o número de Vibrio
spp.. No tocante as análises de oxigênio, quando foram detectados maiores níveis na água,
menor foi o número de vibrios detectado nos camarões. Conclui-se que as espécies de vibrio
isoladas na água dos viveiros e nos camarões, tanto ambientais quanto patogênicas, foram
capazes de causar doenças nos animais quando detectadas altas contagens que os parâmetros
físicos e químicos da água e do solo interferiram sobre a ocorrência de vibriose e que não
existe relação entre o número de alterações observgadas no exame a fresco com o número de
vibrios na água dos viveiros e no camarão.
PALAVRAS-CHAVE: carcinicultura, doença, camarão, viveiros, vibrioses.
ABSTRACT
Diseases means any adverse alteration in the health or acting in the productivity of the
animals. In shrimps, the diseases can be unchained when it occur an unbalance potentially
among the environmental conditions of nurseries, the health condition of the cultivated
shrimps and the pathogenic agents, associated with the employed handling. This way, it was
aimed at to evaluate the sanitary conditions and to determine which the relevant factors in the
attack of the vibrioses in shrimp cultivated Litopenaeus vannamei. In the period of December
of 2005 to November of 2006, were collected and analyzed shrimp samples, water and
nursery soil, as well as technical information on the handling adopted in a commercial shrimp
culture located in the north of Pernambuco/ Brazil. The handling parameters were correlated
through mathematical models (P <0,05) with the other data of the research. Concerning
bacteriology, the shrimps and the water they were examined as for the vibrios load. In the
same time, took place exams to fresh in the shrimps for verification of lesions macro and
microscopic formerly present and, seeking the confirmation of the presence or necrosis
absence. All of the analyses were accomplished at laboratories of the Rural Federal University
of Pernambuco (UFRPE). It was verified in the exam to cool air that as larger the level of
detected pathological alterations and as larger the vibrios number in the water, smaller the
vibrio number in the shrimps. Regarding the muscular necrosis, researched in the
histopathology analyses, it was observed that as larger the number of lesions, larger the
vibrios number. About the variables limnologica of the water, as larger at the concentrations
of phosphate and the levels of salinity of the water, larger and smaller, respectively, the
number of Vibrio spp.. In the analyses of oxygen, when larger levels were detected in the
water, minor was the vibrios number detected in the shrimps. The species of isolated vibrio in
the water of the ponds and in the shrimps, environmental or pathogenic, cause diseases in the
animals when detected high countings that the physical and chemical parameters of the water
and of the soil, they interfered on the vibriose occurrence and that relationship doesn't exist
among the number of alterations observers in the exam to fresh with the vibrios number in the
water of the ponds and in the shrimp.
WORD-KEY: carcinicultura, disease, shrimp, nurseries, vibrioses.
Ficha catalográfica
Setor de Processos Técnicos da Biblioteca Central – UFRPE
CDD 639. 543
1. Carcinicultura
2. Doença
3. Camarão
4. Viveiros
5. Vibrioses
I. Mendes, Emiko Shinozaki
II. Título
A474f Alves, Carlos André Bezerra
Fatores interferentes na ocorrência das vibrioses em
camarão marinho cultivado (litopenaeus vannamei, boone 1931) no
litoral do estado de Pernambuco. / Carlos André Bezerra Alves.
-- 2007.
36 f.
Orientador : Emiko Shinozaki Mendes
Dissertação (Mestrado em Ciência Veterinária) – Uni –
versidade Federal Rural de Pernambuco. Departamento de
Medicina Veterinária.
Inclui bibliografia
1. INTRODUÇÃO
A produção de camarão assume grande importância econômica, principalmente no
Nordeste brasileiro, que detém grande parte da produção nacional e tem apresentado elevado
crescimento tanto em área cultivada quanto em produtividade. Todavia, esta atividade tem
enfrentado nos últimos anos grandes perdas econômicas oriundas de surtos de enfermidades.
A intensificação da criação trouxe, muitas vezes, problemas sanitários, em decorrência da alta
densidade em que os animais vêm sendo criados e consequentemente, sua vulnerabilidade à
situações de estresse.
Desta forma, destaca-se a necrose em camarões, entendendo-se como necrose o estado
de morte de um tecido ou parte dele em um organismo vivo, podendo ter causas fisiológicas,
ou ser causada por graves traumatismos e agentes biológicos, tais como a ação de fungos,
bactérias e vírus (NECROSE, 2007). Ressalta-se que em camarões, a necrose normalmente
ocorre em situações de extremo estresse, como: alta densidade populacional, mudanças
bruscas de salinidade e de temperatura e baixas concentrações de oxigênio.
É necessário que se atente para a importância das infecções secundárias, uma vez que
essas são bastante comuns nos camarões cultivados, geralmente, decorrentes de infecções
bacterianas. Lightner (1993), destacou que comumente o alto nível de estresse dos animais
diminui sua resistência, deixando-os vulneráveis às infecções virais, que por sua vez debilitam
ainda mais os animais, predispondo-os à ação de patógenos oportunistas.
Dentre as principais enfermidades de importância econômica para a carcinicultura
brasileira destaca-se a Mionecrose Infecciosa (NIM), uma doença ocasionada por vírus
isolado no Brasil. No curso desta patologia, após a exposição dos animais à altos níveis de
estresse, alguns indivíduos costumam apresentar necrose na musculatura do abdômen,
iniciando-se a partir do sexto segmento, podendo atingir até o terceiro, observando-se
coloração avermelhada na área afetada. Salienta-se que muitas vezes, em casos crônicos, estes
animais ficam susceptíveis à infecções secundárias causadas por bactérias ou fungos
(NUNES, 2004).
Para garantir a sustentabilidade desse importante agronegócio, é necessário rever, com
urgência, o manejo adotado pelos carcinicultores, principalmente, no que diz respeito à
prevenção e cura de enfermidades. A utilização indiscriminada de fármacos, no passado, tanto
na larvicultura quanto nas fazendas de engorda, culminou com o desenvolvimento de
resistência bacteriana e agravos sanitários principalmente na produção de pós-larvas. Desta
forma tornasse necessário isolar e identificar espécies de Vibrio spp., em camarões
Litopenaeus vannamei e água de viveiros de empreendimentos de carcinicultura,
principalmente ao que concerne aos fatores relacionados com a incidência da vibriose.
2. REVISÃO DE LITERATURA
2.1 Morfologia e ciclo de vida do Litopenaeus vannamei
O camarão da espécie Litopenaeus vannamei, também conhecido como “camarão
branco do Pacífico” é um crustáceo decápodo que pertence à família Penaeidae, nativo da
costa americana do Pacífico que se estende do Peru ao México (MARTINS, 2003).
O corpo dos camarões peneídeos é comprido lateralmente e coberto por um
exoesqueleto de quitina e proteínas, articulado por meio de membranas articulares. Os
camarões possuem corpo segmentado, dividido em três regiões: a cabeça (céfalon), o tórax
(péreion) e o abdômen (pléon). Cada uma dessas regiões é composta por somitos, onde estão
inseridos os apêndices. A cabeça e o tórax estão fundidos em uma estrutura única chamada de
cefalotórax (BARBIERI JR. E OSTRENSKY NETO, 2002).
No cefalotórax encontram-se os principais órgãos funcionais e apêndices utilizados no
processo de alimentação e locomoção, sendo os do abdome adaptados para o nado
(MARTINS, 2003).
A reprodução dessa espécie ocorre em mar aberto e após a eclosão as larvas passam
por três estágios, através de sucessivas mudas até atingir o estágio pós-larval, quando migram
para os estuários em busca de alimentação e abrigo, passando da fase plânctônica para a fase
bentônica. Na carcinicultura essa etapa acontece nos laboratórios de produção de pós-larvas
denominados de larvicultura. Nos estuários, as pós-larvas permanecem até o estágio sub-
adulto, quando iniciam a migração para o mar aberto com o objetivo de completar o ciclo de
vida (MARTINS, 2003). Nos viveiros de cultivo esses organismos bentônicos passam a maior
parte do tempo sob e sobre a interface água/sedimento (BRITO, 2005).
2.2 Produção de camarões
A demanda de camarão está elevada, apesar dos meses tradicionalmente ruins para a
venda do camarão, por conta da febre aftosa e da gripe do frango na Ásia e parte da Europa, a
expectativa é que a demanda de frutos do mar aumente ainda mais (MAIA, 2005).
A produção mundial de camarões cultivados de 1980 a 2003, de acordo com os dados
estatísticos da Food Agriculture Organization (FAO, 2006), cresceu à razão de 63.242
toneladas/ano. Durante este período a China acumulou até 1995 o maior volume de produção,
no entanto, em decorrência das epizootias, a produtividade de suas fazendas de camarões tem
decrescido, permitindo que a Tailândia posicione-se a sua frente, até 2000. Apesar da
produção de crustáceos cultivados e capturados em 2001, ter atingido a mais de 8,4 milhões
de toneladas, este volume não atende ao consumo mundial, o que incentiva os pesquisadores
da área, procurar novas técnicas de manejo e de captura. Observa-se a importância que a
aqüicultura tem no mundo como produtora de alimentos e a participação significativa que o
Brasil vem apresentando nesse ramo do agronegócio.
De 1998 a 2003, as exportações de camarão do Brasil saltaram de meras 400 toneladas
para mais de 58 mil, com um terço deste total indo para os Estados Unidos. Mas agora os
produtores estão enfrentando um novo e sério desafio em seu maior mercado. Em 31 de
dezembro de 2004, a Southern Shrimp Alliance entrou com processo de dumping contra o
Brasil e cinco outros países, buscando impor tarifas de a 300%, e em fevereiro o
Departamento de Comércio determinou que havia base para prosseguimento por haver
indícios de "um grande dano" aos produtores americanos (ROHTER, 2004).
O Departamento do Comércio dos Estados Unidos, por solicitação dos advogados da
Associação Brasileira de Criadores de Camarão, reconheceram erros nas taxas aplicadas e
corrigiram os valores inicialmente anunciados. Com este resultado e tendo presente que a
liderança do Brasil no segmento de camarão pequeno/médio (51 UP /Libras), com
crescimento médio de 16,2% ao ano, se ampliam as perspectivas de competitividade do
camarão brasileiro no mercado norte-americano. Especialmente quando se considera que a
participação do Brasil nesse segmento de mercado em 2003 foi da ordem de 25%, seguido
pela China com 20%, a qual, com a taxação de 53,68%, praticamente ficou fora do referido
mercado (ABCC, 2007).
Na América do Sul no ano de 2004, foram produzidos 172.105t, o Brasil, por sua vez,
contribuiu com 44% desta produção. A região Nordeste detém 93% desta produção, o que
promoveu a geração de 1,89 empregos diretos e 1,86 indiretos, chegando a um total de 3,75
empregos gerados por hectare, bem superiores ao máximo de 2,14 empregos por hectare na
agricultura irrigada (Sampaio e Costa, 2003).
No Brasil, em 2004, a produção do camarão foi aproximadamente 80.000 t, cerca de
10.000 t a menos que o ano anterior. Este decréscimo decorreu de problemas com barreiras
comerciais e declínio da produção pela ocorrência de doenças, o que culminou com queda nas
exportações (SALES et al., 2005).
Nordeste brasileiro concentra o maior número de fazendas e lidera a produção
nacional de camarão marinho. A necessidade de se conhecer o estado sanitário dos seus
cultivos tornou-se imperativa ao êxito da carcinicultura (VILA NOVA et al., 2006).
Manso (2003) fez menção ao litoral pernambucano citando-o como um ecossistema
extremamente produtivo, sendo considerada a região verde onde ora se sucedem e ora se
entrelaçam segmentos de planície recobertos por coqueirais, remanescentes de mata atlântica,
restingas, estuários com extensos manguezais, recifes de coral, coroas e ilhas entre outros.
No ranking brasileiro, o estado de Pernambuco, assume atualmente a quarta posição
em produção, possuindo cerca de 98 produtores, sendo 88 de pequeno porte, 7 de médio porte
e 3 de grande porte, perfazendo uma área de 1.108 ha de viveiros (ABCC 2005). No tocante
ao volume de exportações de camarão congelado, dados do SISCOMEX, apontam que
Pernambuco nos meses de janeiro a junho de 2006 permeou valores de 1.821 t. Valor este,
que vem apresentando gradual declínio desde o ano de 2004 (ABCC, 2006). O comércio
internacional de pescados vem criando inúmeros empregos nas indústrias relacionadas à
atividade da pesca e aqüicultura, como no processamento e embalagem (PANORAMA,
2005).
2.3 Variáveis de cultivo do camarão marinho
As doenças que acometem os camarões cultivados são de etiologias diversas, podendo
ser ocasionadas, tanto por agentes biológicos como por o biológicos (BELL; LIGHTNER,
1987; COUCH, 1978; JOHNSON, 1989).
A saúde dos animais de produção e conseqüentemente a produtividade de uma fazenda
de cultivo, o fortemente influenciados pelas condições bióticas e abióticas, bem como pelas
técnicas de manejo adotadas pelos produtores. Especula-se que exista correlação direta entre a
qualidade do ambiente de cultivo e a resistência dos camarões às enfermidades, uma vez que
o aumento da abundância de organismos potencialmente patógenos no viveiro é influenciado
por uma baixa qualidade das condições de cultivo. Portanto, existe a hipótese que sistemas
mais intensivos de produção são mais susceptíveis à ocorrência de enfermidades (MARTINS,
2003).
Todo cultivo tem como ponto de partida a aquisição ou produção independente de pós-
larvas. Em relação à origem destas, se observam que aquelas obtidas de laboratórios idôneos
apresentarão menores níveis de anomalias e/ou deformidades, favorecendo o desenvolvimento
de animais saudáveis e mais resistentes a patógenos oportunistas (BARBIERI JR. E
OSTRENSKY NETO, 2002).
Fatores ambientais, destacando-se pH, temperatura, salinidade e concentração de
nutrientes exercem importante influência nessa interação, sendo os Vibrios spp. mais ativos
em condições que se aproximam das características naturais dos estuários. Singlerton et al.
1982; Huq et al. 1984; Miller et al. 1984; Patel et al. 1995
Fatores estressantes podem advir de própria água de cultivo, quando ocorrem
alterações das suas propriedades físicos-químicas, como a temperatura, salinidade e pH. Estas
alterações podem levar ao desequilíbrio do ambiente, levando o animal a se tornar vulnerável
a doenças que podem ser decorrentes de oportunismo de microrganismos que fazem parte da
microbiota ambiental (LIGHTNER, 1983).
A alcalinidade é derivada da dissolução do calcário sendo, por definição, a relação
total de bases na água, expressa em miligramas por litro do equivalente de carbonato de
cálcio. As bases da água incluem: hidróxido, amônia, borato, fosfato, silicato, bicarbonato e
carbonato, sendo que estas duas últimas bases são encontradas em concentrações bem maiores
que as demais (ABCC, 1995). De acordo com Branson (1993), a água, com veis naturais
elevados do bicarbonato ou de carbonato pode favorecer o surgimento de enfermidades.
Em relação ao conforto respiratório dos animais, Branson (1993) citou que o oxigênio
é o gás dissolvido mais importante para a maioria de espécies e que problemas podem ser
causados pela deficiência ou, em alguns casos, pelo excesso do oxigênio dissolvido
(supersaturação) nos ambientes de cultivo.
Segundo Barbieri Jr. e Ostrensky Neto (2002), é muito difícil controlar a temperatura
da água nos viveiros, pois ela depende basicamente da temperatura atmosférica. Durante dias
ensolarados a água dos viveiros se aquece durante o dia e perde calor à noite, essa oscilação
causa um estresse desnecessário aos camarões e deve ser evitada. Para isso, recomenda-se que
os viveiros sejam, sempre que possível, mantidos em seu nível operacional máximo.
A água dos viveiros apresenta dois tipos básicos de turbidez: uma que resulta do
crescimento do fitoplâncton e outra pelas partículas de solo suspensas. Ambas restringem a
penetração da luz na água, e isto resulta em limitação ou não desenvolvimento de indesejáveis
filamentos de algas e ervas aquáticas. Entretanto, a turbidez proveniente do fitoplâncton é
muito mais importante que a derivada das partículas de solos, já que serve de referência para o
sistema de alimentação do camarão confinado (ABCC, 1995). O termo matéria orgânica
corresponde aos restos e detritos de origem vegetal e animal que se encontram no fundo dos
ecossistemas aquáticos. A matéria orgânica do sedimento pode ser separada em duas frações
básicas: instável, que se decompõe muito rapidamente e, refratária, que se decompõe de forma
mais lenta (BRITO, 2005).
A presença de matéria particulada na água pode causar a irritação no epitélio das
brânquias com mudanças patológicas significativas e problemas respiratórios. A severidade da
patologia varia com a natureza e a quantidade das partículas envolvidas. As mais prejudiciais
são duras, angulares ou as agulha-dadas que podem ser introduzidas pela lixiviação, água dos
rios, etc. Superalimentação e veis elevados de fezes na água causarão uma deterioração
geral na qualidade de água e também contribuirão com a formação de sólidos suspensos
(SOUTHGATE, 1993).
Quanto à alimentação dos animais, observa-se que ficits nutricionais que podem
interferir no surgimento de enfermidades. Southgate (1993) relatou que pode haver uma
grande variação na qualidade da dieta oferecida. Os fatores por ele citados incluem a
indisponibilidade ou o uso de constituintes inapropriados, formulação e processamento
deficientes, insuficiência ou ausência de conhecimento a respeito das exigências dietéticas dos
animais e armazenamento impróprio.
2.4. Qualidade da água na carcinicultura
A carcinicultura é uma atividade de significativa complexidade, pois a mesma envolve
muitas variáveis. Conforme citado por Mendes (2001), são requeridas nessa atividade mais
pré-requisitos técnicos e intrínsecos do que em outras atividades, principalmente por ter no
elemento água os primórdios da subsistência dos animais cultivados.
A garantia de boas condições ambientais durante o cultivo está intimamente
relacionada com a qualidade da água, é devido a esta relação que suas variáveis devem ser
rotineiramente monitorados. Segundo Fonseca e Rocha (2004), a manutenção dos níveis
adequados da qualidade da água é de extrema importância para evitar o aparecimento de
doenças no cultivo.
Villalón (1991) considerou que o principal propósito em se manejar a qualidade da
água de qualquer sistema de cultivo é regular e manter ótimas condições para o crescimento
dos organismos. A qualidade da água é um fator determinante para a sobrevivência e
crescimento dos camarões cultivados. Mais que qualquer outro fator, os parâmetros
hidrológicos influenciam em todas as atividades dos organismos (alimentação, respiração,
reprodução, crescimento e estado imunológico).
A qualidade da água em cultivos de organismos aquáticos influencia a sobrevivência,
a reprodução e o crescimento, entre outros fatores no manejo das espécies cultivadas.
Algumas variáveis podem funcionar como fator limitante de um cultivo, mas de uma maneira
geral um viveiro com água de boa qualidade produzirá animais mais saudáveis (BOYD,
1990).
2.5 Bactérias versus camarões
A microbiota dos viveiros de camarão marinho é composta por bactérias, fungos, algas
e protozoários, os quais exercem grande importância nos sistema aquícolas, estando presentes
nos substratos, na água e nos camarões. Estes microrganismos são de grande importância para
a sustentabilidade e saúde da carnicultura, ressalta-se que podem produzir efeitos positivos ou
negativos nos resultados das operações (MORIARTY, 1997; HOROWITZ & HOROWITZ,
1998)
As bactérias desempenham importante papel como agentes desencadeadores de
infecções secundárias, atuando como fator agravante em caso de ocorrência de doenças de
outras etiologias, como, por exemplo, as viroses, como citado por Barbieri Jr. e Ostrensky
Neto (2002).
Entre as principais causas de perdas na larvicultura de peneídeos estão aquelas de
origem bacteriana (LORENZO, 2004). Para este autor, a promoção de um ambiente benéfico
e bacteriologicamente estável são de fundamental importância para um cultivo bem sucedido.
As principais bactérias normalmente encontradas na aqüicultura são: Vibrio,
Pseudomonas, Flavobacterium, Pseudoalteromonas e Acinetobacter, conforme referenciado
por Maeda (2002).
São comuns em larviculturas os problemas atrelados a bactérias. Segundo Lorenzo
(2004), larvas sob fadiga por manuseio inadequado, nutrição deficiente ou ainda pela
qualidade de água, estão vulneráveis a desenvolverem problemas de origem bacteriana.
As bactérias do gênero Vibrio são próprias de ecossistemas aquáticos, quer de origem
marinha e/ou estuarina, ocorrendo em camarões de vida livre ou ainda nos cultivados
(VANDERZANT et al., 1971; WEST e COLWELL, 1984). Ruangpon e Kitao (1991) citam
que os vibrios são incriminados como sendo os principais responsáveis pela maior parte das
infecções bacterianas ocorridas nos camarões.
Segundo Rodrick (1991), os vibrios são bactérias Gram negativas e anaeróbicas
facultativas de ocorrência mundial. Morfologicamente o definidos como bacilos não
esporogênicos, finos ou com uma única curvatura rígida. São móveis e muitos têm um único
flagelo polar quando se desenvolvem em meio líquido. Este gênero inclui cerca de 50
espécies, com numerosos biotipos e sorovares. Para os invertebrados, e com destaque para os
camarões cultivados no Brasil, pelo menos nove espécies podem ocasionar infecções
entéricas, sistêmicas ou externas, tais como: Vibrio anguillarium, V. alginolyticus, V.
parahaemolyticus, V. splendidus, V. cholerae, V. damsela, V. harveyi, V. vulnificus, Vibrios
spp.
Maeda (2002) discorrendo sobre os vibrios, referencia-os como patógenos
oportunistas, que se proliferam rapidamente em função de sua habilidade de adaptação a
baixos teores de oxigênio. Padilha (2005) cita que as características outrora mencionadas são
com freqüências observadas em viveiros mal manejados.
Conforme Lightner (1993), os vibrios são, em geral, as bactérias de maior relevância
na aqüicultura, devido a sua capacidade de infectar organismos aquáticos como os camarões
peneídeos e diversas espécies de peixes (AUSTIN e AUSTIN, 1999), além de moluscos
(RHEINHEIMER, 1992).
A carcinicultura tem tido relevantes perdas devido as bactérias de diversas espécies do
gênero Vibrio, especialmente nos estágios de larvas e juvenis. Os fatores de virulência deste
microrganismo incluem alguns elementos importantes que têm sido identificados, podendo se
destacar as proteases alcalinas, as metalo proteases, as cisteína proteases e as proteases
alcalinas séricas (AGUIRRE-GUZMÁN et al., 2004).
Durante todo o cultivo de camarões marinhos, os vibrios podem interferir na produção
e estes quando associados às condições de desequilíbrio, podem se tornar verdadeiros
obstáculos ao sucesso do plantel (RIBEIRO, 2005). O vibrio está amplamente distribuído em
todo o mundo, quer em estuários, águas costeiras ou ainda nos crustáceos marinhos. Assim, a
vibriose pode ocorrer em todos os peneídeos quando estes forem submetidos a situações de
estresse (BOWER, 1997; BROCK e MAIN, 1994; LIGHTNER, 1996).
Alguns vibrios possuem a capacidade de fermentar a sacarose quando inoculados em
Ágar Tiossulfato Citrato Sais de Bile (TCBS), sendo as colônias identificadas pela coloração
amarela (FIGURA 1). Enquanto que as que não fermentam a sacarose são macroscopicamente
identificadas pela sua coloração verde (FIGURA 2). Algumas espécies de vibrios podem
ainda apresentar as duas colorações, em uma mesma colônia, sendo capazes de fermentar
“parcialmente” a sacarose, além de outras espécies poderem apresentar sorovares sacarose
positiva e sorovares sacarose negativa (FIGURA 3). É importante ressaltar que esta
capacidade de fermentar ou não a sacarose não está relacionada com a patogenicidade da
bactéria e, portanto, a presença de um tipo ou de outro não indica a gravidade da situação.
Em relação à luminescência, várias espécies patogênicas e não patogênicas de vibrios
podem apresentar essa característica, quando submetida à luz ultravioleta, podendo ocorrer
variações entre sorovares de uma mesma espécie. Contudo, é errado afirmar que apenas os
vibrios verdes” e/ou luminescentes ocasionam problemas. Não é possível apenas pela
coloração das colônias e pela determinação da luminescência classificá-los em patogênicos
para os camarões. Para um diagnóstico confiável, faz-se necessário realizar provas
bioquímicas para a identificação da espécie. Quando for necessário adotar medidas
emergenciais, o resultado da incubação em ágar TCBS pode direcionar o manejo a ser
adotado, observando-se o número de colônias e as suas características morfológicas, mas o
deve ser a única análise a ser efetuada (ALVES, 2004).
Nas vibrioses, também conhecidas como “síndrome da gaivota” (SHPN) e enterite
séptica hemocítica, os camarões na fase de engorda podem apresentar os seguintes sintomas:
desorientação (natação lenta), hemolinfa turva com tempo de coagulação alterado,
FIGURA 1:
Colônias de
Vibrio
spp.
sacarose positivas em
ágar TCBS.
FIGURA 2:
Colônias de Vibrio
spp.
sacarose negativas em
ágar TCBS.
FIGURA 3:
Colônias de
Vibrio
spp.
com
fermentação
“par
cial” da sacarose
em ágar TCBS.
aglomeração nas margens do viveiro atraindo aves, opacidade da musculatura, coloração
avermelhada dos apêndices, flexão do terceiro segmento abdominal; brânquias, cutícula e
apêndices melanizados, anorexia e apatia. Quando na larvicultura, observam-se: alimentação
reduzida, ausência de filamentos fecais, atraso da muda, colonização bacteriana da cutícula,
dos apêndices, da região oral, do hepatopâncreas e do intestino, infecção entérica ou
sistêmica, destruição das células epiteliais do hepatopâncreas e intestino médio. Em todos os
casos podem ocorrer altas mortalidades (BARBIERI JR, R.C.; OSTRENSKY, A.N., 2001).
Esteve e Herrera (2000) verificaram alterações histológicas no hepatopâncreas de
Litopenaeus vannamei ao infectarem experimentalmente com Vibrio alginolyticus, antes
mesmo da apresentação dos primeiros sintomas, o que levou os autores a concluírem que este
órgão pode servir de indicador da saúde do camarão.
Song et al. (1993) citaram que em Taiwan, ocorreu um surto com massiva mortalidade
em camarões cultivados da espécie Penaeus monodon, foi diagnosticado vibriose, após
intensos estudos realizados, inclusive com exposição dos animais a situações de estresse, bem
como a infecções virais.
Um aumento no número de Vibrio spp. associado a uma significativa mudança na
composição da comunidade de vibrios na água de viveiros o suficientes para desencadear a
ocorrência de vibrioses (SUNG et al., 1999). Ainda que no ambiente de cultivo estejam
presentes outros microrganismos que realizem a assimilação de rações excedente,
excrementos, metabólitos nitrogenados, restos de plâncton e outros dejetos (BOYD, 2004), e
estes microrganismos sejam competidores dos vibrios, podem os mesmos serem ainda
desfavorecidos quando os vibrios se encontrarem em número elevado.
A vibriose pode ser caracterizada tanto como uma infecção localizada quanto
sistêmica (generalizada) afetando todos os órgãos e tecidos (Roque et al., 2001). A assinalada
como sistêmica, é uma enfermidade secundária a condições de estresse. As infecções locais
ou cuticulares são observadas como manchas marrons ou pretas em resposta a uma possível
agressão, consoante Galli et al., (2001). Referenciando ainda o mesmo autor, as lesões
superficiais são eliminadas no momento da realização da muda, todavia, se estas lesões forem
profundas, este quadro pode ser revertido para uma vibriose sistêmica.
2.6 Sanidade dos camarões
O conceito de sanidade do camarão marinho cultivado, com o passar do tempo,
adquire maior importância, tanto quanto o da nutrição e da reprodução (SANTOS et al.,
2005).
O aspecto sanitário envolve principalmente manejo e nutrição. O manejo, observado
na prática, se prende a diversos fatores, como a densidade populacional, variáveis físicos e
químicos da água (temperatura, salinidade, alcalinidade, etc.) e condições adequadas para a
despesca. O aspecto nutricional envolve, sobretudo, a composição dos alimentos, teores de
proteínas, lipídios, além de macro e micro elementos, evitando, portanto, as doenças
carenciais e, principalmente, proporcionar nas diferentes etapas da criação a alimentação
necessária e suficiente aos camarões (SANTOS et al., 2005).
Romero et al. (2003) citaram que acompanhando a intensificação da produção
aqüícola eso desenvolvimento de problemas ecológicos e patológicos. Zanolo (2006), por
sua vez, referenciou a aqüicultura como uma atividade que, semelhante às outras (pecuária,
avicultura e suinocultura), está susceptível à doenças.
Segundo Pereira (2002), historicamente, a epidemia de vibrio em camarão de cultivo
está associada com fatores adicionais que predispõem o camarão à infecção e a doença. Os
principais fatores sugeridos incluem manejo, ferimentos na carapaça, infecções prévias por
outros patógenos incluindo vírus, Rickettsia, Fusarium sp, gregarinas, danos do tecido
intestinal por bloom de algas tóxicas, deficiência de vitamina C, estresse fisiológico químico
ou físico (baixos níveis de oxigênio, altas concentrações de amônia, temperaturas elevadas,
alta salinidade).
Um manejo sanitário eficiente é realizado se conhecendo e considerando a inter-
relação existente entre o hospedeiro, o ambiente e o patógeno, estando estes três componentes
dependentes entre si em um cultivo de animais. Segundo Galli (2004), qualquer alteração no
equilíbrio a favor de algum deles pode determinar o aparecimento de uma enfermidade, ou
seja, variações ambientais podem afetar tanto o hospedeiro quanto o patógeno.
Para lograr êxito num controle sanitário é necessário o conhecimento do estado de
saúde dos animais na área de cultivo, baseado em inspeções e padronização de procedimentos
de amostragem, seguidas de diagnóstico laboratorial de acordo com as normas internacionais
(MACIEL et al., 2003).
Carvalho Filho (2004) citou que numa dada propriedade de cultivo do L. vannamei, o
aumento na densidade dos camarões, ou seja, a sobrecarga da biomassa promoveu um
aumento no número de bactérias e fungos patogênicos. No exame do exterior dos animais
foram observados aumentos na incidência de necrose, flacidez da carapaça e crescimento
heterogêneo dos mesmos.
3. OBJETIVOS
3.1 Geral
Caracterizar os fatores que interferiram na ocorrência da vibriose em camarão marinho
cultivado Litopenaeus vannamei (Boone, 1931) no litoral norte do estado de Pernambuco.
3.2 Objetivos específicos
Relacionar a carga de Vibrio spp. presente na água de cultivo e no camarão com a
ocorrência da vibriose;
Correlacionar às variáveis físicos e químicos da água e solo dos viveiros e suas variações
com a ocorrência da vibriose;
Avaliar a relação dos resultados encontrados no exame a fresco com os resultados
histopatológicos pertinentes a presença da necrose muscular.
4. MATERIAL E MÉTODOS
4.1. Coleta e locais de análise
Amostras foram coletadas em uma fazenda de cultivo do camarão marinho
Litopenaeus vannamei situada no litoral norte do estado de Pernambuco, durante o período de
dezembro de 2005 a outubro de 2006. As amostras foram mensalmente coletadas de dois
viveiros, em dois ciclos de cultivo, sendo um no período chuvoso (inverno) e o outro no de
estiagem (verão).
Os animais (camarões e pós-larvas) foram transportados em sacos de polietileno com
água do viveiro, sob aeração constante, até o laboratório de Inspeção de carne e leite
(LICAL), onde foram separados de acordo com as análises a serem efetuadas. As amostras de
água foram obtidas a partir de um pool”. Foram coletadas de diversos pontos do viveiro e
misturados em um recipiente esterilizado, a partir da qual, foi retirada uma alíquota para as
análises físicas e químicas e uma outra para a bacteriologia foi colocada em frasco estéril,
sendo ambas acondicionadas em caixa isotérmica.
As análises histopatológicas de animais juvenis e adultos foram efetuadas no
Laboratório Maria Ignez Cavalcanti e os exames a fresco e bacteriológicos no LICAL do
Departamento de Medicina Veterinária da UFRPE.
4.2. Levantamento de dados
Aplicaram-se questionários nas fazendas visando à obtenção de informações a cerca
do manejo empregado. Entre as principais informações que foram coletadas, destacam-se:
Estratégia de transferência;
Densidade de estocagem;
Alimento e alimentação;
Uso de bandejas, drogas/fertilização;
Renovação de água, monitoramento das variáveis físico-químicos da água, utilização
ou não de aeradores;
Procedimentos de biosseguridade.
4.3. Análises físicas e químicas da água e do solo
Durante o cultivo foram coletadas amostras de água dos viveiros para a verificação
dos parâmetros de pH, temperatura, salinidade, concentração de oxigênio dissolvido, turbidez
e condutividade, através de equipamentos digitais específicos. A técnica da titulação foi
utilizada para determinação da alcalinidade total, enquanto que para as determinações de
clorofila “a”, nitrogênio amoniacal total, nitrito, nitrato e ortofosfato utilizaram-se as técnicas
de espectrofotometria.
Nas análises de solo, determinou-se o nível de matéria orgânica e o pH, seguindo-se as
recomendações contidas em APHA (1985), Munsiri et al. (1995) e Parsons e Strickland
(1963).
4.4. Exames a fresco de camarão
Cada amostra foi composta de dez camarões e foram avaliadas para observação dos
órgãos e tecidos, na busca de alterações que poderiam ser sinais de início de doença. Os
camarões foram pesados e posteriormente verificou-se o tempo de coagulação da hemolinfa e
retiraram-se fragmentos de brânquias, hepatopâncreas, intestino, ceco posterior e músculo de
cada exemplar, para visualização ao microscópio óptico, seguindo-se as recomendações de
Pereira e Santos (2003).
4.5. Contagem, isolamento e identificação de vibrios
As análises microbiológicas compreenderam a contagem de Vibrio spp. no camarão e
na água. Para tanto, foi utilizado o meio de cultivo Ágar Tiossulfato Citrato Sais de Bile
Sacarose (TCBS), de acordo com a orientação de Holt et al. (1994).
Colônias características de Vibrio spp. que prevaleceram morfologicamente foram
selecionadas e repicadas para o Ágar Tríplice Açúcar com Ferro (TSI), estando estes meios
suplementados com 2,0% de cloreto de sódio. Em seguida, realizou-se o estudo do perfil
bioquímico das colônias características, conforme a orientação do FDA (1998).
4.6. Análises histopatológicas
Os espécimes foram sacrificados por choque térmico, infiltrados com solução de
Davison, examinados e identificadas as lesões macroscópicas e mergulhados em recipiente
com o mesmo fixador. Após os procedimentos de armazenagem foram transportados,
imediatamente, para o laboratório de histopatologia. No Laboratório foram recortados e
diafanizados, incluídos em parafina, cortados a 5µm, corados pelo método da hematoxilina-
eosina e examinados a microscopia óptica de acordo com as recomendações de Luna (1968),
Ligtner (1997) e Behmer (2003).
4.7. Análise de dados
Para todas as informações obtidas e análises realizadas, referente as variáveis físico-
químicos, de manejo ou das análises laboratoriais foram utilizadas as técnicas de modelagem
matemática (MENDES, 2006).
Em que: λ-transformador de Box e Cox; i- i-ésima observação, β
0
, β
1,...,
β
8
- parâmetros do
modelo, TC – tempo de cultivo, NV
TOTAL(Água)
- número de víbrios na água, NV
TOTAL(Camarão)
-
número de víbrios no camarão, Tox- presença de toxinas, EF- exame a fresco, EH- exame
histopatológico, FQ- variáveis físicas e químicas da água, Quest- questionário, EA- estação do
ano, e
i-
erro associado a cada observação.
Para estimar os parâmetros dos modelos matemáticos foram utilizadas as técnicas
matriciais e para selecionar as variáveis significativas (P < 0,05) que deverão ser incluídas no
modelo o processo de Stepwise (forward). Associado ao processo de Stepwise foi utilizado o
transformador λ (BOX e COX, 1964), modelo simplificado, para minimizar a variância
experimental. Para realizar os cálculos foi utilizado o pacote Estatístico SysEapro v. 1,0.
Vibriose
λ
i
=
β
0
+
β
1
TC
β
2
NV
TOTAL(Água)
+
β
3
NV
TOTAL(Camarão)
+
β
4
Tox +
β
5
EF +
β
6
EH
+ β
7
FQ + β
8
Quest + β
9
EA + e
i
5. RESULTADOS E DISCUSSÃO
As contagens obtidas mensais, bem como as diversas espécies de víbrios isoladas nas
amostras de água coletadas em diversos pontos dos viveiros e de camarões, são apresentadas
na Tabela 1 e 2. Verifica-se que o número de cepas de víbrios nos camarões são maiores do
que aos da água, em todos os viveiros tanto no período chuvoso, como na estiagem.
Tabela 1: Contagem de Vibrio spp. identificados em amostras de água e camarão coletadas nos viveiros 1 e 2 no
período do verão.
Viveiro 1 Viveiro 2
Amostra
Tempo de
cultivo
Contagem de
Vibrio spp.
Identificação
Contagem de Vibrio
spp.
Identificação
Povoamento 2,7 x 10 V. carchariae, 3,5 x 10 V. carchariae,
30 dias
4,6 x 10
V. mimicus, V.
anguillarum
7,0 x 10
V. mimicus,
V. anguillarum
Água
60 dias 2,4 x 10
Vibrio spp.
1,0 x 10
2
Vibrio spp.
Povoamento 4,0 x 10
4
V. metschnikovii
3,9 x 10
4
V. metschnikovii
30 dias
2,7 x 10
5
V. proteolyticus,
V. metschnikovii
9,5 x 10
3
V. proteolyticus,
V. metschnikovii
Camarão
60 dias
1,2 x 10
3
V. halioticoli;
V.mediterranei
8,1 x 10
2
V. halioticoli,
V.mediterranei
Tabela 2: Contagem de Vibrio spp. identificados em amostras de água e camarão coletadas nos viveiros 1 e 2 no
período do inverno.
Viveiro 1 Viveiro 2
Amostra Tempo de cultivo
Contagem de
Vibrio spp.
Identificação
Contagem de
Vibrio spp.
Identificação
Povoamento 5,6 x 10
Vibrio spp.
1,5 x 10
Vibrio spp.
30 dias
5,5 x 10
V. holisae
2,9 x 10
2
V. parahaemolyticus,
V. furnissii
Água
60 dias
5,4 x 10
V. proteolyticus,
V. parahaemolyticus
1,7 x 10
2
Vibrio spp.
Povoamento - Não houve coleta de camarão 8,2 x 10
5
V. cincinnatiensis
30 dias 3,3 x 10
3
Vibrio spp.
8,2 x 10
2
V. furnissii
Camarão
60 dias 1,1 x 10
4
V. furnissii, V damsela
6,2 x 10
2
Vibrio spp.
Este resultado vai de encontro ao citado por Barbieri Jr e Ostrensky Neto (2001), de
que as bactérias do gênero Vibrio estão naturalmente presentes, tanto na água como na flora
interna dos camarões. Contudo, podem causar doenças com taxas de mortalidade, sempre que
ocorrer diminuição da imunidade do animal, já que são microrganismos oportunistas
(MENDES et al. 2001).
Ao avaliar as contagens de Vibrio spp. em água, pós-larvas, hemolinfa e
hepatopâncreas, Lira et al. (2007) obtiveram contagens ximas de 6,2 x 10
3
UFC/mL na
água, 8,2 x 10
5
UFC/g na pós-larva, 1,1 x 10
5
UFC/mL na hemolinfa e 1,1 x 10
6
UFC/g no
hepatopâncreas. Estes autores concluíram que a carga e a diversidade de vibrionáceas
aumentam proporcionalmente com tempo de cultivo, em virtude do incremento de matéria
orgânica. Resultados semelhantes foram obtidos por Góes et al. (2007), quando pesquisaram
carga de vibrionáceas em água de viveiro de camarões, com contagens até 6,2 x 10
3
UFC/mL.
Ressalta-se que os resultados supracitados corroboram com os obtidos nesta pesquisa.
As espécies de vibrios identificadas e consideradas ambientais foram V. carchariae, V.
mimicus, V. proteolyticus, V. metschnikovii, V. halioticoli e V.mediterranei. Entre as espécies
consideras patogênicas para os camarões marinhos, segundo Rodrick (1991), isolaram-se
Vibrio anguillarum, V. vulnificus e Vibrio spp.
Lira et al. (2007), ao comparar a diversidade de Víbrio spp. isolados de água e
camarão provenientes de carciniculturas do litoral Pernambucano, observaram que houve
maior variedade destes microrganismos no período de estio em todas as fazendas
pesquisadas, onde foram identificados: V. vulnificus, V. cincinnatiensis, V. damsela, V.
proteolyticus V. anguillarum, V. fischeri, V. parahaemolyticus, V. carchariae, V. harveyi; V.
mediterranei; V. fluvialis, V. hollisae, V. mimicus, V. metschnikovii, V. halioticoli. Esta
mesma variedade de microrganismos foi observada no material pesquisado neste trabalho.
Ao avaliar estatisticamente a relação entre a ocorrência do nível de alterações
patológicas encontradas no exame a fresco com o número de Vibrio spp. presente nos animais
e a presença de necrose muscular, obteve-se a equação matemática I:
NM
afresco
camy
99,01
22,600066,2055
ˆ
=
Em que:
camy
ˆ
- Número de Vibrio spp. em camarão, afresco exame a fresco, NM presença de necrose
muscular.
Destaca-se que os valores da variável resposta foram maximizados quando se
realizaram interações, obtendo-se um r
2
de 0,9984. Constatou-se que quanto maior o nível de
alterações patológicas detectadas no exame a fresco, menor o número de víbrio nos camarões,
o que indica que, provavelmente, as alterações detectadas no exame estão relacionadas com
outro agente causal que não os vibrios, sendo necessárias maiores investigações para a
determinação do mesmo. Por outro lado, Morales (2004) relatou que os víbrios, normalmente,
ocasionam danos na musculatura abdominal, no coração e nas brânquias dos camarões, o que
explica o fato de também ter sido observado que quanto maior o número de víbrio encontrado
nos camarões, maior foi o número de necrose muscular nos mesmos.
Morales (2004) relatou que as funções anatômicas dos camarões podem ser alteradas
por mudanças no ambiente de cultivo e por diversos fatores estressantes, os quais tornam o
organismo susceptível, desde o primeiro contato com o agente patológico até a manifestação
da enfermidade. Pereira e Santos (2003) citaram que o exame a fresco é um recurso de grande
valia e largamente empregado na atividade, uma vez que viabiliza a avaliação e o
monitoramento da saúde dos camarões. Todavia, este recurso deve ser utilizado com
parcimônia e destreza, uma vez que as manifestações clínicas, das mais diversas doenças nos
camarões, são extremamente semelhantes, sendo necessária habilidade técnica para discerni-
las.
Ao correlacionar a ocorrência e a intensidade de alterações encontradas no exame a
fresco com o número de Vibrio spp. encontrado na água do viveiro e a presença de necrose
muscular nos animais, obteve-se a equação matemática II:
NM
afresco
ay
92,01
75,1835,15
ˆ
=
Em que:
ay
ˆ
- Número de Vibrio spp. na água do viveiro, afresco exame a fresco dos camarões, NM
presença de necrose muscular.
No tocante a análise em água, foi observada a mesma relação entre os resultados
obtidos no exame a fresco e o número de Vibrio spp., ou seja quanto maior o nível de
alterações patológicas detectadas, menor o número de vibrio na água. Assim como, o inverso
foi detectado quanto à ocorrência de necrose muscular nos animais. Ressalta-se que foi obtida
uma melhor correlação entre as variáveis analisadas fazendo-se uso das interações entre a
variável resposta e a ocorrência de necrose muscular com o r
2
de 0,9619.
Ao analisar a carga de Vibrio spp. nos camarões com as demais variáveis da função,
obteve-se a equação III:
tc4599,9892 1
inverno 9125759,203 v215484,2012- 6218860,080
ˆ
+
=camy
Em que:
camy
ˆ
- Número de Vibrio spp. no camarão, v2 viveiro 2; inverno período chuvoso, tc tempo de
cultivo.
De acordo com a equação, estimou-se a melhor correlação entre as variáveis estudadas
quando foi inserida interação entre a variável resposta e o tempo de cultivo, sendo encontrado
r
2
de 0,425. Quando comparados os viveiros 1 e 2, no tocante à carga de vibrionáceas nos
camarões, no período chuvoso, observaram-se menores contagens no viveiro 2, sendo oposto
observado no verão. Além disto, verificou-se que quanto maior o tempo de cultivo, menor foi
a carga de Vibrio spp. nos camarões do viveiro 2 (Tabelas 1 e 2).
Ao analisar estatisticamente a relação das variáveis da função com a carga de Vibrio
spp. na água do viveiro, obteve-se a equação IV:
0,8793tc1
rno55,325inve 76,5371v2 - 59,7309
ˆ
+
=ay
Em que:
ay
ˆ
- Número de Vibrio spp. na água; v2 – viveiro 2; inverno – período chuvoso; tc – tempo de cultivo.
O modelo IV foi obtido através das variáveis selecionadas e interações entre o número
de vibrio e tempo de cultivo, sendo este o que melhor estima o número de vibrio. Em relação
à análise da água, a exemplo do supracitado, também foi encontrado um menor número de
Vibrio spp. no viveiro 2. Observou-se que no inverno ocorreram as maiores contagens
bacterianas, porém quanto maior o tempo de cultivo, maiores foram as contagens de Vibrio
spp., o que discorda dos resultados encontrados na análise realizada em camarões (tabelas 1 e
2).
Obteve-se a equação V ao observar a correlação entre o número de Vibrio spp. na água
e as demais variáveis analisadas:
invernov
dealcalinidasalfosfato
y
a
3218,016069,01
6865,09418,15485,1245691,1
ˆ
+
+
=
Em que:
a
y
ˆ
- Número de Vibrio spp. na água; fosfato – concentração de fosfato na água (mg/L); sal – salinidade
da água; alcalinidade – alcalinidade da água (mg/L); v1 – viveiro amostrado; inverno – período chuvoso.
Em relação as variáveis limnológicas, quanto maiores as concentrações de fosfato e os
níveis de salinidade da água, maior o mero de Vibrio spp. foram detectados,
respectivamente, o que provavelmente es relacionado com os substratos para o
desenvolvimento desses microrganismos, uma vez que as concentrações destes compostos
interferem diretamente nos mesmos. Destaca-se que a maioria das espécies de vibrio isoladas
apresentaram faixa de salinidade entre 3 e 6, excetuando-se o Vibrio alginolyticus e V.
proteolyticus (tabelas 1 e 2). Em relação à alcalinidade, a maior carga de Vibrio spp. foi
detectada quando obtiveram-se os maiores índices, sendo justificada pela faixa de conforto do
gênero bacteriano. Este fato foi observado claramente no viveiro 1 durante o inverno.
Salienta-se que os resultados estimados foram otimizados quando se realizaram interações
entre a carga de vibrionáceas na água e o período chuvoso no viveiro amostrado, observando-
se r
2
de 0,9872.
Ao observar algumas das variáveis que possivelmente explicam o número de vibrios
no camarão, obteve-se a equação VI:
invernovclorofila
saltempoxisolidorgsolidosp
camy
9,028,02,21
7,10802,104851,188922,20937659,44769,118,387942
ˆ
+
=
Em que:
camy
ˆ
- mero de Vibrio spp. no camarão; solidosp sólidos em suspensão; solidorg sólidos
orgânicos; oxi oxigênio do fundo do viveiro; temp temperatura da água no fundo do viveiro; sal salinidade
da água; clorofila – concentração de clorofila na água; v2 – viveiro amostrado; inverno – período chuvoso.
Verificou-se que os resultados estimados foram mais significativos quando se
realizaram interações entre a carga de vibrios isolada nos camarões e a concentração de
clorofila na água do v2 no período do inverno. Observou-se que quanto maior a quantidade de
sólidos suspensos, maior a carga de vibrios, o que se explica devido ao maior número de
bactérias interferir na turvação da água. Todavia, em relação aos sólidos orgânicos foi
observado o inverso, ou seja, quanto menor os sólidos orgânicos, maior a carga de
vibrionáceas, claramente justificado pela capacidade das bactérias de consumir matéria
orgânica como fonte de nutrientes.
No tocante as análises de oxigênio, quando foram detectados maiores níveis na água,
menor foi o número de vibrios detectado nos camarões, fato justificado, provavelmente, pelo
menor nível de estresse dos animais desfavorecendo a infecção secundária por este gênero de
bactéria oportunista.
Quanto maior foi a concentração de clorofila na água, menor o número de vibrios.
Observaram-se mais vibrios no viveiro 2 durante o inverno e nas mais altas temperaturas, a
carga foi menor. Verificou-se, ainda, menores concentrações de Vibrio spp. quando
detectaram-se as maiores taxas de salinidade, o que pode estar relacionado com a faixa ideal
para o desenvolvimento destas bactérias.
Boyd (1999) citou que a degradação das condições ambientais no viveiro possui uma
estreita relação com a diminuição da resistência imunológica provocada pelo estresse e
consequentemente com o aparecimento de viroses e outra enfermidades oportunistas como
por exemplo os vibrios, fungos e endoparasitas (gregarinas), o que justifica os resultados
acima descritos.
Contudo, diante das árduas dificuldades enfrentadas pela carcinicultura, torna-se
evidente a necessidade de maiores estudos a respeito das enfermidades que acometem
camarões marinhos cultivados no Nordeste brasileiro. Além disto, o desenvolvimento de
bancos de dados que referenciem valores padrões para patógenos oportunistas normalmente
presentes no ambiente, viabilizariam a detecção precoce de situações de risco para os animais
na região, possibilitando, desta forma, o manejo profilático eficiente e o controle das
enfermidades.
6 .CONCLUSÕES
Ao se avaliar os fatores que interferiram na ocorrência de vibrioses em camarão
marinho cultivado em uma propriedade situada no litoral norte do Estado de Pernambuco,
conclui-se que:
As espécies de víbrio isoladas na água dos viveiros e nos camarões, foram capazes de
causar doenças nos animais quando detectadas altas contagens;
Os parâmetros físicos e químicos da água e do solo interferiram sobre a ocorrência de
vibriose;
Não existe relação entre o número de alterações observadas no exame a fresco com o
número de vibrios na água dos viveiros e no camarão.
7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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