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UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA
INSTITUTO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS
DEPARTAMENTO DE BIOLOGIA CELULAR
PÓS – GRADUAÇÃO EM BIOLOGIA MOLECULAR
Caracterização da atividade ligante e da função efetora de
Anticorpos humanizados Anti–CD3 Humano
HERNANDEZ MOURA SILVA
Orientador: Prof. Dr. Marcelo de Macedo Brígido
Co – Orientadora: Prof
a
. Dra. Andréa Queiroz Maranhão
Brasília – DF
2008
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ii
UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA
INSTITUTO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS
DEPARTAMENTO DE BIOLOGIA CELULAR
PÓS – GRADUAÇÃO EM BIOLOGIA MOLECULAR
Caracterização da atividade ligante e da função efetora de
Anticorpos humanizados Anti–CD3 Humano
HERNANDEZ MOURA SILVA
Orientador: Prof. Dr. Marcelo de Macedo Brígido
Co – Orientadora: Prof
a
. Dra. Andréa Queiroz Maranhão
Dissertação apresentada ao
Departamento de Biologia Celular
do Instituto de Ciências Biológicas
da Universidade de Brasília como
requisito parcial à obtenção do
grau de Mestre em Biologia
Molecular
Brasília – DF
2008
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iii
Banca Examinadora:
Prof. Dr. Edécio Cunha - Neto – Incor/USP
Prof
a
. Dra. Anamélia Lorenzetti Bocca – UnB
Prof
a
. Dra. Cynthia Maria Kyaw - UnB
Prof. Dr. Marcelo de Macedo Brígido – UnB
Prof
a
. Dra. Andréa Queiroz Maranhão – UnB
Trabalho desenvolvido no
Laboratório de Biologia
Molecular da Universidade de
Brasília, e parte no Laboratório
de Imunologia de Transplantes
da Faculdade de Medicina da
Universidade de São Paulo, sob
orientação do Dr. Marcelo de
Macedo Brígido.
iv
Eu dedico esse tr
a
balho aos meus
pais, Ari e Ana, pelo enorme apoio
e compreensão. Sem vocês a subida
da montanha seria muito mais
complicada. Obrigado por tudo.
Amo Vocês.
v
“Não somos como aqueles que chegam a formar
pensamentos senão no meio dos livros - o nosso
hábito é pensar ao ar livre, andando, saltando,
escalando, dançando (...)”.
Friedrich Nietzsche
"É um paradoxo a Terra se mover ao redor do
Sol e a água ser constituída por dois gases
altamente inflamáveis. A verdade científica é
sempre um paradoxo, se julgada pela experiência
cotidiana que se agarra à aparência efêmera das
coisas."
Karl Marx
vi
Agradeço do fundo do meu coração ao meu grande orientador,
professor e amigo Marcelo Brígido, por ter me acolhido nesse
grupo logo que eu entrei na graduação e ter acreditado no meu
potencial. O aprendizado da ciência não teria a mesma graça sem
você. Obrigado pela ótima orientação nesse mestrado e pelos
momentos engrandecedores.
Agradeço também a minha Co-orientadora, amiga e mãe Andréa
Maranhão, pela paciência, suporte, pelas opiniões objetivas e
sensatas no laboratório e na vida. Não tenho palavras para dizer
o quanto aprendi com você.
Muito Obrigado por me acolherem nesse grupo, não haveria
forma melhor de iniciar minha vida científica do que com vocês
ao meu lado.
vii
Agradecimentos Especiais
Primeiramente gostaria de agradecer a DEUS pela forte presença nos momentos difíceis, me dando
a força necessária, e nos momentos de alegria. Agradeço por me dar essa fé de continuar traçando esse
caminho e me fazer acreditar que trabalhar com essas “águinhas” pode no futuro melhorar a vida de alguém.
Agradeço aos meus pais pelo grande apoio, sabendo compreender e tolerar o meu isolamento e a
minha impaciência. Vocês são a semente de tudo, sem a força de vocês não teria alcançado tudo o que
alcancei, serei eternamente grato a vocês.
A minha irmã que fez parte de toda essa caminhada.
Aos meus padrinhos de batizado Elzy e Arnaldo, e de crisma Bia, por sempre mandarem
pensamentos positivos mesmo eu estando afastado.
Aos meus amigos muito especiais, Henrique, André, Pedro Ivo, Pedro Marra, Saulo. Amigos de
longa data e que apesar de às vezes distantes sempre estiveram presentes. Pessoas que sei que sempre vou
poder contar.
Gostaria de agradecer especialmente ao Henrique pela ótima convivência, grande amizade e
companheirismo. Obrigado pelas diversas lições de vida. Por experiências engrandecedoras como o nosso
mega lava-jato SUPER BRILHO. Pelas farras, viagens, etc. Você é uma pessoa fantástica que considero
como o irmão que não tive.
As minhas grandes amigas Vivi, Fernanda e Vanessa. Obrigado pelos momentos divertidos,
momentos importantes na minha vida onde vocês sempre estiveram presentes.
Ao grande tio Orlando (Tio Brother), ótima pessoa com quem sempre gosto de estar, sempre
trazendo uma super energia positiva.
A minha mãe na biologia molecular, Chrisinha, pessoa simplesmente fantástica com quem aprendi
muito. Gostaria de ter sua serenidade no exercício da ciência. Você abriu meus olhos para esse mundo
fantástico e sempre lembrarei disso.
Ao meu amigo do peito Pedrão Vieira, no inicio éramos só colegas de bancada e hoje vejo nele uma
pessoa super atenciosa, divertida e companheira. Agradeço enormemente as diversas farras que fizemos, ao
nosso super bugão de búzios, e ao enorme apoio e força em São Paulo, me ajudando bastante no início dessa
nova caminhada nessa cidade completamente louca.
Aos meus grandes amigos de Lab1 de ontem, hoje e sempre (o melhor laboratório do mundo) Gaúcho
(Rafael), guri sentirei sua falta, do seu companheirismo e da sua bagunça na bancada. Maryani, sem você o
lab não teria a mesma graça nem as mesmas discussões. Luana, obrigado pela força em tudo, no começo não
nos dávamos muito bem, mas hoje vejo como o meu mestrado não seria igual sem você. Victor, o eterno
brincalhão, tu é uma figura. Carol, a intelectual, substituta da Paty lu, só não demos o nome de bruxa
viii
heheh, obrigado pela amizade no lab, nos cursinhos e na vida. Mariana (ursinho), com seu estilo diferente de
ser e com a frase de sempre (não to ouvindo nada, conta de novo!) sentirei falta do war, ao Diorge cabeção,
aprendi muito com ele. Henrique, Bia, Carmela, Yuri o aspira, tu é um comédia. Leo, Fernanda, Isabel,
Taíssa, Kelly, Isabela, Paulo, Janaina. A Ceci, chinchila, grande amiga e agora companheira de Zé paulino e
25 de março em SP. A Paty Lu, bruxa do norte, também companheira em SP. Gabi, Flávia. Nunca
esquecerei das louváveis reuniões de quinta.
A Barbarela (não esqueci de você não) pessoa maravilhosa, a minha primeira tutelada na bancada,
amiga de mestrado e hoje ta ai, mandando bem em tudo que faz. Adoro você apesar das nossas sempre
intermináveis discussões sem acordo, mas se lembre que concordei com você uma vez hehehe. Sentirei muito a
sua falta em São Paulo. Obrigado mesmo pela amizade, aprendi muito com você.
Aos amigos da biomol Alex, Marciano, Mauro, Andrelisse, Juliana, Hugo, Marcos, Davi, Thiago
(Lab3), Thiago (Lab 0), Eveline, Lorena, Lelê (agora policia e futura mamãe), Saulo, Simoneide, Rose,
Larissa, Luciano, Túlio, Renata, Basti, Viviane, Camila e aos outros que não lembrei de colocar, afinal é
gente demais, não da pra lembrar, hehehe.
Aos professores do laboratório de Biologia Molecular: Lídia Pepe (cadê o jaleco), Fernando Araripe,
Sueli, Marcio (e a sua umbrella), Marcos, Elida, Ildinete (AL).
A Fofita (Fátima) e Violência (Ivonildes) por terem suportado minhas bagunças e pentelhação no
laboratório, obrigado pela força e toda assistência. A Ana pela ajuda na secretaria.
Aos queridos amigos do Laboratório de Imunologia do Incor-USP, futuros amigos de trabalho,
obrigado pela ótima recepção. A Sandra Maria por me ensinar a fazer FACS e outras coisas. Cresci muito
com vocês em tão pouco tempo. A prof
a
Verônica Coelho (minha futura orientadora) por me acolher tão bem
nesse grupo durante essa etapa do meu mestrado e por contribuir significativamente para discussão do
projeto e dos resultados.
Ao prof. Antônio Teixeira e demais colegas do laboratório multidisciplinar de pesquisa em doenças
de chagas por permitirem gentilmente a utilização do aparelho de FACS para os resultados finais desse
projeto. Ao prof. Enrique
Argañaraz e colegas do laboratório de Virologia Molecular por disponibilizarem o
computador da apple para análise dos resultados obtidos no citometro de fluxo e geração das figuras da
dissertação.
Aos companheiros de Ministério de Meio Ambiente. Experiência muito enriquecedora.
Aos meus eternos amigos da biologia, fazer faculdade sem vocês não teria a mesma graça, pessoas
maravilhosas por quais guardo grande estima. Estar com vocês sempre é um enorme prazer e mesmo a vida
levando cada um a traçar o seu caminho, espero que ele sempre se reencontre.
As instituições de formento que vêm me patrocinando nas experiências malucas e apesar do pequeno
investimento em ciência garantem que esse país esteja entre os maiores publicadores do mundo.
ix
E por ultimo, não poderia esquecer essa pessoa maravilhosa que entrou na minha vida no final de
2006, graças à ciência, e que hoje tem mudado meus dias. As coisas ficaram muito mais fáceis com você ao
meu lado, obrigado pela tolerância e compreensão, obrigado por estar ao meu lado minha linda namorada
Fernanda.
x
Sumário
Índice de Figuras....................................................................................................................xiv
Índice de Tabelas..................................................................................................................xvii
Lista de Abreviaturas..........................................................................................................xviii
Resumo....................................................................................................................................xxi
Abstract.................................................................................................................................xxii
Introdução..................................................................................................................................2
1.1 O Sistema Imune.......................................................................................................2
1.2 Os Anticorpos...........................................................................................................3
1.3 Os Receptores Fc....................................................................................................10
1.4 Os Anticorpos na Clínica........................................................................................12
1.5 O Anticorpo Anti-CD3............................................................................................14
1.6 A Engenharia de Anticorpos...................................................................................21
1.7 Expressão Heteróloga de Anticorpos......................................................................23
1.8 A Humanização do Anticorpo Monoclonal Anti-CD3...........................................27
Objetivos..................................................................................................................................34
2.1 Objetivo Geral.........................................................................................................34
2.2 Objetivos Específicos..............................................................................................34
Materiais e Métodos................................................................................................................36
3.1 Materiais..................................................................................................................36
3.1.1 Células......................................................................................................36
3.1.2 Plasmídios utilizados................................................................................37
3.1.3Oligonucleotídeos utilizados para seqüenciamento..................................38
3.1.4Soluções estoques de inibidores de proteases..........................................39
3.1.5 Meios de cultura e soluções para bactérias..............................................39
3.1.6 Meios de cultura e soluções para cultura de células de mamíferos..........40
3.1.7 Soluções e tampões de uso geral..............................................................43
3.1.8
Soluções e material para preparo de células competentes e transformação-
bactéria..........................................................................................................................43
3.1.9 Soluções para extração de DNA plasmidial........................................................44
3.1.10 Tampões de endonucleases de restrição............................................................45
3.1.11 Tampões de outras enzimas...............................................................................46
xi
3.1.12 Soluções e reagentes para eletroforese em gel de agarose e de
poliacrilamida....................................................................................................47
3.1.13 Soluções para coloração de gel de poliacrilamida com Comassie
Briliant Blue (R-250 ).......................................................................................49
3.1.14 Soluções e materiais para os ensaios imunológicos (ELISA, Western e
Dot blotting)......................................................................................................50
3.1.15 Coluna de cromatografia de afinidade...................................................51
3.1.16 Soluções para cromatografia de afinidade.............................................51
3.1.17 Materiais utilizados para concentração de sobrenadantes de cultura e
proteínas purificadas.........................................................................................51
3.1.18 Marcadores moleculares para DNA e proteína......................................51
3.1.19 Kits comerciais.......................................................................................52
3.1.20 Soluções e materiais para os experimentos com citometria de fluxo.....53
3.1.21 Anticorpos utilizados nos ensaios de ELISA, Western Blot, Dot Blot e
FACS.................................................................................................................54
3.2 Métodos...................................................................................................................57
3.2.1 Preparação de DNA plasmidial................................................................57
3.2.2 Digestão do DNA plasmidial com enzimas de restrição..........................59
3.2.3 Análise do DNA plasmidial em gel de agarose.......................................59
3.2.4 Eluição de fragmentos de DNA de gel de agarose...................................59
3.2.5 Reação de Desfosforilação com a fosfatase alcalina de camarão (SAP).60
3.2.6 Modificação no DNA plasmidial utilizando a enzima Mung Bean
Nuclease............................................................................................................60
3.2.7 Ligação de fragmentos de DNA...............................................................61
3.2.8 Preparação de células competentes e transformação bacteriana..............61
3.2.9 Seqüenciamento automático de DNA e análise de seqüências................63
3.2.10 Cultura de células de mamíferos............................................................63
3.2.11 ELISA (Enzyme-linked immunosorbent assay).....................................70
3.2.12 Concentração de sobrenadante de cultura..............................................71
3.2.13 Purificação das proteínas recombinantes por cromatografia de
afinidade............................................................................................................72
3.2.14 Análise de proteínas por Dot Blotting....................................................72
3.2.15 Análise de proteínas em gel de SDS-PAGE..........................................73
3.2.16 Coloração do gel de SDS-PAGE...........................................................74
xii
3.2.17 Análise de proteínas por Western Blotting.............................................74
3.2.18 Separação de células mononucleares do sangue periférico (CMSP).....75
3.2.19 Reação de Imunofluorescência para FACS............................................76
3.2.20 Leitura da reação de FACS no citômetro de fluxo.................................77
3.2.21 Ensaio de proliferação de CMSP com CFSE.........................................78
Resultados................................................................................................................................81
4.1 Construção dos vetores contendo as seqüências codificadoras dos anticorpos
recombinantes...............................................................................................................81
4.1.1 Clonagem da seqüência codificadora do FvFc anti-CD3 murino em vetor
de expressão para célula de mamíferos com marca seletiva.............................82
4.1.2 Construção do vetor codificador do scFv anti – CD3 humanizado
hVH
T86
hVL.......................................................................................................87
4.1.3 Construção do vetor codificador do scFv anti – CD3 humanizado
hVH
R86
hVL.......................................................................................................89
4.1.4 Montagem das seqüências codificadoras dos FvFcs humanizados anti-
CD3...................................................................................................................91
4.1.5 Clonagem das seqüências codificadoras dos anticorpos recombinantes
humanizados no vetor pMIRES........................................................................92
4.2 Transfecção das células de ovário de hamster chinês (CHO) com os plasmídeos
pMIRES FvFc T e R.....................................................................................................94
4.3 Seleção das células transfectadas utilizando Geneticina
®
(G418)..........................96
4.4 Produção dos FvFcs recombinantes em garrafas de 75 e 150 cm
2
.......................100
4.5 Purificação e quantificação dos FvFcs T e R........................................................101
4.6 Teste dos FvFcs humanizados anti-CD3 quanto a capacidade de ligação a
superfície de linfócitos................................................................................................105
4.11 Avaliação do potencial mitogênico dos FvFcs humanizados.............................109
4.12 Análise da especificidade dos FvFcs recombinantes pelo antígeno CD3...........112
4.13 Adaptação da cultura de células CHO a baixos níveis de soro fetal bovino,
seleção de clones produtores estáveis e produção dos anticorpos humanizados
utilizando SFB low IgG..............................................................................................116
4.14 Purificação e quantificação dos FvFcs T e R produzidos pelos clones estáveis
com meio contendo soro fetal bovino low IgG...........................................................119
xiii
4.15 Análise da especificidade dos FvFcs R e T produzidos em meio com SFB low
IgG pelo antígeno CD3...............................................................................................123
Conclusão e Perspectivas......................................................................................................132
Referências Bibliográficas....................................................................................................135
Anexos....................................................................................................................................144
xiv
Índice de Figuras
Figura 1. Diagrama esquemático de uma molécula de IgG secretada.......................................4
Figura 2. Representação de uma anticorpo inteiro e dos fragmentos gerados após o
tratamento com pepsina (F(ab’)
2
) e com papaína (Fab)..............................................................5
Figura 3. Representação esquemática de diferentes formatos de fragmentos de anticorpos.....6
Figura 4. Representação de uma molécula de imunoglobulina em comparação com
fragmentos gerados por técnicas do DNA recombinante............................................................7
Figura 5. Dobramento de imunoglobulina.................................................................................8
Figura 6. Desenho esquemático das interações dos oligossacarídeos adicionados à cadeia
polipeptídica da região Fc de um anticorpo................................................................................9
Figura 7. Glicoformas apresentadas em IgGs............................................................................9
Figura 8. Interações entre anticorpos e FcγR...........................................................................11
Figura 9. Diagrama esquemático do complexo receptor de celular T (TCR)..........................16
Figura 10. Modelo proposto para sinalização precoce de células T mediante ligação do CD3
ao αβ TCR.................................................................................................................................17
Figura 11. Modos de ação mediados por anticorpos anti-CD3................................................18
Figura 12. Representação esquemática das técnicas de humanização de
anticorpos..................................................................................................................................22
Figura 13. Mecanismo de ação do sítio de entrada ribosomal interno (IRES, do inglês,
Internal Ribosome Entry Site) em um processo de tradução....................................................26
Figura 14. Alinhamento das seqüências de aminoácidos dos anticorpos anti-
CD3...........................................................................................................................................28
Figura 15. Análise de ligação direta dos scFvs recombinantes a linfócitos humanos.............30
Figura 16. Análise do ensaio de competição dos scFvs recombinantes na diluição 1/5 com o
anticorpo monoclonal anti-CD3-FITC pela ligação ao antígeno CD3 na superfície de
linfócitos....................................................................................................................................31
Figura 17. Alinhamento das seqüências de aminoácidos da cadeia leve (VL) dos anticorpos
anti-CD3....................................................................................................................................32
Figura 18. Representação esquemática do vetor pMIRES.......................................................83
Figura 19. Estratégia de construção do vetor pMIRES FvFc mur...........................................84
Figura 20. Seqüência codificadora do FvFc mur presente no vetor pMIRES FvFc mur.........86
Figura 21. Representação esquemática do gene dos FvFcs construídos..................................87
xv
Figura 22. Estratégia para construção do vetor pIg CD3 scFv T.............................................88
Figura 23. Confirmação da construção do vetor pIg CD3 scFv T...........................................89
Figura 24. Estratégia para construção do vetor pIg CD3 scFv R.............................................90
Figura 25. Estratégia para montagem das seqüências codificadoras dos FvFcs R e T............92
Figura 26. Representação esquemática da construção do plasmídio pMIRES FvFc (R ou
T)...............................................................................................................................................93
Figura 27. Análise de restrição do vetor pMIRES FvFc (R ou T)...........................................94
Figura 28. Produção dos FvFcs anti-CD3 e Anti-CD18 em células da linhagem CHO..........95
Figura 29. Níveis de produção dos anticorpos humanizados anti-CD3 e CD18 durante a
seleção das células transfectadas com o antibiótico geneticina
®
..............................................98
Figura 30. Níveis de expressão dos FvFcs recombinantes durante o cultivo em garrafas de
75cm
2
e 150 cm
2
.....................................................................................................................100
Figura 31. Análise das frações obtidas durante o processo de purificação dos FvFcs
humanizados............................................................................................................................102
Figura 32. Análise da purificação por cromatografia de afinidade dos FvFcs
humanizados............................................................................................................................103
Figura 33. Análise da purificação dos FvFcs humanizados anti-CD3 por Western Blot.......104
Figura 34. Análise de dispersão de leucócitos de sangue periférico de doador normal........106
Figura 35. Tripla marcação de linfócitos com os anticorpos anti-IgG humana-FITC e com os
anti-CD4 e anti-CD8 PE.........................................................................................................107
Figura 36. Análise de ligação dos FvFcs humanizados a linfócitos T humanos...................108
Figura 37. Análise do potencial mitogênico dos FvFcs humanizados T e R.........................111
Figura 38. Bloqueio da ligação do anticorpo anti-CD3 UCTH1 a linfócitos humanos.........113
Figura 39. Bloqueio da ligação do anticorpo monoclonal murino OKT3 a linfócitos
humanos..................................................................................................................................114
Figura 40. Níveis de produção dos anticorpos humanizados em diferentes concentrações de
soro fetal bovino......................................................................................................................117
Figura 41. Seleção de clones estáveis produtores dos FvFcs R e T humanizados.................119
Figura 42. Análise das frações obtidas durante o processo de purificação dos FvFcs
humanizados produzidos por clones estáveis em meio com SFB low IgG............................120
Figura 43. Análise da purificação por cromatografia de afinidade dos FvFcs humanizados
produzidos em cultura com SFB low IgG...............................................................................121
Figura 44. Análise da purificação dos FvFcs R e T produzidos em cultura com SFB low IgG
por Western Blot......................................................................................................................122
xvi
Figura 45. Análise de dispersão de leucócitos de sangue periférico de doador normal........123
Figura 46. Ensaio de bloqueio da ligação do anticorpo monoclonal murino OKT3-FITC...125
Figura 47. Alinhamento das seqüências de aminoácidos da cadeia leve do OKT3 e da cadeia
leve humanizada (hVL)...........................................................................................................128
Figura 48. Análise estrutural da cadeia leve murina do anti-CD3 utilizando o programa
Jmol.........................................................................................................................................129
xvii
Índice de Tabelas
Tabela 1. Anticorpos monoclonais aprovados nos EUA para uso terapêutico........................13
Tabela 2. Anticorpos monoclonais anti-CD3 terapêuticos em doenças imune-mediadas.......15
Tabela 3. Oligonucleotídeos sintéticos utilizados……….......……………………………….38
Tabela 4. Inibição da ligação do anticorpo OKT3-FITC a linfócitos humanos pelos FvFcs R e
T e pelo OKT3 não conjugado................................................................................................124
xviii
Lista de Abreviaturas
ADCC Citotoxicidade celular mediada por anticorpos
AICD Morte celular induzida por ativação
Amp
R
Gene de resistência à ampicilina (β-lactamase)
APS Persulfato de amônio
AOX1 Gene da álcool oxidase 1
BCIP 5-Bromo-4-Cloro-indolil fosfato
o
C Grau Celcius
CD Marcador de superfície celular (
Cluster of diferentiation)
cDNA Ácido desoxirribonucléico complementar
CDR Região determinante de complementariedade
CH Cadeia constante pesada de anticorpo
CHO Células de ovário de hamster chinês
CL Cadeia constante leve de anticorpo
C-Terminal Extremidade carboxi – terminal
Da Dalton
dH
2
O Água destilada
DNA Ácido desoxirribonucléico
DTT Ditiotreitol
EDTA Ácido etilenodiaminotetracético
ELISA Ensaio de ligação imunoenzimática
Fab Fragmento (de anticorpo) de ligação ao antígeno
FACS Fluorescence Activeted Cell Sorter
Fc Fragmento (de anticorpo) cristalizável (porção constante)
FcR Receptor de Fc
FDA Food and Drug Administration (EUA)
FITC Fluoresceína isotiocianato
FL Fluorescência
FR Arcabouço (Framework)
FSC Dispersão frontal (Forward scaterring)
Fv Fragmento (do anticorpo) varável
g Grama
xix
g Força gravitacional
h Hora
His4 Gene histidinol desidrogenase
Ig Imunoglobulina
IL Interleucina
ITAM Motivos de ativação baseados no imunoreceptor tirosina
ITIM Motivos de inibição baseados no imunoreceptor tirosina
kb Kilobase
kDa Kilodalton
L Litro
M Molar
mA Miliampère
mAb Anticorpo Monoclonal
mg Miligrama
MHC Complexo principal de histocompatibilidade
min Minuto
mL Mililitro
mM Milimolar
MM Massa Molecular
mRNA Ácido ribonucléico mensageiro
ms Milisegundo
NBT Nitro Blue Tetrazole
ng Nanograma
OD densidade ótica
OKT3 Anticorpo monoclonal anti-CD3 clone OKT3
ori Origem de replicação
p Peso
pb Par de base
PBMC Células mononucleares do sangue periférico
PBS Tampão salina fosfato
PCR Reação polimerásica em cadeia
PDB Protein Data Bank
PE Ficoeritrina
PEG Polietilenoglicol
xx
pH Potencial hidrogeniônico
ρmol picomol
PLCγ1 Fosfolipase Cγ1
PMSF Fluoreto de fenilmetilsulfonato
ptnA Proteína A de Staphylococcus aureus
RE Retículo endoplasmático
rpm Rotações por minuto
RNA Ácido ribonucléico
RNAase Ribonuclease
scFv Fragmento variável (de anticorpo) de cadeia única
SDS Sódio Duodecil Sulfato
SDS-PAGE Eletroforese em gel de poliacrilamida / SDS
SSC Dispersão lateral (Side scaterring)
TCR Receptor de Célula T
TEMED N,N,N`,N`- tetrametil etilenodimetilamina
Th Células T auxiliares
Treg Células T regulatórias
Tris Tri (hidroximetil) aminometano
U Unidade enzimática
UCTH Anticorpo monoclonal anti-CD3 do clone UCTH
UTR Região não traduzida do gene
UV Raios ultravioleta
v Volume
VH Domínio variável da cadeia pesada de um anticorpo
VL Domínio variável da cadeia leve de um anticorpo
µF Micro Faraday
µg Micrograma
µL Microlitro
µm Micrômetro
µM Micromolar
xxi
Resumo
O anticorpo anti-CD3 tem sido utilizado como imunoterápico na prevenção da rejeição
a órgãos transplantados e considerado um fármaco promissor para o tratamento de doenças
auto-imunes. Entretanto, o único anticorpo anti-CD3 utilizado para uso clínico aprovado pelo
FDA, o OKT3, possui origem murina o que gera uma resposta imunogênica quando
administrado, impossibilitando uma utilização prolongada e, assim, diminuindo sua eficácia.
Uma técnica que vem ao encontro da solução desse problema é a humanização de
anticorpos, que por meio de manipulações gênicas propicia um aspecto “mais humano” a essa
molécula, atenuando a resposta imunogênica desencadeada.
Nesse sentido, foi avaliada a atividade ligante e a função efetora de duas versões
humanizadas do anticorpo anti-CD3 apresentando o resíduo murino treonina (T) ou o resíduo
humano arginina (R) na posição 86 da cadeia variável pesada. Posição essa, considerada
importante estruturalmente.
Para expressão dos anticorpos humanizados foram construídos vetores de expressão
dicistrônicos, os quais foram utilizados para produção das imunoglobulinas em células de
mamíferos da linhagem CHO, de forma estável. Os anticorpos produzidos foram purificados
por cromatografia de afinidade para posterior análise da atividade ligante e da função efetora.
Os resultados indicam que os anticorpos humanizados são capazes de se ligar ao CD3 na
superfície de linfócitos. Contudo, são incapazes de bloquear completamente a ligação do
anticorpo murino OKT3 à superfície de linfócitos, em ensaios de competição. Em conjunto
com análises estruturais, esses dados indicam uma perda de afinidade das versões
humanizadas provavelmente devido à substituição de resíduos importantes estruturalmente na
cadeia leve humanizada.
As versões humanizadas também apresentam uma capacidade mitogênica menor que a
apresentada pelo OKT3, corroborando a perda de afinidade desses anticorpos.
Esses dados sugerem que os anticorpos humanizados são capazes de se ligar ao CD3
na superfície de linfócitos, mas o processo de humanização levou a uma diminuição da
afinidade original desses anticorpos. Nesse sentido, para se restabelecer a atividade ligante
dos anticorpos recombinantes sugerimos a realização de algumas mutações específicas para
com isso avaliar o seu futuro uso clínico.
xxii
Abstract
Anti-CD3 antibodies have been used for the prevention of organ allograft rejection
and are also considered a promising immunotherapic for autoimmune diseases treatment.
Currently, there is only one anti-CD3 antibody approved by FDA for clinical use, the OKT3.
Unfortunately, due to its murine origin, it promotes an immunogenic reaction when
administrated, limiting its long-term use and reducing the treatment effectiveness.
To solve this problem we have proposed humanized versions of this anti-CD3 to avoid
its immunogenic properties. In this work was evaluated the binding activity and effector
function of two humanized anti-CD3 antibodies. The first one has the murine residue
threonine (T) 86 VH position while the second version shows the human residue arginine (R)
at position 86 in VH. Modeling analysis indicated that this position is structurally important.
To express the recombinant antibodies we constructed a dicistronic expression vector
and produced the immunoglobulins in CHO cell lines. To analyze the binding activity and
effector function, the recombinant proteins were previously purified by affinity
chromatography. The results show that humanized antibodies were able to binding to the
human CD3 on the T lymphocyte surface. However, they weren’t able to completely block
OKT3 binding to T lymphocyte surface on competitive assays. Along with structural analysis,
this data indicate an affinity loss of humanized versions probably due the substitution of
important residues on humanized VL.
The humanized versions also presented a less mitogenic activity than that observed by
OKT3, corroborating the affinity loss of these antibodies.
These data suggest that the humanized antibodies are able to bind to human CD3, but
the humanization procedure caused a decrease on recombinant antibody affinity, compared
with OKT3. To restore the binding activity of these antibodies specific mutations and back
mutations must have to be taken in order to permit its future clinical use evaluation.
1
Introdução
2
Introdução
1.1 O SISTEMA IMUNE
Desde os primeiros relatos na Grécia antiga de que indivíduos contaminados com
determinadas doenças se tornavam refratários a uma segunda infecção, o estudo da
imunologia vem se tornado essencial para a medicina. A palavra imunologia surgiu do latin
immunis, que significa isento, dessa forma, eram denominadas imunes aquelas pessoas
refratárias à infecção com algumas doenças (Kindt et al., 2002).
Inicialmente, o sistema imune era classificado como um sistema de defesa presente
nos animais com o intuito de protegê-los contra microrganismos patogênicos. Atualmente o
sistema imune pode ser visto como um tipo de sistema de manutenção da homeostase do
indivíduo. Em termos fisiológicos, pode-se dizer que as células e as moléculas do sistema
imune agem no gerenciamento da inflamação garantindo a homeostase (Cohen, 2000b;
Cohen, 2000a).
A inflamação é classicamente definida como o processo ativado por uma injúria em
tecido vascularizado que leva a cicratização (Ebert, 1965). O sistema imune inicia e gerencia
a inflamação, mantém a saúde pela cura de feridas, contém patógenos, organiza a estrutura de
tecidos conectores, gerencia o crescimento (angiogênese) ou destruição de vasos sanguíneos,
ativa a regeneração de determinados órgãos, ativa a apoptose de células velhas, doentes ou
perigosas, degrada moléculas anormais acumuladas, elimina resíduos, além de outras
atividades vitais (Cohen, 2000b). Dessa forma, o sistema imune garante a integridade do
organismo em resposta às injúrias sofridas no seu convívio com o ambiente, às infecções, ao
acúmulo de produtos metabólicos e seus resíduos e a outras intoxicações. Desse modo, o
sistema imune nada mais é do que um sistema de manutenção da homeostase (Cohen, 2007).
O sistema imune pode mediar respostas, como por exemplo, a imunidade inata, sendo
a primeira linha de defesa contra infecções, e a imunidade adaptativa, que surge a partir da
ativação de linfócitos T ou B pelo encontro com o antígeno. Essa última tem por característica
responder à infecção por determinado antígeno com um alto grau de especificidade, podendo
ser subdividida em dois tipos: a imunidade mediada por células, a qual envolve os linfócitos T
e é responsável pela resposta a micróbios intracelulares, como vírus e algumas bactérias; e a
imunidade humoral, mediada por moléculas presentes no sangue e em mucosas, chamadas de
3
anticorpos. Os anticorpos são produzidos por células, denominadas linfócitos B. Essas
moléculas possuem a capacidade de reconhecer antígenos microbiais, de neutralizar a
infectividade de micróbios e marcá-los para eliminação por vários mecanismos efetores. A
imunidade humoral é a principal defesa contra micróbios extracelulares e suas toxinas porque
os anticorpos secretados podem se ligar a esses antígenos de forma específica e ajudar na sua
eliminação (Abbas e Lichtman, 2003).
1.2 OS ANTICORPOS
Os anticorpos (Ab) são glicoproteínas de massa molecular em torno de 150 kDa,
compostos por quatro cadeias polipeptídicas: duas cadeias leves (L) e duas cadeias pesadas
(H). As cadeias leve e pesada possuem a capacidade de se dimerizar devido à interações
hidrofóbicas, assim como, pela formação de pontes dissulfeto entre as cadeias. Esse
heterodímero irá se dimerizar com outro idêntico formando a molécula de anticorpo (Figura
1). Tanto as cadeias leves quanto as cadeias pesadas apresentam regiões amino-terminais
variáveis denominadas VL e VH respectivamente, e regiões carboxi-terminais constantes (C).
A cadeia leve possui um único domínio constante (CL), enquanto que a cadeia pesada é
composta de 3 ou 4 domínios constantes, dependendo da classe da imunoglobulina,
denominados de CH1, CH2 e assim por diante. Os domínios VH e VL formam o fragmento
variável (Fv), sendo responsável pela ligação ao antígeno. Já os domínios constantes CH2 e
CH3 formam o fragmento cristalizável (Fc) (Figura 1), envolvido diretamente com o
recrutamento de células do sistema imune que irão mediar a ativação de mecanismos efetores
que levaram a neutralização do antígeno. Dentre eles, podemos citar a degranulação, a
fagocitose, a citotoxicidade celular dependente de anticorpo (ADCC, do inglês, Antibody
Dependent Cell Cytotoxicity), a expressão de citocinas e a liberação de mediadores
inflamatórios (Janeway et al., 2001).
As cadeias das imunoglobulinas podem ser diferenciadas pelos seus isotipos. A cadeia
leve é subdividida nos isotipos κ e λ, enquanto que a cadeia pesada se subdivide em cinco
isotipos: α, δ, ε, γ e µ. Esses isotipos de cadeia pesada são utilizados para diferenciar as
classes de imunoglobulinas, sendo elas IgA, IgD, IgE, IgG e IgM, respectivamente. Em
humanos, os isotipos IgA e IgG ainda podem ser subdivididos em subclasses relacionadas, ou
subtipos, chamadas de IgA1 e IgA2, e IgG1, IgG2, IgG3 e IgG4. A classe mais comum e
abundante de anticorpo é a IgG, sendo também a mais utilizada para fins terapêuticos.
4
Figura 1. Diagrama esquemático de uma molécula de IgG secretada. (Adaptada de
(Abbas e Lichtman, 2003).
As cadeias variáveis leve e pesada possuem regiões de suma importância para ligação
ao antígeno, chamadas de região determinantes de complementariedade (CDR). Essas regiões
são caracterizadas por serem ilhas hipervariáveis em um arcabouço relativamente conservado.
A estrutura tridimensional dessa região é caracterizada pela formação de voltas (do inglês,
loops) que se complementam à estrutura do antígeno, possibilitando a ligação antígeno-
anticorpo (Paul, 2003). Ao todo são três CDRs em cada cadeia (CDR1, CDR2 e CDR3),
sendo que dessas três, a CDR3 é que apresenta a maior variabilidade e é classificada como a
mais importante na determinação da especificidade pelo antígeno (Abbas e Lichtman, 2003).
As imunoglobulinas podem ser divididas em diversos fragmentos. Uma molécula de
IgG ao ser clivada proteoliticamente por papaína na região da dobradiça gera duas moléculas
constituídas da cadeia leve ligada ao fragmento VH-CH1 da cadeia pesada. Essas moléculas
são chamadas de fragmento de ligação ao antígeno (Fab, do inglês, Fragment antigen
binding). Além disso, há a liberação do fragmento cristalizável (Fc) após a clivagem. Por sua
vez, quando o anticorpo é clivado por pepsina, a região Fc é degradada e um fragmento com
os dois Fabs ligados é gerado, formando um F(ab’)
2
. Esses fragmentos possuem alta
relevância na utilização para diagnósticos e no tratamento de doenças onde a função efetora
do anticorpo não é requerida (Holliger e Hudson, 2005) (Figura 2).
5
Figura 2. Representação de um anticorpo inteiro e dos fragmentos gerados após o
tratamento com pepsina (F(ab’)
2
) e com papaína (Fab)
(Www.Dartmouth.Edu/~Celllab/Pix/Fab.Jpg).
Além desses fragmentos, é possível por técnicas do DNA recombinante, manipulando
seqüências codificadoras dos fragmentos de anticorpos, gerar novas possibilidades de
fragmentos, esses emergindo como alternativas para utilização na clínica. Um dos formatos
mais populares é o scFv, o qual consiste no VH ligado ao VL por um linker polipeptídico
flexível ((Gly
4
Ser)
3,
por exemplo) onde se mimetiza a região Fv do anticorpo com a mesma
especificidade. Como vantagens, ele possui alto poder de penetrabilidade em tecidos (revisado
por (Holliger e Hudson, 2005), facilitando sua ação, por exemplo, dentro de tumores. Além
disso, por se tratar de uma construção monocistrônica, apresenta a característica de fácil
manipulação gênica e a estequiometria correta entre as cadeias variáveis leve e pesada é
assegurada. Outro aspecto é o fato de não possuir região Fc, contribuindo para tratamentos
onde a função efetora é indesejada. Além desse fragmento, podemos obter scFv bi-
específicos, onde dois scFvs são ligados, triabody onde três cadeias de VHs ligados
diretamente à VLs se conjugam formando três regiões de reconhecimento ao antígeno, dentre
outros (Figura 3).
6
Figura 3. Representação esquemática de diferentes formatos de fragmentos de
anticorpos. É mostrada a clássica molécula de IgG e uma variedade de fragmentos de
anticorpos, incluindo Fab, scFv e formatos multiméricos como Bis- scFv, diabodies,
triabodies, tetrabodies e multímetros de Fab conjugados quimicamente. (Adaptada de
(Holliger e Hudson, 2005).
Outra característica importante desses pequenos fragmentos é a sua rápida remoção da
circulação sangüínea do paciente. Se a estratégia de tratamento visa aumentar a meia vida do
fragmento no soro do paciente, geralmente se recorre à expressão do anticorpo completo.
Recentemente uma nova opção é a junção do scFv à região Fc formando o fragmento FvFc
(Andrade et al., 2000). Esse fragmento alia em parte as vantagens de um Ab inteiro, como
uma maior meia vida no soro do paciente (Kenanova et al., 2005) e a possibilidade de recrutar
as funções efetoras do sistema imune via Fc. E as vantagens de um scFv, como a facilidade de
manipulação gênica, visto que, o scFv com o Fc forma também um único cístron o que
garante novamente a estequiometria correta entre as cadeias variáveis leve e pesada. Esse
cístron é traduzido em uma única cadeia polipeptídica e processado no RE em um dímero,
mimetizando uma molécula de Ab inteira (Figura 4).
Em trabalho realizado por Andrade e colaboradores (2000) foi observado que
fragmentos do tipo scFv e FvFc retêm a capacidade de se ligarem especificamente ao
antígeno, sendo o poder de ligação da forma FvFc comparável ao anticorpo monoclonal
(mAb) do qual se originou. Devido a sua forma dimérica é esperado que o FvFc apresente
uma avidez similar ao de uma molécula de anticorpo inteiro.
7
Figura 4. Representação de uma molécula de imunoglobulina em comparação com
fragmentos gerados por técnicas do DNA recombinante. (Adaptada de (Holliger e Hudson,
2005).
No quesito estabilidade, estudos realizados in vitro utilizando agentes desnaturantes
mostram que esses fragmentos expressos de forma heteróloga na levedura metilotrófica
Pichia pastori, apresentam uma perda da estabilidade quando comparado com o anticorpo
inteiro (Andrade et al., 2005). Entretanto, experimentos realizados em camundongos com
FvFcs conjugados a compostos radioativos contra células tumorais indicam que essa molécula
retém a capacidade de ligação ao tumor, de biodistribuição e a meia vida similar ao do
anticorpo inteiro do qual se originou (Kenanova et al., 2005). Além desses dados, o fato de
tais fragmentos manipulados geneticamente serem capazes de se dobrar corretamente em
sistemas de expressão eucarióticos, de apresentarem uma relativa estabilidade conformacional
e de preservarem a atividade específica de seu paratopo contra o antígeno comparável ao do
anticorpo inteiro sugerem que fragmentos recombinantes de anticorpos podem ser usados na
maioria dos processos biológicos que envolvam anticorpos convencionais (Andrade et al.,
2005).
Toda essa versatilidade de manipulação dos domínios da molécula de imunoglobulina
deve-se ao arranjo estrutural que garante grande estabilidade a essas moléculas. A unidade
estrutural central dos anticorpos é chamada de dobramento de imunoglobulina (dobramento
Ig). Esse dobramento é composto de dois “sanduíches” de folhas β antiparalelas. Cada folha β
pode apresentar uma composição estrutural diferente dependendo do domínio usado pela
molécula. Nos domínios variáveis a conformação consiste de nove fitas antiparalelas, com
cinco na primeira folha β e quatro, na segunda. Já os domínios constantes apresentam sete
fitas antiparalelas sendo três na primeira folha e quatro, na segunda (Figura 5). Apesar das
diferenças conformacionais, esses domínios compartilham resíduos de cisteína que
possibilitam a formação de pontes dissulfeto ligando as duas folhas β do “sanduíche”. Essas
pontes dissulfeto fornecerão a estabilidade característica do dobramento de imunoglobulina
(Paul, 2003). Essas particularidades possibilitam a manutenção da conformação
8
tridimensional dos fragmentos de anticorpos e de suas funções. Devido à sua estabilidade, a
estrutura do dobramento Ig se conservou evolutivamente e é compartilhada por diversas
proteínas, como por exemplo, diversos receptores de membrana, complexo principal de
histocompatibilidade (MHC, do inglês, Major Hiscompatibility Complex), dentre outros
(Abbas e Lichtman, 2003).
Figura 5. Dobramento de imunoglobulina. (a) Diagrama de uma cadeia leve demonstrando
o dobramento de Ig dos domínios constante e variável. As duas folhas β em cada domínio são
mantidas unidas por interações hidrofóbicas e por pontes dissulfeto conservadas. (b) As folhas
β pregueadas estão abertas para revelar a relação entre as fitas individuais e os loops de
ligação. CDR, regiões determinantes de complementariedade (Kindt et al., 2002).
As moléculas de imunoglobulinas são classificadas como glicoproteínas devido ao seu
processamento pós-traducional, onde ocorre a adição de resíduos de açúcares na sua estrutura.
Todos os anticorpos possuem carboidratos em posições conservadas das regiões constantes
das cadeias pesadas, sendo que cada classe apresenta um arranjo específico de açúcares N-
ligados (o açúcar está ligado ao nitrogênio da amida de uma asparagina), resultando no
dobramento, secreção e função da proteína (Wright e Morrison, 1997).
As imunoglobulinas dos tipos A e D (IgA e IgD) são as únicas que possuem
carboidratos O-ligados (o açúcar está ligado ao grupo hidroxila da serina ou treonina via N-
acetilgalactosamina ou ao grupamento hidroxila da hidroxilisina via galactose). O ponto de
9
glicosilação melhor estudado em IgGs é o resíduo asparagina 297 presente no domínio CH2
da cadeia pesada. Estudos cristalográficos (Deisenhofer, 1981) mostram que os dois domínios
CH2 não interagem entre si por contatos protéicos, mas sim por uma região intersticial
formada por oligossacarídeos onde interações proteína – oligossacarídeos e oligossacarídeos-
oligossacarídeos mantêm a geometria relativa dos domínios CH2 (Rudd et al., 2001) (Figura
6).
Figura 6. Desenho esquemático das interações entre oligossacarídeos adicionados à
região Fc de um anticorpo (Radaev e Sun, 2001).
Essa cadeia lateral de açúcar consiste de uma estrutura central conservada formada por
um heptassacarídeo com duas ramificações contendo manose e N-acetilglicosamina (Glcnac).
A esse arcabouço central, ocorrem adições variáveis de resíduos terminais e laterais como de
fucose, Glcnac, até dois resíduos de galactose e eventualmente a adição de resíduos de ácido
siálico (Arnold et al., 2007) (Figura 7). A glicosilação da porção Fc do anticorpo possui papel
fundamental no desempenho das funções efetoras dessa molécula (Rudd et al., 2001).
Figura 7. Glicoformas apresentadas em IgGs. A estrutura básica (IgG-G0) é normalmente
composta de Asn297-Nδ2-GlcNAc (fucose)-GlcNAc-manose-(manose-GlcNAc)
2
, onde
GlcNAc é N-acetilglicosamina. As variações presentes em algumas glicoformas incluem a
ligação de uma (IgG – G1) ou duas (IgG – G2) unidades de galactoses terminais, a ligação de
ácido siálico à galactose terminal e/ou a ligação de um terceiro braço com GlcNAc (Native).
(Adaptado de (Nimmerjahn e Ravetch, 2008).
10
1.3 OS RECEPTORES Fc
O reconhecimento dos resíduos de açúcar na porção Fc de imunoglobulinas e o
desencadeamento das funções efetoras nas células do sistema imune são dependentes de uma
classe de receptores chamados de receptores Fc (FcR, do inglês, Fc Receptors). Em
mamíferos, foram definidas quatro classes desses receptores para imunoglobulinas do isotipo
IgG, FcγRI (CD64), FcγRII (CD32), FcγRIII (CD16) e FcγRIV, os quais irão controlar a
progressão ou o término da resposta imune (Nimmerjahn e Ravetch, 2006). Esses receptores
são amplamente expressos por todo sistema hematopoiético (Paul, 2003). Por exemplo,
células da resposta inata como monócitos, macrófagos, neutrófilos, células dendríticas,
basófilos e mastócitos expressam FcγRs ativadores e inibitórios. Dentre os linfócitos, estudos
iniciais indicaram que certas subpopulações de células T poderiam apresentar FcγR, fato
contestado por Takai e colaboradores (2002). Já em linfócitos B, há somente a presença de
receptores inibitórios FcγRIIB. Outra célula que apresenta um único tipo de FcγR são as
células NK (Natural Killer) nas quais são expressos apenas receptores ativadores FcγRIII. O
FcγRIIB expresso em células B age como um importante regulador dos sinais ativadores que
são transmitidos pelo receptor de célula B (BCR, do inglês, B cell receptor). Em
contrapartida, a falta de um FcγR inibitório em células NK sugere que essas células podem ser
potentes mediadores da citotoxicidade celular dependente de anticorpos (ADCC)
(Nimmerjahn e Ravetch, 2008).
Tradicionalmente, as famílias dos FcγRs são categorizadas de acordo com o grau de
afinidade do receptor à subclasses de IgG e pela via de sinalização por ele desencadeada, seja
ela uma via inibitória ou ativadora (Hulett e Hogarth, 1994; Paul, 2003). O FcγRIIB é o único
receptor inibitório conhecido. Ele transmite os sinais inibitórios via um motivo inibitório
chamado de ITIM (do inglês, Immunoreceptor Tyrosine-based Inhibitory Motif) contido na
região citoplasmática do receptor. Todos os outros receptores ativam as vias de sinalização
via motivos ativadores chamados de ITAMs (do inglês, Immunoreceptor Tyrosine-based
Activation Motif).
O FcγRI é o único receptor conhecido com alta afinidade, os demais receptores
possuem uma afinidade de 100 a 1000 vezes menor (Paul, 2003). Essa baixa afinidade da
maioria dos FcγR desempenha um papel importante, já que ela previne a ligação a moléculas
de anticorpos monoméricas presentes em altos níveis na circulação, impedindo, assim, uma
potencial ativação inespecífica de respostas pró-inflamatórias (Nimmerjahn e Ravetch, 2008).
Havendo o reconhecimento de Fcs de imunoglobulinas em um contexto favorável, ou seja,
11
com vários anticorpos ligados ao antígeno expondo seus Fcs, ocorrerá o desencadeamento da
via de sinalização.
Assim como os anticorpos, os receptores Fc são glicoproteínas. Dados recentes
sugerem uma possível associação entre a ligação do receptor aos fragmentos Fc e o nível de
glicosilação do receptor. Um exemplo é o caso do FcγRIIIA, na qual o açúcar ligado a
asparagina 162 pode ser responsável por reconhecer a presença de resíduos de fucose (Figura
8). Observou-se que a forma glicosilada desse receptor apresenta alta afinidade por
fragmentos Fc que não possuem o resíduo de fucose. Já o mesmo receptor não glicosilado foi
incapaz de detectar essas diferenças (Ferrara et al., 2006), indicando a existência de uma
possível correlação entre o grau de glicosilação dos FcγRs e a afinidade desses receptores por
fragmentos Fcs.
Figura 8. Interações entre anticorpos e o FcγR. a- Estrutura dos domínios extracelulares
D1 e D2 do receptor FcγRIIIA (em verde) se ligando às duas cadeias pesadas de uma IgG1
humana. b- Visão aproximada das cadeias de açúcar presentes nas duas cadeias pesadas. O
resíduo Asn-297 da cadeia pesada do anticorpo e o resíduo Asn-162 do FcγRIIIA, contendo
um açúcar ligado ao FcR, estão marcados. A estrutura do açúcar adicionado à cadeia pesada
do anticorpo é mostrada com ênfase na ramificação de fucose que possivelmente age
desestabilizando a ligação junto ao Asn-162 diminuindo a estabilidade da ligação. (Adaptada
de (Nimmerjahn e Ravetch, 2008).
Além dos resíduos de açúcar presentes nos FcγRs, a glicosilação presente nos
fragmentos Fc é vital para a ligação do anticorpo ao FcγR. A deleção desses grupos provoca
mudanças estruturais na região Fc que resultam na diminuição significativa da ligação aos
FcRs (Arnold et al., 2007). Outras variações na glicosilação das imunoglobulinas também
impactam na sua ligação ao FcγR e na atividade do anticorpo in vivo. A presença de
12
ramificações com resíduos como fucose e Glcnac na estrutura central heptassacarídica tem
papel determinante na atividade dos anticorpos in vitro e in vivo (Shields et al., 2002;
Shinkawa et al., 2003; Ferrara et al., 2006). Conforme citado anteriormente, a falta do resíduo
de fucose aumenta a afinidade de todas as subclasses de IgG pelo receptor ativador FcγRIIIA
de 10 a 50 vezes. Esses dados são de alta relevância na engenharia de anticorpos terapêuticos.
Em anticorpos onde há interesse de uma alta citotoxicidade, por exemplo, no caso do
tratamento de cânceres, a manipulação para retirada do resíduo de fucose pode ser
interessante. O fato da perda desse resíduo gerar uma maior afinidade pelo receptor de Fc
sugere que anticorpos terapêuticos que utilizam a ADCC podem, em doses menores, atingir
resultados na clínica similares à altas doses de anticorpos fucosilados (Shields et al., 2002).
1.4 OS ANTICORPOS NA CLÍNICA
Nos últimos 20 anos, a utilização de anticorpos monoclonais para fins terapêuticos
vem revolucionando o tratamento de diversas enfermidades. Desde a aprovação pelo FDA
(Food and Drug Administration – EUA), em 1986, do anticorpo murino anti-CD3, Orthoclone
OKT3, para o tratamento da rejeição aguda do transplante de rins e subseqüentemente para o
tratamento da rejeição de transplantes cardíacos e hepáticos (Li et al., 2005), o mercado de
anticorpos monoclonais vem crescendo a passos largos. Em 2004, existiam 18 anticorpos
aprovados pelo FDA no mercado (tabela 1), variando entre murinos, quiméricos,
humanizados e totalmente humanos. Nessa época, previa-se que mais 16 novos produtos no
mercado até 2008 (Reichert, 2004), dos quais quatro se confirmaram, o Eculizumab (2007), o
Natalizumab (2004), o Panitumumab (2006) e o Renibizumab (2006), sendo três humanizados
e um totalmente humano (
http://en.wikipedia.org/wiki/Monoclonal_antibody_therapy). Entre
os anos de 2001 e 2002, o mercado de anticorpos monoclonais cresceu 37, 5% chegando a um
patamar de US$ 5,4 bilhões. Essa taxa de crescimento vem se mantendo, apresentando dados
de vendas globais para o ano de 2006 em torno de US$ 20,6 bilhões (Maggon, 2007).
Quando comparada ao início, a indústria biotecnológica apresenta um crescimento
robusto dos investimentos em engenharia de anticorpos, desenvolvendo outros tipos de
moléculas, como os fragmentos de anticorpos e imunoconjugados (Presta, 2006). Nesse
sentido, o desenvolvimento de novas imunoglobulinas recombinantes tornou-se peça chave no
tratamento de diversas doenças, visto que a sua especificidade característica faz com que
sejam consideradas como “balas mágicas” atuando em um alvo específico, assim, aumentando
a eficiência do tratamento.
13
Tabela 1. Anticorpos monoclonais aprovados nos EUA para uso terapêutico*
Nome
(Genérico)
Molécula
Alvo
Tipo Doença
indicada
Categoria
Terapêutica
Empresa Data de
Aprovação
OKT3
(Muromonab-
CD3)
CD3 Murino Rejeição de
Transplantes
Imunológica Johnson &
Johnson
19.06.1986
ReoPro
(Abciximab)
CA17-1ª Quimérico PTCA Homeostase Centocor
22.12.1994
Panorex
(edrecolomab)
GPIIb/IIIa Quimérico Câncer coloretal Anti-
Neoplástica
Centocor
1995
Rituxan
(Rituximab)
CD20 Quimérico Linfoma de Non-
Hodgkins
Anti-
Neoplástica
Biogen
IDEC
26.11.1997
Zenapax
(Daclizumab)
IL2R Humanizado Rejeição de
Transplantes
Imunológica Protein
Design Labs
10.12.1997
Simulect
(Basiliximab)
IL2R Quimérico Rejeição de
Transplantes
Imunológica Novartis
12.05.1998
Synagis
(Palivizumab)
RSV F Humanizado Profilaxia de RSV Anti-infectivo MedImmune
19.06.1998
Remicade
(Infliximab)
TNF-α Quimérico Artrite reumatóide
e doença de Crohn
Imunológica Centocor
24.08.1998
Herceptin
(Trastuzumab)
Her2/neu Humanizado Metástase de
câncer de mama
Anti-
Neoplástica
Genentech
25.09.1998
Mylotarg
(Gemtuzumab
ozogamicin)
CD33 Humanizado Leucemia mielóide Anti-
Neoplástica
Wyeth
17.05.2000
Campath
(Alemtuzumab)
CD52 Humanizado Leucemia
linfocítica
Anti-
Neoplástica
Millennium/
ILEX
07.05.2001
Zevalin
(Ibritumomab
tiuxetan)
CD20 Murino Linfoma de Non-
Hodgkins
Anti-
Neoplástica
Biogen
IDEC
19.02.2002
Humira
(Adalimumab)
TNF-α Humano Artrite reumatóide
e doença de Crohn
Imunológica Abbott
31.12.2002
Xolair
(Ornalizumab)
IgE Humanizado Asma Imunológica Genentech
20.06.2003
Bexxar
(Tositumomab-I
131)
CD20 Murino Linfoma de Non-
Hodgkins
Anti-
Neoplástica
Corixa
27.06.2003
Raptiva
(Efalizumab)
CD11a Humanizado Psoríase Imunológica Genentech
27.10.2003
Erbitux
(Cetuximab)
EGFR Quimérico Câncer coloretal Anti-
Neoplástica
Imclone
Systems
12.02.2004
Avastin
(Bevacizumab)
VEGF Humanizado Câncer coloretal,
renal.
Anti-
Neoplástica
Genentech
26.02.2004
Tysabri
(Natalizumab)
Integrina
A4
Humanizado Doença de Crohn e
esclerose múltipla
Imunológica Biogen
IDEC
23.11.2004
Lucentis
(Renibizumab)
VEGF-A Humanizado Degeneração
macular
Anti-
Neoplástica
Genentech
30.06.2006
Vectibix
(Panitumumab)
EGFR Humano Câncer coloretal Anti-
Neoplástica
Amgen 27.09.2006
Soliris
(Eculizumab)
C5 Humanizado Paroxysmal
hemoglobinúria
(PNH)
Imunológica Alexion
Pharm
16.03.2007
*Adaptado de (Reichert, 2004; Kim et al., 2005)
14
1.5 O ANTICORPO ANTI-CD3
Dentre os anticorpos terapêuticos utilizados na clínica o OKT3 se destaca. Ele vem
sendo largamente usado na prevenção da rejeição de órgãos transplantados.
Com o advento da produção de versões humanizadas de anticorpos CD3 específicos
com regiões Fc mutadas e a demonstração que o tratamento de curto tempo com anticorpos
monoclonais CD3 específicos pode induzir um estado de tolerância operacional (estado de
tolerância a um determinado antígeno que é sustentado sem o uso de imunossupressores)
novas aplicações clínicas têm emergido para essa molécula. Como exemplo podemos citar o
tratamento da diabetes Tipo 1 autoimune (Herold et al., 2005), psoríase e diversas doenças
inflamatórias e autoimunes (Tabela 2) (Utset et al., 2002). Em modelos murinos, anticorpos
anti-CD3 específicos vêm sendo usados na prevenção da rejeição de transplante do coração
(Plain et al., 1999), da GVHD aguda (do inglês, Graft Versus Host Disease) (Blazar et al.,
1997), da encefalomielite auto-imune experimental (EAE, do inglês, experimental
autoimmune encephalomyelitis) (Kohm et al., 2005), na artrite induzida por colágeno (Hughes
et al., 1994) e em doenças inflamatórias intestinais (colite ulcerativa e doença de Crohn)
(Ludviksson et al., 1997). Em humanos, testes clínicos de fase I e II em pacientes com artrite
psorítica mostram que o anticorpo humanizado anti-CD3 não ligante a receptor Fc,
teplizumab, reduziu a inflamação das articulações e a dor em pacientes com a doença em
estágio avançado (Utset et al., 2002). Além disso, um teste clínico está em andamento em
pacientes com colite ulcerativa e outros estão planejados para serem realizados em pacientes
com esclerose múltipla, psoríase e em transplante de órgãos (Chatenoud e Bluestone, 2007).
Atualmente, os anticorpos anti-CD3 são representantes de uma nova categoria de agentes
imunoterapêuticos, podendo promover a cura de auto-imunidades estabelecidas ou permitir
uma sobrevida duradoura de órgãos transplantados (Chatenoud, 2003).
15
Tabela 2. Anticorpos monoclonais anti-CD3 terapêuticos em doenças imune-mediadas. *
Doença Pré-Clínico Clínico
Modelo Anticorpo Teste Anticorpo
Doenças
inflamatórias
intestinais
Camundongo
com colite
induzida por
TNP-KLH
Parenteral 145-
2C11(anticorpo
anti-CD3 de
camundongo)
Tratamento da doença
de Crohn
Anticorpo
humanizado
Visilizumab
EAE em ratos
G4.18 (anticorpo
anti-CD3 de
ratos)
Doenças
neurológicas
mediadas pelo
sistema imune
EAE em
camundongos
145-2C11 ou
145-2C11
F(ab`)
2
Até o momento não há testes clínicos
Artrite
inflamatória
mediada pelo
sistema imune
Artrite
induzida por
colágeno em
camundongos
145-2C11
F(ab`)
2
Tratamento da artrite
psorítica
Anticorpo
humanizado
Teplizumab
Tratamento da rejeição
aguda ao transplante
renal
Anticorpo
humanizado
Teplizumab
Prevenção da rejeição
do transplante de
ilhotas pancreáticas
Anticorpo
humanizado
Teplizumab
Rejeição de
órgãos
transplantados
Indução de
tolerância ao
transplante do
coração em
ratos
G4.18
Tratamento da rejeição
aguda ao transplante
renal
Anticorpo
humanizado
ChAglyCD3
GVHD
Prevenção da
GVHD
145-2C11 ou
145-2C11
F(ab`)
2
Tratamento da GVHD
aguda refratária a
esteróides.
Anticorpo
humanizado
Vizilizumab
EAE, encefalomielite auto-imune experimental;GVHD, Graft-Versus-Host disease; TNP-
KLH, 2,4,6-trinitrophenol congugated keyhole limpet haemocyanin. *Adaptado de
(Chatenoud e Bluestone, 2007).
A molécula alvo do OKT3, o CD3, faz parte de um complexo de fundamental
importância para a resposta imune adaptativa, o complexo receptor de célula T (TCR, do
inglês, T Cell Receptor). Esse complexo é formado pelo próprio TCR e pelas moléculas
acessórias CD3 e cadeias ζ (Figura 9). O TCR é responsável pelo reconhecimento de
peptídeos antigênicos apresentados por moléculas chamadas complexo principal de
histocompatibilidade (MHC, do inglês, Major Histocompatibility Complex), presentes na
superfície de todas as células humanas. Após o reconhecimento do antígeno pelo TCR, ocorre
a fosforilação dos domínios ITAMs presentes no CD3 e nas cadeias ζ, sendo esse o ponto de
partida para o desencadeamento de uma cascata de transdução de sinal que pode acarretar na
16
ativação e proliferação dessas células, e, assim, desempenhar as suas funções efetoras, como a
produção de citocinas, como por exemplo IL-2 e citotoxicidade celular.
CD3
Figura 9. Diagrama esquemático do complexo receptor de celular T (TCR). Ele é
constituído pelo TCR, cadeias ζ e pelo complexo CD3. As regiões carboxi-terminais das
cadeias ζ do CD3 apresentam uma seqüência comum chamada de ITAM (do inglês,
Immunorecptor Tyrosine-based Activation Motif), que agirá no processo de transdução de
sinal (Kindt et al., 2002). FIGURE
Ao se ligarem ao complexo CD3, os anticorpos específicos para CD3 mediarão uma
cascata de transdução de sinal diferenciada daquela observada quando há o correto
engajamento do complexo TCR. Estudos realizados com anticorpos anti-CD3 não ligantes a
FcR mostram que a sua ligação ao TCR provoca uma fosforilação parcial das cadeias ζ, do
CD3 e de seus alvos subseqüentes acarretando no bloqueio da expressão de IL-2 e de sua
proliferação (Smith et al., 1998). Diferentemente da ativação de células T por complexos
MHC-antígeno, anticorpos anti-CD3 não ligantes a FcR não promovem o aumento de cálcio
intracelular e não possibilitam a ativação de ras. Foi observado que a ligação do anti-CD3
permite a ativação preferencial da proteína quinase fyn, pertencente à família src, mas não da
quinase lck, levando a sinalização parcial que permite a inativação das células T (Smith et al.,
1998).
17
Estudos estruturais revelam uma ligação lateral oblíqua entre o OKT3 e a molécula
CD3 (Figura 10). De acordo com o modelo proposto, essa ligação promoveria um
deslocamento molecular diferente do observado na correta estimulação do complexo TCR
(Figura 10, setas laranja). Esse arranjo aumenta a possibilidade de uma mudança
conformacional no complexo TCR-CD3, podendo ser o modo de iniciação da sinalização da
célula T mediado por anticorpos anti-CD3 (Kjer-Nielsen et al., 2004).
Figura 10. Modelo proposto para sinalização precoce de células T mediante ligação do
CD3 ao αβ TCR. (a) Modelo de sinalização após a ligação de antígeno ao TCR, onde ocorre
um deslocamento vertical do CD3 e assim desencadeando uma cascata de transdução de sinal.
(b) Dinâmica de ligação do OKT3 ao CD3 mostrando a mudança no padrão de deslocamento
do CD3 e alteração na iniciação da sinalização da célula T (Kjer-Nielsen et al., 2004).
A sinalização diferencial gerada pelos anticorpos anti-CD3 junto ao complexo TCR é
responsável pelos efeitos observados durante o tratamento com esse imunobiológico. Diversos
mecanismos já foram descritos na literatura para explicar a sua forma de ação, entretanto, esse
ainda é um assunto controverso. No caso do OKT3, ao se ligar ao CD3, ele pode mediar a
depleção de células T dependente do sistema complemento ou uma citotoxicidade celular
dependente de anticorpo (ADCC). Pode também, redirecionar a lise celular dependente de
célula T após a ligação a uma célula alvo e a uma célula T citotóxica, simultaneamente
(Figura 11) (Wong e Colvin, 1991). A indução de apoptose através de uma transdução de
sinal direta (particularmente em células T ativadas) foi mostrada in vitro e pode operar in vivo
(Carpenter et al., 2000). Pode haver ainda uma depleção de células T por morte celular
induzida por ativação (AICD, do inglês, Activated Induced Cell Death) ou pelo
18
desenvolvimento de um estado de irresponsividade ao estímulo chamado de anergia clonal
(Smith et al., 1997).
Figura 11. Modos de ação mediados por anticorpos anti-CD3. Anticorpos CD3 específicos
agem por meio de quatro mecanismos não mutuamente exclusivos: Revestimento da célula (a,
cell coating); Depleção das células (b, cell depletion); Internalização do TCR (c, T-cell
receptor (TCR) down-modulation); e sinalização celular (d, cell signalling). ADCC –
citotoxicidade celular dependente de anticorpo; AICD, Morte celular induzida por ativação;
IL-4, interleucina-4; NK, natural killer; TGF-β, fator de crescimento transformante – β.
Adaptada de (Chatenoud, 2003).
As células T não eliminadas fisicamente podem perder completamente a expressão da
molécula CD3 e conseqüentemente do receptor de célula T ligado (TCR) (Figura 11)
(Chatenoud et al., 1982). Esse fenômeno é resultante da internalização do CD3 mediada pelo
anticorpo, e do catabolismo ou da reciclagem do TCR-CD3 alvo. Isso não afeta a expressão
de outros marcadores principais de células T. Desta forma, células negativas para o complexo
TCR-CD3 mas positivas para CD4 e CD8 podem ser detectadas em pacientes tratados com
anticorpos CD3 específicos (Chatenoud et al., 1982). Essas células são “cegas” para antígenos
e imunoincompetentes tanto in vitro como in vivo, conforme observado pela imunossupressão
19
generalizada que é alcançada por pacientes transplantados renais que receberam tratamento
com OKT3 (Vigeral et al., 1986).
Recentemente, alguns estudos têm mostrado que os anticorpos CD3 específicos são
capazes de induzir o surgimento de um tipo muito peculiar de célula T. É relatado que o
tratamento com anti-CD3 induz o surgimento de células T regulátorias CD4
+
CD25
+
(Belghith
et al., 2003) e CD8
+
CD25
+
(Bisikirska et al., 2005) que suprimem respostas imunes.
Atualmente, existem diversas evidências da importância de células T CD4
+
expressando
CD25 (cadeia α do receptor de interleucina 2, citocina com papel vital no início da resposta
imune inflamatória) e também o fator de transcrição FoxP3 na manutenção da tolerância ao
próprio e no controle de diversas respostas imunes (Roncarolo et al., 2006; Shevach et al.,
2006).
Experimentos utilizando anticorpos anti-CD3 não ligantes à FcRs em camundongos
diabéticos não obesos (NOD, do inglês, Non-obese Diabetic), um modelo clássico de diabetes
autoimune, mostram um aumento no número de células Tregs adaptativas dependentes do
fator de crescimento transformante β (TGF-β, do inglês, Transforming Growth Factor- β)
(You et al., 2007). O TGF-β é uma citocina que possui como principal ação inibir respostas
imunes e inflamatórias, podendo assim, estar diretamente envolvida na indução de um
contexto regulador. Nesse trabalho, foi realizado um experimento onde células T CD25
-
foram transferidas para camundongos NOD imunocomprometidos para induzir diabetes. Após
o seu desenvolvimento da doença, os camundongos foram tratados com o anticorpo anti-CD3,
que levou a recuperação dos camundongos e o surgimento de células CD25
+
. Células T CD4
+
isoladas dos camundongos recuperados apresentaram uma produção significamente maior de
TGF-β e interleucina-10 (IL-10, citocina predominantemente reguladora) quando comparados
àqueles que não obtiveram sucesso no restabelecimento da glicemia (You et al., 2007).
Portanto, o desenvolvimento de células T regulatórias adaptativas após o tratamento com
anticorpos anti-CD3 pode ser o mecanismo envolvido na indução da tolerância operacional
observada em testes clínicos realizados com esse anticorpo. Um exemplo é o ensaio clínico de
fase I/II com humanos portadores de diabetes autoimune. Observou-se que o tratamento com
uma versão humanizada do OKT3 não ligante a FcR durante 14 dias consecutivos resulta em
uma melhora dos parâmetros clínicos por até 2 anos, acompanhada pela redução da
necessidade de insulina por esses pacientes quando comparados aos controles (Herold et al.,
2005). Esse é, portanto, mais um indício de que o desenvolvimento de Tregs após o
tratamento com anticorpos anti-CD3 esteja envolvido com os efeitos em longo prazo
alcançados com esse tratamento.
20
Apesar de todas as suas vantagens, o único anticorpo anti-CD3 aprovado para uso
clínico, o OKT3, possui algumas limitações. O caráter murino da molécula gera o
desenvolvimento de uma resposta imunogênica, pelo paciente, denominada resposta
anticorpos humanos anti-murinos (HAMA, do inglês, Human Anti-Mouse Antibody). Essa
resposta acarreta a produção de imunoglobulinas (principalmente IgM e IgG) contra
anticorpos de outro organismo promovendo uma rápida remoção e neutralização do OKT3 e,
assim, reduzindo sua eficácia (Li et al., 2005). Análises imunoquímicas mostram uma
resposta restrita, consistindo de anticorpos específicos contra o isotipo do OKT3 (IgG2a) e
contra determinantes idiotípicos (presentes no sítio de ligação ao antígeno) (Chatenoud et al.,
1986). A conseqüência prática dessa especificidade restrita é que os pacientes imunizados
com o OKT3 tornam-se responsivos a uma segunda administração, bloqueando a sua ação e
restringindo a sua administração além do período em que o transplante foi realizado.
O uso do OKT3 em associação com imunossupressores convencionais tem sido a
estratégia adotada para diminuir a resposta HAMA. A adição de corticosteróides e azatioprina
reduz a freqüência de sensibilização ao OKT3 de 95% para 40%. Já a adição de ciclosporina
promove uma redução mais drástica da resposta HAMA, diminuindo sua freqüência para
20%, e, na maioria dos casos, os anticorpos produzidos não afetam a eficácia do OKT3
porque surgem somente no final do tratamento com OKT3 (Hricik et al., 1990).
Outra limitação do OKT3 é a sua mitogenicidade. Ensaios realizados in vitro mostram
que esses anticorpos induzem a proliferação de células T e a produção de citocinas (Van
Wauwe et al., 1980). In vivo, essa atividade mitogênica permite a liberação em larga escala de
citocinas, incluindo citocinas derivadas de células T horas após a primeira injeção do
anticorpo (Ferran et al., 1990). Essa liberação inclui citocinas inflamatórias, como TNF,
produzidas por células T e não por macrófagos (Ferran et al., 1994). Entretanto, essa
capacidade mitogênica do OKT3 é dependente de macrófagos/monócitos e envolve a
produção de IL-6 e IL-1 (citocinas pró-inflamatórias) por esse tipo celular (Chatenoud, 2003).
Essa ativação da expressão de citocinas está correlacionada com a capacidade da porção Fc do
anticorpo interagir com os receptores Fc presentes nos fagócitos e em células natural killer.
Apesar de ser um evento transiente, essa liberação de citocinas causa uma síndrome
semelhante a uma pneumonia, caracterizada por febre, calafrios, dores de cabeça, náusea,
vômito, diarréia, insuficiência respiratória, meningite séptica e hipotensão (Sgro, 1995).
Similarmente a liberação de citocinas, essa síndrome é auto-limitante e desaparece em torno
do segundo ao terceiro dia de tratamento.
21
1.6 A ENGENHARIA DE ANTICORPOS
Diante dos problemas relacionados à origem murina do OKT3, a utilização da
engenharia de anticorpos pode ser a chave para a solução desses entraves na utilização de
anticorpos originados de camundongos. Atualmente, existem fortes evidências de que
anticorpos humanizados são menos imunogênicos em relação aos anticorpos murinos
originais (Chatenoud, 2003). A humanização de anticorpos propõe que por meio de técnicas
de biologia molecular possa se conferir um “aspecto humano” ao anticorpo, tornando-os
similares aos anticorpos circulantes no soro de seres humanos e assim diminuindo a resposta
imune montada contra essas moléculas.
Um dos primeiros métodos empregados para humanizar um anticorpo consiste na
construção de seqüências gênicas codificadoras da região de ligação ao antígeno (Fv) do
camundongo ligada a domínios constantes de imunoglobulinas humanas, com isso formando
anticorpos quiméricos, nos quais o número de resíduos de aminoácidos murinos é
significativamente menor (Figura 12). Contudo, o fato de possuírem resíduos murinos ainda
os torna imunogênicos. Nos últimos anos, procura-se obter anticorpos humanizados com o
mínimo de resíduos de aminoácidos murinos em toda seqüência do anticorpo. A partir de
então foi proposta a técnica de transplante de CDR (CDR grafting) que consiste em
transplantar os três CDRs da seqüência codificadora do anticorpo murino para um arcabouço
(framework) de um anticorpo humano, por manipulação gênica (Figura 12) (Maranhão e
Brigido, 2001).
Há diferentes estratégias para se humanizar um anticorpo. Os primeiros anticorpos
propostos eram construídos baseados em seqüências humanas de cristais cujas estruturas eram
conhecidas, permitindo a identificação de resíduos que poderiam contribuir para a ligação ao
antígeno (Riechmann et al., 1988). Outra estratégia é a do “melhor encaixe” (best fit), na qual
a seqüência humana rearranjada mais similar ao anticorpo murino é utilizada como arcabouço
para receber os CDRs murinos (Co e Queen, 1991). Escolhendo o arcabouço humano mais
similar ao anticorpo murino original objetiva-se favorecer a manutenção de características
estruturais importantes do arcabouço original, permitindo, dessa forma, uma correta
orientação espacial dos CDRs. Outro método é utilizar, no lugar da seqüência similar
rearranjada, uma seqüência germinal (seqüência presente em linfócitos B imaturos) mais
próxima à do anticorpo murino (Tomlinson et al., 1992). Essa abordagem é baseada no
mesmo princípio da estratégia do “melhor encaixe”, mas somente seqüências germinais são
acessadas em bancos de dados, o que facilita o encontro da seqüência mais similar (Caldas et
22
al., 2000). O atrativo no uso de seqüências germinais é que devido ao fato de elas não terem
passado pelo processo de hipermutação somática, apresentam uma imunogenicidade
potencialmente menor quando comparada às seqüências rearranjadas e hipermutadas (Caldas
et al., 2000).
Quimera
Humanização
Anticorpo Monoclonal
Murino
por Transplante de
CDR
Figura 12. Representação esquemática das técnicas de humanização de anticorpos. Em
verde e bege, o anticorpo monoclonal murino. A molécula quimera originada da fusão das
cadeias variáveis leve e pesada murinas com os domínios constantes humanos (em laranja). E
o anticorpo humanizado pelo transplante das CDR murinas (linhas verdes) transferidas para
arcabouços variáveis humanos, em amarelo (Maranhão e Brigido, 2001).
Uma técnica de humanização diferenciada é resurfacing. Essa técnica envolve a
substituição de resíduos expostos ao solvente, ou seja, acessíveis ao reconhecimento por
anticorpos, por resíduos humanos, enquanto que os CDRs e os aminoácidos enterrados na
estrutura permanecem iguais aos do anticorpo murino (Presta, 2006). Apesar de não
possuírem resíduos murinos expostos ao solvente, anticorpos humanizados por essa técnica
podem ser internalizados por macrófagos e apresentados à linfócitos via MHC do tipo II,
podendo gerar uma maior imunogenicidade em relação aos anticorpos produzidos por
transplante de CDR. Isso porque na apresentação, em um contexto de MHC, os resíduos
murinos podem ser apresentados. Dessa forma, é interessante obter anticorpos com o menor
número possível de resíduos murinos.
23
Com o desenvolvimento das técnicas de humanização, os anticorpos humanizados
tornaram-se uma realidade de sucesso na clínica, sendo que dos 22 anticorpos monoclonais
aprovados pelo FDA para uso terapêuticos 77% são humanizados, ou parcialmente
humanizados (quiméricos). Além disso, mais de 56 anticorpos humanizados já estão em fase
avançada de desenvolvimento e devem chegar ao mercado nos próximos anos (Reichert,
2004).
Além do desenvolvimento de técnicas mitigadoras da imunogenicidade de anticorpos
murinos, a engenharia de anticorpos tem contribuído para a solução de outro entrave na
utilização do OKT3, a sua mitogenicidade. Como essa característica está justamente
relacionada à capacidade da região Fc interagir com FcRs, têm-se buscado alternativas que
eliminem essa capacidade de ligação aos FcRs. Dessa forma, ensaios in vitro com F(ab`)
2
CD3 específicos mostram uma ligação específica ao CD3 sem a indução da proliferação dos
linfócitos (Woodle et al., 1991). In vivo, observou-se que esses anticorpos não induziram a
proliferação e não promoveram a liberação em larga escala de citocinas (Hirsch et al., 1990).
Esses resultados permitiram o desenvolvimento de uma nova geração de anticorpos
humanizados CD3 específicos manipulados para não se ligarem aos FcRs (Bolt et al., 1993;
Alegre et al., 1994). Dados experimentais e clínicos indicam que anticorpos anti-CD3 não
ligantes a FcR não sofreram nenhuma alteração na sua capacidade terapêutica (Friend et al.,
1999; Woodle et al., 1999).
Curiosamente, apesar desses anticorpos não induzirem a liberação em larga escala de
citocinas, eles promovem a transdução de sinais de ativação. Isso pode ser observado em
camundongos tratados com F(ab`)
2
CD3 específicos, nos quais há um aumento nos níveis de
RNA mensageiro codificando várias citocinas (Chatenoud et al., 1997) e em pacientes
tratados com anticorpos anti-CD3 não ligantes a FcR foram detectados baixos níveis de
citocinas (Friend et al., 1999; Woodle et al., 1999). Provavelmente essa ativação parcial deve
ser essencial para os efeitos terapêuticos dos anticorpos anti-CD3 (Chatenoud et al., 1997).
Portanto, existe uma clara distinção entre o potencial mitogênico dos anticorpos anti-CD3, o
qual parece não ser necessário para a eficácia terapêutica, e a capacidade de
sinalização/ativação parcial, necessária para o efeito terapêutico (Chatenoud, 2003).
1.7 EXPRESSÃO HETERÓLOGA DE ANTICORPOS
Uma das grandes limitações no emprego de anticorpos terapêuticos é o seu complexo
processo de produção. As limitações encontram-se principalmente na baixa quantidade
24
produzida e no alto custo no processamento e purificação das proteínas, o que de certa forma
dificulta o acesso ao medicamento por boa parte dos pacientes.
Um sistema de expressão que tem se mostrado eficiente para a produção de anticorpos
e seus fragmentos é a expressão em leveduras. As leveduras já são utilizadas na síntese de
diversas proteínas recombinantes para uso terapêutico, como por exemplo, a insulina,
glucagon, antígeno de superfície da hepatite B, dentre outras (Gerngross, 2004). Esse sistema
combina o rápido crescimento e a facilidade de manipulação genética dos procariotos com
características típicas de sistemas eucarióticos, como a presença da maquinaria eucariótica de
síntese de proteínas, a qual possibilita a produção de polipeptídeos que requerem
modificações pós-traducionais, como glicosilação, formação de pontes dissulfeto e
processamento proteolítico (Cereghino e Cregg, 2000). Além disso, as leveduras vêm sendo
utilizadas para produzirem altas taxas de proteínas, incluindo proteínas de mamíferos, como
por exemplo, foi relatada a produção de até 14,8 g/L de proteína em Pichia pastoris (Werten
et al., 1999).
Apesar da grande vantagem dos níveis expressos de proteína, as leveduras apresentam
uma desvantagem. Elas são capazes de glicosilar proteínas, entretanto, de forma diferente da
realizada por mamíferos. Contrariamente aos mamíferos, leveduras não são capazes de
adicionar resíduos de fucose, galactose e ácido siálico e, ao mesmo tempo, são hábeis na
adição de muitos resíduos de manose. Esse fato impacta negativamente na meia-vida das
proteínas, uma vez que receptores para altos níveis de manose estão presentes em macrófagos
e células endoteliais, acarretando uma rápida remoção da proteína da circulação (Mistry et al.,
1996).
Devido aos problemas enfrentados com a produção de glicoproteínas em leveduras,
atualmente o estado da arte do processo de produção de mAbs emprega células de mamíferos
devido a sua capacidade de promover um correto dobramento e processamento pós-
traducional (Wurm, 2004). Dentre as células de mamíferos, a mais utilizada na produção em
grande escala de proteínas recombinantes é a linhagem de células de ovário de hamster chinês
(CHO). Essas células são epiteliais, têm a morfologia fibroblastóide e são aderentes ao
plástico onde são cultivadas. Como vantagem essa linhagem possui: uma alta taxa expressão
de proteínas quando comparada a outras células de mamíferos; a possibilidade de crescerem
em suspensão em meios livres de soro quando se objetiva a produção em larga escala
(Derouazi et al., 2004); e, por fim, o fato de gerarem um produto fidedigno àquele produzido
por células humanas, principalmente no que se refere à glicosilação. Essas últimas
25
características têm sido pontos críticos para aprovação por parte do FDA para uso clínico de
proteínas recombinantes.
Desde a aprovação da primeira proteína terapêutica produzida em células de
mamíferos em 1986 grandes melhorias foram alcançadas no sentido de se aumentar os níveis
de expressão, embora os conceitos básicos não tenham mudado desde meados da década de
80. Em 1986 os melhores processos de cultivo geravam em torno de 50 mg/L de proteína, já
em 2004, foram alcançados níveis de expressão de anticorpos em torno de 4,7 g/L (Wurm,
2004).
Diversos fatores estão envolvidos na otimização da expressão protéica em células de
mamíferos. Um desses fatores são os vetores de expressão utilizados. Os vetores de expressão
para geração de linhagens celulares recombinantes geralmente utilizam promotores fortes de
origem viral ou celular, como por exemplo, o promotor de citomegalovírus (CMV) para
dirigir a expressão do gene recombinante (Gopalkrishnan et al., 1999). Na maioria dos casos,
o gene de interesse é isolado como um DNA complementar (cDNA, do inglês, complemetary
DNA) sem íntrons. Entretanto, têm-se mostrado que em células eucarióticas o transporte
eficiente para o citoplasma e a tradução do RNA mensageiro dependem do processo de
splicing (Le Hir et al., 2004). Dessa forma, busca-se adicionar íntrons nos vetores de
expressão com o intuito de aumentar os níveis de expressão.
O procedimento de transfecção pode ser realizado ou utilizando-se um único vetor que
contenha tanto o gene de interesse quanto uma marca seletiva ou utilizando-se vetores
distintos para essas duas características. Quando presentes no mesmo vetor, eles podem ser
expressos de forma policistrônica (Balland et al., 1988). Um exemplo de construção que
possibilita a expressão policistrônica é a utilização de sítios de entrada ribossomais internos
(IRES, do inglês, Internal Ribosome Entry Site). Ao ser adicionado entre o gene de interesse e
uma marca seletiva, o IRES possibilita a tradução dos dois genes, devido à geração de um
sítio interno para entrada de ribossomos sem a necessidade de todo o aparato de iniciação da
tradução presente em eucariotos (Figura 13). A adição de uma marca seletiva na transfecção é
interessante quando se pretende selecionar um clone altamente produtor e estável. Esses são
parâmetros essenciais para a produção em larga escala de proteínas recombinantes.
26
Figura 13. Mecanismo de ação do sítio de entrada ribossomal interno (IRES, do inglês,
Internal Ribosome Entry Site) em um processo de tradução. Pcmvie: promotor. Gene of
interest: gene de interesse. Selection marker: marca seletiva. IVS: íntron sintético. Poly A:
sinal de poliadenilação (Clontech).
Após a transfecção, o transgene é transportado para o núcleo e integrado no genoma
por recombinação não homóloga. O sítio de integração do transgene desempenha um papel
importante na taxa de transcrição do gene recombinante. A integração em regiões de
heterocromatina resulta em baixa expressão ou bloqueio da mesma, enquanto que a integração
em regiões de eucromatina freqüentemente permite a expressão do gene recombinante.
Entretanto, a integração em região de eucromatina pode não ser suficiente para permitir uma
expressão por longo tempo. Geralmente, a expressão do transgene é rapidamente silenciada,
provavelmente devido à influência de regiões de cromatina condensada próximas ao sítio de
integração ou ainda devido a efeitos epigenéticos como a acetilação e metilação de histonas e
a metilação do DNA (Richards e Elgin, 2002; Mutskov e Felsenfeld, 2004).
O soro fetal bovino adicionado ao meio de cultura em concentrações de 1 a 20%, é
essencial para a propagação das células de mamíferos (Wurm, 2004). O soro bovino é uma
fonte abundante de hormônios, fatores de crescimento e elementos que promovem o rápido
crescimento celular. Além disso, a presença de grande quantidade de albumina garante
proteção às células contra condições adversas como variações do pH e pressão osmótica
(Butler, 2005). Contudo, a composição do soro é variável e indefinida, o que possibilita um
crescimento e produção inconsistentes. O custo da adição de grandes quantidades de soro
torna o processo excessivamente oneroso. E, por último, a presença de uma vasta quantidade
de proteínas no soro fetal bovino prejudica o processo de purificação da proteína
recombinante. Esse fator é especialmente impactante sobre a produção de mAbs
recombinantes, uma vez que o soro possui grandes quantidades de anticorpos bovinos,
27
moléculas muito similares aos anticorpos produzidos, dificultando a purificação e
encarecendo ainda mais o processo de produção.
Atualmente, os processos de produção de anticorpos em larga escala são executados
em meios de cultivo sem soro fetal bovino. A composição dos meios de cultura modernos
suporta um excelente desempenho da cultura de células na falta de peptídeos fornecidos pelo
soro, fatores de crescimento e uma indefinida coleção de proteínas, lipídeos, carboidratos e
pequenas moléculas (Wurm, 2004).
A forma de cultivo possui papel chave na taxa de expressão de proteínas
recombinantes. Dois formatos principais vêm sendo empregados em culturas de células de
mamíferos: a cultura de células aderidas e as culturas em suspensão, sendo essa a mais
comum.
A cultura de células aderentes é uma técnica mais simples perto dos complexos
processos de produção em suspensão existentes hoje, alcançando taxas de produção de
proteínas em torno de 50 a 200 mg/L. A grande desvantagem desse processo é a
impossibilidade de produção na escala de grama/litro devido à razão células/volume ser muito
menor quando comparada a de um tanque otimizado (Wurm, 2004).
Atualmente a maioria dos processos otimizados de alta produção de proteínas envolve
culturas em suspensão. Nesse cenário, as células CHO dominam a área de produção em massa
de proteínas recombinantes devido à sua capacidade de crescimento em suspensão. Outras
linhagens celulares que crescem bem em suspensão são as células de mieloma de
camundongo NS0 (Barnes et al., 2000), BHK (Bödecker et al., 1994) e HEK-293 (Wurm e
Bernard, 1999). A transição de células aderidas para o cultivo em suspensão representava um
grande entrave na década de 80. Atualmente, meios de cultivo disponíveis comercialmente
fazem dessa transição uma etapa muito mais simples. No entanto, esforços são necessários
para seleção de diversas formulações de meio de cultura para garantir essa transição (Mather,
1998; Sinacore et al., 2000).
1.8 A HUMANIZAÇÃO DO ANTICORPO MONOCLONAL ANTI-CD3
A humanização do anticorpo anti-CD3 desenvolvida pelo grupo de Imunologia
Molecular da Universidade de Brasília foi realizada de acordo com a técnica de CDR grafting
(Fonseca, 2000). Para tal, foram escolhidos arcabouços humanos para cadeias variáveis
pesada (VH) e leve (VL) que possuíam a maior similaridade com a seqüência do anticorpo
murino, visando, assim, reter a especificidade de ligação característica do OKT3 (Figura 14).
28
Figura 14. Alinhamento das seqüências de aminoácidos dos anticorpos anti-CD3.
Seqüência codificadora do OKT3 (anti-CD3), versões humanizadas do anti-CD3 para as
cadeias pesada (huVH T e R) e leve (huVL) e seqüências humanas utilizadas como arcabouço
para as CDRs do anti-CD3 (HV1B e KV1R). A-Cadeia pesada. B-Cadeia Leve. São
destacadas em vermelho as seqüências das CDRs 1, 2 e 3 de cada cadeia e em branco com
fundo azul o resíduo 86 que diferencia as duas versões de VH humanizados (Fonseca, 2000).
Na humanização da cadeia variável pesada foi utilizada uma seqüência germinal
humana que possuía a maior similaridade com a VH do OKT3, a H1VB, tendo uma
identidade de 71,4% com a VH do OKT3 (Fonseca, 2000).
Para análise do impacto estrutural do transplante das CDRs do OKT3 nessa seqüência
germinal foram realizadas análises a partir da estrutura cristalográfica do anticorpo murino
1MRC depositada no banco de dados de proteína (PDB, do inglês, Protein Data Bank). A
similaridade desse anticorpo com a VH do OKT3 é de 82,20%. Nesse modelo, foram
analisados resíduos descritos na literatura como importantes para a estrutura tridimensional. A
partir dessa análise, o resíduo 86 (presente no arcabouço 3 [FR3, do inglês, framework 3]) da
29
cadeia variável pesada foi considerado estruturalmente importante, pois se situa na base dos
CDRs 2 e 3. Essa análise possibilitou a criação de duas versões da cadeia variável pesada
(Figura 14), uma com o resíduo murino treonina (hVH
T86
) e outra com o resíduo humano
arginina (hVH
R86
) (Fonseca, 2000).
Já para a humanização da cadeia variável leve foi adotada uma estratégia um pouco
diferente. Inicialmente cada fragmento do arcabouço da seqüência do VL murino foi utilizado
como base na procura de um anticorpo humano, ao contrário da cadeia pesada, que foi
utilizada toda a seqüência do anticorpo murino. Deste modo, a procura resultou em um grupo
de seqüências similares para cada arcabouço do VL murino.
Após essa pesquisa, foi feita uma análise estrutural do Fv do OKT3, onde foram
determinadas possíveis interações eletrostáticas e de hidrogênio dentro do VL e entre o VL e
o VH. Os resíduos-chave para a manutenção da estrutura foram utilizados para seleção de
uma seqüência de anticorpo humano dentro dos grupos pré-selecionados na busca no banco de
dados. Dentre as seqüências escolhidas, a KV1R possui uma maior quantidade desses
resíduos considerados importantes, com 64,3% de identidade com o arcabouço murino. Logo,
essa foi a seqüência escolhida para o transplante de CDR (Fonseca, 2000).
Para verificação da manutenção da atividade ligante dos anticorpos humanizados
foram construídas seis versões de scFvs recombinantes: duas humanizadas, uma com o
hVH
T86
e outra com o hVH
R86
; três versões hemi-humanizadas, duas compostas das
respectivas cadeias pesadas humanizadas em conjunto com a cadeia leve murina e outra
contendo a cadeia pesada murina e a cadeia leve humanizada; e por último, uma versão
totalmente murina. Essas construções permitiriam verificar se o processo de humanização dos
fragmentos variáveis foi bem sucedido e, no caso de perda de afinidade da ligação ao
antígeno, seria possível visualizar qual cadeia sofreu com a perda de afinidade (Costa, 2004).
Em ensaios de ligação direta utilizando citometria de fluxo, observou-se que todas as
versões possuem capacidade de ligação ao antígeno, exceto a versão hemi-humanizada com o
VH murino e o VL humanizado (Figura 15), sugerindo que a humanização do VL não foi bem
sucedida. Além disso, foi possível visualizar que as versões hemi-humanizada com o hVH
R86
e VL murino e a totalmente murina apresentam uma capacidade de ligação melhor que as
outras versões, indicando que a manutenção do resíduo arginina na posição 86 da cadeia
pesada favorece a manutenção do paratopo do anticorpo no processo de transplante da CDR.
30
Figura 15. Análise de ligação direta dos scFvs recombinantes a linfócitos humanos. O
gráfico mostra a porcentagem de células marcadas pelos scFvs recombinantes. TVL e RVL,
versões humanizadas com os hVH
T86
e hVH
R86
, respectivamente. TM e RM, versões hemi-
humanizadas com os hVH
T86
e hVH
R86
, respectivamente. MVL, versão hemi-humanizada com
o VH murino e o VL humanizado. MUR, versão murina. Z22, anticorpo anti-DNA na
conformação Z utilizado como controle negativo (Costa, 2004).
Com o intuito de confirmar a especificidade da ligação à molécula CD3, foi proposto
um ensaio de competição entre os scFvs recombinantes e o anticorpo Anti-CD3. Inicialmente,
células mononucleares foram incubadas com as versões recombinantes e em seguida com o
anticorpo Anti-CD3 conjugado a FITC. Constatou-se que as versões recombinantes
conseguem provocar uma diminuição da mediana de intensidade de fluorescência dos
linfócitos incubados quando comparados àqueles incubados somente com o Anti-CD3-FITC.
Porém, somente as versões hemi-humanizada com o hVH
R86
e VL murino e a totalmente
murina foram capazes de deslocar eficientemente a ligação do Anti-CD3-FITC ao CD3
(Figura 16). Esses dados sugerem que a humanização da cadeia pesada hVH
R86
foi bem
sucedida em função da manutenção da capacidade de ligação. Em relação à cadeia leve, a
versão hemi-humanizada com a cadeia pesada murina e a cadeia leve humanizada apresentou
um padrão de deslocamento semelhante ao controle negativo, indicando uma menor
capacidade de ligação possivelmente devido à perda de afinidade dessa cadeia.
Provavelmente, esta alteração resultou no deslocamento ineficiente da mediana de intensidade
31
de fluorescência observada com as versões totalmente humanizadas. A diferença drástica
observada entre a versão hemi-humanizada com a cadeia pesada hVH
R86
e a versão
humanizada com a mesma cadeia corrobora a afirmação que a cadeia leve humanizada é
responsável pela redução da capacidade de competição com o Anti-CD3-FITC (Costa, 2004).
T
T
V
V
L
L
R
R
V
V
L
L
T
T
M
M
R
R
M
M
M
M
V
V
L
L
M
M
u
u
r
r
Z
Z
2
2
2
2
Figura 16. Análise do ensaio de competição dos scFvs recombinantes na diluição 1/5 com
o anticorpo monoclonal anti-CD3-FITC pela ligação ao antígeno CD3 na superfície de
linfócitos. Histograma de sobreposição. TVL e RVL, versões humanizadas com os hVH
T86
e
hVH
R86
, respectivamente. TM e RM, versões hemi-humanizadas com os hVH
T86
e hVH
R86
,
respectivamente. MVL, versão hemi-humanizada com o VH murino e o VL humanizado.
MUR, versão murina. Z22, anticorpo anti-DNA na conformação Z utilizado como controle
negativo. Observa-se que somente as versões RM e MUR (azul e roxo) conseguem deslocar
eficientemente a ligação do anti-CD3-FITC ao CD3, enquanto as demais versões provocam
um deslocamento próximo do controle (Z22, amarelo) (Costa, 2004).
Diante desse problema, foi proposta uma nova humanização da cadeia variável leve
(hVL), adotando como estratégia a técnica de transplante de CDR por melhor encaixe (Best
Fit). Dessa forma, buscou-se seqüências germinais humanas que possuíam maior similaridade
com a seqüência do anticorpo murino, visando à manutenção da especificidade de ligação
característica do OKT3. A procura resultou no anticorpo humano CAB37836 (L6), sendo o
escolhido para o procedimento de transplante de CDR (Figura 17).
Com essa nova proposta em mãos e com o intuito de verificar a eficácia desse novo
processo de humanização, foi proposta a construção de versões recombinantes humanizadas
com as cadeias variáveis pesadas hVH
R86
e hVH
T86
em conjunto com a nova cadeia leve
(hVL). Apesar de experimentos anteriores indicarem que o processo de humanização da
cadeia pesada hVH
T86
levou a uma perda de afinidade dessa cadeia, foi proposta a utilização
32
dessa cadeia com a finalidade de apurar se o ambiente de interação inter-cadeia gerado pela
cadeia leve humanizada poderia restabelecer a afinidade dessa cadeia.
O formato escolhido para a construção das versões recombinantes foi o de FvFc, pois
este mimetiza melhor a ação do anticorpo inteiro, devido à sua natureza dimérica. Esse
formato possui dois sítios de ligação ao antígeno, e também pela presença da porção Fc,
responsável pelo recrutamento das funções efetoras do anticorpo e que garante uma maior
estabilidade à molécula aumentando a sua meia-vida no plasma do paciente. Para a produção
dessas versões recombinantes propusemos a utilização de células de mamíferos da linhagem
CHO, por suas diversas vantagens já citadas anteriormente.
10 20 30 40 50 60
....|....|....|....|....|....|....|....|....|....|....|....|
mu CD3 VL QIVLTQSPAIMSASPGEKVTMTCSASSSVS--YMNWYQQKSGTSPKRWIYDTSKLASGVP
VL anti-CD3 nova DLVLTQSPATLSLSPGERATLSCSASSSVS--YMNWYQQKPGQAPRLLIYDTSKLASGIP
CAB37836 (L6) EIVLTQSPATLSLSPGERATLSCRASQSVS-SYLAWYQQKPGQAPRLLIYDASNRATGIP
hu CD3 VL DLQMTQSPSSLSASVGDRVTITCSASSSVS--YMNWYQQKPGTSPKRWIYDTSKLASGVP
KV1R DIQMTQSPSSLSASVGDRVTITCRASQGIRND-LTWYQQKPGTAPKRLIYGATSLQSGVP
KV3I EIVLTQSPATLSLSPGERATLSCRASQSVS-SYLAWYQQKPGQAPRLLIYDASNRATGIP
Vk A11 V-seg EIVLTQSPATLSLSPGERATLSCGASQSVSSSYLAWYQQKPGLAPRLLIYDASSRATGIP
70 80 90 100
....|....|....|....|....|....|....|....|....
mu CD3 VL AHFRGSGSGTSYSLTISGMEAEDAATYYCQQWSSNPFTFGSGTKLEI
VL anti-CD3 nova ARFSGSGSGTDFTLTISSLEPEDFAVYYCQQWSSNPFTFGQGTKLE
CAB37836 (L6) ARFSGSGSGTDFTLTISSLEPEDFAVYYCQQRSNWP
hu CD3 VL SRFSGSGSGTEFTLTINSLQPEDFATYYCQQWSSNPFTFGQGTKLEI
KV1R SRFSGSGSGTEFTLTINSLQPEDFATYYCLQYSSFPWTFGQGTKVEV
KV3I ARFSGSGSGTDFTLTISSLEPEDFAVYYCQQR-SN-WP---------
Vk A11 V-seg DRFSGSGSGTDFTLTISRLEPEDFAVYYCQQYGSSP
Figura 17. Alinhamento das seqüências de aminoácidos da cadeia leve (VL) dos
anticorpos anti-CD3. São mostradas as seqüências do anticorpo monoclonal OKT3 (mu CD3
VL), da nova proposta de versão humanizada (VL anti-CD3 nova), da versão humanizada
anterior (hu CD3 VL) e das seqüências humanas germinais encontradas em bancos de dados
que apresentaram maior similaridade com a VL do anti-CD3 murino (L6, KV1R, KV3I e Vk
A11 V-seg). As CDRs 1, 2 e 3 estão marcadas em vermelho e os resíduos diferentes entre a
seqüência do VL proposto e VL murino estão em azul.
33
Objetivos
34
Objetivos
2.1 OBJETIVO GERAL
¾ Caracterização da atividade ligante e efetora de anticorpos humanizados Anti-CD3
na forma de um fragmento FvFc.
2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS
¾ Clonar em vetor de expressão para células de mamíferos as versões de FvFcs
Anti-CD3 murina (mVHmVL) e duas humanizadas (hVH
T86
hVL e hVH
R86
hVL).
¾ Expressar as versões humanizadas recombinantes em células de ovário de hamster
chinês (CHO).
¾ Estabelecer clones estáveis produtores da proteína recombinante.
¾ Padronizar procedimento para purificação de anticorpos recombinantes
provenientes do sobrenadante de cultura de célula de mamíferos.
¾ Analisar, por meio de citometria de fluxo (FACS – Fluorescence Activeted Cell
Sorter), a atividade de ligação das construções recombinantes ao antígeno CD3,
inferindo, com base nesses resultados, suas especificidades.
¾ Verificar a atividade efetora das versões humanizadas a partir de ensaios de
proliferação de células mononucleares do sangue periférico (CMSP).
35
Materiais e Métodos
36
Materiais e Métodos
3.1 MATERIAIS
3.1.1 Células
3.1.1.1 Linhagens Bacterianas
- XL1-Blue (Stratagene
®
) - recA1 endA1 gyrA96 thi-1 hsdR17 supE44 relA1 lac [F´
proAB lacIqZ M15Tn10 (Tet
R
)] (Sambrook e Russel, 2001).
- EPI 300 (Epicentre
®
) - F
-
mcrA (mrr-hsdRMS-mcrBC) Φ80dlacZM15 lacX74
recA1 endA1 araD139 (ara, leu)7697 galU galK λ
-
rpsL nupG trfA dhfr.
- DH 5α (Invitrogen
®
) – F
-
/endA1 hsdR17(r
K
-
m
K
+
) supE44 thi
-1
recA1 gyrA (Nal
r
)
relA1 D(laclZYA-argF)U169 deoR (F80dlacD(lacZ)M15).
Essas linhagens foram utilizadas nos procedimentos de construção dos fragmentos de
anticorpos.
3.1.1.2 Linhagem de Células de Mamíferos
- CHO-K1- Linhagem celular derivada da subclonagem de uma célula de ovário de
hamster Chinês (CHO) parental, iniciada pela biópsia de um ovário da fêmea adulta do
hamster Chinês Cricetulus griséus. São células epiteliais, aderentes e necessitam de
suplementação de soro fetal bovino e prolina ao meio de cultura. Número ATCC: CCL-61.
3.1.1.3 Linfócitos humanos
Os Linfócitos humanos utilizados na realização deste trabalho foram obtidos do
sangue periférico de doador saudável, para o teste de ligação das proteínas recombinantes ao
antígeno CD3.
37
3.1.2 Plasmídios Utilizados
- pUC57 hVL – 3,0 kb, VL humanizado do anti-CD3, Amp
R
, rep (pMB1), múltiplos
sítios de clonagem. O DNA do pUC57 é isolado da bactéria E. coli (dam
+
, dcm
+
) por
cromatografia de troca iônica. Vetor utilizado pela empresa responsável pela síntese química
da cadeia leve para sua clonagem.
- pIg CD3 - 3,9 kb, VH-linker-VL anti-CD3, múltiplos sítios de clonagem, ori ColE1,
Amp
R
. Utilizado para a construção dos fragmentos scFv das versões hVH
T86
hVL e hVH
R86
hVL.
- pPIg FvFc mVH mVL – 9,4 kb, VH(muCD3)-linker-VL(muCD3)- CH2CH3,
fragmentos 5´e 3´do promotor AOX1, sinal de secreção do fator α, múltiplos sítios de
clonagem, his4 ORF, ori ColE1, Amp
R
, Utilizado para obtenção do FvFc anti-CD3 murino.
-pCIg hVH
R86
mVL - 4,1 kb, VH-linker-VL anti-CD3, múltiplos sítios de clonagem,
ori ColE1, Amp
R
, operon Lac. Utilizado para obtenção da cadeia pesada humanizada
hVH
R86
(Fonseca, 2000).
-pMAC PS CD18 – 5,8 kb, VH-linker-VL- CH2CH3, Amp
R
, ori ColE1, múltiplos
sítios de clonagem, promotor pCMV, peptídeo sinal de imunoglobulina, sinal de
poliadenilação SV40polyA. Utilizado para obtenção dos domínios CH2 e CH3 para formação
do fragmento Fc do FvFc.
- pMIRES – 6,2 kb, Amp
R
, ori ColE1, múltiplos sítios de clonagem, promotor pCMV,
peptídeo sinal de imunoglobulina, sítio de entrada ribossomal interno (IRES), NEO
R
, sinal de
poliadenilação SV40polyA, origem de replicação ORI e gene da β-lactamase (bla). Utilizado
para clonagem dos FvFcs recombinantes e expressão em células de mamíferos.
pGFP/NEO – 11,2 kb, Possui promotor de timidina quinase (pTK), NEO
R
, sítio
múltiplo de clonagem, sinal de poliadenilação TkpA, promotor pRSV-LTR, sinal de
poliadenilação SV40polyA, origem de replicação ORI e gene da β-lactamase (bla). Utilizado
em co-trasnfecções com o vetor pMAC PS CD18.
38
3.1.3 Oligonucleotídeos utilizados para seqüenciamento
Os oligonucleotídeos foram fornecidos pela IDT® e solubilizados em água Mili-Q
para concentração de uso de 10 ρmoles/µL. A tabela 3 mostra as seqüências de cada um dos
oligonucleotídeos.
Tabela 3. Oligonucleotídeos sintéticos utilizados.
Oligo Seqüência Utilização
T7 5’ TAATACGACTCACTATAGGG 3’
Seqüenciamento do scFv
presente no plasmídio pCIg
hVH
R86
mVL.
SP6 5’ ATTTAGGTGACACTATAG 3’
Seqüenciamento do scFv
presente no plasmídio pCIg
hVH
R86
mVL.
M13 Universal 5’ GTAAAACGACGGCCAGT 3’
Seqüenciamento do scFv
presente no plasmídio pIg
CD3.
M13 Reverso 5’ CAGGAAACAGCTATGAAC 3’
Seqüenciamento do scFv
presente no plasmídio pIg
CD3.
CMV 5` 5` GGCGTGTACGGTGGGAGGTCTA 3`
Seqüenciamento dos FvFcs
clonados no plasmídio
pMIRES. Anela no promotor
CMV.
Seq 5`linker 5` CTCTAGAGGTGGGGGCGGTTC 3`
Seqüenciamento dos VLs dos
scFvs e FvFcs. Anela no linker
flexível entre o VH e VL.
CH2
2026
reverso
5` GGGGGAAGAGGAAGACTGAC 3’
Seqüenciamento do VH e VL
clonados no plasmídio
pMIRES. Anela na região Fc
do FvFc.
CH2
2166
reverso
5` CGGCTTTGTCTTGGCATTAT 3`
Seqüenciamento do VH e VL
clonados no plasmídio
pMIRES. Anela na região Fc .
39
3.1.4 Soluções estoques de Inibidores de Proteases
PMSF (Phenilmethylsulfonyl Fluoride) 0,1 M
Solubilizado em isopropanol e estocado a temperatura ambiente por até 1 ano. É um
inibidor de serino e tiol proteases como, por exemplo, tripsina, quimiotripsina, trombina,
papaína etc. Adicionar a uma concentração final de 1 mM.
EDTA (Ácido Tetracético Etilenodiamina) 0,5M
Solubilizado em água, pH 8-9, estocado a 4°C por até 6 meses. É um inibidor de
metaloproteases. Adicionar a uma concentração final de 5 mM.
3.1.5 Meios de Cultura e soluções para bactérias
Meio LB (Luria-Bertani)
Peptona de caseína 1,0% (p/v)
Extrato de levedura 0,5% (p/v)
NaCl 1,0% (p/v)
pH 7,0.
Meio LB ágar
Meio LB adicionado de ágar bacteriológico a 1,4% (p/v).
Meio SB (Super Broth)
Peptona de caseína 3,0% (p/v)
Extrato de levedura 2,0% (p/v)
MOPS 1,0% (p/v)
pH 7,0.
Meio SOB
Bacto-triptona 2,0% (p/v)
Extrato de levedura 0,5% (p/v)
NaCl 0,06% (p/v)
KCl 0,002% (p/v)
pH 7,0.
40
Meio SOC
Meio SOB 98 mL
Solução estoque de Mg
2+
2 M 1 mL
Solução estoque de glicose 2 M 1 mL
Solução estoque de glicose 2 M
Esterilizada por filtração e estocada a 4ºC.
Solução estoque de Mg 2 M
MgCl
2
1 M
MgSO
4
1 M
Esterilizada por filtração e estocada a 4ºC.
Após dissolver os reagentes em água destilada, todos os meios de cultura foram
autoclavados a 120°C por 15 minutos.
3.1.6 Meios de cultura e soluções para cultura de células de mamíferos
Meio Ham-F12 com L-glutamina a 2 mM (Invitrogen
®
, n
o
catálogo: 21700-075)
Meio Base 1 pacote
NaHCO
3
1,176 g
dH
2
O q.s.p 1 L
pH 7,4
41
Meio RPMI 1640 com L-glutamina a 2 mM Suplementado (Invitrogen
®
, n
o
catálogo:
31800-022)
Meio Base 1 pacote
NaHCO
3
2 g
Peflacin 1:4 10 mL
Piruvato de sódio 100 mM 10 mL
Aminoácidos não essenciais 100X 20 mL
Solução de Vitaminas 100X 10 mL
Gentamicina 1 mL
dH
2
O q.s.p 1 L
pH 7,4
DMEM (Dulbecco’s Modified Eagle’s Medium) (Invitrogen
®
, n
o
catálogo: 12800-017)
Meio Base 1 pacote
NaHCO
3
3,7 g
dH
2
O q.s.p 1 L
pH 7,4
Meio de Congelamento de Células
DMEM
Soro Fetal Bovino 20% (v/v)
DMSO 5% (v/v)
Solução salina balanceada sem Cálcio e Magnésio (BSS.CMF)
NaCl 8 g
KCl 0,4 g
Na
2
HPO
4
0,048 g
KH
2
PO
4
0,06 g
Glicose 1 g
Vermelho de fenol 0,01 g
dH
2
O q.s.p. 1 L
pH 7,4
42
Tripsina-EDTA (Invitrogen
®
, n
o
catálogo: 27250-018)
Tripsina 2,5 g
EDTA 0,38 g
BSS.CMF qsp 1 L
pH 8,0
Solução de aminoácidos não essenciais 10 mM 100X (Invitrogen
®
, n
o
catálogo: 11140-050)
pH 0,6 a 1,7.
Estocar de 2 a 8
o
C.
Solução de Vitaminas 100X (Invitrogen
®,
n
o
catálogo: 11120-052)
pH 5,4 a 7,7.
Estocar de -5 a -20
o
C.
Solução de Piruvato de Sódio 100 mM 100X (Invitrogen
®
, n
o
catálogo: 11360-070)
Soro Fetal Bovino (Invitrogen
®
, n
o
catálogo: 10438-026)
Estocar de -5 a -20
o
C.
Adicionado ao meio de cultura Ham-F12 com L-glutamina à concentração de 1,25%, 2,5%,
5% ou 10% (v/v).
Soro Fetal Bovino, Ultra low – IgG (Invitrogen
®
, n
o
catálogo: 16250-086)
Estocar de -5 a -20
o
C.
Adicionado ao meio de cultura Ham-F12 com L-glutamina à concentração de 1,25% (v/v).
Azul de Tripan
Corante Azul de Tripan 400 mg
PBS pH 7,2 q.s.p. 100 mL
Reagente de transfecção JetPEI™ (Polyplus Transfection, n
º de catálogo 101-01N)
Esse reagente de transfecção é um derivativo linear de uma polietilenimina. É um
composto catiônico cuja formulação específica permite a transfecção de diversas linhagens de
células de mamíferos.
43
3.1.7 Soluções e tampões de uso geral
Azida Sódica – Solução estoque 100X
Azida sódica 5% (p/v)
Esta solução era utilizada para a conservação dos tampões PBS e PBS-T e nas soluções
estoque dos anticorpos em concentração final de 0,05% (p/v).
Tampão TE
Tris-HCl pH 8,0 10 mM
EDTA pH 8,0 1 mM
Glicerol – Solução estoque
Glicerol 50% (v/v)
Tampão PBS (Phosphate-Buffered Saline) 10X, pH 7,4
NaCl 1,5 M
Na
2
HPO
4
0,1 M
NaN
3
0,02% (p/v)
Tampão PBS-T 1X, pH 7,4
PBS 1X acrescido de Tween 20 na concentração final de 0,1% (v/v)
3.1.8 Soluções e material para preparo de células competentes e transformação –
bactéria
Solução de CaCl
2
CaCl
2
50 mM
Esterilizada por filtração e estocada a 4ºC
Solução de CaCl
2
+ 10% de Glicerol (v/v)
CaCl
2
50 mM
Glicerol 10%
Esterilizada por filtração e estocada a 4ºC
44
Glicerol 50% (v/v)
Esterilizado por filtração e estocada a 4ºC
Cubetas de eletroporação (Gene Pulser/MicroPulser Cuvettes, Biorad
®
, n
o
catálogo: 165-
2086)
3.1.9 Soluções para extração de DNA plasmidial
Solução I
Tris-HCl pH 8,0 25 mM
EDTA pH 8,0 10 mM
Glicose 50 mM
Solução II
NaOH 0,2 M
SDS 1,0% (p/v)
Solução III
Acetato de potássio 3 M
Ácido Acético 2 M
pH ajustado para 4,8 - 5,0
RNAse A
RNAse A (Invitrogen
®
, n
o
de catálogo 12091-021).
Clorofane
Fenol equilibrado em pH 7,6 1 v
Clorofórmio 1 v
Β-hidroxiquinilona 0,05% (p/v)
Equilibrado com 0,1v de Tris-HCl 100 mM pH 7,6
Clorofil
Clorofórmio 24 v
Álcool isoamílico 1 v
Equilibrado com 0,25 v de tampão TE
45
Acetato de sódio 3 M, pH 4,8
Utilizada para precipitação de DNA em preparação de pequena escala.
Acetato de amônio 7,5 M
Utilizada para precipitação de DNA em preparação de larga escala.
3.1.10 Tampões de Endonucleases de Restrição
Os Tampões de enzimas de restrição empregados foram aqueles comercializados pela
New England Biolabs
®
:
NEB 1
Bis-Tris-propano-HCl pH 7,0 10 mM
MgCl
2
10 mM
DTT 1 mM
NEB 2
Tris-HCl pH 7,9 10 mM
MgCl
2
10 mM
DTT 1 mM
NEB 3
Tris-HCl pH 7,9 150 mM
MgCl
2
10 mM
NaCl 100 mM
DTT 1 mM
NEB 4
Tris-Acetato pH 7,9 20 mM
Acetato de Magnésio 10 mM
Acetato de Potássio 50 mM
DTT 1 mM
46
3.1.11 Tampões de outras enzimas
Tampão da polinucleotídeo quinase 10X (New England Biolabs
®
)
Tris-HCL pH 7,6 660 mM
MgCl
2
100 mM
DTT 100 mM
BSA 2 mg/mL
Tampão SAP (Fosfatase alcalina de camarão) (Promega
®
)
Tris-HCl pH 9,0 500 mM
MgCl
2
100 mM
Tampão de Reação 5X da T4 DNA ligase (Invitrogen
®
)
Tris-HCl 250 mM
MgCl
2
50 mM
ATP 5 mM
DTT 5 mM
PEG-8000 25% (p/v)
pH 7,6
Tampão de Reação 10X da T4 DNA ligase (Promega
®
)
Tris-HCl pH 7,8 300 mM
MgCl
2
100 mM
DTT 100 mM
ATP 10 mM
47
3.1.12 Soluções e reagentes para eletroforese em gel de agarose e de
poliacrilamida
Tampão de corrida TEB 10X
Trizma base 0,89 M
Ácido Bórico 0,89 M
EDTA 0,02 M
dH
2
O q.s.p. 1 L
pH 8,0
Tampão de corrida TAE 50X
Tampão Tris-Acetato 2 M
Trizma-base 242 g
Ácido Acético Glacial 57,10 mL
EDTA pH 8,0 0,05 M
dH
2
O q.s.p. 1 L
Tampão de amostra para gel de agarose 10X
Tampão de corrida TEB 20X 50% (v/v)
Glicerol 50% (v/v)
Azul de Bromofenol 0,1% (p/v)
Xileno Cianol 0,1% (p/v)
Solução de brometo de etídeo 20.000X
Brometo de etídeo 10 mg/mL
Tampão de corrida para SDS-PAGE 5X
Trizma base 125 M
Glicina 125 mM
SDS 0,5% (p/v)
48
Tampão de amostra 5X para SDS-PAGE
Tris-HCl pH 6,8 250 mM
SDS 10% (p/v)
Glicerol 50% (v/v)
ß-mercaptoetanol 10% (v/v)
Azul de bromofenol 0,5% (p/v)
Acrilamida 30% (29:1)
Acrilamida 145 g
Bis-acrilamida 5 g
dH
2
O q.s.p. 500 mL
Estocar a 4ºC ao abrigo da luz.
Tris-HCl 1,5 M, pH 8,8
Tris 36,34 g
dH
2
O q.s.p. 200 mL
Tris-HCl 0,5M, pH 6,8
Tris 12,11 g
dH
2
O q.s.p. 200 mL
SDS 10%
SDS 10 g
dH
2
O q.s.p. 100 mL
APS 10% (p/v)
Persulfato de amônio 100 mg/mL de água
TEMED (N,N,N’,N’- tetrametil etilenodimetilamina)
49
Gel Concentrador SDS-PAGE
Solução Acrilamida/Bis-acrilamida (29:1) 4% (p/v)
Tris-HCl pH 6,8 125 mM
SDS 0,1% (p/v)
APS 0,1% (p/v)
TEMED 0,01% (p/v)
Gel Separador SDS-PAGE
Solução Acrilamida/Bis-acrilamida (29:1) 10% (p/v)
Tris-HCl pH 8,8 400 mM
SDS 0,1% (p/v)
APS 0,1% (p/v)
TEMED 0,01% (p/v)
3.1.13 Soluções para coloração de gel de poliacrilamida com Comassie Briliant
Blue (R-250 ).
Solução Fixadora para Coloração com Comassie
Etanol 40% (v/v)
Ácido acético 10% (v/v)
Solução Corante Comassie Briliant Blue R-250
Comassie briliant blue R-250 1% (p/v)
Etanol 40% (v/v)
Ácido acético 10% (v/v)
Solução Descorante para Coloração com Comassie
Etanol 20% (v/v)
Ácido acético 5% (v/v)
Solução Preservadora para Coloração com Comassie
Ácido acético 5% (v/v)
50
3.1.14 Soluções e materiais para os ensaios imunológicos (ELISA, Western e Dot
blotting)
Tampão de Fosfatase Alcalina (APB)
Tris-HCl pH 9,5 100 mM
NaCl 100 mM
MgCl2 5 mM
Tampão para Transferência Semi-Seca de Proteínas
Trizma-base 48 mM
Glicina 39 mM
SDS 0,037% (p/v)
Metanol 20% (v/v)
Solução de Bloqueio
Leite em pó desnatado 5% (p/v)
Dissolvido em PBS-T 1X
Solução Reveladora para ELISA
pNPP (para-nitro-fenil-fosfato) 1 mg/mL
Dissolvido em APB
Solução Reveladora para Western e Dot blotting
O NBT (Nitro Blue Tetrazole) e o BCIP (5-Bromo-4-Cloro-indolil fosfato) eram preparados
numa solução estoque de 50 mg/mL. O NBT solubilizado em N,N-dimetil formamida e o
BCIP, em água. Para preparar 10 mL da solução reveladora, adicionavam-se 66 µL do
estoque de NBT em 10 mL de APB e em seguida 33 µL do estoque de BCIP. Esta ordem deve
ser respeitada para se evitar a precipitação dos reagentes.
Membrana de Nitrocelulose
Hybond-C Extra (Amersham
®
Bioscience nº. catálogo. RPN 303E)
Placas de microtitulação de poliestireno com 96 poços com fundo chato para ELISA
(Nunc
®
, Maxisorp e Midisorp, n
o
catálogo: 456537 e 467320, respectivamente)
51
3.1.15 Coluna de cromatografia de afinidade
HiTrap
TM
Protein A HP 1mL (GE lifescience, nº. catálogo. 17-0402-01). Para purificação dos
FvFcs.
3.1.16 Soluções para cromatografia de afinidade
Tampão de ligação HiTrap Protein A
Fosfato de Sódio 20 mM, pH 7,0
Filtrado em membrana com poros de 0,45 µm
Tampão de Eluição HiTrap Protein A
Ácido Cítrico 0,1 M, pH 3,5 para eluição das proteínas recombinantes e pH 2,0 para limpeza.
Filtrados em membrana com poros de 0,45 µm
3.1.17 Materiais utilizados para concentração de sobrenadantes de cultura e
proteínas purificadas
Concentradores Amicon
®
Bioseparations:
- Centricon YM-30 (nº. catálogo. 4209)
- Centriprep YM-30 (nº. catálogo 4307)
- Concentrador: Stirred Ultrafiltration Cell Millipore, Modelo 8400 (nº. catálogo.
5124)
- Membrana: Ultrafiltration Membrane. NMWL: 10.000 (nº. catálogo 13642)
3.1.18 Marcadores moleculares para DNA e proteína
1 kb plus DNA Ladder (Invitrogen
®
nº. catálogo. 10787-026)
Fragmentos de DNA em pb: 100; 200; 300; 400; 500; 650; 850; 1.000; 1.650; 2.000; 3.000;
4.000; 5.000; 6.000; 7.000; 8.000; 9.000; 10.000; 11.000; 12.000.
1 kb DNA Ladder (Invitrogen
®
nº. catálogo. 15615-016)
Fragmentos de DNA em pb: 201; 220; 298; 344; 396; 500; 517; 1.018; 1.636; 2.036; 3.054;
4.072; 5.090; 6.106; 7.126; 8.144; 9.162; 10.180; 11.198; 12.216.
52
Low Mass DNA Ladder (Invitrogen
®
nº. catálogo. 10068-013)
Mistura equimolar de fragmentos de DNA em pb de 2.000; 1.200; 800; 400; 200 e 100.
Utilizando 2 µL do marcador, corresponde a massa de 100; 60; 40; 20; 10 e 5 ng,
respectivamente.
High Mass DNA Ladder (Invitrogen
®
nº. catálogo 10496-016)
Mistura equimolar de fragmentos de DNA em pb de 10.000; 6.000; 4.000; 3.000; 2.000 e
1.000. Utilizando 2 µL do marcador, corresponde a massa de 100; 60; 40; 30; 20 e 10 ng,
respectivamente.
Page Ruler
TM
Prestained Protein Ladder Plus (Fermentas
®
nº. catálogo SM1811)
Fragmentos de proteínas em kDa: 250; 130; 100; 70; 55; 35; 27; 15 e 10.
Unstained Protein Molecular Weight Marker (Fermentas
®
nº. catálogo SM0431)
Fragmentos de proteínas em kDa: 116; 66,2; 45; 35; 25; 18,4; 14,4.
3.1.19 Kits comerciais
QIAGEN Plasmid Midi Kit 100 – Para preparação plasmidial em escala intermediária
(Qiagen
®
, nº. catálogo 12145).
QIAGEN Plasmid Maxi Kit 25 – Para preparação plasmidial em larga escala (Qiagen
®
, nº.
catálogo 12163).
QIAprep Spin Miniprep Kit (250) - Para preparação plasmidial em pequena escala
(Qiagen
®
, nº. catálogo 27106).
Qiaquick Gel Extraction kit 50 – Para extração de DNA de gel de agarose (Qiagen
®
, nº.
catálogo 28704).
Qiaquick PCR purification kit 50 – Para purificação de DNA para seqüenciamento
(Qiagen
®
, nº. catálogo 28104).
Colunas para extração de DNA de gel de agarose por Freeze Squize – Ultrafree DA
Centrifugal Unit (Millipore
®
, nº. catálogo 42600).
53
PlusOne Silver Staining kit Protein. Para coloração de géis de poliacrilamida com prata.
(GE Lifescience, nº. catálogo. 17-1150-01).
Kit BCA Ácido Bicincrônico - para quantificação de proteínas. Pierce
®
(nº. catálogo 23225)
Qubit Fluorometer - para quantificação de proteínas. Invitrogen (n
o
catálogo: Q32860)
3.1.20 Soluções e materiais para os experimentos com citometria de fluxo
Todas as soluções preparadas no laboratório eram posteriormente filtradas em membranas de
0,2 µm.
Solução Salina 0,9%
NaCl 9 g
dH
2
O q.s.p. 1 L
Tampão de lavagem para reação de FACS
Soro fetal bovino 2% (v/v)
Azida Sódica 0,02% (p/v)
Dissolvidos em PBS 1X
Carboxyfluorescein diacetate succinimidyl ester (CFSE) 5 mM (CellTrace
CFSE Cell
Proliferation Kit, Molecular Probes™ n
o
catálogo: C34554).
Tampão do citômetro de fluxo (FACSflow) Filtrar em papel de filtro
NaCl 162,4 g
KCl 5,6 g
KH
2
PO
4
5,2 g
Na
2
HPO
4
47,0 g (Anidro)
LiCl 8,6 g (dessecador)
EDTA-Na 7,2 g
Azida 4,0 g (0,02%)
dH
2
O q.s.p. 20 L
54
Ficoll – Hypaque (d=1,077 g/L)
Ficoll PM= 400.000 64 g
Diatrizoato de Sódio 99 g
NaCl 0,7 g
dH
2
O q.s.p. 1 L
A solução Ficoll-Hypaque pronta para uso pode ser obtida comercialmente (Ficoll-Paque
Plus™, GE lifescience n
o
catálogo: 17-1440-02).
Heparina Sódica (Liquemine™, Roche
®
)
25.000 UI/5 mL
Placas de microtitulação de 96 poços com fundo em U não estéril
3.1.21 Anticorpos utilizados nos ensaios de ELISA, Western Blot, Dot Blot e FACS.
Anti – IgG humana (H + L) feito em cabra (Pierce
®
n
o
catálogo: 31119)
Concentração: 1,8 mg/mL
Titulação de uso: 1:1000 (ELISA)
Anti – IgG humana (Fc específico) feito em cabra conjugado com fosfatase alcalina
(Sigma
®
n
o
catálogo: A9544)
Concentração: 1 mg/mL
Titulação de uso: 1:5000 (ELISA) e 1:2500 (Western blot e Dot blot)
IgG Humana (Sigma
®
n
o
catálogo: K9001)
Concentração: 1 mg/mL
Utilizado a 100 ou 120 ng/mL como padrão nos experimentos de ELISA.
Anti- CD3 humano feito em camundongo conjugado a R-PE (Dako
®
, n
o
catálogo: R810)
Concentração: 175 µg/mL
Clone: UCTH1
Titulação de uso: 1:50 (FACS)
55
Anti- CD3 humano feito em camundongo conjugado a FITC (Dako
®
, n
o
catálogo: F818)
Concentração: 100 µg/mL
Clone: UCTH1
Titulação de uso: 1:50 (FACS)
Anti – IgG de camundongo feito em cabra conjugado a FITC (Sigma
®
, n
o
catálogo:
F8264)
Concentração: 1 mg/mL
Titulação de uso: 1:100 (FACS)
Anti – IgG humana feito em cabra conjugado a FITC (Sigma
®
, n
o
catálogo: F1641)
Concentração: 1 mg/mL
Titulação de uso: 1:50 (FACS)
Anti – CD4 humano feito em camundongo conjugado a R-PE (BD Pharmigen
®
, n
o
catálogo: 555347)
Clone: RPA-T4
Titulação de uso: 1:50 (FACS)
Anti – CD8 humano feito em camundongo conjugado a R-PE (BD Pharmigen
®
, n
o
catálogo: 555367)
Clone: RPA-T8
Titulação de uso: 1:50 (FACS)
Anti- CD3 humano feito em camundongo conjugado a FITC (Ebioscience
®
, n
o
catálogo:
11-0037-73)
Clone: OKT3
Titulação de uso: 1:50 e 1:500 (FACS)
Orthoclone OKT3
®
, Anti- CD3 humano feito em camundongo (muronomab – CD3)
(Ortho biotech)
Concentração 1 mg/mL
Utilizado como controle positivo dos ensaios de ligação dos anticorpos recombinantes
56
Anti-IgG humana (Fc) feito em coelho (Pierce
®
, n
o
catálogo: 31142)
Concentração: 1 mg/mL
Titulação de uso: 1:50 (FACS)
Anti- IgG de coelho feito em cabra conjugado a FITC (Sigma
®
, n
o
catálogo: F1262)
Concentração: 1 mg/mL
Titulação de uso: 1:100 (FACS)
57
3.2 MÉTODOS
3.2.1 Preparação de DNA plasmidial
3.2.1.1 Em pequena escala (adaptado de (Sambrook e Russel, 2001).
1- Coletavam-se 3,0 mL de cultura de células de E. coli, transformadas com o plasmídio de
interesse, crescidas em meio LB/Amp (150 µg/mL) durante 16 horas a 37ºC, por meio de duas
centrifugações de 5 min a 5.000 rpm em microtubos de 1,5 mL, sendo o sobrenadante
desprezado a cada centrifugação.
2- Ressuspendia-se o sedimento em 200 µL de Solução I. Incubava-se as amostras no gelo por
5 min.
3- Adicionavam-se 400 µL de Solução II e homogeneizava-se as amostras, invertendo-se
gentilmente o tubo várias vezes. Incubava-se à temperatura ambiente por 5 min.
4- Adicionavam-se 300 µL de Solução III, repetindo-se o mesmo procedimento de
homogeneização e incubava-se no gelo por 10 min.
5- Centrifugava-se a 12.000 rpm por 15 min a 4°C.
6- Ao sobrenadante eram adicionados 5 µL de RNAse A e incubava-se por 1 hora a 37ºC.
7- Adicionavam-se 300 µL de clorofane e, após forte homogeneização, centrifugava-se por 5
min a 5.000 g à temperatura ambiente, a fase aquosa era coletada para outro tubo.
8- Adicionavam-se 300 µL de clorofil e repetia-se o mesmo procedimento anterior de
homogeneização, centrifugação e coleta.
9- Adicionava-se 2,0 v de etanol absoluto gelado e incubava-se a -20ºC por no mínimo 2
horas.
10- Centrifugava-se a 12.000 rpm por 45 min a 4ºC. Desprezava-se o sobrenadante.
11- Adicionava-se 1 mL de etanol 70% gelado e centrifugava-se novamente a 12.000 rpm por
15 min a 4ºC.
12- Secava-se o sedimento a vácuo ou por simples exposição ao ar.
13- O sedimento era ressuspendido em 50 µL de TE. E as amostras conservadas a -20ºC.
58
3.2.1.3 Em larga escala (adaptado de Sambrook e Russel, 2001).
1- Coletavam-se 200 mL de cultura de células de E. coli, transformadas com o plasmídio de
interesse, crescidas em meio LB/Amp (150 µg/mL) durante 16 horas a 37ºC, por meio de
centrifugação de 15 min a 3.000 x g, desprezando-se o sobrenadante.
2- Ressuspendia-se o sedimento em 5 mL de Solução I sob forte agitação. Incubavam-se as
amostras no gelo por 10 min.
3- Adicionavam-se 10 mL de Solução II e homogeneizavam-se as amostras, invertendo-se
gentilmente o tubo várias vezes. Incubava-se à temperatura ambiente por 5 min.
4- Adicionavam-se 7,5 mL de Solução III, repetindo-se o mesmo procedimento de
homogeneização e incubava-se no gelo por 20 min.
5- Centrifugava-se a 10.000 x g por 30 min a 4°C.
6- O sobrenadante era filtrado em papel de filtro e ao sobrenadante eram adicionados 0,6v de
isopropanol. Após uma incubação de 5 min à temperatura ambiente centrifugava-se a 12.000
x g por 20 min a temperatura ambiente.
7- Desprezava-se o sobrenadante e, após a secagem por exposição ao ar, o sedimento era
ressuspendido em 500 µL de TE ao qual eram adicionados 10 µL de RNAse A. Incubava-se
por 1 hora a 37ºC.
8- Adicionava-se 1v de clorofane e, após forte homogeneização e centrifugação de 5 min a
5.000 x g à temperatura ambiente, a fase aquosa era coletada para outro tubo.
9- Repetia-se o passo anterior mais uma vez.
10-Adicionava-se 1v de clorofil e repetia-se o mesmo procedimento anterior de
homogeneização, centrifugação e coleta.
11- Adicionava-se 0,5v de acetato de amônio 7,5M e 2,0v de etanol 100% gelado e incubava-
se por, no mínimo 2 horas a -20ºC.
12- Centrifugava-se a 12.000 rpm por 45 min a 4ºC. Desprezava-se o sobrenadante.
13- Adicionava-se 1 mL de etanol 70% gelado e centrifugava-se novamente a 12.000 rpm por
15 min a 4ºC.
14- Após secagem o sedimento era ressuspendido em 200 µL de TE. E as amostras
conservadas a -20ºC.
59
3.2.2 Digestão do DNA plasmidial com enzimas de restrição.
As digestões dos plasmídios utilizados eram realizadas com enzimas de restrição
conforme instruções dos fabricantes. O tempo de incubação e a quantidade de material a ser
digerido variavam de acordo com o interesse do experimento realizado.
3.2.3 Análise de DNA plasmidial em gel de agarose (Sambrook e Russel, 2001).
A agarose era preparada de 0,7 a 1,0% em tampão TEB 1X ou TAE 1X com 0,5
µg/mL de brometo de etídeo. As amostras de DNA com tampão de amostra para gel de
agarose eram aplicadas no gel e submetidas à eletroforese em tampão TEB ou TAE 0,5X,
como descrito por (Sambrook e Russel, 2001). Para visualização do DNA incidia-se luz
ultravioleta no gel utilizando-se um transluminador (Pharmacia-LKB
®
) e a imagem era
digitalizada em aparato de fotodocumentação.
3.2.4 Eluição de fragmentos de DNA de gel de agarose
Os fragmentos de DNA a serem eluídos eram cortados do gel de agarose após
eletroforese. A eluição do DNA do gel era feita de acordo com as instruções do fabricante do
kit utilizado (Qiaquick Gel Extraction kit, Qiagen
®
) ou submetido ao Freeze-Squizee:
1- A banda do DNA cortada do gel era transferida para uma bolsa feita utilizando um pedaço
de Parafilm
®
. Duas extremidades da bolsa eram juntas e seladas com o auxílio da parte cônica
de um microtubo de 1,5 mL. A banda era inserida dentro da bolsa pela parte não selada.
2- A bolsa contendo o fragmento era então congelada a – 40
o
C.
3- Após o total congelamento, a porção plana da tampa de um microtubo de 1,5 mL era
utilizada para macerar o fragmento até se liquefazer.
4- O liquido e o gel eram transferidos para colunas Ultrafree DA Centrifugal Unit
(Millipore
®
).
5- O material era centrifugado por 5 minutos a 12.000 x g a temperatura ambiente.
6- Após a centrifugação o material era precipitado com a adição de 0,1 v de acetato de sódio
3M, 60 µg de glicogênio e 2,5v etanol 100% gelado. Procedia-se a uma incubação a -20ºC
durante a noite para um melhor rendimento da preciptação.
60
3.2.5 Reação de Desfosforilação com a fosfatase alcalina de camarão (SAP)
Essa enzima tem a capacidade de remover o grupo fosfato presente nas extremidades
5` de dsDNA digeridos com enzimas de restrição. Dessa forma, pretendia-se impedir uma
auto ligação do DNA plasmidial digerido sem a inserção do inserto.
1– Incubavam-se de 2 a 4 µg de dsDNA com 5 µL da fosfatase alcalina e tampão apropriado
da enzima em 1X para um volume final de 50 µL por 1h a 37
o
C.
2– Inativava-se o sistema por 15 minutos a 65
o
C. A partir desse ponto, o sistema era utilizado
em sistema de ligação para posterior transformação de células competentes E. coli.
3.2.6 Modificação no DNA plasmidial utilizando a enzima Mung Bean Nuclease.
Essa enzima possui a capacidade de retirar nucleotídeos na forma de DNA fita
simples. No presente projeto essa enzima foi utilizada no vetor pMIRES com o FvFc murino
inserido, após a utilização da enzima de restrição Xma I. Como essa enzima gera, após a
clivagem do plasmídio, 4 nucleotídeos dispareados nas extremidades do vetor, utilizava-se a
Mung Bean nuclease para retirada desses nucleotídeos e alteração na fase de leitura da
proteína de interesse.
1- Incubava-se 1 U da enzima por 1 µg de DNA e tampão apropriado da enzima em 1X para
um volume final de 50 µL por 30 minutos a 30
o
C por 30 minutos.
2- Nos tempos 10 e 20 minutos se retirava 15 µL, adicionava-se a 85 µL de dH
2
O e parava-se
a reação desse montante retirado.
3- A reação era parada com a adição de 1v de clorofane e agitado vigorosamente. Após isso, o
material era centrifugado a 5.000 x g por 5 minutos.
4- A fase aquosa era transferida a um novo tubo ao qual se adicionava 1v de clorofil e repetia-
se o procedimento anterior.
5- Após a centrifugação o material era precipitado com a adição de 0,1 v de acetato de sódio
3M, 60 µg de glicogênio e 2,5v etanol 100% gelado.
6- Procedia-se a uma incubação a -20ºC durante a noite para um melhor rendimento da
preciptação.
61
3.2.7 Ligação de fragmentos de DNA
As concentrações de DNA (vetor: inserto) utilizadas nos sistemas de ligação variavam
de acordo com o experimento a ser realizado, sendo normalmente numa razão molar de 1:3 ou
1:5 e aplicando-se a fórmula:
ng vetor x tamanho do inserto em pb
x razão inserto = ng de inserto
tamanho do vetor em pb vetor
A reação de ligação era realizada de acordo com instrução do fabricante da T4 DNA
Ligase utilizada. E após incubação, em geral de 16 horas a 4ºC, eram usados para transformar
células de E. coli.
3.2.8 Preparação de células competentes e transformação bacteriana
3.2.8.1 Por choque térmico-CaCl
2
(adaptado de Maranhão, 2003).
1- Inoculavam-se 500 µL de um pré-inóculo, feito a partir de uma colônia isolada da célula de
interesse, em 50 mL de meio LB. Incubava-se a 37ºC a 220 rpm até a cultura atingir uma
densidade óptica a 600nm (OD
600nm
)
de 0,1 a 0,3.
2- Centrifugava-se a 3.000 x g por 15 min a 4ºC, desprezando-se o sobrenadante (Após essa
etapa é importante que em todas as etapas subseqüentes as células sejam mantidas resfriadas
para evitar uma perda de eficiência).
3- O sedimento era ressuspendido em 10 mL de solução de CaCl
2
50mM estéril gelada, com
movimentos suaves.
4- Centrifugava-se a 3.000 x g por 15 min a 4ºC, desprezando-se o sobrenadante.
5- O sedimento era ressuspendido em 1 mL de solução de CaCl
2
50mM estéril gelada, com
movimentos suaves.
6- Após incubação de 1 hora em banho de água/gelo as células eram aliquotadas e podiam ser
usadas por um período máximo de 24 horas.
7- Incubava-se de 100 a 200 µL de célula competente com o plasmídio de interesse a ser
transformado em banho de água/gelo por 30 min.
62
8- Procedia-se o choque térmico incubando-se o sistema de transformação em banho a 42ºC
por 3 min.
9- Adicionava-se imediatamente 1 mL de meio LB e incubava-se por 1 h a 37ºC.
10- Semeavam-se quantidades variáveis do sistema de transformação em placas contendo
meio LB-ágar contendo ampicilina a 150 µg/mL. As placas eram mantidas na estufa a 37ºC
por 16 horas.
3.2.8.2 Por eletroporação (adaptado de Maranhão, 2003).
1- Inoculava-se uma colônia isolada da célula de interesse em 10 mL de meio SB contendo o
antibiótico de interesse. Esse pré-inóculo era mantido a 37º sob agitação de 220 rpm por 16
horas.
2- Inoculava-se 1 mL do pré-inóculo em 500 mL de meio SB contendo 2,5 mL da solução
estoque de glicose 2M e 2,5 mL da solução estoque de Mg 2M. Incubava-se a 37ºC a 220 rpm
até a cultura atingir uma OD
600nm
de 0,7 a 0,9.
2- Centrifugava-se a 3.000 x g por 20 min a 4ºC, desprezando-se o sobrenadante e mantendo
sempre a célula gelada a partir desse momento.
3- O sedimento era ressuspendido em 25 mL de glicerol 10% estéril gelado e a seguir
adicionava-se mais 75 mL de glicerol 10% gelado.
4- Centrifugava-se a 3.000 x g por 20 min a 4ºC, repetindo-se a etapa anterior.
5- O sedimento era ressuspendido em 25 mL de Gilcerol 10% estéril gelado e submetido a
última centrifugação a 3.000 x g por 20 min a 4ºC.
6- O sedimento final era ressuspendido em 1 a 2 mL de glicerol 10% e as células eram
aliquotadas, congeladas em banho de gelo seco com etanol e armazenadas imediatamente a -
80ºC.
7- Para a transformação, o plasmídio, já em um tubo resfriado previamente, era adicionado à
célula competente e imediatamente colocado na cubeta de eletroporação (BioRad
®
) também já
resfriadas.
8- A eletroporação era feita seguindo os seguintes parâmetros elétricos: 2,5 kV, 25 µF e 200
, no aparelho Gene Pulser com Pulser Controller da BioRad. O τ esperado nessa condições é
de 4,0 a 5,0 milisegundos.
9- Imediatamente após o choque a cubeta era lavada com 3 mL de meio SOC e o meio era
recolhido para um tubo de centrifugação de 50 mL.
63
10- Após uma incubação de 1 h a 37ºC e 220 rpm, diluições da transformação eram semeadas
em placas contendo ampicilina a 200 µg/mL. As placas eram mantidas na estufa a 37ºC por
16 horas.
3.2.9 Seqüenciamento automático de DNA e análise de seqüências.
Após ter sido realizada uma análise de restrição, os plasmídios eram seqüenciados
utilizando-se o seqüenciador automático MegaBACE 500Plus (Molecular Dinamics
®
). Eram
utilizadas de 150 a 200 ng do vetor, 10 picomoles do oligonucleotídeo apropriado e o kit
“DyeEnamic ET DYE Terminator Cycle Sequencing”.
As seqüências obtidas por meio do seqüenciamento automático eram analisadas,
utilizando-se ferramentas de bioinformática: Phred e CAP3 disponíveis na página:
www.biomol.unb.br. Depois da análise de qualidade, as seqüências eram submetidas à
ferramenta de procura de alinhamentos básicos locais (BLAST, do inglês, Basic Local
Alignment Search Tool,
www.ncbi.nlm.nih.gov/blast) para análise de identidade com
seqüências já depositadas no GenBank. As seqüências também eram manipuladas e analisadas
com seqüências depositas em um banco de dados pessoal utilizando o programa BioEdit
Sequence Aligment Editor (Hall, 2007).
3.2.10 Cultura de células de mamíferos
Durante toda a manutenção da cultura, as células eram observadas em microscópio
invertido de contraste de fase NIKON DIAPOH e incubadas em estufa a 37
o
C, 5% de CO
2
E
70% de umidade.
3.2.10.1 Congelamento de células CHO – Criopreservação (Ruggiero, 2002).
1– As células em cultura aderente eram lavadas 3 vezes com BSS.CMF. Após esse
procedimento, eram adicionados 5 mL de tripsina para que as células se soltassem da garrafa
de cultura.
2– A suspensão celular era então transferida para um tubo de centrifuga de 50 mL, ao qual se
adicionava 5 mL de meio Ham-F12 acrescido de 10% de Soro fetal bovino (SFB), para a
inativação da tripsina que é nociva as células.
64
3– As células eram centrifugadas a 130 x g por 8 minutos.
4– O sobrenadante era descartado e o sedimento ressuspenso no meio de cultura remanescente
do tubo.
5– As células eram distribuídas em alíquotas de 500 µL em criotubos, onde eram adicionados
500 µL de meio de congelamento.
6– Os criotubos eram incubados a 4ºC por 30 minutos, depois a – 20ºC por 30 minutos e
depois a – 80ºC durante a noite. As células poderiam permanecer estocadas a esta temperatura
ou ser transferidas para a estocagem em nitrogênio líquido.
3.2.10.2 Descongelamento de células CHO (Ruggiero, 2002).
1 – Os criotubos eram transferidos para um banho de 37ºC até o total descongelamento das
células.
2 – As células eram plaqueadas em densidade de 2 x 10
2
células por garrafa de 25cm
2
em
meio Ham-F12 acrescido de 10% SFB.
3.2.10.3 Tripsinização, passagem das células e formação de monocama celular
(Ruggiero, 2002).
Quando as células atingiam a confluência total e cobrem 100% de toda superfície da
placa de cultura, elas deveriam ser repicadas.
1– O meio de cultura da garrafa era descartado.
2– Eram adicionados 5 mL de tripsina a garrafa.
3– Após 3 minutos, as células começaram a se descolar da superfície da garrafa. O
descolamento das células era acompanhado por visualização a olho nu.
4– A tripsina era neutralizada com cerca de 5 mL de meio acrescido de 10% de SFB.
5– A suspensão celular era transferida para tubos falcon de 50 mL, e centrifugados a 130 x g
por 8 minutos.
6– O sobrenadante era descartado e o sedimento ressuspenso em 3 mL de meio acrescido de
SFB.
8– Era transferida toda a população células por garrafas de 75 cm
2
ou 150 cm
2
contendo 10
mL ou 30 mL de meio acrescido de SFB.
65
3.2.10.4 Estimativa do número de células por meio de contagem em câmara de
Neubauer (adaptado de (Spector et al., 1998).
1– As células eram tripsinizadas e ressuspensas em 1mL de meio de cultura.
2– A câmara de Neubauer era coberta com a lamínula e eram aplicados 10µL de suspensão de
células em cada compartimento da Câmara. Caso alguma diluição tivesse sido necessária, o
número de células contado era multiplicado por esse fator de diluição.
3– As células eram observadas em microscópio óptico (na objetiva com aumento de 40 vezes)
e contadas nos quadrantes. Em seguida, era utilizada a fórmula:
número de células contadas X fator de diluição X 10
4
= nº de células / mL
número de quadrantes contados
3.2.10.5 Determinação Viabilidade celular (adaptado de (Spector et al., 1998).
1– As células eram tripsinizadas e transferidas para um tubo falcon de 15mL, ao qual se
adicionou 5 mL de meio com SFB.
2– As células eram centrifugadas a 130 x g por 8 minutos.
3– O sobrenadante era descartado e as células ressuspensas em 3mL de meio de cultura
remanescente.
4– Vinte microlitros da suspensão celular eram incubados com 80µL da solução de Azul de
Tripan (diluição de 5 vezes da cultura).
5– A câmara de Neubauer era montada, e nela aplicou-se um volume de 10µL da mistura.
6– Eram contadas 200 células, entre viáveis (transparentes) e não-viáveis (azuis). A célula
não-viável tem a membrana celular mais permeável, e por isso, o corante entra na célula,
tornando-a azul. Após a contagem, era estabelecida a porcentagem de células viáveis.
3.2.10.6 Transfecção de Células CHO utilizando o reagente JetPEI™ (Polyplus
Transfection, n
º de catálogo 101-01N)
O reagente JetPEI é um polímero catiônico derivado de polietilenimina linear. Suas
características inibem a formação de complexos de DNA. O complexo DNA/JetPEI possui a
capacidade de se ligar a resíduos da superfície celular e adentrá-la por endocitose. Dentro do
endossomo, o JetPEI se torna uma “esponja” de prótons, tamponando o pH. Esse mecanismo
66
permite o rompimento do endossomo e a liberação do complexo JetPEI/DNA no citoplasma,
de onde será transportado para o núcleo.
1– Em placa de cultura de 6 poços eram semeadas cerca de 2 x 10
4
células por poço,
adicionando-se em seguida 2 mL de meio acrescido de 10 % SFB e solução de
antibiótico/antimicótico.
2– As células eram incubadas em estufa a 37ºC, 5% de CO
2
e 70% de umidade durante a
noite, até que se atingisse a confluência ideal de 50 a 60%.
3– No dia seguinte, em microtubos de 1,5 mL estéreis, as soluções eram preparadas da
seguinte maneira: na solução A, para cada transfecção eram diluídos 3 µg do vetor em 100 µL
de NaCl 150mM. Na solução B, para cada transfecção eram diluídos 6 µL de JetPEI em 100
µL de NaCl 150mM. As duas soluções eram agitadas rapidamente e centrifugadas só para
baixar os resíduos das paredes do tubo.
4– A partir daí, era adicionada a solução B sobre a solução A (não misturar na ordem inversa),
imediatamente a mistura é agitada rapidamente e centrifugadas só para baixar os resíduos das
paredes do tubo.
5– Incubava-se a mistura à temperatura ambiente por 15 minutos.
6– Adicionava-se 200 µL da mistura por transfecção delicadamente gota a gota, fazendo
movimentos em forma de cruz no poço.
7– Homogeneizar a placa mexendo-a gentilmente.
8– Após 24 horas o sobrenadante de cultura era coletado e verificado quanto a presença de
proteínas recombinantes.
3.2.10.7 Seleção de células transfectadas utilizando Geneticina
®
(G418-Sulfato)
Como o vetor utilizado para expressão das proteínas recombinantes (pMIRES)
apresenta o gene de resistência a geneticina (NEO
R
), após o processo de transfecção o vetor
possibilitou que fosse feita a seleção das células transfectadas e eliminação daquelas que não
estavam produzindo as proteínas recombinantes.
1- Após 72h da transfecção o sobrenadante de cultura era coletado para verificação da
expressão de proteínas recombinantes e o meio era reposto adicionado de geneticina a uma
concentração final de 600 µg/mL em todos os poços transfectados com o plasmídio e também
no poço com as células não transfectadas, utilizadas como controle.
67
2- O meio de cultura a partir de então era trocado a cada 48h nas mesmas condições descritas
anteriormente e visualizava-se, ao microscópio ótico, a morte celular no poço controle de
células não transfectadas.
3- Quando era constatado a ocorrência de morte das células não transfectadas (elas mudam
sua morfologia de elípticas para esféricas e perdem a aderência à placa de cultura)
permanecia-se mais uma semana com o procedimento descrito acima e a partir de então as
células eram consideradas selecionadas e somente células transfectadas estavam presentes no
poço.
3.2.10.8 Propagação das células transfectadas selecionadas para aumento da
expressão.
Quando as células transfectadas selecionadas atingiam a confluência máxima no poço
era então procedido à propagação das células para aumento da cultura e conseqüentemente da
quantidade de proteína recombinante expressa.
1– O meio de cultura do poço era descartado.
2– Eram adicionados 500 µL de tripsina ao poço.
3– Após 3 minutos, as células começaram a se descolar da superfície da garrafa. O
descolamento das células era acompanhado por visualização a olho nu.
4– A tripsina era neutralizada com cerca de 1 mL de meio acrescido de 10% SFB.
5– A suspensão celular era transferida para tubos falcon de 15 mL, e centrifugados a 130 x g
por 8 minutos.
6– O sobrenadante era descartado e o sedimento ressuspenso em 3 mL de meio Ham-F12
acrescido de SFB.
7– Transferia-se toda a população células para garrafas de 75 cm
2
contendo 10 mL de meio
Ham-F12 acrescido de 10% SFB e geneticina na concentração já citada.
8– Quando as células chegavam novamente a uma confluência máxima as células eram então
passadas para garrafas de 150 cm
2
contendo 30 mL de meio Ham-F12 acrescido de 10% SFB
e geneticina. A partir de então, as células transfectadas eram mantidas nessas condições,
trocando-se o meio a cada 48h nas mesmas condições e coletando-se o sobrenadante para
acúmulo de quantidade suficiente para purificação dos anticorpos recombinantes e realização
dos ensaios biológicos.
68
3.2.10.9 Seleção de clones estáveis produtores de anticorpos recombinantes
1– As células transfectadas e selecionadas com geneticina presentes nas garrafas de 150 cm
2
eram tripsinizadas, ressuspensas em 5 mL de meio e contadas na câmara de Neubauer.
2– Após a contagem semeava-se um volume correspondente à presença de 10, 1 e 0,1 célula
por poço. O procedimento era realizado em placas de microtitulação de 96 poços com fundo
chato. Aos poços onde se iriam semear as células eram adicionados 150 µL meio Ham-F12
acrescido de 10% de SFB e geneticina.
3– Repetiu-se esse procedimento 8 vezes de forma que ao final teríamos 8 poços para cada
diluição celular.
4– A cada 48h era observado, em microscópio ótico, se havia a formação de colônias das
células semeadas e o meio era trocado, mantendo as condições estabelecidas.
5– Dava-se preferência as colônias surgidas dos poços com a diluição de 0,1 célula ou se
fosse visualizada claramente um única colônia nos poços com a diluição de 1 célula. Esse
procedimento visa garantir que as células do poço escolhido sejam originarias de uma única
célula, caracterizando um clone.
6– Selecionados os poços com as colônias nos parâmetros descritos, adicionava-se 50 µL de
tripsina e incubava-se por 3 minutos.
7– Depois de decorrido esse tempo era procedido uma homogeneização do poço por
pipetagem e o seu conteúdo era totalmente transferido para poços de placas de 6 poços
contendo 2 mL de meio Ham-F12 acrescido de 10 % de SFB e geneticina.
8– Após 48h observava-se a confluência do poço e trocava-se o meio. O procedimento era
repetido até que a confluência chegasse à 90%.
9– Ao atingir 90% de confluência, as células eram tripsinizadas e passadas para uma garrafa
de 25 cm
2
.
10– Ao atingir 90% de confluência, o sobrenadante das garrafas era coletado para análise dos
níveis de expressão de cada clone e adicionava-se meio Ham-F12 acrescido de 10 % de SFB e
geneticina.
11– Mantinha-se a cultura nas condições anteriores por pelo menos duas semanas, sempre
trocando o meio a cada 48h e coletando o sobrenadante para monitoramento da expressão.
Quando a cultura chegava a uma confluência de 100%, procedia-se a uma tripsinização e
eliminava-se um pouco das células.
69
12– Após as duas semanas, procedia-se a troca do meio, substituindo-o pelo meio Ham-F12
acrescido de 10% de SFB e antibiótico/antimicótico e sem geneticina.
13- Mantinha-se a cultura nas condições anteriores por pelo menos duas semanas, sempre
trocando o meio a cada 48h e coletando o sobrenadante para monitoramento da expressão.
Um clone estável deve manter seus níveis de expressão mesmo após a retirada do agente
seletivo. Quando a cultura chegava a uma confluência de 100%, procedia-se a uma
tripsinização e eliminava-se um pouco das células.
14- Após as duas semanas, procedia-se a troca do meio retornando a adição de geneticina.
15- Mantinha-se a cultura nas condições anteriores por pelo menos duas semanas, sempre
trocando o meio a cada 48h e coletando o sobrenadante para monitoramento da expressão.
Aqui objetiva-se visualizar se o clone não perdeu a resistência ao agente seletivo. O clone
deve manter os níveis expressos com a volta da geneticina. Quando a cultura chegava a uma
confluência de 100%, procedia-se a uma tripsinização e eliminava-se um pouco das células.
16– Com todos os resultados de monitoramento de expressão, era escolhido o clone com a
expressão mais constante e em maiores níveis.
17– A garrafa do clone escolhido era tripsinizado e realizada passagem para garrafas de 150
cm
2
para obtenção de grande quantidade de proteína expressa.
3.2.10.10 Adaptação da cultura de célula a baixos níveis de Soro Fetal Bovino.
Com o intuito de melhorar a eficiência do processo de purificação dos anticorpos
recombinantes e evitar a excessiva contaminação com proteínas presentes no soro fetal
bovino, como, por exemplo, albumina e anticorpos bovinos, foi proposta a adaptação da
cultura de células a baixos níveis de soro fetal bovino.
Utilizamos essa alternativa visto que a total retirada do soro da cultura de células
propicia uma mudança no fenótipo das células CHO de células aderentes para não aderentes.
Essa mudança de certa forma compromete o trabalho diante a infra-estrutura disponível. Para
tal procedimento seriam necessárias garrafas especiais com agitadores e a utilização de meios
de custo relativamente elevado.
1– Utilizava-se como partida as culturas de células transfectadas, já selecionadas com
Geneticina ou cultura com os clones estáveis já estabelecidos, que estavam sendo mantidos
em garrafas de 150 cm
2
.
70
2- Era procedida a substituição do meio Ham-F12 com geneticina e 10% de SFB por meio
acrescido de 5% de SFB.
3- A cada 48h era procedida a troca do meio nas mesmas condições e a coleta do
sobrenadante.
4- Após atingir 96h horas da modificação da composição do meio, era observada a morfologia
das células ao microscópio ótico com o intuito de visualizar a manutenção da forma elíptica
apresentada por essa célula quando aderida. Estando aderida procedia-se a próxima etapa.
5– Era, então, realizada a substituição do meio Ham-F12 com geneticina e 5% de SFB por
meio acrescido de 2,5% de SFB.
6– Em paralelo, eram monitorados os níveis de expressão de proteína recombinante em
função das alterações no meio. Os níveis expressos com o vetor utilizado nesse trabalho
permaneciam inalterados.
7 – Repetia-se os passos 3, 4, 5 e 6 até que os níveis de soro fetal bovino chegassem a 1,25%
no meio utilizado.
8 – A partir de então, a cultura de células era mantida nessas condições, trocando o meio a
cada 48h e coletando sobrenadante para acúmulo de anticorpos recombinantes e futura
purificação.
3.2.11 ELISA (Enzyme-linked immunosorbent assay)
Eram realizados ensaios do tipo ELISA sanduíche para detecção e quantificação das
proteínas recombinantes. Após cada lavagem as placas de microtitulação (Nunc
®
) eram
invertidas sobre uma pilha de papel toalha e batidas vigorosamente até a retirada completa das
soluções presentes. Durante as incubações as placas permaneciam fechadas para evitar a
evaporação das soluções. Os anticorpos utilizados estão detalhados no tópico 3.1.22 dos
Materiais.
1- Os poços de interesse na placa eram sensibilizados com 150 µL por poço com o anticorpo
anti-IgG humana H+L feito em cabra, diluído em PBS 1X 1:1.000, durante 2 horas a
temperatura ambiente.
2- Lavava-se 3X com PBS - T 1X, 200 µL por poço.
3- Bloqueava-se com 200 µL por poço de solução de bloqueio, durante 2 horas a temperatura
ambiente ou durante a noite a 4ºC.
71
4- Lavava-se 3X com PBS - T 1X e adicionava-se o sobrenadante de cultura das células
transfectadas ou os FvFcs purificados. Eram feitas diluições seriadas de fator comum 3 das
proteínas em PBS, onde o volume final era de 100 µL por poço e títulos de 1:1; 1:3; 1:9;
1:27; 1:81 e 1:243. A mesma diluição era realizada para todas as amostras. Como padrão
utilizava-se IgG humana purificada na concentração especificada nos materiais (diluída na
mesma solução/meio que as proteínas recombinantes). As reações eram feitas em duplicatas.
Incubava-se por 2 horas a temperatura ambiente.
5- Lavava-se 3X com PBS - T 1X e incubava-se com 150 µL por poço do anticorpo anti-Fc
humano conjugado a fosfatase alcalina na diluição de 1:5.000 por 2 horas a temperatura
ambiente.
6- Lavava-se 3X com PBS - T 1X e uma vez com tampão para fosfatase alcalina (APB).
7- Revelava-se com 100 µL por poço de pNPP (para-nitro-fenil-fosfato) 1 mg/mL dissolvido
em APB. Incubava-se de 20 a 30 min. A partir daí a absorbância era lida no leitor de ELISA
Microplate Reader BioRad
®
” modelo 450 a um comprimento de onda de 405 nm.
Os cálculos de concentração eram feitos baseados na curva padrão de IgG humana,
sempre desconsiderando os poços brancos (com PBS 1X em todas as etapas).
3.2.12 Concentração do sobrenadante de cultura utilizando o sistema Amicon
Stirred Ultrafiltration Cell Millipore®.
Para concentração era utilizada uma membrana de ultrafiltração NMWL: 10.000, a
qual permite a passagem de proteínas com tamanho menor que 10 kDa e retem as proteínas
com peso molecular superior a isso.
1– 300 mL de sobrenadante era adicionado ao aparato e submetido a pressão de 4 kgf/cm
2
,
utilizando nitrogênio gasoso, sob agitação. O sistema era mantido a 4
o
C para preservação da
membrana.
2– O sistema era observado de forma a impedir que todo o sobrenadante passasse e secasse a
membrana. Quando restava somente 10 mL de sobrenadante no sistema adicionava-se mais
200 mL de PBS 1X para diálise.
3– Ao atingir novamente 10 mL o sobrenadante concentrado era transferido para um tubo de
15 mL e acondicionado a 4
o
C. Pode-se adicionar um pouco (1 gota) de anti-espumante para
facilitar a coleta do concentrado.
72
3.2.13 Purificação das proteínas recombinantes por cromatografia de afinidade
A purificação dos FvFcs recombinantes era realizada na coluna HiTrap
TM
Protein A HP
1mL (GE lifescience
®
).
1– Preparavam-se os microtubos de coleta da eluição adicionando 200 µL de Tris-HCl 1M
pH9,0 por mL de fração a ser coletado.
2- Era preparada a bomba peristáltica preenchendo-a de tampão de ligação. Retirava-se a
tampa da parte superior da coluna e conectava-se a mangueira da bomba peristáltica a coluna
cromatográfica gota a gota.
3- Lavava-se a coluna com 10 volumes de tampão de ligação mantendo uma taxa de passagem
do tampão pela coluna em 1 mL/min.
4– Aplicava-se o sobrenadante de cultura filtrado e concentrado.
5- Lavava-se a coluna com 10 volumes de tampão de ligação.
6– Eluia-se os FvFcs ligados com 8 volumes de tampão de eluição pH 3,5 coletando-se as
amostras nos microtubos de coleta preparados com Tris-HCl.
7– Passavam-se 3 volumes de tampão de eluição a pH 2,0 para retirada das IgGs bovinas
ligadas a resina e limpeza da coluna. O material também era coletado.
8- Lavava-se a coluna com mais 10 volumes de tampão de ligação.
9- Aplicava-se etanol 20%, no qual se estocava novamente a resina a 4ºC.
Imediatamente após o fim da coleta, 5µL de cada amostra eram aplicados em uma
membrana de nitrocelulose para análise por Dot Blotting, seguindo o protocolo do item 3.2.14
de métodos. As amostras onde se detectavam proteínas eram passadas na coluna Centriprep
ou Centricon YM-30 (Amicon
®
), com membrana de exclusão para proteínas maiores que 30
kDa para diálise e concentração.
3.2.14 Análise de proteínas por Dot Blotting (adaptado de (Sambrook e Russel, 2001).
1- Adicionavam-se de 5 µL das frações obtidas durante o processo de purificação diretamente
a uma membrana de nitrocelulose.
73
2- Com a membrana seca, contendo as proteínas ligadas, era procedido o bloqueio utilizando
solução de bloqueio por 2h a temperatura ambiente ou durante a noite a 4
o
C. 3 - Após essa
etapa a membrana era lavada 3X com PBS – T 1X.
4– Incubava-se com o anticorpo anti-Fc humano conjugado a fosfatase alcalina na diluição de
1:2.500 por 2 horas a temperatura ambiente.
5- Após essa etapa a membrana era lavada 3X com PBS – T 1X e uma vez com APB.
6- Adicionava-se a solução reveladora (NBT/BCIP). O aparecimento das bandas coloridas era
controlado visualmente. Após a reação, lavava-se a membrana com água destilada até retirar o
excesso da solução reveladora e interromper a reação da enzima. Preservava-se a membrana
seca, sobre papel filtro.
3.2.15 Análise de proteínas em gel de SDS-PAGE (adaptado de Sambrook e Russel,
2001).
Após a purificação dos FvFcs procedia-se a análises em gel desnaturante de
poliacrilamida.
1- Inicialmente preparava-se o gel separador em concentração de 10% (p/v), sendo a
polimerização catalisada pela adição de 0,045% (p/v) de APS e 0,2% (v/v) de TEMED.
2- Uma vez polimerizado o gel separador, introduzia-se o pente para permitir a formação dos
poços.
3- A partir daí, vertia-se o gel concentrador preparado em concentração de 4% (p/v), tendo a
sua polimerização catalisada por 0,12% (p/v) de APS e 0,2% (v/v) de TEMED.
4- Uma vez polimerizado o gel, acoplava-o ao aparato de eletroforese. Antes da aplicação das
amostras os poços eram lavados com tampão de corrida.
5- Imediatamente antes da aplicação das amostras (já preparadas com o tampão de amostra),
procedia-se à fervura das mesmas em banho-maria a 100°C por 10 minutos.
6 – Procedia – se a aplicação das amostras e iniciava – se a corrida do gel a 20 mA por gel.
7- Após a corrida do gel, realizava-se os procedimentos de coloração com Comassie Briliant
Blue (R-250) ou prata, especificados respectivamente no item 3.2.14 de métodos. E a
realização de Western Blotting, onde o gel era submetido è transferência para membrana de
nitrocelulose, especificada no item 3.2.15 de métodos.
74
3.2.16 Coloração do gel de SDS-PAGE
3.2.16.1 Com Comassie Brilhant Blue R-250.
1- Após a eletroforese o gel era colocado em solução fixadora por 30 min, sob agitação, a
temperatura ambiente.
2- Descartava-se a solução anterior e incubava-se o gel com a solução de Comassie R-250 por
no mínimo 2 horas ou durante a noite, sob agitação.
3- Aplicava-se a solução descorante em 4 etapas: 15 min, 45 min, 120 min, 120 min.
Trocando-se a solução descorante a cada etapa.
4- O gel era guardado na solução preservadora.
3.2.16.2 Com prata
A coloração com prata era feita com o kit PlusOne Silver Staining kit Protein (GE
Lifescience) segundo instruções do fabricante.
3.2.17 Análise de proteínas por Western Blotting (adaptado de (Sambrook e
Russel, 2001).
Após a corrida, o gel de poliacrilamida era transferido para a membrana de
nitrocelulose utilizando-se o sistema de transferência semi-seca com eletrodos de grafite
(Pharmacia-LKB
®
).
1- Conforme instruções do fabricante, fazia-se um "sanduíche" de papéis de filtro,
previamente embebidos em tampão de transferência contendo, nessa ordem, 5 papéis de filtro,
a membrana, o gel e mais 5 papéis de filtro.
2- O "sanduíche" era colocado entre os eletrodos de grafite e submetido a uma corrente
elétrica de 0,8 mA/cm
2
de membrana por 1h 45 min.
3- Após este procedimento, a membrana, contendo as proteínas transferidas, era embebida em
solução de bloqueio e incubada por 2 h à temperatura ambiente ou durante a noite a 4°C.
75
4- Removia-se a solução de bloqueio e lavava-se a membrana 3X com PBS-T 1X a
temperatura ambiente.
5- Incubava-se com o anticorpo anti-Fc humano conjugado a fosfatase alcalina na diluição de
1:2.500 por 2 horas a temperatura ambiente.
6- Após essa etapa a membrana era lavada 3X com PBS – T 1X e uma vez com APB.
7- Adicionava-se a solução reveladora (NBT/BCIP). O aparecimento das bandas coloridas era
controlado visualmente. Após a reação, lavava-se a membrana com água destilada até retirar o
excesso da solução reveladora e interromper a reação da enzima. Preservava-se a membrana
seca, sobre papel filtro.
3.2.18 Separação de células mononucleares do sangue periférico (CMSP) (Boyum,
1968).
A separação de CMSP é feita por centrifugação de gradiente de densidade com Ficoll-
Hypaque, que se baseia nas diferenças de densidade entre as células mononucleares e os
outros elementos do sangue. Após a centrifugação, as CMSP e plaquetas, por serem menos
densas que a solução de Ficoll (d < 1,077 g/L), ficam localizadas acima da solução de Ficoll-
Hypaque, enquanto as hemácias e as células polimorfonucleares (granulócitos), que têm maior
densidade, ficam localizadas abaixo. O sangue obtido de doador normal deve render 1-2 x 10
6
células/mL. Aproximadamente 60 a 70% das células são linfócitos com viabilidade de 95%.
Todas as soluções e materiais que entraram em contato com as células estavam
estéreis. Se a separação visava somente o ensaio de FACS a separação podia ser realizada fora
do fluxo. De outra forma, todos os procedimentos eram realizados em ambiente estéril.
Para retirada de sangue de doador saudável utilizava-se heparina sódica para evitar a
coagulação do sangue. Utilizava-se 100UI de heparina para cada mL de sangue coletado,
previamente adicionados à seringa.
Todas as centrifugações devem ser realizadas em rotores swing.
1– Diluía-se o sangue heparinizado 1:2 com solução salina 0,9% estéril.
2- Adicionavam-se 9 mL dessa solução sobre um volume de 3mL de Ficoll – Hypaque
utilizando uma pipeta pasteur, bem delicadamente e pelas bordas, de forma que o sangue
formasse uma camada acima do Ficoll, a mistura do sangue com o Ficoll nessa etapa
prejudica a separação das CMSP. Importante utilizar tubos transparentes para na próxima
etapa facilitar a coleta das células.
76
3– Centrifugava-se a 1800 rpm (400 g) por 30 min a 19
o
C.
4– Após a centrifugação formava-se 3 fases, na interface da 1
o
(plasma) com a 2
o
(Ficoll)
encontrava-se uma nuvem com as células mononucleares. Procedia-se a coleta dessa nuvem
com uma pipeta pasteur transferindo-as para outro tubo de 50 mL.
5– Completava-se o volume do tubo com as células com solução salina 0,9% para diluir o
Ficoll que é agressivo para as células
6– Centrifugava-se a 1800 rpm (400 g) por 10 min a 19
o
C.
7– Descartava-se o sobrenadante e ressuspendia-se o botão celular com 10 mL de solução
salina 0,9% para a reação de FACS. Para outros ensaios ressuspendia-se em meio RPMI 1640
suplementado.
8- Centrifugava-se a 1800 rpm (400 g) por 10 min a 19
o
C.
9- Descartava-se o sobrenadante e ressuspendia-se o botão celular com 10 mL de solução
salina 0,9% para a reação de FACS. Para outros ensaios ressuspendia-se em meio RPMI 1640
suplementado.
10- Centrifugava-se a 1100 rpm por 10 min a 19
o
C. A baixa rotação era para eliminar as
plaquetas.
11- Descartava-se o sobrenadante e ressuspendia-se as células em 3 mL de tampão de
lavagem de FACS, para a reação de FACS. Para outros ensaios ressuspendia-se em meio
RPMI 1640 suplementado.
12– Procedia-se a contagem das células na câmara de Neubauer.
3.2.19 Reação de Imunofluorescência para FACS (Fluorescent Activated Cell
Sorter)
Nesse experimento evitava-se ao máximo a exposição à luz direta.
1– Adicionava-se de 2 a 4 x 10
5
CMSP por reação, em poços de placa de microtitulação de 96
poços com fundo em U.
2– Centrifugava-se a 1.800 rpm a 4
o
C por 6 min.
3– Descartava- se o sobrenadante por inversão rápida e depois se encostava a placa em folha
de papel toalha para retirar o excesso de tampão.
77
4– Ressuspendiam-se as células por forte agitação (vortex) com o tampão remanescente nos
poços.
5– Adicionavam-se 25 µL dos anticorpos diluídos em tampão de lavagem de FACS (de
acordo com o tópico 3.1.22 de materiais) ou os FvFcs recombinantes.
6– Incubava-se no gelo por 30 min ao abrigo da luz.
7– Adicionavam-se 150 µL de tampão de lavagem de FACS e centrifugava-se nas condições
já descritas.
8– Repetia-se os passos 3, 4 e 7.
9– Repetia-se os passos 5, 6, 7 e 8 quantas vezes mais ligações com anticorpos fossem
necessárias.
10– Ressuspendiam-se as células em 400 µL de tampão de lavagem de FACS e as transferiam
para tubos apropriados para o aparelho de FACS.
11– A leitura da reação no citômetro de fluxo era realizada preferencialmente no dia da reação
para evitar a morte celular.
3.2.20 Leitura da reação de FACS no citômetro de fluxo
1– O citômetro de fluxo utilizado era o FACScalibur (BD bioscience
®
). O programa utilizado
para aquisição e análise dos dados era o CELLQUEST.
2– As células eram adquiridas e selecionadas de acordo com seu tamanho e granulosidade de
maneira a analisar a população de linfócitos, e a seguir eram contadas de 5.000 a 10.000
células para cada amostra dentro da região de linfócitos.
3– Os dados eram obtidos a partir da análise dos histogramas ou gráficos de pontos fornecidos
pelo programa. Os resultados eram expressos em percentagem de células positivas para cada
proteínas em estudo. O parâmetro considerado era a mediana de intensidade de fluorescência.
78
3.2.21 – Ensaio de proliferação de CMSP com CFSE (Carboxyfluorescein
diacetate succinimidyl ester)
Toda a reação era realizada evitando-se ao máximo a exposição a luz direta. A reação
de proliferação de células mononucleares do sangue periférico era realizada em placas de 6
poços onde se adicionava 1 x 10
6
células por poço. Todas as centrifugações devem ser
realizadas em rotores swing. Antes de realizar o experimento separar um pouco de células não
marcadas para o controle negativo.
1- Para marcação com CFSE as células deveriam estar a uma concentração de 2 x 10
7
células
por mL.
Por exemplo: Se era necessário 18 x 10
6
células para todos os poços, essa quantidade de
células era diluída em 900 µL de volume final de solução de CFSE, pois assim chegaria a
concentração 2.10
7
células/mL.
Dessa forma, diluía-se 18.10
6
células em 450 µL de PBS e acrescentava-se 450 µL da solução
de CFSE a 2,5 µM em PBS (a concentração final de CFSE ficava 1,25 µM).
2– Incubava-se as células com CFSE por 10 min a 37
o
C agitando-se ocasionalmente.
3– Interrompia-se a reação adicionando 5 volumes de meio RPMI 1640 suplementado
acrescido de 10% de SFB gelado e incubar por 5 min no gelo.
4– Centrifugava-se as células a 1.800 rpm por 6 min a 4
o
C
5- Descartava-se o sobrenadante e adicionava-se 3 mL de meio RPMI 1640 suplementado
acrescido de 10% de SFB, gelado.
6– Repetia-se o procedimento 4 e 5 mais duas vezes para lavagem das células.
7– Ressuspedia-se as células em meio RPMI suplementado acrescido de 10% de SFB nas
condições desejadas e adicionava-se 1 x 10
6
células por poço do experimento.
8– Adicionava-se 1 µg do OKT3 a um dos poços (controle positivo)
9- Adicionava-se as versões recombinantes nos poços na mesma concentração do OKT3.
10- Incubava-se as células a 37
o
C por 5 dias (120 h)
11- Retirava-se as células adicionando 2v por poço de tampão de lavagem de FACS e
transferindo para um tubo de 15mL
12– Centrifugava-se a 1.800 rpm por 10min a temp. ambiente.
79
13– Ressuspendia-se em 500 µL de tampão de lavagem de FACS e submetia-se a aquisição
no citômetro de fluxo.
80
Resultados e Discussão
81
Resultados e Discussão
4.1 Construção dos vetores contendo as seqüências codificadoras dos anticorpos
recombinantes.
Com o objetivo de se avaliar a nova proposta de humanização da cadeia leve do anti-
CD3 quanto à capacidade e à especificidade de ligação ao antígeno CD3, foi planejada a
produção de duas versões humanizadas de anticorpos recombinantes no formato de fragmento
FvFc. Ambas as versões eram formadas pela nova cadeia variável leve humanizada e por uma
das duas cadeias variáveis pesadas humanizadas previamente pelo grupo, contendo o resíduo
murino treonina ou humano arginina na posição 86. Análises estruturais realizadas
anteriormente por Fonseca (2000) mostram que essa posição possui uma grande relevância
estrutural para o arranjo das CDR2 e 3, portanto uma mudança de aminoácido nessa posição
pode impactar significativamente a capacidade de ligação do anticorpo. Dessa forma, para
avaliarmos a influência dessa posição no contexto da nova cadeia leve humanizada
propusemos a produção dessas duas versões de anticorpos, denominadas respectivamente:
FvFc hVH
T86
hVL (FvFc T) e FvFc hVH
R86
hVL (FvFc R).
Além das versões humanizadas, propusemos a produção de uma versão murina do
anticorpo anti-CD3, no formato de FvFc. Esse fragmento de anticorpo possui as regiões
variáveis originais do anticorpo murino utilizado como base para o processo de humanização
e tem como função ser um controle mais fiel possível da molécula recombinante humanizada.
Assim, ele irá determinar o comportamento de ligação e o desencadeamento das funções
efetoras considerado o ideal para as versões humanizadas.
Com esses objetivos em mente, foram propostas duas estratégias iniciais realizadas
concomitantemente: a formação das seqüências codificadoras dos anticorpos humanizados e
clonagem em vetor de expressão para célula de mamíferos; e a clonagem da seqüência
codificadora do anticorpo murino em vetor de expressão para célula de mamíferos. Essas
etapas são fundamentais para o objetivo central do trabalho de caracterização da atividade
ligante e da função efetoras das duas versões humanizadas do anticorpo anti-CD3.
82
4.1.1 Clonagem da seqüência codificadora do FvFc anti-CD3 murino em vetor de
expressão para célula de mamíferos com marca seletiva.
Ao se planejar a produção heteróloga de uma proteína recombinante é importante
considerar o vetor de expressão a ser utilizado. Os processos atuais de expressão heteróloga
de proteínas almejam altas taxas de expressão e de forma estável ao longo do tempo. Esses
fatores são importantes para a redução do custo da proteína expressa e, assim, viabilizar a sua
comercialização. Nesse sentido, o desenho de vetores que possuem promotores e seqüências
reguladoras que propiciem altas taxas de transcrição do gene alvo é de grande relevância para
se alcançar altas taxas de expressão. Além disso, a inserção de marcas seletivas nos vetores
utilizados é outro ponto importante, visto que essa estratégia possibilita a seleção de clones
produtores de forma mais rápida e facilita o estabelecimento de clones estáveis.
Como já descrito na introdução, as células de mamíferos são consideradas atualmente
as hospedeiras ideais para a expressão de anticorpos recombinantes, em especial, as células de
ovário de hamster chinês (CHO). Dessa forma, propusemos a utilização dessa linhagem
celular com o intuito de obter um produto expresso o mais similar possível ao feito por células
humanas.
Com o sistema de expressão escolhido e com o objetivo de alcançar taxas de produção
das proteínas recombinantes significativas e estáveis foi proposta a utilização do vetor de
expressão para célula de mamíferos pMIRES. Esse vetor foi construído durante a minha
iniciação científica e possui como característica um promotor de citomegalovírus (pCMV),
promotor largamente utilizado para expressão de altos níveis de proteínas recombinantes.
Apresenta também um sinal de poliadenilação eficiente do vírus 40 de macaco (SV40, do
inglês, Simian Vírus 40) e uma seqüência líder que quando traduzida origina um peptídeo
sinal para direcionamento da proteína expressa para o aparato secretório da célula. Destaca-se,
nesse vetor, a presença de um sítio de entrada ribossomal interna (IRES) interposto entre o
final da região codificadora do anticorpo recombinante e o início da marca de resistência ao
antibiótico G418, essa seqüência foi obtida do vetor comercial pLXIN (Clontech) (Figura 18).
Essa construção permite a tradução pelo ribossomo da seqüência do anticorpo clonado e do
gene de resistência a partir de um único transcrito na forma policistrônica, conforme mostrado
na figura 13.
Uma característica interessante dessa construção é que a geração de um transcrito
policistrônico, contendo a marca de resistência a G418, garante a seleção das células
83
produtoras da proteína de interesse. Isso se dá porque a célula só adquire resistência ao
antibiótico G418 se estiver produzindo o transcrito que contem tanto a marca de resistência
como o gene da proteína de interesse.
pMIRES
6252 bp
XmaI
EcoRI
pCMV
PS
IRES
NeoR
SV40 poly A
bla
ori
Figura 18. Representação esquemática do vetor pMIRES. Vetor utilizado para expressão
das proteínas recombinantes em células de mamíferos. O sítio múltiplo de clonagem está
sendo mostrado com os sítios de clivagem das endonucleases Xma I e EcoR I, os quais são
utilizados para clonagem dos fragmentos de anticorpos. Siglas- bla: gene da enzima β-
lactamase. pCMV: promotor de citomegalovírus. SV40 poly A: Sinal de poliadenilação. PS:
Seqüência líder codificadora do peptídeo sinal. ori: Origem de replicação. IRES: sítio de
entrada ribossomal interno. NeoR: gene de resistência ao antibiótico G418.
Com o vetor de expressão estabelecido, direcionamos as estratégias de clonagem e a
montagem das seqüências codificadoras dos anticorpos recombinantes para inseri-las nesse
vetor e possibilitar a expressão em células de mamíferos.
Para a clonagem do fragmento gênico codificador do FvFc anti-CD3 murino no vetor
pMIRES obtivemos a sua seqüência a partir daquela clonada no vetor pPIG CD3 FvFc mur,
vetor previamente construído pelo grupo de Imunologia Molecular da UnB para expressão de
proteínas recombinantes em leveduras. Dessa forma, os vetores pPIG CD3 FvFc mur e
pMIRES foram digeridos com as enzimas Xma I e EcoR I proporcionando a liberação do
FvFc mur do primeiro plasmídio e a geração dos sítios para clonagem no vetor pMIRES
(Figura 19). Após a clonagem, os clones obtidos foram analisados utilizando a enzima Pst I e
o perfil originário estava de acordo com o esperado, dando indício que a clonagem foi bem
sucedida, originando o vetor pMIRES FvFc Mur (Figura 19).
84
pPIg CD3 FvFc Mur
9435 bp
XmaI
EcoRI
VH
VL
5`AOX
S
Fc
3`AOX TT
His4
3`AOX
bla
Xma I e
EcoR I
Figura 19. Estratégia de construção do vetor pMIRES FvFc mur. O fragmento gênico
codificador do FvFc murino foi obtido pela digestão do plasmídio pPIG CD3 FvFc mur com
as enzimas Xma I e EcoR I, seqüência essa utilizada para ligação ao vetor pMIRES, digerido
previamente com as mesmas enzimas. A ligação desses fragmentos deu origem ao vetor
pMIRES FvFc Mur. Siglas - bla: gene da enzima β-lactamase. pCMV : promotor de
citomegalovírus. SV40 poly A: Sinal de poliadenilação. PS: Seqüência líder codificadora do
peptídeo sinal. ori: Origem de replicação. IRES: sítio de entrada ribossomal interno. NeoR:
gene de resistência ao antibiótico G418. 5`AOX: fragmento do promotor AOX1. S: sinal de
secreção do fator α. 3`AOX TT: fragmento 3`AOX1 de terminação da transcrição. His4: fase
de leitura aberta do gene HIS4. 3`AOX: fragmento 3`AOX1.
A partir disso, o clone escolhido foi submetido ao seqüenciamento automático para
verificação da existência de mutações. Ao se analisar as seqüências utilizando ferramentas de
bioinformática (tópico 3.2.9) observou-se a ocorrência de algum tipo de mutação próximo ao
início da seqüência codificadora do FvFc mur. Isso provocou uma mudança na fase de leitura
em relação ao códon de iniciação (Figura 20) e o surgimento de um códon de terminação da
tradução precoce, o que impossibilita a produção da proteína quando transfectada.
T4 DNA ligase
Xma I
Eco RI
b
la
pCMV
SV40
NeoR
IRES
Xma I
pMIRES
6252 bp
XmaI
EcoRI
pCMV
PS
IRES
NeoR
SV40 poly A
bla
ori
pMIRES FvFc mur
7733 bp
XmaI
NcoI
EcoRI
pCMV
PS
VH
VL
Fc
IRES
Neo R
SV40 poly A
bla
ori
Xma I e
EcoR I
Eco RI
VH VL
Fc
85
Com o intuito de verificar onde surgiu a mutação nessa seqüência, foi realizado o
seqüenciamento do vetor doador da seqüência murina, pPIG CD3 FvFc mur, onde se
observou o mesmo problema.
Diante da situação, foi proposta a correção da seqüência codificadora do FvFc mur por
meio da deleção de 4 pares de base no início da sua seqüência para o restabelecimento da fase
de leitura original. Dessa forma, realizaram-se digestões do vetor pMIRES FvFc mur com a
enzima Xma I, que possui o sítio de restrição onde a mutação ocorreu, e um posterior
tratamento com a nuclease Mung Bean. Essa nuclease é capaz de retirar nucleotídeos em
formato de fita simples de DNA, justamente àqueles gerados pela digestão com a enzima Xma
I. Esse tratamento possibilitaria o restabelecimento da fase de leitura original como pode ser
observado na figura 20.
Tal procedimento foi realizado exaustivamente durante um ano, entretanto não foi
possível solucionar o problema. O fato de a Mung Bean ser uma nuclease que reconhece
nucleotídeos não pareados gera problemas durante a sua utilização como a degradação de
loops despareados ou a perda de especificidade e degradação do DNA. Para minimizar esses
efeitos as reações foram procedidas a 30
o
C, contudo, os clones obtidos com o tratamento
perdiam fragmentos de até 400 pb, mostrando que a reação de nuclease era exacerbada.
Diversas adaptações do protocolo proposto pelo fabricante da enzima foram tentadas sem
sucesso.
Diante desse entrave, foi proposta a utilização anticorpo murino anti-CD3 (OKT3)
como controle dos ensaios de ligação ao antígeno e dos ensaios de análise das funções
efetoras dos anticorpos recombinantes. O OKT3 é utilizado no tratamento dos pacientes
transplantados e foi gentilmente disponibilizado pelo grupo de Imunologia de Transplantes do
Instituto do Coração (InCor – USP).
86
Figura 20. Seqüência codificadora do FvFc mur presente no vetor pMIRES FvFc mur.
1- Seqüenciamento do FvFc mur no vetor pMIRES evidenciando a mudança da 1
o
(amarelo)
para 3
o
(azul) fase de leitura. Em vermelho o sítio da enzima de restrição Xma I escolhida
como ponto de clivagem para posterior tratamento com a enzima Mung Bean. 2- Seqüência
proposta para o FvFc mur após o tratamento com a nuclease Mung Bean que promoverá o
restabelecimento da fase leitura original como é mostrado pela junção realçadas em duas
cores e a cicatriz do tratamento com nuclease Mung Bean (vermelho).
87
4.1.2 Construção do vetor codificador do scFv anti–CD3 humanizado
hVH
T86
hVL.
A estratégia utilizada para clonagem das seqüências relativas aos anticorpos
humanizados no vetor de expressão difere significativamente da observada para clonagem da
versão murina. Enquanto a seqüência murina já estava previamente construída pelo grupo, as
versões humanizadas deveriam ser montadas antes da sua clonagem no vetor de expressão
para células de mamíferos. Com isso, para a construção das seqüências codificadoras
correspondentes a esses FvFcs humanizados seria necessário a junção do fragmento gênico
codificador do scFv correspondente amontante aos domínios gênicos que codificam o
CH2CH3 de IgG1 humana (Figura 21).
scFv
Figura 21. Representação esquemática do gene dos FvFcs construídos. O polipeptídeo
resultante da expressão desses genes é constituído pelo fragmento scFv unido à porção Fc de
IgG1 humana.
Dessa forma, precisava-se primeiramente formar as seqüências codificadoras dos
scFvs dos respectivos anticorpos para a sua futura junção com a seqüência gênica da região
Fc. Como passo inicial, partiu-se para a construção do scFv T. Optou-se por uma estratégia
onde eram utilizados os plasmídios pIg FvFc hVH
T86
mVL e o pUC hVL. O plasmídio pIg
FvFc hVH
T86
mVL foi obtido anteriormente nesse trabalho. Esse vetor contem o gene
codificador da versão hemi-humanizada do FvFc anti-CD3 que consiste da cadeia pesada
humanizada T e da cadeia leve murina, sendo então um doador da cadeia variável pesada
humanizada T. Já o plasmídio pUC hVL, contem a seqüência codificadora da cadeia leve
humanizada (Figura 22). Os dois plasmídios foram digeridos com as enzimas de restrição Bgl
II e Xho I onde no pIg FvFc hVH
T86
mVL permaneceria somente o fragmento com a cadeia
pesada humanizada e o linker, e no pUC hVL era liberada a cadeia leve (Figura 22). Os
fragmentos obtidos após esse ensaio de restrição foram separados em gel de agarose 0,7%
(p/v) e as bandas correspondentes ao vetor e a cadeia leve foram eluídas, purificadas e
submetidas a sistemas de ligação.
5`
3`
VH
L
VL
Fc
CH2CH3
88
Esses sistemas foram utilizados para transformar, pela técnica de choque térmico,
células competentes de E. coli da linhagem DH5α. Os clones transformantes foram escolhidos
para preparação de DNA plasmidial em pequena escala e foram analisados quanto ao perfil de
restrição com as endonucleases Bgl II e Xho I. Foram obtidos fragmentos de DNA com o
perfil de migração eletrosforética em torno de 300 pb e 3589 pb, de acordo com o esperado
(Figura 23). Essa construção resultou na perda do fragmento FvFc original do vetor e na
formação do fragmento scFv T. O vetor resultante dessa clonagem recebeu o nome de pIg
CD3 scFv T (Figura 22).
Figura 22. Estratégia para construção do vetor pIg CD3 scFv T. O fragmento gênico
codificador do scFv T humanizado contendo a cadeia variável pesada hVH
T86
e a cadeia leve
humanizada hVL foi obtido pela digestão dos plasmídios pIg FvFc hVH
T86
mVL e pUC hVL
com as enzimas Bgl II e Xho I para liberação do vetor com a cadeia variável pesada e da
cadeia variável leve. Esses fragmentos por sua vez foram ligados utilizando-se a enzima T4
DNA ligase. Siglas- bla: gene da enzima β-lactamase. lacZ: gene da β-galactosidade. rep
(pMB1): origem de replicação. ori: origem de replicação.
pIg CD3 scFv T
3973 bp
hVH T
Linker
hVL
bla
XmaI
XhoI
BglII
ori
pUC hVL
3039 bp
hVL
rep (pMB1)
XhoI
BglII
lacZ
bla
pIg FvFc hVHt86 mVL
4704 bp
hVH T
linker
VL murin
o
BglII
NcoI
XhoI
XbaI
XmaI
Fc
bla
ori
Bgl II e
Xho I
Bgl II e
Xho I
hVL
Bgl II
Xho I
Bgl II
Xho I
ori
bla
hVH T
T4 DNA ligase
89
INT DIG M
1,0 kb
4,0 kb
3,0 kb
0,3 kb
3,0 kb
4,0 kb
A
B
Figura 23. Confirmação da construção do vetor pIg CD3 scFv T. .A: Perfil de restrição
com as enzimas Bgl II e Xho I da ligação entre o pIg hVH
T86
e o hVL dando origem ao pIg
CD3 scFv T. B: Perfil de restrição do vetor pIg FvFc hVH
T86
mVL com as enzimas Bgl II e
Xho I mostrando o fragmento contendo o VL murino e os domínios CH2CH3 retirados para a
inserção do VL humanizado, indicada pela seta verde. Números em kilobases indicando as
bandas do marcador. Setas azuis indicando os fragmentos esperados para o perfil correto.
Clones de 1 a 8. INT: plasmídio intacto; DIG: plasmídio digerido pelas referidas enzimas; M:
1 kb Plus ladder Invitrogen
®
.
4.1.3 Construção do vetor codificador do scFv anti – CD3 humanizado
hVH
R86
hVL.
Para a construção da seqüência codificadora do FvFc R adotou-se uma estratégia onde
o passo inicial era a formação do fragmento gênico scFv R. Para tal foram utilizados os
vetores pCIg Rm (Fonseca, 2000), no qual está contido o scFv hemi-humanizado com a
cadeia variável pesada hVH
R86
e a cadeia leve murina, e o vetor pIg CD3 scFv T, descrito no
tópico anterior (Figura 24). Para obtenção do scFv R ambos os plasmídios foram digeridos
com as enzimas Xma I e Xba I, a partir da qual o vetor pCIg Rm liberou a cadeia pesada
hVH
R86
que foi utilizada para repor o VH do vetor pIg CD3 scFv T o que originou o vetor pIg
CD3 R. (Figura 24).
Os sistemas eram transformados na forma descrita anteriormente e os plasmídios
obtidos foram submetidos à digestão com a enzima de restrição Ava I para averiguar se o
procedimento foi bem sucedido. O padrão de fragmentos apresentado foi de 351, 397 e 3174
pb, de acordo com o esperado. A partir da confirmação do perfil de restrição, doze clones
obtidos foram submetidos ao seqüenciamento automático de DNA para verificação se a
cadeia pesada hVH
R86
realmente estava presente no vetor de forma íntegra. Como a cadeia
90
pesada hVH
R86
difere daquela presente no vetor pIg CD3 scFv T em somente dois pares de
base e não havia nenhuma enzima de restrição passível de ser utilizada para visualizar essa
diferença, a única maneira de comprovarmos a presença da cadeia pesada hVH
R86
era por
seqüenciamento. O resultado dessa etapa foi analisado utilizando ferramentas de
bioinformática (tópico 3.2.9) e comprovou-se que oitos dos doze clones submetidos ao
seqüenciamento apresentavam a seqüência da cadeia pesada com arginina, dando origem ao
vetor pIg CD3 scFv R (Figura 24).
pIg CD3 scFv T
3973 bp
hVH T
Linker
hVL
bla
XmaI
XhoI
BglII
ori
Figura 24. Estratégia para construção do vetor pIg CD3 scFv R. Para obtenção do vetor
contendo o gene codificador do scFv R, composto pela cadeia variável pesada hVH
R86
e a
cadeia leve humanizada hVL, os plasmídios pCIg Rm e pIg CD3 scFv T foram digeridos com
as enzimas Xma I e Xba I para liberação do fragmento gênico codificador da cadeia variável
pesada e do vetor, respectivamente. Esses por sua vez foram ligados utilizando-se a enzima
T4 DNA ligase dando origem ao vetor pIg CD3 scFv R. Siglas- bla: gene da enzima β-
lactamase. M13 ori: origem de replição de bacteriófago. ori: origem de replicação bacteriana.
pLAC: promotor lac. ls: Seqüência líder.
Xma I
e
X
ba I
1
414
827
1240
1653
2066
2479
2892
3305
3718
pCIg Rm
4136 bp
XmaI
XbaI
NcoI
BglII
hVH R
linke r
Vl murino
ptnA
M13 ori
bla
ori
pLAC
ls
Xma I
e
X
ba I
hVH
R
XmaI
XbaI
XbaI
XmaI
linke
r
ori
hVL
bla
T4 DNA li
g
ase
pIg CD3 scFv R
3973 bp
hVH R
Linker
hVL
bla
XmaI
XhoI
AvaI
AvaI
AvaI
XbaI
ori
91
4.1.4 Montagem das seqüências codificadoras dos FvFcs humanizados anti-CD3.
om a construção das seqüências codificadoras das duas versões de scFvs
humani
nar os fragmentos gênicos dos scFvs
constru
s vetores foram então submetidos às enzimas de restrição Xma I e Xho I,
liberan
C
zados anti-CD3 (R e T) realizada, partiu-se para a formação dos genes referentes as
moléculas alvos desse trabalho, os FvFcs R e T. Como já descrito, o fragmento FvFc
apresenta inúmeras vantagens sobre o scFv, pois mimetiza melhor a ação do anticorpo inteiro,
devido a sua natureza dimérica, apresentando dois sítios de ligação ao antígeno e também pela
presença da porção Fc que é responsável pelo recrutamento das funções efetoras do anticorpo
além de garantir uma maior estabilidade da molécula.
Assim, o objetivo nesse momento era fusio
ídos a seqüência dos domínios CH
2
CH
3
de uma IgG1 humana, formando assim o
fragmento FvFc. Para tal foram utilizados os respectivos vetores com os scFvs humanizados
(pIg CD3 scFv R e T) e o vetor pMAC PS CD18, este contendo a versão FvFc humanizada de
um anticorpo contra a molécula CD18, previamente construído pelo grupo de Imunologia
Molecular da UnB (Ruggiero, 2002), esse vetor sendo utilizado como doador da seqüência
relativa à região Fc.
Os respectivo
do os scFvs humanizados do pIg CD3 scFv (T ou R) que foram utilizados para repor o
scFv liberado pelo vetor pMAC PS (Figura 25). Após a ligação, transformação e preparação
plasmidial os clones obtidos foram analisados quanto ao seu perfil de restrição utilizando a
endonuclease Bgl II, onde foi mostrado o perfil esperado contendo fragmentos de 516, 753 e
4523 pb. Com isso, foram obtidos os fragmentos gênicos codificadores dos anticorpos
recombinantes humanizados anti-CD3, no formato FvFc, dando origem aos plasmídios pMAC
PS CD3 R e T (Figura 25).
92
Figura 25. Estratégia para montagem das seqüências codificadoras dos FvFcs R e T. Os
plasmídios pIg CD3 scFv T e R e o pMAC PS CD18 foram digeridos com as enzimas Xma I e
Xho I para liberação dos fragmentos gênicos que codificam os scFvs humanizados anti-CD3 e
do vetor pMAC contendo os domínios CH2 e CH3 de uma IgG1 humana. Esses por sua vez
eram ligados utilizando-se a enzima T4 DNA ligase. Siglas- bla: gene da enzima β-lactamase.
pCMV : promotor de citomegalovírus. SV40 poly A: Sinal de poliadenilação. PS: Seqüência
líder codificadora do peptídeo sinal. ori: Origem de replicação
4.1.5 Clonagem das seqüências codificadoras dos anticorpos recombinantes
humanizados no vetor pMIRES.
Com o vetor de expressão já estabelecido (tópico 4.1.1) partiu-se para a transferência
das seqüências codificadoras dos anticorpos anti-CD3 humanizados T e R do vetor pMAC PS
CD3 (T ou R) para o vetor de expressão pMIRES. Para tal, ambas as construções foram
digeridas com as enzimas de restrição Xma I e EcoR I, o que promoveu a liberação dos
fragmentos correspondentes aos FvFcs do anti-CD3 e tornou apto o pMIRES receber tais
fragmentos (Figura 26). Após purificação, ligação, transformação e preparação plasmidial os
clones obtidos foram analisados quanto ao seu perfil de restrição com as enzimas Ava I, onde
Xma I
e Xho I
Xma I
e Xho I
Xma I
Xho I
Xho I
Xma I
hVH
hVL
bla
SV40
Fc
pCM
T4 DNA ligase
pIg CD3 scFv
3973 bp
hVH
Linker
hVL
bla
XmaI
XhoI
BglII
ori
pMAC PS CD3
5805 bp
pCMV
XmaI
XhoI
EcoRI
PS
hVH
linker
hVL
Fc
SV40 poly A
bla
BglII
BglII
BglII
ori
pMAC PS CD18
5805 bp
pCMV
XmaI
XhoI
EcoRI
PS
VH
linker
VL
Fc
SV40 poly A
bla
ori
93
o perfil esperado de fragmentos era de 33, 325, 382, 2158 e 4749 pb; Bgl II, que gerou
fragmentos de 513, 753 e 6614 pb; e por último com as enzimas Xho I e Xba I que gerou um
padrão de 357, 2460 e 4863 pb. A figura 27 mostra o clone 21 do pMIRES com o FvFc T
evidenciando o padrão observado nos clones positivos. Com isso, isso as seqüências contendo
tanto o FvFc T e R foram submetidas ao seqüenciamento automático onde ficou comprovada
a correta clonagem desses fragmentos e dando origem aos vetores pMIRES FvFc T e R
(Figura 26), sendo capazes de dirigir a expressão dos anticorpos recombinantes em células de
mamíferos.
Xma I e
E
co RI
Xma I e
E
co RI
Xma I
Eco RI
Figura 26. Representação esquemática da construção do plasmídio pMIRES FvFc (R ou
T). Os plasmídios pMAC PS CD3 e pMIRES foram digeridos com as endonucleases Xma I e
EcoR I para liberação dos fragmentos gênicos que codificam os FvFcs humanizados anti-CD3
do vetor pMAC e tornar apto ao recebimento desses fragmentos o vetor pMIRES. Esses por
sua vez eram ligados utilizando-se a enzima T4 DNA ligase. Siglas- bla: gene da enzima β-
lactamase. pCMV: promotor de citomegalovírus. SV40 poly A: Sinal de poliadenilação. PS:
Seqüência líder codificadora do peptídeo sinal. ori: Origem de replicação. IRES: sítio de
entrada ribossomal interno. NeoR: gene de resistência ao antibiótico G418.
T4 DNA li
g
ase
b
la
p
CMV
SV4
NeoR
Xma I
Eco RI
IRES
VH VL
Fc
pMIRES
6252 bp
XmaI
EcoRI
pCMV
PS
IRES
NeoR
SV40 poly A
bla
ori
pMAC PS CD3
5805 bp
pCMV
XmaI
XhoI
EcoRI
PS
hVH
linke r
hVL
Fc
SV40 poly A
bla
BglII
BglII
BglII
ori
pMIRES FvFc
7680 bp
pCMV
PS
VH
VL
Fc
IRES
NeoR
SV40 polyA
bla
XmaI
EcoRI
XhoI
ori
94
Int Ava I
Bgl
II
X
ho I e
X
ba I M
Figura 27. Análise de restrição do vetor pMIRES FvFc (R ou T). Foram utilizadas as
enzimas Ava I, Bgl II e Xho I/ Xba I. O perfil esperado para cada uma dessas análises era
4749, 2158, 382, 325 e 33 pb; 6614, 753 e 513 pb; e por último 4863, 2460 e 357 pb ;
respectivamente. Fragmentos obtidos a partir da digestão do clone 21 contendo o gene do
FvFc T. Setas indicam o tamanho das bandas do marcador. Int: plasmídio intacto; M: 1 kb
plus ladder Invitrogen®.
4.2 Transfecção das células de ovário de hamster chinês (CHO) com os plasmídios
pMIRES FvFc T e R.
Atualmente, no âmbito da produção heteróloga de proteínas recombinantes para fins
farmacêuticos as células de mamífero se destacam. Cerca de 60 a 70% dessas proteínas já
disponíveis no mercado são produzidas em células de mamíferos (Wurm, 2004). E dentro
desse cenário a linhagem celular que tem se mostrado mais favorável para a produção de
biofarmacêuticos é a CHO (Li, Menzel et al., 2007). Dessa forma, propusemos a expressão
das versões humanizadas dos anticorpos anti-CD3 utilizando essa linhagem.
Com os vetores pMIRES FvFc T e R , que codificam as duas versões humanizadas dos
FvFcs anti-CD3, com as seqüências já analisadas e corretas partiu-se para a produção dessas
proteínas recombinantes nas células CHO. Para tal foram realizadas transfecções (tópico
3.2.10.6). As transfecções foram realizadas em duplicatas. Além desses vetores, foi realizada
também uma transfecção com o vetor de expressão pMAC PS CD18 (figura 25), contendo a
versão FvFc humanizada de um anticorpo específico para a molécula CD18, previamente
2,0
k
b
3,0
k
b
4,0
k
b
850 pb
300 pb
95
construído pelo grupo de Imunologia Molecular da UnB (Ruggiero, 2002). Optou-se por
transfectar esse vetor porque em trabalhos anteriores foi observada a expressão eficiente do
anticorpo recombinante por esse vetor, sendo um controle positivo da transfecção. Nesse
último caso, devido à ausência de marca seletiva no vetor pMAC, o que dificulta a seleção de
transfectomas secretores da proteína, foi então realizada uma co-transfecção desse vetor com
o vetor pGFP/NEO (Invitrogen
®
). Esse vetor possui o gene repórter que codifica a proteína
fluorescente verde (GFP, do inglês, Green Fluorescent Protein) de Aequorea victoria e o gene
Neo, que confere resistência ao antibiótico G418, dessa forma, essa co-transfecção
possibilitaria a seleção estável dos transfectomas por meio de pressão seletiva.
Após 72h da transfecção, os sobrenadantes de cultura foram coletados para ensaios
imunoenzimáticos (ELISA) para verificar a expressão das proteínas recombinantes e
comparar as eficiências de transfecção dos vetores utilizados (Figura 28). O experimento de
ELISA era desenvolvido de forma a quantificar a presença da porção Fc, comum a todas as
construções. As proteínas foram quantificadas a partir de comparações com uma curva padrão
realizada com IgG humana em concentrações conhecidas obtidas por meio de diluições
seriadas (Figura 28). O ensaio era realizado em duplicata para cada poço transfectado e os
resultados referente à mesma proteína recombinante agrupados, assim, para cada proteína
foram agrupadas quatro medidas.
0,000
0,200
0,400
0,600
0,800
1,000
1:1 1:3 1:9 1:27 1:81 1:243
Titulação
Abs 405 nm
FvFc R
FvFc T
FvFc CD18
IgG humana
NT
PBS
Figura 28. Produção dos FvFcs anti-CD3 e Anti-CD18 em células da linhagem CHO.
Imunodetecção da expressão de anticorpos recombinantes no sobrenadante de cultura
coletado após 72h da transfecção. As barras de erros representam o desvio padrão de todas
das quatro réplicas do experimento. FvFc R: FvFc anti- CD3 humanizado apresentando uma
arginina na posição 86 da cadeia pesada; FvFc T FvFc anti-CD3 humanizado apresentando
uma treonina na posição 86 da cadeia pesada; FvFc CD18: FvFc anti-CD18 humanizado; IgG
humana: IgG humana em uma concentração inicial de 14 ng/mL; NT: sobrenadante de células
não transfectadas; PBS: controle negativo.
96
Os resultados revelaram que ambos os plasmídios conseguem promover a expressão
das proteínas recombinantes. Entretanto, a eficiência de transfecção era baixa diante dos
níveis expressos. Essa baixa eficiência talvez seja devido ao fato de que no momento da
transfecção as células estavam com uma confluência em torno de 90% enquanto que o
recomendado pelo fabricante do reagente é uma confluência entre 50 a 60%. A partir dos
dados da curva padrão com IgG humana a 14 ng/mL, pode-se inferir que a quantidade de
proteína recombinante presente no sobrenadante de cultura era de 18,2; 11,0 e 6,9 ng/mL para
as proteínas FvFc T, FvFc CD18 e FvFc R, respectivamente. É interessante observar que
apesar de todas as transfecções terem sido realizadas com o mesmo vetor de expressão e em
quantidades idênticas, a transfecção do vetor contendo a versão com treonina apresentou uma
eficiência de transfecção três vezes maior que a versão com arginina. Esse resultado pode
estar relacionado com as preparações plasmidiais obtidas dos vetores contendo as seqüências
codificadoras dessas proteínas. O vetor contendo o FvFc T ao final da preparação apresentou
uma concentração de 500 ng/µL enquanto que o plasmídio do FvFc R apresentou
concentração de 2 µg/µL, dessa forma o plasmídio do FvFc T estava mais diluído o que pode
facilitar a sua homogeneização com o reagente de transfecção. A alta concentração do
plasmídio do FvFc R pode induzir a formação de aglomerados de DNA de difícil
homogeneização, assim disponibilizando menos plasmídios livres para transfecção e
provavelmente, diminuindo a eficiência desse processo.
4.3 Seleção das células transfectadas utilizando Geneticina
®
(G418)
Com intuito de obtermos quantidades de proteínas suficientes para a realização dos
ensaios biológicos, partiu-se para seleção das células transfectadas utilizando o antibiótico
geneticina
®
(G418). A adição de agente seletivo promove a morte das células não
transfectadas e permite a sobrevivência das células produtoras de proteína recombinante, visto
que os plasmídios utilizados possuem a marca de resistência ao agente seletivo citado. Além
disso, após a morte celular de todas as células não transfectadas, as células resistentes passam
a ter a capacidade de se proliferar até atingir a confluência máxima do poço. Dessa forma,
após a seleção, somente células expressando a proteína recombinante estariam presentes nos
poços de cultura.
Durante a seleção das células transfectadas, os sobrenadantes das culturas foram
coletados para acompanhamento dos níveis de proteínas recombinantes expressos por ELISA.
Os resultados mostraram que nos tempos 72 h e 120 h houve uma pequena diminuição da
97
quantidade de proteína expressa (Figura 29). Essa etapa é um momento crucial para o
estabelecimento das células resistentes ao antibiótico. Provavelmente, além de provocar a
morte das células não transfectadas, as células que integraram no seu genoma poucas cópias
do vetor utilizado na transfecção podem ter sido eliminadas, já que a quantidade expressa do
gene resistência provavelmente era consideravelmente inferior àquelas células que
internalizaram e integraram diversas cópias dos vetores contendo a marca de resistência.
Nesse sentido, essa pequena queda de expressão provavelmente se deve a morte celular dessas
células transfectadas com poucas cópias dos vetores que de certa forma estavam contribuindo
para as quantidades de proteínas expressas. Outra hipótese é que essa variação seja um
artefato intrínseco do experimento visto que a composição inconsistente do meio, devido à
presença de soro fetal bovino, pode gerar variações dos níveis de produção das proteínas
recombinantes.
A partir do tempo 120 h foi possível observar que as quantidades de proteínas
expressas pelas células transfectadas com os vetores pMIRES FvFc T e R cresceram
gradativamente , até chegar num patamar próximo a 130 ng/mL (Figura 29). Há uma relação
direta entre o aumento da população de células transfectadas e a produção de proteínas
recombinantes. O aumento da disponibilidade de espaço na placa de cultura e de nutrientes,
devido à morte das células não transfectadas favorece o aumento da população das células
transfectadas e conseqüentemente o aumento da síntese de proteínas recombinantes.
O crescimento mais rápido dos níveis de expressão observados na versão FvFc T pode
ser resultante da maior eficiência da transfecção dessa versão. Portanto, a maior quantidade de
células transfectadas no início do processo de seleção possibilitou um aumento da população
transfectada mais rápido do que na versão FvFc R. Apesar de mais lento, os níveis de
produção do FvFc R alcançou aqueles apresentados pelo FvFc T.
98
0
20
40
60
80
100
120
140
160
0h 72h 120h 168h 240h 288h 540h
Tempo com G418
ng/mL
FvFc T
FvFc R
FvFc CD18
Figura 29. Níveis de produção dos anticorpos humanizados anti-CD3 e CD18 durante a
seleção das células transfectadas com o antibiótico geneticina
®
. O sobrenadante de cultura
foi coletado após 72h da transfecção e o meio reposto adicionado do referido antibiótico a
cada 48h ou 72h. As células foram observadas quanto a sua morfologia para determinação da
morte das células não transfectadas e o sobrenadante de cultura coletado para
acompanhamento dos níveis de anticorpos produzidos. Os níveis de produção dos FvFcs
foram determinados por ELISA.
Ao se analisar o sobrenadante de cultura das células co-transfectadas com os
plasmídios pMAC PS CD18 e pGFP/NEO expressando o FvFc do anticorpo humanizado anti-
CD18, observou-se que não houve um aumento significativo dos níveis expressos. Houve um
discreto pico de expressão que cai após 240h Esse comportamento peculiar dessas células
transfectadas provavelmente se deve ao fato dos genes codificadores da resistência ao
antibiótico e do anticorpo serem codificados em vetores diferentes. Durante a transfecção isso
possibilita a integração dessas seqüências em regiões distintas do genoma da célula. Como a
pressão seletiva recai sobre o gene de resistência a geneticina essa seqüência codificadora é
mantida sobre altas taxas de transcrição para produzir a proteína que confere a resistência e
manter a sobrevivência da célula. Entretanto, a possibilidade da seqüência codificadora do
anticorpo ter se integrado em outra região e como não há pressão seletiva sobre ela faz com
que a célula aos poucos vá silenciando a expressão do gene do anticorpo recombinante. Dados
da literatura mostram que a expressão de transgenes é rapidamente silenciada provavelmente
por influência da presença de cromatina condensada próxima ao sítio de integração ou devido
a efeitos epigenéticos como metilação do DNA (Wurm, 2004).
99
Nesse momento a pergunta que se pode fazer é: se houve o silenciamento da expressão
do FvFc anti-CD18 com o tempo porque as transfecções expressando as versões
recombinantes humanizadas do anti-CD3 mantiveram o crescimento dos níveis de produção?
Uma resposta a essa pergunta pode ter relação com o vetor de expressão utilizado. O vetor
pMIRES utiliza um sítio de entrada ribossomal interno (IRES) interposto entre o gene
codificador da cadeia codificadora do anticorpo recombinante e o gene de resistência a G418.
Possibilitando, dessa forma, a produção dos dois genes de forma policistrônica (figura 13). Ou
seja, como o gene de resistência a geneticina está no mesmo transcrito do gene do anticorpo, a
célula só vai se torna resistente se produzir concomitantemente o anticorpo. Dessa forma a
pressão seletiva do antibiótico é exercida nos dois genes, o que de certa forma miniminiza o
silenciamento, visto que, qualquer diminuição da taxa de transcrição dessas seqüências se
refletirá na viabilidade celular.
Outro dado interessante é que apesar do IRES permitir o início da tradução da
seqüência do gene de resistência no mesmo transcrito onde se encontra a seqüência do
anticorpo, a eficiência desse processo é significativamente inferior àquele apresentado para o
gene amontante ao IRES (no caso o anticorpo) (Kaufman et al., 1991; Houdebine e Attal,
1999). Isso se deve ao fato que a iniciação da tradução via IRES não conta com diversos
fatores em trans que contribuem para estabilização do ribossomo junto ao sítio de iniciação da
tradução, assim, diminuindo a eficiência do processo (Vagner et al., 2001). Dessa forma,
podemos inferir que provavelmente há uma maior expressão dos genes dos anticorpos
recombinantes em relação ao gene de resistência a G418.
Apesar desse aumento dos níveis de expressão nas versões recombinantes do anti-
CD3, os níveis de produção ainda continuavam aquém do que precisávamos para realização
dos ensaios de ligação ao antígeno. Uma hipótese para essa produção insuficiente seria que
talvez as condições presentes nos poços das placas de cultura onde se encontravam as células
eram saturantes, e assim possivelmente a passagem dessas células para garrafas com uma
maior quantidade de meio de cultura, e conseqüentemente de nutrientes, poderia favorecer um
aumento dos níveis expressos. Além disso, como a quantidade de proteína requerida para os
ensaios posteriores era da ordem de µg era necessário o aumento da produção de sobrenadante
de cultura contendo os anticorpos recombinantes.
100
4.4 Produção dos FvFcs recombinantes em garrafas de 75 e 150 cm
2
.
Diante das baixas quantidades de proteínas produzidas nas placas de 6 poços utilizadas
para transfecção em conjunto com os requisitos para realização dos ensaios biológicos, optou-
se por transferir as culturas inicialmente para garrafas de 75 cm
2
e posteriormente para
garrafas de 150 cm
2
.
Nessa etapa, continuou-se a coletar os sobrenadantes a cada 48h e adicionar meio de
cultura acrescido de geneticina. O resultado observado é que inicialmente todas as células
transfectadas apresentaram um aumento dos níveis de produção (Figura 30). Esse aumento
provavelmente se deveu a grande disponibilidade de espaço e nutrientes para as células
proliferarem, dessa forma, a alta taxa de proliferação promoveu um ganho significativo na
quantidade de proteínas expressas.
0
50
100
150
200
250
0h 48h 96h 168h 216h 336h 384h 432h 504h
tempo (h)
ng/mL
FvFc T
FvFc R
FvFc CD18
Figura 30. Níveis de expressão dos FvFcs recombinantes durante o cultivo em garrafas
de 75cm
2
e 150 cm
2
. O sobrenadante das células era coletado a cada 48h e o meio de cultura
renovado sempre adicionado de 10% soro fetal bovino e 600 µg/mL de geneticina. Os níveis
de produção dos FvFcs foram determinados por ELISA.
A expressão em garrafa atingiu, níveis de expressão em torno de 140 a 150 ng/mL. A
variação observada entre os tempos analisados é natural visto que um dos fatores negativos da
presença de soro fetal bovino na cultura é a sua inconsistência de composição o que leva a
crescimentos e níveis de expressão irregulares (Wurm, 2004).
É interessante observar o comportamento apresentado pelas células expressão o FvFc
anti-CD18, onde inicialmente houve uma reversão da queda de expressão evidenciada no
101
tópico anterior mas logo após 48h da transferência para a garrafa de cultura, os níveis de
expressão voltaram a cair chegando a praticamente zero a partir de 216h. Esses dados vêm ao
encontro da hipótese previamente citada, onde o fato da seqüência codificadora dos anticorpos
estar presente em vetor distinto do da marca de resistência gera a possibilidade das seqüências
dos anticorpos serem integradas em locais transcricionalmente inativos ou as deixam mais
suscetíveis a um silenciamento da expressão por efeitos epigenéticos, por exemplo, e assim
resultando na queda de expressão observada (Wurm, 2004).
Apesar dos níveis de expressão não terem aumentado significativamente ao adotar
essa nova condição de expressão, os dados aqui apresentados são similares aos observados em
dados da literatura para expressão de células aderidas utilizando vetores com o promotor
pCMV (Li, Menzel et al., 2007; Li, Zhang et al., 2007). Nesses mesmos trabalhos foi
mostrado que para obtenção de culturas altamente produtoras é necessário a seleção inúmeros
clones para estabelecer uma cultura com níveis de produção de anticorpos acima de 1µg/mL.
Além disso, foi também mostrado que a grande maioria das culturas geradas a partir de clones
isolados apresentam níveis de produção similares ao encontrado no presente trabalho.
Diante desses resultados, optou-se por manter a cultura de células nessas condições
com o intuito de gerar um acúmulo de sobrenadante suficiente para preparação das proteínas
para as próximas etapas do trabalho.
4.5 Purificação e quantificação dos FvFcs T e R.
Com um volume de sobrenadante de cultura contendo uma quantidade de proteínas
recombinantes considerada suficiente para realização dos ensaios de ligação ao antígeno,
partiu-se para purificação dos anticorpos recombinantes.
Os sobrenadantes foram concentrados (tópico 3.2.12). Cerca de 400 mL de
sobrenadante de cultura foram concentrados para aproximadamente 10 mL.
Os concentrados foram então submetidos à purificação por cromatografia de afinidade
utilizando a coluna Hitrap protein A HP 1mL (GE lifescience
®
). A proteína A é uma proteína
produzida pela bactéria Staphylococcus aureus que possui uma alta capacidade de ligação à
região Fc de IgGs de diferentes espécies. Essa coluna foi escolhida devido à proteína A
apresentar uma alta afinidade por IgGs humanas (Os anticorpos humanizados possuem as
mesmas características de ligação) e uma média/baixa afinidade por IgGs de origem bovina.
Como o soro fetal bovino é rico em IgGs bovinas, a utilização da maioria dos processos de
purificação geraria uma contaminação com essas moléculas visto a sua grande similaridade
102
com as IgGs humanas. Assim, devido a essa menor afinidade pretendia-se reduzir a
contaminação com essas moléculas.
Outra estratégia adotada durante a purificação para redução da contaminação com
IgGs bovinas foi a adoção de pHs distintos para eluição dos FvFcs humanizados. As IgGs
bovinas possuem como característica um pH de eluição ideal da resina de proteína A em torno
de 2,0 enquanto que as IgGs humanas são facilmente eluídas dessa resina em pHs variando
entre 3,5 e 4,5. Dessa forma, procedia-se uma eluição com o tampão em pH 3,5 para
minimizar a contaminação das versões humanizadas e depois se realizava a eluição com pH
2,0 para limpeza da coluna.
A purificação foi então realizada e as frações coletadas da coluna foram analisadas
quanto à presença das proteínas de interesse por ensaios de Dot Blot (Figura 31). Pode-se
observar que a purificação foi bem sucedida, não apresentando proteínas nas frações em que
se realizava a ligação a resina (flow through) e apresentando os FvFcs humanizados a partir
das frações de eluição 2 para a versão R e a partir da fração 3 eluída para a versão T. O pico
de liberação da proteína da coluna estava presente na segunda fração após a detecção da
liberação da proteína (Figura 31).
Com as frações onde se encontravam as proteínas de interesse determinadas, passou-se
as frações para uma coluna Centriprep 30 (Amicon
®
), com membrana de poro de 30 kDa, para
concentração e troca do tampão de eluição por PBS que propicia condições melhores de
armazenamento para as proteínas.
L1 L2 L3 L4 L5 E1 E2 E3 E4 E5 E6 E7 E8
T
R
Figura 31. Análise das frações obtidas durante o processo de purificação dos FvFcs
humanizados. Os FvFcs foram purificados por cromatografia de afinidade utilizando a
coluna HiTrap protein A HP e as frações obtidas analisadas quanto à presença da proteína de
interesse por Dot Blot. T: purificação da versão T. R: purificação da versão R. +: Controle
positivo com 1 µg de IgG humana. -: controle negativo. L: frações de lavagem. E: Frações de
eluição.
103
Para avaliar a pureza das amostras, elas foram submetidas à análise por SDS-PAGE,
sendo o gel corado com Comassie (Figura 32), seguida de Western Blot a fim de confirmar a
presença da proteína recombinante (Figura 33). O resultado observado no gel corado com
Comassie evidencia um baixo grau de pureza das proteínas recombinantes, ainda
apresentando contaminação principalmente com albumina bovina (banda em torno de 66
kDa), IgG bovina e outras proteínas presentes no soro fetal bovino. Essas contaminações se
devem principalmente as grandes quantidades de albumina e IgG bovina no soro fetal bovino,
que são da ordem de mg. Entretanto, é possível observar as bandas correspondentes a dos
FvFcs (55 kDa) no gel corado em uma prevalência significativa.
T M R
116 kDa
35 kDa
66
,
2 kDa
25 kDa
45 kDa
Figura 32. Análise da purificação por cromatografia de afinidade dos FvFcs
humanizados. Eletroforese em gel SDS-PAGE 10% corado com Comassie Briliant Blue R-
250. Setas indicando as bandas correspondentes aos FvFcs em torno de 55 kDa. T- FvFc
humanizado anti-CD3 versão treonina. R - FvFc humanizado anti-CD3 versão arginina. M –
Marcador Unstained Protein Molecular Weight Marker (Fermentas
®
).
O resultado do Western Blot confirma a presença dos FvFcs humanizados tanto na sua
forma monomérica (55kDa), em poços com tampão redutor, como na forma dimérica, em
tampão não redutor (Figura 33). A forma dimérica pode ser observada estranhamente em uma
banda com tamanho acima de 250 kDa, isso pode ter acontecido por uma possível agregação
das proteínas ou ainda devido a sua estrutura terciária, apresentada sob condições não
redutoras, poder impactar a migração no gel SDS-PAGE quando comparada com o
104
polipeptídeo desnaturado. Em artigo recente foi mostrado que IgGs submetidas à migração em
gel SDS-PAGE sob condições não redutoras apresentaram uma massa molecular aparente de
300 kDa, entretanto, quando submetidas a uma cromatografia analítica de gel filtração as IgGs
se apresentaram em monômeros, não sendo observado agregados (Li, Menzel et al., 2007).
1 2 M 3 4 5
250 kDa
27 kDa
35 kDa
55 kDa
70 kDa
100 kDa
130 kDa
Figura 33. Análise dos FvFcs humanizados anti-CD3 purificados por Western Blot. Foi
realizada uma eletroforese em gel SDS-PAGE 10% para separação das proteínas as quais
foram posteriormente transferidas para uma membrana de nitrocelulose para realização do
ensaio. 1- FvFc humanizado anti-CD3 versão T não reduzido. 2 - FvFc humanizado anti-CD3
versão T reduzido. 3 - FvFc humanizado anti-CD3 versão R reduzido. 4 - FvFc humanizado
anti-CD3 versão R não reduzido. 5 – 200 ng de IgG humana utilizada como controle positivo.
M – Marcador Page Ruler Prestained Protein Ladder Plus (Fermentas
®
), apresentando
fragmentos de 250; 130; 100; 70; 55; 35 e 27 kDa.
Com as proteínas parcialmente purificadas, partiu-se para a sua quantificação a fim de
realizar os ensaios de ligação ao antígeno. Dessa forma, a quantidade de proteína nas amostras
foi determinada por uma análise conjunta dos géis de proteína, pela realização de um ELISA e
pela análise de proteína total pelo kit BCA (Pierce®). As análises geraram uma estimativa em
torno de 60 ng/µL paras duas versões recombinantes. Nesse momento houve uma grande
dificuldade nessa determinação devido à contaminação presente nas amostras purificadas.
Dessa forma, adotou-se essa concentração para realização dos próximos ensaios.
105
4.6 Teste dos FvFcs humanizados anti-CD3 quanto à capacidade de ligação a
superfície de linfócitos.
Os FvFcs humanizados R e T, foram testados quanto à manutenção da capacidade de
ligação ao antígeno CD3 comparativamente ao anticorpo monoclonal original, o OKT3.
Apesar dos resultados obtidos em trabalhos anteriores indicando que a humanização da cadeia
pesada com treonina provocou uma perda de afinidade nessa versão quando comparada com a
versão com arginina (Costa, 2004), não se sabe como essas cadeias pesadas vão se comportar
no contexto da nova cadeia leve humanizada. Dessa forma, com o intuito de avaliar alguma
alteração na afinidade devido à interação entre a cadeia leve e pesada, optou-se por utilizar as
duas versões de cadeia pesada humanizadas, visto que, o ambiente de interação inter-cadeias
gerado pela nova cadeia leve poderia favorecer a retomada da afinidade por parte da versão T.
As atividades de ligação dos FvFcs recombinantes a molécula CD3 expresso na
superfície de linfócitos foi analisada por meio da técnica de citometria de fluxo ou também
chamada de FACS – Fluorescence Activated Cell Sorting. Essa técnica envolve uma reação
de imunofluorescência prévia das células com anticorpos específicos conjugados com
substâncias fluorogênicas, seguida da varredura de células individuais fluindo em meio
líquido sendo ao mesmo tempo excitadas por feixes de luz. A quantificação da emissão de luz
fluorescente permite, entre outras análises, a determinação de características antigênicas de
células individuais (Shevac, 1996).
Nesse sentido, para realizar a reação células mononucleares de sangue periférico de
doador saudável foram separadas (tópico 3.2.18). Após a separação as células foram
incubadas com os anticorpos e submetidas ao citometro de fluxo. A partir daí, células não
marcadas foram utilizadas para definir a população de linfócitos de acordo com seu tamanho e
granulosidade (Figura 34). A população de linfócitos era determinada (R1) de forma a
adquirir uma população homogênea de células em todas as análises.
106
Figura 34. Análise de dispersão de leucócitos de sangue periférico de doador saudável. A
área adquirida de linfócitos está delimitada (R1). FSC-H: dispersão frontal (forward
scaterring), que indica o tamanho das células; SSC-H: dispersão lateral (side scaterring), que
indica a granulosidade das células.
Para a visualização da ligação dos FvFcs recombinantes a superfícies de linfócitos
realizava-se uma reação de imunofluorescência indireta. Inicialmente as células foram
incubadas separadamente com as duas versões dos FvFcs humanizados e com o OKT3 como
controle. Após duas lavagens com tampão de lavagem de FACS era adicionado o anticorpo
secundário anti-IgG humana conjugado a FITC ou anti-IgG de camundongo conjugado a
FITC no caso do OKT3.
Como o anticorpo anti-IgG humana possui a capacidade de reconhecer
imunoglobulinas de superfície presentes em linfócitos B era necessário encontrar uma
maneira de se retirar os dados referentes a essa ligação indesejada, visto que, isso poderia
trazer falsos positivos as análises de ligação dos FvFcs humanizados, mostrando dados do
anti-IgG humana ligado a linfócitos e não aos FvFcs recombinantes. Dessa forma, estipulou-
se a marcação da população de linfócitos T com anticorpos contra antígenos largamente
expressos na sua superfície, o CD4 e CD8. Os anticorpos contra essas moléculas eram
marcados com um fluoróforo diferenciado, a ficoeritrina (PE), de forma a possibilitar a
diferenciação das populações marcadas com anticorpos conjugados a FITC. Assim adotamos
como procedimento selecionar além da população de linfócitos, como mostrado na figura 34,
selecionar as células marcadas com anticorpos anti-CD4 e CD8, dessa forma garantindo que
do total de células adquiridas somente os anticorpos ligados a linfócitos T seriam visualizados
(Figura 35). Nessa figura é possível observar uma população marcada positivamente com o
anticorpo anti-IgG humana-FITC, apresentando uma intensidade de fluorência de 10
2
, e
107
negativa para PE. Essas sendo os linfócitos B reconhecidos pela anti-IgG humana. Com isso,
se selecionou a população positiva para PE que estava marcada com anticorpos anti-CD4 e
CD8, dessa forma garantindo que as análises seriam feitas em torno da população de
linfócitos T.
Figura 35. Tripla marcação de linfócitos com os anticorpos anti-IgG humana-FITC e
com os anti-CD4 e anti-CD8 PE. Figura evidenciando a ligação do anti-IgG humana a
superfície de linfócitos B, mostrando uma população positiva para FITC com intensidade de
fluorescência em torno de 10
2
. Para as análises eram selecionadas as células positivas para
CD4 e CD8, como é mostrado no quadrado superior (R2).
A análise de ligação dos FvFcs recombinantes ao CD3 expresso na superfície de
linfócitos T pode ser observada na figura 36. Os valores obtidos estão mostrados na forma de
histogramas, onde a intensidade de fluorecência é quotada contra o número de células. O
anticorpo OKT3 utilizado como controle das ligações se ligou a 92% dos linfócitos T. Já os
FvFcs recombinantes nas versões T e R se ligaram a 85% e 88% dos linfócitos T,
respectivamente (Figura 36).
108
Figura 36. Análise de ligação dos FvFcs humanizados a linfócitos T humanos. Os
linfócitos eram inicialmente incubados com os FvFcs ou com o anticorpo monoclonal OKT3,
separadamente. A seguir eram incubados com o anticorpo anti-IgG humana-FITC ou anti-IgG
de camundongo-FITC, respectivamente. A: Células não marcadas. B: Controle negativo, anti-
IgG humana-FITC utilizado para verificar alguma inespecificidade. C: FvFc T apresentando
ligação de (85%). D: FvFc R apresentando ligação de (88%). E: OKT3 apresentando ligação
de (92%). Os gráficos são mostrados em intensidade de fluorescência versus número de
células (counts).
Observa-se na figura que a estratégia de se selecionar só a população de linfócitos T
por meio de marcação com anticorpos anti-CD4 e anti-CD8 foi bem sucedida, visto que, o
anticorpo anti-IgG humana – FITC apresentou uma ligação inespecífica a somente 3% dos
linfócitos selecionados, assim, os dados observados no experimento são realmente dos FvFcs
humanizados ligados a linfócitos T. Nota-se que o anticorpo monoclonal OKT3 conseguiu
marcar um número maior de linfócitos T quando comparados com as versões humanizadas e
que a marcação com o OKT3 gerou uma população de células com uma intensidade de
fluorescência relativamente maior que as células marcadas com os FvFcs humanizados. Esses
dados indicam uma possível perda de afinidade das versões recombinantes em relação ao
anticorpo murino. Entretanto, esses resultados não podem ser comparados diretamente.
10
0
10
1
10
2
10
3
10
4
CD3 FITC
TIT06SET07.009
M1
M2
10
0
10
1
10
2
10
3
10
4
FL1-H
TIT06SET07.001
M1
M2
10
0
10
1
10
2
10
3
10
4
IGG FITC
TIT06SET07.004
M1
M2
10
0
10
1
10
2
10
3
10
4
Ig
TIT06SET07.014
A B
3,2%
OKT3 1/10
Gh FITC
M1
M2
T 1/10
10
0
10
1
10
2
10
3
10
4
Ig
TIT06SET07.019
Gh FITC
M1
M2
D
C
85% 88%
R 1/10
E
92%
109
Apesar de a molécula FvFc mimetizar um anticorpo inteiro, ela é relativamente menor o que
expõe menos epitopos a ligação do anticorpo secundário. Além disso, o fato da detecção ser
realizada com anticorpos distintos pode gerar dados diferenciados.
Todas as reações de imunofluorescência eram feitas utilizando-se 1µg de proteína e a
partir de então realizando diluições seriadas gerando titulações de 1:10; 1:100; 1:1.000 e
1:10.000. Sendo que o OKT3 perde sua fluorescência na diluição de 1:10.000 enquanto que as
versões humanizadas na diluição de 1:1.000. Essas diferenças de titulações podem ser devido
ou a uma perda real de afinidade dos anticorpos humanizados ou, como discutido acima, ao
sistema de detecção, ou ainda devido às preparações dos anticorpos humanizados não estarem
totalmente puras podendo haver alguma interferência ao contrário do OKT3 que foi obtido de
uma preparação de alta pureza apta a administração em pacientes. Outro fato impactante,
citado anteriormente, que pode ter influenciado de forma desfavorável no experimento é a
possível presença de proteínas em forma agregada nas amostras recombinantes. Essa presença
reduz a quantidade de anticorpos recombinantes biologicamente ativos disponíveis o que
prejudica a avaliação do experimento.
O ponto mais importante dessa análise foi a comprovação da ligação dos FvFcs
humanizados a superfície de linfócitos T. Indicando que a humanização do anticorpo foi bem
sucedida apesar do indício de uma perda de afinidade pelo antígeno. Na literatura já é descrito
que uma pequena perda de afinidade em anticorpos humanizados é aceitável devido ao
processo de humanização gerar diferenças conformacionais moderadas entre o anticorpo
humanizado e murino (Carter et al., 1992; Hsiao et al., 1994).
4.7 Avaliação do potencial mitogênico dos FvFcs humanizados.
Umas das características dos anticorpos anti-CD3 ligantes a FcR é sua capacidade de
desencadear um processo de proliferação de linfócitos T via o reconhecimento por
macrófagos/neutrófilos do anti-CD3 ligado a superfície do linfócito T. Esse reconhecimento
desencadeia um processo de ativação dos macrófagos, induzindo-os a liberação de citocinas
que irão agir diretamente sobre as células T provocando a sua proliferação.
Os FvFcs humanizados possuem como característica uma região Fc originária de uma
IgG1 humana, dessa forma possuindo sítios de glicosilação importantes para o posterior
reconhecimento pelos receptores Fc. Entretanto, não se sabe se o sistema de expressão, ao
processar essas proteínas realizou a adição de açucares essenciais à interação com os
receptores Fc, como já falado na introdução. Portanto, com o intuito de caracterizar as
110
respostas efetoras desencadeadas pelos FvFcs humanizados, foi proposta a avaliação do
potencial mitogênico dessas moléculas.
A capacidade mitogênica foi testada por ensaio de proliferação de células
mononucleares do sangue periférico utilizando o fluorófilo carboxyfluorescein diacetate
succinimidyl ester (CFSE). O CFSE consiste de uma molécula contendo dois grupos acetatos
e um grupo funcional succinimidyl ester. Nessa forma, ele é um composto permeável à
membrana plasmática e não fluorescente. Após a difusão para o ambiente intracelular,
esterases endógenas removem os grupos acetatos tornando a molécula altamente fluorescente
e não permeável à membrana celular. Além disso, o succinimidyl ester reage com
grupamentos amina livres de proteínas intracelulares, formando compostos fluorófilos-
proteína. Proteínas que possuem uma baixa taxa de renovação, incluindo componentes do
citoesqueleto, são ditas como responsáveis pela longa marcação conseguida com o CFSE
(Lyons, 2000).
O monitoramento da proliferação com esse fluorófilo é possível porque a cada divisão
celular a intensidade de fluorescência se divide por dois devido ao aumento da produção de
proteínas e a divisão entre as duas células. Dessa forma, com o aumento da proliferação a
intensidade de fluorescência irá diminuir até chegar a um patamar mínimo. Assim, a
fluorescência máxima é observada em células não divididas e à medida que se dividem a
fluorescência diminui.
A partir daí, incubou-se os FvFcs R e T com células mononucleares do sangue
periférico marcadas com CFSE. Como controle positivo era utilizado o anticorpo monoclonal
OKT3. Após o tempo de incubação determinado (tópico 3.2.21) as células eram preparadas e
analisadas no citometro de fluxo.
Os resultados mostraram uma capacidade mitogênica bastante reduzida das versões
humanizadas quando comparadas com o controle com o OKT3. OKT3 induziu a proliferação
de 53% das células enquanto que os FvFcs humanizados R e T induziram 11% e 6%,
respectivamente (Figura 37).
111
10
0
10
1
10
2
10
3
10
4
OKT3 (1ug)+CFSE
CFSE10SET07
.
004
R2
R3
10
0
10
1
10
2
10
3
10
4
CELL+CFSE
CFSE10SET07
.
002
R2
R3
A B
53%
10
0
10
1
10
2
10
3
10
4
CD3h R (1ug)+CFSE
CFSE10SET07
.
006
R2
R3
10
0
10
1
10
2
10
3
10
4
CD3h T
(
1u
g)
+CFSE
CFSE10SET07
.
005
R2
R3
D
C
11% 6%
Figura 37. Análise do potencial mitogênico dos FvFcs humanizados T e R. Ensaio de
proliferação de células mononucleares do sangue periférico marcadas com CFSE. As células
marcadas eram incubadas com os anticorpos e após 120h era analisada a proliferação pela
perda de fluorescência no citometro de fluxo. A: Células marcadas com CFSE sem adição de
anticorpo. B: Células marcadas incubadas com o OKT3 indicando proliferação de 53% das
células, controle positivo. C e D: Células marcadas incubadas com as versões humanizadas R
e T, respectivamente, indicando proliferações de 11% e 6%. Os gráficos estão quotados em
intensidade de fluorescência emitida por CFSE versus intensidade de fluorescência emitida
por PE (FL2, 575nm).
Esses dados fazem supor que as moléculas recombinantes, apesar de possuírem uma
região Fc apropriada para ligação a receptores Fc, não induzem proliferação tão robusta
quando comparadas àquela induzida pelo OKT3. Umas das razões para isso, seria a
composição de açúcares adicionado a região Fc pelas células CHO, que pode ser diferente do
observado no OKT3, resultando numa possível modificação do reconhecimento da região Fc
por macrófagos e assim diminuindo a indução da proliferação. Outra possibilidade é a menor
flexibilidade apresentada pela molécula FvFc, devido à proximidade da região Fc dos sítios de
ligação ao antígeno. Isso pode reduzir a exposição da região Fc, dificultando o
reconhecimento pelos receptores Fc em macrófagos.
Apesar dessas justificativas favoráveis, não se pode fugir da possibilidade que a menor
proliferação observada nas versões humanizadas seja devido a uma perda de afinidade dessas
112
versões. Isso poderia acarretar em uma instabilidade da ligação, reduzindo a interação entre o
macrófago e o linfócito. Essa afirmação ganha relevância quando observamos que a versão T,
que apresentou níveis de ligação à superfície de linfócitos T menores que a versão R, também
foi a que apresentou a menor indução da proliferação. Dando mais um indício que a perda de
afinidade por essas moléculas pode ter sido maior do que se esperava.
Com isso em mente realizou-se um ensaio de bloqueio da ligação OKT3 pelos FvFcs
recombinantes a fim de se estabelecer se o sitio de ligação entre os dois anticorpos era o
mesmo e se a ligação das versões humanizadas é estável e forte o suficiente para impedir a
ligação do OKT3.
4.8 Análise da especificidade dos FvFcs recombinantes pelo antígeno CD3.
Com o intuito de comprovar que a ligação dos FvFcs humanizados a superfície de
linfócitos estava ocorrendo na molécula CD3, realizou-se um experimento de bloqueio. Onde
se utilizavam os FvFcs humanizados para ligação ao CD3 com a finalidade de bloquear uma
posterior ligação de outros anticorpos anti-CD3. Foram utilizados dois anticorpos anti-CD3, o
OKT3, já utilizado nos experimentos anteriores, sendo ele o controle para bloqueio, visto ser a
molécula base da humanização. E o anti-CD3 conjugado a PE do clone UCTH1, que
reconhece um epitopo diferente na molécula CD3. Com esse último anticorpo pretendia-se
visualizar alguma sobreposição dos epitopos reconhecidos pelos clones OKT3 e o UCTH1 e
realizar uma comparação com esse anticorpo de clone distinto.
As células mononucleares eram inicialmente incubadas com os FvFcs humanizados,
em seguida incubadas com o OKT3 ou o UCHT1-PE e, por último, com o anti-IgG de
camundongo ou anti-IgG humana conjugados a FITC nos casos onde se utilizou o OKT3, para
a detecção do OKT3 ou do FvFc respectivamente.
Na reação de bloqueio de ligação do UCHT1-PE observou-se uma diminuição da
fluorescência quando comparada com a reação de ligação direta realizada por esse anticorpo
(Figura 38), indicando uma sobreposição entre os epitopos reconhecidos pelas versões
humanizadas e pelo clone UCTH1. Essa diminuição da fluorescência do anticorpo anti-CD3
conjugado indica que as versões humanizadas estão se ligando especificamente a molécula
CD3 na superfície de linfócitos, impedindo a ligação do UCTH1-PE, levando a queda de
fluorescência observada.
113
C
B
A
Figura 38. Bloqueio da ligação do anticorpo anti-CD3 UCTH1 a linfócitos humanos. As
células eram inicialmente incubadas com os FvFcs R e T e em seguida com o anticorpo anti-
CD3-PE clone UCTH1. A: Linfócitos incubados apenas com o anti-CD3-PE. B: Linfócitos
incubados previamente com o FvFc humanizado R e C: Linfócitos incubados previamente
com o FvFc humanizado T. CD3PE: Intensidade de fluorescência emitida no comprimento de
onda 575 nm (PE). Counts: número de células
O ensaio de bloqueio de ligação do OKT3 foi realizado incubando previamente as
versões humanizadas com os linfócitos para em seguida realizar a incubação com o OKT3.
Como o OKT3 não possui nenhum fluoróforo conjugado utilizou-se o anti-IgG de
camundongo-FITC para visualizar o bloqueio de ligação e também o anti-IgG humana-FITC
para visualizar se a possível maior afinidade do OKT3 era capaz de deslocar os FvFcs do sítio
de ligação e assim diminuir sua fluorescência.
A figura 39 mostra que as versões humanizadas conseguiram diminuir pouco a
intensidade de fluorescência da ligação do OKT3 como indica a figura utilizando o anti-IgG
de camundongo-FITC (Figura 39, A). Além disso, o OKT3 teve a capacidade de deslocar a
ligação dos FvFcs previamente ligados, soltando-os do sítio de ligação para ocupá-lo, como é
mostrado pela figura utilizando o anti-IgG humana-FITC (Figura 39, B e C).
114
10
0
10
1
10
2
10
3
10
4
Anti IgGM FITC
Figura 39. Bloqueio da ligação do anticorpo monoclonal murino OKT3 a linfócitos
humanos. Os linfócitos foram incubados inicialmente com os FvFcs humanizados T e R e
posteriormente com o OKT3. A: Reação de bloqueio revelada com o anti-IgG de
camundongo FITC a fim de visualizar o deslocamento de ligação do OKT3. B e C: Reação de
bloqueio revelada com o anti-IgG humana FITC a fim de visualizar a retiradas dos FvFcs R e
T pelo OKT3, respectivamente. Como controles são mostrados as ligações diretas do OKT3,
FvFc R e FvFc T. Os dados são apresentados em intensidade de fluorescência em FITC contra
o número de células. Anti- IgG M FITC: Anticorpo anti-IgG de camundongo conjugado a
FITC. Anti – IgG H FITC: Anticorpo anti – IgG humana conjugado a FITC.
Esses dados indicam que o OKT3 compete pelo mesmo sítio dos FvFcs humanizados,
visto o deslocamento da ligação desses provocada por aquele anticorpo. O fato de os FvFcs
não terem conseguido diminuir significativamente a ligação do OKT3 dá a entender que a
humanização levou a uma perda de afinidade desses anticorpos, apesar de reconhecerem o
mesmo sítio de ligação. Dessa forma, sendo facilmente deslocados do sítio de ligação por uma
molécula com afinidade maior, o OKT3. Outro dado que contribui para essa conclusão e os
resultados apresentados no ensaio de proliferação por CFSE, mostrado no tópico anterior. A
menor proliferação mostrada pelas versões humanizadas provavelmente foi resultado dessa
A
Anti-IgG M FITC
FvFc T + OKT3
OKT3
FvFc R + OKT3
FvFc R
FvFc T
B
C
FvFc R + OKT3
FvFc T + OKT3
Anti-IgG H FITC
Anti-IgG H FITC
115
possível perda de afinidade. Ao observar que a versão R que conseguiu deslocar um pouco
melhor a ligação do OKT3, também foi a que produziu uma proliferação maior entre as duas
versões humanizadas da mais um indício que os resultados estão relacionados a possível
maior afinidade dessa versão.
Apesar de todos esses dados, os resultados não puderam ser considerados conclusivos
devido a dois fatores: o modo de quantificação das proteínas e o grau de pureza apresentado.
Como a quantificação era feita por estimativa em relação à quantidade de proteína observada
no Western blot, utilizando como parâmetro de comparação a IgG humana utilizada como
controle nesse experimento, pode ter havido uma super estimativa da concentração e assim
prejudicado os experimentos de FACS. Os ensaios de ELISA, realizados naquele momento
indicavam uma concentração em torno de 20 ng/µL de proteína. Um valor julgado muito
baixo diante do observado nos géis. Achou-se que teria ocorrido algum artefato no
experimento que acusasse uma concentração tão baixa. Entretanto, ao analisar posteriormente
a coloração com Comassie e observar uma grande quantidade de proteínas de diferentes
massas moleculares pode-se inferir que a baixa quantidade de proteína mostrada no ELISA
poderia se referir à abundância de proteínas solúveis na amostra sendo o restante apresentado
na forma de agregados que não possuem atividade biológica.
Nesse sentido, com o intuito de esclarecer estas dúvidas, foi proposta a alteração no
modo de produção da proteína recombinante, reduzindo-se a quantidade de soro fetal bovino
presente no meio de cultura a fim de se diminuir a contaminação das amostras purificadas
com as proteínas presentes no soro. Foi também proposto a utilização de um soro fetal
especial, com baixas quantidades de IgGs bovinas a fim de evitar ao máximo a contaminação
com IgGs do boi. Adotando essa estratégia pretendia-se obter um produto com alta pureza o
que facilitaria o processo de quantificação e assim eliminando esse viés nos ensaios de ligação
ao CD3.
116
4.9 Adaptação da cultura de células CHO a baixos níveis de soro fetal bovino,
seleção de clones produtores estáveis e produção dos anticorpos humanizados utilizando
SFB low IgG.
Diante dos problemas enfrentados no processo de purificação das proteínas
recombinantes foi proposta a mudança nos parâmetros utilizados para produção dos FvFcs
humanizados a fim de se minimizar a contaminação com proteínas presentes no soro fetal
bovino.
Para isso adotaram-se duas estratégias: a diminuição da quantidade soro presente no
meio de cultura e a utilização do soro fetal especial com baixíssima quantidade de IgG bovina
(SFB low IgG, Invitrogen
®
).
A utilização de soro fetal bovino em cultura de células aderentes é um protocolo
largamente usado para garantir a aderência das células à placa de cultura, possibilitar o seu
crescimento, fornecendo os fatores de crescimento, hormônios e outros fatores necessários
para a sua proliferação. E por último, com o intuito de garantir altas taxas de expressão de
proteínas.
Diversos dados da literatura indicam que a retirada de soro fetal bovino em culturas de
células aderentes leva a uma redução da sua taxa de crescimento e uma diminuição
significativa da produção de proteínas recombinantes. Em trabalho com a produção de
anticorpos em células CHO, foi observado que o soro fetal bovino é necessário para produção
do anticorpo e que não era possível detectar a produção em culturas onde o soro fetal era
retirado (Berdoz et al., 1999). Dessa forma, a diminuição da quantidade de soro fetal na
cultura pode diminuir significativamente a produção do anticorpo recombinante.
Outro fato interessante é que o promotor CMV, um dos promotores mais comuns para
expressão de proteínas recombinantes em células CHO (Li, Menzel et al., 2007), e também o
utilizado no presente trabalho, possui como característica ser responsivo a quantidade de soro
fetal bovino presente na cultura, podendo assim, a redução de soro fetal bovino na cultura
impactar negativamente a transcrição induzida por esse promotor (Brightwell et al., 1997).
Com esses dados em mente, foi estipulado que a diminuição da quantidade de soro na
cultura seria gradativa, acompanhando sempre os níveis de expressão da proteína
recombinante. Esse procedimento seria realizado com as garrafas contendo as células
transfectadas selecionadas com geneticina.
A redução da quantidade de soro fetal foi realizada reduzindo-se pela metade a sua
quantidade até atingir o percentual de 1,25% (v/v) de SFB na cultura. A cada redução as
117
células eram incubadas no mínimo por 48h e chegando até a 672h com a concentração de
1,25%. O sobrenadante de cultura era sempre coletado a cada 48h e o meio renovado com a
concentração de SFB em uso e geneticina.
Os resultados observados indicam que a produção se manteve estável apesar da
redução da quantidade de soro fetal ocorrer na ordem de 10 vezes (Figura 40).
0
50
100
150
200
250
300
350
10% de SFB 5% de SFB 2,5% de SFB 1,25% de SFB
[ ] de SFB no meio de cultura
ng/mL
FvFc T
FvFc R
Figura 40. Níveis de produção dos anticorpos humanizados em diferentes concentrações
de soro fetal bovino. Os sobrenadantes de cultura eram coletados a cada 48h e trocados pelo
meio contendo a concentração de SFB em uso e geneticina. O dado referente à concentração
de 5% de SFB não apresenta barra de erro devido ter havido uma única coleta de
sobrenadante com essa concentração. Os níveis de produção dos FvFcs eram determinados
por ELISA.
Esses dados diferem dos dados apresentados pela literatura, citados acima. Essa
manutenção da produção com baixos níveis de SFB no meio pode ser um indício que as
células necessitam somente de traços dos fatores presentes no soro, não sendo necessárias
grandes quantidades para manutenção do crescimento e da produção de proteínas
recombinantes. Entretanto, a verdadeira razão para manutenção dos níveis de expressão dos
FvFcs humanizados pode estar justamente relacionada às peculiaridades já discutidas em
relação ao vetor de expressão.
Em paralelo a essa adaptação realizou-se a seleção de clones estáveis para produção
dos FvFcs humanizados utilizando o SFB com baixa concentração de IgG com o intuito de
obtermos clones de alta produção para otimizar a utilização do SFB low IgG devido ao seu
alto custo (tópico 3.2.10.9). Ao total foram selecionados 8 clones produtores do FvFc R e 6 do
FvFc T. Esses clones foram incubados em garrafas de 25 cm
2
e submetidos à remoção da
pressão seletiva por 360 horas para avaliar a estabilidade da expressão das proteínas
118
recombinantes. Após esse período as células eram desafiadas novamente com o antibiótico
geneticina durante 192 h e acompanhado se os níveis de produção permaneciam estáveis.
Foi observada uma grande variação entre os clones, sendo que alguns diminuíram os
níveis de expressão na ausência de antibióticos e outros mantiveram (Figura 41). Os clones
que mostraram uma maior queda nos níveis de expressão foram o R5 e os T2 e T3,
expressando os FvFcs R e T, respectivamente. Provavelmente nesses clones houve uma
integração do gene codificador das proteínas em região de baixos níveis de transcrição e tão
logo era retirada a pressão seletiva houve o silenciamento da expressão nesses clones.
É interessante observar que alguns clones sofreram uma queda de expressão após a
volta do uso do antibiótico. É sabido que a tradução via o elemento IRES tem a sua expressão
aumentada sob condições de estresse celular como a presença de um agente seletivo (Vagner
et al., 2001). Assim, a queda de produção observada nos clones R1, R2, R3 e R7 após o
retorno da geneticina pode ser devido a um deslocamento da maquinaria da tradução em favor
da tradução via IRES. As maiores taxas de expressão alcançadas sem o uso de antibióticos,
indica que esses clones provavelmente apresentavam as seqüências do gene recombinante em
regiões de altas taxas de transcrição, favorecendo a manutenção da produção.
Como parâmetro para definição de qual clone seria escolhido para a sua propagação e
produção em maior escala dos FvFcs humanizados foi adotada a escolha do clone com maior
produção com a menor variação entre as duas condições submetidas. Dentre esses escolhemos
os clones R4 e T5 por terem se mostrado mais estáveis durante as manipulações.
Esses clones foram propagados, cultivados em meio acrescido de 1,25% de SFB low
IgG e o sobrenadante de cultura coletado a cada 48 h até se alcançar níveis suficientes para
purificação das proteínas de interesse a fim da realização dos ensaios de ligação a molécula
CD3 na superfície de linfócitos.
119
0
50
100
150
200
250
T1 T2 T3 T4 T5 T6
Clone
ng/m
L
360h sem G418
Reseleção por 192h
0
50
100
150
200
250
300
R1 R2 R3 R4 R5 R6 R7 R8
Clone
ng/mL
360h sem G418
Reseleção por 192h
Figura 41. Seleção de clones estáveis produtores dos FvFcs R e T humanizados. Foram
selecionados 8 clones produtores do FvFc R e 6 do FvFc T. Eles eram mantidos por 360h em
meio de cultura sem a adição de geneticina (G418) e depois re-selecionados com a adição de
G418 por 192h. Os níveis de produção foram monitorados por ELISA.
4.10 Purificação e quantificação dos FvFcs T e R produzidos pelos clones estáveis
com meio contendo soro fetal bovino low IgG.
Com uma quantidade de sobrenadante de cultura considerada suficiente para obtenção
de proteínas recombinantes purificadas suficientes para realização dos ensaios de ligação ao
antígeno, partiu-se para a nova purificação por cromatografia de afinidade dos anticorpos
recombinantes.
Com a purificação realizada as frações obtidas eram analisadas quanto à presença das
proteínas de interesse por ensaios de Dot Blot (Figura 42). O resultado apresentado indica que
a purificação foi bem sucedida e que as proteínas foram quase totalmente eluídas em uma
única fração, como indica o manual do fabricante da coluna de cromatografia.
120
Figura 42. Análise das frações obtidas durante o processo de purificação dos FvFcs
humanizados produzidos por clones estáveis em meio com SFB low IgG. Os FvFcs eram
purificados por cromatografia de afinidade utilizando a coluna HiTrap protein A HP (GE
lifescience
®
) e as frações obtidas analisadas quanto à presença da proteína de interesse por
Dot Blot. Lr: Frações de lavagem da purificação da versão R. Er: Frações de eluição da
purificação da versão R. Lt: Frações de lavagem da purificação da versão T. Et: Frações de
eluição da purificação da versão T +: Controle positivo com 1 µg de IgG humana. -: controle
negativo.
Para confirmar se a purificação tinha sido bem sucedida, as amostras purificadas eram
novamente submetidas à análise por SDS-PAGE, sendo o gel corado com Comassie (Figura
43) e por Western Blot a fim de verificar a presença da proteína recombinante (Figura 44). O
resultado observado no gel corado com Comassie mostra um alto grau de pureza das proteínas
purificadas, não sendo possível a detecção de contaminantes. A banda referente aos FvFcs
pode ser observada em torno de 55 kDa (Figura 43).
Lr
1 2 3 4 5 6 7 8 9
Er
Lt
Et
121
1 M 2 3
116 kDa
45 kDa
25 kDa
35 kDa
66
,
2 kDa
Figura 43. Análise da purificação por cromatografia de afinidade dos FvFcs
humanizados produzidos em cultura com SFB low IgG. Eletroforese em gel SDS-PAGE
10% corado com Comassie Briliant Blue R-250. 1 - FvFc humanizado anti-CD3 versão
arginina. 2 - FvFc humanizado anti-CD3 versão treonina. 3 – 500 ng de IgG humana. M
Marcador Unstained Protein Molecular Weight Marker (Fermentas
®
).
O resultado do Western Blot confirma novamente a presença dos FvFcs humanizados
tanto na sua forma monomérica (55kDa), em poços com tampão redutor, como na forma
dimérica, com tampão não redutor (Figura 44). A forma dimérica pôde ser observada
novamente como uma banda com tamanho acima de 250 kDa, o que abre a possibilidade de
estar havendo agregação dos FvFcs purificados. Para solucionar essa questão é necessária a
realização de uma cromatografia analítica por gel filtração que possibilitará o fracionamento
das proteínas pelo seu tamanho molecular. Se durante o fracionamento surgir compostos de
alta massa molecular estará comprovado a presença de agregação das proteínas.
122
1 2 M 3 4 5
27 kDa
35 kDa
55 kDa
70 kDa
100 kDa
130 kDa
250 kDa
Figura 44. Análise dos FvFcs R e T produzidos em cultura com SFB low IgG por
Western Blot. Era realizada uma eletroforese em gel SDS-PAGE 10% para separação das
proteínas purificadas as quais eram posteriormente transferidas para uma membrana de
nitrocelulose para realização do ensaio. 1- FvFc R não reduzido. 2 - FvFc R reduzido. 3 -
FvFc T reduzido. 4 - FvFc T não reduzido. 5 – 1,2 µg de IgG humana utilizada como controle
positivo. M – Marcador Page Ruler Prestained Protein Ladder Plus (Fermentas
®
).
Com as proteínas purificadas, foi realizada a quantificação das amostras por ELISA,
utilizando-se uma curva padrão de IgG humana de concentração sabidamente conhecida. O
resultado obtido era 22 ng/µL para o FvFc T e 27 ng/µL para o FvFc R. Com esses resultados
partiu-se para os ensaios de ligação a molécula CD3.
É interessante ressaltar que apesar dessa segunda purificação ter sido procedida a
partir de um volume concentrado de 250 mL de sobrenadante de cultura, inferior aos 400 mL
da primeira, o rendimento obtido foi bastante similar, apresentando aproximadamente 15 µg
de proteína recombinante em 500 µL. Provavelmente, as condições apresentadas na cultura
otimizada dos clones estáveis favoreceram o processo de purificação por apresentar uma
quantidade significativamente menor de proteínas contaminantes.
123
4.11 Análise da especificidade dos FvFcs R e T produzidos em meio com SFB low
IgG pelo antígeno CD3.
Com os anticorpos purificados apresentando altos níveis de pureza e quantificados,
partiu-se para a realização das reações de imunofluorescência para o FACS com as
quantidades corretas de proteínas. Dessa maneira, descartou-se a possibilidade da influência
da quantidade de proteína e da sua contaminação na análise do experimento.
Nesse sentido, para realizar a reação, células mononucleares do sangue periférico de
doador saudável foram novamente separadas (tópico 3.2.18) e submetidas ao citometro de
fluxo para definição a população de linfócitos de acordo com seu tamanho e granulosidade
(Figura 45).
Figura 45. Análise de dispersão de leucócitos de sangue periférico de doador normal. A
área adquirida de linfócitos está delimitada (R1). FSC-H: dispersão frontal (forward
scaterring), que indica o tamanho das células; SSC-H: dispersão lateral (side scaterring), que
indica a granulosidade das células.
Com o intuito de se verificar se houve realmente uma perda de afinidade das versões
humanizadas pelo CD3 realizamos outro ensaio de bloqueio da ligação do OKT3 ao CD3.
Nesse experimento utilizamos o anticorpo monoclonal OKT3 já conjugado a FITC, dessa
forma eliminava-se um viés que era o sistema de detecção dos anticorpos utilizados no
bloqueio. Assim, se os FvFcs conseguissem bloquear eficientemente a ligação do OKT3-FITC
a superfície de linfócitos, seria observada uma diminuição da intensidade de fluorescência
observada no experimento de FACS. Dessa forma a reação foi realizada incubando-se
inicialmente as versões dos FvFcs R e T, em diluições seriadas iniciando com uma
concentração de 3µg/poço, com os linfócitos, com o intuito de se bloquear a ligação, após a
124
incubação as células eram lavadas com o tampão de lavagem de FACS e incubadas com o
OKT3-FITC em concentrações limitantes de intensidade de fluorescência. As células foram
então lavadas novamente e submetidas ao citometro de fluxo. Como controle positivo da
reação realizou-se o bloqueio utilizando OKT3 não conjugado, sendo a diminuição da
intensidade de fluorescência alcançada por esse ensaio considerada a ideal.
Os resultados do experimento mostram que as versões humanizadas realmente não
conseguem diminuir significativamente a intensidade de fluorescência da ligação do OKT3-
FITC quando comparados com o bloqueio realizado pelo OKT3 não marcado (Figura 46).
Nessa figura é possível visualizar três padrões de intensidade de fluorescência, o primeiro
próximo ao eixo Y representando células não marcadas, indicando a queda máxima possível
da intensidade de fluorescência. O segundo, mais intermediário, indicado pela seta verde,
evidenciando a diminuição da intensidade de fluorescência alcançada pelo bloqueio utilizando
o OKT3 não marcado. E o terceiro, indicado pela seta azul, mostrando a fluorescência
máxima alcançada pelo OKT3 sem bloqueio (Figura 46). Apesar das varias diluições
utilizadas, nem as mais altas concentrações dos FvFcs humanizados conseguiram alterar o
padrão observado.
Ao analisar os dados relativos à mediana de intensidade de florescência (Tabela 4),
fornecidos pelo programa Cell Quest, observa-se que 2 ng do OKT3 não marcado promovem
uma diminuição da mediana de intensidade de fluorescência do OKT3-FITC em 49%,
enquanto que as versões R e T para alcançarem esse mesmo percentual de diminuição
requerem 300 ng e mais de 3 µg, respectivamente. Esse é mais um indício de que as versões
humanizadas reconhecem o CD3 e que houve uma perda de afinidade por essas versões, dada
a redução da capacidade de bloqueio do OKT3-FITC, em especial para a versão T, quando
comparados com o OKT3 não marcado.
Tabela 4. Inibição da ligação do anticorpo OKT3-FITC a linfócitos humanos pelos
FvFcs R e T e pelo OKT3 não conjugado.
Anticorpo Mediana de
intensidade de
fluorescência de
FITC
Porcentagem de
Inibição
Quantidade de
anticorpo
OKT3 24,14 82% 100 ng
FvFc R 71,69 49% 300 ng
FvFc T 109,41 21% 300 ng
OKT3-FITC 139,49 0% -
125
Os dados apresentados pela versão com a arginina na posição 86 da cadeia pesada
mostram um deslocamento da intensidade de fluorescência melhor que a versão com treonina.
Assim, corroborando os experimentos prévios realizados pelo grupo indicando que essa
cadeia pesada possui um poder de ligação similar ao observado pela cadeia pesada murina
(Costa, 2004). Sendo o efeito de deslocamento da fluorescência provavelmente atribuído a
ligação dessa cadeia.
Figura 46. Ensaio de bloqueio da ligação do anticorpo monoclonal murino OKT3-FITC.
Os linfócitos foram incubados inicialmente com os FvFcs humanizados T e R ou o OKT3 não
conjugado e posteriormente com o OKT3-FITC. Seta azul indicando a fluorescência da reação
do OKT3-FITC sem bloqueio. Seta verde indicando o deslocamento da intensidade de
fluorescência provocada pelo bloqueio utilizando o OKT3 não marcado. FL1: Intensidade de
fluorescência emitida por FITC (530 nm); Counts: número de células.
Apesar de esses dados serem bastante conclusivos, ainda existe o viés da qualidade
das proteínas na amostra no sentido de poder estar havendo agregação. Como foi discutido na
análise do ensaio de Western blot. Para solucionar essa questão, como já foi falado, será
necessária a realização de uma cromatografia analítica de gel filtração e com o resultado
obtido nesse experimento poderá se concluir se realmente a falha ao bloquear o OKT3 foi
126
devido à perda de afinidade pelas versões humanizadas ou pela baixa quantidade de proteínas
biologicamente ativas.
Não se pode também descartar a hipótese que, apesar de esses anticorpos terem
perdido relativamente sua afinidade pelo antígeno, eles ainda podem reter os efeitos
biológicos alcançados pelo anticorpo murino. Para responder essa questão será necessária a
realização de ensaios biológicos in vitro, como, por exemplo, uma reação linfocitária mista
(MLR, do inglês, Mixed Lymphocyte Reaction). Nesse experimento pretende-se, em parte,
reproduzir in vitro os efeitos imunossupressivos alcançados pelo OKT3 in vivo (Li et al.,
2005). O experimento consiste na utilização de células mononucleares de sangue periférico,
obtidas de dois doadores normais, sendo as células obtidas de um doador denominadas de
estimuladoras e as do outro de responsivas. A partir disso, as células estimuladoras são
irradiadas com radiação de forma a torná-las irresponsivas. Após essa etapa, essas células são
incubadas em conjunto com as células responsivas. Nesse momento é esperado que haja uma
proliferação das células responsivas, sendo essa uma resposta similar à desenvolvida quando
há a rejeição de um órgão transplantado. Quando se incuba o OKT3 em uma MLR, ele
promove a inibição da proliferação das células responsivas por imunossupressão. Dessa
forma, ensaios de MLR utilizando as versões humanizadas R e T podem nos revelar que,
apesar da relativa perda de afinidade, elas ainda podem apresentar atividades
imunossupressivas que possibilitem a avaliação do seu potencial para futuro uso clínico.
O presente trabalho vem dar mais alicerces a dados prévios obtidos pelo grupo. No
trabalho realizado por Costa, 2004, foi possível observar que a cadeia pesada R em conjunto
com a cadeia leve murina reteve a capacidade de bloqueio da ligação do OKT3 ao CD3, dessa
forma indicando que a humanização pela técnica de “melhor encaixe” utilizada para a cadeia
pesada foi bem sucedida. Enquanto que a humanização da cadeia leve utilizada naquele
trabalho levou a uma perda da afinidade de ligação ao antígeno, mostrados pelos ensaios de
bloqueio realizados na época, utilizando uma versão com a cadeia pesada murina e a cadeia
leve humanizada que não conseguiu bloquear eficientemente a ligação do OKT3 (Figura 16).
A estratégia utilizada naquele momento para humanização da cadeia leve foi baseada
na escolha apenas de seqüências do arcabouço do OKT3 na busca e seleção do anticorpo
humano mais similar, divergindo da estratégia de melhor encaixe onde se procura seqüências
similares ao anticorpo inteiro. Essa estratégia diferenciada pode ter levado ao surgimento de
diferenças estruturais entre a molécula humanizada e a murina que comprometeram a
atividade ligante dessa molécula.
127
Nesse sentido, foi proposta a re-humanização da cadeia leve, dessa vez utilizando a
técnica de “melhor encaixe” onde foi escolhida a seqüência germinal mais similar à seqüência
da cadeia leve do OKT3 para doação do arcabouço onde seriam inseridos os CDRs murinos.
Esperava-se com essa nova proposta que a perda de afinidade fosse solucionada, garantido a
atividade biológica dos anticorpos.
A técnica de “melhor encaixe” utilizando como base seqüências germinais homólogas
como doadoras de arcabouço, vem gerando resultados satisfatórios dentro do grupo de
Imunologia molecular, tendo sido aplicada com sucesso na humanização da cadeia pesada R
utilizada neste trabalho (Costa, 2004) e na humanização do anticorpo anti-CD18 (Caldas et
al., 2000; Caldas et al., 2003).
Apesar desses dados favoráveis, os experimentos aqui apresentados mostraram que os
anticorpos humanizados não conseguiram bloquear eficientemente a ligação do OKT3
provavelmente devido a uma perda de afinidade dessa versão e possivelmente estando
novamente envolvida com humanização da cadeia leve.
Dados relacionados à análise estrutural da ligação do OKT3 ao CD3 por cristalografia
de raio-x revelam que a interação entre o antígeno e o anticorpo é 69% garantida pelos
resíduos presentes nas HCDRs 2 e 3 da cadeia pesada (Kjer-Nielsen et al., 2004). Daí a
justificativa para as versões R e T humanizadas, apesar de não possuírem uma cadeia leve
ideal, terem conseguido inibir discretamente a ligação do OKT3 ao CD3. Entretanto, apesar
da cadeia pesada ser a maior responsável na interação com o antígeno não se pode descartar o
papel da cadeia leve na estabilização da cadeia pesada e de suas regiões hipervariáveis na
ligação ao antígeno. Sendo essa provavelmente, uma das causas da perda de afinidade da
versão humanizada.
Em trabalho realizado por Fonseca, 2000, foi mostrado por modelagem molecular que
6 resíduos de aminoácidos presentes na cadeia leve murina do OKT3 podem manter
interações com a cadeia pesada provavelmente no sentido de estabilizar a estrutura das duas
cadeias e promover o correto arranjo estrutural do seu paratopo. Ao se comparar a seqüência
da cadeia leve murina com a da versão humanizada utilizada neste trabalho, foi observada três
alterações (K44R, S42A e R45L) sendo que essas duas últimas substituições não foram
conservativas. A serina na posição 42, um aminoácido polar não carregado, foi substituída por
uma alanina na versão humanizada, com características apolares. E o aminoácido arginina
presente na posição 45, polar e com carga positiva, foi substituído pelo aminoácido leucina,
que é apolar (Figura 47). Essa última substituição deve ter gerado grande impacto na estrutura
do anticorpo visto a grande diferença nas características dos aminoácidos e devido o resíduo
128
arginina na posição 45 poder realizar três pontes de hidrogênio e uma interação eletrostática
com resíduos de aminoácidos D102, H103, Y104 e D107, respectivamente, presentes na
HCDR3 da cadeia pesada. Assim, essa substituição por um resíduo apolar pode ter levado a
eliminação dessas interações e conseqüentemente levando a uma desestabilização da HCDR3,
considerada a mais importante na ligação ao antígeno.
Além do papel importante das interações inter-cadeia na manutenção do paratopo.
Alterações em resíduos importantes na manutenção da estrutura interna da cadeia podem
alterar a conformação dos sítios de ligação ao antígeno. Ao se comparar as seqüências de
aminoácidos do VL murino e do VL humanizado observa-se a existência de 27 resíduos
diferentes no arcabouço do VL humanizado, sendo um indício para algum problema estrutural
dessa cadeia. Nesse sentido, foram realizadas análises estruturais da cadeia leve murina
utilizando o programa Jmol baseado nos dados disponíveis do cristal de um Fab do OKT3
ligado ao CD3 depositado no PDB sob o código 1SY6 (Figura 48, A) (Kjer-Nielsen et al.,
2004). Nesse trabalho foram observadas substituições não conservativas de aminoácidos que
mantêm pontes de hidrogênio no backbone da proteína, não envolvendo pontes de hidrogênio
das cadeias laterais dos aminoácidos devido às limitações dos programas de análise
disponíveis.
Figura 47. Alinhamento das seqüências de aminoácidos da cadeia leve do OKT3 e da
cadeia leve humanizada (hVL). Os resíduos idênticos ao do OKT3 são apresentados na
seqüência humanizada como pontos. São destacadas em azul os resíduos 42 e 45 considerados
importantes na interação com a cadeia pesada na versão murina e alterados na cadeia
humanizada. Em vermelho, os aminoácidos substituídos na cadeia leve humanizada que são
considerados relevantes para a manutenção da estrutura da cadeia na versão murina.
10 20 30 40 50 60
....|....|....|....|....|....|....|....|....|....|....|....|....|
QIVLTQSPAIMSASPGEKVTMTCSASSSVSYMNWYQQKSGTSPKRWIYDTSKLASGVPAHFRGSG
DL.......TL.L....RA.LS................P.QA.RLL..........I..R.S...
70 80 90 100
....|....|....|....|....|....|....|....
OKT3
hVL
S
OKT3
GTSYSLTISGMEAEDAATYYCQQWSSNPFTFGSGTKLE
.
hVL
..DFT....SL.P..F.V..............Q.....
CDR3
CDR2
CDR1
As análises revelaram que três substituições podem estar atuando na desestabilização
da estrutura da cadeia leve (Figura 47). A primeira é a substituição do triptofano 46L por uma
leucina na cadeia humanizada. O triptofano tem por característica ser um aminoácido com
uma grande cadeia lateral aromática, sendo a maior cadeia lateral existente, além de
apresentar uma polaridade significativa. Já a leucina é um aminoácido com uma cadeia lateral
129
pequena e apolar. Dessa forma o triptofano pode conferir uma maior rigidez à estrutura
polipeptídica garantindo o seu arranjo espacial. Além disso, foi constatado por meio da
análise do cristal que esse triptofano realiza uma ponte de hidrogênio com o triptofano 34L
que está no final da LCDR1, sendo uma ponte possivelmente importante para a estabilização
da LCDR1. Além dessa ponte, o triptofano 46L realiza outra ponte de hidrogênio com o
resíduo Alanina 54L que está presente dentro da LCDR2 (Figura 48, B), atuando diretamente
na estabilização dessa região. Dessa forma, o triptofano pode possuir papel importante na
estabilização dessas duas regiões determinantes de complementariedade e a substituição pelo
resíduo leucina pode ter desestabilizado essa estrutura e comprometido o reconhecimento do
antígeno por essas duas regiões.
CD3
VL
VH
CH1
CL
B
A
Figura 48. Análise estrutural da cadeia leve murina do anti-CD3 utilizando o programa
Jmol. A: Estrutura mostrando a interação entre o OKT3 e o antígeno CD3. Em ciano está
mostrada a cadeia leve, em violeta a cadeia pesada e em vermelho o antígeno CD3. B:
Interação por ponte de hidrogênio entre os aminoácidos TRP 46 e ALA54 da cadeia leve.
Circulo amarelo indicando a ponte de hidrogênio. Seta verde evidenciando a cadeia lateral do
triptofano 46 e a seta laranja mostrando o aminoácido alanina 54.
A segunda substituição é a da arginina 62L por uma serina, sendo também uma
substituição não conservativa. A arginina 62L faz ponte de hidrogênio com a treonina 73L
podendo ser importante na estruturação da volta (loop) da LCDR2. Além disso, há relatos na
130
literatura que essa posição é importante para manutenção da estrutura do anticorpo (Vargas-
Madrazo e Paz-Garcia, 2003).
Outra alteração importante é a da tirosina 70L por uma fenilalanina. Apesar de ser
uma substituição conservativa, tendo, as duas, cadeias laterais aromáticas, a tirosina é
significativamente mais polar que a fenilalanina devido à presença de um grupamento
hidroxila que possibilita esse aminoácido realizar pontes de hidrogênio ou interações
eletrostáticas. Ao se observar o cristal é possível observar que o grupamento hidroxila da
cadeia lateral desse aminoácido está a 2,66 angstroms do resíduo valina 29L e a 3,83
angstroms do resíduo serina 30L, presentes dentro do LCDR1. Esse dado é um indicativo que
a tirosina 70L pode atuar realizando uma interação eletrostática com esses aminoácidos e
contribuir para estabilização da LCDR1. Além disso, o seu backbone realiza uma ponte de
hidrogênio com a cisteína 23L que está no início da LCDR1, podendo, também, atuar na
estabilização dessa região. Dessa forma, a alteração para fenilalanina pode alterar essas
interações de forma a comprometer a estabilidade da LCDR1 e conseqüentemente a sua
ligação ao antígeno.
Essas duas últimas substituições também estão presentes na proposta de humanização
da cadeia leve feito no trabalho de Costa (2004), sendo então mais um indício para que esses
resíduos estejam envolvidos em uma desestabilização do paratopo do anticorpo.
Com esses dados em mãos é possível propor alterações na cadeia leve humanizada
com o intuito de se restabelecer a atividade ligante do anticorpo. Na literatura, há diversos
relatos de anticorpos humanizados que perderam afinidade, e para se recuperar as
propriedades originais de ligação ao antígeno, resíduos do arcabouço precisaram ser mantidos
como murinos (Riechmann et al., 1988; Holmes et al., 1998).
Além disso, análises estruturais mais refinadas, como modelagem molecular, podem
revelar se os resíduos citados, dentro do contexto da cadeia humanizada possuem o impacto
citado e se há outros resíduos críticos para estrutura da cadeia leve.
Com essas barreiras ultrapassadas será possível chegar a uma seqüência humanizada
consensual que consiga restabelecer a afinidade do anticorpo humanizado e tornando - o apto
ao seu futuro uso clínico.
131
Conclusão e Perspectivas
132
Conclusão e Perspectivas
No presente trabalho foram padronizadas metodologias para expressão de anticorpos
recombinantes em células de mamífero de forma estável e caracterizadas a atividade ligante e
efetoras de duas versões de anticorpos humanizados anti-CD3 no formato de fragmento FvFc,
que diferem apenas no resíduo 86 do VH, sendo arginina (R) ou treonina (T).
Os resultados aqui apresentados mostram que a expressão de anticorpos
recombinantes, em células de mamíferos, utilizando o vetor de expressão pMIRES apresentou
níveis de estabilidade satisfatórios ao longo do tempo quando comparados à expressão
utilizando vetores sem a presença de marcas seletivas no mesmo transcrito. Ensaios com
vetores monocistrônicos apresentaram um alto nível de silenciamento da expressão do
transgene enquanto que o pMIRES, por gerar transcritos bicistrônicos por meio de um
elemento IRES associando a expressão do anticorpo recombinante à marca seletiva, garantiu
níveis estáveis de expressão durante mais de 90 dias.
Os resultados obtidos nos ensaios de ligação ao antígeno CD3 utilizando os FvFcs
humanizados anti-CD3 leva-nos a concluir que eles foram capazes de se ligar à superfície de
linfócitos T. Entretanto, em ensaios de bloqueio da ligação do anticorpo monoclonal OKT3,
foi mostrada uma perda de afinidade por essas versões o que comprometeu as suas
estabilidades e afetou o bloqueio da ligação do OKT3. Além disso, foi mostrado que a versão
R possui uma maior capacidade de ligação e bloqueio em relação à versão T, indicando que os
trabalhos anteriores realizados pelo grupo estavam corretos e que a cadeia pesada com a
arginina possui atividade ligante similar a da cadeia murina.
A principal causa da perda de afinidade pelas versões humanizadas provavelmente se
deu novamente ao processo de humanização da cadeia leve, onde foram vistos alguns resíduos
importantes para a manutenção do paratopo do anticorpo murino que no processo de
humanização foram substituídos por aminoácidos não conservados.
As análises realizadas nesse trabalho permitem concluir que os anticorpos
humanizados possuem características de ligação inferiores em relação à molécula base para
humanização, o OKT3, o que pode inviabilizar o seu futuro uso clínico. Entretanto, os dados
referentes à sua atividade biológica podem indicar um potencial terapêutico não observado
nos ensaios de ligação ao antígeno.
Como perspectivas para esse trabalho, propomos ensaios biológicos in vitro com o
intuito de visualizar se a perda de afinidade por esses anticorpos também é refletida no seu
133
potencial imunossupressor e análises estruturais mais apuradas da estrutura do anticorpo,
tomando como base o cristal do OKT3, a fim de promover algumas substituições de resíduos
chave buscando restabelecer a afinidade da versão humanizada àquela encontrada no
anticorpo murino OKT3.
Com essas questões solucionadas em conjunto com dados experimentais será possível
avaliar o potencial dessas moléculas recombinantes como futuros imunoterápicos.
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144
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
Dados de identificação
Título do Projeto: Caracterização da atividade ligante e da função efetora de Anticorpos humanizados
Anti-CD3 Humano
Pesquisador Responsável: __Hernandez Moura Silva
______________________________________
Instituição a que pertence o Pesquisador Responsável: __Universidade de Brasília_______________
Telefones para contato: (61) 3307-2423_____ - (61) 8432-7477_________ - (___) _______________
Nome do voluntário: Hernandez Moura Silva
___________________________________________
Idade: 24 anos R.G. 1451976 SSP-SE__________
Responsável legal (quando for o caso): _________________________________________________
R.G. Responsável legal: _________________________
O Sr. (ª) está sendo convidado(a) a participar como doador de 150 mL de sangue periférico
do projeto de pesquisa “Caracterização da atividade ligante e da função efetora de Anticorpos
humanizados Anti-CD3 Humano ” de responsabilidade do pesquisador Hernandez Moura Silva.
Eu, _HERNANDEZ MOURA SILVA
_______________________, RG nº _1451976 SSP-SE__ declaro
ter sido informado e concordo em participar, como voluntário, do projeto de pesquisa acima descrito.
Ou
Eu, __________________________________________, RG nº _______________________,
responsável legal por ____________________________________, RG nº _____________________
declaro ter sido informado e concordo com a sua participação, como voluntário, no projeto de
pesquisa acima descrito.
Brasília, _____ de ____________ de _______
_________________________________ ____________________________________
Nome e assinatura do paciente ou seu responsável legal Nome e assinatura do responsável por obter o
consentimento
_________________________________ ____________________________________
Testemunha Testemunha
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