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O processo de instrumentalização da redução de danos poderá ser
analisado no interior de uma tendência mais geral no campo da produção
teórica e de planejamento das políticas sociais que, em certo sentido,
respondem às exigências do pensamento “pós-moderno”, ao recusar a
objetividade, a capacidade da razão de produzir conhecimentos teóricos que
expliquem a realidade e, principalmente, a possibilidade de uma razão crítica
capaz de orientar ações ética e politicamente comprometidas.
Por ser a ideologia da nova forma de acumulação do capital, o
pós-modernismo relega à condição de mitos euro-cêntricos
totalitários os conceitos que fundaram e orientaram a
modernidade: as idéias de racionalidade e universalidade, o
contraponto entre necessidade e contingência, os problemas
da relação entre subjetividade e objetividade, a história como
dotada de sentido imanente, a diferença entre natureza e
cultura etc (Chauí: 2001, 22-23).
Os efeitos da recusa desses conceitos, que se expressam na
valorização da dimensão instrumental da razão, são assim analisados pela
autora:
A ciência e a tecnologia contemporâneas submetidas à lógica
neoliberal e à ideologia pós-moderna, parecem haver-se
tornado o contrário do que delas se esperava: em lugar de
fonte de conhecimento contra as superstições, criaram a
ciência e a tecnologia como novos mitos e magias; em lugar de
fonte libertadora das carências naturais e cerceamento das
guerras, tornaram-se, por meio do complexo industrial-
militar, causas de carências e genocídios. Surgem como
poderes desconhecidos, negando a possibilidade da ação ética
como racionalidade consciente, voluntária, livre e responsável,
sobretudo porque operam sob a forma do segredo (o controle
das informações como segredos de Estado e dos oligopólios
transnacionais) e da desinformação propiciada pelos meios de
comunicação de massa. (Chauí: 2001, 25).
Na mesma direção, em artigo que analisa uma experiência a de um
hospital público a partir da participação do sistema privado de atendimento