que se sucederiam. Isso fica notório nos prólogos da Crônica de ElRei D. Sancho I e da
Crônica de D. Affonso V. Na primeira delas, encontra-se um exemplo característico, que será
recorrente nas outras citadas:
[...].tomey emprestado para esta obra, que toda hee vossa, alguma ouzadia,
ainda que receosa, com que no cansaço deste grande serviço, por ventura
nom conhecido, esforçasse há fraqueza de minhas forças, e favorecesse há
rudeza de meu engenho, para que aho menos por minha piquena
possibilidade mostre primeyramente, que de vossa muita bondade, e esforço,
e grandeza de animo nom foy sóomente descobrir novos Regnos, novos
maares, novas regiões, com que aho mundo mayor, e mais riquo que nas
terras nom conhecidas, de Deos nunqua conhecedoras, seu muy santo nome,
como outro Apostolo fizesseis conhecer, e pubriquar sua verdadeyra Fée,
mas que ainda para mayor acrecentamento do preciozo thesouro de vossas
virtudes descobristes esta vosa propria, e muy louvada virtude de tam
perfeyta piedade, de que àcerqua dos gloriosos Reys, e Rainhas de Portugal
de que descendeis, tam prefeytamente uzais, com há qual resucitando vossa
muy Real Senhoria há seus nomes muy dinas memorias, e memorandas
façanhas[...].dandolhe estas suas verdadeyras lembranças huma tam segura
maneyra para vida eterna[...].e nellas V.A. mostre aho mundo hos Reaes, e
limpos originaes de que foy, e há my por sua grandesa, e humanidade,
perdoe estes cometimentos, que fiz de vos querer louvar, pois verdadeyra
necessidade aqui hos inxerio, porque em cazo que seja regra, e principio
myu dino,que bem faz quem sempre vée bem outras
87
Rui de Pina viveu numa época em que o labor histórico começava a ser um cargo de
exaltação do poder real. Serrão
88
nota uma mudança da função da história desde Fernão Lopes
até Rui de Pina. Segundo o autor: “em Fernão Lopes, a clara certidão da verdade; em Zurara,
uma exaltação do infante D. Henrique e da nobreza senhorial; e em Pina, um ofício ao serviço
da vontade do monarca.”
89
Para finalizar essa discussão a respeito da concepção de história de Rui de Pina,
podemos destacar um outro conceito que o próprio cronista utiliza para definir o que para ele
é a história: [...] no conhecimento dos bõos enxemplos, e das cousas passadas, de que a
Estoria he hum vivo espelho [...]
90
. Ou seja, Pina vê os escritos históricos como uma fiel cópia
da realidade que, com função moralizante, guarda para a eternidade a memória dos bons
exemplos a serem seguidos. Atrelada a essa concepção, encontra-se a sua noção de verdade.
Segundo França,
91
“Rui de Pina é, dos três cronistas, o que menos estabelece ligações entre o
seu desejo de escrever a verdade e os caminhos que escolhe para fazê-lo”.
87
PINA, 1977d, op. cit., p. 11.
88
SERRÃO, 1972, v. 1, op. cit., p 117
89
Ibid., p.117
90
PINA, 1977d, op. cit., p. 12.
91
LEMOS, 2001, op. cit., p. 129.
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